DO BARROCO À FOTOGRAFIA | Exposições movimentam circuito cultural de BH
Junho/14 • Edição 60 • Ano VI • Distribuição gratuita
Capital da
criatividade Com pouco dinheiro e muito cérebro, startups fazem de Minas Gerais referência em tecnologia
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A AssembleiA de minAs trAbAlhA pArA melhorAr A vidA dos mineiros. Bolsa-Reciclagem comBate à PoBReza assine + saúde cRiou o dê sua oPinião Redes sociais maRcha contRa o cRack
Fim do voto secReto e do Pagamento da hoRa extRa Fim do 14º e 15º saláRios dos dePutados Fim do auxílio-moRadia* Renegociação da dívida de minas geRais lei de incentivo à indústRia da comunicação
Nos últimos três anos, a Assembleia criou novas medidas de austeridade e transparência, reduziu custos e melhorou a qualidade de vida dos cidadãos de todas as idades. Também investiu em mecanismos de aproximação com a população, para maior participação de todos, e trabalhou para diminuir as diferenças sociais no Estado. Isso porque a Assembleia de Minas é sua. É o poder e a voz do cidadão.
Saiba maiS em almg.gov.br e na Tv aSSembleia. ParTiciPe. acomPanhe. Dê Sua SugeSTão. TV Assembleia, em BH, Canal 35 UHF – www.almg.gov.br – Rua Rodrigues Caldas, 30 – Belo Horizonte – (31) 2108 7800 2 | www.voxobjetiva.com.br
@assembleiamg
assembleiademinas
ALMG
*Deputados com imóvel na RMBH.
Fundo de eRRadicação da miséRia movimento idade com Qualidade Passe-livRe inteRmuniciPal PaRa Pessoas acima de 65 anos e Pessoas com deFiciência estatuto mineiRo da micRo e PeQuena emPResa lei do Queijo aRtesanal
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‘Liberdade vigiada’ - Praça Sete Foto: Daniela Rebello |3
Editorial Um país que insiste em crescer A edição deste mês da Vox Objetiva chama a atenção para a capacidade criativa dos brasileiros diante da cada vez mais acirrada competitividade internacional. Somente na San Pedro Valley, em Belo Horizonte, 170 empreendimentos apostam em projetos tecnológicos de ponta, colocando a capital mineira como referência brasileira no desenvolvimento de startups. Na contramão da política, os inventores modernos aceitam diariamente o desafio de vencer as limitações e as dificuldades do país. E não são poucas as dificuldades.
Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br
“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)
De acordo com o estudo Corporate and Indirect Tax Survey 2014, o Brasil tem a terceira maior carga tributária para empresas entre as 19 maiores economias do planeta. Dependendo do investimento, manter um negócio em dia com o fisco pode exigir até 17% do faturamento apenas em procedimentos contábeis. Enquanto o Brasil se diverte e se engana com os jogos da Copa do Mundo, nossos políticos deixam de lado as reformas estruturais necessárias para elevar a capacidade criativa das empresas nacionais. Essas mudanças são fundamentais para que o país ganhe projeção em um mercado internacional que fatura bilhões de reais a cada ano. Acostumados ao ritmo dos anos eleitorais, não será pessimismo dizer que vamos ter que esperar muito antes de assistir à volta das discussões políticas e à formatação das decisões a serem tomadas. Resta aguardar a formação das coligações partidárias, a contagem dos votos nas urnas, a posse do novo governo e a escolha de ministros, de presidentes e de diretores de estatais para definir a formação da base aliada. Se permanecerem no compasso da espera política, as empresas brasileiras vão seguir recolhendo o que é devido ao fisco. E, sem possibilidade de recusa, os empreendedores nacionais vão continuar sustentando uma estrutura pública lenta e cada vez mais cara e paralisada por feriados longos e sem produtividade. Já seria uma grande esperança se o tema das reformas, especialmente a tributária, ganhasse importância entre os candidatos à presidência em outubro.
A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060
Os compromissos com o controle dos gastos do Estado, a profissionalização das estatais e a eficiência das políticas públicas de saúde, educação e segurança serão muito bem-vindos, desde que se tornem realidade após o pleito. Velhas promessas que são repetidas a cada eleição não atendem mais a quem sustenta um Brasil que insiste em crescer.
REVISTA | Editor adjunto: Lucas Alvarenga l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Felipe Pereira Estagiária: Daniela Rebello l Reportagem: André Martins, Cassio Teles, Daniela Rebello, Lucas Alvarenga, Tati Barros, Rodrigo Freitas | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br ENCARTE | Editor e jornalista responsável: Carlos Viana | Diagramação e arte: Vinícius Fonseca | Capa: Vinícius Fonseca | Reportagem : Ilson Lima, Adriano Souto (*Caderno impresso em papel reciclado) 4 | www.voxobjetiva.com.br
Ser o maior grupo integrado de energia do Brasil é tão importante para a Cemig quanto ser a energia que move o dia a dia de cada mineiro. Pois foi a confiança dos consumidores que levou nossa energia tão longe. Estamos em 23 estados brasileiros, somos uma das empresas mais sustentáveis do mundo e nunca crescemos tanto como nos últimos dez anos. Investimos em fontes limpas e renováveis de energia e criamos a primeira usina solar em um estádio de futebol. Nesses dez anos, fizemos 2 milhões de ligações na cidade e no campo e investimos R$ 10 bilhões em distribuição, expansão e melhoria na rede.
Com esses investimentos, estamos reforçando a rede elétrica que viabiliza novos empreendimentos agrícolas e industriais no Estado. Junto com o Governo de Minas, instalamos coletores solares, geladeiras e lâmpadas eficientes para reduzir a conta de creches, hospitais e residências. E, ainda, somos a empresa que mais investe em cultura e esporte no Estado. Por tudo isso, todo mineiro pode se orgulhar dessa empresa.
Somos a Cemig, a sua, a nossa energia.
Saiba mais: use o leitor de QR Code do seu celular para assistir ao filme
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Mauro Belessa
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Arquivo ABr
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PABLO ORTELLADO Filósofo da USP faz um balanço positivo das manifestações de junho de 2013
capa
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metropolis
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EM BUSCA DE PROTAGONISMO Mulheres buscam superar problemas para ter voz e vez na política brasileira
Jovens empreendedores de Minas criam polo digital em Belo Horizonte e ajudam a projetar o setor tecnológico do estado
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DOMÍNIO AMERICANO
ESFORÇO EM VÃO?
Ex-colônias europeias dominam a Copa do Mundo no Brasil e dão show de presença nas arquibancadas
Brechas e interpretações podem comprometer efetividade da Lei da Ficha Limpa
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vANGUARDA
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SILICON VALLEY MINEIRA
INVESTIMENTO SUSTENTÁVEL Minas aposta no bioquerosene para a aviação
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A MODA QUE VEM DA WEB Referências do universo da moda no Brasil e no mundo ditam tendências por meio das redes sociais
Guilherme Dardanhan
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André Martins
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Divulgação
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Wellington Pedro/Imprensa MG
KULTUR
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Meteorologia • Ruibran dos Reis
O GÊNESIS DE UM ARTISTA
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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci
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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira
Mineiro Sebastião Salgado traz para Belo Horizonte a exposição que o fez ‘renascer’ para a fotografia
ENCONTRO PELA ARTE Casa Fiat de Cultura promove exposição Barroco Itália-Brasil e mostra a influência da arte sacra nesses países
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Artigos justiça • Robson Sávio
Perseguidor de si
Preocupação precipitada e sem fundamento
crônica • Joanita Gontijo Três homens em um!
Gastronomia
CHICO BUARQUE - 70 ANOS Conheça três faces de um dos mais completos artistas do país
Soluções criativas para o planeta
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RECEITA – Chef Antônio dos Reis
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VINHOS - Nelton Fagundes
Broinha de fubá Saca-selos de vinhos
Violência sem controle |7
Sandra Codo
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verbo
Saldo positivo Professor da Universidade de São Paulo acredita que protestos pela revogação do aumento da passagem de ônibus iniciados há um ano tenham reafirmado que temos voz no Brasil André Martins
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ia 7 de junho de 2013: aproximadamente 5 mil manifestantes do Movimento Passe Livre (MPL) de São Paulo saíram às ruas para protestar contra o reajuste de R$ 0,20 na tarifa de ônibus da capital paulista. Durante a ação, a polícia agiu com destempero, e muitos ativistas foram feridos. A partir daquele momento, uma onda de solidariedade se espalhou pelo país. Milhões de brasileiros despertaram para a urgência de discutir demandas de ordem social e política. Os dias seguintes àquele protesto foram marcados pela tomada de espaços públicos por milhares de manifestantes. Multidões saíram às ruas. Manifestações assim não eram vistas desde o movimento Diretas Já na década de 80. Em Brasília, a área externa do Congresso Nacional foi completamente tomada. Avenidas centrais, como a Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, e a Paulista, em São Paulo, foram cobertas por um ‘mar de gente’ com bandeiras em punho e gritos de ordem. Na capital mineira, milhares de manifestantes se aglutinaram no coração da cidade, a Praça Sete.
siderando o contexto atual, os protestos pulverizados que vêm ocorrendo ao longo da Copa do Mundo foram alvo de uma desleal ‘campanha de intimidação’ promovida pelos governos estaduais e federal, como aponta Ortellado. As manifestações de junho de 2013 começaram ‘por causa de R$ 0,20’ e se desdobraram em diversas bandeiras. O Movimento Passe Livre (MPL) conseguiu atingir o objetivo de revogação do aumento da passagem. Mas e aquela massa de descontentes que se juntou ao MPL? Essas pessoas ganharam alguma coisa?
“A experiência brasileira não ficou restrita somente à tomada do espaço público, à indignação expressa nem à discussão de demandas. Nós fomos vitoriosos”
Os 11 principais dias do histórico mês de junho de 2013 são desvendados e analisados em riqueza de detalhes no livro ‘Vinte centavos: a luta contra o aumento’, de Pablo Ortellado, Marcelo Pomar, Luciana Lima e Elena Judensnaider. Doutor em Filosofia e professor de Gestão de Políticas Públicas pela Universidade de São Paulo (USP), Ortellado conversou com a Vox Objetiva sobre as manifestações de junho, que acabam de completar um ano. Os protestos promovidos pelo MPL foram vitoriosos, ao contrário do que aconteceu em manifestações similares, em outros países, na opinião do filósofo. Con-
Em primeiro lugar, elas ganharam R$ 0,20. Na segunda fase dos protestos, as manifestações se nacionalizaram. Essa etapa começou após o fim de semana do dia 14 de junho. Pesquisas de opinião mostravam que o tema ‘redução das tarifas’ era o mais comum entre os manifestantes. Os levantamentos foram feitos em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Entre 60% e 70% dos envolvidos nos protestos enxergavam na redução do preço das passagens uma motivação para tomar as ruas. Por isso, essa conquista não foi somente do MPL. Há pelo menos dez anos, os jovens tomam as ruas quando há aumento das passagens. Foi assim em Salvador, em 2003, em Florianópolis, em 2004 e 2005; depois em Vitória, Goiânia, Belém,... Não foi uma casualidade que os transportes tenham despertado essas manifestações. O tema faz parte de uma pauta em que os meios de comunicação, os partidos políticos e as universidades não prestavam atenção havia uma década. Quando lideranças políticas começaram a apoiar o MPL e os governos buscaram o diálogo, a massa
de descontentes que foi às ruas se sentiu abandonada e fragmentada. A revogação do aumento da passagem teria acontecido, caso essas pessoas não tivessem aderido ao movimento? O MPL só venceu porque tinha muita gente na rua. O mesmo aconteceu em momentos do passado. Nos últimos anos, isso aconteceu pontualmente. Em 2004 e 2005, as manifestações de Florianópolis foram proporcionalmente maiores do que os protestos de 2013.
Instituto Iniciativa Brasil
verbo
A revogação do aumento das passagens agregou um número mais restrito de pessoas. Mesmo assim, dá a impressão de que o movimento tinha mais força que outros anseios. Falta organização para movimentos sociais atingirem resultados no Brasil? Falta concentração em demandas claras e exequíveis. O MPL fez protestos direcionados na primeira fase das manifestações. Essa demanda foi incorporada a outras tantas na fase posterior aos protestos, iniciada no dia 17 de junho de 2013. Nesse período, as pesquisas de opinião mostravam que a revogação das passagens estava no topo das reivindicações. A possibilidade de gritar e de ser ouvido é digna de comemoração. Isso tende a ter efeitos positivos daqui para frente? Os efeitos positivos já podem ser vistos. Os protestos ocorridos no Brasil não foram derrotados. Manifestações nos Estados Unidos, com o Ocupe Wall Street, e na Espanha, com o Movimento dos Indignados, não tiveram a mesma sorte. Ambos fracassaram em 2011. Em 70% das cidades com mais de 200 mil habitantes, o preço das passagens de ônibus caiu por causa das manifestações, como revelou uma pesquisa feita pelo jornal Folha de São Paulo. A experiência brasileira não ficou restrita somente à tomada do espaço público, à indignação expressa nem à discussão de demandas. Nós tivemos conquistas; fomos vitoriosos. Os efeitos positivos das manifestações de 2013 estão em todo o território nacional, desde as médias cidades até as pequenas. Nos últimos meses, nós tivemos algumas reivindicações sindicais que rejeitaram a representação dos sindicatos e optaram pela greve, um instrumento de ação política sem mediação. Isso faz parte do espírito de junho, quando foram renunciados canais de representação tradicionais, como os partidos políticos, em função da ação política direta. 10 | www.voxobjetiva.com.br
As ruas voltaram à rotina após a Copa das Confederações. As coisas deixaram de evoluir depois disso? O que tem acontecido que não está sendo mostrado pela mídia no Brasil? Além das greves sem representação sindical, foi constituída uma Assembleia Popular Horizontal em Belo Horizonte, instituída a luta contra a derrubada de parte do Parque do Cocó em Fortaleza, houve ações do movimento dos direitos dos animais em São Paulo; e eclodiu o movimento Ocupe Estelita no Recife. Há também uma onda de ocupações urbanas absolutamente sem precedentes desde a década de 80. Em suma: muitas coisas que fogem ao padrão de junho de 2013 estão acontecendo, mas elas vêm sendo divulgadas de forma fragmentada. Embora tenham tomado um chacoalhão em junho de 2013, os meios de comunicação e os partidos políticos não se acostumaram a olhar esses fenô-
verbo
As redes sociais contribuíram, mas elas não são a causa da mobilização. Qualquer mobilização social contemporânea é feita por meio das novas tecnologias da informação e da comunicação. As relações de trabalho e de produção estética e a sociabilidade são mediadas por meio das redes sociais na internet e das novas tecnologias. Nem a política foge disso. Mas não devemos explicar a força nem a novidade dessas manifestações por causa das redes sociais. Elas são apenas facilitadoras de mobilizações. Você equipara o MPL ao movimento zapatista. Qual a relação implícita entre movimentos ocorridos em regiões geograficamente tão distantes? Esses e outros movimentos fazem parte de uma onda de renovação de mobilizações sociais caracterizadas pela horizontalidade, pela valorização da democracia comunitária e pela crítica às relações verticais de poder e aos instrumentos de representação. Quase um ano se passou após a Dilma propor aquele grande pacto com a sociedade. Como você avalia essa iniciativa? A população vai cobrar a presidente para que aquelas propostas saiam do papel?
menos como um conjunto de ações de mesma natureza que fazem parte de um processo profundo. Essas manifestações têm objetivo específico? Elas tendem ao sucesso? Há movimentos que ainda têm uma pauta dispersa, genérica e meio abstrata. Por isso, não alcançam resultado nem sucesso. Com a experiência do MPL, outros aprenderam que é preciso ter uma pauta muito concreta para vencer. O melhor exemplo recente são as reivindicações do Movimento Sem-Teto (MST) de São Paulo. Eles fizeram uma lista de exigências relativamente longa, mas clara e exequível. E, no final das contas, foram atendidos pelos governos federal, estadual e municipal. Quais as chances de o MPL ter dado certo sem as redes sociais, principalmente o facebook?
A presidente tentou dar uma resposta inteligente e diferente do que muitos governantes que enfrentaram processos dessa magnitude conseguiram desde 2011. A maioria desses governos rejeitou, deslegitimou e combateu os movimentos. A presidente reconheceu a força e a legitimidade desse processo e ofereceu uma resposta política própria. Isso foi possível porque, na segunda fase dos protestos, as reivindicações eram tão amplas, que não era fácil discernir o que os manifestantes queriam, além da redução das passagens. Nesse cenário, Dilma apresentou uma resposta que constituiu a agenda política federal. A única das cinco questões que coincidia entre o governo e os manifestantes foi a da mobilidade. Essa foi uma forma inteligente de a presidente reforçar a própria agenda política. Agora a população não deve cobrar o cumprimento do pacto porque aquilo era uma agenda do governo, não da sociedade. Além da redução das passagens, a única demanda clara da sociedade era a reforma da polícia, assunto que não foi sequer tocado. E, embora tenha sido conseguida, a redução do preço das passagens não passou por uma resposta da União, que teria de introduzir mecanismos de ajuda federal para baixar paulatinamente os preços das passagens. | 11
verbo
Recentemente você lançou o livro ‘Vinte centavos: a luta contra o aumento’. Na obra, você traça uma análise sobre a atuação do MPL. Estamos em 2014, e manifestações têm acontecido pelo Brasil. Essas mobilizações podem originar outro projeto ou é muito cedo para dizer isso? Há dois processos: um conjunto de mobilizações urbanas de jovens – que dão sequência àquela experiência de junho – e a mobilização de trabalhadores por meio das ocupações de sem-teto e das ações das categorias – não necessariamente vinculadas aos seus sindicatos. É cedo para falar em um novo projeto. Mas as coisas estão acontecendo... Neste ano, o país alcançou o maior índice de greves desde 1995 e 1996 – auge das privatizações do governo Fernando Henrique. Os dados que nós conseguimos captar para avaliar as greves mostram que a situação mudou qualitativamente da década de 90 para cá. A adesão às manifestações de 2014 tem sido abaixo do esperado? Você acreditava que mais pessoas se mobilizariam? Eu esperava mais. No entanto, acredito que tenha havido uma campanha de intimidação que funcionou principalmente por parte dos governos estaduais e federal. Prenderam muita gente; intimaram as pessoas para impedir que elas participassem de mobilizações; convocaram o exército; ativistas receberam visitas de
policiais em suas casas; várias pessoas foram indiciadas por crimes; e houve ameaça de denunciar ativistas por associação criminosa. Trata-se de crime com pena pesadíssima e sem direito à fiança. Em São Paulo, a polícia bloqueou o local de um protesto. Com a inibição, a manifestação acabou pequena. Os policiais também fecharam a estação do metrô. E quem conseguia chegar ao local do protesto era recebido com bombas. A forte estratégia de repressão certamente assustou os ativistas. O que esses movimentos sinalizam para o futuro? O conjunto de manifestações pelo país está desenhando um horizonte pós-PT. O Partido dos Trabalhadores foi fundado por movimentos sociais da década de 80. Os manifestantes resolveram abandonar as ruas e optaram por eleger vereadores, prefeitos, deputados, governadores e presidente. Essa institucionalização se concretizou. Agora ela está no seu limite. Temos três mandatos do PT no governo federal e várias experiências em estados e municípios. O que vemos agora é a geração de movimentos sociais depois da institucionalização do PT. E o horizonte é não institucionalizado. Esses movimentos estão buscando algo além, mesmo que isso ainda não esteja claro. A tendência é que, durante esse processo, haja uma série de experimentações políticas para chegar a novos caminhos.
Com o Movimento Passe Livre começaram as manifestações de junho
Gianluca Misiti
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Artigo
Robson Sávio
Justiça
Violência sem controle Prestes a ser lançado, o Mapa da Violência 2002 - 2012 traz um alerta sobre a escalada da criminalidade violenta no Brasil. O documento mostra o crescimento de 38,3% no número de vítimas de acidentes de trânsito. Em 2002 foram registrados 33.288 acidentados contra 46.581 em 2012. Nesse período, o número de homicídios saltou de 49.695 para 56.337, subindo 13,4%. Em relação a 2011, a taxa de homicídios de 2012 cresceu 7% no país. Três causas de mortalidade violenta foram levadas em conta: assassinato, suicídio e morte no trânsito. Em Roraima, a taxa de homicídios subiu 71,3%, seguida por 36,5% no Ceará e 22,4% no Acre. Esse índice caiu em apenas cinco estados: Espírito Santo e Rio de Janeiro – onde a retração foi irrisória – e Pernambuco, Paraíba e Alagoas – onde a queda foi moderada.
eficiência da Justiça e das Polícias Militar e Civil estimula a adoção de soluções privadas para conflitos de ordem pessoal e social. Esse comportamento contribui para exacerbar o sentimento de medo e de insegurança coletivos. Em vez de clamar por reformas estruturais, as manifestações coletivas das duas últimas décadas mantêm o obsessivo desejo punitivo, que contempla punição sem julgamento, pena de morte, violência institucional e leis draconianas de controle da violência e do crime. Segundo o antropólogo Luiz Eduardo Soares, propõe-se um controle social carente de legalidade em nome da lei e da ordem.
“Não é fácil acabar com a onda de violência que campeia o país”
Embora as propagandas desfoquem a situação, a taxa mineira de homicídios cresceu 6,4% em 2012. Enquanto isso, o indicador de violência no estado contrariou a média da Região Sudeste, que caiu 43% e foi três vezes maior que a média nacional de 2,1% apurada na década. Minas também foi o único estado da região em que a taxa de homicídios cresceu no período indicado no Mapa. Na década, o número de homicídios no estado saltou 40,7%, crescendo de 16,2 mortes por 100 mil habitantes para 22,8. Em São Paulo, o índice reduziu 60,3% no período.
Não é fácil acabar com a onda de violência que campeia o país. É necessário reduzir a vergonhosa desigualdade social que determina níveis diferenciados de cidadania no Brasil. Não há paz sem justiça social. Simultaneamente é preciso reformar o sistema de justiça criminal. A baixa
O clamor social por paz e segurança, os altos índices de criminalidade e a baixa legitimidade das instituições do sistema de justiça criminal criaram um dilema: superar um modelo contraditório de sociedade. Há dois brasis: um com padrões belgas, onde os direitos são respeitados; outro com padrões indianos, onde as pessoas são tratadas como cidadãos de segunda categoria. É possível desejar a paz nessas condições?
Para vivermos com menos violência, é preciso enfrentar as mazelas históricas que sustentam os sistemas político, tributário, judicial e de segurança pública do país. Afinal, mesmo com as conquistas da Constituição de 1988, essas mazelas mantêm uma ‘Belíndia’ à brasileira quase intacta.
robson Sávio Reis Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br | 13
metropolis
A gente quer ter voz ativa
Mulheres brasileiras lutam para ampliar a participação na política e superar o 156º lugar no ranking de igualdade de sexos no Parlamento Daniela Rebello ista pela cultura ocidental como um ser frágil e submisso, a mulher foi submetida durante séculos a uma hierarquia estabelecida pela sociedade patriarcal. À mulher cabiam papéis exclusivos, como manter a aparência impecável, ostentar pureza, ser uma excelente dona de casa, educar os filhos e servir o marido. Trabalhar fora de casa? Inadmissível! O dever de uma ‘mulher de verdade’ era zelar pelo casamento e almejar a maternidade - o ápice da realização feminina. Tomás de Aquino, Rousseau, Kant e Schopenhauer estavam entre os filósofos que pregaram teses colocando a mulher como ser de ‘segunda categoria’. A classificação era atribuída à natureza biológica inferior da mulher comparada com a ‘força e a dignidade’ masculinas. Os séculos se passaram e eis que a primeira metade do século XX reforçou ainda mais esses e tantos outros estereótipos. As propagandas e reportagens publicadas nas décadas de 50 e 60 ajudaram a construir a imagem de uma ‘mulher-objeto’. Isso podia ser notado em frases veiculadas nas revistas Cláudia e Querida e no Jornal das Moças. “A desarrumação numa casa de banho desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa”; “A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, servindo-lhe uma cerveja bem gelada. Nada de incomodá-lo com serviços domésticos”; “Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar o seu carinho 14 | www.voxobjetiva.com.br
metropilis
e as provas de afeto, sem questioná-lo”; “Sempre que o homem sair com os amigos e voltar tarde da noite, espere-o linda, cheirosa e dócil”; “O lugar da mulher é no lar. O trabalho fora masculiniza”. Essas frases refletem como a mulher era vista pela sociedade pós-Segunda Guerra Mundial. Enquanto as mulheres eram historicamente tratadas como seres oprimidos, o homem gozava de liberdade sexual e de independência. Eles jamais conheceram o dissabor de ser apedrejados e julgados por seus atos. A desigualdade entre os sexos fez milhares de mulheres se rebelarem durante séculos. Muitas foram, inclusive, crucificadas. A repressão às mulheres chegava ao estopim, até que manifestantes começaram a organizar os primeiros movimentos feministas mundo afora. As suffragettes do Reino Unido são um exemplo. Entre o final do século XIX e o início do século XX, vários grupos de mulheres se inspiraram nas lutas de classe europeias. Juntas, elas pediam liberdade, cidadania e dignidade e exigiam direitos iguais. Os movimentos feministas tentaram acabar com o paradigma de que a mulher precisa de uma figura masculina para ditar regras para a sua vida e o seu corpo. Elas buscavam o direito de ocupar áreas e exercer funções até então comuns aos homens. O cenário político foi um desses espaços. Nele, bandeiras como o sufrágio universal foram levantadas por mulheres como as suffragettes. No Brasil, a primeira reivindicação feminina na esfera política foi o direito de votar e de ser votada, conquistado parcialmente em 1932, durante a era Vargas. Mas se engana quem julga tardia a vitória brasileira. A demora na aprovação do direito ao voto feminino é uma questão mundial. Na Suíça, país de tendência neoliberal, as mulheres puderam participar das eleições somente a partir de 1975. A esquerda política temia que o voto das mulheres fosse conservador, conforme ressalta a professora do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), An-
dréa Lisly. “Os políticos de esquerda acreditavam que as fiéis fossem votar de acordo com a orientação dos padres – principalmente nos países católicos. Já os políticos conservadores sempre foram mais resistentes a qualquer tipo de inclusão ampliada de cidadãos na vida política. Não partiria deles a iniciativa de defender o voto das mulheres. Talvez eles não acreditassem na visão dos progressistas de que o voto feminino pudesse ser conservador”, argumenta.
A conquista do direito ao voto feminino não se traduziu em uma abertura significativa de espaço para elas no meio político. A representatividade feminina é quase simbólica, tanto nas casas legislativas quanto no executivo nacional. Apenas dois países, Ruanda e Andorra, têm maioria feminina nas Câmaras, conforme dados da União Interparlamentar (IPU). Mas, em nenhum deles, elas predominam no Senado. No Brasil, as mulheres não representam sequer 10% dos cargos eletivos. O país ocupa o 156º lugar em uma lista de 188 nações sobre a presença igualitária entre sexos nos parlamentos, mesmo o Brasil tendo eleito uma presidente – ou presidenta, como prefere ser chamada Dilma Rousseff. A principal autoridade política brasileira foi eleita com 56% dos votos válidos nas eleições gerais de 2010. No entanto, Dilma ainda lida com a desconfiança de parte do eleitorado. A baixa participação da mulher nas instituições políticas não condiz com a importância feminina na sociedade. O último censo do IBGE mostra que as mulheres representam 51,3% da população do Brasil. Elas também dominam o eleitorado nacional. Um levantamento feito pelo Tribunal Superior Eleitoral apurou que havia 51,09% de eleitoras no país em 2012. “As mulheres brasileiras têm diversas conquistas importantes: uma presidente, uma escolaridade superior à masculina e uma inserção no mercado de trabalho. No Brasil, 74% da população acredita que possa haver democracia somente quando as mulheres tiverem mais espaço para tomadas de decisão”, observa a secretária de Articu| 15
metropolis
lação Institucional e Ações Temáticas da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Vera Soares. Assim como Dilma, a deputada estadual Luzia Ferreira é um dos raros casos em que uma mulher ocupa um cargo de liderança na política. Entre 2009 e 2010, a parlamentar foi a primeira mulher a presidir a Câmara Municipal de Belo Horizonte. A bióloga e professora da pequena cidade de Perdigão, na região Centro-Oeste do estado, é também a única mulher a assumir a presidência de uma legenda em Minas Gerais – o Partido Popular Socialista (PPS). Mesmo tendo vencido em um contexto predominantemente masculino, Luzia reconhece a ausência de medidas voltadas para a inclusão da mulher no ambiente político. A deputada estadual detalha o problema ao enumerar três fatores responsáveis pela ‘exclusão feminina’ das instituições partidárias e do governo. O primeiro impasse exposto por Luzia é o do sistema eleitoral brasileiro. No Brasil é necessário ser filiado a um partido para se candidatar. As legendas são as responsáveis por organizar a lista de candidatos e o apoio financeiro destinado a cada um. Como as mulheres têm pouca presença na direção dos partidos, elas quase sempre estão à margem das decisões. A consequência disso é a desvalorização feminina nas campanhas, devido à ausência de recursos e de apoio das legendas.
Poder para as mulheres
O segundo fator enumerado é o financeiro. As eleições no país são muito caras. Isso torna essencial a busca de recursos para campanha. Como a figura da mulher sempre foi vinculada à casa, ela não mantém laços com o espaço econômico. Sem condições de financiar a própria candidatura, muitas delas pensam até em desistir da ideia de se eleger. O terceiro impasse para a participação da mulher na política é cultural. A deputada ressalva que o espaço adquirido por elas no mercado de trabalho não fez com que a mulher abandonasse o lar. Pelo contrário. Quase sempre sobra para elas a tarefa de gerenciar a casa e cuidar dos filhos. Com o tempo escasso, a política passa a não caber na rotina feminina. Esse cenário é bem diferente do que ocorre com o homem. Eles geralmente contam com uma estrutura familiar capaz de poupá-los de várias tarefas para que se dediquem plenamente à vida política. A legislação eleitoral brasileira até tenta minimizar a desigualdade entre homens e mulheres na política. Desde 1997, as legendas são obrigadas a reservar uma cota de 30% para candidaturas femininas, 5% do Fundo Partidário para a formação política das mulheres e 10% do tempo de propaganda na TV para promovê-las. Porém, muitos partidos questionam e descumprem essas cotas constantemente, colocando candidatas-laranja nas eleições, como ressaltou para a imprensa o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
Antes excluídas do processo eleitoral, as mulheres vem conquistando gradualmente importantes espaços na política brasileira
1927
1932
1979
A NOVIDADE As professoras Júlia Barbosa e Celina Guimarães Vianna são registradas como as primeiras eleitoras do país.
DIREITO RESTRITO Apenas viúvas, solteiras com renda própria e mulheres casadas, com autorização do marido, ganharam o direito ao voto.
DEPOIS DA CÂMARA, O SENADO Eunice Michiles assume como a primeira senadora brasileira após a morte do amazonense João Bosco de Ramos Lima.
1928 CONQUISTA INICIAL Lajes (RN) elege Alzira Soriano, a primeira prefeita do país. Ela teve 60% dos votos, numa época em que as mulheres não votavam.
1933 CHEGADA AO PARLAMENTO Após a conquista do direito ao voto feminino em 1932, Carlota Pereira Queiroz (SP) se tornou a primeira deputada federal eleita no país.
1982 PRIMEIRA MINISTRA Maria Esther Ferraz é nomeada ministra da Educação e Cultura pelo presidente João Figueiredo.
metropilis
Guilherme Dardanhan
ministro Marco Aurélio de Mello. No Rio de Janeiro, o Ministério Público investiga uma possível fraude na candidatura de 1,4 mil mulheres pouco votadas que não gastaram nada com a campanha. Para Luzia, o problema não está apenas na má vontade das direções partidárias. A deputada acredita que a mulher tenha ficado tanto tempo afastada do espaço político que ela mesma não se considera uma candidata. A própria parlamentar mineira só foi ‘se aventurar’ nas eleições depois que cumpriu a missão de criar a filha. “Eu sempre atuei ativamente na militância partidária e em movimentos sociais, mas coloquei uma dificuldade para mim: conciliar trabalho, família e casa com a disputa por votos”, confessa. Mesmo com a política de cotas e com as mulheres dentro dos partidos, há outro fator que impede o protagonismo feminino no meio político. Andréa revela que algumas mulheres não representam o gênero. Quando chegam ao poder, muitas propõem as mesmas políticas adotadas por grupos parlamentares masculinos. “É claro que o número de mulheres no parlamento e nos executivos tem que ser ampliado no Brasil, inclusive cumprindo-se a lei que estabelece um número mínimo de mulheres candidatas. Porém, isso não assegura que as políticas propostas pelas eleitas vão ter relação com o fato de elas serem mulheres – exceto aquelas que têm uma pauta mais voltada para essa questão”, ressalta a historiadora.
A deputada estadual Luzia Ferreira acredita que a própria mulher tenha de buscar protagonismo na política
A deputada Luzia também acredita que a própria mulher tenha de buscar protagonismo na política. “Se determinada questão me afeta, cabe a mim me mover, ‘levantar a bandeira’ sobre o tema e buscar apoiadores e aliados”, considera. De fato, não cabe às mulheres esperar que alguém se posicione pela causa. Na realidade, cabe ao oprimido lutar pela liberdade. Trazer a política para o dia a dia pode ser uma alternativa para entender e começar a resolver o problema. Afinal, dentro ou fora dos partidos há muito a ser feito em relação às políticas de igualdade de gênero.
2010 1994
ELA QUER O PLANALTO A bancária Lívia Maria Ledo Pio de Abreu se candidata à Presidência da República pelo Partido Nacionalista (PN).
À FRENTE DE UM ESTADO Roseana Sarney é a primeira mulher eleita governadora. Ela ganhou as eleições pelo antigo Partido da Frente Liberal do Maranhão (PFL-MA).
CONQUISTA MAIOR A ex-ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), é eleita a primeira presidente da Brasil.
1988
1990
1996
GRANDE RESPONSABILIDADE A assistente social Luiza Erundina é eleita prefeita de São Paulo, a maior cidade do país.
DUAS DE UMA SÓ VEZ Júnia Marise (PDT-MG) e Marluce Pinto (PTB/RR) foram as primeiras senadoras eleitas no Brasil.
MUDANÇAS NA LEGISLAÇÃO Institui-se um mínimo de 20% de mulheres nas chapas proporcionais. Em 1997, esse percentual passou para 30%.
Fonte: Câmara dos Deputados, Senado Federal e TSE
1989
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Uma lei para ser aplicada (?) Eleições gerais podem ser o grande teste para a aplicação da Ficha Limpa, que ainda esbarra em brechas e na morosidade da Justiça brasileira Rodrigo Freitas Valter Campanato/ABr
Q
ue a Lei da Ficha Limpa é um avanço político para a sociedade brasileira, ninguém duvida. Neste ano, o país vai ter a primeira oportunidade de testar o mecanismo anticorrupção em uma eleição para os Poderes Executivo e Legislativo estaduais e federal. Tudo seria adequado, se não fossem certos questionamentos que surgem às vésperas do período de campanha. Um deles diz respeito às brechas e às variadas interpretações que a legislação brasileira geralmente possibilita. A situação se mantém quando se trata da Ficha Limpa. A substituição de candidatos até 20 dias das eleições é um dos entraves para a efetivação da lei anticorrup-
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ção. Na prática, se uma candidatura é impugnada com base na Ficha Limpa, o partido pode trocar de postulante ao cargo, mas o nome do antigo candidato pode não ser modificado na urna eletrônica. Isso acontece porque a urna deve ser lacrada sempre 30 dias antes da votação. Assim, o eleitor desinformado pode votar – mesmo que indiretamente – num candidato ficha-suja, seja qual for o cargo que ele pleitearia em outubro. As dificuldades de provar que determinado candidato teve a intenção de praticar o crime de enriquecimento ilícito e de improbidade administrativa também permanecem. A burocracia e o exagerado nível de detalha-
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mento exigido pela legislação atravancam os processos. E como se não bastasse tudo isso, o tempo pode beneficiar os candidatos com ficha suja. Em terras brasileiras, é comum ver ações que se arrastam por anos a fio. Por isso, não seria surpresa que muitos desses processos não sejam decididos antes do pleito. Para tentar driblar essas dificuldades, o Ministério Público Federal (MPF) criou um sistema para identificar pessoas potencialmente inelegíveis pela Lei da Ficha Limpa. Nessa lista, pasmem!, há 233 mil processos com condenações computados. Mas, à mesma pessoa pode ter sido imputado mais de um processo. De qualquer forma, os números dão uma dimensão do trabalho que o Judiciário vai ter para garantir a aplicação da lei. O MPF também vai filtrar as informações para chegar ao número exato de candidatos que podem ser barrados em 2014. Além das condenações por improbidade administrativa e por crimes comuns, o MPF computa no ‘listão da ficha suja’ outras causas de inelegibilidade. Dentre os inúmeros exemplos de impugnação previstos pela Lei da Ficha Limpa estão demissões do serviço público em decorrência de processo administrativo ou por decisão judicial. O trabalho de fiscalização de órgãos e instâncias ainda será dificultado pela enxurrada de possibilidades que a legislação brasileira oferece. Essa é a opinião do promotor da Justiça Eleitoral de Minas Gerais e professor e conferencista de direito eleitoral Thales Tácito Cerqueira. Autor de livros, como ‘Direito Eleitoral Esquematizado’ e ‘Reformas Eleitorais Comentadas’, Cerqueira não tem muitas esperanças de que a legislação funcione como poderia neste ano. “Veja o caso do Paulo Maluf: ele tem bons advogados que interpretam palavra por palavra da lei e conseguem achar brechas que o mantêm ileso. Isso acontece porque, além de termos uma legislação subjetivista, não temos súmulas vinculantes que uniformizem certas decisões. Se tivéssemos as súmulas, nós teríamos apenas um procedimento e uma definição do que pode e do que não pode. Mas, no Brasil, é feita a análise de caso a caso, normalmente com subjetivismo e parcialidade”, desabafa o promotor. Cerqueira escancara outra máxima existente no Brasil: ‘nem sempre o pau que dá em Chico dá em Francisco’. “Nossa Justiça tem imensas dificuldades de punir quem ocupa cargos elevados. Punir prefeito de interior e vereador de cidade pequena é fácil. O difícil é punir um governador ou um presidente da República”, criti-
ca o especialista. “Se Dilma, Aécio ou Campos vierem a cometer atos de improbidade ou de abuso, você acredita que eles venham a ser punidos para valer?”, questiona Cerqueira. Embora seja crítico, o promotor eleitoral não desmerece a Ficha Limpa. “A lei é um bom começo. O problema está no jeitinho e nas flexibilizações. Nós temos que combatê-los para que a lei possa valer de fato”, avalia.
Resultado de uma rara mobilização popular, a Lei da Ficha Limpa foi aprovada pelo Congresso e sancionada no dia 4 de junho de 2010. A legislação busca fortalecer as punições a cidadãos e candidatos que burlaram a lisura e a ética das eleições ou que tenham contra si condenações na esfera eleitoral, administrativa ou criminal. A lei apresenta 14 hipóteses de inelegibilidade. Quem se enquadra em alguma delas fica proibido de se candidatar por oito anos. A proposta foi aprovada pelo Parlamento após receber 1,3 milhão de assinaturas de brasileiros em apoio às novas regras. Mas a ideia surgiu dois anos antes da sanção da norma, com o lançamento de campanha popular de mesmo nome, em abril de 2008.
“Nossa Justiça tem imensas dificuldades de punir quem ocupa cargos elevados. Punir prefeito de interior e vereador de cidade pequena é fácil”
Thales Tácito Cerqueira Promotor da Justiça Eleitoral de Minas Gerais
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José Cruz/ABr
O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a aplicação da lei após as eleições de 2010, embora a legislação tenha entrado em vigor no dia 7 de junho. Na época, houve uma grande discussão sobre quando a norma deveria passar a valer. O debate se deu por causa do artigo 16, da Constituição Federal. O dispositivo estabelece que leis que modificam o processo eleitoral só podem ser aplicadas um ano após o início da sua vigência. Assim, a instância máxima do Judiciário determinou a não aplicação da Ficha Limpa, livrando candidaturas de impugnações. O vice-presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp) e juiz eleitoral, Paulo Henrique dos Santos Lucon, preside uma comissão de estudos sobre a Ficha Limpa. O especialista espera a efetiva aplicação das regras neste ano, mesmo com as dificuldades. “A lei existe para ser aplicada. Os tribunais devem empregar a Ficha Limpa de forma correta, verificando cada caso concretamente. Se o sujeito merece ser excluído da vida política, que fique inelegível, mas de acordo com a lei”, vaticina.
Manifestantes fazem ato pelo cumprimento da Ficha Limpa 20 | www.voxobjetiva.com.br
Otimista, Lucon vê avanços significativos nos mecanismos de controle do país. “O Brasil está caminhando. Basta vermos a Ficha Limpa e a lei anticorrupção para
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O teste definitivo da Ficha Limpa veio durante as eleições municipais de 2012. Para o advogado especialista em direito eleitoral José Rollemberg Leite Neto, a experiência foi satisfatória do ponto de vista operacional. Os pleitos que envolvem vereadores e prefeitos são mais extensos e interiorizados do que as eleições gerais. “O número de candidatos a vereador e a prefeito dá à Justiça Eleitoral uma base de trabalho muito maior do que as eleições estaduais e federais. Por isso, temos uma questão quantitativa bem-resolvida. E do ponto de vista qualitativo, as eleições municipais afixaram uma base gerencial que vai servir para que a legislação seja devidamente aplicada neste ano”, afirma. Os esforços do Judiciário para melhorar os resultados obtidos com a Ficha Limpa, em 2012, não são um fato isolado. Algumas entidades também colaboram com o combate à corrupção. A ONG Transparência Brasil é uma delas. Em levantamento feito neste ano, a organização apurou a ‘ficha’ dos 594 parlamentares brasileiros. O estudo apontou que 17 deles podem ficar de fora do pleito de outubro porque já estão condenados pela Justiça. É o caso dos deputados federais mineiros Marcos Montes (PSD) e Silas Brasileiro (PMDB). Outros nomes conhecidos, como o do deputado Paulo Maluf (PP-SP), aparecem na lista. Maluf teve a candidatura impugnada em 2010. Mas, no mesmo ano, ele conseguiu reverter a sentença e se livrou da punição antes que o STF adiasse os efeitos da lei para 2012. No ano passado veio uma nova derrota para Maluf. O parlamentar foi condenado por improbidade administrativa e superfaturamento de obras. A Ficha Limpa ameaça 17 parlamentares neste ano. Mas isso não significa que os demais 577 estejam quites com a Justiça. Conforme o levantamento da ONG Transparência Brasil, 54,8% dos deputados e 46,9% dos senadores têm pendências judiciais ou estão enrolados nos tribunais de contas. A maioria dos processos se arrasta nos tribunais. Isso significa que muitos desses parlamentares vão escapar sem arranhões da Ficha Limpa: uma legislação atual e pertinente, mas ainda vinculada a uma Justiça conhecida pela morosidade.
Arquivo Pessoal
pessoas jurídicas. A corrupção é um fenômeno muito presente no país. A única forma de contê-la é fazer um trabalho gradativo. A imprensa e a população têm um papel importantíssimo nesse processo. A Ficha Limpa foi um processo popular que deve estimular as novas gerações a promoverem boas práticas. Aos poucos, creio que estejamos construindo uma consciência coletiva”, analisa.
Bárbara Marotta A proximidade das eleições gerais trouxe de volta a discussão sobre a Ficha Limpa. Por isso, a Vox Objetiva conversou a secretária judiciária do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), Bárbara Marotta. Ela esclarece algumas questões eleitorais, como a triagem das candidaturas e a possibilidade de participação popular no combate à corrupção. Como é feita a filtragem das candidaturas, inclusive para a Lei da Ficha Limpa? Os pedidos de registro de candidatura são distribuídos aos juízes membros do TRE. Eles analisam os documentos apresentados, como as certidões criminais e cíveis, no objetivo de verificar as causas de inelegibilidade previstas na Lei da Ficha Limpa. Os cidadãos e os órgãos podem apontar irregularidades que culminem em impugnações com base na Ficha Limpa? Candidatos, partidos políticos, coligações e o Ministério Público também podem impugnar pedidos de registro de candidatura, caso exista causa de inelegibilidade. Todos os nomes que solicitaram registro são publicados no Diário do Judiciário Eletrônico. Qualquer cidadão no gozo dos direitos políticos pode apresentar notícia de inelegibilidade ao juiz eleitoral. O prazo para impugnações é de cinco dias.
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Fonte: TSE
12 pecados dos candidatos Basta uma irregularidade cometida e que não se possa mais recorrer para impugnar uma candidatura. Saiba como se manter elegível, com base na Ficha Limpa:
Cometer fraude administrativa em contas de cargos ou em funções públicas;
Desfazer união ou simular quebra de vínculo conjugal oude união estável para evitar causa de inelegibilidade;
Ser condenado em decisão irrecorrível por corrupção eleitoral, compra de votos, doação, arrecadação ou gastos ilícitos de recursos de campanha;
Renunciar a um mandato público para fugir de eventual cassação;
Ter contra si representação de abuso de poder econômico ou político julgada procedente pela Justiça Eleitoral em decisão irrecorrível; Perder o cargo ou estar inabilitado para exercer a função pública em decorrência de envolvimento com lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores; atitudes contra a economia popular, a fé, a administração e o patrimônio públicos; e de ter sido condenado por crimes eleitorais com pena privativa de liberdade; Ter os direitos políticos suspensos por condenação irrecorrível, em caso de lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito; Ser proibido de exercer a sua profissão em decorrência de processo de infração ético-profissional julgado por órgão profissional;
Atenção básica 11,8% do orçamento do estado Melhoria na promoção da saúde e na prevenção de doenças
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Usar de cargos na administração pública direta, indireta ou fundacional para se beneficiar ou favorecer outros; Receber doações eleitorais de pessoas físicas e jurídicas tidas como ilegais; Ser demitido do serviço público por causa de processo administrativo ou judicial; Ser magistrado ou membro do Ministério Público aposentado compulsoriamente por causa de sanção, por perda de cargo por sentença ou ter sido exonerado ou aposentado voluntariamente com processo administrativo disciplinar pendente.
ARTIGOS
Ruibran dos Reis
Meteorologia
Soluções criativas para o planeta As autoridades da cidade de Murcia, no Sudeste da Espanha, decidiram investir em um meio de transporte menos poluidor. Depois de estudarem algumas possibilidades, os governantes locais optaram pela adoção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Para incentivar o uso desse meio de transporte coletivo, a administração da cidade criou uma série de campanhas publicitárias para sugerir a troca dos veículos de passeio pelo passe vitalício no VLT. Caso concorde em entregar o carro, a pessoa pode acompanhar o seu desmanche por meio de uma webcam. A medida inovadora busca melhorar o trânsito da cidade e diminuir a poluição atmosférica, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido e o monóxido de carbono.
passados. Segundo Dixson, uma nova Greensburg deveria renascer e durar por gerações a fio. Com o olhar voltado para o futuro, a administração local reconstruiu os prédios públicos com padrões sustentáveis. O resultado disso foi a obtenção do certificado Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), um sistema internacional de certificação e de orientação ambiental para edificações. Essa padronização é adotada por 143 países. De posse desse certificado, a cidade de Greensburg pôde atrair financiamentos e apoios para desenvolver projetos de geração de energia. Os ganhos anuais com a economia de eletricidade se tornaram fato recorrente na cidade. O local ainda tem programas de incentivo à geração de energia fotovoltaica nas residências. É um exemplo de compromisso com a qualidade do ar.
“A medida inovadora busca melhorar o trânsito da cidade e diminuir a poluição atmosférica”
Soluções criativas como essa são tomadas em uma série de países, principalmente após alguma catástrofe. Recentemente assisti a um documentário que mostra exatamente esta situação: cidadãos de diversas cidades mudaram o modo de viver após a ocorrência de um desastre. Durante a exibição, um local me chamou a atenção: trata-se de Greensburg, cidade de 1,6 mil habitantes, localizada na Região CentroSul do Kansas, nos Estados Unidos. O município foi fortemente atingido por tornados, que mataram nove pessoas e feriram 60 no dia 4 de maio de 2007. Na época, 90% da cidade foi totalmente destruída.
Nos anos seguintes ao da ocorrência dos tornados, o prefeito Bob Dixson reuniu os moradores e ouviu propostas da comunidade sobre como reconstruir Greensburg. Juntos, autoridades e cidadãos da pequena cidade do Kansas decidiram reerguer a cidade conforme ela foi construída por seus ante-
Depois do desastre e da adoção de medidas sustentáveis, a cada vez menor e mais envelhecida população de Greensburg voltou a crescer. Os jovens, que saíam para fazer cursos superiores, começaram a retornar para a cidade. Esse é um sinal de que as novas gerações se preocupam verdadeiramente com a qualidade de vida e as questões ambientais. É também uma mensagem de incentivo para que possamos buscar soluções para o clima antes de uma catástrofe.
Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com | 23
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Do campo para a asa do avião Governo de Minas pretende ser pioneiro na produção do bioquerosene, o combustível verde capaz de reduzir a emissão de poluentes da aviação Texto e fotos de André Martins
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s próximos anos tendem a ser promissores para o Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Nas imediações do Aeroporto Internacional Tancredo Neves (AITN), em Confins, o governo de Minas vai erguer a primeira aerotrópole da América do Sul, também conhecida como cidade-aeroporto. Elaborado pelo norte-americano John Kasarda, o conceito apresenta a aerotrópole como um polo agregador de diferentes setores da economia no entorno de um terminal aéreo. A proposta do governo estadual é tornar a economia da região mais dinâmica e oferecer condições para que ela possa competir internacionalmente. Não é de hoje que a sustentabilidade é um dos conceitos vinculados aos negócios com potencial vitalício. Com tamanha projeção global especulada, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede) pretende fazer do AITN o primeiro terminal 24 | www.voxobjetiva.com.br
aéreo verde do Brasil. Para que a ideia se consolide, a medida mais importante é a redução do impacto ambiental ocasionado pelas aeronaves que partem do aeroporto. O combustível utilizado pela aviação brasileira continua sendo o querosene. O líquido é composto de petróleo de maior explosão. Esse combustível é responsável pelas altas taxas de gases tóxicos despejados à revelia na atmosfera. O pior deles é o dióxido de carbono (CO2). De acordo com um levantamento da companhia aérea Gol, a emissão de gases poluentes em voos domésticos cresceu 39,7% entre 2000 e 2010. Enquanto isso, o percentual da emissão das companhias internacionais aumentou apenas 5%. A evolução tímida da poluição aérea internacional está relacionada com uma fórmula simples: a utilização de misturas que abastecem as aeronaves com um com-
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bustível menos poluente. O bioquerosene é a principal alternativa. O composto é feito a partir de técnicas específicas e utiliza matérias-primas que vão da tradicional cana-de-açúcar até o lixo urbano para ser produzido. A geração é cara devido à complexa cadeia produtiva do bioquerosene. O valor gasto com a produção do combustível verde corresponde a quatro vezes o custo do querosene tradicional. “O grande desafio é melhorar a rota tecnológica para produzir esse combustível em larga escala. Assim o custo cai. Você tira o petróleo apenas uma vez, e ele acaba. Mas a macaúba, por exemplo, dura 50 anos e não polui. Usando esse fruto como matéria-prima, nós passamos a não gerar poluição”, explica o subsecretário de Investimento Estratégico da Sede, Luiz Antônio Athayde. O subsecretário também sinalizou a importância de existir um tratamento fiscal por parte do governo para que se possa estimular a produção do combustível. Essa medida traria uma série de vantagens para que o biocombustível venha a se tornar economicamente viável. O governo de Minas Gerais desenvolve uma série de ações para divulgar o uso do combustível verde e consolidar a esboçada Plataforma Mineira de Bioquerosene (BioQAv). Uma dessas medidas foi a realização do primeiro voo com uso de biocombustível no país. Em parceria com a Gol Linhas Aéreas, a Sede promoveu uma viagem do AITN para Brasília. E a data escolhida foi a mais sugestiva possível: 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. O combustível à base de milho utilizado para esse voo foi importado dos Estados Unidos.
bioquerosene em voos isolados, em 2013. Desde então, a empresa garante ter poupado a atmosfera de mais de 12 mil toneladas de dióxido de carbono. A aviação comercial brasileira se vê diante de um desafio e da pressão internacional para reduzir a emissão de poluentes pela metade até 2050. A meta tem como base os níveis de emissão de gases apurados em 2005. Trata-se de um compromisso da indústria da aviação com a Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata, sigla em inglês). A Sede busca se antecipar e ser reconhecida pelo pioneirismo de atenuar esse tipo de impacto ambiental. A pasta responsável pelo desenvolvimento sustentável mineiro trabalha no projeto de uma refinaria-piloto no AITN. A destilaria tem potencial produtivo previsto de 20 mil litros de bioquerosene e investimento total estimado em R$ 600 milhões. “Ela é pequena, mas a geração integral e o aprendizado adquirido por meio da produção em escala será utilizado neste aeroporto. À medida que formos dominando esse processo tecnológico, vamos aumentando a refinaria. Espero que isso ocorra em um futuro breve. Daqui a quatro ou cinco anos”, projeta Athayde. Luiz Antônio Athayde espera que Minas Gerais possa produzir bioquerosene em grande escala em um futuro próximo
No galpão do Centro de Manutenção de Aeronaves (CMA) da Gol, empresários e representantes do governo de Minas, da Gol Linhas Aéreas e de instituições de ensino mineiras assinaram acordos de interesse e apoio para a produção e a pesquisa do bioquerosene. No caso da companhia aérea, também foram instituídos compromissos para a compra de todo o combustível verde produzido em Minas por meio da BioQAv. O anúncio foi feito pelo diretor executivo de operações da Gol, Sérgio Quito. Entre os meses de junho e julho de 2014, estão previstos 200 voos da Gol abastecidos com uma mistura de 4% de bioquerosene de aviação. Dentre essas viagens estão as programadas para transportar a seleção brasileira partindo do Rio de Janeiro. Ao adotar o biocombustível em centenas de voos, a Gol evita a emissão de quase 218 toneladas de CO2. A companhia começou a utilizar o | 25
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Start para o crescimento
Silicon Valley mineira abre caminhos para o investimento em tecnologia no estado e cria expectativa de Minas se tornar uma referência global no setor Cassio Teles
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erceira maior economia do país, Minas Gerais As startups geralmente têm custos de manutenção conta com uma pauta de exportações bastante muito baixos. Por isso, muitas delas encontram as concentrada em produtos primários. Minério condições ideais para crescer dentro de programas de ferro, café e ouro são alguns exemplos de comde aceleração ou nas incubadoras, projetos de apoio modities que se destacam na composição do Produto ao desenvolvimento de uma empresa em suas diverInterno Bruto (PIB) mineiro. Mas sas etapas. O governo de Minas o estado da mineração e do agroestá atento à participação cada negócio começa a construir os vez maior do setor tecnológico alicerces para o desenvolvimento economia mundial. Por isso, “A experiência dos outros na da promissora indústria da tecnolançou o Startups and Entrelogia. E é no bairro São Pedro, Repreneurship Ecosystem Develoempreendedores ajuda gião Centro-Sul de Belo Horizonpment (Seed) em 2013. O proos mais inexperientes te, que um grupo de profissionais grama faz parte das ações do se reúne e troca experiências para Escritório de Prioridades Estraa crescer e desenvolver estabelecer um polo de empresas tégicas criado há três anos pela digitais fora do eixo Rio – São administração estadual. seus projetos” Paulo: a San Pedro Valley. Além de ajudar as startups a A comunidade mineira é uma decolar, o Seed quer transformar alusão ao Silicon Valley – o Vale Minas Gerais no maior polo de do Silício, região da Califórnia, empreendedorismo tecnológico onde se concentram as maiores empresas de tecnoloda América Latina. Concebido no primeiro semestre gia dos Estados Unidos. Fundada após uma conversa deste ano, o programa tem os moldes parecidos com informal entre empreendedores, a San Pedro Valley o do Start-Up Brasil - programa mantido pelo governo foi lançada há três anos e conta com mais de 170 emfederal. Mas a segunda rodada do programa mineiro represas que participam de programas de aceleração cebeu mais de 1,4 mil inscrições de 21 estados brasileie incubadoras na capital mineira. Esses empreendiros e de 34 países. O número de empresas cadastradas mentos são chamados de startups. O especialista em quase dobra o do Start-Up Brasil, que teve apenas 709 tecnologia da informação Yuri Gitahy define essas inscrições. No Seed, cada startup selecionada recebe um empresas como um grupo de pessoas que trabalham capital de R$ 68 mil a R$ 80 mil, dependendo do número em condições incertas à procura de um modelo de nede participantes. O trabalho de suporte também oferece gócios repetível e de crescimento contínuo. formação empreendedora às empresas e o acompanha-
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Divulgação Seed
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Empreendedor Matt Montenegro, fundador da Beved, empresa de aulas presenciais e online
mento de um mentor e um espaço em escritório compartilhado. Só podem participar do programa startups com até dois anos de operação. O publicitário Matt Montenegro, de 28 anos, é fundador da Beved, startup belo-horizontina especializada na formação de turmas on-line para cursos presenciais. O empreendedor foi um dos classificados na primeira rodada do Seed lançada no ano passado. Montenegro sabe que o começo de uma empresa digital é sempre difícil, mas, com auxílio, o esforço pode valer a pena. “O mais complicado no início de uma startup é fazê-la faturar desde o primeiro dia. E nós conseguimos. O capital disponibilizado pelo programa, o ambiente empreendedor de Belo Horizonte e o escritório compartilhado contribuíram muito para o sucesso da Beved. Com esses pilares, foi possível reduzir custos e até mesmo fazer networking”, salienta.
A empresa de Montenegro e da professora Elizabeth Fernández tem 22 mil usuários, 7 mil alunos e mais de 400 cursos. Os temas surpreendem: vão desde a ‘Introdução à Prática do Parkour’ ao ‘Desenvolvimento de Metacognição’. As aulas oferecidas estão à disposição de empresas e de pessoas físicas. A identificação territorial criada com a San Pedro Valley foi decisiva para o desenvolvimento do setor de tecnologia no estado. Hoje a atuação do Seed abrange startups de toda a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Com a proximidade das startups, os encontros entre empreendedores e a troca de experiências se tornaram mais frequentes. “A experiência dos outros empreendedores ajuda os mais inexperientes a crescer e desenvolver seus projetos”, explica Matt. | 27
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Reprodução
O governo de Minas prevê investimentos de R$ 13,5 milhões no Seed para 2014. Até o momento, foram destinados R$ 5,1 milhões para o programa. As startups selecionadas recebem R$ 2 mil por mês durante seis meses para se dedicarem exclusivamente ao projeto e deixá-lo em versão de teste ou em condições de ser lançado no mercado. Em maio passado, o governador do estado, Alberto Pinto Coelho (PP), reuniu-se com empreendedores escolhidos pelo programa. O chefe do executivo mineiro destacou a qualidade dos projetos e a nova face da economia mineira. “Mais importante do que a conclusão dos projetos é a função do estado de induzir e promover o desenvolvimento, abrindo horizontes para a economia. Pelo que pude perceber, os objetivos e as motivações que propusemos estão prestes a ser atingidos”. Se a proposta de se tornar o maior polo de tecnologia da América Latina vai vingar, só o tempo pode dizer. Mas alguns resultados dessa iniciativa já são percebidos, inclusive por investidores estrangeiros. O ecossistema de startups – como chamam o ambiente tecnológico criado em torno dessas empresas – vem ganhando projeção internacional por meio da imprensa. A efetividade da San Pedro Valley e das políticas de fomento à tecnologia também tem sido traduzida em ações concretas. No final de junho, os empreen28 | www.voxobjetiva.com.br
dedores digitais da capital promoveram o Goal Belo! – Tecnologia da Informação e Startups. O evento organizado em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) reuniu expoentes do empreendedorismo internacional, como o fundador do portal Ustream, Gyula Fehér. Os organizadores aproveitaram a Copa do Mundo para discutir o ecossistema de startups em Minas, trocar experiências e fazer negócios. “Os empreendedores convidados para o evento já trilharam um longo e respeitável caminho. Temos que ser humildes e reconhecer que precisamos aprender com a experiência deles e de tantos outros vencedores”, salienta Montenegro, também organizador do Goal Belo!
O ambiente da San Pedro Valley não inibe o surgimento de empresas digitais fora desse eixo na capital mineira. A cidade tem 240 startups, com estimativa anual de faturamento próxima de R$ 120 milhões, conforme revelam dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento. Além dessas ‘debutantes’, há aproximadamente 3,5 mil empresas do setor de Tecnologia da Informação (TI) instaladas na RMBH. Em todo o estado, são mais de 5 mil empreendimentos tecnológicos. Juntas, essas empresas geram uma receita líquida de R$ 2,3 bilhões ao ano, de acordo com informações da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação em Minas Gerais (Assespro-MG). Somente com as exportações de softwares e serviços tecnológicos, foram arrecadados R$ 4 bilhões em 2010.
CAPA
Diante dos números atrativos do setor, quatro organizações se reuniram em torno do programa Minas Gerais de Tecnologia da Informação (MGTI). A iniciativa é uma parceria com a Universidade de Stanford, na Califórnia, estado onde fica o Vale do Silício. Além da Assespro-MG, participam do MGTI o Sindicato das Empresas de Informática de Minas Gerais (Sindinfor-MG), a Sociedade dos Usuários de Informática e Telecomunicações de Minas Gerais (Sucesu Minas) e a Fumsoft, instituição científica que desenvolve atividades de estímulo ao crescimento da cadeia produtiva da TI. O programa oferece treinamento para empreendedores iniciantes ou não desenvolverem produtos, planos de negócios e inovações que possam ser lançadas em escala global. O curso oferecido pelo MGTI conta com aulas on-line e presenciais em Belo Horizonte e na universidade norte-americana. Em Stanford, os alunos recebem conselhos e têm um retorno de professores da instituição e de especialistas do Vale do Silício. A meta do programa é transformar Belo Horizonte
na capital nacional da tecnologia da informação e tornar Minas Gerais uma referência global do setor até 2022. “A pretensão é que o setor fature R$ 9 bilhões no estado daqui a oito anos. Isso significaria uma grande evolução. Em 2012, a receita bruta total do segmento foi de R$ 2 bilhões”, ressalta o conselheiro do MGTI e vice-presidente executivo da Sucesu Minas, Leonardo Bortoletto. O especialista em inteligência digital destaca que o programa pretende também aumentar a competitividade das empresas, inclusive, internacionalmente. “O MGTI quer desenvolver as empresas locais de tecnologia e as startups, gerar inovações, incrementar a arrecadação de impostos e contribuir para a melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da RMBH”, garante Bortoletto. O Vale do Silício é um exemplo de como a parceria entre as instituições de ensino e o mercado pode se refletir no desenvolvimento de um país. Empresas como Google, Yahoo!, Hewlett-Packard (HP), Intel e
Alunos aprovados no programa estadual de incentivo às startups – Seed – promovido pelo Governo de Minas Gerais, desde 2013 Divulgação Seed
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Zoom Comunicação
cAPA
BHTec também é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento de Minas Gerais (Fapemig) e pela Agência Brasileira da Inovação (Finep). O Parque abriga empresas de base tecnológica e firma com elas algumas parcerias para fomentar a inovação e a tecnologia e aproveitar cientistas universitários. Além do BHTec, a capital mineira abriga sete incubadoras de empresas e três programas de aceleração num formato parecido com o do Seed. Potencial e competência, os profissionais da área de tecnologia em Minas Gerais – sobretudo os empreendedores da San Pedro Valley – já demonstraram que têm. Se há talentos de sobra no estado, também não faltam iniciativas públicas e privadas para dar vazão a tantas ideias. Por isso, essa é uma questão para que a indústria mineira de tecnologia possa decolar de vez. E a receita para que isso aconteça talvez seja simples. A união de esforços e o alinhamento de estratégias podem ser a dobradinha que falta para que as startups belo-horizontinas marquem presença no mercado global e façam com que o setor tecnológico mineiro possa ser tão celebrado quanto a indústria de bens primários.
Bortoletto defende uma mudança na lei para que as startups possam crescer
Silicon Valley, o Vale do Sicílio, o maior polo tecnológico mundial
A capital mineira também recebe incentivos vindos de outras frentes. O Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTec) foi criado recentemente para desenvolver o setor de tecnologia no estado. A instituição é uma associação civil de direito privado que tem a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Governo de Minas, a PBH, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae-MG) e o Sistema Federação das Indústrias de Minas Gerais (Sistema Fiemg) como sócios-fundadores. O 30 | www.voxobjetiva.com.br
Patrick Nouhailer
Adobe nasceram ligadas à Universidade de Stanford. Somadas, as 150 companhias do Vale do Silício fundadas na instituição da Califórnia valem US$ 204 bilhões. Por isso, muitos brasileiros querem buscar diretamente na fonte a expertise para desenvolver projetos no Brasil. E o MGTI é a grande oportunidade para isso. “São diversos os desafios a serem superados por empreendedores e pela iniciativa pública e privada para que o setor de tecnologia atinja êxito. É preciso, por exemplo, que haja uma mudança na legislação para que o ecossistema de startups prospere”, defende o conselheiro do MGTI.
podium
A Copa da América Continente dá show de bola nos gramados e nas arquibancadas e cria polêmica fora dele Os privilegiados torcedores de Uruguai e Inglaterra puderam acompanhar um atacante de 27 anos fazer história na Copa do Mundo no Brasil. Os dois gols marcados pelo uruguaio Luis Suárez na segunda rodada do mundial sacramentaram a queda dos ingleses e uma das piores campanhas da seleção da ‘Terra da Rainha’ na história.
Divulgação FIFA
Mas a partida do dia 19 de junho, na Arena Corinthians, em São Paulo, reservou ainda mais emoções aos fãs do futebol. Suárez superou as expectativas em torno da sua recuperação. No dia 22 de maio, o atacante do Liverpool, da Inglaterra, fez uma artroscopia no joelho esquerdo. Os médicos chegaram a cogitar um corte do jogador. Enganaram-se. ‘Luisito’ voltou aos gramados, graças à ajuda do fisioterapeuta Walter Ferreira, o ‘Mão Santa’ da medicina esportiva. Ele é conhecido por ter recuperado em tempo recorde outros jogadores uruguaios como Álvaro Recoba, Diego Forlán, Rubén Sosa e Paolo Montero. Mas Ferreira, de 63 anos, vive um drama pessoal: ele luta contra um câncer. Em um vídeo gravado após a vitória contra os ingleses, Suárez expressou toda a gratidão pelo amigo. “Quero agradecer ao Walter Ferreira, pois sem ele eu não estaria aqui. A Copa do Mundo é algo com que eu sonhei. Trata-se de um momento único”, declarou.
Atacante do Liverpool, Luis Suárez agradece o fisioterapeuta Walter Ferreira
‘Drácula’ dos gramados Um jogo após arrasar a Inglaterra, em partida considerada como a melhor da Copa do Mundo no Brasil, Suárez protagonizou mais uma grande cena. Mas dessa vez o fato foi lamentável. O atacante da seleção uruguaia mordeu o zagueiro italiano Giorgio Chiellini, durante jogo válido pela terceira rodada do mundial, no dia 24 de junho. Por causa do ato violento, ele foi suspenso por nove jogos e está fora da Copa do Mundo.
É a terceira vez que o uruguaio morde um colega de trabalho. A primeira foi quando ele ainda era atacante do Ajax, da Holanda. Em 2010, o volante Otman Bakkal, do PSV Eindhoven da Holanda, foi vítima do jogador. Ele recebeu a pena de dois jogos por ter mordido o pescoço do rival. Ano passado, Suárez repetiu a dose e mordeu o zagueiro sérvio Branislov Ivanovic, do Chelsea. Na época, a Federação Inglesa de Futebol o suspendeu por dez jogos.
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podium
Danilo Borges/ Portal da Copa
Invasão americana A América não vem fazendo bonito apenas dentro de campo nesta Copa do Mundo. De acordo com dados da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa), cinco dos dez países com maior número de estrangeiros no Brasil são do continente americano. Os Estados Unidos lideram a venda de ingressos para torcedores de outras nações. Os norte-americanos adquiriram 196.838 entradas. A Argentina aparece em segundo lugar, com 61.021 ingressos. Colombianos (foto ao lado), chilenos e mexicanos completam a lista de estrangeiros mais presentes na Copa. O hino cantado à capela pelos latino-americanos – sobretudo brasileiros – vem sendo um show à parte neste mundial.
A zebra das zebras Se Suárez roubou a cena no dia 19, no dia seguinte foi a vez da Costa Rica repetir a façanha da primeira rodada. A seleção comandada pelo colombiano Jorge Luis Pinto venceu a tetracampeã Itália por 1 a 0, em partida na Arena Pernambuco. Com a vitória, os costa-riquenhos retornam a fase de oitavas de final da Copa pela segunda vez. Na primeira, a seleção caribenha tinha em campo um brasileiro naturalizado, o meia Alexandre Guimarães. A surpresa do mundial até então, a seleção inteira da Costa Rica custa 52 milhões de euros. Esse valor de mercado equivale a menos que 51 jogadores convocados para a Copa do Mundo no Brasil. Uma prova de que futebol é feito com mais do que valores.
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Danilo Borges/ Portal da Copa
artigo
Maria Angélica Falci
Psicologia
Perseguidor de si Diariamente muitas pessoas relatam uma enorme preocupação com a forma como os outros vão pensar ou agir em relação a elas. Esses indivíduos sentem medo e ficam acuados com um simples olhar. Pessoas assim refletem uma forte insegurança e muito desconforto em diversas situações. Elas sentem receio de se expor e ficam aflitas apenas por imaginar que vão ter que se posicionar em determinados momentos. Mas, geralmente, o que acontece? A insegurança é um fator natural do ser humano. Esse sentimento encontra suas raízes no desenvolvimento primário, principalmente na infância, com suas nuances de formação. Famílias mais estruturadas emocionalmente oferecem condições para que os indivíduos das novas gerações cresçam mais seguros e autoconfiantes.
desafio monstruoso. As demais pessoas passam a ser sempre melhores e maiores. É fácil encontrar pessoas que não precisam de ninguém para incomodá-las nem persegui-las. Esses indivíduos exercem a ‘autoperseguição’. Eles recebem esse título porque aprisionam suas vidas com medo de tentar, encarar, posicionar, enfrentar ou assumir a própria identidade. Pessoas assim sentem medo de não ser aceitas. Por isso, elas se escondem e desenvolvem sintomas. E assim manifestam um sofrimento solitário capaz de estremecer a vida emocional.
“É muito importante que as famílias tenham consciência do próprio comportamento”
É muito importante que as famílias tenham consciência do próprio comportamento e que os pais observem os filhos com o maior zelo possível. Afinal, as palavras e os gestos marcam a infância e geram registros por uma vida inteira.
Isso não acontece quando algumas famílias tratam seus novos membros como incapazes para encarar certos desafios. Essas crianças acabam expressando um sentimento de inferioridade que se manifesta por meio do bullying familiar. As famílias adoecem seus membros ao atribuir a esses indivíduos rótulos negativos. A frequência com que eles são inferiorizados leva essas pessoas a aceitar esse ‘carimbo’ para suas vidas. E isso traz uma série de desconfortos emocionais.
Palavras positivas e elogios não fazem mal. Pelo contrário: são importantíssimos na fase de formação dos filhos. Sejam crianças, sejam adolescentes, eles precisam ter autoestima para estabelecer uma vida adulta mais saudável. Os adultos também precisam de atenção para que possam viver e agir de forma segura. Sentir-se bem, com a autoestima elevada, é um dos maiores combustíveis para uma vida estável e confiante. A mudança acontece inicialmente dentro de nossas casas! Acredite nisso.
Alguns indivíduos inseguros desenvolvem fobia social, ansiedade generalizada e síndrome de pânico. Essas manifestações ocorrem em decorrência de uma intensa desproteção psíquica a que esses indivíduos são submetidos. Para uma pessoa insegura, encarar os outros passa a ser um
Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com
Maria Angélica Falci
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Paulo Cunha/Outra Visão
receita
Broinha de fubá Chef Antônio dos Reis - Restaurante Faz de Conta
INGREDIENTES
MODO DE PREPARO
200 g de manteiga; 1 litro de leite; 500 g de açúcar refinado; 300 g de fubá; 600 g de farinha de trigo; Uma pitada de sal; 15 ovos.
Junte o leite, a manteiga, o açúcar e o sal e leve ao fogo. Deixe a mistura ferver e acrescente o fubá e a farinha de trigo. Mexa até que a massa se solte do fundo da panela. A mistura deve ficar com a consistência igual à da massa de coxinha.
. rendimento Cerca de 20 broinhas
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Depois de adquirir consistência, deixe a massa na geladeira por mais ou menos três horas. Em seguida, retire da geladeira, junte a massa com os ovos e sove bastante. Volte a massa para a geladeira e deixe por um dia. Depois, retire a massa da geladeira e enrole as broinhas com fubá. Leve para assar em forno a 160° e deixe por 45 minutos.
vINHOS
Saca-selos de vinhos Nelton Fagundes Sommelier da Enoteca Decanter BH
Em meio a tantas curiosidades, um detalhe me deixou intrigado: um grande amigo, que sempre escolhe seus vinhos comigo, retira imediatamente o fatídico selo que vem nas cápsulas das garrafas logo que adquire a bebida. Após vê-lo fazer isso, comecei a questionar sobre a finalidade do selo. Em princípio, o selo serve para diferenciar o vinho legalizado dos contrabandeados ou ilegais. Essa é uma alegação vaga, pois esse elemento é apenas mais uma forma de burocratizar o complicado sistema tributário brasileiro. O selo prejudica o mercado de vinhos ao onerar a bebida com impostos, gerar custos de mão de obra para a aplicação do próprio elemento e oferecer risco de quebra no manuseio. De prático, o selo não tem nada. E além de tudo isso, o selo apresenta uma estética duvidosa que se assemelha a das bebidas destiladas.
Não há uma preocupação para que os impostos do mercado de vinhos sejam justos e para que mais pessoas possam degustar e apreciar a bebida. Os tributos são importantes para a sociedade, desde que sejam revertidos em benefícios aos contribuintes e em melhorias para o próprio setor. Em vez de burocratizar o segmento, o governo deveria combater os trambiqueiros e atravessadores com uma fiscalização eficiente. O consumidor brasileiro tem comprado cada vez mais vinhos durante suas viagens. Por isso, o país tem perdido uma boa parcela de vendas. Se o mercado interno se tornar competitivo, maiores serão o consumo e as vendas, mais vinhos de qualidade serão produzidos e um melhor serviço será prestado nos restaurantes, nos bares e nas lojas especializadas. Essa mudança é aparentemente simples de acontecer, desde que se tenha boa vontade e visão. Ao olhar para esse fatídico selo em uma prateleira, penso que poderiam inventar um ‘saca-selos’ para retirar todos eles das garrafas de uma vez. Quem sabe também pudessem criar um ‘saca-impostos’ ou ‘saca-burocracia’ que valesse não só para o mercado de vinhos, mas para o cotidiano dos brasileiros? Por isso, dê um viva a essa bebida e ao seu poder de estar presente nas coisas menos prováveis do dia a dia, mesmo quando não são percebidas. Saúde!
Shutterstock
Na rotina de um sommelier acontecem tantas coisas que, às vezes, nem percebemos de imediato o significado do ocorrido. Há clientes que arrancam a cápsula ao comprar um vinho; outros escrevem a data da aquisição e o valor do vinho; alguns deixam de comprar uma bebida por um detalhe no rótulo; outros reclamam do tipo de rolha e alguns questionam a falta de indicação do nome da uva. Às vezes, eu anoto o valor do vinho e a data de compra. Isso pode ser útil, por exemplo, para lembrar o preço. Quanto ao tipo ‘tampa de rosca’, alguns clientes são contra o modelo. Outros não entendem que o sistema de fechamento por tampa de rosca (screw cap) é vantajoso por manter o frescor dos vinhos jovens e não compram nenhuma garrafa com essa tampa.
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Moda a ser seguida Cinco perfis do mundo fashion que inspiram fãs e se destacam no instagram Tati Barros O instagram se tornou um importante meio de informação de moda nos últimos tempos. No aplicativo, muitas personalidades, muitas grifes e muitos admiradores do mundo fashion postam suas rotinas, inspirações e as recentes novidades desse universo. Entre um clique e outro, esses famosos usuários fazem de seus perfis uma referência ao apresentarem um olhar diferenciado sobre a moda. Pensando nisso, selecionamos alguns perfis fashion que valem a pena ser seguidos e compartilhados. Confira:
Alphorria, grife de moda @alphorria A grife mineira Alphorria vem se consolidando como um exemplo no uso das redes sociais para a divulgação de marcas de moda e de tendências fashion. Além de apresentar as coleções mais recentes, o perfil da grife conta com registros variados, como dicas culturais e de viagens. A página também interage com o público ao apresentar clientes famosas e anônimas vestidas com os looks da marca.
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Lee Oliveira, street style @leeoliveira O fotógrafo mineiro de street style Lee Oliveira está dentre os mais respeitados no meio fashion internacional. Habitué das principais semanas de moda do mundo, ele teve seu trabalho publicado em veículos como Harper’s Bazaar, Vogue Itália e The New York Times Fashion. Além de fotografar o estilo das ruas, Lee é consultor de moda. Portanto, ele é um verdadeiro expert no assunto! 36 | www.voxobjetiva.com.br
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Aimee Song, fashion blogger @songofstyle Divulgação
Californiana de ascendência sul-coreana, a designer de interiores Aimee Song comanda o blog de moda Song Of Style. No instagram, a blogueira compartilha sua rotina, viagens e um estilo próprio que exala personalidade. Os famosos ‘looks do dia’ de Aimee fogem do óbvio e são repletos de cores e mix inspiradores.
Anna Barroso, it girl @it_girls Foi de maneira despretensiosa que a jovem mineira Anna Barroso criou o perfil It Girls e começou a compartilhar imagens de moda que a inspiravam. A página de Anna conta com mais de 600 mil seguidores, inclusive famosas, como Kim Kardashian e Alessandra Ambrósio. O tamanho sucesso do espaço levou a filha da estilista, Vanessa Barroso, a lançar o blog It’s Anna, no qual também posta tendências, looks e acessórios que a agradam.
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Cara Delevingne, top model @caradelevingne Divulgação
A inglesa Cara Delevingne é uma das modelos mais requisitadas do momento. Queridinha de Karl Lagerfeld, a loura de sobrancelhas bem-marcadas é muito mais que um rostinho bonito, e seu instagram é a prova disso. A top model, que adora fazer caretas, é irreverente, sabe rir de si e sempre registra momentos de descontração nos bastidores e na companhia de amigas, como Rihanna e Rita Ora.
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Kênio Pereira
Imobiliário
Preocupação precipitada e sem fundamento Há três anos, algumas pessoas vêm torcendo por uma ‘bolha imobiliária’ no Brasil, com base em diagnósticos sem fundamento. Elas comparam os preços dos imóveis em Miami aos praticados no Brasil para justificar que os valores nacionais são astronômicos. Essas e tantas outras pessoas ignoram o que realmente seja uma ‘bolha imobiliária’. Nos Estados Unidos, qualquer pessoa podia adquirir crédito em abundância, mesmo sem ter rendimentos, condição exigida no Brasil. Por isso, o excesso de hipotecas imobiliárias provocou um endividamento crescente. Quando o crédito foi reduzido naquele país, o ritmo da economia americana diminuiu. Os devedores não conseguiram pagar as prestações, e os bancos executaram as dívidas. Assim, milhares de imóveis abarrotaram o mercado e fizeram os preços despencarem.
ção da taxa de juros e a ampliação do prazo de financiamento, o crédito imobiliário já supera 5% do PIB. Ao quintuplicar o número de compradores, os preços que estavam estagnados, até 2005, voltaram a subir. No Brasil, os bancos financiam, em média, 60% do valor do imóvel e são mais rigorosos para disponibilizar empréstimos. A inadimplência nesse setor é mínima, pois a alienação fiduciária a inibe. O mutuário – aquele que adquire o empréstimo – pode perder a propriedade com apenas oito meses de atraso.
“No Brasil, os bancos financiam, em média, 60% do valor do imóvel e são mais rigorosos para disponibilizar empréstimos”
De fato, os valores dos imóveis aumentaram no Brasil. Mas, se comparados aos das cem cidades que têm o metro quadrado mais caro do mundo, os valores nacionais são razoáveis. Além disso, há 40 cidades nos Estados Unidos com os preços imobiliários mais baixos do mundo. Portanto, não dá para comparar os valores brasileiros com os norte-americanos. Os analistas ignoram que o preço dos imóveis em Miami desabou e representa um quinto do valor praticado em 2008. Em 2007, construíam-se sete vezes mais do que se constrói nos Estados Unidos, e os bancos emprestavam mais de 100% do valor do imóvel dado em hipoteca. O crédito imobiliário chegou a superar o Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano em 50%. No Brasil, a situação é totalmente diferente. Em 2007, o crédito imobiliário correspondia a 1% do PIB. Entretanto, com a redu38 | www.voxobjetiva.com.br
Nos locais com grande número de edificações, há margem para negociar, principalmente nas que têm muitas unidades. Sempre foi normal um desconto de 5% a 15%, especialmente em um período de economia desaquecida. Mas isso está longe de ser uma ‘bolha’, em que os preços caem mais de 50%. No setor comercial, há casos mais graves, pois alguns construtores lançaram empreendimentos comerciais e shoppings num clima de economia aquecida. E agora que entregaram esses empreendimentos, o país vive outro cenário.
Influenciada pela taxa administrativa dos bancos e pelo alto risco da Bolsa de Valores, a baixa remuneração das aplicações financeiras faz com que os imóveis sejam um ótimo investimento. Isso é interessante, especialmente para quem deseja obter uma renda extra com aluguel.
Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br
kultur
Divulgação
Do caos ao gênesis Sebastião Salgado retorna às raízes para produzir arte e refletir sobre a existência Daniela Rebello
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homem que encanta o mundo com imagens de cenários aparentemente inalcançáveis já teve um mundo particular ao seu redor. Ele nasceu em uma fazenda em Aimorés, no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. O local foi considerado um paraíso pelo próprio autor. Com metade da vegetação nativa, típica da Mata Atlântica, a fazenda serviu de inspiração para que esse artista buscasse a matéria-prima de seu trabalho atual na relação do homem com a natureza e a cultura.
Aos 70 anos de idade e mais de 40 anos como fotógrafo, Sebastião pode dizer que une o útil ao agradável. Autor de projetos sociais e ambientais, o artista mineiro utiliza a paixão pela fotografia como meio de reflexão e intervenção política. Em suas películas fotográficas, ele denuncia inúmeros problemas sociais por meio de imagens que se encontram na linha tênue que separa a busca pela objetividade da subjetividade estética, necessária à experiência de sua obra.
Mineiro radicado em Paris e doutor em Economia, Sebastião Salgado é mais que um fotógrafo, etnógrafo, fotojornalista ou ativista – como seus admiradores habitualmente o qualificam. Quando abandonou a promissora carreira de economista, em 1973, para se dedicar integralmente à fotografia, ele confessou ter mudado a rotina após ter a sua vida inteiramente invadida pelo prazer de fotografar.
Em seu último projeto, intitulado ‘Gênesis’, ele revela partes intocadas da natureza no mundo por meio das nuances entre o preto e o branco, marca registrada de sua autoria. Produzida entre 2004 e 2012, a obra é resultado do contato de Sebastião com 32 regiões extremas. “Durante o projeto, eu passei a ter uma identificação muito forte com o planeta. Descobri que sou um pedaço dele, uma parte da natureza”, reflete o fotógrafo. | 39
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Felipe Pereira
‘Gênesis’ também marca a retomada de Sebastião à fotografia. Ele se afastou de sua vocação depois de viver momentos difíceis logo após o fim de ‘Êxodos’, trabalho registrado entre 1994 e 1999. Da época, o fotógrafo se recorda da angústia de presenciar cenas de extrema brutalidade praticadas pelo homem. Essas barbáries lhe tocaram a alma e o transformaram em um homem psicologicamente em chagas. Durante a produção do projeto, Sebastião registrou imagens de campos de refugiados, onde 12 mil a 15 mil pessoas morriam diariamente. Ao fim do trabalho, o autor pensou ter perdido a crença no ser humano e, por alguns instantes cogitou, até mesmo abandonar a fotografia. Mas um fato mudaria o rumo da vida de Sebastião definitivamente. Ao concluir ‘Êxodos’, o fotógrafo recebeu um presente do destino. Com a sua mulher e companheira de trabalho, Lélia Wanick Salgado, ele herdou a fazenda de seu pai, em Aimorés. O local onde Sebastião havia crescido e passado toda a sua infância logo foi se tornando a terra onde ele enterrou de vez as lembranças dos momentos terríveis presenciados ao longo da produção de ‘Êxodos’. Assim como Sebastião, a natureza que tanto fascinou o fotógrafo na infância precisava renascer. Da terra, que antes continha 50% de Mata Atlântica intacta, res-
Sebastião Salgado, 2 de junho de 2014
“Eu fiz uma expedição de oito anos durante o ‘Gênesis’, mas a maior viagem que fiz foi dentro de mim mesmo”
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Felipe Pereira
À esquerda, o fotógrafo Sebastião Salgado. Abaixo, Lélia Wanick, sua esposa e curadora do projeto Gênesis
Felipe Pereira
Sebastião Salgado apresenta à imprensa a exposição ‘Gênesis’ no Palácio das Arte
tou apenas 0,5% de floresta. E foi dessa necessidade que surgiu uma iniciativa. “A Lélia teve uma ideia fantástica e me contou assim: ‘Como você cresceu em um paraíso, por que a gente não replanta a floresta?’. A partir desse momento, nós começamos efetivamente um desafio”, lembra o mineiro. O casal foi à procura de recursos para financiar a ideia e, com o apoio da Vale, fundaram o Instituto Terra, em abril de 1998. A fazenda já tem mais de 2 milhões de árvores plantadas, onde, numa terra degradada, a vida raramente florescia. Com o retorno da biodiversidade da fazenda, a vontade de Sebastião em retomar a fotografia foi ressurgindo como a flora ao reencontrar a primavera. Tão logo recuperou a vontade de fotografar, ele mergulhou em um novo projeto, no qual a natureza seria retratada em seus locais mais puros. Em ‘Gênesis’, o fotógrafo mineiro teve o auxílio de antropólogos, fundações e entidades para se relacionar com povos que tiveram pouco contato com o mundo exterior. Muitos desses grupos são tão restritos que correm o risco de desaparecer em alguns anos. Um desses grupos é o Zoé, a única tribo que ainda preserva o tupi-guarani na costa africana. Esses indígenas foram vistos pelos jesuítas no século XVI e descritos com uma característica peculiar: têm um cone de madeira introduzido no queixo. Nunca antes encontrada, a tribo era tida como ‘ficção’ até ser vista e contatada há 15 anos. Sebastião declarou ter descoberto algo fantástico por meio dos Zoé. “Todas as coisas que nós temos de essencial, já tínhamos há 10 mil anos. Nós encontramos de
tudo um pouco nos grupos mais preservados, até mesmo antibióticos e anti-inflamatórios. Na realidade, o que nós fizemos foi codificar o saber, transformando em fórmula matemática o que já fazíamos na prática”, revela. Após ter testemunhado a harmoniosa relação entre o homem e a natureza, o fotógrafo confessa que o único defeito do ser humano é viver, em média, 80 anos nos países desenvolvidos. “Se a gente tivesse a capacidade de viver dezenas de milhares de anos, nossa relação com nós e com o planeta seria mil vezes mais simples. Não teríamos o destruído tanto e certamente nos iríamos nos organizar de outra forma”. Se a ciência ainda não permite Sebastião viver por, pelo menos, centenas de anos, a fotografia certamente supriu essa lacuna na vida do autor mineiro. “Eu fiz uma expedição de oito anos durante o ‘Gênesis’, mas a maior viagem que fiz foi dentro de mim mesmo”, assegura o fotógrafo, cujos eu e a natureza parecem ser feitos da mesma matéria.
Gênesis Palácio das Artes e Parque Municipal De 29 de maio a 25 de agosto Entrada gratuita fcs.mg.gov.br
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Bruno Gonzaga
Ecos de liberdade Exposição liga a Itália ao Brasil por meio do barroco e reabre as portas da Casa Fiat para o público Lucas Alvarenga
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os fundos dos jardins do Palácio da Liberdade, a arquitetura moderna de Luciano Amédee Péret dá contornos contemporâneos ao complexo de edifícios majoritariamente ecléticos e neoclássicos da Praça da Liberdade. A beleza imponente do Palácio dos Despachos, mesmo que por coincidência, tem a ver com a função do edifício. Criado em 1967, o prédio abrigou as atividades administrativas do governo de Minas Gerais durante anos. Antiga morada dos governadores do estado, o Palácio foi um dia residência do ex-presidente da
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República General Artur da Costa e Silva. Esses foram outros tempos, em que o nome da principal praça mineira não combinava com o regime político no qual os brasileiros estavam submetidos. Depois de 47 anos, sendo dois de portas fechadas, o Palácio dos Despachos passou a abrigar o último prédio do Circuito Cultural Praça da Liberdade. Nele está a nova Casa Fiat de Cultura, um sucesso arrebatador durante os anos em que esteve instalada no Belvede-
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re, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O prédio preserva uma história peculiar para a Fiat, administradora do complexo expositivo. “Foi nesse Palácio que o presidente mundial da Fiat, Giovanni Agnelli, assinou com o governador Rondon Pacheco o acordo para que a montadora fosse instalada em Minas Gerais”, rememora José Eduardo Pereira de Lima, presidente da Casa Fiat. A nova morada da arte em Belo Horizonte reserva novidades em relação ao antigo prédio, que recebeu 800 mil visitantes até 2012. Projetado para sustentar pilhas de papéis governamentais, a estrutura do Palácio dos Despachos permite a exposição de peças extremamente pesadas. Pensando nisso, a diretoria da Casa fez questão de instalar um elevador específico para as obras, cuja capacidade é de 2,5 toneladas. A estrutura, que sai da área de entrada dos caminhões e vai até os andares expositivos, deve ficar pronta até agosto. O elevador também tem escala na reserva técnica, um espaço de climatização regulável que permite às obras se adaptar às condições de temperatura das salas de exposição. Exclusivas em Minas Gerais, as novidades reduzem significativamente os custos com o seguro das obras. Mas as boas-novas da nova estrutura não param por aí. Ao lado do mezanino, há uma grande área jardinada de 6 mil metros quadrados, ao estilo da Pinacoteca de São Paulo. Segundo Lima, os jardins vão ser usados como uma extensão da área expositiva, servindo também ao programa educativo de jovens e crianças e ao lazer dos visitantes. “O público vai poder apreciar as frondosas mangueiras centenárias da Casa ou quem sabe alguns concertos de música sacra na Capela Santana”, antecipa Lima. O local foi idealizado pela então primeira-dama do estado, Francisca Tamm Bias Fortes. E agora vai passar por uma pequena reforma, assim como toda a área externa.
Depois de anos servindo aos governadores biônicos, aqueles colocados pelos ditadores no comando dos estados, o Palácio dos Despachos inicia um relacionamento promissor com a arte. E há melhor expressão de liberdade do que essa? Em meio a tantos prédios destinados à cultura, a Casa Fiat abriu suas portas para trazer até o dia 07 de setembro as belezas e tensões de um movimento globalizado: o barroco, expressão máxima do que é ser livre. “O barroco é liberdade de expressão. Por meio dele, podemos olhar uma figura não apenas por um ponto de vista, mas por vários. Afinal, a imagem barroca ganha movimento cada vez que é observada por um ângulo diferente”, argumenta Rossella Vodret, uma das curadoras da parte italiana da exposição Barroco Itália-Brasil ao lado de Giorgio Leone.
O barroco é arte da Contrarreforma, criada no final do século XVI para combater as ideias pregadas por Martin Lutero durante a Reforma Protestante. Por meio de dualidades, como o jogo entre a luz e a sombra, o gosto e a materialidade opulenta e o humano e o divino, o barroco se manifestou como uma releitura peculiar da arte na Antiguidade Clássica. Essa manifestação artística encontrou eco na França, na Espanha, em Portugal e nos territórios ligados à Igreja, como Roma. “O catolicismo precisava acabar com a corrupção e resgatar os seus valores. Então, o Papa Urbano VIII fundou a linguagem barroca e resgatou tudo o que Lutero negou, como Maria e os santos para triunfar sobre os hereges”, esclarece Rossella. Em Napoli, na Itália, o barroco chega a ser mais que uma reação religiosa. O movimento artístico faz parte da identidade da cidade, que durante aquele período esteve sob o domínio espanhol. A Região da Calábria, onde se encontra a cidade, recebia grandes quantidades de prata retiradas da América Colombiana – a parte colonizada por espanhóis na América do Sul. Essa prata era distribuída entre os mais de 350 ateliês que faziam estátuas para toda a Europa. Muitas dessas peças se perderam com o tempo, muitas | 43
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pela necessidade de transformar o metal em arma durante as guerras que assolaram o Velho Continente entre o final do século XVI e o século XVIII. Mas uma parte considerável dessas esculturas foi preservada, graças à devoção de inúmeros fiéis e às doações de nobres e reis ao tesouro de San Gennaro, padroeiro de Napoli. “A manutenção desse acervo durante séculos foi o verdadeiro milagre de San Gennaro”, brinca Rossella. Parte dessas obras veio parar na Casa Fiat de Cultura para a alegria dos napolitanos que, alguns anos atrás, promoveram uma ‘revolta popular’ por receio de as peças saírem para São Paulo e não mais voltarem. As 20 esculturas são inspiradas nas estátuas romanas de mármore e trazem majoritariamente bustos de santos. Elas eram feitas primeiramente em argila e revestidas em gesso. Depois do molde pronto, passava-se cera quente no gesso e, dentro da estrutura era aplicada a prata fundida. Por fim, a peça recebia o acabamento, com técnicas de repuxe, burilamento e cinzelamento.
Com um século de atraso, a arte que sagrou Napoli chegava ao Brasil. A ‘Colônia Portuguesa do Ouro’ viria a se consolidar anos mais tarde como o país do barroco de madeira. Especificamente em Minas Gerais, essa expressão artística aflorou com escultores como os portugueses Vieira Servas e Xavier de Brito e os mineiros Mestre de Piranga e Mestre Valentim – então radicado no Rio de Janeiro. Mas um se destacou dentre todos: Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, cuja obra sobressai pelos traços finos e olhos amendoados. “O antigo conservador de pinturas do Museu do Louvre, Germain Bazin, ficou tão impressionado com a arte de Aleijadi-
Leo Lara
Studio Cerri
Divulgação Ibram
As técnicas e o material aplicado, como o cobre, o bronze e o ouro, ajudam a ressaltar o jogo de luz e sombra, típico do barroco. Detalhes como o caimento dos tecidos no corpo e nos bustos, a barba e o cabelo ge-
ralmente enrolado reforçam essa dualidade. O tecido esvoaçante que cobre a face de Santa Cândida, de Lorenzo Vaccaro, mostra com clareza como a prata pode explorar a sensação de liberdade, comum ao barroco. Aliás, Vaccaro é um dos artistas que melhor representam a fase seiscentista do movimento. O outro escultor de renome que faz parte da seleção de Rossella e Leone é Giuseppe San Martino, artista da fase setecentista fortemente influenciado pela arte romana em mármore. O San Giovanne Batista, de Martino, mescla os gestos típicos de um imperador romano com as peculiaridades do barroco.
Rossella vodret
Angelo Oswaldo
José eduardo de lima
Curadora italiana da exposição
Curador brasileiro da exposição
Presidente da Casa Fiat
“A imagem barroca ganha movimento cada vez que é observada por um ângulo diferente”
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“Germain Bazin, ficou tão impressionado com a arte de Aleijadinho que o chamou de ‘Michelangelo dos Trópicos’”
“Nós trabalhamos com criatividade, sensibilidade e beleza. É preciso de sinergia para que possamos ir além”
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Painel ‘Civilização Mineira’, de Cândido Portinari, presente na entrada da nova Casa Fiat
Bruno Gonzaga
nho que o chamou de ‘Michelangelo dos Trópicos’. Ele chegou a dizer que Deus apareceu pela última vez na arte do Ocidente pelas mãos desse mulato aleijado”, ilustra Angelo Oswaldo, curador da parte brasileira da exposição e presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). As 20 peças brasileiras, feitas em sua maioria de cedro, recontam um pouco da história colonial do país. O ouro extraído das minas nos séculos XVII e XVIII ia direto para Portugal e a Inglaterra. Então muitos artistas optaram por desenvolver a arte sacra na madeira para atender àquela nação que era a principal parceira comercial da metrópole. As peças também poderiam ganhar outras funções, como o São Francisco de Borba, de revestimento oco, ideal para levar ouro contrabandeado. Parte do metal desviado ia para as peças, que contavam com um douramento especial. “O barroco é a arte pela qual os primeiros brasileiros puderam se exprimir livremente, tanto que acabaram por subverter o estilo e criaram uma linguagem própria”, enaltece Oswaldo. Com a camisa grafada com o nome de Imaculada Conceição, uma senhora de 60 anos e cabelos castanhos parou diante das estátuas de Sant’ana – presentes na parte italiana e brasileira. A expressão de contemplação, admirada com a beleza da peça, logo deu lugar aos olhos marejados. “Olha só que lindo o carinho da mãe com a filha! Ah, como eu queria ter a minha menina para colocá-la no colo de novo”, rememora a Maria da Concei-
ção, cuja filha morreu doente, em seus braços, há pouco mais de um ano. Se a mostra causa comoção, ela também ressalta o quão presente é o barroco na arte moderna napolitana e na arte contemporânea mineira. Pelo lado brasileiro, é possível ver peças como ‘Anjo’, escultura em pedra de Alfredo Ceschiatti, e a ‘Agonia de São Francisco’, de Maurino de Araújo. Ambas foram feitas no século XX. “Com essa escolha, nós mostramos a permanência da arte sacra como um tema vital à criatividade do artista mineiro: uma raiz que continua”, acredita Oswaldo. Conciliando a exposição com as obras a terminar, a nova Casa Fiat passou por um ‘batismo de fogo’, como enalteceu seu presidente. Agora os planos de Lima são de promover exposições conjuntas com as casas de cultura do Circuito Cultural Praça da Liberdade. “Nós trabalhamos com criatividade, sensibilidade e beleza. É preciso de sinergia para que possamos ir além”, enfatiza o presidente da Casa Fiat. Esse é um sonho em curso, que em tão breve pode se realizar. Enquanto isso, a instituição se apronta para apresentar ao público uma releitura lúdica do trabalho de Cândido Portinari. A tarefa cabe a Ronaldo Fraga, que já pode começar a se inspirar pelo painel ‘Civilização Mineira’, obra do pintor presente na entrada do Palácio dos Despachos. A arte expositiva pede passagem mais uma vez na antiga sede da política de Minas Gerais – estado que tem na liberdade grafada na bandeira e no espírito. | 45
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Thomás
Helen Maybanks
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Terra Brasilis • agenda
Maurinho e os Mauditos
Fábio Junior
Shrek, o Musical
Eles se conhecem há 15 anos e formam um dos grupos de rock mais respeitados do país. Mas em ‘Maurinho e os Mauditos’, o quarteto de roqueiros mineiros deixa de lado às canções do Tianastácia para recordar a poesia maldita na música brasileira. Liderados por Maurinho Nastácia, Fernando Murcego (na bateria), Vinicius ‘Cavalo Doido’ (no baixo) e Lucas França (na guitarra) fazem releituras bastante originais de canções de Sergio Sampaio, Walter Franco, Tom Zé, Arnaldo Baptista e Belchior.
Dono de uma das vozes mais românticas do país, Fábio Jr. retorna à capital mineira com novidades. Sem lançar um disco desde 2011, o cantor vai trazer uma turnê diferente para Belo Horizonte. Fábio abriu uma enquete em seu perfil no facebook para que o público escolhesse parte do repertório dos próximos shows do intérprete. Além de alguns sucessos de ‘Íntimo’, seu último álbum, o intérprete pretende apresentar as 15 músicas escolhidas pelos fãs. O resultado dessa interação pode ser vista em breve pelos belo-horizontinos.
Do cinema para o teatro, ‘Shrek, o Musical’ é uma versão brasileira para a história de um ogro solitário que se apaixona por uma princesa politicamente incorreta, Fiona. Ela vive aprisionada em um castelo vigiado por um dragão. A peça foi indicada a oito Tony Awards –considerado o Oscar do teatro mundial. Maior comédia musical da Broadway, o espetáculo conta com mais de 100 profissionais envolvidos, grandes cenários, efeitos especiais e elenco com grande capacidade vocal.
CCBB 11 de julho, às 20h Entrada franca (sujeita a senha) culturabancodobrasil.com.br
Chevrolet Hall 13 de julho, às 21h De R$ 60 a R$ 80 (inteira) chevrolethallbh.com.br
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Palácio das Artes18 a 20 de julho, sexta, às 20h; sábado, às 15h e 19h; domingo às 15h De R$ 120 a R$ 165 (inteira) fcs.mg.gov.br
Terra Brasilis • agenda
Sebastião Salgado
Keetr
Aproxima De olho na ‘invasão estrangeira’ promovida pela Copa do Mundo no Brasil, o tradicional Mercado Distrital do Cruzeiro prepara um festival de gastronomia essencialmente mineira. O evento envolve 80 estabelecimentos comerciais que buscam valorizar a produção dos quatro principais terroirs de Minas Gerais: o café, a cachaça, as cervejas artesanais e os queijos. O festival também pretende mostrar o uso desses tradicionais produtos pelos mais renomados chefs de Belo Horizonte. Mercado Distrital do Cruzeiro Até 10 de julho, em horários variados Entrada franca mercadodistritaldocruzeiro.com.br
Thomas Arthuzzini
Isso é para dor Teatro João Ceschiatti Até 13 de julho, quinta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h R$ 10 (inteira) fcs.mg.gov.br
Três mulheres se escondem em um lugar onde gritam é proibido. Desse lugar se ouvem estrondos e explosões. O mundo parece desmoronar, quando Benjamim Amapola, Shyrley Ballantine’s e Vonda Yeva Pavlova decidem ensaiar sem Margareth – que dorme há mais de uma semana. Baseado na obra ‘O Diário de Anne Frank’, o espetáculo traz mulheres entre a tensão da catástrofe e a desesperança. A peça é vencedora da categoria Montagem Teatral do Prêmio Fundação Clóvis Salgado de Estímulo às Artes Cênicas de 2013.
Arraial de Belô Organizado pelo Belotur desde 1980, o ‘Arraial de Belô’ chega com certo atraso neste ano. Em virtude da Copa do Mundo, a festa junina dos belo-horizontinos vai começar na segunda metade de julho. O evento resgata umas das maiores tradições populares brasileiras e cada vez mais se fixa como uma expressão da identidade mineira.O concurso é dividido em três etapas: o festival estadual, que acontece nos dias 19, 20, 26 e 27; além das disputas do grupo de acesso e do grupo especial, reservadas para os dias 17 a 20 e 25 a 27, nesta ordem. Praça da Estação 17 a 27 de julho, em horários variados Entrada franca (sujeita a ingressos) belohorizonte.mg.gov.br
DE TRÁFEGO, BASTA O AÉREO. Divulgação
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TERMINAL BETIM: AV. BANDEIRANTES, 1210, HOTEL SERRA NEGRA 2572-0061 | CONEXAOAEROPORTO.COM.BR/BETIM
Terra Brasilis • literária
O lado sujo do futebol Autor: Amaury Ribeiro Jr., Leandro Cipolini, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastinet Editora: Planeta do Brasil Páginas: 400 Preço: R$ 39,90
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Um relato jornalístico sobre o que pensam alguns torcedores de futebol do país, que vibram conforme os próprios interesses. Esse é ‘O lado sujo do futebol’, obra que desnuda os bastidores do mundo da bola no Brasil ao trazer informações sobre importantes negociatas feitas nos últimos tempos. O livro detalha, por exemplo, o mafioso esquema de fraudes que transformou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa) em grandes balcões de negócios, cujo ‘gol de placa’ são as Copas do Mundo.
O Réu e o Rei Autor: Paulo Cesar de Araújo Editora: Companhia das Letras Páginas: 528 Preço: R$ 24,10
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Tão badalada quanto a ‘censurada biografia’ ‘Roberto Carlos em Detalhes’ são os bastidores que a envolvem. Paulo Cesar de Araújo, autor do best-seller retirado do mercado, conta a própria versão da batalha judicial em torno da publicação lançada em 2006. Em ‘O Réu e o Rei’, o jornalista relata os 16 anos de pesquisa sobre a obra de Roberto e traz detalhes de entrevistas com grandes personalidades da música brasileira. A nova história de Araújo trata de música e censura e abre espaço para a discussão sobre a liberdade de expressão e a violação de privacidade.
O nobre deputado Autor: Marlon Reis Editora: LeYa Páginas: 120 Preço: R$ 29,90
Mais vendido
Cândido Peçanha narra um jogo comprado, em que vence quem gasta mais. A personagem de Marlon Reis é um deputado eleito democraticamente que transforma dinheiro em poder. Por meio de uma série de entrevistas, o idealizador da Lei da Ficha Limpa cria um engenhoso perfil de Peçanha e faz dele a personificação de algumas práticas que ele viu e ouviu de diversos políticos brasileiros. O livro tenta explicar como a gigantesca máquina eleitoral funciona e vicia o processo eletivo do país, fazendo o cidadão pensar que sua vontade pouco importa na hora de eleger os rumos do Brasil. Reprodução
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Terra Brasilis
Leo Avessa
As múltiplas faces de Chico Artista carioca completa 70 anos, e a Vox Objetiva traz uma seleção variada de obras do autor
música
Literatura
Teatro
Gravadora: Phonogram/Philips Faixas: 10 Preço: R$ 18,00 (iTunes)
Editora: Companhia das Letras Páginas: 200 Preço: R$ 39,50
Direção: Fernando Peixoto Roteiro: Chico Buarque e Ruy Guerra Produção: Fernando Torres e Fernanda Montenegro
Composto durante o exílio do artista na Itália, o disco ‘Construção’ é um marco na carreira do compositor carioca. O samba foi criado com versos dodecassílabos que terminam sempre em uma palavra proparoxítona. Crítica à ditadura militar e ao milagre econômico da década de 70, a música mescla rigor jornalístico e apuro literário. Com arranjo sinfônico de Rogério Duprat, mestre da Tropicália, o disco renovou a forma de se fazer música popular no Brasil.
Último livro de Chico, ‘Leite derramado’ foi o vencedor do Prêmio Jabuti de melhor ficção de 2010. A obra conta a história de um homem muito velho que está em um leito de hospital. Em um monólogo dirigido a quem quisesse ouvir, ele rememora a sua linguagem desde os ancestrais portugueses até o Rio de Janeiro atual. A narrativa mostra a decadência social e econômica de uma família e a paixão malcompreendida do narrador por uma mulher: Matilde.
Emblemática peça do teatro brasileiro, ‘Calabar’ relativiza a postura de Domingos Fernandes Calabar durante a invasão holandesa no Brasil. Na época, Calabar apoiou os invasores contra a Coroa Portuguesa e entrou para a história como traidor. Com 80 pessoas envolvidas, a montagem foi uma das mais caras do país até a década de 70. Mas a peça só pôde estrear em 1979, por causa da censura. Em homenagem a Chico, Ruy Guerra pretende fazer uma nova montagem do espetáculo ainda este ano. | 49
crönica
Joanita Gontijo
Comportamento
Três homens em um! Quase toda mulher sabe ou imagina, com grande percentual de acerto, o que os homens conversam nas mesas de bar quando estão sozinhos. O apurado faro feminino ajuda. Mas o que conta mesmo é que o ‘Clube do Bolinha’ existe há muito mais tempo do que o da Luluzinha. Contando os séculos de prática, somos iniciantes nas variações do tema just for girls. Isso explica por quê, ao contrário de nós, os ‘meninos’ não costumam saber o que rola nas mesas das ‘meninas’. Curiosidades e adivinhações à parte, afinal nem tudo merece ser revelado, quero contar o que ouvi outro dia num desses encontros. Mulheres: não me matem! A informação será útil para todos. Homens: prestem atenção!
felizes na cama”. Rimos muito. Mas entendo, caso os homens que estão lendo essa crônica não tiverem achado a menor graça no comentário. As ‘piadas internas’ dos partidos feminino e masculino costumam ser de péssimo gosto com o sexo oposto. Na maioria dos casos, elas não expressam o que realmente pensa cada grupo. Por isso, relaxe e guarde a faca da cozinha na gaveta antes de querer matar sua mulher ou seu marido que confessaram, na mesa do bar, terem sonhos eróticos com o gostosão ou a gostosona da novela das oito. Alguns desses sonhos foram com olhos bem abertos...
“Elogie o cabelo, a roupa e o novo perfume da sua mulher”
Éramos cinco amigas com diferentes status de relacionamentos. As garrafas de cerveja empilhadas na lateral da mesa mostravam ao garçom nosso consumo e revelavam que a maioria de nós já estava ‘alguns quilômetros pra lá de Bagdá’. A dificuldade para encontrar empregada doméstica, a vida profissional e a peleja maternal eram temas superados havia muito tempo. Melhor: havia muitos copos! A estética masculina dos galãs atuais também já havia sido discutida, até que a conversa chegou à melhor parte: o sexo. Sim! Falamos tanto ou mais do que os homens sobre esse assunto. Uma das amigas mais engraçadas do grupo disse: “O problema dos relacionamentos é que nós, mulheres, queremos tudo em um homem só. O ideal seria que tivéssemos um companheiro com quem pudéssemos dividir as contas da casa, outro com sensibilidade gay para nos dizer qual corte de cabelo fica melhor e um terceiro apenas para nos fazer 50 | www.voxobjetiva.com.br
Apesar de ser apenas bobagem, a frase daquela noite me ajudou a entender o descompasso histórico do desejo sexual entre homens e mulheres. Se sua mulher anda tendo dores de cabeça demais, menstruando duas vezes ao mês e dormindo todas as noites com a lingerie bege que caberia na sua sogra, mude a estratégia de conquista.
Não gostaríamos de ter três homens a tiracolo. Mas vale o esforço para ser mais do que um garanhão. Elogie o cabelo, a roupa e o novo perfume da sua mulher. Deixe a fatura do cartão de crédito e a cobrança por mais economia do lado de fora do quarto. Ser ouvida, admirada, reconhecida e acolhida são carícias que excitam muito mais do que uma longa e caprichada sessão de preliminares.
Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela”joanitagontijo@yahoo.com.br
TUDO POR BH. TUDO POR VOCÊ.
Belo Horizonte é a cidade-sede com o maior índice de entrega das obras de mobilidade: 96%. Isso significa que os grandes projetos que estavam sendo implantados já estão trazendo benefícios para todos os habitantes. A Prefeitura agradece a paciência da população. Já estamos vendo nas ruas todas as melhorias permanentes que as obras estão trazendo para a nossa cidade.
COPBH | CENTRO DE OPERAÇÕES DA PREFEITURA DE BELO HORIZONTE
A OBR %
100REGUE ENT
Centro de monitoramento com alta tecnologia, integrando diversos serviços da Prefeitura e de órgãos estaduais e federais, como BHTrans, Defesa Civil, Guarda Municipal, SLU, SAMU, Fiscalização, Polícia Federal e Polícia Militar.
BRT MOVE CORREDOR CRISTIANO MACHADO
A OBR %
10T0REGUE EN
Com nove estações de transferência, o corredor de 7,1 km de extensão tem capacidade para atender 300 mil passageiros por dia e funciona, também, como alternativa de acesso ao Mineirão.
BRT MOVE CORREDOR ANTÔNIO CARLOS
A OBR %
10T0REGUE EN
São 14,7 km de extensão, que se estendem pelas avenidas Antônio Carlos, Pedro I e Vilarinho. O corredor possui 25 estações de transferência e tem capacidade para transportar 400 mil passageiros por dia.
Não para de trabalhar por você.
BRT MOVE ÁREA CENTRAL
A OBR %
10T0REGUE EN
São seis estações de transferência, localizadas nas avenidas Paraná e Santos Dumont, vias que foram transformadas em áreas exclusivas do sistema, com 1,3 km de extensão. O trecho foi totalmente requalificado, com ciclovias e paisagismo.
BRT MOVE CORREDOR PEDRO I
E FASAL
FINONCLUSÃO DE C
A avenida recebeu pistas exclusivas para o BRT MOVE, seis estações de transferência, além de outras obras de adequação viária, incluindo a construção de trincheira, novos viadutos, sistema de drenagem pluvial e alargamento.
Mais detalhes no site www.pbh.gov.br. Obras em parceria com os governos estadual e federal.
RESULTADO
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vozcomdesig 52 | www.voxobjetiva.com.br
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