Vox Objetiva 56

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Valores não divulgados, dívidas milionárias e escândalos marcam o futebol dentro e fora do Brasil

BITCOIN - As vantagens e desvantagens da polêmica moeda virtual

Fevereiro /14 • Edição 56 • Ano VI Distribuição gratuita

Jogada duvidosa


O que diferencia uma boa ideia?

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Editorial Da República e dos partidos O Supremo Tribunal Federal (STF) absolve os réus políticos do mensalão do crime de formação de quadrilha. Mas a decisão de não imputar essa tipificação de crime aos mais importantes acusados da Ação Penal 470 não é uma conclusão isolada; muito menos, uma surpresa. O processo desmascara uma das maiores falhas históricas da República brasileira.

Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)

Os novos ocupantes da Suprema Corte foram todos indicados pelo Partido dos Trabalhadores (PT). E, mesmo com o comprovado conhecimento jurídico que têm, eles deram uma demonstração clara de que esse modelo é obsoleto. A escolha política para as vagas de ministros do STF não atende mais aos anseios da sociedade. O Supremo do passado aprovava impostos considerados cumulativos, como PIS e Cofins, a pedido do governo Fernando Henrique Cardoso. O atual Corte atende diretamente a uma demanda partidária. Esse funcionamento do STF deixa clara a necessidade urgente de recuperar a independência do Judiciário brasileiro. Nunca fez sentido que nomes aos cargos mais graduados da Justiça nacional tenham de passar pelo crivo político de avaliações subjetivas e partidárias. Muito menos que eles sejam obrigados se submeterem às sabatinas teatrais feitas por um Senado em que a maioria sempre vai estar ligada a quem chegou ao poder. Neste momento, isso faz ainda menos sentido. Para quem acompanha de perto a vida política do país, não há alento no sucesso da proposta. A necessária reforma na eleição do STF deve se juntar a uma lista de mudanças que aguardam por decisões dos legisladores. Deputados e senadores têm se mostrado pouco dispostos a transformações que tornem mais transparentes as administrações públicas e as eleições a cada dois anos. Eles têm agido sempre no interesse próprio.

A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060

A corrupção no Brasil sobrevive ano após ano, eleição após eleição. Os eleitores apenas trocam as cores dos partidos e, poucas vezes, os nomes dos eleitos. A partir de agora, muda também a visão jurídica brasileira de como esse típico crime de lesa-pátria se organiza. Os ministros mais recentes do STF afirmam que não há chefes de quadrilha no mensalão. Ainda segundo eles, a decisão - comemorada efusivamente nos bastidores obscuros da política nacional - nos obriga a acreditar que cada réu agiu sozinho. O dinheiro desviado é público, mas a fantasia de uma quadrilha que tomou de assalto o país, essa é exclusivamente nossa.

Editor Adjunto: Lucas Alvarenga l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Felipe Pereira | Reportagem : André Martins, Celso Martins, Lucas Alvarenga, Rodrigo Freitas, Tacila Belas e Vinicius Grissi | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@ voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final | Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br

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olhar bh

Divina proteção - Praça do Papa Foto: Felipe Pereira |5


sUMÁRIO Divulgação/Barcelona

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Divulgação

Nereu Jr/Universo Produções

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Cao guimarães Cineasta mineiro discute a relação do cinema com a fotografia e as artes plásticas

metropolis

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pouco transparentes Dívidas e negócios mal-explicados marcam futebol fora das quatro linhas

Pedro Paiva/PSDB

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uma nova moeda? Bitcoin tenta inovar com ‘dinheiro virtual’, mas acaba esbarrando nos problemas das moedas mais tradicionais

vanguarda

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A eRA NANO

metropolis

Cilindros de carbono 100 mil vezes menores que um fio de cabelo podem revolucionar a indústria mundial

disputa entre semelhantes

femme

Trajetória parecida aproxima Pimentel e Pimenta, diferentes na forma de ver Minas

conexão suspensa Varginha fica sem voos comerciais

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SOBRANCELHAS PERFEITAS Expressivas e uniformes: sobrancelhas podem ser as molduras do olhar. Saiba como cuidar delas para que fiquem belas

Carol Buffara/Divulgação

BTC Keychain

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BTC Key


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Ministério da Ciência

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Overmundo

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ychain

salutaris

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a moda do bem-estar Usuárias do Instagram dão dicas de saúde e bem-estar na rede social e se tornam referências de boa forma

KULTUR

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por trás do samba Conheça alguns dos compositores e intérpretes que fazem o carnaval de Beagá

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cinema descentralizado

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Crítica • FELICIDADE AOS 60

Produção cinematográfica brasileira se diversifica. Minas e Pernambuco despontam Personagem chilena vive uma quase sexagenária em busca de emoções

Artigos

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justiça • Robson Sávio Rolezinhos e o apartheid à brasileira

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Meteorologia • Ruibran dos Reis

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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira

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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci

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A variabilidade do clima

Alterar a ata é crime

O olhar nosso de cada dia

crônica • Joanita Gontijo O ultimo pé da mesa VINHOS • Luiza Martini Um champagne revolucionário

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Leo Lara/Universo Produção

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Abaixo os paradigmas

Cao Guimarães hasteia bandeira por um cinema independente, provocativo e original André Martins Na descrição desse cineasta autoral parece não haver espaço para a palavra ‘limite’. Sem se curvar aos interesses das grandes produtoras, ele atingiu o status de financiador das próprias obras. Isso já seria muito, se o cinema fosse a única aptidão de Cao Guimarães. É que esse belo-horizontino também abraça a literatura e as artes plásticas com estranha e curiosa destreza. Dono de uma mente inquieta, o cineasta mineiro encara praticamente tudo como matéria-prima de surpresas e emoções. A filmografia de Cao é marcada pela desobediência aos modelos narrativos do cinema comercial. O trabalho dele guarda elementos que deixam clara a razão de ele ser referência em Minas e no Brasil, quando o assunto é cinema independente.

as artes plásticas quando morei em Londres e tive contato com uma série de exposições interessantes. Era o final da década de 90. O mundo audiovisual já estava nos museus com vídeos e instalações. Hoje é a literatura que está lá. Essas experiências despertam interesse! O meu trânsito pelas artes se deu justamente pelo desejo de apreciar coisas e formas diferentes, não estanques nem pré-formatadas. Queria conhecer artistas que me surpreendessem, sim, pela essência das coisas, mas especialmente pela forma como foram feitas. Isso sempre me marcou. Busco um pouco disto: pensar para além do padronizado - do que se entende por arte - e fazer coisas que surpreendam o público.

“O meu cinema é mais do impacto, da reação, da emoção, do não dito, do que está oculto, do subliminar. São outras formas de olhar o mundo”

Em fevereiro, Cao recebeu a reportagem de Vox Objetiva em um hotel da histórica Tiradentes. A tradicional Mostra de Cinema da pacata e charmosa cidade do Campo das Vertentes serviu de palco para a estreia de mais um filme de Cao: ‘O Homem das Multidões’. Entre um cigarro e outro, o cineasta falou sobre a sétima arte e as próprias concepções artísticas, responsáveis por torná-lo uma referência do original e visionário.

Você é reconhecido por conseguir transitar pelo cinema, pelas artes plásticas e pela fotografia. Como essa capacidade de abraçar tantas vertentes artísticas se desenvolveu? Foi natural. Esse processo de abertura para qualquer forma de manifestação artística sempre existiu. Eu tinha uma curiosidade maior pelo cinema. E isso foi mudando radicalmente. Minha juventude e a minha formação foram impregnadas pelo cinema. Mas a literatura me influenciou e influencia cada vez mais. Resolvi abraçar

Quase nada se sabe sobre o seu passado, sua infância e sua família. Você cresceu num ambiente favorável ao desenvolvimento dessa veia artística?

Não! Lá em casa não se apreciava muito a arte. Tínhamos eventos raros. Para mim, o maior escritor brasileiro é o Guimarães Rosa, primo de primeiro grau do meu pai. Não o conheci, mas era um símbolo na família. O meu avô era médico, mas gostava muito de filmar e fotografar. Ele tinha um laboratório em casa. Então, desde cedo – muito menino –, entrei em contato com a parte técnica da fotografia: câmeras, projetores,... De vez em quando eu ia com ele a exposições de fotojornalismo. Ele adorava encontrar fotógrafos mais velhos. Eu herdei dele os equipamentos e o fascínio por tudo isso. Aos 3 anos, eu entrava no laboratório de fotografia dele, via aquelas imagens aparecendo naquele ambiente mágico e misterioso, todo vermelho. O surgimento de uma imagem naquela época era algo muito mais potente. Hoje tudo é mais efêmero. O seu trabalho é muito autoral; tem identidade própria. Em que medida o cinema do Cao é referencial? Há referências?

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A gente não nasce do nada. Tudo na vida tem referências. Tudo que eu vi me influenciou, principalmente o que eu gostei e me encantou. Em cada época, eu me fascinava por um tipo de artista. Não eram só diretores. Havia artistas plásticos, escritores,... A minha obra é impregnada dessas referências. Obviamente pareço muito pessoal e faço questão disso. O cinema é uma obra de arte comparável a um poema. A poesia tem que estar impregnada do poeta. O cinema também. Mas depois de ter feito tantos filmes, percebo tipos de filmografia parecidos com o meu. São cineastas mais contemplativos e iconoclastas: artistas, como os russos Tarcovski e Sokurov; italianos, como Antonioni e Pasolini; e uns mais revolucionários. Desses, cito o Glauber (Rocha), o Mário Peixoto, com o filme ‘Limite’, e o (Werner) Herzog. Gosto dessa relação dele com o sobrenatural e com o estranho do Herzog...

filmar. O meu penúltimo filme, ‘Otto’, foi feito por mim, pela minha mulher e pelo meu filho. Mais ninguém. Teve quase custo zero. Filmes mais complexos, maiores demandam mais tempo, fôlego e força de vontade. Eu vou passando de um projeto para o outro, mas não me apego muito a essas amarras de produção que me cansam. Você disse que não acompanha Hollywood. E aqui

O chamado ‘cinema de arte’ te agrada muito. E o cinemão? Hollywood? Você gosta? Acompanha? Nada! Sou, na verdade, um ignorante em relação à Hollywood (risos). Conheço bem pouco; quase nenhum ator. E vejo pouquíssimo, assim como a TV. Eu gosto de literatura. Vou pouco ao cinema e o que vejo são filmes estranhos, absurdos. Vejo cinema quando estou viajando. Como viajo bastante, saio mundo afora. Aí surge a oportunidade de assistir a filmes da Indochina, do Irã, do Iraque, da Islândia, das Filipinas e de sei lá de onde. Hollywood é onipresente, mas não tenho muita relação com o modo de filmagem mais narrativo e linear de lá. O meu cinema é mais do impacto, da reação, da emoção, do não dito, do que está oculto, do subliminar. São outras formas de olhar o mundo. O seu cinema tem a marca do improviso. Ao tomar caminhos imprevistos, o resultado do trabalho surpreende você? Sempre! Nunca pensei como um filme ia ficar. Há cineastas metódicos, perfeccionistas, que sabem tudo de antemão. Jamais quero impor à entidade fílmica o meu ponto de vista. Eu gosto de respeitar e vivenciar junto dela o que essa entidade quer vir a ser. E, obviamente, você nunca pode saber o que uma entidade quer virar. Mesmo sendo quem é, você ainda encontra dificuldades para conseguir apoiadores que lhe permitam fazer o seu cinema? Sempre! Mas meus filmes não são caros nem difíceis. E quando não rola apoio, eu mesmo vou fazendo. Hoje em dia é bem mais simples você pegar uma câmera, sair e 10 | www.voxobjetiva.com.br

dentro de Minas? Você tem opinião formada sobre o cinema feito no estado? Minas Gerais tem uma peculiaridade: mesmo estando perto do Rio e de São Paulo, não foi engessado pelos meios de produção impostos por esses estados. Lá você começa como terceiro assistente de câmera, passa a ser fotógrafo e chega a diretor (risos). Aqui você vai logo fazendo o seu filme. É claro que a revolução tecnológica também permitiu ao cineasta impor o seu olhar. Restou então arrumar um grupo de pessoas que querem fazer cinema. Isso é curioso e vem gerando trabalhos interessantes, como o dos meninos da Teia ou a obra do Carlos Alberto Prates. Prates é um diretor mineiro que não


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revejo há algum tempo, mas gosto muito. Mas confesso: não tenho acompanhado tanto a cena local.

Beni Jr./Universo Produção

‘O Homem das Multidões’ teve a estreia nacional aqui na Mostra de Cinema de Tiradentes, mas foi exibido no primeiro grande festival de cinema mundial: Berlim. Qual o conceito desse filme? Como surgiu?

metrô. Ela tem necessidade de estar na multidão virtual das redes sociais. O filme é um embate entre esses solitários e o que acontece quando eles se encontram e necessitam um do outro. O filme conta com a participação do Jean-Claude Bernardet, referência em cinema no Brasil. Como se deu essa contribuição? A gente pensou em um personagem para o qual estava faltando um ator. Não me lembro por que pensamos nele. Eu sabia que o Jean-Claude estava fazendo outros filmes. Mas como ele é uma figura interessante, que poderia encaixar na proposta, nós conversamos com o Jean-Claude sobre o projeto. Ele gostou, e a gente o convidou. Além do mais, ele é uma das maiores cabeças pensantes do cinema! O Jean-Claude tem um enorme conhecimento do que está fazendo, mesmo não sendo um ator profissional. Depois de ‘O Homem das Multidões’, não há nada em sua agenda. Você consegue descansar sem enxergar em tudo um potencial de se tornar alguma coisa?

Esse é o terceiro filme da Trilogia da Solidão. Vem depois de ‘O Andarilho’ e ‘A Alma do Osso’ e é inspirado em um conto homônimo do Edgar Allan Poe. Fala especialmente de um personagem que nunca consegue estar só. Ele tem uma necessidade quase física de estar na multidão. No entanto, ele é tímido e tem certa dificuldade de se relacionar. O filme não é uma transcrição cinematográfica da obra do século XIX nem da tradição urbana de Londres da época da Revolução Industrial. Muito já foi escrito sobre andarilhos urbanos, os flâneurs, em Baudelaire e Benjamin. Eu quis transpor isso para uma metrópole contemporânea, Belo Horizonte, buscando contrapor a solidão do flâneur à solidão virtual, vista na personagem Margô – a controladora da estação de

Acho que não... É que eu descanso muito quando estou fazendo algo. Ainda bem que consegui fazer tudo o que eu queria. Mesmo em produções que envolvem muita gente e um processo mais árduo, como ‘O Homem na Multidão’, rodar um filme me descansa. Agora, fisicamente cansa sim. Às vezes, você precisa viajar, não dorme no seu colchão, fica em hotel e não vive o seu cotidiano. Mas tudo isso é muito rico e me descansa um pouco. É claro que existem momentos em que você tem que esperar a água baixar, sentir de novo – o que eu chamo de espanto. É preciso surgir algo que gere em mim o desejo de fazer alguma coisa. Obviamente eu me meto a procurar novidades sempre que estou em processo criativo. No momento, estou vasculhando um acervo de coisas antigas para um livro. Então eu me vejo observando essas coisas e restos que podem gerar outros projetos. Mas não sei o que ainda. Existe algum trabalho pelo qual você tenha um carinho especial? Geralmente é o último; é aquele trabalho que você está mais envolvido e feliz com o resultado. Depois você começa a pensar em outro projeto... Aí se esquece um pouco dele, embora eu goste de todos. Uns mais, outros menos,... Para alguns, o acaso estava mais favorável; para outros, menos. Mas geralmente eu gosto mais do último. *Agradecimento: Universo Produção

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O mercado obscuro da bola Dívidas crescentes e transações mal-explicadas revelam a falta de transparência do futebol dentro e fora do Brasil Vinicius Grissi Divulgação/Barcelona

Uma denúncia: isso foi o suficiente para o sócio do Barcelona, Jordi Cases, ocupar a primeira página dos diários esportivos mundiais em dezembro passado. E não foi qualquer acusação. O membro da oposição do time catalão acusou a diretoria do Barcelona de apropriação indébita. Os valores foram os da transação envolvendo o atacante brasileiro Neymar. O caso explodiu após o jornal espanhol ‘El Mundo’ publicar que ocorreu uma divergência no valor da transação feita com Neymar da Silva Santos - pai de Neymar e empresário do jogador. A edição do dia 20 de janeiro dá conta que a transferência do camisa 10 canarinho custou 95 milhões de euros para os cofres do clube. Mas o valor publicado foi de 57 milhões de euros, conforme foi declarado pelo presidente do clube catalão, Sandro Rosell. Resultado: no dia 23 de janeiro, o mandatário do time deixava o cargo. A crise instaurada após a saída de Rosell levou o empresário Neymar Santos a conceder uma longa entrevista coletiva. O pai do jogador explicou que a transferência custou, na verdade, 86,2 milhões de euros aos 12 | www.voxobjetiva.com.br

espanhóis. Os valores só puderam ser revelados após as partes aceitarem quebrar uma ‘cláusula de confidencialidade’ que existia no contrato. A N&N, empresa dos pais de Neymar, foi a principal beneficiada pelo negócio, levando 40 milhões de euros. O documento ainda vai ser investigado pela justiça espanhola.

Mas negócios obscuros no mundo do futebol não são exclusividade de transações internacionais nem só de clubes estrangeiros. Dos 34 clubes de maior receita do futebol brasileiro, apenas o Corinthians foi classificado como ‘bom’ no quesito nível de transparência. A informação foi revelada por uma pesquisa divulgada em novembro passado pela Pluri Consultoria. O ranking da empresa especializada em gestão e marketing esportivo coloca Atlético e Cruzeiro apenas na 24ª e 20ª posições, respectivamente. Ambos foram classificados em nível ‘básico’. É que os times mineiros não têm área específica no site para divulgar as contas. O visitante do site encontra dificuldades para localizar o balanço financeiro, e os clubes não publicam o parecer do conselho fiscal.


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“Em geral, os clubes não dão muita importância para esse assunto. Nos últimos dois anos, o nível de transparência melhorou, mas ainda é básico. O que os times normalmente fazem é divulgar o balanço, alguns com maior preocupação que outros. Existem clubes montando portais de transparência, mas essa relação ainda precisa avançar muito”, analisa o economista Fernando Ferreira, diretor da Pluri Consultoria. O Presidente do Conselho Fiscal do Cruzeiro, Anísio Ciscotto, considera o ranking de transparência interessante, mas discorda de certos critérios. “A lei exige que os clubes aprovem suas contas e as publiquem até o final de abril. Nós fazemos isso. Mas há exigências que nem todas as empresas conseguem cumprir. Nós, por exemplo, esbarramos em questões tecnológicas. Tentamos colocar o estatuto do clube no site, mas, por uma questão de servidor, não foi possível”, revela. A crescente participação de grupos de investidores nas negociações é outro fator que dificulta a divulgação de informações relativas às finanças. Normalmente esses parceiros são utilizados como ‘escudos’ para que os clubes não revelem os valores envolvidos nas principais transações. “É a parte mais nebulosa do futebol. Trata-se de um problema mundial. E a Fifa pouco tem trabalhado para combatê-lo. Mesmo que a maioria das negociações ocorra de forma lícita, não há justificativa para que as informações não sejam publicadas”, ratifica.

Para Ciscotto, a tendência é que os clubes sejam obrigados a divulgar os valores das transferências, a exemplo do que acontece no futebol português. “Em breve, os times vão virar clube-empresa, e o departamento de futebol vai funcionar como uma sociedade anônima. A própria comissão de valores mobiliários vai passar a verificar isso”, acredita o dirigente. Esse controle faria com que as dívidas dos clubes brasileiros não se multiplicassem ano após ano. Desde 2007, os 23 times com a maior receita do país somam R$ 1,8 bilhão em prejuízos, como aponta outro estudo da Pluri Consultoria. As perdas aconteceram mesmo com o substancial aumento na arrecadação nas últimas temporadas. “Em geral, a folha dos elencos está inflada. Está entre 30% e 40% acima da capacidade dos clubes. A renegociação dos contratos de TV elevou a receita dessas equipes, mas os clubes não foram prudentes. Se tivessem sido, teriam controlado os gastos para amortizar o endividamento. Assim bastaria algum tempo para ficarem em situação mais confortável. No entanto, os clubes simplesmente elevaram brutalmente suas despesas”, lamenta Ferreira

“A renegociação dos contratos de TV elevou a receita dessas equipes, mas os clubes não foram prudentes. Eles simplesmente elevaram brutalmente suas despesas”

O governo federal tem a intenção de reduzir essas dívidas

em 2014, principalmente com o fisco. O Banco Central vai cobrar Fernando Ferreira, diretor da Pluri Consultoria judicialmente quase R$ 40 bilhões de multas devidas por empresas, pessoas físicas e clubes de futebol, como traz a primeira edição de fevereiro do jornal O Estado de São Paulo. E o futebol deve R$ 110 milhões desse valor. Somando toO comportamento das diretorias só reforça essa das as dívidas dos clubes com o Estado, os valores se tendência. Nenhuma das três contratações em que aproximam de R$ 4 bilhões. Isso inclui débitos com houve investimento celeste na temporada – MarCofins, Imposto de Renda, INSS e PIS. lone, Rodrigo Souza e Miguel Samudio – teve os valores divulgados pelo clube. No entanto, CisAs primeiras audiências para a criação do Proforcotto vê com naturalidade a confidencialidade te, projeto de lei para refinanciamento das dívidas contida nos contratos. “O clube está sujeito às públicas dos clubes, já aconteceram na Câmara dos Deputados. Agora há uma discussão para que os clupenas da lei como qualquer empresa. E esse tipo bes que atrasarem os pagamentos sejam punidos na de cláusula não é exclusividade do futebol. Geesfera esportiva. As equipes podem perder pontos ou ralmente isso é divulgado no balanço do clube. até mesmo ser rebaixadas. A punição faria evitar que Se você buscar nas notas explicativas, vai acabar o projeto naufrague como a Timemania. Essa loteria descobrindo facilmente onde a empresa colocou criada em 2007 é considerada um fracasso. Vinte dos e tirou dinheiro”, justifica. | 13


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Bruno Cantini

Receita Federal bloqueou R$ 40 milhões da venda de Bernard

ferente a uma dívida contraída em 1999, revoltou o dirigente do Atlético. “Acho que só o Atlético deve impostos no Brasil. Qual o nosso pecado com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN)?”, questionou Kalil em sua conta no twitter. Para o diretor jurídico do Atlético, Lásaro da Cunha, o clube está sendo vítima de perseguição. “Por que Vasco, Botafogo e Flamengo conseguiram o parcelamento? Por que não podemos continuar pagando a dívida em condições razoáveis?”, pergunta antes de revelar a necessidade do clube. “A dívida precisa ser parcelada para que o Atlético funcione. É como uma bicicleta. Se você para, ela cai”. Com tantas dificuldades, os principais clubes brasileiros começaram 2014 com o pé no freio. Campeão brasileiro, o Cruzeiro manteve os principais jogadores, mas pouco contratou. Situação semelhante vive o Atlético, que encontra dificuldades para reforçar o time rumo ao bicampeonato da Libertadores. “Por diversos motivos, a corda esticou num nível que se tornou quase obrigatório fazer um ajuste. Além disso, desde o ano passado, o movimento Bom Senso Futebol Clube começou a escancarar para a mídia convencional e para o torcedor os atrasos salariais de alguns clubes e suas consequências futuras. Em alguns times, o nível de endividamento chegou a tal ponto que não é mais possível contratar”, lamenta Ferreira.

Desde agosto de 2013, o atual campeão da Copa Libertadores sofre com o bloqueio parcial do dinheiro relativo à venda de Bernard. Um dos destaques do time na conquista continental, o meia foi negociado no fim de julho com o Shahktar Donetsk, da Ucrânia, por 25 milhões de euros. Desse valor, cerca de R$ 40 milhões foram retidos pelo Banco Central por conta de três processos de execução fiscal movidos pela Fazenda Nacional contra o clube. E o Atlético está envolvido em 36 pendências, além dessas ações. Na reta final da última temporada, a equipe chegou a ficar dois meses em débito com seus jogadores. Isso ocorreu pouco antes da disputa do Mundial de Clubes em que o time acabou na terceira posição. Mesmo com as constantes cobranças do presidente Alexandre Kalil, o caso parece longe de uma solução. No dia 12 de fevereiro, um novo bloqueio, agora re14 | www.voxobjetiva.com.br

Omar Freire

55 clubes que aderiram ao sistema já foram excluídos por atrasos e inadimplência. É o caso do Atlético. A dívida do Galo com a loteria foi estimada em R$ 147 milhões.

Kalil: presidente do quarto clube mais endívidado do futebol nacional


capa

Receitas milionárias; dívidas ‘impagáveis’ Clubes mineiros arrecadam menos do que devem. Em ranking da BDO RCS, Atlético aparece como quarto maior devedor entre clubes brasileiros. O Cruzeiro é o 12º. Os dados apurados se referem ao ano de 2012

Atlético-MG

Cruzeiro

R$ 162,9 mi

Receita total

R$ 120,3 mi

R$ 167,9 mi

Empréstimos

R$ 33,2 mi

R$ 223,1 mi

Endividamento tributário

R$ 69,6 mi

R$ 23,5 mi

Acordos e contingências

R$ 40,2 mi

Dívida total

R$ 143 mi

R$ 414,5 mi

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Divulgação VIPCOMM

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FORA DE CAMPO Ascensão meteórica A história recente do Cruzeiro se confunde com a vida de José de Oliveira Costa. De entregador de frios na década de 70, Zezé Perrella se transformou em um empresário do ramo de frigoríficos e diretor das categorias de base do Cruzeiro, clube no qual assumiu a presidência em 1995. Ao lado do irmão Alvimar, Zezé levantou 23 troféus pelo clube, sendo uma Libertadores, em 1997. Esse título lhe deu popularidade para se lançar deputado federal em 1998. Vitorioso, conciliou a política com a vida de dirigente. Mas ao deixar o Cruzeiro em 2011, entregou um time quase rebaixado e uma dívida de R$ 30 milhões. Durante seu último mandato, o déficit do clube subiu de R$ 85 milhões para R$ 112 milhões, mesmo com a política de vender jogadores. Em 16 anos de gestão, Perrella promoveu cinco das seis maiores transações da história celeste. ‘Fora de campo’, Zezé continua a atrair holofotes. Ele é suspeito de lavagem de dinheiro pelo negócio de Luisão para o Benfica em 2003. O zagueiro foi vendido ao Central Español e, em seguida, repassado ao time português por US$ 1 milhão a menos. O Ministério Público apura se parte do valor declarado voltou irregularmente 16 | www.voxobjetiva.com.br

ao país diretamente para contas de empresas dos irmãos Perrella. Em nota divulgada em 2010, Zezé negou qualquer fraude. Em janeiro, a Justiça mineira determinou a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dele e do filho, o deputado estadual Gustavo Perrella. A razão? Uma antiga empresa do senador é suspeita de fechar R$ 14 milhões em contratos e convênios sem licitação com a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) entre 2007 e 2011. Bens da família foram bloqueados no valor correspondente ao da denúncia. Também em nota, o senador negou irregularidades e prometeu recorrer da decisão. A suspeita de fraude de licitações também ronda o irmão de Zezé, Alvimar Perrella. O Ministério Público do estado acusou o ex-dirigente celeste e 17 pessoas de desviar cerca de R$ 80 milhões de 32 licitações, entre 2009 e 2012. Alvimar e dois empresários são donos da Stillus Alimentação, empresa que fornecia alimentos a presídios de Minas Gerais. Os envolvidos ainda não se pronunciaram sobre o assunto. Sobre os suspeitos, ainda recai a acusação de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e corrupção ativa.


Artigo

Robson Sávio

Justiça

Rolezinhos e o apartheid à brasileira As grandes cidades brasileiras mantêm uma descomunal desigualdade social. Os guetos suburbanos continuam esquecidos, e sua população permanece socialmente invisível, mesmo com a resistente e esplêndida cultura popular: uma riqueza pulsante nesses locais. As metrópoles brasileiras são fruto de uma urbanização sociopática que reproduz vícios de um passado escravocrata, patrimonialista e elitista. Basta visualizar nas grandes cidades a Casa Grande e a Senzala. Elas estão presentes, seja geograficamente, por meio das áreas nobres e da periferia, seja no tratamento desigual dispensado aos ricos e aos pobres, inclusive pelo poder público. Alguns tudo têm. Vivem em condomínios, verdadeiros enclaves fortificados, como na Idade Média. A maioria, porém, não tem direito a quase nada. A maior parte da população vive em condições precárias e em ambientes onde prosperam a violência e a exclusão.

Portanto, não adianta reduzir os rolezinhos a um mero modismo juvenil, despolitizando o movimento. O que alguns grupos de jovens da periferia fazem é questionar a frágil democracia brasileira, feita por poucos e para poucos. Os protestos que acontecem em alguns shopping centers, catedrais contemporâneas do consumo desenfreado, exigem uma cidade para todos. Os jovens demandam espaços para a construção de uma sociabilidade do encontro e das relações sociais.

“Não adianta reduzir os rolezinhos a um mero modismo juvenil, despolitizando o movimento”

Acontece que os jovens das periferias, segregados nas bordas das grandes cidades, estão despertando e reagindo contra a hipocrisia da sociedade. A própria sociedade ainda trata os cidadãos sob duas perspectivas: os sujeitos de direitos, que têm posses, e os pobres, que devem se contentar com algumas migalhas.

Há diferentes modos e realidades que caracterizam a vida juvenil. Existem rolezinhos do consumo, é verdade. Mas também há aqueles rolezinhos que denunciam o modelo de cidade excludente, no qual os jovens das periferias das metrópoles são tratados como perigosos e violentos pela grande mídia e que, por isso, devem ser vigiados e reprimidos.

O acesso às políticas de transferência de renda, à educação superior e à moradia nos últimos anos fez os segmentos mais pobres perceberem que cidadania não é só um prato de comida ou um smartphone novo. Cidadania é – ou deveria ser – a garantia do acesso aos direitos por todos. Paulatinamente, os mais pobres vencem a resignação e o medo e começam a vocalizar seus desejos e preferências. Por isso, a explicitação do racismo e dos vários tipos de preconceitos velados começa a aparecer com mais força e evidência nas tentativas de rotular a juventude pobre que ousa questionar o consumismo.

O tensionamento de conflitos sociais sufocados historicamente é um grande passo rumo a uma sociedade mais justa e democrática. Os rolezinhos se revestem de um caráter político e civilizatório. Calar o movimento à força, sem escutá-lo, é repetir a estupidez de um sistema que reprime os conflitos sem resolvê-los.

robson Sávio Reis de Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br


METROPOLIS

Iguais, mas diferentes Trajetória e característica parecidas aproximam os dois principais pré-candidatos ao governo de Minas Gerais. Só a ideologia os distancia Rodrigo Freitas

Marcelo Camargo/ABr

A próxima eleição coloca dois ex-prefeitos de Belo Horizonte como grandes rivais na disputa pelo governo de Minas. Mas eles têm muita coisa em comum. Ambos saíram da prefeitura da capital mineira bem avaliados pela população. Considerados bons gestores, foram convidados para ocupar ministérios. O perfil deles é um tanto moderado. Mesmo quando o embate é firme, preferem a serenidade. Até o sobrenome se parece! Só que tanta semelhança esbarra em uma questão primordial: um é petista e o outro, tucano.

Fernando Pimentel Nome: Fernando Damata Pimentel Nascimento: 31/3/1951 Formação: economista Cargos públicos ocupados: secretário de Fazenda de Belo Horizonte, secretário de Governo, Planejamento e Coordenação-Geral de Belo Horizonte, prefeito da capital mineira, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Pouco mais de um ano atrás, a disputa entre Fernando Pimentel (PT) e Pimenta da Veiga (PSDB) parecia improvável aos olhos de qualquer analista político. Por parte de Pimentel não era bem assim... Por ser ministro até então e ter passado recentemente pela Prefeitura de Belo Horizonte, o petista era um postulante natural ao Palácio Tiradentes. A improbabilidade se dava por conta de Pimenta. Embora tenha ocupado cargos semelhantes há mais tempo, o peessedebista andava recolhido em Brasília havia dez anos, vivendo de sua profissão: advogado.

Mas como na política tudo é passível de mudanças, o destino cuidou de colocar no ‘ringue’ os dois ex-prefeitos. E eles prometem um duelo interessante nas eleições deste ano. Ambos os candidatos gozam de prestígio com figurões da política nacional. Pimentel é amigo da presidente Dilma Rousseff há mais de 40 anos. Não por acaso, foi convocado pela própria Dilma para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Por sua vez, Pimenta é amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem foi ministro das Comunicações entre 1998 e 2002.

Derrota política: senado (2010) Momentos bons: vitória no primeiro turno em Belo Horizonte, em 2004, e chegada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Momentos difíceis: a prisão pela ditadura, entre os anos de 1970 e 1973.

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Entre os aliados, já começaram os trocadilhos por causa das semelhanças entre os sobrenomes. “A disputa Pimenta - Pimentel será ardida; forte mesmo”, brinca um aliado do tucano. “Pimentel nos olhos dos outros é refresco”, diz, aos risos, um interlocutor do petista. E as similaridades extrapolam os trocadilhos. Nascidos em Belo Horizonte, Pimenta e Pimentel construíram a trajetória política na própria capital dos mineiros. Ou-


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tra semelhança entre os postulantes ao governo é que cada um ajudou a fundar sua legenda no estado.

Com 62 anos de idade, Pimentel é economista graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas (UFMG). Prefeito da capital entre 2003 e 2008, o petista é um dos formuladores do Orçamento Participativo (OP) na capital mineira. Por sua atuação à frente do Executivo municipal, chegou a ser apontado pelo site inglês Worldmayor como o oitavo melhor prefeito do mundo. Pai dos gêmeos Irene e Mathias, Pimentel foi professor da UFMG, vice-presidente da Associação de Professores Universitários de Belo Horizonte, presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais e diretor do Sindicato dos Economistas Mineiros. Antes, o petista lutou contra o regime militar ao lado da presidente Dilma Rousseff durante os chamados anos de chumbo. Foi perseguido e preso de 1970 a 1973.

tucanos, Pimenta foi filiado ao MDB, hoje PMDB. Após participar da fundação do PSDB ao lado de nomes como Fernando Henrique Cardoso, Pimenta se manteve fiel às origens e nunca sequer cogitou uma mudança de partido.

Aos 66 anos, Pimenta tenta, pela segunda vez, o governo de Minas. Ele concorreu em 1990. Acabou sendo derrotado por Hélio Garcia. Na época, ele acabara de sair da prefeitura para disputar o governo. Advogado, Pimenta da Veiga ingressou na vida pública em 1978. Foi eleito deputado federal pela primeira vez pelo MDB. Ele continuou na Câmara dos Deputados até 1988, já pelo PMDB, quando foi eleito prefeito de

Nas eleições de 2004, Pimentel derrotou o tucano João Leite com 68,5% dos votos válidos e foi eleito no primeiro turno. Candidatou-se ao Senado em 2010, mas ficou em terceiro lugar, atrás de Aécio Neves (PSDB) e de Itamar Franco (PPS). Em 2011, foi convidado por Dilma para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de onde saiu recentemente para assumir de vez a candidatura ao governo de Minas. “O Fernando é um dos homens públicos mais completos que conheço. Ele combina uma excelente capacidade de gestão com sensibilidade social. O programa Vila Viva é um bom exemplo disso: revolucionou os aglomerados de Belo Horizonte”. A declaração é do aliado mais próximo a Pimentel e homem de confiança do ex-ministro, o deputado federal Miguel Corrêa (PT). Pimenta também tem história no partido. Por ser um dos criadores do PSDB, ele está nos anais da legenda em Minas Gerais. Antes de ajudar a criar o partido dos

Divulgação PSDB-MG

Na década de 90, Pimentel foi secretário da Fazenda de Belo Horizonte, na gestão de Patrus Ananias, de 1993 a 1996, e secretário de Governo, Planejamento e Coordenação-Geral no primeiro mandato de Célio de Castro, em 1996. Em 2000, foi eleito vice-prefeito na gestão Célio de Castro. Em abril de 2003, assumiu a prefeitura em razão da aposentadoria de Célio. Naquela época, o então prefeito enfrentava graves problemas de saúde.

Pimenta da Veiga Nome: João Pimenta da Veiga Filho Nascimento: 2/7/1947 Formação: advogado Cargos públicos ocupados: deputado federal por quatro mandatos, prefeito de Belo Horizonte, ministro das Comunicações. Derrota política: governo de Minas (1990) Momentos bons: vitória para a Prefeitura de Belo Horizonte em 1988 e chegada ao Ministério das Comunicações em 1998. Momentos difíceis: morte do filho Vinícius, por câncer de pulmão, aos 32 anos, em 2004.

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Belo Horizonte. Também nesse período, Pimenta migrou para o PSDB, ajudando a fundar a legenda. Em 1994 e em 1998, foi reeleito deputado federal, sempre disputando pelo PSDB. Em 1998, foi nomeado ministro das Comunicações, após a morte do então titular da pasta, Sérgio Motta. Pimenta se empenhou pessoalmente nas tentativas de salvar a Rede Manchete de Televisão. Na época, a emissora estava assolada em uma grave crise financeira. Como ministro, também atuou fortemente no processo de privatização da telefonia do país. Ele ficou na pasta até o fim de 2002 e não voltou a assumir sua vaga na Câmara naquela legislatura. Pimenta da Veiga também se projetou nacionalmente ao presidir o PSDB entre 1994 e 1995, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente da República. “O ex-ministro Pimenta é um dos quadros mais preparados do PSDB em Minas. Estamos muito confiantes”, expôs recentemente o governador Antonio Anastasia em declaração para um programa de TV.

O deputado estadual João Vítor Xavier (PSDB) tem percorrido algumas cidades mineiras ao lado de Pimenta da Veiga. Para o parlamentar, o pré-candidato consegue aliar maturidade e vigor. “A convivência com o Pimenta tem sido das mais positivas. É um homem que concilia a experiência de longa trajetória na vida pública com uma visão extremamente atualizada do mundo. Ele é muito antenado e está buscando dialogar com a juventude o tempo todo. Pimenta tem uma proposta clara para darmos mais um passo importante nesse processo de avanços e conquistas dos últimos dez anos. Ele vem tratando a mudança pela educação como o grande passo para o futuro”, enaltece o parlamentar.

Embora bem-vistos pelas cúpulas nacionais de seus partidos, Pimenta e Pimentel não enfrentaram vida fácil nos bastidores dos diretórios regionais de suas legendas. Em Minas, o presidente estadual do PSDB, deputado federal Marcus Pestana, batia o pé em torno de sua pré-candidatura até algumas semanas atrás. Pestana só declinou da ideia em favor de Pimenta após uma ‘conversa ao pé do ouvido’ com Aécio, que o enquadrou.

Ricardo Stuckert

Em agosto de 2013, Pimenta assumiu a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV) em Minas, responsável pelo planejamento de ações e projetos de governos tucanos. E Aécio Neves deu o tom da missão de Pimenta, ao lançá-lo como candidato tucano ao Palácio Tiradentes. “Temos uma responsabilidade enorme com Minas e com cada um dos mineiros. Não apenas nós

tucanos, porque o que foi feito em Minas até aqui, e muito foi feito, veio de uma obra conjunta, fortalecida pela participação de outros importantes partidos políticos no estado”, declara o senador e presidente nacional da legenda.

Junto do padrinho político e ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), Pimentel lançou dia 14 sua pré-candidatura ao governo do estado 20 | www.voxobjetiva.com.br


Luiz Paulo Meyer

METROPOLIS

Ex-ministro das Comunicações na era Fernando Henrique, Pimenta da Veiga pode ser o terceiro governador tucano consecutivo em Minas Gerais

Alguns tucanos dizem achar arriscada a tática de lançar Pimenta ao governo de Minas. Eles acreditam que, por ter ficado quase dez anos longe do estado, o ex-ministro perdeu a visibilidade que tinha diante do eleitorado. Só aceitam Pimenta de “bom grado” porque a escolha partiu de Aécio, que jamais teria sua vontade contrariada no ninho tucano mineiro. “Tomara que dê certo, mas é um risco que a gente corre. Temos nomes mais competitivos no interior”, avalia um integrante do PSDB, que prefere o anonimato. Ele se refere às pesquisas eleitorais, terreno onde a candidatura de Pimenta da Veiga ainda não emplacou. Para conseguir o feito, os tucanos apostam em uma ampla aliança com pelo menos 17 partidos e na boa relação com os prefeitos do Interior, fator considerado fundamental por eles na vitória de Anastasia em 2010. Do lado petista, é justamente o perfil de Pimentel que incomoda. Pouco afeito às negociações com as bases e os setores históricos do partido, o ministro é visto como distante por uma boa ala da legenda. Esse grupo ainda põe na conta de Pimentel a estratégia furada que tirou o PT da Prefeitura de Belo Horizonte após quase 20 anos. Em 2008, Pimentel se aliou a Aécio numa inédita dobradinha e fiou a candidatura de Marcio Lacerda (PSB). Em 2012, ao ser pressionado, Lacerda não titubeou e jogou o PT para escanteio. A mágoa persiste no PT. “É aquela história: muita gente fala que o ministro Pimentel é o mais tucano dos petistas. Vamos ver se ele está disposto a nos ouvir e a conversar com as bases do partido. Se fizer isso, vamos apoiá-lo e levá-lo a

uma vitória que o PT de Minas nunca conseguiu. Mas depende mais de Pimentel”, revela um petista ligado aos movimentos históricos da legenda, ainda visivelmente magoado com o ex-prefeito.

Se a escolha dos candidatos está definida, o mesmo não se pode dizer de seus vices. Há quem defenda a ideia de que vice não inaugura ponte. Mas o fato é que as negociações políticas que envolvem a escolha de um vice passam pela afinidade com o cabeça de chapa, por sua viabilidade eleitoral e pelo que ele representa em termos de aliança. É a equação que petistas e tucanos ainda tentam resolver antes de acertarem os parceiros de Pimentel e Pimenta. Do lado tucano, tudo se encaminha para que o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o deputado Dinis Pinheiro, seja o nome. Recém-filiado ao PP e ex-PSDB, Dinis queria ser candidato, mas enfrentou algumas dificuldades e resistências. No entanto, sua viabilidade eleitoral no Interior não pode ser desprezada. Segundo garantem pepistas e tucanos, esse foi o motivo que levou à escolha de Alberto Pinto Coelho (PP) como vice de Anastasia em 2010. No caso de Pimentel, a questão parece um pouco mais complicada. Se depender do ministro, o colega da Agricultura, Antônio Andrade (PMDB), seria o nome. No entanto, o PT ainda precisa convencer o PMDB da cabeça de chapa. Uma ala do partido, tido como aliado, insiste na candidatura do senador Clésio Andrade ao governo de Minas. Se o PT conseguir dobrar o PMDB, Clésio poderia se transformar no vice de Pimentel. | 21


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Confins ou

Pampulha? Aeroportos do Sul de Minas e da Zona da Mata perdem voos comerciais Celso Martins

Último elo entre a Azul e o Sul de Minas, Varginha saiu definitivamente do mapa de voos da companhia. Até 20 de março passado, a empresa aérea mantinha somente um horário para Campinas, local da sede da companhia em São Paulo. Mas os executivos da Azul alegaram que a operação não era economicamente viável, devido à baixa taxa de ocupação dos voos. A mesma justificativa foi usada em janeiro deste ano, quando São João del-Rei, no Campo das Vertentes, teve suas viagens suspensas. Elas aconteciam aos sábados. Com o cancelamento das operações em Varginha, o Sul de Minas não terá mais voos comerciais. Mas os cortes não se restringiram à região. O Aeroporto da Serrinha, em Juiz de Fora, também perdeu seus horários para Confins. A decisão foi tomada no dia 19 de março. Em contrapartida, a Azul decidiu compensar a perda dos juiz-foranos, lançando para Confins voos do Aeroporto Regional da Zona da Mata, localizado entre Goianá e Rio Novo. Desde 20 de março, são dois horários em cada sentido. Os três voos de ida e volta entre Juiz de Fora e Campinas estão mantidos. Quando o assunto são os voos para a Pampulha, Varginha e Juiz de Fora também saem perdendo. As duas cidades se juntam à Uberaba, no Triângulo Mineiro. No final de 2013, os uberabenses tiveram cancelada a ligação direta com a capital mineira. Mas a cidade mantém três horários da Azul para Campinas e um para Confins. Apenas Ipatinga, Uberlândia e Montes Claros contam com voos diretos para Confins e Pampulha. Uma fonte da Azul revelou que a companhia pretende transferir para o aeroporto internacional as conexões com Governador Valadares, Araxá e Patos de Minas, atualmente operadas na Pampulha. Por lá, devem ser mantidos os 22 | www.voxobjetiva.com.br

Divulgação/Ministério do Esporte

Poucas cidades mineiras contam com voos da Azul para Confins

voos para Campinas e Guarulhos, até que a empresa convença a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de revogar uma portaria que impede a Azul de operar entre as capitais.

Sem concorrência até então, a Azul pode assistir à Passaredo Linhas Aéreas ocupar o espaço deixado pela companhia campineira. A Passaredo tem dois voos em cada sentido da Pampulha para Ribeirão Preto, onde fica a sede da companhia. Mas o objetivo é conectar Varginha a Guarulhos. A operação depende da ampliação da frota, composta por nove turboélices ATR-72. O modelo é o mesmo usado pela Azul e dispõe de 70 lugares. A Passaredo tem planos também para Ipatinga e Montes Claros. Em Uberlândia, a companhia opera com voos diretos para Goiânia e Ribeirão Preto. Em Uberaba, há um horário para Guarulhos. Gol e Avianca não têm aviões capazes de operar em Varginha, São João del-Rei nem em Uberaba. A esperança dos moradores é o programa de desenvolvimento regional que o Governo Federal promete tirar do papel. O projeto prevê investimento público para subsidiar as passagens das cidades do Interior do Brasil.


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A economia em

its

Moeda virtual permite transações sem intermediários, mas peca em questões essenciais Lucas Alvarenga

Imagine viajar para o exterior sem precisar fazer uma operação de câmbio. Pense na praticidade de fazer transações financeiras sem depender de bancos nem de financeiras. Agora idealize uma moeda que não depende de regulação de Banco Central nem de governo. Imaginou? Pois essa moeda existe. Trata-se do bitcoin: a moeda virtual. É uma tecnologia capaz de despertar em seus entusiastas um olhar sobre a economia do futuro. Por outro lado, os céticos veem a moeda virtual como um retorno às formas monetárias mais rudimentares. O bitcoin foi desenvolvido pelo japonês Satoshi Nakamoto em 2009. E a moeda virtual nasceu cercada de lendas e de curiosidades, a começar pela identidade de seu criador. Acredita-se que Nakamoto seja uma figura fictícia criada por uma equipe de programadores que representam um grupo financeiro europeu. O inventor do

bitcoin (BTC) é dono da maior fortuna virtual registrada com a moeda. O valor chega a algo próximo de US$ 1 bilhão em BTCs. Inventar moedas que dispensem qualquer tipo de regulação não é uma novidade. Os monarcas espanhóis Carlos V e Felipe II se deixaram enganar pela grande quantidade de prata extraída das colônias recém-descobertas na América. Daí eles criaram uma moeda paralela: o duro. Quanto mais unidades do duro eram cunhadas, mais elas perdiam valor. Desvalorizada, a pretensa moeda global causou a primeira crise inflacionária de razões monetárias da história. E, como consequência, promoveu uma revolução nos preços europeus entre 1540 e 1640.

O bitcoin pretende retomar o ideal de uma moeda global, mas virtualmente. O fato preocupa autoridades | 23


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políticas de todo o mundo. China, Rússia e Tailândia já proibiram negociações com o bitcoin. “O que incomoda os governos é o fato de o bitcoin permitir a transação entre pessoas sem que isso seja tributado em favor dos países. Por outro lado, o cidadão é obrigado a pagar uma alta carga tributária sem o retorno em serviços à altura. Isso leva muitas pessoas a buscarem formas mais primitivas de negócio”, analisa Nelson de Sousa, professor de Finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Rio de Janeiro (Ibmec-RJ).

Como se não bastasse, a cotação da moeda virtual não para de subir. “O bitcoin valia US$ 0,01 quando foi criado. Em 2011, a moeda era cotada em R$ 20. Hoje um bitcoin equivale a R$ 1,62 mil. É um retorno superior ao de qualquer título da bolsa”, acredita Horta. Por apostar na moeda virtual, o programador criou a Bitcoin To You, em julho de 2013. A empresa fica em Betim, mas os servidores estão hospedados nos Estados Unidos. A Bitcoin To You tem 2,5 mil usuários cadastrados, responsáveis por movimentar R$ 1 milhão por mês em bitcoins. Além disso, a empresa detém a maior transação brasileira de bitcoins feita em um só dia: 170 unidades.

Mesmo com milhares de usuários por todo o mundo, o bitcoin era pouco familiar a Diego Silva. Mas a relação do programador André Horta com a moeda fez o dono e consultor técnico da Nipotech se inteirar do assunto. CEO da Bitcoin To You, empresa de compra e venda de bitcoins, Horta precisa(um bitcoin em cada ano avaliado) va levar seu carro para uma revisão. A oficina escolhida por ele foi a Nipotech, pela expertise da empresa de assistência técnica em carros japoneses. Mas, antes de feR$ 1,62 2014 char o negócio, Horta fez uma proposta a Silva: pagar o serviço, avaliado em R$ 430, em bitcoins.

Mas os problemas que envolvem a moeda virtual começam justamente

Cotação em alta

Silva sabia do sucesso da 2011 moeda virtual apenas pela mídia. Curioso, ele resolveu conhecer o funcionamento do bitcoin e, depois de muito pensar, aceitou a forma de 2009 pagamento sugerida. “Eu optei por trabalhar com a moeFonte: André Horta/Bitcoin To You da virtual porque faz parte da filosofia da Nipotech buscar inovações para o cliente”, ressalta o consultor técnico. Silva recebeu 0,22 bitcoin pelo serviço e fez da sua empresa a primeira da capital mineira a aceitar a moeda virtual. Horta criou para Silva uma carteira digital e a instalou no tablet do consultor técnico. O CEO converteu o valor total do serviço para bitcoins e fez a transferência, confirmada em apenas dez minutos. Para o proprietário da Nipotech, a experiência foi válida. A transação com a moeda virtual é isenta de impostos e de tarifas, como os 6,38% aplicados sobre compras feitas com cartão de crédito. 24 | www.voxobjetiva.com.br

R$ 20

mil

pela sua volatilidade. Em janeiro, o valor do bitcoin superou R$ 2 mil, por causa da repercussão na mídia, mas logo voltou para 1,62 mil. As variações deixam comerciantes e prestadores de serviço cabreiros. O Banco Central do Brasil já alertou que nenhum estado garante o bitcoin. Para a instituição monetária, o investidor pode perder todo o valor investido. Por isso, alguns usuários da moeda a tratam como uma ‘poupança’.

Se a volatilidade preocupa, a dificuldade para usar US$ 0,01 a moeda afasta alguns potenciais adeptos da ideia. No mundo são mais de 2,6 mil estabelecimentos comerciais que se dispõem a recebê-la. Dentre eles, está uma grande rede varejista dos Estados Unidos: a Overstock. No Brasil, há menos de 30 empresas cadastradas, como informa o serviço Coin Map. “O bitcoin traz um problema: é impossível investir parte da minha carteira em algum bem ou produto que esteja fora daquelas empresas que fazem parte do ‘jogo’”, lembra Sousa. Não é fácil se tornar um dos novos usuários do bitcoin. Você pode recebê-lo diretamente de alguém ou comprar a moeda em sites similares ao Bitcoin To You. Caso contrário, resta obter o bitcoin por um processo denominado mineração. Para minerar um BTC, é preciso se cadastrar


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no bitcoin.org, baixar um programa de compartilhamento de arquivos e receber uma identificação. Nesse procedimento, as pessoas ‘alugam’ o computador para que algoritmos da rede de bitcoins sejam processados. Em troca, elas ganham BTCs. A operação funcionava bem até 2013, mas devido à evolução do código, esse processo não é mais viável sem megacomputadores. “Para minerar um bitcoin hoje, um computador normal demoraria um ano e consumiria um valor de energia elétrica superior ao da própria moeda”, ratifica Horta. A alternativa foi criar máquinas que convertem papel-moeda em bitcoins. Esses equipamentos de quase R$ 200 mil são capazes de minerar até cinco BTCs por dia. Entretanto, existem os poucos exemplares no Brasil. E nenhum deles está em Minas. A limitação de unidades da moeda virtual também traz desconfiança. Quando foi criada, a oferta do bitcoin foi restrita a 21 milhões de unidades. Em 2014, já são mais de 12 milhões de BTCs gerados. Mesmo com todo esse volume, a moeda é considerada deflacionária. O valor do BTC tende a crescer à medida que a moeda não puder mais ser minerada. Entusiastas alegam que, caso o bitcoin se valorize demais, as casas decimais inutilizadas hoje vão servir de margem para os eventuais ajustes financeiros no futuro Boa parte dos BTCs gerados é utilizada na aquisição de serviços e de bens ilícitos. Em janeiro, dois executivos do serviço de troca de bitcoins BitInstant foram presos sob acusação de lavagem de dinheiro e colaboração para a venda de drogas no mercado negro Silk Road. Ambos foram acusados de vender mais de US$ 1 milhão em bitcoin. Em nota, o governo dos Estados Unidos divulgou que empresas como a BitInstant devem coletar dados de seus clientes, monitorar transações próprias e reportar às autoridades negociações suspeitas. Um dos fatores preponderantes para o uso do bitcoin em um mercado paralelo é o anonimato da transação. Se a negociação não fosse anônima, ficaria mais simples identificar quem usa a carteira. Mas é possível descobrir o autor de uma transação ilícita por outros meios, como o número IP do computador. Para garantir segurança aos adeptos da moeda, a Fundação Bitcoin trabalha em constantes atualizações do código digital. “O bitcoin usa um nível de criptografia que exigiria anos e megacomputadores conectados em todo o mundo para quebrá-la”, garante Horta. Mas se nunca houve falha de criptografia, o mesmo não se pode dizer dos sites bitcoins. No final de fevereiro, a Mt. Gox – maior

operadora de bitcoins do mundo – encerrou as suas operações deixando milhares de usuários sem saber como iriam recuperar suas moedas. Para Horta, os escândalos recentes acabam interferindo na consolidação do bitcoin. Por causa desses problemas, por ora, Sousa não crê que o bitcoin possa interferir na economia. “Assim que o bitcoin tiver muitos adeptos e mais riquezas envolvidas, essa moeda vai acabar criando uma economia paralela firme”, projeta o professor de Finanças do Ibmec-RJ.

Prós e contras do bitcoin • Livra o usuário de ter que fazer o câmbio ao viajar para o exterior • Permite fazer transações financeiras sem intermediários • Não há impostos nas negociações • A moeda é bastante valorizada • O bitcoin ainda é deflacionário

• Não tem a garantia de um Banco Central ou de um governo • Tem um restrito mercado para utilização • Conta com um limite de 21 milhões de unidades • É muito volátil • Alguns dos principais sites bitcoins do mundo não são confiáveis

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ARTIGOS

Ruibran dos Reis

Meteorologia

A variabilidade do clima Enquanto os brasileiros sofreram com a forte onda de calor que tomou conta do país em janeiro, os norte-americanos e os europeus tiveram um dos invernos mais rigorosos da história. Nos Estados Unidos, as nevascas deixaram as pessoas presas em casa, muitos aeroportos ficaram fechados e inúmeros acidentes aéreos foram registrados. Na Europa, chuvas de granizo, rajadas de vento e ondas de mais 13 metros no litoral de alguns países se tornaram fenômenos corriqueiros. O tempo muda a cada instante. Enquanto você lê este texto, provavelmente chove e faz frio em algumas cidades da região Sul do país, e em parte da região Sudeste faz calor e o tempo está seco. Mudanças no tempo durante o dia, de um mês para o outro e até de um ano para o outro são comuns. Basta analisar os dados históricos.

o planeta. O clima nos dias atuais não tem estações bem definidas como antigamente. Com o passar das décadas, os fenômenos severos ganharam mais intensidade e hoje são catastróficos. Não há dificuldade para prever diariamente o tempo. Mas não dá pra dizer o mesmo das previsões climáticas. Afinal, elas envolvem muitas variáveis e mais tempo de processamento computacional. E aí mora o perigo. A natureza está respondendo mais rápido às mudanças climáticas. Portanto, é preciso diminuir o grau de vulnerabilidade das previsões para evitar perdas agrícolas e, sobretudo, de vidas. Conhecer os principais fenômenos meteorológicos que estão por acontecer é dar o primeiro passo para que se possa, futuramente, mapear as áreas de risco e definir políticas que minimizem os impactos dos desastres naturais.

“É preciso diminuir o grau de vulnerabilidade das previsões para evitar perdas agrícolas e, sobretudo, de vidas”

O clima é definido como uma média das condições do tempo. São necessários, no mínimo, 30 anos de dados para definir o clima de um local. A variabilidade do clima ocorre quando há mudanças nos fatores que o influenciam. A erupção de um vulcão pode espalhar partículas na atmosfera que venham a refletir a radiação solar e, consequentemente, influenciem na mudança de temperatura e na precipitação de uma região. A diminuição da cobertura vegetal, por sua vez, influencia no albedo, a relação entre a radiação solar que chega e a que sai. E, por isso, ela altera significativamente o clima de um local.

É possível conviver com a variabilidade climática. No entanto, os prejuízos materiais e a ocorrência de vítimas fatais vão depender de como cada local está preparado para enfrentar essas mudanças. Não espere o poder público agir. Observe a vulnerabilidade da região onde você mora e, se possível, tome medidas para diminuir a exposição dela aos riscos ambientais.

O aquecimento global causado pelo aumento dos gases do efeito estufa está gerando uma variação no clima de todo

Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com

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Ruibran dos Reis


Ministério da Ciência

vanguarda

Pequenos e revolucionários Tubos de carbono invisíveis a olho nu podem transformar o setor industrial do mundo inteiro. Minas Gerais está um passo à frente nessas pesquisas Lucas Alvarenga Eles são cilíndricos, minúsculos e imperceptíveis até mesmo em microscópios ópticos. São 100 mil vezes menores do que um fio de cabelo e um bilhão de vezes inferiores ao metro. Mas essa insignificância no tamanho esconde uma fortaleza. Sintetizados em laboratório inicialmente no Japão desde a década de 90, os nanotubos de átomos de carbono prometem revolucionar a indústria em breve. Embora sejam bem mais leves do que o aço, os nanocilindros são 20 vezes mais resistentes. E as ligações fortes entre átomos de carbono servem para gerar materiais de difícil destruição.

Desde o ano 2000, os nanotubos de carbono são uma realidade no cotidiano da maior instituição de ensino superior do estado: a Universidade Federal de Minas Gerais. Na época, o professor de Física da UFMG Luiz Orlando Ladeira produzia os primeiros nanocilindros em parceria com o colega Marcos Assunção Pimenta, também físico. Atualmente os docentes integram um grupo de pesquisadores oriundos da Biologia, da Física e da Química. Todos se dedicam à nanotecnologia, na qual o estado de Minas Gerais é pioneiro. | 27


vanguarda

Enquanto Pimenta se atém às propriedades fundamentais dos nanotubos de carbono, Ladeira busca aplicações dos cilindros em uma série de materiais. Um deles é o cimento, objeto de estudo de Ladeira desde 2005. Nessa empreitada, o físico se juntou a alunos do doutorado de Engenharia de Estruturas e ao professor José Marcio Calixto, doutor em Engenharia Civil pela UFMG. O objetivo deles é adicionar 0,3% de nanotubo de carbono ao clinquer - matéria-prima do cimento - e conferir ao material maior resistência à tração. A ideia, segundo Calixto, é que o nanotubo assuma a função do aço.

O produto final permanece restrito ao laboratório.

O alto custo produtivo inviabiliza a transposição da iniciativa para o mercado. Mas talvez isso ocorra em pouco tempo. Em 2005, um saco de 50 quilos de cimento nanoestruturado

saía mil vezes mais cara do que 50 quilos de cimento convencional. Com o tempo e as pesquisas de Ladeira, esse custo caiu quatro vezes. A redução do preço permitiu que o físico obtivesse o registro da patente nacional desse tipo de cimento. Agora cabe ao Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) avaliar as propriedades e as possíveis aplicações do material. “A construção civil deve ser fortemente impactada pela nanotecnologia. A adição de materiais inteligentes, como os nanotubos de carbono, vai permitir o desenvolvimento de produtos finais com maior leveza e durabilidade”, assegura Carlos Alberto Achete, coordenador da Divisão de Metrologia de Materiais do Inmetro.

A resistência também permeia as pesquisas do professor de Física da UFMG, Ado Jorio. Ao retornar dos Estados Unidos, onde fez seu pós-doutorado, o físico começou a

Arquivo pessoal

ENTREVISTA | Ado Jorio dros de carbono. No entanto, agregou a eles temas como a nanometrologia em um trabalho conjunto com o Inmetro. Hoje, aos 41 anos, Jorio pode se orgulhar: ele é um dos poucos brasileiros a ter conquistado um dos mais importantes prêmios dados a jovens cientistas de até 40 anos provenientes de países em desenvolvimento. O físico conversou com a Vox Objetiva sobre o trabalho vencedor do Prêmio do Instituto Abdus Salam de Física Teórica e analisou o tratamento dado à nanotecnologia no país e em Minas Gerais. Poucos foram os pesquisadores nacionais a receber o prêmio do Centro Abdus Salam. Como essa conquista projeta a física brasileira?

“Espero que nossa pesquisa continue sendo aplaudida” A recente indicação à Academia Brasileira de Ciências não veio por acaso. A cadeira definitiva na instituição foi consequência de anos de pesquisa no campo da nanotecnologia. Em 2000, o físico belo-horizontino iniciava o seu pós-doutorado nos Estados Unidos. Pela Massachusetts Institute of Technology (MIT), Jorio pesquisou as propriedades ópticas de nanotubos de carbono. Ao regressar ao Brasil, o físico continuou seus estudos com os cilin-

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Muitos pesquisadores brasileiros têm recebido prêmios nacionais e internacionais ao longo da história. E espero que nossa pesquisa continue sendo aplaudida. A sociedade não tem noção da importância e do impacto da ciência brasileira no mundo. Já tive trabalhos científicos discutidos em jornais na Alemanha e na Itália sem uma palavra dita no Brasil. Conte um pouco sobre o trabalho que lhe rendeu o prêmio em Trieste, na Itália. O trabalho que desenvolvi com colaboradores fez a técnica de espectroscopia Raman se tornar mundialmente usada na caracterização dos nanotubos


vanguarda

estudar as propriedades dos grafenos. Esses compostos são como uma lâmina de átomos de carbono. Quando são empilhados, formam o grafite. Durante esse período, Jorio foi convidado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) para se unir a um grupo de pesquisa sobre a Terra Preta de Índio. Há décadas, os antropólogos descobriram que os indígenas tinham uma metodologia específica para queimar o lixo e, com o produto da queima, melhorar a qualidade do solo para a agricultura. Mas esse conhecimento milenar indígena foi se perdendo com o tempo. A fim de recuperá-lo, Jorio aplicou o saber adquirido no estudo dos grafenos para compreender a nanoestrutura dos carvões daquele tipo de solo. O físico descobriu peculiaridades diferentes de algumas características dos carvões produzidos usualmente. O trabalho do pesquisador é compreender os parâmetros que tornam esse carvão tão especial. A ideia é reproduzi-los em outros locais. “Já imagi-

de carbono: material com propriedades eletrônicas, térmicas, mecânicas e ópticas fenomenais para diversas aplicações. Raman foi um físico indiano que descobriu o efeito de colisão inelástica da luz na matéria, na primeira metade do século passado. É como arremessar uma bola na parede e, estudando as características da bola quando volta, você obtém informações sobre a parede. Com o avanço da tecnologia de lasers e de outros dispositivos ópticos, tornou-se viável aplicar esse efeito em materiais como os nanotubos. Você também estuda grafenos... Sim, trabalho com grafenos no desenvolvimento da nanometrologia. Também trabalho com a caracterização de nanoestruturas de carbono para o desenvolvimento de biotecnologias, como novas vacinas e carregadores de ácido ribonucleico (RNA) – responsável pela síntese de proteínas da célula. Estamos iniciando um projeto na UFMG para usar a espectroscopia Raman no diagnóstico precoce de doenças degenerativas, especialmente o Alzheimer. Como você avalia a pesquisa em nanotecnologia realizada no Brasil e em Minas Gerais? O Brasil está, passo a passo, institucionalizando sua pesquisa. A criação de financiadores de projetos há 50 anos está transformando este país. O Brasil faz pesquisa de ponta em nanotecnologia em qua-

nou se as mineradoras fossem capazes de devolver um solo melhorado?”, sugere Jorio. “E o Brasil ainda ganharia crédito de carbono com essa iniciativa”, acrescenta.

Os estudos com o grafeno não são uma exclusividade de Jorio. Pimenta se dedica à análise das proprieda-

des óticas e eletrônicas dessa lâmina. Dependendo da forma como é enrolado, o grafeno pode se tornar um exímio condutor ou semicondutor de eletricidade. “Podemos utilizá-lo para criar transistores, placas de energia solar ou até um circuito integrado com nanotubos de carbono. Já sabemos que o grafeno pode substituir o silício em uma série de situações”, garante o físico da UFMG. Se o ambiente acadêmico mineiro está repleto de experiências com nanotecnologia, no mercado há quem já aplique nanotubos em escala comercial. Esse é o caso da Nanum Tecnologia. O Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)

se todas as áreas. O nosso volume de pesquisa e a nossa transferência de tecnologia para o setor produtivo ainda são pequenos, quando comparados aos países desenvolvidos e à China. Em relação a Minas Gerais, o estado tem exercido um papel diferenciado no Brasil, na área de nanoestruturas de carbono, fármacos e biotecnologia. A grande questão é que o desenvolvimento da ciência está no setor público – nas universidades e nos centros de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – e a geração e a comercialização de produtos estão no setor privado. A relação público-privada no Brasil é complicada devido a questões ideológicas e ao medo gerado pela corrupção. Esse problema cultural reprime a inovação e o empreendedorismo. Ainda assim, estamos avançando... Nos últimos quatro anos, a UFMG fez mais transferências de tecnologia para empresas que em todos os anos anteriores. O número de patentes depositadas anualmente pela UFMG no INPI está no nível dos grandes institutos de tecnologia dos países desenvolvidos. O estado de Minas Gerais tem uma rede de mais de 20 instituições que trabalham em conjunto para a profissionalização da transferência de tecnologia no estado. O Brasil realiza diversos fóruns especializados no tema inovação. Estamos ganhando massa.

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vanguarda

da empresa, Tarik Mohallem, dá um exemplo de como a nanotecnologia veio para ficar. A Nanum surgiu em 2003 como uma consultoria tecnológica. Decorridos oito anos de funcionamento como incubadora, a Nanum se transformou em uma empresa apta a produzir materiais nanoestruturados. A empresa de Lagoa Santa conta com 14 funcionários de alta capacitação. A produção anual de cerca de 5 toneladas de compósitos nanoestruturados gera um faturamento anual de R$ 5 milhões.

Para baixar os custos, otimizar processos e produzir nanotubos em escala, os governos estadual e federal firmaram uma parceria para criar o Centro de Tecnologia em Nanotubos de Carbono (CTNanotubos). Assim os pesquisadores da UFMG vão poder estreitar a relação entre a academia e as empresas. Pimenta lembra que o interesse do empresário é saber se o conhecimento gerado nas universidades é viável comercialmente. “Existe um buraco entre a academia e as empresas. A ideia de um centro de tecnologia no Centro Tecnológico de Belo Horizonte (BHTec) é fazer uma ponte entre elas”, esclarece Pimenta.

“Nós sabemos que as empresas que não aderirem à nanotecnologia vão deixar de ser competitivas”

Divulgação/Embrapa

O principal produto da empresa é uma tinta com propriedades magnéticas usada em impressoras de jato de tinta de alto desempenho. Feito com Aliado a esses objetivos, o CTdispersão concentrada de partículas Nanotubos deve desenvolver pesde 50 nanômetros em água, o matequisas sobre a incorporação de rial é usado na impressão de cheques nanotubos com a poliuretana nas e documentos fiscais de segurança. tubulações para a extração de pe“Nós competimos com a tecnologia Marcos Pimenta, professor de Física da UFMG tróleo. A ideia é deixar a tubulação de impressão a laser que, há 40 anos, mais resistente. Outra linha de pesdomina o mercado de impressão quisa a ser trabalhada pelo centro magnética. Temos 1% do mercado, de tecnologia é a de nanotoxicolomas as perspectivas são muito boas. Afinal, exportamos gia. O objetivo é desenvolver protocolos de segurança para toda a produção para quatro continentes”, ressalta o direesse tipo de material poder penetrar na pele ou ser inalado. tor de P&D da Nanum. “Para que as nanoestruturas façam parte da nossa vida, elas devem ser testadas. Temos que nos preocupar com a saúde Mohallem e Pimenta acreditam em uma assimilação humana e os impactos dessa tecnologia no meio ambiente”, cada vez maior do mercado em relação à nanotecnologia. analisa Jorio. “Nós sabemos que as empresas que não aderirem à nanotecnologia vão deixar de ser competitivas”, diz PimenMesmo com esse esforço, os físicos ratificam: é preciso ta, assertivo. O diretor de P&D da Nanum entende que a um maior volume de investimentos para o fomento à pesprocura e a aceitação de produtos nanoestruturados no quisa e à inovação tecnológica. Essa necessidade se acentua Brasil seja baixa devido ao alto custo. Mas essa filosofia quando se compara o Brasil com os países desenvolvidos. se transforma quando os produtos ganham o exterior e Mohallem acredita que somente as linhas de crédito espeprovam ser de alta qualidade e customizados. ciais não teriam levado a Nanum à condição atual. No estado, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) são os principais provedores de recursos para a academia e as empresas.

Divulgação/Embrapa

Terra Preta de Índio: a esperança de recuperação de outros solos 30 | www.voxobjetiva.com.br

Para Mohallem, os desafios para o desenvolvimento do setor vão além de garantias financeiras, editais mais acessíveis e desoneração para empresas que investem em novas tecnologias. “As universidades brasileiras têm um comportamento competitivo com as empresas de alta tecnologia e não cooperativo como existe nos países desenvolvidos”. Jorio concorda em parte. “O grande empecilho é a fraca relação entre a comunidade científica e o setor produtivo. A situação se agrava nos países menos desenvolvidos, devido à falta de infraestrutura para uma produção de conhecimento institucionalizada”, avalia.


artigo

Kênio Pereira

Imobiliário

Alterar a ata é crime O principal motivo de as atas não refletirem o que ocorre na assembleia está na relação informal ou amadora que impera nos condomínios. Essa situação favorece a ação de condôminos mal-intencionados que se aproveitam da boa-fé das pessoas para omitirem declarações ou inserirem informações falsas ou divergentes das discutidas em reunião. A ata de assembleia é um registro exato, metódico e por escrito dos fatos que acabaram de ocorrer. Sua finalidade é documentar as deliberações tomadas pela coletividade. A ata não pode ser redigida posteriormente, pois se tornaria um relatório. A ata deve conter as argumentações relevantes e os nomes dos envolvidos na sessão, do secretário da assembleia e de quem a presidiu. Negar a um participante o registro de suas observações durante a reunião é um absurdo. Afinal, é direito de qualquer condômino ou procurador fazer registrar seus argumentos, sem distorções nem subtração.

quem deseja fazer algo ilegal é que tenta impedir a gravação. Apurada a autoria e a existência do crime, o inquérito será remetido ao promotor de Justiça. A partir daí, é aberta uma ação penal, processando o fraudador e quem mais o ajudou a alterar o conteúdo da ata. É direito do condômino prejudicado na ação ser representado no processo criminal por seu advogado, o assistente de acusação. Qualquer pessoa pode responder pelo crime, desde o síndico até o secretário que redige a ata ou qualquer condômino que venha a participar do ato.

“Negar a um participante o registro de suas observações durante a reunião é um absurdo”

O advogado criminalista Jairo Jordano Catão Júnior faz um alerta: a prática desse tipo de conduta é crime de falsidade ideológica. Isso porque a lei tutela a fé pública. Em caso de crime, é preciso levar o fato ao conhecimento da polícia, que vai pedir a apresentação das provas, sejam elas de natureza documental, testemunhal, sejam pericial. Práticas como a gravação da assembleia em áudio ou vídeo contribuem para uma maior transparência da assembleia e servem como prova documental. Não há lei que proíba esse ato. Pelo contrário: é um direito incontestável dos participantes gravarem a reunião sem nenhum pedido de autorização. Somente

Punir quem frauda uma ata de assembleia tem um efeito pedagógico, pois evita novos conflitos entre os condôminos. A pena do crime previsto no artigo 299 do Código Penal é pesada: entre um e três anos de reclusão e multa. Se o documento for público, a pena pode chegar a cinco anos de reclusão e multa.

As consequências para quem pratica o crime de falsidade ideológica podem ser graves. Por isso, é fundamental redobrar a atenção e combater a fraude nas assembleias. Além de um precioso instrumento de cidadania, o registro fiel dos acontecimentos pode evitar o surgimento de vários problemas e criar no condomínio um ambiente de respeito mútuo e lealdade acima de tudo.

Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br | 31


Petrônio Amaral/ Olegário Savassi

receita

Petit gâteau Chef Patrícia Cavalcanti - Restaurante Santafé

INGREDIENTES

MODO DE PREPARO

200 g de chocolate meio amargo 2 colheres de manteiga sem sal 1/4 de xícara de chá de açúcar 2 colheres de sopa rasas de farinha de trigo 2 ovos inteiros sem a pele da gema 2 gemas

Derreta a manteiga e o chocolate em banho-maria. Bata os ovos e as gemas com açúcar na batedeira até ficar bem claro. Junte a mistura ao chocolate derretido e à farinha de trigo. Mexa tudo com uma espátula até se tornar uma massa homogênea.

Tempo de preparo 30 minutos

Na sequência, unte as forminhas (daquelas de empadinha), passe a farinha de trigo e coloque a massa. Pré-aqueça o forno e leve para assar em fogo alto durante seis a dez minutos, até que os bolinhos cresçam. É importante que o meio fique molinho. Retire do forno e desenforme ainda quente. Leve o bolo diretamente ao prato, acompanhado com sorvete de creme.

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vinhos

Um champagne revolucionário Luiza Martini – Casa do Vinho – Famiglia Martini

Um champagne Rosé de Blancs: essa foi a proposta inovadora da Maison Pierre Gimonnet, mais conhecida por seus deliciosos, frescos e elegantes Premier Cru Blanc de Blancs. Foi buscando manter as características de frescor, pureza e mineralidade dos champagnes brancos que a Maison usou apenas uma pequena parcela (12%) de Pinot Noir (uva tinta) para atingir uma delicada e pálida coloração rosa-salmão, preservando seu corpo, os aromas e a textura. Um verdadeiro Rosé de Blancs! O sabor é tão convincente que está estampado em seu rótulo: Pierre Gimonnet Rosé de Blancs Premier Cru Brut. Essa raridade tem apenas 9.872 garrafas produzidas. O vinho é delicioso como aperitivo ou acompanhando ostras, mariscos e peixes. O Rosé de Blanc é um conceito que não existe no sentido literal. Por isso, trata-se de um produto inédito no mundo inteiro e exclusivo da Pierre Gimonnet. Para entender um pouco melhor, na produção de um champagne, podem ser usadas diferentes misturas de vinhos-base, com diversos estágios de amadurecimento e, muito comumente, diferentes safras. Quando o vinho-base é composto apenas por uvas brancas, é conhecido por Blanc de Blancs. Esse champagne pode ser composto apenas por uvas tintas, porém com vinificação em branco, quando não há contato com as cascas para não pegar cor. Com essa composição, a bebida é chamada

Blanc de Noir. Existem também os que levam na composição uvas brancas e tintas, que são os encontrados no mercado com mais frequência. Percebemos uma demanda crescente de champagnes de alta qualidade que aquece o mercado e o garimpo por produtos especiais. Bebida dos boêmios da Belle Époque, dos czares e das monarquias europeias, quem não associa as delicadas borbulhas às comemorações, ao brinde das conquistas e ao charme da sedução? Mas enganam os que só o associam aos momentos especiais, pois sendo um vinho, é um excelente acompanhamento para vários pratos. Entre as qualidades para uma boa harmonização estão menos álcool, boa acidez, charmosas borbulhas e variedade de estilos, de leves e delicados até ricos e encorpados e de secos a doces. Para os que preferem champagne com estrutura e personalidade marcante, a Maison também inovou e produziu a Pierre Gimonnet Paradoxe Premier Cru Brut 2006, 66% de blend de Pinot Noir e 34% de Chardonnay. Segundo a revista Wine Spectator, é um “vinho de boutique”, por causa da produção de apenas 7.742 garrafas, pontuando-o com 94 pontos esse raro e delicioso néctar. Tem harmonização perfeita para lagostas, caviar, frutos do mar e peixes com consistência ou molhos mais fortes. | 33


femme

Coisas de madame Karina Novy

Expressivas e perfeitas

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Se a ausência de fios for um problema, é possível resolver a questão com produtos que engrossam, fortalecem e ajudam no crescimento do pelo, como o sérum. Esse composto hidrata o cabelo dez vezes mais que do qualquer tipo de creme. Duas opções são o ‘Sérum Fortalecedor de Cílios e Sobrancelhas’, da Mary Kay, e o ‘Eyebrow Lipocils’, da Talika.

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As sobrancelhas são a moldura do olhar. Quando bem feitas, transformam o rosto e conferem uma expressão mais poderosa e bela à mulher. Mas nem todas nascem com pelos arqueados, grossos ou delineados. Para essas mulheres, existem soluções para que as sobrancelhas fiquem lindas e praticamente perfeitas.

Sempre belas E para a manutenção das sobrancelhas? É indispensável ter uma boa pinça em mão, como os modelos da ‘Urban Beauty United’. Elas são de aço e vêm em um kit com quatro modelos de ponta (diagonal, reta, pontuda e combo) que facilitam a remoção dos fios, sem quebrá-los.

Acabamento uniforme Para preencher as falhas e reforçar o contorno das sobrancelhas, é recomendável o uso de corretivos, como a pasta da Contém 1G. O produto está disponível em três tons: claro, médio e médio-escuro. A escolha do tom deve ser feita de acordo com a cor de seus fios. Feito isso, a dica é espalhar o produto com um pincel chato, de cerdas firmes e diagonais. Os modelos 263 e 266 da MAC Cosmetics são um bom exemplo. A Contém 1G tem um produto complementar: trata-se do ‘Duo Perfect’ - um kit em pó com duas cores para preencher o desenho das sobrancelhas. Os lápis também são uma ótima opção para quem delinear ou esconder os buracos entre os pelinhos. É bom usar um lápis macio e de boa pigmentação e depois espalhar o pigmento com um pincel. O ‘Eye Brow Pencil’ tem uma textura suave e de fácil aplicação. O lápis da Artdeco deixa os fios uniformes e com acabamento natural. Para pentear as sobrancelhas, a Artdeco tem o ‘Clear Lash & Brow’, um produto em gel que dá forma e brilho natural aos pelos.

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salutaris

Existe vida saudável no

Rede social se torna instrumento de estímulo a um estilo de vida disciplinado composto por exercícios regulares e boa alimentação Reprodução Instagram

Tati Barros

Rede social criada em 2010 se transforma em ‘arena da boa forma e da saúde’

Reprodução Instagram

Mas, em meio a todo esse excesso, há exceções. Dentre elas, está usar as mídias sociais para divulgar uma mensagem inspiradora que colabore, inclusive, para uma mudança de estilo de vida. Pode soar exagerado, porém, o fato é que algumas mulheres têm usado o Instagram como ferramenta de estímulo ao bem-estar. Por meio da rede social, elas colecionam likes e ganham milhares de fiéis seguidores constantemente.

Os limites da exposição da imagem pessoal nas redes sociais figuram constantemente como tema de debate entre os profissionais da área. É fato que a popularização dos smartphones fez crescer o número de usuários que diariamente compartilham o seu cotidiano em aplicativos, como o Instagram, sem nenhum tipo de filtro. E não se trata daquele toque vintage para deixar a foto mais bela.

Entre essas personalidades estão as musas do fitness, ou melhor, do ‘Instafitness’! São mulheres de corpos esculturais, adeptas de uma vida saudável, que utilizam as redes sociais na internet como um meio de propagar a boa forma física. Nesse espaço, elas dão dicas para quem busca uma rotina mais disciplinada. Em contrapartida, assistem a seus seguidores alimentarem o Instagram com dezenas ou até centenas de fotos de treinos e dietas todos os dias. Mulheres comuns, como a baiana Gabriela Pugliesi e a carioca Carol Buffara, tornaram-se referência na rede e hoje fazem de seus lifestyles uma profissão. Uma das precursoras dessa tendência é a modelo fitness mineira Bella Falconi. A “musa do abdômen trincado”, como é chamada pela mídia, é também nutricionista e personal trainer. Com nada menos do que | 35


Gabriela Pugliesi tem mais de 554 mil seguidores no Instagram

743 mil seguidores no Instagram, a belo-horizontina lembra que tudo começou como uma brincadeira. “Eu usava o aplicativo apenas para editar minhas fotos e tinha, no máximo, 90 seguidores. Mas sempre tive sede de dividir minhas experiências e de mostrar que não é preciso ser atleta profissional para conseguir um corpo bacana”. Ao começar a postar sua mudança de rotina, Bella viu o número de seguidores se multiplicar milhares de vezes. Como consequência, foi convidada para estrelar propagandas e assinar linhas de produtos saudáveis. A modelo acredita que esse sucesso tenha vindo pelo fato de as pessoas se identificarem com a sua decisão de abraçar uma vida mais equilibrada. “Hoje recebo mensagens de pessoas dizendo que sou uma inspiração para elas e que se não fosse pelo meu post, não sairiam da cama para ir à academia”, orgulha-se. Mas tamanha exposição faz com que Bella e tantas outras que falam para um grande público, inevitavelmente, estejam sujeitas às mais variadas formas de crítica. Mas a mineira garante que sabe lidar bem com a situação e jura ignorar os comentários maldosos. “Vivemos em uma sociedade em que os rótulos sobressaem até mais que a própria felicidade. As pessoas deveriam investir o tempo para melhorar a própria vida. Eu já me acostumei com isso. Na verdade, eu nem presto mais atenção nesse tipo de crítica, pois, se o fizer, não vivo”. 36 | www.voxobjetiva.com.br

Inspirada por essa moda, a estudante de nutrição Ana Reis também usa a rede social como um meio de incentivo a uma vida saudável. No Instagram, Ana conta com pouco mais de 12 mil seguidores que acompanham sua rotina pelo perfil @projetovivabonita. “A ideia surgiu depois que eu entrei na faculdade. Durante o curso, uni o interesse pela nutrição a outras coisas que gosto. Sempre me perguntavam como eu tinha emagrecido, o que eu usava no cabelo, o que eu comia,... Por isso, decidi criar o #projetovivabonita e partilhar com mais pessoas meu estilo de vida”, explica. Para a nutricionista esportiva Ana Cristina Ulhôa Rodrigues, o modo de vida saudável compartilhado na rede deve servir de incentivo para que a pessoa busque, com profissionais especializados, a melhor alternativa para si. “É imprescindível que se faça uma consulta nutricional individualizada, presencial e contínua para que o nutricionista possa investigar a real necessidade do paciente. A partir daí, é feito o planejamento alimentar para corrigir os problemas apresentados e estabelecer a meta desejada”, indica. Segundo Ana, a prescrição dietética e de suplementos deve ser personalizada. Afinal, cada organismo reage de forma diferente a determinado tipo de dieta. Bella faz coro com a sua colega nutricionista. Ela acredita que o principal erro que as pessoas cometem Divulgação Sephora

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salutaris

Carol Buffara concilia a vida de empresária com a rotina de blogueira


salutaris

É claro que todo esforço físico deve ter acompanhamento profissional. Caso contrário, os riscos podem ser grandes, como alerta o personal trainer Leandro Moura. “O exercício físico feito de forma inadequada pode causar estiramentos, fraturas, problemas articulares e over trainning, condição causada pelo excesso de exercício. A prática inadequada pode acarretar alterações, como insônia, irritação, ansiedade e desmotivação. Por isso, é imprescindível que o primeiro passo para uma mudança de hábitos seja encontrar um profissional registrado pelo Conselho Regional de Educação Física (Cref)”, ressalta.

Reprodução Instagram

Os perfis dessas fitgirls podem inspirar muitas pessoas. E a estudante Ana Reis tem uma proposta para quem deseja adotar um novo estilo de vida, mas acaba adiando. “Não espere o amanhã ou a próxima segunda-feira para começar. Não protele o que pode ser iniciado agora. Para tornar a experiência mais agradável, não caia na rotina. Invente, experimente treinos e modalidades diferentes. Coloque uma meta e se desafie sempre”.

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seja crer em uma fórmula mágica. “Para ter um físico atlético e um corpo definido, é fundamental ter uma rotina consistente. E isso inclui tudo: dieta, malhação e, até mesmo, a refeição livre. As pessoas que se queixam de não ter resultados certamente não são tão disciplinadas quanto deveriam. Não há resultados sem esforço. Mesmo que demore um pouco, eles sempre aparecem”, aconselha.

Mensagem da Bella “O termômetro do sucesso é a nossa vontade. Muita gente entrega os pontos no início da jornada, pois sabemos que não é fácil. Mas acho que tudo é uma questão de buscar ser realista; é saber que o trânsito não vai melhorar nem o relógio vai andar mais devagar por causa de você; é saber que os resultados demoram, mas que, se você estiver dando o melhor de si, eles virão. Eu consegui vencer depois que passei a trabalhar de acordo com minha realidade e quando parei de culpar o mundo pelas minhas falhas. Busque determinação e tenha força de vontade. A motivação gera resultados, mas é importante saber que os resultados visíveis demoram pelo menos dois meses. Saiba que isso não quer dizer que eles não estejam ocorrendo. Estão sim, porém eles começam de dentro para fora. Seja paciente e estabeleça uma meta. Não adianta começar na segunda e parar na quarta nem treinar sem mudar os hábitos alimentares. É como se a determinação e a força de vontade fossem os combustíveis, e a motivação fosse o fogo. Você precisa da energia para que ocorra a combustão e, em seguida, o fogo. Tenha foco e boa sorte!”

Ana Reis é outra adepta à moda de propagar hábitos saudáveis | 37


artigo

Maria Angélica Falci

Psicologia

O nosso olhar de cada dia Desde a antiguidade clássica, os gregos são conhecidos pelo comportamento vaidoso e pela abertura à diversidade de relacionamentos. Em relação aos estudos da ciência humana, a atitude atípica influenciou socialmente o mundo inteiro. A partir desse comportamento, surgiram termos, como o narcisismo, o eros, a onipotência e a perversão. A cultura – conjunto de modos, hábitos e saberes – interfere em nossa formação desde o nascimento. Ela faz caminharmos sobre uma tábua imaginária a ser preenchida pelas linhas da vida. Ao longo do tempo, observamos mudanças culturais significativas e é fato que elas permeiam nossos relacionamentos. Seria interessante abrirmos a mente e percebermos como olhamos as pessoas.

Se, por um lado, os jovens estão se preocupando cada vez mais com a vaidade e o bem-estar, por outro, grande parte deles tem péssima alimentação e hábitos nocivos à saúde física. De modo geral, eles fixam apenas no superficial: a incoerência entre desejos e atitudes, conforme observou a minha amiga Andréa Lemos. Daí a importância de orientá-los.

“A maioria dos indivíduos se mostra sensível e revela dificuldades para digerir o que escuta”

Por que cada vez mais prevalece o julgamento sobre o outro e a percepção do individualismo? As pessoas precisam se enquadrar em um modelo de perfeição inatingível como se fossem ‘deuses gregos’ na Terra? Em busca de idealizações fantasiosas, esses indivíduos podem agredir o outro com observações grosseiras, falas que machucam ou simplesmente com o olhar.

Uma pessoa fora do dito ‘padrão’ – por ser muito magra ou gorda, alta ou baixa demais – pode ser alvo de bullying. A prática dilacera os sentimentos de indivíduos com estrutura emocional frágil. Há aquelas pessoas fortes e bem-resolvidas, que não se preocupam muito com o olhar nem com o julgamento do outro. Elas têm sua psique bem-trabalhada. No entanto, a maioria dos in38 | www.voxobjetiva.com.br

divíduos se mostra sensível e revela dificuldades para digerir o que escuta e para lidar com o olhar dos outros em relação a eles.

As ‘pessoas superficiais’, as PS, sempre existiram. Mas, nos últimos tempos, a proporção delas na sociedade cresceu assustadoramente. Trata-se de um grupo que se aproxima do outro por seus atributos físicos, como se isso complementasse as limitações da ‘pessoa superficial’ e fizesse dela alguém mais benquista. Por isso, as PSs buscam se relacionar somente com pessoas que façam parte de um setting de beleza e julgam constantemente as imperfeições alheias, fixando o olhar apenas nos atributos externos de um indivíduo.

Muitos vão concordar que pessoas assim precisam organizar melhor seus valores e projetos de vida. Elas necessitam descobrir o que realmente importa. E nada melhor do que ter verdadeiros amigos por perto: pessoas que saibam reconhecer, admirar e respeitar as diferenças. O restante faz parte de hábitos que precisam ser lançados, de preferência, para bem longe!

Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com


KULTUR

Mídia Fora do Eixo

Os protagonistas do samba Arranjos e composições ousadas são ingredientes de artistas da nova e da velha geração responsáveis por dar voz ao carnaval de Beagá Tacila Belas “Reluz! No teu cenário, um belo cartão-postal seduz e nos inspira. És poesia a contemplar. É palco de poder, de luta e decisão. Política da nossa história, orgulho nacional. Hoje é o enredo do meu carnaval”. Os versos de ‘Palácio da Liberdade’ são uma declaração de amor de Nonato do Samba ao gênero que ele carrega no codinome. O ritmo de todas as classes que o cantor logo abraçou é também destaque, ano após ano, no carnaval de rua de Belo Horizonte. Nos dias de folia, a cidade se prepara para uma disputa saudável. Nonato concorre com artistas locais que têm uma coisa em comum: da infância no morro ao posto de protagonistas do carnaval, todos realçam a essência da festa de rua que acontece nos quatro cantos da cidade. Nessa época, os intérpre-

tes colocam em prática o que sabem fazer de melhor: puxar sambas. E, cantando, transformam as ruas da capital em um palco aberto para o gênero mais popular do país. Mas nem só de velhas histórias é feita essa grande festa. Novos talentos têm ganhado destaque nesse cenário. Dentre os protagonistas do ‘carnaval dos mineiros’, Fabinho do Terreiro conta que o samba o acompanha desde a infância. Essa paixão se reflete em letras, como o ‘Samba da Cidade Alerta’, composto com Gilmar do Cavaco. “A inspiração para a música surgiu desse fenômeno que é o Marcelo Rezende. Tudo no programa dele é popular. Ele e o [comentarista] Percival são algumas das figuras mais imitadas da televisão nacional”, garante. | 39


kultur

Divulgação

Há 30 anos à frente da folia em Beagá, Fabinho se derrete ao falar da festa popular. “Eu me sinto lisonjeado e orgulhoso de ver o carnaval desta cidade crescendo e sendo respeitado em todo o Brasil”. Mas nem sempre foi assim. Na lembrança do cavaquinista Evair Rabelo, a folia na capital passou por altos e baixos. Durante a década de 80, o carnaval local chegou a concorrer com o carioca. Mas, com o tempo, esse cenário mudou e a festa quase caiu no esquecimento. “Para a alegria dos foliões, a festa de rua vai retornar para a avenida Afonso Pena neste ano, e a folia vai se espalhar por toda a cidade”, vibra Rabelo.

Uma das razões para a comemoração de Evair está na vontade pública de organizar o evento. “Os burburinhos do carnaval começaram em novembro passado. Isso é novidade. Afinal, a festa sempre era lembrada com, no máximo, um mês de antecedência”, explica. Por amor ao samba, dezenas de artistas locais têm dado grande contribuição para que essa alegria não acabe. E a história de alguns desses protagonistas que espalham a magia do carnaval pela cidade está descrita seguir:

Nonato do Samba Cantor e compositor

Aos 17 anos, o mineiro predestinado à música dava início a sua carreira no Raízes do Samba. Quando estava no Samba & Cia, Nonato levou ao Japão e à Coreia do Sul o batuque de ‘Programa Legal’, CD produzido por Milton Manhães e Mauro Diniz. Na volta ao Brasil, Nonato lançou o primeiro disco solo: ‘Momento Mágico’, trabalho bem recebido pela crítica e pelo público. Outros sucessos foram as músicas preparadas para o concurso de sambas-enredo da Mangueira, no Rio de Janeiro. Com essas canções, Nonato conquistou o segundo lugar em 2004 e o quinto em 2005. O sambista alterna shows pelo país com a produção do seu segundo CD solo, ‘Verdadeiro Brasileiro’. Em 2014, Nonato compôs o samba-enredo da Escola de Samba Imperavi de Ouro, da qual é intérprete. Seu desejo de folião? “Ver o carnaval de Beagá voltar a ser o segundo melhor do Brasil”, confessa.

Pirulito da Vila

A infância de Gilmar Steferson de Jesus, o Pirulito da Vila, foi cheia de suingue. Ele se tornou ritmista muito cedo. Começou na extinta Escola de Samba Em Cima da Hora. Depois o percussionista natural de Itabirito passeou por diferentes grupos e ritmos, antes de integrar o grupo Cachaça com Arnica. Autor de ‘Mercearia Paraopeba’ e ‘Samba dentro de mim’, Pirulito participou do programa ‘Terra de Minas’, da Rede Globo, com ‘Sou Minas Gerais’, samba de própria autoria. O itabiritense viu sua música ‘Convite para sambar’ dar nome a um CD do carioca Marquinho Sathan. Versátil, o cantor também participa do musical ‘Samba, amor e malandragem’, dirigido pelo mineiro Kalluh Araújo. Neste ano, compôs o samba-enredo da Escola de Samba Canto da Alvorada, a atual campeã do carnaval de Beagá.

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Gilson Martins

Cantor, compositor e percussionista


kultur

Gustavo Matos

Serginho Beagá

Compositor, intérprete, arranjador e instrumentista Serginho começou a tocar aos 6 anos de idade. Ele fez parte do grupo KiSamba Show por 12 anos. Tocou com Neguinho da Beija-Flor e teve sua canção ‘O dom que Deus deu’ gravada nacionalmente. Serginho morou no Rio, mas foi em Beagá que ele venceu seu primeiro concurso de samba -enredo, em 1983. O tema foi ‘A festança das Gerais’, música da Escola de Samba Cidade Jardim em parceria com Toninho Geraes. De lá para cá, Serginho compôs para escolas, como a Canto da Alvorada e a Bem-te-Vi, além de blocos caricatos, como o Partido Alto e o Corsário do Samba. Ganhou o ‘Tamborim de Ouro’ e mostrou o batuque de Minas por todo o Brasil e o Japão. Neste ano, Serginho compôs a música oficial da festa, ‘Todo canto da cidade’, e o samba-enredo da Cidade Jardim. Organizador do CD de sambas-enredo do carnaval da cidade, Serginho acredita em uma folia grandiosa para este ano. “Beagá vai estar em festa em todas as regiões”.

Carolina Rossi

Ricardo Barrão Cantor e compositor

Barrão, como é mais conhecido, tornou-se uma referência no samba da capital. Puxador e compositor da Escola de Samba Canto da Alvorada, o mineiro viu seus enredos vencerem os carnavais belo-horizontinos por sete anos consecutivos. Um dos fundadores do grupo Capricho, Ricardo teve músicas gravadas por nomes como Agepê e Neguinho da Beija-Flor. Recentemente ele viu uma de suas canções, ‘Voltando pra casa’, interpretada e gravada por Almirzinho, filho de Almir Guineto, ex-Fundo de Quintal. Seu último trabalho autoral, o CD ‘História que Dá Samba’, eterniza a capital dos mineiros em versos e canções de pura poesia. Ricardo Barrão é compositor e intérprete oficial da Escola de Samba Canto da Alvorada.

Josi Costa

Cabral

Cantor e compositor Natural de Gravatá, em Pernambuco, Cabral foi criado na Zona Norte carioca. Aos 16 anos, ele já vencia um festival de música no Iraque. Cabral faz samba na capital mineira há 22 anos. Ele foi eleito destaque do samba pela Liga dos Sambistas de Belo Horizonte em 2007, 2008, 2010 e 2011. Em 2010, Cabral foi classificado para o ‘Projeto Vozes do Morro’. Ao lado de Fabinho do Terreiro, Cabral fundou o projeto Clube do Samba, essencial para que sambistas e compositores da periferia da cidade divulgassem a sua arte. Com três CDs independentes no currículo e um em produção, ‘O samba é Assim’, ele ostenta a honra de cinco composições próprias terem sido defendidas pela Escola de Samba Unidos dos Guaranis, da Pedreira Prado Lopes. Neste ano, Cabral compôs os sambas-enredo dos blocos Sagrada Folia e No Alto, No Beco, Na Bica. Para o músico, os blocos recém-criados na cidade vão dar o que falar. “A tendência é que eles se tornem as novas escolas de samba de Beagá”, projeta. | 41


Divulgação/Vozes do Morro

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Fabinho do Terreiro

Cantor, compositor e puxador de samba Fábio Lucio Maciel, o Fabinho do Terreiro, iniciou a carreira aos 18 anos de idade, cantando e tocando cavaquinho no grupo Terreiro Samba Show. Nascido em Belo Horizonte, Fabinho domina como poucos a arte do improviso. Defensor do samba e um dos artistas mais respeitados da cidade, o músico teve canções suas gravadas por Leci Brandão, Neguinho da BeijaFlor e Almir Guineto. Tornou-se conhecido ao cantar com Agepê a música ‘Sentimento Verdadeiro’, de sua autoria com Ricardo Barrão, e ao emplacar ‘Desacerto’. A canção foi composta em parceria com Toninho Gerais e Randley Carioca, e está no disco ‘Vida da minha vida’, de Zeca Pagodinho. O sambista tem um CD e um DVD acústico gravados. O músico divide com Graveto, Serginho Beagá, Domingos do Cavaco e Vander Lee o samba-enredo da Cidade Jardim.

Evair Rabelo

Foi ainda menino que Evair começou sua vida no samba. Aos 6 anos de idade, ele já estava nas fileiras do Bloco Fio de Ouro e na ala-mirim da Escola de Samba Vai Vai, de São Paulo. De volta a Beagá, aos 15 anos, aprendeu violão e cavaco, sua verdadeira paixão. Evair fundou o grupo ‘Samba & Cia’ e iniciou uma carreira de canções gravadas por artistas locais e nacionais, como Leci Brandão. Ele já compôs e venceu concursos de sambas-enredo em Belo Horizonte, Nova Lima e até no Mato Grosso. No CD próprio ‘Sou de Samba’, ele dividiu faixas com Arlindo Cruz e Noca da Portela. Atualmente está coproduzindo o CD ‘Coletânea Sambas e Pagodes – Volume 01’, com a participação de 12 grupos mineiros e 12 padrinhos convidados. Para Rabelo, a prefeitura acerta ao descentralizar a festa. “Teremos vários grupos e artistas distribuídos pela capital neste ano. Todos estarão divulgando a sua arte”.

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Cantor, compositor, cavaquinista e banjoísta


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Reprodução

Fora do

eixo

Aos poucos, a produção cinematográfica brasileira se desvincula dos grandes centros e projeta os vários brasis existentes André Martins

Uma enxurrada de comédias nacionais invadiu as salas de cinema brasileiras em 2013. Grande parte é de humor quase nada sutil. Mas todas foram sucesso de público por reunirem fatores que vão desde o poderio das produtoras envolvidas até o elenco de rostos familiares aos brasileiros. Mesmo assim houve um impressionante resultado. Os números e as cifras milionárias superaram as expectativas. Mas o que acabou surpreendendo mesmo foi um suspense nordestino. O filme foi elogiado pela crítica especializada e venceu importantes prêmios no Brasil e fora do país. O filme ‘O Som ao Redor’ chegou a ser cultuado no exterior, a despeito de ser pouco conhecido no Brasil. A produção pernambucana chegou timidamente e foi escolhida pelo Ministério da Cultura para disputar uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar. O trabalho concorreu com 127 longas inseridos no circuito comercial do país, em 2013. Mas acabou ficando de fora da briga por aquela que seria a primeira estatueta dourada do Brasil. Mesmo sem atingir o objetivo final, o longa fez história. Obra independente e originária da ‘periferia’ do Brasil, ‘O Som ao Redor’ marcou território num cenário com grandes e lucrativos filmes rodados nos maiores centros econômicos brasileiros.

Pré-indicado ao Oscar, ‘O Som ao Redor’ confirma a tendência à descentralização do cinema no Brasil

Mas nem essa projeção internacional fez do filme assinado por Kleber Mendonça um dos 20 mais rentáveis do país em 2013. À pequena obra pernambucana coube um público de pouco mais de 62 mil apreciadores. O número é bem aquém do maior sucesso de bilheteria do cinema brasileiro no ano passado: ‘Minha Mãe é uma Peça’, com 4,6 milhões de espectadores. Com exceção do cearense ‘Cine Holliúdy’, os 20 filmes mais vistos da lista elaborada pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) foram produzidos no eixo Rio - São Paulo. O fato sugere uma expressiva concentração da produção e do consumo cinematográfico. De acordo com Daniela Pfeiffer, esse é um fenômeno que dialoga com a história geral do país. “Muitas vezes, essa concentração é considerada um processo ‘natural’. Essa condição reflete a realidade de uma economia também concentrada e a histórica e expressiva desigualdade social existente no Brasil”, esclarece a professora da pós-graduação em ‘Produção Audiovisual: Projeto e Negócio’, do Senac de São Paulo.

O cenário que parecia consolidado agora sofre um tímido, mas benfazejo revés. O avanço tecnológico, o barateamento dos equipamentos de filmagem e as facilidades na disponibilização de conteúdo por meio de | 43


diversas mídias fizeram a produção nacional explodir. Com ela, a pluralidade cultural brasileira ganhou destaque, como defendem Daniela e a organizadora da Mostra de Cinema de Tiradentes, Raquel Hallak. “A indústria está concentrada no Rio e em São Paulo, mas a produção tem sido feita em vários estados. Temos percebido a modificação dos processos produtivos a cada evento voltado ao cinema. Uma produção totalmente independente tem nascido. São projetos bancados com dinheiro próprio, feitos de forma mais autoral: ao acaso, ao improviso e com a colaboração de amigos. O processo para adquirir recursos por meio do governo é tão desgastante que as pessoas não estão esperando”, avalia Raquel. Reconhecida por dialogar com diferentes públicos, homenagear talentos consolidados e ser um ‘trampolim’ para cineastas iniciantes, a Mostra de Cinema de Tiradentes reforçou a diversidade em sua 17ª edição. Entre longas e curtas-metragens, 126 produções representaram 16 estados. Em relação ao ano passado, diminuiu o número de filmes do eixo Rio - São Paulo e aumentou consideravelmente a quantidade de obras de Minas Gerais, Paraná, Pernambuco e Paraíba. Da seleção, 71 obras foram produzidas fora do grande eixo.

Nereu Jr/Universo Produções

Em 2012, uma produção paulista levou o prêmio máximo da Mostra de Tiradentes. Na edição de 2013, o melhor filme foi o mineiro ‘A Vizinhança do Tigre’, de Affonso Uchoa. Além de oficinas e shows, a Mostra trouxe pro-

Para Raquel Hallak, organizadora da Mostra de Cinema de Tiradentes, tem nascido no Brasil um cinema cada vez mais independente 44 | www.voxobjetiva.com.br

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fissionais estrangeiros do audiovisual para apresentar possíveis soluções às produções independentes. O objetivo é que essas obras tenham proeminência no exterior e, quem sabe?, consigam atrair a atenção do próprio país. Uma norueguesa, uma francesa e dois alemães apresentaram alternativas de financiamento de projetos por agentes internacionais. Paralelamente o governo trabalha para estimular e destinar recursos de forma descentralizada para uma produção cinematográfica mais plural no Brasil. “As políticas públicas de incentivo estão se aperfeiçoando. Elas vêm estimulando o desenvolvimento das produções regionais. As regras recentemente criadas estabelecem que ao menos 30% dos recursos previstos sejam destinados às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Além disso, as linhas do Fundo Setorial lançadas entre 2013 e 2014 instituíram indutores de regionalização. Essa política de descentralização ocorre especialmente na pontuação e em cotas para a seleção de projetos fora do eixo Rio - São Paulo”, explica Daniela.

Órgãos estaduais de cultura de alguns estados brasileiros também têm demonstrado proatividade no fortalecimento do cinema regional. Pernambuco é um exemplo emblemático. O estado nordestino marca presença com obras bem-sucedidas e com a mesma qualidade e discrição de ‘O Som ao Redor’. ‘Cinemas, Aspirinas e Urubus’, ‘Baixio das Bestas’ e o recente ‘Tatuagem’ fazem parte dessa lista. Esses filmes são frutos colhidos após o governo estadual criar e conceder, desde 2003, um fundo de incentivo de R$ 12 milhões anuais aos cineastas pernambucanos. A iniciativa faz parte do Fundo


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de levar os filmes independentes e mais autorais para as salas de cinema continua sendo um desafio para os produtores independentes do Brasil. Para um filme considerado pequeno ser exibido em salas dos ‘cinemas de arte’ das capitais, é preciso percorrer uma via-crúcis e transpor as inúmeras barreiras de mercado. E quase sempre o interesse pelos filmes não compensa o desgaste com tanta burocracia. “A produção cinematográfica enfrenta um gargalo de distribuição que dificulta a chegada dos filmes aos estados onde a produção é mais dinâmica. Sem a opção de acessar esse conteúdo, o modelo hegemônico de criação e de consumo cinematográfico é reforçado pelo menos nos grandes centros. Mas a corrente hegemônica se rompe quando filmes produzidos regionalmente conseguem chegar ao grande público e conquistá-lo”, detalha Daniela, também Gerente de Negócios Audiovisuais na Animus Consultoria e Gestão.

Diretora do longa ‘Amor, Plástico e Barulho’, Renata Pinheiro está entre os cineastas beneficiados pelo apoio do governo pernambucano. Ela é sócia da Aroma Filmes, produtora de cinema de Recife que mantém produção intensa desde a sua criação, em 2005. “O Funcultura é interessante por contemplar a obra por fases. Se você for escolhido para a fase de produção e fizer tudo direitinho, você recebe a verba para finalizar o projeto. Isso dá segurança ao profissional e à produtora. Quando concede o incentivo, o governo de Pernambuco percebe que o estado ganha projeção lá fora. E projetar Pernambuco é projetar o Brasil e a nossa cultura”, enaltece.

Diretora do longa ‘Amor, Plástico e Barulho’ (à esq.), Raquel Pinheiro teve seu filme produzido com ajuda de um fundo de incentivo à cultura Alexandre Mota

Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura) e não condiciona o repasse à garantia de bons resultados nas bilheterias.

‘Amor, Plástico e Barulho’ foi o primeiro longa de Renata apresentado na Mostra de Cinema de Tiradentes. O filme acompanha duas personagens e suas expectativas e frustrações diante do sucesso. A recepção a esse trabalho foi acalorada. A produção acumula seis prêmios no Brasil e passou pelo Festival de Brasília e pela Mostra Internacional de São Paulo. Depois desse desempenho, a equipe pensa em lançar o longa comercialmente no mês de agosto. “O filme tem um apelo popular forte. Fala sobre o que é ser brasileiro, em sonhar com um lugar ao sol e querer ser um artista. O filme tem o necessário para emplacar uma trajetória legal nos cinemas”, acredita a diretora.

Se por um lado há boas perspectivas para a pulverização da produção cinematográfica, por outro, a forma | 45


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Eny Miranda

Terra Brasilis • agenda

Mart’nália

Zaz

Flávio Venturini

O carnaval de Beagá não tem só escolas de samba ou blocos caricatos e de rua. Tem artistas locais e ‘forasteiros’, como um dos mais conhecidos nomes da família Ferreira. Filha do ‘herdeiro’ de Noel Rosa e do samba de Vila Isabel, Mart’nália encerra a última noite de folia na capital mineira. Com muito suingue e atitude no palco, a cantora promete trazer aos belo-horizontinos toda a musicalidade que a fez ser admirada por expoentes da música nacional, como Caetano Veloso e Djavan. A carioca se apresenta três dias depois do pai, Martinho da Vila.

Ela se chama Isabelle Geoffroy, mas seu codinome bem que poderia ser ‘Talento’. Apontada pela Radio France Internacionale (RFI) como uma das promessas da nouvelle chanson, Zaz chega ao Brasil para a primeira turnê no país. Aos 33 anos, essa francesa de interpretações suaves e voz grave faz da mistura da canção popular, como o jazz e o pop, sua identidade vocal. Após condenar a sociedade de consumo logo em seu primeiro CD, ‘Recto Verso’, Zaz vai mostrar aos mineiros por que continua causando tanta polêmica e encanto.

Depois de lançar na Bahia o seu último disco, o homônimo ‘Venturini’, o ex-integrante do ’14 Bis’ volta a Belo Horizonte para mais um grande espetáculo. No palco do ‘Grande Palácio dos mineiros’, Flávio vai revisitar sucessos, como ‘Todo Azul do Mar’, além de promover releituras de clássicos, como ‘Leãozinho’, de Caetano, e ‘Hino ao Amor’, de Édith Piaf e Marguerite Monnot. As influências do Clube da Esquina e do rock rural também vão estar presentes em canções inéditas, como ‘Sol interior’ e ‘Um dia de verão’.

Praça da Savassi 4 de março, a partir das 16h Entrada gratuita belotur.com.br

Sesc Palladium 17 de março, às 21h De R$ 20 a R$ 80 sescmg.com.br

Palácio das Artes 29 de março, às 21h De R$ 60 a R$ 80 fcs.mg.gov.br

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Os cabelos lisos com franja e a fidelidade vocal e cenográfica jogam a favor da melhor banda cover dos Beatles na América Latina. Com arranjos originais, os ‘beatlemaníacos’ percorrem a trajetória do quarteto de Liverpool ao dar voz a 60 sucessos do grupo. Mais do que isso: as histórias e semelhanças de Sandro Peretto (John Lennon), César Kiles (Paul McCartney), Thomas Arques (George Harrison), Renato Almeida (Ringo Starr) e Anselmo Ubiratan (George Martin) com seus ídolos fazem de cada um deles um tributo muito além dos palcos.

All You Need Is Love 46 | www.voxobjetiva.com.br

Chevrolet Hall 28 de março, às 22h De R$ 60 a R$ 80 chevrolethall.com.br


Terra Brasilis • agenda

Leo Aversa

Guga Melgar

Emilinha e Marlene – As rainhas do rádio Em cena, as dificuldades, os sucessos e a vida pessoal de duas das maiores rivais da era do rádio no Brasil. De um lado, a eclética Marlene, um ‘furacão musical’ e crítica mordaz da sociedade e da política da época. Do outro, Emilinha Borba, com seu estilo brejeiro que encantou um país sintonizado na Rádio Nacional. E frente a frente, duas irmãs, cada qual fã incondicional de uma dessas grandes intérpretes, que mobilizaram torcidas e travaram durante anos a fio um verdadeiro ‘Fla-Flu’ pelo posto de ‘Rainha do Rádio’.

Leo Aversa

Palácio das Artes 15 de março, às 20h30, e 16 de março, às 19h De R$ 50 a R$ 120 fcs.mg.gov.br

Incêndios Sesc Palladium 27 e 28 de março, às 21h, e 29 de março, às 20h De R$ 50 a R$ 75 sescmg.com.br

Um brilhante texto pede uma protagonista à altura. Isso acontece na adaptação de ‘Incêndios’, do libanês Wajdi Mouawad, estrelada no Brasil por Marieta Severo. A atriz dá vida a Nawal, uma mulher que se refugia da guerra civil árabe no Ocidente e lá passa seus últimos anos. Ao morrer, ela deixa em testamento uma difícil missão para o casal de filhos gêmeos: encontrar o pai e um irmão perdidos no Oriente. Com direção de Aderbal Freire Filho, a montagem promete mostrar toda a poesia que emerge do desumano contexto das guerras.

Fonchito e a lua Essa seria mais uma história de amor se, por trás dela, não estivesse o escritor peruano Mario Vargas Llosa, vencedor do prêmio Nobel de Literatura. A adaptação Guga Melgar do conto ‘Fonchito e a lua’ traz a tentativa de um homem entregar a lua a sua amada. Temas como a liberdade, a cultura latina, sobretudo a peruana, e a busca por tornar possível o ‘impossível’ também circundam a obra. A peça tem a direção de Daniel Herz e trabalhos artísticos do estilista mineiro Ronaldo Fraga. Teatro Klaus Vianna (Oi Futuro) 22 e 23 de março, às 16h R$ 15 oifuturo.org.br

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Terra Brasilis • literária

Hiperconexões: realidade expandida Autor: Luiz Bras Editora: Terracota Páginas: 96 Preço: R$ 25

Reprodução

Da insana tentativa de tatear o amanhã nasceram versos provocativos sobre o pós-humano. A respeito de um território em mutação, transformado pela tecnologia, surgiu a primeira antologia brasileira para indagar o futuro do homem. Em ‘Hiperconexões: realidade expandida’, a robótica, a nanotecnologia, os clones e os avatares são temas que saltam das páginas científicas para a literatura, onde são reunidos em forma de versos pelo ‘aglutinador de sinapses’ Luiz Bras. Também autor da obra, Bras foi assim chamado pelo mineiro Fabrício Marques, mais um dentre o time de 31 escritores composto por Ademir Assunção, Elisa Andrade Buzzo e Fausto Fawcett.

Entre as quatro linhas: contos sobre futebol Autor: Luiz Ruffato Editora: DSOP Editora Páginas: 192 Preço: R$ 29,90

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A paixão pela bola fez o escritor Luiz Ruffato fintar as convenções ao escalar literatura e futebol na mesma equipe. O mineiro é o organizador de ‘Entre as quatro linhas: contos sobre futebol’, uma coletânea com 15 craques, como Cristóvão Tezza, Eliane Brum e Fernando Bonassi. A tática de Ruffato é suprir uma lacuna na literatura nacional. “Os personagens da nossa prosa de ficção, de maneira geral, transitam num nível da sociedade em que o futebol é ignorado como manifestação coletiva”, observa. A próxima empreitada do mineiro é o livro ‘Flores artificiais’, que tem previsão de lançamento para o primeiro semestre deste ano.

A emparedada da Rua Nova Autor: Carneiro Vilela Editora: Cepe Páginas: 518 Preço: R$ 45

Reprodução

48 | www.voxobjetiva.com.br

Mais vendido

Quem assistiu à minissérie ‘Amores Roubados’ deve ter percebido alguma semelhança entre as obras. Pudera! ‘A emparedada da Rua Nova’ serviu de texto-base para a adaptação de José Luiz Villamarim para a TV. Na história original, uma moça indefesa é emparedada viva pelo próprio pai ‘em defesa da honra da família’. A vítima, a jovem burguesa Clotilde, morre solteira e grávida, junto de seu amante, o sedutor Leandro. Até hoje não se sabe se o folhetim publicado entre a primeira e a segunda década do século XX era ou não real. Por causa da minissérie, a obra de Vilela se tornou uma das mais procuradas no país, em 2014.


Terra Brasilis • cinema

Paulina García esbanja sensualidade e humor como Glória: uma sexagenária infeliz no amor, mas que não perde o desejo de viver

Reprodução

um vestido, um sapato de salto e sai para se divertir. Diante do reflexo de luzes multicoloridas e ao som de música alta, ela bebe, fuma e flerta com homens maduros em bailes da terceira idade. Essa rotina, às vezes enfastiante, sofre um revés: Glória se apaixona por Rodolfo, um ex-oficial da Marinha chilena e empresário do ramo do entretenimento. O idoso de 65 anos é o arrimo da família. Ele mantém as filhas adultas e até a ex-mulher.

Altos e baixos

Sucesso na Europa, filme chileno propõe imersão no mundo de uma quase sexagenária em busca de emoções André Martins

Glória é uma mulher de 58 anos que vive sozinha em um pequeno e aconchegante apartamento em Santiago do Chile. Separada há 13 anos e sem filhos por perto, ela preenche a semana com o trabalho e as aulas de ioga e de terapia do riso. Em algumas noites, Glória faz um ritual de beleza: ela se maquia, escolhe

Os desencontros amorosos da heroína fazem o divertido e, por vezes, trágico ‘Glória’. De forma sensível, e nunca piegas, o quinto longa-metragem do diretor chileno Sebastián Lelio discute direitos que por muitos não são entendidos como ‘adequados’ ou permitidos à terceira idade: o amor e o sexo. Com as típicas contradições e os favores, o amor é retratado de forma que o público, independentemente de idade, enxergue na história pontos de similaridade com a vida comum. Em relação ao sexo, há a descoberta dos corpos tornados imperfeitos pelo tempo, assim como o resgate de uma sensualidade e de um erotismo peculiares. Uma observação: ‘Glória’ talvez não teria sido o mesmo, não fosse a presença da atriz Paulina García. Vencedora do Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim, a chilena entrega um trabalho discreto e minucioso. No caminho de sua personagem por descobertas, Paulina demonstra um grande apuro, não permitindo que a atuação da protagonista pareça tola e inconsequente. Charmosa, sexy e engraçada, Glória é uma quase sexagenária dona de um desejo legítimo: celebrar a vida e vivê-la como deve ser vivida. Ainda que de forma bem sutil, ‘Glória’ não se mostra indiferente ao contexto político-econômico do país. O longa-metragem retrata o rápido processo de crescimento do Chile. Esse fator é responsável por uma série de problemas sociais que permanecem como uma penumbra deixada pela era Pinochet. Na Alemanha, alguns críticos chegaram a relacionar a vontade de Glória de reconstruir a própria vida com o anseio de uma nação de superar o passado. Depois de ser elogiado em festivais, como Berlim, na Alemanha, e Locarno, na Suíça, ‘Glória’ chega aos cinemas brasileiros. É mais uma oportunidade para apreciar o cada vez mais sólido cinema chileno que, no ano passado, conquistou projeção mundial com o político ‘No’, de Pablo Larraín.

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crönica

Joanita Gontijo

Comportamento

O último pé da mesa Eles são fiéis, adoráveis, sedutores e... levados! Muito levados! Estou falando dos cães. Há quatro meses, entrei para o grupo das pessoas corajosas que criam cachorro em apartamento. A escolha da raça não teve nada a ver com a fama recente do simpático animalzinho usado em testes de laboratório. Não fazíamos questão de uma celebridade. Queríamos apenas um cão para amar e ser amado. Sites específicos alertaram. Donos de beagles confirmaram: é enorme a capacidade destrutiva desse cachorro. Ele chegou bem pequeno, com pouco mais de um mês de vida. Já nas primeiras horas, descobriu os pés da mesa de jantar, da escrivaninha, do sofá da sala. Os fabricantes de ração ganhariam muito mais dinheiro se criassem uma comida sabor madeira. Não tenho dúvidas: é o gosto preferido de cem por cento dos filhotes. Como parar um ser tão lindo, com aparência frágil e que te enche de lambidas mesmo depois das broncas? Foi tão difícil convencer o simpático “Loki” a não destruir minha casa, que, no final do quarto mês, contratei um adestrador.

Já tentei fazer diferente. E vocês sabem qual foi o resultado? Oh culpa! Sempre a me perseguir... Não consigo ser feliz na piscina do clube sabendo que poderia ter trabalhado para um colega que pediu a troca do plantão. Nem presto atenção ao filme que escolhi a contragosto do meu companheiro. Eu me seguro para não ceder à pressão do filho que implora para jogar videogame na segunda-feira à noite.

“Mas aprendi uma lição educando meu cachorro: dizer “não” é fundamental em qualquer relação”

A primeira visita foi como se aquele homem usasse poderes sobrenaturais. O tom da voz e o toque no focinho sinalizando o erro eram compreendidos e obedecidos como mágica. Ele, sim, sabia dizer “não”. Eu, na verdade, nunca soube. Nem para cachorros, nem para amigos, amores, parentes nem colegas de trabalho. A minha primeira resposta, que sai quase automaticamente, é: “sim, claro.” Mas nem sempre ela é verdadeira. Em muitas situações, abro mão do meu tempo de descanso, das minhas 50 | www.voxobjetiva.com.br

preferências, quiçá da minha dignidade, e acato o pedido ou a sugestão do outro.

Não torçam o nariz nem me olhem com piedade. Duvido que eu seja um exemplar raro dessa espécie sem talento para colocar limites. Isso não é mesmo tarefa fácil. Mas aprendi uma lição educando meu cachorro: dizer “não” é fundamental em qualquer relação e se abster dessa tarefa faz mal para todos os envolvidos. Você ocupa a lamentável posição de vítima e é cercado por déspotas camuflados de amáveis filhos, maridos, amigos e chefes.

Se eles andam ultrapassando a linha da sua tolerância, levante o braço. Não precisa bater, mas faça um sinal de “basta” e use um tom firme para mostrar seu argumento. Loki já comeu os três pés da mesa, mas não vou deixar o móvel desmoronar. Resta ainda um último pilar. E ele é o meu limite! Qual é o seu?

Joanita Gontijo Jornalista e coautora da facenovela Do Rivotril ao Redbull joanitagontijo@yahoo.com.br


Editoria no

USE SEU ESGOTO CORRETAMENTE.

Pequenas atitudes geram mais saúde, desenvolvimento e bem-estar para sua cidade. Você sabia que a maneira como você utiliza o esgoto na sua casa pode melhorar muito a vida em sua cidade? Isso mesmo. Quando você descarta corretamente seu lixo, está contribuindo para despoluição de rios, diminuição de doenças infectocontagiosas e para aumentar o desenvolvimento social. Fique de bem com a vida e com você mesmo. Siga estas dicas e construa uma cidade ainda melhor.

ÁGUA DE CHUVA E ESGOTO NÃO SE MISTURAM.

As tubulações de esgoto não estão preparadas para um grande volume de água. Faça a ligação da água de chuva na rede pluvial.

O QUE NÃO PODE SER JOGADO NO ESGOTO E, SIM, NO LIXO:

- resto de alimentos - fio dental - cotonete - absorvente íntimo - camisinha - cabelos - tintas

- metais pesados - gordura de cozinha - óleos e graxas - filtros de cigarro - plásticos em geral - chicletes

O QUE PODE SER JOGADO NO ESGOTO:

- urina - fezes - água com sabão - água com creme dental

- papel higiênico biodegradável - água com detergente biodegradável

www.copasa.com.br | 51


Editoria no

BRT MOVE. ESTÁ NA HORA DE VOCÊ CONHECER O NOVO SISTEMA DE TRANSPORTE COLETIVO DE BH.

VENDA NOVA

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VILARINHO

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LAGOA DA PAMPULHA NORTE

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ANTÔNIO CARLOS / PEDRO I

AEROPORTO DA PAMPULHA

UFMG

SÃO GABRIEL NORDESTE

CORREDOR

CRIS TIANO MACHADO

ESTAÇÃO DE METRÔ ESTAÇÃO DE INTEGRAÇÃO ESTAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA L AGOINHA C

BRT MOVE ÁREA CENTRAL

AV. PARANÁ E AV. SANTOS DUMONT

B A

LESTE

D E F

O QUE É? O BRT MOVE é um sistema de transporte coletivo parecido com o metrô, com estações de embarque no mesmo nível do ônibus. Os ônibus circulam em vias exclusivas. São maiores, mais rápidos e mais modernos, com ar-condicionado, sistema de segurança, som e alarme. As estações são cobertas, possuem câmeras de vigilância e têm painéis eletrônicos informando quando sua linha vai passar.

POR ONDE VAI PASSAR?

USAR É FÁCIL.

O BRT MOVE vai circular por 2 corredores: Antônio Carlos/Pedro I e Cristiano Machado. E vai chegar à Área Central, passando na Região Hospitalar, Savassi e outros pontos da cidade.

Se você estiver no seu bairro, é só pegar uma linha alimentadora, que leva você até a estação de integração. Você também pode pegar seu ônibus nas estações de transferência, que cam ao longo dos corredores e na Área Central.

COMO PAGAR? Para embarcar, você só precisa do seu cartão BHBUS ou de um cartão unitário, que são vendidos nas bilheterias das estações ou nos quiosques da Área Central.

QUANDO COMEÇA A FUNCIONAR? Como é um sistema novo, a implantação está sendo feita em etapas, linha a linha, e com muito cuidado. A primeira etapa começa agora, com o início da operação do corredor Cristiano Machado. Na segunda etapa, entra em operação a Estação Pampulha, no corredor Antônio Carlos/Pedro I. E na última etapa começam a circular os ônibus MOVE nas estações Vilarinho e Venda Nova.

O BRT MOVE É SÓ O COMEÇO DA SOLUÇÃO DO NOSSO TRANSPORTE COLETIVO. VEM AÍ A AMPLIAÇÃO DO METRÔ E OUTRAS AÇÕES QUE VÃO MANTER BH NO CAMINHO CERTO PARA SER A MELHOR CIDADE DO BRASIL. ACESSE WWW.BRTMOVE.PBH.GOV.BR E SAIBA MAIS. OBRAS EM PARCERIA COM OS GOVERNOS 52 | www.voxobjetiva.com.br ESTADUAL E FEDERAL.

NÃO PARA DE TRABALHAR POR VOCÊ.


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