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3. A cidade dos pedestres

favoráveis a estudo por possuírem mais documentação e quantidade de lojas o que direciona melhor as análises conclusivas do trabalho.

3. Cidade dos pedestres

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Neste capítulo, propõe-se o estudo de como ocorre a apropriação dos espaços das galerias pelo pedestre, da concepção do projeto até sua atuação na dinâmica urbana da Avenida São Luís, Centro Novo de São Paulo. A explicação prática para a intitulação do capítulo é pautada nos estudos entre cidade e pedestre, baseado nos conceitos já vistos ao longo do trabalho. E o que seria da cidade, ou melhor, o que seria das galerias sem pelo menos a intenção de pertencimento do pedestre, neste momento, todo o estudo já feito acerca da formação tanto da tipologia, quanto dos entornos dos edifícios em questão são utilizados em larga escala.

Cynthia Aleixo (2005) sinaliza que, em meio uma pesquisa solícita, infelizmente não há espaço para uma interpretação mais ampla das Galerias Comerciais no perímetro estudado, ou seja, não haverá a possibilidade de estudar todas as galerias comerciais do Centro Novo. E no presente capítulo é necessária a mesma observação. Visto que a escolha dos estudo de casos busca materializar a análise do comportamento social, econômico e arquitetônico dos projetos de galerias comerciais, baseadas na Avenida São Luís e seu entorno, e para isto serão selecionados três projetos.

O estudo de casos tem como objetivo a leitura de forma mais reflexiva, da situação das galerias hoje, e como suas circunstâncias provocam a sensação de saudade do que não foi vivido, ou seja, o grande auge das galerias comerciais não é mais palpável. E dessa forma é possível questionar como a apropriação das galerias comerciais pelo pedestre, é algo que hoje em dia não acontece da mesma forma que na década de 1970, principalmente nos edifícios em questão.

A partir do estudo da formação das galerias do Centro de São Paulo e da Avenida São Luís, foram escolhidos casos baseados no critério da problemática da monografia. Relacionando as motivações acerca da inserção das galerias, este capítulo representa o destaque às atividades comerciais no Centro Novo, e sua importância para o desenvolvimento das atividades urbanas em sociedade. Nadia Somekh conclui em sua obra A cidade vertical e o

urbanismo modernizador que “o espaço é uma totalidade cuja a essência é social [...] a economia está no espaço como o espaço está na economia” (SOMEKH, 1997, p. 157).

Fatores que no processo de escolha das galerias dos projetos Edifício Galeria Metrópole; Edifício Copan e Edifício Louvre foram levados em consideração além da maneira que sua arquitetura atuava entre quadras no Movimento Moderno na arquitetura paulistana e sua condição nos dias de hoje.

Uma das justificativas para a escolha dos estudos de caso é o fato de que a Avenida São Luís, a partir do projeto do Copan em 1952, recebeu os outros edifícios em que o pioneirismo do projeto do arquiteto carioca Oscar Niemeyer, foi determinante, assim como o Plano de Avenidas, para a caracterização da avenida como parte do milagre arquitetônico paulistano.

O desenho da galeria,no entanto, à revelia do que sugere a perspectiva de apresentação do empreendimento, funciona muito menos pelo caráter atrativo da elegância do espaço interno ou das lojas - de número muito reduzido para justificar o passeio — e muito mais pela possibilidade de encurtamento de caminho, uma vez que desenha um corte transversal no terreno ligando a calçada da avenida Ipiranga com a calçada da então rua São Luiz (XAVIER, 1999, p. 82).

Os edifícios Copan e Louvre se encontram em uma das quadras com mais presença de galerias comerciais no Centro Novo, e são conjuntamente com o edifício Galeria Metrópole, os projetos com mais registros para que ocorram os estudos de caso. Estes três projetos, apresentam uma forte relação com o pedestre, e passeios que embora diferentes, são uma das marcas do progresso do urbanismo e dinâmica urbana inserida nos edifícios da década de 1950.

O Copan pela passagem do Edifício Conde Silvio Penteado marca uma quadra, "abrindo um espaço contínuo entre a rua e a galeria, entre o público e o privado ”(LORES, 2018, p. 91). E o Louvre em sua concepção buscou criar uma passagem agradável e útil paralela a Avenida São Luís bem como logo a frente junto com a Praça Dom José Gaspar, articulada com seu entorno por diversas formas, a Galeria Metrópole representa a galeria pertencente ao pedestre.

Outra justificativa perante a escolha dos três casos é sua proximidade cronológica, o que consequentemente os torna resultado das ansiedades do Plano de Avenidas (1930), e da transformação da via. Os projetos possuem material suficiente para a análise da relação entre o pedestre e a galeria, sem excluir o fato de que são edifícios com programa diversificado e dotados de grande popularidade na época em que foram construídos e ainda nos dias de hoje.

Outro fator presente no estudo destes projetos é sua trajetória construtiva, que ora turbulentas, definem o produto final e o resultado dos volumes inseridos na cidade. Como base da arquitetura e urbanismo serão examinados os percursos construtivos; as propagandas acima

do empreendimento; os arquitetos; a influência arquitetônica; os desenhos; os moradores e os frequentadores.

As perguntas a serem respondidas levando em consideração as bases da arquitetura e urbanismo paulistano estudadas até o momento são: por que estas galerias comerciais são parte importante da relação entre edifício e espaço urbano em São Paulo no século XXI? Quais os principais motivos de seu desuso no Centro de São Paulo e na dinâmica da cidade como um todo?

3.1 Edifício Copan

Com projeto iniciado em 1951 pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o Copan, fez parte da nova proposta de verticalização do entorno da Praça da República e expressava as ansiedades do modernismo e das novas referências arquitetônicas com o prestígio de um arquiteto em alta (figura 54).

Figura 54- Edifício Copan, localizado na Avenida Ipiranga, n. º 200 - República - São Paulo.

Fonte: OUKAWA, 2020, n. p.

Além disso, ocorreu na época uma intensa campanha publicitária para o edifício de uso misto que comportava seiscentos apartamentos, galeria comercial ao longo de seu comprimento curvilíneo e representava a Companhia Panamericana de Hotéis e Turismo.

A Companhia Pan-Américana Hotéis e Turismo foi criada pelo Banco Nacional Imobilário (BNI) para administrar o *maciço COPAN” . Como já foi citado anteriormente, havia o interesse de buscar investimentos para o aquecido mercado imobiliário paulistano da década de 50 . O estudo feito pelos arquitetos americanos Holabird, Root & Burgee (L'architecture d'aujourd'hui, 1952, p. 41), foi elaborado em associação com o arquiteto brasileiro Henrique Mindlin. Em 1952 vendo que o aguardado capital dos

EUA abandonou o estudo dos arquitetos americanos e chamou Oscar Niemeyer para desenvolver o projeto, que havia montado filial de seu escritório na capital paulistana, sob a coordenação do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos (GALVÃO, 2007, p. 21).

Esta mudança de responsáveis deu origem ao marcante perfil do Copan, que Oscar Niemeyer modificou os volumes ortogonais propostos pelos americanos e segundo Carlos Alberto Cerqueira Lemos, entrevistado por Raul Juste Lores, “Só sei que ninguém gostou muito do projeto dos americanos, que seria caríssimo e era feio” (LORES, 2018, p. 79).

O edifício foi um dos resultados dos anseios presentes na implementação do Plano de Avenidas, com sua implantação em maior escala, e seu destaque arquitetônico relacionado a localização e o prestígio do arquiteto responsável. Com presença também nos ideais modernistas do urbanismo já citados anteriormente, o projeto era inserido como importante empreendimento na Companhia Nacional de Investimentos. A maratona para construção de edifícios de hotéis páreos aos franceses, e capazes de comportar o evento de IV Centenário começou em 1950, ano de início das concepções acerca do projeto. Por isso o nome de "Maciço Turístico” , além de sua parte residencial que auxiliaria como provedora dos investimentos na hotelaria (figura 55).

Figura 55- Edifício Copan anunciado em 1952 como parte do "Maciço Turístico” .

CUNHA JR, 2018, n. p.

Cynthia Aleixo (2004) apresenta o fato de que feito nas comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo, o Copan recebeu um destaque publicitário que apontava suas capacidades de receber a enxurrada de novas populações, e consequentemente o grande fluxo no recém repaginado Centro Novo.

Sua realização passou por diversos processos turbulentos, a começar pela troca dos primeiros arquitetos americanos Burgee, Holabird e Root que desejavam associar a expansão imobiliária aos Estados Unidos em 1950, houve também após a domínio de Oscar Niemeyer a exclusão de um edifício de hotéis do programa, local onde hoje funciona o banco Bradesco, e a mudança de responsável de Niemeyer para Carlos Alberto Cerqueira Lemos. Além destes fatores, o Copan foi símbolo de diversas manifestações da cidade nos anos de 1950 sendo um “exemplo nacional mais autêntico dos princÌpios corbusianos que definiram a arquitetura autônoma das unidades de habitação” (CAHEN, 2004, p. 50) e fazendo parte do evento de IV Centenário da Cidade de São Paulo.

Com 116.000 m² de área construída no total, o edifício Copan tem 1.160 apartamentos distribuídos em 6 blocos. Na divisão destes blocos de A a F do Copan, ocorreu a variação de metros quadrados dos apartamentos que no Bloco A possuem 90 m² , no B 32 m² , e nos C, D, E e F apartamentos com mais de 100 m² (figura 56).

Figura 56- Planta do Copan, com os apartamentos tipo e as entradas de blocos mostrando as metragens diferentes.

Fonte: GALVÃO, 2005, p. 23

O processo do arquiteto Oscar Niemeyer caminhava paralelamente ao sucesso da Avenida e a construção de edifícios atrativos no Centro Novo. Relacionado às diversas possibilidades de metragem, Niemeyer acreditava na possibilidade de integração de diversas classes sociais em um mesmo edifício, e que com esta variação de escala os empreendimentos poderiam atender a população como um todo.

A proposta do Copan também foi consequente aos estudos modernistas de Le Corbusier e a Unité d'Habitation que realocou a população francesa após períodos conturbados e buscava uma autonomia com um cenário que atenda as necessidades de todos, com comércios nos pavimentos mais altos e metragens diferentes (figura 57).

Figura 57- Finalizado no ano de 1952, a Unité d’ Habitation de Le Corbusier é referência para projetos de vida comunitária e complexos residenciais autossuficientes.

Fonte: KROLL, 2016, n. p.

Diferente da Unidade de Habitação de Marselha, o Copan propôs uma forte conexão com seu exterior, com as lojas no térreo que abertas à rua podem ser frequentadas por todos que passavam e passam pelo Centro.

O que esperar, em termos de coesão social, de cidades que condenam seus professores, enfermeiros, policiais e bombeiros a gastar duas horas diárias no caminho para casa para o trabalho, e mais duas na direção oposta? Esse experimento de alta densidade com viabilidade financeira poderia ter respondido a esse desafio presente nas maiores metrópoles do mundo até hoje.(LORES, 2018, p. 80-81)

Muitas vezes o Copan é descrito como uma “cidade” , visto que comportando mais de cinco mil pessoas, sua extensão representa uma potencialidade e como Sabrina Fontenele (2010) expõe como que esta força do edifício como os diversos acessos a ele foram

importantes para o funcionamento da galeria comercial por moradores e frequentadores do edifício e suas dependências.

A galeria com suas 72 lojas ocupa o térreo do edifício, e foram utilizadas a partir dos anos 1970 com um baixo orçamento apresentando mercearias e comércios pequenos. O cinema funcionou somente até a década de 1980, cedendo em 1993 para o funcionamento do grupo religioso. A ausência do edifício de hotéis, proposto no estágio inicial do projeto, foi fundamental para o destaque momentâneo das galerias comerciais do térreo. A galeria, segundo Walter Jose Ferreira Galvão (2007), possui na totalidade do terreno 6.006,35 m² e apesar da baixa diferença de níveis entre ruas às galerias seguem por percurso sinuoso com alguns escalonamentos em frente às lojas.

A partir do levantamento feito pelo autor supramencionado no ano de 2007 (figura 58) é possível constatar que comparado com a situação atual, as galerias apresentaram um avanço, a partir das novas lojas em funcionamento e locais de café.

Figura 58- Levantamento dos espaços comerciais no Copan, pesquisa realizada em 07/03/2005

Fonte: GALVÃO, 2005, p. 27

Os acessos de pedestres pelo térreo são feitos relacionando os blocos, de acordo com a recepção dos apartamentos. Na visita in loco realizada para este trabalho, foi possível observar que a galeria do edifício possui restaurantes, cerca de três cafeterias, lojas de roupas e boutiques, além dos espaços religiosos e dos bares tradicionais. Obviamente a análise atual da galeria comercial do projeto deve ser fundamentada no processo da pandemia e suas consequências perante as relações entre edifício, cidade e pedestre.

A partir de uma visita ao local de estudo, algumas enfermidades foram observadas a começar pela baixa circulação e interesse dos que passam pelas lojas internas da galeria, e um maior movimento nos espaços de bar e restaurante. De forma geral há um aproveitamento virtuoso dos espaços do térreo, mas em um domingo de sol no centro, os pedestres são atraídos pelas sessões alimentícias, ou seja, os bares e restaurantes são o principal foco de quem frequenta este espaço neste dia específico.

Segundo levantamento feito por Oukawa (2010), o movimento noturno nos dias de fim de semana é devido aos bares e restaurantes do edifício e seus arredores, o fato dos escritórios e estabelecimentos estarem fechados aos sábados e domingos também influencia na queda de movimento no local. Diferentemente de segunda a sexta-feira em que o funcionamento dos

escritórios no entorno do Copan é normalizado, e por conta disso há um movimento maior aos dias de semana, além de um público diferenciado.

Os estabelecimentos Varanda, Bar Dona Onça, Livraria Megafauna, a padaria Santa Ifigênia, Eco Mercato, Café Pivô e Casa do Cafeteiro atualmente são os focos de movimento na galeria do Copan. Porém, a reportagem feita em 2020 pelo site de notícias UOL, intitulada Edifício Copan perdeu 20% dos moradores durante a pandemia, relata uma queda brusca de movimentação:

Das 72 lojas da galeria comercial do Copan, apenas 12 estão funcionando. Com escritórios do edifício e da região central em esquema de home office e a visita ao terraço do prédio interrompida por tempo indeterminado, o movimento despencou de 22 mil pessoas para menos de 2 mil por dia no edifício.

Figura 59- Fotografia de uma das entradas do Copan no dia de domingo mostrando o Bar dona Onça ao fundo.

Fonte: Foto da autora, 2021.

Figura 60- Fotografia de um dos caminhos de pedestres por entre as lojas, que em um domingo se encontravam em sua maioria fechadas.

Fonte: Foto da autora, 2021.

Figura 61- Fotografia da galeria, em que somente aos fundos a cafeteria está aberta.

Fonte: Foto da autora, 2021.

Segundo Xavier (2007), as curvas do Copan, são resultado de uma concepção moderna do arquiteto, mas em relação às galerias, a utilização da curva proporciona um recálculo das travessias. Explicando melhor, as galerias do Copan são mais compatíveis com o andar orgânico do pedestre, que desacelerado, faz uma conexão entre as categorias privadas e públicas do projeto.

A proximidade dos acessos com a rua e dos saguões com as lojas, fazem este percurso imperceptível e a diversidade de programas é um dos privilégios de se morar ou frequentar o edifício. Em sua proposta inicial o Copan, apresentava uma diversidade ainda maior de programas, com hotelaria no edifício em frente, teatros e cinema em suas galerias e ao longo do desenvolvimento do projeto a ligação do edifício com a cidade foi reforçada com seus entornos, como o edificio Conde Silvio Penteado que interliga as galerias comerciais com a Avenida São Luís, um dos instrumentos de estudo.

O Copan também dispõe de um espaço de galeria de arte, que aos moldes do que acontece no Centro de São Paulo, é inserida de forma benéfica já que o perfil dos frequentadores do edifício e seus entornos, hoje, se encaixa na procura por arte contemporânea e exposições. A moradora Fernanda Prada, em reportagem retirada do site da imobiliária Refúgios Urbanos em 2019, descreve que a partir da pergunta mais frequente como é morar no Copan - que:

Bem, como são muitas pessoas, imagino que cada uma tenha sua percepção do que significa morar por aqui. Para mim, significa estar conectada com tudo que necessito hoje: transporte e mobilidade, serviços e gente, muita gente. Gosto da praticidade de morar no centro da cidade e ter um pouco de tudo à disposição sem necessidade de grandes deslocamentos, de ter aquela lojinha de “tranqueiras” por perto, o barzinho, teatros, oficinas de teatro, biblioteca e um monte de cafeterias charmosas. Estação de metrô pertinho, o Minhocão para uma caminhada! Gosto muito da diversidade e de partilhar espaço com pessoas diferentes e me misturar[…](PRADA, 2019, n. p.).

Com o mesmo contexto, Fernanda Prada respondeu questionário rápido feito pela autora, e em depoimento expôs algumas das respostas com intenção de privilegiar o trabalho, iniciando pela pergunta: Houve algum motivo especial na escolha do Copan como local de moradia?

Meus motivos especiais para escolha do Copan como moradia são variados, como a diversidade, integração com a região central, opções culturais no entorno para citar como exemplo. Dentre tantos motivos, um dos principais é a galeria no térreo do edifício com uma grande oferta de serviços.

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Continuando a entrevista, a questão de apropriação do pedestre da galeria foi explorada, questionando a Fernanda o que a atividade comercial na galeria representa hoje para quem a frequenta, e no caso a entrevistada reside e atua como corretora no edifício Copan.

3 Depoimento cedido em 30/11/2021 por Fernanda Prada, corretora associada da imobiliária Refúgios Urbanos.

Para mim a galeria comercial do edifício representa:

- Integração entre moradores e visitantes com uma ótima gastronomia, vida noturna e boas lojas.

- Opções de serviços diversos para quem mora ou se hospeda no edifício sem precisar nem ao menos sair dele, o que representa muita facilidade.

Hoje a galeria conta com lojas diversas: cafeterias, padarias, restaurantes, floricultura, lavanderias, academias, livrarias, galeria de arte, entre outros. E relacionado com a questão dos fluxos, houve também a pergunta feita à corretora, sobre como hoje como moradora e ativa, observa o movimento nos dias de semana e nos fins de semana e feriados, a fim de estipular os fluxos e a procura destas galerias pelo pedestre em momentos do dia e da semana.

O movimento é bastante intenso todos os dias, inclusive finais de semana e feriados. Durante a semana são serviços como academia, salão de cabeleireiro, petshop, lojinhas de roupas e cafeterias que mais movimentam o espaço. Aos finais de semana e feriados vemos um movimento intenso nos restaurantes como Bar e Restaurante da Dona Onça e Cuia bem como na Livraria Mega Fauna, na galeria Pivô e na padaria Santa Efigênia.

Em relação ao Copan, foram feitas duas perguntas contemplativas, para finalizar o subcapítulo com as principais percepções de quem frequenta as galerias diariamente. Ao longo deste trabalho, o termo memória afetiva será repetido e para que seja possível prosseguir com os depoimentos, deve-se esclarecer o que de fato se procura na realização desta pergunta. A pergunta seria: se de fato as edificações e seu entorno estão inseridas em alguma memória afetiva, portanto, segundo Sylvia Cavalcante e Gleice Elali (2018) somente conhecendo as relações entre espaço e sociedade, os sentidos acerca das existências pessoais e coletivas a realização de uma leitura e conclusão sobre as deficiências e qualidades dos ambientes é mais assertiva, compreendendo a “natureza do uso social”(CAVALCANTE; ELALI, 2018, p. 314). Logo, foi perguntado: as edificações e seu entorno estão inseridas em alguma memória afetiva?

A região central de São Paulo e sua edificação sempre esteve presente no meu imaginário e sonhava em um dia poder morar e viver por aqui. Meu contato com o edifício Copan começou em 2010 quando me mudei para São Paulo e comecei a frequentar o centro da cidade com bastante intensidade, até que em 2011 aluguei meu primeiro apê por aqui para ficar alguns dias da semana. A partir deste convívio foi inevitável para mim não escolher o edifício como moradia quando em 2017 estava em busca de um novo lar em Sampa.

Complementando o caráter mais pessoal entre edifício e indivíduo, principalmente para uma assídua exploradora e moradora do Centro, a pergunta feita para Fernanda, que basicamente permeia o trabalho foi: para você, qual a importância das galerias comerciais para a cidade?

Para mim são fundamentais as galerias comerciais, principalmente as inseridas em edifícios residenciais, proporcionando uso e ocupação dos espaços por diferentes pessoas, moradores, trabalhadores do edifício e passantes. O resgate deste tipo de edificação, com uso misto e fachadas ativas que o novo plano diretor implantado oferece, proporcionam que a cidade seja mais democrática e solidária, devido a sua ocupação por mais pessoas. A galeria do Copan oferece a possibilidade das pessoas ocuparem seu espaço e se tornarem parte deste edifício mundialmente conhecido, não apenas quem mora ou trabalha no edifício, mas também a quem passa por aqui, pois é aberta a público e se integra com as ruas onde está inserida (Rua Araujo, Avenida Ipiranga e Rua José Paulo Mantovan Freire).

A principal intenção destes depoimentos, foi de fato documentar outras perspectivas e constatar a importância destes espaços para o pedestre e vice-versa. A possibilidade de realizar estes diálogos faz parte da constatação do caráter afetivo e social que a arquitetura pode, e deve trazer a quem a frequenta. Muitas vezes a questão da conexão entre espaço e pedestre é despercebida, e por conta disso o trabalho busca abordar a arquitetura em busca de significado e percepção. Estas perguntas serão feitas novamente ao longo do trabalho, o que abre a oportunidade de observar cada particularidade dos projetos e de suas relações com o pedestre fundamentando as conclusões deste estudo.

3.2 Edifício Louvre

O edifício localizado na Av. São Luís, no bairro da República, pertence à carreira profissional de João Artacho Jurado (1907-1983) e foi incorporado entre 1952 e 1967 pela construtora denominada Monções Construtora e Imobiliária S.A.

Para atender o projeto de alargamento da rua São Luís, de 1942, elaborado na primeira gestão de Francisco Prestes Maia, que visava a melhoria da circulação de veículos no Centro, a chácara do senador Sousa Queirós foi loteada, formando-se então grandes terrenos .(FRANCO, 2008, p. 251).

Artacho Jurado atuou, em um primeiro momento, como letrista e era impedido de assinar seus projetos por não possuir diploma efetivo de graduação em Arquitetura e Urbanismo, e por conta disso, diversos engenheiros na época eram responsáveis pelas obras no papel. Devido a diversos conflitos por conta de sua situação profissional e de seus desenhos para os edifícios, Artacho Jurado sofreu repressão dos arquitetos atuantes a partir do ano de 1950, e isto lhe rendeu certa popularidade naquela época.

A escolha das cores utilizadas por Jurado acumulou diversas críticas, como a do arquiteto Eduardo Corona que, em 1958, dizia que seus edifícios careciam de brasilidade (FRANCO, 2008). Em comparação com os projetos do Copan e Galeria Metrópole, o Louvre possui características diferentes das apresentadas pelo Movimento Moderno:

Muito longe de considerar que o“ornamento é crime” , A. Jurado partia nos seus projetos para um uso exaustivo de materiais diversos de acabamento, assim como para a utilização de técnicas construtivas inteiramente arcaicas para atender a pretendida inovação formal. A insistência em não reconhecer a obra da Monções, e conseqüentemente de A. Jurado, rivaliza com a atual iniciativa de erguê-lo à posição de antimodernista e, de certa forma, de lhe oferecer o posto de precursor do pós-modernismo paulistano, ao longo de suas manifestações na década de 50.(MAYER, 1991, p. 40 apud FRANCO, 2008, p. 251).

Figuras 62 e 63- Fotografia da fachada cor de rosa e azul do edifício Louvre, Avenida São Luís..

Fonte: Foto da autora, 2021.

Atendendo novamente a prosperidade instalada na Avenida São Luís e nos anseios do mercado pós Plano de Avenidas, em 1960 ficou pronto o conjunto Louvre e Pedro Américo. Sua proposta de comunicação com a cidade foi determinante para as outras características do projeto, neste caso seu playground e piscina que neste edifício se localizavam na cobertura.

A galeria de lojas comerciais no térreo e na sobreloja, que tem área para restaurante no mezanino, está atendida por escada rolante, “para melhorar o desempenho comercial, que, como se sabe, é altamente prejudicado por mudanças de nível de piso não estritamente obrigatórias para os usuários. A circulação é atendida, finalmente, por dezoito elevadores, que servem os apartamentos e parte da sobreloja. Novamente Artacho está preocupado com a cidade, na qual o espaço público e o privado retomam o diálogo no térreo (FRANCO, 2008, p. 256).

Segundo Franco (2008) o edifício foi o maior projeto em escala do arquiteto Artacho Jurado e sua última obra, vindo também de uma jornada de descoberta dos condomínios e das áreas comuns dos edifícios pelo arquiteto. Assim como o Copan, a campanha publicitária sobre o empreendimento foi intensa e posterior a seu lançamento, em 1954, ele era foco de residências e locação reconhecido por conta de sua posição em uma das Avenidas mais verticalizadas da época, envoltos por desenvolvimento (figuras 64 e 65).

Figura 64- Anúncios da construtora Monções para promover o empreendimento desenhado por Jurado, publicado na Folha da Manhã em 25 de maio de 1952.

Fonte: GIUFRIDA; VARRICHIO, 2021, n. p.

Figura 64- Folheto de cadernos da administração do edifício, “Desfrute dos jardins da

Biblioteca”

Fonte: GIUFRIDA; VARRICHIO, 2021, n. p.

O edifício em questão possui dois edifícios de apartamentos: uma com uma das fachadas para a Avenida São Luís, chamada de Louvre, e outra torre, nos fundos do lote, denominada Pedro Américo, os dois edifícios estão ligados no pavimento térreo de galerias comerciais e na cobertura. As áreas comuns dos dois edifícios possuem 53.000 m2 no total, 374 apartamentos e 45 lojas e sobrelojas, com 23 pavimentos de unidades residenciais (figuras 66 e 67).

Figura 66- Planta do pavimento tipo do Condomínio Louvre – 21° ao 24° pavimento.

Fonte: GALVÃO; ORNESTEIN, 2009, p. 181

Figura 67- Imagem de drone, mostrando os dois edifícios que formam o condomínio.

Fonte: NIZ, 2018, n. p.

As galerias com pé direito duplo, as varandas da fachada do edifício delineiam sua presença na Avenida, além de desfrutar da vista e proximidade da praça Dom José Gaspar e a Biblioteca Municipal Mário de Andrade. As cores pertencem a intenção de Artacho Jurado de expressar euforia e foi descrito por Rodrigo Brotero Lefèvre e citado por Ruy Eduardo Debs Franco (2008) como marcante na paisagem e único no seu gênero.

Apesar de não apresentar planta livre, ou entradas por diversas extremidades, o térreo com as duas plantas de lojas oferece uma permeabilidade. As galerias do Louvre não atravessam a quadra como as do Copan, mas a importância da modificação da utilização de áreas públicas do edifício são relevantes neste caso, além das sobrelojas.

A presença de lojas em dois pavimentos proporciona o uso das escadas rolantes ao centro, e na galeria, mais uma vez o caminho do pedestre é desenhado por quatro entradas na Avenida São Luís. Na planta da sobreloja (figura 68) é possível observar os halls dos elevadores, e as áreas de apoio aos frequentadores e proprietários de lojas, os pilares também atuam como direcionadores às vitrines e entradas dos estabelecimentos comerciais e a galeria comercial toma forma utilizando o espaço público abaixo de um edifício marcante da silhueta da Avenida.

No edifício Louvre desde o 3° piso já existem apartamentos. No total são 164 apartamentos de 1, 2 e 3 dormitórios. O edifício Pedro Américo, por sua vez, tem apartamentos a partir do Figura 02 – Condomínio Louvre. Anais do

Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído IX Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios | 18 a 20 de Novembro de 2009 | São Carlos, SP | PPG-AU EESC USP | 181 6° andar, já que do 3° ao 5° andar existem vagas para automóveis. Aqui existem 158 apartamentos de 1 e 2 dormitórios. No total o conjunto tem 322 apartamentos. Na cobertura (25° andar) existe área de lazer com piscina, playground e área livre utilizada para a prática de ginástica (GALVÃO; ORNESTEIN, 2009, p. 180-181).

Figura 68- Planta do mezanino no catálogo de venda de lojas no edifício Louvre.

Fonte: GIUFRIDA; VARRICHIO, 2021, n. p.

Neste momento já é possível refletir como a proposta de atividade comercial abaixo de um edifício residencial influencia o pedestre, tornando a galeria comercial seu lugar. Servindo para os moradores como fator de segurança, apoio, desfrute e oportunidade; para os que simplesmente percorrem a Avenida como uma possibilidade de fachada ativa e conhecimento da arquitetura por justamente sua função comercial.

O edifício Louvre possui nos dias atuais em suas galerias diversos tipos de serviços, entre eles: escritório de advocacia; galeria de arte; estúdio de pilates; ateliê de costura; gráfica; tabelião; agência de viagens; laboratório de exames; banco; entre outros. No presente momento, a galeria não abre aos domingos, o que é explicado por dispor de mais serviços

específicos, o que em oposição não acontece com as galerias do Copan, que seguem sendo abertas por conta de seus bares e restaurantes. Em suma, a questão de possuir estes estabelecimentos, a galeria do edifício Louvre é a mais prejudicada e algumas entrevistas a seguir auxiliam na análise.

Ao visitar o entorno do edifício em um domingo (figura 67), se observou que o acesso às lojas não é disponibilizado, e sua conexão com a Avenida é mínima. A partir de entrevista realizada com a responsável pelo Ateliê de costura Estilo Atelier de Costura, Valéria Almeida relata que um dos motivos pelo qual a galeria não funciona em dia de domingo é a presença de serviços como o Banco que não funcionam fora da semana, e que de certa forma isso não prejudica os lojistas por conta do movimento de segunda a sexta, e a divulgação pela internet.

Figura 69- Fotografia mostrando a galeria fechada para acesso livre aos domingos..

Fonte: Foto da autora, 2021.

Houve também a possibilidade de um levantamento da questão de fluxos, ocorrendo segundo o corretor da imobiliária Imóveis Vintage o entrevistado Marcos Sena informa que o uso de transporte público é pelo metrô linha amarela, e a Consolação corredor de ônibus.

Colocando que a Avenida é muito segura, Sena informa que a Praça Dom José Gaspar tem uma vida noturna até às 22 horas, com bares e restaurantes próximos.

A partir de entrevista com um dos editores da Refúgios Urbanos4 , o profissional Octavio Pontedura, sócio e proprietário da imobiliária, respondeu algumas perguntas relacionadas ao Louvre. Iniciando com a pergunta - Há algum motivo especial da escolha do edifício Louvre?Octavio Pontedura responde:

Após trabalhar há algum tempo com imóveis do Louvre, uma questão muito clara para mim é que na maioria dos casos ele passa a ser procurado por conta de sua beleza como Arquitetura.O tanto que o prédio marca a Avenida, com suas cores, a volumetria, ele causa um impacto. Curiosamente, boa parte das pessoas conhecem a história do edifício, sabem do Artacho e do prédio. Mas tem algumas pessoas que não sabem, mas mesmo assim são impactadas pela arquitetura, pelo que o prédio se destaca. Então esta questão do motivo está relacionada ao tanto que o edifício se diferencia do resto dos edifícios da própria avenida e exagerando, da arquitetura da cidade, seja conhecedor ou seja leigo5

Logo já é possível constatar que a escolha das pastilhas por Artacho Jurado, é um fator importante de interesse do pedestre. Dando seguimento a entrevista, a pergunta feita: o que a atividade comercial na galeria do Louvre representa hoje para quem a frequenta? é respondida por Octavio da seguinte forma:

Aqui faço uma ressalva: minha percepção com relação a galeria do Louvre é que ela é subutilizada, com muitos locais vazios, acredito que ainda há um potencial, e muita coisa a ser explorada. Ela é gigante e não tem um uso tão amplo quanto poderia, o que se tem é a mistura de vários tipos de serviço e conveniências, que para o morador pode ser útil. Observa-se que quando ela está aberta há um movimento de pessoas que não são moradores, com uma circulação muito diversa de pedestres. E no fim das contas a galeria cumpre sua função urbana, e ela representa pra mim está conveniência, com um caminhar bacana. As galerias representam um “descobrir” com as estéticas da escada fixa e das varandas, quem for desavisado no cartório é motivado por um ímpeto, a galeria do Louvre possui esta capacidade de instigar.

Para que haja a continuação da observação de fluxos na galeria, e balanço de utilização dos pedestres fez-se a pergunta: Como hoje você observa o movimento nos dias de semana? e nos fins de semana e feriados?

A galeria funciona durante a semana em horário comercial, e aos finais de semana com bastante restrição. As grades ficam fechadas, deixando o acesso limitado. Logo, ao longo da semana é garantida esta conversa com a calçada sem nenhuma barreira. É curioso pois estes lugares onde existem

4 Depoimento cedido no dia 29/11/2021, por Octavio Pontedura, corretor responsável pela venda de apartamentos do edifício Louvre.

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estas passagens sutis entre o “fora” e o “dentro” as pessoas respeitam, entrando pelas laterais e pela guarita. Basicamente as relações de acesso às galerias mudam completamente nos dois períodos.

Com foco para a situação das lojas no edifício (figuras 70 e 71), como já dito, hoje em dia temos lojas diversas, mas com a perda de popularidade do edifício, a pergunta a seguir reforça: Foi percebida a mudança de lojas da galeria ao longo dos anos?

Com certeza, um dos destaques foi por um tempo a presença na Avenida e na galeria de agências de turismo, casas de câmbio e joalherias. Mas hoje tem-se este movimento voltado para um público mais jovem, ligados à criatividade e descolados, vindo a galeria de artes, estúdio de pilates. Então hoje em dia acontece essa transformação para atender a outros públicos, mas ainda sim o morador do entorno.

Figura 70- Fotografia mostrando a um dos serviços do interior da galeria, e seu acesso à sobreloja.

Fonte: ARDID, 2021, n. p.

Figura 71- A nova galeria de arte, na sobreloja do Louvre

Fonte: ARDID, 2021, n. p.

Outro componente da entrevista, foi a relação pessoal de Octavio Pontedura com o edifício Louvre, em que se questionou se a edificação está inserida em alguma memória afetiva, ou saudade, e como este vínculo é visto aos olhos do profissional:

Absolutamente sim! Sou de Londrina, e chegando em São Paulo no ano de 1995, sempre fui um grande explorador da história e da arquitetura de todas as cidades onde morei, então chegando em São Paulo fiz a mesma coisa. E me lembro muito claramente de um dia estar na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, e me deparei com um livro do professor Lefévre, que conta a história da Avenida São Luís. A Avenida São Luís como um todo, e o Louvre em particular tem relevância na minha história, porque também fui impactado pela beleza do prédio, e pelo fato de ele ser totalmente distinto. O Louvre e a São Luís são o começo da minha exploração da arquitetura e da história da cidade, e ao trabalhar como corretor também tenho a oportunidade de adentrar e ver os detalhes da obra que vi no começo da trajetória como apaixonado pela história da cidade.

Por fim, uma pergunta de ordem mais reflexiva, mas que delineia as conclusões acerca da função e da importância destes espaços comerciais na cidade inseridos na galeria. Foi questionado ao entrevistado qual a importância das galerias comerciais para a cidade:

A cidade para mim, precisa ser amigável, precisa ser acolhedora, principalmente em uma cidade tão grande como São Paulo. E a galeria comercial tem essa capacidade de permear o espaço público com o espaço privado de uma maneira muito fluida, sutil e agradável. Além de oferecer serviços e conveniências no “pé” da casa das pessoas, ela tem uma função urbana de tornar a cidade mais gentil, e também a função de oferecer cultura, lazer e comodidades. Uma cidade com mais galerias é uma cidade mais viva, onde se promove a convivência com espaços de encontro, de criatividade. A galeria comercial agrega as pessoas, e não as isola, são agentes em uma cidade mais agregadora.

A entrevista, pode proporcionar ao trabalho um ponto de vista mais amplo, e neste caso as declarações comprovam todas as possibilidades que a galeria comercial pode oferecer. Assim como os outros estudos de caso, a galeria do Louvre, possui adversidades como as citadas acima, mas a partir da percepção mostrada, sua permanência é assegurada de forma que somente sua intenção como espaço pode significar uma Avenida, ou uma cidade mais eficiente.

O Louvre, com todas suas sutilezas, também se enquadra na forte relação entre cidade e indivíduo, assim como os outros edifícios com múltiplas funções ele proporciona conforto aos moradores que desfrutam dele “dos pés à cabeça" . Em seus volumes, os pilotis atuam para suavizar a verticalidade do projeto, que respeitando o recuo oferece área para empreendimentos, e sombra para que circule paralelo as galerias na Avenida São Luís. Com a associação entre dois volumes ele de certa forma oferece um apoio a aqueles que moram, além de abrigar importantes fatores históricos por entre as lojas e em sua materialização.

3.3 Edifício Galeria Metrópole

Situado em local de prestígio na Avenida São Luís (figura 72), esquina com a Praça Dom José Gaspar, o projeto de Salvador Candia (1924-1991) e Gian Carlo Gasperini (1926) possui uma função delimitada em um dos locais mais importantes do Plano de Avenidas de Prestes Maia (1930). Com projeto do ano de 1956 e construção entre 1959 e 1964, o edifício com quatro pavimentos de galeria, e mais acima de escritórios foi originado de uma proposta de concurso onde foram convidados em 1956 os arquitetos Jorge Wilheim (1929), David Libeskind (1928), Gian Carlo Gasperini (1926) e Salvador Candia (1924-1991).

Figura 72 - Fotografia do Edifício Galeria Metrópole, ao lado das vegetações da Praça Dom José Gaspar.

Fonte: LEONEL, 2020, n. p.

Denominado pelos patrocinadores do concurso de edifício Maximus, o projeto foi encomendado pela incorporadora e companhia Santista de Administração e Comércio e a construtora Sociedade Comercial e Construtora S. A, responsáveis por gerar esta competição para a construção do novo edifício e convidar os arquitetos supracitados. Os convites, segundo Jaime Cunha Jr (2007), foram um passo em direção ao interesse dos arquitetos nos espaços públicos e na construção civil no Centro de São Paulo, sempre em direção à arquitetura do Movimento Moderno.

Citando mais uma vez o Plano de Avenidas de Prestes Maia, o caráter urbano do projeto foi consequência das intervenções na Avenida São Luís e do Perímetro de Irradiação. A Galeria Metrópole fez parte do processo de verticalização da avenida e seguiu representando uma das amostras da arquitetura moderna paulistana. As motivações e principais alcances dos desenhos do edifício eram em busca de passeios públicos e continuidade das volumetrias Centro Novo e da Avenida.

A seleção deste marco para o estudo de caso ocorreu por conta do comprometimento do edifício e dos arquitetos com a comunicação e satisfação do ambiente que ele seria inserido. Adotando também ideias de outros participantes do concurso, Gian Carlo Gasperini (1926) e Salvador Candia (1924-1991), os selecionados ao final do concurso, buscaram projetar seguindo quocientes de diagnóstico urbano, por conta do contexto de transformação urbana do edifício.

Na trajetória projetual e análise dos projetos de cada arquiteto, o edifício como se conhece hoje (figura 73) tomou forma, sendo importante especificar os conceitos de cada profissional para o resultado conjunto.

Figura 73 - Edifício Galeria Metrópole.

Fonte: KON, 2013 , n. p.

Gian Carlo Gasperini foi o arquiteto que desejava a conexão entre os novos espaços públicos com o edifício por meio de percursos, e além disso Jaime Cunha Jr (2007) descreve que as intenções de Gasperini giravam em torno da necessidade de “vitalidade das atividades comerciais, e seu valor na estruturação do partido arquitetônico, que originou, segundo as próprias palavras do arquiteto o “centro de gravidade” 5 de todo o edifício ” (CUNHA JR, 2007, p. 6). Além destes fatores, o arquiteto contemplou um programa dividido em dois edifícios, o que mais tarde evoluiu para a ideia de continuidade, com a união dos programas de escritório e galerias comerciais em um volume único, mas que ainda sim funcionavam de forma independentes (figura 74).

Figura 74 - Croqui de Gasperini, mostrando o embasamento e as relações do volume com o entorno imediato.

CUNHA JR, 2007, p. 9

Porém, as propostas de Gasperini de embasamento e volume muito verticalizado receberam críticas e de início descritas pelo autor supramencionado como “uma solução incoerente'' (CUNHA JR, 2007, p. 10). Não houve o aproveitamento do volume embasado, e o seu gabarito rompia com a continuidade da Avenida.

A partir destas movimentações sobre o partido arquitetônico, ocorreu a parceria de Gian Carlo Gasperini e Salvador Candia, em que os desenhos de Candia não propunham o edifício encostado à empena, nem a comunicação do edifício com as áreas públicas do entorno. Como Salvador Candia descreve:

Ai veio o prédio da rua São Luís. Foi um concurso e o Gasperini e eu, com projetos diferentes, ganhamos. Na hora de executar, o projeto que parece que respondia mais às implicações não só econômicas, não só materiais, mas inclusive apresentava uma abordagem nova, era o meu. O que ele tinha de novo? Tinha torre solta, foi a primeira torre solta que se fez em São Paulo. Isto pode parecer uma coisa vulgar, mas não era na época. (CANDIA, 1979 apud CUNHA JR, 2007, p. 12)

É inegável a contribuição do embasamento para as relações entre o edifício e seu entorno, e a função das galerias comerciais neste contexto, além de oferecer equilíbrio entre os volumes e as funções dos dois programas. A posição das lojas foi feita para direcionar o passeio, e tornar sutil a mudança da via e calçada para as galerias (figura 75).

Figura 75 - Edifício Galeria Metrópole, croquis de Salvador Candia das circulações e categorias propostas no projeto.

LOBATO, 2009, p. 89

Uma torre com dezenove pavimentos de escritório, que procurava também atender a agenda cultural da época em que foi construído, compreendia os espaços privados e o embasamento com as galerias constitui o ambiente social com conexões importantes. As lojas oferecem ao pedestre uma nova alternativa, proporcionando a vitalidade do programa comercial, com fachadas urbanas e um eixo ininterrupto.

Assim como aconteceu nos edifícios Copan e Louvre, a campanha publicitária acerca do evento que seria a Galeria Metrópole também aconteceu. Apresentado também como Centro Metropolitano de Compras, o projeto era coerente com a vitalidade da época, inserido no

imaginário do pedestre paulistano. Com diversas manifestações culturais, desde os músicos em bares, até o cinema dentro da galeria, o edifício foi muito esperado, além de carregar o fato de ser na época “ A maior concentração de lojas da América Latina” . (figura 76).

Figura 76 - Anúncio Galeria Metrópole datado de 21/06/1960

Fonte: SCHOLZ, 2014, n.p.

O edifício de escritórios e galerias é localizado em um ponto estratégico e de conexão entre a Praça Dom Gaspar, a Rua Basílio da Gama e a Avenida São Luís. Em uma breve contextualização, a Praça Dom José Gaspar era local de uma das chácaras da elite paulistana, anterior às modificações do Plano de Avenidas Prestes Maia. Com o melhoramento das ruas em 1938 e a desapropriação dos palácios e chácaras em 1944, conjuntamente com os edifícios da Avenida a Praça:

A modernização vigente àquela época, cuja face mais conhecida é o imperativo da circulação, mostra aqui outro lado, em especial neste aspecto urbanístico – a criação de uma praça - por meio de uma cuidadosa operação, que envolve o enquadramento desta nos nexos do traçado circundante. Trata-se de uma operação de desenho urbano em que a praça torna-se

protagonista na medida em que o espaço livre não edificado é composto pela fachada das edificações em volta, aliás, como tradicionalmente se fazia nas cidades. Assim o fato novo – a praça, por meio do perfeito ajuste da inserção no tecido atinge o nível de estruturador do ambiente urbano, em outras palavras, estamos as voltas com o conceito de elemento primário da terminologia de Aldo Rossi em Arquitetura da Cidade. Neste caso, a escada rolante e o vazio com jardim são responsáveis pela comunicação entre pavimentos do projeto, que entre os três estudos de caso, é o que possui mais lojas, com cinco pavimentos de galeria.(AZEVEDO, 2009, p.12)

Por todo os pavimentos, há uma relação de usos semi-públicos, além das vistas do entorno imediato proporcionadas pelas varandas e circulação por escadas rolantes. O térreo do projeto inicia a conexão entre as duas ruas e a avenida, com lojas, restaurantes, sanitários e diversas opções de circulação vertical, uma das comunicações entre os pavimentos (figura 77).

Figura 77 - Corredor da galeria mostrando os restaurantes e o vazio.

Fonte: GUERRA, 2017, n. p.

As plantas mostrando as lojas da Galeria Metrópole fazem parte da solução final do projeto, e oferecem ao pedestre diversas posições dentro do espaço, havendo a dúvida de quando se inicia o passeio público e privado.

O edifício Metrópole assim os edifícios-galeria citados como "compensam" a estrutura urbana existente. Reproduzem no espaço dos lotes de forma ideal a diversidade urbana oferecendo um espaço privado com características de espaço público. ’(MEYER, 1991 apud CUNHA JR, 2007, p. 108)

Feitas para haver uma relação entre a atividade terciária e a conexão entre ruas, os pavimentos de lojas possuem volume consistente, com programa possuindo cinema, lojas e peças de auxílio ao pedestre como a escada rolante e os vazios. O vazio no edifício proporciona uma estruturação e iluminação dos espaços internos, além das sobre-lojas que auxiliam nos ambientes específicos dos lojistas (figura 78).

Figura 78- Planta do térreo do Edifício Galeria Metrópole, sem escala

Fonte: CUNHA JR, 2007,p. 168

O primeiro pavimento com as lojas, possui quarenta espaços para venda, e as escadas de emergência e elevadores em distância correta pela norma de segurança. Quando se entra pela Rua Basílio da Gama, logo há a escada rolante ao lado do vazio com paisagismos, o mesmo acontece com as outras rua e Avenida, que nas calçadas se confundem com a entrada da galeria (figuras 79 e 80).

Figura 79- Planta do primeiro pavimento com as sobre-lojas - Passeio Londres- sem escala

Fonte: CUNHA JR, 2007, p. 170.

Figura 80- Fotografia mostrando os acessos pelas escadas rolantes, o vazio com o paisagismo e os corredores.

Fonte: MAGALHÃES, 2017, n. p.

Assim é que na implantação da Galeria Metrópole, as lojas no pavimento térreo e as circulações verticais do conjunto estão diretamente

associadas aos percursos de pedestres existentes no entorno urbano. A nova conexão proposta entre a rua Basílio da Gama e a praça Dom José Gaspar serve como eixo estruturador do projeto, organizando a disposição dos equipamentos de circulação que darão acesso aos pavimentos superiores da galeria comercial (FERRONI, 2008, p. 118)

Nestes pavimentos do embasamento e lojas, não há nenhum indicativo da mudança da calçada para o edifício, e a disposição das lojas cria um trajeto natural, em que as áreas de auxílio como os sanitários e elevadores ficaram em locais estratégicos, dando prioridade espacial às lojas (figura 81). É importante destacar também o grande aproveitamento da esquina pelo projeto, que torna o passeio por entre e envolta do edifício mais sutil e agradável, com as conexões com a Praça Dom Gaspar.

Figura 81- Planta do segundo pavimento com as sobre-lojas - Passeio Paris - sem escala

Fonte: CUNHA JR, 2007,p.171

Além destes fatores apresentados, a materialidade e relações de luz e sombra do projeto também são favoráveis para um belo trajeto pelo indivíduo, fato que tem total conexão com o objetivo de estudo do trabalho. Traduzindo os costumes da população, o terceiro pavimento das sobrelojas dispõe de restaurantes e locais para sentar e conversar (figura 82), rotina altamente valorizada pelo paulistano frequentador do Centro.

Figura 82- Planta do terceiro pavimento com as sobre-lojas - Passeio Capri - sem escala

Fonte: CUNHA JR, 2007,p.172

Sustentando diversos debates sobre seu partido, o projeto é modificado no programa de escritórios em relação a sua estrutura e circulações, mas as galerias comerciais, em relação a compatibilidade de volume com o edifício mais alto, a estrutura também e aberturas para a Avenida. Um dos aspectos mais interessantes do projeto que permanece nos dias atuais são suas extremidades sem pilares, e as varandas nos pavimentos comerciais (figura 83).

Figura 83- Fotografia mostrando a galeria fechada para acesso livre aos domingos, e a relação entre o térreo da galeria e seus pavimentos superiores, com as varandas e o fácil acesso.

Fonte: Foto da autora, 2021.

As circulações da galeria e do volume de escritórios se mantiveram separadas, sendo que nas galerias foi modificada sua escala durante a concepção do projeto com alterações no tamanho do embasamento. Pode-se dizer que toda a trajetória projetual do edifício Galeria Metrópole foi benéfica para a ascendência das galerias, que receberam diversos avanços, podendo citar: as varandas; o vazio central; as escadas rolantes e os diferentes acessos.

Ao percorrer as vias da galeria nos dias atuais, é sublinhada sua capacidade de se camuflar no contexto urbano, e na Praça Dom Gaspar (figura 84) que oferece um acesso fácil ao projeto. Além da oportunidade de se desfrutar do percurso, neste momento houve a entrevista com o professor Ricardo Martos que, além de ser frequentador assíduo da Galeria Metrópole, também possui um escritório profissional no local, podendo transmitir alguns questionamentos em relação ao subcapítulo em questão.

Figura 84- Vista da Praça Dom José Gaspar, para o edifício Metrópole.

Fonte: Foto da autora, 2021.

De início se questionou o motivo pelo qual o professor selecionou a arquitetura para locação de sua atuação como profissional de Arquitetura e Urbanismo, e a partir disso o professor diz que:

[...] queríamos que o escritório fosse localizado em um edifício de nossa referência arquitetônica, que nos inspirasse, fosse bem localizado para o uso do transporte público e da cidade em seu entorno, isto é, que pudesse sintetizar muito do que acreditamos.

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Parte importante da entrevista, o professor Ricardo responde a partir de pergunta feita, como que a atividade comercial na galeria representa hoje para quem a frequenta, em aspectos atuais observados pelo mesmo:

Houve uma nítida transformação de usos ao longo dos tempos, e a predominância comercial deu lugar a serviços, espaços culturais, escritórios e principalmente alimentação nos andares térreos, que se beneficiam do próprio atalho urbano que a galeria oferece. Vale registrar que as características do edifício e sua flexibilidade facilitaram a alteração de uso ao longo dos tempos.

Em entrevista também, o professor pôde expor o que o espaço da Galeria Metrópole significa a ele, afinal a arquitetura influencia em grande parte o comportamento do indivíduo seja em mera passagem, ou em atuação da arquitetura. Descrevendo a galeria como um edifício responsável por sustentar inspiração e qualidade arquitetônica, além de descrever a experiência de uma ótica diferente :

Há também um aspecto comportamental interessante. Como as lojas viraram escritórios, acaba ocorrendo uma relação saudável de vizinhança entre os profissionais, que são comumente transformadas em parcerias. Particularmente, costumava vir ao centro trazido por meu avô, que tinha por hábito levar os netos para passear de metrô, e não raro acabávamos desembarcando por aqui. Lembro especialmente dos passeios por entre as galerias, onde entrávamos por uma porta e saindo por outra.

Este depoimento, só reforça como as galerias comerciais inseridas em seu contexto cultural e territorial são parte importante da memória afetiva e da relação entre pedestre e cidade. A Galeria Metrópole, com seu vocabulário de arquitetura do Movimento Moderno, visuais e vitalidade comercial, segue imprimindo uma variável marcante no Centro Novo.

As soluções para circulação e comprometimento vindas desde o desenvolvimento projetual, garantem em parte esta presença do projeto como apropriação coletiva e afetiva na história de quem trabalha, mora ou somente passa pelo Centro Novo, e pela Avenida São Luís.

Silvestre Mendes, funcionário da banca Corredor Cultural, localizado na Praça Dom José Gaspar, em frente a um dos acessos da Galeria Metrópole (figura 85) também foi um dos entrevistados.

6 Depoimento concedido no dia 08/11/2021 por Ricardo Martos, Arquiteto na KSAA, professor e Coordenador de Lato Sensu do Centro Universitário Belas Artes e Professor da Universidade Mackenzie.

Figura 85- Fotografia mostrando a galeria fechada, e a vista do acesso da galeria que a banca Corredor Cultural presencia.

Fonte: LEONEL, 2020, n. p.

Trabalhando na banca de jornais há 25 anos, Silvestre recebeu perguntas similares às do professor Ricardo, mas neste caso a perspectiva e as respostas são diferentes. A primeira pergunta sendo: O que a atividade comercial na galeria metrópole representa para seu estabelecimento? Silvestre Mendes coloca:

Confesso que meu ofício neste momento está ligado a galeria sim. Principalmente o edifício Metrópole. Em tempos em que o público da praça girava em torno de 300 mil pessoas, a galeria apenas completava,porém, em tempos pandêmicos, no qual as leis limitavam a circulação na galeria ,os comércios não ultrapassaram os 3% da capacidade.

7

Baseado em uma convivência diária com vista para a Galeria, Silvestre Mendes relata os resultados da pandemia e o fluxo do local:

As rudes regras fazem com que os eventos culturais cada dia se afastem mais, como os estabelecimentos: mandíbula, taperá, the week, metropol, entre outros. Ou seja, onde não se convém a cultura,não convém pessoas. Sendo assim,o espaço se limita.

7 Depoimentos concedidos no dia 25/11/2021 por Silvestre Mendes, funcionário da banca de jornais Corredor Cultural.

E finalmente, assim como o colocado anteriormente, a presença de memória afetiva em quem desfruta diariamente da arquitetura é fator essencial, e é da particularidade de cada um denominar a importância da arquitetura para sua história. Dessa forma, foi questionado ao comerciante, se houve, ou ainda há algum vínculo pessoal,alguma memória afetiva, ou saudade no cotidiano da galeria.

As memórias são curtas e longas. Da glamurosa arquitetura que ainda se mantém a degradação que se vê. O fato é que a geração com 60,70 e 80 sempre haverá de lamentar dos tempos em que a galeria demonstrava não apenas sua mágica arquitetura mas a vitalidade das interações humanas e comerciais, hoje em dia só ocorre a falta de atrações e incentivos, o que fez até o cinema fechar.

Considerando o objetivo da pesquisa de levantar informações e experiências que relatam a importância da relação entre pedestre e galeria, é possível concluir que realmente, o imaginário das pessoas sobre a arquitetura são fundamentais para sua permanência. Explicando melhor, a partir de dois intensos depoimentos, pode-se dizer que a galeria tem internamente problemas de administração e funcionamento, mas a principal essência necessária existe, “Os pedestres, criam a cidade que percorrem”(CERTEAU, 1994, p. 71 apud CAVALCANTE; ELALI, 2018, p. 230).

Agora ao final, será possível levantar algumas reflexões sobre como estes espaços são parte importante para a Avenida São Luís, por se conectarem com suas transformações e significarem uma integridade da vida urbana do pedestre. Outro aspecto interessante a se observar é a relação entre as vias de mobilidade e os edifícios, há 3 estações de metrô próximas, sendo que a República da linha amarela é a mais próxima (figura 86).

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