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Considerações Finais

Figura 86- Fotografia de satélite, mostrando os fluxos de automóveis, sendo que verde é rápido e laranja médio. Os ícones em azul representam os focos de transporte público e em amarelo os locais arborizados e públicos, as praças República, Dom José Gaspar e Franklin Roosevelt.

Fonte: Google Maps, 2021.

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Desenho da autora, 2021.

Passando por todo o trabalho, o objetivo é sempre de ressaltar a trajetória da tipologia de galeria comercial, determinando algumas características e apontando suas vantagens para uma vida urbana bem sucedida. Os primeiros capítulos fazem uma base histórica das galerias comerciais, com destaque para as intervenções urbanas de Haussman no século XIX na Europa citadas no capítulo 1 e o Plano de Avenidas Prestes Maia de 1930 em São Paulo, explicado no capítulo 2.

Sendo um dos focos da transformação urbana das vias de São Paulo, a Avenida São Luís, a Praça da República e seus entornos receberam edifícios influenciados por mudanças de legislação, preceitos do Movimento Moderno, expectativas imobiliárias e a verticalização.

Após uma breve contextualização dos fatos ocorridos no decorrer do capítulo 2, a terceira e última parte da monografia utiliza três exemplos, com análises de como as galerias destes projetos atuam no centro da cidade e no dia-a-dia das pessoas. Utilizam-se depoimentos, desenhos, para explicar algumas questões importantes.

Ao falar sobre o Perambular, Sylvia Cavalcante e a Gleice Elali (2018), apresentam a origem do termo que vindo da palavra francesa flâneur acontecia justamente no frenesi das galerias parisienses e logo destacam também a necessidade do pedestre de se movimentar, e questiona: “É possível se deslocar sem propósito? Que sentido pode adquirir o perambular na atualidade?. ”(CAVALCANTE; ELALI, 2018, p. 223).

Uma das principais categorias formadoras da conclusão, é propriamente o “perambular” ou melhor, a questão dos fluxos e interesse da população pelos espaços das galerias comerciais, neste caso as galerias da Avenida São Luís. As ferramentas para um bom fluxo existem, como mobilidade e segurança, e baseado também nos depoimentos, a arquitetura de uma forma geral é valorizada por quem frequenta, sendo que os edifícios são capazes de se adaptar às condições adversas vindas da mudança de público e de rotação de comércios.

No instante em que a importância da relação entre o pedestre e a galeria é foco principal do trabalho, as vivências do ser humano arquiteto e do do ser humano reincidente são variáveis principais nesta análise. Instaurou-se uma possibilidade da mudança de experiência do indivíduo nas galerias após o Plano de Avenidas de Prestes Maia no Centro Novo, e estas transformações culminaram em uma nova ótica sobre o urbanismo paulistano.

Além destes fatores, a competência publicitária dos empreendimentos também foi resultado desta nova percepção sobre como a cidade e seus novos caminhos mudariam o cotidiano do pedestre a partir de 1950. O anseio de pluralidade de usos em um só edifício, a utilização do lote com respeito aos recuos e conexões com as vias culminaram no grande sucesso das galerias comerciais que tornavam os edifícios mais atrativos a moradores, lojistas e empreendedores.

Neste trabalho não cabe a definição do impacto dos Shoppings Centers para as relações urbanas, mas é certo que, a partir do estudo feito das galerias comerciais no presente trabalho, em comparação o outro modelo comercial edificado - os Shoppings Centers - excluem

a cidade e a partir disso se questiona: como memórias se criarão a partir de um edifício efêmero e sem conexões com seu exterior?

A galeria comercial gera um fator de identificação e presença histórica que não ocorre em outras edificações comerciais. O conceito de navegabilidade8 , comunicado por Sylvia Cavalcante e a Gleice Elali (2018), se encaixa neste contexto, visto que a capacidade de um espaço oferecer navegabilidade depende da relação entre indivíduo e arquitetura, além do comportamento de cada um.

A questão das novas centralidades devido ao aumento significativo da população apresentada por Cynthia Aleixo (2005) não exclui a urbanidade como o shopping, mas aplica um filtro à cidade e direciona o pedestre. Com outras palavras, a questão da distribuição populacional presente do desenvolvimento da cidade desde suas origens, também é responsável pelo esquecimento de alguns locais, como o Centro Novo e suas galerias comerciais.

Com desenvolvimento similar ao do Centro Novo, e a presença de edifícios multifuncionais e galerias comerciais, a Avenida Paulista é um paradoxo interessante, visto que suas galerias são ativas na atualidade.

Mas o fenômeno instaurado na Paulista não é obstáculo para a reconquista das galerias comerciais do centro, mas a ausência do pedestre na galeria é consequência de um “abandono da municipalidade“ (ALEIXO, 2005, p. 242). Talvez as grandes soluções para o esquecimento da vida urbana nas galerias, não estejam impressas em planos regionais ou operações urbanas, e sim em novas conexões práticas com a cidade e seus usuários. A reconquista do objetivo da galeria depende da sociabilidade somente dada por trocas humanas, quaisquer que sejam.

Afinal, a galeria, desde sua origem, representava além de um foco de atividade terciária, um local de boemia e socialização, despido de segregação. Acredita-se que a essência do espaço urbano deve ser recuperada, e para que isso ocorra, diversas propostas vão surgir, mas o que ainda deve ser ressaltado é a capacidade de permanência de certos espaços.

As galerias se formaram como consequência de períodos turbulentos; na explosão da indústria da França do século XIX e nas aspirações do urbanismo paulistano com heranças do Movimento Moderno. E a partir das conclusões de Nadia Cahen (2004), Cynthia Aleixo (2005), Sabrina Fontenele (2010) e Heliana Vargas (2018), a principal essência da galeria comercial é sua habilidade de se inserir no cotidiano das pessoas. ”[...] A história dos edifícios se mistura à história da própria cidade, que cria e recria novas centralidades, como também se mescla a

8 Navegabilidade, traduzido do wayfinding, significa a capacidade de caminhar, as possíveis estratégias de orientação pelo espaço físico, em que o indivíduo procura se deslocar com qualidade.

trajetória de muitos cidadãos que mantém viva uma área central e a sua imagem” (ALEIXO, 2005, p. 251)

E assim como Cynthia Aleixo (2005), Heliana Vargas (2018) disserta que a construção dos espaços na cidade, neste caso as centralidades, são feitas pela circulação das pessoas, de diversas classes sociais e objetivos em comum. E que a partir disso a arquitetura e as atividades comerciais devem se completar, visto que a arquitetura se cria baseado em seu público.

No que se refere ao campo da arquitetura, também há a necessidade de os arquitetos brasileiros envolvidos com projetos de áreas comerciais e terciárias melhor se instruírem sobre a lógica do espaço terciário (como o fizeram os arquitetos responsáveis pelas galerias comerciais na Europa, em sua fase inicial) para atuar de modo competente e ético na construção das cidades. Não é o melhor projeto aquele que supera o programa inicialmente proposto? Logicamente, os demais profissionais envolvidos com o comércio devem também se render à importância do projeto arquitetônico na otimização dos negócios.(VARGAS, 2018, p. 272)

Logo, sem a presença do fator humano, o objetivo da arquitetura se perde, e é necessário dimensionar a real influência que os edifícios possuem na vida urbana. As galerias se relacionam com o pedestre de forma que a galeria comercial, depende parcialmente desta atividade humana, isto é, a garantia de permanência da tipologia na cidade é construída a partir de interesses, mas as particularidades de cada arquitetura também são responsáveis por sua continuidade.

Assim como a maioria dos espaços urbanos, a galeria é um local que pode oferecer além de comércios e oportunidades, atividades culturais, de lazer e comunidade. “As passagens cobertas se inseriram no ambiente urbano ligando ruas, proporcionando numerosos sons, odores, cenas e personagens próprios à cidade”(CAVALCANTE; ELALI, 2018, p. 227).

A galeria comercial não possui característica de efemeridade, mas sim de adaptabilidade. Depois de enfrentar tempos de vitalidade, com os cinemas e as diversas manifestações culturais na década de 1960, suas atividades foram mudando, conforme a população se modificou. Hoje em dia o Centro de São Paulo recebe populações mais jovens, que procuram histórias e praticidade onde vivem e onde vão.

O principal propósito das considerações finais, é o reconhecimento do pedestre como ser ativo na formação do espaço das galerias comerciais, em que sua parceria pode significar no desenvolvimento de cidades e centros urbanos mais eficientes.

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