PERSONAGEM DA SEMANA ELISA FERNANDES
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A vencedora do reality show culinário MasterChef Brasil contou com a inspiração do pai na cozinha – e com a força física dele para vencer um obstáculo improvável Felipe Germano
A
tampa de um pote de goiabada quase separou a jovem chef Elisa Fernandes, de 24 anos, de seu momento de consagração. Na terçafeira, dia 16, Elisa sagrou-se a primeira campeã da edição brasileira do MasterChef, uma série britânica de reality shows culinários que já descobriu talentos em mais de 40 países – dos Estados Unidos à Arábia Saudita – e arrebatou 250 milhões de espectadores no mundo todo. No Brasil, transmitido pela Band, não foi diferente. Na noite em que Elisa duelava com o cronômetro e a tampa da goiabada, que insistia em não abrir, 300 mil tuítes movimentaram a internet brasileira com um único pedido: #FicaElisa. O pote abriu, e Elisa ficou – campeã. Não sem contar com uma ajuda especial. Seu pai, Sidney Fernandes, que acompanhava da plateia o embate Elisa versus goiabada, pôs em prática uma das grandes habilidades que distinguem os homens das mulheres: usou a força para abrir a tampa. A goiabada liberta virou uma releitura moderna da clássica sobremesa romeu e julieta, o queijo com goiabada, com direito a espumante. Uma chuva de papel picado marcou a escolha de Elisa, pelo temido trio de jurados do programa, como o mais novo talento da gastronomia brasileira. O auxílio providencial do pai causou polêmica: a intervenção não interferiu diretamente no resultado do programa? Poucos sabem que a influência do médico Sidney sobre a trajetória da filha na cozinha vai além de abrir potes. Na preparação das refeições da família, ele sempre ousou.“Meu pai é minha grande inspiração”, afirma Elisa. “Ele tem o 14 I ÉPOCA I 22 de dezembro de 2014
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dom de reproduzir pratos de restaurante. Às vezes, fica melhor que o original.” A incursão dela pelo mundo da gastronomia tem muito em comum com o caráter informal com que o pai cozinha. Filósofa formada pela Universidade Federal de São Carlos, Elisa, natural de Ribeirão Preto, São Paulo, demorou a encarar a gastronomia como profissão. Trabalhou como produtora de eventos numa empresa que criou com amigas. Devido a sua afinidade com as panelas, ficou encarregada de um evento relacionado à alimentação. A empresa não vingou. Seu interesse pela cozinha deslanchou quando foi contratada como professora de filosofia numa escola com atividades culinárias para os alunos. A fim de conseguir uma oportunidade para se tornar profissional, Elisa aceitou o desafio de competir com outros 5 mil amadores por uma das 16 vagas no MasterChef, em 17 episódios agradavelmente saborosos à imaginação dos espectadores. No início do programa, Elisa não era considerada uma competidora forte. Prova a prova, aperfeiçoou suas técnicas. A síntese do aprendizado é a
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Elisa Fernandes, chef vencedora
comparação entre os dois pratos com filé-mignon suíno preparados por Elisa ao longo do programa, um no primeiro, outro no último episódio. A sofisticação da combinação de ingredientes aumentou: de carne com queijo para carne com purê de kabocha, uma variedade asiática de abóbora. A apresentação dos pratos melhorou a ponto de nem parecerem preparados pela mesma pessoa. “Agora entendo o que funciona na composição e como chegar ao sabor ideal”, diz Elisa. Sua autoconfiança parecia claudicante no começo do programa. Aumentou à medida que conquistou a aprovação dos jurados: o francês Erick Jacquin, do restaurante paulistano Tartar&Co (o jurado das críticas mais ácidas), a argentina Paola Carosella, chef à frente do Arturito, de São Paulo (a jurada exigente e sutil), e o paulista Henrique Fogaça, do restaurante Sal Gastronomia (o chef com cara de durão e coração mole). “Quando Elisa entrou no programa, demonstrou muita insegurança. Em alguns momentos, seu prato estava bom, e ela não se convencia”, diz Fogaça. Elisa precisou de confiança para compor pratos com molhos, acompanhamentos e carnes que fugissem do comum – combinações que definem seu estilo como moderno. “Cozinha moderna é sair do arroz com feijão, ter criatividade na apresentação”, diz Fogaça. No decorrer das gravações, Elisa conseguiu um estágio no Epice, um dos melhores restaurantes da capital paulista. “Havia uma vaga, ela bateu na minha porta e conseguiu”, diz o chef Alberto Landgraf. “Faria isso por qualquer um. Não é porque ela estava num reality show.” Como vencedora do MasterChef Brasil, Elisa temperará seu currículo: fará um curso de três meses na escola Le Cordon Bleu, em Paris, a mais respeitada instituição de gastronomia do mundo, e publicará um livro de receitas. Ganhou R$ 150 mil e um carro novo. É o começo de carreira com que qualquer chef sonha: ganhar fama repentina e esbarrar, como obstáculo decisivo, numa tampa de pote de goiabada. u Com Marcela Buscato Foto: Rodrigo Belentani/TV Bandeirantes
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COMEMORAÇÃO A paulista Elisa Fernandes, vencedora do MasterChef Brasil. Ela superou 5 mil candidatos
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