Fazendo 85

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À Terceira. E é de vez

MAIO ‘13

O BOLETIM _ DO QUE POR CÁ SE FAZ MENSAL / . DISTRIBUIÇÃO GRATUITA


2. Fazendo Editorial

Editorial O Fazendo já tinha chegado à Terceira

recebemos o que nos queiram enviar.

menos concretos (crónicas, opiniões,

e a Terceira já tinha chegado ao Fa-

Daquilo que recebemos publicamos

contos, poesia), mas isso é defeito

zendo. Mas agora chegam os dois ao

(quase) tudo, desde que seja inédito

nosso, não é feitio. Enviem o que qui-

mesmo tempo e é de vez. A partir de

e relacionado com cultura, ciência ou

serem. Se não souberem escrever

agora o Fazendo cobre o que se faz pe-

ambiente e que seja produzido nos

bem, escrevam mal que nós temos

las ilhas do Faial, do Pico e da Terceira.

Açores. Se não for feito aqui, que ao

quem corrija. Ou então façam um de-

A quem ainda não conhece o Fazendo

menos tenha alguma relação. O con-

senho. Convidem os vossos amigos a

explicamos já que é um boletim feito

vite é aberto a toda a comunidade.

fazer o mesmo. E os vossos inimigos.

de contribuições. Temos uma caixa

Damos mais prioridade a artigos so-

de correio - electrónico, claro! (mas

bre acções (exposições, filmes, livros,

do anacrónico também temos) - onde

oficinas, concertos…) do que a artigos

Direcção Aurora Ribeiro Tomás Melo Capa Diego Ares Liñares Colaboradores

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Carlos Alberto Machado

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Cristina Lourido Fernando Nunes Filipe Tavares Joel Neto Jorge A. Paulus Bruno

O Aeroporto da Horta inicia as ligações

José Bettencourt

aéreas directas através da TAP entre

Lia Goulart Luís C.F. Henriques

Horta e Lisboa. Iniciam-se as emissões

dof e a coragem de Bono Vox dos U2,

em FM Stéreo da RDP em Angra do He-

e é visto por mais de um mil milhões

Binoche e “O Beijo da Mulher-Aranha”,

Nuno Sardinha

roísmo. Luís Gil Bettencourt, músico

de pessoas. Pedro Ayres Magalhães

de Hector Babenco, com William Hurt,

Orlanda André

terceirense radicado nos Estados Uni-

(guitarra), Rodrigo Leão (teclados),

Raul Juliá, Sónia Braga, José Lewgoy e

Paulo Vilela Raimundo

dos, após final dos Viking, regressa a

Francisco Ribeiro (violoncelo), Gabriel

Milton Gonçalves. No cinema em Por-

Rogério Sousa

Portugal e em Lisboa prepara-se para

Gomes (acordeão) e Teresa Salgueiro

tugal surge “Um Adeus Português” do

Victor Rui Dores

lançar o seu primeiro álbum a solo inti-

(voz). Magalhães e Leão formam os

realizador João Botelho, o primeiro fil-

tulado “Empty Space”. Zeca Medeiros

“Madredeus”. José Afonso, bastante

me português de ficção a abordar de

Layout Design

principia na RTP Açores “Memórias do

debilitado, edita um novo LP de origi-

forma explícita a guerra colonial e João

Mauro Santos Pereira www.comunicaratitude.pt

Vale”, com a Harmónica Furnense. José

nais intitulado Galinhas do Mato com

César Monteiro realiza “À Flor do Mar”,

Daniel Macide escreve a crónica “Anar-

a companhia dos músicos: Júlio Perei-

tendo Teresa Villaverde como actriz.

quistas”, que virá mais tarde a constar

ra, Luís Represas, Helena Vieira, Jani-

É o ano de nascimento do arquitecto

Paginação

do livro “Crónicas da Portugália”. O

ta Salomé, Né Ladeiras e José Mário

paisagista terceirense Luís Pinheiro

Tomás Melo

oceanógrafo Robert Ballard descobre

Branco. O norte-americano Tom Waits

Brum e do cineasta micaelense João

os destroços do navio britânico Tita-

lança o álbum de originais “Rain Dogs”.

Pedro Botelho, realizador do filme

nic. O soviético Mikhail Gorbatchov é

É inaugurado o Museu Nacional do Te- “Ananá”. A onomástica desse período

Revisão Carla Dâmaso

eleito secretário-geral do PCUS (Parti-

atro em Lisboa. Às salas chegam dois

é marcada pela atribuição às raparigas

do Comunista da União Soviética). Na

filmes que chocam a opinião pública:

dos nomes de Ana, Carla, Maria, San-

Propriedade

televisão o acontecimento é o Live Aid, “Je vous salue, Marie”, de Jean-Luc Go-

dra e Claúdia e dos rapazes por Ricardo,

Associação Cultural Fazendo

que apresenta o arrojo de Bob Gel-

Pedro, Nuno, João e Bruno.

dard, com Myriem Roussel e Juliette

FN

Sede Rua Conselheiro Medeiros

Queen Mary II

nº 19 ­­— 9900 Horta

Titanic

Periodicidade Pessoa

Carro

Capa

Autocarro

Airbus

Mensal Tiragem 700 exemplares

Diego Ares Liñares

Impressão Gráfica O Telégrapho

Tal como os caracteres do alfabeto e

lavras que raras vez usamos juntas no

as palavras, as imagens também po-

nosso quotidiano e assim conseguir

relação ou podemos render-lhes homenagem. Podemos até desenhar coi-

dem ser símbolos.

comunicar ideias mais sofisticadas,

sas sem forma (DES)!

nesta edição são dos autores

Certas formas são reconhecidas co-

mais complexas, com um significado

Hassim Vaio Mundo nasceu na Galiza

e não necessariamente da direcção do Fazendo

mummente e podem transmitir signi-

para além do aparente. Isto é ao que

em 1989. Sem os conhecer, veio em

ficados concordados, aceites, mesmo

chamamos poesia.

2010, por acaso, para os Açores e en-

que possam não ser muito concretos.

Na construção de imagens, no dese-

controu neles um meio ao qual não foi

As palavras, podemos juntá-las e ar-

nho, acontece o mesmo. Podemos em-

preciso adaptar-se.

rumá-las numa ordem específica para

pregar figuras para transmitir ideias e

Elementos que aqui encontrou fica-

transmitir uma ideia. Essa é a sua fun-

ainda usar a cor, o traço, a textura para

ram já a formar parte da sua lingua-

ção, a razão pela qual existem.

sugerir outras. Ao desenhar podemos

gem visual.

Podemos construir frases usando pa-

ligar objectos que não têm qualquer

As opiniões expressas


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Começar a Casa pelo telhado

85 MAIO ‘13

Fazendo Crónica

Quando há dinheiro, importa-se; quando não há, olha-se para o lado...

Em 1999, em conjunto com o meu ex-professor de Língua Inglesa da Universidade dos Açores, John Starkey, criei a revista literária NEO – ainda em circulação. A ideia: apostar forte em jovens criadores literários açorianos, aqueles que não escrevem sobre as ilhas de bruma nem sobre a saudade, nem sobre o capacete do Pico nem sobre a Chamateia, nem sobre a imensidão do claustrofóbico mar nem sobre a açorianidade das nossas veias de basalto onde corre o imenso mar. Ou será ao contrário? Mais tarde, em 2003, lado a lado com Valter Peres, criei o ART&MANHAS – ainda em funcionamento. A ideia: um encontro de artes, focando vários temas e convocando vários intervenientes, sob o mote das “artes” e das “manhas” de que se servem os artistas para concretizarem os seus trabalhos. Apostando

Em 2007, juntamente com Miguel Costa e Sónia Bor-

com os “de fora”. Porquê? Por não haver dinheiro

(de novo) em jovens criadores açorianos, na crença

ges, criei o Concurso LABJOVEM – Jovens Criadores

para mandar buscar gente fora dos Açores.

de que há novos valores criativos e novos projectos

dos Açores, promovido pela Direcção Regional da

Ora, sendo na prática uma consequência muito

culturais que não falam dos botes baleiros nem dos

Juventude – ainda em funcionamento. A ideia: ser-

positiva no que concerne à defesa dos criadores e artistas açorianos, não há como não lamentar esta

bois do mar, que não fotografam apenas os mantos

vir de plataforma aos jovens criadores açorianos,

de retalho nem o sofrimento da saudade da imigra-

permitindo, não só a possibilidade de verem os seus

ção, que não cantam sobre a dor do isolamento nem

trabalhos validados por um júri e posteriormente

sobre a carne do Espírito Santo, e que merecem um

apresentados ao público, como também o usufruto

Apesar de tudo, criar as condições para o surgimen-

espaço de projecção e de apresentação tal como os

de uma bolsa de formação que permitisse o melho-

to, desenvolvimento e promoção dos artistas e dos

restantes.

ramento e crescimento formativo e criativo de cada

produtos culturais açorianos dentro e fora do nosso

vencedor.

arquipélago deveria ser uma posição ideológica e

...escrever um poema sobre uma alcatra na bruma era uma obra de arte inquestionável...

viragem de discurso. Quando há dinheiro, importa-se; quando não há, olha-se para o lado...

Nos dias de hoje, cada vez mais se ouve falar da ne-

intelectual, certa da qualidade do que produzimos,

cessidade do apoio aos jovens valores açorianos, e a

e não uma mera contingência financeira que – se, e

aposta nos artistas locais, em pé de igualdade com

quando, passar – será facilmente esquecida.

os artistas que costumavam vir “de fora”. Para quem

Que isto não seja um revivalismo à “cultura açoriana”

tem trabalhado na defesa e no apoio à criação de e

pós-autonómica, onde escrever um poema sobre

nos Açores há mais de dez anos, aparentemente a

uma alcatra na bruma era uma obra de arte inques-

aposta em valores regionais só poderia ser tomada

tionável e pertencente à literatura açoriana, mas

com alegria. Não obstante, a razão pela qual cada

por outro lado, que seja a abertura “forçada” de uma

vez mais agentes culturais e decisores políticos têm

porta que há muito queria ser aberta... agora está

olhado para a produção cultural local é enviesada:

entreaberta. Há que a potenciar.

é começar a casa pelo telhado. Agora, que vivemos uma crise internacional e os recursos financeiros

Rogério Sousa

são mais escassos, já se fala sobre e já se olha para

nota: escreve de acordo com a

os criadores açorianos quase em pé de igualdade

ortografia pré-acordo-ortográfico.


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85 MAIO ‘13

Entrevista a Filipe Tavares Realizador de: A Viagem Autonómica

Fazendo Cinema

Em que fase do teu percurso artístico te encontras

documentário elementos de ficção e criámos um per-

Como é que os artistas e mais particularmente

e que passo significa a realização deste filme?

sonagem, o Gonçalo Cabral, interpretado por Frederico

os profissionais do audiovisual podem contribuir

Estamos a terminar o livro, as traduções e a legenda-

Amaral, que percorre as ilhas açorianas à procura da

para o desenvolvimento cultural da região e da

gem do DVD “A viagem autonómica”, a submeter o filme

história da autonomia. O Gonçalo está muito próximo

sua autonomia e como avalias o papel dos órgãos

a diversos festivais e a preparar a sua exibição nas 9

da realidade do Frederico Amaral e transporta muito

governamentais regionais relativamente a essa

ilhas. Paralelamente, estou a desenvolver dois novos

daquilo que eu e o Nuno sentimos: uma vontade de ir

área?

projectos relacionados com os Açores. Pretendo con-

à descoberta de algo que conhecemos mas que preci-

Os artistas devem continuar a criar, a apresentar os

tinuar a apostar em trabalhos didácticos, de promoção

samos aprofundar. Foi a partir daqui que achámos que

seus trabalhos e a contactar outros mundos para me-

da nossa identidade e cultura, vocacionados para um

seria interessante relacionar a Autonomia Política com

lhor conhecerem o seu. Basta ter em consideração os

público vasto e que valorizem as nossas ilhas enquan-

a autonomia pessoal e com a identidade colectiva. Um

nossos ilustres antepassados para perceber o papel

to destino Turístico. Este filme foi uma nova etapa na

dos grandes desafios foi associar um roteiro histórico e

que tiveram no desenvolvimento e na afirmação da

minha vida profissional atendendo às novas funções

cronológico a um roteiro geográfico pelas 9 ilhas. Qui-

nossa cultura e autonomia, em áreas como a litera-

que assumi, como Realizador e Produtor. Aprendi mais

semos trazer “frescura” a um tema aparentemente

tura, a música e a política. Acho importante que haja

sobre a história dos Açores e tive a oportunidade de

“pesado”, direccionámos o filme sobretudo para os mais

também criatividade política. A Arte é Universal, mas

conhecer pessoas incríveis. Este filme é o primeiro pro-

jovens mas pretendendo que os açorianos das diferen-

que os artistas representam lugares, períodos e a si

jecto da Ventoencanado e contribui muito para a afir-

tes ilhas, idades e naturezas, se identificassem com

próprios, disso não tenho qualquer dúvida. O importan-

mação da empresa no mercado.

este trabalho.

te é fazer e não ficar à espera. E há uma coisa que acho

Pretendias ter um ponto de vista “neutro” na abor-

preparados para trabalhar em conjunto.Em relação ao

...acho mais importante investir nos projectos e nas pessoas do que propriamente em infra-estruturas.

interessante na nova geração, parece que estão mais dagem ao tema. Será que tal posição é possível de

papel dos órgãos governamentais regionais, julgo que

atingir, sobretudo tendo em conta que é de um as-

nos últimos anos tem havido um particular interesse e

sunto político que se trata?

investimento na área cultural, e ainda bem. É preciso

Eu não pretendo esconder a forma como encaro a

intensificar esse investimento e creio que nesse sen-

Autonomia e esta opção está expressa no filme, cuja

tido tem havido uma comunicação mais activa entre o

intenção é claramente a de valorizar a autonomia atra-

Governo e os artistas e as indústrias criativas no senti-

vés da sua história que é a melhor justifição para a sua

do de dinamizar a criação artística. A aposta na Cultura

existência. O filme incentiva a uma reflexão sobre o que

é uma garantia de evolução enquanto sociedade e no

tem sido a evolução da autonomia e qual o caminho

nosso caso, é necessário democratizar ainda mais a cul-

que deve seguir. O filme fornece material suficiente

tura e fazê-la chegar a todos os Açorianos. Nesta fase

para cada um fazer a sua própria viagem autonómica.

acho mais importante investir nos projectos e nas pes-

A “neutralidade” que é verdadeiramente importante, é

soas do que propriamente em infra-estruturas, julgo

conferida pelos diversos testemunhos que recolhemos,

que a esse nível a região está bem servida. Os artistas

houve a preocupação de percorrer todo o espectro po-

têm uma enorme responsabilidade no processo de de-

Porque é que achaste que devias fazer um filme

lítico e académico para abordar a Autonomia sem lhe

senvolvimento de uma sociedade, a vários níveis.

sobre este tema e como chegaste ao dispositivo

dar uma inclinação errada. A autonomia não tem cor

utilizado para o explorar?

política, e se tivesse, quanto muito teria a cor da nos-

Boiar era a resposta do Gonçalo (protagonista) à

Tenho um particular interesse pela história dos Açores

sa identidade. A nossa história é real, e está fielmente

pergunta “Que queres ser quando fores grande?”.

e pela política regional. Na altura em que decidi avan-

contada neste filme.

E tu, que querias ser quando fosses grande? Estás a cumprir esse sonho?

çar com este projecto, o contexto político era bastante apetecível: a crise, a política de cortes, as tendências

Tiveste o apoio do Governo Regional para reali-

Quis ser Bombeiro, violinista, arquitecto, piloto de avi-

centralistas, os ataques à lei de finanças regionais, etc.,

zares este filme. Achas que se a tua visão fosse

ões, etc, Nos últimos anos do liceu passei um período de muito trabalho, o meu pai tinha uma padaria onde tra-

por outro lado aproximavam-se as eleições regionais

menos coincidente com a visão governamental,

e a implementação da limitação de mandatos signifi-

terias tido esse apoio?

balhei duramente durante 4 anos e foi aí que percebi o

cava que estávamos à beira de um novo ciclo na nos-

O que havia de coincidente com o Governo Regional era

que não queria fazer, com o devido respeito e reconhe-

sa autonomia. Senti que era urgente recolher num só

a vontade de fazer um trabalho que valorizasse e desse

cimento pela profissão.

documento o testemunho de pessoas fundamentais

a conhecer a autonomia dos Açores. De resto, tivemos a

Cada pessoa tem a sua vocação e o importante é ir à

para a contrução da nossa autonomia a partir do 25

liberdade que esperávamos e que era a de fazer aquilo

procura e experimentar, tudo é expêriencia. Formei-

de Abril. Curiosamente, o Governo Regional pretendia

que tínhamos proposto. O apoio do Governo é o resulta- -me em som, queria trabalhar em cinema e é o que te-

criar uma casa museu dedicada à Autonomia e quando

do do reconhecimento e da valorização de um projecto

nho feito nos últimos 9 anos. Criei a Ventoencanado

li esta notícia pensei logo que este era o momento para

apresentado e eu estou grato pela aposta que fizeram.

para “dar pernas” aos meus filmes e estou garantida-

avançar com um documentário sobre a autonomia dos

“A viagem autonómica” recebeu também o precioso

Açores. E foi assim. Convidei o Nuno Costa Santos para

apoio do Parlamento Açoriano, SATA, EDA, Atlanticoline,

escrevermos em conjunto o guião e a apresentação

Grupo Bensaúde, BES dos Açores, RTP Açores, entre

deste projecto, que acenta em três ideias principais:

outros apoios públicos e privados. O projecto contou

viagem, descoberta e partilha. Optámos por juntar ao

com a colaboração de muitas pessoas a título gratuito.

mente a realizar um dos meus sonhos e por enquanto os meus sonhos alimentam-se nos Açores. Entrevista feita por Aurora Ribeiro


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85 MAIO ‘13

Vinte e Dois Anos de Silêncio Cineclube da ilha Terceira refundado

Fazendo Cinema

Por alguma razão as palavras militância e arrogância

cultura com meses de trabalho acumulado), foi

destes mais de cem anos, incluindo a do escapismo

rimam, e ainda recentemente eu pude voltar a verifi-

sempre a necessidade. À filosofia, só a descobrimos

e a do entretenimento, a de namorar e mesmo a de

cá-lo numa conversa a pretexto de uma das áreas da

muito depois. E tem sentido, quando cultivada com

comer pipocas. Sabe que nenhuma dessas razões

moda: a agricultura. Entrei numa daquelas novas lo-

critério e moderação. Mas tudo o mais será utilizá-

é razão errada. E, como pretende alimentar-se da

jas biológicas, ou orgânicas, ou simplesmente bem- -la, também a ela, para ocupar o lugar deixado vago

inclusão, propõe-se dialogar com o renascimento

por Deus.

de que o cinema em sala desfruta na ilha, com dois

café e a ler o jornal. Até que uma cliente, encantada

Pois é a esse tipo de impulso que o Cineclube da Ilha

espaços exibindo agora até quatro filmes diferentes

com o estabelecimento, novinho, decidiu meter con-

Terceira tentará resistir nesta segunda fase da sua

por semana.

versa em voz alta com uma das donas.

existência. Fundado em 1977 para corresponder à

Por isso mesmo têm vindo a ser distribuídos in-

urgência de proteger e desenvolver o bom gosto

quéritos, aos sócios e potenciais sócios – e por isso

-aventuradas, e sentei-me a um canto, a tomar um

“Esta loja tem, de facto, total propriedade. Ainda por cima nesta altura, em que as pessoas estão todas a

cinematográfico, durou numa primeira fase cator-

mesmo continuarão a ser registadas as opiniões re-

pensar voltar à terra”, comentou, em jeito de des-

ze anos, mas tornando-se sobretudo, e ao fim de

cebidas, as mais recorrentes e as mais esporádicas.

comprometido elogio. Respondeu-lhe a dona, uma

não muito tempo, um espaço de convívio de matriz

O que querem as pessoas ver? Cinema clássico ou

mulher bonita, de trinta e poucos anos, mas com o

eminentemente melómana. No fundo, o cinema foi

contemporâneo? Cinema temático ou português?

rosto fechado da raiva e das certezas absolutas:

saindo da equação ao mesmo ritmo a que foi desa-

Cinema documental ou de animação? Cinema in-

“Sim, é verdade, estão a voltar. Só que pelas razões

parecendo também das salas comerciais, aniquila-

dependente ou de latitudes independentes? Pois

erradas!” E o que queria dizer era claro: as pessoas

das pelo advento do videogravador.

também a isso o Cineclube da Ilha Terceira tentará

estão a voltar à terra, sim; mas por necessidade,

Vinte e dois anos depois, e passada uma geração in-

corresponder, embora não deixando (naturalmente)

quando na verdade deveriam fazê-lo por filosofia.

teira sem Cineclube, e também sem exibição regular

de tentar propor novos caminhos estéticos aos seus

Proselitismo do mais tonto, naturalmente. As pes-

de cinema de qualidade na Terceira, essa aprendi-

sócios e espectadores.

soas nunca se aproximaram da terra por razões fi-

zagem será útil. Refundado já em 2013, o CCIT con-

É das pessoas, em suma, que o CCIT pretende sus-

losóficas. A razão fundamental para que as pessoas

tinua a ter como agenda fundamental a procura da

tentar-se – é para as pessoas que pretende existir.

se aproximassem da terra, tão dura como ingrata

beleza. Mas não ignora que a paixão do cinema cor-

Será essa a sua militância. E a sua arrogância, se qui-

(às vezes basta um nevoeiro para dar cabo de uma

respondeu a muitas outras necessidades, ao longo

serem.

O Sol

O Sol preguntou à lua

Joel Neto

Quando haverá amanhecer Fazendo Música

Tal como a “Charamba”, “O Bravo” e o “Meu Bem”, “O

dico-harmónico descendente da tónica à dominante,

Sol” é cantiga tradicional da ilha Terceira pela de-

movimento esse que é exclusivo do modo menor.

ra, já que “lundum” é um género de composição afro-

clinação resultante da convivência com espanhóis

Recorde-se que esta “cadência frígia” provém dos

-brasileiro. Ora, pelas razões acima expostas, a linha

durante 60 anos de ocupação filipina. Para além

velhos modos medievais que caracterizam certas

melódica de “O Sol” enquadra-se na música ibérica,

disso, há um desenho usado no modo espanhol que

canções do folclore peninsular.

influenciou também o modo terceirense que é a cha- “O Sol” é também conhecido por “Lundum”, ou “Lunmada “cadência frígia”, ou seja, o movimento meló-

dum da Baía”, o que, erradamente, nos poderia levar

a pensar tratar-se de uma canção de origem brasilei-

neste caso da música espanhola que se fundiu com a música terceirense. Victor Rui Dores


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85 MAIO ‘13

Mulher de Livros

Fazendo Literatura

a lei da vida e das sociedades, virão os elogios e as

A raridade de um bem torna-o mais valioso. A lapalis-

za ou de tontice, mas para a elite do pensamento, da

sada seria desnecessária se a evidência fosse mes-

cultura, da arte, da beleza do espírito humano e da

lamechices daqueles que nunca lá puseram as pa-

mo evidência e se fosse universalmente aplicada,

humanidade». Por isto, os tontos assobiam para o

torras, que nunca quiseram saber da In Folio para

mas não é uma coisa nem outra.

lado, dizem, se directamente confrontados, que sim

nada. Talvez até um director regional ou presidente

Vivemos numa época em que as livrarias tendem a

senhor, que é uma honra para a cidade ter uma livra-

de governo, bem assessorado, resolva fazer um dis-

ser lugares onde se comerceiam os livros que são

ria e uma livreira assim, etc.: é mentira, não acham

curso com lápide alusiva dependurada. Será dema-

«novidades, “best-sellers” ou que têm capas em re-

nada disso, dizem-no para não destoar, porque a de-

siado tarde. Mas também pouco lhes importará: não

levo e letras a brilhar», em vez de «obras essenciais

mocracia também trouxe o saber de saber estar na

do pensamento e ao conhecimento» – quem o diz é

moda, intelectual até que seja.

Paula Quadros, a livreira da In Folio, em Angra do He-

Quando a Paula e a sua livraria

roísmo: uma mulher de livros, com o mesmo sentido

desaparecerem, porque é essa

há tribunal, de cidadãos, ou divino, que os possa ou saiba julgar. O povo grande, esse, estará, como de costume, em festas, touradas e futebóis. E, parte dele, a consumir livrecos de futebolistas, de voláteis vedetinhas de televisão ou de jovens talentos aca-

que, noutros tempos e circunstâncias, diríamos ser uma mulher de armas.

badinhos de “formar” em ateliê de quinze minutos

É desta mulher de livros que quero falar um pouco,

e programa intelecto-social de “escrita criativa” – o

sem veleidades de historiador ou de biógrafo, ape-

além, como a vida, será leve para estes bem-aven-

nas como testemunho de amizade e de admiração.

turados.

A In Folio é um espaço sitiado mas sem sitiadores.

Foi em 1997 que conheci a In Folio e a Paula Quadros

Não são guerreiros sedentos de se apoderarem das

nela. Não fazia a mínima ideia de quem era a livreira

suas riquezas que ferozmente a cercam – antes fos-

e o que ela representava. Cativou-me pela simpatia,

sem. A mulher livreira Paula Quadros e os seus quase

pelo saber, pelo amor evidente pelos livros, pelo

20 mil livros estão sitiados pela indiferença, pior tal-

pensamento. Fui voltando, por razões pessoais e

vez do que pelo desprezo ou pelo ódio, a indiferen-

profissionais, sempre que possível. As raridades, os

ça da generalidade dos terceirenses e dos poderes:

bens valiosos, como a Paula Quadros e a sua In Folio, estão sempre no coração e amam-se até ao fim

«Muitos abrem a porta e nem entram porque perce-

– que, espero, estará ainda muito, muito longe.

bem não ser espaço para eles, outros entram quando não há em outros locais o que querem, mas nem

Todas as citações pertencem a uma entrevista dada por Paula Qua-

têm curiosidade pelo espólio.» Mete medo uma casa

dros à agência de notícias LUSA, em 26 de Outubro de 2011, vista na

com uma mulher que tem a coragem de dizer que os

internet em 6 de Maio de 2013.

livros que tem para vender «não são para as elites do dinheiro, daquela com sinais exteriores de rique-

Carlos Alberto Machado / Companhia das Ilhas

Duarte Lobo e a Sé de Angra

Fazendo Música

Duarte Lobo (c.1566-1646) foi um dos composito-

grande popularidade, devido ao volume do Liber

do segundo volume 200. Para além destes dois im-

res portugueses mais conhecidos pela Europa. A

Missarum (1621) que se encontra na Bodleian Libra-

pressos foi ainda identificado um terceiro – Cantica

obra musical impressa que se lhe conhece – que

ry em Oxford. Ainda no século XIX este motete era

Beatae Virginis – de Frei Manuel Cardoso, impresso

compreende seis volumes – foi editada em Lisboa e

cantado pela Madrigal Society de Londres, fazendo

em Lisboa por Pedro Craesbeeck em 1603. Das obras

Antuérpia. Esta última cidade conheceu a edição de

parte de uma prática secular.

de Lobo destaca-se o Liber Missarum de 1621. Deste

quatro volumes de polifonia, impressos por Baltazar

Em Maio de 2012, no âmbito da catalogação do fun-

volume conheciam-se no mundo até à data somente

Moreto na célebre Officina Plantiniana, conhecida

do musical do Arquivo Capitular da Catedral, foram

treze impressos distribuídos por Portugal (Coimbra

em toda a Europa pelas suas primorosas edições

identificados na Sé de Angra dois impressos – cor-

(3), Lisboa (2), Évora (1) Elvas (1) e Lamego (1)), Sevi-

musicais. Nesta oficina foram impressas em 1602

respondendo ao Cantica Beatae Virginis (1605) e

lha, Badajoz, Córdova, México e o atrás mencionado

Opuscula…, em 1605 Cantica Beatae Virginis, em

ao Liber Missarum (1621) – de Duarte Lobo, ambos

existente em Oxford. O décimo quarto foi identifica-

1621 o Liber Missarum e, em 1636, o Liber Missarum

em muito bom estado de conservação, supondo-se

do na Sé de Angra.

II. Este facto terá certamente contribuído para o

conservarem ainda a encadernação original. Pelos

conhecimento da obra de Lobo. De salientar que em

registos da Officina Plantiniana sabe-se que do pri-

Inglaterra o motete Audivi vocem de caelo ganhou

meiro volume foram impressos 350 exemplares e

Luís C. F. Henriques | www.luiscfhenriques.com


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Montra de Ler

85 MAIO ‘13

Fazendo Literatura

Nesta Montra de Ler, salientamos dois aspectos do

ou de um Teófilo Braga, terá sido o mais profícuo es-

respectivamente, Adeus Amanhã (de 2011) e O Aci-

domínio da leitura e do conhecimento que através

tudioso da “alma” açoriana. Merece ainda hoje, e tal-

dente (de 2005). Fazem ambos parte de uma nova

dela podemos ter da cultura açoriana, terceirense

vez com maior premência, ser reavaliado e estudado,

geração que procura caminhos diferentes para o

em particular. Num primeiro grupo, duas obras de

mesmo simplesmente divulgado fora das cátedras

escrever açoriano, sem contudo descartarem a tra-

dois reputados homens de cultura que dedicaram as

mais ou menos herméticas das academias. Num

dição literária, quer nacional, quer universal. A no-

suas vidas ao conhecimento do meio em que nasce-

tempo de encruzilhadas, em que medram, descon-

vela de Rui de Sousa é a sua estreia neste domínio

ram e viveram. Do escritor, jornalista, historiador e

troladamente, as sínteses mal digeridas, vulgatas

e foi distinguida no LabJovem de 2009. O romance

etnógrafo praiense Frederico Lopes, mais conheci-

e dogmas sobre o ser açoriano e a açorianidade, as

de Mário Cabral, poeta e pintor, foi distinguido com o

do pelo pseudónimo de João Ilhéu (Praia da Vitória,

obras destes dois autores (e outros há, igualmente

Prémio John dos Passos para o melhor romance pu-

1896-Angra do Heroísmo, 1979), as Notas Etnográ-

importantes) poderiam ser uma lufada de inteligên-

blicado em Portugal em 2005-2006. Publicou ainda:

ficas. Do jurista, intelectual e político Luís da Silva

cia e de revigoramento intelectual. Quem sabe…

História duma Terra Cristã (1995), O Meu Livro de

Ribeiro (Angra do Heroísmo, 1882-1955), mas igual-

Na área da criação literária, que tem tido nos últimos

Receitas (2000), Via Sapientiæ: da Filosofia à Santi-

mente distinto historiador e etnógrafo, o primeiro

anos um vigor e uma qualidade de assinalar, desta-

dade (2008) e Tratados (2012).

volume das suas Obras, justamente, Etnografia

camos, sem menosprezo de outros, os terceirenses

Açorina. Este, ao nível de um Leite de Vasconcelos

Rui de Sousa (1978-) e Mário Cabral (1963-), com,

Carlos Alberto Machado / Companhia das Ilhas

Etnografia Açoriana Notas Etnográficas Luís da Silva Ribeiro

Frederico Lopes (João Ilhéu)

Adeus Amanhã

Edição: Instituto Histórica da Ilha Terceira,

Edição: Instituto Histórico da Ilha Terceira,

Edição: DRAC, col. LabJovem,

Edição: Campo das Letras,

1982 (816 páginas)

2003 (2ª ed.) (444 páginas)

2011 (116 páginas)

2005 (312 páginas)

Rui de Sousa

O Acidente Mário Cabral

Em Maio Florimos

Melancolia, poemas, letras e desenhos d´Angra Líquida “Em Maio florimos Melancolia, poemas,

poetas a residir em Angra do Heroísmo

Luísa Ribeiro, Sónia Bettencourt, Fer-

letras e desenhos d´Angra Líquida” é

e dá-los a conhecer ao público leitor. O

nando Nunes, Paulo Serrão, Hernâni

o título de uma colectânea de poesia

lançamento desta colectânea coinci-

Candeias, Bianca Mendes, seis florilé-

a ser editada dia 18 de Maio, sábado,

de com a apresentação do número 85

gios a Ana Paula Inácio e uma canção

pelas 21h30 pelo colectivo de poetas

do Boletim Cultural Fazendo dedicado

ilustrada a Paulo Branco. Os desenhos

da Casa do Sal. Num período em que

à Ilha Terceira e que assim se dá a co-

de Inês Ribeiro e Phillipa Cardoso ilus-

os poetas fazem edições de livros com

nhecer aos seus leitores terceirenses.

tram esta edição de cinquenta exem-

trezentos exemplares, a Casa do Sal

Por esse motivo foram pedidos três

plares, todos numerados e com carim-

/ Oficina d´Angra reúne trabalhos de

poemas a Tiago Rodrigues, Luís Silva,

bo da Casa de Sal/ Oficina d´Angra.

Fazendo Poesia


8. #

85 MAIO ‘13

Angra

Luís Brum

um paradigma perdido? No próximo dia 8 de Dezembro, comemoram-se trin-

Fazendo Opinião

1980. Simultaneamente, Angra encheu-se de orgu- – as intervenções contemporâneas, não só ao nível

ta anos sobre a inscrição da zona central da cidade

lho por esta coisa de prestígio que era fazer parte

de Angra na Lista do Património da Humanidade

do Património da Humanidade. Angra tornou-se o

dos novos edifícios como também do mobiliário urbano e das calçadas, que não representam qualquer

da UNESCO, ocorrida em 1983, quatro anos após

paradigma da cidade histórica portuguesa. E os an-

qualificação, antes pelo contrário, algumas são bem

Portugal ter ratificado a Convenção do Património

grenses estimavam a sua cidade, a sua Angra.

piores do que as que podemos encontrar em outras

Mundial. Ao longo do ano de 2014 decorrerá o perí-

Decorrida, porém, mercê de vários fatores, patrimó-

cidades e povoados que nada devem à Lista do Patri-

odo de excelência para que os angrenses e as suas

nio, em vez de motivo de orgulho e satisfação, pas-

mónio da Humanidade.

várias instituições assinalem a efeméride. Mas en-

sou a significar pesadelo, desalento, dificuldades,

tendemos que, mais do que ações comemorativas,

desentendimento… Qualquer coisa que, o melhor,

Por esta razão, mais do que celebrar os trinta anos,

importa ter presente outros aspetos de maior alcan-

era ter a certa distância.

seria bom que os angrenses, as suas instituições,

ce e profundidade.

os seus órgãos de comunicação social, colocassem

Recorde-se que Angra fez parte do primeiro lote de

Agora, trinta anos depois, Angra é uma cidade que

a mão na consciência, refletissem, ponderassem e

bens patrimoniais portugueses admitidos naquela

comporta graves erros no seu património constru-

fizessem um esforço para perceber que algo vai mal

lista (a par do Mosteiro da Batalha, do Convento de

ído, quer ao nível das intervenções de que foram (e

no reino da Dinamarca. Que a cidade está doente no

Cristo, do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Be-

continuam a ser) objeto os seus edifícios antigos,

seu património construído e que a causa disto decorre da sua ação e do seu pensamento.

lém) e até 1986 (ano em que Évora é inscrita) foi o

quer ao nível de grande parte das intervenções con-

único conjunto histórico nacional a integrá-la.

temporâneas a que tem estado sujeita. Alguns sim-

Enquanto os angrenses não voltarem a interiorizar e

Nessa década de oitenta, Angra esforçou-se na her-

ples exemplos apenas:

a envergar o orgulho da sua cidade ser Património da

cúlea tarefa da sua reconstrução, em consequência do terramoto que a atingiu no dia 1 de janeiro de

a cidade está doente no seu património construído

Humanidade (como já o fizeram), não há leis eficazes – a proliferação indiscriminada e incontrolável de

que condicionem as intervenções desastrosas no

alumínios nas portas e janelas dos edifícios sem, ao

seu edificado antigo nem que avalizem uma arquite-

menos, qualquer rigor de desenho;

tura contemporânea integrada e de qualidade. Conseguirão os angrenses ter a perceção do de-

– a adulteração da inclinação e a aplicação de telha na cobertura dos imóveis sem qualquer cuidado;

plorável rumo a que estão a conduzir a sua cidade? Quererão ter consciência disso? Terão massa crítica suficiente para tal?

– as demolições das casas dos bairros populares tipo janela-porta-janela, de um só piso de rés-do-chão,

Será Angra um paradigma perdido? Por inércia ou por incapacidade dos angrenses?

para permitir posteriores edificações com maior número de pisos;

Jorge A. Paulus Bruno

carta antiga de Angra do Heroísmo - Linschoten, séc. XVI


.9 #85 MAIO ‘13

Intensamente Azul O azul vai-se aproximando, em Angra do mar, em Évora do céu. Fazendo Opinião

As duas primeiras cidades portuguesas a auferir a

domingo, na quarta-feira seguinte o pároco bate à

estampa de Património Mundial da Humanidade

porta do “pecador” para saber das suas razões; as

pendo do sal para afagar a luz. As cores transbordam

pela UNESCO foram Angra do Heroísmo (Terceira)

excursões de turistas bordam as ruas de vozes.

sossegadas sem perturbar a frescura do verde. As

em 1983 e Évora (Alentejo) em 1986.

O azul vai-se aproximando, em Angra do mar, em

lagoas parecem fascinadas e absortas em contem-

O que as une e distingue é escandalosamente bo-

Évora do céu. Apesar de Évora distar cem absurdos

plação - olhos espantados a ver passar os navios. Lá,

nito: centro histórico bem conservado de casario

quilómetros do mar o Cancioneiro Tradicional de

no longo voo das cagarras, o azul esmeralda separa-

luminoso e claro, paredes de branco caiadas ou cor

Cante Alentejano dá loas a essa planície de água:

do do azul do céu pelo perfil de S. Jorge anelando o

florida, pavimentos e ruas calcetadas, monumentos preservados, largos amplos, jardins cuidados sobre

abre, descobre-se uma estrada de bagacina, rom-

Pico. E as hortências organizam o silêncio, apesar do “Quem embarca, quem embarca

esplanadas ensolaradas, impérios/capelas com san-

Quem vem par`o mar, quem vem

to e sino.

Quem embarca nos teus olhos

Têm o encanto das ruas tortas, alérgicas ao esqua-

Que linda maré que tem.”

dro onde certas frontarias se adornam de ferro

vento… frenético. O panorama é imutável: metade céu, metade mar, em cascata. Outro é o tempo e outra a medida, estas paisagens sobram na abundância infatigável de existir e não se

forjado ou pedra lavrada. A beleza dos telhados ver-

“A ribeira quando enche

melhos de duas águas, ligeiramente inclinados. Por

Leva o junco acamado

insularidade, porque há tanto de gente como há

todo o lado surgem igrejas, conventos, casas apala-

Traz-me tu em teu sentido

tanto de mundo. Na abstracta fronteira do arco-íris

çadas de portadas e janelas esculpidas, as varandas

Que eu te trago em meu cuidado.”

de “ver-a-Deus”. No pátio o poço/tanque, a laranjei-

esgotam. Será talvez sede de infinito, interioridade/

põem-se muitos sóis em simultâneo, um detrás de cada ilha/monte, aguarela viva sarapintada de azul.

ra/limoeiro, junto à casa, o forno para cozer o pão.

Grande e ardente terra do Alentejo, ondeada pelo

Aqui onde a natureza tem alma, a prosa dos dias

Em ambas as cidades há lugares de amplas e festivas

pontear de pequenos afloramentos rochosos, de

solta-se a dar fartura à gratidão, cada um é um lugar

memórias colectivas, sítios de espantar a criançada

charnecas e montados, de planícies de barro verme-

para os outros, com um quê de ternura no esboço

com percursos inesquecíveis que têm sabores, têm

lho, resplandecentes de sol. Onde o olhar atinge o

do riso. Tudo é imenso e despovoado, é misterioso.

cheiros, têm segredos. As casas delimitam um espa-

horizonte limpo, a paisagem derrete-se quase rasa:

Uma demasia e uma maravilha. Mas o silêncio pesa.

ço. A praça. O chafariz. Ponto de encontro, de chega-

muros, árvores, medas de palha, latifúndios, simples

Pelo que só há uma coisa a fazer: é entregarmo-nos.

das e partidas, de cavaqueio, de pausa, as travessas

cabeços que se confundem com a seara e a vinha;

As vidas enrolam-se na maré, olhares de afecto tra-

ziguezagueando vão lá dar, algumas de nomes líricos

cores sublinhadas a doirado e azul. Poucos lugares

zem festa, fazem cócegas que sabem tão bem como sopa de beldroegas!

(Travessa da Água da Flor) outras com nomes amea-

serão tão serenamente belos: terra larga, árvores,

çadores (Canada do Sarilho). Há bons restaurantes e

silêncio. As azinheiras são outra forma de ser nuvem,

tabernas de agradável convívio.

rocha, escultura, sombras de jardineiros que a terra

À noite cochilamos mansamente no alpendre, tingi-

Os bairros parecem aldeias dentro destas cidades,

labutam. E as cegonhas poisam no maior lago inte-

dos de azul.

carregadas de tradição, onde a vida privada é quase

rior da Europa, a barragem do Alqueva.

pública, espaço de intimidades expostas; gestos, ri-

tos e gíria própria. As vizinhas espreitam-nos à porta

Nascido de um vulcão, um fugaz pedaço de chão,

quando está a chover para avisar que a roupa ficou

com fim, sustém-se no meio do oceano. Quando o

esquecida no estendal; se alguém faltou à missa de

céu caminha, quando o guarda-roupa de nuvens se

Cristina Lourido


10. #

85 MAIO ‘13

Luís Brum

O Falajar Terceirense Fazendo Falajares

A pronúncia consiste na forma como

Desde a colonização diversificada

realizamos os fonemas. Quando a

até à influência da emigração para a

mesma não é realizada de acordo com

América, passando por alguma pre-

as normas definidas na pronúncia

servação de fonemas e expressões

padrão, temos uma alteração à qual

do português arcaico, o sotaque

designamos “sotaque”, Os diversos

Terceirense é rico na diversidade de

sotaques variam conforme a região,

entoações, expressões, ritmo ou na

grupo étnico ou social ou a idade, en-

famosa utilização do ”i” intervocálico

tre outros factores.

- “o guiate, tode pinguiade, debaixo da esquiada” e, nada melhor, para perce-

Importa então perguntar onde é que

bermos do que estamos a falar do que

a língua portuguesa é falada de acor-

ler esta prosa arregimentada por Fer-

do com a pronúncia padrão, ou seja,

nando Alvarino: “Ei home, pomordês!

sem sotaque. Em Lisboa? Basta ir ao

Tás menente de sabê que gente tola

“Caixodré” e pedir “um cópinho com

e toiros, paredes altas. Faz-te descre-

Reclamam os de Coimbra que é lá que se fala o português mais correcto. Nos Açores, o troféu é reclamado pelos Faialenses. E na Terceira?

Tu ainda tás namorado co’aquela piquena da boca da canada? Ela tá preta cma ferruje! A irmã é que é alva de neve. Eu sei que o pai é um velho caipora que tem dinheiro cma cabelo em cão, mas não é partido p’ra ti. Ele é um izoneiro - tal home d’esganade -, e ela parece um pau de virar tripas, magra cmum graveto – a mãe é que é um talhão. pechinchim! Tu se casás co’ela vás pená, aquilhe na tem tafulhe. É feia cm’ó pecade e é daquelas de pelo na venta: ainda te larga umas taponas nos beiços. Na te cases, padaço de tolo. Antes cagá um pé tode.

água, ó faxavor” para descartar essa

tinho e acaçapa-te p’raí - pára de tecê

arrebocida e ouvi dizê qu’ela tava pe-

hipótese. No Algarve? “Máquejête,

estepô que tem aí gente c’ma biche e

gada de cabeça…Nos toiros da Fonte

Agora vou-me maneá p’ra casa, à con-

marafado!”, nem pensar… No “Puer-

ainda levas a tua galheta. Na queres ir

eu vi-la à gaitadaria, por monde da-

ta de Nosso Senhô, que está frio c’ma

to, Carago”? Dificilmente… Reclamam

brincá co’a pombinha p’áreia? Tu bota

quele toiro que aguindou e deu uma

burro e a modos que vêm aí aguaceira

os de Coimbra que é lá que se fala o

sentide e não aformentes aquelas ta-

cornada em tê pai, que tava com uma

grossa. Não vou esperá aqui a mamá

português mais correcto. No Açores,

tonas, todas prezadas mas cheias de

grandecíssima vela – tu sabes c’ma é,

pa crescê e depois ficá alagada pin-

o troféu é reclamado pelos Faialenses.

esterque, umas mangalhas, valhacas,

na bebas qu’é petróleo –, o desgraça-

gando: passa cá carocho!

senão quando mal te aprocatares vais

do a levá uma esfrega e ela gaitadaria

E na Terceira? Diversos factores jun-

por’í arriba a toque de caixa. Raspa-te!

velha. Ai tal pecade. Passa fora! É pre-

taram-se para criar o tão afamado e

Ah moço, espera: tua mãe tá mais pai-

ciso ter lata, vergonhas da minha cara.

característico sotaque Terceirense.

radinha, tá tenteadinha? Ela andava

Fiquei consumida.

Haja saúde.” Nuno Sardinha

Centralidade de um território insular

Fazendo Insulares

Pensando “para com os meu botões”

hoje chamar contemporaneidade.

de acesso a outros “mundos” e a dis-

constato que desde o período dos

Neste caso em particular, julgo desne-

tintas realidades e que tal facto tem

volvimento. Nos últimos tempos, e perante o aces-

descobrimentos, e do povoamento

cessária a distinção entre emigrantes

tornado o povo que por cá “passa” em

so às novas tecnologias de comunica-

destas ilhas que daí resultou, os Aço-

e imigrantes, que somente confunde

algo diferente, com capacidades e po-

ção, tornou-se mais fácil a rentabili-

res de um modo geral e a ilha Terceira

e divide a nossa sociedade, quan-

tencialidades específicas, que podem

zação proveitosa dessa realidade que

de um modo particular, sempre funcio-

do o que sempre por cá ocorreu foi a

e devem ser utilizadas em prol da Re-

nos acompanha há mais de meio milé-

naram como plataformas giratórias de

passagem contínua e permanente de

gião e do País.

nio. Saibamos nós utilizar essa “ferra-

ligação entre o velho e o novo mundo.

povos migrantes que, na sua azáfama

A título de exercício desafio-vos a re-

menta” e alterar o registo de ultraperi-

Daí resultou um território, onde há

intergeracional, sempre propiciaram a

fletir sobre o vasto número de conhe-

feria, substituindo-o definitivamente pelo conceito de centralidade global e

mais de cinco séculos se vem verifi-

troca de conhecimento e de conheci-

cidos, amigos e familiares que o aço-

cando uma troca constante de inte-

mentos.

riano comum possui espalhados pelo

lutar coletivamente pelos direitos que

resses económicos e estratégicos, de

Eu, na minha qualidade de açoriano

globo, o que associado à sua curiosi-

nos são devidos.

conhecimento, de multicultural idade

acidental, embora claramente por op-

dade intrínseca e ao seu conhecimen-

de povos e gentes, enfim… (utilizan-

ção tomada há já mais de três décadas,

to do que vai ocorrendo neste, lhe dá

do um termo associado à sismologia)

concluo que esse Atlântico que nos

acesso a uma vasta rede de contactos

que assumiu um papel de verdadeiro

rodeia não tem sido encarado como

que podem e devem ser utilizados de

epicentro atlântico do que poderemos

uma fronteira, mas sim como uma via

modo pró-ativo com vista ao desen-

Paulo Vilela Raimundo


.11 #

Angra ou um património chamado Jáfoneca…

85 MAIO ‘13

“Triste vida a do marujo Qual delas a mais cansada Por mor da triste soldada Às tempestades! Às tempestades! Dão, Dão.” in Cantar Na M´Incomoda, de Carlinhos Medeiros, 1998.

Fazendo Jáfonecas

Celebremos portanto o centro histórico da cidade

Comercial de Angra, obra arquitectónica do mestre

Subitamente, um homem alto sorri para mim, es-

de Angra do Heroísmo, a caminho de completar três

micaelense João da Ponte, característico da impo-

tende-me o braço, aperta a mão para cumprimentar,

décadas de património da Humanidade, declaradas

nência visual ao cimo da Rua do Galo, actualmente a

num gesto simples, amigo e delicado. Ri-se muito.

pela UNESCO no ano de 1983. Cidade de Angra que

casa da Direcção Regional da Cultura. Atravesse-se

Saúda-me e pergunta se está tudo bem. Este ho-

por si só é abertura ao fascínio da arquitectura, a

desta feita o centro da cidade para chegar ao edifício

mem podia ser meu pai, meu avô, um velho amigo.

vetusta e assinalável personalidade, o impulso de-

do Centro Regional de Segurança Social, pertencen-

Este homem fala comigo como se me conhecesse.

senhado ao longo de séculos no seu conjunto arqui-

te ao arquitecto da “geração moderna”, Raul Chorão

De onde é que o conheço? Não o conheço certamen-

tectónico rico e diversificado. Os cafés de Angra do

Ramalho, numa obra airosa e singular, aberta à luz e

te. No entanto, decido permanecer com ele, ali no meio da antiga ágora angrense, a ouvi-lo, como se

Heroísmo são uma seguríssima porta de entrada no

ao encontro como poucas. E, mais à frente, o Teatro

modus vivendi terceirense. Os cafés formam a per-

Angrense, que é de pasmar perante a beleza deste

nada mais houvesse para fazer. É isso que apetece

sonalidade da Angra convivial, tolerante, aberta ao

edifício considerado património de utilidade públi-

fazer. Este homem tem oitenta e dois anos, uma cara

discurso do outro e de uma boémia remetida para

ca mas com uma fachada em ruínas. Data do século

carregada de rugas e de tempo e possui dois olhos

os fins-de-semana. Eis um sítio do passado recente

XIX a sua construção, remetendo de imediato para

com a cor do mar. Pergunto-lhe o nome sem ele dar

badalado pelas suas antigas e famosas tertúlias: a

o imaginário dos tempos áureos da ópera italiana e

conta. Diz-me que ele será sempre o “Jafoneca”, que

“Pastelaria Portugália”, antigo poiso de jornalistas,

do teatro romântico. Hoje a necessitar de obras ur-

lhe chamam assim desde pequeno na ilha, na fre-

músicos, poetas e gente das mais diversas linhas e

gentes de remodelação e recuperação. Imagine-se,

guesia, na sua rua. Tento fixar o nome mas não sei se

cruzamentos. Aqui se encontravam homens de le-

portanto, as noites em que a população terceirense

é assim que se escreve nem interessa. Interessa-me

tras e aventuras jornalísticas como José Daniel Ma-

invadiu esta rua (Esperança de nome), diminuindo

é escutar o mais velho marinheiro em actividade,

cide ou Rui Duarte Rodrigues. Há também uma rua

a ventania nocturna que agora aqui se vive, insu-

provavelmente não só de de Porto Judeu, e que diz

viva e com a preguiça típica das esplanadas, a Rua

flando vida e animação a este distinto lugar citadino,

que demora duas horas a chegar ao Topo, na Ilha de

da Palha, viva e muito movimentada. Ali é só com-

tão próximo da baixa e dos seus cafés. E quem já viu

São Jorge, para encetar a sua pesca ao goraz, cherne,

prar o jornal e seguir o caminho e o cheiro que exala

não há muito tempo este teatro aberto, em forma

boca negra, espadarte e tantos outros peixes que

dos cafés até às mesas expostas na rua com o mar

de ferradura, exemplar único em Angra do Heroísmo

vem. Acrescenta que trabalha no mar e na terra, já

ao fundo, com muito comércio e lojas de roupa e ar-

e uma referência em todo o arquipélago, reconhece

que também é agricultor. Indago se este conheceu o

tesanato para comprar e apreciar. E a arquitectura?

como necessidade urgente a sua abertura e ainda

Chalandra, o que confirma. Olha-me nos olhos, fito-

Iniciámos o périplo arquitectónico pela Sé Catedral,

com actividade regular, para que este espaço reto- -o com a atenção e eu fico com a sensação de que o

a sede da religiosidade do arquipélago, exemplar da

me a vivência e o pulsar cultural da Ilha Terceira.

conheço há tantos anos, ainda que nunca nos tivés-

arquitectura filipina acrescentado a uma igreja góti-

Caminha-

semos visto ou conversado. “Jafoneca” possui um

ca do século XV, fustigada pelo terramoto de 1980 e

eis que

mais tarde por fogo posto, tendo a sua reconstrução

fazer

permitido respeitar a traça original. Uma simpática

amá-

senhora dá-nos a ver a capela-mor, repleta de pinturas e pratas do séc. XVII e ainda a sacristia com móveis de jacarandá, avistamos também a parede composta por uma galeria de retratos a óleo dos prelados diocesanos. O café Athanasio pode ser um lugar para sentar docemente a contemplá-la. E nem só do pas-

-se pela urbe atlântica e alguém aproveita para

barco de vinte e cinco bulhas de nome “Foguete”, no

um sorriso gracioso,

entanto por causa do mau tempo somente foi cinco

vel, familiar, ali no lu-

vezes ao mar entre Janeiro e Março. Este homem tra-

gar onde se reúnem e

balhou quarenta anos na estiva. Podíamos ficar aqui

se encontram as pes-

o dia inteiro a ouvir este homem, podíamos, não há

soas há muitos,

qualquer dúvida, dado a torrente e o manancial de

anos,

histórias para contar. E por isso marcamos encontro

daí o nome

até um dia destes ao acaso. Não é que eu não queira

muitos de

Praça

Velha.

é porque não posso, pois estes homens estão vivos, demasiado vivos dentro de mim. Fernando Nunes

sado regurgita a arquitectura de Angra, já que o século XX trouxe consigo o Palacete Silveira e Paulo, durante muitos anos a Escola

ilustração Luís Brum


12. #

85 MAIO ‘13

Centro de Ciência de Angra do Heroismo

Fazendo Ciência

O Centro de Ciência de Angra do Heroísmo é um espaço dinâmico que se encontra aberto desde 2008. Desde então tem-se desenvolvido muito e apostado em diversas temáticas e mostras. À frente deste grande projeto estão os dinamizadores de atividades que são os principais motores do seu funcionamento, são eles: Carlos Leal (licenciado em Biologia); Regina Cardoso (licenciada em Guias da Natureza) e Alexandra Correia (licenciada em Engenharia e Gestão do Ambiente). O principal objetivo é divulgar a ciência de uma forma informal para o público em geral.

sição online Serviços de Ecossistemas dos Açores

fazendo-o numa uma linguagem acessível.

Já passaram no centro três grandes exposições, as

(em centrocienciaah.com), além de todas as outras

Apesar do centro estar neste momento mais virado para a área da física, uma vez que é a temática da

quais são a sua principal oferta. É importante men-

atividades adicionais que desenvolvemos, tanto no

cionar que é um espaço de acesso gratuito em todas

centro como fora dele. Relativamente ao laboratório,

nossa exposição principal, envolvemo-nos nas mais

as suas vertentes.

é um instrumento importantíssimo, não só através

variadas áreas científicas de forma a sermos o mais

De momento a nova exposição corresponde à nos-

do material de qualidade que possui e das inúme-

abrangentes possível e cativar o máximo de público

sa ambição e empenho em aumentarmos a cultu-

ras áreas científicas que permite explorar, como em

em todas as faixas etárias.

ra científica na ilha Terceira, na cidade de Angra e

complemento aos módulos interativos. No total são

O nosso trabalho envolve formação constante, na

também nos Açores em geral - uma vez que o CCAH

cerca de 60 experiências diferentes, das várias áre-

preparação, pesquisa, formulação e modulação das

é financiado pela DRECC (Direcção Regional da Edu-

as científicas.

atividades. Acabamos por descobrir e redescobrir

cação, Ciência e Cultura) - e também dotarmos o

O nosso principal público-alvo é todo e mais algum,

muitas coisas. Além disso, o Centro tem uma posição

Centro de Ciência de um novo visual, com uma nova

no entanto, são os grupos escolares, colégios e ins-

educativa privilegiada com o seu caráter de educação informal, o que nos permite comunicar e estabe-

exposição de caráter interativo, ou seja em que o vi-

tituições que mais nos contactam e visitam. As esco-

sitante é o “motor” da visita. Esta designa-se “Volta

las encontram no CCAH mais uma ferramenta para

lecer parcerias diretas por via das escolas, Universi-

à Física em 60 minutos. Com esta nova exposição

complementar os conteúdos programáticos nas dis-

dade e outros parceiros.

aumentamos também o leque de ofertas ao visi-

ciplinas que envolvem as ciências, desde tenra ida-

tante, passando a dotar o espaço principal não de

de. A equipa do CCAH empenha-se no contacto com

Visite o nosso blog em http://ccah-oaa.blogspot.

apenas uma mas sim de quatro valências. Temos

os alunos e em proporcionar momentos divertidos,

com, o Portal dos Centros de Ciência dos Açores em

14 módulos interativos; laboratório experimental;

descontraídos e ao mesmo tempo transmitindo con-

http://oaa.centrosciencia.azores.gov.pt e o Face-

uma sala de projeções (mini-auditório) e a expo-

ceitos científicos importantes no nosso dia-a-dia,

book.

CCAH


.13 #

85 MAIO ‘13

Ainda o Ambiente? Fazendo Ambiente

Sim, ainda o Ambiente. Não nos fartamos de falar

toca-nos de outra forma. Infelizmente até não nos

Mas não sacudam o capote. Por favor. A sério. Entris-

dele. Também, como negá-lo? Ele está em toda a

faltam exemplos de conflitos. Mas pelos vistos, a

tece-me quando oiço ou vejo reflectido nas atitudes

parte! Infelizmente as razões que nos levam a deba-

nossa vasta experiência na matéria ao longo de mi-

das pessoas um “pois, não se pode fazer nada” ou “os

tê-lo nem sempre são as melhores. E é muitas vezes

lhares de anos não foi apreendida de forma alguma.

outros é que deviam fazer qualquer coisa”. O fardo só

aqui que o diálogo se perde e entramos em monó-

Nem a nossa genética silenciou estes ímpetos, nem

é pesado se não for partilhado. Ao usarmos menos o

logos (quando não mesmo solilóquios...) Porquê?

a nossa cabeça aprendeu com as consequências das

carro, menos sacos de plástico, ao reduzirmos o que

Porque é que existe uma tendência tão vincada em

guerras relatadas nos livros, filmes, etc...

consumimos, ao estarmos atentos ao que consumi-

2. O próprio problema em si, que por ser maior que

vem, como vem, ao negarmos algumas vezes os pe-

nós, nos “esmaga” e nos deixa impotentes.

quenos prazeres em prol de algo mais importante

ignorar a problemática ambiental quando ela nos afecta a todos?

mos, ao exigirmos (de nós próprios!) saber de onde

Nos encontros filosóficos, tive o prazer de assistir a

É de facto um fardo grande demais para carregar-

que a nossa gula, conforto ou preguiça, estamos a

uma palestra apresentada pelo Dr. Viriato Marques

mos sozinhos. Eu sozinha não posso mudar as leis

ajudar. Não somente o outro mas a nós próprios.

que abordou a questão da indiferença colectiva com

e os acordos que entidades governamentais cele-

que a humanidade tem vindo a encarar a problemá-

bram, como forma não de beneficiar o Ambiente a

Quando o problema deixar de ser dos governos, das

tica ambiental. E deu 2 razões:

Humanidade ou a sua Biodiversidade, mas para lu-

empresas ou de qualquer outro tipo de entidade e

crar monetariamente. Também não posso impedir

passar a ser NOSSO, o nosso próprio conceito de

1. É a primeira na História da Humanidade e como

as galopantes emissões de C02 nem a dizimação de

casa alarga-se: O mar passa a ser a nossa varanda,

tal, não há referências passadas. Imagino que para

espécies, etc...

as ribeiras corredores, os montes os quartos...então,

exemplificar as consequências ou validar a urgência

Ajudava se estas entidades redireccionassem o seu

porque não cuidar?

desta questão (os dados científicos a que somos

foco de atenção e AGISSEM em conformidade com

constantemente bombardeados não parecem ser

os seus deveres. (éticos, profissionais...) Até podiam

suficientes). Já a violência, continuou do Dr. Viriato,

resolver as coisas! É verdade, até podiam...

Fazendo Saúde A informação está actualmente à disposição de quase todos através da internet, mas a credibilidade das

http://www.dgs.pt (Direcção Geral de Saúde)

fontes é, por vezes, bastante duvidosa particular-

http://saude.sapo.pt

mente no que diz respeito à problemática da saúde/

http://www.portaldocidadao.pt

doença. É verdade que um número significativo de

http://www.portaldasaude.pt (Portal do Ministério

pessoas tem conhecimentos, competências e re-

da Saúde)

cursos que lhes permite aceder a fontes credíveis,

http://medicosdeportugal.saude.sapo.pt

embora não especializadas, mas muitas outras aca-

http://www.saude24.pt

bam por recolher dados totalmente desprovidos de

http://www.respirasaude.com

qualquer valor científico. Neste sentido deixo alguns

http://www.spp.pt

exemplos de sites que poderão ajudar a conhecer

( Sociedade Portuguesa de Pediatria)

alguns aspectos e a clarificar outros no âmbito da

http://www.ordemenfermeiros.pt/ordem/Paginas/

saúde/doença.

EspacodoCidadao.aspx (Espaço da Ordem dos En-

Não posso deixar de alertar para o facto de que o

fermeiros para os cidadãos)

conhecimento/esclarecimento aprofundado das

CUIDE DA SUA SAÚDE!

questões deverá incluir consultas a profissionais de saúde certificados e especializados.

Orlanda André

Lia Goulart

Fazendo Saúde


14. #

85 MAIO ‘13

Histórias que vêm do Mar uma exposição em construção

Fazendo Património

Nascida de uma parceria entre o Centro de História

exposição em São Miguel foi, por isso, enriquecida

do Além-Mar, o Observatório do Mar dos Açores e

com novos painéis sobre o Dori, naufrágio de 1964,

incluindo também a publicação de um catálogo, cuja

o Museu da Horta, a exposição “Histórias que vêm

integrando ainda documentação do acervo da Bi-

elaboração foi particularmente estimulante nos últimos meses.

culo de investigação e exploração deste património,

do Mar” mostrava, na sua primeira versão, os resul-

blioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delga-

tados do programa de minimização do impacto da

da, onde esteve patente ao público entre Julho de

Por um lado, porque mostrou o extraordinário po-

construção do terminal de passageiros do porto da

2012 e Março de 2013.

tencial científico e patrimonial dos Açores. Por outro,

Horta sobre o património arqueológico subaquático.

A sua inauguração no Museu de Angra do Heroísmo,

porque revelou o pouco que ainda conhecemos do

Patente ao público na Fábrica da Baleia de Porto Pim,

prevista para 8 de Junho, constitui um desafio ainda

património submerso nas nossas águas e a dificul-

entre Agosto de 2011 e Junho de 2012, divulgava

maior. De facto, a baía de Angra é desde a década

dade em aceder à informação existente. Arquivos

vestígios que nos transportam para o século XVIII,

de 1960 uma das áreas privilegiadas de actuação

familiares, informações orais ou sítios subaquáticos

quando o porto da Horta se tornou numa escala es-

da arqueologia subaquática portuguesa. A sua im-

em todas as ilhas do arquipélago permanecem por

sencial da navegação do Atlântico.

portância durante o século XVI e grande parte da

catalogar, estudar e divulgar. A maioria dos artefac-

A itinerância desta iniciativa, tornada possível devi-

centúria seguinte, quando era a base atlântica de

tos recuperados aguarda por tratamentos labora-

do ao envolvimento da Direcção Regional da Cultu-

apoio aos navios portugueses da Carreira da Índia

toriais de conservação e restauro, não podendo ser

ra dos Açores, constituiu um desafio para os seus

ou aos galeões da prata espanhóis, resultaram em

apresentados publicamente. Histórias que vêm do

diversos parceiros. Além de levar a outras ilhas um

quase meia centena de naufrágios, além de outros

Mar à nossa espera.

pouco da história submersa do Faial, importava alar-

vestígios relacionados com actividades marítimas. A

gar o conteúdo da exposição ao património local. A

exposição visa acrescentar ao núcleo inicial meio sé-

Histórias que vêm do Mar no MAH

Ciência no Bar

Sábado, 8 de junho, 15h00/17h00

José Bettencourt

Linschoten o espião que veio do frio

Conferência pelo arqueólogo José Bettencourt,

Conferência abordando as verdadeiras intenções do

Sala do Capítulo

Visita orientada à exposição,

cartógrafo flamengo ao desenhar a mais conhecida

8 de junho a 29 de setembro

Serviço de cocktails.

das “vistas” de Angra. Público-alvo: público em geral.

Público-alvo: público em geral.

Histórias ao pé do Mar Visita orientada pelo litoral terceirense em que

Tanto Mar

Jogos e passatempos inspirados nas façanhas de

Mar Nosso

Ateliê de escrita em que histórias de naufrágios

serão evocadas as peripécias e desventuras de na-

navegadores, piratas e corsários que cruzaram os

vegadores, piratas, corsários, pescadores e outros

mares dos Açores.

inspiração para outras tantas narrativas inventadas

aventureiros que cruzaram o nosso mar, ao longo

Público-alvo: pré-escolar e 1º ciclo.

na primeira pessoa, pelos alunos que visitarem a

e temporais, milagres e achados serão fonte de

dos tempos.

exposição.

Público-alvo: público em geral.

Público-alvo: 2. e 3.º ciclos


.15 85 MAIO ‘13

Entrevista com o Morcego Fernando Nunes

Fazendo Entrevista

O que é que pequeno-almoçaste?

Porque é que tens alguns projec-

Uma Kima Maracujá e um café.

tos na gaveta?

Se o Conde Drácula viesse cá às

muitos textos, poemas, livros, filmes e

Não tenho projectos na gaveta. Tenho ilhas onde o levarias?

discos e não sei muito bem o que fazer

Ao café fim do mundo…antes das sete

com eles sempre que termina um ano

da tarde.

lectivo.

Qual é a semelhança entre o Pico e

O que é que mais odeias na inter-

o Faial?

net?

Boa: a hospitalidade; Má: as rendas

O anonimato e todas as formas de alie-

das casas.

nação e exposição inútil da vida pessoal de cada um.

Se não gostas de chuva o que é que

“Nome” Fernando Nunes

estás aqui a fazer?

Que forma de arte é que te aguça

À espera dos dias de sol, sobretudo

os caninos?

com azul ferrete, ainda que sendo

O cinema…são todas as artes juntas. E

poucos esses dias, são preciosos e

quando se conseguem juntá-las bem

compensam estes invernos austeros

é perfeito.

e prolongados. O que é que gostavas de ter nasci-

“Idade” 42 anos

Na escola que outra “disciplina”

do?

deveria ser obrigatória?

Golfinho. Ter essa capacidade de vir à

Uma disciplina que nos ajudasse a

superfície quando me apetecesse e

“Profissão”

ser melhores cidadãos, que nos per-

logo de seguida voltar a submergir.

Professor de Filosofia

mitisse acreditar mais no colectivo,

(às vezes também

na comunidade, e a acreditar menos

Gostavas de ir morrer longe?

Psicologia) no Ensino

em figuras autoritárias e providen-

Sim. Já iniciei o processo… há muito

ciais.

tempo que saí de casa.

Secundário

Gatafunhos

Tomás Melo


Horários

Índice Fazendo Editorial

.2

85

.2

Horta — ­ Madalena 7h30 10h30 13h15 15h15 17h15

Fazendo Crónica Começar a Casa

.3

pelo Telhado Fazendo Cinema Entrevista a

.4

Filipe Tavares Fazendo Cinema Madalena — Horta

Cineclube de Angra

.4

8h15 11h15 14h00 16h00 18h00 Fazendo Música Sol

.5

Fazendo Literatura Mulher de Livros

.5

Fazendo Música Cedros — Horta

Horta — Cedros

P. Norte — Horta

Horta — P. Norte

7h00; 12h45; 16h00;

11h45; 15h20 (Hospital);

7h00; 12h45;

11h45; 17h30;

Sábados: 8h00

18h15;

Sábados: 8h00

Sábados: 13h15

Sábados: 13h15

A Sé De Angra

.6

Fazendo Literatura Montra de Ler

.6

Fazendo Poesia Poetas do Sal Piedade — S. Roque — Madalena

Madalena — S. Roque

Piedade — Lajes

Madalena — Lajes

— Piedade

— Madalena

— Piedade

6h15; 13h30;

10h00; 17h45;

5h45; 12h55;

10h00; 17h45;

Domingos e feriados: 13h15

Domingos e feriados: 9h30

Domingos e feriados: 12h55

Domingos e feriados: 9h30

.7

Fazendo Opinião Angra, um

.7

paradigma perdido Intensamente Azul

.8

Falajar Terceirense

.9

Centralidade de um .10 Território Insular Um património

.10

chamado Jáfoneca

envia textos

e publicidade para

Fazendo Ciência Centro de Ciência

.11

Angra do Heroísmo

vai.se.fazendo@gmail.com

Fazendo Ambiente

lê todas as edições em

fazendofazendo.blogspot.com

Ainda o Ambiente

.12

Fazendo Saúde

.13

Fazendo Património Histórias que vêm

.13

do Mar Fazendo Entrevista Com o Morcego

.14

Gatafunhos

.15


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