Vox 59

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Maio /14 • Edição 59 • Ano VI • Distribuição gratuita

sem estÍmulo: Jovens exercitam o cérebro para fazerem as pazes com a mente

OLAVO MACHADO Presidente da Fiemg cobra mudança na política econômica

Debate e preconceito Declaração de dirigente reascende o debate sobre a atuação da mulher no futebol


IA LHA SA E E L A PR B M M RAB RAR OS. EM A A NA E I E G R S T O IR LA REZ SÉ QUE S C I K I C A DA M E PE EC POB R R A A INASMELHMINE C E SA TE À AÚD A O ÇÃO ICRO L M A OS BO MBA + S NTR ICA A M E R D PA A D CO SINE A CO RRAD RO D ANAL D AS RCH DE E INEI TES I MA NDO TO M O AR AV U TU EIJ F

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*Deputados com imóvel na RMBH.

Nos últimos três anos, a Assembleia criou novas medidas de austeridade e transparência, reduziu custos e melhorou a qualidade de vida dos cidadãos de todas as idades. Também investiu em mecanismos de aproximação com a população, para maior participação de todos, e trabalhou para diminuir as diferenças sociais no Estado. Isso porque a Assembleia de Minas é sua. É o poder e a voz do cidadão.

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ALMG


olhar bh

Aos pés, um ‘Belo Horizonte’ - Mirante do Mangabeiras Foto: Felipe Pereira


Editorial As chances que perdemos A repercussão da fala do ex-jogador Ronaldo sobre o atraso nas obras da Copa dá um exemplo de como nós, brasileiros, não aprendemos com nossas experiências. Hoje ‘fenômeno’ de campanhas publicitárias pouco inteligentes, o ex-atacante decidiu se render ao discurso do politicamente correto e acabou ganhando as páginas internacionais. Ainda que diante da possibilidade de oportunismo eleitoral, Ronaldo sintetizou o sentimento de milhões de pessoas incomodadas com um país que infelizmente não cumpre prazos nem compromissos. As obras são apenas parte dessa cultura de procrastinação e da falta de planejamento que se arrastam há séculos entre os governos. Políticas públicas, debates, reformas..., tudo fica sempre para a última hora ou para o desenrolar de outras eleições.

Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)

Ocupando a capa de um jornal de grande circulação nacional, as reações contra Ronaldo foram imediatas e intempestivas. Mas não adiantou. O estrago já estava feito. Fora dos arroubos partidários, era de se esperar do Governo Federal um posicionamento institucional, sóbrio e que tentasse usar o momento como forma de reconhecer os erros e de buscar novos acertos. Nada disso! A resposta oficial veio em forma de discurso inoportuno e passional, no melhor estilo latino-americano. “Não temos nada do que nos envergonhar nem complexo de vira-lata”, discursou Dilma. Se a presidente foi instigada a se manifestar dessa forma pelos assessores políticos, ela foi muito mal orientada. Se a mandatária decidiu responder assim por conta própria, foi bastante infeliz. Em vez de deixar claro que o Governo tem o controle da situação, apesar dos atrasos, Dilma cedeu aos especialistas do marketing político. Quando o assunto é manter a confiança do eleitor, as pesquisas são indicativos, não verdades absolutas. No lugar de uma resposta em tom de desafio, a presidente poderia ter usado o cargo de maior importância no país para reconhecer e concordar que falhas existiram em vários pontos. Mas também poderia dizer que a experiência será importante para o futuro.

A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060

Envergonhar-se dos erros é qualidade fundamental em um grande líder. Mostra respeito, humildade e proximidade com o sentimento coletivo do que é público – e, por isso, entregue a quem governa por tempo limitado. Ao rebater passionalmente a fala de Ronaldo, Dilma não se comprometeu a corrigir o que foi falho nem a buscar eficiência no que ficou a desejar. Ela deixou no ar a certeza de que, sendo reeleita, vai manter os descontroles e os erros que deixam o mandato cada vez mais em baixa. Dilma foi eleita presidente para acertar e melhorar a vida dos brasileiros. Para isso, ela precisa se recolocar no patamar das pessoas, entender as ruas e abandonar a tradição política da mentira transformada em verdade duvidosa, após ser repetida inúmeras vezes. Preferir a arrogância à sabedoria é o caminho mais curto para o fracasso. No caso da Dilma, para o fracasso de todo o país.

Editor Adjunto: Lucas Alvarenga l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Felipe Pereira | Estagiaria: Daniela Rebello l Reportagem: André Martins, Bárbara Caldeira, Carlos Viana, Ilson Lima, Tati Barros, Thalvanes Guimarães | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br


OLHAR da copa

Tânia Rêgo/ABr

“Me sinto envergonhado “ Ronaldo , sobre os atrasos para a Copa

“O Brasil tem que ter padrão Brasil” Dilma, em resposta a Ronaldo

Marcelo Casal Jr./ABr

“É inaceitável os estádios não estarem prontos” Pelé, sobre a preparação da Copa.

Blog do Planalto


sUMÁRIO Marcelo Metzker

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Divulgação FCF

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Shutterstock

Bengt Nyman

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OLAVO MACHADO Presidente reeleito do Sistema Fiemg pede isonomia para a indústria

metropolis

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CRISE DO ETANOL

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CAPA

salutaris

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CUIDADOS COM A MENTE

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COMPORTAMENTO EXEMPLAR

Sem condições de competir com a gasolina, usinas de álcool combustível fecham e provocam desemprego em Minas e no país

IGUALDADE NO FUTEBOL Polêmica declaração põe em debate o protagonismo da mulher no esporte mais popular do país

Jovens deixam de lado rotina de sobrecarga mental, mudam a alimentação e exercitam a mente para alcançar o tão sonhado bem-estar Gerações dedicadas à decoração driblam os perigos de uma relação familiar e profissional para conseguir êxito e prazer no trabalho

femme

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MERCADO DO SIM Conheça cinco tendências para tornar o casamento uma celebração emocionante e inesquecível


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Divulgação

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Agência UDOC

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KULTUR

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‘THRONESMANIA’

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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci

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Meteorologia • Ruibran dos Reis

Saga baseada em ‘As Crônicas de Gelo e Fogo’ conquista milhões de brasileiros

BRAZILIAN JAZZ Uma das cinco maiores cantoras de jazz do mundo, baiana Rosa Passos busca mais reconhecimento no Brasil

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DESAFIO DE SCARLETT Atriz interpreta alienígena que se depara com o melhor e o pior da humanidade

Artigos

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André Martins

IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira Para lucrar com imóvel na planta

justiça • Robson Sávio Desmilitarização das polícias Gritos de socorro

A lição de Bohr

crônica • Joanita Gontijo Elegância: moda para todas as estações

GASTRONOMIA

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Receita • Chef Remo Peluso

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VINHOS – Julia Grossi

Ora-pro-nóbis no sereno da madrugada A ilha dos vinhos de Donnafugata


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‘Precisamos de isonomia’ Presidente da Fiemg pede tratamento igual para a indústria e uma mudança de postura na política econômica brasileira Texto: Carlos Viana Fotos: Sebastião Jacinto Jr. le foi reeleito para a presidência do Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Sistema Fiemg). Na liderança do setor industrial mineiro por mais quatro anos, Olavo Machado Júnior quer contribuir ainda mais para a valorização da indústria de Minas. Crítico da atual política econômica brasileira, o empresário ressalta o grande potencial das empresas do estado. Essa capacidade e a inovação colocariam a indústria mineira para competir na linha de frente no país e no mundo. Durante o primeiro mandato, Machado Júnior implantou o Senai/Cetec para diversificar a indústria do estado; inaugurou a escola móvel do Sesi/Senai para dar oportunidade de trabalho aos mineiros; criou o Minas Sustentável para promover o desenvolvimento consciente da indústria e promoveu uma série de medidas voltadas para a segurança do trabalho. No segundo mandato, o presidente da Fiemg pretende continuar com a política de valorização da indústria.

gir o objetivo de valorizar a indústria mineira. Hoje nós conhecemos mais precisamente os números da indústria estadual. Conhecemos esses números e podemos focar ainda mais no que é preciso ser feito em Minas Gerais. Nós temos procurado parcerias com o governo estadual e o governo federal. Também trabalhamos afinados com o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o mineiro Robson Andrade. Ele também foi reeleito ontem por unanimidade. Juntos temos nos preocupado em agregar valor às coisas de Minas Gerais.

“A globalização é um processo inevitável. Mas nosso dever é tornar a indústria nacional, principalmente a mineira, capaz de concorrer no mercado internacional”

Em entrevista à Vox Objetiva, o empresário destaca as condições necessárias para fazer as indústrias mineira e brasileira crescer e deixar para trás a desconfiança. Olavo fala essencialmente de política e da importância do setor industrial, base do Produto Interno Bruto (PIB).

O senhor foi reeleito para o segundo mandato como presidente da Fiemg. Qual foi a experiência obtida com a primeira gestão e quais foram os desafios vencidos nesse período? Primeiro, fiquei mais velho. Os cabelos ficaram brancos (risos). Mas eu entendo que nós conseguimos atin-

Quando o senhor assumiu, o cenário brasileiro era bem diferente. Houve uma mudança muito rápida no que chamamos de ‘possibilidades de futuro’. É sempre assim no Brasil?

Eu sou um crítico contumaz da maneira como a economia é conduzida no país. Nós tivemos uma expectativa bastante positiva durante o governo do presidente Lula. Ele valorizou efetivamente a produção interna do Brasil e criou condições para que a indústria nacional se preparasse. A presidente Dilma manteve essa preocupação. E não é difícil perceber isso: basta ver o Pronatec e os Institutos Senais de Inovação e Tecnologia. Porém, a área econômica insiste em importar crises. Essa é uma posição que persiste no governo federal. E com isso, estamos cada vez mais permitindo que o nosso mercado seja explorado por empresas de fora. A globalização é um processo inevitável. Mas nosso dever é tornar a indústria nacional, principalmente a mineira, capaz de concorrer no mercado internacional. Para isso, precisamos de isonomia para as indústrias estadual e nacional. Em igualdade de condições, ambas podem |9 sobressair.


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Quais os setores em Minas Gerais estão sendo mais prejudicados pela política econômica? O próprio nome do estado indica nossa principal cadeia produtiva: o setor de mineração. Agora nós temos uma série de outras cadeias que vivem das oportunidades criadas pela mineração. Podemos citar as cadeias metalúrgica e automotiva, por exemplo. Mas há muitos setores produtivos que sofrem com a desvalorização do dólar, as flutuações da taxa de câmbio ou com os impostos. A forma como os setores produtivos vêm sendo desonerados preocupa a indústria? A indústria não paga tributos. Essa é a grande realidade. O setor recolhe e repassa ao governo o que ele determina. A preocupação com impostos deveria ser algo presente na pauta do governo, não uma exclusividade da indústria. Quando a União estabelece uma política de desonerações não estudada previamente, 10 | www.voxobjetiva.com.br

ela cria problemas para a indústria nacional. A substituição tributária tem apenado muito o empresário brasileiro porque ela imobiliza o capital de giro. E para piorar, não há linhas de financiamento para capital de giro nos bancos públicos nem nos privados. O grande problema é que os bancos não correm risco no Brasil, devido às altas taxas de inadimplência. Até os bancos de desenvolvimento tornam a busca de recursos inacessível ao empresário, sobretudo o pequeno. Outro ponto são as desonerações feitas na cadeia produtiva sem nenhum estudo prévio e sem desonerar a cadeia inteira. Geralmente essas desonerações acontecem no final da cadeia produtiva. Acredito que a maioria das pessoas não saiba que nós temos o industrial do ano – o senhor Antônio Vieira, de Itajubá. Ele é um fabricante de sabonetes, tem uma fábrica de 40 mil metros quadrados que emprega 1,7 mil funcionários e produz 260 sabonetes por minuto. O produto dele é exportado para


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Antes de reclamar dos políticos, nós temos que votar em pessoas sérias, comprometidas e que, depois de eleitas, apresentem resultados em relação ao que propuseram. O nosso instrumento é o voto que será dado em outubro. Por isso mesmo, devemos levar a política mais a sério. Quantos cidadãos brasileiros lembram em quem votaram nas eleições municipais de 2012? Quem lembra em qual deputado e senador votou nas eleições de 2010? É hora de refletir e ver se nós caminhamos ou se nós regredimos durante esses quatro anos. Os senhores vão exigir compromisso dos candidatos? Exigir é uma palavra muito forte. Nós podemos sugerir o voto e depois torcer para que o eleito tenha compromisso com a nação. O que nós temos feito com frequência é cobrar e apontar os problemas. E cabe a quem está no poder administrar essas questões. Eu tive oportunidade de falar recentemente com a presidente Dilma Rousseff em Ipatinga e colocar algumas questões. Nós não queremos entrar em brigas de partidos nem responsabilizar o governo federal ou o governo estadual pelo atual momento econômico. Mas a realidade é que o Brasil não está bem. O cidadão brasileiro percebe o cenário ruim, pois ele sente na pele as dificuldades e se torna refém desses erros. E olha que a maioria desses problemas poderia ter sido evitada. Afinal, nós não temos que importar crises que não são nacionais. vários países, inclusive a Alemanha. Mas qual é o problema dele? O governo desonerou o Programa de Integração Social (PIS), a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da cadeia produtiva. Na última vez que estivemos juntos, o senhor Antônio já tinha mais de R$ 60 milhões imobilizados pelo governo federal, que não devolve o dinheiro para ele. Como ele só fabrica sabonete, ele não tem onde usar esse crédito. São milhões parados desde o ano passado, dando lucro aos bancos e deixando de gerar oportunidades. Os senhores pretendem colaborar com a sucessão presidencial, colocando essas e outras sugestões na roda de discussões? A melhor maneira para colaborarmos com o futuro político do país é fazer com que o industrial mineiro e os nossos colaboradores vejam a importância que eles têm na eleição dos nossos representantes.

Quais seriam as principais medidas que o governo federal deveria tomar para impulsionar a economia? A União deve se preocupar com a reversão da relação emprego - desemprego. Nós vivemos em um país com os menores índices de desemprego em relação a grande parte do mundo. Servimos de exemplo nesse quesito. Por isso, nós temos que nos preocupar em preservar essa situação. Como? Produzindo. Afinal, quando você não produz, você desemprega. Além do mais, um país do tamanho do Brasil, com a responsabilidade e a capacidade que nós temos, não pode viver somente dos setores de comércio e de serviços. Eu respeito a importância de ambos para a economia. Também respeito os bancos. Mas o que alicerça o PIB é a agricultura e a indústria. É na parceria entre esses dois setores que transformamos bens primários em produtos. Se nós não precisamos aumentar a produtividade desse setor é porque, durante algum tempo, não vamos ter privação de nenhum produto. Mas, daqui a pouco, certamente vai faltar dinheiro para fazer essa roda girar. | 11


Sebastião Jacinto Jr.

mETROPOLIS • nOTAS

Fiemg investe em turismo de negócios Com o objetivo de criar patrimônio e ampliar o leque de investimentos, a Fiemg se lançou recentemente no ramo da hotelaria. Em maio, a entidade inaugurou o Glass Business Tower Hotel, novo empreendimento da Federação localizado no bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Segundo Olavo Machado, o custo da obra foi de R$ 40 milhões. A metade dessa quantia foi paga com recursos próprios, e o restante, financiado com o crédito Fiemg. “Além dos requisitos de sustentabilidade, esse prédio conta com um gerador de energia com autonomia suficiente para manter o funcionamento do hotel, sempre que for necessário” ressalta o presidente.

Reeleito por unanimidade O empresário Olavo Machado Júnior foi reeleito presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Sistema Fiemg) para um mandato de quatro anos. A reeleição marcou a história da instituição. Pela primeira vez, a entidade teve uma chapa única eleita por unanimidade. O dirigente recebeu todos os 128 votos dos presentes. Machado Júnior tomou posse com a nova diretoria no dia 15 de maio, quando se comemora o ‘Dia da Indústria’. No primeiro mandato, o presidente da Fiemg implantou o Senai/Cetec, a escola móvel do Sesi/ Senai, o projeto ‘Minas Sustentável’ e iniciou uma diversificação de investimentos.

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Agência i7

Mineirão é entregue à Fifa Falando em Copa do Mundo, a Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa) começou oficialmente o período de operação exclusiva do Mineirão. O estádio foi entregue à entidade na quinta-feira, dia 22 de maio, e deve ser devolvido à administradora Minas Arena após o fim da Copa do Mundo. O Mineirão foi o único estádio entregue sem um dia de atraso. Durante o mundial, a arena vai receber seis partidas, sendo quatro na primeira fase. O Mineirão também foi considerado o estádio mais preparado para receber a Copa. Segundo o secretário de Estado de Turismo e Esportes, Tiago Lacerda, 5 mil guias, 3 mil brigadistas e 15 mil seguranças privados vão trabalhar para a segurança e o lazer de 1,5 milhão de torcedores durante o evento.


artigo

Kênio Pereira

Imobiliário

Para lucrar com imóvel na planta A maioria das pessoas deseja ganhar dinheiro rapidamente e colocar o capital para trabalhar em favor delas, fazendo aumentar os rendimentos. Esses investidores não empregam dedicação, tempo nem presença física no local. Não há nada de errado nisso. Mas a pessoa precisa ter domínio do negócio ou contratar uma assessoria especializada. Quem aplica dinheiro no mercado de ações, em fundos de investimentos e em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) sempre busca a maior a rentabilidade possível. Mas, quanto maior o lucro, mais elevada é a margem de risco. No entanto, esse fator pode ser amenizado com uma consultoria privada, direcionada à clientela mais selecionada dos bancos.

sas empresas normalmente trabalham com capital emprestado ou com as prestações pagas pelos adquirentes. Os compradores apostam na sorte, como se todo mundo fosse honesto. Poucos são aqueles que estudam o Código Civil, a Lei de Uso do Solo, a Lei de Registros Públicos (nº 6.015/73), o Código de Defesa do Consumidor (CDC), o Código de Obras, a Lei do Condomínio (nº 4.591), a convenção e os contratos.

“Ganhar dinheiro com bens imobiliários não é fácil”

No mercado de venda de imóveis na planta, o investidor também aplica determinada quantia para auferir renda com o trabalho alheio. Nos últimos seis anos, a rentabilidade desse negócio chegou a 200%. Surpreendente, não é mesmo? Mas ganhar dinheiro com bens imobiliários não é fácil. A compra de um imóvel na planta exige cuidados rotineiramente dispensados pelos adquirentes. Eles imaginam que a transação imobiliária seja simples e ignoram a lei 4.591, de 1964. A norma instituiu a Comissão de Representantes, responsável por fiscalizar esse tipo de obra. Composta por três adquirentes, a comissão tem o intuito de evitar o abandono de construções – os ‘esqueletos’ – muito comuns desde a década de 50. Os membros desse grupo podem contratar, à custa dos investidores, um advogado e um perito engenheiro para assessorá-los. Mas os compradores geralmente deixam de fiscalizar a obra, mesmo que a construtora não tenha nenhum patrimônio. Es-

Muitos empreendimentos na planta não serão entregues. Parte deles sequer foi edificada, apesar de a construtora ter recebido milhões de reais. Diante dos atrasos, vários condomínios contratam amadores para assessorar os compradores. Interessados no menor preço, eles acabam recebendo um serviço medíocre e superficial. Qualidade e expertise não são contratadas como se fosse um leilão. Quem domina uma matéria sabe o seu valor.

Se fossem bem assessorados, os adquirentes não ficariam com prédio inacabado. Muitos alvarás de construção venceram, e a Prefeitura não vai revalidá-los, devido a um novo projeto que deve reduzir o número de novas unidades em 25% na capital. O prédio que em 2010 foi aprovado com 12 andares, caso não esteja com estrutura concluída, só pode ser erguido até o nono andar. O problema é grave. E quem fica sem o apartamento? Pergunte a quem orientou e afirmou que investir em imóveis na planta é simples!

Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br | 13


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Agência UDOC

Sem energia diante da crise Usinas de etanol encerram as atividades em Minas e no Brasil e não conseguem inverter a situação de caos na economia de cidades do Interior Ilson Lima

D

esde o início da atual gestão, dirigentes de entidades do setor sucroenergético vêm se mobilizando e travando uma queda de braço com o governo federal. Os empresários do segmento articulam seus poderosos sindicatos na luta por mudanças rápidas e drásticas no mercado de etanol, açúcar e bioeletricidade. Eles vêm levantando cada vez mais o tom das críticas sobre a falta de políticas e de regras para o mercado de combustíveis no país. Ainda que esteja em crise, a força do setor é considerável. Entre 2012 e 2013, o faturamento das 386 usinas que compõem o segmento chegou a US$ 36 bilhões. O setor gera 1,15 milhão de empregos diretos e aloca a maior parte dos trabalhadores em pequenas cidades da zona rural do Brasil. As empresas sucroenergéticas contam também com 70 mil fornecedores de cana-de-açúcar. Juntas, essas empresas estão em 22 estados.

O endividamento do setor com os bancos privados e públicos reflete a própria grandeza do setor. O custo de produção para colocar em funcionamento essa estrutura se tornou alto, e a competitividade do setor caiu em função da intervenção federal no mercado de combustíveis. O resultado foi o fechamento recente de 48 usinas. Seis delas estavam em Minas Gerais. Para equacionar o rombo, o objetivo é pressionar o governo federal. A União é a responsável por intervir no mercado e manter os preços da gasolina na bomba por mais de quatro anos. Esse é um dos gargalos do setor, que vive uma de suas maiores crises econômicas e sociais dos últimos tempos.

As manifestações de insatisfação com o governo federal têm variado de acordo com o momento e o lugar. O representante do setor e empresário Roberto | 15


metropolis

Rodrigues foi categórico. “É fundamental que haja entrosamento da cadeia de açúcar e etanol para superar esta crise. Nós temos que considerar todos os elos da cadeira produtiva – desde a indústria de base e os fornecedores até os trabalhadores – para que haja consenso e possamos conversar com o governo”. Roberto Rodrigues é ex-ministro da Agricultura e foi recém-eleito como presidente do conselho deliberativo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) – associação que reúne as maiores usinas e destilarias de açúcar e de álcool do país.

Divulgação/Lide

Em determinados momentos, o mesmo Roberto Rodrigues – que vai tomar posse na Unica em junho – vem jogando pesado contra o governo federal. Em uma das muitas entrevistas concedidas à imprensa nos últimos dias, o ex-ministro não poupou críticas à presidente Dilma Rousseff, mas teceu largos elogios a Lula. Na opinião dele, o ex-presidente comprou a ideia de que o Brasil deveria investir em energia limpa, como o etanol. Prova disso é que o petista tomou várias decisões políticas que incrementaram o setor e a indústria automotiva. Um exemplo foi com a introdução dos carros flex, que podem ser movidos a álcool ou a gasolina. Mas, no caso do governo atual, sobra desconfiança por parte de Rodrigues. “Penso que a Dilma não gosta do setor. Mas a presidente da República não tem o direito de evitar o contato conosco. Ela deve dialogar, ouvir e tentar entender nossas demandas”, pondera.

As soluções para o problema são diversas e complementares, como vaticina o novo presidente da Unica. “Se a Dilma for reeleita, a situação tende a piorar porque a indústria de base alcooleira perdeu 50 mil empregos nos últimos cinco anos”. Mas, venha quem vier como presidente da República, o governo federal precisa fazer mudanças na área de combustíveis. A posição é de consenso entre os dirigentes do setor. Para eles, a questão envolve interesses do próprio governo e do país. Para contornar a crise, Rodrigues pensa não só em aumentar a competitividade do setor, que deve vir com o fim da política de manutenção de preços da gasolina. O futuro presidente da Unica chama atenção para a necessidade de encontrar soluções para o alto endividamento das empresas produtoras nos últimos anos. “A prioridade é encontrar um grande projeto de saneamento do setor. Uma das soluções tem o formato parecido com o do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer)”, defende. 16 | www.voxobjetiva.com.br

A crise sucroenergética é também mineira. O estado tem uma participação importante no segmento em nível nacional. O setor sucroenergético representa 17% do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio mineiro e mantém 80 mil empregos diretos. Em 2011, o governo estadual arrecadou R$ 275 milhões em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) somente com o etanol hidratado – composto por 93% de álcool e 7% de água. O estado também é o terceiro maior produtor de etanol do país e produz o dobro do que consome. Isso leva Minas a vender o produto mais barato para outros estados. Com o fechamento das seis usinas, o setor perdeu 5 mil empregos no estado. Presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos é didático ao explicar como as empresas se enfiaram nessa


metropolis

muitos empresários tiveram dificuldades para manter os investimentos”, salienta o presidente da Siamig.

“É fundamental que haja entrosamento da cadeia de açúcar e etanol para superar esta crise. Nós temos que considerar todos os elos da cadeira produtiva – desde a indústria de base e os fornecedores até os trabalhadores – para que haja consenso e possamos conversar com o governo”

As dificuldades se tornaram ainda maiores com a chegada de Dilma Rousseff ao poder, como aponta o executivo da entidade mineira. Diferentemente de Lula, ela mudou completamente a política para a área de biocombustíveis no país. “Com a presidente, não há diretamente uma política antietanol, mas indiretamente o setor é bastante prejudicado”, acusa. Como outros dirigentes, Campos não minimiza críticas à política da União para o setor de biocombustíveis. “Há quatro anos, o governo federal definiu e decidiu manter os preços da gasolina. Isso impactou de forma significativa o segmento de etanol”, lamenta. Com o custo de produção alto e o preço do produto taxado durante muitos anos, o segmento se endividou Enquanto presidente, Lula incentivou a produção de carros movidos por biocombustíveis

Roberto Rodrigues Presidente eleito da Unica

Ricardo Stuckert

crise. Seis delas foram à bancarrota. A crise no setor levou caos econômico e social às cidades em que essas usinas estavam instaladas. O setor vinha de um período de estagnação na década de 90, decorrente da desregulamentação do segmento, como lembra Campos. O consumidor pode escolher entre colocar etanol ou gasolina em seu carro desde 2003, quando foi lançada a versão de automóveis flex. Foi um avanço. “Nesse período, o preço do petróleo subiu, e o biocombustível passou a ser uma alternativa. Ao mesmo tempo, houve iniciativas estaduais de incentivo à produção do etanol, como em São Paulo”, diz o presidente da Siamig. Esse conjunto de fatores favoráveis serviu para impulsionar as empresas sucroenergéticas, na visão de Campos. Com o boom, muitos empresários desse e de outros setores começaram a investir na modernização, no crescimento e na construção de usinas. “Esse foi o primeiro movimento das indústrias de açúcar e de álcool. Depois vieram as multinacionais para áreas, como a petroquímica”, alega Campos. O endividamento feito no período exigiu altos investimentos no setor, mas as empresas esbarraram na crise financeira internacional de 2008 e 2009. “Com a crise e o setor endividado, | 17


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ainda mais, o que levou ao fechamento das usinas de etanol hidratado. “Por esse exemplo, é possível ver a dificuldade dessas empresas de se manter no mercado”, pondera.

A situação se tornou dramática, principalmente para os trabalhadores das usinas e das cidades dependentes dessas empresas. Como uma foto em miniatura da realidade do setor no Brasil, duas pequenas cidades refletem a tragédia vivida por trabalhadores e moradores desses lugares. Localizados no Pontal do Triângulo Mineiro, os municípios de Canápolis e Santa Vitória reúnem várias semelhanças demográficas e climáticas. Agora, ambas mantêm um drama social.

Divulgação/Siamig

Com cerca de 12 mil habitantes, Canápolis foi atingida fortemente pelo fechamento da Usina Triálcool, do Grupo JL, sediado no Nordeste do país. O prefeito Diógenes Roberto Borges (PP) não esconde o desalen-

to. “Nunca passamos por uma situação dessas”, confessa. O processo de fechamento da usina se arrastou por quatro anos, levando 1,5 mil funcionários para o ‘olho da rua’ durante o período. “Eles foram demitidos sem receber pelos seus direitos”, alega o prefeito. Borges garante que tenta buscar uma solução para o problema dos trabalhadores. “A negociação é na unidade da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que fica em outra cidade. Isso depende de viagens constantes”, frisa. O prefeito de Canápolis também depende dos governos estadual e federal para reabrir a usina. Isso só agrava o drama social das famílias dos trabalhadores demitidos. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Canápolis, Gilmar Natal de Melo, vê tristeza e caos com o fechamento da usina. “A situação é grave para os trabalhadores locais, mas é pior

Por que o governo vai ter que mudar as regras no setor? As indústrias de etanol esperam que o próximo governo federal mude a política para o setor de biocombustíveis. “Crise só dura um período. E não há nada como um ano eleitoral”, lembra o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos. O dirigente explica que a Petrobras não tem como sustentar o preço da gasolina por mais tempo. O prejuízo da empresa chegou a R$ 55 bilhões nos últimos três anos. Mas, enquanto houver essa política atual, o setor de etanol não vai fazer novos investimentos. Por isso, o presidente da Siamig aponta algumas possibilidades e atitudes que devem ser tomadas para que, em curto prazo, possa dar um ‘combustível’ a mais aos usineiros:

Presidente da Siamig, Mário Campos cobra uma postura mais firme em relação ao setor de biocombustíveis 18 | www.voxobjetiva.com.br


metropolis

principalmente para aqueles que vieram de outras cidades”, salienta. Borges assegura que o Grupo JL – proprietário da usina – tem uma dívida de R$ 6 milhões com o município. “Eles não querem negociar o débito conosco, mas um dia vão ter que acertá-lo na Justiça”, espera.

“O preço dos combustíveis terá que ser liberado”; “É preciso que o mercado seja livre para que haja condições de concorrência”; “O governo tem que resolver o passivo financeiro das empresas e equacionar a dívida com bancos privados e públicos”; “É necessário aumentar o teor do etanol na gasolina de 25% para 27,5%. O projeto já está no Congresso para a aprovação”; “O setor tem energia elétrica para vender para o sistema nacional e combustível para vender, principalmente, para a Região Sudeste. Ainda podemos aumentar essa produção”; “É fundamental incentivar as indústria automobilística a modificar os motores para o uso do etanol com maior eficiência. Também é preciso dar maior competitividade ao setor, aumentando a capacidade para o uso do etanol nos carros de 70% para 80%”; “A Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) deve voltar com outra formatação, dirigindo esses impostos para baratear o transporte coletivo”.

Ricardo Stuckert

Em Santa Vitória, a 757 quilômetros de Belo Horizonte, o drama é o mesmo. A cidade de quase 19 mil habitantes viu a Usina Vale do São Simão ser fechada, deixando 1,3 mil trabalhadores rurais desempregados. O prefeito Genésio Franco de Morais Neto afirma que o setor da saúde é o que mais preocupa. Segundo ele, o corte dos convênios que a usina mantinha com clínicas médicas, hospitais e outras unidades da saúde fez crescer a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) local. “Está difícil contornar a situação nessa área”, relata consternado. Assim como Borges, Morais Neto tenta buscar uma solução em meio ao caos.

Medida Renovável Ao final de maio, o governo federal anunciou que vai assinar, em breve, uma Medida Provisória (MP) que beneficia o setor de biocombustíveis. A MP autoriza o aumento da mistura do biodiesel ao óleo diesel de 5% para 6%. A medida também prevê o crescimento desse percentual para 7% até setembro. O objetivo da MP é estimular a fabricação do produto renovável no país. Com a mudança, o governo de Dilma Rousseff espera reduzir em 1,2 bilhão de litros ao ano as importações de diesel. Essa medida deve gerar uma economia de US$ 1 bilhão à Petrobras. A empresa registrou recentemente uma queda de 30% no lucro líquido. Um relatório recente do Ministério de Minas e Energia (MME) mostra que a produção e o consumo de combustíveis renováveis fabricados no Brasil – biodiesel, álcool anidro e etanol – estão estagnados desde 2010. No mesmo período, a demanda por esses combustíveis subiu 14%.

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Artigo

Robson Sávio

Justiça

Desmilitarização das polícias As bases do sistema de justiça criminal brasileiro estão assentadas numa estrutura social historicamente conivente com a violência privada, as desigualdades social, econômica e jurídica e os ‘déficits de cidadania’ de grande parte da população. Recentemente a Pastoral Carcerária Nacional explicou que não há uma decisão isenta ou puramente técnica em nenhuma instância da Justiça Criminal há tempos. Os juízes tomam decisões políticas e justificam convicções próprias por meio do Direito. O alvo preferencial dos magistrados são os jovens negros e pobres. O fato de uma ‘nova classe’ de pessoas ter sido vítima da truculência e da ‘incoerência’ do sistema só reforça o seu caráter político e seletivo. Mas não é apenas a justiça criminal que está em xeque no Brasil. O sistema de segurança pública não responde às demandas democráticas de uma sociedade plural e igualitária. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 51 vem gerando debate por prever uma reforma profunda nas polícias e no sistema de segurança pública. A PEC propõe mudanças consensuais, como a instalação do ciclo completo da atividade policial. Mas propostas como a desmilitarização encontram resistência, especialmente no alto escalão das corporações.

O antropólogo e ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares é um dos mentores da PEC. Ele afirma que a desmilitarização é um clamor dos policiais militares – cujos direitos são violados por suas instituições. Muitas vezes, isso ocorre por força de regimentos disciplinares inconstitucionais vigentes na maioria dessas corporações. Soares acredita que desmilitarizar seja também um clamor de cidadania, sobretudo aos pobres e negros de territórios estigmatizados. Eles sofrem com a violência do Estado, mediada por agências policiais que perpetuam a desigualdade e o racismo, ensejando confrontos fratricidas. Soares lembra que as punições a policiais atingem apenas os profissionais da base, tratados como ovelhas prontas para o sacrifício. A desconfiança e o desgaste da imagem da polícia pesam sobre a maioria dos policiais honrados e honestos, que se arriscam por salários indignos e não recebem reconhecimento compatível com a importância da função.

“A PEC 51 é um bom começo para as reformas impostergáveis do sistema de justiça criminal”

Uma enquete indagando sobre a desmilitarização aprofundou o debate por meio do site do Senado Federal. O questionário recebeu 98.648 votos no período de 5 a 15 de maio, graças à mobilização de internautas em blogs e em redes sociais. Ao todo, 54% dos votos foram contrários à ideia. O tema da enquete é uma das mudanças contidas na PEC proposta pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ). O texto também prevê 20 | www.voxobjetiva.com.br

que os estados organizem suas polícias em carreira única e define a polícia como instituição de natureza civil.

A PEC 51 é um bom começo para as reformas impostergáveis do sistema de justiça criminal. Se desejamos uma democracia não somente de direito, mas de fato, é preciso enfrentar as mazelas desse sistema.

robson Sávio Reis Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br


CAPA

Levantou a bandeira Declarações de dirigente celeste põem em discussão a atuação a mulher no esporte mais popular do Brasil

Divulgação FCF

Thalvanes Guimarães

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ia 11 de maio de 2014: domingo de clássico mineiro. O jogo estava no segundo tempo, quando o meia Alisson fez uma ultrapassagem em direção ao gol. Após passe do argentino Martinuccio, o jovem armador chegou à frente dos defensores para ficar cara a cara com Victor, goleiro do Atlético Mineiro. Seria a chance de empatar a partida. Ele estava a três metros e 26 centímetros atrás do último

jogador adversário. Isso lhe dava condição de jogo, correto? Mas a auxiliar de arbitragem Fernanda Colombo Uliana levantou a bandeira para a revolta do torcedor celeste. O lance poderia ter mudado o destino da partida. No entanto, a falha transformou foi a vida da catarinense de 23 anos, aspirante ao quadro de árbitros da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa). | 21


CAPA

Dirigente celeste Alexandre Mattos realimentou preconceito contra mulheres no futebol

Washington Alves

O erro de Fernanda foi um dos assuntos mais debatidos na mídia esportiva, na semana do ocorrido. O equívoco desencadeou uma série de discussões sobre a presença da mulher no futebol. A jovem bandeirinha não foi a única a cometer uma falha dessa proporção. Em setembro do ano passado, a também bandeirinha Katiuscia Berger errou em lance semelhante contra o mesmo Cruzeiro. A equipe vencia o Atlético/PR no Mineirão por 1 a 0 quando a assistente marcou um impedimento inexistente de Ricardo Goulart. A falha foi minimizada pela vitória do time celeste e a manutenção da liderança isolada do campeonato.

de Futebol por oito meses, em 1967. Mas o diploma dela só foi reconhecido pela Fifa em 1971.

Mas a repercussão do impedimento marcado por Fernanda surpreendeu e fez o mundo do futebol refletir sobre a aceitação da mulher nesse esporte. É fato: elas não têm o mesmo espaço no futebol que o homem. Criado há mais de um século, o esporte coletivo mais popular do mundo foi projetado, na época, por eles e para eles. Tanto é verdade que a chegada delas na arbitragem demorou décadas. A primeira mulher do mundo a se tornar árbitra de futebol foi Asaléa de Campos. Ela cursou a escola de árbitros da Federação Mineira

Fernanda reúne esses atributos. E desde o começo da carreira foi tida como parte do ‘espetáculo’ por sua beleza. Mas, depois do erro, essa qualidade se tornou sua principal vilã. Isso porque o diretor de futebol do Cruzeiro, Alexandre Mattos, gerou polêmica ao criticá-la. “A gente pega essa bandeira bonitinha que estava ali no canto. Os caras gritam no ouvido dela. Como ela não tem preparo, logo levanta a bandeira porque fica apavorada. Se ela é bonitinha, que vá posar na ‘Playboy’! No futebol tem que ser boa de

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Asaléa chegava à arbitragem sob desconfiança. Com o tempo, ela e suas colegas de profissão mostraram que a atenção aos detalhes e o olhar periférico mais aguçado colocavam as mulheres em vantagem na hora de apitar. Pesquisas mundo afora comprovaram que os homens enxergam melhor a longas distâncias. Por isso, ex-árbitros, como Arnaldo Cezar Coelho, afirmaram em algumas ocasiões preferir mulheres assistentes a homens.


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serviço. Ela não tem preparo. Os caras gritam, e ela erra”, declarou o dirigente. Há sete anos, a bandeirinha Ana Paula Oliveira passou por constrangimento semelhante ao errar no jogo entre Botafogo e Figueirense, pela semifinal da Copa do Brasil de 2007. O Alvinegro carioca venceu por 3 a 1, mas os dois gols anulados após marcação da então auxiliar custaram a vaga na decisão. Na época, ela sofreu com as críticas do então vice-presidente de Futebol do Botafogo, Carlos Augusto Montenegro. “Não vejo mulher apitando em Copa do Mundo. Não vi uma mulher na final da Liga dos Campeões”, provocou. Na época, nenhum dirigente sugeriu a ela posar nua. Mas a repercussão do fato na mídia levou Ana Paula a receber e aceitar o convite para sair na ‘Playboy’. Agora atuando como jornalista, ela observa que há dois extremos quando a profissional é bonita e está no futebol. “Quando acerta o lance, a profissional é bela e competente. E isso é algo extraordinário! Agora, quando erra, a culpa se volta toda para você”, comenta. Fora dos gramados, Ana Paula destacou a sequência de equívocos cometidos por Fernanda. Dias antes, a jovem catarinense tinha sido criticada pela atuação na partida entre São Paulo e CRB de Alagoas, pela Copa do Brasil. A jornalista condenou a repercussão desmedida do caso. “O comentário do Alexandre Mattos foi muito infeliz. Ele deveria ter julgado a competência dela e não ter gerado mais polêmica do que o erro em si. O futebol é um espelho da nossa sociedade. É preciso trabalhar mais a educação e os bons princípios por meio dele. As atitudes de dirigentes e de jogadores precisam ser mais ponderadas porque se refletem nas arquibancadas. Assim como nós, eles são formadores de opinião”, avalia.

as mulheres é que é discutível. Até a ofensa ao árbitro é quase sempre direcionada à mãe dele”, ressalta. A desigualdade no tratamento entre os sexos pode ser vista na própria partida. O árbitro Héber Roberto Lopes teve atuação duvidosa durante o clássico em que Fernanda errou, mas saiu quase ileso às críticas.

Se hoje estamos longe do ideal de igualdade entre os sexos, a situação era bem pior, sobretudo para a mulher que desejasse jogar futebol. Em 1941, um decreto proibiu a participação delas em várias modalidades consideradas impróprias para a natureza de seu corpo. O futebol estava no meio. Esse esporte só tornou oficialmente acessível a elas em 1979. “A pouca visibilidade conferida às mulheres que atuam no futebol ainda é um grande empecilho para que elas sejam mais aceitas nesse esporte”, opina Silvana. Há poucos anos, a modalidade atingiu o auge entre as mulheres do país. À frente de uma geração de atletas estava Marta, eleita cinco vezes consecutivas a melhor jogadora de futebol do mundo, entre 2006 e 2010. Mas a queda precoce nas quartas de final das Olimpíadas de Londres, em 2012, só fez crescer o desinteresse da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em imEx-bandeirinha, Ana Paula Oliveira virou comentarista esportiva

Silvana Goellner é professora de Educação Física da UFRGS e pesquisadora das relações entre a mulher e o futebol. A especialista diz que há pouca tolerância ao protagonismo das mulheres nesse esporte. “A priori, o fato de a bandeirinha ser bonita parece que a descredencia a atuar nesse espaço. As declarações do dirigente cruzeirense valorizam as mulheres não pelo que elas são. Ao incentivar Fernanda a expor o seu corpo, ele a observa como objeto de desejo e ignora a sua atuação e a sua competência”, argumenta. A doutora em Sociologia Astréia Soares argumenta que nunca houve uma discussão sobre a beleza de um árbitro para legitimar o problema. “Xingar no esporte é normal; faz parte. A forma desigual de como atacam

Divulgação

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pulsionar a modalidade. E assim o futebol feminino esfriou de vez. A despeito do pouco prestígio, quase 8 milhões de mulheres jogam futebol no Brasil, conforme pesquisa feita pela Fifa em 2013. No mundo, 29 milhões de mulheres praticam futebol.

jogador, logo dizem que queremos nos envolver com eles. Precisamos provar, o tempo inteiro, que realmente somos apaixonadas pelo esporte porque os homens sempre desconfiam. Já passou da hora de essa mentalidade mudar”, considera.

Em relação à audiência e à presença delas nos estádios, as estatísticas continuam ascendentes. As brasileiras assistiram mais ao futebol do que aos realities shows no ano passado, como apurou o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). A identificação vai aumentando à medida que os departamentos de marketing dos clubes passam a olhar com mais carinho para o público feminino, produzindo itens exclusivos. Em 2010, 69% das mulheres de 18 a 60 anos fizeram compras de produtos relacionados com o futebol, como mostrou o Instituto Sophia Mind e Inteligência de Mercado. E 53% dessas consumidoras adquiriram produtos para uso próprio.

A cruzeirense Karoll Dutra conseguiu reprimir o machismo com opiniões contundentes. Sua paixão pelo clube começou após a derrota na final da Copa Libertadores de 2009. Nesse dia, ela se pôs a chorar inesperadamente. “As lá-grimas desceram, e eu me questionei: ‘Que sentimento é esse?’ Foi algo que nunca tinha acontecido comigo”. Karoll costuma surpreender os amigos de seu pai por falar tanto de futebol. Até o namorado recebe dela algumas noções do esporte. “Nesse meio há preconceito sim, infelizmente. O homem, para falar de futebol, precisa apenas saber se expressar. Para conseguir a mesma credibilidade masculina, a mulher precisa se informar muito mais”, acredita.

Importantes para os ‘negócios do futebol’, elas ainda desejam ganhar o respeito masculino não somente dentro das quatro linhas. Algumas carregam a paixão pelo futebol na atitude. A estudante de jornalismo Jéssica Meirelles tem tanta história com o Atlético Mineiro que daria para escrever um livro. Ela sonhou com a vitória alvinegra na final da Copa Libertadores de 2013. Ao acordar, Jéssica foi comprar a camisa retrô que vestia no sonho, que tão logo virou realidade. Após a partida, sua amiga passou mal com a tensão vivida durante o jogo. Jéssica a deixou no hospital, sozinha, para ir comemorar o título inédito. Jéssica admite ser fanática pelo Atlético e justifica o sentimento por estar sempre ligada ao esporte. “Nós, mulheres, somos, sim, malvistas nesse meio. Sempre quando vou ao estádio, eu escolho bem a roupa que vou usar para evitar cantadas e comentários desrespeitosos. Quando nós mulheres gostamos de algum 24 | www.voxobjetiva.com.br

Se as mulheres um dia serão tratadas igualmente no futebol, só o tempo dirá. Mas não dá para ignorar a participação cada vez mais efetiva delas nesse meio ainda bastante masculino. E é possível projetar uma mudança. A reação da imprensa em relação às declarações de Alexandre Mattos é um alento. A punição imposta pelo STJD de proibir o dirigente de acompanhar o time durante os jogos por 120 dias, outro. O apreço crescente delas pelo esporte chama a atenção. E o número de aspirantes a árbitras e assistentes de futebol deixa uma réstia de esperança. Elas já representam 10% das inscrições para o curso de arbitragem promovido anualmente pela Federação Paulista de Futebol (FPF). Quem sabe, em 2018, o mundo não assista a uma árbitra na Copa do Mundo, na Rússia, para despeito de Montenegros, Mattos e tantos outros dirigentes machistas que dão as cartas no esporte mais popular do país?


artigo

Maria Angélica Falci

Psicologia

Gritos de socorro Estive recentemente em um programa de TV. Fui convidada para falar sobre a violência contra as mulheres, os resultados do levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Copa do Mundo. Perceba o quanto essas questões estão interligadas. Para os brasileiros, as mulheres se insinuam por meio de roupas e atitudes, conforme aponta a pesquisa. Assim (segundo eles) elas criam motivações para serem violadas em sua integridade física e mental. É notório que a violência no Brasil ainda mantém contornos patriarcais. Os homens podem ser – e muitas vezes são – blindados em seus atos grotescos e primitivos. Um exemplo disso é o estupro. Nesse ato, alguém viola a intimidade do outro sem que lhe seja dada a permissão. Desse confronto, surge uma invasão física e mental. As consequências ao emocional do dominado – envolvido nesses atos selvagens, sem nenhuma lei nem respeito ao desejo do próximo – tendem a ser diversas.

não conseguem sair de uma situação lastimável causada por questões financeiras ou por laços amorosos nocivos. Muitas mulheres têm consciência do quanto são mal tratadas e machucadas intimamente. Mas, com o passar do tempo, geralmente perdem as forças para lutar e precisam de ajuda para sair de um novelo repleto de dores, gritos, angústia, depressão e ausência do prazer de viver. Essas mulheres são vítimas do estupro mental e físico.

“É notório que a violência no Brasil ainda mantém contornos patriarcais”

E a Copa do Mundo? Esse é um momento de muita euforia em que instintos tendem a se aflorar de modo geral. Nesse período, aumentam as possibilidades de crianças e adolescentes desaparecerem, de gritos de socorro não serem ouvidos e de a violência – principalmente contra as mulheres – crescer muito. A Copa pode deixar as pessoas em estado de êxtase, como se vivessem sem regras nem controle. Sugiro aos pais e às famílias que fiquem atentos aos seus filhos. Todo cuidado será pouco. Subiu o índice de mulheres violentadas no país. Muitas delas conseguem relatar o seu desespero. Mas, em geral, elas

É preciso retirar as vendas dos olhos e mudar o discurso. Não dá mais para admitir a seguinte ideia: “isso não acontece na minha casa nem próximo de mim”. Sabemos que não importa a classe social. Diariamente muitas crianças e muitos adolescentes de diferentes faixas econômicas são vítimas de violência no seu ambiente social. Elas ficam caladas porque o grito delas geralmente é sufocado pelo dominador; não recebem ajuda porque muitas pessoas as ignoram e as retaliam.

É necessário estarmos atentos e prontos para ajudar o próximo. Fazemos parte de uma sociedade e devemos zelar pelo bem-estar dela. Como cidadãos, precisamos sempre dar o nosso grito contra a violência para que esse mal caia por terra. Se ninguém se omitir em relação ao que acontece ao seu redor, muito será feito pelas crianças e para os adultos que passam por essa dilaceração de si.

Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com | 25


salutaris

Natália e Adriana Vasconcelos, da Abatjour de Arte

Divulgação

Decoração com DNA Gerações alimentam sonhos em comum e mostram, na prática, como lidar com possíveis conflitos em um ambiente familiar e profissional Tati Barros

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las são distintas na natureza dos negócios que promovem, mas semelhantes pelo elo pessoal e profissional que as une. A terceira e última reportagem da série ‘Negócios em Família’ mostra famílias que encontraram no ramo da decoração mais do que um meio de vida: uma paixão em comum. No trabalho em conjunto, esses ‘clãs’ souberam traçar objetivos e administrar uma empresa e uma bem-sucedida relação nos ambientes familiar e profissional. Com o lema “Uma história de amor e compromisso para o bem-estar de seus clientes”, o casal Alberto e Mônica Hamacek trilharam a trajetória da Boutique Férrea e Adornos. Situada na região Centro-Sul de Belo Horizonte, a empresa é especializada em soluções de móveis e peças decorativas. A boutique nas-

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ceu da parceria de Alberto com o seu pai, mas, há 20 anos, está sob o comando do casal. Com duas gerações envolvidas no negócio, a família Hamacek vê a possibilidade de a empresa alcançar a terceira geração em breve. Ana Paula, a primogênita de Alberto e Mônica, cursa Arquitetura e trabalha em projetos de produtos e de interiores para a Boutique Férrea. O caçula Arthur ainda está no ensino médio. No período da tarde, ele trabalha como ajudante geral na empresa dos pais. Mônica acredita que o interesse demonstrado pelos filhos no dia a dia da boutique revele o desejo deles de dar continuidade ao trabalho iniciado pelos pais. No entanto, essa possibilidade é vista com cautela. “Cheguei à conclusão de que temos que deixar o tem-


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po e as perspectivas mostrarem se eles vão prosseguir com um sonho que era meu e do Alberto. Vamos deixar isso acontecer sem nenhum tipo de pressão”, analisa a empreendedora. Em se tratando de uma relação de trabalho entre familiares, é fundamental ter bem definidos os papéis a serem desempenhados por cada membro. A avaliação é da psicóloga Waldirene Andrade. Segundo a especialista, a delimitação profissional favorece uma relação harmônica nos dois ambientes. “Na maioria das empresas tradicionais, os colegas de trabalho só nos conhecem profissionalmente. Quando trabalhamos com familiares, esses papéis podem se confundir. É preciso que os limites entre o trabalho e a família sejam muito bem estabelecidos. Quanto mais houver consciência dos papéis de cada um, mais harmônica e saudável será a relação”.

Esse princípio é seguido à risca na Carla Pimentel Paisagismo. A empresa, que há 19 anos desenvolve premiados projetos paisagísticos, é comandada por Carla, ao lado dos filhos Marina e Leonardo. No escritório, localizado na região Centro-Sul da capital mineira, os três têm cargos bem-defini-dos. “A Marina optou pela área de paisagismo e arquitetura para que, juntas, pudéssemos desenvolver projetos inusitados. Ao Leonardo coube a gerência das áreas administrativa, operacional e de recursos humanos do escritório”, conta a matriarca da família Pimentel. Independentemente de como se organiza um negócio, Waldirene pondera que é fundamental saber diferenciar a relação profissional da pessoal. Segundo a psicóloga, essa divisão ajuda a fazer com que os inevitáveis conflitos não ultrapassem o limite de cada ambiente. “Conviver em harmonia requer atenção, sensibilidade e cuidado com o outro. Vivenciar simultaneamente uma relação amorosa e profissional requer, acima de tudo, habilidade de passar de um papel para o outro com a destreza de um equilibrista”.

Seguindo essa cartilha, a mãe Adriana e a filha Natália Vasconcelos comandam juntas a Abatjour de

Arte, empresa especializada em projetos luminotécnicos. Na prática, as duas assumem funções diferentes, embora complementares dentro da loja situada na região da Savassi, em Belo Horizonte. Mas, no dia a dia, as decisões são discutidas e tomadas em conjunto. “Não vemos como separar os setores. O comércio abrange simultaneamente todas as áreas”, acredita Natália. Adriana e Natália não encaram essa ausência de funções definidas como um desafio. Pelo contrário. Nessa convivência próxima, elas veem uma forma de trocar experiências e conhecimentos de forma ainda mais intensa. “Minha mãe sempre me deu muita autonomia e liberdade, mas nunca deixou de observar as minhas atitudes. Com isso, ela ia me corrigindo aos poucos e me transmitia infinitas lições que adquiriu ao longo dos anos, na prática”. A mesma visão é compartilhada por Adriana, empreendedora que enxerga na filha uma fonte de aprendizado. “A Natália me fornece inúmeros conhecimentos comuns a essa geração nova e pronta para os desafios. Essa troca é uma riqueza!”. Mas nem tudo é um mar de rosas. Mônica aponta a questão financeira como único ponto negativo do negócio familiar. A empresária lembra que a fonte de renda é a mesma para todos os membros. Isso pode gerar problemas, caso seja mal administrado. “Caso a empresa passe por alguma dificuldade financeira, a fonte de renda única pode impactar diretamente no ambiente familiar. Mas, por outro lado, ter metas e fins em comum faz com que a disposição de encarar as adversidades se intensifique”, garante. Carla faz coro à fala de Mônica. A paisagista crê que qualquer desafio possa ser mais facilmente superado ao lado dos filhos. “É difícil coordenar uma empresa sozinha. A parceria com os meus filhos possibilitou uma troca de opiniões fundamental para tomar decisões de maior porte ou de risco. Tenho vivido experiências inesquecíveis junto deles. O nosso convívio se tornou um aprendizado diário”, confessa orgulhosa a mãe de Leonardo e de Marina Pimentel. | 27


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Fazendo as pazes com a mente Exercícios para estimular o cérebro e cuidados com a alimentação são as principais armas contra os maiores inimigos contemporâneos: o estresse e a rotina Bárbara Caldeira

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cordar cedo, lidar com a pressão da produtividade, exercer várias funções, dormir tarde e nunca relaxar. Esse ritmo pesado resume a realidade de grande parte dos brasileiros. Estudos feitos pela International Stress Management Association (Isma-BR) mostram que o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de países com maior incidência de estresse do mundo. O país foi ultrapassado apenas pelo Japão. Mesmo com esse panorama, o bem-estar mental raramente é visto como algo relevante. “Na sociedade atual, há uma notável intensificação do culto ao corpo. Vivemos uma era de vaidade excessiva e de uma busca desenfreada pela beleza. Se, por um lado, a corrida por uma boa aparência produz bem-estar emocional, por outro, a hipervalorização da estética em detrimento de uma boa saúde emocional tem produzido uma geração de pessoas doentes”, afirma o médico psiquiatra Ismael Gomes de Oliveira Sobrinho. O especialista alerta sobre os perigos dessa balança irregular. “O cérebro é nosso órgão de comando. Ele or28 | www.voxobjetiva.com.br

ganiza as questões emocionais, imunológicas e hormonais. Assim é difícil ter uma boa saúde geral sem cuidar bem dele”, enfatiza. Sobrinho explica que o órgão trabalha como uma máquina. Isso porque o cérebro depende do equilíbrio de substâncias químicas para funcionar de forma adequada. “O estresse, o excesso de trabalho e o sono irregular causam sobrecarga no cérebro e provocam desarmonia no balanço dos neurotransmissores. Esses fatores aumentam as chances de ocorrência de doenças neuropsiquiátricas e de suas consequências, mesmo que seja em longo prazo”. Assim como o restante do corpo, a massa cinzenta necessita de estímulos obtidos por meio de atividades, como a meditação e a ioga. “É preciso sair da zona de conforto e criar soluções. A pessoa consegue isso buscando sempre atividades novas ou mesmo trazendo para as ações rotineiras um olhar criativo e diferente. Jogos e brincadeiras intelectuais, leituras e palavras cruzadas cumprem, de maneira divertida e lúdica, o papel de desafiar, testar e treinar algumas habilidades cerebrais”, defende. “É como uma musculação: você vai vendo os


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Com medicamentos e terapia do sono, Ana Laura foi se recuperando aos poucos. No entanto, a medicação trouxe novos problemas. “Engordei cerca de dez quilos, passei a ter muitas espinhas e sofri uma severa queda de cabelos. Minha autoestima despencou, e fiquei muito deprimida”, confessa. Hoje, pronta para retornar ao mercado de trabalho e iniciar uma especialização, a tecnóloga perdeu todo o peso que ganhou e mais um pouco. Ana Laura mudou a alimentação e passou a fazer exercícios físicos. Com isso, ela também resolveu o problema da pele, e os cabelos voltaram ao normal. “Consegui dar muito mais valor às coisas pequenas e cotidianas. Descobri que é importante pisar no freio e escolher bem as pessoas com quem você divide a sua vida. Agora sou bem menos ansiosa. Percebi que cuidar do lado espiritual também é fundamental”.

Sem estímulos, o cérebro pode se cansar. Há dois anos, a tecnóloga em logística Ana Laura Santos Teixeira sentiu na pele o que acontece quando a mente atinge o limite. Ela passava por uma fase de extremo cansaço. Trabalhando à exaustão, Ana Laura viajava para Goiás e São Paulo para abastecer a loja de roupas da família. Na mesma época, o rompimento de um relacionamento a levou a um quadro de depressão. Para distrair, mais trabalho, muitas festas e poucas horas de sono. Até aí, a história parece comum. Mas essa mistura acarretou algo inesperado. “Estava em um bar com as minhas amigas e, de repente, fiquei quieta. Cheguei em casa e não conseguia dormir. Fiquei conversando com minha mãe por um bom tempo, andando de um lado para o outro e, depois, apaguei. No dia seguinte, ao acordar, eu não me lembrava de nada. Apenas consegui reconhecer os meus pais”, relembra. Ana Laura ficou seis meses sem conseguir ler, escrever, mexer no celular, nem se lembrar do irmão e dos amigos. Ela teve dificuldades até mesmo para falar. “Não me recordo de nenhum detalhe do período em que estive assim. Quem me conta como eu estava é minha mãe”, revela a tecnóloga. “Nunca pensei que isso pudesse acontecer comigo. Eu não sabia nem que esse tipo de coisa existia”.

Fernanda Santiago deixou o estresse da rotina de produção de eventos para se dedicar à arte e a uma vida saudável

Arquivo Pessoal

resultados em médio e longo prazos. Mas o progresso é nítido”, compara.

Outra a aderir a um corpo são e uma mente sã foi Fernanda Santiago. Também há dois anos, a rotina da artista plástica mudou radicalmente. “Decidi lutar pela melhor qualidade de vida e viver com saúde mental e física. Para isso, precisava rever alguns hábitos. Foi a partir daí que muita coisa mudou”, conta. Na época, Fernanda acumulava 12 anos de produção de eventos, principalmente noturnos. “Enquanto a maioria ia dormir, eu saía


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Lucas Alvarenga

Cuidados com a mente

A nutricionista Aline Penedo indica aos alimentos adequados para o bom funcionamento da mente

para trabalhar. Sempre amei produzir festas, mas a tensão e a ansiedade eram minhas companheiras constantes”. Por praticidade, Fernanda recorria a uma alimentação à base de congelados, pão e macarrão instantâneo. “Com essa loucura de horários, acabei ficando com insônia. Não desejo isso nem para o meu pior inimigo”, brinca. No novo estilo de vida, tudo é bem diferente. “Comecei a comer mais alimentos que vinham da terra, como frutas, legumes, verduras e grãos. Tento dar preferência aos orgânicos e tenho a sorte de dispor de uma pequena horta”, diz. Carne vermelha, conservantes, aromas, corantes artificiais, produtos refinados e que contêm agrotóxicos ficaram de fora. “As vitaminas e os minerais exercem um papel fundamental para o bom funcionamento do nosso cérebro. Ao consumi-los com frequência, senti uma melhora significativa na minha memória e no meu déficit de atenção”. Com uma vida mais saudável e o sono em ordem, a criatividade de Fernanda veio à tona. Sentindo-se bem consigo, ela retomou sua antiga paixão pela pintura. E como prêmio, ganhou uma prazerosa profissão: artista plástica. 30 | www.voxobjetiva.com.br

O cuidado com a alimentação faz toda a diferença na busca por uma boa saúde mental. “Os fatores nutricionais estão diretamente relacionados com o desenvolvimento do cérebro e das funções neurológicas. Há diversos alimentos essenciais para o indivíduo que busca o perfeito funcionamento da mente”, assegura a nutricionista da Mundo Verde Lourdes, Aline Oliveira Penedo. Mas há itens desfavoráveis à saúde mental. O açúcar, as carnes, a gordura saturada e o álcool estão entre eles. A pedido da Vox Objetiva, Aline desenvolveu uma lista com os alimentos mais benéficos para o bem-estar mental.



Paulo Cunha/ Outra Visão

receita

Ora-pro-nóbis no sereno da madrugada Chef Remo Peluso Provincia Di Salerno INGREDIENTES DA GELEIA rENDIMENTO 2 porções

1 cebola 2 colheres de sopa de açúcar 1 colher de sopa de manteiga 1/2 xícara de vinho branco

INGREDIENTES DA CARNE 500 g de carne de sereno (carne de sol) 1 colher de sopa de cebola picada 1 pitada de pimenta calabresa 1 colher de sopa de manteiga 1/2 xícara de vinho branco 50 g de arroz arbóreo 2 colheres de sopa de queijo parmesão sal 1 fio de azeite 6 folhas de ora-pro-nóbis 30 g de feijão-andu 2 colheres de sopa de feijão-andu previamente cozido 500 ml de caldo de legumes 32 | www.voxobjetiva.com.br

MODO DE PREPARO Primeiro doure a carne de sereno no azeite e reserve. Comece o risoto dourando a cebola no azeite e na manteiga. Acrescente o arroz arbóreo. Vá colocando o vinho e o caldo aos poucos. Adicione o feijão-andu pré-cozido. Pique o ora-pro-nóbis e junte-o ao risoto, com manteiga e parmesão, assim que esse estiver finalizado. Em seguida, doure a cebola na manteiga. Acrescente o açúcar e a pimenta calabresa até atingir o ponto de caramelo. Coloque o vinho branco e deixe reduzir por dois minutos até a cebola alcançar o ponto de geleia.


vINHOS

Júlia Grossi Consultora de vinhos do Provincia Di Salerno Nesta coluna, apresento uma viagem pela região da Sicília: uma Itália completamente diferente. Caldeirão cultural, essa ilha foi colonizada e explorada por inúmeros povos: gregos, romanos, espanhóis, árabes, normandos e cartaginenses. Tudo isso se reflete na arquitetura, na cultura e no cultivo das vinhas da região. No século XVIII, por exemplo, os ingleses criaram o vinho Marsala, fabricado na cidade de mesmo nome, situada na província de Sicília. Mas para entender melhor a produção de uvas sicilianas, é preciso voltar ao século VIII a.C. Naquela época, os gregos introduziram as primeiras mudas de Vitis vinifera na ilha. O território de solo vulcânico, árido e mineral desenvolveu vinhedos exuberantes em um terroir próprio para a fabricação de vinhos personalizados e tipificados. Ainda assim, por muito tempo, o Sul da Itália e a Sicília produziam somente vinhos de baixa qualidade e sem expectativa de melhora. Há cerca de 25 anos, alguns produtores da região decidiram buscar um lugar ao sol. Eles colocaram os vinhos sicilianos na linha de frente do mercado mundial. Até então, as referências italianas eram os toscanos e os piemonteses Brunello e Barolo. Ao despontar para o mundo, a ilha

mostrou a exuberância do Nero d´Avola e dos excelentes Tasca d´Almerita, Planeta e Donnafugata, só para citar alguns. Com isso, a Sicília conquistou os amantes dos vinhos. Atualmente os cobiçados Bicchieri do Gamberro Rosso disputam espaço de igual para igual com as demais referências italianas no quesito. Um dos grandes produtores da Sicília é Donnafugata. O nome quer dizer ‘mulher em fuga’ – uma homenagem à rainha Maria Carolina, mulher de Ferdinando IV de Bourbon. O vinho tem esse nome em referência à cultura siciliana. Quando as tropas napoleônicas chegaram à região, a rainha se refugiou onde hoje ficam os vinhedos de Donnafugata. Daí a escolha do nome. A vinícola de mais de 150 anos tem como princípio o cuidado com os detalhes da produção. As mãos do homem são coadjuvantes da natureza, interferindo o mínimo possível e fabricando vinhos que trazem a potencialidade e a tipicidade do território. O Sherazade 100% Nero d´Avola é um exemplo de vinho Donnafugata. A bebida é jovem, frutada, de taninos macios e absorve toda a mineralidade do território. Esse vinho atende bem ao paladar brasileiro. O Sherazade 100% vai muito bem com uma massa ao molho de tomate encorpado, salames e presuntos curados ou até acompanhando uma pizza italiana. É ótimo para beber com amigos em situações agradáveis e felizes. Esse é o conceito de Giacomo Rallo, proprietário da vinícola. Ao atravessar o oceano e retornar ao Brasil, tive o prazer de degustar esse vinho e perceber os perfumes do mediterrâneo entrando no ar. É uma sensação indescritível!

Shutter Stock

A ilha dos vinhos de Donnafugata

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femme

A sonhada hora do matrimônio Cinco tendências para planejar um casamento inesquecível Tati Barros Não há evento mais emocionante do que o casamento. Esse é o momento de consagrar o amor, reunir quem faz parte da história do casal e iniciar um novo e feliz capítulo da vida. A ocasião ganha ainda mais sentido quando envolve elementos que reforçam esses significados.

Identidade visual personalizada

Ao planejar o casamento dos sonhos, cada detalhe é fundamental. E para a concretização desse evento único, alguns itens são indispensáveis. Do vestido perfeito à lembrancinha em agradecimento aos convidados, tudo precisa ser cuidadosamente escolhido. Pensando nisso, selecionamos algumas tendências que vêm conquistando as noivas. Confira:

Karma Dude

Costume comum em casamentos estrangeiros, a moda de personalizar a celebração tem conquistado também os noivos brasileiros. A proposta é criar uma marca registrada que pode estar no monograma dos convites, no site dos noivos, no menu da festa, em placas sinalizadoras, em lencinhos para lágrimas e até mesmo em garrafinhas de água – a mais nova tendência. Acreditem! São infinitas as possibilidades de personalizar um casamento.

Minicake Os minicakes são uma deliciosa opção de lembrancinhas. Afinal, em meio à animação da festa, nem sempre os convidados saboreiam o bolo de casamento. A versão individual pode ser uma réplica do bolo feito para a cerimônia ou uma substituição dele, tornando-se também parte da decoração da mesa de doces.

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John Hope

femme

Emily Haus

Buquê vintage

MGM

Indispensável a qualquer casamento, o buquê complementa o visual da noiva. Por isso mesmo, ele deve ser especial. Para quem deseja fugir dos tradicionais modelos floridos, uma alternativa são os tipos artificiais, feitos com tecidos, pedrarias e pérolas. Para personalizá-lo ainda mais, é interessante adicionar algum item de valor emocional à peça, como uma joia de família. Esse modelo pode ser guardado para sempre e até servir como um item decorativo.

Vestido clássico Dos mais elaborados e clássicos aos mais simples e modernos, o vestido pode transformar qualquer mortal em uma princesa. Se o modelo tomara que caia reinou entre as noivas por muito tempo, os vestidos de manga vêm sobressaindo. Há aquelas que preferem as mangas mais curtas e outras que optam por mangas longas. O fato é que esse tipo de vestido é um clássico atemporal capaz de traduzir romantismo e elegância única. Por tudo isso, esse é o modelo preferido entre as princesas, desde Grace Kelly (foto acima) até Madeleine da Suécia.

Save the date Uma tendência nos Estados Unidos e na Europa vem ganhando espaço no Brasil. O save the date funciona como um pré-convite de casamento enviado por correio ou e-mail meses antes da cerimônia. Essa é uma forma singela e criativa de avisar aos convidados que reservem a data para comparecerem ao casamento.

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ARTIGO

Ruibran dos Reis

Meteorologia

A lição de Bohr O barômetro de mercúrio, instrumento utilizado para medir a pressão atmosférica, foi inventado por Torricelli, em 1643. Estudante de Galileu, ele encheu com mercúrio um tubo de vidro fechado em uma extremidade e o inverteu em uma vasilha pequena que também continha o metal. O mercúrio no tubo parou de cair a certa altura. Torricelli fez o mesmo experimento em diferentes altitudes e verificou que a altura do mercúrio no tubo dependia da altimetria do lugar. Nos locais mais elevados, o nível do mercúrio era menor. Foi assim que nasceu um dos mais importantes instrumentos de registro atmosférico da história, usado principalmente para localizar as massas de ar nos mapas meteorológicos.

solto e o tempo em que ele toca o chão, é possível calcular a altura do edifício por meio de uma equação física simples. A segunda possibilidade seria medir a pressão atmosférica no topo do prédio e na superfície do solo. A terceira solução seria verificar o comprimento da sombra do barômetro no chão e o da somba do edifício, caso o dia esteja ensolarado. Por trigonometria, o tamanho do prédio seria descoberto. A quarta resposta foi subir as escadas fazendo marcações com o barômetro, enumerando-as e calculando a altura do edifício conforme a altura alcançada pelo mercúrio no tubo. E, finalmente, seria possível ir à casa do zelador do prédio e prometer um barômetro a ele, caso revelasse o tamanho do edifício.

Durante a graduação em física, Niels Henrick David Bohr foi sabatinado pelo seu professor com a seguinte questão: como calcular a altura de um prédio utilizando um barômetro? O docente esperava uma explicação física para o problema. Bohr, ganhador do prêmio Nobel de Física em 1922, respondeu que a melhor forma seria amarrar uma corda no barômetro, descê-lo do alto do prédio até tocar o solo e depois verificar o tamanho da corda. O professor gostou do que ouviu, mas solicitou uma solução física para Bohr. Pouco mais de cinco minutos depois, o docente quis saber a resposta de seu aluno. O estudante, por sua vez, quis verificar qual resposta o professor queria ouvir.

Depois de ouvir essas respostas, o professor perguntou para Bohr se o aluno sabia desde o início qual seria solução que ele gostaria de ouvir. O estudante fez questão de dizer que sabia, mas que durante os seus estudos, os professores sempre o incitaram a pensar.

“Que tal pensarmos mais em como viver neste planeta sem causar tantos impactos ao meio ambiente?”

Bohr descreveu algumas soluções. O primeiro desfecho seria subir no prédio e deixar o barômetro cair até o solo. Sabendo a diferença entre o tempo em que o barômetro foi

Motivados pelas palavras de Bohr, que tal pensarmos mais em como viver neste planeta sem causar tantos impactos ao meio ambiente? Provavelmente nós vamos encontrar diferentes soluções. Quem sabe algumas podem ser de fácil aplicação?

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com | 37


KULTUR

Muito além de três dragões Mesclando fantasia e repertório real, George Raymond Richard Martin conquista fãs no mundo inteiro com narrativa visceral Divulgação

Bárbara Caldeira

P

roferida aos leigos, a expressão ‘Valar Morghulis’ pode não ter significado. Mas, para o crescente círculo de fãs da série ‘As Crônicas de Gelo e Fogo’, o termo corresponde a um ditado popular famoso nas terras além do Mar Estreito: todo homem deve morrer. Essa correlação deixa pistas sobre o que se pode esperar da história escrita pelo estadunidense George Raymond Richard Martin. A narrativa imprevisível passada na fictícia Westeros acumula cinco volumes até agora: ‘A Guerra dos Tronos’, ‘A Fúria dos Reis’, ‘A Tormenta de Espadas’, ‘O Festim dos Corvos’ e ‘A Dança dos Dragões’. Enquanto aguarda mais dois livros com ansiedade, o público acompanha a quarta temporada do seriado ‘Game of Thrones’, adaptação da obra produzida pelo canal HBO. A estrutura da série e o elenco de peso são dignos de grandes produções da sétima arte. 38 | www.voxobjetiva.com.br

A impecável adaptação das histórias conquistou o Brasil, segundo colocado em número de fãs da saga, conforme pesquisa realizada pela Socialbakers. Estima-se que cerca de 910 mil dos 11 milhões de internautas que curtem a página oficial da série no facebook sejam brasileiros. Isso equivale a 8% do total. O primeiro lugar é dos Estados Unidos, com 30% de aficionados: mais de 3 milhões de pessoas. Os números também são expressivos em relação à venda de livros. Autorizada a reproduzir a obra completa no Brasil, a editora LeYa garante que a venda dos cinco títulos ultrapassa 4 milhões de exemplares. Professor de Literatura, Francisco Craveiro de Melo Neto é seguidor confesso da saga. Ele entende que Martin assimila várias influências ao escrever as histórias e que essas referências levaram o autor a encontrar uma forma própria de criar. “O


KULTUR

Ned Stark

O jornalista Marco Túlio Pires compartilha da opinião do professor. “A dicotomia entre o bem e o mal é relativizada e colocada na história de forma mais complexa do que em outras fantasias. Uma personagem que você odiou no primeiro livro pode ser a sua predileta dois volumes depois. Elas agem por motivos que podem ou não ser justificados, dependendo da bagagem cultural do leitor”. Por indicação de um amigo, Pires começou a ler o primeiro volume muito antes da existência do seriado televisivo. “O livro começa como qualquer fantasia épica. Você não dá muito crédito para a história até Jaime (Lannister) empurrar Bran (Stark) do parapeito da torre em Winterfell. Naquele momento, tive a certeza de que estava lendo algo diferente. E não me arrependi”, assegura.

O mundo atual no jogo dos tronos fascinou a bancária Marina da Silva Costa. Ela começou a ler os livros por conta da série e não parou mais. Marina se encantou com as paisagens e a ambientação da obra feita ao estilo medieval. Como a obra consegue se aproximar tanto do mundo convencionado quanto do real, a bancária considera a ‘Guerra dos Tronos’ um ‘soco no estômago’. “Há uma veracidade crua na obra em relação às mortes, à política, aos ímpetos e às ações humanas – temas geralmente pouco romanceados. A ‘Guerra dos Tronos’ é diferente justamente por não apresentar um final feliz”, pondera.

que me fascina na narrativa dele são a boa condução do enredo e dos acontecimentos e a descrição dos ambientes e das situações”, admite. “Martin é fã de ficção científica, de histórias em quadrinhos e de fantasia, além de jogos como War, Banco Imobiliário e xadrez. Ele também é admirador declarado de John Ronald Reuel Tolkien, autor de ‘O Senhor dos Anéis’. Acredito que essas influências o tenham ajudado a criar personagens, seres e lugares tão incríveis e peculiares”, argumenta. Um dos grandes trunfos do autor é não recorrer às noções clássicas de herói e vilão, como observa Melo Neto. “No jogo dos tronos das ‘Crônicas de Gelo e Fogo’, o bem e o mal não são divididos. Eles andam muito próximos. Isso contribui para o sucesso da obra. Essa aproximação faz o leitor ter vontade de conferir o desenrolar da história”, defende.

Ao revelar suas predileções, Marina toca em mais uma importante questão da obra: o gênero feminino passa longe da fragilidade. “Minhas personagens favoritas são Daenerys Targaryen, Arya Stark e Cersei Lannister. Elas não se limitam por ser mulheres. Cada uma a seu modo, as três são impetuosas, destemidas e buscam o que desejam sem se deixarem intimidar pelas circunstâncias machistas do contexto da história”, opina. Melo Neto avalia a obra de Martin como uma metáfora do mundo atual e das situações humanas. “A relação da fabulação com a realidade está na disputa de poder, nas injustiças, nos conflitos e nas guerras. O poder é de quem o alcança”, analisa. “Na obra fantástica, a política se estabelece por meio de alianças, casamentos e dinheiro. Na nossa realidade, o dinheiro e as alianças são acrescidos de corrupção”, comenta o professor.

O ‘trono’ pela preferência do público é tão disputado quanto o poder na obra. O assistente de informação Mateus Miranda Moreira foi dar crédito às histórias depois de assistir a três temporadas da série. “Ouvi falar dos livros, mas imaginava que era uma cópia de séries como ‘Senhor dos Anéis’”, confessa. Hoje ele não hesita para apontar seus personagens prediletos. “Tyrion se | 39


Divulgação

KULTUR

destaca pela mente brilhante e pelo modo irônico de se relacionar com as pessoas. Mesmo sendo um anão, ele é um dos mais influentes e espertos da história”, revela. Jon Snow e Petyr Baelish também estão na lista de Moreira. “Snow é um dos que mais amadureceram com o passar da história. Ele era o filho bastardo que se sentia excluído e precisava se afirmar para o pai e para a família. Com o tempo, Snow vai encontrando seu espaço. Já o Lorde Petyr é uma mente ardilosa que está por trás das grandes intrigas e maquinações. Não sei se o odeio ou gosto dele”, questiona-se. Na lista de Pires, Baelish – o Mindinho – figura entre os favoritos, ao lado de seu oposto: Ned Stark. “Um é a antipartícula do outro. Gosto do Ned porque ele representa o valor, a honra, o dever, a união da família, o fazer o bem pelo bem. Já Petyr é o caos, a fome pelo poder, a desonestidade, a individualidade, a crueldade e a amoralidade. É o grande ventríloquo que controla os outros, como

Petyr Baelish

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Os debates sobre a obra, tão comuns em língua portuguesa, tornaram-se usuais desde 2010. Nesse ano, a servidora pública federal Lidiany Cerqueira Santos resolveu criar o primeiro blog temático em português sobre a história. Com o sucesso da série, a página cresceu e virou referência nacional. O ‘Game of Thrones BR’ re-

Daenerys Targaryen

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se fossem bonecos no show dele”, define o jornalista. A opinião dos fãs também diverge sobre a personagem que mais os desagrada. Joffrey Baratheon faz com que o público torça o nariz para seu temperamento mimado e sádico, enquanto Sansa Stark é duramente criticada por se mostrar mais indefesa e vulnerável. Se há uma quase unanimidade entre os fãs é a escolha da casa para torcer: Stark.

Cersei Lannister

gistra mais de 1 milhão de acessos por mês e conta com quase 170 mil curtidas no facebook. “Recebemos muitos pedidos para publicação de teorias vindas dos livros e de comentários sobre episódios da série”, diz Lidiany, administradora e redatora do site. O movimento virtual atraiu até fãs de outros países. “A maioria dos acessos vem do Brasil. Grande parte é de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Fortaleza. Mas tem muita gente de Portugal acompanhando”, conta Lidiany. As discussões acaloradas nas redes sociais e no site dão trabalho à equipe, que precisa gerenciar o conteúdo e não permitir spoilers. A administradora da página acredita que o sucesso da história esteja nas personagens viscerais e na forma intensa com que Martin lida com o sexo e a violência. O autor não poupa o público de constantes reviravoltas. “Além disso, há o enredo sobre os três dragões”, complementa. E quanto aos fins trágicos de personagens tão queridas? Valar Morghulis.

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KULTUR salutaris

Embaixadora da

MPB Celebrada no exterior e por muitos anos desconhecida no próprio país, a baiana Rosa Passos tem a ‘missão’ de encantar o mundo com o melhor da música nacional Texto e fotos André Martins

la é brasileira, baiana, soteropolitana e tem nome de flor. Pode até soar estranho para os apreciadores da bossa-nova, mas não faz muito tempo que Rosa Passos começou a ser descoberta pelos próprios compatriotas. Isso, a despeito de Rosa ter iniciado a carreira na década de 70 e de ter o nome festejado do Japão aos Estados Unidos. No ano passado, ela foi considerada uma das cinco maiores cantoras de jazz da atualidade, em eleição feita pela revista americana Billboard. Não é só respeito. Rosa Passos é uma das grandes representantes da música popular brasileira. No exterior, onde quer que passe, ela é recepcionada com carinho. Também lá eles sabem que receber bem é o melhor convite para novas visitas. As dificuldades para Rosa conquistar o grande público ‘dentro de casa’ são conhecidas. Música de qualidade é o que ela sabe fazer de melhor. Mas essa não é a predileção da maior parte dos brasileiros. No entanto, a visibilidade do trabalho de Rosa vem crescendo desde 2012. No ano passado, a cantora começou a percorrer o Brasil com o seu trabalho detalhista: ora reflexivo, ora cheio de alegria. Em maio passado, Rosa se apresentou com a Orquestra Sinfô42 | www.voxobjetiva.com.br

nica de Minas Gerais no novíssimo palco do Grande Teatro do Cine Theatro Brasil Vallourec e emocionou a plateia. “Tenho conseguido fazer uma agenda brasileira desde 2012. Claro que é uma maravilha você acontecer lá fora, mas todo artista tem o desejo de acontecer também no seu país. Principalmente quando você sabe que há público para o seu trabalho e que as pessoas querem te ver e te ouvir. Nessas apresentações, eu percebo que os espectadores estão ávidos por música de qualidade”, opina a soteropolitana. O cenário da música brasileira preocupa Rosa por razões distintas. Elas vão desde a acomodação de cantores consagrados até a baixa qualidade do que vem sendo produzido. A dificuldade de o mercado inserir cantores que prezam por um tipo de música que vai na contramão do que é descartável também preocupa a baiana. Afinal, Rosa já experimentou essa realidade no início de carreira. “No Brasil, o mercado parou num tipo de música cuja qualidade é a pior possível. Todo dia surge um grupo, um cantor, uma cantora que não tem conteúdo. Você perde o interesse de acompanhar o que há de novo. Confesso que estou mais ligada ao que é produzido de jazz lá fora”, conta.


No repertório refinado dos shows de Rosa Passos figuram verdadeiras pérolas da música brasileira: canções de Dorival Caymmi, Tom Jobim, Ary Barroso, Chico Buarque, Djavan, além de trabalhos autorais. Mesmo marcando época, essas músicas são repaginadas pela voz marcante e singular com a qual Rosa foi presenteada. “Eu sempre falo que a música não é minha. Eu sou um instrumento canalizador da luz divina. Tive o privilégio de poder cantar e mostrar a música para as pessoas. Por isso, eu encaro a música como uma entidade que não escolhe qualquer um. Quando somos escolhidos, temos uma responsabilidade muito grande”, detalha.

A música surgiu muito cedo na vida de Rosa. Foi ainda na infância: uma fase da vida que seria perfeita, segundo a baiana, se não fosse a necessidade de lidar com a perda precoce da mãe. Rosa Passos tinha apenas 9 anos de idade nessa época. Na ausência da mãe, o pai e a irmã mais velha da cantora assumiram a condução da casa. Oriundos de uma família de classe média alta, Rosa e os quatro irmãos tiveram a oportunidade de aprender um instrumento musical na infância. Aos 3 anos de idade, ainda com a chupeta na boca, Rosa já demonstrava inclinação para a músi-

ca, ao corrigir a irmã nas aulas de piano que a jovem recebia em casa. “Dizem que a minha irmã tocava, e a professora perguntava: ‘Está certo, Rosinha?’. Quando não estava correto, eu fazia que não, ia até o piano e tocava a nota certa”, conta sorrindo. Com 5 anos de idade, Rosa se formou com nota máxima em Teoria Infantil na Escola de Música Santa Cecília. Depois disso, passou a se dedicar com mais esmero ao piano. Mas o instrumento não deteve a atenção dela por muito tempo. Isso porque um disco duplo da trilha sonora do filme ‘Orfeu Negro’ caiu nas mãos de Rosa por intermédio da irmã e deu novos rumos à sua trajetória artística. Com seu envolvente violão, João Gilberto entoou ‘A Felicidade’ e ‘Nosso Amor’, canções do maestro Tom Jobim selecionadas para o disco. Fascinada com a execução das músicas, Rosa logo trocou de instrumento. “Eu tinha 11 anos de idade e fiquei encantada com a voz do João Gilberto, o violão, a divisão métrica, o casamento dele com o instrumento,... Fiquei, assim, hipnotizada”, relembra. O pai não fez objeções em relação à troca. Ao contrário dos irmãos, ela parecia ser a única com tato para a música. Partituras e regras não faziam parte da rotina de estudos da menina baiana. Rosa é autodidata. | 43


KULTUR

Na adolescência, a instrumentista fez as primeiras aparições em programas de TV de Salvador e em festivais de música. Mais tarde, iniciou os estudos em Letras Vernáculas. Na universidade, a baiana conheceu aquele que seria um de seus maiores parceiros: Fernando de Oliveira, letrista de suas músicas. Naquele momento, Rosa começava a diversificar estilos, desenvolvendo seu talento para a composição. No terceiro período do curso superior, a jovem abandonou a universidade certa de que a música fazia parte do seu futuro. Rosa se casou com o economista Paulo Sérgio Passos, ex-ministro dos Transportes por três vezes. Com a união, ela teve que se mudar para Brasília, onde nasceram os filhos do casal. Na capital federal, Rosa deu continuidade à evolução como artista. Foi quando dois amigos – donos de uma casa de jazz na cidade – fizeram um convite despretensioso para que ela se apresentasse uma vez por semana no local. Assim Rosa ‘se descobriu’ como intérprete. A partir desse momento, a baiana começou a dar a própria roupagem aos clássicos da música brasileira. Ali nascia a cantora. Longe de um cenário musical sólido como Salvador, a artista cogitou desistir por causa das dificuldades de

Rosa Passos foi eleita uma das cinco maiores cantoras de jazz do mundo

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captar recursos para a produção dos próprios trabalhos. Mas a família teve um papel importante nesse momento. Após um período de incertezas e instabilidades, Rosa lançou o primeiro disco, ‘Recriação’, em 1979. Até o início da década de 90, um hiato marcou a trajetória artística de Rosa Passos. A cantora saiu de cena para dar espaço à mãe de três filhos. O ano de 1991 marca a retomada da carreira, que passou por um período de ascensão. Os consecutivos trabalhos lançados ao longo da década de 90 chegaram ao exterior e abriram as portas do mundo para Rosa. Ela passou a receber convites até adquirir o posto de embaixadora da música popular brasileira no Japão, na Europa e nos Estados Unidos. “Eu sou uma artista brasileira que entrou pela porta da frente no mercado americano como uma cantora brasileira que canta um jazz brasileiro. Consegui criar uma fórmula de cantar a nossa música com uma conotação jazzista, mas sem perder o swing e a brasilidade”, explica assim a razão da repercussão do trabalho dela mundo afora. O começo no novo milênio veio coroar definitivamente a carreira. Em 2002, a baiana se apresentou em turnê mundial ao lado de Yo-Yo Ma, violoncelista francês de origem chinesa. O artista é considerado um dos maiores instrumentistas de todos os tempos. No mesmo ano,


KULTUR

Rosa tem como grande referência João Gilberto

ter um grande cuidado com a pronúncia e, além disso, dar a minha assinatura”, pondera. Canções de musas do jazz, como Billie Holiday, Nancy Wilson e Ella Fitzgerald podem estar na seleção do projeto que não passa de um esboço mental, por enquanto. Com 62 anos de idade e 42 de carreira, Rosa se sente disposta para cantar sem pensar seriamente no dia da aposentadoria. “Quando o tempo me avisar que eu não posso mais cantar, eu sei que vou sentir saudade ao lado do meu violão, da minha mocidade”, canta um trecho de ‘Folhas Secas’, um clássico de Nelson Cavaquinho imortalizado na voz da ‘Pimentinha’ Elis Regina. “Talvez eu vá embora no palco. Isso é uma coisa que está nas mãos de Deus. Mas eu pretendo cantar muito ainda”, projeta.

a cantora gravou o CD ‘Entre Amigos’, com Ron Carter, uma lenda viva do jazz. Em 2006, Rosa faz um show intimista, de voz e violão, no templo mundial do jazz: o Carnegie Hall, em Nova Iorque. Com a casa lotada, a plateia composta basicamente de americanos se rendeu ao talento da cantora. Da ocasião, a soteropolitana guarda uma lembrança como um tesouro. “Estava de viagem para lançar o CD ‘Rosa’, em Nova Iorque, quando o telefone da minha casa tocou. Era o João Gilberto. ‘Flor, sou eu, Joãozinho’. Eu, pasma, disse: ‘Joãozinho?!! Não acredito!’”, conta aos risos. João havia ligado para desejar a ela uma boa apresentação no Carnegie Hall. O fato a deixou radiante. Desde o disco de ‘Orfeu Negro’ e o encantamento com a bossa-nova, João Gilberto se tornou a maior referência para Rosa. Em 2007, mais um regalo: a Berklee College of Music, de Boston, concedeu o título de Doutora Honoris Causa à cantora. Até hoje, ela continua a ser a única artista sul-americana a receber tal honraria da maior escola de música independente do mundo.

Há outro lado de Rosa Maria. O olhar amoroso, o sorriso fácil, a atenção ao ouvir, o cuidado ao falar, a voz disciplinada e macia são características da artista. Mas, em casa, não é isso que se vê. Na intimidade do lar, ela adora organizar as coisas e exercitar hobbies, como a decoração. E é na casa que surge a mulher reservada, humilde, kardecista, afeita à vida simples, devotada ao marido e aos três filhos e avó paciente de três netos – além dos outros dez netinhos ‘de pelo’. Sim: cinco gatos e cinco cachorros, responsáveis por energizar a cantora. “Quando estou em casa, sou da minha casa. Vivo para a minha família”, assegura. Em junho, Rosa Passos volta à prazerosa vida de Rosa Maria. Após dois meses de descanso, a cantora vai retornar à estrada para mais shows no Brasil, na Argentina e no Uruguai. Para o ano que vem, Rosa planeja nova ida ao exterior para apresentações nos Estados Unidos e na Europa. É uma vida corrida e uma agenda sempre cheia para quem tem sempre muito para mostrar. Rosa Passos e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais

Com um currículo tão robusto, Rosa poderia dar-se por satisfeita. Na verdade, é assim que ela diz se sentir: realizada. Mas ainda sobram desafios que ela gosta de se impor. O principal deles seria gravar um CD de músicas americanas marcantes para a história do jazz. “É uma coisa para pensar com muito cuidado. São clássicos que já estão aí e só aumenta a responsabilidade. É preciso | 45


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Rafael Kent

Terra Brasilis • agenda

Tiago Iorc

Linha de Frente

Roupa Nova

Revelação da música brasileira, o brasiliense Tiago Iorc passeia pelo pop, rock e folk na turnê ‘Voz + Violão’. O cantor já emplacou sete trilhas sonoras de novelas, com destaque para ‘My Girl’, canção de ‘Viver a Vida’, e ‘Scared’, música escolhida para ‘Duas Caras’. Eleito como Melhor Artista Estrangeiro de 2010 no Grant Mint Festival da Coreia do Sul, Tiago admite se expressar melhor fazendo suas músicas em inglês. O artista chega a Belo Horizonte para interpretar sucessos da carreira e músicas do novo álbum, ‘Zeski’.

Belo Horizonte recebe um dos maiores ídolos da MPB e a principal referência do Clube da Esquina: Milton Nascimento. O carioca de alma mineira sobe ao palco do Grande Teatro do Palácio das Artes com um dos mais badalados talentos da cena contemporânea: o rapper Criolo. A inédita turnê ‘Linha de Frente – Milton Nascimento convida Criolo’ traz aos fãs os sucessos do paulista, como as canções ‘Bogotá’, ‘Linha de Frente’ e ‘Mariô’, e clássicos de Milton, como as músicas ‘Morro Velho’ e ‘Travessia’.

‘Cruzeiro Roupa Nova’ marca a volta do conjunto vocálico fluminense aos palcos do Chevrolet Hall. O nome foi inspirado no novo DVD gravado durante três dias em um transatlântico. O repertório do show conta com sucessos internacionais gravados pela banda, como ‘Nossa Canção’ (‘My Sentimental Friend’, do Herman’s Hermits) e ‘Tenha Fé na Música’ (‘God Gave Rock and Roll To You’, do Kiss). Grandes sucessos do grupo, como ‘Whisky a Go Go’, ‘Linda Demais’ e ‘Volta pra Mim’, completam o espetáculo.

Teatro Bradesco 13 de junho, às 21h R$ 80 (inteira) teatrobradescobh.com.br

Palácio das Artes 13 e 14 de junho, às 21h De R$ 180 a R$ 220 (inteira) fcs.mg.gov.br

Chevrolet Hall 14 de junho, às 22h De R$ 80 a R$ 130 (inteira) chevrolethallbh.com.br

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Terra Brasilis • agenda

Reprodução

Ministério da Justiça

Resistir é preciso A curiosidade sobre o universo dos famosos é o tema do espetáculo criado e interpretado por Fernanda Souza. Em um tipo de stand-up moderno, a atriz usa a sua carreira de mais de 25 anos para tratar de questões, como a relação entre a profissão e a vida pessoal, os bastidores das gravações e como construir uma personagem. Ao longo de 75 minutos, Fernanda interage com a plateia e faz dela sua confidente. A peça tem a parceria do produtor Léo Fuchs e direção de Michel Bercovitch.

Rodrigo Molina

CCBB Até 28 de julho, das 9h às 21h Entrada gratuita culturabancodobrasil.com.br

Meu passado nao me condena Cine Theatro Brasil Vallourec 7 de junho, às 21h, e 8 de junho, às 19h De R$ 72 a R$ 100 (inteira) vmcentrodecultura.com.br

A curiosidade sobre o universo dos famosos é o tema do espetáculo criado e interpretado por Fernanda Souza. Em um tipo de stand-up moderno, a atriz usa a sua carreira de mais de 25 anos para tratar de questões, como a relação entre a profissão e a vida pessoal, os bastidores das gravações e como construir uma personagem. Ao longo de 75 minutos, Fernanda interage com a plateia e faz dela sua confidente. A peça tem a parceria do produtor Léo Fuchs e direção de Michel Bercovitch.

Mostra Futebol Arte O mês da abertura da Copa do Mundo no Brasil é também o período da ‘Mostra Futebol Arte’, organizada pelo Sesc Palladium. São quatro filmes, sendo três sobre uma trinca de ‘gênios da bola’. O primeiro, a ser exibido dia 11 de junho, é ‘Garrincha, Alegria do Povo’, a vida e a carreira do ‘anjo das pernas tortas’. O segundo, ‘Isto é Pelé’, narra a história do maior jogador de futebol de todos os tempos no dia 13. Os últimos, ‘Maradona’ e ‘Futebol, paixão nacional’, serão exibidos dias 15 e 22 de junho. Sesc Palladium 11 de junho, às 21h, e 13, 15 e 22 de junho, às 19h Entrada gratuita (sujeita a lotação) sescmg.com.br

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Terra Brasilis • literária

Tempos Extremos Autora: Míriam Leitão Editora: Intrínseca Páginas: 272 Preço: R$ 24,90

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Conhecida pelos comentários de economia no rádio e na TV, a jornalista Míriam Leitão apresenta em ‘Tempos Extremos’ os mistérios de uma antiga fazenda situada entre as serras mineiras. A história narra os conflitos afetivos e políticos de uma família sitiada por causa das chuvas, que convive com os fantasmas da escravidão e do regime militar. Míriam consegue romper as paredes centenárias da fazenda e mostrar sutilmente os sonhos de Larissa, uma jovem deslocada entre os seus. O livro é o primeiro romance da jornalista, que mostra não ser adepta às perguntas fáceis também na ficção.

Outros poemas inspirados em você Autora: Patrícia Castellani Editora: Independente Páginas: 70 Preço: R$ 20

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A singularidade do dia a dia é matéria-prima da jornalista e poetisa Patrícia Castellani. A autora lançou recentemente o primeiro livro da carreira, ‘Outros poemas inspirados em você’. A obra é uma tentativa de diálogo com o leitor, que é convidado a se defrontar com emoções e sentimentos que permeiam experiências individuais. A cada estrofe, Patrícia promove encontros que sobre o amor nas suas mais diversas facetas. Metafórica, a poesia da autora belo-horizontina diz muito sobre sonhos e ainda mais sobre o aprendizado adquirido com a vida.

Vencer o câncer Autores: Fernando Cotait Maluf, Antonio Carlos Buzaid e Drauzio Varella Editora: Dendrix Páginas: 512 Preço: R$ 49,90

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Mais vendido

Escrito por três dos maiores oncologistas do país, ‘Vencer o Câncer’ orienta e informa a população brasileira sobre a segunda doença que mais mata no país, com 17% dos óbitos. Com uma linguagem acessível e objetiva, o livro traz figuras e tabelas de fácil compreensão para que o leitor possa conhecer em detalhes o câncer. A obra apresenta minuciosamente os fatores de risco da doença e as formas de prevenção, diagnóstico e tratamento. Assuntos como medicina integrativa, dieta, direitos do paciente com câncer e atitudes de combate à doença completam à obra.


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Terra Brasilis • crítica

Scarlett Johansson é a protagonista de ‘Sob a pele’, filme de Jonathan Glazer

forma que se apresenta a alienígena de ‘Sob a pele’, interpretada pela belíssima Scarlett Johansson. A personagem é a isca perfeita em uma peregrinação pelo universo do sentir num ambiente desconhecido e hostil. No início da ficção científica de contornos dramáticos, um mistério se estabelece: qual a missão da protagonista, que dirige uma van branca sem destino definido? Mas seu olhar, que esquadrinha ruas e ambientes à procura de homens, revela uma necessidade imediata. Sempre fazendo uso das mesmas palavras e de estratégias de sedução, a personagem de Johansson consegue levar figuras do sexo oposto ao seu escuro ‘covil’. Por lá, elas são ‘abatidas’.

Sob a pele Novo filme de Jonathan Glazer persegue alienígena na busca pela essência humana André Martins Escuridão, luzes anis e corpos celestes. Metáfora e elipse na criação. Uma voz feminina balbucia sílabas e palavras como quem tenta aprendê-las e memorizá-las. A dona da fala hesitante suga a vitalidade e toma a forma de outrem. Ela tem cabelos pretos, usa calça jeans justa e uma blusa decotada. Um batom de vermelho vivo colore seus lábios carnudos. É dessa

Na volta à ‘caça’, o retrovisor do veículo sempre mostra ao espectador um olhar cada vez mais marejado, que sugere uma profunda frustração ou mesmo a evolução da personagem. Essa evolução atinge o ápice quando o ovni sedutor se depara com o melhor e o pior da humanidade. ‘Sob a pele’ é tão enigmático quanto provocativo. Depois de quase dez anos afastado do cinema, Jonathan Glazer, diretor de ‘Reencarnação’ e ‘Sexy beast’, retorna triunfante, dando aula de estilo. O seu novo trabalho é esteticamente perturbador. A opção por uma fotografia soturna, a trilha sonora marcante de Mica Levi e as metáforas – principalmente a representação da morte – são pontos altos do filme. No ótimo ‘Ela’, Johansson é notável ao emprestar a bela e sexy voz a um sistema operacional futurístico. Em ‘Sob a pele’, ela volta a ser precisa. A atriz vai da ‘cara de paisagem’, necessária para ilustrar o deslocamento da personagem na primeira metade do longa, até a emoção genuína na luta instintiva pela vida em uma floresta de tundras salpicadas pela neve. Apesar de priorizar visivelmente a forma em relação à narrativa, Glazer imprime uma carga de humanidade interessante em ‘Sob a pele’. Ao testemunhar a história da protagonista e o transcorrer dos fatos nas estupendas e insólitas paisagens escocesas, é impossível não sentir uma pontada no peito. Esse sentimento suscita o desconforto sentido no fim de grandes produções como ‘Blade Runner’, de Ridley Scott, e ‘Inteligência Artificial’, de Steven Spielberg.

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crônica

Joanita Gontijo

Comportamento

Elegância: moda para todas as estações Durante três anos, eles foram meus vizinhos ‘de porta’. Nós nos encontrávamos quase todos os dias. Não sei ao certo a idade deles, mas Dona Joana e Seu Chico estavam perto dos 80 anos. Foram muitos cumprimentos: ‘bom dia!’, ‘como vai?’ e ‘fique com Deus’ durante nossa convivência. Algumas vezes, consegui enganar o relógio para desfrutar do prazer de conversar ao pé da escada com eles. Falávamos de problemas do condomínio, como o milésimo conserto do portão da garagem, e sobre assuntos pessoais. Comemorei com o casal a aprovação da neta mais velha deles no vestibular; lamentei quando um dos filhos deixou a capital para viver no interior e rezei por Seu Chico, quando ele teve pneumonia.

to. Inclusive, fiz parte dessa lista de maltrapilhos. Refiro-me a homens e mulheres que, mesmo juntos, se comportam como inimigos sociais. Outro dia dividi a mesa de um bar com um casal que tinha acabado de chegar da Europa. O que deveria ser um relato divertido se tornou uma disputa velada sobre o lugar mais bonito, o melhor vinho, o atendimento do hotel, o tamanho da fila no museu e a temperatura registrada em Paris. Ao fim daquela viagem romântica, a diversidade de opiniões, sensações e impressões não enriqueceu a narrativa. Muito pelo contrário. As diferenças tornaram a conversa um campo minado, onde explodiram rancores e inseguranças. Esse triste espetáculo da disputa pela última palavra e da busca desmedida pelo convencimento alheio é constrangedor para os protagonistas e para a plateia. Houve vezes em que quase cobrei consulta por me sentir uma terapeuta apaziguando conflitos.

“Não importam as tendências: a deselegância está sempre fora de moda!”

Adorava nossas breves prosas e a elegância do casal. Não falo de paletós bem-cortados ou de vestidos com caimento perfeito. Sequer me refiro aos bons modos e à delicadeza com que sempre fui tratada. O que me fascinava era o encantamento entre eles. Quando Chico falava, Joana se calava para prestar atenção em cada sílaba. Seus olhos e ouvidos tinham a curiosidade de uma aluna sentada na primeira fila, ansiosa pelo final da história contada pelo professor. As palavras de Joana faziam o mesmo efeito em Chico que, com olhar de partilha, aplaudia secretamente as ponderações da esposa. Não concordavam em tudo, mas eram respeitosos em seus argumentos contrários. Faziam graça dos defeitos um do outro e riam juntos se olhando nos olhos.

Há bastante tempo não os vejo, mas se os encontrasse e tivesse poderes mágicos, empacotaria a elegância deles para distribuir a vários casais que entendem bem pouco do assun50 | www.voxobjetiva.com.br

Meu pai diz que não sabemos se um relacionamento vai dar certo. Afinal, o parceiro ideal não se diferencia por ter uma estrela na testa. Mas um bom sinal é observar se entre vocês há harmonia. Caso os tons e as texturas do discurso não combinem nem mesmo diante do público, é melhor mudar o figurino ou o figurinista. Não importam as tendências: a deselegância está sempre fora de moda!

Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela”joanitagontijo@yahoo.com.br


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PARA GARANTIR OPORTUNIDADES IGUAIS DESDE CEDO, O GOVERNO FEDERAL ESTÁ INVESTINDO FORTEMENTE

NA EDUCAÇÃO.

Aqui em Minas e no Brasil inteiro. Recursos garantidos para a construção de 548 creches e pré-escolas. Mais de 32 MIL professores participam do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa. Mais de 3.500 escolas já oferecem educação em tempo integral.

É assim que o Brasil combate a desigualdade social e se torna

UM PAÍS CADA VEZ MAIS JUSTO. 52 | www.voxobjetiva.com.br


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