Fazendo 81

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81 JANEIRO ‘13

O BOLETIM DO QUE POR CÁ SE FAZ MENSAL / DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

meter um pauzinho na engrenagem www.linkcurto.com/5k


2. Fazendo Editorial

81 Há quarenta e e dois anos, neste mês de Janeiro, a

Direcção

Grécia aderiu à CEE (Comunidade Económica Euro-

Aurora Ribeiro

peia), mais tarde União Europeia, e os GNR (Grupo

Tomás Melo

Novo Rock) editaram o seu single “Portugal na CEE”. Nesse ano nasceu também a actriz israelita Natalie

Capa

Portman, e morreu o músico jamaicano Bob Marley.

Agnes Juten

Os Açores passaram a dispor de ligações telefónicas

Colaboradores

automáticas com o Arquipélago da Madeira. Ivo Ma-

Cristina Lourido

chado, poeta terceirense, editou o seu primeiro livro

Dieter Ludwig

intitulado “Alguns Anos de Pastor” e sete poemas

Fernando Nunes

do livro foram vertidos para canto lírico pelo com-

José Luís Neto

positor e musicólogo português Fernando Lopes-

Lia Goulart

-Graça, apelidando este conjunto de “Sete Breves

Orlanda André

Canções dos Açores”. O IAC (Instituto Açoriano de

Pedro Afonso

Cultura) editou o livro “Cantigas do Povo dos Açores”,

Pedro Gaspar

do Tenente Francisco José Dias. No Brasil, o músico

Pedro Medeiros

Caetano Veloso lançou o álbum “Outras Palavras” e

Sónia Bettencourt

a Academia Sueca atribuiu o Nobel da Literatura a

Victor Rui Dores

Elias Canetti, de origem inglesa-búlgara, adoptando

Capa

o alemão como idioma, reconhecido pela sua “visão

Layout Design

ampla, uma grande quantidade de ideias e força ar-

Mauro Santos Pereira

tística”.

www.comunicaratitude.pt Revisão Carla Dâmaso

Agnes Juten - As palavras das coisas Escultura de Parede - Faial - 2012

Propriedade Associação Cultural Fazendo Sede Rua Conselheiro Medeiros nº 19 ­­— 9900 Horta

As palavras das coisas

drado Cinzento a empurrar a Forma Azul para domar

Periodicidade

Então as coisas falam entre si!

esse monstro Vermelho pretensioso.

Mensal

De certeza que não estão apenas a coscuvilhar ou

Outro “Círculo” Quem me dera ser o Vermelho e

pior, empenhadas na má-língua? Haverá alguma

que o Vermelho chamativo tivesse o meu tom som-

Tiragem

palavra-chave nesta torrente de palavras para que

brio de azul. Assim seria eu o mais importante. Nem

500 exemplares

eu possa entender sobre o que é tudo isto? Em que

sequer sou um círculo verdadeiro, apenas uma for-

língua falam e qual é o assunto? De qualquer forma,

ma algo circular. É a vida, ninguém é perfeito! Por

Impressão

não as consigo ouvir.

isso, juntei-me aos quadrados para empurrar o azul

Gráfica O Telégrapho

Chega de perguntas!

e manter o equilíbrio das coisas.

É em linguagem visual que estão a falar. É a língua da

Grade One, two, three, four, five - horizontal. One,

cor, da forma e do espaço.

two, three, four, five - vertical. Simple but effective! I

nesta edição são dos autores

Círculo Vermelho Olha para mim, sou redondo e

am at the base, the beginning, the counterpoint. I do

e não necessariamente

vermelho. O que me torna importante. Os teus olhos

not have much to say but it would be a boring con-

da direcção do Fazendo

viram-me antes de qualquer outra forma. Estou no

versation without me.

centro da atenção de toda a gente.

Uma, duas, três, quatro, cinco – horizontais. Uma,

Forma azul Ah sim? Mas na verdade és meu prisio-

duas três, quatro, cinco – verticais. Simples mas efi-

As opiniões expressas

neiro, porque eu faço-te um belo de um enquadra-

caz! Eu sou a base, o princípio, o contraponto. Não

mento de onde não podes fugir. Apanhar-te assim é

tenho muito a dizer, mas seria uma conversa chata

Lembram-se na edição do Fazendo n.78 da

que te torna especial. O que seria de ti sem mim? Só

se eu não estivesse aqui.

entrevista a Gemina Garland-Lewis sobre a baleação? Podem seguir o seu trabalho em:

um círculo vermelho com buracos. Até a tua extrava-

Espaço Até agora fiquei calado. Que as coisas falem

gante cor fica mais viva por minha causa.

primeiro, eu sou quem fica em seu redor – no meio,

http://newswatch.nationalgeographic.

Quadrado cinzento Sou o quadro que tenta não

por baixo e por cima. Por baixo? Sim, reparaste nas

com/author/ggarlandlewis/

ser quadrado. Ser quadrado é tão previsível. Não sou

sombras? É uma escultura. Rasa, mas escultura. Não

cinzento, a minha superfície é zincada. Sou eu que

é uma pintura ou um desenho. Agora olha para os es-

dou apoio ao Azul que aguenta o vistoso Vermelho.

paços no meio e à volta das formas. Tão importantes

Alinhámo-nos lindamente aqui para a coisa.

como as próprias formas. Cooperação, é o que faz

Outro quadrado Eu sou um verdadeiro quadrado,

falta para as coisas acontecerem.

embora um pouco escondido pelas formas minhas

Agnes Juten - As palavras das coisas

vizinhas. Os teus olhos vão conseguir reconstruir

Wall Sculpture, 2012, mixed media, A>B 175 cm

perfeitamente a minha quadradice. Ajudo o Qua-

Dieter Ludwig


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81 JANEIRO ‘13

Crónicas e Crónicos

Fazendo Crónica

“Discordo daquilo que dizes mas defenderei até à morte o direito de o dizeres” Sempre gostei mais de crónicas do que de “crónicos”.

rei até à morte o direito de o dizeres”, o que, como

perspectiva geral e abrangente, um tom acutilante

O meu pai quando íamos à bola dizia-me com insis-

sabemos, nem sempre acontece. Outra coisa é que

sobre a realidade que o circunda. Os jornais actuais

tência: “aquele ali é um crónico do Porto”, “aquele ali

poetas e escritores de quem admiro os seus textos

apercebendo-se que são os bons cronistas que po-

é um crónico do Benfica”, “aquele ali é um crónico do

e poemas foram cronistas de jornais, tendo edita-

dem salvá-los da informação jorrante e intoxicante

Salgueiros”, e eu, demasiado pequeno para perceber

do dessa forma livros de crónicas, ainda hoje muito

que é hoje difundida pelos diferentes canais televi-

as divergências clubísticas dos adultos e desconfia-

lembradas, como são os casos de Alexandre O´Neill

sivos, matraqueando a toda a hora a hora as mesmas notícias e desfazendo-se do seu valor e importância

do com aquele tom de voz, procurava de imediato

(“Uma Coisa em Forma de Assim”), Manuel António

encontrar algum gesto ou atitude visível menos pró-

Pina (“O Anacronista”) ou Vinicius de Moraes (“Cine-

na espuma dos dias, concedem a liberdade a estes

pria, tal como se de uma doença ou deficiência grave

ma”).

de “trabalhar a informação” e devolvê-la ao público

epíteto de “crónico” seria a hipérbole do clubismo, do

Um cronista, tentando seguir a linha etimológica

vezes sob a forma de crónica. O resto, depois, faze-

fanatismo desportivo exacerbado, da paixão fute-

da palavra grega “cronos” associada à temporali-

mos nós, com os materiais e conhecimento que te-

bolística desenfreada e violenta, expressa, na maior

dade, é aquele que tenta apanhar o ar do tempo,

mos ao nosso alcance e ainda com o sentido crítico

das vezes, em meia dúzia de impropérios e banalida-

a respiração do dia, o “élan de duração”, segundo

disponível. Por isso é que as crónicas serão sempre

se tratasse. Cresci para mim com essa ideia de que o

com o seu cunho e autenticidade pessoal, muitas

des sobre o clube adversário ou frases feitas sobre

George Steiner, ou até mesmo o seu cheiro, o que,

preferíveis aos “crónicos”, ainda que ser adepto do

o seu próprio clube, dependendo dos licores e lúpulo

por vezes, nem sempre é agradável e, ainda assim,

Sporting, concedo, possa ter facilitado o argumen-

ingeridos com álcool até aquele momento.

construir uma visão pessoal da actualidade, uma

tário em questão. Fernando Nunes

Os “crónicos” são, na contemporaneidade, muito mais chatos, intratáveis e insuportáveis de que me pareciam à altura, dado estes serem nos dias que correm um público alvo mais fácil para programas televisivos, jornais e informação que giram em torno dos mesmos “crónicos” e dos adeptos da bola que, felizmente, é redonda. É frequente que, antevendo a presença de um ou vários “crónicos” por perto, trato subtilmente de arranjar uma desculpa para evitar qualquer discussão e “dar ao slide”, afastando qualquer hipótese de diálogo ou monólogo em vista, evitando assim prováveis danos mentais e colaterais a quem escuta. Por outro lado, as crónicas leio-as quase sempre de maneira religiosa consoante o autor, mesmo que alguém repita uns minutos antes: “esse gajo é um tonto”; “essa mulher não sabe o que diz”; “esse fulano é um bêbado de primeira espécie”. Leio e pronto. Por vezes, quando a crónica é suficientemente digna desse nome guardo a dita para reler algum tempo mais tarde em lugar sossegado, essencialmente dado à reflexão, ao pensamento. A verdade é que leio sempre pessoas que na maior parte das vezes não estou de acordo, sobretudo para contrariar ou rebater esses argumentos. Faço, inclusive, questão de elaborar uma tentativa de resposta ou contra-argumentação. Desde tenra idade que admiro pessoas que têm ideias e opiniões sobre os assuntos e manifestam o seu pensamento por via das crónicas nos jornais, demonstrando assim que reflectiram sobre os assuntos em questão, expondo publicamente as suas ideias e reflexões, não se coibindo de estar certos ou errados consoante as conveniências do poder ou do momento, arriscando muitas vezes o coiro e o cabelo, o emprego e o prato de sopa numa crónica. Nestes casos seria bom que toda a gente seguisse uma máxima do filósofo Voltaire: “Discordo daquilo que dizes mas defende-


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81 JANEIRO ‘13

Afinal, o mundo não acabou

Fazendo Teatro

O juiz decidiu, ficou decidido: A Hu-

Entre os dias 20 e 21 do passado mês

a maioria dos presentes no concílio.

ma taxa de juro a pagar a longo prazo?

manidade escapou à tão promissora

de Dezembro, em plena ilha do Faial,

Apenas 9 pessoas acreditaram ser a

Talvez devêssemos tomar esta “abé-

profecia Maia de que o Mundo iria

foram realizados dois “Referendos do

melhor resposta. Com uma diferença

bia celestial” como uma oportunidade

acabar no dia 21 de Dezembro de 2012.

Fim do Mundo” nos quais o cidadão

de 2 pontos, ficou a opção “Oferecer

de reflexão...

Surpreendido? Desiludido? Sente que

poderia exercer o seu direito de voto

a imortalidade à Humanidade (...)”.

“O Mundo não acabou! Espectacular!

mais uma vez a democracia divina fa-

e escolher que destino atribuir à Hu-

Claro que a nossa má conduta devia

Estamos vivos! Vamos para os copos!”

lhou e o excluiu de tão importante to-

manidade.

abolir logo, à partida, esta solução...

Hummm não. Não era bem isso a que

mada de decisão? Pois, mas lamento

Parece-me óbvio que “Deixar a Hu-

Então em que é que ficámos? Ficá-

eu me referia...

informá-lo de que desta vez, não se

manidade morrer (é bem feito, depois

mos vivos, isso não há dúvidas. Mas

pode queixar.

fazemos outra nova)” não conquistou

teremos alguma contrapartida? Algu-

As Vacas

Lia Goulart

Fazendo Música

A vaca tem, para os açorianos, não só um valor eco-

Ironias à parte, a verdade é que os Açores são hoje

agrupamentos musicais. Pelas minhas contas, tere-

nómico, mas também simbólico, uma vez que ela

um autêntico viveiro de poetas, músicos e cantores.

mos, nos Açores, e para uma população com pouco

está intimamente associada às promessas, aos fes-

Os números falam por si: segundo dados da Dire-

mais de 242.000 habitantes, a maior concentração

tejos e às manifestações do Espírito Santo, uma fes-

ção Regional de Cultura, 15% da população açoria-

de músicos e cantores por Km2 a nível nacional.

ta secular que se mantém nestas ilhas.

na canta e toca música em público e para o público. Esta situação fica a dever-se àquelas que são as

A primeira referência escrita que temos da cantiga

O meu bom amigo e excelente poeta Vasco Pereira

duas grandes escolas de formação musical nestas

“As Vacas” é do padre João Azevedo da Cunha, que em

da Costa costuma dizer que “os Açores possuem

ilhas: os inúmeros grupos corais (e não há nenhuma

1893 escrevia que esta cantiga era muito bailada na

duas grandes produções: uma é a produção de poe-

freguesia, nenhuma vila e nenhuma cidade que o

Ribeirinha, ilha do Pico.

tas, a outra é a produção leiteira”…

não tenha) e as 103 filarmónicas atualmente existentes no arquipélago. Mas há mais nestas ilhas: 3

Outro autor, Manuel Dionísio, supõe que “As Vacas”

conservatórios, 4 academias musicais, 68 grupos

seja de origem flamenga. Júlio Andrade recolheu

folclóricos, 43 grupos de teatro amadores, dezenas

uma versão desta moda na freguesia dos Flamen-

de tunas e grupos de cantares e muitos e múltiplos

gos, ilha do Faial. Diz ele que a diferença de “As Vacas” é que no baile do Faial é tocado em tom maior e no do Pico em tom menor. Na ilha das Flores, e segundo Pedro da Silveira, “As Vacas” era dançado pelos foliões da coroa nos impérios do Divino Espírito Santo, “o que ainda não há muito tempo sucedia na Ponta da Fajã Grande”, escrevia aquele autor em 1956. Quando bailado, homens e mulheres levantam os braços – representando o cruzamento dos galhos das vacas, o que significa cortesia.

ouvir em: www.linkcurto.com/5n

Victor Rui Dores


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81 JANEIRO ‘13

Discos do Além Mio Piccolo Amore – La Mia Collina Anna Tamara Nucci, 1979

ouvir em: www.linkcurto.com/5m

Fazendo Música

Caros amantes perversos de fenómenos para nor-

tegoria específica a este trabalho. Chegámos porém

mais, é com contida satisfação que regresso ao vos-

a conclusões interessantes, como por exemplo a

so convívio com mais uma rubrica Discos do Além. O

constatação de que não é fado, e que são utilizados

glamour transalpino tem inspirado os nossos cola-

diversos instrumentos.

boradores, que equipados com pneus de neve têm

Soubemos hoje por fontes “Pereira de Melo”, as fon-

percorrido centenas e centenas de metros, na pro-

tes mais seguras do mundo jornalístico, que Anna

cura das melhores referências discográficas.

Tamara voltou para o marido, depois de experimen-

Este que vos apresento hoje, caros teleconspur-

tar dificuldades por não arranjar emprego. É caso

cados, acaba de chegar à nossa redacção aqui nas

para dizer “emancipação é muito bonito, mas cuida-

caves de um subúrbio milanês, e depois de limpo e

do!”. He he he, aqui nos discos do além também sabe-

recuperado, já abrilhanta os nossos dias mais obscu-

mos fazer humor...

ros. Mio Piccolo amore – La Mia Collina significa em

E é assim que me despeço, prezados bonvivãs, com

Português “Meu Amorzinho, Meu Monte”. Parece

mais esta contribuição para a aculturação das mas-

um título de fofura e encanto, dirá o atento ouvinte,

esta espécie de postal irónico para o seu marido,

sas, e com a promessa que vos visitaremos um dia,

mas não é! Na realidade, este disco alcançou a fama

como quem diz, “olha lá onde é que eu estou, meu

caso aceitem as nossas condições.

não pela música, mas como bastião da emancipação

palerma!” ou “Se queres jantar fá-lo tu!”.

feminina, nos estreitos e compridos corredores das

Em relação ao título é caso para perguntar: meu

Pedro Tarantini

repartições feministas, no universo lésbico, e no es-

monte de quê? Comenta-se aqui na redacção que o

CEO dos Discos do Além

pantoso mundo “casalinghi” (donas de casa). Trata-

título foi encurtado por questões de marketing.

Palestras e workshops do além: contactar a redacção deste jornal

-se de um grito de revolta, um retrato de uma mulher

Em termos musicais, e depois de algumas reuniões

submissa que resolveu soltar amarras, e fugir da

com peritos internacionais, decidimos por unanimi-

Requisitos: estadia, alimentação, viagens e provas de vinho do Pico

província para a grande cidade. Uma vez lá, grava

dade , eu e o meu colega, não atribuir nenhuma ca-

Honorários: Não aceitamos cheque nem multibanco nem nada

Discos do Aquém En Mana Kuoyo

ouvir em: www.linkcurto.com/5p

Fazendo Música

Comitiva: 12 peritos internacionais do além

Os Filmes

que por cá se Filmam Fazendo Cinema

A partir da próxima edição começaremos a fazer um levantamento das obras cinematográficas e vídeo em produção nos Açores. Através de textos, imagens, entrevistas, diários de bordo ou outros apontamentos, tencionamos ter um olhar íntimo (do ponto de vista dos autores) sobre o audiovisual conLá para bandas de 1993 – há vinte anos, portan-

lhamos na torrente da música que sai da voz e das

temporâneo dos Açores. A Associação que alberga

to – saía mais uma pérola do forno da WOMAD/Real

mãos de Ayub Ogada são um bálsamo onde se volta

esta publicação propõe-se ainda a, sempre que pos-

World, a etiqueta que Peter Gabriel criou para criar

sempre que a mente (os ouvidos?) o pede.

sível, procurar dar aos leitores, mais cedo ou mais

nas melhores condições de estúdio sessões únicas

O instrumento chave nesta gravação essencialmen-

tarde, oportunidade de assistir às obras finalizadas,

de gravação e fruição musical daquilo a que os ou-

te a solo – prefere-o a ter de lidar com as chatíçes

através de projecções nas ilhas onde é distribuído.

tros chamavam ‘world music’ (ou seja música popular

que os egos dos grupos sempre acarretam – é a Nya-

não anglosaxónica tipicamente terceiro-mundista,

titi, a versão Luo da harpa, que se mistura perfeita

um género musical muito restrito que inclui desde

com os ritmos simples da percursão para carregar a

música tradicional dos pigmeus do Gabão ao Antó-

voz serena deste viajante do tempo. São 10 músicas

nio Variações) mas que ele sabia serem mas é gran-

cheias, onde nada está a mais nem de menos e até

des músicos.

parece que não precisamos de nenhum curso de Luo

O disco chama-se En Mana Kuyo, ou uma parábola

para o entender. (praticamente) Tudo acústico, pois

sobre como o apressado acaba por comer as semen-

que a tecnologia lhe parece lenta.

tes de sésamo com areia. O autor é um tal de Ayub

Afinal, talvez não tenhamos sido só nós a surgir no

Ogada, Queniano do povo Luo que cresceu e andou

vale do rift mas, quem sabe, também a própria world

por terras anglosaxónicas. Deve ter-lhe feito bem,

music?

porque as sementes que comemos quando mergu-

DJ Cafonz

Aurora Ribeiro


6. #

80 DEZEMBRO ‘12

Duplas Cidade da Horta - 2011 versus 1852

Fazendo Fotografia


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A Ecléctica Cidade da Horta Paris

81 JANEIRO ‘13

Nova Iorque

Fazendo Artquitectura

É, provavelmente, na cidade da Horta que encontramos o maior número de tipos diferentes de placas de rua por Km2 Há cidades que apostam numa imagem de marca, casas diferentes todas pintadas de igual, números de porta a condizer e mais ou menos tradicionais, rodapés todos da mesma cor, e uma data de outras uniformizações de aparência agradável. Tornam uma tendência recorrente numa norma icónica. Será que isso faria sentido na Pedra lioz, Rectangular com cantos

Em Azulejo vidrado, Oval, Letras pin-

Horta? No site oficial do turismo dos

Em Mármore, Rectangular, Letras gra-

côncavos, Letras gravadas e pintadas,

tadas, Cimento cola, origem provável

Açores está escrito que “o ambiente

vadas e pintadas, Parafusos salientes,

Parafusos salientes, origem provável

São Miguel

eclético continua a marcar a cidade” e

origem provável Estremoz

isso é verdade: casas de todas as cores

Lisboa

e feitios, de todas as épocas, com vários tipos de coberturas e ornamentos, ruas de diferentes dimensões, com e sem passeio, revestidas a materiais desde o cimento à calçada passando pelo mal afamado mas muito útil alcatrão, vários estilos de jardins, do mais contemporâneo ao mais antiquado possível, etc. Em Pedra lioz, Oval, Letras em baixo

Em Chapa metálica, Rectangular, Le-

O espectador mais desatento e que

Em Mármore, Rectangular com cantos

relevo, Argamassa, origem provável

tras pintadas, Parafusos à face, ori-

não perceba a intencionalidade de

côncavos, Letras gravadas e pintadas,

Lisboa

gem provável Lisboa

cada decisão poderia pensar que isto

Parafusos salientes, origem provável

aqui está tudo caldeado. Mas essa é

Estremoz

precisamente a tendência da Horta. Ecléctica - adjectivo - Que não tem ou que não revela preferências ou gostos exclusivos. A google está a desenvolver um programa que identifique a partir de uma fotografia o local onde ela foi tirada. Uma das principais pistas utilizada é a forma das placas das ruas. Quando Em Madeira, Rectangular com cantos

Em Pedra lioz, Rectangular, Letras

encontrar placas que não conhece, o

Em Azulejo vidrado, Rectangular, Le-

côncavos, Letras pintadas, Cimento

gravadas e pintadas, Parafusos à face,

programa da google dirá com voz de

tras pintadas, Cimento cola, origem

cola, origem provável Horta

origem provável Lisboa

androide: Cidade da Horta, Faial, Aço-

provável São Miguel

res, Portugal. Passeando pela Horta em busca delas, estranhei não ter encontrado nenhuma em basalto nem mesmo em cimento negro já sem bolinhas de esferovite (técnica utilizada nos Açores para imitar pedra de basalto com recurso ao cimento, já que em casa de ferreiro temos espeto de pau). Em Azulejo vidrado, Oval, Letras pin-

Em Mármore, Rectangular, Letras gra-

Perpetuem a arte de bem salientar

Em Pedra lioz, Rectangular, Letras

tadas, Cimento cola, origem provável

vadas e pintadas, Parafusos à face,

os nomes das ruas e façam uma placa

gravadas e pintadas, Parafusos à face,

São Miguel

origem provável Lisboa

para a vossa.

origem provável Lisboa Tomás Melo


8. #

81 JANEIRO ‘13

Célia Carmen Cordeiro

Fazendo Literatura

Entrevista sobre o livro Ana de Castro Osório e a Mulher Republicana Portuguesa Ana de Castro Osório e a Mulher Republicana Por-

razões que a fazem querer ser conhecida mais pe-

Ana de Castro Osório considerava que o papel

tuguesa é o primeiro livro de Célia Carmen Cordeiro,

las suas obras literárias e menos enquanto activista

da mulher em Portugal estava muito aquém do

acabado de lançar nas ilhas e na capital. A autora é

feminista. Ela quer ser reconhecida como escritora,

das suas congéneres mundiais, como ser huma-

açoriana, docente do quadro da Escola Básica 2, 3

precisa de dinheiro para viver e o seu público é a bur-

no, como mãe, como filha, como esposa. Sendo

da Maia (concelho da Ribeira Grande). Porém, os

guesia. Por conseguinte, ela escreve no tom que a

a Célia açoriana e trabalhando nos E.U.A., que

últimos anos da vida de Célia foram passados nos

audiência quer “ouvir”.

lhe parece a situação actual do papel da mulher de um e doutro lado do Atlântico?

E.U.A. onde esteve na Universidade de Minnesota, a tirar Mestrado em Literatura, Cultura e Linguísti-

Outra dicotomia é a posição que Ana de Castro

Parece-me que tal como no tempo de Ana de Castro

ca Hispânica e Lusófona e ainda a leccionar. De tal

Osório defende em termos educativos e mesmo

Osório, há mais direitos legislados do que colocados

modo se apaixonou pelos E.U.A., que por lá ficou na

profissionais, sublinhando bem a diferença en-

em prática na sociedade portuguesa. Persiste a

Universidade de Texas-Austin, onde é doutoranda

tre as senhoras burguesas e as mulheres operá-

mentalidade patriarcal em Portugal, na medida em

de Literatura Luso-Brasileira. Para mais sabermos

rias. Podemos considera-la uma elitista?

que aos dois sexos continua a ser exigido tarefas

sobre este livro, resultado da sua tese de Mestrado,

Ana de Castro Osório fazia parte de uma elite com

distintas na generalidade dos lares, mesmo que nas

fomos conversar com a autora.

nome, mas com pouco dinheiro. Ela passou por al-

escolas se prima pela igualdade de desempenho de

gumas dificuldades financeiras, socorrendo-se mui-

actividades. À excepção das grandes cidades, o resto

1.Porquê a escolha deste tema?

tas vezes do pai e de outros familiares. Ela passou

do país continua a manter uma cultura de submissão

Cheguei à Universidade de Minnesota, em 2009,

a escrever, a partir de certa altura, com o intuito de

feminina. Não é à toa que só em 2012 tenham mor-

com o intuito de estudar e desenvolver pesquisa na

ganhar dinheiro. Na sua fase de militância política,

rido 39 mulheres portuguesas vítimas de violência

área de Estudos das Mulheres. Assim sendo, come-

ela lutou bastante pelos direitos das mulheres da

doméstica, apesar das acções da ACCIG – Associação

cei por estudar a Primeira Vaga dos Feminismos na

classe operária, particularmente no acesso delas à

Cultura e Conhecimento para a Igualdade de Género

Europa de modo a poder compreender e contextu-

educação e ao trabalho justamente remunerado. No

– por todo o país. Nos Estados Unidos, essa questão

alizar como essa temática havia tomado forma em

entanto, ela ainda teme a “desordem social” no que

da desigualdade de géneros não se coloca porque o

Portugal. Quando chegou o momento de escrever a

diz respeito à igualdade de privilégios para todas

sistema judicial funciona muito bem neste país e a

tese de Mestrado, escolhi uma figura que se desta-

as classes. Educação para todas as mulheres, por

assertividade inerente ao carácter dos americanos

casse na luta pelos direitos das mulheres no contex-

exemplo, mas diversificada, de acordo com a classe

denuncia quando alguém se sente discriminado.

to luso-brasileiro e, além disso, após a celebração do

a que cada uma pertence, ou seja, com a noção clara

Nota-se o desempenho das mesmas tarefas pelos

centenário da República em Portugal, pareceu-me

das diferentes funções sociais de cada mulher. Nes-

dois sexos, quer seja a conduzir um autocarro, a cor-

que a obra de Ana de Castro Osório não tinha sido

te sentido, o seu pensamento, tal como o de Dom

tar a relva ou a presidir a reuniões nos congressos

devidamente enfatizada neste enquadramento.

António da Costa, vem na linha do pedagogo sete-

federais. Isso não acontece em número diminuto e

Então, ela surge-me como a figura de eleição para a

centista Ribeiro Sanches. Logo, há a preocupação de

esporádico como em Portugal, mas em larga esca-

ponte que gostaria de fazer entre Portugal e o Brasil,

uma elitista em manter a ordem social estabelecida.

la. Não há aqui a “finesse” europeia de dar lugar à mulher nos locais públicos como gesto de cortesia

concernente à luta pelos direitos das mulheres.

masculina porque ambos os sexos têm consciência Ana de Castro Osório foi, efectivamente, uma

Na obra de Ana de Castro Osório, sublinha-se

plena da sua liberdade de acção para alcançarem

mulher da Primeira República. Mas nota-se nela

que a maior conquista da mulher é ser mãe, e

todos os objectivos a que se propõem, confiando simplesmente na capacidade de cada um para tal.

uma contradição entre os ideais dos direitos ju-

que esse é o seu maior direito mas simultane-

diciais das mulheres – então uma novidade em

amente a sua maior responsabilidade. A sua vi-

Penso que a influência da religião protestante nes-

Portugal – que defendeu na sua juventude e

são da educadora como principal regeneradora

te país impulsionou muito a participação feminina

uma posição acomodada à sociedade patriarcal,

da Nação contraria o sentimento de decadência

na sociedade, desde logo, ao considerar homem e

já numa idade mais avançada. Como podemos

nacional?

mulher de igual forma filhos de Deus e, por isso, com

entender tal?

À mãe burguesa cabe educar os futuros cidadãos

legitimidade para propagar a Sua Palavra. Foi com

A multiplicidade de nuances no seu pensamento

republicanos. Neste sentido, ela contribui para com-

base nesse pensamento que as convenções religio-

parece-me ter a ver não só com o período contur-

bater a decadência nacional através da formação

sas deram lugar às convenções em prol dos direitos

bado e diversificado a nível político em que ela viveu

ministrada em casa aos filhos. As mães das outras

das mulheres americanas como, por exemplo, a de

(Monarquia, República e Ditadura), mas também

classes sociais deverão complementar a sua experi-

Seneca Falls, em 1848. Na Europa do Sul, os padres

com a sua decepção com o regime e, ainda, com

ência profissional com a instrução necessária minis-

influenciaram negativamente as mulheres duran-

motivos de ordem familiar e pessoal. A sua desilu-

trada fora das horas de expediente e enviar os filhos

te demasiado tempo e, ainda hoje, em muitas vilas

são contínua com a República em 1911, e em 1913,

à escola. As mulheres solteiras desenvolverão o seu

e aldeias, teme-se a ira de Deus, lamentavelmente.

na refutação do voto feminino (mesmo que apenas

instinto maternal educando os filhos das mulheres

É nisso que entronca a nossa cultura judaico-cristã,

para as mulheres alfabetizadas), assim como a não

operárias e camponesas de modo a colmatar a ele-

quer queiramos, quer não.

institucionalização da educação feminina em todo o

vada taxa de analfabetismo nacional. No entanto, é

país, fez com que Ana de Castro Osório deixasse de

à mulher burguesa mãe que Ana de Castro Osório

confiar nas promessas dos republicanos. Além disso,

atribui a responsabilidade máxima da maternidade

os filhos filiam-se no Partido Nacionalista e Ana de

como antídoto da decadência portuguesa, seguindo

Castro Osório tem problemas com o regime por cau-

a linha republicana, positivista, na qual é a mãe bur-

sa disso. Finalmente, fica viúva em 1914. Essas são

guesa a regeneradora da nação.

Carla Cook


.9 #

Montra de Ler

81 JANEIRO ‘13

Fazendo Literatura

Antonio Tabucchi

Valério Romão:

Mário T Cabral

MULHER DE PORTO PIM

AUTISMO

TRATADOS

O sonho e a magia contaminam todo o livro. A ideia

Edição da abysmo, Lisboa, 2012 (356 páginas).

Um delicado livro de poesia de um autor já firmado

da existência de uma teia secreta de encontros e de-

O autismo de uma criança faz deflagrar uma vio-

nas letras açorianas. É organizado em similitude

sencontros comunica-se à própria estrutura da obra,

lência – relacional, comportamental – numa família.

com os Livros de Horas cristãos. Repartido em Dia e

que resulta da colagem de vários registos, vozes e

O romance tece-se numa estrutura que procura

Noite, os seus poemas, de um belo rigor formal, fa-

tempos, em parte através do recurso a relatos dei-

dar-nos conta dessa violência e do que ela arrasta.

lam de temas que lhe são caros, como a salvação ou

xados por outros viajantes nas ilhas açorianas. Uma

Autismo foi considerado um dos melhores livros de

o tempo.

obra que é um dos ex-libris internacionais da cidade

2012 e o seu autor escolhido pelo jornal Expresso

da Horta e de Porto Pim.

como um dos 40 jovens talentos das artes e das

Carlos Alberto Machado

letras que irão dar que falar. Dimas Simas Lopes SONATA PARA UM VIAJANTE Sonata para um Viajante é um livro que nos coloca

Urbano Bettencourt

perante a natureza tolerante e cosmopolita do por-

QUE PAISAGEM APAGARÁS

tuguês – neste caso, o das ilhas açorianas. Acompa-

Livro de contos (e de «Breves, bre-

nhamos Abel, alter-ego do autor, melómano e poeta,

víssimas e (des)aforismos»). Sempre

nas artes da caça à baleia ou nas suas deambulações

com humor inteligente, este livro tem

científicas e filosóficas.

outras facetas igualmente importan-

Emanuel Jorge Botelho e Urbano

a abordagem da sua experiência na

ANTERO DE QUENTAL, A VIDA E UMA MANHÃ/A

guerra colonial (Guiné-Bissau), de uma

tes: o registo de lugares e afectos ou

LIFE AND A MORNING

forma despojada, lúcida e, ao mesmo

Trata-se de uma homenagem – todas as palavras do

tempo, com uma grande capacidade

poeta Emanuel Jorge Botelho neste livro poderão

de empatia com os protagonistas de

ser lidas como um sentido preito ao poeta e à poesia.

um lado e de outro.

Do pintor Urbano reproduz-se o seu Caderno de Antero. Num dos “retratos” o corpo (adormecido, morto?) não parece pacificado – como uma possibilidade de Antero continuar entre nós, sobreviventes. Precioso livro para nos acompanhar na leitura de Antero e na reflexão sobre a (sua) vida.

Antologia Açoriana Fazendo Literatura

Reais ou fictícias, de disfrute ou infortúnio, as ilhas

com elas privar literária e comovidamente. Em se

têm exercido continuado fascínio sobretudo em

tratando dos Açores, tudo lhe interessa. A terra e as

quem à literatura se dedicou. De um ponto de vista

sombras, o mar e os barcos que tanto o encantaram

estritamente literário, as dos Açores só foram des-

à vinda da pesca, manhã cedo, as gentes com a sua

cobertas no século XX, por Raul Brandão e Vitorino

história e as suas histórias, as vicissitudes telúricas,

Nemésio, sendo certo que, da demora desse acha-

as flores e as falas.

do, compensada pela valia de quem assim a deu a

Ao olhar do poeta, nesta Antologia Açoriana, se

conhecer, os açorianos não se poderão queixar. Na

junta outro que com ele dialoga, acertando-se a cor-

peugada de ambos, João Miguel Fernandes Jorge

respondência entre a fluidez do discurso poético e

dedica boa parte da sua atenção literária e senti-

a evanescência dos traços pictóricos. De modo alu-

mental aos Açores que pela primeira vez visitou em

sivo, mas nem por isso menos intenso, João Miguel

1988. Nos Açores, João Miguel Fernandes Jorge en-

Fernandes Jorge e Urbano prestam a sua homena-

controu aquilo de que sempre andou à procura, pelo

gem aos Açores, vistos e sentidos de fora, sentidos

menos desde que escreve: o que de mais português

e vistos de dentro. A pátria de ambos, afinal.

tem Portugal («O Independentista» - p. 83), talvez porque as ilhas resguardam genuinidades que o mar ajuda a proteger, não se sabe até quando.

Carlos Alberto Machado Escritor e editor da Companhia das Ilhas

João Miguel Fernandes Jorge é uma das vozes fun-

http://companhiadasilhasloja.wordpress.com

damentais da literatura portuguesa. Um acaso feliz

companhiadasilhas.lda@gmail.com

o trouxe aos Açores naquele Verão de 88 e, a partir daí, nunca mais deixou de olhar para estas ilhas e de


10. #

81 JANEIRO ‘13

Com o Infinito nas mãos

Fazendo Literatura

Abrir um livro contém o risco de encontrarmos o infi-

personagens, citações e ideias migram de uns livros

palavras ou imagens, dessa matéria, formar-se-ão

nito. Uma entrada inesperada que altera a ordem do

para outros. As escritas cruzam-se criando novas di-

outros livros possíveis, ainda por vir. Ou a reler.

mundo. Nesse espaço rectangular e alinhavado da

recções. Desbravam-se estradas, propõem-se

página, nas suas dobras, alberga-se o sem-limites.

passeios e deambulações.

Um abismo. Ou uma casa – que oferece o agasalho

O livro, a arte, o pensamento, a ciência, não se limitam ao tempo de vida de um indivíduo, são criação

da hospitalidade. Ou uma exposição no quintal do

Do mais comum quotidiano à mais extraordinária

comunitária. Entretecemos esta manta coabitada

livro – outro modo de relação com a obra de arte.

iluminação, o livro exige de nós tempo. Mas, é ine-

de cores e movimentos, texturas e gestos, veloci-

gável a ignorância dos livros, porque bem vistas as

dades e registos gráficos, como um mapa aberto

Pelas fissuras do livro saem novas e improváveis re-

coisas, eles não sabem nada de nada. No entanto, o

à viagem. O desejo enciclopédico de apreender o

alidades. Aparições. Anúncios que recriam o mundo.

que podemos ser encontraremos num livro: heróis,

conhecimento. Reflectir sobre os vincos, as rugas

Liberdade que é também desorientação: perdem-se

cobardes, santos, loucos; ou resultará num livro:

do tempo. As paredes grafitadas e a pele do corpo.

as certezas e as referências habituais; os caminhos

probabilidades-de-si desconhecidas. E gritam-nos:

São mapas de nada, que se erguem e desaparecem,

e sentidos irradiam-se; a noite encandeia-nos. Uma

faz, pensa, vê, sê!

e pendendo do ponto de vista, daquilo que se quer

espécie de cegueira: o livro folheia uma obscuridade essencial. A dos novos começos.

ver, são mapas-retalhos de pessoas, vozes, afectos. Os livros são perigosos: ateiam-nos fogo. Temíveis:

O imaginário surge como o vento, revela culturas,

por isso, são lançados ao fogo. Explosão de pala-

percursos, errâncias. Tatuagens que inscrevem em

A leitura é uma tarefa inacabável quando a Arte

vras, ideias, imaginação, sentidos – que destroem

nós perguntas-ilha: como me constrói a mim o lugar

e o Livro se ilimitam, demoradamente. Uma linha

e recriam o horizonte de possibilidades em que nos

onde vivo e como contamino os lugares.

imemorial atravessa a História, reinventa-se a cada

movemos. Com a consciência de que o livro da nos-

página e transita para outros livros: como se do mes-

sa vida nos pode queimar. De que somos livro a ser

mo se tratasse. Os/As autores/as contagiam-se. As

escrito. A fazer-se e a desfazer-se. De um monte de

Vá à Biblioteca Municipal, escolha um livro e deixe-se cativar. Cristina Lourido

Wannabe’s

Fazendo em todo o lado

tempo conseguiu banalizar as artes e a literatura,

co e evolutivo nestas áreas, mas, no meu entender,

dando voz a figuras de espectáculo no sentido banal

é errado falar em superação de uma criação face a

do termo. Muitos dos escritores, pintores, actores,

outra. Há uma continuidade que permite enriquecer

políticos, cantores, entre outros, que hoje estão em

do mesmo modo a presente e as futuras gerações.

voga, são assim designados simplesmente porque,

Pintar, dançar, escrever com mestria, entre outras

um dia, o quiseram ser - “wanna be.”

práticas artísticas, exige trabalho árduo, leitura,

Esses “wannabe’s“, que nas entrevistas costumam

vivências e talento. Há que ter também humildade

dizer que se dedicam à área em questão “desde pe-

para assumir a “docta ignorantia” a favor de um cres-

queninos”, os quais, na maioria, desconhecem os an-

cimento pessoal, criativo e profissional. Livrai-nos

tecedentes da sua própria criação, anseiam alcançar

dos que afirmam saber tudo e de tudo! E isto não se

Após alguns anos de ausência voluntária, o regresso

a luz dos holofotes como se o anonimato fosse sinó-

restringe aos conhecimentos eruditos.

às lides da escrita (criativa) tem um duplo sentido

nimo de fracasso.

Sejamos rigorosos ao ponto de querer pensar. Dá

para mim: por um lado, como jornalista e criativa das

São os “15 minutos de fama”, profetizados por Andy

trabalho, é certo, mas é a nossa liberdade que está

letras, considero importante evitar o silêncio, por-

Warhol, que, qual veneno hormonal que produz em

em causa ou, caso contrário, não seremos mais do

que é imperativo pensar, criticar e reflectir o mundo

série e em formato xl, motiva a produção do trabalho

que “homens-massa”, conforme as palavras de Or-

que nos rodeia; por outro lado, o cultivo de palavras

das massas - oco, fácil e plástico; vítima da técnica,

tega y Gasset, isto é, vazios e pré-determinados.

requer pousio e respeitosa sujeição a vários crivos

da ciência e do progresso tecnológico, dando aten-

O cultivo da palavra provoca tanto suor quanto o cul-

dentro da própria palavra.

ção a algo condenado à efemeridade, em detrimen-

tivo de milho, e o certo é que ambos são para comer.

Contudo, a minha ausência teve uma razão de ser,

to do grau (mínimo!) de excelência.

Mas como diz um pensador, teólogo, e ex-deputado

muito mais forte do que qualquer motivo da vida

Onde estará a consciência de outrora, quer do fabri-

da nossa praça, “não engulas nada antes de mastigar

particular. É como se o debate público estivesse

cante quer do promotor de tal fabrico desprovido de

bem”.

mergulhado num ruído ensurdecedor cujo tom fo-

conteúdo?

Depois de mastigar, por agora engulo uma parte e

menta a inconsciência e o voltar costas à realidade,

Isto não significa porém que as artes e a literatura

cuspo outra.

um estado de negação. Porquê? Porque o nosso

são avessas ao progresso. Existe um sentido dinâmi-

Sónia Bettencourt


.11 #

81 JANEIRO ‘13

Os Açorianos Primordiais Eis uma lição de vida açoriana que tem escapado sem ser notada

Fazendo história

Um destes dias, estava eu num tasco, e lá encon-

Segundo o senhor Costa, pelo menos nesta noite,

saros que lá levam atualmente os “passarões”, ou

trei o senhor Costa. O senhor Costa é um indivíduo

havia dois tipos de açorianos primordiais. Os primei-

turistas de observação das aves. Estes indivíduos,

bem-disposto, alto, com cabelos e barba branca,

ros eram de tipo medieval, ritualistas, que para aqui

curiosos, fizeram-se sempre ao oceano, foram des-

parecido com um pai Natal em início de carreira, de

vieram para reproduzir os modelos do Continente.

cobrir a Terra Nova, povoaram o Brasil e fizeram com

barriga menos proeminente, mas igualmente afável.

Daí que, chegando, tentaram ordenar o caos, bati-

que durante séculos Angra do Heroísmo fosse uma

Os seus olhos pequeninos, brilham intensamente

zando as ilhas como Santa Maria, de S. Miguel, depois

das mais relevantes e animadas capitais europeias.

no seu rosto de pele branca. Gosta de falar abun-

de Cristo e, finalmente, S. Jorge, estatuindo igrejas

São estes os indivíduos que ainda hoje encaram os

dantemente e não me recordo de o ouvir dizer mais

e ermidas em qualquer fim de mundo. Esse tipo de

touros, olhos nos olhos, e que, sós, sem proteção

que cinco frases seguidas sem serem intercaladas

pessoas crédulas eram incapazes de se aperceber a

que não a da coragem, provam a sua valentia nas

por uma sonora gargalhada. E o que mais o notabili-

magnificência desta terra, pois arrotearam as terras,

marradas que levam, ou nas hábeis fintas com que

za, para além da sua erudição nas histórias das ilhas,

fecharam-se em povoados, em tudo iguais aos con-

ludibriam os pobres animais.

são as suas sonoras e expressivas gargalhadas que

tinentais, construíram casas, iguais às dos continen-

não deixam ninguém indiferente. No meio de uma

tais e rezavam padre-nossos e avé-marias, cada vez

O que é de espantar, acrescentou, é que, após quase

troca de palavras banais, iniciou mais uma das suas

que a terra tremia. Era este tipo de indivíduo que ha-

seis séculos, encerrados em ilhas, estes dois tipos

histórias, que tanto gosta de contar. Eu adoro ouvi-

via feito dos Açores a terra do culto do Espírito Santo,

de açorianos primordiais são ainda claramente vi-

-las. E isso faz-nos, apesar das diferenças de idade,

da Senhora da Serreta e do Santo Cristo. Eram papa-

síveis e identificáveis, acrescentou. Uns acreditam

cúmplices.

-hóstias que viviam eternamente à espera de um

que são pouco mais que inutilidades num mundo fei-

milagre, perpetuamente temerosas face ao mundo,

to, ordenados pelos desígnios transcendentes e os

Dizia-me que, ao contrário daquilo que vinha nos li-

que sentiam como ameaçador, mas que enchiam o

outros pensam que são obreiros de um a fazer, fiéis a

vros de história açoriana, ele havia refletido e chega-

arquipélago de abundantes procissões, cheias de

serem senhores do seu próprio destino. Sentam-se

ra à conclusão que existia um grande equívoco que

comida e regadas a vinho de cheiro.

urgia esclarecer. Todas as histórias, como informava,

à mesma mesa, são amigos uns dos outros, casam entre si, têm filhos… Eis uma lição de vida açoriana

falavam dos descobridores e dos primeiros povoa-

O segundo tipo de açorianos primordiais eram as

dores dos Açores como se de um grupo homogéneo

pessoas de tipo moderno. Eram tipos de rasgos de

um suspiro e um lamento “…é pena! Pois é esta di-

se tratasse. Ele achava que se deveria pensar melhor

génio e os cultores de uma saudade permanente

versidade que nos torna universais. Enfim, por mais riquezas que se encontrem, nas altas penedias ou

que tem escapado sem ser notada. Concluiu com

no assunto, pois entre o café e a aguardente, havia

sobre o mar cavado. Viravam-se sempre, mas sem-

chegado à conclusão de que, pelo menos, havia dois

pre, na direção do mar. Ao contrário dos primeiros,

nos escuros fundos dos mares, não há maior rique-

tipos de seres humanos que para aqui vieram no iní-

vieram para aqui ver o que realmente existia, pelo

za do que o capital humano.” Embalado pela história,

cio. Eu, espantado, balbuciei: “Homens e mulheres?”.

que batizaram as ilhas de acordo com as suas ca-

mandei vir mais uma rodada.

Ele olhou-me nos olhos, sendo que lhe vislumbrei

racterísticas próprias: a Graciosa, derivada da sua

um certo gozo não verbalizado na minha interroga-

beleza; o Pico, derivado da montanha; o Faial, extra-

ção. Continuou então, esclarecendo que, se bem que

ído da dupla significação de escarpa e de bosque de

estava certo, pois vieram homens e mulheres, era de

belas árvores; as Flores, pelo encanto que ali tinham

diferenças do espírito, que me falava.

e o Corvo, pela abundância de todo o género de pás-

workshop

QUEM: crianças dos 8 aos 12 anos

escrita criativa

José Luís Neto

A criatividade é uma ferramenta necessária em toda

ONDE: Biblioteca e Arquivo Regional da Horta

a actividade humana. Estimulá-la na infância é es-

QUANDO: dias 2 e 9 (sáb.) de Fevereiro

sencial para que ela se mantenha activa ao longo da

QUANTO: 30 euros por criança (desconto de 10 eu-

vida. Ao encontrar formas de expressar a imagina-

ros para irmãos)

ção a criança encontra liberdade e alegria enquanto

Podemos pôr criatividade em tudo o que fazemos e

COMO: inscrições até dia 26 de Janeiro para arreben-

ganha gosto pela caneta e o papel.

fá-lo-emos com mais gosto!

ta.mail@gmail.com


12. #

81 JANEIRO ‘13

Proteas em Modo de Produção Biológico no Faial Fazendo Ambiente

www.redeproacoresbio.blogspot.com tem potenciado o desenvolvimento da agricultura biológica no Faial Há cinco anos iniciámos experiências na produção

Na Páscoa de 2007 visitámos Pablo Rico, produtor

verter e certificar produções agrícolas como biológi-

de proteas em modo de produção biológico, embora

biológico certificado de proteas, na ilha de La Palma

cas e isentas de resíduos de síntese química.

as nossas plantações de proteas tenham começado

nas Canárias. O entusiasmo pelo modo biológico já

há sete anos. Em 2012 completámos cinco anos de

existia. O Pablo ajudou-nos a iniciar, indicando os

Neste momento, os produtores de proteas em modo

exportação de proteas como flores de corte.

primeiros passos. No ano seguinte, foi ele que nos

de produção biológico apresentam uma biodiversi-

Em 2012, três produtores realizaram uma colheita

visitou. Ajudou-nos no início de um modo de produ-

dade crescente nas suas áreas, iniciando também

de proteas conduzidas em modo biológico, apesar

ção ecológico. Iniciámos com urtiga, cavalinha, milfó-

a produção de hortícolas, fruta, mel, carne e leite

do processo de certificação estar no segundo ano e

lio, tomilho, extrato de algas e Bacillus thuringiensis.

de bovino. A comercialização destes produtos a ní-

de as flores ainda não serem vendidas como biológi-

A urtiga como fertilizante e repelente de insetos; a

vel local está a ser potenciada pela abertura da loja

cas. As proteas produzidas destinam-se ao mercado

cavalinha para reforçar as defesas da planta, o mil- ”Açores Bio” no mercado da cidade da Horta, uma

local e europeu. A exportação total de proteas foi

fólio como cicatrizante; o tomilho como fungicida; o

iniciativa da nossa cooperativa e do núcleo dinami-

de 160 000 flores, produzidas por nove produtores,

extrato de algas como fertilizante e o Bacillus thu-

zador da agricultura biológica da mesma, destinada

três dos quais (José Domingos, Pedro Medeiros e

ringiensis como inseticida. No Faial, foram vários os

a comercializar produtos biológicos certificados e

Francisco Salvador Medeiros) em processo de con-

produtores a iniciar estas experiências, em simultâ-

exclusivamente com origem nos Açores. Esta loja

versão para o modo de produção em agricultura

neo. De entre estes, hoje, muitos continuam (e cada

é mais um passo no percurso iniciado em 2007 e

biológica certificada e que contribuíram com 68 765

vez mais) a integrar processos ecológicos nas suas

que se tem tornado progressivamente mais rico,

proteas para a exportação.

práticas e três produtores avançaram para o proces-

também em virtude das parcerias que se têm esta-

Acreditamos no modo biológico, por experiência

so de certificação, com uma constante procura de

belecido com colaboradores regionais e nacionais.

própria. Acreditamos na diversificação e na integra-

formação e atualização, colocando a biodiversidade

A crescente partilha e troca de conhecimentos em

ção. Temos vindo a desenvolver um trabalho coope-

e o solo como uma prioridade na forma como gerem

rede (www.redeproacoresbio.blogspot.com) tem

rativo que nos entusiasma. No âmbito da Coopera-

as suas áreas agrícolas.

também potenciado o desenvolvimento da agricul-

tiva Agrícola da Ilha do Faial integramos o grupo de

Algumas alterações na prática produtiva e na forma

tura biológica no Faial.

produtores de proteas (www.proteasmadeinfaial.

de gestão das áreas agrícolas, integrando conheci-

Pedro Medeiros

blogspot.com) e o núcleo dinamizador da agricultura

mentos tradicionais com o uso de microrganismos

(Coordenador do Grupo de Produtores de Proteas

biológica (www.biofaial.blogspot.com).

auxiliares e extratos de plantas, têm permitido con-

da Cooperativa Agrícola da Ilha do Faial, Açores)


.13 #

81 JANEIRO ‘13

Engoli uma Enciclopédia Escolha a sua equipa, afine a sua memória, aguce a perspicácia

Fazendo Quiz

workshop Vamos bailar FORRÓ 25 e 26 Janeiro 2013 Fábrica da Baleia Vai decorrer um estágio de forró nos dias 25/26 de janeiro com a professora Erica (http://ericaapforro. blogspot.pt/). O preço será de 15 euros para os dois dias e as inscrições limitadas a 20 pessoas. As inscrições encontram-se abertas a partir de hoje e serão validadas após efectuado o respectivo pagamento. Inscrições limitadas: 292293263 ou piwat@gmx.de 6a feira (25/1): oficina de forro 19h-22h sábado (26/1): oficina de forro 15h-17h - baile a partir das 22h aberto a todos

Fazendo Saúde 10 Dicas para o Inverno

Fazendo Saúde

1

4

8

Mantenha a temperatura corporal recorrendo a vá-

Comece as refeições principais com uma sopa de

Use soro fisiológico nas narinas, lubrifica a mucosa

rias peças de roupa sobrepostas, se necessário. As-

hortícolas. Depois adicione leguminosas (feijão,

e evita irritação.

sim pode adaptar-se facilmente à temperatura dos

grão, ervilhas), carne ou peixe. 9

diferentes ambientes. 5

Mantenha as extremidades aquecidas recorrendo

2

Faça uma ingestão abundante e regular de fruta, es-

ao uso de luvas e meias, especialmente crianças e

Aproveite os dias ensolarados para arejar a casa e

pecialmente da época.

idosos.

6

10

passear. 3

Reforce a actividade física e não se esqueça que o

No caso dos idosos, a vacina antigripal é recomen-

Faça da água a principal bebida do dia, a acompanhar

exercício físico deve ser adequado à sua situação. Se

dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e é

refeições e fora delas. A água permite hidratação

tiver dúvidas informe-se junto do seu médico.

gratuita.

correcta sem excesso calórico, ajuda a regular a temperatura corporal, contribui para a adequada re-

7

gulação da pressão arterial e uma pele sadia. Os chás

Evite o contacto com o fumo do cigarro e aglomera-

e as infusões quentes são óptimos no inverno.

ções de pessoas em lugares pouco arejados.

Orlanda André


14. #

81 JANEIRO ‘13

Entrevista com o Morcego Gui Menezes

Fazendo Entrevista

O que é que pequeno-almoçaste? Um tipo de ração para humanos, iogurte e uma banana. Se o Conde Drácula viesse cá às ilhas onde o levarias? Não o conheço mas talvez ao matadouro. Qual é a semelhança entre o Pico e o Faial? São ilhas com gente boa. Se não gostas de chuva o que é que estás aqui a fazer? De vez em quando não faz mal nenhum. Nasci por cá e sei que ela não dura para sempre. Na escola que outra “disciplina” deveria ser obrigatória? Acho que já existem muitas coisas obrigatórias. O que falta é um ensino mais livre que estimule a criatividade. Porque é que tens alguns projectos na gaveta? Porque infelizmente já percebi que não tenho tempo nem arte e engenho para tudo. O que é que mais odeias na internet? Não ter internet ou ela ser lenta. Ah ! e os pop-ups publicitários irritam-me. Nome: Gui Manuel Machado Menezes

Que forma de arte é que te aguça os caninos?

Idade: Uhm! 44

Toda a que de alguma forma me toca ou me acresenta qual-

Profissão: Biólogo (Investigador Auxiliar)

quer coisa. O que é que gostavas de ter nascido? Qualquer coisa desde que pertencente ao Domínio: Eukaryota Reino: Animalia Subreino: Eumetazoa Filo: Chordata Subfilo: Vertebrata Classe: Mammalia Subclasse: Theria Infraclasse: Eutheria Ordem: Primates Subordem: Haplorrhini Infraordem: Simiiformes Superfamília: Hominoidea Família: Hominidae Subfamília: Homininae Tribo: Hominini Subtribo: Hominina Género: Homo Espécie: H. sapiens Subespécie: H. s. sapien. Gostavas de ir morrer longe? Morrer longe no “espaço” não. Morrer longe no “tempo” sim.


.15 #

81 JANEIRO ‘13

Agenda Janeiro ‘13 Cinema

Desporto

Música

Teatro

Exposições Inauguração da Exposição EXPRESSÕES Pinturas de Helena Krug

Terapia a Dois

25 de Janeiro às 18:00h na Biblioteca Pública e Arquivo

Realizador: David Frankel Teatro Faialense

Regional João José da Graça -Horta -Faial -Açores -Portugal Corrida dos Reis Luís Alberto

Data: 18 e 20 de Janeiro

São Mateus - Pico

Hora: 21h30

Data: 20 de Janeiro

Bettencourt

Lajes do Pico

Hora: 9h

Teatro Faialense

Gosto de Palavrões...

Data: 19 de Janeiro

e de outras coisas,

Data: 19 de Janeiro, 21h

Hora: 21h30

Workshop

também LC sem companhia Auditório Municipal

Oficina

Lajes do Pico Data: 18 de Janeiro

Força Ralph

Escrita Criativa

Realizador: Rich Moore

como ferramenta

Teatro Faialense

pedagógica

Data: 20 de Janeiro, 17h Lajes do Pico Data: 19 de Janeiro, 17h

Pais, Professores e Jovens Escrita Criativa

Hora: 21h30

Dança

Biblioteca Municipal da

crianças dos 8 aos 12

Madalena

Vamos Bailar Forró

Biblioteca Pública da

Data: 25 de Janeiro

Workshop com Erica Lopes

Horta

Hora: 15h

Fábrica da Baleia

Data: 2 e 9 de Fevereiro

fernanda.medeiros@cm-

Data: 25 e 26 de Janeiro

arrebenta.mail@gmail.com

madalena.pt

piwat@gmx.de

Até que o Fim do Mundo nos Separe Realizado:Lorene Scafaria Teatro Faialense Data: 25 e 27 de Janeiro Hora: 21h30 Lajes do Pico

este espaço

e este também ; )

pode ser seu vai.se.fazendo@gmail.com

Data: 26 de Janeiro, 21h

Gatafunhos

Tomás Melo


Horários

Índice

Horta — ­ Madalena

81

.2

Fazendo Crónica

.3

Crónicas e Crónicos

7h30 10h30 13h15 15h15 17h15 Fazendo Teatro

.4

Mundo Não Acabou Fazendo Música

.4

As Vacas Fazendo Música

.5

Discos do Além Madalena — Horta 8h15 11h15 14h00 16h00 18h00

Fazendo Música

.5

Discos do Aquém Fazendo Cinema

.5

Filmes Que Por Cá Fazendo Fotografia

.6

Duplas Cedros — Horta

Horta — Cedros

P. Norte — Horta

Horta — P. Norte

7h00; 12h45; 16h00;

11h45; 15h20 (Hospital);

7h00; 12h45;

11h45; 17h30;

Sábados: 8h00

18h15;

Sábados: 8h00

Sábados: 13h15

Sábados: 13h15

Fazendo Arquitectura

.7

Ecléctica Cidade Fazendo Literatura

.8

Célia Carmen Piedade — S. Roque — Madalena

Madalena — S. Roque

Piedade — Lajes

Madalena — Lajes

— Piedade

— Madalena

— Piedade

6h15; 13h30;

10h00; 17h45;

5h45; 12h55;

10h00; 17h45;

Domingos e feriados: 13h15

Domingos e feriados: 9h30

Domingos e feriados: 12h55

Domingos e feriados: 9h30

Fazendo Literatura

.9

Montra de Ler Fazendo Literatura

.9

Antologia Açoriana Fazendo Literatura

.10

Infinito nas Mãos Fazendo em todo o lado .10 Wannabe’s Fazendo história

envia textos

e publicidade para vai.se.fazendo@gmail.com

lê todas as edições em

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