Viu, fotografou, clicou e comprou

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destruição criadora

Viu, fotografou, clicou e comprou

vendedor Jeff Bezos, fundador da amazon, e o Fire Phone. ele quer facilitar ainda mais o acesso à loja virtual

Capaz de reconhecer produtos e vendê-los na hora, o novo celular da Amazon transforma o mundo numa vitrine Danilo Venticinque e Felipe Germano

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ornar a compra cada vez mais fácil é uma obsessão de Jeff Bezos, fundador da Amazon. Principalmente, é claro, quando o vendedor é ele. Uma das marcas da loja virtual criada por Bezos é o botão que permite a compra com um clique, pesadelo dos consumidores compulsivos. Aparelhos como o leitor digital Kindle e o tablet Kindle Fire também seguem essa filosofia. Enquanto outros lançam tablets e celulares para lucrar com a venda desses aparelhos, Bezos os enxerga como novas maneiras de acessar sua loja. Eles têm sistemas desenhados para guardar os dados de cartão de crédito e dar acesso imediato ao conteúdo e aos produtos vendidos pela Amazon. Um segundo de Foto: Mike Kane/Bloomberg via Getty Image

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fraqueza e você já abriu a carteira. O celular Fire Phone, anunciado pela Amazon na última quarta-feira, é seu passo mais recente e ousado no esforço para tornar irresistível a compra por impulso. Lançado por US$ 649 nos Estados Unidos (US$ 199 para clientes da AT&T), o telefone parece não ser muito diferente de outros aparelhos similares. Suas vantagens tecnológicas – uma tela que dá a sensação de 3D sem o uso de óculos e o armazenamento ilimitado de fotos nos servidores da Amazon – dificilmente empolgariam o consumidor comum. O grande trunfo é um botão na lateral do telefone. Ele ativa a Firefly, ferramenta que permite escanear qualquer objeto, mesmo sem códigos de barras,

dar informações precisas sobre ele... e oferecê-lo para compra no site da Amazon. Durante a apresentação do celular, Bezos usou a ferramenta para comprar jogos de videogame, livros, DVDs e até uma caixa de cereais. Não é o primeiro flerte de Bezos com esse tipo de tecnologia. Em 2010, ele lançou um aplicativo que lia códigos de barra de um produto e mostrava seu preço na Amazon. Uma promoção incentivava clientes a entrar em lojas, escanear produtos e comprá-los na Amazon. Varejistas protestaram. Não gostaram de ver seus estabelecimentos transformados em vitrines para um concorrente. Com a Firefly, a ousadia é ainda maior. Não é preciso estar s 23 de junho de 2014 I época I 91

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destruição criadora nem perto de uma loja ou supermercado. O mundo se transforma numa grande vitrine: basta apontar o celular para um objeto e comprá-lo. Com apenas um clique, evidentemente. A empreitada ambiciosa de Bezos poderá enfrentar algumas dificuldades tecnológicas. Já há no mercado outros programas que tentam reconhecer produtos com base em imagens. Por não estar vinculados a um gigante do varejo como a Amazon, o lançamento deles não fez tanto barulho quanto o Firefly. A falta de popularidade ajuda a esconder ineficiências. A maioria falha com frequência. Na loja de aplicativos do iTunes (da Apple), a página do Digimarc, um dos aplicativos do gênero, é tomada por avaliações negativas. A queixa dos usuários é sempre a mesma. Eles tentam escanear várias coisas e o aplicativo não funciona. Embora tenha evoluído nos últimos anos, a busca por imagens ainda precisa superar barreiras até conseguir mostrar resultados confiáveis com consistência. A demonstração do Fire Phone feita por Bezos não deixa claro se a Amazon conseguiu vencer essas dificuldades tecnológicas. Todos os produtos escaneados no lançamento têm embalagens facilmente reconhecíveis. Identificar uma caixa de um jogo é muito mais fácil do que reconhecer uma roupa no corpo de alguém ou um objeto fora da embalagem. Fatores como poeira, chuva ou iluminação ruim, ausentes na demonstração, também podem ser complicadores. O verdadeiro tamanho da mudança provocada pelo Fire Phone nos hábitos de consumo só será percebido no dia 25 de julho, quando o celular começará a ser vendido nos Estados Unidos (a Amazon não dá informações sobre a possível venda do aparelho no Brasil). Mesmo se o Firefly não cumprir todas as suas promessas logo no início, a entrada da Amazon nesse mercado revela que a empresa leva a sério a busca pela tecnologia necessária para transformar o mundo numa vitrine. Entrar no mercado de smartphones apenas para lucrar com a venda dos aparelhos não seria coerente com os passos anteriores da Amazon. “Ganhamos dinheiro quando usam nossos aparelhos, não quando os compram”, diz Bezos. Prepare a carteira. u

Gustavocerbasi

Não é hora para apostas A

correlação entre as pesquisas eleitorais e o comportamento dos mercados financeiros já é bastante evidente. Deixa claro o descontentamento de investidores com a continuidade do atual governo e dá sinais de que o jogo poderá virar se as eleições trouxerem mudanças. Aqueles que, há alguns meses, desistiram de investir na renda variável já começam a demonstrar maior propensão para voltar. Isso se deve tanto à resposta positiva das Bolsas diante da tendência de queda dos votos em Dilma quanto ao histórico positivo que começa a se formar nas tabelas de rentabilidade dos investimentos mais agressivos. A recomendação, no entanto, é cautela. O que parece ser oportunidade deve ser tratado com cuidado e reflexão, principalmente por investidores menos experientes. As ameaças nascem quando se formam verdades universais, como a ideia de que a mudança de governo é certeza de ganhos. Isso cria o efeito manada, em que muitos começam a seguir as escolhas dos outros. A tendência é que o mercado passe a ser comprador e puxe os preços acima do que deveriam. Na sequência, basta um fato adverso às expectativas, como uma pequena inversão nas tendências eleitorais, para que o mercado reaja e tire, com força, parte ou a totalidade dos ganhos irreais que ocorreram. A reação dos mercados às notícias é rápida. O investidor mediano dificilmente pode acompanhar e reagir

na mesma velocidade. Quando a perda ocorre, há pouco tempo para reação, e surge o risco de uma grande frustração a amargar. O cenário de investimentos continua duvidoso, turbulento e tende a oscilações. Nesse cenário, faz sentido atentar mais à renda variável, desde que seja com critérios, seletividade e escolhas feitas sob orientação. Os baixos preços tornam convidativo investir em ações de empresas que dependem menos da continuidade do governo ou da estabilidade cambial. Ou para investir em imóveis ou fundos imobiliários concentrados em regiões que se beneficiam de obras de infraestrutura ou outras melhorias – mesmo sabendo da expectativa por uma queda de preços pós-Copa. Só que o risco por trás dessa avaliação não deixa clara a vantagem de abrir mão do ganho certo que a renda fixa vem oferecendo. Invista em risco, mas invista pouco. O momento é de se manter com liquidez, com dinheiro acessível para usá-lo quando os ganhos forem evidentes. Quem compra ativos de risco antes da confirmação da tendência de recuperação de preços paga mais barato. Mas esse barato sai caro quando se deixa de ganhar um bom e seguro rendimento. O ano está mais para ganho certo do que para u apostas duvidosas. Gustavo cerbasi é consultor financeiro e escritor. Escreva para ele em maisdinheiro.com.br. Twitter: @gcerbasi.

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