Novembro/14 • Edição 65 • Ano VII • Distribuição gratuita
TÁ BRINCANDO A rotina de quem ganha a vida com os games
COSTURA DO AVESSO
PSDB e aliados estudam melhor forma de se opor ao governo. Minas Gerais e Belo Horizonte são peças centrais para as ambições tucanas em 2018
PROVA DE FOGO – PRODUZIR CINEMA DE ANIMAÇÃO NO BRASIL É COISA DE ARTISTA
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Rua Brumadinho, 210 Prado - Belo Horizonte/MG 3040-8283
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Jackson Romaneli
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Arquivo pessoal
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Marcelo Camargo
SUMÁRIO
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Miriane Barbosa
Divulgação
reprodução
VERBO
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APOLO HERINGER-LISBOA Para o ambientalista, crise da água reflete política voltada para a produção energética e para a falta de agendas ambientais
SALUTARIS
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CAPA
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ESTUDO DE CASO Após derrota nas urnas, oposição se articula para o embate com a presidente. Em Minas, PSDB projeta um futuro de reconquistas
NA PONTA DO PÉ Dançaterapia busca reencontro do praticante consigo e o fortalecimento físico e emocional
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Crescimento do Islamismo no Brasil chama a atenção para a religião que mais ganha adeptos no mundo
HORIZONTES
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SALUTARIS
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SAGRADO
CHARME & SABOR Bordeaux, na França, reserva mais que o encontro com os melhores vinhos do mundo; castelos centenários preservam tradições e histórias
PODIUM
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O VÔLEI DE MINAS As pretensões de Sada Cruzeiro e Minas na temporada 2014-2015
Orlando Bento
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VANGUARDA
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‘VIDA DIFÍCIL’
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Eles são jovens e ganham a vida ‘brincando’. Conheça a rotina de um craque dos games
KULTUR
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CONTRASSENSO Minoria das obras cinematográficas feitas no Brasil, animações requerem investimentos, mesmo com a grande popularidade entre crianças e adultos
ARTIGOS
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Arquivo pessoal
Cidade Olimpica/Divulgação
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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira A atenção às alterações na fachada
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JUSTIÇA • Robson Sávio O segundo mandato já começou CRÔNICA • Joanita Gontijo Bola na trave: sorte ou azar?
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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci
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METEOROLOGIA • Ruibran dos Reis
Quente ou frio?
Que dia vai chover?
GASTRONOMIA
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RECEITA – Chef Remo Peluso
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VINHOS – Júlia Grossi
Fettucine ao Limone Borbulhas para as festas |5
EDITORIAL Ser ou não ser A investigação do escândalo na Petrobras vai exigir dos brasileiros uma redefinição sobre o nosso modo de pensar a corrupção na política. As denúncias dão conta de que o processo tradicional de corromper funcionários públicos e instituições ganhou, no Brasil, ares de “novo Estadismo” sul-americano. As investigações da Operação Lava Jato mostram um esquema político institucionalizado. Segundo a Justiça Federal, representantes do governo do PT, do PMDB e do PP, dentre eles, ministros, gerentes e tesoureiro de partido, criaram um “pedágio”: ou a empresa pagava uma média de 3% de suborno ou não teria chances de assinar os contratos milionários com a estatal do petróleo brasileiro.
Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br
“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)
A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060
O discurso de defesa dos 23 presos, ainda desorganizado e desunido, tenta levar os brasileiros a acreditarem que os grandes empresários foram “extorquidos” ou que teriam “emprestado dinheiro” ao doleiro Alberto Youssef dentro de uma relação de “absoluta confiança pessoal”. Outro discurso que se lança é o de criar um tipo de cortina de fumaça em que todos os partidos estariam envolvidos na Lava Jato. Seria apenas mais um escândalo no esquema antigo da corrupção entre partidos e doadores de campanha. Existe entre nós um tipo de consciência política “maleável”. Assim como as leis são respeitadas por muitos apenas quando há vigilância, o voto também vai de acordo com o que se considera “aceitável”. Nos países civilizados, o combate à corrupção tem dois caminhos principais: o primeiro, pela Justiça. Apanhados no crime, os envolvidos de qualquer matriz partidária são julgados e condenados; o segundo passa pelo ato de o eleitor não votar nem sustentar partidos que se envolvam nos desvios, seja do dinheiro público, seja da ética política. Ficha limpa: aqui está nosso dilema para o futuro. A definição entre bom ou ruim, certo ou errado, condenável ou não em relação à corrupção passa estritamente pelos benefícios que o eleitor recebeu. “Todos roubam”. “Todos os partidos são assim”. Essas expressões são generalizações nefastas defendidas por consciências sufocadas que escancaram, em tom de cinismo, as fragilidades da nossa democracia. É a lógica das alianças políticas entre partidos opostos perpetuando o “rouba, mas faz”. Defender como resposta rupturas institucionais é outro bom exemplo da nossa falta de maturidade política. O processo de aprendizado pelo voto é doloroso. Liberdade nos erros ou nos acertos é o preço que sempre pagaremos na formação de uma nova consciência cívica.
Editor adjunto: André Martins l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Agência Brasil Estagiária: Daniela Rebello l Reportagem: André Martins, Cassio Teles, Diane Duque, Haydêe Sant’Ana, Rodrigo Freitas, Vinicius Grissi, Tatianne Barcellos, Tati Barros | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com. br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br 6 | www.voxobjetiva.com.br
OLHAR BH
Palรกcio da Liberdade Foto: Felipe Cecilio |7
VERBO
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VERBO
Incansável
Ambientalista Apolo Heringer-Lisboa critica a falta de planejamento ambiental no país e o favorecimento econômico em detrimento da natureza e de práticas sustentáveis André Martins
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az tempo que o alerta vermelho ambiental foi disparado à sociedade civil e ao governo brasileiro. A recente crise de abastecimento de água na Região Sudeste, associada por especialistas, dentre outros fatores, ao colapso da maior floresta equatorial do mundo, a Amazônia, é apenas mais um dos sinais que apontam para um problema de grandes dimensões. O desmazelo no trato com o meio ambiente está quase institucionalizado no país. Faltam políticas de preservação e agendas que respeitem os ecossistemas. Defensor da vida em suas diversas formas, o carioca Apolo Heringer-Lisboa começou a pelejar pelo meio ambiente na década de 80. Médico sanitarista e ex-guerrilheiro, o ambientalista é o idealizador do Projeto Manuelzão, iniciativa que tem por objetivo a despoluição do Rio das Velhas, maior afluente em extensão do Rio São Francisco. Devido à sua entrega, Heringer-Lisboa foi escolhido a personalidade do ano no Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza, em 2013.
blemas da humanidade e ampliar os limites da política. Ampliar significa sair da política ligada apenas aos bens materiais, à distribuição de renda e à luta de classes e pensar na história como a epopeia da sobrevivência dos seres humanos no espaço. Aí vale acrescentar outras formas de vida. A luta de classes estava reduzindo somente aos interesses da espécie humana. As demais não estavam sendo contempladas. Então eu achei que tinha que bolar outra coisa e passei a pensar no meio ambiente de forma mais ampla.
“O que existe é um planejamento voltado para a economia. O ser humano é apenas um acidente nessa situação”
Em entrevista exclusiva à Vox Objetiva, o ambientalista coloca em debate o conceito de desenvolvimento econômico adotado no Brasil. Ele fala também sobre a maior crise da água na Região Sudeste. Para Apolo, o caos reflete uma política governamental que sempre priorizou a produção energética e que não acompanha a demanda essencial de humanos, dos animais e das florestas: a vida. Quando surgiu o seu interesse pelos assuntos pertinentes ao meio ambiente? Começou quando eu saí do Partido dos Trabalhadores (PT), entre 1986 e 1988, e passei a pensar que a política partidária e a profissão médica eram muito limitadas. Era preciso enxergar de forma mais abrangente os pro-
O nascimento do Projeto Manuelzão, há 16 anos, acontece por meio de esforços do senhor. Qual o saldo do projeto?
O maior saldo foi a divulgação da nova proposta: a gestão ambiental com foco nas águas como eixo estruturante. A ideia é posicionar a água como eixo estruturante de monitoramento, de mobilização social, de articulação das agendas ambientais em torno dos recursos hídricos e do território de bacias hidrográficas. Então a contribuição máxima do Projeto Manuelzão foi dada. Muitas pessoas trabalham as bacias hidrográficas, as águas e mobilizam pela volta dos peixes nos rios. Mesmo que elas não saibam, isso foi uma contribuição da metodologia do projeto e da proposta estruturante de fazer o trabalho ambiental. Antes do Projeto Manuelzão, havia muitas agendas ambientais espalhadas. Todas eram muito boas, mas estavam desagregadas. Elas não visavam uma estratégia comum nem política. E nós colocamos a pauta ambiental politicamente. Nós acreditamos que a política econômica tenha de se enquadrar na política ambiental; não o contrário. Como o senhor avalia as políticas ambientais relacionadas com a preservação de recursos hídricos? |9
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Não existe política ambiental no Brasil. O que existe são os interesses da indústria, da agricultura,... O governo coloca como lideranças em órgãos ambientais pessoas indicadas por quem tem interesses envolvidos. O que há no Brasil é uma falta de política ambiental. O senhor encontrou a presidente Dilma Rousseff no Triângulo Mineiro, no último ato de campanha dela em Minas Gerais, e levou um documento para que ela analisasse. A presidente assinou esse documento. Fale um pouco sobre o que foi proposto a ela. Foi proposto que ela assumisse a defesa dos rios e das bacias hidrográficas do Brasil para resolver a crise de água no país numa perspectiva diferente: pensar no ser humano e na vida na terra. A proposta é considerar os animais, o lazer da população e a estética, pois os rios são importantes na construção de uma cidade. A ideia é ter outra visão política sobre a natureza. A política está de mal com a natureza. Elas têm que fazer as pazes. Fui levar essa mensagem para a presidente.
Crescimento e desenvolvimento questionável. É o crescimento burro porque podia ser diferente. Quando o Brasil tinha grandes florestas sem donos, a forma que o indivíduo tinha de atestar a posse era desmatando a área. Ele chegava, desmatava e passava a ser dono da terra arrasada. Falta de saneamento, educação deficitária, desperdício, poluição, desmatamento: são muitos
O maior afluente do Rio São Francisco, o Rio das Velhas é foco do projeto Manuelzão, idealizado pelo ambientalista Apolo Heringer-Lisboa
O brasileiro ainda tem a ideia de que desenvolvimento econômico é incompatível com o crescimento sustentável? O conceito de desenvolvimento sustentável está sem conteúdo, muito oco. Tanto é que as empresas poluidoras apoiam o desenvolvimento sustentável no seu marketing. Então ficou um negócio que junta todo mundo. Virou uma proposta oportunista. É necessário definir desenvolvimento sustentável porque todas as empresas fazem propaganda na TV e nas revistas de meio ambiente, como se elas fossem sustentáveis. Isso não é verdade. Quem desmata o Cerrado para dar espaço ao eucalipto fica como empresa verde. Isso é um absurdo, pois estão devastando a mata nativa. O conteúdo do desenvolvimento sustentável tem que ser a ecologia. É preciso preservar os ecossistemas e a vida na sua biodiversidade. A água é resultado dessa política. O que levou a esse quadro caótico de rios e matas? Foi o crescimento desordenado das cidades, falta de planejamento, de educação? Isso é o “desenvolvimento” econômico ou “crescimento” econômico. “Desenvolvimento” econômico que foi desmatando a Serra do Mar e a Mata Atlântica para plantar café, depois arroz, feijão, milho,... É o mesmo que desmatou o Cerrado para plantar capim ou para a produção carvoeira. É o “crescimento” econômico que vai desmatando tudo. 10 | www.voxobjetiva.com.br
problemas. De onde partir para alcançarmos uma sociedade ambientalmente mais responsável? Nós temos nossos representantes políticos como símbolos do poder. A população tem a tendência de olhar para essas pessoas como um tipo de liderança natural. Na medida em que esse poder é caracterizado como corrupto, não merecedor de respeito, que faz o jogo do poder econômico e não olha o interesse da população, cria-se um vazio de liderança no Brasil. Por exemplo: quando o governo fala que vai fazer saneamento, há a desconfiança de que se está
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roubando dinheiro público. A sensação é de que estão usando a desculpa do saneamento para desviar dinheiro. Canalizam córregos e fazem o jogo das empreiteiras. Não é uma questão de educação não. É uma questão de mudar a cabeça de lideranças políticas. O saneamento básico é um dos pontos mais importantes hoje para a saúde pública e a preservação dos rios?
lidade, como coisas separadas. Nós precisamos ver as coisas nas suas inter-relações horizontais. O Sudeste vive um período de seca, algo incômodo principalmente para São Paulo e Minas Gerais. Houve falta de planejamento diante das previsões de baixos índices pluviométricos? No Brasil, o planejamento das águas foi feito só para garantir energia elétrica. O operador nacional do sistema, as centrais elétricas de Furnas, do São Francisco, de Itaipu e outras planejaram a estocagem de água nas barragens para produzir energia. Eles não planejaram conservar os rios, os peixes, nada disso. As empresas de saneamento públicas jogam esgoto nos rios. Então não houve planejamento para a saúde, a cidadania. Houve planejamento para produzir energia elétrica e por exigência das empresas. Se não fossem as grandes empresas, talvez a gente não tivesse nem luz em casa. O que existe é um planejamento voltado para a economia. O ser humano é apenas um acidente nessa situação. Ao invés de a economia atender ao ser humano, é o ser humano que atende à economia. E não é apenas o ser humano, mas são todas as formas de vida, incluindo os animais e as florestas. Nós dependemos de todas as formas de vida. Eu tenho uma visão ecossistêmica. O que são os ecossistemas? São as formas como a natureza se organiza para garantir a vida de todo mundo. O planeta Terra é um grande ecossistema, composto de milhares de milhões de ecossistemas menores. Então eu tenho que ter uma visão biocêntrica da vida. Se eu focar só no ser humano, eu vou fazer igual ao governo: tem água tratada para o ser humano, e não tem para os animais. Como os animais vão beber água se os rios viraram esgoto? O problema da falta de água decorre da desorganização do poder público ou de práticas sociais irresponsáveis, como o desperdício?
O saneamento básico é uma estrutura de negócio. Se há saneamento, vamos ter menos gastos com o Sistema Único de Saúde (SUS). Mas, no Brasil, parece que ninguém vê essa ligação. Eles gastam muito dinheiro com o SUS, mas uma das maiores demandas de quem vai aos centros públicos de saúde é para atendimentos que estão diretamente ligados à falta de saneamento básico. Tem que atacar a raiz dos problemas, mas é preciso ter também um pensamento macrossistêmico que interligue as coisas. Nós temos uma falência metodológica. Isso é culpa, também, da Universidade, que hoje vê tudo como especia-
Vou dar um exemplo: o governo autoriza a retirada de minério aqui perto de Belo Horizonte na região de aquífero que abastece Belo Horizonte. A extração mineral faz esvaziar o Rio das Velhas. Essas concessões estão comprometendo o abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte por uma opção econômica. O governo está se importando mais com o que vai ganhar com o minério. Então há contradições. O governo quer arrecadar com impostos, mas isenta a mineração de pagar ICMS. O plantador de mandioca, que produz farinha, paga ICMS; eu pago ICMS para comprar remédio, mas as mineradoras não pagam, ou pagam 2%. Para remédios, a taxa é de 18%. | 11
ARTIGO
Kênio Pereira
Imobiliário
A atenção às alterações nas fachadas Com o passar dos anos, é comum as fachadas dos edifícios ficarem deterioradas. Há casos em que a alteração aleatória das fachadas pelos condôminos gera a desvalorização do edifício. Esses problemas ocorrem quando há omissão do síndico e dos condôminos. Eles não fazem as obras de conservação ou, quando decidem intervir, desrespeitam a harmonia estética do edifício. Outro fator que dificulta a preservação das fachadas é a má redação da convenção de condomínio. Em muitos casos, esse documento não deixa claro o dever de preservação do padrão de acabamento das áreas externas. A área inclui os corredores e as portas e janelas das unidades.
da de cada unidade. O art. 1.336 do Código Civil determina: “São deveres do condômino: III – não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas”. É ilegal a atitude de alterar a pintura, as esquadrias ou o desenho das janelas, varandas, bem como alterar o revestimento externo das portas de entrada dos apartamentos ou salas. Os edifícios onde os corredores têm portas diferentes, pisos e paredes sem padronização acabam sofrendo desvalorização.
“A fachada compreende todas as faces do edifício, ou seja, também o fundo e as laterais”
Para a alteração da fachada ou a substituição de qualquer elemento, ainda que por um mais luxuoso, é obrigatória a anuência do condomínio. Se apenas um morador pretende fechar a varanda de forma disforme ou colocar um toldo, a mudança deve obter a aprovação unânime de todo o condomínio na assembleia. Caso a alteração seja decorrente da deterioração ou da reforma de todo o conjunto, o quórum poderá ser da maioria, conforme a convenção, ou até dispensável, quando a obra for necessária, para evitar danos ou infiltrações no interior das unidades. Neste caso, a assembleia se reúne para votar apenas a escolha do orçamento do empreiteiro que fará a obra e o valor da taxa extra para quitar o orçamento escolhido.
A fachada compreende todas as faces do edifício, ou seja, também o fundo e as laterais. Nesse mesmo conceito estão as partes comuns internas do edifício: corredores, halls e entra12 | www.voxobjetiva.com.br
Cabe ao síndico impedir qualquer tipo de alteração das partes externas das unidades que prejudique a harmonia arquitetônica do condomínio. A sua omissão será um estímulo para que outros transformem o visual das áreas comuns num verdadeiro ‘carnaval’.
Os Tribunais de Justiça, quando acionados, determinam que o infrator restabeleça o estado original do projeto, sob pena de multa diária. O proprietário da unidade tem o direito de decorar da forma que bem entender somente quanto ao interior do seu apartamento ou da sala. A partir da face externa da porta e de tudo que estiver à vista de terceiros, deve ser respeitado o padrão estético.
Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br
CAPA
O voo dos tucanos Derrotado nas urnas, mas nunca tão revigorado, PSDB estuda a melhor forma de fazer oposição; o Governo de Minas e a Prefeitura da capital são peças-chave para as ambições peessedebistas em 2018 Rodrigo Freitas
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m 2010, o PSDB perdeu a disputa para a Presidência da República para o PT, mas elegeu oito governadores – um número bastante expressivo. Em 2014, os tucanos sofreram nova derrota na disputa presidencial e perderam espaço: elegeram os mandatários de apenas cinco estados. Até a hegemonia mineira o PSDB perdeu para o PT. E Minas era um reduto histórico do partido e terra natal do candidato derrotado Aécio Neves. A olho nu, a comparação entre os dois pleitos pode representar uma derrota considerável para o PSDB. Na prática, porém, o diabo não é assim tão feito quanto se pinta.
O acirramento político da corrida pelo Planalto deste ano mudou a correlação de forças entre governo e oposição. O PT seguiu para o quarto mandato presidencial com a reeleição de Dilma Rousseff, mas o PSDB radicalizou a disputa após uma chegada emocionante à reta final. Aécio perdeu por pouco mais de 3,4 milhões de votos (3,26 pontos percentuais) – a menor diferença em uma votação presidencial no Brasil desde as eleições de 1989, as primeiras diretas após a redemocratização do país. | 13
CAPA
Se perdeu por um lado – ao eleger menos governadores e ser derrotado pela quarta vez seguida pelo PT –, o PSDB ganhou por outro: mostrou ter condições de disputar o espaço político do país e conseguiu, enfim, se unir em torno de um nome. Nos bastidores, tucanos dizem que o entendimento aparente entre Aécio, o governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador eleito José Serra não era apenas para “inglês ver”. Além disso, os tucanos viram seu ânimo se renovar diante da história do primeiro turno. Basta lembrar que, duas semanas antes das eleições, Aécio era “dado como morto”, e o segundo turno entre Dilma e Marina Silva (PSB) parecia um fato consumado. Entretanto, no apagar das luzes, Aécio conseguiu ultrapassar a socialista e ainda teve muito mais votos do que se previa, ao conseguir 33,5% (34,9 milhões de votos) do eleitorado na primeira etapa das eleições. No segundo turno, o acirramento aumentou, e Aécio conseguiu uma marca expressiva ao obter 51 milhões de votos (48,36% do total).
Tais números credenciaram o PSDB a fazer uma oposição mais feroz contra Dilma a partir de 2015. Candidato a vice-presidente na chapa de Aécio, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) acredita que os ventos venham a soprar favoravelmente aos tucanos. “Não há dúvida de que o PSDB sai dessas eleições com um acúmulo de apoio popular e político. Aécio é uma liderança nacional de grande expressão. Tornou-se, na nossa visão, um líder popular. Houve uma grande mobilização da opinião pública em torno desse pleito, e isso é muito favorável a nós”, afirmou o senador em entrevista à Vox Objetiva. “Precisamos, mais do que nunca, fazer o papel de oposição, ou seja, vigiar, cobrar e nos posicionar contra o que há de errado no governo. Não temos que inventar nada. Temos que fazer o simples: ser oposição”, complementou o senador paulista. Para o cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Guilherme Casarões, o PSDB terá que vencer alguns desafios para sair do campo da oposição e voltar a ser governo. “O primeiro deles é se livrar da pecha de ser um partido do Sul e do Sudeste”. Boa parte da votação obtida por
Aloysio Nunes acredita que a oposição ganhe ainda mais força pelo desejo de mudança expresso no desempenho de Aécio nas urnas Marcos Oliveira
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CAPA
Para o deputado João Vitor Xavier, é hora de a oposição marcar presença em Minas e brigar pela conquista da prefeitura da capital
Aécio veio dessas duas regiões. Outra estratégia é fazer o que disse Aloysio Nunes: ser uma oposição combativa. “O PSDB vai ter, no Senado, nomes de peso, como o próprio Aloysio, Aécio, Serra e Antonio Anastasia. Se conseguirem coordenar as ações, podem ter peso naquela Casa”, afirma o professor. Para o também cientista político Rudá Ricci, a vida do PSDB como referência da oposição não será simples. “Quando Aécio voltou ao Senado e fez um discurso inflamado, líderes do PT e do PSDB faziam um ‘acordão’ para que nenhum nome dos partidos seja convocado para depor na CPI da Petrobras”, afirma. Rudá ainda aponta que a vitória apertada está exigindo de Dilma um jogo de cintura que não foi visto nos últimos quatro anos. “Parece que ela está tomando gosto por essa negociação”, avalia o cientista. CAMINHOS SÃO TORTUOSOS Indubitavelmente, a maior derrota tucana reside em Minas Gerais. Aécio perdeu para Dilma no primeiro e no segundo turno no estado que ele governou ao longo de dois mandatos. A derrota do aliado Pimenta da Veiga para
o governo de Minas ainda no primeiro turno também ajudou a minar as forças de Aécio em seu reduto eleitoral. Pela primeira vez, os tucanos serão oposição em mais de 20 anos. E o cenário para a oposição em Minas se anuncia como sendo bastante complicado. Com grande capacidade de negociação, o governador eleito Fernando Pimentel (PT) já costura o apoio de legendas que, historicamente, marcharam com Aécio no estado. Cálculos pessimistas dos tucanos apontam que a oposição ao petista somará apenas 19 deputados. Contra essas dificuldades, o deputado estadual João Vítor Xavier (PSDB) tem uma receita: voltar as atenções do partido para as ruas. “Já estou nas ruas convidando jovens lideranças da Região Metropolitana pra virem para o PSDB. É uma contribuição que quero dar para o partido. Precisamos renovar os quadros. Queremos jovens líderes. Já conversei com o (presidente estadual do PSDB, Marcus) Pestana e o Anastasia sobre isso. Temos que fazer um PSDB voltado para o futuro. Que seja um partido atento e dialogue com os movimentos sociais. É preciso dialogar com os movimentos de base e estudantis”, afir| 15
CAPA
ma o parlamentar, cotado para disputar a Prefeitura de Belo Horizonte pelo partido em 2016. Aliás, a opinião de tucanos e de seus opositores é que a reconstrução do partido em Minas passa pela eleição municipal. “Temos que ter candidatos em todas as cidades. Temos que marcar posição”, afirma Xavier. Para Belo Horizonte, o “sonho de consumo” do PSDB é ter Anastasia como candidato, mas, nos bastidores, acredita-se que ele não aceitaria a empreitada, já de olho até mesmo numa eventual disputa ao governo de Minas em 2018. “A prefeitura é pouco para ele”, avalia um tucano. Na falta de Anastasia, despontam os nomes de João Vítor Xavier e do deputado federal Rodrigo de Castro. Por outro lado, o deputado estadual Mário Henrique Caixa (PCdoB), cujo partido é aliado de Pimentel, acredita que o governador eleito vai querer medir forças com o PSDB na capital. “Em 2016, Marcio Lacerda não poderá ser reeleito. Pimentel, com certeza, pode lançar um nome forte com o seu apoio para ganhar a Prefeitura de Belo Horizonte. Então, se torna fundamental para o PSDB ganhar a prefeitura. Vai ter que jogar pesado. O PSDB vem com seus melhores quadros. O melhor quadro é, sem dúvida alguma, o ex-governador Anastasia. Mas aí é preciso fazer outro exercício: se Aécio vai para a disputa da Presidência em 2018, Anastasia teria que ser o candidato ao Palácio da Liberdade. Aí, como é fica isso?”, questiona o parlamentar. Por outro lado, o deputado estadual Lafayette Andrada (PSDB), aliado de primeira hora de Aécio em Minas, trata de tirar a responsabilidade do partido pela prefeitura da capital em 2016. “Eu penso que essa disputa seja um termômetro, mas não é definidora assim. O mais importante é que façamos uma oposição implacável em Minas e no Brasil, cobrando de Dilma e Pimentel as promessas que fizeram – muitas delas absolutamente inexequíveis. Mas vamos cobrar”, diz o parlamentar.
QUATRO PASSOS Saiba quais são as estratégias que o PSDB deve seguir na opinião do cientista Guilherme Casarões (FGV)
O PSDB se mostrou um partido até bastante capilarizado nacionalmente, mas não se sabe se esse resultado foi devido a um antipetistmo ou à penetração do PSDB como partido. O PSDB deveria pensar em como se portar na oposição, nos próximos quatro anos. É fundamental que o partido assuma um lado de oposição dura e combativa. E nomes como Serra, Aloysio, Aécio e Anastasia podem ser um facilitador.
Os tucanos precisam se livrar da pecha de partido do Sul e do Sudeste. O PSDB tem que encontrar líderes no Norte e no Nordeste do país. Era que o Tasso Jereissati fazia.
Evitar o fratricídio. O PSDB tem que evitar que um expoente ameace o outro. Serra e Aécio são presidenciáveis para 2018. Aécio está em evidência, mas Serra tem uma vontade enorme de ser presidente. Isso pode criar uma luta interna no PSDB, o que seria absolutamente ruim para o partido. E ainda tem Geraldo Alckmin como uma terceira via, apesar da crise da água em São Paulo e de um desgaste natural que o PSDB deve sofrer naquele estado por estar há mais de 20 anos no governo.
UNIÃO A tarefa oposicionista do PSDB em Minas pode ser mais complicada do que se esperava porque a legenda está absolutamente unida como nunca antes na história do partido, como aponta Ricci. “Toda a negociação por espaços no governo de Pimentel tem acontecido de forma absolutamente tranquila. O PT está unido como nunca esteve. E essa união se estende ao PMDB, sempre um foco de tensão”, avalia o cientista político. 16 | www.voxobjetiva.com.br
Evitar o eleitorado “golpista”, parte bastante radical que saiu fortalecida nessas eleições. É um eleitorado do qual o PSDB tenta se desvincular. Esse grupo não tem lealdade a Aécio. Tem mais lealdade ao antipetismo.
ARTIGO
Robson Sávio
Justiça
O segundo mandato já começou Dois dias depois do 2º turno das eleições presidenciais, observamos a primeira evidência de que o segundo mandato de Dilma Rousseff será dificílimo. No dia 28 de outubro, os deputados federais aprovaram um projeto de Decreto Legislativo que susta os efeitos do decreto da presidente que vincula as decisões de interesse social do governo ao crivo de conselhos populares. Para um pobre de espírito, no caso o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB), essa foi uma vingança escancarada pelo apoio de Lula ao rival de Alves na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte. Renan Calheiros (PMDB) já sinalizou que o Senado, comandado por ele, tomará o mesmo rumo da Câmara. O decreto da presidenta é constitucional. Inconstitucional é um decreto legislativo que derruba uma prerrogativa do Executivo. No Supremo Tribunal Federal, essa pendenga pode ser resolvida. Mas não esperemos isenção. Gilmar Mendes, o defensor-mor dos interesses antipopulares, classificou o STF como “bolivariano”.
Cunha tem na sua lista de aliados figuras como os irmãos Brazão, suspeitos de envolvimento com milícias no Rio. O parlamentar fez uma das campanhas mais caras de seu partido. Até a segunda prestação de contas, em setembro, ele havia arrecadado R$ 4,5 milhões. É claro que forças conservadoras, turbinadas pela mídia, tentarão inviabilizar o segundo mandato de Dilma. Clamores por um terceiro turno e até mesmo por intervenção militar mostram que segmentos rancorosos não aceitam as regras do jogo democrático. Por isso, há que se reforçar todas as propostas progressistas que foram pautadas durante a campanha.
“O novo Congresso será o mais conservador, desde o Golpe de 1964”
Pesquisas indicam que o novo Congresso, a ser empossado em janeiro de 2015, será o mais conservador, desde o Golpe de 1964. O Parlamento será também mais dividido, com a participação de partidos menores. Nesse contexto, tende a ganhar força a velha política do ‘toma lá, dá cá’, para garantir a “governabilidade”. Como se não bastassem as já conhecidas ações pragmáticas do PMDB, especula-se que o partido proponha como candidato à presidência da Câmara, para a próxima Legislatura, o deputado Eduardo Cunha, do PMDB do Rio.
Em relação ao PSDB, pergunto: representará a direita, inclusive a direita antidemocrática? Continuará em cima do muro in aeternum, tentando usufruir do oportunismo político irresponsável? Assumirá uma postura coerente, a partir do respeito às regras do jogo e na defesa de um projeto político claro e transparente de oposição?
Espera-se uma mobilização popular pela reforma política e por medidas democráticas visando o controle social da mídia. Para mim, há necessidade de uma terceira reforma: da Justiça. Enquanto nosso sistema de justiça continuar elitista, patrimonialista, não isonômico e classista, julgando com “dois pesos e duas medidas”, teremos uma democracia sensível a “golpes brancos”.
Robson Sávio Reis Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br | 17
SALUTARIS
IMERSÃO EM SI A combinação de movimentos corporais e música na busca pelo bem-estar do corpo e da mente Tatianne Barcellos
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m festas, reuniões familiares ou academias, o bailado é sinônimo de bem-estar, alegria e socialização. Mas a dança vai muito além. Quando associados ao exercício mental, os movimentos corporais funcionam como terapia. Essa técnica, denominada dançaterapia, integra corpo, mente e movimento para possibilitar descobertas intimistas e a própria reconexão de quem pratica. 18 | www.voxobjetiva.com.br
Música, descontração e movimentos aleatórios. Quem poderia imaginar que em um ambiente assim acontece um trabalho sério? As aulas de dançaterapia são executadas de acordo com os objetivos de cada aluno, mesmo sendo praticadas em grupo para estimular a integração interpessoal. O exercício em conjunto também pode levar às comparações. Nesse caso, os paralelos são positivos por impulsionar o
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aperfeiçoamento individual a partir da percepção do desempenho do outro. Para praticar a dançaterapia, não é preciso saber dançar. Basta estar à vontade com o próprio corpo. É recomendado o uso de roupas leves e confortáveis, além de manter os pés sempre em contato direto com o chão. A partir de palavras lançadas pela instrutora, os praticantes se esforçam para estabelecer associações mentais. Por mais diversos que possam ser, os movimentos remetem à palavra dita. ‘Mar’, por exemplo, propicia uma relação direta com ondas. Ao ouvir a pronúncia, os alunos fazem movimentos contínuos para cima e para baixo, imitando as ondas. Balões, fitas, papéis coloridos e panos são alguns dos materiais utilizados nas aulas. Existem outras opções. Tudo depende dos objetivos, da dinâmica e da identidade que caracteriza o grupo. Os materiais são usados para auxiliar na fluidez do movimento. Tudo que é proposto tem uma razão de ser. O balão, por exemplo, está ligado à leveza. As bexigas podem ser utilizadas para recriar a sensação da vida intrauterina nos alunos. Tendo esse significado, o material é descartado em sessões que envolvem e ressaltem a terra. Mas nem sempre um elemento está preso a uma determinada associação. É o caso dos tecidos, que podem ser usados em vários temas da dançaterapia. As propostas de trabalho são infinitas. Elas devem ser claras e bem harmonizadas com a música. A escolha do som depende do que será abordado no dia e do objetivo a ser alcançado pelo grupo. É importante que a melodia esteja em sintonia com o estímulo trabalhado. A música tem uma enorme influência no estado de espírito e no humor das pessoas. Ela proporciona alterações de ânimo e, quando associada ao estímulo proposto, provoca mudanças interiores. Os dançaterapeutas escolhem com cuidado a trilha sonora utilizada nas sessões. As opções são variadas. Podem ser usadas músicas clássicas, folclóricas,
canções internacionais, percussões sonoras e sons de vários estilos, além da palavra e do silêncio, que também é muito bem-vindo. A psicóloga e dançaterapeuta Adriana Túbero gosta de trabalhar com o ritmo New Age, um gênero musical caracterizado pela harmonia suave e por sons instrumentais de harpa, teclado e flauta. Os sons da natureza também compõem o gênero musical. A melodia New Age busca o despertar da paz interior e a valorização da natureza. BOM PARA A ALMA A dançaterapia estimula o autoconhecimento e o despertar de potencialidades adormecidas. O método permite a remoção de bloqueios e a mudança da percepção de si. “Cada vez que vivenciamos a dançaterapia, acontece uma transformação da consciência. Surge uma vibração mais alta de energia, que nos abre para um estado de percepção mais profundo. Ao nos conectarmos com essa energia positiva e amorosa da alma, pode ocorrer uma cura ligada ao passado. Dessa forma, deixamos para trás os sentimentos intensos de dor e negatividade nos quais éramos viciados ou estávamos presos”, explica Adriana. Além de estimular o potencial criativo, a técnica terapêutica auxilia no controle do estresse e na atenuação de dores corporais e instiga a autoconsciência. O aposentado Carlos Tadeu Pedroso, de 68 anos, é portador da Síndrome de Parkinson. Ele iniciou as aulas de dançaterapia há oito meses, após orientações médicas. Carlos relata que, em médio prazo, o resultado foi excelente. “O movimento dos membros inferiores foi muito significativo. Eu adquiri mais estabilidade e confiança no meu corpo, capacidade que foi enfraquecida com a doença” conta. A terapeuta ocupacional e dançarina Amaranta Boaventura chama a atenção para aspectos importantes para o desenvolvimento humano potencializados com a dança. “A percepção, a exploração do próprio corpo, de | 19
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seus limites e o fortalecimento muscular são os principais ganhos. O desenvolvimento da espontaneidade, da criatividade e do improviso também são percebidos nos praticantes”, explica. A possibilidade de criar e improvisar trabalha uma parte do cérebro denominada córtex. A pessoa recebe estímulos mais contínuos e obtém uma abrangência cada vez maior da criatividade. Na terceira idade, manter o cérebro em constante funcionamento é fundamental para evitar algumas doenças. De acordo com Amaranta, o que diferencia uma atividade como terapêutica é o olhar do instrutor. “É preciso desenvolver a capacidade de observar com atenção e pensar quais os recursos corporais e materiais o participante precisa para tomar consciência e equilíbrio de seu corpo”, entende. O objetivo da dançaterapia é fazer com que cada um se manifeste pelo movimento, pelos desejos e anseios. O trabalho busca um caminho de harmonia com o próprio corpo. A prática proporciona alguns benefícios claros, como ter experiências sensorialmente agradáveis. Com a frequência da atividade, observa-se um aumento da disposição para as tarefas do cotidiano. “O método promove a prática de valorização e celebração da vida, de maneira particular. A dançaterapia auxilia as pessoas a encontrar a leveza necessária para aproveitar melhor os momentos da nossa existência”, elucida Adriana. ACESSIBILIDADE A prática foi adaptada para pessoas com dificuldades sensoriais, como visual, auditiva ou física ou com mobilidade reduzida. Adriana trabalha principalmente com deficientes auditivos. Segundo ela, a experiência é única. “Gosto muito de estabelecer uma linguagem com esses alunos. É preciso reinventar a técnica para a linguagem deles, de acordo com a limitação individual. O resultado é extremamente gratificante”, revela. Não é preciso falar nas aulas. A professora simplesmente dança. Por meio da observação, os alunos fazem a leitura orofacial – capacidade de compreender uma mensagem falada por meio de pistas visuais. Os movimentos são repetidos após o entendimento do que é proposto. “Eles dançam porque sentem. Não há relação com a fala e a audição. A dançaterapia tem aplicação em vários campos. Pessoas com estresse, depressão ou que sofreram algum tipo de trauma também são adeptos da técnica”, explica. 20 | www.voxobjetiva.com.br
Reprodução
Origem e difusão A dançaterapia foi desenvolvida pela bailarina argentina Maria Fux há mais de 50 anos. A idealizadora compreende a dança como um caminho para a perfeição do potencial expressivo. O método de Fux possibilita o abandono da rigidez, do medo, da insegurança e reafirma a recuperação da própria identidade a partir da dança. A criação da técnica foi inspirada nos valores humanos da psicologia transpessoal e nas tradições ancestrais, que acreditam na sabedoria da natureza. Alguns autores, no entanto, defendem que a dançaterapia tenha surgido a partir da iniciativa de vários bailarinos e coreógrafos americanos que acreditavam no valor pedagógico da dança. No Brasil, a difusão da técnica ocorre por meio do Centro Brasileiro de Dançaterapia, com unidades nos estados de São Paulo, Góias e Santa Catarina. Os locais oferecem a formação inicial para profissionais, com duração de três anos. Com o objetivo de divulgar a dançaterapia, são realizados workshops da técnica. Os eventos ocorrem em diversas localidades do país, de acordo com calendário previamente divulgado.
CRÔNICA
Joanita Gontijo
Comportamento
Bola na trave: sorte ou azar? Faltavam apenas cinco minutos pra começar a partida de futebol. O aparelho de TV já estava ligado, a cerveja gelada aguardava o primeiro gole, o maço de cigarros no canto do sofá previa momentos de tensão. Flávio havia cuidado de todos os detalhes pra assistir ao jogo histórico entre seu time do coração e o maior rival na final do campeonato. Desligou os telefones, colocou a imagem de São Jorge sobre a TV e... revirava gavetas, armários e cestos de roupa suja à procura da camisa do time. Havia uma coleção de uniformes oficiais, mas Flávio precisava encontrar a camisa que ele usara na final do torneio conquistado no ano anterior. “Só ela dava sorte”, pensava. Foi com o alívio de um condenado à morte absolvido minutos antes da execução que Flávio encontrou a camisa perdida, vestiu e se sentou.
quando o jogo começou. Ele se sentia responsável pelo resultado parcial. “Se eu não tivesse mudado de lugar, meu time não teria levado esse gol. Não saio mais daqui! Ficar de pé deu muito azar...” No estádio, mesmo derretendo debaixo da bandeira, Geraldo era só alegria. Quarenta minutos do segundo tempo e seu time ganhava a partida. Faltava pouco, muito pouco pra se tornarem campeões. O rádio colado ao ouvido aumentava a emoção de cada lance, mas a sintonia falhou e quando Geraldo baixou os olhos pra mexer no aparelho, o atacante adversário acertou uma cabeçada na bola que só parou no fundo da rede. Gooool! Jogo empatado: decisão vai para os pênaltis.
“Quanta irracionalidade há entre torcedores... Mandinga nenhuma muda o jogo!”
Duas horas antes, do outro lado da cidade, Geraldo chegava ao estádio com a namorada. Assim que passaram pela entrada, ele pegou a bandeira que sempre o acompanhava nos jogos e colocou o pano sobre as cabeças. Nem a queixa da companheira que suava bicas ali debaixo fez com que Geraldo desistisse da ideia. “É o que dá sorte. Fizemos assim nos últimos jogos e nosso time está na final”, retrucava ele. Agora faltava pouco para completar o ritual da vitória: se sentar no lugar habitual, mas aquele lado da arquibancada fora interditado por causa de um vazamento. Geraldo ficou o mais próximo que conseguiu das faixas de isolamento e ouviu, apreensivo, o apito do juiz iniciando a partida. Quinze minutos de bola rolando e, em casa, Flávio se levantou do sofá, foi até a janela, acendeu um cigarro e... Gooooool! O time adversário abriu o placar. Alguns palavrões depois, o torcedor fanático voltou às pressas para a posição em que estava
Em casa e no estádio, Flávio e Geraldo caíram de joelhos prometendo de tudo ao universo, aos santos e aos orixás. Além das preces, os dois compartilhavam a culpa pelo placar final. “Por que me levantei durante o jogo?”, pensava Flávio. “Não devia ter tirado os olhos do campo. Deu azar!”, lamentava Geraldo. Quanta irracionalidade há entre torcedores... Mandinga nenhuma muda o jogo! Quer saber quem ganhou? Não sei, mas, por via das dúvidas, meus dedos estão cruzados. Vai que dá sorte?!
Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela”joanitagontijo@yahoo.com.br | 21
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Ganhando a terreno
o longo da campanha eleitoral de 2014, assuntos variados entraram na pauta dos presidenciáveis. A religião foi uma delas. O fato de o Brasil ser um Estado laico foi massificado. Apesar disso, o modelo consuetudinário brasileiro tem fortes influênciais religiosas. Mesmo que, constitucionalmente, não seja desejável, decisões políticas e normativas continuam entrelaçadas às questões de fé.
Islamismo expande pelo Brasil e atinge marca de 1,5 milhão de fiéis no maior país católico do mundo Diane Duque
O Brasil é um país diverso, onde o sincretismo religioso tem o seu maior pilar. Embora as religiões de maior expressão no país continuem sendo o catolicismo e o protestantismo, há religiões que se destacam e acompanham a tendência de crescimento observada no mundo. Uma das mais proeminentes é o Islamismo. De acordo com líderes, instituições islâmicas e estudiosos, há cerca de 1,5 milhão de seguidores de Maomé no Brasil. O crescimento do Islã no país pode ser percebido também na quantidade de sheiks que falam português. Em 2004, eram cinco; atualmente são 15. O número de mesquitas também se expande a cada dia. Segundo dados do último Censo (2010), já são 115 templos espalhados pelo território nacional, contra 70, em 2005. De acordo com pesquisas da comunidade islâmica, a maior parte dos muçulmanos brasileiros está concentrada em São Paulo. Somente na capital, há13 mesquitas, além de outras em várias cidades do interior do estado. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná também apresentam um bom contingente, principalmente na região de Foz do Iguaçu, onde está localizada uma das mesquitas mais suntuosas do Brasil e que foi promovida a ponto turístico local. Nos demais estados também existem muçulmanos, porém em menor número. Uma das explicações para o crescimento do Islã no Brasil está na propagação de ensinamentos por meio da língua portuguesa, como defende a professora de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP), Francirosy Ferreira. “Há mais líderes falando e ensinando o Islã em português”, aponta. Muito utilizado no Brasil para indicar a troca de religião, o termo ‘conversão’ não existe dentro do Islamismo. Novos adeptos passam pelo processo de ‘reversão’. Eles entendem que todos os muçulmanos nascem professando a fé islâmica.
Dcubillias
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Segundo Jihad Hassan Hammadeh, os líderes islâmicos se adaptaram ao Brasil e estão dispostos a se fixarem no país
Os líderes religiosos não eram encorajados a se dedicar ao idioma português. O desejo deles era retornar à terra natal. Esse é o entendimento do presidente do Conselho de Ética da União Nacional Islâmica, Jihad Hassan Hammade. Entretanto, esse pensamento tem mudado. Agora eles estão receptivos à ideia de permanecer por aqui. Além de dominar a língua, a facilidade para se tornar um muçulmano tem colaborado para o crescimento da religião. Conforme as regras, a reversão acontece quando a pessoa repete a seguinte profissão de fé, por três vezes, diante de um membro islâmico: “Atesto que não há divindade além de Deus e que Muhammad é Seu servo e mensageiro”. Depois de professar a fé, os próximos passos são fazer as cinco orações diárias, praticar caridade aos mais necessitados, participar do jejum durante o mês do Ramadã e, se tiver condições financeiras, fazer a peregrinação à cidade saudita de Meca pelo menos uma vez na vida. CRESCIMENTO ENTRE OS BRASILEIROS O apoio financeiro de alguns países árabes contribuiu para a crescente no número de mesquitas construídas no país a partir da década de 80. Isso acarretou maior visibilidade do aspecto religioso da comunidade árabe
que se estabeleceu no Brasil. Até então, os árabes eram vistos pelos brasileiros apenas como estrangeiros com traços culturais específicos. Os brasileiros enxergavam os árabes como os árabes se viam. A criação de entidades islâmicas objetivava a estruturação de espaços comuns, capazes de aproximar as famílias e possibilitar uma vida menos afastada possível das origens. Esse é o entendimento do pesquisador Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto, professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (PPGA/ UFF). “Não havia uma grande preocupação com a questão religiosa, mas com o convívio social e a manutenção e a reprodução das raízes árabes entre as famílias. Com o aparecimento das mesquitas nas cidades, a religião ficou mais evidente. E a partir da década de 90, começaram as reversões de brasileiros ao Islã”, explica Paulo Gabriel, diretor do Núcleo de Estudos do Oriente Médio da UFF. Com o crescente interesse de brasileiros, os sermões passaram a ser proferidos em português, em muitas comunidades. Houve também uma expansão da literatura islâmica por aqui. Livros passaram a ser traduzidos do árabe para o português e até mesmo escritos diretamente na língua portuguesa. Especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, cursos de Islã e da língua árabe surgiram para atender à crescente demanda por parte dos interessados. | 23
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UM NOVO PERFIL
“Quanto mais se propaga uma visão negativa e estereotipada dos muçulmanos, mais pessoas buscam informações sobre a religião” Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto, professor de Antropologia da UFF/RJ
O número de seguidores por aqui começou a registrar aumento a partir do ano de 2000. Dois fatores foram fundamentais: a exibição da novela global ‘O Clone’ e os atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos. Apesar da negatividade associada ao maior ataque terrorista da história americana, a tragédia trouxe visibilidade ao Islã. Mesmo com uma exposição negativa na mídia, líderes islâmicos no Brasil perceberam a curiosidade das pessoas e a busca por informações sobre a religião nas mesquitas e em instituições islâmicas. “Quanto mais se propaga uma visão negativa e estereotipada dos muçulmanos, mais pessoas buscam informações sobre a religião e, como consequência, viram simpatizantes ou se tornam muçulmanas”, entende Rocha Pinto. O fenômeno do crescimento islâmico não acontece apenas no Brasil. A Europa conta com quase 60 milhões de muçulmanos, conforme o professor. De todos os muçulmanos no mundo – cerca de 1,6 bilhão –, apenas 18% são de origem árabe. No Brasil, acredita-se que a maior parte dos muçulmanos ainda seja árabe ou descendente. Em alguns estados, no entanto, o número de revertidos ao Islã é maior que o de árabes muçulmanos. No Rio de Janeiro, por exemplo, cerca de 70% dos muçulmanos são brasileiros que abraçaram a religião. 24 | www.voxobjetiva.com.br
A pesquisa ‘Os mulçumanos no Brasil’ feita pela doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Vera Lúcia Maia Marques, aponta para a definição de um novo perfil de seguidores. Os novos porta-vozes do Islão são jovens negros ativistas. Eles querem combater a desigualdade e divulgar a religião nas zonas empobrecidas da periferia das cidades e entre os presidiários, por meio do rap e de uma “formação política forjada no movimento negro”. Até então marcado pela presença árabe, o Islão começa a despontar em outra perspectiva. Esse movimento já conta com jovens muçulmanos nas periferias brasileiras. Embora seja uma perspectiva importante para o universo islâmico brasileiro, o fenômeno ainda conta com dados incipientes no campo das reversões. “As diferenças no campo islâmico brasileiro estão entre árabes e revertidos. Todavia, não devemos ignorar as diferenças existentes entre a maioria árabe em função das suas procedências nacionais e da vertente islâmica seguida (sunita, xiita, alauíta). Porém, mesmo que haja uma heterogeneidade migrante que forma grupos menores, os muçulmanos revertidos e os africanos têm se tornado mais visíveis entre o grupo maioritário” analisa Vera Lúcia.
Mesquita Islâmica de Foz do Iguaçu, uma das mais belas do Brasil
ARTIGO
Maria Angélica Falci
Psicologia
Quente ou frio? Em uma conversa com um amigo, veio à tona o porquê de as pessoas estarem vivendo de maneira morna em vez de se entregar intensamente, ter mais ‘sangue nas veias’, positividade e certa ousadia na vida. Fiquei pensando no assunto e me lembrei de alguns jovens que passam pelo meu consultório e demonstram dificuldades de enfrentar o mundo pelo medo de arriscar e sair da própria zona de proteção. No entanto, a questão levantada pelo meu amigo era mais ampla; abrangia também pessoas maduras, que, mesmo com vivências significativas, estão se fechando no próprio mundo, sem alegria aparente.
traduz, não reflete e nem inspira ninguém. Até mesmo quem está adoecido em suas emoções, no fundo grita pelo calor de um olhar que brilha, aquece o interior, e ameniza a dor.
O que nos leva a escolher uma vida morna? Onde o sorriso é murcho, os olhares são secos e os abraços não se sustentam, são apenas ‘tapinhas’ nas costas. Tudo é bem amarelado, sem graça. Quando não se tem objetivos, o que vier basta. Não há buscas nem desafios. Temos que ter cuidado com a ‘síndrome da indiferença’, que tem tomado conta do emocional de muitas pessoas, e do ‘achismo’ de que, adotando essa postura, é possível ser feliz, pois não vai haver invasões mútuas. Essa vertente tem suas ciladas e leva ao adoecimento gradativo das emoções. Somos seres humanos relacionais, claro que dentro de uma ‘normalidade’, pois somos limitados. Mas enfrentar o mundo sozinho tem muitas desvantagens e a insegurança se torna um monstro voraz.
Acredito que possamos refletir e ajudar as pessoas a se tornarem mais autorais dos seus sonhos, na busca pelo prazer naquilo que traz benefícios, na vontade de arriscar, mesmo que com medo e, de certa forma, sair de uma vida morna, sem alegria, sem sentido. Tomar partido pela vida sempre será o melhor caminho. Rir sem motivos e brincar com os momentos são coisas extremamente positivas. É melhor sentir a paz que aquece do que o frio que congela os melhores sentimentos. Gosto do frio, mas do clima. No sentido exposto acima, ele traduz uma vida sem vida.
A depressão e a ansiedade cresceram muito nos últimos tempos. Não se ouvia falar delas como hoje. Diante das exigências da vida, do medo de errar, de ser criticadas, muitas pessoas têm se paralisado e embarcado numa bolha chamada ‘indiferença’. No entanto, ficar parado é o mesmo que se anular ao olhar do outro.
“Quando não se tem objetivos, o que vier basta. Não há buscas nem desafios”
Não podemos dizer que a felicidade está para alguns mais do que para outros. Viver com intensidade requer cor e sabor, pois o nada, a indiferença, não atrai, não
Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com | 25
HORIZONTES
Na rota do vinho Bordeaux Muito além dos vinhos mais famosos no mundo, a região francesa de Bordeaux reserva muitas histórias e descobertas aos turistas Miriane Barbosa região de Bordeaux recebe, todos os anos, cerca de 5 milhões de turistas atraídos pela fama dos vinhos e pela belíssima capital da região. Bordeaux compete com a Borgonha, também na França, pelo posto de maior produtor de vinhos do mundo.
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ciada há cerca de 2 mil anos, quando a região ainda era chamada de Burdigala. A partir da Guerra dos Gauleses, a cidade passou a fazer parte do poderoso Império Romano. Naquela época, o vinho era produzido apenas para o consumo interno.
Em Bordeaux existem 60 apelações que se dividem pelos 113 mil hectares de vinhas. Essa tradição foi ini-
Após a queda do Império, o vinho acabou ocupando um patamar de grande importância para a cidade, pene-
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Miriane Barbosa
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são bastante ensolarados, os invernos são raramente muito gelados e a primavera é relativamente úmida. Essas são as três características que favorecem vinhedos excepcionais, segundo Martine Dausson, do Château Rauzan-Gassies, localizado em Margaux. Fazendo um passeio ao redor da cidade é possível conhecer as diferentes regiões onde o vinho é produzido. Ao sair de Bordeaux, o visitante se depara com inúmeras estradinhas cercadas de vinhedos e que conduzem a vilas e aos famosos castelos ou châteaux em francês. Nesses locais místicos é possível conhecer todo o processo de produção e degustar uma variedade incrível de vinhos. Os castelos podem seguir o padrão fixo na memória de grande parte das pessoas: são grandes e luxuosos como o Château Pichon Longueville, localizado em Pauillac. No entanto, existem castelos que mais parecem casas grandes, cercadas por vinhedos, locais da adega e de produção do vinho. A região de Bordeaux conta com cerca de 11 mil châteaux. Muitos desses castelos resistem ao tempo e, desde o século XVII, continuam a produzir vinho. É o caso do Château de Sales, localizado em Pomerol. A propriedade foi adquirida pela família Sales no final do século XV e o château, construído no início do século XVII. Trata-se do maior vinhedo da região. Dos 90 hectares, 47,6 são destinados à plantação de vinhas.
trando em setores, como economia, artes e arquitetura. A partir do século XII, a bebida começou a ser comercializada com o Reino Unido. A transação se intensificou após o casamento da duquesa Eleonor de Aquitânia com o rei inglês Henrique de Plantageneta. A união fez com que Bordeaux se tornasse inglesa nesse período. A produção do vinho foi um fator fundamental para que a região crescesse economicamente e adquirisse projeção mundial. Aos poucos, o vinho Bordeaux começou a ser reconhecido internacionalmente, colecionando admiradores ao redor do globo. Quando falamos em vinhos Bordeaux, os franceses relembram sempre que o que torna esse vinho único é o terroir. O conceito faz referência à combinação do solo e das condições climáticas locais da região, consideradas as ideais para a produção de boas vinhas. Os verões
Bruno de Lambert, um dos proprietários e o administrador do château, brinca ao estabelecer uma comparação entre o Château de Sales e o Château Petrus, considerado produtor de um dos mais caros vinhos Bordeaux, com garrafas que podem chegar a custar R$ 30 mil. “O Pomerol tem dois gigantes: Petrus, pela qualidade do vinho, e Château de Sales, pelo tamanho e pela arquitetura. É a única maneira de nos comparar ao Petrus, mas é uma boa saída”, conclui sorrindo. O Château de Sales é um dos mais antigos da França e guarda várias histórias. O castelo resistiu, inclusive, à Revolução Francesa, quando foi invadido pelas forças revolucionárias populares. Ao redor da construção existe um grande bosque pelo qual Bruno demonstra muito carinho. “Este é o único parque da área. A cidade Libourne fica a apenas três quilômetros e há outras vilas ao redor. Antes dos carros, quando um jovem queria ficar sozinho com uma garota por alguns minutos, eles pegavam as bicicletas e vinham ao Parque de Sales. Quando alguns deles iam se casar, o padre sempre perguntava se o casal já esteve no bosque do Château de
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Produção vinícola em Bordeaux BLEYE ET Bourg Bleye Bleye Cotés de Bordeaux Bourg Cótes de Blayé Cótes de Bourg
Saint Émilio fronsac pomerol Canon Fronsac Castillion Cótes de Bordeaux Francs Cótes de Bordeaux Fronsac Lalande-de-Pomerol
médoc Haut-Medoc Listrac-Médoc Margaux Médoc Mouls Pauillac Saint-Estéphe
Lussac-Saint-Émilion Montagne de Saint-Émilion Pomerol Saint Émilion Saint Émilion Puisseguin de Saint Émilion Bordeaux
Entre deux Mers
Saint Émilion Grand Cru
Bordeaux Haut-Benauge
Saint Georges Saint Émilion
Cadilac Cadilac Cótesde Bordeaux Cadilac de Bordeaux Saint Macaire
graves Barsac Cérons Graves Graves Supérleures
Entre Deux-Mers Entre Deux-Mers Hault-Benauge Loupiac Premiéres Cótes de Bordeaux Saint-Croixde-du Mont Sainté-Croix de Mo
Pessac-Lécgnan Sauternes
Miriane Barbosa
Sales. Se a resposta fosse sim, eram três orações. Se fosse não, o número de orações era triplicado porque era provável que eles estivessem mentindo. Então, para mim é impossível cortar uma árvore para dar espaço às plantações”, conta. A maior parte dos châteaux de Bordeaux oferece visitas guiadas em inglês, alemão e, em poucos casos, em espanhol. Mas a guia do Château de Salles, Marjorie Vauriot, garante que arranha um “portunhol”, devido aos brasileiros que visitam os castelos e a ensinam um pouquinho da língua. A reportagem da Vox Objetiva encontrou outras histórias curiosas, como a do Château La Haye, situado em Saint-Estèphe. O castelo data de 1557 e, conforme a lenda, era o cenário onde o rei da França Henri II mantinha encontros românticos com a amante Diana de Poitiers. O monograma do casal, um H e um D entrelaçados, está gravado numa das pedras de entrada do castelo e acabou por virar o símbolo do château e dos seus vinhos. Já na região do Médoc, há um castelo que produz os vinhos de forma diferente da dos tradicionais. No
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Château de Lauga, cada etapa é feita de forma artesanal pelos proprietários, desde a plantação das vinhas até o engarrafamento da bebida. O castelo é familiar há seis gerações. No local, quem recebeu a Vox foi Christian Brun. Muito simpático, o senhor fez questão de mostrar todo o processo, desde as uvas dos vinhedos até a degustação. E ele exibiu, com orgulho, as ferramentas pertencentes aos antepassados. A produção de vinho por lá foi iniciada a partir do século XIX. Na época dos avós de Brun, por exemplo, até os barris de armazenamento eram produzidos à mão com as ferramentas ali expostas. Os vinhos eram vendidos diretamente nessas antigas ‘embalagens’. O proprietário conta como a história evolui, mas o diferencial, que é marca do Château de Lauga, continua. “Não tínhamos engarrafamentos, nem turistas para nos visitar. Hoje temos cada vez mais e, com duas pessoas ou um ônibus cheio, nós vamos sempre trabalhar com essa
proximidade e a presença. Eu estou aposentando e passando a administração para o meu filho, mas faço questão de estar presente”, revela. Dentre os muitos caminhos a que os vinhos Bordeaux podem levar os turistas, a pequena cidade Saint-Emillion se destaca. É uma visita imprescindível! Além dos bons vinhos produzidos ali, a cidade medieval foi declarada Patrimônio Universal pela Unesco em 1999. Pelas suas ruas estreitas, o visitante encontra construções que datam do século VIII, caves subterrâneas e a certeza de um dia agradável. O analista financeiro Daniel Mortoni teve a oportunidade de visitar a região e revela o desejo de uma nova oportunidade de estar em Bordeaux. “Obviamente a fama de seus vinhos é o grande chamariz da região, mas a comida, a arquitetura, a história, entre outros aspectos da cidade, também são atrativos suficientes para os turistas visitarem a região”, acredita.
Não bastasse o sabor proveniente de suas vinhas e dos vinhedos, Bordeaux conta com castelos centenários repletos de boas histórias Miriane Barbosa
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RECEITA
Jô Moreira
Divulgação
Dica do chef: Após cozinhar o fetuccine do modo tradicional, refogue a massa na manteiga antes de servir no prato.
Fettucine ao Limone Chef Remo Peluso – Provincia Di Salerno INGREDIENTES
MODO DE PREPARO
1 limão siciliano 1 xícara de água Farinha de trigo (para engrossar o molho) ½ xícara de creme de leite 1 colher de sopa de queijo parmesão ralado Tempero a gosto 1 pitada de açafrão 150 g de camarão médios 2 colheres de sopa de manteiga
Ferva o limão na água com o tempero e o açafrão. Em seguida, dissolva a farinha em um pouco de água e acrescente à mistura, mexendo sempre. Então acrescente o creme de leite e o queijo parmesão e mantenha o fogo em temperatura baixa até ficar com uma consistência adequada para o acompanhamento do macarrão. Escorra a pasta e envolva com o molho. Tempere o camarão, refogue na manteiga até dourar e sirva completando o prato.
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VINHOS
Borbulhas para as festas Júlia Grossi Consultora de vinhos do Provincia Di Salerno
Está chegando a hora das festas de fim de ano. É quase impossível não pensar nas “borbulhinhas” – champagnes, crémants, proseccos e outros nomes que designam os vinhos espumantes. Isso porque a bebida é sinônimo de celebrações. O surgimento do champagne se deve a causas climáticas da região norte da França. Por lá, as temperaturas baixam com rapidez, interrompendo a fermentação dos açúcares das uvas Chardonnay e Pinot Noir. Antigamente os vinhos eram engarrafados e deixados assim até a próxima estação, quando as temperaturas voltavam a subir e as leveduras entravam novamente em atividade. Muitas garrafas acabavam explodindo nas adegas. O que a natureza criou, o homem aperfeiçoou e, nos últimos dois séculos, evoluiu. Hoje essa fermentação na garrafa torna o vinho mais elegante e diferenciado. Esse é o método que chamamos de champenoise ou tradicional.
Dica de harmonização para o Fettuccine al Limone O vinho que sugiro é o Bottega Pinot Griggio delle Venezie (R$59,00), da região do Vêneto. Trata-se de um rótulo com aromas frutados, acidez acentuada, fino e muito delicado. A harmonização é equilibrada, pois o frescor do vinho contrasta com o limão siciliano, equilibrando também o sabor dos camarões.
Primeiro é preciso deixar claro: todo champagne é francês! Champagne é uma região no Norte da França e somente os espumantes elaborados nessa região, com as uvas Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier, podem ser chamados de champagne. Exemplo do Gosset (R$299,00). Todos os demais são espumantes. Cada um recebe o nome característico de acordo com o método de produção. Ainda dentro da França, temos outra denominação de espumantes: os Crémants. Como exemplo, cito os do Vale do Loire, que utilizam uvas diferentes das do champagne, como a Chenin Blanc e a Cabernet Franc. A segunda fermentação acontece na garrafa, como no champagne. O Crémant é muito elegante e agradável. Sugestão: Crémant Baumard (R$124,00). Continuando no Velho Mundo, temos os espumantes italianos. Os mais conhecidos são os Proseccos. Para esses, também são observadas a região e as uvas utilizadas para poder denominar o vinho. Somente aqueles da região do Vêneto, em que 100% de uvas Glera são utilizadas, podem ser chamados de Proseccos. O método utilizado não é o tradicional, mas o Charmat, em que a fermentação ocorre em tanques de aço inox. Uma boa sugestão para quem quiser experimentar é o Prosecco Bottega Il Vino dei Poeti DOC Brut (R$79,00). No Brasil, temos uma produção muito interessante, principalmente, na região do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul. Ali, as vinícolas desenvolvem espumantes de grande qualidade, seja utilizando métodos como charmat ou champenoise, seja criando possibilidades, como uma vinícola que conseguiu elaborar o espumante rosé Bossa (R$35,60) com uvas Sangiovese, Merlot e Chardonnay. A bebida é delicada e agradável, com o corpo das uvas tintas, mas contrastando com a elegância da Chardonnay. Ao passar esses conhecimentos básicos, espero facilitar as escolhas para as festas de fim de ano. Creio que a única dificuldade seja escolher um rótulo dentre tantas opções de qualidade e sabor. Boas-festas e tim-tim!!! | 31
HORIZONTES
CASA DO LUXO Museu da Gucci reúne a história de umas das mais icônicas marcas de moda na inspiradora Firenze Tati Barros
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m museu a céu aberto”. Essa é a definição mais usada para a charmosa Firenze na Itália. E não é necessário um passeio muito longo pela cidade para entender e fazer coro a essa frase que já se tornou clichê, mas resume de maneira exata essa encantadora terra. Além das construções que exalam história, por toda Firenze se encontram reproduções de icônicas obras de arte. É na Piazza Della Signora que essa característica se encontra ainda mais intensificada. Por lá, turistas se aglomeram para registrar o momento ao lado da imponente réplica de David de Michelangelo e outros impressionantes monumentos. A capital da Toscana é também o berço dos mais representativos nomes da moda italiana e mundial, como Emilio Pucci, Salvatore Ferragamo, Roberto Cavalli e Guccio Gucci. Por isso, não é de se admirar que em Firenze a moda também se torne peça de museu. A própria Piazza Della Signora abriga um dos mais importantes museus de moda da Itália: o Gucci Museo. Inaugurado em 2011, quando a grife completou 90 anos, o espaço está localizado no histórico Palazzo della Mercanzia. Concebido pela diretora
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criativa da marca, Frida Giannini, o museu reúne “os momentos mais importantes da história da marca, fornecendo relatos da sua origem, evolução e influência cultural”, como resumiu a própria Giannini à época da inauguração. Em um passeio pelos 2 mil metros quadrados, distribuídos em três andares, é possível encontrar os elementos que ajudam a contar a trajetória de uma das mais representativas marcas de luxo do mundo e de parte da história da cultura ocidental.
HORIZONTES
rou em parceria com a Martin Scorsese’s The Film Foundation, além de documentários da Gucci Tribeca Documentary Fund e longas que contaram com figurinos da grife. A segunda, talvez a mais impressionante, exibe vestidos que são traduções do luxo e do glamour, usados por estrelas de Hollywood. Entre os que chamam a atenção estão o longo bordado, com decote profundo nas costas, usado por Blake Lively na campanha do perfume Premiére, e o modelo esvoaçante usado por Jessica Chastain em Cannes. Para encerrar essa fascinante visita fashion, o museu abriga também uma livraria, onde se podem encontrar obras sobre arte, moda, arquitetura e fotografia. E mais! Há também a loja Gucci, onde é possível arrematar modelos exclusivos da marca, vendidos apenas ali. Para quem não reservou tantos euros para esses caros souvenirs, a dica é relaxar no Caffé Gucci, um aconchegante espaço que pode ser apreciado até mesmo por quem não deseja visitar o museu. Mas fica a sugestão: deixe o cafezinho como um brinde final! Afinal, vale muito a pena incluir a imersão completa ao mundo Gucci em seu próximo roteiro!
Tati Barros
A viagem se inicia justamente com as primeiras coleções de malas desenvolvidas por Guccio Gucci, inspiradas pela época em que trabalhou como ascensorista no Savoy Hotel, em Londres. O acervo passa ainda pelo carro Gucci, um modelo inteiramente personalizado pela marca, a linha esportiva e, claro, uma seleção de roupas, bolsas e acessórios significativos para a história da grife e da moda. Duas salas merecem atenção especial: a primeira é reservada a exibições de filmes que a Gucci recupe-
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Títulos e recomeços Times mineiros projetam temporada 2014/2015 promissora. Em momentos diferentes, Cruzeiro busca consolidação, e o Minas, uma surpreendente volta por cima Vinicius Grissi
Ronaldo Silveira
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perfeita porque o time deixou escapar o que mais desejava: o Mundial de Clubes, disputado em Belo Horizonte pela primeira vez.
Fundado em 2006, o Betim oficializou parceria com o Cruzeiro em 2009, um ano depois de conquistar o seu primeiro título estadual. De lá para cá, não parou de levantar troféus. Só em 2014, foram cinco: Mineiro (quinto consecutivo), Superliga (segundo consecutivo), Sul-Americano, Copa do Brasil e Torneio de Irvine, nos Estados Unidos. A temporada só não foi
Atual campeão, o Sada Cruzeiro teve participação decepcionante no torneio disputado no Mineirinho e acabou apenas na quarta posição. Os russos, do Belogore Belgorod, ficaram com a taça. “Seria egoísmo da minha parte dizer que não foi um ano bom. Disputamos sete torneios e ganhamos seis. O desgaste pesou, e o time sentiu um pouco no fim. Mas foi um ano espetacular”, revela o levantador William, várias vezes convocado para a seleção brasileira em 2014 e um dos principais símbolos do time celeste.
raças à máquina de títulos que se tornou o Sada Cruzeiro, Minas Gerais voltou ao topo do vôlei nacional. Acostumado a empilhar títulos nacionais e sul-americanos nas décadas de 80, 90 e 2000 com o Minas Tênis Clube, o estado viu nascer uma força arrasadora nos últimos anos.
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Orlando Bento/ Minas Tênis Clube
PODIUM
Para seguir brigando por títulos, o Cruzeiro manteve a base para a atual temporada. Além de manter os titulares e boa parte dos reservas, a diretoria contratou o ponteiro canadense Winters e vai dar chance aos jovens Kadu, Salim e Levi. “Eu acredito na manutenção do grupo para conseguir bons resultados. A minha filosofia é essa também. E o mérito é da diretoria. Os resultados provam que essa decisão é acertada”, aponta o levantador. William sabe, porém, que o Cruzeiro é o time mais visado da liga nacional. “Mesmo sendo o mais estudado do campeonato por ter um grupo unido há praticamente cinco anos, continuamos mantendo um padrão de jogo interessante e permanecemos na cabeça”. O início é animador. Até o fechamento desta edição, o time era o único invicto da Superliga Masculina em seis jogos disputados. Para o jornalista Fernando Soares, responsável pelo site Espaço do Vôlei, o Sada Cruzeiro pinta novamente como o favorito à conquista nacional. “O Marcelo Mendez (técnico da equipe) tem o grupo nas mãos e pelo menos uma opção à altura no banco de reservas para cada posição. Isso ajuda muito em um campeonato longo como a Superliga. O Taubaté, pelo investimento e pelo Campeonato Paulista, é uma ameaça, mas o Sesi (vice-campeão na última temporada) segue sendo o principal rival, mesmo podendo contar com o Murilo apenas no segundo turno. Entretanto, os concorrentes estão pelo menos um degrau abaixo do ocupado pelo Cruzeiro”, entende. Do lado oposto, o Minas vive uma situação bem diferente. Sem patrocínio, o maior vencedor do vôlei brasileiro, com sete conquistas, aposta em time reformulado. Inclusive no comando. O ainda pouco conhecido Nery Tambeiro será o comandante de um time jovem. “Temos que buscar dar o melhor do nosso time em todos os jogos, já que temos uma equipe jovem, que tem que acostumar a jogar a Superliga. Claro que teremos momentos de oscilações, mas temos que controlar isso para que não interfira demais no nosso jogo”, aponta o treinador. A principal aposta do Minas é o oposto João, que teve várias convocações na base e volta a ficar à disposição após quase um ano machucado. Chegam também o levantador Everaldo e o ponteiro Canuto. Quarto colocado na última Superliga, derrotado pelo Cruzeiro na semifinal, o Minas tem planos de repetir a campanha em 2014/2015. “Temos o objetivo de passar entre os oito primeiros, buscando uma melhor colocação na fase classificatória. A partir daí, começaremos a pensar em algo mais. É por isso que temos que jogar todas as partidas da mesma maneira, buscando a vitória e lutando do primeiro ao último ponto”, planeja Tambeiro. Ainda entre os homens, dois times representam Minas Gerais na Superliga. O Montes Claros, vice em 2011, tenta se reerguer com o retorno de jogadores importantes, como o le| 35
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vantador Rodriguinho, o ponteiro Ezinho e o meio de rede Salsa. Já o UFJF reformulou completamente a equipe para 2014/2015. Também aposta em jogadores jovens, como o ponteiro Sérgio, revelado pelo Minas. É entre as mulheres, porém, que o Minas Tênis Clube quer voltar ao protagonismo. Campeão nacional pela última vez em 2001/2002, o time quer esquecer o 12º lugar da última temporada para, quem sabe?, brigar pelo título em 2015. “Nosso planejamento é por etapas. Temos que pensar cada vez em uma etapa. Está muito no início da competição. Pensamos primeiro em passar para a segunda fase e, principalmente, em ter uma equipe entrosada e que desempenhe um bom volume de jogo. Para isso, temos que jogar. Só os jogos vão fazer com que nossa equipe imprima um ritmo de competitividade maior e possa pensar em algo mais na competição”, conta o treinador Marco Queiroga. No comando do time desde o ano passado, o comandante, que passou vários anos comandando as categorias de base do clube, quer aproveitar o talento jovem que tem à disposição. “Na última temporada, sofremos um pouco, pois tivemos muitas jogadoras novas e que estavam disputando sua primeira Superliga. Trabalhamos com esse propósito de dar bagagem para as atletas jovens, buscando vencer as partidas. O Minas tem esse plano de sempre formar atletas de qualidade. MesDepois de se aventurar como modelo, Mari Paraíba volta às quadras vestindo a camisa do Minas
mo com equipes mais experientes, sempre há uma jogadora em destaque e que foi formada no clube. A história do clube diz isso: jogadoras campeãs olímpicas e mundiais passaram por aqui. Então é importante ter esse trabalho consistente”, expõe. Mas não é apenas com jogadoras formadas pelo clube que o Minas está disposto a brilhar. “A chegada de um patrocinador disposto a investir trouxe nomes de peso, como Waleska, Carol Gattaz, Jaqueline e Mari Paraíba. O time é forte, mas ainda está abaixo de Rio de Janeiro e Osasco. Acredito que o Minas vá brigar por uma vaga nas semifinais. Isso já seria bom para uma equipe que passou por forte reformulação”, opina Fernando Soares. Uma das principais apostas do time é a ponta Mari Paraíba. Depois de viver a melhor fase da carreira jogando pelo Minas na temporada 2011/2012, ela viu sua vida mudar. Virou musa do esporte, posou para revista masculina e teve passagens frustrantes pelo vôlei de praia, além de jogar por Barueri e Bauru. “Fora de quadra ela pode representar mais visibilidade para o clube pela carreira de modelo. Por dentro, a Mari sabe que tem potencial, mas foi muito irregular nos últimos anos. No Minas, clube que ela conhece, existe uma atmosfera favorável pra que ela volte a brilhar”, aposta Fernando. Aos 28 anos, é justamente a ligação com o clube a principal aposta de Mari Paraíba. “Estou muito feliz. Eu adoro o clube e a cidade e me sinto em casa aqui no Minas. Vim para dar o melhor de mim e cheguei para somar. Quero fazer bons jogos, bons treinamentos para que minha evolução apareça”, explica. A musa garante que não pensava em seguir carreira também fora das quadras. “Na verdade, nunca quis ser modelo. Foi uma oportunidade que apareceu e eu aproveitei. Meu foco sempre foi o vôlei. Quando optei por parar foi para ter um tempo mesmo para mim, esfriar um pouco a cabeça”, conta Mari, que ficou um tempo longe das competições. Para Marco Queiroga, recuperar o vôlei de Mari Paraíba será um dos principais trunfos do Minas na temporada. “Ela é uma jogadora com um volume de jogo muito alto. Com certeza, dará qualidade à recepção e à defesa, possibilitando um melhor rendimento desses fundamentos para a equipe. Ter jogadoras de qualidade no elenco é fundamental para fazer uma boa temporada”, acredita. A temporada 2014/2015 da Superliga já começou. E os times mineiros parecem mais dispostos do que nunca a brilhar com continuidade, reformulação e beleza.
ARTIGOS
Ruibran dos Reis
Meteorologia
Que dia vai chover? Nos últimos meses, a pergunta que intitula este artigo foi a que mais tive que responder. A estiagem deste ano não pode ser comparada, pois, desde o início da coleta de dados meteorológicos, por volta de 1912, não se observa no Brasil um volume tão baixo de chuvas. É algo único na história do país. O que está acontecendo com o tempo? A falta de água é resultado das mudanças climáticas? É por causa do desmatamento? São muitas perguntas para as quais, infelizmente, não se tem respostas. Apesar disso, é possível analisar alguns fatores que ajudaram a agravar a crise da falta de água no Brasil. O que não se pode é colocar a culpa na falta de reservatórios para acumulação de água. Boa parte das represas da Região Sudeste está praticamente seca.
causador das mudanças climáticas observadas desde a Revolução Industrial. O documento chama a atenção para a possibilidade de muitas mortes decorrentes de inundações e falta de água e alerta para prejuízos enormes devido ao aumento e à intensidade das chuvas de granizo e das fortes rajadas de vento causadas por furacões ou tornados. A falta de água que presenciamos este ano nada tem a ver com o fato de termos vivido um período eleitoral. O problema também não se relaciona com a falta de planejamento de nossos governantes. A culpa por esse quadro caótico está em uma sociedade que viveu e vive como se a água fosse um bem perene, que nunca vai nos faltar. “Vai chover” no dia em que começarmos a desenvolver um pensamento baseado nos pilares da susten-tabilidade. Somente com esse posicionamento responsável é que nós e o meio ambiente vamos vencer. Até lá, as previsões não são as mais animadoras.
“‘Vai chover’ no dia em que começarmos a desenvolver um pensamento baseado nos pilares da sustentabilidade”
Um relatório divulgado em 2007 pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) trazia claramente que o mundo enfrentaria uma maior variabilidade climática a partir daquele ano. Estiagens prolongadas, inundações e tempestades severas passaram a ocorrer com maior frequência. Vale lembrar que o IPCC é um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável pela elaboração dos resumos dos trabalhos técnicos relacionados com as mudanças climáticas. O 5º Relatório do IPCC, divulgado em 2013, aponta, com uma precisão de 95%, que o homem é o principal
Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com | 37
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Atletas dos games Indústria de jogos eletrônicos abre caminho para profissionalização de craques dos manetes Cassio Teles
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rabalho e diversão: coisas diametralmente opostas e inconciliáveis”. Essa é a máxima que cava um fosso entre o mundo laboral e o do lazer. A junção de ambos pode parecer impossível, quase uma utopia, mas não é assim para todo mundo. Desenvolvedores de jogos provam que essa é, sim, uma possibilidade real. Presente cobiçado por crianças e adolescentes de todo o mundo, o videogame vem deixando de ser um simples passatempo eletrônico desafiador, com jogos cada vez mais complexos. O ‘brinquedo’ deu origem a um esporte
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profissionalizado e que paga muito bem. Os que se aventuram em campeonatos mundiais podem atingir o status de ‘heróis’ cyberatletas. Desde o surgimento do primeiro console para TV, batizado de Magnavox Odyssey, nos anos 70, o videogame é um dos principais meios de entretenimento da indústria mundial de eletrônicos. Em 2013, esse mercado fechou o ano com faturamento de US$ 11,7 bilhões, registrando um aumento de 10% em relação ao ano anterior, segundo a KaBum! e-Sports.
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Arquivo pessoal
Para movimentar ainda mais esse negócio bilionário, empresas desenvolvedoras de jogos organizam campeonatos regionais e mundiais. Esse é o caso da americana Riot Games, criadora do League of Legends. Nesses torneios, os times, compostos por grupos de amigos e patrocinados por empresas do ramo, competem entre si de olho em prêmios que podem chegar a impressionantes US$ 5 milhões. Foi num desses campeonatos que a equipe da Kabum! e-Sports se tornou a campeã da brasileira de League of Legends (LoL). A competição foi realizada no Maracanãzinho, em julho deste ano. “Além do título nacional, vencemos o sul-americano e levamos, pela primeira vez na história, um time brasileiro ao Mundial de League of Legends. Para completar, vencemos uma partida contra o atual campeão europeu, o Alliance, e tiramos deles a chance de classificação para a segunda fase do torneio. Foi incrível e histórico para o e-Sport no país”, destaca o diretor de e-Sports da Kabum, Denis Fernando. A Kabum têm três equipes, sendo duas de League of Legends e uma que disputa games de First Person Shooter
(FPS) - Counter Strike Global Offensive e Crossfire. Ao todo, a empresa conta com 15 jogadores, um técnico e um manager. O mercado de games, movimentado por jogadores organizados, já é responsável por um ecossistema de empresas de tecnologia criadas para dar suporte aos campeonatos. Organizações mais experientes criam linhas especiais voltadas para o mercado dos games. Elas operam na transmissão via streamming, nas plataformas de rede, venda de equipamentos, como TVs, monitores especiais e computadores oficiais desenvolvidos em linha própria para jogos e torneios. A própria Kabum e-Sports, braço da loja on-line Kabum, trabalha nessa linha de investimento. Há 11 anos, o site de compras decidiu entrar para o ramo dos jogos devido ao envolvimento de grande parte dos consumidores com o mundo dos games. “Há uma conexão grande entre nós, os jogos eletrônicos e o público do e-Sports, que precisa e gosta de produtos personalizados para o bom desempenho dentro dos games. Nosso principal objetivo é nos tornar a maior equipe de e-Sports da América Latina e co-
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CNB - eSports
O cyberatleta Lucas Dal Prá, de 19 anos, dedica 12 horas por dia aos jogos
laborar diretamente para o Brasil se tornar uma potência mundial nesse quesito. Nós acreditamos e por isso investimos nisso”, enfatiza Fernando.
que parar a faculdade”, conta.
Integrante da equipe CNB há três meses, o jovem curitibano Lucas ‘Electro’ Dal Prá, de 19 anos, tem a vida que muitos jovens pediram a Deus. O jovem tem a carteira assinada, plano de saúde e desfruta de outros direitos trabalhistas. “É igual a um trabalho. Sou considerado um atleta, é o que está especificado na minha carteira de trabalho”, explica o jovem, que foi vice campeão no campeonato brasileiro de League of Legends em 2014.
A falta de estrutura e a necessidade de ter um salário que pudesse manter Lucas fora de casa fizeram o jovem cyberatleta cogitar em desistir dos times e da carreira. Ele começou a faculdade de Sistemas de Informação, conseguiu um estágio e engatou um namoro. A história teve revés a partir de um convite feito pela CNB. “Foi a virada total pra mim porque eles tinham estrutura. Era tudo que eu precisava pra conseguir a confiança dos meus pais. Então, tranquei a faculdade no quarto período, por até 2 anos”, enfatiza Dal Prá.
Dal Prá tem várias vitórias em campeonatos amadores no currículo, além de seis participações nas edições da Go4LoL – torneio que ocorre todos os finais de semana e é organizado pela Electronic Sports League. Ao se transferir para o servidor brasileiro, Lucas recebeu várias dicas de jogadores que viam potencial profissional nele. “Comecei jogando sozinho e só depois passei a ter contato com alguns times. Fui me destacando em torneios on-line simples e que contavam com equipes fracas. Assim consegui meu passaporte para times fortes, como a Void e a Mad. Nessa última, fiz testes ao longo de três semanas. Eles gostaram de mim, mas não pude ir para a casa deles porque sou de Curitiba e teria
Unir-se a um grupo profissional de e-Sports requer dividir o mesmo teto com os colegas de equipe. As Game Houses contam com equipamentos de última geração, piscina, academia e faxineira. Mesmo com tantas facilidades, a rotina de treinamento é pesada. Os cyberatletas chegam a se dedicar 12 horas por dia aos jogos. “Pela manhã, vamos à academia, depois tomamos banho e treinamos o ‘cérebro’ com alguns jogos de aquecimento mental. À tarde, jogamos um solo de League of Legends para ‘aquecer’ para o treino de verdade. Por volta das 14h, começamos o treino prático em grupo contra times. Isso se estende até às 22h. Às vezes, trocamos alguns horários da
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tarde e da noite pra assistir a replays e analisar nossas performances”, revela. Para Denis Fernando, jogadores proeminentes têm um perfil perseguido pelas equipes. A escolha de um gamer profissional para compor um time é, teoricamente, um processo simples. “Existem alguns critérios que procuramos seguir. A qualidade técnica, o bom comportamento no jogo e o bom relacionamento em equipe estão entre eles”, explica o diretor. Mesmo não exigindo muito do condicionamento físico, a carreira de um cyberatleta pode ser curta. A ‘aposentadoria’ bate à porta na casa dos 30 anos. Existe a possibilidade de destaques se tornarem treinadores de equipes ou até mesmo organizadores de campeonatos, partindo sempre do princípio de que o patrocínio é essencial para a própria sustentação. O jovem Lucas Dal Prá se posiciona consciente quanto a isso. “Se eu perder o meu vinculo com a faculdade, meu futuro pode correr um risco bem grande, então voltarei para a sala de aula muito em breve. Ser jogador profissional é um sonho atrás do qual estou correndo enquanto é realisticamente possível, sem representar riscos. Tenho 19 anos e tranquei a faculdade no quarto período. Então, tenho ‘tempo a perder’. Vivo o que meus pais que me falavam: ‘Corra atrás do seu sonho, mas sempre com os pés no chão’”. O mundo dos games vai muito além das empresas desenvolvedoras de jogos, de revendedores, jogadores amadores e profissionais. O mercado se transforma com muita velocidade, ao passo que novidades tecnológicas surgem a cada ano e servem de suporte para o setor. Os jogos, por sua vez, tornam-se mais complexos, exigindo muita habilidade, raciocínio e criatividade dos jogadores.
é também o responsável pelo canal BRKsEDU no Youtube. Lá ele transmite seus jogos para milhares de espectadores que querem aprender artimanhas. “Um iniciante fatura, provavelmente, apenas algumas dezenas de reais, se tanto, por mês. Os youtubers com maior volume de visualizações podem chegar a faturar mais de R$ 100 mil em dezembro, que é o mês mais forte para a publicidade”, explica. O vultoso valor envolve contratos com redes do Youtube para vídeos de Gameplay. Além disso, os ‘empresários-jogadores’ podem fechar contratos com agências para a alocação de propagandas nos vídeos produzidos. Benvenuti praticamente nasceu com o manete na mão. Com apenas quatro anos, ele começou a jogar River Raid no nostálgico Atari. As habilidades foram evoluindo com os jogos. Em 2008, o jovem percebeu que poderia ganhar dinheiro jogando videogame ao monetizar vídeos postados no Youtube. “Eu tinha meu canal de games nessa época. Foi uma surpresa descobrir que poderia ter retorno financeiro com isso. Inicialmente pensei que meus jogos poderiam ser custeados com o dinheiro gerado via Youtube, mas o crescimento constante do canal me induziu a levar mais a sério a possibilidade de o Youtube virar meu ganha-pão”, revela.
O profissional de marketing Eduardo Benvenuti incrementa o salário com a monetização de vídeos do Youtube que oferecem dicas aos amantes dos jogos
Arquivo pessoal
Amadores e aqueles que vislumbram o profissionalismo têm aliados importantes na internet. Jogadores craques nos games mais complexos dão toques valiosos em canais no Youtube e em portais na internet. Informações de como vencer obstáculos quase intransponíveis e desenvolver estratégias para jogos em equipe podem ser facilmente encontradas. Além disso, esses profissionais dão dicas de novos games, equipamentos e de onde comprar mais barato. É dessa forma que o profissional de marketing paulistano Eduardo Benvenuti vem complementando a renda nos últimos quatro anos. Morador de Vancouver, no Canadá, o jovem, de 29 anos, atua no mercado de redes sociais na área de games em língua portuguesa, na BroadbandTV, uma network canadense. Benvenuti | 41
KULTUR
Promessa Interesse crescente de brasileiros pelo gênero da animação não reduz problemas envolvendo investimento e projeção Haydêe Sant’Ana
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ual a pessoa que nunca deu a desculpa de ter que levar uma criança para assistir a uma animação em cartaz nos cinemas, quando, na verdade, ela demonstrava mais entusiasmo que o próprio filho, afilhado ou sobrinho? A famosa desculpa não cola mais. Se antes o cinema de animação era considerado restrito ao universo infantil, hoje é possível dizer que as animações vêm conquistando um público bastante heterogêneo, formado também por jovens e adultos. O crescente interesse do público pela animação se deve ao encantamento que essa arte desperta. Por meio desse gênero cinematográfico, é possível criar fantasias, criaturas e personagens que fazem parte de um universo mágico, em que tudo pode acontecer. A possibilidade de dar vida a objetos inanimados confere ao gênero um caráter ‘milagroso’. A própria palavra animação tem a gênese latina animare que, significa “dar vida”, “princípio vital da vida”. A animação é uma simulação de movimentos criados a partir da exposição de imagens ou de quadros. O olho humano só consegue registrar 12 quadros de imagens por segundo. Então sequências com quantidade de quadros superior a essa capacidade de abstração criam a ilusão de ótica de movimento. Entre as principais técnicas utilizadas na produção de filmes de animação estão a 3D, a 2D, flipbook, stop motion e a cutout. A 3D ou CGI é produzida diretamente por computadores por meio de programas como o 3ds Max e o Maya. A 2D, também conhecida como animação tradicional, é a mais simples, feita com lápis e papel, em que cada pose do personagem é desenhada separadamente, formando uma sequência lógica que ganha vida ao ser reproduzida a uma velocidade de 24 quadros por segundo. 42 | www.voxobjetiva.com.br
O flipbook é formado por um livro que leva um desenho em cada página. Ao passá-las rapidamente, temse a ilusão de movimento. Essa técnica deu origem ao stop motion, que utiliza objetos reais, como bonecos de massinha ou outro tipo de objeto fotografado quadro por quadro. Já o cutout é uma animação feita a partir de recorte de papel, seguindo a mesma técnica do 2D e do stop motion. Walt Disney, um dos precursores do cinema de animação, imortalizou-se e se tornou referência mundial por meio de desenhos, como Mickey Mouse, Pato Donald, Pateta, Pluto, dentre outros. Seus personagens e filmes ganharam vida própria, atravessaram as barreiras do tempo e povoam até hoje o imaginário infantil de várias gerações. Mesmo após a morte de Walt Disney, seus estúdios continuam a produzir filmes de animação que são sucesso, exemplo de ‘O Rei Leão’ (1994), terceira maior bilheteria mundial, e ‘Toy Story’ (1995), primeira animação feita totalmente em computador. Do primeiro filme longa-metragem de animação, ‘Branca de Neve e os Sete Anões’ (1937) até o último lançado, o vencedor do Oscar 2014, ‘Frozen’, os estúdios Disney já produziram 53 filmes de animação.
KULTUR
Reprodu瘘ão
Reprodução
Conforme dados do Anuário Estatístico do Cinema, divulgados pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), em 2013, o número de produções cinematográficas nacionais atingiu o número de 129 filmes, mas apenas dois foram do gênero de animação. De produções estrangeiras, os cinemas brasileiros receberam 268 títulos. Desse total, 16 correspondiam a animações. Paralelamente aos filmes que chegam às telas de cinema, existe uma vasta produção de origem caseira, com obras que têm duração de dois a três minutos. Ao aliar praticidade e criatividade, esses animadores conseguem dar vida a seres inanimados lançando mão de recursos e técnicas simples. É o caso de Lucas Paio, produtor do curta ‘Nightmare on Cork Street’, que tem como personagens objetos caseiros: saca-rolhas e rolhas. “Queria fazer um stop-motion com uma técnica melhor do que a das animações toscas que fazia quando era moleque. Comecei a procurar por objetos em casa que sugerissem alguma característica interessante. Encontrei o saca-rolhas na cozinha de casa. Daí para usar rolhas e tampinhas, foi um pulo”, conta. Cena do longa de animação “Nimuendajú”, de Tania Anaya; e do curta experimental “Nightmare on Cork Street”, de Lucas Paio
No Brasil, o primeiro curta do gênero foi ‘O Kaiser’ (1917) de Álvaro Martins. Por falta de preservação adequada, a animação se perdeu. E o primeiro longa de animação surgiu 36 anos depois: ‘Sinfonia Amazônica’ (1953) de Anélio Lattini Filho. Com uma abordagem folclórica e uma narrativa fabulista, o roteiro do filme desvendava a história de lendas amazônicas. Em 1996, o estúdio NBR Filmes, do animador Clóvis Vieira, produzia o primeiro longa metragem de animação em computação gráfica do mundo, ‘Cassiopéia’.
Reprodução
A facilidade de acesso a equipamentos e tecnologia fez da década de 90 um momento de grande prosperidade para o setor audiovisual. Outros fatores que contribuíram significativamente para o crescimento do mercado foram as iniciativas criadas pelo governo por meio de projetos, leis e editais de fomento à cultura. De acordo com dados da Associação Brasileira de Animação (ABCA), na década de 90 foram produzidos 216 filmes de animação no país. Entre 2000 e 2004, esse número aumentou consideravelmente, passando para 373 filmes – um crescimento de 72% em relação à década anterior. Em termos de mercado mundial, o setor de animação brasileira ainda representa um nicho muito pequeno. | 43
Fonte: Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro - 2013
KULTUR
Paio conta que não utilizou efeitos visuais na pós-produção do curta. O publicitário fez apenas alguns ajustes de iluminação e de enquadramento. Ele não esperava tanta repercussão com o curta. “Fiz um filme como um exercício de animação mesmo, feito em casa sem muitas pretensões. Como gostei do resultado, comecei a enviar para festivais e tive algumas respostas positivas”, revela. O trabalho foi reconhecido com o prêmio de melhor filme de terror no Festival Minuto 2014 e foi exibido recentemente no festival The Long Day Short Film, da Califórnia. Diante da ausência de um mercado consolidado na área de animação, muitos animadores brasileiros se valem de mecanismos alternativos de exibição, como mostras e festivais. O Animamundi é o principal festival de animação brasileira e o segundo maior do mundo. O evento acontece anualmente no circuito Rio de Janeiro - São Paulo, além de ter subedições em capitais brasileiras, como Brasília, Belo Horizonte e Curitiba. Em Belo Horizonte, a Mostra Udigrúdi Mundial de Animação, conhecida como Festival Múmia, foi pensada 44 | www.voxobjetiva.com.br
com o intuito de dar visibilidade a toda produção recebida pela organização. Idealizador e diretor da mostra, Sávio Leite explica que a ideia de fazer um festival sem seleção surgiu com o objetivo de valorizar o trabalho do animador que enfrenta muitas dificuldades na produção, no financiamento e na exibição, além de gastar muito tempo para concluir trabalhos. Para Leite, não existe um mercado de animação na capital mineira. Há escolas de animação, como as da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e do Centro Universitário Una. “Existe uma produção grande, mas ela é mais autoral que comercial” afirma. Essa é uma constatação que se aplica a produção de BH e à do Brasil por inteiro. Isso pode ser observado em termos de bilheteria. Embora os dois últimos filmes de animação brasileira – ‘O menino e o mundo’ (2014), de Alê Abreu, e ‘História de Amor e Fúria’ (2013), de Luiz Bolonhez – tenham sido premiados como os mais importantes do Fes-
KULTUR
tival Annecy, na França, os dois títulos tiveram um público irrisório com, respectivamente, 3.891 e 18.814 espectadores. Devido aos altos custos de produção dos longasmetragens, o Brasil ainda gera pouca receita nesse quesito. A maioria dos filmes que chegam às bilheterias do cinema foram financiados por projetos, leis ou editais governamentais. A Lei Audiovisual e a Lei Rouanet são exemplos de fomento na produção e coprodução de obras cinematográficas, concedendo incentivos fiscais. Além das federais, todo ano são lançados novos programas e editais do governo voltados especificamente para o setor de animação. Segundo Daniel Werneck, professor do curso de cinema de animação da UFMG, é possível enviar propostas para editais de leis de incentivo à cultura mais genéricos em âmbito federal, estadual e municipal. No entanto, esse processo pode ser complicado pelo fato de as exigências serem grandes, e os editais, muitas vezes, não levarem em consideração a complexidade e o custo da produção de um filme. “Dependendo do edital, eles podem, por exemplo, pedir a um documentarista que envie apenas um roteiro de edição, enquanto que um animador precisa mandar roteiro completo, design dos personagens, storyboard e, às vezes, até um animático finalizado com som” observa. Em Minas Gerais, o programa Anima Minas é voltado especificamente para o cinema de animação. A iniciativa seleciona projetos inéditos e séries para compor a grade de programação da Rede Minas. Outro edital do governo é o Filme em Minas, que, em sua quinta edição, de 2011 a 2012, investiu 4,5 milhões em projetos no estado.
doméstica” de trabalhar a animação para longas-metragens com equipe e orçamento pequenos. “Este novo arranjo tem possibilitado a emergência de projetos experimentais marcados pela inovação temática e estética, atraentes para o público jovem e adulto” afirma. Diferentemente de ‘Valsa com Bashir’, em ‘Nimuendajú’ as filmagens são feitas in loco no lugar do estúdio. “Foram feitas filmagens em duas áreas indígenas – em Apinayé, no Tocantins, e Canela-Rankokamekra, no Maranhão – e em estúdio, em Belo Horizonte, para dar base para a construção da trilha de som sobre o qual toda a animação será sedimentada (sincronismo labial, duração de cada movimento e ação) e para preservar a pujança ‘real’ de personagens e cenários a serem convertidos em desenho”, explica Tania. A cineasta trabalha com uma equipe formada por 50 profissionais e outros colaboradores indiretos. Ela busca recursos para iniciar a etapa mais trabalhosa da animação – a finalização. Ainda não há previsão para a conclusão dos trabalhos, que foram iniciados há sete anos. A esperança é de que, em breve, a animação cumpra a sua razão de ser e encontre os espectadores nas salas de cinema do Brasil e, por que não?, do mundo.
TÍTULOS LANÇADOS POR GÊNERO EM 2013
‘Nimuendajú’ é o primeiro filme de longa-metragem em fase de produção da artista plástica e animadora Tania Anaya. O longa foi contemplado no Filme em Minas, em 2007, na categoria roteiro. Em 2012, venceu as categorias preparação e pré-produção. A narrativa é a trajetória de Curt Unckel, etnólogo alemão que percorre tribos indígenas em todo o país registrando as línguas, lendas e tradições dos nativos. Curt é batizado pelos índios de Nimuendajú – “aquele que soube abrir o seu próprio caminho neste mundo e conquistou o lugar”. O filme adota um processo de realização semelhante ao de ‘Valsa com Bashir’ (2009), de Ari Folman. A obra foi filmada e depois recebeu técnicas de animação por meio do programa Flash. De acordo com Tania, o uso do programa proporciona agilidade e economia na produção dos desenhos, inaugurando uma maneira “mais | 45
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Intenso como Tim Cinebiografia de Mauro Lima adota estilo hollywoodano para reconstruir a vida do ‘rei do soul’ Tim Maia, fugindo do clichê de filme musical Haydêe Sant’Ana
O filme “Tim Maia - Não há nada igual” chega às telas de cinema com a proposta de contar a trajetória de vida do ‘síndico do Brasil’. O trabalho do diretor Mauro Lima foi inspirado na biografia ‘Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia”, de autoria de Nelson Motta. O longa utiliza o recurso de narração voz-over. O narrador da fita é o personagem Fábio, amigo íntimo de Tim, interpretado por Cauã Reymond. Fábio assume um lugar privilegiado de ‘testemunha’. Conta experiências do cantor e detalhes da vida íntima. Ele ri, chora, conversa e xinga o amigo durante todo o filme. Mas Fábio não cumpre apenas o papel de voz-over. No transcorrer da história, o personagem vai ganhando um potencial dramatúrgico, participando de ações. A cinebiografia passa pela infância sofrida e a juventude, período em que Tim começou a se interessar pela música. Ele integrou o “The Sputniks”, um dos grupos musicais que tinha na sua formação ninguém menos que Roberto Carlos. Tim Maia enfrentou vários obstáculos, como preconceito, falta de dinheiro e a descrença em relação ao potencial dele, até conseguir se lançar na carreira solo. Na busca para alcançar o sucesso, a mistura de sexo, drogas, rock e soul ditam a vida do cantor. Posteriormente, Tim tenta romper com os excessos e se envolve com uma doutrina totalmente oposta a tudo com que estava acostumado: a “Cultura Racional”. A adesão influenciou 46 | www.voxobjetiva.com.br
muito no trabalho do cantor. Isso fica evidente nas músicas e nos discos lançados por Tim nos anos 70 que fazem apologia ao livro “Universo em desencanto”, orientador dos fiéis da seita. Durante o tempo em que permanece ligado à “Cultura Racional”, o ídolo passa por um ‘processo de purificação’, mantendo-se afastado do álcool e das drogas. Como sempre inconstante, “fazendo aquilo que lhe dava na telha”, Tim não dura muito tempo na seita. Rompendo com a ideologia, o cantor volta à vida pregressa. Dividindo o papel de Tim Maia na juventude e na idade adulta, Robson Nunes e Babu Santana dão um show de atuação. Os dois encarnam o personagem tão brilhantemente que não se sente a mudança de um ator para outro. Parecem ser um só. Com diálogos recheados de palavrões, deboches e ironias, o longa reconstrói, com irreverência e bom humor, um Tim Maia desbocado e cabeça-dura. Com uma fotografia digna dos filmes de Holywood, um figurino bem-selecionado, músicas de grande sucesso do cantor, o filme encanta e prende a atenção do público que não percebe as duas horas e 20 minutos de duração do longa. A obra consegue sintetizar muito bem o personalidade do ídolo brasileiro que marcou e influenciou uma geração. Um filme para rir, chorar e se emocionar. É assim: tudo ao mesmo tempo e intenso como Tim.
TERRA BRASILIS • LITERÁRIA
A menina que roubava livros Autor: Markus Zusak Editora: Intrínseca Páginas: 480 Preço: R$ 39,90 O livro narra a história de sobrevivência da menina Liesel Meminger na Alemanha de Hitler, ao longo da Segunda Guerra Mundial. Seduzida pelo universo literário, a garota se torna uma ávida ladra de livros. Num tempo em que várias publicações eram proibidas e até incendiadas, Liesel encontra refúgio contra os horrores da guerra na biblioteca do prefeito. “A menina que roubava livros” é uma história sobre esperança e a resiliência do espírito humano. Reprodução
Vermelho como o Sangue Autor: Salla Simukka Editora: Novo Conceito Páginas: 240 Preço: R$ 23,62 Após encontrar uma quantidade de cédulas respingadas de sangue no laboratório de fotografia da escola, Lumikki Andersson se vê envolvida num turbilhão de eventos. Aos 17 anos, a jovem estudante de artes se depara com uma série de acontecimentos ameaçadores que apontam para o envolvimento de policiais corruptos e um traficante perigoso. Desesperada, a garota corre contra o tempo para salvar amigos e a si. Reprodução
A culpa é das estrelas Autor: John Green Editora: Intrínseca Páginas: 288 Preço: R$ 19,90
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Mais vendido
O livro narra a história de Hazel, uma adolescente de 16 anos que sofre com um câncer maligno. Embora o tumor na adolescente tenha encolhido milagrosamente, a vida da jovem segue condicionada ao tempo previsto pelos médicos. Tudo muda quando Hazel conhece Augustus Waters, um garoto que está livre do câncer e que frequenta o Grupo de Apoio a Crianças com a doença. Juntos, os dois vão preencher o vazio das páginas em branco de suas vidas.
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Eny Miranda
TERRA BRASILIS • AGENDA
Mostra Múmia
Diálogos Cênicos
Happy Holi
No início de dezembro, Belo Horizonte vai se transformar na capital da animação com o Mostra Múmia, a ‘Mostra Udigrúdi Mundial de Animação’. O evento vai divulgar a produção audiovisual de animação sem restrições. Criada em 2003, pelo professor e animador Sávio Leite, o Múmia é o único festival que exibe todo o conteúdo que recebe. Com uma programação que mescla a produção videográfica nacional e internacional, a mostra pretende destacar curtas e filmes que estão à margem do circuito comercial.
Dança, teatro e muitas atividades prometem agitar o Circuito Cultural da Praça da Liberdade. O projeto ‘Diálogos Cênicos’ busca democratizar o acesso à cultura e mostrar a diversidade da produção em artes cênicas no estado. Vinte trabalhos compõem a grade de programação do evento, que foi distribuída entre os seguintes espaços do circuito: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o Centro de Arte Popular – Cemig, o Centro de Informação ao Visitante - Prédio Verde, o Memorial Minas Gerais Vale e a própria praça.
Inspirado no Holi da Índia, o ‘Happy Holi’ é um festival que celebra a união e alegria de viver, trazendo uma mistura de música e cor. A festa é aberta com um ritual que acontece de 45 em 45 minutos durante o show. São as chamadas ‘colorblasts’, verdadeiras explosões de cores, quando todos participantes, trajados de branco, lançam ao alto pós coloridos. O Dj internacional Diego Miranda e Alok, um dos melhores Dj’s brasileiros da atualidade, se juntam ao Dj Tom, Lyopak e a Darth e Vader para agitar o público com muita música eletrônica!
Locais: vários locais da cidade De 2 a 18 de dezembro Entrada franca mostramumia.blogspot.com.br
Circuito Cultural da Praça da Liberdade De 29 de novembro a 10 de dezembro Entrada franca outubro dialogoscenicos.com.br
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Estádio do Mineirão De R$ 85 a 170 (inteira) happyholifestival.com.br
TERRA BRASILIS • AGENDA
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Guga Melgar
Bee Gees Alive Em dezembro, a banda tributo Bee Gees Alive chega à capital mineira para divulgar a obra do Bee Gees. O grupo foi o primeiro no Brasil a interpretar as músicas da famosa banda inglesa que fez muito sucesso durante os anos 60 e 70. A incrível semelhança com o conjunto original, tanto em questão de voz quanto na qualidade do trabalho, fez com que os Bee Gees Alive fossem classificados pela crítica internacional, em 2003, como uma das três melhores bandas de tributo aos Bee Gees do mundo. Sucessos como “How deep is your Love”, “Stayin Alive”, “To Love Somebody”, “Night Fever” estão presentes no repertório do show. Cine Theatro Brasil Vallourec Dia 12 de dezembro, às 21h De R$ 40 a 80 (inteira) http://www.cinetheatrobrasil.com.br/
Leo Aversa
Estranhas Ocupações Teatro João Ceschiatti De 4 a 21 de dezembro Quarta a sexta, às 20h, sábados e domingos, às 17h e às 20h fcs.mg.gov.br
O espetáculo é inspirado em contos do livro ‘Histórias de Cronópios e de ‘Famas’, do escritor argentino Julio Cortázar. A obra tem surpreendente riqueza, misturando poesia e humor adstringente e revelando o que há de fantástico e raro na vida. Com direção e a coordenação dramatúrgica de Odilon Esteves, ex-aluno do Cefar, a peça ‘Estranhas Ocupações’ narra a história de uma família numerosa e cheia de peculiaridades.
Visualidades e memória A exposição conta a história do Centro Cultural da UFMG e do seu entorno. São fotografias históricas, que representam espaços tradicionais de Belo Horizonte. A antiga Praça da Estação, a Estação Ferroviária, o antigo Guga Melgar prédio do Cult UFMG e o Monumento à Terra Mineira estão no acervo. A exposição estabelece um diálogo ao cruzar memórias em uma perspectiva histórica de acordo com a vivência contemporânea. Centro Cultural UFMG De 8 de outubro a 31 de dezembro De terças a sextas, das 10h às 21h Sábados e domingos, das 10h às 18h Entrada franca ufmg.br/centrocultural
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Conexão Aeroporto BH e Betim. Agora, pela pista rápida e exclusiva do MOVE.
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