Fazendo 89

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é u m b o c a d i n h o d e c u lt u r a e u m c o p o d e á g u a s e f a z f a v o r

janeiro 14 mensal d i s t r i b u i ç ã o g r at u i ta

q u e a c u lt u r a à n o i t e c a i - m e m a l

89

o boletim do que por cá se faz 1


89 direcção

«Não sei nadar (o que é monstruoso para ilhéu tão firme ao mar) mas sufoquei-me muitas vezes agradavelmente na enchente, nas poças de lava da Ponta Negra, e sei o que são algas, polvos, medusas, crustáceos. Ainda hoje quando cheiro o mar me comovo. N’Eu Comovido a Oeste está liricamente e como que fenomenologicamente essa minha experiência do mar, a que tudo a que fiz responde. Vejo-o grosso e amargo, ou então muito azul, a perder de vista...» Vitorino Nemésio «O meu mar interior tem pouco peixe antigo» in Jornal de Letras, 14 de Fevereiro de 1989.

Foi neste ano do século passado que o professor Onésimo Teotónio de Almeida publicou “Quadro Panorâmico da Literatura Açoriana nos Últimos Cinquenta Anos”, a escritora Ângela Almeida editou “Sobre o Rosto” e Eduardo Ferraz da Rosa, “Vitorino Nemésio: Uma Poética da Memória”. O arquipélago e o continente português são brindados com a edição do disco que reúne música das séries “O Barco e o Sonho”, “Balada do Atlântico” e “Xailes Negros”, editado pela Polygram e gravado no Angel Studio em Julho/Setembro de 1986, Abril de 1987 e Setembrode 1988. O escultor Raposo de França realiza uma escultura em bronze do busto do poeta florentino Roberto de Mesquita, actualmente situada numa praceta perto da casa do escritor em Santa Cruz das Flores. A Editorial Presença edita o livro “Angra do Heroísmo, aspectos urbano-arquitectónicos” do arquitecto José Manuel Fernandes e que viria a ter ao longo dos anos diversas e enriquecedoras actualizações. Nesse ano, no cinema nacional, dão-se as estreias de: “Recordações da Casa Amarela” (de e com João César Monteiro e com Manuela de Freitas e Ruy Furtado) e de “O Sangue”, de Pedro Costa, com Pedro Hestnes, Inês de Medeiros, Luís Miguel Cintra, Canto e Castro e Henrique Viana. É o ano em que se dá a Queda do Muro de Berlim e o Brasil celebra o Centenário da Proclamação da República Brasileira.

aurora ribeiro tomás melo

capa

rui antónio silva

colaboradores

ana alves ana lúcia almeida bruno da ponte carlos alberto machado carolina furtado cassilda pascoal fernando nunes inês ribeiro jonny glover micael nunes miguel machete paulo vilela raimundo paulo cunha pomar do atlântico rúben quadros ramos sílvia lino

amigos fazendo

maria noémia pacheco terry costa zumo massimo gelich

design editorial

ambas as duas

paginação

tomás correia da silva

revisão

carla dâmaso

propriedade

associação cultural fazendo

sede

rua conselheiro medeiros nº 19 — 9900 horta

periodicidade

mensal

tiragem

500 exemplares

impressão

gráfica o telégrapho

capa

rui antónio silva

distribuição no faial

associação cultural fazendo

distribuição no pico

”Baleia no Castelo”

mirateca arts

Rui António Silva nasceu nos Cedros, ilha do Faial, em 1971. É vigilante no parque florestal do Capelo. Sempre sentiu interesse pela pintura, tendo experimentado algumas técnicas na escola. Há alguns anos, após ver um anúncio na televisão, comprou uma colecção de livros que ensinavam a pintar e através dela desenvolveu o seu gosto e a sua técnica de pintura. Gosta de pintar de tudo, paisagens, retrato e também de pintura abstracta. Oteve o terceiro lugar no concurso de pintura do Aniversário dos 50 anos do Vulcão dos Capelinhos e já expôs obras nas comemorações do Dia da Freguesia dos Cedros. Foi o vencedor do Prémio Fazendo na última edição do Porto PimTado, organizado pelo Observatório do Mar dos Açores, com esta obra inspirada no tema “Porto Pim”.

distribuição na terceira

exec eventos

d i s t r i b u i ç ã o e m sã o m i g u e l

agecta registado na erc com o nº125988

este jornal comunitário, não-lucrativo e independente está a ser financiado pela comunidade de leitores, colaboradores e parceiros.

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crónica

estarão os mercados municipais em vias de extinção? A NOSSA TERRA

Os Mercados Municipais nasceram para substituir a venda de animais, legumes e fruta que se fazia no meio das ruas, sem regras nem condições de higiene e salubridade. No século passado, construíram-se edifícios de raiz nos centros das cidades para abastecer as populações, mas em 100 anos tudo mudou. Estes espaços de comércio de proximidade perderam todo o protagonismo e deixaram de ser os locais de eleição para se fazer as compras.

muitas cidades já se aperceberam do quão importante é manter os seus Mercados e

A concorrência dos supermercados e a falta de investimento veio abalar definitivamente aquele negócio tradicional que foi envelhecendo sem se adaptar às exigências dos dias de hoje. Poucos clientes, pouco investimento nas estruturas, lojas desocupadas “ad eternum” esvaziaram grande parte dos Mercados do nosso país. Estarão os Mercados tradicionais em vias de extinção? Não faltam vozes a dizer que sim. No entanto, segundo David Ferreira da Direção Regional de Cultura do Norte, a “velocidade da transformação do território” criou o “sentimento de perda” e a necessidade de preservar espaços que, com o tempo, se afirmaram como lugares de “memória e identidade”. Com muitos Mercados “deixamos de ter monumentos intencionais e passamos a ter monumentos não intencionais. Património é memória e identidade”.

inteligentemente estão a proceder à sua requalificação estrutural.

Muitas cidades já se aperceberam do quão importante é manter os seus Mercados e inteligentemente estão a proceder à sua requalificação estrutural, criando um forte estímulo à mudança de mentalidade do próprio comerciante e subsequentemente à diversificação da oferta que deverá conjugar as vertentes turística, urbanística e cultural. O Mercado Municipal da Horta tem um valor patrimonial, histórico e cultural que não deve ser menosprezado, a que acresce a sua localização privilegiada, impondo-se, nesta medida, a implementação de um projeto de revitalização que, representando um compromisso entre a tradição e a modernidade, contribua para a sua adaptação aos novos padrões e hábitos de consumo e, consequentemente, para a sua afirmação como pilar e equipamento público de referência da cidade da Horta. Os atuais comerciantes, o património arquitetónico e o futuro modelo de exploração comercial deverão ser os pilares da requalificação. Todos juntos transformaremos o Nosso Mercado numa “Babel de costumes, rotinas, um espaço de compras, arte, degustação, portas que abrem e fecham negócios”, não deixando assim que caia no esquecimento e morra! P o m a r d o At l â n t i c o

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literatura e sociedade

alice quê? Alice Moderno tornou-se a primeira mulher a frequentar o Liceu de Ponta Delgada, e ainda a primeira mulher a ousar fumar em público.

Entre nós, açorianos e açorianas, o nome de Alice Moderno ficou quase exclusivamente ligado à proteção animal, sendo desconhecida, em geral, a sua dedicação e ativismo em outras áreas e a imensa herança cultural e social que nos deixa. Ao falecer em pleno Estado Novo, não é de admirar que sua voz e pensamentos tenham sido abafados, o que não legitima que assim continuem ainda que vivamos agora numa democracia moribunda.

De Lucto Eu sonhei que o meu amor Era uma rija armadura Que tu pudesses oppor Aos golpes da desventura Mas são, estéreis os sonhos Vestes de névoa sombria E tens, nos olhos tristonhos Imensa melancolia. Como os poetas são loucos! Passam a vida a sonhar! Ainda bem que são poucos! Ninguém os queira imitar! Alice Moderno in Versos da Mocidade

Contudo, falar de Alice Moderno sem falar de Maria Evelina de Sousa, com quem viveu uma relação durante 40 anos, seria ocultar mais de metade das suas vidas, e assim, Maria Evelina também tem aqui lugar. Alice Moderno e Maria Evelina foram republicanas, escritoras, jornalistas, professoras, feministas, defenderam a proteção animal e ambiental, dirigiram, fundaram e colaboraram com jornais e revistas, pondo a escrita ao serviço da justiça social dando visibilidade às suas causas e lançando o debate público. Em tempos, não tão distantes, em que a mulher tinha um papel secundário, existindo em função do homem, pai, irmão, marido ou filho, sem intervenção pública, sem direitos políticos e civis nem acesso à educação, estando confinada à tradição, à obediência e à submissão das normas sociais, Alice e Maria Evelina abraçaram o feminismo para derrubar os papéis sociais impostos aos géneros masculino e feminino e defender o direito à educação e ao trabalho para todas as mulheres. Como exemplo, Alice Moderno tornou-se a primeira mulher a frequentar o Liceu de Ponta Delgada, e ainda a primeira mulher a ousar fumar em público. Maria Evelina é pioneira na criação de bibliotecas nas escola primárias enquanto Alice Moderno se torna a autora do hino à escola micaelense.

Corajosamente, ambas também defenderam a laicidade do Estado, enquanto Maria Evelina se pautava pela extinção da “doutrina cristã” dos planos escolares, Alice Moderno opunha-se à quantidade de feriados religiosos. Enquanto republicanas, defendiam uma relação harmoniosa com o ambiente e animais, e por isso Alice Moderno fez várias intervenções cívicas apelando ao cumprimento e à criação de novas leis de proteção animal, ao mesmo tempo em que, nas suas publicações em jornais como “A Folha” denunciava a crueldade animal na região, a fim de contribuir para uma maior consciência social com o bem-estar animal. É por isso que funda a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais (SMPA) – atualmente inativa - de que Maria Evelina é também sócia cofundadora e a responsável pela elaboração dos seus estatutos. Juntas também se opuseram às touradas por considerarem que, como afirmava o movimento republicano, contribuía “para a degradação dos povos e ser impróprio dos países civilizados” Nunca abandonando o bem-estar animal, Alice Moderno deixa, em testamento, parte dos seus bens para a construção de um hospital veterinário público que pudesse cuidar gratuitamente dos animais que precisassem de cuidados. O Hospital Veterinário Alice Moderno foi construído em 1948, tendo sido dirigido pela SMPA. Com o desaparecimento gradual da SMPA, e com a falta de interesse dos governantes regionais e locais, o funcionamento do hospital encontra-se em situação um tanto incompreensível. Alice Moderno e Maria Evelina não deixaram descendentes biológicos nem perfilhados – pois tal como hoje, o preconceito não permitiu – mas deixaram sementes dispostas a dar continuidade aos seus projetos interrompidos pelo cinzentismo da época. Recentemente assistimos a iniciativas académicas, políticas, culturais e sociais que caminham para a recuperação do lugar dos seus projetos. Foram aprovadas novas leis de proteção animal na região, tem-se debatido o regresso do serviço público ao hospital Alice Moderno, os seus nomes têm surgido em obras pelas mãos de autoras como Fina D’Armada, Anna Klobucka, São José Almeida ou Sampaio da Nóvoa. Mas ainda há muito a dizer e o silêncio forçado chegou ao fim. C a s s i l d a Pa s c o a l - C o l e t i v o A l i c e M o d e r n o

conhecer as ilhas desconhecidas fa z e n d o l i g a ç õ e s

http:// docs.paginas.sapo.pt/raulbrandao/As_Ilhas_Desconhecidas.pdf

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fotografia

as ilhas desconhecidas por jorge barros Há males que vêm por bem Há alguns anos, Jorge Barros, fotógrafo, natural de Alcobaça, sofreu uma queda ao fotografar na Ilha do Pico, da qual resultou um período de internamento no Hospital da Horta. De modo a colmatar o tempo de inatividade (como se nele isso fosse possível!) recebeu de um amigo nosso conhecido (Victor Rui Dores) o livro “As ilhas desconhecidas” de Raul Brandão, do qual se tornou refém, assumindo como projeto de trabalho (quiçá projeto de vida) a persecução em imagens do percurso de Brandão, desta feita através da sua sensibilidade e das lentes das suas máquinas fotográficas. Se as temáticas açorianas já o preenchiam há décadas, este projeto veio ocupar todas as suas energias (…e acreditem que são muitas), raptando-o assiduamente ao seu seio familiar, para materializar o livro “As ilhas desconhecidas” notas e paisagens de Raul Brandão, fotografia de Jorge Barros (edição de autor – Janeiro de 2012), do qual resulta a exposição atualmente disponível na Biblioteca Pública e Arquivo Regional José João da Graça.

A viagem que J. Barros (e R. Brandão) nos propõe(m) revela-nos através de fotos marcantes e de rara beleza (porque sentidas intensamente pelo seu recoletor), aspetos caracterizadores dos arquipélagos dos Açores e da Madeira, descrevendo-nos as suas paisagens, gentes e costumes, onde se sente claramente a preferência de ambos sobre o primeiro. Deixo-vos pois o desafio para visualizarem esta exposição e a não perderem a oportunidade de efetuar esta viagem simbólica, que caracteriza claramente a perspicácia/sensibilidade do artista e a paixão deste Açoriano de coração. Pa u l o V i l e l a R a i m u n d o

fotografia

pepe brix Fotógrafo Pepe Brix na Galeria Arco 8

O fotógrafo Pepe Brix, natural da Ilha de Santa Maria, nasceu em 1984 no seio de uma família com pergaminhos no mundo da fotografia. Recentemente viajou pela Índia e pelo Nepal acompanhado pela sua máquina fotográfica mais a sua determinação infinda de registar o que os seus olhos iam vendo e observando ao longo da viagem. Com o decorrer de tal empreitada foi descobrindo o aprumo dos gestos e do silêncio dos nepaleses, de tão magnificente geografia, bem como das suas paisagens e cultura. Pepe Brix apresenta agora as suas fotografias a preto e branco, patentes até ao dia 9 de Fevereiro na Galeria Arco 8. São imagens somente do périplo nepalês com a entrega de quem viaja e a reciprocidade de quem recebe contando sempre com o particular ensejo de fixar os rostos e os olhares das gentes, do(s) modo(s) de vida à religião. O fotógrafo dá-nos a ler também os seus escritos bem como ainda o texto de apresentação desta exposição dedicada ao Nepal onde podemos ler que “o travo milenar da sua cultura confere ao país um núcleo magnético incrivelmente denso.” F ERNANDO NUNES

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ciência

economicamente inviável Crónica de uma ciência que não dá dinheiro

Esquema do palangre-de-fundo “pedra-boia”, utilizado na pesca de espécies de fundo e de profundidade nos Açores (usualmente entre os 50 e os 1200 m). PB- Boia; PP - Pedra (constitui os lastros); BS e BL são boias de superfície. Nuno Brito ©ImagDOP

Se considerarmos os 200 metros para definir mar profundo, nos Açores, em que as médias de profundidade são entre 3000 a 3200 metros e 99% está abaixo dos 200 metros, estamos no sitio ideal para estudar estes ambientes. Ali, existe um mundo marinho bem diferente: mais frio, com pouca luz e com animais diferentes, adaptados para viver a maiores pressões devido à profundidade. Sabemos agora que, como parte destas adaptações, estes animais têm compostos diferentes. E se esses compostos puderem ser usados para tratarmos doenças, como o cancro? Para começar a pesquisar sobre esta hipótese temos, primeiro, de conseguir “chegar” até estes animais.

Interessado em saber mais sobre o mar profundo, em português?

Como conseguimos as amostras? Fazer esta pesquisa no Faial, ilha do grupo central dos Açores onde está o Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores, não foi um mero acaso. Neste departamento com trabalho científico na área das Pescas (e não só) reconhecido internacionalmente, existe algo que o torna único no país: um Navio de Investigação e uma campanha de investigação de Pesca Demersal, que recolhe dados há mais de 20 anos. O que é esta “pesca demersal”? É somente o tipo de pesca comercial mais utilizada na região dos Açores. Peixes como o Cherne ou o Goraz, de elevado valor comercial, pescam-se perto do fundo. Como os fundos nesta região são altamente irregulares, a pesca por arrasto nunca foi muito usada e foi antes substituída por outras artes. Uma delas é o “Palangre de Fundo” (imagem), que é também a usada na campanha de investigação das pescas no DOP. Mas nestas campanhas, que ocorrem todos os anos, de Fevereiro/Março a Setembro/Outubro, no N/I “Arquipélago”, vêm também muitos outros animais que são recolhidos acidentalmente. Falo de corais, esponjas e outros, que não só não têm utilidade comercial, como não faz sentido devolver ao mar pois estão já ou mortos ou moribundos depois de terem sofrido o efeito da diferença de pressão. Desde cerca de 2001 que estes animais são antes trazidos para a coleção científica (Colecta), onde são preservados para serem estudados por outros cientistas. Estes animais e toda a informação que é recolhida nas campanhas são fundamentais para percebermos que animais existem na área, quais são mais abundantes, quais são raras e onde as podemos encontrar. Em 2009, quando fazia o meu mestrado, apercebi-me que já não existia espaço para colocar as amostras mais abundantes e não havia ninguém a trabalhar com elas. Aí surgiu a ideia de as “aproveitar” para a minha linha de pesquisa. Apenas usamos para este estudo animais abundantes, de grande dimensão e que não estão ameaçados ou sejam protegidos. A variedade é grande (foto) e já tivemos resultados tão interessantes como surpreendentes. Mas isso....fica para falar num próximo “Fazendo”. SIL V IA LINO

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http://blogmarprofundo. wordpress.com

Mexilhões hidrotermais

a) (Bathymodiolus azoricus) Camarões hidrotermais

c) Mirocaris fortunata

Esponjas de grande dimensões

f) Petrosia sp.

g) Leiodermatium cf. pfeifferae Corais

h) Callogorgia verticillata i) Dentomuricea sp.

nota: os animais hidrotermais não são recolhidos acidentalmente da forma explicada antes, mas sim com recurso a robots especiais, chamados ROVs (Remote Operated Vehicle).

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música

subida aos céus (Eternelle) Na, na, naaa, na, na, na, naaa

Subida Aos Céus

Ora, hoje em modo feminino, trago-vos uma coisa/ canção que na realidade são três.

(Eternelle)

Explico Porque neste espaço queremos também falar da música que se vai fazendo, as primeiras palavras antes de chegar ao cerne, vão para o novo disco d’A Naifa – As canções da Naifa (disponível em www.spotify.com/pt), que viu a luz do dia em Novembro do já passado ano. Lá, o colectivo que o público dos Açores bem conhece (apresentou no Teatro Faialense os 4 discos de originais criados desde a sua génese, já tocaram na Terceira e este ano têm data marcada para o Teatro Micaelense), revisita canções de outros artistas que, para A NAIFA (e para nós, acreditem) são emblemáticas e necessárias apreender. São canções, ora pois, para se escutarem de uma ponta à outra. E se temos o Sr. António Lobo Antunes (Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto), o Sr. Ary dos Santos (Desfolhada, Tourada) e o Sr. José Mario Branco (Inquietação), também temos a Sra. Regina Guimarães que transformou “Eternelle” em “Subida aos céus” (aviso: na voz da Mitó, subimos mesmo).

quero ser amada só por mim

É uma canção do demónio e uma obra de arte da música pop contemporânea

e não por andar enfeitada ser adorada mesmo assim careca, nua, descarnada engano de alma ledo e cego ó linda inês posta em sossego imortal diz adeus com perfumes a presa é facil com jóias casacos de peles. gosto do amor quando é difícil e cheira ao meu hálito reles. quero ser amada à flor da pele não quero peles de vison, amada pelo sabor a mel e não pela côr do batôn. engano de alma ledo e cego ó linda inês posta em sossego imortal diz adeus

Regina Guimarães é uma mulher do Porto, poetisa, dramaturga, encenadora, que fez parte da banda “Três Tristes Tigres” e escreveu as letras das suas canções (e algumas dos Clã). No caso do âmago da investida de hoje, a poetisa Portuense foi matar a sede à fonte de outra, quero dizer, a uma canção maravilhosamente gerada por Brigitte Fontaine, em 1968 - a tal Eternelle. Numa espécie de tradução epidérmica (que acabou por rasgar a carne e chegar ao esqueleto), surgiu “Subida aos céus”, que, para mim, é o hino feminino mais arrepiante de sempre, cru, disparatadamente sensual mas arquitectado com vigas de aço. É uma canção do demónio e uma obra de arte da música pop contemporânea - já agora, faz tremer as pernas de qualquer macho, tal não é o fascínio que transpira.

com cabeleira a presa é facil há quem se esconda atrás dos pêlos gosto do amor quando é difícil de ser amada sem cabelos. quero que me beijem a caveira e o meu ossinho parietal que se afoguem na banheira pelo meu belo occipital engano de alma lego e cego ó linda inês posta em sossego imortal diz adeus com carne viva a presa é facil é ordinário e absoleto

E isto porque, numa mescla de palavras onde tudo soa lascivamente bem, despe-se a mulher da superfície, do que é fictício, desnecessário, restando apenas o tutano e a força da natureza (e logo no ataque) – quero ser amada só por mim/ e não por andar enfeitada/ ser adorada mesmo assim/ careca, nua, descarnada.

gosto do amor quando é dificil quando me aquecem o esqueleto quero ser amada pela morte pelos meus ossos de luar quero que os cães da minha côrte passem as noites a ladrar

Por uma questão de estilo(?) e porque se fala também do verdadeiro amor, chama-se ao palco do refrão Dona Inês de Castro, amor de Pedro, essa sim, literalmente amada até ao osso (segundo a lenda, claro está) e daí para diante, cada verso, cada chapada.

engano de alma ledo e cego

Brigitte Fontaine foi e é uma mulher com poderes sobrenaturais (assim como Regina Guimarães), que desmembrou as artes (poetisa, actriz, cantora...) na altura da avant-guarde. Por tudo isso e mais ainda, não estávamos à espera que divagassem sobre as Barbies e os seus Kenitos mas 1) chegar a Etternele, não é para todas e 2) lá de cima, ainda conseguir engendrar escadarias para subir ao céu... está bem está.

REGINA GUIMARÃES

ò linda inês posta em sossego imortal diz adeus sobe aos céus. sobe aos céus.

Na, na, naaa, na, na, na, naaa

Ouçam isto pelo amor do divino, sim? MIGUEL MAC H ETE

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cine

quem quer ver realizados n “O Aprendiz de Feiticeiro” de Tiago Rosas O jovem realizador Tiago Rosas concebeu um documentário sobre a obra de Zeca Medeiros. Este objecto fílmico tem o curioso título de «Aprendiz de Feiticeiro» e trata-se de uma resenha do imaginário de Zeca Medeiros: realizador, actor, compositor, cantor e responsável por muita da música açoriana de referência que hoje ouvimos e que, podemos arriscar-nos a dizê-lo sem temor, permanecerá por muitos anos na nossa memória colectiva. Tiago Rosas oferece-nos o legado de forma temporal, mais de duas décadas de autoria, e que vai desde a série “Memórias do Vale”, rodada em 1985, até ao mais recente espectáculo de “As Sete Viagens de Jeremias Garajau”, passando obviamente pelos telefilmes “Mau Tempo no Canal”, “Xailes Negros”, “Balada do Atlântico”, “O Barco e o Sonho”, “O Feiticeiro do Vento”, “A Ilha de Arlequim”, “O Sorriso da Lua nas Criptomérias” ou a adaptação de “Gente Feliz com Lágrimas”, do escritor micaelense João de Melo. Zeca Medeiros conseguiu – com a ajuda da RTP Açores e dos seus profissionais – criar um “fado insulano” carregado de espelhos e de reflexos que ressoam e povoam de forma indelével a cultura açoriana contemporânea. É ainda surpreendente, na parte final deste trabalho, o desfilar das suas actrizes e ainda o rol e a exposição do seu percurso interpretativo enquanto actor através de excertos dos seus filmes.

“Meu Pescador, Meu Velho” d e A m aya S u m p s i Amaya Sumpsi é uma madrilena que o acaso a atirou para os Açores e mais concretamente para ilha de São Miguel. Licenciada em Realização de Cinema e Televisão pela Escuela Superior de Artes y Espectáculos vem viver para Ponta Delgada enquanto membro das Criações Periféricas, responsável pelo laboratório de fotografia e na organização de eventos. Este documentário “Meu Pescador, Meu Velho” é, sem qualquer dúvida, um olhar deslumbrado pelos pescadores de Porto Formoso, uma visão de alguém que gostou de aqui chegar e descobrir-se nessa aproximação que agora pode ser vista por quem quiser. À semelhança do escritor Raul Brandão, que há noventa anos se deixou apaixonar pela paisagem açoriana, Amaya Sumpsi enamorou-se pela baía e, sobretudo, pelas gentes de Porto Formoso. A história do filme - com uma fotografia cuidada e uma música tocante - abre com o início do projecto em que, após uma noite de Carnaval de 2005, uma enorme onda desfez os “boca aberta” do mestre Eiró e do mestre Américo. Estranhamente, com ajudas institucionais gera-se a construção de novas embarcações e maiores, no entanto o porto de areia é residual e impróprio para varar os barcos. Os pescadores passaram assim a reivindicar uma doca em cimento para que a sua chegada seja possível nas melhores condições, gerando alguma contestação entre os moradores que acreditam que a beleza natural do porto e as ruínas do castelo que ali se encontram são o verdadeiro foco de beleza e atracção turística do lugar. “Meu Pescador, Meu Velho” é um belíssimo fresco para se compreender e sentir as gentes do mar de Porto Formoso da Ilha de São Miguel e uma pertinente lição de como se consegue, pode e se deve filmar rente às pessoas que não conhecemos e que nos podem dizer e contar tanto sobre a vida e sobre a realidade social em que vivemos. Inesperado é aquele o diálogo entre o velho e o jovem pescador que daria uma importante tese de mestrado sobre o património material e imaterial da humanidade e a sua relação com a vida das comunidades. Amaya sentiu aqui o apelo de deixar a conversa correr, fluir, pois ao constatar que é afinal o jovem que está do lado do património (as ruínas, neste caso) ganha em perspectiva e agiganta este seu empenho, esforço e dedicação aos seus sete anos de existência dedicados à feitura do documentário. Felizmente o Teatro Micaelense encontrava-se preenchido para assistir à apresentação deste riquíssimo e valioso trabalho documental que teve reconhecimento e as mais que devidas loas e agradecimentos. 8

“Corre, Emanuel, Corre” de Emanuel Macedo

“Corre, Emanuel, Corre” é, em primeiro lugar, um filme de alguém que se expõe não do ponto de vista biográfico mas sim a partir de uma perspectiva artística comprometida e vigilante face ao desenrolar da vida individual, social e das cidades. E que para isso são necessários sentidos sintonizados com a natureza circundante, antenas atentas que estão no centro da existência onde é essencial ver, ouvir, tocar, sentir, gostar e em que nada, nada mesmo nos é passivo ou indiferente. Aqui Maria Emanuel Albergaria, cidadã e antropóloga, permite que a câmara capte o seu mundo e que aí instale uma visão muito pessoal e criativa do seu ideário estético. A partir de várias fotografias obtidas na ilha de São Jorge, constróise um programa de registar esse processo interno de bloqueio/ libertação vivencial e onde está presente a floresta/natureza como elemento de inquietação/pacificação e que este trabalho é processo ou resultado final. Inspirado na exposição/instalação “Uma Casa na Floresta”, o projecto documental nasce dessa pulsão de registar o que foi a superação desses bloqueios interiores, acompanhando esse desejo adulto fermentado de regressar a um olhar pueril e inocente, ultrapassando as barreiras exteriores convertidas em muros, cancelas, troncos de árvores em forma de metáfora. Daí o regressar às nossas porosidades e sensações mais íntimas e primárias, às memórias mais longevas e fecundas num universo poluído de simulacros e proliferação abundante imagens, carregado que está de confusão e ruído e onde é já quase impossível pensar e sentir. A realização da exposição/instalação numa casa bem citadina, por sinal desabitada, coloca também uma interpelação ao nosso desapego pelo que ficou de vida e memória nesses centros desabitados, inquirindo até que ponto ganhamos com prédios incaracterísticos na periferia das nossas cidades quando a arquitectura por ali podia ser (re) construída. Por fim, destaque-se ainda a fulgurante entrada musical deste documentário, sendo o som um elemento primordial ao longo destes quinze minutos, muito devido ao contrabaixo de Gianna de Toni e da viola de Arco de Ernesto Rodrigues, anunciando deste modo que estamos perante um trabalho colectivo de invulgar empatia entre os envolvidos, resolvida que ficou a partilha de autoria entre Emanuel Macedo e Bruno Correia, num trabalho bastante cuidado e justo face ao enquadramento dos sons com os diferentes registos de imagens, para além do movimentado vídeo de João Pedro Plácido e André Laranjinha. Este filme foi produzido pela “Tripolar” com o 9500 Cineclube, a Cresaçor e a RTP-Açores como Produtores Associados e recebeu o Prémio do Público no Faial Fimes Fest 2011.


ema

documentários nos Açores?

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“ Q u at r o Pa r e d e s e o M u n d o ” de Marc Weymuller “Naquele ano, voltei à Ilha do Pico, nos Açores. Queria encontrar o escritor, poeta e baleeiro, José Dias de Melo, na sua aldeia natal, Calheta de Nesquim. Queria passar alguns dias ao seu lado, ver como vivia. Queria ouvi-lo falar, ouvi-lo contar as suas histórias que marcaram a vida dele. Queria filmar a sua aldeia, a sua casa, as suas idas e vindas, acompanhá-lo, nos seus passeios e descobrir paisagens que descreve nos seus livros. Mas quando cheguei à Calheta de Nesquim soube que ele tinha caído doente e que tinha sido hospitalizado em São Miguel, uma outra ilha do arquipélago. Ninguém me soube dizer quando retornaria. Então, decidi esperá-lo. Levei comigo um dos seus últimos livros “Poeira do Caminho”. Folhei-o para passar o tempo. E se escuto, entendo a voz dele...” Marc Weymuller Marc Weymuller trabalhou para o som de “As Ilhas Desconhecidas” (2009), de Vicente Jorge Silva e foi por essa altura que travou o ensejo de querer conhecer Dias de Melo. Este seu trabalho documental tem a particularidade de mostrar a passagem do tempo num lugar carregado de memórias e de histórias de baleeiros elencados ao longo do tempo por este antigo professor e depois escritor, focalizando-se essencialmente nesta fase final da sua vida, marcado pelas contingências do momento na vida deste homem de palavras. Estes cinquenta e três minutos de memória viva de um homem que escreve a partir da sua janela devolve-nos aquilo que é mais pungente e telúrico num homem que gostava de sentir-se mais um entre iguais, podendo nós agora imaginar o escritor com o seu cachimbo na sua Calheta de Nesquim olhando o mar com os seus conterrâneos e antigos baleeiros. O filme é narrado em francês pela voz de Marc Weymuller, que alterna em português com Michel Costa que vai lendo excertos de “A Poeira do Caminho”, acentuando a cadência do texto num registo de vozes lentas sobre as imagens do “habitat do escritor” – trabalho aprimorado de Xavier Arpino – reforçando a solidão e a melancolia ali presentes, ampliando à literatura a vastidão da paisagem que se avista da janela da casa de Dias de Melo. No final da sessão do cineclube de Ponta Delgada foram lidos testemunhos de familiares e amigos, destacando-se o tributo de Bruno da Ponte, editor de vinte e uma obras do autor picaroto.

“Adormecido” de Paulo Abreu O Vulcão dos Capelinhos está há mais de meio século adormecido, acalmou após um ano de erupções strombolianas entre 27 de Setembro de 1957 e 24 de Outubro de 1958. Desde então e, não terá sido coisa de pouca monta, mais nada aconteceu naqueles dois quilómetros e meio de terra para lá dos garajaus que nidificam no dealbar do verão e se depõem no final da canícula, para lá da erosão. Aquela quietude vulcânica é apenas perturbada pela corveia diária de turistas que visita o seu Centro de Interpretação ou outros visitantes mais afoitos que se aventuram por entre a paisagem de cinza e silêncio em dias de bonança. Em termos artísticos, o fotógrafo Duarte Belo documentou este cenário de cinza em 2008 para o livro “Fogo Frio”, extraordinário objecto onde sobressai a venustidade do vulcão, ainda que hostil, mas profundamente bela. Outro acontecimento de fina estranheza e de poesia imagética deu-se com a criação da curta-metragem denominada de “Adormecido”, realizado há três anos pelo cineasta Paulo Abreu e produzido pelo 9500-Cineclube de Ponta Delgada, num azo sonoro e poético em torno desta força natural. “Adormecido” é, pois, m filme experimental marcado essencialmente por planos de síntese do Vulcão dos Capelinhos, arrumado essencialmente pelos sons captados do exterior e da paleta imaginária de sons provenientes do interior do vulcão, sendo exaltante a pletora sonora que aí acolhe. Paulo Abreu quis muito, num plano oposto ao de Duarte Belo, registar em filme a descoberta dessa manifestação interior, enigmática e exteriormente silente, a meio do oceano atlântico. Constituído por planos de fuga em Super 8, aproveita para dar corpo e conta do vento, do céu e das nuvens que despontam em tão invulgar local, supondo assim o rumor interno daquele báratro em manifestação invisível, nessa possível congeminação de lava e outros materiais em combustão, o borbulhar dos gases e partículas quentes no interior do seu magma. É nessa dialéctica interiorexterior que este “Adormecido” é tão quente e poeticamente esclarecedor. Com a presença de diferentes câmaras espalhadas pela área do vulcão há no decorrer do filme a imagem de uma ossada de um cagarro em plano único e contido sobre a morte e a destruição a que este sítio é propenso, resultando tantos anos depois no seu esquecimento, permitindo aqui a prova de que o que importa é dar conta da actualidade e presente desse “deserto” possível e passível de pertença, após tantos anos passados da devastação inicial. Daí a interrogação: quantos filmes já pediu este vulcão? E, por isso, só um poeta da imagem é capaz de espalhar câmaras pela terra nova e captar a sua poesia visual e sonora para depois devolver-nos em jorro o que de mais profundo e alienígena assoma desta atmosfera carregada de detritos e escombros. É que podemos rebentar no ar esse conjunto de hipóteses de morte e de cinza que um lugar como Vulcão dos Capelinhos materializa mas, posteriormente, deveremos percepcionar e interrogar que aquilo que se encontra aparentemente adormecido e esquecido baste um curto, mas precioso filme, para despontar em nós a ideia de que há sempre tanta coisa a bulir e a agitar-se por dentro. Do vulcão e no interior de nós. Fernando Nunes

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fotografia

sonha-se no mah exposição Sonhos | fotografia de Rodrigo Sá da Bandeira O Museu de Angra do Heroísmo inaugurou a 18 de janeiro, sábado, pelas 15h00, a exposição Sonhos| fotografia de Rodrigo Sá da Bandeira, na Sala Dacosta, que apresenta dezassete fotografias de paisagem das ilhas do Pico e do Faial. Caraterizadas por uma intensa dimensão onírica, as imagens foram captadas entre as 18h00 e as 6h00 da manhã, de forma a criar uma atmosfera sinestésica adequada aos sonhos, recorrendo em alguns casos a técnicas que reforçam o efeito de ilusão e fantasia. Aquando da inauguração, o grupo de teatro residente do MAH, A Sala, protagonizou uma leitura cénica de textos de autores apresentados em combinação com as fotografias agora expostas no livro Sonhos, lançado na ilha do Faial, em 2013. A exposição Sonhos estará patente até março, na Sala Dacosta do MAH, sendo o seu encerramento assinalado com um workshop de fotografia pin hole a decorrer no Serviço Educativo do Museu de Angra do Heroísmo. Durante o período de vigência da exposição, o Serviço Educativo promoverá o ateliê Sonhar Acordado, destinado a grupos escolares. Rodrigo Sá da Bandeira nasceu em Moçambique, no ano de 1972. Reside na ilha do Faial, onde fundou o estúdio fotográfico Fábrica de Imagens. Depois de terminar o curso na A.R.C.O, em Lisboa (1993) trabalhou nos estúdios da Diapovideo, nas áreas de moda e fotografia comercial. Ainda em Lisboa, trabalhou como freelancer. Em 2001, mudou-se para os EUA, frequentando a Washington DC School of Photography, onde mais tarde veio a dar aulas. Em 2002, trabalhou na Liberty Photo Studio e, em 2003, mudou-se para a CKP Studio, onde trabalhou até 2007. Durante o período em que esteve nos EUA, lecionou também na Art and Learning Center da Universidade de Maryland. Mais recentemente, trabalhou com o Observatório do Mar dos Açores no Inventário do Património Imóvel dos Açores (IPBIA). ANA L Ú CIA ALMEIDA

ACTIVIDADES A DESENVOLVER NO ÂMBITO DO PROGRAMA DE DINAMIZAÇÃO DA EXPOSIÇÃO: património mundial, do mundo a angra do heroísmo

ACTIVIDADES DIRECIONADAS PARA O PÚBLICO INFANTO-JUVENIL AMOR EM TONS DE VERDE Serviço Educativo, 11 de fev, 10h00 Teatro de Fantoches do Núcleo de Prevenção Núcleo de Iniciativas de Prevenção à Violência Doméstica da Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória.

VIAJAR PELA IMAGEM - Fotografia de Rui Caria Sala do Capítulo, 8 de fev, 15h00 Mostra de fotografias de Rui Caria, que documentam vivências urbanas em grandes centros cosmopolitas, comentadas pelo autor.

LENÇOS DE NAMORAR Serviço Educativo, 15 de fev, 15h00/17h00 Neste ateliê, aborda-se a tradição dos lenços de namorados, explorando o simbolismo inerente aos motivos que o decoram. Depois, com a ajuda de voluntárias, combinam-se labores tradicionais com técnicas e materiais contemporâneos para criar lenços com mensagens de amor. Formadores: Grupo de voluntários residente do MAH Público-alvo: adultos, jovens e crianças a partir dos 6 anos. Custo de inscrição: 5 € - Inscrições até 13 de fev: 295 240 800, museu.angra.agenda@azores.gov.pt Parceria: Núcleo de Iniciativas de Prevenção à Violência Doméstica da Santa Casa da Misericórdia

SAMBA NO MAH - Workshop de iniciação ao Samba Auditório/Bar do MAH, 22 de fev, 14h00/17h00 Monitor: Emanuel Rodrigues - Iniciação aos principais passos e sequências Custo da inscrição: 10 € - Inscrições até 20 de fev: 295 240 800, museu.angra.agenda@azores.gov.pt TARDE DANÇANTE Auditório/Bar do MAH, 23 fev, 15h00/17h30 Com a participação de Claudiana Cau e Pingo Grapiuna - Entrada 5 € APRESENTAÇÃO DO BAILINHO DE CARNAVAL Auditório/Bar do MAH, 17 de fev, 21h00 Parceiros:

Mark Twain A VIAGEM DOS INOCENTES

literatura

montra de ler

«A Viagem dos Inocentes contém já tudo aquilo que viria a ser central na personalidade literária de Mark Twain, fazendo dele um autor decisivo: da linguagem exacta e sem ornamentos a um impiedoso sentido de humor. O humor é, na verdade, o elemento primordial deste relato. Mark Twain não poupa nada, nem os próprios companheiros de viagem. O sarcasmo do escritor não se limita, contudo, a um relato de peripécias mais ou menos burlescas num navio carregado de “inocentes” americanos em excursão pelo Velho Mundo. O olhar de Mark Twain nunca é indulgente. Não o é para os passageiros e é-o ainda menos para alguns dos lugares visitados. Em certas passagens, pode chegar a extremos de contundência para os quais, no nosso tempo, se inventou a expressão “politicamente incorrecto”.» [Carlos Vaz Marques]

Silas Weston UM OBSERVADOR OBSERVADO «Não surpreenderá que a relevância deste texto oitocentista sobre as duas ilhas tenha merecido o interesse de três académicos: o impulsionador deste projecto de edição do texto de Silas Weston, Carlos Guilherme Riley, a quem se deve o seu achamento, a que acrescenta um primeiro ensaio facultando um esclarecedor enquadramento sobre o autor e o seu tempo; Leonor Sampaio da Silva que assegurou a excelente tradução do original, lavrando por sua vez um ensaio de natureza crítica a partir da linguagem do relato e das estratégias de tradução, e, por fim, Ricardo Madruga da Costa, que elabora um texto de análise sobre a visão de Silas Weston sobre as duas ilhas contempladas (…)» [da Nota do Editor]) 10


literatura e sociedade

saudação a dias de melo Após cerca de seis anos a viver em Lisboa, em que me deslocava a São Miguel para curtas visitas à família, foi apenas em Abril de 1957 que tomei conhecimento da existência de um escritor e professor que morava e ensinava nos arredores de Ponta Delgada. Chamava-se Dias de Melo e, em circunstâncias particulares, publicara num jornal um texto que revelava alguém com profundas convicções e com a coragem de as afirmar. A história desse texto relacionava-se com uma polémica que decorria na imprensa da época, em que também participei, e que agitava ou escandalizava alguma sociedade micaelense por, de certo modo, vir a revestir-se de carácter político, onde bafientos valores estabelecidos eram postos em causa. Estávamos em pleno salazarismo e Dias de Melo, dependendo do seu salário pago pelo Estado, arriscava mais do que alguns dos outros intervenientes. Em que consistia a tal polémica é uma outra história. Despertou-me de imediato o desejo de o conhecer pessoalmente. Tendo partido para Lisboa dois dias depois, tal encontro só viria a acontecer quase trinta anos mais tarde. Entretanto, eu perdera em grande parte contacto com os Açores e, no plano cultural, limitava-me ao conhecimento de alguma literatura mais antiga, graças à bem escolhida biblioteca do meu avô materno e à oportunidade que, ainda adolescente, tivera de conviver com Pedro da Silveira e RuyGuilherme de Morais. Li alguns textos que Dias de Melo publicara no continente, onde se moviam Vitorino Nemésio e Natália Correia, que conhecia bem e a quem publiquei um livro na editora que, então, possuía.

Neste contexto, o encontro com Dias de Melo marcou-me profundamente. Deu lugar a uma amizade muito gratificante que perdurou até ao final da sua vida. Quando não estávamos ambos em Ponta Delgada ou em Lisboa, esse convívio mantinha-se através de frequentes longos telefonemas e cartas. Visitei-o várias vezes no Pico, que fiquei a conhecer melhor através dele. E fiquei a conhecer melhor Dias de Melo através dos seus lugares de culto no Pico, o Museu dos Baleeiros, a Calheta de Nesquim, a sua casa, a “Cabana de Frei Tomás”, como se lhe referia, alguns dos seus amigos, os cafés que frequentava. Na esplanada de um deles, estava um grande grupo de veraneantes (provavelmente emigrantes) em animada conversa. Inesperadamente, uma dessas pessoas levantou-se da sua mesa e dirigiu-se à nossa pedindo autorização a Dias de Melo para o fotografar com os seus companheiros — a Clara, minha mulher, e eu. Ainda guardo essa fotografia que o Dias de Melo me ofereceu mais tarde. O seu convívio ajudou-me também a recuperar facetas da minha relação com os Açores; uma visão mais próxima e alargada das suas gentes. No início da nossa relação, verifiquei que tinha seis originais na gaveta, para os quais não encontrara editor, que, com gosto, publiquei na minha nova editora. Lembro as variadíssimas discussões com o meu revisor, que fazia questão em “corrigir” Dias de Melo, quando reproduzia a forma característica com que as suas personagens se expressavam. Mas a nossa relação editorial não ficaria por aí. Através de Dias de Melo, apercebi-me da intensa actividade literária de jovens — e alguns já não tão jovens — autores açorianos, o que esteve na origem da “Colecção Garajau”, dedicada a autores açorianos, ou que escreviam sobre os Açores, que iniciei na minha nova editora. Quando a editora terminou, essa colecção contava com cento e vinte e um livros, dos quais vinte e um de Dias de Melo. Foi um trabalho gratificante, que desenvolvi o melhor que soube e pude, que, de certo modo, devo a Dias de Melo e, também, a Vamberto Freitas, que se empenhava em manter uma certa tertúlia em torno dos escritores açorianos. Lembro Dias de Melo com enorme respeito, reconhecimento e saudade. Bruno da Ponte

Conceição Maciel A MOLDURA «A Moldura organiza-se em torno do destino de personagens singulares, dos seus percursos individuais e dos relacionamentos que estabelecem entre elas. Mas simultaneamente, e para lá disso, a narrativa reconstrói um tempo social e colectivo, com as suas linhas de rumo e os seus bloqueios, gestos solidários e solidões. Maria da Conceição Teixeira Maciel Amaral nasceu em 1946, em S. João, ilha do Pico. Completou o Curso Geral dos Liceus na cidade da Horta. Concluído o Magistério Primário em 1965, exerceu a docência na ilha de S. Miguel durante 32 anos. Publicou o livro de poemas Maregeia (1999) e, no domínio da narrativa, A Ilha Mágica (2000), O Casaco de Baeta (2001) e A Uva Mágica (1999), que representa uma incursão na área da literatura infanto-juvenil.» [Urbano Bettencourt]

Valério Romão FACAS «Dividido em três partes, o mais recente livro de Valério Romão (n. 1974), junta histórias perturbantes sob um denominador comum: facas. Usando diferentes registos narrativos, o autor explora, de maneira assertiva, as entranhas secretas do que se esconde por detrás de vidas aparentemente normais.» - José Riço Direitinho, crítica publica no jornal Público, suplemento Ípsilon, em 6 de Dezembro de 2013. Valério Romão publicou recentemente os romances “Autismo” e “O da Joana”, na editora abysmo. Carlos Alberto Machado C o m pa n h i a d a s I l h a s

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soociedade

sismo d’oitenta A 1 de Janeiro de 1980, pelas 15h42min, o arquipélago dos Açores sofreu um enorme sismo que atingiu as ilhas Graciosa, São Jorge e, principalmente, Terceira. A apenas 35km a sudoeste da cidade de Angra do Heroísmo, o terramoto com epicentro no mar, possuía uma magnitude de 7,2 na escala de Richter e uma intensidade de 9 em 12 na escala de Mercalli, deixando um rasto de destruição avassalador. A catástrofe arrancou a vida de 73 pessoas e fez centenas de feridos. O parque habitacional e monumental da ilha Terceira foi gravemente atingido, para lá de 12000 estruturas ficaram destruídas deixando 21 296 pessoas desalojadas. Passo a passo, a vida foi voltando à normalidade e apenas três anos depois, Angra estava praticamente reconstruída, recebendo o título de Património Mundial da Humanidade pela Unesco em 1983. Ainda hoje se fala no terramoto que marcou o tempo dizendo que “há uma vida antes do sismo e há uma vida depois do sismo”. Em 2011 nasceu um projeto multimédia que se debruça sobre os açorianos que sobreviveram ao terramoto do dia 1 de Janeiro de 1980, popularmente apelidado de Sismo d’Oitenta. O trabalho é desenvolvido por uma equipa livre de quatro jovens terceirenses – João Aguiar, Luís Melo, Luís Silva e Rúben Quadros Ramos - que passaram ou estão a passar pela licenciatura em Novas Tecnologias da Comunicação na Universidade de Aveiro. Disponível em www.sismodoitenta.com, o projeto Sismo d’Oitenta nasceu da aliança entre a vontade de empreender os conhecimentos na área da multimédia e da curiosidade de saber mais sobre o terramoto que sempre ouviram falar. Procuraram fotografias, falaram com pessoas, investigaram livros e após alguma pesquisa, detetaram uma abertura nos estudos efetuados sobre o abalo e delinearam o projeto em torno dessa brecha, dando-lhe conformidade. Assim, esperam que o que seria um simples produto multimédia se transforme num trabalho com pertinência científica e que seja contemplado como um registo válido da história e memória dos Açores. A natureza que sustenta estas ilhas é munida de uma imprevisibilidade destrutiva e eventos como o sismo de 1 de janeiro de 1980 podem voltar a acontecer. Deste modo, torna-se importante registar o que ainda existe para que sirva de base para eventos futuros, como inspiração ou consolo para todos aqueles que forem afetados. “O nosso objetivo consiste na criação de um inventário com o maior número possível de testemunhos de sobreviventes do terramoto ocorrido a 1 de Janeiro de 1980 dos Açores”, diz a equipa. Neste projeto, onde os limites entre comunicação multimédia, arte, história, ciência e cultura são ténues, é possível visualizar um resumo dos acontecimentos do sismo, observar uma comparação sobreposta entre fotografias da destruição e da atualidade, assistir a vídeos com pessoas ilustres a explicar as várias facetas da problemática, ler testemunhos de pessoas do dia-a-dia e partilhar a sua própria história. É um projeto aberto e sem fins lucrativos onde todos podem participar. Visite, participe, envie fotos, escreva a sua história – contribua para a memória e história dos Açores. Este é um projeto de todos os açorianos para todos os açorianos. Rú b e n q u a d r o s r a m o s

arquitectura

projeto de requalificação da frente mar da cidade da horta EXPOSIÇÃO P Ú BLICA NO BANCO DE ARTISTAS - 2 1 J ANEIRO a 1 9 FEVEREIRO

Sessões Públicas de Apresentação: 21Jan 20h - banco de artistas :: 24Jan 20h - polivalente da ribeirinha :: 31Jan 20h - polivalente dos cedros 03Fev 20h - polivalente do capelo :: 07Fev 20h - filarmónica lira e progresso feteirense 12


música

na horta, acabaram as canções A NAIFA

O nome deste projecto musical contemporâneo, filho de João Aguardela e Luís Varatojo, desperta sentimentos em muitos dos que habitam o Faial e os Açores. Esta ilha em particular, cresceu com eles, desde o seu primeiro trabalho “Canções subterrâneas”. Logo no primeiro encontro (30 de Abril de 2005) houve paixão e entendimento - o Teatro Faialense encheu-se de pessoas no início e de sorrisos e aplausos no fim. Nascia uma cumplicidade que foi crescendo ao longo dos anos. Sempre que a banda fez digressões nacionais (2006, 2008, 2010, 2012...), foi recebida de braços abertos na Horta (com o patrocínio da Câmara Municipal e co-produção de algumas associações culturais). E porquê? Porque era assumido por todos os que aqui viviam – autarcas, associações culturais, cidadãos – que este projecto e os seus espectáculos eram sinónimo de cultura, actualidade, qualidade artística e criativa, mas também de alternativa, de inconformismo para com os ícones estabelecidos da normalidade e banalidade. Os concertos d’A NAIFA foram sempre uma experiência intensa (alegria, comoção, sentido)

para os 4 que vinham e para os outros que estavam. A mim pessoalmente, fazia-me acreditar, que quem estruturava os destinos desta ilha, nomeadamente na cultura, tinha alguma visão, sentido de responsabilidade, inteligência. Que estas sementes poderiam germinar e fazer-se forte a estratégia cultural porque estava à vista de quem tem olhos para ver, de que iniciativas vingavam, integravamse e eram necessárias na sociedade Faialense! Insisto! o Teatro Faialense esteve sempre cheio – crianças, jovens, adultos (de todas as idades) E então? O que é que se passa? Perguntam vocês. Quando cheguei ao Faial, há 16 anos atrás, depareime com uma expressão que sempre me alarmou e entristeceu: quando se fazia a pergunta anterior, ouvíamos – “Não se passa nada, e é isso que se passa”. A NAIFA, em 2014, vai estar em vários Teatros do país (incluindo o Micaelense) com o espectáculo “As Canções da NAIFA”, mas não vai estar na Horta. Este, é um primeiro indício. A estratégia (ou a falta dela) da Câmara Municipal da Horta para a cultura, mudou. As canções acabaram. MIGUEL MAC H ETE

as charlas quotidianas do doutor mara n o pa l c o d a t r av e s s a d o s a rt i s ta s e m f e v e r e i r o

As Charlas Quotidianas do Doutor Mara terão no início do mês de Fevereiro novos desenvolvimentos pois estão a ser preparados ensaios e leitura dos seus textos para as dar a conhecer publicamente em forma de teatro rápido na Travessa dos Artistas, Ponta Delgada, São Miguel. Conhecido pelos seus alongados e ociosos devaneios ou mesmo chuva de ideias, apelidados aqui de charlas quotidianas, chegou o momento de ver e assistir em palco ao pensamento contemporâneo e futurista do Doutor Mara e confrontá-lo a ele e ao seu humor há muito apelidado de “inteligente, requintado e sarcástico”. É este Doutor Mara que sente sempre “uma fina e doce aragem infantil” com a chegada do novo ano e que se dedica ao estudo da Meteropatia “as mudanças e variações que o estado do tempo provoca no eu individual e colectivo dos povos”, o seu discurso e conferências dedicadas ao ócio e ao mundo laboral “com estas máquinas e toda a panóplia de tecnologia existente o exército da produção necessita de cada vez menos soldados”, ao mesmo tempo que pensa sobre as idiossincrasias e vicissitudes do regime em que vivemos “quem gostar de democracia deve comprar um guarda-chuva” ou ainda o seu pensamento ocioso e particular sobre a vida cultural do nosso país: “o meu avô que não era propriamente um intelectual, dizia que ainda havíamos todos de acabar a jogar matraquilhos”. “As Charlas Quotidianas do Doutor Mara” que terão as primeiras apresentações públicas são a Futurofagia, a Óciologia e Metereopatia e contam com a participação do actor João Malaquias e a actriz Judite Fernandes, para além dos desenhos ilustrados e criados para o efeito, desenhados pelo arquitecto/ ilustrador Luís Brum. Deste modo, o público terá a oportunidade de conhecer em palco e em carne e osso este livre-pensador, disposto a conversar sobre os assuntos mais prementes da sociedade actual, ele que sempre foi um conhecedor e comentador profundo do paisagem humana e social que nos rodeia, devendo isso às conversas que vai tendo com os seus vizinhos ou a acessível leitura de jornais diários nos cafés mais próximos de sua casa. Um homem profundamente austero, honesto e solitário, ainda que sem família e sem perspectivas de vir a ter, uma espécie de dementia fraterna social e que apazigua a sua solidão nocturna em idas à casa do vizinho, encontros com uma família simples que lhe faz recuperar memórias de infância ou ainda dos prolongados estudos que faz num gabinete citadino. A não perder na Travessa dos Artistas nos dias inaugurais do mês de Fevereiro. F ERNANDO NUNES 13

o meu avô que não era propriamente um intelectual, dizia que ainda havíamos todos de acabar a jogar matraquilhos


música

concerto “noite a tr3s” c o m a s b a n d a s B W F – B r u n o W a lt e r & F r i e n d s / W a v e J a z z E n s e m b l e / B o s s a Q u i n t e t

“Um sonho tornado realidade!” acaba por ser o desabafo e a concretização de um desejo, de muitos dos músicos comuns a estes projetos musicais. O excelente relacionamento entre todos, com uma agenda super articulada de trabalhos, ensaios e concertos, aliada à exigência e bom gosto individuais bem como a grande versatilidade em vários géneros musicais, faz desta “comunidade”, um exemplo de relativo sucesso face à procura local e até regional, consoante as próprias especificidades das bandas. A iniciativa da Exec Eventos de “juntar” em palco todas as bandas deste coletivo, aliou-se à re.function – “the eco sustainable art residence” responsável por muita da indumentária e adereços de ambientes e palcos, como o Festival Azure ou a Art. Revisited - exposição coletiva no Museu de Angra do Heroismo, para a conceção do ambiente fisico (palco) e visual (com projeção videomapping) elaborada por alunos e formador do curso do mesmo nome, ministrado pela Academia de Juventude e das Artes da Ilha Terceira. A duração do espetáculo rondará as 2 horas e terá a co-produção da Cooperativa Praia Cultural, Academia de Juventude e das Artes da Ilha Terceira, município da Praia da Vitória. P AULO CUN H A

BRUNO W ALTER & FRIENDS Depois de 2 CD’s editados com repertório da sua autoria, Bruno Walter Ferreira decide finalmente em meados de 2010, fazer uma formação em septeto que pudesse transmitir a essência dos seus temas com claras influências de blues, jazz, bossa nova, musica africana e pop-urbana, com repertório original, com letras também de outras personalidades da poesia e musica portuguesas. Dos concertos já efectuados, destacam-se o “Outono Vivo” 2010 no ARG, a 3.a Gala “Uma noite pela vida” da Liga Portuguesa Contra o Cancro, as Festas da Sanjoaninas 2011, as Festas da Praia 2011, as Festas do “15 de Agosto” de Vila do Porto, a Gala de Solidariedade da SCMAH no Centro Cultural de Congressos de Angra do Heroismo (CCCAH), a organização e concerto BWF acompanhado pela Orquestra do Angrajazz, gravado em audio e video no CCCAH , o 2.o + Jazz, o congresso da URIPSSA no CCCAH, espetáculo no Clube de Oficiais na Base Aérea n.4 e “Natal dos Hospitais” pela RTPAçores..

BOSSA QUINTET Com repertório essencialmente composto por música brasileira, o Bossa Quintet iniciou-se com 4 elementos no género bossa nova e MPB, em meados de 2009, pelo que a apetência por ambientes mais festivos como o samba, originou na inclusão de um percussionista. As grandes composições de Tom Jobim e Vinicius, de Caetano e Chico Buarque, de Gal Costa e Rita Lee, são aqui reinterpretadas Dos concertos já efectuados, destaca-se a ida à Graciosa para 2 noites, as Festas da Praia 2010, as Festas das Lages 2011 (PV), as Festas das Sanjoaninas 2011, as Festas de São Francisco do Monte (Pico) ou as Festas de Santo Antão do Topo (São Jorge) , as Festas da Praia 2013, espetáculo no Clube de Oficiais na Base Aérea n.4, a 6.a edição do festival “O Mundo Aqui”

W AVE J AZZ ENSEMBLE Wave Jazz Ensemble é um quinteto de jazz, com um repertório onde se reinterpretam clássicos do género, temas tradicionais e contemporâneos dos Açores e alguns originais. É composto por músicos com formação musical diversa, provenientes do rock, do clássico, passando pelo meio filarmónico e pelo ensino da música e das artes. Embora com actividade em formações musicais diversas, têm em comum o facto de serem membros da Orquestra Angrajazz e sobretudo, o fascínio pelo Jazz. Nascido em 2010, em Angra do Heroísmo, partiu da vontade de explorar a linguagem jazzística em combo, no sentido de permitir uma abordagem mais livre dos temas, privilegiando o desenvolvimento da improvisação. A banda toca e faz o culto dos standards de autores como Duke Hellington, Charles Mingus, Sonny Rollins, Benny Golson, Miles Davis, Herbie Hancock, Tom Jobim, etc. Inclui já no seu repetório temas açorianos, como o “O Sol” celebrizado por José da Lata, “Tema de Amor” de Luis Gil Bettencourt, “Baleeiro” de José Medeiros bem como alguns originais de Antonella Barletta, Paulo Cunha e Márcio Cota. Dos concertos já efectuados, destacam-se as Festas da Sanjoaninas 2011, o 1.o + Jazz , “Outono Vivo” 2012 no Auditorio do Ramo Grande (ARG), a emissão em directo da RDPa no 21.o aniversario do “Sabores do Jazz”, o concerto didático na Casa do Sal – Oficina d’Angra, a parceria com o Coro Pactis no ARG e o acompanhamento nos desfiles de moda e de bijuterias do evento “o museu não sai de moda!” iniciativa do Museu de Angra do Heroismo, o encerramento da emissão do programa de TV da RTP1 “5 para a meia noite” nas festas das Sanjoaninas 2013, o concerto didático “jazz verde” no Forte Grande de São Mateus, sede da GeQuesta e a interpretação de “O Sol” no 15o Festival AngraJazz.

artes visuais

esta não foi podada nos açores jonny glover

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conto

aventuras de ezequiel malaquias no paraíso

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Don a Vitóri a, ca nt ora de s, fabu losos fado e at uava se mpr acompa nh ad a pe lo se u gato . X ico D’Fla nt in a , O gato m iava dona ca nt av a. Era esta a di nâ m ica que ni ng ué m ou se contentá-l a. unes Micael N

Ezequiel Malaquias especializou-se em paraísos. Isto foi há muitos anos, primeiro como autodidacta, esforçado e corajoso: saltou o Inferno e o Purgatório e foi directamente para a parte do Paraíso da “Divina Comédia” de Dante, leu todas as narrativas de utopias, relatos de viajantes e experimentou, em corpo e espírito, uma imensa variedade de paraísos artificiais. Ocupou-se com tudo isto até perto dos quarenta anos, quando decidiu concorrer à universidade, para os lugares extra de adultos não possuidores de habilitação formal (liceu): entrou com estrondo e não tardou muito a fazer valer os seus largos e profundos conhecimentos. Passou por antropologia, filosofia e literaturas comparadas, em licenciaturas, mestrados, doutoramentos e pós-doutoramentos. Erudito e formal, não deixou nunca, apesar disso, de vaguear pelas margens dos sistemas, o que lhe causou não poucas inimizades e rancores. Para se verem livre dele, a Reitoria da sua universidade e os órgãos competentes deixaram que, catedrático, se jubilasse com apenas 64 anos. Malaquias agradeceu. Tinha um desejo de viver até aos 90 anos e de até lá escrever dez romances, ele que jamais tinha escrito uma linha que fosse de ficção – não sendo menos verdade que todos os seus escritos, híbridos, tinham uma carga imaginativa e uma elegância de estilo que faziam inveja a muitos consagrados escritores da pátria lusa, e não só. A verdade é que esse era o seu desejo e firme vontade. E a teimosia nele era perseverança, digam o que disserem os tolos. Para concretizar o seu sonho e planos de escritor, resolveu que o melhor seria afastar-se o mais possível das mediocridades envolventes e ir para o que na terra poderia ser o mais parecido com um paraíso. Diga-se, antes de continuarmos a narrativa de vida de Ezequiel Malaquias, que este homem genial era um puro fruto da cultura livresca. Jamais saíra do seu cantinho lisboeta, a não ser para umas poucas palestras, não muito longe de casa. Quando em certa ocasião um jornalista lhe perguntou qual era o seu meio de transporte preferido para viajar, respondeu que era o eléctrico da cidade, “o 28, mais precisamente.” Posto perante a necessidade da escolha, de pouco estavam a valer-lhe os conhecimentos humanísticos. Paraíso na terra? Era coisa que nunca lhe tinha saltado à evidência. Estava ele a carpir mágoas por isto, quando, no televisor, mudo, à sua frente, corria uma letra miudinha por baixo da imagem do senhor que dava notícias que dizia mais ou menos isto: ilha do Pico, Açores, um dos paraísos na terra. Telefonou logo a uma secretária da universidade a pedir-lhe que lhe fizesse um último favor: explicar-lhe como se ia até essa ilha e tratar de lhe arranjar transporte e alojamento nesse paraíso possível. Expedita e eficaz, como sempre, Helena, a supra citada secretária, rapidamente fez com que o catedrático jubilado Professor Doutor Ezequiel Malaquias, especialista mundial em paraísos de toda a espécie, 64 anos de idade, celibatário, aterrasse em meio do Atlântico norte, na ilha do Pico, grupo central do Arquipélago dos Açores, iam as 12 horas de um dia outonal e corria o ano da graça de 2013. (continua) c ARLOS ALBERTO MAC H ADO

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açores

charlie chaplin

cabeça de

89 3 estarão os mercados municipais

REBUS

Jogo enigmático em que letras e imagens são usados para formar uma nova palavra ou frase. Os algarismos entre parêntesis indicam quantas palavras compõem o enigma e o número de letras de cada uma. As letras fornecidas devem ser compostas com o nome das imagens para formar novas palavras. Deve ser lido da esquerda para a direita.

em vias de extinção? 4 alice quê? 5 as ilhas desconhecidas 5 pep brix

Neste número introduzimos uma variante do REBUS: quando uma letra surge entre parêntesis deve ser subtraída/eliminada da palavra da imagem correspondente.

6 economicamente inviável 7 subids aos céus 8 quem quer ver documentários

LETRAS d o r e b u s ( 7 + 2 + 9 )

realizados nos açores? 9 sonha-se no mah 9 montra de ler

solução: bolocha de chocolate 7

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10 saudação a dias de melo

9

11 frente mar da cidade da horta

LETRAS d o r e b u s ( 3 + 6 + 5 )

11 sismo d’oitenta 12 as charlas quotidianas do doutor mara 12 levantar do chão 12 naifa 13 concerto noite a tr3s 13 esta não foi podada nos açores solução no próximo número

inês ribeiro

14 uma história ao calhas 14 aventuras de ezequiel malaquias

f a z e n d o f a z e n d o . b l o g s p o t. c o m

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fazer

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