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O TEMPO Belo Horizonte DOMINGO, 24 DE MAIO DE 2015
INTERESSA
Atenção plena. Técnica que permite meditar em qualquer lugar funciona mais do que antidepressivo
Mindfulnessfazsucessoem meioàcorreriadavidamoderna ¬ RAQUEL SODRÉ ¬ A prática da
meditação ainda é muito associada ao relaxamento e a pessoas que querem levar um estilo de vida mais “zen”. Mas esse estereótipo está sendo quebrado dia a dia pelas pesquisas que mostram que os benefícios da meditação vão muito além do relaxamento. A técnica meditativa do mindfulness, conhecida no Brasil como Atenção Plena, tem mostrado resultados muito positivos. “O conceito de mindfulness designa um estado mental, psicológico. Se eu estou falando ao telefone, estou atento à conversa. Se estou caminhando, estou atento ao caminho. Essa técnica regula a nossa mente a ter foco nas atividades desempenhadas. Ela é aplicada nas áreas da saúde, da educação e no mundo empresarial”, explica Marcelo Demarzo, professor do Departamento de Medicina Preventiva da
Serviço Numi. Mais informações sobre os grupos de mindfulness podem ser obtidos na página www. facebook.com/nucleonumi, no Facebook, ou pelo telefone (31) 3201-4577.
LEO FONTES
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do Centro Brasileiro de Mindfulness. Uma recente pesquisa do Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados, da Inglaterra, demonstrou que a técnica é tão eficiente quanto medicamentos no combate à depressão. Outros dois estudos, da Universidade da Califórnia do Sul e da Universidade de Minesota, comprovaram que o mindfulness também se igualou aos medicamentos na luta contra a insônia. Aqui, no Brasil, um grupo de estudos do Hospital Israelita Albert Einstein também pesquisa a prática. “Temos estudos mostrando os resultados da meditação no desenvolvimento da atenção, que é um processo envolvido em aspectos importantes da vida, como poder controlar melhor os impulsos. A atenção também está relacionada à aprendizagem”, conta a professora doutora Elisa Harumi Kozasa, pesquisadora do Instituto do Cérebro do hospital. O grupo já publicou outros trabalhos, que relacionam o mindfulness à melhor gestão da dor crônica. Mas nem só quem tem quem algum problema de saúde se beneficia da prática dessa técnica meditativa. “Muitas pessoas não têm problemas, mas buscam a meditação para melhorar seu bem-estar e reduzir o estresse do dia a dia”, garante. Esse foi o caso da fisioterapeuta Renata Fontes Via-
na, 46, que descobriu o mindfulness em outubro do ano passado. Casada e com dois filhos, ela reparte as horas do dia entre o trabalho,
Zen. Kelma tem nova forma de ver o mundo
Atenção plena Aprenda as técnicas 0 Meditação da respiração. O foco é observar com atenção o ato de respirar. Durante esse exercício, deve-se estar confortável, bem como manter os olhos fechados e os músculos relaxados. 0 Escaneamento corporal. A prática leva a pessoa a prestar aten- ção nas partes do corpo, o que potencializa a consciência das sensações.
a s crianças, o marido e a casa. “As práticas me ensinaram a prestar mais atenção no momento presente, sem ficar pensando no passado e no futuro o tempo todo. Isso diminuiu muito o nível de ansiedade e estresse. A meditação ajudou a focar o mundo interior, contribuindo para que eu preste mais atenção internamente em uma época quando tudo nos puxa para o mundo externo”, conta. A psicóloga Kelma Medrado foi atraída para a téc-
0 Movimentos com atenção plena. Consiste em trazer a consciência de que o cérebro é responsável pelos estímulos que tornam possíveis as manobras corporais.
nica pela curiosidade e notou uma grande diferença não só em seu dia a dia, mas principalmente em sua visão de mundo. “Fiquei mais relaxada, me irrito menos, tenho mais autorregulação emocional e maior gentileza com os meus limites e com os limites dos outros. Tomei consciência da forma como eu
processo as coisas. Isso me ajuda a não cair nos mesmos erros”, comenta. Capacitada para conduzir grupos de mindfulness, ela é uma das fundadoras do Núcleo Mineiro de Mindfulness (Numi), que oferece em Belo Horizonte um programa de oito semanas de meditação com a técnica. (Com Felipe Bueno)
0 Meditação da compaixão. Baseia-se na visualização de pessoas com a finalidade de nos conectarmos com os nossos sentimentos bons, gerando bem-estar. Renata Viana é adepta
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Essetipodeprática meditativapromove tranquilidadee equilíbrionodiaadia
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Tabagismo “Quando nos damos conta do tempo e da sensação de vivacidade que perdemos ao realizarmos atividades de forma automatizada, passamos a enxergar a importância desse tipo de prática.” Paulo Santos Psicólogo clínico e coordenador do Numi Paulo: programa de iniciação começa com práticas de 5 minutos
Técnicadiminuivoltaaovício Na Universidade Federal de São Paulo, a psicóloga e pesquisadora Isabel Weiss está desenvolvendo sua tese de doutorado com a técnica de mindfulness aplicada aos fumantes. Um dado mundial – que reflete a realidade brasileira – aponta que 65% dos que fumam desejam parar. Porém, dentre os que procuram ajuda e seguem um tratamento, somente 6,9% se mantêm longe do vício durante um ano. Os outros 93,1% voltam para o cigarro. A pesquisa de Isabel tenta diminuir esse índice de reincidência.
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“Há um protocolo médico a ser seguido para quem deseja parar de fumar. Ele envolve sessões de terapia cognitivo-comportamental e medicamentos – adesivos e gomas de nicotina. Minha pesquisa está submetendo os pacientes a oito sessões semanais de mindfulness logo após esse tratamento padrão”, conta a pesquisadora. Depois, os pacientes são acompanhados durante um ano para ver se tiveram recaídas. O trabalho ainda está em andamento, mas os resultados preliminares são satisfatórios. Apesar de não ter feito uma análise
formal dos dados, Isabel percebe que cerca de 80% daqueles que passaram pelas sessões de meditação se mantiveram abstinentes. A explicação para o sucesso está no autocontrole que a técnica proporciona. “É muito da natureza humana querer se livrar logo de um desconforto, e a droga proporciona isso. As práticas de mindfulness nos auxiliam a sair do piloto automático. A técnica ajuda as pessoas a conviverem com a fissura do cigarro sem terem que reagir a ela”, explica Isabel. (RS)