Revista Feneis 25

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palavra do presidente

FENEIS ! Diretor-Presidente Antonio Mario Sousa Duarte

Diretor PrimeiroVice- Presidente Marcelo Silva Lemos Diretor SegundoVice-Presidente Antonio Carlos Cardoso Diretora Administrativa Flaviane Reis do Carmo Diretor Financeiro e de Planejamento Max Augusto Cardoso Heeren Diretora de Polfticas Educacionais Marianne Rossi Stumpf DIRETORIAS REGIONAIS

Rio de Janeiro - RJ Diretor Regional: Walcenir Souza Lima Porto Alegre - RS Diretor Regional: Wilson Miranda Diretora Regional Administrativa: Vania Elizabeth Chiella Diretora Regional Financeira: Denise Kras Medeiros

Tedfilo Otoni - MG Diretor Regional: Luciano de Sousa Gomes Diretora Regional Administrativa: Sueli Ferreira da Silva Diretora Regional Financeira: Rosenilda Oliveira Santos

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Recife PE Diretor Regional: Marcelo Batista Diretor Regional Administrative: Benevando Magalhaes Faria Diretor Regional Financeiro: Cesar Augusto da Silva Machado Brasflia - DF Diretor Regional: Cdsar Nunes Nogueira Diretor Regional Financeiro: Antonio Palhares Torres Ribeiro Belo Horizonte - MG Diretora Regional: Rosilene Fatima Costa Rodrigues Novaes Diretor Regional Financeiro: Antonio Campos de Abreu Sao Paulo - SP Diretor Regional: Neivaldo Augusto Zovico Diretor Regional Financeiro: Richard Van Den Bylaardt

Curitiba - PR Diretora Regional: Karin Lilian Strobel Diretora Regional Administrativa: Iraci Elzinha Bampi Suzin Diretora Regional Financeira: Marcia Eliza de Pol Manaus - AM

Diretor Regional: Marlon Jorge Silva de Azevedo Diretora Regional Financeira: Waldeth Pinto Matos

Fortaleza - CE

Diretor Regional: Wilier Cysne Prado e Vasconcelos Diretora Regional Administrativa: Andrea Michiles Lemos Diretor Regional Financeiro: Joelisson Josd Maciel Ribeiro

Florian6polis - SC Diretor Regional: Fabio Irineu da Silva Diretora Regional Administrativa: Idavania Maria de Souza Basso Diretor Regional Financeiro: Deonfsio Schmitt CONSELHO FISCAL

Efetivo 1° Membro Efetivo e Presidente - Josd Tadeu Raynal Rocha 2° Membro Efetivo e Secretario - Carlos Eduardo Coelho Sachetto 3° Membro Efetivo - Moisds Gazald Suplentes 1° Membro Suplente - Luiz Dinarte Faria 2° Membro Suplente - Joselio Coelho CONSELHO DE ADMINISTRACAO

Carlos Alberto Goes Silvia Sabanovaite Betiza Pinto Botelho

Shirley Vilhalva Marcus Vinicius Calixto

EDITORIA

Conselho Editorial Walcenir Souza Lima Flavia Mazzo Rita de Cassia Madeira Nadia Mello Secom - Setor de Comunicagao Rita de Cassia Madeira

Editora e Jornalista responsSvel Nadia Mello (MT 19333 )

O processo de evasao escolar atual e consequencia de uma realidade educacional precaria e reflete a inefi cacia do sistema no que tange ao atendimento da pessoa surda . Estatfsticas revelam que 760 mil surdos estao na idade escolar e, desse total, apenas 56 mil estao na escola . Pesquisas mostram tambem que so cerca de

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2.044 terminam o ensino medio. Onde estao os mais de 700 mil surdos que nao estao na escola ? Esta reflexao tern inquietado educadores e linguistas que possuem um trabalho voltado para a surdez e atuam ao lado da Federagao Nacional de Educagao e

Integragao dos Surdos. Com o objetivo de corrigir esta distorgao, a Feneis ca minha ha alguns anos em busca de uma polftica publica, que alem de incluir os surdos possa proporcionar uma educagao de qualidade a esse grupo. De acordo com representantes da Federagao e profissionais ligados a esta area, e preciso repensar o modelo que esta em vigor. Dentro da ideia atual de inclusao o aluno surdo fica mais uma vez de fora, ja que a lingua de instrugao nas classes regulares e a Lingua Portuguesa. Ha anos a Feneis vem promovendo a capacitagao de professores em a Libras e cursos que capacitam o proprio surdo a ensinar a sua Lingua. Alem disso, esteve engajada no processo de oficializagao da Libras ( Lei 10436/02 ) e, agora, se encontra as voltas com a questao da regulamen tagao da Lei. Tudo isso evidencia uma serie de conquistas e criou grande expectativa para o surdo na educagao. No entanto, iniciativas paralelas nao tern contemplado a co munidade surda brasileira, que espera ansiosamente por uma educagao de qualidade. O surdo precisa aprender em Libras. Avangos em pesquisas de metodologia do ensi no revelam essa importancia. Na ausencia do bilinguismo, ele precisa ver garantidas as condigoes necessarias para o seu aprendizado. Na nova polftica de inclusao, que vem sendo adotada pela maioria dos estados, as classes especiais estao sendo extintas. O surdo que ja teve algum progresso nessas escolas estao sendo colocados em classes regulares, com um numero muito maior de alunos, fi cando bastante prejudicado. Essa experiencia ja tivemos em nossa historia, e nao trouxe bons resultados. Esta revista objetiva, por meio de artigos de especialistas na area educacional, interpretes e depoimentos de surdos, enfatizar mais uma vez nossa visao quanto a educagao que os surdos brasileiros esperam, uma educagao sem exclusoes. Vale a pena ler, refletir e posteriormente firmar um compromisso de mudanga, permanecendo ao nosso lado nesta

luta.

Diagrama ao Olga Rocha dos Santos

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Antonio Mario Sousa duarte Diretor - Presidente

Revista da FENEIS - 3


CAPA:

Aprendendo em Libras

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SUMARIO

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Editorial Discurso de inclusao equivocado pode retroceder avangos em 100 anos

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A Educagao que defendemos

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O fim da cultura surda ? Por que ?

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Esta revista objetiva, por meio de artigos de especialistas destacar o nosso posicionamento a respeito da Educagao para os surdos no Brasil. Vale a pena ler, refletir e firmar

um comproi

A Educagao Inclusiva e os diversos olhares

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O despertar do surdo como cidadao

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Educagao para Surdos, para todos

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Inclusao: Onde estao os surdos na educagao ?

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Na contramao de todas as conquistas

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A Educagao que nos surdos queremos

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nesta li

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Revista da FENEIS


especial - educagao em libras

Manifestagao do Grupo de Trabalho Linguagem e Surdez da Associagao Nacional de Letras e Lingufstica

Discurso de inclusao equivocado pode retroceder avangos em 100 anos “ Uma inclusao que priva o aluno surdo

da possibilidade de dialogar com o professor nao atende aos compromissos de respeito as diferengas e ao direito do aluno surdo de receber uma educagao condizente com suas habilidades e com suas necessidades� O GT Linguagem e Surdez (GTLS ) da Associagao Nacional

de Pos- Graduagao e Pesquisa Letras e Lingufstica ( ANPOLL ), urn grupo de pesquisadores surdos e ouvintes, vem manifestar sua completa discordancia em relagao as declara goes das professora Maria Tere-

em

sa Egler Mantoan na Revista Nova Escola (maio de 2005 ), em particular suas afirmagdes de que " E ate positivo que o professor de uma crianga surda nao

saiba libras, porque ela tern que entender a lingua portuguesa es-

crita. Ter nogdes de Libras faci lita a comunicagao, mas nao e essencial para a aula" . (...); ou que "So nao acho necessario ensinar libras e braile na forma gao inicial do docente" (enfases nossas ). Essas convicgoes parecem ser apoiadas numa concepgao

reducionista tanto do processo de aquisigao da escrita como da educagao inclusiva, o que se torna nftido quando a referida professora expoe um exemplo de correto manejo pedagogico para a elaboragao de conheci -

mentos pelo aluno surdo: "Se na turma ha uma crianga surda e o professor regente vai dar uma

aula sobre o Egito, o especialista mostra a crianga com ante-

cedencia fotos, gravuras e videos sobre o assunto. O profes sor de L2 ( lingua portuguesa ) da o significado de novos vocabulos, como piramide e farad . Na hora da aula, o material de apoio visual, textos e leitura labial facilitam a compreensao do conteudo" (enfase nossa ). Nossa posigao e que a aprendizagem da crianga nao depen-

Revista da FENEIS - 5


de somente da tecnica mecanica de pareamento de uma figura com uma palavra escrita. Nao e assim que o aluno ouvinte, na mesma classe, aprende: para este, a explicagao de conceitos pelo professor se da na mesma lingua do estudante. Existe a possibilidade de dialogo e esclarecimento de duvidas. Para o aluno surdo, nao.

esperar de uma educagao para surdos conduzida por professores que, sem condigoes de ex plicar os conceitos na mesma lingua do estudante, Ihes falam o que nao podem ouvir, Ihes cobram a construgao de conhecimentos que nao podem articu lar e Ihes avaliam com a tolerancia perversa de quern pressupoe que um "deficiente" tern um ritmo outro dos chamados

Um exemplo bem didatico \

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Suponhamos, por exemplo, que a professora mostre imagens do Egito antigo e aponte a figura de um farao e, ato contmuo, escreva "farad" ao lado da figura. Uma crianga ouvinte poderia Ihe perguntar: "O que e farad ? O nome desse homem da figura ?" Essas perguntas sao muito comuns. A professora poderia, en tao, Ihe explicar que "farad" se refere ao maior posto de governo do estado egfpcio antigo. Uma crianga surda, em geral, na mesma situagao, tomaria o nome grafado como o nome do personagem que a figura representa, e nao teria acesso a lingua do seu

professor para poder formular perguntas como aquelas de seu colega ouvinte. Tem-se af, portanto, uma evidente desigualdade escolar de condigao entre alunos ouvintes e surdos, no que se refere a construgao de conhecimentos. Uma inclusao que pri va o aluno surdo da possibilidade de dialogar com o professor nao atende aos compromissos de respeito as diferengas e ao direi -

do aluno surdo de receber uma educagao condizente com suas habilidades e com suas necessidades. Ja sabemos o que podemos to

6 - Revista da FENEIS

"JA SABEMOS O QUE PODEMOS ESPERAR DE UMA

EDUCAGAO

PARA

SURDOS CONDUZIDA POR PROFESSORES

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CONDigOES DE EXPLICAR

OS CONCEITOS NA MESMA

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"normais". Esta tern sido a situ agao escolar dos surdos desde 1 880, data do Congresso de Milao. O discurso da inclusao, tal como o defendido pela profa Maria Teresa Egler Mantoan, e extremamente preocupante, porque reedita os equfvocos de mais de cem anos de educagao oralista fracassada, com a agra vante de que nem o ensino da lingua portuguesa e levado a serio. Os oralistas convictos, ao menos, treinavam a fala e a es crita de modo obstinado, atra ves de agoes pedagogicas orto-

pedicas e de insistentes exercicios fonoarticulatorios, porque julgavam poder prometer aos alunos a aquisigao dos mesmos conhecimentos de seus colegas ouvintes. No modelo da inclusao apresentado, o ensino de portugues e atribuido a um "especialista", da "equipe de aten dimento", enquanto, na sala de aula, o professor regente e os alunos surdos sao abandonados a sua propria sorte. Se nos manifestamos contra rios as colocagoes da professora Mantoan e porque as pesqui sas acumuladas nos ultimos 20 anos na area de educagao de surdos, no Brasil e no mundo inteiro, apontam em diregao oposta aquela que assume em seu depoimento; e porque seu modelo despreza, mais uma vez, a experiencia e a demanda reprimida das organizagoes e associagoes de surdos, como a Feneis; e, finalmente, e porque contraria a propria Declaragao de Salamanca, que garante "que todas as pessoas surdas tenham acesso a educagao em sua lin-

gua nacional de signos", bem como a nossa Lei Federal 10.436, de 2002 ( a lei de Li bras'), que assegura que "Libras sera um componente curricular obrigatorio nos cursos de formagao de professores para o exercicio do magisterio". Diante do exposto, o CT Linguagem e Surdez viu-se etica e academica mente compelido a vir a publi co para se contrapor, de modo veemente, as teses defendidas pela professora Maria Teresa Egler Mantoan. GT Linguagem e Surdez da Anpoll (CAPES/ MEC) - 12 /05/2005

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especial - educagao em libras

A Educagao que defendemos “ A surdez nao deve ser tratada como deficiencia,

mas como uma condigao que permite uma diferenga culturalenvolvendo uma lingua propria Marianne Stumpf*

A Federagao Nacional de Educagao e Integragao dos Surdos (Feneis) respalda o documento elaborado em encontro

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nacional, por ela organizado. Na ocasiao, o tema discutido foi a educagao dos surdos, de onde nasceu o texto A Educagao Que Nos Surdos Queremos. Nesse documento (integra nas paginas 25 a 30 desta revista) defendemos a legitimidade das escolas de surdos, verdadeiros laboratories da integragao dos surdos a seus pares, da incre mentagao de pesquisas especifi cas na area de potencializagao da cidadania surda. Defendemos tambem que as classes de surdos, integradas a uma escola comum sao solugao igualmente validas dentro das inumeras realidades que se apresentam. A presenga do instrutor, professor e educador surdos na tomada de decisoes sobre a sua propria educagao, e dos interpretes na uni versidades e em outras varias si tuagoes, sao o ingrediente fundamental e indispensavel na educagao das pessoas surdas. Um surdo ou alguns surdos isolados dentro de uma classe de ouvintes sem o acompanhamen-

de um professor surdo configuram para nos desrespeito e indicativo de uma educagao destinada ao fracasso. A Feneis reconhece o empenho da Secretaria de Educagao Especial do Ministerio de Educagao (MEC) em qualificar o atendimento dos surdos, empreendendo significativos esforgos no reconhecimento e divulgagao da Libras, face a atual Lei das Diretrizes e Bases da Educagao Naci onal, que preconiza a inclusao dos alunos portadores de deficiencia nas classes reguladoras. Observa ainda, que a surdez nao deve ser tratada como deficiencia, mas, sim, como uma condigao que determina uma diferenga cultural envolvendo uma Ifngua propria, cujo desenvolvimento cognitivo do indivfduo privilegia naturalmente as experiences visuais e Ihe atribui um papel semiotico preponderante. O fluxo de seu pensamento interior e, entao em grande parte, estruturado sobre uma organizagao perceptiva visual. Colocados esses pressupostos, gostanamos de acrescentar que a Lingua de Sinais em aula nao e uma panaceia, e um preto

requisite; como e um pre-requi sito o conhecimento metalingufstico aprofundado do funcionamento da Lingua de Sinais. Assim, a educagao bilingiie das criangas surdas convida a criar uma pedagogia inovadora, criativa e dificil que coloque a Lingua de Sinais no coragao do ensino, constituindo uma lingua ao mesmo tempo de comunicagao e ensinos, um suporte ao acesso dos saberes. Cragas a ela, a crianga surda pode evoluir n o piano das aprendizagens escolares, dentro do mesmo ritmo que uma crianga surda pode evoluir com a lingua oral. E tambem atraves dela que sera possivel a aquisi gao de uma segunda lingua: o portugues escrito, porta para ingresso do estudante surdo no acervo cultural da humanidade, do qual ele tambem e herdeiro. No piano pessoal serao criangas conscientes de sua identidade, que possuirao os mesmos conhecimentos das criangas de sua idade, cheias de alegria e vitalidade, animadas pelo espirito de curiosidade e pertencimento. * Diretora de Polfticas Educacionais da Feneis Doutorando em Educagao - UFRS

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especial - educagao em libras

O fim da cultura surda? Por que? “ porque temos nossa identidade, contamos

nossa alteridade e sobrevivemos no tempo ao holocausto de Milao, aos horrores da inclusao e continuaremos a sobreviver� Gladis Perl in i

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Aulas e reunioes em Lrngua de Surdos: comunicaqao perfeita

O mundo globalizado tende a crescer e a cultura surda igual mente tende a crescer apesar das

investidas contra ela. Na atualidade, o mundo globalizado pergunta a nos surdos como o faz Alain Touraine: Podemos viver juntos apesar das diferentes culturas ? Respondemos: sim, porque temos nossa identidade, contamos nossa alteridade e sobrevivemos no tempo ao holocausto de Milao, 8 - Revista da FENEIS

aos horrores da inclusao e con tinuaremos a sobreviver. Se o mundo contemporaneo e desumano para algumas culturas que tendem a desaparecer, a nossa se eleva impetrante e ultimamente se reforga diante das possibilida-

des interculturais. Atentando para a realidade, a nossa cultura cresce em polftica e em poetica. Em polftica quando nossos professores de Lingua de Sinais e nossos interpretes es-

tao a um passo da profissio nalizagao nas universidades. Nossos companheiros surdos, al guns ja doutores, publicam obras, embora ainda ti'midas, abrindo-se para as portas interculturais, seja aos processos educacionais, seja aos processos dos espagos polfticos. Poeticamente a nossa cultura cresce, particularmente com a Lrngua de Sinais que desponta para as trocas interculturais, as publicagoes de escrita de sinais, as pesquisas nese sentido. Eu disse acima que sobrevivemos teimosamente aos horrores da inclusao. Qual inclusao ? A inclusao escolar contraditoria a nossa cultura, a mesma que Tereza Mantoan divulga como importante aspecto quando plena de ouvicentrismos. Sofremos com esta metodologia que nos impoe orientagoes que possivelmente nos desorientam de nossas identidades culturais; sofremos diante desses abusos culturais. Aqueles que estiveram presentes nos processos de inclusao e que viveram os temerosos e terrfveis dias que esta metodologia

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proporcionou sao os primeiros a levantar-se e a indignar-se contra Mantoan. Em sua maior parte ela se passa nos ditos processos inclusivos daqueles que apregoam o ouvicentrismo, mas tende, em alguns lugares, gragas a professores conhecedores da diferenga cultural, a propiciar aos surdos o acesso a sua identidade. Esses professores, em sua maioria surdos, sao os portadores do modelo de educagao da diferenga. Temos tambem o recente modelo intercultural de educagao de surdos, que trabalha com surdos com identidades construfdas, aptos a falar sobre a identidade cul tural e pronta para as interagoes

com as culturas, fazendo ver que nao somos o que nos rotulam como deficientes, exclui'dos, menos validos. Nos, os surdos somos um dos grupos mais massacrados culturalmente, mas tambem com cultura completamente rica de significados. Diante das declaragoes de Mantoan, calei. A meu ver, tal inclusao nos quer manter como deficientes. Vejamos a decla ragao: E para o estudante com deficiencia ffsica, para os que tern comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a crian ga que e discriminada por qualquer outro motivo . "No meu entender este quadro e

prova de uma educagao "segregate" e atenta contra a nossa cultura. E gostaria que se dessem atengao aos novos me -

todos de educagao de surdos. GladisT.T. Perlin e surda, mestre e doutora em educagao pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professora adjunta e pesquisadora no Centro de Ciencias da Educagao da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil). Coordena atualmente o GES - Grupo de Estudos Surdos (UFSC, Brasil) Homepage: www.ges.ced.ufsc.br/. E-mail : gladisperlin @ ced.ufsc.br

Libras:

direito inquestionavel

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Sou diretora da creche bilfngue para criangas surdas e ouvintes no municfpio de Niteroi. Li o artigo da educadora Maria Tereza Mantoan, e minha pergunta e: sera que ela pensou antes de falar sobre educagao para surdos ? Acho um absurdo que professores de criangas surdas nao saibam a Lfngua de Sinais e se utilizem da justificativa de que elas (as criangas) precisam entender a Lfngua Portuguesa escrita! Isto e uma falta de respeito. Os surdos possuem, como todo cidadao, direitos lingufsti cos inquestionaveis de receber informagoes em sua propria Lfngua, da mesma forma os ouvintes na sua as recebem. Simplesmente falamos Ifnguas diferentes, porem recebemos as mesmas informagoes. Os professores que trabalham

com criangas surdas precisam dominar a Lfngua dos Sinais antes de comegarem a trabalhar para que as criangas surdas recebam bem as informagoes, aprendam a escrever e ler e com-

preendam melhor. Nao adianta o professor, sem o apoio das Libras, mostrar material de apoio visual, textos e utilizar o recurso da leitura labi al, pois as criangas surdas nao entenderao. Elas podem domi nar, por direito, duas Lfnguas. A primeira, a Lfngua dos Sinais; a segunda, a Lfngua Portuguesa. Pego um grande favor: nao brinquem com a educagao dos surdos! A precariedade do ensino ja vem de geragao em geragao de surdos e ainda, dessa vez, querem piorar ? ! Existe a lei 10.436 que oficializou as Libras no Brasil ha tres anos. No entan-

to, nao se poe em pratica essa lei.

A Educagao de surdos e algo muito serio para a comunidade surda. Esse modelo exposto pela professora Mantoan serve para o

deficiente auditivo, entretanto, para os surdos, que compreendem a si mesmos como diferentes e nao deficientes, o mesmo modelo e inadequado. A reali dade que constatamos em muitas escolas e um deficit de alu nos que mal sao alfabetizados. Dentro da sala de aula e do educador a responsabilidade da formagao de um futuro cidadao. Luciane Rangel Rodrigues 6 diretora da creche bilmgue para criangas surdas e ouvintes, pedagoga, pos-graduanda em educagao infantil e terapia de famflia, estudante de psicologia, professora universitaria da disciplina de Libras do curso de pedagogia da Universo, coordenadora de Lfngua de Sinais para ouvintes e do curso de formagao de instrutor.

Revista da FENEIS - 9


“ A Educagao

Inclusiva e os Diversos Olhares� Flaviane Reis’

Os estudos na area de educagao de surdos foram marcados por transformagoes que resultaram do documento A Educagao que Nos Surdos Queremos e decorreram de incentivos ao ensino, a cultura, metodologia e pesquisa educacional para surdos; da busca de uma identidade; construgao de uma historia e um processo intercultural entre surdos e ouvintes numa escola inclusiva, alem da proposta de formagao dos professores surdos. No que diz respeito a essa area, espero que haja um momento particular sobre um processo mais amplo na

pesquisa educacional, tendo em vista que ainda e dificil falar a respeito da possibilidade de criagao de um novo sistema educacional para os surdos. Assim, nosso discurso e conduzido para uma educagao inclusiva a partir de focos importantes que observei. Em relagao aos estudos, alguns surdos fazem a opgao pelo oralismo e outros

10 - Revista da FENEIS

pela Libras. No oralismo, ideologia dominante, e o desejo de ouvir que esta por tras do modelo ouvinte, devido a influencia da sociedade. No que se refere a essa ideologia esclarece o trecho abaixo: As ideias dominantes, nos ultimos cem anos, sao um claro testemunho do sentido comum segundo o qual os surdos correspondem, se encaixam e se adaptam com naturalidade a um modelo de medicalizagao da surdez, numa versao que amplifica e exagera os mecanismos da pedagogia corretiva, instaurada nos princfpios do seculo XX e vigente ate nossos dias. Foram mais de cem anos de praticas enceguecidas epla tentativa de corregao, normalizagao e pela violencia institucional; institui gdes especiais que foram reguladas tanto pela caridade e pela beneficencia, quanto pela cultura social vigente que requeria

uma capacidade para controlar, separar e negar a existencia da comunidade surda, da lingua de sinais, das identidades surdas e das experiencias visuais, que determinam o conjunto de diferengas dos surdos em relagao a qualquer outro grupo de sujei tos. ( Skliar,1998:8)

O que percebo ao analisar a historia dos surdos oralizados e que por tras da apresentagao do sujeito surdo havia a falta de reconhecimento do indivfduo como surdo. Existe, sim, o entendimento de uma pessoa "naonormal". O surdo era obrigado a se ver a parti r da perspectiva do que ele nao podia fazer, e qual quer tentativa de formagao de identidade cultural era abolida como uma tentativa de formagao de guetos e segregagao. E claro que alguns surdos conseguiram sobreviver a toda essa relagao de poder, e, no entanto, isso se deu atraves de um processo constan-

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O ensino de Libras para ouvirites ajucia a preparar educadores que trabalham com surdos

te de negagao da tentativa de rotulagao etnocentrica. Tudo isso fez com que os ouvintes usassem o processo de transigao da pessoa surda com os efeitos que desejavam, com a influence da medicina, de pais e familiares e de professores de surdos que defendem um conjunto de representagoes de ouvintes. A perspectiva do olhar e da narragao era a partir da visao de uma pessoa ouvinte. Portanto, destacamos as palavras abaixo, que esta enfocando mais uma vez a questao dos surdos oralizados:

Para aquele que ouve, a surdez representa uma perda de comunicagao, a exclusao a partir de seu mundo. Em termos cosmologicos, e uma marca de desaprovagao. Ela e alteridade, um estigma para se ter pena, e por isso, exilado as margens do conhecimento social (,.. ) Seu 'silencio' representa banimento ou, na melhor das hipoteses, solidao e isolamento. A atividade missionaria e o auxflio caridoso sao encorajados como as respostas moralmente legftimas. (Wrigler, 1995:16).

Com o decorrer do tempo, foram identificadas algumas dificuldades com os surdos orali zados na educagao inclusiva. Em sala de aula, muitos deles nao conseguem compreender e fazer produzir palavras sintaticas . Obviamente, alguns conseguem captar as informagoes pela sua capacidade de compreensao, mas a maioria nao consegue acompanhar devido ao uso da Lfngua Portuguesa, que nao e a lingua natural dos surdos. Ao longo do processo de socializagao do sujeito surdo, ele foi tra tado de uma forma estigmatizada e estereotipada.Os surdos oralizados, de acordo com o que observo, esta sendo deslocado da identidade surda e busca uma identidade ouvinte, caminhando contra a sua propria cultura. Quando falo da educagao dos surdos, me refiro a educagao em geral. Tenho preocupa gao com os surdos oralizados. Como eles podem provar os seus espagos politicos, socio-cultural e educacional ? E tambem como

podem compreender o significado das palavras ? Dentro da edu-

cagao inclusiva, onde esta o modelo do surdo ? Portanto, me pergunto : onde esta e qual e a identidade dele? Por isso, vejo a situagao do surdo oralizado como a de uma pessoa que possui uma identidade flutuante e esta em cima do muro, alguem que nao sabe caminhar e escolher o que quer de verdade, e vive bastante influenciado pelos ouvintes. Isso pode gerar uma crise de identidade, o que vem nas seguintes palavras: Uma crise de identidade ocorre quando ha descentragao dos indivfduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos . A identi dade so se torna uma questao quando esta em crise: quando algo que se supoe como fixo, coerente e estavel e deslocado pela experiencia da duvida e da incerteza. (Mercer, 1990:43 ).

Quanto aos surdos que usam Libras, podemos dizer que a diferenga fundamental em relagao aos surdos oralizados e a identi dade surda. Alem disso, eles possuem caracterfsticas totalmente distintas dos ouvintes. Esse diferencial se reflete na busca de uma produgao cultural propria, por meio da Lfngua de Sinais, arte e historia, contando com o suporte de leis, tecnologia e pedagogia da diferenga. E muito importante a construgao de uma identidade. Com ela, vem a historia e a visao enquanto indivfduo surdo, fortalecendo uma comunidade propria. A definigao do termo 'diferenga' e uma questao polemica devido ao frequente uso das expressoes: deficiencia e diversidade. No entanto, eu continuo defendendo essa terminologia para Revista da FENEIS - 11


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A Lmgua de Sinais e fundamental no pocesso de educagao do surdo

que haja mais respeito aos surdos. A verdade e que os termos " deficiencia " e " diversidade" mascaram as consequencias politicas, e uma especie de estrategia para ocultar a realidade. A palavra diferenga permite uma construgao polftica importante para os povos surdos, na defesa de escolas e interpretes de Lmgua de Sinais e de um projeto de formagao dos professores ouvintes no processo da educagao com uma diversidade de focos: identidade surda, historia, discussao sobre educagao inclusiva e educagao em relagao a trabalho, artes e cultura surda. Ainda no que se refere a educagao dos Surdos, e necessario um novo paradigma da escolari zagao e formagao de professores surdos. Quando falamos em diversidade ou deficiencia passamos a visao de um aluno com um problema que precisa ser sanado e nao a de um aluno que tern um problema porque possui uma cultura diferente e que,

12 - Revista da FENEIS

ao inves de sanar, e preciso ade-

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O fato de ser militante na defesa da sua cultura e lingua, e participante de movimentos politicos e da educagao que nos surdos queremos faz com que o surdo pertenga a um grupo de

forma natural ( povos surdos), podendo, ainda, ser inserido na sociedade. A educagao inclusiva vem trazendo muitas dificuldades pela falta de formagao de professores que tenham conhecimento da Libras, de interpretes profissionais, pedagogos e professores surdos em salas de aula. Percebo que a palavra inclusao e um conceito bonito e desejavel, porem, na pratica, funciona como exclusao, especialmente quando se trata da comunicagao e da efetiva participagao do Surdo. Se-

gundo Felipe (2003 ): " A Educagao para Surdos nao pode se resumir a uma escolarizagao repassada por um interprets, os novos embates e debates,

agora, a luz de uma Escola Inclusiva que pressupoe uma Sociedade Inclusiva, nao poderao mais ficar em dualismos maniquefstas: ouvintes x surdos, Escola Ensino Regular x Escola e Ensino Especial, Escola de Surdos x Escola de Ouvintes, que subjazem uma ideologia conservadora. O debate agora sera em torno de um novo paradigma: uma Escola para Surdos e para Todos, porque nessa Escola, como Cadotti ( 1989) afirma "a tarefa da educagao" sera "a tarefa essencialmente ligada a formagao da consciencia crftica. Quero dizer que identificaremos educar com conscientizar. O papel da conscientizagao de que nos fata Paulo Freire e essa decifragao do mundo, dificultada pela ideologia; e esse " ir alem das aparencias", atras das mascaras e das Husoes, pagando o prego da crftica, da luta, da busca, da transgressao, da desobediencia, enfim, da !ibertagao"(Freire, 1995 e 2000)".

References Bibliograficas FELIPE, Tanya A. A fungao do interprete na escolarizagao do Surdo. Anais do Congresso Surdez e Escolaridade: Desafios e Reflexoes - Congresso Internacional do INES, 17- 19 de setembro de 2003: 8798. FREIRE, P. ( 1995 ) A sombra desta mangueira. Sao Paulo: Olho D' Agua (2000 ) Pedagogia da Autono mia - saberes necessarios a pratica educativa. Sao Paulo: Paz e Terra - Cole ao Leitura. I 5 a. Edigao CADOTTI, M . ( 1989 ) Educagao e poder: introdugao a pedagogia do conflito. Sao Paulo: Cortez. 9°. Edigao. EIALL , 5. Cultural Identidade e Diaspora. Londres: Lawrence and Wishart, 1990. SKLIAR, Carlos. A Surdez, um olhar sobre as diferengas. Porto Alegre: Editora Media gao, 1998.

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Flaviane Reis epedagoga, diretora administrativa da Feneis, mestranda em Educagao na Iinha de pesquisa: Educagao e Processo Inclusivo pela UFSC

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especial - educagao em libras

O despertar do Surdo como cidadao “ A conscientizagao de todas as camadas da sociedade permitira uma mudanga de paradigma” Shirley Vilhalva Arquivo pessoal

Depois de tanta luta por pardos surdos mais politizados, hoje, podemos dizer que conquistamos o reconhecimento oficial da Libras atraves da Lei n° 10.436 de 24.04.2002. Porem, o antagonismo entre forgas contrarias continuam. Sera que esse reconheci mento ainda nao foi entendido ? Sera ainda nao ha a compreensao de que os surdos tem seus ideais e que e atraves da Libras que irao modificar posiciona mento dos familiares e educa dores ? Ou sera que continua rao as lutas contra essa tama nha conquista ? O movimento que legitima a Lingua Brasileira de Sinais te

como uma lingua viva esta sendo cada vez mais forte; a divulgagao esta no auge; os maiores representantes de nossa comu nidade Surda, como a Federa qao Nacional de Educagao e

Integragao dos Surdos ( Feneis) e o Ministerio da Educagao (MEC), esta mostrando que a Li bras e ponto forte e essencial para o desenvolvimento cogni tive linguistico e psicossocial do surdo. Estes orgaos langa ram o Programa Nacional de

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Crupos de estudos aprofundam o conhecimento da Libras

Educagao de Apoio a Educagao de Surdos, que proporcionou a formagao de professores/ instrutores surdos para ministra rem curso de " Libras em Contexto", desenvolvido em ambi to nacional. Acreditamos que so a partir da conscientizagao de todas as camadas da sociedade e nao so dos profissionais da Educagao envolvidos com a causa, sera possivel vislumbrar uma mudanga de paradigma e o despertar do Surdo como cidadao.

Na Conferencia da Unesco, em 1951, determinou - se que o sujeito que usa uma lingua di-

ferente a do pais tem o direito de ser educado em sua propria I ingua, conforme o projeto educacional bilingue. Assim, atualmente no pais, ha um movimento de organizagao de educagao bilingue para pessoas surdas. Para que esta se efetive, e necessaria uma reestruturagao na escola que a assuma. Assumindo, deverao mudar de postura os professores

Revista da FENEIS - 13


I

Arquivo pessoal

que estao dentro e fora dela . Pois, se antes era considerado normal que o professor surdo nao deveria ter participagao, hoje nao podem faltar o professor surdo como tambem os interpretes de Libras, o professor de Lfngua Portuguesa que saiba Libras e demais profissionais. Se alguns grandes "mestres " - que ditam ordem dentro do processo educacional no Brasil - desconhecem o que significa ser surdo, ter direito de ser surdo e se tornar culturalmente surdo, apenas sobra a eles o tempo para que entendam as necessidades surdas.

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Explicates mais claras quancio ha a utilizagao de Libras

Aprimoramento da educagao Ha muitas coisas a serem fei tas para o aprimoramento do

de educagao, processo integragao e inclusao na diversidade e apoio socio-cultural do surdo no Brasil. Devemos lem brar que os problemas e necessidades sao semelhantes em todos os Estados brasileiros. Para que se tenha um bom exito nesta empreitada, as Secretarias de Educagao deverao ser articuladoras e formadoras de opinioes quanto as Leis que reconhecem a melhoria do bemestar educacional, social, cultural e profissional do cidadao surdo. As Leis de cada Estado bra sileiro tambem deverao ser encaminhas para as Secretarias Municipais de Educagao de seu Estado: 1. Lei que reconhece nacional mente a Libras - Lfngua Bra sileira de Sinais;

14 - Revista da FENEIS

2 . Lei que reconhece no ambi to estadual a Libras - Lfngua Brasileira de Sinais; 3 . Lei que reconhece no ambi to municipal a Libras - Lfn gua Brasileira de Sinais ; 4. Lei que reconhece o Dia do Surdo nos Estados 5. Lei que reconhece o Dia do Surdo nos municfpios.

6. Legislagao que assegura o

atendimento do Professor interprete em sala de aula ou unidade escolar; 7. Polftica Estadual de Inte gragao e Promogao Social da pessoa Portadora de Deficiencia - Artigos que assegurem projetos direcionados ao atendimento da comunidade surda e demais direitos.

Shirley Vilhalva , pedagoga, instrutora e agente multiplicadora de Li bras - Lingua Brasileira de Sinais - CAS/SED/MS - 2005 • Articuladora do Projeto Atendimento ao Indio Surdo de MS - 2005 • Foi Coordenadora Estadual do Programs Nacional de Apoio a Educagao de Surdos/MEC/FENEIS/CAS/SED/MS e Professora de Libras - Centro de Capacitagao de Profissionais da Educagao e de Atendi mento as Pessoas com Surdez -2004

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Instrutora e Agente Multiplicadora de LIBRAS - Lingua Brasileira de Sinais - UFMS/CAS/SED/MS - 2004 Tecnica da Secretaria de Estado de Educagao de Mato Grosso do Sul e Coordenadora Estadual do Programa Nacional de Apoio a Educagao de Surdos/MEC/FENEIS/SED/MS atendendo os municfpios de MS - 2002 a margo de 2004 Diretora do Centro Estadual de Atendimento ao Deficiente da Audiocomunicagao - CEADA/MS - Campo Grande - MS, 1993 a 2001

Consultora e Pedagoga: Atendimento Particular para Pessoas com Surdez em Consultorio

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especial - educagao em libras

Educagao para Surdos, para todos Marcos tedricos e mudangas de paradigmas Tanya A . Felipe

Na decada de oitenta, iniciamos as discussoes sobre Bilinguismo e Educagao Bilmgiie para Surdos, aqui no Brasil. Utilizando a expressao de Sa (1998), po-

deriamos dizer que realizamos uma "Virada linguistica", uma vez que foram linguistas, professores e estudantes de Letras ( graduandos e pos- graduandos)

que introduziram novos paradigmas para a Educagao de Surdos, com "S" maiusculo, ja que os Surdos deixaram de ser rotulados de DAs, e passaram a ser considerados "Estrangeiros" em seus proprio pais, minoria linguistica que possuia sua propria lingua, a LSCB, e se assumiram como membros de uma Cultura, Felipe, 1988 e 1989). As comunidades surdas, ( Felipe, 1988; Felipe et al, 1991 ), por identificagao, luta, transgressao, e libertagao, rapidamente acataram esses paradigmas e tambem levantaram a bandeira pela Educagao Bilmgiie, tornando-se seus defensores, exigindo mudangas educacionais e a oficializagao da Libras (Felipe, 1993; CORDE, 1996). O embate entre oralismo, comunicagao total e educagao bilingue percorria por todo o Brasil. Eventos etrabalhos aca demicos, monografias, dissertagoes e teses apresentavam propostas e experiences.

O deaf power comegou a se insurgir, como nos Estados Unidos. Os surdos comegaram a se interessar em pesquisar sua lingua, ensina -la de maneira mais pedagogica, a fazer teatro e poesia em Libras, a assumirem sala de aula como instrutores, monitores e professores. Comegaram a exigir mudangas, interpretes, legenda para noticiari os e outros programas de televisao, atraves do Close caption, telefonia para Surdos ( TDD ); comegaram tambem a apresentar trabalhos e debater, em eventos, novas alternativas para a Educagao de Surdos, inclusi ve alfabetizagao em Libras, atraves do sign Writing ( Stumpf,

1998; www.signwrinting.org). Todas essas iniciativas e con -

quistas culminaram no docu mento " A Educagao que nos Surdos Queremos", entregue ao MEC e outras orgaos publi cos e instituigoes para ser con siderado, quando da elabora gao das Diretrizes Nacionais para a Educagao Especial na Educagao Basica ( Resolugao MEC/CNE : 02 / 2001 ) . A FENEIS, junto com os interpretes de Libras, comegava a organizar e discutir proposta de regimento interno para a cria gao do Departamento Nacio nal de Interpretes, fundado em 1992 .

O imcio da mudanga Nessa decada de noventa, os paradigmas foram repensados ( Maher, 1997), e novos surgi ram. A Educagao de Surdos de-

veria se constituir a partir nao mais de questoes biculturais, mas multiculturais ( Teske, 1998); a surdez passou a ser vista por " um olhar sobre as diferengas" e nao como diversida de, que " cria um falso consenso, uma ideia de que a normali dade hospeda os diversos" /Skliar, 1998 a : 13 ), que esta ideologizada por uma perspec tiva ouvintista, ou melhor, pelos varios ouvintismos camufla-

dos nas Politicas para Educagao de Surdos (Gladis, 1998 a ). Passou - se a falar de bilinguismos e suas implicagoes na Educagao de Surdo ( Souza, 1998; Skliar, 1998b). Sob este olhar nas diferengas, as identidades surdas ( Gladis, 1998b) se transpareceram como uma "construgao histdrica e social, efeito de conflitos sociais, ancoradas em praticas de signi ficagao e de representagao compartilhadas entre surdos" e ouvintes. As pressoes das organi zagoes nao-governamentais de surdos e ouvintes, das escolas e de politicos culminaram com a homologagao, pelo Presidente da Republica, da Libras, como

Revista da FENEIS - 15


lingua oficial dos Surdos (Lei No. 10.436, de 24 de abril de 2002 ). Mas, paralelamente a esse repensar e busca de alternativas, em 1991, a Resolugao 45 /91, da Organizagao das Nagoes Uni das - ONU - destaca uma Soci edade para Todos e coloca o ano 2010 como sendo o limite para que as mudangas necessarias ocorram. Assim, tera que haver: • aceitagao das diferengas individuals;

Em 1995 continuando nessa perspectiva de uma sociedade para todos, na Declaragao de Copenhague sobre Desenvolvimento Social e no Programa de Agao da Cupula Mundial para o Desenvolvimento Social, a ONU atirma que "Sociedade inclusiva precisa ser baseada no respeito de todos os direitos humanos e liberdades fundamentals, diversidade cultural e /

valorizagao da diversidade humana; • destaque e importancia do pertencer, do conviver, da cooperagao, da contribuigao que gerarao vidas comunitarias mais justas. Em 1992 o Programa Mundial de A goes Relativas as Pes soas com Deficiencia propos que a propria sociedade mude para que as pessoas com deficiencia possam ter seus direitos respeitados.

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" A SIMPLES INCLUSAO DE ALU NOS COM DEFICIENCIAS EM SALAS DE AULAS DO

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RESULTA EM

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APRENDIZAGEM

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AS ADAPTAgdES ?

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PREPARAR-SE PARA RECEBER

de Salamanca sobre necessidades educativas especiais, acirrou o debate sobre "Sociedade Inclusiva", que e conceituada como aquela sociedade para todos, ou seja, a sociedade e que deve se adaptar as pessoas e nao as pessoas a sociedade. Por isso, nessa sociedade inclusiva, o Sistema Escolar devera ser tambem baseado em uma escola integradora. Essa escola passou a ser denominada, a partir da politica educacional neoliberal no Brasil, de "Escola/Educagao Inclusiva. claragao

16 - Revista da FENEIS

ponfveis para todos, particularmente para pessoas com defi ciencia. ( Nagoes Unidas, 1996 § 2 4)

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SURDO ?

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religiosa, justiga social e as necessidades especiais de grupos vulneraveis e marginalizados, participagao democratica e a vigencia do direito" . (1995:9) Em 1996, nas Normas sobre a Equiparagao de Oportunidades para Pessoas com Deficiencia, a ONU institui que todos os portadores de necessidades especiais " devem receber o apoio que necessitam dentro das estruturas comuns de educagao, saude, emprego e servi gos sociais" ( Nagoes Unidas, 1996 §26).

A partir de entao, as escolas brasileiras comegaram a fomentar o discurso da Inclusao e, segundo depoimentos de professores, em varios estados, em nome dela, estao jogando o surdos nas classes regulares. " Entretanto, a simples inclusao de alunos com deficiencias em salas de aulas do ensino regular nao resulta em beneffcios de

aprendizagem"

1999: 22 ).

Uma Sociedade para todos

( UNESCO)

sos sistemas da Sociedade e ambiente, tais como servigos, atividades, informagoes e documentagao, sao tornados dis-

O discurso da Inclusao

A partir de 1994, com a De-

O termo " equiparagao de oportunidades" significa o processo atraves do qual os diver-

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(S t a i n b a c k

1999: 22 ). E as adaptagoes, o prepararse para receber o Surdos ? Ah! Estao contratando Interpretes!!! Como o professor nao dara aula para os surdos, eles terao de ficar passivamente receben do apenas informagoes de um interprete, geralmente sem preparo para tal fungao e, na mai oria dos casos, sem conheci mento da disciplina que ira tra -

duzir. Isso e uma contradigao ja que no proprio Livro Inclusao Guia para educadores, afirma se que "todos os alunos, incluindo aqueles com deficiencia, precisam de interagoes professor - aluno e aluno - aluno que moldem habilidades academi cas e sociais" e que "o princi pal objetivo do ensino inclusi vo nao e economizar dinheiro,

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e servir adequadamente a todos os alunos" ( Stainback, 1999: 30). Os professores, as comunida des surdas e as academias foram atropeladas em seu processo de reflexao e concepgao de uma Escola para Surdos e novos em bates comegaram: Parece que um neo -oralismo, sob a forma de um ouvin tismo crftico ( Cladis, 1998 a), esta ressurgindo no discurso da Inclusao, que ira resgatar a normalidade, ou seja: 1. Aceita -se programas biI fngues transitorios, que iniciando com a Libras, gradualmente substituira essa lingua pela Lingua Portuguesa. Esse bilinguismo fraco, levara ao monolinguismo, daf, antes havera um bilinguismo diglossico: os alunos surdos ficarao em classe de ouvintes, sendo que a Ifngua de maior prestigio sera a da professora e dos alunos ouvintes. Os surdos, embora possam receber a tradugao simultanea do "ensinado" que estiver acontecendo em sala de aula, tera que estudar em portugues e fazer suas provas nessa lingua. Assim, irao aprender a Lingua Portuguesa e nao serao mais discriminados. Mas " a ninguem se pede que mude de sexo ou de cor para nao ser discrimi-

nado. Que sentido tem, entao, pedir a alguem que mude de IfnguaV (D' Angelis, 1998) 2 . Sera resgatada a Identida de Ouvinte como modelo para a escolarizagao, ja que sendo a Libras utilizada apenas como instrumento, pelo interprete, a relagao do sujeito com a lingua nao vai fazer mais diferenga. Dessa forma a relagao do surdo com sua lingua nao vai ser um fator determinante, uma possi bilidade de ele vir a assumir

uma posigao discursiva que nao se reduza a mera reprodugao, nao permitindo tambem interferir, modificar, produzire criar o novo atraves de sua lingua; 3 . A autoridade do professor podera ser garantida, ja que estava fragilizada ao ter que assumir sua deficiencia em Libras e ter que dividir seu espago com sur-

"ESSE MODELO RADICAL

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DE INCLUSAO EM NOME DO

MEC

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AJUDAR EM NADA O

SURDO. NAO

BASTA ELE TER O

DIREITO DE SE MATRICULAR

,

EM UMA ESCOLA PRECISA

Atualmente, educar esta sempre sendo usado como sinonimo de ensinar, escolarizar, e nessa ideologia tecnicista, cada vez mais a escola esta se afastando de sua essencia: educar, que etmologicamente vem de ex - ducere - conduzir para fora, trazer a tona, a expressao, o que vive dentro do homem, pelo proprio etimo. Dai, educagao presume " acompanhamento, companhia, dialogo, troca de olhares e de experiencias, ma nifestagao de relagao homem x mundo que a percepgao acoIhia, ensaio de especulagdes, construgao de conhecimento" . Como conceber todo esse processo, sendo intermediado pelo interprete, se " educar e educar-se a si enquanto companhia de um outro? Cada diferenga a ser trabalhada e uma diferenga e nao uma desqualificagao do sujeito" . ( Yunes

(1998:19 ).

TAMBEM TER O DIREITO DE PERMANECER NELA" \

Educagao para Surdos, para todos

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dos que se dizem professores. 4. Aceita - se a diversidade que levara a homogenizagao: os ouvintes e os surdos terao o mesmo curriculo. E sua historia social e politica, sua lingua, cul tura e literatura ? E os professores surdos ? 5 . A preocupagao continua a ser somente com a escola rizagao e nao com a Educa gao; 6. Mas o surdo tera direito a interprete na sala de aula !!

Assim, a Educagao para Surdos nao pode se resumir a uma escolarizagao repassada por um interprete que, segundo Lacerda (2000:60), em seu ato de interpretar realiza um processo cognitivo pelo qual se trocam mensagens de uma Ifngua e outra, sejam elas orais ou sinalizadas, mas que o interprete nao podera ultrapassar essa fronteira sem " transgridir o seu papel atuando efetivamente como educador". Dai, esse modelo radical de inclusao, em nome do MEC, que esta sendo imposto pelas SEDUCs ( fechamento das classes especiais, surdos em classe regular sem saber Libras ou portugues; professores insatisfeitos e confusos por nao saberem

Revista da FENEIS - 17


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como lidar com Surdos em classe regular; sala de apoio com professores desprepa -

rados, entre outros problemas), nao vai ajudar em nada o Surdo. Nao basta ele ter o direito de se matricular em uma escola, precisa tambem ter o direito de permanecer nela. Essa escola precisa estar preparada para uma educagao de qua I idade para os Surdos, caso con -

paradigma: uma Escola para Surdos e para Todos, porque nessa Escola, como Gadotti ( 1989) afirma, " a tarefa da edu cagao" sera " a tarefa essencial mente ligada a formagao da consciencia crftica. Quero di zer que identificaremos educar com conscientizar. O papel da

"O PAPEL DA

tara.

CONSCIENTIZACAO

Nao da para ver o bonde passar e, depois, se arrepender ao ver que geragoes de Surdos que estavam nesse bonde nao chegaram a lugar algum! Sera que teremos que esperar novamente mais 100 anos,

18 - Revista da FENEIS

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trario a evasao somente aumen-

para que outro bonde chegue, depois que essa Tsunami neooralista ter invadido todas as escolas e ter provocado essa destruigao que estamos ja presen ciando ? ! Como falar de aceitar as diferengas, sociedade inclusiva, e escola inclusiva, quando um unico modelo esta sendo im posto ? Como considerar o assunto sem enxergar no outro a resistencia impotente dos que representam as minorias que nao tern forga polftica o suficiente para dizer: e essa a educagao que nos Surdos queremos ? Finalizando, podemos concluir que os novos embates e debates, agora a luz de uma Escola Inclusiva que pressupoe uma Sociedade Inclusiva, nao poderao mais ficar em dualismos maniqueistas: ouvintes x surdos, Ensino Regular x Ensi no Especial, Escola de Surdos x Escola de Ouvintes, que subjazem uma ideologia conservadora. O debate agora sera em torno de um novo

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NOS FALA

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conscientizagao de que nos fala Paulo Freire e essa decifra gao do mundo, dificultada pela ideologia; e esse " ir alem das aparencias", atras das mascaras e das Husoes, pagando o prego da crftica, da luta, da busca, da transgressao, da desobediencia, enfim, da libertagao" .(Freire, 1995 e 2000)

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Tanya A . Felipe, professora titular da UPE, Consultora da FENEIS na area de Educagao e Lingufstica, Coordenadora do Progra ma Interiorizando a Libras FENEIS -MEC/SEESP/FNDE. •Tftulo de Cavaleiro - Area de Educagao, outorgado pela Presi dency da republica em 2002. • Doutorado em Lingufstica . Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil. Titulo: A relagao sintaticosemantica dos verbos na Lingua Brasileira de Sinais Libras.

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especial - educagao em libras

Inclusao Onde estao os Surdos na Educagao? Prof. Dra. Ronice Muller de Quadros

As polfticas nacionais de inclusao escolar estao baseadas na Lei de Diretrizes e Bases da Educagao do Brasil ( LDB, Lei 9394/1 996 ), que define Educa gao Especial como a modalidade escolar para educandos "portadores de necessidades especiais", preferencialmente na rede regular de ensino ( Ca pftulo V, artigo 58 ). A polftica de inclusao escolar tem como objetivo a promogao da educagao para todos. Na pratica, as polfticas quase ignoram, ou talvez, interpretem a palavra " preferencialmente" como "exclusivamente" na rede regular de ensino . Assim, e previsto o atendimento dos "portadores de necessidades especiais" na rede regular de en sino com servigos de apoio es-

pecializado quando necessario. Esse discurso e essa pratica nao sao contestados por parte do governo. No entanto, percebe-se vozes silenciadas de alunos e educadores evocando e/ ou denunciando as contradi goes observadas nas polfticas integracionistas ( cf. apontado por Souza e Goes, 1999). A polftica de inclusao insiste em dar conta dos exclufdos dessa forma. No entanto, a educa gao deveria estar calcada em um

20 - Revista da FENEIS

piano que atenda de fato as diferengas no contexto brasileiro: diferengas sociais, polfticas, lingufsticas e culturais. Todavia, a realidade reflete a inclusao de todos visando atender interesses polfticos que tem base na

homogeneidade. Osresultados dessa insistencia sao familiares tanto para os profissionais que atuam na educagao, bem como, para os intelectuais da educa gao: o fracasso escolar dos silenciados, dos oprimidos. No caso dos surdos, ha uma identificagao com a deficiencia e ha dificuldade em admitir- se a existencia de uma cultura surda 1 . Essa cultura apresenta varias facetas, mas com caracterfsticas que sao especfficas; ela e visual, ela traduz - se de forma visual. As formas de organizar o pensamento e a linguagem transcendem as formas ouvintes. Elas sao de outra ordem, uma ordem com base visual, e por isso tem caracterfsticas que podem ser ininteligfveis aos ouvintes. Elas se manifestam mediante a coletividade que se constitui a partir dos proprios surdos. A escola ha muito tem representado o lugar em que os surdos nao possuem os seus espagos, pois baniu a Lfngua de Sinais e jamais permitiu a con-

solidagao dos grupos surdos e de suas produgoes culturais. Assim, a coletividade surda garantiu-se atraves de movimentos de resistencia com a funda gao de organizagoes administradas essencialmente formadas por surdos. Em muitas dessas organizagoes ouvintes nao sao permitidos no corpo administrative. O que acontece aqui e o clamor pela coletividade surda com a constituigao de suas regras e de seus prinefpios e um confronto de poderes. Nesse espago com fronteiras delimita das por surdos e que se consti tui a cultura surda. Em alguns casos, ate admite- se a existen cia dessa cultura, mas enquan to cultura subalterna ou minoritaria, normalmente nao como cultura diferente. Nas propostas de inclusao se

observa a submissao dos surdos ao processo educacional ouvinte nas propostas integra cionistas. Inicia - se no condici onamento de todo o processo educacional ao ensino do portugues ate a descaracterizagao completa do ser surdo. A pessoa surda enquanto parte da cultura surda e descoberta fora da escola (quando isso acontece). A consequencia dessa tentativa de homogeneizagao e o


fracasso, nao so academico, mas na formagao de pessoas, com problemas serios de ordem pessoal, social, cultural e polftica. Ate a sanidade mental desses alunos e colocada em risco, uma vez que a formagao da identidade e constitufda com base em modelos completa mente equivocados2 . Faz - se necessario reconhecer que as diferengas precisam ser consideradas em uma polftica educacional que busca garantir o acesso a educagao enquanto direito humano. Dessa forma, nao esta se tratando de oposi goes, mas de diferentes vieses que se tornam fundamentais para uma analise politico educacional do sistema de ensino, da sua estrutura e de seus currfculos. As diferengas passam a fazer a diferenga ao se refletir sobre a educagao em cada contexto historico-cultural nos diferentes espagos. O dito normal nao mais configura a realidade, uma vez que a normalidade passa a ser relativizada perante os diferentes grupos sociais e culturais. Ser diferente e as consequencias destas diferengas e que devem ser materia de reflexao e anali se ao se pensar em educagao para todos. A proposta aqui e de se pensar em uma educagao possfvel para surdos considerando as peculiaridades das ex periences visuais - espaciais. Educagao para todos, entao, passa a ser entendida como a educagao que reconhece as di ferengas.

Entendendo a surdez Conforme Skliar ( 1997 ), existe uma diferenga crucial

entender a surdez como uma deficiencia e entende- la como uma diferenga . Af se pode estabelecer uma raia di visoria entre a concepgao clf nica da surdez e a concepgao socio- antropologica. Ao con trario da concepgao clfnica que visa a medicalizagao, o trata mento, a normalizagao do surdo, a concepgao socio -antropologica reconhece a surdez como uma experiencia visual . E vista como uma maneira sin gular de construir a realidade historica, polftica e social como uma forma distinta de conceber ( de "VER " ) o mundo, e nao ha uma necessidade valorativa de reconhecer esta ou aquela forma como a " correta "3 . As experiences visuais sao as que perpassam a visao. O que e importante e ver, estabelecer as relagoes de olhar. A experiencia e visual desde o ponto de vista ffsico (os encontros, as festas, as estorias, as casas, os equipamentos...) ate o ponto de vista mental (a Ifngua, os sonhos, os pensamentos, as ideias ..) . Como conseqijencia e possfvel dizer que a cultura e visual. As produgoes lingufsticas, artfsticas, cientfficas e as relagoes sociais sao visuais. O olhar se sobrepoe ao som mesmo para aqueles que ouvem dentro de uma comuni entre

.

dade surda. Pensar entao em educagao de surdos e considerar as ex periences visuais das pessoas surdas. Uma das tradugoes dessa experiencia e a Lfngua de Si nais. As mudangas requerem a participagao polftica das pessoas surdas para nos apontar o que significam as diferengas e como elas precisam ser consi deradas na educagao, no cur-

rfculo. A experiencia visual, muitas vezes, relegada a um segundo ou terceiro piano, deve passar a ser o foco das aten goes, pois ela e a base do pen samento e da linguagem dos surdos. Como apontado por Ramsey (1997), nem surdos, nem ouvin tes podem se desenvolver isola dos de outros, nem podem eles desenvolver-se de forma neutra. Assim, a polftica e a que esta af definindo a forma como as criangas inclufdas vao ser forma das. Ou seja, nas escolas inclusivas, as criangas surdas sao definidas simplesmente como aquelas que estao exercendo seus direitos civis de acesso a educagao. Em contraste, na sala de aula, elas sao aquelas crian gas que necessitam de atendi mento especffico por serem surdas concretizando, portanto, a exclusao.

Refletindo... Os contextos educacionais atuais nao tern proporcionado o desenvolvimento das criangas surdas. Nesses contextos, pelo menos devem ser consideradas a questao da Ifngua ao ser ana lisado o processo educacional mediante a proposta de inclusao e a questao da aquisigao da linguagem com outros surdos, que pode garantir as criangas o acesso as ferramentas que sua

cultura oferece para pensar,

aprender e manipular com o conhecimento, tornando-as capazes de ser sujeitos de um grupo com identidade cultural. A partir dessas considera goes, pode- se sugerir que ha uma tendencia das escolas inclusivas em "homogeneizar" as

Revista da FENEIS - 21


produgoes culturais e sociais, pois nao ha uma polftica da di ferenga. No caso especffico dos surdos, nao ha uma preocupa gao com a coletividade: a forga que os grupos de surdos evocam mediante a interagao social e cultural. Como diz Perlin ( 2000), e crucial estar com o outro igual para a formagao da

identidade surda . Alem disso, nos defronta mos com a nao "permissao " da participagao da comunidade surda na tomada de decisoes quanto as polfticas educacionais para surdos. Tanto e assim que a polftica de inclusao do jeito que e persiste ate os dias de hoje. Diante dessas varias reflexoes, levanto algumas questoes para se refletir sobre as polfti cas de educagao inclusiva : como sera promovida a interagao social entre os pares sur dos ? Como os grupos exercerao e reproduzirao suas regras e seus princfpios surdos ? Como a coletividade sera garantida ? Como os modelos de adultos surdos estarao presentes no processo educacional enquan to referenciais para as criangas surdas e para as escolas em que atuarao ? As respostas a essas perguntas dependem de um projeto polftico - pedagogico surdo. Considerando que a cultura surda mostra uma nostalgia curiosa em relagao a uma "comu nidade imaginaria " e que e barbaramente ou profundamente transformada, senao destrufda no contato com a cultura hegemonica, ela age como regu ladora da formagao da identi dade surda, que se reaviva novamente no encontro surdo -

22 - Revista da FENEIS

surdo. Esse encontro e um elemento chave para o modo de proclugao cultural ou de iden tidade, pois implica um impac to na " vida interior ", e lembra da centralidade da cultura na construgao da subjetividade do sujeito surdo e na construgao da identidade como pessoa e como pessoal. agente ( Miranda, 2001 ) 4

exclusao - Abordagens SocioAntropologicas em Educagao Especial. Editora Mediagao. Porto Alegre. 1997. SOUZA, R. M . & G6 ES, M . C. R. O ensino para surdos na escola inclusiva: consideragoes sobre o excludente contexto da inclusao. Em Atualidades da educagao bilfngue para surdos. Carlos Skliar (org. ) Editora Mediagao. Porto Alegre. 1999.

Referencias: 1

MIRANDA, W. Comunidade dos surdos: olhares sobre os contatos culturais. Dissertagao de Mestrado. UFRGS. Porto Alegre. 2001 . PERLIN, G.. Identidades Surdas. Em Skliar, Carlos (org. ) A Surdez: um olhar sobre as diferengas. Editora Mediagao. Porto Alegre. 1998 . Identidade Surda e Curriculo. Em Surdez Processos Educativos e Subjetividade. Cristina Broglia Feitosa Lacerda e Maria Cecflia Rafael de Goes (org. ) Lovise. Sao Paulo. 2000. QUADROS, R. M. de. Situando as diferengas implicadas na educagao de surdos: inclusao/ exclusao. Na Revista Ponto de Vista. NUP/UFSC: Florianopolis. 2003 . 81 - 112. RAMSEY, Claire L . Deaf Children in Public Schools: Placement, Context and Consequences. Gallaudet University Press.

2

1

1997.

SILVA, T. T. Teoria Cultural e Educagao. Autentica. Belo Elorizonte. 2000. SKLIAR, C. (org. ) A Surdez: um olhar sobre as diferengas. Editora Mediagao. Porto Alegre. 1998. (org.) Educagao &

Entende- se cultura surda como a identidade cultural de um grupo de surdos que se define enquanto gru po diferente de outros grupos. Como diz Perlin ( 1998:54), os surdos sao surdos em relagao a experiencia visual e longe da experiencia auditiva. " Identidade" foi mencionada ao longo deste texto no sentido explicitado por Silva ( 2000:69 ): como o conjunto de caracterfsticas que distinguem os diferentes gru pos sociais e culturais entre si. No campo dos estudos culturais, a identidade cultural so pode ser entendida como um processo social discursivo. Skliar (1997, 1998) faz uma anali se detalhada a respeito da visao clmica- terapeutica e a concepqao socio- antropologica da surdez. No primeiro caso, e possivel identifi car todas as propostas educacionais com base na recuperagao e tratamento da deficiencia com o objetivo de "cura". No segundo caso, ha uma tentativa de se repensar o processo educacional resga tando-se as diferengas que enriquecem e caracterizam um determina -

do glrupo cultural, no sentido ja discutido anteriormente, concebendo-se, entao, uma escola com base nas experiencias especfficas deste grupo. 4

Grifo meu.


.

especial - educagao em libras

Na contramao de todas as conquistas "Educagao inclusiva em uma sala de aulas onde dois ou tres surdos sao atendidos por uma professora que cuida de mais de 30 alunos ouvintes e nem sabe Libras e um absurdo!� Mariana Rossi

Em recentes publicagoes, a professora Maria Teresa Egler Mantoan declarou- se a favor de

que educadores comuns estao aptos a atender criangas surdas. Esta opiniao provocou indignagao por parte de alguns especialistas no assunto, que tanto tern lutado pela inclusao dos surdos na sociedade.

Na minha opiniao, a Dra. Mantoan se manifestou na con-

do conhecimento atua lizado na area da surdez . Na verdade, parece que estamos voltando ao Congresso de Mi lao, quando ouvintes distantes das reais necessidades dos surdos fizeram retroceder sua educagao durante cem anos. Eles foram transformados em defici-

tramao

entes

dependentes, incomu -

nicados em suas proprias farm lias, obrigados a praticar sua

lingua em associagoes de resistencia, marginalizados pelo resto da sociedade e, por fim, recebendo migalhas de assisten cialismo. Os movimentos das comuni dades surdas, que, a partir dos anos 80, foram respaldados pelos avangos cientfficos nas areas das neurociencias e da educagao, provocaram mudangas muito significativas nas vidas dos surdos, sendo a mais importante a legitimizagao de suas Ifn guas de sinais. O departamento de educagao especial do Ministerio da Educagao (MEC) tern dado respaldo a essas conquistas importantes na melhoria da condigao

de vida dos surdos, reclamadas por essa comunidade, historica mente ignorada, a qual se uni ram alguns profissionais sensf-

veis e atualizados, de diversas areas, cujos esforgos resultaram nas leis federais 10.172 e 10.436, que estao apenas comegando a ser implementadas.

Minha filha surda, professora Marianne Stumpf, encontrase nesse momento na Franga, convidada a participar num projeto daquele pafs, implementado pelos ministerios da pesquisa, da cultura e do tra balho, como especialista em SignWriting. A Franga comemora 20 anos de seu projeto de educagao bilmgue para os surdos e pensa que e o momento de introduzir o ensino da escri ta de sinais, consolidando uma escolha que se mostrou acertada: a de reconhecer e valorizar cada vez mais a Lingua de Si nais na vida e educagao dos surdos.

Revista da FENEIS - 23


SOMBER Essa lfngua e vista como um pre- requisito, que necessita, como qualquer outra Ifngua, de um conhecimento metacogni tivo aprofundado, que impoe uma aprendizagem de longa duragao, a adultos surdos como educadores . Impoe tambem problemas pedagogicos muito especfficos, que incluem o desenvolvimento de estrategias capazes de transferir as competencias lingufsticas da Lfngua de Sinais para a escrita da lfngua oral do pafs.

Um exemplo chamado Franga Na Franga, se pratica a inclu sao, so que la a inclusao coloca classes especiais para surdos com professores surdos para todas as disciplinas, que sao ain da acompanhados de interprete nas aulas comuns com alunosouvintes. Essas aulas sao de natureza mais pratica : educagao ffsica, artes, teatro, horta casei ra, nutrigao etc. Outras escolas incluem alguns alunos surdos nas classes de ouvintes, mas sempre acompanhados por um professor surdo. Nestas classes, a aula de Lfngua de Sinais e comum aos alunos ouvintes e surdos para que todos aprendam a sinalizar. Ha ainda, os interpretes dentro das escolas que auxi liam a integragao. As famflias participam muito da vida das escolas e as reuni oes sao realizadas entre professores, pais, alunos e coordenadores, sendo que e usada a Lfn-

gua de Sinais quando ha surdos presentes. Estive com Marianne nos pri meiros 20 dias quando ela foi para a Franga e pude observar um pouco. Vi, por exemplo, uma classe para surdos de uma escola inclusiva, com quatro cri \

C A

FRANCA COMEMORA 20

ANOS DE SEU PROJETO DE

EDUCAGAO BILINGOE

PARA

OS SURDOS E PENSA QUE E

O MOMENTO DE INTRODUZIR O ENSINO DA

,

ESCRITA DE SINAIS

CONSOLIDANDO UMA ESCOLHA

QUE SE

osos mas funcionalmente exce-

lentes. Esses alunos surdos tern realmente suas necessidades atendidas. Colocar o mesmo rotulo de educagao inclusiva em uma sala de aulas onde dois ou tres surdos sao atendidos por uma professora que cuida de mais de 30 alunos ouvintes e nem sabe Libras e um absurdo ! Aqui, se conseguimos algum progresso foi nas escolas de surdos. Por favor, vamos progredir e nao destruir o pouco que temos. Nao podemos voltar atras nos avangos conseguidos pelas comunidades surdas, auxiliadas por alguns especialistas sensfveis e dedicados, que com tanto esforgo tern tentado superar as limitagoes de toda ordem que Ihe sao impostas.

MOSTROU ACERTADA: A DE RECONHECER E VALORIZAR

CADA VEZ MAIS A DE

SINAIS

Mariana Rossi Stumpf , psicopedagoga e logopeda

LlNGUA

•Experiencia de 21 anosem

NA VIDA E

.

EDUCAgAO DOS SURDOS

V

/

angas surdas com um professor surdo mais um professor auxili ar surdo, uma coordenadora surda das classes de surdos, interpretes na escola, totalizando 30 surdos integrados, sete professores surdos, uma coordenadora, um orientador doutor em surdez e uma interprete. Os recursos materials nao eram luxu-

escolas especiais, sendo 11 deles em escolas de surdos do Rio Grande do Sul. Trabalho voluntario como diretora administrativa do CEPEIS - Centro de Estudos e Pesquisas da Federagao Nacional de Educagao e Integragao dos Surdos -

Feneis, RS Tern uma filha surda que e diretora de polfticas edu cativas da Feneis

F E N E I S Federagao Nacional de Educagao e Integragao dos Surdos

Comunicando atraves da Libras 24 - Revista da FENEIS


especial - educagao em libras

A Educagao que nos surdos queremos O documento a seguir foi elaborado pela comunidade surda a partir do pre-congresso ao V Congresso Latino Americano de Educagao Bilingue para surdos, realizado em Porto Alegre/RS, no salao de atos da reitoria da UFRCS nos dias 20 a 24 de abril de 1999. Nele estao os anseios dos surdos brasileiros a respeito dos principals pontos que devem envolver uma educagao plena e efetiva para este segmento.

. POLfTICAS E

1

PRATICAS

EDUCACIONAIS PARA SURDOS DIREITOS HUMANOS 1 . Propor o reconhecimento da lingua de sinais como lingua da educagao do Surdo em todas as escolas e classes especiais de surdos. 2 . Assegurar a toda crianga surda o direito de aprender Ifn guas de sinais e tambem portugues e outras Ifnguas. 3. Assegurar as criangas, adolescentes e adultos surdos, educagao em todos os nfveis, como pressuposto a uma capacitagao profissional. 4. Levar ao conhecimento das escolas os direitos dos surdos. Pro-

mover a conscientizagao sobre questoes referentes aos surdos. 5. Recomendar que programas televisivos nao veiculem posturas

portugues escrito. 11 . Buscar recursos para a manutengao de uma Central de Interpretes para atender aos sur-

que gerem atitudes discrimi natorias contra o uso da Ifngua de sinais e direitos dos surdos defendendo posturas ouvintistas. 6. Levar em conta o conhecimento da Ifngua de sinais para a

dos de Classe Especial, de Integragao e Faculdades. 12. Formular polfticas publi cas para levantamento e atendi mento educacional de criangas

escolha dos professores de surdos. Entende-se como prova de conhecimento em Ifngua de sinais: certificado especffico de curso reconhecido pelas Associagoes e Federagoes de Surdos, com aprovagao posterior em banca constitufda pela comunidade surda. 7. Propor iniciativas visando impedir preconceitos contra surdos. 8. Criar cursos noturnos para jovens e adultos surdos no ensi no fundamental, medio, superi or, supletivos, cursos profissionalizantes, em que os professores usem Ifngua de sinais ou em que haja interpretes da mesma. 9 . Regularizar ou imple mentar o ensino para os surdos onde quer que eles estejam presentes.

10. Usar da tecnologia na comunicagao com surdos em escolas e locais publicos uma vez que se tern constatado que a tecnologia ajuda na aquisigao do

de rua surdas. 13 . Propor uso de legenda na mfdia televisiva, particularmente nos momentos de noticiario regular extraordinario, o que favorece a compreensao pelos surdos. 14. Realizar estudos a fim de levantar a real situagao educaci onal dos surdos: escolaridade, numero de surdos nao atendi dos, evadidos, analfabetos, etc. 15. Em educagao, assegurar ao surdo o direito de receber os mesmos conteudos que os ouvintes, mas atraves de comunicagao vi sual. Formas conhecidas, em comunicagao visual importantes para o ensino do surdo sao: Ifnguas de sinais, Ifngua portuguesa, e outras Ifnguas no que tange a escrita leitura e gramatica 16. Respeitar a decisao do surdo em usar ou nao aparelho de audigao. Nao impor o uso do mesmo, nenhum surdo pode ser obrigado a usar aparelho auditi vo, ja que esta decisao deve ser consciente.

Revista da FENEIS - 25


-A

17. Nos concursos vestibulares os surdos devem contar com interpretes na ocasiao das provas e a prova de portugues deve ter criterios especiais de avaliagao. 18. Em concursos publicos onde o surdo concorre com ou tros deficientes sua prova de portugues tambem precisa ser analisada com criterios especfficos e inclusive com presenga de in terpretes. 19. Incorporar aos currfculos dos cursos superiores disciplinas que abordem: lingua de sinais e outras

informagoes sobre cultu-

ras surdas, particularmente nos cursos de formagao de medicos, fonoaoudiologos e outros que irao trabalhar com surdos. 20. Promover a recuperagao

daqueles indivfduos surdos quepor muitos anos foram mantidos no "cativeiro" dos ouvintes, possibilitando sua integragao a sociedade. 21 . Repensar o destino do patrimonio dos surdos, assim como o patrimonio das escolas

de surdos quando deixam de existir. 22. Considerar que a integragao/inclusao e prejudicial a cultura, a Ifngua e a identidade sur-

das.

23 . Propor o fim da polftica de inclusao/integragao, pois ela trata o surdo como deficiente e, por outro lado, leva ao fechamento de escolas de surdos e/ou ao abandono do processo edu-

cacional pelo aluno surdo. 24. Considerar que a integra gao da pessoa surda nao passa pela inclusao do surdo em ensi no regular, devendo o processo ser repensado.

A ESCOLADE SURDOS 25. Elaborar uma polftica de educagao de surdos com escolas especfficas para surdos. 26 - Revista da FENEIS

26. Considerar que a escola de surdos e necessaria e deve oferecer educagao voltada para princfpios culturais e humanfsticos, promovendo o desenvol vimento de indivfduos cidadaos e sendo um centro de encontro com o semelhante para produgao inicial da identidade surda. 27. Enfatizar a urgencia da criagao de creches e escolas de ensino fundamental e ensino medio para a populagao de surdos da capital e interior. Devem ser criadas mais escolas de surdos nos municfpios e na capital, se possfvel centralizando estas escolas nos municfpios polo. 28. Articular as varias escolas de surdos, criando espago de discussao a fim de qualificar a educagao de surdos. 29. O ensino dos surdos que precisam de apoio visual para se comunicar nao deve ser inclufdo nas listas de inclusao na educagao infantil, ensino fundamental, e ensino medio. Eles preci sam do suporte que somente a escola de surdos pode dar. 30. Implementar ensino para surdos adultos nas escolas de surdos. Ampliar as escolas de surdos com oferta de escola noturna para surdos. Criar e ampliar o ensino a surdos adultos, visto que ha uma populagao surda analfabeta, com baixo nfvel escolar ou que abandonou a escola por nao conseguir acompanhar conteudos ou, ainda, por necessitar de uma educagao de melhor qualidade. 31. Solicitar informagao vi sual e/ou legendada nas escolas de surdos, como tambem a instalagao de sistema luminoso na campainha. 32 . Propor o fim da divisao por etapas nas series iniciais para surdos: 1 a serie 1 a etapa, 1 a serie 2a etapa, etc.

33 . Revisar o papel das clfni cas junto as escolas de surdos no sentido de que a educagao do surdo nao seja clfnica. 34 . Considerar que as esco-

las de surdos devem ter interpretes em todos os eventos e para os momentos de dialogo com a famflia de pais surdos e entre familiares ouvintes e fi Ihos surdos.

AS CLASSES ESPECIAIS PARA SURDOS Se nao houver escolas de surdos no local e for necessario programa de surdos a distancia com classes especiais para surdos ou em municfpios polo recomenda do que: 35. Nas classes especiais, que os surdos nao sejam tratados como deficientes, mas como pessoas com cultura, Ifngua e comunidade diferente. 36. Seja incentivado, mostrado e estimulado o uso da Ifnguas de sinais pelo surdo, indo ao encontro de seu direito de ser e de usar a comunicagao visual para estruturar uma Ifngua de sinais coerente. 37. A aquisigao da identida de surda seja considerada de maxima importancia, tendo em vista que a presenga de professor surdo e o contato com a comunidade surda possibilitam ao surdo adquirir sua identidade. 38. Sejam introduzidas palestras sobre cultura surda nas escolas com classe especial para surdos. 39. Caranta -se atendimento adequado nas escolas onde ha classe especial de surdos no sentido de acabar com sentimentos de menos-valia e que os surdos recebam ensino adequado. 40. Implantem-se sistemas de alarme luminoso, cabinas de te-

I


lefone tdd ou fax em escolas com classe especial de surdos. 41. Promova-se a criagao um banco de dados sobre a situagao dos direitos dos surdos, bem como sobre sua cultura e historia, visando a promogao da identidade surda na escola com classe especial. 42. Apoie- se a definigao de agoes de valorizagao da comunidade e cultura surda na escola com classe especial. 43 . Trabalhe- se com os surdos e suas famflias no sentido de que a famflia adquira a Ifngua de sinais. 44. Seja implantado um Programa de Pais garantindo o acesso a informagao e assessora mento adequados.

AS RELAgOES ENTRE PROFESSOR OUVINTE E O PROFESSOR SURDO 45. Propor que administra dores, professores de surdos e funcionarios aprendam a Ifngua de sinais. 46. Promover a capacitagao dos professores de surdos no sentido de que os mesmos tenham linguagem acessfvel em Ifnguas de sinais para atender aos educandos surdos. 47. Garantir a formagao e atualizagao dos professores ouvintes de surdos de modo a assegurar qualidade educacional. Formar (cursos superiores e de extensao) os professores de surdos, com capacitagao dos mesmos no conhecimento da cultura, comunidade e Ifngua dos surdos. 48. Garantir que as relagoes entre professores surdos e professores ouvintes sejam igualitarias 49. Assegurar que nas reuni oes de escolas de surdos, os professores surdos tenham direito a interpretes e a entender o que esta

sendo falado, tendo suas opinioes respeitadas e debatidas como sao as dos professores ouvintes. 50. Assegurar que o professor surdo tenha direito e prioridade de trabalho em escola de surdos. 51 . Consideraros professores surdos como educadores. 52 . Carantir a equiparagao salarial entre professores surdos e ouvintes, respeitando o piano de carreira em vigor.

2.COMUNIDADE, CULTURAE IDENTIDADE A IDENTIDADE SURDA

53. Substituirotermo de "deficiente auditivo" por surdo considerando que o deficiente auditivo e o surdo nao tern a mesma identidade: o deficiente auditivo usa comunicagao auditiva, tendo restos auditivos que podem ser corrigidos com aparelhos; o surdo usa comunicagao visual (Ifnguas de sinais) e nao usa comuni cagao auditiva. 54. Incentivar o contato do surdo com a comunidade surda, pois a construgao das identida des surdas se da prioritariamente no contato com outros surdos. 55. Reconhecer que a pessoa surda e um sujeito com identidade surda. O objetivo de mudar o surdo para torna-lo igual a um ouvinte e um desrespeito a sua identidade e a sua condigao

de cidadao. 56. Evitar que o surdo seja obrigado a aceitar a representagao da identidade ouvinte o chamado ouvintismo.

AS LfNGUASDE SINAIS 57. Oficializar a Ifngua de si nais nos municfpios, estados e a nfvel federal.

58. Propor o reconhecimen t o e a regulamentagao da Ifngua

de sinais a nfvel federal, estadual e municipal para ser usada em escolas, universidades, entidades e orgaos publicos e privados. 59. Considerar que as Ifnguas de sinais sao Ifnguas naturais das comunidades surdas, constituin do Ifnguas completas e com estrutura independente das Ifnguas orais. 60. Considerar que as Ifnguas de sinais expressam sentidos ou significagoes que podem facilmente ser captados e deco dificados pela visao. 61. Propor contato obrigatorio com Associagoes ou Federa goes de Surdos para a formagao de pessoas com pratica e conhecimento em Ifngua de sinais. 62 . Considerar que a Ifngua de sinais tern regras gramaticais proprias. 63. Considerar que a Ifngua de sinais favorece aos surdos o acesso a qualquer tipo de conceito e conhecimento existentes na sociedade. 64. Observar que a Ifngua de sinais e uma das razoes de ser da escola de surdos, assim como existem escolas em outras Ifnguas (espanhol, ingles...). 65 . Reconhecer a Ifngua de sinais como Ifngua da educagao do surdo, ja que e expressao das cultura/s surda/s - Lfngua e cultura nao

indissociadas.

66. Considerando que a Ifngua de sinais e propria da comu nidade surda, garantir que o ensino de Ifnguas de sinais seja ex clusiva dos instrutores surdos. E necessario que os instrutores surdos sejam capacitados para o ensino da mesma, com formagao

especffica. 67. Respeitar o uso da escrita pelo surdo com sua estrutura graRevista da FENEIS - 27


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matical diferenciada. A cultura surda merece ser registrada e traduzida para outra Ifngua. 68. Observar que a evolugao cultural da comunidade surda se da a partir do registro escrito, da filmagem, de fotos, desenhos... que sao meios que possibilitam o acumulo do conhecimento.

OCURRfCULO DA ESCOLADESURDOS 69. Criar programas especffi cos para serem desenvolvidos antes da educagao escolar da crianga surda visando a fluencia em Ifngua de sinais. 70. Utilizar a Ifngua de sinais dentro do currfculo como meio de comunicagao. 71 . Fazer da Ifngua de sinais uma disciplina no currfculo, envolvendo o ensino de sua morfologia, sintaxe, e semantica. 72. Elaborar para as escolas de surdos, uma proposta pedagogica, orientada pela comuni dade surda e por equipe especializada em educagao do surdo.

73. Reestruturar o currfculo atendendo as especificidades da comunidade surda, incluindo no planejamento curricular disciplinas que promovam o desenvol vimento do surdo e a construgao de sua identidade. 74. Fazer com que a escola de surdos insira no currfculo as manifestagoes das cultura/s surda/s: pintura, escultura, poesia, narrativasde historia, teatro, piadas, humor, cinema, historia em quadrinhos, danga e artes visuais, em sinais. A implantagaode laboratories decultura surda se faz necessaria. 75. Contar com a ajuda de professores e pesquisadores surdos na mudanga do currfculo, para o qual devem ser consideradas inclusive as especificidades da comunidade surda, incluindo para os sur-

28 - Revista da FENEIS

dos os mesmos conteudos que para as escolas ouvintes. 76. Usar a comunicagao visual para o ensino dos surdos em suas formas: Ifnguas de sinais, escritaem sinais, leitura e escrita do portugues. Considerar que existe toda uma problematica na aprendizagem do portugues, que deve ser considerada como segunda Ifngua. 77. Informar os surdos sobre educagao profissional, propostas salariais e acesso a cursos

profissionalizantes e concursos. 78. Contra- indicar uso de livros e materials didaticos que oferegam imagens estereotipadas, responsaveis por manter discrimi nagoes em relagao aos surdos. 79. Criar livros e historias onde aparega o sujeito surdo sem presenga de estereotipos. 80. Oferecer aos educandos surdos o conhecimento de tec nologia de apoio, ou seja: os aparelhos especiais para uso de surdos, por exemplo, aparelhos TDD, TV com decodificador de legenda e equipamentos luminosos para construgoes e transito. 81 . Conhecer a historia surda e seu patrimonio, os quais proporcionam o estabelecimento de sua identidade surda.

ARELAgAOENTREA COMUNIDADE SURDA E A ESCOLADESURDOS 82. Fazer com que todos os surdos, inclusive criangas e adolescentes, tenham direito a con vivencia e proximidade com a comunidade de surdos. 83 . Recomendarcomo necessaria a interagao entre escola de surdos e comunidade surda.

AS RELAgOES COM A

FAMfLIA

84. Fornecer atraves da escola, Secretarias de Saude, S.U.S.

e Associagoes, um suporte com informagoes qualificadas as famflias a fim de auxilia- las a enfrentar as vivencias relativas a

surdez. 85 . Formar equipes com presenga de surdos, instrutores surdos, professores, agentes comunitarios e membros da comunidade para trabalhar em conjun to com famflias de surdos. 86. Prestar assistencia aos pais surdos com filhos ouvintes propiciando a presenga de um interprete em reunioes na escola em que este estuda, fazendo com que os pais ou a escola arquem com as despesas deste profissional intermediado. 87. Liberar do trabalho nos horarios necessarios os pais que tern filhos surdos, para realizarem cursos de Ifngua de sinais conforme suas necessidades. 88. Promover esclarecimentos a pais com filhos surdos para que estes possam viver e desfrutar de uma vida normal como surdos. 89. Transmitir aos pais, irmaos e familiares a orientagao para que seja utilizada Ifngua de sinais na comunicagao com a crianga surda.

AS ARTES SURDAS 90. Considerar que em nossas escolas, existem pequenas ou mfnimas references ou quase nada de iniciagao a arte surda. Notase que muitas escolas ainda primam pelo uso de coral de surdos, que nao condiz com a expressao da arte surda. O coral pode se tornar uma arte surda, desde que visualmente expressivo e dirigido por um surdo. 91 . Observar que os alunos surdos precisam de contato com a arte surda, tal como e mostra da na historia, no dia-a-dia do


surdo com sua produgao de significados. 92. Levar os surdos ao contato com artistas surdos e com a arte surda atraves de fotos, vfdeos, pinturas, esculturas, teatro. 93. Considerar que os olhos, as maos, a expressao corporal e facial sinais referenciais para os surdos. 94. Despertar os surdos para a arte, a fim de que possam ex pressar sua identidade surda atraves da mesma. 95 . Ver a arte surda como forma de significagao que produz certas caracterfsticas determi nantes para a diferenga e as construgoes historicas e cultu-

ral. 96. Colocar a pergunta: por que vivemos num complexo tao desumano em relagao a arte surda ? 97. Considerar que ha artistas surdos em diferentes contextos como atores, poetas em lingua de sinais, pintores, magicos, escul tores, contadores de historias e outros, tais como os cineastas.

98. Adotar como estrategia relevante para a arte nas escolas a discussao com os alunos sobre como criar a arte surda. 99. Incentivar o teatro, a poesia, a pintura e pesquisas na historia, na comunidade surda e outros. Artistas surdos ou debates na comunidade surda sobre a arte seriam bem vindos para in centivar os alunos "desgastados" pela exclusao da arte nas escolas de surdos. 100. Observar que o uso das imagens sobre o surdo na sala de aula precisa conter algo dos surdos. Urn bom ponto de pesquisa esta na Internet, onde ha sites de surdos que trazem imagens autenticas de surdos.

101 . Considerar necessario o conhecimento da arte e ex pressao surda por parte dos professores, que precisam conhecer a arte surda para que o

aluno surdo possa desenvolver sua criatividade e nao se en vergonhe ou esconda a sua

arte.

em lingua de sinais, registrandoas na escrita de sinais, em vfdeo, desenhos ou pintura.

3. FORMAGAO DO PROFISSIONAL SURDO

102. Reconhecer que alguns surdos tern dons muito proprios para a arte de expressao corporal e ela deve ser incentivada pela farmlia, escola ou associagao de surdos. 103 . Assegurar que a arte a ser usada na escola nao se resuma a pintar desenhos "pre-

GERAL 111 . Desenvolver ao maximo a educagao e a formagao das pessoas surdas. 112. Criar cursos profissionalizantes para surdos nas escolas de surdos de 2 ° Grau. 113 . Criar cursos especfficos para surdos como instrutores de lingua de sinais, solicitando junto as Associagoes e Federagoes de Surdos, que devem ser o centra de apoio das pessoas que as procuram.

suas implicagoes polfticas. 105 . Encorajar os surdos para a busca de significados que expressem a/s cultura/s surda/s.

OS EDUCADORES

AS CULTURAS SURDAS 106. Promover a/s cultura/s surda/s atraves de historia, arte, direitos dos surdos, tecnologia e escrita de sinais, privilegiando os meios visuais em sua produgao, veiculagao e acesso. 107. Promover a criagao de bibliotecas visuais nas escolas e o acesso a esse acervo pela comunidade surda. 108. Encaminhar solicitagao de espago especial na TV para programas socio-culturais-artistfcos e educacionais de surdos. 109. Estimular entre as crian gas surdas a criagao de signifi cados e a vivencia das cultura/s surda/s. 110. Estimular as criangas a produzirem historias classicas

tern em serem educados na sua propria Lfngua. 1 1 5 . Recomendar ao pro fessor surdo a reflexao sobre a representagao de sua identida de surda, uma vez que ele e,

feitos por professores ", ou "cantar " musicas que sao destituidas de significado para a cultura surda. 104. Repensar e discutir a arte surda no que ela representa em

SURDOS 114. Buscar a formagao de profissionais surdos a nfvel academico, nas areas afins, tendo em vista o direito que os surdos

fundamentalmente, um modelo de identidade para a crian ga surda. 116. Garantir que a escola de surdos tenha a presenga de profissionais que sejam surdos, ja que devem ser ouvidos quando se trata de questoes proprias de sua comunidade. 11 7. Assegurar que no curso de formagao para os professores surdos exista currfculo especffico sobre todas as implica goes da surdez ( educacionais, culturais, vocacionais...), bem Revista da FENEIS - 29


como sobre lingua de sinais ( estrutura, morfologia, sintaxe...). 118. Considerar que a formagao especffica e o trabalho do professor surdo, enquanto profissional, sao necessarios. E importante que o professor surdo esteja engajado nas lutas da co-

munidade surda..

119. Incentivar na comunidade surda a escolha pelas carrei ras de licenciatura.

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OS INSTRUTORES DE LfNGUADE SINAIS 120. Encaminhar o Instrutor surdo com conhecimento no campo da educagao de surdos para trabalhar em escolas. Os Instrutores surdos sem formagao no magisterio devem atuar em outras areas, como por exemplo: farmlia, empresas, etc. 121. Observar que o ensino de lingua de sinais requer instrutores surdos com formagao. 122. Buscar a regulamentagao da profissao de Instrutor de Lingua de Sinais, em parceria com Associagoes e Federagoes de Surdos, para obter o reconhecimento legal da profissao. 123. Carantir que a profissao do Instrutor de Lfnguas de Sinais seja exclusiva dos surdos. 124. Assegurar que os surdos com formagao e experiencia profissional coordenem os instrutores surdos. 125 . Exigir que a formagao minima do instrutor surdo seja de nivel medio. 126. Implementar o curso de formagao de Instrutor na escola de ensino medio de surdos como uma habilitagao especffica. Ex.: contabilidade, instrutor surdo, secretario, etc. 127. Implementar os agentes multiplicadores para formagao de instrutores surdos. 30 - Revista da FENEIS

O MONITOR SURDO 128. Considerar que o monitor e um auxiliar/estagiario e que a sua permanencia em sala de aula, portanto, nao pode ser definitiva. 129. Considerar que o monitor surdo e um recurso humano provisorio, um assessor do professor ouvinte, que nao pode se servir dele permanentemen-

te.

130. Favorecer a formagao do monitor surdo e sua passagem para outras etapas como instru tor e/ou professor.

O PESQUISADOR SURDO

131 . Incentivar a pesquisa dos surdos, considerando que faltam pesquisadores urbanos. 132. Observar que o pesquisador surdo precisa manter par-

ceria com o pesquisador ouvin-

te.

133. Considerar que os surdos pesquisadores necessitam de apoio financeiro. 134. Incentivar a que o pesquisador surdo nao seja apenas usuario, precisando desenvolver sua propria pesquisa. 135. Assegurar que seja respeitada a autoria do pesquisador surdo.

OSSURDOS

UNIVERSITARIOS

136. Assegurar o direito da

presenga do Interprete de Lingua de Sinais no decorrer do concurso de vestibular. 137. Carantir a existencia de interpretes contratados pela uni versidade, assegurando ao surdo condigoes semelhantes de seus colegas ouvintes. 138. Lutar para que a comunidade cientifica das universida des reconhega a Lingua, a cultura e a comunidade surda.

139. Implementar o ensino medio para surdos, com vistas a capacitagao profissional e para a disputa nas provas de vestibular, garantindo o acesso do surdo aos cursos profissionalizantes e/ou as universida des; 140. Caso seja aceito pela comissao organizadora, discutir a estrutura das provas do vestibu lar, levando em conta as especificidades da comunidade surda. 141. Propor que interpretes reconhecidos pelas Associagoes e Federagoes de Surdos, possam atuar nas universidades, sempre que houver solicitagao e interesse de ambas as partes. 142. Considerar que a formagao universitaria dos interpretes e necessaria para garantir a formagao do profissional surdo. 143 . Propor que as universidades abram cursos para forma gao de interprete de LIBRAS, em parceria com Associagoes e Federagoes de Surdos. 144. Buscar fonte de recursos, governamentais e nao governa mentais, para a contratagao de interprete de lingua de sinais. 145.Nas universidades que acolhem surdos, lutar para que seja organizado um centra de apoio onde possam ser divul gadas informagoes referentes a surdez, para a comunidade universitaria. 146. Dentro das universidades e cursos de graduagao, assegurar a criagao de uma disciplina que informe aspectos gerais que fazem parte da comunidade surda. 147. Garantir que somente interprete com formagao de 3 ° Crau possa atuar na tradugao para lingua de sinais nas universidades.


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