CARTA DO PRESIDENTE //
Josimar Henrique da Silva
Q
Uma década de marcos na ciência?
uase 5 mil pessoas estiveram presentes, no final de maio passado, à 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, (promovida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia). Que haja tanta gente interessada nos temas é prova de que o Brasil pretende sair do lugar de apenas produtor de samba e futebol. A associação às boas qualidades destas áreas de notório reconhecimento e habilidade é forte e representativa de um momento. Tão forte que o secretário-geral do encontro, Luiz Davidovich, físico e professor da UFRJ, declarou que o Brasil precisa criar mais campos de ciência, a exemplo dos que possui espalhados em todo o país para o futebol, de onde saem nossos mais criativos e geniais artistas com a bola no pé. Não há dúvida que o primeiro passo para isso o Ministério da Ciência e Tecnologia conseguiu. Ao colocar, reunidas, tantas pessoas interessadas em mudar a face da pesquisa científica no Brasil, quase conseguiríamos encher um campo de futebol, uma arquibancada de desfile de escola de samba, um estádio para um show com nossos melhores intérpretes. A 4ª. Conferência abriu um novo cenário para o país. Todos aqueles que trabalham com conhecimento aplicado ou avançado, pesquisas e inovação passam a esperar que as oportunidades ajudem a melhorar o desempenho do Brasil. Durante a Conferência, Luiz Davidovich, especialista em óptica e informação quântica com doutorado nos Estados Unidos, adiantou que a expectativa do encontro seria deixar uma mensagem de que o país quer ser referência em outro modelo de interesse e conhecimento. Não apenas protagonista “no mundo tal como é, mas também em uma sociedade diferente, que respeite os seres humanos e a natureza”. Na área de pesquisa médico-farmacêutica, o que temos a dizer é que as mudanças podem até nascer de belas palavras e boas intenções, mas não bastam. É preciso um programa nacional, encabeçado por uma política de Esta-
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do, fortemente ajustada ao financiamento de empresas e fundações empenhadas na obtenção de resultados que se transformem em medicamentos e patentes estruturadoras de soberania nacional. Em outro plano, a formação médica e o exercício da medicina há tempo pedem um modelo nacional compatível com as necessidades dos profissionais e os ambientes de trabalho. Se não é possível uma política que possa abraçar todas as necessidades em um único modelo, está claro que, seja na pesquisa médico-farmacêutica, seja na formação e exercício da medicina, o Brasil precisa de uma política de Estado. Diferente do futebol e do samba, criatividades aplicadas, que exigem administração, mas não necessitam de tempo de maturação, a pesquisa médico-farmacêutica leva tempo, envolve pessoas, conhecimentos diversos, adesão a práticas de verificação, normas legais e industriais. Precisa de formação demorada, com pelo menos uma década de estudos introdutórios, isso até chegar ao momento em que o pesquisador permite-se atuar com originalidade diante do saber conhecido e partir para possibilidades e descobertas que se transformem em medicamentos de interesse geral. Felizmente, não dependemos apenas dos resultados políticos. Mas, infelizmente, sabemos que os resultados políticos, sejam quais forem, podem influenciar nesta década de tantos marcos na ciência brasileira e que prometem mudar a face do Brasil e criar novos cenários e realidades para a educação e o conhecimento avançado e aplicado. A 4ª. Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação convidou a Hebron para expor suas conquistas na área da pesquisa. Nosso Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento Avaniel Marinho foi um dos expositores da Conferência, e isso muito nos orgulha e mostra mais uma vez que pesquisar é a nossa natureza. // Josimar Henrique da Silva é presidente da Hebron®.
CONTEÚDO //
EDITORIAL //
Desde o início dos tempos, lutamos con// CAPA 18 Um mundo doente
Apesar dos avanços científicos, as epidemias ainda causam inquietação na humanidade.
SEÇÕES // 6 HISTÓRIA DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS // Otorrinolaringologia: uma rica história
Tratamentos laringológicos, rinológicos e otológicos, além de cirurgias, já eram praticados por médicos gregos, hindus e bizantinos.
// RESPONSABILIDADE SOCIAL 10 Jovens empreendedores
A organização Junior Achievement busca despertar o espírito empreendedor nos jovens e proporcionar uma visão clara do mundo dos negócios.
12 QUALIDADE DE VIDA // Guerra às bactérias
Cuidados simples de higiene podem evitar contaminação por bactérias e vírus em superfícies. A dica é lavar sempre as mãos.
// PING PONG 15 Convivendo com a rinite
A médica Gabriela Sampaio explica o que é rinite alérgica, suas principais causas, sintomas e tratamentos.
// TRABALHO CIENTÍFICO 26 Resultados terapêuticos com o uso do Saccharomyces cerevisiae FR 1972, em pacientes portadores de infecções bacterianas do trato intestinal.
// ACONTECE 32
14 NOTAS // 14 EVENTOS // 23 BOA VIAGEM // 50 anos depois...
Com muita festa, em 21 de abril de 2010, Brasília comemorou 50 anos de existência.
28 MATÉRIA //
Nova esperança de cura
As células-tronco do cordão umbilical são utilizadas no tratamento de várias doenças, sendo bastante utilizadas no transplante de medula óssea.
tra doenças que aparecem de surpresa, dizimando comunidades e países inteiros. Mesmo com o avanço da medicina, o mundo ainda enfrenta dificuldades para controlar certas epidemias. Os países mais pobres são as principais vítimas das grandes epidemias, por questões relacionadas à falta de saneamento, bons programas de saúde e instrução da população. O destaque desta edição da revista Hebron Atualidades vai para as grandes epidemias que assolaram, e ainda assolam, o mundo. Você leitor, poderá conhecer mais sobre males que “ganharam fama mundial”, como gripe espanhola, peste negra, Aids, malária, dengue, tuberculose e Influenza A. A otorrinolaringologia é o tema da 7ª edição da seção História das Especialidades Médicas. Com uma história que remonta a antes de Cristo, os tratamentos laringológicos, rinológicos e otológicos, além de cirurgias, já eram praticados por médicos gregos, hindus e bizantinos.
Responsabilidade Social mostra o trabalho da organização Junior Achievement, empenhada em despertar o espírito empreendedor nos jovens, ainda na sala de aula, além de lhes proporcionar uma visão clara do mundo dos negócios. A seção Qualidade de Vida mostra cuidados simples de higiene, necessários para evitar contaminação por bactérias e vírus em superfícies. Numa lista dos itens mais contaminados por bactérias, o mouse está à frente do corrimão de metrô e do teclado de computador. Mas lideram o ranking carrinho de supermercado e celular. Para a entrevista ping-pong, um tema bastante frequente, principalmente neste período de inverno: rinite alérgica. Gabriela Sampaio, médica especialista em pediatria, alergia e imunologia clínica, esclarece dúvidas sobre as causas da rinite alérgica, seus principais sintomas e tratamentos, tipos mais comuns etc. E para quem busca destinos interessantes para uma viagem de férias de inverno, Brasília é uma ótima opção. A Capital Federal, que acaba de completar meio século de vida, se destaca por suas construções modernas e inovadoras.
38 PÁGINA DA ALEGRIA // Hebron Atualidades
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HISTÓRIA DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS // PARTE 7
Otorrinolaringologia: uma rica história
Tratamentos laringológicos, rinológicos e otológicos, além de cirurgias, já eram praticados por médicos gregos, hindus e bizantinos. // Por Vivianne Santos
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uitas vezes, ficamos interessados por novas técnicas cirúrgicas e equipamentos que são lançados nos congressos ou publicados nas revistas internacionais. Mas será que paramos para pensar sobre como chegamos até aqui? Talvez seja bom conhecer um pouco de como foi a Otorrinolaringologia no passado, com descrições anatômicas feitas num tempo em que sequer havia microscópios e predominavam os tratamentos empíricos e muita superstição misturada à medicina. O nariz, a garganta e o ouvido despertam a curiosidade humana desde os primórdios. Tratamentos laringológicos, rinológicos e otológicos, além de cirurgias, já eram praticados por médicos gregos, hindus e bizantinos.
Otologia Em um dos documentos científicos mais antigos conhecidos, os papiros de Ébers, do Egito, há descrições de ferimentos de batalha em ossos temporais e como estes afetavam a audição e a fala. Na farmacopeia egípcia, de aproximadamente 1.500 a.C., há um capítulo intitulado: “Medicamentos para o ouvido com audição fraca”, onde são encontrados tratamentos para zumbidos e tonturas.
6 // Hebron Atualidades
Na Grécia, estudos anatômicos primitivos e teorias eram formuladas por médicos e filósofos na intenção de explicar as doenças e o funcionamento do nosso corpo. Durante o Império Romano, Cornelius Celsus, médico e enciclopedista romano no século I d.C., foi o primeiro a descrever uma tonsilectomia (excisão das amígdalas palatinas), realizando-a com o próprio dedo, além de novos tratamentos para zumbidos, otites, corpos estranhos no conduto auditivo externo e cirurgias. Pouca coisa foi adicionada aos conhecimentos médicos existentes sobre otologia na Idade Média. Somente no século XVI, no período renascentista, que pinturas e esculturas ajudaram nos estudos anatômicos, com figuras como Leonardo da Vinci, Michelangelo, dentre outros. No século XVI, os médicos Berengario de Capri e Ingrassia de Nápoles, na Itália, descreveram o martelo, a bigorna e o estribo. André Versálio, médico holandês, em 1543, descreveu as janelas oval e redonda e também o martelo e a bigorna. Estudos anatômicos do ouvido continuaram no século XVII. No reinado de Luis XIV, Du Verney, médico
HISTÓRIA DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS // PARTE 7 pessoal da família real francesa, lançou o “Traité de lorgane de loutè”, que apresentava desenhos impressionantes das estruturas anatômicas do ouvido interno. No início do século XVIII o médico e cirurgião francês Jean Louis Petit fez a primeira descrição da otite média tuberculosa. Mas o estudo da otologia neste século foi dominado por médicos italianos, principalmente os da escola médica de Bologna.
A referência mais antiga encontrada da prática da laringologia é um desenho encontrado nas tumbas médicas na planície de Saqqara, Egito, de aproximadamente 3.600 anos a.C. A figura parece retratar uma traqueostomia. Na Índia, documentos médicos intitulados “Sushtrata”, do ano 300 a.C., e “Charaka”, do ano 100 a.C., traziam capítulos com tratamentos e medicações para desordens da voz, que sugeriam algum conhecimento anatômico da região da laringe e garganta como origem da voz.
O século XIX foi um período de grandes avanços na otologia. No início do século, o médico francês Breschet, com o trabalho “Recherches anatomiques et physiologiques sur lorgane de louïe”, trouxe ordem na nomenclatura otoanatômica. O médico alemão Dienffenbach, em 1845, fez referência à tentativa de correção de orelha de abano. Evenberg, em 1860, relatou o primeiro caso de surdez súbita secundária à caxumba e, em 1861, o médico francês Prosper Ménière descreveu a tríade clássica da doença que leva seu nome: vertigem periódica, hipoacusia e zumbidos. Os médicos da época atribuíam esta desordem a uma congestão cerebral tratando os pacientes com retiradas de sangue e fortes purgantes.
A primeira menção à laringe foi feita por Aristóteles no livro “Historia Animalium”, do ano 350 a.C. Erasistratos, anatomista e médico grego, no ano 290 a.C., descreveu a função dos músculos da laringe e Galeno, médico em Roma, no século II d.C., no seu tratado “De usu partium corporis humini” já discorria sobre as funções da laringe.
No século XX, ocorreu a fusão da otologia e laringologia, surgindo a especialidade Otorrinolaringologia. Em Viena, foi construído o primeiro aparelho auditivo elétrico, denominado microtelefone, constituído de um amplificador e um microfone de carvão de dimensões muito grandes.
Artistas como Leonardo da Vinci e Michelangelo realizaram dissecções em cadáveres humanos e descrições detalhadas do funcionamento da laringe. A primeira laringotomia, precursora da traqueostomia, parece ter sido realizada pelo médico italiano Musa Brasavola, em 1545. Giovanni Morgani, médico, patologista e anatomista italiano, no trabalho “Adversaria Anatomica Prima” trouxe ilustrações detalhadas da laringe. Ferrein, em 1741, foi o primeiro a publicar o termo “cordas vocais”.
Apesar de todo o desenvolvimento e conhecimento científico nesta área, o processo degenerativo natural da vida humana ainda é corrente. Zumbidos, vertigens e hipoacusia continuam sendo causas importantes de diminuição de qualidade de vida, principalmente em idosos. Isto, associado ao desejo de ajudar crianças que já nascem com problemas auditivos, impulsionou o desenvolvimento das próteses auditivas, implantes cocleares e de tronco cerebral. No Brasil, o primeiro implante coclear foi realizado pelo otorrinolaringologista Pedro Luiz Mangabeira Albernaz, em 1977. Já implantes de tronco cerebral, em que pessoas com lesão no nervo auditivo têm capacidade de recuperar parte da audição, também foram incorporados à otorrinolaringologia pelos médicos William House, nos Estados Unidos, e, no Brasil, por Ricardo Ferreira Bento.
Laringologia Descrições de tratamentos e cirurgias na laringe e faringe datam dos médicos egípcios, hindus e gregos.
Um dos primeiros relatos escritos de tratamentos e cirurgias na laringe foi registrado na Macedônia. Historiadores relatam uma traqueostomia feita pelo próprio Alexandre, o Grande, que salvou a vida de um soldado com um golpe com a ponta de sua espada.
A barreira existente para o desenvolvimento da laringologia era a inabilidade de se examinar diretamente a laringe. O advento da laringologia clínica foi possível graças a uma série de desenvolvimentos favoráveis. Métodos de iluminação e observação com uso de espelhos, o desenvolvimento da anestesia local, a prática de cirurgias assépticas e o aumento do conhecimento de patologia celular tornaram possíveis esta nova prática médica. As especialidades otologia e laringologia existiam separadamente: otologia praticada por cirurgiões e laringologia por clínicos que prescreviam tratamentos para laringites agudas com inalação de vapores de tintura de benjoim e bálsamo de tolu. Os laringologistas, entretanto, realizavam pequenos procedimentos cirúrgicos, como retirada de lesões mínimas na laringe e faringe. Hebron Atualidades
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HISTÓRIA DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS // PARTE 7 A anestesia local com cocaína em cirurgias laríngeas começou a ser utilizada pelo oftalmologista Karl Koller e pelo laringologista Edmund Jelinek, em Viena.
tia”. O autor era Gaspare Tagliacozzi, professor da Universidade de Bolonha.
O desenvolvimento da tecnologia nuclear também levou a avanços na área médica, especialmente com a radioterapia no tratamento de lesões malignas na laringe.
Durante os séculos XVII e XVIII, a principal discussão científica que envolvia a região nasal era sobre a função e propósitos dos seios paranasais. Várias patologias eram atribuídas às estruturas, desde halitose à acne facial.
O desenvolvimento de endoscópios com fibra ótica, em 1954, pelo médico americano John Hopkins, inaugurou uma nova era na endoscopia com fibroscópios flexíveis utilizados para examinar a laringe, nasofaringe, nariz e faringe.
Jourdain, na França, em 1765, tentou curar supurações dos seios maxilares irrigando a estrutura através do óstio natural, presente no meato médio, mas com pouco sucesso. Lamorier, em 1743, já realizava abertura do seio maxilar através da cavidade oral.
Rinologia
Henle, em Berlim, em 1841, em estudos com microscópios, diferenciou vários tipos de epitélio, descrevendo especialmente a função do epitélio ciliado encontrado no trato respiratório e região nasal.
O estudo da região nasal, suas funções olfativas e o conhecimento da presença dos seios paranasais datam das épocas mais remotas, assim como as tentativas de tratamento de suas doenças. Os médicos egípcios foram os precursores das cirurgias nasais. Eles utilizavam instrumentos para a remoção do cérebro através do nariz como parte do processo de mumificação. O primeiro relato na literatura médica mundial de exame nasal data do sexto século antes de Cristo, no documento hindu “Suchruta-samhita”, em que é descrito um espéculo nasal tubular, confeccionado com bambu, além de tonsilectomias e cirurgias para remoção de pólipos nasais. Hipócrates, no século V a.C., já descrevia métodos terapêuticos para lesões nasais. Ele as classificava de contusões simples em partes moles a fraturas complicadas, indicando tratamentos detalhados para cada caso, desde aplicações de bandagens e talas com ramos de oliveiras até reconstruções de ossos e cartilagens nasais. Embora Hipócrates já tenha identificado partes da anatomia nasal, foi somente no século XV que as estruturas nasais foram descritas. As conchas nasais e seios paranasais foram desenhados por Leonardo da Vinci, em 1489. Já as inserções posteriores das conchas médias foram descritas pela primeira vez por Georg Thomas, no trabalho “Anatomiae pars prior”, em 1536. O primeiro livro dedicado inteiramente à descrição das técnicas cirúrgicas para rinoplastia foi publicado em 1597, sob o título “Tratado sobre a Rinoplas-
8 // Hebron Atualidades
HISTÓRIA DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS // PARTE 7 Mikulicz-Radecki, em 1886, em Viena, foi o primeiro a descrever a abertura do seio maxilar através do meato inferior. Caldwell, nos Estados Unidos, em 1893, publicou seu método em que realizava a abertura do seio maxilar através da fossa canina. Mas o conhecimento atual da anatomia destas estruturas se deve em grande parte ao trabalho de Emil Zuckerkandl, da Áustria, que em 1870 descreveu em estudos anatômicos detalhes do nariz e seios paranasais abrindo um novo campo para conhecimento científico e cirúrgico da área. As décadas que antecederam o século XX impulsionaram estudos de anatomia seccional e cirúrgica, com nomes como Grunwald, Onodi e Hajek, e testemunharam o nascimento da especialidade de rinologia, fazendo as bases dos conceitos atuais de diagnóstico e terapia das doenças da cavidade nasal e seios da face. A rinologia também apresentou grande impulso, principalmente nas áreas de diagnóstico e cirurgia, com o surgimento da endoscopia, creditada a Philipp Bozzini em 1806. Czermak, quem citou pela primeira vez o termo “rinoscopia”, popularizou o uso do espéculo nasal e em 1879 o uso do endoscópio na rinoscopia. O século XX iniciou-se, ao contrário das expectativas, com um arrefecimento do interesse em rinologia, fato que em grande parte deveu-se aos antibióticos que reduziram a necessidade de cirurgias nos seios paranasais. Além disto, o desenvolvimento da laringologia e da otologia também gradualmente fizeram diminuir o interesse em rinologia, que ficou restrita à prática de cirurgias para correção de desvios septais, fraturas, remoção de pólipos nasais e lavagem de seio maxilar utilizando-se a fossa canina. Entretanto, alguns médicos mantiveram interesse na área e desenvolveram técnicas cirúrgicas para o acesso e tratamento de lesões no nariz e cavidades paranasais. Em 1901, Hirschmann utilizou um endoscópio modificado para inspeção do seio maxilar. O brasileiro Ermiro Estevam de Lima tornou-se conhecido internacionalmente pelo acesso transmaxilar aos seios etmoidal e esfenoidal, para o qual criou a cureta que leva seu nome. Ele também foi o fundador da Sociedade Brasileira de Rinologia, em 1974. Na metade do século, o microscópio passou a ser utilizado também em cirurgias nasais, o que per-
mitiu um avanço maior nas técnicas cirúrgicas. O aumento do conhecimento sobre imunologia levou aos médicos a diferenciação e entendimento dos processos alérgicos e não-alérgicos. Um maior conhecimento de anatomia, fisiologia e patologia dos seios paranasais, graças, dentre outros, ao professor Walter Messerklinger e seu sucessor, professor H. Stammberger, da Áustria, nos trabalhos sobre a aeração das células etmoidais anteriores, foram uma chave importante para o conhecimento da drenagem e aeração dos seios paranasais, assim como para a anatomia da parede nasal lateral e seu clearance mucociliar. Outro fator que aqueceu o interesse na rinologia foi a desmistificação da rinoplastia, trabalho feito pela Academia Americana de Cirurgia Plástica Facial e Reconstrutiva, fundada em 1964, e pela Academia Europeia de Cirurgia Facial (Joseph Society), fundada em 1977. Isto trouxe para a Otorrinolaringologia um campo de domínio antes exclusivo de cirurgiões plásticos. Cirurgias de base de crânio e neurocirurgias com acesso endonasal, abordagens diferentes de tratamento para tumores e doenças localizadas nesta região, também criaram, assim como na otologia, outro ponto em comum entre otorrinolaringologistas e neurocirurgiões.
Otorrinolaringologia A Otorrinolaringologia possui uma rica biografia, com importantes colaboradores e figuras de renome para a história da medicina. A especialidade foi uma das primeiras a utilizar anestesia local para realização de procedimentos, pioneira em tratamentos com próteses que recuperavam a audição e teve a primazia na utilização de microscópios e endoscópios em cirurgias. Poucas especialidades médicas sofreram tantas mudanças e desenvolvimentos científicos nestas últimas décadas quanto a Otorrinolaringologia, que teve a vantagem de incorporar tecnologias na endoscopia, radiologia, microcirurgia e uso da informática.
// Bibliografia NOGUEIRA JUNIOR, João Flávio et al. Breve história da otorrinolaringologia: otologia, laringologia e rinologia. Rev. Bras. Otorrinolaringologia. [online]. 2007, vol.73, n.5, pp. 693-703.
Hebron Atualidades
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RESPONSABILIDADE SOCIAL // JUNIOR ACHIEVEMENT
A organização Junior Achievement busca despertar o espírito empreendedor nos jovens e proporcionar uma visão clara do mundo dos negócios.
Jovens empreendedores I
niciativa, visão, coragem, firmeza, decisão, respeito ao próximo, capacidade de organização e direção. Estas são as principais características da personalidade empreendedora. Em 1950, o famoso economista tcheco Joseph Schumpeter já utilizava o termo ‘empreendedor’ para denominar as pessoas capazes de inovar e fazer sucesso com determinado produto. Uma qualidade que chama atenção dos empreendedores é o foco voltado para o aprendizado, seja por erros ou acertos. A descoberta pelo saber é dividida em quatro pilares: como ser, como conhecer, como fazer e como conviver. Outra peculiaridade está na tomada das decisões. O empreendedor é capaz de optar pelo caminho certo à frente da concorrência. Há quem pense que o empreendedorismo está restrito às grandes corporações ou às microempresas. Engano. Outrora limitado ao meio empresarial, agora a atividade tornou-se disciplina essencial na maioria das faculdades e escolas brasileiras. Instituições e organizações especializadas mostramse interessadas em ensinar às crianças e aos jovens como sobreviver aos desafios da sociedade capitalista. O primeiro passo é despertar o espírito empreendedor nos alunos, ainda na sala de aula. Com atividades lúdicas e criativas, que envolvem plano de negócios, oportunidades de mercado, propaganda e marketing, os estudantes aprendem conceitos básicos do empreendedorismo, para, se assim desejarem, tornarem-se futuros líderes. A partir da visão de que uma iniciativa empreendedora de sucesso é capaz de modificar fatores sociais, ambientais e econômicos, além de atuar como base para formação de ideias construtivas e valores prósperos, a Junior Achievement, organização sem fins lucrativos de educação prática em empreen-
10 // Hebron Atualidades
// Por Karinna Rodrigues
dedorismo, atua para estimular as lideranças empreendedoras nos jovens. A iniciativa também proporciona aos estudantes uma visão clara do mundo dos negócios, através de ferramentas educativas que são aplicadas em parcerias com escolas e voluntários. “A próxima geração, se bem preparada, poderá atuar como pilar de pensamentos, de sustentação de ideias e de luta pela liberdade e prosperidade. A defesa permanente destes valores será a garantia da perpetuação de sociedades livres e democratas”, explica André Loiferman, presidente do Conselho Diretor Junior Achievement Brasil.
História Ensinar noções de empreendedorismo para jovens dentro de uma perspectiva íntegra e responsável foi uma idealização dos líderes Horace Moses e Theodore Vail, presidentes da Strathmore Paper Company e AT&T, respectivamente. Com esse propósito, há nove décadas surgia nos Estados Unidos a Associação Junior Achievement. “A Junior Achievement é uma entidade educativa sem fins econômicos e está presente em 120 países. É considerada a maior escola de educação econômico-prática para jovens do mundo, preparando, anualmente, mais de 9,3 milhões de jovens”, afirma Rosane Schereschewsky, diretora–executiva da Associação Junior Achievement de Pernambuco (AJAPE).
Brasil Desde 1983, a iniciativa atua no Brasil e já beneficiou mais de 1,3 milhão de jovens. Através de programas educativos e com
RESPONSABILIDADE SOCIAL // JUNIOR ACHIEVEMENT o apoio de mais de 75 mil voluntários corporativos, as escolas públicas e privadas se transformam em berços de futuros empreendedores. “Costumamos dizer que o fato de um jovem ter subsídios para escolher o caminho que quer tomar na sua vida já é um grande resultado. Além disto, a educação empreendedora é uma semente que, com o passar do tempo, vai transformando pessoas que não tinham a menor perspectiva de um futuro melhor, em pessoas capazes de realizar seus sonhos, claro que com muito trabalho e responsabilidade”, descreve Rosane Schereschewsky. Mantidas por pequenas, médias e grandes empresas, as ações da Junior Achievement são resultados de um planejamento bastante elaborado, que busca a satisfação de todos os envolvidos. “Todo o trabalho da Junior Achievement está embasado no trabalho voluntário. Portanto, para que os objetivos sejam atingidos, necessitamos do voluntário, para levar esta iniciativa às salas de aulas”, ressalta Rosane Schereschewsky. Hoje, a Junior Achievement está presente em todos os estados do Brasil e no Distrito Federal.
Programas Os 22 programas da Junior Achievement são aplicados nas escolas e o cronograma de atividades está relacionado ao calendário escolar. De acordo com a diretora-executiva da AJAPE, através do método ‘Aprender-Fazendo’ e com o trabalho de voluntários executivos, a Junior Achievement possibilita que os jovens compreendam alguns conceitos, como: a riqueza se cria; nós fazemos acontecer; a importância de
objetivos claros; a necessidade de assumir riscos; o valor da perseverança; e a honestidade rende dividendos.
Apoio A expansão gradual das ideias e das ações da Junior Achievement não seria viável sem o apoio das grandes empresas. A Hebron® Farmacêutica é uma das corporações que acredita no desenvolvimento do ser humano, através de medidas e projetos socioeducativos. “A Hebron® tem tido um papel fundamental no desenvolvimento da Junior Achievement em Pernambuco. A empresa, além de ter seus colaboradores atuando como voluntários desde 2006, vem contando com a participação efetiva de um de seus diretores na gestão da associação”, revela Rosane Schereschewsky. Com base nos princípios da responsabilidade social, os colaboradores da Hebron® atuam para que os jovens acreditem no seu potencial e busquem aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula na futura carreira. Através dessa parceria, a Junior Achievement amplia anualmente o número de alunos beneficiados, promovendo a construção de uma sociedade igualitária.
// Junior Achievement Brasil Rua D. Pedro II, 861 - 10º andar Bairro São João - Porto Alegre - RS CEP: 90550-142 Telefone: (51) 3025-9900
AACD//
Uma Corrente do Bem Promover conceitos de cidadania entre membros da sociedade é o que busca o Projeto Corrente do Bem/ Teleton. A campanha agrega instituições corporativas, escolas, universidades e organizações não governamentais na arrecadação de recursos que são destinados à manutenção e construção de novas unidades da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). A iniciativa também visa aumentar princípios de solidariedade, ressaltando a importância e o valor de ajudar aqueles que necessitam de cuidados e de oportunidade. Por acreditar na reintegração de pessoas portadoras de deficiência física na sociedade, especialmente crianças e adolescentes, favorecendo sua inclusão social, a AACD trabalha para que o medo da exclusão dê lugar aos sonhos, e as limitações cedam espaço ao talento. A Hebron® Farmacêutica acredita e aposta nessa ideia. Por ser um grupo empresarial que abraça os princípios da responsabilidade social, sete Regionais de Venda se uniram em prol do Projeto Corrente do Bem.
Sadi Mendonça, Gerente Regional Hebron, e Ana Vasconcellos, representante da AACD
Durante os meses de março e abril, mais de 300 colaboradores cooperaram para que as ações da AACD se estruturem cada vez mais nas cidades brasileiras. A associação encaminhou caixinhas depositoras e os colaboradores enviaram suas contribuições. Os recursos arrecadados foram encaminhados à AACD, instituição que beneficia crianças e adolescentes especiais, com serviços de assistência médica, pedagógica e social.
Hebron Atualidades
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QUALIDADE DE VIDA // HIGIENE
Guerra às bactérias
Cuidados simples de higiene podem evitar contaminação por bactérias e vírus em superfícies. A dica é lavar sempre as mãos. // Por Dênia Sales
Se
você é daqueles que, sem exageros, não vê a hora de sair do metrô ou do ônibus para lavar as mãos, ou não se sente à vontade em banheiros públicos, sua saúde agradece. Agora, se não faz o mesmo após usar o teclado do computador, está na hora de olhar o periférico com mais atenção. Segundo pesquisas, ele acumula mais germes e bactérias do que um corrimão de metrô. E não são apenas nas teclas que as bactérias podem resistir por mais de 24 horas. O mouse, o celular, o fone de ouvido, os carrinhos de supermercados e vários utensílios usados no dia a dia podem trazer riscos à saúde. Cuidados simples de higiene, entretanto, podem evitar a contaminação não só por bactérias em superfícies, mas também por vírus.
Itens mais contaminados Numa lista dos itens mais contaminados por bactérias, apontados por pesquisas, o mouse está à frente do corrimão de metrô e do teclado de computador. Mas lideram o ranking carrinho de supermercado e celular. O perigo é que as pessoas costumam espirrar, comer e falar próximo ao objeto e, se estiverem doente, o local se tornará um foco de contaminação. Pesquisas enfatizam que as barras dos carrinhos de supermercado, entre as superfícies públicas, são as mais conta-
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minadas e mais sujas, por exemplo, do que a maioria dos banheiros públicos. Os estudos provaram a presença de mais de um milhão de germes em somente uma barra de um carrinho. Amostras de algodão, usados para a limpeza revelaram grande quantidade de germes, vírus, bactérias e fluidos orgânicos em sua superfície plástica. No caso do mouse, o design e o material de fabricação potencializam a capacidade de proliferar doenças e até de prolongar a expectativa de vida de micro-organismos. O plástico, em contato com a mão, por exemplo, mantém uma temperatura favorável à sobrevivência das bactérias, e os restos de alimento que se escondem entre os botões ajudam em sua alimentação. Assim, vivem entre 24 e 48 horas, tempo considerado longo para seres unicelulares. O problema se agrava em lugares com grande circulação de pessoas, como lan houses. Neste caso, as doenças mais comuns transmitidas são conjuntivite, intoxicação alimentar, infecções de pele e gripe. Quando o ambiente é um banheiro, ficar à vontade em um público é praticamente impossível. Mas, quando a aparência é de um ambiente limpo, muitos até conseguem relaxar. Um erro. Mesmo que sejam sempre limpos, ainda assim os banheiros concentram focos de contaminação por bactérias. A contaminação das torneiras é a que mais cha-
Montagem sobre foto de Jayanta Behera e Rodolfo Clix
QUALIDADE DE VIDA // HIGIENE ma atenção, pois carregam níveis altos de Escherichia coli, conhecida como coliforme fecal, que pode causar infecções gastrointestinais, provocando náuseas, dores abdominais, diarreia e desidratação. Para se ter ideia, na torneira encontra-se mais bactérias do que na válvula de descarga, porque fica o tempo todo molhada. A orientação é utilizar papel toalha para abrir e fechar a torneira. A professora Agnes Marie Sá Figueiredo, diretora do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que os locais fechados e com aglomeração de pessoas (meios de transporte, clubes, boates, shoppings etc.) representam maior perigo em termos de transmissão de micro-organismos. “Mas é importante lembrar que não devemos ter pavor das bactérias. Os micro-organismos representam as primeiras formas de vida e, portanto, a humanidade convive com eles desde seu primórdio. Estima-se que, na terra, a quantidade de seres procarióticos (dentre os quais as bactérias) seja da ordem de 4 X 1030 a 6 X 1030, representando cerca de 106 espécies diferentes”. “Felizmente, a grande maioria dos micro-organismos não é patogênica, e muitos destes seres microscópicos só nos causam doenças quando ocorre diminuição da imunidade ou lesão corporal. Portanto, para evitar doenças infecciosas, o mais eficaz, na maioria das vezes, é cuidar bem de nossa saúde física e mental, pois prevenir é sempre o melhor remédio”, recomenda Agnes.
Doenças Apesar da maioria dos micro-organismos ser inofensiva, uma pequena fração pode causar doenças, inclusive infecções graves, segundo informa a diretora do IMPPG. “Para certas doenças já existem vacinas, e é importante que a população esteja imunizada contra elas, como é o caso da gripe causada pelo vírus H1N1 e também a gripe comum. Porém, contra vários micro-organismos não existem vacinas e, mesmo com todos os cuidados com nossa saúde, podemos desenvolver tais doenças. Neste caso, o mais importante é evitar o contato com tais patógenos”. “A diarreia bacteriana, por exemplo, é uma doença muito comum, principalmente no verão, e devemos ter cuidado redobrado com a água que ingerimos e com nossa alimentação. Comer fora de casa, muitas vezes é prático, agradável ou necessário, mas é importante que os alimentos estejam frescos e conservados de forma adequada, caso contrário, podem ser fontes de microorganismos patogênicos, que vão se multiplicar nesses alimentos, podendo, inclusive, liberar toxinas, levando a quadros graves de diarreia, principalmente, nas crianças e nos idosos”, conta Agnes.
“Felizmente, a grande maioria dos micro-organismos não é patogênica, e muitos desses seres microscópicos só nos causam doenças quando ocorre diminuição da imunidade ou lesão corporal”. Dra. Agnes Marie, Diretora do Instituto de Microbiologia da UFRJ.
As infecções respiratórias, como a Influenza, são, por sua vez, mais comuns no inverno, e transmitidas através de gotículas de secreções respiratórias que são liberadas durante tosse e espirros. Assim, segundo explica Agnes, ambientes fechados e aglomerados são locais onde a transmissão dessas doenças se dá com muita frequência.
Cuidados Estar em contato com superfícies contaminadas não significa adquirir as doenças provenientes das bactérias. Um conjunto de elementos definirá se a infecção será desencadeada ou não. Depende de alguns fatores da interação entre o micro-organismo e o hospedeiro (o homem). Se há uma quebra da barreira protetora da pele ou mucosas, que é a primeira defesa externa, os micro-organismos ainda têm de “lutar” com os mecanismos internos de defesa que constituem o sistema imunológico. Considerando que o maior contágio por bactérias pode ocorrer quando as mãos entram em contato com ambientes contaminados, podemos concluir que elas são grandes portadoras de germes e bactérias, que podem causar uma série de malefícios à saúde. Por isso, hábitos simples, como lavar as mãos, são eficazes na prevenção de contaminação por estes micro-organismos. “É importante que as pessoas infectadas usem lenço de papel ao tossir ou espirrar (de forma a diminuir a dispersão de secreção respiratória no ar) e que mantenham as mãos sempre limpas. Aliás, lavar as mãos adequadamente, com água e sabão, é uma medida muito eficaz no controle de diversas infecções”, finaliza Agnes Figueiredo.
/ / Agnes Marie Sá Figueiredo E-mail: agnes@micro.ufrj.br Agnes Marie Sá Figueiredo é Doutora em Ciências (Microbiologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizou Pós-Doutorado na The Rockefeller University, nos Estados Unidos, e atualmente é Diretora do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde ainda atua como Professora Associada e Coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular de Bactérias.
Hebron Atualidades
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NOTAS //
Pesquisadores de Brasília desenvolvem antibiótico com ouriço do mar Cientistas da Universidade Católica de Brasília (UCB) descobriram no ouriço-do-mar uma substância com a qual pretendem desenvolver um antibiótico para ajudar no combate as infecções hospitalares. Estudos que ainda estão em andamento mostram que uma proteína presente nos animais eliminou com maior eficiência as bactérias Escherichia coli, Salmonella, Proteus e Klebsiella, que causam infecções intestinais, renais e pulmonares. Há 15 anos trabalhando com antibióticos, o pesquisador Octávio Franco do Centro de Ciências Genômicas e Biotecnologia da UCB, coordena dois projetos que buscam o controle dessas doenças por meio de compostos extraídos de animais marinhos. No início dos estudos foram analisadas cerca de 30 espécies de invertebrados, mas foi o ouriço-do-mar que se mostrou mais eficiente. “Foi um sucesso porque descobrimos uma coisa nova num organismo tipicamente nacional e que funciona muito bem; além de ser totalmente natural”, comemora o pesquisador.
HIV dribla medicamentos e se esconde na medula óssea O vírus da Aids consegue se esconder na medula óssea, driblando drogas antirretrovirais e depois despertando de novo para causar a doença, aponta um novo estudo, que pode dar pistas para tratamentos mais eficazes no futuro. Kathleen Collins, da Universidade de Michigan (EUA) e colegas relataram no periódico “Nature Medicine”, que o HIV é capaz de infectar células precursoras na medula óssea. Essas células dão origem às células sanguíneas, alvos preferenciais do parasita. Segundo Collins, o vírus fica dormente nas células da medula óssea, mas, quando essas células progenitoras se convertem em células sanguíneas, ele pode ser reativado e causar uma nova infecção. “Se quisermos um dia encontrar uma maneira de nos livrarmos da doença, o primeiro passo é entender onde uma infecção latente pode continuar”, afirmou a pesquisadora. Nos últimos anos, os antirretrovirais reduziram as mortes por Aids, mas os pacientes precisam tomar essas drogas pelo resto da vida para que a infecção não volte. Isso indica que, enquanto os remédios lutam contra os vírus ativos, alguns deles permanecem escondidos, para ressurgirem na primeira interrupção do tratamento.
EVENTOS // CARDIOLOGIA
OTORRINOLARINGOLOGIA
I Congresso Internacional de Cardiologia, Metabolismo e Trombose (ICMTC) Data: 21 a 23 de outubro de 2010 Local: São Paulo – SP Informações: www.icmtc-congress.com
40º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial Data: 22 a 26 de novembro de 2010 Local: Natal – RN Informações: www.aborlccf.org.br
DERMATOLOGIA
PEDIATRIA
65º Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia Data: 04 a 07 de setembro de 2010 Local: Rio de Janeiro - RJ Informações: www.dermato2010.com.br
10° Simpósio Brasileiro de Vacinas Data: 15 a 17 de julho de 2010 Local: Gramado - RS Informações: www.sbp.com.br
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Convivendo com a rinite // Por Fernanda Araruna Gabriela Sampaio Médica especialista em pediatria, alergia e imunologia clínica.
O
nariz é um importante componente das vias respiratórias. Através dele, o ar penetra no nosso organismo até alcançar os pulmões. Entre suas funções estão limpeza, umidificação e aquecimento do ar inspirado. Para exercer corretamente estas funções, o nariz possui um complexo mecanismo de defesa, o qual, ao entrar em contato com alguma substância tóxica, desencadeia uma resposta que impedirá esta substância de alcançar os pulmões. A obstrução nasal tem o intuito de bloquear a passagem das substâncias, e os espirros e coriza de removê-las. Ao griparmos, por exemplo, apresentamos obstrução nasal, espirros e coriza, pois nosso organismo está tentando impedir que os vírus cheguem até nossos pulmões. Alergia indica uma defesa exagerada contra agentes que não são potencialmente agressivos ao ser humano, mas que o sistema imunológico da pessoa alérgica identifica como tal. No período do inverno, o problema chega a acometer 40% da população mundial, afetando a qualidade de vida destas pessoas. Para tratar o assunto, a revista Hebron Atualidades entrou em contato com Gabriela Sampaio, médica especialista em pediatria, alergia e imunologia clínica. Gabriela explica, entre outros assuntos, quais as causas da rinite alérgica, seus principais sintomas, os tipos comuns e os principais tratamentos. Confira. Hebron Atualidades – O que é a rinite alérgica? Gabriela Sampaio – A rinite alérgica é definida como uma inflamação da mucosa nasal após a exposição a alérgenos (ácaros, fungos, antígenos de animais, entre outros), cujo os sintomas são
reversíveis espontaneamente ou após uso de medicamentos. A alergia alimentar raramente induz sintomas de rinite de modo exclusivo, embora em reações anafiláticas a alimentos, sintomas de rinite podem estar presentes. H.A. – Como ela se desenvolve no organismo? Gabriela Sampaio – A rinite alérgica se desenvolve, principalmente, em pessoas com história pessoal ou familiar de alergia. A doença se manifesta quando o indivíduo se sensibiliza a um antígeno, como o ácaro, e o seu organismo, então, passa a produzir anticorpos da classe IgE contra este antígeno. H.A. – Quais os sintomas da rinite alérgica? Gabriela Sampaio – Os sintomas mais comuns da rinite são: - Prurido nasal e/ou no palato, nos olhos e nos ouvidos. A fricção frequente no nariz com a palma da mão é conhecida como “saudação do alérgico”; - Espirros em salva; - Congestão nasal – pode ser unilateral ou bilateral, costuma ser mais acentuada à noite. A obstrução nasal quando muito acentuada e crônica pode levar a sintomas como sensação de ouvido tapado, dores de cabeça e alterações de olfato; - Rinorreia clara e abundante; Algumas pessoas podem ainda apresentar tosse e sintomas sistêmicos como náuseas e inapetência. H.A. – É um problema genético? Quais as chances de uma pessoa nascer alérgica? Hebron Atualidades
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PING PONG // GABRIELA SAMPAIO Gabriela Sampaio – É uma doença multifatorial. Existe correlação genética, crianças com um dos pais atópicos apresentam 40% de chances de desenvolver alergia e com ambos os pais alérgicos as chances aumentam para 70%. Mas o ambiente também tem fator decisivo no desenvolvimento da doença, ambientes com índices elevados de poluição, exposição à fumaça de cigarro, locais insalubres com presença elevada de fungos ou irritantes químicos têm papel relevante. H.A. – Por que algumas pessoas acabam desenvolvendo, no decorrer da vida, alergias a substâncias que nunca lhe fizeram mal? Gabriela Sampaio – Isto acontece porque a sensibilização, ou seja, o reconhecimento do antígeno pelo sistema imune como um agente agressor pode levar de alguns dias até 20 anos. Então eu posso ter contato com um fungo hoje e o meu sistema imune entender que esse fungo é um agressor e começar a produzir anticorpos (IgE) contra esse fungo daqui a 20 anos. H.A. – Há vários tipos de rinite (medicamentosa, alérgica, vasomotora, “febre do feno”...), poderia explicar os principais? Gabriela Sampaio – As rinites podem ter diversas etiologias. Podem ser de origem infecciosa, causadas por vírus, bactérias e outros agentes; medicamentosas, causadas, principalmente, por uso de vasoconstrictores tópicos, mas também por ácido acetilsalicílico, anti-hipertensivos e antipsicóticos; vasomotora, onde o sintoma principal é a rinorreia, desencadeada por variação de temperatura e podem ser alérgicas, como já descrito. As rinites alérgicas, por sua vez, podem ser crônicas, acontecem em qualquer período do ano e estão relacionadas aos antígenos descritos, como ácaros, baratas, animais e fungos, e podem ser sazonais, que normalmente está relacionada ao pólen e os sintomas são mais frequentes durante a época de polinização – pouco vista no nosso clima, é mais comum no sul do país. H.A. – Como é feito o diagnóstico de rinite? Gostaria que explicasse sobre os famosos testes de pele. Qualquer pessoa pode fazer?
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Gabriela Sampaio – O diagnóstico de rinite é feito baseado na história clínica, exame físico e exames complementares. A história clínica vai avaliar a presença dos sintomas característicos, possíveis fatores desencadeantes, história familiar e o impacto da doença na qualidade de vida da pessoa. No exame físico podemos perceber alterações faciais, como olheiras, duplas linhas de DennieMorgan e prega nasal horizontal (consequência da saudação do alérgico). E devemos, ainda, avaliar, durante a rinoscopia, o aspecto da mucosa nasal, que na rinite em geral é pálida edemaciada e com abundância de secreção clara. Os exames complementares podem ser divididos em diagnóstico etiológico, que incluem os testes cutâneos de hipersensibilidade imediata e determinação de IgE sérica específica, avaliação de cavidade nasal, como a citologia nasal, avaliação por imagem (radiografias e tomografia) e outros exames, como a biópsia nasal. Os testes cutâneos são os exames mais comumente utilizados, têm uma boa sensibilidade e especificidade quando feitos adequadamente, o que inclui a utilização de alérgenos padronizados, e a inclusão de controles positivos e negativos durante o teste. O paciente não pode estar em uso de anti-histamínicos no período da sua realização e um médico deve sempre supervisionar o exame. As pessoas nos extremos da vida (crianças pequenas e idosos) têm uma menor reatividade na pele, o que aumenta a chance de testes falso negativos. H.A. – O ácaro é uma das principais causas da rinite alérgica. Contudo, é difícil evitar numa casa o contato com este agente. Como deve ser a higiene doméstica de pessoas que sofrem de alergias? Gabriela Sampaio – Os ácaros têm como principal fonte de alimento descamações da pele humana, que ocorrem naturalmente ao longo do dia, por esse motivo a sua alta concentração na poeira domiciliar. Para evitar sua presença devemos ter alguns cuidados, principalmente em relação ao dormitório, onde passamos cerca de 1/3 do nosso dia. O quarto de dormir deve ser ventilado e ensolarado, o ideal é que não existam carpetes, cortinas, tapetes, bichos de pelúcia, almofadas, móveis e utensílios que possam acumular poeira nos
PING PONG // GABRIELA SAMPAIO ambientes em que os portadores de rinite vivem. Deve-se evitar o uso e contato com travesseiros e almofadas de penas, dar preferência aos de espuma, fibra ou látex, e sempre que possível utilizar capas impermeáveis aos ácaros, protegendo os colchões e travesseiros. Evitar o uso de vassouras e espanadores de pó, preferir a limpeza com pano úmido ou usar aspiradores de pó com filtros especiais. É importante também combater o mofo nos ambientes e evitar contato com fumaça de cigarro. Os esportes podem e devem ser praticados, dar preferência àqueles praticados ao ar livre e ter atenção à prática de esportes em piscinas tratadas com cloro, que pode agir como um irritante para a mucosa nasal. H.A. – Poderia explicar como funciona o tratamento medicamentoso de quem sofre deste mal? Gabriela Sampaio – Para o tratamento medicamentoso da rinite podemos utilizar os anti-histamínicos, descongestionantes, corticosteróides, cromonas, brometo de ipatrópio e os antileucotrienos. O tratamento medicamentoso deve sempre seguir orientação médica, pois todas as medicações podem apresentar efeitos colaterais. H.A. – Como funcionam as vacinas antialérgicas? Gabriela Sampaio – A imunoterapia específica com alérgenos tem como objetivo reduzir a sensibilização do paciente a um determinado antígeno e com isso levar à redução da inflamação da mucosa nasal, com consequente redução dos sintomas. Para a imunoterapia ser bem sucedida precisamos estar atentos a alguns pontos: sensibilização comprovada a alérgenos (teste cutâneo ou IgE sérica específica); relação entre exposição ao alérgeno e manifestação clínica; e disponibilidade de extrato alergênico padronizado eficaz. A imunoterapia é indicada em pacientes que preenchem os critérios acima e já apresentaram falha na terapêutica convencional (higiene do ambiente, medicamentos) ou pacientes que se recusam a fazer tratamento medicamentoso por longo período ou, ainda, nos que apresentaram efeitos colaterais significativos com a terapêutica medicamentosa, que obrigou a descontinuação desse tratamento.
H.A. – Sabemos que não existe cura para a alergia, mas tem como a pessoa viver sem manifestar os sintomas, com o problema controlado? Gabriela Sampaio – Sim. Com acompanhamento médico regular e uso da terapêutica apropriada à sua condição, o paciente alérgico pode ter uma vida normal e de muita qualidade. H.A. – Por que os animais causam alergia? E quais os principais animais causadores? Gabriela Sampaio – Porque o pelo, saliva e fezes dos animais podem funcionar como antígenos e o organismo pode produzir IgE contra eles. Os mais comuns são gatos e cachorros, pois são os animais que têm contato mais próximo com o homem habitualmente. No entanto, pessoas que trabalham com outros animais, como pesquisadores que trabalham com cobaias em laboratório, veterinários, podem desenvolver alergias a outros animais. H.A. – Poderia explicar como se desenvolvem as alergias a medicamentos e comidas? Gabriela Sampaio – O mecanismo, na maioria das vezes, é semelhante, ocorre uma quebra de tolerância ao alimento e o organismo então passa a reconhecê-lo como estranho, produzindo anticorpos do tipo IgE contra aquele alimento, embora outros mecanismos imunológicos também possam estar envolvidos nas respostas alérgicas a alimentos e medicamentos. Os alimentos mais frequentemente envolvidos nas doenças alérgicas são leite, ovos, castanhas (avelãs, nozes, amendoins...), trigo, soja e frutos do mar. O principal tratamento é evitar contato com o alimento em questão. Quanto às medicações, comumente o que vemos são reações adversas aos anti-inflamatórios não hormonais, como ácido acetilsalicílico, dipirona, diclofenaco e outros. O tratamento também consiste, principalmente, em evitar o uso desse grupo de medicamentos.
// Gabriela Paranhos de Castro Sampaio – CRM BA 13250 Email: gabrielacastro@uol.com.br Médica especialista em pediatria, alergia e imunologia clínica. Mestre em medicina e saúde pela Universidade Federal da Bahia. Médica assistente do Santa Saúde – Santa Casa de Misericórdia da Bahia.
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// CAPA
Um mundo
doente P
éssimas condições sanitárias das cidades, associadas ao desconhecimento da etiologia das doenças infecciosas, foram responsáveis por grandes epidemias que assolaram a humanidade no passado, dizimando comunidades e países inteiros. A peste negra (peste bubônica), na Europa do século XIV, por exemplo, levou muitos a anunciarem o fim do mundo. A gripe espanhola, no início do século XX, chegou a deixar 20
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Apesar dos avanços científicos, as epidemias ainda causam inquietação na humanidade. // Por Fernanda Araruna
milhões de mortos. Até os dias de hoje, mesmo com o avanço da medicina, países ainda enfrentam dificuldades para controlar epidemias, principalmente os mais pobres, a exemplo dos do continente africano. Os milhares de novos casos anuais de malária ou de Aids são exemplos desta dificuldade, assim como a mais recente epidemia: Influenza A (H1N1), popularmente chamada de gripe suína.
// CAPA Principais epidemias do passado Quando se fala em doença que matou, num curto espaço de tempo, mais pessoas, a pior foi a peste negra. Também conhecida como peste bubônica, surgiu em 1348 e, em dois anos, levou à morte um terço da população europeia. Até hoje é possível encontrar a peste bubônica em algumas regiões do mundo, mas, atualmente, ela é facilmente curada com a ajuda de antibióticos. Não poderia deixar de entrar na lista dos grandes males da humanidade a gripe espanhola, que surgiu em 1918. Há polêmicas sobre o número de vítimas que o vírus causou, mas estima-se que deixou uma taxa de mortalidade de cerca de 0,5% em países desenvolvidos e até 6% em países pobres, como a Índia. A gripe sumiu após a população desenvolver anticorpos e o vírus sofreu mutações, passando a causar gripes comuns. Outras importantes epidemias dizimaram os indígenas nas Américas. Quando os europeus chegaram ao Novo Continente trouxeram consigo doenças desconhecidas dos nativos, como a varíola, o sarampo e a gripe, que, entre os séculos XVI e XIX, mataram mais de 80% da população indígena. Acrescenta-se a estas a lepra, que acometeu a população europeia no período medieval; a cólera, que devastou vários centros urbanos asiáticos, europeus e americanos; a malária, que ainda hoje mata mais de um milhão de pessoas no mundo por ano, 90% delas na África; a febre tifóide; a tuberculose; e tantas outras.
Epidemias de hoje Hoje, o mundo sofre os efeitos de várias doenças. No Brasil, Aids, Influenza A e dengue estão entre as principais e recentes epidemias que acometem a população. “Aids, dengue, febre amarela, tuberculose, hipertensão arterial, Diabetes Mellitus e obesidade estão entre as doenças que mais preocupam a saúde pública brasileira. Contamos com bons programas, procedimentos e medicamentos, porém os investimentos precisam ser melhor aplicados, geridos e avaliados”, explica Ângela Maria M. de Lima, médica sanitarista.
É de se imaginar que, com o passar dos anos e a criação de vacinas e medicamentos, o número de doentes diminua, mas nem sempre isso acontece. A dengue é um exemplo de doença que preocupa os brasileiros ano após ano. O número de infectados no Brasil aumentou mais de 70% no primeiro trimestre de 2010, em comparação com o mesmo período de 2009. Mesmo São Paulo, onde por determinação do governo estadual o combate à dengue é ininterrupto, houve mais de 34 mil casos da doença no primeiro trimestre e 15 mortes. Além das novas epidemias – em 2009 surgiu a Influenza A, popularmente chamada de Gripe Suína –, causa preocupação o fato de doenças já conhecidas voltarem ainda mais mortíferas e mais difíceis de curar. Um exemplo, já citado, é a malária. Há meia década, os médicos tinham esperança de erradicar rapidamente a doença, o que não aconteceu, e hoje ela continua deixando milhares de vítimas. Outro exemplo é a tuberculose. Considerada subjugada nos países desenvolvidos, não desapareceu e ainda hoje mata milhões de pessoas.
Falta de higiene Uma considerável parte das epidemias que assolaram e ainda assolam o mundo são ocasionadas pela falta de saneamento básico das cidades, a exemplo da dengue e da cólera. Falta de água encanada, esgoto e coleta de lixo, aumentam o índice de mortos por doenças, um problema que acomete, principalmente, os países pobres. No Brasil, por exemplo, a localização das moradias em áreas irregulares e impróprias, como encostas, várzeas, córregos e mananciais contaminados, vem associado, ainda, às dificuldades de acesso aos serviços de saúde. A cólera, por exemplo, tem como agente causador a bactéria Vibrio cholerae e é transmitida através do consumo de água contaminada por fezes ou por outro doente. Os alimentos e utensílios também podem ser infectados pela água, pelo manuseio ou por moscas. As camadas mais pobres da população são as que mais sofrem com o problema. Se não tratados de maneira adequada, a cólera pode levar à morte em até 50% dos casos. A dengue é outro exemplo de enfermidade que pode ser evitada através de maiores cuidados com Hebron Atualidades
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// CAPA a higiene. Como o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, deposita suas larvas em objetos que armazenam água – levando ao surgimento de novos mosquitos e aumentando a possibilidade de contaminação –, é importante que cada pessoa limpe sua casa, seu quintal, jogue o lixo em local adequado e não possua objetos que acumulem água, como jarros e pneus velhos.
Conhecimento Não se pode concluir, contudo, que a pobreza e a falta de higiene e de boas condições de saúde sejam os principais causadores de epidemias e doenças fatais. Outro fator preocupante é a falta de conhecimento da população. A Aids é um exemplo de doença que se propaga por consequência da falta de informação. No Brasil, programas de conscientização e atividades educativas existentes contrastam com os números de casos da doença. Um levantamento feito pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo reforça a tendência de crescimento da Aids na população de maior escolaridade. Segundo levantamento da secretaria, entre 1997 e 2007, no estado de São Paulo, o total de diagnósticos caiu de 10.496 para 4.797 novos casos. Contudo, a contaminação daqueles que têm mais de 12 anos de estudo aumentou de 3,5% para 4,3%, no caso das mulheres, e de 6,9% para 8%, no caso dos homens. Ângela Maria Machado reforça que, ao contrário do que se pensa, a Aids surgiu na população mais favorecida economicamente. “A princípio, a epidemia se disseminou entre pessoas com boas condições financeiras e de higiene, mas que se encontrava em situações de vulnerabilidade individual (comportamento de risco), social (direitos não atendidos) e programática (serviços despreparados para atendê-las)”.
Epidemia persistente Diversas doenças, mesmo após a criação de vacinas, tratamentos e medidas de prevenção, continuam se proliferando. De acordo com Ângela de Lima, isto ocorre devido aos diversos problemas estruturais de cada país – econômicos, sócio culturais e ambientais. “Sabemos que, até a década
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de 1940, vários projetos patrocinados por instituições internacionais tinham como meta a erradicação das doenças que causam epidemias, tais como malária e febre amarela. Naquela época, acreditava-se que os agentes infecciosos fossem os únicos responsáveis pelas doenças. Imaginavase que os desenvolvimentos científicos e tecnológicos propiciariam os instrumentos necessários à finalidade de conter as doenças. Na impossibilidade do sucesso de tais medidas, sugeriu-se a adoção de metas no controle, em nível razoável, dessas doenças, ao invés da erradicação. No final dos anos 1960 e início da década de 1970, a noção de erradicação é substituída pela “Vigilância Epidemiológica”, que pressupõe o alerta constante e o desencadeamento de ações de controle imediatas, a fim de circunscrever o problema em sua fase inicial. Dos anos 1980 até os dias de hoje, se desenvolveram programas e campanhas específicas, algumas das quais se embasam nos direitos e deveres de todas as pessoas, tendo em vista a necessidade de controlar doenças e epidemias”.
“Aids, dengue, febre amarela, tuberculose, hipertensão arterial, Diabetes Mellitus e obesidade estão entre as doenças que mais preocupam a saúde pública brasileira”. Dra. Ângela Maria Machado, Médica Sanitarista.
Epidemias na África As doenças na África, principalmente nos países da África Subsaariana, causam polêmica por todo o mundo. São, geralmente, ocasionadas pelas péssimas condições de saúde e saneamento dos países, associadas à pobreza e ignorância das pessoas – decorrente de uma política de educação que deixa a desejar –, e a falta de transparência e boa forma de governar. Pode-se acrescentar a estas questões, ainda, a lentidão dos líderes mundiais na ajuda ao combate às epidemias. [Confira a seguir algumas das principais epidemias que já assolaram o mundo]
// CAPA Grandes epidemias Peste negra. A peste bubônica ganhou o nome de peste negra por ser a pior epidemia que atingiu a Europa, no século XIV. Sua contaminação se dá pela bactéria Yersinia pestis, que tem como vetor a pulga do rato. Os sintomas da doença são inflamação dos gânglios linfáticos, seguida de tremedeiras, dores localizadas, apatia, vertigem e febre alta. Foi sendo combatida à medida que se melhorou a higiene e o saneamento das cidades, diminuindo a população de ratos urbanos. Gripe espanhola. Os sintomas todos conhecem: febre, dor de cabeça, dores pelo corpo, mal-estar geral, tosse e coriza, nada que não possa ser curado com comprimido e repouso. Porém, quando ainda não existia o comprimido, isso representava uma sentença de morte, como ocorreu em 1918, com a gripe espanhola. A pandemia devastou populações inteiras, sua contaminação ocorria pelo ar, por meio de gotículas de saliva e espirros. Como o vírus Influenza está em permanente mutação, o homem nunca está totalmente imune. As vacinas antigripais previnem a contaminação com formas já conhecidas do vírus. Cólera. Em 1817 aconteceu a primeira epidemia global da cólera, desde então, de tempos em tempos, surge um novo surto. Sua contaminação ocorre por meio de água ou alimentos contaminados e seu principal sintoma é uma diarreia intensa. Tuberculose. Embora sinais da doença tenham sido encontrados em esqueletos de milhares de anos atrás, o combate da tuberculose foi acelerado só em 1882, depois da identificação do bacilo de Koch. Altamente contagiosa, transmite-se de pessoa para pessoa através das vias respiratórias - ataca principalmente os pulmões. Varíola. A varíola afeta a humanidade de forma significativa há milhares de anos. Sinais da doença foram observados até em múmias, como a de Ramsés V, de 1159 a.C. Sua transmissão se dá pelo contato com pessoas doentes ou objetos que entraram em contato com a saliva ou secreção destes indivíduos. Após penetrar no corpo, o patógeno se espalha pela corrente sanguínea, provocando febre alta, mal-estar, dores no corpo e problemas gástricos, também formando protuberâncias na pele, cheias de pus. Graças à vacinação, a varíola é considerada erradicada pela OMS desde o fim da década de 1970. Febre amarela. Com uma versão urbana e outra silvestre, a febre amarela já causou grandes epidemias na África e nas Américas. A vítima, picada pelo
mosquito transmissor, que antes picou uma pessoa infectada com o vírus, sofre com febre alta, mal-estar, cansaço, calafrios, náuseas, vômitos e diarreia. A vacina pode ser aplicada a partir dos 12 meses de idade e renovada a cada dez anos. Malária. Considerada pela OMS a pior doença tropical e parasitária da atualidade, perdendo em gravidade apenas para a Aids, a malária deixa milhões de mortos por ano. Sua contaminação ocorre pelo sangue, quando a vítima é picada pelo mosquito Anopheles contaminado com o protozoário da malária, o Plasmodium. Este protozoário destrói as células do fígado e os glóbulos vermelhos e, em alguns casos, as artérias que levam o sangue até o cérebro. Não existe uma vacina eficiente, apenas drogas para curar os sintomas. Dengue. A dengue é considerada um dos principais problemas de saúde pública no mundo. A OMS estima que entre 50 a 100 milhões de pessoas sejam infectadas anualmente. Causada por um vírus da família Flaviridae, é transmitida através do mosquito Aedes aegypti, também infectado. Há suspeita de dengue em casos de doença febril aguda com duração de até sete dias acompanhada de pelo menos dois dos seguintes sintomas: dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores musculares, dores nas juntas, prostração e vermelhidão no corpo. Aids. Desde que foi identificada, nos Estados Unidos, em 1981, a Aids foi considerada pela OMS uma epidemia. A contaminação pelo vírus HIV se dá através do sangue, do esperma, da secreção vaginal e do leite materno. A doença destrói o sistema imunológico, deixando o organismo frágil a males causados por outros vírus, bactérias, parasitas e células cancerígenas. Como não possui cura, os soropositivos são tratados com coquetéis de drogas que inibem a multiplicação do vírus. Influenza A. É uma doença respiratória aguda causada pelo vírus Influenza A (H1N1). Popularmente conhecida como gripe suína, não é contraída pela ingestão de carne de porco, mas por via aérea, de pessoa para pessoa. O vírus foi detectado pela primeira vez em abril de 2009, no México, e já fez mais de 16 mil vítimas fatais. Seus sintomas são similares aos da gripe comum, porém, mais agudos – febre repentina acima de 38 graus, tosse, dor de cabeça, dor nos músculos e nas articulações e dificuldade na respiração.
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// CAPA Entre as principais epidemias que acometem os africanos estão a Doença do Sono, malária e Aids. A Doença do Sono, de nome científico Tripanossomíase africana, é causada por dois tipos de parasitas, ambos transportados pela mosca tsé-tsé, encontrada nas zonas rurais da África. Sintomas comuns da doença são: febre, dor de cabeça forte, irritabilidade, fadiga extrema, nódulos linfáticos inchados e dores nos músculos e articulações. Algumas pessoas desenvolvem rachaduras na pele. Confusão progressiva, alterações na personalidade e outros problemas neurológicos ocorrem depois que a infecção invade o sistema nervoso central. Se não for tratado, o mal levará a morte dentro de alguns meses. A malária causa 90% das mortes neste continente e, embora possa ser prevenida e curável, continua levando à morte devido ao limitado acesso aos cuidados sanitários. Com a Aids os números também são chocantes. Um terço das pessoas portadoras do vírus HIV de todo o mundo são habitantes do continente africano. “Para os países atingidos por epidemias, sejam estes no continente africano ou qualquer parte do planeta, é preciso cuidar da saúde das pessoas em todos os níveis de atenção, vale dizer, por prevenção primária (vacinas, campanhas), secundária (tratamento e controle dos doentes e sadios) e terciária (reabilitação para os que tiverem sequelas)”, afirma a sanitarista.
Relatório da OMS Relatório divulgado no dia 10 de maio, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), revela que a desnutrição e a malária são as principais causas de mortes de bebês no mundo. Para realizar a pesquisa, foram analisados 193 países. O relatório informa que houve redução no número de mortes entre crianças menores de 5 anos: de 12,5 milhões, em 1990, para 8,8 milhões, em 2008. O trabalho destaca as ações de 38 governos de países que estimulam programas para a redução de contaminações pelo mosquito que transmite a malária. Apenas em 2008, a doença matou 863 mil crianças com menos de 5 anos no mundo. Houve também queda no número de casos
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Relatório da OMS revela que a desnutrição e a malária são as principais causas de mortes de bebês no mundo. O relatório informa, ainda, que houve redução no número de mortes entre crianças menores de 5 anos: de 12,5 milhões, em 1990, para 8,8 milhões, em 2008. de tuberculose de 1,7 milhão, em 2001, para 1,4 milhão, em 2008. De acordo com o documento, aumentou o percentual da população mundial com acesso a água potável: de 77%, na década de 1990, para 87%, em 2010, o que leva à diminuição das doenças relacionadas ao saneamento. Outro dado animador foi relativo às contaminações pelo vírus HIV. Houve redução de 16% nos casos de contaminação, no período de 2001 a 2008. Uma análise deste último relatório, divulgado pela OMS, nos leva a concluir que apesar dos números serem animadores – com a redução de mortes entre crianças, diminuição dos casos de tuberculose, malária e Aids e aumento do número de pessoas com acesso a água potável –, ainda há um longo caminho a percorrer. Afinal, apesar de sabidas as causas e o tratamento da maioria das doenças hoje existentes, elas continuam fazendo milhares de vítimas fatais. Falta dos governos maior empenho em cumprir as medidas de saneamento estabelecidas, dispor de melhores condições de saúde, além de oferecer à população, através de boas políticas de educação, o conhecimento necessário para a prevenção das doenças. “No Brasil, contamos com bons programas, procedimentos e medicamentos, porém os investimentos precisam ser melhores aplicados, geridos e avaliados”, conclui Ângela. / / Ângela Maria Machado de Lima - CRM/SP 40.043 E-mail: sertao@usp.br Graduada em Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco (1980), possui residência médica no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1981-1983), mestrado em Medicina (Medicina Preventiva) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1996) e doutorado em Ciências (Medicina Preventiva) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (2003). Médica sanitarista, Professora Doutora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP). Tem experiência assistencial, gerencial e investigações na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Gerontologia.
Takeshi Gondo
BOA VIAGEM // BRASÍLIA
50 anos depois...
Com muita festa, em 21 de abril de 2010, Brasília comemorou 50 anos de existência // Por Fernanda Araruna
S
ão 11 horas e 30 minutos do dia 21 de abril de 1960. As galerias estão lotadas. O ar-condicionado e a iluminação são insuficientes. Mas quem está no Plenário não se incomoda. Sabe que será testemunha de um fato histórico: o momento em que o Poder Legislativo brasileiro deixa o Palácio Monroe, no Rio de Janeiro, para ocupar o Palácio do Congresso Nacional, em Brasília. O Presidente Juscelino Kubitschek toma seu lugar ao lado direito de João Goulart, onde é saudado e aplaudido de pé pela maioria dos que estão no local. E, então, para uma multidão eufórica e deslumbrada, Jango fala: “É com emoção que declaro instalados os trabalhos do Congresso Nacional em Brasília, a nova Capital da República”. Lendo o relato acima, tudo parece simples e prático, mas a história, em todos os seus detalhes, é bem longa. Remonta a 1826, quando o Senado foi criado. Por alguns anos, senadores defenderam a necessidade de o Poder Legislativo ter uma sede à altura de sua importância. Mas foi só a partir de 1955, com a campanha que elegeu o governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, presidente da República, que o então candidato se comprometeu a cumprir a constituição e transferir a Capital do Brasil para o Planalto Central.
A construção Em setembro de 1956, o Congresso aprovou por unanimidade a Lei n° 2.874, e foi lançado o edital do “Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil”. A proposta do urbanista Lúcio Marçal Ferreira Ribeiro Lima Costa, que desenhou Brasília com o formato de um avião, foi escolhida. Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho, então diretor do departamento de urbanismo e arquitetura da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (NOVACAP), foi escolhido por Juscelino para projetar os principais prédios de Brasília. Foi a partir do traço de Niemeyer que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal passaram a funcionar juntos. No mês seguinte ao lançamento do edital do Plano Piloto, foram iniciadas as obras da residência oficial provisória do presidente, o atual Catetinho, concluída em apenas nove dias. Em dezembro de 1957, Oscar Niemeyer apresentou ao Presidente Juscelino a maquete da Praça dos Três Poderes. As realizações mais notáveis de Niemeyer em Brasília vão de 1957 à sua inauguração, em 1960. Em meio à poeira vermelha do serrado, foi erguido, da prancheta do arquiteto, o Congresso, o Palácio do Planalto, o Supremo e a
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BOA VIAGEM // BRASÍLIA Catedral, dentre outros, projetos que se tornaram ícones da arquitetura mundial. Mas nem tudo na história da construção de Brasília é motivo para comemoração. A Capital Federal foi construída através do sacrifício, e até mesmo da vida, de vários operários. Além de não contarem com as mínimas condições de segurança, os peões não possuíam o conhecimento necessário para o manuseio das máquinas e equipamentos. E não se opunham a extrapolar sua jornada de trabalho em troca de um maior salário no final do mês. Os dados são controversos, afinal não havia interesse dos políticos ou das construtoras de os revelarem, mas o fato é que com ou sem mortos e acidentados, em pouco mais de 40 meses a nova Capital brasileira foi construída no meio do nada.
A inauguração Três dias antes da inauguração de Brasília, o movimento na cidade era intenso. Operários corriam contra o tempo para concluir as obras, com cronograma atrasado, outros providenciavam a limpeza do que já estava pronto. Devido aos canteiros de obras espalhados, o chão da cidade era coberto por um tapete de barro vermelho. Cerca de 900 jornalistas do Brasil e do exterior tentavam conseguir autorização para conhecer as dependências do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional. A futura Capital Federal estava um verdadeiro “furdunço”. O primeiro dia da nova capital da República começou na véspera. Faltando cinco minutos para a meia-noite, o cardeal português dom Manuel Gonçalves Cerejeira, representante do papa João XXIII, deu início, na Praça dos Três Poderes, aos olhos de 30 mil pessoas, à celebração de uma missa solene. Sobre o altar, foi erguida a mesma cruz de ferro que, 460 anos antes, abençoara a primeira missa em terra brasileira e repicou o mesmo sino que, anos antes, em 1792, teria anunciado em Vila Rica a execução de Tiradentes, em outro 21 de abril. Neste momento, as luzes da praça, até então apagadas, se acenderam teatralmente. O dia 21 de abril foi de festa em Brasília. Após a primeira missa, Juscelino Kubitschek voltou à Praça dos Três Poderes, às 8h da manhã, para ouvir o toque de alvorada pela banda do Batalhão de Guardas, onde lhe coube hastear a bandeira brasileira. Neste dia, ainda recebeu 55 embaixadores estrangeiros no Palácio do Planalto e participou da instalação simultânea dos três poderes da República, cada qual na sua casa. Correndo de lá pra cá, foram poucos os eventos a que o presidente não compareceu. Esteve na cerimônia de instalação da Arquidiocese de Brasília, quando tomou posse o primeiro arcebispo da cidade, dom José Newton de Almeida Baptista; na inauguração do Monumento Comemorativo da instalação do governo federal em Brasília; na parada militar; e no desfile em homenagem aos 60 mil candangos que construíram a cidade. “Neste dia, 21 de abril, consagrado ao alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, ao 138º ano da Independência
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e 71º da República, declaro, sob a proteção de Deus, inaugurada a cidade de Brasília, capital dos Estados Unidos do Brasil”, disse JK em um dos seus discursos. No dia da inauguração de Brasília, apenas o bloco referente ao Plenário havia sido entregue. E ainda assim, com obras em execução e falta de equipamentos. A mudança do Senado para sua nova sede se deu em 10 dias, com grande sacrifício dos senadores e servidores, que receberam suas novas casas e gabinetes sem o mobiliário e os equipamentos necessários, com as obras inacabadas etc. A demora na conclusão das obras impossibilitou a transferência, para a nova Capital, de equipamentos, serviços e servidores, que continuaram no Rio de Janeiro. A Biblioteca, por exemplo, teve o seu acervo instalado nas novas dependências com quatro meses de atraso.
“Sobrevoando o Planalto é que se tinha uma visão de conjunto dos trabalhos que ali estavam sendo realizados. Caminhões iam e vinham, levando ou trazendo material de construção. Tratores, às dezenas, revolviam a terra, abrindo clareiras no cerrado. Estacas eram fincadas, para ereção dos andaimes que emprestavam à paisagem o aspecto de um gigantesco canteiro de obras. (...) Era um mundo que despertava no cerrado, ressoante de sons metálicos e estuante de energia humana”. (Juscelino Kubitschek)
Brasília modernista Brasília, desde sua construção, buscou romper com o passado, abraçando o moderno. Este espírito inspirou seus criadores a construírem uma cidade inovadora, para além da sua arquitetura e urbanismo. Ao justificar seu apoio ao Plano Piloto modernista de Lúcio Costa para a cidade, JK argumentou em seu livro de memórias, Por que Construí Brasília, que “(Brasília) teria de ser, forçosamente, uma metrópole com características diferentes, que ignorasse a realidade contemporânea e se voltasse, com todos os seus elementos constitutivos, para o futuro”. Contudo, este espírito inovador hoje tem se apagado sob camadas de preservação legal.
A vida no Plano Piloto A cidade que nasceu sem habitantes, 50 anos depois, preserva suas ruas sem multidões. Em duas ocasiões Brasília se viu tomada de gente (nada comparado à multidão que lota o Maracanã em dias de clássico ou a Sapucaí em dias de carnaval), na morte de Juscelino Kubitschek, em agosto de 1976, e na chegada do papa João Paulo II, em 1980, quan-
BOA VIAGEM // BRASÍLIA do milhares de brasileiros se juntaram num mesmo ponto do Plano Piloto. Brasília não tem ‘povo’, estes estão no Plano Piloto durante o dia, mas ao cair da noite voltam às suas casas nas chamadas cidades satélites. Embora estas cidades, ao redor de Brasília, cresçam e se desenvolvam como as do resto do país, com as mesmas carências, problemas e ruas comuns, a Capital Federal continua com a mesma cara que tinha ao nascer. Para os brasileiros do resto do país, caminhar por Brasília chega a causar estranheza. As ruas não são batizadas com nomes, os locais são identificados como quadras, superquadras, eixos... O silêncio chega a ser ensurdecedor, faltam praças (a dos Três Poderes, já basta) e as casas não possuem a numeração convencional. Estas são apenas algumas diferenças encontradas na Capital do país. A filha do urbanista Lúcio Costa conta que as marcas de nascença de Brasília foram concebidas “para impedir que a nova capital, mesmo em seus primórdios, tivesse qualquer conotação de cidade do interior”.
feito pela famosa rampa. No primeiro andar estão as salas nobres de audiências e salões de banquetes; no segundo fica o gabinete do Presidente da República; e no terceiro, os gabinetes Civil e Militar. • Palácio da Alvorada. Localizado às margens do Lago Paranoá, é a residência oficial do Presidente da República. Suas colunas são o símbolo da cidade, utilizado em seu brasão. • Lago Paranoá. Formado pelas águas represadas do rio Paranoá, foi criado com a construção da cidade. Possui 48 quilômetros quadrados de extensão e profundidade máxima de 38 metros, com algumas praias artificiais, como a “Prainha” e o “Piscinão do Lago Norte”. • Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida. Projetada por Niemayer e inaugurada em maio de 1970, possui 40 m de altura com 16 arcos de concreto armado circundados por um espelho d’água. Apresenta um grande acervo de obras dos mais diversos artistas, como a “Anunciação a Maria”, de Athos Bulcão, a “Via-Sacra”, de Di Cavalcanti, e “Os Anjos”, de Alfredo Cheschiatti.
Mario Fontenelle / Arquivo Público do Distr. Federal
• Memorial JK. Local onde se encontra o corpo do expresidente Juscelino Kubitschek, seus pertences, assim como fotos e documentos sobre a construção da cidade e sua vida pessoal. Tem como destaque o pedestal de 28 m com a estátua do fundador de Brasília, de autoria de Horácio Peçanha. • Panteão da Pátria. Construído em memória do ex-presidente Tancredo Neves e aos heróis da Pátria, sua forma sugere uma pomba. O monumento abriga um mural de Athos Bulcão, um painel de João Câmara e um vitral de Marianne Peretti.
Oscar Niemeyer, Israel Pinheiro, Lucio Costa mostram a Juscelino Kubitschek o projeto de arquitetura da Praça dos Três Poderes.
Pontos turíscos Entre palácios, esculturas, jardins e lagos, a capital do poder possui vários encantos. Alguns dos principais são: • Praça dos Três Poderes. A praça é um amplo espaço aberto entre os três edifícios monumentais que representam os três poderes da República: o Palácio do Planalto (Executivo), o Supremo Tribunal Federal (Judiciário) e o Congresso Nacional (Legislativo). • Congresso Nacional. Localizado na Praça dos Três Poderes, é composto por duas casas: o Senado e a Câmara dos Deputados. Os blocos em forma de H têm 28 andares e abrigam as atividades do Poder Legislativo. Nas cúpulas se localizam os plenários, a convexa da Câmara dos Deputados e a côncava do Senado Federal. • Palácio do Planalto. Abriga a sede do Poder Executivo, local de trabalho do Presidente da República. Seu acesso é
• Ponte Juscelino Kubitschek. Inaugurada em dezembro de 2002, a obra da Ponte JK impressiona pela funcionalidade e pela arquitetura monumental. Liga a porção final Lago Sul, Paranoá e São Sebastião à parte central do Plano Piloto.
50 anos depois... A festa de comemoração dos 50 anos da Capital Federal reuniu, no dia 21 de abril, de acordo com estimativas da Polícia Militar, cerca de 200 mil pessoas, na Esplanada dos Ministérios. Na ocasião, mais de 5 mil atletas participaram da 4ª Maratona Brasília de Revezamento, a arena de vôlei de praia ficou repleta, o show de paraquedistas do Exército encantou os brasilienses, sem falar do desfile com personagens infantis, esquadrilha da fumaça, e show musicais. Em festa ou não, comemorando aniversário, natal, carnaval, ou qualquer outra data, o fato é que Brasília representa a administração do Brasil, ela transpira política. Por mais bonita e moderna que seja, daqui a 100, 200 ou mil anos, sempre haverá os que a admira e os que a olha de cara feia. A desaprovação de alguns foi o preço que Juscelino pagou quando resolveu construir a nova capital do Brasil e que qualquer um que decidir ousar pagará. Não tem como mudar, impossível agradar a todos.
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TRABALHO CIENTÍFICO //
Resultados terapêuticos com o uso do Saccharomyces cerevisiae FR 1972, em pacientes portadores de infecções bacterianas do trato intestinal Clécio F. de Santana1, Lauro J. P. Lins2, Jayme J. Asfora3, O. Gonçalves de Lima4 & Ângelo P. Pereira5
Resumo Os autores apresentam os primeiros resultados clínicos com Saccharomyces cerevisiae FR 1972 em pacientes portadores de diarreias agudas e crônicas. Foram tratados 59 pacientes acometidos de diarreias produzidas por diferentes bactérias patogênicas isoladas em coprocultura. As idades dos pacientes variaram de 1 a 70 anos. O volume da suspensão de Saccharomyces cerevisiae FR 1972 administrado foi de 5ml, duas vezes ao dia, via oral, na concentração de 108 células por ml. Em 90% dos pacientes, a regressão total dos sintomas foi verificada nas primeiras 24 horas de tratamento. Nos 10% restantes, o tratamento prolongou-se por 48 a 72 horas, nos casos de diarreias agudas, e de 7 a 10 dias nas diarreias crônicas:
Introdução Atualmente, vem-se observando uma tendência para o uso de agentes biológicos na conduta terapêutica das diarreias bacterianas agudas ou crônicas, devido aos efeitos secundários verificados com o emprego de quimioterápicos e antibióticos. Além de se lançar mão de micro-organismos, tais como o Lactobacillus acidophilus1,2 e o Bacillus cereus, ultimamente vem-se usando, com bons resultados, o Saccharomyces boulardii em casos de diarreias agudas e crônicas3. Pesquisadores do Departamento de Antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco, continuando estudos com micro-organismos que atuam em germes patógenos do trato intestinal e vaginal4,5,6,7, resolveram empregar o Saccharomyces cerevisiae FR 1972, o qual apresenta características morfológicas e bioquímicas semelhantes às do Saccharomyces boulardii, em pacientes portadores de enterocolites difusas agudas e crônicas de origem bacteriana.
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Após realização de testes toxicológicos pré-clínicos em animais de laboratório, não se observando nenhum efeito tóxico do Saccharomyces cerevisiae FR 1972, quando administrado por via oral, passou-se a utilizá-lo nos experimentos clínicos.
Material e Métodos O Saccharomyces cerevisiae FR 1972 foi fornecido pelo Departamento de Antibióticos da UFPE em flaconetes com 5ml de suspensão, contendo 108 células por ml, conservados em temperatura ambiente. Foram realizados estudos com pacientes tratados tanto em ambulatório como internados no Hospital Santo Amaro, da Santa Casa de Misericórdia do Recife. Todos os doentes eram portadores de diarreia infecciosa aguda ou crônica, tendo sido comprovado, através de coprocultura, os seguintes agentes etiológicos: Escherichia coli 0111:B4 e 0119:B14; Citrobacter freundii; Proteus mirabilis; Providence sp.; Shigella dysenteriae; Salmonella sp.; Streptococcus faecalis; Staphylococcus aureus. As idades dos pacientes situaram-se entre 1 e 70 anos. A duração do tratamento variou de 1 a 3 dias nos casos de diarreias agudas, e de 7 a 10 dias nos casos de diarreias crônicas. O uso da suspensão do Saccharomyces cerevisiae FR 1972, fez regredir a frequência das evacuações, cólicas intestinais e flatulências.
Resultados e Conclusões Foram estudados 59 pacientes portadores de diarreias agudas e crônicas de etiologia bacteriana, bem como pacientes com distúrbios intestinais devido ao uso prolongado de antibióticos de largo espectro (ver tabela). Os resultados terapêuticos começaram a surgir cerca de 04 horas após a administração da
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primeira dose do Saccharomyces cerevisiae FR 1972, regredindo a frequência das evacuações, cólicas e flatulência. Em 90% dos casos, todos os sinais e sintomas regrediram completamente nas primeiras 24 horas, observando-se normalização do volume e consistência das fezes, bem como desaparecimento das cólicas intestinais; em 5% dos casos, o tratamento prolongou-se por mais 48 a 72 horas e nos 5% restantes não se verificou resposta satisfatória. Os pacientes foram observados até trinta dias após o tratamento, não se evidenciando nenhuma anormalidade no funcionamento do aparelho digestivo. Em cerca de 25% dos casos foi realizada uma segunda coprocultura, a qual revelou apenas germes constantes da flora bacteriana intestinal normal. Tendo em vista os excelentes resultados observados com o uso da suspensão do Saccharomyces cerevisiae FR 1972, o qual, ao contrário dos antibióticos e quimioterápicos, não revelou nenhum efeito secundário, pode constituir-se numa medicação de escolha para o tratamento das enterocolites bacterianas agudas e crônicas. 1 - Médico, pesquisador na área de Oncologia e Imunologia. Professor assistente estrangeiro da Faculdade de Medicina de Paris - França. Mestrado em Cancerologia e Imunoterapia pelo Institute de Cancerologie el Immunotherapie de Villejuif - França. Professor do Departamento de
Antibióticos da UFPE. Pesquisador de Antibióticos da UFPE. 2 - Professor do Instituto de Antibióticos da UFPE. 3 - Professor de Hematologia e Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFPE Instituto de Antibióticos. 4 - Doutor em Química, diretor do Instituto de Antibióticos da UFPE. 5 - Bioquímico do Instituto de Antibiótico da UFPE.
// Bibliografia 1- EHRLICH, R. - Treatment of enteric Saccharomyces infections with Lactobacillus acidophilus. American Journal of Proctol. 14:53-56, 1963. 2- VELAZQUEZ, B L. - Antisepsia por métodos biológicos: Terapêutica com seus Fundamentos de Farmacologia Experimental. Tomo I, 6a Ed.. Editorial Científico-Médica. P. 464-466, 1953. 3- FERNANDES, A G.; RESENDE, G L; FERREIRA, S T; ADDOR, M C. - Levantamento de uma avaliação terapêutica multicêntrica com um levedo Saccharomyces no tratamento da diarreia aguda. F. Med, (Br), 87 (1): 31, 1968. 4- GOMES, A P. Observações sobre a utilização de Zymomonas mobilis (Lindner) Kluyver & Van Nieal, 1936. (Termobacterium mobile, Lindner, 1928; Pseudomonas lindneri Kluyver & Hoppenbrouwers, 1931), na terapêutica humana. Rev. Inst. Antibiót. 2(1/2):77-81, dez. 1959. 5- GONÇALVES DE LIMA, O; SCHUMACHER, I E; ARAÚJO J M. New observations about the antagonistic effects of Zymomonas mobilis var. recifensis - Ecological aspects of some problems in microbiology. Rev. Inst. Antibiót. 12(1/2):57-69, dez. 1972. 6- WANICK, M C; ARAÚJO, J M; SILVA E C; SCHUMACHER, I E. - Cura de vaginites de etiologia variada pelo emprego de cultura de Zymomonas mobilis (Lindner) (1928) Kluyer & Van Niel. Rev. Inst. Antibiót. 10(1/2):47-50, dez. 1970. 7- SOUZA, C; SOUZA, L A G - Colpitis and vulvovaginitis treatment using Zymomonas mobilis var. recifensis. Rev. Inst. Antibiót. 13(1/2):85-87, dez. 1973.
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MATÉRIA // CÉLULAS-TRONCO
Nova esperança de cura As células-tronco do cordão umbilical são utilizadas no tratamento de várias doenças, sendo bastante usadas no transplante de medula óssea. // Por Karinna Rodrigues
Há
alguns anos, a temática ‘células-tronco’ (CT) veio à tona devido às repercussões das primeiras experiências científicas. Dividindo a opinião de céticos e especialistas, o assunto ainda é alvo de dúvidas, mas em um ponto a comunidade médica não há o que questionar: as célulastronco trouxeram esperanças para tratar doenças degenerativas, câncer, problemas cardíacos e cerebrais, além de lesões na coluna. Estas células, com grande capacidade de se autorreplicar, são versáteis e transformam-se em outras unidades celulares de respectivos órgãos e tecidos. São micro-organismos especiais e alguns cientistas os classificam como ‘coringas’. O motivo é que, a partir da evolução da medicina, as pesquisas mostraram que as CTs podem dar origem a novos órgãos sadios, sem submeter o paciente a realização de um transplante ou mesmo correr o risco de rejeição por parte do organismo. Entre os mais variados estudos com CTs e suas funcionalidades, cientistas identificaram que o sangue do cordão umbilical é rico em células-tronco hematopoéticas e a introdução dessas em indivíduos com leucemia e doenças derivadas do sangue, aumenta a chance da restauração funcional da
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medula óssea, ou mesmo a cura. A técnica traz esperança para mais de 9 mil brasileiros dependentes de transplante de medula óssea, onde muitos buscam ajuda na família ou recorrem aos bancos de sangue internacionais. As célulastronco umbilicais podem acabar com a dificuldade de se encontrar um doador 100% compatível. “As células tronco adultas dão origem a todos os tecidos do organismo. As CTs adultas, como as da medula óssea, somente originam alguns tecidos relacionados, como sangue, ossos, cartilagens e gordura. As células do cordão umbilical são adultas, mas seu uso para este fim ainda está em fase de demonstração experimental. Este termo ‘coringa’ vem da facilidade de obtenção das células do cordão umbilical e da medula óssea em relação a outros órgãos”, esclarece Luis Fernando Bouzas, diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto Nacional de Câncer (INCA).
Sangue do cordão umbilical O cordão umbilical é o canal que liga o organismo da mãe ao do bebê. É durante a gravidez que o oxigênio e outros nutrientes passam do sangue materno para o feto, através desta estrutura. Formado por duas artérias, substâncias ge-
MATÉRIA // CÉLULAS-TRONCO latinosas e uma veia, o material biológico reforça a proteção do bebê com uma série de anticorpos. Após o nascimento, a estrutura é cortada e desprendida do útero e da placenta. Em 1988, quando os cientistas identificaram uma extensa quantidade de CTs no sangue do cordão umbilical, o material, que antes era descartado, passou a ter grande valor, tanto para os pacientes que necessitam de um transplante, quanto para os doadores. As células-tronco do cordão umbilical são fundamentais para o tratamento de doenças congênitas e outras 70 indicações. “Já é um consenso que as células-tronco do sangue de cordão umbilical são uma esperança de cura para várias doenças hematológicas e deficiências do sistema imunológico”, define Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e do Instituto Nacional de Células-tronco em Doenças Genéticas da Universidade de São Paulo (USP).
“As células-tronco adultas somente originam alguns tecidos relacionados, como sangue e ossos. As células do cordão umbilical são adultas, mas seu uso ainda está em fase de demonstração experimental”. Dr. Luis Fernando Bouzas, Diretor do INCA.
Células-tronco (CT) Encontradas em todo o corpo, a produção das células-tronco no ser humano tem início na fase embrionária. Nesta etapa, o organismo está se desenvolvendo e as CTs originando outras células. Após o nascimento, algumas células-tronco podem ser encontradas na estrutura interna dos órgãos, sendo sua principal função restaurar e manter a regeneração desta parte do corpo. As células-tronco adultas se reproduzem gerando duas células com características iguais ou duplicam-se dando origem a diversas unidades celulares presentes nos tecidos e órgãos. “Hoje, os pacientes já são beneficiados com o tratamento à base de células-tronco - seja de sangue periférico, de medula óssea ou de sangue do cordão -, o que prova que esta verdadeira revolução do conhecimento científico já está se traduzindo em prática médica. Este fato, juntamente com as estatísticas e perspectivas da medicina, frente aos avanços no tratamento de determinadas doenças, justificam a importância que se tem dado à terapia celular como uma das principais fontes de pesquisas médicas nos últimos anos. É difícil encontrarmos uma especialidade médica que não esteja realizando pesquisas e acreditando na terapia celular como uma fonte de recursos terapêuticos em sua área de atuação, seja no presente ou no futuro”, explica Elíseo Sekiya, médico hematologista e consultor científico.
Tipos de células-tronco Existem cinco tipos de CTs: totipotentes - aquelas que podem originar todas as células embrionárias; pluripotentes - organismos responsáveis pela produção de todos os tipos celulares do embrião; multipotentes – tem a capacidade de produzir células de vários tipos; oligopotentes – originam células de uma única linhagem; e unipotentes – geram um único tipo celular maduro.
Células-tronco umbilicais As CTs do cordão umbilical são classificadas como multipotentes. Por serem organismos mais jovens que as da medula óssea e por não terem sofrido qualquer tipo de exposição a bactérias e vírus, são menos mutáveis, apresentam uma maior eficácia no tratamento das doenças e as chances de rejeição são mínimas. “As células-tronco do cordão umbilical são menos imunorreativas que as células da medula óssea, diminuindo consideravelmente a ocorrência de rejeição. Esta característica possibilita sua utilização em um universo maior de pacientes, além de contribuir para o melhor êxito dos transplantes. Ao contrário das células da medula óssea, as células do cordão umbilical têm a vantagem adicional de não terem sido submetidas às agressões ambientais, físicas, químicas ou biológicas que o ser humano sofre ao longo da vida, preservando seu potencial terapêutico intacto”, ressalta o consultor científico. No decorrer do desenvolvimento da criança, caso surjam problemas, as células-tronco do cordão umbilical sempre estarão disponíveis, sem que haja a necessidade de buscar um doador compatível. As CTs também apresentam uma probabilidade de 25% de compatibilidade entre irmãos de mesmos pais. Outro benefício é que as chances de provocar algum efeito colateral são nulas. “As células do cordão umbilical são o novo caminho que vem sendo percorrido pela medicina moderna regenerativa, uma vez que, ao se dividirem, podem se transformar em qualquer um dos tipos de células que compõem o corpo humano. Isso faz com que as CTs do cordão umbilical sejam uma grande promessa de cura para vários tipos de doenças, como leucemia linfóide aguda, leucemia mielóide aguda, leucemia mielóide crônica, neuroblastoma, leucemia mielóide crônica juvenil, sindromes de falência da medula óssea e diversos tipos de anemias, como a aplastica, a de Fanconi, a falciforme e a Talassemia”, afirma Elíseo Sekiya.
Primeiras pesquisas Desde a década de 1960, a maioria dos cientistas trabalhava com duas formas de CTs: as do embrião e as adultas. A princípio, as experiências eram feitas nos pacientes com leucemia e que necessitavam de transplante de medula óssea. Os primeiros estudos com CTs do cordão umbilical começaram a ser divulgados em 1974. Os cientistas avaliaram a capacidade de multiplicar as células-tronco presentes no cordão umbilical. A partir dos testes, os experimentos apontaram que as células do sangue eram diferenciadas em múltiplas origens hematopoéticas.
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MATÉRIA // CÉLULAS-TRONCO Relatos históricos apontam que, por volta de 1988, a especialista francesa Eliane Gluckman, médica pioneira na luta contra leucemia, realizou o primeiro transplante de célulastronco hematopoéticas em um paciente com anemia de Fanconi. Pela falta de um doador compatível, a médica injetou micro-organismos coletados do que restava da placenta e do cordão umbilical para tentar interromper a doença. Além de obter resultados satisfatórios, ela observou que o uso de CTs do cordão umbilical apresentou efeito melhor que as célulastronco da medula.
“Já é um consenso que as células-tronco do sangue de cordão umbilical são uma esperança de cura para várias doenças hematológicas e deficiências do sistema imunológico”. Dra. Mayana Zatz, Geneticista.
Leucemia e células-tronco do cordão umbilical A leucemia é uma doença de causa desconhecida e ataca os leucócitos ou células brancas. Este tipo de câncer ocorre quando a medula óssea, local de formação das células sanguíneas, produz grande quantidade de glóbulos brancos e diminui a fabricação de plaquetas e células vermelhas (hemácias ou eritrócitos). A ampla produção de leucócitos gera a imaturidade destas células e elas não conseguem desempenhar suas funções. Quando o paciente apresenta leucemia é preciso procurar um doador compatível para realizar transplante de célulastronco adultas da medula óssea. Geralmente, a primeira busca é feita na família e, caso haja compatibilidade, inicia-se os procedimentos para doação da medula óssea. Quando não há compatibilidade, a solução é procurar um banco específico e verificar outras células já depositadas. “Diante da necessidade de um transplante, as células-tronco do cordão umbilical estão prontamente disponíveis para o uso, pois se encontram criopreservadas (congeladas) e armazenadas em tanques específicos. Este fato confere maior rapidez aos tratamentos para os quais o transplante é indicado”, ressalta o médico hematologista.
do Câncer (Inca), há uma demanda reprimida de aproximadamente 1,5 mil pacientes com indicação de transplante de medula que não encontram doador compatível”. Estima-se que no Brasil mais de 10 mil pessoas apresentarão problemas de anemia ou algum tipo de câncer sanguíneo, somente este ano. Mas as chances de curas aumentam com o transplante de células-tronco umbilicais. Por serem mais potentes e carregarem código genético do doador, as CTs apresentam os micro-organismos essenciais para o tratamento de um adulto. Além de facilitar a busca por um doador fora da família, o transplante pode ser feito com apenas 70% de compatibilidade entre os envolvidos (doador e receptor). Luis Fernando Bouzas avalia que é muito importante para a comunidade científica brasileira vencer a barreira da celularidade e atender aos adultos que necessitam de um transplante. “Possibilita oferecer o procedimento para mais pacientes e com uma recuperação mais rápida e segura, visto que a dose de células infundidas é fundamental e com o duplo cordão se adequa as necessidades de cada paciente”.
Uso autólogo ou alogênico A utilização das células-tronco do cordão umbilical pode ser autóloga, no próprio paciente, ou alogênica, disponibilizada para outros pacientes (parente ou não-parente). Elíseo Sekiya explica que a vantagem da utilização autóloga é que não precisa de teste de compatibilidade, pois as células são do próprio paciente. “Já nos casos de transplante, além de verificar a compatibilidade, deve-se considerar as chances de rejeição, mesmo que mínimas, ou o enxerto pode reagir contra o paciente”. “Não há indicação de transplante com o Sangue do Cordão Umbilical Placentário (SCUP) autólogo, pois as células já teriam a doença desenvolvida pela criança que armazenou o seu próprio cordão. O uso preconizado e que possui suporte científico é o alogênico não aparentado (bancos públicos) ou aparentado quando direcionado. Neste último caso, o SCUP é congelado para um irmão compatível que já sofria de uma doença no momento da gravidez materna de outro irmão”, opina Luis Fernando Bouzas.
Estudos
Segundo Elíseo Sekiya, nos países desenvolvidos o índice de transplantes de medula óssea por milhão de habitantes é, aproximadamente, quatro vezes maior do que os realizados no Brasil. O número é reflexo dos altos custos dos procedimentos e da baixa disponibilidade de doadores compatíveis.
Pesquisas científicas acerca das funcionalidades das célulastronco do cordão umbilical são realizadas desde a década de 1990. Recentemente, os cientistas do Centro de Pesquisa em Câncer Fred Hutchinson, da cidade de Seattle, nos Estados Unidos, utilizaram uma proteína exclusiva para aumentar o número de células-tronco existentes no cordão umbilical. Eles conseguiram multiplicar em 150 vezes a quantidade desses micro-organismos, e, assim, suprir as necessidades dos pacientes. De acordo com os especialistas, o procedimento leva uma maior utilização do sangue do cordão e proporciona um transplante mais rápido.
“A consequência disso para o paciente é um tempo de espera em torno de um ano, infelizmente, um período longo demais para alguns. No Brasil, segundo o Instituto Nacional
Apesar de o experimento ter sido feito em laboratório, a tecnologia, classificada como ‘notch’, vem sendo trabalhada em outros centros de pesquisa. Além de ampliar a produção de
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MATÉRIA // CÉLULAS-TRONCO células do cordão, os cientistas buscaram assegurar a capacidade de auto-renovação das CTs umbilicais. Elíseo Sekiya também afirmou que o pesquisador Thomas A. Lane, da Universidade da Califórnia, San Diego, ressaltou em seu artigo publicado na Revista Transfusio, em 2005, que as CTs do cordão umbilical são mais eficazes nos tratamentos do que os micro-organismos adultos da medula. “O autor verificou que inúmeros estudos demonstram a vantagem das células-tronco do sangue do cordão, que mesmo não sendo totalmente compatível com o receptor, apresentam resultados idênticos ao transplante de medula óssea totalmente compatível. Outra vantagem destacada é que a célula-tronco do cordão já está coletada e disponível, pronta para uso, ao contrário da medula óssea”.
“Hoje, os pacientes já são beneficiados com o tratamento à base de células-tronco, o que prova que esta verdadeira revolução do conhecimento científico já está se traduzindo em prática médica”. Dr. Elíseo Sekiya, Hematologista.
Coleta Após o nascimento, e se for do consentimento dos pais, o cordão umbilical é cortado e pinçado. O sangue contido na placenta e no material biológico é drenado - cerca de 100 ml - e transferido para um banco específico. “O sangue do cordão umbilical é coletado em sistema fechado, protegido de contaminação, sendo retirado por meio de punção da veia umbilical. O sangue flui, por gravidade, para uma bolsa estéril com anticoagulante”, explica Elíseo Sekiya. Em laboratórios específicos eliminam-se o plasma e as células vermelhas. O que sobra, cerca de 25 mililitros de células-tronco umbilicais, é coletado. Depois, o sangue é transferido para tanques que contêm nitrogênio líquido e congelado numa temperatura de -190ºC. “A criopreservação tem como objetivo preservar as células-tronco vivas de forma que possam, quando reconstituídas, manterem seu alto grau de viabilidade e integração sem induzir toxidades ao organismo. Nesta oportunidade, são também coletadas amostras de sangue da mãe para testes de doenças passiveis de transmissão por via placentária”, confirma o médico hematologista.
Doação Assim que o bebê nasce, as CTs do cordão umbilical podem ser armazenadas de três formas distintas. A primeira maneira de doar é através da ação voluntária e com consentimento dos pais. Nesta forma, as células ficam disponíveis para serem utilizadas por qualquer pessoa que necessite de transplante.
O segundo tipo de doação também é voluntário, porém mais restrito às ocorrências em que há um parente que apresenta doença e necessita de transplante. Nesses dois primeiros casos, os depósitos são feitos em bancos públicos e não há custo para a família. A terceira maneira é depositar o sangue do cordão umbilical em bancos privados, para uso exclusivo dos parentes ou da própria criança. Os custos para a conservação e armazenamento do sangue do cordão umbilical são de responsabilidade, exclusivamente, da família.
Bancos de sangue umbilical A formação de bancos públicos e privados para preservar o sangue do cordão umbilical não é tendência apenas dos países desenvolvidos, trata-se de uma ação mundial que busca aliar tecnologia, pesquisa e excelência na coleta, para erradicar a espera de um doador compatível por aqueles que precisam de transplante. Em 2004, o Ministério da Saúde lançou a BrasilCord, uma rede pública de bancos de armazenamento do sangue placentário e do cordão umbilical. É gerenciada pelo INCA e a finalidade é atender os pacientes que precisam de células-tronco para realizar transplantes de medula óssea e ampliar a rede de doadores compatíveis. Há, também, os bancos privados espalhados por todo País. As unidades são supervisionadas pelo Ministério da Saúde e obedecem aos mesmos critérios que os bancos públicos, para coleta e armazenamento das células.
Esperança Doar ou estocar o sangue do cordão umbilical não é ter a certeza de curar todas as doenças degenerativas. Porém, com o avanço das pesquisas e estudos clínicos, o ato de preservar as células-tronco de um material biológico tão precioso, reacendeu as chances de tratar com mais recursos os males da sociedade moderna, além de embasar o pensamento construtivo em prol da humanidade. / / Luis Fernando Bouzas - CRM/RJ 52.33778-9 E-mail: ingrid.trigueiro@inca.gov.br É diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea (INCA), coordenador do Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (REDOME) e do Registro Brasileiro de Receptores de Medula Óssea (REREME) do INCA-Ministério da Saúde. Coordenador da Rede BrasilCord – INCA-Ministério da Saúde. É tesoureiro da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO), nos anos de 2009 a 2011. É vice-presidente da Seção Regional da América Central e do Sul da International Society for Cellular Therapy-ISCT, 2009-2011. / / Mayana Zatz E-mail: mayanazats.ciencia@gmail.com É professora titular de Genética Humana, Coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e do Instituto Nacional de Células-tronco em Doenças Genéticas da USP. É membro da Academia Brasileira de Ciências, Academia de Ciências dos Países em Desenvolvimento (TWAS) e Presidente-fundadora da Associação Brasileira de Distrofia Muscular (ABDIM). / / Elíseo Josi Sekiya – CRM/SP 73.773 E-mail: mirela@bravacomunicacao.com É médico especialista em Hematologia e Hemoterapia pela Sociedade Brasileira de Hemoterapia e Hematologia (SBHH). É mestre em Epidemiologia aplicada à Hemoterapia pela Universidade de São Paulo (USP). Doutorando em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). É membro da International Society of Blood Transfusion (ISBT). Membro da American Association of Blood Banks (AABB). Membro da International Society of Cell Therapy (ISCT). Diretor Científico do Hemocentro São Lucas e presidente da Comissão de Qualidade do Hemocentro São Lucas (SP) e é consultor científico da CordCell.
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Alagoas
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1 - Dra. Cristina Canuto N. Barros (CRM AL002958), pediatra, em Maceió – AL. 2 - Dra. Maria de Fátima Almeida (CRM AL000580), pediatra, em Maceió – AL. 3 - Dra. Mirânia Vital Silva (CRM AL003226), pediatra, em Maceió – AL. 4 - Dra. Tânia Gonçalves Mota (CRM AL001585), clinica medica e fisiatra, em Jatiuca-AL.
Bahia
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5 - Dr. Helder Costa (CRM AL003560), pediatra, em Maceió – AL.
1 - Dra. Aneilma Rego Nascimento (CRM 14129-BA), ginecologista, no Instituto de Medicina Especializada, em Livramento de Nossa Senhora – BA.
6 - Dr. Telmo Henrique B. Lima (CRM AL002363), ginecologista e obstetra, em Maceió – AL.
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2 - 02 – Dra. Gilka Romeiro (CRM 17653-BA), ginecologista, na cidade de Ibotirama - BA.
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3 - Dra. Irene Maria Teixeira (CRM 13666-BA), clínico geral, na Clínica Santa Rita, em Livramento de Nossa Senhora – BA. 4 - Dra. Jociete Vargas Carvalho de Moura (CRM 14800-BA), pediatra, na Clínica São Camilo, em Luis Eduardo Magalhães – BA. 5 - Dra. Lenilia H.Azevedo (CRM 12553-BA), ginecologista, na Clínica São Silvestre, em Luis Eduardo Magalhães – BA.
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6 - Dra. Uiarlei Rodrigues (CRM 19094-BA), clínica geral, no Hospital Municipal de Livramento de Nossa Senhora – BA. 7 - Dr. João Bento de Moura Neto (CRM 21263), ginecologista, na Clínica São Silvestre, em Luis Eduardo Magalhães – BA. 8 - Dr. Luciano Augusto Severo (CRM 16244-BA), ginecologista, na Clínica São Silvestre, em Luis Eduardo Magalhães – BA. 9 - Dr. Marilton T. Matias (CRM 12778-BA), clínico geral, no Hospital Municipal de Livramento de N. Sra – BA.
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10 - Dr. Milton B. Azevedo (CRM 6789-BA), ginecologista, no Hospital Municipal de Livramento de N. Sra – BA. 11 – Dr. Nilton Quinteiro Bastos (CRM 12775), clínico geral, na Clínica São Lázaro, em Iboritama - BA. 12 - Dr. Paulo Humberto N. Mendonça (CRM 19102-BA), clínico geral, no Hospital Regional de Paramirim - BA.
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ACONTECE // 13 - Dr. Ulisses Celestino da Silva (CRM 2378-BA), clínico geral, na Clínica Santa Rita, em Livramento de Nossa Senhora – BA.
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14 - Dr. João Amorim Filho (CRM 20863-BA), clínico geral, no Hospital Municipal de Livramento de N. Sra. – BA. 15 - Dr. João Ricardo N. Esteves (CRM 21261-BA), mastologista, na Clínica São Camilo, em Luis Eduardo Magalhães – BA. 16 - Dr. Júlio Bittencourt (CRM 8697-BA), clínico geral, no Hospital Regional de Paramirim – BA. 17 - Dr. Valdemir Teixeira Pessoa (CRM 7065-BA), clínico geral, no Hospital Municipal de Livramento de Nossa Senhora - BA. 18 - Dr. Alfredo Machado Matias (CRM 5746-BA), clínico geral, no Hospital Municipal de Livramento de Nossa Senhora - BA. 19 - Dr. Antônio Rodrigues Silva (CRM 12681-BA), clínico geral, em Macaúbas - BA. 20 - Dr. Cléber Winkler de Moura (CRM 14801-BA), clínico geral, na clínica São Camilo, em Luis Eduardo Magalhães - BA.
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21 - Dr. Cleomenes Cardoso (CRM 21657-BA), clínico geral, no Hospital Municipal de Macaúbas - BA. 22 - Dr. Cristiano Juliani (CRM 15219-BA), ginecologista, em Luis Eduardo Magalhães - BA. 23 - Dr. Jairo Silva (CRM 19154), clínico geral, em Luis Eduardo Magalhães - BA.
Mato Grosso
1
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1 - Dr. Agnaldo Cesário (CRM MT 2912), clínico geral, no centro médico PRÓ SAÚDE +, em Lucas do Rio Verde – MT. 2 - Dra. Cynthia Furtado (CRM MT3072C), clínica geral, no hospital e maternidade N. Sra. de Fátima, em Sorriso – MT. 3 - Dr. Jorge Yanai (CRM MT001589), ginecologista e obstetra, no Hospital Dois Pinheiros, em Sinop – MT. 4 - Dr. Maurício Colnago Gonçalves (CRM MT 4179), ginecologista e obstetra, na Sinop Clínica, em Sinop – MT.
Pará
1
2
1 - Dra. Carmen Lara Guimarães Couto (CRM PA5761), ginecologista e obstetra, no Hospital Santo Agostinho, em Altamira – PA. 2 - Dra. Walkiria Arraes Canedo (CRM PA5972), ginecologista e obstetra, no Hospital Santo Agostinho, em Altamira – PA.
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ACONTECE // 3
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9
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3 - Dr. Jason Batista do Couto (CRM PA4921), ginecologista e obstetra, no Hospital Santo. Agostinho, em Altamira – PA. 4 - Dr. Eunir de Oliveira (CRM PA2407), ginecologista e obstetra, na Clínica Vida Sã, em Altamira – PA. 5 - Dra. Taciana Dona dos Anjos (CRM PA9070), pediatra, na Clínica Vida Sã, em Altamira – PA. 6 - Dra. Maria Laire F. Lins (CRM PA4691), ginecologista e obstetra, em Altamira – PA. 7 - Dr. Licurgo Nunes Bastos Jr. (CRM 4893), mastologista, em Belém – PA. 8 - Dra. Nara Macêdo Botelho Brito (CRM 4103), ginecologista, na UNIGASTRO, em Belém – PA. 9 - Dr. João Batista Guimarães Rodrigues (CRM 811), clínico geral, na CLINISA, em Belém – PA. 10 - Dra. Maria de Nazaré de Moraes Lima (CRM 528), ginecologista e obstetra, em Belém – PA.
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11 - Dra. Ítala Pantoja Oliveira Alves (CRM 3941), otorrinolaringologista, na IMED, em Belém – PA. 12 - Dr. Luiz Alves Arraes (CRM 3474), ginecologista, na CLINISA, em Belém – PA. 13 - Dr. Francisco Xavier Igarashi (CRM 1722), clínico geral, no Hospital Amazônia, em Belém – PA. 14 - Dr. Paulo Akira Onuma (CRM 1418), otorrinolaringologista, no Hospital Amazônia, em Belém – PA.
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15 - Dr. Kézia Magalhães Ikuta (CRM 0874), PEDIATRA, no Hospital Amazônia, em Belém – PA.
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16 - Dr. José Getúlio Lima (CRM 1386), ginecologista e obstetra, no Hospital Amazônia, em Belém – PA.
17 - Dr. Ito Sumio (CRM 2854), ginecologista e obstetra, no Hospital Amazônia, em Belém – PA. 18 - Dr. José Adilson F. de Castro (CRM 0670), pediatra, na CLINISA, em Belém – PA.
Rio de Janeiro
1
1 - Dra. Fernanda F. de Almeida (CRM RJ 075876), ginecologista e obstetra, no Rio de Janeiro – RJ. 2 - Dr. Flávio Caetano (CRM RJ 071889), ginecologista e obstetra, no Rio de Janeiro – RJ. 3 - Dr. Elson Caneschi (CRM RJ031160), cardiologista, no Rio de Janeiro – RJ. 4 - Dra. Gedália Soares S. Marques (CRM RJ055213), ginecologista e obstetra, no Rio de Janeiro – RJ.
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ACONTECE // 5 - Dra. Denise Gonçalves Durão (CRM RJ 048920), ginecologista e obstetra, no Rio de Janeiro – RJ.
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6 - Dra. Gisele Rodrigues de Abreu (CRM 52-83607-9), clínica geral, e Dra. Louise Therese Chacar Lima (CRM 52-81593-4), clínica geral, em Campos dos Goytacazes –RJ. 7 - Dr. Carlos Arthur Mendes Gameiro (CRM 52-60957-6), ginecologista e obstetra, na Clinica SARA, em Niterói – RJ. 8 - Dra. Helena Maria de Souza e Silva (CRM 52-46488-7), pediatra, em Campos dos Goytacazes –RJ. 9 - Dra. Marlene Rodrigues (CRM 52-30410-0), pediatra, na Clínica CLIPE, em Niterói – RJ. 10 - Dr. Peterson Gonçalves Teixeira (CRM 52-71839-4), clínico geral, em Campos dos Goytacazes – RJ. 11 - Dra. Almira Robalinho S. Rocha (CRM002354), ginecologista e obstetra, em Niterói – RJ. 12 - Dra. Esther Mattos dos Reis (CRM 002331), ginecologista e obstetra, em Niterói – RJ.
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13 - Dra. Luciana Matos Vasconcelos (CRM 52 54698-0), clínica geral, em São Gonçalo – RJ. 14 - Dra. Renata Abeya Martins (CRM 52 68223-3), ginecologista e obstetra, na Clínica CONLAB, em São Gonçalo – RJ. 15 - Dra. Zelina M. R. Caldeira (CRM 029162), pediatra, em Niterói – RJ. 16 - Dra. Fatima Assis de Almeida (CRM 52-42972-1), pediatra, em Campos dos Goytacazes – RJ.
São Paulo
1
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1 - Dra. Regina Fátima Marcelo (CRM SP61410), pediatra, em Pradópolis-SP. 2 - Dra. Patricia Pedro Constanzo (CRM 85826), pediatra, em Bauru – SP. 3 - Dra. Renata Tristão Rodrigues (CRM SP079442), pneumologista, e Dra. Rogéria Tristão Rodrigues (CRM SP079443), pediatra, em Ituverava – SP. 4 - Dr. Mozart Marques de Oliveira (CRM42710), clínico geral, em Jaú – SP.
4
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5 - Dr. Guilherme A. Cestari (CRM14266), otorrinolaringologista, em Jaú – SP. 6 - Dr. Afonso do Carmo Javaroni (CRM 43095), otorrinolaringologista, em Jaú –SP. 7 - Dr. Carlos Humberto Miguel (CRM 16157), cardiologista, em Lençóis Paulista – SP.
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8 - Dr. Giovani Donato Collani (CRM SP076759), pediatra, em Franca – SP. 9 - Dra. Denise Barcelos Alves (CRM SP066399), pediatra, em Franca – SP. 10 - Dr. Luiz Fernando Barcelos (CRM SP05790), ginecologista e obstetra, em Franca – SP. 11 - Dra. Marcia Beani (CRM SP063432), pediatra, em Franca – SP. 12 - Dr. Carlos Algusto Mantovani (CRM SP05674), ginecologista e obstetra, em Franca – SP. 13 - Dra. Moralina Foroni Casas (CRM SP 02372), ginecologista e obstetra, em Franca – SP. 14 - Dr. Alcides Antonio Maciel (CRM SP022606), ginecologista e obstetra, em Ituverava – SP. 15 - Dr. Antonio Sergio C. Telles (CRM SP032786), pediatra, em Ituverava – SP.
16 - Dr. Clovis Celulare (CRM 28099), pediatra, em Bauru – SP.
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19 17 - Dra. Ana Paula Abdalla F. Martins (CRM SP079350), pediatra, em Ituverava – SP. 18 - Dra. Alexandra Ap. Thomazine Arantes (CRM. SP124264), pediatra, em Ribeirão Preto – SP. 19 - Dr. Antônio Marcos B. de Oliveira (CRM SP011703), ginecologista e nutrologista, em Ribeirão Preto – SP.
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20 - Dr. João Carlos Bavaresco Cristovão (CRM SP063788), obstetra, ginecologista, diagnóstico por imagem e radiologista, em Ribeirão Preto – SP.
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21 - Dr. Antônio Augusto Bergamin (CRM SP079791), clínico geral, na clínica Cemed, em Ribeirão Preto – SP. 22 - Dr. Cidmiro Lima (CRM SP024079), pediatra, em Ribeirão Preto – SP. 23 - Dra. Eliane de Fátima Freitas (CRM SP055728), ginecologista e obstetra, e Dr Carlos Roberto Missali (CRM SP048848), ginecologista, obstetra e histeroscopia / laparoscopia, em Ribeirão Preto – SP.
24 - Dr. Flávio Furquim Paiva (CRM SP061226), pediatra, em Ribeirão Preto – SP.
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25 - Dra. Lucia Bampar F Brisotti (CRM SP080725), pediatra e homeopata, em Ribeirão Preto – SP. 26 - Dr. Marcelo Roberto Hagen (CRM SP083672), ginecologista e obstetra, em Ribeirão Preto – SP. 27 - Dr. Nathan Valle Soubihe Junior (CRM SP008091), clínico geral e cardiologista, no Ambulatório do Hospital São Lucas, em Ribeirão Preto – SP.
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28 - Dr. Pedro Sérgio Magnani (CRM SP046483), ginecologista e obstetra, em Ribeirão Preto – SP. 29 - Dr. Plínio Aidar Paiva (CRM SP011667), pediatra, em Ribeirão Preto – SP. 30 - Dr. Valentin Brisotti Junior (CRM SP070252), pediatra, em Ribeirão Preto – SP. 31 - Dra. Maria de Lourdes Hashimoto (CRM SP061814), ginecologista e obstetra, em Ribeirão Preto – SP. 32 - Dra. Amira Ubaid de Almeida (CRM SP078714), pediatra e acupuntura infantil, em Ribeirão Preto – SP. 33 - Dra. Débora Simone Sales (CRM SP078306), pediatra e homeopata, em Ribeirão Preto – SP. 34 - Dra. Maria Cecília B. Feitosa (CRM SP019404), ginecologista, em Ribeirão Preto – SP. 35 - Dra. Maria Estela Brunelli (CRM SP047667), pediatra, na clínica Cemed, em Ribeirão Preto – SP.
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36 - Dra. Heliodora Rocha A. Silva (CRM SP049600), ginecologista, homeopata e mastologista, em Ribeirão Preto – SP. 37 - Dra. Regina Celi (CRM SP005555), pediatra, em Votuporanga – SP. 38 - Dra. Alva C. M. dos Reis Kitayama, (CRM SP065043), pediatra, em Jales – SP. 39 - Dr. Néri Silva Júnior, (CRM SP057232), pediatra, em Jales – SP.
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40 - Dr. Mauro Hatsuo Suetugo, (CRM SP039949), pediatra, em Jales – SP.
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41 - Dra. Edna Maria Nunes (CRM SP063360), ginecologista e obstetra, em Fernandópolis – SP. 42 - Dr. André Luis Reis Stefani (CRM SP100797), ginecologista e obstetra, em Fernandópolis – SP. 43 - Dra Girlene Ramos da Silva (CRM SP065942), ginecologista e obstetra, em Fernandópolis – SP.
44 - Dra. Ana Luiza Siqueira Campos (CRM SP063540), ginecologista e obstetra, em São José do Rio Preto – SP.
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45 - Dra. Valeria Casselli (CRM SP047828), ginecologista e obstetra, em São José do Rio Preto– SP. 46 - Dra. Eliana Lopes da Silva Polotto (CRM SP041980), ginecologista e obstetra, em São José do Rio Preto– SP. 47 - Dra. Teresinha Tanaka I Gonçalves (CRM SP054721), ginecologista e obstetra, em São José do Rio Preto– SP.
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Editores // Deborah Echeverria e Wedja Henrique Pires Diretora Responsável // Vivianne Santos Editora Executiva // Fernanda Araruna Redação // Dênia Sales e Karinna Rodrigues Projeto Gráfico e Diagramação// Meios Comunicação Editor de Arte // Fellipe Câmara Revisão Técnica // Márcio Gueiros Fotografia // Stock Exchange Arquivos Fotográficos // Odisseu, Hebron Impressão // Brascolor
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