JULHO
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Onde estás tu, que não te vejo?
O BOLETIM DO QUE POR CA´ SE FAZ DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
a agricultura biológica nos Açores, a Flor de Laranjeira , as mulheres na pesca, Martinho Costa e a sua exposição no Faial, Antero de Quental versus Duque de Ávila e Bolama, o músico seiscentista João Lourenço Rebelo, Cartas do Exílio 2, Compilação de Marchas da Semana do Mar, ateliers de literatura e de costura, peças de teatro para/com jovens
Na sequência de uma notícia sobre a discussão da proposta de uma percentagem de produtos biológicos que as cantinas das escolas e dos hospitais deveriam utilizar e no seguimento de um email enviado pelo Dr. Victor Medina da Gê-Questa (ilha Terceira) acerca da situação de desenvolvimento da agricultura biológica na ilha da Madeira, de imediato ocorreu a Pedro Medeiros que a inevitável fragmentação geográfica dos Açores impõe um défice de “massa crítica” que é necessária para impulsionar e desenvolver a agricultura biológica nos Açores. No próprio momento surge a ideia de uma Rede regional que coloque em contacto produtores, indústria e comércio no sector da agricultura biológica nos Açores. Pedro Medeiros apresenta a ideia do projecto ao grupo de produtores biológicos de que faz parte na Cooperativa de Agricultores da ilha do Faial e ao Dr. Victor Medina da Terceira. Recebendo mensagens de incentivo, decide avançar com o blog (www.redeproacoresbio.blogspot. com), uma página e um grupo no Facebook em maio de 2012. Iniciaram-se os contactos em várias ilhas.
Aderiram de imediato e assumiram a representação na ilha o Dr. Victor Medina na Terceira, o Dr. Teófilo Braga em S. Miguel, o Dr. Eduardo Guimarães em S. Jorge, o Dr. Florimundo Soares nas Flores, o Dr. José Melo em Santa Maria. A “Rede Pró Açores Bio” enquanto projeto de partilha de conhecimento entre entusiastas da agricultura biológica foi criada em maio deste ano e está em construção. A sua divulgação e crescimento consistente assenta na produção real e na iniciativa autêntica de todos os que têm aderido enquanto membros ativos da rede. O mérito é de todos os que já estão na rede e a contribuir para que funcione com vantagens para todos. A rede está aí e é de todos os que nela participam. Cada um na sua ilha é que conhece melhor a realidade. A que vive diariamente. Mas faz todo o sentido partilhar para desenvolver uma visão de conjunto regional. Pensamos que a rede poderá dar um contributo para a união dentro de cada ilha e entre ilhas, partilhando
Crón Rede Pró A estratégias e fomentando a aplicação das técnicas. Temos um problema de défice de conhecimento sobre agricultura biológica nos Açores e que gera uma descrença neste modo de produção.
hortícolas. O desenvolvimento da agricultura biológica nos Açores será mais consistente e seguro se acontecer envolvimento dos agentes produtivos.
Capa Capa
Será inteligente promover a monocultura em ilhas tão pequenas?
Na ilha do Faial, são sete os produtores em conversão para agricultura. Encosta da Boavista é um deles, membro do grupo de “produtores bio” da Cooperativa Agrícola da Ilha do Faial. Localizado na feguesia de Pedro Miguel, é o único que já detém certificação Bio para produtos
Martinho Costa do atelier ao ar livre Nesta edição, a capa do Fazendo é uma pintura de Martinho Costa, um pintor que tem as suas raízes em Fátima (Boleiros) mas que reside em Lisboa. Concluiu o curso de Artes Plásticas – Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa em 2002 e tornou-se mestre em Teoria y Prática de las Artes Plásticas Contemporâneas na Universidad Complutense de Madrid em 2003. Desde então são muitos os seus trabalhos, dos quais se destacam as exposições individuais: Máquina de Campanha (2005), Sopro Projecto de Arte Contemporânea; Ruína (2008), Galeria 111, Lisboa. Participou em diversas exposições colectivas desde 2000, nomeadamente: Res publica, 1910 e 2010 face a face, na fundação Calouste Gulbenkian, prémio de pintura Fidelidade, Culturgest, 2006, O Espelho de Ulisses (2005), Centro de Arte São João da Madeira; Paisagem e
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Limiar (2007), Centro Cultural de Sines.
Em Setembro de 2011 inaugurou na Galeria 111, Lisboa, uma exposição intitulada “Diário de Robert Stern”, cujas obras abordam cenas da vida quotidiana de um cidadão Americano que fotografa e coloca no sítio Flickr da internet as suas fotografias. Estas imagens retratam a namorada, a família, os amigos, uma festa de aniversário, a festa anual do Halloween, as caminhadas e passeios pelo bosque e são objeto de seleção e estudo de Martinho Costa, que depois as reproduz com pinceladas que recordam os impressionistas como se de um espelho se tratasse. Algumas destas pinturas foram expostas no Albergue Estrela do Atlântico, com o propósito de mostrar a proximidade histórica e geográfica dos EUA, bem como a sua forte influência nos Açores. O seu trabalho é também divulgado em Espanha pela Galeria Liebre, Madrid. Foram expostas em Abril de 2012, no âmbito do evento a “3 Bandas”, uma série de obras a que deram o nome de Narrações Fragmentadas onde o pintor narra, através da pintura, cenas da vida quotidiana. De momento está a preparar mais três exposições a inaugurar em Outubro, uma na Galeria Who, no Bairro Alto, outra no Laboratório Galeria na Graça e outra no espaço Arquivo no Porto. Maria Leite
As cooperativas agrícolas, em cada ilha, têm a esse nível um papel crucial na relação com os produtores e na prática de uma relação cooperativa. O cooperativismo é um caminho para o desenvolvimento da agricultura biológica nos Açores, dentro de cada ilha e entre ilhas. As leis são regionais,
nica Açores Bio o mercado é cada vez mais regional e global. Contudo, em nove ilhas o mar separa pessoas, motivações e vontades. Por isso, faz todo o sentido utilizar as ferramentas tecnológicas que estão ao nosso alcance para impulsionar, de forma cooperativa, aquilo que acreditamos que é o melhor que podemos deixar para as próximas gerações: uma agricultura com menos resíduos, uma alimentação mais saudável, um ambiente menos poluído, uma imagem de qualidade da Região. Do cruzamento da experiência com as novas tecnologias pode nascer um modelo único. Os Açores são uma região única. Será inteligente promover a monocultura em ilhas tão pequenas? O meu amigo Euclides Duarte falava-me da consociação entre cabras, ovelhas e vacas. Como cada espécie controla espécies de
plantas diferentes. Complementam-se. Teremos nós que ouvir e conhecer mais a nossa própria realidade para sabermos defender e construir um modelo próprio. Os novos conhecimentos da biotecnologia são úteis, mas será inteligente fazer tábua rasa da experiência tradicional? Da integração, nasce a funcionalidade.
a diferenciação que nos confere um trunfo turístico e económico? Os transgénicos constituem um risco para a biodiversidade. As siglas DOP, Certificação Biológica, Livre de Transgénicos e Reserva da Biosfera constituem em si valores que serão as melhores bandeiras dos Açores num mundo globalizado. Em pleno início do século XXI, a crise económica sinaliza a necessidade de um modelo de desenvolvimento sustentável. Sustentado em pilares de confiança.
produção, a comercialização e o consumo de produtos biológicos. Pretende contribuir para potenciar este desenvolvimento através da partilha de conhecimento no blog www.redeproacoresbio.blogspot. com, numa página e num grupo no facebook; promover a discussão informal numa plataforma de discussão via email e dar a conhecer os produtores ativos em agricultura biológica nos Açores. O entusiasmo que acompanhou a ideia inicial é o entusiasmo com que
Num mundo que é cada vez “mais do mesmo”, em que sendo tudo igual, onde está a diferenciação que nos confere um trunfo turístico e económico? Um modelo faz-se com tempo e pessoas. Partilhemos. A produção convencional e os transgénicos proliferam num mundo que é cada vez “mais do mesmo”, em que sendo tudo igual, onde está
O que queremos que sejam os Açores em 2050? A Rede Pró Açores Bio tem como lema: “Conhecer globalmente para agir localmente; uma região, nove ilhas”. Cooperativamente, promovendo a
integramos cada novo membro na Rede Pró Açores Bio. É o entusiasmo com que partilhamos. Com confiança e a convicção de que estamos apenas no começo do princípio. Pedro Medeiros
Jorge Oliveira um abraço dos Açores O artista plástico Jorge de Oliveira nasceu em Leiria a 5 de Fevereiro de 1924 e faleceu a 6 Junho deste ano na sua residência, no Alto do Lagoal, em Caxias. Este pintor português estudou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e do Porto. Muito embora tivesse recusado ligações a quaisquer grupos, pertenceu à geração de pintores modernos existente em Portugal nos anos quarenta e onde a liberdade de criação e acção era mínima. Enquanto percurso artístico a sua obra percorre múltiplas correntes artísticas, que vão desde o neo-realismo, o surrealismo, a abstracção e o automatismo psíquico. O seu espólio artístico encontra-se espalhado por diferentes colecções particulares nacionais e estrangeiras, na colecção do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, em Lisboa, e no Museu do Neo-realismo, em Vila Franca de Xira. A obra e o autor podem ser (re) descobertos através do filme-documentário “Jorge de Oliveira Matéria de Pintura” realizado em 2010 por Iria Arriaga, arquiteta de profissão. Nesses quarenta minutos podemos
5/2/1924 . 6/6/2012 assistir em jeito de síntese a uma viagem em torno do seu trabalho, ir ao encontro deste artista multifacetado, conhecido pela sua tenacidade e frontalidade, homem e pintor que procurou de forma independente e persistente a busca incessante pela beleza e verdade, da qual a sua obra é sintoma e espelho.
Jorge de Oliveira de Oliveira visitou os Açores no mês de Setembro de 1972, acompanhado pela sua esposa e pintora, Tereza Arriaga. O pintor admirava a Ilha do Pico, várias vezes se referiu ao Pico como “o colosso das ilhas”, exaltando as qualidades e virtudes da sua paisagem natural.
O mesmo acontecia quando se manifestava com o tamanho da montanha, pois na altura não lhe foi possível escalar ao ponto mais alto, esclarecendo de imediato que caso um dia tivesse a oportunidade de chegar ao topo, não necessitaria de pintar nem de livros, exclamando deste modo: “Oh, o Pico! Oh, o Pico! Que maravilha da natureza!”. O Jorge falava assim amorosamente da paisagem picarota, relembrava a pedra negra e espessa, a tenacidade das gentes e o mistério que é a existência de vida e do amor às coisas simples em terras insulares. Um mês depois da sua partida, aqui fica o nosso expressivo e sentido abraço. Obrigado, Jorge! Fernando Nunes
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~ INTERVENCAO
O conflito entre Antero de Quental e o Duque de Ávila e Bolama Há 141 anos dá-se a colisão das vontades de dois ilustres açorianos: Antero de Quental e António José de Ávila, o primeiro natural de Ponta Delgada e o segundo natural da Horta. Foi no dia 26 de junho de 1871 que, quando as pessoas se preparavam para entrar no Casino Lisbonense para assistirem à 6ª conferência do Casino, se depararam com uma portaria ministerial, afixada à porta, proibindo a realização dessa e das futuras conferências. Quem assinava a portaria era o Primeiro-Ministro António José de Ávila, Marquês de Ávila.
“Nem eu nem V.Ex.ª passaremos à história” Antero de Quental, o principal impulsionador das Conferências do Casino, reage violentamente. Num texto famoso, publicado no dia 30 de junho, intitulado “Carta ao Ex.mo Senhor José D´Ávila, Marquês de Ávila, Presidente do Conselho”, escreve: “A Portaria com que V.Ex.ª mandou fechar a sala das Conferências Democráticas é um acto não só contrário à lei e ao espírito da época, mas sobretudo atentório da liberdade do pensamento, da liberdade da palavra, e da liberdade de reunião, isto é, daqueles sagrados direitos sem os quais não há sociedade humana, verdadeira sociedade humana, no sentido ideal, justo, eterno da palavra. Pode haver sem eles aglomeração de corpos inertes: não há associação de consciências livres. Ex.mo. Sr.: nem eu nem V.Ex.ª passaremos à história: e muito menos as ineptas portarias que V.Ex.ª faz assinar a um rei sonâmbulo. Mas supondo por um momento que alguma destas coisas possa passar ao século XX, folgo de deixar aos vindouros com este escrito a certeza duma coisa: que em 1871 houve em Portugal um ministro que fez uma acção má e tola, e um homem que teve a franqueza caridosa de lho dizer”. + 4 + FAZENDO + JUlHO 2012 +
Em 1871 houve em Portugal um ministro que fez uma acção má e tola, e um homem que teve a franqueza caridosa de lho dizer. Nessa carta pública, Antero dirige alguns ataques pessoais, entre os quais: “V. Ex.ª não é um estadista inglês. É António José da Vila, das Ilhas de Baixo” Esta passagem era acompanhada da seguinte nota: “António José da Vila é o nome verdadeiro do ilustre ministro: seu pai, o honrado plebeu, chamava-se simplesmente mestre José da Vila. Ávila é apenas a máscara aristocrática do parvenu. Quem diz o que pensa é criminoso: quem renega o nome do pai é ministro. C’est la moralité de cette comédie...” De facto, a origem de António José de Ávila era humilde – tinha nascido numa modestíssima casa, que ainda existe, no número 11 da Rua Comendador Macedo - mas o seu pai, que era sapateiro, chamava-se Manuel José de Ávila e não José da Vila. Anos mais tarde, Eça de Queirós escreveu que Antero tinha ficado muito angustiado ao saber quão magoado se tinha quedado o Marquês de Ávila com a alusão que aquele tinha feito à origem do nome Ávila. Eça contou ainda que Antero correu para o jornal “A Revolução de setembro” e gritou com os olhos humedecidos, “errei! errei!”, fazendo publicar um desmentido em que reconhecia que tinha errado.
último teve um grande impacto, dada a sua reconhecida autoridade moral e intelectual. O governo caiu pouco depois. Sucedeu-lhe Fontes Pereira de Melo. A carreira política de António José de Ávila não terminou aí mas foram pesadas as consequências da violentíssima reação de Antero de Quental. Em 1878, é atribuído o título de Duque de Ávila e Bolama a António José de Ávila, depois de lhe terem sido atribuídos, sucessivamente, os títulos de Conde de Ávila (1864) e de Marquês de Ávila (1870). Hoje, na cidade da Horta, o antigo Largo do Colégio Jesuíta tem o nome de Largo Duque de Ávila e Bolama. Júlio Correia da Silva
“V. Ex.ª não é um estadista inglês. É António José da Vila, das Ilhas de Baixo” Em relação à portaria de encerramento da Conferências Democráticas, foram numerosos os protestos públicos. Além da tomada de posição de Antero de Quental, destaco alguns nomes: Manuel de Arriaga, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão e Alexandre Herculano. A tomada de posição deste
Bibliografia: João Gaspar Simões, “A geração de 70: alguns tópicos para a sua história”, s/d Maria Filomena Mónica, “O senhor Ávila e os conferencistas do Casino”, in Análise Social, n.º 157, 2001.
à conversa com o pintor
, ARTES PLASTICAS
Martinho Costa
O objetivo desse meu projeto é o de intervir sobre locais fora dos museus e das galerias. Pode ser visto como arte urbana “graffiti” mas eu gosto mais de pensar numa mistura de pintura das cavernas, com a pintura dos frescos, com os murais políticos do 25 de abril.
Exposição - “Diário de Robert Stern” na Horta no Albergue Estrela do Atlântico - até dia 25 de Julho
A pintura refere-se genéricamente à técnica de aplicar pigmentos de forma líquida numa superfície, a fim de colori-la, atribuindo-lhe matizes, tons e texturas. No entanto, há contradições sobre a definição de pintura. Atualmente o conceito de pintura pode ser ampliado para a representação visual através das cores. Mesmo assim, a definição tradicional de pintura não deve ser ignorada. A pintura é pictural, O que é para ti a pintura? A pintura é um meio direto de expressão criado há mais de 700 anos atrás, no qual o pintor cria uma narrativa e uma linguagem através da aplicação de cor num suporte. Com a variedade de experiências em diversos meios e o uso da tecnologia digital, a pintura não se limita à aplicação do “pigmento em forma líquida”. Tu distingues pintar com “emoção” e pintar com a “razão”. Podes explicarnos melhor esses conceitos? Pintar é uma atividade fascinante porque tem uma dimensão física, técnica. O pintor é alguém que tem de saber dominar a mão. A mão com a qual aplica a tinta na superfície tem de ser capaz de responder à ideia formada na sua cabeça. E essa ideia tem de ter formação, tem de ter presente a história da arte e uma visão atual sobre o mundo no qual o pintor/artista vive. A função dos artistas é viverem no mundo e sobre ele devolverem a sua imagem particular.
A popularidade da pintura a óleo atribui-se à extraordinária versatilidade que oferece ao artista conferindo magníficos resultados nas técnicas tradicionais (como a mistura cromática e o brilho) e excelente e consistente qualidade. Foi por este motivo ou por outros que escolheste a pintura a óleo como técnica artística para as tuas obras? Sim! A tinta de óleo foi inventada há muitos séculos atrás. E continua a ser a técnica de muitos pintores hoje em dia. Mudou muito pouco a esse nível. O tubo de óleo apareceu na primeira metade do séc. XIX. Ao observarmos os teus quadros e pelos estudos que fazes, arriscaria a dizer que a corrente artística que mais influencia a tua forma de pintar é o impressionismo! O impressionismo foi uma época muito particular na história da arte. Foi o início da época massivamente industrial que temos hoje, o início do deslumbre na técnica e na ciência. Foi quando começou a aparecer um público formado, filho da nova burguesia industrial. O artista começou a ter um papel na sociedade que ainda hoje se mantém de certa forma. O artista, começou por ser um outsider, uma pessoa que tem um olhar de fora, de questionamento da técnica, de responder à técnica, etc. A fotografia apareceu nessa época. O impressionismo de uma forma perigosamente simples pode-se dizer que é uma resposta à fotografia. O pintor do fim do séc. XIX deixa de fazer
uma arte do passado e elege como tema de trabalho a realidade exterior que observa e analisa e que começava numa vertiginosa aceleração. Quando inicias uma pintura quais são as tuas preocupações? E quando acabas de pintar um quadro qual ou quais as sensações que sentes? Eu pinto imagens que encontro ou que fotografo eu próprio. Para mim qualquer imagem pode ser uma pintura em potência. Não tenho tema nem género preferido. Pinto para passar à imagem seguinte. Nunca me detenho muito. Para mim hoje em dia, dado o fluxo ininterrupto de imagens não existe uma hierarquia, uma imagem que prevalece sobre as outras. Tudo pode ser pintado. Quando acabo um quadro passo para o próximo para o esquecer! O gozo da pintura está em ver uma imagem a aparecer lentamente de uma superfície que até aqui no meu trabalho tem sido bidimensional. Tal como os impressionistas pintavam a Natureza, as pinturas que fazes ao ar livre são agora, uma nova forma de expressão que encontraste. Estarão elas também ligadas a esse movimento histórico? Podes explicar-nos qual é o seu objetivo? O objetivo desse meu projeto é o de intervir sobre locais fora dos museus e das galerias. Pode ser visto como arte urbana “graffiti” mas eu gosto mais de pensar numa mistura de pintura das cavernas, com a pintura dos
frescos, com os murais políticos do 25 de abril. São pequenas imagens que pinto sobre locais específicos. Esses locais normalmente sugerem-me uma imagem que vou à procura e que depois aí coloco. É pintura ao ar livre como alguns dos impressionistas, mas não é levada para o atelier. A pintura fica na natureza começando depois a fazer parte dela. Na tua opinião como se encontra neste momento em termos conceptuais a pintura em Portugal? E consegues prever qual será o rumo da pintura em Portugal? Continua-se a pintar! Há muito bons pintores hoje em Portugal! Em Portugal infelizmente nunca tivemos muita tradição de pintura. Mas há uma nova geração de pintores muito atentos ao que se passa no mundo! São pintores órfãos. Não têm uma referência paternal no país. São pintores que vão buscar as suas referências ao exterior. Muitas vezes sem conhecer diretamente a obra dos pintores ao vivo. Mas pronto Espanha é já aqui ao lado! Maria Leite
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, MUSICA
Flor de Laranjeira (ou Mal as Regiões do Oriente)
Esta cantiga da ilha das Flores dá conta de um casamento que não se chega a realizar: no dia do mesmo, o noivo não aparece na igreja porque entretanto morreu num “cruel combate”, segundo notícia trazida por um pajem. A “flor de laranjeira” é o símbolo da virgindade da noiva… E é a noiva que, em lamento, canta o seu infortúnio. A letra é o aproveitamento de um romance, cujo teor é o seguinte: Mal as regiões do Oriente Linda manhã tingia Já ao cristalino espelho A linda noiva se via. Alva flor de laranjeira No véu da noiva se via. Quem se vai casar ao longe Ao perto tendo com quem Ou vai ficar enganado Ou vai enganar alguém. Alva flor de laranjeira Não a dará a ninguém.
Discos d
Já não canto, já não bailho Já não tenho alegria Já não morre por amores quem Por amores morria. Alva flor de laranjeira No véu da noiva se via. Saudades são securas Ausências são tiranias Se não gozar os teus olhos Acabados são meus dias. Alva flor de laranjeira Não verá todos os dias. Já a igreja estava cheia E a noiva a achava vazia Porque entre os convidados Só o noivo ela não via. Alva flor de laranjeira O véu da noiva prendia. Batem à porta, é ele, Grita toda a companhia! Abre-se a porta, era um pajem, Más notícias que trazia. Alva flor de laranjeira O véu da noiva prendia. Foi morto em cruel combate Da noiva um grito se ouvia A dor que havia em seu peito Só a sua mãe entendia Alva flor de laranjeira O véu da noiva prendia.
Saudades são securas Ausências são tiranias Se não gozar os teus olhos
Vice-As
Acabados são meus dias
Geralmente só as primeiras quatro estrofes é que são cantadas. Muito pouco divulgada, a única gravação que conheço desta cantiga (em forma de balada dolente) é a interpretada por Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo no disco “Temas Populares dos Açores”, gravado em 1971, com arranjos de Pedro Osório. Gosto particularmente desta “Flor de Laranjeira” que considero uma das mais belas melodias da música tradicional açoriana. Victor Rui Dores + 6 + FAZENDO + JUlHO 2012 +
Boa tarde caros criadores de artiman sempre é um prazer regressar ao vosso c desta feita directamente da cave mobil A nossa última descoberta não vos pode desconfiado após a visualização da cap coisas, trata-se da bonita baía da Horta dos anos 70 nesta imagem tão familiar, -se o caro ouvinte. É sueco e a fotografi era calvo. Mas passamos então a expli -se de uma compilação de marchas da s sublimemente orquestradas ao estilo es departamento de investigação, desenvo para captação de novos públicos, no mercados desta região. Não se admire este homem ou outros parecidos a be plena cidade da Horta por altura das fe preparam já a sua deslocação, aproveit da chuva. É a loucura escandinava, caros E por agora é tudo. Queria agradecer em milhares de entusiasmáticos que seguem jornal que o cheque referente à última ed à próxima vez, caros colegas, na certeza vos saciar o vosso lado mais demente.
A primeira vez que tive o Fazendo nas mãos recebi-o de mãos amigas da Horta. Que belo presen pelas fotografias, pela qualidade dos textos selecionados. Um verdadeiro luxo para quem hab destas escasseiam. É só pena que seja só uma vez por mês, mas confesso que talvez seja melho e ver todas as novidades é uma emoção… é como se vivesse noutro tempo. Naquele tempo saborear com calma o momento. A espera pelo Fazendo causa-me a mesma alegria de quand da Gulbenkian, ouvia na minha cabeça quase uma corneta de alvorada.
Para além da leitura demorada do Fazendo, quando já espremi o sumo todo, ou quase, utilizo cosidos à mão que são bastante elogiados, não pelo minha arte, mas pela vossa. Bem hajam e
do Além
nhas psicológicas auto-punitivas. Como convívio com novas descobertas do além, lada de um apartamento em Moscovo. eria interessar mais, como já devem ter pa. É verdade caros observadores de a. Mas o que fará um louro dinamarquês , pergunta o caro ouvinte? Pois enganafia é actual. Nos anos 70 tinha bigode e icar este fenómeno discográfico. Tratasemana do mar, traduzidas para sueco e scandinavo. Ao que apurámos no nosso olve-se assim uma parceria estratégica seguimento da euforia regional pelos e pois, caro electrocutor, se vislumbrar eberem gins em cafés de desporto em estividades. Famílias louras com óculos tando as viagens e alojamento ao preço s amigos, a seguir atentamente! m nome dos Discos do Além a todos os m esta rúbrica, e relembrar a redacção do dição ainda não me chegou às mãos. Até de que trabalharemos arduamente para
Cordialmente, Janeiro Alves ssessor do Sub-Director dos Discos do Além
VIAGENS
Cartas do Exílio 2 Dadatacdadtacdadatac – é assim, mais ou menos, como soa um comboio. Acordo na manhã seguinte numa casa com tectos bem inclinados e montanhas na distância. Áustria? Não, são as colinas dos Pirinéus, País Basco. Próxima paragem é Bayonne, uma cidade medieval mencionada pela primeira vez no século I a.C.! Até hoje não mudou muito. Casas estreitas de madeira, às vezes só com 3 ou 4 metros de largura, mas com 4 ou 5 andares, rodeadas de pequenas ruas; carros não são permitidos – e quando olhas para cima não ficas surpreendido se apanhares com lixo, lançado pelas janelas dos pisos superiores, como era costume na idade média. Olhas para baixo e é o oposto; lojas chiques de roupas, chocolates e patês embrulhados em papéis deliciosos. Nem uma beata de cigarro à vista em cima da calçada limpa, quase brilhante. A razão deste asseio descobri numa 2ª feira às 5 da manhã: há uma máquina incrivelmente barulhenta que faz uma pré-lavagem, uma 2ª lavagem e depois está a polir cada pedra individualmente, 50 metros levam mais ou menos uma hora... Quem paga por isto são os residentes com cem euros por mês. Não, CMH, não é uma boa ideia! Fora da cidade há uma praia larga com areia amarela que se estende até ao fim do horizonte. Contudo o seu comprimento inteiro (mais de 200km!)
Poucas horas depois Paris aparece no horizonte em forma de monstruosidades de betão está interrompido regularmente com herança alemã. Abrigos (antiaéreos), estruturas de cimento de primeira qualidade. Agora pintados com graffitis, uns caíram para o lado com a ondulação do inverno, mas estão lá presentes, a cada 2 km uma memória da II Guerra Mundial (e dos alemães) para gerações e décadas ainda a vir. Dadatacdadatac, Bordeaux. Vinhas, mais vinhas e cada vez mais vinhas raramente interrompidas por um pequeno castelo... mas o que estava à espera – plantações de tomates? Poucas horas depois Paris aparece no horizonte em forma de monstruosidades de betão, um ofensivo/ depressivo de esmagadores blocos de apartamentos. O Banlieue de Paris, uma violação da raça humana. Uma das coisas que mudou significativamente nos últimos 10 anos é a vista e o uso de telemóveis. Todos os passageiros no comboio ou no metro passaram o seu tempo exclusivamente a conferir e reconferir as suas pequenas máquinas de maravilhas, a verificar se alguém enviou um sms, um email, um Twitter ou um acontecimento de alta importância no Facebook – e senão os dedos pressionavam cada vez com mais força em cima das suas substituições de uma chucha.
Impressionante, o desejo de comunicação entre nós, 24 horas por dia. Assustadora, a nossa incapacidade de estar sozinho, de estar fora do alcance por mais de uns minutos. Como ultrapassámos este limbo antigamente? Simplesmente observávamos os outros passageiros ou a paisagem, se calhar líamos um livro – mas permitíamos às nossas mentes de voarem livres sem distracção constante e consentíamos aos pensamentos um desenvolvimento independente de um propósito. Dadtacdadatac. O ruído e o movimento do comboio eventualmente tornam-se parte de mim. Sentada em algum lugar “não-comboial” é parecido a sair de um barco depois de semanas sem terra: tudo continua a abanar e a balançar. Adormecer sem a canção de adormecer dadatacdadatacdadac começa a ser difícil. Ruth Bartenschlager
nte! Fiquei encantada pelo cuidado gráfico, bita no meio do Atlântico e onde iniciativas or assim… ficar à espera da próxima edição onde esperar não era desesperar mas sim do era miúda e vinha a biblioteca itinerante
o as suas belas páginas para fazer cadernos continuem assim! Cláudia Alemão + 7 + FAZENDO + JUlHo 2012 +
CINEMA
Pescadoras d PUBLICIDADE
Nos dias 9 e 10 de Junho passou no Pico e Faial o documentário “Mulheres na Pesca” (Açores, 2011) da autoria de Maria Simões. Agrafado a este momento relembro um outro ocorrido, ainda 2011 não se tinha ausentado, chegavam ao Pico uma vintena de mulheres, pescadoras em terra e no mar, inundando vontades. Vinham de muitos cais, tantas margens, e outras ilhas em redor: S. Miguel, Terceira, Faial, Pico, Graciosa e Flores. Celebraram e celebravam-se à Ilhas em Rede – Associação de Mulheres da Pesca nos Açores. Este texto resulta da mescla desses dois episódios: Mulheres de guelra forte, doce, iridescente. A sua companhia deslumbrava, apetecia ficar escutando histórias borda dentro, nem falávamos para não deixar de ouvir. Mª Espírito Santo Cabral, muito directa, muito solene, a olhar em frente, na direcção de um ponto invisível que devia ser a dignidade – Rabo de Peixe, 9 filhos, depois de casar comprou um barco que até hoje é o sustento da casa, cuida da grande família, da administração do barco, da preparação do engodo (isca), entre muitas outras coisas inerentes à pesca: ”é uma arte sobreviver com o tão pouco dinheiro que chega a casa”. Fátima Garcia fez uma pausa e, pelo tempo que demorou, parecia percorrer novamente a rota das caravelas – Faial, tirou a cédula marítima, arrais de pesca e arrais costeiro, 4 filhos, vai-e-vem do mar com o marido: “o peixe é vendido na lota a um preço muito baixo oscilando de uma forma inacreditável”. Quando diz mar, Jael Raposo, tem os olhos subitamente azuis e faz gestos que lembram o balanço das águas junto ao porto – Angra do Heroísmo, 17 anos, filha de Zilda Silva armadora e grande mulher da pesca, decidiu sair da escola o ano passado e dedicar-se à faina com a mãe, irmãs e pai. Há 10 anos a família comprou uma embarcação e fazem da pesca o seu sustento de vida.
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Elvira é um diamante em bruto, sem muita paciência para se deixar lapidar – Flores, enquanto arrumava o mapa dos ventos desfiava: “As ilhas rodopiam saias, a boiar na linha-de-água de rocha e verde. É uma coisa tola de se pensar mas são lugares femininos, robustos, corajosos, capazes de fazer vida até onde Deus tem intervalos”. Ursulina Andrade, alma terna, os seus braços davam a volta à ilha e neles moravam sossegos – Água de Pau, neta e filha de pescador/armador e mãe de futuro pescador, trata da logística (segurança social, pagamentos, etc.) do barco da família “Gilberto Penteado”, dos aparelhos de pesca, faz gamelas (arte de pesca tradicional nesta ilha), além de ir para o mar com o marido. Assim que o sol poenta as velas saem para um mar de sal e sede. É bonita a respiração das cores, o sabor fresco do azul, o chão embalado de marés e ondas. Em alegre e viva reunião de palavras estas pescadoras de sabedorias sob a silhueta das redes remendadas atracam no sorriso,
unânimes em valorizar e reconhecer o trabalho das mulheres na pesca. As suas vozes reflectidas no mar lavrado de barcos, peixando cativas dentro de água, são faróis. Aqui as raízes de mar espantam de tão belas, determinadas, envolventes, tão de verdade; das mãos que atam e desatam o mar, desempoeiram as estrelas e reinventam os caminhos aquáticos. Entretanto a cortina de céu desliza para entrar a luz da manhã, nas longas pernas de claridade, os barcos regressam como pássaros fluídos e os/as pescadores/as ficam diante do mar sem palavras para tanto, porque só se cansa do mar quem do mar só vê a água. Se repararmos na palavra “vida”, como é pequena e simples e difícil de cuidar, tem maneiras tão diferentes de ser igual em todas as pescadoras/ ilhas. É isto. Cristina Lourido
de Maré Cheia Sou uma apaixonada pela pesca e acredito na sua importância fundamental na soberania alimentar desta região.
Carla Dâmaso entrevistou a realizadora
Maria Simões Mulheres de guelra forte, doce, iridescente. A sua companhia deslumbrava, apetecia ficar escutando histórias borda dentro, nem falávamos para não deixar de ouvir
Neste domingo de sol, uma plateia composta por curiosos e algumas das protagonistas assistiram a este retrato tirado pela realizadora. No final, houve uma animada discussão que abordou os mais variados temas, desde as vivências de quem fica em terra sozinha até às questões ecológicas ligadas à pesca, nos Açores. Como surgiu a ideia de fazer um filme sobre este tema? E como foi possível superar, tendo em conta que as filmagens ocorreram em várias ilhas, a falta de um orçamento? Sou uma apaixonada pela pesca e acredito na sua importância fundamental na soberania alimentar desta região. Tomei consciência da existência do trabalho de mulheres na pesca quando vim viver para os Açores. A minha sensibilidade para olhar para o trabalho das mulheres em sítios onde
normalmente elas não estão deve-se ao facto de ter começado no teatro, nas Artes e na política numa altura em que se deu um certo boom de visibilidade de jovens mulheres nestas áreas, em Portugal. Com as artes como ferramentas de intervenção social, tenho usado sempre o teatro, o cinema, a música, a palavra (escrita, cantada ou dita) para mostrar o que penso, vejo e sinto e que – desde o interior do trabalho artístico – creio, trazem uma nova forma de encarar o mundo. Ao conhecer o trabalho da UmarAçores com mulheres na pesca, propus acrescentar-lhe, como nova ferramenta de intervenção, o cinema. O projecto foi muito bem acolhido e integrou a comemoração do dia Internacional das Mulheres no ano de 2011, com o apoio da DRIO. No meu segundo trabalho cinematográfico na pesca, envolvi-me cada vez mais com a sua complexidade, ao nível socio-cultural, económico e político. O orçamento era muito baixo para realizar um filme destes. Houve uma extraordinária entrega das pessoas envolvidas que, voluntariamente, deram o seu tempo, os meios, o seu investimento. O que mudou em ti e na tua percepção deste mundo, depois deste filme? Conversei com quase todos os quadrantes de opinião que fazem com que a actividade seja polémica na região e isso abriu-me o apetite para continuar a filmar a pesca nos Açores. Respeito mais quem faz da pesca a sua vida, indo ao mar ou nos gabinetes, procurando criar as melhores condições para essa prática. Iniciei um processo de criação de documentário-investigação que tenho muita vontade de continuar. O filme foi exibido em S. Jorge, Pico e Faial. Também em S. Miguel? Como foi acolhido e como foi a reacção de quem assistiu e também é protagonista? O filme estreou em Rabo de Peixe e Ponta Delgada, em S. Miguel. Depois apresentou-se nas ilhas de S. Jorge, Pico e Faial. Na Terceira está
disponível para visionamentos por marcação. Em Julho será apresentado em Lisboa. Uma das coisas mais bonitas que acontece com o percurso do filme é que, quem o escolhe programar, entende a importância de conversar antes ou no final. Este filme foi criado para ser acompanhado de pessoas reais que possam partilhar o que consta apenas das entrelinhas do filme. Aí ele cumpre o seu maior papel – dar visibilidade às coisas e pessoas que normalmente não se vêem. Este filme fala sobre as mulheres na pesca. Qual foi a reacção dos homens durante as filmagens? E depois, ao verem o filme, se o viram? Nas filmagens fui sempre explicando que era um filme sobre as mulheres na pesca mas, acima de tudo, sobre a pesca no seu todo. Por muito que o meu olhar se dirigisse mais para as mulheres, os homens fazem também parte dela e não quis nunca escondê-los. Ouvi que “havia poucas mulheres a ir para o mar” – para muita gente é o trabalho mais valorizado. Os homens trouxeram o humor para o filme e outras dimensões que ultrapassam as questões de género. Às vezes foi muito simples ser acolhida, recebida e compreendida. Outras, travei lutas onde também o que penso entrava em contradição com o que via e ouvia. Uma viagem maravilhosa onde dei de mim em proporção a tudo o que recebi. Ficou alguma coisa por filmar? E por mostrar? Ficaram mulheres na pesca de outras ilhas por filmar e algumas actividades. Ficaram por mostrar detalhes das cerca de 30 horas filmadas. É impossível colocar tudo num filme. Os filmes ditam o seu próprio final, o que cabe neles e o que não. Tenho material para mais dois filmes, seguramente… Por isso, hei-de continuar a pescar!
+ 9 + FAZENDO + JUlHo 2012 +
ARTES PLASTICAS
, MUSICA
Um pouco mais de azul
As cores fortes e luminosas, a calma e o prazer da visualização das paisagens, os azuis fulgurantes do mar de encontro ao negro das rochas, as formas gentis dos cones vulcânicos, o rendilhado das canas ou dos muros, a negritude contra as nuvens que desenham no ar…tudo funciona como que comprimidos visuais e mentais em elevada concentração. Nos dias de hoje em que somos bombardeados com duvidas, com impressões fortes, com as banalidades e as certezas do dia-
-a-dia, como sobrevive o pensar e o olhar? Refugiando-se, libertando-se, isolando-se, integrando-se? Dizia Antoni Tapies que, a arte que não é útil à sociedade não vale a pena sequer existir. A criatividade traz um pouco de justiça e liberdade às mentes que se perdem na rudeza da vida, sendo que a vida é a fonte de integração, de riqueza e de desespero por vezes que despoletam a mente do artista, do poeta, do músico,… Para bem duma vida mais saudável enquanto factor de inspiração e que se redescobre nas cores e nos sentimentos, necessitamos da arte, da criatividade, da cultura, quer para nós, quer parte de nós, quer dos outros quer parte dos outros. A vida para que se torne completa, precisa de um pouco mais de azul… Eduardo Carqueijeiro
Rebelo
João Lourenço Rebelo nasceu em Caminha em 1610 e morreu na Quinta de Santo Amaro (Lisboa), a 16 de Novembro de 1661. Aos 14 anos ingressa na capela dos Duques de Bragança em Vila Viçosa onde o seu irmão, o Padre Marcos Soares Pereira, era cantor. Rebelo terá estudado com o então mestre de capela Roberto Tornar, no Colégio dos Santos Reis Magos anexo à capela. Aí terá conhecido D. João (futuro D. João IV). D. João teve sempre em alta consideração as capacidades musicais de Rebelo. A música é bastante atípica no contexto da produção musical em Portugal na primeira metade do século XVII. Dele foi impressa em Roma, em 1657, uma colecção de obras sacras, (Psalmi tum vesperarum, tum completarum, item Magnificat, Lamentationes, et Miserere) para 4 a 15 vozes, em 17 livros de partes. Os efeitos policorais, a escrita instrumental, a ornamentação vocal, representam uma tradição composicional já de cariz barroco, com certeza influenciada pelo acesso à vasta biblioteca musical de D. João IV assim como a uma liberdade composicional decorrente de não prestar serviço em nenhuma catedral, onde se conservava um estilo musical mais austero. Luís C. F. Henriques www.luiscfhenriques.com
Jovens de Sucesso
Uma sociedade que não educa, que não estimula, que não prepara os seus jovens está condenada a um rotundo fracasso!
A sociedade desconfia, permanentemente, das atitudes, dos valores, das rebeldias e das motivações dos mais novos. + 10 + FAZENDO + JULHo 2012 +
Os adultos esquecem-se, com a mesma frequência, que ninguém se faz a si próprio, que os jovens são, quase sempre, o reflexo dos seus progenitores e um “espelho vivo” da sociedade em que estão inseridos. Lecionei trinta e oito anos, continuo a ser professor, mesmo já aposentado. Os melhores anos da minha vida foram passados com os jovens. Aprendi muito com eles e espero que eles também tenham aprendido alguma coisa comigo. As boas relações humanas que mantive com a maioria dos meus alunos foram fundamentais para o aprofundar de amizades que perduram.
Durante cinco maravilhosos anos fundei e dirigi o Clube de Teatro «O MUNDO DA FANTASIA». A dinâmica criada pelos seus atores foi inexcedível. Realizaram 171 atuações. Gravaram duas peças para a televisão. Organizaram dois festivais de teatro jovem - cidade da Horta. Participaram em dois Encontros de Teatro na Escola – Vila da Lagoa. Representaram nas ilhas de: Faial, Pico e S. Miguel. Efetuaram cinco digressões por Portugal Continental, com representações de Guimarães a Vila Real de Santo António. As últimas três peças encenadas pelo grupo foram escritas por mim. Todas elas refletiram as preocupações
o livro “Jovens de Sucesso” será lançado na Biblioteca Pública da Horta no próximo dia 6 de Julho, pelas 21 horas.
dos jovens que o compunham. O livro que vou lançar na Biblioteca Pública da Horta no dia 6 de Julho, pelas 21 horas, é o conjunto dessas peças. «ZARAGATA FAMILIAR» aborda o tema da violência doméstica. «OS AMIGOS DA CINDERELA» - foca a problemática da droga. «JOVENS DE SUCESSO» - apresenta a gravidez precoce. Estes temas foram desenvolvidos por mim, mas sempre com a participação ativa e muito empenhada dos elementos do clube de teatro. Tentei realçar que os jovens poderão atingir grande sucesso, quando estimulados e bem orientados. Manuel M. C. Aguiar
LITERATURA
São sobejamente conhecidas as inspirações que toda a paisagem e cultura, e afinal a mística das ilhas fornecem aos artistas… há algo que ultrapassa o conhecimento racional do Homem nesta lufada de criatividade, que uma extensão verde e negra, que um pensamento escondido na pedra provoca no inconsciente.
João Lourenço
LITERATURA
Abraços de Palavras Projeto
Atelier de Costura Porque dizemos às crianças que é importante ler? Ler é importante, porque... “é divertido”, “aprendemos”, “viajamos”, “descobrimos”, “imaginamos”, “sonhamos”, “desenvolvemos a leitura”, “ajuda-nos a falar melhor”, “faz-nos ter ideias”, “faz-nos pensar”, “ajuda-nos a respeitar os outros e a natureza”, “ajuda-nos a partilhar experiências”, “abre-nos portas para novos mundos”, “faz-nos rir” respostas dos alunos do 1º ciclo do ensino básico da ilha do Faial. Ler é verdadeiramente importante, por tudo isto e muito mais. A aquisição plena de competências de leitura é essencial para a sobrevivência das crianças em meio escolar e também para a sua sobrevivência na vida adulta. Sendo as crianças os alicerces da sociedade futura, revela-se um trabalho imprescindível intervir no presente, junto delas, através de atividades que promovam o livro, estimulem o gosto pela leitura e escrita, apoiem uma aprendizagem mais viva da língua portuguesa e que fomentem a aquisição de competências de comunicação e de expressão artística. Atento à realidade urgente de desenvolver competências e práticas de leitura nos Açores, o Governo Regional determinou implementar o Plano Regional de Leitura. Assim, surgiu o Projeto de Promoção do
Livro e da Leitura “Abraços de Palavras” que está a ser desenvolvido nos estabelecimentos públicos do 1º ciclo do ensino básico da ilha do Faial, durante o ano de 2012. Este projeto é composto por dois ateliers - “Sentimento” e “Os Vizinhos” - e aposta numa intervenção baseada na animação educativa e pedagógica da leitura, baseada na pedagogia diferenciada e na construção e valorização de subjetividades e significações críticas, tendo por fim, a transformação da sociedade. Até à data de hoje foram realizadas 23 sessões do atelier “Sentimento”, em oito das dez escolas existentes na ilha do Faial, tendo como protagonistas de todo o processo 401 alunos. Estes alunos foram surpreendidos e maravilhados com uma história indiscutivelmente emotiva, jogou-se com os seus pensamentos, desafiando a sua curiosidade e incentivou-se a dialogar, a partilhar afetos e a descobrir o mundo. Partindo então da leitura da história “O Coração e a Garrafa” de Oliver Jeffers, que explora a temática do amor e da perda afetiva, os alunos foram convidados a fundamentar as suas interpretações, a elaborar reflexões, a discutir experiências individuais marcantes, a exteriorizar emoções e sentimentos, e a criar artisticamente corações singulares. Estes corações feitos de retalhos
de tecido, cosidos com linhas de diversas cores, decorados com botões e enchidos com diferentes materiais foram presos por fios. Nestes fios foram adicionadas mensagens cujo conteúdo se referiu à vivência de situações semelhantes à passada pela protagonista da história. Todos os corações foram posteriormente atados a garrafas de plástico e transportados e expostos em muitas casas da ilha do Faial. Se visitar uma dessas casas certamente irá encontrar um desses corações repleto de afeto, entusiasmo e esperança.
O Atelier de Costura, Suzana Morais, localizado em Porto Pim, na cidade da Horta, tem o prazer de anunciar que já estão abertas as inscrições para o” Curso de Costura” que irá estar a decorrer este verão, durante os meses de julho e agosto. Este curso destina-se a grupos de crianças entre os 7 e os 14 anos, os grupos serão no máximo de 4 crianças por turma, existe um programa de 15 aulas, 2 aulas por semana num horário de final de tarde, para todos aproveitarmos os finais de tarde, em Porto Pim, de Verão, que só por si já é suficientemente inspirador. Objectivos do curso: Partindo do imaginário de cada um iremos criar um boneco de pano. Para tal precisamos de aprender técnicas da costura que incluem desenho, moldes, corte e costura até à criação final em tecidos e materiais “reutilizáveis”, para reaprendermos o valor da história da costura. Assim proporcionamos um Verão diferente e educativo a quem esteja interessado em aprender as mais básicas tarefas da costura. Suzana Morais 964066351 Rua da Areinha Velha, nº1 suzanamorais.ateliercostura@gmail.com
Presentemente vamos fazer uma pausa e em Setembro regressaremos às escolas com mais sessões do atelier “Sentimento” e com o atelier “Os Vizinhos”. Até lá leiam muito e encorajem as vossas crianças a ler também, juntos encontrarão um mundo maravilhoso de conhecimento e de fruição que poderá durar a vida toda. E assim em conjunto estaremos a contribuir para a formação de muitos e bons leitores, para a formação de sujeitos capazes de agir de uma forma livre, consciente e responsável no seio de uma comunidade, tendo em vista o bem-estar social. Rita Braga (Coordenadora do Projeto Abraços de Palavras) Cirurgião Amarelo - Educação para a Cultura + 11 + FAZENDO + JULHo 2012 +
Gatafunhos
Tomás Melo
FAIAL até final de Julho
10h30 - 21h30 Albergue Estrela do Atlântico MARTINHO COSTA exposição de pintura
Dom_1 Jul.
21h30 Teatro Faialense MONEYBALL – JOGADA DE RISCO filme de Bennett Miller
Ter_3 Jul.
21h00 Biblioteca Pública A.R.J.J.G. RECITAL DE PIANO Helena Juravskaya e Alexander Kuklin concerto
Qua_4 Jul.
18h Mercado Municipal NOITE DO CHICHARRO
Sex_6 Jul.
18h30 Biblioteca Pública A.R.J.J.G. JOVENS DE SUCESSO lançam. do livro de Manuel MC Aguiar
Agenda JULHO 19h30 Largo da Igreja da Conceição FESTIVAL DE BANDAS CENTENÁRIAS 22h30 Largo da Igreja da Conceição XV ENCONTRO DE MÚSICA TRADICIONAL DO CONCELHO DA HORTA
Dom_8 Jul.
17h Teatro Faialense ADORMECIDO documentário de Paulo Abreu
Sex_13 Jul.
Quinta de S. Lourenço PUNKADA FEST III ONE VISION - Tributo a Queen DJs CAPOTES e VERSUS
Sáb_14 Jul.
Quinta de S. Lourenço PUNKADA FEST III DA/CA - Tributo a AC/DC PUNKADA DJs DOUBLE GEE e YEN SUNG
Dom_15 Jul.
20h Largo da Igreja da Conceição V FESTIVAL DE BANDAS CENTENÁRIAS
20h30 Praça do Infante FILARM. RECREIO DOS PASTORES concerto
21h30 Teatro Faialense A CASA DOS CISNES grupo de teatro da Unisénior
Qua_18 Jul.
Qui_12 Jul.
21h00 Praça do Infante GRUPO FOLCLÓRICO DO SALÃO concerto
Sáb_7 Jul.
21h30 Praça do Infante ORQUESTRA MÚSICA LIGEIRA CMH concerto
Qui_26 Jul.
21h30 Praça do Infante FILARMÓNICA ARTISTA FAIALENSE concerto
PICO Dom_1 Jul.
21h30 Centro Social e Recreativo da Silveira e Almagreira DAQUI FALA O MORTO de Carlos Llopis Grupo de Teatro “A Semente”
Dom_8 Jul.
11h30 às 16h30 Canada do Monte/ Criação Velha FEIRA RURAL DA PEDREIRA
Seg_9 a Sex_20 Jul.
9h às 15h Edifício do Pré-escolar da Madalena FÉRIAS COM TEATRO PARA JOVENS com Terry Costa
Sáb_14 Jul.
21h30 Madalena Largo Cardeal Costa Nunes FESTIVAL SETE SÓIS SETE LUAS com Mor Karbasi e Iñaki Plaza 21h30 Auditório Municipal das Lajes do Pico O ARTISTA filme de Michel Hazanavicius
Dom_15 Jul.
14h às 16h Parque Florestal de S. João FEIRA DE PRODUTOS DA TERRA
Ter_24 a Sáb_28 Jul.
Edifício do Pré-escolar da Madalena DANÇA MODERNA workshop com Ana Sofia Vasconcelos
Ficha Técnica FAZENDO - DIRECÇÃO Aurora Ribeiro Tomás Melo COORDENADORES Albino, Carla Cook, Fernando Nunes, Filipe Porteiro, Helena Krug, Lídia Silva, Pedro Gaspar, Pedro Afonso REVISÃO E AGENDA Sara Soares CAPA Martinho Costa COLABORADORES Carla Dâmaso, Cristina Lourido, Eduardo Carqueijeiro, Fernando Nunes, Júlio Correia da Silva, Luís C. F. Henriques, Manuel M.C. Aguiar, Maria Leite, Pedro Gaspar, Pedro Medeiros, Ruth Bartenschlager, Suzana Morais, Victor Rui Dores PROJECTO GRÁFICO Lia Goulart PROPRIEDADE Associação Cultural Fazendo SEDE Rua Concelheiro Medeiros nº 19 9900 Horta PERIODICIDADE Mensal TIRAGEM 500 exemplares IMPRESSÃO Gráfica O Telégrapho CONTACTOS vai.se.fazendo@gmail.com fazendofazendo.blogspot.com 292 392 718