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JULIO MESQUITA
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(1891-1927)
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Estado’ ensurado ‘Estado’ ‘Estado’ ‘Estado’ ‘Estado’ ‘Estado’ é‘Estado’ censurado no caso éécensurado éécensurado é‘Estado’ censurado censurado éSarney censurado censurado no caso éno censurado no no no Sarney no caso no caso caso caso caso caso Sarney Sarne Sarn Sarn Sarn no Sa
minaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairecorrer sembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairecorrer sembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairecorrer Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairecorr Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairec Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairec Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvaire Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvair Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvair Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalva Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornal Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilho
aSarney, honra da família sentação, sentação, afilho avogados honra honra da da família família sentação, sentação, sentação, sentação, asentação, sentação, sentação, honra sentação, aa honra da honra asentação, aafilho ahonra família honra honra honra ada da honra família da família da da adafamília honra família da família família família família querem sentação, a honra da família vogados deDácio Fernando querem vogados vogados de de Fernando Fernando querem querem vogados vogados vogados devogados vogados vogados Fernando vogados de de Fernando Fernando de de de vogados de Fernando querem Fernando Fernando de Fernando Fernando querem querem de querem Fernando querem querem querem querem querem vogados deda Fernando do dopor Fernando Fernando Sarney, filho filho do por do Fernando do por por do do do do por Fernando por Fernando por do por Fernando Sarney, por Fernando Fernando Fernando do Fernando Sarney, por Sarney, filho Sarney, Fernando Sarney, Sarney, Sarney, filho Sarney, filho filho filho filho filho Sarney, filho do por Fernando Sarney, mbargador mbargador DácioVieiViei-O desembargador Opor Odesembargador desembargador Osentação, OOO desembargador desembargador desembargador desembargador O desembargador Dácio O desembargador Dácio VieiDácio Dácio Dácio Dácio Dácio VieiVieiDácio VieiVieiVieiVieiDácio VieiVieiO desembargador Dácio VieiSarney foi ferida. Manuel AlSarney Sarney foi foi ferida. ferida. Manuel Manuel AlSarney Sarney Sarney foidas Sarney Sarney ferida. Sarney Sarney foi Sarney foiferida. foi ferida. Manuel foi foi foi Sarney ferida. ferida. ferida. foi ferida. Manuel Manuel ferida. AlManuel foi Manuel Manuel Manuel ferida. AlManuel Al-AlAlAlManuel Al- Al- das con- Sarney foi ferida. Manuel Almpedir de ade publicação das conimpedir impedir ado apublicação publicação das das conconimpedir impedir impedir a impedir publicação impedir impedir impedir aimpedir aJustiça publicação publicação aaapublicação aimpedir publicação das publicação publicação ado publicação condas das aAlpublicação das condas condas das condas conconconconconimpedir aAlpublicação dopresidente presidente do do Senado, Senado, José José do presidente do presidente presidente do do do presidente presidente do presidente do presidente presidente do doSenado, presidente Senado, do do José do do Senado, Senado, Senado, do Senado, José Senado, José José José José José Senado, José José do presidente do Senado, José Tribunal ribunal Justiça Justiçado do ra,do do ra, Tribunal ra,do ra, do ra, ra, ra, Tribunal do Tribunal do ra, do do de Tribunal Tribunal Tribunal do Tribunal Justiça ra, Tribunal de de doJustiça de Justiça de do Tribunal de de Justiça Justiça Justiça de Justiça do Justiça do de do do do do Justiça do doSenado, ra, dodo Tribunal de ceu Afonso Ferreira, advogaceu ceu Afonso Afonso Ferreira, Ferreira, advogaadvogaceugravadas Afonso ceu ceu ceu Afonso ceu Afonso ceu Ferreira, ceu Afonso ceu Afonso Afonso Afonso Afonso Ferreira, ceu advogaFerreira, Ferreira, Ferreira, Ferreira, Afonso Ferreira, advogaadvogaadvogaFerreira, advogaadvogaadvogaadvogaadvoga-gravadas ceu Afonso Ferreira, advogatelefônicas gravadas versas telefônicas telefônicas gravadas gravadas versas versas versas telefônicas versas versas versas telefônicas versas telefônicas telefônicas telefônicas telefônicas telefônicas gravadas versas gravadas gravadas telefônicas gravadas gravadas gravadas gravadas gravadas versas telefônicas Sarney Sarney (PMDB-AP). (PMDB-AP). A A decisão Sarney Sarney (PMDB-AP). Sarney Sarney Sarney Sarney (PMDB-AP). Sarney (PMDB-AP). (PMDB-AP). (PMDB-AP). (PMDB-AP). ASarney (PMDB-AP). decisão AA(PMDB-AP). decisão decisão AAAdecisão A decisão decisão decisão A decisão Aversas decisão Sarney (PMDB-AP). AFerreira, decisão oversas Federal, Federal, proibiu proibiuooEsEsDistrito Distrito Distrito Federal, Distrito Distrito Distrito Distrito Federal, Distrito Federal, proibiu Federal, Federal, Federal, Federal, Distrito Federal, proibiu proibiu odecisão Esproibiu proibiu proibiu Federal, proibiu ooproibiu EsEsoversas ooEsoEsproibiu EsEsoSarney Eso(PMDB-AP). EsDistrito Federal, proibiu o telefônicas Esdo dotado Estado, disse que ocom jordo do do do Estado, Estado, disse disse que ojudicial ojudicial jorjordo––uma do Estado, do do do do do do do Estado, do do disse do do Estado, Estado, Estado, do Estado, que do Estado, disse disse do odisse disse disse jorque disse Estado, que disse que oque oque que jorjoroque disse oojorojorjorjoro que jor- ojudicial jor- – uma do do Estado, disse que o jorcom autorização judicial –impõe uma com autorização autorização judicial judicial –R$ –uma uma com autorização com com com autorização com com autorização com autorização com autorização autorização judicial autorização autorização com judicial judicial –que autorização uma judicial judicial ––judicial uma uma –multa –uma uma judicial uma –do uma –Estado, uma com autorização impõe multa multa de de R$ R$ 150 150 mil mil para para impõe impõe multa impõe impõe impõe impõe impõe de multa multa impõe R$ multa multa multa 150 multa de de impõe multa R$ mil R$ de de de 150 de para R$ 150 R$ R$ multa de mil 150 mil 150 150 R$ 150 para mil para mil 150 mil de mil para R$ para mil para para 150 para mil para impõe de R$ 150 mil para epublicar publicar reportagens reportagens tado de tado tado publicar tado tado tado de tado de publicar de publicar de reportagens de publicar publicar publicar de publicar tado publicar reportagens reportagens dereportagens reportagens reportagens publicar reportagens reportagens reportagens tado de publicar reportagens nal vai recorrer por entender nal nal vai vai recorrer recorrer por por entender entender nal nal nal recorrer vai nal vai nal nal nal recorrer vai recorrer vai nal vai vai por recorrer recorrer vai recorrer recorrer entender nal recorrer por por vai por entender por entender por recorrer por entender por entender entender entender entender por entender nal vai recorrer entender delas revela envolvimento de delas delas revela revela envolvimento envolvimento de de delas revela delas delas delas delas delas delas revela envolvimento revela delas revela revela revela revela envolvimento envolvimento delas revela envolvimento envolvimento envolvimento revela de envolvimento de envolvimento devai de de de de de de delas revela envolvimento de cada cada reportagem. reportagem. 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A ação pede rmações ormações da daOperação Operaçãocom informações com com com informações com com informações com informações com informações informações informações da informações Operação com da da informações Operação Operação da da da da Operação Operação Operação da Operação Operação da Operação com informações da Operação estratégia éenvolvimento pôr a tropa de choestratégia éOlíder épôr pôr alíder ado tropa tropa de de chochoestratégia estratégia estratégia estratégia éestratégia estratégia pôr estratégia estratégia aétropa épôr pôr éestr éépôr aéapô de ptr tpt ●●cada ●● ●● ●● ●● ●● ●●O ●● ●● ●● ●● ●● ●● O líder doAA PMDB no Senado, OO líder líder do do PMDB PMDB no no Senado, Senado, Oestratégia líder do O líder líder PMDB OO O líder do líder do líder OPMDB PMDB no do do do Senado, PMDB O PMDB PMDB do PMDB líder no no PMDB Senado, Senado, no do no no no Senado, PMDB Senado, Senado, no Senado, Senado, no por Senado, que “há um valor constitucioque que “há “há um um valor valor constitucioconstitucioque “há que que um que “há que “há que que valor “há um que “há um “há “há constitucioum valor “há valor um um um que valor um valor valor constituciovalor constitucio“há valor constitucioconstitucioum constitucioconstitucioconstituciovalor constitucioque umpara valor constitucioSarney a contratação do Sarney Sarney com com aque acontratação contratação do doSarney Sarney Sarney com Sarney Sarney Sarney Sarney aPolícia com contratação Sarney com com com acom acom Sarney contratação contratação com ase aacontratação arevezar contratação contratação contratação do acom contratação ado do contratação do do do do do do Sarney com aRenanCalheiros,comandaa contratação dona também que que nenhum nenhum veículo veículo também também também que também também também também nenhum também que que nenhum que que nenhum também que veículo nenhum que nenhum nenhum nenhum nenhum veículo veículo que veículo veículo veículo nenhum veículo veículo veículo também que nenhum veículo rica, rrica,da dacom Polícia Polícia FedeFede-Boitambém Barrica, Boi BoiBoi Barrica, Boi Barrica, Boi Boi da Barrica, Boi Barrica, Barrica, Barrica, Polícia Barrica, da da Boi Polícia da Polícia Fededa da Barrica, da Polícia Polícia Polícia da Polícia FedeFedePolícia da FedeFedeFedeFedePolícia FedeFedeBoi Barrica, da Fedeque para na tribuna, que que para para seseRenanCalheiros,comandaa revezar revezar natribuna, tribuna, que que se que para que para que revezar que para que para se para se para revezar reveza reveza para se na se se que se rev tri re re rs RenanCalheiros,comandaa reRenanCalheiros,comandaa RenanCalheiros,comandaa rereRenanCalheiros,comandaa RenanCalheiros,comandaa RenanCalheiros,comandaa RenanCalheiros,comandaa RenanCalheiros,comandaa RenanCalheiros,comandaa RenanCalheiros,comandaa re- “háque rerererererereremaior, que épôs oque da liberdade nal nal maior, maior, que éda épor ooneta, oda da liberdade liberdade nal nal nalde maior, nal que maior, nal nal nal maior, émaior, nal maior, oàque que da maior, liberdade que énal que éque oque oda maior, éda que ééoéliberdade ooliberdade da oda da éda liberdade oque liberdade liberdade da liberdade liberdade é o da liberdade nal quepresioasegunda, da liberdade namorado neta, por ral. meio namorado namorado da da neta, neta, por por meio meio dede namorado namorado namorado namorado da namorado namorado namorado neta, namorado da neta, da namorado da meio da neta, neta, neta, por da neta, por de neta, meio por meio por por por da meio meio por de meio neta, meio demaior, meio de de de por de meio de namorado neta, por de dede comunicação comunicação cite cite material de comunicação decomunicação de comunicação de de comunicação comunicação comunicação de comunicação cite comunicação de material comunicação cite cite material cite material cite cite material cite material material material cite material de comunicação cite material curso, ecurso,que queda pôs pôs ooEstaEstaO recurso, ral. ral.ral. Onal O ral. ral. ral. recurso, recurso, O que O ral. OO recurso, recurso, recurso, recurso, O pôs recurso, ral. que o material EstaO que que pôs que recurso, pôs oque opôs pôs Estapôs Estaopôs ooEstaoEstaque EstaEstao de Estapôs ode Estaral. Omaterial recurso, que pôs Estaaque partirde segunda, denuncianada apartirde partirde segunda, segunda, denuncianado partirde aaépartirde partirde apartirde aapresipartirde partirde partirde a partirde segunda segunda denun segu asegu seg pa seg sistência àcite renúncia do presisistência sistência àmaior, renúncia renúncia do do presipresisistência sistência sistência àsistência sistência sistência renúncia sistência sistência àmeio à renúncia renúncia ààsistência àde do renúncia àdenuncianrenúncia renúncia renúncia àpresirenúncia do domaior, àpresido presido renúncia do presipresipresido presido de imprensa”. de de imprensa”. imprensa”. de imprensa”. de de imprensa”. de de de imprensa”. imprensa”. de imprensa”. imprensa”. de de ato secreto. 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Renan lidera resistência à renúncia Renan Renanlidera lideraresistência resistência Renan Renan Renan Renan Renan Renan Renan lidera àRenan àrenúncia renúncia lidera lidera Renan lidera lidera resistência lidera lidera lidera resistência resistência lidera resistência resistência resistência resistência resistência àresistên renún ààren re ààààr
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ma macomemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ Obama Obama Obama Obama Obama Obama Obama comemora‘caminhocerto’ Obama comemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ Obamacomemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ comemora‘caminhocerto’ Obamacomemora‘caminhocerto’
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OassessordeSegurançaNacional da Casa Branca, James Jones, virá ao Brasil na segunda-feira. A visita já estava agendada, mas ganhou maiorrelevoporcausadacrise das bases americanas na
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A Justiça OassessordeSegurançaNaOassessordeSegurançaNaAAJustiça Justiça A manteve AAA Justiça Justiça Justiça Justiça Amanteve Justiça manteve ontem manteve A manteve manteve manteve Justiça manteve ontem aontem ontem ontem manteve ontem ontem aOassessordeSegurançaNaaontem aaaaOassessordeSegurançaNaOassessordeSegurançaNaontem a OassessordeSegurançaNaOassessordeSegurançaNaOassessordeSegurançaNaOassessordeSegurançaNaaOassessordeSegurançaNaOassessordeSegurançaNaA Justiça manteve ontem a restrição cional cional restrição restrição restrição estabelecida da restrição da restrição restrição Casa Casa restrição estabelecida estabelecida Branca, estabelecida Branca, restrição estabelecida estabelecida estabelecida pela estabelecida JaJapela pela estabelecida cional pela pela pela pela pela cional da cional cional Casa cional pela cional cional da da cional Branca, Casa da Casa da da daCasa cional Casa da Casa Branca, Casa Branca, JaCasa Branca, Branca, Branca, da Branca, restrição Branca, JaCasa Ja-JaJaJaJaBranca, estabelecida Ja- Ja- pela PrefeituradeSãoPauloà mes mes PrefeituradeSãoPauloà PrefeituradeSãoPauloà Jones, Jones, PrefeituradeSãoPauloà PrefeituradeSãoPauloà PrefeituradeSãoPauloà PrefeituradeSãoPauloà virá PrefeituradeSãoPauloà viráaoao PrefeituradeSãoPauloà Brasil Brasil cir- na na circirmes circircircirJones, cirmes mesmes Jones, mes virá mes Jones, cirmes Jones, mes Jones, ao Jones, Jones, virá virá Brasil Jones, mes virá ao virá virá ao virá Brasil na Jones, Brasil ao virá ao ao ao PrefeituradeSãoPauloà Brasil Brasil Brasil ao Brasil na virá naBrasil na na ao na naBrasil na na circulação segunda-feira. segunda-feira. culação culação deculação culação culação ônibus culação de culação deA ônibus de ônibus A fretados de de visita de culação visita ônibus ônibus ônibus de ônibus fretados já fretados ônibus jáesde fretados esfretados fretados fretados ônibus segunda-feira. fretados segunda-feira. fretados segunda-feira. segunda-feira. segunda-feira. segunda-feira. segunda-feira. A segunda-feira. visita segunda-feira. AAjá visita visita A esAAA visita visita visita culação visita já A jáesvisita esjájá já já esA esesesde já visita esônibus já es-fretados na capital. tava tava na na agendada, capital. agendada, capital. na As na na na capital. empresas capital. capital. na capital. As As capital. mas empresas mas As empresas na As As As cheempresas capital. ganhou empresas ganhou empresas As empresas empresas checheAstava cheempresas chechecheagendada, chetava tava tava tava cheagendada, tava agendada, tava tava agendada, mas agendada, agendada, agendada, agendada, ganhou tava mas masagendada, mas ganhou mas mas ganhou mas naganhou mas capital. ganhou ganhou ganhou ganhou mas Asganhou empresas chegaram maiorrelevoporcausadacrimaiorrelevoporcausadacrigaram garam a obter garam garam garam garam aagaram uma obter obter aaaobter aobter liminar obter garam obter uma auma obter uma uma liminar uma uma liminar a obter uma liminar liminar liminar liminar maiorrelevoporcausadacriliminar umamaiorrelevoporcausadacrimaiorrelevoporcausadacriliminar maiorrelevoporcausadacrimaiorrelevoporcausadacrimaiorrelevoporcausadacrimaiorrelevoporcausadacrimaiorrelevoporcausadacrimaiorrelevoporcausadacrigaram a obter uma liminar liberandoa sesedas liberandoa liberandoa dasliberandoa bases liberandoa circulação, bases liberandoa liberandoa liberandoa americanas circulação, americanas circulação, liberandoa circulação, circulação, mas circulação, circulação, circulação, o mas na mas nacirculação, mas ose mas omas mas das omas ooose bases seodas mas das sese se se das americanas bases das bases odas se das bases das bases bases bases americanas americanas se bases americanas das americanas americanas americanas nabases americanas liberandoa na naamericanas na na na nacirculação, na na mas o IO MOTTA/AE IO MOTTA/AE
Enviado de Obama quer explicar bases na Colômbia
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Justiça Enviado Enviado Justiça Justiça Justiça Justiça Justiça Justiça Justiça de de Justiça de dede de de dedeEnviado deEnviado Enviado Enviado Enviado Enviado Enviado Enviado deEnviado de dede de de Justiça dede de de SP Obama Obama SP mantém SP SP SP SP SP mantém mantém SP mantém mantém mantém quer mantém quer SP mantém mantém Obama Obama Obama Obama Obama Obama Obama Obama quer Obama quer quer quer quer quer quer SP quer mantém quer restrição explicar explicar restrição restrição restrição restrição restrição restrição restrição bases restrição bases explicar explicar explicar explicar explicar explicar explicar explicar bases explicar bases bases bases bases bases restrição bases bases bases aos na na aos aos fretados Colômbia aos Colômbia aos aos aos fretados fretados aos fretados fretados fretados fretados aos fretados fretados na Colômbia na nana na na Colômbia na Colômbia na Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia Colômbia na Colômbia aos fretados
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tiça tiçade de mantém mantém trição rição fretados fretados
doistrimestres anteriores, comoresultado dos planos de estímulo econômico do governo americano.OpresidenteBarack Obama, embora cauteloso, festejou: “A economia caminha na direção certa”. ● PÁG. B1
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doistrimestres anteriores, anteriores, coco-encolheu doistrimestres doistrimestres doistrimestres doistrimestres doistrimestres doistrimestres doistrimestres doistrimestres anteriores, anteriores, anteriores, anteriores, anteriores, coanteriores, anteriores, anteriores, coco-anteriores, cocococo-cocodos os EUA EUAencolheu encolheu1% 1%O doistrimestres PIB Odos OPIB PIB OO EUA OO PIB dos PIB PIB dos PIB O encolheu dos PIB EUA dos EUA dos dos O EUA dos EUA EUA encolheu PIB EUA encolheu EUA 1% encolheu dos encolheu encolheu encolheu EUA 1% 1% 1% 1% encolheu 1% 1% 1% 1% doistrimestres O PIB dos EUA encolheu 1% moresultado dos dos planos planos dede esesmoresultado moresultado moresultado moresultado moresultado moresultado moresultado dos moresultado planos dos dos moresultado planos dos de planos dos dos dos esplanos planos dos planos planos de de planos esesde dos de de de esesplanos esesde es-trimestre de es- deste undo ndo trimestre trimestredeste destenomoresultado segundo no no segundo no segundo no no no trimestre segundo segundo no segundo segundo segundo trimestre trimestre notrimestre deste trimestre segundo trimestre trimestre trimestre deste deste deste trimestre deste deste deste deste deste no segundo tímulo tímulo econômico econômico do do governo governo tímulo tímulo econômico tímulo tímulo tímulo tímulo tímulo econômico econômico tímulo econômico econômico do econômico econômico tímulo governo econômico do dogoverno econômico governo do do do do governo governo governo do governo do governocom igual omparação comparaçãocom comigual igualano naano comparação ano ano na ano na ano ano comparação comparação na ano na na na comparação comparação comparação na comparação com ano comparação igual na com com comparação com igual com com igual com igual com igual igual igual igual com igual ano nagoverno comparação americano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraamericano.OpresidenteBaraodede2008. 2008.AAprevisão previsãoperíodo período período deperíodo período período 2008. período de período de2008. A de 2008. de de previsão de período 2008. 2008. 2008. de 2008. AA2008. previsão previsão AA de AA previsão previsão previsão 2008. previsão A previsão A previsão período de 2008. A previsão ckObama, Obama, embora embora cauteloso, cauteloso, ck ck ck Obama, Obama, ck embora ck ck ck Obama, Obama, ck Obama, Obama, embora cauteloso, ck embora embora embora embora Obama, cauteloso, embora cauteloso, cauteloso, cauteloso, cauteloso, cauteloso, embora cauteloso, cauteloso, nomistas omistas era eraque queoorere-deck economistas de deeconomistas de economistas de de de economistas economistas economistas de economistas era economistas que de era era economistas o era reque que era era era que oera que oque que rereoObama, que ooreoera rerereo que reoObama, re-embora de economistas era que o refestejou: festejou: “A “A economia economia camifestejou: festejou: festejou: festejou: festejou: festejou: festejou: economia festejou: “A “A economia “A economia “A festejou: “A “Aeconomia camieconomia “A economia economia economia cami“A camicamieconomia camicamicamicami-1,5%. cami-O número ngisse gisse 1,5%. 1,5%.OOnúmero númerocuo atingisse cuo cuocuo atingisse cuo atingisse cuo cuo 1,5%. atingisse cuo atingisse atingisse atingisse atingisse O1,5%. 1,5%. cuo número 1,5%. 1,5%. atingisse 1,5%. O 1,5%. Ocaminúmero número 1,5%. OOOO número número número número O1,5%. número O“A número cuo atingisse nha nhana nadireção direção certa”. certa”. na nha direção nha nha na nha na nha nha direção direção na certa”. nha na na na direção direção direção direção nacerta”. nha certa”. direção certa”. na certa”. certa”. certa”. direção certa”. melhora elhora em emrelação relaçãoaos aosindica melhora indica indica indica indica indica indica melhora melhora em indica melhora melhora melhora relação melhora indica em melhora em em relação aos em em em melhora relação relação relação em relação aos aos relação em aos aos aos aos relação aos aos indica melhora em relação aos ●relação ● PÁG. PÁG. B1 B1nha ● PÁG. B1 ● ●●certa”. PÁG. PÁG. PÁG. ●●● PÁG. B1 ● B1 B1 PÁG. PÁG. PÁG. ●B1 PÁG. B1 B1 B1 B1 ● PÁG. B1
O Estado Novo de S達o Paulo agosto/dezembro 2009 Org. Fernando Piola vol. I
● Edição das
23h15
o estado de s. paulo SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
1 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42291
‘Estado’ é censurado no caso Sarney Desembargadorconcedeuliminaremaçãomovidapelofilhodosenador;jornalvairecorrer O desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, proibiu o Estado de publicar reportagens com informações da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. O recurso, que pôs o Estado sob censura, foi apresenta-
do por Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A decisão impõe multa de R$ 150 mil para cada reportagem. A ação pede também que nenhum veículo de comunicação cite material do Estado sobre o tema. Os ad-
vogados de Fernando querem impedir a publicação das conversas telefônicas gravadas com autorização judicial – uma delas revela envolvimento de Sarney com a contratação do namorado da neta, por meio de ato secreto. Segundo a repre-
sentação, a honra da família Sarney foi ferida. Manuel Alceu Afonso Ferreira, advogado do Estado, disse que o jornal vai recorrer por entender que “há um valor constitucional maior, que é o da liberdade de imprensa”. ● PÁGS. A4 e A6
Renan lidera resistência à renúncia ●● O líder do PMDB no Senado,
RenanCalheiros,comandaa resistência à renúncia do presidente da Casa, José Sarney. A
estratégia é pôr a tropa de choque para se revezar na tribuna, a partirde segunda, denunciando erros da oposição. ● PÁG. A7
LULA: CRÍTICA AO CONTROLE DE LICITAÇÕES
PIB dos EUA encolhe menos que o previsto Obama comemora‘caminhocerto’ doistrimestres anteriores, comoresultado dos planos de estímulo econômico do governo americano.OpresidenteBarack Obama, embora cauteloso, festejou: “A economia caminha na direção certa”. ● PÁG. B1
Justiça de SP mantém restrição aos fretados
Enviado de Obama quer explicar bases na Colômbia
A Justiça manteve ontem a restrição estabelecida pela PrefeituradeSãoPauloà circulação de ônibus fretados na capital. As empresas chegaram a obter uma liminar liberandoa circulação, mas o recurso judicial foi cassado no final da noite. ● PÁG. C1
OassessordeSegurançaNacional da Casa Branca, James Jones, virá ao Brasil na segunda-feira. A visita já estava agendada, mas ganhou maiorrelevoporcausadacrise das bases americanas na Colômbia. Jones tentará desarmar os ânimos. ● PÁG. A14
●●● O presidente Lula entrega laptops em Piraí (RJ) e critica mecanismos de controle de licitações que, afirma, atrasam compras. ● PÁG. A8
ESPORTES ANTONIO MILENA/AE
Cielo tenta hoje mais um ouro, nos 50 m livre Onadador CésarCielodisputa, a partir das 13 horas, a final da prova na qual foi campeão olímpico, os 50 m livre. Para Cielo, ouro e recordista mundial nos 100 m, será a principal competição no Mundial de Roma. Após seis dias de competições, apenas quatro recordes não foram quebrados. ● PÁGS. E1 e E2
PROBLEMA – Nem o Corpo de Bombeiros aceitou a oferta
Doa-se água tratada e de qualidade. É só retirar
A
reforma da piscina de 4 m x 25 m trouxe um problema para um condomínio na Vila Mariana: como não desper-
7 8 9 10 11 12
diçar 150 mil litros de água de qualidade? Para a Sabesp, a coleta e o transporte desse volume tornam a doação inviável. ● PÁG. C6
Grávidas são as mais atingidas pela gripe
CADERNO 2 ‘Autoentrevista’ revela Arrabal
●● Ao Estado, o dramaturgo, que estará em São Paulo, afia sua ironia.●
VINCENT KESSLER/REUTERS
SÃO PAULO
FABIO MOTTA/AE
O PIB dos EUA encolheu 1% no segundo trimestre deste ano na comparação com igual período de 2008. A previsão de economistas era que o recuo atingisse 1,5%. O número indica melhora em relação aos
Sérgio Augusto
Vale-tudo póstumo Herdeiros gananciosos ameaçam a reputação de escritores. ● PÁG. D7
Grávidas, pessoas com problemas cardíacos e hipertensos são, nesta ordem, as principais vítimas da gripe suína, diz levantamento do Ministério da Saúde. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Juvencio Furtado,os números servemde alerta para os profissionais de saúde. “Há uma classificação de maior risco. Com esse grupo, a atenção precisa ainda ser mais cuidadosa.” ● PÁG. A19
●●
Schumacher corre para se readaptar à F-1 Substituto de Felipe Massa no GP de Valência, o alemão treinou ontem com um Ferrari de 2007, de colecionador. Massa voltará ao Brasil na segunda-feira. ● PÁG. E3
Aviação
Aeroflot aposenta velhos Tupolev Até o fim do ano, companhia russa terá jatos de EUA e Europa. ● PÁG. B15
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NOTAS E INFORMAÇÕES
O desembarque de Lula Lula abandona a defesa de Sarney com os mesmos estrépito e desrespeito pela memória do público que já lhe serviram para se desvencilhar de outros companheiros. ● PÁG. A3
●●●
●● Monte seu kit de brincadeirasparadivertiracriançadaneste período de férias forçadas. ●
Tempo: CAPITAL
21º MÁX.
● PÁG. C2
12º MÍN.
Sol volta a aparecer e temperatura sobe.
Hoje: 96 páginas A. 1º caderno: 22 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 6 ● Es. Estadinho: 12 ● Ca. Autos: 14 ● Ci. Imóveis: 8 (1.556 anúncios)
A4
SÁBADO, 1 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL
Gilmar Mendes cobra transparência ampla
Para ministro, é fundamental saber quanto magistrados gastam com diárias e passagens qPÁG.A12
CONGRESSO
Liminar proíbe ‘Estado’ de noticiar investigação sobre filho de Sarney Desembargador determinou aplicação de multa de R$ 150 mil para cada reportagem que venha a ser publicada Felipe Recondo BRASÍLIA
O desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), proibiu o Estado de publicar reportagens que contenham informações da Operação Faktor, mais conhecida como Boi Barrica. O recurso judicial, que pôs o jornal sob censura, foi apresentado pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) – que está no centro de uma crise política no Congresso. O pedido de Fernando Sarney chegou ao desembargador na quinta-feira, no fim do dia. E ontem pela manhã a liminar havia sido concedida pelo magistrado. O juiz determinou que o
Estado não publique mais informações sobre a investigação que a Polícia Federal faz sobre o caso. Se houver descumprimento da decisão, o desembargador Dácio Vieira determinou aplicação de multa de R$ 150 mil – por “cada ato de violação do presente comando judicial”, isto é, para cada reportagem publicada. MULTA
O pedido inicial de Fernando Sarney era para que fosse aplicada multa de R$ 300 mil em caso de descumprimento da decisão judicial. O advogado do Grupo Estado, Manuel Alceu Afonso Ferreira, avisou que vai recorrer da liminar. “Háum valor constitucional maior, que é o da liber-
dade de imprensa, principalmente quando esta liberdade se dá em benefício do interesse público”, observou Manuel Alceu. “O jornal tomará as medidas cabíveis.”
Desembargador fixa multa de R$ 150 mil por cada ‘ato de violação’ O diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, afirmou que a medida não mudará a conduta do jornal. “O Estado não se intimidará, como nunca em sua história se intimidou. Respeita os parâmetros da lei, mas utiliza métodos jornalísticos lícitos e éticos
FRASES
Ricardo Gandour Diretor de Conteúdo do Grupo Estado
“O jornal não se intimidará, como nunca em sua história se intimidou. Respeita os parâmetros da lei, mas utiliza métodos jornalísticos lícitos e éticos para levar informações de interesse público à sociedade”
Manuel Alceu Advogado do Grupo Estado
“Há um valor constitucional maior, que é o da liberdade de imprensa, principalmente quando esta liberdade se dá em benefício do interesse público. O jornal tomará as medidas cabíveis”
para levar informações de interesse público à sociedade”, disse Gandour. Os advogados do empresário afirmam que o Estado praticou crime ao publicar trechos das conversas telefônicas gravadas na operação com autorização judicial e alegaram que a divulgação de dados das investigações fere a honra da família Sarney.
deu e quis. Sustentam também que, a partir daí, em se tratando de família da mais alta notoriedade,neméprecisomuitoesforço para entender que os demais meios de comunicação deram especialatençãoaoassunto, leiloando a honra, a intimidade, a privacidade, enfim, aviltando o direito de personalidade de toda a família Sarney. PORTAL
‘DIÁLOGOS ÍNTIMOS’
Os advogados que assinam a ação–MarceloLealde LimaOliveira, Benedito Cerezzo PereiraFilho,Janaína CastrodeCarvalho Kalume e Eduardo Ferrão – argumentam que uma enxurrada de diálogos íntimos, travados entre membros da família, veio à tona da forma como a reportagem bem entenREPRODUÇÃO
As gravações revelaram ligações do presidente do Senado com a contratação de parentes e afilhados políticos por meio de atos secretos. A decisão do desembargador Dácio Vieira faz com que o Portal do Estadão seja obrigado a suspender a veiculação dos arquivos de áudio relacionados à operação. ● MEMÓRIA
Medida não intimidou em 1968 e jornal foi apreendido A decisão de proibir a divulgação dos áudios da Operação Boi Barrica, envolvendo o clã Sarney e o ex-diretor-geral do Senado, traz à tona os casos de censura que oEstado sofreu em sua missão de informar. A mais incisiva ocorreu em 13 de dezembro de 1968, quando a edição do jornal foi apreendida às 3 horas da madrugada, por ordem do general Silvio Correia de Andrade, então delegado regional da Polícia Federal. Naquele dia, do fatídico Ato Institucional nº 5, que institucionalizou a censura no País, a seção Notas e Informações trazia o editorial Instituições em Frangalhos. O diretor e proprietário do jornal, Julio de Mesquita Filho, manteve o texto, apesar da pressão do regime que levava veículos à autocensura. Os exemplares foram apreendidos antes mesmo de a promulgação do AI-5 sair no Diário Oficial. Mesmo com a repressão, parte dos exemplares chegou às bancas graças a estratégias da Redação. No entanto, em seguida a censura tornou-se ostensiva aos jornais do Grupo Estado. Em dias polêmicos, censores trabalhavam tanto na Redação como na prova de página da oficina gráfica, o que ocorreu até janeiro de 1975. As matérias que não passavam pelo crivo do regime eram substituídas por poemas, como Os Lusíadas, de Luís de Camões, no Estado; e receitas de bolo no Jornal da Tarde. A estratégia deu visibilidade internacional à publicação, que, em 1974 recebeu o Prêmio Pena de Ouro da Liberdade, conferido pela Federação Internacional de Editores de Jornais. As decisões de censura que remontam ao período ditatorial, porém, têm exemplos recentes. Em junho do ano passado, o Jornal da Tarde foi proibido de publicar reportagem sobre supostas irregularidades do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). Nos dias em que a decisão vigorou, o jornal circulou com com a inscrição “Sob Censura”, até que a decisão foi revertida em virtude de manifestações de entidades que saíram em defesa da liberdade de expressão no Brasil. O processo, considerado “censura prévia”, foi extinto. ● ROBERTO ALMEIDA ●●●
JUNTOS – Desembargador Dácio Vieira, com Sarney, Agaciel Maia e Renan Calheiros, além da mulher do juiz e do ex-diretor, em festa casamento no mês passado em Brasília
Ex-consultor do Senado, juiz é próximo do clã Dácio Vieira foi um dos convidados presentes ao luxuoso casamento da filha de Agaciel Maia Leandro Colon Rodrigo Rangel BRASÍLIA
Ex-consultor jurídico do Senado, o desembargador Dácio Vieira, que concedeu a liminar a favor de Fernando Sarney e pôs o Estado sob censura, é do convívio social da família Sarney e do ex-diretor-geral Agaciel Maia. Dácio Vieira foi um dos convidados presentes ao luxuoso casamento de Mayanna Cecília, filha de Agaciel, no dia 10 de junho, em Brasília. Na mesma data, o Estado revelou a existência de atos secretos no Senado. O presidente José Sarney (PMDB-AP) foi padrinho do casamento. Sarney, o desembargador Dácio Vieira e Agaciel aparecem juntos em foto na festa do casamento de Mayanna. A fotografia foi publicada numa coluna social do Jornal de Brasília, três dias após o casamento. Ao lado deles, estava o senador Re-
nan Calheiros (PMDB-AL). As mulheres de Agaciel, Sânzia Maia, e de Dácio, Ângela, também aparecem na foto. Em 12 de fevereiro, Sarney compareceu à posse do desembargadorna presidênciado Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Distrito Federal. Em sua passagem pelo Senado, Dácio trabalhou na gráfica da Casa. Lá, foi colega de Agaciel.Foi na gráfica que começou a trajetória de poder de Agaciel no Senado: de lá, pelas mãos de Sarney, em 1995, ele foi guindadoaoposto dediretor-geral, onde acumulou superpoderes que culminaram com a edição dos atos secretos, revelados pelo Estado. Dácio fez carreira no Senado. De acordo com seu currículo, disponível na página do Tribunal de Justiça do Distrito Federal,ele foidesignado em 1986, na condição de advogado, para ocuparocargode“titulardaAssessoria Jurídica do Centro
Gráfico do Senado”. Depois, foi promovido à condição de consultor jurídico da Casa. O currículo do desembargador diz ainda que, por designação especial, ele esteve à disposição da presidência do Senado,comatuação na consultoriageral da Casa. Sua atuação, segundo o currículo: “Encaminho (sic) de informações e razões de
Sarney prestigiou sua posse na presidência do TRE do Distrito Federal defesa em ações judiciais de interesse da instituição, havendo registro, à época, deste proceder, por parte da presidência daCasa,senadorMauroBenevides (Biênio de 1990/1991).” O currículo informa ainda que, como consultor jurídico do Senado, Dácio trabalhou na im-
plantação de mudanças no plano de carreira dos servidores daCasa.Em1992,quandotrabalhavanoSenado,foiindicadoparaocuparvagadoTREdeBrasília destinada a advogados. Recusou,segundoocurrículo,“pela natureza do cargo exercido à época no Senado”. QUINTO
Natural da cidade mineira de Araguari, Dácio tomou posse como desembargador do TJ do Distrito Federal em maio de 1994. Entrou em vaga destinada ao quinto constitucional, como representante da Ordem dos Advogados do Brasil. Por duas vezes, chegou a integrar lista tríplice de candidatos a vaga de ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O Estado tentou falar na noite de ontem com o desembargador.Amulher domagistradoinformou que ele viajara para Minas a fim de visitar uma irmã, hospitalizada. Indagada sobre
a relação social da família com Sarney, a mulher do desembargador respondeu: “Eu conheço o senador Sarney de festas. Não tenho nenhuma amizade com ele, não tenho cargo no Senado, nem nada. Se eu fosse amiga dele, eu estava empregada no Senado, não acha?” Sobre a presença no casamento, disse: “Fui convidada, não tenho esse direito?” A respeito da relação com a família de Agaciel Maia, pediu que a pergunta fosse feita ao próprio Dácio. “Não sei te informar. Isso você tem de perguntar para o desembargador”, afirmou. Ângela disse que não poderia informar o telefone do marido. Deu o número de um assessor dele, mas até o fechamento da edição não foi possível contatá-lo. ● † Mais informações nas páginas A6 e A7
SÁBADO, 1 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
Sétimo sentido O sexto sentido, desta vez, deixou o presidente Luiz Inácio da Silva na mão. Mesmo insistentemente aconselhado a guardar certa distância da crise do Senado, Lula resolveu prosseguir na defesa cada vez mais apaixonada do presidente da Casa, José Sarney. Certamente deve ter achado que as críticas em relação a ele ficavam restritas à oposição e à imprensa, dois setores que Lula aprendeu a desprezar depois de ter sido reeleito apesar dos vários escândalos de corrupção que permearam o primeiro mandato. Não levou em conta um dado fundamental: em se tratando de José Sarney, há todo um passivo desfavorável. São poucos os que valorizam o papel de Sarney na transição democrática. Por ironia, boa parte deles trabalha na imprensa ou milita na oposição. A maioria das pessoas lembra de Sarney como o presidente que afundou o Plano Cruzado por causa de uma eleição e deixou o País com 80% de inflação ao mês. Embora tenha sido a principal figura da Nova República, com a morte de Tancredo Neves, Sarney acabou se transformando em símbolo do que há de mais retrógrado na República. Quando à fama se juntaram os fatos divulgados nos últimos meses, o que poderia ser má impressão consolidou-se como rejeição. Isso a intuição de Lula não foi capaz de detectar. Abandonado pelo sexto sentido, o presidente recorreu aos préstimos de um sétimo e, pragmaticamente, mudou o discurso. “Não é problema meu”, disse Lula na quinta-feira sobre o destino de José Sarney na presidência do Senado. A declaração foi imediatamente interpretada como a senha para o desembarque, atribuído a pesquisas que indicariam malefícios para a popularidade do presidente, decorrentes do apoio entusiasmado a Sarney. Pode ser e pode não ser. Com o presidente Lula nunca se sabe direito o que representa realmente sua posição ou o que é apenas mais uma manifestação de sua falta de compromisso com a palavra dita. Logo no início da crise Lula falou a mesma coisa, que o Senado era um outro Poder e que a ele caberia resolver seus problemas. Isso depois de ter mobilizado o governo em prol da eleição de Sarney para a presidência do Senado e minutos antes de abrir a temporada de defesa explícita e de intervir diretamente na posição da bancada do PT, majoritariamente favorável ao afastamento. Se a declaração for mesmo o que pareceu à primeira vista, é de se concluir que, na visão do presidente, Sarney é insustentável no cargo. Nesse caso, o recuo de Lula cumpriria dois objetivos: minorar os efeitos do distanciamento entre suas ações e a opinião do público e tentar evitar que a derrota presumida de Sarney seja vista como um fracasso pessoal do presidente. Que tanto fez e nada conseguiu em prol do protegido.
Intuição de Lula no caso da defesa de Sarney não funcionou direito
O conselheiro
O ex-prefeito César Maia elaborou uma espécie de manual com “50 conselhos para os políticos”. Eis a maioria deles. . Nunca mude de personagem. . Há uma diferença entre buscar recursos para fazer política e buscar a política para fazer recursos. . Atire sempre na pessoa jurídica do seu adversário, nunca na pessoa física. . Fique bravo por fora, mas tranquilo por dentro. . Sempre haverá um bêbado numa reunião. Dê a palavra a ele. . Só polemize se souber o que vai dizer na quinta jogada. . Seu adversário sabe tudo de você. Você só precisa saber uma coisa dele. . Os âncoras da TV têm mais credibilidade que você. Nunca os desminta. . É na pré-campanha que se fixa a imagem no celuloide. Na campanha se revela. . Escolha a biografia de no mínimo dois políticos e as conheça bem. . Os números quebrados impressionam mais. . O voto se pede, mas não se suplica. . Em plenário, responda concordando e prossiga... discordando. . Não é você que é bonito, mas o poder que você tem. Dura apenas o seu mandato. . A retórica pomposa ridiculariza. . Nunca desminta a imprensa; faça uma nova afirmação. . Cada aperto de mão é uma pesquisa qualitativa. . A eleição de hoje não é a última da história. . Nunca minta. Fale o necessário. . Prometa só o possível. . Não fale mais do adversário na frente da família. Ela não entenderá quando ele for seu parceiro. . Nunca tranque as portas. No máximo, as feche. . Ideologia não é tudo na política. Política sem ideologia é nada. . Case com uma mulher mais velha. (no caso das mulheres políticas) Case com um homem muito mais velho. . As pesquisas tratam do que você deve fazer e não do que você já fez. . Enxugue o suor antes de oferecer a mão para o aperto. . Seu publicitário sabe muito menos que você sobre política. . Aprenda a sorrir como o Blair (Tony, ex-primeiro ministro da Inglaterra) e faça assim na TV e nos velórios. . A internet não substitui a imprensa. . A imprensa continua importante. . A imprensa não é fundamental. . A notícia de hoje desaparece duas horas depois. . Cuidado quando as notícias forem em série. . Conheça umas quatro piadas sobre políticos. Curtas. E as use. ●
CONGRESSO
Entidades denunciam ‘censura prévia’ contra jornal Representantes das instituições dizem que decisão contra ‘Estado’ viola princípio fundamental da Constituição e da própria democracia Inconstitucional. Censura prévia. Essas foram as expressões mais repetidas ontem entre representantes de instituições ligadas à área de imprensa e de defesa do Estado de Direito, em comentários a respeito da decisão judicial que impede o Estado de divulgar informações sobre as investigações que envolvem Fernando Sarney. O diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, disse que a entidade condena a decisão do desembargador por se tratar de censura prévia. “Isso é inconstitucional”, afirmou. “A Constituição é muito clara, no sentido de que não se pode censurar previamente nenhum tipo de informação. Trata-se de um princípio fundamental da nossa Constituição e da própria democracia.” Ainda segundo o representante da ANJ, o jornal deve recorrer e tentar reverter a decisão no Judiciário. “Infelizmente, esse tipo de decisão judicial,
determinando censura prévia, tem ocorrido com frequência. Isso não é medida contra os jornais ou os jornalistas. Ela afeta sobretudo o direito do cidadão de ser livremente informado.” Opresidentedo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cézar Britto, tambémcondenou a censura ao Estado. “A censura prévia foi revogada expressamente na Constituição do Brasil, como forma eficaz de impedir a volta do autoritarismo. Não se pode calaraimprensa.Isto bemreconheceuoSupremoTribunalFederal quando revogou a Lei de Imprensa. A liberdade de expressãodosmeiosdecomunicaçãoéumaobrigaçãoquenãopode ser frustrada por decisão judicial”, afirmou. CÓDIGO PENAL
Para Britto, nem mesmo a justificativa de que estão sendo publicadas transcrições de telefonemas justifica a censura prévia. “Os abusos que porventura
FRASES
Ricardo Pedreira Diretor Executivo da ANJ “A constituição brasileira é muito clara, no sentido de que não se pode censurar previamente nenhum tipo de informação”
Sérgio Murilo Presidente da Fenaj “Isso é incompatível com o estado democrático de direito”
Cézar Britto Presidente do Conselho Federal da OAB “A liberdade de expressão dos meios de comunicação é uma obrigação que não pode ser frustrada por decisão judicial”
sejam cometidos pelos meios de comunicação já têm forma de punição previstas na Constituição, que é a ação por danos morais e punições criminais noscasosdeseremvioladasnor-
mas prevista no Código Penal. Jamais através da censura.” O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Sérgio Murilo, também lamentou a frequência com que o Judiciário tem atendido aos pedidos de censuraprévia.“Issoéinconstitucional. Isso é incompatível com o Estado Democrático de Direito”, afirmou. “Essa decisãoprejudicaoEstado, prejudicaosjornalistas, masatinge, sobretudo, o cidadão, que tem direito de acesso à informação.” O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), MaurícioAzedo,qualificouadecisão da Justiça de absolutamente inconstitucional. “O preceito constitucional não deixa margem a dúvida e é inadmissível que um magistrado, de qualquerinstânciadoPoderJudiciário, atropele o texto constitucionalcomofazessaliminarqueimpedeO Estado de fazer referência e dar notícias sobre o senhor Fernando Sarney.” ● ROLDÃO ARRUDA e MARCELO AULER
Escândalo no Senado é ‘histórico’, diz Lula Ele afirma que desgaste é para quem elegeu Sarney presidente da Casa EVELSON DE FREITAS / AE
Eduardo Kattah BELO HORIZONTE
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que as denúnciasquerecaemsobreopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),são“umacoisahistórica”na Casa– ouseja,asirregularidades não estão restritas ao senador aliado. Depoisdeteratenuadoadefesa do presidente do Congresso, na véspera, ao afirmar que esse não é um problema seu, Lula foi perguntado, em entrevista à rádio mineira Itatiaia, ao desembarcar em Belo Horizonte, sobre as sucessivas declarações que vinha fazendo em apoio ao parlamentar e aliado. O presidente argumentou que somente os senadores devem ser cobrados pela opinião pública, já que foram eles que elegeram o peemedebista para comandar a Casa. O repórter relatou que vinha sendoabordadonasruasporpopulares,que nãoentendiam,pela história de Lula, a defesa do presidente do Senado, envolvido em tantos “escândalos”. “É o meu senso de justiça. Eu nãoqueroparamim,eunãoquero para o presidente Sarney, eu não quero para você e para ne-
FESTA – Mercadante, que cobra licença de Sarney, no casamento do filho, na Igreja Nossa Senhora do Brasil
Mercadante dá pausa na política ●● ● A três dias do fim do recesso, o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), só queria ontem festejar. “Hoje não é dia para falar de política”, disse, à noite, em sua primeira aparição desde que emitiu nota, em nome da bancada, pedindo a licença de José Sarney. A fala foi feita na porta da Igreja Nossa Senhora do Brasil, na
capital paulista, antes da cerimônia religiosa de casamento do seu filho Pedro. “Não vem nenhum político aqui. A festa é do Pedro, ele convidou quem quis.” A única exceção foi o colega de partido Eduardo Suplicy (SP). Assim que retornar, Mercadante deve discutir o caso Sarney com a bancada. ● CLARISSA OLIVEIRA
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nhum brasileiro o julgamento precipitado, sem que haja as investigações corretas”, justificou Lula. “O presidente Sarney está sendo acusado de muitas coisas, ou seja, de ato secreto, contratação de pessoas, e dá a impressão de que é apenas o presidente Sarney. Dá a impressão de que é uma coisa que começou ontem. Isso é uma coisa histórica no Senado brasileiro.” AFASTAMENTO
CRECI - 48148
A6 NACIONAL
O presidente atribuiu à Casa a responsabilidade por um eventual afastamento de Sarney. “Quem foi que elegeu o presidente Sarney presidente do Senado? Os senadores. Somente os senadores é que têm o direito de encontrar o jeito de fazer a investigação e de afastá-lo, se entenderem que devem afastálo”, ressaltou. “O Senado tem instrumentos de investigação, tem Conselho de Ética. O Senado já cassou o Antônio Carlos Magalhães, o SenadojácassouoJaderBarbalho, o Senado já cassou o (José Roberto) Arruda, o Congresso já cassou o (ex-presidente, Fernando) Collor.” Na verdade, esses ex-senadores, quando acuados por escândalos, renunciaram aos seus mandatos para preservar os direitos políticos. Embora tenha adotado novo discurso em relação às denúncias contra Sarney, evitando uma defesa veemente, o presidente avaliou que o senador vem tomando providências em relaçãoàs acusações e irregularidades. “O Sarney pediu à PF para investigar seu filho. Vai ser investigado. Pediu para investigar seu neto. Eu acho que temos de ter a paciência de fazercomqueasinvestigações sejam corretas.”●
o estado de s. paulo
●Edição de
0h15
DOMINGO
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casa&
tv&lazer Ela é a nossa feia
Projetada por paulistanos, a casa Tic-Tac põe fim aos ambientes fixos. As paredes se movem por meio de rodízios. ●
(1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
2 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42292
CULTURA
Classificados
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Para Morin, Brasil será líder solidário
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autos
O filósofo diz a Antonio Gonçalves Filho que acredita num futuro mais humanista. ●
Gisele Itié encarna a horrorosa da versão brasileira de Betty, a Feia, que estreia na terça. ●
TIAGO QUEIROZ/AE
JULIO MESQUITA
Terceiro Honda a ser produzido no Brasil, o City mistura o Civic com o Fit. ● ERNESTO RODRIGUES/AE
Censura amplia pressão por renúncia de Sarney
Diretor fraudou crédito no Senado, mostra relatório
Para Pedro Simon (PMDB), a ação judicial contra o ‘Estado’ é ditatorial
Auditoria compromete Carlos Zoghbi
A decisão judicial que proibiu o Estado de noticiar a investigação da Polícia Federal contra Fernando Sarney ampliou a pressão de senadores pela saída de José Sarney (PMDB-AP) da presidência do Senado. Vários criticaram o caminho ado-
tado pela família do senador, em meio a diversos escândalos. “O homem da transição democrática agora comete um ato da ditadura”, disse Pedro Simon (PMDB-RS). Para Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), é um “retrocesso terrível”. ● PÁG. A6
Investigaçãodo Senado mostra que o ex-diretor de Recursos Humanos da Casa João Carlos Zoghbi fraudou a folha de pagamento para elevar o valor do créditoconsignadoaosservidores, superando o limite de 30%, informaorepórterLeandroCo-
Lula pedirá ao PT que evite ‘último tiro’ Sem conseguir o apoio total do PT ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o presidente Lula quer agora que o
●● ●
partido pelo menos se comprometa a não dar o tiro de misericórdia no aliado, informa a repórter Vera Rosa. ● PÁG. A8
REI DE ROMA: FESTA PARA O SEGUNDO OURO
DITADURA
Ofício prova que Exército omitiu morte de militantes
A
ssinado em 1972 pelo major Carlos Alberto Brilhante Ustra, do 2º Exército, documento prova que superiores sabiam da morte dos militantes comunistas Antônio dos Três Reis Oliveira e Alceri Gomes da Silva. ● PÁG. A10
SATIRO SODRE/CBDA
Agronegócio
TOPO – César Cielovenceos50 mlivreeigualafeitodeAlexanderPopov,antesoúnicoalevaremsequênciaostítulos olímpicoemundial. ● PÁG. E1
Em SP, laranjas apodrecem no pé ●● Com preço baixo, produtores deixam fruta virar adubo. ● PÁG. B10
Clima NOTAS E INFORMAÇÕES
Mais um favor a Chávez No episódio das bases dos EUA na Colômbia, o governo Lula comprou a briga do compañero Chávez. ● PÁG. A3
Forte chuva faz SC reviver drama
COLUNISTA
FERNANDO HENRIQUE
Novo populismo preenche a falta de sintonia entre as instituições e as massas. ● PÁG. A2
●● Deslizamentosemcidades lembram tragédia de novembro. ● PÁG. C5
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●●●
22ºMÁX.
● PÁG. C2
12º MÍN.
Predomínio de sol na capital e no norte.
Futebol
Palmeiras vence e avança como líder
FELIPE RAU/AE
Tempo: CAPITAL
Tiragem: 301.505 Hoje: 230 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 8 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 36 ● F. Feminino: 16 ● Ca. Autos: 24 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 30 ● Co. Oportunidades: 10
●● Time vence Sport por 1
PAULISTÂNIA – Casuo: do Cirque du Soleil para ruas de SP. ● PÁG. C8
a 0 e tem 6 pontos a mais que Atlético-MG. ● PÁG. E8
lon. A Contact Assessoria de Crédito, que tem uma ex-babá dele como sócia, foi a que mais faturou com os empréstimos. A fraude, segundo o relatório, gerou indústria de crédito que transformou o Senado em centro de “agiotagem”. ● PÁG. A4
Políticaexterna deObamasofre críticasde todososlados A política externa do presidente dos EUA, Barack Obama, tem recebido críticas generalizadas no país. À direita, ele é acusado de ser leniente com o Irã e com Chávez; à esquerda, é atacado por não punir os abusos do governo Bush. ● PÁG. A16
ALIÁS
●● Para Rubens Ricupero, a América Latina vive momento de crescente divergência. ●
Sem escola por causa da gripe suína, famílias mudam rotina O adiamento da volta às aulas em São Paulo, por causa da gripe suína, causou transtornos às famílias com filhos pequenos. A medidaafetouospaisquetrabalham fora e não têm com quem deixar os filhos e também frustrou as crianças. ● PÁG. A24
Inventor do Tamiflu se diz abençoado ●● OaustríacoNorbertBischof-
bergeracha queter criadoo Tamiflu foi “bênção”, mas se irrita quando dizem que ele ganha com a gripe suína. ● PÁG. A25
A NOVA SENSAÇÃO DA HYUNDAI.
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DOMINGO, 2 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Os limites da tolerância
Dilema entre o hoje e o amanhã
FernandoHenriqueCardoso
GaudêncioTorquato
Em artigo anterior, a propósito do encontro entre culturas distintas sem uma guerra entre civilizações, utilizei o livro de Ian Buruma Occidentalism. Em livro recente o antigo professor de Oxford aproximou o foco para entender o que aconteceu em seu país natal, a Holanda, que de país calvinista, reservado e tolerante se tornou palco de ações violentas (ver Murder in Amsterdam: the Death of Theo Van Gogh and the Limits of Tolerance, London, Atlantic Books, 2007). Um líder populista “de direita”, Pim Fortuyn, foi assassinado em 2002 por um fanático não muçulmano. E o cineasta Theo van Gogh, que criticava o desrespeito à liberdade e aos direitos humanos por parte de certas correntes islâmicas, acabou assassinado em novembro de 2004 por um ativista muçulmano ligado a grupos terroristas. Teria terminado o momento da História em que a Holanda se distinguiu pela capacidade de absorção de culturas diversas? Não foi para lá que se mudaram os judeus espanhóis e portugueses perseguidos pela
Os que chegaram ao poder para renovar dão continuidade às velhas práticas... Inquisição? Não foi em Amsterdã que houve a única greve geral de monta contra a deportação dos judeus? Não foi na Holanda que Baruch Spinoza filosofou e, mais recentemente, em 1934, Huizinga disse que vivia no país da tolerância, onde mesmo os extremismos seriam “moderados”? E não é certo que 45% da população de Amsterdã em 1999 era de origem estrangeira? E o prefeito na época dos assassinatos não se chamava Cohen, bem como um importante vereador-administrador da cidade ostentava o nome de Ahmed Aboutaleb? Por suas regras tolerantes, a Holanda acolhe perseguidos políticos. Há milhares de refugiados sírios, iranianos, marroquinos, berberes, turcos, somalis, grupos tâmeis de Sri Lanka, etc. Além das muitas centenas de milhares de “trabalhadores convidados”, como são qualificados os que encontram emprego e levam a família. Entre estes, muitos são de origem surinamesa ou vindos da Indonésia, educados em língua holandesa, o que lhes facilita a integração. Sendo assim, até que ponto algo específico da cultura e da religião muçulmanas engendraria a violência atual e as reações racistas ressurgentes? Buruma procura demonstrar que as diferenças de visão entre fundamentalistas ocidentais ou islâmicos podem conviver com mútuo proveito, desde que não usem a força e
respeitem as regras da Constituição laica. Não desconhece os argumentos, como os da somali Ayan Hirsi Ali e de alguns intelectuais de passado esquerdista e presente paixão conservadora, que alertam para os riscos de leniência na defesa dos valores universais da civilização ocidental. Mas pondera que a incorporação desses valores é proveitosa quando advém de reação na própria cultura islâmica, e não como uma imposição externa. Há que reconhecer, porém, pensa Buruma, que a Holanda do passado, branca, burguesa, liberal, tolerante, hoje é uma sociedade multirracial e multicultural, que faz parte da União Europeia e sofre a influência das multinacionais, em suma, da “globalização”. Isso suscita reações defensivas agarradas a diferenças religiosas e culturais. No lugar das identidades nacionais e das tradições políticas democráticas que davam coesão à sociedade, multiplicam-se identidades comunitárias, religiosas ou não, que com frequência se chocam com a cultura cívica anterior. Em outros termos, a convivência democrática não se pode basear mais na assimilação da cultura nacional predominante e na aceitação pelos recém-vindos das regras do “país legal” tal como ele existia antes. O filme francês Entre os Muros da Escola é exemplo vivo das dificuldades de se moldarem os jovens de origem migrante, mesmo nascidos na Europa, à cultura nacional, acrescento. Entretanto, a crise que prevalece não é devida apenas à existência de “duas – ou mais – culturas”, mas a que muitos não se conformam que “seu mundo” acabou. “O povo começa a se sentir não representado. Ele não sabe mais quem são os responsáveis. Isso ocorre quando os ‘oligarcas’ (a noção usada por Buruma é Regenten, referindo-se aos comerciantes burgueses, bem retratados por Frans Hals no século 17 com ar de modéstia e superioridade, que depois da 2ª Grande Guerra foram substituídos como expressão da classe politicamente dominante pelos social-democratas e pelos democratas cristãos) modernos, como o social-democrata Ad Melkert, começam a perder amarras no sentimento popular. Mais do que irrelevantes, eles começam a ser alvos de hostilidade ativa. A política de consenso contém suas próprias formas de corrupção: a política fica emperrada na rotina de uma elite autoperpetuada, trocando empregos entre os membros do clube, para lá e para cá” (Buruma, Ian, op. cit., páginas 50 e 51). No mundo emergente os desajustados são numerosos, não se restringem aos newcomers. Há também os que, sendo originários de “famílias de raiz”, não se conformam com a nova sociedade. De certo modo qua-
FÓRUM DOS LEITORES No pasarán Leio, sem surpresa, que o Estado está sob censura, não podendo mais trazer noticias sobre a Operação Boi Barrica e os Sarneys. A julgar pelo que vimos assistindo na América do Sul nos últimos anos, era de esperar que, mais dia, menos dia, a imprensa brasileira fosse amordaçada. Basta ver o que ocorreu na Venezuela do chefão Hugo Chávez, onde emissoras de TV foram fechadas e os jornalistas, perseguidos. Na Bolívia, ao que se diz, não é diferente. Nesses países, onde existe democracia “até demais”, como diz Luiz Inácio da Silva, a imprensa serve apenas de escada para os mandatários. Uma vez chegados ao cume, tratam de eliminála. Restam, então, os veículos oficiais ou aqueles chamados “pe-
nas alugadas”, os veículos chapabranca, meros diários oficiais, a exemplo do Granma, da “democrática” Cuba. Esperamos, todos os democratas de verdade, que o Estadão reaja e não se deixe esmagar. Pela longa história desse jornal, os brucutus no pasarán. MARIA CRISTINA ROCHA AZEVEDO crisrochazevedo@hotmail.com
Florianópolis ● Lamentável a decisão da Justiça em puro ato de censura ao Estadão. Não é a primeira vez que tentam calar um dos mais respeitados jornais do mundo. Tenho a plena certeza de que, mesmo respeitando a Justiça, essa decisão não intimidará o nosso jornal. PEDRO SERGIO RONCO sergioronco@uol.com.br
Ribeirão Bonito
se todos estão “desenraizados”, daí os populismos, de direita ou de esquerda (aliás, mutantes), o terrorismo, o apego aos vários fundamentalismos, à violência. O que tudo isso pode ter que ver com o Brasil? Pouco e, talvez, muito. Temos a sorte de viver sob uma cultura que também aprecia a tolerância (a despeito de recentes tentativas de fazer nascer um “racismo antirracista”, como diria Sartre). Sem as diferenças religiosas e linguísticas com que os europeus se defrontam, somos também um país de migrações, embora hoje predominantemente internas. Portanto, de “desenraizados”. E desenraizados não são apenas os recém-incluídos, geográfica e/ou socialmente, à sociedade moderna. São também os oligarcas que não se conformam que ela clame por novas práticas e não querem perceber as mudanças. O mais triste ocorre, como agora, quando os que chegaram ao poder para renovar e adaptá-lo aos novos tempos aderem aos hábitos do “clube oligárquico” e se autoatribuem a “missão histórica” de perdoar os transgressores e dar continuidade às velhas práticas. É nesse ponto que cabe o paralelo com a situação descrita por Buruma. Não só a advertência sobre os riscos de violência, mas de riscos de novos populismos, de esquerda ou de direita, que possam preencher com uma retórica cativante a falta de sintonia entre as instituições (desmoralizadas) e o sentimento das massas. ● Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República
A ação política pode ser exercida a curto, médio ou longo prazo. A curto prazo, lembra Michel Debrun, o filósofo francês que deu importante contribuição ao ensino superior brasileiro, não tem geralmente como finalidade direta a manutenção ou a mudança de estruturas globais, mas a criação de um ambiente que permitirá uma ação a médio prazo, e o sucesso desta implicará outra a longo prazo. Tomemos o exemplo. A ministra Dilma Rousseff, acompanhando o presidente Lula, fiscaliza uma obra do PAC, usa a palavra e, de palanque em palanque (curto prazo), consegue estreitar o contato com as massas, criando condições para ser candidata competitiva (médio prazo) e chances de vir a ser vitoriosa em outubro de 2010 (longo prazo). Ou ainda: o governador José Serra distribui R$ 210 mensais a desempregados e R$ 450 por mês a 2.500 estagiários em escolas municipais e, assim, abre um canal de simpatia com bolsões estratégicos que integram o maior eleitorado nacional, lapidando o perfil de governante frio, rigoroso e técnico. Nos exemplos, cada qual cumpre, em seus territórios de mando, o dever de ofício e, com ou sem intenção eleitoreira, os atos terão consequência. À vista do que se conhece de ambos, pergunta-se: quem cultiva melhor a seara para colher boa safra no próximo ano? Antes da resposta, vejamos duas propriedades da massa, descritas por Elias Canetti, no clássico Massa e Poder: ela sempre quer crescer e necessita de uma direção. Para aglomerados dispersos e difusos, a sensação de que vivem um
SINAIS PARTICULARES
Aiatolá Ali Khamenei
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Receitadepizza A Justiça censura o Estadão e proíbe informações sobre os Sarneys? Já que coronel não pode mais ser estampado na primeira página do jornal, gostaria muito de uma receita de pizza de abobrinha no lugar (de preferência à moda brasiliense). Do mesmo jeito que se fazia entre 1968 e 1975. RICARDO REGO calibam2045@hotmail.com
São Paulo
Patoà BeneditaDura Receita da tia Benedita Dura, mas roubada pelo cozinheiro Fernando Salguey, agora executada e servida por ele
processo de expansão é fundamental para se sentirem fortes e seguros e, assim, ganharem autoestima. Quanto à necessidade de terem uma direção, trata-se de preservar sua natureza, a de ente em permanente movimento e à procura de uma meta. O ator político que consiga maior sintonia entre a massa e suas propriedades obterá junto a ela melhor resultado. O exemplo é Lula. Basta conferir o que o Instituto Brasileiro de Economia da FGV acaba de mostrar: o potencial do programa Bolsa-Família supera de longe o efeito do desempenho da economia. No segundo turno das eleições de 2006, respondeu por 3 pontos porcentuais na votação do presidente, marca superior ao impacto da expansão do PIB no ano (0,34%). Se em 2002 Lula se saiu melhor em regiões desenvolvidas, em 2006 a base eleitoral migrou para regiões mais pobres. De lá para cá, o “cara” caprichou. A arquitetura que montou para seduzir as camadas da pirâmide social é composta de grandes anéis, verdadeiros ímãs que atraem a alma nacional. A estética é multidimensional: gigantescas filas para agarrar as bolsas de assistência, promessa da luz para todos, sonho da casa própria, geladeiras e fogões novos nas cozinhas mais modestas, grana para cultivar a roça, carros e motos a preços mais acessíveis. Pinçando a letra de Canetti: “O anel formado por rostos fascinados e superpostos possui alguma coisa de curiosamente homogêneo.” E a indignação, ela não existe? Sim, mas os indignados estão no meio da sociedade. São muitos milhões a menos que os conformados. Puxarão a carroça da oposição, mas não com força suficiente para mudar a estrutura da pirâmide, em cuja base transita uma população que parece satisfeita em obedecer às ordens do comandante. A pré-candidata governista, que comeLEO MARTINS çou a ser chamada de Dilminha – no Nordeste, Dilma Rousseff soa como “Dilma do chefe” –, ganha na quilometragem pré-eleitoral para eventuais contendores, como Serra ou Aécio Neves. Lula foi esperto. A mais de ano da eleição, o País já conhece a pessoa que ele escolheu para lhe suceder e começa a se inclinar em sua direção. Pelo andar da carruagem, quando as oposições despertarem da letargia assistirão à missa a partir do sermão preparado para empolgar emocionalmente as massas. Sermão que deverá também mexer com a contrição de
MARA MONTEZUMA ASSAF montezuma.fassa@gmail.com
São Paulo
O que se espera das oposições em 2010 é um projeto para o País, denso e crível balão da banalização – os episódios que envolveram Waldomiro Diniz, o mensalão, os cartões corporativos, o caseiro Francenildo. E os dólares na cueca, daquele deputado cearense? Onde estão os vampiros da saúde? E as investigações sobre os fundos de pensão? Águas passadas não movem moinhos. O fator político não afetará o clima eleitoral. Às oposições restará o desafio de achar o Leitmotiv do discurso. Mudar a política de juros? Diz-se que Serra e Dilma teriam arranjos a fazer na autonomia do Banco Central. Se assim é, estão empatados. Sob o aspecto eleitoreiro, a visão de ambos não somará um voto sequer. Aperfeiçoar, melhorar, ampliar – eis as expressões que poderiam calibrar a mensagem das oposições. Acontece que promessas sob esses verbos, de tão genéricas, tendem a cair no descrédito. O que delas se espera é um projeto para o País. Denso e crível. Chamar Lula para a arena teria o efeito de bumerangue. Bater no mais prestigiado líder nacional seria bater na própria cara. Ao fundo, pode-se divisar, ainda, o petróleo do pré-sal acendendo a tocha nacionalista. Seja quem for, o guerreiro oposicionista, para não fazer feio, deverá fazer um bom curso de artes marciais. ● Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político
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Censuranunca mais! num bar de esquina de Brasília. Quê...? Brasília não tem esquina? Então, servida numa birosca mesmo, lá nos Lençóis Maranhenses. Pega o pato, despela o pato, flamba as penugens do pato, tempera o pato, lambuza o pato e bota o pato no espeto. Vai assando o pato lentamente, girando o pato lentamente, girando o espeto do pato bem lentamente... Até que todos esqueçam que tem pato no espeto e vão acabar comendo pão com banana, que é tudo o que o povo merece. Entendeu? Uma banana, oh!
parcela das camadas do meio da pirâmide. Os opositores terão dificuldade em achar pontos de intersecção entre o hoje e o amanhã, o continuísmo e a mudança. A estabilidade econômica – regada a gastança no obreirismo do PAC, no inchaço da máquina e nas torneiras assistencialistas, sob a complacência de movimentos em estado catatônico (MST e centrais sindicais) – tenderá a encostar no canto do ringue contendores com intenção de mudar as regras do jogo. Mudança, conceito apropriado à oposição, aplica-se mais à esfera política. Mas essa proposta depende das Casas congressuais. Por isso, o affaire Sarney, que corrói a imagem do Senado, não interferirá no pleito presidencial, como imaginam alguns setores. É possível que pesquisas apontem queda na imagem de Lula por vir a público fazer a defesa do presidente do Senado. A História mostra, porém, que os escândalos nas frentes política e governamental se esfumaçam, não tiram nem rendem votos. Basta conferir. São farelos do passado – jogados no
É de abismar num Estado de Direito, em que a Constituição garante a liberdade de expressão e de informação, que um magistrado ainda com a cabeça nos anos negros determine a censura de notícias de fatos relevantes que ferem a ordem pública. Se há fundamentos e a Polícia Federal instaurou o devido procedimento de apuração, a população brasileira tem o direito de conhecer os fatos. E o Estadão continua a ser o paladino da defesa da cidadania e do direito de informar. Não bastaram os anos negros de Getúlio Vargas e Filinto Müller, depois Armando Falcão e os militares, hoje vemos mais um cala-a-boca contra a imprensa. Nós, brasileiros, nos sentimos revoltados e esperamos que o Judiciário recoloque o direi-
forum@grupoestado.com.br
to à informação dentro dos primados dos direitos humanos. NERY AGUIAR PORCHIA nery.aporchia@terra.com.br
Peruíbe
AI-5 É deveras surpreendente um togado, no caso, o desembargador Dácio Vieira, censurar o Estadão, proibindo-o de publicar notícias sobre esse caso do senador Sarney, sob o argumento de que ofende a sua honra (sic). Sugiro ao Estadão que apure a fundo como esse cidadão chegou a tal função, pois não é possível alguém de bom senso, sendo cidadão comum, magistrado ou quem quer que seja, estar totalmente alienado da realidade nua e crua que o Estadão vem apresentando aos
DOMINGO, 2 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Mais um favor a Chávez
É
cada vez maior a subserviência do governo brasileiro aos projetos do caudilho Hugo Chávez. No início da semana, o compañero bolivariano estava em maus lençóis, tendo de explicar como vários lançadores de foguetes AT-4, comprados pela Venezuela da Suécia, em 1988, estavam em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc, um grupo guerrilheiro que surgiu há mais de 40 anos tentando implantar pelas armas uma ditadura maoista naquele país e hoje se dedica quase exclusivamente ao tráfico de drogas. Não apenas o governo de Bogotá exigia uma resposta. Estocolmo também queria saber por que o governo venezuelano não havia respeitado o compromisso de ser o usuário final daquele sistema de foguetes. Como não tinha nenhuma explicação plausível a dar e não podia reconhecer publicamente que tanto ele como seu seguidor equatoriano Rafael Correa fazem o que podem para ajudar o bando armado que se sustenta do narcotráfico e do sequestro de civis, Hugo Chávez fez-se de ofendido. Repudiou qualquer tipo de interpelação, chamou de volta a
Caracas o embaixador em Bogotá e congelou as relações diplomáticas e econômicas com a Colômbia. Mas isso era pouco. Passou para a ofensiva franca, cobrando satisfações do governo colombiano por este estar em negociações com Washington para ceder o uso de cinco bases militares às forças americanas – algumas centenas de soldados – que combatem as chamadas ameaças transnacionais, principalmente o narcotráfico. E, desde então, a concessão dessas bases passou a ser vista como uma ameaça real e imediata à segurança dos países sul-americanos. O governo Lula comprou a briga do compañero Chávez e tentou dividir a conta com membros de governo estrangeiros que passavam por Brasília. O presidente Lula, depois de afirmar que “a mim não me agrada mais uma base na Colômbia”, fez a ressalva de que, assim como não gostaria que o presidente Álvaro Uribe desse “palpite nas coisas do Brasil”, ele também não daria palpite “nas coisas de Uribe” – mas tratou de pedir que o assunto fosse incluído na pauta da reunião da União de Nações Sul-Americanas do dia 10.
Desperdício público
D
esde que foi criada, há um ano e meio, por meio de medida provisória e ao gasto anual de mais de R$ 350 milhões, em lugar de transformar-se num modelo exemplar de “televisão pública” – como alardeava o governo, sem nunca ter explicado direito o que diferenciava esse modelo de todas as emissoras e redes de televisão em funcionamento no País –, a TV Brasil tornou-se um caso exemplar de desperdício de dinheiro público. Em termos de audiência a televisão oficial do governo federal virou uma “campeã do traço”, que é outro jeito, no campo da comunicação eletrônica de massa, de referir-se a um retumbante fracasso. A demissão, em fins de abril, do diretor de Programação e Conteúdo, Leopoldo Nunes – que acarretou o afastamento de mais três funcionários com função de gerência –, apenas aumentou a forte onda de defecções na empresa, haja vista o fato de em um ano e pouco a TV Brasil já ter perdido mais da metade de seus conselheiros originais (de 15 saíram 8) e do atual presidente do seu conselho curador, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, já ter anunciado que deixará o cargo. Curioso é que, quando exonerou o diretor de Programação e Conteúdo – “coincidentemente” depois que esse diretor fez críticas à gestão da emissora em site de uma revista –, a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), administradora do canal, em nota oficial informou que se tratava de “mudança administrativa em busca de avanços na conso-
lidação da TV Pública”, e que “na vida das instituições todas as pessoas passam, o que deve ficar é a experiência acumulada, a credibilidade pública e a solidez institucional”. Bem, é verdade que as pessoas passam, mas também não precisam passar tão depressa, pois, sendo assim, como se formará a “experiência acumulada”? Quanto à credibilidade pública, espera-se que ela nada tenha que ver com índices de audiência – ou seja, que prevaleça o paradoxo de “acreditar-se no que não se vê”, sob pena de essa credibilidade também virar traço. E como falar de “soli-
A TV Pública modelar só tem conseguido ser ‘campeã do traço’ dez institucional” de uma instituição fracassada e sob alta rotatividade funcional? Logo que foi anunciada a criação dessa TV Pública – que então ganhou o apelido de TV Lula –, criticava-se a possibilidade de o governo interferir fortemente no sistema de comunicação eletrônica de massa do País, transformando-o em instrumento de publicidade oficial ou de propaganda eleitoral. Esse temor se justificava porque em alguns Estados brasileiros – especialmente atrasados – tem prevalecido o que se costuma chamar de “coronelismo eletrônico”, que controla por novos métodos os “currais eleitorais”. Em lugar dos senhores rurais, fazendeiros ou latifundiários que impunham rudemente seu mando a popula-
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, que estava em Brasília, agiu com grande correção diplomática, limitando-se a dizer que “nós respeitamos a soberania de cada país e as decisões que tomam”. Mas o chanceler espanhol Miguel Angel Moratinos deixou de lado a circunspecção, que deveria marcar o comportamento de um visitante, e pontificou, como se Madri ainda fosse a metrópole: “É preciso cuidado para evitar tensão e militarismo na América Latina. Essa não é a melhor resposta aos problemas da região.” E propôs articular reações da União Europeia contra a ampliação da presença militar dos Estados Unidos na Colômbia, muito convenientemente esquecido de que as forças americanas – e não só elas – têm livre trânsito nas bases espanholas que fazem parte da OTAN. O chanceler Celso Amorim, por sua vez, instruiu o embaixador brasileiro em Washington a obter junto ao Departamento de Estado detalhes sobre o acordo de cessão das bases colombianas. Exigiu, ao que se informa, “transparência”. Não fez o mesmo – e
muito menos revelou preocupações com a segurança do Brasil – quando, há meses, o caudilho Hugo Chávez colocou à disposição das forças armadas russas todos os portos e aeroportos venezuelanos. Muito menos quis saber publicamente de detalhes dos acordos de cooperação militar assinados esta semana entre Caracas e Moscou, que preveem inclusive a realização de manobras. Os Estados Unidos estão buscando bases na Colômbia porque Rafael Correa se recusou a prorrogar o acordo de uso da Base de Manta, a partir da qual Washington controlava o tráfego de embarcações e aviões suspeitos de envolvimento com o narcotráfico. Recorde-se que o acordo com o Equador foi assinado depois que foi recusada uma proposta para a cessão de base em território brasileiro. Esses acordos são negociados às claras e os seus textos são publicados. Não implicam cessão, mesmo parcial, de soberania. As bases continuam sob comando do país hospedeiro e servem exclusivamente para o apoio das operações de patrulha. Disso tudo o governo preferiu fingir que não sabia, para poder prestar mais um favor a Hugo Chávez.
O mapa da criminalidade ções carentes e desinformadas, surgiram, exercendo a mesma imposição, os “coronéis” donos de jornais e, sobretudo, de estações de rádio e de televisão. Indagavase então: será que a TV Brasil vai ser apenas um instrumento de propaganda do governo federal? Mas esse temor até perdeu o sentido, pois pouco alteraria, em termos de equilíbrio democrático de forças políticas em disputa eleitoral, uma “propaganda oficial” escassamente vista pela audiência. É possível até que, em razão do desempenho que tem tido a TV Brasil, o presidente Lula não queira de nenhuma forma associar seu nome e seu governo ao logotipo da emissora – que, por sinal, se modernizou, mas (para variar) ninguém viu. Registre-se que, depois da saída de três diretores vinculados ao Ministério da Cultura, o controle da TV Brasil ficou a cargo da Secretaria de Comunicação. Registre-se, também, que não são poucas – nem sem fundamento real – as acusações de essa instituição ter se transformado num formidável cabide de empregos. Assim, é de reconhecer que desde sua criação houve uma “evolução” no tipo de crítica que se faz à TV Brasil: antes era o risco de ela tornar-se um instrumento de propaganda oficial – algo de todo incompatível com os melhores costumes das verdadeiras democracias. Hoje, a maior crítica é ao fato de essa “TV Pública” ter se tornado nada mais do que um tremendo desperdício público!
C
riada há 14 anos para alimentar com informações estatísticas os serviços de inteligência das Polícias Civil e Militar, a Coordenadoria de Análise e Planejamento (CAP) da Secretaria da Segurança Pública vem divulgando relatórios trimestrais que mapeiam a criminalidade na capital, na região metropolitana e no interior do Estado de São Paulo, ajudando o governo a definir as prioridades de sua política para o setor. Depois de anos de declínio da violência criminal, os levantamentos dos últimos seis trimestres – começando com a eclosão da crise econômica de 2008 – passaram a registrar uma inversão de tendência, mostrando um preocupante aumento de determinados tipos de delito, como furtos, roubo de veículos, estupros e latrocínios. Comparando os índices de criminalidade do segundo trimestre de 2009 com os do mesmo período do ano passado, o relatório que acaba de ser divulgado pela CAP aponta que o ritmo de aumento de alguns tipos de delito diminuiu significativamente e até estancou em alguns casos de crime contra a pessoa. É uma boa notícia, diz o sociólogo Túlio Kahn, diretor do órgão, atribuindo a mudança à melhoria recente dos indicadores econômicos, como a queda da taxa de desemprego e do número de cheques protestados. Para Kahn, o nível de atividade econômica é um dos fatores que mais influenciam as oscilações dos índices de criminalidade no Estado. Na capital, a pesquisa da
CAP mostra que a maioria dos índices de criminalidade permaneceu relativamente estável no segundo trimestre deste ano em quase todas as regiões. Houve um aumento no número de crimes contra o patrimônio, especialmente furto e roubo, mas ele ficou abaixo da média do Estado. A única exceção ocorreu na zona norte, onde foi registrado um significativo aumento da criminalidade, com relação ao segundo trimestre de 2008. A explicação das autoridades de segurança pública é que os índices do ano passado foram muito baixos por causa de operações feitas
Alguns tipos de crimes passaram a aumentar com a crise econômica pelas Polícias Civil e Militar depois do assassinato do coronel José Hermínio Rodrigues, que comandava o policiamento da zona norte, em janeiro de 2008. Com isso, o que estaria fora da normalidade não seriam os dados estatísticos de 2009, mas os relativos a 2008. Outra informação positiva diz respeito ao roubo de veículos. Embora, segundo a Secretaria da Segurança Pública, esse tipo de delito se concentre basicamente no segundo trimestre de cada ano, como revelam as séries históricas dos levantamentos da CAP, houve uma pequena redução entre as ocorrências registradas no período, entre 2008 e 2009. Esse é mais um dado revelador de que “o pior já estaria passando”, afirma Túlio Kahn. Entre os pontos negativos,
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seus leitores e à sociedade brasileira. Se acha que o Estadão mente ou falseia a verdade, como queiram, o clã Sarney que use os trâmites legais e processe o jornal. Mas censurá-lo, jamais. O famigerado AI-5 já foi extinto! ASCIUDEME JOUBERT asciudeme@ig.com.br
São Paulo
Ademocraciaacabou Ninguém poderia imaginar que chegaríamos a isso em pleno século 21! Um jornal de extrema importância para uma nação inteira foi censurado por ordem do desembargador Dácio Vieira, que é ligado a Sarney e Agaciel Maia, os dois protagonistas da maior "farra" do Senado, nunca antes vista na história deste país!
O desembargador pode até censurar o jornal, mas não pode calar nem varrer das mentes pensantes deste país tudo o que ele revelou, e que todo o Brasil sabe. Não adianta tapar o sol com a peneira nem mudar o discurso: Lulla rema conforme os benefícios que recebe e Sarney, por intermédio do “chefe” Renan, tenta se manter no posto. A democracia acabou neste país, mas até calarem todos ainda vai algum tempo. Portanto, a nossa mídia impressa que se cuide: se fizeram com um dos maiores jornais do País, farão com todos. Pobre nação, que nunca foi democrática e nunca será, se depender da corja que se apoderou de seu governo! LÍGIA BITTENCOURT ligialbc@uol.com.br
São Bernardo do Campo
“
Atos secretos... ‘Pecar secretamente não é pecar’ (Molière)”
HelvioRossignolli hrossignolli@gmail.com Caieiras
Talpai, talfilho O ditado popular faz-se realidade no caso da família Sarney. Será que o nosso presidente não tem medo de que o mesmo aconteça com seus filhos e netos? Falta de caráter é hereditária...
LUIZ CARLOS TIESSI
FLÁVIO CESAR PIGARI
tiessilc@hotmail.com
flavio.pigari@gmail.com
Jacarezinho (PR)
‘Lulla’e Sarney Como já era esperado, depois de tanto apoio, juras de amor, defesa do passado, etc..., “não é problema meu”. Haja Teflon! ARTHUR BIAGIONI JUNIOR biagioni.jr@uol.com.br
Campinas
SONIA ARRUGA soniaarruga@terra.com.br
São Paulo
Para um cara qualquer, para o cara de duas caras, para pessoas ●
a dignidade e o respeito, só elegendo para o lugar deles Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon.
comuns, incomuns, aloprados e magistrados, uma pergunta: atualmente, qual é a diferença entre biografia e ficha corrida?
Jales
Casados horrores Que exemplo estão deixando os senadores Renan e Sarney? Para o Senado tentar recuperar
o levantamento da CAP registrou uma elevação no número de roubos de telefones celulares, IPhones, talões de cheques e documentos. Esse é um delito que está em ascensão, uma vez que esses bens costumam financiar o comércio de entorpecentes. Eles são utilizados por viciados como moeda de troca para aquisição de maconha, de crack e de cocaína. O perfil das vítimas desse tipo de roubo é variado, mas o dos criminosos é recorrente. Basicamente, são homens de 16 a 32 anos, que circulam a pé ou de bicicletas nas ruas mais movimentadas, afirma o capitão da 3ª Companhia do 11º Batalhão da Polícia Militar, capitão Gilson Costa. Outro dado negativo revelado pelo levantamento da CAP é a elevação do número de homicídios – um crime decorrente de divergências familiares, de conflitos de vizinhança, de brigas em bares e de discussões entre motoristas. Este tipo de delito, que se expandiu muito mais no interior (33%) do que na capital, aumentou 11% em todo o Estado. Em números absolutos, foram registrados 414 casos, no segundo trimestre de 2008, e 550, no mesmo período deste ano. As autoridades de segurança pública acreditam que, por causa das recentes mudanças de diretorias de departamentos de combate ao crime organizado e de crimes contra a pessoa, além da ênfase à repressão ao crime contra o patrimônio, o mapa da criminalidade do terceiro trimestre de 2009 poderá trazer resultados melhores. Mas elas sabem que isso só ocorrerá se a economia entrar em fase de recuperação.
● Depois de tanta bagunça, a melhor denominação para o Senado seria casa-da-mãe-joana.
ARIOVALDO BATISTA arioba06@hotmail.com
São Bernardo do Campo ● O Brasil só terá chance de sair desta podridão a partir do momento em que homens de bem iniciem uma Operação Mãos Limpas, como foi feito na Itália. HAROLDO LUCINDO MAIA
LAERT PINTO BARBOSA
haroldomaia@vivax.com.br
laert_barbosa@ig.com.br
Araraquara
São Paulo
Táticadaterraarrasada PT, PMDB, PSDB, DEM, PDT, PTB, PSOL, etc., etc., alguém ainda duvida de que são todos farinha do mesmo saco? Será que não se consegue juntar dez políticos decentes para fundar um partido decente?
CongressoNacional Recomendo aos digníssimos congressistas que façam uma reflexão sobre a frase do deputado Ulysses Guimarães: “Velho, sim. Velhaco, não.” CARLOS GONÇALVES DE FARIA cgfaria@ajato.com.br
São Paulo
A4
DOMINGO, 2 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL
Ustra assinou documento sobre morte de estudante Em 1972, na chefia do DOI, ele deu detalhes sobre destino de militante de esquerda q PÁG.A10
ESTADO SOB CENSURA
Censura ao ‘Estado’ aumenta pressão por renúncia de Sarney Parlamentares repudiam decisão judicial e avaliam que ela agrava ainda mais a situação do senador na Casa DIDA SAMPAIO/AE–3/3/2009
Leandro Colon BRASÍLIA
A decisão judicial que proibiu o Estado de publicar reportagenssobreainvestigaçãodaPolícia Federal contra Fernando Sarney foi repudiada por senadores. Na avaliação dos parlamentares, o caminho adotado pela família Sarney de censurar o jornal só agrava a situação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), cada vez mais mergulhado em denúncias de nepotismo, envolvimento em atos secretos e desvio de verbas da Petrobrás. “O homem da transição democrática agora comete um ato da ditadura. Ele perdeu seu último argumento. Isso é terrível. O presidenteSarney tem de renunciar”, disse Pedro Simon (PMDB-RS). Na sexta-feira, o desembargadorDácio Vieira,do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, pôs o Estado sob censura. Por meio de medida liminar, ele impediu o jornal de publicar as conversastelefônicas gravadas pelaPolíciaFederal,comautorizaçãojudicial,quemostram,entreoutrascoisas,FernandoSarney discutindo com o pai a contratação do namorado da neta do senador por meio de ato secreto no Senado. Para o petista Eduardo Suplicy (SP), a decisão da Justiça fere princípios constitucionais. “A Constituição assegura a liberdade de imprensa, sobretudo em casos de diálogos gravados com autorização judicial. É um direito da população ser informada pela imprensa sobre diálogos que ferem a ética.” O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) considerou “inadequado” o caminho adotado pelo clã dos Sarney. A situação política do senador, observou, fica mais complicada com acensura aoEstado.“Issoagrava a situação dele. Não vejo o Senado votando mais. Não vai mais funcionar”, afirmou. “Esse caminho pela Justiça é um retrocesso terrível e injustificável”, continuou. “ O Estado já viveu essa situação em plena ditadura, mas hoje isso não po-
Renan Calheiros reafirma que renúncia está fora de cogitação de acontecer, a não ser que o Sarney se considere um homem incomum, como diz o presidente Lula.” O Estado revelou ontem que o desembargador Dácio Vieira é do convívio social do senador Sarney e do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia. O registro está numa foto do dia 10 de junho, na qual Vieira, Sarney e Agaciel aparecem juntos no casamento da filha do ex-diretor . O desembargador trabalhou na GráficadoSenadoduranteoperíodo em que Agaciel foi diretor deste departamento. É tambémex-consultorjurídicodoSenado. “O fato (censura), por ser inexplicável,suscita essas dúvidas: por que o desembargador esteve no casamento da filha do Agaciel?”, indagou Jarbas. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), tambémcondenouocaminhoadotado pela família Sarney. “O que o presidente Sarney deveria fazer é dar suas razões e se defender. O que ele não deveria é tentar censurar o Estado e o restante da imprensa”, disse. Na avaliação de seu colega de partido Álvaro Dias (PR), o epi-
FRASES
Ex-ministro do STF vê “excesso” na decisão
Pedro Simon Senador (PMDB-RS) “O homem da transição democrática agora comete um ato da ditadura. Ele perdeu seu último argumento. Isso é terrível. O presidente Sarney tem de renunciar”
Jarbas Vasconcelos Senador (PMDB-PE)
Luciana Nunes Leal RIO
“Esse caminho pela Justiça é um retrocesso terrível e injustificável”
Sérgio Guerra Senador (PSDB-PE) “O que Sarney deveria fazer é dar suas razões e se defender”
Eduardo Suplicy Senador (PT-SP) “É um direito da população ser informada sobre diálogos que ferem a ética”
Diálogos vetados pela Justiça estão na internet Os diálogos que são objeto da censura contra o “Estado” estão circulando livremente na internet. Até ontem à tarde era possível ouvi-los no YouTube, entre outros sites. As conversas, gravadas pela Polícia Federal com autorização judicial, mostram a intermediação de Fernando Sarney e de seu pai, José Sarney (PMDB-AP), para obter uma vaga no Senado para o namorado de uma neta do senador.●
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sódio deve intensificar a pressãocontraSarneynoSenado. “Isso vai exacerbar a crise,jáqueopresidenteSarney lançou mão de um expediente autoritário”, afirmou. “É um retrocesso imperdoável. São resquícios autoritários. Voltaremos aos tempos da publicação de versos de Camões”, disse, referindo-se ao período em que o Estado, sob censura da ditadura, publicava poemas no lugar das reportagens proibidas. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) também lembrou os poemas da época da censura. “Não esperava que algo parecido fosse acontecer novamente. É uma coisa ridícula, sem sentido.” REVISÃO
Na opinião de Eduardo Suplicy, a Justiça deve rever a censura, não só por causa dos preceitos constitucionais,comotambémpelarelação próxima entre o juiz que concedeu a liminar e Sarney. “Avalio que isso deve ocorrer porque há essa relação próxima do juiz com a família do senador”, disse. O líder do PMDB e aliado de Sarney, Renan Calheiros (PMDB-AL),nãoquiscomentar a decisão judicial. O senador apenas reafirmou que o presidentedoSenadonãocogita, por enquanto, renunciar ao cargo. “O presidente Sarney está firme. Não interessaaogoverno,nemaopartido,suasaída.Elasóinteressa à oposição.” Desafeto de Renan, JarbasVasconcelos disseserimpossível arriscar previsões sobre o que vai acontecer no Senado nesta semana, quando terina o rcesso parlamentar.“A gentepode irpara um impasse”, avaliou. ●
CRISE – O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) teme a paralisia total dos trabalhos no Congresso
Proibição é ‘inaceitável’, diz ANJ Em nota, associação considera liminar inconstitucional A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou ontem nota à imprensa qualificando como “inconstitucional” a liminar judicial contra o Estado. O textoéassinadopelovice-presidentedaANJeresponsávelpeloComitê de Liberdade de Expressão, Júlio César Mesquita. A nota enfatiza que o material censurado é baseado em informações resultantes de ações da Polícia Federal, na chamada OperaçãoFaktor,maisconhecida como Boi Barrica. Trata-se de fato de “inegável interesse público”, diz o texto. A seguir, a íntegra da nota. “A Associação Nacional de Jornais (ANJ) condena veementemente a decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), proibindoapublicação,pelojor-
nal O Estado de S. Paulo e pelo Portal Estadão, de reportagens contendoinformaçõesresultantesdaOperaçãoFaktor,da PolíciaFederal,sobresupostasirregularidadespraticadaspeloempresário Fernando Sarney. A decisão proíbe ainda os demais
Entidade diz que publicação se reveste de inegável interesse público veículosdecomunicação–emissoras de rádio e televisão, além de jornais de todo o País – de utilizarem ou citarem material publicado por O Estado de S. Paulo, sob pena de, em caso de descumprimento, incorrerem emmulta deR$ 150 mil para‘ca-
da ato de violação do presente comando judicial’. As reportagens que O Estado de S. Paulo vinha publicando baseavam-se em gravações de conversas telefônicas entre o referido empresário e diversas pessoas, entre as quais seu pai, José Sarney, ex-presidente da República e atual presidente do Senado Federal, cuja família, entre outros negócios, controla umgrupo de comunicação que inclui jornal, rádio e televisão. Diante disso, a ANJ consideraqueofatosereveste deinegável interesse público e que é inaceitável que pessoas ligadas à atividade jornalística recorramaumexpedienteinconstitucional, conforme recente decisãodo Supremo Tribunal Federal, para subtrair ao escrutínio público operações com graves indícios de ilegalidade.” ●
O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso considerou “um excesso” a decisão do desembargador Dácio Vieira, do TribunaldeJustiçadoDistrito Federal, de proibir o Estado de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. A proibição atende pedido feito à Justiça pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “Não conheço a decisão, mas, em princípio, acho que representa de certa forma umacensura”,afirmouVelloso. O jurista entende que os sigilos de processos judiciais só devem ser decretados em casos extremos, como os que envolvem menores ou graves conflitos familiares. “Na Constituição anterior, os sigilos eram comuns, como nos casos de ações penais contra magistrados. A Constituição de 1988 é clara ao dizer que os processos são públicos, a não ser em casos excepcionais”,afirmouVelloso. Ele também ressaltou que Dácio Vieira “é um desembargador de respeito”. Já o ex-ministro da Justiça Célio Borja disse que o segredodeJustiça podesustentar a proibição de publicação das reportagens. “Só por esse motivo”, afirmou. Borja lembrou que o Estado “tem o direito de contestar e argumentar a inexistência de razão para o sigilo”. Ao comentar a decisão, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) chamou a atenção para o fato de o desembargador responsável pela proibição fazer parte do círculo socialdoex-diretor-geraldoSenado Agaciel Maia e do senador Sarney. “É uma coisa entreamigos que nãotemsentido no Brasil hoje”, afirmou Gabeira.●
Livro relata repressão ao jornal no AI-5 A decisão da Justiça de proibir o Estado de divulgar informações da Operação Boi Barricaremeteaosfatosrelatadospelo jornalistaJoséMaria Mayrink no livro Mordaça no Estadão, que aborda a questão da censura imposta ao jornal na ditadura militar. Aobrareproduztextos,fotos e charges vetados após a edição do AI-5, em 13 de dezembrode1968,quandoaedição do jornal foi apreendida. Como o Estado resistia à repressão, a ditadura colocoucensoresnoprédiodojornal. Em 1973, ao ser proibido de noticiar uma demissão no governo,ojornal ocupouoespaço com o anúncio do programa Agora é samba, da Rádio Eldorado. Também publicou trechos de Os Lusíadas. ●
●Edição de
0h15
o estado de s. paulo SEGUNDA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
3 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42293
Senadoresplanejamboicote a Sarneypara forçar renúncia
Indústria quer nova política para produção
Parlamentares voltam hoje ao trabalho e vão ampliar pressão pelo afastamento
O setor produtivo pressiona o governoparaquerevise aPolíticadeDesenvolvimentoProdutivo, lançada em maio de 2008, quando a economia crescia em ritmo superior a 6% ao ano. Para empresários, o corte de IPI melhorouoquadro,maséinsuficiente. Eles defendem estímulo aoinvestimentoemmodernizaçãotecnológicaeeminfraestrutura.Areivindicação seresume àdesoneração tributáriadosinvestimentos produtivos. O problema é que o governo considera ter esgotado sua capacidade de reduzir impostos. ● PÁG. B1
Na volta do recesso parlamentar, a partir de hoje, senadores vão fazer pressões para que José Sarney (PMDB-AP) deixe a presidênciadoSenadoatéquarta-feira, antes da reunião do Conselho de Ética que analisará ações contra ele. Caso Sarney resista, será deflagrado um boicote às sessões presididas pelo parlamentar. O senador Marco Maciel (DEM-PE), amigo de Sarney, será um dos integrantes do grupo escalado para convencê-lo a abrir mão do cargo. Já o PMDB, partido do senador, reagiu ontem, em nota, com ataques aos dissidentes e um “recado”: que eles deixem o partido “o quanto antes”. Dois dos principais críticos de Sarney são os senadores peemedebistas Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS). ● PÁG. A4
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
Chávez acusa Uribe de usar as Farc para justificar bases
Fernando Sarney tenta silenciar o ‘Estado’ desde 2008 A estratégia de Fernando Sarney de tentar silenciar o Estado começou em 2008, mostram documentos do Conselho Nacional do Ministério Público. Ele tentou calar também procuradores da República. ● PÁG. A6
O governo Hugo Chávez acusa Álvaro Uribe de usar o suposto fornecimento de armas da VenezuelaparaasFarccomojustificativa para ceder aos EUA basesmilitaresnaColômbia,informa o enviado especial Roberto Lameirinhas. “É arranjar pretexto para justificar uma aberração internacional (a instalaçãodas bases)”, diz o ministro de Interiorvenezuelano, Tareck el Aissami. ● PÁG. A9
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A CAMINHO - O presidente do Senado, José Sarney, deixa seu apartamento em São Paulo na direção do aeroporto de Congonhas
Pesquisa InformEstado e Instituto GPP revela que 78,8% dos paulistanos concordam com a lei antifumo – asmultascomeçamaseraplicadas nesta sexta. Mas 64,9% dizem que não pretendem denunciar os locais que permitirem fumar. ● PÁG. C1
A morte de uma adolescente em pleno voo será investigado por suspeita de gripe suína. Na volta de um passeio à Disney, Jacqueline Ruas, de 15 anos, teve parada cardiorrespiratória.Nabagagemdela, havia uma caixa do remédio Tamiflu, usado no tratamento da doença. Funcionários da agência de viagens afirmaram que os dois exames que ela realizou nos Estados Unidos descartaram contaminação pelo vírus A(H1N1). ● PÁG. A12
q ESPECIAL
Guia da nova lei antifumo DOBRE, RECORTE E GUARDE
NOTAS E INFORMAÇÕES
Afronta à democracia Nem a Constituição dos EUA é tão clara quanto a nossa sobre a liberdade de imprensa. Daí a repercussão indignada, no País e no exterior, que causou a censura judicialimposta a este jornal a pedido da família Sarney. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
21º
MÁX.
13º
MÍN.
O sol aparece, mas haverá pancadas de chuva na capital.
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Hoje: 76 páginas A. 1º caderno: 14 ● B. Economia: 12 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 6 ● L. Link: 8 ● Cl. Classificados:2(109 anúncios)●Guia Antifumo: 8 ● Info. Publicitário Dicas e Presentes: 10
CADERNO 2
HERWIG PRAMMER/REUTERS
Jovem morre em voo e vira caso suspeito de gripe suína
EDUARDO MARTINS/A TARDE
Paulistano não delatará fumantes, diz pesquisa
ESPORTES
A batuta estelar de Zubin Mehta ●● O maestro indiano fala ao Estado. ●
Sistema prisional
Inglesas são soltas e criticam polícia RECUPERAÇÃO – Com gol de Dagoberto, o São Paulo ganhou do Vitória, em Salvador. ● PÁG. E6
Piquetcompra equipe deF-1 paradar vagaa seu filho Otricampeão de Fórmula 1 Nelson Piquet se tornará um dos donosda BMW-Sauber.Onegócio com a equipe e Peter Sau-
ber está avançado. Seu filho Nelsinho, que perdeu a vaga na Renaultneste ano,está garantido para 2010. ● PÁG. E1
Felipe Massa chega hoje a São Paulo
Tênis
Turistas acusadas de dar golpeemseguradoraficaram 6 dias presas no Rio. ● PÁG. C4
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Brasileiro ganha torneio da ATP depois de 5 anos Depoisdecincoanosdejejum, o brasileiro Thomaz Bellucci, de 21 anos, ganhou, na Suíça, um torneio da Associação de Tênis Profissional. ● PÁG. E3
Para onde vai o que você põe na web? ●● Não há controle na rede sobre o que o usuário posta, twitta ou envia por e-mail. ●
A2 ESPAÇO ABERTO
SEGUNDA-FEIRA, 3 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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A bala perdida no Senado
Democracia totalitária
JersonKelman
DenisLerrerRosenfield
Estive recentemente na Índia, a convite do Banco Mundial, para falar sobre a experiência brasileira na construção do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH), que começou a tomar forma a partir de 2001, com a criação da Agência Nacional de Águas (ANA). Trata-se de um dos dois sistemas previstos na Constituição federal de 1988. O outro é o Sistema Único de Saúde (SUS). É grande o interesse dos indianos na experiência brasileira, porque ambos os países são federações e têm bacias hidrográficas de grandes dimensões, estendendo-se por diversos Estados. Há similaridade também na coexistência de diversas entidades governamentais, tanto na esfera federal quanto na estadual, atuando de forma concorrente na administração dos rios. A História mostra que sem um sistema de gerenciamento capaz de harmonizar os interesses conflitantes no uso dos rios ocorre uma babel em que cada setor ignora a existência do outro. Por exemplo, o setor agríco-
Diretor da ANA foi rejeitado por estar no lugar errado na hora errada la e o energético comportam-se como se as águas pudessem ser utilizadas de forma exclusiva, respectivamente para a irrigação e para a produção de eletricidade. Outro exemplo: a autoridade estadual permite que se faça uma captação ou se lance um efluente num rio sob sua jurisdição, sem atentar para as consequências sobre a quantidade e qualidade da água utilizada por outros usuários localizados rio abaixo, às vezes em outros Estados da Federação. Assim era o Brasil até muito recentemente. Assim ainda é a Índia hoje. Razão do interesse do Banco Mundial em engendrar uma cooperação nesse campo entre os dois países. O objetivo do sistema de suporte à decisão do SNGRH, desenvolvido na ANA, é propiciar o gerenciamento integrado dos recursos hídricos de uma bacia hidrográfica. A capacitação técnica já existe graças à dedicação e competência da equipe técnica da agência. Resta ainda que ocorra a adesão política das administrações estaduais. Nesse sentido, a estratégia da ANA tem sido disponibilizar as ferramentas computacionais do SNGRH para que todos os Estados possam delas fazer uso. E esperar que a adesão ao conceito de gestão integrada se dê voluntariamente, pelo convencimento de que quando se trata de administração de interesses comuns existem ga-
nhos sinérgicos que devem ser ser possível elevar o padrão de moralidade e eficácia da compartilhados por todos. Apresentei esses conceitos a administração pública. As reum seleto grupo de autoridades percussões pessoais, que cerdo governo da Índia, na esfera tamente existem, não vão imfederal, e de quase todos os go- pedir que Bruno continue vernos estaduais. Mostrei-lhes contribuindo para o progresque o resultado do monitora- so do País. Mas é preciso que mento de quase mil rios no Bra- os senadores mudem a masil depende de uma logística neira como as decisões são complexa. Só de uso de barcos tomadas. Caso contrário, pelas equipes técnicas, por continuará prosperando na exemplo, são 16 mil horas por sociedade um perceptível ano. E que o resultado desse es- sentimento de insatisfação forço, na forma de mapas, gráfi- com a classe política que facos e tabelas contendo as va- rá surgir, mais cedo ou mais zões dos rios, os índices de qua- tarde, algum “salvador da pálidade das águas e outras infor- tria” que prometerá o paraímações imprescindíveis para a so em troca do esfacelamenadministração dos rios, pode to da democracia. Imagino que os senadores ser obtido com uma simples que fizeram o “disparo” esteconsulta ao site da ANA. Os indianos ficaram entusias- jam agora, passada a emoção, mados com o que viram e mani- embaraçados com o ocorrido festaram interesse em visitar o e tentando achar uma solução Brasil e, em particular, a ANA. que reverta a rejeição. Se conO Banco Mundial também ficou seguirem, tanto melhor. Se muito satisfeito e se dispôs a não conseguirem, que pelo mecustear a visita. Eu fiquei orgu- nos assumam a quase impossílhoso em ver a agência sendo in- vel tarefa de encontrar um ternacionalmente reconhecida profissional tão bom quanto o como uma experiência bem-su- Bruno para o mesmo cargo e, cedida e senti-me recompensa- nas próximas vezes que tivedo pelo esforço que despendi na rem de decidir em casos semesua implantação. lhantes, que cumpram o deVinha da Índia, satisfeito ver de avaliar se o candidato com a perspectiva de coopera- tem ou não condições de exerção entre os dois países, quan- cer o cargo para o qual foi indido, numa escala em Paris, li a no- cado. Para os senadores que tícia sobre a “bala perdida” no votaram a favor da aprovaSenado que vitimou Bruno Pag- ção, parabéns pela serenidade noccheschi. Em apertada sínte- e responsabilidade na defesa se, Bruno teve o seu nome rejei- do interesse público. ● tado para um segundo mandato como diretor da ANA porque es- Jerson Kelman, professor da tava no lugar errado na hora er- Coppe-UFRJ, foi diretor-presirada. Seu nome foi submetido à dente da ANA (2001-04) e direaprovação do plenário do Sena- tor-geral da Aneel (2005-08) do momentos depois da notícia de que o presidente Lula teria feito referências supostamente desairosas aos senadores. Alguns deles, possivelmente tomados pela emoção, não mediram as consequências de seus atos e retaliaram o governo negando apoio à indicação de Bruno. Desisti da visita que faria a um museu para escrever este testemunho. Quando a ANA nasceu, em dezembro de 2000, éramos um punhado de três ou quatro a conceber a sua trajetória estratégica. Lá estava o Bruno. E lá sempre esteve ao longo desses quase nove anos. Primeiro como secretário-geral e depois como diretor. Sempre muito competente, cordial, eficaz e dedicado à causa de incrementar a qualidade da administração pública de nosso país e, em particular, de avançar na gestão dos recursos hídricos. O Brasil é hoje uma referência mundial nesse campo graças, em boa medida, aos esforços dele. Essa “bala perdida” atravessou o coração do Bruno e em sua trajetória Cielo abalou os que ainda creem
Indignação A O Estado de S. Paulo e seus jornalistas: manifesto minha indignação em face de a Justiça se tornar instrumento de indevida proteção do clã Sarney, com manifesta violação do direito de livre informação e de manifestação do pensamento, revivendo a censura fora do lugar e do tempo. MIGUEL REALE JÚNIOR miguel@realeadvogados.com.br
São Paulo ● Que poder é esse com autoridade para calar a livre expressão e a informação? Será que já é o esquema “biografia”? O povo é roubado no santuário da democracia. A eleição de 2010 é a única forma de expulsar esse ninho de corruptos e ladrões. JÜRGEN DETLEV VAGELER
vatra_ind@yahoo.com.br
Campinas
Astrevasvoltaram? Sábado, 1.º de agosto, pela manhã, assustei-me quando, ao apanhar o meu jornal, li que ele está sob censura. O que isso representa? Voltamos ao AI-5? Gosto muito de ler a lírica e a épica camonianas, mas não no jornal, cuja função primeira é me informar do que se passa no País e no mundo. Não vamos deixar que certos políticos, históricos “lambe-botas”, que sempre se beneficiaram dos cargos ocupados para se locupletarem, façam das Casas a que pertencem seus quintais e galinheiros, e ainda contem com o beneplácito do Poder Judiciário. Quero, sim, ter o direito de saber
cia brasileira e, é claro, os castro-bolivarianos: os irmãos Castro, Chávez, Daniel Ortega, Rafael Correa e Evo Morales. Neste último caso, os liberticidas se põem como os defensores da liberdade e da democracia. Um pequeno país resiste bravamente a uma reação dessa magnitude, em nome de suas instituições, em nome da democracia. No entanto, os seus atores são tratados como “golpistas”, enquanto os déspotas bolivarianos são tidos por “democratas”. O que está em questão neste jogo com a palavra democracia? Há duas acepções da democracia em questão, a da democracia totalitária e a da democracia representativa ou constitucional. A democracia totalitária volta-se contra o espaço de liberdade próprio da sociedade, de suas regras, leis e instituições, o que é precisamente assegurado pela democracia representativa. Esta se baseia no exercício da liberdade em todos os seus níveis, da liberdade de imprensa, de expressão, de organização política, econômica até o respeito à divisão dos Poderes republicanos, passando pela consideração do adversário como alguém que compartilha os mesmos princípios. Disputas partidárias, por exemplo, são regradas e não desembocam no questionamento das próprias instituições, vale dizer, da Constituição. Nesse sentido, processos eleitorais se inscrevem neste marco mais geral, não podendo, portanto, ter a autonomia de subverter os princípios constitucionais, o ordenamento das instituições. Processos desse tipo são necessariamente limitados. Nas democracias totalitárias temos um processo de outro tipo, em que o voto LOREDANO passa a ser utilizado de forma ilimitada, como se ele fosse por si mesmo, graças à manipulação de um líder carismático e de seu partido, o princípio do ordenamento institucional. Eis por que tal tipo de regime político tenta funcionar por meio de assembleias constituintes e referendos sistemáticos, num constante questionamento de todas as instituições, tidas por “burguesas” e expressão das “elites”. A democracia totalitária não admite nenhuma limitação, nenhuma instância que a regre. Tende a considerar tudo o que se interpõe no seu caminho como não-democrático, ganhando o epíteto de “direita”, “conservador” e “neoliberal”. Pode-se dizer que a democracia totalitária se caracteriza por essa forma de ilimitação política, tendo como “inimigo” a limitação própria das instituições sociais, das instâncias repre-
Hugo Chávez persegue opositores, fecha canais de televisão e estações de rádio, legisla por decretos, vende armas às Farc, não respeita a soberania da Colômbia, submete o Poder Judiciário, obriga seus militares a jurarem “pátria, socialismo ou morte”, relativiza e mesmo abole o direito de propriedade e nada, entretanto, ocorre com ele. Nenhuma manifestação da Organização dos Estados Americanos (OEA), da Assembleia das Nações Unidas, da diplomacia brasileira, etc. É como se não houvesse nenhum atentado à democracia. Ao contrário, sustentam que a democracia está sendo seguida naquele país. Nenhum país pede que seus embaixadores se retirem nem há corte de ajuda e/ou relações bilaterais. O déspota Chávez torna-se um “democrata”. Enquanto isso, em Honduras, as instituições do país, por intermédio do Supremo Tribunal, do Congresso, das Forças Armadas, com apoio explícito da Igreja Católica, dos meios de comunicação e da sociedade civil em geral, destituíram um presidente que seguia o caminho de Chávez. Colocou-se como um projeto de déspota ao tentar quebrar cláusulas pétreas da Constituição hondurenha, como a da reeleição de presidente da República, e por isso mesmo foi deposto. É como se o céu tivesse caído na cabeça do país. Protestos de todos os lados. Assembleia das Nações Unidas, OEA, Estados Unidos, União Europeia, diploma-
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o que eles, seus filhos, netos, genros e afins estão aprontando contra o País. Saibam os srs. políticos que no regime democrático o poder não lhes pertence, pertence ao povo que os elegeu e paga impostos. Essas foram as lições, muito bem aproveitadas, que tive do meu saudoso mestre, o professor Goffredo da Silva Teles.
homens com tanta sujeira em cima conseguem pôr a cabeça no travesseiro e dormir! “Brava gente brasileira/ Longe vá temor servil/ Ou ficar a Pátria livre/ Ou morrer pelo Brasil...” Como canta o Hino à Independência, vamos peitar esse povo sem escrúpulos!
CLAUDETE RESTANI vitolovictor@uol.com.br
Piracicaba ● A Venezuela manda fechar 34 rádios, no Brasil se proíbe um jornal de continuar matéria sobre as maracutaias do presidente do Senado. Mera coincidência? Será que não estamos a caminho de imitar os nossos vizinhos venezuelanos? O que me deixa mais horrorizada é como esses
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
(11) 3856 2920
Honraferida
sentativas. Ela terá como alvo a ser destruído todo espaço que se configure como independente, em particular aquele espaço que torna possíveis as liberdades individuais e o processo de livre escolha. Não pode suportar um Estado de Direito, baseado precisamente nessas liberdades. Ou seja, a democracia totalitária não pode suportar a democracia liberal, também dita representativa ou constitucional, pelo fato de assegurar a existência de leis, de Poderes e de instituições, que não se podem adequar a tal processo de mobilização totalitária. Eis por que as democracias totalitárias partem para questionar toda forma de existência democrática, social, que não se estabeleça conforme os seus desígnios. Os meios de comunicação que não aceitem ser instrumentalizados passam a ser considerados inimigos que devem ser abatidos, seja por diminuição de verbas publicitárias, seja por processos judiciais, seja por mecanismos de controle ou de banimento dos mais diferentes tipos. O contestador deve ser silencia-
Depor um projeto de déspota é golpe, democratas são os castro-bolivarianos do, pois não obedece aos ditames do “povo”, de tal “maioria” politicamente constituída. As esferas que asseguram a livre iniciativa individual são progressivamente circunscritas e limitadas, de modo que as pessoas sintam medo e passem a agir de forma não autônoma, como se assim houvesse uma conformidade ao que é “popular”. O Estado de Direito, por sua vez, é cada vez mais menosprezado, seja por não-obediência à legalidade existente, seja pela modificação incessante de leis e normas constitucionais, seja por atentados cometidos contra os princípios mesmos de uma sociedade livre. A democracia totalitária volta-se contra os direitos individuais, contra os direitos das pessoas de não se dedicarem aos assuntos políticos, de se contentarem com seus afazeres próprios. Ela se volta contra as instituições por estas interporem um limite ao seu desregramento. Ela se volta contra a propriedade privada tanto no sentido material, de bens, quanto imaterial, de liberdade de escolha. Ela se volta contra todo aquele que reclame pela liberdade. Eis a questão com que nos defrontamos na América Latina. A clareza dos conceitos é uma condição da verdadeira democracia. ● Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS. E-mail: denisrosenfield@terra.com.br
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forum@grupoestado.com.br
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Muito estranha a alegação dos advogados de que “a honra da família foi ferida”. O que fere a honra de uma família são os atos imorais praticados por seus membros, não a sua divulgação.
● Alguém pode explicar? Noticiar um crime não pode, cometer o dito pode. Eta, país da impunidade! Acordem, eleitores...
MATILDE DE PAULA ROMANO
HANS PETER HEILMANN
JOSÉ ROBERTO ZOPAZO
mati.paula@yahoo.com.br
hpheil@terra.com.br
jzopazo@ig.com.br
São Paulo
São Paulo
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● É, Chávez fecha 34 rádios na Venezuela, Evo expulsa brasileiros da Bolívia, Estadão sofre censura, no Brasil... Temos de abrir os olhos, porque, como nosso presidente gosta tanto do venezuelano, é capaz de logo fazer aqui o que seu colega está fazendo lá.
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Honra... Que honra?
RICARDO E. CARPENTER carpenterdick@terra.com.br
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MOHAMED ABDALLA KILSAN
● A honra da família Sarney foi ferida? O Estadão publicou alguma mentira ou é tudo verdade? Eis a questão.
kilsanabdalla@terra.com.br
ANA CAROLINA TOLEDO
São Paulo
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● O juiz e os advogados que tentam calar o Estado, proibindo que se desvende o lado obscuro do clã Sarney no trato da coisa pública, alegam que a honra da família foi aviltada. E a honra do Brasil, quem a defenderá? J. S. DECOL decoljs@globo.com
São Paulo
SEGUNDA-FEIRA, 3 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Afronta à democracia
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ertamente não existem nas Constituições de outras nações sob o regime de Estado Democrático de Direito dispositivos tão explícitos como os contidos na Carta brasileira, que garantam a plena liberdade de expressão e proíbam qualquer forma de censura prévia aos veículos de comunicação. Reunidos após uma prolongada ditadura militar que amordaçou a imprensa, os constituintes trataram de proscrever qualquer forma de censura prévia ou restrição à liberdade de expressão. Assim é que nem a Constituição norte-americana, matriz institucional da liberdade de imprensa, dispõe de regras tão claras como as estabelecidas em nossa Constituição. No artigo 5º, item IX, ela assegura a livre comunicação; no item XIV, assegura a todos o acesso à informação; e, no artigo 220, determina expressamente que a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerá qualquer restrição. Daí a repercussão indignada, no País e no exterior, que causou a censura judicial imposta a este jornal por um desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. O caso se soma – tendo a sua dimensão aumentada
por se tratar de um atentado às liberdades públicas – aos escândalos que envolvem a família Sarney e seu patriarca, que teimosamente insiste em continuar presidindo o Senado da República sem mais dispor de condições políticas ou morais para fazê-lo. Fernando Sarney, filho do senador e principal gestor dos negócios da família, tentou na Justiça Federal obter um mandado que proibisse o Estado de continuar publicando matérias sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga aqueles mesmos negócios. O pedido foi negado. Tentou, a seguir, o mesmo expediente na primeira instância da Justiça do Distrito Federal, tendo o juiz considerado o pedido – que também negou – “uma afronta à liberdade de imprensa”. Apresentado novamente, desta vez ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal, o desembargador Dácio Vieira acatou o pedido e impôs a censura prévia a este jornal. Causa espécie, antes de mais nada, o fato de esse desembargador não ter se declarado impedido de proferir decisão monocrática, uma vez que é profundamente ligado – como
A agência paulista de fomento
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om a assinatura de 23 contratos, no montante de R$ 41 milhões, começaram oficialmente, na quarta-feira, as operações da Nossa Caixa Desenvolvimento, agência de fomento criada pelo governo paulista para financiar as micro e pequenas empresas do Estado. Ao anunciar o início das operações, o governador José Serra ressaltou o propósito de emprestar a juros, por ele qualificados como “decentes”, de 0,96% a 1,3% ao mês. “Para um país normal em matéria de juros, não tem nada demais, mas estamos num país anormal, onde este é um caso único”, enfatizou o governador. A Nossa Caixa Desenvolvimento assumirá, na prática, as funções da Agência de Fomento do Estado de São Paulo (Afesp), criada há dois anos para administrar os Fundos Especiais de Financiamento e Investimento do Estado. Além desses fundos, as principais fontes de recursos da nova empresa serão repasses dos Orçamentos do Estado, da União e dos municípios do Estado, recursos próprios decorrentes da remuneração por serviços prestados, o retorno das operações ativas e os repasses de organismos e institutos financeiros nacionais e internacionais de desenvolvimento. Inicialmente, foram liberados R$ 200 milhões para a nova empresa. Outros R$ 200 milhões serão aportados pelo Estado em 30 dias, como parte da integralização do capital total registrado, de R$ 1 bilhão. Já neste trimestre, o Estado espera que a Nossa Caixa Desenvolvimento possa repassar
recursos do BNDES. Ela também poderá fazer o repasse de recursos do FAT e do FGTS. Três linhas de empréstimos já estão disponíveis para as empresas, duas de capital de giro e uma de curto prazo, com os juros de 0,96% ao mês, os mais baixos para essa linha de crédito. Serão atendidas companhias que faturem até R$ 100 milhões anuais, limite que se reduz a R$ 2,4 milhões, no caso de franquias. Prioritariamente, serão liberados créditos para empresas que atuam em setores muito afetados pela crise, como máquinas e equipamentos, aeronáutica,
Serão liberados, primeiro, recursos para setores muito atingidos pela crise calçados, plástico e comércio. Num segundo momento, revelou o presidente da Nossa Caixa Desenvolvimento, Milton Luiz de Melo Santos, serão atendidas empresas de serviços e do agronegócio. Outra modalidade de crédito, a Linha Especial de Investimento (LEI), permitirá às empresas comprar máquinas e equipamentos, veículos utilitários e abrir franquias. Os juros, neste caso, serão de 1,3% ao mês, com prazo de pagamento de até 36 meses. A partir do mês que vem, também estará disponível o Fundo de Aval. Para acelerar as operações da nova agência, o governo fez convênios com entidades do setor produtivo do Estado de São Paulo, como a Federação das Indústrias (Fiesp), a
Federação da Agricultura e Pecuária (Faesp), a Associação Comercial (ACSP), a Federação do Comércio (Fecomércio), a Federação das Associações Comerciais (Facesp), o Sindicato Paulista das Empresas de Telemarketing Direto e Conexos (Sintelmark), a Associação Paulistas de Supermercados (Apas) e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP). Como não tem agências, a Nossa Caixa Desenvolvimento valer-se-á das entidades conveniadas para coletar a documentação necessária ao início do processo de análise de crédito. O decreto de criação da agência de fomento paulista prevê a proibição de realização de operações de crédito ou prestação de garantia ao Estado, a municípios ou a quaisquer entidades controladas direta ou indiretamente pela administração pública estadual ou municipal. A regra evita o uso político da nova empresa – algo essencial num ano eleitoral. A Nossa Caixa Desenvolvimento disporá de mais espaço para atuar, conforme decisão recente do Conselho Monetário Nacional, que permitiu a realização de operações fora dos Estados-sede das agências de fomento. Como a nova agência, o Estado cumpre seu papel de ampliar a oferta de empréstimos para o desenvolvimento das empresas, numa fase de crise econômica, a juros muito inferiores aos dos bancos comerciais, públicos e privados.
mostra foto estampada na edição de sábado do Estado – tanto a José Sarney quanto ao ex-diretor do Senado Agaciel Maia, os principais protagonistas dos escândalos que jorram da Câmara Alta. Antes de ser desembargador, Vieira ocupara um cargo de confiança na gráfica do Senado e fora consultor jurídico da Casa. Nessa condição, recebera do senador maranhense do Amapá, tanto quanto do poderoso ex-diretor-geral do Senado, apoios decisivos para sua investidura no Tribunal. Como era de esperar, foi imediata e generalizada a reação ao ato de censura prévia, flagrantemente inconstitucional e afrontoso à democracia. Segundo o senador Jarbas Vasconcelos, a escolha “desse caminho pela Justiça é um retrocesso terrível e injustificável”. O senador Pedro Simon condenou: “O homem da transição democrática agora comete um ato da ditadura.” O senador Eduardo Suplicy enfatizou que “é um direito da população ser informada sobre diálogos que ferem a ética”. E a Associação Nacional de Jornais (ANJ), por seu vice-presidente e responsável pelo Comitê de Liberda-
de de Expressão, Julio César Mesquita, condenou veementemente a decisão do desembargador Vieira, depois de destacar que é inaceitável que pessoas ligadas à atividade jornalística (como é caso da família Sarney, que controla jornais, rádios e televisões) “recorram a um expediente inconstitucional, conforme recente decisão do Supremo Tribunal Federal, para subtrair ao escrutínio público operações com graves indícios de ilegalidade”. O ex-presidente do Supremo Carlos Veloso, por sua vez, considerou a medida judicial um excesso, que de fato constituiu uma censura. Na mesma linha pronunciaram-se representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pessoas preocupadas com a ameaça à liberdade de expressão. Mais importante do que o direito que tem o jornal de informar é o direito que tem o cidadão de ser informado – dizia a Suprema Corte norte-americana, interpretando, na década de 1970, o sentido da liberdade contido na Primeira Emenda. Esperemos que a Justiça brasileira trilhe esse caminho e não permita que prosperem afrontas à democracia que a sociedade brasileira, apesar de tudo e a duras penas, tem conseguido construir.
A proteção ao consumidor
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or terem descumprido reiteradamente as novas regras de funcionamento dos Serviços de Atendimento ao Consumidor (SAC), que foram estabelecidas pelo Decreto nº 6.523, de julho de 2008, as duas maiores operadoras de telefonia do País, a Claro e a Oi-Brasil Telecom, vão ser processadas judicialmente por danos morais coletivos e poderão ser obrigadas a pagar R$ 300 milhões de indenização, cada uma – dinheiro que será recolhido ao Fundo de Direitos Difusos, que financia projetos nas áreas de proteção ambiental, patrimônio histórico e defesa do consumidor. A telefonia é o setor que lidera o número de registros nos Procons, com 57% do total de reclamações – mais do que o triplo do segundo colocado, o de cartões de crédito, com 17%. A Claro e a Oi-Brasil Telecom são as líderes no descumprimento da legislação, segundo o Departamento Nacional de Proteção do Consumidor (DNPC), do Ministério da Justiça. A direção do órgão anunciou que está estudando medidas contra outras empresas do setor. Nos últimos quatro anos, o Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor registrou 607 mil reclamações contra companhias telefônicas, a maioria relativa a cobranças indevidas ou abusivas de serviços. Os processos abertos contra a Claro e a Oi-Brasil Telecom são inéditos, nos quase vinte anos de vigência do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Em primeiro lugar, porque eles resultam de uma iniciativa coletiva, da qual partici-
param os Procons de 24 Estados, sob a coordenação do DNPC, em colaboração com a Advocacia-Geral da União (AGU) e o Ministério Público Federal (MPF). E, em segundo lugar, porque a indenização estipulada é cem vezes maior do que a multa máxima prevista pelo CPC e pelo Decreto nº 6.523, no plano administrativo. Para chegar aos R$ 600 milhões exigidos das duas operadoras, as autoridades de defesa do consumidor multiplicaram o número de clientes pelo preço que cada um deles teria de pagar para ser atendido no sistema de call center das duas
Multas pesadas estão marcando ação afirmativa de órgãos de defesa empresas. Na Claro, que tem cerca de 35 milhões de clientes e obteve uma receita líquida de R$ 2,7 bilhões no primeiro trimestre deste ano, o custo da ligação por minuto é de R$ 1,23 e o atendimento médio no SAC é de sete minutos. Na Oi-Brasil Telecom, que conta com 21,8 milhões de clientes na telefonia fixa, o minuto custa R$ 0,007 e a média de atendimento no SAC também é de sete minutos. Na ação contra esta operadora, os Procons, o DNPC, a AGU e o MPF levaram ainda em conta o lucro resultante da fusão da Oi e da Brasil-Telemar, que foi estimado em R$ 8,9 bilhões, somente no primeiro trimestre de 2009. Além das medidas judiciais, as autoridades de defesa do consumidor decidiram denunciar as duas operadoras à
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Escândalos secretos Lula disse que Sarney não pode ser tratado como uma pessoa comum em função dos serviços que prestou à democracia brasileira. Esse “servidor da democracia”, que usufruiu dos atos secretos, agora quer criar os escândalos secretos. LEÃO MACHADO NETO lneto@uol.com.br
São Paulo
Aserpentevive A censura ao Estado é uma violência. A serpente de sete cabeças ainda se mexe e seus tentáculos penetram nos labirintos mais impensáveis. Impressiona como a democracia é um regime vulnerável, permitindo que em nome dela se cometam incúrias como es-
sas, verdadeiras marteladas inquisitoriais “cobertas de legalidade”. Tudo em nome do pai, do filho e de todos os demais. JOSÉ ALBERTO DIETRICH FILHO dietrich2007@gmail.com
Cascavel (PR)
Retrocesso Que retrocesso essa ação do desembargador Dácio Vieira de impor censura ao Estadão na divulgação do escândalo Sarney. Depois de tantos anos de luta para ficarmos livres dessa nojeira, eis que, para manutenção e defesa do caos político no País, mostra a sua força o corporativismo, como bem estampou a foto em que aparecem unidos Sarney, Agaciel, Renan e Dácio. Só falta agora o presidente Lula vir a público defender
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É... os marimbondos estão pegando fogo”
JorgeZavenKurkdjian zavida@uol.com.br SãoPaulo
a censura imposta ao jornal. HABIB SAGUIAH NETO saguiah@mtznet.com.br
Marataízes (ES)
Lamentável, sob todos os aspectos, a censura imposta ao Estadão. O Judiciário brasileiro tem figuras respeitáveis em seus quadros. Porém ainda há uma casta que aparenta ter saudades da ditadura. Certamente são aqueles juízes que silenciavam ante o fim do Estado de Direito, ao mesmo
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tempo que o bravo Estadão denunciava, mesmo com censura, o arbítrio da ditadura. O consolo é que essa estúpida decisão não vai prosperar em instâncias superiores. Abaixo a censura e viva a liberdade de imprensa!
‘Marimbondosdefogo’
jdebate@uol.com.br
Já que o Estadão está novamente sob censura (como esteve na época da ditadura), sugiro que publique no lugar das notícias sobre o sr. Sarney trechos de Marimbondos de Fogo ou receitas de pizza. Para homenagear o conjunto da obra do ilustre senador.
Santa Cruz do Rio Pardo
JOSÉ ROBERTO DE JESUS
SÉRGIO FLEURY MORAES
O sr. Nicolau dos Santos Neto, ex-juiz do TRT-SP, entrou para a magistratura pelo quinto constitucional, e deu no que deu. Agora é a vez do TJ-DF, na pessoa do desembargador Dácio Vieira, também representante da OAB. Será que vamos entrar, de novo, pelo cano ou para os quintos...? ●
BALMES VILHENA GIACCHETTA balmesvilhena@hotmail.com
Divisa Nova (MG)
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), pedindo a revisão da concessão de ambas nos setores de telefonia fixa e móvel. A justificativa é de que, se não conseguem atender os consumidores, não estariam em condições de prestar serviços telefônicos. Para fundamentar a abertura das ações judiciais, as autoridades de defesa do consumidor reproduziram, nas petições, entrevistas dos executivos das duas operadoras, que julgaram constituir manifestação de desprezo pelas novas regras impostas pelo Decreto nº 6.523, de descaso em relação à sua clientela e de desdém em relação aos Procons. Numa das declarações transcritas pelos advogados da AGU, um executivo da Claro teria afirmado que o Decreto nº 6.523 introduziu um serviço de atendimento “com qualidade de Suécia e preço de Índia, mas com impostos de Brasil”– com isso justificando o péssimo atendimento dispensado aos consumidores. Além disso, em reuniões com técnicos do DNPC, dirigentes das duas empresas teriam dado a entender que sairia mais barato para elas pagar as multas aplicadas pelos órgãos de defesa do consumidor do que contratar mais funcionários para adequar o SAC às exigências legais. Segundo o diretor do DNPC, Ricardo Morishita, foram essas entrevistas e afirmações que levaram o órgão a articular a abertura de ações contra a Claro e a Oi-Brasil Telecom. Agora a Justiça Federal terá de julgá-las no mérito. E, qualquer que seja a decisão, o fato é que o caso consolida ainda mais a legislação de defesa do consumidor.
zerobertodejesus@gmail.com
Capão Bonito
Vaquinha Antigo assinante, manifesto meu protesto e minha revolta pela censura cometida pelo sr. Dácio Vieira, proibindo o Estadão de publicar matérias sobre os malfeitos, inacabáveis, do clã Sarney. Além do atentado à Constituição, esse desembargador, escolhido à per-
feição pelo sr. Fernando Sarney para propor o recurso que resultou em tal censura, deveria considerar-se impedido para julgá-lo. É só ver na página A4 de sábado a foto em evento social recente que mostra os srs. Sarney, Agaciel, Renan e Dácio posando, sorridentes, para o fotógrafo. Só faltou o sr. Lula. Sabemos que o jornal não se vai intimidar. Quanto à multa se continuar a publicar as verdades sobre a insólita família Sarney, proponho que os cidadãos decentes se cotizem e ajudem a pagá-la. Terei a honra de ser dos primeiros a participar desse ato de apoio ao Estado, que, tenho certeza, será apoiado também pelos jornais sérios deste país. EDUARDO NUNO FERREIRA DE SOUSA eduardonuno@uol.com.br
São Paulo
A4
SEGUNDA-FEIRA, 3 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL
CPI opõe tucanos e petistas em São Paulo
PT quer investigação da CDHU na Assembleia como contraponto à CPI da Petrobrás q PÁG.A8
ESTADO SOB CENSURA
Crise piora e senadores ameaçam boicotar Sarney até a renúncia Não houve trégua no recesso. Situação do presidente do Senado piorou após imposição de censura ao ‘Estado’ Leandro Colon BRASÍLIA
Na volta do recesso parlamentar, a partir de hoje, senadores vãopressionarpara queopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deixe o cargo até quarta-feira pela manhã, antes da reunião do Conselho de Éticaqueanalisaráonzeaçõescontra o parlamentar. Caso Sarney resista,entraráemcenaummovimento de boicote nas sessões presididas por ele. Amigo de Sarney, ex-ministronoseugovernoecompanheiro de Academia Brasileira de Letras (ABL), o senador Marco Maciel (DEM-PE) será um dos integrantes do grupo escalado para convencer o presidente do Senado a abrir mão do cargo. Maciel terá a missão de explicaraSarneyoriscodeconstrangimento que sofrerá em plenário se insistir em permanecer no comando do Senado. Procurado ontem pelo Estado,Macielconfirmouasconversas com seus colegas, mas evitou qualquer previsão. Na avaliação dele, o dia decisivo para a crise será amanhã, quando a maioria dos parlamentares estará presente em Brasília. “Conversei com alguns senadores, mas tudo informalmente”,contou.“Nãofaleicomopresidente Sarney. Nada se materializou ainda. Não tenho nada a declarar, é preciso sentir o clima até terça-feira.”
Parlamentares querem que senador renuncie até quarta-feira Senadores contrários a Sarney articulam um boicote nas sessões em plenário caso ele fiquena presidência e o Conselho de Ética arquive as cinco representações e seis denúncias protocoladas–referentesanepotismo, envolvimento em atos secretos e desvio de recursos da Petrobrás pela Fundação José Sarney. “Não terá como fazer votação. O presidente Sarney vai perceber isso”, disse Cristovam Buarque (PDT-DF). “Não é golpe. É um direito nosso de nãoir àssessões.Um desconhecimento à autoridade do senador. Ele não tem mais condições de continuar.” Sarney retornou ontem a Brasília, depois de passar mais de uma semana em São Paulo, onde sua mulher, dona Marly, fez uma cirurgia após uma fra-
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
tura no ombro. Ele pretende comandar hoje a primeira sessão de retorno aos trabalhos, mas deve retornar a São Paulo até amanhã para acompanhar sua mulher, que permanece em repouso na capital paulista. MISTÉRIO
Membro do PMDB, o presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (RJ), manteve mistério sobre o futuro das representações. “Eu posso monocraticamente arquiválas, mas não decidi o que vou fazer. Vai depender das circunstâncias”, afirmou. O senador Pedro Simon (PMDB-RS), um dos parlamentares que pedem a intermediação de Maciel para negociar a saída de Sarney, fez ontem um apelo para que ele renuncie.Eletambémconfirmou a possibilidade de esvaziamentodoplenário,na presença de Sarney como presidente das sessões. “O plenário vai se tornar inabitável”, previu. Colegadepartidoeex-presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) reforçou o coro pela saída de Sarney até quarta-feira. “Se o Conselho de Ética arquivar tudo e o senador continuar nocargo,ascoisasserãoradicalizadas e o Legislativo sofrerá um processo de paralisia, que levará a um confronto em plenário”,disse. “Asaídaseriaumainiciativarazoável para evitar esse quadro.” A esperada trégua na crise durante o recesso parlamentarficou só na expectativa.Arevelação,feitapeloEstado, de diálogos que mostram Sarney e seu filho Fernando negociando a nomeação do namorado da neta do senador para uma vaga no Senado – por meio de ato secreto – só agravou a situação do peemedebista.As conversasforamgravadaspela Polícia Federal com autorização judicialefazempartedaOperação Boi Barrica, que investiga Fernando Sarney. Na sexta-feira, o desembargador Dácio Vieira, do TribunaldeJustiça doDistrito Federal, atendeu a um pedido de Fernando e pôs o Estado sob censura, proibindo o jornal de publicar os diálogos gravados pela PF. A iniciativa do clã Sarney de tentar censurar a imprensa só agravou a situação política do senador entre os colegas, queaumentaram a pressão para que renuncie. ●
SOB PRESSÃO – Sarney, que viajou ontem de São Paulo para Brasília, teria prazo até quarta-feira para se afastar da presidência da Casa
PMDB reage e recomenda a críticos que deixem partido Em defesa de Sarney, nota informa que descontentes podem se desfiliar “sem risco de perder o mandato” Luciana Nunes Leal RIO
Enfraquecido pela série de denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney (AP), o PMDB reagiu ontem com ataques aos dissidentes e um recado para que deixem o partido “o quantoantes”.Emnotadivulgada no site oficial da legenda, semcitar nomes,ocomando nacional prometeu não cobrar na Justiça os mandatos dos parlamentares rebeldes, sob alegação de infidelidade partidária, se eles saírem do PMDB. Dois dos principais críticos deSarney sãoossenadorespeemedebistas Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS). Ambos defendem que o presidente do Senado se afaste do cargo e consideram que a situação se agravou depois da censura imposta ao Estado pelo de-
sembargador Dácio Vieira, do Distrito Federal. O jornal foi proibido de publicar reportagens sobre a Operação Boi BarricadaPolíciaFederal,atendendo a pedido do empresário FernandoSarney,filhodopresidente do Senado. Assinada pelo presidente licenciado do PMDB, Michel Temer(SP)– presidenteda Câmara –, e sua substituta, a deputada Íris de Araújo (GO), a nota não faz referência à situação de Sarney nem fala diretamente de Jarbas e Simon. Mas Temer eÍrissão duroscomos dissidentes. “O PMDB acata com humildadeo descontentamento de alguns poucos integrantes que perderam espaço político e apostaram na fama efêmera oriunda de acusações vazias. E faz isso porque acredita piamente na democracia. A estes, o recado: podem deixar a legen-
da o quanto antes sem risco algum de perder o mandato. Ganharão eles, porque deixarão de pertencer ao partido do qual falam tão mal, e ganhará o PMDB, por tornar-se ainda mais coeso e musculoso”, dizem os dirigentes.
Os peemedebistas Jarbas e Simon repudiam carta do comando nacional A nota veiculada na internet é uma versão ampliada de carta enviada à revista Veja desta semana, em resposta a reportagem publicada na edição passada. O presidente licenciado e a interina rejeitam a pecha de fisiologismo, dizem que o partido faz “alianças programáticas” e
Ausências no plenário favoreceram oposição Presidente do Senado participou de apenas 17 das 60 sessões realizadas no semestre João Domingos BRASÍLIA
A ajuda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dado ao presidente do Senado, José Sarney(PMDB-AP),estariavoltada mais para a governabilidade imediata, visto que uma confusão agora com o PMDB levaria o partido para a oposição e inviabilizaria qualquer votação noCongresso,deacordocominformações de bastidores de auxiliares do presidente da República. Isso porque, no primeiro semestre do ano, Sarney mais atrapalhou do que ajudou o governo ao permanecer na presidência do Senado.
Das 60 sessões deliberativas ocorridas no Senado, Sarney participou de apenas 17 – foi o senador mais faltoso, conforme levantamento feito pelo portal CongressoemFoco.Setivessegazeteado mais três sessões, Sarney até poderia sofrer um processo de perda de mandato. De acordo com o artigo 55, item III, daConstituição,perderáomandatoodeputado e osenador que deixarem de comparecer a um terço das sessões. Por causa das ausências de Sarney, sessões deliberativas importantes foram presididas pelo vice Marconi Perillo (PSDB-GO) – senador pelo qual o presidente Lula não esconde a
DIDA SAMPAIO/AE –11/6/2008
VICE - Perillo comandou votações que contrariaram o governo
antipatia. Uma dessas sessões terminou com um golpe no governo, atingindo, por tabela, o setor ambientalista. Já na véspera do recesso de julho, e sob o comando de Perillo, o plenário do Senado rejeitou por 30 votos a 20 a recondução do engenheiro Bruno Pagnoccheschi para uma diretoria da Agência Nacional de Águas (Ana). Antes, em junho, também sob a presidência de Perillo, o Senado rejeitou a recondução dos procuradores Diaulas Ribeiro e Nicolao Dino ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Havia um clima de balbúrdia e Perillo decidiu fazer a votação
que“oscargospúblicossãoapenas consequência de ideais convergentes”. AFRONTA
Pedro Simon considerou a nota “uma afronta” à história do PMDB. “Essa gente é muito petulante”,disse.“Nãoestouferindo o programa partidário quando peço dignidade e honradez ao partido”, reagiu ontem o senador gaúcho. Ele também protestou contra a condição de Temer de presidente licenciado. “Esse cidadão deveria ter renunciado à presidência do partido (quando assumiu o comando da Câmara)”, afirmou. Em entrevista ao Estado na semana passada, Jarbas Vasconcelos disse que tem sido cobrado pelos eleitores. “As pessoas perguntam por que eu fico no PMDB, alguns dizem que o partido está podre. Eu explico que meu PMDB não é esse, mas que não vejo um novo quadro partidário” contou Jarbas. Jarbas acredita que “o desconforto dentro do partido (com as denúncias contra Sarney e as manobras para defendê-lo) é de uma parcela mínima”, pois “noventa por cento das pessoas estão na órbita do governo Lula, o que não quer dizer que não vá haver traição (a Sarney)”. ●
assim mesmo. Sem haver nada contra os procuradores, veio a rejeição.Defensoresdosdoisindicadosapelarame Periloresolveu que a primeira votação não valera. Fez nova votação. O plenário confirmou a rejeição. Conformeumauxiliardopresidente da República, a defesa que Lula tem feito de Sarney – na semana passada chegou a ficarclaudicante,quandoopresidente disse que o problema era doSenadoequenemhaviavotado em Sarney para senador do Maranhão (na verdade, ele é senador pelo Amapá) – é uma forma de mostrar ao PMDB que o partido não ficará isolado, sob fogo da oposição. ParaLula,asituação já émuito complicada. Se ele perder o apoio do PMDB, terá de passar o último um ano e cinco meses de mandato à míngua, praticamente sem contar com o Congresso. E isso governo nenhum suporta. ●
A6 NACIONAL
SEGUNDA-FEIRA, 3 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
ESTADO SOB CENSURA
Fernando Sarney tentou silenciar ‘Estado’ e procuradores em 2008 Pedido de empresário ao Conselho Nacional do Ministério Público foi considerado ‘um atentado à Constituição’ Leandro Colon
BAPTISTÃO/AE
BRASÍLIA
A estratégia de Fernando Sarney de tentar impedir o Estado de publicar informações sobre investigações a seu respeito começou em 2008, revelam documentos do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Daquela vez, porém, não deu certo.Os documentos mostram ainda que Fernando, filho do senador José Sarney (PMDBAP), também tentou impedir procuradores da República de fornecer informações. Sem alarde, os advogados de Fernandoentraram noanopassado com uma ação no conselho, pedindo três coisas. A primeira era a convocação de um repórter do jornal, para que revelasse suas fontes de informação. A segunda, a proibição de acesso a detalhes da investigação pelo Estado. E a terceira, o impedimento aos procuradores da República de concederem entrevistas. OfilhodopresidentedoSenadocontestouovazamento deinformações do inquérito sobre a OperaçãoBoiBarricaque,assegurou, teriam fundamentado a reportagem assinada pelo repórter Ricardo Brandt, em 16 de janeiro do ano passado. A reportagem informava que Fernando corria o risco de ser indiciado – o que acabou se confirmando no mês passado, como apontououtrorepórterdoEstado, Rodrigo Rangel. O filho do presidente do Senado foi indiciado por lavagem de dinheiro, tráfico de influência e formação de quadrilha.
Ação de filho de senador foi rejeitada por unanimidade A ação de Fernando no CNMP foi recusada e arquivada na sessão de 22 de setembro, por unanimidade. Os motivos alegados estão no voto do então relator do recurso, promotor Diaulas Ribeiro. Ele repudiou qualquer tentativa de obrigar o jornalista a revelar a fonte da informação. Para o promotor, tratava-se de “um atentado à Constituição Federal”. ACUSAÇÕES
OsadvogadosdeFernandoacusaram procuradores do Maranhão de terem repassado informações sigilosas ao jornal. O relator recusou a acusação. “Não éoConselhoNacionalnemoMinistério Público o guardião único do sigilo decretado. Dezenas de pessoas têm, legalmente, acesso aos autos. Nessa mesma linha não caberia ao Conselho Nacional vedar a divulgação de especulações genéricas, de comentáriossobreuma investigação cuja existência passou ao domínio público”, diz o texto do voto. “A não divulgação é inerente ao segredo de Justiça e todos os que têm contado com
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Os caça-fantasmas em ação no Senado Grupo não consegue localizar servidora “desaparecida”
O
grupo de “caçafantasmas” criado no Senado para identificar quem trabalha ou não na Casa passou a quinta-feira procurando a funcionária Adriana Corrêa Fernandes. Ela figura na lista dos chamados 36 servidores terceirizados e “desaparecidos”, isto é, recebem normalmente o salá-
rio, mas ninguém sabe se dão expediente, nem o local onde estariam. A funcionária já era dada como “desaparecida” no período em que a terceirização era feita pela Ipanema Serviços Gerais Ltda. Em abril, a empresa acusada pelo Ministério Público de superfaturamento, conforme apuração da Polícia Federal na Operação Mão de Obra, foi substi-
os autos têm esse dever a cumprir.” O pedido de silenciar os promotores ligados ao caso segue a mesma linha do pedido feito na sexta-feira da semana passada, quando conseguiu uma liminar do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, proibindo o Estado de publicar informações sobre o inquérito da PF. Em 2008, porém, a proposta teve resposta diferente. “Não
se pode confundir observância do segredo de Justiça com censura prévia. A censura prévia é proibida pela Constituição Federal”, argumentou o relator. Procurado pela reportagem, Diaulas Ribeiro não quis se manifestar. Ele acaba de perder a vaga no CNMP. Em 30 de junho, o plenário do Senado, sob o fogo da crise envolvendo Sarney, rejeitou a condução dele ao cargo de conselheiro. O outro rejeitado foi Nicolao Dino. ●
tuída pela Plansul Planejamento e Consultoria Ltda. Esperava-se que a promessa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de moralizar a administração da Casa resultasse no fim dos terceirizados desaparecidos. Mas não foi o que ocorreu. E Adriana Corrêa Fernandes foi recontratada pela Plansul, empresa vencedora do contrato de R$ 23 milhões ao ano,
para empregar um conjunto de 337 profissionais de comunicação. Os caça-fantasmas realizaram uma verdadeira romaria para localizá-la. Começaram pela gráfica do Senado, mas a busca foi infrutífera. O resultado na Interlegis, na Secretaria de Relações Públicas, no jornal, na rádio e na TV Senado, no Instituto Legislativo Brasileiro e no Núcleo de
Equipe ainda trabalha para descobrir quem é o ‘padrinho’ Criação da Secretaria de Comunicação foi o mesmo. Ela nunca passou pela porta de nenhum desses órgãos.
Por fim, resolveram ligar para sua casa, onde a mãe informou que ela nem mesmo mora em Brasília. A operação continua agora para identificar quem é o “padrinho” da fantasma e determinar as medidas que serão tomadas para ressarcir os cofres públicos. O trabalho da equipe não tem data para terminar. Além de identificar quem trabalha, estão sendo revistos os 32 contratos de terceirização. Dos 27 examinados até agora, somente 2 deles estão em ordem e sem nenhum vício. Os que ficaram na malha fina serão substituídos ainda este ano. ● Rosa Costa BRASÍLIA
Censura prévia movimenta usuários do Twitter A reportagem publicada na sexta-feira passada sobre a censura da Justiça ao “Estado” – impedido de divulgar informações sobre o inquérito da PF que envolve o empresário Fernando Sarney – ficou entre os temas de mensagens mais trocadas entre usuários do Twitter, rede de mi-
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croblogs bastante usada entre internautas. No sábado, ela foi a mais repassada. No acumulado da semana, ficou em terceiro lugar. Segundo o portal Migre.me, que faz levantamento dos links mais clicados na rede, 217 replicaram o texto a outros usuários do Twitter.
O movimento gerou mais de 2 mil acessos à reportagem sobre a censura no Portal Estadão. Entre sexta-feira e o início da tarde de ontem, foram 5.639 visitas ao site do “Estado” via links no Twitter. A publicação sobre a censura também foi reproduzida em diversos blogs na internet. ●
PARTIDOS
Delúbio conversa com Lula sobre seu futuro político O sonho do pivô do escândalo do mensalão é disputar uma cadeira de deputado federal
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João Domingos BRASÍLIA
O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, um dos pivôs do escândalo do mensalão, em 2005 – responsável pelo maior desgaste político do primeiro governo de Lula –, teria passado o último fim de semana na Granja do Torto, em Brasília, na companhia dopresidenteLuizInácioLula da Silva. Na visita, Delúbio teria dito a Lula que pretende concorreraumavagadedeputadofederal porGoiás, deacordo com reportagem publica-
da ontem pelo jornal O Popular, de Goiânia. Como foi rejeitado pelo PT, de onde havia sido expulso e para onde tentou voltar, sem sucesso, a tendência é de Delúbio filiar-se ao PT do B, que tem dois deputados estaduais. Delúbio chegou a sondar o PMDB, mas foi informado de queopartidonão deverá aceitálo,vistoquenãosedácomodiretório municipal de Buriti Alegre (a cerca de 180 quilômetros ao sul de Goiânia), onde tem domicílio eleitoral. Quando era do PT, Delúbio tevesériasdisputas comos peemedebistas de sua cidade natal
e eles anunciaram que jamais o aceitariam como companheiro. Enquanto não encontra um partido, o ex-tesoureiro está reformulando o blog Companheiro Delúbio – cujo conteúdo era voltado exclusivamente para sua tentativa de reingressar no PT. No novo formato, a página na internet deverá abordar temas sociais. Ele planeja, ainda, criar uma Organização Não-Governamental (ONG) e uma publicação onde faria a defesa das acusações de que foi o articulador doesquemadomensalão, juntamente com o empresário Marcos Valério.
Por causa do mensalão, o extesoureiro foi expulso do PT em outubro de 2005. Tentou voltar em maio deste ano, mas desistiu ao perceber que o pedido de reintegração seria derrotado. Em reunião do Diretório Nacional, ele chegou a fazer um discurso, no qual, em tom emocionado,afirmoununca terrealizado nada sem o consentimento da sigla. RELAÇÃO COM LULA
Reservado, Delúbio não comentou o teor das conversas com o presidente Lula na Granja do Torto. Pessoas que o encontraram disseram que saiu
do local mais empolgado com a ideia de se candidatar a deputado federal. Lula deve visitar Goiânia e Anápolis(acercade50quilômetros da capital) no dia 13, mas não deve se encontrar com Delúbio. Ele teria dito às pessoas com as quais conversou que desistiu do encontro porque não quer causar constrangimento ao presidente. Delúbiofoiumdosarticuladoresda aliançaPMDB-PT na disputa pela prefeitura de Goiânia que reelegeu Iris Rezende (PMDB) prefeito em 2008. O vice, Paulo Garcia (PT) é um políticopróximo aoex-tesoureiro. ●
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
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Na volta do recesso, presidente do Senado diz que não renuncia CELSO JUNIOR/AE
BATE-BOCA
“As palavras que o senhor acabou de pronunciar são palavras que não aceito. Quero que o senhor as engula agora, as digira e faça delas o uso que vossa excelência julgar conveniente” (Em resposta a Pedro Simon)
niente”. Já Sarney, que sinalizara a aliados que deixaria o cargo, negou a renúncia: “Isso não existe, isso não existe”. Sarney disse ainda que está “confiante” e com “um espírito muito bom” para enfrentar os 11 pedidos de investigação protocolados no Conselho de Ética do Senado. ● PÁGS. A4 e A6
MASSA: ‘QUERO VIDA NORMAL’
INTIMIDAÇÃO – Sarney preside sessão do Senado ao lado de Fernando Collor: ofensiva no plenário
Promotoria quer repatriar R$303 milhões de Maluf
Saúde muda regra para remédio da gripe suína
O Ministério Público Estadual ingressou com ação civilpúblicacontra oex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP). O foco da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público da capital é a Eucatex, empresa controlada pela família Maluf. A ação pede bloqueio e repatrição de US$ 166 milhões (R$ 303,7 milhões) de contas correntes e ações no exterior. ● PÁG. A12
O Ministério da Saúde decidiualterar a políticadetratamento para gripe suína, que será mais flexível. A forma do uso do antiviral Tamiflu ficará a critério do médico, desde que respeitadas as determinaçõesdavigilânciasanitária local. ● PÁG. A17
ERNESTO RODRIGUES/AE
O ocaso do patriarca Sarney-pai imaginou que, ao ocupar a principal cadeira do Senado, protegeria o primogênito dos efeitos da investigação policial. E este, com característica truculência, já tentara fazer a sua parte. ● PÁG. A3
●●● JOVEM É ENTERRADA
O corpo de Jacqueline Ruas, que morreu durante voo, foi sepultado ontem. ● PÁG. A18
Tempo: CAPITAL
20º
MÁX.
pital Albert Einstein, em SP, para continuar tratamento; piloto dis-
● PÁG. C2
10º
Hoje: 78 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 14 ● Cl. Classificados: 4 (355 anúncios)
Aviação
Turbulência fere 28 em voo Rio-EUA Quatro estão em estado grave; avião foi desviado para Miami. ● PÁG. C6
●●
CADERNO2
Magnum em SP Jully Fernandes batalhou e trouxe o time da agência fotográfica. ●
●●
MÍN.
Frente fria deixa o dia nublado na faixa leste e temperatura cai.
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se que não se lembra do acidente. Renault confirmou a demissão de Nelsinho Piquet. ● PÁG. E1
Superintendentes da Receita Federal sugeriram ao ministro Guido Mantega (Fazenda) o nome de Paulo Nogueira Batista Jr., representante do Brasil no FMI,eMárcioPochmann,presidente do Ipea, para a vaga da ex-secretáriaLinaVieira, informa o repórter David Friedlander. Mantega não respondeu. Os superintendentes são vistos como obstáculo à nomeação do novo comandante. ● PÁG. B1
Saldodabalança comercialrecua12%
NOTAS E INFORMAÇÕES
●●● Felipe Massa chega ao Hos-
Mantega é pressionado a definir sucessão na Receita
A produção industrial caiu 13,4% no primeiro semestre na comparação com igual período de 2008. A queda é a maior desde 1975, quando o IBGE iniciou o levantamento. A recuperação de 7,9% de dezembro a junho foi insuficiente para compensar o recuo de 20% desde o início da crise. ● PÁG. B4
ANTONIO MILENA/AE
do STF sobre a liberdade de imprensa. José Sarney divulgounotadefendendoainiciativa do filho de ir à Justiça para impedirojornaldepublicar informações sobre as investigações da PF. ● PÁGS. A8 e A10
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Indústria tem maior queda semestral em 34 anos
Fernando Collor
Para ministros do STF, há censura Ministros do Supremo Tribunal Federal disseramque a decisão que proibiu o Estado de publicar reportagens sobre a OperaçãoBoiBarricaé censura. Para eles, a liminar contraria a Constituição e decisões
(1891-1927)
4 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42294
Grupo de Sarney ameaça adversários com dossiês Em tom de ameaça, a tropa de choquedopresidente doSenado, José Sarney (PMDB-AP), partiu para o ataque, revelando que vem produzindo dossiêscontrasenadoresadversários, vinculando-os a atos secretos e outras irregularidades. A senha para o ataque foi o discurso de Pedro Simon (PMDB-RS), que pediu a renúncia de Sarney e gerou um bate-boca. Liderada por Renan Calheiros (PMDB-AL), a tropaganhou oreforçode FernandoCollor(PTB-AL).Quando Simon citou Collor e sua cassação em 1992, ele reagiu: “Aspalavrasqueosenhor acabou de pronunciar são palavras que não aceito. Quero que o senhor as engula agora, as digira e faça delas o uso que vossaexcelência julgar conve-
JULIO MESQUITA
Transportes
Grande SP veta serviço de mototáxi ●● São Paulo, Guarulhos e
Osasco não vão regulamentar o serviço. ● PÁG. C1
●●● O saldo da balança comercial caiu 12% em julho ante igual mês de 2008. O superávit de US$ 2,93 bilhões foi 36% menor que o de junho. O principal fator foi a queda das exportações de soja. ● PÁG. B3
Uribe faz giro para explicar uso de bases pelos EUA OpresidentedaColômbia,ÁlvaroUribe,faráumgiro pelaAmérica do Sul, com exceção de Venezuela e Equador, para explicar o uso de bases militares do país pelos EUA. O encontro com o presidente Lula, um dos que criticaram a atitude colombiana, foi marcado para quintafeira. A ideia é esvaziar os ataques que a Colômbia deverá sofrer na cúpula da Unasul, no dia 10 em Quito. ● PÁG. A13
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Onde reside o perigo
Recuperação no Brasil
A.P.QuartimdeMoraes
IlanGoldfajn
Bem a seu estilo, durante o comício, perdão, a solenidade de lançamento do Vale-Cultura, o presidente Lula passou um pito nas empresas que, acredita, fazem mau uso da Lei Rouanet. No tom de quem tem ampla familiaridade com o universo dos livros, criticou, por exemplo, as edições luxuosas de “livro de fotografia enorme, pesado que é uma disgrama (sic) e que ninguém vê”. Como todo mundo sabe, a Lei Rouanet está longe de ser perfeita. A renúncia fiscal que ela permite, no mais das vezes, resulta em recursos aplicados em projetos “culturais” que, das duas, uma: não precisariam de recursos públicos para se viabilizarem ou nada têm realmente de “culturais”. Em muitos casos, na verdade, as duas coisas! De fato, que sentido faz, por exemplo, patrocinar com recursos públicos shows musicais de cantores que são campeões de vendas de discos, monólogos teatrais de estrelas da televisão ou temporada internacional de circo chique? Espetáculos para
Falta uma ideia clara sobre critérios para aprovação de projetos culturais os quais, quase sempre, se cobram ingressos caríssimos. Nos países desenvolvidos, os recursos públicos para o setor cultural e artístico, geralmente abundantes, são dirigidos primordialmente para o fomento de atividades artísticoculturais. Estimulam-se artistas iniciantes, experimentações inovadoras. Parte-se do princípio sensato de que as grandes estrelas do mundo artístico podem ser deixadas por conta do mercado. É bem verdade que a realidade de uma nação em desenvolvimento, sem uma sólida formação cultural, é diferente. Mas certamente por isso mesmo o fomento das artes, e não o espetáculo, é mais carente e merecedor de incentivo governamental. Faz todo o sentido, portanto, condenar a aplicação da maior parte dos recursos provenientes de renúncia fiscal – dinheiro de todos – em artes e artistas que podem perfeitamente viver bem de seu próprio prestígio. Some-se a isso o fato de que existe uma enorme concentração dos recursos disponíveis (cerca da metade) nas mãos de uma insignificante minoria dos captadores desse benefício, quase todos estabelecidos na rica Região Sudeste. Mas, em se tratando de Lei Rouanet, cabe a pergunta: quem é que aprova, libera, habilita a captar recursos de pa-
Com isso, e com o Valetrocínio para projetos não Em segundo lugar, a extenO trimestre de abril a junho prioritários do ponto de vista Cultura, que objetiva estideste ano foi bom para a eco- são da redução do Imposto sodo interesse popular, de que é mular o acesso dos assalanomia brasileira. A recupera- bre Produtos Industrializados tão zeloso o nosso presidente? riados aos produtos cultução do produto interno bruto (IPI) para veículos aumentou É o próprio governo federal, rais, o governo federal está (PIB) deve ter alcançado um as vendas no trimestre. Uma por intermédio do Ministério tentando lançar as bases, crescimento entre 1,5% e 2% parte dessas vendas certamenda Cultura (Minc). O presiden- mais do que de uma simples em relação ao trimestre ante- te é antecipação de gastos futute da República deveria ir lei de incentivo por meio da rior. Se “anualizarmos” (ou ros dos consumidores. mais devagar com o andor, renúncia fiscal, a uma nova Finalmente – e talvez o mais seja, assumirmos a mesma taportanto, quando se anima a política cultural, fundada xa de crescimento para os importante –, as economias alfinetar as corporações que em três eixos principais: o próximos trimestres), a eco- emergentes estão liderando a trabalham com a lei de incenti- fomento à produção cultunomia brasileira cresceria a retomada. A China, sob consivo, acusando-as de se apro- ral de qualidade, basicamenuma taxa de 6% a 8%. Mas se- derável impulso fiscal e monepriar e se beneficiar de recur- te pelo financiamento direrá que faz sentido pensar nes- tário, está investindo mais e sos que não lhes pertencem. A to; a acessibilidade aos prose ritmo de crescimento para alavancando o crescimento – dutos culturais, principalgeneralização é injusta. a frente? (Por exemplo, anua- seu e da região. O Brasil temPor sua vez, o ministro da mente por meio do subsídio lizado, o PIB do último tri- se beneficiado da retomada de Cultura, Juca Ferreira, está ou da redução do preço de mestre do ano passado teve atividade na China, assim codescobrindo a pólvora quando ingressos; e, finalmente, o queda de 15%, impensável pa- mo de sua política de recomporepete que a aplicação dos re- incentivo econômico à inra o ano todo). O que justifica sição de estoques de commodicursos da Lei Rouanet é decidi- dústria cultural, aos produessa recuperação no Brasil? ties. O País retomou as exportada “pelos departamentos de tores de arte/cultura. ções de produtos básicos e seO que podemos esperar? Esses três eixos deverão marketing das empresas”, o Há, certamente, fatores mimanufaturados. que resulta em enorme distor- orientar, segundo o ministro Acreditamos que haverá estransitórios importantes pação: acabam sendo patrocina- Juca Ferreira, os critérios a ra esse crescimento mais for- paço para o Brasil crescer relados quase exclusivamente pro- serem aplicados pela comiste no segundo trimestre. Em tivamente mais do que o resto jetos que dão retorno comer- são nacional que vai decidir primeiro lugar, alguns fato- do mundo. O mundo está em cial a essas empresas, sem le- sobre os projetos. Mas, ao res técnicos. A queda forte, busca do que denominamos var em conta o conteúdo cultu- contrário do que afirmou o no final do ano passado, nor- consumidor final de última insral. É verdade. Os departa- ministro em recente entremalmente comanda alguma tância. O Brasil é candidato namentos de marketing fazem vista à TV Brasil, são aperecuperação na sequência. tural a ser receptor maior de exatamente aquilo que deles nas parâmetros, referênPor exemplo, a reação da in- capitais e investimentos, nessa se espera. Logo, não é por aí cias. Muito pouco para que dústria na crise, reduzindo busca global pelo consumidor que a coisa se resolve. estoques no primeiro trimes- de última instância. Esse cenáse tenha uma ideia clara soÉ evidente que as enormes bre critérios para a aprovatre, induziu a um crescimen- rio é reforçado na medida em distorções que a Lei de Incenti- ção dos projetos. E é aí que to da produção acima das que o Brasil passou bem pela vo à Cultura acumulou ao lon- reside o perigo. Pois, entre vendas no segundo trimestre crise financeira internacional, go de 12 anos de existência tor- outras coisas, no momento até recompor os estoques. um verdadeiro teste de estresnam urgente a reforma desse são os próprios agentes goAlém disso, apesar da queda se para as economias. O País instrumento vital para a pro- vernamentais que aprovam do PIB na média no primeiro tem dificuldades para elevar dução e a circulação artística projetos que fazem a festa trimestre, a atividade mensal sua poupança, mas tem consue cultural no País. O governo dos “departamentos de marjá mostrava crescimento a mo, projetos de investimento e, federal sabe muito bem disso keting das empresas”. ● partir de janeiro. Logo, hou- mais recentemente, um ame há anos o debate sobre essa ve uma herança positiva do biente de menor risco para fiquestão corre solto, especial- A. P. Quartim de Moraes é crescimento do primeiro tri- nanciadores externos. mente no âmbito do Minc. O jornalista e editor E-mail: Esperamos uma desaceleramestre para o segundo triresultado é que está prestes a apquartim@dualtec.com.br mestre (chamado carry over). ção da taxa de crescimento nos ser encaminhado ao Conpróximos trimestres para gresso Nacional o projeto a faixa de 1% por trimestre de uma nova lei de incenti(anualizado para 4% ao vo cultural. ano, uma taxa sustentável Segundo dados oficiais, para a frente). A razão é hoje os investimentos do global e local. LOREDANO governo federal na cultura Globalmente, esperatêm principalmente duas mos a continuação da recuorigens: os recursos do Teperação, mas num ritmo souro investidos diretamais moderado. Como temente por meio do Fundo mos argumentado neste esNacional de Cultura (cerpaço, o crescimento no ca de 15%, R$ 400 milhões mundo, especialmente deem 2009)) e os provenienpois de esgotados os impultes da renúncia fiscal presos fiscais e monetários, devista na Lei Rouanet (aproverá ser menos intenso do ximadamente 70%, R$ 1,3 que nos últimos anos, por bilhão em 2009). A ideia é uma combinação de fatoaumentar substancialmenres: a queda da riqueza fite a participação do fundo, nanceira no mundo, a difiou seja, dos investimentos culdade na volta do crédito diretos, deixando a parte bancário nos países madumenor por conta dos projeros, a recomposição da poutos incentivados, que paspança nos EUA e a incerta sarão a dispor de novas faitransformação da China xas de isenção (hoje são sonuma economia de consumente 30% ou 100%). Falamo. A atual retomada parese até em inverter aquela ce vigorosa em razão do alíproporção, que hoje favorevio advindo do fim da recesce a Lei Rouanet. E os resão, mas o desafio do crescursos provenientes do cimento sustentado permafundo serão direta e imenece. Isso deve diminuir o diatamente repassados a impulso externo à econocada projeto aprovado, enmia brasileira. quanto os da renúncia fisO mesmo se deve especal continuarão a ser acesrar dos impulsos locais. Os síveis só quando forem cap- Pedro Simon, reserva moral da República estoques estão perto do detados de um patrocinador. sejado, logo, o crescimento
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES PizzariaSenado Vejam só quem defende Sarney: os “impolutos” Collor e Renan! Meus Deus, a que ponto chegamos! O País precisa urgentemente tomar uma posição contra esses senhores, que se autodenominam representantes do povo brasileiro. Nomeações de parentes, pseudoparentes, amigos, participantes de conchavos, assalto aos cofres públicos são as mais frequentes atividades da maioria dos parlamentares em todos os níveis e demais políticos, que se fartam das benesses por eles mesmos criadas, sem o menor pudor, pois se escondem atrás das cortinas da impunidade. Esse senhor que está presidente e seus asseclas se encaixam perfeitamente nessa classificação. Que país é este? Até o Judiciário está refém dessa
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
gente! Estão impedindo que nosso jornal denuncie as falcatruas. Falta-nos coragem? É ilusão pensar que trocando alguns deles nas próximas eleições a situação vai mudar. Precisamos passar este país a limpo. Reaja, Brasil! CLAUDIO DALCENO SPILLA Claudio.Spilla@Cspilla.org
São Caetano do Sul ● Gente do naipe de Renan e Collor não pode, definitivamente, ter o cargo que tem. São o símbolo da aberração política. Absurdo! JOSÉ PIACSEK NETO bubapiacsek@yahoo.com.br
Avanhandava
Partidodatropa dechoque É constrangedor e triste ver o PMDB, que já fez história no pas-
ENDEREÇO
ArenúnciadeSarney
Economia teve bom desempenho nos últimos meses, mas ritmo deve diminuir dor e amenizam os efeitos negativos da desaceleração da massa de rendimentos. Em particular, pode ocorrer uma mudança na composição do crescimento das vendas no comércio: aumento das vendas que dependam de crédito e diminuição das vendas associadas exclusivamente à renda. O investimento deve reagir à queda do juro real e à diminuição da incerteza, mas a elevada capacidade ociosa mundial em alguns setores evita uma retomada mais rápida desse componente da demanda. Em resumo, a economia brasileira teve um bom desempenho nos últimos meses, após passar satisfatoriamente pelo verdadeiro teste de estresse gerado pela crise financeira internacional. A economia brasileira deve ter um crescimento superior ao do resto do mundo, em função da renovada confiança dos investidores internacionais e do seu papel no mundo (um mercado consumidor disponível). Mas o ritmo de crescimento deve arrefecer nos próximos meses, consistente com fatores locais (esgotamento de IPI, massa salarial crescendo menos e estoques recuperados) e com uma economia global que sofreu uma crise secular, cujas consequências negativas ainda não são inteiramente claras. ● Ilan Goldfajn é economista-chefe do Itaú Unibanco
FAX:
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
sado, sob a égide do dr. Ulysses Guimarães, lutando pela volta da democracia e contra a ditadura militar, ser hoje um partido composto por uma tropa de choque, com políticos fisiológicos, sem compromisso com a democracia, interessados só em cargos oferecidos por este governo, com a marca da corrupção. Como ficam os seus eleitores, que nas próximas eleições deixarão de ser, presenciando essa resistência à renúncia do presidente do Senado, marca do que é mais retrógrado no cenário político brasileiro e dando apoio incondicional ao presidente da República, que nunca tem compromisso com a palavra dita? Creio que todos estão indignados.
da produção deverá evoluir de acordo com a demanda. E o efeito do IPI não deve mais gerar os estímulos anteriores. Na verdade, a antecipação de consumo por causa da redução temporária do imposto pode afetar negativamente tanto as vendas no varejo quanto a produção industrial. Em julho, o impacto desse efeito nas vendas no varejo já pode ser negativo e a sua contribuição para a produção industrial deve diminuir. O desempenho das vendas no segundo semestre não é claro. A expectativa é que o efeito líquido dos impactos seja um crescimento gradual do consumo. Por um lado, devemos observar um impacto negativo nas vendas devido à continuidade da desaceleração do crescimento da massa salarial (emprego e salário têm subido bem mais devagar), em função dos efeitos defasados da queda da atividade econômica sobre a renda. Por outro, os estímulos monetários, de crédito e de transferências fiscais favorecem as vendas no varejo, estimulam a confiança do consumi-
E-MAIL:
(11) 3856 2920
Nó empingos d’água
forum@grupoestado.com.br
● A defesa incondicional que Lula tem feito do futuro defenestrado senador Sarney nos faz crer que há mais coisas entre o presidente apedeuta e o presidente imortal do que sonha a nossa vã filosofia.
ADOLFO ZATZ
A tentativa de acabar com a liberdade de imprensa, e principalmente de silenciar o Estado, é, a meu ver, o princípio da catástrofe que está por vir caso a atual política continue. Não podemos deixar o monstro dobrar o seu tamanho, para não ficar indomável. Não se iludam quando o presidente vem a público dizer: “Não votei no Sarney para ser presidente do Senado...” Tudo isso é estratégia para sair da mira do povo, pois a sua cavalaria está alinhada, pronta para atacar, como está atacando, por intermédio desse desembargador que impôs a censura prévia ao Estadão. O povo precisa se organizar e gritar pela liberdade.
JOSÉ WILSON DE LIMA COSTA
dolfizatz@terra.com.br
VICENTE MUNIZ BARRETO
MOISÉS JOSÉ OLIVEIRA
jwlcosta@bol.com.br
São Paulo
dabmunizbarreto@hotmail.com
moisesjo@uol.com.br
Cruzeiro
Suzano
São Paulo
José Sarney deve renunciar não somente como presidente do Senado, mas também ao seu mandato de senador, que não soube honrar. O fato de alguns de seus pares, inclusive o presidente Lula, insistirem em lhe atribuir um passado glorioso não passa de balela. Sarney nunca fez nada pelo Brasil, sempre se preocupou apenas em beneficiar os seus familiares e amigos. Nós não precisamos de políticos dessa estirpe. Eles envergonham o nosso país.
VICTOR GERMANO PEREIRA victorgermano@uol.com.br
São Paulo
Delendacensura! Só espero que o presidente do Superior Tribunal de Justiça, a quem será dirigido o recurso do Estadão contra a barbaridade da censura, não tenha sido convidado para a ceia dos cardeais prodigalizada aos convivas do casamento da filha do Agaciel Maia.
TERÇA-FEIRA, 4 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
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NOTAS & INFORMAÇÕES
O ocaso do patriarca
O
senador José Sarney voltou do recesso parlamentar mais fraco do que nele entrou. Ao contrário do que desejava, as duas semanas de férias do Congresso, terminadas ontem, não arrefeceram as labaredas que incineram a sua pretensão de continuar na presidência da instituição a qualquer custo. Foi nesse período, aliás, que se abateu sobre ele a mais contundente da sequência de revelações que expuseram a contumácia com que o seu clã se entrega à alquimia de transformar bens públicos em patrimônio particular – as gravações transcritas neste jornal em que Sarney e o seu filho Fernando aparecem arranjando um emprego no Senado para o namorado da neta. A publicação das conversas colocou o Estado sob censura prévia por decisão, a rogo do filho, de um desembargador do Distrito Federal, Dácio Vieira, relacionado com o oligarca maranhense. Politicamente, a iniciativa apenas serviu para apressar o ocaso do patriarca, até mesmo na bancada senatorial do PMDB, na qual as manifestações de fidelidade a ele já coexistiam com cálculos de conveniência sobre a sua
sucessão no comando da Casa. Tanto que, na última quinta-feira, Sarney cobrou da direção do partido um ato formal em sua defesa. Disso resultou uma nota literalmente exemplar – exemplo de como se constrói a política nacional nestes tempos de vale-tudo da aliança lulista – assinada pelo presidente licenciado da legenda, Michel Temer (a quem Lula acenou com a chance de ser o candidato a vice na chapa da ministra Dilma Rousseff), e por sua substituta, a também deputada Íris de Araújo, que investe contra os senadores peemedebistas dissidentes Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon, embora sem citá-los pelo nome. Dá ainda uma explicação antológica para o notório apetite da sigla por cargos no Planalto. Pretendendo ser ferina, a manifestação consegue ser patética ao propor que deixem o partido, que ficaria mais “coeso e musculoso” sem eles. “O PMDB”, diz a nota, “acata com humildade o descontentamento de alguns poucos integrantes que perderam espaço político e apostaram na fama efêmera oriunda de acusações vazias.” De fato, espaço eles perderam,
O custo do socorro
C
om as medidas de socorro a instituições financeiras em dificuldades, de estímulo à atividade econômica e de proteção às camadas sociais mais vulneráveis que adotaram com presteza, os governos dos países industrializados e dos principais países em desenvolvimento evitaram que os efeitos da maior crise das últimas sete décadas fossem piores do que estão sendo. Tudo isso, porém, tem um custo fiscal que começa a ser calculado, mas cujas dimensões já parecem assustadoras. Isso exigirá medidas de correção que devem ser programadas desde já e colocadas em prática durante um longo período. Mas, até agora, muito poucos governos mostraram ter-se dado conta do problema. É grande, por isso, o risco de a crise acabar impondo uma conta muito alta às gerações futuras. Esse é o quadro que surge com muita clareza de um estudo recém-divulgado pelo FMI sobre o impacto das medidas de combate à crise nas finanças públicas de diferentes países. No grupo dos 20 países mais desenvolvidos do mundo, o G-20, que inclui os maiores países industrializados e vários países em desenvolvimento, como o Brasil, as medidas de enfrentamento da crise provocaram um aumento do déficit público equivalente a 5,5% do PIB de 2007 até agora. À medida que a crise arrefece, menores são as pressões por medidas de socorro, mas, observa o FMI, os déficits em que esses países já incorreram terão efeitos por muito tempo. Uma das conclusões mais im-
pressionantes do estudo do Fundo é a evolução, já constatada ou prevista para os próximos cinco anos, da dívida pública dos países industrializados que fazem parte do G-20. Nos países mais ricos do mundo, a dívida dos governos, que correspondia a 78,8% do PIB em 2007, isto é, antes da crise, deverá chegar a 119,7% em 2014. É um aumento de mais de 40 pontos porcentuais, num prazo de apenas sete anos. A dívida do governo dos Estados Unidos quase duplicará, devendo passar de 63,1% do PIB em 2007 para 112% em 2014. A do Reino Uni-
A crise pode estar passando, mas seus efeitos ainda pesarão no futuro do mais do que dobrará em sete anos, pois deverá passar de 44,1% para 99,7% em 2014. A dívida pública como proporção do PIB crescerá também nos países emergentes que integram o G-20, mas de maneira bem menos aguda. De acordo com o FMI, ela passará de 37,5% do PIB em 2007 para o máximo de 40,2% em 2010 e se reduzirá a 36,4% em 2014. A relação entre a dívida pública brasileira e o PIB, segundo o FMI, passará de 57,7% em 2007, para o máximo de 70,1% em 2009, declinando lentamente nos próximos anos e chegando a 62,2% em 2014. Observese, porém, que o nível de endividamento do Brasil é um dos mais altos entre os países emergentes. O ajuste mais profundo, por isso, deverá ser feito pelos paí-
na razão direta da densidade de suas acusações a uma agremiação que nada mais é do que um movimentado balcão de negócios – quaisquer negócios, naturalmente. Mas o descaramento mais refinado está na alegação de que a legenda não mercadeja espaços no governo, com tudo que se lhe segue. “Os cargos públicos são apenas consequência de ideais convergentes” (sic), explicam os signatários da patranha. Deve ser em nome desses altos objetivos que o partido, ao que se diz, pedirá mais convergência a Lula para compensar a provável perda da presidência do Senado. No grande grotão em que o dono dos cargos e os seus concupiscentes aliados transformaram a política brasileira – com a promessa de mais do mesmo se cerrarem fileiras em torno da candidatura Dilma –, as práticas da família que enfeudou o Maranhão estão inscritas na ordem natural das coisas. Quantos hão de ter ficado surpresos, por exemplo, com a decisão da Polícia Federal de indiciar o empresário Fernando Sarney por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e tráfico de influência?
Inflação à brasileira ses ricos. Com base no crescimento médio observado nesses países e também na inflação média dos últimos anos, o FMI projetou o esforço fiscal (isto é, o superávit primário das contas públicas) que os governos desses países precisarão fazer ao longo de duas décadas, contadas a partir de 2014, para fazer a dívida pública voltar ao nível de 2007 ou mantêla nesse nível. O governo americano, que tem gerado grandes déficits públicos até agora financiados sem preocupação por investidores internos e externos, terá de gerar um superávit primário equivalente a 4,2% do PIB durante 20 anos. Ao governo do Reino Unido caberá um esforço maior, de 4,5% do PIB. O Brasil, que alcançou resultados semelhantes a esses nos últimos anos, terá de esforçar-se menos, pois precisará gerar um superávit de 2% do PIB. Se isso não for feito, adverte o FMI, a dívida pública continuará a crescer nesses países, o que, em algum momento, gerará desconfianças entre os investidores. Para continuar obtendo financiamento para seus déficits, isto é, para continuar colocando os títulos de dívida pública no mercado no ritmo necessário para cobrir seus rombos, os governos terão de aumentar os juros. Isso pode resultar num espiral de dívida e juros, que acabará por afetar a atividade econômica. Assim, o custo do estímulo atual à economia poderá ser o desestímulo à atividade econômica no futuro.
A
deflação continua sendo um espetáculo distante para os brasileiros, como o Natal com neve e os fogos do ano-novo chinês. Na maior parte do mundo a recessão derrubou os preços no atacado e no varejo, mas o efeito da crise, no Brasil, é bem menor. Nos 12 meses terminados em julho, os preços por atacado encolheram 3,57%, refletindo a tendência global e, em parte, a depreciação do dólar. No varejo, no entanto, os bens e serviços ficaram 4,70% mais caros no mesmo período, segundo a pesquisa mensal do IGP-M, da Fundação Getúlio Vargas. Outros indicadores também mostram a resistência da inflação no varejo. O IPCA, referência da política oficial de juros, aumentou 4,80% nos 12 meses até junho. O INPC, 4,94%. Os preços ao consumidor continuam, portanto, razoavelmente contidos e devem convergir para o centro da meta oficial – 4,5% em 2009 –, mas ainda crescem muito mais que na maior parte do mundo. Na zona do euro, a deflação anual chegou a 0,6% em julho. O Banco Central Europeu havia estipulado uma inflação de 2% como objetivo de médio prazo, mas a economia ainda terá de se aquecer durante bom tempo antes de aparecer algum efeito inflacionário. Nos Estados Unidos, no mês passado, o índice de preços ao consumidor divulgado pelo Departamento do Trabalho era 1,4% inferior ao de um ano antes. Também nesse caso a redução do custo de vida refletiu a contração dos negócios, a redução do emprego e o com-
portamento muito mais cauteloso dos consumidores. No Brasil, o Índice de Preços por Atacado (IPA) mostra a diminuição tanto dos preços agropecuários (8,34% em 12 meses) quanto dos industriais (1,66%). Na ponta do consumo, no entanto, a alimentação encareceu 3,48% nesse período, enquanto as despesas de habitação cresceram 5,17%. Os custos da habitação incluem além de aluguel, imposto predial e manutenção do imóvel, os gastos com energia, água, saneamento e telecomunicação. Vários desses custos são indexados, isto é, corrigidos
Crise global pouco afetou no Brasil a alta de preços ao consumidor com base na inflação passada. As tarifas corrigidas neste mês podem até não subir, porque o IGP-M diminuiu 0,67% em 12 meses, por efeito dos preços por atacado, mas a deflação ocorre apenas ocasionalmente. Além disso, a correção de aluguéis e tarifas pelo IGP-M envolve uma distorção bem conhecida. O principal componente desse indicador é o IPA, com peso de 60% na sua formação. O aumento das cotações da soja e do trigo na Bolsa de Chicago e a elevação dos preços do petróleo em Nova York e Londres podem, portanto, refletir-se nos aluguéis e nas tarifas de serviços de utilidade pública. A desindexação de salários e de outros preços, trazida pelo Plano Real, quebrou a inércia inflacionária e tornou mais eficiente o
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Quem presta não vota em candidato de partido que abriga quem censura a imprensa.
lutaremos. Por essa razão, essa não é unicamente uma causa do Estadão. É de todos nós.
MOACYR CASTRO
ROMEU CHAP CHAP, presidente do Con-
jequitis@uol.com.br
selho Consultivo do Secovi-SP
Ribeirão Preto
São Paulo
Solidariedade Externo minha integral solidariedade ao Estado, absurdamente submetido a descabido ato de censura. É como se fantasmas do passado voltassem a assombrar todos os que sentiram o peso da ditadura. O bom senso indica que esse episódio será rapidamente superado e dele o jornal sairá ainda mais fortalecido. Creio que o que estará em jogo é muito mais que esta questão em si, mas a consistência de nossa democracia. E se por ela um dia lutamos, por ela sempre
● A Associação Paranaense de Imprensa (API), tendo em vista a ocorrência de censura prévia contra o Estado, manifesta a sua rejeição à decisão adotada monocraticamente por um magistrado do egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Com a sua tradição representativa de 75 anos, esta entidade considera que o procedimento liminar – sobre confrontar a Constituição brasileira, que em seu artigo 5.º veda expressamente qualquer cerceamento prévio à liberdade de expressão – seguramente não deve refletir o pensa-
“
Os cães ladram e a caravana passa. Sempre passa!”
MaraMontezumaAssaf montezuma.fassa@gmail.com SãoPaulo
mento majoritário daquele colegiado da magistratura regional brasiliense. Isso porque, no Brasil de hoje, pretender controlar a atividade da imprensa é ato contrário ao espírito dos tempos, de construção do desenvolvimento num ambiente de democracia, conforme definiram os legisladores constituintes de 1988 e referendou, recentemente, o Supremo Tribunal Federal, ao revogar a legislação de raiz autoritária que restringia a
sistema de preços. Mas a indexação foi mantida para contratos com duração igual ou superior a um ano e isso inclui as concessões de serviços de utilidade pública. Nada justifica a manutenção, por muito mais tempo, desse resquício da cultura inflacionária. Mas esse fator explica apenas em parte a inflação dos preços ao consumidor, bem superior à de outros países com economia razoavelmente ordenada. No Brasil, a demanda de consumo, apesar da crise, caiu bem menos que na maior parte dos países desenvolvidos e emergentes. Parte das famílias continuou recebendo transferências do governo por meio dos programas sociais. Esses consumidores foram pouco afetados pelo desemprego. Além disso, os salários foram afetados moderadamente pelas demissões, mas alguns segmentos da indústria e do comércio precisaram cortar preços. Na média, os bens de consumo encareceram muito menos que os serviços, menos sujeitos à concorrência. O governo poderia ter baixado a meta de inflação para 2011 e isso afetaria positivamente as expectativas do mercado. Perdeu uma boa oportunidade. Além disso, as expectativas são afetadas pelo constante aumento do custeio governamental, em especial daqueles itens permanentes, como a folha de salários. A piora das contas públicas poderá não afetar a inflação até o próximo ano, mas o risco é crescente. O mercado sabe disso e o Banco Central também. Também isso explica, certamente, a interrupção dos cortes da taxa básica de juros.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
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Com característica mentalidade, Sarney-pai imaginou que, ao ocupar a principal cadeira do Senado, protegeria o primogênito dos efeitos da investigação policial, a Operação Boi Barrica. E este, com característica truculência, já tentara fazer a sua parte. Documentos do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) revelam que no ano passado ele encaminhou três pedidos ao órgão. Primeiro, que convocasse um repórter deste jornal a identificar as fontes em que se baseou para informar que Fernando corria o risco de ser indiciado. Segundo, que bloqueasse o acesso do Estado às apurações em curso. Terceiro, que proibisse os procuradores federais de dar entrevistas. Foi o seu lance inicial na tentativa de amordaçar a imprensa. Mas o CNMP aprovou por unanimidade o parecer do relator, Diaulas Ribeiro, contrário aos pedidos. “Não se pode confundir observância do segredo de Justiça com censura prévia”, argumentou. “A censura prévia é proibida pela Constituição Federal.” Fernando voltaria à carga três vezes em diferentes instâncias do Judiciário. Na terceira tentativa, acertou – à maneira de um bumerangue, no entanto, para a situação política do pai.
atividade jornalística. Solidária ao corpo de profissionais e dirigentes desse tradicional jornal, a API reforça a sua expectativa de que os órgãos do Poder Judiciário, com serenidade e espírito de justiça, façam cessar o constrangimento imposto, por ilegal, inconstitucional e antidemocrático.
● Cada dia mais me convenço de que decisões judiciais devem ser da competência exclusiva de juízes de carreira. O quinto constitucional, ainda que com louváveis exceções, tem possibilitado a posse de lamentáveis figuras nos tribunais superiores. DÉCIO CELIDONIO
● Espero que Lula não tenha coragem de fazer no País o que Chávez está fazendo na Venezuela. Mas tenho certeza que gostaria.
RAFAEL DE LALA, presidente, pela diretoria
decioml@uol.com.br
MARCOS ANTONIO SCUCUGLIA
rdelala@pr.gov.br
Atibaia
sasocram@ig.com.br
Curitiba
Glóriaefêmera Há pessoas que, para gozar os seus três dias de (in)glória, vendem até a alma ao diabo. Alguém se lembrará do nome daquele desembargador algum dia? FLÁVIA DE CASTRO LIMA lgcastrolima@uol.com.br
São João da Boa Vista
ao Estadão é apenas o começo! ENRIQUE THIERS DE CARVALHO ALVITE franca.gerodetti@terra.com.br
Ubatuba
Santo André
‘Democraciatotalitária’ Percuciente o artigo do professor Denis Rosenfield, como sempre. Chávez, Correa, Morales, Ortega, Castro, Kadafi, etc., são os verdadeiros democratas, para este nosso infeliz governo. Penso ser urgentíssimo um forte movimento de repulsa aos desmandos dos nossos governantes. A mordaça
Sermão Diante a censura imposta ao Estado, seria muito bom o jornal publicar o Sermão do Bom Ladrão, do padre Antônio Vieira, que explica os diferentes modos de furtar. FÁBIO FRANÇA ffranca@uol.com.br
São Paulo
TERÇA-FEIRA, 4 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A7 A7
ESTADO SOB CENSURA
SIPprotestacontra
censura ao jornal Entidades internacionais de defesa da liberdade de expressão condenam proibição ao ‘Estado’ Roberto Almeida
Entidadesinternacionais dedefesa da liberdade de expressão, como Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), International Federation of Journalists (IFJ) e Artigo 19, classificaram como “inconstitucional” a decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, que determinou censura préviaao Estado. Todascondenaram a proibição de divulgar irregularidades referentes à família Sarney. ASIP, uma das principais entidades de defesa da liberdade de expressão do mundo, fundada em Washington, nos EUA, em 1926, congrega 1.400 publicações. Seu presidente, Enrique Calderón, editor do jornal ElTiempoemBogotá, naColômbia, protestou contra a censura ao Estado. Em nota, ele disse lamentar “que a Justiça brasileira se caracterize por proteger excessivamente os direitos das pessoas quando elas estão imiscuídasemtemasdeinteressepúblico, como nesse caso, e deixe em segundoplanoodireitodeliberdade de expressão, condenando assim os cidadãos ao ostracismo”. “É um caso utópico de censura prévia, não porque afeta os meios de comunicação ao restringir suas reportagens sobre
casos e pessoas públicas, mas porque quebra os princípios constitucionais ao negar ao público o seu direito de saber”, criticou o presidente da SIP. No mesmo tom, o presidente do comitê de Liberdade de Expressão da SIP, Robert Rivard, editor do San Antonio ExpressNews, nos Estados Unidos, frisou que a censura prévia “viola os padrões internacionais para a liberdade de imprensa, aos quaisoBrasiladeriu,eas garantias estabelecidas em sua Constituição”.
‘Viola os padrões internacionais para a liberdade de imprensa’ OcoordenadordaInternational Federation of Journalists (IFJ) para a América Latina, Gregorio Salazar, recebeu com indignação, em Caracas, na Venezuela, a notícia de censura ao Estado. “Mas isso é um absurdo”, afirmou. Salazar redigiu o comunicado oficial da IFJ, entidade fundada em 1952 que conta hoje com 600 mil membros em 100 países. O texto de Salazar expressa “espanto e preocupação” ante a decisão judicial que ocasionou a censura. “A IFJ exige pronta retifica-
ção desta medida, que pretende impedir a imprensa brasileira de informar sobre as irregularidades detectadas pela Justiça Federal, e manifesta sua preocupação porque a decisão obedeceu a conhecidos laços de amizade entre o juiz Vieira e a família Sarney”, atacou a entidade. Para a IFJ, a medida apresenta uma “clara imposição de censura prévia, e viola expressamente a Constituição brasileira e o artigo 13 sobre Liberdade de Pensamento e Expressão da Convenção Americana sobre Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).” O artigo 13, redigido em cinco parágrafos, destaca em sua essência que “não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares”. Expressoutambém“preocupação” a ONG Artigo 19, entidade de defesa de direitos humanos e liberdade de expressão, representada em 80 países. “Quando é de interesse público que uma informação seja divulgada, mais do que de interesse privado, ela deve ser divulgada”, anotou a entidade, lembrando quefoi “desrespeitadoumdireito fundamental garantido na Constituição.” ●
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TERÇA-FEIRA, 4 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
ESTADO SOB CENSURA
Para ministros do STF, liminar do juiz contraria a Constituição Conteúdo da decisão foi considerado ‘estranho’, já que tribunal não admite restrições à liberdade de imprensa REPRODUCAO JORNAL DE BRASILIA–10/6/2009
Mariângela Gallucci Fausto Macedo
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), juristas, advogados e promotores do Ministério Público afirmaram ontemque a decisãodo desembargador Dácio Vieira, que proibiu o Estado de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, contraria a Constituição e recentes manifestações da corte que garantem a liberdade de imprensa e de expressão. Os ministros avaliam que a ordem de Vieira será derrubadapelopróprio TribunaldeJustiça (TJ) do Distrito Federal ou pelas instâncias superiores do Judiciário – o Superior Tribunalde Justiça (STJ) ou o Supremo Tribunal Federal. Eles consideraram “estranho” o conteúdo da decisão, já que neste ano o STF deu decisões claras no sentido de que nãopodemseradmitidasrestrições à liberdade de imprensa. Os ministros afirmaram que o desembargador deveria ter se negado a analisar o pedido de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Vieira fez carreira no Senado. Foto publicada pelo Estado no sábado mostra o desembargador com Sarney na festa de casamento da filha do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia. ATENTADO
“Numa democracia consolidada não podemos admitir censura ou limitação à liberdade de expressão”, alertou Mozart Valadares, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). “Não se pode admitir no Estado Democrático de Direito decisões que censurem ou limitem a liberdade de expressão. É um atentado contra a democracia.” O promotor de Justiça José Carlos Cosenzo, presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público, disse que pelo “princípio da tutela jurisdicional” todos podem bater às portas da Justiça. “Este casoé absurdo.Em plena vigên-
Ele deveria se dar por suspeito, avalia jurista “É um caso típico de responsabilidade do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o desembargador deveria ter se dado por suspeito porque jamais poderia ter decidido em causa de interesse de pessoa próxima dele”, declarou o jurista Luiz Flávio Gomes. “O caso ultrapassa o âmbito puramente jurisdicional, não é só questão de convicção do juiz. A questão aí é o vínculo de compadrio, ele (Vieira) é amigo, é íntimo. Não pode ser juiz da causa, não tem a imparcialidade exigida da Justiça. É parcial por ser amigo.” Gomes anota que no CNJ as providências têm caráter administrativo: censura, advertência ou até afastamento. Ele considera que o Superior Tribunal de Justiça deve analisar o caso sob o aspecto criminal. “Pode-se cogitar crime de advocacia administrativa ou favorecimento.” F.M.
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cia do Estado democrático, vetar o direito da sociedade de saber o que está acontecendo é inadmissível.” Para o promotor não se trata de uma questão de ordem privada, mas de ordem pública. “O Estadão presta um serviço ao País. O objetivo do jornal é informar e a Constituição assegura a todos o direito à informação. A censura é desserviço. A suspeição (do desembargador) é claríssima. Não se pode impedir que a sociedade saiba dos fatos que são de interesse público. A sociedade tem sim o direito de saber o que está por trás dessa crisepolítica do Senado.” A assessoria do TJ do Distrito Federal informou que o desembargador, procurado pelo Estado desde sexta-feira, não vai se manifestar sobre o caso. ●
PROXIMIDADE – Vieira, com Sarney e Agaciel, acompanhados das mulheres do juiz e do ex-diretor do Senado: magistrado fez carreira no Senado
Filho de Sarney teve duas ações rechaçadas Fernando teve negadas pela Justiça duas iniciativas anteriores contra jornal Felipe Recondo BRASÍLIA
As duas primeiras tentativas de Fernando Sarney de impedir que o Estado divulgasse informações sobre a investigação da Polícia Federal na qual ele está envolvido foram frustradas por decisões judiciais. Na primeira, um erro formal dos advogadoslevouaJustiçaFederal do Maranhão a negar a liminar para a censura ao jornal. Na segunda negativa contrária aos interesses de Fernando Sarney, o juiz da 12ª Vara Cível de Brasília, Daniel Felipe Machado, afirmou que a Constitui-
ção assegura que “a liberdade de expressão não sofrerá qualquer forma de restrição, sendo vedado qualquer embaraço à plena liberdade de informação jornalística”. AindasegundoojuizdeBrasília,asalegaçõesdequeaprivacidade do filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), teria sido invadida com a divulgação de conversas telefônicasgravadas pelaPF, comautorização judicial, são menores do que o direito à liberdade de expressão. “Não há proporcionalidade razoável entre o sacrifício do direito constitucional de informação e liberdade de
imprensa e o direito individual que o requerente quer assegurar com a obrigação de não publicar ou não informar”, escreveu o juiz. Foi essa segunda decisão que levou os advogados de Fernando Sarney a recorrerem ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Eles argumentaram que desconhecer limitações ao jornal neste caso seria equivalente a “supor que a imprensa é absolutamentelivreparaofenderoordenamento (Constituição)”. O recurso caiu nas mãos do desembargador Dácio Vieira, queéligadoaopresidentedoSe-
nado, onde trabalhou. De acordo com o Tribunal de Justiça, porém, a escolha de Vieira foi aleatória. Ele recebeu o recurso no início da noite quinta e concedeu a liminar no mesmo dia. Na decisão, justificou que divulgação de matérias sobre as investigações poderiam provocar “lesão grave e de difícil reparação” para Fernando Sarney. Para embasar sua decisão, ele citou dois casos julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que, na verdade, não tratam da divulgação de conversas telefônicas gravadas com autorização judicial. ●
MEMÓRIA
Nos anos 70, Camões contra a censura Segundo pesquisadora, tesoura atingiu 1.136 textos do ‘Estado’ “As armas e os barões assinalados.” Camões e seu famoso cântico, Os Lusíadas, que exalta a coragem dos navegadores lusos talvez nunca tenham sido tão populares no Brasil quanto entre março de 1973 e janeiro de 1975, em pleno regime militar. Naquele período o Estado era submetido diariamente à censura prévia e, para denunciar aos leitores e à sociedade a presença de censores em suas oficinas, publicava versos do poeta português no lugar de matérias cortadas. No total, segundo a pesquisadora Maria Aparecida de Aquino, que tratou do assunto em sua tese de mestrado na USP, a tesoura dos censores atingiu 1.136 textos do Estado – 655 substituídos por versos de Camões – entre março de 1973 e janeiro de 1975. Antes de recorrer aos versos do escritor português, os editores do Estado publicavam cartas sobre rosas. Nas reproduções ao lado, é possível observar como isso ocorria. Era uma notícia sobre o diretor do jornal, Julio de ●●●
Mesquita Neto, que, em 1974, ao receber o prêmio Pena de Ouro, da Federação Internacional dos Editores de Jornais em Copenhague, aproveitou para denunciar as arbitrariedades do governo brasileiro. Na primeira versão, à esquerda, aparece o pronunciamento do diretor no qual afirmava que, “para um jornalista, agradecer um prêmio concedido por jornalistas é sempre uma tarefa embaraçosa. Ela se torna mais difícil ainda quando esse prêmio tem como justificativa a atividade desenvolvida numa luta que para todo jornalista independente é inseparável do exercício digno da profissão: a defesa da liberdade de imprensa”. A reportagem foi vetada, restando apenas a manchete. Ao lado, os versos do Canto Primeiro, que a substituíram, denunciando a censura.●
Confira especial sobre as páginas do ‘Estado’ censuradas no regime militar
www.estadao.com.br/e/a8
As páginas que revelam a censura Reproduções de páginas do ‘Estado’ mostram a versão original de Julio de Mesquita Neto e a cortada pelos censores do jornal
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A10 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 4 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
ESTADO SOB CENSURA
Sarney vê ‘campanha’ contra filho Em nota, presidente do Senado defende iniciativa de Fernando Sarney e diz que ele é vítima do ‘Estado’ João Domingos BRASÍLIA
Ao divulgar nota para defender a iniciativa de Fernando
Sarney de entrar na Justiça e censurar previamente o Estado, o portal estadao.com.br e todasasempresas do Grupo Estado, proibindo-os de divulgar fa-
tos referentes à Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que o filho “tem sido vítima de cruel
DIDA SAMPAIO/AE–3/7/2009
e violenta campanha infamante por parte de O Estado de S. Paulo”. Já Fernando Sarney, também por nota, afirmou que, como empresário do ramo de comunicação há 30 anos – ele é presidente do Sistema Mirante de Comunicação, que tem a retransmissora da TV Globo em São Luís e cidades vizinhas, rádio e jornal –, “sempre defendeu a liberdade de imprensa, a livre manifestação de opinião, e jamais promoveria ou apoiaria qualquer iniciativa que pudesse ser interpretada como censura”. No mesmo tom do pai, Fernando Sarney justificou que a decisão judicial que censurou previamente o Estado “simplesmente exige o respeito a garantias constitucionais inerentes a todo cidadão – intimidade, privacidade, honra e imagem”. Fernando disse ser “lamentável” que a decisão “esteja sendo apresentada como forma de censuraàimprensa,que vemdivulgando,ilicitamente,informações sob sigilo expressamente imposto pelo Judiciário”. PROCESSO
Em sua nota, José Sarney afirmou que não foi consultado sobre a iniciativa do filho. Atribuiu-a à exclusiva responsabilidade de Fernando e seus advogados. Sarney disse que não pode ser responsabilizado pela ação. “Por isso é uma distorção demá-fé querermeresponsabilizar pelo fato”, afirmou. “Todo o Brasil é testemunha de minha tolerância e minha posição a respeito à liberdade de imprensa, nunca tendo processado jornalista algum.” Sarney processou o jornalista João Mellão Neto, conforme atesta o Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Ele alegou injúria por parte de Mellão e pretende reparação. Tentou primeiro na 19ª Vara de Repara-
NOTA – Fernando diz que sempre defendeu liberdade de imprensa
ção de Danos. Perdeu. Não desistiu.RecorreuagoraaoTribunal de Justiça, mesmo órgão no qual seu filho Fernando Sarney conseguiu a decisão liminar que censurou o Estado. Fernando tenta censurar o Estado desde 2008, quando entrou com ação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)comtrêspedidos:mordaça nos promotores, para que não dessem entrevista sobre a Operação Boi Barrica, pela qual foi investigado e indiciado, censura ao Estado e intimação do repórter Ricardo Brandt para que ele contasse quem tinha sido a fonte que lhe informara a respeito da ação da PF. O CNMP não só negou o pedi-
do de Fernando Sarney, como o considerou inconstitucional. “Não se pode confundir observância do segredo de Justiça com censura prévia. A censura préviaéproibidapelaConstituição Federal”, argumentou o relatorda ação,procuradordaRepública Diaulas Ribeiro. Na Operação Boi Barrica o empresário Fernando Sarney foi indiciado por lavagem de dinheiro, tráfico de influência e formação de quadrilha. ●
Leia a íntegra das notas de José Sarney e de Fernando Sarney
www.estadao.com.br/e/a10
TERÇA-FEIRA, 4 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Virgílio aciona CNJ contra desembargador Para tucano, decisão de Vieira ao censurar ‘Estado’ foi ‘flagrantemente inconstitucional’ BRASÍLIA
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), pediu ontem ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que abra sindicância para investigar a decisão do desembargador Dácio
Vieira, do Tribunal de Justiça doDistrito Federal,contraoEstado. Em liminar concedida na quinta-feiraao empresárioFernando Sarney, filho do senador José Sarney (PMDB-AP), o desembargador proibiu o jornal depublicarreportagenscomin-
formações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. Para Virgílio, “a decisão do desembargador é flagrantemente inconstitucional, afrontando um dos princípios do Estado Democrático de Direito, que é a liberdade de imprensa”.
Diretor adia demissões na Casa Decisão contraria comissão que analisou atos secretos CELSO JUNIOR/AE–25/6/2009
Leandro Colon Carol Pires BRASÍLIA
Adiretoria-geraldoSenadoencontrou uma forma de tentar salvar os funcionários nomeados por ato secreto, entre eles o namorado de uma neta do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). O diretor-geral Haroldo Tajra contrariou recomendaçãodecomissãoespecial – que é também uma posiçãodaadvocacia-geral–edecidiu não demitir imediatamente quem foi nomeado ilegalmente. Pelo menos 80 funcionários foram beneficiados. Tajradevepedirnestasemana a abertura de processos administrativos individuais para analisar cada nomeação por ato secreto, cuja existência foi revelada pelo Estado no dia 10 de junho. Comissão criada por Sarney recomendou a exoneração imediata com base em um ato delepróprioque declaroua nulidade desses boletins. O diretor-geral, porém, preferiu seguir outro caminho. Ao todo, 511 atos secretos forameditadosno Senadonosúltimos 14 anos – período em que Agaciel Maia foi diretor-geral da Casa. “Vai ser aberto um processo em relação à situação de Henrique (Dias Bernardes), ex-namorado da neta do presidente do Senado e de ou-
PROVIDÊNCIAS – ‘Vamos abrir um processo individual’, diz Tajra
traspessoasemsituaçãosemelhante. Com a conclusão desses processos é que vamos decidir o que fazer”, explicou Tajra. Quando foi nomeado, em março do ano passado, Henrique era namorado de Maria Beatriz, neta de Sarney e filha do empresário Fernando Sarney. Ele está entre os 218 servidores que foram contratados por ato secreto, segundo apuração preliminar da comissão
responsável. Destes, 80 continuam no quadro de funcionários do Senado. Tajra explicou que, com a conclusãodosprocessosrelativosaHenriqueBernardeseoutros semelhantes, decidirá o que será feito em relação aos demais casos. “Vamos abrir um processo individual para pessoas que foram nomeadas por atos secretos, averiguar os fatose chegara umaconclusão do que vai ser feito.” ●
O senador lembrou que Vieira impôs censura prévia a um veículo de comunicação e revelou parcialidade ao não se considerar impedido para julgar uma ação impetrada pela família de Sarney, de quem ele é amigo íntimo. Virgílio destacou tam-
bém a ligação pessoal de Vieira com o ex-diretor-geral do SenadoAgacielMaia–eleestevepresente, em junho passado, no casamento da filha do ex-diretor. “Fica claramente evidenciado que o ato praticado pelo desembargador é incompatível
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comasuacondutafuncional,colocando em suspeição a imparcialidade de suas decisões”, disse o tucano. O pedido de sindicância será analisado pelo corregedor do CNJ, Gilson Dipp. “O Supremo Tribunal Federal temo entendimento de quea liberdade de expressão, nos casos em que denuncia a prática de ilegalidades, deve ser resguardada de todas as prerrogativas possíveis, o que exclui até mesmo dano moral em função da divulgação dessas notícias”, acrescentou Virgílio. ●
D2 CADERNO 2
TERÇA-FEIRA, 4 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Direto Da Fonte
Colaboração
Doris Bicudo doris.bicudo@grupoestado.com.br Gabriel Manzano Filho gabriel.manzanofilho@grupoestado.com.br Pedro Venceslau pedro.venceslau@grupoestado.com.br Marilia Neustein marilia.neustein@grupoestado.com.br
Sonia Racy
Produção
Elaine Friedenreich
/diretodafonte
Antes que a lei atrapalhe Não é difícil explicar por que Lula aumentou em quase 10% o valor do Bolsa Família, quando a ideia da área técnica era a de corrigir o benefício pela inflação do período. É que a AGU lembrou aos navegantes as críticas que o governo sofreu do Tribunal Superior Eleitoral em dezembro de 2007, véspera do ano eleitoral de 2008. Naquela ocasião, uma MP ampliou o benefício do Bolsa-Família da idade limite de 15 anos para jovens de até 17 anos. Agora, anunciam o aumento seis meses antes, para não precisar mexer nos valores durante 2010.
Palanqueira Silvia Machete terminou sua apresentação no Cine Fest Petrobrás, domingo, no Central Park de Nova York, anunciando que daria um CD seu a quem subisse ao palco e chupasse seu... dedão do pé. Constrangida, a plateia vip assistiu à performance de um voluntário “bocudo”.
Sai-não-sai Pesquisa do Instituto GPP deixou animado o candidato à presidência da OAB paulista, Rui Fragoso. Ela revela que 75% dos advogados paulistas rejeitam a tese de terceiro mandato para Luiz Flávio D’Urso.
Humanos, os direitos Jair Bolsonaro voltou a estrilar. O deputado pendurou na porta de seu gabinete camiseta com a mensagem “Direitos Humanos: esterco da vagabundagem”. E explicou: “Adoro essa camiseta. Ando sempre com ela em Copacabana...”
Bola dentro Depois de as editoras quase saírem no tapa, quem levou foi a Ediouro. Comprou os direitos de Cautiva – livro no qual Clara Rojas descreve o período em que foi refém das FARC, ao lado de Ingrid Betancourt.
ANGELO PASTORELLO
Mais que merecido
Adivinhe quem é? É assim, irreconhecível, que Cesar Cielo – o novo recordista mundial dos 50 metros – vai aparecer no livro que comemora os 20 anos de estrada do fotógrafo Angelo Pastorello.
Roger Wright – exímio velejador, com vários títulos nacionais e mundiais – será o homenageado da Match Race Brasil 2009, regata que reunirá no Rio, de 18 a 20 de setembro, os maiores velejadores do País. Como Torben e Lars Grael, além de Alan Adlers. O troféu da prova levará o nome do banqueiro morto.
E a guerra segue Roberto Cabrini recebeu proposta irrecusável do SBT: R$ 350 mil de salário, três vezes maior que o atual, e R$ 3 milhões de luvas. A TV Record não fez nenhuma contraproposta.
FOTOS: PAULO GIANDALIA/AE
Tá-daná-de-bom! Durante a visita a Exu, no fim desemana, felicidademesmo Serrasentiuaoencontrargaroto palmeirense e uma senhora que viveu na Moóca. Foi depois de comer bode assado, macaxeira, baião-dedois, farofa de queijo, farofa com farinha de mandioca e carne,docedeleite–erepetir! Para quem tem problema de estômago, nada mau.
Avesso do avesso Frase certeira de Manuel Affonso Ferreira sobre a censura ao Estadão: “Com tanta vergonha no Senado, é lamentável que o único punido seja o jornal...”
●● Em cerimônia que reuniu apenas convidados dos noivos, Pedro Mercadante e Juliana Elia se casaram sexta, na Igreja Nossa Senhora do Brasil. Sob o olhar emocionado do pai do noivo, Aloizio Mercadante. Único político presente, Eduardo Suplicy atendeu ao convite especial de Pedro.
Direto do lixo Deve estar sobrando dinheiro no governo argentino. A Inprotur – instituto argentino dedicado ao turismo – prepara road shows pelo Brasil inteiro para tentar explicar que a gripe A não representa... perigo. JANETE LONGO/AE
JANETE LONGO/AE
●● Imagem e
JANETE LONGO/AE
semelhança da mãe Marília Pêra, Esperança Motta esteve no jantar em torno da atriz, que encerrou a apresentação da peça Gloriosa em São Paulo. Na sexta.
● Ana Luiza Lara Campos inova. Abre hoje, na Galeria 8Rosas, a exposição de seu marido Fernando Feierabend. Mas o vernissage, mesmo, será somente no dia... 11. ● O guru empresarial Steve Zaffron lança hoje seu livro na Cultura do Conjunto Nacional. Pela editora Primavera. ● Monica Filgueiras leva hoje, para a Galeria Daslu, a mostra coletiva Acontecimentos da Natureza. Entre os artistas, Paulo von Poser e Raquel Kogan. ● O enólogo Jorge Lucki faz hoje degustação no restaurante Baby Beef Rubaiyat. ● Inspirado nos estudos da cabala, o editor e chef de cozinha André Boccato estreia nas artes plásticas. Abre mostra hoje, na galeria Jo Slaviero/Guedes.
A ser lançado na Bienal do Livro carioca, em setembro.
Gângsters anos 80 Heitor Dhalia está em Los Angeles fechando acordo para produzir seu próximo longa, Serra Pelada. O parceiro de Patrick Siarrita começa a filmar em 2010.
Na FRente
●● Ocimar Versolato circulou na concorrida festa para Marília.
●● Cesare Rivetti na noite teatral, que também homenageou Bruno Faria, marido da atriz.
● Karim Rashid cancelou sua vinda ao Brasil, onde daria palestra na Escola São Paulo, por motivos de saúde. Gripe suína? ● O Brasil brilhou, sexta, na premiação da... Bundesliga. Que não vem a ser um concurso de atributos femininos, mas o nome do campeonato alemão de futebol.
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QUARTA-FEIRA, 5 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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EscarasdeSarneynos escândalosdoSenado
Gáscaroé oquenãoexiste
JoséNêumanne
Adriano Pires
Na abertura de O 18 Brumário de Luís Bonaparte, o velho Karl Marx apropriou-se de uma máxima do mestre Georg Friedrich Hegel, de que a História sempre termina por se repetir, acrescentando que normalmente ocorre como tragédia, mas se repete como comédia. No Brasil, drama e farsa parecem andar sempre de mãos dadas, mesmo quando um prevalece sobre a outra e vice-versa. Não restam dúvidas, por exemplo, de que os escândalos sucessivos que desgastam a já combalida imagem do Senado da República, das cotas de passagens aos atos secretos, terminando com os negócios suspeitos das empresas dirigidas pelo filho do presidente da Casa, resultam da já notória tragédia institucional brasileira. Mas ela também pode provocar momentos capazes de superar a comicidade dos grandes humoristas nacionais, de Martins Pena do teatro imperial a Chico Anysio na televisão desta República atual. Difícil é resistir ao riso, por exemplo, quando se toma co-
Ação do filho deixa claro que o pai só vê na imprensa arma na luta pelo poder nhecimento de que o presidente do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), deputado Michel Temer (SP), abandonou o conforto de uma licença para assinar, em cumplicidade com sua substituta no cargo e colega de Câmara, Íris de Araújo, uma nota oficial em que o partido recomenda aos críticos de sua postura que vão embora. E que não demorem, mas o façam “o quanto antes”. O ridículo da proposta mora em todas as evidências elementares de que o PMDB, por mais cínico, venal e submisso que seja ao poder que emprega e às prerrogativas dos cargos federais, se reconhece sem autoridade para expulsar os senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS). Por isso, pede que se imolem no altar do oportunismo por terem cometido o único crime sem perdão no jogo sórdido da política nacional contemporânea: o da coerência com princípios. Se não os expulsou, mas pede que eles saiam, e logo, a cúpula dirigente do partido certamente passou o recibo de que as exceções à regra do fisiologismo mancham a agremiação com a alvura dos compromissos deles com a história dela. Um partido indigno de suas antigas tradições precisa ocultar a própria indignidade poupando os dignos do convívio com ela. A cúpula dirigente não pode, contudo, ser acusada de in-
coerência em relação a seu mili- bém serviu - a censura à imtante mais controverso. A nota prensa -, ele permitiu à opioficial emanada das mãos sua- nião pública uma dúvida a ves de literato do presidente seu respeito: será o jornalisdo Senado a respeito da viola- mo, para ele, um ofício ou só ção da liberdade de informa- uma oportunidade de exerção pedida pelo filho Fernando cer o mando político? Mais que os escândalos do e concedida por um protégé, o desembargador Dácio Vieira, é Senado, as escaras que prejuum primor de desprezo à ver- dicam Sarney e seus pares fodade dos fatos e à inteligência ram abertas por seus herdeidas pessoas. Vamos aos fatos: ros e serviçais. Se Fernando Fernando Sarney é o encarre- Sarney não tivesse conseguigado dos negócios do clã chefia- do de Dácio Vieira permissão do pelo pai, que se orgulha de para proibir o noticiário a resum feito em sua biografia - o de peito das dúvidas que a PF nunca haver processado um tem sobre sua honradez cojornalista no exercício da Presi- mo empresário, o País não todência da República -, embora maria conhecimento de que tenha mentido na nota ao omi- no Poder Judiciário brasileitir que, após ter saído do gover- ro a gratidão ao empregador no, processou João Mellão Ne- pode substituir a garantia da to, articulista desta página, pe- imparcialidade do julgador. dindo reparação por injúria. In- Feito desembargador, o exdiciado pela Polícia Federal funcionário de confiança na (PF) na Operação Boi Barrica, gráfica e ex-consultor jurídio filho empresário foi à Justiça co do Senado não se considereivindicar que o cidadão brasi- rou impedido por suspeição e leiro não tome conhecimento cometeu a “afronta à liberdadas acusações que pesam so- de de imprensa” que dois oubre sua cabeça e, por conse- tros juízes já haviam negado quência, mancham a reputa- anteriormente. Nada do que ção da insigne figura paterna. puder vir a beneficiar José Com a ilusão de que, ao não Sarney em sua permanência abençoar o impulso censório na presidência do Senado pedo filho, conseguirá salvar do lo tempo que conseguir ficar incêndio dos escândalos atuais (seja breve ou seja longo) nobres posturas do passado, o compensará o tiro que o filho presidente do Senado não lhe deu no pé, ao deixar claro apoiou publicamente o gesto que do jaquetão presidencial do censor que gerou, mas tam- ele tirou a naftalina, mas lhe bém não o desautorizou. O ho- restou o ranço do patrimoniamem que dava valor aos símbo- lismo coronelista malsão que los a ponto de tirar a naftalina continua fazendo da política dos jaquetões para fazer con- brasileira uma atividade imtraste com os moletons do an- própria para gente de bem.● tecessor, o último general do regime militar, João Figueire- José Nêumanne, jornalista do, não prestou a mínima aten- e escritor, é editorialista ção ao tiro que o filho lhe deu do Jornal da Tarde no pé, ao impedir com uma ordem judicial que a sociedade tome conhecimento das denúncias de gestão temerária. O risível nessa nota escrita e assinada por um varão que faz praça do próprio estilo na escrita é que ele passa por cima de algo muito mais relevante que o decoro no traje de um chefe político no Estado Democrático de Direito: o pundonor no comportamento. O vice-presidente da Associação Nacional de Jornais e responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão, Júlio César Mesquita, lembrou, ao condenar a decisão infeliz do desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que o presidente do Senado é jornalista e proprietário de jornais. Por isso, ao permitir que o filho ressuscite um dos monstros mais abjetos da violação da liberdade do tempo da ditadura mili- Renan Calheiros tar, à qual Sarney tam-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Baixariano Senado Realmente, a baixaria na sessão de segunda-feira no Senado Federal foi demais. Espero que os que dela não participaram e discordaram do que se viu façam algo para punir os principais partícipes: Collor de Mello, Renan Calheiros, Wellington Salgado e Mão Santa – este presidia a Mesa e não teve capacidade para acabar com o que estava acontecendo. Foi uma grande decepção para os brasileiros o que ocorreu. Que façam algo para sanear a Casa, começando por substituir o presidente Sarney, indigno de lá permanecer. CARLOS ED. BARROS RODRIGUES carlosedleiloes@terra.com.br
São Paulo
Estarrecedor o nível a que chegaram nossos dignos representan●
tes. O pior é que alguns senadores presentes nem deviam mais estar lá, deveriam ter sido banidos para sempre dessa Casa, que até algum tempo atrás ainda merecia certo respeito. Dizem que cada povo tem o governo que merece. Será que nós somos tão ruins e desqualificados assim? KÁROLY J. GOMBERT gombert@terra.com.br
Vinhedo
Notadefalecimento O dia 3 de agosto de 2009 entrará para a História como aquele em que os senadores mataram o mínimo de dignidade que restava ao Senado da República. LUIZ NUSBAUM lnusbaum@uol.com.br
São Paulo
parte dos custos, por outro lado, deixa os concessionários vulneráveis à mudança ex post da conduta regulatória. Ou seja, discrepâncias entre o acordado ex ante e o realizado ex post afetam significativamente as decisões de investimentos. O compromisso e a segurança jurídica, emanados dos dispositivos legais e das instituições, representam, desta maneira, a garantia contra o oportunismo e a inconsistência temporal. No recente processo de revisão tarifária da Comgás, em São Paulo, alguns setores da indústria paulista contestaram os resultados, parecendo não entender que qualquer quebra das regras estabelecidas entre a agência reguladora e a concessionária compromete o plano de investimentos, a qualidade do serviço prestado e, em última instância, o consumidor final. A atual posição desses setores de questionar o resultado da última revisão tarifária da Comgás é legitima desde que feita de forma técnica, aceitando as regras do jogo. A revisão da Comgás transcorreu em absoluta transparência, com a realização de duas audiências públicas e com todos os documentos disponíveis no site da agência. Qualquer tentativa de politizar o processo da revisão tarifária pode conduzir a um ambiente de maior instabilidade e deterioração das condições para o investimento, com implicações negativas para o crescimento da economia paulista. Durante todo o processo da revisão tarifária, todos tiveram oportunidade de se manifestar, criticando e sugerindo mudanças na documentação apresentada pela agência. O que não pode é agora, depois do jogo encerrado, acusar o juiz de não o ter conduzido dentro das regras preestabelecidas e com total transparência. LOREDANO Ou pior, depois do jogo encerrado, querer reiniciálo com novas regras, que levem ao resultado desejado por uma das partes. Não há dúvida que a revisão tarifária ocorreu num contexto de crise econômica mundial, com os preços do barril do petróleo desabando e com a necessidade de a indústria brasileira manter a sua competitividade. Entretanto, setores ligados à infraestrutura não podem ter sua remuneração determinada por conjunturas de curto prazo. É bom lembrar que no caso do gás natural, enquanto a distribuidora só tem suas margens revistas pela agência reguladora a cada cinco anos, a Petrobrás tem total liberdade para fixar tanto o preço do transporte quanto o da commodity. Ou seja,
Na década de 1990, a necessidade crucial do ajuste fiscal, a menor polarização do debate político no País e a conjuntura internacional favorável impulsionaram um processo de privatizações e de desregulamentação de grandes dimensões na economia brasileira. Mudanças profundas no ambiente institucional foram necessárias para viabilizar um novo modelo de intervenção do Estado. Na realidade, a ideia era que o Estado perdesse gordura e ganhasse musculatura. Para que isso ocorresse se criaram agências reguladoras tanto no âmbito federal como dos Estados. Tais instituições foram montadas com relativa independência decisória e financeira, visando a contrapor a fragilidade das entidades de governos anteriores, marcadas por forte interferência do Executivo e dos próprios segmentos regulados e carência de recursos. As agências reguladoras contemplam, na maioria dos casos, setores marcados por forte economia de escala, alta intensidade de capital, longo prazo de maturação e ativos específicos, com custos irrecuperáveis. Essas características determinam contextos em que a existência de um único concessionário minimiza os custos da prestação dos serviços. Exemplos: redes de distribuição de gás natural e transmissão de eletricidade. Tendo em vista o poder de mercado dos provedores, a regulação é necessária para evitar preços e lucros de monopólio. O caráter irrecuperável de
ENDEREÇO
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Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Acessoderaiva Perguntar não ofende: qual a marca do café que é servido no gabinete do senador Collor? Viram a cara delle no plenário?! ALBERT HENRY HORNETT hornettalbert@hotmail.com
São Paulo ● Ao ouvir o discurso de Collor, em aparte ao senador Pedro Simon, cheguei à conclusão de que S. Exa., se é que ainda não a contraiu, precisa urgentemente ser vacinado contra a raiva. ROBERTO TWIASCHOR rtwiaschor@uol.com.br
São Paulo
É que agora o tal Collor é o pit bull do tal Sarney! ●
(11) 3856 2920
no curto prazo o que faz sentido questionar é o preço do transporte e da commodity, que tem um enorme peso na tarifa final e é determinado por um monopólio desregulado. Esperamos que o governo de São Paulo, que sempre mostrou – por meio da Comissão de Serviços Públicos de Energia (CSPE), sua antiga agência reguladora – que só a estabilidade das regras e o correto entendimento do papel da agência são capazes de incentivar o investimento em infraestrutura e, com isso, promover ganhos para o consumidor, não mude de atitude e jogue fora todo esse ativo ao deixar prevalecer o aspecto político sobre o técnico. A adoção de tarifas com critério político, entre outros malefícios, levou a Argentina a perder a condição de país exportador para se transformar em importador de gás natural. Os diversos matizes que a questão da abertura das indústrias de rede à concorrência comporta demonstram grande complexidade ao longo do tempo, pois, além de envolver claros compromissos ideológicos, co-
Não pode o critério político prevalecer sobre o técnico na revisão das tarifas mo o papel do Estado como regulador e/ou planejador, impacta decisivamente o status quo dos negócios já estabelecidos – e também determina a direção e o perfil dos novos projetos. Caso o objetivo seja termos no Brasil setores de infraestrutura maduros e desenvolvidos, é fundamental a inexistência de qualquer tipo de obstáculos à instauração de mercados concorrenciais, desde que amparados numa legislação objetiva e transparente e fiscalizados e regulados por uma agência reguladora com capacitação técnica e com direção autônoma e independente. Caso queiramos que o marco regulatório seja um fator para a consolidação de uma estratégia que objetive o desenvolvimento sustentável da economia brasileira, é fundamental entender três mensagens-chave. A primeira é que não haverá crescimento sustentado da economia e promoção do bem-estar social sem a expansão dos investimentos em infraestrutura. A segunda é que uma maior participação dos capitais privados nos projetos de infraestrutura é fundamental diante das restrições existentes ao aumento dos gastos públicos. Por último, a atração de capitais privados para a infraestrutura somente ocorrerá com o estabelecimento de um regime regulatório crível, previsível e claro. ● Adriano Pires é diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE)
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Cúmplicenoconfisco NEY JOSÉ PEREIRA
apenas o velho lobo Zagallo.
neyjosepereira@yahoo.com.br
ANTONIO JÁCOMO FELIPUCCI
São Paulo
trialis@com4.com.br
Batatais
Semmoral O playboy que foi escorraçado da Presidência da República por corrupção não tem moral para se dirigir ao senador Pedro Simon! Fernandinho, volta para a casa da Dinda e deixa-nos em paz!
● Sugiro ao nobre senador Pedro Simon muita cautela neste triste momento da política brasileira. Os senadores da família Mello costumam resolver suas divergências à bala. LEÃO MACHADO NETO
JOSÉ EDUARDO BANDEIRA DE MELLO
lneto@uol.com.br
josedumello@terra.com.br
São Paulo
São Paulo
Naquela Casa, “aquilo roxo” todos têm. Vergonha na cara, quase ninguém!
Senador Pedro Simon, o povo brasileiro exige que V. Exa. não engula Collor, Sarney e clã, Renan, Lula, etc. Ah...! Que divertido quando tínhamos de engolir
RUBENS MARTINS GODOY falecom@rubensgodoy.com.br
São José do Rio Preto
Pobreoposição...
LAERT PINTO BARBOSA
Somente os senadores Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos são a “oposição” atualmente? Só? Valha-me Deus!
laert_barbosa@ig.com.br
MARIA TEREZA CARLA AUGUSTO
São Paulo
teblueyes@gmail.com
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Ao decretar o absurdo feriado bancário nos dias que antecederam a posse de Collor, Sarney tornouse cúmplice no confisco da poupança do povo brasileiro. Agora eles se juntam de novo para garrotear a liberdade de imprensa, que é o oxigênio da democracia. São dignos um do outro!
São Paulo
QUARTA-FEIRA, 5 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS & INFORMAÇÕES
O fermento da podridão
A
República de Alagoas voltou. Acionados pelo senador José Sarney, os seus dois mais notórios representantes no Congresso Nacional, Fernando Collor e Renan Calheiros, protagonizaram segunda-feira no Senado um espetáculo de truculência e intimidação que logrou dar um sentido ainda mais degradante ao que já está implícito na expressão “tropa de choque”. O ex-presidente da República, despejado do Planalto por corrupção, e o presidente do Senado, obrigado a renunciar ao cargo para conservar o mandato, investiram com fúria e brutalidade contra o peemedebista dissidente Pedro Simon porque ele teve a ousadia de pedir que Sarney deixasse a direção da Casa antes da reunião de hoje do Conselho de Ética, onde é alvo de 11 representações ou denúncias de partidos e parlamentares oposicionistas. O gaúcho comparou a situação de Sarney à de Getúlio Vargas na crise que o levou ao suicídio, em agosto de 1954. Mostrando com palavras e esgares que continua o mesmo histrião que foi como presidente, Collor disse a Simon que engolisse e digerisse a referência que fizera ao seu nome, ao
lembrar a Calheiros que desertou do então presidente na véspera de sua cassação. Em seguida, proclamou o seu alinhamento com Sarney, suposta vítima do “interesse da mídia”. Em 1987, governador de Alagoas, ele dizia que o maranhense era “o corrupto do Planalto”. Que diferença faz? O Collor que atingiu Lula com uma baixaria inominável na campanha de 1989 não é hoje seu admirador? E Lula não o acolhe como a um aliado fraternal? É nessa atmosfera irrespirável que prossegue a operação destinada a manter Sarney no posto do qual, na semana passada, ele insinuava abrir mão. Pelo visto, mudou de ideia. “Isso não existe”, garantiu ao deixar o plenário antes do discurso de Simon e do vexame que se seguiu. Declarou-se ainda “firmíssimo” no cargo. Se assim é, prepare-se a opinião pública para ver fermentar a podridão no Senado. Sarney e a sua tropa sabem que o presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque, não acolherá nenhum dos pedidos para que ele seja processado por quebra do decoro parlamentar. Afinal, foi exatamente para isso que Calheiros, co-
mo líder do PMDB, indicou esse segundo suplente de senador pelo Rio de Janeiro para chefiar o colegiado. A oposição, por deter apenas 5 de suas 15 cadeiras, não conseguirá reverter a decisão. No máximo, poderá transferir o problema para o plenário, onde o sarneysismo permanece majoritário. De seu lado, Lula e a cúpula do PT tratam de conter o desassossego na bancada partidária, cujo líder Aloizio Mercadante se indispôs com os operadores políticos do Planalto por insistir no afastamento de Sarney. Nove dos seus 12 membros serão candidatos em 2010 e não escondem as pressões recebidas de eleitores indignados com o apoio lulista ao oligarca. Sinal de que os velhos costumes prevalecem sobre a retórica da reforma no Senado, a diretoria-geral, orientada por Sarney, trata de adiar a demissão dos funcionários nomeados por atos secretos, contrariando a recomendação de seu desligamento sumário adotada pela comissão especial criada para examinar o escândalo. A fórmula encontrada foi a de pedir a abertura de processos administrativos individuais. Serão cerca
de uma centena de ações, uma delas envolvendo o namorado da neta de Sarney, nomeado em abril do ano passado. O caso ficou conhecido depois que este jornal divulgou telefonemas gravados com autorização judicial em que o filho do senador, Fernando, pede ao pai que empregue o interessado. As interceptações foram feitas pela Polícia Federal, no curso da Operação Boi Barrica, que levou ao indiciamento de Fernando por tráfico de influência, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Numa nota em que endossa a iniciativa do filho de pedir à Justiça que proibisse o jornal de continuar cobrindo o caso, numa clamorosa censura prévia, o senador acusou o Estado de promover uma “cruel e violenta campanha infamante” contra ele. A alegação não tem o mais remoto fundamento. O jornal publicou informações objetivas de um inquérito policial que levou ao indiciamento do empresário Fernando Sarney pela prática de diversos delitos. Nada menos e nada mais do que isso. A tática de “culpar o mensageiro” é o recurso desesperado de todos quantos gostariam de ocultar os fatos que os perturbam. Não tendo conseguido, posam de vítima para se desviar das próprias responsabilidades.
O serviço público reprovado
O assunto da visita de Uribe
Q
O
ualidade do serviço público não é um dos assuntos preferidos nos altos escalões da República, em Brasília. Ao contrário: não é de bomtom iniciar discussões sobre temas como competência e produtividade, quando se fala sobre o número de funcionários e sobre o tamanho da folha salarial do governo. Só por isso merece aplausos o presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, por ter provocado um debate sobre o treinamento do pessoal. Ele propôs a criação de uma escola para ensinar noções de gestão ao funcionalismo e o resultado imediato foi uma polêmica. A ideia foi rejeitada pela diretora de Comunicação e Pesquisa da Escola Nacional de Administração Pública, Paula Montagner. Não é necessário, segundo ela, criar mais uma estrutura para treinar o pessoal. Mas o presidente do TCU tem motivos muito ponderáveis para defender uma formação melhor para os administradores federais. O tribunal tem apontado falhas importantes em projetos do Executivo – às vezes provocadas por dolo, às vezes por deficiência técnica, segundo Ubiratan Aguiar. No Palácio do Planalto, a atuação do TCU tem sido criticada, ultimamente, como um obstáculo à realização do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas ninguém tem contestado, com argumentos sérios, a qualidade técnica das avaliações apresentadas pelo TCU. O fato politicamente mais importante, neste momento, não é o próprio debate sobre a criação de mais uma escola de administração vinculada ao go-
verno federal. O autor da proposta, encaminhada há três semanas à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, justifica sua ideia com uma opinião severa sobre a formação gerencial dos funcionários públicos. Não é uma crítica solitária. Segundo o jornal Valor, o secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Marcelo Viana, também se declara insatisfeito. Segundo ele, as escolas de governo cuidam muito dos aspectos teóricos e científicos da administração, mas não dão atenção suficiente aos problemas efetivos, práticos, da gestão pública. Se essas esco-
O uso partidário da máquina estatal prevalece sobre a boa administração las têm de fato um ensino de elevado padrão teórico, é algo para se conferir. Mas sobre as deficiências do funcionalismo não pode haver muita dúvida. Segundo Viana, há pouca ou nenhuma pressão no serviço público pela produção de resultados. O Banco do Brasil e a Petrobrás têm de proporcionar resultados aos acionistas, mas a maior parte da administração pública funciona em condições muito diferentes. O governo, disse o secretário, aumentou os salários do funcionalismo e reajustou diversos planos de carreira nos últimos anos. Além disso, foram abertos concursos para a contratação de pessoal em diversas áreas. Os dois problemas apontados com frequência – salários baixos e falta de pessoal – foram enfrentados. “Se fize-
mos tudo isso, por que o serviço público não é bom?” pergunta o secretário. Ele mesmo responde. Em primeiro lugar, a capacitação não é tratada como necessidade estratégica, mas como prêmio para os bons servidores. Capacita-se o mais capacitado. Em segundo lugar, as funções de controle são favorecidas, enquanto se dá pouca importância (traduzida em salários baixos e treinamento escasso) às funções de execução. Essas explicações podem esclarecer parte do problema. No entanto, é preciso levar em conta um fator aparentemente esquecido pelo secretário: os aumentos de salários e as contratações dos últimos anos não se destinaram prioritariamente a elevar a qualidade e a produtividade do serviço público. Foram acima de tudo medidas político-eleitorais. O secretário Marcelo Viana mostrou-se notavelmente sincero ao reconhecer o descompasso entre as medidas a favor do funcionalismo – aumentos salariais e contratações – e a evolução da qualidade dos serviços. Só faltou incluir em sua lista de explicações a mais prosaica e a mais importante: boa administração não é prioridade do governo petista. Prioridade é usar a máquina estatal como instrumento de ação partidária. Isso explica o emperramento do PAC e explicará, nos próximos anos, a deterioração do quadro fiscal causada pelo inchaço da folha de pessoal e de gastos de custeio. Pelo menos nisso o governo é transparente.
presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, visitará amanhã o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – como parte de um giro por 15 países da região – para, num gesto de deferência e boa vontade, explicar os motivos que levaram seu governo a assinar um acordo de cessão de uso de cinco bases militares aos Estados Unidos, bem como os limites desse acordo. Explicações idênticas o governo brasileiro ouviu, nos últimos dias, dos generais Douglas Frazer, chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, e James Jones, assessor de segurança nacional do presidente Obama, que estiveram em Brasília. O chanceler Celso Amorim, ao fazer parte do coro regido pelo caudilho Hugo Chávez, reclamou que o governo colombiano não consultou os países vizinhos antes de assinar o acordo. Parece ser entendimento do Itamaraty que, por ter aderido ao Conselho de Defesa da União das Nações SulAmericanas (Unasul), a Colômbia está obrigada a prestar contas, principalmente aos regimes bolivarianos, de decisões que dizem respeito à sua soberania. Fosse assim, o presidente Lula teria de ter pedido permissão ao coronel Chávez para fechar o acordo com a França, que resultará na construção de submarinos no Brasil e na alegada transferência de tecnologia para a fabricação de cascos para o futuro submarino nuclear. O fato é que Hugo Chávez precisava desviar a atenção da opinião pública internacional das coisas que estão acontecendo em seu país e a história das
bases colombianas veio a calhar. O presidente Rafael Correa, do Equador, entrou na onda porque também tinha de explicar o inexplicável. Mas o governo petista comprou o bonde porque não perde oportunidade de bajular os compañeros bolivarianos e demonstrar o seu antiamericanismo rastaquera. Rafael Correa precisava de uma cortina de fumaça porque, há dias, foi divulgado um vídeo em que o chefe militar das Farc, Mono Jojoy, confirmava a entrega de dinheiro para a campanha eleitoral do presidente do Equador. O caso de Hugo Chávez, co-
Uribe vem ao Brasil num gesto de deferência e boa vontade mo sempre, é mais complicado. Os militares colombianos apreenderam cerca de 20 lançadores de foguetes suecos, que estavam em poder das Farc, e indagaram dos fabricantes a quem eles haviam sido vendidos. À Venezuela, é claro. Daí o presidente Álvaro Uribe ter pedido explicações formais a Hugo Chávez, cuja resposta foi, pela quinta fez, “congelar” as relações diplomáticas com o país vizinho, alegando que o acordo entre a Colômbia e os EUA é uma ameaça de iminente invasão da América do Sul pelos ianques. Mas havia mais. Chávez, naqueles dias, estava completando mais uma etapa de seu até agora bem-sucedido plano de eliminar os vestígios de democracia que restam na Venezuela. Apertava o cerco contra a
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Sujeirano ventilador
ARY MARINO FILHO
lhões de brasileiros honestos resistiríamos, sim. Quem não resiste são os políticos desonestos que confessam publicamente que praticaram e praticam falcatruas na vida pública. Com a palavra os eleitores e autoridades do Ceará.
arymarino@hotmail.com
ALCIDES ALVES
Garça
aalves@adv.oabsp.org.br
O Senado brasileiro está igual a cachorro correndo atrás do rabo: vira, vira e não sai do lugar, só jogando diariamente a própria sujeira no ventilador. Até quando?
O mais triste é pensar que cada um dos senadores, lá em Brasília, foi eleito por nós mesmos...
Osasco
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FILIPE LUIZ RIBEIRO SOUSA filipelrsousa@yahoo.com.br
São Carlos
Pente-fino Lamentável a afirmação do governador do Ceará, sr. Cid Gomes, de que nenhum brasileiro resistiria a um pente-fino (4/8, A6). Eu e mi-
Repúblicasindicalista Sarney promete ajuda a sindicatos. Sensacional! O imperador do Maranhão acordou a tempo de ajudar a República sindicalista do compadre Lula? Sem o vovô na presidência do senado (letra minúscula mesmo) a comadre Dilma vai dar com os burros n’água na próxima eleição presidencial. E, assim, os tucanos terão de lam-
“
Da sabedoria popular: o lobo perde o pelo, mas nunca o vício...”
AparecidaDileideGaziolla rubishara@uol.com.br SãoBernardodoCampo
ber as quirelas que o PT deixar nos cofres da sofrida mãe gentil, pátria amada, Brasil. ROBERTO STAVALE bobstal@dglnet.com.br
São Paulo
nordestino, esquecendo o presidente de sindicato, que representa maior perigo de continuísmo. WILSON SCARPELLI wiscar@terra.com.br
Cotia
Aliançasdo atraso Que fique bem registrado para a próxima campanha eleitoral: Lula (e seu candidato ou sua candidata) está fortemente aliado a Renan Calheiros e Fernando Collor de Mello, além de José Sarney. Isso ele não poderá negar. ANTONIO DO VALE
Operigomaior Alguém conhece caso de coronel do Nordeste e presidente de sindicato largar posições conseguidas? Hoje se fala muito do coronel
adevale@uol.com.br
São Paulo
Nãoà censura! É ultrajante que, em pleno século
Globovisión, a única emissora de televisão independente que sobrou no país – e que na segunda-feira foi invadida por um bando de militantes bolivarianos –, e tomava as últimas providências para fechar as primeiras 34 emissoras de rádio, das 240 que não seguem a cartilha do “socialismo do século 21”. O pretexto para o fechamento dessas emissoras, como sempre, são “irregularidades técnicas ou administrativas”. Mais grave do que isso, o procurador-geral da Venezuela, obviamente industriado por Chávez, apresentou à Assembleia Nacional um projeto de lei que estabelece limites para a liberdade de expressão. O projeto considera “delito midiático” a divulgação de “acusações ou omissões que afetem o direito à informação oportuna, veraz e imparcial, que atentem contra a paz social, a segurança e a independência da nação, a ordem pública, a estabilidade das instituições do Estado, a saúde mental ou moral pública, que gerem sensação de impunidade ou de insegurança”. A pena é de quatro anos de cadeia. Como afirmou o jornalista Teodoro Petkoff, o governo não quer calar apenas os meios de comunicação, quer calar o país, com um texto ambíguo que permite à autoridade determinar o que é ou não um delito. O governo brasileiro interpelou os governos colombiano e norte-americano a respeito de um ato restrito à soberania daqueles dois países. Mas não interpela o governo chavista quando ele atenta contra as liberdades fundamentais, depois de pedir para se tornar sócio do Brasil no Mercosul. É assim que o governo Lula escolhe suas companhias.
21 e com os avanços incontestáveis da democracia, pelos cidadãos brasileiros, ainda tenhamos políticos arcaicos e que adotam práticas medievais e retrógradas em sua conduta pública, como essa de tentar calar a imprensa. Solidarizo-me com o Estado e espero que a decisão, inconstitucional e incompatível com o Estado Democrático de Direito, seja imediatamente revertida. FLORIANO PESARO, vereador (PSDB) floriano45@gmail.com
São Paulo ● A decisão do desembargador amigo da família Sarney, Dácio Vieira, de impor censura prévia ao jornal O Estado de S. Paulo é de uma audácia tamanha que nos dá a estranha sensação de que o tempo da ditadura voltou a impe-
rar, de que o direito à informação e a liberdade de imprensa foram banidos, repentinamente, como um dia ocorreu neste país, e um golpe nos roubou, sorrateiramente, o Estado de Direito. O PPS quer se solidarizar com o jornal e com a sociedade brasileira, que, por causa de interesses menores, viu proscrita a Constituição, que assegura a todos a livre comunicação e o acesso à informação. Como ocorreu em toda a sua história, o PCB/PPS repudia, incondicionalmente, toda e qualquer forma de censura, sendo a mais vil delas a perpetrada contra a cidadania, o direito de ter acesso à informação. ROBERTO FREIRE, presidente nacional do PPS assessoria@pps.org.br
Brasília
A8 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 5 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
ESTADO SOB CENSURA
CNJ pede explicação para liminar Corregedor determinará que Dácio Vieira se manifeste sobre representação que aponta sua amizade com Sarney Felipe Recondo Mariângela Gallucci BRASÍLIA
O desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, terádeexplicaraoConselhoNacional de Justiça (CNJ) suas relações com a família Sarney. O corregedor nacional de Justiça, ENTREVISTA
RosentalCalmonAlves Simone Marinho / Agência O Globo
Professor da Universidade de Austin, no Texas
ALVES – Decisão é ‘retrocesso’
‘Censura aos áudios na internet é inócua ’ Roberto Almeida O professor da Universidade de Austin, no Texas, e diretor do CentroKnightparaoJornalismo nas Américas, Rosental Calmon Alves,especialistaemliberdade deexpressãonaAméricaLatina, anotou que a censura ao Estado, em decisão do desembargador DácioVieira,doTribunaldeJustiçado Distrito Federal,é o“retrocesso em uma democracia em construção”.“Estádifícilparaas autoridades judiciais brasileiras entenderem, tanto que algumas vezes caíram no ridículo de tentar bloquear o YouTube, o que acaba virando piada”, disse. Como o sr. vê a decisão? Acheiadecisãoabsurda,inconstitucional.Ointeressepúblicodeveriaestaracimadequalqueroutrarazão alegada para impedira publicação das gravações. Oque mais lhe impressionou? Alémdoretrocesso queisso significa,emtermosdevoltadacensura ao Brasil em pleno regime democrático, me impressionou areaçãodojornalnainternet.Rapidamente investigou quem era ojuizquedeuadecisão,mostrou a ligação dele com a família Sarney. Fiquei muito orgulhoso do jornalismo brasileiro e, sobretudo, do Estadão por manter essa tradiçãodeumjornalqueresiste à censura. Bloquear a publicação dos áudios no Portal do Estadão foi uma medida ingênua? A internet tem uma arquitetura feitaparacontornaracensura.A ideiadecensurarosáudiosnosite do Estadão não vai impedir que as pessoas saibam ou recebamos áudios através deoutros meios,oquetornainócuaadecisão judicial. Isso está sendo difícil para as autoridades judiciais brasileiras entenderem, tanto que algumas vezes caíram no ridículo de tentar bloquear o YouTube,oqueacabavirandopiada. Qual o significado dessa censurapara a democracia no Brasil? Significa um retrocesso dentro do contexto de uma democracia em construção, em que ainda se vive em uma dualidade entre as tradições da política brasileira, em que restrições como essa eram possíveis, e a época atual, quandoissonãodeveriasercabível.A Justiça brasileira tem uma chanceimportantedecorrigirissoapartir do recursoqueoEstadão vai apresentar, voltar a nos colocarnostrilhosda consolidação da nossa democracia e não permitir retrocessos. ●
Leia a íntegra da entrevista com Rosental Calmon Alves em:
www.estadao.com.br/e/a8
ministro Gilson Dipp, vai determinar que ele se manifeste sobre a representação encaminhada ao CNJ pelo líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM), que aponta a amizadedomagistradocomopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e com o ex-diretor da Casa Agaciel Maia. A análise do caso pelo CNJ
pode indicar se o desembargador deveria ou não se dar por suspeito para julgar o pedido de liminar feito ao TJ por Fernando Sarney. Filho do presidente do Senado, Fernando conseguiu liminar para impedir que o Estado publique informações sobre as investigações da Polícia Federal que envolvam seu nome.
Pelo Código de Processo Civil, o juiz que é “amigo íntimo” de uma das partes interessadas noprocessopodeserconsiderado suspeito e, portanto, deveria se dar por impedido para julgar o caso. Virgílio relata na representação as relações pessoais entre Dácio Vieira, Sarney e Agaciel.Vieira foium dosconvidados para o casamento de
MayannaMaia,filha do ex-diretor do Senado, em 10 de junho em Brasília, e aparece em foto ao lado de Sarney, de Agaciel e do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). “Certamente,vou pedir asinformações pertinentes”, disse Gilson Dipp. “Vai ser encaminhado o pedido de informações e, dependendo das informações
queforemprestadas,ocorregedor tomará as medidas pertinentes. Ou seja, poderá arquivar o caso, poderá dar prosseguimento,poderáinstaurar sindicância.Sãotodasaquelasconsequências previstas no regimento interno, nada mais que isso e não será dada nenhuma atenção privilegiada a esse processo.” ●
● Edição de
0h30
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Casos são engavetados sem ir a votação e oposição pretende recorrer CELSO JUNIOR/AE
do. Ele alegou que as ações simplesmente não poderiam ser aceitas porque têm como base “uma mera coletânea de recortes ou citações de jornais”. A oposição pretende apresentar recurso, levando os casos para votação no plenário do Conselho de Ética. “Vamos reagir e reagir bem”, disse o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra. Além das quatro arquivadas ontem, há oito ações contra Sarney à espera de avaliação no Conselho. ● PÁG. A4
cisões no processo em que é parte Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. O requerimento sustenta que há laços entre Dácio Vieira, Fernando Sarney e Agaciel Maia. ● PÁG. A10
ESCOLTA – Ao lado de Renan Calheiros e de Collor, Sarney deixa o plenário do Senado após discursar
Justiça de SP bloqueia bens da família de Maluf A 4ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo bloqueou os bens do deputado Paulo Maluf (PP-SP), da mulher, Silvia, e dos filhos Flávio, Lina, OtávioeLígia.Adecisãotambém atinge Jacqueline Torres, ex-nora de Maluf, e o jordaniano Hani Bin al Kalonti, administrador de fundos na Ilha de Jersey. Todos estão com veículos, joias, imóveis e dinheiroemaplicaçõesindisponíveis. ● PÁG. A12
VALTERCI SANTOS/GAZETA DO POVO
ba 0 x 1 Santos; o São Paulo venceu o Botafogo (3 a 1), de virada, e o Corinthians perdeu para o Náutico (1 a 0). ● PÁGS. E3 e E4
NOTAS E INFORMAÇÕES
O tamanho do Estado, o tema de Lula em 2010 Lula está ciente de que o inchaço será tema da oposição e age preventivamente quando defende a contratação de servidores. ● PÁG. A3
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
em virtude da gripe suína, torcedores tiveram de usar máscaras em Cascavel (PR), no jogo Coriti-
Oassessorde SegurançaNacional da Casa Branca, general Jim Jones, disse ontem em Brasília que os EUA não recuarão da negociação com a Colômbia paraautilizaçãodebasesmilitares no país. “É um negócio como outro qualquer”, disse Jones ao Estado, argumentando que o acordo não difere do que já foi feito no passado. Ele admite, porém, que faltou “explicação” aos países da região. Ontem,ogovernochilenomanifestou apoio à Colômbia. ● PÁG. A14
Governo fica dividido e decisão do pré-sal é adiada
buiu a responsabilidade a outros senadores. Negou conhecerRodrigoCruz,genrodo exdiretor Agaciel Maia nomeado por ato secreto. Só que Sarney é padrinho de casamento de Cruz. ● PÁGS. A6 a A8
ESPORTES
●●● Por determinação judicial,
EUA não recuarão do acordo com Colômbia
●●● Os EUA ofereceram ao Brasil transferência tecnológica correspondente a US$ 3 bilhões para se contrapor ao favoritismo da França e vencer a concorrência para compra de 36 caças. ● PÁG. A13
‘Estado’ pede que juiz da censura se afaste do caso O advogado do Estado, Manuel Alceu Affonso Ferreira, requereu ontem que o desembargador Dácio Vieira – que concedeu liminar censurando o jornal – se declare imediatamentesuspeitoparatomarde-
DIRETOR:
RUY MESQUITA
FAB recebe oferta bilionária
Senador manipula dados em discurso José Sarney defendeu-se com um discurso em que embaralhou duas investigações da PF para insinuar que gravações divulgadastinhamsidoalteradas. Admitiu ter parentes empregadosnoSenado, mas atri-
(1891-1927)
6 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42296
Conselho de Ética arquiva 4 denúncias contra Sarney O Conselho de Ética do Senado arquivou, de uma só vez, três denúncias e uma representação contra o presidente da Casa, José Sarney. Foi engavetada ainda outra representação, contra o líder do PMDB, Renan Calheiros, que tambémassinou atos secretos durante o período em que comandou o Congresso. O presidente do Conselho, Paulo Duque (PMDB-RJ), agiu de forma sumária e não deu oportunidadesequerparaqueomérito das denúncias fosse discuti-
JULIO MESQUITA
Panela para toda hora
●● A maior virtude da wok
é permitir a cocção rápida preservando os sabores. ●
Mark Bittman ●● Estraguei muitas
camisas até aprender a fritar lulas sem espirrar gordura. ● PÁG. P7
Cetesb ganha poderes para impor limites ao trânsito Entra em vigor amanhã uma leiquedáà Cetesbnovas atribuições. Ela será a autoridadeque avaliaráapoluição paraordenaraimposiçãodopedágio urbano, se essa restrição for aprovada. Além disso, a Cetesbterá poder de aumentar os limites à circulação, como rodízio de veículos o dia inteiro. Caberá ainda à companhia fazer inspeção veicular e de segurança em todo o Estado. ● PÁG. C1
Divergências dentro do governo adiaram a decisão sobre o modelo de exploração do petróleo do pré-sal. O presidente Lula se reuniu ontem com ministros para definir a questão – mas, diante da falta de consenso, preferiu esperar mais um pouco. Os principais pontos de discórdia são a distribuição dos royaltiesdopetróleopara osEstados e o uso dos recursos do pré-sal em investimentos na área social. ● PÁG. B1
ARTIGO
Demétrio Magnoli SOCIÓLOGO
Itaipu, Paraguai e o interesse nacional Ocupado na manufatura do trambique da mudança nos termos do Tratado de Itaipu, Lula não negociou com o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, garantias legais para os “brasiguaios”. Na visão dos movimentos de sem-terra da basedeLugo, a reforma agrária começa com a expropriação geral desses colonos, que não votam nem aqui nem lá. ● PÁG.A2 ●●●
HYUNDAI SANTA FE 2010. O NOVO PADRÃO MUNDIAL DE QUALIDADE.
●●●
Tempo: CAPITAL
28º
MÁX.
● PÁG. C2
16º
MÍN.
Ar seco deixa tempo aberto; frente fria chega ao litoral.
CADERNO 2 A arte do conserto
●● Osdilemasderestauradores como o alemão Stephan Schäfer. ●
Atletismo Hoje: 110 páginas A. 1º caderno: 22+4 ● B. Economia: 18 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 16 ● E. Esportes: 6 ● P. Paladar: 8 ● Cl. Classificados: 24 (2.233 anúncios)
7 8 9 10 11 12
Técnico assume culpa por doping ●● Treinadorde3dos5flagrados, Jayme Netto diz que se aposenta. ● PÁG. E1
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VEJA NA PÁGINA 5.
w w w. h y u n d a i - m o t o r. c o m . b r
QUINTA-FEIRA, 6 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
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NOTAS & INFORMAÇÕES
O tamanho do Estado, o tema de Lula em 2010
M
ais uma vez convertendo um evento oficial em comício político, o presidente Lula aproveitou a solenidade de sanção da lei que criou 230 Varas na Justiça Federal para defender a contratação de mais servidores públicos e refutar as críticas de que seu governo teria promovido o “inchaço” do Estado, comprometendo o equilíbrio das finanças públicas ao elevar com prodigalidade os gastos com funcionalismo. Em 2009, a União gastará R$ 169,9 bilhões com pessoal e encargos – despesa essa que tem crescido mais do que a receita não só pela contratação de novos servidores, mas também pela generosa concessão de reajustes salariais apresentados, em alguns casos, como “reestruturação de carreiras”. “Vivemos um conflito e uma incompreensão. Quando resolvemos tomar medidas para melhorar o funcionamento das instituições, há sempre duas críticas: a de que o Estado está inchando e de que é preciso um ‘choque de gestão’. As pessoas ainda não se deram conta de que, quanto melhor funcionar o Estado, melhor fica para todo mundo”,
disse o presidente, depois de defender a nomeação de mais servidores para as “áreas de fiscalização” do governo. Lula está confundindo as coisas. “Choque de gestão” é uma maneira de qualificar o funcionalismo e reformar a máquina governamental, para torná-la mais eficiente. Por sua vez, aumento do número de servidores não é sinônimo de melhoria automática de qualidade na prestação de serviços públicos – como mostramos, ontem, no editorial O serviço público reprovado. Se os novos funcionários não tiverem preparo, a burocracia apenas incha, gerando mais gastos com salários para o Tesouro sem elevar a produtividade do Estado. Essa distinção consta de qualquer manual de introdução à administração pública – assunto que Lula conhece suficientemente bem. E se se refere, naqueles termos, ao tamanho do Estado, é apenas por interesse eleitoreiro. Como acredita que a campanha de 2010 será “plebiscitária” e está ciente de que o inchaço do Estado será um dos temas da oposição, ele age preventiva-
Na contramão da vida
O
projeto de lei que regulamenta a profissão de mototaxista tramitou no Congresso por oito anos e acabou sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar dos alertas de entidades e de especialistas em segurança no trânsito e do próprio ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que o qualificou como preocupante pelo impacto que a disseminação dessa atividade pode provocar no sistema de saúde. Nos cinco primeiros meses deste ano, 20.622 motociclistas acidentados foram atendidos em unidades públicas de saúde. Em 14 Estados as mortes de motociclistas superaram as de pedestres. Metade das vítimas atendidas no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas (HC) da capital é de motociclistas, embora esse veículo componha apenas 12% da frota paulistana. Os custos com a internação desses acidentados já ultrapassam os R$ 100 milhões por ano no HC. No país onde os acidentes com motos matam 19 pessoas por dia – e no ano passado deixaram mais de 500 mil feridas, sendo que o gasto com atendimento foi de R$ 8 bilhões –, razão tem o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Flávio Emir Adura, ao dizer que a nova lei surge “na contramão da vida”. O ministro das Cidades, Márcio Fortes, no entanto, no evento que marcou a sanção da lei, explicou o que, para o presidente Lula, a justifica: “Não podemos fechar os olhos à realidade. Essa atividade já existe e precisava ser regula-
mentada.” A questão é saber se uma atividade que coloca em risco a vida e a saúde das pessoas deve ser legalizada só porque já existe. A mesma justificativa se poderia apresentar para a regulamentação do uso de tóxicos. Para o ministro das Cidades, a lei traz aperfeiçoamentos ao estabelecer requisitos básicos de segurança, obrigatórios, para os mototáxis, como uso de colete e capacete, além de curso especializado para o transporte de passageiros em moto. A atividade só poderá ser exercida por maiores de 21 anos e por condutores habilitados há ao menos
Ainda bem que as maiores cidades não permitirão os mototáxis dois anos. São exigências brandas para uma atividade de alto risco, tanto para os ocupantes das motos como para os demais motoristas e os pedestres em geral. Motocicleta não é veículo adequado para transportar passageiros e a reconhecida incapacidade de fiscalização dos órgãos de trânsito agrava a situação. Em São Paulo já houve várias tentativas, frustradas, de organizar a atividade de motofrete, profissão também regulamentada pela mesma lei federal. E a causa maior da frustração sempre foi a dificuldade de fiscalizar o grande número de motos que se esgueiram por entre os carros de maneira temerária e muitas vezes agressiva. Poucos respeitam as regras de trânsito, e alguns for-
mente quando defende a contratação de mais servidores e afirma que “um Estado maior é melhor para todos”. A estratégia é ardilosa. Na visão do governo, “Estado máximo” ou “Estado mínimo” é uma discussão que o eleitorado não compreende bem, mas intui exatamente aonde leva – em princípio, um Estado maior significaria mais pessoas atendidas pelo serviço público. Para se defender das críticas que sofrerá por ter multiplicado cargos em Ministérios, autarquias e estatais, com o objetivo de alojar a “companheirada”, Lula desde já vem lembrando que o aumento do funcionalismo em seu governo se deve à contratação de professores, delegados federais, advogados da AGU e auditores da Controladoria-Geral da União – áreas que envolvem temas eleitoralmente atraentes, como educação, segurança e combate à corrupção. Não foi por acaso que, ao sancionar a lei que cria 230 Varas na Justiça Federal, Lula referiu-se a quem o critica por defender mais contratações para as “áreas de fiscali-
zação”. Essa é a “deixa” de que precisa para acusar os tucanos de terem, em sua gestão, “desmontado” o Estado na sua capacidade de planejamento e fiscalização. Na ótica maniqueísta do presidente Lula, 2010 será um plebiscito entre quem defende um Estado maior, portanto capaz de atender mais pessoas, e quem propõe um Estado menor, portanto, ineficiente. Foi para justificar essa estratégia que, em março, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou um “estudo” no qual afirma que haveria “espaço” para contratações de mais servidores. O trabalho compara a situação do emprego público no Brasil com a de vários países. A comparação é baseada na relação entre o número de empregados do setor público e o total dos ocupados, mas os critérios comparativos são duvidosos, pois, para comparação, só foram escolhidos países que justificassem conclusões de interesse do Planalto. Embora tenha sido classificado como “peça de ficção” pelos especialistas, o “estudo” tem sido invocado por Lula para justificar a afirmação de que não existiria o Estado gastador tão propalado pela oposição. É esse o tipo de campanha que Lula fará em 2010.
Sem Doha, sobra a Europa mam verdadeiras gangues que ameaçam quem lhes chama a atenção. A pressa que as empresas de motofrete exigem na entrega de mercadorias e documentos, certamente, será a mesma no transporte de passageiros, principalmente em cidades que sofrem com o trânsito congestionado. Testes mostram que, numa queda, o ocupante de uma moto a 60 km/h desliza entre 20 e 30 metros no asfalto, que age como uma lixa em seu corpo. A 72 km/h, o impacto equivale a uma queda do sexto andar de um edifício. Nos mototáxis serão sempre duas pessoas. O presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos, Ailton Brasiliense, ainda adverte que, além da falta de segurança para seus ocupantes, com consequente aumento do número de vítimas de acidentes de trânsito, a atividade dos mototaxistas trará maior desorganização para o setor de transporte público, que já arca com a concorrência clandestina de ônibus e vans irregulares. A lei teve o cuidado de estabelecer que caberá aos municípios decidir se a regulamentam ou não, já que, de acordo com especialistas, é atribuição deles a organização da circulação de veículos no sistema viário. Esse é o seu único ponto positivo dessa lei. Felizmente, São Paulo, a maior cidade do País – assim como todas as cidades da região metropolitana com mais de 200 mil habitantes –, já deixou claro que não permitirá o serviço de mototáxi.
S
em esperança de concluir até o próximo ano a Rodada Doha, lançada em 2001 e ainda emperrada, o governo brasileiro tentará reativar as discussões de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Essa foi a alternativa apontada pelo chanceler Celso Amorim, na semana passada, diante do pouco interesse do governo americano em retomar as negociações globais de comércio. Mas o acordo com o Mercosul, embora possa interessar ao bloco europeu, não está na lista de suas prioridades para este semestre. Também falta saber se o governo e os empresários da Argentina estão interessados em participar de conversações comerciais com um parceiro importante e exigente como a União Europeia. Esse interesse é altamente improvável. Afinal, desde o ano passado a Argentina se tornou cada vez mais protecionista. O governo petista preferiu jogar quase todas as fichas na Rodada Doha, praticamente abandonando as possibilidades de acordos com os mercados mais desenvolvidos. O projeto da Alca foi liquidado em 2003-2004, numa ação coordenada com as autoridades argentinas. Na fase final, o governo americano contribuiu para enterrar a integração comercial do hemisfério, mas o fracasso do projeto resultou principalmente do esforço dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner. O governo brasileiro ainda se mostrou interessado em continuar as negociações com a União Europeia. Por alguma razão obscura, um compromis-
so com os europeus foi considerado ideologicamente aceitável pelos estrategistas do Planalto. Inaceitável mesmo seria um acordo com a participação dos EUA, ou, no dialeto bolivariano, do Império. Mas essa concessão ao capitalismo não deu certo. Os argentinos não quiseram facilitar o acesso de produtos industriais a seu mercado. Não podia dar certo: em condições normais, um acordo envolve troca de ofertas. Negociadores da União Europeia e do Mercosul tentaram retomar as negociações várias vezes, mas nunca foram muito longe. Em relação ao comércio
Protecionismo argentino pode dificultar acerto com europeus agrícola, os europeus nunca ofereceram tanto quanto pediam os sul-americanos. As ofertas mais importantes, segundo os europeus, deveriam ocorrer na Rodada Doha. Apesar disso, apresentaram algumas propostas e o governo brasileiro respondeu com ofertas de acesso para produtos industriais. Mas os argentinos sempre foram reticentes em relação a essas ofertas. Adotaram a mesma posição, depois, quando houve os últimos esforços para desemperrar a Rodada Doha. Numa dessas ocasiões, acusaram de traição os diplomatas brasileiros, participantes do restrito grupo envolvido naquela tentativa. A pauta da União Europeia, neste semestre sob a presidência da Suécia, inclui conversações comerciais com Canadá,
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Sópara esclarecer Brasileiros e brasileiras, companheiros e companheiras, que fique bem claro daqui para a frente: quem votou no Lula, na verdade, elegeu o Collor, o Renan e o Sarney. Em 2010, quem votar na Dilma vai eleger o Collor, o Renan e o Sarney. MÁRIO BARILÁ FILHO mariobarila@yahoo.com.br
São Paulo ● Lula e o PT salvam Sarney e perdem as eleições de 2010.
do da República – Casa que deveria abrigar a essência dos interesses nacionais –, um quarto poder. O da indecência, da mentira, da desonestidade, da velhacaria, de comportamentos tacanhos, dos vendilhões da Pátria, dos gestos sorrateiros, do patrimonialismo desenfreado e da corrupção dos valores mais caros e preciosos – por obra daqueles que detêm os rumos deste país.
São Paulo
Outropoder De tudo o que se vê e ouve, constata-se que se instalou no Sena-
LuizHenriquePenchiariJr. luiz.penchiari@bericap.com Vinhedo
joaocaramuru@uol.com.br
São Paulo
ALBERTO AUGUSTO DE MEDEIROS aamedeiros@gmail.com
Barrinha
TIBOR RABÓCZKAY trabocka@ iq.usp.br
“
É só no Brasil que tanto desgoverno justifica governabilidade”
Lixofartopara exportar Já imaginaram quantos contêineres poderiam ser preenchidos com o lixo e a imundície que estão brotando do Senado brasileiro? JOÃO ROBERTO CARAMURÚ
tação de explicações a Washington. Nossa diplomacia será tão burra quanto faz questão de parecer? Ou isso é parte de estratégia bolivarianamente estabelecida?
São Paulo ● Forças americanas na Colômbia, não pode. Mas forças russas na Venezuela, isso pode? IZABEL AVALLONE
Nossadiplomacia O fato de terem encontrado em poder das Farc armas vendidas à Venezuela é um probleminha de menor dimensão para nosso chanceler, Celso Amorim, mas a instalação de bases americanas para apoio no combate às drogas é um problemão que envolve até solici-
Lula e o PT têm tantos vínculos assim com os terroristas? PAULO F. SIQUEIRA DOS SANTOS paulosiqueirasantos@hotmail.com
Santa Rita do Passa Quatro
JOÃO ATHAYDE DE OLIVEIRA NETO jathayde@globo.com
izabelavallone@yahoo.com.br
São Paulo ● Afinal, qual é mesmo o vínculo de Lula e do PT com o ditador Hugo Chávez? E qual é o medo de Lula e do PT pelo fato de o Exército dos EUA usar as bases colombianas para acabar de vez com os terroristas das Farc? Será que
Ucrânia, Índia, Japão, Taiwan, Vietnã e Cingapura. O Mercosul não consta do programa oficial. O governo sueco, no entanto, inclui o Brasil na lista de conferências de cúpula programadas para este ano. Os outros parceiros listados na agenda são Estados Unidos, Índia, China, Rússia, África do Sul e Ucrânia. O Brasil foi oficialmente selecionado há mais tempo como parceiro estratégico da União Europeia, mas essa decisão tem consequências comerciais muito limitadas. A Comissão Europeia só tem mandato para negociar livre comércio com o Mercosul, não com qualquer de seus integrantes. De toda forma, como o Mercosul é uma união aduaneira, nenhum de seus membros poderia participar isoladamente de uma negociação desse tipo. O Brasil continuará amarrado, exceto se o Mercosul voltar ao status de zona de livre comércio, mas o governo brasileiro nem sequer discute essa hipótese. A União Europeia, dizem funcionários do bloco, poderia retomar as conversações com o Mercosul, mas para isso Brasil e Argentina precisariam entender-se. Outros latino-americanos, incluídos o Chile, o México e alguns andinos, concluíram acordos com os Estados Unidos e outros grandes parceiros. O Brasil ficou limitado a acordos modestos com economias em desenvolvimento, sozinho ou juntamente com o Mercosul. Sem a Rodada Doha, é quase obrigatório retomar as conversações com a União Europeia. Mas para isso o Brasil dependerá dos Kirchners – e também de Hugo Chávez, se a Venezuela afinal entrar no Mercosul.
não deixar dúvidas, Lula convida o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, aprendiz de ditador, a visitar o País. Está na hora de renovar, 2010 está chegando. AMÂNCIO LOBO
Renovaré preciso A simpatia de Lula por Chávez é contagiante. Na Venezuela o ditador tirou do ar 34 emissoras de rádio, além de suas milícias atacarem com bombas a emissora de TV Globovisión, que não rezava pela cartilha bolivariana. Seguindo seu rastro, o presidente equatoriano, Rafael Correa, anunciou que vai estatizar muitas frequências de rádio e TV. E no Brasil o plano de socializar a América Latina, traçado no Foro de São Paulo, dá seu start pondo o maior jornal do País sob censura. E para
amanciolobo@uol.com.br
São Paulo
Liberdadedeimprensa O Brasil está maduro e com instituições fortalecidas para repudiar todo tipo de censura. Desejamos que rapidamente seja restabelecida a liberdade de imprensa, equivocadamente cerceada, para que o Estadão volte a informar a sociedade sobre os rumos de nosso país, sempre com ética e verdade. JOÃO CRESTANA, presidente do Secovi-SP aspress@secovi.com.br
São Paulo
A10 NACIONAL
QUINTA-FEIRA, 6 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
ESTADO SOB CENSURA
‘Estado’ pede que juiz se declare suspeito no caso Desembargador que concedeu liminar impondo censura ao jornal tem ligação com a família Sarney
O advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira requereu ontem ao desembargador Dácio Vieira, que censurou o jornal O EstadodeS.Paulo,queimediatamente se declare suspeito para tomar decisões no processo em que é parte Fernando Sarney,filhodopresidentedoSenado, José Sarney (PMDB-AP). A exceção de suspeição foi protocolada às 17h38 na distribuição doTribunaldeJustiçadoDistrito Federal, onde atua o desembargador. O advogado pede a Vieira que envie o feito à redistribuição. “A Vossa Excelência impõe-se, como indeclinável encargo,odejurisdicionar comin-
dependência”, assevera o advogado do Estado. Na hipótese de Vieiranãoreconhecerqueésuspeito, Affonso Ferreira requer que a exceção seja submetida ao julgamento do TJ, segundo o regimento interno da corte. A assessoria do tribunal informou que o desembargador não iria decidir ontem sobre o pedido de O Estado. Vieira, no dia 30, concedeu liminar a agravo de instrumento contra decisão da 12ª Vara Cível de Brasília em ação inibitória por meio da qual o filho de Sarney pretendia que o Estado fosse proibido de publicar dados relativos a ele. O desembargador impôs ao jornal sanção pecuniária de R$ 150 mil “por cada ato de violação do presen-
801746
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3078-1303
te comando judicial”. O advogado sustenta que “face às especificidades do recurso e da causa que lhe deu origem (Vieira) é duplamente suspeito, na ótica da amizade que o liga ao autor (Fernando) e à sua família, mas igualmente comprometido porque interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes”. CÓDIGO
Seu pedido é amparado no artigo 135 do Código de Processo Civil, que define situações de suspeição.(“Íntimadiz-seaamizade quando há laços afetivos, notórios ou não, mas verificáveis por fatos de estreita solidariedade, que possam influir no julgamento pela determinação
TRECHOS DA PETIÇÃO ● Ligações “Sendo Vossa Excelência, mercê da carreira funcional pretérita, afetiva e estreitamente ligado ao senador Sarney, pai de Fernando, ainda que involuntariamente passou a ser interessado na vitória judicial do filho demandante. É que o interesse ao qual a lei buscou tolher quando forçou a suspeição pode expressar-se em mero interesse moral, consistente em ‘pressão psíquica sobre o juiz’ , pressão essa que Vossa Excelência certamente sentiu, diante dos sólidos e antigos laços com o pai, ao despachar o recurso interposto pelo filho, e que assim prosseguirá experimentando caso nele se mantenha.”
● Imparcialidade “Alegada transgressão inocorreu. A não ser que aos agentes do Parlamento se tenha concedido, em ignota e desconhecida passagem da Constituição, a perversa e satânica prerrogativa de, sob o escudo da vida privada e lançando às urtigas a solar visibilidade e a ortodoxa transparência daqueles servidores reclamadas, impunemente escamotearem aquilo que fizeram em benefício pessoal, ou no dos seus parentes e afins, nessa reprovável conduta arrostando, sem mínimo pudor ou elementar constrangimento de consciência, os recursos da coletividade e os valores éticos do Estado Democrático de Direito.”
● Suspeição “A Vossa Excelência impõe-se, como indeclinável encargo, o de jurisdicionar com independência. E assim aqui não poderá atuar, porque suspeito no tocante ao conflito forense do qual participam no processo, ou à margem dele mas sempre contígua e lindeiramente, pessoas às quais esteve ou ainda está ligado, tudo portanto obrigando-o a que, reconhecendo essa achavascada suspeita, decline da jurisdição recebida. Vossa Excelência mantém com o senador Sarney e Agaciel Maia convívio sócio-familiar tanto que não hesitou em se deixar fotografar pelas colunas sociais ao lado de ambos.”
psicológica, consciente ou inconsciente.”) O advogado Affonso Ferreira observa que o legislador destacou que a suspeição se dá “pela convivência freqüente, familiaridadenotratamento,presta-
tou serviços ao Senado, inicialmente na assessoria jurídica do Centro Gráfico (Cegraf), depois passando a titular do cargo de consultor jurídico. Vieiraatuoutambém naConsultoria-Geral da Casa, entre 1990 e 1991, e, por designação especial, foi colocado à disposição da Presidência do Senado. No texto da exceção, Affonso Ferreiraanotaque,“emcontraponto”, José Sarney, “em função de seu poderio político e influência nas esferas governamentais”, ocupa pela terceira vez a presidência do Senado. OadvogadoressaltaqueVieira, enquanto funcionário do Senado, exerceu funções “concomitantemente àquelas implementadas porAgaciel Maia,ou-
tra das importantes figuras imiscuídas no que é conhecido como o ‘escândalo do Senado’”. “Tudo isso faz presumir que apontada ‘amizade’ com o autor (Fernando Sarney) efetivamente existe e é estreita.” Affonso Ferreira afirma que o desembargador, “ainda que esse não sejao seu propósito, há de ser entrevisto como interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes”. O advogado sustenta que VieiraproibiuoEstadodeinformar seus leitores sobre acontecimentos que “são de manifesto interesse público e que, nem sequer de raspão, transgridem privacidade alguma”. “O juiz melhor é o que oferece maior garantia de imparcialidade.” ●
Solicitação é amparada no art. 135 do Código de Processo Civil ção repetida de obséquios e outras manifestações de acentuada estima”. Ele ressalta que o desembargador, durante “largo período”, desde1º deagosto de1986, pres-
OEA condena censura e alerta para ‘responsabilização’ do Brasil A relatora especial para LiberdadedeExpressão da Organização dos Estados Americanos (OEA), Catalina Botero Marino, condenou ontem a decisão do juiz Dácio
Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, de censurar oEstado. Para ela, a liminar fere a Convenção Americana, ratificada pelo Brasil, o que pode “conduzir à responsabiliza-
ção internacional” do País. “É incompreensível que enquanto os mais altos tribunais do Brasil tenham tomado decisões exemplares em matéria de liberdade de expressão, ainda
exista a possibilidade de que alguns juízes locais possam usar seupoderparacensurareimpedir a divulgação livre da informação”, anotou Catalina. “Qualquerfuncionáriopúblico que não cumpra com estes padrões não somente violaria o direito a informação de toda sociedade, mas poderia conduzir à responsabilização internacionaldo Estadocorrespondente”, ressaltou. ● ROBERTO ALMEIDA
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Imagem meramente ilustrativa
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o estado de s. paulo
● Edição de
0h20
SEXTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Os infratores da lei antifumo em São Paulo estão sujeitos a multas de até R$ 1.585 desde a zero hora de hoje. O governo afirma que a ideia não é punir quem fuma, mas sim aqueles que não coibirem o cigarro em ambientes de uso coletivo, fechados ou parcialmente fechados.Noentanto,empresas,condomínios, clubes e escolas pretendemrepassar amultaaosfumantesou estabeleceralgum tipo de sanção. ● PÁGS. C1 e C3 a C5
CELSO JUNIOR/AE
MOREIRA MARIZ/AG. SENADO
LEI ANTIFUMO
Onde não é permitido fumar ● No interior de estabelecimentos comerciais, de ensino e de saúde; áreas comuns de condomínios e hotéis; táxis, ônibus e lotações
Onde é permitido fumar ● Em áreas ao ar livre; dentro da própria residência e do próprio carro; quartos de hotéis; presídios e penitenciárias
Guia Um roteiro para
BATE-BOCA NO PLENÁRIO
NOTAS E INFORMAÇÕES
A tática do Chico Anysio Sarney disse aos senadores: “Somos iguais”. Ou, no bordão de Chico Anysio: “Sou, mas quem não é?” ● PÁG. A3
●●●
Tempo: CAPITAL
● PÁG. C2
24ºMÁX.
17º
MÍN.
Sol aparece fraco no final da manhã e temperatura fica amena.
Hoje: 220 páginas A. 1º caderno: 22 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 16 ● D. Caderno2: 14 ● Guia: 132 ● E. Esportes: 4 ● Cc. Construção: 12 ● Cl. Classificados: 4 (146 anúncios)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Multas poderão ser repassadas a fumantes
Em defesa de Sarney, Renan ataca oposição e instala clima de guerra
os fumantes em SP ●● Conheça os estabelecimentos e as situações em que fumar não dá multa. E veja aqueles em que a fumaça é proibida. ●
BRIGA – Tasso e Renan batem boca: um dia após absolvição de Sarney no Conselho de Ética, acusações e ofensas no plenário do Senado
Sarney explica e é desmentido
Giannottivêbagunça nocasodacensura
Ele nega elo com beneficiado por ato secreto, mas documento confirma
O episódio da censura ao Estado, a pedido da família Sarney, reflete “um problema geral na América Latina, que é a ameaça à democracia formal”, disse o filósofo José Arthur Giannotti: “Há uma bagunça generalizada.” ● PÁG. A8
O presidente do Senado, José Sarney(PMDB-AP),tentouontem novamente se desvincular de Rodrigo Cruz, relacionado no caso dos atos secretos, mas umdocumentoodesmente.Se-
Acesso a droga contra gripe ainda é difícil em SP Uma semana após o anúncio de que o remédio oseltamivir, usado contra a gripe suína,estaria disponívelnasfarmácias de hospitais de referência em São Paulo, pacientes ainda enfrentavam problemas ontem para achar o medicamento. “Está muito difícildeencontrar”,disseJonas Fortunato, que só obteve o oseltamivir para o filho de um ano e meio após um dia todo de procura. ● PÁG. A20
tocolada pelo PSOL que menciona“Rodrigo Cruz”.ArepresentaçãodoPSOL,porém,indica que o Cruz em questão é mesmo genro de Agaciel, pivô do escândalo. ● PÁG. A6
CADERNO 2
Poupança tem captação recorde em julho
Explicação de Uribe sobre bases não satisfaz Lula
As cadernetas de poupança receberam R$ 6,67 bilhões em novas aplicações no mês passado, o melhor julho desde a criação do real em 1994. O bom desempenho não foi motivado pela migração de outrasaplicações,jáquetambém houve captação nos fundos de investimento e CDB. Paraespecialistas,osdepósitos têm crescido na esteira da recuperação da economia. ● PÁGS. B1 e B3
OpresidenteLulanão seconvenceu com as explicações do colega Álvaro Uribe sobre a utilização de sete bases militares da Colômbia por soldados americanos. Após conversa entre os dois presidentesemBrasília,ochanceler Celso Amorim afirmou queogoverno brasileiro queria garantias de que as tropas dos Estados Unidos não atuarão fora do território colombiano. ● PÁG. A15
●● Maria
de Medeiros vive doce pedagoga francesa em O Contador de Histórias. ●
Milton Hatoum
Euclides, iluminado ●● Em Os Sertões estão gran-
des personagens de uma guerra desigual. ● PÁG. D14
Palmeirasficano1a1 comoGrêmioemcasa
●●●
gundo Sarney, o citado não é genrodeAgacielMaia–osenador foi padrinho do casamento de Cruz –, e sim um homônimo. Em nota, Sarney usa como comprovante a denúncia pro-
Ela é um anjo
Futebol
EVELSON DE FREITAS/AE
● Tasso – Senador Renan, não aponte esse dedo sujo para cima de mim! ● Renan – Esse dedo sujo é o de Vossa Excelência! São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou. ● Tasso – Era com meu dinheiro. O jato é meu, não é dos seus empreiteiros! ● Renan – O dinheiro é seu? ● Tasso – É meu! ● Renan – (Fora do microfone, chama Tasso de coronel.) ● Tasso – Eu, coronel? Cangaceiro de terceira categoria! ● Renan – O senhor é coronel! (Fora do microfone, xinga Tasso: “Seu merda”.) ● Tasso – Repita o que você disse! ● Renan – Você é minoria com complexo de maioria.
(1891-1927)
7 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42297
Políticos trocam insultos no pior dia da crise do Senado Um dia após o discurso de defesa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o plenário da Casa viu ressurgir a crise política. O confronto aconteceu após negociações entre setores da oposição e do PT para tentar encerrar denúncia do PMDB contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio(AM),e emtrocagarantir a permanência de Sarney no comando do Senado. Insatisfeito com a insistência da oposição em pedir o afastamento de Sarney,olíderdoPMDB,RenanCalheiros (AL), transformou a leitura da representação contra Virgílioemumdiscurso recheado de provocações e de ameaças à oposição. Ao final do discurso, Renan, já na bancada do plenário, chamou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) de “seu merda”. Tasso, que antes havia pedido que Renan parasse de “apontar o dedo sujo” contraele,reagiu chamandoosenador alagoano de “cangaceiro de terceira categoria”. Renan retrucou, chamando-o de “coronel”. ● PÁG. A4
JULIO MESQUITA
●● O líder do Brasileiro saiu
na frente com Cleiton Xavier (na foto, com Obina), mas cedeu o empate. ● PÁG. E1
Cultura
Posse de presidente da Bienal é barrada ●● MPEpederescisãodecontrato que envolve mulher de Heitor Martins. ● PÁG. C12
Internet
Ataque de hackers tira do ar o Twitter ●● Facebook, maior rede so-
cial do mundo, também sofreu ataque ontem. ● PÁG. B16
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VEJA NA PÁGINA 5. 7 8 9 10 11 12
w w w. s u b a r u . c o m . b r
SEXTA-FEIRA, 7 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
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NOTAS & INFORMAÇÕES
A tática do Chico Anysio
U
m Senado majoritariamente predisposto à complacência com o seu presidente, José Sarney, ouviu-o repetir em discurso de quase uma hora, na quarta-feira, que é “vítima de uma campanha sistemática e agressiva” para desestabilizá-lo, que a sua vida tem sido vasculhada “desde o meu nascimento”, que jamais faltou com o decoro parlamentar – e que ou não fez o que lhe apontam ou o que fez não tem nada de errado. Por que haveriam de querer desestabilizá-lo, não se deu ao trabalho de explicar. Tampouco houve quem lhe pedisse explicações sobre essa alegação em que ele praticamente se compara a uma instituição pública, ou sobre as inverdades, meias-verdades e omissões com que tratou de se desvencilhar dos escândalos que o enredam. Sarney foi astuto. No lugar do pronunciamento de confronto que os aliados tinham antecipado, talvez para desorientar a oposição, adulou os seus pares, louvando o seu senso de justiça, e os exortou a “reconstruir a paz e a harmonia no Senado”. Encaixou onde pôde a mensagem de humildade, contrastando com a descrição altisso-
nante de seus feitos ao longo da trajetória política de mais de meio século. “Todos aqui somos iguais. Nenhum senador é maior do que o outro”, lisonjeou o plenário em dado momento – embora contrariando o grande paladino da sua incolumidade, Lula da Silva, que o considera “mais igual do que os outros”. A tática do afago – a intimidação fica a cargo dos Renans Calheiros de sua guarda pretoriana – o ajudou ainda a compartilhar com os colegas ora a ignorância, ora a responsabilidade pelos problemas que espocaram neste seu terceiro mandato no comando da Câmara Alta. “Desconhecia – e eu acho que também todo o Senado – que o Senado tinha 170 diretorias. Elas não foram criadas por mim”, exclamou, recorrendo, por sinal, ao conhecido artifício de rebater acusações inexistentes para desqualificar todas as demais. Como o papel aceita tudo e as palavras voam, permitiu-se achar que “ninguém aqui sabia ou podia pensar que existisse ato secreto”, emendando que “afirmaram (…) que fui responsável por todos esses atos”. Mostrando-se meticuloso, apresentou uma
A economia da água
A
média mensal do consumo de água na região metropolitana de São Paulo baixou 23% nos últimos dez anos, passando de 17,4 m³, em 1998, para 13,4m³, por residência, em maio passado. O dado é da Sabesp. Enquanto isso, o número de imóveis cadastrados na região aumentou 55%, passando de 3,3 milhões para 5,1 milhões. Para a estatal, a queda do consumo é resultado das campanhas sobre uso racional da água, dos investimentos em controle de perdas e também das mudanças de hábitos da população e do uso de materiais hidráulicos mais modernos nas redes domésticas e industriais. Para alguns ambientalistas, no entanto, o resultado alcançado nos últimos dez anos não passa de manobra aritmética. Em entrevista ao Estado, o ex-presidente da Agência da Bacia do Alto Tietê Julio Cerqueira Cesar Neto contrariou os números da Sabesp, lembrando que, se a Sabesp só produz 66 m³ por segundo de água, é impossível que atenda 100% da população, como proclama, o que exigiria uma oferta de 73 m³/seg. Segundo ele, o volume produzido hoje seria suficiente para atender apenas a 90% da demanda, o que deixaria 2 milhões de pessoas sem água. Esse cálculo, porém, não considera a economia de água resultante de várias iniciativas adotadas pela Sabesp. Por exemplo, a perda de água foi reduzida de 32% do fornecimento em 2006 para 28% em 2008, economia suficiente para abastecer uma cidade de 600 mil habitantes.
Nos últimos dez anos, também a população contribuiu com o uso mais racional da água. Em 2003, por exemplo, a região metropolitana de São Paulo foi duramente castigada pela estiagem. A Sabesp realizou uma campanha de economia de água baseada em metas de consumo e dos 3,2 milhões de ligações da companhia, 1,6 milhão cumpriu a meta. Mesmo quem não cumpriu a meta reduziu o consumo. Além disso, a Sabesp vem aumentando o seu programa de investimentos, que, segundo o plano de metas que será executado até 2010, passou de R$
São Paulo não pode mais facilitar com o desperdício de água tratada 3,84 bilhões para R$ 5,87 bilhões. O objetivo é manter a universalização do abastecimento de água e aumentá-lo para mais 2 milhões de pessoas. No ano que vem, o sistema Taiaçupeba, em Suzano, deverá ser inaugurado, o que ampliará a oferta em mais de 5 mil litros por segundo. Há ainda o Programa de Uso Racional da Água (Pura), lançado para incentivar o consumo consciente por meio do uso de tecnologia avançada e de mudanças de hábito, que atingiu resultados surpreendentes em muitas escolas, indústrias, órgãos públicos e outras entidades que aderiram ao programa. A cozinha industrial da montadora Ford, por exemplo, com orientação da Sabesp reduziu em 52% seu con-
tabela segundo a qual, dos 511 atos não publicados em parte alguma, 88 foram editados quando presidia a Casa (ante, por exemplo, 260 na gestão de Calheiros e 207 sob Garibaldi Alves). Mas o ponto simplesmente não é esse – e sim o fato de que foi ele quem nomeou e respaldou o diretor-geral Agaciel Maia, durante 14 anos o condutor das irregularidades em escala industrial na administração do Senado. No que foi tido como uma “defesa técnica”, fez praça de esmiuçar “a grande acusação que me é feita” – a prática de nepotismo. Serviu uma macedônia de nomes, apenas para se desvincular da pletora de nomeações de parentes e afilhados, salvo no caso de uma sobrinha, “não julgando que nisso houvesse qualquer falha”. A manipulação culminou com a memorável justificativa para o pedido a Agaciel para empregar o namorado da neta: “É claro que não existe o pedido de uma neta – se pudermos ajudar legalmente – que qualquer um de nós não deixa de ajudar.” Precioso esse “legalmente”: a nomeação saiu por ato secreto. O espírito, por assim dizer, do discurso tal-
O monopólio das cartas sumo de água. Na Universidade de São Paulo, a redução chegou a 43% e em 50 escolas estaduais da região metropolitana, o consumo baixou 40%. O Pura foi desenvolvido em convênio com a Escola Politécnica, da USP, para ser implementado em unidades consumidoras que, na cidade de São Paulo, apresentam um consumo mínimo de 1.000 m³/mês, ou de 500 m³/mês em localidades do interior ou litoral. Programas como o ProAcqua, que permite a medição individualizada de cada apartamento dos condomínios residenciais, também resultam em redução significativa no consumo de água, que pode chegar a 40%. A Sabesp tem orientado seus clientes industriais no sentido de reduzir o consumo de água e, consequentemente, o custo de seus processos produtivos. Esse tipo de atuação é de extrema importância para a região metropolitana de São Paulo, onde a disponibilidade de água é de pouco mais de 200 m³ por habitante por ano, volume que representa menos de 10% do índice de referência adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais de 50% da água consumida por 18,5 milhões de moradores da Grande São Paulo já é trazida de bacias cada vez mais distantes, com custos cada vez mais elevados. É evidente que a queda de 23% no consumo de água em dez anos não resolve o problema, mas indica que o modelo de atuação da Sabesp está na direção certa.
O
s Correios manterão o monopólio da entrega de cartas, cartõespostais e correspondência agrupada. Assim decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF) por 6 votos a 4, na quarta-feira. As empresas privadas poderão continuar entregando encomendas, impressos, jornais e revistas, e já não ficarão sujeitas a ações penais por causa dessa atividade. Os dois lados tiveram algum benefício com a decisão judicial, mas a possibilidade de novos conflitos não foi eliminada, como reconheceu o presidente do STF, o ministro Gilmar Mendes. É preciso, de acordo com o ministro, atualizar a legislação. Os ministros Eros Grau, Joaquim Barbosa, Cézar Peluso, Ellen Gracie, Carmen Lúcia e Carlos Britto votaram a favor do monopólio. Gilmar Mendes, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski votaram pela restrição do monopólio à entrega de cartas. Ficariam fora dessa classificação as encomendas, os boletos de cobrança e os cartões bancários. O ministro Marco Aurélio Mello defendeu a quebra do monopólio, com abertura de toda a atividade à concorrência. Pela definição contida na Lei nº 6.538/78, carta “é objeto de correspondência, com ou sem envoltório, sob a forma de comunicação escrita, de natureza administrativa, social, comercial ou qualquer outra, que contenha informação de interesse específico do destinatário”. Na interpretação mais ampla, essa definição inclui cartões e boletos bancários e de cobrança de serviços e de impostos e esse foi o entendimento
manifestado pela maioria dos ministros. No entanto, segundo o ministro Lewandowski, citado em reportagem do Estado, a decisão do STF não deixou claro se essa interpretação foi consagrada na decisão final. De acordo com o ministro Gilmar Mendes, o País precisa de uma nova lei postal, mais clara e adequada às necessidades de hoje. O STF começou a cuidar da questão em 2005. A ação judicial foi movida pela Associação Brasileira das Empresas de Distribuição. Os Correios, segundo a associação, não poderiam exercer um monopólio
Haverá competição em algumas áreas e para os Correios isso será saudável não previsto na Constituição. A Lei 6.538/78 seria portanto, incompatível com a ordem constitucional em vigor desde 1988. Além disso, o monopólio impediria o livre exercício de trabalho, ofício ou profissão. Segundo os ministros, no entanto, a Constituição não anulou nenhum dispositivo da lei postal. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, havia acrescentado um argumento de outra ordem a favor da manutenção do monopólio: sem esse privilégio, os Correios quebrariam. Não ficou claro se essa alegação, de ordem estritamente econômica, influenciou de alguma forma a decisão favorável ao monopólio. Ninguém deveria aceitar um argumento desse tipo sem uma boa fundamentação técnica – e esta nin-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
ACHILLE APREA
lor e o Renan tenham, como numa eleição passada, mais algum podre a ser revelado?
newplay1@terra.com.br
M. A. NOBILI
Vitória
manobili@uol.com.br
Só para lembrar: a última base americana estabelecida na América do Sul por um Jim Jones terminou em suicídio coletivo.
São Paulo
●
SERGIO PINHEIRO LOPES sergiotradutor@uol.com.br
São Paulo ● Explorar, saquear e envergonhar o País ainda é pouco. Eles querem matar o Brasil. DOCA RAMOS MELLO ddramosmello@uol.com.br
São Sebastião
E o Lula segue defendendo o Sarney. Será medo de que o Col●
Mega-Senado É a loteria perfeita, o apostador nunca perde. Funciona assim: você pratica um ato ilícito qualquer que lhe renda uma quantia em dinheiro; embolsa esse dinheiro sem se preocupar se é público; se for, é seu também. Aguarde, se ninguém perceber ou reclamar, você encerra a jogada com sucesso e já pode iniciar a próxima. Se alguém reclamar e isso gerar uma pressão muito, mas muito forte mesmo sobre você, faça o seguinte: proponha a devolução do di-
“
De fato, o sr. Sarney é uma pessoa incomum. Só ele considera malversação do patrimônio público um ato normal”
EdsonFunabashi edson@acteon.com.br SãoPaulo
nheiro em várias parcelas, sem juros; você vai ser elogiado pela atitude honrosa. Se você disser que vai vender um imóvel para pagar a conta, aí você sensibiliza até a opinião pública e ninguém vai perceber que você conseguiu esse imóvel com recursos adquiridos nas jogadas anteriores. Feito isso, você reuniu novamente as condições morais para iniciar
uma nova jogada. Boa sorte! Loteria como a Mega-Sena, em que o apostador pode perder o dinheiro da aposta, não tem graça. Deixa para o povão!
guém apresentou. De toda forma, a decisão permite que se mantenha algum grau de concorrência no mercado de entregas. Nas sociedades mais desenvolvidas e mais complexas, a atividade postal exercida pelo Estado tem coexistido com a prestação de serviços por empresas privadas – algumas muito grandes e com atuação global. Essas empresas surgiram e cresceram precisamente porque os correios estatais não teriam condições de atender às crescentes e variadas demandas da vida moderna. Os serviços privados acrescentaram velocidade, segurança e confiabilidade aos serviços nacionais e internacionais de entregas. Conquistaram mercados porque demonstraram agilidade – um atributo nem sempre encontrado nas organizações estatais – e porque foram orientados para atender às necessidades dos clientes. A modernização dos correios estatais resultou, em parte, da pressão exercida pelos concorrentes privados. Sem essas empresas, o aperfeiçoamento dos serviços estatais de entrega teria sido provavelmente mais lento. Em vários países, os serviços postais dos governos foram reorganizados para ampliar suas atividades e passaram a funcionar como instituições auxiliares do sistema bancário e das instituições de poupança. Com o rápido avanço dos meios eletrônicos de comunicação, as empresas de correios – públicas e privadas – terão de continuar mostrando agilidade e capacidade de inovação. Nada é mais eficiente do que a concorrência para estimular o desenvolvimento dessas virtudes.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
ter esse bando de ladrões que vive de assaltar os cofres públicos.
vez tenha sido o seu único aspecto transparente: nada fez que já não tenha sido feito por seus pares. Ou, no famoso bordão do comediante Chico Anysio: “Sou, mas quem não é?” Terminou discretamente aplaudido. Depois, a farsa foi transportada para o recinto onde se reuniu o Conselho de Ética, cujo presidente escolhido a dedo pelo bloco sarneysista, o senador sem-voto Paulo Duque, cumpriu o papel a ele reservado no script. Alegando que não poderia acatar ações baseadas em “recortes de jornais”, arquivou sumariamente 4 dos 11 pedidos de investigação contra Sarney, além de outro requerimento contra Calheiros. Foi para a gaveta, por exemplo, a acusação do líder do PSDB, Arthur Virgílio, de que o senador mentiu ao negar que tivesse poderes administrativos na Fundação José Sarney, de que ele é presidente vitalício. A entidade desviou para empresas fantasmas e do clã recursos recebidos da Petrobrás. Terá decerto o mesmo destino a denúncia, baseada em gravações da Polícia Federal, sobre o envolvimento de Sarney com o ato secreto da nomeação pedida pela neta. A oposição fará a expressão corporal de recorrer dos arquivamentos e produzir uma nota pelo afastamento do senador.
‘Estado’sob censura
● A Sociedade Rural Brasileira (SRB) manifesta apoio ao Estado pela defesa da liberdade de expressão em nosso país. Repudiamos qualquer forma de censura à imprensa brasileira, como o recente caso do recurso judicial concedido ao empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, que impediu a veiculação de reportagens que envolveriam seu nome. Para a SRB, é inaceitável, para a manutenção da democracia, qualquer ato que cale a imprensa. A função vigilante da imprensa é imprescindível para o aumento de transparência que se espera das autoridades, bem como para auxiliar a sociedade no desafio de cobrar os governantes.
SINCLAIR ROCHA
A Associação dos Jornais do Interior do Estado de São Paulo (Adjori-SP) solidariza-se com O Estado de S. Paulo pela afronta à liberdade de expressão materializada em decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, relativa à Operação Faktor. A Adjori-SP repudia toda e qualquer ação contrária aos direitos básicos de informar e de ser informado. Os jornais membros da Adjori-SP comungam o preceito de que uma nação justa e igualitária se constrói sobre as colunas da moral, da ética e da livre e responsável expressão, condutas que sempre pautaram a centenária história do Estado.
sinclairmalu@uol.com.br
CARLOS A. B. BALLADAS, presidente
dente da SRB
São Paulo
São Paulo
São Paulo
PAULO ROBERTO CESTARI paulo.cest@ig.com.br
Santo André
Horadeacordar Está na hora de o governador Serra acordar e se manifestar sobre a vergonha que se passa no Senado e no governo federal, antes que seja tarde demais. Honre os paulistas, não seja frouxo, do contrário nunca mais terá o meu voto. Votarei na Dilminha, que tem mais peito para falar o que pensa.
CESÁRIO RAMALHO DA SILVA, presi-
A8 NACIONAL
SEXTA-FEIRA, 7 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
ESTADO SOB CENSURA
Entrevista José Arthur Giannotti: filósofo
Carlos Lessa Ex-presidente do BNDES “Não acho que seja correto obter uma liminar para não publicar. Se o Estadão está pegando erros do presidente do Senado, está prestando um serviço à sociedade. Quem não deve não teme”
‘A questão da censura é a mesma da crise do Senado’ PATRICIA SANTOS/AE–4/9/2006
Adauto Novaes Filósofo e jornalista “É assustador que num momento em que o País tenta se estruturar pela liberdade e a democracia aconteça uma coisa dessa. Você não sabe onde pode parar. Pode ser a ponta de alguma coisa muito pior”
Christiane Torloni Atriz
Giulia Gam Atriz
Ricardo Ismael Cientista político
Flavio Marinho Autor teatral
“É papel da imprensa informar o que está acontecendo no País, em particular quando há suspeita de malversação do dinheiro público. Investigações sob sigilo têm restrições, mas se o jornal teve acesso deve publicar”
“Estou chocado, como ex-jornalista e cidadão brasileiro. Não acredito que a gente tenha levado tantos anos para conquistar a democracia para esse tipo de cerceamento de imprensa acontecer”
“Qualquer tentativa de volta de censura é um retrocesso histórico. Não foi para isso que se lutou pela democracia. A imprensa tem que comprovar as denúncias. Neste caso, está comprovado”
“Acho muito perigoso a censura à imprensa. Se o jornal é irresponsável, se faz uma acusação que não procede, você pode processar. Mas se for verdade, não se pode cercear”
LIÇÃO – Para filósofo, episódio envolvendo Sarney evidencia fragilidade da democracia brasileira: “Temos sempre de estar vigilantes”
Jaguar Cartunista “Já levei tanta cacetada da censura. As coisas que estão acontecendo no Brasil são das mais malucas. Volta da censura, volta do Collor. Não tem o menor cabimento falar de censura hoje. Achei que era algo já enterrado”
Alba Zaluar Antropóloga “Significa um grande retrocesso. Por que não se pode noticiar sobre alguém que é filho de fulano e não sobre o filho de outro? Cria um privilégio que não tem cabimento numa democracia”
Ignácio Cano Sociólogo “É uma decisão descabida que atenta contra a liberdade de expressão e o senso comum. Algumas pessoas deste país infelizmente ainda conseguem no Judiciário tolher um direito básico como a informação”
Bete Mendes Atriz
“É realmente um absurdo, absurdo, absurdo. Como o ex-ministro Fernando Lyra (da Justiça), que acabou com a censura no País, todos nós lutamos por muito tempo para termos liberdade de expressão”
Para professor, não é papel do Judiciário impor restrições à veiculação de informações de interesse público Julia Duailibi
Professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), José Arthur Giannotti, um dos filósofos mais respeitados do País, afirmou ontem, em entrevista ao Estado, não ser papel do Judiciário impor restrições à veiculação de informações de interesse público. “A questão da censura, ao meu ver, é a mesma questão que está levando à crise do Senado, que está levando à esculhambação da política na América Latina. É uma questão mundial, mas no Brasil acontece de forma muito aguda”, afirmou. No dia 30, o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, proibiu o Estado de publicar informações sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de quem é amigo. “Quando você tem juízes que estão tomando parte no festim de Brasília, eles entendem perfeitamente que precisam defender o festim”, disse. Para o filósofo, a democracia brasileira, “frágil”, propicia situações como essa. “Temos sempre de estar vigilantes”, disse Gianotti, que completou: “O que temos é uma bagunça generalizada.” A seguir, trechos da entrevista. Qual avaliação o sr. faz da proi-
Roberto Farias Presidente da Academia Brasileira de Cinema
“Tenho medo, porque vivi nos tempos da censura do governo militar. Tive um filme censurado. Me impressiona como um símbolo da luta contra a censura, como foi o Estadão, esteja passando por isso”
bição imposta ao jornal O Estado de S. Paulo de publicar informações sobre o filho de Sarney?
Em primeiro lugar, isso está dentro de um problema geral na América Latina, que é a ameaça à democracia formal, que é uma democracia de direitos. Passamos por uma época de crescimento, do Brasil em particular. Uma massa grande de cidadãos entrou para o sistema político, e os seus representantes são pessoas que estavam inteiramente de fora da vida política tradicional. E esse pessoal não tem nenhum compromisso com a democracia formal. A questão da censura, ao meu ver, é a mesma questão que está levando à crise do Senado, que está levando à esculhambação da política na América Latina. É uma questão mundial, mas no Brasil acontece de forma aguda. O sr. acha ser papel do Judiciário impor restrições à veiculação de informações de interesse público?
Não, óbvio que não. Acontece que, quando você tem juízes que estão tomando parte no festim de Brasília, eles entendem perfeitamente que precisam defender o festim. Decisões do Judiciário são influenciadas por questões políticas?
Quando decisões do Judiciário chegam à Corte Suprema, sempre são influenciadas pelo jogo político. A Suprema Corte é o lugar onde se faz a união entre direito e política, em qualquer lugar do mundo.
Tarso Genro diz que jornal não sofreu censura ●● ● Nove dias depois de afirmar que o segredo de Justiça “praticamente terminou” no País, o ministro da Justiça, Tarso Genro, disse ontem que não vê censura na decisão do desembargador Dácio Vieira de proibir o Estado de publicar conversas gravadas que envolvem o presidente do Senado, José Sarney. “Não acho que seja censura. Na verdade, o que está sendo obstado ali seria, segundo o despacho, a divulgação de fatos que podem ser inverídicos”, afirmou o ministro, segundo a Agência Brasil. Ele disse, porém, acreditar na derrubada da decisão. “É uma decisão que não vai se sustentar juridicamente.” ● LEONENCIO NOSSA
ceber também que isso não é apenas um epifenômeno (fenômeno acessório), não é uma coisa acidental. Está ligado ao aumento da cidadania no Brasil. Na medida em que uma massa enorme entrou no mercado, passou a participar da vida cotidiana, com seus direitos. Eles (integrantes dessa massa), como acabaram de vir, pensam em termos dos ganhos imediatos. Não são capazes de perceber que um ganho imediato pode ser abolido numa perspectiva mais longa. Essa falta de previsão, que marca o governo Lula, leva ao desprezo da democracia formal. Se os nossos representantes tivessem uma cultura política mais aprofundada, isso não aconteceria.
duais e direito à informação num País em que a Justiça está sujeita à influência política? São necessárias novas regras?
Não adianta regra. O problema é que você passa a obedecer à regra, e outras pessoas reclamam quando a regra é obedecida. Sempre haverá um desgraçado que vai querer passar a perna na regra.O que tem de ser feito, e ao meu ver está sendo bem feito, é lutar contra a decisão imposta de uma forma férrea e ainda com a bênção de um direito que, afinal de contas, é mal interpretado.
Que a nossa democracia é muito frágil. E nós temos sempre de estar vigilantes. Essa censura remete a épocas como a do regime militar?
Acho que não. Na ditadura, tivemos outro processo. Houve uma ruptura do sistema democrático. Não é isso que acontece agora. O que temos é uma bagunça generalizada. Ela reflete a enorme variedade da sociedade brasileira hoje. É a integração dessa massa na vida cotidiana, pública e política.
Como conciliar liberdades indivi-
Carlos Lyra Compositor
Chico Anysio Humorista
Lúcia Murat Cineasta
“No Brasil, tudo o que é ruim volta. Eu acho isso inadmissível, porque depois vão proibir de se falar da neta, da filha, do próprio Sarney... Ele não é uma pessoa, é uma comunidade. Daqui a pouco vai dizer que não conhece o neto. O Brasil inventou a impunidade”
Marieta Severo Atriz “Fico indignada. O papel da imprensa é importantíssimo para a transparência. Eu quero saber o que está acontecendo e acredito que tenho o direito de ser informada”
As instituições brasileiras tendem a se fortalecer com o amadurecimento da democracia?
Sim, no Brasil temos que resistir ao máximo. Temos que per-
“Eu não estou proibido de falar. A imprensa é o único órgão que noticia e denuncia. Se não existe liberdade de imprensa, então nós voltamos à ditadura militar ou ao bolchevismo, que é o que existe dentro do governo”
“É um absurdo, inaceitável. Todo mundo já sabe o que existe no Senado Federal. O que estamos vendo parece coisa de republiqueta da parte de cima da América do Sul”
Qual lição o País deveria tirar de episódios como esse?
Tendem, mas também há tendências que são contrárias. Existem países que não dão certo. Nada leva a dizer que o Brasil vai dar certo. Veja o caso da Argentina. Era um grande país, mas se estrumbicou. Nada impede que o Brasil percorra este caminho. ●
No Brasil, por ser ainda uma democracia recente, essa influência ocorre com mais frequência?
Eduardo Dussek Cantor, compositor e ator
“Sou inteiramente contrária a qualquer tipo de censura à imprensa. E acho que toda a sociedade civil também é contra a censura. Numa democracia não se pode impedir que a informação seja divulgada”
Dom João de Orleans e Bragança Fotógrafo
“A própria relação do juiz com os Sarney registrada na fotografia mostra que ele não tem isenção para julgar o caso. A decisão representa censura, algo que abolimos há 25 anos”
Carlos Tufvesson Estilista
“Acho que lutamos por muito tempo no período negro da ditadura para ter uma democracia plena num Estado de Direito para vê-la sendo usada da maneira pouco representativa, como tem sido ultimamente”
A2 ESPAÇO ABERTO
SÁBADO, 8 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Integração e desenvolvimento
Um simples padre de aldeia
JuanPabloLohlé
DomOdiloP. Scherer
No dia 28 de julho, após a Reunião de Monitoramento do Comércio Bilateral Brasil-Argentina em São Paulo, os negociadores de ambos os países declararam sua satisfação pelos acordos alcançados. Essa satisfação, expressa pelos dois maiores sócios do Mercosul, não seria notável se o fato não representasse uma saudável pausa numa escalada de tensões que surgiram no início do ano e foram abundantemente refletidas pelos meios de comunicação argentinos e brasileiros ao longo do semestre. Em momentos de distensão como este, é útil e necessário examinar detidamente o cenário e a dinâmica que nos levaram a que a exposição das divergências numa das múltiplas áreas de integração entre os nossos países monopolizasse e tingisse de uma cor só todo o espectro da relação, relegando as conquistas e ressaltando os fracassos de um projeto compartilhado no qual estamos trabalhando faz já duas décadas. Nesse marco, a grande
Argentina e Brasil, a necessidade de perspectivas de superação maioria dos países tem reagido de uma ou outra forma diante da crise econômica internacional. Os países com maior disponibilidade de financiamento optaram por fortes políticas de subsídios à produção ou ao consumo para manter o nível de atividade econômica. Dentro da nossa região, o Brasil é um dos países que pôde recorrer a esse tipo de soluções. A Argentina, pela dimensão do seu mercado e pelas consequências de políticas anteriores, conta com uma gama mais limitada de instrumentos para se defender da crise. No primeiro semestre de 2009, as exportações argentinas para o Brasil caíram 22%, enquanto as importações provindas do Brasil caíram 43%, em relação ao primeiro semestre de 2008. Quedas dessa magnitude não podem ser senão a consequência inevitável da crise que vem assolando os mercados internacionais. O efeito de medidas de defesa da indústria doméstica, especialmente da mão de obra nacional, como as licenças não automáticas, é praticamente inexistente no total do comércio. Somando todas as licenças não automáticas em vigor atualmente, os produtos brasileiros dos quais são exigidas licenças representam somente 6% do total da queda das exportações do Brasil. Houve de-
moras na liberação de licenças nos primeiros meses de 2009, devidas a dificuldades com o sistema que as administra, que não está informatizado – como é o caso do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) do Brasil –, mas está-se trabalhando para mudar essa situação. Já no mês de julho foi liberada uma proporção substantiva das licenças pendentes para os produtos brasileiros: calçados, 1.108.000; móveis, 173 mil; e pneumáticos, 205.242. Com relação ao suposto “desvio de comércio” em favor da China, se é bem verdade que em alguns setores a participação dos produtos chineses no mercado argentino cresceu, enquanto a dos produtos brasileiros se reduziu – siderúrgico-metais, têxtil-indumentária, calçados, pedra e suas manufaturas e madeiramóveis –, o Brasil, no entanto, continua tendo participação majoritária, com exceção de têxteis e indumentária. Mas, apesar de não ter recebido suficiente atenção jornalística, a verdade é que esse fenômeno também está ocorrendo no mercado brasileiro, onde a participação dos produtos argentinos tem diminuído ou se mantido constante, enquanto a dos produtos chineses tem aumentado. São exemplos disso os setores de madeira-móveis, agrícola e suas manufaturas, papel-editorial, pedra e suas manufaturas, têxtilindumentária, químico, siderúrgico-metais e maquinárioaparelhos. Nesse sentido, há casos preocupantes. Se considerarmos o período de janeiro a maio deste ano, ante o mesmo período de 2008, a perda de participação das exportações argentinas de madeira e móveis no mercado brasileiro foi de 6 pontos porcentuais (de 24% para 18%), enquanto os produtos chineses ganharam 9 pontos porcentuais (de 13% para 22%). O mesmo se pode dizer dos ramos têxtil-indumentária e siderúrgico-metais, nos quais, se bem que a participação argentina permaneça constante (4% e 3%, respectivamente), a correspondente chinesa aumenta significativamente, 6 pontos porcentuais (de 36% para 42%, no primeiro caso, e de 10% para 16%, no segundo). Pois bem, pode-se continuar analisando cifras, procurando responsabilidades e novas formas de analisar os dados a fim de determinar quem ganha e quem perde, mas a realidade é que exercícios como esse adquirem tamanha magnitude pelo fato de que podem crescer no amplo espaço que lhes deixam os débitos do processo de integração. E é aí que esses conflitos resultam
úteis, como sintomas das falências atuais, uma vez que assinalam a notável carência de institucionalização e a já longa dívida pendente do Mercosul em criar uma integração produtiva real que conste de cadeias de valor eficientes compartilhadas entre seus membros. Precisamos, imperiosamente, consolidar esse espaço, no qual temos trabalhado tanto. E isso só se concretizará quando esses dois grandes desafios forem encarados de fato. Somente a construção de uma arquitetura jurídica eficiente e a integração de cadeias de valor nos permitirão conviver num espaço de tamanha envergadura, onde não existam perdedores nem ganhadores, mas sócios. A integração pressupõe o desenvolvimento do conjunto. É necessário que não utilizemos esses conflitos como oportunidades para esquecer os desafios que ainda não enfrentamos. Não percamos a perspectiva que nos deu essa ambição comum de criar o espaço que compartilhamos. Aprendamos com essas dificuldades e continuemos trabalhando nas tarefas pendentes. ● Juan Pablo Lohlé é embaixador na Argentina no Brasil
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
John Hughes, cineasta (1950-2009)
FÓRUM DOS LEITORES Fimdalinha Assistir à briga entre os “nobres” senadores foi cômico, para não dizer trágico. Estamos, de fato, presenciando a falência total da administração política brasileira, em que a vergonha, a honestidade, a competência não existem na prática. A recente censura imposta ao Estadão (por um juiz cupincha de Sir Ney) foi a prova final disso, mostrando que o coronelismo, o jogo de interesses, enfim, o banditismo é que realmente controla este país. E cadê “o cara”? Que piada! Eu, particularmente, desisti do Brasil. Já planejo exercer minha profissão no exterior futuramente. Digo isso com real tristeza, mas não quero mais trabalhar aqui, ajudando a sustentar (com os meus pesados impostos) essa enorme corja de pilantras.
E eles são vorazes, muito vorazes! ADRIANO PIOTTO, professor piotto1@hotmail.com
Campinas
Lexotan Senadores de dedo em riste, gritando palavras de baixo calão fora do microfone, ameaçando-se em público, aos gritos... Que horror! A que ponto chegamos, senhores! Talvez devessem oferecer Lexotan à entrada do Senado. Se for preciso, eu até pago. Fernando Collor tem direito a dois. Quem sabe se, estando mais calmos, esses senhores conseguem se ocupar dos assuntos que interessam à Nação.
A Igreja recorda o 150º aniversário da morte de São João Maria Vianney, o Cura de Ars, falecido em 4 de agosto de 1859. Para a maioria dos leitores, certamente, trata-se de um ilustre desconhecido. Então, vamos situá-lo no tempo e no espaço: de fato, os “santos” católicos não são personagens imaginários nem produto da fantasia, mas pessoas reais e históricas. João Maria Batista Vianney nasceu em 8 de maio de 1786, em Dardilly, ao norte de Lyon. Na França ouviamse discursos inflamados por toda parte contra a burguesia e o regime absolutista, reclamando por uma nova ordem social e política; a Bastilha já balançava e a Revolução Francesa estava para explodir. Também contra o clero as invectivas eram virulentas: no velho regime, boa parte dele formava uma classe à parte e tinha muitos privilégios. A bem da verdade, porém, deve-se dizer que, na mesma época, na França, também floresciam por toda parte obras sociais suscitadas e mantidas pelo clero e pelas organizações da Igreja para o benefício do povo esquecido e explorado. Nesse contexto, o jovem Vianney quis ser padre. Não era sem riscos, pois a vigilância da polícia revolucionária
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Aguerradepoder Enquanto nosso povo vai rebolando para sobreviver, nossos políticos só pensam em guerra para abocanhar o poder. VIRGÍLIO MELHADO PASSONI mmpassoni@gmail.com
Osasco
Omundodávoltas Hoje, por tudo o que tenho visto lá na casa-da-mãe-joana, estou com vergonha de ser brasileira. E talvez seja exatamente isso que elles queriam... Peço a Deus que me dê paciência para esperar o dia em que o sr. Renan Calheiros vai abrir a boca no plenário para contar o que sabe sobre Lulla e o PT.
Coisasde‘coronel’ Esse sr. Tasso Jereissati não tem compostura mesmo. Chamar em plenário, em plena sessão, um senador da República de “cangaceiro de quinta categoria” é absolutamente inadmissível. Está caracterizada a falta de decoro! A sociedade brasileira exige a punição devida: perda de mandato. SÉRGIO PAULO TEIXEIRA POMBO sp.pombo@estadao.com.br
Campinas ● Tasso definiu muito bem o que Renan é. Meus cumprimentos. CARLOS ED. BARROS RODRIGUES
LUCIANA PUECH LEÃO
ANGELA CARACIK
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São Paulo
São Paulo
São Paulo
estava por toda parte. Durante vários anos, favoráveis e contrários à Revolução dividiam dolorosamente a Igreja; símbolos religiosos eram varridos dos espaços públicos por uma onda de intolerância religiosa, em nome do Estado laico instaurado pela revolução; padres foram perseguidos, jogados na cadeia e também assassinados. Quando a paz voltou, Vianney, já com 20 anos, foi ser alfabetizado; queria estudar e na sua aldeia não havia escola. Teve sérias dificuldades nos estudos, sobretudo por causa do Latim, matéria obrigatória para os estudos eclesiásticos e para o desempenho das funções sacerdotais. Já houve quem o descrevesse como “burrinho”, talvez por desprezo, pois sem inteligência ele não era. Ao visitar sua humilde casa paroquial em Ars, ainda hoje existente, eu mesmo pude observar ali vários livros bem volumosos, que lhe pertenceram, sublinhados e anotados à margem. Eram até muitos para uma época em que os livros não eram abundantes nem acessíveis, como hoje. Foi ordenado padre em 13 de agosto de 1815, com 29 anos de idade. Pouco mais tarde, o arcebispo de Lyon enviou-o para Ars, pequena localidade camponesa numa região de bons vinhos, como o Beaujolais... Não longe de lá, vê-se ainda o que sobrou da Abadia beneditina de Cluny, importantíssima na vida religiosa e civil da França durante vários séculos. Foi destruída no tempo da revolução; depois, uma parte pequena foi reerguida, o resto continua em ruínas. Ars, com cerca de 370 habitantes, tinha fama de “terra sem Deus”, onde a fé cristã e as práticas religiosas tinham caído no esquecimento. Muitos padres largaram o serviço da Igreja, trocando o altar pelas barricadas e o catecismo pelas baionetas; a mentalidade iluminista, o anticlericalismo e os preconceitos contra a religião haviam lançado raízes também naqueles ermos distantes de Paris. Ao ser nomeado, o Cura recebeu esta recomendação: “Em Ars não há muito amor a Deus, mas o senhor o despertará!” Era como ser mandado ao deserto para fazê-lo reflorir... O Cura não se deixou desanimar e acolheu o encargo como missão recebida de Deus, pondo-se logo a trabalhar. Visitava as famílias e as pessoas doentes, rezava muito, estava sempre na igreja – dentro da qual até instalou seu simples dormitório –, celebrava as missas, atendia as confissões... No início, ficava praticamente sozinho; aos poucos, porém, o povo reconheceu nele um homem de Deus. Nos últimos anos de sua vida chegava a passar 16 horas por dia no confes-
sionário. Seu modo de falar de Deus (le bon Dieu), sua fé límpida e a bondade no trato com todos chamaram a atenção. Seu amor pelos pobres era concreto: dava-lhes tudo, até suas roupas, e o dinheiro nem esquentava em suas mãos, mas era passado logo aos necessitados. Em 1824, fundou a Casa da Providência, inicialmente uma escola para meninas em geral e, em seguida, só para meninas abandonadas; nessa obra, Vianney conseguiu agregar a solidariedade de muitas pessoas. A obscura aldeia de Ars, aos poucos, tornou-se conhecida em toda a região e até nos palácios de Paris. O povo chegava em peregrinações para ver e ouvir o humilde Cura. Eram pessoas simples e também instruídas, que não mediam sacrifícios para ouvirem suas pregações e seus conselhos, para receberem sua bênção, rezarem com ele... Outros famosos talvez ostentassem obras bem mais vistosas, faziam discursos eruditos, contavam com o poder do dinheiro e
Que atraía o povo falando do ‘bom Deus’, sem milagres nem mistificações da força política. Ele não tinha nada disso para impressionar as massas. Por que motivo, então, o povo o procurava? Por qual desejo esperavam horas e horas na fila para se confessarem com ele? Em 1830 passaram por Ars quase 30 mil pessoas, querendo encontrar o Cura; em 1840 começou a funcionar diariamente um serviço de diligências, que partiam diretamente de Lyon para Ars. Por que o povo queria ir a Ars? Para ver o quê? Para alguns, a resposta a essas perguntas intrigantes pode ser ainda mais intrigante: para ver um simples padre de aldeia, que lhes falava do “bom Deus”. Sem milagres nem mistificações. Ele mesmo era um homem de Deus, que comunicava o fascínio do amor de Deus às pessoas e diante do qual até os pecadores mais empedernidos caíam de joelhos, pediam o perdão de seus pecados e recebiam a paz da consciência. Por decisão de Bento XVI, Vianney é o patrono de todos os sacerdotes, comemorado cada ano no dia 4 de agosto. Ainda hoje, muitos padres, a exemplo do Cura de Ars, nos campos e nas metrópoles, gastam a vida falando do bom Deus e servindo aos irmãos. Foi pensando neles que escrevi este artigo. ● Dom Odilo P. Scherer é cardeal-arcebispo de São Paulo
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RepúblicadeAlagoas O que representa Alagoas para receber tanto destaque na nossa vida? Os srs. Renan Calheiros e Fernando Collor são dois dos responsáveis pelo atraso desse Estado, onde 90% do povo vive na miséria, ainda como escravo, preso a uma vida sem educação, saúde e alimentação, enquanto os 10% restantes vivem em apartamentos milionários na orla de Maceió, à custa dos pobres. Quem já conheceu Maceió sabe do que estou falando. Pobreza e abandono são a política de trabalho de políticos como Collor e Renan – aprenderam com Sarney, que faz a mesma coisa em seu Estado. Mas na tribuna eles vão dizer que é tudo mentira, que ajudam o povo em atos secretos para que ninguém saiba o “bem” que fazem...
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TIAGO HOMEM DE MELO DE C. E SILVA tihmcs@ig.com.br
Campinas ● Cada vez mais sinto vontade de cobrar a ex-senadora Heloisa Helena. Se ela não se tivesse candidatado a presidente, sabendo não ter a menor chance, teria concorrido à reeleição e certamente teria sobrado apenas o senador Renan, sem companheiro para baixarias e proteções à corrupção. Agora, como vereadora, fica assistindo, como nós, a esse espetáculo de baixaria no Senado. MANOEL MENDES DE BRITO brito.voni@terra.com.br
Bertioga
Ovidente Teria sido Rui Barbosa um viden-
SÁBADO, 8 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Sob a regência de Lula
O
presidente Lula recebeu no início dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás, na quintafeira, os primeiros dividendos substanciais deste ano legislativo do seu investimento na montagem e sustentação de um esquema de controle do Congresso Nacional. Centrado no PMDB dos senadores José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e do deputado Michel Temer, o aparato se estrutura numa coalizão-ônibus que só não tem espaço para quem não queira nela embarcar. Rigorosamente dentro do previsto, Jucá, o líder do governo no Senado escolhido a dedo para relator da CPI – o que por si só escancara a subordinação do Legislativo ao Planalto –, propôs de uma tacada a rejeição de 66 dos 88 requerimentos apresentados, na maioria, pela oposição para dar sentido à sua iniciativa de promover a investigação sobre a estatal. Qualquer semelhança com o engavetamento das denúncias contra Sarney no Conselho de Ética do Senado não é coincidência. Sarney foi o beneficiário imediato do zelo com que Jucá colocou em movimento a operação-abafa na CPI. O oligarca maranhense se-
rá poupado da apuração do convênio da fundação que leva o seu nome com a Petrobrás. A empresa patrocinou com R$ 1,3 milhão um projeto cultural da entidade que não saiu do papel. Desse total, R$ 500 mil foram parar em empresas fictícias ou da rede de comunicação da família de seu presidente vitalício. “Qual é a intenção: começar a discutir patrocínio por causa da Fundação Sarney ou discutir seriamente patrocínio?”, perguntou retoricamente o relator, como se uma coisa e outra não tivessem a menor relação. Ele barrou também a convocação da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, demitida pouco depois de considerar irregular, em nota oficial, o arranjo contábil pelo qual a Petrobrás modificou o seu regime tributário, no ano passado. Jucá alega que a questão poderá ser coberta pelo secretário interino da Receita, Octacílio Dantas Cartaxo, que deporá na terça-feira. A CPI ouvirá o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, oito dos seus diretores, o presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, e quatro dos seus dire-
Para continuar atraente
O
Brasil continua sendo um dos destinos preferidos dos investimentos das empresas transnacionais. No ano passado, quando o fluxo internacional de investimentos caiu 15%, o Brasil recebeu US$ 45 bilhões, 30% mais do que em 2007. Com isso, passou da oitava para a quarta posição entre os países emergentes que mais absorvem esses investimentos, atrás da China, de Hong Kong e da Rússia, e à frente de concorrentes como o México, a Índia, a Turquia e Cingapura. O País deve continuar atraente para os investidores externos nos próximos anos. A crise mundial criou um cenário relativamente favorável para economias como a brasileira, caracterizadas por grande mercado interno, apreciável potencial de crescimento, fornecedores de matérias-primas e componentes disponíveis e facilidades de acesso ao mercado regional. Pesquisa feita pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) colocou o Brasil entre os quatro países que mais deverão receber investimentos de um grupo de 241 empresas transnacionais consultadas. À frente estão apenas a China, os EUA e a Índia. Em relação à pesquisa do ano passado, quando ocupou a quinta posição, o Brasil superou dois importantes competidores, o Reino Unido e a Rússia, mas foi superado pela Índia. É uma melhora apenas relativa, pois, abaladas pelos efeitos da crise – que reduziu drasticamente seus lucros, secou as principais fontes de finan-
ciamento, fechou oportunidades no mercado e ainda não acabou –, as empresas transnacionais, em sua maioria, cortaram ou estão cortando os investimentos externos em 2009. Pretendem retomá-los cautelosamente em 2010 e esperam que, em 2011, o volume investido no exterior seja superior ao de 2008. O tamanho e o potencial de crescimento do mercado interno são os dois principais fatores que pesam nas decisões dos responsáveis pelos programas de investimentos externos das grandes transnacionais. Mas outros são levados
No que se refere à atratividade para o capital, a posição do Brasil melhorou em conta na definição desses investimentos, e sua importância varia de país para país. Aos dois principais fatores, seguem-se a disponibilidade de fornecedores locais, acesso a outros mercados, estabilidade e confiabilidade do ambiente para negócios, disponibilidade de mão de obra preparada, qualidade da infraestrutura, custo da mão de obra, eficiência do governo, capacidade de acompanhar os principais competidores, recursos naturais, acesso ao mercado de capitais e incentivos. O Brasil está mal situado em relação aos demais países em dois itens de crescente importância nas decisões dos investimentos. São a eficiência do governo e a qualidade da infraestrutura. Nos principais destinos dos futuros investi-
mentos das grandes empresas, esses dois itens são bastante citados como determinantes da decisão de investir. Nas citações da eficiência governamental como fator de decisão dos investimentos, o Brasil só ganha da Índia, entre 15 países. Quanto à infraestrutura, o Brasil só está em melhor situação do que a Índia, a Rússia, o Vietnã e o México. No Brasil, os dois fatores estão interligados, pois a melhoria da infraestrutura depende, em grande medida, de decisões do governo, que ainda controla diretamente vários setores e, na maioria dos demais, tem poder para autorizar e fiscalizar a atuação da iniciativa privada. Onde controla diretamente, o governo – apesar da insistência com que se refere ao Programa de Aceleração do Crescimento – pouco tem investido. Nos setores abertos ao capital privado, tem retardado decisões e, desse modo, impedido que os investimentos particulares se façam no ritmo desejado e necessário para sustentar o crescimento mais rápido da economia. Até agora, o tamanho da economia brasileira e seu desempenho têm sido suficientes para atrair investidores internacionais. Mas, quando outros fatores passarem a pesar mais nas decisões das empresas transnacionais – como já pesam nos países industrializados –, o Brasil poderá ficar para trás na disputa por investimentos, se até lá não tiver melhorado sua infraestrutura e a qualidade das ações governamentais.
tores – mas não as sócias de uma empresa que teria recebido R$ 260 milhões em comissões de prefeituras que a contrataram e tiveram aumentados os respectivos repasses de royalties do petróleo. Uma das sócias é casada com um diretor da ANP. “O relator optou por convidar apenas aqueles que supostamente defenderão a causa governista”, reclamou o senador tucano Álvaro Dias, autor do pedido de criação da CPI. “Teremos aqui um tribunal só com advogado de defesa e sem promotor.” Ele está no seu papel de espernear, mas decerto não tinha ilusões sobre a conduta dos representantes do governo na comissão de 11 membros titulares. Eles somam 8 senadores, a começar do presidente do colegiado, o petista João Pedro. Foram escalados, em última análise, para desmentir o dito de que se sabe como uma CPI começa, mas não como termina. Ontem foi a incolumidade do presidente do Senado. Hoje é o inquérito sobre a Petrobrás. Amanhã será o destino, entre outros, dos projetos para regulamentar a exploração do petróleo do pré-sal. Depois de amanhã será o
desdobramento da coalizão de governo na coligação eleitoral em torno da candidatura Dilma Rousseff, com um vice do PMDB, ao qual o PT será forçado a ceder a primazia nas disputas para o governo de diversos Estados. O apoio a Sarney é peça-chave nessa formidável construção de poder que Lula rege pessoalmente porque considera a sua prioridade número um. No primeiro mandato, Lula não raro delegou as articulações políticas do governo a Dirceu e aos ministros Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, e Antonio Palocci, da Fazenda. Neste segundo período, escaldado pelos tropeços no escândalo do mensalão, e até por falta de alternativas, tornou-se ele próprio o seu principal operador político. Tem demonstrado nisso uma competência comensurável pela falta de escrúpulos em fazer a sua parte nos arreglos com as figuras que aproximam o noticiário político das páginas policiais da imprensa. De há muito Lula aposentou os últimos vestígios de desconforto com a insalubridade moral da política brasileira. Até agora, com um sucesso que é a garantia de que o amoralismo reinará na cena política brasileira enquanto ele for o regente do espetáculo.
Manifestantes de aluguel
A
representação política, uma das condições básicas de legitimidade do regime democrático, não está em alta em Brasília. Enquanto dentro do Senado suplentes sem voto vão dando as cartas na Comissão de Ética e na CPI da Petrobrás, do lado de fora, na Praça dos Três Poderes, as manifestações para defender ou atacar qualquer causa lideradas por entidades da chamada “sociedade civil” cada vez mais são realizadas por manifestantes de aluguel, sem qualquer vínculo partidário, sindical, corporativo ou religioso. Com isso, movimentos sociais, organizações não-governamentais, associações trabalhistas e grupos religiosos não precisam arcar com a logística e os custos do deslocamento de manifestantes do resto do País para pressionar o Congresso a acolher seus interesses. Criada por sindicalistas brasilienses, a “terceirização” dos protestos tem até tabela informal. Cada manifestante de aluguel custa R$ 40 por uma jornada de meio expediente, mas, se a negociação for bem conduzida, ele pode esticar um pouco mais o “trabalho” e até caminhar debaixo de chuva. Os ônibus com lotação para 45 manifestantes custam R$ 350 cada um e o “coordenador” por ônibus recebe R$ 80 – o dobro de um manifestante. Todos eles aceitam vestir as camisetas das entidades que os contratam e o pagamento é feito em envelopes fechados. Uma “manifestação” com cerca de 800 pessoas – o suficiente para render uma tarde de barulho na frente do Con-
gresso e boas fotos nos jornais – custa mais de R$ 40 mil. Entre os clientes que já contrataram os serviços dos manifestantes de aluguel, em Brasília, estão os proprietários de casas de bingo, que há tempo pressionam deputados e senadores a aprovar o projeto que legaliza o jogo no País. Uma das maiores especialistas em manifestação sob encomenda é a Nova Central Sindical – uma entidade que, segundo seu site, teria nascido da “luta por uma alternativa independente”, representando 7 confederações, 136 federações, 3 mil sindicatos e quase 12 mi-
Protestos de todo tipo podem ser realizados com pessoal alugado lhões de trabalhadores. Em pelo menos duas oportunidades ela recorreu a manifestantes de aluguel, gastando mais de R$ 80 mil em cada uma delas. Os “manifestantes” são desempregados recrutados em bairros pobres nas cidades-satélites do Distrito Federal, como Planaltina, a 32 km da Praça dos Três Poderes. Outra entidade que também estaria vendendo esse “serviço” é a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh). Em julho, um repórter do site Consultor Jurídico telefonou para a Confederação solicitando o preço de uma manifestação “Fora Sarney”. Na ligação, que foi gravada e está disponível na internet, os funcionários da Contratuh descrevem os expedientes usados para fazer um
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
te? “Mas, em suma, senhores, nada pode admirar a ninguém num país, cujos destinos se trincham à mesa de sete felizardos, como um peru de recheio, em dia de bródio, entre amigos da boa xira. Esses sete camafeus do regímen, os donos da situação e da República, andam por aí rodando apostas sobre quem sejam. Mas o melhor está em que no próprio círculo deles é que parece correr mais acesa a curiosidade. Eles mesmos são os que se vivem a nomear uns aos outros, e empurrar uns para os outros os papéis da mascarada. O público não lhes erra a identidade; porque as caras e as impressões digitais não deixam que ninguém se engane. Seria mister que eu lhes declinasse os nomes? Tanta não há de ser neste auditório a malignida-
de. Se já os conhecem, por que obrigarem-me a pôr o nome aos bois? Mas, se insistis, vá como quiserdes: não briguemos” (A Questão Social e Política no Brasil – em 20 de março de 1919 – Obras Completas de Rui Barbosa, “A Imprensa”, vol. XXVI, tomo IV, 1889, páginas 185-191). ATALIBA MONTEIRO DE MORAES FILHO
“
Enquanto existir o ‘Estadão’, nas palmeiras da minha terra os sabiás livres jamais deixarão de cantar”
RobertoTwiaschor rtwiaschor@uol.com.br SãoPaulo
Poesiasatírica Muito feliz é o povo brasileiro,/ que tem no Senado grandes vestais:/ na corrupção eles são profissionais, /são mais sujos que pau de galinheiro! ITALO POLI JUNIOR polijau@terra.com.br
Jaú
WALDO CLARO waldoclaro@uol.com.br
Jaú
ataliba@hotmail.com
Marília
mentos semelhantes desencadeados pela ditadura militar. O arbítrio não venceu ontem e não vencerá hoje. Parabéns pela resistência. E parabéns por, uma vez mais, estarem honrando a memória do nosso mestre comum, dr. Julio de Mesquita Filho.
‘Estado’sob censura Minha total e irrestrita solidariedade neste momento em que, novamente, as forças do arbítrio e da corrupção tentam calar a voz desse jornal, que escreveu e continua escrevendo as mais belas e corajosas páginas da história da imprensa brasileira. Honro-me por ter vivido e enfrentado ao lado de Ruy e Fernão Mesquita mo-
● É grande a semelhança ou mera coincidência? O caudilho Hugo Chávez censura na Venezuela e a turminha do Lula – Sarney, Renan, Collor – censura aqui. JOSÉ ANTÔNIO GARBINO garbino.blv@terra.com.br
Bauru
A censura prévia ao Estadão é um roubo, é tirar do povo o direi-
●
“bom barulho” e parar o trânsito em frente ao Congresso e afirmam que as manifestações por encomenda constituem um serviço “seguro”, realizado por gente de “confiança”. Questionados sobre a lisura do “negócio”, dizem que estão unindo o “útil ao agradável”, fornecendo “trocados para desempregados” e “vitaminando” o movimento sindical. Argumentos semelhantes foram apresentados pelo presidente da Nova Central Sindical, José Calixto Ramos, em entrevista a O Estado. Para ele, não há nada demais em realizar manifestações com pessoas sem qualquer ligação com sindicatos filiados e com os temas dos protestos. “Em vez de buscar nos Estados, busco companheiros daqui”, diz ele. Além de carecerem de representatividade política, as manifestações sob encomenda, por serem acintosamente realizadas por dirigentes sindicais sustentados pela contribuição sindical, configuram ilícito penal, cabendo ao Ministério Público Federal pedir a imediata abertura das investigações. Na realidade, essa grave distorção do sindicalismo brasileiro poderia ser evitada – ou pelo menos atenuada – se o presidente Lula não tivesse vetado o artigo que previa a fiscalização das centrais, na Lei 11.648. Em vigor desde março de 2008, a lei regula o funcionamento das centrais sindicais e suas fontes de financiamento. Para justificar-se o presidente alegou que a fiscalização comprometeria o princípio da autonomia sindical. Essa “conquista” ajudou os sindicalistas brasilienses a converter manifestações sob encomenda em lucrativo negócio.
to de saber a verdade.
fique a lei antifumo estadual.
ALERTA DE SOUZA CARVALHO
BOB SHARP
aym2701@hotmail.com
bobsharp@uol.com.br
Itu
São Paulo
Leiantifumo
Merendaescolar
Começou a guerra sem sentido promovida pelo governo estadual. Ignorando solenemente lei federal que trata de uso e consumo de produtos fumígenos, fumantes, que também são cidadãos, têm o seu direito cancelado por desejo do governador José Serra, hipocritamente substanciado em proteger a saúde dos que não fumam. É inconcebível que o Ministério Público Estadual ainda não tenha tomado uma atitude contra esta escancarada transgressão do mais elementar direito, dado não haver interesse regional que justi-
Segundo o Ministério Público, um contrato de merenda que foi feito sob medida em 2001 pelos petistas que ocupavam a Prefeitura de São Paulo para auferirem vantagens financeiras agora é culpa do ex-prefeito Serra e do atual, Gilberto Kassab. Se o dito partiu de uma licitação cheia da maracutaias e ninguém contou, como é que eles iam saber? Se combinaram com os russos, esqueceram de combinar com a nova direção. KLAUS BENVENUTO klausbenvenuto@gmail.com
Santo André
SÁBADO, 8 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A7 A7
ESTADO SOB CENSURA
Temer vai propor pacto para liquidar crise
ANDRÉ DUSEK/AE – 3/6/2009
Presidente da Câmara, licenciado do PMDB, agendou reunião com líderes para ‘pacificar’ o Senado O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), vai proporumpactopara tentarencerrar a crise no Senado. Presidente licenciado do PMDB, ele está articulando uma reunião para segunda ou terça-feira entreoslíderesdospartidosnaCasa e os presidentes das legendas.Oobjetivo,disse,nãoé colocar sujeira embaixo do tapete, mas “pacificar” o Senado. “Eu proponho uma conversa, um diálogo. Não se faz política com discussões da natureza que estão começando a ocorrer. Política se faz com diálogo, com entendimento. E entendimento entre os partidos e entre os líderes”, disse Temer, após participar de palestra sobre o pacto republicano e sua importância para o Judiciário e a sociedade,nasededoTribunalRegional Federal da Terceira Região (TRF-3), em São Paulo. “Não se vai esconder nada nemesquecer denenhumepisódio”, asseverou. “Apenas se deve encaminhar tecnicamente essa questão. Não se pode colocar uma exacerbação política, nem mesmo ideológica em relação a esse tema.” Temer condenou o nível dos debates,comoasdiscussões entre Pedro Simon (PMDB-RS) e Fernando Collor (PTB-AL) e
FRASES
Michel Temer Presidente da Câmara “Eu proponho uma conversa, um diálogo. Não se faz política com discussões da natureza que estão começando a ocorrer. Política se faz com diálogo, com entendimento. E entendimento entre os partidos e entre os líderes” “O agravamento das discussões, a elevação do tom de voz e também o tom das palavras não colaboram com a instituição”
Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Renan Calheiros (PMDB-AL). “O agravamento das discussões, a elevação do tom de voz e também o tom das palavras não colaboram com a instituição.” ATOS SECRETOS
Temer disse não concordar com a prática dos atos secretos do Senado, que beneficiaram parentes e aliados do presidentedaCasa,JoséSarney(PMDBAP),edoex-diretor-geraldoSenado Agaciel Maia. “Não, não concordo. Não há razão para isso, mas eu vejo que lá estão sendo tomadas providências para que essas coisas não ocorram e,
se ocorreram, que ganhem punição.” Temer disse ser contra a censura imposta ao Estado eaositeestadao.com.br,impedidos por decisão do desembargador Dácio Vieira (TJDF) de divulgar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, que teve como alvo o empresário Fernando Sarney, filho de Sarney. O parlamentar evitou entrarempolêmicacomopresidente do Senado, disse que o pedido partiu do empresário e citou que, segundo Sarney, asgravações teriam sido fruto de montagem. “A censura nãoé útil.Naverdade, nãofoi um ato do presidente Sarney,foi umatodeum advogado que patrocina a causa de um de seus filhos que entendeu que aquilo não poderia ser objeto de divulgação. Aí está em pauta um outro valor, o valor da intimidade.” “Eu não sei bem se é esse o caso, mas houve uma montagem. Pelo menos o presidente Sarney no discurso falou muito de uma montagem, de uma gravação. Agora, eu sou contra toda e qualquer espécie de censura”, destacou. ● FAUSTO MACEDO e ANNE WARTH, DA AGÊNCIA ESTADO
INVESTIGAÇÃO – ‘Não se vai esconder nada nem esquecer de nenhum episódio’, afirma Michel Temer
OAB defende renúncia coletiva dos 81 senadores Ricardo Brandt
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) defendeu ontem a renúncia imediata de todos os 81 senadores como forma de “salvar” a instituição do Senado, que vive uma de suas piores crises, e retomou a defesa do recall,uminstrumentoderevogação de mandatos, aplicável pela sociedade a quem descumprir as obrigações delegadas por meio do voto. “A crise não se resume ao presidente da Casa (José Sarney), embora o ponha em destaque. Mas é de toda a instituição e envolve acusados e acusadores”, diz o presidente nacional da OAB, Cezar Britto. “O Sena-
donãopodeser confundidocom os que mancham o seu nome. Precisa ser preservado, pois é o pilar do equilíbrio federativo.” ParaaOAB,a crise“dissemina-se como metástase junto às bancadas”. A entidade compara o problema a um câncer por atingir aos poucos todos e todas asesferasda Casa. “É umacrise generalizada, foram as passagens, depois as horas extras, os planos de saúde, os atos secretos, o presidente Sarney, as agressõesmútuasentresenadores”, exemplifica Britto. A OAB não poupou nem a oposição ao dizer que “não se busca correção ética dos desvios, mas oportunidade política de desforra e de capitalização
da indignação pública”. Na nota, a entidade cita as trocasde acusaçõesentre senadores desta semana como um sinal de alerta. “O Senado está em estado de calamidadeinstitucional.Aquebradedecoroparlamentar,protagonizada pelas lideranças dos principais partidos, com acusações recíprocas de espantosa gravidade e em baixo calão, configura quadro intolerável, que constrange e envergonhaa Nação. Ademocraciadesmoraliza-se e corre risco.” Para Britto, a solução definitiva para essa e outras crises é a proposta de adoção do recall dentro da reforma política. “Trata-sedeinstrumentojátestadoemoutrasdemocracias,como a norte-americana, com resultados positivos. O voto pertence ao eleitor, não ao eleito, que é apenas seu delegado. Traindo-o, deve perder a delegação”, diz a nota. ●
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SÁBADO, 8 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
ESTADO SOB CENSURA EugênioBucci: jornalista
CarlosAlbertoDiFranco: professordeética
‘Nenhum senador foi punido, só jornal’ Crítica do professor Di Franco foi feita durante debate sobre censura imposta ao ‘Estado’ no caso Sarney JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/AE – 6/8/2009
Rodrigo Alvares
Mendes não vê censura, ‘apenas decisão judicial’
ESTADAO.COM.BR
“Estamos assistindo a uma onda de podridão no Senado e nenhumsenador foipunido.O único punido foi um jornal, que disse a verdade. Isso é impunidade”, disse o professor de ética e doutor em comunicação Carlos Alberto Di Franco durante debate transmitido na quinta-feira pela TV Estadão, cujo tema foi a censura judicial à imprensa. Com mediação do jornalista Roberto Godoy e participação do jornalista Eugênio Bucci e dos internautas, discutiu-se a censura imposta ao Estado e ao estadao.com.br em relação à divulgação de notícias sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no âmbito da Operação Boi Barrica, da PF. “Os punidos são os leitores do jornal, a sociedade, que encontra barreira no caminho à informação. Matamos assim a razãode serdaimprensa”, criticou Bucci. De acordo com ele, a imprensa é um elemento de incômodo ao poder. “É importante termos consciência de que a imprensaerra, masissonão justifica sua tutela.” Em relação à censura imposta pelo desembargador Dácio Vieira, foi discutido se o direito à imagem pode se sobrepor ao direito à informação. “Não se pode invocar o direito à intimidade, em caso de homem público”, defendeu Di Franco. “Não me parece que o Estadão tenha invadido informações que se referem à vida íntima das pessoas”, observou Bucci. Di Franco reforçou o comentário feito pelo presidente da Associação Brasileira de Magistrados (AMB), Mozart Valadares, durante entrevista à TV Estadão, de que a censura à imprensa é um atentado à Constituição. “É uma agressão à Constituição e à sociedade”,
Relator da ONU aponta retrocesso no continente
●● ● O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, afirmou ontem que a liminar que proibiu o Estado de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica é “apenas uma decisão judicial”, que pode ser revista pelo Judiciário. Ele não quis dizer se a liminar, do desembargador Dácio Vieira, foi correta ou equivocada, mas afirmou que não se trata de censura. “Não é censura. É decisão judicial que precisa ser revista. Um juiz avaliou e entendeu que era de se proibir”, afirmou. “Se trata de uma decisão judicial que precisa ser examinada. É ainda ato monocrático de um juiz do Tribunal de Justiça que terá de ser analisado mediante recurso.” Mendes não quis emitir juízo de valor sobre a decisão de Vieira. Ele afirmou que a sentença pode ser corrigida por meio da apresentação de recursos, “não com crítica na imprensa apenas”. “É possível eventualmente fazer alguma restrição à liberdade de imprensa do ponto de vista constitucional? É. Mas não estou dizendo que a decisão está correta ou errada.” ● MARIÂNGELA
LIBERDADE – Para Bucci (à esq.), punidos são os leitores. Para o prof. Di Franco (no meio), não se invoca o direito à intimidade de um homem público
ressaltou. “A liberdade não é um luxo dos jornalistas, mas um direito de todos os cidadãos. Sentenças judiciais não podem se interpor à liberdade de imprensa. É uma agressão a todos os cidadãos quando há restrição da imprensa”, disse Bucci. Um internauta indagou se foi coincidência a distribuição do recurso contra o jornal para o desembargador Dácio Vieira. “Nunca vi um caso parecido, de um magistrado assumir ação
‘CASCA GROSSA’
O jornalista também salientou, arespeitodoisolamentodeBrasília do resto do País, que “existe uma cultura da casca grossa” na capital federal. “Aguentar as críticas e sobreviver.
Mas o que parece uma virtude, na verdade, é condenável. O político precisa ter uma casca fina para responder à sociedade e a imprensarepresentaisso. Ouvimos que a imprensa não representa o Brasil, mas isso não é verdade. O voto não é para mediar o debate público.” Segundo Di Franco, os políticos em Brasíliavivem numa bolha.“Algunsse lixam para a opinião pública. É um isolamento da cidadania.” Em outra pergunta enviada
por um internauta, Di Franco e Bucciconversaramsobre osigiloda representação do MinistérioPúblicoFederalnoRioGrande do Sul contra a governadora Yeda Crusius (PSDB-RS). A procuradoria ingressou na quarta-feira com ação de improbidade administrativa contra ela. “Em princípio, o servidor público tem a tendência de negligenciar informações. Esta é uma ação importante, disse Di Franco. Bucci ficou intrigado com o fato de o processo cor-
rer em segredo de Justiça. “Só o que resolve o problema da liberdade de imprensa é mais liberdade de imprensa.” ● † Veja repercussão da censura ao ‘Estado’ no Fórum dos Leitores na página A2
Assista à integra do debate na TV Estadão
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O relator da Organização dasNaçõesUnidas paraadefesa da liberdade de expressão, Frank La Rue, critica a censura contra o Estado e alerta que a democracia na América Latina está sofrendoumretrocesso.“Nãosepode criminalizar o escrutínio público”, diz o relator. Aosaber do casono Brasil, La Rue afirmou que coletará dadossobrealiminarqueimpediu o Estado de publicar informações sobre a investigação contra o ex-presidente. Se julgar necessário, podeenviaraogovernobrasileiro um pedido de explicação. “Há uma tendência de se usar a Justiça para acabar cominvestigações sobre corrupção”, observa. “Homens públicos precisam aceitar que,juntocomsuafunçãopública,vaitambémumescrutínio e a crítica pública. Precisamos acabar com qualquer tentativa de criminalizar a liberdade de expressão ou criminalizar a crítica.” Naopiniãodele,certamente há limites para liberdade de expressão e eles são válidos. “Sempre deve existir o direito de resposta, mas o direito penal não pode ser usado para limitar a liberdade de expressão, em nenhuma situação”, defende La Rue. ●
de pessoa de estreita relação”, respondeu Di Franco. Bucci seguiu a mesma linha. “Sabemos que o magistrado tem relação próxima, familiar com Sarney. Traz a aparência de um conflito de interesses.”
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Respostas à crise: mais além de 2010
Democracia de conveniência
PedroS. Malan
GaudêncioTorquato
“Não perder a perspectiva é o que mais importa”, não se cansa de repetir um personagem do belo La Colmena, do Prêmio Nobel de Literatura Camilo José Cela. A observação, aparentemente trivial, é relevante para o Brasil do momento, no qual o debate, tanto econômico quanto político, está dominado por questões conjunturais, cujo horizonte temporal se conta em meses, tendo o ano de 2010 como foco e as eleições presidenciais como referência. Entre os economistas profissionais há uma importante discussão sobre a natureza e os determinantes da recuperação da economia brasileira ainda nesta segunda metade de 2009 e das perspectivas, que são bem melhores, para 2010. Entre os políticos, bem, esperemos que as cenas de baixaria explícita a que assistimos nos últimos dias não sejam o prenúncio do tom da campanha eleitoral que o governo, há muito, decidiu antecipar. Mas, seja no econômico, seja no político, o desafio do crescimento sustentado – mais além de 2010 – permanecerá no cen-
Vivemos tempos de excessiva complacência, relativismo moral... tro do debate ao longo dos próximos meses. A obrigação de olhar para a frente, como resposta à crise global, a meu ver, representará um avanço em relação às três variantes ou ênfases tradicionais que até há pouco marcaram essa discussão. Primeiro, que nosso crescimento seria muito inferior à média de nossa experiência histórica pré-1980 (sobre a qual muitos ainda lançam idealizados e nostálgicos olhares). Segundo, que nosso crescimento estaria muito aquém de nossas reais possibilidades (por falta de suficiente “vontade política” para crescer mais). Terceiro, que era “inaceitável” que nosso crescimento estivesse muitíssimo abaixo do de países relevantes como China, Índia e outros asiáticos. Anos atrás, participei de debate que tinha como pergunta básica: “O que faz um país desenvolvido?” A pergunta encerrava uma interessante dupla interpretação: poderia referir-se ao que faz um país em desenvolvimento se tornar um país desenvolvido; ou, também, indagar o que é hoje, faz hoje, como funciona hoje um país desenvolvido. Em resumo, a discussão evidenciou seis grandes temas que, em termos gerais, se aplicam a ambas as perguntas, porque englobam tanto o que precisa ser feito como o que faz economias hoje serem consideradas desenvolvidas econômica e socialmente.
Espero que o debate sobre o de Zé Bebelo, em memorável Brasil mais além de 2010 apro- passagem da obra-prima que funde pelo menos estes seis te- é Grande Sertão: Veredas. A questão de julgamentos, mas inter-relacionados. Primeiro: abertura para o resto do delitos e suas penas foi abordamundo nas dimensões comer- da de forma concisa por Cesacial, financeira, investimento di- re Beccaria em seu pequeno reto, ciência, tecnologia, cultu- grande clássico, publicado em ra e inovação. Segundo: infraes- 1764 e que retém surpreendentrutura e logística em energia, te atualidade: “O fim das penatransporte, telecomunicações, lidades não é atormentar e afliportos, rodovias, o que exige re- gir um ser sensível, nem desfagulação apropriada, e investi- zer um delito já cometido... mentos públicos e privados. (mas) impedir que o réu cause Terceiro: investimentos na me- novos danos aos seus concidalhoria da qualidade da educa- dãos e dissuadir os outros de ção, onde residem hoje as prin- fazer o mesmo.” Beccaria nocipais deficiências que compro- ta que a “clemência... deveria metem nosso futuro. ser excluída de uma legislação Quarto: estabilidade macroe- perfeita, em que as penas fosconômica e consolidação dos re- sem menores e o método de gimes monetário, cambial e, es- julgamento, regular e expedipecialmente, fiscal; o que não é to”. Isso porque, nota adiante, um fim em si mesmo, mas condi- “mostrar aos homens que os ção indispensável para o cresci- delitos podem ser perdoados mento sustentado de longo pra- e que a pena não é uma inevitázo. Quinto: estímulo ao investi- vel consequência é fomentar a mento privado e à melhoria do ilusão de impunidade, é fazer ambiente de negócios, o que exi- crer que as condenações não ge estabilidade e previsibilidade perdoadas, embora pudessem das regras do jogo. Sexto: o reco- sê-lo, são antes abusos de fornhecimento de que o peso, a voz, ça que emanações da justiça”. o prestígio e a influência que um Mas, apesar de tudo, olhanpaís possa ter na sua região e no do o Brasil econômico e polítimundo não é função apenas de co com senso de perspectiva, sua dimensão, mas também, e tanto em relação a nosso pascrucialmente, da qualidade de sado quanto a nosso futuro seus investimentos, da eficiên- pós-Lula, é possível discernir cia de seus setores privado e pú- uma pulsão entre o moderno blico e da efetividade do funcio- e o anacrônico. Acho que não namento de suas instituições. é de todo insensato esperar Na explicação do por que que o primeiro possa gradualcertos países deram mais certo mente prevalecer sobre o seque outros, esses seis conjun- gundo. E isso “é o que mais imtos de fatores são essenciais. E porta”, como diria o personasempre vale lembrar que den- gem que abre este artigo. ● tre as “instituições” de um país está o conjunto de valores mo- Pedro S. Malan, economista, rais, posturas, atitudes e pa- foi ministro da drões de comportamento ético Fazenda no governo FHC que definem o grau de confian- E-mail: malan@estadao.com.br ça mútua sem a qual uma sociedade moderna não pode funcionar adequadamente. A respeito desses valores compartilhados, vale reiterar o que já escrevi neste espaço, citando passagem de importante relatório elaborado por cerca de 20 economistas de renome internacional para o Banco Mundial: “As lideranças políticas de um país emitem poderosos sinais para o conjunto da sociedade sobre o que constituem padrões aceitáveis e padrões inaceitáveis de comportamento de homens públicos.” Vivemos tempos de excessiva complacência, relativismo moral e uso talvez um tanto exagerado daquilo que Guimarães Rosa imortalizou com seu oxímoro “condena de absolvido”, como proposto por Riobaldo no julgamento Barack Obama que a jagunçagem faz
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Compañerosyolvidados Milhares de agricultores brasileiros ameaçados de expropriação na Bolívia do cocalero Evo Morales. Milhares de “brasiguaios” ameaçados de perder suas terras no Paraguai do fecundíssimo Lugo. Não é isso, entretanto, que Lula quer discutir na próxima reunião da Unasul. Agricultores brasileiros pobres agredidos por tiranetes populistas não interessam à combativa diplomacia brasileira, muito menos aos nossos secretários/ministros dos Direitos Humanos e congêneres (se fosse alguém vivendo nos EUA ou na Inglaterra que desse pretexto para discursos e passeatas contra o imperialismo ou um filme cheio de lágrimas, aí seria outro caso). Problema, mesmo, são 800 soldados americanos que vão ajudar o
governo da Colômbia a impedir as Farc de distribuir cocaína livremente para os países vizinhos, incluindo o Brasil, onde o tráfico assassina milhares de pessoas todos os anos. Entre os interesses dos opressores e o sofrimento das suas vítimas brasileiras, o nosso governo até agora só mostrou simpatia pelos primeiros. É por escolhas como essas que se avalia o caráter dos estadistas que nos governam. ODILON TOLEDO odilonto@terra.com.br
Belo Horizonte
Chávezproíbetudo Recebi de uma amiga esta mensagem, que fala de uma brasileira vítima de Hugo Chávez: “Ontem, minha tia da Venezuela ligou para
tica, limitando as lealdades individuais aos grupos de interesses e familiares. Tem sido assim ao longo da História. É isso que explica o familismo infiltrado na crise do Senado. Afinal de contas, o que está em disputa entre os contendores, oposicionistas, governistas e os que subiram no muro, como parece ser o caso dos petistas? A explicação mais frequente é de que se trata do jogo pela cadeira presidencial, a ser disputada no próximo ano. É plausível. Mas a disputa, inclusive a mais ferrenha, há de abrigar padrões para reger costumes políticos mesmo em democracias incipientes como a nossa. Evidências de transgressão chegaram ao conhecimento da sociedade. Precisam ser apuradas. A maioria parlamentar tem poder de arquivar recursos contra um de seus pares? Sim. Mas nem tudo o que é possível é moral ou ético. Eis a questão. O que se procura implantar na via parlamentar e em outros espaços é o que se chama de “democracia de conveniência”, cujo ideário se inspira no jogo de reciprocidades, nos moldes “eu aprovo e você me retribui”. Aliás, esse modelo vem lá de trás. Políbio (205-125 a.C.) foi um dos precursores da tese da degenerescência da política. Referia-se ele a uma “democracia degenerada em demagogia”, sistema assolado por apetites particulares, lutas partidárias, conflitos. Ao esboçar uma teoria cíclica da sucessão dos regimes políticos, a partir das visões de Platão e Aristóteles, o filósofo grego enxergou a tirania como ramo torto da monarquia, a oligarquia como desvio da aristocracia e a demagogia – que abriga o populismo latino-americano – como fruto podre da democracia. É quando a política substitui o pedestal de missão pelo balcão de profissão. Pois é exatamente a LEO MARTINS loja que se instala na esfera política uma das causas da crise. É esse o vírus utilitarista que tem provocado a pandemia de escândalos que abate o corpo do Senado há bom tempo. Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho renunciaram ao mandato de presidente da Casa em 2001. Renan Calheiros fez o mesmo no final de 2007. A força acumulada do senador José Sarney, com sua longa história política, não foi suficiente para livrá-lo da onda pandêmica. Poderá safar-se de efeitos mais danosos – como a renúncia – por conta da vacina recebida do presidente Lula. Mas a maioria que lhe dará sustentação é pequena para deixá-lo imune às manchas que já sujam
Um espetáculo deprimente e vergonhoso. Sinal de um tempo em que as misérias morais chovem a cântaros. Marca do ciclo de degeneração a que chegou o sistema político no Brasil. Essa é a observação que se pode fazer da primeira sessão do Senado após o recesso, quando o ex-presidente da República Fernando Collor, olhos esbugalhados, voz embargada, feições raivosas, solicitou ao senador Pedro Simon engolir as referências sobre ele. A designação litúrgica “Vossa Excelência”, usada de maneira farta e enfática, parecia ter a intenção de ferir o interlocutor com um palavrão ou algo oposto ao majestoso conceito que a expressão denota. Se projetarmos o complemento da virulenta peroração no plano das metáforas – “faça delas o uso que julgar conveniente” –, vislumbra-se não apenas a dimensão semântica, mas os limites estéticos da ação sugerida pelo filho do senador Arnon de Mello. O lamentável episódio – com sequência no meio da semana – demonstra, de forma cabal, que o debate político, chama do espírito democrático, continua a fazer parte do egocentrismo, da desconfiança e do ódio, que o timoneiro Simon Bolívar já identificara, há 200 anos, quando escreveu o libelo: “Não há boa-fé na América, nem entre os homens nem entre as nações; os tratados são papéis, as Constituições não passam de livros, as eleições são batalhas, a liberdade é anarquia e a vida, um tormento.” A desconfiança e o caráter patrimonialista impregnam nossa cultura polí-
ENDEREÇO
FAX:
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
minha mãe, chorando. Faz 30 anos que ela não vem para o Brasil e agora que conseguiu (o dinheiro necessário), após muitas dificuldades em sua vida, a Venezuela não permite o seu visto para viajar. Além disso, eles (tia e marido) estão incomunicáveis, não sei como conseguiu, mas o fato é que o Chávez proibiu o uso de MSN (Messenger) e SMS por celular. Minha mãe conversava com ela todos os dias pela internet e minha tia, pelo celular, por meio de mensagens, e agora nem isso ela pode mais! Acredita?! Lá funciona tudo na corrupção... Para pequenas coisas do quotidiano é preciso corromper para se exercer direitos básicos. Maria Fernanda.” MOACYR CASTRO jequitis@uol.com.br
Ribeirão Preto
‘Estado’sob censura O desembargador Dácio Vieira, do TJDFT, amigo da família Sarney e de Agaciel Maia, concede liminar ao filho de S. Exa. o senador José Sarney, o empresário Fernando Sarney, para que gravações com autorização judicial da Operação Boi Barrica – que o indiciou por lavagem de dinheiro, tráfico de influência e formação de quadrilha – não sejam mais publicadas pelo Grupo Estado, que informava corretamente a população. Pedir emprego no Senado para o namorado da filha, por intermédio do avô presidente, é assunto privado? Decisão judicial de quem devia declarar-se impedido, por ter relações de proximidade com uma
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das partes, é legítima?
sua imagem pública. Manchas ampliadas por conta de táticas erráticas como a de deixar que tarjas de censura voltem a tapar os espaços do noticiário de O Estado de S. Paulo, um símbolo da liberdade de imprensa no País. Transferir a culpa da crise para a imprensa, como fazem alguns senadores, é a mesma coisa que dizer que as TVs são responsáveis pela gripe suína. Pior é constatar que a degeneração dos costumes políticos parece ter aliados no sagrado altar da Justiça. Que diria Bacon, o mestre londrino, sobre juízes flagrados em falta com a integridade, que é a virtude por excelência da função que exercem? Recitaria o mantra: “Juiz, tenha cuidado, seja sutil e circunspecto, prepare o caminho para uma justa sentença, como Deus costuma abrir o seu caminho elevando os vales e abaixando montanhas.” O que resta ao Senado fazer para sair da crise? Realizar um radical processo cirúrgico para eliminar tumores que se espalham como metástases. Significa acabar com o nepotismo, direto ou cruzado, evitar a politi-
É o jogo das reciprocidades, ‘eu aprovo e você me retribui’ cagem do compadrio. Enxugar a estrutura funcional. Abrir canais de transparência. Substituir a expressão “tropa de choque” – de conotação opressiva e militarista – por plêiade cívica. Senadores fizeram uso impróprio de verbas da Casa? Assumam a culpa e devolvam os recursos. Por que tanta prestidigitação para burlar a verdade? Simulação e dissimulação, quando descobertas, privam o homem da maior arma para defesa de sua identidade: o crédito e a confiança. Se as interlocuções divulgadas, conforme alegam implicados, não mostram ilegalidade, por que tanta preocupação em evitar a apuração das denúncias? E, por fim, resta fazer a reforma política, com a redefinição do papel do Senado e a inclusão de aspectos como a eliminação da execrável figura do suplente de senador sem votos. É inimaginável que um senador sem um único voto seja capaz de fazer valer, no Parlamento, sua ética pessoal sobre a ética coletiva. O Senado cumpre, sim, importante papel ao fazer a representação dos Estados. Por isso mesmo, à Câmara Alta cabe a tarefa de cultivar princípios e valores que tornem seus integrantes tão excelsos quanto o nome da Casa que os abriga. ● Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político e de comunicação
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
dep.chicoalencar@camara.gov.br
tas e sempre se pautou pela democracia do País e pela liberdade de imprensa. E o lema dos paulistas é: “Non ducor, duco.”
Brasília
SILVIA MARIA REZENDE DE ANDRADE
CHICO ALENCAR, deputado federal (PSOL-RJ)
Manifesto minha integral solidariedade ao Estado pela censura a que foi submetido. Temos de banir do planeta esses pseudocaudilhos que já abusaram demais da nossa paciência. Basta. ●
FLÁVIO A. DIAS f.thayan@uol.com.br
São Paulo ● Será que os Sarneys estão pensando que São Paulo é comparável ao feudo particular deles – o Maranhão? Fiquem sabendo que o Estadão é o orgulho dos paulis-
naborandrade@yahoo.com.br
São Paulo ● Informo a esse importante veículo de comunicação que amanhã haverá uma postagem coletiva na blogosfera com o tema “Xô, Sarney!”, em resposta à censura feita pelo presidente do Senado ao jornal O Estado de S. Paulo. Maiores informações no blog http://www.ramsessecxxi.blogger.com.br/. Obrigado! DOMINGOS CESAR TUCCI d.ctucci@globo.com
São Paulo
DOMINGO, 9 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Opinião
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NOTAS & INFORMAÇÕES
A teimosia de Lula
N
a terça-feira, depois de se encontrar com o general James Jones, assessor de segurança nacional da Casa Branca, o assessor internacional do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, reproduziu para a imprensa o que deveria ser o diagnóstico definitivo do caso criado pelo caudilho Hugo Chávez em torno da cessão de bases militares colombianas para uso de militares norte-americanos. “Houve um reconhecimento de que o assunto foi mal encaminhado. Talvez tivesse sido mais oportuno, da parte do governo colombiano e do americano, um esclarecimento prévio que pudesse dissipar todas as dúvidas sobre a natureza das bases e o seu alcance.” O jornalista Andrés Oppenheimer, do Miami Herald, por sua vez, conversou com o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, e chegou a conclusão parecida. “A Colômbia deveria ter criado um rótulo para o acordo proposto, a fim de impedir seus críticos de falarem sobre ‘bases militares dos EUA’ em seu território. Deveria ter criado um rótulo como ‘programa de convidados militares’ ou ‘exercício militar expandido’, semelhante ao adotado para o acor-
do sob o qual a Venezuela autorizou um exercício naval russo em suas águas territoriais em 2008” (artigo na Folha de S.Paulo de sexta-feira). Na mesma conversa, o chanceler colombiano esclareceu aquilo que as pessoas bem informadas já sabiam – mas o presidente Lula, o chanceler Celso Amorim e o assessor Marco Aurélio Garcia insistem em ignorar, para justificar o apoio ao coronel Chávez: as bases, que já existem há mais de 10 anos, são comandadas e operadas por colombianos e existe uma lei federal dos EUA que fixa em 800 soldados e 600 civis prestadores de serviços os norte-americanos estacionados na Colômbia. Esses números, nunca foram atingidos. No ano passado serviram na Colômbia 71 militares e 400 civis. O de que se trata agora é da ampliação desses efetivos, solicitada pelos EUA após o fechamento da sua Base de Manta, no Equador. Tudo isso – certamente com mais detalhes – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá ouvido diretamente do presidente Álvaro Uribe, que completou em Brasília um giro de três dias por sete países sul-americanos, no qual
Validade vencida
H
á dois anos, ao assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Estadual (MPE), a Prefeitura de São Paulo anunciou a criação de um programa pioneiro de manutenção de pontes e viadutos. O plano previa a recuperação de 58 das 270 obras de arte da cidade, sob responsabilidade do governo municipal. Na época, o então secretário de Infraestrutura Urbana, Marcelo Branco, assegurou que, além das reformas, cada obra passaria por inspeções regulares e procedimentos preventivos. Segundo ele, o objetivo da medida, além da garantia de segurança à população, seria “incutir a cultura de manutenção preventiva na administração municipal”. O acordo foi motivado pelo estudo Infraestrutura da cidade de São Paulo: prazo de validade vencido, desenvolvido em 2005 pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), que apontou as péssimas condições de manutenção de pelo menos 50 pontes e viadutos da cidade. De lá para cá, no entanto, apenas 7 das 58 obras de recuperação previstas foram concluídas, e as reformas dos Viadutos Conselheiro Carrão e Engenheiro Alberto Badra se arrastam desde 2002. Agora, a Secretaria de Infraestrutura Urbana promete um novo pacote de recuperação e manutenção, capaz de prolongar a vida útil dos viadutos “em pelo menos mais 50 anos”. Mais uma vez, a única reforma que se vê é a do pacote de obras, não das estruturas. E, apesar das reedições,
tudo é vago nos planos da Prefeitura. Conforme o secretário adjunto Marcos Penido, 20 ou 30 obras compõem o novo programa, uma diferença considerável diante do que foi acordado com o MPE. Falta precisão também na definição de projetos e prazos para a realização dessas obras. Tudo se arrasta. O Elevado do Glicério, por exemplo, está em obras há sete anos e os processos de licitação emperram – oito das concorrências chegaram a ser abertas desde 2007, mas não avançaram. As obras de recuperação da Ponte do Limão estão em cur-
Nova promessa de manutenção e reforma de pontes e viadutos so há cinco anos. Iniciadas em 2004, tiveram de ser interrompidas por causa de um acidente com um caminhão que bateu na ponte e abalou suas estruturas. Os trabalhos só foram retomados quatro anos e meio depois, em 2008, quando um novo contrato foi assinado. O prazo de conclusão, de seis meses, já foi ultrapassado. Em reportagem publicada pelo Estado, na segunda-feira, a Prefeitura incluiu a Ponte do Limão entre as obras que serão entregues entre outubro e dezembro. Dez dias antes, no entanto, outra reportagem revelava que se fez um novo projeto para a Ponte do Limão, que será estaiada, para permitir a construção da terceira pista da marginal. Portanto, sua inauguração deverá ocorrer em março de 2010.
visitou os presidentes vizinhos para explicar os termos e o alcance do acordo que está sendo negociado com Washington. Pois mesmo tendo ouvido os mesmos argumentos que levaram os presidentes do Uruguai, do Paraguai e do Chile a se distanciar da posição venezuelana, o presidente Lula não se convenceu de que Álvaro Uribe e Barack Obama não estão mancomunados num complô para conquistar militarmente a América do Sul, começando pela Venezuela. Depois de duas horas de conversa com Uribe, informou o chanceler Celso Amorim, o presidente Lula continuou temeroso de que as forças dos Estados Unidos possam atuar fora do território colombiano. Ora, Lula exigiu que o presidente Uribe desse garantias de que o combate ao narcotráfico, que é a razão do acordo com os Estados Unidos, não significará ingerência militar americana na região. Também insistiu em que o caso fosse levado à deliberação do Conselho de Defesa da Unasul. Evidentemente, o presidente da Colômbia se recusou tanto a fornecer a garantia exigida como a subme-
ter uma decisão soberana de seu governo a um órgão subsidiário – o Conselho de Defesa – de um grupo regional tão precário que há meses não consegue fazer do ex-presidente Néstor Kirchner o seu secretário-geral e não dispõe de estrutura formal. O mais curioso é que o chanceler Celso Amorim, após o encontro dos presidentes, expôs uma posição que já assumira, ainda que com relutância. “Voltamos a reiterar que um acordo com os Estados Unidos, que seja específico e delimitado ao território colombiano, é matéria, naturalmente, da soberania colombiana.” Ora, muito antes de o caudilho Hugo Chávez inventar que o acordo constitui uma ameaça à soberania de todas as nações sul-americanas, levantando uma cortina de fumaça para esconder as suas estrepolias com as Farc e os seus desmandos com os meios de comunicação independentes de seu país, não havia quem não soubesse que os Estados Unidos estavam transferindo para a Colômbia as instalações e serviços de apoio logístico da Base de Manta, no Equador, cedida por acordo que o bolivariano Rafael Correa não quis prorrogar. O governo brasileiro fingiu-se de ignorante para prestar mais um serviço a Chávez.
A intromissão na Vale Estudos mostram que um bom programa de manutenção e recuperação de pontes e viadutos consumiria R$ 160 milhões por ano do orçamento do Município. Embora a situação dos equipamentos mereça atenção há décadas, conforme dados do Sinaenco, só no ano passado os investimentos em obras de manutenção atingiram R$ 150 milhões. O secretário Marcos Penido garante que as estruturas, hoje, não apresentam riscos. Na manhã de 16 de julho, no entanto, um buraco se abriu numa das juntas de dilatação do Cebolão provocando mais de 10 quilômetros de lentidão nas marginais. Da Ponte da Freguesia do Ó – também apontada como uma das mais críticas por falta de manutenção – um pedaço de concreto se desprendeu ferindo um motoboy há cerca de um ano. Essas estruturas foram construídas para permitir o trânsito de caminhões de 36 toneladas. Atualmente, as caçambas carregam até 50 toneladas, e um caminhão de areia molhada pode pesar 70 toneladas. Rachaduras, desníveis, infiltrações, desprendimento do concreto e exposição da estrutura à chuva ácida mostram um processo de degradação que atingiu as pontes e viadutos de São Paulo, construídos, em grande parte, há mais de 50 anos. A tarefa da Prefeitura é árdua e não pode se limitar ao período de um único governo. Mas alguém tem de, finalmente, começar o tão anunciado – e reeditado – programa de reformas.
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva ameaça intervir na Companhia Vale do Rio Doce para sujeitar os planos da empresa aos seus interesses político-eleitorais. Não há outra explicação convincente para as crescentes pressões do governo, empenhado em levar a empresa a aumentar seus investimentos no Brasil. A Vale, uma das maiores empresas de mineração do mundo, havia aprovado em outubro um plano de aplicação de US$ 14,2 bilhões em 30 projetos, sendo US$ 9,9 bilhões destinados ao País. Meses depois a programação foi revista e o plano total foi reduzido para US$ 9 bilhões. Nenhuma grande exportadora de matérias-primas conseguiu escapar das consequências da crise global – nem mesmo as grandes fornecedoras da China, um dos países com melhor desempenho em 2009. A diretoria da Vale reagiu da forma normal diante de um quadro altamente desfavorável, adiando projetos. Ao proceder dessa forma, contrariou os interesses de um governante envolvido em permanente campanha eleitoral e obviamente disposto a usar todos os meios a seu alcance para vencer a disputa em 2010. O presidente Lula já havia pressionado a Vale quando a empresa anunciou a dispensa de 1.300 empregados no Brasil. Foi um corte pequeno, diante do porte da companhia e mesmo quando comparado com as demissões ocorridas noutros grupos. O governo esperneou, mas teve de aceitar os fatos, porque não tinha como forçar uma revisão da medida. Antes disso, o presidente
da República já havia tentado reverter as demissões de 4 mil funcionários da Embraer, outra grande empresa dependente de exportações e também afetada pela recessão nos grandes mercados compradores. As pressões, nesses casos, foram muito fortes e envolveram ações na Justiça, mas também não produziram mais que barulho e perda de tempo. Embraer e Vale são empresas privatizadas. Como outras companhias vendidas pelo governo, ganharam agilidade e eficiência, tornaram-se mais lucrativas e aumentaram sua contribuição para o País, exportando
A campanha pela reestatização e pelo retrocesso do País nunca cessa muito, elevando os investimentos e recolhendo bom volume de impostos. Mas o governo do presidente Lula, assim como boa parte dos petistas e de seus aliados, nunca se mostrou inteiramente conformado com a privatização dessas e de outras companhias. Campanhas pela reestatização nunca foram abandonadas e ganham intensidade, de tempos em tempos. Grandes estatais são instrumentos de poder, podem alimentar caixas de campanha, servem às barganhas políticas e são excelentes para empregar companheiros. Não deve ser difícil mobilizar pessoal para essas campanhas, porque não faltam pretendentes a um bom empreguinho numa grande empresa controlada pelo governo. O uso político da Petro-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Farsainstitucional O (biônico) senador Paulo Duque, “pau-mandado” de Renan Calheiros no Conselho de Ética do Senado, no ocaso de sua “trajetória política”, presta-se a ser despudorado protagonista de uma acintosa farsa institucional. S. Exa., assim, sai do completo anonimato para entrar no rol da infâmia nacional, “lixando-se” para o Brasil. Trata-se de mais um ícone de nossa excruciante podridão moral, cujo principal mentor e maestro, na atualidade, se senta na cadeira de presidente da República. Mensalão era só aperitivo... JORGE JOÃO BURUNZUZIAN burunlegal@hotmail.com
São Paulo
Penso que o presidente do Conselho de Ética do Senado prestou ●
um relevante serviço ao Brasil. Ao arquivar todas as representações contra Sarney, deu o tiro de misericórdia na instituição, que, todos sabemos, não tem mais condições de atender ao princípio da moralidade pública. ORIVALDO TENORIO DE VASCONCELOS prof.tenorio@uol.com.br
Monte Alto
Éticado PMDB O senador Paulo Duque julgou as ações apresentadas ao Conselho de Ética segundo a ética do seu partido, o PMDB, que com suas decisões ele expôs muito bem. A esta altura Renan Calheiros deve estar arrependido de por muito menos ter renunciado à presidência do Senado, visto que pela ética de seu partido ele é um santi-
“
Maioria A Câmara Alta está rastejante”
JoãoBaptistadaSilvaFilho jotabatis@hotmail.com SãoPaulo
nho, tanto quanto Jader Barbalho e outros, todos do grupo de apoio do prisidente (com i mesmo). Tais senhores não têm vergonha do que fazem nem dos exemplos que dão. O prisidente deve estar satisfeito, pois o Senado está sendo domado e desmoralizado, fazendo o que ele quer. E pensar que essa nojeira é sustentada com os impostos que pagamos. WILSON SCARPELLI wiscar@estadao.com
São Paulo
ILMAR MELLO DE CARVALHO
do número de cargos que ocuparam! E ninguém neste país ocupou mais cargos do que Sarney. Assim, se somos o país que somos, somos o resultado do que esses senhores fizeram dele!
ilmarcarvalho@gmail.com
EUGÊNIO JOSÉ ALATI
São Paulo
eugeniojosealati@yahoo.com.br
Parabéns ao grupo de senadores que, resistindo a esses safados, representa, sim, e dignamente a maioria do povo brasileiro.
Campinas
Agravante Para suavizar as acusações que pesam sobre José Sarney, os senadores têm enaltecido a sua longa biografia, como se fosse uma atenuante. Mas, na verdade, trata-se é de uma lamentável agravante, que, ao contrário de inocentá-lo, acaba por comprometê-lo, uma vez que as responsabilidades de todos os políticos se fundamentam na razão direta do tempo em que são políticos e
brás, com a distribuição de patrocínios a municípios e a grupos alinhados com o governo, está amplamente comprovado e esse é um dos motivos da forte resistência do governo à instalação de um inquérito parlamentar sobre a empresa. A Valepar, controladora da Vale, com 53,9% das ações ordinárias, é formada por vários investidores – o fundo de previdência do Banco do Brasil (Previ), a empresa de participações do Bradesco (Bradespar), a BNDESPar e a trading japonesa Mitsui. Tem-se discutido, no governo, a possibilidade de maior intervenção nas decisões da Vale por meio de uma articulação entre a Previ e a BNDESPar. Até agora essa ideia não produziu resultados práticos, mas o presidente Lula e seus assessores próximos não dão sinais de desistência. Segundo uma fonte do BNDES, mencionada em reportagem do Estado, não há soluções impostas a ferro e fogo. Há apenas, acrescentou, uma tentativa de “convencimento”. Isso é melhor, aparentemente, que uma intervenção sem disfarce. Mas, de fato, são sempre inoportunas as tentativas de interferência nas decisões de uma empresa – investimentos, política de pessoal ou associações, como no caso da Petrobrás e da PDVSA. Sejam em companhias privadas, como a Vale, ou em estatais, como a Petrobrás e o Banco do Brasil, as intromissões são inaceitáveis. São iniciativas economicamente ruins e politicamente ameaçadoras, porque são sintomas de autoritarismo. As pressões sobre a Vale são genuíno motivo de preocupação por todos esses motivos.
Governabilidade Afinal, depois destes dois meses de problemas no Senado, e vendo o presidente Lula se unir ao PMDB em defesa de José Sarney, fiquei com uma dúvida, que talvez seja comum a outros cidadãos não versados nos meandros dos processos políticos do País: o Brasil tem possibilidade de relativa governabilidade sem que haja corrupção e troca de favores
ou não? Será que algum leitor poderia esclarecer essa questão? MARIA CAROLINA BELOTTI tositstill@gmail.com
São Paulo
NossaRepública Vejam a situação de nosso país. O Poder Judiciário censura a imprensa; os precatórios vão para o esquecimento – são solenemente ignorados pelos Estados e municípios, São Paulo na liderança. Poder Legislativo: o Senado transformou-se numa casa de escândalos. E o Poder Executivo, vencer as próximas eleições é a meta. Essa é a República que queremos? CARLOS VIEIRA vieira3013@terra.com.br
São Paulo
A4
DOMINGO, 9 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL
Ação cita Yeda como beneficiåria de fraude
Procuradores dizem que desvio de verbas do Detran beneficiou polĂticos e autoridades q PĂ G.A13
ESTADO SOB CENSURA
Crise leva Senado Ă paralisia e trava votação de projetos â—? Absolvição de Sarney nĂŁo elimina problemas estruturais e lĂderes querem ‘choque de ordem’ â—? Tropa de aliados
do senador expĂľe ideĂĄrio: ‘A ĂŠtica que for criada eu vou aderir’, diz Salgado â—? Compadrio reĂşne ex-inimigos Lula, Sarney, Collor e Renan â—? Escândalo, apatia e censura podem reacender autoritarismo, alerta pesquisadora A semana de intenso tiroteio imobilizou o Senado e evidenciou ainda mais as suas deficiĂŞncias. Projetos de grande repercussĂŁo – divĂłrcio, maioridade penal e cotas raciais – foram escanteados na volta do recesso. “O Senado estĂĄ completamente anestesiadoâ€?, alerta JosĂŠ Agripino Maia, lĂder do DEM. Votar, porĂŠm, nĂŁo ĂŠ o Ăşnico problema. A absolvição de JosĂŠ Sarney (PMDB-AP) nĂŁo elimina a lista de problemas estruturais, que exigem soluçþes intrincadas, difĂceis. LĂderes buscam “choque de or-
demâ€?, mas tĂŞm grandes barreiras Ă frente, como os suplentes – grupo dos sem-voto que jĂĄ galgam cargos com poder de enterrar CPIs e representaçþes. Vem Ă tona, ainda, a doutrina polĂtica da tropa de choque de Sarney. No ideĂĄrio do grupo hĂĄ explicação para tudo e disposição de sobra para sustentar o “bateu, levouâ€?. “O padrĂŁo de ĂŠtica nĂŁo estĂĄ muito bem definidoâ€?, chegou a dizer Wellington Salgado (PMDB-MG). “A ĂŠtica que for criada, vou aderir.â€? O PaĂs vive surpresas histĂłricas, no compadrio
Temas vĂŁo de divĂłrcio a cotas raciais
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Mas clima ruim impede votação atÊ de projetos de lei simbólicos BRAS�LIA
A semana de crise generalizada que tomou conta do Senado na voltadorecessotiroucompletamente da pauta assuntos de grande repercussĂŁo para a sociedade que nem sequer foram debatidos para posterior votação. Dos oito assuntos relevantes selecionados pelo Estado, cinco tratam de temas tĂŁo importantes – divĂłrcio, maioridade penal e cotas raciais nas universidades, por exemplo – que precisaram tramitar por meio de Proposta de Emenda Ă Constituição(PEC).Seisdosoitoprojetosfeitosprisioneirosdaparalisiado Senado jĂĄ estĂŁo na agenda do plenĂĄrio. NinguĂŠm esperava que todas as propostas relevantes fossem votadas em uma Ăşnica semana, mas o que preocupa os prĂłprios senadores ĂŠ o clima instaurado naCasa.“OSenadoestĂĄcompletamente anestesiado pela crise. A licença do cargo do presidente JosĂŠ Sarney (PMDB-AP) seria um bĂĄlsamoâ€?, afirmou o lĂder do DEM, JosĂŠ Agripino Maia (RN), ao argumentar que o peemedebista nĂŁo tem condiçþes atualmente de conduzir as sessĂľes do plenĂĄrio para votar os projetos que estĂŁo parados. A normalidade do debate polĂtico em torno de assuntos complexos e polĂŞmicos deu lugar a um ambiente em que “tudo vira confronto partidĂĄrioâ€?, resumiu Agripino. É emblemĂĄtico que nem mesmo projetos delei simbĂłlicos, uma especialidadedos senadores,tenhamentrado em votação – como a inscrição do nome do Ăndio SepĂŠ Tiaraju no livro dos HerĂłis da PĂĄtria. “NĂŁo se vota nada. Nem o que ĂŠ polĂŞmico nem os projetos nĂŁo polĂŞmicosâ€?, constatou o senador Paulo Paim (PT-RS), autor da proposta que pĂľe o nome de Tiaraju entre os HerĂłis da PĂĄtria. Parado na ComissĂŁo de Educação, o projeto de lei ĂŠ terminativo – ou seja, nĂŁo precisa
ir ao plenĂĄrio –, mas nĂŁo foi votado por falta de quĂłrum. “Chegamos ao fundo do poço. Temos de sair disso, voltar a trabalhar, a produzir, a votarâ€?, disse o petista, em tom de lamento. Um dos projetos que terĂŁo de superar a crise e correr contra o tempo para ser aprovados ĂŠ o que trata da minirreforma eleitoral e libera a propaganda eleitoral na internet. Para valer nas eleiçþes de 2010, a proposta tem de ser votada pelos senadores atĂŠ o fim de setembro – em menos de 40 dias Ăşteis. “Se essa reforma eleitoralfor importantepara todos os polĂticos, ĂŠ claro que ela vai ser votada a tempoâ€?, afirmou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), um dos comandantes da base aliada sarneyzista. “NĂŁo creio que dĂŞ tempo de votar essa reforma para a prĂłxima eleição. Ela demorou muito tempo na Câmara e chegou ao Senado em um momento muito ruimâ€?, avaliou Agripino.
Para DemĂłstenes, nĂŁo hĂĄ a menor chance de votar projetos polĂŞmicos Presidente da ComissĂŁo de Constituição e Justiça (CCJ), o senador DemĂłstenes Torres (DEM-GO) diz que projetos polĂŞmicos, como o que prevĂŞ a criação de cotas raciais para as universidades, nĂŁo tĂŞm hoje nenhuma condição de ir a votação. PolĂŞmicas Ă parte sobre privilĂŠgios raciais, constitucionalidade e inclusĂŁo social, os senadores estarĂŁo, pelos prĂłximos dias, mais preocupados com os desdobramentos da crise no Conselho de Ética do que em comparecer Ă s reuniĂľes da CCJ, acredita DemĂłstenes. “NĂŁo hĂĄ como pĂ´r para votar
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DIDA SAMPAIO/AE–5/8/2009
EugĂŞnia Lopes
de figuras que, hĂĄ cerca de duas dĂŠcadas, se hostilizavam. O presidente Lula, Sarney e os alagoanos Fernando Collor e Renan Calheiros, por conveniĂŞncia, gravitaram todos para o mesmo lado. DenĂşncias, apatia da sociedade e a censura imposta ao Estado, proibido de veicular notĂcias sobre filho de Sarney, Fernando, podem reacender o autoritarismo, diz a pesquisadora Alzira Alves de Abreu, da FGV. “Esses polĂticos nĂŁo estĂŁo se dando conta do que estĂŁo preparando para o futuro.â€? â—?
IMPASSE – Para defensores da saĂda de Sarney, Casa ficarĂĄ parada atĂŠ fim da anĂĄlise das açþes contra ele
as propostas sobre cotas raciais e cotas sociais, que sĂŁo importantes, com o Senado envolto nessa criseâ€?, ponderou DemĂłstenes.“OSenadoestĂĄparalisado.â€? Votaçþes em tempos crĂticos costumamser exercĂciosde vingança,emvezdeescolhaspolĂticas.Foiisso oqueaconteceuantesdorecesso–mascomoSenado jĂĄ mergulhado na crise –,
quando o plenårio saiu votando e vetando as indicaçþes para o Conselho Nacional do MinistÊrio Público (CNMP). Senadoresvetaram indicaçþes queeles mesmos haviam aprovado antes na CCJ. CASO VIRG�LIO
Os defensores da saĂda de Sarney da presidĂŞncia do Senado estĂŁo convencidos de que a Ca-
sa ficarå paralisada enquanto o Conselho de Ética não terminar de analisar todas as açþes contra ele. Apesar de o presidente do colegiado, Paulo Duque (PMDB-RJ), ter mandado arquivar todas as 11 açþes contra Sarney, a oposição jå avisou que vai recorrer da decisão ao plenårio do conselho. E, em caso de derrota – o que provavelmente ocorrerå, pois Sarney
tem 10 dos 15 votos dos conselheiros –, os oposicionistas levarĂŁo os recursos para o plenĂĄrio do Senado. “Sem resolver essa questĂŁo do presidenteSarney no Conselho de Ética e depois no plenĂĄrio, o Senado simplesmente nĂŁo vai funcionarâ€?, prevĂŞ o presidente nacional do PSDB, senador SĂŠrgio Guerra (PE). E, depois do “caso Sarneyâ€?, o Conselho de Ética e todos os senadores terĂŁo ainda de encarar a representação que o PMDB apresentou contra o lĂder dos tucanos, senador Arthur VirgĂlio (AM). Antes de a crise assumir contornos de paralisia, em meados de julho, os senadores aprovaram uma extensa pauta de 37 projetos. Passaram pelo crivo do plenĂĄrio propostas importantes como a que regulamenta a investigação de paternidade de filhos nascidos fora do casamento e a quealtera o Estatuto da Criança e do Adolescente e pune com pena de reclusĂŁo de dois a seis anos e multa quem produzir, vender ou divulgar pornografia envolvendo menores de idade. â—? †Mais informaçþes nas pĂĄginas A6, A7, A8, A10 e A12
A12 NACIONAL
DOMINGO, 9 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
ESTADO SOB CENSURA
Entrevista Alzira Alves de Abreu: pesquisadora da FGV
Marco Antônio Villa Historiador “A impressão que dá é que voltamos ao período do Estado Novo, quando vigorava a Constituição de 1937, que previa a censura. O pior é que a censura tem virado moda, principalmente
‘Censura e crise podem levar a autoritarismo’
nas regiões mais distantes do País.”
FABIO MOTTA/AE
Mayana Zatz Geneticista “Acho uma aberração, é voltar ao tempo da ditadura. Temos que brigar com todas as forças para impedir isso. Esses escândalos são vergonhosos e têm que ser divulgados. É papel da imprensa fazer isso.”
Estudiosa da história da imprensa lembra que no passado era o Executivo que impunha restrições a jornais brasileiros Wilson Tosta RIO
Maurício de Sousa Desenhista
“Quando você acha que o bicho morreu, alguém ressuscita uma de suas cabeças monstruosas. Estejamos atentos. Não é tempo de cerceamento da liberdade de informar e ser informado.”
Jô Soares Apresentador de televisão “Acho qualquer forma de censura um absurdo. O pior de tudo é que ela deixa marcas para sempre em uma sociedade.”
Doutora em sociologia com especial interesse pela área de história da imprensa, a pesquisadora Alzira Alves de Abreu, da Fundação Getúlio Vargas, se escandalizou com a proibição ao Estado de veicular informações sobre Fernando Sarney – filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP) –, imposta pelo desembargador Dácio Vieira, do Distrito Federal, no último dia 30. A pesquisadora lembra que, no passado, as restrições aos meios de comunicação brasileiros partiram do Executivo e ocorreram em regimes de exceção. E vê perigo de a censura à imprensa e a crise do Senado apontarem para um regime autoritário, com restrições ao exercício do jornalismo, como, segundo ela, começa a ocorrer em outros países da América Latina, como a Venezuela. “Esses políticos não estão se dando conta do que estão preparando para o futuro”, diz, alarmada. VOLTA DA CENSURA
Roberto Livianu Presidente do Ministério Público Democrático
“A ação vai na contramão da democracia, do direito à informação e, principalmente, do princípio constitucional da publicidade. O sigilo é exceção, em casos muitos excepcionais.”
“Acho lamentável. Lembro de uma frase do (filósofo italiano) Norberto Bobbio, que diz que a regra da democracia é a publicidade e não o segredo; a luz, não a escuridão. Me parece que (as sentenças proibindo jornais de abordar certos assuntos) são decisões muito complicadas, que comprometem muito o regime democrático. Isso me assusta muito.” SEGREDO DE JUSTIÇA
Luiz Flávio Borges D’Urso Presidente da OAB-SP “Qualquer iniciativa que venha coibir, cercear a liberdade irrestrita que tem a imprensa, tem forte perfume de censura, o que é proibido pela Constituição e incompatível com o Estado Democrático de Direito.”
“O sigilo teria que ser dado no processo judicial. Na medida em que a imprensa recebeu a informação, é obrigada a dá-la ao público. Se alguém tem que ser punido, é quem vazou a informação que não podia ser dada. O cidadão precisa da informação. Sem isso, como é que se faz, como se forma a opinião? Na democracia, o julgamento dos atos do governo é feito através da divulgação da informação. E cabe à imprensa esse papel. Então, acho que (a censura prévia) não se justifica. E é mais lamentável ainda que venha da Justiça.” CENSURA NO PASSADO
Ariel de Castro Alves Membro do Movimento Nacional de Direitos Humanos “É uma enorme contradição e um retrocesso. Pessoas ligadas ao Legislativo deveriam trabalhar em prol do seu fortalecimento.”
“É um juiz ligado ao próprio interessado no assunto. Isso é muito complicado. Agora, acho que tinha que ter uma manifestação maior por parte de toda a imprensa, por parte da ABI, por parte da OAB... Eu estava lembrando disto hoje: como a gente tem uma tradição de momentos de ruptura, de censura à imprensa. A gente – sem falar para trás – tem,
Luís Fernando Vidal Presidente da Associação Juízes para a Democracia “Vejo com preocupação extrema qualquer forma de inibição da liberdade de imprensa. Temos que pensar se não estamos avançando o sinal a pretexto da tutela de interesses individuais.”
Zé Celso Martinez Diretor, autor e ator “Essa censura é reflexo de uma crise maior, que é a continuidade do regime oligárquico dentro da nossa República. Essa atitude da oligarquia Sarney é anticonstitucional, resquício da ditadura militar.” ALERTA – ‘Esses políticos não estão se dando conta do que estão preparando para o futuro’, diz Alzira
Quem é:
Alzira Alves de Abreu ● É doutora em sociologia pela Universidade Paris-V (René Descartes) ● Graduada em história e geografia pela UFRJ ● Integrante da Fundação
Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, trabalha com as linhas de pesquisa: imprensa e jornalistas e biografias das elites políticas brasileiras contemporâneas, entre outras
desde 32, o empastelamento do Diário Carioca; em 37, o Estado Novo; em 64... A gente tem uma experiência muito ruim, de momentos de ruptura, em que se tenta calar a democracia, a imprensa. (...) Foram sempre momentos em que entrou um regime autoritário, um momento de autoritarismo, de ditadura, em que o Executivo agia para impedir a manifestação da imprensa, em vários momentos com a conivência do Judiciário. Tanto em 37 como em 64 houve conivência do Judiciário na implantação da censura. Hoje, isso está partindo do Judiciário, o que é muito grave. Isso tem que ser dito. E como se informa o cidadão? Os atos de governo, o cotidiano da política, a atuação dos políticos, dos homens públicos? Tudo isso tem que ser feito através da imprensa, não tem outra forma.” JUVENTUDE
“O que me preocupa muito no desenrolar desses aconteci-
mentos é: que geração estamos preparando? O que o jovem vê nisso tudo? Como é que ele vai se posicionar diante da política, diante de um Congresso, de uma Câmara de Deputados, de um Senado? Isso é muito preocupante. O que estamos preparando para o futuro? Acho gravíssimo.” RESPONSABILIDADE
“A imprensa está no papel dela. Sem esquecer que a imprensa divulga, muitas vezes, informações de acordo com suas posições políticas, o jornalista também tem posições políticas, tem visões ideológicas, que o fazem se posicionar deste ou daquele lado.Tem que ter cuidado com isso, quando se quer destruir uma personalidade porque se é contra ela. O papel e a responsabilidade do jornalista também são muito importantes.” INSULTOS NO SENADO
“Fico sempre pensando assim: nós já temos uma formação política etc, mas... E esse pessoal jovem, que está assistindo a isso na televisão, que está lendo isso no jornal? Qual é a repercussão disso para o futuro? Sabe, isso é que me preocupa muito. Não para mim, para pessoas da minha geração, que têm uma posição já definida, que defendem a democracia, mas para o pessoal que está vindo, está chegando, que lê isto... O que que é isso? Essas pessoas não estão preocupadas com isso.” DESCRÉDITO
“As pessoas dizem: ‘Para que esse Senado? Gasta tanto dinheiro...’ Isso é que me preocupa... Daqui a pouco dizem: ‘Fecha a Câmara! Fecha o Sena-
do! Para quê? Bota censura na imprensa...’ Isso preocupa muito. Vivi o último regime autoritário, não posso defender isso. Há um desinteresse muito grande de parte da população. Não toda, há nichos que ainda estão preocupados, acompanhando. Tudo isso tem que ser levado em consideração, as pessoas estão muito apáticas. Esses políticos não estão se dando conta do que estão preparando para o futuro.”
Paulo Skaf Presidente da Fiesp “A censura a um meio de comunicação, seja sob que pretexto for, é um retrocesso. A sociedade tem direito à informação, tanto quanto qualquer pessoa acusada tem direito à defesa. Prevalecerá a verdade.”
TARSO E CENSURA
“O Executivo, a meu ver, está dando um péssimo exemplo. Porque está justificando não atuar dentro da lei. Isso é preocupante. Porque, se é o próprio Executivo, se são os ministros, se é o presidente, que passam essa mensagem, que democracia é essa que vamos ter? Acho que se está desmoralizando não só o Congresso, como o regime democrático.” FUTURO
“Acho que pode apontar para um regime autoritário. Pode... Por que não? Olhe o que está acontecendo na Venezuela... Não está começando a haver movimentos autoritários na América Latina? Começo a olhar isso com alguma preocupação... Equador, Venezuela... Sabe? Começam a haver claramente indícios de controle. Não é tão aberto ainda, mas são momentos que a gente percebe. Espero que não.” ● † Veja repercussão da censura ao ‘Estado’ no Fórum dos Leitores na página A2
Márlon Reis Juiz eleitoral “Não é possível que se estabeleça antecipadamente o que um jornal vai dizer ou não. Os jornais não estão a salvo de, eventualmente, responder por qualquer abuso, mas impedir isso preventivamente é incompatível.”
Oscar Schmidt Ex-jogador de basquete “A liberdade de imprensa é um princípio fundamental da democracia em qualquer país evoluído. Estamos retrocedendo. É um absurdo.”
PeloBrasil AMAPÁ
DISTRITO FEDERAL
PIAUÍ
150 servidores terão pós em gestão pública
Vice-presidente do TSE pede afastamento
Estado iniciará obras da Transnordestina
A Escola de Administração Pública do governo do Amapá firmou convênio com a Faculdade Seama para oferecer cursos de pósgraduação a 150 servidores do Estado a partir deste mês. Voltados às áreas de gestão estratégica da administração pública, planejamento, orçamento e controle da gestão pública, os cursos irão até junho de 2010.
O ministro Joaquim Barbosa, vicepresidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ficará em licença médica até o dia 10 de novembro. O pedido de afastamento foi aprovado pelo presidente do órgão, ministro Carlos Ayres Britto, que afirmou reconhecer que os problemas de coluna de Barbosa o impedem de acumular funções no TSE e no Supremo Tribunal Federal.
O governador Wellington Dias (PT) autorizou o início das obras da ferrovia Nova Transnordestina, que vai passar por 20 municípios do Estado, numa extensão de 420 km. Segundo Dias, a obra custará cerca de R$ 1,3 bilhão aos cofres públicos. A extensão total da ferrovia no País será de 1.628 km, com custo acima de R$ 5 bilhões e término previsto para o fim de 2010.
DIDA SAMPAIO/AE–13/11/2007
SÃO PAULO
Ex-prefeito de Jacareí é condenado pelo TJ O ex-prefeito de Jacareí, Marco Aurélio, e a ex-secretária de educação do município, Maria Cristina, terão de devolver R$ 257,8 mil gastos com a contratação ilegal de 34 ônibus para transporte escolar em 2002. Os dois só poderão recorrer se comprovarem que a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo foi contrária à lei.
●
Edição de 0h15
o estado de s. paulo
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
SEGUNDA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
10 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42300
ESPORTES
São Paulo chega ao G-4; Corinthians perde Tricolor obtém a quinta vitória seguida O São Paulo venceu o Goiás no Morumbi por 3 a 1 e, com a quinta vitória consecutiva, chegou ao grupo dos quatro melhores do Brasileiro. No Maracanã, o Corinthians foi derrotado pelo Flamengo por 1 a 0, com gol de
Adriano. Foi o quinto jogo do time sem vitória, desde a saída de Ronaldo, queserecuperadefratura. “Não dá para pensar em títulocomestadiferençadepontos”, admitiu o técnico Mano Menezes. ● PÁGS. E1 e E3
TIAGO QUEIROZ/AE
Luxemburgo mira o Senado Alex Sabino ENVIADO ESPECIAL A PALMAS
Aprincipal novidade dapolítica do Tocantins atende pelo nome de Vanderlei Luxemburgo da
UNIÃO – Jogadores do São Paulo festejam o gol de Washington, o primeiro da vitória sobre o Goiás: time está a 5 pontos do líder Palmeiras
Silva. Na capital Palmas, não há quem não fale na possibilidade de o técnico do Santos sair candidato ao Senado em 2010. Neste ano, Luxemburgo já visitou o Estado sete vezes. ● PÁG. E6
Indústria se recupera e volta a contratar A indústria brasileira dá sinais de recuperação e retoma as contratações.Depois deum período de oito meses de corte de empregos, as montadoras de
veículos contrataram no mês passado 300 trabalhadores e, neste mês, já anunciaram a abertura de quase 2 mil vagas. Siderúrgicas, fábricas de ele-
trodomésticos e de calçados também voltaram a reforçar seusquadros.PesquisadaFundação Getúlio Vargas (FGV) feita com 1.115 indústrias mos-
tra que, pela primeira vez desde outubro de 2008, há mais empresas com planos de contratação do que dispostas a demitir. ● PÁGS. B1, B3 e B4
Unasul evita caso das bases
CADERNO 2
‘A História de Muitos Amores’
Declaraçãooficial omitepolêmica sobreacordo EUA-Colômbia ENVIADA ESPECIAL A QUITO
Os líderes da União de Nações Sul-americanas (Unasul) assinam hoje uma declaração que
omite a polêmica sobre a presença americana em sete bases militares da Colômbia. Apesar das ameaças, sobretudo da Venezuela, não houve consenso emtorno da proposta da Bolívia
de inclusão de um parágrafo de “rechaço” ao acordo. Países como Chile, Uruguai, Paraguai e Peru consideram as bases um assunto interno da Colômbia. ● PÁG. A9
Obra na Marginal atrasa viagem em 1 hora
2,5% das emissões do mundo vêm da Amazônia
Ônibus intermunicipais que vêm à capital paulista pelas Via Anhanguera e Rodovia dos Bandeirantes estão demorando em média uma horaamais parachegaraoTerminal Rodoviário Tietê. Os atrasos, dizem as empresas, são causados pelas obras de ampliação da Marginal do Tietê, iniciadas em junho, que devem no futuro dar fluidez ao trânsito na região. Os motoristas têm feito caminhos alternativos. ● PÁG. C1
O desmatamento da Amazônia brasileira contribui com aproximadamente 2,5% das emissões globais de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global, segundo cálculo preliminar do InstitutoNacionaldePesquisas Espaciais (Inpe), informa o repórter Herton Escobar. O índice, embora alto, é menor do que o esperado, de 5%. A conta tem como base a taxa de desmatamento de 2008, de 13 mil km². ● PÁG. A14
7 8 9 10 11 12
●● Mark Zuckerberg, o bilionário criador do Facebook – a maior rede social do mundo, com 250 milhões de usuários –, fala sobre o presente e o futuro do seu negócio. ●
BÊNÇÃO – Sarney deixa igreja no Lago Sul, em Brasília, após missa
Oposição quer convocar ex-secretária da Receita Ela sugere que Dilma quis ajudar Sarney A oposição quer que a ex-secretária da Receita Lina Vieira explique o pedido que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) lhe teriafeitopara“agilizarafiscalização do filho do Sarney”. Se-
ERNESTO RODRIGUES/AE
Denise Chrispim Marin
WILSON PEDROSA/AE
Montadoras, siderúrgicas e fábricas de eletrodomésticos ampliam quadros
q Guia da gripe suína
Companhia Fraternal recupera comédia do início da carreira de Domingos Oliveira. ●
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Direto da Fonte
Tony Ramos diz que sem apoio financeiro não se faz teatro. ● PÁG. D2
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Memória
Morre o fotógrafo Mário Cravo Neto ●● Vítima de câncer, baia-
no tinha 62 anos e foi também escultor. ● PÁG. A15
Onde obter o remédio
gundo ela, foi um recado “para encerrar” a apuração. ● PÁG. A4 ●●● CENSURA AO ‘ESTADO’
A organização Repórteres Sem Fronteiras vê abuso de poder em decisão judicial. ● PÁG. A4
NOTAS E INFORMAÇÕES
Lula e o golpe no Codefat O presidente só intervirá na crise do Codefat se o custo político da não-intervenção for considerado muito alto. ● PÁG. A3
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●● O Estado publica a lista completa, com endereços e telefones, dos 176 locaisem queé possível se obter o medicamento oseltamivir (Tamiflu) no Estado de São Paulo. Conheça as regras de distribuição do remédio e confira dicas para reduzir a possibilidade de contaminação. ● ESPECIAL ENCARTADO NO PRIMEIRO CADERNO DOBRE, RECORTE E GUARDE
Tempo: CAPITAL
26º
MÁX.
● PÁG. C2
14º
MÍN.
Sol aparece e faz calor. No oeste, o céu fica nublado e pode chover.
Hoje: 66 páginas A. 1º caderno: 16 ● B. Economia: 12 ● C. Matrópole: 8 ● D. Caderno2: 8 ● E. Esportes: 6 ● L. Link: 8 ● Guia da gripe suína: 8 Classificados: 112 anúncios
A2 ESPAÇO ABERTO
SEGUNDA-FEIRA, 10 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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A morte de Euclides da Cunha
Jornal, o único punido
LuizaNagibEluf
CarloAlbertoDi Franco
Em 15 de agosto de 1909, portanto, há exatos cem anos, morria o escritor, jornalista, engenheiro e professor Euclides da Cunha, num desastrado confronto, por ele mesmo provocado, com o amante de sua mulher, Ana. O famoso autor do livro Os Sertões tentou matar Dilermando de Assis, tenente do Exército e exímio atirador, surgindo de surpresa na casa do rival, no bairro de Piedade, no Rio de Janeiro, onde sua mulher havia passado a noite. Ensandecido de ciúme e instigado por parentes e amigos a “acertar as contas”, Euclides chegou à residência de Dilermando completamente fora de si, portando um revólver que conseguira emprestado. Foi entrando e gritou: “Vim para matar ou morrer.” Dilermando correu ao seu quarto para se vestir, pois estava em mangas de camisa e queria usar a farda para enfrentar “o doutor”, como o chamava. Não teve tempo de abotoar o colarinho. Euclides localizou-o rapidamente, arrombou a porta com um chute e atirou em predeterminada di-
A cultura patriarcal continua fazendo vítimas de crimes passionais no País reção, alvejando Dilermando na virilha. O tenente procurou tirar a arma da mão do agressor, mas, debilitado, não conseguiu e foi novamente alvejado, dessa vez no peito. Nesse momento, o irmão de Dilermando, o jovem Dinorah, que também morava na casa, intercedeu, tentando desarmar Euclides. Não teve êxito e ainda foi alvejado por Euclides na nuca. Nesse ínterim, o tenente, usando todas as forças que conseguiu reunir, pegou sua arma de fogo, que estava sobre o armário do quarto, e atirou no pulso de Euclides, para fazê-lo cessar o tiroteio, mas não foi bem-sucedido. Embora tenha sido ferido, o escritor não perdeu os movimentos e atirou novamente contra o rival. O tiro não saiu. Acionando outra vez o gatilho, agora com êxito, Euclides feriu Dilermando nas costelas direitas, causando-lhe imensa dor. Alvejado três vezes e achando que ia morrer, Dilermando atirou para matar. Sua pontaria certeira fulminou Euclides, que caiu na soleira da porta. Faleceu alguns minutos depois. Dilermando foi levado ao hospital somente depois de prestar declarações ao delegado de polícia, situação impensável nos dias de hoje, pois uma pessoa ferida deve ser socorrida antes de mais nada. Ainda assim, sobreviveu. Ana, que estava escondida no quarto dos fundos e tinha um filho peque-
no nos braços, viu-se abandona- co pecado foi “ter amado, aos da por todos ao final do emba- 17 anos, uma mulher casada te. Sozinha, carregando o bebê cujo marido não conhecia e se sob forte chuva, saiu a pé da re- achava ausente em paragens sidência em Piedade e rumou longínquas”. Ana tinha 30 para a casa de sua mãe, que anos quando conheceu Dilernão quis ampará-la para não mando e se apaixonou por ele. A esposa de Euclides jamanchar a reputação do pai, o mais o enganou, não o general Sólon Ribeiro. Na ocasião da morte de Eu- “traiu”, como se alegou à époclides, a opinião pública e parte ca e até hoje alguns repetem. da imprensa culparam Diler- Ela contou ao marido, assim mando pelo ocorrido. Era evi- que ele retornou de Canudente que o tenente havia mata- dos, que estava enamorada do para não morrer, mas a exe- de outro homem e queria se cração social devia-se ao fato separar, mas Euclides não de Dilermando ter-se relaciona- concordava com isso. do com uma mulher casada, e Recentemente, Eloá Cristicasada com um dos homens na Pimentel foi assassinada mais respeitados do País. pelo ex-namorado LindemberFoi, de fato, uma pena Eucli- gue Alves, após permanecer des ter morrido daquela manei- em cárcere privado por cinco ra, mas lástima ainda maior é dias, num deplorável espetáperceber que a cultura patriar- culo televisionado em tempo cal e o preconceito contra a mu- real para todo o Brasil, só porlher continuam fazendo víti- que resolveu romper a relamas de crimes passionais em ção. Algum tempo antes, o jornosso país. nalista Pimenta Neves assassiDinorah, que estava na flor nou Sandra Gomide, sua exda idade, desenvolvia brilhante namorada, pelo mesmo moticarreira na Escola Naval e vi- vo: a moça pôs fim ao namoro. nha-se destacando como jogaNão é possível obrigar aldor de futebol do Botafogo, fi- guém a gostar de quem não cou paraplégico em consequên- gosta. Da mesma forma, não cia do tiro na nuca. Isso des- se pode evitar o amor quando truiu sua vida. Ele se matou. ele surge entre duas pessoas. Dilermando foi preso, pro- Nossa sociedade ficará muito cessado e julgado por homicí- mais saudável e evitará numedio pela Justiça Militar. Termi- rosas tragédias quando modinou absolvido por legítima de- ficar certos valores, ensinanfesa. Ao sair da prisão, casou- do os homens a controlar o se com Ana. ciúme e permitindo que todas Foram muitas tragédias em as pessoas, inclusive as mulheuma. Em 1916, por volta das 13 res, sejam livres para amar. ● horas do dia 4 de julho, Dilermando estava no Cartório da Luiza Nagib Eluf, procuradora Vara de Órfãos, pleiteando a de Justiça do Ministério guarda de Manoel Afonso Público de São Paulo, é autora Cunha, filho de Ana que se en- de vários livros, dentre os contrava com familiares de Eu- quais Matar ou Morrer – o Caso clides, quando ouviu uma deto- Euclides da Cunha nação atrás dele, seguida de forte ardor. Suas pernas fraquejaram, a vista turvou-se e sobreveio grande mal-estar. Voltou-se e distinguiu um vulto vestido com uniforme de aspirante da Marinha. Era Euclides da Cunha Filho, aos 18 anos, procurando vingar a morte do pai. Dilermando esperou que algum dos presentes desarmasse o rapaz, mas todos fugiram. Novo tiro nas costas. Percebendo que não mais poderia permanecer inerte e lamentando profundamente tratar-se do filho de sua mulher, Dilermando sacou sua arma e atirou três vezes. Em seguida, desmaiou. Euclides da Cunha Filho morreu, Dilermando restabeleceu-se. Os jornais da época atribuíram-lhe “resistência hercúlea”. Sobre o amor que sentia por Ana, Dilermando declarou ao jornal Diário Renan Calheiros de São Paulo que seu úni-
Colômbia De 1964 até hoje, nenhum vizinho se interessou em ajudar a Colômbia a combater as Farc, organização autoproclamada guerrilha revolucionária marxista-leninista, que opera com métodos terroristas, visando à implantação do socialismo no país. Muito ao contrário, Venezuela e Equador, ostensivamente, dão abrigo a seus militantes em áreas fronteiriças, protegendo-os da repressão do Exército colombiano. O Brasil, seguindo recomendação do Foro de São Paulo, dá abrigo há mais de dez anos a Francisco Antonio Cadenas Collazos, conhecido como Olivério Medina, padre Medina ou el cura Camilo, que seria o representante oficial das Farc em território brasileiro. Assim, restou ao determinado presidente Álvaro
Uribe voltar sua atenção para os EUA, tradicionais aliados, interessados também em dar um basta nessa farra de narcotraficantes travestidos de revolucionários que insistem em sabotar o regime democrático colombiano. SERGIO S. DE OLIVEIRA ssoliveira@netsite.com.br
Monte Santo de Minas (MG)
Em sua indisfarçável pretensão de ser o grande líder da América Latina e tendo sua suposta liderança ameaçada pela potência do norte em razão do acordo militar Colômbia-EUA, Lula insiste com seu colega Uribe para que participe do Conselho de Defesa da Unasul, onde quase 100% dos membros, os bolivarianos, são contra. Que grande estrategista! ●
LUCCA BRASI
foi padrinho do casamento. Sarney, o desembargador Dácio Vieira e Agaciel Maia, pivô do escândalo dos atos secretos, aparecem juntos em fotografia da festa do casamento de Mayanna, que foi publicada numa coluna social do Jornal de Brasília, três dias após a cerimônia. Ao lado deles, compondo a foto, estava o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Em 12 de fevereiro, Sarney comparecera à posse do desembargador na presidência do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal. Segundo matéria de Leandro Colon e Rodrigo Rangel, repórteres da sucursal de Brasília do Estado, em sua passagem pelo Senado Dácio Vieira trabalhou na gráfica da Casa. Lá foi colega de Agaciel Maia. Foi na gráfica que começou a trajetória de poder de Agaciel no Senado: dali, pelas mãos de Sarney, em 1995, ele foi guindado ao posto de diretor-geral, no qual acumulou superpoderes que culminaram com a edição dos atos secretos, revelados pelo jornal. Eis, caros leitores, os personagens que compõem um quadro de suspeição judicial clamorosa. Ademais, a liminar foi uma agressão à liberdade de imprensa, valor expressamente garantido pela Constituição. No capítulo da Comunicação Social, artigo 220, está definido que “a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”. Para evitar interpretações equivocadas o legislador sublinhou no parágrafo 1º desse mesmo artigo que “nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comuniLEO MARTINS cação social”. Além de inconstitucional, a censura à imprensa está na contramão do anseio de limpidez no comportamento dos homens públicos que domina a sociedade. A experiência demonstra mais uma vez, com o episódio dos atos secretos do Senado e seus escabrosos desdobramentos, que a escassez de informação tem sido uma aliada da impunidade. Mas não é só a família Sarney que promove o cerceamento da liberdade de imprensa. O governo Lula, aliado aberto do presidente do Senado e leniente com inúmeros casos de corrupção, manifesta notável simpatia pelo governo ditatorial da Venezuela.
O desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, proibiu O Estado de S. Paulo de publicar reportagens que contenham informações da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. A medida judicial que pôs o jornal sob censura foi solicitada pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) – que está no epicentro da crise que fustiga o Congresso. O desejo de Fernando Sarney foi satisfeito com a velocidade de uma corrida de Fórmula 1: o pedido deu entrada numa quinta-feira, no fim do dia, e logo na manhã de sextafeira a liminar foi concedida pelo magistrado. A decisão determinou ainda multa de R$ 150 mil para cada reportagem que viesse a ser publicada. Os advogados de Fernando Sarney quiseram impedir a divulgação das conversas telefônicas gravadas com autorização judicial – uma delas revelou envolvimento do senador Sarney na contratação do namorado da neta, por meio de ato secreto. Ex-consultor jurídico do Senado, o desembargador Dácio Vieira, que concedeu a liminar a favor de Fernando Sarney e pôs o jornal sob censura, é do convívio social da família Sarney e do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia. E foi um dos convidados presentes ao casamento de Mayanna Cecília, filha de Agaciel, no dia 10 de junho, em Brasília. Na mesma data, O Estado de S. Paulo revelou a existência de atos secretos no Senado. José Sarney
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES
ENDEREÇO
São Paulo ● A gente entende a indignação da turma do Palácio do Planalto: de fato, é preocupante a presença de tropas americanas na Colômbia, pois isso pode constituir grande risco para a segurança das Farc, que contam com indubitável ajuda material da Venezuela e do Equador para depor o governo de Uribe. O apoio brasileiro é apenas moral. Menos mal. ABEL LEOPOLDO MARTIN DE OLIVEIRA abelleopoldo@bol.com.br
São Paulo
“Dize-me com quais compañeros andas e te direi quem és” explica a dúbia diplomacia de Lula. ●
CARLOS AUGUSTO DE A. MARANHÃO
São Paulo
Errotático
Acende-se mais uma vez o forno para aquecer a pizza da iniquidade blica exige não é menos jornalismo, mas mais informação. O senador Pedro Simon foi certeiro ao se referir ao melancólico comportamento do senador José Sarney: “O homem da transição democrática agora cometeu um ato de ditadura. Ele perdeu seu último argumento.” O que se pretendeu com a censura ao jornal foi algemar a verdade e amordaçar os valores éticos que estão gritando na garganta de milhões de brasileiros decentes. Uma onda de podridão avança sobre o Senado e envergonha o Brasil. Acende-se, mais uma vez, o forno para aquecer a pizza da iniquidade. O único punido foi um jornal. Mas a informação do diário, apoiada em métodos jornalísticos lícitos e éticos, não sucumbirá ao espasmo do autoritarismo. Graças ao papel histórico da imprensa e à legítima pressão da opinião pública, o Brasil não será o mesmo. E o efeito cascata, assim espero, será irreversível. Os brasileiros darão sua resposta nas eleições de 2010. ● Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, é diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br) e da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com) E-mail: difranco@iics.org.br
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Devoção
FRANCISCO PEDRO DO COUTTO
Só faltava agora Lula mandar recado parabenizando a atitude de Renan, o “vingador”, por ter usado palavras de baixo calão para defender o incomum e indefeso Sarney, o “doloso”. Chegamos ao fundo do poço no quesito descompostura das pessoas que confundem o Senado, a extinta Câmara Alta, com boteco da esquina. O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, desmente as afirmações de Sarney sobre pesquisa que mostraria que as classes C, D e E estão se “lixando” para o fato de Lula estar a apoiar suas barbáries. O céu é o limite para as mentiras desses políticos das “maiorias”.
pedrocoutto7@yahoo.com.br
LEILA E. LEITÃO
Rio de Janeiro
Itanhaém
O presidente Lula ainda não considerou que seu apoio à permanência de Sarney na presidência do Senado e a atuação dele e os procedimentos de Renan Calheiros, Paulo Duque e Fernando Collor estão retirando intenções de voto na ministra Dilma Rousseff, sua candidata à sucessão em 2010. Tanto que ela se retraiu nitidamente, afastando-se dos episódios vergonhosos a que todos assistem. Esses protagonistas não se importam com a opinião pública. Um erro enorme. O povo não tem o poder de veto, mas tem o poder de voto.
O recente ataque à TV Globovisión e o fechamento de 34 rádios naquele país receberam críticas de entidades como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA e a Sociedade Interamericana de Imprensa e até de governantes pró-Hugo Chávez, como o paraguaio Fernando Lugo. Já o governo Lula, por meio do assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia, defendeu Chávez. “Se acabou (a liberdade de imprensa), deve ter sido depois que eu saí. O que ouvi em programas de TV sendo dito sobre o presidente da Venezuela não está no gibi”, disse Garcia, então recém-chegado da “democrática” Venezuela. Iludem-se os que imaginam que a impunidade será protegida pelo manto do silêncio. O Brasil está passando por uma profunda mudança cultural. A corrupção, infelizmente, sempre existirá. Faz parte da natureza humana. Mas uma coisa é a miséria do homem; outra, totalmente diferente, é a sistemática e cínica privatização da coisa pública. O que a opinião pú-
FAX:
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Quem poderia imaginar que um dia Lula se tornaria devoto da “honestíssima trindade”, formada por Sarney, Renan e Collor?! CONRADO LUIZ AMSTALDEN c.amstalden@hotmail.com
Vinhedo
Naufrágio O operário Lula fundou o PT. O presidente lula (não merece maiúscula) está afundando o pt (também não merece maiúscula). ERNESTO TEIXEIRA NASCIMENTO etn29@hotmail.com
Santos ● Que vergonha! O senador Mercadante, eleito pelos paulistas com 10,5 milhões de votos em 2002, recebe e acata ordens de
SEGUNDA-FEIRA, 10 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Lula e o golpe no Codefat
M
ais uma crise com toda a aparência de escândalo estoura no governo e mais uma vez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva procura tirar o corpo, evitando intervir diretamente no problema e na sua solução. Desta vez a crise envolve o FAT, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, com patrimônio de R$ 158 bilhões e orçamento de R$ 43 bilhões para 2010, ano de eleições. O problema, como já expusemos aqui, surgiu quando o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, rompeu o acordo de rodízio e fez eleger para a chefia do Codefat, o Conselho Deliberativo do FAT, o presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese. Pela regra seguida até a manobra do ministro, a presidência caberia a uma pessoa indicada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Diante do golpe, os dirigentes da CNA e das confederações nacionais da Indústria, do Comércio e das Instituições Financeiras decidiram abandonar o colegiado. Depois disso, encaminharam ao Palácio do Planalto um documento para confirmar e explicar sua decisão. O presidente Lula enviou o texto para análise
jurídica na Casa Civil e na Advocacia-Geral da União, mas, segundo seus auxiliares, seu envolvimento na questão não irá além disso. A solução do problema, acrescentam, continuará entregue ao ministro do Trabalho. Mas o presidente Lula não pode simplesmente fugir da responsabilidade. Se adotar essa política, aprovará implicitamente qualquer deliberação do ministro Carlos Lupi, a começar pela intervenção na escolha do presidente do Codefat, com o rompimento da regra de alternância. Os três grupos componentes do colegiado – representantes de trabalhadores, de empregadores e do governo – vinham seguindo sem problema a norma de alternância, até o surgimento de um ministro empenhado em controlar a aplicação dos bilhões do FAT. Os três grupos se alternavam no comando do conselho e o rodízio era observado também entre as entidades de cada grupo. A presidência deveria agora caber a uma pessoa indicada pela CNA, mas o ministro Carlos Lupi decidiu mudar a regra do jogo e manobrar a favor da eleição do representante da Confederação Na-
‘Bico’ oficial para os PMs
O
prefeito Gilberto Kassab enviou à Câmara Municipal um projeto de lei que cria gratificações para agentes da Polícia Militar (PM) que trabalhem em batalhões lotados na cidade de São Paulo. A gratificação de até 100% do salário-referência de cerca de R$ 1.800,00 será aplicada às patentes de coronel, tenente-coronel, major, capitão, 1º e 2º tenentes. Subtenentes, sargentos, cabos e soldados poderão receber gratificações de até 70% do salárioreferência. A ideia do prefeito Kassab, certamente carregada de boas intenções, é tanto estimular os policiais militares do Estado a prestar serviços de segurança ao Município, em suas horas de folga, como eliminar a prática dos “bicos”, que é o que eles ganham – por sinal ilegalmente – prestando serviço a particulares, em estabelecimentos como lojas, supermercados, padarias, restaurantes, bares, condomínios, etc. Diga-se, antes de mais nada, que isso significaria substituir o “bico” privado pelo “bico” legalizado, mantendo todos os sérios inconvenientes – para não dizer riscos – de um PM trabalhar em seus necessários dias de descanso, tão mais necessários por tratar-se de uma atividade profissional demasiadamente estressante. Segundo pesquisa de 2007, da Associação de Cabos e Soldados, 80% dos 70 mil praças do Estado – ou 56 mil PMs – faziam serviços extras para complementar o salário. Detectouse que na capital havia três vezes mais policiais fazendo “bico” do que exercendo o patru-
lhamento das ruas. O dado é, sem dúvida, impressionante, ao revelar que, em razão da remuneração que recebem, os PMs paulistas já se acostumaram a contar com esse tipo de ganho “extra”. Mas o mais óbvio não seria o governo do Estado propiciar uma remuneração mais justa e adequada aos PMs, consentânea com os esforços e riscos da atividade de segurança pública? E será que o hábito de receber bônus dos municípios não acostumará os agentes da PM a só canalizarem seus esforços para os municípios que os concederem? Há outro inconveniente, po-
O prefeito vai armar mais uma encrenca, com a PM e a GCM rém, que decerto suplanta os já mencionados: trata-se dos servidores da Guarda Civil Metropolitana (GCM), que já ameaçam abandonar determinadas funções de fiscalização se também não forem beneficiados com essas gratificações. E compreende-se perfeitamente sua animosidade, visto que a força paulistana não mais tem por função apenas a proteção dos próprios municipais ou prestação de segurança a monumentos e equipamentos específicos do Município. Com o salário-base de R$ 837, os 6.500 GCMs argumentam que não têm aumento real há 12 anos, e ainda passaram a acumular a função de combater os camelôs e fazer a abordagem dos moradores de rua, desde que um decreto do prefeito Kassab, de novembro de 2007, determinou
que a GCM também deve atuar no combate ao comércio informal. “Essa proposta foi um tapa na cara de todo guarda (municipal) que passou a acumular o combate ao camelô e a abordagem dos moradores de rua. Qualquer guarda que ficou sabendo hoje da proposta do prefeito ficou abatido. Por isso somos contra essa gratificação do servidor estadual. A Prefeitura já conta com uma polícia própria”, observou Clóvis Roberto Pereira, diretor do SindGuardas. Não era de esperar, mesmo, que uma categoria profissional se conformasse em deixar de ganhar o que outra recebe, desempenhando as mesmas funções – e, no caso, correndo os mesmos riscos. O prefeito tem razão em pretender que a corporação da Polícia Militar de São Paulo se motive, especialmente, em exercer suas funções na cidade de São Paulo, cuja complexidade, no campo da segurança pública, está a exigir forte empenho e entrosamento estreito entre Estado e Município, em operações conjuntas de policiamento e em tudo o mais que possa contribuir para melhorar a segurança dos cidadãos paulistanos, num espaço urbano conturbado pela violência. Sempre haverá a possibilidade de convênios entre instituições estaduais e municipais, no campo da segurança pública – assim como em tantos outros. Que haja, na busca desses caminhos, mais criatividade do que a mera criação de um “bico” para a polícia paulista.
cional de Serviços. Essa confederação existe há pouco mais de sete meses. Foi reconhecida em dezembro de 2008 pelo Ministério do Trabalho e pouco depois incluída no Codefat. Em março deste ano, Luigi Nese entregou ao ministro uma placa de agradecimento e atribuiu-lhe o título de patrono da CNS. O ministro soube responder à gentileza com rapidez ainda mais notável, facilitando a uma entidade recém-criada o acesso à presidência do Codefat. Se nada mudar, caberá ao presidente da CNS comandar nominalmente o colegiado responsável pela gestão de um patrimônio de R$ 158 bilhões. Se exercer um comando de fato, e não só nominal, causará uma enorme surpresa, pois com certeza não foi eleito para isso. O ministro Carlos Lupi já havia tentado assumir a presidência do Codefat, mas o presidente Lula não concordou e preferiu manter a gestão tripartite. Pelo menos naquele momento o chefe de governo demonstrou cautela diante das ambições de seu ministro. Esse obstáculo não deve ter causado muito desconforto no Ministério do Trabalho, pelo menos até
A dívida rural, de novo
P
arado na Câmara dos Deputados desde 2007, um projeto de lei que abre o caminho para nova renegociação de dívidas rurais, e abrange contratos cujo total é estimado em R$ 36 bilhões, está prestes a ser votado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) e, dali, seguir para a apreciação do plenário. De autoria do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), atual líder de seu partido, e apoiado pela bancada ruralista na Câmara, o projeto parecia esquecido. Foi apresentado em 2005, arquivado no início de 2007, desarquivado pouco depois e estava parado na CCJ até há pouco. Agora, parece ter encontrado o ambiente adequado para avançar. Há poucas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, em declarações à imprensa, que apoiaria uma iniciativa que permita a renegociação de dívidas agrícolas não abrangidas pelas renegociações anteriores. E a aproximação do período eleitoral estimula os congressistas e o governo a distribuir benefícios com recursos do Tesouro Nacional. “Precisamos de uma solução definitiva, e esse projeto representa exatamente isso”, declarou seu autor ao jornal Valor, ao justificar a proposta. “Vou apressar a apresentação de meu parecer na CCJ para resolver de uma vez por todas esse problema que tira o sono dos produtores há mais de dez anos”, garantiu, por sua vez, o relator do projeto, deputado Dilceu Sperafico (PP-PR). Seria bom que, desta vez, a solução fosse definitiva, pois,
se aprovada, esta será a sétima renegociação geral de dívidas de produtores rurais desde 1995. Mas, mesmo entre os que apoiam o projeto, há quem duvide disso. Em outubro de 2005, ao apresentar seu relatório na Comissão de Finanças e Tributação, favorável ao projeto, sem alterações, o então deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) observou que, “mesmo com a aprovação da medida, estaremos distantes de encontrar soluções definitivas, satisfatórias para as partes envolvidas”, por se tratar de atividade sujeita a muitos riscos.
Um problema que nunca terá a solução definitiva de que fala Muitos produtores rurais enfrentam, de fato, dificuldades inesperadas, sobretudo em razão de problemas climáticos e das oscilações dos preços agrícolas no mercado internacional. Quando fatores negativos se combinam para quebrar sua produção ou suas rendas, ou ambas, e sem dispor de amplo e tranquilizador apoio do seguro rural, esses agricultores podem enfrentar sérios problemas para honrar seus compromissos financeiros e garantir recursos para o plantio da safra seguinte. Nesse momento, precisam de ajuda temporária. Mas, entre os beneficiários das renegociações, há também os que sistematicamente atrasam os pagamentos das prestações das dívidas contratadas, ou simplesmente não as pa-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
FLÁVIO JOSÉ RODRIGUES DE AGUIAR rsd100936@terra.com.br
Resende (RJ)
PapaiNoel O presidente nacional da OAB, Cezar Britto, defendeu a renúncia de todos os senadores como solução para a crise que assola a Casa. Seria a solução ideal, mais rápida e mais desejável por toda a população, porém é a mesma coisa que acreditar em Papai Noel. Pelo amor de Deus, só sairão de lá algemados e no camburão da polícia. MÁRIO ISSA drmarioissa@yahoo.com.br
São Paulo
Dequem é a culpa? Renan Calheiros saiu, não resolveu nada. Se Sarney renunciar, também não vai resolver nada. É uma sequência de escândalos que não tem fim: um abafa o outro. E a culpa é somente nossa, que elegemos esses políticos mal-intencionados.
“
No tiroteio do Senado quem leva o chumbo das balas perdidas é a população que o sustenta”
PedroGaluchi pgaluchi@gmail.com SãoPaulo
em que os estudantes se manifestavam contra os abusos políticos neste país? Enquanto não nos comportarmos como um país sério, não seremos tratados como tal – e a elite política continuará escondida em Brasília, aproveitando-se de nós.
vez esse dia, que poderá vir a se transformar numa grande demonstração de insatisfação popular contra a classe política que se apoderou de Brasília. Será que o brasileiro continuará a se reunir apenas para fins de futebol, micareta e carnaval?
ISABELLE GLEZER
FRANCISCO PELTIER
VIRGINIA MARIA BERTOTI
bel_glezer@hotmail.com
cpeltier@uol.com.br
Pederneiras
São Paulo
Rio de Janeiro
● A gripe suína bem que poderia ter-nos poupado. Já temos o Senado, a Câmara dos Deputados e outras “pragas” que nos vêm assolando há muito tempo. ALBERTO BRAZ
Santo André
Mobilizaçãopopular Muitos leitores estranham a falta
de reação popular ante as obscenidades que têm ocorrido no Senado. Salvo exceções, a população brasiliense é composta por políticos, seus parentes, afilhados e empregados. Pergunta-se: caso esta verdadeira palhaçada se passasse em São Paulo ou no Rio de Janeiro, haveria maior mobilização popular, como nos tempos das Diretas-Já e do Collor? Ou já se foi o momento histórico
● O dia 7 de setembro mais uma vez se aproxima. Por ser a data brasileira que significa a nossa independência e levando em conta os deprimentes acontecimentos políticos, sem nenhuma distinção de partidos, que tanto têm enojado nossa sociedade, pergunto se as entidades realmente representativas do nosso povo deixarão passar em branco mais um
gam. Não pagam nem mesmo as prestações das dívidas renegociadas, como afirmou o deputado Cláudio Vignatti (PT-SC). No voto em separado que apresentou na Comissão de Finanças e Tributação, contrário ao relatório de Moreira Franco, Vignatti incluiu dados do Tesouro Nacional, segundo os quais, dos agricultores responsáveis pelas operações abrangidas pela primeira renegociação, de 1995, 32% nunca pagaram nenhuma parcela. Em 2005, do valor das dívidas renegociadas que não estava sendo pago, 76% correspondiam a contratos acima de R$ 200 mil, ou o correspondente a apenas 1,5% dos contratos. A mais recente renegociação, de junho do ano passado, ampliou o prazo de pagamento para 2025, ofereceu descontos para liquidação à vista, eliminou multas, trocou indexadores e abrangeu contratos que somam R$ 75 bilhões. Nova repactuação – que poderá beneficiar os inadimplentes contumazes –, ao limitar a disponibilidade de crédito para a atividade agropecuária, “vai prejudicar de forma irrestrita todos os produtores rurais”, os que continuam honrando seus compromissos, e que são a maioria, e os que “merecem a repactuação e alongamentos das suas dívidas agrícolas”, argumentou então o deputado catarinense. Esses argumentos continuam válidos. Mas correm o risco de serem atropelados pela combinação dos interesses legítimos de agricultores que enfrentam compreensíveis problemas financeiros com os interesses espúrios de devedores contumazes e de políticos de olho apenas nas urnas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, para não jogar mais combustível na crise do Senado.
recentemente. Afinal, a presidência do Codefat era exercida por um representante da Força Sindical, Luiz Fernando Emediato. A Força é chefiada pelo deputado Paulo Pereira da Silva, companheiro de Lupi no PDT. O próprio Lupi havia sido presidente do partido. Só renunciou à presidência depois de uma longa disputa com a Comissão de Ética do governo. Ele rejeitou a recomendação de abandonar a presidência do PDT enquanto comandasse o Ministério. Afrontou a comissão e provocou a renúncia de seu presidente, com a complacência de Lula. Só depois deixou o cargo partidário. Com esse antecedente, é difícil levar a sério, agora, a decisão do presidente da República de não se envolver na crise do Codefat. Na prática, esse distanciamento pode ser simplesmente complacência, como na disputa de Carlos Lupi com a Comissão de Ética. Afinal, Lula está envolvido na campanha eleitoral há muito tempo. Tanto quanto Lupi, ele é capaz de avaliar o potencial de um orçamento de R$ 43 bilhões, quando se trata de conquistar votos. Se esse for o caso, Lula só intervirá na crise do Codefat se o custo político da não-intervenção for considerado muito alto.
‘Estado’sob censura O Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região expressa a sua solidariedade ao jornal O Estado de S. Paulo, tendo em vista a ilegítima decisão proferida por S. Exa. o desembargador Dácio Vieira, do TJDFT, em desfavor desse conceituado e respeitável órgão de consolidação da de-
mocracia. A sociedade brasileira está literalmente golpeada com o “silêncio” imposto indevidamente ao jornal. Esta entidade, que congrega os articulistas do Triângulo Mineiro, entende como prejudicial à cidadania e nociva ao ato de pensar qualquer gestão contrária aos reais interesses do povo brasileiro. A decisão do sr. desembargador, data venia, colide com os princípios que norteiam o exercício isento da magistratura. JOÃO EURÍPEDES SABINO forumarticulistas@hotmail.com
Uberaba (MG) ● Querido Estadão, continue falando a verdade. A verdade tem de ser dita, doa a quem doer. INEIDE AP. BENASSI ibenassi@vivax.com.br
Bragança Paulista
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SEGUNDA-FEIRA, 10 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL
Conselheiro do TCE pode ter mais bens bloqueados
Robson Marinho, que teve conta bloqueada na Suíça, é alvo de nova ação de procuradores q PÁG.A8
ESTADO SOB CENSURA
Oposição quer explicações sobre suposta ajuda de Dilma a Sarney Ex-secretária da Receita diz que ministra pediu agilização de investigação sobre empresas do senador BRASÍLIA
A oposição quer que a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira explique no Congresso o pedido que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) lhe teria feito, no final do ano passado, para “agilizar a fiscalização do filho do Sarney”. Parlamentares ouvidos ontemclassificaramcomo“gravíssima” a afirmação da ex-chefe doFisco,demitidanomêspassado,e nãodescartarama possibilidade de convocar a ministra para esclarecer as acusações. Em entrevista ao jornal Folha deS.Paulo,Linadissequeentendeu o pedido de Dilma como um recado“paraencerrar”asinvestigações. O pedido da ministra teria sido feito em reunião no Planalto, depois de o juiz Ney Bello Filho, da 1ª Vara Federal do Maranhão, ter autorizado uma ampliação das investigações da Operação Boi Barrica – estavam sob auditoria da Receita as empresas da família Sarney, que são geridas por Fernando, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A assessoria de Dilma negou ontem ao Estado que a reunião com Lina tenha ocorrido e disse que a ministra jamais teria feito tal pedido.
PSDB quer que ex-secretária seja ouvida na CPI da Petrobrás O juiz autorizou o aprofundamento das investigações em setembro de 2008. Meses depois, Sarney decidiu sair candidato ao comando do Legislativo, sendo eleito em fevereiro de 2009. O senador José Agripino (DEM-RN)defendeua convocação da ex-secretária para depor naComissãoParlamentardeInquérito que investigará contratos de patrocínio da Petrobrás e supostas irregularidades da estatal na construção e reforma deplataformas,além damudança contábil feita pela empresa que teria, com isso, deixado de recolher R$ 1,14 bilhão aos cofres públicos. “É um fato gravíssimo porque é uma insinuação para que nãoseinvestigasse”,disse Agripino. “Essa reportagem reforça a necessidade de a Lina ir à CPI da Petrobrás”, acrescentou. Na semana passada, o relator da CPI, senador Romero Jucá (PMDB-RR), rejeitou o requeri-
ALEX SILVA/AE – 8/8/2009
mento que pedia a convocação de Lina. Senadoresdaoposiçãodefendem a ida da ex-secretária à comissão para que ela explique a investigação que o órgão começou a fazer na Petrobrás após o anúncio de que a empresa havia feito a operação de compensação tributária. A Receita chegou a se manifestar formalmentecontra a operação da estatal – essa foi uma das justificativas paraa demissão de Lina, no mês passado. Agripino sugere cautela porque o governo estaria querendo a “politização” da CPI, o que enfraqueceriaacomissão.“Porenquanto, tem que fazer a investigação preliminar. Se isso ficar comprovado, Dilma terá contas a prestar”. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento arquivado por Jucá,disseque aoposiçãovaiinsistir na convocação de Lina. “Ela tem muita coisa a dizer”, avaliou. Se a oposição não conseguir, a ex-secretária poderá comparecer a uma audiência pública de uma das comissões permanentes da Casa. “Por essa declaração, ela não precisa necessariamente depor na CPI, temdedepornoSenado”,defendeu o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).Um depoimento na ComissãodeFiscalizaçãoeControle foi defendido pelo líder tucano, Arthur Virgílio (AM).
CRONOLOGIA ● Fevereiro de 2007 - No dia 16 é instaurado o inquérito da Operação Boi Barrica – investigação sobre as empresas da família Sarney ● Setembro de 2007 - A Receita
Federal entra na investigação das empresas da família Sarney por determinação do juiz Ney Bello Filho (1.ª Vara Federal do Maranhão). O secretário da Receita era Jorge Rachid ● Julho de 2008 - No dia 31, o secretário Rachid deixa o comando da Receita. A família Sarney pressiona, nos bastidores do governo Lula, para que a PF e a Receita encerrem as investigações ● Setembro de 2008 - O juiz Ney Bello Filho pede o aprofundamento das investigações da Receita. A secretária já era Lina Vieira ● Novembro de 2008 - Lina Veira recebe da secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, um convite para uma reunião com Dilma Rousseff (segundo versão relatada pela própria Lina ao jornal Folha de S. Paulo) ● Dezembro de 2008 - Segundo Lina Vieira, o encontro com a ministra-chefe da Casa Civil foi no Planalto. “Ela (Dilma) perguntou se eu podia agilizar a fiscalização do filho do Sarney” – o empresário Fernando Sarney, que comanda os negócios da família. Lina diz que entendeu o pedido como um recado “para encerrar” as investigações. A assessoria de Dilma nega a reunião e o pedido
INGERÊNCIA
O suposto pedido feito por Dilma evidencia pressões do Palácio do Planalto contra a forma de administração adotada por Lina durante seu curto período à frente do Fisco, 11 meses e 10 dias. Quando anunciou sua saída, Lina disse que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia afirmado que a ordem para sua demissão viera “de cima, do Palácio do Planalto”. Além dos questionamentos sobre a qualidade da gestão e o episódio envolvendo a Petrobrás, Mantega teria mencionado “problemas políticos” que teriam contribuído para a queda da secretária. Em entrevistaao Estado, publicada uma semana após sua exoneração, Lina afirmou que a Receita não aceitaria mais “ingerência política”, mudança que teria sido implantada por ela e que seria “irreversível”. “Hoje, temos a posição de não aceitarmos ingerência política na administração tributária, de conduzir a administração com obediência à lei”, disse Lina Vieira. ● MARIÂNGELA GALLUCCI, RENATO ANDRADE, LEONARDO GOY e
CARAVANA - Dilma Rousseff durante evento com militantes petistas de São Paulo, no último sábado
Governo não aceita convocação de ministra ●● ● O governo não quer a CPI da Petrobrás envolvida na investigação da suspeita levantada pela ex-secretária da Receita Lina Vieira. E também não aceitará a convocação da ministra-chefe da Casa Civil para explicar um assunto que, para a assessoria de Dilma Rousseff, “é de palavra contra palavra”. Ontem, a assessoria da ministra disse que “não houve reunião” entre Dilma e Lina e que “jamais a ministra fez tal pedido” – para agilizar e encerrar as investigações das empresas da fa-
“A liberdade de imprensa enfrenta dias sombrios.” Esta é a avaliação feita pela organização Repórteres Sem Fronteiras sobre a situação brasileira. Aentidade, quedefendeojornalismo e luta contra a censura em 120 países, condenou a decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que censurou o Estado, classificando-a de “abuso de poder”. De acordo com Repórteres Sem Fronteiras, o Grupo Estado foi “forçado ao silêncio após ter divulgado informações en-
● Fevereiro de 2009 - Sarney
toma posse como presidente do Senado ●Julho de 2009 - No dia 9, Lina é exonerada do comando da Receita pelo ministro Guido Mantega (Fazenda). Um dos motivos alegados para a exoneração foi a oposição da Receita a uma operação contábil da Petrobrás que havia contado com o aval do Planalto. No dia 17, em entrevista ao Estado (publicada no dia 19), Lina diz: “(Tornamos irreversível) a posição de não aceitarmos ingerência política na administração tributária, de conduzir a administração tributária com obediência à lei”
mília Sarney. O ministro José Múcio (Relações Institucionais) disse que esse assunto não pode politizar a CPI da Petrobrás. “É preciso que as coisas sejam despartidarizadas. Conhecendo a ministra Dilma como conheço, não acredito que ela tenha feito tal pedido.” Para ele, “está aberta a temporada de ressentimentos e denuncismo”. “Os assuntos políticos já foram separados. A CPI da Petrobrás vai ser esclarecedora, mas é preciso despolitizar e desemocio-
nalizar os temas”, avaliou o ministro. Ele aposta em uma semana “ótima”. “Porque nada pode ser pior do que a semana passada, quando as tensões chegaram, na quinta-feira, à temperatura máxima”, disse, lembrando o bate-boca envolvendo a tropa de choque do PMDB e os líderes da oposição. Na ocasião, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) chamou Tasso Jereissati (PSDB-CE) de “coronel de merda”; o tucano devolveu com “coronel cangaceiro”. ● TÂNIA MONTEIRO
que esperamos que seja corrigidopeladecisão em recurso”, afirma a Repórteres Sem Fronteiras. Com a declaração, a entidade junta-se à Organização dos Estado Americanos (OEA), Sociedade InteramericanadePrensa(SIP),International Federation of Journalists (IFJ) e Artigo 19, que também condenaram o caso. Paratodasasentidades,adecisão de Vieira vai na contramão dos pareceres emitidos pelo Supremo Tribunal Federalporsetratarde“censura prévia”. AOEA,pormeio desua relatoraespecial para Liberdade de Expressão, Catalina BoteroMarino,alertouoBrasil para uma possível “responsabilização internacional” caso a decisão não seja revertida. ●
‘Evitei aplauso fácil’, diz senador que livrou aliado
FABIO GRANER
Censura ao ‘Estado’ é abuso de poder, alerta Repórteres Sem Fronteiras Roberto Almeida
● Janeiro de 2009 - O senador José Sarney (PMDB-AP) decide disputar a presidência da Casa. Confessa a aliados que, na condição de presidente, teria mais poder para conter o PT e influir nas investigações da PF e da Receita
volvendo autoridades públicas”. Em sua decisão, Vieira proibiu o Estado de divulgar informações referentes à Operação Boi Barrica, que envolve FernandoSarney, filhodopresidente do Senado José Sarney (PMDB-AP). Os áudios em que ambos falam sobre distribuição decargos no Senadotiveram de ser retirados do portal estadao. com.br. “Quanto à decisão da Justiça que proíbe O Estado de S.Paulo de publicar notícias sobre Fernando Sarney, constitui um ato de censura que lesa a liberdade de expressão”, anota a entidade.
O advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, do Grupo Estado,pediunaúltimaquarta-feira que Vieira se afaste do caso. Ex-consultor jurídico do Senado,odesembargadorédoconvívio social da família Sarney e do ex-diretor-geral Agaciel Maia. Ele foi fotografado ao lado de Sarney no casamento de Mayanna Maia, filha de Agaciel, da qual o presidente do Senado foi padrinho. “O fato de um familiar de um político eleito conseguir que seu nome não seja citado impede a imprensa de o mencionar como personalidade pública. Se trata de um abuso de poder,
Alexandre Rodrigues RIO
Depois de arquivar sumariamente as últimas sete denúncias de quebra de decoro parlamentar contra o senador José Sarney(PMDB-AP),opresidentedoConselhode ÉticadoSenado, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), aproveitou ontem o Dias dos Pais com os dois filhos e os quatro netos no Rio sem dramas de consciência. Em Brasília, Sarney foi a uma missa no Lago Sul. Duque se declarou certo de que,comoummagistrado,acertouaorecusar osprocessoscon-
tra Sarney sem se deixar pressionar pelo clamor popular diantedeevidênciasdenepotismo e tráfico de influência. “Não perdi o sono. Senti-me feliz por ter feito aquilo, porque a pressão era muito grande para que fizesse o contrário. Preferi agir mais com a minha consciência do que fazer com aplauso fácil”, afirmou. O senador garantiu ter recorrido apenas a uma “análisejurídica” das representações ao decidir arquivá-las por falta de fundamentos. “Nãofujo daminharesponsabilidade. Seria um mau juiz se fizesse isso. Não estou preocupado com o que podem falar.” ●
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
PesquisasdeFiesp eFGVmostramotimismo, apesardo câmbiodesfavorável vas, a pesquisa indica que os industriais estimam recuo de 32,2% nas exportações do ano emrelaçãoa 2008.Outrasondagem, esta da Fundação Getúlio Vargas, mostra que, em julho, 17% das 1.115 indústrias consultadas esperavam crescimento entrejulho e setembro,enquan-
Sobra de gás no País é a maior da história
to 9% projetavam retração. Em junho, o porcentual dos que apostavam na expansão era de 13% e o dos que previam queda erade15%.Éa primeiravez desde setembro de 2008, quando estourou a crise mundial, que a parcela dos otimistas supera a dos pessimistas. ● PÁGS. B1 e B3
ARTIGO
Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia
Economia se afasta do abismo Parece afinal que não teremos uma segunda Grande Depressão. O que nos sal-
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vou? A resposta é, basicamente, uma grande intervenção governamental. ● PÁG. B11
LANG LANG/REUTERS
●● Prefeitura cita Copa de 2014 para tentar alterar plano diretor. ● PÁG. C1
Amistoso
Seleção joga com 50% de desconto
●●● Crianças transportadas de forma improvisada em Wenzhou (China), após a passagem do tufão Morakot: centenas de desabrigados. ● PÁG. A16
Na Estônia, organizadores temem não lotar estádio para 9 mil. ● PÁG. E1
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VIAGEM AVENTURA
CADERNO 2
&
Na Chapada dos Veadeiros, atividades com pouca, média e muita adrenalina. ●
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CBF/DIVULGAÇÃO
Dos EUA para a Estônia
Trem-bala
Campo de Marte vai virar estação ●● Prevista para 2014, linha férrea vai ligar SP, Campinas e Rio. ● PÁG. C5
NOTAS E INFORMAÇÕES
Caso da Receita é mais um escândalo que o lulismo tentará abafar. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
17º MÁX.
● PÁG. C2
11º MÍN.
Temperatura diminui e pode chover.
Hoje: 72 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 12
A União de Nações Sul-Americanasdeveconvidar opresidente dos EUA, Barack Obama, para tratar de garantias de nãoagressão a países da região a partir da Colômbia, informa a enviada a Quito, Denise Chrispim Marin. A sugestão partiu do presidente Lula, que procurou abafar o tom agressivo de Hugo Chávez (Venezuela) na reunião de cúpula. ● PÁG. A12
9 milhões têm planos de saúde considerados ruins pela ANS
Mais um escorregão de Dilma
DETALHES –
FILIPE ARAUJO/AE
KAKÁ –
Franco, Carpegiani e René Simões. ● PÁG. E4
A Associação Mundial de Jornais e o Fórum Mundial de Editores enviaram carta ao presidente Lula e ao ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, para expressar “profunda preocupação” com a censura ao Estado. As entidades, que representam 18 mil publicações, 15 mil sites e cerca de 3 mil empresas em mais de 120 países, pediram “ação” de Lula e Mendes para reverter a decisão. ● PÁG. A7
Brasil sugere que Unasul peça garantias de paz a Obama
Rio quer resort em áreas de proteção
●● Novas vítimas são Ney
Censura faz entidade de jornais cobrar Lula
O governo e líderes partidários já trabalham por um “acordão’ entre o PMDB e o PSDB para resolver a crise no Senado. Será uma tentativa de salvar tanto o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), como o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). Auxiliares do presidente Lula pediram aos tucanos que não coloquem mais combustível na crise. ● PÁG. A4
Urbanismo
Em 18 rodadas, 16 técnicos demitidos
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Líderes tentam ‘acordão’ para superar crise no Senado
TUFÃO NA ÁSIA: DESTRUIÇÃO
O Brasil já registra neste ano a maior sobra de gás natural de sua história. Deixaram de chegar ao mercado 20,4 milhões de metros cúbicos por dia, em média, volume igual aoimportadodaBolívia.Parte é queimada na atmosfera por não ter como ser transportada, e parte é reinjetada noscampos, pordemanda insuficiente. ● PÁG. B10
Campeonato Brasileiro
(1891-1927)
11 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42301
Indústria já prevê alta de exportação no 2º semestre PesquisadaFiesp com78indústrias paulistas mostra que, apesar do câmbio desfavorável, os executivos esperam alta de 7,6% na receita de exportação nosegundo semestre ante oprimeiro. Em julho, os empresáriospreviamquedade1,1%.Apesar da melhora das expectati-
JULIO MESQUITA
Lineu Bravo prepara violão em seu ateliê
Artesãos por trás dos instrumentos
O
s luthiers, artesãos de instrumentos musicais, cuidam da matéria-prima, a madeira, co-
mo se fosse um recém-nascido – esperam anos até poder usá-la. Além disso, precisam conhecer música pro-
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fundamente. Antes alvo de preconceito, a luteria brasileira ganha cada vez mais respeito no exterior. ●
Cerca de 9 milhões (23%) de usuários de planos de saúde são atendidos por operadoras consideradas insatisfatórias pela Agência Nacional de Saúde Suplementar(ANS).Essasempresas tiveram nota entre 0 e 0,39 (1 era a pontuação máxima). A baixa capacidade econômica e a má gestão foram os fatores que mais pesaram na avaliação feita pela ANS. ● PÁG. A18
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A2 ESPAÇO ABERTO
TERÇA-FEIRA, 11 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Direito Agrário
Segurança energética e jurídica
XicoGraziano
RubensBarbosa
O Direito Agrário nasce na Roma antiga. As questões relativas à posse e ao uso da terra acabam consolidando um capítulo especial da ciência jurídica. Nele reside a função social da propriedade rural. Teoria da reforma agrária. Os primeiros relatos sobre conflitos agrários vêm da Grécia antiga. Licurgo, legislador de Esparta, pioneiramente reparte as terras, inaugurando um Estado militar, escravocrata e comunista. Invenção misturada da História. Entre os séculos 5º e 1º a. C., na expansão da Roma republicana, as terras do Lácio são confiscadas e transformadas em ager publicus, passíveis de ser arrendadas aos cidadãos romanos. Desse processo brotam os inúmeros conflitos com os patrícios, a população nativa. Instala-se o latifúndio escravista típico do Império Romano. A gênese do Direito Agrário brasileiro se encontra na legislação portuguesa sobre as sesmarias. Inventado em 1375 por dom Fernando I, o Formoso, o sistema de dação aos súditos
Mesmo endividado, o agronegócio é impedido de baixar o seu ritmo... de fatias de terras das colônias visava a assegurar o abastecimento de Portugal. Origem das capitanias hereditárias. O Brasil foi dividido em 12 faixas de terra, com direito de colonização e exploração cedido aos súditos da Coroa. O sistema de hereditariedade acabou em 1759, nas reformas do marquês de Pombal. Em 1822, com a Independência, desmorona o sistema sesmarial, substituído mais tarde, em 1850, pela Lei de Terras. Aqui começa a verdadeira história da propriedade privada no Brasil. A nova lei, de inspiração republicana, passa a regular a compra e venda de glebas, bem como a discriminação e destinação das terras devolutas. Estas, fora do domínio de particular, nem ocupadas por posses ou uso público, eram as terras de ninguém. Quase um século mais tarde, na Constituição de 1946, o Direito Agrário incorpora a desapropriação por interesse social, distinguindo-a da utilidade pública, esta adequada às intervenções urbanas. A reforma agrária entra na pauta política, prevendo a justa distribuição da propriedade rural. Somente em novembro de 1964, porém, vinga o Estatuto da Terra. Nele se explicita o conceito fundamental da reforma agrária: a função social da propriedade rural. O que significa isso? Significa que a terra deve
ser palco da produção, geran- terra, propriamente, nindo emprego e renda. Não po- guém a edificou. Dádiva divide, portanto, ficar ociosa, deso- na. Nessa contradição sobre o cupada, servindo à especulação. Terra de justo trabalho, direito da propriedade rural base do progresso. A proprie- se esconde o conflito básico dade produtiva opõe-se ao lati- da questão agrária. Primeiro, na comprovação técnica fúndio ocioso. O texto legal, porém, estabe- sobre o cumprimento da funlece ainda que deve a explora- ção social da terra. O modo ção fundiária servir à qualida- de cálculo, o tempo considede de vida e preservar o meio rado, a vistoria tendenciosa, ambiente. E afirma que todos tudo influencia a conta ofiesses requisitos, de produção e cial. Segundo, nas estripulias bem-estar social, devem ser dos sem-terra, que, julgando atendidos simultaneamente, a seu valor, decidem invadir quer dizer, uma fazenda não uma fazenda, forçando sua pode obter elevada produtivi- desapropriação. Fazem justidade, por exemplo, à custa do ça com as próprias mãos. Viotrabalho escravo. Muito bem. lência na certa. Quando uma propriedade Neste 11 de agosto se corural cumpre sua função so- memora o Direito brasileiro. cial, está quite com a socieda- Os estudantes divertem-se de. Parabéns. Ao contrário, se nos bares, curtindo a “pinduela explora mal a terra, degra- ra”. Alguns malandros no dando-a ou gerando conflitos campo, é verdade, fazem dívitrabalhistas, seu destino pode- das para nunca as honrar. rá ser a desapropriação, por Mas os agricultores brasileiinteresse social, para fins de ros não querem dar o cano reforma agrária. Vira um as- em ninguém. Carecem, isso sentamento. sim, de apoio para solucionar Assim se estabelecem, en- seus problemas, gerados no tre tantos, os princípios da pro- mercado globalizado, sem redução justa e da reforma agrá- forçar sua antiga imagem de ria no Direito Agrário brasilei- latifundiários. Procuram saíro. Uma propriedade rural é das dentro da lei, modernas, impelida a ser produtiva, se- democráticas. não poderá ser desapropriada. Que o Direito Agrário se A função social, claramente, afirme nos tribunais, com adportanto, limita o direito de vogados isentos e competenpropriedade. A regra vale pa- tes. Ajuda a trazer paz no ra o campo, não atingindo os campo. ● bens da cidade. Nenhum industrial, nem co- Xico Graziano, agrônomo, merciante, se obriga a obter é secretário do Meio Ambiente produtividade mínima. Se ele do Estado de São Paulo. E-mail: quiser fechar seu negócio tem- xico@xicograziano.com.br porariamente, para aguardar Site: www.xicograziano.com.br melhor oportunidade de mercado, ou reduzir a produção por qualquer motivo, que seja esconder o jogo do genro interesseiro, jamais alguém o questionará por isso. Problema deles. Na roça, não. O fazendeiro precisa garantir boa produtividade, além de cumprir a legislação trabalhista e ambiental, sob pena de perder a terra. O Direito Agrário, neste caso, opõese à lógica econômica capitalista. Mesmo enfrentando uma crise de rentabilidade, altamente endividado, fica impedido o agronegócio de baixar seu ritmo. Desleixar na produtividade pode provocar-lhe uma vistoria do Incra. Uma razão moral e religiosa, ademais, justifica a função social no campo. Ao contrário da indústria, erigida pelo capital e pelo trabalho humano, a propriedade rural institui-se sobre uma gleba apropriada da natureza. No início da colonização, tomada de graça dos povos primitivos. Claro, para ser produtiva, investimentos se fazem ne- Gripe cessários. Mas a parcela de
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Questãodeordem Ontem, Fernando Collor pediu a palavra no Senado para expor questão de ordem. Perdeu uma excelente oportunidade de ficar calado. Clamou contra a injustiça que cometeram contra ele. Esqueceu-se, porém, de que não foi ninguém do povo ou da imprensa que adquiriu um Fiat Elba; e que seu falecido irmão foi parte dos episódios. Ao defender Sarney, estabeleceu uma absurda comparação com o julgamento e condenação de Jesus, quando foi libertado Barrabás. Talvez não saiba que então se cumpria uma profecia. E se a comparação vale, que soltem o Fernandinho Beira-Mar – este tem uma bela folha corrida que pode ser chamada de “biografia”... A imprensa, acusada por Collor, não criou fatos, eles exis-
tem, têm assinatura, voz exibida na TV, DNA. Os responsáveis que paguem pelo que fizeram. O povo pode muito bem aguentar essas coisinhas simples que acontecem todos os dias, como mensalão, dólares na cueca, dossiês, ONGs, Petrobrás e por aí afora, para, depois, aplaudir um belo jogo da seleção brasileira de futebol. E tudo restará como d’antes. JOSÉ ROBERTO CICOLIM jrobcicolim@uol.com.br
Cordeirópolis ● Lamentável o pronunciamento do “queridinho de Lulla desde a infância” Fernando Collor, na tarde de ontem. Segundo Collor, a imprensa, ou grande parte dela, é responsável pela crise no Senado e está fazendo jogo político, uma campanha contra o presiden-
aparentemente com resistência dos técnicos do Ministério de Minas e Energia e da direção brasileira de Itaipu, foram: ● Submeter aos respectivos Congressos o reajuste, em 200%, da remuneração ao Paraguai por cessão da energia de Itaipu, elevando o bônus pago pelo Brasil dos atuais US$ 120 milhões para US$ 360 milhões ao ano. ● Submeter ao Congresso a permissão para que o Paraguai venda parte da energia de Itaipu diretamente no mercado livre brasileiro. Um grupo de trabalho vai estudar como ocorreria a venda da energia paraguaia no mercado livre e submeterá as conclusões aos presidentes dos dois países, em três meses. ● Os presidentes decidiram “trabalhar juntos” pela integração energética regional, abrindo a possibilidade de o Paraguai vender energia de Itaipu a terceiros países após 2023. ● Um pacote de bondades com financiamentos no valor de US$ 1,535 bilhão, alguns a fundo perdido, para a realização de obras de infraestrutura e de um mirante no valor de US$ 20 milhões, no lado paraguaio do lago de Itaipu. O Congresso Nacional, portanto, será chamado a opinar sobre: ● A compatibilidade dessas decisões com as cláusulas do Tratado de Itaipu. A atualização da compensação pela cessão da energia e a eliminação do índice de inflação americana que reajustam o empréstimo externo implicarão modificação do anexo C, parte integrante do tratado, segundo dispõe o artigo 6º. Trata-se da terceira modificação do fator de correção do bônus pago ao Paraguai LOREDANO e do reajuste da dívida pela inflação dos EUA. As duas primeiras, em 2005 e 2007, foram efetuadas por troca de notas diplomáticas, sem audiência do Congresso. A venda direta ao mercado livre brasileiro da energia cedida pelo Paraguai deve ser analisada à luz dos artigos 13 e 14. A possibilidade de venda da energia pertencente ao Paraguai a terceiros mercados depois de 2023 não está prevista no artigo 25 do tratado. Cabe esclarecer que o tratado de 1973 tem duração indefinida. O ano de 2023 representa apenas o final do pagamento da dívida externa contraída para a construção da hidrelétrica. ● O eventual aumento do custo da energia para o consumidor brasileiro. Trata-se de questão importante, tendo em mente o que ocorreu quando da concessão feita à Bolívia para o aumento do preço do
A última reunião do Conselho do Mercosul, realizada em Assunção no fim de julho, como era de esperar, não trouxe novidades. Os quatro países continuaram adiando o fim da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum e a entrada em vigor do Código Aduaneiro. Nem as regras para o Parlamento nem a criação do Tribunal do Mercosul avançaram. O exame da adesão da Venezuela continua paralisado nos Congressos brasileiro e paraguaio. Com a estagnação do processo de integração regional, o Brasil passou a priorizar as relações bilaterais com os sócios do Mercosul e com os parceiros sul-americanos. Durante a reunião presidencial do Mercosul, o acontecimento mais relevante foi a conclusão das negociações entre Brasil e Paraguai sobre as demandas, no tocante às modificações do Tratado de Itaipu. O “acordo histórico” firmado pelos presidentes Lula e Lugo é mais um exemplo da diplomacia da generosidade que hoje prevalece na região, graças à ação ideológica e partidária da política externa. A decisão do governo brasileiro de ceder às demandas paraguaias, justificada pela “convergência de visões e compromissos entre os dois países”, segundo a declaração conjunta divulgada no fim do encontro, tem, no entanto, como objetivo ajudar o enfraquecido presidente paraguaio. As principais decisões de caráter político adotadas,
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
te Lulla! Quem não conhece Collor? Que moral tem esse senador para falar da imprensa? Tudo o que temos para estarmos informados das maracutaias e dos atos espúrios de nossos políticos é a imprensa investigativa, que querem calar a todo custo. A dignidade de ir à tribuna do Senado admitir seus erros muito poucos têm. Enquanto nosso país for governado pela “dupla dinâmica” de Alagoas, mais um maranhense que deveria ter sido cassado faz tempo e, ainda, um presidente que é “aconselhado” a parar de falar da crise no Senado para não perder a sua popularidade – afinal, está de acordo com a trinca... –, não existirá Brasil. Uma vergonha! LÍGIA BITTENCOURT ligialbc@uol.com.br
São Bernardo do Campo
‘Estado’sob censura Vivemos a venezualização da política brasileira. Cá, como lá, o sistema de governo é de “república monárquica”, cada qual com seu presidente-rei. A Venezuela tem o Chávez, o Brasil tem o Lula. Em ambas as nações a corrupção, a miséria e a violência são latentes. Lá e cá o Poder Judiciário favorece o rei e os membros da corte. Lá a imprensa vive espremida, aqui ela é tida como nanica e a Justiça já coloca mordaça no Estadão para que não atinja Sarney, hoje amigo do rei, embora em décadas passadas tenha sido chamado de ladrão pelo magnífico soberano. Nos dois países, no de cima e no de baixo, roubar, afanar, malversar e corromper são
FAX:
(11) 3856 2920
gás, depois da nacionalização das refinarias da Petrobrás em 2006, e quando da modificação do bônus para o Paraguai em 2005. Nos dois casos, a opinião pública foi reiteradamente informada – a exemplo do que acontece agora – de que o aumento não seria repassado ao consumidor final, industrial ou residencial. Na realidade, os consumidores tiveram de absorver os aumentos. Quem vai pagar agora os quase US$ 300 milhões que serão transferidos a mais ao Paraguai? ● A forma como essas mudanças serão incorporadas ao sistema jurídico nacional. Ao submeter ao Congresso Nacional as modificações acordadas com o Paraguai, o governo reconhece que o tratado está sendo alterado, apesar de dizer que as “decisões não mexem no Tratado de Itaipu porque há limitações concretas” que deveriam ser respeitadas. A forma de tratar essas questões, portanto, tem de ser o encaminhamento ao Legislativo das notas reversais trocadas com o Paraguai, e não de proje-
A generosidade com o Paraguai tem como limite o nosso interesse nacional to de lei ou medida provisória. É importante política e economicamente que o Brasil ajude o Paraguai a crescer e a se desenvolver, não por sentimento de culpa ou por afinidades ideológicas. A generosidade, porém, tem como limite o nosso interesse nacional. Está em jogo não só a segurança energética do Brasil (mais de 20% da energia consumida no CentroSul é gerada por Itaipu), como também a segurança jurídica dos contratos e tratados firmados pelo Brasil. As concessões no tocante à venda direta de energia no mercado aberto brasileiro e a possibilidade de venda a terceiros países a partir de 2023 abrem precedentes perigosos na estrutura do Tratado de Itaipu. Essas novidades, se aprovadas pelo Congresso, ficarão na pauta da agenda bilateral e permanecerão como um legado incômodo para os futuros governos. Como nota positiva, o Paraguai, depois desses entendimentos, efetuou o depósito dos instrumentos de ratificação dos quatro Acordos de Residência e Regularização Migratória do Mercosul. Espera-se que, assim, possa ser solucionado o problema dos “brasiguaios” que vivem em território guarani. ● Rubens Barbosa, consultor de negócios, é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
coisas normais, embora os mais humildes passem até sete anos na cadeia por roubar uma galinha para dar de comer à família. Anormal, em ambas as nações, é a existência dos bandos de milhões de eleitores analfabetos, aculturados e ininteligíveis, cada um digno de carregar um “caçoá” nas costas, tal qual o da espécie ainda faz. Sinto medo de ver o meu país, o meu Brasil amado, igualinho ao reisado de Chávez. Os prenúncios são muitos e estão aí fazendo tremer quem ama a democracia e a liberdade. Viva a democracia, que tem o Estadão como guardião da liberdade!
● O “achismo” só existe no governo federal do Brasil, onde o ministro da Justiça, o petista gaúcho Tarso Genro, “acha” que censura a jornal não é censura. Exportem o ministro para o Afeganistão!
JOSÉ MARIA VELOSO
MIRIAM SÃO THIAGO
jomavecin@hotmail.com
mest@terra.com.br
São Bento (PE)
São Paulo
HELLI DOS SANTOS OLIVEIRA helliso@hotmail.com
São Paulo ● A liminar – diga-se de passagem, inconstitucional – protegendo o senador José Sarney (nascido José Ribamar Ferreira de Araújo Costa) & família foi deferida prontamente. Por que a demora do Judiciário em reverter essa atitude arbitrária?
TERÇA-FEIRA, 11 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A7 A7
ESTADO SOB CENSURA
Associação Mundial de Jornais cobra Lula por censura ao ‘Estado’ Carta, em conjunto com Fórum Mundial de Editores, em nome de 18 mil publicações, segue também para STF Roberto Almeida
A Associação Mundial de Jornais (WAN) e o Fórum Mundial de Editores (WEF), entidades que representam 18 mil publicações, 15 mil sites e mais de 3 mil empresas em mais de 120 países, enviaram ontem carta conjunta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal. O texto expressa “profunda preocupação” com a censura ao Estado e pede “ação” de Lula e Mendes para que a decisão seja revertida. Subscrita por Gavin O’Reilly, presidente da WAN, e Xavier Vidal-Folch, presidente da WEF, a carta afirma que a liminar concedida pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, configura “censura prévia” e, dessa forma, oBrasil permite a violação do direito de livre expressão, que ratificou em convenções internacionais e na Declaração Mundial dos Direitos Humanos. “Respeitosamente pedimos a vossa excelência que faça tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que essa decisão seja anulada e que seja permitido à imprensa publicar livremente reportagens sobre todos os assuntosde interesse público”, anotam WAN e WEF. “Contamos com o compromisso do senhor para que no futu-
ÍNTEGRA ● Vossa excelência,
Em nome da Associação Mundial de Jornais e do Fórum Mundial de Editores, representando 18 mil publicações, 15 mil sites e mais de 3 mil companhias em mais de 120 países, expressamos nossa profunda preocupação com a medida judicial que proibiu a mídia de publicar informações sobre uma investigação policial acerca de um servidor público envolvido em corrupção. No último dia 30 de julho, o juiz Dácio Vieira da Corte Federal de Brasília, ordenou que o jornal O Estado de S. Paulo e seu site parassem de publicar reportagens sobre alegados casos de corrupção de Fernando Sarney, filho do senador e presidente do Senado, José Sarney. O Estado de S. Paulo publicou transcrições de gravações da polícia, que incriminavam Fernando Sarney em casos de corrupção. A medida proíbe que qualquer meio reproduza as reportagens do jornal. O não cumprimento da medida acarreta uma multa de R$ 150 mil. Gostaríamos de lembrar respeitosamente que a medida judicial de proibir as reportagens se
REPERCUSSÃO SOBRE A CENSURA constitui em um caso de censura prévia e é uma clara violação do direito de livre expressão, que é garantido por inúmeras convenções internacionais, incluindo a Declaração Mundial dos Direitos Humanos. O artigo 19 da Declaração diz: “Todos têm o direito de livre expressão e opinião, incluso o direito de ter opiniões sem interferência e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras.” Respeitosamente pedimos a vossa excelência que faça tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que essa decisão seja anulada e que seja permitido à imprensa publicar livremente reportagens sobre todos os assuntos de interesse público. Contamos com o compromisso do senhor Para que no futuro seu país respeite todos os acordos. Atenciosamente, Gavin O'Reilly Presidente da Associação Mundial de Jornais Xavier Vidal-Folch Presidente do Fórum Mundial de Editores
No exterior Organização dos Estados Americanos (OEA) “É incompreensível que, enquanto os mais altos tribunais do Brasil tenham tomado decisões exemplares em matéria de liberdade de expressão, ainda exista a possibilidade de que alguns juízes locais possam usar seu poder para censurar e impedir a divulgação livre da informação a qual o público tem o direito de receber” Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) “Lamentamos que a Justiça brasileira se caracterize por proteger excessivamente os
Preferiu tratá-la como “apenas uma decisão judicial” que pode ser revista pelo Judiciário. “Não é censura. É decisão judicial que precisa ser revista. Um juiz avaliou e entendeu que era de se proibir”, afirmou o ministro na semana passada. LIMINAR
ro seu país respeite todos os acordos.” O pedido das principais entidades da imprensa mundial vem no momento em que Lula e
Mendes têm evitado comentar o caso. Lula ainda não se pronunciou e Mendes, por sua vez, não quis dizer se considera a medida correta ou equivocada.
No dia 30 de julho, Dácio Vieira proibiu o Estado de divulgar informações a respeito da Operação Faktor, conhecida como Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve Fernando Sar-
direitos das pessoas quando elas estão imiscuídas em temas de interesse público, como nesse caso, e deixe em segundo plano o direito de liberdade de expressão, condenando assim os cidadãos ao ostracismo” International Federation of Journalists (IFJ) “A IFJ exige pronta retificação dessa medida, que pretende impedir a imprensa brasileira de informar sobre as irregularidades detectadas pela Justiça Federal, e manifesta sua preocupação porque a decisão obedeceu a conhecidos laços de amizade entre o juiz Vieira e a família Sarney”
ney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP). O site estadao.com.br teve de retirar do ar os áudios envolvendo o clã Sarney. Os diálogos mostram a distribuição de cargos por meio atos secretos no Senado. Vieira, porém, é do círculo íntimo da família Sarney. O desembargador foi fotografado ao lado de José Sarney no casamento de Mayanna Maia, filha do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia. Na foto, os três – Vieira, Sarney e Agaciel – es-
Repórteres Sem Fronteiras “O fato de um familiar de um político eleito conseguir que seu nome não seja citado impede a imprensa de o mencionar como personalidade pública. Trata-se de um abuso de poder, que esperamos que seja corrigido pela decisão em recurso” Artigo 19 “Há violação da liberdade de expressão. Quando é de interesse público que a informação seja divulgada, mais do que de interesse privado, ela deve ser divulgada. Está claro que foi desrespeitado direito fundamental”
tão juntos. A imagem levou o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, do Grupo Estado, a pedir na última quarta-feira que o desembargador se afaste do caso. O prazo para análise do recurso é de 10 dias, ou seja, o tribunal tem até domingo, para emitir um parecer. O encarregado pela decisão inicial será o próprio Vieira. Caso não seja aceito, o recurso poderá ser submetido a outros desembargadores do tribunal para análise. ●
A6 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 12 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
ESTADO SOB CENSURA
Entrevista Lina Maria Vieira: ex-secretária da Receita Federal
‘É a minha palavra contra a dela’ WILSON PEDROSA/AE–17/7/2009
Ela sustenta que esteve com Dilma, quando teria recebido pedido para ‘agilizar’ as investigações sobre Fernando Sarney
Correto.
Existe registro desse encontro?
A secretária que estava lá viu, e ficou registrado, ela viu a entrada e saída.
Renato Andrade BRASÍLIA
Apesar das negativas do governo, a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira insiste em que esteve reunida com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, quando teria recebido o pedido para “agilizar” as investigações envolvendo Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. De sua casa em Natal (RN), Lina disse ao Estado que não tem provas concretas de seu encontro com a ministra no final do ano passado. “O que eu tenho é a minha palavra contra a dela”, disse. A ex-chefe do Fisco afirmou que ninguém do governo a procurou depois de suas declarações. Ela disse ainda que não sabe se poderá ser alvo de represálias. Lina, que tratou do assunto inicialmente em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, deixou claro que está disposta a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás, mas a bancada governista no Senado acredita ter neutralizado todas as chances de a oposição conseguir convocá-la. Ontem, durante depoimento do secretário interino da Receita, Otacílio Cartaxo, à CPI, a bancada governista rechaçou todas as ponderações feitas pela oposição para que Lina fosse ouvida. A própria oposição admite que provavelmente será derrotada e tentará
Isso está registrado na agenda?
Não tem registro, não foi feito, as pessoas é que viram. Eu só queria que você compreendesse...em relação a isso tudo, eu mantenho o que disse. O que eu disse é aquilo que está lá e eu não tenho mais a acrescentar. A senhora teme algum tipo de represália?
Olha, eu não sei. Eu já me afastei das minhas atividades, estou de licença, e não sei o que pode acontecer.
Ex-secretária diz que membros do governo não a procuraram Alguém do governo a procurou depois de suas declarações?
Não.
PROMESSA – Ex-secretária da Receita diz estar disposta a comparecer à CPI, mas oposição está pouco confiante de que convocação ocorrerá
convocar a ex-secretária da Receita Federal em um outro fórum de discussão, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. Os governistas, porém, avaliam que isso não terá o mesmo impacto de um depoimento de Lina dentro de uma CPI.
A senhora tem alguma prova ou registro em agenda, pelo menos do encontro com a secretária executiva da Casa Civil, que fortaleça a sua posição?
O que eu tenho, como disse, é a minha palavra contra a palavra da ministra. Eu estive lá, foi o que declarei à Fo-
‘Censura é um chamado para a cidadania’, diz CPJ Entidade internacional, com sede nos Estados Unidos, é a 7ª a condenar a liminar que silenciou o ‘Estado’ Roberto Almeida
O Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), entidade global em defesa do jornalismo e da liberdade de expressão, com sede em Nova York, nos Estados Unidos,tornou-sea7ªorganização internacional a condenar a censuraaoEstado.Seucoordenador para a América Latina, Carlos Lauria, aposta em uma resposta da sociedade para o “absurdo” da situação. “A censura é um importante chamado para a cidadania.” Lauria conhece bem a situação da imprensa brasileira. Seus relatórios anuais são um termômetroda liberdade de expressão e de ataques a jornalistas no País. “São questões muito sérias porque afetam diretamente os brasileiros, não apenas os jornalistas, mas os cidadãos que deixam de conhecer informações importantes sobre a veracidade dos casos”, anota o coordenador do CPJ. O Estado foi proibido, no dia 30dejulho,dedivulgarinformações referentes à Operação Faktor, conhecida como Boi Barrica, da Polícia Federal. Seu conteúdo traz diálogos entre Fernando Sarney e seu pai, o presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP), sobre loteamento de cargos no Senado por meio de atos secretos. “São acusações sérias sobre corrupção contra importantes figuras do Senado brasileiro. Este caso de censura evidentemente vai contra os princípios básicosda democracia,dedebates de temas de interesse público”, afirma Lauria. “Quem precisasaberoque está acontecendo é quem votou – a favor ou contra os políticos. Quando há uma decisão que diz que não se
A secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, foi à Receita para pedir esse encontro da senhora com a ministra?
Mendes diz que carta é legítima ou erradas no interesse da proteção jurídica individual.” Indagado se a ordem do desembargador Dácio Vieira não vai na contramão de decisões reiteradas do STF, o ministro observou que “o Supremo entende que a liberdade de imprensa é um valor primacial do nosso modelo constitucional, mas não entende que ele seja um valor absoluto que se coloque acima de todos os demais valores da dignidade da pessoa humana e de todos os demais direitos”. Para Mendes, “isso tem que ser avaliado em cada caso”. “Imagine uma notícia sobre sequestro. A divulgação disso pode ocasionar a morte de alguém. Justifica-se a divulgação?”, comparou.
O ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), disse ontem em São Paulo que considera “manifestação absolutamente legítima” a carta que a Associação Mundial de Jornais e o Fórum Mundial de Editores enviaram a ele e ao presidente Lula. “Manifesta preocupação com eventuais restrições ao trabalho da imprensa.” O ministro ressaltou que eles (dirigentes das entidades) certamente sabem que se trata de uma decisão judicial. “A melhor forma de criticar uma medida judicial é recorrer ao tribunal”, declarou. “São as providências normais. Nos outros países acontece o mesmo fenômeno, a Justiça está toda hora sendo acionada e fazendo avaliações certas
● FAUSTO MACEDO
pode mais publicar, deve-se criar uma sensação de indignação”, explica. A liminar que censurou o Estado foi concedida pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Ele é amigo íntimo da família Sarney, como comprova foto do casamento de Mayanna Maia, filha de Agaciel Maia, exdiretor-geral do Senado. Vieira, Sarney e Agaciel foram registrados no luxuoso evento, lado a lado. O coordenador do CPJ acreditaquea população precisaentender que, com a censura, seus direitos mais básicos foram violados. “Receber informação é um direito da sociedade, garantidonaConstituição. Éum direito humano básico. Para a qualidade da democracia, é impor-
tante que haja liberdade de expressão avançada, sem medo, sem temor”, alerta. “É um assunto muito delicado (a investigação sobre Fernando Sarney), e os cidadãos brasileiros precisam saber. É claramenteumtemadeinteressepúblico, claramente um tema em queoEstadoeosmeiosbrasileirosdevem investigar até as últimas consequências”, avisa. OEstadopediuoafastamento do desembargador Vieira do caso no último dia 6, mas até o momento não houve resposta da corte, que tem até o dia 16 paraemitirum parecer.Éopróprio Vieira que irá julgar o recurso.Seuafastamento,chamado de exceção de suspeição, temcomobaseolaço entreVieira e o clã Sarney. “Esperamos que o recurso,
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lha, exatamente aquilo. Eu disse inclusive que não iria atrás de provas, é a minha palavra contra a dela. É verdade o que eu disse a eles, na verdade eu só fui confirmar investigações que eles já tinham, e eu confirmei. Não seria importante procu-
na corte que deve decidir sobre o tema, reverta o caso. É uma decisão absurda, que vai contra os princípios básicos da liberdade de expressão. Não tem discussão”, diz Lauria. Segundo o coordenador do CPJ, o caso é mais um dos quereforçam opadrãode decisões judiciais contra o jornalismo brasileiro. “Meios de comunicação sempre são proibidos de cobrir casos de corrupçãoqueenvolvemfuncionários públicos, políticos e empresários”, afirma.
rar algum tipo de prova? Mas o que tem isso... Eu acredito ainda que a palavra da pessoa e a história da pessoa valem. Eu estive lá a convite da ministra, não tirei foto, eu não gravei, foi somente isso. Eu reitero o que disse. REPERCUSSÃO
Beatriz Segall Atriz “É uma vergonha nacional, principalmente depois que ficou evidenciado que foi um juiz subjugado ao Sarney. O povo precisa tomar conhecimento”
VOZES
AocondenaracensuraaoEstado, o CPJ une-se a seis organizações internacionais que descreveram o caso como “inacreditável”. Anteontem, a Associação Mundial de Jornais (WAN) e o Fórum Mundial de Editores (WEF) enviaram carta conjunta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministroGilmar Mendes,presidente do Supremo Tribunal Federal, pedindo “ação”. Antes, Organização dos Estados Americanos (OEA), Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), Repórteres Sem Fronteiras, International Federation of Journalists (IFJ) e Artigo 19, entidades com representação em mais de 120 países, já haviam considerado a decisão um “retrocesso”, principalmente após a queda da Lei de Imprensa. Todas concordam também que o Brasil continua com problemas com relação ao exercício da liberdade de imprensa e de expressão, além de lamentar casos de violência contra jornalistas. “Os profissionais de imprensa têm de alertar a todos que quem se beneficia do seu trabalho é a própria população”, ressalta Carlos Lauria. “Os jornalistas devem fazer ainda mais, para que em casos como este, não só o Estado, mas todos os meios do Brasil e organismos de imprensa condenem todo tipo de censura”, aconselha. ●
Juca de Oliveira Ator “Eu acho um absurdo. Nunca podia supor que iríamos experimentar a censura mais uma vez. Do ponto de vista político é uma regressão brutal”
Carla Pernambuco Chef “A mídia está aí para fazer o seu papel. É totalmente sem sentido esse cala-te boca. Como vamos ficar sabendo? Tudo deve ser mais transparente”
Marco Antonio Teixeira Cientista político “A censura é um violência contra o Estado Democrático de Direito. Uma violação do direito à informação. Os dados foram obtidos dentro da legalidade”
A senhora espera ser convocada para depor na CPI da Petrobrás?
Não sei o que eles vão decidir. Convidada ou convocada, eu lá estarei.
A senhora tem alguma coisa que pretende apresentar na comissão?
Não. Vou responder o que me perguntarem, preservando o sigilo fiscal. ● COLABOROU MARCELO DE MORAES
Advogado prega ‘corrente de resistência’ O advogado e professor René Ariel Dotti pregou ontem “uma corrente de resistência” em defesa do Estado. “Sofri um choque por ver quenademocracia enoEstado de Direito há a reencarnaçãodaditadura militar”,protestou Dotti, reconhecido porsuaatuaçãocontraoarbítrio nos anos de chumbo. Professor titular de Direito Penal e de Direito Processual Penal da Universidade Federal do Paraná, ele apontou “a desconsideração por partedadecisãodomagistrado (Dácio Vieira) da proporcionalidade de interesses em jogo, ou seja, o interesse da proteçãodaintimidadededireitos da personalidade, entre eles o da vida privada, e o interesse público visado pela informação”. Dotti analisa a demanda entre Fernando Sarney e o Estado. “Entra aqui a vida privada, mas é assunto de interesse público. Esse conflito jamais poderia ter sido resolvido em favor dele (Sarney), mas da população que tem direito a receber a informação.” Em 1991 ele participou com o advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, do Estado, da comissão formada pela Ordem dos Advogados do Brasil para tratar da Lei de Imprensa. Dotti disse não temer que a censura volte em larga escala. “Esse malsinado precedente não pode adquirir força de convencimento, assumir um tipo de jurisprudência. Vamos formar uma corrente de resistência pelo Estadão.” ● FAUSTO MACEDO
A2 ESPAÇO ABERTO
QUINTA-FEIRA, 13 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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O governo derrotará o governo?
A comunicação em conferência
ClaudioLangone,AloysioCostaJr. eClarisminoLuiz PereiraJúnior
EugênioBucci
Está prestes a ser votado na Câmara dos Deputados o PLP 12/2003, do deputado Sarney Filho, que regulamenta o artigo 23 da Constituição federal, disciplinando as competências dos entes federados na área ambiental. A relevância do tema motivou o governo a incluir um projeto de lei (PL) de sua autoria, da mesma natureza (PL 388/07), como a única medida ambiental do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em fevereiro de 2007. O texto do PL 388/07 foi resultado de uma série de consultas feitas pelo governo federal, com vistas a aperfeiçoar o texto do PLP 12 e ao entendimento prévio entre os três níveis de governo. A motivação central do governo para o envio do PL foi reduzir a excessiva judicialização do licenciamento dos empreendimentos, em geral motivada por ações do Ministério Público Federal (MPF), cuja intenção é transferir boa parte da análise dos empreendimentos de competência estadual para o Ibama. Nesses casos, cria-se uma situação curiosa, porque em ge-
Urge regulamentar as competências dos entes federados na área ambiental ral os entes federados não litigam entre si pela titularidade do licenciamento, mas viram reféns da judicialização. As ações do MPF decorrem da omissão do legislador, uma vez que o Texto Constitucional de 1988 remeteu, em seu artigo 23, a repartição das atribuições referentes às competências comuns entre os entes federados para regulamentação por lei complementar, em todas as áreas, o que não foi feito até o momento, decorridos 21 anos. Na área ambiental, para minimizar o vácuo provocado pela falta de regulamentação, em 1997 o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) pôs em vigor a Resolução 237. Embora contestada por alguns setores, ela disciplinou o papel dos entes federados e estabeleceu procedimentos para o licenciamento ambiental. O próprio MPF, quando consultado pelo governo antes do envio do PLP, destacou o assunto entre suas prioridades. O ministro Carlos Minc incluiu a aprovação do projeto no chamado “Destrava Ibama” e vem sistematicamente destacando a prioridade do tema. Em 2008, a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) realizou seminário sobre a judicialização das obras de infraestrutura e destacou o tema como uma das principais pendências para o setor, o que foi reiterado em seu balanço dos dois anos do PAC.
Dentre as principais características do projeto estão as seguintes: só um ente licencia; quem licencia tem a prioridade da fiscalização; quem licencia multa; a supressão de vegetação num empreendimento será autorizada pelo mesmo ente responsável pelo seu licenciamento; definição clara das atribuições dos entes por meio da tipificação dos impactos federal e local; e definição pelo Conama das atribuições sobre empreendimentos localizados concomitantemente no mar e em terra. Entre os pontos citados, o principal é a tipificação, em que se fará, por meio de norma no âmbito federal e dos Estados, a listagem exaustiva dos empreendimentos que por seu porte, potencial poluidor e natureza da atividade seriam de atribuição federal e local; e todos os perfis nelas não abrangidos serão de responsabilidade dos Estados. Esse caminho elimina completamente a subjetividade, torna a regra clara e, com isso, diminui significativamente a judicialização. Mas o envio do PL e sua inclusão no PAC não se traduziram em prioridade política do governo para o tema: sua tramitação é extremamente lenta e isso tem trazido graves prejuízos aos investimentos no País, que voltou a ter alto nível de judicialização dos licenciamentos. Após passar pelas comissões, o projeto encontra-se na ordem do dia do plenário da Câmara desde 19 de maio, tendo sua votação sucessivamente adiada por acordo dos líderes, em razão de um impasse entre ambientalistas e ruralistas, estes com suporte do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que tem operado sistematicamente contra a posição não só do Ministério do Meio Ambiente (MMA), como do próprio Palácio do Planalto. O impasse deve-se ao fato de a Frente Parlamentar da Agricultura (FPA) não aceitar a referência ao Conama, no texto da lei complementar, como responsável pela tipificação da listagem de empreendimentos que serão de responsabilidade federal. A proposta da FPA é remeter essa questão central para acabar com a judicialização... para outra lei! Ou seja, após 21 anos de omissão na matéria, o Congresso votaria uma lei que não resolve a principal questão para a qual foi pensada pelo próprio legislador. Sem resolver esse ponto, fica valendo a regra, o que mantém e agrava o cenário de judicialização. É difícil entender a razão lógica da posição da FPA e do Mapa, uma vez que o setor agrícola será um dos grandes beneficiados pela descentralização do licenciamento ambiental: com a aprovação do PL, a quase totalidade dos licenciamentos de atividades rurais será de responsabilidade estadual e municipal, trazendo ganhos
objetivos ao setor, que hoje enfrenta dificuldades de acesso a financiamentos em razão das exigências dos bancos públicos e privados em cumprimento ao Protocolo Verde. Urge superar tais questões. De um lado, o Mapa e a FPA devem se desprender de posições ideológicas e dar sua contribuição para a viabilização de importantes obras de infraestrutura, muitas de interesse do próprio setor, como rodovias, ferrovias e portos, fundamentais para o escoamento da produção. De outro, o governo deve orientar todos os Ministérios e sua base de sustentação a trabalhar pela imediata aprovação do PL. Sob pena de o principal artífice do PAC acabar sendo o responsável pelo seu “travamento” nessa área. ● Claudio Langone, consultor em gestão ambiental e sustentabilidade, foi secretário executivo do MMA. Aloysio Costa Jr., secretário executivo de Meio Ambiente da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente-PE, é presidente da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente. Clarismino Luiz Pereira Júnior é presidente da Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia e da Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
Embaraçada de novo
FÓRUM DOS LEITORES Acordodepaz Quando a tropa de choque de José Sarney (PMDB-AP) ameaçou Arthur Virgílio (PSDB-AM) com representação no Conselho de Ética, em represália à sua insistência em apresentar denúncias contra o presidente da Casa, o tucano declarou que não se acovardaria e iria até o fim nesse processo, terminando por acusar Renan Calheiros de chantagear o PSDB. Ontem li que a oposição, mais especificamente o PSDB, na pessoa de seu presidente nacional, senador Sérgio Guerra, fechou acordo com os líderes governistas para livrar Sarney e Virgílio das acusações no plenário da Casa. Como disse o senador Cristovam Buarque: “O que me preocupa é que, diante da brutalidade, a paz é sinônimo de covardia.” Sérgio
Guerra, por sua vez, declarou: “Tenho a certeza de que o povo não vota mais em nenhum de nós.” Se pensou nos eleitores tucanos, está absolutamente certo.
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● O acordo é mais que vergonhoso, é aviltante. Serve para nos mostrar que não se trata apenas de um ou outro político sem compromisso com a integridade. Todos são farinha do mesmo saco, salvo mínimas exceções.
Resende (RJ)
LUCIA HELENA FLAQUER
FLÁVIO JOSÉ RODRIGUES DE AGUIAR
● Eleitora de Mário Covas, FHC e José Serra, estou aguardando a Marina Silva.
lucia.flaquer@gmail.com
São Paulo
DIVA R. NICOLETTO LAURIANO
● Só o que aumenta é o peso da farinha...
divalauriano@hotmail.com
DOCA RAMOS MELLO
São Paulo
ddramosmello@uol.com.br
Para livrar o senador Arthur Virgílio a oposição aceita livrar também José Sarney? Pobre Brasil! São todos iguais mesmo.
São Sebastião
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YUSSEI HIGA yhiga@uol.com.br
Sorocaba
Pela democratização dos meios de comunicação. Apesar da rima em “ão”, passei a juventude defendendo o bordão. Não só a juventude: eu já tinha mais de 40 quando, no final de 2002, aceitei o convite para presidir a Radiobrás pensando exatamente em democratizar os meios, pelo menos os públicos. Foi uma experiência instrutiva. Quando alguém do governo aparecia repetindo para mim a velha palavra de ordem, eu respondia correndo: “Ótimo, estou de acordo. Vamos começar pelos meios do Estado.” Causei muito estranhamento. Para a maioria dos meus interlocutores federais, as emissoras do Estado deveriam difundir a versão dos governantes. Deveriam, em suma, ser parciais, embora não fosse assim, com essa palavra, que os adeptos oficiais do meu bordão de juventude formulassem suas pretensões. Para eles, que viam na “mídia privada” um partido “de oposição”, a “mídia pública” tinha de fazer o contrapeso, mostrando “o nosso lado”, como um advogado de defesa. Acreditavam que a verdade emergiria como média aritmética entre as duas distorções, a “deles” e a “nossa”. Quanto mais puxássemos o relato dos fatos para o “nosso” lado, mais a verdade
Pedidodedesculpas Ao ver a rendição do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), na segunda-feira, na tribuna do Senado, constatei que esses senhores
são feitos da mesma matéria-prima (podre). Reuniram-se antes para assinar a rendição – sabendo dos dossiês que estariam no forno, prontos para ser divulgados –, com muito medo de não conseguirem se reeleger nas próximas eleições. Num ato indecente, compuseram. Tudo será arquivado e o senador Ribamar, vulgo Sarney, mesmo sem moral, continuará ocupando a cadeira da presidência da Casa. Nesse jogo de cena, a população brasileira chegou a pensar que limparia a horda que se instalou no Senado, que um dia abrigou homens de reputação ilibada. Às excelências, meus pêsames! E à população brasileira, que não os reeleja. AGNES ECKERMANN agneseck@yahoo.com.br
São Bernardo do Campo
resultante se aproximaria do “nosso” pensamento. Não precisei de muito tempo para perceber que a estratégia comunicacional da verdade como média aritmética não incluía a democracia nos meios públicos, pois não incluía o apartidarismo, a objetividade e o respeito ao direito à informação. Dentro daquela estratégia, o termo “democratização” era um biombo para esconder o aparelhamento puro e simples. Entre batalhas perdidas e batalhas ganhas, tentei me opor a isso. Interesses de governo, eu dizia, não podem ter lugar na definição da pauta de veículos jornalísticos, principalmente dos veículos estatais. Às vezes, meus interlocutores contraíam o corpo: “Mas como? O governo teve milhões de votos e tem legitimidade para participar da condução das emissoras públicas!” Eu contra-argumentava: quem governa recebe mandato para gerir o governo, não para mediar o debate público; por mais votos que receba um candidato, ele não tem mandato para direcionar o modo como os cidadãos discutem a política, a economia, a cultura, a ciência, a religião, o que for. Acho que não convenci quase ninguém. Saí da Radiobrás já faz dois anos e meio e, hoje, noto que não houve mudanças substantivas na área. As pressões governamentais continuam gigantescas nas emissoras públicas, tanto nas estaduais como nas federais. Elas estão longe da sociedade – e próximas, em demasia, do Executivo. O Brasil não democratizou suas emissoras públicas. Agora, observo os preparativos da 1ª Conferência Nacional da Comunicação, convocada pelo governo federal, que vai ocorrer no final do ano, depois de várias conferências regionais. É claro que a comunicação social deve ser discutida pela sociedade. Esse debate melhora a democracia. Por isso, a depender do curso que adote, a conferência poderá ser uma boa notícia. Mas vamos precisar as coisas. A expressão “comunicação social” é genérica demais. O ponto que interessa é o da radiodifusão. Nesse setor, ainda convivemos com oligopólios privados que remontam à prática do coronelismo. Em algumas regiões do País há verdadeiros conglomerados de estações de rádio e TV que trabalham abertamente pela manutenção de oligarquias, manipulando noticiários locais de forma acintosa. O quadro agravouse de uns tempos para cá, quando recrudesceram as associações indevidas entre igrejas, partidos políticos e redes de TV, o que não é positivo em nenhuma democracia. Como concessão pública que é, a radiodifusão só se vai modernizar entre nós quando tivermos uma
FAX:
(11) 3856 2920
Presidênciado Senado? Como pode alguém que precisa de uma “tropa de choque” e da censura à imprensa para se manter num cargo achar que se encontra no pleno exercício dele? A situação é surreal, virtual e imoral. Está faltando vergonha na cara e sanidade mental aos envolvidos. GLADYS CASTANHO glad-is@ig.com.br
São Paulo ● Da blindagem de Sarney participam o Executivo (Lula e Dilma x Lina), o Judiciário (liminar ainda não cassada) e o Legislativo (acordo entre posição e oposição). Foi decretado o AS-1 (Ato Sarney n.º 1) com censura
regulamentação e uma regulação que limitem a propriedade cruzada dos meios, a concentração do mercado anunciante numa só empresa e a promiscuidade entre política, máquinas religiosas e emissoras. Sem isso não haverá ambiente saudável de concorrência comercial e não haverá, também, diversidade no espaço público. No mais, a palavra-chave é liberdade. O governo não pode interferir em conteúdos. Ponto. Mas... e quanto aos meios públicos ou estatais, que padecem de problemas análogos? Nada se vai falar contra eles? A conferência poderá inovar – e “avançar”, como alguns gostam de dizer – se souber criticar os governos com independência, exigindo a legislação adequada para o setor. É uma legislação que não tem mistérios, que já foi adotada, com variantes, nas maiores democracias do mundo. As soluções já são conhecidas há tempos, tanto que Sérgio Motta, quando ministro das Comunicações no período FHC, tentou elaborar um projeto de lei para a radiodifu-
Emissoras públicas estão longe da sociedade e próximas demais do Executivo são, mas a ideia não prosperou. Desde então, o governo não tomou mais nenhuma iniciativa. Por que essa paralisia? Em parte, porque o status quo da radiodifusão comercial resiste a qualquer mudança (quanto a isso, é constrangedor verificar o silêncio dos telejornais sobre o assunto). De outra parte, porque as emissoras ligadas ao Estado também se recusam a se redefinir e seguem incólumes. Os movimentos que apoiam a conferência não primam por atacar com a devida intransigência o aparelhamento dos meios públicos, numa atitude que parece um reflexo, com sinal invertido, do silêncio das emissoras privadas. Nisto repousa o maior risco da conferência: se ela se deixar capturar pelos estrategistas oficiais da média aritmética, pode virar apenas um palanque para os que não querem mudar nada, só querem acuar as redes comerciais em ano eleitoral. Pela democratização dos meios de comunicação. Com o perdão da rima em “ão”, ainda prezo o espírito do velho bordão, mas desconfio das autoridades que o repetem à exaustão. No pé em que as coisas estão, isso ainda vai demorar um tempão. ● Eugênio Bucci, jornalista, professor da ECA-USP, é autor de Em Brasília, 19 Horas (Editora Record)
E-MAIL:
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à imprensa, validação de atos secretos e liberação do descaramento. Não é réplica medíocre e vergonhosa do AI-5? MIRIAM SÃO THIAGO mest@terra.com.br
São Paulo ● Hoje, a política no Brasil se assemelha àqueles velhos filmes de faroeste: um bando de malfeitores bigodudos, de cenho carregado, imorais e cínicos, invadem uma cidade, instalam-se no poder, corrompem tudo. E ai de quem se lhes oponha, pois, surpreendentemente, o xerife está do lado deles. SUELY BORGES sjungborges@yahoo.com.br
São Paulo
QUINTA-FEIRA, 13 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Opinião
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Novas concessões em São Paulo
O
governo paulista prepara novas concessões no setor rodoviário, com investimentos previstos de cerca de R$ 13,35 bilhões, segundo anunciou o secretário estadual dos Transportes, Mauro Arce. Parte das concessões será sob o regime de Parceria Público-Privada (PPP), mas a maior parte das obras será financiada com capital privado. O governo espera, segundo o secretário, realizar as primeiras licitações ainda neste ano. São Paulo continua mostrando mais agilidade que o governo federal na atração do setor privado para empreendimentos de ampliação e modernização da infraestrutura. O governo planeja leiloar dois lotes de rodovias e os Trechos Sul, Leste e Norte do Rodoanel metropolitano. Estuda-se a hipótese de um só vencedor levar os três segmentos, ficando responsável pela conclusão das obras até 2014. Esse empreendimento deverá consumir investimentos de R$ 8 bilhões, cerca de 60% do total previsto para todo o pacote. As concessões de rodovias serão divididas em dois lotes. O mais extenso, com um total de 550 quilômetros, incluirá as estradas Mogi-
Bertioga, Tamoios, Oswaldo Cruz, Rio-Santos e Floriano Rodrigues Pinheiro. O investimento previsto é de R$ 4,7 bilhões, pelo regime PPP, e o governo estadual deverá participar com R$ 1,7 bilhão. Com essa iniciativa, mais uma vez o governo paulista se distancia administrativamente do federal. São Paulo já tem contratos pelo sistema PPP na área de saneamento e do transporte ferroviário, enquanto a política federal, nessa área, permanece emperrada. O outro lote de estradas será entregue ao setor privado por meio de concessão simples. O vencedor da licitação ficará com o trecho rodoviário de 46 quilômetros entre Praia Grande e Miracatu, no litoral sul do Estado, e deverá investir R$ 650 milhões. O último leilão de rodovias ocorreu em outubro do ano passado e envolveu a concessão de 974 quilômetros do sistema Airton Senna-Carvalho Pinto e dos trechos Marechal Rondon Oeste e Marechal Rondon Leste. As três vencedoras comprometeram-se a pagar o total e R$ 1,52 bilhão pela outorga, 20% na assinatura do contrato e o resto em 18 parcelas. Também
A volta do crédito imobiliário
A
tingiu R$ 2,975 bilhões, em junho, o volume de empréstimos para a construção e a compra de casa própria com recursos das cadernetas de poupança, superando em 24,6% os financiamentos de maio e em 40% a média mensal de R$ 2,1 bilhões do período janeiro a maio. Com captação líquida de R$ 6,8 bilhões, no primeiro semestre, os agentes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) ajudaram a construção civil a desovar os estoques acumulados na crise. A inadimplência – medida por atrasos superiores a três meses – reduziu-se a 2,96%, em junho de 2009, contra 3,07%, em 2008, e 11,2%, em 2003, o pior resultado da década. Comprova-se, assim, a eficiência do regime da alienação fiduciária de bem imóvel, que na maior parte das operações substituiu a hipoteca, oferecendo mais garantia aos credores e estimulando a oferta de crédito. Os mutuários estão tomando mais recursos: em média, os financiamentos do SBPE corresponderam, em 2009, a 59,9% do valor do imóvel, comparado a 58,6%, em 2008, e a 45,9%, em 2003. Há aí um sinal da confiança na manutenção do emprego e na preservação da renda, mas, além disso, as prestações são menores, pois aumentou o prazo do crédito habitacional, que chega agora a 30 anos, e os juros dos empréstimos estão em queda.“O índice de confiança do consumidor voltou a níveis pré-crise ou acima do pré-crise”, afirmou o economista-chefe do sindicato da habitação (Secovi),
Celso Petrucci. O crédito abundante deverá estimular, neste semestre, a retomada dos lançamentos, prevista pelo Secovi. No primeiro semestre, as vendas de imóveis novos, na cidade de São Paulo, foram de apenas 14.368 unidades, 25,3% inferiores às do mesmo período do ano passado. A projeção dos técnicos do sindicato foi agora corrigida para mais: em vez de voltar ao nível de 2007, como era previsto, o mais provável será repetir os dados favoráveis de 2008, quando foram vendidos 32 mil imóveis. Em 2009, o SBPE deverá re-
Mutuários estão tomando mais recursos e pondo mais fé no futuro petir 2008, quando houve empréstimos de R$ 30 bilhões, que financiaram cerca de 300 mil moradias em todo o País. Entre junho e agosto de 2008, o volume mensal médio de operações foi de R$ 3,36 bilhões. Em agosto, o melhor mês, empréstimos de R$ 3,48 bilhões financiaram 34,7 mil operações. Comparando junho de 2009 com junho de 2008, registra-se queda de 6,78%, mas, entre os primeiros semestres dos dois anos, houve alta de 5,1%. Somando-se os recursos de cadernetas e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a oferta de crédito, em 2008, foi de R$ 40 bilhões e deverá atingir, neste ano, R$ 45 bilhões, com o aumento do orçamento do Fundo de R$ 10 bilhões para R$ 15 bilhões. Dos recursos do SBPE, 54%
destinaram-se, em 2008, a financiar incorporações e 46% foram para mutuários finais. Mas, no primeiro semestre deste ano, as pessoas físicas tomaram 59% dos recursos. Empresários da construção reclamam da falta de crédito para os lançamentos, enfatizou o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário, Rogério Chor. Mas o setor contará com os recursos das cadernetas e do FGTS e com os créditos subsidiados do Orçamento Federal, estimulando a demanda. O setor da construção civil será impulsionado pelas famílias da classe C, acredita Chor. A classe C, hoje, responde por 15% das compras de imóveis nos lançamentos e deverá responder por 40%, no ano que vem, e por 60%, até 2011. “É a primeira vez que isto acontece na construção civil.” O programa de habitação social do governo está levando as empresas de construção civil a fazer projetos para as famílias de renda baixa ou média baixa. Há mais de mil propostas de empreendimentos para a construção de mais de 200 mil unidades no valor de até R$ 130 mil cada uma, para famílias com renda de até 10 salários mínimos. Mas ainda faltam terrenos e bons projetos. Além disso, ainda há muitos entraves burocráticos nas áreas federal, estadual e municipal. De qualquer forma, os prognósticos são favoráveis para a construção civil, que terá importante papel na superação da crise.
concordaram em investir R$ 3,8 bilhões em 30 anos, sendo 95% nos 8 primeiros. Mas as três tiveram dificuldade para cumprir imediatamente as obrigações previstas em contrato. Duas acabaram perdendo as concessões. Uma delas não conseguiu pagar a outorga nem conseguiu apresentar a comprovação de garantias. A outra deixou de apresentar a carta de crédito exigida. A terceira, depois dos problemas iniciais, acabou cumprindo o acordo, apresentou as garantias e pagou a parcela inicial da outorga. A desqualificação dos grupos vencedores foi complicada e envolveu longos procedimentos. A solução definitiva só ocorreu em abril, cinco meses depois de conhecido o resultado inicial das licitações. Foi um processo desgastante para o governo estadual. A Agência de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp) teve de enfrentar meses de trabalho inesperado e de custos adicionais até resolver todas as pendências. Algumas lições devem ter sobrado dessa experiência para a preparação das próximas licitações. Os procedimentos não serão os mes-
mos, até porque, no caso das concessões simples, não haverá, desta vez, o pagamento da outorga. Mas o governo deverá, de toda a forma, estar mais prevenido para evitar dificuldades nas próximas etapas de concessões. A administração paulista é uma das mais preparadas tecnicamente para recorrer à colaboração do setor privado na realização de investimentos e na prestação de serviços públicos. Desde os anos 90, o governo de São Paulo tem procurado adaptar-se às novas condições da economia brasileira e à exigência de melhor condução da política fiscal. O primeiro grande passo da transformação foi a privatização do Banespa, no começo da administração Mário Covas. Nos anos seguintes, o governo se empenhou em pôr em ordem as finanças do Estado e em recobrar a capacidade de investimento do setor público. Sem preconceito, dividiu responsabilidades com o setor privado, transferindolhe a responsabilidade e os custos de uma série de empreendimentos e atividades. Graças a essa política, foi possível destinar maior volume de recursos a atividades essenciais do Estado, como educação e saúde, e ao mesmo tempo garantir a melhora da saúde fiscal do Estado.
A Universal na Justiça
A
plena liberdade religiosa, garantida pela Constituição, não permite que se discrimine esta ou aquela organização religiosa, por estranhos ou condenáveis que pareçam seus métodos de angariar adeptos ou administrar seu trabalho de proselitismo – e, além do mais, questão de fé é coisa que não se discute. No entanto, as organizações religiosas estão obrigadas – e jamais poderão ser dispensadas disso – a obedecer às leis do País. Se a Constituição concede isenção tributária a essas organizações é pela presunção de que elas não auferem lucros – como o fazem as empresas privadas, obrigadas a pagar impostos –, porquanto todas as suas receitas, provenientes dos dízimos ou de doações de fiéis, são canalizadas para suas próprias atividades religiosas. O juiz da 9ª Vara Criminal de São Paulo, Gláucio Roberto Brittes, aceitou denúncia do Ministério Público (MP) paulista contra Edir Macedo Bezerra, fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, e mais nove integrantes dessa igreja, pelas acusações de formação de quadrilha e de lavagem de dinheiro. A denúncia se baseia numa ampla apuração da movimentação financeira dessa entidade, em seus 32 anos de existência. Iniciada em 2007, a investigação levou à quebra judicial dos sigilos bancário e fiscal da Universal, levantando o patrimônio acumulado por seus dirigentes entre 1999 e 2009 – já que, mesmo isentas de pagar impostos, as organizações religiosas são obrigadas a declarar o volume
de recursos e bens doados que receberam de seus fiéis. Segundo a Receita Federal, a Universal arrecada cerca de R$ 1,4 bilhão por ano. Segundo dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – órgão do Ministério da Fazenda destinado ao combate à lavagem de dinheiro –, juntando-se as transferências atípicas e os depósitos bancários em espécie feitos por pessoas ligadas à Universal, a receita financeira da igreja, no período de março de 2001 a março de 2008, foi de cerca de R$ 8 bilhões, e a movimentação suspeita foi de R$ 4
A acusação é usar dinheiro dos fiéis para aumentar o patrimônio pessoal bilhões, de 2003 a 2008. Mas para o Ministério Público o problema não reside na quantidade de dinheiro arrecadado pela organização, e sim no destino e no uso que lhe foi dado pelos líderes da igreja. Grande parte desses recursos teria saído do País por meio de empresas e contas de fachada, abertas por membros da igreja, para depois ser repatriada, também por empresas de fachada, para contas de pessoas físicas ligadas à Universal. E esse dinheiro teria servido para comprar emissoras de rádio e de televisão, financeiras, agência de turismo e jatinhos. Para o Ministério Público, os dirigentes da Universal desrespeitam a lei porque, quando o dinheiro originado das contribuições dos fiéis é desviado para comprar ou viabilizar em-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
‘Estado’sob censura
NELIO ESQUERDO
mo protesto de um cidadão de bem. Que todos os filhos do Nordeste e do Brasil tenham não só a sorte de ser alfabetizados, mas também o acesso a jornais idôneos e expressivos, cuja finalidade seja, acima de tudo, a de defender a democracia dos povos, como é o Estadão. Portanto, sr. Alamo Neves, felicito-o com todas as minhas forças pelo exemplo de cidadania que demonstrou, letra a letra, palavra por palavra, em sua emocionante missiva.
nelioesquerdo@terra.com.br
JOSÉ EDUARDO ZAMBON ELIAS
São Paulo
zambonelias@estadao.com.br
Palavrão no Senado pode; gravação no Estadão, não! AGRIPINO ALBERTO DOMINGUES centraltalentos@bol.com.br
São Paulo
Plano Bresser, Plano Collor, mensalão, dólares na cueca, CPIs de pizzas, nepotismo, corrupção, claques compradas, abuso de poder, censura, etc., etc. E nós? Eleitores ou “eleotários”? ●
Arrepiei-me de satisfação ao ler a carta do leitor sr. Alamo Neves (Na mira da chibata, 12/8). Absolutamente precisa na definição do status quo da Nação brasileira e, ao mesmo tempo, legítima co-
Marília
●
Leido silêncio Primeiro calaram o Estadão. Agora querem calar a ex-secretária da Receita Lina Vieira. Quousque
“
Sarney, Lula e Collor: os três patéticos!”
AlbertoBastosCardosodeCarvalho albcc@ig.com.br SãoPaulo
mais dia, menos dia, as provas do encontro surgirão e a ministra haverá de reconhecer que disse à ex-secretária o que agora diz que não disse. Essa é a candidata que o Lula deseja que engulamos. DANIEL ROCHA dadaro@uol.com.br
Caieiras
tandem abutere patientia nostra? RONALD MARTINS DA CUNHA ronald.cunha@netsite.com.br
Monte Santo de Minas (MG) ● A ministra Dilma Rousseff menospreza a inteligência do brasileiro. Refuta peremptoriamente ter tido qualquer encontro ou conversa com Lina Vieira. Ou seja, ela quer nos dizer que uma servidora de 30 anos de trabalho sério sofre de alucinações auditivas e visuais. Felizmente, creio que,
presas comuns, a imunidade fiscal, garantida pela Constituição, está sendo burlada. E outro desrespeito – que também embasa a denúncia – é ao direito, dos fiéis da Universal, de terem os recursos que oferecem à igreja destinados às atividades religiosas da igreja e não ao patrimônio de seus dirigentes. Na peça acusatória do MP há o seguinte tópico: “Podemos citar como exemplo a compra da TV Record do Rio de Janeiro. A empresa foi adquirida em nome de seis membros da Igreja Universal do Reino de Deus, que justificaram a origem da transação (avaliada em US$ 20 milhões) através de empréstimos junto às empresas Investholding e Cableinvest” – empresas essas localizadas em paraísos fiscais (Ilhas Cayman e Ilhas do Canal), que por sua vez recebiam recursos das empresas Unimetro e Cremo, do Brasil. E estas apresentavam altos depósitos bancários sem qualquer indício de atividade comercial – pois tais recursos provinham dos dízimos e doações dos fiéis da Universal. Pelo fato de ter publicado, em 15 de dezembro de 2007, uma ampla reportagem sobre o “império empresarial” da Universal, a jornalista Elvira Lobato e o jornal Folha de S.Paulo foram alvo de 107 ações de fiéis da Universal, distribuídas por muitos – e distantes uns dos outros – municípios brasileiros. É claro que essa era uma estratégia para causar o máximo de incômodo aos que tinham que se defender em tais processos. Até agora, as 87 ações já julgadas tiveram sentença favorável ao jornal, pelo que se pode esperar que a Universal venha, efetivamente, a prestar contas à Justiça.
Levajeito
Patenteseciência
Em campanha dois anos antes da eleição e seguindo a cartilha do professor, a tendência é que Dilma obtenha sucesso em 2010. Leva jeito: nega qualquer pedido escuso que tenha feito para aliviar o clã Sarney e contesta deslize no currículo no arquivo da Petrobrás. A tendência é emplacar.
Na matéria sobre as dificuldades de desenvolvimento de patentes no Brasil pelos institutos de pesquisa e universidades (9/8, A30), faltou mencionar que os salários dos pesquisadores científicos de São Paulo são dos mais baixos no País. No entanto, nossa carreira exige progressão por mérito, tempo integral, dedicação exclusiva e serve de exemplo para outras carreiras do Estado, pois sua estrutura tem sido aperfeiçoada por mais de 30 anos. Em tempo: o piso é de R$ 2.700 e o teto, R$ 6.400, cerca de 30% menor que os das demais carreiras de nível superior.
● Lina Vieira faz uma acusação extremamente grave contra a ministra. Resta saber se a sra. Lina aguentará a pressão, terá força e coragem de sustentar a denúncia e, fundamentalmente, demonstrar provas inequívocas de que está falando a verdade. Caso contrário, não tenham dúvidas: será triturada pelos companheiros.
● Dilma tem razão: chegou a hora e a vez da mulher... Marina Silva vem aí, e vem com uma bagagem respeitável de experiência, dinamismo, garra e realizações. Bemvinda, Marina-candidata.
DAVID NETO
RUTH DE SOUZA LIMA E HELLMEISTER
ca do Instituto Butantan
drdavidneto@drdavidneto.com.br
rutellme@terra.com.br
mdfranco@butantan.gov.br
São Paulo
São Paulo
São Paulo
HUMBERTO SCHUWARTZ SOARES umsoares@pop.com.br
Vila Velha (ES)
MARCELO DE FRANCO, pesquisador científico do Laboratório de Imunogenéti-
QUINTA-FEIRA, 13 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A7 A7
ESTADO SOB CENSURA
‘Estado’ entra com novo recurso para derrubar censura Mandado de segurança com pedido de liminar correrĂĄ paralelamente a exceção de suspeição, jĂĄ em anĂĄlise Fausto Macedo
O advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira entrou ontem com mandado de segurança no Tribunal de Justiça (TJ)do Distrito Federal contra ato do desembargador DĂĄcio Vieira, que censurou o jornal O Estado de S.Paulo.Omandado,compedido liminar, foi distribuĂdo para o desembargador Waldir LeĂ´ncio Cordeiro Lopes JĂşnior, da 2ÂŞ Câmara CĂvel do TJ, que hoje deverĂĄ tomar uma decisĂŁo. O mandado de segurança ĂŠ uma ação que tem por objetivo garantir o reconhecimento judicial de um direito lĂquido e certo, incontestĂĄvel, que estĂĄ sendo violado ou ameaçado por ato manifestamente ilegal ou inconstitucional de uma autoridade. ManuelAlceu jĂĄhaviaingressado, na semana passada, com uma primeira medida contra a ENTREVISTA
Rubens Figueiredo: Cientista polĂtico e pesquisador
‘Censura tira o Brasil da rota do primeiro mundo’ A censura ao Estado, imposta pelo desembargador DĂĄcio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, simboliza o “debocheâ€? do Senado, pilar do “retrocessoâ€? das instituiçþes brasileiras, acredita o cientista polĂtico e pesquisador Rubens Figueiredo. Segundo ele, a liberdade de imprensa era um dos poucos aspectos que equiparava o Brasil ao primeiro mundo. Qual o significado polĂtico da censura ao ‘Estado’? O Brasil estĂĄ retrocedendo do ponto de vista institucional. JĂĄ tem problemas no campo da desigualdade e, se tinha alguma coisa que o equiparava ao primeiro mundo, era a liberdade de imprensa e as eleiçþes regulares. Esse episĂłdio do Estado mostra um evidente descompasso do que se espera de um PaĂs com instituiçþes fortes. Quem sofre mais com ela? O problema ĂŠ da cidadania. Diz respeito diretamente Ă sociedade que se quer construir. Mas, infelizmente, a opiniĂŁo pĂşblica brasileira ĂŠ muito frĂĄgil, e ficou muito mais frĂĄgil nesse perĂodo em que vivemos, de um presidente muito popular. Em ĂŠpocas anteriores, o cerceamento da liberdade imprensa gerava uma reação na opiniĂŁo pĂşblica que derrubava a aprovação do presidente. Hoje isso nĂŁo acontece mais. Por que o Senado respondeu timidamente Ă censura? O poder de uma maneira geral, e o Senado de maneira particular, vivem em um mundo Ă parte. Quando aquele deputado disse que estava se lixando para a opiniĂŁo pĂşblica – e nĂłs achamos que aquilo era o fundo do poço –, nĂŁo era. O Senado mostrou que, alĂŠm de estar se lixando, ĂŠ capaz de debochar da opiniĂŁo pĂşblica. Como o JudiciĂĄrio se enquadra? O JudiciĂĄrio necessita de uma reforma mais profunda. No perĂodo Lula o que tem se visto ĂŠ um certo atrelamento do JudiciĂĄrio Ă s teses do Executivo. Isso ĂŠ perigoso porque descompassa o equilĂbrio de poder. â—? ROBERTO ALMEIDA
censura, denominada exceção de suspeição – pediu que Vieira se reconheça suspeito para a causa, diante das suas ligaçþes com a famĂlia Sarney. Vieira proibiu o Estado, em 30 de julho, de divulgar dados relativos Ă OperaçãoBoiBarrica, daPolĂcia Federal, que envolve FernandoSarney,filhodopresidente do Senado, JosĂŠ Sarney (PMDB-AP). O desembargador acolheu, em liminar, recurso denominado agravo de instrumento de Fernando contra decisĂŁo de primeira instância judicial que rejeitara sua pretensĂŁo de calar o Estado. O desembargador tem dez dias para decidir se reconhece sua suspeição, a contar do recebimento do pedido do jornal. O prazo vence no inĂcio da prĂłxima semana. AtĂŠ ontem, ele nĂŁo havia se manifestado. O mandado de segurança
nĂŁo prejudica a exceção de suspeição, ou seja, ambas as medidas podem correr paralelamente. Manuel Alceu argumenta, em 14 pĂĄginas, que a censura “atropelou a Constituição e faz-se imprescindĂvel o seu desfazimento, de sorte a restabelecer o irrestrito impĂŠrio das liberdades asseguradas pelo Estado DemocrĂĄticoâ€?. O advogado pede concessĂŁo do mandado para “restaurar a ordem jurĂdica violadaâ€? e, automaticamente, tornar ineficaz o decreto de Vieira, autorizando o Estado a divulgar os dados que sobre Fernando “tiver obtido, ou venha a obter, durante suas apuraçþes jornalĂsticasâ€?. Ele pede que seja levantado o segredo de justiça imposto, nĂŁo sĂł relativamente ao recurso do filho do presidente do Senado, mas tambĂŠm referente
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aos autos de ação inibitĂłria em curso na 12.ÂŞ Vara CĂvel de BrasĂlia – origem da investida de Fernando contra o Estado. Manuel Alceu observa que a reportagem que provocou a
censura foi publicada na edição de 22 de julho, com os tĂtulos Gravaçþes ligam Sarney a Agaciel e a atos secretos e Gravação liga Sarney a atos secretos. Compara o escândalo dos Sar-
ney â€œĂ s prĂĄticas do Brasil ColĂ´niaâ€?. “Nepotismo abusado, ronceiro, que de ‘privado’ tĂŁo sĂł contĂŠm a indecente vontade de debitar ao erĂĄrio o custo de acomodaçþes familiares.â€? â—?
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
14 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42304
Lula destrava gastos com obras e publicidade
Decisão judicial mantém ‘Estado’ sob censura
Presidente veta artigos da lei orçamentária que limitavam essas despesas
Juiz diz precisar de mais informações
OpresidenteLulasancionouontem com 20 vetos a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2010, anode sucessão presidencial. Um dos mais importantes derrubou artigo sobre o cálculo do superávit primário que, na opinião do governo, engessava
a possibilidade de execução mais acelerada das obras do PAC. Outro veto relevante cortou da LDO um dispositivo que limitava as despesas oficiais com publicidade, diárias e locomoção de funcionários – o governo não poderia gastar em
2010 mais do que despendeu neste ano, uma forma de conter o aumento de gastos de custeio damáquina.Comoveto,opresidente e seus auxiliares terão mais liberdade para visitar obras públicas, que serão objeto de divulgação. ● PÁG. B1
FRASE
“O ajuste pode inviabilizar a execução e o acompanhamento de obras” Presidente Lula Na justificativa dos vetos
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal manteve ontem a censura ao Estado, ao não acolher pedido de liminar do jornal contraaordem dodesembargador Dácio Vieira. Em 30 de julho, Vieira proibiu o jornal de divulgarreportagenssobreFer-
Grupo de Agaciel tentou legalizar atos secretos
ELEIÇÕES: CAMPANHA POR MEIRELLES
nando Sarney, filho do senador José Sarney (PMDB-AP). O desembargador Waldir Leôncio Cordeiro Lopes Júnior disse que precisa ter mais informações de Vieira para observar “o devido processo de direito”. O jornal vai recorrer. ● PÁG. A7
Educação
Unicamp estuda mudar vestibular ●● Entre as propostas para 2010, maior número de questões na 1ª fase. ● PÁG. A22
●●● Em Anápolis, terra natal do presidente do Banco Central, Lula disse que Goiás só terá a ganhar se Meirelles governar o Estado. ● PÁG. A8
Gripe faz ministério adiar vacina contra pólio
Despachantes denunciados por consulado são presos
Diante da epidemia de gripe suína, o Ministério da Saúde decidiu adiar a 2ª etapa de vacinação contra pólio de 22 de agosto para 19 de setembro. O objetivo é evitar o aumentodademandanosserviços de atenção básica, já sobrecarregados.Para infectologistas,oadiamentonãotrará prejuízos. ● PÁG. A19
A polícia paulista cumpriu mandado de busca e apreensão em cinco escritórios de despachantes suspeitos de fornecer documentos falsos a brasileiros que querem visto para os EUA. Segundo a polícia, os acusados abordavam interessados na entrada do consulado americano, que fez a denúncia. ● PÁG. C1
AFEGANISTÃO
LUCY NICHOLSON/REUTERS
A resistência ao acordão A “paz” política que o governo e a oposição têm pretendido estabelecer no Senado tem um alto preço ético: a anistia recíproca de todas as indecências dos parlamentares. ● PÁG. A3 ●●●
VEJA NA PÁGINA 5. 7 8 9 10 11 12
Tempo: CAPITAL
27º MÁX.
● PÁG. C2
10º MÍN.
Dia começa com frio e à tarde faz calor.
Hoje: 204 páginas A. 1º caderno: 26 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 14 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 4 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 10 (161 anúncios)
O secretário interino Otacílio Cartaxo foi efetivado na Receita Federal. A escolha alivia o clima de tensão que se instalou no órgão após a demissãodeLinaMaria Vieira. O DEM pediu imagens do circuito de TV do Palácio do Planalto para tentar confirmar se a ex-secretária se encontrou com a ministra Dilma Rousseff. ● PÁGS. B5 e A6
COLUNISTA REGINALDO LEME
CAMPANHA – Comício de Abdullah Abdullah, candidato afegão NOTAS E INFORMAÇÕES
Chefe interino é efetivado e alivia tensão na Receita
Taleban intimida eleitor
O
presidente afegão, Hamid Karzai, ofereceu cargos a seus principais adversários na disputa presidencial do dia 20, relata o enviado especial a Cabul, Lourival
Sant’Anna. A ideia é criar clima de união diante da campanha do Taleban contra a eleição – o grupo anunciou que 200 suicidas vão se explodir nos locais de votação. ● PÁG. A15
Pescoço não é o problema de Schumacher Michael Schumacher não vai mais voltar. Ouvi de muita gente que a tal dor no pescoço seria “não me deixaram andar no carro deste ano e, sem saber o que vou encontrar, tô fora!”. Rubinho não perdeu a chance ao dizer, via twitter, que “tem mais coisa aí do que um simples pescoço”. Eu também acredito. ● PÁG. E3 ●●●
GENE MARTIN/EFE
CADERNO 2 Morre Les Paul, pai da guitarra elétrica
Músico que revolucionou a música popular no século 20 tinha 94 anos. ● PÁG. D11
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Astronomia
FABIO MOTTA/AE
CELSO JUNIOR/AE
A publicação dos 468 atos secretos recém-descobertos no Senado, para tentar evitar a caracterização do sigilo, partiu de Ralph Siqueira, integrante do grupo de funcionários ligados a Agaciel Maia,ex-diretor-geraldaCasa e pivô do atual escândalo. Siqueiraadmitiua responsabilidade pela publicação, mas negou que tenha agido às escondidas e que os atos sejam secretos. ● PÁG. A4
Ver as estrelas, um direito universal Astrônomos, como Augusto Daminelli, fazem campanha contra iluminação excessiva no Brasil. ● PÁG. A20
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Teatro
Cultura Artística pede doações ●● Campanha para bancar reconstrução quer arrecadar R$ 30 milhões. ● PÁG. C7
Guia Espeto está na moda ●● Conheça as melhores opções de casas especializadas em espetinhos na cidade. ●
www.hyundai-motor.com.br
SEXTA-FEIRA, 14 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS E INFORMAÇÕES A3 NOTAS E INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Jornais: Odmar Almeida Filho Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
A resistência ao acordão
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esde que o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) foi à tribuna para desculpar-se por ter protagonizado – junto com o colega Renan Calheiros (PMDB-AL) – uma das cenas mais vergonhosas da história do Senado da República, estava dada a senha para o início da costura do “acordão” – ainda não completada e que, certamente, não será de fácil digestão para a opinião pública. É que a “paz” política que governo e oposição têm pretendido restabelecer na Câmara Alta tem um alto preço ético: a anistia recíproca de todas as indecências praticadas pelos ilustres representantes das unidades da Federação no Poder Legislativo nacional. Nepotismo, atos secretos – quase mil, agora –, funcionários fantasmas, custeio com recursos públicos de despesas de terceiros sem quaisquer vínculos de serviço com a Casa Legislativa, auxílio-moradia indevido, abusos no uso de passagens aéreas, diretorias administrativas de funções quase surrealistas e mais um sem-número de formas de locupletação, comprometendo até parlamentares oposicionistas marcados por discursos críticos e mora-
lizantes – tudo isso, com certeza, entrará no tratado de paz entre o governo e a oposição, em nome do retorno ao trabalho e à agenda legislativa do Senado. É claro que nesse processo de costura tem sido utilizada a velha receita das “informações” que acusados têm sobre seus acusadores e a ameaça de utilizá-las a qualquer momento – no que os senadores alagoanos Renan e Collor deram, recentemente, exibições de mestria. Por outro lado, reconheça-se a capacidade do presidente Lula – auxiliado pela facilidade do seu líder no Senado, Romero Jucá, para defender, sem rubor na face, o indefensável – de condimentar, no melhor estilo, a geleia político-partidária que tem dado sustentação a seu despudorado governo. No entanto, ainda há uma resistência ao “acordão” – e ela se chama Partido dos Trabalhadores (PT), por suas divergências internas quanto ao julgamento ou não do senador maranhense do Amapá e presidente da Casa, José Sarney, no Conselho de Ética, e, especialmente, pela posição assumida por seu líder, senador Aloizio Mercadante (SP) nessa questão.
Outra bondade eleitoral
O
governo ainda negocia alguns pontos com parlamentares, dirigentes de centrais sindicais e representantes dos aposentados, mas está prestes a concluir com eles um acordo que assegura aumento real das aposentadorias de valor superior a um salário mínimo pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A medida deverá vigorar em 2010, ano em que os brasileiros elegerão o sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República, além de novos governadores, senadores e deputados federais, estaduais e distritais. Certamente bem-vinda para os cerca de 8 milhões de aposentados e pensionistas que recebem do INSS mais de um salário mínimo, e aos quais o governo quer agradar em ano eleitoral, a medida tem um custo que terá de ser coberto pelos demais contribuintes – mas sobre isso o governo nada disse, na nota em que confirmou oficialmente o avanço das negociações. Como não há previsão de receitas para cobrir essa bondade, o crescimento dos gastos implicará o aumento do déficit da Previdência Social, que neste ano deve superar R$ 40 bilhões. Segundo a nota, o governo “considera que existem condições objetivas” para a concessão do aumento real desses benefícios. O governo não confirmou o porcentual do reajuste. O índice citado pelos jornais é de 7%. Se, como se estima, a inflação de 2009 medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) – utilizado para a correção do salário mínimo – ficar em 3,6%, esse reajuste equi-
valerá a um aumento real de 3,28%. Segundo o governo, cada ponto porcentual de reajuste real nas aposentadorias aumenta em R$ 1,2 bilhão os gastos previdenciários. Em troca do aumento real dos benefícios de valor superior a um salário mínimo, o governo quer a retirada do Congresso de outros projetos que criam novos gastos previdenciários sem a previsão da respectiva fonte de receita. Já passaram pelo Senado e estão em exame na Câmara dos Deputados diversas propostas do senador Paulo Paim (PT-RS) que beneficiam aposentados e pen-
Aumento real das aposentadorias maiores do que o salário mínimo sionistas. Se colocadas em prática da maneira como foram aprovadas, essas propostas implicarão o crescimento ainda mais acelerado do déficit previdenciário. Um dos projetos concede aumento igual ao do salário mínimo – que tem sido corrigido pelo INPC mais o aumento do PIB de dois anos antes – a todos os benefícios previdenciários. Outro extingue o fator previdenciário criado em 1999 e que é um importante instrumento para a redução das aposentadorias precoces. Há também um projeto que compensa o que define como perda de valor do benefício previdenciário. Em troca da retirada dessas propostas – que livraria o presidente Lula de ter de vetar esses projetos caso sejam aprovados pelo Congresso, impondo-
lhe alto custo político, indesejável em ano eleitoral –, o governo aceitou o aumento real dos benefícios de maior valor. Da proposta que apresentou no início das negociações, o governo teve de ceder em alguns pontos. Inicialmente, aceitava apenas o aumento escalonado, com porcentuais diferentes para benefícios de um a três salários mínimos e de três a cinco salários; acima deste valor, não haveria aumento real. Teve de aceitar aumento real igual para todas as faixas. Embora tenha recuado nesse ponto, não obteve da outra parte a concordância para a retirada de todos os projetos que aumentam as despesas. Os aposentados não aceitam, por exemplo, a retirada do projeto que cria um índice para recompor o benefício pago hoje de acordo com o valor real que tinha na época de sua concessão. Quanto ao fim do fator previdenciário, o governo só o aceita se, em troca, for aprovada uma fórmula que combine a idade do trabalhador no momento do pedido de aposentadoria, o tempo de contribuição e a média das contribuições mais altas durante certo período. O governo pode ser derrotado em alguns pontos que ainda são negociados. Mas, se conseguir protelar a decisão do Congresso, é possível que, quando ela for tomada, as eleições já tenham passado. Melhor ainda se a obrigação de vetar ou não o que o Congresso tiver aprovado ficar para o futuro presidente.
Quando Mercadante foi ao gabinete de Sarney, na noite de quarta-feira, para lhe comunicar sua resistência a absolvê-lo in limine, sem que o Conselho de Ética tivesse a oportunidade de pronunciar-se em pelo menos uma das 11 acusações (a relacionada com o emprego do namorado da neta), a reação de Sarney foi explosiva e o tom da discussão elevou-se a decibéis mais adequados a um botequim do que ao gabinete do presidente de um Poder de Estado. Como não poderia deixar de ser – já que argumentos para inocentar-se ali de nada serviriam (se existissem) –, na discussão, presenciada pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC), Sarney cobrou de Mercadante fidelidade à aliança entre PT e PMDB, com vistas à sucessão presidencial e ao indispensável apoio dos peemedebistas à candidata ungida do Planalto, Dilma Rousseff. Embora tenha negado – como também era de esperar – a negociação de qualquer acordo entre governo e oposição, para colocar-se uma pedra no conjunto de denúncias contra Sarney, o senador Paulo Duque antecipou-se em exibir uma contrapartida de pacificação,
Recuperação na Europa
A
final, uma boa notícia da economia europeia: Alemanha e França, as duas maiores potências da zona do euro, cresceram 0,3% do primeiro para o segundo trimestre. A mesma expansão foi observada em Portugal, um dos menores sócios do bloco. A recessão dá sinais de estar no fim nessas três economias e poderá acabar mais cedo do que previam os especialistas, na maior parte da Europa. As novidades animaram as bolsas europeias, nessa quinta-feira, e são um bom indício para os exportadores brasileiros. De janeiro a julho deste ano, o Brasil vendeu US$ 19,13 bilhões para a União Europeia, valor superado somente pelas exportações destinadas à Ásia, US$ 22,62 bilhões. Se as expectativas de crescimento dos Estados Unidos forem confirmadas, o comércio internacional poderá reagir num prazo razoável, abrindo melhores perspectivas para o Brasil. A crise atingiu a indústria brasileira principalmente pela redução das vendas externas. Na zona do euro, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu 0,1% no segundo trimestre. A maior parte dos analistas previa uma contração em torno de 0,4%. Entre o último trimestre do ano passado e o primeiro deste ano, a redução havia sido de 2,5%. Parece haver uma firme tendência de melhora, sustentada por incentivos fiscais e pela política monetária expansiva. Mas a saúde do setor financeiro ainda preocupa e o desemprego poderá permanecer elevado por muito tempo, já que o mercado de trabalho na Europa é bem menos flexível que nos Estados Unidos. Esses dois fato-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
sição vigente tenha forças para evitar esse tsunami lulista. E. PARENTE RAMOS FILHO e.parenterf@gmail.com
São Paulo
Oposição a quem? No Brasil, qual o significado de “oposição”? ●
“
As duas quadrilhas se associaram para continuar assaltando o povo”
EdgardMourãoFilho edgardmourao@terra.com.br Santos
FABIO ADAMO fabio.adamo@hotmail.com
São Paulo
Nossodinheiro,nossaforça Duas novas investidas marqueteiras “barbudilmas” chamam a atenção. 1) A propaganda do Banco do Brasil que termina com a singela frase sobre “a força do Brasil agora em São Paulo” – não deveria ser o contrário? 2) O governo Lulla teria liberado mais dinheiro para São Paulo do que para ou-
tros Estados, para obras – que eu saiba, esse dinheiro é nosso! MARLY N. PERES lexis@uol.com.br
São Paulo
Reido gado Madoff está se contorcendo na prisão. Deveria ter fugido para o Brasil. Nos EUA não teve a mesma sorte do dono da Boi Gordo: foi preso e condenado. Aqui só
vai preso ladrão de galinha; de boi, não. Agora, além dos políticos, também sinto vergonha do Judiciário e dos juízes deste país. SIDNEI GLIBAS abreaitaim@uol.com.br
São Paulo ● A Justiça (?) no Brasil é mesmo uma piada! O tal Paulo Roberto Andrade, da Boi Gordo, deu um golpe bilionário e está livre de ser julgado criminalmente. Uma pobre rouba um pacote de manteiga e outra, um xampu e ficam meses, até mais de um ano, atrás das grades. Quem deveria ver o sol quadriculado é esse juiz/ministro (?) que proferiu tão escandalosa decisão. JACQUES PENNEWAERT jacques.pennewaert@terra.com.br
São Paulo
ao mandar para o arquivo as denúncias do PMDB contra o líder tucano Arthur Virgílio, da mesma forma como arquivara aquelas contra Sarney. Assim como o PSDB entrou com recurso contra a rejeição das denúncias a Sarney, no Conselho de Ética, o PMDB também recorre da rejeição das denúncias contra o senador Virgílio. Mas está muito claro, no ponto de cozimento a que chegou o “acordão”, que esse recurso peemedebista não passa de farsa. O resumo dessa ópera bufa é que está nas mãos do PT, e especificamente na de seus representantes no Conselho de Ética – que são os senadores Delcídio Amaral, Ideli Salvatti e João Pedro, precisando os dois primeiros reelegerem-se em 2010 –, a aceitação ou não, no plenário do colegiado, do recurso contra a rejeição das denúncias a Sarney, uma vez que a oposição ali só tem 5 representantes (entre 15) e precisa dos votos petistas para fazer maioria. Então, há resistência, mas segue o “acordão” – que também pode ser chamado de superpizza – para seu estágio final de cozimento, já que parece improvável que Mercadante consiga levar o PT a repudiar a (velha) receita planaltina. Agora, como o eleitorado digerirá tudo isso, é uma outra história.
Criminososem liberdade Só mesmo num país hipócrita e com mandantes estúpidos se libertam facínoras em datas estritamente comerciais como o Dia das Mães e o Dia dos Pais. Que o diga a família da pediatra assassinada por um estuprador, ladrão e assassino, no domingo. Alguém iluminado tenha pena de nós! DALMACIA A. DE ARRUDA CAMPOS dalmacia@terra.com.br
São Paulo
‘Estado’sob censura A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) solidariza-se com O Estado de S. Paulo e repudia qualquer medida restritiva à liberdade de informação, conforme imposta a esse conceituado órgão de imprensa. Enaltece esta enti-
res poderão prejudicar o desempenho da economia em 2010, mas não alteram o significado das boas notícias que comentamos no início deste editorial. Nos Estados Unidos, a recuperação dos grandes bancos tem sido mais veloz do que na Europa. O fortalecimento do setor financeiro é considerado uma condição essencial para a reativação segura da produção. Na economia americana o pior parece ter passado e já há sinais de estabilização, segundo avaliam os diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Os indicadores têm oscilado,
As duas maiores economias da zona do euro já saíram da recessão embora a tendência geral pareça ser de melhora. No segundo trimestre, segundo a estimativa preliminar, a redução do PIB, 1%, foi menor do que previa a maior parte dos economistas. A expectativa média era de redução de 1,5%. Os dados mensais de emprego revelados no começo de agosto foram também melhores que os estimados por analistas do mercado. Caíram no desemprego, em julho, 247 mil trabalhadores urbanos, metade do contingente previsto. Outra informação positiva dos últimos dias foi a da redução de estoques das empresas no mês de junho. Mas dois dados negativos foram distribuídos nessa quinta-feira. Em julho, as vendas do comércio varejista nos Estados Unidos foram 0,1% menores que as do mês anterior. Analis-
tas do mercado financeiro previam expansão de 0,8%. Além disso, o número de pessoas em busca de auxílio-desemprego, na primeira semana deste mês, foi maior que o projetado. Mercados especulativos normalmente reagem a informações de curtíssimo prazo. Não se pode, no entanto, usá-las para previsões sérias. Por segurança, o Comitê de Mercado Aberto do Fed resolveu, na quarta-feira, manter os juros básicos na faixa de zero a 0,25%, para facilitar a recuperação dos negócios e do emprego. Além disso, o Fed confirmou a disposição de continuar comprando títulos do mercado financeiro até o fim do ano: os valores acumulados no ano poderão chegar a US$ 1,25 trilhão de papéis lastreados em hipotecas e a US$ 200 bilhões de dívidas de agências imobiliárias. Além disso, o banco central está comprando no mercado US$ 300 bilhões de títulos do Tesouro. As medidas de estímulo tomadas pelo governo e pelo Fed têm dado resultados, segundo avaliam respeitados economistas de várias tendências. Segundo a agência Moody’s de classificação de risco, a política anticrise em vigor desde o começo do ano salvou mais de meio milhão de empregos. A discussão principal, hoje, não é sobre a eficiência ou ineficiência dos incentivos fiscais e monetários, mas sobre o momento adequado para interrompê-los. Há quem defenda sua manutenção ainda por muitos meses, para se evitar o risco de uma recaída na crise. O custo fiscal dessa política já é grande e ficará bem maior, mas o presidente Barack Obama parece disposto a manter os incentivos até a economia dar sinais de firme recuperação.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
dade a valiosa contribuição que dá esse jornal à Nação, dentro do elevado princípio de formar e informar, atuando com transparência e imparcialidade, sem se curvar a injunções externas. A signatária cumprimenta o Estadão por dar conhecimento ao público da deplorável crise que ocorre no Senado, desnudando situações inconcebíveis, alimentadas com o dinheiro dos contribuintes. O baixo nível de alguns parlamentares da Câmara Alta não só entristece como preocupa a Nação, que vê uma de suas mais importantes instituições achincalhada e enxovalhada por desmandos que vêm ocorrendo ao longo dos anos. Democracia pressupõe a liberdade de informação, in casu não para a restrita plateia do Senado, mas para a grande plateia que compõe toda
a Nação, estarrecida com os execráveis acontecimentos no Congresso Nacional, cujos autores são representantes do povo. Há os que contestam o regime democrático, posição que nos deixa temerosos. Se a democracia não é o regime ideal, não se conhece outro melhor e que possa substituíla sem que os direitos, principalmente individuais, sejam arranhados. A ACSP tem a certeza de que não conseguirão amordaçar o Estadão, pela sua história, pela sua longa tradição de luta em defesa das justas causas. A ACSP conclui citando o filósofo francês Voltaire: “Posso não concordar com todas as palavras que tu dizes, mas defenderei até o fim o teu direito de dizê-las.” Isso é liberdade! ALENCAR BURTI, presidente
São Paulo
SEXTA-FEIRA, 14 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A7 A7
ESTADO SOB CENSURA REPERCUSSÃO
Cris Couto Atriz e apresentadora “Para mim que vi tudo o que o Sarney fez é complicado achar que está tudo bem. Todos conchavados. Tenho vergonha enorme”
Tribunal do DF mantém censura contra ‘Estado’ Desembargador Waldir Leôncio Cordeiro Lopes Júnior, da 2ª Câmara Cível do TJ, não acolhe pedido de liminar em mandado de segurança Fausto Macedo
David Fleischer Cientista político “Espero que a censura caia e que o desembargador seja enquadrado. É uma pessoa tendenciosa e a censura é tremendamente prejudicial”
Audálio Dantas
Jornalista e escritor “A censura prévia parecia ter acabado no País. Mas integrantes do Judiciário estão a serviço do retrocesso”
O Tribunal de Justiça (TJ) do Distrito Federal manteve ontem a censura a O Estado de S. Paulo. A decisão é do desembargador Waldir Leôncio Cordeiro Lopes Júnior, da 2ª Câmara Cível do TJ, que não acolheu pedido deliminaremmandadodesegurança que o jornal interpôs contra a ordem do desembargador Dácio Vieira – autor da medidaque proíbe o Estado de divulgar reportagens sobre a Operação Boi Barrica,que envolveFernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Lopes Júnior, invocando prudência, deixou para deliberar acerca do mandado
“Não é possível uma ordem judicial proibir a divulgação do que quer que seja por um jornal. Se há sigilo, cabe a quem cuida dos dados proteger esse sigilo”
Odilon Wagner Ator e diretor
“Essa censura é uma coisa absolutamente vergonhosa. Eu me sinto envergonhado de viver nesse país depois de tantos anos de luta pela liberdade”
doVieira concedeu liminara recurso (agravo de instrumento) de Fernando Sarney, que se insurgiucontradecisãoda12.ªVara Cível de Brasília.
Jornal ainda está proibido de abordar operação da Polícia Federal O prazo para as informações que Lopes Júnior solicitou a seu colega é de 10 dias. Já o parecer da procuradoria não tem prazo definido para ser entregue. O mandado foi a segunda investida do Estado contra a censura. Primeiro, Manuel Alceu entrou com exceção de suspeição de Dácio Vieira, que man-
tém relações de convívio social com a família Sarney. Vieira ainda não se manifestou. Depois, o advogado entrou com liminar em mandado contra o ato de Vieira. Diante da decisão de Lopes Júnior o jornal vai interpor embargosdedeclaração–recursocontradecisãoquecontém omissão ou contradição; tem como finalidade tornar clara a sentença. O advogado aponta omissão porque Lopes Júnior não falou sobre o requerimento para que fosse dada ciência do mandado “ao órgão de representação judicial” do TJ . Tal providência consta expressamente da petição do Estado com base na nova lei do mandado de segurança (Lei 12.016/09, art. 7˚). ●
Entrevista
O analista político Marco Antonio Villa, professor de ciências sociais da Universidade Federal de São Carlos, vê na censura imposta judicialmente ao Estado um perigoso precedente. Mais perigoso ainda, pela sua avaliação, se for considerado que haverá eleições no ano que vem. “Qualquer candidato poderá entrar na Justiça para barrar informações que considere prejudiciais à sua imagem e ganhar”, diz ele. O especialista também acredita que está em curso no País um esforço para restringir a liberdade de imprensa – já bastante limitada em regiões controladas por oligarquias políticas, como o Estado do Maranhão.
“Eu acho que esta medida judicial foi um verdadeiro atentado à liberdade de expressão, imposto a um jornal que sempre se pautou pela seriedade e pela responsabilidade”
Flávio Pansieri Presidente da ABDI “Todos os atos praticados que estejam de alguma forma conectados à atividade pública ou tenham relação com a utilização de recursos públicos são públicos”
Presidente da Associação Comercial de São Paulo
‘Esse tipo de ação está se multiplicando’
Roldão Arruda
Boris Fausto Historiador
Alencar Burti
Marco Antonio Villa: professor e analista político
Villa adverte que ‘qualquer candidato’ poderá acionar Justiça e barrar informações que julgue prejudiciais Carlos Ari Sundfeld Advogado
apenas depois que receber informações do próprio Dácio Vieira e o parecer da Procuradoria de Justiça. “Malgrado o inconformismo do impetrante coma decisão judicialimpugnada está sendo observado o devido processo de direito”, assinalou o desembargador. Segundo ele, “o rito do mandado de segurança é célere, por isso é mais prudente que se aguarde para deferir ou não a providência requerida no momento do julgamento do writ (mandado), quando a questão estará madura”. “Há prudências que são prudentes demais”, reagiu o advogado do Estado Manuel Alceu Affonso Ferreira. Na prática continua prevalecendo a censura – imposta ao Estadodesde 30de julho, quan-
REPERCUSSÃO
Como cientista político e historiador, como o senhor vê a decisão judicial que impede o Estado de publicar notícias sobre as investigações policiais que envolvem Fernando Sarney?
Na minha opinião, trata-se de um caso claro de censura. Espantosamente, esse tipo de ação, destinada a restringir a ação da imprensa, está se multiplicando pelo País. Entre outros casos, podemos citar o da Juliana Paes, atriz da TV Globo, que obteve uma decisão judicial impedindo o José Simão de citar o nome dela na sua coluna na Folha de S. Paulo, sob risco de pagar multa cada vez que o fizer. Antes tivemos a proibição da publicação do livro com a biografia de Roberto Carlos. Isso é censura. Não é uma censura truculenta, como a que se viu na ditadura do Estado Novo, quando o Estadão foi invadido e tomado, nem no regime militar, quando enviaram censores para a Redação, mas é censura. Apenas mais refinada.
senhor acha que isso compromete o sistema democrático?
Sim, se você considerar que informações estão sendo sonegadas ao leitor. Outra coisa a considerar é que a liberdade de imprensa no Brasil é muito frágil fora dos grandes centros, como São Paulo e Rio. No Maranhão, a família Sarney controla boa parte dos meios de comunicação. Aliás, o presidente do Senado parece padecer do vício da censura. Em 2006,durante as eleições para o Senado, no Amapá, ele censurou até a internet quando percebeu que a sua concorrente, uma vereadora (Maria Cristina Almeida, do PSB), ameaçava derrotálo. Ele não podia fazer o que fez. Acho inacreditável presenciarmos essas coisas. Acho terrível o Poder Judiciário ainda não ter se manifestado para suspender a decisão de censurar o jornal, principalmente se considerarmos o fato de que foi dada por um desembargador próximo da família Sarney. Aliás, isso tam-
bém não constitui novidade para o presidente do Senado. Veja-se o caso da cassação do governador Jackson Lago (PDT), ocorrida nesse ano. A presidente do Tribunal Regional Eleitoral (desembargadora Nelma Celeste Sarney Costa), responsável pela cassação, é cunhada do senador, casada com o irmão dele. Tudo indica que, da imprensa ao Judiciário, ele tem poder para pressionar os opositores, impor a censura, barbarizar.
“O baixo nível de alguns parlamentares da Câmara Alta não só entristece, como preocupa a Nação”
Antônio Corrêa de Lacerda Economista “Embora decisão judicial se cumpra, eu vejo qualquer tipo de censura ou restrição à liberdade de expressão como algo abominável”
O senhor acha a decisão de impor a censura ao jornal neste caso pode ser um precedente, autorizar novos ataques à liberdade de imprensa?
Sem dúvida. Ela abre um precedente perigoso, às vésperas de um ano eleitoral. Nesse ritmo, qualquer candidato interessado em barrar informações que considere prejudiciais à sua imagem poderá entrar na Justiça e ganhar. ●
Fábio Wanderley Reis Cientista político
“Não sou sou favorável a nenhum tipo de censura, desde que sejam considerados os aspectos jurídicos legítimos que podem estar associados a essa decisão”
D14 CADERNO 2
SEXTA-FEIRA, 14 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Ignácio de Loyola Brandão
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segunda-feira MATTHEW SHIRTS
terça-feira ARNALDO JABOR
quarta-feira ROBERTO DAMATTA
quinta-feira LUIS FERNANDO VERISSIMO
sexta-feira IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
sábado MARCELO RUBENS PAIVA
domingo VERISSIMO
MILTON HATOUM
ADRIANA FALCÃO
LÚCIA GUIMARÃES
JOÃO UBALDO RIBEIRO DANIEL PIZA
MachadodeAssis decostasparaSarney Quase fiquei cego no começo da semana. Ao terminar uma pesquisa, já com o auxílio de uma lupa,meusolhosardiam.Procurei, procurei e não encontrei o que desejava, o nome de José Sarney. Durante horas, foi necessária muita atenção para seguir um imenso texto linha a linha. Precisei de uma régua para não me perder. Curvado sobre a mesa, busquei o nome de José Sarney e não está ali. Na segunda-feira, tive uma, digamos, inspiração, levantei-me às 5horase fuipara aminha biblioteca. Vocês já acordaram cedo e foram para a mesa, contemplando o dia nascer na cidade? Experimentem, como dizia aquele anúncio de cerveja. Decidi buscar nos meus arquivos o material que tenho, graçasaAnaMariaMartins,docemulher,organizadíssima,daqueles dias de janeiro de 1977. Momento importante na história do Brasil, quando 1.046 intelectuais de todos os calibres, de todos os setores artísticos, de todasasuniversidades,revoltados, saturados, deram um grito eredigiramomanifestoquepercorreu o País de Manaus a Passo Fundocolhendo assinaturas.
Não havia ainda internet, nem essa facilidade de comunicação. Foi por telefone, fax, cartas,telegramas. Comoum rastilho de pólvora aceso, a indignação moveu as pessoas contra a censura. Em plena ditadura, ergueu-se o grito contra a censura que os militares, por meio de Armando Falcão, que nunca tinha nada a comentar, impunha aoBrasil.Aquelehomem,ministrodeumasupostaJustiça,assinava decretos a torto e a direito proibindo livros, filmes, canções, peças teatrais. O que passasse pela frente Falcão vetava. Em novembro de 1976, três livrosforamproibidos numacanetada só: Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca, Aracelli, Meu Amor, de José Louzeiro, e o meu Zero. Pá-pum! Recolhamse essas obras atentatórias à moral e aos bons costumes, dizia o decreto que nos recolheu. Odocumento contrárioàcensura foi levado a Brasília, o ministro da suposta Justiça se recusou a receber a comissão, mandou um preposto. Mas o grito tinha sido dado, a revolta iniciada. De alguma forma, ainda demorou um tempo, dois anos, até que a censura abrandasse.
CARLINHOS
Um trecho do manifesto dizia: “Nós, para quem a liberdade de expressão é essencial, não podemos ser continuadamente silenciados.” E outro: “Recusamo-nos a abdicar de
nossa identidade nacional e da nossaprópriamemória,repelindo a convivência com a passividade, a apatia, o falso registro de nossa realidade. É necessárioarevogaçãode atoscomefeito de caráter punitivo da atividade intelectual. Os destinos de
um País não são apenas determinados pelos seus governantes. É preciso consultar constantemente o povo, permitir que, em seu nome, seus artistas possam se expressar.” Oque eu procurava entrenomes de primeira grandeza? Que passavam por Antonio Candido, Gilda de Mello Souza, Jorge Amado, Sérgio Buarque de Holanda, Ivan Cavalcanti Proença, Josué Guimarães, João Ubaldo Ribeiro, Orígenes Lessa, Cícero Sandroni (atual presidente da ABL), Rubem Braga, Clarice Lispector, Murilo Rubião, Rui Mourão, Luis Martins e assim, nesse nível, outras 1.032 pessoas. Percorri as oito colunas de uma página compacta do Jornal do Brasil do dia 26 de janeiro de 1977, que estampou todas as assinaturas em um tipo miudíssimo, para poder caber. Foram horas de paciência em que minha vista lacrimejou, doeu. Não encontrei entre os intelectuais a assinatura do escritor José Sarney. Ele não se revoltou contra a censura, porque estava ligado ao poder. Esse homem que foi recebido na Academia Brasileira de Letras
no lugar de José Américo não soube ter a atitude exemplar de seu antecessor. Consultem a história, vejam quem foi José Américo. Foi até ironia sucedêlo. Agora, quando O Estado de S. Paulo é censurado para proteger um filho de Sarney, o presidente do Senado apoia a censura, a proibição, o veto, o ato espúrio que cancela a liberdade de expressão. Fui lá atrás ver se ele, como escritor, chegou a defender essa liberdade. Não, não defendeu num momento em que os que estavam ameaçados se levantaram. A censura sempre foi o braço direito do poder ditatorial, do totalitarismo de esquerda ou direita. Escrevo esta crônica porque sei o que é ser censurado, ter os braços quebrados, ser amputado, ter a boca amordaçada. Essa liberdade não interessa ao presidente do Senado, que tem vários livros publicados e uma cadeira na casa de Machado de Assis. Ele, como legislador e intelectual,deveriadefendera democracia, a livre expressão. Acho que quando ele chega para a sessão da ABL, a estátua de Machado dá-lhe as costas, para não sentir vergonha. ●
Literatura Evento:
Euclides da Cunha em discussão
REPRODUÇÃO
EMBLOG,ASNOTÍCIAS MAISINTERESSANTES DE100ANOSATRÁS SEÇÃOFIXA::Nodomingo,o sitewww.
Legado do escritor é tema de debate que acontece hoje no auditório do Estado Ubiratan Brasil
A herança cultural do escritor e jornalista Euclides da Cunha (1866-1909), cujo centenário de morte é lembrado neste ano, está no centro do colóquio Euclides da Cunha 360º – A Obra e o Legado de um Intérprete do Brasil, queacontece hoje,noauditório do Estado. Das 14 h às 20 horas, sete acadêmicos, um ficcionista e um dramaturgo vão discutir a perenidade da obra do autor de Os Sertões, em mais uma etapa de O Ano de Euclides, projeto jornalístico, cultural e multimídia do Grupo Estado, iniciado em março, em homenagem ao escritor, que morreu a 15 de agosto de 1909. Como os ingressos estão esgotados, o evento poderá ser acompanhado ao vivo pela TV Estadão – e os internautas terão a chance de enviar questões aos debatedores. Publicado em 1902, Os Sertões nasceu da cobertura jornalística de um dos conflitos mais sangrentos da história brasileira: a ação vitoriosa do exército contra revoltosos instalados na cidade baiana de Canudos. Euclides viajou para o local em 1897, a convite de Julio Mesquita, então diretor do Estado. É esse trabalho que inspira o primeiro debate do colóquio, Ciclo dos Sertões. Professora de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP, Walnice Nogueira Galvão falará sobre a primeira parte de Os Sertões (A Terra) e também a respeito da última (A Luta), além de traçar considerações sobre a escritura do livro. Em seguida, Luiz Costa Lima,professortitulardeliteratura da PUC-RJ, vai detalhar as
concepções do polonês Ludwig Gumplowicz (1838-1909), cujo trabalho influenciou Euclides, queoacreditava“maior queHobbes”,como consta na nota preliminar de Os Sertões. O primeiro debate se encerra com Lilia Moritz Schwarcz, professora do Departamento de Antropologia da USP, discutindoem detalhea segundaparte de Os Sertões, “O Homem”, motivo de crítica desde a primeira edição da obra. “O ataque dirige-se ao suposto ‘erro’ de Euclides ao se apoiar na bibliografialegada pelo darwinismo social, o qual condenava o cruzamento de raças e via nele um sinal forte de degeneração”, comenta Lilia. A mediação será do editor do caderno Cultura Rinaldo Gama.
INTERNAUTA PODE ENVIAR QUESTÕES EM TEMPO REAL PELO PORTAL ESTADÃO A segunda parte do colóquio tratará do Ciclo da Amazônia, ouseja,a expediçãoempreendida por Euclides ao norte do País, que resultou em sua obra póstuma À Margem da História. Ali estão ensaios como Os Caucheros e Judas-Asvero, que revelamoolhoagudodeEuclidespara as disparidades sociais, a iniquidade econômica e a injustiça em geral. Sobreo assunto,vão debater o escritor e colunista do Caderno 2 Milton Hatoum, o professor titular do Programa de Teoria e História Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp Francisco Foot
O AUTOR – Sua obra ainda oferece contribuições nos campos literário, geográfico, científico e político
o Ano Euclides no ‘Estado’ ●● MARÇO: o repórter Daniel Piza
e o fotógrafo Tiago Queiroz reconstituem a expedição chefiada em 1905 por Euclides da Cunha ao longo do rio Purus, no Acre. A viagem é acompanhada em boletins pela Rádio Eldorado, notícias em tempo real no portal estadao.com.br e matérias publicadas pelo Estado, reunidas depois em um caderno especial lançado em abril. As imagens transformam-se no vídeo Um Paraíso Perdido, de Felipe Machado, disponível no Portal Estadão. ●● ABRIL: o caderno Cultura inau-
gura a seção “Euclides no Estado”, com reprodução de trechos de artigos do escritor para o jornal, comentados pela professora Walnice Nogueira Galvão.
●● JULHO: a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, inclui a mesa-redonda O Mar e os Sertões, promovida pelo Estado, com os os críticos literários Walnice Nogueira Galvão e Francisco Foot Hardman, além do escritor amazonense Milton Hatoum e de Daniel Piza. ●● HOJE: realização do debate Eu-
clides da Cunha 360º – A Obra e o Legado de um Intérprete do Brasil, no auditório do Estado, transmitido ao vivo pelo Portal Estadão, que passa a disponibilizar uma página especial sobre a vida e a obra do escritor. ●● 23 DE AGOSTO: edição especial do caderno Cultura com a cobertura completa do debate.
Hardman, e a socióloga e pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/FiocruzNísiaLima.AmediaçãoseráfeitapeloeditorexecutivoecolunistadoEstadoDaniel Piza. O terceiro e último debate terá como tema Os Ciclos de Euclides, ou seja, a influência que a obra do escritor ainda exerce sobre as diversas formas de arte. Esse será o viés da apresentação de Leopoldo Bernucci, professor de literatura latino-americana da Universidade da Califórnia (EUA), e de José Leonardo do Nascimento, professor do Instituto de Artes da Unesp, que irão se deter nas biografias e nas repercussões críticas do trabalho de Euclides da Cunha. “Asleituras daobraeuclidiana modificaram-se no curso dos cem anos da presença de Euclides na história cultural brasileira”,comentaNascimen-
estadao.com.br estreia um novo blog, O Estado de S. Paulo 100 Anos Atrás, que, como diz o título, vai oferecer diariamente aos internautas uma seleção do que foi publicado no jornal há exatamente um século. A data da inauguração do blog coincide com a efeméride de 100 anos da morte do escritor e engenheiro Euclides da Cunha, personalidade ilustre dentro da história do ‘Estado’ – a notícia de seu assassinato, em 15 de agosto de 1909, foi publicada no dia seguinte. O blog, uma seção agora fixa do site, é uma ampliação para a mídia eletrônica da coluna diária intitulada Há Um Século, publicada na página 2 do caderno Cidades/Metrópole do ‘Estado’. Projeto realizado pela equipe do Arquivo/Centro de Documentação e Informação do Grupo Estado, o blog, feito em parceria com o setor de conteúdos digitais do grupo, será alimentado todos os dias com as mais interessantes notícias, curiosidades, notas, exemplos de anúncios e fotografias de um século atrás selecionadas pela historiadora Regina Mara Teles. Além dos conteúdos, que seguirão as regras de ortografia do período, o internauta poderá também ver um facsímile da primeira página do ‘Estado’ da época.
to. “Princípios analíticos essenciais permaneciam, porém, sob a superfície dessas modificações. Permaneceu, por exemplo, a concepção que a literatura euclidiana é um tecido composto de arte, ciência (ou pretensão cientifica) e observação histórica. Manteve-se, ainda, como princípio unificador da sua fortuna crítica, uma perspectiva estética segundo a qual osobjetosartísticosrepresentariam ou expressariam realidades que lhes seriam exteriores”, explica ele. O encontro terminará com a apresentação do ator, diretor e fundador do Teatro Oficina José Celso Martinez Corrêa, que adaptou Os Sertões para o teatro. A mediação do terceiro debate será de Laura Greenhalgh, editora executiva do Estado. ●
� Edição de
0h15
o estado de s. paulo SĂ BADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
15 de agosto de 2009 --ANO 130. NÂş 42305
MutirĂŁo solta 4,7 mil presos irregulares
TATUZĂƒO: LUZ NO FIM DO TĂšNEL
Dos processos avaliados pelo CNJ, 17% tinham alguma irregularidade, como falta de julgamento O mutirĂŁo que o Conselho Nacional de Justiça promove hĂĄ umanono PaĂsresultou atĂŠagora na liberação de 4.781 pessoas que nĂŁo deviam estar presas, quer por jĂĄ terem cumprido pena,querporteremdireito Ă progressĂŁo de regime ou por nem sequer terem sido processa-
das. O nĂşmero equivale a 17,3% dos processos avaliados em 13 Estados. Dos liberados, 310 eram menores de idade. Num dos casos, um lavrador no EspĂrito Santo ficou 11 anos preso sem ter sido julgado. O juiz responsĂĄvelpela execuçãoresponderĂĄ a processo. â—? PĂ GS. C1 e C3
PAULO LIEBERT/AE
Na Bahia, prĂĄtica da ditadura
â—?â—?â—? O ‘tatuzĂŁo’, que abriu os tĂşneis da Linha 4 do MetrĂ´, concluiu ontem a escavação, apĂłs mais de 2 anos, avançando 20 metros por dia. â—? PĂ G. C6
��� A Defensoria Pública da Bahia descobriu uma pråtica policial que remonta aos tempos da ditadura: a prisão para averiguação. Policiais prendem quem consideram
LISA ACKERMAN/DIVULGAĂ‡ĂƒO
Sarney sabia dos atos secretos, diz ex-diretor Ralph Siqueira afirma que em maio avisou senador sobre os boletins Ralph Siqueira, ex-diretor de Recursos Humanos do Senado, disse que o presidente da Casa, JosĂŠ Sarney (PMDBAP), foi informado no fim de maio sobre a existĂŞncia de atos secretos. AlĂŠm disso, segundo
Siqueira, Sarney tambÊm sabia que esses atos haviam sido discretamente publicados, naquele mês, na rede administrativa do Senado. As declaraçþes contradizem Sarney, que havia subido à tribuna, em 16 de
junho, para dizer que nĂŁo sabia o que era um ato secreto. “Ele sabiaâ€?, disse Siqueira ao Estado. Segundo o ex-diretor, Sarney teria atĂŠ confirmado que anularia um desses atos, referente ao reajuste de salĂĄrio dos
chefesdegabinetes desecretarias. Siqueira disse ter avisado todos os seus superiores sobre osatoseque estĂĄsendoresponsabilizado sozinho. “Estou sendo penalizado por ter revelado, nĂŁo por ter omitido.â€? â—? PĂ G. A4
CADERNO 2 Obamarecomenda
Terras Baixas, livro de Joseph O’Neill lido pelo presidente,sai no Brasil. �
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suspeitos, mas não comunicam, como obriga a lei, o MinistÊrio Público, a Defensoria e a Justiça. Eles ficam presos sem processo e sem chance de defesa. � Pà G. C3
Lucro da PetrobrĂĄs tem queda de 20% no 1Âş semestre APetrobrĂĄsanunciouontemlucro lĂquido de R$ 7,734 bilhĂľes no segundo trimestre de 2009, valor20% menorque oregistrado no mesmo perĂodo de 2008. No semestre, o lucro acumula R$ 13,550 bilhĂľes, tambĂŠm com queda de 20% na mesma base de comparação. Apesar da redução, atribuĂda Ă cotação menor do petrĂłleo no mundo, o desempenhosuperouasexpectativas do mercado. â—? PĂ G. B1
SĂŠrgio Augusto
MarcoAurĂŠliocritica censuraao‘Estado’
A arte de pensar
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�� Deputados vão investigar denúncias de corrupção no governo. � Pà G. A11
ceio da liberdade de expressão�, afirmou. � Pà G. A6
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NOTAS E INFORMAÇÕES
DEBATE NO ‘ESTADO’
A ameaça que Lula incentiva Ao endossar as polĂticas de ChĂĄvez, Lula desnuda a hipocrisia das suas apregoadas convicçþes democrĂĄticas. A tragĂŠdia ĂŠ que sĂł o Brasil tem condiçþes para frear as aventuras totalitĂĄrias chavistas. â—? PĂ G. A3
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legado de Euclides da Cunha foi discutido ontem, numa sĂŠrie de debates. No centro, Os SertĂľes, sua obra clĂĄssica. â—? PĂ G. A26
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â—?â—?â—? NOVA DECISĂƒO
Dåcio Vieira anunciou que se consideraaptoparajulgarocaso, apesar de ter relaçþes com os Sarneys. Com isso, o jornal continua sob censura. � Pà G. A6
Rio Grande do Sul
Assembleia abre CPI contra Yeda
Juiz do STF defende direito de noticiar O ministro do STF Marco AurĂŠlioMellodissequejamaisdecretaria censura ao Estado, comofezodesembargadorDĂĄcio Vieira a pedido da famĂlia Sarney. “Combata-se o vazamento (de conversas telefĂ´nicas),massemse chegarao cer-
Palestras e dois livros celebramos30anosdaArtepensamento. â—? PĂ G. D9
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SĂŁo Paulo ultrapassa 11 milhĂľes de habitantes Com os 47.344 moradores que ganhou em 2008, a cidade chegou aos 11.037.593 habitantes, informou ontem o IBGE. A população do PaĂs ĂŠ de 191.480.630 pessoas, cerca de 2 milhĂľes a mais do que na es-
timativa de 2008. Do total, 40,4% vivem em apenas trĂŞs Estados: SĂŁo Paulo, Rio e Minas Gerais. Nesse ritmo, o Brasil passarĂĄ dos 200 milhĂľes de habitantes no primeiro semestre de 2014. â—? PĂ G. C8
Anvisa proĂbe propaganda de antigripais e analgĂŠsicos
Igreja tem rede de firmas suspeitas
A Anvisa suspendeu ontem no Brasil a propaganda de antigripais, analgĂŠsicos e antitĂŠrmicos em todos os meios de comunicação. O objetivo ĂŠ evitar o uso indiscriminado de remĂŠdiosquepodemmascararossintomas da gripe suĂna. â—? PĂ G. A24
Empresas usariam laranjas, segundo a Fazenda de SĂŁo Paulo. â—? PĂ G. A25
Tempo: CAPITAL
Caso Universal
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Papo de bicho â—?â—? Especialistas explicam como os animais secomunicam. â—?
27Âş MĂ X.
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10Âş MĂ?N.
Massa de ar seco deixa o tempo firme no Estado.
Hoje: 128 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 32 â—? B. Economia: 22 â—? C. MetrĂłpole: 8 â—? D. Caderno2: 16 â—? E. Esportes: 4 â—? Es. Estadinho: 8 â—? Ca. Autos: 24 â—? Ci. ImĂłveis: 14 (3.476 anĂşncios)
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SÁBADO, 15 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL
Assembleia gaúcha abre CPI contra Yeda Crusius Nas ruas de Porto Alegre, 2,5 mil pedem punição a tucana e 150 saem em sua defesa q PÁG.A11
ESTADO SOB CENSURA
Sarney foi avisado em maio de atos secretos, afirma ex-diretor Ralph Siqueira desmente presidente do Senado, que foi à tribuna em junho dizer que desconhecia os boletins SERGIO DUTTI/AE
ENTREVISTA
Leandro Colon BRASÍLIA
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi informado no fimde maioda existênciadeatossecretosedapublicação às escondidas, ocorrida naquele mês, de todos esses boletins na rede interna da Casa. É o que afirma Ralph Siqueira, exdiretor de Recursos Humanos do Senado, apontado como responsável pela inserção das medidas, de maneira oculta, no Boletim de Administração de Pessoal (BAP), sistema que divulga essas informações. Da tribuna, depois da reportagem do Estado em junho que revelou a existência desses boletins, Sarney disse que não sabia o que era umatosecreto. “Ele sabia”, sustenta Ralph Siqueira. EmentrevistaontemaoEstado, Siqueira se defendeu das acusações de que tentou legalizar, de forma encoberta, cerca demilatossecretos–os511identificados em junho e os novos 468 descobertos pela primeirasecretaria na quarta-feira. Todos seus superiores, segundo Siqueira, foram avisados–odiretor-geral,oprimeirosecretário“eopresidentedaCasa”.“Não houve sabotagem. Estou sendo penalizado por ter revelado, não por ter omitido”, reclama. À reportagem, ele relatou, em entrevista gravada, um encontro com Sarney entre 28 e 29 de maio, logo depois da nomeação de uma comissão para investigaressesatos.Nodespacho, segundo Siqueira, Sarney foi informado da existência de atos secretos e da inserção dos dadosnosistema.“Aopresidente Sarney, comuniquei que havia sido nomeada essa comissão da qual eu participava e que havia indícios de omissão deliberada. Era meu dever falar ao presidente o que já tinha falado ao diretor-geral. Nesse despacho, eu disse que esses atos tinham sido disponibilizados na rede. Ele sabia.” Sarney, segundo Ralph Siqueira, teria até confirmado queanulariaum desses atos,referente ao reajuste de salário doschefes degabinete desecretarias. “Ele (Sarney) disse que
Ralph Siqueira:
ex-diretor do Senado
‘Era dever falar ao presidente o que tinha falado ao diretor-geral’ Em entrevista ao Estado, o ex-diretor de Recursos Humanos do Senado Ralph Siqueira nega ter inserido secretamente os atos secretos no sistema de publicação do Senado. E confirma ter informado o presidente José Sarney: “Era meu dever falar ao presidente o que já tinha falado ao diretor-geral.”
VERSÃO – Sarney, segundo Siqueira, teria até confirmado que anularia um dos atos, referente a reajuste de salário dos chefes de gabinete
iria providenciar a anulação desse ato.” O despacho entre Siqueira e Sarney ocorreu, portanto, antes da publicação da reportagem do Estado no dia 10 de junhoquerevelouaprática deedição de atos secretos no Senado. Seisdiasdepois,datribuna,Sar-
Despacho entre os dois ocorreu antes da revelação do caso pelo ‘Estado’ ney afirmou aos senadores que não sabia o que era ato secreto. Naquele período, pelo que relata Siqueira, o senador já tinha conhecimento havia mais de 15 dias de que o Senado estava não
sóinvestigandooassunto,como também que os boletins haviam sido publicados às escondidas. A revelação dos atos secretos pôs Sarney no centro da crise do Senado. Parentes e aliados do presidente da Casa forambeneficiadosporessesboletins, cuja existência, depois do escândalo, ele passou a negar. Siqueira assumiu a diretoria da Secretaria de Recursos Humanos em março, logo após a queda de João Carlos Zoghbi. Foi exonerado por Sarney no dia 23 de junho, em meio ao escândalo dos atos secretos. A participação de Siqueira na revelação desses boletins começou em abril. No começo daquele mês, ele ordenou ao servidor Franklin Paes Landim que publicasse os boletins secretos. Em sua ver-
são, Siqueira diz que não sabia na ocasião do caráter sigiloso desses documentos. Avaliava, diz, que apenas uma “meia dúzia” de atos não haviasidodisponibilizadana rede do Senado. “Eu não sabia que não tinham sido publicados. Achei que, por algum erro técnico, não tivessem sido disponibilizados”, diz. “Seeu tivesse imaginado que seriam tantos boletins, não teria feito isso.” Em um encontro, ainda em abril, o primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), teria, segundoSiqueira,alertadopara a possibilidade da existência de atos secretos. “Ele me disse: ‘estou ouvindo falar em atos secretos e gostaria que você checasse para eu ver o que é isso aí’. Aí eu comeceia observaronúmero de atos que estavam sendo coloca-
dos.” Oex-diretor afirmaque somente no fim de maio foi avisado de que 600 atos haviam sido inseridos. O nome de Ralph Siqueira veio à tona na quinta-feira, quando Heráclito afirmou que 468 novos atos secretos teriam sido colocados recentemente na rede interna do Senado. O senador classificou a atitude de “sabotagem” e insinuou que o grupo do ex-diretor Agaciel Maia estaria por trás disso. Ao Estado, Siqueira diz que essa nova leva entrou na rede entre abril e maio. E ele negou relação com Agaciel. Procurada na noite de ontem – por e-mail e telefone –, a assessoria de Sarney não respondeu à reportagem até ofechamento desta edição. ●
Oposição vê ofensiva para amordaçar Casa Blog corporativo para rebater notícias contra o Senado é uma das medidas de novo secretário Eugênia Lopes BRASÍLIA
Depois da Petrobrás e do Palácio do Planalto, o Senado agora também vai lançar um blog corporativo para rebater as notícias publicadas contra a Casa. A medida é uma das primeiras providências adotadas pelo novo secretário de Comunicação, Fernando Cesar Mesquita, que assumiu o cargo esta semana com a incumbência de controlaroconteúdodivulgadopelatelevisão, pelo rádio e pela AgênciaSenado.Paraalgunssenadores, a Casa está vivendo um clima de “despotismo” – eles citam como exemplos a restrição às visitas, sob pretexto de evitar a proliferação da gripe suína, e a ação da Polícia do Senado contra manifestantes. Na avaliação de adversários do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o blog po-
derá se transformar em mais uma das medidas para amordaçar a Casa. É o caso, por exemplo, da proibição de visitas às dependências do Senado, da criação de um cordão de isolamento por onde Sarney passa e da prisão pela Polícia Legislativadeestudantes queforam protestar nas contra o parlamentar. “Essas restrições são uma formaque Sarney encontrou de sobreviver às pressões para se afastar do cargo”, resumiu ontem o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). O novo blog do Senado vai centralizar todas as informações institucionais sobre a Casa. “Vamos fazer um blog do Senado onde serão respondidas quaisquer notícias sobre a Casa. Vai ser um blog de informação”,afirmou Mesquita.Segundo ele, o blog deverá estar no ar daqui a 15 dias. A ideia é reunir as informações administrati-
vas, gerenciais e financeiras da diretoria-geral e da primeirasecretaria da Casa. Há cerca de dois meses, no auge das denúncias contra a Petrobrás, a estatal criou um blog corporativo para responder a qualquer solicitaçãoda imprensa antesquea reportagem fosse publicada. ‘TOTAL ISENÇÃO’
Mesquitarefutaquetenhaassumido o posto com a missão de censurar notícias. “Não permitirei censura. Nosso critério é o da total isenção”, afirmou. Ele garantiu que não existe nenhumarestriçãoaotrabalhodosjornalistas e ao conteúdo veiculado pelos meios de comunicação do Senado. “Nossa prioridade nacoberturasemprefoi primeiro o plenário e depois as comissões”, disse, frisando que os jornalistas do Senado não costumam escrever sobre “conversas de corredor e de bastidor”.
AS MEDIDAS As decisões que foram tomadas pelo presidente José Sarney (PMDB-AP) para tentar censurar e controlar as pressões pela sua saída do comando do Senado ● Criação de um cordão de isolamento com pontaletes, por onde Sarney entra e sai do plenário do Senado, evitando que a imprensa se aproxime dele ● Usando o argumento da epidemia de gripe suína, as visitas ao Senado foram proibidas ● Prisão pela polícia
do Senado, por cerca de três horas, de nove estudantes que conse-
guiram entrar na Casa com cartazes de “Fora Sarney” ● O site do Senado ficou funcionando precariamente durante uma semana, impossibilitando o acesso a dados da Casa ● Nomeação de Fernando Cesar Mesquita, ex-ministro de Sarney, para assumir a Secretaria de Comunicação do Senado e ter controle total do conteúdo divulgado pela TV, agência e rádio da Casa ● Reforço na segurança do Senado com a contratação de 239 agentes terceirizados
O que foi comunicado ao presidente da Casa, José Sarney? Logo no início, fui e falei com ele, entre 28 e 29 maio. De vez em quando, despachava com ele. Comuniquei que havia sido nomeada essa comissão da qual eu participava e que havia indícios de omissão deliberada. Era meu dever falar ao presidente o que já tinha falado ao diretor-geral. Ele disse para investigar tudo. O primeiro-secretário já sabia de um ato que elevava a remuneração dos chefes de gabinete administrativos. E comuniquei isso ao presidente. Ele disse que iria providenciar a anulação desse ato. O sr. o avisou da publicação? Nesse despacho, eu disse que esses atos tinham sido disponibilizados na rede. Ele sabia. Essa sua iniciativa de publicar os atos não parece uma forma de tentar legalizá-los, escondê-los? Não sabia que eram secretos. Hoje é muito fácil chegar a essa conclusão. Se pudesse voltar no tempo, não faria dessa forma, não sabia o que iria desencadear. Achei que era meia dúzia de probleminhas. Achei que, por algum erro técnico, não estivessem disponibilizados. Não teme ser punido por isso? Estou sendo penalizado por ter revelado, não por ter omitido ou feito algo. A minha intenção era dar acesso aos destinatários. ● L.C.
Na avaliação do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), a iniciativadoblogélouvável,desde que sirva só para veicular ações do Senado. “Sea intenção do blog for divulgar o trabalho da Casa, ótimo. Mas, se for para escamotear, aí é inadmissível.” “Nada mais justo do que o Senado ter um blog com informações reais e não só com a versão da imprensa. É um local onde vai se ter informação vista pelo lado do Senado, não só pelo lado dos jornais”, afirmou Wellington Salgado (PMDB-MG). Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), as medidas adotadas nos últimos dias pelo presidente Sarney para tentar barrar as pressões por suasaída docargo beiramodespotismo. “Se falou tanto no nepotismo, mas estamos caindo no despotismo”, disse. Cristovam ficou particularmente surpreso com a atitude da segurança do Senado, que anteontem prendeu por mais de três horas nove estudantes queforamprotestarcontra Sarney no salão azul. ● † Mais informações na página A6
A6 NACIONAL
SÁBADO, 15 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
ESTADO SOB CENSURA
‘Vazamento é antecedente, não é erro do jornal’, diz Marco Aurélio Para especialistas, convívio social com Sarney deveria impedir desembargador de dar sentença em favor do filho Fausto Macedo
O ministro Marco Aurélio Mello,doSupremo TribunalFederal (STF), disse que jamais decretaria censura ao Estado ou a qualquer outro meio de comunicação. “Combata-se o vazamento, mas sem se chegar ao cerceio da liberdade de expressão e de veicular notícias.” O desembargador Dácio Vieira impôs censura ao Estado. Proibiu o jornal de publicar reportagens sobre Fernando, filho do presidentedoSenado,JoséSarney (PMDB-AP). O Estado ingressou com exceção de suspeiçãodeVieira,quenãoareconheceu. “O erro (pelo vazamento) é antecedente, não é do jornal em si”, avalia Marco Aurélio. “O erro está lá na origem, quando houve a quebra do sigilo. Em última análise, dados sigolosos quecaemnodomíniodaimprensa deixam de ser sigilosos.”
Para promotor, suspeição fica clara quando se convive com uma das partes O ministro considera que quando a informação chega a um órgão de imprensa “o sigilo já se faz afastado e o veículo não estáimpedidodedivulgaraquele tema”. “Eu não concebo que a censurapossadecorrerdoJudiciário.Podehavera responsabilização de quem publicou, a nível civil e penal. A censura é in-
concebível nessa quadra de democracia que imagino plena.” Ao falar sobre o tema suspeição, o ministro advertiu. “Não se agradece com a toga. A toga não é um meio para contraprestação,no ofício judicante não há troco.Ahonrada indicaçãotem queser alvo de reconhecimento antes de o juiz assumir o cargo, oagradecimentodevesedarantes da posse.” Eleasseveraque“ojulgamento é uma missão sublime”. “O juiz tem que atuar com absoluta equidistância. O tratamento igualitário é o predicado maior daquele que personifica o Estado-juiz. Lidamos no processo com algo que não é nosso.” Oministroconsideraqueofato de o desembargador Dácio Vieira se deixar fotografar ao lado de Sarney pode não caracterizar suspeição. “Para mim não caracteriza. Não presumo que ali estaria revelada uma ligação íntima. A leitura do leigo éterrível.Quantase quantasvezes sou fotografado com pessoas diversas. Não posso, como homem público, recusar o pedido de uma foto. Isso não gera a certeza de que o magistrado não teria equidistância para atuar em uma causa.” MarcoAurélio destaca que já se havia manifestado sobre suspeição quando da nomeação dos ministros Joaquim Barbosa, Cézar Peluso e Carlos Ayres Brito – todos chegaram à corte máxima do Judiciário por escolha de Lula. Na ocasião, ele se recorda, surgiram rumores de que o STF não mais teria inde-
ANDRE DUSEK/AE – 10/6/2009
FRASES
Marco Aurélio Mello Ministro do STF “A toga não é um meio para contraprestação, no ofício judicante não há troco. A honra da indicação tem que ser alvo de reconhecimento antes de o juiz assumir o cargo, o agradecimento deve se dar antes da posse” “O juiz tem que atuar com absoluta equidistância. O tratamento igualitário é o predicado maior daquele que personifica o Estado-juiz. Lidamos no processo com algo que não é nosso” “Quantas e quantas vezes sou fotografado com pessoas diversas. Não posso, como homem público, recusar o pedido de uma foto. Isso não gera a certeza de que o magistrado não teria equidistância para atuar em uma causa” DEVER - ‘O homem público não deve ter nada a esconder’, diz ministro
pendência com relação a demandas de interesse do governo. “Em plenário eu disse que a autonomia do STF não corria riscos porque não se agradece indicação com a toga.” O ministro critica a cláusula do Código de Processo Civil que prevê suspeição. “A cláusula é polivalente, genérica. O magistrado tem que atuar no processocom transparência.Como es-
tá no código, o juiz pode fugir de qualquerprocessopelacomplexidade do conflito sem fundamentação. Jamais jurei suspeição. O homem público não deve ter nada a esconder, como também o juiz não deve.” Ele afirmou que “julga e decide com sua ciência e consciência”. “Meus colegas agem assim. Quando indicados os três ministros,disseram queelesjul-
gariam vinculados ao presidente. Eu disse: agradecimento não é com a toga, se agradece antes. Espera-se que o julgador sejahomem praticamenteungido. O tratamento igualitário às partes é obrigação.” Marco Aurélio disse que “não pode imaginar” que o desembargador “tenha decidido de forma tendenciosa”. “Não posso presumir o excepcional, REPRODUÇÃO
LAÇOS – o desembargador Dacio Vieira (à esq.) foi um dos convidados do casamento da filha de Agaciel Maia, em junho, em que Sarney foi um dos padrinhos dos noivos
Juiz se considera apto para julgar caso Decisão de Vieira será analisada pelo conselho do TJ Mariangela Gallucci BRASÍLIA
O Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, integrado pelos 18 desembargadores mais antigos, vai
analisar a decisão tomada ontem pelo desembargador Dácio Vieira. O desembargador concluiuqueécompetente parajulgar o processo no qual proibiu o Estado e o portal estadao.com. br de publicar reportagens so-
bre Fernando Sarney, filho do presidentedoSenado,JoséSarney, relativas à Operação Boi Barrica, iniciada em 2007 pela Polícia Federal. Não há previsão de quando o assuntoseráanalisadopelocon-
selho. Mas a próxima sessão do órgão ocorre na terça-feira. O conselho vai resolver se mantém ou não a decisão de Vieira de rejeitar um pedido dos advogados do jornal para que ele se declarasse suspeito de julgar o caso. O desembargador foi consultor jurídico do Senado. Ele convivesocialmentecomafamília Sarney e com o ex-diretor do Senado Agaciel Maia. Ele foi fotografado ao lado de Sarney na festa de casamento de Mayanna Maia, filha de Agaciel. LIMINAR
Vieira decidiu que é competente para analisar o caso um dia depois de Waldir Leôncio, outrodesembargador doTribu-
nal de Justiça do Distrito Federal, ter rejeitado pedido de liminarparaquefosse liberada a publicação de reportagem. No conselho, o relator
Próxima sessão do conselho será realizada na terça-feira dopedidodesuspeiçãodeDácio Vieira será Waldir Leôncio. O caso foi distribuído paraeleporqueLeôncioéorelator do mandado de segurança do jornal no qual é pedido o fim da censura. ●
o extravagante.” Para ele, Vieira deu ênfase maior ao sigilo. “No caso da quebra de sigilo temos que averiguar como ocorreu a violação e, evidentemente, punir aquele que tenha inobservado a lei. Agora, chegando notícia a um veículo de comunicação, seja qual for a notícia, esse veículo atua no âmbito da liberdade e dever de informar.” AMIZADE
O promotor José Carlos Cosenzo, presidente da Associação Nacional dos Ministérios Públicos, alerta que “a suspeição fica clara a partir do momento em que você convive com uma das partes,com ela tenhaamizade e dela receba favorecimento, é transcendente”. Cosenzo avalia que o desembargador teria que se dar por suspeito tão logo a ação de Fernando chegou às suas mãos. “Melhor que ele declinasse, antes que o tribunal reconheça a suspeição. Seria melhor para a Justiça, melhor para ele. O simples fato de ele ter esse relacionamento com Sarney já basta para caracterizar suspeição. Há ainda informações de que Sarney o teria auxiliado para chegar a desembargador pela via do quinto constitucional. Isso é manifesta suspeição.” O jurista Luiz Flávio Gomes disse que a suspeição se revela emváriashipóteses.“Bastaafoto e todos esses elementos somados que revelam amizade com a parte. Não há dúvida. O desembargador deveria ter se dado por suspeito.” ●
Atriz Juliana Paes também pediu censura e indenização O jornal Folha de S. Paulo também está às voltas com a censura. O juiz João Paulo Capanema de Souza, do 24º Juizado Especial Cível do Rio, determinou que o colunista José Simão não faça mais citações à atriz Juliana Paes, confundindo-a com a personagem “Maya”, da novela Caminho das Índias, da Rede Globo, sob pena de multa de R$ 10 mil por nota veiculada nos meios de comunicação. Juliana ingressou com duas ações de indenização, uma contra o jornal e outra contra Simão,sob alegaçãode que ocolunista “vem publicando reiteradamente nos meios de comunicação em que atua, sobretudo eletrônicos (internet), textos quetêm ultrapassado os limites da ficção experimentada pela personagem e repercutido sobre a honra e moral da atriz e mulher e sua família”. A atriz havia ingressado com ação contra o jornal perante a 4ª Vara Cível do Rio, mas não conseguiu liminar. O juiz Carlos Alfredo Flores da Cunha indeferiu o pedido. “Atriz famosa, a autora será alvo de comentários e críticas, isto é inevitável. Não é possível, de antemão distinguiroqueémerainformação, crítica jornalística, comentário irrelevante, ofensa, etc.” Capanema, por sua vez, considerou que o colunista ofendeu “amoraldamulherJulianaCouto Paes, seu marido, sua família”. A Folha pediu reconsideração. As advogadas Mônica Galvão e Taís Gasparian anotam queo jornalista “trabalha com o humor e limita-se a exercer regularmentea atividadecríticae de imprensa dos mais variados assuntosda atualidade, sempre nostermosdasgarantiasinsculpidas na Constituição”. Janete Carvalho, advogada de Juliana, disse que “não há censura”. Ela declarou que a atriz pediu extrajudicialmente aojornalque nãomais publicasse os textos. ●
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casa&
CULTURA
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empregos Mercado para contadores se amplia com questões ambientais. ●
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RUY MESQUITA
16 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42306
Entrevista com os vampiros
Feira de móveis em Bento Gonçalves promove criadores. ●
Lançamentos, que incluem livro infantil, reafirmam interesse pelo mestre russo. ●
(1891-1927)
tv&lazer
A aposta no design
Tolstói com fôlego renovado
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JULIO MESQUITA
Elenco de True Blood fala dos bastidores da série sobre jovens sugadores de sangue. ●
Empreiteira pagou 2 imóveis para a família Sarney em SP
Uma a cada três obras é reprovada pelo TCU
Negociação de apartamentos foi feita por firma de amigo dos filhos do senador
Dos 153 projetos de infraestruturado governofiscalizadospeloTCU noano passado,48apresentaramindícios deirregularidades graves – classificação querecomenda sua paralisação –, média de um a cada três. Parte das obras consta do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), peça-chave nas eleições de 2010, o que tem provocado críticas do presidente Lula. ● PÁGS. B1, B3 e B4
José Sarney (PMDB-AP). Seu foco de atuação hoje é o setor elétrico, área do governo federal na qual o senador exerce influência. Felipe Gauer, ex-dono de um dos apartamentos, disse que foi procurado para acertar a venda por José Adriano, neto de Sarney, mas quem fechou o
Doisdostrêsapartamentosusados pela família Sarney em prédio nos Jardins estão registrados em nome da empreiteira Aracati, que pagou por eles, revela o repórter Rodrigo Rangel.AempresapertenceaRogério Frota de Araújo, amigo dos filhos do presidente do Senado,
IMPRENSA
negócio foi a Aracati. “Percebi que, por alguma razão, não queriam que o sobrenome Sarney aparecesse.”Por meio deassessores, o deputado Zequinha Sarney (PV-MA) disse, sobre um dos imóveis pagos pela empresa: “Olha no meu Imposto de Renda.” ● PÁGS. A4 e A6
Senador soube de atos em maio ●●● O senador José Sarney admitiu ontem que soube em maio da existência dos atos secretos no Senado. A revelação contradiz
discurso feito por ele em 16 de junho e, para o líder do DEM, José Agripino Maia, caracteriza “quebra de decoro”. ● PÁG. A6
Atentado do Taleban mata 7 civis em Cabul
EMBALAGENS: O VIDRO ESTÁ DE VOLTA
Aos 30 anos, ANJ lamenta que ainda haja censura
Lourival Sant’Anna ENVIADO ESPECIAL A CABUL
A
A cinco dias das eleições presidenciais no Afeganistão, um atentado suicida do Taleban emfrenteao prédio da Otan deixou7civis mortos.Alvoera Embaixada dos EUA. ● PÁG. A18
Associação Nacional de Jornais (ANJ) completa 30 anos amanhã preocupada com os casos de imposição de censura à imprensa. “Pode parecer que afeta apenas um jornal, mas na verdade afeta a imprensa e prejudica a sociedade”, afirma Judith Brito, presidente da ANJ, citando a censura ao Estado. ● PÁG. A10
O fator Marina ●● Para economista, a senadora do Acre inspira o “ecodesenvolvimentismo”. ● MARCIO FERNANDES/AE
“O jornal deixaria de cumprir sua função pública se esperasse o julgamento de fato” José Arthur Gianotti
ALIÁS
Filósofo
Justiça
Planos de saúde pagam danos morais ●●● Fábrica de vidro em São Paulo: mercado cresce em meio às discussões sobre os males das embalagens de plástico para a saúde. ● PÁG. B9
● PÁG. A11
Na América Latina, onda contra a mídia
Estradas
ESPORTES
SÃO PAULO
Palmeiras empata a 3ª seguida
As novas mesas mais cobiçadas
●● Líderes de esquerda
adotam políticas contra a imprensa livre. ● PÁG. A22
●● Equipe fica só no 1 a 1 com o Botafogo e vê vantagem sobre o Inter, que tem 2 jogos a menos, cair para 4 pontos. Hoje o
●● Decisões têm obrigado os planos a pagar mais do que o tratamento. ● PÁG. A24
São Paulo enfrenta o lanterna Sport. O Corinthians pega o Atlético-MG e o Santos encara o Cruzeiro. ● PÁGS. E1 a E3
Acidentefere30 e mata1 naImigrantes Colisão entre 14 veículos foi provocada pela neblina, na manhã de ontem. ● PÁG. C7
●●
NOTAS E INFORMAÇÕES
Exibe-se o quinto poder Incrustado nas instituições da democracia, um quinto poder ameaça desfigurá-las: o poder da corrupção institucionalizada. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
27º
MÁX.
● PÁG. C2
13º
MÍN.
Sol brilha forte e não há previsão de chuva. Baixa umidade do ar. Tiragem: 305.654 Hoje: 238 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 6 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 36 ● F. Feminino: 16 ● Ca. Autos: 30 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 32 ● Co. Oportunidades: 10 7 8 9 10 11 12
SERGIO NEVES/AE
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DISPUTA – Área exclusiva para fumantes em bar de Pinheiros
M
esas nos ambientes externos se tornaram as mais cobiçadas dos bares de São
Paulo, graças à lei antifumo. Fazer reserva passou a ser uma necessidade para os fumantes. ● PÁG. C6
SUPERANDO BMW, HONDA, TOYOTA, AUDI E TODAS AS OUTRAS MARCAS.
COLUNISTAS
MARIO VARGAS LLOSA
JOÃO UBALDO RIBEIRO
O rico casal Kirchner
A lei antifumo
Num período de tragédia e ruína, eles conseguiram multiplicar seu capital. ● PÁG. A23
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Com leis assim, em breve seremos como abelhas: organizadas e uniformes. ● PÁG. D3
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VEJA NA PÁGINA 5.
w w w. h y u n d a i - m o t o r. c o m . b r
DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Jornais: Odmar Almeida Filho Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
Exibe-se o quinto poder
A
liberdade de imprensa não corre risco no Brasil – e temos autoridade histórica para o afirmar. Interpretando com precisão e proficiência o repúdio à censura consignado na Constituição, especialmente nos artigos 5º, IV e XIV, e 220, parágrafos 1º e 2º – com ênfase, aliás, muito maior do que a das democracias que nunca sofreram os tacões censórios das ditaduras, como os que tivemos de suportar –, o Poder Judiciário, notadamente em seus Tribunais Superiores, tem fulminado as tentativas de retrocesso à censura prévia, própria dos sombrios tempos do autoritarismo. Ao revogar, recentemente, um diploma legal típico da ditadura como foi a Lei de Imprensa, por decisões já proferidas em recursos nos tribunais e até pela manifestação da opinião jurídica de ministros do Supremo, o Poder Judiciário tem dado sobejas demonstrações de que está alinhado na defesa de um princípio fundamental dos regimes democráticos. Vale dizer, a defesa da liberdade de imprensa – no que até o legítimo direito de informar, de jornalistas e veículos de comunicação, é suplantado pelo direito que tem a sociedade de ser informada.
Não obstante, por decisão monocrática de desembargador da 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, não foi acolhido pedido de liminar em mandado de segurança impetrado por este jornal contra decisão de outro desembargador do mesmo tribunal, proibindo o Estado de divulgar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. Este último juiz, apesar de suas notórias relações com alguns envolvidos no escândalo, se declarou apto a julgar com isenção. O outro magistrado, invocando prudência, deixou para deliberar acerca do mandado apenas depois que receber informações do colega que censurou o jornal e parecer da Procuradoria de Justiça. Independentemente do que diga ser ou não “prudência” a consciência de cada um e apesar de essa decisão judicial ainda nos deixar sob o espúrio estado de censura imposto desde 30 de julho, temos certeza de que a Justiça assegurará a liberdade de imprensa, que é exigência constitucional e ínsita à democracia reconquistada pelos brasileiros,
O destino do Campo de Marte
N
o próximo mês será lançado edital para a construção da estação paulistana do trem de alta velocidade (TAV), que ligará Campinas-São PauloRio de Janeiro, e que deverá estar pronto em 2014. Prazos exíguos tornam urgente uma alternativa para os pousos e decolagens da aviação executiva que opera no Campo de Marte, localizado na zona norte de São Paulo, que será desativado por ter sido escolhido pelo governo federal para abrigar as plataformas de embarque e desembarque, oficinas e pátios de manobras do trem de alta velocidade. Além da nova estação, o projeto desenvolvido pela consultoria britânica Halcrow, a pedido do governo brasileiro e escolhido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), inclui também a expansão do Centro de Convenções do Anhembi e a construção de um parque público. Foi projetada uma linha de 510 quilômetros de extensão, com 91 quilômetros de túneis e 107 pontes. Orçado em R$ 34,6 bilhões, o TAV se destina a absorver o grande aumento da demanda de transporte que surgirá com os jogos da Copa do Mundo de 2014. O Campo de Marte registra atualmente, em média, 283 operações de pousos e decolagens por dia – 64% realizadas por helicópteros. A Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), que reúne as empresas de taxi aéreo, se preocupa com o futuro do setor, e não só pelo problema do Campo de Marte. Nos últimos anos, a operação da avia-
ção executiva tem sofrido com a redução crescente da infraestrutura disponível. Após o acidente com o A320 da TAM, em Congonhas, há dois anos, foram impostas limitações aos pousos e decolagens da aviação executiva que diminuíram de dez para quatro por hora no Aeroporto de Congonhas. Também no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em Cumbica, jatos executivos agora só podem pousar se alguma companhia aérea cancelar o pouso de um dos seus aviões. E, quando pousam, aviões particulares só têm autorização para permanecer por duas ho-
O trem-bala é necessário, mas a aviação executiva também o é ras no solo. No primeiro semestre de 2007, antes do acidente da TAM, o número de pousos e decolagens no Campo de Marte foi de 7.559 por mês. No mesmo período de 2008, após a limitação em Congonhas, o volume de operações mensais subiu para 8.475, e em julho do ano passado chegou a 9.564. Com apenas 21 hangares, o Campo de Marte não comporta mais os aviões que precisam estacionar. Assim, pretende-se transferir a aviação executiva para cidades do interior. Conforme o projeto do governo federal, já acertado com a Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado, o Aeroporto Estadual Comandante Rolim Adolfo Amaro, em Jundiaí, a 60 quilômetros da capital, seria a primeira opção. A Abag
adverte, no entanto, que a saturação também é grande em Jundiaí. Entre os aeroportos administrados pelo Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp), é o de Jundiaí que registra o maior número de pousos e decolagens no interior de São Paulo (Viracopos, em Campinas, está sob a competência da Infraero). No ano passado, foram 38.701 operações, 80% a mais do que em 2007. No Aeroporto de Sorocaba, segundo colocado, houve 29.560 pousos e decolagens. Em dezembro passado, uma nova torre de controle foi inaugurada no aeroporto de Jundiaí para aumentar a segurança no polígono do espaço aéreo de Congonhas, Viracopos, Guarulhos, São José dos Campos, Sorocaba, Bragança e Campo de Marte. O setor de aviação executiva lembra, porém, que os hangares e as áreas de taxiamento do aeroporto de Jundiaí estão muito próximos das pistas de pouso e decolagem, comprometendo a segurança de operações realizadas por aviões com envergadura um pouco maior, usados na aviação particular. É inegável a importância da operação de um trem de alta velocidade no eixo Campinas-São Paulo-Rio – projeto há muito defendido por urbanistas e especialistas em transporte. Mas, se o Aeroporto de Jundiaí for o destino escolhido para a aviação executiva, é necessário planejar a sua ampliação com igual urgência.
razão pela qual recorremos das infaustas decisões em questão, considerando-as mais um acidente – ainda que grave, pelas circunstâncias que o cercam – de percurso na consolidação do Estado Democrático de Direito no País. O que é grave nesse episódio é que ele é indissociável de todo um processo de influência espúria, que extravasa de Poderes da República para asfixiar não só o corpo político da Nação, como as suas formas mais independentes de opinião e expressão. Sempre se falou de um quarto poder nas democracias, representado pela imprensa. Mas agora já se tem de falar de um quinto poder que, incrustado nas instituições da democracia, ameaça desfigurá-las: o poder da corrupção institucionalizada, que com seus tentáculos abrangentes vai tomando conta da vida pública nacional, sem que a sociedade brasileira – pelo menos até agora – tenha encontrado forças para deles se defender. Quando o chefe de Estado faz a absolvição prévia de pessoas públicas – inclusive de dirigente de Poder – envolvidas em “tenebrosas transações” (para usar expressão do compositor popular) e quando
MST manda no País
A
nova “jornada de lutas” do Movimento dos Sem-Terra (MST), que a cada ano se mostra mais organizado, abrangente e desafiador das leis do País, tenta deixar claro que não é o governo e sim os “movimentos sociais” que devem fazer a reforma agrária, estabelecendo a quantidade e o ritmo de alocação de recursos a ela destinados, bem como à assistência das famílias de assentados e acampados. Isso porque, enquanto o presidente Lula, em sua coluna semanal em jornais, diz que de 2003 até agora seu governo assentou 519.111 famílias – mais da metade do total de 1 milhão de famílias beneficiadas nos 40 anos de existência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) – e destinou 43 milhões de hectares para assentamentos de sem-terra, de um total de 80 milhões utilizados em toda a história do País, a “jornada” emessetista cobra “mais incentivos à reforma agrária e aos assentamentos”, incluindo a liberação de R$ 800 milhões do orçamento do Incra e a atualização dos índices de produtividade no campo. Quer dizer, o governo não entende nada de prioridade de alocação de recursos públicos ou de apoio às famílias que trabalham no campo – quem entende disso é o MST. Como tem ocorrido nas últimas vezes, também nesta “jornada” as invasões e ocupações têm mantido a preferência por prédios públicos, especialmente os pertencentes ao Ministério da Fazenda e ao Incra. Em Cuiabá o prédio da Receita Federal foi invadido por
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
OMSTea lei O MST, movimento ilegal, sem personalidade jurídica, retoma suas ações criminosas, desrespeitando a Constituição e a lei, fazendo protestos em 14 Estados. E depois da ocupação de sedes do Incra em vários Estados, de instalações do Ministério da Fazenda em Brasília, Curitiba e Belém, causando danos ao patrimônio público, vem um de seus líderes, João Pedro Stédile, cobrar respeito à lei... Além disso, os funcionários são impedidos de trabalhar, de prestar serviço ao público, numa violação do direito constitucional de ir e vir. É urgente que o Ministério Público Federal tome uma atitude severa contra o MST, impondo a obediência ao ordenamento jurídico, como já cobrava o saudoso jurisfilósofo dr. Miguel Rea-
le, ou teremos a anarquia instalada, o fim do Estado Democrático de Direito, uma terra sem lei. Em último caso, só resta à sociedade levar a questão ao Tribunal Penal Internacional, na Holanda, de acordo com o Tratado de Roma, assinado pelo Brasil. O Estado poderia liderar esse tipo de ação. CLEITON REZENDE DE ALMEIDA
“
Aos políticos em geral: ‘Mendacem oportet esse memorem’, ou seja, quem mente precisa de boa memória (Publio Siro)”
HelvioRossignolli hrossignolli@gmail.com Caieiras
cleiton_rezende @uol.com.br
Araraquara ● Se já não bastasse invadir e arrasar propriedades privadas e pesquisas científicas, se ainda não bastasse a invasão de prédios públicos, com ameaças e intimidação de funcionários e destruição de bens da coletividade, agora esses arruaceiros do MST vêm atazanar a vida dos que moram e trabalham em várias
lidade na questão fundiária? Do governo federal, claro. Todavia o MST não faz passeatas e bloqueios na frente do Palácio da Alvorada, em Brasília, só se manifesta em Estados governados pela oposição. Aliás, chamar essa turma de “sem-terra” é de doer: rapazes com tatuagens, rabo de cavalo, bem vestidos, outros usando bonés com a bandeira de Cuba, moças bem apessoadas, esse pessoal nunca viu uma enxada na vida... E quem paga tantas bandeiras, bonés, quentinhas, etc.?
capitais, com suas caminhadas irresponsáveis. E pior, financiados com nossos impostos. Até quando a Justiça ficará inerte?
MARCO C. CRUZ
LUIZ NUSBAUM
mm.cruz@terra.com.br
lnusbaum@uol.com.br
São Paulo
São Paulo
Movimentopartidário De quem é a maior responsabi-
senadores se dispõem a fazer os acordos mais degradantes, para se anistiarem reciprocamente pelos muitos desrespeitos que praticaram à lei, à cidadania, ao erário, aos bons costumes e aos princípios éticos, sobem, instalamse e se exibem no pódio do opróbrio os representantes do quinto poder. Quando desembargadores do Tribunal de Justiça do Distrito Federal privam o Estado de armas legítimas que vinha usando na sua luta para deter esse processo de decomposição moral dos Poderes Legislativo e Executivo, é como se, afinal, prevalecesse o “conselho” do presidente da República sobre o tratamento especial que merecem os corruptos que “têm biografia”. Mas a liberdade de imprensa, insistimos, não corre riscos. A sociedade brasileira, que apoia uma mídia independente, forte e democrática – e nela, por sua vez, encontra forças para repelir os assaltos do quinto poder –, vai consolidando sua maioridade política, econômica e social, num processo irreversível. Sabe que o papel da imprensa é fundamental para a preservação das liberdades, quando muitas instituições do Estado se desviam de suas verdadeiras finalidades.
Arruaçana Paulista Como paulistano, quero registrar minha indignação com a posição
1.200 militantes do MST e entidades assemelhadas. Cerca de 850 sem-terra marcharam pelo Mato Grosso e chegaram a Mato Grosso do Sul sexta-feira. Em Curitiba, além de invadirem o prédio do Ministério da Fazenda e do Incra, 700 manifestantes sem-terra tomaram as ruas centrais da cidade, provocando grandes transtornos no trânsito. Em Belém, depois de sete dias de marcha, 850 sem-terra invadiram e ocuparam edifício do Ministério da Fazenda. Em Brasília cerca de 4 mil integrantes do MST e Via Campesina ocuparam a sede do Ministério da Fazenda,
São eles agora que querem dizer como deve ser feita a reforma agrária na Esplanada dos Ministérios. Em três cidades do interior, no Ceará, foram ocupadas agências do Banco do Nordeste. Em Fortaleza, paralisaram o funcionamento da superintendência regional do Incra. Em Salvador, um grupo de 400 integrantes do MST ocupou a sede local da superintendência do Incra na cidade. Em Porto Alegre, cerca de mil semterra e integrantes da Via Campesina acamparam diante do prédio da Receita Federal, impedindo o atendimento ao público. Além da ajuda financeira às famílias de assentados e da criação de novos assentamentos, eles reivindicavam ajuda à agricultura familiar gaúcha, que teria sido gravemente afetada pela estiagem, no primeiro semestre deste ano. Em Petrolina, cerca de 150 famílias
do MST ocuparam a sede do Incra na cidade. Em Maceió um protesto reuniu cerca de 600 agricultores provenientes de várias regiões de Alagoas. Em Florianópolis cerca de 400 sem-terra fizeram protesto em frente de delegacia do Ministério da Fazenda. Em São Paulo, os militantes do MST tentaram ocupar o edifício do Ministério da Fazenda, mas foram impedidos pela Polícia Militar e tiveram que se contentar com manifestação de protesto na frente da repartição. O desrespeito às leis, à ordem pública e à propriedade não constitui novidade nas manifestações sazonais do MST e assemelhados. O que se torna cada vez mais merecedor de destaque – afora a habitual falta de reação das autoridades a tal baderna nacional – é a proficiência com que os líderes desses movimentos ditos “sociais” dão diretrizes administrativas para o governo, em vários campos. Pontificam sobre finanças públicas – como faz o líder José Damasceno, comandante das invasões em Curitiba e região – ao analisar o “contingenciamento de recursos” e as necessidades de investimentos do governo para atender à demanda das famílias, “do ponto de vista social e econômico”. Também determinam diretrizes sobre preservação do meio ambiente e sobre produtividade agrícola – e é bem possível que já tenham equacionado a estratégia de exploração e desenvolvimento de produção de petróleo da camada do pré-sal. Só é de estranhar que ainda não tenham lançado um candidato a presidente da República, vindo diretamente de suas bases. Mas, pensando bem, por que precisarão disso?
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
inoportuna e demagógica do nosso prefeito, Gilberto Kassab, eleito por nós, contribuintes de impostos e taxas para nossa querida São Paulo. Segundo notícia veiculada por conceituada emissora da capital, o prefeito dos paulistanos manifestou-se elogiando esse bando de arruaceiros, quadrilha que age sob a sigla MST, que, em plena sexta-feira, interditou a Avenida Paulista, uma das mais importantes vias da cidade, desrespeitando o direito de milhares de cidadãos trabalhadores que fazem esse caminho. Qual o motivo? Ora, convencer o amigo de Brasília a lhes liberar a modesta quantia de R$ 800 milhões! E o sr. Kassab se diz a favor dessa gente... Tomara que o simpatizante não resolva contribuir também com o nosso dinheiro, além
do apoio moral. A propósito, os milhares de cidadãos prejudicados nesse dia teriam alguma esperança de ser reembolsados pela Prefeitura, sr. Kassab? ARMANDO AUGUSTO DA CRUZ adv.cruz@terra.com.br
São Paulo
Trânsitolivre Existe uma maneira muito simples de os fretados poderem circular e também estacionar onde e quando quiserem. Basta pendurar do lado de fora uma faixa com a sigla MST. Não só terão livre trânsito em toda a capital, como contarão com o apoio das autoridades para sua movimentação. MARIO SILVIO NUSBAUM mario_silvio@hotmail.com
São Paulo
A10 NACIONAL
DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
JORNAIS
Liberdade de imprensa é prioridade nos 30 anos da ANJ Dirigentes criticam imposição de censura por juízes; pesquisador destaca compromisso com a democracia CRONOLOGIA
AUTORITARISMO
Episódios de censura à parte, 2009 ficará marcado na história da ANJ como o ano em que foi“enterrada” a Leide Imprensa, herdada do regime militar e contestada há décadas por jornaisejornalistas.Emabril,oSu-
● ABR. 1822
Cipriano José Barata de Almeida lança, em Recife, o Sentinela da Liberdade, o primeiro jornal republicano brasileiro ● ABR. 1822
Começa a circular o Correio do Rio de Janeiro, editado por João Soares Lisboa, quem primeiro usou a imprensa para defender a convocação de uma Constituinte brasileira. Foi a primeira pessoa processada no Brasil por abuso da liberdade de imprensa
DIVULGAÇÃO
ESTREIA – O primeiro jornal
brasileiro, feito em Londres ● JUN. 1808
Hipólito José da Costa funda, em Londres, o Correio Braziliense, considerado o primeiro jornal brasileiro. Mensal, circulou até 1822, sempre editado e impresso na Grã-Bretanha. Cada edição tinha entre 72 e 140 páginas
● NOV. 1825
O tipógrafo Antônio Miranda Falcão lança, em Recife, o Diário de Pernambuco, o jornal mais antigo em circulação na América Latina ● JAN. 1875
Começa a circular a oficialista Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal impresso no Brasil
Um grupo de republicanos e abolicionistas funda o jornal A Província de São Paulo, dirigido por Francisco Rangel Pestana e Américo de Campos. Com a proclamação da República, em 1889, o jornal passa a se chamar O Estado de S.Paulo, cuja direção é assumida, em 1891, por Julio Mesquita
● MAR. 1821
● 1897
● SET. 1808
É lançado o Conciliador do Reino Unido, primeiro jornal privado brasileiro, editado por José da Silva Lisboa. Era impresso na única tipografia do Rio de Janeiro, a Imprensa Régia, da qual era um dos diretores
A envergadura da campanha militar contra Antônio Conselheiro e seus seguidores, em Canudos, faz com que os principais jornais brasileiros mandem correspondentes ao sertão baiano. Entre eles estava Euclides da Cunha, pelo Estado, cujo relato seria lançado em livro com o título de Os Sertões, um clássico da literatura brasileira
Entidade programa vários eventos para comemorar data
● OUT. 1924
Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo compra o diário carioca O Jornal, a partir do qual constituiria os Diários Associados, o primeiro conglomerado de mídia da história do Brasil ● OUT. 1930
Na sequência da revolução iniciada em 3 de outubro, o presidente Washington Luís, é preso e substituído por uma junta militar. Jornais identificados com o governo são depredados em várias cidades do País ● AGO. 1954
Getúlio Vargas suicida-se. Em diversas cidades, jornais identificados com a oposição ao seu governo são responsabilizados pelo fato e, em alguns casos, invadidos e depredados ● FEV. 1967
O marechal Humberto Castello Branco, que assumira a Presidência com o golpe militar de 1964, assina uma nova Lei de Imprensa. Como a legislação em vigor anteriormente, o texto prevê penas de prisão para jornalistas e multa para uma longa lista de supostos crimes
MARCO – Constituição é promulgada por Ulysses
● OUT. 1988
Promulgada a nova Constituição Federal. A liberdade de imprensa é assegurada e vedada toda forma de censura política, ideológica ou artística
terpretamos a realidade.” O pesquisador também aplaude o fim da Lei de Imprensa, mas lamenta que em seu lugar não tenha sido estabelecido outro marco legal. “Talvez fosse positivo algum tipo de autocontrole da mídia. Há casos em que cidadãos podem se ver sob o foco de uma reportagem sensacionalista.”
● AGO. 1996
O presidente Fernando Henrique Cardoso assina a adesão formal do Brasil à Declaração de Chapultepec sobre Liberdade de Imprensa nas Américas ● ABR. 2009
O Supremo Tribunal Federal (STF) revoga a vigência da Lei de Imprensa
CRISE
● ABR. 1984
Após intensa mobilização popular pelas eleições diretas, que contou com apoio dos principais jornais do País, o Congresso derruba a emenda constitucional que permitiria a escolha dos presidentes pela via democrática
MOBILIZAÇÃO – Manifestantes lotam a Praça da Sé, no centro de São Paulo, durante comício da campanha Diretas Já, em janeiro de 1984
premo Tribunal Federal decidiu pela nulidade da lei, por sua incompatibilidade com os princípios democráticos da Constituição de 1988. “Era uma lei que previaprisão de jornalistas e fechamentodejornais,comdispositivos totalmente contrários à Constituição de 88. Por isso, já estava praticamente em desuso, mas permanecia como uma
ameaça potencial ao direito da sociedade de ser livremente informada”, disse Judith Brito. A participação dos jornais no desmonte do aparato repressivo da ditadura militar também é destacada no balanço de três décadas de atuação da ANJ. A imprensa foi uma das frentes em que políticos e representantes da sociedade civil consegui-
ram brechas para desafiar o autoritarismo. “O papel da imprensa (na transição democrática) foi importantíssimo”, disse Fernando Lattman-Weltman, pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Por sua pró-
pria natureza, a imprensa tem compromisso com uma série de liberdades que são fundamentais para o exercício da vida democrática. Ela própria é uma instituição política fundamental. Fornece subsídios para nossas escolhas na vida política e social. Além disso, também forma os enquadramentos pelos quais analisamos e in-
Livro destaca ação de jornais na transição Obra traz relato sobre o processo de consolidação de entidade desde agosto de 1979 Em A Força dos Jornais: os 30 anos da Associação Nacional de Jornaisnoprocessoderedemocratização brasileiro, Judith Brito e Ricardo Pedreira, respectivamente presidente e diretor executivo da ANJ, fazem um relato históricodaconsolidação daentidade desde 1979, quando foi criada. O livro traça ainda um panoramadaimprensa nos últimos anos e seus altos e baixos por conta das turbulências econômicas pelas quais o Brasil passou desde o Plano Real. Em 17 de agosto de 1979, a criação da ANJ reuniu em tornodamesmamesaCláudioCha-
gasFreitas(ODia),João Roberto Marinho (O Globo), José Antoniodo Nascimento Brito(Jornal do Brasil), Pedro Pinciroli Júnior (Folha de S.Paulo), José MariaHomemdeMontes(OEstado de S.Paulo), Maurício Sirotskye FernandoErnestoCorrêa (Zero Hora), Francisco Antônio Caldas (Correio do Povo), Renato Simões (A Tarde), DemócritoDummar(OPovo)eJaime Câmara Júnior (Jornal de Brasília). A reunião consolidava um movimento iniciado no ano anterior. Foi de Cláudio Chagas Freitas, de O Dia, então com
apenas 23 anos, a iniciativa de dobrar a resistência de outros empresários. “Historicamente, os jornais brasileiros eram desunidos e, por razões de mercado, tendiam sempre a privilegiar o enfrentamento de seus concorrentes, em vez de buscar a defesados interesses comuns. A intensa rivalidade entre os títulos de uma mesma cidade ou Estado contaminava as relações pessoais dos seus proprietários e minava o pensamento associativo”, apontam Judith Brito e Ricardo Pedreira. Entre os objetivos da entidade recém-inaugurada estavam
defender “a democracia e a livre iniciativa” e sustentar “a liberdadedeexpressãodo pensamento, da informação e da propaganda”. Foi na Constituinte, quase dez anos depois, que a ANJ ajudou a dar forma legal a esses preceitos. “Ajudamos de forma muito firme a construir essepilarda democracia queé a liberdade de expressão. (...) As Redações vieram junto com a gente, se mobilizaram de forma incrível na defesa da liberdade de expressão como uma viga da estrutura da Constituição que estava sendo construída”, disse NascimentoBrito,quartopresi-
Para comemorar sua trajetória, a ANJ entregará na terça-feira o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa ao deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), autor da ação no STF que resultou no fim da Lei de Imprensa. Uma campanha institucional em jornais, revistas, TV e rádio também marcará a data. Às 14h30 do mesmo dia, no Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, haverá o painel Liberdade de Expressão e o Futuro do Jornalismo. O convidado principal é o jornalista Iason Athanasiadis, que esteve preso 20 dias no Irã, pela cobertura dos protestos contra o resultado das eleições que reconduziram Mahmoud Ahmadinejad à Presidência. ●
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ROLANDO DE FREITAS/AE–25/1/1984
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) chega aos 30 anos festejando a consolidação da liberdade de imprensa no País, mas, ao mesmo tempo, preocupada com os casos de imposiçãode censura por juízesde primeira instância. Após cinco anos consecutivos de aumento da circulação de jornais no País, a entidade – cujo aniversário será comemorado amanhã – ainda não mediu o impacto da crise econômica sobre o setor. Mas vê com otimismo a possibilidade de crescer em 2010, em sintonia com a recuperação da economia como um todo. Entre os desafios para o futuro, no topo da lista está a transição de um modelo de negócios baseado na mídia impressa para outro que, em determinado momento, será prioritariamente digital. “O Brasil vive um pleno regime de liberdade de imprensa”, destacou o diretor executivo da ANJ, Ricardo Pedreira. “Mas há um problema que preocupa a todos nós, uma prática muito frequente, que é a censura por meio de decisões judiciais. Embora a censura seja, de forma muitoclara, proibidapelaConstituição, ela vem acontecendo.” O mesmo problema foi destacado por Judith Brito, presidente da ANJ. “Temos a lamentar as seguidas decisões do Poder Judiciário, em sua primeira instância, de exercer a censura prévia. Dos 31 casos contra a liberdade de imprensa sobre os quais a ANJ se manifestou nos últimos 12 meses, 16 são decorrentes desse tipo de decisão.” Para os dois dirigentes, autores de um livro sobre a história da ANJ (leia texto nesta página), o fenômeno é restrito e as ordens de censura não resistem a uma segunda análise pelo Judiciário. “Pessoas alegam que determinada informação vai lhes ser prejudicial, e previamente alguns juízes impedem o meio de comunicação de veiculá-la. Na instância seguinte, a liminar cai, mas aí o mal já está feito.” Ambos citaram como exemplo o episódio enfrentado pelo Estado, que está impedido por decisão liminar de publicar informações sobre investigação da Polícia Federal que atingiu FernandoSarney,filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).“Podeparecercensura que afeta apenas um jornal, mas na verdade afeta a imprensa, os jornalistas e o jornalismo, e, mais ainda, prejudica a sociedade como um todo, porque agride seu direito sagrado à informação”, disse a presidente da ANJ (leia artigo de José Arthur Gianotti sobre a censura ao Estado na página ao lado).
ANDRE DUSEK/AE–1/9/1988
Daniel Bramatti
dende da ANJ, em depoimento aos autores do livro. Após um período de euforia no início do Plano Real, que provocou um boom de investimentos e endividamento, os jornais entraramemcrise coma desvalorização do real, em 1999. O estouro da chamada bolha da internet, logo depois, agravou o quadro. A ANJ, então presidida por Francisco Mesquita Neto, do Estado, debatia saídas, entre elas a busca de uma linha de financiamento para o setor no BNDES(BancoNacionaldoDesenvolvimentoEconômicoeSocial) – ideia depois abandonada
Na Europa e nos Estados Unidos, a internet é apontada como a causa da queda de circulação dos jornais. No Brasil, o impacto é sentido de forma diferente, principalmente por conta do crescimentodosjornaispopulares, coincidente com os ganhos de renda obtidos nos últimos anos pelas camadas mais pobres da população. “Não houve canibalização dos títulos mais tradicionais, mas a formação de um novo mercado. Muita gente não tinha renda e hábito de leitura. É fenômeno típico de economias emergentes, também aconteceu na China e na Índia”, disse Ricardo Pedreira. Para a ANJ, ainda é cedo para avaliar o impacto da crise econômica sobre o setor. “Vínhamos até setembro, outubro do ano passado num processo de crescimento de circulação e issofoiinterrompido.Mastratase de uma questão conjuntural. Felizmente as notícias sobre a economia são cada vez mais positivas, e a circulação dos jornais voltará a crescer”, previu Judith Brito. Sobre a concorrência das novas mídias, Pedreira afirma que é preciso buscar um modelo sustentável. “Nos Estados Unidos criou-se a cultura de que a internet é território da informação livre e gratuita. Isso não fecha. Como é que uma empresa vai produzir seu conteúdo e entregá-lo gratuitamente?” O fato de jornais dos Estados Unidos e da Europa enfrentarem concorrência mais forte da internet pode ser vantajoso para o Brasil, segundo o diretor da ANJ. “Podemos aprender com os erros e com os caminhos que eles percorrerem.” ●
– e a promoção de mudanças na lei para permitir a entrada de capital estrangeiro nos jornais. Apesar de essa última medida ter obtido sucesso, o que prevaleceu foi a busca de refinanciamento das dívidas, jornal porjornal.Estava pavimentado ocaminho parao queos autores chamamde“renascimentobrasileiro”.Entre2003e2008,acirculação dos jornais diários passou da média de 6,47 milhões de exemplares para 8,49 milhões. A ANJ chegou a 2009 em meio a uma crise econômica e enfrentando o desafio da concorrência com as novas mídias. Mas o tom do livro é otimista: “O jornal nunca foi tão lido, agora que tem sua versão digital. Cabe aos jornais transpor para esses novos formatos e tecnologias o tesouro de credibilidade que conseguiram acumular ao longo dos séculos”. ● D.B.
DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A11 A11
Artigo
‘Ojornaldeixariadecumprirsuafunçãopúblicaseesperasseojulgamentodefato,que,aliás, somentesefarádeformaequilibradasobpressãodaopiniãopública’
Aplicação da lei e censura José Arthur Gianotti *
N
enhuma regra se ajusta a seus casos sem deixar zonas de indefinição. Até mesmo a aplicação de uma leifísica encontra resultados que variam num intervalo, cuja variação se determina em função do uso do resultado. Omarceneironãomede suastábuas como o mesmo rigor de um fabricante de aparelhos óticos. O que dizer de uma norma jurídica? É de esperar que a variação sejamaisampla.Porissoa jurisprudência desempenha papel crucial na determinação desse intervalo, pois o juiz aplica a lei tendo em vista tanto seu enunciado como a aplicação já feita porseusantecessores.Lembremos apenas o caso dos contratos leoninos. Um contrato vale pelo que foi acordado entre as partes, mas, se uma delas tiver ganhos ou perdas além de limi-
tesrazoáveis, é a vontadedo tribunal que estabelece o novo parâmetro. Amídia,assimcomoosmovimentos sociais, joga com essa ambiguidade. Sem pretender contestar o Estado de Direito, ela leva em conta a aplicação da lei em vista de seus próprios interesses, sejam interesses públicos, sejam interesses privados. A notícia sempre diz respeito a uma situação desviante, cabendo então aos interessados corrigir os exageros e encontrar os responsáveis por eles. Até quando um jornal deve publicar uma notícia que fere a imagem de um cidadão? Além do mais, se este for um político, isto é, um homem público, a publicação da notícia não pode inviabilizar sua própria identidade política, destruindo assim sua carreira? Cada categoria assume seus próprios riscos nessa negociação com a lei. O cidadão comum pode achar que tal despesa com sua saúde pode ser descontada de seu imposto de renda, a ReceitaFederalpodesimplesmente glosá-la. Um grupo de sem-
JUDICIÁRIO
Juiz condena empresários por ‘má-fé’ da defesa Advogados alegam ‘truculência’ de magistrado e pedem anulação O juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6.ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou os empresários Boris Berezovsky e Kia Joorabchian ao pagamento de multa no valor de R$ 37, 2 mil cada um (total de 180 saláriosmínimos)porqueseusadvogados, os criminalistas Alberto ZachariasToroneRobertoPodval, teriam praticado “litigância de má-fé”. Os dois defensores haviam ingressado com exceção de suspeição do juiz, atribuindo a ele parcialidade e requerendo seu afastamento do casoMSI/Corinthians –investigação sobre suposto esquema de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Na sentença, de 70 páginas, o juiz manda oficiar à Procuradoria da Fazenda Nacional para inscrição em débito e expedição da respectiva Certidão de Dívida Ativa para cobrança. De Sanctis sustenta que o caso “se trata de patente abuso de direito, evidente má-fé”. Segundo ele, as defesas reapresentaram a suspeição. “Opuseram arguições anteriormente opostas e quese encontram pendentes de julgamento no Tribunal Regional Federal da 3ª Região”.
Multa aplicada a cada defensor é de R$ 37,2 mil ou 180 salários mínimos O processo foi anulado em 2008 por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), que mandou refazer os autos desde a fase de interrogatórios. Quando a denúncia da Procuradoria daRepública foifeita e De Sanctis a recebeu, abrindo a ação penal, os advogados ingressaram com a primeira suspeição. A mesma medida a defesa adotou quando o STF anulou o feito. O juiz assinala que aplicou a condenação “sob pena de chancelar a atitude reprovável e reiterada,incompatível comopróprio espírito da Constituição, dasleisprocessuaisedoEstatutodaOAB, consagradoresdoindispensável, sagrado e verda-
WILTON JUNIOR/AE -10/11/2008
SENTENÇA – ‘abuso de direito’
deiro direito de defesa.” Argumenta que as defesas apresentaram exceções “sem fundamento legal que caracterizammá-fé,demonstrando apenas intenção em tumultuar o processo”. “Este magistrado, no exercício de suas funções, sempre observou os deveres inerentes à judicatura, cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as disposições legais.” Toron e Podval já ingressaram no STF com reclamação para anular a sentença. “É mais um gesto de truculência ou má-fé deste magistrado”, declarou Toron. “Quando o STF anulou a ação penal o próprio juiz determinou que nós apresentássemos nova defesa preliminar. Ora, se a ação estava anulada a suspeição também caiu. Por isso a reapresentamos. É absurdo (De Sanctis) julgar algo que é da competênciadoTRF.Violentou o julgamento do STF.” “Não houve duas suspeiçõessimultâneas”,dissePodval. “Quando o STF anulou a ação desisti da primeira. Não cabe a ele (De Sanctis) nos condenarnumaação que nós propusemos contra ele. Lamentável que o juiz confunda direito de defesa com má-fé e utilize de forma pouco ortodoxa um poder ainda que legítimo para intimidar os defensores. Mostra que, de fato, não tem mais condições pessoais para julgar esse caso.” ● FAUSTO MACEDO
terra se arrisca invadindo uma propriedade que considera improdutiva, poderá ser desalojado legalmente e pagar o preço político de sua ação. Mas não existiria como movimento se não forçasse os limites da lei para fazer com que ela se incline na direção desejada por sua ideologia e seus interesses. O mesmo se dá, mutatis mutandis, com a mídia. Ela não existiria se apenas informasse casos constatados e julgados. Um jornal não se confunde com umboletim científico ou umjornal oficial. Obtida umainformação interessante, cabe ao jornal publicá-la; obviamente assumindo os riscos seela for exagerada, se informar além do intervalo aceito pelos costumes e pela jurisprudência. Este jogo entre as regras e seuscasosdependeassimda estabilidade, flexibilidade e prontidão das instituições. Uma notícia veiculada por um jornal tradicional e carrancudo não tem a mesma importância, não possui o mesmo sentido público, quando vem a ser publicada por um tabloide especializado em escândalos. E os dois tipos
de jornais existem segundo as tradições regionais. O grau de tolerância para o inusual e intempestivo varia de país a país. Isto significa que cada país tema imprensa que merece, vale dizer, aquela que opera num nível de indefinição que o jogo político da população conseguiu definir. Não se segue daí qualquer conformismo. Um país é também aquilo que ele quer ser. Não existe como coisa, mas como rede de instituições que valem conforme a liberdade que logram prometer, o espaço público que consegue abrir. Já que todos possuem uma esfera pública, é nela que um país comprova o que ele vem a ser. Desse ponto de vista, o Brasil vive uma indefinição que pode nos jogar ladeira abaixo. Não se travam entre nós tensões vigorosas entre o público e o privado; pelo contrário, desde os tempos em que se falava da lei de Gerson – que cada um cuide do seu – cada dia mais os homens públicos, sejam eles professores, políticos e juízes, deixam transparecer sem pejo o caráter privado de suas
ações. O público somente se performa no interesse privado. Nossa situação se torna mais trágica quando as próprias normas institucionais passam a servir a tais interesses. O decreto do Senado vira secreto; a falta de decoro parlamentar deixa de ser transgressão a ser examinada pela Casa para se resumir tão-só num instrumento de pressão política; o presidente da República se lançanuma campanhaeleitoral como se estivesse dando publicidade a seus atos de governo e assim por diante. O caso do Judiciário é patético. Os casos não são decididos com devida precisão e isenção, mas se arrastamdetal maneiraque enervam os direitos dos litigantes. E magistradospoliticamente corretos ou incorretos usam o emperramento das leis para prestarem serviços a seus amigos ou a companheiros ideológicos. Por exemplo, o Estado está proibido de divulgar reportagens sobre Fernando Sarney, que, se sentido prejudicado, conseguiunaJustiça esse impedimento. Não vejo censura do ponto de vista legal, o deman-
dante se viu prejudicado em seus direitos e apelou para a Justiça. Mas a censura de fato se instala quando o recurso demora a ser aceito e demora ainda mais para ser julgado. Muito bem. Suponhamos que a Justiça decida e mantenha a proibição. Permanece a informação sobre transgressões presumidas.Ora, essa presunção ainda é notícia e deve ser publicada pelo jornal. Não como um fato ocorrido – isto o Estado está proibido de dizer –, mas como presunção, como um caso a ser verificado. Quando umprocesso corre em segredo de justiça, ele deixa de ser secreto se a notícia vaza, e cabe então ao Poder Judiciário puniro responsável por esse vazamento. O jornal deixaria de cumprir sua função pública se esperasse o julgamento de fato, que, aliás, somente se fará de forma equilibrada sob pressão da opinião pública. A Justiça se tece nesse jogo, mas, como tudo parece indicar, ela está servindo tão-só aos interesses privados. ●
*José Arthur Gianotti é filósofo
A22 INTERNACIONAL
DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
AMÉRICA LATINA
Onda de censura à mídia toma a região
THOMAS COEX/AFP
Líderes de esquerda adotam políticas contra a imprensa livre MORDAÇA – Jornalistas venezuelanos protestam em Caracas contra a censura: rotina de fechamento de rádios, multas, agressões e ameaças
Ruth Costas
Em um contorcionismo retórico para evitar termos como “censura” e “controle da mídia”,algunsgovernosdaAmérica Latina passaram a defender abertamenteo“combateao terrorismo midiático” ou o “limite aos abusos da imprensa”. “Devemos perder o medo e propor formas de controlar os excessos da imprensa”, afirmounasemanapassadaopresidente equatoriano, Rafael Correa. “Fomos nós que vencemos aseleições, não os gerentes desses negócios lucrativos que se chamam meios de comunicação”, acrescentou. Entre os métodos dessa “nova censura” estão processos judiciais contra jornais, rádios e TVs, multas, ameaças, a interrupção ou a não renovação de concessões. Também fazem parte da estratégia discursos que incitam grupos de choque a atacar meios de comunicação. “A maior parte dos países da região vive uma etapa importante na qual, com eleições livres, todos podem se expressar nas urnas, mas estamos nos dando conta de que mais democracia não significa ausência de problemas quando o assunto é liberdade de expressão”, disse ao Estado o argentino Carlos
Lauria,coordenadordoProgramaparaas Américasdo Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), em Nova York. ‘COOPERAÇÃO TÉCNICA’
Opaísemqueaguerraàimprensa está em seu estágio mais avançado é a Venezuela, mas Bolívia, Equador e Nicarágua parecemtrilharumcaminhoparecido. “Há uma influência do modelo(dopresidentevenezuelano Hugo) Chávez nesses países, não só porque suas propostas políticas inspiram-se na revolução bolivariana, mas porque há uma cooperação técnica e financeira com Caracas”, disse o venezuelano Andrés Cañizáles, que estuda a relação entreoEstadoeamídianaUniversidade Católica Andrés Bello. “A Venezuela deu dinheiro para o presidente Evo (Morales) montar uma rede nacional de meios comunitários na Bolívia e assessorou o Equador no relançamento de sua TV oficial.” Na semana passada, Chávez chegou a pedir que os países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) incluíssem um parágrafo sobre a imposição de limitesparagarantira“responsabilidade ética” da imprensa na declaração final da reunião em Quito – mas a proposta acabou ficando de fora da declaração.
Crime organizado também ameaça jornalistas ●● ● Além das pressões por motivos políticos, outra ameaça ao trabalho dos jornalistas na América Latina é o narcotráfico. Só no México, nos últimos 18 meses, 17 jornalistas foram assassinados pelo crime organizado, segundo a Fundación Manuel Buendía, do México. No Brasil, entre os casos emblemáticos estão o assassinato do jornalista Tim Lopes, no Rio, em 2002, e as agressões contra uma equipe do jornal ‘O Dia’, que fazia uma reportagem na favela do Batan, também no Rio, no ano passado. ● R.C.
Na Venezuela, as relações do governo com a imprensa começaram a se deteriorar após a tentativa de golpe de 2002, apoiada por alguns canais de TV. Chávez recusou-se em 2007 a renovar a concessão da emissora RCTV, a mais popular do país,e, segundo analistas, é questão de tempo até que feche a opositora Globovisión. No início do mês, o governo venezuelano também tirou do ar 34 rádios, alegando que suas concessões eram irregulares;
outras 250 emissoras podem ter o mesmo destino. O Ministério Público chegou a propor uma lei prevendo a prisão de até 4 anos para jornalistas que publicassem informações que “prejudicassem o interesse do Estado”, mas o projeto foi abandonado após a péssima repercussão dentro e fora do país. Na quinta-feira, porém, grupos chavistas agrediram jornalistas que faziam um protesto exigindo liberdade de expressão e 12 ficaram feridos. Correa, no Equador, também ameaça tomar o controle de rádios e tevês alegando irregularidades em suas concessões.Nasegunda-feira,aoassumirosegundomandato,elequalificou a imprensa como o “maior adversário” que enfrentouna primeira etapade seu governo. Nos últimos anos, abriu processos contra meios de comunicações, como a emissora de TV Teleamazonas, atacada em maio com duas bombas caseiras por seus aliados. Na Bolívia, os ataques à imprensa privada vêm acompanhados de um esforço para expandir os meios afins ao governo. Evo criou 250 rádios comunitárias, reaparelhou o canal de TV oficial e ameaçou nacionalizar o maior jornal do país, o La Razón, que, segundo rumores,
Bolivarianos seguem ‘cartilha’ comum Presidentes personalistas adotam padrão de perseguição à mídia A onda de ameaças à liberdade de expressão na América Latinaestáemgrandeparterelacionada, segundo o analista venezuelano Andrés Cañizález, ao surgimento de um novo modelo político personalista em países como Venezuela, Bolívia, NicaráguaeEquador.Para ele,omodo como esses governos veem os meios de comunicação e se relacionam com a mídia privada é marcado por quatro características principais, que seriam os eixos ou pilares dessas “novas táticas de censura”. A primeira é a valorização da comunicação direta do Executivo com o povo, que acaba enfraquecendo outras institui-
ções democráticas e o papel de mediação dos meios de comunicações. A ideia desses governos é que ninguém precisa lhes dizer o que sua população quer, nemexercernenhumtipode fiscalização sobre as autoridades – um dos papéis da imprensa em muitos países. A segunda característica é o fortalecimento dos veículos de comunicação estatais. “Tratase da injeção de fundos em meiosquepodematéserchamados de públicos, mas na realidade são governamentais, já que estão alinhados com o governo de forma acrítica e não são plurais”, explica o analista, que é professor da Universidade Ca-
tólica Andrés Bello, em Caracas. O presidente venezuelano, HugoChávez,porexemplo,controla hoje seis emissoras de TV, oitorádios,uma agênciadenotícias, centenas de sites e a maior provedora de internet do país, a Cantv. Na Bolívia, Evo Morales lançou em janeiro o novo jornal estatal, o Cambio, e já criou mais de 200 rádios comunitárias. O terceiro eixo dessa “nova censura” seria a aprovação de novos marcos regulatórios paraosmeios decomunicação.Esses marcos são apresentados como uma forma de favorecer a democratização da informação
mas, segundo analistas, na realidade acabam facilitando o controle das rádios, jornais e tevês pelo governo. Como exemplo temos, na Venezuela, a Lei de Responsabilidade Social das Rádios e tevês, de 2005, usada para tirar do ar até o desenho animado Simpsons. O último item é o discurso agressivo. “Esses presidentes fustigam de forma recorrente a imprensa”, afirma Cañizáles. “O ambiente para o trabalho dos jornalistas está ficando tão tenso e degradado que alguns já pensam em alternativas à profissão.” ● R.C.
agora pode ser comprado por um grupo venezuelano. Neste ano, Evo entrou com um processo contra o jornal La Prensa, que divulgou denúncias de que o governo teria conhecimento de uma rede de contrabando. “Foi a primeira vez na história da Bolívia que um governo resolveu processar um jornal”, dizCarlosMorales, editor-chefe do La Prensa. O editor diz ter recebido ameaças de morte após o episódio. PODER ECONÔMICO
NaNicarágua, a situação da imprensa deteriorou-se com as eleiçõesdenovembro–cujos resultados a oposição diz terem sido fraudados. Na onda de protestos que ocorreu após a votação, alguns jornalistas foram agredidos. Além disso, da mesma forma que na Argentina, há a denúncia de que o governo de Daniel Ortega distribui os recursos para a publicidade oficial de acordo com a linha editorial dos veículos. “Nos últimos anos, 80% da verba da propaganda oficial foi para a TV estatal Canal 4 e a Rádio Ya, dirigidos pelos filhos de Ortega, o que sufocou economicamente uma série de veículos privados”, disse o nicaraguenseMário Medrano,professor da Universidade Centro-
Americana, que por anos apresentou um dos principais noticiários da TV nicaraguense. “Além disso, há uma política – expressa abertamente no plano de comunicações do governo – de só fornecer informações oficiais à imprensa estatal.” Para Medrano, entre as iniciativasquepodemajudara melhorar a situação da imprensa na região estão o repúdio internacional às ameaças contra os meios de comunicação e o apoio de países moderados, como o Brasil. Lauria concorda, mas lembra que o País também precisaresolver questões internas. “Se Lula se manifestasse a favor da liberdade de imprensa em nível regional, isso teria um peso importante”, diz Lauria. Entre os fatos que preocupam analistas e organizações de defesa da liberdade de expressão no que diz respeito ao Brasil estão os processos judiciais para barrar informações de interesse público – como a ação que censurou o Estado a pedido de Fernando Sarney, filhodopresidentedoSenado,José Sarney. Segundo Catalina Botero, relatora para Liberdade de Expressão da Organização dos Estados Americanos (OEA),oBrasilpodeserresponsabilizado internacionalmente pela decisão. ●
● Edição das
23h15
o estado de s. paulo SEGUNDA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
17 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42307
Cresce gasto secreto com cartão corporativo
Senadores pedem investigação sobre imóveis de Sarney
Fatia na despesa do governo federal aumentou de 33,8% para 44,9%
Apartamentos ocupados em SP pela família estão em nome de empresa
Gastos secretos já representam 44,9% dos pagamentos feitos com cartões corporativos do governo federal. Eles chegaramaR$15,7milhõesnoprimeiro semestre, indica levanta-
mento feito no Portal da Transparência. Em 2008, o porcentual de despesas sigilosas foi beminferior:33,8%.AControladoria Geral da União atribui o aumento este ano à migração
paraoscartõescorporativosde todosospagamentosantesrealizados em cheque. As regras do sigilo protegem gastos de altas autoridades, como a Secretaria de Administração da Pre-
sidência,responsávelporcerca de 13% de todas as despesas secretas. Mas outras áreas sensíveis têm contas totalmente abertas, caso do Estado Maior do Exército. ● PÁG. A4
ESPORTES
Senadores querem apurar a ligação da família do senador José Sarney (PMDB-AP) com a construtora Holdenn. Reportagem do Estado mostrou que dois apartamentos usados pela
‘ESTADO’ SOB CENSURA
O
Estadoentranaterceira semana sob censura. Por decisão judicial, o jornal está impedidodepublicarinformaçõesreferentesàinvestigação da Polícia Federal, na chamada “Operação Boi Barrica”, que envolve o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). ●
MICHAEL DALDER/REUTERS
Jogos
RELÂMPAGO – Bolt festeja na linha de chegada, diante do placar com sua marca: recorde pulverizado 1 ano após consagração em Pequim
Bolt assombra o mundo, de novo Fenômeno jamaicano vence Mundial e bate recorde Um ano depois de quebrar o recorde dos 100 metros rasos na OlimpíadadePequim,ofenômeno jamaicano Usain Bolt repetiu a dose. Venceu a final do Mundialde Berlim com impres-
sionante facilidade, baixando o recorde de 9s69 para 9s58. Bolt acredita que possa chegar à marcade9s40.“Nadaéimpossível.”Na provaele não tomouconhecimento de rivais como o
americano Tyson Gay. “Fiz o meumelhor,mas não foi osuficiente”, disse Gay, que conquistou a medalha de prata com 9s71, melhor tempo de sua carreira. ● PÁGS. E1, E4 e E5
NOTAS E INFORMAÇÕES
Liberdade para a gastança Vetos de Lula ao texto da LDO removeram limitações às despesas com publicidade, viagens e obras. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
29º
MÁX.
● PÁG. C2
14º
Massa de ar seco cobre a cidade e o sol predomina.
Uma viagem digital com os Beatles
G
ame que permite “tocar” com os Beatles, recriando showsediálogosreaisemestúdio,éomaioracontecimento do mercado em 2009. ●
Hoje: 68 páginas A. 1.º caderno: 16 ● B. Economia: 12 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 8 ● L. Link: 10 ● Classificados: 150 anúncios
7 8 9 10 11 12
famílianosJardinsestãoemnomedaempresa.OdeputadoSarney Filho (PV-MA) disse que é dono de um dos imóveis, mas só vai passá-lo para seu nome após a “quitação total”. ● PÁG. A6
MÍN.
São Paulo vence no fim e chega ao G-4 Timeteve2expulsos, masbateu Sport com gol aos 47. O Corinthians pôs fim a jejum e ganhou do Atlético-MG por 2 a 0. O Santos ficou no 0 a 0 comoCruzeiro. ● PÁGS. E6aE8
Escolas de SP adotam medidas contra gripe Colégios de São Paulo adotaram medidas para evitar a propagação da gripe suína hoje, com a volta às aulas da maioria dos 9 milhões de estudantes do ensino básico e superior. Alunos terão à disposição álcool em gel e não poderão compartilhar brinquedos, material e celulares. Algumas escolas ampliaram férias de gestantes. Prefeituras e universidades de outros Estados adiaram de novo a volta às aulas. ● PÁG. A14
Loteria deve ter aposta pela web Caixa faz estudo para tornar sistema informatizado disponível ao público até o fim de 2010. ● PÁG. C1
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Venezuela
Oposição reage à Lei da Educação ●● Além da desobediência
civil, intenção é convocar referendo constitucional para anular a lei. ● PÁG. A12
CADERNO 2
Tema indígena dá o tom em Gramado
●● ‘Corumbiara’ vence a mostrabrasileirae‘LaTeta Asustada’ leva o Kikito na disputa latina. ●
ARTIGO
Barack Obama PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS
Pela reforma do sistema de saúde “Ainda não escutamos a voz de milhões de americanos que se debatem contra um sistema que, na maioria das vezes, beneficia mais as seguradoras do que os próprios cidadãos”. ● PÁG. A11 ●●●
ARTIGO
João Antonio Wiegerinck PROFESSOR DE DIREITO DO MACKENZIE
Censura e devido processo legal Na decisão contra o Estado, o representante do Judiciário não encontra justificativa para embasar o absurdo cerceamento. Nada do que foi divulgado compromete o processo em si. ● PÁG. A7 ●●●
BB negocia sociedade com seguradoras estrangeiras OBancodoBrasilaceleraareestruturaçãodeseusetordeseguros, agora que voltou a liderar o ranking das maiores instituições financeiras do País. O BB negociasociedadecom a americanaPrincipal,naáreade previdência, e com a espanhola Mapfre,nos outros nichos. A previsão é de que a operação resulte em aumento de capital entre 40% e 50%. ● PÁG. B1 ●●● BNDES
O banco liberou R$ 75,1 bilhões até julho, resultado recorde para o período. ● PÁG. B3
Afeganistão admite ser difícil conter Taleban O ministro da Defesa do Afeganistão, Abdul Wardak, admitiu ontem ser impossível “garantir com 100% de certeza que outros atentados terroristas não ocorrerão” no país, informa o enviado especial Lourival Sant’Anna. Nosábado,a explosão de um carro-bomba matou 7 civis em Cabul. Mas o governo diz que, em seis meses, frustrou 62 tentativas de ataques do Taleban na capital. O grupo extremistaprometeuma ondadeviolência na quinta-feira, dia da eleição presidencial. ● PÁG. A10
SEGUNDA-FEIRA, 17 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Jornais: Odmar Almeida Filho Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
Liberdade para a gastança
A
gastança eleitoral do próximo ano está garantida, por enquanto, graças aos vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao texto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovado no Congresso. Ao sancionar a lei, ele removeu obstáculos à expansão das despesas com publicidade, viagens e obras. Essas limitações haviam sido incluídas durante a tramitação do projeto. Os acréscimos foram possibilitados, segundo parlamentares da oposição, por acordos com a base do governo, agora violados, denunciam eles, pelo presidente da República. Com os vetos, a administração federal poderá continuar inflando as despesas de custeio. Um dos itens vetados impedia o governo de gastar com publicidade, viagens e diárias de funcionários mais que os valores destinados a essas atividades em 2009. “O ajuste proposto relativo a publicidade, diária, passagem e locomoção, efetuado de forma linear nos insumos à realização de políticas, pode inviabilizar a execução e o acompanhamento de obras públicas nas quais é necessária a presença do gestor do contrato, usualmente lota-
do em local distinto do município objeto da intervenção”, segundo justificativa na mensagem presidencial. O argumento parece ter alguma respeitabilidade, na parte relativa ao acompanhamento de obras, mas a ilusão dura pouco. O item vetado já abria exceção para despesas de interesse social, como segurança pública, vigilância sanitária e obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas o autor da explicação tropeçou de forma ainda mais desastrosa ao acrescentar outras duas considerações em defesa do veto. “Como não há disposição legal a respeito desse assunto neste exercício, o conhecimento antecipado da determinação poderá, ao contrário do que se pretende, levar ao incremento dessas despesas em 2009, resultando em letra morta a intenção preconizada.” Isso é muito mais uma confissão do que um argumento. A ideia de aumentar os gastos neste ano para criar espaço para despesas no próximo exercício é uma aberração. A simples consideração dessa hipótese dá uma ideia muito clara de como se entende a gestão financeira no Pa-
Mais respeito ao cidadão
S
e um órgão público necessitar de documentos que esclareçam a situação de um cidadão e essas informações já constem da base de dados de outra unidade do governo, a repartição não poderá solicitá-los ao interessado. Terá de pedir diretamente ao outro órgão, por meio eletrônico. Dentro de um ano – tempo necessário para que todos os bancos de dados federais sejam interligados e os funcionários sejam treinados para atender à exigência –, toda a administração federal deverá cumprir essa norma, que facilitará a vida do cidadão e dará mais velocidade à ação do governo no seu relacionamento com a população. É o que estabelece decreto presidencial publicado quartafeira, dia 12, no Diário Oficial da União, destinado a simplificar o atendimento público prestado pelos órgãos públicos federais, como o INSS, a Receita Federal, o Ministério do Trabalho e outros. Iniciativa da Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, a proposta de redução de exigências burocráticas foi submetida à consulta pública e recebeu contribuições de outros órgãos federais e de cidadãos, muitas das quais foram incorporadas ao decreto. À exceção do dispositivo sobre os bancos de dados, todas as medidas previstas no decreto têm vigência imediata. O decreto estabelece, por exemplo, que as relações entre o Poder Executivo Federal e os cidadãos deverão basear-se, entre outros princípios, na presunção de boa-fé, no compartilhamento de informações, na
atuação integrada dos órgãos públicos, no uso de soluções tecnológicas que simplifiquem os processos, na articulação com outros níveis de governo e na “utilização de linguagem simples e compreensível” na comunicação com o público. É redundante ao determinar que, salvo nos casos de dúvida quanto à autenticidade ou de exigência legal, não será exigido o reconhecimento de firma em qualquer documento a ser apresentado a órgãos federais, quando este for assinado perante o servidor público ao qual deve ser apresentado. Essa medida está em vi-
Mais um decreto que tenta diminuir a burocracia nos órgãos públicos gor há mais de 40 anos, em razão de decreto elaborado pelo então ministro do Planejamento, Hélio Beltrão, mas não é respeitada. Mas é uma redundância necessária, pois, como lembram especialistas em administração pública, a burocracia cresce como erva daninha e, por isso, precisa ser podada com certa frequência. Embora descartada formalmente, a exigência de reconhecimento de firma e de apresentação de cópias autenticadas foi se reintroduzindo na administração pública, tanto que, pouco mais de dez anos depois de extinta, sua extinção precisou ser reafirmada em outro decreto, também proposto por Beltrão. Repetese, agora, o processo. Outra inovação do decreto recém-publicado é a imposi-
ção, a todos os órgãos e entidades do Executivo que prestem serviços diretamente à população, da obrigatoriedade de elaborar e divulgar sua “Carta de Serviços ao Cidadão”. Essa Carta, que será afixada em local visível e colocada à disposição do público nas páginas eletrônicas dos respectivos órgãos públicos, deverá conter, em linguagem clara e precisa, a descrição dos serviços prestados, os requisitos para utilizá-los, as etapas para o processamento do pedido, o prazo máximo para o atendimento do cidadão, a forma de comunicação com o solicitante e mecanismos para apresentação de queixas, entre outras informações. Além disso, os órgãos federais devem aplicar periodicamente pesquisas de satisfação junto aos usuários, para avaliar a qualidade dos serviços prestados e identificar lacunas e deficiências. Embora limitadas às esfera do governo federal, são medidas importantes para melhorar o relacionamento da administração pública com os cidadãos, dando mais velocidade às respostas do Poder Executivo e reduzindo a irritação do público. Se vão funcionar ou não dependerá do comportamento do público, pois, como observou há algum tempo o secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Marcelo Viana, “para mudar o Estado é necessária a participação do cidadão, que deve reclamar sempre que seus direitos não estiverem sendo satisfatoriamente atendidos”.
lácio do Planalto. Espantoso é ter o presidente Lula assinado um texto com essa quase ameaça. Ele se mostra quase sempre bastante sensato para não cometer erros desse tipo. Ao lado dessa aberração, os atentados ao idioma (“intenção preconizada”, por exemplo) tornam-se quase invisíveis. A alegação seguinte trata da publicidade. Segundo a justificativa presidencial, o texto vetado confere à publicidade de utilidade pública “o mesmo tratamento dispensado à publicidade institucional”. Também esse argumento é indigente. Se o governo cuidasse de seus gastos com um pouco mais de seriedade, poderia muito bem eliminar ou restringir a chamada “publicidade institucional”, frequentemente confundida com propaganda, para preservar o dinheiro necessário à divulgação de informações úteis ao público. A pobreza da justificativa não é casual. Importante mesmo, para o Palácio do Planalto, é garantir o maior volume possível de recursos para a propaganda de efeito eleitoral em 2010. Quando se considera esse aspecto, não se pode acusar o governo de agir
sem prioridades. Eleger os candidatos de sua conveniência é a prioridade evidente. Um dos itens vetados proibia o governo de excluir da meta de superávit primário os valores de restos a pagar relativos a obras ainda não executadas do PAC. Segundo a justificativa do veto, a exclusão causaria graves dificuldades à realização de obras de grande porte e “de caráter plurianual”. Com esse veto, o governo poderá excluir do cálculo do superávit primário (o dinheiro destinado ao pagamento de juros) não só as verbas previstas para o PAC na proposta do orçamento de 2010, mas também o dinheiro empenhado neste ano fiscal e não desembolsado. Terá, portanto, liberdade completa para manejar esse tipo de verba sem se preocupar com o resultado fiscal do ano de eleições. Na prática, a exclusão dos investimentos do PAC abrirá espaço para o aumento de outras despesas, como as de pessoal, especialmente importantes, para o governo, em época de campanha eleitoral. Gastos permanentes de custeio já estão sendo criados para os próximos anos e será preciso acomodá-los no orçamento de 2010. O presidente Lula está empenhado em garantir essa acomodação.
O Brasil e os direitos humanos
O
Brasil acaba de ser condenado na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, num caso que envolve a repressão a movimentos sociais por meios ilegais, como escutas telefônicas não autorizadas judicialmente. Criada em 1953, sediada em Washington e formada por 7 juristas escolhidos pela Assembleia-Geral da OEA por seu mérito pessoal, e não como representantes de governos, a Comissão atua como primeira instância da Corte Interamericana de Justiça, com sede em San José, na Costa Rica. Os dois órgãos integram o Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos. A primeira condenação sofrida pelo Brasil na Comissão ocorreu há dez anos e envolveu a morte de um deficiente mental numa clínica psiquiátrica no Nordeste. Quando há denúncias de tortura, falta de empenho policial na investigação de crimes, maus-tratos no sistema carcerário e violência contra crianças e mulheres, a Comissão primeiro determina medidas cautelares. Caso elas não sejam tomadas, o país pode ser condenado. Além da sanção simbólica, que compromete a imagem desse país no cenário internacional, há severas sanções econômicas previstas por tratados e pactos de direitos humanos. Organismos multilaterais, como o Banco Mundial e o BID, por exemplo, estão proibidos de conceder ajuda financeira a países que ultrapassarem um determinado limite de condenações em matéria de desrespeito aos direitos humanos. Nos últimos dez anos, o Bra-
sil foi objeto de 507 denúncias de violação do chamado “Pacto San José”, firmado em 1969 e ratificado pelo País em 1992. Desse total, 29 denúncias foram acolhidas para análise pela Comissão. Só em um desses casos o Brasil sofreu nove medidas cautelares, uma das quais resultou no fechamento, em 2007, da unidade que a antiga Febem mantinha no bairro do Tatuapé. As demais exigiam providências imediatas para o descongestionamento do sistema prisional. Outra medida cautelar imposta pela Comissão acabou levando o Congresso a aprovar,
Aumenta o número de denúncias contra o Brasil nos órgãos da OEA há quatro anos, a “Lei Maria da Penha”, que estabelece severas punições para quem comete violência contra a mulher. No balanço das recomendações, os governos brasileiros acabaram fazendo quase tudo o que foi pedido pela Comissão. Em apenas três casos as recomendações foram acatadas parcialmente, segundo a Comissão, e em somente um, envolvendo um garoto de 13 anos que teria sido executado pela Polícia Militar numa favela carioca, o Brasil ainda não tomou as providências que foram solicitadas. O balanço da Comissão também revela que o número de denúncias apresentadas contra o Brasil nos órgãos da OEA vem aumentando significativamente. Hoje, há 108 petições protocoladas por casos de as-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Bigode
Asduasfacesdopresidente
Que vergonha para o Brasil ter na presidência do Senado um homem como Sarney, que não respeita o povo brasileiro nem seu bigode, que deveria ser raspado, pois ele não merece usá-lo. Fora, Sarney! Para o bem do Brasil!
O presidente da República, no palanque, pede civilidade ao Senado e, em seu gabinete, aplaude as baixarias de sua tropa de choque. HELENA RODARTE COSTA VALENTE helenacv@uol.com.br
Rio de Janeiro
NELSON BARBOSA GOMES
Duartina
Não há mais condições de Sarney permanecer sequer no Senado, quanto mais como presidente da Casa de Leis. É ruim para a instituição, vergonhoso para o País e péssimo para a democracia, já violentada pela censura. É hora de ir para casa, a esta altura não há biografia que saia ilesa. ●
ROBERTO CABRAL cabralhoje@bol.com.br
Maringá (PR)
“
Os tentáculos-Sarney já alcançaram a Justiça, fazendo oSTJ manter o cala-a-boca no Estadão?”
CesareMorosini cesare@listasinternet.com.br Guarulhos
sejável intromissão em seus destinos, como ícone que é da liberdade de expressão, da democracia e do Estado de Direito no País. RICARDO YAZBEK, presidente da Fiabci/Brasil fiabci@fiabci.com.br
São Paulo
Justiça? A censura ao Estado é a ditadura
Nãovaleapenaverdenovo O PSDB poupou Azeredo no escândalo do mensalão, e deu no que deu (reeleição). Agora vai poupar Virgílio. Dilma agradece. CARLOS NORBERTO VETORAZZI
São José do Rio Preto
FLÁVIO DIAS f.thayan@uol.com.br
São Paulo
Solidariedade Nossa solidariedade ao Estado contra o ato de censura arbitrário a que está sendo submetido, num flagrante desrespeito aos princípios constitucionais, como só vimos nos tempos da ditadura, tão combatida pelo jornal. Temos certeza que a ação desmesurada não vingará e que o Estadão de novo superará esse óbice, saindo outra vez engrandecido de mais essa inoportuna e inde-
dos “caras” (de pau). Podemos chamar de justiça um ato que beneficia só um indivíduo e seus interesses, em detrimento da informação de um povo? Chega de ditaduras. Quando aprenderemos? Só dói quando eu rio...
Resgate Incomensurável é a distância que existe entre a sociedade e o Congresso Nacional. Pudera! Tem senador que nem é eleito pelo povo... A tal ponto que, entre mortos e feridos, no Senado se salvaram todos. VANDERLEI ZANETTI vanzanetti@uol.ocm.br
São Paulo
sassinato, prisões degradantes e crimes contra a infância e a adolescência. Em grande parte, isso se deve à atuação de alguns movimentos sociais que profissionalizaram sua atuação. Além de investir na formação de redes de atores não-estatais no continente, de estudar exaustivamente as legislações nacionais e internacionais em matéria de direitos humanos e de contratar advogados especializados, eles desenvolveram o conceito de “litígio estratégico ou paradigmático”. A ideia é concentrar a atenção em casos exemplares e com grande impacto social, dandolhes o máximo possível de visibilidade política, com o objetivo de obter “precedentes” no Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos. O passo seguinte é pressionar os tribunais nacionais a acolher esses precedentes e os governos a adotar novas políticas sociais. Em outras palavras, o “litígio estratégico ou paradigmático” envolve a prática de uma advocacia mais engenhosa, que vai além do simples denuncismo, por parte dos movimentos sociais. Essa estratégia deu certo na Colômbia, Chile e Peru, países cujas Cortes superiores converteram em jurisprudência vários precedentes abertos na Comissão e na Corte Interamericana dos Direitos Humanos. No Brasil, isso só agora está começando – e o aumento do número de denúncias é apenas o primeiro passo de um processo que tem por finalidade criar fatos políticos externos para convertê-los em pressão política interna, para induzir governos e tribunais a dar mais atenção aos direitos humanos.
AquareladoBrasil É, a coisa tá preta. A situação, vermelha. Marina fica verde. E a oposição amarela. NELIO ESQUERDO nelioesquerdo@terra.com.br
São Paulo
Comoéque é? Quer dizer que a Câmara e o Senado pediram ao Ministério da Saúde que liberasse doses de Tamiflu, contra a gripe suína, para par-
lamentares e servidores não precisarem se locomover até postos de saúde, como está fazendo a mal informada população brasileira? Quem eles pensam que são? O Congresso tem todo um serviço de saúde, com médicos que no momento em que essas excelsas criaturas derem o primeiro espirro lhes darão atendimento privilegiado. E S. Exas. querem ainda mais regalias? Uma fila de vez em quando não faz mal a ninguém e quem sabe ajudaria S. Exas. a desembarcarem da ilha da fantasia e sentirem como vivem as pessoas comuns. Sabem o que falta no Congresso? Alguém que diga a esses césares, várias vezes ao dia: “Sois mortais.” ANA MARIA P. MORAES anamapa@uol.com.br
São Paulo
SEGUNDA-FEIRA, 17 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
JORNAIS
ANJ discute o futuro do jornalismo no Brasil Associação comemora 30 anos e faz amanhã, em Brasília, um encontro para debater a liberdade de expressão e o fim da Lei de Imprensa ORESTIS PANAGIOTOU/EPA
Felipe Recondo BRASÍLIA
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) promove amanhã, em Brasília, um debate sobre a liberdade de expressão e o futuro do jornalismo brasileiro. O evento é parte das comemorações dos 30 anos da entidade, comemorados hoje. Dentre os principais temas a seremdiscutidos, está a liminar concedida pela desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que proibiu o Estado de publicarreportagens sobrea investigação da Polícia Federal contra FernandoSarney, filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubaram a Lei de Imprensaeaexigência dodiploma para jornalistas. O repórter Iason Athanasiadis-Fowden, do jornal Washington Times, preso por 20 dias durante os protestos no Irã após a conturbada reeleição do atual presidente,MahmoudAhmadinejad, em junho deste ano, foi convidado para dar seu testemunho sobre o cerceamento à liberdade de expressão no país. Discutem também o destino do jornalismo e a liberdade de expressão o colunista do Estado Daniel Piza, o ombudsman da Folha de S. Paulo, Carlos EduardoLinsdaSilva,odiretorgeral de Produto do Grupo RBS, Marcelo Rech, e os colunistas de O Globo Merval Perei-
disposição da Constituição degarantiraliberdadede imprensa, as liminares em favor da censura a jornais são preocupantes. CASOS
VÍTIMA – Iason Athanasiadis-Fowden, do jornal Washington Times
ra e do Correio Braziliense Alon Feuerwerker. Antes do debate, a entidade entregará o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa ao depu-
tado Miro Teixeira (PDT-RJ), autor da ação no STF que resultou no fim da Lei de Imprensa. Apesar de as decisões recentes do Supremo confirmarem a
“Temos a lamentar as seguidas decisões do Judiciário, em sua primeira instância, de exercer a censura prévia. Dos31casoscontraaliberdade de imprensa sobre os quais a ANJ se manifestou nos últimos 12 meses, 16 são decorrentesdessetipodedecisão”, afirma a presidente da ANJ, Judith Britto. Decisões como a que censurou o Estado, diz a presidente da ANJ, não resistem à revisão do Judiciário. Ficam restritas a juízes da primeira instância, mas provocam estragos. “Pessoas alegam que determinada informação vai lhes ser prejudicial e previamente alguns juízes impedem o meio de comunicação deveiculá-la.Nainstânciaseguinte, a liminar cai, mas aí o mal já está feito”, completou (leiaartigosobreacensuranesta página). Além disso, ela afirma, o prejuízo provocado por essas liminares não fica restrito ao jornal ou meio de comunicação que foi alvo da ação. “Pode parecer censura que afeta apenas um jornal, mas na verdade afeta a imprensa, os jornalistas e o jornalismo”, disse Judith Brito. ●
NACIONAL A7 A7 NACIONAL
Artigo
Censura e devido processo legal João Antonio
Wiegerinck *
A
Constituição Federal reserva em seu artigo 5˚, inciso LIV, o direito assegurado ao devido processolegal eà liberdade.Devidoporque é prestação obrigatória do Estado brasileiro para comseusadministrados,pautado na impessoalidade e busca da verdade real; processo porque é um conjunto de atos em sequência prevista; e legal porque os diplomas infraconstitucionais regulam tanto o processo em si como os fatos anteriores e incidentes ao mesmo. Quandosetratadamanutenção do devido processo legal, alguns pedidos considerados como exceção podem ser solicitados ao magistrado encarregado da condução da lide. Um destes pedidosé o segredo de Justiça. O segredo de Justiça é solicitado com o objetivo de se evitar fraude de uma das partes, a qual poderia se valer das informações contidas no processo paraeventualmentetirarvantagem das informações e deixar de cumprir futura condenação, ouainda, fraudarsituaçãodedireito ou estado, como simular documentos ou desfazer-se de outros comprometedores. Assim, o segredo de Justiça tem por objetivo vetar informação.Poróbvio,quandotalobjetivotem comoescopoinstrumento da imprensa, ou seja, calar instituição voltada justamente à informação, de plano já se questiona a existência ou não de um Estado democrático de direito, no qual a liberdade de
expressão é dos valores mais protegidos e caros à cidadania, amplosenso.Aúnica justificativa para se impor o silêncio a um órgãos de comunicação e informação diante dos direitos e garantias constitucionais seria o comprometimento das investigação ou o resultado final a ser atingido pelo Judiciário. No atual quadro da infundada decisão de censura contra o jornal O Estado de S. Paulo, o representante do Judiciário nãoencontraqualquerjustificativa para embasar o absurdo cerceamento. Nada do que foi divulgado compromete o processo em si, a apuração das denúncias ou o final da lide. Aliás, não fosse o trabalho da imprensa, as denúncias não teriam bases sólidas para causar tanta preocupação aos envolvidos. O Brasil vem crescendo, vem amadurecendo sua condição de Estado adolescente ao apurar suas falhas e se responsabilizar por elas. Economicamentemaisestável,administrativamente mais transparente. Outrora, as investigações eram prejudicadas e as situações, todas elas, encobertas. O que se espera e exige é um Judiciário comprometido com a Justiça e a liberdade. O coronelismo e seus frutos não podem vingar no amadurecimento do País. Qualquer instituição pública deve primar no exemplo. O Senado não é exceção. Em paralelocomoExecutivo,exerceagestão do Estado diretamente. Os eleitores não se esquecerão de quem busca a sombra e de quem a fornece. Em nome da Constituição, vida longa à liberdade de expressão, de imprensa e à informação. ●
*João Antonio Wiegerinck é professor de direito constitucional do Mackenzie
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Empreiteiraadmitequecomproudoisimóveisusadospeloclã;senadorataca‘Estado’ ROBERTO JAYME/REUTERS
do as parcelas. O outro imóvel éusadocomfrequênciaporassessores da família e já hospedou o próprio Sarney. Em seu discurso, citando o direito à privacidade, o senador afirmou que nem ele nem os demaisparlamentaresdevemexplicações “sobre a compra de qualquercoisaque usemna vida”. ● PÁGS. A4, A6, A8 e A9
Senadores voltam a pedir afastamento
●●● LULA DESAFIA LINA
OpresidenteLuladissequeseria “simples e fácil” se a ex-secretária da Receita Lina Vieira mostrasse sua agenda para provaroencontrocomaministra Dilma Rousseff. Lina vai hoje ao Senado. ● PÁG. A6
OLHOS NOS OLHOS – Lula e Sarney se cumprimentam no Itamaraty
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 18 DIAS
●●● Logo após o pronunciamento do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), parlamentares voltaram a defender seu afastamento. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) defendeu o jornal dos ataques: “O Estado de S. Paulo é um patrimônio deste país. Não posso aceitar silenciosamente as agressões feitas ao jornal”, afirmou. ● PÁG. A6
‘Não é razoável que se espere tanto. O TJ tem de se pronunciar’, afirma
A Associação Nacional dos Jornais divulga hoje relatório com12casos de censura,entre os quais o do Estado. ● PÁG. A8
Levantamento mostra que seis em cada dez paulistas vivem em áreas saturadas por ozônio, um dos poluentes maisnocivosàsaúde.Afumaça preta que sai dos veículos é um de seus principais componentes. ● PÁG. C1
O que mais chama a atenção nas impropriedades do clã do presidente do Senado, José Sarney, que não cessam de vir à luz é a despreocupação com as marcas comprometedoras de suas ações. ● PÁG. A3
MÁX.
Policiais vestidos de gari e marronzinho flagraram ladrões de carga. ● PÁG. C5
●●
CADERNO 2 O Brasil de Babenco
●●● Roger Abdelmassih, um dos
maiores especialistas em reprodução assistida do País, é levado
por policiais de sua clínica na Avenida Brasil, em São Paulo. O Ministério Público Estadual acusa o
MÍN.
OLIVIER MORIN/AFP
●●●
434 anúncios
médico de ter estuprado 56 mulheres. Ele nega. A defesa diz que a prisão é ilegal. ● PÁGS. A23 e A24
CAI UM MITO – Yelena Isinbayeva grita ao perder a final no Mundial
Quase toda a filmografia do cineasta estará na TV paga a partir de hoje.●
●●
VIAGEM
ESPORTES
Sol de manhã, mas frente fria traz chuva à capital no fim do dia.
Hoje: 82 páginas A. 1º caderno: 26 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 12 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 14 ● Cl. Classificados: 6
●● A movimentação eleitoral de Henrique Meirelles causa incômodo nos mercados. Investidores apostam que ele sairá do BC bem antes de março. ● PÁG. D2
Presa quadrilha que agia na 25 de Março
● PÁG. C2
15º
Antes da hora
Segurança
EVELSON DE FREITAS/AE
Com a volta às aulas ontem, após o recesso forçado por causada gripesuína,as escolasagoravãodecidircomoreporasaulas –pode haver turnos extras aos sábados ou em dezembro, para cumprir os 200 dias letivos. ● PÁG. A25
28º
Direto da Fonte
O porta-voz do Taleban, Qari Yousef Ahmadi, negou ontem, em entrevista ao Estado, que o movimento esteja negociando umatréguaparaaseleiçõesdesta quinta-feira. “O governo quer enganar o povo”, disse Ahmadi, que descartou também qualquer diálogo do grupo com o presidente Hamid Karzai, caso seja reeleito. ● PÁGS. A18 e A19
●●● MENÇÃO DA ANJ
Poluição veicular atinge 60% dos paulistas
Uma empreiteira no circuito
Levantamento do Banco Central mostra que bancos públicos e privados têm visões opostas sobre o futuro do crédito. Os estatais apostam na queda da inadimplência e separaram R$ 0,16 de provisão a cada R$ 1 em novos financiamentos no primeiro semestre. Nos privados, provisões bem maiores: a cada R$ 1, foram reservados R$ 2,25 contra prejuízos. Analistas veemootimismodosbancospúblicos com cautela. ● PÁGS. B1 e B3
ENVIADO ESPECIAL A CABUL
nal tem de se pronunciar.” O advogado do jornal entrou ontem com novo recurso contra a censura. ● PÁG. A9
Tempo: CAPITAL
Reserva anticalote é menor em banco estatal
Lourival Sant’Anna
Reabertas, escolas vão decidir como repor aulas
NOTAS E INFORMAÇÕES
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Porta-voz negatrégua doTaleban antesdaeleição
NA CLÍNICA: ROGER ABDELMASSIH É PRESO
Mendes cobra decisão rápida sobre censura O presidente do STF, Gilmar Mendes, pediu “celeridade” do Judiciário para decidir sobre a censura ao Estado, proibido pelo desembargador Dácio Vieira, do TJ-DF, de divulgar investigação sobre Fernando Sarney. “Não é razoável que se dê uma liminar e se espere tanto tempo. O tribu-
(1891-1927)
18 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42308
Sarney nega, mas empresa confirma favor à família O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), acusou o Estado de promover “campanha sistemática” e de usar “prática nazista” contra ele, referindo-seà notícia,publicada no domingo, segundo a qual a empreiteira Aracati/ Holdenn comprou dois dos três apartamentos usados pela família Sarney em São Paulo.Sarneydissequenãoháprovas do negócio. Em nota, porém, a empreiteira confirmou a transação e disse que revendeuum dosimóveis ao deputado José Sarney Filho (PVMA), filho do senador. Sem dar detalhes, informou que SarneyFilhoaindaestápagan-
JULIO MESQUITA
& AVENTURA
Lenda russa do salto com vara falha no Mundial
Jornada africana
●● YelenaIsinbayeva,bicam-
TURISTA PROFISSIONAL ●● Na contramão dos turistas,épossível curtir umaNatal diferente. ● PÁG. V12
peãolímpicae26vezesrecordista mundial, terminou ontem num inacreditável oitavo lugar em Berlim. ● PÁG. E1
●● Os animais do desertosul-
africano e uma praia de Moçambique são atrações.●
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TERÇA-FEIRA, 18 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS E INFORMAÇÕES A3 NOTAS E INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Jornais: Odmar Almeida Filho Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
Uma empreiteira no circuito
O
que mais chama a atenção nas impropriedades do clã Sarney que não cessam de vir à luz é a despreocupação com as marcas comprometedoras de suas ações. Pessoas comuns, como disse o presidente Lula para delas distinguir a especial figura do senador maranhense, geralmente cuidam de salvar as aparências para encobrir os vestígios de suas malfeitorias. Sabem quando as cometem e sabem que algum risco existe de serem chamadas a prestar contas por isso. As outras, aleitadas na cultura do privilégio, praticam impropriedades, ou coisa pior, com uma desenvoltura que só se explica pelo senso da própria incolumidade. De reincidência em reincidência, acabam perdendo a noção do certo e do errado, transformando a imoralidade em amoralismo. O que se publicou nos últimos meses sobre a abastada crônica dos desvios de conduta do atual presidente do Senado – e os seus protestos de inocência em relação a cada um deles – se encaixa nessa perspectiva: o nepotismo, os favores aos apaniguados, as lambanças com recursos alheios, a apropriação privada de bens públicos. Em suma, os traços incon-
fundíveis da política patrimonialista à sombra da qual percorreu uma trajetória de 55 anos que ele hoje invoca para se considerar inimputável. Se tudo é natural, que mal haveria em recorrer a uma empreiteira para comprar “secretamente” imóveis para uso da família? E que mal haveria no fato de essa empreiteira fazer excelentes negócios no setor elétrico? Decerto a presença de apadrinhados de Sarney em postos decisivos do setor não tem nada que ver com isso. A história chega a ser singela. Em 2006, a família resolveu ter mais dois apartamentos no prédio da Alameda Franca, em São Paulo, onde é dona de um pied-à-terre desde 1979, em nome de Fernando Sarney. Num caso, o proprietário do apartamento 22 foi procurado pelo neto do senador, o economista José Adriano Cordeiro Sarney, filho mais velho do deputado Sarney Filho, o Zequinha. (José Adriano frequentou recentemente o noticiário como sócio da empresa que intermediou R$ 1,2 bilhão em empréstimos consignados junto a 20 instituições bancárias para funcionários do Senado.) Dias
depois, entrou em cena Maria Rosane Frota Cabral, irmã e sócia de Rogério Frota na empreiteira Aracati Construções, que hoje se chama Holdenn Construções. Rogério, um cearense radicado no Maranhão, se tornou amigo próximo de Zequinha. “Por alguma razão, não queriam que o sobrenome Sarney aparecesse”, percebeu o vendedor, que passou a escritura no saguão do Aeroporto de Congonhas a um tabelião de Sorocaba. No segundo caso, dez meses depois, sabendo que outro proprietário pensava em vender o seu apartamento, o 32, o zelador do edifício o abordou. “Ele me disse que o senador Sarney, que já tinha dois apartamentos no prédio, queria um terceiro, para um assessor dele”, contou ao Estado. A partir daí, o padrão se repetiu: depois de uma visita do empreiteiro Frota, a sua irmã fechou o negócio e passou a escritura com o mesmo tabelião de Sorocaba. Os dois imóveis foram e continuam registrados em nome da Aracati. Zequinha diz que o dono de fato do 22 é ele e que o declarou à Receita – uma anomalia. Diz também que o 32 “não nos pertence”. Não é o que acham os mo-
radores e funcionários do edifício. E o próprio senador se hospedou nele em junho, quando ficou em São Paulo acompanhando a convalescença da filha Roseana depois de uma operação. Mas o que os Sarneys dizem muitas vezes não passa pela prova dos fatos. Depois que este jornal revelou, em 10 de junho, o escândalo dos atos administrativos secretos no Senado, o titular da Casa afirmou textualmente: “Eu não sei o que é ato secreto.” Na sexta-feira passada, o ex-diretor de Recursos Humanos Ralph Siqueira relatou ao Estado que, em fins de maio, falou a Sarney da existência dos atos secretos. “Ele sabia”, contou. O senador, portanto, mentiu – como havia mentido ao negar que tivesse poderes decisórios na fundação que leva o seu nome, da qual foram desviados R$ 500 mil de um patrocínio de R$ 1,3 milhão da Petrobrás. Os atentados de Sarney ao decoro parlamentar se acumulam, portanto. Há menos de dois anos, convém lembrar, Renan Calheiros teve de renunciar à presidência da Casa para não ser cassado depois que se descobriu que o lobista de uma empreiteira pagava despesas da mãe de um de seus filhos. “Quantas denúncias mais ele aguenta?”, pergunta o senador Demóstenes Torres.
Ganhos salariais na crise
A pena de morte em vigor
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S
ontrariando conselhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e previsões de dirigentes sindicais, mais categorias profissionais pediram e obtiveram ganhos reais de salários no primeiro semestre deste ano do que em igual período do ano passado, quando a crise internacional ainda não havia atingido sua fase mais aguda. Mais do que pedir aumento, os trabalhadores devem contribuir para que as empresas vendam, recomendava há poucos meses o ex-dirigente sindical Lula da Silva. Na época, o mercado de trabalho apresentava um quadro sombrio, com o aumento contínuo do desemprego e estagnação da massa salarial, o que parecia justificar a recomendação, pois, explicava Lula, quanto mais as empresas vendessem, mais emprego poderiam oferecer, o que abriria o caminho para reivindicações de melhores salários. Os dados do primeiro quadrimestre, que mostravam uma clara mudança na tendência observada nos últimos anos – quando o emprego aumentava e a renda do trabalhador crescia –, levavam empresários, dirigentes sindicais e economistas a prever um cenário ruim para as negociações salariais. “Será um ano difícil e com poucas perspectivas de ganhos salariais para os trabalhadores”, dizia em maio o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio. Mas, com a concordância dos empregadores, muitos trabalhadores preferiram não seguir os conselhos do presidente da República e não acreditar nas previsões dos sindica-
listas. Assim, as negociações realizadas pelas 245 categorias profissionais com data-base no primeiro semestre tiveram resultados melhores para os trabalhadores do que as concluídas nos seis primeiros meses do ano passado. Segundo o Dieese, 77% das negociações do primeiro semestre deste ano resultaram em ganho real de salário, isto é, tiveram reajustes superiores à inflação de 12 meses medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que baliza as correções salariais, contra 72% no ano passado. Do total de acordos deste
Contra o que se previa os acordos foram melhores do que no ano passado ano, apenas 7% tiveram reajuste menor do que o INPC (isto é, resultaram em perda salarial), contra 13% em 2008. Os demais repuseram a inflação. São números surpreendentemente positivos que devem, porém, ser analisados com cuidado. Dos três setores analisados pelo Dieese, a indústria é a que apresenta os piores resultados com relação a emprego e renda. Embora em outros setores já surjam sinais fortes de recuperação, na indústria os dados mais recentes ainda indicam a continuação do processo de deterioração do mercado de trabalho. Segundo a Fiesp, o nível de emprego na indústria paulista caiu 0,32% em julho, na décima queda mensal consecutiva. As demissões, que ocorreram também em outros seto-
res, permitiram que as empresas concedessem aumentos reais aos empregados, sem necessariamente aumentar seus gastos com pessoal. Ou seja, o custo dos aumentos reais dos salários foi repartido entre os próprios trabalhadores; para parte deles, o preço foi a perda do emprego. “Não ocorreu aumento da massa salarial dos trabalhadores do setor formal”, observou o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, ao apresentar os dados das negociações do primeiro semestre. De todo modo, esses dados mostram que os efeitos da crise sobre o mercado de trabalho brasileiro foram menores do que os registrados nos países industrializados e do que se previa no fim do ano passado e no início deste. O comportamento da inflação, que se manteve baixa nos últimos meses, ajudou a melhorar os resultados gerais das negociações salariais, pois, mesmo com índices de correção relativamente baixos, muitos acordos resultaram em ganhos reais. Por isso, em valores, os ganhos registrados neste ano são modestos, em média menores do que o de anos anteriores. Mesmo assim, eles levam à previsão de que, no segundo semestre, as negociações devem ser ainda mais favoráveis para os trabalhadores. Com certeza, elas serão mais tranquilas do que as do segundo semestre de 2008, quando ninguém podia prever como a crise afetaria a economia brasileira.
abia-se que o sistema carcerário brasileiro é péssimo. Mas não que fosse tão ultrajante à vida e à dignidade humana, como testemunharam os que trabalharam nos mutirões carcerários promovidos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que no período de um ano libertou 4.781 pessoas indevidamente presas – conforme reportagem publicada sábado pelo Estado. Os exemplos são escabrosos, mas não há como fugir deles, pois só assim se tem a noção real de a que ponto chegou a falência de um sistema, envolvendo muitas instituições públicas. Em um ano o CNJ examinou 28.052 processos em 13 Estados e terminou por libertar 17,36% do total de presos cuja situação jurídica foi analisada, inclusive 310 menores. Uma parte dos presos já havia cumprido a pena, mas permanecia encarcerada; outra parte tinha direito à progressão da pena e outra parte estava presa sem processo algum, sem acusação, ou esperava há anos um julgamento – uma tragédia surrealista ilustrada pelo desabafo de um presidiário que pediu a um juiz do CNJ: “Doutor, eu tô preso há 2 anos, 7 meses e 1 dia e não fui julgado ainda. Eu acho que tenho o direito de sentar na cadeira do réu.” Mas esse não foi o pior caso. Os juízes do CNJ descobriram um homem encarcerado no Ceará há dez anos, sob acusação de homicídio, mas cujo processo havia, simplesmente, desaparecido. No Espírito Santo descobriram outro que ficou 11 anos preso sem nunca ter sido julgado. E aí vêm exemplos de situações horripilantes de pre-
sidiários brasileiros: no Amazonas, um preso paraplégico é deixado no chão deitado, com as nádegas feridas pela falta de movimentos, e quando precisa ir ao banheiro grita para que o carcereiro o leve. Se não chegam a tempo, urina e defeca deitado e continua deitado à espera de alguém para limpálo. No Espírito Santo, 256 presos instalaram três andares de rede para ocupar uma cela destinada a apenas 36 pessoas. Alguns passam dias deitados, por não haver espaço para ficarem em pé. No Maranhão estourou uma rebelião tendo por principal reivindicação dos de-
As condições nas prisões impõem penas que a lei brasileira baniu tentos o abastecimento de uma caixa d’água para que voltassem a tomar banho – depois de dias. No centro de custódia para menores no Espírito Santo um dos garotos vomita seguidamente por não suportar o cheiro das fezes que ficam armazenadas no canto do contêiner em que fica preso. É preciso mais para concluir que a dignidade humana tem sido totalmente destruída em nosso sistema carcerário? Na Bahia a Defensoria Pública descobriu, no fim de 2008, que a polícia do Estado estava adotando uma prática típica dos tempos da ditadura: a prisão para averiguação de qualquer pessoa suspeita de ter cometido um crime, sem que a polícia comunicasse, como manda a lei, a ocorrência ao Ministério Público, à Defenso-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Ocircocontinua Assistir à TV Senado tornou-se tarefa árdua! Pelo pronunciamento do senador José Sarney, o Estado (sob censura) mente sobre seus bens adquiridos em São Paulo (e a empreiteira ligada ao filho?!). E indaga se terá de prestar contas de todos os bens que adquirir, bem como os demais senadores. Ora, o senador Sarney, acredita em mentiras que ele mesmo plantou e está levando outros com ele – os que temem, os que não agiram corretamente, como ele. A resposta ao seu pronunciamento é uma só: queremos investigação de tudo e sem mais! Quando é que as “sessões circenses” do Senado serão encerradas? LÍGIA BITTENCOURT ligialbc@uol.com.br
São Bernardo do Campo
● Todos sabem que Sarney exerce influência no setor elétrico, tanto que indicou o atual ministro. Nada, então, justifica o uso de dois apartamentos por membros de sua família, em São Paulo, especialmente porque a empreiteira proprietária atua no setor elétrico. Trata-se de mais uma denúncia e de mais uma vitória da democracia, apesar das violações à liberdade de imprensa, catalogadas em nossa Carta Magna, e que, certamente, serão recompostas pelas Cortes mais altas deste país.
“
Sarney sabia dos atos secretos. E agora, José?”
IvanBertazzo bertazzo@nusa.com.br SãoPaulo
JOSÉ CARLOS DE CARVALHO CARNEIRO
possuir apartamentos no mesmo prédio de uma construtora amiga é igual à probabilidade de um indivíduo ser atingido por um meteorito na cabeça, enquanto um terremoto ruge sob os seus pés.
carneiro@claretianas.com.br
CLOVES SOARES DE OLIVEIRA
Rio Claro
clovessoliveira@superig.com.br
Valinhos
Leidasprobabilidades A probabilidade de ser coincidência o fato de a “famiglia” Sarney
Encosto O senador Sarney é igual ao maca-
ria Pública e à Justiça. Em entrevista ao Estado, o magistrado responsável pela coordenação dos mutirões do CNJ, Erivaldo Ribeiro dos Santos, entre outras “surpresas” descobertas destaca o volume das “penas vencidas”, que jamais imaginaria tão grande. “A pena vencida é mostra de um descontrole total”, diz ele. “É uma falha do sistema de justiça criminal, sistema que é composto pela polícia, pela administração penitenciária, pelas Secretarias da Justiça e da Segurança, pela Defensoria Pública, pela defesa em geral, incluída a OAB, pelo Ministério Público, pelos juízes que atuam nas Varas Criminais. Essas pessoas estão presas pela burocracia do sistema, pela irracionalidade do sistema, que não é inteligente a ponto de indicar ao juiz que tal preso está com a pena vencida ou que tem direito a um benefício.” E o mesmo magistrado sintetiza a tragédia do sistema carcerário: “Algumas de nossas prisões são uma sentença de morte. Ninguém merece ficar um dia ali. Essa forma de encarceramento é uma hipocrisia. Nós, que não aceitamos a tortura, a pena de morte, vemos que algumas de nossas formas de encarceramento são uma tortura, uma pena de morte lenta, gradual e sem morfina. Esses não são mais relatos da academia. São constatações do CNJ.” É de esperar que essas oportuníssimas constatações do Conselho Nacional de Justiça signifiquem, pelo menos, o início de uma conscientização que leve à rápida reversão desse estado de coisas, vergonhoso para qualquer país minimamente civilizado.
co da piada: cego, surdo e mudo. Nem liga se rasgou e encheu de marimbondos a sua biografia. O povo do Maranhão e do Amapá precisa de muita ajuda espiritual para se livrar desse encosto.
digna do povo brasileiro, e o da liberdade de imprensa. Isso acabará prevalecendo no Brasil e em toda a América Latina – e quero fazer meu neto aprender e seguir, para um futuro melhor do País.
MACMILLER JOSÉ RIBEIRO
MIKIO MODA
macmilleribeiro@gmail.com
mikiomoda@ig.com.br
São Paulo
São Paulo
Quintopoder
Foroatípico
Emocionei-me com o editorial Exibe-se o quinto poder (16/8, A3). Os que querem burlar lei e a Constituição, a História do Brasil, a luta contra ditadura e a favor da democracia e estabelecer um poder maligno no Brasil fiquem sabendo que o Estado está certo! Na minha opinião, os dois pilares que ninguém vai destruir são o da democracia, conquistado com luta
O Estado está sendo vítima do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, irmão xifópago do Senado, cujo “pai” se chama José Sarney. JOSÉ FRANCISCO PERES FRANÇA josefranciscof@uol.com.br
Espírito Santo do Pinhal
Solidariedade A Associação Nacional de Edito-
res de Revistas (Aner) vem prestar solidariedade ao Estado em razão da censura prévia que lhe foi imposta pelo Judiciário, impedindo o exercício constitucional de informar e ser informado, e repudiando, veementemente, qualquer ato de limitação à liberdade de imprensa e de expressão política, ideológica e artística, princípios que alicerçam o Estado Democrático de Direito e dão à sociedade os meios adequados para o verdadeiro exercício da cidadania. Na certeza de que tal arbitrariedade será revertida e que os princípios democráticos conquistados serão restabelecidos, a Aner coloca-se ao lado do jornal para auxiliar no que for necessário nesse sentido. ROBERTO MUYLAERT, presidente
São Paulo
A6 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 18 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA
Simon compara momento do Senado ao ‘inferno’ e pede saída de Sarney Cristovam também defendeu afastamento e diz que presidente da Casa pode ser alvo de nova representação CELSO JUNIOR/AE
FRASES
Leandro Colon BRASÍLIA
Foi negativo o efeito colateral provocado no plenário do Senado pelo discurso do presidente da Casa, José Sarney (PMDBAP), afirmando que sofre uma “campanha nazista” para se afastar do cargo. Parlamentares voltaram a defender o afastamento do peemedebista, o acusaramdetemerasinvestigações e compararam o Senado ao “inferno”. “Eu diria que nós estamos vivendomomentoemqueestaCasa é pior do que o inferno. Sem morrermos estamos vivendo o infernoaqui,noSenado,pelodeboche, pela ridicularização”, disse o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Da tribuna, Simon pediu a saída de Sarney da presidência e defendeu que o ConselhodeÉticainvestiguetodas as acusações contra o colega, inclusive as relações com a empreiteiraHoldenn,ex-Aracati, proprietária de dois apartamentos usados pelo clã Sarney, em São Paulo, como o Estado revelou no domingo. “Por que não permitir que o Conselho de Ética faça o levantamento? O normal de um Estado democrata seria que esses assuntos fossem investigados”, afirmou. “Eu acho que o senhor (Sarney) deve renunciar, porque se não renunciar, eu não sei o que vai acontecer. Dias muito negros, horas muito difíceis, dramáticas, nós vamos viver”, ressaltou Simon.
Presidente do Senado deixou plenário e não ouviu cobranças Oparlamentargaúcho defendeuoEstadodosataquesdesferidos por Sarney contra o jornal . “O Estado de S. Paulo é um patrimônio deste país”, frisou.“Eunão possoaceitarsilenciosamente as agressões feitas ao jornal. Estou aqui para me lembrar do velho Estadão, na época da ditadura, do arbítrio, da violência. Claro que o presidenteSarneynãoselembradessa época, pois estava lá do lado do governo”, disse Simon, que citou a censura imposta no dia 30 de julho pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, proibindo o Estado de publicar informações sobre a investigação da Polícia Federal contra FernandoSarney, filhodopresidentedo Senado: “Aí vem oilustre desembargador, amigo pessoal do presidente, e veta”.
Pedro Simon Senador (PMDB-RS) “Eu não posso aceitar silenciosamente as agressões feitas ao jornal (Estado)” “Dias muito negros, horas muito difíceis, dramáticas, nós vamos viver”
Cristovam Buarque Senador (PDT-DF) “Houve uma denúncia em relação a um personagem e a obrigação da gente é investigar”
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) também pediu que Sarney deixe a presidência do Senado. “Eu não sou aquele que está aqui jogando pedra, dizendo que o senador José Sarney tem culpa de tudo isso. Mas eu acho que é uma obrigação nós investigarmos”, disse o pedetista.“Étristesaberoquesignifica ser senador hoje em dia naopiniãobrasileira;étriste ouvir as piadas que contam hoje”, afirmou. Segundo Cristovam, uma nova representação no Conselho de Ética poderá ser feita em cima dos indícios da ligação do Sarney com as empreiteiras que compraram os apartamentos de uso da família do presidente do Senado. “Nós não temos outra saída a não ser apresentar mais uma representação e continuar esse sofrimento contínuo que estamos vivendo há tantos meses”, disse Cristovam. “Houve uma denúncia em relação a um personagem e a obrigação da gente é investigar. E a obrigação dele (Sarney) seria pedir a investigação para limpar o nome dele”, ressaltou. Ontem, em plenário, Sarney criticouasdeclaraçõesdopresidentedaComissãodeConstituição e Justiça (CCJ), Demóstenes Torres (DEM-GO), pedindo a investigação sobre as suas relações com empreiteiras. “Cabe na cabeça de alguém por uma notícia de jornal instaurar uma investigação?”, indagou. Demóstenes não estava em Brasília ontem. Procurado, manteve o pedido de investigação. “Não é nada pessoal. Até votei nele para presidente do Senado. Mas continuo achando queé melhor investigar e tomar providências”, disse o senador goiano. A defesa de Sarney em plenário coube a Papaléo Paes (PSDB-AP). Ele criticou a postura dos senadores de pedirem investigação em cima de “notícia de jornal”. Sarney não assistiu de perto às cobranças e deixouoplenáriocercadoporseguranças. ●
Lula desafia ex-secretária a provar encontro com Dilma Em entrevista, presidente afirma que seria ‘simples e fácil’ se Lina Vieira apresentasse sua agenda Lisandra Paraguassú Denise Chrispim Marin BRASÍLIA
Pressionada pela oposição, a ministra da Casa Civil, DilmaRousseff,foisocorridaontempelopresidenteLuizInácio Lula da Silva. Lula desafiou a ex-secretáriada Receita Federal Lina Vieira a mostrar sua agenda e provar o encontro com a ministra da Casa Civil na qual as duas teriam conversado sobre as investigações envolvendo o presidente do Senado, José Sarney. Em entrevista ao fim de um encontro com o presidentedo México, Felipe Calderón, Lula afirmou que seria “simples e fácil” se Lina apresentasse sua agenda. Ela vai prestar depoimento hoje na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e a
oposição já tem pronto requerimentopara pediracareação dela com a ministra. “Seria tão mais simples e tão mais fácil se a secretária mandassea agendaqueelaseencontrou com a Dilma. Não precisaria nem gastar dinheiro, pagar passagem, nem advogado. Era só pegar a tal da agenda e ver o que aconteceu”, afirmou. “Toda vez neste país que se começa a fazer carnaval com coisa que não dá samba as coisas vão ficando mais desacreditadas na opinião pública.” Lula foi questionado no fim da declaração à imprensa feita pelos dois presidentes, em uma sala do Itamaraty onde havia dois púlpitos. Para responder,o presidente brasileiro desalojou Calderón de seu lugar para “ficarmaisperto”dajornalista encarregada de fazer a pergunta. Ele desqualificou a polêmica
em torno do encontro que Lina teria tido com Dilma. “Sinceramente, acho que o País tem coisa mais séria para discutir. O Brasil tem coisas tão mais importantes que eu acho uma pobrezamuitogrande umassunto como esse estar na pauta da política brasileira”, reclamou.
Ela vai prestar depoimento hoje na CCJ do Senado De acordo com a ex-secretária da Receita, as duas teriam seencontradoparatratarde vários assuntos. Entre eles, Dilma teriapedidoque aReceitaacelerasse a investigação sobre as empresas de Fernando Sarney, filho do senador, o que Lina en-
tendeu como um pedido para enterrar o assunto. “Qual a razão que essa secretária tem em não mostrar a agenda?”, questionou Lula. “A Dilmajádissequenãotemagenda com ela. Ora, como eu não sei davidadasduasenãotenhopropensão a ser mexeriqueiro, se as duas se encontraram é só ver a agenda. E não precisa fazer umcenáriode crisedesnecessariamente entre duas pessoas que conversaram.” Em pé atrás do presidente, ao lado do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, Dilma nãogostoudapergunta.Fechou o rosto e cochichou com Lobão. Lulachegouaelogiar Lina,dizendo que a secretária tinha feitoumbomtrabalhoquandoestavanaReceitaFederal,masreclamoudoquechamoude“manipulação” e desconsiderou o tema, afirmando que vai desaparecer logo do noticiário. “Isso mais dia menosdiavocêsnãovãomeperguntar mais. O povo vai ficar ouvindo ela dizer que conversou e não conversou. Só tem um jeito: abrir a mala em que ela levou a agendae mostrar a agendapara todo mundo”, disse. “Eu, sinceramente, acho que esse processo de manipulação da política brasileiraatéagoratemmostrado que quem perde com isso é o Brasil.” ●
CÂMARA
A ITAPLAN, e a
TCU deve investigar dono do castelo
acabam de assinar contrato para futura comercialização do
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DISCURSO – Pedro Simon pede a saída de Sarney da presidência do Senado e defende que o colega seja investigado pelo Conselho de Ética
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Acusado de mau uso de verba indenizatória, ele foi absolvido pela Casa Leandro Colon BRASÍLIA
O procurador do Tribunal de Contas da União Marinus Marsico vai pedir a abertura de um processo contra o deputado Edmar Moreira (sem partido-MG) no TCU. Ele quer que o parlamentar seja
investigado formalmente pelo mau uso da verba indenizatória. Moreira é acusado de usar R$ 260 mil dessa ajuda extra em empresas de segurança de sua propriedade. Foi absolvido no dia 16 de julho pelo Conselho de Ética da Câmara. Para o procurador, a falta de penalidade na Casa legislativa
não impede que ele sofra punição por parte do TCU. “É fato público que ele agiu em desconformidade com a moralidade. Se for comprovada a irregularidade, queremos que ele ressarça o prejuízo aos cofres públicos”, diz Marsico, que pretende protocolararepresentaçãocontra o deputado na próxima segunda-feira. Edmar Moreira ficou conhecido por ter um castelo de R$ 25 milhões. Ele acabou perdendo o cargo de corregedor da Câmara após o escândalo. Por 9 votos a 3, o Conselho de Ética aprovoua recomendaçãodo deputado Sérgio Brito (PDT-BA) a favor do arquivamento. O procurador Marinus Marsico cobra ainda que a Câmara dosDeputadosenvieaoTCUtoda a documentação sobre as despesasdeEdmar Moreira,incluindo as notas fiscais. Segundo ele, desde fevereiro a Casa
vem protelando a entrega das informações. A promessa do presidente Michel Temer (PMDB-SP)era deenviaros dados logo após o fim do processo no Conselho de Ética. Marsico dizter feito três contatos telefônicos desde julho. Pretende enviar um novo pedido oficial na quinta-feira, estabelecendo um prazo de 10 dias para que o materialsejaremetidoaoTCU. Caso contrário, pretende recomendar ao Ministério Público Federal a abertura de uma ação por improbidade administrativa contra o próprio Temer. Procurada pelo Estado, a assessoria de imprensa do presidente da Câmara informou que os documentos referentes a Edmar Moreira serão enviados atésexta-feira ao tribunal. A reportagem não localizou o deputado mineiro para comentar o pedido de processo contra ele no TCU. ●
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TERÇA-FEIRA, 18 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA
Daniel Bramatti
A Associação Nacional de Jornais(ANJ)divulgaráhoje,naassembleia que marcará os 30 anos da entidade, relatório sobre12casosdecensuradeterminados pela Justiça desde julho do ano passado. Um dos casos mais recentes é o que envolve o Estado, impedido, por decisão liminar do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal(TJ-DF),depublicar informações relativas a uma investigação da Polícia Federal que atingiu Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O desembargador determinou a cobrança de multa de R$ 150 mil em caso de descumprimento da proibição. O relatório lista, além dos casos de censura, outros episódios que afetaram o exercício da liberdade de expressão no País, como agressões a jornalistas e detenções de profissionais, além de atentados contra órgãos de imprensa. A iniciativa da Petrobrás de divulgar em um blog perguntas enviadasàsuaassessoriaécriticada por quebrar “a confidencialidadequedeveorientara relação entre jornalistas e suas fontes”. ELEIÇÕES
A maior parte dos casos de censura ocorreu no ano passado, no período que antecedeu as eleições municipais. Ricardo Pedreira, diretor executivo da ANJ, disse ao Estado que muitos candidatos recorreram ao Judiciárioparaevitaradivulgação de informações que supostamente trariam prejuízos eleitorais. Um dos afetados pelas sentenças foi o jornal Impacto, de Santa Catarina. Em três decisões tomadas pelo mesmo juiz, a Justiça Eleitoral determinou o recolhimento de três edições dosemanário,quepublicava de-
EVENTOS DA ANJ ● Painel Liberdade de Expres-
são e o Futuro do Jornalismo: o que dizem os jornalistas, às 14h30 no Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, em Brasília. O convidado principal é o jornalista grego-britânico Iason Athanasiadis, que foi preso por 20 dias no Irã ao cobrir as últimas eleições presidenciais ● Lançamento do livro A Força
dos Jornais: os 30 anos da Associação Nacional de Jornais no processo de redemocratização brasileiro ● Entrega do Prêmio ANJ de
Liberdade de Imprensas ao deputado Miro Teixeira, à noite, no Brasília Palace Hotel
núncias contra o prefeito de Florianópolis, Dário Berger, então candidato à reeleição. No início de outubro, também no período da campanha eleitoral, a Folha Online foi obrigada a retirar de seus arquivos na internet uma entrevistaem queumex-gerente da Petrobrás fazia denúnciascontraLuizMarinho,então candidato a prefeito de São Bernardo do Campo. No final do mesmo mês, a Justiça acolheu recurso e suspendeu a proibição. Em abril, uma única decisão judicial atingiu três órgãos de imprensa: os jornais Diário do Pará, O Liberal e Amazônia receberam determinação de não publicar fotos de vítimas de acidentes ou de mortes brutais. A justificativa foi preservar “a dignidade humana” e “o respeito aos mortos”. Em julho, o jornal A Tarde, de Salvador, foi impedido de divulgar reportagem sobre suposta venda de sentenças envolvendo o desembargador Rubem Dario Peregrino Cunha. ●
Clã Sarney proíbe jornal do MA de divulgar dados Roberto Almeida
O juiz Nemias Nunes Carvalho, da 2ª Vara Cível de São Luís, no Maranhão, obrigou o Jornal Pequeno, notório opositor do sarneysismo no Estado, a retirar de seu site reportagem publicadadia 8 de março deste anocom dadosda Operação BoiBarrica, da Polícia Federal, envolvendo FernandoSarney, filhodopresidente do Senado José Sarney (PMDB-AP). A liminar concedida pelo magistrado, no dia 17 de julho, tem teor semelhante à que censurou o Estado no último dia 30. Caso o Jornal Pequeno não respeite a decisão, tomará multa de R$ 3 mil por dia em favor de Fernando Sarney. “Nós já recorremos da medida. Assim como no caso do Estadão, consideramosumatentadoà liberdade de imprensa, que o Jornal Pequeno já sofre há muito tempo”, afirmou Oswaldo Viviani, editor do diário. O Jornal Pequeno tem 57 anos, 44 deles dedicados a combater o sarneysismo no Maranhão, diz Viviani. A briga começou, segundo o editor, ainda em 1968, quando Sarney decidiu
processar o fundador do jornal, José Ribamar Bogéa, por publicar textos supostamente ofensivos à sua atuação política. O caso chegou em 1970 ao Supremo Tribunal Federal, que por fim absolveu Bogéa. “A gente entende e se solidariza com o Estado, porque estásentidonapeleessesmétodos faz tempo”, alertou Viviani. “É uma repressão e uma espécie de coação judicial, que sobreviveu bravamente durante todos os esses anos.” No ano passado, conta o editor, o diretor do jornal, Lourival Bogéa, foi condenado a pagar indenização por danos morais a José Sarney no valor de R$ 50 mil. O caso teve como princípio uma série de reportagens e cartas de leitores com críticas ao atual presidente do Senado. A família Sarney detém o controle dos principais meios de comunicação do Maranhão,comoaTVMirante, afiliada da Rede Globo, e o jornal O Estado do Maranhão, concorrente direto do Jornal Pequeno. ●
Um grupo de republicanos e abolicionistas funda o jornal A Província de São Paulo, dirigido por Francisco Rangel Pestana e Américo de Campos. Com a proclamação da República, em 1889, o jornal passa a se chamar O Estado de S.Paulo, cuja direção é assumida, em 1891, por Julio Mesquita
ESTREIA – O primeiro jornal
brasileiro, feito em Londres
● OUT. 1930
Com revolução de outubro, o presidente Washington Luís é preso e jornais afinados com governo são depredados
● JUN. 1808
Hipólito José da Costa funda, em Londres, o Correio Braziliense, considerado o primeiro jornal brasileiro. Mensal, circulou até 1822, sempre editado e impresso na Grã-Bretanha. Cada edição tinha entre 72 e 140 páginas
● AGO. 1954
Getúlio Vargas suicida-se. Em diversas cidades, jornais identificados com a oposição ao seu governo são responsabilizados pelo fato e, em alguns casos, invadidos e depredados ● FEV. 1967
Marechal Humberto Castello Branco, que assumira a Presidência com o golpe militar de 1964, assina uma nova Lei de Imprensa. O texto prevê penas de prisão para jornalistas e multa para longa lista de supostos crimes
No dia 13, o governo Costa e Silva decreta o Ato Institucional n.º 5 (AI-5), que suspende as garantias individuais, amplia os poderes do Executivo e institucionaliza a censura. O Estado trazia o editorial “Instituições em Frangalhos”. Apesar da pressão, o diretor e proprietário do jornal, Júlio de Mesquita Filho, mantém o texto. Os exemplares do Estado são apreendidos às 3 horas da madrugada. Os censores ficaram na redação até 6 de janeiro de 1969. Retornaram em 9 de maio de 1973 e só saíram em 3 de janeiro de 1975 Após intensa mobilização, que contou com o apoio dos principais jornais, o Congresso derruba a emenda que instituiria as eleições diretas
● SET. 1808
Começa a circular a oficialista Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal impresso no Brasil
● OUT. 1988
Promulgada a nova Constituição, que assegura liberdade de imprensa e veda toda forma de censura
● NOV. 1825
O tipógrafo Antônio Miranda Falcão lança, no Recife, o Diário de Pernambuco, o jornal mais antigo em circulação na América Latina
● DEZ. 1968
● ABR. 1984
ARQUIVO/AE
Entidade divulga hoje relatório sobre liberdade de imprensa
● JAN. 1875
DIVULGAÇÃO
ANJ lista 12 casos de censura em 13 meses
CRONOLOGIA DA IMPRENSA NO BRASIL
● ABR. 2009
AI-5 – Edição do Estado apreendida em 13 de dezembro de 1968
JUSTIÇA E CENSURA ANJ lista sentenças judiciais que, desde julho de 2008, impediram jornais e sites da internet de publicar determinadas informações ● 8 de julho de 2008 A juíza Betânia de Figueiredo Pessoa Batista, da 20.ª Zona Eleitoral de Santarém, no Pará, proíbe o jornalista Jeso Carneiro de comparar, em seu blog, a administração do ex-prefeito da cidade, Lira Maia (DEM), à da prefeita Maria do Carmo (PT) ●09 de julho de 2008 A mesma juíza proíbe também o jornal Estado de Tapajós de comparar as administrações de Lira Maia (DEM) e Maria do Carmo (PT) na Prefeitura de Santarém . Enquanto na sentença contra o blog a juíza atendia ao pedido do grupo político do ex-prefeito, na sentença contra o jornal a ação partiu do grupo da prefeita
4 de agosto de 2008 O juiz Luiz Henrique Martins Portelinha, da 101.ª Zona Eleitoral de Santa Catarina, determina o recolhimento de todos os exemplares da edição n.˚ 36 do semanário Impacto, de Florianópolis, e também a retirada, do site do jornal, da versão eletrônica da referida edição. A sentença liminar atende a pedido da coligação partidária que apoia a reeleição do prefeito de Florianópolis, Dário Berger (PMDB), em função de reportagem com denúncias de corrupção contra ele ●
● 5 de setembro de 2008 A juíza eleitoral Lilian Astrid Ritter, de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, proíbe o Jornal do Povo de veicular os resultados de pesquisa sobre intenção de voto para a eleição do prefeito da cidade ● 3 de outubro de 2008 O juiz Luiz Henrique Martins Portelinha, da 101.ª Zona Eleitoral de Santa Catarina, determina a apreensão de uma nova edição do jornal Impacto, de Florianópolis. O motivo foi a veiculação de matérias com denúncias contra o prefeito Dário Berger, candidato à reeleição ● 7 de outubro de 2008 O juiz Flávio Silveira Quaresma, da 28.ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro, em Paraíba do Sul, manda fechar por 72 horas o Entre-Rios Jornal, da cidade de Três Rios. Policiais militares ocupam o prédio do jornal e expulsam todos os funcionários. A truculência foi determinada pelo juiz em função da não publicação de direito de resposta concedido ao prefeito Gil Leal, candidato à reeleição. Nesses casos, a legislação determina multa ● 14 de outubro de 2008 O juiz Wagner Roby Gídaro, da 296.ª Zona Eleitoral de São Bernardo do Campo, determina que a Folha Online retire do ar reportagem sobre o ex-ministro da Previdência Social Luiz Marinho, candidato à prefeitura da cidade. O texto, produzido em 2005, trazia entrevista de um ex-gerente de Recursos Humanos da Volkswagen com denúncia contra Marinho, da época em que ele era sindicalista ● 24 de outubro de 2008 O juiz Luiz Henrique Martins Portelinha, da 101.ª Zona Eleitoral de Santa Catarina, ordena a apreensão do jornal Impacto e a retirada de página na internet. No período de três meses, foi a terceira iniciativa de censura ao jornal tomada pelo juiz, em função de matérias relacionadas ao prefeito Dário Berger, candidato à reeleição ● 20 de março de 2009 O juiz de Direito da 16.ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza, Benedito Helder Afonso Ibiapina, proíbe o jornal O Povo de divulgar informações sobre processo que corre na Justiça Federal sobre o jogo do bicho no Ceará ● 15 de abril de 2009 A 4.ª Câmara Cível Isolada do Tribunal de Justiça do Estado acolhe voto da desembargadora Eliana Abufaiad, determinando que os jornais Diário do Pará, O Liberal e Amazônia evitem a publicação de fotos de vítimas de acidentes ou mortes brutais que impliquem ofensa à dignidade humana e ao respeito aos mortos ● 31 de julho de 2009 O desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, informa o jornal O Estado de S. Paulo e o portal estadao.com.br de que proibiu a veiculação de reportagens contendo informações resultantes de operação da Polícia Federal sobre supostas irregularidades praticadas pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) ● 31 de julho de 2009 O juiz da 31.ª Vara dos Feitos de Relações de Consumo Cíveis e Comerciais de Salvador, Márcio Reinaldo Miranda Braga, proíbe o jornal A Tarde de divulgar reportagens sobre a suposta venda de sentenças envolvendo o desembargador Rubem Dario Peregrino Cunha. Na liminar concedida, o jornal é proibido de noticiar “quaisquer notícias que causem lesão à imagem e à honra” do desembargador
O Supremo Tribunal Federal (STF) revoga a Lei de Imprensa
‘Sigilo não protege o crime’, alerta Miro Para deputado, doutrina consagra entendimento sobre gravações Marcelo Auler RIO
Ao criticar a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal de censurar o Estado, a pedido do empresário Fernando Sarney, impedindo-o de divulgar informações de um processo em segredo de Justiça, o deputado federal Miro Teixeira (PDTRJ)recorreuaos ensinamentos do jurista Nelson Hungria, segundo o qual “o sigilo não protege o crime”. Miro receberá hoje o Prêmio da Associação Nacional deJornais(ANJ)deLiberdade de Imprensa, por ter sido autor da ação no Supremo Tribunal Federal que resultou no fim da Lei de Imprensa, herdada do regime militar. A premiação será em Brasília, durante jantar comemorativo dos 30 anos da ANJ. “A doutrina e a jurisprudência já consagravam que o sigilo não protege o crime”, disse o deputado, ao afirmar queseuentendimentoéanterior à Constituição de 1988. Segundo ele, a nova Carta, por sua vez, combinou “os princípiosque regema administração pública e o direito do povo à informação sobre os desvios de conduta de autoridades”. Miroinsisteemqueodebatequevemsendotravado,renovadocomacensuraimposta ao Estado, “está levando à percepção de que a divulgaçãoéútilàpopulação”.“Apublicidade dos fatos apurados em um processo tem utilidade social”, alerta. O parlamentar recorre a exemplo mais recente para mostrar que não é a imprensa quem deve ser culpada ou punidapelovazamentodeinformações que estavam em segredo de Justiça. Cita o caso da divulgaçãode conversa telefônica entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), no ano passado. “Colocadodiantedatranscrição da gravação da sua conversa com o senador Demóstenes, o ministro Gilmar Mendes deu entrevista e não tentou impedir a divulgação. A indignação dele se voltou para a violação do telefonema, que no caso não foi feita com autorização judicial,
portanto foi criminosa, o que é até mais relevante”, anotou. Miro lembra também que os membros da Comissão ParlamentardeInquéritoqueinvestigoudesviosnogovernoFernando Collor de Mello (CPI do Collor), respaldados em jurisprudências do então Tribunal FederaldeRecursos–substituído pelo Superior Tribunal de Justiça ( STJ) – “revelou dados de contas bancárias que comprovavam a prática de crimes”. “Foi com esta saudável revelaçãoque exibimosas provas da existência de contas fantasmas,abastecidaspeloPauloCesar Farias, o PC Farias”, observou. O deputado, que começou a vida profissional como jornalista e chegou a ser Ministro das Comunicações, defende que não são os jornalistas que quebram o segredo de Justiça. “O jornalista não participa da quebra de sigilo. O jornalista divulga fato relevante, de interesse público, que revela a prática de violações à Constituição e às leis.”
‘Jornalista não participa da quebra, divulga fato relevante’ Miro Teixeira vai mais além. “Osigilolegal previstonosCódigos de Processo, cuja violação é punível no Código Penal, é dever do servidor que o guarda. A partir do momento em que o funcionário encarregado da guarda do segredo o viola, não há mais como inculpar quem quer que seja pela divulgação das transgressões”, explica. Para o parlamentar, isto não significa, como muitos temem, “um sinal verde para divulgar fatos da intimidade ou da vida privada”, porque estes são protegidos como direitos invioláveis pela Constituição. “Aliás, não interessa a ninguémsaberdefatosdaintimidade ou da vida privada de quem quer que seja. O que interessa, e assim foi feito pelo Estadão, é a divulgação do desacato aos princípios constitucionais que regem a administração pública”, afirma. ●
TERÇA-FEIRA, 18 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A9 A9
‘ESTADO’ SOB CENSURA
Mendes cobra celeridade do TJ-DF Não é razoável demora após concessão de liminar, opina presidente do Supremo, sobre censura ao ‘Estado’ Fausto Macedo
Oministro GilmarMendes,presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), pregou ontem “celeridade” do Judiciário para decidir sobre a censura impostaao jornalO Estado deS.Paulo. “Tem que ter celeridade para decidir sobre isso”, declarou o ministro, apontando para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal. No TJ-DF atua o desembargador Dácio Vieira, que proibiu liminarmenteoEstadodedivulgarreportagens acerca da Operação Boi Barrica, que envolve FernandoSarney, filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Em 30 de julho, Vieira acolheu recurso – agravo de instrumento – de Fernando Sarney contra decisão da 12ª Vara Cível de Brasília. “Não é razoável que, de fato, se dê uma liminar e se espere tanto tempo”, advertiu o presidente do Supremo. “O tribunal tem que se pronunciar.”
‘O tribunal tem que se pronunciar’, insiste ministro AlentidãodoTribunaldeJustiça provocou reação do presidente do STF, que vinha se limitando a declarar que não reconhececensurana decisãodo desembargador. Mendes defendeu ontem com veemência que a Justiça aja com rapidez. “Eu tenho dito que é uma decisão judicial nor-
REPRODUÇÃO
mal, fazendo-se o sopesamento de valores, ou seja, um direito sobrelevasobreooutro.Portanto, o direito à intimidade, à preservaçãoda dignidade,sobreleva sobre a lei de imprensa. Não estou dizendo que é uma decisão correta no caso, até porque nãodisponhodoselementos para julgar.” Oministro asseverou:“Épreciso que esse assunto não fique na avaliação de um único juiz, que o tribunal se pronuncie, dando ensejo a que o tema tenha o curso normal. Se for o caso, que vá para as instâncias superiores.” SUSPEIÇÃO
Contra a censura o Estado interpôs duas medidas, por meio de seu advogado, Manuel Alceu Affonso Ferreira. A primeira providência foi exceção de suspeição do desembargador Vieira, que não a reconheceu. Omagistradomantémconvívio social com os Sarney. Exconsultor jurídico do Senado, o desembargadorépróximo também do ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia. Ele foi um dos convidados presentes ao casamento de Mayanna Maia, filha de Agaciel, da qual o parlamentar foi padrinho. Apesar dessa notória proximidade com o presidente do Senado, o desembargador Vieira não admitiu que é suspeito para julgar a causa. A segunda medida do jornal foi um mandado de segurança contra o ato de Vieira, que acabou distribuído para o desembargador Waldir Leôncio Cordeiro Lopes Júnior, da da 2ª Câmara Civil do TJ do Distrito Federal.
AMIGOS – Desembargador Dacio Vieira, à esquerda, esteve com Sarney em junho, no casamento da filha do ex-diretor da Casa Agaciel Maia
O mandado de segurança temporobjetivogarantiroreconhecimentojudicialdeumdireito incontestável que está sendo violado ou ameaçado por ato manifestamente inconstitucional de uma autoridade – no caso, a própria censura imposta por Vieira. O desembargador Lopes Júnior rechaçou liminar em mandado de segurança. Invocando prudência, ele deixou para deliberar acerca do mandado apenas depois que receber informações do próprio Vieira e o
Jornal entra com novo recurso O advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira ingressou ontem no TJ-DF com nova medida. Por meio de embargos de declaração ele requer ao desembargador Waldir Leôncio Cordeiro Lopes Júnior que esclareça pontos de sua decisão, despachada sexta-feira. Lopes Júnior rejeitou liminar, em mandado de segurança, do Estado contra o ato do de-
●● ●
sembargador Dácio Vieira. Para Manuel Alceu, a decisão contém “omissões e obscuridade”. Ele considera que Lopes Júnior não falou sobre o pedido de dar ciência, como prevê a lei do mandado de segurança, “ao órgão de representação judicial” do TJ-DF. Destaca que o magistrado não mandou citar Fernando Sarney, “beneficiário do ato atacado”. ● F.M.
parecer da Procuradoria de Justiça. “Malgrado o inconformismo do impetrante com a decisão judicial impugnada está sendo observado o devido processo de direito”, anotou o desembargador Lopes Júnior. De acordo com o magistrado, “o rito do mandado de segurança é célere, por isso é mais prudenteque se aguarde para deferirounãoaprovidênciarequerida no momento do julgamento do writ (mandado), quando a questão estará madura”. ●
Artigo
‘Sem liberdade, não há política’ Leonardo Barreto*
A
filósofa alemã Hannah Arendt acreditava que o sentido original da política é a liberdade. Tudo porqueosgregosantigosconcebiam oespaço políticocomo um lugarsembarreiras nemrestrições à participação dos cidadãos no debate público. A única regra era o respeito ao direito dooutrode falar,pleiteareinteragir. Negar o direto à fala e à divergênciaseriam atosantipolíticos na sua essência. Seguindo por um caminho semelhante, professores de ciência política de todo o Brasil ensinam em suas turmas que a política é a capacidade de resolver conflitos de forma pacífica, nunca deixando de reconhecer (novamente)odireitoqueooponente tem de lutar pelos mesmos recursos de poder que você busca. A partir do momento em queos atores buscassem resolver suas diferenças pela eliminaçãofísicaou políticado adversário,sairíamosdasearapolítica e entramos no mundo da guerra. Todos os países que decidiramabraçarademocraciaescolheram a liberdade de expressão como princípio fundador. Sem ela, não há política, mas guerra.Suaextinçãoéoprimeiro sintoma de que algo vai mal, de que o Estado está a caminho de declarar seus próprios cidadãos como “inimigos da segurança nacional”, negando-lhes o direito à voz e, muitas vezes, à vida. Por essas razões, a decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, de censurar o jornal O Estado de S. Paulo,
proibindo-odepublicardetalhes de um processo judicial sobre operações suspeitas de familiares do senador JoséSarney,éumatoantipolítico de extrema violência, praticado contra toda a sociedade brasileira. Na prática, ela não apenas retira a faculdade dos jornalistas de exporem publicamente o resultado de suas investigações, mas caça o direito que todos temos de sermos informados. Acensuraéorecursoclássico dos regimes fechados. Ela busca anular os dissidentespolíticos extinguindoodireitodefalarlivremente.Atores importantes como artistas, intelectuais, organizações populares e meiosde comunicação são castrados naquilo que nasceram para fazer: divulgar e sensibilizar. Emumademocracia, acapacidade crítica dos cidadãose aqualidadedesuasposiçõespolíticasestãoassociadas diretamente à pluralidade, independência e qualidade dos noticiários políticos. Portanto, ao redescobrir a censuranoBrasil,DácioVieira pode ter cometido um pecado maior do que aqueles que podem estar escondidos sob o “segredo de justiça”. O recurso impetrado pelo jornal O Estado de S. Paulo contra a posição de Dácio Vieira possui contornos históricos, pois dirá o quão distante estamos da democracia plena. O passado e o futuro estão em via de se enfrentarem nas cortes superiores. De um lado estão os anos de chumbo, os atos institucionais e as receitas de bolo no lugar das notícias. Do outro, atransparência, obempúblico e a maturidade política de um nação. ●
*Leonardo Barreto é cientista político pela UnB
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RUY MESQUITA
19 de agosto de 2009 --ANO 130. NÂş 42309
Construção puxa alta e emprego tem melhor mês no ano Obras públicas e expansão do mercado de imóveis garantiram bom resultado de julho
CELSO JUNIOR/AE
O mercado de trabalho registrou em julho a abertura de 138,4 mil novos empregos com carteira assinada. Foi o melhor saldo lĂquido mensal entre contrataçþes e demissĂľes do ano. Embaladas pelas obras pĂşblicas e pela expansĂŁo do mercado imobiliĂĄrio, as empresas da construção foram as que mais contrataram – o saldo foi de 32,1 mil postos. JĂĄ na indĂşstria as contrataçþes chegaram a 17,3 mil, mas, no acumulado do ano, as demissĂľes ainda prevalecem. O total de vagas abertas emjulhoelevouem0,43%oestoque de empregos formais, para 32,4 milhĂľes. â—? PĂ GS. B1 e B3
PALAVRA – Lina Vieira durante depoimento aos senadores: ex-secretåria da Receita se dispôs a participar de acareação com a ministra
Pedido de Dilma foi ‘incabĂvel’, diz Lina
Eleiçþes
CrĂticos pedem saĂda de Meirelles Para analistas, chefia do BC ĂŠ incompatĂvel com ambição polĂtica. â—? PĂ G. B4
â—?â—?
FarmĂĄcia tem de manter remĂŠdio atrĂĄs do balcĂŁo
“NĂŁo mudo a verdade no grito, nĂŁo preciso de agenda para dizer a verdadeâ€? Lina Vieira Ex-secretĂĄria da Receita
enfaticamentea reuniĂŁoea interferĂŞncia na fiscalização da Receita. Em clima de confronto,governistas acusaram a exsecretĂĄria de prevaricação, por ter deixado de relatar a seu superior o suposto pedido de Dilma. O Planalto comemorou o depoimento. Para o presidente Lula, segundo relato de auxiliares, Lina “amarelouâ€? ao nĂŁo conseguir provar suas afirmaçþes. â—? PĂ G. A4
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 19 DIAS
ANJ busca garantia jurĂdica contra censura Entidade dos jornais quer colaboração da OAB AAssociaçãoNacional de Jornais (ANJ) pedirĂĄ a colaboração de entidades como a OAB na tentativa de convencer o STF a firmar jurisprudĂŞncia, comefeitovinculante,paraimpedir que juĂzes façam censura prĂŠvia no PaĂs. O ponto a ser superado, de acordo com a
JF DIORIO/AE
FRASE
MP que ajuda prefeituras ĂŠ aprovada com ‘contrabandos’ A Câmara aprovou ontem, com 13 acrĂŠscimos, o texto bĂĄsico da Medida ProvisĂłria 262, editada originalmente para socorrer prefeituras.AMPrecebeu“contrabandosâ€? relacionados com assuntos tĂŁo dĂspares quanto a alteração da polĂtica ambiental e a renegociação de dĂvidas com a UniĂŁo. O relator nĂŁo poupou nem mesmo dispositivos jĂĄ vetados pelo presidente Lula. Essa ĂŠ a Ăşltima MP antes da entrada em vigor da regra que veta alteraçþes sem relação com o tema original. â—? PĂ G. A8
Ex-chefe do Fisco reafirma que ministra citou Fernando Sarney A ex-secretĂĄria da Receita FederalLinaMaria Vieira reafirmou ontem, em audiĂŞncia em comissĂŁo no Senado, que no final de 2008 a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) lhe pediuque “agilizasseâ€?a fiscalização sobre Fernando Sarney, principal administrador das empresas da famĂlia Sarney. Lina disse que, embora nĂŁo tenha se sentido “pressionadaâ€?, considerou “incabĂvelâ€? o pedido. Ela nĂŁo mostrou provas de que a reuniĂŁo ocorreu, mas deu detalhes como o nome do motorista que a levou e o do assessor que a ajudou na pesquisa que fez sobre Fernando apĂłs o encontro. Lina se dispĂ´s a fazer uma acareação com Dilma – a ministra nega
ANJ, ĂŠ encontrar o melhor tipodeaçãoquepreservealiberdadedeexpressĂŁoseminterferir no poder dos magistrados. OEstadoestĂĄ impedidodepublicar notĂcias que envolvam o empresĂĄrio Fernando Sarney, filho do senador JosĂŠ Sarney (PMDB-AP). â—? PĂ G. A7
Futebol
RogÊrio Ceni volta após quatro meses Goleiro Ê a atração de São Paulo x Fluminense, hoje,no Morumbi. � Pà G. E1
â—?â—?
CADERNO 2
Violência mata 36 às vÊsperas da eleição afegã
O voo do virtuose
O violonista Chico Pinheiro vai gravar seu novo CD em trĂŞs paĂses.â—?
â—?â—?
Procurador critica Mendes â—?â—? O procurador-geral, RobertoGurgel,dizque“frasesdeefeitoâ€? do presidente do STF nĂŁo ajudam o JudiciĂĄrio. â—? PĂ G. A11
NOTAS E INFORMAÇÕES
Esperneio desarticulado Em um surto de apagĂŁo mental, Sarney acusou o Estado de adotar “prĂĄtica nazistaâ€?. â—? PĂ G. A3
â—?â—?â—?
População
Baixada Santista ĂŠ a que mais cresce
Lourival Sant’Anna ENVIADO ESPECIAL A CABUL
A antevÊspera da eleição presidencial no Afeganistão foi marcada por atentados e confrontos que deixaram 36 mortos. EmCabul,aexplosãodeumcarro-bomba do Taleban matou oitopessoas.ParaKaiEide,representante da ONU, haverå irregularidades nas eleiçþes de amanhã. � Pà GS. A13 e A14
â—?â—? RegiĂŁo ganhou 65,6 mil
novos moradores em apenas dois anos. â—? PĂ G. C1 PEDRO UGARTE/AFP
RemÊdios vendidos sem prescriçãomÊdica–comoantitÊrmicos, analgÊsicos e digestivos – terão de ficar atrås do balcão das farmåcias, não mais em gôndolas, aoalcancediretodoconsumidor. A resolução da Anvisa temcomoobjetivoinibiraautomedicação. O texto tambÊm regulamenta a venda de medicamentos por telefone e pela internet. � Pà G. A18
VIOLÊNCIA – Afegão carrega menino ferido em atentado em Cabul
agrĂcola â—?â—? Legumes e hortaliças em versĂŁo reduzida demandam excelĂŞncia.â—?
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QUARTA-FEIRA, 19 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A7 A7
ESTADO SOB CENSURA
ANJ estuda pedir súmula contra censura Jurisprudência do STF com efeito vinculante impediria juízes de restringir liberdade de expressão ED FERREIRA/AE
Vannildo Mendes BRASÍLIA
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) está debatendo e estudando um meio de levar o Supremo Tribunal Federal (STF) a firmar jurisprudência, com efeito vinculante, para impedir que juízes de primeiro grau ou de qualquer outra instância do Judiciário façam censura prévia no País. É o que ocorre hoje comoEstado,proibidodepublicar notícias de interesse público que envolvam o empresário FernandoSarney,filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A ANJ informou ontem quepedirá a colaboração da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de outras entidadescomprometidascomoEstado Democrático de Direito, para definir o melhor tipo de ação. O ponto a ser superado, de acordo com a entidade, é encontrar o melhor tipo de ação que preserve a liberdade de expressão, em sua forma plena prevista na Constituição, sem que isso implique interferir no poder e na liberdade dos magistrados. A medida foi apoiada unanimementepelosrepresentantesdos jornais O Globo, Folha de S. Paulo, Correio Braziliense e da Rede RBSdeComunicação,queparticiparam de um painel sobre liberdade de imprensa promovido ontem em comemoração aos 30 anos de criação da ANJ. “A violênciacontrao Estadãoatinge a todos nós”, resumiu Marcelo Rech, diretor da RBS. Sob o tema Liberdade de expressão e o futuro do jornalismo –
DEBATE – Vista parcial do auditório onde foi realizado o painel sobre liberdade de expressão em comemoração aos 30 anos de criação da ANJ
o que dizem os jornalistas, o painel discutiu as mudanças e os desafios do mercado jornalísticoanteasnovasmídiasviabilizadas pela internet, como a profusão de blogs, sites e twitters. “Nunca se leu tanto no mundo e no Brasil, e isso é bom”, observou Ricardo Pedreira, diretor da associação. “Mas se trata de um sistema de circulação de notícias que não se sustenta como modelo de negócio.” AANJ,segundosuapresiden-
FRASES
Marcelo Rech Diretor da RBS
“A violência contra o Estadão atinge a todos nós”
Ricardo Pedreira Diretor da ANJ
“Se trata de um sistema de circulação de notícias que não se sustenta como modelo de negócios”
te, Judith Brito, monitora as denúncias de violações da liberdade de imprensa. Ela divulgou o balanço dos últimos 12 meses quemostraumaumentopreocupante dos casos de cerceamentodaliberdadede imprensa.Foram31casosdeagostode2008a julho de 2009. O dado mais grave é que 16 casos decorrem de sentençajudiciaisimpondocensura prévia, grande parte delas emitidas por juízes de primeiro grau. “Esse tipo de censura vem
aumentando de forma preocupante no País, principalmente nos períodos eleitorais”, criticou Judith. O jornalista Merval Pereira, colunista de O Globo, acha que umaação no STFtem boa chancedeprosperarporquetemrespaldo na sociedade e nas instituições. “O caso pode trazer uma solução para essa que ainda é uma angústia de todos (a censuraprévia)”, observou.“Terá sido uma boa luta se o caso
levar o STF a tomar uma posição definitiva contra a censura prévia.”Aseu ver,osjornais impressos são a base do que a internet pode dar de melhor. “Twitter e blog e outros meios possibilitadospela rede, em sua maioria, não são jornalismo, servem a divulgação de opiniões pessoais e muitas vezes de boatos”, disse. O jornalista Daniel Piza, do Estado, discordou da crítica aos meios digitais de difusão de notícias, que a seu ver só contribuempara ademocratização da comunicação. Avaliou que a liberdadedeinformação étãoimportante que deveria ser incluída entre os fatores de cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S. Paulo, disse que o jornalismo cidadão, praticado na rede de computadores por blogs independentes e até por leigos, é um avanço, mas traz um custo para a sociedade. “Cria a sociedade pós-factual, onde o fato não interessa mais, só a opinião.” A seu ver, os jornais tradicionais precisam encontrar um meio de fazer o contraponto da notícia e análise dos fatos, porque são mais legítimos para isso do que os canais alternativos que proliferam na rede. Para Alon Feuerwerker, colunista do Correio Braziliense, a livre expressão não anula, mas se sobrepõe a outros direitos, como o do dano à imagem, que pode ser reparado. “O que não é possível é estabelecer o controle a priori.” ●
Artigo
O atentado contra um princípio
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tipo de censura à imprensa representa um custo inestimável à consolidação da democracia. Não apenas porque deixamos de ouvir um determinado organismo,masprincipalmenteporque atacamos frontalmente um pilar, perdendo parte do referencialculturalaoqualoconceito está associado. Assim, defender, argumentar e consolidar tal atitude representaque estamos significativamente distantes do caráter cultural da democracia. Essa constataçãoé, semdúvida alguma, a que mais preocupa. Para a democracia, a censura à imprensa é tão nociva quanto o
atentado contra um eleito, ou a não realização de uma eleição na data correta. Trata-se de um ato contra um princípio, um valor. E se a sociedade como um todonãoestátranstornada,chegando a enxergar com certa normalidade essa atitude, e o Poder Judiciário permite que um de seus membros promova um gesto como esse, é porque, indiscutivelmente, ainda estamos muito distantes da consolidação do que pretendemos chamar um dia de democracia.
*Humberto Dantas é cientista político pela USP e conselheiro do Movimento Voto Consciente
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cípios gerais características inquestionáveis. As fontes alternativas de informação, traduzidas em grande parte como liberdade de imprensa, estão entre os princípiosabsolutamenteindispensáveis à democracia. Informações monopolizadas pelo Estado não condizem com o que compreendemos como um ambiente democrático. Os eleitores, para pautar suas escolhas e consolidar seu posicionamento crítico, deve diversificar as referências capazesdelhesofertareminformações. A liberdade de imprensa está absolutamente associada a esse valor. Assim, qualquer
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s origens da democraciarepresentativa estão associadas à luta da burguesia por uma cobrança racionaldeimpostos,estabilidade jurídica no campo econômico e garantia de propriedade. Assim, participava das escolhas políticas “quem tinha algo a perder do ponto de vista econômico”. No Brasil, até 1881 é o voto censitário, ou seja, a participação atrelada à renda, que melhor simbolizava esse valor. As funções do Estado ainda não estavam relacionadas à universalização dos direitos sociais, garantidos apenas no século 20 em virtude das conseqüências socialmentetrágicasda Revolução Industrial e das catástrofes da II Guerra Mundial. O século 19 é marcado pela busca da igualdade dos direitos políticos. Foi possível notar, à custa de muita luta, que todos tinham algo a perder ou ganhar quandoofertavamseuvoto.Fortalecemos a democracia representativa pautados na ideia de “um homem, um voto, um valor”,oquesignificaquetodosdeveriam ter o mesmo peso diante das escolhas de seus representantes. A massificação da participação fortaleceu a atuação dospartidosmodernos,quepassaram a disputar votos em parcelas cada vez mais expressivas do eleitorado. Adentramos o século 20 assistindo também ao voto feminino, consolidando a
informação. Questões como a realização de eleições livres, diretaseidôneas,existênciadedata predeterminada para sua ocorrência, estabilidade jurídica, organismo neutro capaz de organizar e fazer valer os resultados das urnas também são consideradas essenciais. Assim,aconsolidaçãodademocracia é frágil, delicada e exige rigor legal e compromisso coletivo. Atitudes, mesmo que isoladas, em sentidos opostos, podem representar perdas inestimáveis. É nesse sentido que alguns pensadores consideram a democracia como um bem cultural,que deve teremseus prin-
ampla participação. Apesardeviverprofundacriseemtodo o mundo,a democracia representativa não poderia, entretanto,estarassociadaapenas ao voto e à participação ampla.Garantiasadicionaissãoimprescindíveis,e diversospensadores se dedicam à compreensão dos principais fatores à sua consolidação. Passamos o século20buscando fortalecerasinstituiçõesassociadasà democracia. Além do sufrágio universal, que marca o caráter moderno dos sistemas representativos, devemosestaratentosaliberdades essenciais. Dentre elas estãoa associação,aexpressãoe a
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o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
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Senado arquiva denúncias, e petista diz que partido ‘jogou a ética no lixo’ bandeira”, discursou Arns. A posiçãodoPT,submissaàorientação do Planalto, que mandou apoiar Sarney para preservar a aliança com o PMDB para 2010, foi o destaque da sessão do Conselho de Ética. ● PÁGS. A4 e A6
entre governo e oposição, abriu crise na bancada petista. Flávio Arns (SC) anunciou que deixará o partido, horas após a saída de Marina Silva (AC), que deve ir para o PV. “O PT jogou a ética no lixo e vai ter de achar outra
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 20 DIAS ●● A censura ao Estado foi
(1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
20 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42310
PT ajuda a engavetar caso Sarney e entra em crise Com os votos dos três integrantes petistas, o Conselho de Ética arquivou ontem as denúncias contra os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Arthur Virgílio (PSDB-AM). A decisão, que integrou o “acordão”
JULIO MESQUITA
criticada pelos participantes do Observatório da Imprensa, da TV Brasil. Para o presidente da Associação dos Magis-
trados Brasileiros, Mozart Valadares, não há uma “investida” do Judiciário contra a imprensa. “Infelizmente há exceções”, disse. ● PÁG. A7
Alta do mínimo faz déficit da Previdência saltar 35,5% Pressionado pelo reajuste real de 12% do salário mínimo neste ano, o déficit da Previdência em julho subiu 35,5% ante julho de 2008,chegando a R$ 3,1 bilhões. Mais de 70% dos beneficiários recebem o mínimo. De janeiro a julhodesteano, odéficitaumentou 13,3% diante de igual período do ano passado, para R$ 24,7 bilhões. Apesar do resultado, o governo manteve a previsão de que o rombo deste ano será de R$ 40,7 bilhões. ● PÁG. B1
CELSO JUNIOR/AE
Auditoria do TCU vê sobrepreço em obra da Petrobrás
Terror mata 95 e revela Iraque vulnerável após saída dos EUA Uma série de seis atentados a bomba matou pelo menos 95 pessoas ontem em Bagdá. Foi a açãomaisviolentadoanoemostra as dificuldades de atuação das forças policiais iraquianas, que assumiram a segurança urbana após o início da retirada americana do Iraque, há quase dois meses. Os ataques atingiram prédios próximos da Zona Verde,áreafortificadaqueabriga órgãos do governo – que culpou a Al-Qaeda. ● PÁG. A16
Relatório entregue à CPI ainda acusa estatal de omitir documentos; a empresa nega O primeiro lote de documentos obtidos pela CPI da Petrobrás, fruto de auditoria do Tribunal de Contas da União, aponta indícios de superfaturamento de pelo menos R$ 121 milhões na obra da Refinaria Abreu e Lima (Pernambuco). Suspeita-se também da existência de funcionários fantasmas no projeto, financiado em parceria com a estatal venezuelana PDVSA. Além disso, orelatóriodoTCUacusaopreARTIGO
Demétrio Magnoli
Dilma e Lina, duas subversivas No passado, Dilma Rousseff, ao ser torturada, usou a mentira factual para combater a verdade de um poder ilegítimo. Hoje, Lina Vieira usa a verdade factual para desmascarar a mentira de um poder abusado. ● PÁG. A2 ●●●
NÚMERO
R$ 1,1
bilhão é o montante dos contratos sobre o qual não há detalhamento
sidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, de sonegar informações. A Petrobrás contestou as falhas e negou que tenha obstruído a investigação ou omitido papéis. ● PÁG. A8
Prefeitura de SP vai trocar Zona Azul por parquímetro
Marina deixa o partido após quase 30 anos Insatisfeita com o governodesdequesaiudoMinistério do Meio Ambiente, a senadora Marina Silva (AC) deixou o PT, após quase 30 anos. É o primeiro passo para disputar o Planalto pelo PV. ● PÁG. A14
ESPORTES
ADEUS – A senadora Marina Silva abraça Eduardo Suplicy depois que o senador leu para ela um poema
CADERNO 2
paladar
São Paulo vence e fica a 1 ponto do Palmeiras
Uma história de amor
Vale abrir a lata de atum
●● Chefs criam dez receitas fáceis e rápidas. ●
●● Antonio Fagundes retorna
aoteatro em Restos, peça dirigida por Marcio Aurelio, no papel de um homem que avalia sua trajetória após a morte da mulher. ●
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OPalmeiras perdeu do Coritiba por 1 a 0 e viu a folga na liderança cair para um ponto – o São Paulo, agora vice-líder, bateu o Fluminense (1 a 0). Já o Corinthians,emboradesfalcado, venceu o Inter em Porto Alegre (2 a 1). Na Vila, o Santos derrotou o Grêmio (1 a 0). ● PÁGS. E1 a E4
Registro médico de Abdelmassih é suspenso O Cremesp suspendeu o registro profissional do médico Roger Abdelmassih, preso desde segunda-feira sob a acusação de estupro de 56 mulheres. Também ontem, o Tribunal de Justiça negou habeas corpus e manteve a prisão. ● PÁG. A20
NOTAS E INFORMAÇÕES
verissimo
O grito não mudou a verdade
●● Suaúnicafunçãode-
●●●
Deus no futebol veserevitarperna quebrada. ● PÁG. D14
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Anvisa proíbe caixa eletrônico ●● Abrafarma deve ir à
Justiça contra as mudanças. ● PÁG. A21
O que ameaça a candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff é a pecha de mentirosa e não o que possa ter feito para ajudar o senador José Sarney. ● PÁG. A3
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Esclarecidos só 20% dos roubos ●● Delegacia especializada em SP investigará arrastões. ● PÁG. C8
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QUINTA-FEIRA, 20 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Jornais: Odmar Almeida Filho Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
O grito não mudou a verdade
O
governo se agarrou a um fio de palha para tentar encobrir a mentira da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao negar que tivesse chamado a seu gabinete a então secretária da Receita Federal, Lina Maria Vieira, para determinar que agilizasse a devassa na contabilidade de Fernando Sarney, o filho mais velho do presidente do Senado que toca os negócios do clã. O fio de palha foi a passagem do depoimento de Lina Maria no Senado, em que ela disse não ter se sentido pressionada pela ministra. “Se não houve pressão”, alardeou o líder do governo na Casa, Romero Jucá, “não havia problema.” Foi secundado pelo líder peemedebista Renan Calheiros: “Se houve ou não o encontro, não tem mais importância central.” O presidente Lula, enfim, comentou que a ex-secretária “recuou”. Quiseram jogar areia nos olhos do público – e erraram o alvo. Afinal, o que se averigua desde o início desse episódio não é o que aconteceu no encontro anunciado por Lina, mas apenas se o encontro aconteceu. Em outras palavras: quem mentiu. O que ameaça a candidatura de Dilma é a pecha de mentirosa e não o que possa
ter feito para ajudar Sarney. A rigor, desde que a funcionária confirmou à Folha de S.Paulo ter tido um encontro reservado com Dilma, o lulismo ficou refém da atitude da ministra de desmentir taxativamente o episódio. “A reunião privada, a que ela se refere, eu não tive”, assegurou. É possível que Dilma tenha se sentido encorajada pelo fato de Lina Maria não apresentar provas objetivas do que afirmava. Ela tampouco soube precisar quando ocorreu a reunião – falou em “final de 2008”. Além disso, Lina Maria alegou estar sem a agenda em que a sua ida ao Planalto poderia ter sido anotada. A tal ponto o governo se empenhou em bancar a desqualificação da funcionária da Receita que o próprio Lula não resistiu a dar uma temerária contribuição. “Qual a razão que essa secretária tinha para dizer que conversou com a Dilma e não mostrar a agenda?”, perguntou numa entrevista. “Só tem um jeito: abrir a mala em que ela levou a agenda e mostrar a agenda para todo mundo.” Até amigos do presidente notaram que ele se expôs desnecessariamen-
As provisões dos bancos
E
ntre os primeiros semestres de 2008 e 2009, os bancos privados aumentaram em 58,4% suas provisões contra devedores duvidosos e os bancos públicos, em 34,2%, segundo informações do Banco Central (BC). Numa fase de crise, é normal esse aumento de reservas – que são uma forma de os bancos protegerem o patrimônio contra o risco de calotes –, mas chamam a atenção as grandes diferenças entre as políticas dos bancos públicos e privados para elas. São vultosos os números: em apenas um semestre, aumentaram em R$ 18,8 bilhões as provisões lançadas nos balanços, mais do que o lucro líquido dos grandes bancos, no período, de R$ 14,3 bilhões, conforme os demonstrativos das companhias abertas pesquisados pela consultoria Economática. No semestre passado, o Itaú-Unibanco aumentou as provisões em R$ 8,1 bilhões, 57,5% mais do que no primeiro semestre do ano passado; o Bradesco, em R$ 7,3 bilhões (+118%); e o Santander, em R$ 4,9 bilhões (+57,9%). O Itaú atribuiu o aumento das provisões ao “cenário econômico adverso, associado à crise financeira internacional, que contribuiu para a elevação da inadimplência, afetando a qualidade do risco das carteiras de pessoas físicas e jurídicas”. Para o Bradesco, foi a necessidade de “suportar eventuais cenários cíclicos, com aumento dos índices de inadimplência e/ou alterações no perfil de risco da carteira de crédito”, afetando a capacidade de
pagamento dos clientes. Quaisquer que sejam os motivos apresentados, quanto maiores as provisões, menor o lucro e, portanto, menores os impostos a recolher. Historicamente, muitos bancos preferiram lançar o maior montante possível na conta de provisões, adiando o recolhimento de tributos – e este procedimento é perfeitamente legal. Autoridades federais deram outra explicação: o aumento das provisões foi uma forma de os bancos não exibirem todos os elevados lucros obtidos em grandes operações, numa fase de recessão.
Políticas díspares criam dúvidas sobre a qualidade dos créditos A conjuntura difícil é, de fato, um fator capaz de justificar o crescimento das provisões. A diferença é que, desta vez, isto ocorreu simultaneamente com um aumento ínfimo dos empréstimos, de apenas 1,4%, nos bancos privados, entre os primeiros semestres de 2008 e 2009. Nos bancos públicos, ao contrário, os empréstimos aumentaram 10,9% na mesma base de comparação. E entre dezembro de 2008 e junho de 2009, a participação somada do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal (CEF) e do Banco do Nordeste no mercado de crédito passou de 24% para 28,1%, segundo o BC. A disparidade de políticas dos bancos públicos e privados quanto às provisões suscita dúvidas em relação à qualidade dos créditos. No passado, a
inadimplência elevada levou os bancos estaduais à liquidação e os bancos federais, ao prejuízo. Há agora o risco da repetição do problema? A resposta cabal é difícil, pois só os gestores dos bancos conhecem, de fato, a qualidade efetiva dos créditos que concederam. É quase impossível, assim, avaliar se os aumentos das provisões de uma instituição federal, a CEF, de R$ 1,26 bilhão, no quarto trimestre de 2008, e de mais R$ 1,54 bilhão, no trimestre passado, foram compatíveis com a aceleração dos empréstimos e a ampliação dos riscos. Ainda que inferiores aos de bancos privados, esses acréscimos não foram irrisórios. Um especialista em bancos, Armando Castelar Pinheiro, afirmou que a melhor maneira de dar mais transparência aos balanços – e assim conhecer melhor o nível de inadimplência – é abrir o capital, como sugere para a Caixa Econômica Federal. “Se a Caixa e o Banco do Brasil cresceram no vácuo dos bancos privados, eles entraram num mercado de risco maior”, admitiu Castelar. E isto poderá resultar em maiores prejuízos. Mas por ora, acrescentou, não há evidências desse aumento do risco. Nos bancos que aumentaram significativamente as provisões isto indica cautela nas concessões de crédito. Não é bom para a retomada do crescimento, mas o custo de uma deterioração da qualidade dos créditos bancários seria enorme, como mostrou a experiência internacional recente.
te. Ao mesmo tempo, alegando razões de segurança, o Planalto se recusou a liberar as fitas que registram as visitas ao palácio e que poderiam corroborar ou calar a versão de Lina Vieira. Por último, não tendo conseguido impedir que a oposição a convidasse a depor, os lulistas recorreram à costumeira truculência para intimidá-la, insinuando que teria cometido crime de prevaricação (por não ter denunciado, como servidora pública, o ato da ministra). Foi nesse clima que ela admitiu ter feito uma “interpretação errada” da demanda de Dilma – não seria necessariamente para “encerrar” a investigação, mas para lhe dar “celeridade”. Mas – e é isso que o governo tentou toscamente abafar – a ex-secretária descreveu com profusão de detalhes a sua ida ao Planalto, identificando o motorista que a transportou e reconstituindo o diálogo com a ministra – “ela foi cirúrgica”, avaliou. De volta à Receita, tendo sido informada de que “tudo estava em ordem” com a devassa, deixou o assunto de lado. Mostrou-se segura de si ao assinalar que “não mudo a verdade no grito” e, numa respos-
ta ao presidente, que “não preciso de agenda para dizer a verdade”. Principalmente, acusou Dilma de ter-lhe feito um pedido “incabível”. Foi “uma ingerência desnecessária e descabida”, repetiu. Só mesmo o desdém de Lula pelos fatos que o incomodam para considerar isso um recuo. Quaisquer que sejam os desdobramentos do caso, o comportamento da candidata do presidente a sucedê-lo deixa claro o seu despreparo para lidar com situações de estresse político. Talvez ela achasse que não poderia confirmar a reunião com Lina Vieira sem confirmar também o motivo – e dar uma explicação convincente sobre a sua intromissão no Fisco, para não parecer que tentava proteger a família do senador que a chamou de “sacerdotisa do serviço público” e cujo apoio à sua candidatura Lula considera essencial. Mas a tática de desmoralizar a acusadora acabou por atingi-la em cheio. Também tiveram pernas curtas os seus desmentidos sobre a pressão para agilizar a venda da Varig, sobre o preparo de um dossiê sobre os gastos do governo Fernando Henrique e sobre os falsos créditos acadêmicos no seu currículo oficial. Já é um padrão de desapreço pela verdade.
Repúdio à censura
A
o cobrar celeridade do Judiciário para que decida sobre a censura prévia imposta a este jornal – proibindo a publicação de quaisquer matérias relacionadas a Fernando Sarney, filho do presidente do Senado e sob investigação da Polícia Federal, na Operação Boi Barrica –, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, salientou: “É preciso que esse assunto não fique na avaliação de um único juiz, que o tribunal se pronuncie, dando ensejo a que o tema tenha o curso normal. Se for o caso, que vá para as instâncias superiores.” Note-se que esse “único juiz”, agravando os malefícios do subjetivismo da decisão monocrática, deixou de declarar-se impedido de julgar o feito, apesar de suas íntimas e notórias relações de amizade com a família de José Sarney. Certamente, com suas observações o presidente do Supremo entendeu que um dos valores mais elevados da cidadania e do Estado Democrático de Direito – ou seja, a plena liberdade de imprensa, garantida que é pela Constituição – não pode ficar à mercê de decisões puramente individuais, derivadas da subjetividade ou das afinidades pessoais de um ou outro magistrado. Pode-se dizer que corre no mesmo sentido o entendimento e a mobilização de uma entidade como a Associação Nacional de Jornais (ANJ), ao trazer a debate um meio de levar o Supremo Tribunal Federal a formar jurisprudência, com efeito vinculante, para impedir que juízes de primeiro grau ou de qualquer outra instância do
Judiciário façam censura prévia no País. A Associação pretende solicitar a colaboração da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de outras entidades da sociedade civil, comprometidas com a preservação do Estado Democrático de Direito, com o objetivo de que se defina o melhor caminho, ou o melhor tipo de ação, para a consecução desse objetivo. É que há uma questão importante a ser considerada: é preciso preservar a liberdade de expressão em sua forma plena, seguindo os princípios consagrados e o disposto claramente no texto constitucional, mas
A liberdade de expressão não pode depender do aval de um único juiz sem interferir na autonomia judicante dos magistrados. Essa iniciativa foi apoiada por unanimidade pelos representantes dos jornais que participaram de um painel sobre liberdade de imprensa promovido terça-feira em comemoração aos 30 anos de criação da ANJ. Na ocasião, o diretor da RBS, Marcelo Rech, resumiu a questão: “A violência contra o Estadão atinge a todos nós.” Mas, mesmo sendo o caso mais grave de censura prévia, o cerceamento à liberdade de expressão imposto a este jornal não é o único – e a experiência histórica indica que os cerceamentos autoritários nunca permanecem restritos ou eletivos, sempre contaminando, quando não contidos a tempo, amplos setores da sociedade. A presidente da ANJ, Judith Bri-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Sacrilégios O senador Flávio Arns sentiu-se envergonhado pela falta de ética do PT. Os maiores sacrilégios, para alguns petista, são: a verdade, a honestidade, o cavalheirismo, a ética e a civilidade. RONALD MARTINS DA CUNHA ronald.cunha@netsite.com.br
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Nazismoe plágio Já é público que a Polícia Federal indiciou um dos filhos de “Sainey”, o Fernando, pela prática de corrupção nas estatais de energia. O senador mantinha e mantém afilhados em cargos de comando no setor de energia. Um caso que posso comprovar, porque fui diretamente atingido, é o da importação de energia elétrica da Vene-
zuela. Tive a ideia de criar um sistema de transmissão, ofereci à minha ex-empregadora, a estatal Eletronorte, que a desprezou. Elaborei o projeto com outro colega e o registramos no Confea em 1991, quando já não era empregado. Em 1997 a obra foi licitada, à minha revelia, sem cessão dos direitos autorais. E adivinhem quem venceu? Uma empresa pequena do Maranhão, a Remoel, superando várias grandes e experimentadas companhias. A Eletronorte executou um projeto que me foi plagiado e usurpado, reconhecido pelo Confea. Davam-lhe suporte os diretores da estatal, um deles hoje presidente da Eletrobrás. E depois o senador diz que é perseguição nazista! Só se for contra mim, que abri 12 processos em Brasília mas só venci um – em
“
público (Sampalmas-Nova São Paulo),
Censura – todos são iguais perante a lei, exceto os que têm o sobrenome Sarney”
técnico em Planejamento Governamen-
JamesF.SunderlandCook sunderland2008@gmail.com SãoPaulo
São Paulo
primeiro grau –, porque blindaram os mandantes dos delitos e das irregularidades licitatórias. Inclusive no TJDFT. Sou um trabalhador, mas não sou blindado pelo governo dos trabalhadores. Estou apanhando desde então como cachorro de rua. E eles estão nadando de braçada, à nossa custa. TÁCITO SAMPAIO ALVES, engenheiro (USP), laureado com o Prêmio Roberto Simonsen (Fiesp/Ciesp), em concurso
tal (Seplan federal), autor, em coautoria, do Sistema de Transmissão VenezuelaBrasil, para atender Boa Vista e Manaus tacitosa@uol.com.br
● Sarney está cavando um buraco cada vez maior, nunca vi alguém se afundar em tantos processos. Será que algum deles é verdadeiro? Ou melhor, algum não é?
surado pelo maior tempo na ditadura militar e, agora, proibido de noticiar fatos por uma decisão caprichosa. Cumprimento o Estado por esse patrimônio moral que o jornal constituiu ao longo de sua vida e me solidarizo contra o arbítrio que, mais uma vez, ameaça a liberdade de imprensa.
São Paulo
Solidariedade O Estado é um emblema de jornal perseguido politicamente: invadido e confiscado pela polícia política na ditadura Vargas, órgão cen-
crisrochazevedo@hotmail.com
Florianópolis
rjanine@usp.br
● Será que a insistência com que membros do governo, inclusive o presidente Lula, tentam desmentir o encontro entre Dilma Rousseff e Lina Vieira não está tendo o efeito contrário ao desejado, fazendo crescer o número de adeptos da versão de que o fato efetivamente ocorreu?
São Paulo
ODILON OCTÁVIO DOS SANTOS
RENATO JANINE RIBEIRO, professor titular de Ética e Filosofia Política da USP
os.snts@ig.com.br
RODRIGO NEUMANN rodrigo@bluestone.com.br
to, divulgou o balanço dos últimos 12 meses, que mostra um agravamento preocupante desse tolhimento: foram 31 casos de agosto de 2008 a julho de 2009. Destes, 16 casos decorreram de sentença judicial impondo censura prévia, sendo a maior parte delas emitidas por juízes de primeiro grau. Sempre é bom lembrar que os tópicos constitucionais que proíbem qualquer forma de censura no País – a saber, os artigos 5º, IV e XIV, e 220, parágrafos 1º e 2º – são absolutamente cristalinos. Veja-se este último: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.” Parágrafo 1º: “Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social.” Como é ao Supremo Tribunal Federal que cabe interpretar, em última instância, o sentido de todos os mandamentos constitucionais vigentes, a ANJ tem razão em pretender que a Alta Corte fixe, de maneira definitiva, uma jurisprudência que impeça juízos singulares ou tribunais de desrespeitar um dos preceitos constitucionais de maior valor para o Estado Democrático de Direito. E a Súmula Vinculante – oportunamente introduzida em nosso ordenamento jurídico, não faz muito tempo – tem, justamente, a finalidade de harmonizar o entendimento judicial do que manda a Constituição. No caso, a irrestrita liberdade de expressão e o enfático repúdio à censura prévia.
Poucaspalavras
Marília
“Eu não mudo a verdade no grito nem preciso de agenda para dizer a verdade. A mentira não faz parte da minha biografia.” De Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal. Precisa dizer mais?
● Sugestão a quem tiver encontros com a ministra Dilma Rousseff ou qualquer outro membro do governo: gravem a conversa.
MARIA CRISTINA ROCHA AZEVEDO
Pouso Alegre (MG)
LUCIANO NOGUEIRA MARMONTEL automat_br@ig.com.br
QUINTA-FEIRA, 20 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL A7 A7 NACIONAL
‘ESTADO’ SOB CENSURA
Censura contra ‘Estado’ é tema de debate na TV
Artigo
Coisa de Hugo Chávez David
Fleischer*
Liminar contra jornal foi discutida no Observatório da Imprensa na terça ANDRE DUSEK/AE–19/2/2008
Daniel Bramatti
A imposição de censura ao Estado e a outros jornais por meio de decisões judiciais foi criticada por todos os convidados do programa Observatório da Imprensa,exibidonanoitedeterçafeira pela TV Brasil. Único debatedor sem vínculos diretos com o jornalismo, o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB),MozartValadares,enfatizou que a entidade condena a censura e disse estar convicto de que não há uma “investida” contra a liberdade de imprensa no País. “Temos mais de 20 mil magistrados.Infelizmenteháalgumas exceções, mas não há, no Judiciário, o sentimento de limitar o exercício da função de jornalista.” Por decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal deJustiça do Distrito Federal, o Estado está impedido de publicar informações sobre investigação da Polícia Federal que atingiu Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “Vivemos uma dicotomia, uma situação esdrúxula”, apontou Aluízio Maranhão, editor de Opinião do jornal O Globo. “O Supremo Tribunal Federal decretou a nulidade da Lei de Imprensa herdada da ditadura, mas, em instâncias inferiores, na prática vigora a censura prévia.” O jornalista Alberto Dines, apresentador do programa, qualificou o episódio que atingiou o Estado como “censura togada”. “Alguns magistrados
CRÍTICA – ‘Estão atropelando a Constituição’, afirmou Maurício Azêdo
FRASES
Mozart Valadares Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros “Temos mais de 20 mil magistrados. Infelizmente há algumas exceções, mas não há, no Judiciário, o sentimento de limitar o exercício da função de jornalista”
Maurício Azêdo Presidente da ABI “Hoje o grande inimigo da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão é o Poder Judiciário, principalmente por conta de decisões de magistrados de primeira instância”
não sentem o menor pudor em determinar a supressão de informações. Não impõem sanções pelo que já foi publicado. Agora arrogam-se o direito de atuar preventivamente para evitar a circulação daquilo que não consideram apropriado.” Ricardo Gandour, diretor de ConteúdodoGrupoEstado,destacou que o jornal decidiu “espernear” contra a ordem judicial sem desobedecê-la, em respeito ao Estado de Direito. “Hoje o grande inimigo da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão é o Poder Judiciário, principalmente por conta de decisões de magistrados de primeira instância”, disse Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa(ABI).“Estãoatropelando a Constituição.”
Tanto Gandour quanto Maranhão ressaltaram que não é função da imprensa preservar o chamado segredo de Justiça, que cobre determinados processos. “No nosso entender, o sigilo é de responsabilidade de quem o detém. Se a imprensa, por métodos jornalísticos lícitos, obteve a informação, é direito garantido pela Constituiçãoqueelainformeoqueconseguiuapurar”,disseorepresentante do Estado. O editor de Opinião de O Globo observou que há uma “tensão” entre o direito à liberdade de expressão e o direitoàprivacidade.Disseaindaque osconflitos devemser dirimidos pela Justiça. “O que estamos discutindo é, primeiro, a velocidade na definição destes conflitos. Segundo, tendências perigosas, principalmente nas instâncias inferiores, onde há concessão de liminares que consideramos descabidas.” Gandour alertou para a possibilidade de a censura prejudicar a imagem do País. “Se o Brasil quer ser reconhecido por seus avanços econômicos, não deveria abrir mão de ser reconhecido politicamente. Não podemos correr o risco de ter um retrocesso político.” ●
Saiba mais sobre a censura judicial ao 'Estado' no especial:
www.estadao.com.br/e/a7
N
o dia 30 de julho, o presidente do Tribunal de Justiça do DF, desembargador Dácio Vieira, emitiu liminar estabelecendo a censura prévia em cima do jornal O Estado de S. Paulo, vedando qualquer publicação sobreo sr. Fernando Sarney vis-àvis acusações em relação à Operação Boi Barrica da Polícia Federal na qual o sr. Fernando foi indiciado no dia 15 de julho. Há muito tempo, a censura prévia de jornais no Brasil caiu em “desuso”, sendo que em geral o Judiciário (principalmente em nível federal) considera que essetipodeaçãoéinconstitucional e descabido no Brasil democrático regido pela Constituição de 1988. Na interpretação mais geral, pensa-se que isso é “coisa de Hugo Chávez”. Essadecisãododesembargador Dácio Vieira suscitou questionamentos sobre seu passado e suas relações com a família Sarney. Tendo sido funcionário comissionado no Senado antes de ser nomeado para o TJ-DF pelo então governador Joaquim Roriz (PMDB), Vieira manteve fortes relações com o senador Sarney, como constou na foto no casamento da filha do ex-diretor-geraldoSenadoAgaciel Maia, onde Sarney e Vieira eram padrinhos da noiva. Por essas e outras razões, muitos juristas e juízes acharam que essas relações com a família Sarney comprometeram Dácio Vieira e o desqualificaram para deliberar esse caso.
OdesembargadorVieiradespachou esse caso exatamente no último dia do recesso do TJ-DF comopresidentedessetribunal. Depoisdeterseuspedidosrecusadosportribunaisdeprimeira instância no Maranhão, em São Paulo e Brasília, Fernando SarneyprocurouapoiocomDácio Vieira em Brasília. De tão absurda tenha sido essa decisão, que o presidente do STF, Gilmar Mendes, cobrou “celeridade” do TJ-DF em relaçãoaessecaso.Váriosoutrosjuízes do STF e STJ emitiram opiniões semelhantes. Várias associações também reclamaram a “parcialidade”dessadecisãocomo um atentado contra a liberdade de expressão – ABI, OAB, ANJ, Fenaj, AMB, entre outras. No dia 17 de agosto, o senador Sarney subiu à tribuna do Senado para castigar O Estado de S. Paulo por ter divulgado o fato de sua família ocupar imóveis em São Paulo de uma empreiteira. Sarney chamou o jornal de “nazista”, mas não explicou como e por que esses imóveis ainda estavam registrados em nome da empresa Holdenn – que participa de licitações na área de energia elétrica, setor em que a família Sarney ainda detém muita “influência”. Esse caso demonstra como a liberdade e a democracia plena ainda são coisas muito distantes no Brasil. E como uma poderosa família política, com raízes ainda nos anos 1950, tem tentáculos e influência suficiente para impor a censura prévia em cima de um jornal de circulação nacional por achar que a cobertura dos “negócios” dessa famíliainvadisse seu“seioíntimo”. ●
* David Fleischer é professor de ciência política na UnB e membro do conselho diretor da Transparência Brasil
o estado de s. paulo
● Edição de
0h15
SEXTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
21 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42311
Intimidação do Taleban afasta eleitores no Afeganistão Lourival Sant’Anna ENVIADO ESPECIAL A CABUL
A pressão do Taleban para intimidar os afegãos na histórica eleiçãodeontem pareceterfuncionado. Após uma campanha eleitoral agitada, o comparecimento foi baixo, o que pode prejudicaropresidenteHamidKarzai. A primeira contagem parcial de votos deve demorar até três dias para sair. ● PÁG. A14
SAURABH DAS/AP
Escócia solta líbio que matou 270 ●● Condenado pela explosão do
À ESPERA – Afegãs fazem fila para votar na cidade de Herat, no oeste do Afeganistão: estimativas informais eram de comparecimento de 40%, ante cerca de 70% em 2004
Sarney valida mais 45 atos secretos e favorece sobrinha
ESPORTES
Para AGU, lei antifumo paulista fere a Constituição A Advocacia-Geral da União (AGU) considerou a lei antifumo paulista inconstitucional. O parecer destaca que a competência de legislar sobre o uso do cigarro em ambientes fechados é do governo federal e não de Estadosemunicípios. AtéjulgamentodoSupremoTribunalFederal (STF), a lei paulista continua em vigor. ● PÁGS. C1 e C3
Decisão publicada no dia em que o senador se livrou de processos também beneficia parentes de aliados
Lula já tem substituto para Mercadante
Investigação
Filho defende Roger Abdelmassih ●● Vicente liga acusações de estuproa sedativo e diz que a clínica está aberta. ● PÁG. A24
Suplente, João Pedro (AM) é o preferido do presidente para liderar bancada do PT O senador Aloizio Mercadante (SP)anunciouontem quedeixará a liderança do PT no Senado, em razão da pressão do Planalto pelo arquivamento das denúncias contra José Sarney (PMDB-AP). “Saio da liderança para disputar, junto à militância, a concepção do PT que eu acredito”, disse ele em sua página no twitter. Chamado para uma conversa com o presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador acabou adiando para hoje o discurso de renúncia na tribuna do Senado. Lula disse a ministros quejátemumcandidatoà vaga de Mercadante: o suplente João Pedro (AM). Amigo do presidente, ele é tido como conciliador, capaz de atuar para contornar a crise petista. ● PÁG. A6
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 21 DIAS
Guia ADRIAN DENNIS/AFP
A diretoria-geral do Senado convalidou 45 atos secretos na quarta-feira, mesmo dia em que o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), se livrou no Conselho de Ética de processos de cassação por quebra de decoro. Os boletins secretos asseguram os empregos de Maria do Carmo de Castro Macieira, sobrinha do senador, Nathalie Rondeau, filha do ex-ministro Silas Rondeau (afilhado político de Sarney), e Alba Leite Nunes Lima (mulher de Chiquinho Escórcio, aliado do presidente do Senado). A diretoria-geral alega que, apesar da nomeação secreta,essaspessoastêmexercido suas funções devidamente. Além desses 45, outros 34 servidores se encontram na mesmasituaçãoeaguardamdecisão. Na semana passada, Sarney tinha validado 80 atos usados para conceder gratificações aos funcionários. ● PÁG. A4
A São Paulo de Roberto ●●● Com 19s19, Usain Bolt vence os 200 metros e bate mais um re-
A espinha dobrada do PT Movido por projeto pessoal, Lula faz o que for preciso e obriga o PT a pagar qualquer preço para que se cumpram as cláusulas do contrato que celebrou consigo próprio. ● PÁG. A3
●●●
NOVO
AAneelprevê quedistribuidoras de energia buscarão autorização para elevar tarifas nos próximos meses. O motivo é o decreto do governo paulista
que obriga essas empresas a recolher o ICMS da venda no mercadolivre – consumidores que negociam o preço, como hotéis e shoppings. ● PÁG. B1
●● Estreiam os premiados A TetaAssustada, doPeru, eGigante, do Uruguai. Além disso, filmes argentinos e chilenos ganham mostras. ●
2010
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Pelé ataca cartolas
● PÁG. C2
12º MÍN.
Chove e a temperatura fica baixa.
●● Em entrevista, Pelé culpa os dirigentes pela penúria do futebol no País. ● PÁG. D2
Voo 447
Termina 2ª fase de busca da caixa-preta
Hoje: 230 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 20 ● Guia: 132 ● E. Esportes: 8 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 8
●● Mesmo após mais um fracasso, França deve retomar trabalhos no mar. ● PÁG. C5
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Direto da Fonte
corde mundial em Berlim: ‘Estou virando uma lenda’, diz. ● PÁG. E1
CADERNO 2 Mudançadeimposto festeja podeencarecerenergia Cinema latinos em SP
NOTAS E INFORMAÇÕES
avião da Pan Am em Lockerbie, Abdel al-Megrahi tem câncer. Libertação irrita EUA. ● PÁG. A18
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A8 NACIONAL
SEXTA-FEIRA, 21 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 21 DIAS
Artigo
Lula vê Liberdade de expressão ‘picaretas’ e o interesse público na oposição Maria
Garcia*
Em discurso, ele pede a jovens que não desanimem da política Angela Lacerda ENVIADA ESPECIAL IPANGUAÇU
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem o comportamento dos políticos de oposição ao governo. “Aoposição, quando nãotem argumento para fazer oposição, é pior do que doença que não tem cura. Fica inventando”, disse em discurso para estudantes, na inauguração de uma escola técnica em Ipanguaçu, a 215 quilômetros de Natal. Lula citou um antigo ditado árabe para comparar sua atitude diante dos ataques da oposição. “Enquanto os cães ladram, a caravana passa. E eu tenho de governar este país.” Ele contou ter sido criticado pela oposição, por exemplo, ao inaugurar umauniversidadeemMossoró (RN). “A oposição dizia que eu estava inaugurando ummuro”, disse. “Agora eles têm de ir ver o que o muro está produzindo.” Sem se referir especificamente aos escândalos no Senado, o presidente aproveitou a plateia de jovens para pedir que não desanimem da
política brasileira. “Quando estiver desanimado da política, aquele dia em que estiver lendo jornal e falar ‘não quero mais saber dessa porcaria’, pense: porquevocê nãoentra na política?”, aconselhou Lula. “Quanto maisas pessoassériasse afastarem da política, mais picaretas vão entrar nela.” Lula defendeu a aprovação da proposta de reforma política que tramita no Congresso. “Sem reforma a gente não melhora a política brasileira.” FAMÍLIAS
ElecriticouosEstadosgovernados pelas mesmas famílias por “décadas e décadas” e citou comoexemploRioGrandedoNorte, Pernambuco e Paraíba. Mas poupou o Maranhão, dominado pelafamíliadopresidentedoSenado, José Sarney (PMDB). Ao pregar que não se deve fazer prejulgamentos, pediu responsabilidade. E não excluiu os políticos. “Nós políticos também, no microfone, em campanha, a gente achincalha, acusa, sem prova, pelo que ouviu falar”, observou. “Isso rebaixa o nível da política, enoja e muita gente então se afasta.” Argumentou ainda que não existe o “político dos sonhos”. ●
É
inconcebível, neste século 21 e na América(quesomosamericanos, embora do sul), que uma autoridade estatal ainda se promova em censora de informações sobre a res publica, no interesse público, portanto. Interesse público, numa das suas melhores acepções, é o bem social indisponível e transcendente aos interesses individualizados. No caso da censura ao jornal O Estado de S. Paulo, ficou patente que o interesse público não foi considerado. Conforme expôs Giannotti na ediçãode7desteagosto,“aquestãodacensura éa mesmadacrise do Senado” e então os personagensnocentroeemvoltadessa crise são importantes para o esclarecimento de todos. Quosque tandem, Catilina? Quando jovens estudávamos Cícero para o vestibular da USP e podíamos imaginar que viveríamos estes dias?! A questão toda faz lembrar a obra do século 16 de La Boètie, sobre a servidão voluntária: “Éincrívelcomoopovo,quando se sujeita, de repente cai no esquecimento da liberdade tanto e tão profundamente que não lheépossívelacordarpararecobrá-la, servindo tão francamen-
teedetãobomgradoqueaoconsiderá-lo dir-se-ia que não perdeu sua liberdade e sim ganhou sua servidão”, pois vivemos estes dias como um pesadelo – algo que não parece efetivamente real, mas sim uma novela de mau gosto, para não dizer trágica. Decerto que se refere aqui à liberdade política, aquela que consiste essencialmente no poder de decidir – o que implica, por sua vez, a necessidade de consulta ao povo que assistimos atudo, custando acrer queesteja acontecendo o que se vê acontecer.Aliás,emboraaConstituição, no seu artigo 14, estabeleça o plebiscito e o referendo como consultas populares, isso é letra morta para o Poder Legislativo brasileiro, pois nem nas emendasconstitucionaisquealteram a Constituição, nenhuma delas sequer passou pelo crivo do povo,titularde todo opoder (parágrafo único, art. 1º). A mesma Constituição de 1988, no art. 5º IX estabelece que “é livre a expressão da atividade de comunicação, independentementedecensuraoulicença”eo art.220 completa:“A manifestação do pensamento, a criação,aexpressãoeainformação,sobqualquerforma,processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.” Nesse sentido, a Constituição resguarda “a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua vio-
lação”. Do que se trata, entretanto? A reportagem do Estado revelou o teor de diálogos envolvendo Fernando, sua filha e seu pai, José Sarney. Negociavam um cargo de confiança no Senado, para o namorado da neta de José Sarney – nomeação mais tarde efetivada por um “ato secreto”. O pedido de censura fora “rechaçado na 1ª instância”. “A justificativa para a decretação da censura foi a de que a investigação da Polícia Federal transcorria sob sigilo.”
À imprensa cabe o dever de informar sobre a investigação à qual teve acesso Sigilo para quem? Evidentemente, para as autoridades atuantesno processo,nuncapara o povo brasileiro, que tem o direito de ser informado sobre tudo o que envolva a República, e à imprensa cabe o dever de informar sobre a investigação à qual teve acesso, ficando claro tratar-se, ainda, da apuração de fatos. A ideia de República não se conciliacomosigiloimposto pelacensurajudicial:GeraldoAtaliba, em Republica e Constituição refere que o principio republicanovaideterminarcomodevem ser interpretadas as outras disposições constitucionais. Dessa forma, as características republicanas de um go-
verno implicam, entre outras, a responsabilidade dos agentes públicos e a prestação de contas da coisa pública. E se o povo brasileiro, em si mesmo considerado, como conjunto de cidadãos, detém todo o poder – que é uno e exclusivo –, mostra-se intocável o seu direito de ser informado sobre a coisa pública “sob qualquer forma, processo ou veículo”, dispõe o art. 220 da Constituição. O princípio republicano perpassa, portanto, todo o texto constitucional, a partir das proclamações do preâmbulo e do art. 1º da Constituição, alcançandoosPoderese suasatribuições e todos os atores sociais, em especial os cidadãos, até o último dos seus dispositivos, art. 95 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, quandoserefereàRepúblicaFederativa do Brasil. Recorrendo às origens dessa modalidade de governo porque é necessário, nos dias de hoje, chegar às fontes, verifica-se na República de Platão que a vida privada e a vida pública são interdependentes:se a vida privada é má e corrupta, a primeira nãopodedesenvolver-seealcançar seus fins. A propósito e por derradeiro, aspalavrasdojuizespanholBalthazarGarzonquandoaquiesteve, em 8/9/2008: “É muito importante que não haja a sensação de impunidade. Que não haja espaços sem direito.”
*Maria Garcia é livre docente em Direito Constitucional da PUC-SP
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
22 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42312
Economia dos EUA dá sinais de retomada e otimismo volta OpresidentedoFed(bancocentral dos EUA), Ben Bernanke, disse que a economia do país está “pronta” para voltar a crescerequeasperspectivasnocurto prazo são boas. Em julho, as vendas de imóveis residenciais usados nos EUA cresceram 7,2%antejunho,omaioraumento em uma década. Os sinais de retomada provocaram alta das bolsas de valores. ● PÁGS. B1 e B3 CELSO JUNIOR/AE
●●● POPULARIDADE CAI
Os índices de confiança e aprovação de Barack Obama caíram. A principal razão apontada é a reforma no sistema de saúde. ● PÁG. A18
DIA DO FICO – Mercadante antes de anunciar, em discurso, que desistira de deixar a liderança do PT: em tensa conversa, Lula disse ao senador que a renúncia seria imperdoável
Mercadante é repreendido por Lula e desiste de sair
Planalto diz não ter como saber se Lina visitou Dilma
Enquadrado,senadorrecua dadecisão ‘irrevogável’ dedeixar liderançadoPT ta. No encontro, Lula cobrou do petista apoio às decisões do partido e do governo e disse que não admitia ser pressionado. Afirmou que a renúncia seria imperdoável, por dar munição à oposição e desgastar o PT.Osenador, porsua vez,disse a Lula que o governo “errou” ao apoiar o arquivamento
Homem jovem é o mais flagrado na Lei Seca
dasdenúnciascontraJoséSarney (PMDB-AP). No pronunciamento de Mercadante, havia cinco senadores no plenário, em sessão qualificada de “melancólica” por Pedro Simon (PMDB-RS). Para Cristovam Buarque (PDT-DF), o Senado “virou um anexo do Planalto”. ● PÁGS. A4, A6, A8 e A10
IBIRAPUERA: 55 ANOS
séSarney,decidiudemitirasobrinha Maria do Carmo de Castro Macieira, nomeada em
2005 por ato secreto, validado quarta-feira. Assessoria disse que só ontem Sarney descobriu o parentesco. ● PÁG. A6
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 22 DIAS
q
PÁG. A10
CADERNO 2
Carga tributária
Governo quer novo imposto sobre livros
Memória
MARCIO FERNANDES/AE
Bauru abandona antiga casa de Pelé
Cresce apoio no STF à união entre homossexuais
7 8 9 10 11 12
●● OpresidentedoSenado,Jo-
●● Tributo a ser cobrado de editoras seria usado no Fundo Pró-Leitura. ● PÁG. A30
A Polícia Militar flagrou menos motoristas bêbados na capital paulista. A queda foi de 17% para 6%, na comparação do segundo semestre de 2008 com o primeiro deste ano. Homens solteirosde 18a 25 anos são os mais flagrados. A Lei Seca vigora desde junho de 2008. ● PÁGS. C1 e C3
Matisse dialoga com discípulos
Lacroix leva seu glamour ao palco
●● Mostra do gênio moderno da cor, que chega em setembro a SP, inclui seguidores contemporâneos. ● PÁG. D5
●● Faap abre no dia 25 expo-
NOTAS E INFORMAÇÕES
Renúncia à decência
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal sinaliza apoio ao reconhecimento da união estável entre homossexuais, com direitos como concessão de pensão e permissãoparaadotarcrianças. Há ministros que defendem até que a união seja considerada família. ● PÁG. A28
Sarney demite sobrinha
Mercadante corre o risco de ser julgado apenas um paumandado, até porque, como confessou, em toda a carreira jamais resistiu aos apelos do primeiro-companheiro.● PÁG. A3
●●●
●●● Cícero Pereira abraça arau-
cária que plantou no Parque do Ibirapuera. O cartão-postal de
São Paulo completou ontem 55 anos e seu funcionário mais antigo, 33 de trabalho. ● PÁG. C10
sição que reúne figurinos do estilista francês feitos para peças de teatro. ● PÁG. D4
Tempo: CAPITAL
● PÁG. C2
20ºMÁX.
8º MÍN.
Ar frio e seco deixa o tempo firme.
Hoje: 130 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 6 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 26 ● Ci. Imóveis: 14 (3.839 anúncios)
Imóvel comprado no início da carreira do Rei é usado por mendigos. ● PÁG. E6
●●
Tecnologia
Contra notebook, desktop fica menor ●● Modelos compactos ou embutidos no monitor chegam ao mercado. ● PÁG. B19
Vovô maluquinho ●● Estreia
amanhã na TV Brasil o programa ABZ de Ziraldo, para a garotada. ●
ANA PAULA OLIVEIRA/DIVULGAÇÃO
O senador Aloizio Mercadante (SP) anunciou ontem que não deixará a liderança do PT, um diaapós terdito quesuarenúncia era “irrevogável”. Mercadante atribuiu o recuo a apelo do presidente Lula, feito por carta – elaborada como saída honrosa após tensa conversa entre os dois na noite de quin-
O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República informou não ter mais imagens e registros da garagem do Palácio do Planalto de novembro e dezembro de 2008. A ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira reafirmou nesta semana, no Senado, que teve encontro com Dilma Rousseff, no qual a ministra teriapedidoqueinvestigaçõesenvolvendo Fernando Sarney fossem aceleradas. ● PÁG. A11
A10 NACIONAL
SÁBADO, 22 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 22 DIAS
‘Estado’ entra com novo recurso Para advogado Manuel Alceu, desembargador revelou ‘radical inimizade’ e ‘abissal animosidade’ ao jornal Fausto Macedo
O Estado ingressou com nova exceção de suspeição do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que impôs censura ao jornal. A base do recurso foi extraída da própria decisão de Vieira, quando ele ignorou um primeiro pedido para que se declarasse suspeito. Ao não reconhecer parcialidade na demanda de interesse de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), o desembargador revelou “radical inimizade” e “abissal animosidade” ao Estado, na avaliação do advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira. A censura começou em 31 de julho. O jornal recorreu inicialmente com exceção de suspeição. Depois, entrou com mandado de segurança contra o ato de Vieira, distribuído ao desembargador Waldir Leôncio Cordeiro Lopes Júnior. A nova exceção é mais uma investida do Estado para tentar resgatar o direito de infor-
mar seus leitores sobre a Operação Boi Barrica, inquérito da Polícia Federal que investiga Fernando Sarney. Vieira é do convívio social dos Sarney, como revela foto do casamento de uma filha de Agaciel Maia, ex-diretor geral do Senado, na qual o magistrado aparece ao lado do senador. No segundo pedido de suspeição, a foto não é o argumento principal. A estratégia de Manuel Alceu reside nas 36 páginas que Vieira preencheu para não admitir seu afastamento da causa.
Censura foi decretada pela Justiça no dia 31 do mês passado O advogado destaca seis passagens da longa manifestação de recusa à suspeição subscrita por Vieira. O advogado põe em evidência o que considera “solar e capital inimizade” do
Entidades veem ameaça à liberdade mes autocráticos, ao mesmo tempo em que exortamos todos os habitantes do continente a expressar sua máxima solidariedade aos numerosos jornalistas e veículos de comunicação perseguidos”, destaca o texto. Entre as denúncias das entidades, está a “hostilidade judicial” contra “proprietários, jornalistas e trabalhadores dos meios de comunicação”, caso da censura ao Estado. “A experiência das sociedades conduz a um resultado invariável: as restrições às liberdade de expressão, de imprensa e informação sempre resultam na privação das liberdades e direitos das pessoas”, diz o texto. ●
Sete entidades que representam veículos da América Latina, entre elas a brasileira Associação Nacional de Jornais (ANJ), divulgaram ontem nota conjunta em que denunciam a “deterioração da liberdade de expressão no continente”. Além da ANJ, a nota é subscrita por entidades de Chile, Argentina, Peru, Colômbia e Equador, que apontam para uma crescimento das ameaças a veículos de comunicação e jornalistas. Ainda alertam a população para que permaneça “atenta” aos ataques aos regimes democráticos. “Conclamamos a opinião pública a permanecer atenta diante da instalação e consolidação de regi-
ROBERTO ALMEIDA
desembargador com o jornal. Vieira fala em “exacerbada reação esboçada pela mídia nacional, sob o comando do excipiente (o jornal), com distorcida divulgação da decisão mono-
crática da lavra deste magistrado”. Alega agir com “sobriedade, independência, bom senso e longanimidade no enfrentamento desses tenazes e infundados ataques”.
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Ele alega que a decisão “se mostra sobejamente fundamentada, havendo, portanto, a nítida intenção, até aqui frustrada, de causar intimidação a um detentor da indeclinável garantia constitucional da independência, no lídimo exercício da judicatura”. “Há juízes em Brasília!”, exclama. O desembargador se diz alvo de uma “ação orquestrada publicamente com o uso de impropérios de toda ordem, em detrimento pessoal, familiar, profissional”. “Um verdadeiro envolvimento de pressão psicológica que ainda perdura contra estemagistrado, com onítido propósito de intimidação”, completa Vieira. PROFUNDAS MÁGOAS
Manuel Alceu assinala que “as gravíssimas imputações que o desembargadorlançouemdireção ao Estado mostram ausente, nessa relatoria, o pressuposto processual básico da isenção judicante”.Dizque“não receberá jurisdição imparcial quem, como o jornal, se vê pelo próprio
‘Imprensa não está livre de demanda na Justiça’ Indagado sobre censura ao ‘Estado’, Sarney diz que filho está ‘defendendo seus direitos’ Roberto Almeida Rodrigo Álvares
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse em entrevista ontem pela rede GloboNewsque“aimprensanãoestáexcluídapelaConstituição de ser demandada na Justiça”. A afirmação partiu de uma pergunta específica sobre a censura ao Estado, que impediu a divulgação de informações da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, envolvendo seu filho Fernando Sarney, e a nomeação de parentes por meio de atos secretos no Senado. Durante a entrevista, o senador reiterou que nunca processou um jornalista – apesar de já ter demandado judicialmente o Jornal do Brasil, em 1994 –, e argumentou que não pode ser “o
culpado” por uma ação de seu filho. “Eu não faria isso”, disse. “Mas ele (Fernando) está defendendo seus direitos. E por que que se estende isso? O que que tem isso com o Senado?” Sarney afirmou que seu jornal, O Estado do Maranhão, de-
Ele diz que lutará até o fim, apesar de ser ‘vítima da oposição’ fensor ferrenho de seu mandato, concede espaço a opositores. “Já passei as ações do jornal a meus filhos há tempos”, disse. No entanto, o presidente do Senado já ajuizou processos
contra o Jornal Pequeno, diário que tem como grife a oposição ao sarneysismo e também foi obrigadojudicialmenteporFernando Sarney a retirar do site reportagem contendo informações originárias dos autos da Operação Boi Barrica. Sarney afirmou ainda que é vítima da oposição e de setores do PT que não concordam com seu apoio ao presidente Luiz InácioLula da Silva e à candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. “Estou sendo vítima de uma grande injustiça, de uma conjugação de interesses, que são os interesses dos políticos do Maranhão, dos interesses dos políticos que não concordam que eu seja aliado do Lula e que eu esteja apoiando a ministra Dilma. E, de certo modo, recebendo uma
CELSO JUNIOR/AE
NEGÓCIOS – ‘Passei ações do jornal a meus filhos há tempos’, diz ele
julgador acusado de ‘distorcer’ fatos, de ‘abusiva atuação’, de desfechar ‘tenazes e infundadosataques’,detentativasde‘intimidação’, de praticar ‘intimidação das instituições’, de adotar ‘conduta temerária’, de violara‘éticajornalística’,deafrontar os ‘princípios deontológicos’ do jornalismo, de ‘ilaquear o foro íntimo do julgador’, de exercer ‘pressão psicológica’ ”. Manuel Alceu adverte que o magistrado fez um prejulgamentoque revela“radicalinimizade”. “Coisas parelhas somente são ditas relativamente a adversários figadais, nunca referentemente a quem se deva julgar.” E alerta que Vieira “com tantos reclamos e tão profundas mágoas, por certo não reúne os requisitos subjetivos, até elementares, para prosseguir na relatoria do recurso”. ●
Veja tudo o que já foi publicado sobre a censura ao Estadão
www.estadao.com.br/e/a10
vantagem correlata”, observou. SEM CULPA
Apesar do clima de tensão no Senado, Sarney disse estar tranquilo, porque não se sente culpado.“No dia em queos colegas,amaioriadoscolegasdoSenadochegaremedestituir,muito bem. Eles me elegeram, podem me destituir. Não existe pressão porque eu não me sinto culpado de nada. Eu estou procurando servir ao País. Estou procurando ajeitar esta Casa. Estou pagando por isso. Eu vou continuar até o fim. Não tenha dúvida.” Sobresuarelaçãocomosenador Fernando Collor (PTBAL), cujas disputas chegavam aos xingamentos nos tempos de disputa à Presidência em 1989, Sarney minimizou. “As palavras na vida política não têm o mesmo peso na vida privada”, avaliou. Collor chamava-o de “corrupto”ede“batedordecarteiras da história”, quando conseguiu estender seu mandato por mais um ano. ●
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Alencar volta ao Sírio para monitoramento O vice-presidente da República, José Alencar, de 77 anos, voltou ao Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, na manhã de ontem, para dar continuidade à terceira fase do tratamento contra um tumor na região do abdômen. Alencar passou por uma série de exames para monitorar o tratamento experimental contra o câncer, iniciado há cerca de dois meses nos Estados Unidos. Segundo sua assessoria, ele ficou no hospital das 8h às 9h30 e embarcou para Brasília ainda pela manhã. MATO GROSSO
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Debate abordará papel feminino na política Nos dias 27 e 28, as liderançasfemininasdocenáriopolítico de Mato Grosso e de outras regiões do País se reunirão em Cuiabá para discutir o tema Mulher e Poder Político, uma Relação Necessária. Promovido pela União das Câmaras Municipais de Mato Grosso e Sala da Mulher da América Latina-MT, o encontro tem o objetivo de fomentar o aumento do número de vereadoras no Estado, sensibilizar a criação de grupos nos partidos e levar mais informações sobre o papel da mulher na vida política.
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casa& Campanar, o novo verbo Há 20 anos, os irmãos Campana iniciaram uma revolução no design brasileiro. E ganharam o mundo. ●
Fernanda Lima comanda programa que pretende tratar o tema sem restrições. ●
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empregos Recrutadores miram páginas do candidato na internet. ●
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o âmbito do centenário de morte do autor de ‘Os Sertões’, evento realizado no auditório do Grupo Estado reuniu intelectuais e artistas para um debate sobre o papel do escritor cuja maior ambição era desvendar o próprio país. ●
ALIÁS
Ao PT, resta o carisma de Lula ●● Para o cientista político LuizWerneckVianna,Lulaerrou ao defender Sarney, e o
PT,seupartido,abdicoudaautonomia.“O presidentetomou conta do partido”, diz. ● PÁG. J4
VINÍCOLAS: DE HOBBY A NEGÓCIO SÉRIO
Governador do Rio ataca proposta de mudança na distribuição de royalties
NOTAS E INFORMAÇÕES
Golpe (eleitoral) contra a agricultura Para garantir o apoio do MST, Lula planeja golpear um dos setores estrategicamente mais importantes da economia, o agronegócio. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
24º MÁX.
● PÁG. C2
10º MÍN.
Sol aparece, mas há previsão de chuva.
Tiragem: 339.638 Hoje: 242 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 6 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 36 ● F. Feminino: 12 ● H. Especial Euclides da Cunha: 8 ● Ca. Autos: 26 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 34 ● Co. Oportunidades: 10
7 8 9 10 11 12
Lourival Sant’Anna ENVIADO ESPECIAL A KANDAHAR
Após oito anos de ocupação, jovens afegãos mostram simpatiapelo Taleban. Eramcrianças quando a milícia ocupou a cidade e adolescentes quando ela foi derrubada pelos EUA. Ziaul Haq, de 21 anos, compara: “Os taleban são melhores que os americanos. São afegãos e muçulmanos”. ● PÁG. A22
Grandes economias começam a sair da recessão
PÁG. A11
CULTURA
Recuperação da Argentina será lenta
tado em 2008. “Não há nada que me faça permitir que o Rio seja assaltado”, diz Cabral em entrevista a Luciana Nunes Leale Fernando Paulino Neto. Para o governador, a fatia reservada à Petrobrás “é uma vergonha”. ● PÁGS. B1, B3 e B4
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 23 DIAS
Jovens de Kandahar preferem Taleban
O Fed (banco central dos EUA) considera que, na prática, a recessãoterminou. A visão écompartilhada por vários BCs pelo mundo. Na União Europeia, o otimismo está em alta depois que França e Alemanha anunciaram ter superado a recessão no segundo trimestre. A maioria das autoridades econômicas acredita que a recuperação começou, mas alerta: o processo será lento. ● PÁG. B18
q
Literatura digital Autores usam ferramentasdainternetnoprocesso de criação. ●
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Infância
Pobreza leva crianças a abrigos ●● 1/3 tem família, mas paisestãodesempregados ou sem moradia. ● PÁG. A25
Gripe suína
Excesso de peso agrava riscos ●● Imunidade reduzida dosobesosostornasuscetíveis à doença. ● PÁG. A30
KEINY ANDRADE/AE
A uma semana do anúncio das regras do pré-sal, o governador Sérgio Cabral classifica a proposta do governo federal de “assalto” ao Rio. Ele critica a mudança na distribuição dos royalties do petróleo, que renderamR$6,8bilhõesaoEs-
RUY MESQUITA
14.754
e Tânia Monteiro. A ordem é partir para o confronto e, se o alvo do ataque for relacionado a alguma medida administrativa, comparar com a gestão de FHC. Além disso, Lula quer que Dilma apareça só em compromissos positivos. ● PÁG. A4
Regra do pré-sal é ‘assalto’, diz Cabral
DIRETOR:
CLASSIFICADOS
Ministra sairá de férias e governo cria ‘comitê’ para rebater ataques da oposição comanovaestratégiadoPlanalto parareforçar sua blindagem: a partir de agora, líderes do governo e do PT no Congresso, dirigentes petistas e ministros ficarão responsáveis por uma espéciedecomitêdereaçãonaEsplanada, informam Vera Rosa
(1891-1927)
23 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42313
Lula vai tirar Dilma de cena e reforçar blindagem Alvo de ataques da oposição, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) sairá de cena por no mínimo uma semana, após o anúnciodomarcoregulatóriodoprésal, marcado para o dia 31. As férias de Dilma, pré-candidata do PT à Presidência, coincidem
JULIO MESQUITA
Economistas avaliam que a Argentina, que entrou na crise sem as medidas adequadas, só reagirá no fim do ano. ● PÁG. B18
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●●● Vinícola em São Joaquim
(SC): barricas de carvalho francês e equipamentos italianos. ● PÁG. B14
ARTIGOS E COLUNAS
HENRY KISSINGER Para se aproximar da China, os EUA têm de esquecer o manual da Guerra Fria. ● PÁG. B16
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DANIEL PIZA Exigir moralidade não é udenismo ou pequeno-burguesismo, ou não deveria ser. ● PÁG. D3
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UBALDO Não descarto a hipótese de um imposto especial sobre as grandes gorduras. ● PÁG. D3
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LEIDAANISTIA
30ANOS
Trem-bala bem longe de 2014
●● Aprovada em 22 de
agosto de 1979, lei enfrenta contestações como nunca. Articula-se até uma comissão para esclarecer crimes da repressão. ● PÁGS. A14 e A15
●● Projeto de ligar São Paulo
ao Rio não passa de um sonho sem prazo para se concretizar. É a conclusão que se tira de estudo sobre a viabilidade da obra. ● PÁG. C1
ESPORTES
De camisa azul, Palmeiras vence o Internacional ●● Vestindo azul e jogando em casa, o Palmeiras bateu o Internacional por 2 a 1 e garantiu o topo do G-4. Hoje, às 16h, tem SãoPauloeAtlético-PReCorinthians e Botafogo. Às 18h30, Santos e Goiás. ● PÁGS. E1 e E3
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Qualidade da democracia Sambando com e a crise do Senado Sua Excelência JoséÁlvaroMoisés Que impacto na opinião pública terá a decisão do Senado de arquivar as denúncias contra José Sarney e o líder do PSDB, Artur Virgílio? Políticos e alguns analistas desqualificam os efeitos desse tipo de desempenho para o funcionamento da democracia, mas é indiscutível que a desconfiança dos cidadãos de instituições como os Parlamentos e os partidos (hoje em torno de 80%) vai aumentar. Instituições não deixam de funcionar por causa disso, mas para bem cumprirem a função de assegurar direitos e a igualdade de todos perante a lei precisam de credibilidade pública. O que distingue a democracia das alternativas autoritárias não é apenas a possibilidade de os cidadãos escolherem os seus governantes, mas também a de poderem avaliar se o processo de tomada de decisões de governos e Parlamentos atende a seus interesses e preferências. Quando isso falha ou é eliminado, o que está em questão não é se a democracia existe, mas a sua qualida-
A singularidade do regime é o controle pelas instituições de quem tem poder de, ou seja, a capacidade do regime de efetivamente assegurar a liberdade e a igualdade por meio do controle e responsabilização de governos e políticos pelos eleitores, assegurando o primado da lei e a participação das pessoas comuns. É um engano analítico sério considerar que, porque o chamado presidencialismo de coalizão garante a governabilidade, a democracia brasileira não enfrenta problemas. A governabilidade, na democracia, não diz respeito somente à capacidade do governo de fazer o que quer, o seu sucesso se mede também por quanto as suas ações asseguram os direitos, inclusive, de os eleitores efetivamente influírem nos rumos do processo político. No Brasil, a despeito dos altos índices de popularidade do presidente Lula, a maior parte das pessoas está insatisfeita com o funcionamento prático da democracia. Esse regime perde qualidade quando a obrigação de governantes e representantes parlamentares de prestar contas de sua conduta e de suas ações é fraudada. Essa obrigação envolve tanto o direito dos eleitores de serem informados do que está sendo feito em seu nome, com base nas promessas eleitorais (responsabilização), quanto a obrigação do Legislativo e do Judiciário de controlarem e fiscalizarem a con-
GaudêncioTorquato duta e a lógica de ação do Executivo (accountability horizontal). A singularidade da democracia está no monitoramento pelas instituições da ação de quem tem poder, se e quando elas cumprem a sua missão. Nesse sentido, a atual crise do Senado revela três questões inter-relacionadas. Em primeiro lugar, há a sua crise propriamente institucional. Se quiserem recuperar o seu papel na democracia brasileira, os senadores terão de abrir mão de suas práticas corporativistas e de benefícios próprios, retomar a produção legislativa e responder às grandes questões nacionais. Mas isso implica ter respostas claras e inovadoras para temas delicados, como o das medidas provisórias ou a primazia do Executivo em definir unilateralmente a agenda do Legislativo, e para as propostas de extinção do Senado. Hoje a maioria não dá sinais de perceber a relevância dessas questões. Nem de querer enfrentá-las. Em segundo lugar, a crise evidencia a sobrevivência da cultura política patrimonialista. Representantes tradicionais dessa cultura, como Sarney e os seus, ganharam sobrevida política nos últimos tempos com o apoio do presidente Lula e do PT. Ao contrário da promessa de sua fundação, o PT e o presidente escolheram uma forma de fazer política essencialmente conservadora, temerosa de qualquer mudança, conivente com o que há de pior na política brasileira. Para manter o poder tanto o “mensalão” como as irregularidades de Sarney, Renan Calheiros e outros são apresentados ao País como “normais” ou parte de um estilo de governança que não se envergonha de ferir as regras republicanas nem o princípio de que todos são iguais perante a lei. Por fim, a retórica de Lula e dos seus aliados para convencer a opinião pública de que tudo vai bem não esconde as consequências antidemocráticas da estratégia dominante. Para assegurar a governabilidade e o apoio do PMDB em 2010 o presidente, mais uma vez, absolve os acusados de irregularidades antes dos ritos e investigações devidos e, como já fizera com outros partidos políticos, quando estimulou a migração de parlamentares de pequenas legendas para as que apoiavam a sua coalizão governista, ou no episódio do “mensalão”, quando partidos e parlamentares receberam recursos “não contabilizados” para votar em projetos do governo, ele não hesita em desconstruir institucionalmente o seu próprio partido, humilhando seus líderes e fragilizando a conexão entre representantes e representados (Aloizio Merca-
FÓRUM DOS LEITORES CrisenoSenado Senado, ao longo da História, tem sido sinônimo de honradez, mas o nosso atual é sinônimo de desfaçatez, escancarada e sem limites. Aonde vai parar esse horror?
Censura
IBRAHIM GEORGES SKAF
“... O jornalista austero será sempre um ente malsinado e odioso para todos os governos. Hão de expulsá-lo sempre do sacrário puluto das mercês, onde reina o ladrão laureado, que tem o segredo de abater ministros erguidos e exaltar ministros despenhados” (Camilo Castelo Branco, no seu livro Coração, Cabeça e Estômago).
ibrahimac@ig.com.br
HELVIO ROSSIGNOLLI
São Paulo
hrossignolli@gmail.com
CLAUDIA FIGUEIREDO LEITE claudiafl@uol.com.br
Lorena ● A sorte do Senado é que o povo brasileiro não é politizado.
A banda de música da antiga UDN está tocando a marcha fúnebre para Sarney. Todo mundo está ouvindo, só ele é que não.
Caieiras
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MARCO ANTÔNIO SOARES marco_antonio_so@uol.com.br
São Paulo
● A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), entidade que representa mais de 5 mil concessionário de veículos, solidari-
dante que o diga). Essas escolhas comprometem a responsabilidade esperada das lideranças políticas na construção da democracia. Este regime depende sempre da existência de boas instituições, mas só cumpre as suas promessas se e quando quem se supõe que sejam líderes democráticos mostre à sociedade, por sua conduta e por seu exemplo, não só que a democracia precisa ser defendida contra os seus inimigos, mas que ela é a melhor opção mesmo quando pune os políticos supostamente democráticos que atentam contra a dimensão republicana da democracia. A tragédia da situação atual é que nem os líderes do governo nem os da oposição conseguem apontar uma saída eficaz para a crise. Todos parecem solidários em suas causas e efeitos. O acordão político que selou a decisão do Conselho de Ética do Senado de arquivar sem exame as acusações contra Sarney e Virgílio sinalizou esse entendimento para o público. ● José Álvaro Moisés, professor de Ciência Política e diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP, é autor do livro Os Brasileiros e a Democracia (Ática, 1995) E-mail: jamoises@usp.br
Eis mais um puxão de orelhas: “Toda vez, neste país, que se começa a fazer carnaval com coisas que não dão samba, as coisas vão ficando cada vez mais desacreditadas na opinião pública.” Impropriedade, exagero ou simplesmente mais um dito jocoso a entrar no dicionário da era Lula? O presidente cometeu a frase acima para desqualificar o relato da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira de que se encontrou com Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, quando a ministra teria solicitado acelerar a investigação sobre o filho de José Sarney. Sua Excelência, mais uma vez, embaralha as ideias, pois samba, neste país, entra em qualquer mote. Até histórias estapafúrdias, sem fundamento, produzem sambas festejados, ou porque as letras são engenhosas, ou por conta da engraçada criação dos personagens. É só lembrar que “a princesa Leopoldina arresolveu se casá, mas Chica da Silva tinha outros pretendentes e obrigou a princesa a se casar com Tiradentes”. Esse é o Samba do Crioulo Doido, peça de nonsense do inesquecível Stanislaw Ponte Preta, que ainda abriga Anchieta, o vigário dos índios, combinando com dom Pedro a proclamação da escravidão. A falta de nexo entre personagens e episódios, pela visei-
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
Luca Badoer, piloto que substitui Felipe Massa
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Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
ra de Luiz Inácio, teria tudo para não dar samba e, assim, cair no descrédito. Não foi o que aconteceu. O samba pegou, foi para o teatro rebolado e Stanislaw, pseudônimo de Sérgio Porto, acabou marcando presença na cena institucional. O genial cronista, escritor e compositor só não imaginaria que seu Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País), lançado nos idos de 60, chegaria ao pico do sucesso nestes tempos verborrágicos do lulismo. Deixemos o samba fora da lengalenga em torno de Lina-Dilma e voltemos ao cerne da peroração presidencial. Se a descrença se espraia por todos os lados, é porque a falta de vergonha invade a política e os costumes, disparando sandices, trocando verdades por falsas versões, rasgando as normas das instituições e impondo a vontade pessoal sobre os anseios coletivos. Expande-se o descrédito quando o presidente da República desce do altar mais alto da Nação para a planície da discussão rasteira e das refregas partidárias, movidas pelo combustível que acende as fogueiras pré-eleitorais. Sua Excelência abusa da condição de líder popular ao brandir a arma do advogado de acusação para refutar um relato cujos detalhes e circunstâncias – motorista, gravação da placa do carro e de Lina por câmeras de vídeo, xale da ministra, cumprimentos iniciais – o tornam bastante crível. Por ocasião do depoimento na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Lina Vieira, sem perder a postura de técnica e compostura de servidora pública, tocou na questão central: a interferência de um braço poderoso do governo sobre a estrutura de fiscalização, mesmo que não tenha havido – e isso foi posto – solicitação para engavetar a investigação sobre o filho de Sarney. O que estaria por trás da articulação e como a ministra poderia saber sobre um processo que corre em segredo de Justiça? O princípio da impessoalidade – que escudou a decisão da ex-secretária da Receita de não responder ao pedido da chefe da Casa Civil – não pode ser deixado à margem da questão. Essa é a razão que justifica a inserção do tema na pauta da política, ao contrário do que acha o presidente quando argumenta que “a discussão é de uma pobreza muito grande”. Não se trata de avaliar a futrica (quem disse o quê), mas a esfera dos princípios constitucionais em jogo: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Essa é a verdadeira questão de fundo. As firulas verborrágicas só tocam em detalhes. Pelo princípio da legalidade, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude da lei. Ora, sabemos que a administração pública abriga feudos onde uma regri-
FAX:
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Réquiempara oPT za-se com esse importante órgão de imprensa e vem demonstrar sua indignação ante a proibição, imposta pelo desembargador Dácio Vieira, de o Estado publicar reportagens com informações da Operação Boi Barrica. Estamos certos de que a liberdade de imprensa deve prevalecer sempre. Do contrário, devemos assumir a volta da censura indiscriminada. Se há fatos que se devem tornar públicos para que a população brasileira possa tomar conhecimento da conduta de seus governantes, é absolutamente legítima a atuação de apuração jornalística imparcial e detalhada. Não acreditamos que uma nação como o Brasil possa desenvolver-se sob o manto do despotismo e da
censura, tampouco pode a verdade ser encoberta pelo véu da justiça parcial, quando esta beneficia a poucos. O setor da distribuição de veículos vem a público se colocar ao lado da liberdade de expressão e de imprensa e usa justamente este caminho para declarar o que pensa sobre esse assunto. Esperamos, sim, que as manchetes futuras dos principais veículos de imprensa do País possam estampar assuntos mais positivos, mas porque estes serão maioria, e não porque a voz dos brasileiros foi calada pelo braço forte do poder. SÉRGIO ANTONIO REZE, presidente do Conselho Deliberativo e diretor
São Paulo
O PT ainda não percebeu que está trocando os seus valores históricos e éticos pelo lulismo! Lulismo significa que qualquer gesto e ação de improbidade se justifica ante o fato maior de continuar no poder. Lulismo é mentir, é apoiar ditadores, é permitir que os países vizinhos tirem vantagens financeiras do nosso país, é se unir a políticos corruptos, é apoiar pessoas que roubam e mentem, é não ter transparência com os cartões corporativos, é contratar muitos funcionários sem finalidade, o Bolsa-Família eleitoral, os desvios diários apurados pelo TCU nas obras do PAC... Enfim, é tudo o que nosso país tem de evitar e extirpar de nosso cotidiano político. Acorda, PT! GILSON CHBANE BOSSO
nha é bem conhecida: “Para nós, que mandamos no pedaço, tudo é permitido, mesmo o que for proibido.” Se os gestores não se sujeitarem às ordens dos donatários das capitanias, são trocados. Olhe-se para a estrutura ministerial. É uma colcha de retalhos. Cada um com um dono. O governo petista continua a atender aos apetites partidários. Se a cultura da divisão do bolo tem fincado raízes ao longo dos governos – para efeito de montagem da base governista –, na era Lula essa estratégia foi levada ao extremo. Quebrado o eixo da legalidade, os outros eixos se rompem ao empuxo das pressões. Pelo princípio da impessoalidade, não pode haver privilégios ou restrições a ninguém. Mas o preceito acaba sendo sacrificado por ocupantes dos feudos. Há, felizmente, núcleos resistentes e sólidos, entre eles, a própria Receita Federal, onde um quadro de excelência técnica procura se reger pelo ideário republicano. Outro princípio conspurcado é o da moralidade. O ímprobo, segundo nossa Constituição, de-
O que está em jogo são os princípios constitucionais, e não a futrica ve ser punido com a suspensão dos direitos políticos. É triste constatar, porém, que o território da moral é fecundado por grupos incrustados nas malhas das instâncias governativas (União, Estados e municípios). Para expandir as mazelas contamos com um vírus patrimonialista resistente ao tempo. Seu DNA, de caráter mutante, estreita a faixa entre o legal e o ilegal, o conveniente e o inconveniente, o justo e o injusto. E cria células que convivem pacificamente com uma cultura que viceja no tecido republicano desde os tempos da Roma antiga e cujo lema é “nem tudo o que é legal é honesto”. Sobre o princípio da publicidade, a inversão de posições ganha assento no palco: atos secretos, como os que foram descobertos no Senado, multiplicam-se, mas eventos públicos, do tipo inauguração de obras, ganham extraordinária publicidade. A razão? Luzes para iluminar os atores. Quanto ao princípio da eficiência, a constatação salta à vista: somos um arquipélago formado por esparsas ilhas de excelência e vastos corredores burocráticos. Essa é a moldura que o nosso mestre de cerimônias teima em desconhecer. Prefere criar um samba próprio – pouco original – para o seu carnaval. ● Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político e de comunicação
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
gilson.bosso@consulters.com.br
São Paulo ● Ou o PT termina com o Lula, ou o Lula acaba com o PT. FLÁVIO J. R. DE AGUIAR rsd100936@terra.com.br
Resende (RJ)
Vassalagem O comportamento do rei Lulla I lembra o episódio de 1996, ocorrido em São José dos Campos, quando deu um “passa-moleque” na comissão formada por Paul Singer, José Eduardo Martins Cardozo e Hélio Bicudo, ignorando a decisão sobre a CPEM e expulsando Paulo de Tarso Venceslau, o denunciante, do PT. Cá entre nós, não seria melhor mudar a sigla do partido de PT para PDL
A
DOMINGO, 23 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A11 A11
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 23 DIAS
Entrevista WalterMaierovitch, desembargador aposentado doTJ-SP
‘Um jornal não pode ficar sob censura’ Ele defende uma emenda constitucional que garanta via rápida para chegar ao STF e garantir direito à liberdade de expressão Fausto Macedo
O jurista Walter Fanganiello Maierovitch, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo, defendeu uma emenda constitucional que garanta à imprensa sob censura uma via rápida para chegar ao Supremo Tribunal Federal – evitando agressões à cláusula pétrea, no caso o artigo 5º da Constituição, que assegura o direito à liberdade de expressão. Maierovitch, de 62 anos, condena com veemência o fato de o País se preocupar com foro privilegiadopara autoridadese políticos sob investigação perante ostribunaissuperiores,“ao passoquenão dispõe deinstrumento eficaz contra ofensas e violações à democracia, como a censura imposta ao jornal O Esta-
do de S. Paulo”. “Como já ocorre em todos os países civilizados, o Brasil tem de adotar um mecanismo de proteção de cláusula pétrea, um meio célere e eficaz de se chegar ao Supremo Tribunal Federal, porque estamos tratando, nesse caso da censura ao Estado, de um sustentáculo da democracia que é a liberdade de imprensa”, alerta o jurista. Presidente do Instituto GiovanniFalconee consultorinternacionalpara questões dedireito penal e combate à criminalidade organizada, Maierovitch exerceu a magistratura durante 30 anos. É com indignação, elediz,quevê“umBrasilatrasado, de mentalidade cartorial”. Por que ainda se impõe censura à imprensa?
O Brasil mantém e convive com essa excrescência chamada foroprivilegiado,umbenefíciopara determinadas autoridades sobsuspeita.Éocasodedeputados e senadores que têm foro perante o STF em questões criminais. É curioso como a preo-
PAULO LIEBERT/AE
Na prática, como funcionaria?
PRIORIDADES – ‘Os parlamentares estão preocupados com o bolso, com a família e com o nepotismo’
Quem é:
Walter Maierovitch ● Desembargador aposentado
do Tribunal de Justiça de SP ● Presidente do Instituto
Giovanni Falcone
● Consultor em direito penal e
combate ao crime organizado
cupação do Brasil diz respeito à pessoa.Cria-seoforoprivilegiado para cargos, mas não há foro privilegiado quando ocorrem atentados a cláusulas pétreas da Constituição. Não existem mais pessoas acima de qualquer suspeita. Precisamos de um Estado atento. Essa a gran-
de diferença do modelo europeu, em que uma violência contra a liberdade de expressão é imediatamente rechaçada. Como os países avançados tratam aquestão?
Na Itália, uma consequência da Operação Mãos Limpas foi a criaçãodo Tribunal da Liberdade, que está em pleno funcionamento. Mas aqui, no Brasil, não existe uma solução de via rápida contra essa violência. É uma situação que reputo de extrema gravidade. Porque está em jogo a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, o direito de todo cidadão brasileiro à informação. E não há um único remédio que possa ser aplicado diretamente ao Supremo. Esse é o grande problema. O Supremo é o guardião maior da Constituição, cabe à corte pre-
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se ergue contra a censura, a emendapodepartirconstitucionalmente de várias instituições, a OAB, sindicatos. Com uma forte pressão popular sairia a emenda. Os parlamentares estão preocupados com o bolso, com a família e com o nepotismo. Com censura, não. O Brasil é um país difícil, atrasado, com mentalidade cartorial, onde o foro privilegiado existe, mas não para proteger cláusula pétrea. O Brasil criou o mandadodesegurança,éumaconstrução nossa. Precisamos agora construir um mecanismo para ser empregado toda vez que houver violação ao artigo 5º da Constituição.
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servar a integridade de cláusulas pétreas. É inadmissível que não tenhamos um instrumento que garanta a via direta ao STF em episódios como esse que atinge o Estadão. Vê saída?
Precisamos imediatamente de uma emenda à Constituição que crie ação judicial destinada a conter esse tipo de agressão a preceito relativo a direitos e garantias individuais. O artigo 5º éopilar desustentação do Estado democrático. A emenda não seria para qualquer coisa, mas para preservar o artigo 5º. Se acaba a liberdade de imprensa, acaba o Estado democrático. AcreditaqueoLegislativoadoteiniciativa dessa natureza?
Devemos aproveitar essa oportunidade. Se o Congresso não
Qualquer medida contra uma violência extraordinária como a censura seria apresentada diretamenteaoSTF,queéotribunal constitucional. Todas as causas constitucionais chegam ao Supremo. Por que não se cria, por emenda, uma ação direta ao STF, sem outros caminhos, sem outras veredas tortuosas? Não precisaria mais ficar pulando etapas, percorrendo morosamente instâncias judiciais, o que agrava o dano. É exatamente isso que está ocorrendo com relação ao Estado a partir de uma decisão de alguém que está manifestamente impedidode apreciar a causa.A suspeição (do desembargador Dácio Vieira) é de clareza solar. Estamos tratando da democracia, do pilar do Estado de direito, do pilar de apoio ao sistema democrático, contra o qual não se pode criar empecilhos. Um jornal não pode ficar sob censura.Qualquerestudantededireito fica envergonhado. Tem foro privilegiado,masnãotemproteção contra censura a um veículo de comunicação. ●
Livre expressão no País é tema de reuniões na OEA Brasil está entre os 4 países que mais pedem audiências à entidade Roberto Almeida
O Brasil está entre os quatro países das Américas que mais requisitam audiências sobre problemas com liberdade de expressão na ComissãoInteramericanade DireitosHumanos,braçodaOrganização dos Estados Americanos (OEA). Equipara-se a México, Venezuela e Colômbia na necessidade de esclarecer em âmbito internacionalseus casosdecensura,comoaqueatingeoEstadodesde o dia 31 de julho. Segundo a OEA, profissionaisbrasileirosdecomunicação têm solicitado reuniões anuais para apresentar suas demandas à comissão. O intuito,emcadaencontro,édetalhar os casos e pressionar ogovernoaoferecerumaresposta imediata, por meio de representantes designados para analisar e, se possível, atender às solicitações. Em seu último informe anual para liberdade de expressão, divulgado em maio, aOEAreservougrandeespaço para comentar a situação brasileira,consideradapreocupante. A avaliação final, meses antes da censura ao Estado, era de que o País já não assegurava a livre expressão e seu Judiciário ainda aplicava sanções incompatíveis com a Convenção Americana, principal documento da organização. Retrato disso é o levantamento realizado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) sobre casos de censura a meios de comunicação noBrasil desde julho de 2008 até o mês atual. São 12 situações em que juízes de primeira instância decidiram proibi-los de divulgar algum tipo
de informação – em maioria, referentes à atuação de autoridades públicas –, em todas as regiões do País. A relatora para liberdade de expressão da OEA, Catalina Botero Marino, alerta para o problema desde que assumiu o cargo, em outubro do ano passado. Ela já prometia um programa para instruir juízes brasileiros a analisar casos envolvendo imprensa, a fim de melhorar o nível de compreensão sobre os princípios da liberdade de expressão.
Além do ‘Estado’, houve 11 casos de censura no País no último ano Em sua análise sobre a censura ao Estado, a relatora mostrou-se impressionada com a possibilidade de magistrados contrariarem a decisão do Supremo Tribunal Federal, que havia derrubado a Lei de Imprensa. Para ela, o Brasil havia avançado significativamente no tema. “É incompreensível que enquanto os mais altos tribunais do Brasil tenham tomado decisões exemplares em matéria de liberdade de expressão, ainda exista a possibilidade de que alguns juízes locais possam usar seupoderparacensurareimpedir a divulgação livre da informação”, anotou Catalina. Acomissão considera a violação da liberdade de expressão uma violação dos direitos humanos, o que pode levar o País à Corte Interamericana da OEA. Sanções podem ocorrer, caso decisões como a que censurou o Estado não forem revertidas. ●
DOMINGO, 23 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
ESPECIAL H3 H3 ESPECIAL
O Brasil reconstruĂdo a partir de seus contrastes e confrontos Encontro debate produção euclidiana, reavalia teses polĂŞmicas e reafirma o lugar central que ela ocupa na interpretação do PaĂs
E
stĂĄnaprimeira pĂĄgina de Os SertĂľes: diantedaperda da “atualidadeâ€?doseutemaoriginal,anarrativadacampanhadeCanudos,o autor,EuclidesdaCunha,procurou dar ao livro “outra feição, tornandoapenas variantede assunto geral o tema, a princĂpio dominante,queosugeriuâ€?–postando-se, deste modo, “ante o olhar de futuros historiadoresâ€?. O futuro nĂŁo demorou a chegar para a obra mĂĄxima de Euclides , debatida e, simultaneamente, consagrada desde o seu lançamento, em 1902. Por conta dela,disseocrĂticoSĂlvio Romero, Euclides da Cunha, tendo dormido obscuro, acordou cĂŠlebre. Uma celebridade que seus trabalhos posteriores sĂł viriam ratificar – apesar de, morto prematuramente,nĂŁohaver conseguido escrever um segundo “livro vingadorâ€?, a partir de sua missĂŁo ao Alto Purus. CompreensĂvel.Naverdade,oviajante Euclides tinha sempre o mesmo destino intelectual: o Brasil. Por isso, o passado, o presente e o futuro do PaĂs passam por ele. Realizado no âmbito das açþes do Grupo Estado promovidas ao longo de 2009 para homenagearoescritornocentenĂĄrio de sua morte, o colĂłquio Euclides da Cunha 360Ëš – A Obra e o Legado de Um IntĂŠrprete do BrasilreuniunoauditĂłriodojornal, no Ăşltimo dia 14, um grupo de intelectuais e artistas para uma sĂŠrie de palestras em torno da produção euclidiana. O encontro, que teve uma plateia de cerca de 120 pessoas, foi dividido em trĂŞs mesas-redondas. Da primeira delas, intitulada OCiclodosSertĂľesemediadapelo jornalista Rinaldo Gama, editordocadernoCultura,participaram os professores Walnice NogueiraGalvĂŁo, Luiz Costa Lima e Lilia Moritz Schwarcz. Walnice GalvĂŁo tratou da primeira e da terceira partes de Os SertĂľes, alĂŠm de comentar a estrutura do
“Em Canudos, a reviravolta de opiniĂŁoâ€? WALNICE NOGUEIRA GALVĂƒO
T
odos sabem que o arcabouço d’Os SertĂľes trata do confronto entre um movimento messiânicomilenaristasertanejo e as Forças Armadas. O esquema do livro, como tambĂŠm se sabe, ĂŠ nitidamente determinista. SĂŁo trĂŞs partes: A Terra, O Homem e A Luta. Quando Euclides começa a escrever a primeira parte do livro, que, a meu ver, ĂŠ a mais bela, ele vai fazer o quĂŞ? Vai começar pela constituição geolĂłgica do continente americano. Trata, entĂŁo, do solo, e tambĂŠm da flora,dafauna,doclima,dofenĂ´meno da seca, etc. Isso constituiosumĂĄrio da primeira parte. Nasegundaparte, quesechama O Homem, ele tratarĂĄ do povoamentoeda miscigenaçãocomoprocesso. Sobre essa segunda parte, quemvai se estenderĂŠ a colega Lilia Schwarcz, especialistanoassunto.Eupasso,entĂŁo, em seguida a falar da Luta, que ĂŠ subdividida em seis capĂtulos e tem o mesmo nĂşmero de pĂĄginas que as duas anteriores somadas. Trata-se da parte maior do livro. É bom nĂŁo perder de vista o seguinte: que essa parte que se chama A Luta – e que deveria ser, em princĂpio, apenas a crĂ´nica da guerra – tem trunfos, tem ardis literĂĄrios e, por isso, deflagra retroativamente as
livro.CostaLimadeteve-senainterpretação da leitura que Euclides fez do sociĂłlogo polonĂŞs Ludwig Gumplowicz. JĂĄ Lilia Schwarcz discorreu a respeito da segunda parte de Os SertĂľes. O Ciclo da AmazĂ´nia, mediado por Daniel Piza, editor executivodoEstado,tevecomoexpositores a sociĂłloga NĂsia Trindade Lima, que abordou a viagem do escritor ao Alto Purus; o professor Francisco Foot Hardman, quefalousobreapoesia euclidiana, sobretudo a daquela fase; e o ficcionista e cronista do Caderno 2 Milton Hatoum, que mostrou a relação de Euclides da Cunha com o cenĂĄrio amazĂ´nico. O evento se encerrou com Os Ciclos de Euclides, mesa-redondamediadapelajornalistaLaura Greenhalgh, editora executiva doEstado,paraaqualforamconvidados os professoresLeopoldo Bernucci, que analisou o culto ao autor de Os SertĂľes, e JosĂŠ Leonardo do Nascimento, que traçou um panorama da recepção da obra euclidiana, alĂŠm de JosĂŠ Celso Martinez CorrĂŞa, diretor, ator, dramaturgo e fundador do TeatroOficina.ParaZĂŠCelso,Os SertĂľes, que ele adaptou para o palco, â€œĂŠ como uma universidade, que forma o leitorâ€?. Naaberturadoevento,odiretorde ConteĂşdo do GrupoEstado, Ricardo Gandour, lembrou que o jornal se encontrava, naquele mesmo dia, sob censura – uma medida judicial o impedia de se pronunciar sobre determinado assunto. “Isso ĂŠ extremamente preocupante e, na nossa visĂŁo, um retrocesso que o PaĂs nĂŁo pode correr o risco de ver acontecerâ€?, disse Gandour. Alguns dos participantes do encontro falaram de maneira maisinformal;outrosleramtextos.Acompanheaseguirosprincipais trechos das palestras. â—?
tv
FLĂ VIO DE BARROS (1897)/ACERVO IMS
RU�NAS – Igreja Velha (de Santo Antônio): a guerra como tema
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duas partes iniciais. A Terra, entre as muitas coisas brilhantes que efetua, realiza a metaforização narrativa dos vegetais. Conforme a analogia positiva,temosalioelogiodaresistĂŞncia dos vegetais, suas virtudes morais e seu carĂĄter de plantas sociais. Ou seja: trata-se de alegoriasdo sertanejo,dequemessas plantas sĂŁo aliadas e protetoras, porque elas, alĂŠm de apoiarem umas Ă s outras, repelem o invasor. Aforaa analogia positiva, nĂłs temos tambĂŠm o trabalho da analogianegativa, em que esses vegetais aparecem da seguinte maneira: o mandacaru, aquele cacto enorme, ĂŠ chamado de espectro de ĂĄrvore. Naqueles entrançadosdeespinhos,queexistem no sertĂŁo, se retĂŞm farrapos das fardas dos soldados que passaramporlĂĄ.Aindamais:cabeça-de-frade, que ĂŠ um cacto redondo, espinhento, que produz uma vez por ano uma Ăşnica flor rubra, ĂŠ comparado a um conjunto de cabeças decepadas – que sĂł aparecerĂŁo na Ăşltima partedo livro,na qual vamossaberdaprĂĄticasistemĂĄticadadegola dos prisioneiros. TambĂŠm nessa parte inicial se fala de Canudos pela primeira vez, quando Euclides diz que um soldado estava deitado Ă sombra de uma ĂĄrvore, “descansandoâ€?, havia trĂŞs meses, ou seja, ele estava morto e mumificado pela secura dos ares do sertĂŁo. É assim que o leitor tem contato com Canudos pela primeira vez no livro. Em seguida, isso ĂŠ replicado pelo cavalo, igualmente mumificado, que, preso meio de pĂŠ numas pedras, mostra sua crina esvoaçante, de modo que tambĂŠm tem a aparĂŞncia enganosa da vida. Quanto Ă Luta, vocĂŞs sabem que foram necessĂĄrias quatro expediçþes para conseguir debelar a insurreição do Arraial.
JONNE RORIZ/AE
PALESTRANTES â—?â—? WALNICE NOGUEIRA GALVĂƒO: Professora de Teoria Lite-
råria e Literatura Comparada da USP, Ê autora de mais de 30 obras, 12 das quais dedicadas a Euclides da Cunha e Canudos. Entre abril e agosto, comentou textos do autor de Os Sertþes na seção Euclides no Estadão, do caderno Cultura. Professor titular de literatura da PUCRJ, Ê autor, entre outros, de Terra Ignota – A Construção de Os Sertþes (Civilização Brasileira), E. da Cunha, Contatos e Contrastes do Brasil (Contraponto) e O Controle do Imaginårio&A Afirmação do Romance (Companhia das Letras).
â—?â—? LUIZ COSTA LIMA:
WALNICE – “Os SertĂľes cumpriu sua missĂŁo: erigir um monumento literĂĄrio Ă memĂłria dos canudensesâ€?
E o fim da guerra se deu no dia 5 de outubro de 1897. Antes que a luta terminasse, o que se divulgava era que se tratava de uma conspiraçãomonarquistainternacional, quetinha Canudos como foco e por objetivo restaurar o impĂŠrio. E o que aconteceu quando a guerra acabou? Quando a guerra acabou, o que surgiu foi a resistĂŞncia admirĂĄveldoscanudenses eummassacre de gente pobre, mal armada e mal alimentada. É preciso lembrar que, quando a RepĂşblica foi instaurada noBrasil,houveumasĂŠrieenorme de levantes disseminados pelo territĂłrio nacional, algo normalquandoocorreumamudança de regime violenta como essa. Mas a Guerra de Canudos foioĂşltimo desses movimentos. Quer dizer, tamanha repressĂŁo, tamanha convocação dos brios do Brasil inteiro acabaramfazendocomque aRepĂşblica saĂsse do conflito consolidada. Consolidada Ă custa do san-
gue dos canudenses, evidentemente, mas consolidada. E o que Os SertĂľes expressa? Expressa exatamente uma reviravolta de opiniĂŁo. Quando Euclides da Cunha foi para Canudos, como todo mundo no Brasil, ele pertencia Ă quela opiniĂŁo unânime de que lĂĄ havia uma conspiração monarquista, que significava um retrocesso para o PaĂs. Mas quando chegou ao cenĂĄrio da guerra, Euclides começou a ver que as coisas eram um pouco diferentes. JĂĄ se encontram no DiĂĄrio de Uma Expedição os primeiros sinais de uma mudança, da reviravolta que iria se operar nele. Euclides da Cunha trazia da Escola Militar uma boa bagagem. Ele tinha estudado geologia, mineralogia, botânica, quĂmica, fĂsica, Ăłtica, astronomia, geodĂŠsica, mecânica racional, as matemĂĄticas, etc. SĂł que eram matĂŠrias de currĂculo; nada era muito aprofundado, como se
pode notar lendo Os SertĂľes. Mas se percebe tambĂŠm que esses saberes adquiridos na Escola Militar afinam as vistas com que Euclides avalia Canudos e a guerra. Lembremos tambĂŠm que ele fez estudos novos para escrever o livro. Foi estudar a histĂłria de Portugal e do Brasil, especialmente a colonização e o povoamento; estudou noçþes de antropologia, de sociologia, de folclore, de psicologia social e daquilo que se chamava de “comportamento normal das multidĂľes’’, porque os cientistas sociais andavam muito preocupados com a Revolução Francesa, que mobilizara massas revolucionĂĄrias nas ruas. O que nĂłs vamos ter, entĂŁo, em relação ao conjunto dos saberes de Euclides? Ele mobiliza tudo isso. Vamos encontrar, misturadas nas pĂĄginas da obra, por exemplo, teorias sobreaorigemdo fenĂ´menoendĂŞmicodassecas einterpretaçþes
â—?â—? LILIA MORITZ SCHWARCZ:
Professora do Departamento de Antropologia da USP, a antropóloga e historiadora Ê autora, entre outras obras, de O Sol do Brasil, As Barbas do Imperador, A Longa Viagem da Biblioteca dos Reis, O Espetåculo das Raças (editadas pela Companhia das Letras).
psicocriminais da instabilidade nervosa dos mestiços. Ou entĂŁo uma crĂtica Ă s tĂĄticas do exĂŠrcito misturada com anĂĄlises de preceitos religiosos e de heresias ao longo da histĂłria. Com tudo isso, Os SertĂľes cumpriu sua missĂŁo: erigir um monumento literĂĄrio Ă memĂłria dos canudenses, imolados no altar da modernização trazida pela RepĂşblica que se abatera sobre eles. â—?
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DOMINGO, 23 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
ALIÁS J3 J3 ALIÁS
República plena, não. Democrática, menos ainda Aos 120 anos do regime, se falta rigor com o bem comum, sobra desprezo pelos pobres Renato Janine Ribeiro*
QUARTA, 19 DE AGOSTO
Acordão abafa caso Sarney ●●● Conselho de Ética arquiva 6 KLEBER SALES
O centenário da República foi uma efeméride importante. Naquele ano de 1989, o Brasil realizousuas primeiras eleições presidenciais em quase 40 anos. A Constituição tinha sido aprovada um ano antes – a mais democráticadenossasquatroConstituições republicanas, isto se excluirmos as outorgadas em 1937 e1969, que nãopodem ser consideradas nem Constituições nem republicanas, não passando de atos de força. O ano também marcava o bicentenário da Inconfidência Mineira, nossa mais lembrada rebelião contra o poder colonial, e da Revolução Francesa, que efetuou na história do mundo o corte cirúrgico, repentino,datado,maiordaHistória(outras mudanças, inclusive a descoberta da América, só aolongodosanosforamrevelandosuaradicalidade).Duasdécadas depois de seu centenário, o quedizerhojedaRepública,agora já aos 120 anos de idade? A rigor, os primeiros cem anos da República foram fortemente deficitários em valor... republicano. Tivemos 40 anos de governos fraudulentos e oligárquicos, a que se seguiram 15 anos de ditadura ou quase. Nosso único período democrático ocorreu entre 1945 e 1964. Nesse último ano, porém, começou nova e longeva ditadura. Em outras palavras, nos primeiros cem anos da República tivemos liberdades democráticas no percurso que vai da queda de Vargas ao golpe militar, e desde o fim da ditadura castrense. Somando, dá 23 anos em 100. Já os últimos 20 anos foram, todos, de liberdade política. Em outras palavras, passamos de um porcentual temporal de 20% para outro de 100% de democracia. O avanço é impressionante. Se continuarmos assim, o segundo século de república vai esmagar, em qualidade, o primeiro. Resta muito, é verdade, em termos de ética. Não se sabe se aumentou a corrupção ou se perdemos a ingenuidade e aumentounossapercepçãodacorrupção, mas a sociedade passou a considerá-la inaceitável (o que acho um avanço), porque contrariafrontalmente oespírito republicano, que defende a res publica contra a apropriação privada do que a todos pertence. Contudo, a indiferença das lideranças no Congresso e em especial no Senado à opinião pública, a censura imposta ao Estado por um magistrado, fatos reiterados essa semana, são casos que fazem muitos se decepcionarem com a política e os políticos e, não fosse a falta deambienteparaumgolpe militar, não sei se o regime civil se sustentaria facilmente. Useidemocracia e república, aqui, como sinônimos, embora a rigornãoosejam.Democraciaé o poder do povo, e supõe que tenham poder os polloi, os muitos, em suma, os pobres. Quase toda democracia tem, por definição, preocupação social, porque os pobres são a maioria e, assim, escolhem quem governa. O populismo pode ser um excesso, umexagero,umaformaespecífica, mas toda democracia tem de mostrarumempenhoemmelhorar a condição dos mais pobres. Já a república é um regime que se define, a rigor, não pelo modo de eleição do governante, mas por sua preocupação com a coisapública,comobemcomum.A democracia é quente, entusiasma(eirrita),enquantoarepública é fria, racional, jurídica. Aliás,porissotudo,umamonarquia pode ser mais republicana do que um regime no qual um generalseproclamepresidente, sem eleições e às vezes com um mandato vitalício. A grande pergunta, então, que se torna ainda mais pertinente depois da queda do comunismo (isso porque ele parecia ter vindo para ficar; parecia ter trazido ganhos, ainda que a alto custo; e foi-se embora como uma página que a História apaga, como um erro, como algo
denúncias e 5 representações contra o presidente do Senado por quebra de decoro. O engavetamento ocorre 70 dias depois de vir à tona a existência de atos secretos que beneficiaram parentes a apadrinhados de Sarney.
que se quer esquecer), é: a Proclamação da República em 1889 foi um ganho para o Brasil? ou uma perda? A pergunta é ainda mais pertinente porque, a rigor, Pedro II poderia ser dito mais empenhado na res publica do que muitos de nossos presidentes. Mas está claro que é difícil responder.Nadimensãodotempo, o que acontece não pode ser comparado com o que poderia ter acontecido. Ao se tomar um caminho,inibe-seooutro–inibeseaté mesmosaber oque seria o outro. Mas é fato que o imperador respeitou mais a liberdade deexpressãodoqueospresidentes da República Velha, e que no Parlamento do Império – em que pese suas eleições serem manipuladas – não se chegou ao nível de fraude que envergonha asprimeirasdécadasrepublicanas. Se coroada imperatriz, d. Isabel I certamente teria mantido a tradição que seu pai iniciara, de afastar-se dos partidos. Seria plausível abolir o poder moderador,tornareleitooSenado, em síntese, ampliar de den-
A RIGOR, PEDRO II PARECIA MAIS EMPENHADO NA ‘RES PUBLICA’ tro as liberdades políticas. Uma evoluçãoà inglesaseriapossível – porque em 1889 fazia apenas meioséculo quea rainhaVitória subira ao trono e transformara a desmoralizada e agonizante monarquiabritânicanumainstituição respeitada, exemplar, e ela o conseguira justamente ao se afastar das disputas políticas, que ficaram com os eleitos do povo. Terá nossa República sido, então,umretrocesso,comoafirmoudesdeoinícioEduardoPrado? Se afirmá-lo é impossível, porqueesse caminho foi inibido historicamente, é porém duvidoso negá-lo, quando comparamos as últimas décadas do Império e as primeiras do novo regime. Mas isso, precisamente porque o ideal republicano foi o que menos existiu nogoverno fatiado entre as oligarquias.Aautonomia das províncias, reivindicada contra o centralismo imperial, reduziu-se a uma federação de déspotas locais. Não houve mais uma figura respeitada – que, talvez por feliz acaso, coincidiu com um imperador ilustrado – capaz de atenuara temperatura dosconflitos. Nossahistória, aliás, quase toda escrita já na recentralização do poder que recomeça em 1930, costuma omitir as guerras civis internas aos Estados, que devastaram o Rio Grande do Sul e o Nordeste. No entanto, vivemos agora o primeiro período consistentementerepublicanode nossahistória. Sob a vigência da Constituição de 1946, apelos a golpes e rebeliões militares foram fre-
quentes. O presidente Vargas foi levado ao suicídio. Juscelino, cuja gestão foi mais democrática e tolerante que todas as anteriores, enfrentou uma sucessão demovimentosarmados.Quando renunciou Jânio Quadros, o quarto presidente eleito de nossa história (porque não considero eleitos os da República Velha, em que prevalecia a desonestidade eleitoral), seu vice, Goulart, só tomou posse depois de ser devidamente mutilado em seus poderes pela emenda parlamentarista. Teve paz apenas nosso primeiro presidente eleito, Dutra, talvez por ser oficial general. Já na fase ininterruptamente constitucional que vivemos desde 1985, que começou com a Nova República, o presidente Collor só foi destituído após o devido processo legal. As liberdades de expressão, de organização e de voto, apesar de enfrentarem dificuldades nos primeiros anos pós-ditatoriais, se consolidaram. Pela primeira vez em nossa história, o povo elegeu um presidente de esquerda e ele governa sem problemas que sejam enormes. O protagonismo popular aumenta. Até o que foi pouco ético – a aprovação de uma emenda constitucionalinstituindo areeleição para beneficiar quem foi eleito sob regras que a proibiam – acabou tendo um resultado benéfico, com 16 anos seguidos de estabilidade sob partidos opostos. Regimespolíticossão formatados aos poucos. Quando uma Constituição é redigida, ainda não se sabe em que vai dar. Se George Washington e Thomas Jefferson não se tivessem contentado com dois mandatos presidenciais, a história dos Estados Unidos seria diferente. Se FHC ou Lula não tivessem podido se reeleger, não teríamos tido presidentes capazes de construir consensos – um diferente do outro, mas não diferente demais – que estruturaram a política brasileira. Talvez, agora, entremos na era dos gerentes. Talvez o próximo presidente não tenha esse fôlego de líder. Mas foi bom esse período, até porque, curiosamente, perfis pessoais tão diferentes – o intelectual e o metalúrgico – granjearam ambos umrespeito mundial pelo presidente do Brasil. Quinze anos atrás, sugeri queestaríamos vivendoalgoparecido à 3ª República Francesa. A primeira (1793) foi turbulenta e morreu logo depois do Terror. A segunda (1848) durou meros três anos. A terceira (1875), alternando o centro-direita e o centro-esquerda, consolidou a instrução universal, a valorizaçãodos salários dos trabalhadores, o respeito às instituições. Hoje a Presidência se alterna no Brasil entre dois partidos, um que tende à esquerda e outro à direita, mas ambos gravitando rumoaocentro.Issoevitaapolarização excessiva, pelo menos em âmbito federal, fortalece o diálogopolítico,permiteconsensos eventuais, mesmo que não sejam explícitos. É verdade que nossa educação continua uma lástima e os avanços nessa direção – a definição de instrumentos de avaliação que permitem medir o que falta e o que pode ser feito, a convergência entre PSDB e PT sobre a necessidade emesmoosmeiosdemelhorar a educação – não apagam o fato de que ainda não se vê luz no fim dotúnel.EécertoquenossaPrevidência Social e a renda dos mais pobres continuam insuficientes para cobrir as despesas básicas. Ou seja, nosso balanço institucionalepolíticoébemmelhorqueo nossosaldo social. Estamos melhor em república do que em democracia, se entendermos, como disse acima, que na democracia o conteúdo social é de sua essência. Aí, sim, falta muito. ● * Professor titular de Ética e Filosofia Política da USP e autor de A Ética na Política (Editora Lazuli)
Edição de 0h15
o estado de s. paulo SEGUNDA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Governo põe custeio acima de investimento
ESPORTES
Lourival Sant’Anna ENVIADO ESPECIAL A CABUL
O ex-chanceler Abdullah Abdullah, principal candidato rival do presidente Hamid Karzai, do Afeganistão, acusou-o ontem de usar a “máquina do Estado” e roubar a votação de quinta-feira. A Comissão de QueixasEleitorais anunciou ter recebido 225 reclamações de fraude,dasquais35sãoconsideradas “substanciais”. ● PÁG. A9 FRASE
NÚMERO
“Abdullah tenta justificar sua derrota” Waheed Omar
18,34%
do PIB é o porcentual de gastos federais
Porta-voz da campanha de Karzai
doelesháumaguinadanaqualidade dos gastos. Entre janeiro e julho deste ano, o custeio “restrito” da máquina pública,quenãoincluisaúde,educação e outros gastos sociais, cresceu mais que o dobro dos investimentos. ● PÁGs. B1 E B3
Câmara debate PEC que reduz jornada de trabalho
Intelectual do morro ●● Biografia de Nei Lopes
mostra sambista que une o erudito ao popular. ●
direto da fonte ●● Deborah Colker, primeira mulher a dirigir o Cirque du Soleil, fala de 4 x 4. ● PÁG D2
NOTAS E INFORMAÇÕES
A Conferência Nacional de Comunicação Seis das oito entidades empresariais da Comissão Organizadora abandonaram o barco. A cisão põe em xeque a legitimidade da Confecom. ● PÁG. A3
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7 8 9 10 11 12
FIM DO JEJUM – Rubens Barrichello, agora vice-líder do campeonato, agita o champanhe na Espanha
PÁG. A6
Rubinho vence GP da Europa; é a 100ª vitória do Brasil na F-1
Déficit em presídios chega a 25 mil vagas por ano
Sem vencer uma prova desde 2004, Rubens Barrichello obteve ontem, em Valência, na Espanha, conquista histórica:deuao Brasila100ªvitória em corridas de F-1 e agora é vice-líder do Mundial. Lewis Hamilton, que saiu na pole, ficou em 2º. ● PÁGs. E1 e E3
A situação nas carceragens do País piorou: o número de presos subiu 25 mil em um ano. Além disso, centenas de cidades acionaram a Justiça parabloquearadesapropriação de terrenos destinados à construção de presídios. De janeiroaagosto,oórgãofederal que financia projetos de construção liberou apenas R$ 21,4 mil. ● PÁG. C1
Tempo: CAPITAL
20ºMÁX.
● PÁG. C2
14º MÍN.
Tempo permanece chuvoso o dia todo.
Hoje: 58 páginas A. 1º caderno: 16 ● B. Economia: 10 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 8 ● E. Esportes: 8 ● L. Link: 8 ● Classificados: 140 anúncios
Atlético-PR acaba com série invicta do São Paulo
RANCK ROBICHON/EFE
CADERNO 2
q
DANIEL OCHOA DE OLZA/AP
nistro da Fazenda, em 2006. Se o STF realmente decidir em favor de Palocci, ele passa a ser uma das principais opções do PT na corrida pelo governo de São Paulo e até pela Presidência. ● PÁG. A4
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 24 DIAS
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Karzai é acusado de fraudar pleito no Afeganistão
Supremo deve inocentar Palocci O Supremo Tribunal Federal deveinocentarodeputado Antonio Palocci (PT-SP) no caso da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, episódio que resultou na queda do então mi-
(1891-1927)
24 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42314
Aumento no 1.º semestre supera período anterior do governo Lula O aumento dos gastos federais em relação ao Produto InternoBruto naprimeira metadedeste anosupera odetodo o período anterior do governo Lula,desde2003.Nacomparação entre os primeiros semestres, saiu de 13,84% do PIB em 2003para15,89%em2008,saltando para18,34%este ano. Os númerosforamcalculados pelos economistas José Roberto AfonsoeSamuelPessôa,daassessoria do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), e segun-
JULIO MESQUITA
ACâmaradosDeputadosdiscute nesta semana uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que reduz de 44 para 40 horas semanais o teto da jornada de trabalho. Para sindicalistas, a medida criaria 2,5 milhões de empregos. Mas a Confederação Nacional da Indústria (CNI) acha que esse limite deve ser negociado entre patrões e empregados, já que pequenasempresassofreriam forte impacto de custos. ● PÁG. B5
link
Fim dos blogs? ●● Exagero.AlessandroMartins, por exemplo, usa seu blog para centralizar o que publica na rede. ●
Doenças mentais
Faltam leitos para casos de surto em SP ●● Menos de 50% dos 10 mil leitos está livre para internações provisórias. ● PÁG. A13
Subprefeituras
139 queixas no próprio quintal Buracos, lixo e comércio irregular foram flagrados no entorno das sedes. ● PÁG. C4
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BANZAI! – Brasileiras venceram todas as 14 partidas disputadas
Meninas do vôlei: octocampeãs A seleção brasileira feminina de vôlei venceu pela oitava vez o Grand Prix, ontem, em Tóquio.Noaniversáriodoprimei-
ro ouro olímpico, as brasileiras bateram as donas da casa por 3 sets a 1, coroando uma campanha invicta. ● PÁG. E8
O São Paulo perdeu por 1 a 0 do Atlético-PR e interrompeu a série de vitórias que o havia levado ao 2º lugar do campeonato. O Corinthians, num jogo de 6 gols, empatou com o Botafogo. E o Santos perdeudoGoiás(2 a1)noSerra Dourada. ● PÁGS. E4, E5 e E6
LEIDAANISTIA 30ANOS
Dispensados da FAB exigem o benefício ● PÁG. A8
DENIS FERREIRA NETTO/AE
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A2 ESPAÇO ABERTO
SEGUNDA-FEIRA, 24 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Por que crises prosperam ANJ, defesa ou morrem? da liberdade AlexandreBarros Crises só prosperam se tiverem foco claro e se o Zé da Poltrona sentir que um pedaço do dinheiro roubado saiu do seu bolso. Quanto mais famoso o acusado, mais fácil a prosperidade da crise. E mais: precisam estar centradas em Brasília. Se começarem em outras cidades, precisam ser transferidas para Brasília, que é a única que tem repercussão nacional. Por que Collor caiu e o mensalão não deu em nada? Por que Getúlio se matou? Por que ninguém mais se lembra de uma CPI que investigou irregularidades cometidas por um ministro de Collor? Análise política baseia-se em fatos e intuições. Muitos números ajudam, mas não definem por que ou quando as crises políticas vão adiante. Em economia é diferente: os números não mentem. O problema é a tendência das pessoas de não acreditar nos números. A história das crises políticas precisa de mais casos passados para comparar e ajudar a entender o presente. Crises só têm consequências dramáticas quando prosperam
O Zé da Poltrona as define: se sentir que o dinheiro saiu do seu bolso... nos grandes centros. Poucas crises em Belo Horizonte, Florianópolis ou Belém do Pará se tornaram nacionais. Exemplos: as acusações contra a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, ou a cassação do mandato do governador do Maranhão, Jackson Lago. Quanto mais conhecido o investigado, maior a chance de a crise prosperar. Quem se lembra do nome do deputado do castelo no interior de Minas? Aquele castelo, para os brasileiros, era tão real quanto o castelo da Branca de Neve na entrada da Disney ou o Castelo Neuschwanstein, na Baviera (o preferido por dez entre cada nove agências de viagens). A mansão de Michael Jackson era mais real que o castelo do deputado. Ou seja, o que ninguém viu deixa pouca lembrança. Essa é a mesma razão por que conflitos envolvendo os sem-terra no interior do Brasil emocionam menos do que os que envolvem os sem-teto urbanos. Quando um grupo invade uma fazenda no interior, isso rende alguma centimetragem quadrada no jornal ou alguns segundos na TV, mas some da memória antes que o Zé chegue à página de esportes ou aos gols da rodada. Mas quando os sem-teto invadem um prédio em São Paulo, todos sabem: o engarrafamento para a cidade inteira. E a TV está ali mesmo para cobrir.
CarlosAlbertoDi Franco Só quem esteve lá pode comparar o massacre de Eldorado dos Carajás com o do presídio do Carandiru. A razão é óbvia: o Carandiru estava ali mesmo e a cobertura da imprensa foi muito maior e mais intensa do que no meio do nada. O sequestro do ônibus 174, em 12 de junho de 2000, no Rio de Janeiro, emocionou o Brasil ao vivo pela TV, virou filme, gerou teses de mestrado. Por quê? Porque ocorreu a menos de cinco minutos da sede da TV Globo. Fácil deslocar uma equipe para lá e transmitir todo o desenrolar da crise. Satisfeitas as três condições, o Zé da Poltrona entende que aquela trapalhada está roubando um pedaço do dinheiro dele. Ele entende como isso acontece: “Usam o meu dinheiro para comprar joias ou para empregar parentes que não fazem nada, enquanto eu fico aqui ralando noite e dia para ganhar essa porcaria de salário.” Quem se lembra de quantas pessoas foram inquiridas na CPI do mensalão? Aliás, era do mensalão ou esse era um apelido da CPI dos Correios? Ou eram duas CPIs? Quem era acusado? Quem era testemunha? Teve um que chorou. Mandava dinheiro para uma conta com um nome esquisito, Du qualquer coisa (Düsseldorf), nas Ilhas Cayman (que é isso mesmo?). E tinha um carequinha com cara de nojento. Todos se lembram do confisco da poupança: “Foi o Collor que tirou meu dinheiro! Foi o presidente! Fiquei sem dinheiro!” Fácil de lembrar, entender e se indignar. Quando veio a CPI de Collor o vilão era ele. Quem deu a partida na CPI levou essa vantagem. É fácil analisar as coisas a posteriori e mostrar como uma crise estava fadada a ser grande. No início ninguém sabe disso. Quem provoca a investigação da mutreta faz uma aposta: essa vai para a frente. Bem, falei do Zé da Poltrona, mas me esqueci de apresentálo. Ele é etéreo. Não existe nem tem endereço. O Zé da Poltrona é o telespectador modal brasileiro. Mais de 93% dos lares brasileiros têm uma TV. Ela é a maior fonte de entretenimento e também a maior fonte de notícias. Em muitos lares fica ligada desde que as pessoas acordam até que o último vai dormir. O Zé da Poltrona é autônomo em relação à TV. Se gosta, assiste. Se não gosta, muda de canal ou vai à geladeira pegar uma cerveja. Se nada servir e o jogo da noite estiver ruim e não for do time dele, vai dormir. O Zé da Poltrona é o dono do tamanho da crise. No início do mensalão, muita gente achou que o governo ia cair. Não caiu porque o Zé perdeu o interesse e preferiu a cerveja. Na queda de Vargas, em
1954, não havia TV. O rádio e os jornais dominavam. No Rio de Janeiro havia dois jornais de crise (A Tribuna da Imprensa e a Última Hora). Eram vespertinos. Se você passava na banca às 2 da tarde e os dois já estavam esgotados, a crise era séria. Apesar dos mais de 100 milhões de Zés, ainda são os Zés das grande cidades que definem as crises. Se alguém convocar uma passeata e eles souberem o que estão perdendo na crise, se acham que é muito e o culpado tem nome, endereço e CPF, vão para a rua e a crise pode ficar séria. Se nada disso acontecer, deputados e senadores podem até perder o cargo, mas a crise para por aí. E o jogo recomeça na eleição seguinte. Sobre a crise em que o senador José Sarney é grande acusado, o foco está num famoso e conhecido ex-presidente da República. A acusação é fácil de entender: pagava aos parentes e empregados com um naco do dinheiro do Zé. Quando o acusado consegue que a Justiça censure o Estadão, a crise é séria. A censura é a última trincheira. ● Alexandre Barros, cientista político (Ph.D. University of Chicago) é diretor-gerente da Early Warning: Análise de Oportunidade e Risco Político
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
Muamar Khadafi
FÓRUM DOS LEITORES OsilênciodaAGU A Advocacia-Geral da União (AGU) considera inconstitucional a lei antifumo de São Paulo. Será que é por ser de autoria do governo José Serra? A nomeação de qualquer servidor público sem a devida publicação no Diário Oficial não tem validade legal, fere a Constituição. Isso acontece há anos no Senado, mas a AGU se cala. Os gastos secretos do Executivo com cartões de crédito corporativos também ferem a Constituição, pois é obrigação do governante dar informações sobre o destino do dinheiro público, porém a AGU se cala. O presidente da República fere a Constituição quando perdoa dívidas de outros países sem a devida autorização do Congresso, e a AGU novamente se cala. Será que isso
tudo tem que ver com a eleição presidencial de 2010?
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) completou 30 anos. Ao contrário do que insinuam os representantes de uma visão amarga e rançosa, a instituição tem sido responsável pela crescente profissionalização dos jornais, pela promoção do debate aberto e democrático e pela defesa firme da liberdade de imprensa e de expressão. A entidade, corretamente, tem feito da defesa da liberdade de imprensa sua opção preferencial. Assistimos, com a intermitência das chuvas de verão, ao rebrotar de lamentáveis tentativas de controle da informação. O caso mais recente e clamoroso é a censura judicial ao jornal O Estado de S. Paulo. A ANJ, mais uma vez, não se omitiu e foi firme na condenação do abuso antidemocrático. Sem prejuízo do meu sincero respeito pelas decisões do Judiciário, a censura prévia ao jornal é uma bofetada na democracia. O controle ao jornal é um precedente gravíssimo. É importante que a sociedade reaja. Caso contrário, a violência judicial podese transformar em rotina judicial. E a democracia será apenas uma fachada. Em recente artigo publicado na Folha de S.Paulo, o jurista Walter Ceneviva enfatizou que proibir a publicação de
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
arturbernardesjr@gmail.com
ja em 2010, pois, se eleito, dias de incerteza e de insegurança jurídica nos aguardam. No melhor estilo de Hugo Chávez.
rente com o valor do meu carro, ou seja, o que estão me oferecendo por ele nos revendedores. Estamos de olho no sr. Serra.
São Paulo
BOB SHARP
CELSO VICENTE FIORINI
bobsharp@uol.com.br
celsofiorini@ig.com.br
São Paulo
São Paulo
ARTUR BERNARDES JR.
ÀHugo Chávez É estarrecedor o posicionamento do governo paulista diante do parecer da Advocacia-Geral de União sobre a inconstitucionalidade da lei antifumo estadual. Justifica-a alegando que a peça legal federal não prevê punição, numa atitude típica de quem força a barra ao não reconhecer a derrota. Até leigos percebem que a lei federal foi puerilmente atropelada. O gerador dessa celeuma, o governador José Serra, precisa mostrar comportamento compatível com o cargo que alme-
Afumaçae oIPVA
Acigarrae a formiga
O governador José Serra está fazendo “fumaça” com a proibição do uso de cigarros em locais públicos para desviar a nossa atenção da tabela do IPVA a ser lançada agora em setembro. Os valores dos automóveis despencaram a partir da crise mundial. No ano passado, ele deveria tê-los corrigido para menos – para o pagamento em janeiro de 2009 –, mas não o fez. Vou aguardar e verificar se pagarei um IPVA coe-
A vantagem eleitoral do governador José Serra no Estado de São Paulo acendeu a luz vermelha do partido da ministra-candidata. Resultado: o PT entulhou a mídia com uma propaganda forçada. Aviso: o brasileiro não cai na conversa fiada da cigarra. A maioria de nós é gente que trabalha duro o ano inteiro. MACMILLER JOSÉ RIBEIRO macmilleribeiro@gmail.com
São Paulo
notícia na mídia é, de fato, censura judicial. O direito constitucional aceita que o Judiciário possa punir quem se exceda na manifestação do pensamento, mas não permite que jornais sejam proibidos de publicar notícia, informação ou crítica. Tese análoga foi defendida pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, em recentes declarações ao Estadão. Mello disse que jamais decretaria censura ao jornal, como fez o desembargador Dácio Vieira a pedido da família Sarney. “Que se combata o vazamento de conversas telefônicas, mas sem se chegar ao cerceamento da liberdade de expressão”, sublinhou. Seu colega, ministro Celso de Mello, também um sensível defensor dos valores democráticos, foi igualmente direto e certeiro. “Nada mais nocivo que a pretensão do Estado de regular a liberdade de expressão, pois o pensamento há de ser livre, essencialmente livre. Liberdade de imprensa concerne a todos e a cada cidadão. Esta garantia básica, que resulta da liberdade de expressão do pensamento, representa um dos pilares em que repousa a ordem democrática”, salientou o ministro em conversa com o jornal O Globo. O que está em jogo, para além da garantia constitucional da liberdade de imprensa, é o direito que tem a sociedade de ser informada. É difícil imaginar que o Brasil possa superar a gravíssima crise ética que transformou amplos setores do serviço público num exercício de cinismo e arrogância sem ampla e plena liberdade de imprensa e de expressão. Por isso, manifestações públicas de representantes da mais alta Corte judicial são uma lufada de ar fresco na cidadania. O Brasil pode contar com a seriedade e o espírito democrático daqueles que têm por ofício interpretar o espírito e a letra da Constituição. A censura prévia foi enterrada com a ditadura. Felizmente. E um outro Brasil, aberto, plural e essencialmente democrático, aflorou dos cacos da repressão e do autoritarismo. Preocupa também, e muito, o controle da mídia por grupos com projetos de poder e perfil marcadamente radical e antidemocrático. A democracia cresce quando os meios de comunicação têm trajetórias transparentes. A defesa do Estado de Direito passa, necessariamente, por um compromisso claro e histórico com plataformas de informação. Pode-se concordar ou discordar da linha editorial das empresas de comunicação, mas há um valor inegociável: a transparência do negócio e o compromisso com valores éticos básicos. Jornalismo não é, e não deve ser, propa-
FAX:
(11) 3856 2920
Apagão Foram apagadas as imagens das câmeras do Palácio do Planalto no dia em que a sra. Lina Vieira foi à reunião com a ministra Dilma Rousseff. Não há mais o que falar. A falta de vergonha que estamos presenciando neste país não tem fim. Mas os brasileiros de caráter não se conformam com o governo que está aí. MARIA TEREZA MURRAY terezamurray@hotmail.com
São Paulo
Novaditadura No passado o Brasil tinha uma ditadura militar. Hoje temos uma nova ditadura, formada
ganda ideológica ou passaporte para ações pouco claras. As ações da ANJ, no entanto, não se limitam à irrenunciável defesa da liberdade. A entidade tem sido, de fato, um fórum extraordinário para a discussão dos rumos do jornalismo de qualidade. Participo, com entusiasmo, do Comitê Editorial da ANJ e constato, juntamente com meus colegas de comitê, que os diários continuam fortes e têm conseguido preservar seu maior capital: a credibilidade. A confiança da população na qualidade ética dos seus jornais tem sido um inestimável apoio para o desenvolvimento de um autêntico jornalismo de buldogues. O combate à corrupção e o enquadramento de históricos caciques da política nacional só têm sido possíveis graças à força do binômio da democracia: jornalismo livre e opinião pública informada. A revalorização da reportagem e o investimento exponencial na informação local têm ocupado a agenda da ANJ. Teimosamente escanteada pelo comodismo do jornalismo de ham-
O que está em jogo é o direito que tem a sociedade de ser informada búrguer (insosso e pouco criativo), a reportagem é uma das mais nítidas demandas do leitorado. É preciso atrair o leitor com matérias que rompam com a mcdonaldização dos jornais. Autor do mais famoso livro sobre a história do jornal The New York Times, Gay Talese põe o dedo na chaga da crescente ausência de boas reportagens. “Não fazemos matéria direito, porque a reportagem se tornou muito tática, confiando em e-mails, telefones, gravações. Não é cara a cara. Quando eu era repórter, nunca usava telefone. Queria ver o rosto das pessoas. (...) Não se anda na rua, não se pega o metrô ou um ônibus, um avião, não se vê, cara a cara, a pessoa com quem se está conversando”, lamenta Talese. Tem razão. Defesa da liberdade, renovação de leitores e investimento em informação ética e bem apurada compõem um retrato de corpo inteiro do trabalho da Associação Nacional de Jornais, uma entidade comprometida com a democracia, a cidadania e o jornalismo de qualidade. ● Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, é diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br) e da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com) E-mail: difranco@iics.org.br
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pelo presidente Lula, Renan, Collor, Sarney e, óbvio, por aquele que é a sua cabeça pensante, José Dirceu. Alguém neste país tem alguma dúvida? BERNARDO GRANATOWICZ mb36@terra.com.br
São Paulo
Infernal Dizem as más línguas que o PMDB vendeu a alma ao diabo. Gente maldosa, credo! Pura mentira. Alguém pode, em sã consciência, achar que o diabo ia querer esse tipo de concorrência lá pelos seus domínios? ANTONIO FERNANDO FERREIRA rdseg@terra.com.br
São Paulo
A6 NACIONAL
SEGUNDA-FEIRA, 24 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
SUCESSÃO
SERGIO CASTRO/AE - 05/08/2009
PSDB se arma para ‘guerra cibernética’ Partido investe em novo site como ferramenta essencial para 2010
COMUNICAÇÃO – Serra é hoje o político mais popular na rede Twitter; seu microblog, lançado há três meses, tem cerca de 71 mil seguidores
Elizabeth Lopes Carolina Freitas AGÊNCIA ESTADO
Antes do início da batalha nas urnas, a eleição presidencial de 2010 já movimenta um verdadeiro exército de militantes petistas e tucanos, que decidiram trocar a panfletagem nas ruas pela internet. A disseminação das redes sociais e o crescimento do número de internautas no País, hoje em torno dos 65 milhões, tornam a grande rede uma ferramenta essencial na elaboração das estratégias de campanha para as eleições. Para não perder terreno nessa batalha,oPSDBlança hojeummegaportal (www.tucano.org.br), com conteúdo em texto, áudio e vídeo, espaço para chats e links para a página do partido em redes sociais, como Orkut, Twitter e Facebook. “Precisamos reunir o nosso exércitopara enfrentar estenovo momento virtual e o tucano. org.br será a porta de entrada dos nossos militantes”, afirma César Gontijo, secretário-geral da Executiva Estadual do PSDBdeSãoPauloe umdos idealizadores do novo portal. Na avaliação do Gontijo, o PT saiu na frente no que ele classifica de “guerra cibernética contra os tucanos”. Ele cita, por exemplo, que se for feita uma busca no YouTube com os nomes de Dilma Rousseff (PT) e de José Serra (PSDB), pré-candidatos ao Palácio do Planalto, os primeiros resultados dos vídeos da petista são altamente positivos e favoráveis. E com Serra ocorre oinverso,comvídeosdesfavoráveis e negativos. “Nossa ação não será de ataque ou revide, mas sim propositiva”, informa o secretário-geral. Gontijo diz que o novo portal não foi criado apenas com o foco nas eleições 2010. “Estamos acompanhando uma tendência natural de interatividade e queremos também melhorar um dos grandes desafios do partido, que é a comunicação.” Ele reconhece, porém, a força que essa ferramenta terá na próximaeleição,aopropiciaraosmilitantes e simpatizantes um ins-
PT prioriza trabalho de militante na rua Tanta novidade no flanco tucano parece não alarmar os petistas. O secretário nacional de Comunicação do PT, Gleber Naime, diz que “de maneira nenhuma” o portal a ser lançado pelo PSDB é uma ameaça. Segundo ele, o PT tem planos de melhorias permanentes de sua comunicação via portal e redes sociais. Para disseminar o nome da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, até o pleito do ano que vem, o partido aposta na militância do mundo real. “O PT vê os novos instrumentos de comunicação como meios, não como um fim, nada substitui a ação humana”, explicou Naime, reconhecendo, contudo, que “a internet é um meio mais ágil e barato para informar e trocar informação”. Ele não concorda com o discurso de que os petistas usam redes sociais e o Google para “turbinar” a imagem de Dilma e desconstruir a de Serra. “Todas as iniciativas na internet favoráveis ao PT, a Dilma ou ao governo são espontâneas.” ● C.F. e E.L.
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trumento para a troca de ideias, e ao partido, um canal para a disseminação de sua plataforma. O novo portal trará também a “tucanopédia”, que funcionará da mesma forma queaenciclopédiavirtualWikipédia e exibirá o perfil dos filiados – são cerca de 150 mil no Estado – e a TV Tucana, queestreia nodia 31 compronunciamentos do presidente nacional da legenda, Sérgio Guerra, e do presidente paulista, Mendes Thame. O portal é iniciativa do PSDB paulista, mas a ideia é que seja criada uma rede nacional, com a interação dos outros diretórios da sigla. O partido não informou o custo com o portal. ●
Entrevista José Serra: governador de São Paulo
‘Nenhum candidato poderá prescindir da internet em 2010’ Para o governador, a legislação eleitoral brasileira ainda é muito restritiva em relação a campanhas na web São duas horas da madrugada. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), deixa de lado os jornais, liga o aparelho de som e espera o sono vir com os Beatles ao fundo. A cena da intimidade de um dos possíveis candidatos à Presidência da República em 2010 foi registrada por ele mesmo em seu microblog na rede Twitter. “Vim dormir. Ia ler o clipping da imprensa da semana, mas desisti. Preferi ouvir o Abbey Road inteiro dos Beatles e zapear na TV sem som”, escreveu na noite de 13 de julho. Serra é hoje o mais popular político do Twitter, com 71 mil seguidores, que acompanham em tempo real os passos do tucano. Aos 67 anos, o governador paulista entrou para a turma dos internautas depois dos 60 anos e para a dos “twitteiros” há pouco mais de três meses. Em entrevista exclusiva ao Estado, ele fala do potencial da internet na eleição de 2010 e de sua experiência no mundo virtual. Qual será o papel da internet nas eleições presidenciais de 2010?
Nas eleições de 2010, no Brasil, nenhum candidato poderá prescindir da internet na campanha, é evidente, mas a influência será muito menor do que nos Estados Unidos, porque somos muito menos conec-
OPORTUNIDADE EXCEPCIONAL
EXTRAORDINÁRIA PROPRIEDADE LOCALIZADA EM JUQUITIBA - SP.
tados, nossa legislação eleitoral é mais restritiva, nossa campanha é muito mais curta do que a deles, que dura quase dois anos, contando com as primárias para a indicação do candidato do partido. Aqui, legalmente a campanha só começa na segunda metade de julho, e a eleição é em outubro. Qual será o grande desafio das campanhas na web?
O grande desafio de campanhas na internet, que a de Barack Obama venceu com louvor, é transportar o ativismo e a militância do mundo virtual para o mundo real, para ações de visibilidade, para as ruas. Tenho dúvidas de que conseguiremos fazer já em 2010 essa passagem. Como foi seu primeiro contato com a internet?
Aprendi na marra a usar a internet em 2003, quando passei uma temporada nos Estados Unidos, no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, depois de perder as eleições presidenciais em 2002. Fui obrigado a me conectar para conversar com a família, com os amigos, para me manter em dia com as notícias do Brasil e do mundo, para não ficar isolado. Primeiro, aprendi a receber e a mandar e-mail; em seguida, a navegar pelo noticiário. Agora, sou o governador twitteiro e já ganhei até diploma de “especialização em relações twitteiras”, do programa CQC, da TV Bandeirantes. Para quais atividades o senhor uti-
liza a internet?
Até 2002, no Ministério da Saúde, costumava mandar bilhetinhos escritos à mão para a equipe, perguntando sobre esse ou aquele programa de governo, tirando dúvidas, cobrando essa ou aquela providência. Escrevia à noite e, de manhã, minhas secretárias recebiam uma caixa de papéis para distribuir. Hoje, envio e-mail para os secretários e assessores. Muito mais rápido e eficiente. Também leio notícias nos principais portais e em alguns blogs, escrevo artigos, discursos. Nunca consegui datilografar artigos. Fazia sempre à mão. Troco e-mails com meus filhos, com os amigos e uso para lazer, navego no YouTube para ver clipes de músicas, procurar trechos de filmes. Resisti muito a entrar, porque sabia que iria me viciar. Fraquejei, entrei e me viciei. O sr. é o político mais popular do Twitter, com mais de 71 mil seguidores. O que tem achado dessa experiência?
Fui para o Twitter meio por acaso e por curiosidade. Uso muito a internet. Comecei a ver reportagens sobre o fenômeno do Twitter e as pessoas mais próximas me diziam que eu devia entrar lá. Nem sabia direito o que era, como funcionava, para que servia, quando abri a minha conta. Esta, aliás, foi a primeira dificuldade: descobri que meu nome e quase todas as variações possíveis já estavam registrados no Twitter, com a minha foto e tudo. Eram muitos perfis falsos. Entrei
sem fazer alarde, sem contar para ninguém a não ser para o pessoal mais próximo do gabinete. Habituado a escrever artigos e textos mais longos, no início achei que não conseguiria dizer nada em 140 caracteres, que é o limite do Twitter. Aos poucos, estou aprendendo a ser sintético. Como o Twitter tem ajudado o seu trabalho como governador?
Eles (internautas) me dão dicas, fazem sugestões, apoiam medidas do governo, elogiam, mas também criticam, cobram, reclamam de coisas que não estão funcionando direito. Repasso para todas as áreas do governo, cobro dos secretários, tiro dúvidas com eles, vejo se as reclamações procedem. Os mais acionados pelos meus seguidores e por mim são o Barradas (secretário da Saúde), o Paulo Renato (secretário da Educação), as áreas de segurança e de transportes. É aí que a internet é fantástica. Poupa tempo, aumenta a eficácia, abre um canal direto entre o governo e o cidadão, para o governante ouvi-lo, prestar contas em tempo real e até para corrigir medidas. Isso para um governante não tem preço. O sr. também faz comentários pessoais...
Há o lado lúdico também. Quando disse lá no Twitter que gosto de cinema e de trabalhar ouvindo música, muitos seguidores passaram a me mandar dicas e links de canções, cantores, bandas, trechos de filmes. Também fazem muitas perguntas sobre a minha vida, o governo, o que eu acho disso e daquilo. Claro que não consigo responder tudo e fico até aflito, às vezes, mas sempre dá para conversar um pouco. De que outro jeito isso seria possível? Só no Twitter mesmo. ● C.F. e E.L.
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 24 DIAS
Artigo
Estamos de mãos atadas Bolivar
Lamounier*
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A
censura ao jornal O Estado de S.Paulo e ao site estadao.com.br foi imposta no dia 31 de julho, por decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ-DFT). Vieira proibiuojornaldepublicarreportagens que contenham informações da Operação Faktor, mais conhecida como Boi Barrica, da Polícia Federal. O recurso judicial, que pôs o jornal sob censura, foi apresentadopeloempresárioFernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) – que está no centro da crise política no
Congresso. O pedido de censura de Fernando Sarney partiu após a publicação de reportagens que apresentaramoconteúdo deescutas telefônicas – realizadas com autorização judicial – da Operação Faktor. Os diálogos, travados entre Fernando e seu pai,presidentedoSenado,esclarecem a nomeação de parentes a cargos na Casa – especialmente o caso que envolvia um namorado da filha de Fernando, que foi contemplado. Vale ressaltar que Fernando foi indiciado pela PolíciaFederalpor formaçãode quadrilha, lavagem de dinheiro e tráfico de influência. O Estado revelou, de pronto, queDácioVieirafoinomeadopelo quinto constitucional, e que sua relação com a família Sarney tem raízes profundas. VieirafoifotografadoaoladodeSarney, de Renan Calheiros e do exdiretor-geral do Senado Agaciel Maia, no casamento da filha deAgaciel,MayannaMaia.Ofa-
to gerou o primeiro recurso do jornal, que arguiu suspeição de Vieira. O recurso foi negado pelo próprio Vieira. O segundo recurso apresentado pelo Estado, um mandado de segurança com pedido de liminar, também foi negado, destavezpelodesembargadorWaldir Leôncio Lopes Cordeiro de Araújo, da 2ª Câmara Cível do TJ.Porenquanto,naesferajurídica, estamos de mãos atadas. No âmbito da sociedade civil e de organismos internacionais, temos recebido apoio irrestrito. AOEA, pormeiodesuarelatora para liberdade de expressão, alertou o Brasil para uma possível responsabilização internacionalcasoadecisãonãosejarevertida. A Associação Mundial deJornaisenvioucartaaopresidenteLulaeaopresidentedoSupremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, pedindo celeridade para derrubar a censura. ●
*Bolivar Lamounier é cientista político e diretor do Idesp
o estado de s. paulo
● Edição de
0h15
TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
25 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42315
Itaú se liga à Porto Seguro para liderar segmento
SÃO PAULO: CONFRONTO EM DESOCUPAÇÃO DE TERRENO
Maior banco privado do País, o Itaú Unibanco associou-se à seguradora Porto Seguro, que encabeça o ranking brasileiro na área de automóveis. Com isso, deu um passo importante para assumir a liderança de um segmentodemercadoemquetradicionalmente fica atrás do Bradesco, seu principal concorrente. A Porto Seguro chegou a negociar com o Bradesco, mas não houve acordo sobre o controle da operação. ● PÁGS. B1 e B3
JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/AE
Obama confirma Bernanke no Fed
cos da favela Olga Benário, queimados durante confronto defla-
grado por operação da PM para reintegração de posse do terreno, na região do Capão Redondo, zo-
na sul de São Paulo; em meio a 250 policiais que participaram da ação, o fotógrafo do Estado Filipe
Araujo e um outro jornalista foram abordados por cinco assaltantes armados, que lhes rouba-
ram os equipamentos e os mantiveram presos em um barraco, durante o incêndio. ● PÁG. C8
Mudanças provocam rebelião na Receita
Globalização à brasileira ●● Em sua 5ª edição
mensal, caderno aborda operfil do profissional das empresas que atuam noexterior. Vivian Broge, gerente de RH, vai morarno México. ●
Superintendentes ligados a ex-secretária entregam cargos Seis superintendentes, cinco coordenadores de área e um subsecretário da Receita colocaram seus cargos à disposição. Todos são integrantes do grupo da ex-secretária Lina Vieira. Os demissionários alegam ter agido em razão de “uma clara ruptura” com as di-
retrizes da gestão de Lina, que falava em fiscalizar os grandes contribuintes – já o atual secretário, Otacilio Cartaxo, é visto na Receita como obediente às ordens políticas do ministro Guido Mantega. Pesou ainda a exoneração de Iraneth Weiler, testemunha de Lina no caso da
suposta reunião com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), e de Alberto Amadei Neto, que subsidiou Lina em seu depoimentonoSenado.ParaaFazenda,os“rebeldes”apenasseanteciparam a demissão dada como certa, porque a arrecadação está abaixo do esperado. ● PÁG. A4
Sarney tenta ignorar a crise e é cobrado por Suplicy
edu
●
FRASE
“(Há) uma clara ruptura com a orientação e as diretrizes que pautavam a gestão anterior”
Educação
Unesp oferecerá curso a distância
Trecho da carta dos demissionários
Pedagogia será a primeira graduação oficializada no Estado. ● PÁG. A21
PAULO LIEBERT/AE
●●● Moradores observam barra-
●●● O presidente Barack Obama nomeará Ben Bernanke para um segundo mandato no Fed (banco central dos EUA). A atual gestão só acaba em janeiro, mas sua atuação na crise fez crescer a pressão para a recondução. ● PÁG. B10
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB), tentou retomar ontem a rotina com um discurso sobre Euclides da Cunha e Getúlio Vargas. O script foi alterado por aparte do petista Eduardo Suplicy, que o cobrou. “As coisas não podem ficar como estavam. E essa é a voz que ouço por toda parte”, disse ele, em discurso combinado com o colega Aloizio Mercadante. ● PÁG. A6
25
DIAS SOB CENSURA
●●
Pelo menos 25 grandes edifícios residenciais da capital paulista estão recorrendo à coletaprivada delixo doméstico.Adificuldadedearmazenamento dos resíduos está entreasrazõesparaadispensa da coleta municipal. Há 40 empresas cadastradas para o serviço. ●PÁGS. C1 e C3
CADERNO 2
Michael Jackson
O acrobata de Jean Genet
Anestésico causou morte, diz polícia ●● Médico do astro pode ser acusado de homicídio ou negligência. ● PÁG. A24
●● JoãoPaulo Lorenzon
interpretaum equilibrista quedesafia amorteem OFunâmbulo,adaptação teatraldepoema do romancistafrancês. ●
VIAGEM
& AVENTURA
TIAGO QUEIROZ/AE
Condomínios de SP pagam por coleta de lixo privada
diretodafonte
●● ProjetodaCBF prevê punição atimes comdéficit
orçamentário:perda depontos noCampeonato Brasileiro. ● PÁG. D2
Encanto francês
●● Arquitetura, história e
hospitalidade animam a região de Languedoc.●
Governo dos EUA manda investigar abusos da CIA O Departamento de Justiça dos EUA nomeou um promotor para investigar abusos cometidos pela CIA contra suspeitos de terror. A medida foi anunciada após a divulgação de relatório de 2004 que detalha métodos de tortura usados pelos agentes, como ameaçar matar a família do interrogado. ● PÁG. A16
Saúde Tempo: CAPITAL
NOTAS E INFORMAÇÕES
As bondades do compañero Lula Lula liberou crédito para a compra de têxteis bolivianos. O Brasil dá dinheiro para quem
●●●
produz a droga que envenenará a juventude nas grandes cidades brasileiras. ● PÁG. A3
21º
MÁX.
● PÁG. C2
15º
MÍN.
Chove a qualquer hora do dia. Faz frio pela manhã e à noite.
Hoje: 100 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 4 ● H. Especial .EDU: 20 ● V. Viagem: 14 Classificados: 427 anúncios
Governo promete entregar vacina ●● Emfalta,Prevenar,con-
tra pneumonia, custa R$ 250 em clínicas. ● PÁG. A23
ESPORTES
Solidão e muita alegria ●● Com a família no Brasil, RubensBarrichellofestejousóavitória no GP da Europa. ● PÁG. E1
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2.0 DOHC 16V MECÂNICO OU AUTOMÁTICO 2.7 DOHC V6 24V AUTOMÁTICO 4X4 AWD
7 8 9 10 11 12
VEJA NA PÁGINA 5
w w w. h y u n d a i - m o t o r. c o m . b r
A2 ESPAÇO ABERTO
TERÇA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 - falecom.estado@grupoestado.com.br
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Latifúndio ilógico
Reflexões sobre crise econômica
XicoGraziano
RubensBarbosa
O que é um latifúndio? No passado, a resposta vinha fácil. Hoje, a pergunta exige esforço para ser respondida, remetendo ao núcleo do problema agrário no Brasil. Semântica da boa. A historiografia consagrou o latifúndio como mal maior de nossa formação social. O termo se origina no latim – lato fundis –, significando os grandes domínios da aristocracia na Roma antiga. O conceito se vincula à ideia da imensidão e da opressão no campo. Na época colonial, o latifúndio surgiu por aqui disfarçado nas capitanias hereditárias. Grandes porções do território se dividiram entre os fidalgos do rei encarregados de colonizar as terras longínquas. No ciclo açucareiro do Nordeste, séculos atrás, a grande exploração comandava a economia. Historiadores também a chamaram de plantation, a vasta propriedade monocultora. O latifúndio sempre caracterizou o domínio da oligarquia agrária, terra do coronel. No triste período escravista, os conflitos entre a casa grande e
Empresa rural capitalista não é propriedade oligárquica a senzala expunham as mazelas da desigual sociedade. Mais tarde, na economia cafeeira que abriu São Paulo, com o trabalho sendo liberto, o latifúndio manteve sua forte presença até a grande crise de 1929-1930. Quando Getúlio Vargas assumiu o poder, a oligarquia começou a se desmantelar. Surgia, com a ajuda da imigração, a classe média no campo. Derrotar o tradicional sistema latifundiário e vencer o imperialismo norte-americano configurou o estridente grito nacionalista que, nos anos 1960, mobilizou a esquerda latinoamericana. Todos se uniram contra o atraso rural. Na receita do desenvolvimento, eliminar o latifúndio virou mantra. A unanimidade política se provou no Estatuto da Terra, promulgado pelo regime militar em novembro de 1964. Nem a turma da direita, que chutou a democracia no golpe, se opôs à desapropriação do latifúndio, um obstáculo ao progresso. A nova lei deu nome aos bois. Os latifúndios passaram a ser divididos em dois grupos: “por dimensão” e “por exploração”. No primeiro caso, 600 módulos de terra eram o limite de sua extensão, área situada entre 20 mil e 50 mil hectares, dependendo da região. Maior que isso, poderia ser desapropriado para reforma agrária. Terra dividida. Já os latifúndios “por exploração” precisavam, indepen-
Após a Constituição de dentemente de seu tamanho, provar que eram produtivos. 1988, mudou a lei agrária. DeDaí surgiram os índices de pro- sapareceram as antigas denodutividade que o Incra utiliza, minações do latifúndio, subsaté hoje, para caracterizar a tituídas pela nova caracterifunção social da propriedade zação econômica da grande rural. Se estiver ociosa, com propriedade: produtiva ou baixa produção, pau nela. Vai improdutiva. Até hoje, entrepara o assentamento dos sem- tanto, o conceito histórico, tão marcante, permanece terra. Muito bem. Dois cadastramentos gerais sendo utilizado. E, infelizmenforam realizados naquela épo- te, deformado. João Pedro Stédile, ideóloca. As estatísticas eram devastadoras, configurando forte go do MST, caracteriza atualconcentração da estrutura mente o latifúndio como a agrária. Em 1984, atualizados, propriedade rural que, emboos dados serviram para funda- ra cultivando café, soja, cana, mentar o plano de reforma eucalipto, ou utilizada na peagrária da Nova República. cuária, ocupe área superior a Eles mostravam que os latifún- mil hectares. Ponto. Não intedios se apropriavam de 90% do ressa se utiliza tecnologia, paterritório. Um escândalo. ga bem aos empregados ou O cadastro indicava existi- conserva o solo. Importa aperem 305 latifúndios “por dimen- nas o tamanho, aliás, bem são”, que, somados, detinham abaixo dos antigos latifúnárea maior do que a explorada, dios “por dimensão”. na outra ponta, por milhões de Ora, o modelo agrícola do pequenos agricultores. Nin- País, ainda concentrador, poguém poderia concordar com de ser criticado. Mas o latiisso. Reforma agrária já. fúndio sempre caracterizou Se a ditadura não aplicou, relações atrasadas de produna prática, o Estatuto da Ter- ção, mau uso da terra, servira, a democracia, restabeleci- lismo. Confundir a empresa da, o faria. Assim, há 25 anos, capitalista no campo com a se iniciava a fase moderna da propriedade oligárquica enreforma agrária brasileira. torpece o raciocínio. LatifúnSeus resultados, sofríveis, frus- dio produtivo soa ilógico. traram as expectativas, transCuriosa a mente das pesformando a prometida reden- soas. Há quem, não perceção da miséria rural numa polê- bendo que o mundo mudou, mica interminável. Por quê? repete o mesmo chavão a viDuas explicações importam da toda. Tromba com a realiaqui. Primeiro, destrinchando dade. Outros, mais inteligenas estatísticas oficiais, verificou- tes, sabem das mudanças. se que, entre os latifúndios “por Mas, para manter o discurso exploração”, 700 mil detinham atrasado, escondem-se na área menor que 100 hectares de mentira dos conceitos. Deturterra. Quer dizer, eram “peque- pam a realidade. ● nos” latifúndios. Um contrassenso incompreensível. Segun- Xico Graziano, agrônomo, do, entre os grandões, apenas é secretário do Meio Ambiente um ou outro acabou efetiva- do Estado de São Paulo. E-mail: mente desapropriado na refor- xico@xicograziano.com.br ma agrária, por uma razão ele- Site: www.xicograziano.com.br mentar: dificilmente eles eram encontrados nas vistorias de campo. Representavam enormes terras griladas, cadastradas no Incra, porém fictícias. Latifúndios “fantasmas”. O equívoco desnorteou os agraristas. Estava em curso um processo de modernização agropecuária que, hoje, caracteriza o capitalismo no campo. Nos últimos 30 anos, o latifúndio transformou-se em grande empresa rural, mantendo-se grande, mas tornando-se produtivo. Integrado com a agroindústria, ao lado de fortes cooperativas, constitui o complexo chamado Ato ou efeito de amestrar(-se) agronegócio.
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Otopoe oprecipício Na busca pelo poder a qualquer preço, Lulla promete ao MST as benesses que sempre negou ao setor agrícola. Atingir um setor que sempre foi gerador de divisas para o País (determinando metas quase inatingíveis para os produtores) pode custar-lhe caro. Depois dessa, poderíamos esperar “índices para ocupação de imóveis urbanos” como sua próxima jogada. “Para aqueles que almejam o poder a qualquer preço, não existe medida entre o topo e o precipício” (Publius Tacitus). CARMEN ROSARIO ayusso@dglnet.com.br
Campinas
Sobre o editorial Golpe (eleitoral) contra a agricultura (23/8, A3), é o caso de perguntar ao presidente ●
Num mundo de grandes transformações políticas, econômicas e comerciais, que desafiam projeções futuras, o cenário internacional vem se modificando fortemente nas últimas duas décadas. No campo político, podem ser identificadas mudanças geopolíticas, como, em especial, a emergência da China, da Rússia, da Índia, do Brasil e o deslocamento do centro de gravidade dos assuntos internacionais do Atlântico para o Pacífico. No campo econômico, apesar da forte expansão do ciclo econômico e comercial, estávamos vivenciando três crises: financeira (crise no setor imobiliário, problemas no setor bancário nos EUA), energética (volatilidade do preço do petróleo) e de alimentos (escassez e alta nos preços das commodities). No meio dessas transformações, eclodiu a crise econômica, com a recessão nas economias desenvolvidas da Europa e dos EUA e a redução significativa do crescimento da China e dos países emergentes. Em consequência disso, ocorreram, de maneira dramática, a rápida restrição ao crédito e a queda no emprego e no intercâmbio comercial global. O fracasso da Rodada Doha e o incremento das tendências restritivas nos países desenvolvidos, a começar pelos EUA, podem tornar a situação ainda mais complexa. A economia mundial deverá contrair-se, pela primeira vez, desde o fim da 2ª Grande Guerra. Algumas estimativas chegam a prever um crescimento negativo de mais de 2,5% em 2009. A quase totalidade dos países, nos cinco continentes, foi afetada. Os
Lula se existiria o Bolsa-Família com esta expansão, bem como a reserva de mais de US$ 200 bilhões para podermos atravessar a crise mundial com menos apertos do que muitos países, sem a receita e o superávit provenientes da agropecuária. SYUNJI NAKAGAWA luis.syunji@uol.com.br
São Paulo ● O editorial retrata a real situação da agricultura do País. É um absurdo o governo beneficiar um bando de arruaceiros que nunca produziram um grão de alimento e deixar os cidadãos que trabalham com agricultura (e como trabalham!) sem apoio. Mais uma vez, quem produz com muito trabalho e sacrifício será punido, para favorecimento de poucos, mas
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que nas urnas representam muito. Precisamos urgentemente de uma política agrária justa.
Liberdadedeimprensa
CARLOS VOLLET
A sociedade, por intermédio de seus órgãos mais representativos específicos, em especial a OAB, deveria examinar com mais acuidade a sugestão do desembargador Walter Maierovitch, em entrevista na edição de domingo (A11). A criação do Tribunal da Liberdade, seguindo modelo que está funcionando na Itália, poderia evitar casos como a atual censura ao Estado. Se do Parlamento nada mais podemos esperar depois dos últimos episódios, que da OAB, histórica defensora das liberdades civis no Brasil – assim como o Estado –, parta uma iniciativa que examine a questão.
aincarnado@terra.com.br
ROBERTO CURSINO BENITEZ
CÉLIA MARIA AMENDOLA VICENTINI cmavicentini@ig.com.br
Votuporanga
O governo deveria estipular um índice de produtividade para os assentados. Por ridículo que o índice fosse, liberaria muitos lotes sem ônus (já demarcados, estudados, desapropriados) para reassentamento, deixando os demais agricultores com suas preocupações (a)normais: falta de crédito, preço dos produtos e dos insumos, luta contra cartéis, leis ambientais e trabalhistas, impostos, taxas, recolhimentos, etc... ●
Lins
EUA deverão ter um crescimento negativo no corrente ano, acompanhados, em grau mais acentuado, pela Europa. Dos países emergentes, a China – que se transformou num dos principais fatores de crescimento da economia global e já é a segunda potência comercial –, em 2009, deverá crescer ao redor de 8%, não podendo desempenhar sozinha o papel de motor da demanda global, sobretudo de commodities, como vinha ocorrendo nos últimos anos. A Índia terá um crescimento positivo, mas inferior ao da China. A Rússia e, em menor escala, o Brasil deverão ter crescimento negativo. O comércio internacional, segundo a Organização Mundial de Comércio (OMC), terá sua maior queda desde 1982, com contração de cerca 12%. A forte redução da demanda, aliada à restrição do crédito, é responsável pela rápida e dramática queda das transações. Para agravar a situação, começam a aparecer sinais inquietantes de nacionalismo financeiro e protecionismo comercial, tanto entre os países desenvolvidos quanto no contexto dos países em desenvolvimento, como vimos recentemente com as medidas restritivas tomadas pela Argentina. Em vista da situação crítica da economia, os países do G-20, na reunião de abril, comprometeram-se a não aumentar as barreiras ao livre comércio até 2010 e a tentar minimizar as dificuldades atuais por meio de medidas de política fiscal e apoio ao setor financeiro. US$ 250 milhões, em dois anos, deverão ser alocados para apoio ao financiamento do comércio e todos assumiram o compromisso de alcançar ambiciosa e equilibrada conclusão da Rodada Doha. As perspectivas para a economia mundial são pouco otimistas para os próximos anos. A siLOREDANO tuação vai piorar, antes de melhorar, a partir do fim de 2010. Embora estejam surgindo sinais positivos de recuperação da economia global, o que está ocorrendo é apenas uma desaceleração da queda, e não a volta do crescimento. A crise econômica está longe de terminar. Há um problema estrutural que necessita ser enfrentado: o desequilíbrio entre os países superavitários (China, Alemanha) e os deficitários (em especial os EUA). A recuperação
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São José dos Campos ● O mestre Carlos Alberto Di Franco, com o costumeiro brilhantismo, tece considerações a respeito da ANJ, pelo denodo na defesa da liberdade da imprensa (24/8, A2), que é a coluna-mestra da liberdade, é alma de um povo. O Congresso (família Sarney) quer amordaçar a alma do povo. Dizia Voltaire: “Que le récit de toutes les injustices retentît sans cesse à toutes les oreilles” – ou seja, que as injustiças praticadas sejam divulgadas (com panelaços, buzinaços) sem cessar a todos os ouvidos. Só a imprensa livre tem esse condão. Que a pena do dr. Di Franco não se cale, não se amedronte.
será lenta e ainda dependente do crescimento da economia dos EUA. A China, com crescimento sensivelmente reduzido pela queda de seu comércio exterior, terá pouca influência na recuperação da economia global. As perspectivas para o comércio global também não são animadoras. Em 2009, contrariando as intenções manifestadas no G-20, 47 países, inclusive 17 membros desse grupo, aplicaram algum tipo de medidas protecionistas. Com a redução do intercâmbio, a recuperação do crescimento das trocas internacionais vai depender do grau da recessão dos países desenvolvidos e da desaceleração da queda do crescimento dos países emergentes e em desenvolvimento. O comportamento da economia chinesa e dos preços das commodities continuará a ser um fator de incerteza. A tendência ao protecionismo e a ausência de perspectiva de retomada das negociações da Rodada Doha acrescentam mais elementos de instabilidade no comércio internacional.
A situação vai piorar, antes de melhorar, a partir do fim de 2010 Como ficarão a economia e o setor externo brasileiros nesse difícil contexto internacional? A economia, em 2009, deverá crescer entre zero e menos 1%, graças ao dinamismo do mercado interno, estimulado por medidas de ampliação do crédito para aumentar o consumo em setores estratégicos. No próximo ano, o governo projeta um crescimento de cerca de 4%, o que poderá mostrarse excessivamente otimista, dado o quadro externo global. Os números do comércio exterior brasileiros em 2009 não são encorajadores. O setor agroindustrial estima uma redução de cerca de 20% no valor exportado. A exportação do setor manufatureiro cairá mais de 30%. Prevê-se uma queda de cerca de 20% nas exportações e uma redução ainda maior das importações, gerando, como consequência, uma redução do superávit na balança comercial. É difícil prever o montante do saldo apenas com os resultados do primeiro semestre, pela volatilidade do câmbio, dos preços das commodities e pela incerteza quanto à queda das importações. É com esse pano de fundo econômico que transcorrerá o ano político-eleitoral de 2010. ● Rubens Barbosa, consultor de negócios, é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp
E-MAIL:
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É bom lembrar a Sarney o que disse dom Quixote a Sancho: “La codicia rompe el saco.” ANTONIO BONIVAL CAMARGO bonival@camargoecamargo.adv.br
São Paulo ● O Estado foi sistematicamente perseguido tanto pela “direita” como pela “esquerda” ao longo da sua vida. Essas definições já perderam o sentido há muito tempo. Deveríamos redefinir esses títulos para “os amantes da verdade” e “os tementes da verdade”. Os que da verdade têm temor se situam em bandeiras de qualquer cor. FLÁVIO DIAS f.thayan@uol.com.br
São Paulo
TERÇA-FEIRA, 25 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
INFORME PUBLICITÁRIO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 25 DIAS
MANIFESTO À NAÇÃO
Artigo
Um retorno aos tempos da censura Bolivar
Lamounier*
É
estapafúrdia, para dizer o mínimo, a censura ao jornal O Estado de S. Paulo e ao site estadao.com. br , imposta no dia 31 de julho, por decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ-DFT). Vieira proibiu o jornal de publicar reportagens que contenham informações da Operação Faktor, mais conhecida como Boi Barrica, da Polícia Federal. O recurso judicial, que pôs o jornal sob censura, foi apresentado pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) – que está no centro da crise política no Congresso. O pedido de censura de Fernando Sarney partiu após a publicação de reportagens que apresentaram o conteúdo de escutas telefônicas – realizadas com autorização judicial – da Operação Faktor. Os diálogos, travados entre Fernando e seu pai, presidente do Senado, esclarecem a nomeação de parentes para cargos na Casa – especialmente o caso que envolvia um namorado da filha de Fernando, que foi contempla-
do. Em seu primeiro recurso, o jornal arguiu a suspeição do desembargador, por sua proximidade com a família Sarney. O recurso foi negado pelo próprio Vieira. Mais que estapafúrdio e descabido, o ato em questão é pois um retorno aos tempos da censura. Uma agressão à liberdade de imprensa e uma violação flagrante às regras constitucionaisdoEstadode DireitoDemocrático. Retorno à censura, não manu militari, como ocorreu algumas décadas atrás, mas pelas mãos de um magistrado.
É uma violação flagrante às regras constitucionais do Estado de Direito No âmbito da sociedade civil e de organismos internacionais, manifestações de apoio ao Estado não têm faltado – muito pelo contrário. A OEA, por meio de sua relatora para liberdade de expressão, alertou o Brasil para uma possível responsabilização internacional caso a decisão não seja revertida. A Associação Mundial de Jornais enviou carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, pedindo celeridade para derrubar a censura. Há um quarto de século, o Brasil vem reconstruindo a
NACIONAL NACIONAL A7 A7
sua democracia, e a imprensa é parte essencial, a mais atuante e dinâmica, nesse processo. Sem ela, não teríamos feito nenhum progresso na extirpação do patrimonialismo, do nepotismo e do mandonismo no Estado brasileiro. Agora mesmo, no triste episódio em que se acha envolvido o Senado Federal, que saldo teria a sociedade, não fora a imprensa livre? Em todo o rol de irregularidades que veio à tona, os senadores que controlam no momento a instituição não vislumbraram uma só que lhes parecesse ofensiva à democracia, à cidadania e aos bons costumes políticos. Bem feitas as contas, o saldo, até agora, é a informação, a consciência cívica, a indignação mais que justificada, e para a formação destas a contribuição da imprensa tem sido decisiva.●
*Bolivar Lamounier é cientista político, doutor pela Universidade da Califórnia,Los Angeles, e autor do livro Da Independência a Lula dois séculos de política brasileira (Ed.Augurium, 2005)
CORREÇÃO Por um erro de edição, o Estado atribuiu ontem a Bolivar Lamounier um texto que não é de sua autoria. O texto correto sai publicado hoje.
GOVERNO BRASILEIRO FAZ ACORDO COM A IGREJA CATÓLICA EM DETRIMENTO DE TODOS OS OUTROS CREDOS RELIGIOSOS O governo brasileiro enviou à Câmara dos Deputados a mensagem 134/2009 que reconhece o estatuto jurídico da Igreja Católica. Após a mensagem ser apreciada em uma das comissões para a qual foi enviada, seja aprovada ou não, transforma-se em projeto de decreto legislativo, recebendo o n.º 1736/2009. No plenário da Câmara, a pedido dos líderes partidários, foi aprovada a caráter de apreciação urgente, urgentíssimo. Com muito respeito aos senhores deputados, será que não existem matérias mais relevantes a serem discutidas de maneira urgente em benefício de todo o povo brasileiro? Isto é um absurdo! Na verdade, este acordo beneficia a Igreja Católica na evangelização do povo brasileiro nos diversos segmentos da sociedade, incluindo hospitais, escolas e as forças armadas. O mais grave é que este acordo contraria o inciso 1º, do artigo 19, da Constituição Brasileira, que diz: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvadas na forma da lei, a colaboração de interesse público”. A nossa nação não pode firmar aliança com qualquer credo religioso, ferindo o princípio da laicidade, inclusive com a quebra da isonomia nacional! Aproximadamente 70 milhões de brasileiros, que não são católicos, estão sendo discriminados. Temos a convicção de que a maioria do povo católico não concorda com um absurdo desta grandeza, porque são pessoas democráticas. Com a aprovação deste acordo ficará a Santa Sé, por meio da CNBB, com plenas condições de fechar vários outros acordos com o governo brasileiro, sem que jamais tenham de passar pelo Congresso Nacional. É um verdadeiro “CHEQUE EM BRANCO” para a Igreja Católica. Isto é uma vergonha! Senhores deputados, não aprovem este acordo. Fiquem certos de que não mediremos esforços para informar a todos os credos religiosos quem são os deputados que votaram a favor deste acordo discriminatório. Estendemos o eco da voz deste manifesto ao Senado da República, próxima casa legislativa que terá de apreciar o resultado apurado pela Câmara dos Deputados. Tenham a absoluta certeza de que não temos memória curta e que vamos pensar muito bem em quem vamos votar nas próximas eleições para Deputado Federal, Senador e Presidente da República. EM FAVOR DO ESTADO LAICO, DIGA NÃO AO PDC 1736/2009. Assinado: Associação Vitória em Cristo CIMEB – Conselho de Pastores do Brasil
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0h15
o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
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Partido obstrui votações para forçar a liberação de verbas para emendas HÉLVIO ROMERO/AE
obstrução das votações na Câmara,comapoiodeoutrospartidos da base aliada, e anunciou a disposição de manter a paralisia até que o governo libereverbasparaobras nasbases eleitorais dos deputados. Com isso, foi adiada a análise de propostas de interesse do governo,comoamedidaprovisóriaquegarante créditopara a exportação e o projeto que recria a CPMF, rebatizada de Contribuição Social para a Saúde (CSS). ● PÁG. A4
com mais seis exonerações, e os substitutos devem ter perfiltécnico.AcrisefezfuncionáriosdaReceitaemváriosEstados pedirem demissão – só em São Paulo foram 20. ● PÁG. A12
Damatta
Oposição sai do Conselho de Ética
Você não vale nada, mas eu gosto de você! ●● Essa música é a mais per-
feita fórmula para o Brasil. É preciso descobrir o porquê do nosso amor por um tipo de poder que faculta a hipocrisia e a roubalheira. ● PÁG. D12
Celso Ming
Bombeiro Bernanke
Marginal ganha 3,2 km de pista nova até outubro
Anúncio de alimento terá alerta igual ao de remédio
O governo paulista vai entregar até 30 de outubro os primeiros trechos – de 3,2 quilômetros – da nova pista da Marginal do Tietê. A previsão inicial era de que a obra, num total de 23 quilômetros, estaria pronta em março de 2010, mas o cronograma foi alterado e as inaugurações serão por etapas. Segundo a Dersa, condições técnicas adiantaram a obra. ● PÁG. C1
A Anvisa publicará até o fim do ano novas regras para a propaganda de produtos com altos níveis de açúcar, sale gorduras. Apublicidade deverá conter advertência, como já ocorre com os remédios. Os itens voltados para criançasterãorestriçõesainda maiores, a despeito da autorregulamentaçãoanunciada por fabricantes desses produtos. ● PÁG. A21
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
SANTA CASA: MEDICINA E ARTE
NOTAS E INFORMAÇÕES
Tempo: CAPITAL
22º
Rebelião na Receita A interferência sistemática do governo na Receita acaba de produzir uma crise sem prece-
●●●
MÁX.
dentes nesse órgão cujas eficiência e integridade dependem da autonomia. ● PÁG. A3
Não há ainda certeza de que esta crise tenha sido vencida. Mesmo depois de apagado o fogo, outros focos podem voltar. Não convém trocar o chefe dos bombeiros. ● PÁG. B2 ●●●
ENCONTRO PROTOCOLAR – Lula cumprimenta Mercadante durante evento em São Bernardo. ● PÁG. A9
peças do Museu da Santa Casa, em São Paulo: instrumentos mé-
O governo e as centrais sindicais fecharam acordo que prevê reajuste real para os aposentados e pensionistas que ganhamacima de umsaláriomínimo. Ficou pactuado que serão concedidos aumentos equivalentes à inflação do período mais 50% da expansão do PIB dedois anos antes(em 2010,por exemplo, o cálculo será feito com base no PIB de 2008). Isso significa um reajuste, no ano que vem, de 6,5%, aí incluídos 2,6% de aumento real. ● PÁG. B7
ANÁLISE
Tucanose democratasdecidiram deixar o Conselho de ÉticadoSenado.OpetistaEduardo Suplicy pediu, com um cartão vermelho na mão, a saída de José Sarney. ● PÁG. A8
dicos e arte sacra revelam a história de uma das mais antigas casas de saúde do Brasil. ● PÁG. C10
Aposentados terão 6,5% de reajuste em 2010
Os EUA elevaram a previsão de déficit do orçamento de US$ 7,1 trilhões para US$ 9 trilhões ao longo dos próximos dez anos. Segundo o governo, a crise é mais profunda do que se projetava e a arrecadação de impostos será menor, inflando o déficit. A economia americana deve encolher 2,8% neste ano. Ontem, o presidente Barack Obama nomeou Ben Bernanke para mais 4 anos no Fed. ● PÁGS. B1 e B3
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 26 DIAS
●●● Livro reúne acervo de 7 mil
DIRETOR:
RUY MESQUITA
EUA elevam previsão de déficit para US$ 9 trilhões
Receita exonera mais seis e amplia expurgo OsecretáriodaReceita,Otacílio Cartaxo, avançou na tarefa de substituir os funcionários ligados à administração de sua antecessora, Lina Vieira. O expurgo continuou ontem
(1891-1927)
26 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42316
PMDB cobra ainda mais do governo e paralisa Câmara O PMDB aumentou ainda mais a pressão sobre o governo, depois de ter exigido o voto doPT paralivrarosenadorJosé Sarney e de cobrar o apoio a candidatos peemedebistas nos Estados para sustentar a candidaturadeDilma RousseffàPresidência.Opartidoagora lidera o movimento para que a equipe econômica acelere a liberação dos R$ 6 bilhões previstos no Orçamento para emendas dos parlamentares. O PMDB conduziu ontem a
JULIO MESQUITA
● PÁG. C2
13º
MÍN.
Muitas nuvens sobre a capital, com chuva fraca no início do dia.
CADERNO 2 Mercosul faz prévia de bienal
●● A 7ª Bienal do Mercosul
começa no próximo dia 15, em Porto Alegre, com uma prévia da grande mostra marcada para outubro. Entre os destaques, o trabalho de Juan Downey (foto).●
Drogas
Justiça argentina libera maconha ●● A Corte Suprema do país decidiu que consumo pessoal não é crime. ● PÁG. C4
Religião
Católicos criticam acordo com Vaticano ●● Em pesquisa, 75% no País discordam do acordo bilateral com a Santa Sé. ● PÁG. A22
agrícola Hoje: 76 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● G. Agrícola: 12 Classificados: 135 anúncios
Novas variedades Lei de Proteção de Cultivares fez crescer os investimentos em pesquisa. ●
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QUARTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Mudanças climáticas e aridez política
Crise política e reforma
MarcoMaciel
LourdesSola
Após o fracasso do encontro entre os chefes de governo do G-8 e os dos países emergentes, em Áquila, na Itália, o mundo tem menos tempo para construir um novo acordo para suceder ao Protocolo de Kyoto. A preocupação quanto ao futuro do planeta no que diz respeito às mudanças climáticas está colocada com clareza solar; vem sendo discutida há vários anos em escala global por líderes e eminentes personalidades de diferentes organismos internacionais. Mas, do ponto de vista da ação política, pouco ou nada se fez de efetivo, de concreto. Já se passaram 17 anos desde a Convenção sobre a Mudança do Clima realizada no Rio de Janeiro, à época, o maior evento internacional voltado para questões ambientais. E estamos vendo transcorrer 12 anos desde o Protocolo de Kyoto. O que mudou desde então? Muito pouco. Na verdade, há razões para acreditar que as coisas pioraram, infelizmente. Nos países industrializados,
Pouco ou nada se fez de efetivo desde o Protocolo de Kyoto, infelizmente o nível de emissões de gases de efeito estufa continua aumentando e os Estados Unidos, por exemplo, retiraram-se do protocolo durante o governo George W. Bush. Os países emergentes, que incluem grandes emissores, como a China, a Índia e o próprio Brasil – devemos confessá-lo –, não precisam cumprir metas de redução obrigatórias e, como seria de esperar, tampouco reduziram suas emissões. No Brasil, aliás, muitas vezes, temos a impressão de que estamos caminhando na direção contrária ao que foi acordado em Kyoto, no Rio e em tantas outras cidades que sediaram acordos e tratados sobre o tema. Em dezembro se realizará a desejada reunião de Copenhagen, na qual se discutirá um acordo que substituirá o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. Muito se espera dessa reunião. Com grande expectativa aguardamos, por exemplo, as propostas que serão apresentadas pelo governo dos Estados Unidos da América. Tão importante, porém, quanto o posicionamento norte-americano será a posição dos principais países emergentes. China, Índia e Brasil estão entre os maiores emissores do planeta e devem ser instados a assumir metas obrigatórias de redução de emissões, o que não ocorreu em Kyoto. No recente encontro em
Áquila, que muitos considera- controlaram os gastos. Isso ram um importante precursor resultou em fatores positivos do que deve acontecer em Co- para que o Plano Real contipenhagen, não se chegou a um nuasse sua marcha vitoriosa. O mesmo aconteceu nos acordo a respeito das reduções. Os países desenvolvidos processos de racionamento propuseram a redução de 50% de energia, em função da irredas emissões até 2050, em rela- gularidade pluviométrica ção aos níveis de 1990. Os paí- que enfrentamos entre os ses emergentes argumenta- anos de 2001 e 2002. A popuram mais de uma vez que uma lação foi fundamental para o redução desse nível é inviável sucesso das medidas de rapara nações que ainda não cionalização do uso da enercompletaram a sua industriali- gia e, por fim, retirou-nos da zação e convivem com a misé- crise. Creio que, diante de mais ria, a fome e outras mazelas sociais. Propuseram a redução um desafio, o povo brasileiro de 40% até 2020, mas só para não se recusará às exigênos países ricos. No fim das con- cias da nova dinâmica muntas, o único e extremamente dial, apesar de estarmos favago compromisso que resul- lando de alterações profuntou do acordo foi o estabeleci- das na vida do nosso país. mento de um limite de dois A redução dos níveis de graus Celsius ao aumento do consumo e desperdício, a reuaquecimento global. tilização de produtos como Crescimento econômico, pu- embalagens de vidro e casra e simplesmente, não é garan- cos de bebidas, a reciclagem tia de desenvolvimento. Hoje de materiais, papéis e plástiem dia está muitíssimo claro cos, a partir da coleta seletique o desenvolvimento envol- va do lixo, são apenas alguve, no mínimo, três dimensões: mas das medidas que cada o crescimento econômico, a jus- um pode, individualmente, totiça social e a sustentabilidade mar para contribuir para o ambiental. Sem uma das per- quadro mais amplo do comnas desse tripé não há que fa- bate às mudanças climáticas. lar em desenvolvimento. É preCerta feita, o então presiciso, portanto, que o governo dente Fernando Henrique se convença, de uma vez por to- Cardoso disse: “Não haverá das, de que a esfera ambiental desenvolvimento algum no e a esfera social são indissociá- futuro se continuarmos a veis de qualquer discussão so- agir predatoriamente.” E ele bre o País, seja ela de ordem não se referia apenas ao Braeconômica ou política. O cresci- sil, mas a todas as nações do mento a qualquer preço – a His- planeta. As alterações climátória comprova – é uma bomba- ticas nos ameaçam. Não desrelógio que explode, em geral, cuidemos, portanto, de todas no colo da parcela menos favo- as dimensões dessa que é a recida da população. grande questão deste início Falta também conscientiza- do século 21. ● ção – não apenas da população em geral, mas também dos Marco Maciel, senador, agentes públicos – a respeito é membro da Academia da profunda relação entre bio- Brasileira de Letras diversidade e crescimento econômico. Os defensores do crescimento econômico a qualquer preço devem ser os primeiros a entender que destruir o ambiente tem custos, e custos altíssimos. Segundo documento oficial resultante da Convenção de Biodiversidade Biológica, realizada no ano passado na Alemanha, a perda da biodiversidade custaria de 6% a 7% do produto mundial ao ano, até 2050. Quanto mais pobre o país, maior o impacto negativo dessa lógica. Ter consciência é, portanto, fundamental para começar a resolver o problema. Foi assim em janeiro de 1999, quando a maxidesvalorização do real pôs em risco o futuro da nossa moeda. A po- A voz do dono pulação e o governo
A saída de Lina Maria Vieira da Secretaria da Receita Federal produziu mais reação do governo, que exonerou dois servidores leais a ela. Nem bem a guilhotina baixa, seis superintendentes e cinco coordenadores de área põem seus cargos à disposição, por não concordar com a “nova direção” – Lina vinha focando os “grandes contribuintes”, em vez de “velhinhos e aposentados”. Grandes contribuintes são também grandes financiadores de campanha eleitoral, portanto, fácil estabelecer a relação causa-efeito. Quanto à possível construção de um monopólio na área petroquímica, com a compra da Quattor pelo governo (dono da Braskem), mais um gigante se forma, palco futuro de novas in-
Diante de mais uma conjuntura de incerteza, um espectro volta a nos rondar: revisão constitucional. Pode tomar várias formas, uma reforma tópica, parcial ou total, e responder a circunstâncias diversas. O universo de propositores varia e inclui parlamentares, juristas, OAB. É essa fluidez que torna difícil ao analista político decifrar sua razão de ser – diferentemente de Hamlet, que desde a primeira aparição soube a que vinha o espectro de seu pai. Com a crise no Senado, o espectro volta a assombrar, sob nova roupagem: com propostas de um Congresso unicameral, na prática, a eliminação do Senado. Não chegam a pautar a agenda pública, mas obrigam a refletir sobre nossos impulsos revisionistas. Por duas razões. Uma é a singularidade da conjuntura atual, que evidencia de forma dramática as falhas do nosso sistema de representação. Combinaram-se as evidências de um Senado de costas para a opinião pública e a dominância, agora escancarada, do Executivo sobre o Legislativo. Sob esse prisma, sobram perguntas. Como remediar o grave déficit no sistema de contrapesos, indispensável para moderar o poder avassalador do Executivo – e da desenvoltura do presiden-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Rebeliãona Receita
“A democracia é duas coisas: uma maquinaria, ou seja, uma estrutura constitucional, e um universo de maquinistas que põe a máquina a funcionar... Minha visão é de que a democracia é ainda uma maquinaria decente que está amplamente transtornada e maltratada por seus atuais operadores” Sartori
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vestidas dos nossos insaciáveis donos do poder, que administram a coisa pública como sua. E agora sem uma política de fiscalização que incomodava. A conferir.
virginia@fmb.unesp.br
ALCEU R. CRUZ JR.
Nosso ministro tem uma filosofia muito pessoal, é quase um lema. Quem trabalha muito erra muito, quem trabalha pouco erra pouco, quem não trabalha não erra, quem não erra é promovido.
arcruzjr@terra.com.br
Campinas
Parabéns à sra. Lina, mulher de palavra, corajosa e que enfrenta todos de cabeça erguida, pois nada teme. Pessoas assim têm consigo colegas de trabalho que pactuam com seus atos e ideias. Parabéns aos colegas de trabalho da sra. Lina que não pactuam com a sujeira que Lulla (e sua tropa) está espalhando pelo Brasil. Com o gesto dessas pessoas (pedido de demissão de seus cargos), acende-se alguma luz no fim do túnel! ●
MARIA VIRGINIA M. F. F. ALVES
São Paulo
FilosofiadeMantega
JOÃO HENRIQUE RIEDER rieder@uol.com.br
São Paulo
Dilmasaidecena O presidente Lula quis que a ministra Dilma “saísse de cena” por uns dias... Então, eles confirmam o ditado “quem cala consente”? SERGIO FREIRE
São Paulo
PECdo Calote Com relação ao pedido do leitor sr. G. Meirelles Freire (Precatórios, 25/8) acho muito difícil isso acontecer. Talvez com o pré-sal, e se sobrar dinheiro! Agora, se for aprovada a PEC 12/06 no Senado ou a PEC 351/09 na Câmara dos Deputados, que muda a forma de pagamento dos precatórios, esqueça, só daqui a 200 anos! Para aqueles que quiserem protestar contra mais esta mazela é só entrar no Manifesto contra a PEC do Calote e assinar em www. abaixosassinado.com.br. JÚLIO FRANCO giuliofranco@gmail.com
São Paulo
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
te, fundada em altos índices de popularidade? Como superar o autismo de um Senado indiferente ao eleitorado, de cujos votos, em princípio, depende? O tema da reforma política deve ressurgir. Mas qual? Ou quais? Há outra razão para refletir sobre essas questões. Quando analisados em perspectiva regional, nossos impulsos revisionistas são uma versão soft do tipo de constitucionalismo vigente na América Latina. Num registro mais otimista, portanto, cabe perguntar: por que o Brasil sai bem na foto (embora o Chile saia melhor)? Convém saber quais são os anticorpos que nos protegem para estimulá-los e contra-arrestar os ataques oportunistas. Descarto a hipótese de que nossa imunidade dependa de uma postura governamental coerente. A ambiguidade da nossa política externa reflete a de seus artífices em relação à questão democrática. A tarefa preliminar é identificar o animal novo que se tornou parte da paisagem regional e que caracterizo como “constitucionalismo iliberal”. Sim, sei bem que soa como uma contradição nos termos – e é mesmo. Pois, do ângulo da teoria democrática e na experiência das democracias consolidadas, as Constituições se ancoram em dois pressupostos: devem capacitar o governo a governar e, portanto, a controlar os governados; mas o poder de governar é outorgado com base na premissa de que só é democrático o governo que “se controla a si mesmo”. O sistema de contrapesos integrado pelos Poderes Legislativo e Judiciário é a característica definidora do constitucionalismo. Bem... mais lá do que cá. O constitucionalismo iliberal é antes de tudo um híbrido. Seu ponto de partida é que o acesso ao poder se faz por meio de eleições – um critério de legitimação política de cepa liberal. A partir daí LOREDANO o modelo original sofre uma decantação. Destaco apenas três filtros: 1) O suposto de que uma Constituição é uma caixa de ferramentas que deve garantir antes de tudo a capacidade de governar – a governabilidade –, daí a prevalência do Executivo em detrimento dos contrapesos que o limitam. 2) A maquinaria pode ser atualizada e “modernizada” por seus operadores, quando portadores de “fins superiores”. A operação mágica, aqui, consiste em pressupor que toda uma sociedade quer marchar para o mesmo fim. Isso permite eliminar do modelo original uma âncora fundamental, pois nele
FAX:
(11) 3856 2920
26dias decensura Justiça que proíbe jornal de publicar matéria de interesse popular tem outro nome: ditadura. Sr. Dácio Vieira, aqui não é a Venezuela e Sarney não é Hugo Chávez. PETER CAZALE pcazale@uol.com.br
São Paulo ● Venho por meio desta expressar o meu apoio ao jornal por sua batalha pela verdade e justiça, com a clara preocupação em levar aos seus leitores a informação exata e imparcial sobre os fatos que ocorrem em nosso país e no mundo. Isso me deixa a certeza de que fiz a escolha certa ao ser assinante do Estado e me faz sentir orgulho de ser brasileiro. Um grande abraço! WILIAM EIJI NAMIE
as Constituições só definem como as normas devem ser criadas para atingir determinados fins. 3) As preferências majoritárias da população, medidas em votos ou em popularidade, são idealizadas e erigidas à categoria de “vontade do povo soberano”. Chama a atenção a cilada autoritária inscrita nessa concepção de democracia, cuja lógica conduz seus operadores a congelar a vida política pela incessante escritura de Constituições. Por um lado, as preferências do eleitorado e da opinião pública variam, pois dependem das condições de concorrência eleitoral. Onde ela existe, a vontade concreta do “povo soberano” é volátil e pode estar dividida. Por outro, tanto a “capacidade de governar” quanto a definição de “fins superiores” encontram outro limite incômodo: a participação política. Quando livre, ela expõe a diversidade dos fins que existem e se contrapõem em toda sociedade complexa. Assim, para continuar erigindo um eleitorado concreto em “vontade do povo soberano” os operadores terão de domesti-
Volta a assombrar, em nova forma, o espectro da revisão constitucional car os dois motores básicos da democracia: concorrência eleitoral e participação política. A solução é a constitucionalização da vida política (outra contradição nos termos). Seu complemento natural é a desqualificação do terceiro elemento perturbador, a liberdade de imprensa, pois só ela pode atenuar um problema inerente à democracia de massa: quanto o eleitorado e a opinião pública sabem dos assuntos de interesse público? Quais são os anticorpos? A concorrência eleitoral é irreversível. O sistema de Justiça atua como um contrapeso. A imprensa é competitiva em nível nacional (mas não local). O setor privado dinâmico, diversificado, é um estabilizador, pois é avesso aos excessos de experimentação política. Os riscos? Um Executivo avassalador, a desqualificação da imprensa e o ativismo do presidente, que maximiza os déficits no sistema de representação. Outro risco, dramático: a domesticação de um dos motores da democracia, a participação política, pela incorporação dos interesses organizados e dos movimentos sociais às estruturas do Estado. ● Lourdes Sola, professora da USP, ex-presidente da Associação Internacional de Ciência Política, é diretora do Global Development Network, da International Institute for Democracy e do Conselho Internacional de Ciências Sociais
E-MAIL:
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São Paulo ● O brasileiro não tem ideia da gravidade da censura. O brasileiro não tem ideia da importância da oposição. O brasileiro gosta de liberdade, mas não faz nada para protegê-la! Só vai acordar no momento em que perdê-la... L. A. GENARO lagenaro@terra.com.br
São Paulo ● Como leitor e assinante do Estadão, fico indignado com a censura imposta e com as notícias de Brasília. A conclusão é uma só: definitivamente, Lula vendeu a alma ao diabo! DOMINGOS HENRIQUE RAMOS DE SOUZA dhrds@uol.com.br
Campo Grande
A8 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 26 DIAS
Oposição abandona Conselho de Ética
ED FERREIRA/AE
BRASÍLIA
PSDB e DEM querem mudanças e projeto deve ser levado à CCJ Eugênia Lopes Christiane Samarco BRASÍLIA
Umasemana depoisdoarquivamentode11açõescontraopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),e umarepresentação contra o líder dos tucanos, senador Arthur Virgílio (AM), senadores do PSDB e do DEM decidiramontemsairdo Conselho de Ética, renunciando às vagas, e propor uma reformulação do colegiado. A oposição propõe alteração na composição do conselho, comaindicaçãodeumintegrante de cada partido. Mesmo com a saída da oposição, o conselho poderá continuar a funcionar porque os governistas têm maioria no colegiado: dez das 15 cadeiras. À exceção do presidente Sarney, ninguém defende sua extinção. “Não adianta fazer parte de um conselho no qual você tem uma maioria contra uma minoria”, disse o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Hoje, ele pretende reunir todos os projetos que tratam da reformulação do conselho, fazer uma única proposta, e começar a discuti-la na semana que vem na CCJ. “A proposta é acabar com a correlação de forças que opõe governo e oposição. O conselho não pode ser caracterizado como um terreno loteado entre os partidos”, afirmou o presidente nacionaldoPSDB, senadorSérgio Guerra (PE). Nove senadores, entre titulares e suplentes, abriram mão de suas vagas no colegiado. Além dostucanos Sérgio Guerra,MarisaSerrano (MS)e Arthur Virgílio, renunciaram Heráclito Fortes (PI), Eliseu Resende (MG), Demóstenes Torres, Antonio Carlos Magalhães Júnior
Senadores vão contestar no STF arquivamento Um grupo suprapartidário de senadores apresentará mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando o arquivamento das ações contra José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética. Eles contestarão a decisão em que a segunda vicepresidente do Senado, Serys Slhessarenko (PT-MT), negou tramitação em plenário ao recurso contra o arquivamento. O texto está sendo preparado pelo PSOL. ● CAROL PIRES
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(BA), Maria do Carmo Alves (SE) e Rosalba Ciarlini (RN), todos do DEM. Autor de um dos projetos que mexem na composição doconselho queserá analisado pela CCJ, o senador Tião Viana (PT-AC) é favorável à “despartidarização” do colegiado. “O ideal é que o conselhotenhaumsórepresentante de cada legenda para que esse colegiado possa agir com consciência ética e não pormotivaçãopolítico-partidária”, defendeu o petista. A mudança não deve ter apoio dos maiores partidos, que têm direito a indicar mais representantes. Já viu alguém abrir mão de poder? É golpe na maioria tentar compor o conselho só com líderesde cada partido”,argumentouosenador EdisonLobão Filho (PMDB-MA). “Mais uma vez é a minoria com complexo de maioria”, ironizou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), um dos integrantes da tropa de choque de Sarney. ●
Líderes boicotam reunião com senador
DAY AFTER – Um dia após ter criticado Sarney na tribuna da Casa, Suplicy deu a ele um cartão vermelho
Suplicy mostra cartão a Sarney Gesto teatral reacendeu clima de guerra no Senado BRASÍLIA
Exatossete diasdepoisdeopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ter sido absolvido no Conselho de Ética, o senador EduardoSuplicy(PT-SP)subiu à tribuna ontem para pedir sua renúnciae,emumgestocalculado, empunhou um “cartão vermelho”,deixando claro seu veto à presença do peemedebista no comandodaCasa.Foiosuficiente para reinstalar o clima de guerra que predominou no plenário do Senado, desde o início de agosto até o julgamento de Sarney. Só havia um representante da chamada tropa de choque do PMDB no plenário vazio – o senador Almeida Lima (SE), que logo saiu em defesa de Sarney. Mas o embate atingiu tempera-
tura elevada, a ponto de Suplicy perder o controle e se irritar na tribuna, com a intervenção do primeiro-secretáriodaMesaDiretora, senador Heráclito Fortes (DEM-PI). “V.Exa devia apontar o cartão vermelho para o Lula, que foi quem atravessou o campo, invadiu as dependências do Senado e deu cartão amarelo para olíder Aloizio Mercadante”,devolveu Heráclito, que momentosantes tambémreceberacartão vermelho. Antes de pedir aos garçons do plenário que servissem um sucodemaracujáaopetista,Heráclito disse que Suplicy não tinha autoridade para assumir o papel de juiz, até porque “estava no banco, como suplente no conselho”, e o acusou de ir à CPI dasONGs,que elepresidia,“pa-
ra destruir a apuração”. A despeito dos ataques do DEM e de Almeida Lima, que o criticaram por não acatar o resultado “legítimo e legal” do conselho, Suplicy não ficou sozinho. Teve o apoio do líder do PSOL, José Nery (PA), e do senador Cristovam Buarque (PDT-DF). O pedetistasaudouo“gesto genial” de Suplicy de empunhar o cartão vermelho e observou que há tempos procurava uma forma de sensibilizar a sociedade para a questão do Senado. Suplicyenumerousete denúncias contra Sarney que, a seu ver, ficaram sem resposta, como a contratações de parentes e os negócios da Fundação Sarney, revelados pelo Estado. ● C.S. e E.L.
Ao se livrar de 11 representações no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o senador José Sarney (PMDB-AP) mostrou que a cadeira de presidente doCongresso é sua, por direito, mas nem por isso passou a presidir o Senado de fato e por inteiro. Prova disso foi o boicotedo PT e dospartidos de oposição à reunião de líderes com o presidente da Casa, ontem, a primeira depois do arquivamento das ações contra ele. O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), alegou que estava em São Paulo com o presidente Lula. Além de faltar ao encontro, não se deu ao trabalho de encarregar seu primeiro vicelíder, senador Eduardo Suplicy (SP), de representar a bancada em seu nome. PSDB e o DEM, cujos líderes estavam em Brasília, faltaram à reunião com um propósito: deixar claro que não existe no Senado o ambiente de normalidade que Sarney tentara imprimir na véspera, ao subir à tribuna com uma postura mais de acadêmico do que de político, parahomenagearoescritor Euclides da Cunha. Em conversas reservadas, o senador Lobão Filho (PMDBMA) foi um dos que observaram que a pacificação do Senado não está consolidada. Por isso mesmo, avaliou que o melhor para Sarney é retornar “aos poucos” à rotina parlamentar. “Ele deveria ter esperado um pouco mais para discursar”, ponderou. “Sarney quer dar a impressão de que as coisas foram normalizadas, mas não foram”, ponderou o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), ao defender a tese de que a oposição precisava “dar seu recado” a Sarney e à opinião pública. “A crise não está no Senado; é o Senado”, emendou, ponderando que a saída é uma reforma profunda da instituição, o que não ocorrerá sob o atual comando. Para o líder do DEM, senador José Agripino (RN), a ausência da oposição é um gesto que demonstra desconforto com tudo o que está ocorrendo na Casa. “Por enquanto, não há ambiente para se votar nada que seja substancial ou polêmico”, concorda o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). ● C.S. e E.L.
Artigo
A ética da liberdade e a ética da democracia Rudá
Ricci*
U
ma das máximas do bom jornalismo é nunca brigar com um fato. É possível investigar suas várias facetas, as várias verdades que explicam um fenômeno social,masnunca selançarcontra ofato. Masoque pensar quando a Justiça impede esse exercício básico? Temos, neste momento, um conflito entre duas lógicas que teoricamente são pilares da democracia. A decisão do desembargador Dácio Vieira, proibindo a publicação de diálogos telefônicos envolven-
do o filho de José Sarney, cria, assim,umimportante“case”sobre ética democrática e limites das instituições. O que Sartre, um dia, denominou de conflito entre liberdade e ética da liberdade. Por este motivo, é importante decompor os elementos que envolvem este caso. O primeiro aspecto a observar é a diferença entre intimidade e vida privada no caso de temasdealtointeressepúblico.Este é o mote da decisão do desembargador. A esfera íntima se relaciona com os sentimentos de identidade próprios, autoestima e sexualidade. Trata-se de uma esfera efetivamente confidencial. Mas a esfera privada é mais ampla. Está relacionada às relações do indivíduo com o meiosocial,mesmoquenãohaja interesse na sua divulgação. Na
sociologia, diríamos – cito Émile Durkheim,nestecaso –queuma instituição é guardiã da moral coletiva, ou seja, dos valores e crenças que foram construídos historicamente e que cimentam asrelaçõessociaisdasociedade. Assim, uma conversa privada que implique a quebra dos valores morais, que sustentam as instituições democráticas de um país, deve ser questionada publicamente, porque põe em risco a unidade dos cidadãos e a legitimidade–acrençadoscidadãos – nas regras públicas. Este seria o caso-limite da troca de correspondência entre dois maníacos que tramam um genocídio. O que caberia à imprensa se soubesse deste fato? Teria de apurarcomrigor,procurarestabelecer vários ângulos de interpretação,darpublicidadeàsver-
sões em tela. Mas não publicar seria,aomesmotempo,umsuicídio profissional e um desserviço à democracia. Umsegundoaspectoa considerar é o direito do cidadão em ter acesso às informações que se relacionam ao uso do dinheiro público e sua movimentação por seus representantes políticos. Não podemos esquecer que o cidadão possui a titularidade do poder dos eleitos. Em última instância, os funcionários públicos (incluindo os eleitos) são seus funcionários. Esta é a tese que está nos clássicos da modernidade, de Locke a Rousseau. Apenas para citar os clássicos. A conversa telefônica em questão não tratava de temas da intimidade do filho de um senador. Tratava de acesso privilegiado a órgãos e recur-
sos públicos. Portanto, tratava deinteressedocidadão. Sea democraciatemcomoprotagonista o cidadão, então este “case” define o futuro de nossas instituições e sustentabilidade de nossa democracia. Um último aspecto (dentre vários que poderiam ser listados) é a superação da estrutura elitistade nossos poderespúblicos. Tema que se relaciona com o anterior. Simon Schwartzman detalhou o que seria esse traço neopatrimonialista tupiniquim: a existência de uma racionalidade de tipo técnica onde o papel do contrato social e da legalidade jurídica seja mínimoouinexistente.OSenado,enfim, como presenciamos diariamente, não se funda num contrato com a sociedade. Caso contrário, para que atos secre-
tos? Por que no Senado existe talsubversão?Porqueéacâmara legislativa mais elitista e apartada da sociedade brasileira. Por aí, a censura ao jornal Estado de S. Paulo reforça a lógica neopatrimonialista que, pordefinição,atuaprivadamente, nos bastidores da política, a partir das relações de fidelidade. O neopatrimonialismo desprezao queé público. E procura encobrir, assim, o fato. De tal maneira que por aí o jornalismo teria de brigar com os fatos. Pior: teria de ficar de costas para os fatos. E morreria como profissão e instituição democrática. E, com sua morte, morreriaumpoucomaisanossa peculiar e frágil democracia. ●
*Rudá Ricci doutor em Ciências Sociais
● Edição de
1h15
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Planalto recua e aceita discutir rateio de royalties, como queriam governadores res Sérgio Cabral (RJ) e Paulo Hartung (ES), ambos do PMDB, exigiram que os Estados produtores fiquem com 40% do dinheiro arrecadado, e o restante seria distribuído aos demais Estados. No ano passado, os Estados e municípios produtores receberam
R$ 12,8 bilhões em royalties. O presidente Lula queria adiar a discussãosobreessaparticipação, por ser politicamente explosiva, mas a possibilidade de desagradar ao PMDB, partido que o Planalto corteja como aliado para a eleição de 2010, o fez recuar. ● PÁGS. B1 e B3
Após rebelião, R$ 4 bi prometidos ●● Funcionouarebeliãoliderada pelo PMDB para forçar a liberação de recursos para
emendas de deputados. O governoprometeuquatroparcelas de R$ 1 bilhão. ● PÁG. A7
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 27 DIAS q PÁG. A6
ESPORTES
Ipea defende Lina contra Mantega
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Brasil é o país com mais mortes pela gripe Com557casosatéontem,oBrasil registra o maior número absoluto de mortes causadas pela gripe suína no mundo, à frente de EUA (522) e Argentina (439). Em termos de mortalidade (0,29 por 100 mil habitantes), o Brasil é sétimo. Em 2010, a campanha de vacinação contra gripe comum, para idosos, poderá ser suspensa. A decisão dependerádaexperiênciadevacina contra gripe suína no Hemisfério Norte. ● PÁG. A24
Anatel libera Telefônica para vender pacotes do Speedy
Estudo atribui arrecadação menor à redução da atividade econômica e às desonerações A ex-secretária da Receita Lina Vieira ganhou um aliado dentro do governo. O Ipea divulgou estudo mostrando que a queda da arrecadação de tributos se deve à deterioração da economia e às desonerações. Lina foi demitida sob a alegação de que o recolhimen-
(1891-1927)
27 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42317
Pressão do PMDB faz Lula ceder a Estados no pré-sal Por pressão dos governadores dos Estados produtores de petróleo e das lideranças do PMDB, o governosinalizou ontem que a regulamentação do pré-sal, a ser enviada na próxima segunda ao Congresso, vai propor uma regra para rateio dos royalties. Os governado-
JULIO MESQUITA
Após dois meses de proibição, a TelefônicafoiliberadapelaAnatel para comercializar pacotes do serviço de banda larga Speedy. A suspensão das vendas foi punição pelas sucessivas panes quedeixarammilhões deconsumidores sem acesso à internet. Se forem identificados problemas,as vendaspoderão sersuspensas novamente. ● PÁG. B22
to estava caindo por causa da piora na fiscalização. O ministro Guido Mantega chamou de “balela”notícias de mudança na fiscalização de grandes contribuintes e disse que a rebelião na Receita é ação para “encobrir a ineficiência” da gestão de Lina. ● PÁG. A4
Eleição desafia hegemonia conservadora no Japão Cláudia Trevisan
CLÃ – Ted (dir.) com os irmãos Bob (centro) e John Kennedy
●●● Jorge Henrique, do Corinthians, disputa bola com Márcio Careca, do Barueri, no empate em 2 a 2; na
Vila Belmiro, Santos e Inter empataram em 3 a 3, com 3 gols de Alecsandro e 2 de Kléber Pereira. ● PÁG. E1
Ted, a última estrela dos Kennedys, morre aos 77
E
dward Kennedy, irmão mais novo do presidente John Kennedy, morreu anteontem, aos 77 anos, após longa luta contra um câncer no cérebro.
Ted ficou conhecido como o “leão liberal” do Senado americano, onde ficou por 47 anos e defendeu questões caras à esquerda do Partido Democrata. ● PÁGS. A12 e A16
No fim, generosidade era total irmãos, Ted tratou de comandar o clã, cuidando dos
filhos deles. Fazia a figura do velho sábio e atraiu a estima até dos inimigos. ● PÁG. A16
Polícia flagra máfia do jogo no interior 700 caça-níqueis são apreendidos em SP
Nova safra do pop
GILLES LAPOUGE
●● Uma vez mortos seus dois
CADERNO2
●● Chegam lançamentos das bandas Gossip (foto), Arctic Monkeys e Muse. ●
MISTÉRIO
Umaoperaçãopolicialquemobilizou370agentesdesmantelou uma máfia que atuava com jogo no interior de São Paulo. Pelo menos dez policiais civis emilitaresestãosendoinvestigados por suposta participação no esquema. Foram pre-
sas seis pessoase apreendidas mais de 700 máquinas de videobingo e caça-níqueis em Sorocaba, Votorantim, Salto, Itapetininga, Tatuí, Mairinque, São Roque e Itu. A operação localizou seis grandes casas de jogos. ● PÁGS. C1 e C3
NOTAS E INFORMAÇÕES
NOVO
Cartão vermelho O golpe de cena de Suplicy foi apenas a expressão mais vistosa da persistência de uma crise que os parceiros de José Sarney supunham superada. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
25º
MÁX.
● PÁG. C2
12º
MÍN.
Sol aparece entre nuvens e a temperatura sobe.
Hoje: 134 páginas A. 1º caderno: 26 ● B. Economia: 24 ● Economia-2: 18 ● C. Metrópole: 12● D. Caderno2: 16 ● E. Esportes: 4 ● P. Paladar: 10 ● Cl. Classificados: 24 (2.269 anúncios) 7 8 9 10 11 12
Os japoneses se preparam para acabar com cinco décadas quase ininterruptas de governo do conservador Partido Liberal Democrático. Todas as pesquisas indicam vitória do opositor Partido Democrático do Japão na eleição de domingo. ● PÁG. A19
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●● Sobrinho diz que o cantor, cujo paradeiro é alvo de especulação, está no Ceará. ● PÁG. D5
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Educação
Escola quer pagar menos imposto ●● Particulares pleiteiam a desoneração da folha de funcionários. ● PÁG. A20
São Paulo
Protesto deixa 3 ônibus queimados ●● Manifestação ocorreu após morte de jovem em tiroteio com PM. ● PÁG. C9
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A6 NACIONAL
QUINTA-FEIRA, 27 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 27 DIAS
Liminar em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados de operação da PF sobre negócios do empresário
‘O meu cartão é branco, o da paz’, diz Sarney
ED FERREIRA/AE
Um dia após protesto de Suplicy, presidente do Senado tenta dar clima de normalidade à Casa Eugênia Lopes Christiane Samarco BRASÍLIA
“O meu cartão é o cartão branco, o cartão da paz.” Com esta frase e nocomando de uma pauta burocrática, o presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), tentou imprimir ontem um clima de normalidade à sessão ordinária da Casa e pôr fim à crise que há mais de dois meses toma conta dos discursos dos senadores em plenário. No dia seguinte ao gesto teatral do senador Eduardo Suplicy (PTSP), que empunhou um cartão vermelhonatribunaparadefender a renúncia de Sarney, as votaçõesserestringiramàaprovação de nomeações de autoridades. Presidente nacional do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE) deixou claro que a oposição está disposta a dar uma trégua a Sarney. Na sessão deliberativa de ontem à tarde, o tucano cobrou do presidente do Senado declarações feitas na semana passada, ocasião em que culpou a oposição, em particular o PSDB, pela crise na Casa. “O PSDB jamais conspirou contra omandato devossa excelência. Considero injusta e equivocada a afirmação de que o PSDB está na origem dessa crise”, reclamou Guerra. “O PSDB não teve nenhuma responsabilidade na origem dessa crise. Se naquela hora fui induzido pelo repórter a dizer isso, eu peço desculpas”, respondeu Sarney, encerrando a polêmica. Desde que foi absolvido pelo
ConselhodeÉtica eDecoro Parlamentar, que arquivou 11 ações contra ele há oito dias, Sarney pôde respirar tranquilo ontem pela primeira vez ao presidir uma sessão, sem ouvir pedidos para que se afaste do cargo. Durante a sessão foram votadas as indicações de dois embaixadores, um diretor da Agência Nacional de Águas e de um integrante do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Votar uma pauta burocrática não é sinal de que tudo voltou ao normal”, afirmou o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). Ex-presidente do Senado, Garibaldidisse quea Casa só voltará à normalidade quando forem
Pela primeira vez, senador comandou sessão tranquila e sem protestos votadas matérias polêmicas e complexas. “Mas isso fica difícil de acontecer nesses momentos porque implica em negociações, nas quais o árbitro é o presidente da Casa”, observou. “Acho que temos de nos concentrar no trabalho. O espetáculo deve cessar. Tivemos muitas manifestações heterodoxas de todos os lados. Está na hora de acabar o recreio e começar o trabalho sério”, afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR). Segundo ele, Sarney deverá ler, na próxima semana, o texto da Medida Provisória
462, que garante o repasse de R$ 1 bilhão para o Fundo de Participação dos Municípios. A MP foi aprovada na Câmara antes do recesso parlamentar, mas até hoje não teve sua tramitação iniciada no Senado. O líder do PSB, senador Antonio Carlos Valadares (SE), subiu ontem à tribuna para criticar os líderes aliados e cobrar sua presença no plenário.“Seascoisasnãoestão andando, a culpa não é da oposição. A oposição está no seupapelaoobstruir asvotações”, disse. “Quem não está aqui é o governo. Apenas eu estou aqui. Sou vice-líder do governo e líder do PSB, mas estou querendo que meus companheiros estejam aqui comigo”, acrescentou Valadares, que cobrou a presença de Ideli Salvatti, líder do governo no Congresso, e de Aloizio Mercadante (SP), líder do PT, além de Jucá. Há dois dias, os senadores de oposição se recusaram a participar de reunião com Sarney para definir a pauta de votações. Prometeram também obstruir as sessões. O líder do DEM, senador JoséAgripinoMaia (RN),argumentou que o partido está “desconfortável” e não quer votar nenhum projeto polêmico. Desde que voltaram do recesso parlamentar, no início de agosto, os senadores votaram apenas nomeações para cargos e ratificação de acordos de cooperação econômica internacional. ●
Para Itamar, Lula interfere mais que militares na Casa Ele cita caso da CPI da Petrobrás e diz que Senado hoje é ‘totalmente manipulado’ pelo presidente WILTON JUNIOR/AE
Felipe Werneck RIO
Depois de reclamar do que chamou de “interferência indevida eviolenta”doExecutivonoCongresso Nacional, o ex-presidente da República Itamar Franco (PPS) afirmou ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “se diz muito democrata, mas foi menos que os militares, porque está interferindo”. “O Senado hoje é totalmente manipulado pelo presidente. Isso,noregimemilitar, nãoassistimos tão forte comose assiste hoje”, afirmou Itamar. Ele citou especificamente a “interferência” na CPI da Petrobrás. “Nem o regime militar me proibiu de ser presidente(decomissões).Eoproblema nuclear era, para o presidenteErnestoGeisel(1974-1979), tão interessante quanto sempre foia Petrobrás. No entanto, ogoverno, àquela época militar, não nos exigiu a relatoria e eu, como senadordaoposição,presidiapolítica nuclear, como presidi a co-
COMPARAÇÕES– Por ‘interferência’, Itamar equipara Lula aos militares
missãoqueexaminouaseleições diretas.” Durante a ditadura militar, o Congresso foi fechado, mandatosparlamentaresforamcassados e direitos políticos de cidadãos,suspensos–citadoporItamar, Geisel decretou o fechamento do Congresso em 1977. “É claro que, naquela época, eles podiam cassar mandatos.
O presidente (Lula) não chegou a esse absurdo. Não sei se ele até 2010 vai cassar.” Itamarressalvouque oLegislativo está “permitindo” que ocorra o queele chama de interferência. “O presidente está atuando violentamente no Legislativo, particularmente no Senado, e o Legislativo, de um modo geral, está permitindo. O
EQUÍVOCO – Sarney conversa com Arthur Virgílio e Sérgio Guerra após pedido de desculpa feito ao PSDB
Performance é alvo de críticas Cartão vermelho a Sarney incomoda até aliados BRASÍLIA
Lá se vão quase 26 anos desde que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) virou atração pela primeira vez no Congresso, ao estrearseu estiloperformático na tribuna da Câmara. A pretexto de questionar um decreto-lei salarial do governo Sarney, o então deputado Suplicy subiu à tribuna levando dois caminhões de brinquedo, um deles carregado de tomates. Desajeitado, atrapalhou-se com a “carga” em meio ao debate com o então ministro Delfim Netto, sobre o efeito sazonal da inflação, e derrubou um dos caminhões, espalhando tomates peloplenário.Naquelaépoca foram só risos. Mas a performance do cartão vermelho para o presidentedoSenado,JoséSarney (PMDB-AP), acabou desagradandocorreligionários, alia-
que a gente começa a escutar nas ruas, ‘fecha o parlamento’, é ruim. Não vão no núcleo central da crise, que é o presidente.” Itamarvoltou a defender a candidatura à Presidência do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), para ele “aúnicaefetivamentecolocada das oposições”. “Enquanto alguns ciscam para lá e para cá, o governador de Minas está ciscando para a frente.” Ele também disse que, com a eventual candidatura da senadora Marina Silva (sem partido-AC),haveráuma“alteraçãopara melhor”do processo eleitoral, que, avaliou, “vai deixar de ser plebiscitário, como o governo deseja”. Sobre uma candidatura sua, desconversou: “Entrei no PPSporqueresolvinãocontinuar em voo solo. Para atuar politicamente, não eleitoralmente. Estava na arquibancada, vendo o jogo de longe. Agorapasseia sentarnobanco de reservas, mas sem chuteiras.” O ex-presidente foi homenageado na Câmara Municipal do Rio, que rememorou atentado ocorrido no dia 27 de agosto de 1980, quando cartas-bomba foram enviadas ao gabinete do vereador Antonio Carlos de Carvalho (MDB),àOrdemdosAdvogados do Brasil (OAB) e ao jornal Tribuna Operária. ●
dos e adversários do senador peemedebista. “O que ele fez agora foi a reedição dos tomates do Delfim com atraso duplo: no tempo e nosensodeoportunidade”,definiu o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), para quem a vontade de Suplicy de “aparecer” é maior do que seu desejo de preservar a instituição. Embora considere que o episódio seja “típico” de Suplicy, o líder confessousurpresacoma atitude dele. A bancada petista também foi surpreendida. Suplicy avisou aos companheiros e ao líder AloizioMercadante (SP)quefaria um discurso pedindo a renúncia de Sarney, mas não contoua ninguém sobreogestoteatral de empunhar um cartão vermelho para o presidente da Casa. Os colegas não gostaram, mas evitaram comentar.
Ao ser informado do episódio pela líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC), o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini(SP),deixouclarasuainsatisfação.Pouco mais de umahoramaistarde,Berzoinirecusouse a estender-lhe a mão, ao ser cumprimentado pelo senador durante a solenidade de lançamento da candidatura de José Eduardo Dutra ao comando partidário. Ontem, Mercadante limitouse a reafirmar a posição da bancada, que defendeu a licença de Sarney, mas não pregou a renúncia. “Suplicy expressou um sentimentodedesconfortodiante da situação do Senado, partilhado por parcela importante da população neste momento. Mas a posição da bancada não mudouaolongodetodoesteprocesso”, disse. ● C.S. e E.L.
Cartacontracensura não foi respondida Associações enviaram documento a Lula e Mendes no dia 10 de agosto Roberto Almeida
A carta conjunta enviada há 16 dias pela Associação Mundial de Jornais (WAN) e pelo Fórum Mundial de Editores (WEF), condenando a censura ao Estado e pedindo “ação” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro Gilmar Mendes,presidentedoSupremoTribunal Federal (STF), não teve resposta oficial até o momento. O documento, datado de 10 de agosto, afirma que a decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, representa um“ato de censura prévia” porque proíbe a divulgação de uma investigação no âmbito da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). WAN e WEF pediram, no documento, que Lula e Mendes tomassem providências para reverter a decisão. “Respeitosamente pedimos a Vossa Excelência que faça tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que esta decisão seja anulada e que seja permitido à imprensa publicar livremente reportagenssobretodososassuntos de interesse público. Contamos com o compromisso do Sr. para que no futuro seu país respeite todos os acordos”, anotam as entidades. “Esperamos ouvir do Sr. assim que possível”, finalizam o texto Gavin O’Reilly, presidente da WAN, e Xavier Vidal-Fol-
ch, presidente do WEF. O Planalto informou que a carta está tramitando. O STF, por sua vez, observou que a carta foi recebida e lida por Mendes, mas, como a decisão final sobre o caso pode chegar até a corte, não haverá resposta oficial às entidades. O ministro já se pronunciou em tese sobre a censura, afirmou que a carta é “legítima”e chegouapedir celeridade ao Judiciário para analisar os recursos apresentados pelo Estado.
Presidente do STF pediu celeridade ao Judiciário para analisar recursos O mais recente, apresentado no último dia 21 e ainda não julgado, pede pela segunda vez a exceçãodesuspeiçãododesembargador. O Estado já anotou que, por conta de seus laços com a família Sarney, Dácio Vieira estaria impedido de atuar com isenção, já que tem relações íntimas com a família Sarney. Ele posou para foto ao lado de José Sarney no casamento de Mayanna Maia, filha do ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia. Emsuasegundainvestida pela exceção de suspeição, o Estadousacomobaseaprópriadecisão de Vieira sobre o primeiro recurso, em que o desembargador teria revelado “radical inimizade” ao jornal. ●
A8 NACIONAL
QUINTA-FEIRA, 27 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
SUCESSÃO
Serra vê Lula ‘mal informado’ sobre obras em S. Paulo
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
Alfinetada foi resposta à crítica feita pelo presidente, que o acusou de esconder investimentos do PAC Silvia Amorim Clarissa Oliveira
Um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusá-lo de esconder investimentos federais em obras importantes no Estado como o Rodoanel, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), disse ontem que Lula foi mal informado pelo PT e fez um convite público ao presidente para visitarem juntos a construção do complexo viário. “O presidente Lula não foi bem informado. Basta olhar. A imprensa deveria pegar o filme e os painéis e mostrar que tem o governo federal”, afirmou o governador. “Eu pessoalmente convidei o presidente Lula numerosas vezes para percorrermos o Rodoanel. Se quisesse esconder não teria insistido nesse convite, que estou renovando agora publicamente.” Anteontem, Lula queixou-se de “prefeitos e governadores” queestariamomitindoaparticipação federal em obras por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), citando o Rodoanel paulista. Serra não culpou o presidente e apontou o PT como o responsável por fazer “intriga”. “Não voualimentarintrigadenatureza claramente eleitoral. Não estivéssemos na véspera de eleição, não teria essas propagan-
dasenganosasdo PTnemopresidente teria sido mal informado.” Na propaganda em questão, o PT apontava a existência de recursos federais no Rodoanel e na linha 2 do metrô. Apesar das alfinetadas, Lula eSerra seguem àrisca a mesma receita para capitalizar os dividendoseleitoraisdoPAC.Opresidente acusou o governador de omitiraverbafederalempropagandas do Rodoanel, mas o próprio governo federal veiculou um vídeo em que nem sequer
Governador tucano aponta PT como responsável por fazer ‘intriga’ mencionava Estados e municípios, na época em que lançou o PAC. “R$ 503 bilhões serão investidos de 2007 a 2010”, dizia a propaganda. Atualizado para R$ 646 bilhões, o valor inclui não só dinheiro do Orçamento daUnião,mastambémfinanciamentos e contrapartidas. Damesma forma, opresidente do PT paulista, Edinho Silva, nãopoupoudecríticasaspropagandas sobre o Rodoanel. “O crédito ao governo federal está numa nota de rodapé no vídeo. Ninguém olha o rodapé.” Mas o
PT adotou uma fórmula quaseidêntica emsua propaganda. A participação do Estado e de municípios só aparece numa mensagem na tela. A polêmica aumenta na hora de falar em números. Lula disse que seu governo responde por R$ 1,2 bilhão de umtotalR$3,6bilhõesaplicados no Rodoanel. O valor da obra, entretanto, foi revisto para R$ 4,5 bilhões, sendo que a União manteve o mesmo repasse. A briga é maior no caso da linha 2 do metrô. Depois de Serra chamar a propaganda do PT de “enganosa”, a sigla apontou a existência de um repasse federal de R$ 229,5 milhões. Na verdade, nenhum dos dois lados deu a versão completa dos fatos. O repasse ocorreu por um convênio com a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Mas, de acordo com o secretário da Fazenda de Serra, Mauro Ricardo Costa, foi a forma encontrada para realizar um acerto contábil. O acordo, disse, pôs fim a um desentendimento sobreocálculodadívidaestadual, na época em que a folha de pagamento paulista foi vendida para a Nossa Caixa. “Desconhecimento não é. Só pode ser má-fé.” ●
REAÇÃO – ‘Se quisesse esconder, não teria insistido no convite, que estou renovando agora’, diz Serra
Aliança PT-PMDB tem ‘liderança frouxa’, diz Ciro Moacir Assunção
O deputado e provável candidato pelo PSB à Presidência, Ciro Gomes, criticou ontem, em entrevista à Rádio Eldorado, a aliança do PMDB com o PT, em tempos de crise no Senado. “No Brasil,nenhumpartidogoverna sozinho. O problema não é propriamente a aliança do PT com o PMDB, mas a liderança moral e intelectual desse acordo, que em minha opinião é frouxa.” Ainda sobre a crise no Senado, Ciro classificou de “abominável” a censura contra o Estado imposta pelo desembargador Dácio Vieira, a pedido de FernandoSarney,filhodopresidente da Casa. Ele afirmou que
a lei brasileira prevê, em alguns casos, segredo de Justiça, mas isso não impede o jornal de publicar informações de interesse da opinião pública. “Se o jornal já tem os dados, deve ter o direito de publicá-los. A imprensa faz muito mais bem que mal à sociedade, embora nas vezes em que erra cometa abusos.” Sobre 2010, Ciro reafirmou que deverá ser candidato a presidente, não a governador de SãoPaulo– comodeseja opresidente Lula. “É minha intenção ser candidato a presidente, embora pessoas que respeito dentro do meu partido continuem insistindo para que eu dispute o governo de São Paulo. Eu respeito essas opiniões”, afirmou.
O parlamentar fez uma autocríticasobreaseleiçõesanteriores de que participou. “A maturidade me fez ver que reagi com muita intempestividade às provocações que recebi em campanhas anteriores. Essa foi uma lição amarga que aprendi, segundoa qual,paraserpresidente, além do preparo é preciso ter paciência.” Ele defendeu a Contribuição Social para a Saúde (CSS), tributo em substituição à extinta Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF), em tramitação na Câmara. “O Senado cometeu um equívocoao extinguir a CPMF e tirar de uma vez R$ 42 bilhões dos cofres do governo.” ●
Ouça a entrevista completa do deputado Ciro Gomes
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● Edição de
0h15
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
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Por 5 a 4, cai ação contra o ex-ministro, que pode disputar governo paulista CELSO JUNIOR/AE
OSupremoTribunalFederalrejeitou ontem pedido para que fosse aberto processo criminal contra o deputado Antonio Palocci (PT-SP),acusadode participar da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.Em2006,CostadissequePalocci, então ministro da Fazenda, frequentava reuniões com lobistas numa casa em Brasília. A maioria dos ministros julgou nãohaverprovascontraoparlamentar. O resultado deve alterar ojogo político em São Paulo. Com o apoio do presidente Lula, Palocci trabalha para ser candidato à sucessão do governador José Serra (PSDB). Ainda há dez processos na área civil contra ele. ● PÁGS. A4 e A6
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Namorado da neta é nomeado e Sarney diz que vai demitir A nomeação de Henrique Dias Bernardes voltou a causar embaraços ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Depois de a diretoria-geral da Casa anunciar ontem a legalização do ato secreto, Sarney decidiu recuar. Pressionado, disse que vai pedir a exoneração de Bernardes, nomeado em abril de 2008, quando era namorado de uma neta de Sarney, Maria Beatriz. ● PÁG. A8 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 28 DIAS q PÁG. A8
Lula telefona a Chávez e pede moderação hoje na Unasul
Ao caseiro, restou a frustração ●●● O caseiro Francenildo Costa estava visivelmente intimidado com o ambiente do STF. Nervoso, esfregava com força as mãos a cada vez que seu nome era citado. Saiu “profundamente frustrado”, segundo seu advogado. ● PÁG. A6
NA JUSTIÇA - O caseiro Francenildo Costa (dir., à frente) observa José Roberto Batochio, advogado de Palocci, antes do início do julgamento
Governadores vão discutir royalties
SP: PRIMEIRA CICLOFAIXA
No ano, só 0,1% das vias de SP foi recapeado
O presidente Lula convidou os governadores Sérgio Cabral (RJ), Paulo Hartung (ES) e José Serra (SP) para jantar no domingo. A ideia é discutir os royalties sobre o petróleo do pré-sal. ● PÁG. B1
Nos primeiros sete meses desteano,aPrefeituradeSãoPaulo recapeou apenas 14,05 km, ou 0,1% das vias da capital. Entre 2005 e 2008 foram recapeados, em média, 222 km por
CELSO MING
Governo paulista veta ampliação de Viracopos
A capitalização da Petrobráséumtemaexplosivocercado de incertezas. ● PÁG. B2
MARCIO FERNANDES/AE
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O governo estuda criar uma bolsa-florestaparatrabalhadores rurais que não desmatarem. Cada tonelada de CO2 que deixar de ser emitida valerá R$ 10. ● PÁG. A16
(1891-1927)
28 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42318
Vitória apertada no STF abre caminho para Palocci em SP
Contra o desmate, bolsa-floresta
JULIO MESQUITA
Trecho da ciclofaixa na Avenida República do Líbano: pista de 5 km que interliga três parques abrirá no domingo. ● PÁG. C10
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A Infraero adiou de setembro para junho de 2011 o início das obras de ampliação do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, apostadopresidenteLulapara a Copa de 2014. O governo José Serra não concedeu licençaambientalparaoprojeto federal. ● PÁGS. C1 e C3
ano. A administração, que tem se limitado a tapar buracos, alega que as obras dependem de liberação de verba, masprevê queo serviçocomece em outubro. ● PÁG. C7
O presidente Lula telefonou a seu colega da Venezuela, Hugo Chávez, para lhe pedir moderaçãonosdebatesde hojenacúpula da Unasul, em Bariloche (Argentina). O clima é tenso, sob o signo da polêmica a respeito do uso de bases colombianas por militares americanos. Ontem, Chávez acusou Colômbia e EUA de “orquestrar” o fim da Unasul,informaoenviadoespecial Ariel Palacios. ● PÁG. A12
CADERNO 2 Lars Von Trier fala de seu ‘Anticristo’
●● Diretor ironiza as críticas ao filme, sobre a crise de um casal que perde o filho.●
ESPORTES
Ronaldo quer aumento de salário em 2010 Apósosucessodesuaprimeiratemporada,RonaldonegociacomoCorinthiansaumento para 2010. No contrato em vigor, o atacante ganha cerca de R$ 1,2 milhão por mês entre salário (R$ 400 mil) e participação nos anúncios no uniforme. ● PÁG. E1
‘Os Normais’ voltam ●● Humor escatológico mar-
ca o segundo filme. Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres têm a companhia de Cláudia Raia. ● PÁG. D5
Guia Balada no lavabo ●● Os banheiros passaram a ser extensão da balada, com múltiplos usos e costumes.●
Religião SUSTENTABILIDADE
Caderno mensal mostra como o setor agropecuário, que contribuiu para a devastação das florestas brasileiras, tenta agorarecomporasuaimagem. ●
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7 8 9 10 11 12
Tempo: CAPITAL
NOTAS E INFORMAÇÕES
Os vexames do ministro Se já tivesse aprendido com a própria experiência, Mantega teria a precaução elementar de
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não brigar com os fatos à vista de todos, poupando-se de vexames na crise da Receita. ● PÁG. A3
26º
MÁX.
● PÁG. C2
13º
MÍN.
Predomínio de sol em todas as regiões do Estado. Temperatura sobe.
Hoje: 230 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 22 ● Economia-2: 18 ● C. Metrópole: 14 ● D. Caderno2: 14 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 6 ● H. Vida& Sustentabilidade: 10 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 4 (210 anúncios)
Aprovado acordo com Vaticano ●● Também passa na Câmara projeto que regula todas as religiões. ● PÁG. A18
A8 NACIONAL
SEXTA-FEIRA, 28 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 28 DIAS
Liminar em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados de operação da PF sobre negócios do empresário
Ato dá vaga a namorado de neta; Sarney deve demiti-lo
CELSO JUNIOR/AE–19/8/2009
Carol Pires BRASÍLIA
Ato secreto foi validado, mas senador diz que pedirá exoneração NÚMEROS
Rosa Costa Leandro Colon BRASÍLIA
A nomeação do jovem Henrique Dias Bernardes voltou a causar embaraços ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Depois de a diretoria-geral da Casa anunciar ontem a legalização do ato secreto que nomeou Bernardes, Sarney decidiu recuar.Pressionado, avisou que vai pedir a exoneração de Bernardes. Ele foi nomeado em abril do ano passado, quando era namorado de uma neta de Sarney, Maria Beatriz. O nome dele apareceu entre os 20 atos secretos – referentes a nomeações – divulgados ontem pela diretoria-geral numa nova lista de “legalizados”. Com as outras 19 medidas validadas, quase metade dos 511 atos secretos identificados em junho já foi legalizada, incluindo outros 45 de nomeações e 80 que deram gratificações a servidores. O que sobrou tem pouca relevância, pois trata de exonerações e comissões de trabalho já extintas pela Casa. O Diário Oficial de hoje deve trazer a validação do ato que nomeou Bernardes, mas Sarney anunciou queele será demitido em 25 de setembro, quando retorna das férias. O boletim sigiloso que deu emprego a ele foi publicado no dia 10 de abril de 2008. Lotado no serviço médico, ele era namorado de Maria Beatriz Sarney naquela época. Em 22 de julho, o Estado publicou reportagem revelando diálogos captados pela Polícia Federal – com autorização da Justiça – em que o senador negocia com o filho Fernando (pai de Beatriz) a nomeação de Bernardes. ‘PRIVILÉGIO’
Na ocasião, Bernardes disse que não sabia que fora nomeado por ato secreto e chegou afirmar que “era um privilégio para o Senado” tê-lo no quadro de funcionários. O filho do presidente do Senado recorreu à Justiça e conseguiu, no dia 31 de junho, liminar para impedir o Estado de continuar publicando informações sobre a investigação da PF.
511
atos secretos editados pelo Senado foram descobertos em junho
20
boletins considerados secretos foram legalizados ontem pela Casa
45
atos referentes a nomeações já haviam sido regularizados pela administração do Senado
80
medidas ocultas tomadas pela direção do Senado, que diziam respeito a gratificações a servidores, também foram oficializadas
AVALIAÇÃO - Para Flávio Arns, mais grave foi a iniciativa de Berzoini de orientar o voto dos senadores
O argumento da diretoriageral para validar o ato secreto de nomeação de Bernardes fora o de que sua chefia imediata havia informado que ele vem cumprindo suas funções devidamente. É a mesma justificativa dada aos demais casos, inclusive os de alguns garçons que atendem o plenário, entre eles José Antonio Paiva Torres, nomeado por ato secreto em setembro de 2001. Na semana passada, o Senado já havia validado outras medidas administrativas baixadas sigilosamente. Entre os nomes beneficiados, três ligados a Sarney: a sobrinha Maria do Carmo de Castro Macieira, Nathalie Rondeau – filha de Silas Rondeau, aliado do senador –, e Alba Lima, mulher de Chiquinho Escórcio, também aliado do presidente do Senado. O senador mandou exonerar Maria do Carmo, lotada no gabinete de Mauro Fecury (PMDB-MA), suplente da ex-senadora e hoje governadora Roseana Sarney (PMDB). Já Nathalie Rondeau, por enquanto, continua empregada. Seu pai, Silas Rondeau, foi ministro do governo Lula indicado pelo presidente do Senado. ●
Senadores vão ao STF na tentativa de reabrir caso
Arns deixa PT e d. Paulo vê ‘corrupção inacreditável’ BRASÍLIA
O arcebispo emérito de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, referiu-se à “corrupção inacreditável do Senado” no telegrama que enviou ao senador Flávio Arns (PT-PR), seu sobrinho, cumprimentando-o pela “atitude coerente” de se desligar do PT depois que o partido seguiu as ordens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de arquivar as denúncias contra José Sarney (PMDB-AP). O senador Pedro Simon (PMDB-RS) leu o texto em plenário logo que Arns comunicou sua desfiliação do PT. Em cinco linhas, d. Paulo cumprimenta o sobrinho pela atitude, pede a ele que transmita “votos de apoio benemérito à senadora Marina Silva” – que também deixou o PT –, a Pedro Simon e “aos demais colegas que defendema éticae decorodos chamados pais da Pátria”. Arcebispo de São Paulo durante 28 anos, de 1970 a 1998, d. Paulo Evaristo Arns é considerado por Simon “a pessoa mais
No Twitter, Mercadante defende Suplicy Usuário cada vez mais assíduo do Twitter, o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), voltou a recorrer à rede de microblogs para defender o colega Eduardo Suplicy (SP), após o episódio do cartão vermelho apresentado contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). “O gesto de Suplicy, inusitado e só dele, reflete a indignação nossa e da sociedade em relação à crise do Senado”, afirmou. Ao agradecer, Suplicy disse já ter recebido mais de 2 mil mensagens elogiando a iniciativa. “Nos meus três mandatos, esta foi a semana em que recebi o maior número de manifestações de apoio.” ●
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importante na criação do PT”, por ter permitido, como criador das comunidades de base, que prosperassem “as ideias de dignidade,correçãoe capacida-
dedelutar defendidasinicialmente pelo partido”. CRÍTICAS
Emseu comunicadode desfiliação, Flávio Arns afirmou no plenário que mais grave do que o partido ter arquivado as denúncias contra Sarney, foi a iniciativa de seu presidente, deputado Ricardo Berzoini (SP), de orientar o voto dos senadores petistas no Conselho de Ética. “Como se tivesse autoridade, em primeiro lugar, para orientar, orientandosenadores a votarem pelo arquivamento do processo.” Arns disse quea atitude de Berzoini criou mal-estar não só entre a bancada do partido na Casa, mas principalmente na militância. O senador também criticou o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que chegou a dizer que a decisão de afastar Sarney da presidência era “deum ou dois senadores petistas” e não da quase totalidade da bancada. Mas poupou o líder Aloizio Mercadante (SP), que recuou de sua decisão “irrevogável” de renunciar a liderança em protesto pelo apoio do Planalto a Sarney. ● R.C.
O clima político no Senado esfriou, mas a oposição dá sinais de que não dará sossego ao presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).Ontem, osadvogados do PSOL ingressaram com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a tramitação do recurso que um grupo de senadores apresentou contra o arquivamento das 11 representações contra Sarney no Conselho de Ética. Na ação, os advogados avaliam que “a competência do plenário não poderia, nunca, ter sido usurpada pela Mesa, quanto maisporumatounilateral emonocrático”.Issoporque orecurso contra o arquivamento foi apresentado ao plenário por um grupo de onze senadores, mas a segunda vice-presidente, Serys Slhessarenko (PT-MT), negou a tramitação, alegando que o regimento interno não prevê recurso de decisão do Conselho de Ética a não ser ao próprio órgão. “É forte o dano e irreparável oprejuízo à imagemeprerrogativa dos parlamentares impetrantes,comoperigodo descredenciamento e retirada de legitimidade dos parlamentares frente aos seus eleitores”, anota o documento. Omandadoé assinadopor sete senadores de quatro partidos. São eles Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Renato Casagrande (PSB-ES), Jefferson Praia (PDT-AM), Demóstenes Torres (DEM-GO), Pedro Simon (PMDB-RS) e Kátia Abreu (DEM-TO). ROTINA
Alvo da ação, Sarney passou o diadeontemnoSenadoemcompromissos protocolares. Pela manhã, esteve o tempo todo ao lado do senador Fernando Collor (PTB-AL). À tarde, voltou ao plenário para presidir a sessão, que seguiu tranquila, sem manifestações dos senadores contrários à sua permanência na presidência da Casa, como ocorreu anteontem. Na próxima semana, porém, se Sarney quiser imprimir o clima de normalidade ao Senado, terá de enfrentar a oposição para conseguir votar projetos em plenário. Na última terça-feira, os líderes do DEM e do PSDB boicotaram a reunião de líderes e prometem fazer jogo duro com a base aliada nas próximas reuniões plenárias. “Só aceitaremos votar propostas absolutamente necessárias para o País. Não podemos deixarpassarà sociedadea aparência denormalidade noSenado, sendo que não voltamos à normalidade”,disse opresidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). ●
Artigo
Liberdade de expressão e de informação Paula Martins* Mila Molina*
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O
episódio Sarney x Estadão traz à tona umanecessidadeurgente: a discussão aprofundada sobre o conteúdo da liberdade de expressão, seu significado nos dias atuais e sua aplicação aos casosconcretos,emespecialpelo Judiciário. O caso exemplifica uma centena de casos semelhantes nos quais decisões judiciais censuraram a atuação dos meios de comunicação frente a suspeitas de irregularidades praticadas
por agentes públicos. Em tais casos, é muito comum que, alegando a necessidade de proteção à honra e à privacidade dos envolvidos, o Judiciário determine o silêncio “preventivo” da mídia. E não apenas a mídia de massa, mas – o que é mais comum – blogs, pequenos jornais e rádios. O que se tem deixado absolutamentedeladoemmuitasdecisões é o questionamento sobre a importância, em um regime democrático, da ampla divulgação de fatos de relevante interesse público. O cidadão deve poder informar-se, acompanhar e exigir a apuração de denúncias de atos de improbidade de seus representantes eleitos e daqueles que atuam na gestão do erário e das funções públi-
cas. Odireito àinformação é um direito fundamental e corolário daparticipaçãoedoengajamento político, ou seja, é a base da cidadania. A pessoa que opta por uma vidapúblicadeveaceitarqueestarásujeitaaumescrutíniomuito maior do que o cidadão comum. Isso é legítimo, embora, obviamente, não justifique a anulação de sua privacidade. Quando acusações tão graves como as levantadas contra os Sarney vêm à tona, é essencial que as averiguações sejam transparentes,paraqueoscidadãospossamacompanharoprocesso do início ao fim. Só assim será possível combater a impunidade. Ou seja, em casos de relevada importância, em que estão em jogo, de um lado, a proteção da honra de pessoas públicas através de censura prévia e, de outro, o debate público de questões de significativo interesse público, não há dúvida de
que este segundo deve prevalecer. Importante dizer que não se trata aqui de vilipendiar o princípio constitucional que garante a presunção de inocência do investigado, que só pode ser considerado culpado depois da sentença criminal definitiva. A imprensa, ao cumprir sua função de informar, deve fazê-lo de formaresponsável,sem espetáculos e sem a alimentação gratuita de escândalos sucessivos. Em casos como Sarney x Estadão, vários direitos parecem chocar-se e contradizer-se. Estão em jogo, ao mesmo tempo, a liberdade de imprensa, a privacidade,ahonra, odireitoàinformaçãoeodireitodenãoserconsiderado culpado antes de poder se defender. E quando o juiz se depara com tal situação, deveexistir,emnossoordenamento jurídico e em nossa jurisprudência, uma definição clara quanto aos critérios que deve-
rão ser utilizados pelo julgador ao analisar um caso concreto. Isso, infelizmente, não ocorre no Brasil, onde especialmente nas sentenças de primeiro grau é comum verificar-se contradições e incoerências. O caso demonstra que ainda precisamos aprofundar nosso entendimento sobre temas que há muito vem sendo debatidos, interpretados e pacificados em outras partes: a censura prévia deve ser proibida, mas a regulamentação da atuação da mídia não é censura; a reputação e a vida privada são direitos fundamentais e devem ser respeitados, mas em caso de dano ainda maior ao interesse público, esse deve prevalecer; a mídia deve ter liberdade para atuar, mas o cidadão pode monitorar e questionar sua atuação, inclusive no Judiciário; o Judiciário deve ter padrões claros para análise dos casos de suposta violação da liberdade de expressão para que,
aoprotegerum direitohumano, não ignore outros; a liberdade deimprensaéumavitóriadademocracia, mas está sob a égide da liberdade de expressão, que éumdireitohumanofundamental de cada indivíduo e, coletivamente, da sociedade, e portanto, a imprensa que queremos é uma imprensa onde todos têm voz: uma mídia independente, ética, plural e diversa. Falta no Brasil o abandono dapolarização ideológica euma discussão aprofundada sobre o tema, que ultrapasse os limites dos interesses envolvidos em casos específicos, e que resulte na definição de padrões claros paraa atuaçãojudicial, que possibilitemalivre circulaçãodeinformações em um ambiente de segurança jurídica e total respeito a todos os direitos humanos. ●
*Representantes da ONG Artigo 19 no Brasil
o estado de s. paulo
● Edição de
0h15
SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
29 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42319
Impasse na cúpula da Unasul ajuda Uribe
ESPORTES
Resultado vago fortalece colombiano e seu acordo com EUA
A reunião da União de Nações Sul-americanas (Unasul) realizada ontem na Argentina acentuou a divisão do continenteemtornodo acordomilitar EUA-Colômbia. Após sete horas de discussões e troca de acusações, os presidentes do grupo produziram um documento vago a respeito da estabilidade regional. A declaração diz que “forças estrangeiras” que atuem em um determinado país não podem “ameaçar a soberania e a integridade” dos demais países da região.Poroutrolado,diztam-
“Chávez, o sr. diz que os EUA virão atrás do petróleo. Por que faltaria petróleo aos americanos se o sr. vende tudo para os EUA?”
Brasil quer quebrar patentes dos EUA
Presidente do Peru
OMC deve autorizar sanção brasileira
Alan García
bém que é preciso “fortalecer a luta e a cooperação contra o terrorismo e a delinquência transnacional organizada”, numa referência implícita às Farc. Assim, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, que era o alvo primário da cúpula, conseguiu esquivar-se e saiu fortalecido. ● PÁG. A19, A23 e A24
Lula rejeita pedido para adiar anúncio do pré-sal
Jamil Chade CORRESPONDENTE EM GENEBRA
O governo brasileiro pode receberna segunda-feiraautorização da Organização Mundial do Comércio para retaliar os EUA em razão dos subsídios a produtores de algodão americanos. A disputa já dura
sete anos. Como ogoverno dos EUAjá foicondenadoe nãoretirou os subsídios, a OMC deve julgar que o Brasil tem o direito de aplicar a sanção, em valor a ser anunciado. O Planalto decidiu que a retaliação virá na forma de quebra de patentes, por meio de medida provisória. ● PÁGS. B1 e B4
BEBÊ SEQUESTRADO: A EMOÇÃO DA VOLTA
O presidente Lula decidiu que não atenderá ao pedido do governador do Rio, Sérgio Cabral, para adiar o anúncio do plano do governo para o marco regulatório do pré-sal. A cerimônia será na segunda-feira. ● PÁG. B10
A campeã voltou ●● Dez dias após sua maior derrota, a russa Yelena Isinbayeva saltou 5,06 m, seu 27.º recorde mundial. ● PÁG. E1
Para juristas, caberia ação penal contra Palocci Juristas, advogados e procuradores sustentam que havia motivos para abertura de ação no STF contra o ex-ministro Antonio Palocci por quebra de sigilo. “É questão clara de status”, diz o jurista Luiz Flávio Gomes. ● PÁG. A4
ANÁLISE
Metrô de SP terá mais 5 terminais de ônibus
Rui Nogueira
Pressa do governo favorece o PMDB O partido não vai furar poço, mas será o primeiro grande beneficiário da política do pré-sal. ● PÁG. B11 ●●●
SãoPauloterámaiscincoterminais de ônibus urbanos. Quatro estarão ligados a estações da Linha 4 do Metrô: Butantã, Pinheiros, Vila SôniaeMorumbi.Oquinto,integrado à linha 5, será no Campo Limpo. ● PÁG. C1
Palocci lidará com um tribunal mais cético sobre sua inocência do que o STF. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
26ºMÁX.
● PÁG. C2
12º MÍN.
SERGIO CASTRO/AE
NOTAS E INFORMAÇÕES
●●●
●●● Josiele do Espírito Santo e
Edno Santos Vargas beijam a filha Amanda. O bebê, de 1 mês, foi
entregue aos pais ontem, um dia após ser levado por uma mulher que queria apresentá-lo ao mari-
do como filho do casal. A sequestradora, de 18 anos, foi denunciada pela mãe e a sogra. ● PÁG. C6
Sol forte e nevoeiro ao amanhecer.
Hoje: 120 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 6 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 12 ● Ci. Imóveis: 14 (2.732 anúncios)
7 8 9 10 11 12
Cantor foi vítima de homicídio, diz laudo Relatório aponta “intoxicação aguda por propofol” e outros 5 remédios. ● PÁG. A30
●●
Futebol
Vágner Love volta ao Palmeiras ●● Por empréstimo até julho de 2010, atacante ganhará R$ 400 mil por mês. ● PÁG. E3
CADERNO 2 Salvação pelo livro
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 29 DIAS q PÁG. A12
Vitória que não reabilita
Michael Jackson
EDUARDO NICOLAU/AE – 5/7/2004
ENVIADOS ESPECIAIS A BARILOCHE
FRASE
DOMINIQUE FAVRE/AP
Ariel Palacios Denise Chrispim Marin
Nos EUA, um rapto de 18 anos O casal Philip e Nancy Garrido foi preso na quarta-feira pelo rapto de Jaycee Dugard, há 18
anos, em caso que mobiliza os EUA. Pelo crime, eles podem ser condenados à morte. Hoje
com 29 anos, Jaycee tem duas filhas, e suspeita-se que o pai seja Garrido. ● PÁG. A24
Infraero é a 1ª estatal multada pela lei antifumo A Infraero é a primeira empresa pública a ser multada em razão da lei antifumo em São Paulo. Os fiscais flagraramumfumanteemárearestrita a funcionários no aeroporto de Cumbica. A multa foi de R$ 792,50. ● PÁG. C8
David Grossman enfrentou a perda do filho ao escrever A Mulher Foge. ● PÁG. D1
●●
Saúde
Clínicas de estética sob suspeita em SP ●● Das21fiscalizadaspelaVigilância, oito apresentavam alto risco à saúde. ● PÁG. A26
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SÁBADO, 29 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Deslavada sem-vergonhice
Censura, decisão judicial e incentivos a juízes
MauroChaves
JairoSaddi
Se a sociedade brasileira não recuperar sua capacidade de mobilização para reverter a trágica perda de valores em curso, as futuras gerações não terão ideia da época em que a vergonha na cara foi inapelavelmente banida do território nacional. Por isso sempre é bom deixar, para o registro e a reflexão de nossos pósteros, pelo menos alguns rastros, bem visíveis, da deslavada sem-vergonhice hoje reinante, “como nunca antes neste país”. O líder do governo no Senado da República apresentou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa dois requerimentos, um de convocação e outro de convite à ministra-chefe da Casa Civil e candidata presidencial ungida, para ser interrogada sobre o encontro, tido ou não, com a ex-secretária da Receita Federal. O detalhe é que esses requerimentos foram apresentados, justamente, para serem rechaçados – pela ampla maioria governista na comissão – e com isso impedir convocação no mesmo sentido a ser feita pela oposição, já que pelo Re-
Readquirir a noção de vergonha não será tarefa para apenas uma década gimento da Casa requerimento não aprovado não pode ser reapresentado. Para muitos pareceu a coisa mais natural do mundo fazer-se uma proposta contrária ao que se pretende para impedir o adversário de fazê-la. Não se percebeu que apostar no sim para obter o não e com isso impedir o sim – no caso, a apuração da verdade dos fatos – é tática estribada na mais deslavada sem-vergonhice. Todos têm o direito de se tornar paus-mandados, até de quem, por carências crônicas de formação – ou preguiça de aprender –, não teria superioridade intelectual para os conduzir. Todos – inclusive as pessoas públicas – têm o direito de voltar atrás em suas decisões, especialmente se houver motivos profundos que os levem, num lapso razoável de tempo, a modificar suas convicções anteriormente anunciadas. Agora, anunciar num dia uma renúncia irrevogável para no outro dia revogá-la, sem nenhuma razão moral que o justifique – antes pelo contrário –, é agir, simplesmente, escudado na mais deslavada sem-vergonhice. É mostrar-se um pau-mandado com cara de pau. E não se diga outra coisa de um partido político que teve como bandeira principal de origem a ética na política, o combate às corruptas oligarquias – e aos clãs regionais que têm crescido e enriquecido à custa do patrimonialismo –, mas que para
se manter no poder perde por completo os escrúpulos, a ponto de se confundir com os que sempre trataram a coisa pública como se privada fosse. É natural um administrador público, ao assumir novas funções, nomear para auxiliares seus pessoas de sua confiança, afastando os que eram da confiança de seu antecessor. O que não é natural é exonerar os que já haviam sido mantidos pelo novo administrador quando estes se mostram dispostos a confirmar fatos “inconvenientes”. Foi o que ocorreu com a chefe de gabinete e outro auxiliar da ex-secretária da Receita Federal, quando passaram a confirmar o famoso encontro entre a ex-secretária e a ministra ungida, o que, por sua vez, confirmaria os sérios indícios de interferência absolutória em investigações de membro da clã sob suspeita. Exonerar de funções técnicas pessoal de carreira, para impedir depoimentos capazes de comprovar suspeitas, ou deixar que a política partidária e eleitoral desfigure uma das instituições mais importantes do Estado é, sem duvida, atitude cínica. Mas com tudo isso ainda dizer que a instituição do Estado desfigurada pela política “tem em torno de si uma rede de proteção contra qualquer interferência política” é ofender a inteligência do público com a mais deslavada sem-vergonhice. É mais do que justo o presidente de uma Casa Legislativa, que é ao mesmo tempo escritor regionalista razoável e membro da academia literária mais importante do País, discursar na tribuna por ocasião do centenário da morte de uma das maiores personalidades de nossa literatura. Mas fazer um discurso de nível colegial, mal preparado e ensaiado – com constrangedoras trocas de páginas que transformaram os textos do grande homenageado num bestialógico sem pés nem cabeça – e fazer tal discurso com a notória intenção de mostrar a “normalidade” da Casa, graças à “superação da crise”, em razão do arquivamento (por decisão monocrática de um aliado) das mais cabeludas denúncias que lhe pesavam, tudo isso poderá ser considerado outra coisa que não uma deslavada sem-vergonhice? E o que dizer da segurança institucional que diz apagar, a cada mês – e não seis meses, como o estipulado no edital de licitação do serviço –, os registros de imagem das pessoas que se vão encontrar com os mais altos escalões da administração pública? Quer dizer, então, que a segurança institucional, muito bem remunerada pelos cofres públicos, vale apenas por 30 dias? Qualquer terrorista que entre num prédio ministerial desfrutará total falta de registro de imagem decorridos apenas 30 dias de sua “visita”
para sondar o terreno de um eventual atentado? Muito mais verossímil, decerto, será atribuir tal “apagão” a uma simples e deslavada semvergonhice. Por tudo isso, e muito mais, a grande tarefa que cabe às pessoas de bem, neste país, é tentar de todas as formas, pelos meios de que disponham, fazer com que as novas gerações readquiram a noção de vergonha. Claro que, pelo estrago já feito, não é tarefa para apenas uma década. P. S. 1 – O cartão vermelho do senador Suplicy pode-se multiplicar e espalhar, por dentro e fora do Congresso Nacional, também como símbolo de exigência da volta do rubor no rosto. P. S. 2 – A melhor explicação para a revogação da renúncia irrevogável é dada por Juca de Oliveira, em sua impagável Happy Hour, ao reproduzir o diálogo “secreto” entre o senador e o presidente. A plateia vem abaixo. P. S. 3 – Com a decisão do Supremo viramos todos “quase indigentes” (como o advogado de Palocci qualificou Francenildo). ● Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e pintor. E-mail: mauro.chaves@attglobal,net
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
Antonio Palocci
FÓRUM DOS LEITORES PizzanoSTF
O Brasil assiste, estarrecido, à censura imposta ao jornal O Estado de S. Paulo, por decisão judicial do desembargador Dácio Vieira, que proibiu liminarmente esse matutino de divulgar reportagens acerca da chamada Operação Boi Barrica, promovida pela Polícia Federal e que envolve Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Em síntese, em 30 de julho, o desembargador Vieira acolheu recurso, denominado “agravo de instrumento”, de Fernando Sarney contra decisão da 12ª Vara Cível de Brasília, dando origem a uma das mais grotescas restrições à liberdade de imprensa já vistas desde o fim do regime militar. Para combater essa medida o jornal impetrou mandado de segurança contra o ato coator do desembargador Vieira, que foi distribuído para o desembargador Waldir Leôncio Cordeiro Lopes Júnior, da 2ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Segundo notícia do próprio jornal, o pedido de liminar foi indeferido – “invocando prudência, ele deixou para deliberar acerca do mandado apenas depois que receber informações do próprio Vieira e o parecer da Procuradoria de Justiça”. O presidente do Supremo Tri-
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
cenildo é “o cara”, um brasileiro comum, com a consciência tranquila do dever cumprido.
to, que a Justiça de fato não existe e o que deve prevalecer sempre é o nível econômico dos criminosos.
● Bravo! Palocci livre de todas as acusações, como queria o presidente Lula! E agora? Quando vão condenar o caseiro Francenildo?
IVACY FURTADO DE OLIVEIRA
NUNO COBRA
ivacy.oliveira@cpb.com.br
nunocobra@nunocobra.com.br
Tatuí
São Paulo
ANGELO TONELLI
REGINA HELENA DE PAIVA RAMOS
angelotonelli@yahoo.com.br
reginahpaiva@uol.com.br
São Paulo
São Paulo
● A foto da primeira página revela o pensamento de dois protagonistas do processo. Do advogado de defesa: ganhei a causa! Do honesto Francenildo: será que só eu tinha R$ 40 mil na poupança, para mobilizar tantos e tão famosos para salvar a cara do ex-ministro?
● Agora temos mais um pré-candidato ao governo de São Paulo ou à Presidência da República.
A votação no STF que inocentou Palocci da última ação que pesava sobre ele, das 20 que já foram arquivadas desde 2003 sem consequência alguma, cheira a jogo com cartas marcadas, né não?
● Alguém, em sã consciência, acreditava que o Palocci seria processado? JOÃO MENON joaomenon@terra.com.br
São Paulo
Depois dessa decisão “histórica e inesperada” do STF, só nos resta uma recomendação: o último que sair não deixe de apagar a luz. ●
HÉLIO JOSÉ CURY
heliocury@datasesmt.com.br
São Paulo
Aculpa édo caseiro... No fim de tudo, a culpa é do caseiro. Quem é ele, um simples trabalhador, que ousa enfrentar essas raposas da República do PT? A foto principal da edição do Estadão de ontem é um contraste sintomático entre a empáfia de um advogado caríssimo e a simplicidade de um brasileiro comum. Contudo, para quem pensa, Fran-
JORGE DE MOURA ANDREWS jmandrews@uol.com.br
Florianópolis
Oque maisesperar? Ficou decidido no STF, em votação apertada, por apenas um vo-
OLYMPIO FÉLIX DE A. CINTRA NETTO ofacnt@yahoo.com.br
São Paulo ● Palocci se candidatar em São Paulo? Terá como vice o sr. Francenildo? Pode vir quente, que estamos fervendo. A vergonha que sentimos dos políticos de Brasília, que elegemos, será demonstrada. ANDRÉ C. FROHNKNECHT anchar.fro@hotmail.com
São Paulo
bunal Federal, Gilmar Mendes, saiu em defesa da liberdade de imprensa ao cobrar celeridade, criticando a demora na solução da questão. Dois aspectos de alta relevância precisam ser analisados quanto à censura imposta ao Estado e servem como exemplo ilustrativo desse debate. O primeiro diz respeito ao processo decisório dos juízes ao interpretar a lei e decidir de acordo com a sua convicção e com a prescrição do que o magistrado considera “justo”. O segundo é sobre os incentivos ao comportamento que um determinado juiz assume para decidir. Portanto, o que se pretende discutir é por que razões o desembargador Vieira decidiu daquela forma e entender quais são os incentivos, positivos e negativos, que ele tem para julgar assim. O processo decisório implica a escolha entre alternativas e, no caso de um juiz, há que observar a lei, os costumes e a jurisprudência pacificada nos tribunais superiores. Não há fronteira absoluta para a livre convicção: um magistrado não pode julgar contra a lei posta ou contra os valores estabelecidos, nem sequer pode julgar contra a jurisprudência predominante (já que será reformada mais adiante pelos tribunais superiores, representando um absoluto desperdício de tempo e dinheiro público). Ora, uma decisão eficiente e adaptativa encontra esses limites racionais claros e definidos. Mesmo se abstrairmos o fato de o magistrado acima citado supostamente manter relações pessoais com o agravante – o que de imediato deveria gerar suspeição e impedimento –, é necessário nos afastarmos definitivamente da ideia de que um juiz só deve julgar de acordo com a sua consciência. Certo, é verdade, que quando se julga sob incerteza há resposta com base em valores adquiridos preexistentes (culturais, sociais, de formação, etc.). A psicologia comportamental explica o atalho de “ancoragem e ajustamento” – Tversky & Kahneman, 1974, citado num interessante artigo de Leandro Tonetto et alli, O papel das heurísticas no julgamento e na tomada de decisão sob incerteza, Estudos de Psicologia, Campinas, 23(2) 181-189, abr.-jun. 2006 –, constatando que a âncora dos valores influencia o produto final, enviesando e causando efeitos indesejáveis; assim, qualquer magistrado deve afastarse de âncoras não informativas, subjetivas e pessoais para o julgamento. Tal aproximação implica preconceitos e valores morais preconcebidos que tanto assolam a Justiça deste país. E, acima de tudo, cabe ao magistrado proteger valores maiores – no caso em discussão, o aces-
so à informação da população (da qual a censura é a mais vil inimiga) é maior e mais importante do que a suposta privacidade de um indivíduo investigado pela Polícia Federal. Mas há ainda um segundo debate igualmente necessário e importante: quais são os incentivos ao magistrado ao decidir sobre o que é certo ou errado. E isso é fundamental para entender o caso da censura. Se qualquer agente econômico cometer um erro, é punido, seja pelo mercado, seja por força da ação estatal – uma multa do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por abuso de poder de mercado, por exemplo. A punição é um incentivo negativo ao comportamento, já que impede uma conduta em situação futura. No caso de uma decisão judicial, isso não ocorre. Se o desembargador Vieira julgar bem ou mal, nada lhe acontece. Sua carreira independe de acertos ou de equívocos. Não há critérios de avaliação de reformabilidade de decisões judiciais (“bom” seria um juiz que nunca tivesse suas decisões reforma-
É mais que hora de pensar em separar os magistrados justos dos iníquos das pelo tribunal e “ruim”, um que tivesse as suas sempre cassadas pelas Cortes superiores). Persistem na magistratura brasileira critérios absolutamente improváveis, como os de antiguidade e elevado subjetivismo, para não dizer influência política, na promoção de juízes. Auferir a qualidade de decisões judiciais não é simples nem se pode fazer sem uma larga dose de subjetivismo. Mas o que não se pode admitir é um magistrado afrontar o texto constitucional, gerar custos de transação para as partes, espancar o sagrado direito da liberdade e nenhuma sanção recair sobre a sua conduta. O resultado de tal moral hazard gera apenas magistrados irresponsáveis e sem nenhum vínculo com o direito e o que eles representam numa democracia. Ainda na mesma analogia, a suspeição ou o impedimento de um juiz, se não for fruto de sua própria consciência, deveria ser matéria urgente da Corregedoria ou dos esforços de órgãos de classe como o Conselho Nacional de Justiça. É mais do que hora de pensar em separar os bons magistrados dos maus, os eficientes dos ineficientes, enfim, os justos dos iníquos. ● Jairo Saddi é professor e coordenador-geral do curso de Direito do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper)
FAX:
E-MAIL:
(11) 3856 2920
Anova CPMF É para chorar a notícia da recriação da famigerada CPMF, agora com nova roupagem. O governo, mais uma vez, escudado na hipocrisia e na mentira, o que lhe é muito peculiar, insiste em golpear o povo com mais uma extorsão. É mentirosa a desculpa de se criarem mais recursos para a saúde, uma vez que o esbanjamento, o aumento do Bolsa-Família (compra de votos) e o financiamento ao país da coca, sem aludir a outras benesses, é uma constante desse (des)governo. Haja vista a concessão faraônica de verbas aos parlamentares do PMDB, só para lhe garantir a falta à verdade de sua candidata à Presi-
forum@grupoestado.com.br
dência, a obstrução da CPI da Petrobrás e a flagrante ingerência na Receita Federal, sem contar o cala-a-boca contra a imprensa, principalmente o Estadão, que continua amordaçado. VICENTE MUNIZ BARRETO dabmunizbarreto@hotmail.com
Cruzeiro ● Nossos políticos são mesmo desaforados: querem ressuscitar a CPMF e ao mesmo tempo está em pauta, com grande chance de aprovação em plenário, a PEC que aumenta o número de vereadores. Seria justo assistir a mais isso? ANÍZIO MENUCHI amenuchi@uol.com.br
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A12 NACIONAL
SÁBADO, 29 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 29 DIAS
Liminar em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados de operação da PF sobre negócios do empresário
‘No Brasil não se apura nada’, afirma Simon sobre Sarney Senador defende que manifestação popular seria única saída para reverter impunidade ANTONIO MILENA/AE
Roberto Almeida
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) resumiu ontem com uma frase o arquivamento das denúncias contra o deputado Antonio Palocci (PT-SP), no Supremo Tribunal Federal (STF), e contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP),noConselhodeÉticadaCasa. “Ficou provado que no Brasil não se apura nada”, afirmou. Simon esteve em São Paulo, ondeparticipou deevento organizadopor estudantesdaFaculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo São Francisco, no centro da cidade.Respondendo a perguntas dos alunos e professores, o senador gaúcho foi provocado e respondeu no mesmo tom. “Se houvesse movimento da sociedade, duvido que o Sarney não teria renunciado”, desafiou. Questionado sobre o que serianecessáriofazerpara“reverter o problema da impunidade no País”, o senador avisou que é preciso uma manifestação de “fora (do povo) para dentro (do Congresso)”. De acordo com ele, esta seria a única saída possível.“SeJadereRenanrenunciaram e não aconteceu nada, com Sarney é que não vai acontecer nada mesmo”, lamentou. Simon lembrou dos recentes casos de corrupção na Inglaterra, em que os deputados foram punidos. Recordou da Operação Mãos Limpas, que resultou em cassações na Itália. E sublinhou que no Brasil ninguém é julgado. “Porque de dentro do CongressoedoSupremoTribunal Federal não vai sair nada. Do presidente Lula não vai sair nada. E não adianta destituir o Conselho de Ética, porque o STF acaba arquivando tudo”, observou. Um único momento de descontração surgiu durante o encontro,quedurou3horas,quando Simon recebeu a informação de seu assessor de que a representação do PSOL no STF – pedindo trâmite de recurso contra o arquivamento das denún-
CRÍTICA – Simon com alunos da USP: ‘Se Jader e Renan renunciaram e não aconteceu nada, com Sarney é que não vai acontecer mesmo’
Arns ataca direção do PT ●● ● O senador paranaense Flávio Arns (sem partido) disse ontem, em Curitiba, não ter dúvidas de que a determinação do presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, para que os três senadores do partido no Conselho de Ética do Senado votassem pelo arquivamento das denúncias contra o presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB), “foi feita com a concordância e orientação do Palácio do Planalto”. Arns apresentou a declaração formal de sua desfiliação do PT à 177ª Zona Eleitoral de Curitiba. “O presidente nacional mandou arquivar sem que o caso fosse esclarecido, e toda a sociedade pedia que se esclarecesse.” Em razão disso, o senador argu-
mentou que a fidelidade partidária “em mão dupla” é um dos aspectos fundamentais a ser discutido na reforma política. “É preciso um fortalecimento dos partidos políticos e ter bem claro seu programa, sua filosofia, seu ideário e sua história de luta”, destacou. “E, se não cumprir isso, haver a possibilidade de o parlamentar não ficar refém do partido” Arns repetiu que, no seu entendimento, a direção nacional “rasgou a bandeira do PT”. “Eu não concordo e estou me desfiliando concretamente. Mas a grande vítima é a militância, que também não concorda. Instalou-se um clima de falta de esperança, de falta de ânimo, de falta de entusiasmo.” ● EVANDRO FADEL
cias contra Sarney (ver matéria nestapágina)–será relatadapelo ministro Joaquim Barbosa. “Essa é uma boa notícia, acho que vamos ganhar”, sorriu. PMDB E MARINA
“O comando do PMDB se vende para quem pagar mais”, afirmou Simon sobre a eleição presidencial do próximo ano. “O PMDB vai mamar nos braços de quem ganhar”, anotou, referindo-se à candidatura petista da ministra da Casa Civil, DilmaRousseff,eàcandidaturatucana ainda não definida entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG). O senador gaúcho, que não poupou críticas a seu próprio partido, logo foi perguntado por qual motivo não deixava a legenda. “Porque eu represento o antigo MDB”, afirmou, resignado.
A possível candidatura da senadora Marina Silva (sem partido-AC) pelo Partido Verde empolga o senadorsobre as eleições de 2010. Na opinião dele, a ex-ministra do Meio Ambiente “dá outro caráter para a disputa” e “vai mudar o tom da campanha”. “Sai de cena o conteúdo do qual o povo já está de saco cheio.” A ressalva, porém, parte do comando do Partido Verde. O deputado Zequinha Sarney (MA), filho do presidente do Senado, preside a legendaefoilembradoporSimon.“AgenteachaqueoSarney nasceu com aquilo virado para a lua, mas não. A lua está no lugar daquilo dele, porque o Zequinha está no PV”, afirmou o senador gaúcho, arrancando aplausos e risos dos estudantes. ●
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Censuraafeta percepção sobrePaís,diz especialista O diretor do Instituto Brasil do Woodrow Wilson Center For Scholars em Washington, nos Estados Unidos, e professor visitante da George Washington University, Paulo Sotero, avalia como “frustrante” oepisódio de censura ao Estado, em voga desde o dia 31 de julho sob decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. “O episódio é lamentável, porque envolve um ex-presidente do Brasil (José Sarney), uma figura que exerceu papel positivo na transição para a democracia”, afirmou. Para Sotero, especialista em comunicação e em relações internacionais brasileiras, a decisão pode impactar na percepção sobre o Brasil na cena global. “A ascensão tem a ver com dados qualitativos relacionados ao caráter democrático da vida brasileira nas últimas duas décadas”, assinalou Sotero. “É um País que tem mostrado que épossívelestabilizar sua economia, enfrentar osproblemas sociais em um ambiente político aberto, competitivo e respeitador do elemento central da democracia que é a liberdade de expressão.” De acordo com o especialista, o Brasil agora tem a chance de reverter a decisão que silenciou o Estado sobre a Operação Boi Barrica, que envolve FernandoSarney,filhodopresidente do Senado José Sarney, e transformar o episódio de censura em uma demonstração positiva de que a democracia brasileiraé mantida pelaConstituição.“ComooBrasiltemuma reputação democrática, existem expectativas. E o resultado final, eu confio, será positivo”, anotou Sotero. Como forma de ratificar sua posição, o especialista lembrou da repercussão do impeachment ao então presidente e hoje senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL). “O escândalo que inviabilizou a administração Collor foi negativo, mas a forma como o País solucionou o escândalo usando a Constituiçãoparaaremoçãodopresidentefoi bem vista, como amadurecimentodemocrático”,disseSotero, que afirma confiar nos tribunais superiores. ● R.A.
Supremo nega recurso contra arquivamento de denúncias BRASÍLIA
O ministro Eros Grau, do Supremo Tribunal Federal, negouna noite de ontempedido de sete senadores para que as representações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), fossem levadas para análise no plenário da Casa. A decisão foi em caráter liminar. O julgamento definitivo do caso ainda não tem data definida. Naquinta-feira,osadvogados do PSOL ingressaram com mandado de segurança noSTFparagarantiratramitaçãodo recursoque umgrupo de senadores apresentou contrao arquivamentodas11 representações contra Sarney no Conselho de Ética. Naação,osadvogadosavaliaram que “a competência doplenárionão poderia,nunca,tersidousurpadapelaMesa, quanto mais por um ato unilateralemonocrático”.Isso porque o recurso contra o arquivamento foi apresentadopor11 senadores, mas a segunda vice-presidente, Serys Slhessarenko (PTMT),negouatramitação,alegando que o regimento internonão prevê recursodedecisão do Conselho de Ética a não ser ao próprio órgão. “É forte o dano e irreparável o prejuízo à imagem e prerrogativa dos parlamentares impetrantes”, anota o documento. ●
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Edição das 23h15
o estado de s. paulo DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
CLASSIFICADOS
q
14.226
PAULISTÂNIA
Uma chef precoce e premiada
q
7.905
Odesafio de encontrar terrenos em áreas nobres. ●
● PÁG. C8 JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/AE
ESPORTES
ANDRE LESSA/AE
NILTON FUKUDA/AE
Um ano depois, Brasil passa no teste da crise mundial
Lula pretende fazer do pré-sal uma festa para Dilma O governo pretende transformar o anúncio do modelo de exploração de petróleo do pré-sal, previstoparaamanhã,em trunfo para a candidatura de Dilma Rousseff à sucessão presidencial, informa a repórter Vera Rosa. A ministra-chefe da Casa Civil será a estrela da festa. Inspirada na campanha “O petróleo é nosso”, dos anos 50, a cerimônia reunirá aliados e adversários do governo. ● PÁG. A4
Para especialistas, País está entre os que saem da turbulência global melhor do que entraram saindo da turbulência maior do que quando entrou. “O fato de que o Brasil passou tão bem pela crise tinha mesmo de instilar confiança”, disse Kenneth Rogoff, de Harvard, a Fernando Dantas. Outro emergente, a Ín-
Àsvésperas doprimeiroaniversário do marco da crise global – a quebra do Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008 –, analistas como Armínio Fraga e José Alexandre Scheinkman concordam que o Brasil está
SP registra recorde de roubos no 1º semestre
dia, também se saiu bem, em razão do vigor de seu mercado interno, mostra o enviado especial Lourival Sant’Anna. E a maiornovidadetrazidapelacrise, como relata Jamil Chade, foia transformaçãodaChina no
maior exportador do mundo. Nos Estados Unidos, o grande vencedor foi o Goldman Sachs, que lucrou enquanto outros amargaram perdas, informa o correspondente Gustavo Chacra. ● ECONOMIA & NEGÓCIOS
FRASE
“O Brasil tirou nota boa e está todo mundo dizendo ‘esse cara é bom’” Ilan Goldfajn Economista
Documento da Unasul cria armadilha para Chávez
KENNEDY: FUNERAL DE ESTADO
O Estado de São Paulo registrou recorde de roubos no primeiro semestre de 2009. Foram 130 mil ocorrências, que atingiram tanto cidades grandes, como São José dos Campos e Jundiaí, quanto médias e pequenas. A região de Presidente Prudente teve o maior índice de crescimento de roubos: 54% em relação a 2008. O aumento pode estar relacionado à crise e ao tráfico drogas. ● PÁGS. C1 e C3
Agricultores criticam novo índice para medir produtividade. ● PÁG. A12
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ENVIADOS ESPECIAIS A BARILOCHE
Principalopositordoacordomilitar entre a Colômbia e os EUA, o presidente Hugo Chávez caiu em uma espécie de arapuca. O texto final da reunião da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) pode barrar futuras alianças envolvendo paísesdobloco.Entre elas,uma entre Venezuela e Irã. ● PÁG. A16
●●● Parentes prestam últimas homenagens ao senador Ted Kennedy, sepultado junto dos túmulos dos irmãos Robert e John F. Kennedy. ● PÁG. A19
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 30 DIAS q PÁG. A9
SAÚDE
Educação
Pesquisa mede força japonesa Descendentes são 4% no vestibular e 15% dos aprovados. ● PÁG. A31
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DANIEL PIZA
A leitura rasa da natureza humana O Brasil costuma desprezarnovidadesdainteligência científica. ● PÁG. D3 ●●
7 8 9 10 11 12
Eleição no Japão revela esgotamento de modelo
NOTAS E INFORMAÇÕES
Brasil, fonte de dólares Com o peculiar acordo de swap, Lula deve reforçar a segurança financeira argentina. E o faz sem expectativa de obter sequer redução do protecionismo. Para Buenos Aires, a indústria brasileira merece tanta consideração quanto a chinesa. Mercosul é para isso. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
27º
MÁX.
● PÁG. C2
12º
MÍN.
Dia começa com nevoeiro e frio. À tarde, sol e calor.
Tiragem: 301.507 Hoje: 246 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 6 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 40 ● F. Feminino: 20 ● Ca. Autos: 26 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 32 ● Co. Oportunidades: 8
Insônia, mal de 13% dos paulistanos
E
studo do Instituto do Sono da Unifesp mostra que 13,2% dos paulistanos sofrem da síndrome da insônia – as crises passam de um mês. As mulheres são as mais afetadas. ● PÁG. A28
ALIÁS Crime antigo, nova visão
Cláudia Trevisan ENVIADA ESPECIAL A TÓQUIO
Os japoneses vão hoje às urnas frustrados com a política tradicional. Pesquisas apontam derrota do partido que, de maneira quase ininterrupta, está no poder há 54 anos. O êxito da oposição pode marcar o início do bipartidarismo. ● PÁGS. A20e A21
●● O estu-
pro agora é crime contra a dignidade, e não contra os costumes. Para especialista, é um avanço. ●
NÚMERO EDU GARCIA/AE
Produtor prevê mais invasões
Denise Chrispim Marin Ariel Palacios
DOUG MILLS/NYT
Terras
RUY MESQUITA
O São Paulo de Washington (dir.) quer o tetra, mas precisa passar pelo Palmeiras de Diego Souza (esq.). ●
O ilustrador francês Sempé fala sobre seu livro infantil Marcelino Pedregulho. ●
imóveis
DIRETOR:
Confronto de favoritos
é o total de ofertas
Renata Vanzetto, 20 anos, abriu o primeiro restaurante aos 17.
(1891-1927)
30 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42320
CULTURA
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JULIO MESQUITA
200%
do PIB é a dívida pública japonesa
NACIONAL NACIONAL A11 A11
DOMINGO, 30 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 30 DIAS
Liminar em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados de operação da PF sobre negócios do empresário
Entrevista Eugênio Bucci: jornalista
‘Imprensa existe para revelar segredos’ NILTON FUKUDA/AE–24/10/2008
misso da imprensa seria com os sigilos de Estado. Existem investigações sigilosas de diversas naturezas, e o compromisso com a preservação desse sigilo é dos agentes envolvidos no seu processamento. A imprensa existe justamente para publicar o que outros consideram segredos, segredos atrás dos quais podem se esconder ações que conspiram contra o interesse público. Imagine o que seria do jornalista, se ele não pudesse mais investigar e publicar segredos. O que é uma notícia senão um segredo revelado?
Para o jornalista Eugênio Bucci, necessidade de preservar sigilo judicial não justifica veto a publicação de informações Daniel Bramatti
O jornalista Eugênio Bucci vê as medidas judiciais de censura no País como uma ameaça à própria essência da imprensa na democracia. “A democracia precisa da imprensa porque esta publica livremente informações e opiniões. Se não é assim, a imprensa deixa de exercer sua função.” Para o autor de A imprensa e o dever da liberdade, “não faz sentido o Judiciário se tornar o editor final do que pode ou não ser publicado”. Desde o dia 31 de julho, o Estado está proibido, por decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, de publicar informações sobre investigação da Polícia Federal que atingiu o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A proibição foi baseada no argumento de que a investigação está coberta por sigilo judicial. “A imprensa existe justamente para publicar o que outros consideram segredos”, avalia Bucci. Dentre os países democráticos, que consagram a liberdade de imprensa em suas Constituições, o senhor sabe de algum outro onde um juiz pode impedir a divulgação de determinada informação?
Não estudo esses casos fora do Brasil, mas eu não tenho notícia de um procedimento desse tipo. Não faz sentido o Poder Judiciário se tornar o editor final do que pode ou não ser publicado. A imprensa só funciona porque é livre para publicar o que julga de interesse público segundo seu próprio discernimento, seus próprios métodos e sua autoridade natural. É claro que, depois, ela responderá pelo que
Como o senhor analisa o fato de, na maioria dos casos, a censura judicial ser determinada a pedido de políticos ou pessoas ligadas a eles?
COMPROMISSO – ‘De posse de uma informação de interesse público, o dever da imprensa é publicá-la. Da maneira mais correta, mais serena’
A justificativa dada pelos defensores das medidas judiciais de censura é a necessidade de evitar supostos abusos. Mas há leis para punir quem os comete. A própria existência dessa legislação já não funciona como freio a eventuais abusos da imprensa?
Quem é:
Eugênio Bucci ● É formado em Direito e Comunicação Social pela Universidade de São Paulo ● Escreveu, entre outros livros, Em Brasília, 19 horas, obra na qual relata sua experiência como presidente da Radiobrás no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ● É membro do Conselho
Curador da Fundação Padre Anchieta
publicar. Mas o editor, ou seja, aquele que dá a palavra final, publique-se ou não, não deve estar abrigado no interior do Estado.
SIPorganiza fórumde emergência sobrecensura
Uma democracia é regida por leis, e a imprensa não está à margem da lei. Mas não precisa de alguém que tome conta dela. Por essa lógica de que é preciso evitar abusos, a imprensa precisaria de uma espécie de pajem, alguém que a ajudasse a não cometer excessos. Se isso prevalecesse, a instituição da imprensa desapareceria, porque sua autonomia resultaria inteiramente revogada. A lógica contida nas decisões judiciais nos levaria a acreditar que a imprensa, em algumas situações, teria de perguntar a uma autoridade se aquilo pode ou não ser publi-
cado. Isso fere de morte a razão pela qual a democracia precisa da imprensa. A democracia precisa da imprensa porque esta publica livremente informações e opiniões.
so deve ser corrigido, deve ser reparado. Mas, num aprendizado democrático, os mecanismos que os jornalistas adotam para proteger a privacidade vão evoluindo, se aperfeiçoando, e a sociedade ganha com isso. Não é uma autoridade judicial que irá dizer quando e como um jornalista deve proteger a privacidade de quem quer que seja.
Como resolver o conflito entre direito à informação e direito à privacidade, ambos com abrigo na Constituição?
O conflito entre os direitos à informação e à privacidade é permanentemente posto. Ele não existe apenas quando um processo corre em segredo de Justiça. Existe em praticamente todas as apurações de maior vulto. Cabe aos jornalistas fazer os julgamentos e as avaliações necessárias para proteger o direito à privacidade, para não agredir pessoas, para não destroçar reputações. Quando a imprensa erra, algumas vezes resulta prejudicada a imagem de uma pessoa. E is-
O que o senhor achou dos argumentos expressos na decisão do desembargador Dácio Vieira a respeito do Estado?
Quem tem de zelar pelo chamado sigilo de Justiça, o poder público ou a imprensa?
Ele estabelece uma vedação à publicação de qualquer informação relacionada àquele que entrou com o pedido. Estabeleceu-se assim uma espécie de blindagem judicial. E me assusta a possibilidade de generalização dessa atitude. Vamos imaginar um país em que que seja proibida qualquer informação sobre qualquer pessoa que esteja sob investigação. O que seria desse país? ●
O compromisso da imprensa é com a sociedade, com o direito à informação do cidadão. De posse de uma informação de interesse público, o dever da imprensa é publicá-la. Da maneira mais correta, mais serena, mais precisa, mais respeitosa possível, mas publicá-la. É falta de razoabilidade supor que, a partir de agora, o compro-
Feriado 7 de Setembro Neste feriado, deixe seu carro em casa. Viaje com a CVC.
Roberto Almeida
A Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), alarmada com o número de atentados à liberdade de imprensa na América Latina, incluindo a censura ao Estado imposta desdeodia31de julho,convocou 14 entidades para debater o problema no Fórum de Emergência sobre Liberdade de Expressão, que será realizado no dia 18 de setembro, em Caracas, capital da Venezuela. Entre as entidades estão a Associação Mundial de Jornais(WAN)eaFederaçãoInternacional de Jornalistas (FIJ), que condenaram a decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que silenciou o Estado sobre informações da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve Fernando Sarney, filho do presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP). O Brasil será representado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) e dividirá a mesa de discussões com associações representativas de Argentina, México, Bolívia, Chile, Equador e Peru. A falta da liberdade de expressão será discutida em painéis, mesas redondas e apresentações. O Estado aguarda juízo sobre recurso apresentado contra censura. ●
Não disponho dessa estatística, mas ela não me surpreende. Estamos em uma situação em que um processo com sigilo de Justiça pode se converter em uma senha para que alguns se vejam protegidos da função investigativa da imprensa. Portanto seria uma vantagem, um privilégio, perante a imprensa, que alguém se protegesse sob o manto do sigilo de Justiça. É sintomático que quem reivindique essa condição sejam personagens que frequentemente entram em choque com a opinião pública ou com a expectativa de conduta transparente e limpa que a sociedade alimenta em relação a seus representantes.
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SEGUNDA-FEIRA
(1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
31 de agosto de 2009 --ANO 130. Nº 42321
Lula cede à pressão dos governadores do pré-sal
Japão troca partido no poder após 5 décadas Cláudia Trevisan
Novo sistema incluiria compensação, como queriam os Estados produtores
ENVIADA ESPECIAL A TÓQUIO
Os japoneses encerraram ontem cinco décadas de governo do Partido Liberal Democrata, em meio à mais grave crise do pós-guerra. O Partido Democrático do Japão deverá ter ao menos 300 das 480 cadeiras da Câmara Baixa. O premiê Taro Aso anunciou a renúncia. Seu sucessor deve ser o reformista Yukio Hatoyama. ● PÁG. A10
RICARDO STUCKERT/PR
Isolado na negociação das regrasparaaexploraçãodepetróleo na camada do pré-sal, o presidente Lula acabou forçado a ceder à pressão dos Estados produtores de óleo – Rio, São Paulo e Espírito Santo – antes mesmo do anúncio oficial hoje do novo modelo regulatório do setor. Lula queria uma partilha dos royalties igual para todos os Estados. Mas os governadores Sérgio Cabral (RJ), Paulo Hartung (ES) e José Serra (SP) disseramnãoàsmudançase,pelo menos por enquanto, as regras deverão continuar como estão. Os três foram chamados para um jantar com Lula, ontem, no Alvorada, para receber informações sobre os projetos para o pré-sal e avisaram que não participarão da cerimônia de hoje. ● PÁG. B1 e B3 a B5
JULIO MESQUITA
PT relegou ambiente a 2º plano, diz Marina No dia de sua filiação ao Partido Verde, a senadora Marina Silva criticou a pressa na condução das obras do PAC, que geraram divergências com a ministrachefedaCasaCivil,DilmaRousseff,sua rivalna disputaà Presidência. Ela lastimou o fato de o PT ter relegado a bandeira ecológica a um 2º plano. E afirmou que não se satisfez com a forma como Lula conduziu a crise econômica sem levar em conta a questão ambiental. ● PÁG. A4
Oposição denuncia exploração eleitoral ●● ● PSDB, DEM e PPS anunciaram que vão lutar para impedir que o pré-sal seja bandeira eleitoral e favoreça partidos que “transformam o Estado em extensão de seus interesses”. ● PÁG. B3
PRÉ-SAL – Da esq. para a dir., os ministros Lobão e Dilma, o presidente Lula e os governadores Cabral (RJ), Serra (SP) e Hartung (ES)
direto da fonte ESPORTES
Artigo
Pré-teste do Enem levanta dúvida sobre segurança
Gustavo Loyola ECONOMISTA
A ameaça das contrarreformas Sucessão de contrarreformas do segundo mandato de Lula minam as instituições econômicas. ● PÁG. B2
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Hoje: 62 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 12 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 8 ● L. Link: 8 Classificados: 153 anúncios
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no Festival de Documentários. ●
Colômbia
Uribe anuncia que pegou gripe suína ●● Presidente estevecomoutros líderes, inclusive Lula, durante Unasul. ● PÁG. A13
Máfia do jogo
SP fecha um bingo a cada dez dias
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 31 DIAS q PÁG. A8
Clássico morno ajuda Palmeiras ●● São Paulo e Palmeiras fizeram de um dos clássicos mais esperadosdo Brasileiro umjogo morno, ontem no Morumbi,com 41 miltorcedores. Oresultado de 0 a 0 foi bom só paraoPalmeirasdoex-são-paulino Muricy Ramalho, que segue na liderança do Campeonato Brasileiro com 41 pontos, contra 37 do São Paulo. Já o
Santos derrotou o Fluminense por 2 a 0 na Vila Belmiro, com gols de André e Paulo Henrique, dois jogadores das categorias de base do time. Agora, o Santos está com 32 pontos e se aproximou da zona de classificação para a Libertadores. Já o Fluminense segue na lanterna do campeonato. ● PÁGS. E1 a E4
●● Imóveis residenciais são alugados para abrigar cassinos clandestinos. ● PÁG. C1
Saiba onde ver filmes na web
Verbas públicas
TCU faz pente-fino e amplia punições
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●● Foram 1.199 condenações e R$ 488 milhões em multas e ressarcimentos. ● PÁG. A7
Anos de chumbo PAULO LIEBERT/AE
Foi para conter o que chama de “superpoder” da mídia que Cristina propôs um projeto para cerceá-la. ● PÁG. A3
29º
●● Clássicos e inéditos
ZERO A ZERO – Richarlyson e Obina disputam clássico da marcação
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Tempo: CAPITAL
EVELSON DE FREITAS/ AE
Kirchner contra a mídia
●●● “Lula nãoéum ambientalista, isso não está no DNA dele”, diz João Paulo Capobianco, exassessor de Marina. ● PÁG. D2
Asquestõesdo próximoExame Nacional do Ensino Médio (Enem) foram pré-testadas por 50 mil alunos. Especialistas se dividem quanto à segurança, pois elas passaram pelas mãos de funcionários e estudantes. ● PÁG. A15
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NOTAS E INFORMAÇÕES
CADERNO 2
Guerrilheiro Jonas foi morto na Oban Relatório do Exército em 1969 assume morte de Virgílio Gomes, o Jonas. ● PÁG. A9
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A8 NACIONAL
SEGUNDA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 31 DIAS
Liminar em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados de operação da PF sobre negócios do empresário
CensurafereCarta,dizemespecialistas Advogados dizem que família Sarney preferiu ação inconstitucional, em vez de optar por via legal contra ‘Estado’ Fausto Macedo
Ao invés de recorrer a uma medida inconstitucional – a censura contra o Estado, decretada em31dejulho pelodesembargador Dácio Vieira, do Tribunal
de Justiça do Distrito Federal –, FernandoSarney, filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), poderia ter entrado na Justiça por outra porta, a da via legal, e até propor eventual ação de caráter civil ou cri-
minal. Essa é a avaliação de seis especialistas, todos advogados com ampla experiência em causas de imprensa nos tribunais. Eles dizem que Sarney tem razão quando afirma que a “imprensa não está livre de ser de-
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mandada na Justiça” e, por isso mesmo, o caminho que seu filho deveria ter adotado é aquele previsto na legislação. No auge da crise do Senado, Sarney afirmou que não tinha como se defender porque, segundo ele, não mais existe “nem direito de resposta” com o fim da Lei de Imprensa. “A imprensa certamente não está livre de ações judiciais e do crivo do Judiciário, mas não está livre a posteriori, ou seja, depois da publicação”, assinala o advogado Afranio Affonso Ferreira, do Estado. “Antes da publicação, a rigor, não há como proibir. Como se pode dar uma ordem objetiva de proibição de uma matéria que ninguém sabe qual é?” Afranio destaca que, ao contrário do que diz o senador, “a imprensa está cada vez mais submetida a uma infinidade de ações indenizatórias”. “Poderia ingressar com ação penal ou civil. Mas não foi esse o caminho que escolheu, mesmo tendo vislumbrado dano moral nas matérias que precederam a imposição de censura. Ele não tomou medida contra aquelas matérias. Ingressou com ação inibitória para que o jornal não pudesse mais falar sobre o assunto.” MÁ-FÉ
Para o advogado, “é uma inverdade de muita má fé querer se atribuir à imprensa essa característica de inimputabilidade”. Afranio assinala que “os defensores de medidas inibitórias usam de argumento falacioso e mentiroso”. Segundo ele, o número de ações por danos mo-
rais ou materiais é crescente. “Convivemoscomissodiariamente. A revogação da Lei de Imprensa não eliminou todos esses instrumentos com os quais se pode ir à Justiça contra veículos de comunicação. A imprensa quer poder informar o público. A imprensa não é e nemquerserinimputável. Opedido de proibição da publicação representa vestir a carapuça previamente.” Claudio José Pereira, professor de direito processual penal da Faculdade de Direito da PUC e de legislação de imprensa e dos meios de comunicação, lembra que o ofendido tem disponíveis diversos instrumen-
Imprensa não está livre de ações, mas somente após publicação, dizem toslegais paraobterreparação. “O fim da Lei de Imprensa não acabou com essa possibilidade nem afastou direitos individuais relativos à sua responsabilizaçãopeloque divulga.Aimprensa não está livre do controle jurídico e social, mas não pode ser engessada em sua função pública de divulgar informações de interesse de todos.” “O fim da Lei de Imprensa não alterou a matéria tratada pelalei civil,deixou plenamente em vigor toda uma legislação que permite a possibilidade de se buscar a reparação”, argumenta Diamantino Silva Filho, advogadohá43 anos.“Hádisposição legal suficiente para pu-
nir a imprensa, quando ela cometer desvios, faltas, excessos ou desrespeito a direitos individuais e coletivos. Há o caminho da ação por crime contra a honra, calúnia, injúria e difamação. E tem a ação de indenização.” “Existe todo um arcabouço repressivo”, anota a advogada Mônica Galvão. “O caminho que o sistema jurídico abre para reprimir eventuais abusos é o da reparação por danos morais ou materiais ou até mesmo a responsabilização criminal. Censura é inconstitucional.” O advogado Luiz de Camargo Aranha Neto afirma que “não há como definir previamente o que pode e o que não podeserdito,cabendoindenização por danos morais e materiais caso haja excessos”. Para ele, Fernando Sarney deveria ter requerido a identificação de quem vazou informações, “mas não a responsabilização do Estado”. Aranha diz que “quando é quebrado o sigilo de fonte, a notícia passa a ser pública”. OadvogadoAlexandreFidalgo, do Lourival J. Santos Advogados,processualistacomespecializaçãoemáreadecomunicação e de imprensa, também diz que Sarney está certo ao dizer quea imprensa não está livre de ser demandada na Justiça, “assim como qualquer cidadão, porque a Constituição assegura a todos direito de acesso à Justiça”. “Mas o instrumento utilizadopelofilho deleéinconstitucional.” Fidalgo destaca que “não há como pedir à Justiça, ainda que contra o Estado ela tenha acolhido o pedido, que se proíba veículo de comunicação de noticiar algo”. ●
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
1 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42322
Regras do pré-sal ampliam poder do Estado na exploração do petróleo Lula transforma lançamento do marco regulatório em ato de campanha para Dilma O presidente Lula lançou ontemasregras paraa exploração do petróleo da camada pré-sal, numa cerimônia cujo tom lembrou o nacionalismoda campanha“Opetróleo é nosso”, dos anos 40. O governo enviou ao Congresso, em regime de urgência, um marco regulatório em que a presença do Estado é a essência.Ele estabeleceosistema de partilha, no qual a Uniãoserá donadetodoopetróleo do pré-sal. Nas áreas em que a União permitir a participação de empresas privadas, a estatal terá parcela de ao menos 30% no consórcio vencedor. “Diziam que a Petrobrás era o último dinossauroaserdesmantelado no País. Foram tempos de pensamentos subalternos”, disse Lula, referindo-se ao governo FHC. Ele chamou o pré-sal de “bilhete premiado” e “dádiva de Deus”. Ao ladodaministra DilmaRousseff, pré-candidata à sua sucessão, Lula disse: “O petróleo pertence ao povo e ao Estado, ou seja, a todo o povo brasileiro”. ● PÁGS. B1 a B9
Serra quer mais tempo para debater
WILSON PEDROSA/AE
ANÁLISES
João Bosco Rabello
Por ora, poço não rende óleo, só voto O pré-sal ditará o discurso nacionalista e se constituirá em poderosa arma contra a oposição. Com resultado previsto para 2020, no entanto, o pré-sal só renderá dividendos políticos aos sucessores de Lula. Hoje, só rende eleitoralmente. É o que basta. ● PÁG. B5 ●●●
Celso Ming
Choro por royalty é político, não técnico
SAIA-JUSTA – Sob o olhar de Dilma e Sarney, ativista do Greenpeace entrega faixa de protesto a Lula, durante anúncio das regras do pré-sal
OS QUATRO PROJETOS APRESENTADOS
Presença forte do governo
●●● A oposição pede mais tempo para discutir as propostas para o pré-sal. “O governo teve 22 meses para fazer um projeto de lei e é razoável que o Congresso e a sociedade tenham tempo para resolver isso”, disse o governador de São Paulo, José Serra. ● PÁG. B7
Desde maio, área nobre de São Paulo formada por Pinheiros e Jardins teve 18 casasinvadidas porladrões,segundo dados do batalhão da PM responsável pela região. Só nos últimos dez dias, houvequatrocasos.Apolíciasuspeita da ação de uma quadrilha especializada, por causa da ação semelhante, que já fez como vítimas dois secretários do governo do Estado e um deputado. ● PÁG. C1 7 8 9 10 11 12
A União vai aplicar o dinheiro obtido em um Fundo Social. Os rendimentos serão revertidos para áreas como educação e combate à pobreza.
Para permitir investimentos no pré-sal, a União vai ampliar a participação no capital da Petrobrás no valor equivalente a 5 bilhões de barris.
Negócios
Disney leva por US$ 4 bi a Marvel Acervo tem personagens como X-Men e Homem-Aranha. ● PÁG. B16
●●
Afeganistão
O New York Times abordou ontem a censura judicial imposta ao Estado. A reportagem coloca o caso no contexto das ameaças à liberdade de imprensa na América Latina. “Para a família Sarney, a enxurrada de reportagens sobre nepotismo e corrupção não dava para aguentar”, disse o Times. ● PÁG. A6
Jardins vivem onda de assaltos a casas
Uma nova estatal, a Petrosal, será a representante do governo nos consórcios de exploração. Ela vai acompanhar os custos de produção.
3
Censura ao ‘Estado’ é citada pelo ‘NY Times’
Comandante pede nova estratégia Para chefe militar dos EUA, ainda se pode “vencer a guerra”. ● PÁG. A12
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ELLIOTT ERWITT
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 32 DIAS
Dona do petróleo, a União poderá contratar a Petrobrás ou empresas privadas para retirá-lo, mas ficará com a maior parte do óleo.
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CADERNO 2
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Número de faculdades ruins cresce, mostra MEC O número de escolas de ensino superior de excelência ficou estagnado no País, enquanto o total das consideradas ruins cresceu 29,6% entre 2007 e 2008, mostra o Índice Geral de Cursos, do MEC. Apenas 21 universidades e faculdades tiraram a nota máxima (5). Foram avaliadas 2.001 instituições, e 588 tiveram conceito 1 e 2, ou seja, devem sofrer avaliação in loco do MEC. ● PÁG. A15
NOTAS E INFORMAÇÕES
A força da imagem
Desunião na Unasul
●● Grandesmostrasde fo-
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tografia dominam a cidade em setembro. ●
VIAGEM AVENTURA
A desagregação política da região aumenta na razão direta da campanha de provocações a que recorre Hugo Chávez para fabricar os inimigos externos de que necessita. ● PÁG. A3
&
Fort Lauderdale Apesar das comparações com Miami, cidade mostra vida própria. ●
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Tempo: CAPITAL
29ºMÁX.
●● Atacante argentino es-
quentaclimaparaoclássico de sábado. ● PÁG. E1
13º MÍN.
Ar seco e quente garante dia com sol forte, calor à tarde e baixa umidade.
Eliminatórias
Tevez: ‘Vamos jantar o Brasil’
● PÁG. C2
Hoje: 76 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 18 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 14 ● Cl. Classificados: 4 (412 anúncios)
●●● Os royalties indenizam os Estados por causa da exploração de recursos naturais. Não está clara a extensão dessa mamata. A aceitação das razões dos governadores a esse respeito não se baseou em critérios técnicos, mas em conveniências políticas. ● PÁG. B8
A6 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 1 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 32 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘New York Times’ noticia censura contra ‘Estado’
CRONOLOGIA DO CASO ● 31 de julho
● 3 de agosto
● 13 de agosto
O desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, informa o Estado da proibição de publicar informações sobre operação da Polícia Federal, envolvendo o empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney
O líder Arthur Virgílio (PSDB) pede ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que abra sindicância contra Vieira. Para ministros do STF, juristas, advogados e promotores, Vieira contrariou a Constituição e violou a liberdade de imprensa
O desembargador Waldir Leôncio Cordeiro, da 2ª Câmara Cível do TJ, mantém censura ao jornal ao não acolherpedido de liminar no mandado de segurança. Cordeiro deixa para deliberar após receber dados de Vieira e da procuradoria ● 14 de agosto
O desembargador Dácio Vieira conclui que é competente para julgar o processo. Caso segue para Conselho Especial do TJ. Ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, critica censura ao Estado. Entidades continuam a repudiar a censura
Sentença é ‘amplamente vista como retrocesso’, registra diário, que relatou restrições nos anos 60 e 70 Daniel Bramatti
Como nos tempos da ditadura militar, a censura ao Estado é de novo tema de reportagem do jornal The New York Times. Nos anos60e70,odiárionorte-americanoabordouasrestriçõesimpostas à liberdade de imprensa no Brasil. Na edição de ontem, o que ganhou destaque foi o veto judicial à circulação de determinadas informações. O texto faz um relato sobre a proibição de reportagens relacionadas a investigação da Polícia Federal sobre o empresário FernandoSarney,filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).Amedidafoitomada pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Está em vigor desde o dia 31 de julho. Segundoo NYT, a determinaçãojudicialfoi“amplamentevista como um retrocesso depois de importantes avanços na remoção de restrições a uma imprensa livre”– referência à derrubada, pelo Supremo Tribunal Federal,daLeideImprensaherdada da regime militar. A reportagem põe a medida que atingiu o Estado no contexto de outras ameaças à liberda-
dedeimprensanaAméricaLatina, que partem principalmente de governantes. Exemplo mais destacado é o da Venezuela. “Além do Brasil, o caso Sarney deu relevância a preocupações por toda a América Latina de que, apesar de uma década definida pela ascensão de líderes populistas que prometeram ajudar os oprimidos, muitos juízes continuam a se curvar aos caprichosdospoderososaocensurar jornalistas”, aponta o texto escrito pelo correspondente Alexei Barrionuevo. “Para a família de José Sarney,aenxurradadiáriadereportagens sobre nepotismo e corrupção envolvendo seu nome não dava para aguentar”, diz Barrionuevo, ao descrever a ofensiva de Fernando Sarney para bloquear as reportagens. A investigação da PF incluiu a gravação de conversas telefônicas de Fernando com o pai. Ouvido peloNYT, o diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, declarou: “As gravações mostram um senador, com seu filho e parentes próximos, negociando empregos e benefícios como se o Senado fosse uma empresa privada, de propriedade da família”.
MILITARES
“Um coronel do Exército brasileiro observou as primeiras milharesdecópiasdoda ediçãodominical do jornal O Estado de S.Paulo saírem das impressoras.Entãoordenouaparadadas máquinas e confiscou a edição.” Assim começava reportagem do NYT, em 25 de setembro de 1969, sobre a ação de censores emjornaisdeSãoPauloedoRio. Em 1973, o diário americano voltava a abordar, de forma parecida, o mesmo drama. “Todas as noites, por volta das 23h, um censor da Polícia Federal brasileira vai à Redação de O Estado de S.Paulo, o jornal mais influente do País, lê todas as provas e corta qualquer material que trate de assuntos tabu ou que pareçam ‘inconvenientes’.” No fim de 1974 e início de 1975, o Estado, que completava 100anos,foitemadenovareportagem e de editorial no NYT. “Quasesolitárioentreosjornais brasileiros,oEstadofirmementeserecusaapraticaraautocensura, preferindo demonstrar sua independência ao imprimir colunas de poesia nos espaços em branco deixados pelas atribuladas tesouras dos agentes do governo”, dizia o editorial. ●
● 17 de agosto
● 5 de agosto
O advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira pede que o desembargador se declare suspeito para tomar decisões no processo. A exceção de suspeição é protocolada no próprio Tribunal de Justiça do DF ● 10 de agosto
● 1º de agosto
A Associação Nacional de Jornais (ANJ), outras entidades,senadores e o ex-ministro do STF Carlos Velloso criticam decisão. Jornal revela que Vieira, ex-consultor do Senado, é do convíviodos Sarneys e do ex-diretor Agaciel Maia
Associação Mundial de Jornais (WAN) e Fórum Mundial de Editores (WEF), que representam 18 mil publicações, 15 mil sites e mais de 3 mil empresas em mais de 120 países, enviam carta a Lula e a Gilmar Mendes (STF) criticando censura ● 12 de agosto
Estado entra com mandado de segurança. O recurso tem o objetivo de garantir o reconhecimento de direito líquido e certo, incontestável, queestá sendo violadoou ameaçadopor ato ilegal ou inconstitucional de uma autoridade
Mendes cobra decisão rápida sobre o caso. O advogado Manuel Alceu ingressa no TJ-DF com um novo recurso. Por meio de embargos de declaração, ele requer ao desembargador Lopes Júnior que esclareça pontosde sua decisão ● 21 de agosto
Estado ingressa com nova exceção de suspeição do desembargador Dácio Vieira. A base do recurso é extraída da própria decisão de Vieira, quando ele ignorou um primeiro pedido para que se declarasse suspeito no caso
● 29 de agosto
A Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), alarmada com o número de atentados à liberdade de imprensa na América Latina convoca 14 entidades para debater o problema no Fórum de Emergência sobre Liberdade de Expressão
“HYUNDAI PASSA a 4 MAIOR MONTAD U.S.News RANKINGS & REVIEWS
Automotive
“A Hyundai está tendo um bom ano. A fabricante coreana conquistou pela pri com o Genesis sedan e seu novo Genesis
“Até a Kia, sua ganhou notícia.”
NACIONAL NACIONAL A7 A7
TERÇA-FEIRA, 1 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 32 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Ex-ministro do Supremo pede decisão mais rápida
DIDA SAMPAIO/AE –21/10/2005
Carlos Velloso considera ‘incomum’ demora na derrubada de censura Fausto Macedo
A censura ao Estado completou ontem um mês, sem previsão de quando poderá ser efetivamente revogada. “Não me parece normal esse atraso”, avalia Carlos Velloso, ex-ministro presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Essa morosidade excessiva é incomum para medidas desse tipo. O mandado de segurança deve obedecer a uma tramitação rápida porque é preferencial.” Contra o decreto judicial que o proíbe de divulgar reportagens sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), o Estado ingressou com três medidas, duas exceções de suspeição do desembargador Dácio Vieira e um mandado de segurança – todas apresentadas na primeira semana de agosto. Até agora o Tribunal de Justiça do Distrito Federal não pôs um fim à demanda. “Sem conhecer os autos, es-
FRASES
Carlos Velloso Ex-presidente do STF “Essa morosidade excessiva é incomumpara medidas desse tipo. O mandadode segurança deve obedecer a uma tramitação rápida, porque é preferencial”
Mário de Oliveira Filho Advogado “É um absurdo o que está ocorrendo, porque trata-se de preservação da democracia”
Luís Fernando C. Barros Presidente da Associação Juízes para a Democracia “O que é estranho é a pressa de uma liminar que restringe a liberdade de imprensa” REGRA – ‘Está nos regimentos e códigos que mandado de segurança tem sempre preferência’, diz Velloso
tou achando que essa lentidão está realmente excessiva”, alerta Velloso. “Isso não costuma ser comum. Está nos regimentos dos tribunaise nos códigos que o mandado de segurança tem sempre preferência.”
O ex-ministro alerta que “o mandado é um remédio constitucional, assim como o habeas corpus, porque trata de garantias previstas na Carta”. “Deve receber tramitação mais rápida, preferencial a outros pro-
cessos. Mandados entram em pauta em primeiro lugar. Os regimentos dos tribunais e os códigos consagram a preferência para o julgamento dessas ações constitucionais.” Luiz Flávio Borges D’Urso,
presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)/São Paulo, considera que o direito está com a parte, mas o Judiciário demora para reconhecer esse direito. “É essa situação que o Estado experimenta, algo atí-
pico. Quando a proibição cair certamente já terá causado prejuízos irreparáveis, não apenas ao jornal como à cidadania.” “É um absurdo, trata-se de uma questão de preservação da democracia”, avalia o advogado criminalista Mário de Oliveira Filho. “Não estamos cuidando aqui da liberdade individual de alguém, de uma única pessoa, estamos tratando da liberdadede todo opovo brasileiro que a liberdade de imprensa alcança.” Oliveira Filho ressalta que “com um habeas corpus buscase celeridade da Justiça em defesa e em nome de alguém, mas neste episódio a causa é da população de um País inteiro”. O advogado repudia a demora da Justiça. “O Estadão não está buscando algo em benefício próprio, não pede concessão de privilégio. Procura simplesmente resguardar o interesse público da população que tem pleno direito de saber aquilo que acontece de bom e de podre no País. Há um notório interesse público na causa, que se sobrepõe ao particular.” “O que é estranho é a incompatibilidade da pressa de uma liminar que restringe valor constitucional tão importante como a liberdade de imprensa e que gera sentimento de orfandade da norma jurídica”,observa Luís Fernando Camargo de Barros Vidal, presidente da Associação Juízes para a Democraica. “O Judiciário tem que ter a sensibilidade de perceber a repercussão na sociedade um determinado caso e dar a agilidade necessária para tomada final da decisão, qualquer que seja ela”, prega Ricardo de Castro Nascimento, presidente da Associação dos Juízes Federais em Sâo Paulo. “Vejo com ceticismo aqueles que entendem que os processos são como uma fila bancária que tem que ser julgados em ordem necessariamente cronológica.”
A FORD E JÁ É A ORA DO MUNDO.” meira vez o prêmio de “Carro do ano na América do Norte” Coupe conquistou os elogios da imprensa automotiva...”
divisão barata, Fonte: U.S.News Rankings & Reviews - 19/8/2009
w w w. h y u n d a i - m o t o r. c o m . b r
D I S T R I B U I D O R E S E M T O D O O PA Í S : 0 8 0 0 7 7 0 2 0 1 1
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
2 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42323
Orçamento de 2010 prevê gasto recorde
HELIÓPOLIS: DIAS DE CONFRONTO
Investimento e despesa compessoal sobem O Orçamento da União para 2010, anode sucessão presidencial, tem como marca a maior promessa de investimentos da históriadogoverno federal–entre 2007 e 2008, eles cresceram R$ 900 milhões; entre 2009 e 2010, a projeção é de alta de R$
8,1 bilhões. Outra marca é o aumento dos gastos com o BolsaFamíliaecom custeiodamáquina pública. O governo enviou à Câmara projetos a respeito do funcionalismo cujo impacto fiscal anual é estimado em cerca de R$ 1,338 bilhão. ● PÁG. A4
Reajuste salarial de 14% no STF JF DIORIO/AE
●●● A Câmara deve votar hoje projeto que aumenta em 14,09% os vencimentos dos ministros do STF – que passarão de R$ 24.500
●●● Mulher passa por micro-ônibus incendiado na Favela de Heliópolis, na zona sul de São Paulo: na noite de ontem, policiais usaram bombas
de gás e balas de borracha para conter protestos provocados pela morte, durante um tiroteio, de uma estudante de 17 anos. ● PÁG. C3
BNDES terá reforço para ajudar Petrobrás
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 33 DIAS q PÁG. A8
Censo de 2010 terá opção pela web ●● Uso da tecnologia ampliará alcance da pesquisa demográfica. ● PÁG. A20
CADERNO2 Maratona em Veneza
Polícia de SP diz que roubos de casa estão ‘sofisticados’
Desmate na Amazônia recua 46% em 12 meses
Estudo sigiloso da Secretaria da Segurança mostra que 223 roubos a residências em São Paulo (um a cada 3 dias, em média, entre janeiro de 2008e 30 dejunhodeste ano) podem ser considerados “sofisticados”.Asquadrilhasorganizadas adotam disfarces – o preferido é o de carteiro. São crimes semelhantes aos registrados nos últimos dias, dos quais foram vítimas 2 secretários de Estado. ● PÁG. C1
O desmatamento acumulado de agosto de 2008 a julho de2009 na Amazôniafoi 46% menor do que no período anterior, de acordo com o Inpe. As estatísticas sugerem queda no ritmo de derrubada. Mas, na soma de junho e julho, houve alta de 18,5% ante os mesmos meses de2008 – o que pode sinalizar inversão da curva de redução. O Pará respondeu por 47% do desmatamento. ● PÁGS. A16 e A17
mentar a capacidade do banco. Na Câmara, a oposição, contrária ao regime de urgência imposto pelo governo aos projetos referentes ao pré-sal, decidiu obstruir todas as votações. No primeiro dia, porém, a estratégia fracassou. ● PÁGS. B1 e B4 a B6
FRASE
“O papel do governo é como o de uma mãe. Tem que tratar todos com carinho. Não deixar faltar nada para ninguém”
CLAUDIO ONORATI/EFE
presa de participações do banco, é hoje o principal acionista minoritáriodaestatal petrolífera (7,6%). A ideia inicial do governo é que o BNDES use parte dos títulos do Tesouro emitidos no empréstimo de R$ 100 bilhões feito pela União para au-
Risco de novas sanções faz Irã sinalizar cooperação
IBGE
Recursos vão servir para sustentar aumento do capital da estatal O governo discute nova injeção de recursos no BNDES para garantir que o banco acompanhe o aumento de capital da Petrobrás e, ao mesmo tempo, estimule a cadeia produtiva na exploração do petróleo na camada pré-sal. A BNDESPar, em-
Presidente Lula
(Sobre os royalties do pré-sal)
POLÔNIA: 70 ANOS DA 2ª GUERRA
●● Festival de cinema começahojecom apresentação musical da atriz Maria Grazia Cucinotta. ●
Crime
Mortedeadvogado deCollortempista ●● Para polícia, assassino de ex-juiz do TSE tinha acesso à família. ● PÁG. C4
Morre Menezes Direito, do STF Ministro indicado por Lula tinha 66 anos e sofria de câncer. ● PÁG. A9
agrícola Instituto Butantã está prestesaobtervacinacontra doença bovina. ●
7 8 9 10 11 12
Internet
ADAM WARZAWA/EFE
provocar ficou até chato com o passar do tempo”, disse Gilberto Silva. Maradona aposta no veterano Palermo, relata Almir Leite, enviado especial a Buenos Aires. ● PÁG. E1
COLUNISTA
Damatta
Crença inabalável na superioridade A conclusão do caso do caseiro contra o ministro mostra que o discurso pelo povo e pelo “amor” aos pobres é fachada, para esconder nosso viés aristocrático. ● PÁG. D12 ●●●
NOTAS E INFORMAÇÕES
O palanque do pré-sal
●●
ESPORTES
A seleção brasileira ignora as provocações dos argentinos, com quem jogará sábado pelas Eliminatórias, informa de Teresópolis o repórter Silvio Barsetti. “Esse negócio de
O Irã anunciou ontem que levará à mesa de negociações sobre seu programa nuclear medidas que, segundo Teerã, deverão reabrir o diálogo com a comunidade internacional. O governo informou que se esforçará para “remover preocupações comuns” – há suspeitas de que o Irã queira desenvolver armas nucleares. O gesto de abertura foi dado em meio aos sinais de que os EUA vão intensificar as sanções contra o Irã. ● PÁG. A12
Memória
●●
Brasil ignora Maradona
para R$ 27.952. O reajuste deve causar efeito cascata no Judiciário, elevando os gastos em R$ 372,35 milhões. ● PÁG. A4
eBay vende Skype por US$ 1,9 bilhão ●●● Militares participam de ceri-
mônia na cidade de Gdansk, alvo do ataque nazista que deflagrou
o conflito: chanceler Angela Merkel cita eterna “responsabilidade alemã”. ● PÁG. A14
●● Investidores privados levam 65% da empresa de comunicações. ● PÁG. B14
A fala de Lula deixou claro que o jogo pesado eleitoral e a exumação da ideologia estatista são faces da mesma moeda. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
31º MÁX.
● PÁG. C2
15º MÍN.
Sol aparece forte em todo o Estado.
Hoje: 74 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● G. Agrícola: 12 Classificados: 131 anúncios
A2 ESPAÇO ABERTO
QUARTA-FEIRA, 2 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 - falecom.estado@grupoestado.com.br
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O caso do caseiro assombrado
Distorcendo a distorção
JoséNêumanne
A.P.QuartimdeMoraes
Nunca antes na história deste país, diria o presidente Luiz Inácio, um episódio provou com tanta clareza a distância imensa e crescente do País oficial para o Brasil real quanto a rejeição pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da abertura de processo contra o deputado Antônio Palocci (PT-SP). Talvez importe menos o resultado em si do que a expectativa criada em torno do caso, como se a sessão do órgão máximo do Poder Judiciário pudesse determinar por si só o futuro político do protagonista e – mais do que isso – seus efeitos sobre o cenário institucional republicano. A começar pelos meios de comunicação, que transformaram o julgamento numa espécie de turfe de resultado antecipado – e ninguém pediu desculpas ao distinto público por ter a previsão de nove a zero virado uma disputa apertada de cinco a quatro –, tudo foi tratado como um espetáculo. E não um evento de gala, mas uma espécie de encenação da Paixão de Palocci num circo mambembe que nem lona tinha.
Na urna, o eleitor não terá de ser tão benévolo como o foi o STF com Palocci Salvos pelo gongo de um voto só, os profetas que anteciparam a goleada que não foi empate por um triz se esqueceram de uma velha lição de nossos ancestrais, que não se atreviam a adivinhar o sexo de bebês (antes do advento da ultrassonografia), resultados das urnas e sentenças judiciais. E, com a mesma presteza com que foi preparada a consciência cívica nacional para a derrota previamente anunciada da verdade do cidadão honesto, porém pobre, do Brasil da área de serviço para a versão do ilustre, mas suspeito, dignitário do País dos ofícios e salões, agora se vendem as profundas repercussões do ato sobre o destino do cidadão que não será investigado e dos demais, impotentes para deter a avalanche dessas tradições. Josef Goebbels, o maquinista da locomotiva de propaganda do 3º Reich nacional-socialista, cunhou a sentença segundo a qual, de tão insistentemente repetida, uma mentira pode se consagrar como se fosse um cânon. Antes que os discípulos secretos do mago da comunicação do regime de Hitler no Brasil consigam produzir mais uma evidência da superioridade da mentira oficial sobre o fato real, talvez seja muito conveniente submeter todas essas falsas e insistentes premissas à luz das verdades que sempre foram obviedades que ululam.
Os ministros do STF que liDiz-se agora, por exemplo, que graças à decisão suprema vraram o pescoço de Palocci da Justiça o deputado Palocci da espada de Dâmocles não tiestá definitivamente liberado veram zelo idêntico ao do lípara tentar os voos altaneiros der da bancada do PT no Seque o conduziriam ao Palácio nado, Aloizio Mercadante Olidos Bandeirantes ou até, se al- va, que condenou a ex-secregum impedimento se interpu- tária da Receita Lina Vieira ser no caminho trilhado do che- por não ter denunciado a chefe Lula para Dilma, ao Planalto. fe da Casa Civil, Dilma RousTrata-se de uma falsa constata- seff, ao ouvir sua insinuação ção. Se um dos ministros do Su- para dar velocidade à fiscalipremo resolvesse desafiar a lei zação das empresas do clã consensual vigente no Brasil (e Sarney. Ninguém se lembrou lembrada por Marco Aurélio de cobrar de Palocci seu deMello) de que “a corda sempre ver de cobrar do subordinado estoura no lado do mais fraco” Jorge Mattoso, então presie, assim, o ex-czar da bem-suce- dente da Caixa Econômica Fedida economia da administra- deral, a ominosa quebra do sição federal petista pudesse ser gilo do pobre coitado que não processado, como pretendia a perdeu só o emprego, mas Procuradoria-Geral da Repúbli- até a profissão. Mas o povo, que não entenca, não haveria impedimento para sua candidatura. Como impe- de o latim do advogado do dedimento para o mesmo fim tam- putado, o também político Jobém não haveria se o nobre par- sé Roberto Batochio, talvez lamentar nem sequer houvesse não seja tão benévolo com o sido julgado pela colenda Corte. candidato Palocci como o foi O julgamento de uma sema- o STF. No tribunal da urna, na atrás pode ter produzido um pode ser que o caseiro assomenorme alívio na vida do maior brado ao ser forçado a assuconfidente do presidente da Re- mir de público a humilhante pública, deste próprio e dos pe- condição de bastardo assomtistas em geral, que têm encon- bre a miríade de ambições de trado notórias dificuldades pa- seu carrasco. Por que essa dera indicar concorrentes à altu- cisão judicial tornaria um dera para enfrentar os tucanos Jo- putado eleito no rabo da lista sé Serra na sucessão presiden- favorito para a Presidência cial e Geraldo Alckmin na esta- ou o governo paulista? ● dual paulista. Mas atribuir à decisão do Supremo o condão de José Nêumanne, jornalista ter transformado um candida- e escritor, é editorialista to com poucas probabilidades do Jornal da Tarde de vitória numa eleição majoritária em favorito a subir ao pódio é um palpite que não pode virar prognóstico. A decisão dos cinco contra quatro se assemelha à de um árbitro de futebol que, ao vir a bola bater na mão do zagueiro dentro da área, usa o arbítrio da interpretação para não marcar o pênalti, partindo do pressuposto, muitas vezes equivocado, de que a interceptação não fora intencional. Num caso como no outro, pode-se discutir e polemizar, mas, por definição das regras, pênalti que não for marcado não pode ser convertido nem decisão de tribunal, alterada. Será inócuo discutir quem estava certo no caso, porque este escriba se penitencia pelo fato de não compreender o idioma particular no qual os supremos magistrados redigem e proferem seus votos. Isso coloca este escrevinhador na mesma condição do caseiro Francenildo Costa, que, após ouvir o voto de Marco Aurélio Mello, que o conduzia ao panteão dos heróis nacionais, imaginou que pudesse estar sendo xingado pelo ministro. O caseiro fala a verdade com o idioma da copa e da cozinha. Seus adversários criaram um dialeto próprio para falseá-la fin- A Disney comprou a Marvel gindo ser os guardiães dela.
Aumentoda criminalidade O Estadão recentemente divulgou o aumento do número dos homicídios (11%) em todo o País e, agora, o recorde de roubos no Estado de São Paulo. Assim, pergunto: as campanhas de desarmamento iniciadas por FHC e fortemente implementadas por Lula não iriam diminuir a criminalidade? Ou esqueceram de desarmar os bandidos...?! DAISY DE SANCTIS daisyssc@uol.com.br
São Paulo
Ondadeassaltos Os Jardins vivem onda de assaltos. Coincidências não existem. Foram assaltadas a casa do secretário de Saúde (esta no Alto de Pinheiros), a do secretário do Em-
prego e Relações do Trabalho e a do filho de um ex-prefeito. Nada como demonstrar a incapacidade do governador José Serra em cuidar da segurança pública. Com a palavra os anistiados. RONALDO JOSÉ NEVES DE CARVALHO rone@roneadm.com.br
São Paulo
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Censura,33dias A demora para ser julgada a censura imposta ao Estadão pode ser interpretada como a senha do grande poderio da oligarquia Sarney. Da forma como está montada a atual “governabilidade”, tudo certamente é possível. LEILA E. LEITÃO
Naprópria pele
Itanhaém
Os bandidos agora acertaram a mão. Com os dois recentes assaltos à residência de secretários do governo do Estado, o cidadão comum morador dos bairros dos Jardins, Morumbi e Pacaembu, passa a ter esperança de que alguma providência seja tomada.
● A ditadura voltou em forma de José Sarney, antigo dirigente da Arena e do PDS. Calar a boca do Estado é algo que o País não aceita. Leio desde muito tempo o melhor jornal de ideias do Brasil e abraço toda a sua diretoria e equipe. Minha solidariedade.
VICTOR GERMANO PEREIRA
JOÃO CARLOS DA SILVA
victorgermano@uol.com.br
Campo Grande
São Paulo
a alegria dos marqueteiros. Contra-argumenta o ministro em sua missiva que, ao contrário do que imagina este escriba, “as distorções ocorrem no processo de captação, e não de aprovação” dos projetos da Lei Rouanet. E procura comprovar essa afirmação com dados. O principal deles: em 2008, para a Região Sudeste o MinC aprovou projetos que permitiram a captação de quase 80% dos recursos investidos em todo o País. Nas demais regiões, Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Sul, o total de projetos aprovados resultou na captação, respectivamente, de 2%, 6%, 1% e 12% dos recursos investidos em atividades artístico-culturais, no Brasil inteiro. Essa enorme discrepância – destacada no artigo que provocou a carta do ministro – pode ser considerada, certamente, uma distorção, mas é, principalmente, o efeito perverso da chamada lógica do mercado, que evidentemente não é levada em conta no processo de aprovação dos projetos. Resulta também do equívoco de, no mesmo processo, tratar igualmente regiões muito diferentes entre si, o que inevitavelmente, como se vê, acaba provocando graves desigualdades. De modo que, embora a distorção, como observa o ministro, se manifeste no processo de captação, ela é gerada, obviamente, pela ausência ou inadequação de critérios no processo de seleção. Não admitir isso é distorcer a distorção. Talvez essa distorção não existisse, pelo menos LOREDANO em proporções tão amplas, se não fossem oferecidos à Região Sudeste tantos projetos que, a rigor, não necessitam de recursos públicos como condição essencial para se viabilizarem. Mas o ministro argumenta que “fazer arte no Brasil é caro”, que “tanto o artista consagrado quanto o desconhecido estão, em menor ou maior grau, sujeitos a essas condições” e que, portanto, não se pode “combater uma exclusão com outra”, porque “seria injusto excluir os consagrados”. Resta saber se haverá o cuidado de não continuar tratando igualmente os desiguais. De qualquer modo, garante o ministro: “Em vez de excluir direitos, vamos excluir privilégios.” Como? Mudando, é claro, a Lei Rouanet. Anuncia, então, Juca Ferreira algumas intenções que podem realmente vir a ser uma boa resposta à expectativa de critérios, que ele próprio expressamente admite não existirem hoje, para a aprovação e execução de projetos culturais por parte do governo: “Para combater
Honrou-me Sua Excelência o ministro da Cultura, Juca Ferreira, com simpática carta pessoal a respeito do artigo publicado nesta página sob o título Onde reside o perigo (4/8). Considerando o interesse público do conteúdo, respondo publicamente. Valendo-me do “gancho” do evento de lançamento do Vale-Cultura, tratei naquele texto da nova lei de incentivo à cultura em tramitação no Congresso, chamando a atenção para o perigo representado pela indefinição de critérios para a aprovação tanto de projetos incentivados pela renúncia fiscal quanto dos investimentos diretos por meio do Fundo Nacional de Cultura, que deverão predominar da nova lei, minimizando, em tese, as distorções da Lei Rouanet. Um dos argumentos expostos era o de que, embora baseada na realidade dos fatos, carecia de fundamento lógico a crítica do ministro aos “departamentos de marketing” como responsáveis pela concentração dos recursos incentivados em projetos estritamente comerciais, voltados para os interesses mercadológicos das empresas, e não para objetivos culturais. Essa distorção só é possível, sustentava o artigo, porque o próprio Ministério da Cultura (MinC) aprova os projetos que fazem
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
Nacionalismoretrógrado Com tanta pompa e estardalhaço para anunciar um projeto (o do pré-sal) que, se tiver sucesso, só será dentro de 10 ou 15 anos, já se arma no governo atual um nacionalismo retrógrado nos moldes das ditaduras getulista e militar. Depois virão slogans do tipo “ame-o ou deixe-o” e a intervenção estatal nos meios de comunicação, na educação, e por aí vai. FRANCISCO DA COSTA OLIVEIRA fco.paco@uol.com.br
São Paulo
Pré-saleleitoral Para quem aprendeu a não confiar na palavra do presidente e flagrou as mentiras do resto da equipe, a pressão – além do evento eleitoreiro – em que se projeta
FAX:
(11) 3856 2920
a regulamentação da exploração da camada do pré-sal é evidente golpe, seja publicitário, efetivo ou capa para encobrir os escândalos recentes – da denúncia da exsecretária da Receita Federal à imensa selva a desbravar sobre contratos e doações suspeitas da Petrobrás, passando por tantas outras falcatruas existentes, prestes a serem reveladas. A máquina petista não consegue mais esconder e desviar a atenção, a sociedade já identificou a regra da prática delituosa. Ora se resume a somar e aprofundar as investigações. A ganância confortável pela proteção judicial relaxou a turma e os desatinos espalharam-se fora da corriola. Portanto, é só esperar a morte pela própria boca. Não chegarão “vivos” à eleição. RONALDO PARISI
privilégios, não vamos mudar o foco do financiamento, mas as regras do financiamento. Por exemplo, em vez de simplesmente não investir em projetos de sucesso, podemos participar de seus resultados econômicos, ou seja, reverter parte de seu lucro para o Fundo Nacional de Cultura e, assim, gerar novos investimentos no país. Em vez de simplesmente não investir em um espetáculo ou show de preços abusivos, podemos condicionar o financiamento à diminuição dos preços.” E escreve ainda o titular do MinC: “Então, penso que todos têm o direito de acessar recursos públicos, mas também que todos têm o direito de acessar o que é realizado com esses recursos. Então propomos o equilíbrio dessas duas equações, a partir da seguinte regra: quanto mais próximo o projeto estiver do interesse público, maior investimento público para sua realização. Quanto mais próximo o projeto estiver do interesse de mercado, maior investimento privado para sua realização.” Essa animadora manifesta-
Ela é gerada pela inadequação dos critérios de seleção de projetos culturais ção de intenções deixa claro o espírito da nova lei que o MinC está propondo. Como ainda não conheço em detalhes o projeto em tramitação no Congresso, do mesmo modo que ninguém pode saber no que resultará a proposta do governo depois das emendas parlamentares que vierem a ser aprovadas, fica difícil avaliar até que ponto será realmente possível transformar em realidade as belíssimas – e, acredito, absolutamente sinceras – intenções do ministro. E há ainda outra incógnita: a posterior regulamentação da lei. De qualquer modo, é louvável, e não surpreende, a disposição do ministro de permanecer aberto a “um bom diálogo”. Merece, portanto, Sua Excelência, no exercício de espinhosa atividade política, que se faça um desconto para a dose de retórica de seu discurso e se abra um crédito de confiança à sua manifestação de propósitos. Mas isso não elide a necessidade de estarmos todos atentos às curvas do caminho onde reside o perigo. Por exemplo, talvez para resumir: a “governabilidade” acima do real interesse público e o insaciável apetite de agentes dos mais diversos setores artístico-culturais pelas benesses financeiras do Poder Executivo. ● A. P. Quartim de Moraes é jornalista e editor. E-mail: apquartim@dualtec.com.br
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
rparisi@uol.com.br
São Paulo ● Se o “seu presidente” já descobriu o “nosso petróleo” nas profundezas do pré-sal, seria interessante e necessário que garantisse quando, por quanto, com que dinheiro e por quem será realizada a tarefa, antes que, com essa premonição eleitoreira, faça os pobres e pouco informados lhe darem a esperada promissória do voto. A Bolsa-Família e congêneres já esgotaram os recursos do engodo. ALBERTO CARUSO albertocaruso@uol.com.br
São Paulo
Dordecotovelo Com todo o respeito, a inveja que o presidente Lula tem de FHC é
A8 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 2 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 33 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
SIP critica demora no julgamento de censura a ‘Estado’ Para diretor Ricardo Trotti, Justiça deve dar prioridade absoluta ao caso e ‘garantir a liberdade de expressão’ Clarissa Oliveira
A censura imposta há mais de um mês ao Estado por uma decisão judicial favorável à família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), já deveria ter sido derubada, na avaliação da Sociedad Interamericana de Prensa (SIP). Para Ricardo Trotti, coordenador da ComissãodeLiberdadedeImprensa e diretor do Instituto de Imprensa da entidade, a Justiça brasileira deveria dar prioridade absoluta ao caso, para minimizar os prejuízos à liberdade deexpressãoeao direitoà informação no País. “Quando a liberdade de imprensaestáemrisco,quandoestá em questão o direito das pessoas de saberem, o Judiciário deveria ser mais rápido, de forma a garantir um direito fundamental da democracia, que é a liberdade de expressão”, afir-
ma Trotti. Desde o fim de julho, o jornal está impedido de publicar reportagens sobre a OperaçãoBoi Barrica da Polícia Federal, que investiga o empresário FernandoSarney, filhodopresidente do Senado. Trotti reconhece que decisões judiciais que resultam na aplicação de censura aos meios decomunicaçãonãosãoexclusividade do Brasil. Ainda assim, ele insiste na tese de que a frequência de casos como o do Estado é maior no País, na comparação com outras nações. “Nós não vemos no Brasil outrosproblemas sériosdeprejuízo à liberdade de imprensa. Mas sempre assistimos a casos relacionados à Justiça”, avalia o diretor da SIP. Em outros países, exemplifica Trotti, são recorrentes casos em que a liberdade de imprensa é prejudicada pela violência contra profissionais da área. Ele admite que
há registros de atentados e assassinatosdejornalistasnoBrasil. Mas insiste em que a SIP tem visto a necessidade de emitirsucessivoscomunicadoscondenando decisões judiciais que restringem a ação dos meios de comunicação brasileiros. Trotti diz acreditar que uma decisãojudicialcomoaquecolocouoEstadosobcensuradificilmente prosperaria em outro País. “Aqui, nos Estados Unidos, por exemplo, você teria uma enorme dificuldade de ver um juiz impondo uma restrição desse tipo à imprensa. A liberdade de expressão é culturalmente muito valorizada. No Brasil, talvez, este conceito não tenha sido assimilado da mesma forma pelos magistrados”, afirma o diretor da SIP, que tem sede em Miami. Apesar de criticar a lentidão daJustiçabrasileira,Trottiavalia que o sistema parece agir ra-
REPERCUSSÃO SOBRE A CENSURA
No exterior ● Organização dos Estados Americanos (OEA) “É incompreensível que, enquanto os mais altos tribunais do Brasil tenham tomado decisões exemplares em matéria de liberdade de expressão, ainda exista a possibilidade de que alguns juízes locais possam usar seu poder para censurar e impedir a divulgação livre da informação a qual o público tem o direito de receber” ● Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) “Lamentamos que a Justiça brasileira se caracterize por proteger
excessivamente os direitos das pessoas quando elas estão imiscuídas em temas de interesse público, como nesse caso, e deixe em segundo plano o direito de liberdade de expressão, condenando assim os cidadãos ao ostracismo” ● International Federation of Journalists (IFJ) “A IFJ exige pronta retificação desta medida, que pretende impedir a imprensa brasileira de informar sobre as irregularidades detectadas pela Justiça Federal, e manifesta sua preocupação porque a decisão obedeceu a conhecidos laços de amizade entre o juiz Vieira e a família Sarney”
● Repórteres Sem Fronteiras “O fato de um familiar de um político eleito conseguir que seu nome não seja citado impede a imprensa de o mencionar como personalidade pública. Trata-se de um abuso de poder, que esperamos que seja corrigido pela decisão em recurso” ● Artigo 19 “Há violação da liberdade de expressão. Quando é de interesse público que a informação seja divulgada, mais do que de interesse privado, ela deve ser divulgada. Está claro que foi desrespeitado direito fundamental”
Situação fere direitos do cidadão, diz especialista A censura imposta ao Estado e ao site estadao.com.br por decisão judicial foi duramente criticada pela professora da Universidade de São Paulo (USP) Maria Tereza Sadek. Doutora em ciência política e especialista em estudos do sistema judiciário no Brasil, ela considera a situação absurda. “Isso fere os direitos do cidadão.
Não é O Estado de S.Paulo que está sendo censurado. É a cidadania”, afirmou. Para Maria Tereza, “censurar previamente é uma coisa sem nenhum cabimento”. Segundo ela, casos como o da censura ao Estado prejudicam a imagem do Judiciário junto à população. “Ainda que seja proveniente de
uma decisão individual.” Na opinião da coordenadora do Índice de Confiança na Justiça (ICJ-Brasil), Luciana Gross Cunha, o Judiciário está demorando muito para analisar a questão. “Em casos de censura, cada dia é um a menos com publicação de questões importantes para o cidadão.” ● ANNE WARTH
pidamente na hora de analisar pedidosapresentados porautoridades do governo. “No Brasil, o Judiciário parece mais concentrado em proteger a reputação dos membros do governo”,
ironizou Trotti. De acordo com ele, a relação entre a imprensa e o Judiciário noBrasildeveentrarnasdiscussões que a SIP planeja fazer em Caracas,em umfórumparadis-
cutir a liberdade de imprensa no próximo dia 18. O assunto, diz ele, também deverá aparecer na próxima assembleia da entidade, agendada para o dia 6 de novembro. ●
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+ 9 BAHIA
DEM tenta reaver vaga de suplente O DEM recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral para tentar reaver o mandato do deputado Jairo Carneiro (PPBA).Opartidoalegaqueuma semana antes de assumir a cadeira na Câmara em agosto, o então suplente pelo DEM se mudou para o PP sem apresentar justificativa, desrespeitando resolução do TSE. O DEM pede que a cortedetermineaperda domandato de Carneiro e a posse de suplente filiado ao partido. DISTRITO FEDERAL
Campanha Ficha Limpa faz ato hoje Com 1,1 milhão de assinaturas, a campanha Ficha Limpa,emdefesadeprojetodelei de iniciativa popular sobre a vida pregressa dos candidatos,caminhapara a retafinal. Pelo projeto, políticos cassadosnãopoderiamsecandidatarporumprazodeoitoanos. AtopúblicohojenaPraçados Três Poderes tenta mobilizar a população para coleta das 200 mil assinaturas aindanecessáriasparaqueoprojeto siga para o Congresso. MATO GROSSO
Juiz se livra de ação por autorizar grampo O juiz Mirko Vicenzo Gianotte, da 2ª Vara Criminal de Rondonópolis,nãoresponderá a processo por abuso de poder. Ele foi alvo de representação da OAB por autorizaraquebradesigilotelefônico do advogado Marcos Dias Cunha. A representação foi arquivada pelo Ministério Público e a decisão foi homologada pelo plenário do Tribunal de Justiça de Mato Grosso. VICE-PRESIDÊNCIA
Alencar volta a fazer quimioterapia em SP O vice-presidente da República, José Alencar, iniciou ontem o tratamento de quimioterapianoHospital SírioLibanês, em São Paulo. Alencar chegou ao hospital às 11h40 e saiu no início da tarde. A continuação do tratamento está prevista para a próxima semana. Na sextafeira, depois de constatar o crescimento do seu tumor, o vice desistiu do tratamento experimentalaquesesubmetia, em Houston, nos EUA.
Edição de 1h15
o estado de s. paulo
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
QUINTA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
3 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42324
Polícia de SP vê armação no 9º protesto do ano em favelas Apolíciasuspeitadaaçãodecriminosos por trás do protesto contra a morte de uma adolescente anteontemem Heliópolis, na zona sul de São Paulo. A pista é umbilhete em quebandidos prometiam “cesta básica” a quem fosse ao protesto, marcado para as 18 horas. A jovem foi morta em tiroteio entre guardas-civis e ladrões. Neste ano, nove protestos ocorreram em favelas. ● PÁGS. C1, C3 e C4
PAULO LIEBERT/AE
‘Aqui é quase tudo trabalhador’
ROTINA – Moradores passam por carros queimados terça-feira à noite na Favela de Heliópolis, na zona sul: os 21 detidos durante o confronto foram liberados na manhã de ontem
Governo criará fundo para ampliar controle do pré-sal Bancos e investidores privados serão impedidos de participar do empreendimento O governo pretende criar um fundo para investir na exploração do pré-sal, informam os repórteres Lu Aiko Otta e Leonardo Goy. Ele terá tratamento privilegiado, pois será o único sócio não petroleiro admitido pela União no projeto. Com o fundo, oEstado pode elevar ainda mais sua presença na explo-
ração das jazidas. “Não estamos dando tratamento especial para a Petrobrás? Então vamos dar também ao fundo”, disse o ministro Edison Lobão (Minas e Energia). Questionado sobre as críticas que a iniciativa pode causar, Lobão usou o discurso político: “De quem será o interesse do novo fundo? Do povo
brasileiro”.LobãoafirmoutambémqueaPetrobrás,cujaparticipação no pré-sal será intensa, deverá também ser responsável pela comercialização do petróleo que couber à União. Segundo o ministro, a exploração dopré-sal nãosignifica necessariamente que a gasolina ficará mais barata. ● PÁGS. B1 e B3 a B6
Lula resiste em tirar urgência ●●● O presidente Lula resiste em retirar o pedido de urgência para a tramitação dos projetos de lei com as regras para a exploração do pré-sal, apesar dos apelos até
ESPORTES
Câmara dá impulso à reeleição de Uribe A Câmara colombiana aprovou na madrugada de ontem projeto que convoca referendoconstitucionalque pode autorizar o presidente Álvaro Uribe a tentar nova reeleição. Para que a consulta seja feita,
Esse crime chamado justiça ●●●
●● As versões – algumas brasileiras – do doce favoritodosamericanos. ●
dos calarão por todo o tempo, estão condenando o País a ter novos Francenildos. ● PÁG. A2
●●● Com gol de Chicão (foto) aos
43 do 2º tempo, o Corinthians bateu o Santos (2 a 1), de virada.
CADERNO2 Sem brasileiros
NOTAS E INFORMAÇÕES
Tática inescrupulosa Lula quer fazer das eleições de 2010 uma disputa entre patriotas e antipatriotas – ou, como se dizia em outros tempos, nacionalistas e entreguistas. ● PÁG. A3
●●●
Tempo: CAPITAL
30º
MÁX.
verissimo ● PÁG. C2
16º
MÍN.
Sol e calor. À noite, pode chover. Qualidade do ar melhora.
Hoje: 96 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● P. Paladar: 6+4 ● Cl. Classificados: 22 (2.189 anúncios) 7 8 9 10 11 12
Adriano Pedrosa explica por que mostra do Museu de Arte Moderna só terá estrangeiros. ●
Eu e a guerra ●● Sozinho, liquidei com inimigos e ajudei a vencer a 2ª Guerra. ● PÁG. D12
Administração
Matarazzo deixa gestão Kassab ●● Ligado a Serra, titular das Subprefeituras estava desgastado. ● PÁG. C7
KEINY ANDRADE/AE
●● O curador
Em decisão esperada, o Banco Central manteve o juro básico em 8,75% ao ano. Após cinco quedas seguidas, o Copom optou pela estabilidade, para aguardar o efeito da redução – os juros cobrados pelos bancos sãobemmaioresqueaSelic. Para o mercado, a taxa básica deve seguir inalterada até o último trimestre de 2010. ● PÁG. B7 NÚMERO
5
pontos porcentuais caiu a Selic no ano até julho
A Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, a mais antiga do País, ficou em 11º lugar entre as instituições que mais aprovam no exame da OAB, com 79,9%. No topo, a UnB, com 97,2% de aprovação. Essa foi a primeira vez que São Paulo participou da prova unificada nacional. O Estado está na penúltima posição, só na frente de Mato Grosso. ● PÁG. A15
EVELSON DE FREITAS/AE
Cheesecakemania
Demétrio Magnoli
BC interrompe queda de juros e taxa fica em 8,75% ao ano
Direito da USP é 11º em aprovações no exame da OAB
ainda é preciso o aval da Corte Constitucional. A oposição acusou Uribe de usar o mesmo artifício de seu adversário ideológico, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, para se manter no poder. ● PÁG. A12
ANÁLISE
Condenam a Nação a calar quando se trata dos homens de poder. Como nem to-
de aliados. O PMDB já abriu mão da urgência. O tema será discutido hoje em reunião. O governo teme que nada seja votado antes da eleição de 2010. ● PÁG. B4
●●● Resignada, Geldaci Carvalho observava carcaças de carros queimados: “Aqui é quase tudo trabalhador.” Um grupo, relata Flávia Tavares, foi à delegacia protestar contra a ação policial. ● PÁG. C3
O Internacional venceu o AtléticoMG (3 a 0) e ficou com o título simbólico do 1º turno. ● PÁG. E1
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 34 DIAS q PÁG. A8
QUINTA-FEIRA, 3 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
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Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Tática inescrupulosa
O
s ataques à oposição que deram um tom eleitoreiro ao anúncio das propostas do governo para o pré-sal devem tornar-se tema permanente das manifestações do presidente Lula. Apenas um dia depois do evento, ele deixou claro que pretende, além disso, martelar a versão de que os críticos da nova política de petróleo são inimigos do progresso nacional – agem contra “o povo brasileiro”. O golpe é típico dos autoritários de todos os matizes e representa a forma mais vil de desqualificação do dissenso em relação às decisões dos detentores do poder. É uma incitação ao linchamento político dos que destoam da linha oficial. Destina-se, no caso, a impedir qualquer debate substantivo sobre as regras para o pré-sal e a semear no eleitorado uma atitude de hostilidade, quando não de repulsa, aos adversários do esquema de perpetuação do lulismo no Planalto. Com essa tática inescrupulosa, o presidente quer fazer das eleições de 2010 uma disputa não entre concepções distintas do que seja o interesse público e as alternativas para atendê-lo, mas entre patriotas e antipatriotas – ou,
como se dizia em outros tempos, nacionalistas e entreguistas. “Lula inventa espantalhos e os espanca”, diz o senador Sérgio Guerra, do PSDB. O primeiro pretexto para isso é a recusa oposicionista de aceitar mansamente o verdadeiro rito sumário com que Lula quer ver aprovados os quatro projetos do marco regulatório do pré-sal. A tramitação da matéria no chamado regime de urgência constitucional deixa ao Congresso não mais de 90 dias (45 em cada uma de suas Casas) para votar o pacote, sob pena de bloqueio das respectivas pautas de deliberações. O procedimento também estreita a margem para apresentação de emendas às propostas. A conduta do presidente a respeito é simplesmente cínica. Na véspera da divulgação dos projetos, pareceu aceder ao pedido do governador paulista José Serra para que desistisse da urgência. O argumento incontestável é que o governo teve o tempo que quis – a rigor, quase dois anos, a contar da descoberta das jazidas – para tomar as suas decisões, em debates a portas fechadas, e um assunto dessa envergadura não pode ser liqui-
dado, em seguida, a toque de caixa. No dia seguinte, Lula manteve a urgência, mas fez de conta que a responsabilidade não era dele: atribuiu a insistência aos líderes dos partidos da base governista e ministros que integram o seu conselho político. Depois, a uma pergunta sobre o assunto, reincidiu no cinismo, beirando o escárnio, ao indagar, retoricamente: “Quem sou eu, um humilde presidente, para ter qualquer interferência (na tramitação das proposições)?” A farsa durou um átimo. O mesmo humilde presidente que disse que “agora a bola é do Congresso, a vez é deles”, logo aproveitou para jogar a sociedade contra a oposição. Com a esperta ressalva de que ele próprio tinha sido oposicionista por muito tempo – portanto, falava com conhecimento de causa –, teorizou: “Quem é oposição está sempre achando que as coisas não devem dar certo, que as coisas devem demorar, porque acham que, se não acontecer, quem perde é o governo.” E deu a canelada: “Eu acho que, se não acontecer, quem perde é o povo brasileiro.” Na realidade, o conteúdo
Mais funcionários federais
Vitória na OMC
F
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oi necessária uma operação especial, combinada pela Presidência da República, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela Procuradoria-Geral da República com a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, para que fosse possível apresentar ao Congresso, no prazo-limite, uma enxurrada de projetos que elevam os vencimentos de diferentes categorias do funcionalismo – inclusive dos ministros do STF, o que produzirá efeito em cascata no Poder Judiciário –, alteram planos salariais de outras e criam 23.515 cargos comissionados ou a serem preenchidos por concurso público. Pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), projetos que criam cargos ou reajustam vencimentos de servidores precisariam ser apresentados até o dia 31 de agosto para poderem vigorar em 2010. Por isso, na segunda-feira, para receber os 14 projetos, a secretaria da Mesa da Câmara manteve um serviço de plantão até o encerramento do prazo fixado pela LDO. O projeto que eleva os vencimentos dos ministros do STF foi protocolado às 21h48 da data-limite; o que eleva a remuneração do procurador-geral da República, às 23 horas. O governo retardou a divulgação de sua iniciativa – a Agência Brasil noticiou o fato no encerramento de seus serviços na noite de terça-feira – e, depois, procurou minimizar o impacto desses projetos sobre as contas públicas. A proposta de Orçamento-Geral da União para 2010, também enviada ao Congresso na segunda-feira, prevê esses gastos adicionais,
argumentou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Alguns dos projetos, justificou o ministro, corrigem distorções criadas por emendas acrescentadas no Congresso a projetos anteriores que dispõem sobre carreiras do funcionalismo. Funcionários do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, por exemplo, tinham sido excluídos dos reajustes concedidos a 1,4 milhão de servidores e agora terão aumento. Mas o fato de esses gastos e as demais despesas adicionais decorrentes dos projetos enviados ao Congresso já estarem
O contribuinte vai ter que pagar a conta a partir do ano que vem previstos na proposta orçamentária para 2010 não torna a iniciativa do governo menos perniciosa para as finanças públicas – e, sobretudo, para o bolso dos contribuintes. Desde seu início, o governo Lula vem inchando a máquina administrativa com a contratação – com ou sem concurso público – de milhares de funcionários públicos. A partir da metade de seu segundo mandato, o presidente aumentou o ritmo de nomeações. Abriu os cofres para tentar viabilizar a candidata que quer colocar no seu lugar, e gasta ainda mais com o funcionalismo. Com os novos projetos apresentados na segunda-feira, tramitam na Câmara ou no Senado propostas que criam 56.515 cargos efetivos e funções comissionadas em 2010. Há outros
que reestruturam carreiras e asseguram aumentos aos funcionários. Os gastos adicionais resultantes desses projetos somam R$ 2,1 bilhões para os novos cargos e R$ 7,6 bilhões para os aumentos e reestruturações. Até agora, de acordo com levantamento feito pela assessoria do deputado Arnaldo Madeira (PSDBSP), no governo Lula foram criados 212.586 cargos e funções comissionadas. Se aprovados todos os projetos em exame no Congresso, no início do próximo ano esse número poderá subir para 269 mil novos cargos no governo federal em sete anos. Os gastos adicionais com as contratações e os aumentos generalizados para o funcionalismo incorporam-se de maneira definitiva às contas da União. Para cobri-los sem onerar o contribuinte, o governo precisaria cortar outras despesas. Mas não fez isso nos seus sete primeiros anos e seguramente não o fará no último, quando utilizará de todos os meios políticos e financeiros a seu dispor para tentar eleger a sua candidata. Na montagem do Orçamento de 2010, para justificar suas projeções do crescimento da arrecadação, o governo fez previsões otimistas para o desempenho da economia. Mas talvez nem o crescimento de receita esperado pelo governo seja suficiente para bancar as despesas crescentes com pessoal – além do aumento dos gastos de custeio e da Previdência. Para o contribuinte, o próximo ano pode trazer surpresas desagradáveis.
decisão do governo americano de dobrar o valor da ajuda aos produtores de algodão – em boa parte condenada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que, na segunda-feira, concedeu ao Brasil, em caráter definitivo, o direito de retaliar os Estados Unidos justamente para compensar os subsídios ao algodão – retrata com fidelidade o modo como as autoridades de Washington encaram as decisões das instituições internacionais. Elas são aceitas, e até elogiadas, quando interessam ao país, mas ignoradas na prática, quando lhe são prejudiciais. Nisso o governo de Barack Obama não difere de seus antecessores. Há dias, o governo americano elogiou o governo chinês, que anunciou sua disposição de eliminar tarifas adicionais sobre importação de autopeças, condenadas pela OMC. A ação contra a China tinha sido movida em 2006 pelos EUA, Canadá e União Europeia. Já o caso do algodão é mais antigo – a ação foi proposta pelo Brasil em setembro de 2002 – e se arrastou até agora porque, sempre que pôde, o governo americano recorreu contra as decisões que o condenavam. Da condenação de segunda-feira não cabe mais recurso, mas, com o aumento das verbas para subsidiar os plantadores de algodão, Washington mostra que não pretende cumpri-la. Será difícil que receba uma punição significativa pelo descumprimento, porque o sistema de solução de controvérsias no comércio internacional funciona bem na parte do contencioso, em que os argumen-
dos projetos – que representam uma guinada radical rumo ao estatismo e conferem superpoderes à Petrobrás –, a pressa de tê-los aprovados e o calendário eleitoral são indissociáveis. O “bilhete premiado” do pré-sal não começará a ser resgatado antes de meados da próxima década, mas a sucessão de que Lula se ocupa obsessivamente é no ano que vem. Por enquanto, entre os aliados do Planalto, a única voz discordante do modo como o governo encaminhou o pacote regulatório foi a do senador Francisco Dornelles, presidente do PP. “Não colocar tempo para a discussão não significa que os projetos não serão votados em um prazo curto”, raciocina. “O que não pode é determinar o tempo para o debate.” Em protesto contra a urgência, a oposição resolveu obstruir as votações na Câmara, mas é duvidoso que isso funcione. Mais importante será a sua reação à tentativa de Lula de reviver o segundo turno de 2006, quando lançou contra o candidato tucano Geraldo Alckmin a pecha de que pretendia privatizar não só a Petrobrás, como o Banco do Brasil. Resta saber se desta vez terão a firmeza de desmascarar a tática lulista de execrá-los como sabotadores do futuro do País.
tos das partes são analisados de maneira técnica e criteriosa, mas tem eficácia limitada no momento da aplicação das sentenças. A OMC dá o direito de retaliação ao país prejudicado por práticas comerciais desleais. Mas a aplicação da sentença depende da iniciativa e da habilidade do vencedor. Mesmo que consiga aplicar a sanção, pode ter de, em algum momento, arcar com o custo da perda de mercado de outros produtos. Como lembrou ao Estado o embaixador e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero,
Sim, o Brasil ganhou essa disputa contra os EUA, mas e daí...? que dirigiu a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), “discriminar contra produtos americanos é como dar um tiro no pé, porque vai afetar as exportações brasileiras para lá”. E o Estados Unidos, observou ainda o embaixador, constituem um mercado importante para produtos de maior conteúdo tecnológico exportados pelo Brasil, como aviões, automóveis e outros produtos industrializados. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, garantiu que a forma como o Brasil exercerá o direito concedido pela OMC não será decidida de maneira “emocional” nem representará “um tiro no pé”. Na aplicação das medidas autorizadas pela OMC, disse, o governo brasileiro escolherá os seto-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
“
DAVID NETO
DELPINO VERÍSSIMO DA COSTA
de de arrumar um “empreguinho” para ele, pois, ficando no Brasil, deverá ter endereço e emprego conhecido! Que tal uma diretoriazinha em algumas das bocas do pré-sal – ou será sem-sal? Afinal de contas, o pré-sal é de todos os brasileiros... Mas nem isso tem importância, pois é só ser providenciada a cidadania brasileira para o tal de Battisti e ele estará apto a tirar uma lasquinha do nosso novo petróleo salgado.
JOAQUIM QUINTINO FILHO
drdavidneto@uol.com.br
dcverissimo@gmail.com
ANTONIO M. G. SOTELLO
jqf@terra.com.br
São Paulo
São Paulo
cem no cenário político nacional. DANIEL LACERRA daniel@grupoesco.com.br
São Paulo
Saldemais,sal demenos Missão ingrata a desse petróleo. Quietinho lá nas profundas, tem de romper uma camada de 2 mil metros de sal para alavancar uma candidatura completamente sem sal. E sem açúcar.
zer publicidade e palanque eleitoral em torno do nome de Dilma Rousseff, tentando alavancar a sua candidatura e, consequentemente, elegê-la. Certamente Sua Excelência não tem o menor receio ou temor de punição pela Justiça Eleitoral, pois, da mesma forma que controla totalmente o Legislativo, talvez julgue que também tem em suas mãos e sob o seu controle o Judiciário. Será?
Pirassununga
LeiEleitoral Mesmo tendo conhecimento de que infringe a Lei Eleitoral, Lula utiliza o pré-sal, da mesma maneira que faz com o PAC, para fa-
Subserviência O executivo (minúscula mesmo) tem a chave do cofre. Por isso o legislativo (idem) e o judiciário (idem, idem) se arrastam aos seus pés e dizem: “fazeremos”
Lula diz que o papel do governo é de mãe. Faltou explicar quem são os filhos da mãe”
MarcusColtro marcus@femorale.com SãoPaulo
só que por outra fonte do mesmo governo. Estão-nos fazendo de idiotas sem a menor cerimônia; e isso se torna compreensível porque todas as instituições capazes de mobilizar a sociedade se encontram compradas pelo governo. Aí pergunto: qual o futuro dos meus filhos neste país desacreditado? GILMAR HENRIQUE DOS PASSOS
tudo o que o rei mandar...
Nunca antes neste país a mentira foi tão desvalorizada quanto neste governo petista. São tantas que num mesmo assunto se ouve uma notícia de fonte do governo e, mais tarde, algo totalmente diverso do que foi divulgado antes, ●
gil_passos@terra.com.br
São Paulo
CesareBattisti Finalmente, dia 9, às 9 horas, 9 ministros do STF vão julgar o pedido de extradição de Cesare Battisti. Será que vai haver interferência externa no resultado final? Provavelmente o “score” será 5 a 4 pró-réu (preso, por sinal). Nessas circunstâncias, há a necessida-
res que menos afetem o Brasil e afetem mais os EUA. Embora a decisão da OMC não possa mais ser contestada pela parte perdedora, o valor exato das sanções que o Brasil pode aplicar ainda não está definido. De acordo com a decisão dos árbitros da OMC, o valor total das medidas que o Brasil pode tomar contra os EUA é composto de duas partes. A primeira é fixa, de US$ 147,3 milhões por ano. A outra depende do montante anual dos subsídios concedidos pelos EUA aos produtores de algodão e que resultaram no preço internacional do produto, combinado com as exportações dos dois países. Na sentença, os árbitros da OMC tomaram como base os subsídios concedidos em 2006 e concluíram que o valor total das medidas compensatórias que o Brasil pode adotar é de US$ 294,7 milhões. Bem inferior aos US$ 2,5 bilhões pedidos pelo Brasil, mas muito superior aos US$ 20 milhões oferecidos pelos EUA, esse valor agradou ao governo de Washington. O governo brasileiro, porém, tentará basear as contas em subsídios de anos mais recentes, o que poderá elevar o total para US$ 800 milhões. Mas, para fazer essas contas, dependerá de dados do governo americano, o que poderá retardar a solução definitiva da questão. Destaque-se que, com sua decisão neste caso, a OMC inovou ao permitir que a retaliação não se limite ao comércio de bens e se aplique também a serviços e a direitos de propriedade intelectual, desde que a punição ultrapasse determinado valor (no caso, US$ 409 milhões).
tomsotello@uol.com.br
São José do Rio Preto
Aéticadecada um Meu avô já me ensinara: cada um deve viver de acordo com sua ética pessoal, não fazendo nada que tenha vergonha de contar. O presi-
dente, não contente com sua ética pessoal, que impôs de forma absoluta a seu partido, está também sendo eficiente em corromper a ética dos representantes legislativos do País, para que o apoiem em suas aventuras e intenções. Estaria atuando também sobre o Poder Judiciário? A censura ao Estado sugere que a resposta a essa questão pode ser sim. WILSON SCARPELLI wiscar@estadao.com
Cotia ● Estadão, 34.º dia de censura. A cada dia que passa, mais um tijolo é colocado no “muro da vergonha” que separa a democracia da ditadura. LUCCA BRASI luccabrasi@uol.com.br
São Paulo
A8 NACIONAL
QUINTA-FEIRA, 3 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 34 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Jurista diz que censura é atentado à Constituição
DIDA SAMPAIO/AE–3/8/2009
Pansieri vê decisão contra ‘Estado’ como ‘precedente casuístico’ Clarissa Oliveira Daniel Bramatti
A decisão judicial que pôs o Estadosobcensuracriaumprecedentepreocupante noqueserefere à preservação de princípios básicos da democracia, avalia o presidente da AssociaçãoBrasileiradeDireitoConstitucional, Flávio Pansieri. “A postura de se permitir a um juiz a possibilidade de restringir o acesso da sociedade civil a determinadas informações é sim uma forma de atentado contra a ordem constitucional”, afirma Pansieri. Desde o fim do mês passado, o Estado está impedido de veicular informações referentes à Operação Boi Barrica da Polícia Federal. A investigação envolve o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP). “É um precedente preocupante, para não dizer casuístico. Coloca em xeque uma das principais liberdades do Estado democrático, que é o direito à informação”, completou Pansieri. Ao comentar a decisão judicial, Pansieri discordou da avaliação de que a investigação deveriacorrersob segredodeJustiça. “Hoje, nós não podemos compreenderouadmitirque fatos de ordem pública possam seromitidosdasociedade.Qualquer investigação só pode correr sob sigilo em hipótese abso-
TJ do Distrito Federal rejeitou recurso do jornal no último dia 13 lutamente restrita. E uma dessas hipóteses se refere à defesa da intimidade de uma pessoa. Mas me parece que esse caso nada tem a ver com a intimidade do filho do senador”, argumenta. “Fatos públicos, ligados ao poder público, não podem ser encobertos pelo manto da intimidade.” Da mesma forma, o ex-ministro da Justiça Célio Borja avalia queodireitoà informaçãosesobrepõe no caso. “A liberdade de informar não se sujeita a limitações do poder público. Eventuais abusos da imprensa podem ser punidos pela Justiça, mas sempre a posteriori, após a publicaçãodainformação”,afirma Borja. Para o jurista Dalmo Dallari, o sigilo deve ser aplicado em casos excepcionais, nos quais os dados em questão estão sujeitos a confirmação ou cuja revelação poderia trazer grave prejuízo a uma investigação em andamento. Ainda assim, argumenta, a regra fundamental é a dequenãohaja osigilo.“AConstituição proíbe a censura, ex-
pressamente”, destaca. Dallari argumenta que faz parte da natureza do Poder Judiciário decidir em situações duvidosas. “Mas um juiz nãopode decidir arbitrariamente. Ele tem de se basear, antes de tudo, na Constituição e nas leis especiais que regulam cada situação, cada processo.” No caso específico do Estado, ressalta Dallari, o conteúdo da decisãojudicialdeveriasertornadopúblico, paraque seja possíveluma discussão aprofundada na área jurídica sobre o tema. Para o cientista social RobertoDaMatta,acensuraimposta pela Justiça seria impensável nos países de tradição liberal e democrática. “Há dois valores em choque. O princípio da liberdade de informação não pode ser o primeiro a cair”, afirma. MULTA
A censura foi imposta ao Estado por decisão do desembargador Dácio Vieira, do TribunaldeJustiça doDistrito Federal e Territórios. Ele acolheu um recurso da defesa de Fernando Sarney, que alegou “risco de prejuízo incalculável à honra” do empresário. A decisão foi tomada no dia 30 de julho passado e anunciada ao jornal no dia seguinte. O desembargador estabeleceu uma multa de R$ 150 mil como pena pelo eventual descumprimento da ordem de não publicar informações relacionadas à investigação policial. No último dia 13, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal rejeitou um recurso do Estadoe mantevea censura. O desembargador Waldir Leôncio Cordeiro Lopes Júnior, da 2ª Câmara Cível do TJ, não acolheu pedido de liminar em mandado de segurança apresentado pelo jornal. Invocando prudência, LopesJúniorpreferiu deliberar acerca do mandado apenas após receber informações do desembargador Dácio Vieira e o parecer da Procuradoria de Justiça. “Malgrado o inconformismo do impetrante com a decisão judicial impugnada está sendo observado o devido processo de direito”, assinalou. Manuel Alceu Affonso Ferreira, advogado do Estado, manifestou desagrado com a decisão. “Há prudências que são prudentes demais”, reagiu. O mandado de segurança foi a segunda tentativa de derrubada da censura. Primeiro, Manuel Alceu entrou com exceção de suspeição de Dácio Vieira, que mantém relações de proximidade e convívio social com a família Sarney. ●
‘IMORTAL’ – Candidato único, escolhido com o apoio de 22 dos 30 membros que votaram, Collor se disse muito honrado com a conquista
Sem um livro sequer, Collor vai para Academia de Letras Entidade alagoana fez escolha por artigos e discursos
O
ex-presidente e senador Fernando Collor de Mello (PTB) foi eleito ontem o integrante da Academia Alagoana de Letras. Apesar de não ter nenhum livro publicado, ele ocupará a cadeira 20, que pertencia ao médico Ib Gatto Falcão, ex-presidente da Academia, falecido em dezembro de 2008. Na avaliação, a casa considerou artigos de Collor em jornais, na imprensa local e nacional, e uma coletânea de discursos. Por meio do presidente do Instituto Arnon de Mello, Carlos Mendonça, o senador se disse muito honrado com a
conquista. Ele era candidato único e obteve 22 votos dos 30 membros que votaram. Houve 8 votos em branco. O presidente da Academia, d. Fernando Iório, disse nunca tinha visto votação tão expressiva. Para o bispo, jornalista e escritor, a eleição foi “livre, limpa e bonita”. “O ex-presidente foi eleito pela sua produção jornalística impecável, por seus artigos e discursos.” Ao se candidatar, em dezembro, Collor apresentou à Academia Alagoana de Letras uma coletânea dos discursos e artigos sobre os mais variados temas. Também exibiu o esboço do livro que escreve há anos sobre a sua versão do impeachment. Segundo os
seus assessores, A crônica de um golpe está no prelo. Entre os imortais, a eleição de Collor foi bastante elogiada. O escritor Carlito Lima, que tomou posse em outubro de 2008, disse que o ex-presidente é bem-vindo e tem tudo para engrandecer a instituição. Para o poeta Diógenes Tenório Junior, a escolha do senador pode trazer investimentos na estrutura da casa. A Academia Alagoana de Letras foi fundada em 1º de novembro de 1919 e se prepara para completar 90 anos. Em seu estatuto, se descreve como instituição civil que tem por finalidade desenvolver a cultura literária no Estado. Entre seus objetivos está ad-
quirir livros, documentos e manuscritos de homens de letras, sobretudo de Alagoas, para disponibilizá-los aos leitores. Consta do estatuto que a entidade se compromete em manter biblioteca com sala de leitura, arquivos e museus de objetos pertencentes aos sócios falecidos, entreter relações com sociedades congêneres do País e do exterior, além de publicar a Revista da Academia e trabalhos sobre assuntos literários ou que se incluam entre as matérias permitidas. São ainda atribuições da entidade, de acordo com o documento, “promover conferências, reuniões, cursos sobre temas culturais, preferencialmente literários; instituir prêmios e honrarias e colaborar intelectualmente com os poderes públicos no aprimoramento das letras em Alagoas”. ● Ricardo Rodrigues MACEIÓ
PeloBrasil AMAZONAS
PARANÁ
SÃO PAULO
Criada a primeira secretaria indígena
Governo investe na recuperação de rodovias
Maluf é condenado por gastos com propaganda
A primeira secretaria indígena foi criada ontem no Amazonas. O ex-coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, Jecinaldo Barbosa, da etnia sataré maué, é o secretário. Com um orçamento de R$ 1,2 milhão para este ano, ele diz que buscará verbas no governo federal, no exterior e na iniciativa privada.
O governador Roberto Requião (PMDB) autorizou a abertura de dois processos licitatórios com aplicação de até R$ 10 milhões para melhoria do pavimento em 45,5 quilômetros de rodovias do Sudoeste do Estado. O trecho entre os municípios de Realeza e Marmelândia (PR-182) receberá R$ 7 milhões. Os outros R$ 3 milhões irão para a PRC-163.
A 4.ª Vara da Fazenda Pública condenou em ação popular o deputado Paulo Maluf (PP-SP) a devolver ao município de São Paulo os gastos de sua gestão na prefeitura (1993-1997) com a publicidade do projeto habitacional Cingapura – R$ 4 milhões. Eduardo Nobre, advogado do ex-prefeito, disse que vai recorrer da decisão.
SERGIO DUTTI/AE-2/9/2009
BAHIA
PMDB é acusado de campanha antecipada A Procuradoria Regional Eleitoral entrou com representação no TRE contra o PMDB e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, por suposta propaganda eleitoral antecipada na edição n.º 6 do jornal baiano do partido. O jornal teria promovido a imagem de Geddel como pré-candidato ao governo baiano.
Edição de 0h15
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
Avaliação oficial do MEC mostra mĂĄ qualidade dos cursos de Pedagogia de estudantes de ensino superior no Brasil – subiu desde a Ăşltima avaliação, de 2005. Eram 172 com Ăndices 1 e 2 (numa escala de 1 a 5), o que equivalia a 28,8% do total, e agora o Ăndice estĂĄ em 30,1%. Dos 7.329 cursos avaliados pelo MEC em 30 ĂĄreas de graduação, 1.566 ficaramcomconceitos1 e2,eapenas 105 obtiveram a nota mĂĄxima. As escolas pĂşblicas, mais uma vez, tiveram o melhor desempenho. â—? PĂ GS. A17 a A19
DESTAQUES DA AVALIAĂ‡ĂƒO
Melhor escola aposta na prĂĄtica
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EUA ampliam pressĂŁo a golpistas de Honduras
â—?â—?â—? A PUC-RJ, que tem o melhor curso de Pedagogia, atribui seu desempenho a um currĂculo voltado para o mercado de trabalho e ao pequeno nĂşmero de alunos. Especialistas veem descompasso entre as escolas de Pedagogia e a prĂĄtica da sala de aula. â—? PĂ G. A17
CORRESPONDENTE EM WASHINGTON
Os EUA indicaram ontem que nĂŁo reconhecerĂŁo a eleição presidencial em Honduras, marcadaparanovembro,eformalizaram um corte de US$ 22 milhĂľes em assistĂŞncia ao paĂs. Mas o governo de Barack
Na China, quase 500 sĂŁo atacados com seringas
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Extratos provam favor de empresa aos Sarneys Extratos bancĂĄrios mostram que a empreiteira Aracati comprou Ă vista pelo menos um dos apartamentosusadospelafamĂlia do presidente do Senado, JosĂŠ Sarney, nos Jardins, em SĂŁo Paulo. A empresa repassou o imĂłvel ao deputado JosĂŠ Sarney Filho, que alega estar pagando Ă Aracati em parcelas. O Estado revelou, em 16 de agosto, que a Aracati – empreiteira com negĂłcios na ĂĄrea elĂŠtrica envolvendo dinheiro pĂşblico– comprou dois apartamentos usados pelos Sarneys. â—? PĂ G. A4 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 35 DIAS q PĂ G. A6
Com prĂŠ-sal, indĂşstria terĂĄ de investir atĂŠ US$ 40 bilhĂľes
DILMA: CORRENTE DE FÉ
Governo nĂŁo reconhecerĂĄ eleição PatrĂcia Campos Mello
(1891-1927)
4 de setembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42325
Um em cada 4 professores se forma em faculdades ruins Umemcadaquatrofuturosprofessores do PaĂs se forma em cursos de mĂĄ qualidade. É o que mostra cĂĄlculo do MEC feito combasenos resultadosdeavaliaçþes com formandos e calouros. SĂŁo 71 mil alunos em 292 cursos de Pedagogia que receberam os mais baixos conceitos nasavaliaçþes. SĂł9dos763cursos avaliados em 2008 tiveram nota mĂĄxima. A quantidade de cursosruinsde Pedagogia– terceira ĂĄrea com maior nĂşmero
JULIO MESQUITA
Obama manteve sua posição ambĂgua em relação a Manuel Zelaya – presidente deposto em golpe hĂĄ pouco mais de dois meses – e nĂŁo declarou que sua volta ao poder seja essencial para legitimar a eleição. O Brasil suspendeu o benefĂcioda isençãode vistosparahondurenhos. â—? PĂ GS.A12 eA14
A indústria de måquinas e equipamentos terå de investir de US$ 30 bilhþes a US$ 40 bilhþes nos próximos quatro anos se quiser acompanhar o desenvolvimentoda exploraçãodepetróleo do prÊ-sal. O recado foi dado a empresårios pelo presidente da Petrobrås, JosÊ SÊrgio Gabrielli. � Pà GS. B1 e B3 a B5
ANĂ LISE
21 são presos por roubar mulheres no trânsito
Dora Kramer
O petrĂłleo ĂŠ dele Por que a pressa na votação dos projetos do prĂŠ-sal no Congresso? Porque ano que vem tem eleição. O objetivo nĂŁo ĂŠ fazer as coisas bem feitas, de forma a contemplar o interesse coletivo, mas fazer o mais rĂĄpido possĂvel de modo a atender ao objetivo especĂfico de um governante que quer passar a ideia de que o petrĂłleo ĂŠ dele. â—? PĂ G. A6
ClĂĄudia Trevisan CORRESPONDENTE EM PEQUIM
Quase 500 pessoas disseram ter sido vĂtima de ataques com seringas contaminadas na provĂncia chinesa de Xinjiang nas Ăşltimas semanas. As agressĂľes teriam motivação ĂŠtnica. â—? PĂ G. A16
Policiais disfarçados de mendigos e de usuårios de droga prenderam 21 pessoas que roubavam mulheres motoristas no trânsito da ligação Leste-Oeste e da Avenida 23 de Maio. Os objetos roubados eram trocados por drogas. A maioria das prisþes foi filmada. � Pà G. C1
DIDA SAMPAIO/AE
â—?â—?â—?
â—?â—?â—? LĂderes evangĂŠlicos oram com Dilma para ajudĂĄ-la na luta contra o câncer linfĂĄtico; a ministra disse
que espera poder anunciar em uma semana que, do ponto de vista dos mĂŠdicos, estĂĄ curada. â—? PĂ G. A8
FIM DE SEMANA
EliminatĂłrias
Maradona apela a reza e churrasco â—?â—? TĂŠcnico pede missa e permite festa para motivar Argentina. â—? PĂ G. E2
Milton Hatoum â—?â—? Jovensprovamqueboa
literatura tem o poder de viajar no tempo. â—? PĂ G. D12
Nelson Motta �� Quem diria que eleição
naItĂĄlia seriadecididapelo voto sexual? â—? PĂ G. D7
CADERNO 2
Melhor hora para viajar ĂŠ apĂłs as 22 h
Guia
Tempo: CAPITAL
25ÂşMĂ X. 18Âş MĂ?N.
A escuridĂŁo do prĂŠ-sal â—?â—? â—? A PetrobrĂĄs terĂĄ uma posição privilegiada e, acima dela, ficarĂĄ a Petro-Sal, com enorme poder de arbĂtrio. Com o esquema proposto, ampliam-se as oportunidades para a prĂĄtica da corrupção. â—? PĂ G. A3
As estradas do Estado deverĂŁo receber 1,7 milhĂŁo de veĂculos no feriado prolongado de 7 de Setembro. A CET recomenda a viagem sĂł depois das 22 horas. Na volta, o maior movimento deve ser das 15 Ă s 22 horas. â—? PĂ G. C6
Frente fria traz temporais. â—? PĂ G. C2
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NOTAS E INFORMAÇÕES
Cinema �� EstreiahojeUp–AltasAventuras, animação da Pixar em 3-D sobre Cal, um velho rabu-
Exposição gento que retoma o fio da própria vida ao se perder no mundo com o garoto Russell. �
Uma visita guiada Ă mostra de Matisse que serĂĄ aberta amanhĂŁ na Pinacoteca. â—?
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Hoje: 200 påginas A. 1º caderno: 24 � B. Economia: 18 � C. Metrópole: 14 � D. Caderno2: 12 � Guia: 116 � E. Esportes: 4 � Cc. Construção: 8 � Cl. Classificados: 4 (142 anúncios)
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SEXTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Censuraparaalguns, vale-tudoparaoutros
Aquestão dopré-sal
WashingtonNovaes
GastãoAlves deToledo
Quando faltavam três dias para completar um mês desde que um juiz de Brasília impôs a inacreditável censura prévia a este jornal – impedindo-o de cumprir sua missão de levar informações que deveriam ser públicas à sociedade (que tem o direito de acesso a elas) –, o Judiciário envolveu-se em mais um desses episódios que o tornam parte decisiva da atual crise institucional do País. E o fez com uma sentença do Supremo Tribunal Federal (STF) – por maioria escassa – que retira mais um direito dos cidadãos, o do sigilo em suas contas bancárias, e na prática dá a autoridades livre acesso a elas, que lhes deveria ser vedado. E ainda com a diferença de entender que o único culpado é o dirigente da instituição bancária que violou o sigilo; um ministro (na época do incidente) e seu assessor de Comunicação, a quem as informações sigilosas foram levadas, de nada têm culpa. Com isso o exministro não precisa ser processado e pode candidatar-se a altos cargos públicos, embora ainda responda a uma dezena de
Quando não pode contar com a Justiça, a quem o cidadão recorrerá? processos por improbidade administrativa. Não é o primeiro imbróglio que leva o Judiciário à frente do palco onde já se encontram o Legislativo e o Executivo. O primeiro, com escândalo atrás de escândalo, tem 30 dos 81 senadores respondendo a processos por crimes de natureza pública, ao lado de 165 deputados federais processados pelas mesmas razões. O segundo, no jogo da manutenção do poder, aliase a inimigos que denunciava ontem, fecha os olhos ao que for preciso. Mas tudo configura um quadro que leva a temer rupturas indesejáveis, dado o horror que vai tomando conta de boa parte da sociedade. Censura à comunicação nos termos em que foi decretada por um juiz leva a memória de volta aos tempos mais duros do regime militar, em que até porteiros de Ministérios se davam ao desplante de, por telefone, ordenar a órgãos de comunicação que não divulgassem este ou aquele fato. Sem apelação. Ainda com muitos textos em seus arquivos, todos simplesmente vedados por inteiro com um enorme X atravessando as páginas, o autor destas linhas se lembra de um episódio muito demonstrativo da prepotência, na época em que dirigia a redação do Globo Repórter (da Rede Globo), na década de 70. Ali, os roteiros finais e os programas gravados tinham de ser vistos e
aprovados por censores da Polí- rá que o caseiro Francenildo, A nova proposta de regulação cia Federal, que impunham cor- que teve seu sigilo bancário do setor petrolífero esbarra tes parciais ou totais, sem nem violado, aí se reconheceria?). em óbices jurídicos relevanSeria outro o quadro hoje? sequer justificar a decisão. Foi tes. Ao desprezar os preceitos assim com programas sobre as O noticiário das últimas semaconstitucionais que regem a invasões no Pontal do Paranapa- nas informa que há 45 mimatéria, especialmente os volnema, sobre o desaparecimento lhões de processos à espera tados para estabelecer o âmbide Sete Quedas, sobre riscos da de julgamento na Justiça. Só to de atuação das empresas energia nuclear, sobre poluição em 2008 deram entrada 70,1 estatais, o governo federal a em Salvador e em rios que desá- milhões de ações novas; em vicia de inconstitucionalidaguam em sua baía, sobre a vida 2007 haviam sido 67,7 mide. Com efeito, não é preciso de um delinquente juvenil – Wil- lhões. E o estoque crescendo. grande esforço interpretativo A garantia do reconhecisinho Galiléia – morto aos 17 para verificar a impossibilidaanos pela polícia (programa diri- mento dos direitos do cidade da benesse a ser concedida gido por João Batista Andrade). dão inscritos na Constituição pela União à Petrobrás, ao Talvez o caso mais aberran- é um dos pressupostos da depretender destinar-lhe camte tenha sido o de um documen- mocracia. Mas quando não pos petrolíferos, sejam ou não tário adaptado da TV inglesa e pode contar com a Justiça, a da camada de pré-sal, em deali já exibido, sobre pigmeus quem o cidadão recorrerá? À trimento das demais empreafricanos. A censora que assis- força, correndo riscos? E se a sas que operam no setor. tia à versão final determinou a isso se agrega a descrença A irregularidade jurídica este escriba que cortasse toda a nos outros Poderes da Repúdecorre da desatenção a alsequência mais bonita e emocio- blica, como ocorre agora com guns dispositivos da Constituinante, que documentava com parte dos cidadãos? ção federal, a começar pelo inmuita delicadeza o nascimento ciso II do artigo 173, que manTeremos de repensar esse de um pigmeu, sua saída do ven- quadro institucional, inclusida as empresas públicas e sotre da mãe. E ante a pergunta ve para escrever na Constituiciedades de economia mista se sobre as razões desse corte, li- ção que a informação é um sujeitarem “ao regime próprio mitou-se a censora a respon- bem da sociedade e o acesso a das empresas privadas, inclusider: “Porque uma criança não ela, um pressuposto da demove quanto aos direitos e obrigapode ver isso, uma mulher nua cracia (“quem tem mais inforções civis, comerciais, trabadando à luz.” Ante o argumento mação tem mais poder”, coslhistas e tributários”. O legislade que as crianças do Rio de Ja- tuma-se dizer). A experiência dor comum não pode instituir neiro (onde estávamos) e de ou- da censura no período militar regras que discrepem desse tros lugares viam todos os dias mostrou à exaustão os males comando, sob pena de escamomulheres de biquíni e “fio den- a que se submete a sociedade. teá-lo para ensejar uma situatal” nas praias, praticamente Não podemos chegar a outra ção por ele vedada. Significa nuas, insistiu: “Mas é imoral.” situação terminal. Mas é funque qualquer empresa estatal Um terceiro argumento – “é ina- damental que a sociedade seque explore atividade econômicreditável que a senhora, mu- ja capaz de formular os camica, como a Petrobrás, está poslher, considere imoral o momen- nhos reparadores. É preciso ta no mesmo plano de atuação to mais bonito da vida das mu- repetir e repetir que apenas a de suas concorrentes, sendo inlheres” – de nada adiantou, a “retórica da indignação” que cabível o benefício aventado. censora foi categórica: “Corta!” presenciamos hoje, sozinha, a Ademais, é expressa a suE cortada foi toda a sequência. bordinação da União Federal nada leva. É decisivo fazer Estaremos nos aproximan- chegar ao mundo da política ao disposto no artigo 37 da do de tempos semelhantes, e as propostas da sociedade paCarta Magna, que disciplina a não apenas por causa de censu- ra mudar os nossos rumos. ● administração pública e presra prévia à comunicação, de creve, no inciso XXI, que suas um lado, e liberalidade inaceitá- Washington Novaes é jornalista “obras, serviços, compras e vel para poderosos? Que dizer E-mail: wlrnovaes@uol.com.br alienações” se darão mediante do quadro da Justiça no País, que a toda hora volta a ser objeto de noticiário, por causa de episódios extremos? Quando escreveu o capítulo A conquista dos direitos e o acesso à Justiça para o Relatório do Desenvolvimento Humano no Brasil 1996 (do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o autor destas linhas documentou na Justiça brasileira um quadro preocupante: 25% dos cargos de juiz não preenchidos, processos acumulados às centenas de milhares em todos os graus, a cidadania “em boa parte um atributo de apenas uma parte da população; em amplas áreas a exclusão social não permite sequer o reconhecimento dos direitos fundamentais, muito menos Imperdível: Matisse na Pinacoteca do Estado o acesso à Justiça” (se-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES PECdo Calote A maquiagem aplicada na PEC dos Precatórios pelo relator na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados não foi suficiente para apagar seu real objetivo: o calote nos credores. Os únicos interessados na aprovação dessa emenda são os governos caloteiros, capitaneados pelo do Estado e pela Prefeitura de São Paulo, os maiores devedores da Nação, diante da possibilidade de lucrar, por meio de leilões, deságios e limites confortáveis para pagamento, sobre os pobres coitados que esperam décadas para receber o que a Justiça já concedeu. Convoco todos os cidadãos a se manifestarem diretamente na comissão especial a ser criada pelo presidente da Câmara, Michel Temer. Não dei-
xem a nossa Constituição ser manchada por interesses políticos eleitoreiros de alguns poucos governantes sem o menor respeito pela Justiça e pela decisão judicial. REYNALDO SANGIOVANNI COLLESI reynaldocollesi@hotmail.com
São Paulo
Grandeinjustiça O governo do sr. José Serra não paga os R$ 13 bilhões que deve de precatórios, descumprindo ordens judiciais. O pior é que a maioria dos credores é de baixa renda e muitos já morreram na fila de espera. Uma grande injustiça social que deverá reverter nas próximas eleições. ANTONIO DE SOUZA D’AGRELLA antoniodagrella@yahoo.com.br
São Paulo
licitação, ressalvados os casos que a lei especifica. Ora, a exceção legal que se intenta aplicar à Petrobrás não encontra justificativa jurídica ou fática que a legitime, sobretudo ao desprezar o princípio da isonomia, que ilumina todo o ordenamento jurídico e se constitui num dos pilares do Estado Democrático de Direito. Por isso, é inadmissível uma lei que dispense a União de licitar a outorga de direitos exploratórios a uma empresa governamental submetida, por força da Constituição, ao mesmo regime jurídico das empresas privadas, com as quais deve competir. Há, pois, flagrante discordância com ambos os preceitos, isto é, o que estabelece a igualdade de tratamento e o que exige licitação por parte dos órgãos públicos. Vale também lembrar que a Emenda Constitucional nº 9/95, instituidora do novo regime jurídico do petróleo, fê-lo no intuito de permitir à União contratar empresas privadas para explorálo, mediante as condições postas na Lei nº 9.478/95, que veio disciplinar a matéria. Evidentemente, esse estatuto pode ser alterado, visando ao estabelecimento de novos parâmetros de contração, não havendo óbice a que essa mudança se processe no âmbito legislativo. Mas não se pode admitir a instituição de regras que se distanciem dos balizamentos da Lei Magna, trazidos por aquela emenda, nem daqueles hospedados em seu ordenamento econômico, cujos princípios e preceitos estão voltados para prestigiar a livre concorrência (artigo 170, IV) e a livre-iniciativa (artigo 170, caput), este também acatado como um dos fundamentos da República (artigo 1º, IV), ao lado dos valores sociais do trabalho. Pode-se argumentar que o regime jurídico aplicável ao monopólio do petróleo é diferenciado, submetido a LOREDANO regras peculiares a essa situação restritiva da livre atividade privada. De fato o é, mas só quanto à extensão do monopólio detido pela União e pela razão mesma de sua excepcionalidade no âmbito normativo da Ordem Econômica, juntamente com os minerais nucleares. Tal circunstância não se estende, contudo, aos preceitos que permitem a contratação de empresas públicas ou privadas para exercerem as funções inerentes à indústria do petróleo, objeto da citada Emenda nº 9/95, cujos termos abrangem todas as atividades contempladas no artigo 177 da Carta Republicana, sem exceção.
ENDEREÇO
Legal! Ainda não sou aposentado, mas imagino... Epa! Nada que ver com aposentados?! É para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)...? Ah, bom, eles merecem, né? Palocci está de acordo, garanto. Mas sejamos otimistas, se os reajustes estão já nesse nível, deve sobrar uma quirera para os aposentados, pensionistas e afins.
causa do esforço despendido no julgamento do Palocci? VALTER GALI vgali@concili.com.br
São Paulo ● Tadinhos, os ministros do STF ganham tão pouco... E os aposentados com um salário acima do mínimo?! Infelizmente, esse é o nosso Brasil, o país das maracutaias. GABRIELE DI GIULIO
JOÃO ATHAYDE DE OLIVEIRA NETO
digiulio@srnet.com.br
jathayde@globo.com
São Roque
São Paulo
Cada vez que a equipe econômica do governo se reúne para discutir o aumento do salário mínimo e dos benefícios dos aposentados que ganham acima dele, é ●
● Para os aposentados, 6,5%, e só em 2010; para a Bolsa-Família, 10%; e para o STF, 14,09%. Pergunto: essa diferença foi por
Com efeito, ao se promulgar a emenda, o petróleo passou a submeter-se às mesmas regras de exploração aplicáveis aos demais recursos minerais, objeto do artigo 176. A contratação de empresas para esse fim, em especial as do setor privado, veio descaracterizar a situação monopolista, que não pactua com o sistema concorrencial, embora o termo “monopólio” não tenha sido suprimido. Uma alteração das normas em vigor, no sentido de possibilitar à União agir sob regras não acolhidas pelo atual regime, implicaria emenda à Carta Federal, sendo certo que a ampliação da presença do Estado na esfera econômica poderia encontrar embaraços jurídicos, em face dos mesmos princípios e preceitos prestigiados na Lei Fundamental. Deve-se considerar ainda que a Constituição não se interpreta por partes, sendo documento dotado de unidade sistêmica, a ser alcançada na busca da coerência de seus postulados e normas. Quando os propósitos do legislador não se afinam com aqueles princípios e preceitos,
Pela Constituição, é incabível o aventado benefício à Petrobrás cabe-lhe curvar-se a eles, não importando o apelo emocional ou político que lhes dê sustentação. No que respeita à preservação e eficácia da Ordem Econômica e Financeira constitucional, cabe salientar as constantes investidas contra seus ditames pelos novos prosélitos do estatismo, esquecidos de que o recente progresso alcançado pelo País se deu, em larga medida, pela ordenação normativa implementada com as reformas levadas a cabo naquele âmbito. Bem por isso, a Petrobrás, que tem experimentado melhor desempenho e alcançado posição de destaque no cenário petrolífero, poderá ser prejudicada caso o novo modelo lhe amesquinhe a independência administrativa e o espírito competitivo que a Emenda nº 9/95 visou implementar, a despeito da posição dominante por ela exercida. O longo processo de aperfeiçoamento das instituições econômicas, iniciado com as emendas constitucionais aprovadas nos anos 90, não pode ser ameaçado por medidas legislativas opostas aos interesses do País, que não se confundem com o retorno de privilégios governamentais a quaisquer empresas, públicas ou privadas, ou com o desacato à Constituição federal, que existe para coibi-los. ● Gastão Alves de Toledo, advogado, é mestre e doutor em Direito pela PUC-SP
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uma verdadeira maratona, uma novela, pois a preocupação é com o “impacto” na folha da Previdência Social. Em contrapartida, os ministros do STF ainda acham que receber R$ 24.500 por mês é pouco e se agitam em busca de novo reajuste, que pode chegar a quase R$ 28 mil, gerando efeito cascata para todo o funcionalismo dos três Poderes. Se aprovado esse aumento, haverá um acréscimo anual de despesas do Tesouro de R$ 516,35 milhões. Mas aí não tem problema, não há “impacto”. Quanto ao povo, que coma brioches!
forum@grupoestado.com.br
Trêsfatos 1) Seria Francenildo o “homem comum” a que se referiu o nosso primeiro magistrado, Lula? 2) Por que reajustar os meritíssimos em 14% e para os aposentados apenas 6%? 3) Por que a demora em suspender a censura ao jornal O Estado de S. Paulo? Diante de tais fatos, como respeitar as instituições? GERALDO DE CARVALHO fernando.bojlesen@gmail.com
São Paulo
Deusé brasileiro?
SÉRGIO LUIZ CORRÊA
Lula, Sarney, Collor, Renan, Duque, Mercadante, Dilma, Gilmar Mendes, Lobão... Que time, hein?! Depois dizem que Deus é brasileiro.
seluco@uol.com.br
RICARTE SANDOVAL
Santos
ricartesandoval@terra.com.br
São Paulo
A6 NACIONAL
SEXTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 35 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
DORA KRAMER
OAB pede rapidez da Justiça no caso da censura ao ‘Estado’
O debate pelo embate
Para presidente da entidade, urgência se justifica diante do fato de que está em discussão ‘garantia fundamental que é o direito à informação’
dora.kramer@grupoestado.com.br
Ao fim de uma longa entrevista ao jornal Valor sobre o modelo de exploração do pré-sal publicada na edição de ontem, a ministra Dilma Rousseff foge a uma questão fundamental. Recusa-se a dizer como a questão do pré-sal será tratada durante a campanha eleitoral. Simplesmente não responde. Copia seu antecessor na Casa Civil, José Dirceu, quando questionado sobre as incongruências entre o discurso na oposição e a prática do PT no governo: considera o questionamento uma indignidade em si. Da mesma forma como Dirceu estava obrigado – mas não se considerava assim – a explicar a mudança de posição do PT, por exemplo, quanto à Previdência Social, Dilma Rousseff estaria na obrigação de dizer de que forma o modelo de exploração do pré-sal será tratado durante a campanha que, até onde a vista alcança, a ministra protagoniza como candidata. Assim como Dirceu à época se desobrigou unilateralmente a uma satisfação à sociedade sobre o modelo de gestão da Previdência, reagindo como se a pergunta encerrasse uma provocação injustificada, Dilma trata a indagação dos jornalistas Cláudia Safatle e Cristiano Romero como manifestação de impertinência a ser descartada. Foge, assim, do principal. Sim, porque ao governo – está evidente – interessa muito pouco ou quase nada discutir o interesse nacional. Não importa a construção do consenso, muito menos o exame das variantes em jogo. Nada, nesse cenário de uma esdrúxula imposição de urgência ao Congresso, diz respeito ao debate e tudo se refere ao embate das forças políticas em preparação para o antagonismo eleitoral. Mais uma vez, o governo dedica-se à arquitetura do velho truque de fazer o malfeito e transferir a responsabilidade do prejuízo à oposição. Age, portanto, de má-fé. Em 90 dias – 45 para a Câmara e 45 para o Senado – é obviamente impossível o Congresso debater seriamente uma questão desse porte. Ainda mais que toda a discussão dos projetos ocorreu exclusivamente no âmbito do Poder Executivo durante seus quase dois anos de elaboração. Fosse o governo preocupado com o ato de governar, sua missão seria a de incentivar o debate do tema no Congresso e, sem prejuízo da defesa de suas posições, atuar como poder moderador na formulação de propostas que contemplem os interesses das forças representadas no Parlamento. Mas, como o foco do presidente Lula e companhia é exclusivamente eleitoral e a lógica, por isso mesmo, a da disputa permanente, aos artífices da política palaciana ocorreu o estratagema da urgência. Se colasse, seria apenas mais um episódio de submissão do Legislativo a ser contabilizado como “vitória” governista. Não colando – como de fato não colou –, recorre-se ao discurso da falta de patriotismo da oposição. Seguido, evidentemente, da acusação de que aos partidos adversários do governo só sensibiliza o embate político. A defesa dos interesses da nação, por essa ótica, significa aceitar sem discussão o prato feito do Planalto. O tom da ministra Dilma na referida entrevista ao Valor é de uma impertinência ímpar. Segura de que o proposto é a representação pronta e acabada da excelência, ela considera “primários” os argumentos dos que contestam o modelo “que até um marciano entende”. A essa mesma arrogância já havia recorrido em público para qualificar como “rudimentar” o plano de ajuste fiscal elaborado pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci. E por que a pressa? Elementar. Para não dizer que a razão chega a ser rudimentar. Porque o ano que vem é de campanha e, se o Congresso não aprovar os projetos neste semestre, só depois da eleição, quando poderá ser escolhido um presidente não aliado a Lula e – risco dos riscos – o próximo governo “faturar” politicamente a instituição dos marcos de exploração do pré-sal. Quer dizer, o objetivo não é fazer as coisas bem feitas, de forma a contemplar o interesse coletivo, mas fazer o mais rápido possível de modo a atender ao objetivo específico de um governante que quer passar a ideia de que o petróleo é dele.
Tempo da conveniência política de Lula não é o tempo do interesse nacional
Fausto Macedo
CRONOLOGIA DO CASO
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, recomendou ontem à Justiça urgência no julgamento da ação que impôs censura ao Estado. “A morosidade do Judiciário significa a perpetuação da violação de um preceito constitucional fundamental para a democracia, que é a liberdade de imprensa”, declarou Britto. Desde o fim de julho, o Estado está proibido de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que aponta para o empresário FernandoSarney,filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Contraamordaça, ojornalingressoucomumasériederecursos, entre os quais mandado de segurança e duas exceções de suspeição do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. É deleadecisãoquesubmete oEstado ao silêncio. Decorridos 35 dias, o TJ aindanãodecidiuacercadosrecursos que se arrastam em nome do cumprimento de prazos e de ritos internos da corte. “Há casos em que o Judiciário pode e deve julgar rapidamente, sem com isso atropelar fila de processos ou privilegiar a parte interessada”, assinala Britto. “O caso do Estadão é uma dessas situações em que o Judiciário temde aceleraro julgamento.A censura prévia foi banida, expressamente proibida pela Constituição.” Para o advogado, a urgência “se justifica diante do fato de que está em discussão uma garantia fundamental que é o direitode todo cidadão à informação”.OpresidentedaOAB isenta sua classe de responsabilidade por atrasos que marcam as demandas forenses. “Ainda que haja prazos formais a serem cumpridos, aqueles prazos fixados pelos regimentos internos de um tribunal e pelo sistema processual, a verdade é que a demora se dá nitidamente pelanão-observânciadessesintervalos, em especial pelo julgador.Os prazosdo Judiciário são curtos, mas a lentidão não pode ser atribuída ao advogado.” Ele observa que a censura ao Estado não é fato isolado. Frequentemente, toma conhecimento de ordens judiciais que vetam publicações. “A censura tem sido até uma certa regra queserepete nosEstados.OEstadão não é o primeiro a sofrer com violação à Constituição.”
● 31 de julho O desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, informa o Estado da proibição de publicar informações sobre operação da Polícia Federal, envolvendo o empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney
● 13 de agosto O desembargador Waldir Leôncio Cordeiro, da 2ª Câmara Cível do TJ, mantém censura ao jornal ao não acolher pedido de liminar no mandado de segurança. Cordeiro deixa para deliberar após receber dados de Vieira e da procuradoria ● 14 de agosto O desembargador Dácio Vieira conclui que é competente para julgar o processo. Caso segue para Conselho Especial do TJ. Ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, critica censura ao Estado. Entidades continuam a repudiar a censura
● 5 de agosto O advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira pede que o desembargador se declare suspeito para tomar decisões no processo. A exceção de suspeição é protocolada no próprio Tribunal de Justiça do DF
● 1º de agosto A Associação Nacional de Jornais (ANJ), outras entidades, senadores e o ex-ministro do STF Carlos Velloso criticam decisão. Jornal revela que Vieira, ex-consultor do Senado, é do convívio dos Sarneys e do ex-diretor Agaciel Maia
● 10 de agosto Associação Mundial de Jornais (WAN) e Fórum Mundial de Editores (WEF), que representam 18 mil publicações, 15 mil sites e mais de 3 mil empresas em mais de 120 países, enviam carta a Lula e a Gilmar Mendes (STF) criticando censura ● 12 de agosto Estado entra com mandado de segurança. O recurso tem o objetivo de garantir o reconhecimento de direito líquido e certo, incontestável, que está sendo violado ou ameaçado por ato ilegal ou inconstitucional de uma autoridade
● 17 de agosto Mendes cobra decisão rápida sobre o caso. O advogado Manuel Alceu ingressa no TJ-DF com um novo recurso. Por meio de embargos de declaração, ele requer ao desembargador Lopes Júnior que esclareça pontos de sua decisão ● 21 de agosto Estado ingressa com nova exceção de suspeição do desembargador Dácio Vieira. A base do recurso é extraída da própria decisão de Vieira, quando ele ignorou um primeiro pedido para que se declarasse suspeito no caso ● 29 de agosto A Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), alarmada com o número de atentados à liberdade de imprensa na América Latina convoca 14 entidades para debater o problema no Fórum de Emergência sobre Liberdade de Expressão
Perguntas e respostas
1.
O Estado entrou com recurso contra a decisão do desembargador Dácio Vieira? Sim, recorreu.
2.
Quais foram as medidas tomadas pelo jornal para suspender a censura? O advogado do jornal, Manuel Alceu Affonso Ferreira, ingressou no Tribunal de Justiça do Distrito Federal com quatro sucessivas medidas:
REPERCUSSÃO GERAL
Ele sugere ao Supremo Tribunal Federal que defina orientaçãoa todasasinstâncias inferiores. “Seria muito importante que o STF decidisse sobre essa matériaatéparaorientarosmagistradoscomrelaçãoàliberdadedeexpressãoeà censuraprévia. Num caso como esse, que não é incomum porque a censura se abate sobre vários jornais, já era hora de o STF tomar iniciativa. Até pela repercussão geral do tema, o STF deveria analisar essa demanda.” Britto repudia a censura. “O que não pode é essa permissão aos magistrados sem uma definiçãoclara.AConstituiçãoestabelece como regra o direito de todos à informação. Também
● 3 de agosto O líder Arthur Virgílio (PSDB) pede ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que abra sindicância contra Vieira. Para ministros do STF, juristas, advogados e promotores, Vieira contrariou a Constituição e violou a liberdade de imprensa
● Uma primeira exceção de suspeição, alegando os laços entre o desembargador Dácio Vieira e a família Sarney, e também a carreira do mesmo desembargador como advogado do Senado.
Uma segunda exceção de suspeição, baseada na resposta que, à primeira exceção, o desembargador Dácio forneceu para não se reconhecer suspeito.
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●
Um mandado de segurança
define caminhos da indenização por eventuais excessos da imprensa. Mas não permite a censura prévia.” “A Constituição levou a liber-
contra o ato, de Vieira, que proibiu o jornal de divulgar as gravações às quais teve acesso. ● Embargos de declaração à decisão do desembargador Waldir Leôncio Cordeiro, que, no mandado de segurança, negara a liminar. Embargos esses que o desembargador acolheu para levantar o segredo de Justiça no pedido e ordenar que fossem citados Fernando Sarney e a Advocacia-Geral da União (AGU). ● Além dessas quatro medidas, na primeira instância do Distrito Federal o jornal apresentou, ao juiz que havia negado liminar – depois concedida por Vieira –, a sua contestação à ação inibitória promovida por Fernando Sarney.
3.
Desses recursos, quais ainda serão julgados? Todos esses recursos
dade de expressão ao bloco dos mandamentos fundamentais porque o País tinha acabado de sair da ditadura e percebeu-se que a imprensa livre é antídoto
(as duas exceções de suspeição e o mandado de segurança) aguardam o julgamento do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Também aguarda julgamento, em primeira instância, a ação inibitória promovida por Fernando Sarney.
4.
Há prazo para essas decisões? Prevê-se que as exceções de suspeição possam ser julgadas, pelo TJ-DF, na próxima semana. Quanto ao mandado de segurança, seguindo o determinado na lei própria, são aguardadas as citações da AGU, que judicialmente representa o TJ-DF, e de Fernando Sarney, bem como o posterior parecer do Ministério Público. Cumpridas essas etapas, o mandado de segurança deverá ser julgado.
à volta do autoritarismo. O fato é que, diante de eventuais abusos, a Constituição não deu ao Estado o poder de proibir antecipadamente.” ●
Fauna
O sociólogo e especialista em marketing político Antonio Lavareda faz em seu novo livro a ser lançado em breve – Emoções ocultas e estratégias eleitorais – uma análise sobre a denominação “tucano” dos filiados e simpatizantes do PSDB, ao buscar uma explicação para o baixo índice (7%) de preferência partidária registrado nas pesquisas. “A expressão não deixa de ser simpática. Mas terá alguma utilidade, agrega alguma coisa? Certamente que não”, conclui, para apontar que a utilização de animais como símbolos é corriqueira. Nos Estados Unidos os democratas têm o burro como marca e os republicanos, o elefante. Nem por isso se referem a si – nem são assim conhecidos – como os “burros” ou os “elefantes”. Cita pesquisa feita em 2007 segundo a qual a designação a “social-democrata” é positiva para 55% dos entrevistados. ●
Em vez de cortar, Senado aumenta previsão de despesa em R$ 10 milhões Rosa Costa BRASÍLIA
Em vez de reduzir os custos, como prometeu o presidente José Sarney (PMDB-AP), o Senado aumentou sua previsão de despesa para o ano que vem em
mais R$ 10 milhões. A contradição foi apontada ontem, no plenário,pelosenadorEduardoSuplicy (PT-SP). Ele lembrou que Sarney, no último dia 18, anunciou que a redução de assessorias, diretorias e chefias da Casa proposta pela Fundação Ge-
túlio Vargas (FGV) resultaria numa redução de custos de R$ 376,4 milhões. Ao comparar dados do Senadoe daCâmaraprevistos noOrçamento 2010, o senador petista constatou que as duas Casas atuaram de forma oposta. Para
2010,osgastosdoSenadonoOrçamento aumentaram de R$ 2,74 bilhões para R$ 2,75 bilhões,enquantoa Câmarareduziu sua despesa de R$ 3,53 bilhões para R$ 3,40 bilhões. O presidente do Senado ficou de responder as perguntas feitas por Suplicy somente na semana que vem. ●
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
SÁBADO
Na Argentina, um clássico com jeito de Copa do Mundo
MARCOS CAETANO
Os Hermanos Karamazov
(Na foto, o craque no treino de reconhecimento do gramado do estádio em Rosário)
WILTON JUNIOR/AE
cas de estímulo, e o comunicado finalpoderáconter umcompromisso nesse sentido. Já a França e a Alemanha se preocupam com a explosão do déficit público e, junto com o Reino Unido, querem corte no pagamento de bônus aos executivos do sistema financeiro. ● PÁGS. B1, B3 e B4
Senadores usam verba em consultorias de amigos Os senadores têm usado a verba indenizatória mensal de R$ 15 mil para contratar consultorias de amigos – embora o Senadotenha170consultoreslegislativos–,fazerpropagandaemrádios e jornais regionais e pagar refeições caras. Há contas de até R$ 2,2 mil em restaurantes. Asnotas apresentadaspelossenadores, que recebem salário de R$ 16,5 mil, não passam por nenhuma fiscalização. ● PÁG. A4
Mantega: PIB cresceu até 2% ●●● O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que o Brasil cresceu entre 1,8% e 2% no segundo trimestre ante o primeiro, puxa-
Se Flamengo e Fluminense são os Irmãos Karamazov do futebol brasileiro, como disse Nelson Rodrigues, Brasil e Argentina são os Hermanos Karamazov das seleções. Há um abismo entre os dois – raramente a fase é igual para ambos. Ainda assim, o confronto é imprevisível. ● PÁG. E3 ●●●
Dilema sobre manutenção da ajuda domina reunião de ministros em Londres ração da cúpula de Pittsburgh (EUA), no fim do mês, eles vão debater medidas para evitar a especulação financeira no ambientederecuperaçãoeconômica – os americanos querem reforçar o capital dos bancos. Os emergentes e os EUA pressionampelamanutençãodaspolíti-
DIRETOR:
RUY MESQUITA
BOLEIROS
G-20 já discute pós-crise e fim dos pacotes de estímulo Os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20, grupo das 20 principais economiasemergentesedesenvolvidas, vão discutir estratégiasdo pós-crise, incluindoa retirada dos estímulos econômicos. Reunidos neste final de semana em Londres como prepa-
(1891-1927)
5 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42326
“Vai haver forte marcação, muita tensão, e isso pode comprometer a qualidade da partida” Kaká
O Brasil enfrenta a Argentina hoje, às 21h30, e pode ficar bem perto da vaga na Copa. Já os argentinos jogam sob tensão: após resultados ruins, uma derrota em casa para o rival pode dificultara classificaçãodaseleção de Maradona. ● PÁGS. E1 a E3
JULIO MESQUITA
do pela indústria. O número será divulgado na próxima sexta-feira e, se confirmado, apontará que o País saiu da recessão. ● PÁG. B6
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 36 DIAS q PÁG. A4
Ataque da Otan mata 90, inclusive civis, no Afeganistão
Em dois meses, 15 mil ilegais pedem anistia ao Brasil
Caças da Otan, autorizados por um general alemão, bombardearam ontem dois caminhõestanque quehaviam sido sequestrados pelo Taleban no norte do Afeganistão. O ataque matou pelo menos 90 pessoas, incluindo insurgentes e civis que estavam no local para pegar o combustível. A ação ocorre uma semana depois que o comando da Otan anunciou plano para evitar vítimas civis. ● PÁGS. A14 e A15
Quinze mil estrangeiros em situação irregular procuraram a PolíciaFederal nos últimos dois meses em busca de anistia. Cerca de 75% vivem em São Paulo. Lei sancionada pelo presidente Lula em julho estabelece que os ilegaispodem requererresidência provisória, caso tenham ingressado no País até 1º de fevereiro de 2009. O governo calcula que deverão ser beneficiadas até 40 mil pessoas. ● PÁGS. C1 e C3
FRASE
“Ter civis como alvo não é aceitável sob nenhuma circunstância” Hamid Karzai
sérgio augusto AFP
Idiomas artificiais
Presidente do Afeganistão
VÍTIMAS – Mortos pelo ataque da Otan em Kunduz, que atingiu dezenas de militantes do Taleban e civis, são enterrados por familiares
Dilatando a censura A repercussão, no Brasil e no exterior, da censura imposta ao Estado compromete a imagem do Judiciário. ● PÁG. A3
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Hoje: 92 páginas A. 1º caderno: 22 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 4 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 12 ● Ci. Imóveis: 12 (1.766 anúncios)
7 8 9 10 11 12
Ciência
CADERNO 2
Obra ameaça volta do feriado
Design sustentável
●● Entre prêmios e exposições, o Triptyque, formado por três franceses e uma brasileira, ganhaomundocomsuaarquitetura orgânica, relata Daniel Piza. Projetos do grupo já fazem parteda paisagem paulistana. ●
A interdição de um trecho da pista local da Marginal do Pinheiros deverá dificultar a volta do feriado pela Castelo Branco. ● PÁG. C5
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ANTONIO MILENA/AE
NOTAS E INFORMAÇÕES
Quase 900 línguas surgiram nos últimos séculos, a maioria natimorta. ● PÁG. D7
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CURVAS – Agência de publicidade projetada pelo Triptyque em SP
Tempo: CAPITAL
22ºMÁX. 17º MÍN. Chuva a qualquer hora. ● PÁG. C2
Método reduz tempo de cicatrização ●● Descoberta brasileira fez cair de 35 dias para uma semana, em ratos. ● PÁG. A21
Para sorrir ●● Aos 18 anos, Os Doutores da Alegria abrem um centro cultural de palhaços. ●
SÁBADO, 5 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Dilatando a censura
J
á passado mais de um mês da censura judicial imposta a este jornal e sem previsão de quando poderá ser efetivamente revogada, acumulam-se as manifestações de protesto e indignação contra esse atentado à liberdade de expressão, em pleno Estado Democrático de Direito. Essas manifestações, que ocorrem desde o início do cerceamento, agora vêm acrescidas de uma profunda estranheza sobre o tempo excessivo que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal está levando para decidir sobre questão tão grave e urgente, consubstanciada em mandado de segurança impetrado há muitos dias. “Não me parece normal esse atraso”, avalia Carlos Velloso, ex-ministro presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). “Essa morosidade excessiva é incomum para medidas desse tipo. O mandado de segurança deve obedecer a uma tramitação rápida porque é preferencial”, observou. Recorde-se que contra a sentença judicial que o proíbe de divulgar reportagens sobre o processo em que está envolvido Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o Estado ingressou com duas exceções de sus-
peição do desembargador Dácio Vieira – pelas estreitas relações de amizade que o magistrado tem mantido com a família Sarney – e um mandado de segurança, todos apresentadas na primeira semana de agosto. Mas até agora o Tribunal de Justiça do Distrito Federal não decidiu sobre os pedidos. Daí o experiente ex-presidente do Supremo afirmar: “Sem conhecer os autos, estou achando que essa lentidão está, realmente, excessiva. Isso não costuma ser comum.” E o ex-ministro do Supremo alerta para o fato de que “o mandado é um remédio constitucional, assim como o habeas corpus, porque trata de garantias previstas na Carta. Deve receber tramitação mais rápida, preferencial a outros processos. Mandados entram em pauta em primeiro lugar. Os regimentos dos tribunais e os códigos consagram a preferência para o julgamento dessas ações constitucionais”. Se usado para reverter lesão a uma garantia individual o mandado de segurança “tem sempre preferência”, como diz o ex-presidente do Supremo, é claro que tal preferência se
A terceirização de hospitais
P
or 55 votos contra 17, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou o projeto de lei que permite o que tem sido chamado de terceirização dos hospitais públicos paulistas, autorizando-os a destinar uma cota dos atendimentos fixada em até 25% para pacientes particulares e com planos de saúde, mediante a cobrança dos serviços prestados. A ideia é que essa cobrança se constitua em fonte alternativa de receita, permitindo aos hospitais públicos paulistas ampliar suas atividades sem depender só do Estado. A terceirização existe desde 1998, mas a lei que a regulamentou, agora alterada pela Assembleia, permitia que ela fosse aplicada somente aos hospitais novos. O projeto também permite que as mesmas medidas sejam aplicadas às instalações estaduais nos campos cultural e esportivo. Com isso, museus, salas de espetáculo, ginásios e centros poliesportivos do governo estadual poderão ser terceirizados. De autoria do Executivo, o projeto flexibiliza a gestão dos recursos financeiros e humanos desses hospitais, removendo obstáculos jurídicos que dificultam o corte de gastos, dispensando-os de fazer licitação para aquisição de medicamentos, material cirúrgico e insumos e lhes dando maior liberdade para contratar, demitir e pagar melhores salários para estimular a produtividade. Até agora, os hospitais da rede estadual dependiam de concursos públicos para selecionar médicos e servidores. Segundo o secretário de Saúde, Luiz Roberto Barradas
Barata, o novo modelo de gestão converte hospitais públicos em Organizações Sociais ou entidades privadas sem fins lucrativos. A estimativa é de que a mudança permitirá reduzir os custos operacionais de cada unidade hospitalar em pelo menos 10% e aumentar a produtividade em mais de 25%. Como era de esperar, a maior oposição ao projeto de terceirização veio do PT – partido que sempre atuou como porta-voz das corporações existentes na rede hospitalar pública. Para a bancada petista na Assembleia, que votou contra e está prometendo arguir a in-
A aprovação do projeto de lei na Assembleia gera muita polêmica constitucionalidade das medidas aprovadas, o novo modelo de gestão irá gerar problemas de discriminação nos prontossocorros e nas unidades especializadas em atendimentos de alta complexidade (como cirurgias cardíacas), pois quem tem condições de pagar uma consulta ou cirurgia e quem tem plano de saúde será atendido prioritariamente, o que prejudicará os pacientes do SUS. Os críticos alegam que os hospitais públicos terceirizados passarão a adotar políticas seletivas, dando atendimento mais rápido, eficiente e confortável para quem tem cobertura privada, violando assim os princípios do SUS, que configuram a chamada “equidade de assistência”. Os mesmos argumentos também são invocados pelo Mi-
nistério Público (MP) estadual e por setores da classe médica. Os promotores de Justiça já anunciaram que pedirão ao procurador-geral da República que avalie a possibilidade de entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade assim que o governador José Serra sancionar o projeto aprovado pela Assembleia. Para os promotores, como a Constituição define que a saúde é “dever do Estado e direito de todos”, o projeto de terceirização viola o princípio da igualdade. Além disso, dizem eles, se o SUS já não consegue atender à demanda atual, como poderá passar a atender clientes com planos de saúde? “Não há vagas sobrando nos hospitais. Como querem separar 25% para pacientes particulares?”, indaga a promotora Anna Trotta. O projeto “cria um verdadeiro apartheid dentro do sistema”, afirma Mário Scheffer, diretor do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde. Reagindo às críticas, as autoridades estaduais de saúde afirmaram que os pacientes do SUS continuarão sendo atendidos normalmente, conforme as metas de produtividade já estabelecidas, e que não haverá discriminação. Mas, pressionado por movimentos sociais e ONGs, o MP estadual já anunciou que entrará com uma ação civil pública contra cada hospital público estadual que adotar o novo modelo de gestão. Como se vê, a discussão pode acabar em intermináveis processos judiciais.
torna mais patente em se tratando de profunda lesão a um direito coletivo, como é o de a sociedade ser informada quanto a tudo o que diga respeito, direta ou indiretamente, ao interesse público. E este, certamente, é o caso, pois a censura prévia se refere a fatos ligados a investigações da Polícia Federal, a indícios de nepotismo, de tráfico de influência e de uso indevido de recursos públicos, a atos do poder público eivados de flagrante inconstitucionalidade (os “atos secretos”) – tudo embasado em escutas telefônicas altamente comprometedoras, devidamente autorizadas pela Justiça. A demora no julgamento levou o advogado criminalista Mario de Oliveira Filho a observar: “Não estamos cuidando aqui da liberdade individual de alguém, de uma única pessoa, estamos tratando da liberdade de todo o povo brasileiro que a liberdade de imprensa alcança.” E complementa: “O Estadão não está buscando algo em benefício próprio, não pede concessão de privilégio. Procura, simplesmente, resguardar o interesse público da população, que tem pleno direito de saber aqui-
lo que acontece de bom e de podre no País.” Para o presidente nacional da OAB, Cesar Britto, “a morosidade do Judiciário (no caso) significa a perpetuação da violação de um preceito constitucional fundamental para a democracia que é a liberdade de imprensa”. Já o presidente da Associação Juízes para a Democracia, Luis Fernando Camargo de Barros Vidal, considera que a delonga no julgamento de liminar que restringe valor constitucional tão importante, como a liberdade de imprensa, “gera sentimento de orfandade da norma jurídica”. Por sua vez, o presidente da Associação dos Juízes Federais em São Paulo, Ricardo de Castro Nascimento, salienta que “o Judiciário tem que ter a sensibilidade de perceber a repercussão na sociedade de um determinado caso e dar a agilidade necessária para tomada final e decisão, qualquer que seja ela”. O fato é que a repercussão, no Brasil e no Exterior, que está tendo a censura prévia imposta judicialmente ao Estado – de que é exemplo o destaque com que o New York Times tem tratado a questão nos últimos dias – compromete a imagem do Poder Judiciário.
Nova CPMF, perigo à vista
O
governo aumenta a pressão a favor de um novo imposto do cheque, agora batizado como Contribuição Social para a Saúde (CSS). Serão mais R$ 10 bilhões sacados do bolso do contribuinte, se for aprovada a recriação da CPMF. A proposta foi enxertada no projeto de regulamentação da Emenda 29, em tramitação na Câmara dos Deputados. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, reuniu em Brasília secretários municipais e estaduais para um comício de apoio à medida. No dia seguinte, sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu o assunto com líderes de partidos aliados. “O Brasil inteiro sabe que a saúde precisa de mais recursos”, disse depois do encontro o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. “Mas será uma decisão do Senado e da Câmara.” Essa frase conta apenas meia-verdade. A aprovação do projeto cabe ao Congresso, mas o governo federal não precisa dessa lei para reforçar o orçamento da saúde. Não falta dinheiro ao Tesouro – e esse dado também não é novidade. Mas o ministro José Gomes Temporão resolveu usar a gripe suína como argumento para defender a ressurreição da CPMF, como se o governo precisasse de maior arrecadação para combater a doença. Ele usou esse discurso durante a reunião com os líderes de partidos. Segundo José Múcio Monteiro, o vice-presidente José Alencar declarou-se disposto a conversar com dirigentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
para conseguir apoio à instituição da CSS. O ministro de Relações Institucionais defendeu ainda a mobilização de prefeitos e governadores para apoiar a proposta. O projeto está parado na Câmara dos Deputados. Os governistas conseguiram a aprovação da maior parte do texto, mas falta a aprovação de um item essencial: a base de cálculo da CSS. Sem isso, será impossível a cobrança do tributo. O destaque desse item foi a grande façanha da oposição no esforço para impedir a recriação do imposto do cheque. No ano passado a arrecada-
Dinheiro não falta ao governo. Só falta saber usar o muito que recolhe ção federal bateu novo recorde, mesmo sem a CPMF, extinta no fim de 2007. O rombo orçamentário alardeado pelo Executivo não se confirmou. Houve dinheiro para o cumprimento da meta fiscal e também para o governo continuar inflando a folha de salários e distribuindo outras bondades. Mas o presidente Lula nunca deixou de lamentar a extinção da CPMF e de acusar a oposição de haver prejudicado a política de saúde. Repetiu essa acusação muitas vezes, em todo o Brasil. Nunca deixou de mencionar o assunto, em qualquer tipo de evento, quando apareceu uma oportunidade. O presidente, no entanto, prometeu, mais de uma vez, não se empenhar pessoalmente no esforço de recriação da CPMF. Cumpriu a promessa, como
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
chegado ao fundo do poço, lá vêm eles nos surpreender, ultrapassando com galhardia o pré-sal da falta de limites e reunindo-se ecumenicamente com o “apóstolo” fichado e a “bispa” em condicional. CARLOS ALBERTO BÁRBARO cabarbaro@uol.com.br
São Paulo
Pré-sal O único caráter de urgência que caracteriza a medida provisória (MP) do pré-sal são as eleições de 2010. Se o Congresso fizesse jus a seus deveres, devolveria ao Executivo a proposta de regulamentação, por não atender às exigências necessárias para acolhimento e votação de uma MP. Simplesmente devolver, e não ficar discutindo caráter de urgência ou não.
“
quartoplanejado@yahoo.com.br
zada, essa nova riqueza (pré-sal) pode ajudar o País a superar a pobreza e o subdesenvolvimento, ou exacerbar seu ímpeto gastador”, diz a revista britânica The Economist. Alguém tem alguma dúvida de qual será a opção do governo? O Brasil, desde o Descobrimento, sempre produziu riquezas, mas o povo continua pobre. Por que desta vez seria diferente? Não acredito em Papai Noel nem em duendes, mas Lulla acredita, como também em cegonha, coelhinho da Páscoa, saci-pererê... Pela maneira como elle fala, parece que já amanhã o petróleo vai jorrar até pelas torneiras, transformando todos os brasileiros em milionários instantâneos.
Campinas
MARIA ELOIZA ROCHA SAEZ
Pagamos a CPMF durante dez anos e a saúde continua uma calamidade pública!”
VirginiaA.BockSion vickybock@hotmail.com SãoPaulo
Devolvam a MP, a legislação não só permite, como obriga o Congresso a esse ato. Mas faltam coragem e vontade aos legisladores, que preferem cuidar dos seus interesses particulares, deixando a tarefa de legislar ao Executivo. GERALDO FERREIRA
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“Dependendo de como for utili-
m.eloiza@gmail.com
Curitiba
Privatizações Não entendo por que nossa incompetente oposição não trata de reavivar a memória do povo brasileiro sobre quais eram as condições dos serviços básicos, como obter um telefone, antes das privatizações promovidas pelo governo FHC. Ficar com medo de dizer as verdades sobre esse processo só depõe contra os oposicionistas. MARIO JOSE GOMEZ DELGADO gomez.delgado@hotmail.com
São Paulo
Insegurançalegislativa Estamos vivendo tempos de insegurança legislativa, o que preocupa. Temos um rodízio de veículos na cidade de São Paulo que fere o Código de Trânsito Brasileiro e constitui um estorvo inomi-
de costume, à sua maneira. Não assumiu a responsabilidade pelo enxerto no projeto de regulamentação da Emenda 29 e não defendeu publicamente a criação da CSS. Deixou a iniciativa a políticos aliados e nunca impediu o ministro da Saúde de trabalhar pela aprovação da proposta – como se um ministro pudesse envolver-se na política tributária por sua conta, sem dever explicações ao presidente. Além disso, a repetição do discurso a respeito de como era importante o imposto do cheque funcionou como propaganda da CSS. Mas Lula e seus comandados nunca apresentaram um argumento no mínimo razoável a favor da nova CPMF. A extinta contribuição, como foi amplamente provado, nunca fez falta. Não faltou dinheiro ao governo para cumprir no ano passado a meta fiscal nem para realizar qualquer gasto escolhido por Lula como prioritário. Só foi realizada uma pequena parte dos investimentos previstos no orçamento, mas não por falta de verba e, sim, por inépcia administrativa. Depois, a ideia de tributos vinculados a uma aplicação – políticas de saúde, por exemplo – é uma aberração em termos financeiros e administrativos. Se essa noção for aceita como razoável, o governo poderá propor a criação de impostos para a defesa nacional, para a educação, para a promoção do turismo, para o desenvolvimento das artes e assim por diante – como se o enorme volume de tributos “comuns” não entrasse na conta e não se destinasse ao sustento do governo. Todo o discurso a favor da CSS é apenas empulhação. É preciso resistir a mais esse assalto.
nável para o cidadão. O Congresso aprovou a Lei Seca sem que fosse necessária, pois tínhamos limites de alcoolemia compatíveis com os níveis mundiais, faltava apenas fiscalização. A lei antifumo paulista acabou levando outros Estados a fazerem o mesmo, alijando os fumantes das atividades sociais normais, num total e flagrante desrespeito. O STF precisa impor o direito o quanto antes: uma medicina que não consegue curar o câncer não tem moral para falar em fumo passivo, o motor da lei de José Serra. BOB SHARP bobsharp@uol.com.br
São Paulo
Espíritodecorpo? Com frequência leio nos jornais
artigos e reportagens sobre erros ou imperícia médica que são levados ao conhecimento dos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), sem nenhuma providência. Salvo melhor juízo, o órgão em questão é extremamente corporativista e quase nunca pune os profissionais envolvidos. Está na hora de o Conselho Federal de Medicina investigar tais casos. Recentemente li sobre denúncia de estupro da estudante de Direito Vanuzia Lopes, feita em 1993 no CRM-SP, contra o médico Roger Abdelmassih (que está preso), sem retorno algum. Se alguma providência tivesse sido tomada na época, não haveria tantas outras vítimas desse médico ao longo dos últimos anos. MURICY GARCIA XAVIER
São Paulo
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SÁBADO, 5 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 36 DIAS
Meio ambiente entra na agenda de candidatos Com Marina na disputa, Dilma, Ciro e Aécio já ajustaram discurso q PÁG.A8
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Verba indenizatória no Senado serve para contratar consultoria de amigos Conteúdo das notas fiscais apresentadas pelos parlamentares não é submetido a nenhum tipo de fiscalização CELSO JUNIOR/AE – 18/8/2009
Leandro Colon BRASÍLIA
A verba indenizatória dos senadores tem sido usada para contratar consultorias de amigos e aliados – embora o Senado tenha 170 consultores legislativos em seu quadro –, fazer propagandaem rádios e jornais regionaisnavésperadeumanoeleitoral, além de ter virado um valerefeição de luxo. Cada senador recebe um salário de R$ 16,5 mil,mas ganhauma verbaextra de R$ 15 mil por mês para alugar escritório político, bancar compras de material, consultorias,viagensealimentação,desde que essas despesas tenham relação com o mandato. Não há nenhuma fiscalização sobre o conteúdo das notas fiscais apresentadas pelos parlamentares. Vale o documento que o senador entrega, sem necessidade de justificativa. Em junho, depois de muita pressão, oSenadopassouadivulgaronome das empresas que receberam, desde abril, esses recursos da verba indenizatória, incluindo os valores. O passado, por enquanto, continua sob segredo. A relação de restaurantes frequentados pelos senadores nos últimos cinco meses, com dinheiro do Congresso, revela um guia gastronômico. Destacam-se, principalmente, as refeições que variam de R$ 500 a R$ 2,2 mil. RÁDIOS
O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) é um dos campeões no uso da verba indenizatória extra em rádios e jornais regionais. Foram R$ 40 mil nos últimos meses. Somente em agosto ele desembolsou R$ 14 mildos cofresdo Senado,distribuídos em, pelo menos, dez rádios de Rondônia. Seu colega de Estado Expedito Júnior (PR) não fica longe – gastou R$ 30 mil desde abril em órgãos de comunicação. Quando o assunto é “consultoria”, descobre-se que funcionários da Câmara são contratados pelo Senado e aliados de senadores recebem por serviços prestados à Casa. O senador Adelmir Santana (DEM-DF), por exemplo, pagou R$ 12 mil, em maio, à Guimarães Baião Consultores Associados. A empresa pertence a Carlos Augusto Guimarães Baião. Ele é dire-
MESA FARTA – Presidente do Conselho de Ética do Senado, o peemedebista Paulo Duque pagou com a verba indenizatória uma conta de R$ 600 no restaurante Lake’s
Procurador cobra maior controle Procurador no Tribunal de Contas da União (TCU), Marinus Marsico diz que o Senado deveria obrigar os senadores a justificar cada despesa feita com a verba indenizatória. Na avaliação dele, essa falta de rigor ocorre porque é “difícil”, por exemplo, relacionar os gastos elevados em restaurante com o mandato parlamentar. “Tais despesas devem ser excepcionais, plenamente justificadas, e restritas à modicidade que é recomendada no uso do dinheiro público”, afirma Marsico. “Entendo que é hora de o TCU proceder a uma auditoria geral no uso de verba indenizatória pelo Legislativo.” O Estado procurou as assessorias de imprensa dos senadores citados na reportagem. Apenas as de Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e Adelmir Santana (DEM-DF) deram resposta. Segundo a assessoria do tucano, ele estava acompanhado de “convidados” nas refei-
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ções pagas pelo Senado. “A prestação de contas está dentro dos valores legais”, disse. Foi solicitada a relação desses convidados e o tema político dos encontros, mas a assessoria disse que não saberia responder sobre isso. Os assessores de Adelmir informaram que ele dá “certeza” de que essas despesas não ocorreram para fins particulares. Em relação à consultoria Baião, o parlamentar alegou que o colega foi contratado para ajudá-lo na relatoria da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. A assessoria de Expedito Junior confirmou que ele “divulga” sua atividade parlamentar com o dinheiro da verba indenizatória. “Como autoriza a norma do Senado”, disse. “Além disso, há a produção de cartazes, outdoors e folders distribuídos durante as festas agropecuárias em Rondônia, que começaram em junho.” ● L.C.
tor do instituto de pesquisa da Federação do Comércio (Fecomércio) de Brasília. A federação é presidida pelo próprio senador. O senador Gilberto Goellner (DEM-MT) contratou os serviços da Consultoria Empresarial R&N, com sede em Brasília. A empresa pertence a um funcionário de confiança da Câmara, Nelson Vieira Fraga Filho. Ele é lotado na Comissão de Agricultura da Casa. RESTAURANTES
Além de “quentinhas” para os assessores, o senador Fernando Collor (PTB-AL) usa a verba indenizatória em restaurantes comooPorcão,emBrasília– ondeorodíziodachurrascariacusta R$ 72 por pessoa. Uma das notas do Porcão, apresentada por Collor, é de R$ 841. Durante o recesso parlamentar de julho, o senador usou R$ 518 da verba em visita à churracascariaFogodeChão,cujopreço por pessoa – sem bebida e sobremesa – é de R$ 79. Pelo
mesmorestaurantepassouotucano Eduardo Azeredo (MG), mas na unidade de Belo Horizonte. Gastou R$ 763,60. O presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDBRJ), gastou R$ 600 no restaurante Lake’s. Ex-primeiro-secretário, Efraim Morais (DEMPB), assim como Collor, também passou pelo Porcão, onde
Valdir Raupp é um dos campeões no uso do dinheiro em rádios e jornais deixou R$ 560 pagos pela verba indenizatória do Senado. Estevetambémnotradicional ponto político Piantella, famoso pelos vinhos e receitas clássicas, onde pagou uma conta de R$ 596. No dia 30 de julho, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), gastou R$ 1,4 mil da verbaindenizatória nachurrascaria Park Grill, na zona leste
Desembargador cobra CNJ no caso do ‘Estado’ Walter do Amaral diz que é nessa circunstância que se justifica controle externo do Judiciário ANDRE DUSEK/AE–19/2/2009
Fausto Macedo
“Questões de ordem pública comoa liberdade de imprensa não podemserpostergadas peloJudiciário”, alertou ontem o desembargador Walter do Amaral, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Para ele, os autos processuais relativos ao decreto de censura ao Estado devem ser objeto de decisão rápida. “Chega uma hora que o juiz precisa dizer.” Amordaça foi imposta ao Estado em 31 de julho pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Eleproibiu o jornalde publicar reportagens sobrea OperaçãoBoi Barrica,daPolícia Federal, que envolve o empresário Fernando Sarney, filho do
FRASE
Walter do Amaral Desembargador
“Questões de ordem pública como a liberdade de imprensa não podem ser postergadas pelo Judiciário”
senador José Sarney (PMDBAP). Desde então, todos os recursos que o Estado interpôs caminhamlentamente pela malha fina da burocracia forense. “Casos dessa natureza merecem resposta imediata porque não se restringem ao campo de interesse de um jornal ou de um senador, mas de toda uma nação”,argumentaodesembargador do TRF 3. “O povo precisa saber o que pode e o que não
EM EXAME – O corregedor nacional de Justiça, Gilson Dipp, que analisa as explicações de Dácio Vieira
de São Paulo. Candidato em 2010, ele bancou toda a conta de um encontro com delegados do PTB do bairro paulistano. Já Valter Pereira (PMDB-MS) apresentou uma nota do Buffet Campo Grande, referente a junho, no valor de R$ 2,2 mil. QuandovisitamSãoPaulo,alguns senadores costumam aproveitar essa verba para ir ao Parigi, do grupo Fasano, na movimentada Rua Amauri, no Itaim Bibi. Os pratos costumam custar mais de R$ 100. O senador baiano ACM Júnior (DEM-BA) esteve no local em maio e desembolsou R$ 247 da ajudaextradoSenado.Seucolega Adelmir Santana consumiu mais do que o dobro no mesmo restaurante, R$ 546, e o Senado também bancou essa conta. Adelmir, que mora em Brasília, gastou R$ 420 numa noite no Piantella. No Trapiche Adelaide, ambiente da alta gastronomia baiana – com pratos acima de R$ 70 –, ACM Júnior pagou uma conta de R$ 704 com o dinheiro do Senado. ●
pode. O Judiciário tem o dever de decidir logo nessas situações. O Conselho Nacional de Justiça já deveria ter agido. É nessa hora que o CNJ deve falar. Aí sim se justifica o controle externo por eventual agressão àcláusulapétreadosdireitosindividuais e coletivos.” Explicações por escrito de Dácio Vieira chegaram ao CNJ e estão sendo analisadas pelo ministro Gilson Dipp, corregedor nacional de Justiça. OpresidentedaComissãoNacional de Legislação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado Coelho, prega “maior celeridade” à demanda, endossando sugestão do presidente da entidade, Cezar Britto. “É caso típico de reclamação ao Supremo Tribunal Federal por descumprimento de julgamento que temefeitovinculante. OSTFassegurou liberdade aos veículos decomunicaçãoquandopôsfim à Lei de Imprensa. A reclamação tem o rito célere preconizado pelo presidente da OAB.” ●
●Edição de
0h45
o estado de s. paulo DOMINGO
q
HÉLVIO ROMERO/AE
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
EDUCAÇÃO
Inclusão escolar ainda é desafio
Áreas comuns, comosalões gourmet, têm baixa utilização. ●
A despedida da mocinha
Classificados
Escolas mostram despreparo para lidar com alunos que têm necessidades especiais, como Isabela Delboni.
é o total de ofertas
5.815
anúncios classificados
G-20 vai manter pacotes de ajuda à economia global
DIRETOR:
RUY MESQUITA
CULTURA Richard Ford, de O Sal da Terra, é o herdeiro de Saul Bellow e John Updike, narradores da vida nos subúrbios dos EUA. ●
A atriz Juliana Paes fala das muitas emoções de sua personagem Maya na reta final da novela. “Estou nas nuvens”, afirma. ●
10.463
● PÁG. A20
(1891-1927)
6 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42327
tv&lazer
imóveis
JULIO MESQUITA
ESPORTES
Ministros discutem em Londres estratégias pós-crise, mas medo da escalada do desemprego fala mais alto co. Prevaleceu a posição de países emergentes e do secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, para o qual as medidas têm dado resultado, mas só devem ser revistas quando “as condições permitirem”. O grupo concordou em elevar o papel dos emergentes nos organismos financeiros. Não avançou, porém,na discussãosobre limites para a remuneração de executivos de bancos. No fim do mês, chefes de Estado participam de reunião de cúpula do G-20, nos EUA. ● PÁG. A18
País também será cauteloso, diz BC ●●● O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que ainda é cedo para revogar medidas adotadas no País no auge da crise. Entre elas, está o afrouxamento dos depósitos compulsórios. “O crédito está retornando, mas ainda não atingiu o nível de crescimento anterior”, disse, após participar da reunião do G-20. ● PÁG. A18
EZEQUIEL PONTORIERO/AP
Ministros das Finanças dos países do G-20 concordaram ontem em manter pacotes de estímulo econômico até que haja uma recuperação global, mas já definiram que caberá ao FMI e ao Conselho de Estabilidade Financeira planejar estratégias coordenadas para o póscrise. A apreensão com taxas de desemprego, que só devem atingir o pico em um ano, ofuscou a corrente liderada por França e Alemanha, temerosa deque medidasanticriseprovoquem explosão no déficit públi-
HERÓI – Luís Fabiano toca sobre o goleiro para marcar o terceiro gol do Brasil e calar torcida em Rosário
França quer parceria nas áreas nuclear e espacial Depois de firmar pacote bélico com o Brasil de R$ 22,6 bilhões, a França quer aprofundar os negócios nas áreas nuclear, espacial e de transporte, relata Andrei Netto. Na visão francesa, o País pode servir de base para suas empresas se expandirem na América Latina. ● PÁG. A10
NOTAS E INFORMAÇÕES
Em preparo uma herança maldita Esse governo, beneficiário das gestões anteriores, mostrase empenhado em desenterrar os vícios do passado e promover um retrocesso histórico, desfazendo alguns dos principais fatores da modernização recente do País. ● PÁG. A3
●●●
7 8 9 10 11 12
Governo freia concessões de serviços e obras Após dois anos de licitações nas áreas de energia, transportes e telefonia, o volume de bens e serviços transferidospelogovernofederalàiniciativa privada, por meio de concessões, despencou em 2009, informa repórter RenéePereira.Foram4leilões, ante 20 em 2007. ● PÁG. B1
Tempo: CAPITAL
25º MÁX.
● PÁG. C2
15º MÍN.
Sol aparece entre nuvens e pode chover.
Tiragem: 301.392 Hoje: 198 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 8 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 28 ● F. Feminino: 12 ● Ca. Autos: 22 ● Ce. Empregos: 8 ● Ci. Imóveis: 22 ● Co. Oportunidades: 8
ALIÁS
Função nobre para o pré-sal
Da riqueza do petróleo deve-secriarprojetodedesenvolvimento industrial.
Brasil bate Argentina e vai à Copa Equipe vence fora de casa por 3 a 1 e aumenta drama do rival
●●
Fator Marina
PT e PSDB correm por agenda verde
O Brasil carimbou ontem seu passaporte para a Copa de 2010, em grande estilo. Superou a pressão da torcida em Rosário e venceu a Argentina por 3 a 1. O herói da classificação foi
o atacante Luís Fabiano, autor de2 gols. Oresultado aumentou o drama dos argentinos, ameaçados de não ir à África do Sul. O treinador Maradona deixou o campo desolado. ● PÁGS. E1 e E2
FRASE
“Só tenho a agradecer a esses jogadores. Conseguimos formar um grupo” Dunga, técnico do Brasil
●● Partidos se adequam à
retórica ambiental, antes coadjuvante. ● PÁG. A4
casa& Morada ecológica ●● Uma
estética mais sustentável se impõe na decoração e na arquitetura. ●
Segredo de Justiça é banalizado no Brasil O sigilo da investigação da PF sobre Fernando Sarney está longe de ser fato isolado nos tribunais. “A regra constitucional é a publicidade”, adverte Carlos Ayres Britto, ministro do STF. ● PÁG. A11 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 37 DIAS
CRIME ORGANIZADO
No tribunal e no cinema
Julgamento de líderes do PCC coincide com estreia de filme sobre ataques da facção. ● PÁG. C5
Inferno astral de Obama já ameaça sua popularidade Agosto foi ruim para Obama. A reforma do sistema de saúde foi atacada e a guerra no Afeganistãovaimal. Setembroserádecisivo. O presidente dos EUA vai discursarno Congressoparafazer sua agenda avançar e, no front externo, tratar da questão nuclear no Irã e do conflito na Palestina. ● PÁGS. A12, A13 e A16
DOMINGO, 6 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Jornais: Odmar Almeida Filho Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
Em preparo uma herança maldita
O
Brasil vive a era das contrarreformas, com o governo empenhado em desfazer alguns dos mais importantes avanços institucionais dos anos 90 e do início desta década, diz o ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Loyola em artigo publicado no Estado da última segunda-feira. Há uma contrarreforma fiscal, uma previdenciária e outra do Estado. Já se delineia uma quarta, trabalhista, proposta pelas centrais sindicais e apoiada publicamente pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, com o beneplácito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente do BC sintetizou numa palavra a tendência dominante no governo e já apontada em mais de um comentário nesta página: promover um retrocesso histórico, desfazendo alguns dos principais fatores da modernização recente do País. Sem esses fatores, a economia brasileira não teria alcançado o vigor necessário para resistir sem danos muito importantes à crise internacional iniciada há dois anos. O governo federal tem sido elogiado pelas medidas de estímulo econômico adotadas a partir do ano passado quando a crise nos atin-
giu. As únicas medidas sérias foram aquelas tomadas pelo BC – para aumentar o crédito bancário e as operações de apoio aos exportadores – e a redução de impostos para alguns setores. O espaço para o alívio tributário teria sido muito menor, se o governo federal não houvesse mantido, embora com empenho cada vez menor, a política de metas fiscais inaugurada pela administração anterior. A relativa estabilidade de preços é uma conquista consolidada pelo regime de metas de inflação. Também o fortalecimento do setor externo é o resultado de longo prazo de estratégias adotadas há muito tempo, como privatização de grandes empresas exportadoras, a modernização agrícola, a abertura da economia brasileira e o câmbio flexível. Mas esse governo, beneficiário das ações de modernização empreendidas em gestões anteriores, se mostra empenhado, cada vez mais claramente, em desenterrar os vícios do passado. A maior parte da expansão fiscal dos últimos 12 meses – e dos últimos anos – foi causada não pelo investimento crescente, mas pelo continuado aumento das despesas
O imposto do livro
E
mbora a vendagem de livros tenha aumentado e o preço médio dos livros tenha caído no ano passado, apesar da crise, como revela um recente estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o governo está propondo a criação de um novo tributo para constituir um fundo destinado a estimular a leitura no País. Essa é a segunda tentativa feita pelo governo, em menos de um mês, para criar novos impostos. Em agosto, o ministro da Saúde, com o apoio de parlamentares da base aliada, voltou a defender a criação de uma nova CPMF, alegando que precisa de recursos para financiar o combate à gripe suína. No caso dos livros, o governo quer instituir uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), com uma alíquota de 1% sobre o faturamento anual das editoras, distribuidoras e livrarias. Formulada pelo Ministério da Cultura (Minc), a proposta é apresentada justamente no momento em que o governo adota medidas para desonerar a atividade econômica nos mais diversos setores de atividade. Como a Cide seria cobrada em todas as etapas do setor de publicações, a alíquota de 1% para cada elo da cadeia editorial se converteria em 2,1% no preço final do produto. Isso pode ser mortal para os pequenos distribuidores de livros, cuja margem de lucro já é muito reduzida, não comportando mais uma taxação. O mesmo pode ocorrer com as pequenas e médias livrarias, que hoje sofrem uma acirrada competição com os grandes grupos es-
pecializados em vendas de produtos culturais – livros, CDs, DVDs – pela internet. Lutando para sobreviver nas cidades do interior do País, elas não têm condições de absorver mais esse custo. Por seu lado, as editoras alegam que a venda de livros é muito sensível ao preço e que qualquer elevação tem efeito direto no volume de vendas. Elas afirmam que, com a cobrança da Cide, terão de reajustar os preços de seus catálogos. E, como os livros ficarão mais caros, elas temem uma queda nas vendas e, por tabela, uma redução no número de
Proposta de novo imposto sobre o livro para estimular a leitura novos lançamentos de autores nacionais. Os editores também dizem que terão de suspender o patrocínio de fóruns de debates e dos projetos de “salas de leituras” e de “espaços infantojuvenis”, que criaram junto a escolas e comunidades para incentivar o hábito de ler. A proposta do Minc é mais uma dessas ideias insensatas – tão do gosto do atual governo – que pode trazer resultados diametralmente opostos aos desejados. A ideia de se criar uma “contribuição” incidente sobre o setor editorial surgiu pela primeira vez em 2004, meses após o presidente Lula ter reduzido a zero a alíquota do PIS e da Cofins para toda a cadeia produtiva do livro. Na época, foi classificada como incoerente por autores, editores, distribuidores e livreiros.
de custeio, especialmente dos gastos com a folha de pessoal. Passada a crise, não haverá como interromper a expansão do gasto ocorrida neste período, porque a elevação das despesas foi concentrada nas despesas permanentes. Em 2010 o Orçamento federal será mais inflexível que nos anos anteriores, porque não se cortam facilmente a folha de salários e os encargos trabalhistas. Da mesma forma, os gastos previdenciários terão muito mais que um crescimento vegetativo, não só pelo aumento do salário mínimo, mas também pelas vantagens prometidas a aposentados com rendimentos superiores ao mínimo. Mas as mudanças negociadas pelo governo com as centrais sindicais são mais amplas e deverão resultar, se concretizadas, no enfraquecimento do chamado fator previdenciário, criado para desestimular as aposentadorias precoces. O mesmo acordo envolveu a prorrogação, até 2023, da fórmula de aumento do salário básico. Da parte do governo, foi mais uma notável demonstração de irresponsabilidade e demagogia.
Restaurando parte dos direitos Ao justificar a retomada da proposta de quatro anos atrás, o governo alega que a receita gerada pela Cide irá para um Fundo Pró-Leitura, que será constituído com quatro objetivos – todos embalados numa retórica politicamente correta: “democratização do acesso; fomento à leitura e formação de mediadores; valorização de leitura e comunicação; desenvolvimento da economia do livro”. Retórica à parte, a medida mais absurda é a instituição da figura dos “mediadores” de leitura – ou seja, pessoas que tentariam incentivar o hábito de ler na população. Como se vê, o governo do presidente Lula não abandonou a compulsão pelo “dirigismo cultural”, que foi evidenciada, em seu primeiro mandato, pelas tentativas de criação de um Conselho Federal de Jornalismo (CFJ) e de uma Agência Nacional de Cinema e Audiovisual (Ancinav). Quem serão esses “mediadores” de leitura? De que modo serão escolhidos? Em que medida isso não pode levar a um festival de contratações de “companheiros”? Acima de tudo, o que garante que os “mediadores” sejam mais eficientes do que os professores de ensino básico e como evitar que convertam seu trabalho em mero proselitismo partidário-ideológico? A extravagante ideia de criação de um imposto para estimular o hábito da leitura só poderia vir de um governo cujo chefe já afirmou várias vezes que não gosta de livros e que não lê “porque dá sono”.
A
o aprovar o relatório do deputado Eduardo Cunha (PMDBRJ) sobre a proposta de emenda constitucional (PEC) que muda as regras para o pagamento dos precatórios, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara retirou parcialmente do texto uma das disposições mais prejudiciais aos cidadãos e empresas que, por sentença judicial, têm a receber da União, dos Estados ou dos municípios: a quebra da ordem cronológica dos pagamentos. Mas manteve pontos que beneficiam excessivamente os devedores, como a possibilidade de pagamento de metade do valor devido sem respeitar a ordem e a não fixação de prazo para a liquidação dos precatórios em atraso. Por isso, a Câmara terá de alterar ainda mais a PEC, se quiser preservar os direitos dos credores. Pressionado por governadores e prefeitos que nos últimos anos deixaram acumular o montante de dívidas decorrentes de condenação judicial – em geral por não cumprirem as condições de pagamento que lhes foram oferecidas –, o Senado aprovou em abril a PEC que oferece novas facilidades para os devedores. De autoria do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), a PEC cria um regime especial para os precatórios pendentes de pagamento e que, de acordo com os levantamentos mais recentes, totalizam R$ 100 bilhões nos Estados e municípios. Entre outras alterações, o parecer de Cunha elimina o artigo 2º da PEC aprovada pelo Senado, por considerá-lo inconstitucional. O texto elimina-
do acrescentava um artigo, que seria o de número 97, ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal, estabelecendo duas opções de pagamento: 60% dos recursos reservados para a quitação seriam destinados a pagamento por leilão, decidido pelo critério de maior desconto oferecido pelo credor; os restantes 40% seriam destinados ao pagamento à vista “em ordem única e crescente de valor”. Esses critérios significavam o fim da ordem cronológica dos pagamentos, estabelecida de acordo com a data da emis-
A situação dos que têm precatórios a receber melhora um pouco são do precatório – que é a sentença judicial definitiva, determinando à Fazenda Pública que faça o pagamento devido. Ou seja, credores que já estavam na fila para receber perderiam seu lugar e só receberiam aquilo a que têm direito, assegurado em caráter definitivo por decisão judicial, se e quando o governante devedor quisesse pagar. Essa medida, no entender do relator da PEC na Câmara, fere o direito adquirido dos credores – e direito adquirido é cláusula pétrea da Constituição. O parecer retira da PEC outras vantagens oferecidas aos governos devedores, entre as quais a eliminação da obrigatoriedade de incluir no orçamento as verbas necessárias para a liquidação dos precatórios. Se aprovada pelo plenário,
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Belo o nosso presidente dizendo que “não faria o que ele (Hugo Chávez) fez com a mídia”. Bom, então o que diria sobre o nosso jornal estar sob censura há 37 dias? E por ter “azia” quando lê jornais, ele anda muito mal informado sobre o que o povo venezuelano acha do seu querido companheiro na presidência, pois amigos que nasceram e vivem na Venezuela se sentem, como eu, indignados e envergonhados com tanta corrupção e impunidade, “como nunca antes nesse país”. MARIANA ARRUGA FERNANDES mari_arruga@hotmail.com
São Roque
Oque Lularesponderia? Ao afirmar que não daria aos
meios de comunicação brasileiros o mesmo tratamento que o coronel Hugo Chávez dispensou à mídia de seu país, fechando dezenas de emissoras e jornais, desafio o presidente Lula a responder às seguintes perguntas: se Chávez, como político, e não como militar, ordenasse não às suas milícias, mas a juízes chavistas, que amordaçassem jornais por denunciarem o alto grau de corrupção no Senado de seu país, o que o senhor diria sobre essa atitude? Acharia um precedente perigoso para democracia venezuelana ou um ato sem importância para um líder tão popular, preocupado com os pobres e com a economia da Venezuela? LUCCA BRASI luccabrasi@uol.com.br
São Paulo
“
Para curar a azia do presidente Lula, censura na imprensa!”
ZoroastroGustavoBisi zbisi@terra.com.br SãoPaulo
Correção Lula, sobre Chávez: “Não teria como fazer o que ele fez com a mídia...” SERGIO S. DE OLIVEIRA ssoliveira@netsite.com.br
Monte Santo de Minas (MG)
Censura Há uns quatro anos peguei um táxi em Curitiba e, na conversa com o taxista sobre os assuntos
do momento, ele disse: “O mal deste país é que a Justiça está podre.” A frase em sua boca me levou à reflexão: “Voz do povo, voz de Deus.” Com a censura ao Estadão, concluo que não só o Francenildo é tratado com descaso pela Justiça, mas todos os homens e entidades de bem que ousam divergir do que está aí. ARMANDO GURGEL armandogurgel@yahoo.com.br
São Paulo ● Quando a censura cair, de que maneira o desembargador Dácio Vieira pretende reparar os prejuízos que causou ao Estado e a toda sociedade, que, proibida de acompanhar os capítulos da novela Boi Barrica, foi condenada à ignorância, sem mesmo conhecer os capítulos finais dessa his-
esta será a terceira moratória constitucional para o pagamento dos precatórios judiciais, que, segundo alegam alguns governadores e prefeitos, desorganizam as finanças públicas, mas que, concretamente, resultam do fato de que o Estado não paga o que deve aos cidadãos nem mesmo quando a Justiça manda que o faça. A primeira foi estabelecida pela Constituição de 1988, que, no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, estabeleceu o prazo de oito anos – considerado razoável, visto que muitos governantes tinham déficits herdados de gestões anteriores – para a Fazenda Pública quitar todos os precatórios. Com o acúmulo de dívidas judiciais atrasadas, nova moratória foi aprovada em 2000, por meio de emenda constitucional. Essa emenda concedeu prazo adicional de dez anos para a quitação, mas sem alterar a ordem cronológica dos pagamentos nem mudar a forma de correção da dívida, estabeleceu que o precatório poderia ser cedido (o que criou um mercado secundário para esses direitos) e permitiu quitar dívidas tributárias com parcelas não pagas dos precatórios. Mas nem dispondo de novas facilidades os governantes quitaram as dívidas. Um dos argumentos a favor da PEC em discussão é o de que ela formaliza uma situação de fato e prevê medidas que podem ser menos danosas aos credores. Mas o reconhecimento de uma situação de fato, diz o relatório de Cunha, “não autoriza a revogação de princípios e regras constitucionais que não comportam revogação ou modificação”. Ou seja, não pode implicar a violação de direitos adquiridos.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Diplomacia
Também no sentido do retrocesso vão os esforços, iniciados na primeira gestão petista, para sujeitar as agências de regulação aos interesses partidários e eleitorais dos grupos no governo e para restabelecer os níveis de intervenção estatal observados até o começo dos anos 90. Nesse sentido, a divulgação das normas para o pré-sal completa de forma ominosa o quadro do retrocesso com a adoção, pelo governo, de um projeto nacional-estatizante de exploração do petróleo que, segundo declarações do ministro de Minas e Energia, deverá ser seguido por outro do mesmo tipo para a área de mineração. Preferimos acreditar que não se trata de uma adesão “ideológica” ao modelo autoritário bolivariano, do caudilho venezuelano Hugo Chávez, mas de um mero e lamentável “erro de cálculo” do presidente Lula, que acreditou que o nacional-estatismo tem maiores possibilidades de salvar a insossa candidatura Dilma Rousseff do que a continuação com as políticas que lhe granjearam a popularidade que desfruta hoje. Mas, seja como for, seu sucessor pode ir se preparando para receber pesada herança maldita.
tória que envergonha o Brasil e a democracia? PETER CAZALE
à legalidade faz pensar na existência de prevaricação por parte de quem já devia ter-se pronunciado.
pcazale@uol.com.br
ALVARO SALVI
São Paulo
alvarosalvi@yahoo.com.br
Santo André
Prevaricação Constituição federal: “Art. 220 – A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. § 1º – Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veiculo de comunicação social. § 2º – É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.” A demora na volta
● Chega a ser vergonhosa a lentidão com que está sendo tratada a decisão sobre essa também vergonhosa censura ao Estadão. Como se pode perceber, todo o Judiciário, inclusive a Suprema Corte, entrou no esquema do PT e, com certeza, nas gravações da Polícia Federal da Operação Boi Barrica vamos ouvir pessoas pedindo “dois mião” e muitas sujeiras da família do senador José Sarney e seus “cumpanheiros”. PAULO F. SIQUEIRA DOS SANTOS paulosiqueirasantos@hotmail.com
Santa Rita do Passa Quatro
o estado de s. paulo
●Edição de
0h15
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
SEGUNDA-FEIRA
Após um ano de crise, autoridades financeiras acertam normas globais instituições financeiras. Ficou definido que bancos terão de cumprir exigências mais severas para fazer capitalização, além de reduzir o pagamento de bônus para executivos e passar por testes anuais de liquidez. Os detalhes do acordo serão negociados até o fim do ano,
ENVIADO ESPECIAL À BASILEIA
Um ano depois do agravamentodacriseinternacional, ospresidentes dos 25 maiores bancos centrais do mundo fecharam um acordo prevendo regras mais rígidas para a atuação de
masécertoqueosbancospassarão a operar dentro de limites bem mais rígidos que os atuais. “O acordo é essencial pois estabelece um novo padrão para a regulaçãodosbancose supervisão em um nível global”, disse o presidente do BC Europeu, Jean Claude Trichet. ● PÁG. B1
Lula na TV: pressão pelo pré-sal ●● ● Em pronunciamento feito ontem em rede nacional de rádio e TV, o presidente Lula pediu aos brasileiros que pressionem parla-
mentares na defesa do modelo de partilha para o pré-sal. Disse que seria “um erro grave” adotar modelo de concessão. ● PÁG. B4
ESPORTES
Roberto Godoy
MARGARIDA NEIDE/A TARDE
Dedo presidencial na escolha de caças
Haverá motivos para otimismo na próxima reunião de cúpula do G-20. A pior fase da crise global deve ter passado e a recuperação pode começar antes do previsto. ● PÁG. A3
●●●
A. 1º caderno: 14 ● B. Economia: 10 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 8 ● E. Esportes: 6 ● L. Link: 8 ● Cl. Classificados: 1 (140 anúncios)
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FABIO MOTTA/AE
MÍN.
Sol reaparece, mas tempo abafado provoca pancadas de chuva.
Hoje: 52 páginas
Um mês depois da entrada emvigor dalegislaçãoantifumo, seus benefícios já podem serconstatados.Mediçãofeitapelo Estado daconcentração de monóxido de carbono (CO) em três casas noturnas daregião centralde SãoPaulo revelou que o padrão do ar passou de “contaminado” – antes da lei – para “ideal”, com redução da substância em mais de 50%. ● PÁG. C1
● PÁG. C2
15º
Lei antifumo melhora o ar em casas noturnas
●● Além de finalizar o restauro de duas capelas, o Mosteiro de São Bento do Rio comemora o inventário de seus bens – mais
de 2.400 peças dos séculos 17 ao 20, entre esculturas, serviços litúrgicos, púlpitos e pias batismais. ● PÁG. C6
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 38 DIAS q PÁG. A7
CADERNO 2 Deletar é simples, o difícil é apagar ●● Recursos da computação não garantem que arquivos sejam de fato apagados. ● DIVULGAÇÃO
RIO: ESPLENDOR BENEDITINO
Cenárioanimador para o G-20
Na escolha do novo caça de alta tecnologia, a surpresa agora é se o vencedor não for o francês Rafale. O programa permite escolha política. E Lula já fez a dele. ● PÁG. A6 ●●●
IDOLATRIA – Kaká é recebido pelos fãs em Salvador: 300 pessoas aguardavam a delegação no aeroporto pouco depois das 6 da manhã
NOTAS E INFORMAÇÕES
MÁX.
O Ministério do Meio Ambiente anuncia esta semana um plano nacional de combate ao desmatamento no cerrado brasileiro. Uma das medidas previstas será o monitoramento via satélite, tal como é feito na floresta amazônica.Cercade 50%da vegetação original deste que é o segundo maior bioma do País – abrangendo 11 Estados – desapareceu. O cerrado encolhe ao ritmo de 1% ao ano e já perdeu 1 milhão de km². ● PÁG. A13
ANÁLISE
São Paulo vira e continua na briga
26º
Governo adota plano para salvar o cerrado
Convidado de honra do desfile militar do Dia da Independência, em Brasília, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, está noPaís pelasegundavezemmenos de um ano, reforçando uma parceria estratégica que vai muito além da compra de submarinos e aeronaves franceses pelo Brasil. Fora esse acordo, as duas nações têm posições convergentes sobre o Conselho de Segurança e o G-20. Com isso, o País vê a França como sua principal aliada no mundo desenvolvido. ● PÁG. A4
Classificada para a Copa após os3 a1 sobre a Argentina, a seleção brasileira desembarcou ontem em Salvador em clima de festa.Apesardaeuforiadostorcedores, o técnico Dunga não se rendeu. “O Brasil, se pegar 11 meninos de rua, vai para a Copa como favorito, só pela camisa, mas a gente dizer que já tem uma seleção pronta é presunção”, disse. Robinho, machucado, não jogará contra o Chile, quarta-feira. Um substituto poderá ser convocado. ● PÁG. E1
Tempo: CAPITAL
DIRETOR:
RUY MESQUITA
País vê França como principal aliado no bloco desenvolvido
Em meio à festa na Bahia, Dunga pede seriedade à seleção
Com gols de Marlos e Borges, o São Paulo venceu o Cruzeiro por 2 a 1, no Mineirão, e manteve diferença de quatro pontos paraoPalmeiras,primeirocolocadodoBrasileiro.OInternacionalbateu oAvaí por 2a 0 e estáa um ponto do líder. ● PÁG. E6
(1891-1927)
7 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42328
BCs definem regras rígidas para enquadrar bancos Jamil Chade
JULIO MESQUITA
Duas feras tocam em SP Direto de um rancho no Mississippi, o pioneiro do rock Jerry Lee Lewis (foto) se exibe no dia 18, após longa ausência dos palcos locais. Antes, a cidade recebe Brad Mehldau,“matador”nojazz. ●
●●
Pedro Doria
Mundo pop e digital ●● A compra da Marvel pe-
la Disney é o Vale do Silício noentretenimento. ● PÁG. L6
EUA
Assessor ‘verde’ de Obama renuncia Comentário contra republicanos derrubou pioneiro da energia limpa. ● PÁG. A11
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SEGUNDA-FEIRA, 7 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 38 DIAS
NACIONAL NACIONAL A7 A7
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entrevista Leonardo Barreto: cientista político e pesquisador da UnB
‘Segredo de Justiça serve apenas para preservar Sarney’ Para especialista, caso da censura ao ‘Estado’ abre porta para a discussão do uso desse mecanismo no País Clarissa Oliveira
A censura que impede o Estado de publicar informações relacionadas a investigações sobre a família Sarney coloca em questão o próprio conceito de segredo de Justiça. A avaliação é do cientista político Leonardo Barreto, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, o sigilo das investigações sobre o empresário Fernando Sarney tem por único objetivo proteger interesses de seu pai, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Como o sr. avalia a censura imposta ao Estado e a demora em solucionar o caso?
A censura é um problema grave, denota um caráter autoritário de algumas organizações no Brasil. É preocupante que o Poder Judiciário ainda acomode esse tipo de coisa. Acho que o caso do Estadão serve de exemplo para que a gente possa discutir uma coisa muito mais ampla, que é o próprio segredo de Justiça. O sr. acha que o conceito deveria ser revisto?
É um instituto muito estranho. Por que determinadas coisas só podem ser julgadas e processadas sob segredo? Qual é o motivo para isso? Não sei. Não vejo por que, num país democrático, transparente, haver esse tipo de instituto. O sr. concorda com a tese de que o segredo de Justiça não se aplicaria a esse caso, devido ao interesse público envolvido?
Concordo plenamente. Acho que o segredo de Justiça está sendo aplicado, nesse caso, para preservar a vida política de uma das pessoas mais poderosas do País. Unicamente por isso. Não sei quais são as razões que os juízes apontam, mas a única razão prática que eu vejo para isso é a preservação da carreira política da família Sarney. Me soa como uma coisa absurda, sendo que o objeto desta ação é de total interesse público. O sr. vê a necessidade de uma discussão sobre a relação entre o poder público e a Justiça?
Não vejo nada mais urgente. O fato é que a Justiça não é igual para todos. Se a gente for pegar autoridades com foro privilegiado levadas ao Supremo ou ao STJ nos últimos 20 anos, desde que foi criado o instituto, me parece que ninguém foi julgado. Neste caso, há uma relação particular entre o desembargador autor da decisão e a família Sarney. O sr. vê relevância nisso?
Deveria ser um agravante. Na hora que ficou comprovada a existência de uma relação pessoal, esse juiz tinha de ter sido desqualificado como pessoal hábil para decidir sobre o assunto. A Justiça está demorando imensamente para corrigir um erro gravíssimo, que foi cometido por um de seus membros. E quem vai perder com isso vai ser o Poder Judiciário e nós, que precisamos ser informados. ●
DAIANE SOUZA/UNB AGÊNCIA
ERRO GRAVÍSSIMO – Para Leonardo Barreto, a Justiça está demorando muito para derrubar a censura
o estado de s. paulo
● Edição das
23h15
TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
8 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42329
Brasil tenta impedir a entrada de criminosos Rui Nogueira
CELSO JUNIOR/AE
Destino de muitos fugitivos e procurados da Justiça e da polícia do mundo todo, o Brasil lançahojeum programaparacombater essa preferência. O Fim de Linha vai ampliar cadastros da Polícia Federal e cruzar informações com bancos de dados da Interpol. Aeroportos internacionais, portos e postos de fronteira serão interligados. Campanha publicitária criará climadealertanosdestinospreferidos dos criminosos. ● PÁG. C1 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 39 DIAS q PÁG. A8 ARMAS – Sarkozy, Lula e Marisa observam, do palanque do Sete de Setembro, malabarismo feito por integrantes da Guarda Presidencial com fuzis equipados com sabres
Lula opta por caça francês e encerra disputa internacional Compromisso de Sarkozy de adquirir cargueiros da Embraer foi decisivo O presidente Luiz Inácio Lula daSilvaanunciou,durantevisitadopresidenteNicolasSarkozy ao País, que vai negociar com a empresa francesa Dassault a compra de 36 caças Rafale. O custo total deve ser de € 4 bilhões (R$ 10,6 bilhões). Em comunicado, Lula informou
que o acordo foi fechado porque Sarkozy se comprometeu acomprar“umadezenadeunidades” deaviões cargueiros da Embraer. Na prática, o governo encerrou a licitação do projeto FX-2, iniciada em maio de 2008. Além da Dassault, estavam na disputa a americana
ANÁLISE
Boeing e a sueca Saab. O presidente da França permaneceu menos de 24 horas no País, assistiu ao desfile do Sete de Setembro em Brasília e embarcou de volta com contratos de fornecimento de equipamentos bélicos no valor de R$ 37,5 bilhões. ● PÁGS. A4 e A6
direto da fonte
Um Exocet verde-amarelo ●● Contratos preveem que
equipamentos bélicos de fabricação francesa serão modernizados com tecnolo-
Apreensão de remédios falsificados bate recorde
KAKÁ: DE VOLTA À RENASCER
Dora Kramer
Cheque em branco O que a maioria das pessoas sabe sobre o petróleo do pré-sal é só o que o governo diz. E o governo, pela voz do presidente da República, não informa, panfleta. ● PÁG. A6 ●●●
O Brasil apreende cada vez mais remédios falsificados, resultado do crescimento da ação de quadrilhas e de mais fiscalização. No primeiro semestre, foram recolhidas 316 toneladas – ante 45,5 toneladas em 2008. ● PÁG. A14
NOTAS E INFORMAÇÕES
Disputas judiciais se preveem se não se permitir que se altere, corrija e aperfeiçoe o marco regulatório. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
30ºMÁX.
● PÁG. C2
17º MÍN.
ANTONIO MILENA/AE
Inconstitucionalidades no pré-sal ●●●
●●● Com a bispa Sônia e o apóstolo Estevam Hernandes, o jogador participa do lançamento da pedra fun-
damental do templo que será erguido no lugar do que desabou em janeiro, matando nove pessoas. ● PÁG. C4
A. 1º caderno: 16 ● B. Economia: 12 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 12 ● Cl. Classificados: 4 (349 anúncios)
7 8 9 10 11 12
VIAGEM
& AVENTURA
No coração da Patagônia chilena ●● Começa a melhor temporada para navegar entre
fiordes, caminhar em geleiras e observar baleias. ●
DANIEL GARCIA/AFP
Sol e calor, com aumento de nuvens.
Hoje: 64 páginas
gia parcialmente brasileira. É o caso dos mísseis Exocet que pertencem à Marinha do Brasil. ● PÁG. D2
MAFALDA – Escultura da personagem é a nova atração de Buenos Aires. ● PÁG. V9
Estado de SP ‘congela’ 25 mil hectares da Cantareira Área de mata atlântica nas Serras de Itaberaba e Itapetinga está sob “limitação administrativa provisória”. Ficamproibidos, durante7meses, corte de vegetação nativaeoutraspráticasdedegradação ambiental. ● PÁG. C5
País gasta mais que ricos para evitar crise na economia O Brasil gastou, com incentivos fiscais, 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB) para tirar a economia da crise, dispensando maisrecursos queEstados Unidos, França, Reino Unido ou Japão. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o Paísterácontraçãode0,8%neste ano, ante queda de 2,5% no mundo. Os pacotes de trilhões dedólares,dizaONU,nãoevitarão que a economia mundial patine por alguns anos. ● PÁG. B1
CADERNO2 Tema delicado já não é tabu ●● Morte, suicídio
e alcoolismo são tratados com delicadeza em livros para jovens e crianças. ●
Seleção brasileira
Dunga convoca 4 para jogo com Chile ●● Diego Souza, Diego Tardelli,AndréDiaseCleitonXavier, as novidades. ● PÁG. E1
Afeganistão
Presidente ganhou votos de urnas falsas ●● Zonas eleitorais que exis-
tiam só no papel beneficiaram Hamid Karzai. ● PÁG. A10
A2 ESPAÇO ABERTO
TERÇA-FEIRA, 8 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Cerrado paulista
Antes tarde do que nunca
XicoGraziano
RubensBarbosa
Aqui dentro, tanto quanto no exterior, a Amazônia recebe preocupação total da sociedade. Enquanto isso, a vegetação do cerrado vai sendo devastada, como se irrelevante fosse tal bioma. Isso não pode continuar. Biodiversidade não escolhe floresta para morar. Recentemente o governo paulista fez aprovar, com apoio unânime da Assembleia Legislativa, sua lei de proteção ao cerrado, cuja aplicação prática será regulamentada agora, em 11 de setembro, Dia Nacional do Cerrado. Serve de exemplo na proteção ambiental do País. Já passava da conta. A vegetação típica de cerrado ocupava originalmente 14% do território paulista, representando 3,4 milhões de hectares. Fora os especialistas, ninguém sabia disso. Hoje, mal cobre 211 mil hectares, restando em apenas 0,84% da área do Estado. Quase desapareceu. O cerrado sempre foi considerado bioma de menor importância, seja para os agricultores, seja para os próprios ecologistas. A exuberância da Ama-
Com nova lei, poder público não mais poderá autorizar sua supressão zônia e, no Sudeste, a relevância da mata atlântica encobrem a riqueza da fauna e da flora típicas dessas savanas nacionais. Para se ter uma ideia, somente as borboletas já classificadas somam mil espécies. Distribuída principalmente pela região do Centro-Oeste, a vegetação típica do cerrado cobria originalmente 23% do território brasileiro. Solos ácidos, arenosos e restrição periódica de chuvas resultaram numa vegetação prevalecente de árvores menores e retorcidas, criando historicamente um conceito agronômico negativo, como se terras impróprias fossem para a agropecuária. Assim, a grande área do cerrado permaneceu quieta durante séculos. A partir da década de 1970, porém, com o avanço da tecnologia agropecuária, essa fronteira agrícola marginal passou a ser rapidamente desmatada e explorada, a começar das suas elevadas e planas chapadas. A safra de grãos do País evoluiu. E isso foi positivo para o desenvolvimento da economia, gerando empregos e renda pelo oeste da Bahia, no Maranhão de Balsas, na Rondonópolis de Mato Grosso, até no Piauí. Mas o estrago ecológico passou dos limites, sem que o poder público regrasse tal ocupação desenfreada. Tendo os olhos voltados para a Amazônia, a opinião pública não ligou
para o cerrado. Basta compro- dosa árvore sabe o valor da O expressivo aumento do co- a necessidade de serem redefivar que, na Constituição fede- natureza. mércio exterior brasileiro, ho- nidas novas prioridades de neDiscute-se no País a mural, o artigo 225 estabelece coje quatro vezes maior do que gociação externa. Reconhecidamo patrimônios nacionais a flo- dança do Código Florestal. em 2002, resultado do cresci- mente importante para o Braresta amazônica, a mata atlân- Ambientalistas, políticos e mento da economia global e sil, o fórum da Organização tica, a Serra do Mar, o Panta- técnicos reconhecem que a da alta do preço dos produtos Mundial do Comércio (OMC) nal Mato-Grossense e a zona lei, de 1965, pode ser atualizaprimários, não se beneficiou, não deve substituir as oportunida, tornando sua aplicação costeira. Nada do cerrado. no entanto, da abertura de dades de abertura de mercado Agora, com a nova legisla- mais efetiva. O debate, polemercados para nossos produ- por meio de negociações bilateção paulista, será possível pre- mizado, corre solto. São Pautos, pois acabamos por não rais ou regionais. servar aqui os poucos remanes- lo indica, na nova lei do cerraSem perspectiva na negocianegociar acordos comerciais centes dessa importantíssima do, que não é hora de afroução multilateral e tendo deixacom terceiros países. vegetação. O poder público xar, mas sim de apertar a leO Brasil, nos últimos seis do em segundo plano os entennão mais poderá autorizar sua gislação ambiental, visando a anos, não assinou nenhum dimentos para firmar acordos supressão quando 1) abrigar es- proteger os remanescentes acordo comercial de relevân- de livre-comércio, as autoridapécies da flora e da fauna sil- de vegetação nativa. cia. A multiplicidade de inicia- des responsáveis pela nossa poLição de casa. vestres ameaçadas de extintivas, na quase totalidade dos lítica comercial externa têm hoO rigor da política floresção, 2) exercer a função protecasos, ficou limitada a acor- je poucas alternativas. tora de mananciais e recarga tal, porém, não significa traA crise econômica global aldos de pouca expressão ecode aquíferos, 3) formar corre- tar os homens do campo conômica, em decorrência da terou profundamente o quadro dores ecológicos, 4) proteger o mo criminosos ambientais. primazia dos objetivos de polí- externo, com fortes consequênentorno de Unidades de Con- Jamais. Afora os maléficos tica externa sobre os interes- cias sobre o comércio internaservação ou se situar em áreas cafetões da terra, a grande cional. A redução em cerca de ses comerciais. prioritárias para criação de- maioria dos agricultores toNo restante do mundo se 12% das trocas comerciais, a las, 5) possuir excepcional va- pa se aliar à agenda ambiendeu o contrário. Desde o co- primeira desde 1982, e o aumental, permitindo unir, não selor paisagístico. Jogo duro. meço da Rodada Doha, lança- to do nacionalismo econômico, Por outro lado, somente se- parar, agricultura com meio da há sete anos, mais de cem com novas e sofisticadas forrá admitida, em São Paulo, a su- ambiente. Sim, existe um pasacordos de livre-comércio en- mas de protecionismo, tornam pressão de vegetação do cerra- sivo, decorrente do desmatatraram em vigor. Os dez impossível ressuscitar a Rodado quando destinada a acolher mento nos tempos de outromembros da Associação de da Doha e cada vez mais difíobras de utilidade pública ou ra, a ser reparado. EquacioNações do Sudeste Asiático ceis as negociações de acordos de interesse social, desde que ná-lo, entretanto, iniciando (Asean) finalizaram entendi- de livre-comércio. seja compensada, ou recupera- pela recuperação das matas Contrariando o discurso ofimentos com a Índia e chegada, uma área equivalente a qua- ciliares, exige apoiar, não torram a acordos em separado cial, medidas protecionistas fotro vezes aquela que vier a ser pedear, o agricultor. com a Austrália e a Nova Ze- ram tomadas e em seguida reocupada. Na agricultura, só polândia. China e Japão muda- vogadas. O Ministério do DesenAgricultura e meio amderá ser explorada a vegetação biente caminham juntos em ram de estratégia e estão assi- volvimento, Indústria e Comérde cerrado em estágio inicial São Paulo. Ao contrário de nando acordos de livre-co- cio Exterior divulgou uma agende recuperação. Na área urba- polêmicas, constroem solumércio com países asiáticos e da internacional para 2009. O na, dos loteamentos doravante ções conjuntas. Agenda do mesmo fora da região (Méxi- documento dá prioridade a 29 ser exigirá parcela de 50% pre- desenvolvimento sustentápaíses com potencial de aumenco e Chile). servada, quando a vegetação vel paulista. ● O governo brasileiro apos- tar as exportações brasileiras estiver no chamado estágio métou fortemente no acordo nos próximos anos, mas não indio de recuperação. Nada fácil. Xico Graziano, agrônomo, multilateral de comércio. clui a Europa nem os EUA, dois São Paulo vira assim, defini- é secretário do Meio Ambiente Diante do fracasso da Roda- de nossos principais parceiros. tivamente, a página do desma- do Estado de São Paulo. E-mail: Nesse contexto, as prioridada Doha, ficaram evidenciatamento, entrando doravante xico@xicograziano.com.br das a falência da estratégia des declaradas do governo de no capítulo da preservação e re- Site: www.xicograziano.com.br seguida por nós desde 2003 e negociar acordos bilaterais, cocuperação ambiental. A lei mo mencionado pelo minisde proteção do cerrado tro Celso Amorim, e de foralia-se ao programa estatalecer o Mercosul dificildual de microbacias hidromente poderão ser concregráficas e ao projeto estratizadas. Recuperar o temtégico “mata ciliar”, condupo perdido nas negociaLOREDANO zidos pelas Secretarias de ções desses acordos, tenAgricultura e do Meio Amtar superar as resistências biente. Ambos zelam pela de alguns setores internos conservação do solo e pronão competitivos e convimovem o plantio florestal ver com posições divergenpróximo de nascentes, córtes de nossos parceiros no regos, reservatórios e rios. âmbito do Mercosul são deO verde protege o azul. safios difíceis de superar Os últimos dados levanque colocam o Brasil num tados pelo Censo Agropebeco sem saída nas negocuário Paulista/Lupa atesciações externas. tam que as áreas com vegeO Brasil perdeu, nos últação natural aumentatimos 15 anos, a oportuniram, passando de 10% padade de se beneficiar da ra 12% das propriedades ruquadra positiva de expanrais. Tal tendência já havia são do comércio internasido percebida desde 2005, cional. Resta agora uma quando da divulgação do úlação de contenção de dano timo Inventário Florestal junto à OMC para evitar a do Estado. Na atualização proliferação de medidas em curso, os dados recenrestritivas comerciais. tes são animadores. Desde que o Brasil ofereRecuperar florestas, ça uma generosa abertura qualquer delas, defende a de seu mercado em troca biodiversidade, protege as da maior liberalização dos nascentes e cria sumidoumercados regionais, uma ros de carbono, assunto das poucas ações possíveis importantíssimo na agende nossa parte nas negociada global das mudanças Rio Branco e os ções para a abertura de do clima. Quem já descanmercado é a ampliação dos sou à sombra de uma fron- 100 anos do tratado de limites com o Peru acordos bilaterais com os
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Ogovernopassa Dilma Rousseff é a mãe do PAC e o pré-sal é literalmente órfão. Falta alguém neste governo com capacidade e seriedade para regulamentar essas novas e ainda desconhecidas reservas. O presidente autoritariamente não quer discutir com a sociedade o marco regulatório, mas prefere pedir urgência na sua aprovação pelo Congresso e vai à TV convocar para isso a mobilização popular. Para comprovar a insanidade do projeto do governo, será preciso capitalizar a Petrobrás em R$ 100 bilhões. Essa sangria poderia ser evitada se fossem mantidas as regras atuais, em que os investidores, além de pagarem para arrematar a concessão, ainda arcam com todas as despesas até sua exploração. Pior: o governo não
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
quer permitir que milhares de trabalhadores comprem ações da estatal com o FGTS, como foi feito na gestão FHC com sucesso. Lula deveria saber que o governo passa, mas o Brasil, não! PAULO PANOSSIAN paulopanossian@hotmail.com
São Carlos
Convocaçãopopular Lula convoca a população a pressionar o Congresso pela aprovação das normas do pré-sal, a fim de garantir o futuro dos filhos e netos. É lógico que essa convocação é para os movimentos ditos sociais, que são subsidiados pelo próprio governo. Nós, da classe trabalhadora, temos de pensar no País agora. Reclamamos do Sr. Lula melhor gestão na aplicação
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
de recursos para a saúde, educação, etc. Também reclamamos as reformas prometidas e não cumpridas, o combate à corrupção, o reajuste dos aposentados... O présal não pode ser tratado como o Fome Zero ou o Primeiro Emprego. Suas implicações futuras são complexas e devem ser mais bem discutidas pela sociedade.
Paraa saúde... No discurso sobre a aplicação dos dividendos que serão obtidos da exploração do pré-sal, o presidente salienta a educação, o meio ambiente, o combate à pobreza, etc. Será que, para atender à saúde, só mesmo por meio de uma CPMF?
ANIBAL V. FILLIP
CLAUDIO RUGGIERO
aniverofil@uol.com.br
ruggiero@uol.com.br
Santos
Barueri
● Muito bonita a fala do sr. Lula sobre o pré-sal em rede nacional. Mas o que pensará o povão sobre o assunto, quando perceber que a gasolina, que move seu carrinho, não baixa nunca?
● O imposto que será “carimbado para a saúde” é uma falácia. Eu carimbo o imposto e, do outro lado, retiro do orçamento da saúde por meio da Desvinculação das Receitas da União (DRU). Ou seja, a exemplo da CPMF, é mais dinheiro para o
MAURÍCIO LIMA mapeli@uol.com.br
São Paulo
FAX:
(11) 3856 2920
países sul-americanos no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi). No tocante ao Mercosul, a relação com os demais membros do subgrupo regional deveria ser mais bem avaliada do ponto de vista brasileiro, de forma a equilibrar os objetivos de integração política e de desenvolvimento econômico. Ao setor empresarial, um dos principais beneficiários com a formação do bloco regional, interessa, obviamente, o seu fortalecimento institucional. Na ausência de entendimentos comuns quanto às prioridades e estratégias, diante das diferentes percepções dos quatro países membros no tocante à abertura externa, deveria haver uma leitura mais flexível das regras vigentes, em especial a obrigação de negociar com uma única voz, desde que acompanhada de compromissos para a convergência futura. Tais situações excepcionais contribuiriam para garantir uma agilidade maior ao Mercosul para firmar acordos comerciais com terceiros, como a União Europeia (UE). Aparen-
Candidamente, o presidente Lula reconhece nossa falta de estratégia temente mudando de posição, o Itamaraty passou a defender essa flexibilização. A Chancelaria, pela palavra de Amorim, admite agora “poder o Brasil aceitar a possibilidade de a UE fechar acordos diferenciados com cada membro do Mercosul”. Nesse contexto de incertezas, seria importante que o governo brasileiro também começasse a examinar, sob uma nova ótica, certos temas que estão sendo gradualmente incluídos nos acordos de livre-comércio. Será muito difícil, no futuro, negociar qualquer acordo comercial sem, pelo menos, aceitar discutir a questão de investimentos, serviços, propriedade intelectual, concorrência, compras governamentais, cláusulas ambientais e trabalhistas. Em todas elas a preocupação deve ser impedir que eventuais exigências acordadas mascarem interesses protecionistas em produtos de exportação do Brasil. Há espaço de negociação e os limites do País devem ser reavaliados. Como candidamente reconheceu (com certo atraso) o presidente Lula, “não temos estratégia para nossa inserção no mundo e é o que estamos pensando agora”. Bem-vindas as correções de rumo. Antes tarde do que nunca. ● Rubens Barbosa, consultor de negócios, é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Censura governo, e não para a saúde. CARLOS FERREIRA nolasco@uol.com.br
São Paulo
Impostoespecífico A CSS vai contra tudo o que se possa imaginar como justo para financiar a saúde pública. Por que, nas especulações sobre o uso do dinheiro do pré-sal, a saúde não é contemplada? Por que precisamos de um imposto específico para ela, e não precisamos para os caças Rafale e os submarinos Scorpène? Alguém tem uma resposta? FILIPPO PARDINI filippo@pardini.net
São Paulo
O lapso temporal que impera desde a decisão judicial teratológica proferida pelo juiz que determinou censura a este jornal espelha a morosidade do Poder Judiciário em nosso país. A decisão proferida em primeira instância foi rápida e deferida como requerida, já a espera da reforma de tal decisão, ou melhor, a análise em segunda jurisdição está emperrada nas entranhas da Justiça. Como explicar tal disparidade? Imaginem, caros leitores, os cidadãos comuns que sofrem com seus suplícios que estão empilhados no Poder Judiciário, aguardando uma decisão que pode muitas vezes mudar o destino das pessoas? Será que não é hora de os serventuários da Justiça receberem seus salários por produtividade? Fica
TERÇA-FEIRA, 8 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Jornais: Odmar Almeida Filho Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
Inconstitucionalidades no pré-sal
À
medida que os juristas se manifestam sobre os quatro projetos de lei enviados pelo Planalto ao Congresso Nacional, destinados a estabelecer o arcabouço regulatório da exploração do petróleo na camada do pré-sal, percebe-se a fragilidade jurídica com que foram montados. E se destaca, nessa falta de solidez normativa, a incompatibilidade das propostas com o texto constitucional vigente, notadamente no que se refere à concessão de privilégios indevidos à Petrobrás, ao desrespeito a princípios consagrados na Constituição em favor da livre concorrência e da livre iniciativa, bem como no que diz respeito ao sistema de exploração do petróleo via partilha – já que concessão, autorização e permissão são os únicos meios constitucionalmente estabelecidos para o desenvolvimento dessa produção extrativa. Para o jurista Gastão Alves de Toledo (em artigo no Estado de sexta-feira), ao pretender destinar campos petrolíferos à Petrobrás, sejam ou não da camada de pré-sal, em detrimento das demais empresas que operam no setor, o governo desrespeita alguns
dispositivos da Constituição, a começar pelo inciso II do artigo 173, que manda as empresas públicas e sociedades de economia mista se sujeitarem “ao regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários”. Isso significa que qualquer empresa estatal, que explore atividade econômica – como a Petrobrás –, está posta no mesmo plano de atuação de suas concorrentes, “sendo incabível o benefício aventado”. O jurista também faz referência ao artigo 37 da Carta Magna para reter o mandamento contido em seu inciso XXI, prescrevendo que, na Administração Pública, as “obras, serviços, compras e alienações” se darão por meio de licitação, ressalvados os casos que a lei especifica. E aí argumenta: “Ora, a exceção legal que se intenta aplicar à Petrobrás não encontra justificativa jurídica ou fática que a legitime, sobretudo ao desprezar o princípio da isonomia, que ilumina todo o ordenamento jurídico e se constitui num dos pilares do Estado Democrático de Direito. Por isso, é inadmissí-
vel uma lei que dispense a União de licitar a outorga de direitos exploratórios a uma empresa governamental submetida, por força da Constituição, ao mesmo regime jurídico das empresas privadas, com as quais deve competir. Há, pois, flagrante discordância com ambos os preceitos, isto é, o que estabelece a igualdade de tratamento e o que exige licitação por parte dos órgãos públicos.” E na base da contestação desse privilégio está a valorização constitucional da livre concorrência (art. 170, IV) e da livre iniciativa (art. 170, caput), esta também acatada como um dos fundamentos da República (art. 1º, IV), ao lado dos valores sociais do trabalho. Um outro tópico que tem recebido contestação jurídica se refere ao sistema de exploração com partilha. O advogado Luiz Antonio Lemos, especialista na legislação do setor e que fez recente estudo para o BNDES comparando as normas para a exploração de petróleo em 11 países produtores – entre os quais Arábia Saudita, México, Estados Unidos, Noruega, Venezuela e Rússia –, dá conta (em entrevista ao Globo) de
que a nossa Constituição, em diversos momentos, cita as relações que o Estado pode ter com a iniciativa privada, onde estão a concessão, a autorização e a permissão, enfatizando: “Não há nada que se pareça com o que o governo está propondo, com o modelo de partilha. Mas o mais grave é que a leitura combinada dos artigos 176 e 177 da Constituição indica que a área de exploração de lavras e jazidas não só de petróleo, mas de riquezas minerais em geral, pode ser concedida e que o produto da exploração pertence à empresa privada. O artigo 176 é claro, o produto da lavra é da concessionária. Não é o que o governo quer com o modelo. Na partilha, o petróleo, mesmo depois de retirado da jazida, é da União, que depois remunera a empresa, pelos seus custos e por parte do lucro, em petróleo mesmo. É uma espécie de escambo de luxo”, conclui. Como se vê, disputas judiciais se preveem às mancheias, especialmente se o afogadilho da “urgência constitucional” não permitir – em 90 dias – que se altere, corrija e aperfeiçoe, a partir de amplo debate no Congresso Nacional e no seio da sociedade, o marco regulatório da exploração das reservas do pré-sal.
Tolerância com envenenamento Um programa atrasado
À
primeira vista pode até parecer auspiciosa a determinação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) de que os carros saiam das fábricas emitindo 33% menos poluentes, em média, do que atualmente. Louvese o órgão encarregado de fiscalizar e controlar as atividades e os produtos que tragam riscos ao meio ambiente, por definir padrões de emissão de poluentes para o País e por estabelecer limites máximos de geração de substâncias nocivas à saúde – como o monóxido de carbono – ou causadoras de aumento da temperatura global, como o óxido de nitrogênio. O problema é que medidas como essas causam espécie, primeiro, pelos excessivos prazos de carência para que entrem em vigor, e que são quase sempre prorrogados. Essa nova resolução do Conama só valerá a partir de janeiro de 2013, para os veículos a diesel, e a partir de janeiro de 2014, para os movidos a gasolina e álcool. Não serve de consolo o “antes tarde do que nunca”, porque o “tarde” quase sempre vira “nunca”. Em segundo lugar, desanima saber que mesmo daqui a três ou quatro anos, quando a poluição veicular no Brasil – nos carros novos apenas – será mais de um terço menor, ainda assim estará muito acima da que é tolerada, hoje, na Europa e nos Estados Unidos. Por que isso? Se os veículos fabricados no Brasil já alcançam alto padrão de qualidade – a ponto de serem tão bem absorvidos também no mercado externo – e se temos um programa de controle de poluentes por veículo, desde 1986, por que
a população brasileira não merece proteção contra a poluição veicular do mesmo nível das dos países civilizados? Em 2002 o Conama baixou a Resolução nº 315, que determinava a redução de emissão de poluentes por veículos movidos a diesel a partir de janeiro de 2009. O prazo era de sete anos para que os veículos a diesel “se adaptassem” a uma redução das emissões de enxofre. Faltando poucos meses para se encerrar aquele prazo, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc – empossado havia pouco –, percebeu, espantado, que absolutamente nada havia sido feito pa-
Prazo excessivo para a entrada em vigor de medidas contra a poluição ra essa “adaptação”. Ocorrera uma generalizada – e escandalosa, diríamos – omissão, por parte da Petrobrás, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de tal sorte que o ministro se viu obrigado a esticar o prazo por mais três anos, deixando para 2012 a obrigação de os veículos a diesel envenenarem menos os habitantes das cidades, com a redução do enxofre. Quantos milhares de brasileiros não pagaram, e ainda pagarão, com a saúde por essa irresponsável omissão? A propósito, há mais de uma década as entidades de fiscalização veicular dos EUA haviam exigido a instalação de centenas de itens de segurança para auto-
rizar a importação de carros fabricados no Brasil. A montadora daqui cumpriu escrupulosamente todas as exigências e obteve aprovação para comercializar determinado modelo de carro em território norte-americano. Como os componentes relacionados a tais itens eram fabricados aqui mesmo no Brasil – e o mesmo modelo vendido no mercado interno não os possuía –, o então presidente da Anfavea, em programa de entrevistas de televisão, foi indagado por que os mesmos carros vendidos no Brasil não tinham esse reforço de segurança, para diminuir nossos recordes mundiais de mortes em acidentes de trânsito. Ao que respondeu que no Brasil “não havia demanda” para itens de segurança nos carros, pois o que aqui se valoriza é a potência do motor e o “status”. Sem dúvida, é um dos aspectos da crônica negligência brasileira essa excessiva tolerância com os prazos para que cessem ou se reduzam as emissões poluidoras, as devastações do meio ambiente e as agressões sistemáticas à saúde e à vida. Legisladores e órgãos públicos estabelecem prazos demasiadamente longos para que terminem as contaminações e os prejuízos à saúde das populações, alegando que os causadores de tais males precisam de tempo para “se adaptar” às novas regras saneadoras. Mas o que isso revela é frouxidão, por parte dos poderes públicos, no controle que deveriam exercer sobre os que, em suas atividades, exibem pouco respeito pelo precioso bem que é a vida.
E
m todo o Brasil, milhares de pessoas inscreveram-se nos órgãos públicos municipais e estaduais e na Caixa Econômica Federal (CEF) para participar do programa Minha Casa, Minha Vida, lançado em março pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva. Passados cinco meses do lançamento do plano e da promessa de construir 1 milhão de moradias para famílias com renda de até 10 salários mínimos por mês, apenas 36 mil casas estão em construção, segundo informações da CEF. Até agora, o que se vê é que o programa serviu muito mais como peça publicitária da campanha eleitoral em que o governo já há algum tempo se empenha, do que para atender à demanda de moradias populares. As maiores dificuldades para comprar a casa própria estão na administração pública. A burocracia das prefeituras e Estados – e até da CEF – emperra cada etapa necessária à construção dos conjuntos habitacionais, da compra do terreno e aprovação do projeto até o registro imobiliário e a concessão do crédito ao comprador final. A demora seria menor se tivesse havido um mínimo de organização, com o treinamento de equipes para atender os incorporadores e os compradores finais, além da remoção de obstáculos como a insuficiente oferta de lotes. O ambicioso plano habitacional corre, assim, o risco de ficar muito aquém das suas metas, embora não faltem interessados em participar para aproveitar as vantagens oferecidas a construtores e mutuários. O déficit habitacional está con-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
ALEXANDRE STECCA F. PEZZOTTI
imprensa livre do mundo democrático estão com você.
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DAVID NETO
Rio Claro
drdavidneto@uol.com.br
aqui a ideia.
São Paulo
Censura não combina com independência (7/9, B6). Entretanto, combina e é parceira ativa da corrupção, do favorecimento, da isenção total de ética, do aparelhamento do Estado, da omissão, negligência, do enriquecimento ilícito, da impunidade e blindagem de criminosos, do acobertamento de fraudes, acordos espúrios, falta de comprometimento para com o povo e a Nação, da improbidade administrativa, malversação da verba pública, feudalismo e oligarquia, falácia e verborreia, promessas levianas e do poder eterno, etc. Enfim, até quando? Estadão, os homens de bem deste país e a ●
Comemoração Comemoramos, em 7 de setembro, um país devastado pela corrupção e com o Judiciário de joelhos perante o clã Sarney, nascido no berço fétido da ilegalidade... JOSÉ FRANCISCO PERES FRANÇA josefranciscof@uol.com.br
Espírito Santo do Pinhal ● Comemoramos mais um aniversário da Independência do Brasil. Lamentamos por aqueles que aviltam a Nação, hoje nas mãos de políticos imorais e corruptos profissionais que se locupletam em
centrado nas famílias com renda de até cinco salários mínimos por mês. As condições dos financiamentos oferecidos pelo governo são muito favoráveis. Está prevista a concessão de subsídios de até R$ 23 mil por mutuário, o que reduz substancialmente o valor das prestações ou a dívida assumida. Com os incentivos, tanto mais elevados quanto menor é a renda familiar dos mutuários, famílias com renda de até três salários mínimos terão acesso à moradia própria com desembolsos irrisórios, de uma prestação de no mínimo R$ 50,00 men-
A meta de 1 milhão de casas ficou até agora em apenas 36 mil sais ou de 10% da renda mensal. Os incentivos são menores para as famílias com renda entre três e seis salários mínimos. Nesses casos, o comprometimento da renda deve se limitar a 20% e haverá desconto de 90% nos custos cartorários, além de despesas reduzidas de seguro e refinanciamento das prestações, em caso de perda de emprego. As famílias com renda entre 6 e 10 salários mínimos terão redução dos custos do seguro e cartoriais e a possibilidade de refinanciamento da dívida. O governo propôs que o Orçamento da União de 2010 destine até R$ 7,2 bilhões para subsídios à casa própria. É um valor significativo, pois corresponde a quase 40% dos R$ 19 bilhões em desembolsos previs-
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
Leiloeiros
Matrículase inclusão
quase todas as instâncias do poder. A impunidade nos empurra para um futuro de desmoralização. Falácias, promessas, planos imorais e mentiras continuarão a prevalecer sem que tenhamos a capacidade de reagir, deixando para as próximas gerações os piores exemplos de uma Nação.
Tenho visto, lido e ouvido muitas críticas aos nossos políticos e concordo com a maioria delas. No entanto, será que, fazendo um exame de consciência, estamos percebendo que fomos nós que os elegemos e é também nossa a responsabilidade por tudo isso que está aí? Estamos conscientes de que no ano que vem podemos, ou não, mudar tudo isso? Estamos dispostos a deixar nosso comodismo e egoísmo de lado e votar de forma consciente e responsável? Escolheremos representantes que realmente defendam o interesse de seus eleitores ou escolheremos leiloeiros do “quem der mais leva”?
JOÃO BATISTA PAZINATO NETO
MARIA JOSEFINA PINHEIRO
pazinato@competence.cnt.br
mjo_2009@terra.com.br
Barueri
São Paulo
Cumprimento o jornal Estado pela reportagem MEC rejeita parecer sobre inclusão de aluno especial (15/8, A27) e pelo artigo A inclusão educacional ideal (15/8, A2), que acompanham as atuais políticas do Ministério da Educação (MEC). Há 28 anos trabalho com educação, habilitação e reabilitação de pessoas com deficiência múltipla e surdo-cegueira. Nunca fui contrária à inclusão, simplesmente porque é a premissa básica do direito de toda criança e jovem ter acesso à educação de qualidade. Este é o ponto: a qualidade pode não estar assegurada quando se incluem em escolas regulares crianças com deficiências que necessitam de programa individualizado, acesso ao currículo, comunicação específica, locomo-
“
Se a Petrobrás é de todos os brasileiros, por que tenho de pagar tão caro pelo litro da gasolina?”
OrélioAndreazzi orelio@andreazzi.com.br Suzano
tos para este ano pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a maior fonte oficial de recursos para a casa própria. Mas, neste ano, não houve nenhum aporte de recursos do Orçamento federal para as obras do programa habitacional. As obras são financiadas com recursos do FGTS e do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR). O governo promete devolver o dinheiro ao FGTS e ao FAR logo que haja mecanismos que permitam o uso de verbas orçamentárias no programa. As construtoras interessadas em construir imóveis para a população de baixa renda enfrentam dificuldades para encontrar terrenos, a preços compatíveis com os objetivos do programa, que prevê a construção de 400 mil unidades para famílias com renda de até três salários mínimos. Em alguns casos, as áreas oferecidas por prefeituras e Estados não têm a infraestrutura necessária aos empreendimentos, o que provoca o desinteresse dos compradores potenciais. E, nos grandes centros, o valor dos terrenos inviabiliza a execução dos projetos. A CEF tem procurado justificar o atraso, argumentando que se trata de um programa novo e que os projetos de construção em fase de análise na instituição já assegurariam a construção de centenas de milhares de unidades, até 2010. Mas, ante a generalização dos atrasos da quase totalidade dos investimentos em infraestrutura e dos projetos do PAC, parece altamente improvável que o programa de habitações populares do governo federal venha a ser a exceção.
ção e adequações de materiais, equipamentos e ambientes, sem que essas crianças, suas famílias e a escola regular tenham o acompanhamento, apoio e a orientação de centros especializados. Este é o momento de organizações civis e governamentais atuarem como parceiros. O MEC precisa fomentar essas parcerias para que a inclusão realmente ocorra, pois aumentar estatisticamente o número de matrículas de crianças com deficiências nas escolas regulares não significa que elas estejam realmente incluídas. Matricular não é incluir. MARIA APARECIDA CORMEDI, diretora técnica da Associação para Deficientes da Audiovisão-Centro de Recursos para a Inclusão na Família, Escola e Sociedade mcormedi@terra.com.br
São Paulo
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A8 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 8 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 39 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entrevista RuiTavaresMaluf: cientistapolítico
‘Censura é política e demora fere Estado Democrático’ Na opinião do analista, manutenção da liminar terá efeito inverso, causando desgaste maior à família Sarney Guilherme Scarance
OcientistapolíticoRui Tavares Maluf vê viés político na liminarqueimpede oEstado desde 31 de julho de publicar detalhes da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, envolvendo o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Para o analista, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP), a manutenção da liminar terá efeito inverso ao esperado, desgastando a família Sarney e comprometendo a imagemqueoparlamentarconstruiu na redemocratização do País. “Essa delonga se deve a uma questão de naturezapolítica,envolvendoobviamente as figuras do próprio Judiciário”, diz Rui Tavares Maluf. O Estado está sob censura há maisdeummês.Comoumaliminar tem vigência tão longa?
A Justiça procura argumentarqueexistemcertasformalidades, masmedidasliminares têm caráter provisório e, porisso,háceleridadenodespacho, na decisão. Da mesma maneira que essa decisão nasceu de alguém ligado ao círculo do presidente do Senado, a demora pode estar ligada a uma capacidade de influência que o senador tem para protelar a decisão. IssoatingediretamenteoEstadodemocrático, é inaceitável. Começa com uma medida aparentemente menos ofensiva, mas pode se generalizar para algo mais definitivo. Ministros do Supremo, entidades internacionais e nacionais, juristas,analistaseparlamentaresrepudiaramasentençadodesembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Como o sr. avalia essa situação?
Essa delonga se deve a uma questão de natureza política, envolvendoobviamenteasfiguras do próprio Judiciário. O nascedouro disso é de alta suspeição. Como uma figura dessa, no momento em que recebe pedido como esse, se sente emcondições de emitir decisão dessa natureza? O desembargador tem ligação comafamíliaSarney,fezcarreirano Senado...
Nãoésóafotografiaquemostra isso, do casamento (da filha de Agaciel Maia, na qual Vieira, Sarney e o ex-diretor aparecem juntos). É todo o relatório mostrado pelo Estado. Na hora que a gente vai da foto para o texto, acabou, não dá, é inaceitável. É uma decisão, no fundo, política. Não digo que é partidária, mas é política, no nascedouro da interpretação. A Associação Nacional de Jornaisinformouquehá12casosde censura judicial desde 2008. O País vive um retrocesso?
Retrocesso haverá se essa decisão que envolve o Estadoeoutrosveículossemantiver. Se você compara com a Venezuela, o que o presidente Chávez está fazendo, qual é o meio mais eficaz para minaroprocesso democrático? Atingindo diretamente os meios de comunicação.
KEINY ANDRADE/AE–4/9/2009
VENEZUELA - ‘O que Chávez está fazendo? Atingindo diretamente os meios de comunicação’, afirma ele
● Edição de
0h20
o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
9 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42330
Números do caos em SP 160 km de lentidão
Foi o pico registrado às 19 horas
93 pontos de alagamento Entre eles, 24 intransitáveis
3 mil chamadas de emergência
Marginal do Tietê, na altura da Ponte da Anhanguera, às 15h15
Chuva causa 7 mortes no Sul e em SP Marginal do Tietê volta a ter enchente após 4 anos; telefonia entra em colapso As regiões Sul e o Sudeste do Paísenfrentaramontemdificuldades típicas de verão, com enchentesemquatroEstados,alagamentos e sete mortes – duas em São Paulo, uma em Osasco e quatro em Guaraciaba (SC). A capital paulista registrou o dia de setembro mais chuvoso da história.AMarginal doTietêteve vários pontos de alagamento, o que não ocorria desde 2005. A Marginal do Pinheiros também parou, e o pico de lentidão, às 19 horas, foi de 160 km.
ALAN MARCEL CASTAMAN/FOLHA DO OESTE
No Ceagesp, ilhado, caminhões ficaram com as rodas submersas. Houve problemas também com metrô e ônibus – muitos passageiros desistiram da viagem e preferiram ir a pé. Entre as 10h30 e as 14 horas, houve pane na telefonia fixa da Telefônica, afetando até mesmo serviços essenciais, como bombeiros e polícia. Os aeroportos de CumbicaeCongonhasregistraram mais de 40% de atrasos – num dia normal, o índice é de cerca de 5%. ● PÁGS. C1 a C7
Tempestades são atípicas A chuva de ontem em São Paulo foi causada pelo encontro de uma frente fria vinda do Sul com o ar quente no interior do continente. Essa situação é atípica para o inverno. Em oito dias, choveu 39,5% a mais do que o previsto para todo o mês de setembro. As chuvas fortes devem continuar hoje. ● PÁG. C7
Kassab culpa antecessores ●●● O prefeito Gilberto Kassab disse ter feito o trabalho para que a cidade suporte as chuvas, embora tenha havido corte no orçamento
da limpeza pública. Ele atribuiu a responsabilidade em relação às enchentes aos erros cometidos por seus antecessores. ● PÁG. C5
Eleitores com mais estudo fazem índice de Lula cair
Emprego industrial cresce após nove quedas
Pesquisa CNT/Sensus mostra que a avaliação positiva do governo caiu de 69,8% para65,4%, entremaioesetembro. A aprovação ao presidente Lula foi de 81,5% para 76,8%. O recuo é maior entre os eleitores mais escolarizados e de maior renda. Nas simulaçõesdapróxima eleição presidencial, José Serra ampliou a vantagem sobre Dilma Rousseff. ● PÁG. A4
Após nove meses consecutivos de queda, o emprego industrial mostrou os primeiros sinais consistentes de reação em julho, quando a ocupaçãoaumentou0,4%ante junho. Em comparação com julho de 2008, no entanto, o número de ocupados no setor caiu 7,0%, o pior resultado desde o início da série histórica da pesquisa do IBGE, em 2001. ● PÁG. B1
Tempo: CAPITAL
25º
MÁX.
CALAMIDADE – Raios atingem Guaraciaba, no oeste catarinense: casas arrastadas por mais de 50 metros
‘MADONNA’, DE ERRÓ, 1984
ANTONIO MILENA/AE
Sem atendimento por pane telefônica
Obama tenta hoje defender sua reforma para saúde
CADERNO 2 Arte na fábrica
●● Exposição no MAC reúne
obrasdo acervo da Renault.
Opresidente dosEUA, Barack Obama,defenderá hojeno Congresso a reforma do sistema de saúde. Mesmo alguns democratas estão reticentes,porqueapropostadeve elevar os gastos do governo. Em ofensiva para tentar recuperar a popularidade, Obama falou ontem para estudantes e recomendou que eles não exponham suas vidas na internet. ● PÁG. A14
17º
MÍN.
Tempo segue instável, com chuva e trovoadas. Há risco de temporais. ● PÁG. C2
NOTAS E INFORMAÇÕES
O bom comprador
Eliminatórias
Sarkozy talvez não seja um grande vendedor, mas Lula, com certeza, é um grande comprador. Vivo fosse, o general De Gaulle diria que este ainda não é um país sério. ● PÁG. A3
●● Desfalques contra Chile dão chance para Adriano e outros jogadores. ● PÁG. E1
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 40 DIAS q PÁG. A11
Hoje: 74 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 4 ● G. Agrícola: 12 Classificados: 112 anúncios
SANTA FE 2010.
Seleção usa jogo para testar reservas
Direto da Fonte La Toya vem aí La Toya Jackson virá ao Brasil durante turnê de tributo ao irmão. ● PÁG. D2
●●
agrícola Macadâmia cada vez mais brasileira
VEJA NA PÁGINA 5.
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QUARTA-FEIRA, 9 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 40 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Procurador critica lentidão do tribunal do DF ‘Nada dá direito a um julgador de levar indefinidamente a demanda’, diz Barbosa Sobrinho “O que me estranha nesse caso é que o julgador senta em cima deumprocessodessaimportância e não leva a julgamento algo que é urgente”, declarou ontem o procurador regional da República Osório Silva Barbosa Sobrinho, referindo-se à censura imposta ao Estado pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). A censura foi decretada em
31 de julho. Vieira proibiu o jornal de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O jornal ingressou com duas exceções de suspeição do desembargador–elemantémrelações sociais com os Sarney – e um mandado de segurança. Até agora o TJ-DF não julgou. “To-
NACIONAL A11
da pessoa tem direito de questionarperanteoJudiciárioaquiloquelhe atinge”, dizoprocurador.“Ninguémestáimunearesponder à Justiça. Mas a obrigação do Judiciário é dar uma resposta urgente.” Osório Sobrinho integra o Núcleo de Tutela Coletiva do Ministério Público Federal em SãoPaulo.“Sementrarnomérito da ação, digo que não existe direito absoluto. Mas se a pes-
soa (Vieira) que está julgando mantém vínculos com a família interessada acaba encontrando dificuldades em julgar.” Para o procurador, “caberia aele(Vieira),aprincípio,seafastar”. “Se não o faz demonstra interesse pessoal na causa. Ou então que seus pares assumam o julgamento em caráter de urgência. Não pode demorar tanto tempo. Nada dá direito a um julgador de levar indefinida-
mente a demanda. Tem mais é que colocar em julgamento para que as partes, inclusive o Estado, possam recorrer a outra instância, se for o caso.” Osório Sobrinho avalia que “está havendo censura sem julgamento”. Argumenta sobre o papel dos tribunais. “Se o relator não decide, não julga, como équefica?Ostribunaissãocolegiados, não pode prevalecer a opiniãodeum.Équestão consti-
tucional. O TJ está tirando atribuição do Supremo Tribunal Federal. São três desembargadores na turma, ninguém pode julgar sozinho. Aliás, ele (Vieira) nem está julgando.” Quarenta dias de mordaça no Estadão impressionam o procurador. “É um caso emblemático que requer resposta imediata do Judiciário porque causainsegurançatotal.”Oprocurador já atuou no Amazonas, onde ocorreu censura. “Um desembargador, acusado de venda de sentenças, decidiu em seu próprio favor, mas lá o tribunal agiu rapidamente e cassou a censura. O tribunal tem que ter sensibilidadee nãoficarempurrando.” ● FAUSTO MACEDO
QUESTÃO AGRÁRIA
Stephanes ataca novo índice de produtividade Célia Froufe BRASÍLIA
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse ontem que o momento “não é adequado” para a atualização dos índices de produtividade no campo, referência usada na desapropriação de áreas destinadas à reforma agrária. Em meio a pressões do Movimento dos Sem-Terra (MST), no mês passado, o presidente Lula encomendou a atualização dos indicadoresaStephaneseaoministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel. “Há inadequação do momento e dos critérios”, disse Stephanes na Comissão de Agricultura do Senado, pouco antes de uma audiência pública sobre a atualização do índice de produtividade. Para o ministro, há uma discussãotécnicaquecontesta o novo indicador defendido por Cassel, que leva em conta apenas o cálculo da produção em relação à área. “Nãohámotivopara umagricultor produzir, se não há mercadoparaoproduto”,observou. “O Brasil tem se demonstradoincapazde proteger sua produção e seus produtores.” ●
+ 9 SÃO PAULO
Polícia prende ex-prefeito de Bauru O ex-prefeito de Bauru AntonioIzzo Filho foi preso ontem em sua fazenda, em Avaí, sob acusação de participar de esquema de cobrança de propina de uma empresa de transporte coletivo, entre janeiro de 1997 e agosto de 1998. Segundo o Ministério Público, a empresa era obrigada a pagar propina mensal, sob a ameaça de ter retidos valoresreferentesàvendadepasses. O esquema teria obtido indevidamente R$ 2,3 milhões. O advogado do ex-prefeito,AiltonJoséGimenez,informouqueentrarácompedido para que ele tenha o direito de aguardar o julgamento do recurso em liberdade. PIAUÍ
Prefeituras fecham e protestam por verba Quase 200 dos 224 prefeitos do Piauí fecharam as prefeituras ontem e se reuniram num movimento de protesto em Teresina. Eles fizeram passeata até a Assembleia a fim de pressionar o governo federal a aumentar o repasse de recursos para os municípios.“Éinadmissívelqueogoverno federal repasse R$ 4,3 bilhões para ONGs e o MST e deixe os municípios na penúria”,criticou oprefeitodeCapitãodeCampos,MoisésBarbosa(DEM).SegundoaAssociação Piauiense dos Municípios, a queda nos repasses do Fundo de Participação dos Municípioschegoua30%–índice semelhante nas transferências voluntárias.
● Edição de
1h15
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
10 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42331
Extradição de Battisti divide STF e julgamento é suspenso
Acordo faz Lula retirar urgência do pré-sal
Sessão para com placar em 4 a 4; tendência é de decisão contra ativista italiano
O presidente Lula decidiu retirar a exigência de que os projetos com as regras de exploração do petróleo na camada do pré-sal fossem votados na Câmara em regime de urgência. Ele concordou com o recuo porque, em acordo firmado com os governistas, os partidos de oposição se comprometeram a desobstruirostrabalhosnaCâmara e a levar os projetos do présal a votação até no máximo 10 de novembro. ● PÁGS. B1 e B3
por homicídio. Essa perspectiva contraria o governo, que concedeu refúgio a Battisti. Mesmo a ala favorável ao pedido da Itália considera que Battisti poderá ser extraditado, mas para cumprir 30 anos de prisão, punição máxima na lei brasileira, e não prisão perpétua, que foi a sentença na Itá-
lia. Além disso, o escolhido pelo presidente Lula para a vaga aberta no STF com a morte de Carlos Alberto Menezes Direito poderá votar, se se considerar preparado. Os ministros poderão decidir ainda se Lulaéobrigadoa entregarBattisti à Itália ou se pode se negar a extraditá-lo. ● PÁGS. A4 e A6
Estatuto Racial avança ●●● Aprovado na Câmara, texto que vai ao Senado determina que partidos deverão destinar 10% de suas vagas a negros para candidaturas; empresas
receberão incentivos para manter 20% de trabalhadores negros e ensino fundamental terá aulas de história da África e do negro no Brasil. ● PÁG. A13
Após chuva, MP quer sustar obra da Marginal
Ofertade Eike pela parte do Bradescona Vale érecusada O Bradesco recusou a proposta do empresário Eike Batista para a compra da participação acionária do banco na Vale, informa o repórter David Friedlander. Se bem-sucedida, a operação, que tinha a simpatia doministroGuidoMantega(Fazenda),levaria Eike aogrupo de controledamineradora.Elecalculava gastar R$ 9 bilhões. O Bradesco lhe disse que está satisfeito com o retorno proporcionado pela Vale. ● PÁG. B16
Um dia depois de as chuvas travarem São Paulo e fazerem os rios da cidade transbordar, a Promotoria de Habitação e Urbanismodacapitalpediuaparalisação das obras de ampliação da Marginal do Tietê. O argumento é que o estudo de impacto ambiental não define as reais consequências que a ampliação terá na impermeabilização do solo. O governador José Serra negou o problema de permeabilidade e culpou a natureza pelos transtornos causados pelos temporais. ● PÁGS. C1 a C5
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 41 DIAS q PÁG. A9
Dor no resgate dos filhos mortos
CADERNO 2 Bienal renovada
N
●● Feira de livros do Rio EVELSON DE FREITAS/AE
ivaldo Lima ajudou a tirar a lama no Morro do Socó nas buscas ao filho, desaparecido em meio à chuva, relata Renato Machado. Outro pai, Cláudio Bueno, ficou à distância. Ambos se desesperaram quando os corpos foram encontrados. ● PÁG. C3
DRAMA – Resgate de criança vítima de deslizamento de terra no Morro do Socó, em Osasco: 28 horas de angústia para as famílias
paladar
ANÁLISE
Eugênio Bucci JORNALISTA
O que você
TVpúblicanão édo governo A transmissão ao vivo, pela TV Cultura, de um discurso do governador José Serra causoumal-estar. Nãoé preciso ser especialista no assunto para saber que não consta da missão da nossa TV pública o dever de passar recados ao vivo do Poder Executivo. ● PÁG. A2
não vai
comer
JB NETO/AE
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●●● Os funcionários fazem suas refeições antes de os restauran-
tes abrirem. O que eles comem? Arroz, feijão, carne, salada... ●
MEMÓRIA
Morre Saul Galvão O jornalista Saul Galvão morreu aos 67 anos. Desde 1965 no Grupo Estado, começou na crítica gastronômica em 1978, tornando-se referência. ● PÁG. A23
●●
NOTAS E INFORMAÇÕES
A missão espúria da Petrobrás Não tem sentido retomar políticas de substituição de importações com reserva de mercado, a não ser para criar mais um instrumento espúrio de poder e mais um foco de corrupção. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
22º MÁX.
16ºMÍN.
Frente fria deixa o tempo chuvoso.
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● PÁG. C2
Hoje: 100 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 4 ● P. Paladar: 10 ● Cl. Classificados: 22 (2.045 anúncios)
ESPORTES
Seleção vence o Chile e Argentina perde mais uma Mesmo sem quatro titulares,a seleção brasileira,classificada para a Copa, venceu a do Chile por 4 a 2 e fez a festadatorcidanaBahia.Nilmarmarcoutrêsefoiodestaque. Júlio Baptista fez o outro gol. A Argentina perdeu para o Paraguai (1 a 0) e pode ficar fora da Copa. ● PÁG. E1
EUA cedem para tentar vender caças à FAB A proposta da Boeing para semanternadisputapelofornecimento de caças ao Brasil vai incluir transferência de tecnologia. A garantia foi oficializada em nota da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília. ● PÁGS. A10 e A11
valoriza o público juvenil e traz a escritora Meg Cabot, rainha dos adolescentes. ●
HARPER COLLINS/AP
O Supremo Tribunal Federal ficoudivididoontemsobreocaso do ativista italiano Cesare Battisti. O julgamento do pedido de extradição foi interrompido quando o placar estava em 4 a 4. O presidente do STF, Gilmar Mendes, que ainda não votou, tendia pela extradição para a Itália, que o condenou
Verissimo
O Brasil queria Carla ●● Os franceses aceitaram a exigência, mas depois alegaram enxaqueca. ● PÁG. D14
Itália
Amigodiz que pagou sexopara Berlusconi Algumas das prostitutas oferecidas ao premiê seriam brasileiras. ● PÁG. A20
●●
QUINTA-FEIRA, 10 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
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NOTAS & INFORMAÇÕES
A missão espúria da Petrobrás
O
novo presidente da Petrobrás despacha no Palácio do Planalto e atende pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva. Esta conclusão parece perfeitamente razoável depois de se ler a entrevista do diretor de Exploração e Produção da estatal, Guilherme Estrela, publicada ontem no Estado. Segundo o diretor, a empresa vai ajustar o ritmo de exploração do pré-sal à evolução da indústria nacional de equipamentos. A ideia é estimular a fabricação, no País, de bens de produção hoje importados – dezenas ou até centenas de equipamentos, de acordo com suas palavras. É missão da Petrobrás, afirmou Estrela, promover o desenvolvimento da indústria brasileira. A Petrobrás foi conhecida, até há pouco tempo, como grande companhia dedicada basicamente à exploração, à produção, ao transporte e à comercialização de petróleo, gás e derivados, no Brasil e no exterior. A venda de álcool foi uma ampliação de sua atividade comercial, mas não um desvio de seus objetivos como empresa do setor energético. Esta descrição é perfeitamente compatível com seu perfil de negócios, tal como apresentado até
ontem à tarde no site da estatal. Nunca foi responsabilidade da empresa subordinar sua atividade aos objetivos de uma política industrial de substituição de importações. Isso pode ter ocorrido em algumas fases, mas por imposição do governo e não porque a execução daquela política fosse parte de suas atribuições. A empresa serviu, nos anos 70, aos planos de desenvolvimento da petroquímica: foi um dos componentes do chamado tripé – capital estatal brasileiro, capital privado nacional e capital estrangeiro. Essa atividade ainda era compatível com uma empresa do setor energético. Mas – casualidade ou não – a Petrobrás só se transformou numa grande produtora de petróleo quando concentrou seus esforços e recursos nessa finalidade. Talvez tenha havido mudança no perfil de negócios da empresa. Se isso ocorreu, só pode ter sido por decisão do acionista majoritário, representado pelo governo, ou por iniciativa dos dirigentes da companhia – hipótese muito menos provável. De toda forma, os acionistas minoritários não foram informados. Alguns
Inadimplência e spread
A
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) argumenta em sua campanha contra os elevadíssimos spreads bancários – diferença entre o que os bancos cobram dos clientes nos empréstimos e o que pagam aos aplicadores –, que o grau de inadimplência, no País, é apenas ligeiramente superior ao de outros países. Portanto, não há por que os spreads serem tão mais elevados no Brasil. Tanto a crítica da Fiesp como a resposta dos bancos foram reproduzidas em reportagem de Leandro Modé, publicada terça-feira pelo Estado. A Fiesp valeu-se das informações compiladas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), relativas ao último trimestre de 2008 ou a 2007 (no caso da França e da Alemanha). Segundo o FMI, a inadimplência, no Brasil, é de 2,9%, contra 2,7%, na França e na Alemanha; 2,5%, na Argentina, na China, no México e na Rússia; 2,3%, nos Estados Unidos e na Índia; e 1,5%, no Japão. Ou seja, a maior diferença entre os níveis de inadimplência é entre o Brasil e o Japão e não chega a duas vezes. Já o spread médio, no Brasil, de 26,6 pontos porcentuais, é três vezes superior ao da Argentina (8,4%), e quatro vezes superior ao da Rússia (6,5%), Alemanha (6,2%) e França (6%). Com spreads ainda menores surgem o México (5,7%), a Índia (3,8%), a China (3,1%), os EUA (2%) e o Japão (1,3%). Além disso, o spread médio no Brasil é seis vezes superior ao de 42 países analisados pelo FMI, calcula o diretor do De-
partamento de Tecnologia e Competitividade da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho. A Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban) põe em dúvida as conclusões do levantamento. “Não acho correto colocar os dados dessa forma”, afirmou o economista-chefe da entidade, Rubens Sardenberg. “Precisamos ter certeza de estarmos comparando as mesmas coisas.” Citando a consultoria Economática, a Febraban explica que a rentabilidade média dos cinco maiores bancos brasileiros equivaleu à média da rentabilidade dos bancos latino-ameri-
Spreads elevados estão relacionados à baixa oferta de crédito no País canos. “Não dá para imaginar que os bancos desses países sejam tão mais eficientes do que os nossos”, disse Sardenberg. O Banco Central relaciona vários fatores para explicar os juros e spreads altos, tais como o custo administrativo dos bancos (que pesa 13,6% no spread total), os impostos (18,5%), os recolhimentos compulsórios (3,6%), além do lucro das instituições (26,9%). A inadimplência é o fator de maior peso (37,4%). E é evidente que o resultado final são os juros estratosféricos, cuja queda não acompanhou a da taxa Selic – reduzida de 13,75% ao ano, em setembro de 2008, para 8,75% ao ano. “A inadimplência e a insolvência no Brasil estão dentro do padrão mundial e não justificam o juro e o spread que te-
mos aqui”, afirma Alberto Borges Matias, professor da USP. Segundo Roriz Coelho, “entre setembro e março, o Brasil pagou em spread R$ 8,5 bilhões a mais do que deveria”. Mas os bancos tem-se mostrado resistentes às pressões pela redução do spread – problema incluído há uma década entre as preocupações declaradas do Banco Central. Matias atribui o elevado spread ao baixo volume de crédito. “Como emprestam pouco, os bancos brasileiros têm de ganhar no preço”, diz ele. Há excesso de liquidez nos bancos, medida pelo saldo das operações compromissadas de curto prazo com o Banco Central, de R$ 444 bilhões, em meados de julho, segundo o jornal Valor. No Brasil, a relação entre o crédito e o PIB é da ordem de 45%, enquanto nos EUA supera os 180% e na Grã-Bretanha, os 200%. No exterior, emprestando muito a juros baixos, os bancos conseguem oferecer aos acionistas uma boa rentabilidade em relação ao patrimônio. Nos últimos meses, o governo federal decidiu derrubar os spreads mediante uma política de oferta maciça de crédito do Banco do Brasil (BB) e da Caixa Econômica Federal, instituições que controla. Apoiado por ampla campanha publicitária, o presidente do BB, Aldemir Bendine, acaba de prometer novas quedas de juros. Não há dúvida de que os juros (e spreads) têm muito a cair, mas esta política não pode ameaçar a solidez dos bancos públicos.
deles talvez aprovem a conversão da Petrobrás em instrumento de uma nova política de substituição de importações. Talvez aceitem condicionar a exploração do pré-sal a essa tarefa, isto é, ao desenvolvimento de uma indústria de equipamentos para a atividade nas áreas descobertas há pouco tempo. Esses mesmos acionistas poderão admitir o aumento de custos e a consequente redução dos lucros durante anos. Que deva ocorrer aumento de custos ninguém pode negar. Essa é uma das consequências normais da reserva de mercado – e às vezes não é a pior. Os fabricantes de bens de capital deveriam ser os primeiros a lembrar esse fato. Sua produção progrediu durante alguns anos, na época do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento, mas o setor ficou atrasado quando se implantou a reserva de mercado para bens de informática. Segundo a Petrobrás, é sua missão “atuar de forma segura e rentável, com responsabilidade social e ambiental, nos mercados nacional e internacional, fornecendo produtos e serviços adequados às necessidades dos clientes
e contribuindo para o desenvolvimento do Brasil e dos países onde atua”. A contribuição ao desenvolvimento, obviamente, deve ocorrer no desenvolvimento das atividades adequadas a seu perfil. Se o presidente da República pretende redefinir a missão da estatal, convém adotar os melhores procedimentos, comunicando a decisão aos acionistas e ao público em geral e indicando os custos da mudança. O governo também poderá extinguir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, convertendo-o, talvez, em diretoria da Petrobrás. Mas o desacato aos acionistas é só um aspecto de um erro muito maior. Não tem sentido retomar as políticas de substituição de importações com reserva de mercado, a não ser para criar mais um instrumento espúrio de poder e mais um foco de corrupção. O setor de máquinas e equipamentos não é uma indústria nascente. Além disso, misturar objetivos, quando se trata de tarefas tão ambiciosas quanto a exploração do pré-sal e o desenvolvimento da indústria, é uma demonstração inequívoca de irresponsabilidade e de incompetência. Não há lado bom nessa ideia.
Disseminação da internet
A
transmissão de dados, voz e vídeo poderá ser feita pela rede elétrica, prevê a Resolução 375 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de 25 de agosto. Em tese, os mais de 90 mil km de linhas de transmissão do País tanto servirão para levar energia a 63,9 milhões de residências e empresas como para assegurar o acesso à internet a quase toda a população. Aprovada a norma, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, apressou-se em enviar à Assembleia projeto de lei que autoriza a estatal Cemig a vender serviços de telecomunicações usando a nova tecnologia. O compartilhamento da rede de transmissão é um sistema conhecido no exterior – o Power Line Communication (PLC) – aplicado em larga escala em países como os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Itália, França, Alemanha e Suíça. Se o Brasil não teve, há mais tempo, acesso ao sistema, isto se deve ao atraso da regulamentação dos serviços. Antes da Resolução 375, os usuários dependiam apenas dos provedores atuais de internet, inclusive de banda larga. Há muitos anos, a Eletropaulo avaliou a conveniência de usar suas redes de transmissão de energia para transmitir dados, mas teve de interromper o projeto por falta de amparo legal. Para explorar o novo serviço, as distribuidoras terão de constituir subsidiárias ou se associar a companhias de telecomunicações. Os prestadores do serviço deverão fazer contratos de uso comum das instalações das distribuidoras, atendendo a algumas regras. Por
exemplo, as prestadoras do serviço de internet por rede elétrica não poderão ceder ou comercializar com terceiros o direito de uso da infraestrutura. Além disso, a receita dos serviços de PLC terá de ter contabilização separada. Entre as perspectivas abertas pelo uso do PLC está o desenvolvimento de novas tecnologias associadas ao compartilhamento das redes, como a telemedição do consumo de energia elétrica, a leitura a distância dos medidores e o gerenciamento do consumo pelos cidadãos. Mas também será facilitado o acesso à internet pelas es-
Com atraso, o País poderá pôr a rede elétrica a serviço das comunicações colas e universidades. Como mostrou estudo do professor Moisés Vidal Ribeiro, da Universidade Federal de Juiz de Fora, no estágio atual a tecnologia PLC já permite a automação residencial, a ligação da internet aos serviços de segurança, videoconferências e acesso à TV de alta definição. A Aneel enfatiza o impulso que isso dará à chamada inclusão digital – e está certa, pois se estima que 95% das residências e prédios já têm infraestrutura instalada de energia, enquanto os sistemas de telecomunicações (DSL e modems a cabo) alcançam 60% das residências, nos países desenvolvidos e 15%, nos emergentes. Haverá, ainda, estímulo à concorrência entre as subsidiárias das distribuidoras de energia que forem criadas para
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Bomba-relógio O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse que o momento “não é adequado” para a atualização dos índices de produtividade no campo, referência usada na desapropriação de áreas destinadas à reforma agrária?! Meu Deus do céu, quando é, então, que ele achará adequado? SERGIO S. DE OLIVEIRA ssoliveira@netsite.com.br
Monte Santo de Minas (MG)
Outratunga Faltava-me essa. Vejam só: a nobre senadora Ideli Salvatti (PTSC), acompanhada de um assessor, também “descolou” um curso, pago pelo Senado. O de “Capacitação de Executivos”, ministrado em etapas, em Sevilha, Bue-
“
É enorme a frustração de ter vivido 20 anos de ditadura para tudo voltar a ser como antes dela...”
KleberG.deAraujoJr. karaujojr@hotmail.com SãoPaulo
nos Aires e na Cidade do México. Somente com as inscrições o Senado gastou a bagatela de R$ 70 mil. Depois vieram os “agregados”: transporte aéreo, diárias de hospedagem, refeições, locomoção e lembrancinhas. Cáspite! Estou curioso e, como perguntar não ofende, vou formular uma questão: por que uma senadora da República necessita de um curso de “Capacitação de Executi-
vos”? Estaria a nobre senadora com a intenção de se desligar do Senado? Duvido! Com certeza seria mais lógico um curso de “Capacitação de Senadores”! A fila andando e nós pagando. J. PERIN GARCIA jperin@uol.com.br
Santo André
Censura,41dias Na contramão do bom senso e dos princípios constitucionais, o silêncio perturbador em que se mantém o juiz Dácio Vieira após decretar censura ao Estadão parece ser o mesmo que precede todo furacão, que após sua passagem destrói tudo o que estiver em seu caminho, inclusive a reputação, esta mais difícil de refazer. AMÂNCIO LOBO
amancio lobo@uol.com.br
São Paulo ● “Quando as palavras perdem o significado, as pessoas perdem sua liberdade”, disse Confúcio cinco séculos a.C.. Agora, 21 séculos d.C., podemos dizer, numa paráfrase: “Quando a Justiça cala um jornal, a liberdade perde o significado.” Fala, Estadão! J. S. DECOL decoljs@globo.com
São Paulo
SaulGalvão Lamentamos muito a perda de Saul. Mestre da arte do bem comer e beber, pioneiro do jornalismo enogastronômico brasileiro, Saul Galvão era a nossa primeira e maior referência nas le-
atuar na transmissão de dados, voz e vídeo e as empresas de telecomunicações, o que deverá beneficiar duplamente o consumidor desses serviços, cujos custos são considerados elevados e que são objeto de frequentes reclamações aos Procons. A vantagem pecuniária das distribuidoras será transferida, na sua maior parte, para as tarifas de energia elétrica, dentro da apregoada política de modicidade tarifária. Aplicado à risca, portanto, o mecanismo permitirá reduzir o valor das tarifas de energia elétrica, por ocasião das Revisões Tarifárias Periódicas (RTPs), que ocorrem, em média, a cada quatro anos. O presidente da Aneel, Nelson Hubner, acredita que “a formalização das regras vai gerar impactos que contribuirão para a busca de tarifas de energia cada vez mais justas”. Entre os maiores obstáculos para a disseminação da tecnologia PLC está o excesso de restrições normativas impostas pela Aneel e pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Entre os pontos mais positivos, haverá, segundo especialistas privados, um forte aumento da base de clientes, sem a necessidade de elevados investimentos nas redes tradicionais de energia. Segundo o analista Walter de Vitto, da consultoria Tendências, “a adoção da tecnologia se traduz em redução do custo dos produtos, tanto pelo aumento da competição quanto pela expansão da rede”. A introdução da tecnologia PLC é um passo no rumo da universalização dos serviços de internet e transmissão de dados.
tras. Quem de nós nunca guardou um recorte de jornal com uma crítica sua ou mantém num canto especial da estante um guia de vinhos assinado por ele? Todos nós, da Cia. Tradicional de Comércio, nos embriagamos de suas fontes. Saul ajudou-nos a contar a nossa própria história num livro sobre a origem da pizza paulistana, que tanto nos orgulha. Que bom que Saul era escritor. Assim podemos continuar desfrutando seu espírito. Um brinde ao Saul, que descanse em paz. EDGARD BUENO DA COSTA, ANDRÉ LIMA, RICARDO GARRIDO, SERGIO CAMARGO, MARIO GORSKI e FERNANDO GRINBERG, da Pizzaria Bráz
São Paulo
Foi com grande pesar que recebemos a notícia do falecimento de ●
Saul Galvão, um dos maiores críticos gastronômicos do País e grande apreciador de vinhos. Suas contribuições foram muito importantes para a evolução e o fortalecimento do setor gourmet brasileiro, influenciando a trajetória de empresas como a World Wine e La Pastina. Lamentamos essa fatalidade e nos solidarizamos com todos os familiares e amigos neste momento de grande pesar. CELSO LA PASTINA, diretor comercial da World Wine e La Pastina
São Paulo ● Foi-se o Saul. Para nós, de Jaú, um orgulho. Para os leitores do Paladar, uma referência. Perdemos um gentleman. Adeus, Saul. PAULO DE TARSO RODRIGUES paulodetarso2007@globo.com
Campinas
NACIONAL A9 NACIONAL A9
QUINTA-FEIRA, 10 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 41 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Artigo
A demora que produz um dano irreparável Taís
Gasparian*
S
eporumladojáéintolerável a repressão à atividade da imprensa, a demora na reforma de decisão que a institui produz dano irreparável. Caso a decisão que impede O Estado de S. Paulo de noticiar as informações de que dispõe não seja revogada em tempo hábil, se esvairá a atualidade do assunto, ou seja, na prática a decisão terá consequências irreversíveis.Anaturezadaatividade de imprensa impõe que a
informação seja atual, sendo irreparável o dano que tolhe sua divulgação. Decisões como a que está submetido O Estado de S. Paulo, que proíbem a divulgação de informações de relevante interesse público, são uma afronta à liberdade de expressão, que acabam por descaracterizá-la como uma das mais importantes liberdades civis. A demora no desfecho do caso, por sua vez, traz prejuízos a toda a coletividade, que fica impedida de obter informações de seu interesse. A informação, para que seja útil à atividadeda imprensa, deve gozar de atualidade, e assim atender ao interesse público e jornalísticoquejustificamefundamentam a sua divulgação. O
CONGRESSO
Sarney aprova voto contra censura à mídia, da Venezuela BRASÍLIA
Em votação simbólica, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), aprovou no plenário um voto de censura contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, repelindo as supostas medidas antidemocráticas, entre elas a limitação à liberdade de imprensa. Háquaseummês,opresidentevenezuelano determinouofechamento de 34 emissoras de rádio e negou renovação de licença à RCTV, a mais antiga emissorade TVdo País.Chávez
decretou também punição aos jornalistas responsáveis pelo que ele chamou de “crimes midiáticos”. O anúncio das medidas coincidiu com a invasão da TV Globovision, que veicula notícias contra Chávez. A invasão e depredação da TV foi organizada por membros do partido Unidade Popular Venezuelana (UPV), de apoio radical a Chávez. Há 41 dias o Estado está sob censura em ação movida por Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. ●
jornal, em decorrência de sua atividade, tem urgência na divulgação de matéria jornalística toda vez em que há atualidade e interesse público. No caso específico, o Senado Federal tem frequentado a mídia de todo o País justamente em razão das suspeitas de diversas irregularidades que teriam sido praticadas naquela Casa Legislativa,configurando-se,portanto, mais do que atual e legítima a iniciativa do jornal em divulgar as informações que possui. Para muito além do interesse particular do veículo de imprensa em divulgar a informação, há também que se considerar o interesse da coletividade emserinformada,quesebeneficia não apenas pelo acúmulo de conhecimento, mas sobretudo
pelo poder de fiscalização que deve exercer sobre atos que digam respeito à moralidade da administração pública e ao erário. Nesse sentido, veja-se que nos termos do permissivo constitucional contido no inciso LXXIII do artigo 5º, todo e qualquer cidadão tem direito a pleitear, mediante ação popular, a anulação de qualquer ato lesivo à moralidade administrativa ou ao patrimônio público. Assim, mostra-se relevantee urgente o conhecimento das informações de que dispõe a imprensa para fins, inclusive, de eventual contestação por qualquer cidadão. OargumentodequeaConstituição Federal protege a privacidadedomesmomodoqueprotege a liberdade de expressão não pode fazer com que aquela
se sobreponha a esta. Quando há interesse público na notícia, quandoaspessoas a queserefere a notícia são agentes públicos ou ainda quando a atualidade do assunto impõe que a notícia seja divulgada, não há dúvidadequealiberdadedeimprensa deve prevalecer. E, ainda que não se concorde com essa tese, há de se convir que, quando há confronto constitucional entre um direito que diz respeito à coletividade e outro que diz respeito a uma pessoa, a opção necessariamente deve pender para aquela. Nos casos de violação à intimidade, à vida privada, à honra eàimagem daspessoas, oremédioconstitucionalmenteprevistoéa reparaçãopelodanomaterial ou moral decorrente da ati-
vidade de imprensa. Em nenhuma hipótese é admitida, na ordem jurídica vigente, a imposição de cerceamentos, restriçõesoucensura,dequalquerespécie. Na voz de vários dos ministros integrantes do Supremo Tribunal Federal e do SuperiorTribunal de Justiça, a liberdade de expressão é princípio constitucional que não pode ser afastado por decisão judicial. O embaraço imposto pela decisão que impinge ao Estado uma constrição ao exercício da atividade de imprensa é ilegal, inconstitucional e irreversível. ●
*Taís Gasparian é sócia do escritório Rodrigues Barbosa, MacDowell de Figueiredo, Gasparian Advogados, que advoga para o jornal Folha de S.Paulo
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o estado de s. paulo
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0h15
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SEXTA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
11 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42332
LEANDRO MONACHESI/CLARIN
‘Clarín’ sofre megablitz e acusa Cristina de intimidação
OFENSIVA – Auditores chegam à sede do Grupo Clarín, em Buenos Aires: governo de Cristina Kirchner tenta apressar votação de projeto no Congresso com restrições à mídia
Ideia é usar dinheiro para reforçar Fundo Social do pré-sal O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) disse que o Fundo Social, destino dos recursos obtidospelaUniãocom opetróleo do pré-sal, poderá ser complementado com parte dos royalties cobrados de minera-
doras. Segundo Lobão, a ideia poderá integrar o novo código de mineração que o ministério quer enviar ao Congresso ainda neste ano. As mudanças poderão também elevar os royalties do setor mineral, vistos co-
ESPORTES
mo baixos dentro do governo. Em audiência no Senado, Lobão afirmou que, embora pague menos royalties que as petroleiras, as mineradoras têm maior impacto ambiental. Segundo ele, a Petrobrás, por
exemplo, paga o equivalente a 60% da receita entre tributos e royalties, contra 12% das mineradoras. O governo fará comparação com o que é cobrado em outros países produtores, como a Austrália. ● PÁG. B1
METALÚRGICOS: A VOLTA DO PROTESTO
Nelsinho Piquet confessa armação e choca a F-1
Depoimento será por escrito. Ex-ministro é réu no Supremo. ● PÁG. A6
Emissões de C02 do cerrado equivalem às da Amazônia O desmatamento no cerrado brasileiro já é responsável pelo mesmo volume de emissões de CO2 da Amazônia. O gás é um dos principais causadores do efeito estufa. Dados divulgados pelo Ministério do Meio Ambientemostramque,comadevastação do cerrado, são emitidos 350 milhões de toneladas do gás por ano. A revelação deve alterar a estratégia do Brasil para o clima. ● PÁG. A17 ANÁLISE
Herton Escobar
Jánãodápara falarsódafloresta O cerrado nunca foi prioridade nas políticas públicas de pesquisa e conservação. O Ministério do Meio Ambiente dá um passo importante ao colocar o bioma no mapa das mudanças climáticas. Agora, quando o Brasil falar de sua contribuição para o aquecimento global, não poderá mais falar apenas da Amazônia. ● PÁG. A17 ●●●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 42 DIAS q PÁG. A11
Guia
Miniatura cultural ●● Confira asatrações dos
menores centros culturais da cidade. ●
CADERNO 2
● PÁG. C2
Pérolas ocultas
MÍN.
Descobertas pinturas atribuídas a Mestre Ataíde, gênio barroco.●
●●
FILIPE ARAUJO/AE
Sol aparece e faz calor. Pancadas rápidas de chuva à tarde.
7 8 9 10 11 12
Brigadeiro perde cargo após briga
●●
Tornando-se cliente preferencial da França, o Brasil não se livra de uma inexistente tutela americana. ● PÁG. A3
Hoje: 200 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 16 ● D. Caderno2: 10 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 6 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 4 (136 anúncios)
Governo
Dirceu terá Lula como testemunha
●●●
16º
PÁG. E3
Mensalão
Golpe teatral?
MÁX.
disputará a primeira edição da Libertadores feminina. ●
Antonio Chaves, da Agência Espacial, brigou com ex-ministro. ● PÁG. A8
NOTAS E INFORMAÇÕES
28º
●● Jogadora
●●
O piloto Nelsinho Piquet confirmou que bateu no muro no GP de Cingapura de 2008 para beneficiar Fernando Alonso,tambémdaRenault.Aconfissão – vingança contra Flavio Briatore, diretor da equipe, que o demitiu – chocou a F-1.“Sealguémtemcapacidade de fazer isso, não merece estar no esporte”, disse Rubens Barrichello. ● PÁG. E1
Tempo: CAPITAL
Marta chega ao Santos com festa
PAULO PINTO/AE
Governo quer cobrar mais da mineração
Futebol
Em nova ofensiva do governo de Cristina Kirchner contra o Clarín, maior grupo privado de comunicação argentino, dezenas de auditores do Fiscoforam enviados à sede da organização. A direção do grupo qualificou a atitude de “intimidação” e o chefe dos fiscais enviou uma carta de desculpas ao jornal. O Clarín é acusado porum ex-funcionário de desrespeitar direitos trabalhistas. ● PÁGS. A12 e A13
Loyola
Viagem ao passado ●●● Metalúrgicos participam de
passeata em São Bernardo do Campo, em protesto por reajuste
salarial acima da inflação, cujas negociações enfrentam impasse; a categoria decidiu ampliar a pa-
ralisação de montadoras e de fábricas de autopeças em São Paulo e no Paraná. ● PÁG. B6
●● O mundo do trem era o que eu queria apresentar aos meus netos. ● PÁG. D10
Assembleia do RS abre ação de impeachment contra Yeda Opresidenteda Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Ivar Pavan (PT), abriu processo de impeachment contra a governadora Yeda Crusius (PSDB)porsupostosdesviosnoDetran. Em nota, o governo gaúcho manifestou “profunda surpresa”. A tucana, que também é alvodeação deimprobidadeadministrativamovidapelo MinistérioPúblicoFederal, negairregularidades. ● PÁG. A4
SEXTA-FEIRA, 11 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 42 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura é para Estado totalitário’, afirma Dipp Corregedor da Justiça diz que presidente do Supremo cobrou rapidez para julgamento Fausto Macedo
“CensuraéparaEstadototalitário”, declarou ontem o corregedor nacional da Justiça, ministroGilsonDipp,doConselhoNacional de Justiça (CNJ). Pouco antesdesercondecoradoemsolenidade no Tribunal Regional do Trabalho da 2.ª Região, em SãoPaulo,Dippasseverou“conceitualmente” que toda censura“éabsolutamente inconstitu-
cionalevai contratodos osprincípios democráticos de uma nação que se diz protetora dos direitos e garantias individuais e das liberdades públicas”. OEstadoatravessalongo período de censura – desde 31 de julho, quando o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, proibiu o jornal de publicar dadossobre a Operação BoiBarrica,daPolíciaFederal,queenvol-
NACIONAL A11
ve o empresário Fernando Sarney,filhodopresidentedoSenado, José Sarney (PMDB-AP). Dipp está examinando explicações do desembargador, que nega ser suspeito embora tenha relações de convívio social com os Sarney. “Sou partidário de que, mesmo nos processos penais, o sigilo só deve ser decretado naqueles casos expressamente definidos pela Constituição. Nada além disso, o resto
é público.” Para o corregedor, a demanda no TJ-DF já deveria ter sido julgada. “Sob o aspecto de que cada dia que passa é um dia em que a liberdade de imprensa está sendo tolhida já deveria ter sido prolatada a decisão.” Dipp revelou que há cerca de 15 dias telefonou para a presidência do TJ e transmitiu recado do ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribu-
nal Federal. “Gilmar avalia que essaé umamatéria muitosensível e deve ser apreciada com certa preferência.” O corregedor considera que a censura ao Estado “é uma questão muito delicada”. Mas ele ressalvou: “O CNJ tem que ter muito cuidado na análise do caso porque uma das alegações que se fez, quando da sua criação, é que poderia interferir na independência e na autonomia
ANOS DE CHUMBO
OPERAÇÃO VIGÍLIA
OEA pede explicações sobre vítimas do Araguaia
PF prende 6 por extorsão contra ONGs em São Paulo
Ivan Marsiglia
APolíciaFederal deflagrou a Operação Vigília e desmontou organização que extorquia dinheiro de entidades beneficentes e núcleos de assistênciaacriançasexcepcionais–contempladaspelaJustiça com valores repassados porréusemaçõessobrefraudes contra o Tesouro. A PF prendeu seis suspeitos de intimidardirigentes das ONGs identificando-se como autoridades do Ministério Público Federal, Tribunal de Contas da União, da Vigilância Sanitária, Receita e PF. Até a Operação Satiagraha inspirou os golpistas no assédio às associações filantrópicas. Alegavam que haviam participado da missão. O grupo exigia ‘contribuições’. O líder se apresentava como Adriano PrudentedeMoraes,“daProcuradoria Federal”. Dizia que o dinheiro era para o caixa de associações de classe e para uma rede de veículos de comunicação inexistente. A PF ainda não apurou o montante arrecadado pela organização. Uma ONG alertou o juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal. Há dois anos, após acordo comacusados dispostosa colaborar com a Justiça, ele pôs em prática meta antiga – amparo a desassistidos – e destinouR$5 milhõesa15entidades. Os recursos foram depositados pelos acusados que fizeram delação premiada como forma de reparação ao erário. ONGs começaram a sofrer assédio intenso do grupo. Algumas vítimas pediam tempo “para pensar”. Outras cederam. A Operação Vigília monitorou a organização por meiodeinterceptaçãotelefônica. A PF requereu bloqueio de contas e a quebra do sigilo bancário dos alvos para mapear quanto o grupo amealhou. ● F.M.
Ogoverno brasileirorecebeu, na última semana, o pedido de explicações da Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a demanda apresentada porrepresentantesdas vítimasefamiliaresdaguerrilha do Araguaia, que denunciaviolaçõesdos direitos humanos cometidas por militares na região sul do Pará entre 1972 e 1975. Segundo a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), o documento – cujo conteúdo foi revelado pelo Estado no último dia 25 de agosto – chegou oficialmente às mãos do governo no dia 2 deste mês com prazo até 2 de novembro para a defesa. Apresentada pelo Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, Comissão de Familiares de MortoseDesaparecidosPolíticos de São Paulo e Centro Pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil), a demanda pede que o governo brasileiro seja julgado por detenção arbitrária, tortura e desaparecimento de 70 pessoas, entre camponeses e militantes do Partido Comunista do Brasil (PC do B). Os familiares recorreram à corte interamericana após 27 anos de disputasnaJustiçacivilbrasileira para conhecer os fatos e localizar os restos mortaisdas vítimas.ParaBeatriz Affonso, diretora do escritóriobrasileirodoCejil,ogoverno sódecidiu organizar uma força-tarefa para a busca de ossadas após saber que a corte pediria explicações. ●
dos juízes em decisões jurisdicionais. E isso não queremos, em hipótese alguma.” Sobre o levantamento da Associação Nacional de Jornais (ANJ), que apurou 12 decisões judiciais de censura a veículos de comunicação nos últimos dois anos, o corregedor observou. “Há outros mecanismos e salvaguarda dos direitos à intimidade e ao sigilo que não a intervenção judicial. Reafirmo que estamos numa democracia aindaincipiente.Se nósnão tratarmosessesassuntoscommuito cuidado a democracia poderásofrerabalos.Temosqueocupardignamente os nossos espaços, porque outros podem ocupa-los por nós.” ●
+ 9 PARAÍBA
CNJ aponta nepotismo no Tribunal de Justiça Inspeção do Conselho Nacional de Justiça apontou excesso de funcionários, nepotismo e morosidade no Tribunal de Justiça.Segundorelatório,há 48 servidores “em situação que tipifica nepotismo”, além de outros 24 sob suspeita. O CNJ também constatou que nos gabinetes de alguns desembargadores há mais que o dobro do limite legal de sete funcionários. RIO
TJ acolhe denúncia contra prefeita de Magé O Tribunal de Justiça do Rio recebeu denúncia contra a prefeita de Magé (RJ), Núbia Cozzolino, por formação de quadrilha e peculato.Elafoiacusadadedesviar verba pública ao contratar semlicitaçãoumaONGebeneficiar com isso a si própria e a terceiros. A defesa da prefeita diz que não há indícios de que os valorestidoscomodesviadostenham saído da associação. DISTRITO FEDERAL
Avança no Senado Lei da Defensoria Pública O projeto que altera a Lei Orgânica da Defensoria Pública foi aprovado pela CCJ do Senado. O texto, que ainda vai a votação em plenário, prevê ampliação no quadro de defensores e uso de mediação e conciliação. O texto regulamenta a autonomia funcional, administrativa e orçamentária da Defensoria Pública, democratiza e moderniza sua gestão e estabelece os direitos das pessoas assistidas. TOCANTINS
Assembleia aprova eleições indiretas AAssembleiaLegislativadoTocantins aprovou projeto de lei que regulamenta a realização deeleiçõesindiretasparagovernador do Estado, ainda sem datadefinida. Porenquanto, oúnico candidato à vaga é o deputado Carlos Henrique Gaguim (PMDB). O parlamentar assumiu interinamente no lugar de Marcelo Miranda (PMDB), que teve o mandato cassado.
o estado de s. paulo
� Edição de
0h15
SĂ BADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
Variação trimestral do PIB
1,9%
4,0 3,0 2,0 1,0
1,7
1,2
Serviços
IndĂşstria
Consumo de famĂlias
1,6
Investimentos
0
-1,0
-1,0
-2,0 -3,0
-3,4
-4,0
2006
2007
2008
2009
1,2%% 2,1%%
2,1%%
Brasil volta a crescer, mas investimento ainda patina
0%%
Consumo e serviços puxam expansĂŁo de 1,9% na economia no 2.Âş trimestre Puxado pelos consumidores e pelo setor de serviços, o Brasil saiu da recessĂŁo no segundo trimestre. O PIB cresceu 1,9% sobre o trimestre anterior. O consumo das famĂlias foi 2,1% maior, registrando avanço pelo 23Âş trimestre seguido. JĂĄ os serviços, que respondem por 67% do PIB, cresceram 1,2%. Os nĂşmeros mostram recuperação mais acentuada que a depaĂses ricos, maselaainda ĂŠ bem inferior Ă de China e Ă?n-
dia. Se comparado com o segundo trimestre de 2008, o PIB brasileiro caiu 1,2%. AlÊm disso, os investimentos registraram recuo recorde de 17% emrelação aosegundotrimestrede2008.Aindústria,embora tenha crescido 2,1% ante o primeiro trimestre, caiu 7,9% sobre o segundo trimestre de 2008. E, no primeiro semestre, o PIB caiu 1,5%, o pior resultado semestral da sÊrie iniciada em 1996. � Pà GS. B1 a B10
ESPORTES
ANĂ LISE
Claudio Haddad EX-DIRETOR DO BANCO CENTRAL
‘Houve exagero com essa crise’ O economista diz ao Estado que no mundo todo as quedas de PIB “nĂŁo serĂŁo nem de longe parecidas com o que as pessoas achavam que ia serâ€?. â—? PĂ G. B4
â—?â—?â—?
Lula atribui reação a pobres e critica a Vale O presidente Lula atribuiu a reação do PIB ao “povo brasileiro, sobretudo a parte mais pobreâ€?. Ele criticou empresas que tiveram medo da recessĂŁo, citando a Vale. Disse ter
cobrado do presidente da mineradora, Roger Agnelli, a retomadade investimentos,afirmando que a companhia não deveria ter adiado a construção de siderúrgicas. � Pà G. B8
A economia voltou a crescer, a recuperação ganha força e 2010 sĂł serĂĄ ruim se houver repique de crise nos paĂses mais desenvolvidos. â—? PĂ G. A3
16ÂşMĂ?N.
Sol e calor. À tarde, pancadas de chuva.
Hoje: 142 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 34+4 â—? B. Economia: 24 â—? C. MetrĂłpole: 18 â—? D. Caderno2: 12 â—? E. Esportes: 6 â—? Es. Estadinho: 8 â—? Ca.Autos:24 â—? Ci.ImĂłveis:12 (2.114anĂşncios)
7 8 9 10 11 12
â—?â—?â—? O ministro da Defesa da França, HervĂŠ Morin, qualificou de “carrinho de mĂŁo voadorâ€? o aviĂŁo militar KC-390, da Embraer. O pacote de venda de caças franceses ao Brasil inclui a compra de atĂŠ 15 desses aviĂľes pela França, o que gerou crĂticas no paĂs. â—? PĂ G. A6
Ação do Fisco no jornal levou opositores a atacar em bloco a lei do governo contra grupos de mĂdia. â—? PĂ G. A20
â—?â—?
CADERNO 2 CABEÇA DE CAMPONÊS, OBRA DE KAZIMIR MALIÉVITCH
30ÂşMĂ X.
â—? PĂ G. C2
França ironiza avião brasileiro
Caso ‘ClarĂn’ une oposição argentina â—?â—?â—? Trator destrĂłi fornos em Niquelândia (GO) em ação do MinistĂŠrio do Meio Ambiente: ONGs pedem lei especĂfica para o cerrado. â—? PĂ G. A32
â—?â—?â—?
Tempo: CAPITAL
O presidente Lula disse que a decisĂŁo sobre a compra de caçasparaaForça AĂŠreaBrasileira ĂŠ “polĂtica e estratĂŠgicaâ€? e, por isso, ĂŠ exclusiva “do presidentee de ninguĂŠmmaisâ€?. A declaração ĂŠ resposta Ă polĂŞmica da negociação para a aquisição de jatos franceses. O ministro Nelson Jobim (Defesa) disse que a FAB “nĂŁo tem autonomia para decidirâ€?, embora faça a anĂĄlise tĂŠcnica. O MinistĂŠrio da Defesa fixou o dia 21 como limite para as empresas apresentarem novas propostas. â—? PĂ G. A4
MĂdia
ARTE SOBRE FOTO DE JB NETO/AE
A volta ao crescimento
ROBERTO JAYME/REUTERS
NOTAS E INFORMAÇÕES
Planalto enquadra FAB no caso dos caças
Caso parecer aprovado pelo Conselho Nacional de Educaçãosejahomologadopeloministro Fernando Haddad, entidadespoderãoserproibidasdeoferecer cursos de especialização lato sensu, reconhecidos pelo MinistÊriodaEducação.Amedida – que seria adotada a partir de2010–atingecercade150instituiçþes, como hospitais e escolas de negócios. � Pà G. A29
Ementrevistanaqualrespondeu Ă acusação de que teria planejadoacidentecomocarro de Nelsinho Piquet, o diretor da equipe Renault de F-1 FlavioBriatoredissequeopiloto foi demitido por motivos tĂŠcnicos e anunciou que vai processĂĄ-lo. Briatore insinuou ainda que o brasileiro ĂŠ homossexual. â—? PĂ G. E1 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 43 DIAS q PĂ G. A7
DIRETOR:
RUY MESQUITA
MEC pode vetar cursos de especialização de entidades
CERRADO: COMBATE A CARVOARIAS ILEGAIS
Briatore parte para agressĂŁo pessoal contra Nelsinho Piquet
(1891-1927)
12 de setembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42333
Desempenho por setor
JULIO MESQUITA
Vanguarda da arte russa estĂĄ em SĂŁo Paulo
SerĂĄ aberta segunda-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil, em SĂŁo Paulo, mostra rara de obras da vanguarda russa. Do Museu de SĂŁo Petersburgo vĂŞm trabalhos de MaliĂŠvitch, Chagall e Kandinski, entre outros. â—?
A internet Ê nossa �� Conheça os sites infantis
que transformam o computador em quintal virtual. â—?
Kassab vai passar verba de obras para coleta de lixo O prefeito Gilberto Kassab anunciou que vai acrescentar R$ 128 milhþes aos R$ 775 milhþes previstos no Orçamentode 2009 para a coleta de lixo. O prefeito não disse,porÊm,quaisobrasperderão recursos. � Pà G. C7
Trânsito
Verba antiacidente nĂŁo sai do papel Denatran havia prometido liberar R$ 251 milhĂľes para programas. â—? PĂ G. C1
â—?â—?
Criminalidade
Presos em SP trĂŞs ladrĂľes de mansĂľes Um deles teria assaltado casa do deputado Salim Curiati,nosJardins. â—? PĂ G.C5
â—?â—?
A2 ESPAÇO ABERTO
SÁBADO, 12 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
Clube dos 24%
Acordo entre Brasil e Santa Sé
MauroChaves
DomOdiloP. Scherer
Art. 1º: Em razão do crescimento de seu corpo de associados, este Clube, anteriormente denominado “dos 16%”, por meio do presente instrumento de alteração estatutária passa a denominar-se “Clube dos 24%”. Art. 2º: Os integrantes deste Clube reiteram que jamais foram entrevistados por qualquer instituto de pesquisa de opinião, nem conhecem quem quer que seja que já tenha sido entrevistado por algum instituto de pesquisa de opinião, ou já tenha ouvido falar da existência de alguma pessoa que já tenha sido entrevistada por algum instituto de pesquisa de opinião, que tenha manifestado sua aprovação a quem anunciam como ainda detentor de 76% de opinião favorável da população. Art. 3º: Os integrantes deste Clube consideram todos os cidadãos pessoas comuns, obrigadas, igualmente, a obedecer às leis e a manter a decência no exercício de cargos públicos, sem deles se aproveitar para favorecer parentes e/ou apaniguados – nestes incluídos
Jamais pesquisado sobre quem dizem ainda deter 76% de opinião favorável... eventuais namorados de netas –, independentemente dos cargos que políticos veteranos tenham ocupado na República, ou da oligarquia regional que tenham fundado, ou do coronelismo eletrônico que tenham comandado, ou da profusão de gestores de populações miseráveis que tenham conseguido colocar no poder durante décadas, inclusive com a utilização, atualizada para efeitos eleitorais, de formas de agradar ao povaréu que se usavam na Antiguidade romana, com festivos programas do tipo cachaça et circenses, levados aos bairros mais pobres e populosos. Art. 4º: Os membros deste Clube consideram que tão repulsivo quanto o desrespeito à liberdade de expressão, assegurada pela Constituição, é o acumpliciamento corporativo, que pela demora em reverter a censura prévia a faz cumprir seu real objetivo, que é o de impedir – pelo esfriamento do assunto na mídia e consequente arrefecimento de mobilizações de protesto – a transmissão de informações, de interesse da sociedade, sobre bandalheiras perpetradas por poderosos da República, com os recursos extraídos do bolso dos escorchados cidadãos contribuintes. Parágrafo único: Os integrantes desta associação consideram que importa menos o direito de os jornalistas darem informações à sociedade do
que o direito que esta tem de recebê-las. Art. 5º: Este Clube se recusa a considerar “quase indigente” um cidadão que exerce a atividade de caseiro e como tal é um trabalhador como qualquer outro, digno de respeito e com direito à preservação de seus sigilos bancário e fiscal, sem que autoridade alguma possa ter acesso a suas contas bancárias sem a devida autorização judicial. Art. 6º: Este Clube atesta que a empresa Petróleo Brasileiro S/A, mais conhecida por Petrobrás, foi criada em outubro de 1953, e não em 2003. Art. 7º: Este Clube considera que as decisões importantes sobre o sistema de exploração das riquezas naturais do País devem se basear em projetos de lei discutidos amplamente nas duas Casas Legislativas, com inteira liberdade de opinião – inclusive divergente – dos representantes da sociedade junto ao Poder Legislativo, sem imposições ou ameaças de outro Poder, e muito menos a tentativa de jogar à execração pública quem quer que discorde do afogadilho eleitoreiro com que se pretende deliberar sobre questões que só terão implicação prática daqui a mais de uma década. Art. 8º: Este Clube repudia a tentativa de associar sentimentos de patriotismo a opções governamentais mais motivadas por pressa eleitoral do que por fundamentações técnicas, assim como rejeita o aproveitamento de importantes datas cívicas nacionais para associá-las a projetos políticos governamentais de impacto. Art. 9º: É da lembrança dos membros deste Clube o fato de um ex-chefe de Estado e governo já ter conclamado a população a sair às ruas de verde e amarelo, para manifestar sua adesão a determinada proposta governamental, o que resultou no esgotamento dos estoques de pano preto nas lojas do País, uma vez que tecidos negros passaram a cobrir as casas, os prédios, os carros e as pessoas por todo o território nacional. Art. 10º: Este Clube discorda da afirmação segundo a qual o País, antes, não se fazia ouvido e era alvo de chacota internacional, enquanto hoje é admirado e acatado no exterior – pois o que ocorre é justamente o contrário: no que concerne a certos comportamentos pessoais cupulares, se antes havia sobriedade e elegância consentâneas à responsabilidade de condutor maior da República, hoje há uma múltipla avacalhação de linguagens, gestos e posturas, de todo incompatíveis com a majestade do cargo, o que, somando-se às gafes constantes e abissais, tem induzido – isso sim – a cha-
FÓRUM DOS LEITORES O11deSetembro
Megablitzno ‘Clarín’
O Brasil devia sugerir à ONU que 11 de setembro seja consagrado como o Dia Contra o Fanatismo! Nenhum modo de pensar político ou religioso pode ter a presunção de deter a verdade. Pode ser que ela nem sequer exista. Em momentos iguais a este é lícito lembrar grandes pensadores e a nossa contingência: “Num rincão do Universo havia um astro em que animais inteligentes inventaram o conhecimento... Passados poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro e os animais inteligentes tiveram que morrer.. Houve eternidades em que ele não estava, quando tudo tiver passado nada terá acontecido” (Nietzsche, 1873).
Parece que a onda ditatorial está voltando em parte do nosso continente. Começou pela Venezuela, com o sr. Hugo Chávez fazendo-se de cover de Fidel Castro, aliás, atitude que foi muito elogiada pelo sr. Lula algum tempo atrás (lembram-se?). Desceu para a Bolívia, com o sr. Evo Morales nacionalizando nossas empresas, aliás, repito, com o generoso beneplácito do sr. Lula. Alcançou o Equador e, novamente, lá estava o sr. Lula tentando pôr panos quentes, esquecendo-se de que seu compromisso (sic) é com os brasileiros. E a onda nos atingiu, nesse vergonhoso e imoral evento com o senado (propositalmente minúsculo), liderada por um decrépito personagem (merecidamente inominado) e seus
EUGÊNIO JOSÉ ALATI eugeniojosealati@yahoo.com.br
Campinas
cotas contra o País. Art. 11º: Sobre a posição do País em negócios internacionais, este Clube acha que temos sido muito dadivosos, sem exigir o equilíbrio da reciprocidade, quer revendo acordos só em favor de parceiros (não nossos), quer aceitando protecionismos que barram nossos produtos, quer engolindo o péssimo tratamento dado a cidadãos brasileiros com atividades nos países vizinhos, quer não reagindo a ocupações manu militari de propriedades de empresas brasileiras. Art. 12º: Este Clube avalia que o comércio internacional tem sido balizado pelas barbas brancas e generosas de nosso Papai Noel Mercosul (Papanomer), que nada vende, tudo dá e tudo compra – inclusive armamentos bilionários há muito encalhados no mercado bélico mundial. Art. 13º: Este Clube abomina o fato de, num total de 183 países, o nosso ser o que exige o maior (sim, o maior) número de horas trabalhadas para pagar ao Fisco – tendo como contrapartida a qualidade dos serviços públicos que bem conhecemos. ●
Na noite de 26 de agosto, em sessão extraordinária, a Câmara dos Deputados ratificou o Acordo entre o Brasil e a Santa Sé sobre o estatuto jurídico da Igreja Católica em nosso país. O Acordo estava sendo longamente desejado, pois, desde a República e a adoção do “Estado laico” no Brasil, faltavam clareza e segurança jurídica para a presença e a atuação da Igreja Católica e das demais Igrejas e religiões. Não basta garantir teoricamente a liberdade religiosa, o que poderia ser como um pacote de presente, belo por fora, mas vazio. O exercício desse direito pode expressar-se na abstenção de qualquer convicção e manifestação religiosa; mas o que mais acontece é a sua atuação positiva mediante a adesão a religiões, instituições, organizações religiosas e maneiras de interação com a sociedade. Sem clareza jurídica a liberdade religiosa fica fragilizada e até exposta a arbitrariedades e constrangimentos. E o Estado laico também fica de mãos atadas, sem saber como proceder quando a liberdade religiosa é invocada como pretexto para cometer ilícitos e explorar economicamente, em função de lucro privado, as
Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e pintor. E-mail: mauro.chaves@attglobal.net
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
Nelson Piquet Jr.
necessidades e sentimentos religiosos do povo. Como coibir, por exemplo, o charlatanismo e a exploração da boa-fé do povo? Como levar à Justiça o infrator que lesa a população e o Estado, se ele pode sempre apelar para uma liberdade religiosa vaga e mal interpretada? A clareza nas relações da religião com a sociedade, e do Estado com ela, é um bem para todos. É a essa clareza jurídica que o Acordo visa, no que se refere à Igreja Católica, que tem na Santa Sé o seu representante e interlocutor com os Estados, na esfera do Direito Internacional. A diplomacia da Santa Sé tem uma praxe longa e consolidada de acordos, tratados, concordatas ou convênios com muitos países; são instrumentos reconhecidos do Direito Internacional, por meio dos quais a Igreja Católica, em entendimento com os Estados, clareia o modo de sua presença e atuação nesses países, e também sua contribuição às sociedades locais, em benefício da população. Esses tratados são estabelecidos pela Santa Sé com numerosos países, e não apenas com nações de maioria católica ou cristã, mas também onde os católicos são pequena minoria, como Israel, ou países de predominância islâmica, como a Tunísia e o Marrocos. Mas também com Estados declaradamente laicos. O Acordo não pretende privilégios para a Igreja Católica, mas a segurança jurídica, como garantia efetiva do exercício da liberdade religiosa. Dessa clareza também faz parte a própria organização interna, que pode ser muito diversa de uma religião para outra: quem é quem dentro delas, quem as representa e é seu legítimo interlocutor com a sociedade. Essa clareza interna, por certo, não falta à Igreja Católica, que a expressa no seu Direito Canônico, antigo e público, e onde também ficam manifestos seus propósitos e sua metodologia de ação. Não faltaram questionamentos e argumentações contrárias, antes que se chegasse à ratificação do Acordo na Câmara. No contexto pluralista do Brasil atual, isso é bem compreensível, pois a matéria, de certa forma, era nova na opinião pública; a ocasião foi boa até mesmo para uma reflexão, a busca de esclarecimentos e a superação de eventuais preconceitos. Argumentou-se com veemência, por exemplo, que o Acordo feria a Constituição, enquanto houve todo o cuidado em respeitar a Lei Maior e a restante legislação brasileira. Tentou-se negar a legitimidade do Acordo, com a alega-
ENDEREÇO
repticiamente os Poderes e insistindo em nos impor uma camuflada democracia que nada tem de democrática. É puro autoritarismo. Pelos nossos filhos, netos e pelo futuro deste país, precisamos reagir! HONYLDO ROBERTO PEREIRA PINTO honyldo@temfoto.com.br
Ribeirão Preto
Declaro que acredito na inocência do casal Kirchner na blitz de quase 200 fiscais que a Receita Federal fez no jornal Clarín. Eles não têm nada com isso, nem teriam motivos para cometer tal desatino. Fui eu que mandei executar o ato de intimidação à livre imprensa da Argentina. ●
RONALDO GOMES FERRAZ ronferraz@globo.com
Rio de Janeiro
A Igreja não busca privilégios nem discrimina outros grupos religiosos da melhor, no Estado laico, do que a clareza nas relações da religião com a sociedade. Finalmente, o bom senso prevaleceu na Câmara e o Acordo recebeu a aprovação; ficou claro que as alegações contrárias não eram convincentes contra a legitimidade e a legalidade do tratado BrasilSanta Sé. O fato é que, uma vez aprovado, o texto foi proposto logo, quase ipsis litteris, num projeto de “Lei Geral das Religiões” e aprovado na mesma hora, sem discussão nem convocação de audiências públicas. Aquilo que antes fora considerado inaceitável, absurdo e contrário aos interesses do povo, incompatível com o Estado laico, deixou de sê-lo num piscar de olhos. Terá sido pelo adiantado da hora daquela sessão extraordinária noturna? O Estado, por certo, continua laico e pode celebrar acordos e entendimentos com quem quer que seja, no respeito às suas próprias leis. No entanto, ao passar para uma legislação geral organizações tão diversas como as religiões, será que não houve um cochilo longo demais? Na Roma antiga, neste caso, a recomendação aos homens ilustres do Senado, provavelmente, teria sido esta: “Videant consules.” ● Dom Odilo P. Scherer é cardeal-arcebispo de São Paulo
FAX:
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
cupinchas de igual naipe, que, não satisfeitos de serem por nós sustentados, resolveram se utilizar do Judiciário para calar o Estado, carinhosamente por nós chamado de Estadão. E olha o dedinho do sr. Lula aí também... Finalmente, a onda atingiu a Argentina, agora pressionando o jornal Clarín, certamente inspirada nas ações do já citado inominado e do sr. Lula. Precisamos despertar do nosso berço nada esplêndido e iniciar um movimento nacional com propostas de reformas, principalmente a política. Caso contrário, há um sério e consistente risco de a ditadura voltar. É fácil perceber que ela já está em andamento no nosso Brasil, com uma camarilha ocupando progressivamente a administração pública, dominando sub-
ção de que o Brasil é um Estado laico; no entanto, acordos dessa natureza partem, justamente, da aceitação da laicidade do Estado e confirmam esse princípio; por essa razão é que a Santa Sé busca formas “concordadas” de relacionamento da Igreja com Estados não religiosos e sem religião oficial. Houve também conclusões equivocadas de que a Igreja Católica voltaria a ser a religião oficial no Brasil, que ela imporia seu ensino religioso a todos os alunos das escolas públicas e pretendia a isenção das leis trabalhistas. Tudo infundado, era só ler com isenção os termos do Acordo. Houve ainda alertas e até acusações de que a Igreja Católica buscava privilégios, discriminando outros grupos religiosos. Também isso é inconsistente, pois o mesmo direito de pleitear instrumentos jurídicos concordados com o Estado estava igualmente assegurado aos demais grupos religiosos, bastando que se organizassem. E seria bom assim; na-
E-MAIL:
(11) 3856 2920
Escaladaautoritária Na Venezuela, emissoras de rádio e de televisão não subalternas ao ideal chavista são fechadas. Na Argentina, o governo do casal “K” tenta intimidar o Grupo Clarín com ações arbitrárias. No Brasil, o Estado sob censura... Qualquer semelhança será mera coincidência?
forum@grupoestado.com.br
e mordaças que foram demolidos para a conquista da democracia na região. Para eles a democracia foi apenas um meio. Agora, no poder, querem o poder absoluto. Precisamos acordar e resistir, antes que seja tarde demais. ANTONIO CAVALCANTI DA MATTA RIBEIRO
ALEXANDRE FUNCK
antoniodamatta@ig.com.br
afunck1@gmail.com
Guarulhos
Bragança Paulista
Ataques regulares, sorrateiros ou não: RCTV, Globovisión, Estadão e agora o Clarín: golpes homeopáticos, sufocando a liberdade que conquistamos. Um grupo articulado está reconstruindo os mesmos muros ●
● Não bastasse na Venezuela, na Bolívia, no Equador e no Brasil, agora chegou a vez da Argentina. A rede da censura está evoluindo. VALTER GALES vgali@concili.com.br
São Paulo
SÁBADO, 12 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
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Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Mercado Jornais: Odmar Almeida Filho Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
A volta ao crescimento
A
economia brasileira voltou a crescer, a recuperação ganha impulso e 2010 só será um ano ruim se houver um repique da crise nos países mais desenvolvidos. A recessão no Brasil terminou no segundo trimestre, com um crescimento de 1,9% em relação ao primeiro. A confirmação veio ontem, quando se divulgaram as novas informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Brasil é um dos primeiros países a sair da crise, mas também nos Estados Unidos e na Europa há sinais de melhora. A recessão mundial deverá ser mais curta do que se previa, segundo as principais organizações multilaterais. É cedo para se descartar o risco de uma recaída, mas, por enquanto, as perspectivas globais são razoavelmente animadoras. O governo festeja, com razão, a relativa brevidade da recessão no Brasil. Mas é preciso apontar dois outros fatos positivos. Em primeiro lugar, não houve crise cambial, embora a receita de exportações tenha diminuído. O País entrou na crise com um robusto superávit comercial e o saldo de exportações menos importações continuou positivo. O déficit
em transações correntes aumentou, em parte por causa da maior remessa de lucros. Mas as pressões sobre o câmbio foram passageiras e o Banco Central, com bom volume de reservas, poderia tê-las enfrentado, se fosse necessário. Dificuldades cambiais poderiam, como noutros episódios, ter provocado uma elevação de preços, mas isso não ocorreu e a inflação permaneceu controlada. Este é outro ponto positivo. Com a inflação contida, evitou-se a corrosão dos salários e também isso contribuiu para a sustentação do consumo, apesar do aumento do desemprego. Com a contração da economia mundial, as empresas brasileiras passaram a depender quase exclusivamente do mercado interno para se manter. A demanda foi sustentada pelo consumo privado, com expansão de 2,1% sobre o primeiro trimestre. Dos demais componentes da demanda, o investimento se manteve em variação de um trimestre para outro e o chamado consumo do governo continuou em queda. Do lado da oferta, houve resultados positi-
Os foragidos estrangeiros
E
mbora o avanço da microeletrônica e da engenharia de telecomunicações tenha propiciado informação em tempo real há quase duas décadas, só agora o Brasil está pondo em prática um mecanismo especialmente concebido para coibir a entrada de criminosos estrangeiros que procuram o País para se esconder, como ocorreu com o assaltante inglês Ronald Biggs, o mafioso italiano Tommaso Buscetta e o traficante colombiano Juan Carlos Abadía. O programa Fim de Linha, desenvolvido pela Polícia Federal (PF), promove a interligação online de todos os aeroportos, portos e postos de fronteira brasileiros. O programa também permite aos agentes da PF cruzar em tempo real as informações sobre quem está entrando ou saindo do País com o banco de dados da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). Além disso, o Fim de Linha garante o acesso ao Mind & Find – o sistema de cadastro duplo da Interpol, que registra todos os passaportes perdidos ou roubados no mundo inteiro. Até agora, o Brasil só tinha acesso à lista Mind, que contém os números dos passaportes. Com o Fim de Linha, o País também passa a ter acesso ao Find, que registra os nomes dos titulares dos passaportes. O acesso às duas informações dá às autoridades portuárias, aeroportuárias e de postos de fronteira maior segurança para barrar viajantes com passaportes suspeitos. As cidades brasileiras mais procuradas para refúgio por criminosos estrangeiros são as
grandes regiões metropolitanas, como São Paulo e Rio de Janeiro, e as capitais litorâneas do Nordeste. Como nessas áreas vivem pessoas das mais diversas origens étnicas, os criminosos estrangeiros acreditam que poderão nelas viver despercebidos. No caso das capitais nordestinas, com grande afluxo de turistas durante o ano todo, eles imaginam desembarcar com facilidade de voos regulares domésticos ou fretados. Essas cidades são escolhidas também por contarem com agências bancárias conectadas com o sistema financeiro internacional, o que
Finalmente, entrar no Brasil vai ficar mais difícil para bandidos de fora facilita as operações de lavagem de dinheiro. “O sistema Fim de Linha ficará o dia todo em funcionamento e nos sete dias da semana, porque em um mundo globalizado, com múltiplos acordos para facilitar o trânsito de pessoas e de mercadorias, as fronteiras não são mais vistas como barreiras que cercam territórios intransponíveis. São linhas de demarcação de soberania com um controle feito à luz do respeito aos direitos civis e que exige tecnologia e rapidez nas informações”, diz o diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, depois de lembrar que o programa também ajudará a acabar com a imagem do País como paraíso da impunidade. No imaginário dos diretores de Hollywood, o Brasil, desde o clássico Interlúdio, lançado por
Alfred Hitchcock em 1946, até os recentes Inimigos Públicos, de Michael Mann, e Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto, de Sidney Lumet, é apontado como um dos refúgios prediletos dos criminosos internacionais. Estereótipo semelhante também pode ser encontrado nas propagandas que, para atrair turistas, descrevem o Brasil como terra de farra, samba e carnaval. Para conter a entrada de estrangeiros que vêm ao País para fazer turismo sexual, atraídos por esse tipo de publicidade, o programa Fim de Linha também dispõe de uma “lista vermelha” com o nome de pessoas já condenadas no exterior pelos crimes de pedofilia e lenocínio. “Quem já pagou por esse tipo de crime não pode ser alvo de uma restrição. Mas, pelo padrão de comportamento dessas pessoas, sabemos que elas merecem ser monitoradas”, diz o coordenador-geral da Interpol no Brasil, delegado Jorge Pontes. A medida foi inspirada na experiência da PF, que organizou uma lista de suspeitos de tráfico de animais silvestres e produtos da biodiversidade brasileira. O uso da tecnologia e da comunicação online é uma das formas mais inteligentes de se combater a criminalidade. Ainda que posto em prática com atraso, pois o programa já existe há anos nos EUA e na União Europeia, o Fim de Linha é uma iniciativa importante, que coíbe a entrada de foragidos no País e melhora sua imagem no exterior.
vos na indústria e nos serviços, enquanto a produção agropecuária diminuiu. A redução de impostos para a compra de veículos deu resultados. O incentivo ao consumo de produtos eletroeletrônicos parece ter sido menos eficiente, mas também contribuiu para manter as fábricas funcionando. O corte de tributos pelo Ministério da Fazenda e as injeções de dinheiro pelo Banco Central foram iniciativas acertadas. Mas o governo foi incapaz de acionar um grande programa de investimentos, embora o Tesouro dispusesse de recursos para isso. A maior parte do aumento do gasto público federal concentrou-se na folha de salários e nos benefícios pagos pela Previdência – na despesa permanente e dificilmente redutível nos próximos anos. O consumo privado provavelmente se manterá, até o fim do ano, como o principal motor da economia. Mas só haverá expansão econômica segura, nos próximos anos, com mais investimento produtivo e mais exportações. No segundo trimestre, o investimento em máquinas, equipamentos, infraestrutura e insta-
lações ficou 17% abaixo do registrado entre abril e junho do ano passado. Quando se comparam os primeiros seis meses de 2009 e 2008, a diferença para menos é de 16,6%. Se os empresários não voltarem a investir com certa rapidez, a capacidade produtiva será esgotada em pouco tempo e isso criará pressões inflacionárias. Mas será preciso também cuidar da infraestrutura, para eliminar gargalos cada vez mais prejudiciais ao País. A importância do outro fator, a exportação, é facilmente compreensível. Maior crescimento da economia resultará em maior despesa com importações. O País precisará de bom volume de receitas com a venda de produtos, para manter a segurança nas contas externas. Isso é especialmente relevante, no Brasil, porque a conta de serviços (viagens, fretes e juros, entre outros itens) é estruturalmente deficitária. Como a recuperação do comércio mundial será provavelmente moderada, os exportadores brasileiros precisarão ser mais competitivos para disputar espaço no mercado. Mais do que nunca será preciso reduzir as desvantagens comparativas. O melhor começo seria a redução de impostos.
Ameaças à imprensa
N
o tempo em que as ditaduras infestavam a América Latina, censura então imposta à imprensa era um corolário do arbítrio. Nas últimas duas décadas a região passou por um processo de redemocratização e os latino-americanos – com a exceção dos de Cuba – voltaram a poder exercitar a plena liberdade de expressão. Mas os tempos estão mudando de novo e em alguns pontos da América Latina já se registram manifestações cada vez mais explícitas de intolerância sob variadas formas de cerceamento da expressão. A grosseira tentativa de intimidação, levada a efeito pelo governo Kirchner contra o principal grupo de comunicação da Argentina – que edita o diário Clarín –, é a mais nova agressão à liberdade de imprensa de uma verdadeira onda censória que varre vários regimes que se pretendem democráticos da América Latina. Na quinta-feira, mesmo dia em que o jornal portenho publicava uma reportagem revelando a concessão de um subsídio irregular de mais de 10 milhões de pesos (US$ 2,5 milhões) do Escritório Nacional do Controle de Qualidade Agropecuária, órgão subordinado à Receita argentina, a uma empresa agropecuária sem registro, um batalhão de cerca de 200 auditores fiscais ocupou a sede do Clarín, enquanto dezenas de outros agentes faziam o mesmo em outras unidades do grupo de comunicação e nas residências de seus executivos, apreendendo documentos, livros fiscais e interrogando funcionários. Coisa parecida não
ocorrera nem mesmo durante o período mais duro do regime militar argentino. As investidas do casal Kirchner contra a imprensa, em geral, e o Clarín, em particular, vêm desde que Néstor chegou ao poder, em 2003. O casal não aceita críticas dos jornais que, como tantos outros “companheiros” das vizinhanças, acusam de “golpistas”. Desde 2008, quando entraram em conflito com os produtores rurais, os Kirchners acusam os meios de comunicação – e novamente o Grupo Clarín é o alvo predileto – de “desestabilizar” o governo. E o conflito tem re-
Governantes se mostram cada vez mais intolerantes na América Latina crudescido a ponto de a presidente argentina tentar aprovar no Congresso, a toque de caixa, uma nova lei de radiodifusão feita para contrariar interesses comerciais do Clarín e de outros grupos privados ao conceder a estes a exploração de apenas 33% dos canais de televisão, deixando os outros dois terços para o poder público, ONGs, igrejas, universidades e sindicatos. A propósito, organismos de defesa da liberdade de imprensa têm afirmado que vários jornais, TVs e rádios foram comprados nos últimos anos, na Argentina, por empresas sem tradição na área de mídia – mas todos tendo em comum o fato de serem “amigos dos Kirchners”. As ameaças à imprensa disseminadas pela América Latina nos últimos anos, em geral,
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Censura A censura ao nosso Estadão ainda não foi suspensa. A quem interessa? Aos políticos corruptos, aos aloprados, aos corruptores e, principalmente, ao imperador do Maranhão, sir Ney, e sua impoluta família real. Infelizmente, constatamos que, não bastassem o executivo e o legislativo, agora o judiciário – isso mesmo, com letras minúsculas – se prostra aos pés dos verdadeiros mandantes deste Brasil. Como bem disse Rui Barbosa, “a justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”. CLAUDIO DALCENO SPILLA claudio.spilla@cspilla.org
São Caetano do Sul
Parece que a hipocrisia dos nossos políticos não tem limites. Ago-
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ra Sarney é contra a censura. Na Venezuela, é claro. Aqui o caso é bem diferente. CELANIRA GAIA
São Paulo
TVpública Oportuna a questão levantada pelo professor Eugênio Bucci (A TV pública não é do governo, 10/9, A2)). O controle da mídia é assunto de interesse público da maior importância, merecendo, assim, discussões públicas envolvendo a população. A TV Cultura, nos seus 40 anos de existência, deve ser exemplo de isenção. As ponderações do professor Bucci são pertinentes e oportunas. Constituem uma pauta esquecida que merece ser discutida. ANTONIO POSSIDONIO SAMPAIO
“
Neuróticos e psicopatas veem, ouvem e cheiram coisas inexistentes. Investigadores do governo que sofrem do mesmo mal parecem ser perfeitamente normais (Karl Marx)”
W.LunaCarneiro lunacarneiro@bol.com.br Alfenas(MG)
possidonio@tps.adv.br
Santo André
Cumprimento o sr. Eugênio Bucci. Precisamos que os mesmos princípios sejam adotados nas organizações do Estado (federais,
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dalmeida1@uol.com.br
nas mais diversas atividades, Nelsinho demonstra fraqueza de caráter. Ao tentar se vingar de poderosos como Flavio Briatore e Pat Symonds, com argumentos rasteiros, torna-se vítima de sua própria inexperiência, arrogância e desonestidade.
São Paulo
MODESTO LARUCCIA
estaduais e municipais), os governos passam e elas estão se deteriorando por causa do loteamento político, que não possibilita estruturação e profissionalismo e, portanto, competência. DARCY ANDRADE DE ALMEIDA
modesto.laruccia@terra.com.br
Fórmula1 Nelsinho se entrega e choca a Fórmula 1, destaque do caderno de Esportes de ontem. Deixou perplexo o mundo da F-1 e enxovalhou o bom nome de seu pai. O pior é a repercussão negativa de uma carreira beirando o ostracismo, comprometendo o seu futuro na F-1. E, sendo brasileiro, nacionalidade constante nos noticiários de escândalos e subornos
têm seguido o “modelo” criado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, e copiado pelos dirigentes de Bolívia, Equador e Nicarágua e, agora, da Argentina. Entre os métodos de cerceamento estão ações judiciais e administrativas contra jornalistas, jornais, rádios e TVs, a edição de leis restritivas e a não renovação ou interrupção de concessões de funcionamento da mídia eletrônica. Em 2007 ele recusou-se a renovar a concessão da maior rede de TV do país, a RCTV e agora ameaça fechar a TV Globovisión e mais 200 rádios, depois de já ter cassado a licença de mais de 50 emissoras. Por sua vez, o presidente equatoriano, Rafael Correa, ameaça assumir o controle de rádios e TVs, alegando irregularidades nas concessões. No mês passado, Correa qualificou a imprensa como “o maior adversário de seu governo”. Na Bolívia a estratégia de combate à imprensa é complementada por grande esforço para expandir os meios oficiais. Evo Morales já abriu 250 novas rádios, reaparelhou a TV estatal, ameaça “nacionalizar” o maior jornal do país, o La Razón, e processa o La Prensa. No Brasil, é justo reconhecer, o presidente Lula tem se limitado a responder com retórica às críticas que recebe da imprensa. Aqui, a ameaça à liberdade de imprensa parte de um juiz: arrasta-se, sem decisão de recurso, a censura prévia judicial imposta ao Estado, a pedido de Fernando Sarney, administrador dos negócios do clã que tem por chefe o presidente do Senado, José Sarney. Caudilhos, lá, juízes, aqui, ameaçam um dos fundamentos da democracia.
São Paulo ● “Quem faz isso não merece estar no esporte”, palavras do nosso Rubens Barrichello a respeito da farsa armada no GP de Cingapura de 2008 (11/9, E2). Quem conhece os atores que tramaram o esquema, o sr. Briatore e os Piquets, sabe muito bem o que Rubinho quis dizer. Aguardem, porque vem mais sujeira por aí. EDUARDO AUGUSTO DE CAMPOS PIRES
eacpires@terra.com.br
São Paulo ● E pensar que Nelsinho Piquet bateu de propósito para beneficiar seu companheiro de equipe, Fernando Alonso. Talvez o tenha motivado achar que isso contribuiria para renovação de seu contrato com a Renault. Resultado: deu com os burros n’água! Enlameou os Piquets e decerto que terá de encerrar sua promissora carreira. CONRADO DE PAULO conrado.paulo@uol.com.br
Bragança Paulista ● Na política da Fórmula 1, é o fim do Piquet, para não dizer “o fim da picada”! SILVANO CORRÊA scorrea@uol.com.br
São Paulo
SÁBADO, 12 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 43 DIAS
NACIONAL NACIONAL A7 A7
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entrevista Carlos Melo: cientista político
‘Sigilo não é problema da imprensa’ Cientista político critica censura e diz que jornais não podem ser responsabilizados por vazamentos de dados Daniel Bramatti
Para o cientista político Carlos Melo, censurar a imprensa como forma de impedir vazamentos de informações sigilosas é como culpar o termômetro pela febre. O pesquisador se referiu especificamente à decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que há 43 dias impede o Estado de publicar informações referentes a uma investigação da Polícia Federal que atingiu o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A seguir, trechos de entrevista concedida por Melo: Qual o significado político da decisão tomada pelo desembargador Dácio Vieira?
Há um significado político forte no sentido de aumentar a falta de transparência na vida pública. Em determinado momento tínhamos a impressão de que vivíamos em um País onde os laços dos homens públicos eram revelados e a cidadania tinha condições de tomar conhecimento e fazer um julgamento a respeito. Hoje não sabemos o que está ocorrendo. À medida que se fecham as páginas de um jornal para parte do noticiário do País, e uma parte relevante, que tem a ver com a conduta dos homens públicos, o leitor simplesmente tem uma sensação de estar sendo tolhido da informação, de estar sendo subtraído da possibilidade de poder julgar o que as pessoas fazem. Mesmo que não haja nada mais a respeito de Fernando Sarney, só o fato de o jornal estar censurado, estar limitado a respeito desse tema, já desperta dúvidas. Não tem nada nos jornais de hoje porque não há mais nada a mostrar ou porque o jornal está proibido de mostrar? Na sua opinião, houve uma reação adequada do mundo político ao episódio da censura?
Muitos políticos, parlamentares e partidos que não concordariam com uma atitude dessas em outra situação se calaram, diante das conveniências e interesses partidários que estão em jogo, principalmente em torno das alianças eleitorais para 2010.
Como o senhor analisa a demora no julgamento dos recursos apresentados pelo jornal?
Foi absolutamente diferente quando se tratou de recursos em relação a outros escândalos. Eu me refiro especificamente em relação ao caso Daniel Dantas. Não saberia se a demora é intencional, mas causa uma estranheza muito grande ver que um processo como o de Daniel Dantas teve uma análise tão rápida e que um ca-
Miguel Jorge critica ‘censura envergonhada’ O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, considerou ontem “inaceitável, grave e envergonhada” a censura imposta ao Estado pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do DF. Miguel Jorge foi editor-chefe do Estado durante o regime militar. “É inaceitável. Eu vivi anos sob censura, só que era uma censura declarada”, afirmou. "Essa censura para mim é muito mais grave porque é uma censura envergonhada, sobre a qual se tem pouca ação, a não ser reclamar nos foros internacionais. É uma vergonha que, como jornalistas, ainda tenhamos de passar por esse tipo de coisa.” ● ANNE WARTH
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so como esse do Estado leva mais de 40 dias sem nenhuma definição. Ou o primeiro caso foi rápido demais, um privilégio, ou o segundo está lento demais, o que também não está correto. A proibição da publicação foi imposta porque há informações co-
bertas pelo segredo de Justiça. É a imprensa quem deve zelar por esse sigilo?
Tendo a concordar que não temos segredo de Justiça nesse País, e isso é um problema. Mas não é um problema da imprensa. Censurar a imprensa me parece culpar o termômetro pela febre. Quem deveria
Quem é: Carlos Melo
● É doutor em ciências sociais pela PUC-SP ● É autor do livro Collor: o ator e suas circunstâncias
estar sendo interpelado por isso não é o jornal, e sim a Polícia Federal. O inquérito é presidido por alguém. Então o responsável deve responder pelo vazamento. O jornal recebeu uma informação e, me parece, sua função é publicá-la, sobretudo se ela não colocar em risco a vida de ninguém. E é uma
informação que diz respeito à vida política do País, à conduta dos homens públicos. Mesmo que a investigação não seja exatamente sobre o presidente do Senado, é sobre filho dele. Não imagino nenhum jornal do mundo livre que tivesse uma notícia dessas e não publicasse. ●
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o estado de s. paulo
Edição de 0h15
DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
13 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42334
MARCOS DE PAULA/AE
ALIÁS
Caiu la habitación CESAR OLMEDO/AP
Conselhos para o Diez argentino, por Christian Carvalho Cruz. ● PÁG. J8
CLASSIFICADOS
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imóveis Quando vale mais a pena viver de aluguel. ●
tv&lazer Helena da vez
CULTURA Os olhos da fotografia
Taís Araújo é protagonista da nova trama de Manoel Carlos. ●
Sebastião Salgado fala a Laura Greenhalgh sobre o projeto Gênesis, em que revela culturas intocadas. ●
Após pré-sal, governo avança em mineração e eletricidade Presença estatal é cada vez mais intensa em setores estratégicos da economia de atuação estatal. Em alguns casos, a presença se dá na formadeumplanejamentomaisdirigido.Emoutros,oEstadoaparece como operador. No curto prazo, essa intervenção vai ser mais sentida nos setores elétrico,com aEletrobrás, e detransportes rodoviários. Além disso,
O petróleo do pré-sal, cuja exploração terá a onipresença da Petrobrás, não é o único setor em quea intervenção do Estado éfortesob ogovernoLula,informaarepórterLuAikoOtta.Mineração,eletricidade,fertilizantes,créditobancárioetransportes têm aparecido como alvos
a mineração terá uma agência reguladora,ehaverámaior rigidez para a concessão de licenças e cobrança de mais royalties das empresas. Nas telecomunicações, o governo pretende dar força à Telebrás e atuar com banda larga em áreas pobres do País. ● PÁGS. B1 e B4
Mantega e Meirelles: crise passou ●●● Guido Mantega (Fazenda) e Henrique Meirelles (Banco Central) disseram ao Estado que a turbulência já passou. Segundo o
ministro, o custo para superá-la foi “barato”. Já Meirelles prevê que o Brasil caminha para expansão sólida em 2010. ● PÁG. B8
Barrigas de aluguel do tráfico
A
espanhola Maria tomou 61 cápsulas de cocaína e quase morreu. É uma das 385 estrangeiras na Penitenciária Feminina de SP, relata Adriana Carranca. No Brasil, o total de presas de outros países subiu 253,5% desde 2006. Quase todas por tráfico. ● PÁG. C1
Andrei Netto ENVIADO ESPECIAL À ITÁLIA
Noventa anos após Benito MussolinilançaroManifestoFascista, a Itália está novamente diante do racismo. No centro da discussão, o Pacote de Segurança, que tornou crime a imigração clandestina.Aofensivaanti-imigrantes desencadeou uma onda de críticas. ● PÁGS. A16, A18 e A19
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 44 DIAS q PÁG. A15
Memória
Escritor Antonio Olinto morre aos 90
NOTAS E INFORMAÇÕES
O cartório do pré-sal
Tempo: CAPITAL
26ºMÁX.
● PÁG. C2
17º MÍN.
●● Membro da ABL e crítico literário, teve obras traduzidas para 19 idiomas. ● PÁG. A27
MICHAEL REYNOLDS/EFE
Privilégios para alguns grupos empresariais poderão jorrar das grandes e promissoras áreas do pré-sal. ● PÁG. A3
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casa& ●●● Manifestantes vão às ruas de
Washington contra o governo de Barack Obama, em ato organiza-
do por núcleos que se apresentam como grupos de contribuintes. O protesto era contra a reforma do
sistema de saúde, mas deu vazão a uma insatisfação maior contra o governo. ● PÁG. A20
●●● SOB PRESSÃO
Especialistas avaliam desempenho do presidente dos EUA. ● ALIÁS
Sol aparece, mas há previsão de chuva.
Tiragem: 301.621 Hoje: 246 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 6 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 36 ● F. Feminino: 16 ● Ca. Autos: 30 ● Ce. Empregos: 12 ● Ci. Imóveis: 32 ● Co. Oportunidades: 10
7 8 9 10 11 12
Não haverá eleições prévias no PSDB para escolha do candidato à sucessão do presidente Lula. Existe um acordo tático entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), os dois nomes tucanos mais fortes: um terá o apoio do outro para a definição do candidato. Aécio admite trocar as prévias por “análises” que incluam pesquisas eleitorais – lideradas atualmente por Serra. Diante disso, opaulista jádefendequeopartido antecipe a escolha. ● PÁG. A4
Contra a imigração, Itália flerta com o fascismo
EUA: PROTESTO CONTRA OBAMA
DROGAS
Serra e Aécio fazem acordo e PSDB desiste das prévias
ESPORTES
DORA KRAMER
Com os 2 a 0 de ontem, o time fica a um ponto do Palmeiras, líderdoBrasileiro,quehojeenfrenta o Vitória. ● PÁG. E1
●●● Para os petistas, não há vantagem em ceder dedos e anéis ao PMDB, abrindo mão de disputas estaduais. ● PÁG. A6
●●● FÓRMULA 1
Lewis Hamilton (McLaren) é pole no GP da Itália. Barrichello (Brawn), o 5º. ● PÁG. E5
O cálculo do PT
Lojas sofisticam serviço viainternet.Dáparatirardúvidas e até experimentar. ●
●●
Venezuela
COLUNISTAS
São Paulo bate o Avaí no Morumbi
Decoração online
DANIEL PIZA
Sem transparência O governo Lula lembra os de Médici e Geisel, ao tomar decisões importantes sem consultar a sociedade. ● PÁG. D3
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Chávez anuncia compra de foguetes ●● Artefatos de fabricação russa, “para defesa”, têm alcance de 300 km. ● PÁG. A20
A2 ESPAÇO ABERTO
DOMINGO, 13 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 - falecom.estado@grupoestado.com.br
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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O G-20 e a governança econômica mundial
Coisas vistas, solas gastas
SergioAmaral
GaudêncioTorquato
As crises sucessivas dos anos 90, assim como a liderança intelectual de chefes de governo da Terceira Via, tais como Clinton, Blair, Fernando Henrique e Lagos, levaram a diversas propostas para uma reforma da “arquitetura do sistema financeiro”. A crise atual trouxe um novo sentido de urgência e argumentos adicionais para a reforma da governança econômica global: a redução do peso relativo da economia norte-americana, a emergência da China, a crescente relevância política e econômica de outros países emergentes, como Índia, Brasil e África do Sul. O Grupo dos 20 (G-20), elevado à cena principal do debate sobre os recursos, funções e a governança das instituições financeiras, sinalizou em sua reunião de Londres, em março, três caminhos: ● Mobilizar os recursos públicos para sanear os bancos e estimular as economias. Essa decisão conduziu a uma cooperação econômica internacional sem precedentes para irrigar os mercados com alguns trilhões de dólares e assim impedir uma crise sistêmica e o aprofundamento da recessão;
Para o futuro a questão está em saber se ampliará suas competências ● estreitar a cooperação entre as agências regulatórias para adotar regras mais rigorosas na emissão dos chamados derivativos, aumentar a capitalização dos bancos e reduzir a remuneração de seus executivos; ● por fim, rever as atribuições e governança das instituições financeiras internacionais, inclusive para ampliar a participação dos países emergentes. No momento em que a crise completa um ano, a injeção de recursos na economia foi um êxito. O fortalecimento do marco regulatório ainda está em curso. A reunião ministerial do G-20, que acaba de se realizar em Londres, estabeleceu uma agenda com três metas: preparação dos bancos para o pós-crise, aumento da captação de recursos para a ampliação de sua base e seu capital e estabelecimento de limites para a concessão de empréstimos. A reforma da governança financeira, porém, alcançou até agora resultados modestos, que são avaliados a seguir. A convocação do G-20 foi um sinal positivo. Estabelecido em 1999, justamente para lidar com a crise da Ásia, sua composição mais ampla e sua competência em temas financeiros o credenciavam, mais que o G-8, a centralizar as decisões sobre a crise. Para o futuro a questão está em saber se o G-20 ampliará o rol de suas competências ou vol-
tará a restringir-se a questões co, pois não prevê a ponderapuramente financeiras, deixan- ção de votos, como nas instituido para o G-8 o privilégio de ções financeiras, nem o poder uma agenda mais ampla e de de veto, como o Conselho de uma composição mais restrita. Segurança da ONU. A expansão dos membros do Sem o receio de uma catásFórum para a Estabilidade Fi- trofe iminente e com os sinais nanceira, agora chamado Con- à vista de recuperação da ecoselho, e sobretudo a ampliação nomia, o ímpeto renovador de sua agenda, com o reforço de do G-20 corre o risco de cesuas funções de supervisão e re- der lugar aos interesses nagulação, também são bem-vin- cionais, às diferenças regiodas. Não obstante, suas compe- nais e ao preconceito no que tências ainda são limitadas em diz respeito a uma reforma face da complexidade e dos de- mais profunda na governansafios da economia globalizada. ça das instituições econômiA verdade é que a chave pa- cas internacionais. ra as questões centrais da nova Em consequência, a reforeconomia global ainda perma- ma poderá circunscrever-se a nece com o FMI e, em menor uma ampliação da participagrau, com o Banco Mundial e a ção dos países emergentes OMC. O FMI recebeu novos re- em órgãos de atuação específicursos, no valor de US$ 500 bi- ca ou periférica, como é o Conlhões, e novas atribuições para selho de Estabilidade Finanavaliar as vulnerabilidades do ceira; uma ampliação da agensistema e promover a coordena- da do G-20 que não venha a ção entre seus membros. Mas comprometer a supremacia as mudanças na ponderação de do G7-G8; e uma redistribuivotos são mais difíceis, dada ção de cotas que resguarde o sua natureza financeira, ainda predomínio dos desenvolvique sua missão se tenha amplia- dos no FMI. do ao longo dos anos. As lentas Os dois últimos temas estanegociações para a revisão de rão na agenda da reunião de cotas para 2011 haviam chega- cúpula do G-20, em Pittsdo a uma transferência de vo- burgh, ao final de maio, onde tos, em favor do grupo em de- o país-sede, como é de hábito senvolvimento, de pouco mais nas reuniões desse grupo, dede 2%. Uma vez ratificada essa verá ter uma influência predecisão, os países desenvolvi- ponderante. Com a palavra o dos passarão a ter 57% do po- presidente Obama. ● der de voto, enquanto os países em desenvolvimento terão um Sergio Amaral, diretor do aumento para 43%. Centro de Estudos Americanos A crise levou à reabertura da Faap, é conselheiro da discussão sobre o tema. Os de Felsberg e Associados Brics já colocaram sobre a mesa sua pretensão de uma transferência adicional de 7%, o que daria paridade entre desenvolvidos e em desenvolvimento, com 50% para cada grupo. Os EUA, aparentemente, estariam dispostos a aceitar uma transferência da ordem de 5%. Mas os europeus, que hoje estão sobrerrepresentados, com 30% do poder de voto (os EUA têm 17%), resistem. Os ministros do G-20 deixaram o tema para a cúpula de presidentes, em Pittsburgh, no final do mês. A redistribuição das cotas será o reconhecimento do peso econômico da China e da relevância dos demais emergentes na economia global. Resta saber como será feita a divisão da nova fatia do bolo entre os emergentes e o quinhão que a China deixará aos demais. As questões sobre a governança do Banco Mundial e da OMC são menos relevantes do ponto de vista do Brasil. O Banco Mundial continuará a ter importância decrescente como provedor de recursos para países com acesso a fontes alternativas de recursos, sobretudo se persistirem as condições de liquidez na economia mundial. A OMC, desde a sua criação, conta com um siste- Cristina e Néstor Kirchner ma decisório mais democráti-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Festasem brilho O festeiro governo Lula comemora o 1,9% de crescimento do PIB no segundo trimestre, mas no quesito investimento a queda de 15,6% entre janeiro e junho de 2009 é o pior resultado desde 1996. Dados do IBGE, a elite e a imprensa nada têm que ver com isso! Já China, EUA e outros atingidos pela crise estão investindo pesado em infraestrutura. E nossos portos, estradas, saneamento básico, à míngua. Esta é a relapsa gestão petista, especialista em gastos improdutivos. Para o futuro vamos ficar apenas contando com a orgia do passado...
nam-se e preparem-se. O preclaro ministro Mantega predeterminou o crescimento da economia de 2% a 3% no próximo trimestre e de 5% a 6% em 2010. LEONARDO GIANNINI leogann930@terra.com.br
São Paulo
Mantega está mais para mordomo de castelo que para ministro. ●
EDWARD BRUNIERI ebsolucao@uol.com.br
São Paulo
Otamanhodaonda
paulopanossian@hotmail.com
Dos males, o menor. Quem torceu por um tsunami tem de se contentar com a marollinha!
São Carlos
PAULO ROBERTO CESTARI
PAULO PANOSSIAN
●
Institutos de pesquisa, previ-
Há na vida dos mandatários de índole populista um momento em que a autoelevação, o sentimento de onipotência, os deixa muito próximos da Providência Divina. Imbuemse da missão determinada pelo Senhor para conduzir o povo à terra prometida. Apreciados e bem avaliados pelas comunidades, com prestígio maior que antecessores, consideram-se imbatíveis, incomparáveis e infalíveis. Sua expressão é a extensão da verdade, sua crença remove qualquer montanha de dúvidas que, por acaso, se contraponha ao voluntarismo que os impregna. Governam plasmando a realidade com metáforas e lapidando a mitomania com a pintura de palanque. Igualam-se às divindades, atribuem-se poderes extraordinários e, como Prometeu, tentam passar a impressão de que só eles são capazes de conhecer os segredos do Olimpo. Se a descrição parece exagerada, até porque não se vive mais (ou ainda se vive?) o ciclo dos Estados absolutistas, não se pode descartar por completo a hipótese. É evidente que governantes modernos procuram se amparar numa base mínima de racionalidade, mas, em certos territórios, a barbárie ainda deixa laivos de rusticidade. Ritos ditatoriais ou de talhe fundamentalista marcam presença. No Oriente Médio a estampa é conhecida. Mesmo em governos que se proclamam democráti-
paulo.cest@ig.com.br
Santo André
LEO MARTINS
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Papai-sabe-tudo O presidente Lula, no papel que acha que lhe cai muito bem de papai-sabe-tudo, declara em alto e bom som que ele é que vai decidir sobre a compra dos aviõezinhos. Pois é exatamente aí que mora o perigo. Faltam-lhe os bancos escolares para assumir tal responsabilidade. Um despretensioso conselho ao presidente: pegar essa bolada toda e dar uma imperiosa e mais do que justa melhorada nas aposentadorias daria mais votos, pode crer. J. TREFFIS jotatreffis@hotmail.com
Rio de Janeiro
Bela foto do almoço com degustação de vinho por conta do ●
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
cos a deificação de perfis tem sido prática recorrente. O “timoneiro” e vizinho Hugo Chávez corre mundo como a reencarnação de Simón Bolívar. Se o leitor imaginava que o “nariz de cera” acima foi feito para adornar a fisionomia do nosso presidente, acertou em cheio. Não se trata de dizer que Lula usa por inteiro o manto sagrado. Só uma parte. Aquela que lhe convém. O ex-metalúrgico é um exemplo acabado da dinâmica social brasileira. Saiu da base profunda para o vértice da pirâmide. Entre as primeiras falas, quando cometia um “menas” verdade, e esta dourada fase em que se dá ao luxo de corrigir a expressão de ministros – acaba de corrigir o “interviu” do ministro Tarso Genro por “interveio” – deu um salto extraordinário. O refinamento do modo Lula de ser deu-lhe o direito de se sentar ao lado de Zeus, senhor do Olimpo, onde impera sob a graça da onipotência. Suas perorações são cada vez mais alinhavadas de lições virtuosas que só um espírito deificado é capaz de fazer. Querem um exemplo? O motivo que ele apresenta para adquirir dos franceses 36 caças Rafale, 5 submarinos e 50 helicópteros: defender as riquezas do pré-sal. Piratas da Somália, que raptam navios cargueiros nas costas da África, constituem séria ameaça às nossas reservas? Ou haverá ameaças mais iminentes? Há. O presidente assim enxerga: “Os homens já estão aí com a 4ª Frota quase em cima do pré-sal.” Sob essa visão apocalíptica, justifica-se a compra dos aviões franceses e, se alguém questiona o preço mais alto dos caças em comparação com os americanos, retruca: “Daqui a pouco eu vou receber de graça.” Ou seja, não é o Brasil que vai receber, mas é ele, o Rei-Sol, o nosso Luiz XIV, o destinatário das aeronaves. “L’État c’est moi.” Apontar a 4ª Frota como ameaça parece piada. Mas saindo da boca de Luiz Inácio a expressão ganha foro de verdade. Afinal, quem é dono da flauta dá o tom. Lembrando: essa frota foi desativada há 50 anos, tendo sido restabelecida em junho último com o propósito de combater o comércio de drogas, apoiar navios em situações de desastre e ajudar em missões de paz na América Latina e no Caribe. Mas os governantes da região a distinguem como ameaça à soberania de seus países. Imaginar que os Estados Unidos, que ainda portam o título de nação mais desenvolvida do mundo, possam vir a sequestrar petróleo de amigos é querer fazer pânico em festa noturna de sexta-feira 13. Pode ser que Lula, com a lupa de futurólogo, veja o cenário entre 1920 e 1925 e se depare com a 4ª Guerra Mundial, com os americanos li-
FAX:
(11) 3856 2920
ForçasArmadas pré-sal (11/9, B3). Para os aposentados, nem sobra do almoço. SERGIO LOPES PEREIRA DE MELLO slpmello@ig.com.br
São Paulo
Lula e Jobim mandam a Aeronáutica calar a boca. Submarinos? A Marinha fica a ver navios. E o Exército, falido, sem rancho para os recrutas. Lula é o presidente.
Lula, com brilhantismo, resolveu as suas diferenças em relação a Fernando Henrique Cardoso. É bem verdade que ele ainda não leciona na Sorbonne, mas já domina o idioma de Honoré de Balzac à perfeição. Com dedicação e trabalho árduo, não diz mais “menas laranjas”, mas “en passant”. Coisa de gênio! CELINA KAWALL KORNGOLD ckawkorn@terra.com.br
São Paulo
Até quando o sermão de Lula no palanque atrairá as massas? ra até hoje. Até quando o sermão de Lula no palanque atrairá as massas? Como Lula se acha parente do Mestre Divino, deve acreditar que seu verbo brilhará nos horizontes dos tempos. Para tanto fez a escolha: a ética de resultados, em vez da ética de princípios. Por essa via caminhará com disposição e verve – e haja verve – para imprimir na consciência social o traço narcisista que recorta a face da administração: Lula aqui, ali e acolá, ele e sua sombra, ele e o espelho. Campanhas publicitárias, blog, discursos repetitivos, eventos em série, lobo e cordeiro andando juntos (ele é o cordeiro), tudo regrado pelo jogo dialético: “Este país pisava na miséria, hoje navega no progresso.” Querem saber o que pode tirar Lula do Olimpo? O narcisismo. A parafernália comunicacional, regada de tecnologia, planejada para animar e monitorar o consciente e o inconsciente da população, redundará no efeito “copo transbordante”, aquela conhecida sensação de coisa já vista e revista, ante a qual as pessoas tendem a reagir negativamente. Zaratustra, o profeta, diria: “Cansei-me das velhas línguas. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas.” ● Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor de política e comunicação
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Até os monarcas, reinando absolutos, usavam dizer o “nós”... CAIO AUGUSTO BASTOS LUCCHESI cblucchesi@yahoo.com.br
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● Temos um déspota. Infelizmente, não é esclarecido!
São Paulo
ARTHUR SOARES
ROBERTO TWIASCHOR
Brilhantismo
derando um bloco de países vorazes e dispostos a sequestrar o óleo de fontes produtoras. Mas o que dizer quando a previsão é de que o ouro negro do pré-sal só vai aparecer daqui a 10 ou 15 anos? E se nessa época o preço do petróleo, diante do boom do etanol, não compensar a manutenção de altos investimentos? Por essa e por outras, Luiz Inácio começa a sentir os primeiros balanços da torre que o sustenta. Assumiu a defesa de José Sarney com um discurso anacrônico; aflige-se com as obras empacadas do PAC; de braços cruzados, contempla a expansão da insegurança e a deterioração do sistema de saúde. Esse rescaldo da fogueira explica a queda de 4,7 pontos na avaliação presidencial, segundo a última pesquisa Sensus. Para resgatar os altos índices de aprovação Sua Excelência tentará transformar o présal no hino de elevação da autoestima a ser cantado no altar de um nacionalismo revigorado. A intenção? Atrair o rebanho que lhe é fiel para o curral de sua pré-candidata, a ministra Dilma Rousseff, cuja pontuação entrou em queda. O ciclo de vida do sermão de Cristo na montanha du-
arthur09br@yahoo.com
Pluralmajestático O voluntarismo do presidente Lula no caso dos aviões de caça – “eu decido quando eu quiser” – deve alarmar a Nação. É a exteriorização do seu ego hipertrofiado. Sabe-se lá o que mais poderá ser decidido, segundo tão augusta vontade... Pobre Adler, que não viveu para presenciar os danos causados por um “complexo de inferioridade” mal resolvido.
Belo Horizonte
Oplanobolivariano Na Venezuela, perseguição a jornalistas, bombas e fechamento de dezenas de jornais, rádios e TVs. Na Bolívia, na Nicarágua e no Equador, países seguidores do déspota venezuelano, o mesmo. No Brasil, terra do samba e futebol, a imprensa sofre censura judicial. E a Argentina, como membro
DOMINGO, 13 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS & INFORMAÇÕES
O cartório do pré-sal
M
uito antes do petróleo explorado comercialmente, privilégios para alguns grupos empresariais poderão jorrar das grandes e promissoras áreas do présal. Estimulados pelas promessas de uma nova fase de nacionalismo cartorial, fabricantes de máquinas e equipamentos já mobilizam grupos de apoio, no Congresso, para garantir sua presença como fornecedores de material para a exploração dos novos campos. O deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) já se propôs a defender duas emendas ao Projeto de Lei 5.938, relativo à produção de petróleo e gás em regime de partilha. Pela primeira, será instituído um bônus especial para o comprador de máquinas e equipamentos. Pela segunda, a produção e a comercialização desses materiais serão desoneradas de tributos e, além disso, as empresas terão acesso a condições especiais de financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e haverá incentivos à inovação. Ao propor essas emendas, o lobby da indústria de bens de capital aproveita uma oportu-
nidade criada pelo governo. Segundo o projeto de lei, o edital de licitação deverá indicar, entre outros itens, “o conteúdo local mínimo e outros critérios relacionados ao desenvolvimento da indústria nacional”. Noutro capítulo, há referência à definição de uma “política de desenvolvimento econômico e tecnológico da indústria de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos, bem como de sua cadeia de suprimento”. Ao detalhar esses itens, as duas propostas favorecem a criação de estímulos especiais e de subsídios a alguns segmentos da indústria de bens de capital – e apontam para a instituição de mais um cartório. Ao defender a conversão do présal em fonte de favores especiais, os dirigentes do setor de bens de capital vão contra os interesses mais amplos da indústria nacional e até dos fabricantes de máquinas e equipamentos. A desoneração fiscal do investimento é um velho objetivo de quem se preocupa com a competitividade da indústria brasileira. A tributação do investimento é uma das maiores desvantagens do setor produtivo
Na crise, uma boa safra
E
mbora menor do que a da safra anterior, a produção de grãos da safra 2008-2009, encerrada em setembro, não foi ruim. A colheita de 134,3 milhões de toneladas em plena crise, e com as principais regiões produtoras tendo enfrentado sérios problemas climáticos, é o segundo melhor resultado da história, inferior apenas ao da safra passada, de 144,1 milhões de toneladas. A primeira estimativa de intenção de plantio para a safra 2009-2010, que começa neste mês, só estará concluída em outubro, mas alguns indicadores justificam expectativas otimistas. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – que nas últimas semanas de agosto ouviu produtores, agrônomos e gerentes de bancos nos principais municípios agrícolas –, a estiagem registrada no Centro-Sul afetou a produção de culturas tradicionais, como milho e soja, e reduziu a produtividade nos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. No Paraná, apesar do aumento de 4% na área cultivada, a produção, severamente prejudicada pela seca, diminuiu 17,6%. Menos afetado pelas adversidades climáticas, Mato Grosso também registrou queda da produtividade, principalmente pela menor utilização de tecnologia – pois os fertilizantes estavam muito caros no início do plantio –, mas a redução foi menor do que no Sul, o que lhe permitiu tornar-se, novamente, o principal produtor de grãos do País, posição que desde a safra 2004-2005 era do Paraná.
Um dos resultados mais expressivos constatados pela Conab foi na produção de trigo, que aumentou 46,8%, tendo passado de 4,1 milhões de toneladas na safra 2007-2008 para 6,02 milhões de toneladas na que acaba de ser colhida. O Brasil tem condições de tornarse autossuficiente em trigo, mas a expansão da triticultura enfrenta obstáculos como a dificuldade de acesso ao crédito oficial, problemas no escoamento da produção em alguns Estados, carência de variedades próprias para a panificação e falta de armazéns. Por isso, ainda importa metade do trigo que consome.
Mesmo sob ameaça, a agricultura brasileira exibe bom desempenho O maior fornecedor do Brasil tem sido a Argentina, mas a safra desse país neste ano foi afetada pela seca e pelas ações do governo contra os produtores rurais, o que praticamente eliminou a capacidade argentina de exportar. Por isso, a Conab prevê que o Brasil terá de importar trigo do Canadá, dos EUA e de alguns países europeus. Por enquanto, os preços internacionais estão baixos, o que deve facilitar a compra. Com relação à próxima safra, o superintendente de Informação e Agronegócios da Conab, Aírton Camargo, disse esperar que seja boa. Não quis prever se superará o recorde da safra 2007-2008, mas apontou um fator que deverá estimular o agricultor a plantar mais: alguns dos principais in-
sumos estão mais baratos do que em 2008. O clima, de acordo com as previsões disponíveis, deverá ser menos problemático para a agricultura do que foi na safra recém-encerrada. Além disso, a recuperação da economia mundial deverá impulsionar as exportações brasileiras de frangos e suínos, o que estimulará o plantio de grãos. Uma indicação da disposição do agricultor de investir mais está no aumento das vendas de máquinas agrícolas constatado pela Anfavea. Em agosto, foram vendidas 5 mil máquinas, 5% mais que em julho. No acumulado de 12 meses, o resultado de agosto de 2009 (51,9 mil unidades vendidas) é melhor do que o de agosto de 2008 (49,8 mil unidades). A liberação do crédito no momento certo também ajudará a garantir uma boa safra, lembrou o superintendente da Conab. Resta saber se o volume será suficiente. No que depender do governo, porém, não se deve esperar muita coisa. Das verbas que o governo pode distribuir livremente, há anos o Ministério da Agricultura – que lida com a grande produção agrícola, responsável pela geração de sucessivos saldos comerciais e pela conquista de mercados no exterior – vem recebendo menos da metade do valor destinado para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. É mais uma adversidade que a agricultura tem enfrentado, e superado. E terá de enfrentar também na próxima safra, pois a situação se repetirá em 2010.
brasileiro e um dos principais obstáculos à conquista de posições no mercado global. Um lobby industrial sério deveria cuidar da eliminação total dessa distorção, em vez de batalhar pela criação de um cartório para alguns grupos empresariais. É preciso desonerar tanto o fabricante de meias quanto o produtor de automóveis e o enlatador de salsichas, para facilitar a modernização de suas fábricas. Essa deveria ser a bandeira de líderes empresariais comprometidos com a criação de uma estratégia nacional de desenvolvimento. Essa estratégia só pode ter sentido se for voltada para um efetivo aumento de competitividade. Mas alguns dirigentes parecem preferir o conforto oferecido pelo nacionalismo clientelista e anacrônico proclamado como grande bandeira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e repetido pelo coro dos companheiros. Segundo o presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, o grande limite de exploração do pré-sal não é a tecnologia nem o financiamento, mas a capacidade de produção da
Mais um governador cassado
O
primeiro aspecto a observar, a respeito da cassação, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos mandatos do governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), e de seu vice, Paulo Sidnei Antunes (PPS), é que a Justiça Eleitoral brasileira criou uma verdadeira “rotina” para destituir governadores de Estado – três só nos últimos dez meses – como se ao sistema eleitoral tivessem sido acrescentadas novas e inéditas exigências éticas. Mas como a legislação eleitoral não foi praticamente alterada, e sempre foi proibido que candidatos a postos eletivos se utilizem, para a conquista de votos, de métodos escusos – como a compra de sufrágios por meio do oferecimento de cargos públicos, bens ou moeda sonante –, como se explica que jamais tivesse havido antes tal concentração de punições radicais – diríamos, exemplares, não fosse tão dilatado o período entre o cometimento do delito e a imposição da pena? Miranda e Antunes tiveram rejeitados, pelo TSE, recursos que contestavam decisão anterior do mesmo tribunal, determinando seus afastamentos em razão da prática de irregularidades na campanha à reeleição, em 2006. O processo de cassação se originara de denúncia, feita pelo ex-governador Siqueira Campos, dando conta de que durante a campanha o governador teria oferecido vantagens aos eleitores – tais como a doação de 4 mil lotes de terra, 80 mil óculos e distribuição de cargos públicos. O governador e seu vice foram acusados de abuso de poder,
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
do clube bolivariano e devedora da Venezuela, já começa a fazer a sua lição de casa, ordenando megablitz contra o jornal Clarín, não aliado dos Kirchners. Seriam sintomas de uma mesma doença que hoje afeta a América Latina?
é uma doença que não escolhe pessoas, pode afetar desde o presidente e juízes até as desinformadas massas de manobra. LUCCA BRASI luccabrasi@uol.com.br
São Paulo
AMÂNCIO LOBO amancio lobo@uol.com.br
São Paulo
Doençachamada ditadura Como uma doença que se propaga em organismos debilitados, a ação truculenta do sociopata venezuelano contra a liberdade de imprensa de seu país tem contagiado alguns líderes latinos, despertando neles uma vocação autoritária até então latente sob o manto sagrado da democracia. E o que mais preocupa é que essa
“
Megablitz no ‘Clarín’: ai que vontade que dá, hein, Lulla?”
GutoPacheco daniguto@uol.com.br SãoPaulo
Irrelevância O jornal O Estado de S. Paulo, em sua tradição mais que centenária, é hoje, foi ontem e sempre será a vanguarda dos princípios mais éticos e elevados do verdadeiro e mais leal espírito da República, o que certos tipos menores, em geral adoradores da ilhaprisão cubana, de ditadores como Fidel e de suas ideologias assassinas e fracassadas, jamais poderão entender... De mais a mais, qualquer crítica vinda de um qual-
quer cuja cidadania é, em verdade, a de um “meio cidadão”, por ter tido seus direitos plenos cassados por conta de associação criminosa contra o Estado de Direito, é mais do que irrelevante. PAULO BOCCATO pofboccato@yahoo.com.br
São Paulo ● O despeitado petista José Dirceu disse que o Estadão é a vanguarda do atraso. Não seria ele
cadeia de suprimento. Que o governo e os dirigentes da Petrobrás se preocupem com o fortalecimento e a organização dessa cadeia é perfeitamente normal. Numa entrevista ao jornal Valor, Gabrielli mencionou três grandes famílias de produtos. Alguns a indústria brasileira poderá fornecer, desde logo, em condições competitivas. Para a produção de outros será necessário algum fomento. A produção dos bens do terceiro grupo dificilmente será brasileira no médio prazo e será preciso importá-los. A divisão faz sentido. Seguida com prudência, poderia servir de base para uma política de qualificação da indústria brasileira e seria compatível com uma estratégia mais ampla de competitividade. Mas será difícil enquadrar nesse padrão de bom senso o nacionalismo proclamado pelo presidente Lula e usado eleitoralmente contra uma oposição acuada e incapaz de enfrentar a demagogia presidencial. A dificuldade será agravada se líderes empresariais se deixarem fascinar pelo velho cartorialismo e se converterem, mais uma vez, em clientela de uma política de favores. Haverá vantagens para uns poucos e uma conta pesada para a maioria dos brasileiros.
um atraso da pseudovanguarda? JOSÉ EDUARDO ZAMBON ELIAS zambonelias@estadao.com.br
Marília
Precedentes A censura prévia ora imposta ao Estadão tem um precedente que está sendo esquecido. Em junho de 2008, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) pleiteou e obteve liminar de juiz substituto da 10.ª Vara Federal Cível de São Paulo, proibindo o Jornal da Tarde e Estado de publicarem reportagem sobre presumíveis irregularidades naquele órgão, então investigado pelo Tribunal de Contas da União. Recordando os fatos, o magistrado intimou o Grupo Estado a prestar esclarecimentos em
compra de votos e uso indevido dos meios de comunicação social, tendo o TSE concluído que, de fato, foram praticadas irregularidades para a conquista de votos às vésperas da eleição. A decisão do TSE em relação ao caso do Tocantins difere daquelas da Paraíba e do Maranhão. Nestas últimas, por ter havido segundo turno das eleições, o tribunal entendeu que os candidatos derrotados foram prejudicados pelos métodos escusos utilizados por seus adversários. Determinou, então, que os candidatos que perderam o segundo turno assumissem os governos estaduais.
Justiça Eleitoral está mais rigorosa, mas precisa andar mais rápido Mas, no Tocantins, a reeleição dos candidatos ora cassados se deu no primeiro turno, razão por que seus substitutos deverão ser escolhidos pela Assembleia Legislativa, dentro do prazo legal de 20 a 40 dias. Até lá o governo do Estado está sendo exercido, interinamente, pelo presidente da Casa Legislativa estadual, Carlos Henrique Gaguin (PMDB). Em novembro de 2008 o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), perdeu o mandato sob a acusação de utilizar programas sociais para a distribuição irregular de dinheiro. Em abril deste ano o cassado foi o governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), sob a acusação de abuso do poder político. É verdade que a legislação eleitoral se tor-
nou um pouco mais rígida, ao fazer menção expressa à proibição de distribuição de brindes – como bonés, camisetas, chaveiros e mimos semelhantes. Mas as acusações que têm pesado sobre os cassados se baseiam em irregularidades bem mais graves que essas. Surge, de novo a pergunta: por que agora se cobra com mais rigor o comportamento honesto dos candidatos? Não há como deixar de considerar que a sociedade brasileira, nos últimos tempos, ficou muito mais crítica e passou a cobrar muito mais, dos políticos, um comportamento ético e de obediência à lei. Essa cobrança ainda não produziu melhoras efetivas na qualidade das pessoas que ocupam o espaço público-político – e talvez transcorra um bom tempo até que se chegue a isso. Os escândalos deste ano, no Senado e na Câmara dos Deputados, mostram como ainda é precária a qualidade da vida pública no Brasil. Mas o que não se pode omitir é que, se a legislação eleitoral ainda não é suficientemente rigorosa, não resta dúvida de que, nos últimos tempos, a Justiça a tem interpretado de forma mais rígida. E aqui voltamos a nos referir – como ao comentar as cassações anteriores – ao problema da tempestividade. Candidatos eleitos, e no pleno exercício de seus governos, com processos de cassação na Justiça Eleitoral, só são cassados depois de cumprirem três anos de seus mandatos. É claro que essa grande delonga só poderá causar uma séria desorganização político-administrativa no Estado. Ao rigor, a Justiça Eleitoral precisa acrescentar a celeridade.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
três dias. Reportou o Estadão à época que o então presidente do Cremesp, Henrique Carlos Gonçalves, sinalizou sua intenção de processar o veículo que publicasse o que entendia ser “difamação”. Declaração dispensável de um direito óbvio, post factum, contudo. Se não me engano, o autor acabou por desistir da ação, que, se tivesse prosseguido, ninguém teria tido o condão de avaliar por quanto tempo os dois jornais teriam permanecido sob o jugo da censura judiciária, a mesma que ora se repete. Se o presidente do Supremo é sincero ao manifestar estranhamento ante a demora na “alforria” do Estadão, tocarlhe-ia pôr em pauta, urgente, a edição de uma súmula vinculante inibitória da reiterada inobservância da norma constitucional que
garante à imprensa o direito de informar, uma platitude para tantos quantos têm alguma noção dos direitos e garantias fundamentais expressos na Carta Magna. LUIZ M. LEITÃO DA CUNHA luizleitao@ebb.com.br
São Paulo
Fimdaprisão especial A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou o projeto de lei do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) que acaba com a prisão especial para juízes e membros do Ministério Público. Faltou o senador incluir os políticos, pois de acordo com a Constituição, “todos são iguais perante a lei”. IZABEL AVALLONE izabelavallone@yahoo.com.br
São Paulo
DOMINGO, 13 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 44 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Justiça revoga censura imposta a colunista José Simão estava proibido de divulgar notas relacionando Juliana Paes à personagem Maya Clarissa Oliveira
A Justiça do Rio de Janeiro revogouanteontemacensuraprévia que havia sido imposta ao colunista da Folha de S. Paulo José Simão, que oproibia de publicar notas relacionando a atriz Juliana Paes à personagem Maya, interpretada por ela na novela Caminho das Índias, da TV Globo. O jornal estava sob censura prévia desde o julho,quandoojuizJoãoPauloCa-
panema de Souza, do 24º Juizado Especial Cível do Rio de Janeiro, estabeleceu multa de R$ 10 mil para cada nota publicada sobre o assunto. A decisão de derrubar a censura foi tomada pelo juiz titular Augusto Alves Moreira Junior, que havia sido substituído por Capanema de Souza no período de férias. Moreira Junior reconheceu que o colega impôs censura prévia ao jornal. “Se houve excessocometidopeloréunadi-
NACIONAL A15
vulgação sobre até mesmo a honra da autora, tal fato é questão de mérito, e, se for o caso, o réu será responsabilizado civilmente, mas o Poder Judiciário nãopodeexercer opapelde censura prévia da liberdade de imprensa”, diz a decisão, publicada ontem pelo jornal. Nas ações que moveu contra o jornal e o colunista, a defesa de Juliana Paes alegou que as notas teriam “ultrapassado os limites da ficção experimenta-
dapelapersonagemerepercutido sobre a honra e moral da atriz e mulher e sua família”. Ao se decidir pela censura prévia, Capanema de Souza considerou que o colunista ofendeu a atriz ao “jogar com a palavra ‘casta’ e dizer que Juliana ‘não é nada casta’”. Moreira Junior lembrou ainda que Juliana Paes entrou com ação no Juizado Especial um dia depois de outro pedido de liminar sobre o mesmo assunto
ter sido rejeitado pela 4ª Vara Cível, da Barra da Tijuca. A advogada da Folha de S. Paulo, Tais Gasparian, uma das autoras do pedido para que a restrição ao jornal fosse revista, comemorou o fato de a decisão deixar clara a oposição a qualquer tipo de censura. Mas condenou a demora da Justiça nocaso.“EudesconheçonoBrasil qualquer decisão em que tenhapermanecidoacensuraprévia. Os tribunais superiores
têm demonstrado que são contra essa restrição. Mas o grande problema é esta demora”, afirmou a advogada. Ela lembrou que a censura só foirevogadanodia datransmissãodo último capítulo danovela Caminho das Índias, que servia detema paraasnotas de Simão. Ela apontou que o mesmo vale paraacensuraimposta aoEstado. Desde ofim de julho, ojornal está proibido de veicular reportagens sobre a Operação Boi Barrica da Polícia Federal, que investiga o empresário Fernando Sarney, filho do presidente doSenadoJoséSarney(PMDBAP). “Tanto no caso da Folha, como no caso do Estado, a censura cria um problema com relação à atualidade do tema.” ●
Artigo
Tempo, o inimigo implacável José Rogério
Cruz e Tucci *
A
INVESTIGAÇÃO
Empreiteiras são alvo de apuração da PF Suspeita é de obras superfaturadas em aeroportos, no valor de R$ 500 mi Vannildo Mendes Adriana Fernandes BRASÍLIA
As maiores empreiteiras do País estão sendo alvo de uma ampla investigação da Polícia Federal que apura o suposto desvio de dinheiro público em obras nos aeroportos do Brasil, contratadas pela Infraero. A investigação, que poderá dar origem a uma operação de busca e apreensãonas sedesdessasempresas e até nos domicílios de seus principais diretores, estaria no seu estágio final, depois de apurações feitas nos últimos dois anos. A PF investiga o suposto superfaturamento, desvio de recursos públicos e lava-
gem de dinheiro. O valor dodesvio é estimado em torno de R$ 500 milhões. A Polícia Federal confirmou que a ação está sendo preparada, depois que a informação foi vazada para os investigados e publicada, ontem, pelo jornal Folha de S. Paulo. A busca foi autorizadapela12ªVaradaJustiça Federal, em Brasília. Ontem, a assessoria da PF considerou o vazamento grave, lamentou a divulgação e disse que o órgão não comentaria o conteúdo do inquérito, que corre em segredo de Justiça. O vazamentoprejudica os trabalhos da polícia, informou a PF. A ação de busca e apreensão da PF deverá atingir as sedes
da OAS, Camargo Corrêa, Odebrecht, Nielsen, Queiroz Galvão e Gautama, entre outras. As obras de construção e reforma dos aeroportos sob suspeita de irregularidades foram licitadaspela Infraero durante a presidência de Carlos Wilson (PTPE), morto em abril deste ano. A mega operação da PF deverá envolver um grande número de policiais federais nas buscas em São Paulo, Rio, Brasília, Mato Grosso do Sul e Bahia. A Polícia Federal não decidiu sehaveráaberturadeinvestigação para apurar o vazamento deinformações.Háuma suspeita de que os advogados dos investigados obtiveram a notícia daoperaçãopela própriacarac-
terística do andamento do processo, com a publicação no Diário de Justiça de algumas decisões judiciais. A Infraero informou que está à disposição para colaborar nas apuraçõessobrefraudesemlicitações na execução de obras de aeroportos. Segundo a assessoria de imprensa, a empresa está “tranquila”emrelaçãoàinvestigação.QueirozGalvão, Odebrecht e Camargo Correa informaram, por meio de suas assessorias, que não tinham conhecimento da operação e, por isso, nãoiriamcomentar.Osadvogados das outras empreiteiras – OAS, Nielsen e Gautama – não foram encontrados. ● COLABOROU VITOR HUGO BRANDALISE
censura imposta ao Estadão, como é notório, tem sido objeto decríticageneralizada no Brasil e no mundo. Atalproibição judicial de publicidade sobre investigação que envolve o clã Sarney ofende, por certo, a garantia constitucionalde acesso à informação (art. 5º, XIV, CF). Ademais, é ela absolutamente incompatível com os princípios democráticos das nações livres e soberanas. Como bem exortou o ministro Ayres Brito, na edição de domingo passado, “a regra constitucional não é o segredo, é a publicidade”. E isto simplesmente porque é pela divulgação do conteúdo das investigações e dos processos judiciais que a sociedade civil, inclusive e particularmente por meio da imprensa, controla, de modo difuso, a atuação imparcial dos magistrados. O segredo jamais se compatibilizou com o anseio popular de conhecimento integral da atuação do Poder Judiciário. A restrição à ampla publicidade,emépocarecente, tem sido rejeitada pelos tribunais. Foi o que ocorreu na Inglaterra, quando membro do Parlamento desejou “abafar” informação que o envolvia acerca de investigação sobre desvio de verbas públicas; igualmente, na Itália, restou indeferida pretensãodeBerlusconi, queprocurou, por todos os meios, vetaraimprensadepublicarreportagem revelando as suas extravagâncias. Ocorre que, ao lado da ofensa à referida garantia constitucional, a sociedade brasileira tem assistido, dia após dia, a outra violação, queacarretaprejuízoirreparável a todos nós. É que,além da publicidade, o texto constitucionalgaranteaosjurisdicionadosodireitofundamentalàduraçãorazoáveldoprocesso (art. 5º, LXXVIII, CF). A demora injustificada na prestação jurisdicional é fator inconciliável com o devido processo legal. A despeito do inquestionável talento do advogado do Grupo Estado, que certamente se valeu de todososmecanismosprocessuais disponíveis para revogar a esdrúxula e inusitada ordem judicial, é realmente inadmissível,dadaarelevância política e social da questão,aexcessivaintempestividade da resposta jurisdicional. O problema da demasiada duração das pendências judiciais, conquanto se insira entre os velhos temas da sociologia jurídica, é sempre atual:bastalembrarolamento de Hamlet (“law's delay”); as palavras sábias atribuí-
das,emFrança,aoantigoconselheiro De la Bruyère, no sentido de que “a demora na administração da Justiça constitui, na verdade,puradenegaçãodejustiça!”; ou, ainda, a observação amarga, mas candente de Goethe, que, em diversos momentos históricos, exprimia idêntica crítica, mais ou menos válida para a sociedade contemporânea, à lentidão alarmante do funcionamento dos órgãos da Justiça! É evidente que toda decisão judicialdeveserserenaeponderada,a exigir certo tempo de reflexão (veritas filia temporis). Nãoobstante, todo magistrado, como protagonista imparcial doprocesso,temodeverinstitucional de assegurar a trajetória regular e célere dos casos que estão sob sua jurisdição. É que o tempo é um implacável inimigo do processo, contra oqualtodos –ojuiz,seus auxiliares, as partes e advogados – devem lutar de modo obstinado. O que não se admite, em situação alguma, é que o tempo seja utilizado para minar o interesse das partes envolvidas e da sociedade em geral sobre determinado assunto de significativa repercussão política. É inegável que, quanto mais distante da ocasião propícia for proferida a decisão, a respectiva eficácia será proporcionalmente mais fraca e ilusória. De tal sorte, a revogação tardia de uma liminar inconstitucional irá perdendo progressivamen-
Demora injustificada é fator inconciliável com o devido processo legal teseusentidoreparador,namedida em que se postergue o momento do reconhecimento judicialdosdireitos; e, transcorrido o tempo tolerável para resolver a questão, qualquer solução será, de modo inexorável, injusta, por maior que seja o mérito do pronunciamento judicial... Em suma, o resultado de um recurso não apenas deve conferir uma satisfação jurídica às partes e interessados, como também, para que essa resposta seja a mais plena possível, a decisão deve ser pronunciada em um lapso de tempo compatível com a natureza e relevância social da questão, uma vez que, na hipótese contrária, tornará utópica a tutela jurisdicional de qualquer direito. Na situação de início aludida, a demora injustificada do Tribunal de Justiça do Distrito Federal para apreciar os recursos interpostos, a tempo e hora, pelo Estadão, contra a inusitada censura, vulnera, sob todos osaspectos,agarantiaconstitucional da duração razoável do processo! ●
*José Rogério Cruz e Tucci é professor titular de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da USP, advogado em São Paulo e em Brasília e ex-presidente da Associação dos Advogados de São Paulo.
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Edição de 0h15
o estado de s. paulo
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
SEGUNDA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
14 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42335
Mesmo proibido, nepotismo resiste nos tribunais do País
Indústria brasileira prepara retomada
Conselho Nacional de Justiça tem 39 investigações em andamento
A indústria nacional preparase para voltar a crescer. Pela primeira vez desde o início da crise mundial, fabricantes de máquinas têm registrado aumento de consultas de indústrias interessadas em comprar equipamentos mais modernos. Arenovação,queindicaretomada de investimentos, deve fazer o setor puxar o reaquecimento da economia em 2010. ● PÁG. B1
Fausto Macedo
Embora proibido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) há quatro anos, o nepotismo ainda é prática comum nos tribunais do País. Atualmente, o
CNJ investiga 39 casos de contratações de parentes no Judiciário. Cada procedimento envolve contingente variado de contratados que não passaram pelo crivo do concurso público. Só no Tribunal de Justiça da
Paraíba, foram identificados 48apadrinhadoseoutras24admissões estão sob suspeita. “Há resistência às normas contraonepotismo, nãosó noJudiciário como em toda a administração pública”, diz o ministro
Gilson Dipp, corregedor nacional da Justiça. Para dificultar a descoberta de casos, servidores adotam o nepotismo cruzado – quando um emprega parente de outro e este contrata familiar daquele. ● PÁG. A4
NÚMERO
48
apadrinhados foram identificados só no Tribunal de Justiça da Paraíba
ESPORTES
Para Meirelles, ainda é preciso manter ajuda O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que a suspensão prematura de medidas adotadas contra a crise seria um “perigo muito grande”. Ele avisouque as “portas” continuam abertas para as empresas que precisarem de crédito, com os dólares das reservas internacionais. ● PÁG. B5
JENS BUETTNER/EFE
Em SP, multa por barulho aumenta 64%
SÓ ALEGRIA –
Em grande fase, venceu duas das três últimas provas
Barrichello vence e põe fogo no Mundial Brasileiro da Brawn ganha GP da Itália de F-1 e fica a 14 pontos do companheiro Jenson Button Rubens Barrichello fez uma corrida impecável, venceu o GP da Itália e mostrou que está firme na disputa do título da Fórmula 1. Com 40 pontos em disputa nas últimas quatro corridas, o brasileiro tem 66, contra 80 de seu companheiro
NOTAS E INFORMAÇÕES
O STF e o caso Battisti Ao classificar como “ideológicas” as decisões do STF no caso do italiano Cesare Battisti, o ministro Tarso Genro demonstra desconhecer o funcionamento do Estado de Direito. ● PÁG. A3 ●●●
7 8 9 10 11 12
na BrawnGP, Jenson Button – o segundo ontem. “Vou encarar as próximas corridas como esta. Pé no chão, lutando para vencer”, disse Barrichello. “A hora é de Rubens”, afirmou o ex-campeão mundial Niki Lauda. ● PÁGS. E1 e E2
Tempo: CAPITAL
21º
MÁX.
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Frente fria deixa o tempo chuvoso. Temperatura cai. Hoje: 64 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole 8 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 6 ● L. Link: 8 ● Classificados: 97 anúncios
CORRIDAS QUE RESTAM ● GP de Cingapura
27/9
● GP do Japão
4/10
● GP do Brasil
18/10
● GP de Abu-Dhabi
1/11
Palmeiras e Inter tropeçam ●● ● Líder do Brasileiro com 44 pontos, o Palmeiras perdeu para o Vitória (3 a 2). O Internacional, vice-líder com 43 pontos,
foi derrotado pelo Cruzeiro (3 a 2). O maior beneficiado na rodada foi o São Paulo, que sábado bateu o Avaí. ● PÁG. E6
O 66º Festival de Veneza – que premiou com o Leão de Ouro o filme israelense Líbano, de Sa-
Memória
Morre o ‘pai da revolução verde’ ●●Nobel
da Paz, Norman Borlaug criou técnicas agrícolas contra a fome. ● PÁG. A17
Chuvas
No RS, desabrigados passam de 4 mil Porto Alegre, Guaiba pode transbordar e 20 casas são esvaziadas. ● PÁG. C3
Cinema em águas turbulentas ENVIADO ESPECIAL A VENEZA
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 45 DIAS q PÁG. A9
●● Em
CADERNO 2 Luiz Zanin Oricchio
Bares e restaurantes da capital paulista receberam 417 multas porexcessode barulhode janeiro a julho. O número é 64,1% maior que o registrado em todo o ano passado. A abertura de bares em áreas residenciais é apontada como uma das razões do aumento. Igrejas também são alvo de queixas. ● PÁG. C1
muel Maoz – foi o mais polêmico e original dos últimos anos. Isso tanto pode ser um sintoma dos impasses atuais do cinema, quanto a oportunidade para discuti-los. ●
E a nuvem vem aí... Sites que não investirem em segurança e estabilidade vão acabar sumindo no processo de universalização do acesso de dados – a chamada computação em nuvem. ●
●●
Ambiente
Após obras, Paulista perde 108 árvores ●● Na reforma das calçadas da avenida, Prefeitura plantou menos mudas. ● PÁG. C4
SEGUNDA-FEIRA, 14 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 45 DIAS
NACIONAL A9 NACIONAL A9
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entrevista José Álvaro Moisés: cientista político
‘Nãohásentidodemocráticonacensura’ Pesquisador José Álvaro Moisés critica demora da Justiça em analisar ação do empresário Fernando Sarney contra o jornal Daniel Bramatti
Para o cientista político José Álvaro Moisés, decisões judiciais como a que colocou o Estado sob censura afetam a qualidade da democracia brasileira. O jornal está, desde o dia 31 de julho, impedido de divulgar informações sobre uma investigação da Polícia Federal que atingiu o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A decisão foi tomada pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Como o senhor analisa a decisão do desembargador Dácio Vieira?
Qualquer decisão que implique censura à informação ao público é antidemocrática. É claro que existem circunstâncias em que pode haver objeções à divulgação de informações sigilosas de processos judiciais. Mas não há sentido democrático em criar obstáculos a um órgão de imprensa que obtém informações por uma fonte confiável, segura, e se as informações são de interesse público. Existe a questão da demora no julgamento dos recursos apresentados pelo jornal.
Considero essa demora absolutamente indevida. Mesmo que o juiz tenha feito considerações de ordem jurídica que devessem levar à não divulgação de certos aspectos do processo que envolve o empresário Fernando Sarney, a questão deveria ter se resolvido em um
Fórum pela Qualidade do Jornalismo critica ação Umgrupodeuniversidades,veículos de comunicação e entidades relacionadas à imprensa em Cascavel (PR) iniciou um movimento pela liberdade de imprensa no Brasil, motivado em parte pelo caso da censura imposta ao Estado. Em carta abertaque começouaserveiculada em agosto, o Fórum pela Qualidade do Jornalismo em Cascavel saiu em defesa do direito à informação. “A censura aos meios de comunicação é um dos mais antigos e mais graves atentados que comprometem as liberdades democráticas, a liberdade de informação e o direito dos cidadãos de tomar conhecimento dos assuntos que interessam às suasvidas”,dizodocumento,intitulado Carta deCascavel, cuja elaboração coube ao jurista René Dotti. “A censura ao jornal O EstadodeS. Paulo, trincheirahistórica da luta de resistência contraa ditadura militar eem favor das liberdades públicas, dos direitos e das garantias individuais, deve ser repelida pela sociedade brasileira através de suas múltiplas formas de expressão e representação”, afirma o texto. A ideia de elaborar a carta surgiu durante os preparativos para uma palestra de Dotti no fórum, sobre a lei de imprensa. Após o Estado se tornar alvo de censura, o grupo decidiu incluir oassuntonodocumento,assinado pelas universidades e veículosde comunicação. O jornal está proibido de veicular reportagens sobre a Operação Boi Barrica da Polícia Federal, que investiga o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP). ● CLARISSA OLIVEIRA
curto período de tempo. Há nesse caso um grande interesse público, que diz respeito a uma das questões mais centrais da democracia. A democracia não existe sem que o interesse público seja defendido. Nesse caso, fazer Justiça é trazer à luz a informação. Essa de-
mora para que a decisão seja tomada indica que há outros interesses mobilizados. Isso afeta nossa imagem como País? É um tropeço na consolidação da democracia?
Não tenho dúvidas de que vivemos uma democracia no Bra-
sil. Temos eleições regulares, com razoável grau de justeza nos resultados, as instituições não estão ameaçadas. Mas o problema não é saber se temos ou não democracia. O problema é saber a qualidade da nossa democracia. Quando há um déficit de funcionamento da
Justiça ou das instituições de representação, ou mesmo do Executivo, isso torna visível uma baixa qualidade do processo democrático. A grande vantagem da democracia é que a Justiça precisa ter procedimentos universais, impessoais, baseados na justeza das
decisões, na obediência a normas que são iguais para todos e, principalmente, no primado da lei, ou seja, de que não há ninguém acima dela. Quando uma decisão mostra que alguns são mais iguais que outros, isso evidencia uma falha na qualidade da democracia. ●
o estado de s. paulo
● Edição de
0h30
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JULIO MESQUITA (1891-1927)
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15 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42336
Obama adverte bancos que ‘era de excessos’ não voltará
Venezuela será cobrada por acordo com Rússia
‘Alguns não aprenderam a lição’, diz o presidente, um ano após o início da crise
Denise Chrispim Marin
tar a assumir riscos sem se importar com as consequências e esperarqueocontribuinteamericano resgate os bancos de novo.” Muitas instituições voltaram a oferecer investimentos dealtorisco,mesmoasquereceberam bilhões do governo para sair da crise causada por esses instrumentos. ● PÁGS. B1 e B3
Brothers” e voltando aos maus hábitos do passado. “Nós não vamosvoltaràeradecomportamento irresponsável e excessos que originaram essa crise”, disse Obama, que exortou os bancos a se unir à Casa Branca e ao Congresso nos esforços de aprovar uma reforma regulatória. “Wall Street não pode vol-
Patrícia Campos Mello CORRESPONDENTE EM WASHINGTON
Noprimeiroaniversáriodaquebra do banco Lehman Brothers, marco da atual crise global, o presidente Barack Obama advertiu Wall Street: “Alguns no setor financeiro estão ignorando as lições do Lehman
Brasil gasta com enchentes mais que com prevenção
China acusa EUA na OMC ●●● A China entrou com queixa na OMC contra os EUA por causa da decisão de sobretaxar pneus chineses. Pequim anunciou que vai investigar os americanos por
suspeita de dumping com frango e autopeças. O Brasil pode sair ganhando se a China barrar produtos americanos que concorrem com os brasileiros. ● PÁG. B4
Dora Kramer
Um modelo eleitoral fora dos trilhos O Congresso defende que a criação de 7 mil vagas de vereador entre em vigor já. Para o presidente do STF, Gilmar Mendes, um sinal, entre muitos, de que reina a desordem no modelo eleitoral. Simplesmente pelo absurdo contido no texto: vereadores com mandato serão cassados. ● PÁG. A6 ●●●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 46 DIAS q PÁG. A9
Liberado manejo florestal em reserva legal
NOTAS E INFORMAÇÕES
Memória
Morre aos 57 anos o ator Patrick Swayze
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
dos filmes Ghost e Dirty Dancing lutava contra câncer no pâncreas. ●
PÁG. A17
●●● A Represa do Guarapiranga, na zona sul de SP, atingiu ontem 93,5% de sua capacidade, maior marca em setembro desde 83. ● PÁG. C3
ESPORTES
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É cada vez mais ostensivo o esforço de Lula para subordinar decisões de negócios aos objetivos políticos. ● PÁG. A3
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14º
MÍN.
Frente fria se afasta, mas a umidade deixa o tempo nublado.
De Lisboa a Évora, uma rota de sabores São apenas 130 km de ótimas estradas que passam por quatro cidades. No trajeto, há castelos, mosteiros e – o mais importante–muitooquecomer e beber. ● ●●
Hoje: 74 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 14 ● Classificados: 462 anúncios
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TIMOTHY A. CLARY/AFP
Tempo: CAPITAL
JASON KIRK/AFP
●● Astro
VIAGEM AVENTURA
Rumo à centralização
A Venezuela deverá ser cobrada, na reunião de hoje da Unasul, pelo acordo militar com a Rússia. “Nós também não conhecemos esse acordo”, disse Clemencia Forero, chefe da delegação da Colômbia, país criticado pelo acerto militar com os EUA. Na Unasul, a leitura é que a Venezuela protagoniza corrida armamentista. ● PÁG. A10
ANÁLISE
GUARAPIRANGA: SETEMBRO INCOMUM
Oprogramafederalparaprevenção dos efeitos de eventos climáticos recebeu R$ 71,2 milhões neste ano. Já o programa de resposta a desastres, destinado a socorrer flagelados, gastou cerca de R$ 1 bilhão. Alguns itens cruciais do Orçamento, como apoio a obras preventivas, ações de defesa civil e orientação a residentes em áreas de risco, não receberam lançamentos. ● PÁG. C1
O Ministério do Meio Ambiente definiu regras para o uso sustentável das reservas legais – áreas em propriedades rurais – e liberou o manejo florestal. O proprietário poderácortar árvoresdeforma alternada. ● PÁG. A16
ENVIADA ESPECIAL A QUITO
●●● Juan Martín del Potro beija a taça do US Open: numa final históri-
ca, argentino venceu o número 1 do mundo, Roger Federer. ● PÁG. E1
Detran tem problemas no primeiro dia na nova sede No primeiro dia de funcionamentodoDetran emnovoendereço, na Avenida do Estado, região central, uma pane impediu o atendimento de quem procurava serviços da CET. Quem buscou informações por telefone também teve dificuldades. Ao longo de todo o dia, pessoas desavisadas foram ao antigo prédio, no Ibirapuera, onde será instalado o Museu de Arte Contemporânea. ● PÁG. C11
CADERNO 2
Inhotim, o museu que engoliu a cidade
●● Tribunal de Contas da Uniãobarraexpansãodoinstituto mineiro. ●
direto da fonte
Cemig mira a Light ●● Empresa mineira negocia
com Pactual/UBS e Andrade Gutierrez. ● PÁG. D2
Economia
Cheque pode mudar para evitar fraudes ●● Uma das ideias do BC é estabelecer prazo de validade para folhas. ● PÁG. B11
A2 ESPAÇO ABERTO
TERÇA-FEIRA, 15 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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SaudadesdeItamar eHargreaves
AloysioNunesFerreira
AlexandreBarros
São Paulo teve no dia 8 o maior volume de chuva já registrado em apenas 24 horas no mês de setembro, desde 1943, quando se começou a fazer a medição. Pela primeira vez em quatro anos, o Rio Tietê transbordou, causando transtornos à cidade. Outras regiões do País foram também atingidas pelas águas com tanta ou mais severidade. Mas a evidente excepcionalidade desses eventos não impediu que, de forma oportunista, críticos das obras de ampliação da Marginal do Tietê usassem a imprensa paulista para empreender uma campanha de desinformação sobre a obra, lançando mão de mentiras, insinuações e soluções delirantes. Para o bem do debate público cabe aqui desfazer os falsos mitos propagados por esses supostos especialistas. ● As obras da Marginal priorizam o transporte individual em detrimento do transporte coletivo – Quem afirma isso não conhece a via. A Marginal do Tietê é hoje um eixo estratégico para São Paulo e para o Brasil, no transporte de carga, coleti-
Cabe desfazer os falsos mitos que os críticos das obras têm propagado vo e particular. É pela Marginal que se tem acesso ao Terminal Rodoviário do Tietê, o maior da América Latina, que atende mais de 60 mil passageiros por dia. Acusar este governo de não priorizar o transporte coletivo beira o cinismo. Pela primeira vez, São Paulo tem três linhas do Metrô em obras ao mesmo tempo. Até 2010 serão mais de R$ 20 bilhões investidos em transporte sobre trilhos, incluindo a transformação de 160 km de linhas da CPTM para o padrão Metrô. O mais curioso é que alguns dos críticos da ampliação da Marginal participaram de uma gestão que não só não investiu um centavo no Metrô (ao contrário do que faz hoje a Prefeitura), como foi responsável pela construção dos polêmicos túneis nas Avenidas Rebouças e Cidade Jardim, obras que, além de malfeitas, visavam exclusivamente os usuários de automóveis. Refiro-me, especialmente, ao sr. Roberto Watanabe, exsubprefeito de Itaquera na gestão Marta Suplicy, que, aliás, aderindo à moda recente de maquiagem de currículos, apresentou-se falsamente aos meios de comunicação como professor da Unicamp, sem possuir qualquer vínculo com a instituição. ● As novas pistas aumentarão a impermeabilidade do solo na região – Não é verdade. A área permeável do canteiro central
que dará lugar às novas pistas é de 18,9 hectares, o que corresponde a apenas 0,06% da bacia do rio nesse trecho. Essa já é, portanto, uma área quase totalmente impermeabilizada e as novas pistas representam uma perda irrelevante. Em compensação, o Parque Várzeas do Tietê criará uma área permeável mais de 500 vezes maior – 10 mil hectares no total. Sugerir uma ligação entre as obras da Marginal e os alagamentos da semana passada, após chuvas de intensidade inédita, é zombar da inteligência alheia. A obra está no começo e praticamente não há asfalto novo. Seria um caso curioso de efeito que antecede a causa. Mais ainda: com o início das obras, foram abertas grandes valetas que acabaram funcionando como piscinões, retiveram a água das chuvas e amenizaram a enchente! ● Investir no Parque Várzeas do Tietê não vai resolver o problema da permeabilidade, pois ele fica muito longe das áreas que mais sofrem alagamentos – Mais um mito. As áreas que, historicamente, mais sofreram com alagamentos estão a jusante do futuro parque, pois o Tietê corre, desde sua nascente, em Salesópolis, em direção ao centro da capital e, de lá, para o interior. Portanto, boa parte da chuva que cair na região da cabeceira do rio será retida e absorvida pelas novas várzeas, evitandose reflexos mais agudos na região central. O oposto é que não faria sentido: reter a água depois de ela ter corrido pela maior parte da cidade. A inundação vem sempre rio abaixo. ● As árvores retiradas pela obra serão replantadas na Região do Alto Tietê e não na própria Marginal – É um argumento que briga com os fatos. Cerca de 600 árvores foram retiradas dos canteiros da Marginal e outras mil foram transplantadas ao longo da via, às vezes a uma distância de apenas alguns metros de sua localização anterior. E quanto às novas árvores? Serão 9 mil na própria Marginal – triplicando o número atual de árvores na via – e cerca de 80 mil nos bairros do entorno. São tantas árvores que os subprefeitos da região têm dificuldade de apontar as áreas onde plantá-las. Adicionalmente, mais 63 mil serão plantadas no Parque Várzeas do Tietê. No total, mais de 150 mil novas árvores – todas no Município de São Paulo. ● A ampliação da Marginal será inócua enquanto não houver o Rodoanel Norte – Outra mentira. Três grandes obras serão inauguradas pelo governo do Estado em março de 2010, com alto impacto integrado na cidade: a Marginal do Tietê ampliada, o Rodoanel Sul e o prolongamento da Avenida Jacu-Pêsse-
go. Com isso a Marginal do Tietê fará parte de um anel viário que vai desafogar fortemente o tráfego no centro expandido da capital. Mesmo a inauguração do Rodoanel Norte, ainda sem data prevista, aliviará apenas parcialmente a Marginal, que continuará com sua função estratégica para os deslocamentos de carga, particulares e de transporte coletivo pela Grande São Paulo. ● É preciso acabar com a pista expressa da Marginal e criar um parque linear no lugar – Eis um exemplo acabado de proposta mirabolante! Se pudéssemos voltar no tempo e corrigir decisões equivocadas de 50 anos atrás, viveríamos, sem dúvida, numa cidade ideal. Diariamente, a Marginal do Tietê propicia 1,2 milhão de viagens aos cidadãos. Eliminá-la da paisagem representaria custos astronômicos, de centenas de bilhões de reais, em desapropriações e remoção de população. Mesmo que houvesse meios, sua execução causaria um colapso completo do trânsito em São Paulo, com consequências imprevisíveis para a própria economia do País. ● Aloysio Nunes Ferreira é secretário-chefe da Casa Civil do governo do Estado de São Paulo
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
“Fala agora”
FÓRUM DOS LEITORES Economia Os bons resultados da economia não podem ser festejados pelo governo como se fossem uma vitória única dele, economias são interligadas e interdependentes. O tsunami que se esperava não veio, EUA e Europa mantiveram um bom controle em suas economias, China e Índia voltam a crescer e, portanto, o Brasil tem aí um bom mercado para trabalhar. Mas o crescimento que estamos vivendo é só o retorno ao que era, não estamos ultrapassando o que havia antes de setembro de 2008. A coisa está mais para alívio do que para festejos. FRANCISCO DA COSTA OLIVEIRA fco.paco@uol.com.br
São Paulo
As acusações, tricas e futricas entre os poderosos dãonos saudades do presidente Itamar Franco e de seu chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves. Itamar chegou ao poder por acaso, com a queda de Fernando Collor de Mello. Era visto por muitos como insignificante e desastrado. Hargreaves era antigo funcionário da Câmara dos Deputados, famoso pelo conhecimento de leis fundamentais para o relacionamento do Executivo com o Congresso. Itamar levou-o para o Palácio. Concentremo-nos em algumas atitudes da dupla, lembrando que o atual presidente do Senado se encastela para se defender de acusações que pipocam novas a cada semana e o atual presidente da República desafiou uma subordinada a provar alguma coisa contra a ministra-chefe da Casa Civil, como se a esta faltasse língua ou capacidade. Ao assumir a Presidência, Itamar pediu a renúncia de todos os ministros, direito dele. A versão anedótica (que não é verdadeira, mas conto-a para ilustrar o fato) foi que, ao incluir os três ministros militares (Exército, Marinha e Aeronáutica – ainda não havia Ministério da Defesa) na troca, teria sido procurado por um alarmado Fernando Henrique
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Privatização Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a crise ficou para trás. Para quem a crise passou? Os setores do agronegócio, como produtores de cana, cuja maioria das usinas de açúcar e álcool está em recuperação judicial, apresentando plano com proposta de pagamento com deságio de 50% e prazo de mais de dez anos para saldar as dívidas, há mais de um ano sem pagar aos produtores, que estão à beira da falência, não estão em crise? E os pecuaristas, que estão sem receber dos frigoríficos, que também pediram recuperação judicial, isso não é crise? E os citricultores, que, além das pragas nos pomares – tendo de erradicá●
las –, estão deixando de colher os frutos, pois os preços pagos pelas indústrias de suco não cobrem os custos? É verdade, essas empresas estão saindo da crise ou já saíram, mas à custa dos produtores rurais, que estão falindo. Nos setores automobilístico e de construção civil, beneficiados com redução do IPI pelo governo, a crise está sendo superada. Para os bancos brasileiros não há crise, seus lucros são sempre grandes, com ou sem crise. Para o governo, portanto, a crise ficou para trás. Coitados dos produtores rurais, que sempre deram superávit ao governo e nunca foram reconhecidos!
Não sei por que se diz que o governo é estatizante. Já há alguns anos ele vem privatizando tudo, pondo tudo nas mãos dos cumpanheiros, mensalonados, ongados, emessetistas, incrados, sindiquistas, pré-salistas, etc., etc. Para garantir eficiência grande parte dessa privatização é feita sob a patriótica e desinteressada liderança de líderes ímpares (não normais) dos partidos de apoio. Tanto é assim que o próprio presidente nunca sabe de nada. A coisa anda “à vontade”. WILSON SCARPELLI wiscar@estadao.com
Cotia
CLEITON REZENDE DE ALMEIDA cleiton_rezende@uol.com.br
Araraquara
GuerrilhanaCoreia Sobre a reportagem Coreia treinou
Cardoso, perguntando-lhe se ia mesmo demitir os três ministros militares (o que Itamar fez). Itamar questionou: “Por que, Fernando, você está preocupado com eles?” Ao que este teria respondido: “Não, Itamar, estou preocupado com você!” A cena não aconteceu. Conferi com as fontes. Mas a versão viveu na minha cabeça e ainda vive no imaginário de muitos observadores. Ela é significativa por expressar o susto dos observadores com a “audácia” de Itamar: pedir a renúncia dos ministros militares. Isso nunca tinha acontecido. Não foi audácia, foi apenas simplicidade e retidão. O presidente é dono de todos os cargos de ministro, e pediu-os. Os ministros militares em nada diferiam de seus colegas, exceto por usarem farda. Foi o ato mais importante para restabelecer a primazia do poder civil no Brasil pós-regime militar. O outro episódio tem mais que ver com a situação de hoje. Hargreaves, chefe da Casa Civil, foi acusado de algum ato ilícito e pediu para sair do cargo, a fim de não embaraçar seu chefe, o presidente. Com a mesma singeleza com que pediu e recebeu os cargos dos ministros militares, Itamar anunciou publicamente as acusações contra Hargreaves e informou que ele seria afastado enquanto durassem as investigações. Concluídas estas, com a mesma singeleza Itamar anunciou que, como nada havia sido encontrado de ilegal ou desabonador no comportamento de Hargreaves, ele voltava à Chefia da Casa Civil. As lições que ficam: ● Negar repetidamente acusações que aparecem de todos os lados, numa democracia, não transforma mentiras em verdades de tanto repeti-las. Goebbels só conseguiu fazer isso porque o nazismo era uma ditadura. ● Na democracia, mais importante do que defender-se ou a amigos, com retórica, é usar a luz do Sol como o melhor desinfetante. Richard Nixon e Bill Clinton foram punidos porque mentiram. John Dean, advogado da Casa Branca no período de Nixon, conta em seu livro Blind Ambition como a teia de trapalhadas e mentiras vai ficando cada vez mais espessa. Acabou na cadeia, com outros colegas de alto coturno. John Mitchell, ministro da Justiça de Nixon, foi condenado, preso e algemado e assim saiu de seu escritório rumo à prisão. ● Precisamos de alguma regra, a ser estabelecida, não sei se por costume ou por lei, que defina a Presidência da República e o Supremo Tribunal Federal como cargos terminais. Depois deles, voltar à política partidária ou à banca privada não pode ser aceitável. Evita-se o espe-
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guerrilha brasileira (13/9, A12), acho que se teria feito um imenso benefício à historiografia e à realidade histórica se o texto evidenciasse que a Coreia do Norte treinou militantes comunistas não para enfrentar uma ditadura, mas para lutar pela implantação de outra, a suposta ditadura do proletariado, na verdade, a do partido único, que vigora naquele país ainda hoje. É um absurdo histórico e moral dar a entender que indivíduos da estirpe autoritária de José Dirceu, Carlos Minc, Dilma Rousseff e José Genoino tenham pegado em armas em nome da democracia. A democracia pela qual eles lutaram e lutam, posando de heróis da liberdade, é a do mensalão, dos dólares na cueca, da subserviência do Congresso aos ditames da Presidência da
táculo de um ex-presidente da República batendo boca no Senado, ainda que em sua defesa. ● Presidentes não batem boca com subordinados, desafiando-os a provar isso ou aquilo, seja em defesa própria, seja em defesa dos aliados. Essa atitude não combina com a tal “liturgia do cargo”, abusivamente citada. Quanto mais cresce a crise, menos “litúrgicas” ficam as atitudes de gregos e troianos. ● Ex-presidentes e ex-ministros do STF precisam ter uma pensão decente para não terem desculpa para precisar voltar à política ou à banca – até hoje não sei se Itamar foi embaixador na Itália, na OEA e em Portugal porque precisava do salário ou porque Fernando Henrique o queria longe. ● Ex-presidentes não ficam falando mal de seus sucessores. Eduardo VII, filho da rainha Vitória e rei da Inglaterra por pouco tempo, recebeu um pedido de clemência para um regicida, ao que respondeu: “Não posso perdoar as pessoas que matam os membros da minha profissão.” De ex-presidentes se espe-
Numa democracia, importa mais usar a luz do Sol como bom desinfetante ram bons exemplos e excelente comportamento. Quando Hillary Clinton foi eleita senadora, um repórter perguntou ao ex-presidente Clinton se iria morar em Washington, ao que ele respondeu: “Depende de vocês (repórteres). Se ficarem me fazendo perguntas a toda hora sobre o atual governo, vou embora daqui” – não precisou esclarecer que não faz parte do comportamento de ex-presidentes ficar criticando os membros de sua profissão, nem dividindo as sociedades e politeias. Finalmente, 5 e meia da manhã, inverno em Washington, um dia qualquer, muito frio, saída de passageiros internacionais do Aeroporto Dulles, na Virgínia, vi, acompanhado de uma ou duas de suas filhas, de roupa esporte, o ex-presidente Itamar Franco, em pé, perdido entre as pessoas comuns que esperavam amigos que chegavam. Hargreaves estava no voo. Tive o impulso de dizer a Itamar: “Bom dia, presidente, o dr. Hargreaves está na alfândega, mas deve sair já.” Mas minha timidez me impediu. Então, digo hoje: “Bom dia, presidente. O senhor, o dr. Hargreaves e seus exemplos deixaram saudades.” ● Alexandre Barros, cientista político (Ph.D. University of Chicago) é diretor-gerente da Early Warning: Análise de Oportunidade e Risco Político
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República, da censura à imprensa, das invasões do MST, etc., etc. TIBIRIÇÁ RAMAGLIO tibiramaglio@gmail.com
São Paulo
Duasrespostas Ao jornalista Gaudêncio Torquato (13/9, A2): só quando os brasileiros tiverem educação e cultura. Ao leitor sr. Guto Pacheco (13/9, A3): por favor, não dê ideias. NEUSA CARMEN ABBUD GUBEISSI neusacarmen@yahoo.com.br
São Paulo
TarsoGenro x STF Queria lembrar ao Ministro Tarso Genro que nem no alfabeto cirílico as letras STF têm alguma semelhança com a sigla KGB e que
TERÇA-FEIRA, 15 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 46 DIAS
NACIONAL NACIONAL A9 A9
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Mendes volta a cobrar rapidez do TJ Ministro sugere adoção de ‘atalho recursal’ para que casos como o da censura ao ‘Estado’ ganhem celeridade OpresidentedoSupremoTribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, sugeriu ontem a adoção de mecanismo que intitulou “atalho recursal” para que casos como o da censura imposta ao EstadoganhemceleridadenaJustiça. “Talvez num caso como esse,emquehouveliminarsuspendendo a publicação, devesse haver também rapidez no proces-
so decisório definitivo sobre a própria consistência, legitimidade ou não da liminar”, disse. A liminar que amordaçou o Estado foi concedida em 31 de julho pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Ele acolheurecursodoempresárioFernando Sarney, decisão que impede o jornal de publicar dados
relativos à Operação Boi Barrica,daPolíciaFederal, envolvendoofilhodopresidentedoSenado, José Sarney (PMDB-AP). Há quase 50 dias arrasta-se na corte de Vieira conjunto de medidas por meio das quais o Estadotenta derrubara ordem de silêncio – são duas exceções de suspeição do magistrado, que mantêm relações de conví-
viocom osSarney, eum mandado de segurança. Para Mendes, a demora do TJ-DF coloca o jornal sob pressão. “Sem dúvida alguma, causa esse constrangimento e insegurança jurídica”, declarou. “É fundamental que haja decisão por parte do responsável pela concessão da liminar para que, se mantido o entendimento, ha-
jaa possibilidade derecurso para outra instância.” Há quase 20 dias o corregedor nacional da Justiça, ministro Gilson Dipp, fez contato comapresidênciadoTJetransmitiu recado do presidente do STFno sentido de que a demanda tenha conclusão. “Isso precisa ser sanado. Que haja curso nos processos.” Segundo o mi-
nistro, “é provável que a demora se deva também ao próprio incidente a respeito da suspeição do autor da liminar”. Mendes vê com ceticismo a possibilidade de o STF editar medida de caráter vinculativo sobre censura. “Não me consta que tenhamos decisões pacíficas que pudessem subsidiar a súmula.” ● FAUSTO MACEDO
ANOS DE CHUMBO
PF sabia de guerrilheiros na Coreia do Norte Relatório de fevereiro de 1972 tem detalhes de viagens e treinamento Wilson Tosta RIO
INVESTIGAÇÃO
STF manda Polícia Federal interrogar Paulinho da Força sobre desvios no FAT JONNE RORIZ/AE–30/4/2009
Felipe Recondo BRASÍLIA
OdeputadoPauloPereiradaSilva(PDT-SP),oPaulinhodaForça Sindical, terá de prestar depoimento no inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF)parainvestigar aexistência de um esquema de desvio de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). As irregularidades teriam ocorrido nos convênios firmados entre a Força, presidida por Paulinho, e o Ministério do Trabalho. O deputado será ouvido por um delegado da Polícia Federal, mas não poderá marcar dia, hora e local por ser investigado,
IMPOSIÇÃO – Paulinho não poderá marcar dia, hora ou local para depor
conforme decisão do relator do caso, ministro Celso de Mello. O inquérito apura indícios de queaForçaSindical,comrecursosdoFAT,teriafirmadoconvênios ilegalmente com empresas que deveriam promover cursos profissionalizantes e de recolocação no mercado de trabalho. Outro inquérito no STF apura se o dinheiro do FAT era usado parapatrocinarcursosparaalunosfantasmas.Ocasofoiinicialmente investigado na 1ª Vara Federal de Ourinhos (SP), mas comoPaulinhoédeputadofoiremetido para o Supremo. Emoutro inquérito aberto no STF, ele é suspeito de participar de esquema de desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As denúncias levaram Paulinho ao Conselho de Ética da Câmara por quebra de decoro parlamentar, mas ele foi absolvido. ●
Documento da Polícia Federal guardado no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (Aperj) comprova que osserviços derepressão política da ditadura militar (1964-1985) monitoraram o treinamento de militantes brasileiros em técnicas de guerrilha na Coreia do Norte. Um relatório da PF datado de 10 de fevereiro de 1972, elaborado com base em dados da 4ª Zona Aérea e do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa), dá detalhes sobre viagens e adestramento de ativistas no país oriental. Não menciona nomes, nem organizações, diferentemente de guerrilheiros da Ação Libertadora Nacional (ALN) treinados em Cuba, cujas turmas de adestramento e identidade eram conhecidas da polícia política do Brasil. O Estado revelou no domingo que integrantes do grupoguerrilheiroVanguarda Popular Revolucionária (VPR) estiveram na Coreia do Norte em treinamento no início dos anos 70. Três deles –IranyCampos,Jovelina Toledo e um homem que pediu anonimato – deram detalhes do adestramento. Segundo a reportagem, a VPRacertou comoembaixador da Coreia do Norte em Cuba a ida de militantes para o curso e o fornecimento de recursos. A ALN quase fechou acordo semelhante, mas ficou mais ligada ao Partido Comunista Cubano.Não há evidências de que outras turmas de brasileiros tenham ido à Coreia do Norte para adestramento, além da dos ativistas da VPR. Orelatório daPF,queintegra o acervo do extinto DepartamentodeOrdem PolíticaeSocial(Dops)doRio,afirma que o treinamento dos guerrilheiros era baseado nos métodos da Unidade 124 do Exército Popular Coreano. O trabalho, de acordo como documento, começava às 5 horas, com ginástica com saco de areia de 30 quilos, e terminava às 22 horas. Mesclava noções de agitação, tática de guerrilha urbana e rural e transmissão de informações, entre outras. “Os homens da 124 têm de cumprir, por exemplo, as seguintes tarefas: sete horas diáriasdenatação.Enterrarse ao lado de uma estrada de movimento e ficar 12 horas escondido. Defender-se com um canivete de três atacantes desarmados, correr oito quilômetros em uma hora num terreno acidentado”, diz o relatório da PF. ROTEIRO
Doisterçosdosalunosdocurso, segundo o relatório, eram
TRF reabre ação sobre morte de Manoel Fiel Filho ●● ● Por unanimidade, a 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) anulou ontem decisão da 11.ª Vara Cível Federal de São Paulo que extinguia ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal e determinou a reabertura do processo que pede a declaração de responsabilidade – por violação aos direitos humanos – de sete servidores públicos estaduais acusados de envolvimento na prisão ilegal, tortura e morte do metalurgico Manoel Fiel Filho. O crime ocorreu em janeiro de 1976 no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do antigo 2º Exército. A decisão do TRF- 3 atende pedidos da Procuradoria da República. O desembargador André Nekatschalow, relator, entendeu que as solicitações são pertinentes e devem ter o “devido prosseguimento” na Justiça. Seu voto foi seguido pelo desembargador Luiz Stefanini e pelo juiz convocado Hélio Nogueira. Os réus serão citados e também a Advocacia Geral da União e a Procuradoria-Geral do Estado para apresentarem defesa. A ação foi proposta em março. “Com velocidade impressionante a Justiça Federal abortou precocemente a ação”, disse o procurador regional da República Marlon Alberto Weichert. ● FAUSTO
MACEDO
latino-americanos. Os outros eram africanos, árabes e do Sudeste Asiático. Aviagemdosguerrilheiroslevava mais de um mês. Em plena GuerraFria, quandohavia duas Alemanhas, eles iam de avião até Berlim Ocidental. Dali, passavamparaBerlimOriental,onde permaneciam por oito dias, hospedadosemcasasparticulares. Depois, seguiam para Moscou, com passaportes norte-coreanos, pela russa Aeroflot – as passagens eram pagas pela embaixada da Coreia do Norte na Alemanha Oriental. Na capital russa,ficavammaisoitodias,seguindo de lá para Pyongyang, pela Aeroflot, com bilhetes fornecidos pela embaixada nortecoreana na então URSS. Os alunos do curso de guerrilha tinham de esperar dez dias na capital da Coreia do Norte, antes de seguir para um dos nove campos de treinamento, nos quais usavam uniformes do Exército Popular Coreano. A volta era pela Aeroflot, em voos para Berlim Oriental, onde embarcavamparaLondresouBruxelas. Dessas capitais, seguiam para os países de origem. Os brasileiros da VPR não chegaram a voltar ao Brasil para empregar os ensinamentos. Muitos treinados em Cuba o fizerame,emboaparte,forammortos pelos órgãos de repressão. ●
� Edição de
0h15
o estado de s. paulo
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
QUARTA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
16 de setembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42337
Poupança acima de R$50mil deve ter taxa Pela nova proposta do governo, valor que exceder esse limite pagarå Imposto de Renda de 22,5% O governo quer taxar as cadernetas de poupança acima de R$ 50milapartirde2010.O Imposto de Renda seria de 22,5%, cobrado na fonte, sobre o rendimentorelativoà parcela que exceder esse valor. A proposta serå enviada ao Congresso ainda nesta semana. Antes, a ideia era taxar a poupança com base
em uma fĂłrmula que definia a tributação conforme o nĂvel dos juros bĂĄsicos da economia. O mecanismo era mais difĂcil de sercompreendido,masimplicariaumcustomenorparaospoupadores. Com a modificação, a intenção ĂŠ permitir a continuidade da queda dos juros bĂĄsicos sem que isso acarrete mi-
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gração intensa de recursos de fundos de investimento para a poupança. A nova solução, elogiada por especialistas, mantÊma isençãopara99% dosaplicadoresdascadernetas,mexendo com somente 1%, segundo o Banco Central. O governo estimaqueanovafórmulapoderender algo entre R$ 500 milhþes e
R$ 1 bilhĂŁo em 2010. A estimativa, entretanto, deve ser vista com a ressalva de que nĂŁo se sabe se em 2010 haverĂĄ ingresso maciço ou saĂda de recursos da caderneta.OministrodaFazenda, Guido Mantega, disse que o governo desistiu de reduzir a tributação dos fundos de renda fixa neste ano. â—? PĂ G. B1
Carro a ĂĄlcool polui tanto quanto o que usa gasolina
Tribunal afasta juiz, mas mantĂŠm censura ao ‘Estado’
Medição feita pelas montadoras sobre emissĂŁo de gases da frota de 2008 mostra que carrosmovidosaĂĄlcoolpoluemtanto quanto os modelos a gasolina. Os dados foram reunidos na Nota Verde, do MinistĂŠrio do MeioAmbiente.OrelatĂłrioindica ainda que motores mais potentes poluem menos. A tabela com a avaliação de todos os veĂculos monitorados foi colocada no site do Ibama, contrariando as montadoras. â—? PĂ G. A14
Vieira ĂŠ declarado suspeito; mesmo assim, sua decisĂŁo de cercear jornal permanece O desembargador DĂĄcio Vieira,queproibiuo Estado denoticiar a operação da PolĂcia Federal a respeito da famĂlia Sarney, foi afastado do processo pelo Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Segundo a decisĂŁo, Vieira nĂŁo tinha mais isenção para continuar no caso, do qual era relator, jĂĄ que criticou o jornal ao ser questionado pelos advogados do Estado sobre sua suposta amizade com os Sarneys. Os pares de Vieira nĂŁo aceitaram a exceção de suspeição pelo ale-
gado vĂnculo do desembargador com os Sarneys. Na interpretaçãodo tribunal, seessaexceção de suspeição tivesse sido aceita, a publicação de reportagens estaria liberada. Mas, como Vieira perdeu a isenção sĂł apĂłs ter tomado a decisĂŁo contraojornal, a censura estĂĄ mantida e serĂĄ analisada pelo novo relator.Falando“emteseâ€?,oministro Marco AurĂŠlio Mello, do SupremoTribunal Federal,disse que ĂŠ “verdadeira incoerĂŞnciaâ€? manter decisĂŁo de juiz considerado suspeito. â—? PĂ G. A4
Efeito Marina modifica agenda â—?â—? O governo acelerou a agenda
ambiental, desde que Marina Silva entrou na disputa eleitoral. A meta ĂŠ impedir que Dilma Rousseff seja afetada. â—? PĂ G. A14
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 47 DIAS
‘MĂdia ĂŠ inimiga das instituiçþes’, diz Sarney Congresso,inimigadasinstituiçþes representativasâ€?. Para o senador, existe uma “contradiçãoâ€?. “Quem representa o povo? Diz a mĂdia: somos nĂłs. E dizemos nĂłs, representantes do povo: somos nĂłsâ€?. â—? PĂ G.A6
AHMAD AL-RUBAYE/AFP
Em discurso sobre democracia e crise do sistema representativo, o presidente do Senado, JosĂŠSarney(PMDB-AP),disseontem que, com o avanço tecnolĂłgicodosmeios de comunicação, a mĂdia passou a ser “inimiga do
ED FERREIRA/AE
Para o senador, hå disputa por espaço
OFENSIVA – Sarney deixa a tribuna do Senado depois de discursar: ‘Quem representa o povo?’
Iraque
KEINY ANDRADE/AE
CADERNO 2
Mademoiselle Huppert em cena No Brasil para mostra de filmes e apresentaçþes da peça de teatro Quartett, a atriz
â—?â—?
7 8 9 10 11 12
francesa Isabelle Huppert fala ao Estado sobre sua carreira e sua fama de “difĂcilâ€?. â—?
ColĂ´mbia nega garantia sobre bases e se isola mais
Senado libera uso da internet na campanha eleitoral
AColĂ´mbiarecusou-seaconceder garantias por escrito de que os americanos nĂŁo usarĂŁo bases no paĂs para atacar os vizinhos. Com isso, provocou o fracasso da reuniĂŁoda Unasul, informa a enviada especial a Quito, Denise Chrispim Marin. A decisĂŁo acentuou o isolamento colombiano. â—? PĂ G. A10
OSenadoretirouda minirreforma eleitoral restriçþes ao uso da internet nas campanhas. O projeto, que para valer em 2010 ainda precisa ser votadopelos deputados,libera a livre manifestação de pensamentonossitesdenotĂcias, blogs, redes de relacionamentoedemensagensinstantâneas. â—? PĂ G. A8
NOTAS E INFORMAÇÕES
Obama adverte Wall Street Os bancos não se mostram dispostos a aceitar uma regulação mais severa. � Pà G. A3
Homem que atirou sapato ĂŠ libertado â—?â—? Jornalista, que tentou agredirBush,diztersidotorturado na prisĂŁo. â—? PĂ G. A13
â—?â—?â—?
Tempo: CAPITAL
26ÂşMĂ X.
â—? PĂ G. C2
15ÂşMĂ?N.
Dia começa frio, mas esquenta Ă tarde. Hoje: 72 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 16 â—? B. Economia: 16 â—? C. MetrĂłpole: 10 â—? D. Caderno2: 14 â—? E. Esportes: 4 â—? G. AgrĂcola: 12 Classificados: 130 anĂşncios
Aviação
Brasil tem 4 vezes mais acidentes â—?â—? Ă?ndice foi de 1,76 a cada 1 milhĂŁo de voos em 2008. MĂŠdia mundial ĂŠ de 0,4. â—? PĂ G. C1
agrĂcola A regiĂŁo de Jales (SP) aprendeu a cultivar e a lucrar com a uva niagara. â—?
â—?â—?
A2 ESPAÇO ABERTO
QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Umministroquesepõe acimadasinstituições
Agricultura– agendareativa?
JoséNêumanne
AndréMeloni Nassar
Definitivamente, nosso ministro da Justiça, Tarso Genro, se acha, como dizem os jovens hoje quando se referem a alguém que tenha um ego exagerado. Ora, direis, este não é um problema meu, nem seu, nem nosso, mas apenas dele, algo que deve tratar com um psicanalista no divã. O problema é que, com todo o gás inflado nesse ego pelo chefe Luiz Inácio Lula da Silva, Sua Excelência tem ultrapassado todos os limites da sensatez, qualidade da qual a Nação não pode abrir mão quando se trata do ministro da Justiça, certo? Pois é. No caso da extradição ou asilo do homicida italiano Cesare Battisti, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), o impetuoso gaúcho, que lida com as palavras como se estivesse domando potros numa estância, concedeu-se o papel que os coronéis de antanho atribuíam ao chefe de polícia: prender, manter preso e soltar, o suprasumo do mando, o poder em sua essência mais profunda e afrodisíaca, como definia o dr. Ulysses Guimarães.
Tarso Genro se empenha mais do que deve para soltar Battisti Procurado na Itália, como Josef Mengele o fora na Alemanha pós-guerra, Ronald Biggs na Grã-Bretanha e mais recentemente Rodríguez Abadia na Colômbia e nos Estados Unidos, Cesare Battisti procurou refúgio no Brasil, a exemplo dos nostálgicos do nazismo do clássico Interlude, do mestre do suspense no cinema Alfred Hitchcock. Aqui foi encontrado, preso e mantido no presídio da Papuda, em Brasília. O governo italiano, então chefiado por Romano Prodi, pediu sua extradição. O atual, sob a chefia de Sílvio Berlusconi, tem-se empenhado em levá-lo de volta aos cárceres pátrios. Com base na obviedade ululante de que a Itália é um país amigo, democrático, dispõe de uma Justiça que não costuma cometer arbitrariedades persecutórias e é respeitado por não ter cedido à tentação totalitária para combater o crime organizado, órgão técnico do Ministério da Justiça, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), recomendou ao titular da pasta que extraditasse o prisioneiro. No fim de novembro de 2008, foi publicado esse parecer do Conare, que se recusou a atender ao pedido de refúgio feito por sua defesa. Mas Genro não o aceitou e resolveu dar asilo político ao ex-integrante das Brigadas Vermelhas, que alega inocência. A decisão do subordinado foi avalizada pelo chefe. O presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva te da Esplanada dos Ministéapoiou publicamente seu subor- rios uma farpa com curare, o dinado, apesar das implicações terrível veneno indígena, na que o desenlace do episódio te- ponta. “A visão do ministro ria inevitavelmente nas rela- Tarso Genro não é sequer ções entre Brasil e Itália. Mas uma visão unitária do Minisisso é o de menos, pois nin- tério da Justiça”, comentou, guém espera que os italianos, lembrando o parecer contrácom uma relação de parentes- rio ao pedido de refúgio do itaco com o país que acolheu tan- liano emitido pelo Conare e tos imigrantes de lá egressos, definido pelo jurista como tenrompam relações por não te- do sido “coerente e muito rem atendido pelo parceiro seu bem embasado”. O desnecessário bate-boca pedido de extradição de um bandoleiro qualquer. Além do coincidiu com o anúncio pela mais, como ensinou o presiden- Polícia Federal, como o Conate da Dassault, Charles Edels- re subordinada ao ministro tenne, no recente imbróglio da da Justiça, de um programa compra dos caças para a Força de computadores, o Fim da LiAérea Brasileira, nesta socieda- nha, para impedir a entrada de materialista de nossos dias de foragidos do exterior no governantes não são mais esta- Brasil. Mesmo tendo sido medistas, mas meros representan- ra coincidência, não deixa de tes comerciais, que compram e revelar uma enorme incoerênvendem produtos de e para ou- cia do governo Lula. tros países para garantir emE queira Deus que se tepregos e eleitores nos pró- nham equivocado todos os jorprios. Mas é muita vela para de- nais, inclusive este, quando infunto parco. formaram que o voto a favor Battisti não é um herói da es- de Battisti poderá ser decisiquerda, muito menos da demo- vo na escolha do substituto cracia. É apenas um assassino do falecido ministro do STF foragido e localizado, como Carlos Alberto Menezes DiAdolf Eichmann, sequestrado reito. Era o que faltava no laem Buenos Aires pelo Mossad mentável incidente: mostrar e depois julgado em Jerusalém, a escolha de um juiz do Suprecaso que inspirou o clássico en- mo pelo primeiro magistrado saio de Hannah Arendt sobre a da Nação condicionada aos banalidade do mal. Mas o dou- caprichos de um ministro e to ministro acredita que idios- ao perdão a um sicário. ● sincrasia ideológica possa ser algo relevante a ponto de não José Nêumanne, jornalista levar em consideração os fatos, e escritor, é editorialista as relações bilaterais e o concei- do Jornal da Tarde to básico da civilização de que delitos contra a vida devem ser punidos. Seu empenho em manter o fugitivo no Brasil foi tal que, numa decisão inusitada, o relator do caso no STF, ministro Cezar Peluso, dedicou parte importante de seu voto pela extradição a execrar o exagerado interesse da autoridade pelo delinquente. Sua Excelência sentiu o agravo e reagiu como se a preservação de sua imagem tivesse prioridade sobre a higidez das instituições do Estado de Direito. Em vez de calar e aguardar, partiu para o revide e anunciou a iminência de uma crise institucional entre os Poderes Executivo, ao qual serve, mas que não chefia, e Judiciário, que ousou revogar seu alvará de soltura do preso in pectore (do peito). O presidente do STF, Gilmar Mendes, negou a perspectiva de uma crise entre Poderes por conta de um morador do presídio da Papuda, em Brasília: “Nós estamos num outro patamar civilizatório no País. Há muitos anos, nós não temos esse tipo de crise, e não se vai cogitar disso agora. Nós, no Supremo, temos proferido decisões extremamente importantes.” E atirou na direção Homens de preto do gabinete de outro ocupan-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Poupança Redução de juros ou aumento da carga tributária? O ministro Guido Mantega anunciou que o governo enviará ao Congresso, nos próximos dias, projeto para que incida Imposto de Renda sobre a poupança, cujo objetivo seria criar espaço para a redução da taxa de juros. Considerando que o espaço para reduzir a taxa de juros é muito limitado – pois se esta sofrer mais uma significativa redução corremos o risco de fuga de capitais e retorno da inflação –, fica evidente que o objetivo maior do governo é arrecadar cada vez mais, principalmente num ano eleitoral. A propalada abertura de espaço para a queda dos juros é conversa pra boi dormir. Quem duvidar leia as duas últimas atas do Copom ou pergunte a Henri-
que Meirelles, presidente do BC, que é quem realmente entende de economia nesse governo. CLAUDIO JUCHEM cjuchem@gmail.com
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Lula: “Passou a crise. Taxe-se a poupança.” ●
ROBERTO TWIASCHOR rtwiaschor@uol.com.br
São Paulo ● Enquanto isso, após mais de 15 anos de espera, poupadores pedem à Justiça que julgue logo a recuperação das perdas dos planos econômicos, já se esgotaram todos os recursos dos bancos e os clientes querem a grana de volta.
ENDEREÇO
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‘Estado’sob censura Fomos informados ontem pelo site do Estadão da primeira vitória do nosso jornal contra a censura imposta por um desembargador – agora comprovado – comprometido com a família Sarney, pois foi considerado suspeito, ou seja, em bom português, não tinha a necessária isenção para atuar no processo. A segunda vitória certamente será a revogação da decisão proferida por juiz suspeito. Só espero que o Ministério Público não esteja dormindo em berço esplêndido e tome as providências legais contra o juiz. MAURICIO FERREIRA DA SILVA
ANTONIO D’AGRELLA
mauricio.ferreira.adv@hotmail.com
antoniodagrella@yahoo.com.br
São Paulo
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mos que os temas atualmente mais centrais nasceram de reações a medidas tomadas pelo governo que são percebidas na área como prejudiciais aos produtores, seja incrementando custos, seja pondo em risco a propriedade da terra ou criando restrições adicionais à atividade produtiva. A agenda ofensiva do setor agrícola – ligada à abertura de mercados no exterior, luta contra subsídios em países desenvolvidos, ações com o objetivo de desenvolver políticas para aumentar a competitividade do setor produtivo, ou até mesmo o uso das questões ambientais a favor do setor – não parece estar presente hoje em dia no discurso das lideranças agrícolas. A consequência disso é que o setor corre o risco de ficar refém do governo, porque, em vez de estar trabalhando para persuadi-lo a fazer políticas que garantam a competitividade futura do produtor rural, acaba sendo puxado pelo governo na direção que ele quer. Os itens da agenda do setor agrícola que mais saltam aos olhos são a reforma do Código Florestal – que tem relação direta com o problema do desmatamento –, as questões agrárias – neste momento traduzidas pela discussão sobre os índices de produtividade para fins de desapropriação – e as questões de política agrícola. Todas elas são fruto de ação e reação: ação do governo e reação do setor produtivo. Nenhuma delas nasce a partir de uma estratégia de longo prazo orientada para aumentar a competitividade e a sustentabilidade dos produtos agropecuários brasileiros. Nunca foi segredo que o LOREDANO Código Florestal é um problema para o setor agrícola, sobretudo porque ele transfere parte da responsabilidade de preservação para o setor produtivo, o que é correto, mas sem compensações associadas a esse “serviço ambiental” (quando prestado de forma correta, obviamente). Esse assunto vinha sendo levado “em banho-maria” até o governo decidir fazer valer a lei incriminando quem não está em conformidade com o código. Agora, reativamente, o setor agrícola corre atrás do prejuízo para mostrar os problemas do Código Florestal e, assim, promover sua reforma. As teses defendidas pelo setor agrícola para a reforma do código, na sua maioria, fazem sentido. Só que, sendo uma reação, pouco se ganha em termos de credibilidade e de engajamento de setores da sociedade não ligados ao setor agrícola que poderiam ser partidários das preocupações dos produtores rurais. O segundo tema são as questões fundiárias e ligadas à reforma agrária. Depois de quase nove anos deste gover-
Em entrevista ao Estadão no mês passado, um conhecido cientista político afirmou que, entre outros setores, “o capitalismo agrário foi para dentro do governo”, ou seja, não faz oposição ao governo Lula. Melhor dito: não tem agenda própria. É uma afirmação que a mim incita discussão e merece análise mais detalhada, não somente do seu significado, mas também das suas implicações, caso ela esteja correta. Afinal, o “capitalismo agrário” brasileiro dança apenas a música do governo? A resposta a essa pergunta passa pela análise da agenda do setor. O que temos de questionar é o seguinte: a agenda do setor é apenas reativa e defensiva ou o setor tem uma agenda ofensiva que coloca pressão sobre o governo? Nessa perspectiva, sou obrigado a dizer que a agenda atual da agricultura brasileira é reativa. A expressão “capitalismo agrário” não é a mais adequada, mas serve ao proposto de definir a chamada agricultura comercial. Embora a agenda da agricultura comercial, em alguns dos seus itens, seja também a agenda do setor agroindustrial, o que interessa neste artigo é entender a agenda das organizações que representam os produtores rurais. Quando analisamos os itens que fazem parte da agenda do setor agrícola, concluí-
● Com essa agressão ao respeitável Estadão, creio que esse desembargador não só feriu a liberdade de imprensa, como atropelou o direito dos cidadãos de serem informados dos atos públicos. Mesmo que a normalidade democrática seja restabelecida, nada se passará com esse magistrado: nenhuma punição. Agiu como todo-poderoso e assim permanecerá. Ora, numa verdadeira democracia, tal como a vivida pelos gregos na Antiguidade, o referido funcionário seria destituído do cargo e rigidamente punido; para casos dessa natureza os cidadãos atenienses o condenariam à sua pena mais severa. Onde está o erro então? Está em que é negado aos cidadãos comuns
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julgar e punir diretamente detentores dos Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) que cometam atos em prejuízo da sociedade. J. VASCONCELOS prof.vasconcelos@terra.com.br
São Paulo ● Recordando o editorial Dilatando a censura (5/9, A3), não sou advogado, apenas tenho a percepção dos fatos. O desembargador precisa ser investigado (pela Polícia Federal) em todos os níveis e insistentemente. Enquanto ele perdurar impune, o “atraso” continuará esgotando a atenção pública sobre a censura judicial, institucionalizando esse instrumento. Será que a recente revogação da Lei de Imprensa não favoreceu o
no, já se sabe que um setor não consegue levar tudo o que quer. Quem criou essa condição foi o próprio governo, com sua estratégia de dar pelo menos uma cenoura a cada constituinte, mesmo que a cenoura de um possa vir em prejuízo de outro. Ou seja, este governo faz uma concessão de um lado, mas sempre exige um pagamento de outro. A barganha está posta. O que vale mais: a reforma do Código Florestal para não criminalizar os produtores rurais ou a revisão dos índices de produtividade para desapropriação para reforma agrária? O governo criou duas situações que impõem sanções e riscos adicionais ao setor produtivo e com isso fez do setor agrícola seu refém. É um acordo com o capeta. É bom saber que nunca se leva vantagem sobre o capeta. O terceiro tema central da agenda é a política agrícola. Mais uma vez o movimento do setor agrícola segue para crescente dependência do governo, quando devia estar se movendo no sentido contrário. Está ecoando novamente, no Brasil, o dis-
O ‘capitalismo agrário’ dança apenas a música do governo? curso de uma política agrícola mais presente – que, a meu ver, deveria ser chamada de mais intervencionista –, com o governo operando na garantia dos preços aos produtores. Esse movimento é reflexo de um acúmulo de endividamento que se vem agravando desde o início do Plano Real, dos problemas de competitividade da produção de grãos decorrente dos elevados custos de logística no País e da percepção dos produtores de que novas restrições estão chegando para ficar, sobretudo as de cunho ambiental. A saída, como reação, é fortalecer políticas que já se têm à mão e que dependem apenas do “lado amigo” do governo e não requerem grandes e complexas negociações. No entanto, como os problemas associados ao endividamento e aos altos custos de logística são reais, a saída via maior dependência do governo não é boa. É hora de o setor agrícola modernizar sua agenda, trabalhando nos temas do futuro e criando dependência do governo em relação ao setor, e não o contrário, como vemos hoje. O tema de meio ambiente poderia ser uma bandeira. É melhor internalizálo na agenda antes que o setor seja atropelado por ele. ● André Meloni Nassar é diretorgeral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). E-mail: amnassar@iconebrasil.org.br
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caminho para essa ação de censura? O direito coletivo à informação não pode ser superado por indivíduos protegidos pelos cargos públicos e pela “biografia” favorável ao Executivo, bem como, especialmente, ao Poder Judiciário. Também não têm significado a repercussão e a imagem negativas das citadas instituições. Para elas, é propaganda! Esse Poder precisa ser contido total e imediatamente, para acabar com a sua extrapolação generalizada. “Quem não escreve não se compromete e apaga a história da vida.” JÜRGEN DETLEV VAGELER vatra_ind@yahoo.com.br
Campinas
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Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Obama adverte Wall Street
W
all Street continua ameaçando a saúde financeira dos Estados Unidos e do mundo, alertou o presidente Barack Obama no primeiro aniversário da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers. Passada a pior fase da crise financeira internacional, os maus hábitos estão de volta “e isso enfatiza a necessidade de mudança, mudança já”, disse o presidente. “Não podemos permitir”, acrescentou, “que a história se repita.” Mas grandes bancos ajudados pelo governo já voltaram a ser lucrativos, devolveram o dinheiro recebido, partiram para novas aventuras e seus dirigentes não se mostram dispostos a aceitar padrões de segurança muito mais severos do que os que havia antes da crise. Obama e seus colegas do Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento, terão de incluir esse desafio na pauta de sua próxima reunião, nos dias 24 e 25 em Pittsburgh. A cada dia os efeitos da crise se atenuam, os bancos se aprumam e a reforma financeira se torna politicamente mais difícil. Desta vez, os grandes banqueiros decidi-
ram agir antes do encontro de cúpula do G-20. Em carta aos governantes, diretores do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), mantido por 375 instituições de 70 países, defendem uma reforma “equilibrada”, com atenção ao “impacto no crescimento econômico”. Será preciso, segundo eles, “evitar medidas capazes de inibir o funcionamento eficiente dos mercados e a reativação dos fluxos de crédito nacionais e internacionais”. Não há motivo, segundo a carta, para temer um retorno às práticas habituais (“business as usual”). Desde o fim de 2007, de acordo com o documento, os bancos diminuíram a alavancagem, adotaram práticas mais prudentes e tomaram medidas para melhorar a governança, aumentar a transparência e assim por diante. Mas a quebradeira, parecem ter esquecido os autores da carta, começou para valer em 2008 e o desastre se ampliou a partir de setembro. Além disso, como observou o presidente Obama, bancos importantes estão, sim, voltando ao “business as usual”, financiando clientes de alto risco e operando com títulos duvidosos no mercado de derivativos.
A reação da China
A
o reagir com rapidez sem precedentes à decisão do presidente americano Barack Obama de impor sobretaxa aos pneus chineses que entram nos Estados Unidos, a China deu um sinal claro de que agora está disposta a utilizar todos os instrumentos de defesa comercial a que pode recorrer e empregará seu peso no comércio mundial para defender seus interesses, quaisquer que sejam seus adversários. São dois contendores de grande peso, pois a China deve tornar-se, neste ano, o maior exportador do mundo, superando a Alemanha, e os Estados Unidos continuam sendo o maior importador do mundo. A sobretaxa de 35% sobre os pneus chineses, já taxados com 4% quando entram nos EUA, foi anunciada na sextafeira passada por Obama, atendendo às pressões de sindicatos americanos de trabalhadores da indústria de pneus que o apoiaram na campanha eleitoral. Na primeira oportunidade que teve, na segunda-feira, o governo de Pequim apresentou queixa contra a medida na OMC e anunciou o início de investigações sobre as exportações americanas de carne de frango e autopeças por suspeita de dumping, isto é, a venda no exterior a preço inferior ao praticado no mercado interno ou ao custo de produção. Assim, estende para outras áreas a disputa com seu principal parceiro comercial. O governo chinês acusa o americano de não ter respeitado os compromissos assumidos na reunião do G-20 (o grupo dos países mais ricos e dos
principais emergentes), de evitar a adoção de medidas protecionistas para enfrentar a crise e de abusar de medidas comerciais que podem enfraquecer as relações entre os dois países. O presidente Barack Obama afirmou que seu governo “está comprometido a expandir o comércio e a ter novos acordos comerciais”, mas ressalvou que tão importante quanto abrir mercados é manter as regras locais. Do ponto de vista de valores, o caso dos pneus parece irrelevante. A sobretaxa imposta por Washington afeta importações que, no ano passado, so-
No ringue da OMC a disputa entre os dois gigantes do comércio mundial maram US$ 1,8 bilhão, valor ínfimo se comparado ao volume do comércio bilateral. Só no primeiro semestre deste ano, o déficit comercial americano com a China alcançou US$ 103 bilhões, e continua a crescer. Mas o caso pode ter outras implicações. Ele mostra como Obama retribui o apoio que recebeu para vencer a eleição presidencial. Os sindicatos alegaram que a entrada de pneus chineses no mercado americano levou à destruição de 7 mil empregos nos EUA – e, na campanha eleitoral, Obama garantira que não trocaria a defesa dos trabalhadores americanos por um bom acordo com a China. A China, porém, respondeu pronta e pesadamente à sobretaxa aos pneus – parte dos quais fabricados pela empresa
A oposição a grandes mudanças ficou mais ostensiva na entrevista concedida em Washington, na segunda-feira, pelo diretor-gerente do IIF, o economista Charles Dallara. “Não estamos convencidos de que isso seja necessário”, disse o economista, comentando a proposta do governo americano de maior exigência de capital no caso das instituições “sistemicamente importantes”, isto é, daquelas com potencial para causar maiores danos em caso de dificuldades. Ele também se declarou contrário à adoção de um limite fixo para alavancagem, isto é, para as aplicações financiadas com endividamento, e à imposição de tetos para a remuneração de executivos. Mesmo entre os defensores de regras mais severas para a segurança dos bancos há divergências. Os governos e as mais importantes instituições multilaterais, como o Banco de Compensações Internacionais (BIS), têm proposto esquemas de regulação mais rigorosos que aqueles em vigor nos Estados Unidos e em várias economias desenvolvidas, mas ainda não há acordo sobre detalhes importantes. Além disso, pelo menos par-
te das mudanças dependerá da aprovação de leis. Nos Estados Unidos, a eficácia das novas normas poderá depender da ampliação do papel do Federal Reserve (Fed), o banco central, mas não há acordo sobre esse ponto entre os políticos. Ainda haverá muito espaço para o setor financeiro manobrar politicamente e tentar influir nas decisões dos congressistas. Talvez os bancos sejam uma clientela difícil de defender perante o eleitorado – quase certamente mais difícil do que a agricultura e a indústria. Esse dado poderá favorecer o presidente Obama, quando for preciso discutir no Congresso as propostas de reforma. Mas seria um erro menosprezar o poder de fogo do setor financeiro e de seus defensores em Washington. Não se pode culpar apenas o governo republicano de George W. Bush pela insuficiente regulação do setor financeiro americano. Parte importante da responsabilidade cabe à administração democrata de Bill Clinton. Os banqueiros não poderão evitar uma nova regulação, mas ainda poderão batalhar por um sistema não muito mais severo que o atual. Nesse caso, o mundo financeiro não será muito mais seguro do que hoje.
A doença do sistema americana Goodyear –, ameaçando com retaliação os exportadores americanos de carne de frango e de autopeças, dois setores politicamente importantes para Obama. O setor de frango conta com o apoio de um dos mais ativos lobbies e vem pressionando o governo para abrir e garantir mercados externos, porque o doméstico está saturado. Já o setor de autopeças emprega muitos trabalhadores sindicalizados e tem influência política importante no Partido Democrata. As exportações americanas de autopeças para a China são relativamente modestas, mas a importância da discussão – como no caso dos pneus chineses – não está nos valores envolvidos. Ela é importante por tudo o que pode trazer à mesa de discussões, como, por exemplo, os bilionários subsídios que o governo de Washington concedeu às grandes montadoras do país, para lhes assegurar a sobrevida. Quaisquer que sejam as conclusões da queixa apresentada pela China na OMC e de sua investigação sobre prática de dumping pelos EUA, este é um embate que, por envolver dois dos maiores participantes do comércio mundial, deve ser acompanhado com atenção pelos demais, pois dele podem surgir novas oportunidades de comércio. Mas é uma disputa importante também porque começa num momento em que o comércio mundial enfrenta uma onda de protecionismo, que poderá ser afetada pelo resultado desse embate.
Q
uando uma democracia é ainda jovem e “dada a experimentos”, como observou polidamente o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, ao comentar os problemas políticos e jurídicos criados pelo vaivém das normas que (des) governam o sistema no Brasil, todo cuidado deveria ser pouco para impedir que as mudanças atropelem o que ele denomina “o ordenamento muito claro das regras e das atitudes”. À falta disso, ou melhor, ao prevalecer o oposto disso, pela combinação de oportunismo e insensibilidade com que o Congresso adapta aos seus interesses o marco regulatório da ordem democrática, ela se torna enfermiça – e, como tal, submetida à lei do mais forte entre os participantes do jogo do poder. A relação entre representantes e representados desanda à medida que se infunde perversamente nas instituições que a encarnam o princípio da incerteza próprio das disputas eleitorais. Nas democracias, incerto deve ser o desfecho desses embates, não o efeito da manifestação das urnas. Alheios a essa verdade elementar, os políticos se preparam para dar vigência imediata à proposta de emenda constitucional que cria cerca de 7.700 novas vagas de vereador em todo o País. Já não bastasse o absurdo – um trem da alegria percorrendo o território nacional –, o projeto em tramitação na Câmara dos Deputados trará a aberração de recompor as Câmaras Municipais eleitas em 2008. Isso porque elas não serão meramente
engordadas com a efetivação de um certo número de suplentes. Os cálculos a partir dos quais as cadeiras em cada Casa foram distribuídas entre os partidos, conforme o sistema proporcional adotado no Brasil, terão de ser refeitos, o que significa que vereadores no exercício legítimo de seus mandatos poderão ser cassados, a fim de dar lugar a outros que tinham ficado no banco dos reservas. “Isso mexe em todo o processo eleitoral e também nos efeitos dos atos daqueles vereadores”, argumenta o ministro Gilmar Mendes. Ele considera “extremamente difícil”
A absurda PEC que cria as novas vagas de vereadores em todo o País que a emenda entre em vigor tão logo seja promulgada. Mendes acredita que a aplicação da nova regra será contestada no Supremo Tribunal e que há “grande possibilidade de esta contestação vir a ser acolhida”, o que remeterá o início da vigência da emenda para depois das eleições municipais de 2012. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Ayres Britto, raciocina na mesma linha. “Uma emenda não substitui a voz das urnas para eleger quem não foi eleito”, diz. Esse, de toda maneira, não é o único caso de instabilidade das normas democráticas. Nem o Congresso é o único promotor da desordem. A própria Justiça Eleitoral fez a sua parte ao decidir em dois casos de cassação de governadores por cri-
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Midiainimiga... Lendo o discurso do coronel maranhense (ou será amapaense?) para comemorar o Dia Internacional da Democracia, chamou a atenção a não-citação de que na democracia a imprensa é livre, não sofre censura. Diz ele: “Somos su-jeitos a essa crítica diária, porque nós tomamos as decisões todas aqui, à luz do dia. Quer dizer, ela começa e termina com a Nação assistindo e, então, isso serve de uma crítica permanente.” Ou seja, gostaria, pelo visto, que a imprensa calasse e o Senado continuasse com os mesmos desmandos – nomeações escusas, compra de apartamento por construtora, abortar a fiscalização da Receita Federal, Judiciário ajoelhado ante o Legislativo e sabe-se lá o que mais, pois a ordem é procurar um
amigo para calar a imprensa. JOSÉ ROBERTO PALMA palmapai@ig.com.br
São Paulo ● Sr. Sarney, a mídia não é inimiga dos “representantes” do povo, e, sim, age como fiscal da bandalheira promovida por aqueles que nos deveriam representar de forma limpa e transparente. Não se esqueça de que no frigir dos ovos o senhor é nada mais que um empregado do povo e tem deveres e obrigações a cumprir. Se não o faz de forma correta, é dever da mídia expor isso.
“
O pré-sal vai resgatar a imagem do Congresso, resgatando os precatórios?”
CarlosPachecoFernandesFilho c-pacheco-filho@uol.com.br SãoPaulo
pois S. Sa. critica os jornais como inimigos das instituições porque estes têm a coragem de denunciar as inúmeras falcatruas do “eminente” senador. ANTONIO A. M. RUDGE
MARCUS COLTRO
aamrudge@gmail.com
marcus@femorale.com
São Paulo
São Paulo
O discurso do sr. José Sarney chega às raias da amoralidade, ●
Democraciaou ditadura? Alguém ainda duvida de que exis-
te uma ditadura no Brasil? Lula usa o dinheiro do erário como se fosse dele. Andou perdoando dívidas de vários países sul-americanos. Agora, fez uma transação bilionária com a França, na compra de aviões, helicópteros e submarinos, sem fazer nenhuma consulta à Força Aérea Brasileira, à Marinha ou ao Ministério da Defesa. Declarou simplesmente: “Compro os aviões quando eu quiser.” E a censura imposta ao Estadão quando vai terminar? O que os membros do STJ estão esperando para cassar a liminar concedida por um juiz sob suspeição, pois é íntimo da família Sarney? Será que estão aguardando “instruções” do presidente Lula para saberem como agir? Com tudo isso acontecendo, será possível afirmar que o Brasil é uma democracia?
mes eleitorais – na Paraíba e no Maranhão – que eles deveriam ser substituídos pelos segundos colocados nos respectivos pleitos. A decisão causou espécie sobretudo no Maranhão, onde a nova governadora, Roseana Sarney, também é acusada de delitos como os que o TSE entendeu terem sido praticados por seu adversário Jackson Lago. Mas a questão não se limita à sucessão dos titulares destituídos – realizar novas eleições é decerto a melhor alternativa. O espantoso é que, dos 27 governadores vitoriosos em 2006, foram abertos processos por corrupção eleitoral contra nada menos de 8. (Três foram cassados e 2, absolvidos. As ações contra os 3 restantes foram suspensas pelo ministro Eros Grau, do STF, em liminar que beneficiou igualmente mais de 70 senadores e deputados federais.) O problema estrutural é evidente. A tendência para a transgressão nas campanhas políticas supera amplamente a capacidade dos tribunais eleitorais e do Ministério Público de reprimir o abuso a tempo e a hora. “As medidas teriam de ser preventivas. No curso da campanha, no ato das infrações e, no máximo, no período entre a eleição e a posse”, assinala Gilmar Mendes. “O que não é razoável é cassar vários governadores, dizer que quem perdeu a eleição ganhou o cargo, e considerar que isso está adequado à democracia.” Além da aceleração do rito – algo que vem se tentando há mais de uma década –, a conduta ilícita não pode ser ou ignorada ou punida com a cassação do mandato. Quando a escolha é apenas entre o tudo e o nada, em geral ganha o nada.
ADOLFO ZATZ dolfizatz@terra.com.br
São Paulo
Quantadiferença A propósito do excelente e oportuno artigo Saudades de Itamar e Hargreaves, de Alexandre Barros (15/9, A2), que diferença brutal do comportamento do presidente Lula e de seus ministros, hein?!
ra, é falar em corda em casa de enforcado, pois nada foi feito para amparar os que foram desempregados pela medida. Mas Lula tem razão para comemorar, pois, se mantiver esse recorde constante, terá de pedir mais seis anos de mandato só para cumprir a meta de 10 milhões de novos empregos. ANA CLAUDIA CARLETTO claudiacarleto@yahoo.com
São Paulo
FAUSTO RODRIGUES CHAVES faustochaves@uol.com.br
São Paulo
Cordaemcasadeenforcado Lula foi muito mal recebido em Roraima pelos agricultores despejados da Raposa-Serra do Sol, onde anunciou a criação de 150 mil empregos no mês passado. Pude-
Esclarecimento Não são verdadeiras as afirmações do leitor Hermínio Silva Júnior (14/9), atacando e desrespeitando a ex-prefeita Marta Suplicy. MONTSERRAT BEVILAQUA, assessora de Imprensa de Marta Suplicy mbevilaqua2003@yahoo.com.br
São Paulo
A4
QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 47 DIAS
Presidenciáveis tucanos reforçam união para 2010 Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) se encontraram pelo segundo dia consecutivo q PÁG.A9
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Juiz é declarado suspeito no caso do ‘Estado’, mas TJ mantém censura Conselho Especial afasta Dácio Vieira do processo por causa das críticas feitas ao jornal quando rejeitou recurso Mariângela Gallucci BRASÍLIA
Os integrantes do Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DistritoFederal(TJ-DF)decidiram ontem afastar o desembargador Dácio Vieira do processo no qual ele proibiu o Estado de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A censura, porém, continua. Relator do caso no TJ, Vieira foioautordadecisãoquecensurou o jornal. Por maioria de votos, os desembargadores do conselho concluíram, em sessão sigilosa, que Vieira não tinha isenção para continuar como relator, por causa de suas críticasaojornal.Vieiraatribuíra ao Estado e à mídia “ação orquestrada mediante acirrada campanhacomonítidopropósito de intimidação”. Vieirafezessas críticas aorejeitar o primeiro recurso encaminhado pelo jornal, uma exceção de suspeição. A defesa sustentava que o desembargador não poderia atuar no caso, pois tinha relações com a família Sarney. Com base na recusa e nos argumentos do juiz, o Estado ingressou com nova exceção desuspeição.Ontem, naprimeirafasedojulgamento,oTJrejeitouoprimeirorecurso,masacolheu o segundo e afastou o juiz. Em julho, reportagem do Estado mostrou que Vieira, exconsultor jurídico do Senado, era do convívio social da família Sarney e do ex-diretor-geral Agaciel Maia. O desembargador foi um dos convidados do casamento de Mayanna Maia, filha de Agaciel, em junho. Dácio, Sarney, Agaciel e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) até apareceram juntos em uma fotodocasamento,nacolunasocial do Jornal de Brasília. RELATOR
De acordo com o relator dos dois recursos, desembargador WaldirLeôncio,oEstado continuaimpedidodedivulgarreportagens sobre a operação da PF. Ele disse que caberá ao novo relator do caso, Lecir Manoel da
MORDAÇA NA IMPRENSA
ÍNTEGRA DA NOTA
Cronologia do caso 17/8 ● Mendes cobra decisão rápida sobre o caso. O advogado Manuel Alceu ingressa no TJ-DF com um novo recurso. Por meio de embargos de declaração, ele requer ao desembargador Lopes Júnior que esclareça pontos de sua decisão
21/8
31/7 O desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, informa o Estado da proibição de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica (PF), envolvendo o empresário Fernando Sarney, filho de José Sarney ●
1/8 ● Jornal revela que Vieira, ex-consultor do Senado, é do convívio dos Sarney e do ex-diretor do Senado Agaciel Maia. A Associação Nacional de Jornais (ANJ), outras entidades, senadores e o ex-ministro do STF Carlos Velloso criticam decisão
JUNTOS – Festa de casamento reuniu Dácio, Sarney, Agaciel e Renan
5/8
● O advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira pede que o desembargador que censurou o Estado imediatamente se declare suspeito para tomar decisões no processo. A exceção de suspeição é protocolada no próprio Tribunal de Justiça do DF. O requerimento sustenta que há laços entre Dácio Vieira, Fernando Sarney e Agaciel Maia
12/8 ● Estado entra com mandado de segurança. O recurso tem o objetivo de garantir o reconhecimento de direito líquido e certo, incontestável, que está sendo violado ou ameaçado por ato ilegal ou inconstitucional de uma autoridade
13/8 ● O desembargador Waldir Leôncio Cordeiro, da 2.ª Câmara Cível do TJ, mantém censura ao jornal, ao não acolher pedido de liminar no mandado de segurança. Cordeiro deixa para deliberar após receber dados de Vieira e da Procuradoria
10/8 3/8 ● O líder Arthur Virgílio (PSDB)
pede ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que abra sindicância contra Vieira. Para ministros do STF, juristas, advogados e promotores, Vieira contrariou a Constituição e violou a liberdade de imprensa
Luz,decidir se mantémou não a liminar que impôs a censura. Se a primeira exceção de suspeição, sobre a amizade entre DácioeosSarney,tivessesidoaceita pelo TJ, a censura ao jornal
● Associação Mundial
de Jornais (WAN) e Fórum Mundial de Editores (WEF), que representam 18 mil publicações, 15 mil sites e mais de 3 mil empresas em mais de 120 países, enviam carta a Lula e ao presidente do STF, Gilmar Mendes, criticando liminar da censura
que é competente para julgar o processo. Caso segue para Conselho Especial do TJ. Ministro Marco Aurélio Mello, do STF, critica censura ao Estado. Entidades continuam a repudiar a censura
estaria suspensa. No início da noite, a assessoria de comunicação do TJ divulgou uma nota no site do tribunal confirmando as informaçõessobreocaso. “Amanifesta-
ção do desembargador na primeira exceção de suspeição gerouumainsegurançanapermanência de imparcialidade dele”, informou.“Somenteonovorelator poderá confirmar ou não a
● O desembargador Vieira conclui
Para Marco Aurélio, ‘mínimo domínio’ do direito mostra nulidade da liminar
Advogados e juristas consultadospeloEstadoveemincoerência na decisão do Pleno do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). Avaliamque,seummagistrado é declarado suspeito para conduzir uma ação, medidas por ele adotadas em qualquer fase da demanda devem ser revistas e tornadas automaticamente sem efeito. “A consequência natural é a insubsistênciados atospraticados por magistrado dado por suspeito”, declarou o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). “Qualquerpessoa quetenha do-
mínio mínimo na áreade direito vai reconhecer que a consequência é essa: insubsistência do ato praticado.” O ministro fez essas observações “em tese”, sem se referir especificamenteaocaso dacensura ao Estado porque não pode fazê-lo, uma vez que não conhece os termos nem atua na demanda em curso no Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Indagado sobre a validade de decisões tomadas por juiz cuja suspeição é reconhecida pelos próprios pares, Marco Aurélio foi enfático. “Seria verdadeira incoerênciamanteratoformalizado por pessoa dita sem equidistância para pronunciar-se.” “Não entro no mérito da cau-
FRASES
Luiz Flávio Gomes Jurista “Afirmada a suspeição pelo arguido, ou declarada pelo tribunal, ter-se-ão por nulos os atos por ele praticados. É o que diz o artigo 285, recepcionado como lei pela Constituição” “Ou seja, vale para o STF e é aplicado por analogia a todos os demais tribunais do País. É inequívoco o texto. Então está tudo nulo. Caiu tudo o que ele fez. A censura contra o Estadão acabou”
● Estado ingressa com nova exceção de suspeição do desembargador Dácio Vieira. A base do recurso é extraída da própria decisão de Vieira, quando ele ignorou um primeiro pedido para que se declarasse suspeito no caso
29/8 ● A Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), alarmada com o número de atentados à liberdade de imprensa na América Latina, convoca 14 entidades para debater o problema no Fórum de Emergência sobre Liberdade de Expressão
Ontem 14/8
Ministro do STF ‘em tese’ considera decisão incoerente Fausto Macedo
O Conselho Especial do TJDF, reunido em sessão reservada na tarde desta terça-feira, 15 de setembro, acompanhada apenas pelos advogados do jornal O Estado de S. Paulo, decidiu com relação aos pedidos de “exceção de suspeição” opostos pelo referido jornal contra a permanência do desembargador Dácio Vieira. Segundo o desembargador relator dos pedidos de suspeição, o agravo de instrumento continua suspenso. O julgamento das duas exceções não interfere na decisão anteriormente tomada pelo desembargador Dácio Vieira, uma vez que são dois temas distintos. As exceções apreciaram a imparcialidade do desembargador Dácio Vieira, prevalecendo a decisão de que, quando ele decidiu a liminar, no agravo de instrumento, o desembargador não era suspeito. Por isso, a primeira exceção foi rejeitada. A segunda exceção foi acolhida em razão de fato superveniente que envolveu a pessoa do julgado, no caso, o desembargador Dácio Vieira. De acordo com o tribunal, a manifestação do desembargador na primeira exceção de suspeição gerou uma insegurança na permanência de imparcialidade dele. Assim, o conselho acolheu a segunda exceção de suspeição e foi determinada a sua redistribuição. Somente o novo relator poderá confirmar ou não a decisão tomada pelo desembargador Dácio Vieira no agravo de instrumento. ●
●●●
● TJ-DF declara Vieira suspeito para decidir sobre o pedido de censura. A decisão afasta o desembargador do caso. O agravo de instrumento de Fernando Sarney será redistribuído para outro desembargador do mesmo tribunal
decisão.” DEFESA
ParaoadvogadodoEstado,Manuel Alceu Affonso Ferreira, “não estava em causa a integri-
sa. Mas a ordem jurídica direciona nesse sentido. Seria uma incoerênciaassentar ocomprometimento de quem atuou e manter um ato por ele formalizado”, argumentou. “A rigor volta à estaca zero, novo relator terá de apreciar o pedido que originou a ação. Uma consequência lógica.” O jurista Luiz Flávio Gomes destaca o artigo 285 do Regimento Interno do STF. “Afirmada a suspeição pelo arguido, ou declarada pelo tribunal, terse-ão por nulos os atos por ele praticados. É o que diz o 285, recepcionado como lei pela Constituição. Ou seja, vale para o STF e é aplicado por analogia a todos os tribunais do País. É inequívoco o texto. Então está tudo nulo. Caiu tudo o que o desembargador Dácio Vieira fez. A censura contra o Estadão acabou.” BASE JURÍDICA
CERTEZA – ‘Não têm validade’, diz
Luiz Gomes avalia que, “se ele é suspeito,entãonãoéum juizimparcial, logo todos os atos dele nãotêmvalidadejurídica”.Oadvogado observa que o regimento do STF é a base jurídica “que se aplica e deve ser aplicada” por todos os juízes. “Quando o
dade do desembargador Dácio Vieira, o que estava em causa eraorequisitobásicodaneutralidade da Justiça”. “O resultado geralé positivo para o Grupo Estado na medida em que afasta o desembargadorprevento–esuspeito, conforme confirmado pelo tribunal – da apreciação de quaisquer recursos relativos ao pleito de Fernando Sarney. Restaaguardar,comrazoávelexpectativa,adecisãododesembargador Lecir Manoel da Luz”, disse MarianaUemuraSampaio,diretora jurídica do grupo. ●
juiz é reconhecido suspeito, automaticamente seus atos estarão nulos. O regimento do STF vale para todos os tribunais.” O ex-presidente do STF Carlos Velloso faz uma reflexão sobre o artigo 285. “O que é preciso considerar é a razão da existência desse dispositivo. A razão que levou o Supremo a elaborar essa norma é igual para todos os tribunais. Ela não é umarazãoapenasparaoSupremo, é para todos os tribunais e para todo e qualquer juiz.” O advogado Fábio Romeu CantonFilho,conselheiroe presidente do Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo,écategórico.“Nãoconheço processualmente esse caso, mas se um tribunal entende que determinado juiz é suspeito para atuar em determinado caso todas as decisões por ele tomadas devem ser revistas.” Canton Filho considera que “o juiz suspeito não pode judicar no processo”. “Se a suspeição foi declarada e era decorrente de fato prévio ao processo ou à decisão proferida, seja qualforela, essadecisãonão pode prevalecer porque eivada de nulidade.” ●
A6 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
Pesos pesados
CONGRESSO
‘Mídia é inimiga das instituições’, diz Sarney Para peemedebista, Legislativo é criticado por tomar decisões ‘à luz do dia’ ED FERREIRA/AE
No início do ano, quando começaram a se acumular problemas para o lado do PMDB – crises no Congresso, denúncias de avanço indevido sobre os fundos de pensão de estatais e acusações internas de corrupção e fisiologismo –, um dirigente do partido farejou as consequências: “Isso pode nos prejudicar em 2010, se perdermos a condição de noiva cortejada para virar uma companhia mal-afamada.” O que então era uma hipótese aventada por um pemedebista antenado hoje já se materializa como realidade na cabeça de petistas inquietos com os resultados das últimas pesquisas de opinião. A conjugação do desestimulante desempenho da ministra Dilma Rousseff com o alto grau de rejeição aos meios e modos de atuação do presidente do Senado, José Sarney, e sua tropa de choque do PMDB – à qual se aliou o Palácio do Planalto – desperta em vários setores do PT a sensação de que o partido terá uma bagagem excessivamente pesada para carregar na eleição de 2010. Essa não é uma posição preponderante no governo – cujo plano continua sendo o de eleger Dilma em aliança formal com o PMDB –, mas é uma opinião que permeia o partido e começa a ser explicitada quase abertamente. Isso não quer dizer que haja a possibilidade de o PT vir a se rebelar contra a candidatura da ministra da Casa Civil. Essa é uma questão vencida, ao menos enquanto não houver uma segunda ordem por parte do presidente Luiz Inácio da Silva. Significa, porém, que o que até agora era um dogma vai se tornando alvo, senão de contestação, certamente de grande contrariedade interna. Principalmente depois que as pesquisas confirmaram o temor de que as cenas patéticas produzidas durante o processo de enquadramento do PT à tropa de choque de Sarney, Renan Calheiros e companhia, renderiam danos ao partido. A despeito de reconhecer a utilidade da formalização da aliança com o PMDB no tocante ao tempo para a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, os contrariados acham que o partido deveria pôr esse dado na balança, mas sem desprezar o peso do dano de imagem que poderia render uma chapa em que a divisão do poder estivesse expressa na figura do vice do PMDB. Além da ausência de Lula pela primeira vez na cédula eleitoral, os petistas teriam ainda de levar consigo uma candidata de atributos políticos reconhecidamente frágeis e um companheiro de chapa cuja conduta não inspira confiança (para dizer de forma amena) no eleitorado. Não representaria uma grande ajuda a uma agremiação também marcada por escândalos. Por essa ótica, a negociação de apoios pontuais com o PMDB e a formação da chapa oficial com Ciro Gomes de vice seria uma solução mais confortável. Até porque afastaria o deputado da disputa presidencial e, com isso, mais uma dificuldade para Dilma seria tirada do caminho. Leva-se ainda em consideração nessas conversas o fator Marina Silva. Com dois tipos de análises. As mais exaltadas defendem o voto na provável candidata presidencial pelo PV, sonham com um segundo turno entre ela e o tucano José Serra e com uma união do PT e adjacências na etapa final. Seus autores, claro, defendem a “desobediência civil” à orientação do Planalto. As mais prudentes preferem aguardar para ver se na seara de quem, do governo ou da oposição, a entrada de Marina causaria mais estragos.
Bagagem difícil de carregar na eleição já deixa os petistas inquietos
Casa de enforcado Em seu discurso de celebração ao Dia da Democracia, o senador José Sarney abraçou a tese de que “a mídia passou a ser uma inimiga das instituições representativas”. Segundo ele, questão “hoje discutida no mundo inteiro”. Afora a infelicidade da declaração – na essência e na oportunidade –, Sarney incorre em outros dois equívocos. Ponto um: só os países de regimes populistas e as ditaduras tratam os meios de comunicação como adversários. Ponto dois: só há conflito de legitimidade da representação naqueles em que as instituições exorbitam de suas funções constitucionais, abrem mão do exercício de suas prerrogativas ou fazem delas uso distorcido de forma a subverter o princípio do sistema representativo. Nesse desenho de substituição da defesa dos interesses dos representados pela submissão a conveniências outras é que se enquadra o Congresso ora presidido pelo senador José Sarney.
Voto camarão O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, lista aos correligionários do PMDB uma série de motivos para manter a candidatura ao governo da Bahia, no lugar de disputar o Senado como interessaria ao PT, a fim de reduzir a concorrência à reeleição de Jaques Wagner. Entre as razões está a convicção do ministro de que, uma vez fechado o acordo, o PT faria a campanha de Wagner e deixaria o candidato a senador da aliança no ora veja, a ver acarajés. ●
Carol Pires BRASÍLIA
“Amídiapassouaserumainimiga do Congresso, uma inimiga das instituições representativas.” A avaliação foi feita ontem pelo presidente do Congresso Nacional, o senador José Sarney(PMDB-AP),nasessãosoleneem homenagemao DiaInternacional da Democracia. “Atecnologia levouosinstrumentosdecomunicação a talnível que, hoje, a grande discussão que se trava é justamente esta: quem representa o povo? Diz a mídia: somos nós. E dizemos nós, representantes do povo: somos nós. É por essa contradição que existe hoje, um contraooutro,que,decertomodo,a mídia passou a ser uma inimiga do Congresso, uma inimigadasinstituiçõesrepresentativas”, discursou Sarney. O senador disse ainda que, “com as transformações da informática”, é possível “vislumbrar um voto virtual”. Para ele, isso reduziria a intermediação da imprensa na relação entre eleitores e parlamentares e reforçaria a “democracia direta”. O voto virtual, acrescentou o presidentedoSenado,teriaasegurança dos sites de bancos. “Com a mesma segurança com quemovimentamosnossas contasbancárias,poderemos,nofuturo,votar.Seráumgrandepasso. E será apenas o prenúncio de uma nova democracia, não mais inteiramente representativa, mas feita em parte de representantes, em parte da decisão direta do cidadão.” NOVA DEMOCRACIA
O prenúncio de uma “nova de-
DISCURSO – ‘Quem representa o povo?’, pergunta Sarney durante pronunciamento sobre democracia
FRASE
José Sarney Senador (PMDB-AP)
“É por essa contradição que existe hoje, um contra o outro, que, de certo modo, a mídia passou a ser uma inimiga do Congresso, uma inimiga das instituições representativas. Isso não se discute aqui. Estou repetindo aquilo que, no mundo inteiro, hoje se discute”
mocracia” foi feito no mesmo dia em que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal julgava um recurso do Estado contra a decisão do desembargador Dácio Vieira que impôs censura ao jornal, ao proibir a publicação
de notícias sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga os negócios sob o comando de Fernando Sarney, filho do senador. TRANSPARÊNCIA
Um dos personagens do escândalo dos atos secretos, Sarney afirmou,no discurso,que oCongresso é alvo de críticas diárias porque toma as decisões “à luz dodia”. “A grandediferençaentre os três Poderes é que, enquanto o Executivo e o Judiciário tomam decisões solitárias, o Legislativo o faz às claras.” O presidente do Senado foi personagemde umasérie de reportagens sobre atos administrativos que, apesar de não aparecernosboletinsoficiaisdaCa-
sa, serviram para contratar parentes de senadores e distribuir benefícios a servidores. As reportagens resultaram no pedido de abertura de onze processosno Conselho de Ética por quebra de decoro – todos arquivados posteriormente. Dois meses atrás, ao criticar o Estado, Sarney chegou a dizer que o jornal adotava práticas “nazistas” ao revelar a edição de atos secretos, consolidada ao longo de três gestões no comando do Senado. ●
Leia a íntegra do discurso do presidente do Senado, José Sarney
www.estadao.com.br/e/a6
Senador responderá a denúncias em jantar Recepção a colegas faz parte de estratégia para recuperar prestígio Rosa Costa BRASÍLIA
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), está articulando um jantar em sua residência para um seleto grupo de colegas, aos quais pretende apresentar uma cartilha com respostas a denúncias contra sua gestão, atribuídas por ele a uma “perseguição da mídia”. Os convites foram escritos a mão, pelo próprio Sarney, que excluiu do evento vários integrantes da base aliada, como o
senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e a senadora Ideli Salvatti (PT-SC)– o líder da bancadapetistadefendeuabertamente que o presidente da Casa se licenciasse. Inicialmente, o jantar estava marcado para ontem, mas acabou adiado. A assessoria de Sarney confirma que existe um livreto que respalda as acusações de Sarney à imprensa, mas que ainda passa por um processo de revisão e acabamento. O convite deixa clara a seleçãocriteriosaaomencionar“es-
pecial empenho” do presidente do Senado em receber “alguns colegas”.Nemoprimeiro-secretário da Mesa, Heráclito Fortes (DEM-PI), que durante a crise conseguiu salvo-conduto do DEMparanãosealinharaopartido no pedido de renúncia de Sarney, foi convidado. IMAGEM
O jantar faz parte de uma tentativa de Sarney reconstruir o prestígio abalado pelas denúncias que levaram a uma pressão por sua renúncia e que geraram
11 ações no Conselho de Ética – todas arquivadas. Simultaneamente, Sarney tem se reaproximado de jornalistas que vinha evitando no augedacrise, recorrendoaté mesmo a um cinturão de segurança que impedia a proximidade com repórteres. O presidente doSenadotemtentadocompensar o apoio público que deu ao filho, Fernando Sarney, na ação de censura ao Estado e a intervenção que determinou no setor de comunicação do Senado, cujo noticiário, que contemplava a cobertura da crise da instituição, o desagradou.
TV Senado abriu espaço para Sarney em telejornal A mudança na comunicação do Senado também faz parte do esforço de Sarney pela reconstrução da imagem. O comando da área foi entregue a Fernando César Mesquita, amigo e assessor de Sarney, que já providenciou um programa exclusivo para ele, nos mesmo moldes do que tinha quando presidente da República, o Conversa ao Pé do Rádio, e que foi absorvido pelo presidente Lula, sob outro título, Café com o Presidente. O programa atual, chamado AVozdoPresidente,temtrêsminutos no horário nobre, dentro dotelejornaldaTVSenado.Sarney aparece falando de assuntos debatidos durante a semana e, segundo a emissora, presta contas das atividades legislativas. ●
� Edição de
1h45
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
Carro flex polui menos se usar gasolina, mostra estudo
BALANÇO DE CONTRATAÇÕES E DEMISSÕES DESDE SETEMBRO DE 2008
Â
SET.
OUT.
NOV.
DEZ.
JAN.
FEV.
MAR.
ABR.
MAI.
JUN.
JUL. AGO.
CAGED/MINISTÉRIO DO TRABALHO
O JBS/Friboi adquiriu a Pilgrim’s Pride, segunda maior produtoradefrangodos EUA, e fundiu-se com a Bertin S/A. Com isso, o grupo, que jĂĄ era o maior produtor de carne bovina do mundo, passou a ser o maior em processamento de proteĂna animal. A empresa terĂĄ receita lĂquida de US$ 28,7 bilhĂľes, ou 2,4 vezes a da Brasil Foods, companhia que uniu Sadia e PerdigĂŁo. â—? PĂ GS. B17 a B21
Bolsa chega aos 60 mil pontos ��� O Ibovespa fechou o dia em 60.140 pontos, o que não ocorria desde julho de 2008. O dólar terminou em R$ 1,80 – chegou a ficar abaixo disso durante o dia –, menor cotação desde 22 de setembro. � Pà G. B6
NĂšMERO
90,4
mil cabeças de gado Ê a capacidade diåria de abate do novo grupo
INFOGRĂ FICO/AE
Câmara libera internet nas campanhas eleitorais
EUA: SURGE A QUESTĂƒO RACIAL
Carros com motor flex poluem menos o ar se usarem gasolina em vez de ĂĄlcool, constatou o InstitutodeEnergiaeMeioAmbiente. Os veĂculos bicombustĂveis da frota de 2008 emitem, namĂŠdia,0,71gramademonĂłxido de carbono por quilĂ´metro com ĂĄlcool, contra 0,51 grama com gasolina. O ĂĄlcool, porĂŠm, temefeitomenornoaquecimento global, pois a cana-de-açúcar absorve gĂĄs-estufa. â—? PĂ G. A22
Menos de duas horas depois de ter recebido o texto do Senado, a Câmara aprovou ontem a minirreforma eleitoral. Os deputados mantiveram a internet livre durante as campanhas, sem limites Ă atuação de sites jornalĂsticos, blogs e pĂĄginas pessoais, desde que assegurado o direito de resposta. Para valer jĂĄ em 2010, a nova lei precisa ser sancionada e publicada atĂŠ 2 de outubro. â—? PĂ G. A6
Legalização de bingos avança
ANĂ LISE
â—?â—?â—?
â—?â—?â—? Obama simula disputa com o esgrimista Tim Morehouse, em ato organizado na Casa Branca para promover a candidatura de Chicago a
cidade-sede da OlimpĂada de 2016; segundo Jimmy Carter, parte da oposição ao presidente dos EUA ĂŠ motivada por racismo. â—? PĂ GS. A16 e E5
ESPORTES
Prefeitura de SP reduz merenda em creches
BNDES vai financiar estĂĄdios da Copa de 2014 O BNDES vai abrir linha de crĂŠdito de atĂŠ R$ 400 milhĂľes para construção ou reformadecadaumdos12estĂĄdios da Copa do Mundo de 2014. O total disponĂvel serĂĄ de R$ 4,8 bilhĂľes. â—? PĂ G. E1 â—?â—? CoritibaeCorinthiansempataram: 1 a 1. â—? PĂ G. E3
BAPTISTĂƒO
Os alunos das creches municipais de SĂŁo Paulo receberĂŁo uma refeição a menos a partir desegunda-feira.Pelonovocontrato com as fornecedoras, as crianças do perĂodo integral, que fazem cinco refeiçþes, perderĂŁo ou o cafĂŠ da manhĂŁ ou o jantar. A terceirização da merenda ĂŠ investigada. â—? PĂ G. C8
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 48 DIAS q PĂ G. A15
O melhor de Saul GalvĂŁo â—?â—? Uma viagem pelos seus pratos e vinhos preferidos. â—?
NOTAS E INFORMAÇÕES
A censura mantida Este jornal continua sob censura, embora o juiz que a impôs tenha sido declarado suspeito. Foi essa a esdrúxula solução do TJ-DF. � Pà G. A3
â—?â—?â—?
Argentina
Câmara aprova lei de mĂdia â—?â—? Oposição boicotou votação. Texto irĂĄ agora ao Senado. â—? PĂ G. A16
FERNANDO REINACH
Como pensam os cachorros
â—?â—? Agora, cientistas es-
tudamocomportamento dos cĂŁes. â—? PĂ G. A24
7 8 9 10 11 12
â—?â—? A ComissĂŁo de Constituição e Justiça da Câmara aprovou ontem projeto que permite a legalização dos bingos, videobingos e caça-nĂqueis. A proposta, que vai a plenĂĄrio, prevĂŞ a destinação de 17% das receitas Ă UniĂŁo eaos Estados. â—?PĂ GS.C1eC3
Tempo: CAPITAL
29Âş MĂ X.
â—? PĂ G. C2
15Âş MĂ?N.
Sol, calor e ar seco; nevoeiro de manhĂŁ
Hoje: 112 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 26 â—? B. Economia: 24 â—? C. MetrĂłpole: 10 â—? D. Caderno2: 16 â—? E. Esportes: 6 â—? P. Paladar: 8 â—? Cl. Classificados: 22 (2.399 anĂşncios)
CADERNO 2
Ligado ao PT, Toffoli serĂĄ indicado por Lula ao STF
Diversidade marca estreias
�� Seis espetåculos misturam veteranos e novatos nos palcos. Julia Lemmertz (foto) estreia no fim de semana a peça Maria Stuart. �
RENATO MANGOLIN/DIVULGAĂ‡ĂƒO
Se o Estatuto da Igualdade Racialforaprovado noSenado,o Brasil ganharå um lugar na lista de Estados que um dia dividiram os cidadãos segundo raças oficiais. � Pà G. A2
CHARLES DHARAPAK/AP
DemĂŠtrio Magnoli Yvonne Maggie
Um Estado racial
DIRETOR:
RUY MESQUITA
JBS/Friboi se torna lĂder mundial no setor de carnes
Abertura de 242 mil vagas em agosto leva saldo de contrataçþes no ano a 680 mil gas. O bom resultado do mês passado foi explicado pela retomada das contrataçþes na indústria e pelo desempenho do setor de serviços. ComÊrcio e construçãociviltambÊmsedestacaram.NoParanå,metalúrgicos da Renault-Nissan e da Volvo encerraram greve após conquistarem reajuste de 7,67% – um aumento real (acima da inflação) de 3% – mais abono de R$ 2 mil. � Pà GS. B1, B3 e B4
(1891-1927)
17 de setembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42338
Criação de emprego formal ĂŠ a maior desde o inĂcio da crise O MinistĂŠrio do Trabalho registrou em agosto a criação de 242,1milpostoscomcarteiraassinada. O saldo foi recorde para o mĂŞs e quase o dobro dos 138,4 mil contabilizados em julho. Foi tambĂŠmomelhorresultadodesde setembro de 2008, marco da crise financeira mundial. Neste ano, atĂŠ agosto, o resultado lĂquido ficou positivo em 680 mil postos, apesar de janeiro ter registrado perda de 101,7 mil va-
JULIO MESQUITA
O advogado-geral da União, JosÊ Antonio Dias Toffoli, serå indicado pelo presidente Lula para o Supremo Tribunal Federal. Toffoli, de 41 anos, cuja carreira Ê ligada ao PT e a Lula, devesofrerresistênciadaoposição. O governo avalia que precisa ter mais força no STF em casos de seu interesse. � Pà G. A4
QUINTA-FEIRA, 17 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
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NOTAS & INFORMAÇÕES
A censura mantida
E
ste jornal continua sob censura prévia, embora o juiz que a impôs tenha sido declarado suspeito por seus pares para atuar no caso. Foi essa a esdrúxula solução que o Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) encontrou na terça-feira para afastar o relator da ação movida contra o Estado pelo empresário Fernando Sarney, desembargador Dácio Vieira – sem, surpreendentemente, invalidar a sua decisão que, no entender de juristas, advogados e promotores, violou o princípio constitucional da liberdade de imprensa. Ele proibiu que o jornal continuasse a publicar reportagens com base nas investigações da Polícia Federal sobre os negócios do filho do senador José Sarney, responsável pelas empresas da família. Em 1º de agosto, no dia seguinte à decisão, o Estado revelou que o desembargador Vieira, ex-consultor jurídico do Senado, tem relações de amizade com os Sarneys. E estampou uma foto em que ele aparece ao lado do senador, na festa de casamento da filha do ex-diretor-geral da Casa Agaciel Maia, de quem o político maranhense foi padrinho. Em seguida, o
jornal requereu que Vieira se considerasse impedido de julgar o processo. Ele preferiu declarar-se apto e atribuiu ao Estado e à mídia “ação orquestrada mediante acirrada campanha com o nítido propósito de intimidação”. Essas alegações respaldaram um segundo pedido para o seu afastamento (“exceção de suspeição”). Por 10 votos a 2, o Conselho do TJ acolheu o novo requerimento por entender que a manifestação de Vieira “gerou uma insegurança na permanência de imparcialidade dele”, conforme nota da assessoria de comunicação do Tribunal. Seria apenas lógico que daí decorresse a nulidade da liminar por ele concedida a rogo de Fernando Sarney. “A consequência natural é a insubsistência dos atos praticados por magistrado dado por suspeito”, sustenta o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). Falando em tese, ele reforçou: “Qualquer pessoa que tenha domínio mínimo na área de direito vai reconhecer que a consequência é essa: a insubsistência do ato praticado.” Não se trata apenas de uma “incoerência”,
Uso eleitoral da mineração
O
que sobra de oportunismo político é igual ao que falta de realismo econômico na ideia do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de aproveitar a revisão do Código de Mineração, em preparação pelo governo, para aumentar os royalties pagos pelas empresas mineradoras e transferir parte da receita adicional para o Fundo Social a ser formado com os recursos da União com a exploração do petróleo do pré-sal. Infelizmente para o País, o debate sobre a necessária reforma do Código de Mineração coincide com o período em que o Congresso deve discutir os quatro projetos de lei com que o governo Lula tenta viabilizar seu mirabolante programa do pré-sal. Um dos projetos cria o Fundo Social, que tem grande apelo social e, por isso, poderá tornar-se um grande instrumento da campanha da candidata governista em 2010. As mais de 80 emendas apresentadas pelos deputados para dar novas destinações a esse dinheiro que nem existe ainda são uma prova do imenso potencial eleitoral do Fundo. O ministro Edison Lobão não quis perder a oportunidade de também associar uma iniciativa sua a esse Fundo. “No novo Código de Mineração, nós já imaginamos a possibilidade de reservar recursos dos royalties para alimentar o Fundo Social do pré-sal”, anunciou, em depoimento no Senado. Atualizado pela última vez em 1967, o Código de Mineração precisa de mudanças que o tornem mais adequado às novas condições da economia. A
maneira como o governo vem tratando sua reforma, porém, assusta as empresas mineradoras de diferentes portes, cujos investimentos, em geral vultosos, têm prazo muito longo de maturação. Há pontos positivos nas mudanças em discussão. Um deles é o estabelecimento de prazo de até cinco anos para o início da produção pela empresa autorizada a explorar uma mina. Hoje, o detentor de um alvará de exploração pode reter a autorização pelo tempo que quiser, esperando a valorização para poder vendê-la. Enquanto isso, nada se produz.
Um Código de Mineração não se reforma de olhos na próxima eleição A criação de uma agência reguladora, à qual incumbiria determinar prazos e condições da exploração, também é positiva, se ela funcionar sem interferência do governo. Mas há um grande risco na mudança. Desde que a discussão começou, o ministro vem dizendo que é necessário elevar os royalties pagos pelas empresas. Voltou a repetir a tese no depoimento no Senado. Ele se considera insatisfeito com os 2% pagos pelas mineradoras, quando as empresas petrolíferas pagam 10%. Sua ideia é tornar os dois iguais. “Não vamos aumentar aleatoriamente, indevidamente”, ressalvou Lobão. “Temos de manter o setor mineral mais ou menos equilibrado com o que se faz no mundo todo. De outro modo, se aumentarmos
aqui os royalties desordenadamente, podemos deixar nossas mineradoras sem condições de competir com o mercado externo.” Em seguida, porém, deixou claro o rumo que a questão tomará, se isso depender dele: “Acho que (o royalty das mineradoras) está muito baixo.” As grandes mineradoras de outros países, que concorrem com a Vale, adorariam que o ministro fizesse mesmo o que pretende. O aumento afastaria do mercado, por perda de competitividade, o maior produtor mundial de minério de ferro. Isso porque, além de ter de pagar royalties muito mais onerosos, a Vale e as mineradoras que operam no País incorrem num custo tributário que é o mais alto entre todos os grandes países produtores de minérios. Estudo da empresa de consultoria Ernst & Young concluiu que a tributação brasileira sobre zinco, cobre, fosfato, níquel, potássio e rochas ornamentais é a mais alta no grupo de países pesquisados, entre os quais os principais concorrentes do Brasil, como África do Sul e Austrália. O Brasil tem a segunda maior carga tributária sobre bauxita, carvão mineral, caulim, manganês e ouro, e a terceira sobre o minério de ferro. Aumentar ainda mais o custo da mineração poderá até render algum benefício político-eleitoral para o governo, mas será desastroso para um setor que emprega milhões e responde diretamente por 40% das exportações e 5% do PIB do Brasil.
como diz o ministro. O jurista Luiz Flávio Gomes lembra que o artigo 285 do Regimento Interno do STF – que se aplica por analogia a todos os tribunais brasileiros – é inequívoco. “Afirmada a suspeição pelo arguido, ou declarada pelo tribunal”, reza o texto, “ter-se-ão por nulos os atos por ele praticados.” Logo, se o TJ não tivesse apelado para a criatividade, quem sabe com a preocupação de salvar a face de um dos seus – à custa, no caso, da liberdade de imprensa –, a censura prévia ao Estado teria caído imediatamente em seguida à constatação de que a imparcialidade do desembargador que a impôs não estava assegurada. Agora, com a engenhosa fórmula adotada pelo Conselho, caberá ao novo relator do caso, Lecir Manoel da Luz, decidir se mantém ou derruba a liminar da mordaça. O erro, portanto, é reparável. O que não tem conserto, pela má-fé que lhe dá origem, é a tentativa do senador Sarney de jogar a opinião pública contra a imprensa. Também na terça-feira, aproveitando a passagem do Dia Internacional da Democracia, o presidente do
Senado voltou a se dar ares de estudioso das realidades contemporâneas para dizer que “a mídia passou a ser uma inimiga do Congresso, uma inimiga das instituições representativas”. Segundo a teoria conspiratória com que busca se desforrar da imprensa por ter exposto o oligarca velhaco por trás do suposto estadista, a mídia se volta contra o Legislativo porque passou a competir com ele pela prerrogativa de “representar o povo” – um completo disparate. Se não se soubesse qual o intento dessa tosca incursão pela ciência política, seria o caso de se apiedar de seus pensamentos. O que não se pode omitir, de toda maneira, é que ele é o que é na vida política do País não pelas virtudes que se atribui, muito menos por seu descortino intelectual, mas graças ao império de comunicação que montou no seu Estado, operando em regime de virtual monopólio. Quando se fala hoje em dia no Brasil em “coronelato eletrônico”, o primeiro nome que vem à mente é o dele. Os recursos de poder da família Sarney se alimentam desse sistema – indissociável também dos negócios investigados pela Polícia Federal na operação que este jornal foi proibido de noticiar.
O segundo fracasso da Unasul
A
reunião de ministros das Relações Exteriores e da Defesa dos 12 países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), em Quito, só poderia terminar em retumbante fracasso – menor do que o fiasco da reunião de presidentes, em Bariloche, apenas porque os ministros resolveram se comportar com mais recato do que os chefes de governo e não permitiram o televisionamento dos debates. Afinal, o que a maioria dos membros da Unasul quer, o governo da Colômbia não pode dar. Os regimes bolivarianos do caudilho Hugo Chávez e de seus epígonos Evo Morales e Rafael Correa querem, em última análise, que a Colômbia não assine com os Estados Unidos um acordo de cessão de uso de bases militares que servirão para o monitoramento do tráfico de drogas no coração da região produtora de coca e nas rotas do Caribe e para o combate às Farc, a narcoguerrilha que há mais de 40 anos tenta tomar o poder pelas armas. Os governos bolivarianos da Venezuela, Bolívia e Equador elegeram os EUA como o inimigo a combater e farão o possível para impedir que Washington continue ajudando a Colômbia na luta contra a narcoguerrilha. O governo brasileiro, em mais esse caso, atua como linha auxiliar do coronel Chávez, exercendo forte pressão sobre Bogotá. O curioso é que os países que se dizem preocupados com a estabilidade da região – que, segundo eles, seria ameaçada pela presença de no máximo 800 soldados e civis norteamericanos na Colômbia – não
apenas não consideram as Farc um fator de grave perturbação regional, como não perdem oportunidade para fustigar o governo democrático do presidente Álvaro Uribe, que tem enfrentado a narcoguerrilha com bastante sucesso – graças à aliança com os EUA, que agora está renovando. Para o governo brasileiro, por exemplo, a narcoguerrilha é um problema exclusivamente colombiano. Daí nunca ter ajudado o país vizinho a combater efetivamente a narcoguerrilha, que já invadiu território brasileiro e matou soldados brasileiros. Mas quando a Colômbia deci-
Uma União que não transpõe o principal fator de desunião de renegociar um acordo de cooperação militar com os EUA, o chanceler Celso Amorim articula a reação contra aquela iniciativa e exige “garantias formais” do governo colombiano de que o acordo não resultará em agressões militares contra o território dos países vizinhos. O governo de Bogotá recusase a dar as tais garantias, até porque o texto do acordo ainda está sendo negociado e os outros países da Unasul, principalmente o Brasil, se recusam a dar explicações, como sugeriu a Colômbia, a respeito dos acordos de venda de armas e transferência de tecnologia militar que estão sendo feitos com países de fora da região – a França, no caso do Brasil, e a Rússia, no caso da Venezuela. “Temos um problema muito
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
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O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
tráfego por sentido, um deserto de microclima e um pavor visual. Se era possível plantar mais 120 mil árvores por aí, para que destruir as que embelezavam a Marginal do Tietê? E por que ainda não tinham sido plantadas, se era possível? Desculpas para tornar palatável um projeto errado. Invista-se em transporte, sem calendários eleitorais de inauguração, e todos viveremos muito melhor. SERGIO EJZENBERG sejzenb@attglobal.net
São Paulo ● Aloysio Nunes Ferreira, secretário-chefe da Casa Civil do governo do Estado, critica nossa gestão na Prefeitura (2001-2004) no artigo Marginal do Tietê, verdades e mentiras (15/9, A2). Diz que não investimos em Metrô e os túneis das Ave-
nidas Rebouças e Cidade Jardim foram obras malfeitas. Seus ataques não fazem o menor sentido. Não investimos em Metrô, responsabilidade do governo do Estado, que, aliás, até o momento entregou poucos quilômetros de linhas, se comparado o tempo em que sucessivas gestões apoiadas pelo secretário governam, porque herdamos uma cidade arrasada financeira e administrativamente. A prioridade era fazer o que compete ao Município: investir em corredores de ônibus (implantamos 105,9 km de corredores passa-rápido), construir terminais (entregamos dez novos e deixamos três em construção). Também implantamos o Bilhete Único, concretizando o conceito de rede única de transporte; distribuímos cerca de 6,4 milhões de bilhetes aos usuá-
“
Reconceituação: empáfia não assumida é virtude, empáfia atribuída é pecha indelével!”
LuisA.G.CalmondeBarrosBarreto barreto@terra.com.br SãoPaulo
rios. Para fazer isso tivemos antes de reestruturar o sistema de transportes do Município, implantando um modelo operacional baseado na combinação de linhas estruturais e locais. Retomamos a responsabilidade de regulação, organizamos a gestão do serviço de transporte e trânsito, com a aprovação e promulgação da Lei de Transportes (2001). Mais que tudo: combatemos a “máfia” que havia no se-
tor. Quanto aos túneis, a história é bem conhecida, mas vale lembrar. No final de 2003 tínhamos juntado dinheiro da operação urbana na Faria Lima, com a venda de Cepacs. O dinheiro só poderia ser aplicado naquela região. Queríamos investir no Metrô. Procuramos o governo do Estado, para a Prefeitura fazer a estação no Largo da Batata, junto ao corredor Rebouças. Mas o governo do Estado não tinha projeto executivo. Então, não tivemos como investir. Daí, fizemos os túneis, para suprir uma demanda antiga por melhorias no transporte e no trânsito, objetivando beneficiar cerca de 2 milhões de pessoas que trafegam, moram ou trabalham na região. Os túneis funcionam e todos podem ver que os problemas de trânsito da cidade são outros.
grave, pois a Colômbia não percebe o incômodo que isso (o acordo) causa nos outros países e não procura solucionálo”, afirmou o chanceler Celso Amorim, contrariado com o fracasso da reunião de Quito. Ora, o governo brasileiro deveria estar, não incomodado, mas seriamente preocupado com os danos que a narcoguerrilha causa à Colômbia – que manteve as instituições e as práticas democráticas durante mais de 40 anos de violenta comoção, sem recorrer a instrumentos de exceção – e com os males que o tráfico de drogas e de armas causa ao Brasil. O fato é que o coronel Chávez tem mal disfarçadas simpatias pelas Farc. Recorde-se que o presidente Uribe o dispensou da função de mediador no processo de libertação da ex-senadora Ingrid Bettancourt quando Chávez sugeriu que a narcoguerrilha fosse reconhecida como força beligerante. Agora, em Quito, seu representante propôs que a Unasul, além de monitorar as bases colombianas que receberão o pessoal e os equipamentos norte-americanos, assuma a condução do processo de paz na Colômbia. Obviamente, os ministros das Relações Exteriores e da Defesa da Colômbia rejeitaram a proposta. Estava por demais evidente que a manobra dos agentes de Chávez se destinava a criar uma situação que os Estados Unidos não poderiam aceitar e a abrir caminho para que, iniciado o processo de paz, as Farc fossem reconhecidas como força beligerante – o que lhe daria um status político igual ao governo eleito de Bogotá. Interessa ao Brasil continuar apoiando essa aberração?
MARTA SUPLICY, ex-prefeita mbevilaqua2003@yahoo.com.br
São Paulo
Cursosdeespecialização A reportagem Entidades podem ser proibidas de oferecer cursos de especialização (12/9, A29) contém grave equívoco. O Parecer CNE/CES n.º 238/2009, aprovado pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação em 7/8, fixa doutrina específica sobre a desnecessária existência do “credenciamento especial de instituições não-educacionais” e não faz menção à proibição referida no título da matéria. Para esclarecer os interessados, transcrevemos o trecho que finaliza o citado parecer: “Registre-se, por fim, que os efeitos do
presente Parecer não impedem as instituições não-educacionais de iniciar, manter ou encerrar a oferta de cursos que, eventualmente, já oferecem livremente.” ANTÔNIO CARLOS CARUSO RONCA, EDSON DE OLIVEIRA NUNES E MILTON LINHARES, conselheiros relatores
Brasília
N. da R. – Ao tornar desnecessário o credenciamento das instituições não-educacionais, o parecer, na prática, impede que elas mantenham cursos de especialização lato sensu com a chancela do Ministério da Educação, como é hoje. A reportagem deixa claro que essas instituições podem continuar a oferecer cursos livres, de forma semelhante ao que ocorre com cursos de idiomas e artes, por exemplo.
QUINTA-FEIRA, 17 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 48 DIAS
NACIONAL A15
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
A REPERCUSSÃO
No exterior Sociedad Interamericana de Prensa (SIP) “Lamentamos que a Justiça brasileira se caracterize por proteger excessivamente os direitos das pessoas quando elas estão imiscuídas em temas de interesse público, como nesse caso, e deixe em segundo plano o direito de liberdade de expressão, condenando assim os cidadãosao ostracismo” International Federation of Journalists (IFJ)
No Brasil “A IFJ exige pronta retificação desta medida, que pretende impedira imprensa brasileira de informar sobre as irregularidades detectadas pela Justiça Federal, e manifestasua preocupação porque a decisão obedeceu a conhecidos laços de amizade entre o juiz Vieira e a família Sarney” Repórteres Sem Fronteiras “O fato de um familiar de um político eleito conseguir que seu nome não seja citado impede a imprensa de o mencionar como personalida-
de pública. Trata-se de um abuso de poder, que esperamos que seja corrigido pela decisão em recurso” Artigo 19 “Há violação da liberdade de expressão. Quando é de interesse público que uma informação seja divulgada, mais do que de interesse privado, ela deve ser divulgada. Estáclaro que foi desrespeitado um direito fundamental garantido na Constituição”
Associação Brasileira de Imprensa (ABI) ● “O preceito constitucional não deixa margem a dúvida e é inadmissível que um magistrado, de qualquer instância do Poder Judiciário, atropele o texto constitucional como faz essa liminar que impede o Estado de fazer referência e dar notícias sobre o senhor Fernando Sarney” Associação Nacional de Jornais (ANJ) ● “Infelizmente, esse tipo de deci-
são judicial, determinando censura prévia, tem ocorrido com frequência. Isso não é medida contra os jornais ou os jornalistas. Elaafeta sobretudo o direito do cidadão de ser livremente informado” Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) ● “Isso é inconstitucional. Isso é incompatível com o Estado Democrático de Direito. Essa decisão prejudica o Estado, prejudica dos jornalistas, mas
atinge, sobretudo, o cidadão, que tem direito de acesso à informação” Ordem dos Advogados do Brasil ● “A censura prévia foi revogada expressamente na Constituição do Brasil, como forma eficaz de impedira volta do autoritarismo. Não se pode calar a imprensa. A liberdade de expressão dos meios de comunicação é uma obrigação que não pode ser frustrada por decisão judicial”
Especialista critica ato que mantém censura Para professor Fredie Didier, decisão do TJ é ‘escandalosa’ Fausto Macedo
Sarney dobra salário de assessor blogueiro Said Dib chamou opositores do senador de ‘patetas’ e ‘vermes golpistas’ Leandro Colon Rosa Costa BRASÍLIA
No auge da crise do Senado, o blogueiro Said Dib se referia aos senadores que faziam oposição ao presidente José Sarney (PMDB-AP) como “patetas” e “vermes golpistas”. Na época, ele era assessor de Sarney na Presidência da Casa com salário de R$ 3,4 mil. Passada a turbulência, com Sarney livre dos processos por quebra de decoro no Conselho de Ética, Dib teve seu salário mais do que duplicado. Um despacho de Sarney, publicado quarta-feira, elevou o salário do blogueiro para R$ 7,4 mil.
Dib, que se diz “assessor de imprensa de Sarney”, classifica,em seu blog pessoal na internet, parlamentares como Arthur Virgílio (PSDB-AM) e José Nery (PSOL-PA) de “vermes golpistas”. Ontem, procurado pelo Estado, repetiu as acusações. “Quero que eles me processem. São vermes porque estão contra a instituição Senado”. No blog, ele chama o senador Renato Casagrande (PSB-ES) de “pateta”.“É um pateta mesmo, oportunista”, afirmou. A estratégia de Sarney para promover Barbosa foi transferi-lo da Presidência do Senado para o Órgão Central de Execução e Coordenação, vinculado à Diretoria-Geral. É um setor
que abrigou – por meio de atos secretos – apadrinhados de senadores e do ex-diretor-geral Agaciel Maia. Dib é funcionário da Presidência do Senado desde 1º de fevereiro de 2003, quando Sarney assumiu o comando da Casa pela segunda vez. Segundo os registros eletrônicos do sistema de publicação, ele sempre foi lotado na presidência, inclusive no período de outros presidentes, como Renan Calheiros (PMDB-AL) e Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Segundo funcionários, Dib nunca apareceu para trabalhar na presidência e, se mantiver as tarefas que vem exercendo a serviço de Sarney, não deve cumprir expediente na dire-
toria-geral. Além do blog pessoal, Dib cuida do site Amapá no Congresso, produzido diretamente do gabinete do Sarney com o objetivo de divulgar as atividades parlamentares do senador. Oservidor nega que a promoção salarial tenha ligação com a defesa ferrenha que vem fazendo do patrão. Ele considera baixo o salário que recebia até hoje, de R$ 3,4 mil. “Até quem vive de entregar coisas no Senado ganha isso”, disse. Na opinião dele, os ataques aos senadores não conflitam com seu cargo de funcionário da Casa. “Sou um cidadão, é algo particular, para me manifestar. O presidente Sarney é inocente de tudo.” ●
“A decisão é escandalosa”, declarou ontem o professor FredieDidier,deprocessocivil,sobreojulgamentodoTribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) que reconheceu a suspeição do desembargador Dácio Vieira, mas manteve de pé o decreto de censura por ele imposto ao Estado. “Um absurdo total porque se o tribunal reconhece o estado de suspeição do magistrado no período em que proferiu sua decisão como é que não determina a anulação de seus atos?” O silêncio foi imposto ao Estadoem31dejulho,a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Na última terça-feira,emreunião reservada, o Conselho Especial do TJ-DF afastou Vieira da ação, acolhendo exceção de suspeição proposta pelo jornal. O julgamento, porém, não interferiu na decisão anteriormente tomada pelo desembargador, “uma vez que são dois temas distintos”. “Como é que o tribunal reconhecesuspeiçãoenãoanula o ato praticado por quem a própria corte considera suspeito?”,insisteDidier,daUniversidade Federal da Bahia. “Imagine-se que se tivesse dado uma decisão final contra o Estadão, ela iria ser mantida?” “O nosso Código de Processo Civil não fala nada sobre a consequência do julgamento da suspeição”, observa Didier. “Mas temos como regra expressa dispositivos sobre isso nos regimentos internos do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça e também no artigo 101 do Código de Processo Penal. As redações são semelhantes no sentido de quejulgadaprocedenteasuspeição ficarão nulos os atos praticados. Me parece muito claro: os atos decisórios praticados sob o estado de suspeição são nulos.” ParaoprofessorOscarVilhena, da Direito GV, e diretor jurídico da Conectas Direitos Humanos, a decisão do TJ-DF foi “extremamente conservadora”. “O tribunal poderia ter declarado a suspeiçãoetambémdeterminado a invalidação dos atos pretéritos. A meu ver seria a decisão mais adequada, mas comonãoháprevisãoobrigatória no Código de Processo Civil para que isso ocorra o tribunalsimplesmentedeclarou a suspeição e transferiu a responsabilidade ao novo juiz do feito. E quanto aos
Cronologia do caso 31/7
● O desembargador Dácio Vieira,
do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, informa o Estado da proibição de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica (PF), envolvendo o empresário Fernando Sarney, filho de José Sarney
1/8 ● Jornal revela que Vieira,
ex-consultor do Senado, é do convíviodos Sarney e do ex-diretor do Senado Agaciel Maia. A Associação Nacional de Jornais (ANJ), outras entidades, senadores e o ex-ministro do STF Carlos Velloso criticam decisão
12/8 ● Estado entra com mandado
de segurança. O recurso tem o objetivo de garantir o reconhecimento de direito líquido e certo, incontestável,que está sendo violado ou ameaçado por ato ilegal ou inconstitucional de uma autoridade
13/8 ● O desembargador Waldir
Leôncio Cordeiro, da 2.ª Câmara Cível do TJ, mantém censura ao jornal, ao não acolherpedido de liminar no mandado de segurança. Cordeiro deixa para deliberar após receber dados de Vieira e da Procuradoria
21/8 ● Estado ingressa com nova
exceção de suspeição do desembargador Dácio Vieira. A base do recurso é extraída da própria decisão de Vieira, quando ele ignorou um primeiro pedido para que se declarasse suspeito no caso
15/9 ● TJ-DF declara Vieira suspeito
para decidir sobre o pedido de censura. A decisão afasta o desembargador do caso. O agravo de instrumento de Fernando Sarney será redistribuído para outro desembargador do mesmo tribunal
atos pretéritos? Bom, esses serão reapreciados pelo novo desembargador relator.” Vilhena considera que “também deve ser invalidado o ato de alguém que não teria legitimidade para praticá-lo porque suspeito”. Ele assinala que “a suspeição não gera presunção deinvalidade,masotribunalpoderiamesmoterdadoumadecisão melhor”. ●
o estado de s. paulo
� Edição de
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SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
18 de setembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42339
No limite, Dutra terĂĄ mais pedĂĄgios e tarifa menor
NOITE NA MARGINAL Congestionamento perto da Ponte da Casa Verde
Sobrecarregada, a Via Dutra terĂĄ seu contrato de concessĂŁo revisto. A revisĂŁo, ainda sem prazo, deverĂĄ acarretar diminuição no valor do pedĂĄgio, mas aumento no nĂşmero de praças de cobrança – hoje sĂŁo 5, nos 402 km entre Rio e SĂŁo Paulo – e bloqueios nas entradas e saĂdas das cidades Ă margem da rodovia. Um dos objetivos ĂŠ estimular o uso de estradas municipais. â—? PĂ GS. C1 e C3
JOSE PATRĂ?CIO/AE
Obra deixa Marginal lenta de madrugada AsobrastêmdeixadoaMarginal do Tietê lenta das 23h às 4h. Os motoristas reclamam da falta de iluminação. � Pà G. C4
â—?â—?
ApĂłs 31 anos, matĂŠria-prima volta a liderar exportaçþes Crise global afeta mercado de manufaturados e muda pauta brasileira de vendas brasileira,garantesuperĂĄvit de US$ 28 bilhĂľes para a balança comercial no acumulado de 12 meses atĂŠ agosto. A demanda chinesa por matĂŠrias-primas explica em parte esse desempenho. O cenĂĄrio para manufaturados ĂŠ ruim: a demanda mundial estĂĄ fraca, os preços caĂram e a alta do real afeta a competitividadebrasileira.Ogoverno estuda medidas de apoio a exportadores. â—? PĂ GS. B1 e B3
Arrecadação cai pelo 10Âş mĂŞs â—?â—?â—? A arrecadação de tributos federais caiu pelo 10.Âş mĂŞs seguido, o perĂodo mais longo de recuo contĂnuo. Em agosto foram arrecada-
dos R$ 52,06 bilhþes, 11,34% menos que em julho. A queda Ê reflexo da desaceleração econômica e da redução de impostos. � Pà G. B6
Para o COI, ineditismo ajuda Rio a ter OlimpĂada OpresidentedoComitĂŞOlĂmpico Internacional, Jacques Rogge,indicou quea estratĂŠgiade“universalizarâ€?a OlimpĂada pode ajudar a candidatura do Rio aos Jogos de 2016, informa o correspondente em Genebra, Jamil Chade. Para Rogge, a escolha da sede, em 2 de outubro, serĂĄ decidida por “dois ou trĂŞs votosâ€?. â—? PĂ GS. E1 e E2
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Guia
Esporte para suar ou sĂł como lazer
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Celso Ming
A culpa não Ê só do câmbio É inevitåvel a valorização do real ante o dólar, para insegurança da indústria. Mas o problema estå apenas parcialmente no câmbio. É de falta de competitividade da empresa nacional ante o alto custo Brasil. A resposta adequada Ê a redução da carga tributåria, infraestrutura de baixo custo, crÊdito mais barato e desburocratização. � Pà G. B2 ���
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ESPORTES
COLUNISTA
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Governo veta plantio de cana em 81% do PaĂs Um plano lançado ontem pelo governoproĂbeoplantiodecana-de-açúcar em 81,5% do territĂłrio brasileiro, incluindo AmazĂ´nia,Pantanal e a regiĂŁo do Alto Rio Paraguai. Apesar disso, eleva de 8 milhĂľes para
mais de 64 milhĂľes de hectares o estoque de terras aptas a essacultura.Amedidaintensifica a agenda ambiental criada pelo governo apĂłs a entrada de Marina Silva na disputa presidencial. â—? PĂ G. A18
PolĂtica de emissĂľes deve mudar O Brasil estĂĄ revendo sua posição sobre a inclusĂŁo do desmatamento evitado no â—?â—?
mercado de carbono e jå aceita negociar o tema com as naçþes desenvolvidas. � Pà G. A19
CADERNO2 Olhar filipino
â—?â—? OdiretorBrillanteMendo-
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 49 DIAS q PĂ GS. A9 e A16 NOTAS E INFORMAÇÕES
��� A situação melhorou, mas seria bom se Lula abandonasse o monopólio da empåfia. � Pà G. A3
Tempo: CAPITAL
30º Mà X. Hoje: 202 påginas A. 1º caderno: 24 � B. Economia: 16 � C. Metrópole: 12 � D. Caderno2: 14 � Guia: 116 � E. Esportes: 4 � Cc. Construção: 12 � Cl. Classificados: 4 (156 anúncios)
za Ê a grande atração do Indie 2009, em São Paulo. �
direto da fonte
O vice de Marina Candidata convidou Guilherme Leal, da Natura, para vice de sua chapa. â—? PĂ G. D2
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Da empĂĄfia
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16ÂşMĂ?N.
Sol e calor em todo o Estado.
�� ViradaEsportivateråatraçþes para todos os gostos. Descubra seu perfil. �
O presidente dos EUA, Barack Obama, abandonou a ideia de instalar um escudo antimĂsseis na PolĂ´nia e na RepĂşblica Checa, planejado pelo governo Bush para conter ataques iranianos. É a maior mudança na polĂtica de defesa dos EUA desde a posse de Obama. A RĂşssia, que sempre criticou o projeto, elogiou o “bom sensoâ€? americano. JĂĄ a oposição republicana atacou a decisĂŁo. â—? PĂ GS. A14 e A15
ALESSANDRO BIANCHI/REUTERS
Apautadeexportaçþesbrasileiras sofreu mudança significativa por causa da crise global, informa a repórter Raquel Landim. Pela primeira vez desde 1978, a venda de commodities superou a de manufaturados. Entre janeiro e agosto, as matÊrias-primas responderam por 42,8% das exportaçþes; jå a participaçãodeprodutos industrializados foi de 42,5%. A venda de alimentos e minÊrios, vocação
Obamadecide cancelarescudo antimĂsseisque Bushplanejou
Milton Hatoum
Saudade do Brasil Para o taxista, a Rua do Sumidouro era melhor que Beverly Hills. â—? PĂ G. D14
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JudiciĂĄrio
Toffoli deve ficar fora do caso Battisti â—?â—? Participar
do julgamento criaria desgaste ao indicado porLulaparaoSTF. â—? PĂ G.A4
A2 ESPAÇO ABERTO
SEXTA-FEIRA, 18 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Emissõesporveículos seguemnacontramão
AÁsiaeacúpuladoG-20 emPittsburgh
WashingtonNovaes
WilhelmHofmeister
Editorial deste jornal (8/9, A3) apontou para a chaga exposta: é “tolerância com o envenenamento” a resolução aprovada no início do mês pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente que determinou uma redução de 33% na emissão de poluentes por veículos movidos a diesel, a partir de 2013, e a partir de 2014 para os movidos a gasolina e álcool. Tolerância porque uma resolução do mesmo conselho já fixara 2009 como o ano para a entrada em vigor dessas reduções. E quando ela entrar, daqui a três e quatro anos, ainda aceitará níveis de emissões mais altos que os máximos permitidos hoje na Europa. Com toda essa tolerância, o nível de emissões no setor de transportes cresceu 56% em 13 anos. “Demos dez passos para trás e um para a frente”, sentenciou o professor Paulo Saldiva, do Laboratório de Controle da Poluição da USP, porque os efeitos serão muito graves na área da saúde humana. Mas há ainda outros ângulos relevantes a observar nessa questão: 1) Estão sendo ignora-
E o que se vê é só um imenso oba-oba em torno das reservas do pré-sal das as fortes pressões para que o Brasil reduza suas emissões de poluentes, já que é um dos cinco maiores emissores do mundo; 2) está sendo deixada de lado a situação insustentável das maiores cidades brasileiras nessa questão e na geração de custos de saúde; 3) despreza-se a possibilidade de políticas públicas estimularem a redução de emissões: ao contrário, elas as estimulam, com isenções de impostos e não-exigência de controle para veículos mais antigos; 4) deixa-se também inteiramente de lado uma indagação: que se pretende fazer com as maiores cidades brasileiras, absolutamente carentes de macropolíticas, como tantas vezes já se comentou neste espaço? Na área do clima, basta relembrar a mais recente advertência do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. “Temos poucos anos para evitar uma catástrofe global”, disse ele, após testemunhar no local o rapidíssimo derretimento do gelo no Ártico e ante a notícia de que a Patagônia também está perdendo o seu. A incongruência fica muito patente quando se observa a inação na área das emissões, quando a frota brasileira de veículos desde 1990 cresceu 38% e chegou a 27,8 milhões, enquanto a população no mesmo período aumentou 12,7% (Estado, 19/8). Hoje, 26% da frota tem até três anos (e já poderia estar adapta-
da às reduções, assim como 11% lembrando que num congesque têm de quatro a cinco tionamento de trânsito a inanos). E os veículos mais poluen- gestão de poluentes equivale tes e sem controle, com mais de à de oito cigarros e aumenta a dez anos, são 35%. Ainda mais possibilidade de enfartes; preocupante: a frota de motoci- 20% das mortes em processos cletas cresceu 243% entre 2000 cardíacos foram aceleradas e 2008 e chegou a 8,55 milhões pela má qualidade do ar. Pode-se passar às outras – também sem controle. Não estranha, assim, que questões. Que se espera que 60% dos paulistas, em 94 muni- aconteça nas cidades, quando cípios, vivam (Estado, 18/8) em a indústria automobilística áreas saturadas por poluição pretende aumentar em 5 miveicular, onde é especialmente lhões de veículos por ano a preocupante o nível de ozônio. sua produção, para “chegar à Um ambiente como esse – gera- competitividade”, como se nodo pela poluição veicular e in- ticiou? Que se pode antever dustrial, além de queimadas de quando o governo libera de canaviais – favorece o câncer, o impostos a produção, sem exienvelhecimento precoce dos gir contrapartida nas emispulmões, doenças respirató- sões veiculares? E quando narios, enfisemas, diz o professor da se faz quanto a emissões Saldiva. E as mortes anuais em de veículos muito antigos e seis regiões metropolitanas já muito mais poluentes? chegam a 11 mil. Na Região MeO que se vê é apenas um tropolitana de São Paulo, afir- imenso oba-oba em torno das ma a Cetesb (Estado, 6/3), só reservas do pré-sal, sem lem41 dias nos 366 de um ano tive- brar advertências como as do ram boa qualidade do ar, dos professor Célio Berman, da quais 17 em sábados e domin- USP, de que o petróleo contigos. Um terço das medições do nessa área pode significar acusou “índices alarmantes” de a emissão de 33 bilhões a 62 bimonóxido de carbono, partícu- lhões de toneladas de dióxido las e ozônio. Quem se pode es- de carbono, enquanto as emispantar, nesse quadro, com o fa- sões totais no mundo hoje são to de que 20 pessoas morrem a de 36 bilhões de toneladas/ cada dia na região, vitimadas ano e se batalha para reduzipor tais problemas? Eram 8 las em até 80% até 2050. Em por dia em 2000, passaram a 12 outras palavras, para que a em 2006, quando a população temperatura planetária não chegou a 17 milhões; a frota de suba além de 2 graus, nos próveículos, a 8 milhões; as indús- ximos 40 anos será preciso trias com alto potencial polui- emitir no mundo todo não dor, a 2 mil. E os custos na área mais de 652 bilhões de tonelada saúde, por essa causa, subi- das de carbono, quase três veram para R$1 bilhão por ano. zes menos por ano do que se Nada é por acaso: o padrão emitiu nos últimos anos. de poeira fina tolerado nos É preciso retrabalhar a EUA é de 15 microgramas por questão das emissões brasileimetro cúbico de ar, o registra- ras nessa área, com todos os do em São Paulo chega a 48 mi- setores envolvidos. Avaliar o crogramas. E, mesmo com índi- quadro mundial. E tomar atice muito inferior, universida- tudes compatíveis. ● des norte-americanas mostram a relação direta entre poluição Washington Novaes é jornalista do ar e mortes por doenças car- E-mail: wlrnovaes@uol.com.br diovasculares, arritmias, pressão alta, enfarte agudo. O índice de mortes chega a triplicar com aumento de 10 microgramas na concentração. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 1,4% das mortes é consequência da poluição do ar, assim como quase 1% das horas de trabalho perdidas. Redução de 10% nas partículas aumenta a expectativa de vida em 7,3 meses. A questão é tão grave que a Sociedade Brasileira de Cardiologia, no final de agosto, enfatizou a necessidade de reduzir a po- Voltando à vaca fria luição nas cidades,
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Écedopara euforia Bastou a economia sair tenuamente da recessão e Lula se gaba, dizendo que estava certo quando disse que a crise era uma “marolinha”. Mas é cedo para festejar, a crise nos países do Primeiro Mundo continuará por mais dois a três anos. Enquanto isso, o crescimento do Brasil também ficará comprometido, só com o consumo interno um país não se sustenta, com exceção da China, que tem mais de 1 bilhão de habitantes. TOSHIO ICIZUCA toshioicizuca@terra,com,br
Piracicaba ● Muito esclarecedora a entrevista do economista Jeffrey Sachs ao Estadão sobre a realidade da crise mundial (6/9, B4). Lamentavelmente, o cidadão brasileiro
“Quem comprará os nossos produtos, se os americanos não têm mais dinheiro?” Essa questão preocupa muitos empresários e governos na Ásia. Além de terem de lidar com uma crise que não causaram, nos últimos meses aumentou a preocupação sobre quem vai financiar a recuperação futura. Eles se deram conta de que o boom dos últimos anos havia sido financiado principalmente pelos consumidores dos EUA, que foram e ainda são os principais compradores dos seus produtos. Foi a espiral da dívida nos EUA que provocou a crise global. Mas os asiáticos beneficiaram-se bastante desse endividamento. E com o investimento dos seus lucros em bônus norte-americanos contribuíram para o financiamento dessa mesma espiral. Provavelmente em nenhum outro lugar do mundo a vinculação entre o próprio bem-estar e a situação nos EUA é tão estreita. Por isso, da Ásia olham com atenção especial para Washington e Nova York, para interpretar os sinais políticos e as oscilações da bolsa de valores. A principal lição da crise é que se devem fazer maiores esforços para reduzir a dependência dos EUA. A China e outros países asiáticos vêm investindo somas enormes, nos últimos meses, em programas de estímulo para reanimar os mercados domésticos – o que reduziu os efeitos negativos da crise. Os sinais de consolidação tornam-se cada vez mais visíveis. A Ásia vai sair mais forte desta crise. Isso é especialmente válido para a China, mas também para outras economias do continente, como Índia e Coreia do Sul. Enquanto isso, o Japão deve esperar pelas medidas de re-
está sendo envolvido e iludido pela máquina publicitária do governo federal e por seus porta-vozes, que se vangloriam de que a crise econômica no Brasil já passou, teria sido apenas um susto.
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Trogloditas
sob censura, entulho autoritário! MARIA DE MELLO
JOSÉ MILLEI
Lula acha fantástica a ausência de “trogloditas de direita” na sucessão presidencial. Deve achar mais fantásticos ainda a presença e o apoio irrestrito deles (Sarney, Collor, Renan, etc.) a seu governo.
elymillei@hotmail.com
SAVÉRIO CRISTÓFARO
São Paulo
saveriocristofaro@ig.com.br
Meus cumprimentos ao cientista político Alexandre Barros pelo artigo Saudades de Itamar e Hargreaves (15/9, A2). Além das felizes lembranças bem colocadas, cumpre acrescentar que não fazem parte da liturgia do cargo de presidente da República bate-boca e briga de rua, entre outras mesquinharias, para tentar explicar ou defender o indefensável, na ingrata missão de salvar os toureiros do touro.
Santo André
Fomee guerra Falta de habitação, fome, polícia sucateada, saúde necessitada, presídios no limbo e o mais importante agora é gastar bilhões com aeronaves de combate. Obrigado, sr. presidente Lula, por pensar com tanto carinho nos pobres e famintos do Brasil! EDUARDO MELLO eduphone1@gmail.com
São Paulo
● Lula vê 2010 sem trogloditas de direita. E eu não vejo a hora de ficar sem neandertais de esquerda. MARCUS COLTRO marcus@femorale.com
São Paulo ● O presidente do Senado, vindo das eras da Arena, é a prova: os trogloditas de direita estão aí, e muito atuantes, tão ferrenhos que há quase 50 dias o Estadão está
nina.7mello@uol.com.br
São Paulo
SaudadesdeItamar...
SEBASTIÃO PEREIRA jardins@oadministrador.com.br
São Paulo
cuperação do novo governo. A China prevê para este ano um crescimento de 8,5%! Em outros países a recessão foi menos dramática do que se temia inicialmente. Países com crescimento forte no passado, como Cingapura e Malásia, conformam-se com o fato de o declínio ter sido menor do que receavam. Para o próximo ano todos os países asiáticos esperam taxas de crescimento mais elevadas. Os asiáticos não gostam do Buy American do presidente Barack Obama. Mas notam com alívio que, em termos gerais, não se verificou um ressurgimento do protecionismo. Agora a maioria desses países espera que durante a reunião do G-20 em Pittsburgh seja fechado um acordo sobre a eliminação gradual dos estímulos fiscais e das garantias aos bancos. Os mercados financeiros asiáticos pouco foram atingidos pela crise e têm-se reforçado significativamente nos últimos anos. Os três bancos com o valor maior de mercado – que há uma década eram dos EUA e do Reino Unido – hoje são da China. O peso da China e da Ásia para o mundo e para o sistema financeiro mundial, no entanto, continua a ser relativamente limitado. A cota chinesa no PIB global é de 9%, três vezes menor que a dos EUA e da Europa. Portanto, os chineses sabem que com seu dinheiro podiam evitar uma recessão em casa, mas a revitalização do comércio internacional depende muito mais de EUA e Europa. Mesmo que a China tenha questionado diversas vezes nos últimos tempos a posição do dólar como moeda de reserva internacional, o domínio da moeda americana não vai mudar. Pouca crítica ao capitalismo – Karl Marx, durante a crise, não viveu uma demanda maior no mercado de seus livros da Ásia. Enquanto os europeus tomam a crise como antecedente para enfatizar suas reservas quanto ao liLOREDANO beralismo de mercado norte-americano e destacam os benefícios de um modelo econômico em que não a “mão invisível” do mercado, mas sim a mão visível do Estado ponha ordem nos mercados, na Ásia tais questões não são discutidas com muita ênfase. Mesmo que, evidentemente, também aqui a política de intervenção dos governos tenha impedido o colapso dos mercados, em muitos países a crença no capitalis-
mo é bastante profunda. É notório que os convertidos são os mais fanáticos da sua nova religião. Assim, nos países asiáticos que só há poucos anos se converteram ao capitalismo existe pouca disposição de questionar um modelo econômico que em pouco tempo lhes outorgou prosperidade e progresso inesperados na luta contra a pobreza. A preocupação europeia em discutir na cúpula do G-20 a limitação de salários de gerentes de bancos é, na Ásia, considerada uma medida populista perante os eleitores europeus, que não corresponde às ações necessárias para melhorar a organização e supervisão do sistema financeiro internacional. Uma saída dos programas de estímulo econômico e de garantias aos bancos, assim como maior participação e poder de decisão para os países emergentes e em desenvolvimento nas instituições financeiras internacionais, esses, sim, são temas abordados pela maioria dos países asiáticos como tarefas mais urgente da cúpula do G-20. Mas tememse bloqueios dos EUA e dos eu-
Aumentou a preocupação sobre quem financiará a recuperação futura ropeus contra tais aspirações. Em Cingapura acaba-se de anunciar que nos próximos cinco anos serão procurados cerca de 900 gerentes de banco experientes. Fica claro que eles não se deixam atrair por salários de funcionário público dos Estados sociais europeus. Portanto, dificilmente se pode esperar apoio dos asiáticos para a iniciativa europeia de limitar a remuneração dos executivos, durante a reunião do G-20. Os líderes da Ásia viajarão com sentimentos ambíguos para Pittsburgh. Por um lado, o G-20 é um fórum que lhes dá participação na discussão de questões da governança global. Do seu ponto de vista, o G-20 devia substituir o G-8, o grupo dos ricos, do qual as economias emergentes até agora têm sido excluídas e marginalizadas na foto final. China e Índia não vão mais aceitar esse papel. Por outro lado, os asiáticos sabem que norte-americanos e europeus ainda não chegaram a posições comuns quanto à regulação dos mercados financeiros internacionais e bloqueiam uma maior participação dos emergentes nas instituições financeiras internacionais. Os asiáticos, por conseguinte, esperam negociações complicadas em Pittsburgh. ● Wilhelm Hofmeister é diretor do Centro de Estudos da Fundação Konrad Adenauer em Cingapura
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Censura
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HELGA SZMUK
Democracia ou ditadura? Ou cai a censura ou a democracia, no Brasil. Esse desrespeito à nossa Constituição está se tornando intolerável. Não há nada que possa prejudicar tantos por tão poucos. Das duas opções acima, que caiam os apóstolos do atraso, e rápido.
● A manutenção da censura ao jornal O Estado de S. Paulo sobre o caso Sarney torna obrigatória a manifestação de repúdio de qualquer pessoa que preze a justiça e defenda a liberdade!
LUCCA BRASI
PAULO SERTEK
luccabrasi@uol.com.br
paulo-sertek@uol.com.br
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Curitiba
● Eu vivi durante o nazismo na Áustria, em 1938, e o comunismo na Hungria, em 1948. Lembro-me com horror como ambos começaram: com censura a rádios e jornais. Espero que seja somente um déjà-vu!
● O poder paralelo – por intermédio da “Justiça” – calou o Estado, mas não silenciará a Nação.
helgasz@uol.com.br
Florianópolis
A. FERNANDES standyball@hotmail.com
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SEXTA-FEIRA, 18 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 49 DIAS
NACIONAL NACIONAL A9 A9
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
TJ terá de explicar sessão secreta Corregedor nacional de Justiça questiona julgamento de recurso do ‘Estado’ contra juiz que instituiu censura Felipe Recondo BRASÍLIA
O Tribunal deJustiça do Distrito Federal terá de explicar ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por que decidiu julgar em sessão secreta o recurso do Estado contra o desembargador Dácio Vieira, responsável
pela decisão que impediu o jornal de publicar reportagens sobrea investigaçãodaPolíciaFederal que envolve Fernando Sarney, filho do senador José Sarney (PMDB-AP). O corregedor nacional de Justiça, ministro Gilson Dipp, pediu explicações detalhadas do presidente do tribunal, Ní-
vio Geraldo Gonçalves, em ofício enviado ontem à tarde. No documento, Dipp lembra que a Constituição determina que todos os julgamentos do Judiciário serão públicos, sob pena de as decisões se tornarem nulas. O ministro lembra ainda que as sessões só podem ser secretas nos casos em que a prote-
ção à intimidade dos envolvidos não prejudique o interesse público à informação. Só puderam assistir à sessão do Conselho Especial, em que foi julgado orecurso do Estado, osadvogados das partes. Ninguém mais pôde entrar. Nojulgamento,oTJ-DF decidiu afastar Vieira do caso. Por
maioria de votos, os magistrados concluíram que ele não tinha mais isenção para continuar como relator do caso. Mas nãoanularama liminarquecensurouo Estado, medida criticada por diversos juristas. Dipp é também relator do processo protocolado no CNJ pelo líder do PSDB, Arthur Vir-
gílio (AM), contra Vieira. O senadorpedea puniçãodo desembargador pela decisão contra o jornal. O corregedor pediu explicações do magistrado e deve decidir, nas próximas semanas, se dá ou não continuidade a esse processo. ● † Mais informações na pág. A16
CELSO JUNIOR/AE–3/9/2009
‘DIGNIDADE’ – Senador liberou uso do banheiro de seu gabinete
Mesa põe Suplicy sob investigação da corregedoria Ele cedeu gabinete para pernoite de manifestantes pró-Battisti Carol Pires BRASÍLIA
A Mesa Diretora do Senado pediu ontem que a Corregedoria-Geral da Casa investigue a denúncia da Polícia Legislativa de que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) teriapermitidoque15 manifestantes pernoitassem no seu gabinete. Suplicy afirma que, em respeito “à dignidade humana”, abriu seu gabinete apenas para que as pessoas, entre as quais haveria várias senhoras idosas, utilizassem o banheiro. Trata-se de um grupo que estava na Praça dos Três Poderes, em frente aoSupremo Tribunal Federal (STF), na quarta-feira da semana passada, enquanto a corte julgava pedido de extradição do ativista Cesare Battisti feito pelo governo da Itália. Suplicy,assimcomoosmanifestantes, está engajado no movimento contra a extradição de Battisti, condenado à prisão perpétua em seu país. “Foi uma entrada fora do expediente. Comuniquei à Mesa, que decidiu encaminhar o caso à corregedoria. Não é um fato grave, mas é
Servidor que recebia na cadeia agora tem pensão Quando preso, ex-funcionário da gráfica do Senado esteve lotado no gabinete de Marco Maciel BRASÍLIA
Mesmo preso por cinco anos, o servidor do Senado João Paulo Esteves Coutinho nunca deixou deterosaláriopago.Agora,descobre-se que ele ainda recebe aposentadoria da Casa. JoãoPaulo era servidor efetivo da Gráfica do Senado, mas ficoulotadonogabinetedosenador Marco Maciel (DEM-PE) durante o tempo que estava no presídio. Ontem, o gabinete do parlamentar pernambucano confirmou que ele continua na folha de pagamento. A história do funcionário foi revelada pelo Estado em maio deste ano e relembrada nesta semana,em plenário, pelosenador Renan Calheiros (PMDB-
AL). O senador de Alagoas tentava minimizar a notícia de que um auxiliar seu, custeado pelo Senado, viajara ao exterior para fazer um curso.
Irmão assinava folha de frequência em nome de João Paulo Comissão de sindicância aberta no Senado apurou que Silvio Esteves Coutinho, irmão de João Paulo e também lotado no gabinete de Maciel, assinava a folha de frequência em nome dele e recebia o salário em seu lugar.
A assessoria de Maciel informou que Silvio recebeu R$ 219 mil reais em nome de João Paulo.Ementrevista ontem,o chefe de gabinete do senador, Nelson Rebelo, contou que João Paulo cometeu o crime de latrocínio (roubo seguido de morte) em 1977, mas não foi preso à época.
DIDA SAMPAIO/AE–3/4/2009
TUBERCULOSE
Tempos depois, em 1984, foi admitido na Gráfica do Senado. Em 1991, o servidor acabou transferido para o gabinete de Maciel, a pedido de Silvio, que era subchefe do gabinete do senador. Silvio alegou a Maciel que o irmão havia tido tuberculose e sofria de alcoolismo. Por isso, pediu que ambos trabalhassem
ABRIGO – Maciel, que manteve lotado em seu gabinete servidor preso
um precedente perigoso. É preciso criar critérios, normas para situações como essa”, disse o primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), aofinaldereuniãodaMesaDiretora. Em ofício encaminhado ao corregedor-geral, senador Romeu Tuma (PTB-SP), Suplicy dizqueconvidouosmanifestantes a irem a seu gabinete porquenãotinhamrecebidoautorização para usar os banheiros do prédio do tribunal. “Por uma questão de respeito à dignidade da pessoa humana, franqueei a utilização dos toaletes de meu gabinete àquelas pessoas, tendo em vista ser a dependência mais próxima da Praça que, como se sabe, não possui banheirospúblicos”, dizSuplicy,nodocumento. Ele afirma ainda que “um dos deveres fundamentais do senador é promover a defesa dos interesses populares”. Ele argumenta que “cada senador ésenhordoseugabinete,podendo receber nele qualquer pessoa que seja do seu interesse”. Romeu Tuma recebeu as informações da Mesa Diretora e do senador Eduardo Suplicy, mas, segundo sua assessoria, não começou a analisar o caso ainda. ●
juntos a fim de que seu tratamento fosse acompanhado de perto. A doença de João Paulo também foi usada como justificativaquandoelecomeçouafaltar ao trabalho. De acordo com Rebelo, apenas Silvio, hoje lotado na Subsecretaria de Anais do Senado, sabia da prisão do irmão. A irregularidade só veio à tonaquandoojuiz daVara deExecuçõesencaminhouofícioaoSenadoinformandoqueJoãoPaulo passaria a cumprir pena em regime semiaberto e questionando se a Gráfica da Casa poderia aceitar o servidor de volta. A partir daí, foram abertos dois processos administrativos. As investigações concluíramque ofuncionário nãosabia do esquema e que Sílvio era o culpado pela irregularidade. Segundo o chefe de gabinete de Maciel, João Paulo voltou a trabalhar no Senado e pouco tempo depois foi aposentado, com o diagnóstico de alienação mental. ● C.P.
A16 INTERNACIONAL
SEXTA-FEIRA, 18 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
AMÉRICA LATINA
SIP busca saĂda para cerco Ă imprensa
FRANCESCO SPOTORNO/ REUTERS
RESTRIĂ‡ĂƒO Ă€ IMPRENSA Em vĂĄrios paĂses latino-americanos, a liberdade de expressĂŁo vem sofrendo ameaças crescentes NicarĂĄgua Ortega conclama aliados a ‘batalha’ contra meios opositores, pressiona por demissĂľes de jornalistas e direciona propaganda pĂşblica de acordo com linha editorial
Equador Correa tenta aprovar lei pela qual meios de comunicação terão de passar por aprovação anual para funcionar. Presidente tambÊm exclui imprensa privada de informaçþes oficiais
Caso de censura no Brasil serĂĄ exposto em Caracas pela ANJ Denise Chrispim Marin ENVIADA ESPECIAL CARACAS
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) realiza hoje em Caracas um fĂłrum, patrocinadopor17entidades jornalĂsticas internacionais e venezuelanas, para debater sobre as sucessivas agressĂľes Ă atividade de imprensa na AmĂŠrica Latina e as possĂveis saĂdas para essa situação, especialmente na Venezuela. DuranteofĂłrumdeemergĂŞncia sobre liberdade de expressĂŁo, os 49 dias de censura ao Estado serĂŁo apontados como o exemplo mais gritante do cenĂĄrio vivido atualmente no Brasil. O caso brasileiro serĂĄ exposto pelo diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ),RicardoPedreira,nopainel que discutirĂĄ as ameaças regionaisĂ liberdadedeimprensa. â€œĂ‰ preciso diferenciar o Brasil de outros paĂses da regiĂŁo, nos quais a imprensa sofre açþes diretas do Poder Executivo, que se traduzem em restriçþes legislativas Ă liberdade de expressĂŁoâ€?, afirmou Pedreira. “Ofato mais grave, no Brasil, ĂŠ a censura movida por juĂzes, com a concessĂŁo de liminares solicitadas por polĂticos, em claro descumprimento Ă Constituição.â€? Dados da ANJ mostram que, nos Ăşltimos 12 meses, foram registrados31atentadosĂ liberdade de imprensa no PaĂs. Desses, 12 traduziram-se em censura prĂŠvia, determinada por decisĂŁojudicial.Ocasomais“emblemĂĄticoâ€?, segundo Pedreira, foi adecisĂŁodedesembargadorDĂĄcioVieiradeconcederumaliminar que proĂbe a publicação de
notĂcias sobre a operação Boi Barrica, por meio da qual a PolĂcia Federal investiga os negĂłcios de Fernando Sarney,filhodopresidentedoSenado, JosĂŠ Sarney. Em sua exposição de hoje, Pedreira explicarĂĄ que o Estado foi o veĂculo que motivou a decisĂŁo do desembargador. Mas a sentença foi extensiva a toda a mĂdia brasileira – fato que acentua o rompimento do princĂpio constitucional que garante ao cidadĂŁo o acesso Ă informação. Em um resgate de tentativas anteriores de cerceamentodaliberdadedeexpressĂŁo, Pedreira recordarĂĄ as iniciativas malsucedidas do governo Luiz InĂĄcio Lula da Silva de criar autarquias com poder de interferir nos conteĂşdos divulgados pela mĂdia – a revisĂŁo da Lei de Audiovisual e a criação do Conselho Nacional de Jornalismo.
Em 12 meses, 31 atentados Ă liberdade de imprensa no PaĂs As discussĂľes em Caracas serĂŁo abertas pelo presidente da SIP, Enrique Santos CalderĂłn, do jornal El Tiempo, de BogotĂĄ. Entre os debatedores estarĂŁo Alberto Federico Ravell, diretor executivo da rede de TV GlobovisiĂłn. A emissora venezuelana, crĂtica do governo de Hugo ChĂĄvez, vem sendo ameaçada de perder sua licença de operação. â—?
MORDAÇA – Opositor protesta em Caracas contra assÊdio à imprensa
A presidente argentina, Cristina Kirchner, e seu marido, o expresidenteNĂŠstor Kirchner,foram fortalecidos ontem com a aprovação da controvertida lei de radiodifusĂŁo na Câmara de Deputados. A oposição, em massa, abandonou o plenĂĄrio em uma tentativa de bloquear a votação. Ao longo do dia de ontem, diversos representantes da oposição declararam que a nova lei – que restringe a atuação dos grupos de mĂdia – poderia ser anulada pela Justiça, pois ocorreram diversas irregularidades na convocação da sessĂŁo na Câmara. Os opositores tambĂŠm avaliam a opção de revisar a lei quando o novo Congresso Nacional tomar posse em 10 de dezembro, quando o governo perderĂĄ a maioria. “SĂł o fato de que muitos parlamentares nĂŁo haviam recebido o projeto (com as modificaçþes de Ăşltima hora feitas pelo governo) seria suficiente para entrar na Justiçaâ€?, argumentou o constitucionalista Gregorio Badeni. O prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, do partido de centro-direita Proposta Republicana, afirmou que a lei de ra-
Ruth Costas
Apenas duas dĂŠcadas apĂłs o fim da maior parte das ditaduras de direita na AmĂŠrica do Sul, governos eleitos, e de esquerda, declaram abertamente considerar a imprensa seu “inimigo pĂşblico nĂşmero 1â€?. Nos Ăşltimos meses, multiplicaram-se na regiĂŁo os marcos regulatĂłrios, leis ambĂguas, processos judiciais e fiscalizaçþes que tĂŞm como objetivo cercear meios de comunicação crĂticos a alguns governos. A Venezuela continua a ser o paĂs em que os ataques sĂŁo mais diretos – uma TV e 34 rĂĄdios saĂram do ar por ordem do presidente Hugo ChĂĄvez e outras sĂŁo ameaçadas. Mas os governos da BolĂvia, Equador, Ni-
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diodifusĂŁo â€œĂŠ mais um retrocesso institucional dos Kirchnersâ€? e essa ĂŠ uma prova do “fascismoâ€? do governo. MasolĂder do blocodo governo na Câmara, AgustĂn Rossi, descartou a possibilidade de
Argentina Cristina mobiliza aliados para aprovar Ă s pressas nova lei de radiodifusĂŁo, que limita tamanho de conglomerados de mĂdia e estabelece controle do governo sobre os meios
Para analista, liberdade de expressĂŁo sempre foi defendida por liberais
Partidos prometem ir Ă Justiça para impugnar aprovação de lei da mĂdia na Câmara antes que ela chegue ao Senado CORRESPONDENTE BUENOS AIRES
BolĂvia Evo criou rede de rĂĄdios comunitĂĄrias, estĂĄ reequipando a TV estatal, criou um jornal estatal, ameaçou nacionalizar o ‘La RazĂłn’ e abriu processo contra o ‘La Prensa’
Brasil Justiça impĂľe censura prĂŠvia ao ‘Estado’
‘Essa nunca foi uma bandeira da esquerda’
Oposição quer anular triunfo dos Kirchners Ariel Palacios
Venezuela Em 2007, Chåvez não renovou licença de funcionamento da RCTV; este ano, fechou 34 emissoras de rådio e ameaça cassar a licença da Globovisión, única TV aberta de oposição
anulação ou revisĂŁo. “A oposição nĂŁo poderĂĄ anular a lei, seja com este Parlamento ou com o novoâ€?, disse, desafiador. Kirchner agora prepara seus aliados para a votação no Senado, prevista, em princĂpio, para
carĂĄgua e Argentina parecem estar seguindo o mesmo caminho (ver quadro). Parao mexicano AdrianGurza Lavalle, cientista polĂtico da USP, hĂĄ uma explicação para tal situação: “A liberdade de expressĂŁo nunca foi uma bandeira da esquerda tradicional, mas sim uma bandeira liberalâ€?, diz. “Ela sĂł foi adotada por parte da esquerda – a democrĂĄtica, como a do Brasil e a do Chile.â€? Lavalle explica que para regimes mais autoritĂĄrios e centralizadores a preocupação ĂŠ defender o “processo revolucionĂĄrioâ€? dos “inimigos da pĂĄtriaâ€?. “Eles acham que ‘tĂŞm a histĂłria a seu lado’ e veem a liberdade de imprensa como algo de menos importânciaâ€?, diz. É claro que, felizmente, os
odia7. As estimativasno âmbito parlamentar indicam que o governo contaria com 38 dos 72 votos no Senado. Os Kirchners sofreram uma dura derrota nas eleiçþes parlamentares de junho. Na ocasião, o governo obteve 30% dos votos e os partidosdaoposição,emconjunto, 70%. Mas nos últimos dois meses e meio a oposição, apesar da vitória, não coordenou suas forças para organizar uma frente unida atÊ a posse do novo Parlamento, em dezembro. PROFECIA
ApĂłsaseleiçþes, umdosvitoriosos, o deputado Francisco de NarvĂĄez, peronista dissidente, afirmou ao Estado: “Se nĂŁo nos unirmos, o governo aproveitarĂĄ este semestre para adotar medidas em seu favor, enquanto tem poder.â€? A profecia de De NarvĂĄez cumpriu-se ontem, quando o governo conseguiu seduzir deputados da oposição de centro-esquerdae esquerda. “Foram seduzidos com a oferta do governo de excluir as companhias telefĂ´nicas do novo espaço para a mĂdia. Mas nĂŁo viram que a nova lei implica mais autoritarismoâ€?, disse ao Estado Norma Morandini,deputadada oposição e uma das principais crĂticas da nova lei. O deputado de esquerda Claudio Lozano disse que apoiou o projeto, pois ele ĂŠ melhor que a lei atual e eliminarĂĄ os monopĂłlios no setor da mĂdia. A nova lei impede empresas de mĂdia de possuir canais de TV aberta e a cabo na mesma ĂĄrea geogrĂĄfica. â—?
mĂŠtodos de tais governos estĂŁo longe dos desaparecimentos, torturas e assassinatos do passado. Mas o objetivo, dizem analistas, parece ser o mesmo: cercear as vozes crĂticas. Em geral, a justificativa estĂĄ ligada justamente Ă grande liberdade que a imprensa recebeu apĂłs essas experiĂŞncias traumatizantes. “De fato, quando grupos privados exercem uma função pĂşblica, como ocorre com a mĂdia, hĂĄ o risco de abusos. Um exemplo ĂŠ o caso das TVs venezuelanas que apoiaram o golpe de 2002â€?, afirma o analista polĂtico Ricardo Sucre, da Universidade Central da Venezuela. “A questĂŁo ĂŠ que os benefĂcios de uma imprensa livre, que questiona, acompanha e criti-
ca as autoridades superam muito esses custos e riscos. E nĂŁo dĂĄ para usar esses problemas para impor um discurso Ăşnico em vez de fazer propostas positivas para melhorar o setor.â€? A preocupação com a liberdade de imprensa estende-se ao Brasil, mas aqui o problema ĂŠ um pouco diferente. As ameaças vĂŞm das decisĂľes de alguns juĂzes, como a que censurou o Estado a pedido de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, JosĂŠ Sarney. “A mĂdia ĂŠ inimiga das instituiçþesâ€?, disse o senador na terça-feira, mostrando que, apesar das crĂticas que costuma fazer a ChĂĄvez, estĂĄ sintonizado com as tendĂŞncias lançadas pelo venezuelano. â—?
Emissoras pĂşblicas tornam-se palanque Na AmĂŠrica Latina, intençþes nobres se convertem em capital polĂtico JoĂŁo Paulo Charleaux
Na maioria dos paĂses sul-americanos,ajustificativa usadapelos governos para mudar o panoramadosmeiosdecomunicação ĂŠ a mesma: democratizar o acesso e diversificar o conteĂşdos. A nobreza da intenção, entretanto, contrasta com o uso oportunista que muitos presidentes fazem da lei. O projeto de radiodifusĂŁo aprovado na madrugada de ontem pela Câmara de Deputados da Argentina ĂŠ o exemplo mais recente. Pelo texto, os telespectadores terĂŁo, em tese, acesso a novoscanais educativose culturais, mantidos por universidades, sindicatos e ONGs, alĂŠm dos canais comerciais jĂĄ existentes. Na prĂĄtica, entretanto, o governo de Cristina Kirchner poderĂĄ usar sua tradicional influĂŞncia nos grandes sindicatos argentinos para ampliar o alcance de sua mensagem polĂtica,aomesmotempoem quetenta impedir que os grandes grupos privados concentrem mais de 35% dos clientes de TV por assinatura, por exemplo. “A AmĂŠrica Latina tem um longo histĂłrico de uso privado do patrimĂ´nio pĂşblicoâ€?, disse ao Estado o brasileiro Diogo MoisĂŠs, coordenador de uma pesquisa sobre sistemas pĂşblicosdecomunicação queaborda
a experiĂŞncia de 12 paĂses. “Na Europa, a TV jĂĄ nasceu pĂşblica. AtĂŠosanos80nĂŁohaviaemissoras privadas. Em paĂses como Portugal, ItĂĄlia, GrĂŁ-Bretanha, Alemanha, JapĂŁo e Holanda, o cidadĂŁo ĂŠ quem financia as TVs pĂşblicas. No JapĂŁo, AustrĂĄlia e CanadĂĄ, as emissoras pĂşblicas lĂderam a audiĂŞncia.â€? TENTATIVA
Mas a experiĂŞncia sul-americana de abrir o mercado de TV para as emissoras pĂşblicas ainda engatinha. Na Venezuela, o presidente Hugo ChĂĄvez, hĂĄ dez anos no poder, controla seis emissoras de televisĂŁo, oito de rĂĄdio, uma agĂŞncia de notĂcias e a maior provedora de internet dopaĂs. AlĂŠm disso,ChĂĄveztem o apoio de dezenas de jornais e patrocina mais de 150 rĂĄdios e 28 televisĂľes comunitĂĄrias. “ChĂĄvez tem uma pretensĂŁo hegemĂ´nica declarada. É o caso maisextremo na regiĂŁoâ€?, disse o diretor da Universidade Central da Venezuela, Miguel Ă ngel Latouche. “O argumento ĂŠ que os grandes grupos privados de comunicação da Venezuela jĂĄ exerciam uma hegemonia e um papel polĂtico forte.â€? â—?
� Edição de
0h20
o estado de s. paulo SĂ BADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
19 de setembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42340
CADERNOESPECIAL q PNAD
Crise pegou Brasil no auge do avanço social Levantamento do IBGE mostra redução da desigualdade e alta na renda, que ainda assim estĂĄ abaixo da de 1998 Ăšltimo retrato do Brasil antes do inĂcio da crise mundial, hĂĄ um ano, a Pesquisa Nacional por Amostra de DomicĂlios (Pnad) de 2008 mostra o PaĂs no auge de uma fase de avanços iniciada em 2004. Houve recorde na criação de empregos formais e continuidade na redução da desigualdade, no aumento da escolarização de jovens e na redução do trabalho infantil. AlĂŠmdisso,onĂvelmĂŠdioderen-
dadetodosos gruposdapopulação cresceu – embora ainda ficasse abaixo do de 1998. Mas a amostra revela tambĂŠm dificuldadeparareduzirataxadeanalfabetismo – que chegou a subir no Sudeste – e, em alguns Estados, redução na proporção de crianças na escola. SĂŠrgio Besserman, ex-presidente do IBGE, diz que os nĂşmeros mostram “o pico de um ciclo encerrado com a criseâ€?. â—? PĂ GS. H1 a H6
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Taxa de desemprego*
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ANĂ LISE
Celso Ming
Os nĂşmeros do IBGE mostram que a base de uma economia sĂłlida estava presente jĂĄ
Pesquisa mostra economia fortalecida â—?â—?â—?
Maioria agora se declara negra ou parda
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em 2008. Somando-se a outros sinais, a sensação Ê que a economia decolou. � Pà G. B2
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Computador
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Telefone
2007 2008
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Indicado de Lula ao STF tem condenação em 1ª instância Escritório de Toffoli Ê acusado de obter contrato ilegal com governo do Amapå O advogado-geral da União, JosÊ Antonio Dias Toffoli, indicado pelo presidente Lula para o Supremo Tribunal Federal (STF), tem uma condenação judicial, informa o repórter Felipe Recondo. No último dia 8, a Justiça do Amapå mandou que
ESPORTES
Para voltar Ă seleção, Ronaldo aceita ser reserva Depois de 56 dias de ausĂŞncia por causa de contusĂŁo na mĂŁo, Ronaldo volta ao time do Corinthians amanhĂŁ,contraoGoiĂĄs. E,a partirde agora,comumobjetivo: conquistar vaga na seleção, nĂŁo necessariamente como titular. “Quando somos convocados, nĂŁo estĂĄ escrito se ĂŠ para ser titular ou reserva.â€? â—? PĂ G. E1
ele e seus sĂłcios no escritĂłrio Firma Toffoli & Telesca Advogados Associados devolvessem R$ 420 mil aos cofres do Estado. Os rĂŠus sĂŁo acusados de “conluioâ€? com o governo estadual para firmar contrato ilegal que lhes rendeu R$ 35 mil men-
ButantĂŁ, em meio a caso de desvio, afasta Isaias Raw
saiscomorepresentantesdoEstado em tribunais superiores. O juizfalou em“mĂĄ-fĂŠâ€?. JĂĄ criticado por suas ligaçþes com o PT, Toffoli deverĂĄ ser questionado pelo Senado sobre a condenação – que nĂŁo impede a indicação ao STF. â—? PĂ G. A4
â—?â—?â—? Na Pnad de 2008, pela primeira vez, mais da metade da população brasileira (50,6%) se declarou negra ou parda. Especialistas atribuem o fenĂ´meno Ă s polĂticas de ação afirmativa, como reserva de vagas em universidades pĂşblicas para afrodescendentes, e tambĂŠm Ă conscientização racial. Mais negros se declaram pardos e a participação de negros e brancos no total da população caiu, enquanto subiu a de mestiços (amarelos e indĂgenas). â—? PĂ G. H6
Defesa diz ter sido cerceada â—?â—? OsadvogadosdeJosĂŠ Antonio Dias Toffoli no caso do AmapĂĄ alegam cerceamento de defesa. Pessoas prĂłximas a
Toffoliestranharamqueasentença tenha sido publicada quando seu nome passou a ser aventado para o STF. � Pà G. A4
TEERĂƒ: CONFRONTO NAS RUAS
Para manter gasto, governo reduz meta de superĂĄvit Ogovernodecidiu reduzira metadesuperĂĄvitprimĂĄrio(economia para pagamento dos juros da dĂvida) em 2009. O objetivo ĂŠ manter gastos mesmo diante da queda na arrecadação, ampliando investimentos que podem ser abatidos dos resultados das contas pĂşblicas. A meta de superĂĄvit de 2,5% do PIB poderĂĄ ficar em atĂŠ 1,56%. â—? PĂ G. B1 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 50 DIAS q PĂ G. A10
CADERNO 2 A festa do visual
O presidente da Fundação ButantĂŁ,Isaias Raw, foi afastado por 20 dias, por sugestĂŁo do MinistĂŠrio PĂşblico paulista, em razĂŁo de indĂcios de mĂĄ gestĂŁo de recursos. Estima-se que ao menos R$ 30 milhĂľes tenham sido desviados nos Ăşltimos trĂŞs anos. NĂŁo hĂĄ suspeita de que opesquisador esteja envolvido no esquema. â—? PĂ G. A24
â—?â—? Bienal do Livro termina amanhĂŁ no Rio com destaque para HQs e cinema. â—?
‘Salve Geral’, o filme brasileiro no Oscar â—?â—? TrabalhodeSĂŠrgioRezen-
de concorreu com outros nove filmes. â—? PĂ G. D3
Virada esportiva NOTAS E INFORMAÇÕES
Um avanço e muitos atrasos No geral, o texto final da minirreforma eleitoral aprovado pela Câmara dos Deputados, que derrubou quase todas as emendas sugeridas pelo Senado, contÊm um avanço e muitos retrocessos. � Pà G. A3
Tempo: CAPITAL
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Maratonade esporte e lazercomeça às 10h
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19Âş MĂ?N.
â—?â—? Expectativa ĂŠ que progra-
mação de atividades atraia 3 milhþes de pessoas. � Pà G. C7
Frente fria traz risco de temporais.
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Hoje: 138 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 32 â—? B. Economia: 24 â—? C. MetrĂłpole: 8 â—? D. Caderno2: 16 â—? E. Esportes: 6 â—? Es. Estadinho: 8 â—? H. Especial PNAD: 6 Ca. Autos: 26 â—? Ci. ImĂłveis: 12 (2.340 anĂşncios)
â—?â—?â—? Ameaçado por milĂcia con-
servadora do IrĂŁ, o aiatolĂĄ reformistaMohamadKhatamiĂŠprote-
gido por guarda-costas; 100 mil opositores protestaram contra o governo em TeerĂŁ e houve con-
fronto. O presidente Mahmoud Ahmadinejad voltou a dizer que o Holocausto ĂŠ “mitoâ€?. â—? PĂ G. A20
â—?â—? Virada Esportiva terĂĄ atividades especiais tambĂŠm para a garotada. â—?
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SÁBADO, 19 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 - falecom.estado@grupoestado.com.br
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Ademocratização doJudiciário
Crime,puniçãoecastigo: PPPssão a solução?
GervásioProtásio dosSantos
LucianoBenettiTimm
O sociólogo Leonardo Boff brindou-nos com um conceito que muito bem retrata os anseios de uma sociedade ávida por mudanças. Disse ele: “A democracia é o sistema pelo qual se estabelece a igualdade entre todos os que se acham em uma mesma situação, para que decidam sobre o seu destino comum, já que tudo o que interessa a todos deve ser decidido por todos.” Em boa hora a bem formulada frase de Leonardo Boff nos leva a refletir sobre o Poder Judiciário e o clamor para que sejam estabelecidos parâmetros democráticos de escolha de seus dirigentes, afinal, a Justiça encontra-se rodeada de desafios e o maior deles é a sua própria administração. Não se pode negar que o Judiciário, nos últimos anos, tenha passado por avanços significativos. Foram abolidas as sessões e votações secretas, instalados os Juizados Especiais – que aproximam a sociedade da Justiça –, estabelecido o voto aberto e fundamentado para promoções e remoções.
É preciso termos à frente de tribunais magistrados com aptidão para gerir A chegada do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com a tarefa de exercer o controle administrativo e financeiro dos tribunais, tem contribuído para a implantação de medidas transparentes e democratizantes, como o orçamento participativo, exigência para a otimização dos gastos, fim do nepotismo, disciplina quanto ao uso de carros oficiais, decisões que determinam a reestruturação do quadro de pessoal do primeiro grau. Ressalta-se que muitas dessas conquistas são frutos do movimento associativo da magistratura, que, de forma independente e sem ranço de corporativismo, esteve na trincheira das discussões, clamando por mudanças. Embora tímidas, algumas delas se consolidaram, não sem antes enfrentarem a resistência daqueles que querem manter a Justiça brasileira nos mesmos padrões estabelecidos no século 19. Regozijamse em ouvir empregar para o Judiciário adjetivos e expressões como moroso, pouco eficiente, burocrático, distante, corporativista, desorganizado administrativamente e estruturalmente obsoleto. A resistência às mudanças é resultado da falta de democracia interna no Poder Judiciário. Isso nos demonstra a necessidade de avançarmos nas conquistas para afastar
por completo os resquícios de práticas incompatíveis com a modernidade que se anseia no Judiciário. A democratização da gestão administrativa é a via mais eficaz para tornar o conjunto da magistratura partícipe das políticas judiciárias e acelerar as mudanças indispensáveis para a construção de um Judiciário mais eficiente, além de conferir legitimidade aos escolhidos para dirigir os seus destinos. Importante reflexão que bem retrata o contexto aqui exposto partiu do humanista Jared Diamond, que defendeu a ideia de que “as melhores escolhas são justamente as escolhas que são feitas”. Sob essa ótica, não podemos cruzar os braços. É preciso democratizar o Judiciário para que este realize suas melhores escolhas e, a partir delas, partirmos para a solução de grande parte dos problemas que o atormentam, que nada mais é do que uma questão de gestão e otimização dos procedimentos intrínsecos à sua atividade-fim. O Judiciário precisa planejar melhor, dar prioridade aos gastos voltados para a prestação jurisdicional, incorporar em seu cotidiano ferramentas que dinamizem as suas atividades, distribuindo os esforços entre as instâncias. Não é mais possível continuar a tradicional política de “mais do mesmo” – mais funcionários, mais recursos financeiros e mais obras. Precisamos demonstrar que somos capazes de obter com os recursos disponíveis resultados melhores do que alcançamos hoje. E não será aumentando a carga de trabalho dos juízes que chegaremos à excelência. Muito pelo contrário. O magistrado brasileiro trabalha, e muito, conforme constatado pelo estudo Brasil – Fazendo com que a Justiça Conte, elaborado pelo Banco Mundial, que concluiu que a carga de trabalho do juiz no Brasil é excessiva, se comparada com a dos demais juízes do mundo. O gargalo do Judiciário brasileiro está na sua organização, nos resquícios legislativos, nos procedimentos excessivamente burocráticos e na interação com os demais atores judiciais, mas, sobretudo, na forma de administrar. Para alcançarmos uma administração profissional e comprometida com resultados é necessário termos à frente dos tribunais magistrados com aptidão para gerir. Esse é um componente que não é levado em conta pelo modelo atual nos tribunais brasileiros, em que são escolhidos os mais antigos para administrar, ainda que estes não tenham nenhuma aptidão para a gestão. Não se conhece o plano de gestão do futuro presiden-
te, muito menos quais as suas metas e seus projetos. Não há discussão de propostas, de sorte que, não raro, a administração que se inicia não tem a menor ideia do que deve ser implementado nos primeiros dias. A implantação da gestão democrática no Poder Judiciário é uma necessidade do novo milênio. Sensível a essa causa, a Associação dos Magistrados Brasileiros não se tem furtado à discussão e pretende trazer o tema para o centro dos debates do 20º Congresso Brasileiro de Magistrados, que será realizado em outubro, em São Paulo. O congresso será uma oportunidade única para que juízes e juízas reafirmem a convicção de que só uma gestão planejada estrategicamente, com a otimização dos seus recursos estruturais, financeiros e humanos, poderá tornar possível o desenvolvimento do Judiciário brasileiro, favorecendo um melhor relacionamento com os jurisdicionados e assegurando uma prestação jurisdicional de excelência. ● Gervásio Protásio dos Santos é presidente da Associação dos Magistrados do Maranhão e da Comissão Organizadora do 20º Congresso Brasileiro de Magistrados
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
Nelson Piquet
FÓRUM DOS LEITORES NovoCésar Ele controla a Câmara, via base aliada. No Senado, tem Sarney em suas mãos. Agora seu domínio pretende estender-se ao STF, com a indicação de José Antônio Dias Toffoli (sétima indicação) para ministro dessa Corte. Intimamente, gostaria também de silenciar a imprensa, pois não se manifestou uma única vez sobre a deplorável censura imposta ao Estadão. Há ainda quem duvide de sua vocação autoritária? FRANCISCO ZARDETTO fzardetto@uol.com.br
São Paulo ● A indicação do nome de José Antônio Dias Toffoli, pelo presidente da República, mostra quanto o sr. José Dirceu continua, sim, mandando nesse governo. Será
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
ammoraes57@hotmail.com
nosprezar e apequenar todo o Poder Judiciário. O pior é que fica configurada a tentativa de aparelhamento político do excelso tribunal, uma vez que o único mérito do indicado é ter sido advogado do presidente e do PT.
São Paulo
ADEL FERES
uma indecência se o Senado aprovar essa indicação, com tantos nomes de alto gabarito existentes para ocupar função de tal relevância na Suprema Corte. ADEMAR MONTEIRO DE MORAES
Inusitada, para não dizer ridícula, a indicação do advogado-geral da União, dr. Toffoli, para a vaga aberta no STF. Além de muito jovem, não possui o notório saber jurídico exigido pela Constituição federal. Foi reprovado duas vezes em exames de admissão para juiz de Direito de primeira instância, não dispondo de mestrado e doutorado. Nomear para a Suprema Corte alguém que não dispõe de conhecimento para ingressar na magistratura, via concurso, é me●
O momento que vivemos no Brasil, de discussão acerca de superlotação de presídios e decisões judiciais que não decretam a prisão preventiva de acusados, parece dividir a sociedade em dois mundos: de um lado, o dos juristas, que reflete a preocupação com o devido processo legal, com as garantias constitucionais e com o Estado de Direito; de outro, o da opinião pública, que clama pelo endurecimento das penas. Parece que a imprensa e a população agem com emoção e os juristas, com distanciamento científico. Nesse mundo construído sobre a ficção da lei e da Constituição, as prisões só seriam cabíveis após esgotados os recursos para o acusado (como, aliás, decidiu o Supremo Tribunal Federal). E as penas deveriam ser para socializar o preso. Mas existem teorias igualmente científicas que sustentam o mundo da opinião pública e o “sentimento” dos jornalistas por aumento de fiscalização e das penas, que, infelizmente, podem estar mais próximas do mundo empírico. Vale aqui lembrar as lições de Gary Becker, Prêmio Nobel de Economia. Segundo Becker – que já propôs a liberação das drogas –, o infrator é uma pessoa comum, não
a.feres@terra.com.br
Goiânia ● Além de uma afronta à democracia, por sintonizar o Judiciário com o Executivo, a indicação do dr. Toffoli para o Supremo Tribunal Federal é o exemplo máximo da prática de aparelhamento do Estado promovida pelo governo Lula e que bem se poderia chamar de nepetismo. Que horror!
Gastança Fiscalizar a proposta de lei orçamentária do Executivo com lupa desde que chega ao Congresso até sua execução é muito importante, pois papel aceita tudo. Em ano pré-eleitoral, mais ainda. Pelo divulgado, o governo Lula está à beira de repetir o que a ex-prefeita do PT fez em São Paulo: ela quebrou a Prefeitura, elle vai quebrar o País. Se não há previsão orçamentária para R$ 10 bilhões de despesas – entre elas aumento para aposentados –, a possibilidade de nem receberem a mísera aposentadoria aumenta na proporção em que esticam o Orçamento. MACMILLER JOSÉ RIBEIRO
TIBIRIÇÁ RAMAGLIO
macmilleribeiro@gmail.com
tibiramaglio@gmail.com
São Paulo
São Paulo
um doente social ou uma vítima da sociedade. Nesse sentido, o crime é uma atividade econômica como outra qualquer. A prática de uma infração é sempre resultado de uma ponderação entre o benefício auferido pelo ato, o risco de ser pego, a pena a ser aplicada e as opções alternativas de alocação do tempo, que é escasso para todos. Criminosos e descumpridores das leis, genericamente falando, não têm nenhum desvio de caráter (salvo em crimes muito específicos, como os sexuais). Há sempre uma margem de escolha no delito econômico-patrimonial (maior para uns, menor para outros), ainda que a racionalidade do agente não seja perfeita. Há assimetria de informações, algumas limitações cognitivas, mas, no limite, sempre há opção. Tanto que é comum a migração da atividade criminosa: ora se assaltam bancos, depois farmácias e postos de gasolina, depois condomínios de luxo, até chegar aos cofres públicos. É ingênuo acreditar que a atividade criminosa seja reflexo apenas de condições sociais e que, mudando isso, o crime diminuirá. Criminosos de diversos ramos de hoje já fizeram muitos investimentos em sua carreira profissional. Trocar no momento do ápice seria, no mínimo, irracional. Conforme esse entendimento, o combate aos ilícitos passa então, no longo prazo, por formulação de políticas públicas que deem às pessoas alternativas razoavelmente lucrativas de alocação do seu tempo com atividades lícitas (e, novamente, educação é o caminho óbvio e ignorado). Mas depende também, no curto prazo, de maior fiscalização do descumprimento da lei e do próprio cumprimento da pena (aumento da probabilidade de ser e permanecer preso). E – por que não? –, dependendo de estudos empíricos, de aumentos de pena para os que, por profissão, optaram pelo delito. Isso não significa, claro, abandonar os presos à própria sorte num presídio desumano. Mas, certamente, deixá-los soltos tampouco resolve o problema. O crime, como dito acima, é uma carreira, como qualquer atividade econômica. Começa com atividades simples (como furtos) e evolui para coisas mais complexas (roubos, latrocínios, cofres públicos). E mais: quem já investiu muito tempo numa carreira teria muito custo em mudar de profissão. Se o cumprimento de pena é importante, desde Beccaria ela deve ser proporcional ao delito. Desse modo, pequenos delitos devem ter pequenas punições e acompanhamento rigoroso do condenado, em vez da ausência de pena e impunidade, como ocorre no Brasil.
É aqui que as parcerias público-privadas (PPPs) parecem particularmente promissoras. O Estado ficaria com presídios de segurança máxima, onde deve haver muito controle e há maior risco social, e a iniciativa privada poderia ficar com a fiscalização do cumprimento de penas leves e de regimes semiabertos e abertos, em que os presos podem trabalhar. Contrariamente às PPPs, há informações recentes trazidas pela imprensa que dão conta do elevado custo de manutenção do preso no sistema privado (chegando a R$ 2 mil/mês). Mas esse custo deve ser ponderado à luz do benefício. O primeiro seria o contribuinte ficar livre de extensa folha de futuros aposentados públicos com privilégios que adviriam de cadeias públicas. E, associado a ele, liberar a sociedade civil dos “sindicatões” públicos, que podem fazer greve sem custo salarial algum. Em adição, os funcionários privados corruptos poderiam ser mais facilmente demitidos. Sem falar que o “custo social”,
É melhor que haja o controle privado do cumprimento de penas leves nas palavras de Coase, de um criminoso à solta é provavelmente muito maior que R$ 2 mil por mês (considerando seus roubos, furtos e violência). Portanto, é melhor que haja um controle privado, diante do absoluto abandono dos Estados da Federação da fiscalização de cumprimento de penas leves e de regimes que não o fechado. As PPPs, então, garantiriam, de um lado, punição e monitoramento do cumprimento de penas leves, o que educaria os hoje pequenos delinquentes; de outro, economizariam muitos recursos em segurança privada, que desnecessariamente consome parte do PIB brasileiro. Quantos delitos são praticados por presos em liberdade condicional ou que gozaram algum benefício que os deixa, na prática, absolutamente soltos (inclusive os corruptos)? Se a sociedade brasileira quiser dar o salto para o Primeiro Mundo, terá de finalmente aceitar cumprir regras, e isso não existe sem sanção, sobretudo no âmbito penal. Afinal, a sociedade é formada por indivíduos, que fazem suas escolhas e devem ser responsáveis por elas. ● Luciano Benetti Timm, pesquisador de pós-doutorado em Berkeley, professor da PUC-RS, é presidente da Associação Brasileira de Direito e Economia E-mail: ltimm@cmted.com.br
FAX:
E-MAIL:
(11) 3856 2920
Produçãorural Minhas felicitações pela brilhante argumentação real do leitor sr. Cleiton Rezende de Almeida (15/9), assunto em que o sr. Lula nunca teve informação do que está ocorrendo na Nação. Os produtores rurais estão a ver navios e aviões que ele está comprando não sabemos para que fim. Aqui os produtores recebem castigo e os de países adiantados recebem subsídios do governo. VICENTE DE PAULO BUENO vicente.bueno@hotmail.com
São João da Boa Vista
CPIdo MST A senadora Kátia Abreu quer criar CPI para investigar repasses de verbas ao MST. Com tantas evidências, isso será necessário?
forum@grupoestado.com.br
VIRGÍLIO MELHADO PASSONI mmpassoni@gmail.com
Osasco
Kassabe a merenda Depoimento atribuído ao prefeito Gilberto Kassab (18/9, C8), comentando denúncia do corte na merenda escolar, merece atenção por dois detalhes, um, pela interpretação do caráter didático que a situação oferece ao público leitor e o outro, calcado na visão ideológica oferecida pelo detentor do cargo: 1) ele alegar que desconhecia o fato; 2) defender a medida. No primeiro caso fica no ar certa negligência de uma autoridade eleita com expressiva votação para dirigir a maior cidade do continente sul-americano no tocante a um assunto que, imagino, deve-
A10 NACIONAL
SÁBADO, 19 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 50 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entrevista Marco Antonio Teixeira: cientista político
‘Censuraé violênciacontrademocracia’ Para professor da FGV, seria ‘lógico’ suspender decisão do juiz Dácio Vieira assim que ele foi declarado suspeito Moacir Assunção
O cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marco Antonio Teixeira disse ter considerado “no mínimo estranha” a decisão do Conselho Especial do Tribunal
de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), que declarou suspeito o desembargador Dácio Vieira para julgar o caso do Estado, mas não suspendeu a censura ao jornal. Vieira foi responsável pela decisão de impedir o Estado de divulgar informações da investigação da Polícia Federal sobre negócios do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP). “O lógico seria que a decisão dele fosse suspensa, uma
vez que ele foi considerado suspeito pelo próprio tribunal. Não vejo como colocar alguém sob suspeita e a decisão que originou a ação ser mantida.” O que representa a censura, em sua essência?
É a violação do Estado de Direito, em consequência da própria democracia. Ao mesmo tempo em que o juiz proibiu o Estado, que obteve de forma lícita as informações, de divulgálas, também impediu que os lei-
tores, portanto os cidadãos, tivessem a oportunidade de saber do que se tratava. A censura é uma violência contra a democracia em todos seus aspectos, principalmente no que diz respeito à liberdade de expressão e de opinião. Como o sr. viu a decisão do conselho de afastar o desembargador Dácio Vieira do caso, com a manutenção da censura?
Vi com enorme estranheza. Parece óbvio que, quando al-
guém é considerado suspeito em uma decisão, esta seja suspensa quando há a declaração de suspeição. O fato de um novo juiz ser indicado para seguir com a ação parece positivo, mas os juristas têm ressaltado que a decisão foge dos padrões normais. Haveria algum tipo de corporativismo na decisão?
Esta é uma conclusão que podemos tirar do episódio. O que deu para perceber é que os
CIDADANIA
FHC: juntar leis sociais é inócuo
conselheiros declararam o desembargador suspeito, mas não colocaram em dúvida sua capacidade técnica ou a atuação no processo. Esta é uma estratégia em que, claramente, os colegas do juiz declarado suspeito querem evitar um confronto direto com ele. Então, preferem oferecer-lhe saída honrosa. Resta ver o que o novo relator irá fazer. ● † Mais informações na página A18
SERGIO DUTTI/AE
Projeto de Lula ‘não muda nada’ e só serve para chamar atenção, diz Clarissa Oliveira
Oex-presidente FernandoHenrique Cardoso minimizou ontem a notícia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja enviar ao Congresso um projeto para consolidar as leis sociais criadas em seu governo. “É uma medida, simplesmente, de colocar um quadro de referência no que já está lá. Uma medida de chamar a atenção. Nãomuda nada. Essasleis já estãoaí”,disseotucano,aoparticipar da inauguração do Centro Ruth Cardoso, criado pela ONG Alfabetização Solidária para reunir o acervo sobre a trajetória da ex-primeira-dama, que morreu no ano passado. Em entrevista após o evento, FHC disse não ter nada contra essaconsolidação. Afirmou que entende a iniciativa do presidente como uma forma de mandar um recado para “ninguém mexer” nesses projetos. “Ninguém quer mexer. O que todo mundo vai querer é melhorar. Como ele melhorou o que nós começamos.”
TRABALHO SOCIAL
O Centro Ruth Cardoso foi instalado no mesmo prédio onde funciona a Alfabetização Solidária, na capital paulista. O objetivo é promover ações de promoção de políticas sociais, encontros acadêmicos, entre outras atividades. Em seu discurso, FHC brincou com o fato de Ruth ser descrita por seus antigos colegas como “brava”. Disse que era cobrado pela esposa até na hora de manter a casa emordem.“Pelomenosamesa eu tinha de tirar.” Ele disse, entretanto, que o trabalho social comandado por Ruth nunca foi “objeto de nenhuma propaganda de governo”. “Acho indigno usar ação generosa e social para fins promocionais.” Em entrevista, ele negou que tenha pretendido mandar um recado ao governo Lula pela promoção de projetos sociais. ● † Mais informações no caderno de Economia
CONTINUIDADE – Patrus Ananias: objetivo é transformar em lei regras que já valem para programas como o Bolsa-Família e ProUni
Ministro diz que consolidar programas pode evitar retrocesso no novo governo Eduardo Kattah BELO HORIZONTE
A proposta de um projeto de lei para consolidar as políticas sociais do governo tem por objetivo evitar um eventual retrocesso no caso de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguir eleger seu sucessor, afirmouontemoministrodoDesenvolvimento Social e Combate à Fome,PatrusAnanias. Ogover-
no deve finalizar, até o início do próximomês, umapropostainicial para ser enviada ao Congresso. A ideia é instituir uma Consolidação das Leis Sociais, inspirada na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). “Oprimeiroobjetivo énão retroceder, mas, além disso, é avançar”, disse Patrus ao Estado, observando que o governo não pode ter a ilusão de achar que os programas sociais serão
preservados independentemente do resultado da eleição presidencial de 2010. Patrus já vinha destacando o empenho do governo em criar uma base jurídica para a manutenção dos programas sociais, transformando-os em políticas deEstado. Oobjetivoétransformar em lei regras que valem atualmentepara programassociais, como o Bolsa-Família e o ProUni.
Oministro acredita que a justiça social implica políticas específicas direcionadas não apenas para os pobres, mas também trabalhadores assalariados e pequenos empreendedores. Para ele, o maior desafio é integrarpolíticassociaiscomdireitos trabalhistas. Na opinião de Patrus, o momento propício para a iniciativa anunciada por Lula. Segundo o ministro, os programas do governo estão demonstrando alta eficácia do ponto de vista social e econômico. “As políticas sociais ajudaram o Brasil a enfrentar de cabeça erguida essa crise econômica internacional”, ressaltou. ●
A18 INTERNACIONAL
SÁBADO, 19 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
AMÉRICA LATINA
SIP quer ajuda internacional contra restrições
CARLOS HERNÁNDEZ/EFE
Em Caracas, fórum busca saída para cerco à imprensa; censura ao ‘Estado’ é citada como exemplo de ameaça Denise Chrispim Marin ENVIADA ESPECIAL CARACAS
De mãos atadas, os meios de comunicação de países como Venezuela,Equador,Bolívia,Nicarágua e Argentina apostam na reação da comunidade internacional e dos Congressos de países vizinhos para escapar da situação de estrangulamento da liberdade de expressão. Dos governos da região, não há expectativa de ajuda. A escassez de saídas desse tornou-se clara na medida em que se seguiam ontem, em Caracas, os debates do fórum de emergência sobre Liberdade de Expressão, organizado pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). A censura imposta pela Justiça ao Estado foi citada como um exemplo do assédio à liberdade de expressão. “A comunidade internacional já começa a reagir, o que é muito auspicioso”, resumiu o chileno Luís Pardo Sainz, presidente da Associação Interamericana de Radiodifusão (AIR), depois de acentuar os riscos dasiniciativas da Venezuela, da Argentina e do Equador de formar monopólios estatais de comunicação. “Os Congressos de vários países, como o Brasil, o Peru e o Chile, se mostram mais livres que os seus governos paraemitir condenaçõesaosatentados à liberdade de expressão.” Presidente da SIP, o colombiano Enrique Santos Calderón deu o tom das discussões de ontem ao declarar que a liberdade e a democracia formam um “binômio indissolúvel” e, portan-
Castañeda rejeita convite por temer perseguição ●● ● Convidado especial do Fórum de Emergência sobre Liberdade de Expressão, o ex-chanceler do México Jorge Castañeda declinou do convite na última hora por temer a reação das autoridades venezuelanas a sua presença na Venezuela. Castañeda argumentou que, ao contrário dos outros convidados, não teria o grau de imunidade diplomática dos expresidentes Carlos Mesa, da Bolívia, e Alejandro Toledo, do Peru. O presidente da SIP, o colombiano Enrique Santos, disse que todos os membros da entidade foram declarados persona non grata pela Câmara dos Deputados da Venezuela às vésperas do encontro de Caracas. ● D.C.M.
to, as ações contra a livre imprensa na América Latina representam o desgaste acelerado de suas instituições. Conforme acentuou, houve 15 assassinatos de jornalistas na região ao longo deste ano. Mesmo os homicídios cometidos pelo narcotráfico, insistiu Santos, revelam o desinteresse de governos na punição dos seus autores e o fomento à impunidade. “De qualquer forma, tanto as ações dos governantes da regiãoquanto asdosgruposdelinquentes têm o objetivo de impedir que a informação alcance o cidadão”,completouo vice-presidente da SIP, Gonzalo Marroquín, do jornal Prensa Libre, da Guatemala.
Marroquín enumerou vários casos de violação da liberdade de expressão, de perseguição a jornalistas,adoçãodeleisrestritivas e abuso nas concessões de emissoras de rádio e televisão. Mas acrescentou o caso da censura ao Estado, que hoje completa 50 dias, como exemplo de atentadoàliberdadedeimprensapatrocinadopelaprópriaJustiça. CASO ARGENTINO
Em exposição, o ex-presidente do Peru Alejandro Toledo alertoupara tendênciade expansão do “autoritarismo populista na América Latina”, fenômeno que estaria centrado na “eliminação das vozes discordantes”. Toledo defendeu que a liberdade de expressão é um valor que transcende as fronteiras e a soberania nacional. As críticas a políticas nacionais de cerceamento à livre imprensa deveriam estar na pauta dos governos da região, afirmou. Toledo assinalou que sua preocupação maior, neste momento, está na Argentina, onde o governo de Cristina Kirchner obteve aprovação da Câmara dos Deputados a um projeto de lei que permitirá o desmonte dos principais grupos privados de comunicação do país. “O caso da Argentina é um péssimosinal”, afirmou Toledo. “No caso da Venezuela, não venho dizer a Chávez o que deve fazer na área econômica ou de segurança interna.” Em seguida, Toledo completou: “Mas venho falar do direito de acesso à informação e também que a democracianão temcoloração política.” ●
MAU MOMENTO – Mesa (centro), ao lado de Toledo (dir.) e Santos Calderón (2.º da dir. para a esq.): polarização
ENTREVISTA
Carlos Mesa: Ex-presidente da Bolívia
‘Região vive tendência ao autoritarismo’ A democracia latino-americana se deteriorou em relação aos anos 90? A região está polarizada. Nos anos 90, havia uma noção compartilhada de democracia respeitada por todos. Agora, temos o bloco liderado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o da esquerda moderada, do presidente Lula, e o de direita, do presidente Álvaro Uribe, da Colômbia. Os valores democráticos são diferentes em Caracas, Brasília e Bogotá. Deveríamos respeitar os valores básicos da democracia, mas há uma tendência ao autoritarismo na região.
Por que a oposição nos países bolivarianos se refugiou na imprensa? No Brasil, há um sistema partidário que funciona. Mas em muitos países houve um colapso dos partidos, que desapareceram. O poder dos atuais governos não permite o surgimento de novos partidos e a oposição acabou se refugiando na mídia, que é o único meio de expressão que restou. A Unasul pode fixar valores para a democracia na América do Sul? Sim, mas quando ela tiver credibilidade. Hoje, ela está tão polarizada que é impossível haver consenso.
Chávez e Uribe não assinarão um mesmo documento sobre a democracia. Esse é o pior momento da região em nível de integração. Só há diálogo quando há interesses bilaterais. Essa dificuldade aumentou com o acordo entre EUA e Colômbia? Sem dúvida. O acordo não foi uma ideia inteligente. Não é hora de aceitarmos bases dos EUA na região. Claro que a Colômbia pode assinar tratados bilaterais com quem quiser, mas essa decisão põe em risco a Unasul e justifica a escalada armamentista. ● D.C.M.
ENRIQUE MARCARIAN/REUTERS-17/9/2009
Amigos de Kirchners devem beneficiar-se de lei da mídia Restrições previstas por medida levaria à onda de venda de emissoras Ariel Palacios CORRESPONDENTE BUENOS AIRES
Analistas e líderes da oposição afirmam que a lei de radiodifusão argentina, se aprovada no Senado, levantará uma onda sem precedentes de venda de empresas de comunicação e abrirá caminho para que grupos empresariais alinhados com a presidente Cristina Kirchner e seu marido, e ex-presidente Néstor Kirchner – os denominados “empresários K” –, possam comprar canais de TV e estações de rádio. A lei, aprovada na madrugada de quinta-feira na Câmara, determina que uma empresa não poderá ter de forma simultânea canais de TV aberta e a
cabo e cria controles estatais que poderiam – dependendo do humor do governo – impedir que um jornal possa adquirir emissoras de rádio e TV. “Há casos de pequenos empresários – ou de pessoas que nem sequer eram empresários – que, graças às relações com os Kirchners, transformaram-se em grandes empresários”, afirma Fernando Sánchez, deputado da Coalizão Cívica, de oposição. Segundo ele, um desses casos é o de Rudy Ulloa Igor, excontínuo, ex-motorista e ex-secretárioparticulardo casalKirchner, e hoje magnata da mídia no sul da Argentina que tenta expandir-se na capital do país. Ulloa conheceu os Kirchners em Río Gallegos nos anos 80, quando,adolescente,vendiajor-
nais nas esquinas. Depois, enquanto Kirchner expandia seu poder–como prefeito,governador de Santa Cruz e presidente –,Ulloatambém crescia.Nos últimos dez anos adquiriu um jornal de distribuição gratuita – El Periódico Austral –, benefician-
Ex-contínuo de casal é magnata da imprensa no sul da Argentina do-se de vasta publicidade oficial,váriasrádiosFMeumaprodutora de vídeo. Além disso, explora o sinal local de um canal comunitário de TV, após licença concedida por Kirchner.
Os meios de comunicação de Ulloa são explicitamente kirchneristas. No ano passado lançou revista Atitude, que explicita seu claro alinhamento: “Uma revista que não é independente.” A adulação do casal presidencialtambémdeuorigemàrevista mensal Komprometidos K. Fortes rumores indicam que desde o ano passado Ulloa está atrás da compra de um dos maiorescanaisdeTV daArgentina, a Telefé, atualmente em mãos da Telefónica da Espanha. Ulloa nega, embora fontes do setor afirmem que o protegido dos Kirchners está tentando adquirir o canal. No ano passado, o Financial Times informou que Ulloa havia tentado comprar uma parte do Clarín, no início de 2008, quan-
BENEFÍCIO – Lei permitirá que aliados de Cristina comprem rádios e TVs
do o periódico ainda não havia entrado em rota de colisão com o governo Kirchner. Os analistas também indicam que a Electroingeniería – empresa de distribuição de energia elétrica e concessionária de estradas – seria outro po-
tencial grupo de mídia alinhado com os Kirchners. A empresa comprou em novembro Radio del Plata e demitiu há meses o jornalista Nelson Castro, um dos mais prestigiados analistas políticosdopaís,porsuasobservaçõescríticasaosKirchners. ●
PeloMundo URUGUAI
VIOLÊNCIA
EQUADOR
Candidato qualifica argentinos de ‘burros’
Atirador mata 2 e fere 5 na Cidade do México
EUA saem oficialmente da Base de Manta
O candidato presidencial uruguaio José Mujica, do partido governista Frente Amplo, está tendo de se explicar porque teria dito que os argentinos são “burros” e “irracionais”. As declarações estão num livro escrito por um jornalista com base em entrevistas com Mujica. A grande procura fez com que a obra se esgotasse nas livrarias.
Pelo menos duas pessoas morreram e cinco ficaram feridas ontem quando um homem entrou atirando em um vagão de metrô na Cidade do México, na hora do rush. O prefeito Marcelo Ebrard disse que o atirador foi preso, mas não revelou a identidade dele. Segundo testemunhas, o atirador gritava que a agressão era contra o governo.
Os últimos 15 soldados americanos deixaram ontem a base equatoriana de Manta (foto), encerrado oficialmente uma década de cooperação militar. Os EUA usavam a base para o combate às drogas. Mas há algum tempo Quito acusa os americanos de terem uma agenda oculta. Em 2006, o líder equatoriano, Rafael Correa, decidiu não renovar o acordo.
JOSÉ JÁCOME/EFE
ORIENTE MÉDIO
Fracassa viagem de enviado dos EUA O enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, terminou ontem, de mãos vazias, uma viagem de uma semana à região. O objetivo de Mitchell era promover um acordo entre líderes palestinos e de Israel para o congelamento dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e a retomada das negociações de paz.
o estado de s. paulo
● Edição de
0h15
DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
A cadeira Chifruda, de Sergio Rodrigues, é relançada em Nova York. ●
ALIÁS
14.885
Democracia
e imprensa em tempos de internet
e censura
é o total de ofertas
q ESPORTES
8.271
A dois dias do aniversário de 33 anos, Ronaldo volta hoje, contra o Goiás. E com fome de seleção. ●
anúncios classificados
autos OSalão de Frankfurt, na Alemanha, traz80 modelos inéditos. ●
Diante do pré-sal, produtores de etanol cobram proteção Usineiros querem que governo privilegie o álcool em detrimento do petróleo Preocupados com o petróleo do pré-sal, os usineiros querem que o governo defina a política para o setor de combustíveis, para evitar o que ocorreu com o Proálcool – que minguou nos anos 80 por causa da queda na
cotação do petróleo. “É preciso criarumaregra garantindo que o etanol continuará a ser o númeroumnamatrizdecombustíveis, e que a gasolina é uma alternativa”, disse Antoniode Padua Rodrigues, da União da In-
dústria da Cana-de-Açúcar. No fim de 2008, o consumo nacional do etanol superou o da gasolina, graças ao sucesso dos carros flex, uma invenção brasileira. O consumo de etanol no País cresceu 27% entre janeiro e
agosto deste ano, ante o mesmo período de 2008. Mas a euforia com o pré-sal, aliada ao estudo do governo mostrando que os carros a gasolina poluem menos que os a álcool, ameaça esse quadro. ● PÁG. B1
(1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
20 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42341
CLASSIFICADOS
PAULO PINTO/AE
casa&
JULIO MESQUITA
‘Estado’ faz debate sobre petróleo ●● José Sérgio Gabrielli, da
Petrobrás, participará da discussão, no dia 30. ● PÁG. B3
tv&lazer S.O.S séries Chuck encabeça lista de atrações resgatadas após campanhas na internet nos EUA. ●
Judiciário gasta 90% de sua verba com salários O Judiciário consome, em média, 90% de seus recursos com salários de servidores (magistrados e pessoal administrativo), mostra estudo do Conselho Nacional de Justiça. Há tribunais que aplicam 99% da verba com pessoal, caso do Tribunal de Justiça do Piauí. Representantes das cortes alegam que os gastoscompessoalsãonecessários diante da demanda e que a verba é pequena. ● PÁG. A4
Assembleiada ONUdeveser dominadapela questãonuclear
CHINA: TURISMO VERMELHO EM ALTA
CLÁUDIA TREVISAN/AE
O combate à proliferação nuclear dominará a agenda da Assembleia-Geral da ONU, nesta quarta-feira. O Conselho de Segurança deve aprovar resolução que fala em desarmamento progressivo e uso pacífico de energia atômica. A Rússia, animada depois que os EUA abandonaram a ideia de um escudo antimísseis no Leste Europeu, pode apoiar a proposta e ajudar a pressionar o Irã. ● PÁG. A16
●●● Turistas visitam o Museu Revolucionário, inaugurado em agosto, na cidade de Yan’an, base de Mao Tsé-tung e seus seguidores: em 2008, 278 milhões de chineses fizeram pere-
grinações para os locais que se tornaram símbolos da Revolução Comunista, ocorrida há quase 60 anos, relata a correspondente em Pequim Cláudia Trevisan. ● PÁGS. A18 e A19
COLUNISTAS
SP: CIDADE DO ESPORTE
CULTURA Freud em análise
●● Intelectuais
refletemsobre olegadodo pensador, mortohá70 anos. ●
Santa Catarina JOSÉ PATRICIO/AE
Mina de fosfato é alvo de polêmica ●●● Corrida de kart na Estação
da Luz, uma das 2 mil atividades da Virada Esportiva: são espera-
NOTAS E INFORMAÇÕES
O fim de uma provocação O presidente dos EUA, Barack Obama, removeu um dos mais tóxicos detritos da falida estratégia do governo Bush: o plano de instalar na Polônia e na República Checa um escudo antimísseis de longo alcance. ● PÁG. A3
●●●
7 8 9 10 11 12
das 3 milhões de pessoas no evento, previsto para terminar às 20 horas de hoje. ● PÁG. C5
Tempo: CAPITAL
21º MÁX.
● PÁG. C2
16º MÍN.
Tempo fica chuvoso. Temperatura cai. Tiragem: 300.808 Hoje: 244 páginas A. 1º caderno: 26 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 18 ● E. Esportes: 6 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 40 ● F. Feminino: 16 ● Ca. Autos: 32 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 36 ● Co. Oportunidades: 10
●● Moradores de Anitápolis tentam barrar empreendimento. ● PÁG. A22
Infância
Crianças com males de adultos Excesso de estímulo dos pais leva à fadiga e à depressão. ● PÁG. A24
●●
Justiça
Gilmar Mendes defende Toffoli Para ele, advogado é vítima de padrão criado pelo próprio PT. ● PÁG. A6
●●
Suely Caldas ●● Em 80 anos, ficou claro que o Estado não é um bom gestor econômico. ● PÁG. B2
Dora Kramer ●● PTePMDBdisputamaliados na montagem dos palanques nos Estados. ● PÁG. A8
Daniel Piza ●● Fascismo? O maniqueísmo é o mais duradouro de todos os “ismos”. ● PÁG. D3
João Ubaldo Ribeiro ●● Em no máximo 20 anos, os meninos nascerão com um celular na orelha. ● PÁG. D3
Ritmo de obras fará SP sofrer enchentes por mais 40 anos Mantidooritmoatualdeinvestimentos, a Grande São Paulo levará quase 40 anos para implementarseuplano estruturalanticheias. Desde que o projeto foi implantado, em 1998, foram construídos 43 dos 134 piscinõesprevistos.Osdemaisprecisam de R$ 3,6 bilhões. ● PÁG.C1 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 51 DIAS q PÁG. A13
DOMINGO, 20 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 51 DIAS
NACIONAL NACIONAL A13 A13
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entrevista Francisco de Oliveira: sociólogo e professor emérito da USP
‘A censura é um absurdo, é uma excrescência’ Sociólogo diz que medida contra ‘Estado’ é sinal de regressão na política, que remete aos tempos da ditadura militar Moacir Assunção
Professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) e um dos fundadores do PT, partido com o qual rompeu em 2003, o sociólogo Francisco de Oliveira, conhecido como Chico de Oliveira, vê a censura ao Estado como sinal claro de um processo de “regressão da política”. Para ele, o cenário remete, cada vez mais, aos tempos da ditadura militar, principalmente nos países que considera de fraca tradição democrática, como o Brasil e a Rússia. “O que ocorreu é inominável, um horror que até temos dificuldade de adjetivar”, diz. “A imprensa tem sido um dos poucos canais que a expressão popular pode utilizar e essa censura prévia não é isolada. Ao contrário, é parte de um processo de avassalamento da cidadania e das instituições democráticas, que sofrem uma brutal crise de representatividade”, alerta. Desde 31 de julho, por decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), a partir de solicitação do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o Estado está proibido de publicar qualquer reportagem referente à Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou os negócios da família.
Para ele, proibição ao jornal ‘tocou em ponto nevrálgico da cidadania’ Na quarta-feira, o Conselho Especial do TJ considerou o desembargador suspeito e o afastou do caso, por ter feito críticas ao jornal. Apesar disso, a liminar da censura foi mantida, em uma decisão criticada por vários juristas. O novo relator, Lecir Manuel da Luz, vai decidir agora se a censura continua ou será abolida. Eis a entrevista: Por que houve a censura ao jornal, na visão do senhor?
A censura – e o Estado viveu isso durante a ditadura, quando teve de publicar poemas de Camões e receitas de bolo no lugar de notícias proibidas de circular – é um absurdo completo e uma excrescência. Lamentavelmente, no mundo inteiro, temos assistido a um processo de regressão da política, que é extremamente preocupante. Com a censura ao jornal, se tocou em um ponto nevrálgico da cidadania, que é a liberdade de expressão, um bem muito caro à sociedade, que lutamos muito para conquistar. Mas é tudo parte de um processo em que parece que voltamos ao passado. E, pior, a um passado sombrio, que pensamos que jamais voltaria. É uma situação um tanto quanto surreal. O que causa esse processo?
Com a centralidade do mundo globalizado, o Executivo, em todos os países, mas principalmente nos de pouca tradição democrática, como o Brasil e a Rússia, se tornou praticamente o único Poder, onipotente e todo-poderoso. O Executivo le-
gisla, julga e executa. Qual foi a lei importante surgida nos últimos anos de autoria do Legislativo no Brasil? Nenhuma. O Legislativo nunca mais teve importância no País depois da ditadura militar. Não pôde, por proibição do regime militar, lidar com temas orçamentários, por exemplo, mas o Orçamento é o coração do Estado moderno, o que o torna praticamente supérfluo. Assim, há um processo de avassalamento do Legislativo, que chega a outras instâncias da sociedade, como à imprensa, simbolizado por esse caso do Estado. Por outro lado, o governo tem atuado por meio das medidas provisórias. As MPs que, como o próprio nome diz, deveriam servir para situações muito especiais. Aqui, porém, a exceção virou regra. Há também muitos parlamentares que apreciam essa condição de servilismo. Há muitos casos de jornais do interior censurados também via Judiciário, a pedido de prefeitos e outras autoridades.
Esse processo ocorre em todos os lugares. A imprensa, com todos os seus problemas, tem sido a possibilidade de a sociedade se pronunciar. Se essa voz é calada, sobra muito pouco. Os partidos estão totalmente descaracterizados. Parece que tanto faz como tanto fez. Os sindicatos, por sua vez, estão enfraquecidos e, em muitos casos, falidos. Esse é um momento muito difícil para a cidadania no Brasil, porque não temos meios de nos defender desse Poder gigantesco que é o Executivo. O cidadão não pode ficar condenado a se pronunciar somente de quatro em quatro anos, durante as eleições.
O caso da família Sarney e o Senado poderia se enquadrar no velho Estado patrimonialista brasileiro, que faz questão de marcar a sua autoridade?
Há uma divisão clara de trabalho na família que lembra a velha tradição das famílias oligárquicas. Antes, um filho ia para o Exército, outro para a carreira religiosa, outro para a política e, por fim, outro, quase sempre visto com o menos inteligente, para os negócios. Hoje, ninguém mais quer ser general ou padre e a única preocupação dessa nova elite é enriquecer nos negócios. A gente podia até se divertir com as estripulias da família no Senado, mas agora, com a censura, nem isso pode. Como a sociedade pode lutar contra esse movimento que o sr. chama de regressão às antigas formas de política?
Infelizmente, não vejo motivos para otimismo. A sociedade sofre todos esses problemas e perde as suas poucas possibilidades de expressão, mas a economia vai bem, está crescendo até. Então, há pouco ânimo para criticar a situação, o que é lamentável. Não vejo uma situação melhor em curto prazo. Esperamos que tudo isso seja um ciclo e as eleições de 2010, talvez, ajudem a mudar um pouco esse panorama. Mas, lamentavelmente, acho que esses são tempos sombrios e há pouco a fazer para mudar esse quadro. Vivemos um período muito difícil. ●
MARCOS D'PAULA/AE -28/2/2008
Quem é: Francisco de Oliveira ● Professor titular aposentado do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH) ● Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores
CRÍTICA – ‘O que ocorreu é inominável, um horror’, diz Chico de Oliveira
● Membro do Centro de Estudos de Cidadania da USP
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DOMINGO, 20 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
A montagem de uma falácia Senador cai no sofisma ao fazer da imprensa e do Congresso adversários na representação do povo Maria Sylvia de Carvalho Franco*
O discurso de Sarney na data emquesecomemoraademocracia surpreendeu tanto por exumar uma velha técnica de controle político (os freios à liberdade de expressão) como por sua retórica, tecida em argumentos sofísticos. Sua fala aponta uma polaridade na vida pública atual: o Congresso, legítimo representantedopovo,eaimprensa, que pretenderia esse mesmo papel. “É por essa contradição que existe hoje, um contra o outro, que, de certo modo, a mídia passou a ser uma inimiga do Congresso,umainimigadasinstituições representativas.” A falácia desse enunciado está na montagem de uma contradiçãoapartirdeproposiçõesparalelas: Congresso e imprensa reclamando representar o povo. Imortal que é, Sarney deveria melhor conhecer o vetusto conceitoquemobilizou,relevante na cultura antiga e no pensamento moderno. A contradição envolve componentes irredutíveis e intrinsecamente constitutivos um do outro: por exemplo, a tensão do arco e da corda, forçascontráriasesimultâneas,resulta no movimento que dispara aflecha(Heráclito);Creonteimpõe leis seculares e Antígona postula deveres ancestrais: ambos desafiam valores antinômicos e ao mesmo tempo legítimos (Hegel); o capitalista inexiste sem o trabalhador... (Marx). O imagináriodaimprensaeacompetência do Senado não são ao mesmo tempo antagônicos e imanentes um ao outro, não geram contradição. Sarney passa diretamente da suposta analogia entre imprensa e Congresso parao conflitoentre ambos edaí para a contradição, produzindo um raciocínio aparentemente verossímil,masinverídico.Retórica ardilosa. Não pela simetria dos fins, mas por seu reverso, Congresso e imprensa podem, isto sim, entrar em oposição. O jornalismo possui a força de representar o povo na medida que revela, por
TERÇA, 15 DE SETEMBRO
Democracia sarneysiana ●●● Em sessão solene no Senado em homenagem ao Dia Internacional da Democracia, o presidente da Casa, José Sarney, discursou que “a mídia é inimiga do Congresso, uma inimiga das instituições representativas”. Para analistas, o senador criou um falso embate.
exemplo, a opinião pública escandalizada pela corrupção e conduta indecorosa de parlamentares. Entretanto, no plano histórico,a imprensaque reclamoupara si a representação popular paradoxalmente negou esse projeto. Dizendo-se autônoma face aoEstado, a partidos políticos e a grupos de interesses, essa linha jornalística elegeu, como alvos, objetivos públicos abstratos e verdades formais, empenhando-se em registrar o mundo de modo distanciado, independente da dinâmica sociopolítica nele em curso. A objetividade assim vista fundaria a imprensa democrática, representativa do povo que não mais se reconhece nos partidos políticos frágeis e poderes estatais desvirtuados. Alegando saberes e instrumentos de pesquisa superiores,essa vocaçãoprofissional aspirou chamar a si os olhos e ouvidos de um público cego, surdo, emudecido, entendendo informar e ser porta-voz de cidadãos passivos e privatizados, alheios à vida coletiva. Para Walter Lippmann, (Public Opinion, l922) figura central no moderno jornalismo americano, não há uma opinião publica informada e os eleitores são in-
competentes para dirigir assuntos públicos. O telos dessa tendência favorecida por Sarney, velha de quase um século, supunha uma “democracia sem cidadãos” (Entmann). O jornalismoindependente ecientífico, devotado ao fato e à objetividade, justificou-se em nome do público e ao mesmo tempo reduziu-o a um fantasma (cf. Th. L. Glasser e Ch.T. Salmon, ThePress,Public Opinion andPublic Discourse). Não é difícil discernir como o papeldaimprensarepresentantedopovoseinserenumprograma tão autoritário quanto outras pretensões ruinosas de esclareceremonitoraraconsciência das massas. Ademais, em toda pretendida neutralidade entranha-se a adesão aos poderosos (M. Weber). Desse ângulo, compreende-se a assertiva de Sarney, cujos parâmetros foram modulados num horizonte tão prepotente quanto seus próprios discursos e atos. Nessa luz, a epifania da imprensa co-
mo representante do povo não se manifesta pela contradição com o Parlamento, como quer Sarney, mas pelo vazio institucionaldeumpreenchidovicariamente pela outra. Nem tudo, porém, é assim tosco no debate sobre a censura à imprensa, onde ressalta a Areopagítica, escrita por Milton ao ser renovado (1643) o requisitodelicença para a circulação de livros, imposta pelo LongoParlamento. Antes(1641), esse mesmo Parlamento havia abolido a Star Chamber, que agia como censora. Milton coloca como epígrafe, nesse texto, uma fala de Teseu, nas Suplicantes, de Eurípides, ampliandoumpoucootextogrego (cf. 438 sg. ed. G. Murray): “Esta é a verdadeira liberdade, quando a homens livres,/devendoaconselharopúblico,épermitido falar livremente./Aquele que pode e deseja, merece eminente louvor;/Àquele que não pode, nem deseja, é permitido ficar empaz:/O quepode ser mais
justo num Estado, que isto?” O contexto mais amplo onde se inscreve esse trecho é uma crítica à tirania, nos termos correntes no século 5º a.C. (exclusão dos melhores, solidão, lisonja, desmesura, lascívia) amplamente retomados desde o Renascimento. Eurípides acentua a distinção entre o domínio de um só e o livre governo pelo po-
SARNEY EXUMA TÁTICA DE CONTROLE POLÍTICO: FREAR A LIVRE EXPRESSÃO vo:importância do discurso e da persuasão em lugar da violência,constituiçãoigualitáriadacidade, consulta ao povo não só nas decisões internas, como nas tratações com o inimigo, invocando o respeito aos códigos comunse às leispan-helênicas. Esgotados os recursos pacíficos, desencadeia-seaguerra.NatraED FERREIRA/AE
*Professora titular dos Departamentos de Filosofia daUnicamp e da USP
Ruidosos agentes do silêncio Tropas de assalto jogam duro para calar a liberdade de informação Demétrio Magnoli*
Hugo Chávez não sabe quem foi John Milton. No Areopagítica, de Milton, está escrito: “Aquele quemata um homem, mata uma criatura da razão, feita à imagem de Deus, mas aquele que destrói um bom livro, mata a própria razão, mata a imagem de Deus”. Subtitulado como Um Discurso ao Parlamento da Inglaterra pela Liberdade da Impressão sem Licença e publicado em 1644, no auge da guerra civil, o texto contém a mais clássica das justificativas racionais contraa censura. Miltonacreditava na razão humana e, portanto, na capacidade das pessoas de distinguir as boas ideias das más. Chávez também acredita nela – e justamente por isso empreende uma campanha estatal contra a liberdade de imprensa. GeorgeW.Bushinvocouapalavra “terrorismo” para trair o compromisso dos EUA com os direitos humanos e legalizar a tortura.Mas tudo começou com terroristas de carne e osso, que fizeram o fatídico 11 de setembro de oito anos atrás. Chávez apropriou-se da palavra para, mesmo sem terroristas, delinearumacampanhainternacional: em março de 2008, Caracas sediou o 1º Encontro Latino-
Americano contra o Terrorismo Midiático, um evento destinado a combater jornais e redes de TV que seriam “porta-vozes dos interesses imperiais”. O canalnoticiosovenezuelanoGlobovisiónconverteu-se,então,noalvo de um governo que já fechara a RCTV. Há pouco, em meio a pressões oficiais contra o canal, uma turba chavista invadiu suasinstalações.Jáseusamtropas de assalto para calar a imprensa, no país cuja candidaturaaoMercosulépatrocinadapelo governo brasileiro. “A segurança nacional deve prevalecer sobre a liberdade de expressão”,explicouapromotora pública venezuelana ao apresentarum projetodelei destinadoacontrolarosmeiosdecomunicação. Se os EUA tivessem aplicado esse princípio há quatro décadas, a Guerra do Vietnã talvez acabasse de outro jeito. O projeto cria a figura dos “delitos midiáticos”, que abrangem a divulgaçãodeinformaçãoquecause“prejuízoaosinteressesdoEstado”,atentecontraa“moralpública”oua“saúdemental”dapopulação. O Estado – nesse caso, um Estado cada vez mais personificado no caudilho – decide, é claro, sobre o que significa cada uma dessas tipificações. A lei chavista é um modelo: no Equa-
ma de prudência tecida ao longo da peça, esse é um ensejo para o bravoecautelosoTeseucontrastar a selvageria do combate e as instituições políticas. À violência belicosa opõe-se à racionalidade civilizada, mas a primeira não é descartada. A guerra enquadra a tragédia de Eurípides e o texto de Milton. Este se colocou a serviço dosprincípiosrepublicanoseassistiu à sua derrocada, sempre seopondoaogovernomonárquico. No período em que escreveu Areopagítica, já prenunciava a emergênciade umanova tirania em que depositara as promessas de liberdade civil e religiosa. Sua prisão foi decretada, seus livros queimados. Apesar disso, uma aragem de esperança irradia da Areopagítica. Milton confia no diálogo, recusa a lisonja aos poderosos, acusa energicamente a censura:“Quemmataumhomem,mata uma criatura de razão ... quem destrói um bom livro mata a própria razão”. A defesa do livro é perpassada de um veio prazeroso, algo satírico: “Livros são como as carnes e os alimentos, uns são bons, outros de má substância”, tendo Deus deixado ao homem sua escolha. Ao ampliar a dieta do corpo humano, mantendo as regras de temperança, Ele também deixou ao arbítrio do homem o regime de nossas mentes. O poeta recusa uma virtude enclausurada, estranha a seu adversário, o mal, ressaltandoosbenefíciosda“leitura promíscua” de livros, afirmando sua ética mundana. Compreende-se que Milton, escritorquebuscaa“humanidade elegante da Grécia”, que não temeoabismodoterroreosublime da beleza, encontre-se com Eurípides: “O poeta deve gerar com alegria os cantos que dá à luz. Se ele não a experimenta, se ele próprio é infortunado e incapaz de deliciar a outros ele mesmo,nãotemessedireito”.(Suplicantes, 180-183). ●
ORATÓRIA – Esta semana presidente do Senado esgrimiu novos argumentos em defesa de seus interesses
dor, na Bolívia e na Nicarágua, países da Aliança Bolivariana dasAméricas(Alba),desenhamse legislações similares. Na Argentina não se vai tão longe, mas o jornal El Clarín sofreu uma invasão de uma “tropa de assalto” singular, constituída por fiscais de tributos que agiam a mando direto da presidência e ao largo do próprio órgão de fiscalização tributária. Uma nova lei de serviços audiovisuais, patrocinada pelos Kirchners, tramita no Congresso e tem como alvo direto o grupo Clarín. Na antiga URSS, dissidentes eram rotulados como “doentes mentais” e internados em instituiçõespsiquiátricas.Areferência à “saúde mental” da população,naleidecensuravenezuelana, não é apenas um expediente para criminalizar o jornalismo, mas uma evidência do que efetivamente pensam os arautos do combate estatal à liberdade de expressão. Milton, no Areopagítica, esboçou o conceito de um “mercado de ideias”. A ofensiva contra a imprensa imagina a concorrência de ideias como umadoençasocialqueameaçao poder de Estado.
José Sarney não é, evidentemente, um chavista – mas sempre sabe surfar numa nova onda, a fim de proteger seus interesses patrimoniais. Num discurso no Senado, dias atrás, ele classificoua“mídia” como“uma inimiga das instituições representativas”.Há um métodoinfalível de saber a posição de cada um na polêmica sobre o controle da liberdade de expressão: se alguém emprega o termo “mídia” no lugar de “imprensa” é
‘IMPRENSA’ É DIFUSÃO DE INFORMAÇÃO E OPINIÃO. POR ISSO, PILAR DA DEMOCRACIA porqueflertacoma ideiadacensura. “Mídia” indica a indústria do entretenimento, um setor da economia de mercado; imprensa é a difusão de informação e opinião, um pilar insubstituível da democracia. A onda que sustenta a prancha de Sarney avolumou-se, no Brasil, com o episódio do “mensalão”. A trajetória do pensa-
mento da filósofa Marilena Chauí pontua a mudança. Num debatecomotambémfilósofoJosé Arthur Giannotti, em 2001, Chauíescreveraque“aodesqualificarospartidospolíticoseaimprensa, Giannotti desqualifica politicamente algo mais profundo: a sociedade civil e o conjunto dos cidadãos”. Era o tempo do governo FHC e a filósofa petista escrevia abundantemente nos grandes jornais. No auge do escândalo de 2005 ela já substituíra “imprensa” por “mídia” e mudara radicalmente de ideia. A “mídia” não representa nada além dos interesses das elites, pois, na sociedade capitalista, os meios de comunicação são empresasprivadase,portanto,pertencemaoespaçoprivadodosinteresses de mercado”, ensinava numa carta postada na internet. A Chauí de 2001 prezava o “mercado de ideias” e sabia que os interesses políticos dos empresáriosdecomunicaçãoestão subordinados a seus interesses empresariais. A imprensa depende dos leitores e anunciantes – e só os têm se conservar a credibilidade. Mas a Chauí de 2005, que se recusava a escre-
ver ou falar para jornais, traduzia numa linguagem “sofisticada” omantra simples daesquerda autoritária, para a qual a “liberdadedeimprensaéaliberdade da empresa”. Enquanto ela conferia legitimidade à senha ideológica, Lula selecionava jornalistas “confiáveis” e deflagrava o projeto de criação de um aparato midiático chapa branca centralizado na TV Brasil. Chávez controla hoje seis emissoras de TV, oito rádios, uma agência de notícias, centenas de sites e a maior provedora de internet da Venezuela. No Brasil, supostos especialistas em comunicação social engajados no programa do “controle social damídia” apontam na Europa exemplos de países em que o poder público detém parcela expressivadosmeiosderadiodifusão. Evidentemente, eles não aprofundam a comparação, silenciandosobreoabismoquesepara a independência editorial da BBC da submissão das redes de TV estatais da América Latina aos detentores do poder político. É que, não por acaso, quase todos eles admiram a ditadura cubana, na qual todos os meios de comunicação ecoam a diretriz única do Partido-Estado. O Brasil não é a Venezuela. Mas os inimigos da liberdade de imprensa fazem parte do consórcio heterogêneo que está no poder. No início de dezembro, o programa do “controle social da mídia” dará um novo passo, realizando a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). O convescote reunirá essencialmente órgãos de governoe ONGs ligadasaoPT, pois as entidades representativas das emissoras de TV, dos jornais, das revistas e dos provedores de internet decidiram boicotálo. Eu sugiro que alguém distribua cópias do discurso de Milton aos participantes. Ele continua muito atual. ● *Sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP, colunista do Estado
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SEGUNDA-FEIRA
computadores portáteis e televisões de LCD – já há dificuldade na entrega dos modelos mais procurados de TVs, de 32 e 37 polegadas. “Vamos ter o melhor Natal desde 1995, quando chegamos ao Brasil”, diz o vicepresidente comercial do Wal Mart, Marcelo Viena. ● PÁG. B1
Liderados por São Paulo e Minas, Estados vão tentar aprovar na sexta-feira, no Conselho de Política Fazendária (Confaz), recomendação que proíbe os exportadores de usar crédito do ICMS para pagar fornecedores. A retaliação é uma respostaàatitude do governo federal de não prever repasses de verbaem2010 comocompensação pela Lei Kandir. ● PÁG. B7
Sinais de fragilidade persistem ●● ● Apesar da retomada da economia, alguns indicadores ainda mostram o impacto da crise sobre o setor produtivo. De setembro de 2008 a agosto, o nú-
mero de empresas que pediram recuperação judicial cresceu 138% sobre o período anterior. E, de janeiro a julho, a inadimplência subiu 29,7%. ● PÁG. B5
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 52 DIAS q PÁG. A7
ESPORTES
População rejeita fim do Senado, diz pesquisa
PAULO WHITAKER/REUTERS
Corinthians dá vexame e perde por 4 a 1 na volta de Ronaldo
Apesar de passar o ano afogado em escândalos, o Senado é visto pela maioria dos brasilerios como uma instituição necessária, segundolevantamento do InstitutoAnálise.Dosmilentrevistados, 52% concordam com a tese de que a existência da Casa ajuda a aprimorar as leis. “A população é capaz de separar a instituição Senado da pessoa física dos senadores”, explica Alberto Carlos Almeida, diretor do Instituto Análise. PÁG. A4
O cenário estava montado para uma festa corintiana ontem, no Pacaembu. No retorno aos gramados,depois de 56 dias afastado por uma contusão na mão, Ronaldo queria comemorar com gols seu aniversário de 33 anos, amanhã. Faltou combinar com o Goiás, que venceu o jogo com tranquilidade, por 4 a 1. “O Goiás dominou em todos osaspectos, nada deucerto”, lamentou o Fenômeno. ● PÁG. E1
35%
DECEPÇÃO –
Ronaldo até se esforçou, mas time foi humilhado pelo Goiás
das pessoas ouvidas afirmaram que a Câmara dos Deputados, sozinha, bastaria para o Brasil ter “leis bem feitas”.
AIDS: CONTRA O PRECONCEITO
PCC em Hollywood O diretor Sérgio Rezende fala de ‘Salve Geral’
Namoro e violência, a rotina de 87% das garotas
Obama nega ter cedido a pressões da Rússia
Pesquisa da Fiocruz com 3.205 adolescentes mostrou que 87% delas já vivenciaram formas de violência nas relaçõesafetivas.Enãosócomo vítimas. “Elas agridem quase na mesma proporção dosmeninos”,diz a pesquisadora Kathie Njaine. ● PÁG. C1
O presidente dos EUA,Barack Obama, negou ontem que tenha abandonado o projeto de construir um escudo antimíssil no Leste Europeu para agradar à Rússia. “Os russos não determinam qual deveseranossapolíticadedefesa”, disse. ● PÁG. A8
NOTAS E INFORMAÇÕES
O recado vazio de Obama Nas ondas livres da internet ●● O rádio abraça as novas
tecnologias para não ficar preso ao passado.
7 8 9 10 11 12
Foi um notável fracasso a primeira visita ao País do principal negociador comercial dos EUA, Ron Kirk. Ele só reforçou a imagem de Barack Obama como um presidente protecionista. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
21º
MÁX.
O artista Vik Muniz contou com 1,2 mil pessoas para montar mosaicos de beijos em Gua-
rulhos. A obra será exibida no Dia Mundial de Luta Contra a Aids, em dezembro. ● PÁG. A13
16º
MÍN.
Dia nublado, com chuviscos e temperaturas baixas.
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● PÁG. C2
Hoje: 64 páginas
A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 12 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 8 ● L. Link: 8 Classificados: 225 anúncios
ONU
DIDA SAMPAIO/AE
CADERNO 2
ANDRÉA FARIAS/ DIVULGACAO
Equipe de Ricardo Gomes fica no 1 a 1 com Santo André e garante a liderança do Palmeiras, que folgou na rodada. ● PÁG. E8
EM NÚMEROS
KEINY ANDRADE/AE
São Paulo só empata e Palmeiras festeja
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Por falta de verba, Estados se rebelam contra União
Combinação do 13.º com crédito ao consumidor é 20% superior à de 2008 ao consumidor. As lojas já ampliaram em até 20% encomendasdeeletrodomésticos,eletrônicos e itens de informática. Para atender à demanda, indústrias da Zona Franca de Manaus vão admitir cerca de 3 mil trabalhadores temporários. As estrelas do Natal devem ser
(1891-1927)
21 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42342
Economia terá injeção de R$ 140 bilhões até o Natal Passada a crise, o comércio se prepara para um Natal gordo. Ootimismodoslojistasamparase na previsão de que pelo menos R$ 140 bilhões sejam injetados na economia até dezembro, 20% a mais que em 2008, por causadopagamentodo 13ºsalário e da recuperação do crédito
JULIO MESQUITA
Uma embaixada para Gisele ●● Grávida de seis meses, a modelo foi nomeada embaixadora do Meio Ambiente. ● PÁG. A8
Memória
Ex-presidente da ANJ morre aos 87 ●● PauloCabraldeAraújocomandou os Diários Associados por 22 anos. ● PÁG. A7
Saúde
No Rio, vaga na fila de postos à venda ●● Polícia investiga casos de reservadelugarmediantetaxa de R$ 25. ● PÁG. A12
SEGUNDA-FEIRA, 21 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 52 DIAS
NACIONAL NACIONAL A7 A7
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Juristas criticam decisão do TJ-DF Para advogados, censura deveria ter caído quando tribunal reconheceu a suspeição de juiz que a impôs Fausto Macedo
Especialistas em Direito avaliam com incredulidade o fato de o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) haver declaradosuspeito odesembargador Dácio Vieira sem, contudo, invalidaradecisãoporeletomada em 31 de julho, quando impôs censura ao Estado. “Magistradosuspeitoé aquele que talvez não possa julgar com imparcialidade, não é? Logo, medidas de sua autoria não podem ter efeito”, argumenta o advogado Roberto Quiroga, professor de Direito na Universidade de São Paulo e sócio do Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados. Quiroga se disse “perplexo” com o desdobramento do caso. “O que me surpreendeu foi justamente isso, a manutenção do decreto (de Vieira) nos mesmos termos.Aoqueparecefaltalegi-
timidade a ele pela própria suspeição. A manutenção é uma violência.” Para o advogado “se o juiz é suspeito, a decisão de sua autoria deve ser revogada, ou pelo menos reanalisada sob fundamentos mais sólidos”. O desembargador proibiu o Estado de publicar dados sobre a Operação Boi Barrica, de Polícia Federal, que envolve o
Para Toron, Justiça priva sociedade de informações empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Contra a censura, o jornal interpôsduas exceções desuspeição do desembargador – a primeira pelo convívio social que
tem com os Sarney, a outra com basenasinformações queopróprio magistrado prestou sobre ocaso,quandoteriademonstrado animosidade contra o jornal. Quiroga condena a censura, que hoje completa 52 dias. “O Estado tem o direito de publicar aquilo que é de interessepúblico. A proibição fere preceitos constitucionais.” O advogado surpreende-se com a manutenção da proibição. “É o que mais me choca. Se a suspeição foi reconhecida, imagina-se que o ato judicial pode não ter sido imparcial. O que está por trás da suspeição é a provável possibilidade de ele (desembargador) não ter imparcialidade para julgar a causa.” Para o criminalista Alberto Zacharias Toron, conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), “uma vez reconhecida a suspeiçãodo ma-
SERGIO CASTRO/AE–25/11/2004
EFEITO– ‘Se o juiz é suspeito a decisão deve ser revogada’, diz Quiroga
MEMÓRIA
Morre aos 87 anos o jornalista Paulo Cabral Atuante também na carreira política, foi prefeito de Fortaleza e deputado Vannildo Mendes BRASÍLIA
Faleceu ontem, em Brasília, aos 87 anos, o jornalista Paulo Cabral de Araújo, que durante 22 anos ocupou a presidência do Condomínio Acionário dos Diários Associados. Vítima de câncer,eleocupouaindaapresidência da Associação Nacional de
Jornais (ANJ). Cabral exerceu carreira política paralelamente ao jornalismo. Foi prefeito eleito de Fortaleza(CE),de1951a 1955, deputado estadual e secretário-geral do Ministério da Justiça no governo Ernesto Geisel. Natural de Guaiúba (CE), o jornalista presidiu a ANJ entre 1994 e 2000, liderando uma sé-
rie de inovações na entidade e marcando posição firme em defesa da liberdade de imprensa e do direito à informação. Em nota, a ANJ lamentou a morte de seu ex-dirigente. Cabral tinha 12 anos quando dirigiu seu primeiro jornal, O Exemplo,editadopeloCentroInfantil de Cultura, de Fortaleza. Começou a atuar profissional-
mente na área aos 16 anos, após passar num concurso público da Ceará Rádio Clube. Eleito prefeito de Fortaleza aos 28 anos, o jornalista foi um dos pioneiros no uso de programas radiofônicos populares como plataforma política. A fórmula se expandiu por todos os Estados e foi usada por grande número de comunicadores com
projeto político. O jornalista dedicou a maior parte de sua vida à gestão de empresasdecomunicação–jornais, rádios e emissoras de TV, àfrentedaorganizaçãodos DiáriosAssociados.Homemdeconfiança de Assis Chateaubriand, criador da cadeira de jornais, Cabralparticipoudoesforçoparacriação da TV Tupi,a primeira emissora de televisão da América do Sul, no início da década de 50. O enterro será realizado hoje, às 11 horas, no Campo da Esperança, em Brasília. ●
gistrado que lavrou a decisão, inibindo o Estado de publicar notícias sobre a Operação Boi Barrica, era de rigor a anulação da própria decisão”. “Nãosetratavadoreconhecimento da suspeição em virtude de fatos supervenientes à decisão, ou seja, posteriores à decisão”, assevera Toron. “Ao contrário, o fato que gerou o reconhecimento da suspeição era anterior à decisão, representado por laços de amizade com a família Sarney, comprovados fotograficamente.” “Qualquer que seja a opinião que tenhamos sobre o mérito da decisão, agora reconhecida a suspeição sobre o magistrado que a proferiu, isto é, a ausência de imparcialidade, a subsistência dos efeitos inibitórios representa inegável constrangimento ilegal tanto para o Estado quanto para a sociedade, que se vê privada de informações.” ●
JOSE VARELLA/CORREIO BRAZILIENSE
ATUAÇÃO - Cabral dirigiu ANJ
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
22 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42343
De volta, Zelaya busca abrigo na missão brasileira Embaixada em Honduras recebe o deposto; Amorim nega ter sido avisado O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, deposto e expulso do país em junho, retornou ontem a Tegucigalpa e refugiouse na Embaixada do Brasil. Zelaya é acusado de violar a Constituição ao tentar mudá-la para se reeleger. O governo golpista prometeu prendê-lo e afirmou queoBrasilseráresponsabilizado se houver violência. Foi de-
cretado toque de recolher. O chanceler Celso Amorim negou que o Brasil soubesse antecipadamente da intenção de Zelaya e disse que ele não é um asilado político, porque se trata do presidente eleito. Amorim informou que o governo brasileiro pediuaosEUA e à OEAquesolicitassem a Honduras garantias de segurança. ● PÁGS. A20 e A21
ANÁLISE EDGARD GARRIDO/REUTERS
Roberto Lameirinhas
Fratura social pode se ampliar Manuel Zelaya conseguiu criar o fato político com o qual pretende evitar a consolidação do regime de Roberto ●●●
Empresas voltam a fazer oferta bilionária de ações Santander quer captar até R$ 13,2 bi; mercado se movimenta
Paul Krugman THE NEW YORK TIMES
A reforma que os banqueiros rejeitam Obama reluta em adotar algo que se assemelhe a uma retórica populista. Ele precisa superar isso, ao mudar o sistema de remuneração dos banqueiros. Está na hora de Obama perceber que, às vezes, o populismo, principalmente o que irrita os banqueiros, talvez seja o remédio de que a economia precisa. ● PÁG. B16 ●●●
A pergunta inevitável é se as perdas a serem contabilizadas pela próxima Pnad serão menos
●●●
7 8 9 10 11 12
perávit da China e aumenta poupançaempaíses deficitários, como os EUA. ● PÁG. B15
Região dos Jardins
Roubos e furtos crescem 7,5%
Saúde
Obesidade infantil antecipa doenças ●● Problemas cardíacos aparecem20anosmaiscedo, diz estudo. ● PÁG. A23
VIAGEM
F-1 bane Briatore e inocenta Nelsinho ●● Nelsinho Piquet, na chegada ao julgamento: federação baniu Flavio Briatore da F-1
MÁX.
ou mais intensas do que os ganhos desta em comparação com a de 2007. ● PÁG. A3
●● No papel de uma alcoólatra, Bárbara Paz se destaca em Viver a Vida.●
●● PropostaaoG-20reduzsu-
Paulista é o principal alvo. Ladrões costumam agir em dupla. ● PÁG. C1
24º
O Brasil antes da crise
Bárbara aparece
●●
Tempo: CAPITAL
NOTAS E INFORMAÇÕES
CADERNO 2
ESPORTES
SP não se prepara para Dia Mundial Sem Carro A cidade de São Paulo participa hoje do Dia Mundial Sem Carro, mas a adesão dos motoristas tem de ser moderada.Comonãoseráreforçada a frota de ônibus e trens urbanos, o transporte público conseguiria absorver no máximo 16% dos usuários dos 3,5 milhões de automóveis que, em média, circulam diariamente. ● PÁG. C8
EUA propõem fim do desequilíbrio
● PÁG. C2
16º
Tempo fica abafado e há risco de temporais.
MÍN.
& AVENTURA
por armar resultado com o piloto.Nelsinho,quefezadenúncia, não foi punido. ● PÁG. E1
Hoje: 100 páginas A. 1º caderno: 30 ● B. Economia: 22 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 8 ● V. Viagem: 14 ● Cl. Classificados: 4 (443 anúncios)
ARMANDO FÁVARO/AE
ARTIGO
A movimentação nos bancos de investimento é intensa. Três empresas do setor de construção civil, dois bancos de pequeno porte e duas companhias que atuam na área de tecnologia de informação estão preparando documentação para abrir o capital. ● PÁGS. B1 e B3
bilhões, passando o Bradesco. A iniciativa indica que o mercadodecapitais,a exemplodaeconomia, está se recuperando antes do que se esperava. Aponta, também, que o segundo semestre deve marcar a volta de operações bilionárias, que, com a crise, haviam rareado no País.
BORIS HORVAT/AFP
O Santander informou ontem que pretende captar no Brasil entre R$ 11,6 bilhões e R$ 13,2 bilhões. Se os investidores referendarem essa estimativa, será a maior oferta pública de ações da história do mercado nacional, e o valor do Santander na Bovespa pode superar R$ 100
Cai efeito de sentença contra Toffoli JOÃO MIGUEL JR/TV GLOBO
REGRESSO – Zelaya acena na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa: ele disse que levou 15 horas para cruzar a fronteira e chegar à capital
Micheletti. Mas a manobra traz o risco de aprofundar ainda mais a divisão da sociedade hondurenha. ● PÁG. A20
●● Roteiro em Sergipe inclui o cânion do São Francisco e Angicos. ●
Em apenas dez dias, o advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli, conseguiu sustar os efeitos da sentença contra ele e seu escritório de advocacia que os obrigava a devolver R$ 420 mil ao Estado do Amapá.Indicadopelopresidente Lula ao Supremo Tribunal Federal,Toffoliéacusadodefirmar contrato irregular. Seus advogados alegaram cerceamento de defesa. ● PÁG. A4 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 53 DIAS q PÁG. A18
A18 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 22 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 53 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Homenagem à ANJ vira ato contra a censura Presidente da entidade diz que decisão que atingiu ‘Estado’ prejudica todos os órgãos de imprensa do País Daniel Bramatti
Uma homenagem à Associação Nacional de Jornais (ANJ) se transformou ontem em um manifesto pela liberdade de imprensa e em umatodedesagravoaoEstado, que está sob censura. “O Estado passa por uma censura velada. Não há um militar na Redação, mas uma decisão judicial que impede o jornal de publicar uma informação de interesse público. Só podemos lamentar que a Justiça dê base legal a uma violência”, disse Miguel Ignatios, presidente da Associação Brasileira dos Dirigentes de Vendas (ADVB), promotora do Fórum de Temas Nacionais. Além de homenagear a presidente da ANJ, Judith Brito, o evento, realizado em São Paulo, teve como palestrante o diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour. Ao discursar, Judith Brito dissequeademocraciabrasileira tem hoje a liberdade de imprensa como um de seus pilares, mas ressalvou que o caso de censura contra o Estado prejudica todos os órgãos de comunicação do País. Em 31 de julho, uma decisão do desembargador Dácio Vieira proibiu a publicação de reportagens sobre a OperaçãoBoiBarrica,da Polícia Federal, que envolve o empresário Fernando Sarney e os negócios da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Entidades criticam demora para analisar recursos Presidente da Associação Brasileira das Agências de Propaganda (Abap), o publicitário Luiz Lara também condenou a medida. “A liberdade de imprensa não é apenas um alicerce da democracia, é a própria democracia”, afirmou. Miguel Ignatios disse ter ouvido de diversos empresários manifestações de preocupação com a censura e de solidariedade ao Estado. Ele criticou a demora da Justiça ao analisar os recursos apresentados pelo jornal. “Cobrarumadecisão rápidanesse caso é manifestar apoio à democracia no Brasil.” Também presente ao evento, o presidente da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil, Luiz Flávio Borges D’Urso, manifestou preocupação com um eventual precedente que a censurajudicial pode firmar. “Somos todos, jornalistas ou não, guardiães da liberdade de imprensa”, discursou. Gandour fez um relato sobre os principais pontos da cobertura da crise dos atos secretos no Senado, cuja existência foi revelada pelo Estadoem junho.Aocomentar a censura atual e aquela sofrida pelo jornal nos anos 70, Gandour afirmou que os contextos são muito diferentes, mas que “talvez haja um sutil ponto em comum que mereça reflexão, o progresso material”. “Poderia o progresso econômico propiciar uma certa anestesia política edeixarapopulaçãodesatenta em relação aos atentados contraaliberdadedeexpressão?”, refletiu. ●
PAULO LIEBERT/AE
DEMOCRACIA – Liberdade de imprensa é um dos pilares do regime democrático, diz Judith Brito, presidente da ANJ
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
23 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42344
Dívida no cartão de crédito é recorde Endividamento atinge R$ 14,6 bilhões só em julho; total acumulado é de R$ 26,5 bilhões Os brasileiros nunca deveram tantonocartãodecrédito,informaorepórter FernandoNakagawa. Dados do Banco Central mostram que o uso de crédito rotativo, o parcelamento com juros e os saques somaram R$
14,56bilhõesemjulho,umrecorde histórico. No mês, 28,3% das transaçõestinham atrasosuperior a 90 dias. Apesar de o juro do cartão – hoje em 237,9% ao ano – ser mais alto até que o do cheque especial, a participação
dessamodalidadenosempréstimos só cresce. Hoje, a cada R$ 4 tomados pelas pessoas físicas, R$1 énocartão.Paraespecialistas, o aumento do consumo e o jáelevadoníveldeendividamento nos financiamentos mais ba-
NÚMERO
28,3%
das transações com cartão de crédito tinham atraso superior a 90 dias em julho
ratos explicam a alta. Em julho, enquanto o volume de novas operaçõesnocréditopessoalrecuou 0,16% e o cheque especial caiu 1,02%, as novas concessões nos cartões saltaram 15,4% ante junho. Assim, o saldo acumu-
Agência de risco eleva nota do País
EDGARD GARRIDO/REUTERS
Casobrasileiroé inédito em meioà crise
SONO – Zelaya dorme na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa: situação sem precedentes na diplomacia
Missão do Brasil em Honduras vive tensão
Cresce em SP número de crianças analfabetas A pesquisa Pnad do IBGE mostraqueonúmerodeanalfabetos entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos passou de cerca de 29 mil em 2007 para cerca de 51 mil em 2008 no Estado de São Paulo. A Secretaria da Educação entende que pode haver erro na amostra. O IBGE vê crescimento real. ● PÁG. A14
CADERNO 2
Paraty em Foco ●● A
alemã Loretta Lux é destaque do festival de fotografia. ● PÁG. D5
Morre aos 75 anos Dirce Migliaccio
Criação de 7.709 vagas de vereador é aprovada A Câmara dos Deputados aprovou ontem a criação de 7.709vagas de vereadores. A emenda constitucional, que será promulgada pela Mesa do Congresso, prevê a posse imediata dos suplentes, mas Gilmar Mendes (STF) e CarlosAyresBritto(TSE)entendemque ela vale somente para a eleição de 2012. ● PÁG. A7
●● A atriz vi-
Preso grupo que explorava jogo online
veu a Emília do Sítio e uma das irmãs Cajazeiras. ● PÁG. D11
Atletismo Umaação policialem 12Estadosdesmontou grupoqueexplorava jogos de azar pela internet, movimentando R$ 5 milhões por mês. Foram presas 25 pessoas e vasculhadas 358 lan houses de fachada e casas de empresários que bancavam o jogo. ● PÁG. C1 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 54 DIAS q PÁG. A11 7 8 9 10 11 12
Casos de doping sobem para 11 ●● Mais três atletas brasi-
leiros são flagrados em testes no Peru. ● PÁG. E6
agrícola ●● Chuva atípica no inverno provoca doenças e afeta qualidade da lavoura. ●
NOTAS E INFORMAÇÕES
Licençapara gastar O governo quer aumentar a gastança, embora arrecade menos que o previsto para 2009. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
21º MÁX.
● PÁG. C2
17º MÍN.
Céu nublado e pancadas de chuva.
Hoje: 78 páginas A. 1º caderno: 16 ● B. Economia: 18 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 6 ● G. Agrícola: 12 ● Cl. Classificados: 4 (153 anúncios)
Ciro sobe e empata com Dilma, mostra CNI/Ibope Naprimeira pesquisapresidencial CNI/Ibope em que é incluída a ex-ministra Marina Silva (PV), Ciro Gomes (PSB) sobe e empata em segundo lugar com Dilma Rousseff (PT), com 14% das intenções de voto no cenário mais provável. José Serra (PSDB) lidera, com 34%, mas haveriasegundoturnoseaseleições fossem hoje. ● PÁG. A4 ANÁLISE
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente
Dora Kramer
No G-20, temos motivo para festejar?
A chegada dos russos
Afinal, caiu por terra a ilusão de que os mercados são autorreguláveis. ● PÁG. B11
Eleitorado atrapalha o jogo de cartas bem marcadas entre PT e PSDB. ● PÁG. A6
O mundo soube reagir à crise. Devemos simplesmente esperar a próxima crise?
CONFLITO – Polícia usa água e bombas de gás contra manifestantes
simbólico que tenha sido dado em meio à crise global. “É a cereja de um bolo que já estavapronto”, afirmouovice-presidente do Bradesco, Norberto Barbedo. A Moody’s informou que pode haver em breve nova elevação do grau, ao definir a perspectiva do Paíscomo “positiva”. ● PÁGS. B1 e B3
ARTIGO
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GUSTAVO AMADOR/EFE
Forças de segurança hondurenhas reprimiram manifestantes simpáticos a Manuel Zelaya diante da Embaixada do Brasil, ondeopresidentedeposto serefugiou anteontem. O governo golpista chegou a cortar água e luz da embaixada, mas prometeunãoinvadiroprédio.Opresidente Lula pediu a Zelaya que não dê pretexto aos golpistas para agir com violência. Ao Estado, Zelaya disse que escolheu a embaixada por causa da “democracia brasileira” e da “amizade com Lula”. ● PÁGS. A10 a A12
Um ano e meio depois de suas principais concorrentes, a agênciadeclassificaçãoderisco de crédito Moody’s concedeu ao Brasil o grau de investimento. Isso sinaliza aos investidores que a probabilidade de o País dar calote é baixa. Para analistas, o grau não terá implicações relevantes, mas é
lado de endividamento nessa modalidade atingiu R$ 26,49 bilhões em 31 de julho. A dívida é 580%maior que ototal de financiamentos para a compra da casa própria e 54% superior à do cheque especial. ● PÁG. B5
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A2 ESPAÇO ABERTO
QUARTA-FEIRA, 23 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 - falecom.estado@grupoestado.com.br
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O inferno astral do etanol
Uma relação ao ritmo da crise
MarcosS.Jank
DanteSica
Poucos setores despertam tanta atenção da mídia nacional e internacional quanto a indústria brasileira de cana-de-açúcar. Só em 2008 recebemos 162 delegações de mais de 60 países, que queriam conhecer melhor nossa experiência com o etanol e a bioeletricidade. Atendemos cerca de 30 pedidos de jornalistas por dia, com mais de uma dezena de profissionais dedicados à tarefa de fornecer dados e esclarecer. Ainda assim, não faltam exemplos de exageros, falta de contexto, visões unilaterais e desinformação em matérias sobre o setor. Parte disso decorre da imensa carga emocional que cerca esta indústria, a dificuldade de separar o velho e o novo, o peso da história dos velhos engenhos ante o novo paradigma das energias renováveis, que encontram na cana a sua aplicação mais completa. Basta ver que a indústria da cana já é a segunda fonte de energia do País (17% da matriz), atrás do petróleo (37%) e acima da hidreletricidade (13%). Talvez devêssemos intera-
O primeiro ranking de carros verdes surpreendentemente ignora o carbono gir de forma ainda mais proativa, ampliando a nossa estrutura de comunicação no País e no exterior. A verdade é que as mudanças do setor são profundas e vão muito além da comunicação. Na área ambiental, assinamos um protocolo com o governo paulista que antecipa voluntariamente o fim das queimas da cana até meados da próxima década. Criamos a Aliança Brasileira pelo Clima com 15 entidades e propusemos políticas proativas dentro do País e nas negociações globais do clima, além de um programa educacional sobre esse tema que atingirá mais de 2 milhões de alunos em oito Estados. Na área trabalhista, assinamos com trabalhadores e o governo federal o primeiro compromisso nacional de reconhecimento das melhores práticas laborais e lançamos o maior programa de requalificação de cortadores de cana do mundo, para minorar o impacto da mecanização. Ainda assim, nota-se uma falta de entendimento ou verificação de informações, que pode ser sinal de inexperiência ou falta de exposição ao tema. A ausência de um melhor entrosamento entre órgãos formuladores de políticas públicas, acirrado por doses de sensacionalismo midiático, também contribui para que temas complexos sejam abordados de forma incompleta ou simplista. Questionamentos essenciais acabam
não sendo feitos. Nas últimas sões de gases de efeito estufa e duas semanas, vivemos uma se- consumo. A combinação desquência de momentos preocu- ses elementos certamente indipantes, em que a vítima mais cará a supremacia dos comconstante foi a qualidade da in- bustíveis renováveis sobre os formação. Cronologicamente: fósseis. Se o ranking da Nota Verde não for revisado, estare● No dia 10 o Ministério do Meio Ambiente divulgou o Pla- mos comprometendo não só no de Ação para Controle do as exportações da tecnologia Desmatamento no Cerrado, flex, mas a própria história e a que afirma que a cana seria um credibilidade dos nossos prodos principais vetores de des- gramas de biocombustíveis. Os mais pessimistas quematamento desse bioma. Ora, dados do Inpe mostram clara- rem crer que parte dos fatos mente que 98% da expansão da acima indicaria um movimencana ocorre sem desmatamen- to organizado contra o sucesto algum, em áreas já antropiza- so do etanol. Prefiro crer apenas numa série de divulgadas, agrícolas e pecuárias. ções precipitadas de dados ● No dia 17 o governo lançou o Zoneamento Agroecológico ambientais, combinada com a da cana-de-açúcar, que elimina- falta de entendimento do que rá qualquer avanço da cultura o setor é hoje. Para fechar esà custa de desmatamento. Sem- sa série, das piores que já expre apoiamos essa drástica me- perimentamos, a manchete dida, por acreditarmos que o do Estado de domingo afirma etanol não pode ter a sua ima- que estaríamos procurando gem vinculada ao desmatamen- “proteção” governamental pato. Porém o projeto traz restri- ra enfrentar a concorrência ções de crescimento da cana do pré-sal. Isso até poderá viaté mesmo em áreas agrícolas rar verdade quando essas noe pastoris estabelecidas, o que vas jazidas se tornarem realidade, ainda que esperemos nos parece um exagero. que o País não faça a estupi● No dia 20, em matéria de capa, a revista Veja aponta o dez de jogar fora a sua expeaçúcar como o principal vilão riência única de energia renoda epidemia global de obesida- vável, admirada em todo o de. O problema está no produto mundo. Mas, sinceramente, açúcar ou no consumo exagera- os fatos mostram que nos dedo de carboidratos em geral e vemos preocupar mais com os no sedentarismo da sociedade próximos meses do que com o moderna? Nunca se venderam final da próxima década. Aprotantos produtos diet e light e ao fundar ainda mais os esforços mesmo tempo nunca se viram de sustentabilidade da cadeia tantos obesos no mundo. De sucroenergética, continuar apoiando políticas públicas quem é a culpa? coerentes e corrigir a imensa ● O pior momento dessa série veio com a divulgação, pelo desinformação ainda vigente Ministério do Meio Ambiente, parecem ser ações bem mais de uma Nota Verde que preten- importantes e imediatas do deu classificar veículos segundo que os riscos do pré-sal. ● a emissão de alguns poluentes. No mundo inteiro se busca hoje Marcos Sawaya Jank é presio chamado “combustível de bai- dente da União da Indústria xo carbono”, que reduz as emis- da Cana-de-Açúcar (Unica) sões de gases de efeito estufa. O Brasil conta com esse produto há 34 anos, seja na mistura obrigatória de 25% de etanol na gasolina, seja na existência de uma frota flex que já responde por 90% dos veículos novos e encontra ampla oferta de etanol puro e barato para abastecimento em todo o País. Mas quando finalmente sai o primeiro ranking de carros supostamente verdes do País, o índice surpreendentemente ignora as emissões de carbono. Há vários exemplos de “notas verdes” internacionais que combinam três elementos fundamentais: poluição no es- Sigmund Freud (✡ 23-9-1939) capamento, emis-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Falesério,sr. presidente “Não basta à mulher de Cesar ser séria, ela precisa também parecer séria.” Mutatis mutandis, um juiz de Direito, qualquer que seja a sua instância, tem de ser sério e também parecer sério. Ora, o advogado José Antônio Dias Toffoli, data venia, na sua biografia ostenta uma folha corrida com duas condenações e, assim mesmo, indicado para o STF é brincadeira. Será que o presidente Lula não conhece outro jurista dentro dos quadros do PT com reputação ilibada? O advogado Toffoli pode até ser sério, mas não parece nem um pouquinho sério.
sil.” Assim o campineiro Rodrigo Octávio foi saudado pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal, Edmundo Lins, ao assumir uma vaga naquela Corte. Esse rapaz Toffoli pode, ainda que de longe, ser assim saudado? RENATO GUIMARÃES JR., presidente do Instituto Ministro Rodrigo Octávio renatogjr@yahoo.com
Campinas
Censura
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Oinfernoestácheio... Com surpresa, li no Caderno2 de domingo sobre o cirurgião cardíaco Adib Jatene, espero já aposentado, insistindo numa nova CPMF. Parece que ele não sabe o que foi prometido e o que fizeram com a extinta e malfadada taxa, da qual foi ardoroso defensor. Talvez se, na época em que foi ministro da Saúde, tivesse o professor Zerbini por trás, obtivesse o mesmo sucesso do Incor da FMUSP e não precisasse de imposto extra. Espero que o nosso ex-ministro descubra que o inferno está cheio de pessoas com intenções iguais.
j.prudente@estadao.com.br
Como sou leigo em matéria jurídica, será que poderiam esclarecer por que o dr. Toffoli foi liberado rapidamente e o Estadão até hoje vive censurado? A resposta política eu sei, porem a jurídica...
Guaratinguetá
ALVAREZ AGUILAR
schibuolact@ig.com.br
alvarez.atib@hotmail.com
São Paulo
JOSÉ PRUDENTE DO ESPÍRITO SANTO
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“És hoje o maior homem do Bra-
Nos últimos 15 anos, o comércio e as relações bilaterais entre a Argentina e o Brasil têm-se movimentado ao ritmo de variadas e sucessivas crises. Períodos de expansão seguidos por momentos de contração e acordos que impulsionaram os investimentos, para logo sofrerem uma freada ou serem executados apenas parcialmente, são circunstâncias que se intercalaram uma após a outra e marcam o andamento dessa relação. Até o momento, essa conjuntura contribuiu com a música para a dança dessa dupla, que nem sempre baila ao som do tango ou do samba. Depois da criação do Mercosul, o comércio bilateral expandiu-se em grande velocidade graças à redução das tarifas alfandegárias e à interdependência de ambas as economias. Mas, no final da década passada, a crise das economias emergentes pôs fim a essa etapa e desde então as divergências econômicas e comerciais entre a Argentina e o Brasil passaram a se ampliar. De 2005 em diante, iniciouse um período de distensão, possibilitado pelos bons resultados da Comissão de Monitoramento do Comércio Bilateral, que determinou o tratamento a setores sensíveis dos dois países, particularmente da Argentina. E, embora a balança comercial tenha sido cada vez mais deficitária para a Argentina, em razão do desequilíbrio no intercâmbio de bens industriais, o comércio bilateral cresceu de maneira acelerada até 2008, com uma redução dos conflitos. Para tanto também contribuíram a boa sintonia política e o elevado crescimento
São Paulo
CARLOS TULLIO SCHIBUOLA
Conchavostrapalhões Estava tudo certo. O ex-presidente Manuel Zelaya voltaria a Honduras pelas mãos do Brasil. Lula, bonito na foto no cenário mundial, só se esqueceu de acertar com o governo de lá. Procurou sarna para se coçar e achou: e tome cerceamento de serviços básicos na embaixada brasileira. Não bastassem os conchavos políticos desastrosos que fez internamente, agora quer expandir os seus “negócios”. Lula deveria fazer um curso de negociação estratégica com Bill Clinton. Está precisando. RICARDO FERREIRA GOMES rifegom@hotmail.com
Araraquara ● Lula pensa que se consagra estadista herói no caso Zelaya. Para mim, será considerado o culpado.
da Argentina, o que possibilitou uma diminuição do fosso macroeconômico. Entre 2003 e 2008, o comércio bilateral sofreu um incremento da ordem de 233%, passando de US$ 9,295 bilhões para US$ 30,956 bilhões, com um crescimento mais acelerado das importações argentinas (+ 276%) do que de suas exportações (+ 189%). Além disso, foi inaugurado um novo eixo na relação bilateral: os investimentos diretos, impulsionados pela recente internacionalização das empresas brasileiras, que, daqui em diante, determinarão o ritmo da relação, uma vez que, do ponto de vista comercial, o Mercosul não tem um peso relevante para o Brasil. Na verdade, os investimentos brasileiros na Argentina já são uma realidade: nos últimos seis anos, os investimentos de origem brasileira situaram-se em torno de 20% do total dos investimentos estrangeiros diretos (IEDs) recebidos pela Argentina entre 2002 e 2007. Somente os anúncios de investimentos de empresas brasileiras somaram, de 2004 até agosto de 2008, US$ 10,714 bilhões. Cerca de 52% desse total se destina ao setor industrial e quase 40% ao de petróleo e gás, enquanto 8% iriam para a construção e 0,3% para serviços. Esperava-se que nessa nova etapa de expansão, além do aumento do comércio bilateral e dos investimentos, houvesse um avanço nos temas pendentes da integração do Mercosul. Mas, enfim, esse avanço não se verificou e, agora, essa tarefa será muito mais difícil, num mundo em que se observa uma nova onda de medidas protecionistas. Mais uma vez, a música muda de acordo com a crise. Ruído de jazz – Nos primeiros sete meses deste ano de 2009, a queda do LOREDANO comércio bilateral já chegou a 32,5%, retornando a níveis semelhantes aos de 2006. O ruído do “efeito jazz” – como a presidente Cristina Kirchner chamou, sem muita repercussão ou propriedade, a atual crise – irrompeu com estrondo numa festa de tango e samba. Para enfrentar esse contexto a Argentina decidiu implementar medidas de restrição às importações, por meio de instrumentos como as licenças não-automáticas, direitos anti-
FAX:
(11) 3856 2920
dumping e valores-critério (valor-critério: um preço mínimo para a entrada de produtos importados no país), que afetaram com maior intensidade os fluxos de comércio com o Brasil. E, portanto, voltou a aumentar o clima de conflito bilateral, que se tentou resolver com uma nova rodada de negociações setoriais, incluindo os setores sensíveis tradicionais e outros novos. Essa disputa se baseia nas diferentes percepções do conflito que têm ambos os países. Para a Argentina, as medidas justificam-se como uma maneira de compensar o escasso avanço das questões pendentes da integração, que foram responsáveis pelo elevado déficit no intercâmbio industrial com o Brasil. Para este último, negociar nos mesmos setores representa um passo atrás no avanço conseguido nos últimos anos, mas o pior é que os novos acordos alcançados não vêm sendo cumpridos por causa da demora da Argentina na autorização das licenças, aumentando a incerteza quanto
Argentina e Brasil nem sempre bailam ao som do tango ou do samba ao futuro. As medidas de restrição implementadas pela Argentina chegam a 17,2% do montante importado do Brasil. Portanto, os temas de maior repercussão na agenda atual são o aprimoramento da operacionalidade do sistema de licenças, a continuidade e o monitoramento do cumprimento dos acordos setoriais, a análise de eventuais desvios de comércio e seguir com a implementação das medidas de defesa comercial. Essas negociações se darão num contexto pré-eleitoral no Brasil, no qual surgem vozes internas que reclamam uma atitude não tão branda com relação à Argentina. A crise atual provocou a perda de parte do terreno ganho, não somente em termos de intercâmbio comercial, mas também no tratamento diferenciado para os setores sensíveis. Está faltando analisar formatos, mecanismos e os demais assuntos de interesses. Mas, ao mesmo tempo, o mais imprescindível e que está em falta é a consolidação das estruturas de consulta e tomada de decisões no âmbito bilateral, a fim de que os sócios mais importantes do Mercosul não terminem sempre dançando ao ritmo imposto pelas crises. ● Dante Sica, diretor da abeceb.com, foi secretário da Indústria da Argentina
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
FERNANDO BLANK
ADOLFO ZATZ
drblank@ig.com.br
dolfizatz@terra.com.br
Indaiatuba
São Paulo
Asilopolítico
● Se, cassado, Collor se tivesse refugiado na Embaixada dos EUA, como reagiria a cúpula do PT?
Vergonhoso o governo brasileiro ter dado asilo a Zelaya. Esse indivíduo violou a Constituição do seu país, tentando perpetuar-se no poder, como fez Hugo Chávez na Venezuela. Só que o tiro saiu pela culatra e ele foi deposto e deportado. O sr. Celso Amorim saiu-se ainda pior, declarando que Zelaya não é um asilado político, porque se trata de presidente eleito. Entretanto, esse fato não lhe tira a pecha de corrupto. Collor também foi eleito presidente do Brasil, mas, depois de comprovadas as falcatruas em seu governo, acabou sofrendo o impeachment.
FREDERICO FONTOURA LEINZ fleinz@terra.com.br
São Paulo
Viésideológico Com a declaração de Amorim de que o Brasil não vai tolerar ação contra nossa embaixada, chego à triste constatação do quanto o viés ideológico deste governo nos vai trazer de problemas. Será que vamos atacar Honduras? RONALDO GOMES FERRAZ ronferraz@globo.com
Rio de Janeiro
QUARTA-FEIRA, 23 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 54 DIAS
NACIONAL A9
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
OAB volta a criticar lentidão do TJ Para Jarbas Machioni, demora em derrubar censura ao jornal ‘só serve a certos setores liberticidas da sociedade’ Fausto Macedo
O presidente da Comissão de Assuntos Institucionais da Ordem dos Advogados de São Paulo (OAB-SP), Jarbas Machioni, avalia que a lentidão do processo de censura ao Estado “só serve a certos setores liberticidas da sociedade”. A ordem de silêncio, há 54 dias em vigor, foi baixada pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). Ele acolheu recurso do empresário Fernando Sarney, citado na Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. Fernandoé filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), com quem o magistrado mantém convívio so-
cial. Na semana passada, o TJDF reconheceu suspeição de Vieira, mas não invalidou a mordaça por ele aplicada. “É uma monstruosidade jurídica”, afirma Machioni, há 29 anos na carreira, conselheiro da OAB e professor da Escola Superior de Advocacia”, diz o advogado. “O Estadão não pode publicar detalhes da investigação da Polícia Federal, mas é no mínimo curioso o fato de que todos os outros veículos de comunicação não estão impedidos de fazê-lo, ou seja, podem noticiar à vontade.” “Não faz nenhum sentido reconhecer o juiz como suspeito e, ao mesmo tempo, manter sua decisão”, assevera Machioni. “Arrisco a dizer que o Estadão tem até o direito de igno-
rar a decisão e voltar a publicar tudo sobre a investigação. É o que chamo de direito natural, o direito da resistência justificada contra a decisão injusta que é manter proibição quando o juiz que a decretou é declarado suspeito. Na minha longa carreira nunca vi um caso assim, todas as decisões de censura foram rapidamente cassadas. Esta lei do silêncio contra o Estadão é a mais longa que eu já vi.” “A história da democracia brasileira registra pequenos lapsos em que se registra muito mais tolerância para com o poder e com o Estado do que com efetivos direitos garantidos pela Constituição”, analisa o advogado. “São lampejos de períodos autoritários na bri-
Justiça derruba censura ao jornal ‘A Tarde’ da Bahia Desde julho, liminar proibia publicação de reportagens sobre desembargador suspeito de vender sentenças Tiago Décimo SALVADOR
A desembargadora Rosita Falcão de Almeida Maia, do Tribunal de Justiça da Bahia, suspendeu liminar que impedia o jornalA Tardedepublicarreportagens sobre o desembargador Rubem Peregrino Cunha. Ele é investigado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por suspeita de venda de sentenças. Desde julho, o jornal estava impedido de publicar material sobre o magistrado, por decisão do juiz Márcio Braga, da 31ª Vara Cível de Salvador. Braga havia concedido liminar em fa-
vor do desembargador com base no artigo 54 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional, que estabelecesigilosobresindicâncias contra magistrados.
Em gravação, filho do desembargador negocia um caso por R$ 400 mil Rosita, porém, considerou o artigo 220 da Constituição, pelo qual “nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de
informaçãojornalística”.Segundo a desembargadora, a falta de condenação em processos judiciais nãoimpede a veiculação de informações sobre nenhum cidadão, “principalmente os que exercem cargos públicos”. A suspeita de venda de sentenças surgiu em setembro de 2008,quandoumfilhododesembargador Cunha, Nizan, foi flagrado, em gravação telefônica, negociando por R$ 400 mil uma sentença de seu pai favorável ao ex-prefeito Antônio Batista, de São Francisco do Conde, no Recôncavo Baiano. Procurado, o desembargador não atendeu à reportagem. ●
ga entre forças liberticidas e a democracia. A imprensa acaba sofrendo esse tipo de atentado, é sempre a primeira vítima.” Mapeamento da Associação
Nacional de Jornais (ANJ) revela que nos últimos dois anos pelo menos 12 ordens de censura foram impostas a veículos de comunicação em todo o País. Machioni faz um alerta.
“Essas forças descobriram alguns setores do Judiciário como aliados. Trata-se de absurdo sem precedentes, imaginávamos que só a ditadura poderia agir assim.” ●
● Edição de
1h15
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
24 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42345
Rodovias federais pedem mais pedágio
RODRIGO ABD/AP
Doisanosapós ganharema concessão de sete lotes de rodovias federais, como Régis Bittencourt e Fernão Dias, com deságios de até 65% e promessas de pedágios baixos, as concessionárias OHL, Acciona e BR-Vias recorreramaogoverno pararecompor seu caixa. Na prática, significaria reajustar o pedágio ou adiar investimentos. As empresas argumentam que foram atrapalhadas pela burocracia estatal na atividade de cobrançadepedágio, oqueteria causado prejuízos. ● PÁGS. B1 e B3
PILHAGEM – Supermercado saqueado durante a madrugada em bairro pobre de Tegucigalpa: polícia registrou 50 focos de violência em todo o país e prendeu 113 pessoas
Brasil atribui a estratégia da volta de Zelaya a Chávez Choque em Honduras deixa 1 morto; Lula cobra recondução do deposto ao cargo
Em troca de verbas, nanico ‘aluga’ legenda para 2010 A dez dias do fim do prazo de filiação partidária para as eleições do ano que vem, partidos nanicos estão entregando as legendas nos Estados a lideranças de peso em troca de dinheiro e potencial de voto nas urnas. Para driblar a legislação e nãoperderosmandatos, ospolíticos fazem acordos com seus partidos atuais. “Quem não é alugadoque atire aprimeira pedra”, afirma o presidente do PSC, Vitor Nósseis. ● PÁG. A4
que Zelaya voltou graças a um “plano secreto” idealizado pelo líder deposto, que contou com a ajuda de militares hondurenhos. Em Tegucigalpa, novos confrontos entre simpatizantes de Zelaya e a polícia mataram ao menos um manifestante e feriram dezenas. Para o presidente, são dez os mortos. Houve saques em bairros pobres da
capital, transformados em zonas de guerra. O toque de recolher paralisou a fronteira entre El Salvador e Honduras, relata a enviada especial Denise Chrispim Marin. Na ONU, Lula defendeu a recondução imediata de Zelaya a seu cargo e voltou a advertir Honduras sobre a inviolabilidade da embaixada brasileira. ● PÁGS. A12 a A17
Rubens Barbosa
Cândido Mendes
EX-EMBAIXADOR EM WASHINGTON
CIENTISTA POLÍTICO
Gestão temerária
Pela democracia
Se é difícil ver ganho para o Brasil, é fácil esperar um sério arranhão em nossa credibilidade. ● PÁG. A16
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O caso de Zelaya na embaixada do Brasil sacudiu a resignação em que o golpe já se sedimentara. ● PÁG. A16
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ESPORTES
CADERNO 2
Maratona nas telas cariocas AconteceuemWoodstock abre hoje o Festival de Cinema do Rio. ●
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Rio-SP terá nova ponte aérea ●● Anacpermitevooen-
tre Campo de Marte e Jacarepaguá. ● PÁG. C1
Justiça
Hildebrando é condenado Ex-deputado pega 18 anos pelo “crime da motosserra”. ● PÁG. A9
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Atletismo
Casos de doping atingem juvenis ●● Episódiomaisrecente foi o de Jenifer Silva, de 18 anos. ● PÁG. E5
●● Após um processo de fermentação e envelhecimento, surge o alho negro, ligeiramente adocicado. ●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 55 DIAS q PÁG. A11
NOTAS E INFORMAÇÕES
Selo de qualidade para o País ●●● O selo foi dado por três agências de classificação de risco. Novo avanço depende do acerto nas contas públicas. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
21º MÁX.
● PÁG. C2
15º MÍN.
Céu fica nublado, mas não deve chover.
Hoje: 120 páginas A. 1º caderno: 32+4 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 16 ● E. Esportes: 6 ● P. Paladar: 8 ● Cl. Classificados: 22 (2.235 anúncios)
ARTILHEIRO – Vagner Love passa por Fábio para marcar o gol da vitória do Palmeiras, de virada,
Os EUA querem uma nova era de engajamento com o mundo, afirmouontemopresidente Barack Obama em discurso na Assembleia-GeraldasNaçõesUnidas. “Nós reengajamos a ONU”, disse Obama, referindose à mudança da política americana em relação à entidade, que no governo Bush era de distanciamento. Ele defendeu um mundo livre de armas nucleares, em menção ao Irã, e citou a questão ambiental e a crise econômica global. ● PÁG. A18
Rússiaadmite pressionarIrã ●● A
Rússia, que mantém forte relação com o Irã, deu a entender ontem que pode apoiar mais sanções contra o país, como querem os EUA. ● PÁG. A22
Europa terá controle maior do mercado financeiro
O ingrediente do momento
Aviação
7 8 9 10 11 12
ANÁLISES
CESAR GRECO/FOTO ARENA
Aestratégia paraa voltado presidente deposto Manuel Zelaya a Honduras teve a colaboração da Venezuela. É o que sustentam assessores do presidente Lula e do Itamaraty, informa o repórter João Domingos. Chávezteria consideradoque a Embaixada do Brasil era o local mais seguro para Zelaya. Em Nova York, o venezuelano disse
Obama diz que EUA querem nova era de engajamento
sobre o Cruzeiro no Mineirão, placar que ampliou a liderança do time no Brasileiro. ● PÁG. E1
Na véspera da cúpula do G-20, em Pittsburgh, a União Europeia anunciou reforma dos instrumentos de supervisão do mercado nos 27 países. A partir de2010,um “comitêderiscosistêmico” vai acompanhar a evolução das operações e a saúde financeira das instituições no bloco. Mas UE e EUA vão ao G-20 sem um consenso sobre a regulamentação financeira necessária para evitar uma nova crise global. ● PÁGS. B12 a B16
QUINTA-FEIRA, 24 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 55 DIAS
NACIONAL NACIONAL A11 A11
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proĂbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negĂłcios do empresĂĄrio, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens jĂĄ apuradas sobre o caso
Historiadora condena censura Para Maria Aparecida Aquino, mordaça no ‘Estado’ representa ‘enorme retrocesso’ na construção da democracia Moacir Assunção
AprofessoradehistĂłria da Universidade de SĂŁo Paulo (USP) Maria Aparecida Aquino, que estudou a censura ao Estado durante a ditadura militar, considera que a medida judicial que proĂbe o jornal de publicar informaçþes sobre o empresĂĄrio Fernando Sarney representa um “enorme retrocessoâ€? pa-
ra um PaĂs que tenta construir uma democracia saudĂĄvel. “Estamos em um momento do florescer da nossa democracia, muito diferente do perĂodo entre os anos 40 e 50, quando acabou a ditadura Vargas, mas havia a ameça constante do golpismo,que,infelizmente,seconsumou em 1964â€?, disse a historiadora. “Passamos por crises fortĂssimas, como o escândalo
Collor, mas nem de longe se cogitouumaameaçadessanatureza, o que demonstra que vivemos em uma democracia. A decisão da Justiça, nesse caso, colide contra a lei maior, a Constituição,quetodos os Poderesdevem obedecer, e com a própria cidadania.� Para Maria Aparecida Aquino, a decisão do desembargador Dåcio Vieira, do Tribunal
de Justiça do Distrito Federal, pode ter sido influenciada pelo “sobrenomeâ€? do autor da ação. “SerĂĄ que o juiz que deu a liminar da censura agiria da mesma forma se fosse um cidadĂŁo comum protestando contra a violação de algum direito seu?â€?, questionou. ApĂłs recursos apresentados pelo Estado, o desembargador foi afastado do caso por outros
integrantes do TJ-DF, mas o fim da censura ainda estĂĄ pendente de decisĂŁo. O veto Ă publicação de reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da PolĂcia Federal, que investigou negĂłcios da famĂlia Sarney, foi determinado no dia 31 de julho. A historiadora defendeu a mobilização da sociedade para evitarnovosepisĂłdiosde censura Ă imprensa. “A democracia
não pode ser apenas uma palavra. É necessårio que ela seja um valor assumido pelos cidadãos. O ideal Ê chegarmos a tal ponto que a sociedade manifeste indignação com a elevação dos preços dos produtos e, ao mesmo tempo, com temas como o cerceamento à liberdade de expressão, de opinião e de reunião, verdadeiros pilares da democracia.� �
OPERAĂ‡ĂƒO HARINA
Investigação da PF cita consulesa do Uruguai em SP Conversa de Brigida sobre compra e remessa de dólares foi gravada
OPERAĂ‡ĂƒO - PolĂcia detectou contatos da diplomata com doleiro
CASO ANP
PolĂcia acusa agente de criar falso dossiĂŞ O material tinha como alvo Victor de Souza, irmĂŁo do ministro Franklin Marcelo Auler RIO
O agente federal aposentado Wilson Ferreira Pinna, lotado na AgĂŞncia Nacional de PetrĂłleo(ANP), foiapontado pelaPolĂciaFederalcomooautordofalso dossiĂŞ contra o diretor do ĂłrgĂŁo, Victor de Souza Martins, irmĂŁodoministrodaComunicação Social, Franklin Martins. O material acusou Victor de Souza de aumentar os royalties das prefeituras que contratavam a empresa AnĂĄlise Consultoria, que ele tem em sociedade com a mulher, Joseana Seabra. Pinna foi denunciado na 2ÂŞ Vara Federal Criminal do Rio peloscrimesdeinterceptaçãotele-
fônica ilegal e quebra de sigilo fiscaldosirmãos deVitor,inclusive do ministro. Após a revista Veja divulgar o dossiê em abril, o MinistÊrio Público Federal constatou que o documento não estava no inquÊrito da Delegacia Fazendåria,queapuracorrupção nosrepassesderoyalties. Ainexistênciadodossiê levouosuperintendente da PF no Rio, Angelo Gioia, a abrir novo inquÊrito. Em maio, a PF descobriu um pendrive com o falso dossiê, as declaraçþesderendaobtidasilegalmente e as transcriçþes de gravaçþes telefônicas. Não se sabe quem recebeu o pendrive, mas os policiais identificaram Pinna como o autor.
Por meio de representação Ă juĂzaAnaPaulaVieiradeCarvalho,da6ÂŞVaraFederal,ondetramita oinquĂŠrito, foi pedidaa prisĂŁo do agente, alĂŠm de busca e apreensĂŁonasuacasaenaANP. O pedido foi para as mĂŁos do
Autor Ê denunciado na Justiça por escuta ilegal e quebra de sigilo juiz Rodolfo Kronemberg Hartmann, da 2ª Vara Federal, que não analisou o caso, provocando umconflito de competência. Tudo parou atÊ 15 de julho, quando
o Tribunal Regional Federal (TRF) decidiu que a competĂŞncia ĂŠ da 2ÂŞ Vara. ApĂłs negar pedido de prisĂŁo, Hartmann intimou Pinna a apresentarsuadefesa,antesdedecidir se aceita a denĂşncia. Ontem,procuradopeloEstado, Pinna reclamou da divulgação do caso por conta do segredo de Justiça e depois se apegou na rejeição do pedido de prisĂŁo para se defender.Vitorrepetiuoquefalou na ComissĂŁo de Minas e Energia da Câmara dos Deputados: “Quero justiça, saber quem fez essa investigação criminosa, a mando de quem, quem pagou e com qual objetivo.â€? â—?
A Operação Harina – investigação da PolĂcia Federal sobre suposto esquema de evasĂŁo de divisas e lavagem de dinheiroenvolvendo19doleiros interligados em seis grupos–cita a consulesado Uruguai em SĂŁo Paulo, Brigida Scaffo de Vera. A PF revela quepegoua diplomataem interceptação telefĂ´nica negociando compra de dĂłlares no mercado paralelo para envio a MontevidĂŠu. O diĂĄlogo foi captado no dia 30 de março, Ă s 12h34. Durou 12 minutos e 57 segundos. Oficialmente, Brigida nĂŁo ĂŠ investigada porque desfruta de imunidade. Mas ela caiu na malha fina do guardiĂŁo, a mĂĄquina de gravaçþes da PF. A consulesa ĂŠ mencionada nas pĂĄginas 20, 21,22 e23do relatĂłriodeinteligĂŞncia policial que deu base ao decreto de prisĂŁo do principal alvo do inquĂŠrito, o uruguaio Ricardo Allende, que estĂĄ foragido. APFmonitorava Allende, apontado como o cabeça da organizaçãocriminosa.O relatĂłrio ĂŠ subscrito pelo delegado Alexsander Castro de Oliveira, da Delegacia de RepressĂŁo a Crimes FinanceirosdaPF.FazpartedoinquĂŠrito transcrição da conversa entreAllendeeapessoaidentificada como Brigida.Participa do contato uma mulher, Beatriz. Ela telefona para Allende e diz: “A cĂ´nsul geral quer te fazer um pedidoâ€?. â€œĂ‰ parauma finalidadehumanitĂĄriaâ€?,comenta Beatriz.“Como Beatriz lhe diz eu preciso mandarodinheirodeumasu-
cessĂŁo, tenho que começar a mandartodoodinheiroâ€?, comunica Brigida ao doleiro. “EstamosconcretizandoaĂşltimaparte, havia um dinheiro no cofre, dĂłlares, eu teria que fazer chegar.â€? A PF ĂŠ taxativa. “Fica claro queBrigidatemabsolutoconhecimento de tratar-se de uma operação ilegal, pois ela mesma fala vĂĄrias vezes a esse respeito,assimcomoAllende.Ficaevidente que nĂŁo ĂŠ a primeira vez que eles realizam uma operação financeira marginal.â€? A remessa seria de US$ 28 mil. Brigida diz que o dinheiro vai para “dois hospitais pĂşblicosâ€? e duas casas de repouso e serĂĄ recebido por “um padre, uma freira e um advogado do MinistĂŠrio da SaĂşdeâ€?. O doleiro adverte. “Isto nĂŁo ĂŠ oficial, dar um recibo ĂŠ muito complicado. O problema ĂŠ o recibo em SĂŁo Paulo(...) O queacontece,Brigida, isso ĂŠ na confiança. Jamais na vida tenho dado um recibo em SĂŁo Paulo.â€? Segundo a PF, o dinheiro seria retirado na Câmbio Europa, em MontevidĂŠu, propriedade de Allende. “Essa casa de câmbioĂŠumaoffshorecriadanaFlĂłrida (EUA).â€? A Embaixada do Uruguai repassou ao Estado mensagem de Brigida em que ela esclarece. “Antes de realizar uma transferĂŞncia de US$ 28 mil, fruto de um legado destinado a instituiçþes de beneficĂŞncia no Uruguai, consultei vĂĄrios cambistas conhecidos em MontevidĂŠu, assim como vĂĄrios bancos emSĂŁoPaulo.Finalmenterealizei (a transferĂŞncia) atravĂŠs do banco HSBC.â€? â—? FAUSTO MACEDO
● Edição de
0h30
o estado de s. paulo
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SEXTA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
25 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42346
Pela primeira vez, vacina reduz risco de aids ção mínimo de 80% para que a vacina possa ser distribuída em larga escala. O Exército americano, que conduziu os estudos, considera que essa é a primeira evidência de que se pode ter uma vacina segura. A previsão
Pela primeira vez uma vacina contra a aids teve eficácia mensurável. Uma combinação de duas vacinas reduziu em 31,2% o risco de infecção pelo vírus HIV – a Organização Mundial da Saúde exige nível de prote-
teste. A ONU estima que a aids mate todos os anos 2 milhões de pessoas no mundo. O total chega a 25 milhões desde que a doença foi descoberta, há 25 anos. Atualmente há 33 milhões de infectados. ● PÁGS. A20 a A24
era que isso só ocorresse em 2030. A comunidade científica comemorou os resultados, mas enfatizou que ainda há um longo caminho, porque o vírus mais comum na África, a região mais atingida, não foi objeto do
ANÁLISE
Cate Hankins, da Unaids, programa antiaids da ONU Em entrevista ao Estado, Cate Hankins diz que, embora de alcance modesto, a vacina
é “enorme passo” no combate à aids: “Estamos muito entusiasmados”. ● PÁG. A21
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Conselho da ONU aprova limite para armas nucleares Obama queria que resolução citasse Irã e Coreia do Norte, mas China e Rússia vetaram
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 56 DIAS q PÁG. A11
Guia
Veja onde rir
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Um novo roteiro semanal indica os shows de humoristas em cartazna cidade, como Marcelo Mansfield. ●
CADERNO2
de Estado dos cinco membros permanentes do Conselho, a principal instância da ONU, o que só havia ocorrido quatro vezes na história da organização. A Itália, que preside o G8 (grupo dos sete países mais industrializados, além da Rússia), informou que a entidade vai exigir que os iranianos parem de enriquecer urânio até o final do ano. ● PÁG. A12
Golpistas de Honduras sinalizam com diálogo
G-20 será o maior fórum econômico no lugar do G-8
OgovernogolpistadeHonduras aceita dialogar com Manuel Zelaya, segundo candidatos presidenciais que se reuniram com o presidente deposto na Embaixada do Brasil, relata a enviada especial Denise Chrispim Marin. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, confirmou quesabiada operação da volta de Zelaya. ● PÁGS. A14 a A18
OG-20(os maiorespaíses desenvolvidose em desenvolvimento) substituirá o G-8 (sete países mais industrializadase a Rússia) comooprincipalfórum de cooperaçãoeconômica, informou a Casa Branca. O anúncio deverá ser feito hoje e tornará oficial o consenso de que o G-20 representa melhor a nova economia global. ● PÁG. B15
O baú de Leminski
DILMA E SERRA: PRÉVIA EM SP
Mostra em São Paulo trazfotos,músicasepainéis inéditos do poeta. ●
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Juiz é afastado por ignorar pênaltis ●● Árbitro do jogo entre Palmeiras e Cruzeiro fica fora por um mês. ● PÁG. E1
Entidades são liberadas para investir 70% das verbas em ações. ● PÁG. B1
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7 8 9 10 11 12
NOTAS E INFORMAÇÕES
A estreia de Obama na ONU
HÉLVIO ROMERO/AE
Fundo de pensão pode arriscar mais
Explosão mata 2 em Santo André Duas pessoas morreram e 12 ficaram feridas após explosão emuma loja de fogos deartifício que destruiu um quarteirão em
Campeonato Brasileiro
Previdência
TERRA ARRASADA – Quatro casas ficaram completamente destruídas e 30 tiveram de ser desocupadas
O forte da oração de Barack Obama na ONU foi a mensagem de que a atitude dos EUA, quando não os fins propriamente ditos de suas ações, se transformou. ● PÁG. A3
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●●● Numa prévia do que pode
ser a campanha de 2010, a petista Dilma Rousseff e o tuca-
no José Serra confrontaram suas realizações em evento do setor imobiliário. ● PÁG. A4
manipulados clandestinamente. O tremor provocado pela explosão foi sentido a 1,5 km de distância. ● PÁGS. C1, C3, C4 e C9
Santo André, no ABC paulista. Cem pessoas ficaram desalojadas. Segundo a polícia, há indícios de que os explosivos eram
Tempo: CAPITAL
22º MÁX.
● PÁG. C2
SUSTENTABILIDADE
11º MÍN.
Sol reaparece fraco na capital.
Hoje: 226 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 22 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 16 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 4 ● H. Vida& Sustentabilidade: 8 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 8 (185 anúncios)
DIDA SAMPAIO/AE
ram. Desse modo, a menção a esses países foi feita por Obama somente em seu discurso, noqualcobrou“cooperaçãototal”deiranianose norte-coreanos e disse que o Conselho de Segurança tem autoridade para responder “da forma necessária” quando “violações do tratado ameaçarem a paz e a segurançainternacional”.Participaram da sessão os chefes
NILTON FUKUDA/AE
Em sessão liderada pelo presidente dos EUA, Barack Obama, o Conselho de Segurança da ONU aprovou ontem por unanimidade uma resolução para “promover as condições necessárias para um mundo semarmasnucleares”.Osamericanos queriam que a resolução citasse de modo específico oscasosdeIrã eCoreia do Norte, mas Rússia e China veta-
Preservação remunerada ●● Caderno mensal mostra iniciativas de pagamento por serviços ambientais. ●
A2 ESPAÇO ABERTO
SEXTA-FEIRA, 25 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 - falecom.estado@grupoestado.com.br
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Belo Monte – ainda falta muito a ver
Velhos tempos, belos dias
WashingtonNovaes
JoãoMellão Neto
Certamente ainda haverá tempestades no caminho do licenciamento e da implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, que o ministro do Meio Ambiente anunciou que “provavelmente” receberá licença provisória do Ibama em novembro e, pelos cálculos oficiais, deverá estar concluída até 2014, ao custo estimado de R$ 16 bilhões (Estado, 23/9). Será a terceira maior hidrelétrica no mundo, com obras de escavação de terras (150 milhões de m3) e de rochas (60 milhões de m3) em volume superior ao do Canal do Panamá. Sua potência nominal será de 11,2 mil MW nos períodos de vazão mais favorável e de menos de 1 mil MW nos mais desfavoráveis. Com isso, a chamada “energia firme” será de 4 mil MW. Na média, seriam 4,5 mil MW. O Ministério Público Federal, apoiado pela OAB e outras instituições, já anunciou o ajuizamento de pedido para anulação das audiências públicas realizadas, com o argumento de que a manifestação da sociedade quanto aos impactos sobre
São tantas questões que não há como ignorá-las antes de licenciar a obra 80 mil pessoas em 66 municípios foi dificultada – além da falta de previsão para compensação de dezenas de milhares de famílias atingidas, a “superestimação da energia e dos empregos gerados na obra” e a nãoavaliação das consequências na floresta da provável secagem da água num dos canais. A Fundação Nacional do Índio (Funai) – dizem os jornais – pedirá a revisão dos estudos e pronunciamento do Congresso, por entender que não foram suficientemente avaliados os impactos em nove terras indígenas. O coordenador de um painel de 38 especialistas que analisaram o estudo de impacto ambiental, professor Francisco Hernandes, da USP, diz que o documento também subestima as consequências da migração de quase 100 mil pessoas para a área, atraídas pelas obras. A seu ver, o custo da obra deveria incluir o das infraestruturas urbanas necessárias para atender a esse contingente – mas não inclui; e isso deveria ser computado no custo do kW/hora a ser produzido (Folha de S.Paulo, 20/9). Da mesma forma, não se avalia o que significará que quase 18 mil das 18.700 pessoas a serem contratadas para a obra serão dispensadas no final. Nem se considera que com o seccionamento de igarapés será fortemente afetada a pesca, da qual dependem 72,9% dos moradores de Volta Grande.
Não é um problema diferen- mente os preços e mercados”. te do que já surgiu em outros E isso está presente no aproprojetos de hidrelétricas na veitamento da terceira maior Amazônia, desde a de Tucuruí, reserva mundial de bauxita, na década de 80. Sobre essa, na Amazônia. Mas a implantalembra o professor Maurílio de ção do polo exportador “envolAbreu Monteiro, da Universida- ve o reassentamento de comude Federal do Pará, no número nidades inteiras, o inchaço de 53 da revista Estudos Avança- cidades, o desflorestamento e dos, da USP, que o orçamento a perda da diversidade biológide US$ 2,1 bilhões chegou ao fi- ca e cultural, além de mudannal a US$ 7,5 bilhões, sem in- ças no regime hidrológico e a cluir o custo das linhas de trans- geração de resíduos contamimissão, rede viária, sistema nantes do solo, da água e do portuário, etc. E como a ener- ar”. Mais: gera conflitos com a gia para os grandes usuários população, como no entorno (produtoras e exportadoras de de Tucuruí, que “sofre ainda alumínio e ferro gusa) foi subsi- com problemas de abastecidiada (em mais de 50%), o pri- mento de energia”. meiro contrato gerou para a Sob esse ângulo, destaca o Eletronorte prejuízos (há quem estudo a incapacidade dos mudiga que foram US$ 4 bilhões, nicípios de responder à nova repassados para as contas de demanda por saúde, educaenergia de todos os usuários no ção e infraestruturas urbanas País; no segundo contrato o – até porque os projetos que subsídio foi ligeiramente reduzi- utilizam a energia são benefido). E ainda sem falar no consu- ciados pelas isenções de immo de 5 milhões de toneladas postos. Como destaca que de carvão vegetal para produ- não se leva em consideração zir até 2004 quase 5 milhões de que “o alumínio responde petoneladas de ferro-gusa. la emissão de perfluorcarboE ainda não é essa a parte no, e que tem um potencial de mais contundente de estudos 6.500 a 9.000 vezes maior sobre Belo Monte. O Boletim Re- que o do dióxido de carbono”. gional, Urbano e Ambiental, do E Belo Monte, conclui o estuIpea (julho de 2009), que per- do, significa o aumento da tence à Secretaria de Assuntos oferta de energia para aquele Estratégicos da Presidência da setor, que induz “padrões inRepública, traz análise que con- tensivos de exploração de residera extremamente proble- cursos e serviços naturais, máticos projetos como esse, bem como contribui para o examinados sob o ângulo da acirramento das desigualdasustentabilidade da produção des sociais em escala local. de alumínio primário na AmazôParece claro que não há conia. É uma análise do coordena- mo ignorar tantas questões. dor de Meio Ambiente e do Fó- É preciso colocá-las na balanrum do Ipea de Mudanças Cli- ça antes de licenciar a obra. ● máticas, José Aroudo Mota, e da pesquisadora Dumara Regi- Washington Novaes é jornalista na Mota, do Centro de Desen- E-mail: wlrnovaes@uol.com.br volvimento Sustentável da UnB. Para eles, a produção do alumínio, “atividade intensiva em recursos naturais e de grande impacto ambiental”, além de “intensiva em capital e tecnologia”, associada ao comércio internacional, “ainda não se demonstrou capaz de contribuir para a redução das desigualdades sociais e regionais, que colocam os índices de desenvolvimento humano da região abaixo dos índices nacionais”. Mais ainda: essa atividade precisa “internalizar” os impactos sociais e ambientais de sua exploração. Será difícil para os governos federal e estadual ignorar esse diagnóstico, no qual está dito que a indústria dos eletrointensivos, “controlada por um pequeno número de grandes corporações”, desde a transformação do minério até os produtos finais, forma também um “cartel de exporta- Estilos – Zelaya e Kadafi ção” que “controla igual-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Ahistóriase repete
Pedágios
Mesmo numa região das mais ricas do País, como é a Grande São Paulo, continuamos a assistir a tragédias – como essa explosão, ontem, de uma empresa de fogos de artifício em Santo André, que produzia irregularmente – que poderiam ser evitadas se a fiscalização pública fosse eficiente e responsável. Várias casas foram destruídas, ceifando muitas vidas. E até quando vamos ter de suportar desculpas esfarrapadas das pseudoautoridades? Não por outra razão, que distantes estamos de ser uma nação desenvolvida, pois continuamos a contabilizar – e cada vez mais – mortes estúpidas... paulopanossian@hotmail.com
Dilma Rousseff engalanou-se toda para anunciar que as concessões de rodovias à iniciativa privada feitas pelo governo Lula eram de longe a melhor opção, com pedágios baratos e estradas perfeitas. As empresas que conseguiram as concessões com deságio de até 65% agora reivindicam aumento no preço, alegando que com o tal preço baixinho não dá para fazer as obras prometidas e, assim, colocam a ministra-candidata numa tremenda saia-justa. Se der o aumento, ela sairá desmoralizada; se não der, elas continuarão a cobrar, mas sem fazer o prometido. Isto é: nada de duplicação nem de conservação. Os usuários? Ah! Os usuários vão votar para presidente no ano que vem.
São Carlos
CARLOS MONTAGNOLI
PAULO PANOSSIAN
Se bem me recordo, meu pai adquiriu uma perua DKW zerinho por volta de 1962. Ele gostava de carros e entendia um pouco do assunto. Lembro-me da raiva que ele tinha do veículo – que só aumentava à medida que ele o ia conhecendo melhor – e de seu calvário por ter de levá-lo semanalmente ao mecânico. O motor era de dois tempos, o que significa que era barulhento e fumegante. A vedação era péssima: quando chovia lá fora, também chovia dentro. A maçaneta do vidro saía na mão sempre que se tentava acionála. Os ruídos internos davam a impressão de que a carroceria estava com todos os parafusos soltos. O câmbio “na direção” era de três marchas que teimavam em não se deixar engatar. A qualidade do carro, enfim, era sofrível. Principalmente quando comparado aos norte-americanos que predominavam em nossas ruas à época. Mas nem por isso se deve condená-lo. Ele representou um papel importante nos primórdios da indústria automotiva brasileira. O ceticismo quanto à viabilidade de uma fábrica nacional de veículos era muito grande. Para se ter uma ideia basta relembrar um argumento muito ventilado então: era tecnicamente impossível fundir blocos de motores em climas tropicais. O DKW, e também o Fusca, desafiaram todos os tipos de dúvida e descrença ao serem integralmente fabricados aqui. Pois bem, a vida nos ensina que não é porque pranteamos um morto que desejamos, na
ENDEREÇO
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carlosmontagnoli@uol.com.br
Jundiaí ● Há algum tempo o Fórum publicou carta minha sobre o que chamo de pegadinhas na concessão de rodovias, por meio dos chamados reequilíbrios econômico-financeiros, reavaliação de tarifas e readequação de obras, que se aplicam após a assinatura do contrato, sempre em favor das concessionárias. É o exemplo da Artesp servindo também para as concessionárias em nível federal, com as consequências de sempre: quem paga é o usuário. Exemplo claro e inequívoco é o caso da concessionária Tebe. Obras previstas para o início das concessões são realizadas só dez anos depois. E a concessionária ainda é contemplada com mais uns dez anos de conces-
são, perfazendo 30 anos, quando o contrato inicial era de 20. ORIVALDO TENORIO DE VASCONCELOS prof.tenorio@uol.com.br
Monte Alto
Baixaria Se o ministro Carlos Minc é defensor dos homossexuais, por que dá um revide ao governador de Mato Grosso do Sul, dizendo que ele deve “sair do armário”, usando a homossexualidade como xingamento? Na verdade, ambos deveriam é sumir do mapa. Num mundo moderno e justo não há lugar para pessoas como o governador e o ministro. Que vergonha termos autoridades desse calibre!
prática, ressuscitá-lo. Qual seria a reação dos consumidores se o saudoso DKW Vemag fosse relançado agora? Pior: se, além de reiniciar a sua produção, o governo proibisse qualquer outra marca de construir veículos em território brasileiro, sob o argumento de que é necessário prestigiar a indústria nacional? Pois a respeitável matrona que atende pelo nome de dona Dilma já provou ser capaz de entabular raciocínios semelhantes. Em sua mais recente entrevista – publicada na Folha de S.Paulo no domingo –, ela afirma, explicitamente: ● Que a presença do Estado na economia tem de aumentar; ● e que patriotismo e nacionalismo são exatamente a mesma coisa. São teses que remontam à época do DKW. E dona Dilma, ao que parece, deseja mesmo relançá-lo. Ou promover algum disparate semelhante. Se ela chegar à Presidência, mais que de imediato a indústria de vestuário tratará de recuperar o maiô de duas peças. E não é impossível que ela mesma venha a usá-lo para divulgar a nova moda. Dona Dilma é realmente um achado único. Um precioso fóssil encontrado pelo presidente Lula. Parabéns a ele. Ela é plenamente capaz de afirmar publicamente, sem ruborizar-se, que jamais se encontrou com as pessoas com quem de fato se encontrou. Na recíproca, a ninguém surpreenderia caso reiterasse que participou de eventos em que nunca esteve. Como a Santa Ceia ou a 3ª Internacional Comunista, por exemplo. Consta que ela surgiu nas hostes do PDT, de Leonel Brizola. Este deve ter sido o seu grande guru em matéria de disLOREDANO curso político. Para quem não se recorda, Brizola caracterizava-se por pregar, na década de 90, tudo aquilo de que se falava na década de 50. Era algo que nos reportava às preleções de nossos avôs. Para restaurar os fatos, vale a pena lembrar que a surpreendente dona Dilma estreou no cenário político muito antes do retorno de Brizola ao Brasil. Ela militou na VAR-Palmares, uma organização terrorista, e, com merecimento, passou alguns anos no calabouço. Curiosamente, foi no período em que a indomável dona Dilma esteve a ferros que o governo militar de Geisel, sem que ninguém das esquerdas se desse conta, tomou-lhes algumas de
FAX:
(11) 3856 2920
Torturalongae absurda A censura é tortura imposta aos leitores pela supressão da liberdade de conhecer fatos que seriam publicados pelo Estadão. E o pior: é a própria Justiça que a está impondo, em nome do corporativismo e contra o interesse público, até porque atos praticados por juiz suspeito são nulos e devem ser considerados ineficazes na ordem jurídica constitucional e processual. São quase dois meses de tortura, de postergar as normas vigorantes para o desempenho célere do processo. É injustificável e abominável. JOSÉ CARLOS DE CARVALHO CARNEIRO, conselheiro da OAB-SP
MARIA TEREZA MURRAY
carneiro@claretianas.com.br
terezamurray@hotmail.com
Rio Claro
São Paulo
suas mais caras bandeiras. A proliferação de empresas estatais, na época, foi avassaladora. O Estado, por sua vez, nunca antes fora maior, tampouco mais abrangente. Ele tudo previa. E também tudo provia. O raciocínio da elite pensante da área militar seria facilmente subscrito por gente como a empertigada dona Dilma. Pregavam eles que havia na economia numerosas áreas estratégicas que, se não estivessem sob controle estatal, facilmente cairiam nas mãos dos odiosos estrangeiros. Estatizar, portanto, era um gesto de soberania. E esse raciocínio valia tanto para empresas siderúrgicas como para redes de restaurantes e – pasme-se – hotéis de alta rotatividade. E quanto à iniciativa privada? Era vista com maus olhos e tratada com má vontade. Segundo eles, os então poucos empresários brasileiros, em sua ânsia por capitais, não teriam o menor escrúpulo em se associar às perigosas e malquistas empresas multinacionais. E isso era o fim! A verdade é que o Estado de
Dona Dilma é um precioso fóssil, suas teses remontam à época do DKW então apenas tolerava a existência de empresas privadas nacionais. Concedia-lhes crédito subsidiado, mas em troca exigia vassalagem. Cabia ao Estado determinar o que e quanto devia ser produzido por cada uma. No mais, sempre que surgia uma nova oportunidade na economia, antes que algum “aventureiro” dela se apossasse, logo vinha o Estado criando uma nova estatal. Ora, esse, na prática, era o discurso das esquerdas brasileiras, desde a década de 1950. E a persistente dona Dilma, com o seu discurso “retrô”, caso se consagre nas urnas, certamente o adotará. Não seria mais a volta do DKW, mas a do Maverick GT. Confesso que tenho medo de gente como a circunspecta dona Dilma. Ela parece ser fria, determinada, alguém que de tudo faria se fosse em prol da “causa” que defende. E o pior é que tem chances reais de chegar à Presidência da República. Se isso vier a ocorrer, será que ela nos vai permitir tratá-la como “tia Dilma”? Não é por nada, não. É que ela não tem jeito de governante. Tem, isso sim, de governanta. ● João Mellão Neto, jornalista, deputado estadual, foi deputado federal, secretário e ministro de Estado E-mail: j.mellao@uol.com.br. Blog: www.blogdomellao.com.br
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Cumprimentos Em nome da Associação Brasileira de Imprensa e em meu nome, cumprimento Eugênio Bucci pelo excelente artigo Os inimigos (24/9, A2), didático e corajoso. RODOLFO KONDER, diretor da representação da ABI em São Paulo abi.spaulo@gmail.com
São Paulo
Ocaminhopara o golpe A declaração de Lula de que vai mesmo estabelecer índices de produtividade para a agricultura é uma afronta aos produtores rurais e à Nação e uma ameaça aos demais setores produtivos, que futuramente também poderão – por que não? – ser contemplados com tal deliberação totalitária e esdrúxula. Tudo nos remete aos
SEXTA-FEIRA, 25 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 56 DIAS
NACIONAL NACIONAL A11 A11
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entrevista Aldo Fornazieri: cientistapolítico
‘Censura ao ‘Estado’ é injustificável em qualquer caso’ Para ele, caso revela força da herança cultural do patrimonialismo, que considera ‘extremamente danoso à democracia’ Moacir Assunção
OsescândalosnoSenadoeacensura ao Estado constituem exemplos do patrimonialismo
colonial. A opinião é do cientista políticoAldoFornazieri,daFundaçãoEscola deSociologiaePolítica de São Paulo. “Aparentemente, há um tráfico de influência e uma relação extremamente próxima entre a família Sarney e setores do Judiciário nessecasoetodaahistóriademonstra que ainda não se desenvolveu um conceito republicano real no Brasil”, afirma.
O Estado está proibido por decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, de publicar reportagens sobre os negócios de Fernando Sarney, alvo de investigação da Polícia Federal. Fernando é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB). O juiz foi declarado suspeitoe afastadodocaso,mas a censura continua em vigor.
Há traços de nosso patrimonialismoancestral nesse caso?
É o pano de fundo dessa discussão. Temos uma herança cultural do patrimonialismo, sistema pelo qual os gestores da coisa pública agem como se fossem donos do Estado. É uma visão que permanece forte em muitos setores da política e do Judiciário. A censura ao Estado é injustificável em qualquer
caso, mas há algo nesse episódio do Senado que vai além disso. Demonstra esse vício de origem,queéextremamentedanoso à democracia. Qual é o padrão de um conceito republicano?
Na república, tudo o que um governante faz é divulgado e a opinião pública vai cobrá-lo sobre as medidas que tomar. Não há
nada secreto, o que só ocorreria nasmonarquiasabsolutas.Ocaso dos atos secretos no Senado enquadra-se à perfeição nesse tipo de comportamento, típico das antigas monarquias. A imprensa cumpre seu papel?
Tenho ouvido muita gente dizer que o presidente Lula é perseguido pela imprensa. Políticos de outros partidos e ideologia totalmente distintas também alegam ser perseguidos. Quando isso ocorre, fica demonstrado que a imprensa tem agido com isenção. ●
Sarney corta 511 cargos, mas gasto seguirá igual Rosa Costa BRASÍLIA
Em uma decisão que produziu quase nenhum efeito financeiro, a Mesa Diretora do Senado decidiu ontem extinguir 511 cargos que deveriam ser preenchidos por concursos públicos. Como os cargos estão vagos, a maioria deles em decorrência da aposentadoria ou morte de servidores, a medida não reduzirá o valor da folha de pagamento da Casa, de cerca de R$ 2 bilhões. Na mesma reunião, presidida pelo senador José Sarney (PMDB-AP), os senadores autorizaram a transferênciaparaosgabinetespolíticos dos Estados de três servidores lotados nos gabinetesdasliderançasouvinculados aos 11 titulares e suplentes da Mesa Diretora. A iniciativa “revoga” um dos itens do ato aprovado pela própria Mesa, há 36 dias, que proibia “lotar ou requisitar nos escritórios políticos dos Estados servidores comissionados vinculados à Mesa ou aos gabinetes das lideranças”. Eles poderiam ter fora de Brasília apenas os comissionados do chamado gabinete pessoal – que tem como limite um total de 79 servidores –se osenadorfracionasse os salários e pagasse menos a seus auxiliares. A média por gabinete é de 30 comissionados, fora os efetivos e terceirizados. Na prática, significa que os 23 favorecidos pela Mesa Diretora – 12 líderes e 11 integrantesdaMesa,entretitulares e suplentes – poderão contar com mais 69 auxiliarespagoscomdinheiropúblico nas campanhas para as eleições do ano que vem. A autorização se refere ao deslocamento de dois assessores técnicos e de um secretário parlamentar, com salários de R$ 9,9 mil e de R$ 7,6 mil, respectivamente. O primeiro-secretário, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), disse que a medida é inócua e não vai usá-la. “Mas os líderes alegaram que necessitavam dos servidores do gabinete”, afirmou. “Não há nada errado, apenas a Mesa achou por bem atender à reivindicação. Mudou de opinião porque recebeu a ponderação dos líderes.” Sarney anunciou a medida em plenário, atribuindo-a igualmente a “todos os líderes”, mas foi contestado pelo líder do DEM, senador José Agripino (RN), que afirmou não concordar com a medida. “Nunca tive e nem terei servidores da liderança no Estado. Hoje o senador é líder e amanhã, não mais, como é que fica com esse pessoal nos Estados?”, indagou. O Senado tem 3.516 servidoresterceirizados,3.800comissionados (escolhidos pelos senadores) e 3.400 efetivos.Segundo Heráclito, a decisão de cortar cargos efetivos não contraria a orientação do Tribunal de Contas da União (TCU). “Estamos num processo de enxugamento de cargos, havia excesso”, disse. ●
● Edição de
0h20
o estado de s. paulo SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
26 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42347
Honduras leva a bate-boca entre Brasil e EUA
SÃO PAULO: CONFUSÃO NO CENTRO
Representante americana na ONU critica Amorim por acionar Conselho de Segurança O chanceler Celso Amorim bateu boca com a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, por causa da crise em Honduras. O incidente ocorreu quando o Conselho de Segurança, a pedido do Brasil, deliberava sobre declaração contra o cerco à embaixada brasileira – Amorim acusou o governo de facto de querer invadir o local, onde
está o presidente deposto, ManuelZelaya.Emconversaprivada, Rice disse a Amorim que o conselhonãoera olocal adequadopara esse tipo derepresentação, ao que ele respondeu: “Se fosseaEmbaixadadosEUA,você estaria muito irritada”. Zelaya acusou militares de jogaremgásnaembaixada.Ogovernode facto negou. ● PÁGS. A19e A22
CONFRONTO NAS NAÇÕES UNIDAS KEINY ANDRADE/AE
“Este não é o local adequado para esse tipo de representação” Susan Rice Embaixadora dos Estados Unidos na ONU
●●● Em protesto de lojistas tirados das estações do metrô, 3 bombas explodiram, uma delas dentro de um carro, na Rua Boa Vista.● PÁG. C5
Irã admite nova usina nuclear e Obama reage
Transplantes
Governo quer banco de doadores ●● Proposta é ter um cadastro abastecido voluntariamente. ● PÁG. A25
Descoberta de instalação secreta leva EUA a admitir uso da força
Ciro assume candidatura presidencial e ataca Serra Diante de sindicalistas em São Paulo, o deputado Ciro Gomes (PSB) assumiu sua candidatura à Presidência e mostrou que tentará superar Dilma Rousseff (PT) no papeldeanti-José Serra(PSDB), ao atacá-lo. No PSDB, cresce a pressão para que o governadorassumajáqueserá candidato. ● PÁG. A4 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 57 DIAS q PÁG. A10
Hoje: 128 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 16 ● E. Esportes: 6 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 20 ● Ci. Imóveis: 14 (2.360 anúncios)
7 8 9 10 11 12
O presidente americano, Barack Obama, disse que prefere a via diplomática para obrigar o Irã a abandonar seu projeto, mas não descartou ação militar.“OIrãestáquebrando asregras que todos os países precisam seguir e ameaçando a estabilidade e a segurançada região
e do mundo”, disse Obama. Segundo ele, o tamanho da usina descoberta não é compatível comumprogramanuclearpacífico. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, declarou que a usina é “totalmente legal” e que informou sobre sua existência à ONU. ● PÁGS. A12, A13 e A16
ANÁLISE
Simon Tisdall
Com a mão na massa O Irã fez jogo duplo sobre seu programa nuclear. Agora foi pego. ● PÁG. A18
●●●
CADERNO 2 O presidente negro do Brasil
ESPORTES
●● Milton Gonçalves, em
cena no Aerolula, é o chefe da Nação em Segurança Nacional, filme que estreia em 2010. ● PÁG. D7
sergio augusto
O papa quer a arte ●● Em novembro, Bento XVI terá encontro com 500 artistas. ● PÁG. D4
Rio
PM mata ladrão agarrado a refém
Desafio de skate JONNE RORIZ/AE
OsEUA,aFrança eoReinoUnido revelaram ontem que o Irã está construindo secretamente uma nova usina de enriquecimentode urânio,violandoasregras de não-proliferação – um diadepoisque oConselhodeSegurança da ONU aprovou resolução contra armas nucleares.
●● Pedro Barros (foto) participa de
competição em megarrampa no Sambódromo neste fim de semana. ● PÁG. E3
NOTAS E INFORMAÇÕES
Tempo: CAPITAL
O Brasil busca uma saída O governo brasileiro corre o risco de ser responsabilizado por ter dado pretexto a uma even-
●●●
tual explosão de violência, por ter decidido hospedar Manuel Zelaya. ● PÁG. A3
26º
MÁX.
● PÁG. C2
13º
Dia amanhece frio, mas o sol predomina.
MÍN.
Homem que ameaçava detonar granada levou tiro na cabeça. ● PÁG. C7
●●
Recorte e invente ●● Série da TV Rá Tim Bum que estreia no dia 3 foi feita em papel. ●
“Se fosse a Embaixada dos EUA, você estaria muito irritada” Celso Amorim Ministro das Relações Exteriores do Brasil
BC adverte que gastos públicos devem fazer inflação subir O Banco Central advertiu, de forma inédita, para o impacto do aumento dos gastos do governo sobre a inflação. Em relatóriodivulgado ontem, oBCelevoude3,9%para4,4%sua previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do ano que vem. O documento avalia que os “impulsos fiscais no segundo trimestre de 2009 foram maiores do que o esperado”. Entre as despesas ampliadas, estão os salários e benefícios de servidores. ● PÁG. B11
G-20 concorda em dar mais poder no FMI a emergentes Os países do G-20 concordaram ontem em transferir 5% das cotas do FMI aos países emergentes.Oanúnciofoifestejado pelo governo brasileiro, que vinha pressionando por reforma nas instituições financeiras multilaterais. ● PÁG. B1
14lojas de fogos sãoilegais, apesar de aval da polícia Um dia após a explosão que matou duas pessoas em Santo André,aPMfechouduaslojasclandestinas de fogos. Mas há 14 delas sem alvará. ● PÁG. C1
SÁBADO, 26 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS & INFORMAÇÕES
O Brasil busca uma saída
B
oquirroto, como sempre, o caudilho Hugo Chávez já contou como aconselhou e auxiliou o presidente deposto Manuel Zelaya a voltar a Honduras e a buscar abrigo na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Forneceu os meios para a viagem e participou pessoalmente de uma operação de despistamento, para levar o governo de facto de Honduras a crer que o presidente deposto estava indo para Nova York, quando seu destino era seu próprio país. O que ainda não está claro é se Hugo Chávez deu conhecimento de seu plano ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Itamaraty ou se decidiu colocar o Brasil numa situação delicada – numa verdadeira armadilha – sem avisar ninguém, dando por bem que pode manobrar à vontade o seu aliado brasileiro. Nenhuma dessas hipóteses é lisonjeira para o governo petista. O fato é que o governo brasileiro se tornou prisioneiro de suas próprias posições. Ao liderar o movimento pela volta de Manuel Zelaya ao governo – do qual foi deposto em processo conduzido pela Suprema Corte e pelo Congresso e concluído desastradamente pelas Forças Armadas, para evitar que o presidente
desse o primeiro passo para a reeleição, expressamente proibida pela Constituição do país –, em nome da defesa da democracia na America Latina, o presidente Lula da Silva caiu na armadilha armada pelo maior inimigo da democracia como ele, Lula, a entende. Agora, surge perante o mundo, que aprendeu a respeitá-lo e admirá-lo exatamente pelo que o distingue do inventor do “socialismo do século 21”, como seu aliado e até instrumento, na desastrada aventura “zelayana”. O Plano Arias poderia atender às exigências da comunidade internacional e, ao mesmo tempo, manter intacto o princípio constitucional, cuja violação motivou a destituição de Zelaya. Mas, para isso, as duas partes teriam de ser pressionadas pelos países interessados na manutenção da estabilidade política regional. Ora, esses países assumiram atitudes radicais, retirando embaixadores e não reconhecendo o governo de facto – razão pela qual perderam a condição de exercer qualquer mediação útil. O governo brasileiro foi mais longe. Deu abrigo a Zelaya na embaixada em Tegucigal-
Alugam-se nanicos
F
altando um ano para as eleições já se armam as barracas da feira livre de locação dos partidos nanicos. Seus locadores já bradam para a freguesia as vantagens de seus produtos: os minutos e segundos a mais no horário gratuito do rádio e da televisão, os nomes simpáticos das siglas que, embora não representem coisa alguma em termos de programa ou doutrina, contêm palavras tipo “social”, “democrata”, “republicano”, “liberal”, “renovador” ou “cristão” e, sobretudo, o preço relativamente módico: uma candidatura a deputado federal, por exemplo, pode ser “adquirida” pela bagatela de R$ 1 milhão. Outra grande vantagem é a rapidez do negócio, pois como os nanicos costumam ser controlados por dono único – com, no máximo, um ou dois sócios –, as negociações para a aliança não exigem cansativas reuniões de diretórios. Basta acertar o preço. Em vários Estados, os nanicos estão entregando suas legendas a políticos de algum peso, em troca de dinheiro e potencial de votos nas urnas. Afinal, também os votos a serem conquistados pelo freguês são fundamentais para que os nanicos preservem representação legislativa suficiente para lhes dar direito a horário gratuito – seu maior ativo negociável. Por sua vez, para ingressar nessas siglas pequenas sem perder o atual mandato, obtido por outro partido, os políticos “locatários” driblam a legislação eleitoral, por meio de acordos com suas agremiações atuais. Foi as-
sim, por exemplo, que o Partido Social Cristão (PSC) – cuja ideologia se resume em “colocar o ser humano em primeiro lugar”– já entregou legenda nos Estados de Alagoas, Piauí, Paraíba e fecha os últimos detalhes no Distrito Federal. Seu presidente e um de seus fundadores, Vitor Nósseis, não esconde que a condição financeira de um novo filiado é fundamental. E, ao ser indagado se sua legenda não corre o risco de ser considerada “de aluguel”, surpreende pela sinceridade ao invocar o argumento “cristão”, absolutório de Maria Madalena: “Quem
O horário eleitoral gratuito vai se tornando um caro balcão de negócios não é alugado que atire a primeira pedra.” O Partido da Mobilização Nacional (PMN) entregou o diretório de Brasília à deputada distrital Jaqueline Roriz, candidata a uma vaga na Câmara dos Deputados, e disputa com o PSC a filiação de seu pai, o ex-governador Joaquim Roriz, que se desligou do PMDB. Roriz diz ter boas razões para ir para o PSC: “O partido tem o social no nome e o que mais quero ser é social, para ajudar os pobres.” Outras legendas, como o PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro), o PSL (Partido Social Liberal) e o PRB (Partido Republicano Brasileiro), usam a mesma estratégia pelo País afora. O projeto dessas siglas é único: eleger o maior número de deputados para aumentar
pa, configurando-se uma situação sui generis. Pela primeira vez na história da diplomacia latino-americana, um político perseguido por governo atrabiliário pede abrigo em embaixada, não para sair do seu país, mas para a ele voltar. E o Itamaraty não pôde conceder a Zelaya o clássico asilo político, uma vez que não poderia submeter às condições desse status – entre elas a de se abster de quaisquer manifestações políticas – um presidente que considera estar no exercício de seu cargo. O Itamaraty, tendo cometido a imprudência de conceder o abrigo, nada mais pôde fazer além de pedir a Zelaya que não fizesse declarações capazes de desencadear reações, tanto de seus partidários como do governo de facto, que resultassem em atos de violência. Não é, obviamente, o que o presidente deposto tem feito. Desde que se instalou, em precaríssimas condições, na embaixada brasileira, Zelaya e seus mais de 60 acompanhantes não têm feito outra coisa senão dar entrevistas e manter contatos, sempre por telefone celular, com os seus militantes. Os distúrbios verificados nos
últimos dias em Tegucigalpa são o resultado desse ativismo. Assim, o governo brasileiro corre o risco de ser responsabilizado por ter dado pretexto a uma eventual explosão de violência, por ter decidido hospedar Zelaya. Não bastasse isso, ao conceder o abrigo nas condições em que o fez, o Itamaraty rompeu um dos mais caros e tradicionais princípios da política externa brasileira: o da não-intervenção nos assuntos internos de terceiros países. E, nesse momento, o que Honduras realmente necessita é de amigos que ajudem a resolver o impasse político, sem deixar sequelas que mais tarde se transformem em conflitos violentos. O presidente da Costa Rica, Oscar Arias, parece ter esgotado sua capacidade de mediação. Mas a OEA, usando como base o Plano Arias, tem agora condições para intermediar uma solução para o dissídio. Na segunda-feira, o secretário-geral José Miguel Insulza iniciará uma nova missão em Honduras. Mas, pondo as barbas de molho, Lula pediu socorro ao primeiro-ministro espanhol, José Luiz Zapatero. Ontem mesmo, o chanceler espanhol iniciou contatos com o governo de facto hondurenho num esforço de mediação.
Obama denuncia o Irã os recursos recebidos do Fundo Partidário, que é distribuído conforme a composição da Câmara, e, é claro, assegurar seu “horário gratuito” – cujos segundos são os que geram mais dinheiro na feira livre pré-eleitoral. A legislação eleitoral, que pune com a perda do mandato os políticos infiéis, não está impedindo o trocatroca partidário. Os partidos que sofrem os “ataques especulativos” – ou tentativas de “compra” de seus filiados com mandato – prometem não recorrer ao TSE para retomar as vagas dos “locatários” infiéis, contando fazer futuras alianças com os atuais concorrentes. Uma boa ilustração de que as estratégias dos nanicos podem ser muito bem-sucedidas é dada pela trajetória do mencionado PSC. Tendo, em 2006, uma bancada de 9 deputados, recebe R$ 2 milhões por ano de fundo partidário, composto por recursos públicos. Hoje já tem 12 deputados e com as novas filiações pode chegar a 17, ultrapassando legendas influentes, como o PV e o PPS. Na velha discussão sobre a reforma eleitoral, volta e meia vem à baila a questão da “cláusula de barreira” para controlar a proliferação de nanicos e, em consequência, fortalecer as agremiações partidárias mais sólidas, coerentes e representativas. Mas a força dos nanicos está na mera existência de políticos que preferem ter legendas de aluguel à disposição para um caso de necessidade.
O
presidente Barack Obama escolheu a dedo o momento – a reunião do G-20, realizada em Pittsburgh, nos Estados Unidos – para acusar formalmente o Irã de construir uma instalação secreta de enriquecimento de urânio. O produto pode servir de combustível para a geração de eletricidade ou de matéria-prima para a bomba atômica, dependendo do grau de beneficiamento. A denúncia de Obama, no cenário de uma conferência de interesse mundial, representa a sua mais vigorosa cartada para pressionar o governo iraniano a desistir do seu programa nuclear e, mais ainda, para assegurar o apoio da Rússia e obter o da China à adoção de novas sanções contra Teerã. Na próxima quinta-feira devem começar as conversações entre o Irã e o chamado “sexteto”, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha. A meta é conseguir, até o fim do ano, a paralisação das atividades de enriquecimento de urânio como prova do alegado caráter pacífico do empreendimento nuclear iraniano. A provável recusa tornará o Irã alvo das sanções que os Estados Unidos já consideram inevitáveis. Signatário do Tratado de Não-Proliferação (TNP), o país tem o direito de produzir combustível nuclear, nos termos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e sob sua fiscalização. Mas já três vezes os iranianos foram apanhados tentando ludibriar as inspeções. O caso mais notório foi o da planta clandestina de Natanz, desco-
berta em 2002. Agora, a revelação de que serviços de inteligência ocidentais identificaram outra instalação do gênero, escavada numa montanha próxima à cidade sagrada de Qom, a cerca de 150 quilômetros de Teerã, levou o Irã a admitir à AIEA que estava construindo ali uma “fábrica piloto” de enriquecimento de urânio, embora “nenhum material nuclear tenha sido introduzido no local”. Fontes de Washington confirmaram que a planta ainda não está funcionando, estimando que poderia entrar em operação no próximo ano. Obama, o primeiro-minis-
O Irã terá que ir ao Conselho de Segurança da ONU para explicações tro britânico, Gordon Brown, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, combinaram exigir do governo iraniano que autorize a AIEA a realizar uma imediata vistoria da instalação. Na quinta-feira, eles participaram de um evento raro nas Nações Unidas. Pela quinta vez desde a sua criação, em 1945, o Conselho de Segurança se reuniu com a presença dos líderes dos seus 5 membros permanentes. A sessão, presidida pela primeira vez por um presidente americano, aprovou por unanimidade a proposta de resolução apresentada pelos Estados Unidos para limitar os arsenais nucleares e frear a sua proliferação. O texto não citou nominalmente o Irã e a Coreia do Norte, advertidos na véspera por Obama, no seu discurso ao ple-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
ONU Quanto custa o apoio da França para uma indicação do Brasil ao Conselho de Segurança da ONU? De domínio público, apenas alguns aviões e helicópteros militares, submarinos convencionais e transferência de tecnologia para a construção de submarinos a propulsão nuclear. SERGIO S. DE OLIVEIRA ssoliveira@netsite.com.br
Monte Santo de Minas (MG)
Desculpaesfarrapada O ministro das Relações Exteriores, ao referir-se à invasão da embaixada brasileira, usou a desculpa esfarrapada, característica do (des)governo petista: “Eu não sabia.” Mas nem cobrou explicações do seu embaixador. É lamentável
ouvir dessa autoridade que tudo fora tramado por Hugo Chávez. Como? O Brasil virou casa de mãe joana? E duvido muito que o presidente brasileiro nada soubesse. Em matéria de golpe e agitação, o chefe é pós-graduado. Dizer que Micheletti é golpista é muito discutível. Pelas notícias, Zelaya tentou golpear a Constituição do seu país e a Justiça gritou, mandando os militares cumprirem seus deveres. Na minha opinião, o Brasil não devia se meter aleatoriamente em brigas externas sem autorização do Congresso, ou por solicitação da ONU. Minha crítica vai no sentido de termos no País muito a ser resolvido, principalmente a censura ao Estado, que está indo longe demais. O povo precisa saber das falcatruas. VICENTE MUNIZ BARRETO
“
Honduras vai ser o Vietnã do cara, quem viver verá”
NeilFerreira neil.ferreira1804@gmail.com SãoPaulo
Ahmadinejadna ONU
Exemplodepreservação
Preciso, urgente, saber quem é o (a) estilista da dona Marisa Letícia, para passar a quilômetros de distância.
Na 64.ª Assembleia-Geral da ONU, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, buscou enfatizar uma vez mais que o vilão do Oriente Médio é Israel. Ora, Israel cometeu vários erros, é lógico. Apontá-los é um direito, mas não reconhecer os próprios é cinismo puro. Mulheres, homossexuais, crianças e não-islâmicos são perseguidos e mortos em vários países do Oriente Médio (entre eles, o próprio Irã e a Arábia Saudita). E grupos terroristas (!) como o Hamas usam crianças como escudo de guerra. Negar ou omitir esses fatos é pura falta de bom senso – para não dizer algo mais.
No meu condomínio já está funcionando o sistema de reaproveitamento de águas pluviais. A água captada será usada na lavagem de garagens, do piso térreo, na rega de jardins, etc. Todo o sistema está instalado no terceiro subsolo, com capacidade para até 30 m3, recebendo tratamento ultravioleta e várias etapas de filtragem, resultando em água com qualidade balneária. As torneiras alimentadas pelo sistema têm dispositivo especial para acesso apenas a pessoas autorizadas. Além de ter impacto na redução da conta de água, essa medida contribui para a preservação deste bem tão precioso e cada vez mais escasso.
RENATA VELLUDO JUNQUEIRA
SÉRGIO ECKERMANN PASSOS
CECILIA MIKLOS DALE
rvjun@hotmail.com
sepassos@yahoo.com.br
ceciliamdale@hotmail.com
São Paulo
Porto Feliz
São Paulo
to é “vocês vão ter que acreditar num golpista (sic) e não em mim”. RONALDO GOMES FERRAZ ronferraz@globo.com
Rio de Janeiro ● “Vocês vão ter que acreditar num golpista ou em mim”? Como acreditar num presidente que nunca sabe de nada, essa é a questão.
dabmunizbarreto@hotmail.com
LUIS A. B. MORAES
Cruzeiro
labmoraes@uol.com.br
Santos
Pegona mentira Mais uma vez pego vergonhosamente numa mentira, evidenciada pelas declarações do próprio Zelaya e de Chávez, Lula vai ter de corrigir aquela sua fala aos jornalistas em Pittsburgh. Em vez de “vocês vão ter que acreditar num golpista ou em mim”, o corre-
nário, de que “terão de prestar contas” se contribuírem para uma nova corrida nuclear. A resolução respalda futuras “sanções muito severas” contra países que usem ou permitam a terceiros usar tecnologia nuclear civil para fins militares. A China só assinou o documento por estar redigido em termos genéricos. Os movimentos de Obama em relação ao Irã, da oferta de diálogo no seu discurso de posse até o cancelamento do plano do escudo antimísseis no Leste Europeu – para receber da Rússia, em troca, o respaldo a novas sanções contra Teerã –, podem ser revistos à luz do conhecimento que ele tinha, antes ainda de chegar à Casa Branca, de mais esse clandestino projeto nuclear iraniano. Segundo o New York Times, Obama teria decidido torná-lo público quando soube que os iranianos haviam se certificado, há poucas semanas, de que a espionagem ocidental descobrira a existência da “fábrica piloto”. Ela foi desenhada para abrigar 3 mil centrífugas, que servem para aumentar a proporção de material físsil por volume de óxido de urânio a ser beneficiado. A AIEA diz ter sido informada pelo Irã de que a nova unidade permitiria um nível de enriquecimento próprio apenas para a utilização do material como combustível em usinas geradoras de energia elétrica. Obama refutou a alegação. “O tamanho e o tipo da instalação são inconsistentes com os de uma planta para fins pacíficos”, disse ele ontem. “O programa nuclear iraniano representa um desafio direto aos fundamentos básicos do regime de não-proliferação.”
ModelitoemPittsburgh
A10 NACIONAL
SÁBADO, 26 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 57 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Censura prejudica Brasil em ranking
completo absurdo, fará, provavelmente com que a nota fique ainda mais baixa”, analisou. LIMINARES
Para Rogério Schmitt, Freedom House rebaixará nota do País em liberdade de imprensa Moacir Assunção
O Brasil pode perder pontos no rankingdeliberdadedeimprensa da Freedom House, ONG sediada em Washington que mede mundialmente este tema, por causa da censura ao Estado. O cientista político Rogério Schmittconsideraqueocasofará com que o País se afaste dos campeões em liberdade de expressão – basicamente países do norte da Europa como Islân-
dia, Dinamarca, Noruega e Finlândia – e se aproxime de naçõescomoCoreiadoNorte,Turcomenistão, Líbia, Eritreia e Cuba, as piores no ranking. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) proibiu, em 31 de julho, o jornal de publicar reportagens sobre o empresário FernandoSarney, filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Fernando é investigado pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica.
Nos últimos anos, de acordo com Schmitt, o País tem ocupado posições intermediárias, abaixo dos campeões, mas acima do time tido como inimigo da liberdade. No ano passado, segundo ele, a nota do Brasil foi de 42, numa escala que vai de zero a 100. “Desde 2003, entretanto, esta nota tem diminuído e deve cair mais ainda no próximo ano, quando terá repercutido o caso do Estado. A censura, que é um
ERNESTO RODRIGUES/AE-13/7/2007
REAÇÃO – ‘A censura é um completo absurdo’, diz cientista político
Aprincipalalegaçãodospesquisadores da Freedom House para que a nota brasileira se mantenhanonívelintermediário, segundo Schmitt, é a facilidade que políticos, funcionários do governo e empresários encontram para obter liminares na Justiça e impedir que os jornais publiquem casos de corrupção. “Para combater essa tentação autoritária, causada por vários fatores, o Brasil precisa de algo parecido com a primeira emendadaConstituiçãoAmericanaqueproíbeconstrangimentos à liberdade de expressão.” ●
ESTADOS
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Realização:
LPS BRASIL - CONSULTORIA DE IMÓVEIS S.A. - Rua Estados Unidos, 1971 - Jardim América - CEP 01427-002 - São Paulo - SP - Tel.: (11) 3067-0000 - CRECI/SP nº J-19585 - www.lopes.com.br - Secovi: 955. Incorporação registrada sob o nº 11, da matrícula 176.607, do 18º Registro de Imóveis de São Paulo, em 02/07/2009. * Ref. unidade 11, Torre 3: Ato: R$ 6.610,00; a 30/60/90 dias do contrato de R$ 6.610,00; 150 mensais de R$ 860,00, a 1ª em 25/01/2010(1); 12 anuais de R$ 7.050,00, a 1ª em 25/06/2010(1); em 25/07/2012 parcela única de R$ 24.309,00(1). Total: R$ 264.349,00(1) (tabela base setembro/09). (1) Reajustadas pelo INCC durante a obra. Após as chaves, pelo IGP-M e Tabela Price.
O Tribunal de Contas da União(TCU) determinouontem a retenção de R$ 5,2 milhõesdeumaobradoPrograma de Aceleração do Crescimento(PAC)–dogovernofederal – para construir 1.290 casas populares em Brasília, numa parceria com o governo do Distrito Federal. A obra foi inaugurada no dia 15 dejunho pela ministrada Casa Civil, Dilma Rousseff, e o governadorJoséRobertoArruda(DEM). Naocasião, eles entregaram 32 moradias na Vila Estrutural, bairro pobre de Brasília. Três meses depois, o TCU identificousobrepreço de R$ 5,2 milhões, irregularidades nalicitaçãoefalhas naexecução da obra, avaliada em R$ 72 milhões. O caso foi considerado “grave” pelo ministro Aroldo Cedraz, relator do processo. Segundo ele, houve “inexecução de serviços pactuados ou execução em quantidades inferiores às contratadas”. Os valores deverãoserretidosnospagamentos feitos à empresa Ericstel Construções Ltda, vencedora da concorrência para construir as moradias, de 41 metros quadrados. Além de analisar o contrato de todo o projeto, os técnicos visitaram as 32 casas, inauguradas por Dilma e Arruda, e constataram falta de itensprevistose pagos,como soleiras de mármore ou granito, chapiscos e vidros. Segundo a auditoria, não há indicaçãosobrecritériosadotados para preços unitários das 1.290 casas – e por isso teriam ficado “excessivos”. Os técnicos concluíram quehá“fiscalização deficiente” por parte do governo do DF. Em defesa preliminar, a gestão de Arruda alegou que os valores pagos indevidamente seriam descontados no fim do contrato, mas não apresentou garantia disso. “Os elementos apresentados são insuficientes para descaracterizar as irregularidades”, diz Cedraz. “Persiste o risco de dano ao erário.” Procurado pelo Estado, o secretário de Obras do DF, MárcioMachado,negouirregularidade. “Estranhei esse levantamento. Não tivemos tempo suficiente para contestar. Não há sobrepreço.” A auditoria diz que a licitação restringiu a competitividade entre empresas, com exigênciasdocumentaisdirigidas, o que teria favorecido a vencedora Ericstel. Naparceriacomogoverno de Arruda, o Ministério das Cidades e a Caixa Econômica Federal representam o Palácio do Planalto. O ministério informou que só repassa os valores. A Caixa disse que prestou esclarecimentos ao TCU. Procurado, o diretor César Pacheco, da Erisctel, não deu resposta. ●
●Edição
0h15
o estado de s. paulo
de
DOMINGO
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tv&lazer
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DIRETOR:
RUY MESQUITA
Classificados
ESPORTES
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éototaldeofertas
A volta de Hernanes e a estreia de Defederico animam duelo entre São Paulo e Corinthians. ●
8.389
anúnciosclassificados
feminino
Especial MODA
Na 2.ª parte de Filhos do Carnaval, a vez é das mulheres, como Mariana Lima. ●
DIVULGAÇÃO
(1891-1927)
27 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42348
Clássico renovado
Máfia e suingue
JULIO MESQUITA
As prévias do verão, em ensaios com a participação da modelo Fernanda Motta. ● FOTOS ERNESTO RODRIGUES/AE
FELIPE RAU/AE
Devastação do Cerrado agora avança para o norte
BNDES banca companhias para competir no exterior
Fronteira da destruição atinge Bahia, Piauí, Maranhão,Tocantins e Mato Grosso CELSO JUNIOR/AE
ESPECIAL
O
desmatamentonoCerrado brasileiro já começa a atingirasáreasmaispreservadas ao norte. Dados da Universidade Federal de Goiás mostram que a devastação chegou ao oeste da Bahia, ao sul do Piauí e do Maranhão, ao leste do Tocantins e ao centro-norte de Mato Grosso, onde o Cerrado se mistura com a Amazônia. Mato Grosso, sozinho, desmatou 11 mil quilômetros quadrados entre 2003 e 2009. Enquanto as atenções estavam voltadas para a Amazônia e a Mata Atlântica, o Cerrado se tornava o bioma mais ameaçado do País. ● CADERNO ESPECIAL
Governo brasileiro exige moderação de Zelaya
Carvão sustenta famílias em reserva ●●● Na reserva legal da fazenda Teijin (Mato Grosso do Sul), assentados pelo Incra queimam árvores numa das poucas áreas do Cerrado com vegetação densa. ● PÁG. H8
NOTAS E INFORMAÇÕES
BC aponta perigo da gastança O governo pode eliminar os incentivos fiscais, mas a maior parte das novas despesas tende a ser duradoura. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
30º MÁX.
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16ºMÍN.
Predomínio de sol. À tarde, faz calor Tiragem: 301.053 Hoje: 284 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 16 ● E. Esportes: 8 ● J. Especial Cerrado: 8 ● J. Aliás: 8 ● T. TV &Lazer: 20 ● M. Casa&: 40 ● F. Feminino: 44 ● Ca. Autos: 28 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 40 ● Co. Oportunidades: 10
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A criação de grandes grupos empresariaisbrasileiros consumiucercadeR$8bilhõesdoBNDES em apenas um ano, informam David Friedlander e Irany Tereza. O banco tem hoje R$ 13 bilhões em participação emempresasnossetores petroquímico, de papel e celulose, de telecomunicações e de alimentos. A meta é incentivar a criação de companhias capazes de competir no exterior, gerando receitas,empregosepoder político para o País. ● PÁG. B1
ILHA – Vista aérea do Cerrado na região de Planaltina, no Distrito Federal: na divisa com Goiás, agricultura ocupou áreas desmatadas
SAÚDE
Eles ajudam a morrer sem dor
E
les entram na vida do paciente com a proximidade da morte. Aos paliativistas, cabe aliviar a dor e a angústia, relata Adriana Carranca. No novo Código de Ética Médica, o cuidado paliativo passa a ser fundamental. ● PÁG. A24
“O sofrimento só é intolerável quando não cuidado” Dalva Matsumoto Médica
Futebol
Palmeiras abre 6 pontos como líder Marcos foi o destaque na vitória por 2 a 1 contra o Atlético-PR. ● PÁG. E5
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Metrô
Desapropriação atinge 4 bairros ●● 370 imóveis de áreas nobresserãodesapropriados até março. ● PÁG. C1
História
Lula e Serra foram espionados ● PÁG. A12
POLÍTICA
Franklin, o conselheiro, amplia seus poderes
CULTURA ALIÁS A grande aventura do romance
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 58 DIAS q PÁG. A13
Brasil: gigante ou anão diplomático? ●● Para Jorge Castañeda, o papel do Brasil no caso de Honduras atrapalha projetos do País. “O Brasil não é um líder mundial. E, se quiser se tornar um, não pode ajudar Zelaya.” ●
S
em ser candidato a nada e sem compromisso com partidos, Franklin Martins já não é mais só um ministro influente. Conselheiro de Lula, ele passou a ter atuação direta nas ações do governo. ● PÁG. A10
Incomodado com o uso político daEmbaixadadoBrasilporManuel Zelaya, o governo brasileiro alertou ontem o presidente deposto de Honduras para que parecoma divulgaçãode comunicados incitando partidários à rebelião enquanto estiver abrigado na missão do País, relata a enviada especial Denise Chrispim Marin. O governo também ordenou que seguidores de Zelaya não insultem militares que cercam o prédio. ● PÁG. A16
ANÁLISE
Luiz Felipe Lampreia ●● Sai o
mais ambicioso trabalho sobre o gênero literário inaugurado por Dom Quixote.●
EX-CHANCELER BRASILEIRO
Risco desnecessário A decisão de abrigar Manuel Zelaya, dando-lhe palanque, pode ser custosa para a nossa diplomacia. ● PÁG. A16 ●●●
DOMINGO, 27 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 58 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Atitude de censurar jornal é injustificável’ Para cientista político, brasileiro se mostra permissivo com ataques à liberdade de expressão Moacir Assunção
O episódio da censura ao Estado demonstra, para o cientista político Humberto Dantas, conselheiro do Movimento Voto Consciente, que para boa parte da sociedade, e até mesmo do Congresso, a democracia ainda não é um valor universal, que deveser defendido a todo custo. “A censura é lamentável, em um país que se pretende democrático, mas onde faltam postu-
raeatitude democráticas.Opapel da imprensa é, justamente, correr atrás da informação e, uma vez obtida, publicá-la, o que torna injustificável a atitude do desembargador que censurou o jornal”, disse. Desde 31 de julho, o Estado está proibido, por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, JoséSarney(PMDB-AP),depu-
blicar reportagenssobre a OperaçãoBoiBarrica,daPolícia Federal, que investiga os negócios da família Sarney. O desembargador que proferiu a decisão, Dácio Vieira, foi afastado do caso por seus pares, mas sua decisão continua em vigor. APATIA
Dantas considera que, para além da censura, a apatia de boa parte da sociedade em relação a episódios semelhantes ao
do Estado, ocorridos em todo o País, nos quais juízes censuram jornais, representa algo grave. “Não tenho visto uma grande reação da sociedade civil, como seria de se esperar em um caso com essa gravidade. Talvez tenha gente que ache que isso está dentro da normalidade”, lamentou. Na opinião do cientista político, o que permite que abusos contra a liberdade de expressão continuem ocorrendo, mes-
ADMINISTRAÇÃO
Governo centraliza processos disciplinares
mo em um regime formalmente democrático, é a própria cultura política do brasileiro. “No Brasil,tendemosa aceitara verticalização do poder. O Legislativo, por exemplo, que deveria representar o povo, está sempre a reboque do Executivo e nós gostamos da frase, profundamente autoritária, segundo a qualmandaquempodeeobedece quem tem juízo”, afirmou. O reflexo desse tipo de comportamento das instâncias de
JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/AE–26/1/2009
VÍNCULO – Prédio da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, onde funcionará a CPD a partir de amanhã
O Palácio dos Bandeirantes decidiu centralizar todos os processos de âmbito administrativo e sindicâncias envolvendo servidores públicos em desvios de conduta e outras irregularidades. Por decreto, o governador José Serra (PSDB) criou a CoordenadoriadeProcedimentos Disciplinares (CPD). “O objetivo principal é dar maior celeridade às apurações”, declarou a procuradora doEstadoJacquelineZabeuPe-
droso, que assumiu o posto de coordenadora da repartição. ACPDévinculada àProcuradoria-Geral do Estado de São Paulo(PGE), instituiçãopermanente vinculada diretamente ao governador com poderes para propor medidas de caráter jurídico que visem a proteger o patrimônio da administração. A coordenadoria começa a funcionar amanhã em um andar e meio do edifício-sede da PGE, na rua Pamplona, 227, na capital paulista. O governo está fazendo um
poder, para o pesquisador, são os baixos níveis de aprovação de políticos em geral e de instituiçõesdemocráticas,em detrimento das Forças Armadas e da Polícia Federal, órgãos marcados pelo uso da força. “Embora uma pesquisa recente demonstre que o Senado ainda conta com níveis razoáveis de aprovação, seus índices são muito inferiores aos do Exército e da Polícia Federal.” O poder de Sarney no Senado, para Dantas, demonstra que a instituição vive um momento antidemocrático. “As ligações telefônicas divulgadas demonstram que há uma família que se considera dona do País,oqueconspira contraa democracia”, disse. ●
brio na distribuição dos casos, dando maior agilidade ao grande volume de processos. “Na prática, um único procurador podia, por exemplo, acumular responsabilidade por todas demandas de várias secretarias”, ressalta Jacqueline. “Assumia carga imensa de processos.”
Edição do Decreto 54.050 tornou viável concentração dos procuradores
Meta é dar maior agilidade a investigações sobre servidores Fausto Macedo
NACIONAL NACIONAL A13 A13
mapeamento de todos os inquéritos em curso que têm como alvo funcionários públicos sob suspeita ou citados por infrações internas. “Estamos na fase delevantamentodas irregularidades, quais são as mais recorrentesemcadasecretariadeEstado”, anotou Jacqueline. Ela explicou que a coordenadoriaseráresponsávelpelacondução de todos os processos administrativos disciplinares e sindicânciaspunitivasinstaurados contra servidores públicos. Até fevereiro, cada uma das
25 secretarias de Estado mantinha sua Unidade Processante Permanente (UPP), sempre presidida por um procurador do Estado, em obediência ao estatuto dos funcionários públicos. Mas as unidades ficavam dispersas, com discrepâncias deestrutura,procedimentoeteses. PADRONIZAÇÃO
A edição do Decreto 54.050 tornou juridicamente viável a concentração dos procuradores em um núcleo e a transferência
dos recursos materiais e pessoais das secretarias de origem para a procuradoria. O decreto foi editado em 20 de fevereiro, mas antes de o novo modelo entrar em vigor foi preciso fazer uma reforma nas instalações da PGE que serão ocupadas pela coordenadoria. APGEinformou quesempreteve intenção de reunir em um mesmo espaço os procuradores do Estado que atuam na área disciplinar – quadro de 11 profissionais. O plano é permitir um equilí-
A centralização, na avaliação daprocuradoria,também deverá possibilitar a implantação de padronização de procedimentos e teses, “bem como identificação de focos de irregularidades”.Na CoordenadoriadeProcedimentos Disciplinares cada procurador terá uma sala para audiências, nos moldes do Judiciário. Como a PGE abriga 12 procuradorias regionais pelo interior, os procuradores que integram a CPD poderão usar cartas precatórias, o que deve evitar deslocamentos desnecessários, de acordo com a procuradora Jacqueline. “Com nova estrutura de trabalho e formato, a PGE terá melhorescondiçõesdelevaradiante a importante tarefa de apurar e opinar pela aplicação de penalidades disciplinares”, observa ela. ●
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Edição de 0h30
o estado de s. paulo
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SEGUNDA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
28 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42349
ESPORTES
Cabeça a cabeça
Washington (São Paulo) e Paulo André (Corinthians): bola dividida
São Paulo e Corinthians ficam no 1 a 1 ●● Empatenoclássico,comgols
de Ronaldo e Washington, favoreceu o Palmeiras, que venceu no sábado e terminou a rodada no topo da classificação, com 5 pontos à frente. ● PÁGs. E1 e E3
EVELSON DE FREITAS/AE
Está mais difícil para Barrichello ●● Brasileiro chegou em sexto, uma posição atrás de Button, quelideracampeonatocomvantagem de 15 pontos. ● PÁG. E4
Golpistas decretam estado de sítio em Honduras Lula rejeita ultimato para definir, em dez dias, status do presidente deposto cessão de habeas-corpus, relata Denise Chrispim Marin. A medida foi decretada horas depois de o governo de Roberto MichelettiexigirqueoBrasildefina em até dez dias o status de ManuelZelaya,abrigadonaembaixadabrasileira. NaVenezuela, onde participava de reunião
Multinacionais transferem fábricas para o Brasil
Delegacia leva 3 horas em SP para registrar ocorrência
A crise global está trazendo linhas de produção e até fábricas inteiras para o País. Segundo o governo, cerca de 50 empresas – de autopeças, alimentos, têxteis, químicos, móveis e mineração – pediramautorização paraimportar máquinas. ● PÁG. B1
de cúpula de países da América do Sul e da África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou a ameça: “O governo brasileiro não acata o ultimato de um golpista”. Após a declaração de Lula,revelaLourivalSant’Anna, o governo de facto prometeu fechar a embaixada. ● PÁG. A10
Missão da OEA é expulsa O governo de facto de Honduras deportou cinco representantes da OEA que tentavam entrar no país. Quatro dos diplomatas –
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DOMINGO DE COMPRAS
dois espanhóis, um americano e um colombiano – seguiram para a Costa Rica no mesmo avião em que chegaram ao país. ● PÁG. A11
TIAGO QUEIROZ/AE
Opré-candidatodoPSB àPresidência, deputado Ciro Gomes (CE), cogita oferecer o posto de vice em sua chapa ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT. O objetivo do PSB é aumentar o tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. O desafio é montar seu palanque sem ferir a aliança com o governo, da pré-candidata Dilma Rousseff (PT). ● PÁG. A6 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 59 DIAS q PÁG. A9
CADERNO 2 Polanski é preso na Suíça por estupro
●● Cineasta teria feito sexo com menina de 13 anos nos EUA, em 1977.
A espera para registrar um boletim de ocorrência é de no mínimo três horas em 71% das delegacias da capital. Em alguns casos, a demora pode ultrapassar oito horas. Especialistas afirmam que um BO deveria ser feito em até 40 minutos. ● PÁG. C1
● PÁG. D7
Amplie a realidade NOTAS E INFORMAÇÕES
G-20, reformas sem pressa A missão mais urgente do G-20, converter o cassino financeiro mundial num lugar respeitável, vai ser cumprida gradualmente. Mas o resultado da Cúpula foi comemorado. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
34ºMÁX.
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19ºMÍN.
PRESSA – Ricardo de Souza (segundo à esq.) deixou férias na Bahia para comprar casa no Salão
Calor e ventania. Pode chover à tarde.
Atrás da casa própria e do carro zero
Hoje: 58 páginas A. 1º caderno: 16 ● B. Economia: 10 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 8 ● L. Link: 8
ais de R$ 300 milhõesforam concedidosemfinanciamento nos quatro dias do Salão Imobiliário São Paulo, encer-
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M
rado ontem. Das 100 mil habitaçõesà venda,48%se enquadravam noprograma“Minha casa, minha vida”. Já o último fim de semana com isenção
total do IPI para automóveis lotou lojas e feirões. As vendas da indústria deverão subir neste ano em relação a 2008. ● PÁGS. B5 e B6
●● Nova tecnologia usando webcam faz com que informação “salte” na tela. ●
Memória
Morre colunista do ‘NY Times’ William Safire, 79 anos, escreveupormaisdetrêsdécadas no jornal. ● PÁG. A13
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ROBERTO PFEIL/AP
O governo de facto de Honduras decretou ontem estado de sítio no país por 45 dias. A suspensão de garantias constitucionais foi feita por meio de decreto publicado no diário oficial no sábado. O decreto suspende as liberdadesdeexpressão,de associação e de circulação e proíbe a con-
Ciro quer dar vaga de vice em sua chapa para o PDT
SEGUNDA-FEIRA, 28 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 59 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Demora para nova decisão gera estranheza’ Jurista diz que após suspeição de juiz do caso da censura, TJ precisa proferir novo despacho Ricardo Brandt
Causa estranheza e insegurançaa demora do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) em proferir nova decisão no episódio de censura ao Estado. A opinião é do especialista em direito constitucional Rui
Fragoso, que afirma que o problema não pode “ser creditado à morosidade da Justiça”. “Faz-se necessário que o novo desembargador analise o caso o mais rápido possível. Não hájustificativaparaelenãoanalisar a decisão que determinou a censura”, afirma Fragoso, ex-
presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo. “Com a decisão que colocou o primeiro desembargador fora do caso, o novo relator tem de pegar e dar umprimeiro despacho, como se fosse uma liminar.” Desde 31 de julho, o Estado estáproibido,pordecisãodoTJ-
JUDICIÁRIO
‘Falta seriedade na sabatina’, diz jurista Afonso da Silva critica modelo de nomeação para STF NIELS ANDREAS/AE-5/10/2007
Guilherme Scarance
Professor titular de direito constitucional da Universidade de São Paulo (USP), Virgílio Afonso da Silva diz queograndeproblemananomeação dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) é a sabatina. “É necessário que o Senado leve mais a sério a sua função”, critica. “A Casa nunca fez uma sabatina de verdade. É um carimbo na indicação do presidente, é só uma chancela.” Afonso da Silva aponta que “se alguém não tem feito seu papel corretamente, é o Senado”. Segundo ele, com exceção de casos folclóricos no início da República, nunca houve rejeição de um indicado à corte. “Nos Estados Unidos é diferente: confirma ounão.Dasúltimas20indicações, pelo menos 5 ficaram no meio do caminho.” O jurista lembra que o modelo brasileiro é inspirado no americano,masfaltaseriedade na hora da sabatina – que nos EUA chega a durar vários dias. “Não é apenas uma
INCORRETO - ‘Senado nunca fez sabatina de verdade’, diz professor
tarde, como aqui.” No Congresso, é preciso fazer “perguntas de verdade” para saber as posições do indicado. O importante, diz, é saber como o candidato a ministro interpreta a Constituição, conhecer suas convicções éticas, políticas e morais. Situação inversa ocorre hoje. O último indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José Antônio Dias Toffoli, gerou polêmica, mas sua aprovação pelo Senado está praticamente acertada. Para o constitucionalista, o modeloatualnãoéograndeproblema. “Ele pode funcionar
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bem. Mas não significa que tenha funcionado a contento nos últimos anos”, opina. “Por si só, não é um modelo ruim. E as alternativas oferecidas não são necessariamente melhores.” Afonsoda Silvadestacaquea grande maioria dos modelos em vigência no mundo partem dopressupostode queumtribunal constitucional é político. “Não posso afirmar, seguramente, sobre todos os países, mas nos mais importantes, com certeza.”Naopinião dele,os ministro do STF deveriam ter mandatos fixos. “Podem ser 7, 10, 12 anos.” ●
DF,apedidodoempresário FernandoSarney,filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga os negócios da família Sarney. O desembargador que proferiu a decisão, Dácio Viei-
ra, foi afastado do caso pelo tribunal, mas sua decisão continua a valer. Cabe ao novo relator, Lecir Manoel da Luz, desde o dia 15 decidir se mantém ou não a censura. “Essa demora gera grandeinsegurançaquantoàprestação jurisdicional. Para dar a li-
minarquecensurou oEstado, o primeiro desembargador foi muitorápido.Masquandoopróprio TJ reconhece a suspeição e um novo desembargador é nomeado,éprecisoquecomamesma rapidez seja dado um primeiro despacho”, avaliou Fragoso. Para ele, a liberdade de imprensa é “irmã siamesa” da democracia. “Uma não vive sem a outra. Os fatos são de interesse público e a função da imprensa é noticiá-los. Essa liberdade é um direito constitucional.” ●
o estado de s. paulo
● Edição de
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TERÇA-FEIRA
A queda na arrecadação e a dificuldade para cumprir a meta de superávit primário levaram o Ministério da Fazenda a buscar depósitos judiciais para reforçar o caixa, informa a repórter Edna Simão. Duas medidas provisórias à espera de votação na Câmara concentram no Tesouro somas bilionárias da Caixa Econômica Federal. Só no primeiro semestre, o banco tinha R$ 31,5 bilhões em depósitos judiciais. ● PÁGS. B1 e B3
YURI CORTEZ/AFP
O retorno de Manuel Zelaya a Honduras foi uma atitude “irresponsável” e “tola”, segundo disse o representante dos EUA em reunião na Organização dos Estados Americanos, Lewis Amselem. “Ele deve parar de agir como se estivesse estrelando um filme antigo”, acrescentou o diplomata, que criticou ainda “os que facilitaram sua volta” – a Venezuela ajudou Zelaya e o Brasil o abrigou em sua embaixada em Tegucigalpa. O chanceler Celso Amorim reclamou da declaração de Amselememconversa comasecretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. Ontem, forças hondurenhas, baseadas no estado de sítio, invadiram e depredaram uma rádio e uma emissora de TV pró-Zelaya, relata a enviada especial Denise Chrispim Marin. ● PÁGS. A13 a A15
NÚMERO
R$ 31,5
bilhões é quanto a Caixa detinha em depósitos judiciais no 1.º semestre
Censura ao ‘Estado’ faz 60 dias e pode ter nova decisão A censura ao Estado, determinada por decisão judicial liminar a pedido da família Sarney, completa hoje 60 dias. Amanhã, o novo relator do caso, desembargador Lecir Manoel da Luz, deve se manifestar e pode suspender a proibição. Para Paula Martins, da ONG pró-liberdade de expressão Artigo 19, o caso é “paradigmático” da falta de um padrão claro sobre os direitos nessa área. ● PÁG. A12
Hondurenhos veem intromissão ●●● A decisão brasileira de abrigar Manuel Zelaya em sua embaixada é vista por políticos independentes de Honduras como fator de ampliação da crise. “A intromissão levou a uma situação dramática”, disse um deles. ● PÁG. A15
ESTADO DE SÍTIO – Policiais hondurenhos confiscam equipamento de rádio simpática a Zelaya, em ação criticada por vários setores do país
Profissões do pré-sal Cadernomensal mostra comose qualificar para o desafio a 7 mil metros. ●
ESPORTES
Obama entra na campanha por Olimpíada em Chicago Jamil Chade ENVIADO ESPECIAL A COPENHAGUE
Opresidente dosEUA, Barack Obama, confirmou sua presençaparapedirvotosparaChicagona eleição dasede daOlimpíadade2016.Osconcorrentes, como o Rio, consideram que sua atitude será um grande trunfo da candidatura americana. ● PÁG. E1
NOTAS E INFORMAÇÕES
‘Vazamentos seletivos’ de dados Cabe agora ao ministro Tarso Genro responder se a direção da Polícia Federal foi inepta ou omissa. ● PÁG. A3
Irã testa mísseis que poderiam atingir Israel
VIAGEM AVENTURA &
Decifrar Taiwan
O Irã testou ontem seu míssil de mais longo alcance – com capacidade para atingir Israel,basesmilitaresamericanas no Oriente Médio e parte da Europa –, três dias depois de os Estados Unidos e seus aliados revelarem que o país está construindo secretamente outra usina de enriquecimento de urânio. A Casa Branca classificou o teste de provocação. ● PÁG. A16
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para descobrir o exotismo, a superstição e os encantos da ilha. ●
CADERNO 2
Bendito maldito
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17ºMÍN.
●● Plínio Marcos, que hoje
Dono da loja de fogos que explodiu, Sandro Castellani se apresentou à polícia, ao lado da
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mulher. Ele negou manusear explosivos, mas não especificou os produtos que mantinha. ● PÁG. C5
completaria 74 anos, ganha uma biografia escrita por Oswaldo Mendes. Ele devolve ao dramaturgo um direito cerceado em vida: voz para suas ideias. ●
LOREDANO
Eleição
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
Hoje: 98 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 6 ● H. Especial .EDU: 20 ● V. Viagem: 14
●● Seis passos
CAMILA ANAUATE/AE
SANTO ANDRÉ: O DONO DOS FOGOS
Tempo chuvoso; a temperatura cai.
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Governo usa depósitos judiciais para obter superávit
Na OEA, presidente deposto, apoiado pelo Brasil, é chamado de irresponsável
21º MÁX.
(1891-1927)
29 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42350
EUA condenam Zelaya e criticam ‘os que o ajudaram’
Tempo: CAPITAL
JULIO MESQUITA
Iniciativa popular veta os ‘fichas-sujas’ ●● Congresso recebe hoje o projeto que proíbe candidatura de réus. ● PÁG. A4
Ambiente
Helicóptero flagra ilegais na Billings ●● Prefeitura de Santo André identifica invasores às margensda represa. ● PÁG.C1
A12 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 29 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 60 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Censura ao ‘Estado’ faz 60 dias e TJ pode julgar caso amanhã Entidades de defesa da liberdade de imprensa e OAB cobram revisão imediata da decisão Ricardo Brandt
A censura imposta ao Estado pelo desembargador Dácio Vieira completa hoje 60 dias. Desde 31 de julho, quando o integrante do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) concedeu liminar ao empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o jornal está proibidodedivulgarinformações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. Amanhã, o novo relator do caso, desembargador Lecir Manoelda Luz,deve semanifestar e pode suspender a proibição.Vieirafoiafastado no último dia 15, atendendo a recurso encaminhado pelo Estado, mas a censura permaneceu, em uma manobra jurídica contestada por diversos especialistas. Organismos de defesa da liberdadedeimprensaea Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) cobram da Justiça a revisão imediata da decisão que censurou o Estado, considerada uma afronta aos direitos constitucionais do País, um retorno à repressão imposta pela ditadura e um risco para todos os órgãos de comunicação. “AmorosidadedoJudiciário significa a perpetuação da violação de um preceito constitucional fundamental para a democracia, que é a liberdade de imprensa”, declarou o presidente nacional daOAB,CezarBritto.“Hácasos em que o Judiciário pode e deve julgar rapidamente, sem com isso atropelar fila de processos ou privilegiar a parte interessada.” “Ocaso doEstadão é uma dessassituaçõesem queoJudiciáriotem de acelerar o julgamento. A censura prévia foi banida, expressamente proibida pela Constituição”, disse Britto. “Já era hora de o STF tomar a iniciativa, até pela repercussão geral que o tema envolve.” NO EXTERIOR
O caso também provocou reaçõesforado País.ASociedadInteramericanadePrensa (SIP) defendeu a derrubada da liminar. “Quando a liberdade de imprensa está em risco, quando está em questão o direito das pessoas de saberem, o Judiciário deveria ser mais rápido, de forma a garantir um direito fundamental da democracia, que é a liberdade de expressão”,disseRicardoTrotti, coordenador da Comissão de Liberdade de Imprensa e diretor do Instituto de Imprensa. Outra entidade a se manifestar foi a International Federation of Journalists. “A IFJ exige pronta retificação desta medida, que pretende impedir a imprensa brasileira de informar sobre as irregularidades detectadas pela Justiça Federal, e manifesta sua preocupação porque a decisão obedeceu a conhecidos laços de amizade entre o juiz e a família Sarney.” O Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), entidade global em defesa do jornalismo e da liberdade de expressão,tambémcondenouacensura. O CPJ, com outras seis organizações internacionais, descreveram o caso como “inacreditável”. A Associação Mundial de Jornais (WAN) e o Fórum Mundial de Editores (WEF) chegarama enviarcarta conjunta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo “ação”. Outras entidades como a Organização dos Estados Americanos(OEA),Repórteres Sem Fronteiras e Artigo 19 também consideraram a censura ao Estado um “retrocesso” para o País. ●
Cronologia do caso 16/7
A Operação Boi Barrica esbarrou em provas contra o grupo do empresário Fernando Sarney, filho de José Sarney. A Polícia Federal divulgou que o grupo usava o poder do sobrenome Sarney para ter acesso a ministérios e estatais. Fernando Sarney foi interrogado na PF do Maranhão ●
22 e 23/7
18/6
A comissão de sindicância que analisa os atos secretos do Senado divulgou que detectou cerca de 650 decisões mantidas sob sigilo nos últimos anos ●
20/6
● Jornal publica reportagem mostrando que Amaury de Jesus Machado, conhecido como ‘Secreta’, mordomo da casa de Roseana Sarney, filha de Sarney, é funcionário efetivo do Senado e ganha em torno de R$ 12 mil
1/8
Jornal revela que Vieira, ex-consultor do Senado, é do convívio dos Sarney e do ex-diretor do Senado Agaciel Maia. A Associação Nacional de Jornais (ANJ), outras entidades, senadores e o ex-ministro do STF Carlos Velloso criticam decisão ●
3/8
O líder Arthur Virgílio (PSDB) pede ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que abra sindicância contra Vieira. Para ministros do STF, juristas, advogados e promotores, Vieira contrariou a Constituição e violou a liberdade de imprensa ●
5/8
● Estado revela a existência de mais de 300 atos secretos para criar cargos e nomear parentes de políticos para o Senado. Conversas telefônicas comprovaram o envolvimento do presidente da Casa, José Sarney, com os atos secretos e a prática de nepotismo
O advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira pede que o desembargador que censurou o Estado imediatamente se declare suspeito para tomar decisões no processo. A exceção de suspeição é protocolada no próprio Tribunal de Justiça do DF. O requerimento sustenta que há laços entre Dácio Vieira, Fernando Sarney e Agaciel Maia ●
● Estado publica diálogos gravados entre 30 de março e 2 de abril de 2008, que mostram a articulação para a nomeação de Henrique Dias Bernardes, namorado de Maria Beatriz Brandão Cavalcanti, filha de Fernando Sarney
31/7
José Carlos Cosenzo Presidente do Conamp “Deveria haver uma nova representação no CNJ contra o atual relator. Não se justifica que em um mandado de segurança exista essa demora”
MORDAÇA NA IMPRENSA
10/6
REPERCUSSÃO
10/8
Associação Mundial de Jornais (WAN) e Fórum Mundial de Editores (WEF), que representam 18 mil publicações, 15 mil sites e mais de 3 mil empresas em mais de 120 países, enviam carta a Lula e ao presidente do STF, Gilmar Mendes, criticando liminar da censura ●
14/8
O desembargador Vieira conclui que é competente para julgar o processo. Caso segue para Conselho Especial do TJ. Ministro Marco Aurélio Mello, do STF, critica censura ao Estado. Entidades continuam a repudiar a censura ●
17/8
Mendes cobra decisão rápida sobre o caso. O advogado Manuel Alceu ingressa no TJ-DF com um novo recurso. Por meio de embargos de declaração, ele requer ao desembargador Lopes Júnior que esclareça pontos de sua decisão ●
Rose Nogueira Diretora do Tortura Nunca Mais “Lutei no regime militar contra a censura. É uma vergonha, ofende a todos essa censura ao Estado e a demora em se julgar o caso”
21/8
Estado ingressa com nova exceção de suspeição do desembargador Dácio Vieira. A base do recurso é extraída da própria decisão de Vieira, quando ele ignorou um primeiro pedido para que se declarasse suspeito no caso ●
Cezar Britto Presidente da OAB “A persistência da censura sobre o jornal há dois meses e a morosidade do Judiciário em fazer valer um preceito constitucional preocupam”
29/8
A Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), alarmada com o número de atentados à liberdade de imprensa na América Latina, convoca 14 entidades para debater o problema no Fórum de Emergência sobre Liberdade de Expressão ●
15/9
12/8
Maria Aparecida Aquino Historiadora da USP “Toda e qualquer censura tem de ser vista com desprezo. A liberdade de informação faz parte dos pilares de construção da democracia”
Estado entra com mandado de segurança. O recurso tem o objetivo de garantir o reconhecimento de direito líquido e certo, incontestável, que está sendo violado ou ameaçado por ato ilegal ou inconstitucional de uma autoridade ●
23/6
● Reportagem do Estado revela que dois funcionários – Raimundo Nonato Quintiliano Pereira Filho e Fernando Nelmásio Silva Belforte – que trabalham na Fundação José Sarney, em São Luís (MA), são assessores do Senado
Ricardo Pedreira Diretor executivo da ANJ
13/8
25/6
Reportagem do Estado mostra que o esquema do crédito consignado no Senado inclui entre seus operadores José Adriano Cordeiro Sarney, filho do deputado Zequinha Sarney, filho mais velho de José Sarney ●
● O desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, informa o Estado da proibição de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica (PF)
● O desembargador Waldir Leôncio Cordeiro, da 2.ª Câmara Cível do TJ, mantém censura ao jornal, ao não acolher pedido de liminar no mandado de segurança. Cordeiro deixa para deliberar após receber dados de Vieira e da Procuradoria
● O TJ-DF declara Vieira suspeito para decidir sobre o pedido de censura. A decisão afasta o desembargador do caso. No mesmo dia foi indicado o novo relator, Lecir Manoel da Luz
“É lamentável que a censura esteja demorando tanto e que tenha havido censura prévia. A decisão prejudica a todos”
Medida fere Constituição, diz especialista Advogada vê falta de ‘padrão claro’ de juízes em sentenças ligadas à mídia Moacir Assunção
A censura ao Estado demonstra que falta uma padronização clara para o que significa liberdade de expressão e de opinião no Brasil. A opinião é da coordenadora da ONG Artigo 19 no Brasil, advogada Paula Martins. A mordaça já dura 60 dias, desde a decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), que proibiu o jornal de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica da Polícia Federal, responsável pela investigação dos negócios da família Sarney. “Não há um padrão claro e tudo depende muito do juiz que analisa a ação, o que faz com que tenhamos decisões péssimas e ótimas”, afirma
Paula. A Artigo 19, cujo nome faz alusão ao artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos que trata da liberdade de expressão, é uma organização sediada em Londres. Em termos gerais, como classificar a censura ao Estado, em seus dois meses de vigência?
A decisão do juiz envolveu censura prévia e já demora muito para chegar a um termo. Sem dúvida, a proibição de divulgar informações de interesse público, que envolvem corrupção e uso de recursos públicos, fere um preceito constitucional. Os cidadãos não tiveram direito a receber informações que poderiam ser importantes. O caso do Estado é paradigmático para o que chamamos de falta de um padrão legal.
Então, a Artigo 19 constatou que não há uma padronização para casos que envolvem liberdade de expressão no Brasil?
Temos visto as mais variadas, e às vezes disparatadas, decisões, que punem desde órgãos da grande imprensa, como o Estado, até pequenos jornais, organizações como o grupo Tortura Nunca Mais e blogs. O que temos constatado é que, além da falta de um marco legal, que era a Lei de Imprensa, totalmente abolida, não há um padrão para definir a liberdade de expressão e a distinção entre essa liberdade e o direito à privacidade. Os críticos da Lei de Imprensa dizem que a Constituição prevê a resolução dessas questões relacionadas a crimes de imprensa.
A Constituição realmente discorre sobre o tema, mas é excessivamente genérica. Aliás, até o próprio marco legal, que era a Lei de Imprensa, também não chegava a detalhes, mas era uma sinalização para alguma forma de padrão. Achamos que a lei deveria ter sido substituída e não simplesmente abolida.
Maria Victoria Benevides Socióloga da USP “Quando o Judiciário atua com esse autoritarismo seletivo de acordo com interesses políticos ilegítimos é algo catastrófico”
O que fazer para combater esse problema?
É preciso que todos, a sociedade, o governo, o Judiciário e a academia, promovam um grande debate para chegarmos a um consenso. Caso não o façamos, teremos problemas sérios. Até mesmo a liberdade de expressão pode sofrer enormes danos no País. ●
Sérgio Murillo Presidente da Fenaj “A censura é escandalosa. Daqui a pouco, a gente vai acabar se acostumando com isso. Lamento o silêncio do CNJ e espero um pronunciamento do órgão”
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Recomendação atinge 13 obras do PAC com gastos previstos de R$ 7,38 bi vil, Dilma Rousseff, à Presidência. Essas obras do PAC envolvem gastos de R$ 7,38 bilhões só neste ano. Foram apontados superfaturamento e pagamento por serviços não prestados. O tribunal também avaliou aspectos ambientais e concluiu que o Ibama acompanha de for-
Vereadores controlam equipes dos subprefeitos
ma precária processos de licenciamento de obras. O relatório aponta outros 22 empreendimentos com indícios de irregularidades graves e sugere a retenção parcial de valores, mas sem recomendar suspensão. Nesse caso, aparecem 16 projetos do PAC. ● PÁG. A4
‘Isso não é função dele’ ●●● O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, criticou o TCU, acusando-o de ir além de suas funções, ao “dizer ao Executivo o
que deve ser feito”. Já a ministra Dilma Rousseff pediu mais cautela na análise dos indícios de irregularidades. ● PÁG. A4
CÂMARA: 1,3 MILHÃO DE ASSINATURAS CONTRA FICHAS-SUJAS
As subprefeituras de São Paulo são ocupadas de acordo com os interesses de vereadores, mostra um mapa obtido pelo Estado com funcionários da Prefeitura. Os subprefeitos não são mais indicados pelos vereadores, mas pelo prefeito. No entanto, na hora de escolher o quadro de funcionários, a Prefeitura considera que a ajuda dos vereadores nessa indicação é legítima. ● PÁGS. C1 e C3
Kika Seixas diz que vai à Justiça caso jornalista publique livro. ●
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Fotografia
Masp exibe a Grande Depressão ●● Exposição traz o regis-
tro do colapso dos EUA nos anos 30. ● PÁG. D4
●●● O presidente da Câmara, Mi-
chel Temer, recebe o projeto de iniciativa popular assinado por
Candidatosno Enem terão três minutos por questão
São Roque (SP) começa a colher uma de suas melhores safras. ●
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tiça. Temer já defende mudanças para abrandar a proposta. Em sua coluna, Dora Kramer afirma
que os deputados pretendem alterar inteiramente o espírito do projeto popular. ● PÁGS. A6 a A8
Ogovernocentral(Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) registrou superávit primário de R$ 3,69 bilhões em agosto, mas o resultado – reforçado principalmente pelos dividendos das estatais, de R$ 7,81 bilhões – foi insuficiente para melhorar as contas federaisnoano.Osuperávitdespencou 68% de janeiro a agosto, em relação ao mesmo período de 2008, com o avanço de R$ 50,3 bilhões nos gastos, que subiram de R$ 306,8 bilhões para R$ 356,11 bilhões. ● PÁGS. B1 e B3
Amorim diz que Brasil negou avião a Zelaya
REFORÇO –
Pelé posa para fotos em Copenhague: ‘O Rio não tem nenhum problema’
●●● Uma funcionária de alto escalão do governo dos EUA manteve, em Cuba, diálogo direto com a cúpula do regime, disseram diplomatas americanos à agência Associated Press. Se confirmado, será o contato mais significativo entre os dois países em décadas. ● PÁG. A15
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 61 DIAS q PÁG. A11
ESPORTES
O vestibulando que participar do Enem, neste final de semana, terá três minutos para responder a cada uma das 180 questões da prova – fora a redação. Serão dez horas de exame, divididas em dois dias. Especialistas recomendam não perder tempo em cada questão. ● PÁG. A18
agrícola
Horadaalcachofra
mais de 1,3 milhão de eleitores para impedir a candidatura de políticos com condenação na Jus-
No lobby pelo Rio, Brasil escala Pelé e Paulo Coelho
NOTAS E INFORMAÇÕES
A única saída para o Brasil A única saída digna para o governo brasileiro da armadilha em que se meteu parece ser a concessão de asilo a Manuel Zelaya em território nacional. ● PÁG. A3
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O TARIQ MIKKEL KHAN/AP
Ex-mulher ameaça biógrafo de Raul
ED FERREIRA/AE
CADERNO 2
Superávit sobe em agosto, mas queda no ano chega a 68%
EUA e Cuba têm reunião sigilosa
Modelo do pré-sal em discussão O evento, hoje no jornal, incluirá o presidente da Petrobrás. ● PÁG. B7
DIRETOR:
RUY MESQUITA
O chanceler Celso Amorim reiterou que o Brasil não participou da volta de ManuelZelaya a Honduras – um dia depois que os EUA criticaram os que “facilitaram” o retorno do deposto. No Senado, Amorim disse que, logo após a deposição, Zelaya pediu ao governo brasileiro um avião para voltar ao país, o que lhe foi negado. O chanceler disse que só revelou esse segredo paramostrarque nãoestava escondendo nada. ● PÁG. A14
DEBATE ESTADÃO
●●
(1891-1927)
30 de setembro de 2009 --ANO 130. Nº 42351
TCU manda parar 41 obras federais e irrita Planalto O Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou a paralisação de 41 obras federais, em atitudequeprovocoureaçãoirritada do governo. A recomendação atinge 13 obras do Programa de Aceleração do Crescimento(PAC)–pilardapré-campanha da ministra da Casa Ci-
JULIO MESQUITA
Brasil escalou Pelé e o escritor Paulo Coelho para reforçar o lobby pela escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016, informa o enviado especial a Copenhague Jamil Chade. Ontem, Pelé prestigiou um jogo de futebol infantil. Hoje, Paulo Coelho janta com as mulheres de integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI), que anunciará, na sexta-feira, a cidade escolhida. ● PÁGS. E1 e E2
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● PÁG. C2
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Banzé brasuca em Tegucigalpa
Nações Unidas e democracia
JoséNêumanne
MarcoMaciel
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um gênio da política e disso não dá para duvidar. Reconhecer essa verdade, contudo, não esclarecerá se ele foi sincero (e, portanto, de um desconhecimento sesquipedal dos fatos) ou se apenas destilou um gosto peculiar pela ironia quando, na Cúpula América do Sul-África, execrou “retrocessos” institucionais em nosso continente – caso da deposição de Manoel Zelaya. Pois o fez ao lado do tirano líbio Muamar Kadafi, no poder há 40 anos, e do ditador de Zimbábue há 29 anos, Robert Mugabe. Falar em ironia no episódio chega a ser um cruel acinte à memória das vítimas de tantas ditaduras que prosperaram na América Central à sombra das bananeiras em flor. E, justiça seja feita, se se trata de mera ignorância, ela teria de ser imputada também a vários colegas de Lula, entre os quais o americano Barack Obama. Sem falar nos coleguinhas jornalistas que, rejeitando os fatos, classificam de “golpista” o governo de facto de Honduras. Mel, como é apelidado o lati-
Mel Zelaya está em Honduras porque Chávez quer e Lula garante proteção fundiário eleito pela direita que aderiu ao bolivarianismo de Hugo Chávez, foi deposto, é verdade, e não submetido a um processo regular de impeachment, como o foi o primeiro presidente brasileiro eleito pelo voto popular depois da ditadura militar de 1964, Fernando Collor. Isso ocorreu, porém, à luz do ignorado artigo 239 da Constituição de Honduras, que reza peremptoriamente: “O cidadão que desempenhou a titularidade do Poder Executivo não poderá ser presidente ou vice-presidente da República. Quem quebrar este dispositivo ou propuser sua reforma, assim como aqueles que o apoiem direta ou indiretamente, terá de imediato cessado o desempenho de seu respectivo cargo e ficará inabilitado por dez (10) anos para o exercício de qualquer função pública.” Collor nem sonhou tentar o que Zelaya tentou: mudar a Constituição e convocar um plebiscito para permitir sua permanência no cargo, ao arrepio do Congresso e da Justiça. O expresidente hondurenho pediu apoio aos militares e, não o tendo obtido, demitiu o comandante das Forças Armadas. A Justiça mandou depô-lo, empossou o presidente do Congresso e não permitiu que ele se vestisse, embarcando-o de pijama para o exterior. O mundo inteiro se revoltou com a desfaçatez dos “golpistas” de Honduras por crassa
ignorância das regras constitu- do civilizado convívio internacionais vigentes num país mi- cional. Como nunca antes na núsculo e miserável. Teceu-se, história deste planeta, abriaí, com rapidez, a cortina de fu- gou na “embaixada” brasileimaça do governo “golpista” e ra não um fugitivo de um regido “martírio” do presidente elei- me ditatorial, mas alguém to pelo povo e deposto por mili- que decidiu impor a própria tares num novo e típico pronun- vontade de continuar mandando em casa, sem dar bola para ciamiento latino-americano. No afã de não repetir Bush, as instituições e a opinião púBarack Obama, assessorado blica locais. Esses episódios por madame Clinton, absoluta- sempre terminam com um salmente jejuna em quaisquer as- vo-conduto ao abrigado na suntos ao sul do Rio Grande, embaixada e seu asilo pelo condenou a deposição, mas de- país que o hospedou. Mas este pois foi tratar de problemas não pode ser o caso: Zelaya mais relevantes. Com o “não te- não quer fugir de Honduras, mos nada com isso” dos xerifes mas ficar lá, sob a proteção de do mundo, tudo se encaminha- Lula, porque Chávez mandou. va para uma solução simples e O absurdo não para por aí. cômoda do episódio: as eleições Lula tem exigido respeito abpresidenciais poderiam ser rea- soluto ao território brasileiro lizadas e a paz democrática vol- da “embaixada” depois de ter taria a reinar naquele antigo pe- chamado o embaixador de daço do império da United volta e mantido em TegucigalFruit Company. pa apenas um encarregado Aí entrou em ação o coronel de negócios. O governo de facgolpista Hugo Chávez, que des- to ainda não ocupou o prédio pachou de volta para o centro só para evitar pretextos interdos acontecimentos o presiden- vencionistas, pois, como não te deposto. Este cruzou a fron- reconhece a autoridade “golteira, mas voltou por cima dos pista”, o Brasil não tem mais pés para, em seguida, empreen- embaixada em Tegucigalpa. der uma entrada espetacular O ex-chanceler mexicano em Tegucigalpa, mercê do en- Jorge Castañeda tem razão genho estratégico do amigo ve- ao se dizer – em entrevista a nezuelano e do peculiar concei- Lúcia Guimarães no caderno to sobre democracia da compa- Aliás deste jornal, no dominnheirada brasileira. Dirigente go – espantado com a introsindical no fim da ditadura mili- missão brasileira em Hondutar, quando o general Geisel ras. Estamos é fazendo um cunhou sua “democracia relati- banzé brasuca estúpido em va”, Lulinha Paz e Amor inven- terreiro alheio, que, aliás, não tou a “democracia de conve- tem interesse nem importânniência”, adaptação petista da cia nenhuma para nós. Ao sentença de Artur Bernardes: mundo, que tenta se escon“Para os amigos, tudo; para os der do vexame de ignorar as inimigos, o rigor da lei.” Ahma- regras da democracia de um dinejad roubou a eleição no país pobre, o Brasil parece baIrã? Isso não interessa ao Bra- ter no peito e proclamar com sil, que não pode intervir na so- arrogância: “Sou ignorante, berania iraniana. Ahmadinejad sim, mas quem aí não é?” ● nega o holocausto? O fato de sermos amigos não nos força a José Nêumanne, jornalista pensarmos da mesma forma. e escritor, é editorialista Mas o mesmo não vale para do Jornal da Tarde Honduras, que não tem projeto bélico nuclear nem bate boca com o vilão ianque. E foi assim que, quando o mundo inteiro esperava um banho de votos para lavar a mauvaise conscience pelo completo desconhecimento internacional das regras constitucionais hondurenhas, o governo brasileiro, para apoiar Chávez, foi à caça do apoio de tiranos africanos para repor Mel Zelaya no poder. Para tanto mandou às favas Celso Amorim todas as regras
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Fichassujas A proposta justíssima, chamada “Iniciativa Popular dos Fichas-Sujas”, com 1,3 milhão de assinaturas, pode ser considerada uma tábua de salvação para o enlameado Poder Legislativo. Os representantes públicos que não apoiarem essa proposta de decência de iniciativa de seus representados, que lhes pagam altos salários para que os representem com dignidade, com toda a certeza afundarão na lama que tentam conservar e se tornarão inelegíveis, naturalmente, pela imagem negativa que passarão aos eleitores. MARIA TOLEDO A. GALVÃO DE FRANÇA milatag@ibest.com.br
Jaú
É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do ●
A Organização das Nações Unidas (ONU), que reúne 192 países, instituiu o 15 de setembro como Dia Internacional da Democracia. Trata-se de atitude coerente com as origens da instituição e, por isso, o atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pode dizer que “sistemas democráticos são essenciais para se alcançarem os objetivos de paz, direitos humanos e desenvolvimento no mundo”. No Ocidente, todos esses conceitos tiveram início com o célebre discurso de Péricles, em Atenas, três séculos antes de Cristo. Nele o orador apresentava os elementos fundamentais da democracia: governo “não de poucos, mas da maioria”. E explicava o seu sentido ético: “Não é o fato de pertencer a uma classe, mas o mérito, que dá acesso aos postos mais honrosos; inversamente, a pobreza não é razão para que alguém, sendo capaz de prestar serviços à cidade, seja impedido de fazê-lo pela obscuridade de sua condição.” Num de seus livros, afirma Roberto Dahl: “A democracia não é uma fórmula particular de sociedade ou uma concreta forma de vida, mas sim um tipo específico de procedimento ou de técnica, em que a ordem social é criada e aplicada pelos que estão sujeitos a essa mesma ordem, para assegurar a liberdade política, entendida como autodeterminação.” Daí podemos concluir que a democracia, como puro procedimento, carece de um conteúdo substancial: não garante que as normas de ordem social tenham de ser justas ou equitativas, que expressem o interesse comum; assegura, tão somente, que todos quantos vivem sob sua
que o projeto ficha-suja passar pelo Congresso. FRANCISCO ZARDETTO fzardetto@uol.com.br
São Paulo
SabatinadeToffoli Com razão o constitucionalista Vergílio Afonso da Silva, o Senado devia fazer uma sabatina real, em vez da comum sessão de elogios e felicitações ao indicado a vaga no STF. Ficar batendo na tecla de que Toffoli não tem pós-graduação, que pode ser comprada facilmente pela internet, nem se sentou nas cadeiras de cursitos que não dão formação, mas dão o caminho das pedras das pegadinhas para concursos de juiz e afins, e há considerável número de vencedores de tais certames que nem
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
sequer falam com competência e estão privatizando o Judiciário a seu bel-prazer... Isso não credencia ninguém para o STF. Aprofundemos o debate, pois o momento é grave: o Senado está-se tornando um inútil e dispendioso cabide de empregos e indústria de falcatruas, sem mais lugar na História. E esta nos dá a lição de que aquele foi criado como cópia despudorada na Constituição republicana do modelo estadunidense. CARLOS SBROGGIO jocausb@yahoo.com
São Carlos ● Em sã consciência, existe alguém no Senado capacitado para sabatinar Toffoli?
● Urge mudar a Constituição: 99% dos congressistas não têm capacidade intelectual jurídica para fazer perguntas a candidato a ministro do Supremo. Melhor que seja dada competência ao STF para eleger uma comissão de juristas com essa finalidade. FRANCISCO ANTONIO DE OLIVEIRA frama@uol.com.br
Campinas
Censura,não! Urge rever a decisão que censurou o Estadão. Afronta a democracia, ferindo os direitos constitucionais do País. RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA, presidente da Academia Paulista de
ROBERTO TWIASCHOR
Letras Jurídicas
rtwiaschor@uol.com.br
ruyaltenfelder@uol.com.br
São Paulo
São Paulo
sujeição tenham participado de sua criação. Ademais, os conceitos elaborados pelo jurista Hans Kelsen nos levam, necessariamente, à distinção entre democracia representativa e democracia participativa. A “Teoria da Representação” é calcada na premissa de que os que tomam as decisões na democracia representativa são os representantes livremente escolhidos pelos eleitores. A eles cabe aprovar as leis que organizam a sociedade e o poder. Por seu turno, a democracia participativa significa um passo adiante: os representantes não apenas aprovam as leis; devem votá-las, desde que atendam aos requisitos de justiça e equidade e exprimam o interesse comum. Considerado sob esse aspecto, o fundamento ético de representação política e seu papel insubstituível consiste na necessidade de enfrentar e superar as novas demandas sociais. Quando isso não ocorre, o resultado é o surgimento de crises que se sucedem sem que, muitas vezes, saibamos qual a sua causa. Mas, para acentuar o pressuposto de que sem moralidade não se pode fazer democracia, voltemos a Péricles. Explicava o estratego e político grego: “No tocante às leis todos são iguais para a solução de suas divergências privadas. (...) Ao mesmo tempo que evitamos ofender os outros em nosso convívio privado, em nossa vida pública nos afastamos da ilegalidade principalmente por causa de um temor reverente, pois somos submissos às autoridades e às leis, especialmente àquelas promulgadas para socorrer os oprimidos e às que, embora não escritas, trazem aos transgressores uma desonra visível a todos.” Do tempo de Péricles aos atuais, houve novas e naturais conquistas democráticas se acrescentando na teoria e na prática. LOREDANO A preparação da Revolução Inglesa gerou a racionalização política de Locke; a da Revolução Americana produziu Jefferson e Madison, importantes constitucionalistas, e não só grandes líderes; a Revolução Francesa criou a doutrina da completa soberania do povo em Rousseau e a divisão dos Poderes segundo Montesquieu. Abraham Lin-
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Sobredrogas Em artigo publicado na edição de 28/9 (A2), o psiquiatra Ronaldo Laranjeira põe em minha boca palavras que nunca disse e que nem de longe traduzem o meu pensamento. Jamais defendi a liberdade de usar drogas “como um direito individual”. A afirmação, de tão descabida, não mereceria reparo. Vejo-me, porém, obrigado a respondê-la, por referir-se a tema especialmente delicado. Minha posição é clara a respeito: as drogas lícitas e ilícitas são um mal, que deve ser combatido. Discuto apenas o modo como se vem combatendo as drogas ilícitas. Defendo que o consumo de drogas ilícitas seja tratado como
coln e Woodrow Wilson completaram essas definições: Lincoln ao dizer que a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo; Wilson acrescentando que nela as instituições são mais fortes que os homens. Isaiah Berlin, por sua vez, sintetizou essas liberdades em dois conjuntos complementares: liberdade da opressão econômica, religiosa, política e social; e liberdade para o sufrágio universal, educação pública e gratuita, e confraternização de classes, gêneros, culturas e civilizações pelo pluralismo. Todos esses conceitos, oriundos das experiências históricas dos povos, referem-se ao conteúdo da democracia. Quanto à sua forma, também fundamental é a contribuição de Hans Kelsen. Foi ele que demonstrou a necessidade dos direitos das minorias e de um Parlamento com partidos políticos representativos e responsáveis, definindo a democracia necessariamente como democracia de partidos. Também no Brasil temos os grandes teóricos e práticos da
Mais do que nunca o mundo necessita expandir os valores democráticos democracia. Joaquim Nabuco é nosso maior defensor dos direitos sociais, contra todas as formas de escravidão; Rui Barbosa, outro tanto dos direitos individuais e das liberdades públicas; Anísio Teixeira, os da educação para todos; Sobral Pinto, os direitos humanos. Aliás, em Pernambuco, Gilberto Freyre defendia a ecologia desde a primeira edição de Nordeste, em 1937, e, já na década de 1960, Vasconcelos Sobrinho estava entre os precursores dos movimentos ambientalistas no Brasil. A Constituição é a suprema formalização da democracia, que, nos novos tempos, incorpora uma espessa declaração de direitos sociais e econômicos. As modernas Cartas Magnas, como a brasileira de 1988, acrescentam o reconhecimento de outras conquistas de direitos e deveres, inclusive no campo dos direitos humanos e da preservação do meio ambiente. Mais do que nunca, o mundo necessita expandir, por toda parte, os valores da democracia verdadeira, autêntica. Democracia social, com ética, participação e igualmente atenta ao território da cultura, pois neles estão alojados os valores que definem a identidade dos diferentes povos e nações. ● Marco Maciel, senador, é membro da Academia Brasileira de Letras
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assunto de saúde pública, e não como caso de polícia. Aos traficantes e ao crime organizado, sim, cabem a repressão e o encarceramento. Não é opinião exclusiva minha. É crescente o número de homens públicos e cientistas que a sustentam, com base no evidente fracasso da política de “guerra às drogas”, preconizada e praticada pelos EUA desde os anos 70 do século passado. Estou certo de que o dr. Laranjeira, com o conhecimento científico que tem, muito poderá contribuir para que possamos avançar seriamente nessa matéria vital para a sociedade brasileira. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
São Paulo
QUARTA-FEIRA, 30 DE SETEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 61 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Após 61 dias, TJ decide hoje se derruba censura Relator, que substituiu desembargador considerado suspeito, pediu inclusão do caso na pauta BRASÍLIA
Os desembargadores que compõema5ªTurmaCíveldoTribunal de Justiça do Distrito Federal deverão decidir hoje um recurso do Estado para que seja derrubadaacensuraqueoimpe-
de de publicar reportagem sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou oempresárioFernandoSarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O novo relator do caso no TJ, desembargador Lecir Manoel
daLuz,pediuqueoprocessofosse incluído na pauta de julgamentosdehoje.Emmeadosdeste mês, Lecir substituiu Dácio Vieira na relatoria do caso. Vieira foi afastado do processo por decisão do Conselho Especial do TJ. De acordo com o
Senado valida nomeação de servidores fantasmas Funcionários haviam garantido vagas por ato secreto Leandro Colon BRASÍLIA
OSenadovalidouontematos secretos que deram emprego a servidores fantasmas. Entre eles está Nilton Carvalho Neto, conhecido como o poeta Neto Sambaíba. Ele é lotado na Diretoria-Geraldesde 19de junhode 2007, quando foi nomeado por ato secreto. Porém, é um desconhecidonoterceiro andarda diretoria do anexo 1 do Senado. Ele vive no Piauí. Filiado ao PMDB, Neto Sambaíba é aliado do senador Mão Santa no Estado. Foi empregado com um salário de R$ 4,9 mil, mas teve seu salário reduzido. Desde o ano passado, recebe R$ 1,2 mil por mês. Procurado por duas vezes, o senador Mão Santa não respondeu à reportagem. Seu ato secreto entrou na leva das dez medidas validadas e publicadas ontem no Diário Oficial da União. Esses atos se somam a outros cerca de 160 que já haviam sido validados entre os 511 descobertos. Foi legalizado também o ato secreto que manteve o funcionário Antonio José Costa de Freitas Guima-
NACIONAL A11
SP publica antigos atos secretos ●● ● A Assembleia de São Paulo publicou ontem 127 atos secretos da Mesa Diretora editados entre 1989 e março deste ano que não tiveram publicidade oficial na época em que foram aprovados. A maior parte, 75 deles, é referente à prestação de contas de gastos internos dos gabinetes, conforme revelou a Isto É. Há também determinação de gratificações para servidores, ordenamento de despesas referentes a custeio de viagens, correção da alíquota de gastos com gasolina e até mesmo o aumento de funcionários lotados nos gabinetes dos parlamentares da Mesa. Os atos estão concentra-
dos nos anos de 2002 e 2003, período em que os presidentes eram o ex-deputado Walter Feldman (secretário municipal de Esportes) e Sidney Beraldo (secretário estadual de Gestão), ambos do PSDB. Há dois meses, o presidente da Assembleia, Barros Munhoz (PSDB), negou a existência de atos secretos. Por meio de sua assessoria de imprensa, ele afirmou que desconhecia a existência dos atos sem publicidade e que eles só foram descobertos por determinação da própria presidência da Casa. ●
rãesempregadono Senado.Hoje lotado no Bloco da Maioria, Guimarães não cumpre expediente na Casa, apesar do saláriodeR$10mil. Éumdos principaisassessoresdo deputadoJader Barbalho (PMDB-PA) na Câmara. AlémdeNetoSambaíba,aadvogadapiauienseSarahChristina Rios, nomeada no fim do ano
passadoporatosecreto,também garantiu seu emprego. Ela vive no Piauí, mas sua lotação é na Diretoria-Geral. O Senado validou ainda o ato secreto que nomeou Andressa Alves em junho de 2007paratrabalharnoInterlegis. Ela é filha do deputado Henrique Alves (PMDBRN). ●
FABIO LEITE E RICARDO BRANDT
conselho, ele não tinha mais isenção para continuar no caso porque fez críticas ao Estado. Vieira atribuíra ao jornal e à mídia “ação orquestrada mediante acirrada campanha com o nítido propósito de intimidação”. O desembargador criticou o
Estado ao rejeitar um primeiro recurso contra sua atuação no processo por manter relações com a família Sarney. Reportagem publicada em agosto mostrou que Vieira, que determinou a censura ao jornal, era do convívio social da família do se-
nador e do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia. Depois dessa primeira recusa,oEstadoprotocolounovopedido,baseado nascríticasdodesembargador ao jornal, que foi aceito pelo Conselho Especial. Acensuracompletou61dias.Entidades de defesa da liberdade de imprensa e a Ordem dos Advogados doBrasil (OAB) pedem a derrubada da decisão que impede a publicação da reportagemsobreaOperaçãoBoiBarrica. Ministros do STF também criticaram a medida. ●
● Edição das
2h
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
1 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42352
Indústria precisa de US$ 400 bi para o pré-sal
CATÁSTROFES EM SÉRIE: MORTES NA ÁSIA E NA OCEANIA
Oposiçãotemedesequilíbrionaeconomia
MUHAMMAD FITRAH/REUTERS
DEBATE ESTADÃO
●●● Escombros de shopping em Padang, na Indonésia, atingida por dois terremotos, ontem e na madrugada de hoje: em 40 horas, tremores, tsunami e tufão deixam mais de 400 mortos em cinco países e milhares de pessoas podem estar soterradas. ● PÁG. A14
O desenvolvimento da indústria nacional para atender à demanda do pré-sal vai necessitar deinvestimentos depelo menos US$ 400 bilhões. A conta foi feita pelo presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, apósoDebateEstadão “O Futuro do Pré-Sal”, realizado no auditório do Grupo Estado. Para o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE),queparticipoudoevento, tamanha necessidade de financiamentopodeparalisaroutros setores da indústria. Ele também criticou a transferência de recursos da União à Petrobrás por meio da operação
FRASE
“A questão do pré-sal foi colocada pelo governo de forma muito emotiva, como disputa entre nacionalistas e entreguistas” Tasso Jereissati Senador (PSDB-CE)
de capitalização – que, segundo o tucano, pode atingir US$ 130 bilhões, dinheiro que o senador classificou de “doação”, cuja destinação deveria ser educação e saúde. Já o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) disse que o Brasil precisa avançar na legislação ambiental para evitar que a exploração do pré-sal altere o clima. ● PÁGS. B1 e B3 a B5
Prova vaza e MEC decide cancelar Enem
TJ manda caso da censura ao ‘Estado’ para o Maranhão
Alertado pelo ‘Estado’, ministério confirma que sigilo do exame foi quebrado
Mantida mordaça a respeito dos Sarneys
PF deixa acidente da TAM sem culpados Após dois anos e dois meses de investigação, a Polícia Federal concluiu o inquérito sobre o acidente com o voo 3054 da TAM sem apontar culpados pela maiortragédiadaaviaçãobrasileira, que deixou 199 mortos em julho de 2007. O Ministério Público Federal pode agora arquivar o caso, pedir novas diligências ou oferecer denúncia contra quem considerar responsável. O entendimento da PF diverge do da Polícia Civil, que indiciou 10 pessoas. ● PÁG. C1
As pessoas que avisaram o Estado sobre o vazamento disseramterobtidoaprovadefuncionários do Inep. O MEC informou ter uma outra versão do exame, pronta para substituir o cancelado. A expectativa é aplicá-lo daqui a 45 dias. O Enem mudou neste ano para funcionarcomoumvestibular unificado nacional. ● PÁGS. A18 e A19
País. Haddad, que diz nunca ter visto o conteúdo da prova, confirmou o vazamento ao consultar técnicos do Instituto NacionaldeEstudosePesquisas Educacionais (Inep), órgão do ministério responsável pelo Enem. “Há fortes indícios de que houve vazamento, 99% de chance”, afirmou o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes.
4,1
milhões de pessoas se inscreveram para o Enem em 2009
45
dias é o prazo no qual o ministério espera aplicar o novo exame
CADERNO 2
Futebol
Vitória heroica do São Paulo
Cantos de amor e devoção
Com dois expulsos, time vira em cima do Náutico (2 a 1). ● PÁG. E4 ●●
Olimpíada
Rio se queixa de Madri ao COI Para espanhóis, favoritismo carioca é só marketing. ● PÁG. E1
●●
Cada prato pede uma cerveja
●● Maria Bethânia lança dois álbuns, Tua e Encanteira, com canções inéditas de autores
NOTAS E INFORMAÇÕES
O veto aos fichas-sujas A barreira que se deseja erguer aos fichas-sujas é um desdobramento da batalha pela ética na política. Será um escândalo se o Congresso afrouxá-la. ● PÁG. A3
●●●
●● Saibaescolher oti-
po certo de cerveja para acompanhar à mesa. ●
Tempo: CAPITAL
23º
MÁX.
Senado aprova Toffoli para STF Novoministropoderá votar no caso de Cesare Battisti. ● PÁG. A4
●●
● PÁG. C2
12º
MÍN.
Instabilidade diminui e o sol reaparece em todas as regiões.
Judiciário
Hoje: 120 páginas A. 1º caderno: 26 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 16 ● E. Esportes: 4 ● P. Paladar: 8 ● Cl. Classificados: 20 (2.155 anúncios)
7 8 9 10 11 12
NÚMEROS
MARCOS ARCOVERDE/AE
O sigilo da prova do Enem, que seria realizada neste fim de semana, foi quebrado, informam RenataCafardoeSergioPompeu. Alertado pela reportagem do Estado, que teve acesso à prova a ser aplicada, o ministro Fernando Haddad (Educação) decidiu cancelar o exame – que mobilizaria4,1milhõesdecandidatos em 1,8 mil cidades do
novos e de outros já contemplados por ela, como o baiano Roque Ferreira. ●
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal decidiu ontem manteroEstadosobcensura.Osjuízes consideraram que o TJ de Brasília não era o foro competente para continuar a julgar o assunto, e sim a Justiça Federal do Maranhão. É na corte maranhense que corre o processo sobre a operação da Polícia Federalque investiga negócios da fa-
Concentração de terras cresce no País, diz IBGE A concentração de terras no Brasil cresceu, segundo o Censo Agropecuário 2006, divulgado ontem pelo IBGE. Enquanto as propriedades de até 10 hectares ocupam menos de 2,7% da área agrícola, as que superam os 1.000 hectares concentram mais de 43%. O Índice de Gini – medida internacional de desigualdade – no meio rural chegou a 0,872, superando os de 1995 (0,856) e 1985 (0,857). ● PÁGS. B10 e B11
mília Sarney. São as informaçõesdessaoperaçãoqueoEstado está proibido de publicar, graças a liminar obtida pelos Sarneys há 62 dias, exatamente no TJ do DF, que agora se diz incompetente. O Estado deve tentar barrar a transferência do processo ou entrar com recurso extraordinário no Supremo Tribunal Federal. ● PÁG. A10
ARTIGO
Demétrio Magnoli SOCIÓLOGO
Mais fácil crer em duendes É mais razoável acreditar emduendesquenaversãodogoverno brasileiro, pela qual Zelaya se materializou sem aviso na embaixada em Honduras. O Brasil,incapazdecontrolarocanastrão, substitui a diplomacia pela ideologia. Lula e Amorim correm o risco de aparecer como aventureiros que jogam nos dados a sorte de um país pobre e convulsionado. Mas a falência doBrasilcomomediadornãosuprime a oportunidade para uma solução negociada. ● PÁG. A2 ●●●
A2 ESPAÇO ABERTO
QUINTA-FEIRA, 1 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Bingo!
Personagens de um filme antigo
RobertoMacedo
DemétrioMagnoli
A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que legaliza os bingos. Isso se passar pelos plenários da Casa e do Senado e não for vetado pelo presidente. Espero que sucumba nesse caminho, pois seria um desastre. Em particular, para idosos e/ou aposentados, que têm particular atração por esse tipo de jogo, a ponto de alguns perderem nele parcela significativa de seus rendimentos, ao lado de economias a duras penas acumuladas. Nesses e noutros casos, há os que se entregam à ludopatia, a compulsão pelo jogo. O que a CCJC aprovou foi um substitutivo a vários projetos sobre bingos apresentado na Comissão de Finanças e Tributação pelo deputado João Dado, de sobrenome adequado ao assunto. Na CCJC sofreu poucas alterações e tem vários pontos vulneráveis. Entre eles, um artigo fixa um número limitado de bingos levando em conta a população de cada município. Por exemplo, um para cada 100 mil habitantes ou fração em municí-
Dinheiro para saúde, esportes e cultura só doura a pílula desse veneno social pios com até 500 mil habitantes. Ao mesmo tempo deixa as autorizações de funcionamento por conta do Ministério da Fazenda, nos termos do regulamento da lei. Dado esse limite, seria uma guerra obter essas autorizações e as empresas excluídas poderiam recorrer a juízes em busca de liminares que garantissem seu funcionamento, alegando que a Constituição garante a liberdade de empreender e que haveria o tal “prejuízo iminente” na ausência da autorização. Há, assim, o risco de um “liberou geral”. Noutro artigo, exigese um capital mínimo de R$ 1 milhão, com caução de 20% retida enquanto o estabelecimento funcionasse. Ora, nos “videobingos com sequências ganhadoras”, de que fala o texto aprovado – e que, presumo, levariam também a prêmios de grande magnitude –, quem banca o jogo precisa estar bem calçado para pagálas. Essa caução mínima não me parece suficiente. E mais: os royalties devidos pela exploração dos bingos seriam distribuídos apenas à União (30%) e 70% aos Estados ou ao Distrito Federal (onde se localizarem os estabelecimentos), nada cabendo aos municípios. Ao levantar esses pontos, faço-o a título de análise, sem significar que caberia melhorar o projeto, pois vejo detestável a ideia permissiva que embute. Em seu favor há argumentos insustentáveis, como o de
que geraria 320 mil empregos. Ora, mesmo que os bingos empregassem esse número de pessoas – talvez na hipótese do “liberou geral” –, caberia pesar também os empregos perdidos com a transferência para os bingos de renda até então gasta em outros ramos de atividade. Assim, o jogo já começaria com um gol contra esses outros ramos. Chute por chute, diria que 320 mil empregos seriam assim destruídos, ao lado do surgimento anual de 50 mil ludopatas e de 90 mil famílias com dificuldades financeiras. Além disso, o índice de Gini, que mede a concentração de renda, aumentaria de 0,55 para 0,58, significando renda mais concentrada, pois no jogo muitos perdem para o ganho de uns poucos apostadores e bancadores. Argumenta-se também que parte da receita do governo se destinaria a finalidades como esportes, cultura e saúde, o que serve apenas para dourar a pílula desse veneno social, pois se ignoram os males a que poderia levar. Entre eles, conforme matéria neste jornal no dia 17/9, a compulsão pelo jogo pode trazer consequências devastadoras a quem o pratica, como isolamento social, dívidas, noites sem sono e angústia. No Hospital das Clínicas, na capital paulista, há o Ambulatório do Jogo Patológico, cuja procura era maior antes de 2004, quando os bingos estavam em funcionamento, com demora de atendimento que então alcançava quatro meses, e hoje varia entre 15 e 30 dias. A discussão sobre os bingos deveria ser estendida à questão geral do jogo no País. Sei de oito(!) jogos operados pela Caixa Econômica Federal (Mega-Sena, Lotogol, Timemania, Loteca, Lotofácil, Quina, Dupla Sena e Lotomania) e que há também a Loteria Federal, ao lado de outras estaduais, raspadinhas, e outros jogos. Todos a criar ilusões, concentração de renda, ludopatia e outra patologia, a que envolve milhões de “patos”. Como os que preenchem, por exemplo, os boletos da Mega-Sena sem atentar para o fato de que no seu verso está dito que a probabilidade de ganhar marcando seis números é de uma em 50.063.860! Esses jogos são promovidos até com propaganda enganosa, como a que vi recentemente na TV, a dizer que nas loterias governamentais todos têm a mesma chance. Não é verdade. Quem joga mais tem chances maiores. Na Mega-Sena, por exemplo, pode-se diminuir a probabilidade de perder com apostas mais caras de até dez números. Não acredito na eficaz proibição de jogos de azar, pois mesmo na sua atual ilegalidade há gente que procura o bingo e outros jogos clandestinos. Mas há
formas bem menos inconvenientes de permitir o jogo. Uma é a do jogo confinado, como em Las Vegas e Atlantic City, nos EUA. São cidades mencionadas num relatório parlamentar sobre os bingos, o qual, contudo, não aprendeu as lições que esses casos ensejam. Eles tornam o hábito mais difícil para quem joga e para quem é mais pobre, pois há o custo da viagem e estadia. E facilitam o controle pelo governo, pois sem confinamento há mais espaço para corromper os agentes públicos encarregados desse trabalho. Isso não é considerado pelo projeto de lei, que dá a entender que seria possível estabelecer controles eletrônicos infalíveis mesmo com a disseminação dele por todo o território nacional. O brado que intitula este artigo vem de quem preenche primeiro uma cartela de rodada de bingo, interrompendo o sorteio dos números ao se anunciar como vencedor. Se o projeto virar lei, o grito virá dos que bancarão o jogo, os únicos e grandes vencedores de uma história que se revelará trágica. ● Roberto Macedo, economista (USP e Harvard), professor associado à Faap, é vicepresidente da Associação Comercial de São Paulo
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
Mefistofelesinho
FÓRUM DOS LEITORES STF Toffoli aprovado pelo Senado. Pobre Brasil! ORIVALDO TENORIO DE VASCONCELOS prof.tenorio@uol.com.br
Monte Alto
● Professor Michel Temer, por favor, não desvirtue iniciativa tão saneadora e democrática como a mobilização popular contra os fichas-sujas. Não se deixe contaminar pelo lulismo permissivo. BENEDITO LIMA DE TOLEDO
Fichassujas Michel Temer quer aliviar a barreira para os fichas-sujas. Ora, qualquer alteração no projeto popular contra candidatos com ficha suja é um atentado explícito contra a vontade popular e a democracia. É mais um tapa na cara dos “brasileiros comuns” dado pelo cinismo daqueles que querem se manter no poder a qualquer custo, sugando os cofres públicos. EDENILSON MEIRA merojudas@uol.com.br
Itapetininga
bltoledo@uol.com.br
São Paulo ● Se o projeto dos fichas-sujas fosse aplicado hoje em todo o Brasil, conseguiríamos montar um time de futebol com os políticos aprovados? MILTON BULACH mbulach@gmail.com
Campinas ● Um problema não ficou claro: se passar a lei da ficha suja, quem vai apagar as luzes e fechar a porta do Congresso?
Honduras condensa o conflito, repetido vezes sem conta na História da América Latina, entre uma democracia oligárquica e o impulso do caudilhismo. A primeira singularidade da crise atual encontrase no seu enquadramento no cenário da “revolução bolivariana” de Hugo Chávez, que conferiu dimensões internacionais ao confronto entre o pretendente a caudilho e as instituições políticas do sistema oligárquico hondurenho. A segunda singularidade, nos erros crassos cometidos pela política externa brasileira, que contribuíram para a espiral de violência em que ingressa o país centro-americano. A crise foi desatada pela tentativa de Manuel Zelaya de circundar o ferrolho constitucional armado para perpetuar o sistema oligárquico. O líder fraco, oriundo de um dos partidos do condomínio hegemônico, só agiu porque tinha o respaldo da Venezuela chavista. O impasse político e legal foi resolvido por um golpe institucional, conduzido pelo Exército, mas amparado pelo Congresso e pela Corte Suprema, que instalaram o governo provisório de facto de Roberto Micheletti. A ruptura foi condenada pela totalidade dos países americanos, de acordo com a Carta Democrática Interamericana, mas a mediação
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dos países democráticos.
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JOEL SAMWAYS NETO
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Muitos políticos com ficha suja têm sido eleitos porque a Justiça Eleitoral não é célere a ponto de decidir por sua condenação ou absolvição antes dos pleitos. A causa está no número de magistrados, muito reduzido em relação ao volume das demandas judiciais, e nas normas processuais, que permitem atos protelatórios. Infelizmente, a mobilização de nossos compatriotas em prol do projeto de lei de iniciativa popular não atingiu a causa do problema, mas o princípio da presunção da inocência, que custou séculos de história de luta contra injustiças, até se tornar cláusula pétrea nas Constituições contemporâneas
do costa-riquenho Óscar Arias fracassou, pois os contendores acreditaram que podiam prevalecer sem um compromisso. Zelaya só teria uma chance realista de prevalecer se contasse com a interferência ativa dos EUA ou se tivesse amplo respaldo popular. Os EUA de Barack Obama pretendem deixar para trás o estigma do intervencionismo na América Central e, mesmo condenando o golpe, não se engajariam a fundo na defesa de um aliado de Chávez. A maioria dos hondurenhos não se importa com a sorte do rancheiro que sonhou ser condottiere. Então, quando as coisas pareciam resolvidas, a aventura do retorno clandestino, patrocinada pela Venezuela e, talvez, por Cuba, deflagrou o drama que está em curso. É mais razoável acreditar em duendes que na versão do governo brasileiro, pela qual Zelaya se materializou sem aviso diante da embaixada em Tegucigalpa. Os indícios, contudo, não autorizam a imaginar que o Brasil tenha participado da urdidura do retorno clandestino. Uma narrativa mais sóbria sugere que Chávez, com a finalidade de instalar o presidente deposto na sede diplomática brasileira, promoveu o vazamento de um plano original de colocá-lo no escritório hondurenho da ONU. A história rocambolesca será toda contada, um dia. Por enquanto, sabe-se apenas o que está aos olhos de todos: o Brasil permitiu a transformação de sua embaixada na tribuna de agitação política do alto da qual um caudilho frustrado clama pela insurreição. A imprudência, que compromete a credibilidade da diplomacia brasileira, poderia ter um desenlace administrável, sob duas condições alternativas: se Zelaya tivesse força popular para derrubar Micheletti ou se o fato consumado impusesse por si mesmo uma solução negociada aos contendores. Como nenhuma dessas condições é verdadeira, Lula e Celso Amorim correm o risco de aparecer como aventureiros que jogam nos dados a sorte de um país pobre e convulsionado. O compromisso é o destino provável de contendores fracos, explicou dias atrás o ex-ministro Luiz Felipe Lampreia. A análise tem sentido, mas exclui dois elementos complicadores. De um lado, Zelaya não reconhece a sua fraqueza, em razão do engajamento irrestrito do Brasil na operação do retorno. De outro, Micheletti não enxerga um mediador confiável e teme as consequências da restauração de um líder que se imagina forte e deve tudo a Chávez. São esses os motivos da paradoxal radicalização dos contendores fracos, que avançaram até a beira do precipício da guerra civil. O Brasil, que pretendia liderar, perdeu por sua própria cul-
pa a condição para mediar. O representante dos EUA na OEA estava certo ao dizer que Zelaya “deve desistir de agir como se estivesse estrelando um filme antigo” – e mais ainda ao apontar a “especial responsabilidade de prevenir a violência” que recai sobre os ombros de uma diplomacia brasileira incapaz de controlar o ator canastrão hospedado na embaixada. A saída para o impasse não pode prescindir de eleições livres e limpas, monitoradas por observadores internacionais. O estado de sítio implantado em Honduras e a repressão deflagrada contra os opositores ameaçam a legitimidade do processo eleitoral. É precisamente o que busca Chávez, quando estimula a radicalização de Zelaya. O Brasil teria o dever de agir na direção oposta, insistindo no diálogo. Mas preferiu dinamitar as pontes, substituindo a diplomacia pela ideologia. No Itamaraty, é a hora e a vez dos amadores. Na reunião de emergência da OEA convocada para dar uma resposta à declaração do estado de sítio, o
Incapaz de controlar o canastrão, o Brasil trocou a diplomacia pela ideologia Brasil alinhou-se à Venezuela e rejeitou as sugestões moderadas dos EUA, provocando o fracasso do encontro. Feito o estrago, a diplomacia brasileira diagnosticou, pela voz do embaixador Ruy Casaes, que “a OEA está caminhando para um absoluto estado de irrelevância”, e o ministro Amorim passou a dirigir apelos ao Conselho de Segurança da ONU. A ideia de sabotar os esforços de Washington na organização hemisférica para, então, solicitar ajuda de Washington na organização mundial constitui mais uma inovação piramidal dos luminares que dirigem nossa política externa. A falência do Brasil como mediador não suprime a oportunidade para uma solução negociada, cuja base só pode ser o Plano Arias. Desde a decretação do estado de sítio, os EUA passaram a agir mais firmemente, embora com discrição, e surgiram sinais de divisão na elite política e empresarial hondurenha. Lula e Amorim, personagens do filme antigo dirigido por Chávez, dependem como nunca do sucesso da operação americana de bastidores. Se ela não funcionar, pesará sobre o governo brasileiro parte da responsabilidade por um desfecho trágico que podia ter sido evitado. ● Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@terra.com.br
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Golpe
DAVID NETO
centraltalentos@bol.com.br
Leitores têm sustentado que o presidente Zelaya violou cláusula pétrea da Constituição de Honduras e, por isso, merecia legalmente ser destituído. Mas toda a questão está no procedimento legal – ou não – de sua destituição. No Brasil, o presidente Collor foi processado nas instâncias corretas e condenado pelo Senado. Tudo foi público e ele teve assegurada ampla defesa. Um presidente pode ser retirado do cargo pela Justiça, à luz do dia. Não pode ser retirado da cama, de noite, por militares. O que houve em Honduras foi golpe, sim. E com golpes não deve mais haver contemplação. A História da América Latina pagou preço muito alto por eles.
davidneto@davidneto.com.br
São Paulo
RENATO JANINE RIBEIRO, professor
Curitiba
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LeiEleitoral O presidente Lula tinha a faca e o queijo na mão. Poderia e deveria ter vetado vários itens excrescentes inseridos na Lei Eleitoral, tais como ficha suja, voto em trânsito, doações ocultas, etc. Não o fez! A lei sancionada de nada vale e seguirá favorável somente aos interesses, os mais nefastos, dos políticos. Ou seja, Lula e os políticos comem o queijo e a faca, mais uma vez, será enterrada no peito do brasileiro.
São Paulo
Já que eles reconheceram incompetência, estão empurrando com a barriga e agora é lá no campo do adversário, que tal as altas esferas se pronunciarem, e mesmo as mais baixas, pois estou ficando com vontade de me socorrer com o caudilho venezuelano? Quanto tempo mais de censura? JOSÉ ROBERTO PALMA palmapai@ig.com.br
São Paulo ● Lula diz que deposição de Zé Laya é atentado à democracia. E a censura ao Estado é o quê? AGRIPINO ABERTO DOMINGUES
titular de Ética e Filosofia Política da USP
A10 NACIONAL
QUINTA-FEIRA, 1 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 62 DIAS
Maurício Azêdo Presidente da ABI “É mais uma demonstração do corporativismo que retarda a solução e prolonga uma inconstitucionalidade absurda. Estamos diante de um absurdo só comparável àqueles cometidos na ditadura”
TJ manobra e envia caso de censura ao Maranhão Juízes consideraram que tribunal de Brasília não é foro competente para julgar questão, mas mantiveram decisão que impôs mordaça ao ‘Estado’ Mariângela Gallucci BRASÍLIA
Rosângela Giembinsky Voto Consciente “Não tem explicação uma situação dessas. O que esses caras estão querendo? É inadmissível. O Voto Consciente sente uma indignação. Não podemos mais confiar na Justiça, é preciso um controle externo”
Mozart Valadares Presidente da AMB “O que mais me espanta, me deixa surpreso, é quando um tribunal diz que não tem competência e mantém a decisão. Se é incompetente, a decisão está revogada. Não consigo entender”
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Os desembargadores da 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal decidiram ontem manter o Estado sob censura. Depois de ter tomado três decisões a respeito da proibição requeridapeloempresárioFernando Sarney, o TJ-DF determinou que o caso seja transferido para a Justiça Federal Cível de primeira instância no Maranhão.Osjuízesconsideraram que o tribunal de Brasília não é foro competente para julgar o assunto. Fernando, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), conseguiu há 62 dias uma liminar do desembargador Dácio Vieira que proíbe o jornal de noticiar as investigações da Polícia Federal na Operação Boi Barrica. O empresário, responsável por dirigir os negócios da família do parlamentar, está sob investigação há quase três anos. A operação, depois desdobrada em cinco inquéritos, mapeoutransaçõesfinanceiras suspeitas das empresas do grupo, detectadas às vésperas da eleição de 2006. Em julho, ao final de quase seis horas de depoimento na SuperintendênciadaPFdo Ma-
Jornal vai apelar ao STJ ●● ● “Não aprendi na faculdade aquilo que venho assistindo nos julgamentos do caso Sarney”, declarou o advogado do Estado, Manuel Alceu Affonso Ferreira, sobre a decisão de ontem. “O juiz é declarado suspeito, mas a sua decisão é mantida. O tribunal afirma a sua incompetência absoluta, manda o processo para o Maranhão. Mas, apesar de reconhecer sua incompetência, mantém a censura”, afirmou o advogado. A decisão tomada ontem pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), que mandou deslocar os autos da mordaça para a Justiça Federal de 1ª instância do Maranhão, será alvo de novas medidas da defesa do Estado. O primeiro passo a ser seguido é tentar barrar a transferên-
cia do processo. Para tanto, Manuel Alceu terá de aguardar a publicação do acórdão (decisão judicial tomada por um grupo de magistrados). Quando isso ocorrer, a defesa do jornal poderá, por exemplo, apelar ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), por meio de um recurso especial. Outra hipótese sob análise é a apresentação de um recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal (STF). Qualquer nova medida contra a censura, no entanto, dependerá fundamentalmente da publicação do acórdão. Assim que isso ocorrer, a defesa do Estado tem possibilidade de levar o caso para os tribunais superiores e interpor ação cautelar para dar efeito suspensivo à censura. ●
ranhão,emSãoLuís,oempresário foi indiciado por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formaçãodequadrilhaefalsidade ideológica. O nome da operação, alusivo ao grupo folclórico maranhense que tem os Sarney como patronos, foi modificado depois para Faktor. É uma referência a uma factoring, descoberta no início das investigações da Polí-
cia Federal, que movimentou R$ 40 milhões em cinco anos. SUSPEIÇÃO
No julgamento de ontem, a portas fechadas – assistido apenas pelos advogados do jornal –, os desembargadores da 5ª Turma concluíram que o Tribunal de Justiça do DF não era competente para julgar o caso, porque as decisões sobre a Operação
Boi Barrica foram tomadas pela Justiça maranhense. Apesar de terem chegado a essa conclusão, os juízes mantiveram a liminar que instaurouacensura,emdecisão criticada por juristas e entidades de defesa da liberdade de imprensa. Em sessãoanterior,osdesembargadores já haviam decidido afastar Vieira do caso. Os advogadosdoEstadosustentaram que o desembargador nãoeramais isentopararelatar o processo porque atribuíra ao jornal “ação orquestrada mediante acirrada campanha com o nítido propósito de intimidação”. O desembargador criticouojornaljustamente aorejeitar um primeiro recurso, no qual o Estado sustentava que ele não poderia atuar no caso,pois tinha relações com os Sarney. Reportagem publicada em agosto mostrou queVieira eradoconvívio social da família do senador e do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia. OTJnãoreconheceuaparcialidade invocada pela intimidade do magistrado com Sarney. Mas, depois de o jornal protocolar o segundo recurso, o tribunal reconheceu que o desembargador havia perdido a isenção com as críticas feitas ao Estado. ●
Ricardo Pedreira Diretor executivo da ANJ “A ANJ expressa seu repúdio e estranheza pela decisão da 5.ª Turma Cível do TJ-DF de se declarar incompetente para julgar a ação e manter a liminar do desembargador Dácio Vieira, que é totalmente inconstitucional”
Cézar Britto Presidente da OAB
“A censura prévia não foi agasalhada pela Constituição brasileira. As instituições da liberdade só podem ser aquelas previstas no texto constitucional. Não está incluída a censura. Ela é vedada expressamente”
Cláudio Abramo Transparência Brasil “É insanidade, não faz nenhum sentido. Estão brincando com o jornal. Eu diria que esse é o sinal de uma Justiça esquizofrênica. Não me admira que as pessoas considerem o Judiciário incompetente”
Entrevista Márlon Reis Juiz, membro do MCCE “O Judiciário não pode realizar censura prévia, ofende claramente a Constituição. Pode ter chegado o momento de o STF ser estimulado a editar uma súmula vinculante. OAB e ANJ deveriam provocar o Supremo”
Antonio Claudio Mariz de Oliveira: advogado
‘Fiquei chocado. Esperava que saneassem o abuso’ ANTONIO MILENA/AE–23/4/2009
Criminalista diz que censura ao jornal é ‘uma violência’ e critica demora para suspender ‘decisão arbitrária’ José Carlos Cosenzo Presidente do Conamp “Se o juiz foi declarado incompetente, a decisão não tem valor. O TJ-DF é competente, a meu ver, já que todos os fatos se deram em Brasília. O jornal deve fazer representação ao CNJ e à Corregedoria Nacional de Justiça"
Rubens Figueiredo Cientista político “É uma decisão medieval, em pleno século 21. Parece que estamos dando sempre passos para trás em nossa democracia. É como se fosse um dinossauro, um pterodáctilo sobrevoando nosso mundo”
É correta a decisão do tribunal do Distrito Federal, que mandou transferir os autos para o tribunal do Maranhão?
Marina Person Cineasta e apresentadora “É uma coisa tão absurda, um contrassenso inaceitável. Fica até difícil não chover no molhado. O que está acontecendo lá é com dinheiro nosso, então nada mais apropriado que a gente possa saber o que está acontecendo”
O que agrava a decisão de hoje é o fato de que o TJ-DF poderia ter reconhecido sua incompetência. Isso teria impedido o alargamento do período de censura. Já poderiam de cara ter dito: não somos competentes. Desde a primeira decisão, do primeiro desembargador, a incompetência deveria ter sido reconhecida. Se não foi pelo desembargador que determinou a censura, deveria ter sido por aquele que recebeu os autos no processo de
“É mais um sinal, um retrato do Brasil. Há bons retratos, mas outros muito feios, de abuso de poder. É uma continuidade do poder na mão de pequenos grupos. Isso é o que atrasa o Brasil em pleno século 21”
O TJ-DF diz que não é competente. Ainda assim manteve a censura. Como é possível?
Na mesma esteira do abuso que marca a manutenção da censura quando o juiz foi declarado suspeito, o TJDF, ao dar-se por incompetente, deveria ordenar imediatamente a suspensão dessa proibição. Também nula é a decisão do órgão do Judiciário que não se considera competente para determinado caso. Ora, se é incompetente, a decisão é nula.
Fausto Macedo
“Todos esses atos foram praticados por autoridade incompetente. Tinha de cair tudo, inclusive a censura, obviamente”, declarou o advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira. Criminalista com cinco décadas de atuação nos tribunais, Mariz revela inconformismo com os rumos que a ação tomou no Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Na avaliação dele, a censura é “uma violência”. Mais indignado ele fica ao comentar sobre o longo período em que a mordaça prevalece – imposta no dia 31 de julho pelo desembargador Dácio Vieira, do TJ-DF. Ontem, o julgamento realizado no tribunal do Distrito Federal foi acompanhado com ansiedade por Mariz. Ao saber do resultado, declarou-se “chocado”.
É uma grande incongruência, difícil de ser entendida. Uma vez declarada a suspeição do juiz, suas decisões devem ser automaticamente atingidas e tornada nulas. Não se pode compreender que neste caso essa regra não tenha sido aplicada.
Ana Moser Ex-jogadora de vôlei
Henrique Calandra Desembargador “O desgaste provocado pela liminar é tão grande que em outras ocasiões a parte desse mesmo tipo de liminar cedeu. Este é um bom momento para que a polêmica seja enfim encerrada”
Se a censura é inconstitucional como pode ter partido do próprio Judiciário?
O que preocupa nesse episódio é que desta feita o Judiciário está sendo instrumento de uma violência que se imaginava abolida no País. Uma agressão que era cometida nos regimes de exceção, mas jamais no regime onde se imaginava vigorar a plena democracia. CRÍTICA – ‘É uma grande incongruência’, afirma Mariz de Oliveira
suspeição. A decisão judicial tomada pelo desembargador afastado, por si só, já representava uma ingerência indevida do Judiciário no exercício de um direito garantido pela Constituição, o direito à liberdade de imprensa. E agora, ao invés de o Judiciário, por meio do tribunal do Distrito Federal, por um fim à violência cometida anteriormente, decide manter essa agressão. Onde começou o erro?
O erro, muito grave, já se deu logo no início da demanda, com a imposição de censura. E se agrava na manutenção da proibição, uma medida inconstitucional mantida por meio de decisão de caráter meramente
formal. É medida que não acolhe de modo algum os anseios da sociedade brasileira no sentido de ver o jornal da envergadura do Estado livre das amarras de decisão arbitrária. São mais de 60 dias de mordaça. Como o sr. avalia?
Fiquei chocado com a decisão em si. Esperava que a consciência jurídica e democrática da magistratura do Distrito Federal saneasse o abuso cometido. Mas isso não ocorreu para aumento do meu espanto e da minha decepção. Quando o desembargador Dácio Vieira foi declarado suspeito a censura não foi afastada. É normal na rotina forense?
A Associação Nacional de Jornais apurou 12 casos de censura judicial nos últimos dois anos. A liberdade de imprensa está sob risco?
Preocupa a possibilidade de essa censura adquirir um caráter exemplar no sentido de influenciar outros órgãos do Judiciário a acolherem postulações que tenham o mesmo objetivo de amordaçar a imprensa. Há outro fato que mais agrava a situação: a demora que os advogados do jornal terão de suportar para ingressarem com medidas cabíveis contra a decisão do TJ-DF. As atividades do Judiciário se revestem de burocracia revoltante que, no entanto, devem ser cumpridas até que haja a publicação desta mesma decisão. ●
Leonardo Barreto Cientista político “A decisão do TJ conseguiu ser mais antidemocrática que a do desembargador, porque ela sepulta a possibilidade de revogação da liminar e envia a decisão para a casa do adversário”
Beatriz Segall Atriz
“O que é que está acontecendo? Por que a Justiça brasileira tem tanto medo de acabar com essa vergonha? Onde já se viu um tribunal se declarar incompetente depois de 61 dias. Tenho náuseas de saber que essas coisas podem acontecer no meu País”
� Edição de
0h15
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
2 de outubro de 2009 --ANO 130. NÂş 42353
ESPORTES
Rio luta hoje pelo sonho olĂmpico
WILTON JUNIOR/AE
Os 106 delegados do ComitĂŞ OlĂmpico Internacional (COI) vĂŁo escolher hoje, em Copenhague (Dinamarca), a sede dos Jogos OlĂmpicos de 2016. A disputa entre Rio, Madri, TĂłquio e Chicago ĂŠ mais do que esportiva – tornou-se uma guerra polĂtica, informam os enviados especiais Jamil Chade e Andrei Netto. Ontem, o presidente Lula e o rei da Espanha, Juan Carlos, cortejavam os Ăşltimos delegados indecisos. Hoje, chega o presidente dos EUA, Barack Obama, para defender Chicago. Lula ironizou: “Sim, nĂłs podemosâ€?, afirmou ele sobre as chances do Rio. â—? PĂ GS. E1 a E5
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TORCIDA – Escultura de areia em apoio à candidatura do Rio, em Copacabana: beleza natural Ê trunfo
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lizĂĄ-la nos dias 7 e 8 de novembro, logo depois do feriado de Finados. O MEC tenta garantir que haja tempo para a utilizaçãodoEnemcomoexameseletivoparaingressonasuniversidades. Os estudantes paulistanos se dividiram sobre o cancelamento. Para alguns, como GuilhermeAlvarez,“foium baqueâ€?, porque ele “jĂĄ estava preparadopsicologicamentepara aprovaâ€?. Para outros, como Ana Clara Coelho, “um pouco mais de tempo para estudar nunca faz malâ€?. â—? PĂ GS. A17 a A23
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loja de fogos que explodiu mantinha material na casa do cunhado.â—? PĂ G. C1
Guia Os melhores pastĂŠis
EugĂŞnio Bucci PROFESSOR DE JORNALISMO
Os deveres da imprensa
7 8 9 10 11 12
mentar,porqueasbuscas continuam. Mais de 500 casas e prĂŠdios foram destruĂdos ou danificadospeloabalo,incluindo hotĂŠis, escolas, hospitais e centros comerciais. â—? PĂ G. A16
A pedido do ministro Guido Mantega, o secretĂĄrio de PolĂticaEconĂ´mica, Nelson Barbosa, convocou entrevista para atacar o “terrorismo fiscalâ€? de “alguns analistasâ€? e da “oposiçãoâ€?. Para Barbosa, o objetivo deles ĂŠ “forçar uma expectativa de subida dos jurosâ€?. Foi uma reação ao relatĂłrio do Banco Central queadvertiusobre oimpactoinflacionĂĄrio do aumento dos gastos pĂşblicos. â—? PĂ G. B1
Acusado estocava mais 2 t de fogos
Confira os melhores de SĂŁo Paulo, eleitos por quem faz caldo de cana. â—?
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Evolução
FĂłssil dĂĄ novas pistas sobre o homem
INVESTIGAĂ‡ĂƒO – Haddad fala sobre o adiamento do Enem: a PF vai rastrear toda a produção da prova
ADERNO 2 Tremor mata mais de C Interatividade e humor mil na IndonĂŠsia O nĂşmero de mortos no terremotode7,6graus na escalaRichter que anteontem abalou a Ilha de Sumatra, na IndonĂŠsia,subiuontem para 1.100,segundo a ONU. O total pode au-
Santo AndrĂŠ
ANĂ LISE
O compromisso de um jornal ĂŠ com o leitor, nĂŁo com autoridades. O caso do Enem ilustra esse princĂpio. O jornal teve acesso Ă prova e, ao procurar o MEC para checar a autenticidade, poupou 4 milhĂľes de jovens de se submeterem a um exame que seria anulado. â—? PĂ G. A22
ApĂłs crĂtica do BC aos gastos, Fazenda ataca ‘terror fiscal’
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Os doishomens quemostraram aoEstadoaprovadoEnemqueriam dinheiro, relatam Renata Cafardo e Sergio Pompeu. Elespermitiramqueosrepórteres do jornal vissem a prova por tempo suficiente para memorizaralgumasquestþes.Foiobastante para cruzar as informaçþes com o MEC. � Pà G. A22
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MEC altera data do exame apĂłs ser alertado pelo ‘Estado’ sobre quebra de sigilo
Dupla queria dinheiro ao mostrar a prova ao jornal
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Enem fica para novembro e PF investiga vazamento A prova do Enem foi remarcada para a primeira quinzena de novembro, mas ainda sem dia definido. O exame, que estava agendado para este fim de semana, foi cancelado na madrugada de ontem apĂłs o Estado ter avisado o MEC que a prova tinha vazado. O caso estĂĄ sendo investigado pela PolĂcia Federal. O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que mandou dar “prioridade mĂĄximaâ€? Ă preparação da nova prova. O objetivo, segundo um assessordo ministro, ĂŠ tentar rea-
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â—?â—? Denise
Fraga volta Ă TV em Norma, que mistura atitude e internet. â—?
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 63 DIAS q PĂ G. A9 NOTAS E INFORMAÇÕES
A mordaça se eterniza É inexplicåvel a espantosa decisão do colegiado do TJ-DF. Para perplexidade de leigos e juristas, a censura ao Estado foi mantida. � Pà G. A3
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Tempo: CAPITAL
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Temperatura sobe, o tempo fica abafado e pode chover Ă tarde.
Hoje: 198 påginas A. 1º caderno: 28 � B. Economia: 16 � C. Metrópole: 10 � D. Caderno2: 14 � Guia: 116 � E. Esportes: 6 � Cc. Construção: 8
Classificados 125 anĂşncios
â—?â—? Estudo revela que o hominĂdeo Ardi reverte o que se pensava sobre a evolução humana: rumos diferentes dos chimpanzĂŠs. â—? PĂ G. A24
Saneamento
SĂŁo Paulo passarĂĄ a ‘exportar’ lixo â—?â—? Ăšltimo aterro sanitĂĄrio da capital encerrarĂĄ as atividades no domingo. â—? PĂ G. C8
A2 ESPAÇO ABERTO
SEXTA-FEIRA, 2 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Diagnósticosgravesna rotadeCopenhague
Parachegar aoSTF
WashingtonNovaes
WilliamDouglas
Há umas duas semanas, um vendaval arrastou ou fez ruir dez casas na aldeia waurá, no Alto Xingu. Muitas pessoas ficaram feridas, duas mulheres gravemente. Embora surpresos com o ineditismo de um vendaval naquela área, os waurás iniciaram imediatamente a reconstrução das casas, agora preocupados em torná-las mais resistentes. O vendaval é consequência do desmatamento em todo o entorno do Parque do Xingu, pelo plantio da soja e implantação de pastos: o vento forte não encontra mais resistência, atrito, e chega a áreas aonde nunca chegara. Estranho que pareça, os índios do Xingu mostram-se à frente de quase toda a sociedade brasileira, promovendo o que os cientistas do clima chamam de “adaptação” ao novo quadro climático naquilo que ele tem de irreversível e exige transformações muito rápidas. Construções mais resistentes são um desses caminhos, como tantos eventos no Sudeste no Nordeste do País têm mostrado ser necessário. E quem ler alguns relatórios e estudos recen-
Enquanto a ciência mostra a gravidade do quadro, o Brasil continua patinando tes com certeza vai se alarmar e concluir que nosso atraso é muito preocupante. Na semana passada, enquanto o G-20 não conseguia passar do terreno das intenções nessa matéria do clima, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) publicava um relatório (Climate Change Science Compendium) no qual afirma que as mudanças climáticas, no ritmo e na escala de hoje, “podem estar ultrapassando as previsões mais pessimistas feitas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas em 2006”. E eventos previstos para o longo prazo podem estar muito mais próximos. Na Europa, por exemplo, o relatório menciona o derretimento dos gelos nos Alpes e nos Pireneus; a seca extrema em áreas do Mediterrâneo; acidificação dos oceanos, com maior absorção de carbono. Também menciona a forte perda de gelos na Groenlândia e em outras áreas (60% mais que a perda recorde de 1998), que pode levar a uma elevação do nível dos oceanos de até dois metros no fim do século (ou dez vezes mais nos próximos séculos). Amazônia, Norte da África e Índia podem ser atingidos por eventos muito fortes antes do que se previa. A perda de gelos nas montanhas pode afetar até 25% da população com falta de água para consumo, irrigação e produção de energia. Podem de-
saparecer alguns climas típicos de certas regiões. O Semiárido nordestino pode perder 10% de seus já escassos recursos. Tudo isso leva o secretáriogeral da ONU, Ban Ki-moon, a fazer um apelo no relatório (que sintetiza 400 estudos científicos recentes) em favor de ações imediatas. “O tempo para hesitações acabou”, diz ele. E como não concordar, se a possibilidade é de aumento de 3 a 4 graus na temperatura da Amazônia em 50 anos? Se já há mudanças “irreversíveis” em toda a América do Sul, até na Patagônia, com a “redução drástica” dos gelos? Se se amiúdam eventos – que o relatório menciona – como os do Sul e do Nordeste brasileiros em 2008-2009? Se Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile enfrentaram a pior seca em 50 anos? Não faltam, pois, sinais de alerta. As emissões globais de poluentes, que subiram 1,1% ao ano entre 1990 e 1999, aumentaram para 3,5% anuais de 2000 a 2007. E, diz o relatório, são claros e visíveis os efeitos da concentração de poluentes na elevação do nível do mar, na acidificação dos oceanos e nas mudanças de suas correntes. Com a atual tendência, os gelos polares poderão ter desaparecido até 2030. O documento do Pnuma não foi a única advertência grave na semana passada. Relatório de 29 cientistas na revista Nature – entre eles o renomado James Hansen, da Nasa, e Robert Constanza, que se notabilizou pelos estudos sobre o valor monetário da biodiversidade – alinha nove limites planetários que não deveriam ser ultrapassados, mas já o foram ou estão próximos disso, por causa de ações humanas. Na concentração de poluentes na atmosfera, por exemplo, dizem os cientistas que não deveríamos ultrapassar 350 partes por milhão (ppm), mas já estamos em 387; na perda da biodiversidade, já fomos muito além de qualquer limite prudente; também nos ciclos do nitrogênio e do fósforo, na depleção da camada de ozônio, na acidificação dos oceanos, assim como na poluição química. Estamos próximos de atingir o limite nas mudanças no uso da terra e no uso de água por pessoa. Enquanto a ciência mostra a gravidade do quadro, por aqui continuamos patinando. O Plano Nacional de Mudanças Climáticas continua perdido no Congresso. O novo inventário das emissões brasileiras, anuncia-se agora, só incluirá até o ano 2000. O zoneamento ecológico/econômico para a expansão do álcool permitirá que ele continue avançando no Cerrado, que está perdendo imensas áreas de vegetação a cada ano e já emite tantos poluentes quanto a Amazônia (350 milhões de
toneladas/ano de CO2) . Leilões de energia continuam a prever forte participação de termoelétricas, altamente poluidoras. E por aí afora. Embora o governo continue a manifestar preocupação com o clima, ainda não aceita compromissos de redução das emissões, só metas voluntárias. A ONG Vitae Civilis, que acompanha as convenções do clima, prevê alguns cenários alternativos para a reunião decisiva em Copenhague, em dezembro (há uma preparatória esta semana, em Bangcoc): 1) Um acordo que fique aquém da necessária redução das emissões em 40% até 2020 e 80% até 2050, para evitar que a temperatura suba além de 2 graus; 2) impasse: ao final, apenas um relatório da convenção, sem efeitos práticos; 3) um acordo apenas dos países industrializados (e de efeitos incertos); e 4) decisões da convenção que não sejam obrigatórias para todos. E seriam indispensáveis problemáticos US$ 300 bilhões anuais dos países industrializados para os demais, de modo a que estes possam fazer a mitigação e a adaptação necessárias. No momento, diz a ONG, “a situação é muito grave”. Bota “grave” nisso. ● Washington Novaes é jornalista E-mail: wlrnovaes@uol.com.br
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
É hoje
FÓRUM DOS LEITORES Vazamentodo Enem Essa é uma notícia que mostra a cara do nosso país hoje. Um país que tem como “principal dirigente” alguém alheio à justiça, à retidão, à honestidade, à ética e à educação só poderia gerar esse tipo de ação – pessoas querendo levar vantagem em tudo e em todos os níveis. E qual a punição para quem erra, quem comete crime? Nunca antes neste país tivemos nossos princípios tão surrados como agora. E o que dizer aos nossos filhos? Que sejam íntegros e corretos? E o que fazer com o exemplo que lhes é mostrado diariamente? Como explicar as pessoas nos mais altos cargos de confiança do País, que não têm escolaridade suficiente, mentem, cometem crimes, não gostam de estudar ou ler, não se inte-
O advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ocupar a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com o falecimento do ministro Carlos Alberto Menezes Direito, vem recebendo inúmeras críticas. Entre elas, as de que é muito novo para ocupar o cargo – ele tem apenas 41 anos –, nunca publicou uma obra jurídica e não tem formação acadêmica robusta, como mestrado ou doutorado. A mais recorrente provocação é a de que Toffoli teria sido reprovado duas vezes em concursos da magistratura estadual de São Paulo, poucos anos depois de formado em Direito pela USP. Essa discussão está desviada de foco. O debate correto seria rediscutir as formas de acesso ao STF, como um número mínimo de magistrados dos quadros de carreira do Judiciário, tempo determinado para os mandatos, participação popular nas indicações, maior rigor do Senado e questionar as nomeações políticas. Isso, sim, valeria a pena e seria razoável. Mas as críticas ao ministro Toffoli me parecem preconceituosas e mal informadas. Quem escreve aqui foi reprovado para oficial de Justiça, defensor público, juiz de
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
ressam pelo bem coletivo, mas apenas com os seus próprios, e não lhes acontece nada? Ao contrário, são admirados! O que devo dizer ao meu filho? O exemplo vem de cima. Se não acontece nada com eles, nada mais natural do que entrar para a patota. O lema da nossa Bandeira deveria ser: “Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro.” Cuidado, Estadão, ainda será censurado por ter vazado uma notícia tão escabrosa como esta, que mostra o despreparo do governo para o que lhe é mais crucial, a educação. Afinal, com que direito o jornal mostra tal despreparo e amadorismo?! Ainda será responsabilizado pelo “furo”, afinal a culpa é do carteiro.
● Nada de ficarmos pasmos com esse vazamento das provas do Enem, imagino o que acontece com concursos públicos e outros que exijam provas de competência. No Brasil deste governo que nada respeita, com o passar do tempo todos se sentirão autorizados à burla. Só resta lamentar...
MÁRCIA OLIVEIRA TERRA MAYER TIBEAU
EDSON LOBO
marcia.terra@nutriinsight.com.br
lobo@radioathenas.com.br
São Paulo
Jaboticabal
LEILA E. LEITÃO
Itanhaém ● Parabéns ao Estadão pela denúncia e pela suspensão do Enem. Quem sabe nossa Justiça entenda que o Estadão tem prestígio, está sempre antenado, e o que disse sobre Fernando Sarney & família está correto, portanto, deve-se suspender a censura!
Incompetênciado TJDFT Há juízes em Berlim. Mas não em Brasília... BENEDITO DANTAS CHIARADIA bdantas@uol.com.br
São Paulo ● Quer dizer, então, que o mesmo tribunal que se arvorou em dono da verdade para fazer calar o Estadão vem agora se declarar incompetente para rever a decisão?! Não precisa explicar, só queria entender! ANTONIO PEREIRA DE MORAES NETO moraesaranhaadv@uol.com.br
Itu ● O TJDFT se disse incompetente para julgar a (absurda) ação de censura ao Estadão. Realmen-
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
Direito (duas vezes). E daí? Michael Jordan foi reprovado no teste para jogar basquete no time de sua escola. Reprovações não significam nada, mas, sim, o que se faz depois delas. Jordan virou o maior jogador de basquete de todos os tempos, eu fui aprovado em primeiro lugar em três concursos, no Rio de Janeiro: juiz de Direito, defensor público e delegado de polícia, bem como aprovado nos concursos para professor da Universidade Federal Fluminense e juiz federal. Até passei a ser chamado de “guru dos concursos”, já tendo falado para mais de 800 mil concursandos. Logo, apontar as reprovações de alguém (Toffoli, William Douglas ou qualquer pessoa), ocorridas anos atrás, no início da carreira, indica considerável desconhecimento do assunto “concurso público”. Alguém poderia dizer que depois o William passou no concurso, mas é inadequado furtar das pessoas o direito de mudar os seus caminhos profissionais, pois uma carreira não é melhor do que outra. Anote-se que a magistratura vem-se tornando desinteressante ante o Ministério Público e a advocacia. Esse é o maior problema e não está sendo discutido. Ser muito jovem, como disse um jovem ministro à rainha da Inglaterra, “é um defeito que o tempo corrige”. Já tivemos bons ministros mais jovens e ministros lamentáveis com mais idade. Ninguém que conhece o talento o vincula à idade: ela não é elemento de mensuração. Existe uma idade mínima prevista na Constituição e é um absurdo querer majorá-la por outras vias. Fui o delegado de polícia, o defensor público e o juiz federal mais jovem de meu tempo, e fui elogiado em todas essas funções. Infelizmente, juventude é um problema que não tenho mais. É óbvio que mestrado e doutorado são títulos meritórios. Contudo, como aluno e como coordenador de universidades e cursos, informo que alguns dos melhores professores que conheci não tinham títulos, pois dedicavam todo o seu tempo à sala de aula, ao front. Tive professores maravilhosos e ruins, tanto com títulos quanto sem eles. Tenho mestrado e optei por gastar o tempo que teria para o doutorado me preparando para correr uma maratona. Apenas uma escolha. Admiro, portanto, meus colegas com doutorado e mestrado, mas não ouso dizer que por si mesmo o título garanta competência. Aliás, Steve Jobs e Bill Gates podem dar boas dicas sobre o assunto. Não entrarei no processo judicial no Amapá, pois não conheço os autos. A discussão deveria estar em dois pontos:
FAX:
(11) 3856 2920
te, não é só o TJDFT que é incompetente. O nosso Judiciário tem demonstrado uma incompetência total para julgar todos os casos, principalmente em se tratando de políticos corruptos, que tantos males fazem ao nosso Brasil. ANTONIO CARLOS SROUGÉ acsrouge@hotmail.com
São Paulo ● A Justiça está cega, muda e surda. Não temos mais a quem recorrer quando nossos direitos são usurpados pelos oportunistas de plantão que se instalaram no governo, que enriquecem com atos de corrupção, desvio de dinheiro público e manobras ilícitas. A que ponto chegamos: aquele desembargador ligado à família de sir
● O que o indicado pensa sobre aborto, uniões homoafetivas, uso das algemas, liberdades públicas, carga tributária, distribuição de renda e outros temas de interesse do País; ● e discutir o aperfeiçoamento do Judiciário e do Supremo. Para o acesso ao STF, discutir o sistema, e não apenas criticar o presidente da República. A meu ver, parte das vagas deve ser mesmo de indicação dele, mas outras deveriam ser de juízes, membros do Ministério Público e advogados, por meio de eleições internas e democratizadoras do Judiciário. E os ministros deveriam ter mandato de oito anos, como os senadores. Vai uma sugestão: o STF deveria ter três ministros indicados pelo presidente e oito eleitos, estes num sistema semelhante ao “quinto” que já há nos tribunais. Um ministro oriundo do Ministério Público e outro da advocacia. Entre os juízes de carreira, com eleições nos seguintes espaços: um do STF, um do Superior Tribunal de Justiça, um de cada magistratura de segundo grau (federal, es-
A discussão sobre a indicação de Toffoli está desviada de foco tadual e trabalhista) e, por fim, um ministro eleito entre juízes de primeira instância, pois, afinal, são os que mais lidam com o povo e devem estar representados no Supremo. Conheço pouco de Toffoli, mas bastante sobre concursos, empregos, superação pessoal e carreiras. Pelo que conheço do tema, as críticas são toscas. O pouco que conheço dele é que, à frente da Advocacia-Geral da União, valorizou os servidores, lutou por mais concursos, buscou simplificar procedimentos e diminuir a litigiosidade interna no Executivo e a perda de tempo entre Executivo e Judiciário. Ao que eu saiba, algumas vitórias que obteve economizaram bilhões para os cofres públicos. Parecem-me coisas boas. Se será um bom ministro, não sei. Mas sei que outros – idosos, cheios de livros e títulos, alguns oriundos da carreira – me frustraram e também a muitos colegas. Enfim, por tudo, entendo que as críticas atuais são infundadas e carecem de rigor científico, pois não há comprovação de relação necessária entre os pressupostos indicados como faltantes e o bom exercício do cargo. ● William Douglas, juiz federal (Rio de Janeiro), mestre em Direito, especialista em políticas públicas, é autor de 33 livros sobre Direito e educação, com mais de 400 mil exemplares vendidos
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Ney foi afastado pelo TJDFT por não ser considerado isento para relatar o processo do filho do imperador do Maranhão (Operação Boi Barrica). Ora, passados 60 dias, os desembargadores da 5.ª Turma do mesmo tribunal decidiram manter o Estado sob censura, pois concluíram que o TJDFT, acreditem, não é competente para julgar o caso. Se não é competente para julgar o caso, como a liminar para a censura foi concedida no mesmo local, em tempo recorde? Será que só nos restará desanimar da virtude? Vamos começar a rir da honra? Sentiremos vergonha de ser honestos? CLAUDIO DALCENO SPILLA Claudio.Spilla@CSpilla.org
São Caetano do Sul
SEXTA-FEIRA, 2 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
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NOTAS & INFORMAÇÕES
A mordaça se eterniza
D
escartada a versão implausível de que o Judiciário conspira deliberadamente contra a liberdade de imprensa no Brasil – apesar de já chegar a uma dúzia o número de casos de censura judicial –, é inexplicável, ou pode se prestar a quaisquer outras interpretações, a espantosa decisão tomada pela 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ-DF). O colegiado considerou o TJ-DF incompetente para julgar a ação movida pelo empresário Fernando Sarney contra o Estado, transferiu o caso para a Justiça Federal de primeira instância, no Maranhão, e, ainda assim, para perplexidade de leigos e juristas, manteve a liminar, oriunda do mesmo TJ-DF, que há mais de dois meses proíbe o jornal de publicar reportagens baseadas nas investigações da Polícia Federal sobre os negócios do filho do senador José Sarney. Ele está indiciado por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Foi a segunda incursão do tribunal de Brasília pelo território do absurdo – ou pelo “abuso”, como prefere o veterano criminalista An-
tonio Claudio Mariz de Oliveira, que se diz chocado com a decisão. Da primeira vez, em 15 de setembro, o Conselho Especial do TJ-DF, embora desse ganho de causa ao Estado, que demandara que o autor da liminar impondo a censura prévia, desembargador Dácio Vieira, fosse declarado impedido de atuar no processo – por ter atribuído ao jornal “ação orquestrada mediante acirrada campanha com o nítido propósito de intimidação” –, convalidou o seu ato atentatório ao princípio constitucional da liberdade de imprensa. Os conselheiros ignoraram que o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (STF), aplicável por analogia a todos os tribunais brasileiros, estipula que, “afirmada a suspeição pelo arguido, ou declarada pelo tribunal, ter-se-ão por nulos os atos por ele praticados”. À época, o ministro Marco Aurélio Mello chamou a atenção para a “insubsistência dos atos praticados pelo magistrado dado por suspeito”. A decisão foi recebida nos meios forenses como uma construção criativa, possivelmente para salvar a face do colega que se recusara, ele próprio, a deixar o processo, depois
‘Castigo’ nos DPs
C
om raras exceções, quem tiver que ir a algum dos 93 Distritos Policiais (DPs) desta capital para registrar um Boletim de Ocorrência (BO) – o que ninguém faz por gosto, mas por necessidade – terá como “castigo” inexorável um acúmulo de dissabores, acrescentados aos que já passou por se haver envolvido em algum acidente ou delito. Reportagem do Estado de segunda-feira dá conta do absurdo tempo de espera (com média de 3 horas, mas podendo chegar a 8), da falta de conforto das instalações e, pior de tudo, da forma desrespeitosa, enganosa e agressiva como os cidadãos são tratados na grande maioria das delegacias de polícia, por escrivães e até delegados, muitos dos quais procuram desestimular os cidadãos a exercer o direito de comunicar ao poder público a ocorrência delituosa em que estão envolvidos. A reportagem apresenta tanto os Distritos Policiais com as condições mais precárias – de atendimento, conforto e presteza operacional – quanto aqueles poucos que em certos aspectos apresentam nível de excelência. Dizem os especialistas, por exemplo, que o tempo ideal para a elaboração de um Boletim de Ocorrência – documento que se usa para resguardar direitos e iniciar inquéritos ou é exigido em casos que envolvam pagamentos de seguros – é de 40 minutos. Pois bem. O 14º DP (de Pinheiros) faz os seus BOs em 40 minutos e em relação ao atendimento (se o atendente foi educado, atencioso e orientou corretamente sobre as implica-
ções de registrar a ocorrência) e ao conforto (privacidade no registro do BO, limpeza, mobiliário, bebedouros e banheiros) também obteve a nota máxima: “E”, de excelente. Outro Distrito Policial muito bem avaliado é o 78º, da região dos Jardins, também com nota “E” nos mencionados itens e tempo de 2 horas para elaboração de Boletins de Ocorrência. Há outros poucos Distritos que mereceram as notas E, O e B (excelente, ótimo e bom) e uma quantidade muito maior dos classificados com as letras “R” e “P” (ruim e péssimo). Além de péssimas instala-
Atendimento para se fazer um simples ‘BO’ às vezes leva horas ções, banheiros sujos e falta total de conforto para o público, a reportagem mostrou o grande despreparo de muitos funcionários e o verdadeiro desprezo que parecem nutrir pelos que procuram alguma providência da autoridade policial. Investigadores que deixam filas imensas sem atendimento e vão pachorrentamente para seus almoços de duas horas; escrivães que tentam dissuadir queixosos de registrar BOs, alegando sobrecarga de serviço – e citando sempre flagrantes que ocupam toda a repartição; informações mentirosas sobre a necessidade de registrar-se BOs apenas nos Distritos mais próximos do local do crime – o que não é necessário; exigência de apresentação do nome de suspeitos, para a lavratura do BO – o que tampouco é ne-
da revelação de suas relações de amizade com a família Sarney e de sua passagem pela consultoria jurídica do Senado. E assim, de favores em favores, de proteção em proteção, consolida-se a lassidão moral que avassala a vida pública brasileira, a ponto de se atentar contra as liberdades constitucionais com a maior sem-cerimônia. A nova enormidade segue o mesmo padrão, aprofundando a gritante incongruência anterior. Para sair da “esteira do abuso que marca a manutenção da censura quando o juiz foi declarado suspeito”, argumenta Mariz de Oliveira, “o TJ-DF, ao dar-se por incompetente, deveria ordenar imediatamente a suspensão dessa proibição”. Um órgão do Judiciário que não se considera competente para dar curso a um processo, preferindo remetê-lo para outro tribunal, logicamente teria de anular as decisões que os seus membros tenham tomado a respeito. “O que mais me deixa surpreso é quando um tribunal diz que não tem competência e mantém a decisão”, comenta o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros
(AMB), Mozart Valadares Pires. “Se é incompetente, a decisão está revogada. Não consigo entender.” “É mais uma demonstração do corporativismo que prolonga uma inconstitucionalidade absurda”, explica o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azêdo. Atitudes corporativas podem se destinar a proteger qualquer dos colegas da corporação – ou o conjunto dos seus membros. Às vezes a proteção se estende, para todos os efeitos práticos, a figuras que não integram o colegiado, mas podem ter tido influência na sua composição. São laços poderosos que evidenciam a sua durabilidade em momentos críticos. Em que medida isso alcança o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios é uma questão em aberto. O fato incontestável é que o Estado continuará amordaçado não se sabe por quanto tempo ainda. Os advogados do jornal não podem apelar de imediato da decisão. Qualquer iniciativa deve esperar a publicação do acórdão do TJ-DF, o que não costuma acontecer exatamente da noite para o dia. Tanto pior para o direito da sociedade à livre informação sobre assuntos de interesse público.
Alerta a governos endividados cessário –; e outros expedientes usados para desestimular quem os procura para alguma providência. Ao admitir as falhas de atendimento nos Distritos Policiais de São Paulo, o Diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap) alega que o problema não é a falta de preparo dos funcionários – que contam com o suporte do Grupo de Apoio ao Plantão –, mas o stress e o fato de o sistema estar saturado. E aí o diretor diz o que nos parece o mais grave: “Os funcionários não acreditam mais no resultado do que fazem e os boletins são registrados de maneira mecânica.” Haverá alguma esperança de aperfeiçoamento do serviço com funcionários que assim se comportam? O diretor revelou à reportagem planos de mudança, a serem implantados em cerca de duas semanas: 30 Distritos Policiais passarão a dar pronto atendimento a partir das 20 horas e durante os fins de semana e feriados. Essas unidades absorverão os casos urgentes das delegacias próximas. Estas, por sua vez, terão dois funcionários para orientar no uso das máquinas de autoatendimento – que no dia seguinte produz um Boletim de Ocorrência, sem necessidade de retorno do interessado à delegacia. Esperemos que tais planos deem certo. Mas é bom ter em mente que, se há na cidade Distritos Policiais que já alcançaram um nível de excelência no atendimento ao público, nada impede que os demais os imitem.
P
aíses com dívida pública elevada poderão enfrentar problemas graves na saída da crise, adverte o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo brasileiro deveria dar atenção ao alerta. A dívida aumentou neste ano porque a retração dos negócios derrubou a arrecadação de impostos, estímulos fiscais foram concedidos e, além disso, o governo gasta mais do que deveria. Se a economia voltar a crescer com rapidez, os juros tenderão a subir. Quanto mais endividado o setor púbico, mais vulnerável será ao encarecimento do crédito. Mas isto é apenas parte da história. Se os governos tiverem de buscar mais dinheiro no mercado, maior dificuldade terão as empresas para cobrir suas necessidades. O setor privado também sofrerá as consequências do desajuste fiscal. A situação do Brasil é muito mais confortável que a de países, como os da Europa Oriental, forçados a refinanciar nos próximos dois anos grandes compromissos externos, públicos e privados. O País dispõe de reservas elevadas e, além disso, tanto o governo quanto as maiores empresas têm boas classificações de risco no mercado financeiro. Mas nenhuma economia ficará totalmente imune à reacomodação do sistema financeiro. Os problemas serão em grande parte gerados nos Estados Unidos e noutros grandes mercados e transmitidos ao resto do mundo. Nas principais economias o crédito ao setor privado continua muito limitado, como indica o relatório do FMI sobre as
condições globais do mercado financeiro. Mas as necessidades totais de empréstimos não diminuem na mesma proporção, por causa do crescente déficit público em muitos países. Como resultado, o crédito permanecerá escasso no curto prazo. No médio prazo, os problemas ficarão mais complicados, se os governos atrasarem a correção de seus déficits. Os Tesouros pressionarão os mercados em busca de financiamento e os tomadores privados serão empurrados para fora. Esse fenômeno já foi observado nos anos 80 e no começo dos 90.
Necessidades de crédito para os governos inibirá a atividade privada Nesse período, tornou-se corrente a expressão “crowding out”, usada para designar a forma como os governos ocupavam a maior parte do espaço nos mercados e jogavam para fora empresas e indivíduos necessitados de crédito. A expressão “crowding out” foi usada, agora, pelo diretor do Departamento Monetário e de Mercados de Capitais do FMI, José Viñals. Há 20 anos, esse fenômeno teve escala internacional. Na disputa, os perdedores foram não só empresas privadas e indivíduos em busca de financiamento, mas também os governos mais endividados e mais vulneráveis ao aperto de crédito. O Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado na quarta-feira pelo FMI, não detalha como poderá ser um
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Republiqueta Diante da decisão de incompetência para julgar o caso da censura ao Estadão pelo TJDFT e da lamentável aprovação no Senado do bacharel Toffoli para o STF, indignado e envergonhado lanço a pergunta que não quer calar: quem manda mais nesta República de bananas, Sarney ou Lula?
“
Não é de hoje que a nossa Justiça dá sinais de incompetência”
GustavoGuimarãesdaVeiga gjgveiga@hotmail.com SãoPaulo
o Estadão, veículo da maior credibilidade, está amordaçado. Esses mesmos aplaudem atos idênticos praticados na Venezuela e em Cuba. Deixem a solução dos problemas desses três países para os seus povos. Nós, brasileiros, vamos lutar para livrar o Estadão da mordaça, verdadeira ameaça e afronta à democracia.
portagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal.
GERALDO MAGELA PEREIRA
marcosjfreitas@uol.com.br
Praia Grande
FLÁVIO JOSÉ RODRIGUES DE AGUIAR
Mogi das Cruzes
MARCOS JOSÉ DE FREITAS E SILVA
● Ninguém se surpreenda se o próximo indicado de Lula ao STF, para substituir o ministro Eros Grau, em via de se aposentar, for o desembargador Dácio Vieira, do TJDFT. Esse mesmo! Aquele amigo de Sarney que estabeleceu vergonhosa censura ao Estado, proibindo o jornal de publicar re-
magelap477@terra.com.br
flavio.daguiar@gmail.com
Resende (RJ)
Censuraem Honduras Que moral têm as autoridades brasileiras para criticar a censura à imprensa de Honduras, se aceitam pacificamente o mesmo delito em nosso país? Há 63 dias
Presidentelegítimo Sobre carta do leitor sr. José Alberto Dietrich Filho (1.º/10), a quem agradeço, gostaria de prestar os seguintes esclarecimentos. O presidente Zelaya é o legítimo chefe do Poder Executivo hondurenho, eleito pelo voto direto do po-
vo. Segundo as notícias da imprensa, ele foi retirado da residência presidencial, no meio da noite, de pijama, por militares, e banido de seu país sem direito de defesa. O Brasil não poderia ficar alheio a tal brutalidade e desrespeito à democracia na América. Fazendo coro à comunidade internacional, condenamos tal procedimento. É certo que a República Federativa do Brasil se rege, nas suas relações internacionais, pelo princípio da autodeterminação dos povos. Porém a mesma lista de princípios ressalta a prevalência dos direitos humanos. Outra garantia que deve ser considerada é o respeito aos Poderes constituídos. A derrubada de um chefe de Poder e seu banimento sumário não condizem com o Estado Democrático de Direito. Por esses motivos,
novo episódio de “crowding out”, mas é fácil imaginar os cenários prováveis. Num dos mais inquietantes, o governo americano falhará no esforço de conter seus gastos e seu endividamento e pressionará fortemente o mercado financeiro. Os bancos elevarão os juros e diminuirão a oferta de crédito para a maioria dos tomadores, prolongando os efeitos da crise iniciada em 2007 e agravada a partir de setembro de 2008. Se algo semelhante a esse quadro se materializar, a recuperação da economia mundial será mais lenta do que poderia ser num cenário de menor desajuste das contas públicas. O relatório financeiro do FMI está longe de ser uma peça de literatura de terror. Seus autores descrevem a melhora das condições do mercado nos últimos seis meses e mostram os avanços dos bancos e de outras instituições na captação de capital. Além disso, reduziram de US$ 4 trilhões para US$ 3,6 trilhões a estimativa de perdas totais do setor financeiro desde o agravamento da crise até o fim do próximo ano. Mas a recuperação das instituições de crédito é incompleta e o crédito continua restrito. Enquanto os bancos e as demais instituições do mercado não voltarem à normalidade, o crescimento da economia real – produção, investimento, consumo e emprego – será limitado pela escassez de financiamento. Mas os governos devem cuidar não só da normalização do sistema financeiro. Devem dar atenção também às suas contas e ao seu endividamento, para não se transformar em obstáculos à recuperação do setor produtivo.
avalio que a atuação de nosso país nesse episódio está amparada por nossa Constituição e pelas leis internacionais. Sobre o episódio vivido na embaixada brasileira em Honduras, o ministro Celso Amorim foi categórico em afirmar que o Brasil não tomou conhecimento de qualquer manobra para o reingresso do presidente Zelaya em seu país, porém não poderia negar acolhida ao único presidente que reconhece como legítimo. EDUARDO MATARAZZO SUPLICY, senador wasem@senado.gov.br
Brasília
Defacto oudedireito? Se o ex-presidente Zelaya violou cláusula pétrea da Constituição hondurenha e se, por isso, foi destituído, e não deposto, da presi-
dência daquele país, e em seguida a Corte Suprema deu posse ao seu substituto legal, o governo Micheletti pode ser chamado de interino, mas nunca de facto, posto que de direito. OSCAR ROLIM JÚNIOR rolimadvogado@ibest.com.br
Itapeva
Semgolpe deEstado FHC foi mais esperto que o ex-presidente Zelaya. Com uma simples medida provisória e o aliciamento de alguns deputados, conseguiu aprovar a reeleição, para ter dois mandatos. Nem houve golpe de Estado por causa dessa medida. Claro que o tiro saiu pela culatra. PEDRO ALCÂNTARA DE ALBUQUERQUE pedro-alcantara1950@bol.com.br
São Paulo
A6 NACIONAL
SEXTA-FEIRA, 2 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
Toffoli 10, Senado 0 Com uma explanação inicial bem ensaiada sobre o papel do Supremo Tribunal Federal, gestos de bom efeito – como levantar um exemplar da Constituição ao molde de bíblia e fartos elogios ao Congresso –, esquivando-se da essência das perguntas mais complicadas ao ponto de “esquecer” se havia ou não orientado a defesa do ex-ministro Silas Rondeau, o novo ministro do STF, José Antônio Toffoli, saiu-se a contento da sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Não sofreu as prometidas contestações, não enfrentou questionário rigoroso, foi irrepreensível na observância do manual do bom candidato e absolutamente profissional no treinamento e na montagem do lobby direcionados ao resultado pretendido, alcançado com larga margem de vantagem. Isso, a despeito de todas as restrições existentes ao nome dele, numa conjugação de fatores adversos inédita. Toffoli – do ponto de vista dele – merece, portanto, nota 10. Já o Senado ficou no zero a zero de sempre. Desincumbiu-se da função de submeter o indicado à sabatina como quem carimba um requerimento emitido pelo presidente da República, mas não permitiu ao público saber se o novo ministro é ou não adequado para o cargo. Tomara que brevemente venha a demonstrar que seja, pois o Senado não deu a chance ao País nem cumpriu o seu dever de esclarecer a questão antes do fato consumado. Não pôs a prova o exigido notório saber, a reputação ilibada e a independência do indicado. À exceção dos senadores Álvaro Dias, Pedro Simon e mais um ou outro, não se fez referência às restrições que nos dias anteriores à sabatina suscitaram polêmica e justificaram o lobby, cuja organização incluiu a contratação de empresa de comunicação especializada. Mesmo os questionamentos sobre os assuntos em pauta ocorreram como se fossem parte de um roteiro preestabelecido, para constar. Os senadores aceitaram passivamente o alegado “esquecimento” sobre o caso Rondeau, a afirmação de que as condenações na Justiça do Amapá por recebimento indevido de recursos públicos foram equivocadas, o juramento de que as ligações estreitas com o PT, Lula e José Dirceu são “páginas viradas”, bem como o compromisso com a independência nos julgamentos do STF. Palavra contra palavra, valeu a do questionado. Ao aprová-lo sem questionamento o Senado deu um voto de confiança, quando o que se esperava era que desse um voto consciente. De preferência, evitando cenas como a do líder do PSDB, Artur Virgílio, dizendo que seu voto a favor havia sido recomendado por um advogado amigo em comum. Um espetáculo tosco. Não por causa de Toffoli. Mas pelo conjunto da obra de subserviência e displicência do Legislativo para com as suas prerrogativas. Por isso é um equívoco achar que o erro está no fato de o presidente da República indicar os ministros do Supremo, porque a deformação é de quem aceita as coisas sem discutir.
Senado deu voto de confiança, quando deveria ter dado voto consciente
SUCESSÃO
Chamado de ‘presidente’, Serra ataca oposição Segundo ele, opositores na Assembleia ficam concentrados em atrapalhar construção de presídios, ou falando mal de concessões que não estão certas CÉLIO MESSIAS
Gustavo Porto Brás Henrique RIBEIRÃO PRETO
Chamado de “futuro presidente da República” por políticos governistaseatéadversários,ogovernadordeSãoPaulo,JoséSerra (PSDB), disparou críticas ontem aos deputados que lhe fazem oposição na Assembleia. Em sua avaliação, eles não têm discursocontraseugovernoeescolheram temas como construção de presídios e concessões de rodovias para atacá-lo. “Devo dizer que nem sempre é fácil para a oposição fazer um discurso em São Paulo, por isso ficam concentrados em atrapalhar a construção de presídios, ou falando mal das concessões quenãoestãocertasecoisasdessa natureza, menores dentro de um debate político mais amplo”, disse Serra, durante inauguração de obra em Ribeirão. Aindaemseudiscurso,elevoltou a comparar os investimentos feitos pelo governo paulista no Estado aos do governo federal. “Conseguimos manter o elevadíssimo nível de investimentos este ano, cerca de R$ 20 bilhões, que chegam perto de todo investimento federal.” Citou ainda uma série de obras estaduais para a região de Ribeirão Preto. “O Estado está bem e isso é muito bom. Pelo povo, que merece, e pela contribui-
MÉDICOS
DIPLOMACIA – Serra e Palocci se encontram em evento no interior
Dilma terá Garcia na coordenação de programa, como na campanha de Lula Vera Rosa
O historiador Marco Aurélio Garcia, assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, será o coordenador do programa de governo da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata do PT ao Palácio do Planalto, em 2010. Garcia executou a mesma tarefa na campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e também em 1994 e 1998. Reunida ontem em Brasília,
a Executiva Nacional do PT decidiu escalar novamente Garcia para a missão. Ele vai chefiar o grupo queterá quatro meses para preparar as diretrizes daplataforma de Dilma. O texto passará pelo crivo do congresso do PT, em fevereiro, quando a candidatura da ministra será oficialmente lançada. Enquanto estiver na presidênciadoPT, odeputadoRicardo Berzoini (SP) vai comandar o Grupo de Trabalho Eleitoral, que já começa a negociar as
Calçados Giannini
O cidadão Celso Amorim tem assegurado seu direito legal de filiação partidária. O chanceler, porém, tem (ou teria) o dever de manter sua condição de servidor do Estado, que permanece, e não de governos, que se alternam. Amorim já havia inovado quando da filiação ao PMDB. Agora, na transferência para o PT em busca de “um palanquezinho”, superou-se. ●
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O Tribunal Superior Eleitoral condenou a maior parte da “reforma” na lei eleitoral feita pelo Congresso, mas aplaudiu – com veemência – o veto do presidente Lula às restrições ao uso da internet. Retrocesso que, no entender do TSE, foi a, bom tempo, corrigido pelo presidente.
Tel.:
BRASÍLIA
i to Fo
Viva Lula
R. Afonso Brás, 878/884
alianças para a campanha de 2010. A eleição que renovará o comandodo PTserá emnovembro, mas o novo presidente do partido só tomará posse em fevereiro. Até agora, o mais cotado para a cadeira de Berzoini é oex-presidentedaBRDistribuidora José Eduardo Dutra. Na prática, porém, o coordenador político da campanha de Dilma será escolhido por Lula. Nos bastidores, o ex-ministro José Dirceu tem procurado ajudar a ministra a costurar alian-
Possíveis adversários na disputa pelo governo de São Paulo em 2010, odeputado Antonio Palocci(PT)eosecretárioestadualde Desenvolvimento,GeraldoAlckmin(PSDB),seencontraramontem durante evento em Ribeirão. “Saudações médicas”, foi a frase de Alckmin a Palocci, ao sercumprimentadopelodeputado. Ao lado de Serra e do prefeitodeSãoPaulo,GilbertoKassab (DEM), Alckmin e Palocci participaram da solenidade que marcou o início das transmissões digitas de EPTV, afiliada da Rede Globo no interior paulista. “Eleição é no ano que vem e tudo o que é feito neste ano é esquentamento de motores, mas acho que nada se decide na verdade”, disse Palocci. O deputado,noentanto,considerou“positiva” a filiação ao PSB do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. “É saudável que um empresário se filie, acho que é positivo para a democracia brasileira.” Já Alckmin ironizou a ansiedade de políticos e jornalistas a respeito das definições para 2010. “Os dois ansiosos, políticosejornalistas,équeficamquerendo antecipar as coisas.” ●
çascomoPMDB,masháproblemas nos Estados. Lula e Dirceu avaliam que o vice na chapa de Dilma deve ser do PMDB de São Paulo ou de Minas. A transferência de domicílio eleitoral do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) do Ceará para São Paulo, anunciada ontem, também foi assunto da reunião da Executiva do PT. A decisão de Ciro de transferir o título divide o partido, que não sabe até agora se ele será candidato ao governo de São Pauloouà Presidência.Aexemplo de Lula, Berzoini quer que o deputado concorra à sucessão do governador José Serra (PSDB), com o apoio do PT. Na seção paulista do PT, porém, muitos torcem o nariz para ele. ●
TSE retomará julgamento de 56 processos de cassação
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Algo de podre Com todo respeito que não merece uma Justiça que fere a Constituição e censura, é altamente suspeita a decisão do Tribunal de Justiça de Brasília de levar dois meses para se declarar incompetente para julgar a liminar proibindo o Estado de divulgar informações sobre a operação da Polícia Federal que investiga Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. Um juiz, o autor da liminar, já foi declarado impedido por suas relações de amizade com a família Sarney. O TJDF, bem como outros tribunais com endereço na capital da República, é um ambiente de trânsito sabidamente fácil para o senador. O envio da questão para julgamento no Maranhão, feudo da família, não contribui para a confiabilidade do Judiciário. Ao contrário, produz desconfiança. Apesar de todas as incongruências do processo – o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, já disse que é incompreensível a demora na decisão final –, a censura continua em vigor. Enquanto um jornal continuar impedido de informar, não se pode dizer que o Brasil esteja em situação de normalidade democrática.
ção ao País, porque em São Paulo são arrecadados 45% a 50% dos tributos do Brasil”, afirmou.
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cessos de cassação de políticos que há duas semanas estavam parados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Por 6 votos a 4, os ministros derrubaram liminar concedida, no dia 14 de setembro, por Eros Grau. Ele havia paralisado os processos alegando que haviam começado a tramitar pelo TSE. A maioria dos integrantes do STF discordou do argumento deEros Grau,queteria se sensibilizado com o pedido do advogadoJosé EduardoAlckmin, do PDT, que liderou a ação. Segundo o advogado, os casosdeveriampassarinicialmentenosTribunaisRegionais Eleitorais (TREs) dos Estados, em vez de serem julgados pelo TSE, como tem ocorrido. Entre os 56 processos parados, destacam-se os que pedem a cassação dos governadores de Sergipe, Marcelo Deda (PT), e do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). Se a liminar de Grau fosse mantida haveria risco de não dar para julgar os casos até o final dos mandatos dos políticos, disse o presidente do TSE, Carlos Ayres Britto. Para ele, a competência do tribunal para julgar esses processos é reconhecida por uma jurisprudência existente há 40 anos. Neste ano, o TSE cassou os governadoresdoMaranhão,Jackson Lago (PDT), e de Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB). ● MARIÂNGELA GALLUCCI
NACIONAL NACIONAL A9 A9
SEXTA-FEIRA, 2 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 63 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Para Maierovitch, decisão do TJ-DF tem ‘odor corporativo’ Jurista considera transferência de processo para o Maranhão ‘absurda’ Fausto Macedo
A decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), quetransferiuparaaJustiçaFederal do Maranhão o peso da responsabilidadesobreacensura ao Estado, é procedimento dignodeHonoré-VictorienDaumier (1808/1879) – famoso caricaturistafrancêseautordoquadro Le Gens du Justice, obra que retrata um grupo de magistrados em sono profundo durante sessão na corte. A avaliação é do jurista WálterFanganielloMaierovitch,de-
sembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo. “A decisão do TJ-DF, de tão absurda e estranha que é, nos remete à Daumier. Sinto nesse episódio um odor corporativo datogaqueelesvestemnotribunaldoDistritoFederal.Narealidade o que se espera dos tribunais é que se faça justiça e não quedefendaaumdosseusmembros. O que se espera de um juiz é que ele faça justiça e não que proteja a decisão de um par.” Faz 63 dias que a mordaça foi imposta ao Estado pelo desembargador Dácio Vieira, do
Emissoras condenam censura Representantes de emissoras de radiodifusão das Américas e da Europa, reunidos em Brasília para a Assembleia Geral da Associação Internacional de Radiodifusão (AIR), repudiaram ontem a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito de Federal, que se declarou incompetente para julgar a censura ao Estado, mas manteve o jornal amordaçado. “(O caso) Se constitui em uma ●● ●
verdadeira censura encoberta, contra a Constituição do Brasil”, anota o texto. “(A Assembleia) Reitera a confiança nas instâncias superiores do Judiciário brasileiro.” Para o presidente da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Slaviero, a censura “chocou” as entidades internacionais. “O cidadão foi alijado de seu direito de ser informado.” ● ROBERTO ALMEIDA
TJ-DF. Ele proibiu o jornal de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve o empresário Fernando Sarney, filhodopresidentedoSenado,JoséSarney(PMDB-AP).“É incrível.OTJ-DF sedeclarou incompetente para praticar atos, mas convalidou absurdamente medida de alguém (desembargador Vieira) que o próprio tribunal declarou suspeito”, assinala Maierovitch. Preocupaojuristaapossibilidade de a Justiça maranhense suscitar o conflito negativo de competência. “Conflito relativo a dois tribunais vai parar no Superior Tribunal de Justiça. Isso significaumademandapormuitos anos, uma agressão a um direito constitucional por muitos anos. Quando chega a esse ponto, a Justiça deve agir cautelarmente. Afinal, está tratando de cláusula pétrea da Constituição,odireitodetodosàinformação. Não é uma brincadeira.” Para ele, o TJ-DF, agindo assim, atende os Sarney. “Nesse caso,aJustiçasimplesmentees-
tá favorecendo aquele que procurou o foro errado. Existe um princípio do direito que diz que ninguém pode se beneficiar comaprópriatorpeza.Seocidadão entra com ação no lugar errado é evidente que o tribunal deve anular tudo. Caso contrário estará privilegiando aquele que deu o passo equivocado.” Maierovitch é taxativo. “Se o tribunal entende que todos os seus atos são nulos por falta de competência é flagrante que a liminar (da censura) também é nula. Não pode fazer valer a liminar, em absoluta contradição com o que o próprio tribunal decidiu. É incompetente? Então, é tudo nulo. Não se pode colocar uma venda para não olhar a liminar.” “Percebamotamanho do absurdo que é isso”, alerta Maierovitch. “Eles (TJ-DF) mandam para o tribunal do Maranhão decidir e, eventualmente, cassar uma liminar que foi dada em Brasília. Deveriam ter derrubado a liminar da censura e, depois, mandar para o Maranhão.” ●
JUDICIÁRIO
Posse de Toffoli no STF será no dia 23 Acerto de agendas foi feito para que Lula e Mendes estejam presentes Mariângela Gallucci BRASÍLIA
O novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), José Antonio Dias Toffoli, vai tomar posse no cargo no próximo dia 23. Uma combinação de agendasfoimontadaparaqueopresidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável pela indicação de Toffoli, e o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, estejam presentes à solenidade. Um dia após o Senado aprovar sua indicação para o STF, Toffoli teve seu primeiro compromisso público na corte. Com a filha, Pietra, e um de seus irmãos, José Eduardo, participou de missa em memória do ministro Carlos Alberto Menezes Direito, que morreu há um mês vítima de um câncer no pâncreas. Nessa primeira aparição no Supremo após a sabatina de quarta-feira no Senado, Toffoli optou pela discrição. Católico, eleassistiuàmissa,emhomenagem ao ministro a que ele sucederá, e comungou. Procurado por jornalistas, não quis dar entrevistas. Onovoministroenfrentouresistências à sua indicação. De acordo com os críticos, não contariacomaexperiêncianecessá-
ria para atuar no Supremo. Além de ter apenas 41 anos, Toffolifoireprovadoduasvezes no concurso para juiz e não possui mestrado nem doutorado. Até setembro, quando foi indicado por Lula para o STF, ele desempenhava a função de advogado-geral da União. Indagado pela imprensa sobre o fato de Toffoli ser um dos mais novos a assumir uma cadeira no Supremo, o ministro Marco Aurélio Mello disse: “Ele tem uma vida pela frente. Nós só aguardamosqueeleconstruaocurrículo como julgador.” A aprovação de Toffoli peloSenado foielogiada por ministros da corte. O ministro Gilmar Mendes afirmou que ele poderá ajudar na modernização do tribunal. “Ele vai dar uma contribuição no esforço que estamos fazendo para modernizar o Supremo e transformá-lo numa autêntica corte constitucional”, afirmou. Carlos Ayres Britto disse que a juventude de Toffoliserá positiva para o STF. “Ele vem qualificar os debates e arejar a corte com sua juventude.” ● COLABOROU FELIPE RECONDO
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JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
3 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42354
Olimpíada de 2016 é do Rio ● Após duas tentativas frustradas, cidade derrota Chicago, Tóquio e Madri ● Escolha histórica coloca os
MARCOS DE PAULA/AE
Jogos pela primeira vez na América do Sul ● Desafio é maior porque Brasil fará também a Copa de 2014
O
RiodeJaneirofoiescolhido ontem comosede daOlimpíada de 2016. A decisão histórica acaba com120 anosdeassimetriapolítica e desportiva, ao colocar os Jogos Olímpicos na América do Sul pela primeira vez. O projeto brasileiro, iniciado há 10 anos e derrotado antes em duas ocasiões, desta vez superou três concorrentes fortes: Chicago,
Tóquio e, por fim, Madri. O placar da última votação no Comitê Olímpico Internacional (COI)foiinapelável:66votosparaoRio, 32 paraMadri. Embora o projeto carioca fosse considerado perfeito do ponto de vista técnico, o que pesou a favor na decisão do COI foi a possibilidade de universalizar os Jogos. Além dos simbolismos, a escolha acrescenta desafio ao futuro próximo do Brasil, que será sede da Copa do Mundo de 2014. “Temos consciência do queépreciso fazer”, disse opresidente Lula. ● CADERNO ESPECIAL
ANÁLISES
Celso Ming
Enfim, o futuro Assim como Pequim-2008 alavancou a China na economia global, 2016 tem tudo para ser a data em que o futuro finalmente chegou para o Brasil. ● PÁG. B2 ●●●
Daniel Piza
A sombra do Pan O Pan deixou um legado de dúvidas e dívidas. Para 2016, a obrigação mínima é não cometer os mesmos erros. ● PÁG. H4 ●●●
Custo deve superar R$ 30 bi
Lula vai intervir na crise entre BC e Fazenda O presidente Lula poderá arbitrar a nova crise entre Ministério da Fazenda e Banco Central. O objetivo é evitar que o descontrole dos gastos sirva de bandeira eleitoral à oposição. Ontem, o ministro GuidoMantega(Fazenda)reforçouas críticasà advertência do BC sobre o impacto na inflação do aumento dos gastos públicos. ● PÁGS. B1 e B3
7 8 9 10 11 12
CADERNO 2 Ubaldo lança ‘O Albatroz Azul’ ●● Escritor,
que não publicava desde 2002, completa 50 anos de carreira.
● PÁG. D6
OLIVIER MORIN/AFP
4 serão temporárias. O comitê Rio-2016 prevê gastar com equipamentos R$ 900 milhões. O custo total deve superar R$ 30 bilhões. ● PÁGS. H12 e H13
FABIO MOTTA/AE
●●● O projeto para os Jogos de 2016 é ambicioso. A Olimpíada contará com 33 instalações, 10 já prontas. Oito vão passar por reformas, 11 serão construídas e
Torben Grael
Esporte sem apoio Em entrevista, o campeão olímpico diz que é bom fazer os Jogos, mas o País não tem política esportiva. ● PÁG. H16 ●●●
VIBRAÇÃO – No instante da escolha do Rio para sediar os Jogos de 2016, explodiu a festa em Copacabana
(na foto do alto) e em Copenhague (acima), com Lula e os demais membros da delegação brasileira
MEC deve substituir organizador do Enem Vazamento ainda não foi esclarecido OMinistério daEducaçãoprepara operação para substituir o consórcio Connasel na organização do Enem, cancelado depois de o Estado ter alertado o MEC de que a prova havia vazado. Uma das alternativas seria transferir a organização da prova para o Instituto Na-
cional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), com apoio do Exército e dos Correios. Outras empresas estão sendo procuradas. O MEC entende que as explicações dadas até agora pelo Connasel para o vazamento não foram convincentes. ● PÁG. A26
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 64 DIAS q PÁG. A17
Metrô ligará Congonhas ao estádio do Morumbi O governo paulista lançará até novembro o edital para construção da Linha 17-Ouro do Metrô, que vai ligar o Aeroporto de Congonhas ao estádio do Morumbi. A proposta é fazer um monotrilho em pista suspensa. A primeira fase deve estar pronta em dezembrode2010,comoparte dos investimentos para a Copa de 2014. ● PÁGS. C1 e C3
NOTAS E INFORMAÇÕES
O vazamento da prova do Enem O Enem mudou a toque de caixa. Tanto açodamento só podia resultar em confusão. ● PÁG. A3
●●●
Tempo: CAPITAL
29º MÁX.
● PÁG. C2
16º MÍN.
Tempo fica abafado e pode chover à tarde.
Hoje: 140 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 16 ● E. Esportes: 4 ● H. Especial Olimpíada: 26 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 14 ● Ci. Imóveis: 12 (2.180 anúncios)
SÁBADO, 3 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
O vazamento da prova do Enem
C
om a divulgação pelo jornal O Estado de S. Paulo do vazamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que seria realizada neste fim de semana por mais de 4,1 milhões de alunos em 1.826 cidades, o Ministério da Educação (MEC) adotou a única decisão cabível: cancelou a realização das provas. E, apesar de o ministro Fernando Haddad ter anunciado que o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) – o órgão responsável pelo Enem – irá trocar a prova viciada por uma prova substitutiva previamente elaborada, prometendo aplicá-la dentro de 45 dias, especialistas afirmam que, em face das gritantes falhas no esquema de segurança do MEC, a nova versão também poderia estar comprometida. Os repórteres Renata Cafardo e Sérgio Pompeu tiveram acesso à prova do Enem no começo da noite da última quarta-feira. E, depois de examinarem cuidadosamente a parte relativa a linguagens e códigos, principalmente as questões que envolviam personagens de tiras de conhecidas histórias em quadrinhos, como Mafalda e o gato Garfield, versos de
Gonçalves Dias e de Carlos Drummond de Andrade e o filme Touro Indomável, de Martin Scorsese, levaram os fatos delituosos ao conhecimento do ministro Haddad. Na madrugada da quinta-feira, o ministro e o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, reconheceram oficialmente o vazamento, cancelaram a realização da aprova e pediram à Polícia Federal a imediata abertura de inquérito criminal. Aplicada desde 1998 e concebida para induzir ao aperfeiçoamento dos currículos do ensino médio e propiciar a democratização do acesso ao ensino superior, a prova do Enem é o maior exame simultâneo do País e a versão de 2009 é o mais concorrido de todos os mecanismos de avaliação do MEC. Isto porque, além de aferir o grau de conhecimento dos estudantes que terminam o ensino médio e de selecionar os bolsistas do ProUni, a partir deste ano o exame passou a valer para certificar a conclusão do ensino básico por pessoas com mais de 18 anos e a ser utilizado como vestibular unificado, em etapa única, para 24 das 55 universidades federais.
Até as maiores instituições de ensino superior do País, como a USP e a Unicamp, aceitam os resultados do Enem na composição da nota em seus processos seletivos. Por isso, mesmo sendo optativo, o Enem de 2009 teve o dobro do número de inscritos na prova do ano passado. Pelos levantamentos feitos pelo MEC e pelo Inep com base no último Censo Escolar da Educação Básica, o índice de inscrição no Enem já atinge cerca de 80% dos estudantes que estão na 3ª série da rede pública e privada de ensino médio. Apesar da experiência já acumulada pelo Inep na aplicação do Enem, a prova de 2009, ao contrário do que ocorreu nos anos anteriores, começou a apresentar problemas desde que começou a ser elaborada. Quando o MEC propôs às universidades federais sua utilização como vestibular unificado, os pedagogos divergiram quanto ao conteúdo das questões, à abordagem pedagógica e aos critérios de correção da prova. Depois, o Inep estimulou as inscrições pela internet, mas o sistema de informática do MEC não estava preparado para atender à
demanda. Em seguida, a greve da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT) prejudicou a entrega dos cartões de inscrição aos candidatos. A definição dos locais da prova também gerou problemas, pois muitos candidatos teriam de se deslocar para cidades distantes até 330 quilômetros de suas residências. Ao todo, o Inep recebeu 6 mil pedidos de estudantes para trocar o local da prova. Por fim, o MEC acabou montando um confuso e ineficiente sistema de informações aos alunos, recorrendo à internet, a “torpedos” por meio de celulares, a chamadas telefônicas convencionais e a cartas. E estas tiveram problemas de remessa, por erros primários da listagem de endereços, que, por razões inexplicadas, não ficou a cargo do Inep. Na realidade, todas essas dificuldades apenas confirmam o que apontamos em diversos editoriais. No conteúdo, as profundas mudanças introduzidas no Enem de 2009 foram oportunas e merecem aplauso. Mas foram implementadas a toque de caixa, sem planejamento adequado, com o objetivo de usá-las como trunfo político a serviço de um projeto eleitoral. Tanto açodamento só podia resultar em confusão, coroada com o vazamento da prova.
Leis rígidas, fiscalização falha
Grande vitória, maior desafio
H
S
á pelo menos 180 lojas e depósitos clandestinos de fogos de artifício instalados na cidade de São Paulo, segundo estimativa da Associação Brasileira de Pirotecnia (Assobrapi). Boa parte deles está em área residencial, para driblar uma fiscalização que já é precária. A própria Divisão de Produtos Controlados da Polícia Civil, responsável pela vistoria desses estabelecimentos, confirma que existem apenas 80 lojas autorizadas a vender e armazenar fogos na capital e, em todo o Estado, há apenas três fábricas autorizadas pelo Exército a produzir fogos de artifício – todas em zona rural. Dados da Assobrapi mostram a existência de aproximadamente mil lojas legalizadas na capital em 1970. Segundo o vice-presidente da entidade, Eduardo Tsugiyama, o endurecimento das leis e o aumento da demanda provocaram a multiplicação dos estabelecimentos clandestinos. A associação credenciou apenas 60 na capital. Para funcionar, o proprietário de um estabelecimento desse tipo precisa cumprir as normas municipais de uso e ocupação de imóveis, além de ter autorização dos Bombeiros e da Polícia Civil. As leis que regulamentam o comércio, a estocagem e a fabricação de fogos de artifício são avançadas e se tornam mais rígidas depois de cada explosão que devasta quarteirões e vidas. A elaboração de novas normas é sempre a resposta das autoridades à indignação da opinião pública diante das tragédias e do jogo de empurra entre os vários ór-
gãos que deveriam responder pelo alvará de funcionamento dos estabelecimentos, pela fiscalização do uso dos imóveis, da documentação e das questões de segurança. Os serviços de fiscalização não acompanham a evolução das leis. É tradicional a falta de recursos humanos, o despreparo dos agentes e a corrupção no setor. Quanto mais rígidas as leis e mais falha a fiscalização, mais lojas clandestinas se estabelecem, ameaçando a população. No início da tarde do último dia 24, a loja de fogos de artifício Pipas & Cia., localizada em
Lojas que vendem fogos só são fiscalizadas depois de explosões Santo André, foi para os ares destruindo 4 imóveis vizinhos, desalojando 100 pessoas, matando 2 e ferindo 12. Horas depois do acidente, autoridades municipais de Santo André afirmaram que não há nenhum estabelecimento em todo o município autorizado a vender fogos de artifício. A tolerância zero deveria facilitar, assim, a fiscalização. Afinal, nem trabalho de conferência de documentação seria necessário, uma vez que a atividade é proibida. O secretário de Comunicação da cidade, Alexssander Soares, declarou que a prefeitura desconhecia a existência da loja Pipas & Cia. “A fiscalização só pode agir se for provocada”, afirmou – o que é um absurdo. Mas a fiscalização havia sido provocada em 16 de abril, por meio de um
e-mail enviado à Ouvidoria municipal e, se nenhuma loja está autorizada a funcionar, essa deveria ter sido fechada há cinco meses, pelo menos. Mas o que parece é que a “provocação” que faz as autoridades darem atenção ao problema só ocorre quando há explosões. No dia seguinte ao acidente de Santo André, tanto a prefeitura daquele município quanto a da capital decidiram intensificar a fiscalização desse tipo de estabelecimento. No sábado passado, o prefeito Gilberto Kassab baixou portaria que determina a todas as 31 subprefeituras a elaboração, no prazo de quatro dias, de um levantamento das lojas que vendem fogos de artifício na cidade. O prefeito exige também que a fiscalização feche os estabelecimentos irregulares e apreenda os produtos. A lei municipal de São Paulo estabelece que fogos de artifício não podem ser comercializados em áreas residenciais e a menos de 100 metros de postos de gasolina, depósitos de produtos inflamáveis ou explosivos, escolas, hospitais, cinemas, teatros, casas de espetáculos e repartições públicas. Para o secretário municipal de Controle Urbano, Orlando Almeida, as regras garantem a segurança da população, mas, em entrevista ao Estado, considerou: “Por mim, deveriam até ser mais duras. O certo seria não comercializar no Município.” Melhor seria se assim fosse, consideradas as dificuldades para se estabelecer controle eficiente.
em dúvida foi uma grande vitória do Rio, do Brasil e da América do Sul. Mas é maior ainda o desafio de transformar a cidade do Rio de Janeiro, em apenas sete anos, naquilo que ela há muito deveria ser – e está tão longe de ser – em termos de infraestrutura urbana, de transportes, de habitação e, sobretudo, de segurança pública, para sediar os Jogos Olímpicos. Será difícil que a cidade consiga, mesmo com o formidável orçamento inicialmente previsto de R$ 28 bilhões, chegar a 2016 com a qualidade correspondente ao qualificativo de “maravilhosa”, decorrente de sua imbatível beleza natural. O desperdício e o desastre orçamentário que foram os Jogos Pan-Americanos não justificariam esperanças nessa mudança. Mesmo assim, é de esperar que o compromisso mundial de sediar uma Olimpíada opere transformações profundas – inclusive no campo da ética pública. Seria insensibilidade achar que a população de um país que sediará os Jogos Olímpicos não tenha motivo de justo orgulho pela projeção de sua imagem no mundo – especialmente nestes tempos de comunicação instantânea –, afora as oportunidades abertas nos campos do turismo, do esporte e da cultura. Neste último aspecto, aliás, os grandes espetáculos apresentados na abertura e no encerramento de determinadas Olimpíadas – como as de Moscou e a mais recente, de Pequim – têm se constituído em marco de exaltação das respectivas culturas nacionais. As Olimpíadas modernas são a representação simbólica
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Atendimentonas DPs A maioria das ocorrências policiais é realizada pela Polícia Militar. Ora, esse trabalho não beneficiará a sociedade se não for emitido o correspondente Boletim de Ocorrência (BO). Num dia, o Estado comunica à população que só 30 delegacias de polícia (DPs) farão BO, numa cidade de 15 milhões de pessoas. A seguir, vê-se que o povo precisa parar de trabalhar a fim de aguardar de três a cinco horas numa DP a feitura desse documento. É verdade, também, para quem quer trabalhar, que o tempo necessário é de 30 minutos. Ficar quase um dia à espera de um BO é uma péssima piada. Onde está o governador que elegemos? Ele tem medo de dar ordem a esse pessoal que quer receber sem trabalhar? Pago
muito imposto, quero o meu dinheiro de volta. Sugestão: é melhor acabar com essa polícia (que faz greve com carros e armas nossas) e deixar só a Polícia Militar. Será que o governador está levando o salário de delegado à residência de cada um deles? ABENOR GARCIA FERREIRA
“
Colocaram o cabrito na horta, enviaram o processo da censura ao ‘Estadão’ para o Maranhão”
PedroSergioRonco sergioronco@uol.com.br RibeirãoBonito
Praia Grande ● O melhor lugar prá se fazer um BO é a sacristia das igrejas: a queixa é direta ao bispo... A. FERNANDES standyball@hotmail.com
São Paulo ● Tem razão o leitor sr. Paulo Magalhães (Polícia Civil, 29/9) quanto às críticas ao atendimento dispensado pelos distritos policiais da capital, tanto que já a partir do
policiais que atuam no Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap) e generalizar num universo de mais de 6 mil profissionais é, no mínimo, leviano, desmerecendo a fonte da crítica. MARCO ANTONIO PEREIRA NOVAES DE PAULA SANTOS, delegado de polícia, diretor do Decap marcano-11@hotmail.com
próximo dia 13, justamente com o objetivo de mudar esse sistema saturado, ultrapassado, mastodôntico e dispendioso, terá início a nova forma de funcionamento das unidades policiais. Não posso, no entanto, concordar com o missivista quanto à referência feita, de forma genérica, a todos os policiais que aqui labutam, em particular aos escrivães de polícia. Com certeza não conhece ele todos os
São Paulo
CorodaOsesp Sobre o artigo Coro da Osesp celebra 15 anos com disco, do sr. Lauro Machado Coelho (24/9, D16), cumpre esclarecer que é inverídica uma informação logo no início do texto: tanto no que concerne à sua criação quanto à direção artística (regência) durante o ano de 1994, o primeiro de funcionamento do
da busca de aperfeiçoamento da espécie humana, no que o desenvolvimento das habilidades no esporte se junta ao congraçamento entre os povos, por meio da competição elevada e pacífica. Assim é que se justificou o esforço dos governos dos países onde se situam as quatro cidades que se candidataram a sediar os Jogos Olímpicos de 2016 – Rio de Janeiro, Madri, Tóquio e Chicago – para convencer a maioria dos 106 delegados do Comitê Olímpico Internacional (COI) das razões e vantagens de cada uma delas. É verdade que essa competi-
Na Olimpíada não se pode repetir o descalabro dos Jogos Pan-Americanos ção, travada em Copenhague pelos governantes dos “países candidatos” – presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama, rei Juan Carlos e primeiro-ministro Yukio Hatoyama –, nem sempre se mostrou muito olímpica. As articulações e conchavos com delegados – em que não faltaram críticas ácidas às cidades concorrentes –, assim como a defesa final que cada uma delas fez perante o COI, tiveram seu peso. Mas esse processo de seleção já se iniciara em março de 2007 e a reunião de ontem foi apenas o seu desfecho. No processo de votação do COI, pelo sistema de eliminação, surpreendeu o fato de Chicago – por muitos considerada a favorita, especialmente depois da ida de Obama a Copenhague – ter sido a primeira eli-
minada. Com certeza deve ter pesado a falta de adesão da população da cidade norte-americana ao projeto de torná-la sede de uma Olimpíada, diferentemente do que ocorreu com as populações da cidades finalistas, Rio e Madri, que externaram seu entusiasmo com o projeto de abrigar os Jogos Olímpicos de 2016. O Rio, afinal, levou vantagem também pelo fato de ser a primeira cidade da América do Sul a poder sediar uma Olimpíada – enquanto na Espanha já houve a Olimpíada de Barcelona e a Europa sediará a próxima, em 2012, em Londres. Certamente foi eficiente a defesa que foi feita da candidatura do Rio, associando-a aos dados positivos da recuperação econômica brasileira, em relação à crise econômica mundial. De certo também funcionou o tom emocional do discurso do presidente Lula, bem como a atuação de Pelé, que continua sendo o esportista mais prestigiado do mundo. Agora, obtida essa tão significativa vitória, a sociedade brasileira – e, particularmente, a carioca – sabe que serão grandes as oportunidades propiciadas pelos investimentos públicos programados. Mas sabe também, especialmente pela lembrança dos Jogos PanAmericanos, que grandes serão as oportunidades de desperdício e de desvio de dinheiro público. Então, só lhe resta mobilizar-se para exigir austeridade administrativa e transparência em todos os gastos governamentais destinados a preparar a cidade do Rio para os Jogos Olímpicos de 2016. E que o Cristo Redentor proteja a Cidade Maravilhosa, “cheia de encantos mil”!
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
Coro da Osesp, então denominado Coral Sinfônico do Estado de São Paulo, esteve à sua frente este missivista, e não a maestrina mencionada. No processo de criação desse coral (janeiro de 1994), juntamente com outros profissionais, fiz a seleção de cerca de 150 candidatos, que foram devidamente avaliados para tal fim; após longo e trabalhoso período de apreciação, finalmente foi constituído o grupo original, do qual alguns integrantes de então ainda fazem parte. O conjunto estava diretamente subordinado à Secretaria de Estado da Cultura (ULM) e só alguns anos depois, com a reestruturação da Orquestra do Estado sob direção do maestro John Neschling, tornou-se da Osesp. Durante esse árduo período inicial, fazendo o serviço bruto dos primei-
ros tempos e “matando um leão por dia”, fui o maestro desse conceituado coro até o início de 1995, quando, então, “forças (nem tanto) ocultas” decidiram que eu não tinha mais serventia e apenas – puf! – resolveram me “deletar”... Mas isso já é outro baile. JOSÉ FERRAZ DE TOLEDO, maestro
São Paulo
Lauro Machado Coelho responde: Sou o único responsável pela informação inverídica contida no texto, pela qual me desculpo, lamentando todo e qualquer prejuízo que possa ter causado ao maestro. Peço-lhe que não duvide da minha seriedade profissional: erros acontecem e, quando são apontados, só nos fazem bem. Ter a possibilidade de reparar o erro apura a qualidade de nosso trabalho.
SÁBADO, 3 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 64 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entidade em NY critica TJ e pede fim da censura Comitê de Proteção aos Jornalistas considera ‘desconcertante’ a atuação da Justiça no caso Roberto Almeida
O Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), entidade internacional de defesa do jornalismo e da liberdade de expressão, com sede em Nova York, nos Estados Unidos, considerou “desconcertante” a atuação da Justiça brasileira no caso da censura ao Estado e criticou a demora na solução definitiva do episódio. Na última quarta-feira, após 61 dias de espera, os desembargadores da 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) consideraram o foro de Brasília incompetente para julgar o caso e determinaram a transferência do processo para o Maranhão. A mordaça ao jornal O Estado de S.Paulo e ao site estadao.com.br, no entanto, foi mantida. Carlos Lauria, coordenador para a América Latina do CPJ, lamentou a decisão. “Isso só mantém as coisas no mesmo plano. Está muito claro que a censura foi imposta sobre um caso de corrupção. E a população precisa ser informada sobre este caso em sua totalidade”, afirmou. Lauria faz referência à liminarobtida emjulho porFernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que proibiu o Estado de publicar reportagens sobre as investigações da OperaçãoBoi Barrica,da PolíciaFederal. O material envolve Fer-
nando e distribuição de cargos no Senado por meio de atos secretos. “As informações que deveriam ser publicadas são de interesse público. O Estado tem toda a responsabilidade frente aos leitores, sua audiência, a cidadania brasileira”, disse Lauria, que é jornalista argentino e especialistaem liberdade de expressão. Para ele, os juízes do TJ-DF estão cometendo dois atentados contra a liberdade de imprensa. O primeiro é a manutenção da censura por tanto tempo. O segundo é a criação de um obstáculo para o leitor, que tem o direito de ser infor-
OEA alerta para ‘responsabilização internacional’ do país pelo episódio mado. “Consideramos que as autoridades precisam reverter essa situação”, sublinhou. MANIFESTAÇÕES
Esta é a segunda vez que o CPJ se manifesta sobre a censura ao Estado. A primeira foi no dia 12 de agosto, cerca de duas semanas após o início da mordaça. Na ocasião, Lauria classificou a decisão como “absurda” e alertou que o caso precisava ser tratado como um “chamado para a cidadania”. “Meios de comunicação sempre são proi-
NACIONAL A17
bidos de cobrir casos de corrupçãoque envolvem funcionários públicos, políticos e empresários”, afirmou. O CPJ foi criado em 1981 por correspondentes americanos,“em resposta ao tratamento brutal recebido por colegas estrangeiros de seus governos autoritários”. Para reverter os quadros negativos, a entidade organiza protestos e trabalha nos bastidores da diplomacia, pressionando autoridades. Assim como o CPJ, outras entidades internacionais emdefesados direitoshumanos que já se manifestaram sobre a censura ao Estado estão informadas sobre a nova decisão do TJ-DF. A Associação Mundial de Jornais, que enviou carta conjunta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, rechaçando a censura, avalia quais os próximos passos que tomará. A relatora para liberdade de expressão da Organização dos Estados Americanos (OEA),CatalinaBoteroMarino, tem em mãos a cronologia da mordaça ao jornal e já alertou para uma “responsabilização internacional” do Brasil sobre o tema. A Repórteres Sem Fronteiras, por sua vez, avisou que acompanha “de perto” o casode censuraedeve semanifestar novamente. ●
DIVULGAÇÃO
FRASES
Carlos Lauria Coordenador do CPJ “Issosó mantém as coisas no mesmo plano. Está muito claro que a censura foi imposta sobre um caso de corrupção. E a população precisa ser informada sobreeste caso em sua totalidade”
REAÇÃO – ‘População precisa ser informada sobre este caso’, diz Lauria
“Asinformações que deveriam ser publicadas são de interesse público”
23h15
o estado de s. paulo DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
ALIÁS
CLASSIFICADOS
14.386
Os desafios olímpicos
é o total de ofertas
Para o historiador Hilário Franco Júnior, não é um evento esportivo de um mês que vai mudar 500 anos de cultura do improviso no Brasil. ●
q
7.994
MÁRCIO DE SOUZA/DIVULGAÇÃO
● Edição das
WILTON JUNIOR/AE
Um dos suspeitos incriminou um segurança do consórcio responsável pela prova teres” e “levantar um dinheiro”. O segurança ainda não foi localizado. Ao jornal, antes de se apresentar à polícia, Gregory – um jovem popular, com cerca de 800 amigos no Orkut – buscouse mostrar arrependido e disse que tentaria obter “delaçãopremiada”.● PÁGS.A23 e A24
Desgaste força acordo entre Zelaya e Micheletti
Quartos de diversão
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 63 DIAS q PÁG. A9
Futebol
NOTAS E INFORMAÇÕES
●● OtimeperdeudoAtléti-
co-PR por 3 a 1 em pleno Pacaembu. ● PÁG. E7
Religião
Liberal, anglicano atrai fiéis em SP ReverendoQuintãodefende homossexualismo e sexo por prazer. ● PÁG. C6
●●
Rio
Rã de 2 cm para obra do PAC Anfíbio emextinçãovive em área onde é feito arco rodoviário. ● PÁG. B6 ●●
7 8 9 10 11 12
Mesmo antes do vazamento da prova do Enem, o governo já estudava mudar o exame para evitar problemas, relata o repór-
●●●
ter Eduardo Nunomura. A ideia é fazer cinco ou mais provas diferentes, para reduzir a possibilidade de fraude. ● PÁG. A26
GABINETES: PRECURSORES DAS BIBLIOTECAS
Opresidentehondurenhodeposto, Manuel Zelaya, e o líder do governo de facto, Roberto Micheletti, se reunirão nesta quarta-feira, sob mediação da OEA, com um ponto em comum: ambos estão enfraquecidos,relataaenviada especial Denise Chrispim Marin. ● PÁGS. A12 a A14
●● Para decorar o quarto dos filhos, 60 ideias longe do convencional. ●
Corinthiansdá vexameemcasa
MEC quer prova ‘antifraude’
Guerra sobre a noção do moderno Livros opõem a visão americana e europeia sobre o legado da vanguarda. ●
Aquecimento econômico faz mercado prever alta de juros O ritmo de aquecimento da economia brasileira pós-crise está pegando o Banco Central e os analistasdomercadodesurpresa. Em meio a projeções de alta do PIB que vão de 5,4% a 7% em 2010, cresce o temor de volta da inflação. As taxas de juros de mercado já projetam altada Selic do atual nível de 8,75% para próximo de 13% no início de 2011. Analistas se preocupam com a capacidade do BC de ministrar o aperto monetário no ano eleitoral. ● PÁGS. B1 e B3
Assembleia de SP amplia licença-prêmio para servidor Os 2.853 servidores da Assembleiapaulistativeram ampliado um benefício já extinto no funcionalismo federal, a licençaprêmio – recompensa por assiduidade ao serviço, informa Ricardo Brandt. A resolução autoriza venda de até 60 dos 90 dias previstos de descanso na gratificação. Para os servidores, trata-se de compensação pelo fato de não terem direito ao Fundo de Garantia. ● PÁG. A4
ANÁLISES
A politização do pré-sal
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Ainda o petróleo
Diante da quantidade de dúvidas a serem esclarecidas sobre o pré-sal, a pressa do governo só se explica por seu interesse eleitoral. ● PÁG. A3
É preciso esclarecer vários aspectos do projeto do governo para o pré-sal antes que se mude algo que é até hoje vitorioso. ● PÁG. A2
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DORA KRAMER
Tempo: CAPITAL
28º MÁX.
Drible nas leis
● PÁG. C2
16º MÍN.
Os partidos fizeram acordo tácito em prol da ilegalidade consentida, para não serem importunados pela Justiça. ● PÁG. A8
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Sol e calor. À tarde, pode chover. Tiragem: 300.832 Hoje: 242 páginas A. 1º caderno: 30 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 8 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 44 ● F. Feminino: 16 ● Ca. Autos: 26 ● Ce. Empregos: 8 ● Ci. Imóveis: 36 ● Co. Oportunidades: 10
MARCOS ARCOVERDE/AE
casa&
CULTURA
Na estreia como protagonista, a atriz Camila Pitanga vive Rose, uma faxineira fã de novelas, em Cama de Gato. ●
Releitura do simpático 500, da Fiat, chega ao Brasil. ●
provas, revelado pelo Estado na última quinta-feira. Em interrogatório, Gregory afirmou que Felipe Pradella, funcionário do consórcio contratado paraaplicação do exame, foi quem obteve as provas e as repassou a ele. O objetivo era tentar venderosdocumentos “pararepór-
RUY MESQUITA
Heroína noveleira
PF indicia empresário e DJ por vazamento do Enem A Polícia Federal indiciou dois suspeitos de fraudar o Enem: o empresário Luciano Rodrigues e o DJ Gregory Camillo de Oliveira Craid, informam Renata Cafardo, Sergio Pompeu e FaustoMacedo. APFestá convencidadoenvolvimentode ambos na trama do vazamento das
DIRETOR:
4 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42355
autos
Após trazer os Jogos, o desafio é fazer do Brasil uma potência olímpica. ●
(1891-1927)
tv&lazer
anúncios classificados
ESPORTES
JULIO MESQUITA
DAVID BROOKS
Guerra cultural Os americanos ficaram anos debatendo sexo e religião, alheios à corrosão dos valores econômicos sob seus pés. ● PÁG. A22
●●●
●●● O Real Gabinete Português de Leitura do Rio, no centro da cidade, abriga a maior coleção de livros por-
tugueses fora de Portugal, com obras raras como a primeira edição de Os Lusíadas, de 1572. ● PÁG. C4
DOMINGO, 4 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
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Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
A politização do pré-sal
A
pressa do governo por encerrar o debate sobre o projeto de exploração do petróleo do présal e sua notória disposição de tentar desqualificar, como antipatriótica ou “entreguista”, qualquer crítica à proposta do novo marco regulatório para o setor não deixam dúvidas quanto a sua decisão de transformar esse assunto em um dos principais temas da campanha eleitoral de 2010. Por isso, é inteiramente procedente a advertência feita pelo governador do Espírito Santo, Paulo Hartung – filiado ao PMDB, partido da base governista –, de que a discussão está sendo feita de maneira “açodada” e com forte componente eleitoral. Hartung foi um dos participantes do Debate Estadão “O futuro do pré-sal”, realizado na quarta-feira. A deliberada politização do présal foi criticada também pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), ao observar, durante o debate, que “a questão foi colocada de forma muito emotiva, como disputa entre nacionalistas e entreguistas”. É preciso, por isso, “colocar o debate um pouco mais no chão, para que possa ser feito com clareza”, disse Jereissati. Trata-se de um projeto que, por suas dimen-
sões e por seu enorme impacto na economia brasileira – e mundial, se se confirmarem as reservas de petróleo anunciadas pelo governo –, exige discussão séria, objetiva e aprofundada. Diante da imensa quantidade de dúvidas e questões técnicas, financeiras e políticas que precisam ser debatidas e esclarecidas antes de qualquer decisão, a pressa do governo só se explica por seu interesse eleitoral. Entre os muitos pontos que precisam ser debatidos está a estratégia de nacionalização dos equipamentos necessários para a exploração do pré-sal. A estratégia anunciada repete modelos que fracassaram durante o regime militar, como alertou o senador cearense. Ele lembrou a lei de reserva de mercado de informática – aprovada no governo Geisel (1974-1979) –, que, em nome do desenvolvimento da indústria nacional de computadores e periféricos, fechou o mercado doméstico e produziu graves distorções. Durante anos, o Brasil só pôde dispor de equipamentos obsoletos e muito caros, o que retardou a modernização da economia e reduziu sua competitividade. Outro exemplo que pode ser citado é o da
O TCU faz a sua parte
A
o auditar 219 obras do governo federal em andamento, o Tribunal de Contas da União (TCU) só não identificou malfeitos em 35. Licitações irregulares, sobrepreço, superfaturamento, alterações indevidas em projetos, orçamentos incompletos foram alguns dos problemas verificados nos empreendimentos que passaram este ano pelo crivo do programa Fiscobras. Duas em cada três dessas construções, ou 149, contêm irregularidades graves – a ponto de, em 41 casos, o TCU recomendar a sua paralisação, mediante bloqueio de verbas. Entre as obras visadas, 13 fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento, o apregoado pacote de realizações do governo Lula cuja principal serventia até aqui, dado o seu moroso andamento, tem sido a de alavancar a candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff. Os empreendimentos que o TCU quer sustar, tamanhos os vícios neles encontrados, somam R$ 7,38 bilhões em investimentos autorizados este ano. Destes, R$ 4,2 bilhões foram destinados para a Refinaria Abreu e Lima, uma joint venture da Petrobrás com a estatal venezuelana PDVSA. O projeto foi inicialmente orçado em cerca de R$ 8 bilhões. Sucessivos reajustes praticamente triplicaram esse valor. O TCU localizou evidências de sobrepreço em diversos contratos firmados pela Petrobrás. “Não nos interessa a paralisação de obras. Sabemos dos prejuízos financeiros que isso pode causar”, afirmou o presi-
dente do TCU, Ubiratan Aguiar, na sessão que aprovou por unanimidade o parecer do relator do levantamento, Aroldo Cedraz, e deu ensejo a um coro de respostas às críticas do governo, a começar do presidente Lula, à sua alegada propensão a interromper empreendimentos. “Não podemos deixar que prosperem a fraude, o conluio e a corrupção”, argumentou Aguiar. “O TCU não é uma casa política”, reagiu Cedraz. Outro ministro, o ex-senador Valmir Campelo, mencionou as “agressões” que o tribunal tem recebido. “São os desmandos, o superfatura-
Se o governo não quer atraso de obras, que faça as coisas direito mento e o sobrepreço que nossa instituição bloqueia.” As acusações ao órgão são de fato improcedentes. A verdade é que o presidente da República não é de perder o sono por serem frouxos, para dizer o menos, os próprios controles do governo sobre o destino dos recursos públicos investidos. “A qualquer preço” é uma expressão que decerto se aplica ao seu afã de entrar para a história como grande realizador – daí a sua irritação com os controles exercidos pelo TCU aos quais atribui viés oposicionista. O que o órgão tenta fazer, a rigor, é estreitar a trama da peneira tornada larga demais pela combinação de indiferença (dos administradores públicos) e voracidade (de seus parceiros privados). Nada mais previsível que uns e outros
Lei de Similar Nacional – na versão que vigorou no governo Geisel –, que, além de estabelecer várias exigências para o aumento dos índices de nacionalização de equipamentos e componentes fornecidos para as estatais e da participação do capital nacional no mercado, limitou o número de fornecedores para as empresas do governo. Grupos empresariais escolhidos pelo governo foram grandemente beneficiados por esse esquema – em detrimento do restante da economia –, mas a abertura econômica, no início da década de 1990, revelou o quanto essas empresas ficaram atrasadas e pouco competitivas por causa da proteção de que gozavam. Muitas não sobreviveram à abertura, outras tiveram imensas dificuldades para operar em ambiente de maior competição. Há também a questão das dimensões econômicas e financeiras do pré-sal. Alguns números apresentados no Debate Estadão pelo presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, não deixam dúvidas quanto aos problemas que surgirão na estrutura industrial brasileira e no mercado financeiro, caso o projeto do go-
verno tenha êxito. Gabrielli lembrou que a Petrobrás pretende investir US$ 111,4 bilhões no pré-sal até 2020. Para cada dólar investido pela empresa, há a necessidade de investimento de outros quatro na ampliação da capacidade dos fornecedores de bens e serviços. Ou seja, a indústria terá de investir mais de US$ 400 bilhões para atender ao programa do pré-sal. Seria bom se a indústria brasileira tivesse capacidade financeira para fazer os investimentos necessários e estivesse habilitada tecnologicamente para atender à demanda. Nem tem os recursos nem dispõe da tecnologia. Canalizar todo esse dinheiro para a produção de equipamentos para o pré-sal implicará abandonar outros setores industriais. Também a capitalização da Petrobrás, prevista já para o ano que vem, exigirá tanto dinheiro – será a maior subscrição de capital de uma única empresa já feita no mundo – que, se for bem-sucedida, drenará quase todo o mercado financeiro. E, se o investidor privado não exercer seu direito de subscrição, o governo ficará com as sobras, aumentando seu controle sobre a Petrobrás.
O panorama visto do FMI pressionarem por mais complacência na fiscalização dos empreendimentos envolvendo cifras bilionárias. Ou para restringir a competência do ente fiscalizador. O TCU julga as contas de cerca de 8.500 unidades administrativas, recomendando ao Congresso a sua aprovação ou rejeição. Ao propor a paralisação de uma obra – “quando não é possível outro remédio para os graves indícios de irregularidades”, como diz o ministro Ubiratan Aguiar –, o organismo não pode ser responsabilizado pela letargia dos agentes públicos aos quais cabe evitar as impropriedades trazidas à luz pelas auditorias. Um caso típico é o da reforma e ampliação do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Orçada em R$ 270 milhões, a obra está parada há 1 ano e 7 meses à espera de uma solução para os problemas de sobrepreço, superfaturamento e pagamentos por serviços não previstos que o TCU vem apontando. “Obras paralisadas ficam mais caras quando são retomadas”, observou a ministra Dilma Rousseff ao comentar as novas recomendações do tribunal. (Ela, por sinal, reagiu com moderação. Quem foi escalado para investir com aspereza contra o TCU foi o seu colega do Planejamento, Paulo Bernardo.) Mas nem por isso se justifica a continuidade da alocação de recursos para o prosseguimento de projetos eivados de irregularidades. Se o governo não quer atrasos, que faça as coisas direito.
P
oderá custar caro ao Brasil o novo equilíbrio mundial pregado pelo G-20 e pelo FMI. Mas talvez não haja alternativa. Então, os brasileiros, por via das dúvidas, deveriam preparar-se para concorrer nesse novo mundo. Segundo o FMI, a maior economia do globo, a norte-americana, vai depender do mercado externo mais do que hoje para sustentar seu crescimento nos próximos anos. A explicação é simples. Quando o governo cortar os incentivos, a expansão dos negócios ficará de novo a cargo do setor privado. Mas os consumidores, duramente afetados pelo estouro da bolha imobiliária, deverão ser mais comedidos. Quanto ao investimento em máquinas, equipamentos e instalações, só será retomado para valer quando as empresas tiverem reduzido sua enorme capacidade ociosa e isso ainda vai demorar. Logo, a resposta será buscar na exportação o combustível necessário à expansão econômica. Para o jogo dar certo, a China e outros países superavitários terão de fazer sua parte, estimulando o consumo, gastando mais em seguro social e importando mais dos EUA e de outros países com déficit nas contas externas. Esse quadro pode parecer muito atraente para quem sonha com uma nova paisagem econômica. Mas ele oferece perigos. Se China e EUA trocarem seus papéis no comércio internacional, o maior mercado consumidor do mundo, o americano, será menos dinâmico e os produtores estrangeiros terão de competir mais duramente
para entrar lá. Os chineses poderão aumentar suas importações, mas não há como saber, por enquanto, se isso compensará a mudança no mercado americano. Além do mais, os produtores dos EUA, mais dependentes das vendas ao exterior, tentarão ocupar mais espaço em todos os mercados, incluído o chinês. A China já é um dos principais mercados para os exportadores brasileiros, mas o Brasil não é um dos seus principais fornecedores. Além disso, a China é estrategicamente mais importante para o Brasil do que o Brasil para a China.
Brasil não está se preparando para o que virá após a crise internacional Os chineses têm cerca de US$ 2 trilhões em reservas cambiais. Desse total, uns US$ 800 bilhões estão aplicados em títulos americanos. Se, em algum momento, Pequim tiver de resolver se dará prioridade aos interesses americanos ou aos brasileiros, a deliberação não consumirá mais do que um instante. Outros fatores também contribuirão para tornar mais dura a concorrência. O comércio global diminuiu com a recessão, e seu crescimento, nos primeiros tempos da recuperação, deverá ser vagaroso. Durante a crise, o protecionismo aumentou na maior parte dos mercados mais importantes, embora sem medidas muito duras. Mas houve, de toda forma, um aumento de barreiras e dificilmente os governos se
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Boladavez Parabéns ao TCU, na pessoa de seu presidente, Ubiratan Aguiar, pela posição firme e correta de adotar critérios técnicos na avaliação das irregularidades, não se envolvendo em questões políticopartidárias. Dona Dilma, apavorada com a vulnerabilização de sua campanha, arrebanha até o ministro Paulo Renato para tentar defender o minguado PAC, em vez de estar trabalhando efetivamente. Se estivesse envolvida com o PAC, e não fazendo campanha, esses superfaturamentos e irregularidades teriam de ser de seu conhecimento e não estariam ocorrendo. Agora que a casa cai, quer pôr a culpa no TCU? O risco do TCU, como bola da vez, é sofrer uma intervenção do tipo da que ocorreu no Estadão.
ELCIO ESPINDOLA elcpind@yahoo.com.br
Santana de Parnaíba ● Paulo Bernardo disse que não
cabe ao TCU dizer ao Executivo o que deve ser feito. Tem razão. Só não entendeu que o TCU está dizendo o que o Executivo não deve fazer. “Guenta a mão”, TCU!
“
A influência de Chávez é como uma droga: promete o paraíso, mas leva os seus usuários ao purgatório”
PauloR.Kherlakian paulokherlakian@uol.com.br SãoPaulo
MARIO GHELLERE FILHO marinhoghellere@gmail.com
Mococa
O ministro do Planejamento e companhia bela perderam a melhor oportunidade da vida de ficarem calados. A função do TCU, de fato, é dizer ao Executivo o que não deve ser feito (roubar). ●
LUIZ CARLOS CUNHA luiz.cunha@terra.com.br
São Paulo
Mercosul A Venezuela é a terceira economia da América do Sul. O Brasil tem um superávit extraordinário no comércio com esse país, dependente da exportação de petróleo para sobreviver. Sua entrada no Mercosul representaria um avanço na formação de um mercado comum sob a liderança de nosso país. Nada mais lógico, portan-
to, do que aprovar sua entrada no bloco. Todavia cabem duas perguntinhas nesse quadro surrealista: 1) Como vai o Mercosul hoje, graças às políticas argentinas de comércio?; 2) Como melhoraria com a presença da Venezuela sob a liderança de Hugo Chávez, que quer implantar o socialismo bolivariano no continente e está sempre em busca de encrencas e ateando fogo onde menos se espera? Já se esqueceram de Honduras? É triste ver o PT separando a economia da política. Sua nova bandeira é economia de um lado e política de outro, num país como o nosso, onde o governo tem a “pequena” participação de quase 40% no PIB. E se esquece ainda de que o maior problema da Venezuela é diversificar sua economia. Chávez está de olho na
apressarão a desmontá-las. Enfim, todos os países tentarão ampliar suas exportações num mercado bem menos dinâmico do que foi nos últimos dez anos. Se metade dessas hipóteses se confirmarem, os empresários brasileiros afetados pelas condições do comércio internacional terão motivos mais que suficientes para se preocupar. De fato, já não lhes faltam preocupações, e a perspectiva de maior valorização do real torna o cenário mais complicado. A possibilidade de ingresso de mais dinheiro destinado ao mercado de capitais – as projeções variam entre US$ 15 bilhões e US$ 25 bilhões – aumenta o temor de um desajuste cambial maior que o atual. O Banco Central evita provocar grandes oscilações na cotação do dólar. Mas mais seguro é tentar outros caminhos para aumentar o poder de competição dos produtores nacionais. Eles já estavam em desvantagem quando o comércio internacional crescia aceleradamente. A partir da crise, sua situação piorou. As empresas brasileiras envolvidas no comércio internacional são geralmente avaliadas de forma positiva pelos especialistas. As avaliações, no entanto, coincidem também noutro ponto: essas empresas operam num ambiente altamente desfavorável, porque as condições dependentes das políticas públicas são muito ruins. A lista dos problemas, a começar pela qualidade dos impostos, é bem conhecida, assim como a incapacidade política e gerencial do governo de enfrentar os problemas. O Brasil não se está preparando para a nova fase da economia internacional.
escala de nosso mercado para viabilizar tal diversificação. Além disso, o projeto do pré-sal vai bater de frente com a Venezuela. Abra os olhos, Lula! Nem Pedro Simon viu isso. EDUARDO JOSÉ DAROS daros@transporte.org.br
São Paulo
Liberdadedeimprensa O ministro da Educação, Fernando Haddad, reconheceu que graças ao Estadão um grande prejuízo para o Brasil foi evitado com a revelação da fraude nas provas do Enem. Já a “Justiça” brasileira, cega e absurda, mantém censura ao jornal, proibindo-o de divulgar notícias sobre investigações da Polícia Federal em negócios do filho do senador Sarney.
Neste caso, de quem é o prejuízo? JOSÉ ROBERTO DE JESUS zerobertodejesus@gmail.com
Capão Bonito ● Com o desdobramento sobre a censura ao Estado, não duvido do envolvimento da família Sarney na tentativa da venda das provas do Enem. Eles são do ramo. Como foram escolher logo o Estado? Quem eles querem desmoralizar? MARINO MARTINS DE ANDRADE marinoandrade@vivax.com.br
Taubaté ● Parabéns ao sr. José Sarney, faz 65 dias que ele conseguiu a façanha de silenciar um jornal, para que este não conte as suas outras façanhas. FLAVIO CESAR PIGARI Flavio.pigari@gmail.com
Jales
A10 NACIONAL
DOMINGO, 4 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 65 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Vice da SIP critica ‘contradição’ da Justiça do DF Para Basile, demora para analisar questão é ‘imprópria’ e impede ‘enraizamento da democracia’ Roberto Almeida
O vice-presidente do Comitê de Liberdade de Imprensa da Sociedad Interamericana de Imprensa (SIP) para o Brasil, Sidnei Basile, lamentou “a contradição” em que caiu o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF),quesedeclarouincompetente na última quarta-feira para julgar a censura ao Estado, mas ao mesmo tempo manteve o jornal amordaçado e enviou o caso à Justiça do Maranhão. Para ele, que também é vice-presidente de relações institucionais da Editora Abril, a demorade 65 dias para analisar a questão é “imprópria, para di-
zeromínimo”eimpedeo“enraizamento da democracia”. Basile acredita que o TJ-DF perdeu a oportunidade de estabelecer uma jurisprudência após o fim da Lei de Imprensa, derrubadapeloSupremoTribunal Federal (STF) no dia 30 de abril deste ano. “Para que pudéssemos ter confiança no controle constitucional da liberdade de imprensa, seria necessário que os contenciosos fossem rapidamente decididos.” O Estado está sob censura desde 31 de julho, quando o desembargador Dácio Vieira, do TJ-DF,informouteracatadopedidodeliminardeFernandoSarney,filhodopresidentedoSena-
do, José Sarney (PMDB-AP). Fernando conseguiu proibir quefossemdivulgadasinformações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolvem o filho de Sarney em suposto esquema de loteamento de cargos no Senado por meio de atos secretos. A mordaça ao jornal, desde então, se mantém ativa. Cada matéria publicada sobre o assunto implica pagamento de pesada multa. OcomportamentodoJudiciário neste caso é preocupante, anota Basile. A solução, diz ele, pode ser a edição de uma súmula vinculante por parte do STF que defina parâmetros claros sobre casos de censura.
“Se o nosso convívio com o novíssimo regime constitucionalforpautadoporcondutasassim do Judiciário, é bastante provável que o remédio seja uma súmula. Caso contrário, o regime constitucional da liberdade de imprensa terá sido um retrocesso, e não um avanço.” OEA
ComorepresentantedaSIP, organização que congrega 1.400 publicações em todo mundo, o especialista aponta como saída possível a iniciativa da relatoria para liberdade de expressão da Organização dos Estados Americanos (OEA), que pretende educar juízes brasileiros de pri-
CONGRESSO
Temer manobra para esvaziar cobranças Presidente da Câmara mantém sem resposta ofício da Justiça que pede informações sobre deputados beneficiados com verba indenizatória ANDRE DUSEK/AE -29/4/2009
Denise Madueño
meira instância sobre contenciosos envolvendo a imprensa. “Comoadecisãovaiseprotelando, quem fica mal não é o Estado, é a Justiça. Não há nada a fazeranãoserlamentar aprotelação”, sublinha. Para Basile, a situação criadapeloTJ-DF impedeaconsolidação do papel constitucional da liberdade de imprensa e se transforma em mau exemplo, uma “infelicidade”. “É uma pena o tribunal não se afirmar a favor da liberdade de expressão e adiar uma solução, que tem de vir de qualquer maneira”, afirma. “O tribunal poderia serparte dasolução, massetornou parte do problema.”
PeloBrasil TOCANTINS
Estado terá eleição indireta na quarta A Assembleia Legislativa de Tocantins realizará na quarta-feira eleição indireta para escolher o substituto do governador Marcelo Miranda (PMDB), cassado por decisão do TSE. O atual interino, Carlos Henrique Gaguim, do mesmo partido, disputará a vaga com o ex-prefeito de Palmas Derval de Paiva e com um terceiro candidato que deverá ser indicado pelo PMDB amanhã.
BRASÍLIA
Há um mês o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDBSP),mantémguardadonagaveta,sem resposta,ofícioda Justiça Federal em Brasília pedindo informações dos deputados beneficiados com a verba indenizatória, o recurso criado em 2001 para pagar despesas dos parlamentares em seus Estados com o exercício do mandato. A juíza Mônica Sifuentes, da 3ª Vara Federal, precisa do número de CPF dos políticos que receberam o recurso para instruir ação popular que busca suspender o ato da Mesa da Câmara que instituiu o benefício. Apesardasimplicidadedopedido, apenas o nome e o número do CPF, informação constante nosarquivosdaCasaefacilmente identificada, os procedimentos necessários para a resposta não foram sequer iniciados. O fato é significativo na conduta que Temer vem mantendo quandooassunto envolve a Justiça, os parlamentares e a própria Câmara. Temer conseguiu ficar por 42 dias cumprindo uma liminar do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo TribunalFederal(STF),semresultar em efeito prático. O ministro determinou que a Câmara entregasse ao jornal Folha de S. Paulo cópia das notas fiscais apresentadas pelos deputados para justificar os gastos com a verba indenizatória. Enquanto argumentava com a dificuldade de tirar cópias de cerca de 70 mil notas fiscais, entrou com recurso no Supremo e, na semana passada, a decisão de Mello foi cassada pelo plenário do tribunal.
Casa tem projeto pronto para evitar surpresas com liminares do STF A assessoria de Temer nega de forma veemente que tenha havido demora no cumprimento da liminar. Alega que a decisão começou a ser cumprida imediatamente, mas, por causa do grande volume de cópias, nãofoipossívelconcluiroprocedimentonoperíodoemquevigorou a liminar. E ressalta que há grande disposição do presidente em relação ao Judiciário. O recurso foi também o instrumento usado pela Câmara para evitar o cumprimento de decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) que determinouqueoteto salarialfosseobedecido. Em 24 de junho, o tribunal comunicou à Câmara a necessidade de cortar os salários dos deputados – daqueles que
MATO GROSSO DO SUL
Puccinelli lança programa MS Forte O governador André Puccinelli (PMDB-MS) lançou anteontem o MS Forte, programa de ações para o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul que contemplam os 78 municípios do Estado. O investimento será de R$ 3 bilhões em obras, com 80% de recursos próprios do governo estadual para as áreas de saúde, educação, habitação, assistência social e infraestrutura. DISTRITO FEDERAL
Projeto homenageia Santos Dumont Tramita na Câmara um projeto de lei, do deputado Fernando Chiarelli (PDT-SP), que torna obrigatória a exibição, nos aeroportos nacionais, de imagens de Alberto Santos Dumont , o inventor brasileiro considerado um dos pioneiros da aviação. O projeto, que está em caráter conclusivo, será analisado pelas comissões de Educação e Cultura, de Constituição e Justiça e de Cidadania. DEMORA – Temer: levantamento de CPF de deputados, pedido há 1 mês pela Justiça, sequer foi iniciado
RIO GRANDE DO NORTE
recebem por mais de uma fonte – acima do valor de R$ 24.500. Temer não cortou e recorreu da decisão por meio de um embargo de declaração. O argumento foi a falta de meios para identificar o parlamentar que recebia por mais de uma fonte, além de questionar em que folhade pagamentohaveriaocorte salarial, na Câmara ou no local responsável pela outra remuneração. A Casa conseguiu manter o pagamento integral.
milhões é o valor que o Incra-RN investirá em assessoria técnica, social e ambiental
DONO DO CASTELO
No caso do deputado Edmar Moreira (PR-MG), que ficou conhecidopor serdono de umcastelo, repassado aos filhos, a demora de Temer em responder às solicitações quase resultou emação deresponsabilidadedo MinistérioPúblicoFederal contra ele.Porvários meses,a Casa
segurou as notas fiscais apresentadasàCâmarapelodeputado para comprovar gastos com a verba indenizatória. O procurador no TCU Marinus Marsico precisou fazer diversos contatos com a Câmara e pedir envio de ofício avisando que abriria processo contra Temer. Dois meses depois de Moreira ter sido absolvido no processo de cassaçãonoConselhodeÉtica,os documentos chegaram às mãos do procurador. “Chegou a um ponto em que não havia resposta e poderia acarretar na responsabilização”, lembrou Marsico. No dia 23 de setembro, Temereoprocurador-geraldaRepública,RobertoGurgel,assinaram procedimento de aproximaçãodosdoislados.Peloacordo, antes de abrir processo contra a Casa, o Ministério Público comunicará o fato ao grupo que
será formado por representantesdaCâmaraedaProcuradoria. “Se houver problema de má administração na Câmara, no lugar de propor a ação, o grupo fará um ajustamento”, disse Temer. Para evitar surpresas com liminares, a Câmara tem projeto pronto, que prevê que nos mandados de segurança contra ato do STF, do presidente da República e das Mesas da Câmara e do Senado a medida para suspender esses atos só poderá ser concedida por decisão da maioria do tribunal. A proposta, aprovada pelo Senado, tem parecer favorável do relator,SérgioCarneiro(PTBA), e conclusão na Comissão de Constituição e Justiça, ou seja, não precisa ser votado no plenário. ●
R$ 8,2
RIO GRANDE DO SUL
Município elege novo prefeito hoje Os 2.982 eleitores de Monte Alegre dos Campos voltam às urnas hoje para eleger o novo prefeito da cidade. Concorrem ao cargo os candidatos Joaquim Boeira de Vargas (PDT) e João Francisco Pereira Tavares (PP). Eleito prefeito em outubro de 2008, Onilton João Capelini (PP) teve o registro cassado por compra de votos pelo Tribunal Regional Eleitoral do Estado.
O andamento do caso depende agora da publicação da decisão judicial que ordena o envio do caso de censura para a Justiça Federal de primeira instância no Maranhão. A defesa do jornal poderá, então, apelar para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou ao STF. Entidades internacionaisemdefesado jornalismo como Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) e FederaçãoInternacionaldeJornalistas (FIJ) tendem a acreditar emumapronta soluçãoporparte das instâncias superiores. Basile, por sua vez, confia na queda da liminar. E ressalta que a posição do Estado frente à censura – repetição do que enfrentou durante o período ditatorial–é corajosa.“O comportamento do jornal O Estado de S.Pauloéabsolutamente impecável, porque vive sob regime de cerceamento de liberdades e tem a obrigação de desafiar o poder reinante”, ressalta. ●
JUDICIÁRIO
OAB quer fim de elo direto entre PF e Procuradoria A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) quer o fim da Resolução 63, do Conselho da Justiça Federal (CJF), que estabelece trânsito direto dos inquéritos criminais entre a Polícia Federal e a Procuradoria da República – exceto quando houver pedido de medidas cautelares, como ordens de prisão, interceptação telefônica e mandados de busca, os casos não precisam mais passar pelo crivo da Justiça. EmofícioaoConselhoNacional de Justiça (CNJ), órgão que fiscaliza o Judiciário, a OAB pede liminarmente providências contra a resolução, em vigor desde 26 de junho e salienta que a regra do CJF “além de manifestamente inconstitucional, temcausado osmaioresatropelos ao exercício da defesa na fase inquisitiva”. O CJF, colegiado formado por cinco ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelospresidentesdos cincoTribunaisRegionaisFederais(TRFs), argumenta que a medida confere maior celeridade às investigaçõese avalia que“não há exercício de atividade jurisdicional no simples deferimento de prorrogação de prazo para a conclusãodas investigaçõespoliciais”. Para o CJF, essa tramitação “além de acabar tornando o órgão do Judiciário mero espectador, com função eminentemente burocrática da atividade realizada no bojo do inquérito, contribui desnecessariamente para o alongamento do procedimento e em nada influi na tutela judicial dos direitos fundamentais”.
Regra tem causado atropelos ao exercício da defesa, alegam advogados Os advogados estão indignados. A reclamação ao CNJ é subscritapelopresidentenacional da OAB, Cezar Britto, e pelo secretário-geral adjunto do Conselho Federal da OAB, Alberto Zacharias Toron. Os advogados veem riscos de “abusos e descontroles” na nova sistemática. Eles avaliam que todos os procedimentos de investigaçãopolicialdevempassar pela análise do Judiciário, incluindo os pedidos de ampliação de prazo para os inquéritos. Pedem o restabelecimento “do dever de os magistrados apreciarem os pedidos de vista que lhes sejam dirigidos”. Segundo a OAB, o elo direto PF-Procuradoria “incorre em manifesta inconstitucionalidade formal e material” e a resolução “invadiu a esfera de competência do legislador e dispôs de maneira antagônica à regra constante do Código de Processo Penal (CPP)”, que em seu artigo10diz queojuizécompetente para autorizar dilação processual. Para os advogados, a resolução restringe o direito de defesa”. ● FAUSTO MACEDO
● Edição das
23h15
o estado de s. paulo
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
SEGUNDA-FEIRA
Vazamento faz MEC substituir consórcio do Enem
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
5 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42356
ESPORTES
Governo busca saída para romper contrato com o grupo que organizaria a prova, cujo sigilo foi quebrado pela elaboração do Enem, fará esse trabalho. O exame, que seria realizado no fim de semana passado, foi cancelado na quinta porque seu sigilo foi quebrado, conforme revelou o Estado. Dois suspeitos já foram indiciados por participar da trama do vazamento.Umterceiro,queseria funcionário de uma das empresas do consórcio e teria obtido o exame, ainda não apareceu. Depoimentos indicam que uma quarta pessoa possa estar envolvida. ● PÁGS. A16 e A17
FMI adota planos para ser ‘BC global’ Ideia é ampliar segurança contra crise Rolf Kuntz ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL
O FMI adotou o plano de se converter num banco central global – missão recomendada pelo G-20. Segundo DominiqueStrauss-Kahn, diretor-geral do FMI, a crise evidenciou a necessidade de criar fundos de segurança muito amplos. Na Bélgica, o premiê Herman
FRASE
“O tsunami virou minúscula onda, como você disse” Herman Van Rompuy Premiê belga, falando a Lula
Van Rompuy elogiou o presidente Lula ao citar a “marolinha”, chamando-a de “minúscula onda”. ● PÁG. B1
Data do exame sai nesta quarta ●●● A nova data do Enem e os detalhes sobre a organização da prova serão divulgados na quarta, segundo o ministro Fernando Haddad (Educação). Será preciso reimprimir mais de 4 milhões de cadernos de questões e enviá-los para cerca de 1.800 municípios. ● PÁG. A16
Brasilaparece em75ºno índicedaONU debem-estar O Brasil apareceu na 75ª posição no Índice de DesenvolvimentoHumano(IDH),conforme o relatório de 2009. O País continua tendo “desenvolvimento humano elevado”, mas, embora não seja mais o lanterna desse grupo, segueatrás doslatino-americanos Chile, Argentina, Uruguai,Cuba,México,Venezuela e Panamá. ● PÁG. A18
CADERNO 2
DOLORES OCHOA/AP – 26/10/2007
Morre Mercedes Sosa
●●● Buenos Aires deu adeus à cantora Mercedes Sosa, voz da luta contra a ditadura na América Latina. ●
Censura reflete caos, diz ONG Para a Repórteres Sem Fronteiras, o caso do Estado é resultado da “bagunça jurídica” no Brasil. ● PÁG. A8 ●●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 66 DIAS q PÁG. A8
7 8 9 10 11 12
NOTAS E INFORMAÇÕES
Por enquanto, juntar reservas O FMI já começou a mudar. O acesso é fácil e os governos não têm a obrigação de cumprir metas. Mas, por enquanto, melhor é confiar em um bom volume de reservas. ● PÁG. A3
●●●
Tempo: CAPITAL
28ºMÁX.
A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 10 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 8 ● L. Link: 8 Classificados: 101 anúncios
●● O Palmeiras mostrou por
que lidera o Brasileiro. Bateu o Santos por 3 a 1, de virada, na Vila Belmiro. A vitória, com gols de Diego Souza (foto), Robert e Vagner
Índios tentam vitória inédita nas eleições de 2010
Zelaya quer acordo que prevê anistia mais ampla
Os índios brasileiros pretendem eleger ao menos cinco deputados federais e formar uma bancada forte em 19 Estados.Puxadoresdevotosserão lançados para a Câmara, comoAlmirSuruí, deRondônia,Sandro Tuxa, da Bahia, e Júlio Macuxi, de Roraima. O PartidoVerde éomais cortejado por eles. ● PÁG. A4
A proposta de anistia prevista no acordo que tenta pôr fim à crise em Honduras tornou-se mais um ponto crítico, relatam Denise Chrispim Marin e Lourival Sant’ Anna. O deposto Manuel Zelaya quer o perdão também para a retirada de US$ 2,13 milhões que usou para financiar um plebiscito. ● PÁG. A9
Love, manteve o time cinco pontos à frente do segundo colocado, o São Paulo, a 11 rodadas do final. “Está dando gosto jogar nesse time”, resumiu o goleiro Marcos. ●
Carnaval
Versos de Martinho para celebrar Noel ●● Vila Isabel escolhe samba do compositor no centenário de seu maior poeta. ● PÁG. C6
São Paulo
Estrangeiros vão à cracolândia ●● Russos, africanos, árabes
● PÁG. C2
eamericanosconsomemdrogas na região. ● PÁG. C1
14º MÍN.
Sol aparece após nevoeiro de manhã e não chove na capital.
Hoje: 62 páginas
Palmeiras exibe sua força CLAYTON DE SOUZA/AE
O Connasel, consórcio que havia sido contratado para aplicaroEnem,serásubstituído, informam os repórteres Renata Cafardo e Vannildo Mendes. A decisão ainda não foi oficializada porque o Ministério da Educaçãobuscasoluçõesjurídicas pararomper o contrato, por falha de segurança. O MEC não definiu se uma nova empresa ficará a cargo da organização do teste ou se o próprio Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, responsável
Android: um novo sistema de celular ●● A Google traz ao Brasil os
primeiros aparelhos capazes de importar contatos de e-mail e de redes sociais. ●
DEBATE ESTADÃO
Eleição na USP: a hora dos projetos ●● Evento com candidatos a reitor será amanhã. Inscreva-se pela internet. ● PÁG. A18
A8 NACIONAL
SEGUNDA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 66 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Repórteres Sem Fronteiras vê ‘bagunça jurídica’
MARCOS DE PAULA/AE -23/7/2008
Chefe da principal ONG em defesa do jornalismo no mundo aponta viés ‘caricatural’ nas posições do TJ-DF Roberto Almeida
De Paris, Benoît Hervieu exerce, no escritório da Repórteres Sem Fronteiras para as Américas, um dos principais cargos na mais respeitada organização não-governamental de proteçãoaojornalismo mundial.Filósofo, sociólogo e jornalista, Hervieu acompanha de perto o périplo judicial que envolve a censura ao Estado. “A fronteira perfeita entre a Justiça e o poder político não existe em todos os países. Mas o problema é que esse caso é realmente uma grave caricatura da situação brasileira”, resumiu. Os 66 dias de mordaça e o vaivém do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), quenaúltimaquarta-feirasedeclarou sem competência no caso e decidiu enviar o processo à Justiça maranhense, levaram o chefe da Repórteres Sem Fronteiras a classificar o caso como “bagunça jurídica”. “Uma censura prévia é injusta, mas uma incompetência jurídica que decidemantê-laéincrível.Éjuridicamente nonsense”, observou. Otermomais usado por Hervieu, na entrevista por telefone ao Estado, foi “incompreensível”. Ele lembrou, passo a passo,como setivesse coma crono-
logia da mordaça em mãos, as “incoerências” da atuação da Justiça. Segundo ele, do exterior é “muito difícil” entender o que está acontecendo. De maneira sucinta, o especialista francês foi à essência do caso. “Existe uma investigação judicial e podem existir erros de parte da mídia, é verdade, mas é uma informação de interesse público, uma investigaçãosobreumapessoaimportante, Fernando Sarney, filho de
Francês diz que acompanha atento a mordaça imposta ao ‘Estado’ um ex-presidente do País e agora presidente do Senado, José Sarney. Então por que proibir umjornal de falar disso?”,questionou o chefe da ONG. Para responder à sua própria pergunta, ele comparou a censura ao Estado com casos semelhantes ocorridos em todo o País. “Isso que é caricatural. No Brasil, o filho do governador é o neto do delegado, que é o filho do juiz. Isso explica tantas medidas de censura prévia contra a imprensa.”
“É normal que nesse contexto a Justiça se pronuncie a favor de políticos que estão muito próximos de instituições jurídicasoupoliciais”,afirmouoespecialista. “Ouvimos muito sobre isso sobretudo nas regiões Norte e Nordeste.” O País estaria privado, portanto, de uma Justiça imparcial, na opinião de Hervieu. “A regra é a imparcialidade, mas Dácio Vieira, o desembargador queacolheualiminarquecensurou o Estado, era ou ainda é uma pessoa próxima do senador José Sarney. Nós já havíamos mencionado esse conflito de interesses”, anotou. Para o francês, o envio do caso ao Maranhão, berço da família Sarney, é uma “contradição flagrante” e só agrava a situação.“Temosumproblemadelugar”, disse. “Todos os brasileiros sabem perfeitamentequeafamíliaSarney tem bastante presença lá. O prédio do Fórum em São Luís chama-se Desembargador Sarney Costa! É o pai de Sarney! Vaiserdifícil tergarantiadeimparcialidade, de Justiça neutra”, opinou. ‘SÍMBOLO RUIM’
Mais do que um caso de censura prévia, a mordaça ao Estado
CONTRADIÇÃO – Para Hervieu, censura indica problema básico da liberdade de expressão no País hoje
FRASES
Benoît Hervieu Chefe da ONG Repórteres Sem Fronteiras para as Américas “Isso que é caricatural. No Brasil, o filho do governador é o neto do delegado, que é o filho do juiz. Isso explica tantas medidas de censura prévia contra a imprensa” “O que podemos esperar agora é que o caso do Estadão seja julgado, retomado, em níveis superiores, como no Superior Tribunal de Justiça. Assim poderá fazer jurisprudência para acabar com esse método de censura prévia que lembra o período da ditadura”
nocasodosSarneyéum“símbolo muito ruim”, na opinião de Hervieu. A palavra-chave, segundo ele, é “jurisprudência”. O diretor da ONG ressaltou que há poucos meses, precisamente no dia 30 de abril deste ano, a Lei de Imprensa, do tempodaditadura,foienfimrevogada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e a queda da liminar poderia criar a base para decisõesemcontenciosossemelhantes. Ele sublinhou casos de jornalistas que respondem a até 33 processos por denunciar o desmatamento no Pará. “Oquepodemosesperaragora é que o caso do Estadão seja julgado,retomado,em níveissuperiores,como noSuperior Tribunal de Justiça. Assim poderá fazer jurisprudência para acabar com esse método de censu-
ra prévia que lembra o período da ditadura”, explicou. FISCALIZAÇÃO
De acordo com Hervieu, a Repórteres Sem Fronteiras, além deacompanhardeperto asituaçãodecensuraaojornal,acredita que ocaso é impactante e merece atenção redobrada, porque aponta um problema básico da liberdade de expressão brasileira. O objetivo, destaca, é sensibilizar a opinião internacional. “Não pode haver censuraquandoexisteumaConstituiçãoque proíbeobstáculosaodever de informar.” O Estado aguarda a publicação da decisão judicial para tomar providências. Pode apelar ao STJ ou ao STF ou ainda tentar barrar o envio do processo para o Maranhão. ●
apresenta:
O EFEITO OBAMA Seminário de Estratégia de Comunicação e Marketing da The George Washington University
15 e 16 de outubro de 2009 Ben Self • Scott Goodstein • Peter Giangreco • Jason Ralston Os principais responsáveis pela estratégia de campanha do Presidente Barack Obama estarão aqui. E você?
Na
Berlinda Yeda Crusius, governadora do Rio Grande do Sul, é a convidada do programa Roda Viva desta segunda.
Local: Hotel Renaissance - SP Inscrições: Site: www.oefeitoobama.com.br TEL: (11) 3521-7035 / 3521-7065 (2a a 6a - horário comercial) Email: vendas@heventos.com.br
Hoje às 22h10, na TV Cultura. Acompanhe e participe ao vivo do programa a partir das 18h30 na internet. www.iptvcultura.com.br
Contribuir para a formação crítica do homem para a cidadania é a missão da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da Televisão Cultura, Rádio Cultura Brasil e Rádio Cultura FM, Cultura Marcas, Cultura Serviços, Cultura Data, RadarCultura e TV Rá Tim Bum. É uma organização sem fins lucrativos, cujos resultados são revertidos integralmente na produção de conteúdos.
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
6 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42357
MEC estuda marcar Enem para o início de dezembro A nova prova do Enem deve ser aplicada no último fim de semana de novembro (28 e 29) ou no primeiro de dezembro (5 e 6). Para o MEC, essas datas são as quemenosprejudicariam aparticipação de candidatos em vestibulares de universidades públicas. Universidades federais admitiram adiar o início das aulas em 2010 para poder usar a nota do Enem. ● PÁGS. A15 e A16
FABIO MOTTA/AE
DEBATE ESTADÃO Evento reúne os candidatos a reitor da USP
REAÇÃO – Estudantes se concentram no Palácio Capanema, sede do MEC no Rio, ao fim de passeata contra o vazamento da prova do Enem: mais três foram indiciados pela fraude
Pressão faz Honduras sustar estado de sítio O governo de facto de Hondurasanuncioua revogaçãodo decreto que instaurou o estado de sítio desde o dia 26, informa a enviada especial Denise Chrispim Marin. O recuo se deu em meio a intensa pressão externa e a sinais de discordância entre
simpatizantes do regime, por causa dos efeitos da suspensão das liberdades individuais. O fim do estado de sítio era condição do presidente deposto, Manuel Zelaya, para a tentativa de diálogo que a Organização dos Estados Americanos pretende
mediar nesta semana. Na Turquia, o FMI e o Banco Mundial, que reconhecem só o governo de Zelaya, informaram que Honduras receberá ajuda assim que a situação se normalizar, relata o enviado especial Rolf Kuntz. ● PÁGS. A9 a A12
FRASE
“(A volta de Zelaya ao poder em Honduras) é uma questão para o diálogo” Roberto Micheletti Presidente de facto
Envelhecimento rende Nobel ●● Estudo da
degradação decromossomos é de trêsamericanos. Entre eles, Elizabeth Blackburn.
KIM WHITE/REUTERS
Normalidade era condição de Zelaya para negociar fim da crise
MEDICINA
● PÁG. A17
São Paulo
Dobram fraudes em postos de gás Adulteraçãodos medidores aumenta o risco de explosão. ● PÁG. C1
●● O Estado promove hoje, às 10h30, debate entre os 8 candidatos à reitoria da USP, com transmissão pela TV Estadão (estadao.com.br). ● PÁG. A16
Varejo já vende em até 17 prestações ‘sem juros’ Nunca as lojas ofereceram prazostãolongosparaparcelamento sem juros no próprio cartão decrédito.Emsetembro, aoferta chegou a 17 parcelas. Mas os parcelamentos embutem pesados encargos financeiros – entre 30% e 35% – no preço anunciado, que são imperceptíveis ao consumidor. ● PÁGS. B1 e B3 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 67 DIAS q PÁG. A8
●●
PT-SP reage a Ciro e quer ter candidato
PROFISSÃO
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
CADERNO 2
OLIMPÍADA q ANÁLISES
Natália Rodriguez Jornalista catalã
Como se escolhe a cidade olímpica?
Marta defende Palocci para governador
A honra de sediar os Jogos Olímpicos não é concedida ao discurso de um líder, por mais carismático que ele seja, nem à candidata que tem mais instalações e os melhores balanços econômicos. É concedida à cidade que seja capaz de comover o mundo. ● PÁG. E3 ●●●
Setores do PT ligados a AntonioPalocci se juntaram a Marta Suplicy para ressuscitar a tese da candidatura própria emSãoPaulo.É reaçãoaodesconforto causado pela ideia de que o partido é refém de Ciro Gomes(PSB-CE) –que,a pedi-
NOTAS E INFORMAÇÕES
Brasil credor, sem milagre O Brasil credor do FMI é simplesmente isso: um país mais produtivo, menos sujeito a grandes surtos de inflação, mais aberto e com um padrão fiscal melhor do que teve durante décadas. ● PÁG. A3
do do presidente Lula, cogita lançar-se ao governo estadual. “Acho que estamos chegando à percepção de que a candidatura Ciro não tem nadaavercomSãoPaulo”, declarou Marta, que defendeu o nome de Palocci. ● PÁG. A4
Tempo: CAPITAL
32º MÁX.
Imagens do caos
● PÁG. C2
17º MÍN.
Tempo abafado. Pode chover à tarde.
RECEITA – ‘Não fico pelada, fico nua’, diz Carla Barbisan
Imóveis e nus, pela arte
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Hoje: 72 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 14 Classificados: 457 anúncios
E
les estão nos ateliês, imóveis e nus. A cada 20 minutos numa única posição, têm direito a 30 segundos de relaxa-
mento. “A melhor sensação é saber que você contribuiu para uma obra de arte”, diz Cristina Ferrantini, modelo-vivo. ● PÁG. C10
●● Exposição de Robert Polidori mostra a composição do desastre. ●
VIAGEM AVENTURA &
Muita estrada
●● Sete dias para percorrer a Califórnia, um Estado que parece cenário. ●
Dora Kramer
Seriedade não se dispensa Lula adotou discurso sóbrio na cerimônia em que o Rio foi escolhido. Não fez jus a isso quando disse, no rádio, que o Brasil não deve se preocupar com gastos. ● PÁG. A6 ●●●
A2 ESPAÇO ABERTO
TERÇA-FEIRA, 6 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Capital da acerola
Nem continuísmo nem golpismo
XicoGraziano
AloizioMercadante
Pequenina, de um vermelho vivo encantador, a acerola fascina os nutricionistas. Seu elevado teor de vitamina C vence fácil o famoso suco de laranja. Mais interessante, porém, é conhecer a história dos seus fruticultores, lá no interior paulista. Exemplo de empreendedorismo rural. Tudo começou em 1990. O município de Junqueirópolis, situado na Nova Alta Paulista, procurava novos caminhos de desenvolvimento, após um período desanimador. Acreditando na força da união, um grupo de 44 pequenos produtores rurais se associou para trabalhar em conjunto. Começava a mudar sua história. Boa parte do Oeste Paulista abriu seus territórios à expansão agropecuária após a grande crise do café, ocorrida em 1929-1930. Quebrada a economia exportadora da época e perdida a hegemonia da oligarquia cafeeira, novos atores entravam em cena. As crises econômicas, sempre, ao derrubar alguns, abrem oportunidades a outros. Nessa transição da econo-
Junqueirópolis achou na fruta um novo caminho de desenvolvimento mia paulista, lavouras e pastagens avançaram sobre os cerrados da região central do Estado, tomando Bauru como referência. A mancha de ocupação se expandiu rumo ao Rio Paraná, devastando extensas áreas de florestas nativas, um golpe de misericórdia nas populações indígenas. Os ramais da estrada de ferro emprestaram seu nome às recentes regiões, especialmente a Sorocabana (Presidente Prudente) e a Paulista (Marília). Nessa época, entre as décadas de 1940 e 1950, o carro-chefe da economia rural era puxado pelo algodão. Ciclo anual, exigente em fertilidade e susceptível às pragas e doenças, aquela cotonicultura baseada em incipiente tecnologia gerava riqueza tanto quanto empobrecia o solo. Vieram as erosões no terreno, criando terríveis voçorocas, assoreando os córregos. Nada, porém, segurava o ritmo do progresso. O ramal da Paulista ultrapassou Marília e seguiu rumo a Mato Grosso, o trem servindo como ponta de lança para a exploração daquela paisagem ondulada. Junqueirópolis inaugurou sua estação em 1959, nesse momento já interessado no escoamento da produção dos seus cafezais, cultura que retornou com força após a euforia do algodão. Pode-se afirmar que a Nova Alta Paulista prosperou até a década de 1970, basicamente, e
desgraçadamente, roubando a fertilidade natural do solo, acumulada por séculos de decomposição orgânica nas intocáveis florestas que ostentava. Seguia, assim, o padrão tradicional da expansão da fronteira agrícola. Seguiu-se uma lenta tragédia econômica. Crises de mercado somaram-se ao esgotamento dos solos. Geadas e secas terríveis assolaram o campo. Pragas e doenças surgiram nas lavouras. Chegou o êxodo rural, levando milhares de agricultores a deixarem suas terras à procura da esperança. A região perdeu população e se empobreceu. Mas do desânimo generalizado se acendeu uma luz. Surgia a Associação Agrícola de Junqueirópolis, agrupada, inicialmente, pelo interesse na venda do maracujá, cultivo bom naqueles dias. Depois, pesquisando alternativas de produção, descobriram-se as vantagens da acerola. Contando com ajuda dos agrônomos da Casa da Agricultura, iniciou-se a nova jornada. O governo estadual contribuiu com tratores e equipamentos. Resultado: em cinco anos o município passou a ser conhecido como a “capital da acerola”. Uma história fantástica. A evolução tecnológica dos fruticultores não cessa. Nesta semana, durante as festividades da 11ª Aceruva, a Associação Agrícola de Junqueirópolis recebe, com ajuda do Sebrae, o certificado do GlobalGap, o mais importante selo de qualidade, mundialmente reconhecido, direcionado ao comércio europeu. Boas práticas agrícolas, respeito ao meio ambiente, trabalho valorizado. Mercado garantido. As deliciosas acerolas de Junqueirópolis correm o mundo, principalmente destinadas ao Japão e à Europa. Da produção total da fruta, cerca de 60% segue exportada, em polpa congelada, para a fabricação de sorvetes, sucos, cremes e demais guloseimas. Boa parte dos 175 hectares cultivados com acerola no município atende ao mercado interno in natura, incluindo alguns programas, ainda incipientes, de merenda escolar. Na colheita da fruta, durante meses, ocupam-se 500 pessoas. Fartura no emprego rural. Fruta recentemente descoberta pelo mercado, a acerola, também conhecida como cereja das Antilhas, surpreende os consumidores em razão do seu elevado teor de vitamina C, que chega a ser cem vezes maior que o encontrado no limão ou na laranja. Para se ter uma ideia, apenas duas frutinhas por dia suprem o organismo humano desse nutriente elementar. Espanta a gripe. Se Vasco da Gama, navegador português, soubesse disso, não teria perdido tantos tripulantes em sua viagem à procu-
ra da rota marítima para as Índias. O escorbuto, terrível doença resultante da grave deficiência orgânica de vitamina C, causou a morte de milhares de europeus na época dos descobrimentos. Hoje bastaria um copo de suco de acerola para curar o sangramento nos porões dos navios. Histórias de sucesso dependem de pessoas. A trajetória bem-sucedida da Associação Agrícola de Junqueirópolis não vingaria sem o idealismo do seu líder, o agricultor Oswaldo Dias. Quieto, como bom caboclo, curioso, como gente inteligente, ele persistiu até convencer os seus pares a fugirem da descrença, investindo em organização e tecnologia. Hoje, passadas quase duas décadas, ele se orgulha das realizações coletivas, que, agora, aglutinam 67 lutadoras famílias rurais. A atitude proativa devolveu a todos, como diz, “a alegria de ser agricultor”. Autoestima. O otimista pode errar, mas o pessimista já começa errando. Quem afirmou foi Juscelino Kubitschek. Valeu para os agricultores de Junqueirópolis. ● Xico Graziano, agrônomo, é secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xico@xicograziano.com.br Site: www.xicograziano.com.br
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
Vamos ter que rebolar
FÓRUM DOS LEITORES IDHnuncaantesvisto Para azar do presidente, seus ministros e simpatizantes, nem o petróleo, nem a Copa do Mundo, nem a Olimpíada servem para a medição do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Menos ainda arroubos diplomáticos contraditórios e inoportunos ou emprestar dinheiro a países vizinhos e até mesmo ao FMI. O que conta é mortalidade infantil, expectativa de vida, ambas atreladas à qualidade da saúde e do ensino, áreas em que o investimento é sempre abaixo do necessário. Os incontáveis bilhões de reais a serem postos nas cidades brasileiras vão maquiar o trajeto dos turistas, encher os olhos dos torcedores. Nas periferias da festa, entretanto, as crianças continuarão, caso sobrevivam, a ter educação
da pior qualidade, isso quando não se atiram precocemente ao mercado do tráfico. E os idosos e aposentados permanecerão afastados da vida, por conta de sua sobrevivência a cada dia menos valorizada. É o reflexo do governo que nunca antes se viu, em lugar nenhum, diga-se. RONALDO PARISI rparisi@uol.com.br
São Paulo
Os critérios de elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) têm de ser revistos urgentemente. Uma classificação que coloca Cuba e Venezuela na frente do Brasil só pode ser uma piada. ●
HANS PETER HEILMANN hpheil@terra.com.br
São Paulo
No plano internacional ninguém tem dúvida: o que aconteceu em Honduras foi um golpe militar clássico contra um governo legitimamente constituído. A Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) e o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) manifestaram-se, por unanimidade, pela dura condenação do governo golpista de Tegucigalpa. A OEA, aliás, já suspendeu Honduras de sua organização com base na Carta Democrática Interamericana. A União Europeia, a Unasul, e o Mercosul, para citar apenas alguns atores internacionais relevantes, também condenaram o golpe. Nenhum governo democrático reconhece o regime de Tegucigalpa e todos condenam o cerco à nossa embaixada. Entretanto, no plano interno, há aqueles que ainda tentam justificar o injustificável, pondo em dúvida o golpe e atacando a correta posição no Brasil e da comunidade internacional no episódio. Além da óbvia motivação política em atacar um governo de grande popularidade, o que move esses críticos é também um equívoco monumental: confundem a imprescindível condenação do golpe com um apoio aos desmandos do governo Zelaya. Ora, Manuel Zelaya, um po-
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Olimpíada2016 Não tenho mais dúvidas, Deus é brasileiro. Deu-nos a Olimpíada. Houve lágrimas de alegria. Será muito bom para o Rio de Janeiro, para o País. Mas, brasileiros e brasileiras, preparem-se: os bônus ficarão com alguns e os ônus serão divididos entre todos nós, com aumentos nos já salgados impostos, mais carga tributária porque a conta é alta. Que Deus nos ajude, também, a pagar as contas. Obrigado, Senhor. ARCANGELO SFORCIN FILHO arcangelosforcin@gmail.com
São Paulo
Nossa Olimpíada deveria começar com transparência e honestidade, com o COB divul●
lítico oriundo de família tradicional e conservadora, eleito pelo histórico Partido Liberal, cometeu erros graves. A sua aproximação a Hugo Chávez e o consequente ingresso de Honduras na Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), motivado pela substancial ajuda financeira que o regime da Venezuela concedeu a Tegucigalpa, fizeram-no tomar atitudes temerárias e inconsistentes. A sua teimosia em implantar uma “quarta urna” nas eleições hondurenhas, na qual se votaria pela possibilidade de convocação de uma Assembleia Constituinte, ameaçou a ordem constitucional de Honduras, que tem como cláusula pétrea a proibição de reeleições. Assim, Zelaya merecia ter sido submetido a julgamento na Suprema Corte de Honduras. Mas não foi isso o que aconteceu. Entre a apresentação da denúncia contra Zelaya pelo fiscal general e a emissão da sentença transcorreram menos de 13 horas. Por mais célere e eficiente que seja a Corte Constitucional hondurenha, é fácil constatar que a Zelaya foi negado o devido processo e o direito à defesa. No dia do golpe, Zelaya foi retirado, sob a mira de armas de grosso calibre e ainda de pijamas, do palácio presidencial, sem que lhe tivesse sido apresentado qualquer documento legal. Ele foi banido do país, o que é vedado pelo artigo 102 da Constituição de Honduras. Partidários de Zelaya argumentam que a célere sentença da Suprema Corte foi expedida posteriormente ao golpe. No Congresso, convocado com urgência na mesma data do golpe, foi lida uma carta forjada de renúncia de Zelaya. Portanto, não houve deposição legal e constitucional de Zelaya. Houve um golpe disfarçado por um opaco e quebradiço verniz legal. Essa é a questão. Mas o maior equívoco desses críticos tange à participação do Brasil no episódio. O Brasil, embora tenha condenado o golpe na primeira hora, nunca buscou ser um protagonista de relevo na questão hondurenha. Esse protagonismo foi acidental. Zelaya, certamente reconhecendo o novo papel que o nosso país tem no mundo, claramente explicitado agora na magnífica vitória do Rio de Janeiro na disputa pela Olimpíada de 2016, escolheu a nossa missão para se abrigar. Ora, o Brasil jamais poderia ter negado abrigo ao único presidente legítimo de Honduras. Qualquer outro governo democrático e responsável teria feito a mesma coisa. Ao assumir, mesmo que acidentalmente, protagonismo decisivo em Honduras, o Brasil expressa o consenso latino-americano e mundial sobre o tema e desempenha o papel que lhe cabe na condição de potência regional responsável. Afinal, se os países latino-americanos
não conseguirem resolver seus próprios problemas, a sua diplomacia coletiva jamais poderá ter relevância. E se deixarmos que o golpe em Honduras prospere, criar-se-á um precedente muito perigoso para as frágeis democracias da região. A bola agora está com a OEA e a ONU, conforme o Brasil sempre defendeu. Têm razão, no entanto, aqueles que afirmam que o abrigo a Zelaya e a violenta reação do governo golpista de Honduras colocaram o Brasil numa situação incômoda. Mas o Brasil, com o apoio da comunidade internacional e da ONU, vem fazendo a coisa certa: deu abrigo a Zelaya e solicitou ao secretário-geral da OEA a mediação do conflito hondurenho. Ressalte-se, ainda, que o Brasil não é obrigado a dar asilo diplomático formal a Zelaya, como quer o governo Micheletti, pois a concessão do asilo é, pela Convenção Sobre Asilo Diplomático (1954), ato unilateral soberano do país que o concede, suscitado pelo pedido do interessado. Na realidade, pelas regras internacionais, Zelaya pode fi-
Entre essas duas mazelas políticas, devemos ficar do lado da democracia car hospedado em nossa embaixada pelo tempo que convier. Felizmente, o conflito de Honduras parece caminhar para o seu fim. Micheletti, que acabou de revogar o estado de sítio, já admite a volta de Zelaya, conforme o que preconizava o Plano Oscar Árias, e Zelaya agora concorda em submeterse ao devido processo legal na Suprema Corte. Diga-se de passagem, o plano de sete pontos desse prestigiado Prêmio Nobel da Paz, que diminui consideravelmente o poder do presidente eleito de Honduras e o impede de fazer novas consultas para mudar a Constituição hondurenha, foi plenamente aceito por Zelaya. Quem o rejeitou foi Roberto Micheletti, o que motivou a volta de Zelaya ao seu país com o intuito de forçar novas negociações. Nessa conjuntura delicada, temos de ter o claro discernimento de rejeitar tanto o populismo continuísta, que busca terceiros mandatos e nega a separação e a alternância de poder, quanto o golpismo, que afronta todos os princípios democráticos. Entre essas duas mazelas políticas da América Latina, devemos ficar, todos nós, do lado da democracia. ● Aloizio Mercadante, economista e professor licenciado, senador da República (PT-SP), líder do PT no Senado, é vice-presidente do Parlamento do Mercosul
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Empréstimoao FMI gando quanto gastou e quem pagou a conta da delegação brasileira a Copenhague. MARCILIO FAUSTINO m_faustino@uol.com.br
São Paulo
Choro Lula identificou uma importante lacuna nas qualificações de um governante: os que choram. Chorou de alegria ao saber que o Rio vai sediar a Olimpíada de 2016. Muito nobre! Porém deveria chorar de tristeza, como presidente de um país que está com a saúde em frangalhos, com gente morrendo nos corredores dos hospitais por falta de médicos e material cirúrgico; e também pelas fraudes
na educação, pois nem as provas do Enem deixam de vazar nas mãos da corrupção. Chorar de vergonha, pois a censura dos tempos do autoritarismo voltou, ao proibir o Estadão de informar à sociedade as falcatruas de seus aliados. Vamos todos chorar, porque a coisa está feia! SERGIO EDUARDO STEMPNIEWSKI sergueistemp@uol.com.br
São Paulo ● O choro do “cara” não foi de alegria, foi de tristeza quando imaginou o José Serra inaugurando o evento, no exercício do seu segundo mandato...
Se temos dinheiro sobrando a ponto de emprestar ao FMI, por que não diminuir os nossos impostos e enterrar em definitivo o projeto de nova CPMF? M. DO CARMO ZAFFALON LEME CARDOSO zaffalon@uol.com.br
Bauru
Fichalimpa Realmente, a maioria dos parlamentares tem ficha limpa. Durante os quatro anos não fizeram nada. VICENTE FRANCISCO GIL gilsaopedro@itelefonica.com.br
São Pedro
CAIO LUCCHESI cblucchesi@yahoo.com.br
São Paulo
Reservalegal Parabéns ao Estado pela reporta-
A8 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 6 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 67 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Juristas dão apoio ao ‘Estado’ na luta contra a censura
HÉLVIO ROMERO/AE
BRASÍLIA
Vice-presidente da Associação dos Advogados de SP diz que a proibição de dar informações semeia mais abusos Moacir Assunção
Juristas reunidos ontem em seminário na Associação dos Advogados de São Paulo (AASP) deram apoio ao Estado no combateàcensuraimpostapordecisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em 31 de julho. Liminar a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, JoséSarney(PMDB-AP),impede o jornal de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou negócios da família. Representante da AASP no encontro, quediscutiu a relação entrejornalistasejuízes,oadvogado Arystóbulo Oliveira de Freitas,vice-presidentedaentidade, disse que a censura não ajuda em nada, ao contrário, semeiamaisabusos.“Ninguémpode ser o senhor da distribuição dainformação”,criticou.Aatividade integrou o ciclo de estudos O Judiciário e a Sociedade. O advogado do Estado, ManuelAlceu AfonsoFerreira,disse ter ficado “muito satisfeito” com a solidariedade dos colegas. “Não resta dúvidas de que a nossa tese – de que, entre a liberdade de expressão e os direitos individuais do cidadão, deve prevalecer o interesse pú-
É ‘imperativo’ tirar caso do Maranhão, diz ONG na França A Repórteres Sem Fronteiras, principal ONG em defesa do jornalismo mundial, com sede em Paris, emitiu ontem nota sobre a censura ao Estado. A entidade classifica como “imperativa” a necessidade de mudar o local de audiência do processo, remetido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) para a Justiça Federal do Maranhão. “É incompreensível que o processo seja transferido para o Estado do Maranhão, cuja governadora se chama Roseana Sarney, irmã de Fernando Sarney. Como esperar uma Justiça imparcial em um fórum que tem, para cúmulo, o nome do avô do queixoso?”, questiona. O fórum de São Luís, citado pela ONG, chama-se Sarney Costa, pai do senador José Sarney e avô de Fernando Sarney. ● ROBERTO ALMEIDA ●● ●
blico – foi acolhida”, afirmou. Manuel Alceu contou que no material censurado pelo TJ-DF há “coisas de pasmar”. O jurista Walter Ceneviva disse que algumas medidas re-
centes,comoadeclaração deincompetênciadoTJ-DF,prejudicam a imagem do Judiciário. “Sãodecisões vergonhosas. Como se pode mandar o caso para alguém que é praticamente dono do Estado em que a questão será julgada?”, indagou. INCONSTITUCIONAL
Em debate sobre a extinta Lei de Imprensa, promovido ontem pelo Ministério Público Federal do Rio e pela Associação Nacional dos Procuradores da República,odeputadoMiroTeixeira (PDT-RJ) declarou que a mordaça decretada pelo Judiciário pode aparentar legalidade, mas fere a Constituição. “Acensurasemprefoiexercida pela polícia e, de repente, está no Judiciário, dando a impressão à população de que tem legalidade.Mas ela nãotem amparo constitucional”, frisou. ParaMiro,acensuraaoEstado cairá no Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Daqui a pouco chega ao STJ, onde, sobre censura, há decisões formidáveis. O advogado Manuel Alceu estátrabalhandocom aprudência de suprimir instâncias, em um exercício de sangue-frio, de paciência, para chegar a uma súmula vinculante.” ● COLABOROU MARCELO AULER
Corregedoria faz inspeção no Tribunal de Justiça do DF
JUNTOS – Manuel Alceu (na ponta) e colegas: ‘Nossa tese foi acolhida’
Uma equipe da Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai fazer uma inspeção na próxima semana noTribunaldeJustiçadoDistritoFederal–cortequemanteve a censura ao Estado e remeteu o caso ao Maranhão, mesmo após afastar o desembargador Dácio Vieira, autor da liminar. A providência foi tomada depois que o CNJ constatou, em agosto, que existiam na corte 4.904 processos esperando sentenças havia mais de cem dias. Outras 4.677 ações estavam paradas por mais de três meses. Em 2008, o TJ-DF gastou R$ 1,1 bilhão – e 97% do valor foi consumido com recursos humanos, como salários, férias, gratificações, passagens,diáriaseverbasdegabinete. Em relação a outros tribunais, alerta o conselho, o TJ-DF tem o maior número de servidores por 100 mil habitantes e a menor quantidade de processos em tramitação por funcionário. Umaequipedejuízeseservidores vai fazer a inspeção. Eles visitarão varas da Justiça de primeira instância, gabinetes de desembargadores e cartórios extrajudiciais. “Somente a verificação in locopermitiráavaliaçãoconsistente sobre o funcionamento dos serviços, a fim de que sejam tomadas as medidas necessárias”, disse o corregedor de Justiça, Gilson Dipp, na portaria em que determinou a inspeção, marcada para começar no dia 13. ●
0h15
o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Marcada para 5 e 6 de dezembro, prova vai coincidir com outros exames ciou que deixará de adotar a nota por causa do adiamento do exame, causado pelo vazamento da prova, revelado pelo Estado na semana passada. Para USP, Unicamp e Unesp, o Enem equivale a até 20% da nota para a maioria dos alunos. Das federais cujo vestibular
Governo estuda mudar tributação sobre fundos
coincidirá com o Enem, a de Brasília mudou a data (12 e 13 de dezembro) e duas outras ainda não decidiram o que fazer. Com o adiamento do Enem, o Ministério da Educação prorrogou o prazo para alunos que quiserem mudar a cidade em que farão a prova. ● PÁG. A15
(1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
7 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42358
Nova data definida para o Enem atrapalha vestibulares OnovoExameNacionaldoEnsino Médio (Enem) será feito nos dias 5 e 6 de dezembro. Com isso, o uso da nota em universidades públicas paulistas se torna difícil. O Enem não deverá contar pontos ao menos na primeira fase da Fuvest, que seleciona paraaUSP.AUnicampjáanun-
JULIO MESQUITA
Esquema do furto foi simples ●●● A Polícia Federal concluiu que o furto das provas do Enem na gráfica responsável não exigiu nenhum esquema sofistica-
do. Um dos indiciados levou o exame na cueca; o outro, enrolado numa blusa. Nenhum dos dois foi revistado. ● PÁG. A16
DEBATE ESTADÃO
Candidatos a reitor querem desburocratizar gestão da USP Em debate no auditório do Grupo Estado, ontem, os oito candidatos a reitor da USP mostraram consenso sobre a necessidade de uma gestão mais democrática e menos burocrática. Alémdisso,elesconsideram necessárioampliararepresentatividade de seu conjunto de professores, funcionários e estudantes, para torná-lo capaz de dialogar com a sociedade e influenciarna formulação de políticas públicas. ● PÁGS. A18 e A19
MST saqueia fazenda em SP e derruba 7 mil pés de laranja
ISTAMBUL: PROTESTOS CONTRA O FMI
O governo estuda mudar a tributação dos fundos de investimento para torná-los mais atraentes. A ideia é que o Imposto de Renda sobre o rendimento incida só uma vez por ano. Hoje, é pago a cadasemestre.Os fundosdefendiam mudanças por causa da concorrência da poupança – em setembro, a captação líquida das cadernetas foi de R$ 3,51 bilhões, segunda maior do ano. ● PÁGS. B1 eB3
Integrantes do MST são acusadosderoubarlaranjas e equipamentos da Fazenda Santo Henrique, da Cutrale, em Borebi (SP). Os militantes, que invadiram a área em setembro, usaram tratores da empresa para destruir 7 mil pés de laranja. A Cutrale obteve liminar de reintegração de posse. ● PÁG. A8 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 68 DIAS q PÁG. A8
Nobelpremia basesparao mundodigital dainformação
CADERNO 2 Pop no último
O Nobel de Física premiou o sino-britânico Charles Kuen Kao, por seu trabalho com fibras ópticas, e os americanos Willard S. Boyle e George Smith, inventores de sensorquecapturaaluzeletronicamente, criando a fotografia digital. Os trabalhos são da década de 60. ● PÁG. A16
●● Vêm aí
The Killers, Primal Scream, Pet Shop Boys e Franz Ferdinand (foto). ●
Infância
Prostituição para comprar celular
OLIMPÍADA q ANÁLISES
Ideal olímpico Estaremos atentos a essa transformação do Rio real num Rio olímpico, platônico, onde o belo e o bom corram juntos. ● PÁG. D14 ●●●
Marcos Sá Corrêa
Recorde verde A promessa é plantar 24 milhões de árvores no Rio. Parece demais. E tudo o que é demais, aqui, acaba sendo de menos. ● PÁG. A20 ●●●
7 8 9 10 11 12
●● Telefone é o item mais ad-
OSMAN ORSAL/REUTERS
Roberto DaMatta
quirido pelas meninas, mostra pesquisa. ● PÁGS. C1 e C3
Minas Gerais ●●● Manifestantes tentam fugir
de gás lacrimogêneo lançado por policiais durante protesto contra
a assembleia conjunta do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial em Istambul, na Tur-
quia. Uma pessoa morreu e 100 foram presas. Na avaliação do FMI e do Bird, os países emergen-
Tempo: CAPITAL
NOTAS E INFORMAÇÕES
● PÁG. C2
A discussão que interessa já
27º
O que precisa ser discutido são as ameaças contidas em medidas adotadas pelo governo,
Tempo abafado e previsão de temporais em todas as áreas do Estado.
●●●
como o aumento dos vencimentos do funcionalismo e dos benefícios previdenciários. ● PÁG. A3
MÁX.
17º
MÍN.
tes terão de continuar puxando a economia global, relata o enviado especial Rolf Kuntz. ● PÁG. B8
Hoje: 76 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 4 ● G. Agrícola: 12 Classificados: 171 anúncios
Ladrão devolve cruz, 60 anos depois Igreja de Mariana recebeu peça pelo Correio, com pedido de perdão. ● PÁG. C7
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agrícola Cortadores de cana trocam os facões pelas colhedoras computadorizadas. ●
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NICKY LOH/REUTERS
● Edição de
A8 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 7 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 68 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Não pode haver censura prévia’, diz Ayres Britto Ministro do STF e presidente do TSE, ele destaca que ‘não há meia liberdade de imprensa’ Moacir Assunção
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, fez ontem um ataque direto à censura prévia e às tentativas de calar a imprensa, ao discutir a democracia brasileira no Encontro Nacional de Procuradores Municipais, em São Paulo. “Nãopodehavercensurapré-
via. Nenhum juiz pode fazer isso. Não existe meia liberdade de imprensa, assim como não hámulhermais oumenos grávida”, comentou o ministro. AyresBrittonão citoudiretamente o caso do Estado, censurado desde 31 de julho pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) após uma ação do empresário Fernando Sarney,filhodopresidentedoSenado, José Sarney (PMDB-AP),
Mendes cobra ação do Congresso ●● ● O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, disse ontem que o Congresso precisa aprovar regras para disciplinar as ações relacionadas à liberdade de imprensa e citou o caso do Estado. “Esse episódio, agora, a propósito desse conflito
com O Estado de S. Paulo, está a mostrar que há alguma perplexidade”, afirmou. “Qual é a regra que disciplina a competência?” Para Mendes, é preciso regulamentar o tema, sem parâmetros desde a derrubada da Lei de Imprensa. ● MARIÂNGELA GALLUCCI
QUESTÃO AGRÁRIA
MST destrói 7.000 pés de laranja da Cutrale Acusados de saquear fazenda, dois militantes são presos levando caixas da fruta, máquinas e ferramentas da propriedade em caminhão-baú POLICIA MILITAR/DIVULGAÇÃO
José Maria Tomazela SOROCABA
Integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) são acusados de saquear a Fazenda Santo Henrique, do grupo Cutrale, invadida desde 28 de setembro. A área fica em Borebi, região de Bauru, a 320 quilômetros de São Paulo. Um caminhão-baú transportando 12 caixas de laranja a granel, máquinas, ferramentas e uniformes subtraídos da propriedade foi apreendido na madrugada de ontem no km 248 da Rodovia Castelo Branco. Os dois acusados, José Alves de Lima Neto, de 52 anos, e Ivanildo Cosmo de Oliveira, de 49, contaramaodelegadoJoséCardoso de Oliveira que pegaram as frutas porque elas iriam apodrecer. Foram presos em flagrante por furto qualificado. Os 350 militantes tomaram a casa-sede, escritórios e instalações. Eles usaram tratores da empresapara destruir 7 mil pés delaranja,segundo aPolíciaMilitar, que filmou a ação de um helicóptero. Os colonos foram expulsos e as casas, invadidas. Os imóveis estão pichados. A Cutrale conseguiu liminar de reintegração de posse para desocupação em 24 horas. Segundo Márcio Santos, da coordenação estadual do MST, a área pertence à União. “Trocamos a laranja, que vai para o exterior, por alimento para acampados.”A Cutraleinformou que tem a posse legal das terras e a fazenda é produtiva. BALANÇO
O MST mantém outras sete fazendas invadidas no interior de São Paulo, para pressionar pela reforma agrária no Estado. Algumas foram ocupadas por dissidentes, com apoio de sindica-
Quatro dias após ser arquivada por uma manobra da base governista,a ComissãoParlamentar de Inquérito (CPI) do MST pode ressurgir como CPI do Campo. Patrocinado pela bancada do DEM, o requerimento de criação da nova comissão já circula pelo Congresso e precisará do apoio de, no mínimo, 27 senadores e de 171 membros da Câmara. Os deputados Onyx Lorenzoni (RS) e Ronaldo Caiado (GO) e a senadora Kátia Abreu (TO), signatários do requerimento, amparam-sena invasãopromovida pelo MST à fazenda da Cutrale para conquistar apoio entre os parlamentares. “Eles não têm medo de nada. Nãotêm limites. O governoestá amparando, algumas vezes si-
RIO GRANDE DO SUL
Relatora rejeita tese de impeachment A deputada estadual Zilá Breitenbach (PSDB), relatora da comissão especial de admissibilidade do impeachment da governadora Yeda Crusius, pediu o arquivamento do processo. Na análise, ela entendeu que “não está presente justa causa para a abertura de processo por crime de responsabilidade contra a governadora”. Pelo rito, o parecer de Zilá será votado amanhã na comissão e na semana que vem no plenário.
Governador aciona tucano no STF
RASTRO – Imagem feita de helicóptero da Polícia Militar indica área onde sem-terra destruíram laranjal
Presidente do Incra se diz ‘indignado’ e critica sem-terra ●● ● O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, se disse “indignado” com a destruição de laranjais pelo MST. “Condeno com veemência esse comportamento, que não contribui para a reforma agrária e o diálogo”, afirmou. Hackbart declarou ter ficado chocado com as imagens da destruição. ● J.M.T.
tos ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Despejados da Fazenda Ponte Alta, em Agudos, 60 militantes do MST invadiram outra área próxima dali. Cerca de 170 sem-terra acamparam na Fazenda Boa Vista, em Itapetininga, região de Sorocaba. Também ali, desde 29 de setembro, estáinvadidaafazendadaEscola Técnica Prof. Edson Galvão. Em Dracena, na Alta Paulista, há cerca de 70 militantes na FazendaSantoAntônio.EmArco Íris, na região de Araçatuba, foi invadida a Fazenda Santa Clara. As duas áreas estão to-
madas por dissidentes ligados a José Rainha Júnior. Outro grupo, apoiado pela CUT, invadiu o Sítio Santa Marina, de apenas 31 hectares, em Pederneiras, a 320 quilômetros da capital. DEVEDOR
Em São Joaquim do Monte, agreste pernambucano, o MST ocupou ontem a FazendaCamaragibe,deumempresárioqueteveprisãodecretada por sonegação de impostos,lavagemdedinheiroeformação de quadrilha. ● COLABOROU ÂNGELA LACERDA
Destruição de lavoura em área invadida pelo MST motivou nova ofensiva BRASÍLIA
PeloBrasil
GOIÁS
Oposição volta a se mobilizar por CPI Carol Pires
mas ele deixou clara a sua opinião. “Basta ver os meus votos noSupremo,assimcomodosdemais ministros. É sempre contra qualquer tentativa de cercear a imprensa”, afirmou. O ministro afirmou não ter dúvidas de que ao se chocarem o direito à opinião e à expressão e o direito à privacidade e à proteçãodavidapessoal,ambosgarantias constitucionais, o primeiro deve prevalecer. A tese
lenciosamente, outras vezes através do Incra e do Ministério do Desenvolvimento Agrário, repassando recursos públicos por cooperativas de fachada, que foram criadas para que os recursos chegassem até o MST”, criticou a senadora, que também é presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). “Nós somos contráriosàinvasãodeterras, aoesbulho possessório”, disse. A ocupação irregular da fazendae asfortesimagensveiculadas na imprensa, de militantes do MSTdestruindo parte da plantação de laranja da área invadida, foram usadas como mote pelo DEM para ampliar o objeto de investigação da CPI. Alémdeinvestigardesviosverificados em convênios firmados entre a União e organizações ou entidades de reforma e desenvolvimento agrário, previstos
FRASES
Kátia Abreu (DEM-TO) Senadora “Eles não têm medo de nada”
Arthur Virgílio (PSDB-AM) Senador “Ele quer promover uma revolução estilo zapatista a partir do campo brasileiro”
Eduardo Suplicy (PT-SP) Senador
“O uso da violência não ajuda o próprio objetivo da realização da reforma agrária”
no requerimento arquivado, o novo documento propõe “diagnosticar a estrutura fundiária brasileira e, em especial, a execução da reforma agrária”. “Cerca de 77 milhões de hectares já foram usados no Brasil
para fins de reforma agrária, e apenas 3% estão emancipados,ouseja,orestanteatéhoje depende de dinheiro público para sobreviver. Isto precisa ser investigado também”, justificou Lorenzoni. A invasão suscitou discussão entre os parlamentares. O senador Romeu Tuma (PTB-SP)definiu asimagens do movimento destruindo os pés de laranja como “dantescas”.ArthurVirgílio(AM),líder do PSDB, questionou a intençãodomovimentonareformaagrária.“Ele querpromover uma revolução estilo zapatista, a partir do campo brasileiro.”OsenadorEduardo Suplicy (PT-SP) defendeu o movimento, mas alertou os militantes de que o uso daviolência“não ajudaopróprio objetivo da realização da reforma agrária”. ●
O governador Alcides Rodrigues Filho (foto) entrou com queixa-crime no STF contra o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB). O governador o acusa de crimes de calúnia, difamação e injúria. Segundo a queixa, em entrevista à rádio CBN, em maio, Leréia “partiu para a ofensa explícita”, acusando Alcides de ser responsável pelo endividamento das Centrais Elétricas de Goiás e chamando-o de “traidor” e “sem caráter”. DISTRITO FEDERAL
Negado registro ao Partido da Mulher O Partido da Mulher Brasileira (PMB), que solicitou registro no TSE no dia 1.º de outubro, não poderá disputar as eleições de 2010. Ao negar liminar ao PMB, o ministro Felix Fischer observou que, para concorrer, o partido tem de estar com estatuto registrado no TSE um ano antes do pleito. No pedido de registro, o presidente da comissão provisória do PMB solicitara autorização para a sigla participar da disputa do ano que vem. RONDÔNIA
“Cabe ao Estado o embargo na referida obra por ausência de autorização legal”
Deputado estadual Tiziu (PP), ao cobrar a instalação de CPI para apurar possíveis irregularidades na construção da Usina de Jirau
AMAZONAS
Polícia procura ex-deputado do PP O ex-deputado estadual Wallace Souza (PP) – que teve o mandato cassado na semana passada sob acusação de comandar organização criminosa – está sendo procurado pela polícia desde segunda-feira, quando sua prisão temporária foi decretada pelo juiz da 2ª Vara Especializada em Crimes de Uso e Tráfico de Entorpecentes (Vecute), Mauro Antony. A prisão foi solicitada pela delegada Cristina Portugal.
integra a defesa do Estado no caso da mordaça, que dura 68 dias, proibindo a publicação de dados sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou a família Sarney. FICHA LIMPA
No evento, o ministro apoiou o projeto de iniciativa popular em defesa da ficha limpa, apresentado ao Congresso para impediracandidatura acargospúblicos de pessoas condenadas pela Justiça. “O projeto é bom, mas deve receber ajustes para que a inelegibilidade venha após condenação de algum tribunal, não somente após a denúncia pelo Ministério Público”, declarou. ●
CONGRESSO
Sarneydefende acúmulo de salários BRASÍLIA
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), defendeu a regulamentação do chamado “salário dúplex” a senadores e deputados, que recebem pagamento como parlamentar, além da aposentadoria de emprego anterior. Ele destacou, porém, que a soma dos rendimentos não deve superar o teto constitucional de R$ 25,7 mil, pago a ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Para Sarney, é preciso definir como as fontes pagadoras repartirão o excedente. “Estamos só esperando a regulamentação, porque a decisão já está tomada.E oteto tem de ser obedecido”, disse Sarney ontem, referindo-seà decisãodo Tribunal de Contas da União (TCU) de que os “salário dúplex” pode continuar sendo pago. Sarney, que recebe como exgovernador do Maranhão e exservidor do Tribunal de Justiça, é um dos beneficiados por “salário dúplex”. O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), também: além de deputado, ganha como ex-procuradorde São Paulo. “É corretíssima a decisão do TCU”, disseTemer, defendendo a regulamentação daforma de compensação. “Sou (um dos que recebem acima do teto) e certamente mais5 mil, 10 mil, 15 mil servidores em todo o País.” ● CAROL PIRES E DENISE MADUEÑO
DIPLOMACIA
Acaba impasse com brasileiros na Bolívia João Domingos BRASÍLIA
Dascercade500famíliasdebrasileiros que moram e trabalham ilegalmente na faixa fronteiriça de 50 quilômetros da Bolívia com o Acre, 300 concordaram em ser reassentadas em terras bolivianas. Outras 200 preferemvoltaraoBrasil,ondeseinscreverão em programas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Por meio da Organização Internacional para as Migrações (OIM), o Brasil vai comprar terrasdaBolívia paraondeasfamíliasserão levadas a partir dedezembro. O País tem US$ 10 milhões para o reassentamento. O artigo 25 da Constituição bolivianaimpedequeestrangeiros vivam na área de fronteira. As posses dos brasileiros serão entregues a correligionários do presidente Evo Morales, que adotou política de assentamentos de seus partidários nas províncias onde sofre forte oposição dos governos locais. A situação foi debatida pelo governoboliviano coma delegação formada por Itamaraty, IncraePolíciaFederal.Oembaixador Eduardo Gradilone, que comandou a comitiva, disse que o problema está resolvido. “Antes, não tínhamos opção, apenas a certeza de que tinham de sair de suas posses em 15 dias. Agora,podemoptarporficarna Bolívia ou voltar ao Brasil.” ●
● Edição de
1h15
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
8 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42359
Ataque do MST a fazenda faz Cutrale perder R$ 3 milhões Sob forte aparato policial, os 350 militantes do MST que haviam ocupado fazenda do grupoCutraleemBorebi(SP)abandonaram o local por ordem da Justiça – deixando um prejuízo calculado pela empresa em R$ 3 milhões. Eles destruíram cerca de 7 mil pés de laranja e danificaram tratores, caminhões, casas de colonos e sistemas de irrigação. Segundo o MST, as terras são públicas. ● PÁG. A8 ANÁLISE KEINY ANDRADE/AE
Dora Kramer
Só para civilizados Enquanto proteger e financiar vandalismo, Brasil segue prisioneiro do atraso. ● PÁG. A6 ●●●
ESTRAGO – Policiais passam por um dos tratores destruídos por militantes do MST que haviam invadido fazenda da Cutrale em Borebi (SP): ação incluiu furto e sabotagem
Governo quer neutralizar auditorias em grandes obras Ideia é acelerar licenças do Ibama e fiscalização do TCU e do Ministério Público O governo decidiu buscar um acordo para liberar mais rápido os projetos de exploração do pré-sal e as obras da Copa doMundode2014edaOlimpíada de 2016, informam os repórteres João Domingos e Christiane Samarco. Serão procurados empresários, sindicalis-
tas, governadores, prefeitos, Congresso e Ministério Público, alémdo Tribunal de Contas da União (TCU) – que há uma semana recomendou a paralisação de 41 obras federais, 13 delasdoPAC.Oobjetivoéflexibilizar as auditorias do tribunal e acelerar os processos de
USP e PUC decidem descartar o Enem Atraso na aplicação da prova é o motivo Os vestibulares da USP e da PUC de São Paulo não vão usarosresultadosdoEnempara compor as notas de seus candidatos.Anteontem,aUnicamp já havia tomado a mesma decisão. O motivo é o adiamento do exame para os dias 5 e 6 de dezembro, em razão do
vazamento da prova, revelado pelo Estado. Apesar disso, especialistas não recomendam abandonar o Enem, porque ele dá nota para seleção em universidades federais. Os resultados do exame, segundo o MEC, serão divulgados até 5 de fevereiro. ● PÁGS. A18 a A20
concessão das licenças ambientais do Ibama. O novo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, diz que cada um dos três projetos – pré-sal, Copa e Olimpíada – deverá ter “regras próprias” paralicitações,oque restringirá a avaliação legal. ● PÁG. A4
BNDES vai ajudar Estados ●● Os
Estados terão ajuda do governo para manter investimentosemobrasem2010,prejudicados pela queda de arrecadação. Eles poderão tomar
mais R$ 6 bilhões do BNDES. Antes, o limite era de R$ 4 bilhões. Para o governo, a medida respeita a Lei de Responsabilidade Fiscal. ● PÁG. A4
SP: MUSEU ‘INVADE’ ESTAÇÃO
Receita de sucesso ●● A febre dos blogs de culináriachegaaoscinemas com Julie & Julia, estrelado por Meryl Streep. ●
outra é de Curitiba e a terceira tem unidades em cinco Estados. Todas elas têm experiência com papéis sigilosos, como provas e talões de cheque. ● PÁG. A19
CADERNO 2 Bola na tela ●●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 69 DIAS q PÁG. A9
Ídolo do futebol, Cantona fala do filme que abrirá mostra de São Paulo. ●
NOTAS E INFORMAÇÕES
Vandalismo sem limites Seguro de sua impunidade, o MST é o que de mais parecido existe no Brasil com uma organização terrorista. ● PÁG. A3
●●●
Tempo: CAPITAL
21º MÁX.
● PÁG. C2
17ºMÍN.
Chuva e temperatura em queda.
Hoje: 108 páginas A. 1º caderno: 26 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 14 ● D. Caderno2: 16 ● E. Esportes: 4 ● P. Paladar: 8 ● Cl. Classificados: 24 (2.309 anúncios) 7 8 9 10 11 12
Futebol
São Paulo empata e ajuda Palmeiras ●● Time fica no 2 a 2 com o Coritiba e se complica na briga pela ponta. ● PÁG. E1
Ciência
Estudo celular rende Nobel ●● Prêmio de Química
vai para dois americanos e uma israelense. ● PÁG. A20
●●● DÓLAR
Com a entrada de pelo menos US$ 20 bilhões até o fim do ano, governo teme valorização excessiva do real. ● PÁG. B1
Prefeitura decide ampliar inspeção veicular
Pane afeta recarga do Bilhete Único
PAULO PINTO/AE
O Ministério da Educação analisa três gráficas do País consideradas de alta segurança para a impressão das provas do Enem. Uma delas fica em São Paulo,
A Telefônica propôs a compra de 100% das ações da operadora GVT, presente em cidades doSule Centro-Oeste.ATelefônica oferece R$ 48 por papel da operadora, o equivalente a R$ 6,5 bilhões. A proposta é 14,3% maior do que a da francesa Vivendi, que não opera telecomunicações no País. ● PÁG. B14
A partir de 2010, a inspeção veicular ambiental será obrigatória para a maioria dos 6,6 milhões de carros, motos, ônibus e caminhões que compõem a frota paulistana. Apenas os veículos fabricados a partir de 2009 ficarão livres da inspeção. As novasregrasvão inserirna análise cerca de 3,5 milhões de carros fabricados antes de 2002 – o grupo que mais polui, segundo especialistas. ● PÁG. C1
MEC busca gráficas seguras ●●●
Telefônica faz oferta de R$ 6,5 bilhões pela GVT
●● Na maioria dos postos, siste●●● O Museu da Língua Portuguesa promove exposição multimídia
na Estação da Luz, onde circulam 400 mil pessoas por dia. ● PÁG. C14
ma ficou indisponível. Nas estações, longas filas. ● PÁG. C3
QUINTA-FEIRA, 8 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
Vandalismo sem limites
A
bsolutamente seguro, como sempre, de sua impunidade, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) perpetrou novo ato de vandalismo, passados quatro dias do engavetamento da proposta de CPI para investigar o repasse de recursos federais à organização, por intermédio de cooperativas e ONGs. A iniciativa caiu quando, a pedido do Planalto, deputados retiraram o seu apoio à investigação – o comércio de assinaturas em projetos do gênero, por sinal, é uma conhecida prática desmoralizante no Congresso. Segunda-feira, na Fazenda Santo Henrique, da multinacional brasileira Cutrale, em Borebi, no interior paulista, ocupada desde 28 de setembro por 350 invasores, os sem-lei literalmente tratoraram 7 mil pés de laranja. O espetáculo, que o próprio ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, o principal interlocutor do movimento no governo, considerou “grotesco”, foi filmado por um cinegrafista da Polícia Militar a bordo de um helicóptero. As imagens da violência levaram por sua vez o presidente do Incra, Rolf Hackbart, a se declarar “indignado” e a afirmar que
“condena com veemência” mais esse ato criminoso. É como se eles tivessem descoberto subitamente o que pretende e a que meios recorre – há longos anos – essa que é o que de mais parecido existe no Brasil com uma organização terrorista. E como se tais autoridades não a amparassem, por ação ou omissão. Hackbart, por exemplo, diz que o comportamento do MST “não contribui para a reforma agrária”. Ele está cansado de saber que a reforma é mero pretexto para o objetivo estratégico do movimento de “promover uma revolução em estilo zapatista a partir do campo brasileiro”, como assinalou o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária. No caso da fazenda saqueada, o Incra ecoa a alegação do MST de que a propriedade de 40 mil hectares está instalada em terras griladas da União. A Cutrale tem uma sentença a seu favor, que o Incra contesta na Justiça Federal. Na terça-feira, um juiz de Lençóis Paulista deu a reintegração de posse à empresa. Embora o coordenador estadual do MST, Márcio Santos, um dos responsáveis pela invasão, tenha
Os números do IDH
E
laborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2009 registra alguns importantes avanços do Brasil, com relação ao ano anterior. Embora o País tenha perdido cinco posições no ranking do IDH de 182 nações, passando da 70ª posição, em 2008, para o 75º lugar, o levantamento mostra que o País vem conseguindo manter um ritmo de crescimento consistente e que é, hoje, o mais acelerado em toda a América Latina. Liderado no levantamento deste ano pela Noruega, pela Austrália e pela Islândia, ficando a França, o Japão e os EUA na 9ª, 10ª e 13ª posições, o IDH é calculado pelo Pnud com base no cruzamento de informações relacionadas à riqueza, nível de escolaridade, saúde e esperança média de vida. Como o Pnud também leva em conta as taxas de expansão da economia de cada país, as posições no ranking do IDH flutuam ou mudam, conforme o aumento ou a redução do PIB per capita de cada uma das 182 nações. Os dois últimos classificados no IDH de 2009 foram o Afeganistão, situado na Ásia Central, e o Níger, uma antiga colônia francesa na África. Segundo o Pnud, uma criança no Níger tem expectativa de vida de apenas 50 anos – cerca de 30 anos a menos do que na Noruega. E, para cada dólar ganho no país africano, cerca de US$ 85 são ganhos na Noruega. Os dados utilizados na pesquisa deste ano são de 2007, motivo pelo qual o IDH não reflete os efeitos da crise finan-
ceira mundial, cujo pior período foi de setembro de 2008 até julho deste ano. A queda do Brasil do 70º para o 75º lugar, entre 2008 e 2009, foi causada por dois fatores. O primeiro deles foi o ingresso, na listagem do IDH, de Andorra e Liechtenstein. Como seus habitantes têm alta qualidade de vida, os dois principados europeus já entraram no ranking em 19º e 28º lugar, respectivamente, deslocando o Brasil em duas posições. O segundo fator foi a atualização dos índices divulgados em 2008. Revistos os números, três países que apareciam
Investimento em educação é a chave para melhor qualidade de vida atrás do Brasil – Rússia, Granada e Dominica (uma pequena ilha situada entre Guadalupe e Martinica)– acabaram sendo beneficiados e ficaram à frente, deslocando o Brasil em outras três posições. Apesar da queda, o Brasil se destaca no IDH de 2009 pela forte expansão do PIB per capita em 2007. Segundo o Pnud a saúde também melhorou, ainda que em ritmo menor. No âmbito da educação, os avanços nos indicadores só não foram maiores por causa do analfabetismo da população adulta, que continua alto. Recentemente, os próprios responsáveis pelo programa Brasil Alfabetizado, que foi lançado em 2003, reconheceram que os resultados obtidos até agora ficaram aquém das expectativas.
afirmado que a ocupação continuaria e que mais pés de laranja poderiam ser destruídos, os invasores foram retirados na manhã de ontem. Deixaram como rastro da sua sanha predatória mais de 20 tratores depredados. A razzia pelo menos motivou a oposição a tentar reviver com outro nome a descartada CPI que investigaria a entrega de recursos oficiais ao MST. Sob o patrocínio das bancadas do DEM, passou a circular no Congresso um requerimento para a criação de uma CPI Mista do Campo, que trataria também – com o risco de se tornar dispersiva e chover no molhado – “a estrutura fundiária brasileira, em especial a execução da reforma agrária”. No Executivo, a nova demonstração de truculência emessetista poderá se revelar “um tiro no pé”, prevê o ministro Guilherme Cassel. Adiaria o cumprimento da promessa feita pelo presidente Lula em agosto de atualizar os índices de produtividade no setor rural, baseados no censo agropecuário de 1975, usados para decidir se uma determinada terra pode ser desapropriada para fins de reforma agrária.
A falta de uma lei de imprensa A educação é justamente um dos setores em que o Brasil mais destoa dos países que lideram o IDH. Enquanto Noruega, Austrália e Islândia investem 35%, 31% e 36% de seus gastos públicos no setor educacional, respectivamente, o Brasil destina 22%. Em saúde, o Brasil investe 7% dos gastos públicos, menos da metade do que a Noruega (18%), Austrália (17%) e Islândia (18%). O levantamento do Pnud mostra ainda que o Brasil vem registrando uma queda nos indicadores de desigualdade social desde o início da atual década. Mas, por causa dos investimentos insuficientes para a melhoria da qualidade da rede escolar de ensino básico, o ritmo dessa queda continua lento, o que leva o Brasil a permanecer no grupo dos dez países mais desiguais, ficando atrás apenas de Namíbia, Ilhas Comores, Botsuana, Haiti, Angola, Colômbia, Bolívia, África do Sul e Honduras. Segundo o Pnud, os 10% mais ricos detêm 43% da riqueza nacional, enquanto os 10% mais pobres ficam somente com 4%. Quando os números do IDH são avaliados em períodos mais longos, eles deixam claro que os países que mais têm avançado em qualidade de vida são, justamente, os que mais investem em educação. É o caso da China, da Coreia do Sul e da Irlanda, que ganharam cerca de 20 posições no ranking do Pnud, entre 2000 e 2008. Isso mostra qual é o caminho que o Brasil tem de seguir para melhorar a qualidade de vida da população.
Q
uando o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a revogação total da Lei de Imprensa, em abril de 2009, sob a alegação de que ela cerceava a liberdade dos órgãos de comunicação, por ter sido imposta pelo regime militar, quatro ministros tiveram o bom senso de lembrar que o Congresso deveria legislar urgentemente sobre a matéria, para evitar que o vácuo jurídico causado pela decisão acarretasse problemas para o exercício do direito à opinião e à expressão. Para esses ministros, como o Código Civil é omisso em questões relativas a direito de resposta e pedidos de indenização, juízes singulares poderiam acabar autorizando a censura prévia, vedada pela Constituição. “A quem interessa o vácuo normativo? A Lei de Imprensa estava em vigor há 42 anos, dos quais 20 no período da atual Constituição Federal”, disse, na ocasião, o ministro Marco Aurélio Mello. “Não se pode entregar a qualquer juiz ou tribunal a construção jurisprudencial do que é direito de resposta”, afirmaram os ministros Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa e Ellen Gracie. O mesmo temor também foi expresso pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pela Associação Nacional dos Jornais e pela Federação Nacional dos Jornalistas. Todos se manifestaram favoráveis à revogação parcial da Lei de Imprensa, com a supressão de resquícios antidemocráticos e a manutenção dos demais dispositivos, sobre os quais já havia entendimento pacífico nos tribunais.
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
LeiCamata As contratações no Congresso e em todo o País têm, de alguma forma, respeitado a Lei Camata, que restringe a 60% os gastos com o funcionalismo? ALBERTO NUNES albertonunes77@hotmail.com
“
Agaciel deputado, processo arquivado!”
GustavoGuimarãesdaVeiga gjgveiga@hotmail.com SãoPaulo
Itapevi ammoraes57@hotmail.com
AgacielMaia Esse Agaciel Maia não é fraco. Apesar de todas as que fez, punição que é bom... nada. Mas para se garantir filiou-se ao PTC e vai se candidatar a deputado federal por Brasília, buscando ainda mais proteção por meio da imunidade parlamentar, uma vez que será eleito. Alguém duvida? No Brasil, vale a pena a pilantragem. ADEMAR MONTEIRO DE MORAES
São Paulo
tar a filiação do sr. Agaciel Maia? É notório que Agaciel responde a vários processos administrativos no Senado por desmandos, fato que, no âmbito da moral, o impediria de postular qualquer coisa. Infelizmente, em nosso país, se uma pessoa se torna ligeiramente famosa por qualquer circunstância, abre uma porta para se candidatar a cargo político. É necessária uma reformulação completa no sistema partidário brasileiro.
● O sr. Agaciel Maia filia-se a um partido e pretende “virar político”. Prontuário é o que não lhe falta.
FRANCISCO ZARDETTO
HOMERO SALAZAR
São Paulo
fzardetto@uol.com.br
hcs1803@gmail.com
Florianópolis
Errodeorigem Como pode um partido, no caso, o Partido Trabalhista Cristão, acei-
Para se consumar, a atualização exigida pelo MST depende de um decreto presidencial autorizando o ministro da Agricultura a convocar o Conselho de Política Agrícola para examinar os novos parâmetros. O titular da Pasta, Reinhold Stephanes, já fez saber que não fará a convocação, mesmo que a recusa o obrigue a entregar o cargo antes de abril do próximo ano, para concorrer a um mandato eletivo. A oposição reivindica para o Congresso a competência para definir aqueles índices. Anteontem, a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado aprovou em caráter terminativo, isto é, sem passar pelo plenário, o substitutivo da relatora Kátia Abreu (DEM-TO) a um projeto de lei sobre os critérios de aferição da produtividade agrícola. Atualmente, para que uma propriedade seja considerada produtiva, ela tem de cumprir simultaneamente dois requisitos: grau de utilização da terra de 80% e grau de eficiência de exploração de 100%. Pelo parecer aprovado, bastará o segundo índice. A questão, de todo modo, se torna um tanto bizantina diante das recorrentes desapropriações “na marra” efetuadas por um impune MST. “Eles não têm limites”, aponta a senadora Kátia Abreu.
Berlusconi Parabéns à Justiça italiana pela decisão que confirma que todos os cidadãos do país são iguais. RICARDO FREITAS
r.freitas@icbpacking.com.br
Cotia
Esclarecimento Sobre o artigo Belo Monte – ainda falta muito a ver (25/9, A2), de Washington Novaes, a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) gostaria de esclarecer alguns fatos. A construção da Hidrelétrica de Tucuruí, no final da década de 1970, obra estratégica do governo para desenvolver o Norte do País, só foi possível graças à instalação de indústrias grandes consumidoras de energia na região de influência da usina. Empresas que, com seu elevado fator de carga e operação ininterrupta, puderam assegurar o consumo local da energia produzida, permitindo o equilíbrio do sistema sem a necessidade de gran-
Sete meses após o julgamento, a censura que vem sendo imposta desde o dia 30 de julho ao jornal O Estado de S. Paulo por decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que proibiu a publicação de qualquer reportagem sobre a Operação Boi Barrica – a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney –, confirma, de maneira desastrosa para o exercício das liberdades democráticas, o acerto dos ministros que defenderam a revogação apenas parcial da Lei de Imprensa. O vácuo legal facili-
O vácuo jurídico abriu espaço para a imposição da censura prévia ta a adoção de medidas como a adotada pelo desembargador Dácio Vieira. Como Vieira é sabidamente vinculado à família Sarney, a Corte o afastou. Manteve, no entanto, a censura prévia e remeteu o processo para a primeira instância da Justiça Federal no Maranhão. “Esse episódio causa perplexidades. Qual é a regra que disciplina o tribunal competente para julgar o caso? É o local do dano? O local de publicação das notícias? Em suma, são perplexidades que não existiam diante do quadro anterior, quando havia uma lei regulando a matéria”, disse o ministro Gilmar Mendes em conferência pronunciada no seminário “Mídia e Liberdade de Expressão”, organizado pela TV Globo. “Não aprendi na faculdade aquilo que venho assis-
tindo nos julgamentos do caso Sarney. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal, por um lado, afirma sua incompetência absoluta, mas, por outro, mantém a censura e ainda manda deslocar os autos da mordaça para o Maranhão”, diz o advogado do Estado, Manuel Alceu Affonso Ferreira. Para o presidente do STF e para os advogados especializados em direito de comunicação, enquanto o Congresso não aprovar “normas de organização e procedimento” para suprir o vácuo jurídico deixado pelo fim da Lei de Imprensa, a liberdade dos jornais, revistas, rádios e televisões estará em risco. A exemplo do que está ocorrendo com o Estado, outros órgãos de comunicação também já foram proibidos, por juízes de primeira e segunda instâncias, de publicar reportagens sobre determinadas pessoas. “O setor está sem parâmetros. Temas específicos para o exercício do direito à opinião e à expressão reclamam uma nova disciplina legislativa”, afirma Mendes, cobrando providências urgentes do Congresso. A mesma opinião foi apresentada pelo ministro Ayres Britto, ao condenar a censura que tem sido imposta à imprensa por determinações judiciais, em palestra pronunciada no Encontro Nacional de Procuradores Municipais. Vários integrantes do STF já afirmaram que, quando o caso chegar à Corte, votarão contra essas determinações, por considerá-las inconstitucionais. Esse problema poderia ter sido evitado se o Congresso tivesse, no tempo adequado, dotado o País de uma Lei de Imprensa compatível com o Estado Democrático de Direito.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
des custos com linhas de transmissão aos centros de consumo do Sudeste e do Nordeste, além de garantir uma contribuição financeira para a sustentação do projeto, ao menos na primeira fase de implantação. Portanto, não houve subsídio do custo dessa energia, mas sim um desconto na tarifa dessas indústrias, com base nos vultosos investimentos em transmissão que a Eletronorte deixaria de fazer para atingir os centros industriais de consumo, já instalados a milhares de quilômetros de Tucuruí. Expirados os contratos originais em 2004, as indústrias de alumínio fizeram novos contratos de consumidor livre com a Eletronorte e têm hoje energia comprada a preços de mercado, a partir de leilões públicos, a exemplo das demais indústrias localizadas
na região. Desde sua implantação no Norte do País, há mais de 25 anos, as indústrias de alumínio têm contribuído de forma efetiva e responsável para o desenvolvimento sustentável das comunidades do entorno dos locais onde atuam. Segundo o ex-ministro da Fazenda e Planejamento Paulo Haddad, o setor do alumínio contribui para a melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano das regiões onde está instalado, graças a investimentos em saúde, educação e aumento do PIB local, com a geração de empregos, renda, investimentos, tributos, oportunidades para pequenos e microempreendedores, além de infraestrutura especializada. ADJARMA AZEVEDO, presidente da Abal imprensa@abal.org.br
São Paulo
QUINTA-FEIRA, 8 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 69 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Associação Mundial de Jornais cobra Lula por censura Entidade que reúne 18 mil veículos envia, pela segunda vez, carta aos presidentes da República e do Supremo Roberto Almeida
Sem obter resposta oficial da primeira carta enviada no dia 10 agosto, a Associação Mundial de Jornais (WAN) e o Fórum Mundial de Editores (WEF), entidades máximas da imprensa mundial,pediram novamente “ação” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente do Supremo TribunalFederal (STF),Gilmar Mendes, sobre a censura ao Estado, que completa hoje 69 dias. WAN e WEF, que atuam em nome de 18 mil publicações em mais de 120 países, têm status derepresentantesnaOrganização das Nações Unidas, e demonstramna nova carta,enviada anteontem ao Planalto e ao STF, preocupação com a últimadecisãodoTribunaldeJustiça do Distrito Federal (TJ-DF). “Estamos preocupados porque, dois meses após a primeira decisão judicial, a censura se mantém”, anota o texto assinado pelos presidentes da WAN, Gavin O’Reilly, e da WEF, Xavier Vidal-Folch. Há uma semana, a Corte do Distrito Federal se declarou incompetente para julgar o caso, manteve a mordaça ao Estado eremeteuoprocessoparaaJustiça do Maranhão, lar do família
Sarney. “Respeitosamente lembramosqueaproibiçãolegaldeproduzir reportagens constitui um ato de censura legal e é uma clara violação do direito de livre expressão,oque égarantida pela Constituição brasileira e por numerosasconvençõesinternacionais”, explica a carta. Mais uma vez, O’Reilly e Vidal-Folch dizem-se ansiosos por uma resposta “assim que possível”. O pedido por esclarecimentos é o mesmo de 10 de agosto, data da primeira carta
Fórum Mundial de Editores também pede manifestação do Planalto enviada ao Planalto e ao STF. No entanto, até o momento Lula e Mendes não enviaram resposta oficial às entidades, que têm sede em Paris. O presidente do STF falou apenasem tese sobre o assunto. E a posição no Planalto é de que esteassunto competeexclusivamente ao Judiciário. Por isso, Lula não vai se manifestar. No entanto, as entidades reiteram que é preciso que Lula e
Mendes adotem medidas paracumprirdeterminaçõesinternacionais sobre liberdade de expressão. “Pedimos a VossaExcelênciaquefaçatudo o que estiver ao seu alcance para garantir que esta decisão seja anulada e que seja permitido à imprensa publicar livremente reportagens sobretodososassuntosdeinteresse público. Contamos comocompromissodosr.para que no futuro seu país respeite todos os acordos.” O Estado de S.Paulo e estadao.com.br, porém, continuam proibidos de divulgar informações da Operação Boi Barrica da Polícia Federal, que envolve Fernando Sarney, filho do presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP). Fernando já foi indiciado pela PF por falsificardocumentospara favorecer empresas em contratos com estatais. Outras entidades internacionais que acompanham a luta judicial envolvendo a censura ao Estado também manifestaram indignação com a decisão do TJ-DF. Repórteres Sem Fronteiras e o Comitê de Proteção aos Jornalistas classificaram o caso como “absurdo”. ●
NACIONAL A9 NACIONAL A9
o estado de s. paulo
● Edição de
0h30
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
SEXTA-FEIRA
tá “abalada”. “A atual crise apenascatalisouumprocessodereconhecimento de que o dólar não tem mais credibilidade para ser a moeda do mundo.” Bancos centrais asiáticos intervieramno câmbio para evitar valorização ainda maior de suas moedas. ● PÁGS. B1, B3 e B4
O governo admitiu que está adiando o pagamento de restituições do Imposto de Renda das pessoas físicas por conta da quedadaarrecadaçãodeimpostos e contribuições federais. O ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que o procedimento é “normal”. Para preservar o caixa do Tesouro, o governo tem privilegiado as restituições de menor valor. A estratégia já resultou em economia de R$ 1,5 bilhão no ano. ● PÁG. B6
ANÁLISE
Celso Ming
Não é o câmbio que deveria preocupar O problema do País não é o câmbio, é o custo Brasil. Qualquer economista princi-
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piantesabequeatacaressegargalo implica fazer reformas e cortar gastos públicos.● PÁG. B2
ESPORTES
Jornais da Argentina denunciam nova pressão
Ofensiva do Planalto agora mira Lei de Licitações
Os jornais argentinos Clarín e La Nación acusaram o governo de pretender limitar sua produção por meio da intervenção na única fábrica de papel de jornal do país. A denúncia ocorreu na véspera da votação da lei que restringe a atuação de canais de TV e emissoras de rádio. Segundo o Clarín, o secretário do Comércio, Guillermo Moreno, ameaçou os diretores da empresa. ● PÁGS. A13 e A14
A ofensiva do governo para restringir a ação do Tribunal de Contas da União prevê a reforma da Lei de Licitações, que poderá ser votada na semana que vem no Senado e que limita o prazo das medidas do TCU. Além disso, o governo quer que pareceres do tribunal não paralisem obras sem aval do Congresso. Para Dilma Rousseff (Casa Civil), suspender obras só com base em indícios de irregularidades é “frágil”. ● PÁG. A4
Direto da Fonte
Guia Quem escolhe o
O perdão americano
Passados 40 anos do sequestrodoembaixadorCharles Elbrick, um dos envolvidos, Paulo de Tarso Venceslau, obteve visto para entrar nos EUA, informa Sonia Racy. O veto americano ainda inclui Fernando Gabeira e Franklin Martins. ● PÁG. D2
programa é o filho
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Dezoito crianças contam o que querem fazer no feriado de 12 de outubro. ●
JONNE RORIZ/AE
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 70 DIAS q PÁG. A11
●●● Disputa na área do Avaí, em lance do dramático empate em 2 a 2 com o Palmeiras; o time catarinense chegou a fazer 2 a 0, mas o Palmeiras
NOTAS E INFORMAÇÕES
CADERNO 2
O governo procura fazer crer que as leis que regulam os seus negócios estão na contramão do progresso. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
18º MÁX.
● PÁG. C2
14º MÍN.
Chuva fraca e temperatura em baixa.
Hoje: 202 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 18 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 12 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 8 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 4 (147 anúncios)
7 8 9 10 11 12
Mapa indica 15 pontos perigosos do Ibirapuera
Herta Müller ganha o Nobel de Literatura
Herta Müller, escritora alemã nascidanaRomênia,ganhouontemoprêmio NobeldeLiteratura. “Sua obra desenha as paisagens dos desamparados com a concentraçãodapoesiaea objetividade da prosa”, justificou a Real Academia de Ciências. ●
cinema
●● Herbert de Perto, sobre o lí-
der dos Paralamas, conta uma bela história humana. ● PÁG. D4
VOZ DAS MINORIAS – ‘Nem consigo acreditar’, festeja Herta Müller
A Prefeitura de São Paulo mapeou 15 áreas do Parque do Ibirapuera onde ocorrem frequentemente assaltos, roubos, furtos de veículos e de bicicletas, além de atos obscenos, prostituição masculina e consumo e tráfico de drogas.Combaseno levantamento, a administração municipal planeja ações para combater a criminalidade no parque. ● PÁGS. C1 e C3
FOTOS FELIPE RAU/AE
reagiu e agora está com 5 pontos de vantagem na liderança do Brasileiro. Goiás e Atlético-MG, que brigam pela ponta, perderam. ● PÁGS. E1 e E2
TOBIAS SCHWARZ /REUTERS
Para tolher o TCU
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Fazenda faz caixa com restituição do IR
Euforia com o Brasil faz dólar cair para R$ 1,739, a menor cotação no ano Mantega (Fazenda) expressou preocupação com o “excesso de otimismo” do mercado sobre o Brasil, vendo nisso o interesse de especular sobre uma eventualalta dosjuros. Parao ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, a força do dólar como moeda de reserva global es-
(1891-1927)
9 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42360
Real se fortalece e governo teme ‘excesso de otimismo’ A euforia com o Brasil e o enfraquecimentoglobal dodólar fizeramoÍndiceBovespaatingirontem o maior nível em 15 meses, com 63.759 pontos, acumulando alta de quase 70% em 2009. A moeda americana caiu 0,97% e fechou a R$ 1,739, a menor cotação do ano. O ministro Guido
JULIO MESQUITA
Defesa do consumidor
Lei obriga entregas em data marcada
●● Em São Paulo, empresas terão de fixar período do dia, sob pena de multa. ● PÁG. B11
TUTTY HUMOR
Se você não sabe nada de iPod, Wii e GPS, fique esperto: vem aí o Kindle. ● PÁG. C12
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B16 NEGÓCIOS
SEXTA-FEIRA, 9 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
MINERAÇÃO
MÍDIA
‘Não precisava tanto’, disse presidente do fundo, Sérgio Rosa, ao comentar o aumento dos gastos da empresa com propaganda
Prêmio ganha caráter de desagravo pelos 70 dias do jornal sob censura
Para Previ, publicidade da Vale é exagero TASSO MARCELO/AE–2/4/2008
Mônica Ciarelli RIO
A Previ, maior acionista da Vale, considera exagerada a estratégia da mineradora de aumentar os gastos com publicidade nos últimos meses. “Não precisava tanto”, afirmou Sérgio Rosa, presidente do fundo de pensão e também do conselho de administração da Vale. Essa é a primeira vez que o executivo questionou, mesmo que timidamente, a gestão da mineradora sob o comando de Roger Agnelli desde julho de 2001. Desde que tomou medidas para se ajustar à crise internacional no fim do ano passado, como as demissões e corte de US$ 5 bilhões no orçamento de 2009, a mineradora passou a ser alvo de intensas críticas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Para tentar reverter o quadro e amenizar o estresse com o governo, a Vale decidiu focar em publicidade e espalhou anúnciosem rádio, jornais, televisão e nas ruas, sempre com o mesmo slogan: “A empresa privada que mais investe no Brasil”. O mais recente passo nesse sentido foi a contratação do ator José Mayer, galã da novela do horário nobre da TV Globo “Viver a Vida”, que terá como tarefa explicar didaticamente para a população o que a mineradora faz. INVESTIMENTOS
Ontem, Rosa revelou ainda que o fundo de pensão continua desenquadrado em seus investimentos na Vale, mesmo com a recente mudança nas regras para o setor, que ampliou de 50%para 70%a fatia que as fundações podem aplicar em renda variável. Segundo ele, a lei limita a
AÇÕES – Sérgio Rosa revelou que a Previ continua desenquadrada em seus investimentos na Vale
participação em qualquer ativo em 10% do patrimônio do fundo. O problema é que a fatia na Vale com base no valor econômico da companhia é de R$ 30 bilhões, o que equivale a 23% do patrimônio atual da Previ, que está em R$ 130 bilhões. EBX
O executivo não quis comentar os recentes rumores de que o empresário Eike Batista estaria interessado na participação da Previ na Vale. O presidente da Previ se limitou a reiterar que o grupo de Eike, o EBX, não fez uma oferta formal pelas ações da companhia. Rosa lembrou que a Previ não tem urgência para enquadrar sua participação da Vale. O fundo tem um acordo com a
Secretariade Previdência complementar (SPC) para ajustar à lei suas aplicações em renda variável até 2014. “A Vale é uma empresa que ainda vai valorizarmuito. Apesardo impacto muito forte da crise, ela já se recuperou bastante”, afirmou.
Funcef não descarta ideia de vender ações da mineradora Já o presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, não descarta a venda da participação do fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal na Vale por causa do seu
VAREJO
Hipercard e Walmart ampliam crédito Operadora de cartão terá mais R$ 6 bilhões Márcia De Chiara
O Walmart Brasil, terceira maior rede de supermercados do País, e o cartão Hipercard, doItaúUnibanco,acabam defechar uma parceria para turbinar as vendas do último trimestre com cartão de crédito. Só neste mês, o Hipercard vai despejar R$ 23 bilhões de crédito no cartão, R$ 6 bilhões a mais que no mesmo mês do ano passado, para impulsionar os negócios. Sem revelar as cifras, Ivo Vieitas, presidente do Hipercard, diz que, até dezembro haverá novas ações da companhia paraexpandiros limites de crédito do cartão. “Será a maior ação de ‘overlimit’ da história para ampliar o poder de consumo da população”, diz Vieitas. Com faturamento de R$ 17 bilhões em 2008, o Walmartrespondepor45%darecei-
ta do Hipercard, que tem 12 milhões de plásticos. Além do maior volume de crédito disponível para compras, o Walmart decidiu fazer uma agressiva campanha de vendas. De hoje até o dia 31 de outubro, vai parcelar cerca de 20 itens, entre eletrodomésticos, produtos de informática e televisores, em 13 vezes sem acréscimo no cartão Hipercard, sendo que a rede vai pagar a primeira prestação para o consumidor. “Queremos fazer deste Natal o melhor da empresa no País. A expectativa é de aumento de 20% no faturamento ante 2008”, prevê opresidente do Walmart, Hector Núñez. Segundo o presidente do WalmartBrasil,aempresadecidiu reduzir a margem de ganho para ampliar o volume de vendas da companhia. A agressividade nas condições de financia-
NOTA DE ESCLARECIMENTO O Sindicato do Comércio Varejista de Peças e Acessórios para Veículos no Estado de São Paulo esclarece, em vista de notícia divulgada na imprensa, que a convenção coletiva de trabalho 2008/2009, celebrada entre o Sindicato dos Comerciários de São Paulo e o Sindicato do Comércio Varejista de Peças e Acessórios para Veículos no Estado de São Paulo, firmada no dia 17 de dezembro de 2008 e com vigência até a próxima convenção coletiva, com data de 31 de outubro de 2009, garante aos associados do Sincopeças-SP, capital e interior, o direito facultativo de abrir seus estabelecimentos no dia 12 de outubro próximo. A convenção coletiva está disponível para consulta no site da entidade: www.sincopecas.org.br. O departamento jurídico do Sindicato do Comércio Varejista de Peças e Acessórios para Veículos no Estado de São Paulo está à disposição de seus associados para quaisquer outros esclarecimentos. Sincopeças-SP - Trabalho e seriedade para o varejo de autopeças.
mento tem como meta ampliar ainda mais o desempenho alcançado neste ano pela empresa. Sem revelar taxas de crescimento, Núñez diz que o ano de 2009 tem sidoatéagora “muitobom” para o Walmart e superou as expectativas. Sempre discreto no anúncio das condições de pagamento,essaestratégiaagressivacontrastacomocomportamento que a rede vem tendo nos últimos anos. Segundo consultores de varejo, a mudança de rota no Brasil do maior varejista do mundo pode ser atribuída ao momento atual de hiperconcorrência, especialmente nos bens duráveis, que ocorre no varejo nacional. “A compra do Ponto Frio pelo Grupo Pão de Açúcar e a entrada do Magazine Luiza na capital paulista mudaram as condições competição entre as lojas”, comenta um especialista. Núñez, do Walmart, e Vieitas, do Hipercard, não enxergam,nocurtoprazoriscos nessa operação com parcelamentosuperior a umano e que, segundo os executivos, não tem custo financeiro embutido no preço dos produtos. “Não temos preocupação”, diz Núñez. Ele argumenta que indicadores, apurados por instituições diferentes, já mostram que a confiançadoconsumidorvoltou ao nível pré-crise. ●
pequeno poder de decisão na companhia. Lacerda, porém, disse que não existe nenhuma negociação nesse sentido no momento. Segundo ele, o empresário Eike Batista também não fez nenhuma proposta de compra pela fatia da Funcef na mineradora. O fundo detém atualmente uma participação indireta de R$ 5 bilhões na Vale por meio de uma fatia de 12,8% na Litel, que por sua vez detém 49% da Valepar. Também participam da Valepar o Bradespar (21,21%), a Mitsui (18,24%), o BNDESPar (11,51%) e a Eletron (0,03%). ● COLABOROUNATÁLIA GOMEZ
‘Estado’ é eleito jornal do ano pela Aberje O Estado de S. Paulo recebeu ontem o Prêmio Especial Aberje 2009, na categoria Mídia do Ano–Jornal,concedidopelaAssociação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). A premiação, criada há 35 anos, é um reconhecimento às empresas que mais se destacaram no universo da comunicação. O presidente do conselho deliberativo da Aberje, Rodolfo Guttilla, afirmou que o prêmio ao Estado tem um caráter de desagravo,umavezqueojornal completahoje70diassobcensura. Desde 28 de julho, o Estado está impedido de publicar reportagensquecontenhaminformações sobre a Operação Faktor, mais conhecida como Boi Barrica, por ordem do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e a pedido do empresário Fernando Sarney, filho de José Sarney. “Em solidariedade ao Estado,tambémtemosfeitoa contagem, no site da Aberje, dos dias em que o jornal tem sido mantido sob censura, o que é inconcebível em uma democracia”, disse Guttilla. LIBERDADE
O diretor de conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, que recebeu o prêmio ao lado de outros editores do jornal, ressaltoua importânciadeque aliberdade de expressão acompanhe a prosperidade econômica. “O fato de estarmos há mais de dois meses impedidos, por decisão judicial de primeira instância, de publicar determinados assuntos nos deixa preocupados e com a sensação de que há ameaçasnohorizonte àliberdade de imprensa”, disse Gandour. Além do Estado, receberam o prêmio especial Mídias do Ano a Rede Globo, pelos 40 anos do informativo Jornal Na-
cional,aÉpocaNegócios,nacategoria revista, o portal UOL, em mídia digital, o jornal Valor Econômico,nacategoriamídiaespecializada, e a Rádio Inconfidência, de Belo Horizonte, na categoria rádio. Também foram homenageadoscomopersonalidades do ano Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo, o desenhista Mauricio de Souza,criadordaTurmadaMônica, o antropólogo e colunista do Estado Roberto Da Matta e o cineasta Luiz Carlos Barreto. EMPRESAS
Nas categorias de comunicação empresarial foram inscritos 341 trabalhos de 151 empresas, que foram julgados por 230 jurados.Entreasempresaspremiadasem19diferentescatego-
Crise econômica não foi empecilho para investimentos em comunicação rias estão Usiminas (comunicação de marca e empresa do ano nacategoriaregionalMinasGerais e Centro Oeste), Kraft Foods (regional Sul e mídia digital), Banco do Nordeste (categoria regional Norte e Nordeste), Grupo Pão de Açúcar (regional SãoPauloecomunicação erelacionamento com a imprensa) e Endesa Brasil (regional Espírito Santo e Rio de Janeiro). As empresas Bunge Fertilizantes, Petrobrás, Ampla Energia, Natura e Alcoa também estão entre as contempladas. “Apesar do freio da crise econômica, a comunicação corporativaregistrouavanços importantes em 2009”, disse Guttilla, que ressaltou a importância da transparência nas informações divulgadas pelas empresas. ●
INTERNET
TELECOMUNICAÇÕES
Governo quer parceria com teles
Telefônica pede anuência à Anatel para comprar GVT
Para ministro, sem as empresas, não haverá plano de banda larga Gerusa Marques BRASÍLIA
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse ontem que é “absolutamenteimpossível”colocar em prática o Plano Nacional de Banda Larga sem a participação das grandes empresas privadasdetelefonia fixa ecelular. Segundo ele, para construir a infraestrutura necessária para levar internet ao interior do País e interligar escolas rurais, postos de saúde, hospitais e delegacias,porexemplo, serãonecessários R$ 10 bilhões, dinheiro que o governo não tem.
‘Vamos precisar de todos os recursos que elas possam ter’ Numa manobra divergente de setores do governo que querem basear o programa na criaçãodeumaestatal da bandalarga, Costa se reuniu ontem com os presidentes das empresas de telefonia e pediu aos executivos que apresentem em 30 dias uma proposta de como essas operadoras podem contribuir com o programa. “Nós vamos precisardainfraestruturadetodas as empresas, de todos os recursos que elas possam ter e de enormes investimentos.” Os empresários se mostraram disponíveis a fazer uma parceria com o governo, mas já
sinalizaramque vão reivindicar desoneração fiscal para serviços e equipamentos e liberação de recursos de fundos setoriais. Participaram da reunião os presidentes da Telefônica, Antonio Carlos Valente, da Oi, Luiz Eduardo Falco,daEmbratel,JoséFormoso, da TIM, Luca Luciani, e da Claro, João Cox. Antes de se reunir com os empresários, Costa foi recebidopelopresidenteLuizInácio Lula da Silva, que também estaria “convencido”, segundo o ministro, de que não é possível implantar o projetosem as grandes teles. “O presidente da República está consciente de que um projeto dessa magnitude tem de envolver sim as empresas”, afirmou. Para implantar o projeto de banda larga, o governo pretende usar redes da Petrobrás, Eletrobrás e Eletronet,queformariamaestrutura principal. Faltariam as ramificações para chegar ao usuário final e, segundo Costa, o governo não investirá nisso. O presidente da Oi avaliou que a participação das teles pode minimizar a necessidade de investimento público. Segundo ele, não faz sentido ficar duplicando redes. “Estamosdispostosaentrarnesteprojeto, assimcomoentramosemtodososoutrosprojetos para os quais fomos chamados”, afirmou Falco. ●
BRASÍLIA
A Telefônica deu ontem mais um passo para a possível compra da GVT, ao apresentar na AgênciaNacionaldeTelecomunicações (Anatel) o pedido de anuência prévia para o negócio. Já está no órgão regulador um pedido semelhante, feito pelo grupo francês Vivendi, que apresentouháummêsumaproposta de compra da GVT, mas aindanãohánenhumadeliberação sobre o assunto. O presidente da Telefônica, Antonio Carlos Valente, disse que está “otimista” de que sua proposta será aceita. Ele avaliou que a eventual aquisição da operadora faz todo sentido para a Telefônica, principalmente para ampliar sua atuação no mercado brasileiro. Ele avaliou ainda que o negócio pode ser bastante positivo para a GVT que poderá contar com a “musculatura financeira” da Telefônica. Valente acrescentou que será bom também para a sociedade, porque vai incentivar a competição. O presidente da Oi, Luiz EduardoFalco, disseque a ofertadaTelefônicajá“estavaescrita”. “É natural. Sempre achei que a Telefônica iria comprar a GVT. A surpresa foi a Vivendi, que se antecipou ao movimento da Telefônica”, afirmou. O executivo lembrou que sempre defendeu a tese de que o mercado brasileiro se consolidaria em trêsgrupos, referindo-seàTelefônica, à Telmex (Embratel e Claro) e à Oi, que no ano passado comprou a Brasil Telecom (BrT). ● G.M.
� Edição de
23h15
o estado de s. paulo
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
CADERNO 2
â—?â—? Livro de
ILUSTRAĂ‡ĂƒO BAPTISTĂƒO
Jonathan Gould, jazzista erudito, mergulha fundo na obra dos Beatles. Foram necessĂĄrios 20 anos de pesquisa. â—?
SĂ BADO Rumo Ă Ă frica â—?â—? Estreia hoje coluna
â—?â—? O script para a
semanal que traz os bastidores da Copa de 2010, alĂŠm de enquetes e a memĂłria do campeonato que mobiliza o mundo. â—?
troca do tÊcnico argentino jå estå pronto. Mas só após a classificação. �
�� A cobra Isac Ê atração principal de peça encenada em fazenda de Itu. � MARCIO FERNANDES/AE
Maisde5%dafaixade18a24anos nĂŁoestuda,nĂŁotrabalhaenĂŁoajudaem casa ção dos jovens que cursam uma universidade. Uma dĂŠcada antes, o porcentual era de 6,9%. O Ăndice de brasileiros que frequentam instituição de ensino superior, independentemente da idade, chegou a 30%. O crescimento se explica pela expansĂŁo das universidades e pelo aumentoda ofertade bolsas do governo federal. â—? PĂ GS. A22 e A23
DIRETOR:
RUY MESQUITA
O Ăşltimo tango de Diego Armando
Mais de 1,2 milhĂŁo de jovens no PaĂs sĂŁo ociosos, diz IBGE go,masoutrosfatores,como deficiĂŞncias, doenças ou simplesmente falta de ocupação, tambĂŠm pesaram, segundo os pesquisadores. A inatividade ĂŠ maior entre os homens, porque as mulheres, quando nĂŁo tĂŞm emprego, em geral se incumbem de tarefas domĂŠsticas. Por outro lado, na mesma faixa etĂĄria, passou para 13,9% a propor-
(1891-1927)
10 de outubro de 2009 --ANO 130. NÂş 42361
JUAN MABROMATA/AFP
A SĂntese dos Indicadores Sociais do IBGE mostra que, em 2008, 1,2 milhĂŁo de jovens de 18 a 24 anos nĂŁo exerciam atividade produtiva – nĂŁo trabalhavam, nĂŁo estudavam e nĂŁo ajudavam em afazeres domĂŠsticos. O nĂşmero representava 5,37%dototaldapopulaçãonessa faixa etĂĄria. O fenĂ´meno se deveemboaparteaodesempre-
JULIO MESQUITA
 �
Devolução do IR agora pode ser acelerada O governo estuda ampliar os dois últimos lotes de restituição do Imposto de Renda de 2009, previstos para novembro e dezembro,como respostaaoconstrangimentocausadopelainformação de que a Fazenda retarda as devoluçþes para reforçar o caixa. O governo avalia que a economia, de R$ 1,5 bilhão atÊ agora, não teria compensado o desgaste com a classe mÊdia. A Receita intimou 110.605 empresas a pagar dÊbitos em aberto, no total de R$ 4,7 bilhþes, atÊ 30 de novembro. � Pà GS. B1 e B3
Nobel da Paz a Obama surpreende Americano recebe prĂŞmio por iniciativas diplomĂĄticas cujos efeitos ainda sĂŁo incertos
Lula chama de ‘vandalismo’ ação do MST em fazenda
CHARLES DHARAPAK/AP
O presidente dos EUA, Barack Obama, ganhou ontem o Nobel da Paz. Segundo o comitĂŞ do prĂŞmio, Obama recebeu a honraria “por seus extraordinĂĄrios esforçospara fortalecer adiplomacia e a cooperação entre os povosâ€?. A decisĂŁo surpreendeu a comunidade internacional, uma vez que o resultado das iniciativas diplomĂĄticas de Obama ainda ĂŠ incerto. JĂĄ os defensores da premiação argumentam que Obama alterou a imagem da liderança americana no mundo. â—? PĂ GS. A14 e A16
O presidente Lula chamou de “vandalismoâ€? a ação dos semterraemfazendanointeriorpaulista – pĂŠs de laranja, mĂĄquinas agrĂcolas e instalaçþes foram destruĂdos. “Todo mundo sabe que sou defensor das lutas sociais.Agora,entreumamanifestação reivindicando alguma coisa e aquela cena de vandalismo, obviamente eu nĂŁo posso concordar com aquiloâ€?, disse. Nos Ăşltimoscincoanos,ogovernorepassou R$ 115 milhĂľes a entidades ligadas ao MST. â—? PĂ G. A4
ANĂ LISE
Glenn Kessler
Aviação
David Barioni deixa o comando da TAM
THE WASHINGTON POST
Prêmio Ê um peso Barack Obama serå julgado por esse novo parâmetro. Um ataque ao Irã pode ser do interesse dos EUA, mas seria algo que um ganhador do Nobel da Paz autorizaria? � Pà G. A16
â—?â—? FamĂliaAmaroestavades-
contente com o desempenho do executivo. â—? PĂ G. B10
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 71 DIAS q PĂ G. A11
NOTAS E INFORMAÇÕES
O fiasco da OEA A missĂŁo da OEA que foi a Honduras nĂŁo tinha um plano para pacificar o paĂs nem uma estratĂŠgia que pudesse solucionar o conflito. â—? PĂ G. A3
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SATISFAĂ‡ĂƒO – Barack Obama, na Casa Branca: presidente disse que o prĂŞmio nĂŁo ĂŠ dele, mas dos americanos, que ‘inspiram o mundo’
Tempo: CAPITAL
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MĂ X.
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MĂ?N.
CĂŠu nublado, com possibilidade de aberturas de sol Ă tarde.
Hoje: 98 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 26 â—? B. Economia: 12 â—? C. MetrĂłpole: 10 â—? D. Caderno2: 14 â—? E. Esportes: 4 â—? Es. Estadinho: 8 â—? Ca. Autos: 12 â—? Ci. ImĂłveis: 12 (2.448 anĂşncios)
Italiano vĂtima de Battisti pede para depor no STF O italiano Alberto Torregiani pedepara depor aos ministros brasileiros do STF, que julgam o pedido de extradição do ativista Cesare Battisti. “Seria correto ouvir o que as vĂti-
mas têm a dizer�, afirma Torregiani, que vive numa cadeira de rodas desde que foi atingido por um tiro, em 1979. Seu pai, um joalheiro, foi morto no mesmo atentado. � Pà G. A6
Sem Enem, cursinhos mudam planos â—?â—? Com adiamento do Enem,
o principal objetivo das aulas nos cursinhos, agora, Ê a preparação para os vestibulares deFuvest,Unesp eUnicamp, em novembro. � Pà G. A24
SĂŠrgio Augusto
EUA e França: dois sÊculos de discórdia Caso Polanski e reforma doseguro-saúdereforçamvisþes antagônicas. � Pà G. D6
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Pesquisa
Nasa joga foguete contra a Lua �� Operaçãofeitaontembusca confirmar presença de ågua no satÊlite. � Pà G. A25
SÁBADO, 10 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 71 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Cientista político critica censura ao ‘Estado’ Gilberto Palma, diretor do Ágora, vê interferência do senador José Sarney no caso Moacir Assunção
Para o cientista político Gilberto Palma, diretor do Instituto Ágora em Defesa da Cidadania, ONGquefiscaliza CâmarasMunicipais, a censura ao Estado demonstra que ainda prevalecem no Brasil relações promíscuas entre os Poderes. Desde 31 de julho, o jornal está proibido, por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), de publicar re-
portagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou os negócios da família Sarney. A liminar foi concedida pelo desembargador Dácio Vieira, a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Palma considera a censura ao Estado paradigmática, por refletir um comportamento que, em sua visão, não se coadunacomumPaísmodernoerepu-
NACIONAL NACIONAL A11 A11
blicano.“Nemdelonge,osPoderes têm funções de complementaridade. Eles existem para fazer o que chamamos de política de contrapeso, de forma a garantir a sobrevivência da própria democracia”, afirmou. O cientista político vê indícios de que houve interferência do Legislativo, na figura do presidente do Senado, no Judiciário. “Isso é uma lástima, é profundamentelamentávelqueainda ocorram no País situações
como esta”, declarou Palma, que recentemente participou, na Alemanha, de um congresso internacional sobre o acesso a informações públicas. EXEMPLO
Ocasodo Estado,relatouoanalista,foicitadodurante oencontronaEuropacomodemonstração de uma tentativa de obstruira livrecirculaçãodasinformações e de censura à imprensa, sem que haja uma resposta
proporcionaldosPoderes constituídos. Falou-se, também, da situaçãoemoutrospaíses daregião,comoArgentina,Venezuela, Honduras e Equador. “Vi algumas manifestações do Supremo Tribunal Federal contrárias à censura, mas, apesar disso, sem tomar alguma medida mais dura contra o tribunal que a determinou”, disse. O presidente do STF, ministroGilmarMendes, temseposicionado, em várias ocasiões, de
forma crítica à mordaça imposta ao Estado. ‘VERGONHA’
Para o especialista, a censura trará problemas à imagem do Brasil no exterior, onde o país é tido como uma grande democracia emergente. “É um marco de descrédito e de muita vergonha”, assinalou. O cientista político afirmou que pretende encaminhar o caso do jornal às ONGs europeias que lutam em prol da liberdade de acesso às informações pública. “Com certeza, as entidades que lutam pela liberdade de informação vão querer receber essas informações e se posicionar sobre o assunto”, salientou Palma. ●
+ 9 AMAZONAS
Ex-deputado acusado de crime se entrega Foragido desde segunda-feira, quando foi decretada sua prisão, o ex-deputado estadual Wallace Souza (PMN) se entregou na madrugada de ontem à Polícia Civil. Souza,queteve omandatocassado na semana passada, é acusado de homicídio, tráfico de drogas, coação de testemunhas, porte ilegal de armas e formação de quadrilha. O exdeputadoésuspeitodeterencomendado assassinatos para alavancar a audiência de seu programa de TV. Depois de passar pelo exame de corpo de delito, ele foiconduzido à Unidade Prisional do Puraquequara, em Manaus, onde ficará 15 dias em regime de isolamento. JUDICIÁRIO
Mendes defende aumento de salários O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, defendeu ontem o reajuste de salário para os servidores do Poder Judiciário.Segundoele,háumadefasagem entre as remunerações pagas pelo Judiciário em comparação a outros Poderes. Como exemplo, ele citou que um analista judiciário recebe, em início de carreira, recebe R$ 6,5 mil, enquanto os vencimentos iniciaisem órgãos de outros Poderes variam de R$ 10 mil a R$ 13 mil. Na quinta-feira, os presidentes de tribunais aprovaram uma proposta de revisão dos salários de servidores que pode representar um aumento de mais de 80%. SÃO PAULO
Prefeitos preparam marcha de protesto Será realizada nos dias 11 e 12 de novembro a Marcha Paulista em Defesa dos Municípios, rumo à Assembleia Legislativa. O objetivo é reunir osprefeitosemtornodosproblemas enfrentados em setorescomosaúde,educação,segurança pública e tributação.AorganizaçãoédaFrenteNacionaldosPrefeitos.Entre as queixas que serão levadaspelosadministradoresestão decisões judiciais que sobrecarregam as contas das prefeituras, como aluguel de prédiospúblicosparadelegacias e prestação de serviços detransporteescolarefornecimentodemerendaemestabelecimentos estaduais. ALAGOAS
Vilela anuncia maior estaleiro em Coruripe O governador Teotônio Vilela Filho (PSDB) anunciou que o município de Coruripe contará com o maior estaleirodasAméricas,cominvestimentos de R$ 1,5 bilhão. Segundo ele, a obra possibilitará a construção de navios de grande porte, além de gerar, já no primeiro ano de funcionamento, pelo menos 4.500 empregos diretos. O anúncio foi feito ontem na sede da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Energia e Logística. De acordo com o governador, as obras do estaleiro terão início já a partir de janeiro , no PontaldeCoruripe,a 130quilômetros de Maceió.
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o estado de s. paulo
Edição de 0h15
DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
tv&lazer
CLASSIFICADOS
11.126
Meio século de Didi Mocó
é o total de ofertas
6.183
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empregos
Dividido entre diversos projetos, Renato Aragão comemora o aniversário do personagem. ●
Fim de ano: nos shoppings de SP, 25% mais vagas. ●
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
11 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42362
Os desafios do Enem ALIÁS Limitações do sistema
VIDA& Modelo único no mundo
Especialista em avaliação educacional afirma que o Enem não democratiza o acesso ao ensino superior. ●
Vestibular centralizado só existe no Brasil; em outros países há entrevista e análise de currículo. ● PÁG. A20
ZÉ PAULO CARDEAL/TV GLOBO
ANTONIO MILENA/AE
Eike Batista negocia fatia na Vale e critica Agnelli Empresário afina discurso com Lula e pede que mineradora invista mais no País ção na mineradora Vale. Em entrevista ao Estado e à AE Broadcast,Eikeapontacomoerroatentativa de aquisição da anglo-suíça Xstrata. Preferia direcionar investimentos para o Brasil, em especial na siderurgia. Sobre a
Irany Teresa David Friedlander
O empresário Eike Batista buscaacordocomaPrevi,ofundode pensão dos funcionários do Banco do Brasil, para ter participa-
Lei reforça poder dos Kirchners na mídia
gestão de Roger Agnelli na Vale, faz coro com o presidente Lula: “A gente não pode ser eterno exportador de matéria-prima”. Sérgio Rosa,presidente da Previ, seria seu escolhido para comandar a Vale. ● PÁGs. B1 e B3
FRASE
“De fora, enxergo na Vale diamantes não polidos a rodo” Eike Batista
Com fim da crise, Brasil volta a lidar com gargalos Com a retomada do crescimento, voltam a assombrar o setor produtivo antigos problemas, como a precariedade de ferrovias, estradas e portos. Só o aumento da produção de soja pode acrescentar 175 mil carretas duplas nas rodovias, ameaçando o sistema logístico. As obras do PAC estão em ritmo lento e o Brasil,entreosprincipaisemergentes, é o que tem a pior oferta de transporte. ● PÁG. B6
Alckmin reage a ‘exílio’ tucano para consolidar candidatura
SEM-TERRA: UM NOVO PONTAL EM SÃO PAULO
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, conseguiram a aprovação no Senado da lei de radiodifusão – um golpe direto no Grupo Clarín e que vai reduzir a liberdade de atuação de canais de TV e estações de rádio. ● PÁG. A16
Opré-candidatodoPSDBaogoverno paulista Geraldo Alckmin mudou a estratégia, informam as repórteres Julia Duailibi eVera Rosa. Mantido pelos tucanos num “exílio” político, o líderdaspesquisasagora trabalhapara sefortalecer eneutralizar a saída de nomes como o de Gabriel Chalita. ● PÁG. A10
Afeganistão desafia o novo Nobel da Paz Com o peso do Nobel da Paz, recebido anteontem, Barack Obama deverá decidir se enviaaté40milsoldadosaoAfeganistãoparacombatera AlQaeda e o Taleban. ● PÁG. A12
KEINY ANDRADE/AE
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 72 DIAS q PÁG. A11
Susto
Incêndio atinge shopping em SP ●●● Assentamento
Aimorés, na região de Bauru; fazendeiros temem que o centro-oeste pau-
lista se torne um novo Pontal do Paranapanema, famoso pelos conflitos agrários, após a
depredação de fazenda da Cutrale e a invasão de outras 12 propriedades. ‘É uma guerra
desigual, pois eles têm muito dinheiro’, disse um fazendeiro a respeito do MST. PÁG. A4
●● Fogo começou no telhado do Bourbon, na Pompeia. Não houve feridos. ● PÁG. C9
CULTURA Tempo: CAPITAL
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Sol predomina e a temperatura sobe na capital e no litoral. Tiragem: 301.682 Hoje: 214 páginas A.1ºcaderno:26 ● B.Economia: 12 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 8 ● J. Aliás: 8 ● T. TV& Lazer: 20 ● M. Casa&: 32 ● F. Feminino: 16 ● Ca. Autos: 22 ● Ce. Empregos: 8 ● Ci. Imóveis: 28 ● Co. Oportunidades: 10
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ESPORTES
ANÁLISES
São Paulo se complica O São Paulo perdeu de virada, por 2 a 1, para o Flamengo, no Maracanã. Está a 5 pontos do líder Palmeiras, que joga amanhã. No Pacaembu, o Corinthians derrotou o Grêmio por 2 a 1, com um gol de Ronaldo. O
THOMAS FRIEDMAN
O fato atual mais relevante é que a China Vermelha quer ser a China Verde. ● PÁG. A18
●●● ELIMINATÓRIAS
Estelionato fiscal
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Inter só empatou com o Atlético-PR (1 a 1). ● PÁGS. E1 a E3 Em jogo dramático, a Argentina venceuoPeru (2 a 1). Classificado,oBrasil joga às17 horas contra a Bolívia. ●PÁGS. E4 e E5
NOTAS E INFORMAÇÕES
PEDRO MALAN
Não dá para avançar em áreas cruciais. O Brasil pós-Lula terá de fazer reformas. ● PÁG. A2
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O governo resolveu fazer caixa com dinheiro alheio, retendo a devolução do IR. O truque serve para atenuar o efeito da gastança num ano de crise. Em termos mais simples, meteu a mão no bolso dos outros para compensar a própria irresponsabilidade. ● PÁG. A3
Darwin no DNA ●● Especialista diz a Daniel Piza que a genética dá razão à teoria da evolução. ●
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São Paulo
Campos de várzea têm apoio oficial ●● Em três anos, 300 foram reformados. ● PÁG. C1
DOMINGO, 11 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
Estelionato fiscal
O
governo resolveu fazer caixa com o dinheiro alheio, retendo a devolução do Imposto de Renda pago a mais pelos contribuintes. Está usando esse truque para atenuar o efeito da gastança federal num ano de crise. Em termos mais simples, decidiu meter a mão no bolso dos outros para compensar a própria irresponsabilidade financeira. A lambança começou em junho, quando foi liberado o primeiro lote de restituições, e ninguém sabe quando terminará. No ano passado foram devolvidos R$ 5,6 bilhões até setembro. Neste ano, apenas R$ 4,3 bilhões. O quinto lote, prometido para 15 de outubro, deverá ser de R$ 1,1 bilhão – R$ 300 milhões a menos que o lote correspondente em 2008. Tudo isso é normal, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele nem sequer descartou a hipótese de ficar para o próximo ano uma parte da devolução. “Não há regra rígida sobre isso”, limitou-se a comentar. Segundo o ministro, não haverá perda para o contribuinte porque o valor devolvido com atraso será corrigido pela Selic, a taxa básica de juros. Além de ser ridículo, o argumento denota uma escandalosa falta de respeito aos con-
tribuintes. Quem tiver tomado empréstimo bancário para pagar com a restituição terá um sensível prejuízo. Os juros devidos ao banco serão bem maiores que a taxa Selic. Mas esse não é o único problema. É direito do contribuinte, quando credor do governo, receber seu dinheiro no prazo estipulado pelo próprio Fisco. A violação desse prazo interfere na vida das chamadas pessoas comuns, as mais indefesas diante das arbitrariedades de quem exerce o poder público. Quantos desses contribuintes precisariam desse dinheiro para resolver um problema de saúde ou para realizar qualquer outra despesa essencial ao seu bem-estar? Mas nem deveria ser preciso formular perguntas como essa. Sejam quais forem os seus objetivos, as pessoas têm simplesmente o direito de receber no prazo normal o dinheiro devido pelo governo. Cabe a cada um decidir se esse dinheiro será usado para cuidar da saúde ou para comprar uma roupa da moda. É só uma questão de direito, mas esse ponto parece ultrapassar a compreensão do ministro da Fazenda. O ministro abusa da inteligência alheia tam-
A gangue vandálica do MST
O
anúncio do delegado Jader Biazon, da Polícia Civil de Borebi, de que vai pedir a prisão dos integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) que participaram da depredação da Fazenda Santo Henrique, da empresa Cutrale, dá a esperança de que algo comece a ser feito para reverter a desmoralização da autoridade pública e dos direitos da pessoa que as operações desse dito “movimento social” têm provocado. E o delegado já identificou seis envolvidos, entre os quais dois líderes do MST, e está munido de farto material probatório dos crimes cometidos pela gangue emessetista, razão por que já formalizou inquérito indiciando os sem-terra por formação de quadrilha, esbulho possessório, furto e dano. O pedido de prisão temporária ou preventiva desses meliantes será encaminhado ao Fórum de Lençóis Paulista, nos próximos dias. E, de posse dos números das placas dos veículos dos sem-terra que estavam na fazenda, durante a operação, o delegado espera identificar outros suspeitos. Cabe registrar que, se foram tão chocantes quanto esclarecedoras do modus operandi habitual do MST, as imagens captadas por helicóptero pela Polícia Militar, da depredação vandálica de instalações, da destruição de milhares de pés de laranja, de tratores e de equipamentos de produção agrícola, o trabalho pericial descobriu um grau de destruição ainda maior, não captado pelas câmeras. Os invasores também furtaram equipamentos, defensivos e perten-
ces de oito famílias de colonos da fazenda, o que leva a concluir que, apesar dos métodos “revolucionários” ou terroristas que usam em suas operações, no fundo a ação do MST tem mais a ver com o velho cangaço, com o saque como objetivo principal. E não lhes interessava apenas lesar uma empresa capitalista, com um prejuízo calculado em R$ 3 milhões, mas sim saquear até empregados rurais e suas famílias, apropriando-se de pertences de suas casas. “A sociedade está revoltada e cobra uma resposta da polícia”, disse o delegado Biazon,
A impunidade cria espaço para o crescimento da audácia criminosa ao que acrescentaríamos: da polícia, do Ministério Público, da Justiça e das altas autoridades federais, especialmente das que se mostraram “indignadas” pelas ações “grotescas” do MST, mas nunca se negaram a dar dinheiro público para uma entidade que insiste em permanecer fora da lei, justamente para não ser fiscalizada a respeito do emprego das verbas públicas que recebe por meio de suas “associadas”, cooperativas e ONGs com registro de pessoa jurídica. Quando estava para ser aprovado, no Congresso Nacional, um pedido de CPI mista para investigar o uso de verbas públicas pela entidade dos sem-terra, o governo pôs para funcionar seu rolo compressor majoritário, que provocou a retirada de 26 assinaturas de
adesão ao pedido. Assim é que aquela CPI deixou de ser aprovada porque teve 3 votos a menos do que os necessários 171 – número, por sinal, sugestivo, no Código Penal. Agora, depois que aquelas cenas “grotescas” foram mostradas ao País inteiro, pelos telejornais, a senadora Kátia Abreu (DEMTO) afirma já ter coletado 35 assinaturas, superando as 27 necessárias para a instalação de uma CPI no Senado, cujo objetivo principal será apurar o destino e o emprego das verbas federais repassadas a entidades ligadas ao MST, no total de R$ 115 milhões, em cinco anos. Disse ela que a invasão e depredação da fazenda da Cutrale facilitou a coleta: “Aquilo revoltou a sociedade e o Congresso. Em duas horas conseguimos mais de 30 assinaturas”, informou. Quando foi tentada a instalação da CPI mista, um grupo de “intelectuais” fez um abaixo-assinado para que não se fizesse aquela investigação parlamentar. Qual a razão dessa aberrante manifestação contra a transparência no emprego de dinheiro público, contra o respeito ao direito das pessoas e contra o ordenamento jurídico do País? Aí talvez só se chegue a uma resposta de tipo shakespeariano, dizendo que há mais coisas entre os intelectuais e as ONGs que recebem verbas governamentais do que sonha nossa vã filosofia... De qualquer forma, se sair a nova CPI do MST ainda restará uma nesga de esperança quanto à cobrança do respeito à lei, neste país.
bém ao mencionar a crise para justificar mais esse assalto ao contribuinte. Segundo ele, a arrecadação tem sido mais baixa, “tem sido um ano de ajuste” e, portanto, talvez a restituição demore. De fato, a arrecadação tem sido menor que a do ano passado, porque houve retração econômica e, além disso, o governo concedeu incentivos fiscais a alguns setores. Mas não houve nenhum ajuste nas contas públicas. Ao contrário: de janeiro a agosto a receita do governo central foi 1,5% menor que a de um ano antes, em termos nominais, mas a despesa foi 15,9% maior. São números divulgados pelo Tesouro Nacional. Os gastos com pessoal foram 19,1% superiores aos de igual período de 2008, principalmente por causa da elevação de salários do funcionalismo. Mas esses dados ainda são insuficientes para mostrar como o governo desperdiça o dinheiro público. Uma comparação mais instrutiva foi preparada pelos especialistas da organização Contas Abertas, com base em números oficiais. Nos 12 meses anteriores ao agravamento da crise internacional – de outubro
de 2007 a setembro de 2008 – foram gastos R$ 135 bilhões com pessoal e encargos sociais dos Três Poderes e R$ 25,3 bilhões em obras e compras de equipamentos. Nos 12 meses seguintes – até setembro deste ano – as despesas com pessoal chegaram a R$ 162 bilhões e os desembolsos para investimentos alcançaram R$ 29 bilhões. A conta do pessoal ficou portanto 20% maior, enquanto o valor investido aumentou apenas 13%. Em tempos de recessão, a política razoável seria uma combinação de impostos menores e investimentos maiores – não uma elevação do custeio permanente. Mas o governo seguiu o caminho mais fácil, mais compatível com sua escassa competência administrativa e com seus objetivos político-partidários. Política de pessoal, no governo petista, não tem relação com produtividade e qualidade do serviço público, mas com interesses de tipo eleitoral. Se o governo recorre a um estelionato fiscal, adiando a restituição devida, não é por causa da crise, mas de seu estilo de gestão e de seus objetivos políticos. Ao contribuinte indefeso resta pagar. Tudo normal, diz o ministro da Fazenda. Normal, de fato, em governos desse tipo.
Salários dos sonhos
N
em em sonho um trabalhador do setor privado, por mais competente que seja, pode esperar que um dia seu empregador reúna todos os trabalhadores da empresa para, numa época em que a inflação anda pela casa de 4,5% ao ano, anunciar aumento geral de 80%, mesmo sendo a empresa disparadamente a mais eficiente de seu segmento. Mas o que, para o esforçado empregado de uma empresa privada, não aparece nem em sonho vai virar realidade para os servidores do Poder Judiciário. Pouco depois de obterem aumento de 9% em seus vencimentos, a ser pago em duas etapas, os presidentes dos tribunais superiores aprovaram a proposta de aumento dos salários dos servidores do Judiciário, que pode chegar a 80,17% sobre os vencimentos atuais. Essa decisão foi tomada num momento em que a arrecadação tributária, com a qual se paga o funcionalismo, está diminuindo e, por continuar a gastar demais, o governo usa de artimanhas para fazer caixa, inclusive retendo indevidamente dinheiro recolhido a mais pelos contribuintes. Pela proposta, um analista judiciário em início de carreira, que hoje recebe R$ 6.551,52, passará a receber R$ 11.803,66; no fim de carreira, o vencimento passará de R$ 10.436,12 para R$ 18.802,40, remuneração rara no setor privado. Das três carreiras do Judiciário, a de analista é a mais bem remunerada. A carreira que tem os menores vencimentos é a de auxiliar judiciário, para a qual se exige apenas o ensi-
no fundamental. Um auxiliar em início de carreira recebe hoje R$ 1.988,19; com o aumento proposto, passará a ganhar R$ 3.582,06. Ao se aposentar, sua remuneração atual pode chegar a R$ 3.767,06; com o aumento, chegará R$ 6.786,98. A proposta ainda deverá ser aprovada pelos ministros do STF, o que deverá ocorrer até a próxima quinta-feira, dia 15, de modo que possa ser enviada ao Congresso, possivelmente no dia 19. O texto aprovado pelos presidentes dos tribunais superiores prevê aumento de 15% do salário-base dos servidores do
Servidores do Judiciário podem ganhar régios aumentos salariais Poder Judiciário Federal. Como esse salário não é corrigido há algum tempo, aparentemente não é uma correção despropositada. O que está fora dos padrões de correção dos salários da imensa maioria dos brasileiros é o grande aumento da chamada Gratificação de Atividade Judiciária, conhecida como GAJ pelos servidores. Essa gratificação foi criada por lei em 1996, para substituir a antiga gratificação extraordinária que vigorava desde 1989, como forma de melhorar a remuneração dos servidores do Judiciário sem necessariamente aumentar o valor de seu salário. No início de sua vigência, a GAJ representava uma porcentagem variável do salário-base das diferentes carreiras do Judiciário, mas era muito baixa. Tanto que, em 2002, ela foi de-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Eocara...
Isonomia
Nunca antes neste Brasil houve um calote federal tão vergonhoso quanto este adiamento da restituição do Imposto de Renda (IR) cobrado a mais. Eles cobram, eles gastam e nós pagamos. Trambique, vigarice, má-fé, incompetência, descaramento, maracutaia... Talvez por isso Lula seja o “cara”, mas o Nobel vai para o Obama.
O sr. ministro da Fazenda, ao falar sobre o atraso na restituição, deu como desculpa que não haverá prejuízo para o contribuinte, uma vez que o IR será restituído corrigido pela Selic. Pergunto ao sr. ministro: posso pagar os meus impostos, após o vencimento, somente com a correção, sem multa? Isonomia, sr. ministro!
HELTON PERILLO FERREIRA LEITE
ALVAREZ AGUILAR
heltonperillo@terra.com.br
alvarez.atib@hotmail.com
palavra a dra. Lina Vieira.
apagão na Receita Federal, mexendo irresponsavelmente na direção do órgão e concedendo isenções sem um mínimo de planejamento. Agora, vai garfar nossa restituição do IR, sem o menor constrangimento. Também não sabe o que fazer com a enxurrada de dólares que está entrando no País. E como só sabe aumentar os juros, trata de inventar um culpado, os “especuladores” (Excesso de otimismo preocupa, 9/10).
Lorena
São Paulo
GISELE MONTENEGRO
CELITA GOMES
gamadvsp@uol.com.br
celitagomes47@gmail.com
São Paulo
São Paulo
Saídamais fácil
‘Câmbio,açãoe reação’
O governo Lula está sempre procurando a saída mais fácil para os problemas que criou ou não sabe resolver. Primeiro, promoveu um
Para derrubar o custo Brasil não basta reduzir a carga tributária, diminuir os encargos sociais, investir em infraestrutura, etc.
Calote Agora o “cara” deu calote. Ainda não sabem, depois de quase sete anos, gerir as contas do País. MANUEL PIRES MONTEIRO manuel.monteiro@eutectic.com.br
São Paulo
Ninguém me tira da cabeça que o atraso na restituição do IR não esteja sendo orquestrado por alguém de fora do Ministério da Fazenda que monitora os fiéis superintendentes da Receita Federal. É o que dá brigar com o segundo escalão. Com a ●
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Reforma agrária: tá passando da hora de mandar o MST plantar batatas! Aliás, para o MST, Lulla é apenas um laranja”
A.Fernandes standyball@hotmail.com SãoPaulo
finida em 12% do salário-base. Desde então, porém, essa porcentagem vem sendo sucessivamente corrigida, e, em 2006, foi fixada em 50%. O acréscimo da diferença em relação à porcentagem anterior, de 30%, aos vencimentos dos servidores foi escalonado e a última parcela foi acrescentada em dezembro. Como, desde a criação dessa gratificação, conseguiram vantagens adicionais sempre que um benefício passou a ser pago integralmente, também dessa vez os servidores pressionaram para obter novos aumentos. Só que, dessa vez, os presidentes dos tribunais superiores aprovaram um aumento excepcional, pois elevaram a GAJ de 50% do salário-base para nada menos do que 135% do salário-base, daí o aumento dos vencimentos total dos servidores do Judiciário superar 80%, mesmo com a correção bem menor do salário-base. Ainda não foi calculado o impacto desse aumento sobre os gastos públicos. É preciso destacar, porém, que o impacto não se limitará à folha de pessoal do Judiciário. Haverá um efeito em cascata, pois aumentos como esses estimulam servidores de outras carreiras do funcionalismo, em outros níveis de governo, a reivindicar para si benefícios semelhantes, sob a alegação de similaridade de funções ou de requisitos profissionais. O efeito se estenderá para Estados e municípios. No caso do aumento para os ministros dos tribunais superiores, o efeito em cascata é automático, pois os vencimentos de todos os juízes federais e membros do Ministério Público Federal serão corrigidos na mesma proporção.
(Celso Ming, 9/10, B2). É necessário, sim, eliminar a burocracia e o custo político, em muito superiores ao somatório da carga tributária, dos encargos sociais, da infraestrutura, etc. ARTUR VALTER JANJON avjanjon@hotmail.com
Americana
Popularidade A alta popularidade de um presidente da República está a serviço do quê, num país onde o atendimento à saúde é de Terceiro Mundo; um jornal está sob censura há 72 dias; a poupança da classe média tem rendimento negativo no sistema financeiro; uma embaixada está abrigando conflito interno de outro país, contrariando a tradição nacional de neutralida-
de; um advogado é indicado para alta Corte de Justiça apenas por razões políticas, e não por alto saber jurídico; o Bolsa-Família é apenas um projeto eleitoral, e não uma forma de introduzir as famílias carentes no mercado de trabalho; as mazelas do Congresso Nacional são admitidas com um “não sei de nada”; a descoberta do petróleo no pré-sal está ressuscitando o nacionalismo moreno ditatorial getulista; o ufanismo pessoal é mais importante que as políticas públicas; e a carga fiscal continua a mais vergonhosa entre os 50 maiores países do planeta? Convenhamos, só serve a um projeto de poder pessoal muito maior do que podemos imaginar! FRANCISCO JOSÉ SIDOTI fransidoti@terra.com.br
São Paulo
DOMINGO, 11 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A11 A11 + 9
DEFESA
Jobim reafirma preferência por caça Rafale
RIO GRANDE DO SUL
Yeda diz temer ‘golpe’ e desiste de ir aos EUA A governadora Yeda Crusius (PSDB) desistiu de viagem aos EUA que faria este fim de semana. Ela alegou temor de um “golpe” do vice-governador Paulo Afonso Feijó (DEM)–que denuncioucaixa 2 em seu governo. “Não é horadepassarocargo.Éumrisco.Se ele tem uma atitude como essa fora do cargo, imagine como vai ser se estiver no cargo.” Yeda teria compromissos particulares na CalifórniaesereuniriacomrepresentantesdoBanco Mundial.
Ministro manifestou, porém, preocupação com empresa francesa
PARANÁ
Municípios terão plano de desenvolvimento
Pedro Dantas RIO
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reafirmou a preferência do Brasil pela compra dos 36 caças franceses Rafale. “A preferência é do presidente Lula, tendo em vista nossa parceria estratégica com a França e a afirmação do presidente Nicolas Sarkozy sobre a transferência irrestrita de tecnologia”, afirmou. Ele manifestou, no entanto, preocupação se a Dassault, empresa fabricante do caça, vai aceitar a condição brasileira para a compra. “A fabricante é privada e as ações do governo francês são preferenciais sem direito a voto. É necessário saber se a proposta da Força Aérea Brasileira, que exige transferência irrestrita de tecnologia, será aprovada”, ressaltou Jobim. A preocupação do ministro causou surpresa. Em setembro, o almirante Edouard Guillaud, chefe do gabinete militar do presidente francês, esteve em Brasília, em companhia do vice-presidente da Dassault, para trazer a garantia de transferência de tecnologia “completa, sem restrição e sem limite”. DISPUTA
A última fase da licitação do projeto chamado de F-X2, com participação direta das empresas que disputam a venda de 36 caças de alta tecnologia para o Brasil, foi encerrada no início deste mês, com a apresentação das propostas finais, todas ampliadas, ao Comando da Aeronáutica. Além da francesa Dassault,participamanorteamericanaBoeing,queoferece o F-18, e a sueca Saab, com o Gripen NG. Todasmelhoraramsignificativamente suas ofertas. A Dassaultviu-seobrigadaareduzir seu preço – tanto pelo custodahoradevoo,considerado muito alto pelo governo brasileiro, quanto pela cifra referente ao valor de aquisição. A Saab fez contraponto à concorrente francesa, que anunciou a compra de uma dezena de aviões KC-390, o novo transporte militar projetado pela Embraer. Já a Boeing reforçou o compromissode abertura de conhecimento sensível e, pela primeira vez, citou uma preciosidade da engenharia militar americana – a tecnologia de furtividade, que dá ao avião capacidade de evitar a detecção por radares e sensores inimigos. ●
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Aviões devem custar US$ 7,7 bi O programa militar para a compra do lote de 36 caças terá um custo estimado de US$ 7,7 bilhões. Na semana passada, a Embaixada dos Estados Unidos divulgou nota reiterando a oferta feita ao governo brasileiro para que opte pelo caça da Boeing F-18 Super Hornet. Em
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 72 DIAS
Estocolmo, a ministra do Comércio Exterior da Suécia, Ewa Björling, aproveitou a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reforçar o lobby em favor da Saab, fabricante dos caças Gripen NG. Lula estava lá na semana passada paraPUBLICITÁRIO a CúpuINFORME la Brasil-União Europeia. ●
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Especialista vê um conjunto de tentativas para calar oposição Além da mordaça imposta ao jornal, a cientista política Lourdes Sola se diz preocupada com os ataques contra o TCU e o Ministério Público Moacir Assunção
A cientista política e professora da Universidade de São Paulo (USP) Lourdes Sola, colaboradora do Estado, vê com “extrema preocupação” a evolução dos episódios que levaram à decretação da censura contra o jornal desde o dia 31 de julho, por decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). Para ela, que é especialista em políticas públicas, a questão não deve ser analisada de forma isolada, mas dentro de um conjunto de tentativas que tem como objetivo calar a oposição. “Vejo com uma enorme rejeição coisas desse tipo”, comentou a professora. “Ao mesmo tempo em que se censura um jornal da importância do Estado, há ataques ao Tribunal de Contas da União (TCU) e uma tentativa de se reduzir o papel investigativo do Ministério Público, o que nos leva a crer em uma ação deliberada, por par-
te do Executivo, para calar a oposição que incomoda.” O TCU tem sido alvo de uma ofensiva do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, buscando “flexibilizar” a fiscalização do tribunal por considerar que há exagero nas decisões do órgão que recomendam a paralisação de obras federais e também a suspensão de pagamentos. O Ministério Público, por sua vez, vem enfrentando questionamentos do seu papel investigatório setores da Polícia Civil.
PAULO LIEBERT/AE–10/8/2007
RETROCESSO
O momento, na visão da cientista política, abre espaço para um marco do que chama de “preocupante instabilidade institucional”. Em sua opinião, a situação é típica de um retrocesso democrático, embora não possa ser comparada com a vivida em países como a Argentina, Venezuela e Equador. “No Brasil, temos anticorpos e antídotos contra a quebra de democracia, mas é tudo
PODER - Lourdes cobra autonomia
muito preocupante”, disse. A censura ao Estado veio depois de uma ação do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), acatada por Vieira, que impediu o jornal de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, responsável pela investigação
de negócios da família. Segundo Lourdes Sola, os desdobramentos do caso são um forte motivo de preocupação institucional. “Ele (Fernando) estava no seu direito ao entrar com a ação, mas o fato de ela ter sido julgada por alguém tão próximo da família como o desembargador (Dácio Vieira ) é preocupante.” A professora acrescentou que “é pior ainda” a segunda decisão do TJ-DF, que transferiu o caso para a Justiça Federal do Maranhão. “O que se espera de um Poder é autonomia em relação a outro, para manter o equilíbrio.” CUMPLICIDADE
Para ela, a decisão de transferir a demanda para a terra dos Sarney demonstra a cumplicidade de um setor da Justiça com práticas arcaicas da política no País. “Não sabemos onde isso tudo vai dar, mas nos preocupa porque vai na direção de alterações das regras institucionais, ou seja, são movimentos de regressão”, disse. ●
Os municípios da região metropolitana de Curitiba terão um plano de desenvolvimento conjunto para melhorar a mobilidade, qualidade de vida e preservação ambiental.TécnicosdaSecretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedu) e da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) vão se reunir nos próximos dias com representantes das prefeituras. O projeto deve ser apresentado publicamente até o fim do mês. DISTRITO FEDERAL
Neta de Kubitschek é exonerada do Senado Anetamaisnovadoex-presidente Juscelino Kubitschek, Alejandra Kubitschek Bujones, foi exonerada da função comissionada de assistente parlamentar do Senado, que ocupava desde dezembro de 2006. O ato de exoneração tem efeito retroativo a 18 de setembro. Com salário de R$ 5mil,ela estavalotada naterceira secretaria desde que o secretário era o então senador Paulo Octávio (DEM), seu cunhado e vice-governador do Distrito Federal. RIO
Cidades do interior receberão US$ 79 mi O governo do Rio anunciou que vai aplicar US$ 79 milhões em infraestrutura, saneamento, recuperação de estradas, recomposição do solo e da cobertura vegetal de 59 cidades do interior do Estado até 2014. Batizado de Rio Rural, o programa da Secretaria de Agricultura, Pecuária,PescaeAbastecimentodevebeneficiar37milfamíliasdeagricultoresqueparticiparão de programas de capacitação, assistência técnica e infraestrutura. SÃO PAULO
Após reportagem, Câmara refaz site ACâmaraMunicipaldeCajuru, pequena cidade no norte de São Paulo, inspirou-se em reportagem publicada pelo Estado no dia 25 de fevereiro deste ano, que mostrou a falta de transparência na internet por parte do Legislativo paulista, e resolveu reformular seu site. Antes desatualizadodesde 2005,seminformações para a população, agora o endereço www.camaradecajuru.sp.gov.br apresenta informações sobre seus vereadores e as prestações de contas.
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o estado de s. paulo
Edição de 0h15
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
SEGUNDA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
12 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42363
Exportações têm queda histórica na rentabilidade
Oferta do Santander atrai fundo de Abu Dabi
Valorização do real anula renda gerada por aumentos de preço e demanda
O Aabar Investments anunciou ontemterinvestido US$328milhões na oferta pública de ações feitanasemanapassadanoBrasil pelo banco Santander, que movimentou US$ 8,1 bilhões. O negócio fechado pelo fundo do emirado árabe de Abu Dabi – o mais recente entre grandes acordos firmados este ano pelo fundo – é mais um sinal de que os países do Golfo estão recuperando o apetite por investimentos e têm dinheiro para gastar, apesar da crise global. ● PÁG. B6
OrealvalorizadoderrubouoindicadordaFundaçãoCentrode Estudos do Comércio Exterior (Funcex) para o nível mais baixo desde 1985, quando a série começou a ser calculada. Isso significa que a rentabilidade das exportações está hoje no menorpatamar de sua história. Embora as empresas venham
relatandoqueademandaexterna tem crescido e os preços dos produtos embarcados pelo País também apresentem pequena alta, puxados pelo desempenho das commodities, a valorização do real anula os ganhos. O indicador de rentabilidade da Funcex é calculado com base na taxa de câmbio,
nos preços das exportações e em uma estimativa de custo das empresas. Em agosto, o índiceestava 3,9%abaixo dejulho e 11,6% abaixo de agosto de 2008.SegundoFernandoRibeiro, economista-chefe da Funcex, uma projeção preliminar mostra que em setembro a rentabilidade das exportações
NÚMERO
34,4%
é a valorização do real, em relação ao dólar, desde o início do ano, o que derrubou a rentabilidade das exportações em 11,6% em agosto deste ano, ante agosto de 2008
caiu mais 1%. Há otimismo, porém, no setor de industrializados, especialmente entre fabricantesdecelulose,produtosquímicosemetalurgia,porqueoindicadordeníveldedemandaexternadaFundação GetúlioVargasmostrouqueospedidosnessaáreacresceram 22%entre julho e setembro. ● PÁG. B1 E B3
Eleição afegã teve fraude generalizada
JAGUARÉ: FOGO DEIXA 350 FAMÍLIAS SEM TETO
Houve “fraude generalizada” no primeiro turno das eleições presidenciais do Afeganistão, segundo a ONU. O resultado preliminar deu vitória ao atual
presidente, Hamid Karzai (54% dos votos). Uma comissão da ONU deve decidir se a amplitude da fraude justifica a realização de segundo turno. ● PÁG. A8 WILSON PEDROSA/AE
LIMPEZA – Primeira-dama faz faxina na missão em Tegucigalpa PAULO LIEBERT/AE
Vida de ‘prisioneira’ Um incêndio destruiu ontem a Favela Diogo Pires, no Jaguaré, zona oeste de São Pau-
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lo. Segundo o Corpo de Bombeiros, três pessoas ficaram intoxicadas. O fogo parou de se alas-
trar por volta das 19h30 e deixou 350 famílias desabrigadas. O prefeito Gilberto Kassab este-
ESPORTES
NOTAS E INFORMAÇÕES
Brasil cai em La Paz e perde depois de 19 jogos
Conservação e crescimento Não é preciso escolher entre crescimento e preservação do ambiente, diz o Banco Mundial em relatório. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
31º
MÁX.
Já classificada para a Copa do Mundo de 2010, a seleção brasileiraperdeu por 2a 1para a Bolívia, em La Paz. Nilmar fez o gol do Brasil, que estava invicto havia 19 jogos. Naquarta-feira,aseleçãoenfrenta a Venezuela em Campo Grande (MS). ● PÁG. E1
● PÁG. C2
16º
MÍN.
Classificados: 64 anúncios
7 8 9 10 11 12
MARTIN BERNETTI/AFP
Sol e calor em todo o Estado, mas deve chover à noite na Capital.
Hoje: 54 páginas A. 1º caderno: 14 ● B. Economia: 8 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 8 ● L. Link: 8 ●
ve no local e disse que já havia um projeto para desocupação da área. ● PÁG. C4
FÓRMULA 1
ALTITUDE – O boliviano Edgar Olivares disputa bola com Daniel Alves
O piloto brasileiro Rubens Barrichello vai correr no ano que vem pela equipe Williams. ● PÁG. E7
H
á três semanas na missãobrasileira emHonduras,junto comomarido Manuel Zelaya, Xiomara Castro de Zelaya desabafa:
CADERNO 2 O samba de ouro de Rildo Hora
Produtor ganhou mais de150discosdeouroeplatina e 4 Grammys Latinos. ●
“Nossentimosnaprisão.Queremos voltar para casa”. Ela festejou 49 anos no local e aindanãoconheceuumneto,nascido no dia 30. ● PÁG. A10
No Círio de Nazaré, Dilma faz campanha
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Nativos digitais, a nova geração Crianças de hoje encaram novas tecnologia com naturalidade e prometem mudar tudo no futuro. ●
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A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, aproveitou a procissão do Círio de Nazaré, emBelém(PA), parafazer campanha eleitoral. Cerca de 2 milhões de pessoas participaram do evento. No palanque montado pelo governo estadual, DilmaelogiouprogramasdogovernoLula,comooMinhaCasa,Minha Vida, para a construção de moradias populares. ● PÁG. A4 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 73 DIAS q PÁG. A7
SEGUNDA-FEIRA, 12 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
Conservação e crescimento
N
ão é preciso escolher entre crescimento econômico e preservação do ambiente. Ao contrário: uma bem orientada política ambiental pode ser um instrumento de criação de empregos e de riquezas. Ao definir a questão nesses termos, o Banco Mundial (Bird) abre espaço para um debate mais produtivo e racional e menos viciado pela paixão e pelo messianismo ecológico. Este é um dos aspectos mais interessantes do novo Relatório de Desenvolvimento Mundial, dedicado especialmente à questão da mudança climática. O texto foi divulgado por ocasião da assembleia anual do banco e do Fundo Monetário Internacional, em Istambul, encerrada na última terça-feira. Ao apresentar o relatório, o economistachefe e vice-presidente da instituição, Justin Lin, conclamou os governos a não usar a crise como justificativa para abandonar as ações de proteção do ambiente. O apelo é reforçado pelo exemplo de algumas iniciativas antirrecessão. Alguns governos incluíram nos pacotes de recuperação econômica investimentos de US$ 430 bilhões em políticas “verdes”. Me-
tade do dinheiro, US$ 215 bilhões, deve ir para programas de eficiência energética. Investimentos como esses podem ser muito úteis no fim de uma recessão, porque o emprego tende a crescer, nessas fases, mais lentamente que outros indicadores. As empresas demoram para reabrir as contratações e aproveitam, nas primeiras etapas, o pessoal já disponível. Mas investimentos em eficiência energética podem produzir um triplo dividendo, segundo o relatório: economia de energia, menos emissões e mais empregos, porque tecnologias de baixo carbono são menos intensivas em capital e mais propícias à criação de empregos. Segundo os economistas do Bird, investe-se muito menos em tecnologia verde do que noutros programas e projetos oficiais. O mundo gasta US$ 150 bilhões anuais em subsídios ao uso de derivados de petróleo e só US$ 10 bilhões de verbas públicas em pesquisa e desenvolvimento de energia alternativa. Também o setor privado investe pouco em pesquisa e desenvolvimento na área de energia – algo entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bi-
Renovação do Porto de Santos
N
ão faltam projetos e o setor privado está disposto a investir para dar uma nova cara ao Porto de Santos, de modo a apagar sua imagem caótica e eliminar o risco de um colapso no comércio exterior brasileiro nos próximos anos. Um plano de crescimento da demanda dos serviços portuários, que está sendo elaborado pelo Banco Mundial e deve ser concluído até o fim do ano, prevê o aumento de quase 160%, entre 2009 e 2024, na movimentação do Porto de Santos, que passaria de 89 milhões para 230 milhões de toneladas. Essa projeção justifica os investimentos programados. Em algumas áreas, o porto já se transformou num grande canteiro de obras. Dúvidas, no entanto, ainda podem retardar boa parte dos investimentos privados, que correspondem a mais de 70% do total programado (o restante é de responsabilidade do governo), de R$ 5,2 bilhões. As dúvidas são alimentadas pela lentidão com que o governo vem fazendo sua parte. Sem acessos adequados por terra e por via marítima, os terminais em construção ou programados pelas empresas particulares não terão a utilização adequada. As obras de infraestrutura necessárias para assegurar o aumento da movimentação de carga em Santos são de responsabilidade do governo federal. Entre elas está a construção da Avenida Perimetral da margem direita, de 6 quilômetros de extensão, com um pontilhão e duas alças de viaduto e custo previsto de R$ 107 milhões. Na margem esquerda
haverá uma nova Avenida Perimetral, com 5 quilômetros, ao custo de R$ 70 milhões. As obras de alargamento – de 150 metros para 220 metros nos pontos mais estreitos – e o aprofundamento de 12 metros para um mínimo de 15 metros, e depois para 17 metros, do canal do Porto de Santos deverão ser iniciadas ainda este ano, de acordo com informação do presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo, José Roberto Correia Serra. Essas obras são indispensáveis para a navegação simultânea nos dois sentidos de navios de grande porte e fa-
Está em marcha, afinal, um grande projeto de reforma e ampliação zem parte de antigos projetos de melhoria e modernização do Porto de Santos. A dezenas de quilômetros de distância do porto, porém, ainda não foi iniciada uma obra considerada prioritária pelos governos federal e estadual e também pela iniciativa privada. Trata-se do Ferroanel, cuja execução está emperrada porque ainda não há acordo sobre o trecho que será construído em primeiro lugar. Como o Rodoanel, o Ferroanel circundará a capital para retirar o fluxo de cargas por trilho das áreas centrais, onde o transporte de passageiros tem preferência. Como a ferrovia é compartilhada por trens de passageiros e composições de carga que se dirigem a Santos, estas só podem utilizá-la de madrugada. A Companhia Pau-
lista de Transportes Metropolitanos, que opera os trens de passageiros, pretende ampliar seus serviços, para atender à demanda, o que deve limitar ainda mais o transporte de cargas. Por isso, é preciso que as autoridades federais e estaduais cheguem rapidamente a um acordo sobre o trecho que será construído em primeiro lugar, se a alça norte ou a sul do Ferroanel. Da parte do setor privado, os projetos ferroviários já estão sendo executados. A Rumo Logística, do Grupo Cosan, por exemplo, está investindo R$ 1,2 bilhão em infraestrutura ferroviária para transportar açúcar do interior de São Paulo para o porto. Com isso, pretende elevar de 17% para 70% a participação da ferrovia no transporte de sua produção destinada à exportação. Na área portuária, a obra mais avançada é a da ampliação do Tecondi, para a movimentação de contêineres na margem direita, cuja capacidade passará de 318 mil TEUs (medida que equivale a um contêiner de 20 pés) para 700 mil TEUs. Os guindastes antigos serão substituídos por equipamentos modernos conhecidos por portêineres e transtêineres. O terminal ganhará também um berço de atracação com 320 metros de comprimento e profundidade de 14,5 metros. Outros grupos privados que operam no Porto de Santos também estão investindo para atender ao aumento da movimentação de cargas em contêineres e a granel líquido, especialmente o etanol.
lhões anuais, raramente superando 0,5% da receita empresarial. As indústrias de telecomunicações aplicam em pesquisa e desenvolvimento 8% de seus ganhos e as farmacêuticas, 15%. Mas também é possível obter resultados importantes sem grandes investimentos. O uso ineficiente de recursos é uma causa importante de poluição. Segundo os economistas do Bird, o consumo de energia na indústria e no setor elétrico poderia ser 20% a 30% menor, com melhores práticas e com tecnologias já disponíveis. Isso permitiria reduzir as emissões de carbono sem sacrificar o crescimento econômico. Além disso, haveria mais incentivo à produção de novas tecnologias se os países ricos se comprometessem claramente com uma redução drástica da emissão de carbono. As projeções do Banco Mundial combinam dois desafios. Será preciso articular políticas para combater o aquecimento global e para aumentar, ao mesmo tempo, a produção de alimentos. Dentro de 40 anos será preciso alimentar mais 3 bilhões de pessoas. Sem mu-
Sinais positivos de Teerã
N
o próximo dia 25, um mês depois que o presidente Barack Obama e os líderes da França e da Grã-Bretanha denunciaram na abertura do encontro do G-20 a existência de uma instalação nuclear iraniana secreta nas montanhas próximas da cidade sagrada de Qom, o local será inspecionado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A inspeção, exigida pelos Estados Unidos e seus aliados, foi acertada em Teerã no domingo, dia 4, pelo presidente da entidade, Mohamed El Baradei. Ele assinalou, numa entrevista, que “estamos em um momento crítico, indo de uma posição de confronto para uma de cooperação e transparência”. El Baradei se referia aos resultados aparentemente promissores da reunião do dia 1º, em Genebra, entre representantes do governo do Irã e os do sexteto – os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha – para discutir o programa nuclear iraniano. Durante o encontro houve o primeiro diálogo face a face entre autoridades americanas e iranianas em 30 anos. O dirigente da AIEA, no entanto, não deixou de mencionar que a agência continua preocupada com “as futuras intenções” de Teerã – numa óbvia alusão à convicção amplamente disseminada de que o objetivo do Irã é ter a bomba atômica. As palavras de El Baradei resumem o misto de esperança e desconfiança do Ocidente diante dos projetos iranianos de capacitação nuclear – alegadamente para fins pacíficos.
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
ouro, com a marca de 7 mil pés de laranja derrubados: o MST! E toquem o Hino. GILBERTO RODRIGUES sg@vivax.com.br
Araras
MST As únicas coisas que, a meu ver, esses bandidos “desamparados” conseguiram com a desastrada invasão da fazenda de laranja foi proporcionar, de graça, uma imensa propaganda à Cutrale (imaginem os milhões de reais que a empresa economizou em publicidade), além de chamarem para si a antipatia de A a Z, da extrema esquerda à extrema direita (excluindo a Igreja Católica, a maior proprietária imobiliária do planeta). Será que não está faltando que
“
Sugiro que a primeira contratação da preparação da Olimpíada seja a de uma empresa idônea de auditoria”
EdsonFunabashi edson@acteon.com.br SãoPaulo
Mr. Stédile desça do seu pedestal para ajudar os coitadinhos? CARLOS AUGUSTO PEREIRA LIMA santaremaa@directnet.com.br
Mococa ● O MST, que vem praticando atos contrários à lei, tem encontrado respaldo em “associações” e “cooperativas” que recebem benefícios do governo. O site do MST
dança climática, seria possível usar mais terras e a produtividade agrícola teria de crescer 1% ao ano. Com menor expansão de área – para preservação de florestas, por exemplo –, a produtividade terá de crescer 1,8% ao ano, quase o dobro, portanto. A maior parte do aumento terá de ocorrer nas economias menos desenvolvidas, porque a margem para ganho de eficiência é menor nas mais desenvolvidas. Os países em desenvolvimento arcarão, de acordo com o relatório, com entre 75% e 80% dos custos produzidos pelos danos ambientais nas próximas décadas. Entre 2008 e 2010, os financiamentos para programas de adaptação à mudança e mitigação de efeitos do aquecimento devem ficar em média em US$ 10 bilhões anuais. O banco estima necessidades de cerca de US$ 75 bilhões ao ano para políticas de adaptação. A meta é conter o aquecimento, ao longo do século, em 2 graus centígrados. Sem ação eficiente, o aquecimento poderá chegar a 5 graus, segundo o relatório. A boa notícia, dizem os economistas do banco, é o compromisso anunciado pelo Grupo dos 20 de reduzir os subsídios ao consumo de petróleo e tomar outras medidas para cuidar do problema ambiental.
povo vai pagar caro por esse silêncio. Pois a História está aí para confirmar como isso termina.
(www.mst.org.br), que, portanto, deveria ser de uma ONG e/ou associação civil, está registrado como Associação Nacional de Cooperação Agrícola, CNPJ 055.492. 425/0001-57, com sede em São Paulo. Logo, o “movimento” tem pessoa jurídica, sim, camuflada e forjada entre seus “parceiros”.
E continuamos pagando as “contas” dessas irresponsabilidades!
MAURICIO MORI MACHADO DE ARAÚJO
LAERT PINTO BARBOSA
mauricio@cpware.com.br
laert_barbosa@ig.com.br
Sorocaba
São Paulo
Umerro caro
Temponegro
Ao se calar diante de tantas invasões com destruição, financiamento de baderneiros, corrupção generalizada, nepotismo, aparelhamento, neutralização do TCU, descalabros diplomáticos, censura à imprensa e tantos atos que denigrem um país democrático (sic), o
Comprei o livro de Palmério Dória Honoráveis Bandidos, numa livraria do aeroporto de Brasília. Procurei-o em São Paulo para dar a um amigo, mas não o encontrei na Livraria Cultura. Somente na Saraiva do Pátio Paulista, escondido atrás de uma porta. Não vejo ne-
JOSÉ ROBERTO BORSARI jrborsari@terra.com.br
Bariri ●
Depois que o presidente Obama deixou claro que a sua mão estendida ao Irã estava pronta a se crispar sob a forma de uma proposta de endurecimento das sanções econômicas já adotadas pelo Conselho de Segurança contra Teerã, caso os iranianos se valham da oferta de diálogo para continuar ludibriando a comunidade internacional, a mensagem parece ter ecoado entre os aiatolás. O Irã, que insistia na tese de que o seu programa nuclear era inegociável, aceitou incluí-lo na agenda de conversações. Embora reiterando que, como signatário do Tratado de
Até agora parecem promissores os resultados obtidos nas negociações Não-Proliferação e membro da AIEA, o país tem o direito de dominar o ciclo do combustível nuclear para usos civis, em Genebra a delegação iraniana não só concordou em abrir a instalação de Qom destinada à produção de urânio enriquecido, como ainda aceitou, em princípio, enviar uma parte dos seus estoques declarados do mineral para enriquecimento na Rússia e na França. O urânio beneficiado a 20% alimentaria depois um pequeno reator para a fabricação de isótopos utilizados em medicina. (Para gerar eletricidade, basta um enriquecimento entre 3% e 5%. Para a bomba, deve ser superior a 90%.) Obama considerou “construtivo” o resultado da reunião, mas tornou a observar que os EUA não continuarão a nego-
ciar “indefinidamente”. Washington pressiona para que até dezembro o Irã dê passos concretos para submeter todas as suas atividades nucleares a rigorosa fiscalização internacional. É muito provável que o país tenha não só outras instalações clandestinas como a de Qom, mas também acumule estoques não declarados de urânio enriquecido, além de equipamentos e sistemas de tecnologia militar atômica. A questão que divide os especialistas não é se os iranianos buscam a bomba, mas quando estariam em condições de produzir um artefato nuclear efetivo. No domingo, dia 4, o New York Times divulgou uma versão não definitiva de um relatório confidencial da AIEA, segundo o qual o Irã já adquiriu “informação suficiente para ser capaz de desenhar e produzir” uma bomba “viável”. O diagnóstico é contestado. O assessor de segurança nacional da Casa Branca, general James Jones, disse que os EUA continuam acreditando que o país ainda está “a anos” disso. Segundo uma avaliação americana de 2007, o desenvolvimento da bomba iraniana está suspenso desde 2003. A meta final do Ocidente é que o Irã, além de autorizar inspeções irrestritas e cumprir a determinação do Conselho de Segurança para cessar os trabalhos de enriquecimento na usina de Natanz (mantida em segredo até 2002), terceirize todo o seu programa de urânio enriquecido, como estaria propenso a fazer no caso específico anunciado em Genebra, recorrendo à Rússia e à França. Para os aiatolás, mesmo os reformistas, seria uma capitulação inconcebível.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
nhum comentário sobre o livro em jornais ou revistas que costumam registrar aparecimentos importantes como este. Será que as livrarias e o Estadão, especialmente, estarão receosos de violência e de mais uma censura judicial por parte da família Sarney? O livro é um libelo documentado sobre as falcatruas dessa família, que domina o Maranhão há décadas. Dizem até que os maranhenses costumam falar que a pior coisa do Maranhão é a família Sarney, mas a melhor coisa do Maranhão é ser da família Sarney. Estou curioso para ver a divulgação desse importante livro de um tempo negro sobre o Brasil, mas que está, pelo menos até agora, sem registro na mídia, o que impedirá que ele chegue ao conhecimento de tantos brasileiros que precisam co-
nhecer essa história. TITO COSTA antoniotitocosta@uol.com.br
São Bernardo do Campo
Congratulações Cumprimento o Estado pelo Prêmio Especial Aberje 2009, na categoria Mídia do Ano – Jornal. A Associação Brasileira de Comunicação Empresarial acertou na escolha. É uma publicação que faz por merecer o respeito e a admiração de todos os brasileiros. Também me associo ao desagravo pela censura imposta ao jornal desde 28 julho, por estar impedido – por decisão judicial – de publicar matérias sobre a Operação Faktor. ED THOMAS mmhomero@uol.com.br
Presidente Prudente
SEGUNDA-FEIRA, 12 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 73 DIAS
NACIONAL NACIONAL A7 A7 + 9
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso ESTADOS
‘Censura é medida fascista’, diz escritor
ED VIGGIANI/AE–20/7/2007
O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), terminou ontem viagem oficial pelos Emirados Árabes, onde chefiou uma missão empresarial, em parceria com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Ontem, Aécio participou de feira de moda, na qual estavam presentes 15 empresários mineiros. Ao lado do governador paulista,José Serra,Aécio é um dos nomes do PSDB para a disputa presidencial. O governador tem buscado maior projeção nacional para sua gestão. JUSTIÇA
STF discute mudança na ordem de precatórios
Especialista no tema vê mordaça ao ‘Estado’ como volta ao passado Moacir Assunção
O escritor e jornalista Fernando Jorge, autor do livro Cale a Boca,Jornalista,querelataatrajetória dos desmandos e agressões contra jornalistas e jornais na história do Brasil, não consegue conter a indignação ao comentar a censura imposta ao Estado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). “Éumamedidafascistaounazista, que remete às ditaduras de Benito Mussolini e de Adolf Hitler, inimigas ferozes da democracia e da liberdade”, alerta.“Bastaverqueumadasmedidas de Hitler para controlar a imprensa era censurá-la, sem oferecer chance à defesa.” Desde 31 de julho, o Estado está proibido de publicar qualquer informação referente à Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou negócios sob responsabilidade do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A atual censura, na avaliação
deFernandoJorge,remeteaoutrosdoismomentos,queeledescreve em seu livro, da imprensa sob o jugo de ditaduras. “A primeirafoiem1937,quandoseinstalou o Estado Novo de Getúlio Vargas, em que o Estado foi, injustamente, acusado de conspirar contra o regime, por força de seus ideais democráticos.” A segunda foi durante a ditaduramilitar,quando oentãoministro da Justiça, Alfredo Buzaid, divulgou uma cartilha “de moldes fascistas” que pregava a censura à imprensa. “O então diretor do Jornal da Tarde, Ruy Mesquita, hoje diretordeOpiniãodo Estado, escreveu uma carta que é um verdadeiro primor de coragem, lamentando que o Brasil tivesse se rebaixado à condição de uma republiqueta de bananas por causa da censura”, relembrou. A Academia Paulista de Letras (APL), no entanto, aceitou o ministro como um dos seus acadêmicos no mesmo ano em que ele determinou as restrições à imprensa.
Aécio termina viagem pelos Emirados Árabes
O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar nesta semana o mandado de segurança 27.708, que questiona procedimento do Conselho Nacionalde Justiça(CNJ)que alterou a ordem cronológica de pagamento de precatórios na Bahia. A decisão foi suspensa pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello, que concordou, entre outros pontos, com o argumento do Estado de que o processo administrativo foi falho, por falta de intimação dos interessados para apresentarem defesa. JUSTIÇA ELEITORAL
TSE estende prazo para teste de urna eletrônica HISTÓRIA – Jorge cita em seu livro dois episódios em que ‘Estado’ e ‘JT’ enfrentaram cerceamento
Aposentado faz greve de fome O aposentado Nestor Atílio Leite, de 73 anos, está em greve de fome há 4 dias para protestar contra a censura ao Estado e para pedir o fim das mordomias dos políticos. Embora advertido por amigos e familiares sobre os efeitos nocivos da falta de alimentação, Leite decidiu manter a greve
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de fome por 15 dias, apenas ingerindo líquidos. “Não vou cometer um suicídio; se eu perceber que não estou aguentando, eu paro.” † N. da R. – O jornal informou ao Sr. Nestor Atílio Leite que entende sua indignação, mas não concorda com a greve de fome por colocar em risco sua saúde. ●
SARNEY IMORTAL
Se demonstra indignação ao falar da mordaça, que considera uma volta ao passado, o escritor é irônico ao se referir ao presidente do Senado, imortal da Academia Brasileira de Letras. “Sarney é um assassino da poesia. Compara estrelas a vacas, que pastam na imensidão do infinito, o que nos faz acreditar que os astronautas deveriam levar capim ao espaço”, diz. ●
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) prorrogou até segundafeira o prazo de inscrição para interessados em participar dos testes públicos de segurança das urnas eletrônicas de 2010. As inscrições devem ser feitas pessoalmenteouporcorrespondência registrada, no protocolo do TSE. Os testes ocorrerão de 10 a 13 de novembro. Os participantes poderão promover ataques aos componentes do sistema eletrônico de votação para verificar se são falhos ou suscetíveis a violações e fraudes.
● Edição das
23h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
13 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42364
Americana é a 1ª mulher a ganhar Nobel de Economia
APARECIDA: 300 MIL FIÉIS NO FIM DE SEMANA
Os americanos Elinor Ostrom e Oliver Williamson vão receber o Nobel de Economia 2009. Autora de estudos sobre a gestão dos recursos naturais, Elinor é a primeira mulher a vencer na categoria e a quinta a ganhar o Prêmio Nobel este ano. ● PÁG. B6 ARTIGO
Paul Krugman THE NEW YORK TIMES
Poder destruidor das más ideias Algumas das ideias que ajudaram a causar a Grande Depressão continuam a influenciar o debate hoje. ● PÁG. B7
SERGIO NEVES/AE
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Fiéis na sala das velas do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida: missa em comemoração ao dia da padroeira reuniu 43 mil pessoas ontem. ● PÁG. A17
Governo garante caixa com fundos especiais
C ADERNO 2 O excesso neobarroco
●● EmSantiago,a primeira edição da Trienal do Chile investiga os limites da criação. ●
Retenção já representa 24% do superávit primário do setor público no ano Para engordar o caixa oficial e garantirocumprimentodameta fiscal, o governo tem retido parte do dinheiro destinado a alguns fundos especiais como FundodeAmparoaoTrabalha-
dor (FAT), Fundo do Regime Geral de Previdência (FRGPS) e outros menos conhecidos como o Fundo da Marinha Mercante. O dinheiro dos fundos deveriaatender,emtese,proje-
tos e serviços prioritários. Mas acontenção avançae neste ano o valor retido já representa 24%do superávitprimárioacumulado por todo o setor público. Dados oficiais mostram
ESPORTES
que, dos 51 fundos do Poder Executivo checados, 29 estão com sobra de receitas. A diferença acumulada de janeiro a setembro deste ano já supera R$ 10 bilhões. ● PÁGS. B1 e B3
INCÊNDIO: ENTRE ESCOMBROS WWW.SWISS-IMAGE.CH
Palmeiras, líder, é goleado no Recife Time perde a chance de disparar tos sua vantagem para o segundo colocado, o São Paulo. “Estivemos muito abaixo do nosso rendimento normal”, admitiu o goleiro Marcos. No Pacaembu, o Santos ficou no 0 a 0 com o Vitória. ● PÁGS. E1 e E2
q ESPECIAL
Confira o guia do GP Brasil Felipe Massa volta a treinar PÁG. E3
7 8 9 10 11 12
&
Descubra o lado radical da Suíça ●● Menos chocolate, mais adrenalina. Essa é a promessa da região de Valais, no sul do país. ●
Pop
Lançada música inédita de Jackson
WERTHER SANTANA/AE
O Palmeiras foi batido ontem por 3 a 0 pelo Náutico, um dos últimos colocados do Brasileiro. Além de ter sido sua pior derrotanoano,oresultadoimpediu que o time paulista ampliasse de cinco para oito pon-
VIAGEM AVENTURA
●● This is It, apresentada ontem, será a única original de um CD duplo e fará parte de filme. ● PÁG. A16
Menino brinca na Favela Diogo Pires: desabrigados invadiram CDHU, mas acabaram aceitando ir para abrigo. ● PÁG. C5
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Tempo: CAPITAL
20º
MÁX.
Corredores ficam pela metade
● PÁG. C2
16º
MÍN.
Transportes
Céu fica nublado, com chuva fraca a moderada durante todo o dia.
Hoje: 102 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 12 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 4 ● Guia GP Brasil: 36 ● V. Viagem: 12 ● Classificados: 392 anúncios
●● Conclusãode obras do governo paulista que ligariam3cidadesàcapital esbarra na Justiça. ● PÁG. C1
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 74 DIAS q PÁG. A8
Sindicância da ANP aponta esquema para elevar royalties Sindicância da Agência Nacional de Petróleo viu “indícios de irregularidades” na alta de 792% nos repasses de royalties a prefeituras – passaram de R$ 16,13 milhões em 2002 para R$ 143,9 milhões em 2008. O aumento se deu em razão de liminares e da aprovação, por parte deprocuradores daANP,depagamentossuperioresaos determinados pela Justiça. ● PÁG. A4
Ataque do Taleban mata 41 e fere 45 no Paquistão A explosão de um carro-bomba ao lado de tropas do Exército deixou 41 mortos e 45 feridos no Paquistão, no quarto grande ataque do Taleban em uma semana. A série de atentados é uma resposta ao plano do Exército de atacar o reduto da AlQaedanafronteiracomoAfeganistão. ● PÁGS. A9 e A10
NOTAS E INFORMAÇÕES
A LRF não pode mudar Flexibilizar os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) é o mesmo que desrespeitá-los. A história das finanças públicas brasileiras registra que, adotada uma vez, uma brecha no rigor fiscal tende a perpetuar-se. ● PÁG. A3
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A8 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 13 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 74 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Assembleia-geral da SIP vai focar caso do ‘Estado’ Encontro em Buenos Aires, entre 6 e 10 de novembro, vai discutir ‘decisões judiciais que entorpecem os meios de comunicação brasileiros’
DIPLOMACIA
Embaixador nos EUA será número 2 do Itamaraty Antonio Patriota ocupará vaga a ser deixada por Pinheiro Guimarães Denise Chrispim Marin BRASÍLIA
JORGE ADORNO/REUTERS–14/3/2009
Roberto Almeida
A censura ao Estado, imposta desde o dia 31 de julho pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), está na pauta da assembleia-geral da Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), que será realizada em Buenos Aires entre os dias 6 e 10 de novembro. De acordo com aentidade,serãodiscutidas“decisões judiciais que entorpecem os meios de comunicação brasileiros”. A SIP foi fundada nos Estados Unidos, em 1926, e congrega 1.300 publicações. A assembleia-geral da entidade é o principal evento do ano, em que são analisados avanços e retrocessos em matéria de liberdade de imprensa nas Américas. Para o encontro, são esperados 500 jornalistas e editores, europeus e americanos, e serão discutidas tendências para o futuro do jornalismo no continente. Informada do andamento do processo envolvendo o Estado, amordaçado sobre o caso Sarney, a SIP classificou o caso como “inacreditável”ao “negar ao público o direito de estar informado”.“LamentamosqueaJustiça do Brasil se caracterize por proteger excessivamente os direitos depessoas envolvidas em assuntos de interesse público”, ressaltouEnriqueSantosCalderón, presidente da SIP. O Estado de S.Paulo e o site estadao.com.br continuam proibidos de publicar informações da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolve FernandoSarney,filhodopresidente do Senado José Sarney (PMDB-AP). Fernando teria loteado cargos no Senado e acabouindiciadoporsuspeitadefalsidade ideológica, formação de quadrilhaetráficodeinfluência.
INCONFORMISMO – Para Calderón, é ‘inacreditável’ negar ao público o direito de estar informado
A última decisão no caso de censura ao Estado ocorreu no dia 30 de setembro – dois meses após a instauração da mordaça. O TJ-DF declarou-se incompetente para dar parecer sobre o processo, enviou-o à Justiça do Maranhão,terrada famíliaSar-
ney, mas manteve a proibição. Para avaliar politicamente a mordaça, a SIP convocou os expresidentes César Gaviria, da Colômbia,CarlosMesa,daBolívia, e Julio María Sanguinetti, do Uruguai. O último evento realizado pela entidade foi um
fórum de emergência sobre liberdade de expressão nas Américas. O Brasil foi representado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), que apresentou aos participantes a situação vivida pelo Estado. ●
O Itamaraty acaba de fechar o quadro que comandará a diplomacia brasileira na etapa final do governo Luiz Inácio Lula da Silva e o início da administração de seu sucessor. No último final de semana, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim,designoupara asecretaria-geral o atual embaixador doBrasil emWashington,Antonio Patriota. Segundo posto da casa, o cargo fora ocupado nos últimos seis anos e dez meses pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, uma das figuras mais controversas da diplomacia do governo Lula. As mudanças devem se concretizar até o próximo dia 30, quando Pinheiro Guimarães completará 70 anos e, conforme as normas da carreira diplomática, será forçado a se aposentar. Amorim espera que, até ofinal do mês, opresidente Lula bataomartelo sobre a ascensão do embaixador para o seu gabinetedeministros. PinheiroGuimarães deverá assumir a vaga deixada pelo acadêmico Roberto Mangabeira Unger, em junho passado, na Secretaria de Assuntos Estratégicos. Ao escolher Patriota para a secretaria-geral,Amorimreforçou sua preferência por diplomatas mais jovens e de sua extremaconfiançaempostos-chave do Itamaraty. Embora sem experiência na condução de umaembaixada,odiplomatahavia sido escolhido para o posto mais importante e delicado da carreira, a representação do Brasil em Washington, no iníciode2007.Anteriormente,Patriotahaviaatuado comosubsecretário de Assuntos Políticos do Itamaraty e como chefe de gabinete de Amorim. Naequaçãomontadapeloministro Celso Amorim, o atual
embaixador do Brasil em Buenos Aires, Mauro Vieira, assumirá o lugar de Patriota na embaixada em Washington. Seu nome também havia sido considerado para a secretariageral. Assim como Patriota, Vieira havia sido um novo embaixador a ocupar um dos mais relevantes postos da diplomacia brasileira, Buenos Aires, e fora chefe de gabinete do ministro.
Atual secretário deverá assumir pasta de Assuntos Estratégicos A embaixada em Buenos Aires será conduzida pelo subsecretário de Assuntos de América do Sul, Enio Cordeiro, um diplomata que se destacou nos últimosanospelasuagrandehabilidade para contornar as crises dogoverno Lulacoma Bolívia,o Paraguai, o Equador e, mais recentemente, com a Colômbia e na consolidação do projeto da União de Nações Sul-americanas (Unasul). Para o seu lugar, Amorim indicou o atual embaixadordoBrasilemCaracas,Antônio Simões. Mas aindanão escolheu quem assumirá a delicada representação do Brasil na Venezuela. Com essas mudanças, a incógnita na montagem da equipe de Amorim fica apenas restrita à decisão quanto ao destino que será dado ao embaixador Ruy Nogueira, que atualmente ocupa o cargo de subsecretário-geral de Cooperação e Promoção Comercial do Itamaraty. A dúvida do ministro consiste em manter Nogueira no cargo ou premiá-lo, por seu bom desempenho no posto, nomeando-o para uma embaixada na Europa. ●
ANOS DE CHUMBO
Casa abandonada tinha acervo inédito contra ‘subversão’ Delegado deixou fichas e manual
U
ma descoberta recente pode mudar os rumos das pesquisas sobre ditadura militar em São Paulo. Um total de 86 fichas de militantes de esquerda e um manual da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, de 1970, que ensinava policiais a identificá-los, foram encontrados em uma fazenda na região de Jaborandi. O detalhe é que o material se diferencia do que está sob a guarda do Arquivo Público de São Paulo, que pertencia ao Departamento de Ordem Política e Social (Deops). Ele estava numa casa abandonada na propriedade rural do delegado Tácito Pinheiro Machado, já morto. Segundo o coordenador do arquivo, Carlos Bacellar, as fichas têm um padrão incomum. “As que temos aqui são da Delegacia de Ordem Social e as dele da de Ordem Política”, explicou. Como o Deops tinha uma sede em São Paulo, mas não havia delegacias espalhadas pelo Estado, a suposição é que o documento sobre os militantes era guardado, também em delegacias de polícia comuns.
Parte das fichas foi encontrada em 2007 por um aluno do curso de história e colhedor de cana, não identificado, que localizou a documentação no casebre, na Fazenda Boa Sorte. O material foi guardado em uma faculdade e recolhido pelo arquivo. O encontro da documentação parece indicar, como denunciam ONGs que lutam pela abertura dos arquivos da ditadura, que boa parte do material das forças de repressão no período foi dispersa entre seus agentes e somente uma pequena parte ficou nos arquivos que foram abertos com a redemocratização. Os fichados são pessoas pouco conhecidas, mas identificados por tendências “suspeitas” para a época como o nome que remete a revolucionários, caso de Lenine Garcia Brandão. No manual de 1970, intitulado A Subversão e a Contra-Subversão, assinado pelo coronel de Exército Danilo Cunha e Mello, há uma curiosidade: o pacifismo é visto como “linha auxiliar do bolchevismo.” Moacir Assunção SÃO PAULO
B2 ECONOMIA
TERÇA-FEIRA, 13 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
CELSO MING celso.ming@grupoestado.com.br
Controle de capitais
S
empre que as cotaçõesdodólarescorregam no câmbio interno, como agora, voltam as propostas para que o governo institua o controle na entrada de capitais. O objetivo é desestimular o que se pode chamar de excessiva entrada de moeda estrangeira, cuja consequência é a valorização do real (queda do dólar), o que, por sua vez, enfraquece a competitividade do produto brasileiro tanto no mercado externo (porque a mercadoria fica mais cara em dólares) como no mercado interno (porque o produtoimportadoficamaisbarato em reais). Um extenso volume de estudos feitos por economistas de todas as escolas já demonstrou que, no mercado financeiro glo-
balizado, iniciativas desse tipo não funcionam. É por isso que alguns analistas estão propondo que não se faça um controle seletivo de capitais, mas que, em vez disso, toda entrada de capitais, venha a que título vier, seja submetida a um tratamento qualquer que a desestimule. Isso poderia ser feito por meio da cobrança de um pedágio (IOF) ou, então, por meio da imposição de uma quarentena, períodoemque essecapitalficaria parado no Banco Central sem direito a remuneração. Mesmo se toda a entrada de capitais fosse submetida a restrições,pelomenosocorrespondente ao comércio exterior e ao setor de serviços teria de ficar de fora. Não faria sentido submetera umregime dessesasexportações, o pagamento de
Econômicas Executivo da Techint vai liderar mundo do aço
FINANÇAS
HSBC quer entra na Bolsa de Xangai ● O HSBC, maior banco europeu, espera conseguir listar suas ações na Bolsa de Xangai no ano que vem, tornandose uma das primeiras empresas internacionais a fazê-lo, disse ontem o presidente-executivo da instituição, Michael Geoghegan. Ele também disse à Reuters em uma entrevista que a economia global deve enfrentar novos solavancos à medida que o desemprego cresce e que o mundo não vai sair da recessão antes que os EUA se recuperem.
O Brasil precisa de mais capital externo; não pode restringi-lo moeda estrangeira, cabe ter em conta que é muito difícil distinguir, num negócio de comércio exterior,oque,nopagamento, é o preço do produto e o que é a remuneração do financiamento. É mais ou menos o que acontece quando alguém vai à loja e
o balconista diz que o pagamento pode ser feito em cinco prestações “sem juros”. Ora, os juros já estão incorporados ao preço à vista. E, nessas condições, quem é que vai separar o que é preço da mercadoria do custo financeiro que vai ter taxação especial? Mas esse argumento não mataasugestãooriginal,semprereiterada. E aí é preciso dizer que o Brasil tem inúmeras razões para incentivar a entrada de capitais em vez de restringi-la. Asempresasbrasileiras precisam captar recursos externos baratos para expandir seus negócios,seja por meio de subscrição de ações, seja por meio de endividamento. Para isso, é bom que haja uma Bolsa bem azeitadaeummercadofinanceiro ativo, e não travas, como está
sendo proposto. A Petrobrás, por exemplo, preparapara oprimeiro semestrede2010umgigantescoprojeto de capitalização que deverá trazer de uma vez ao País cerca de US$ 15 bilhões. Todas as grandes empresas brasileiras preparamoperaçõessemelhantes.Tem opré-sal, cuja exploração vai exigir investimentos de pelo menos US$ 400 bilhões, e todo o PAC (de R$ 646 bilhões), que terá lá sua parte em capital estrangeiro. Não faria sentido daratodos essesrecursos otratamento draconiano proposto por essa gente. Não é preciso ir mais longe para concluir que, também nesseassunto,não dáparareinventar.Não cabe controle da entrada de capitais num país que se expande para o mundo. ●
Confira E os recursos? O Ministério da Fazenda voltou a sugerir que o Fundo Soberano do Brasil se encarregue de comprar moeda estrangeira para evitar a excessiva valorização do real. ●●●
O problema não é definir que departamento do governo comprará os dólares. O problema está em saber de onde virão os recursos destinados à compra desses dólares. ●●●
Os fundos soberanos de outros países podem comprar moeda estrangeira à vontade porque seus recursos são públicos. É o caso das receitas do cobre no Chile ou do petróleo na Noruega, que são de empresas 100% estatais.
Opinião
SIDERURGIA
● Pela primeira vez em 42 anos de existência, a Associação Mundial do Aço (WSA, em inglês) nomeou um executivo de uma empresa da América Latina para a presidência. É Paolo Rocca, presidente do grupo argentino Techint. Ele sucede ao indiano Lakshmi Mittal. O Grupo Techint, com am-
transporte (ou tarifas aéreas), a remuneração do turismo ou, ainda, o pagamento de juros a esse regime. Admitida a necessidade de separar a entrada de capital financeiro do faturamento em
pla presença no Brasil, México, China, Japão e Itália, controla a Tenaris (a maior produtora mundial de tubos de aço sem costura) e a Ternium (fabricante de lâminas de aço), entre outras. A WSA representa 180 produtores de aço, que respondem por 85% da produção global.
“Deveríamos ser conscientes de que a situação dos mercados financeiros e da economia real ainda é frágil”
●●●
Josef Ackermann, presidente do Deutsche Bank
NÚMERO
2%
é quanto subiu a cotação do Petróleo Intermediário do Texas (WTI) na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex, na sigla em inglês) no pregão desta segunda-feira. Negociado por US$ 73 o barril, a commodity atingiu seu maior preço nas últimas sete semanas.
EMPREGO EM RISCO
PESQUISA
Mexicanos tentam evitar fim de estatal
Para economistas, recessão é passado
● O Sindicato Mexicano de Eletricitários (SME) levou ontem à Câmara de Deputados do país um pedido para reverter a liquidação da estatal elétrica Luz y Fuerza del Centro (LyFC), decretada no sábado pelo governo. O sindicato busca apoio dos legisladores para promover um recurso de inconstitucionalidade. O governo do presidente Felipe Calderón decidiu liquidar a empresa (segunda maior do setor elétrico no país, que atende 6,2 milhões residências em 82 municípios) por causa de seus maus resultados operacionais e financeiros. Com o fechamento LyFC, 44 mil trabalhadores ficaram sem emprego.
● A maioria dos economistas americanos considera que a recessão já terminou e traçam prognóstico de crescimento da economia do país em 2,9% ainda este ano. É o que mostra uma pesquisa feita pela Associação Nacional dos Economistas Empresariais (Nabe, na sigla em inglês). O presidente da entidade, Lynn Reaser, destaca, no entanto, que em razão da alta taxa de desemprego e do endividamento público a recuperação da economia será lenta. A projeção é de 3% de crescimento em 2010. O estudo mostra ainda que para 80% dos economistas o setor habitacional deve crescer substancialmente no próximo ano.
Brasil, uma contradição ambulante José
Pastore*
A
economia vai bem, mas as instituições vão mal. Temos democracia, é verdade. Esse é um marco institucional de grande valor. Não podemos perdê-la. Com ela vem a liberdade de ir e de vir e de tantas outras. Deveríamos ter também liberdadedeexpressão.Naprática, a realidade é outra. Basta citara censuraimposta a este jornal,quejá dura maisde dois meses. Outra instituição sagrada em um regime democrático é a da propriedade privada. Pois bem. Sete mil laranjeiras carregadas foram derrubadas na semana passada por invasores que usaram o equipamento do dono da fazenda e, de gorjeta, destruíram as casas dos trabalhadores. As autoridades se limitaram a praticar a surrada retórica, chamando-osde“vândalos”,“irresponsáveis”, “criminosos”, ao mesmo tempo que tratavam de abafar a CPI do Movimento dos Sem-Terra (MST). Os atos de desrespeito à propriedade privada são incontáveis. O MST já derrubou eucaliptos de uma fábrica de papel e celulose. Seus seguidores devastaram laboratórios, destruindovaliosaspesquisasagropecuárias de longa duração. E continuamassim. Invademprédiospúblicos com a maiorfacilidade. Se não me falha a memória, já acamparam no Congresso Nacional! Das autoridades de um regime genuinamente democrático esperava-se uma intervenção firme e definitiva. Pois, nada acontece.Aocontrário, a referida CPI quer apurar graves indícios de que o governo federal financia indiretamente esses grupos que ignoram a lei e o direito. O problema da insegurança afeta seriamente os que precisam da propriedade para produzir, crescer, gerar empregos, impostos e bem-estar. Mas afetatambémamaioriadosbrasileiros que tem medo de sair às ruas e até ficar dentro de suas casas.
Por essas e outras é que se pode dizer, sem medo de errar, que a economia vai bem, mas as instituiçõesvãomal.Nainstituição do Poder Legislativo, tivemos recentemente o vexame dosatos secretos doSenadoFederal.Também não foioprimeiro e, como nos casos anteriores, nada aconteceu. As comissões “não conseguiram ver” nenhuma prova demalversação derecursos. A nós, contribuintes e eleitores, restou assistir às malandragens pela televisão – sem poder de agir. James Madison dizia que o primeiro estágio de uma democracia ocorre quando os governadospassam a respeitar os governantes. O segundo, quando os governantes começam a respeitar os governados. O terceiro, quando os governados passam a controlar os governantes. Ah! Como estamos longe dessa democracia. Aos governadossobrouapenasaobrigatoriedade de respeitar quem não os respeita. Como dizer, então, que nosso quadro institucional é sólido e amadurecido? Vejam a escola.A grandemaioria dos professores temmedo deentrar nasala de aula. A violência tomou contadamaioria dosestabelecimentos. Alunos agridem os mestres com palavras e atos de profundo rancor e incontido ódio. Muitos dos pais seguem o mesmo script e investem contraosmestresquetentamcorrigir seus filhos. Dá para cons-
truir uma sociedade respeitosa diante de tamanha falência institucional? SeolharmosparaoPoderJudiciário, os casos que vêm à tona são os mais deploráveis. Lembram-se do juiz que assaltou a casa onde trabalhava – o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo? Ele devolveu o dinheiro? Estarrecidosficamos sabendoqueummagistradocondenado acaba de virar ministro do Supremo Tribunal Federal. O povo que tem, na média, apenas sete anos de escola – e má escola – não consegue entender que a sentença condenatória não transitou em julgado. Será que não haveria outro juiz capaz e em condições mais fáceis de serem compreendidas para ocupar tão alto posto?
Pode-se dizer que a economia vai bem, mas as instituições vão mal. Quandose olha paraospartidos políticos – peças-chave da democracia – o desânimo nos domina. Eles são reconhecidos pelos próprios políticos como descarados balcões de negócios, com raríssimas exceções. Partidos que capturam os nossos votos prometendo ética e honestidade são constantemente pilhados nas mais deslaCARLINHOS MÜLLER/AE
vadas falcatruas. Nada disso tem consequência. Já é lugarcomum dizer que o Brasil é o país da impunidade. Pergunto: impunidadecasacomdemocracia? Que tipo de instituições nós temos para apurar e punir? De fachadaestãoaíapolícia eaJustiça. Mas, de efetivo, elas só funcionam para os mais fracos, também com poucas exceções. Assuspeitasdefraudeecorrupçãodospoderososcostumam ficar onde sempre ficaram – no limbo! Ah! Como eu gostaria de ver este país com instituições fortes, atuantes e respeitáveis. Deus nos deu tantas coisas boas. É certo que entregaremos aos jovens uma nação com uma renda per capita mais alta. Um país que vai se transformar emgrandeexportadordepetróleo. E que hospedará a Copa do Mundo e a Olimpíada. Mas, no campo das instituições, valores e ética de conduta, entregaremoso Paísquerecebemos e piorado em vários aspectos. Enquanto tais instituições não amadurecerem, continuaremos com uma democracia de segundaclasse.Os valores básicos se deterioram a cada dia. Quem anda na linha passa por bobo ou desinformado. Essa é a concepção que grassa em nossa juventude. Vejam estes dados: 30% dos brasileiros confessam que passaram em exames escolares com base nacola. Essessão osque confessam. E os outros? Vinte e sete por cento dizem que não devolvem o troco quando recebem a mais do que o devido. Esses são os que têm a coragem de dizer. E os outros? O que mais dói é saber que os maiores contraventores nesses “pequenos delitos” são os mais estudados. Vejam o que a escola da violência está produzindo! Paremos por aqui, reconhecendo que para chegar à verdadeira democracia teremos de enfrentar uma longa trajetória emqueofortalecimentodasinstituições é essencial. Por tais motivos, quando vejo a distância que existe entre o sucesso da economia e a pobreza das instituições brasileiras, junto-me ao jurista Célio Borja quandodiz:“O Brasiléumacontradição ambulante.” ●
*José Pastore é professor de relações do trabalho da FEAUSP. Site: josepastore.com.br
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QUARTA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
14 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42365
Por desenvolvimento, Dilma quer reduzir meta ambiental
Governo vai injetar R$ 6 bilhões na Caixa
Para ministra, corte na emissão de C02 deve prever alta expansão econômica
O governo vai reforçar em R$ 6 bilhões o capital da Caixa Econômica Federal para que o banco mantenha o ritmo dos empréstimos em 2010 e 2011. A medida provisória que autoriza a capitalizaçãoserápublicadahoje no Diário Oficial da União. Comoaumentodaofertadecrédito para o setor produtivo, a Caixa viu despencar o indicadorquedeterminaovolumemáximo de empréstimos que um banco pode realizar. ● PÁG. B1
dução de 80% do desmatamento e o congelamento nas emissões de dióxido de carbono nos padrões de 2005, num cenário de 4% de crescimento econômico. Já Dilma Rousseff (Casa Civil)cobrouprevisões paracenários de crescimento de 5% e 6%. No panorama da ministra, as metas para redução do desma-
A discussão sobre a proposta queoBrasilvailevarparaaConferência da ONU sobre Mudanças Climáticas expôs divisão no governoentre“desenvolvimentistas” e “ambientalistas”. Na reunião realizada ontem entre ministros e o presidente Lula, Carlos Minc (Meio Ambiente) exibiaumprojetoprevendoare-
CADERNO 2
tamento podem ficar inalteradas, mas as propostas para a emissãodeCO2 têmdeserrecalculadas para patamares menos ambiciosos. Sobre a proposta de Minc, o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) afirmou que é preciso cobrar “contrapartidas dos países desenvolvidos”. ● PÁG. A16
SP aprova redução de C02 ●●● A Assembleia de São Paulo aprovou ontem a Política Estadual de Mudanças Climáticas, a primeira do gênero no País. A lei prevê redução de 20% das emis-
sões de gás carbônico até 2020 em relação a 2005. Segundo o governo estadual, a aprovação é oportunidade para se construir uma economia verde. ● PÁG. A17
Brasil atrai recursos de fundos soberanos
O futuro à mão
Livro digital já tem data para dominar
Visitante observa aparelho para livro digital na Feira do Livro de Frankfurt
E
m 2018, o livro digital deverá desbancar a tradicional versão em papel. Essa é uma das principais conclusões de pesquisa feita pelos organizadores da Feira do Livro de Frankfurt, a maior do mundo, que começa hoje. Outro foco de discussão é a escolha da China como país convidado, por causa da repressão à liberdade de expressão naquele país. ● PÁGS. D1 e D3
Fundos soberanos da Europa – que investem recursos de paísescomgrandes reservasinternacionais – e bancoscentrais do Oriente Médio e da Ásia começaram a investir em títulos da dívida brasileira. O movimento se intensificou depois que a agênciaderiscoMoody’sconcedeu, em setembro, o grau de investimentoaoBrasil.Umdosinteressados é o Fundo Soberano da China, que tem recursos de US$ 300 bilhões. ● PÁG. B4
ARTIGO
Roberto Feith
Eliminatórias
EDITOR
Argentina joga ‘a vida’ no Uruguai
Ainda vai demorar O livro digital será parte do cotidiano. Mas daí a dizer que ele se tornará majoritário em 2018 vai uma grande distância. ● PÁG. D1
BORIS ROESSLER/EFE
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Famílias enfrentam dois incêndios em 6 meses
Fase 2 do Cidade Limpa prevê veto a construções
Com baixa produtividade, o TribunaldeJustiça doDistrito Federal será inspecionado pelo CNJ. A corte tem a 2ª maiormédiadejuízes porhabitante e julgou 300 mil casos em 2008, ante 2,3 milhões no Rio Grande do Sul. “Os resultados não são compatíveis com a estrutura”, afirma o corregedor nacional, Gilson Dipp. ● PÁG. A10
Ao menos 100 pessoas que perderam as casas após o fogodestruiraFavelaDiogoPires no domingo já tinham vivido a mesma tragédia em abril, quando um incêndio atingiu a Favela da Linha, também no Jaguaré. Ontem, as famílias foram cadastradas. O déficit habitacional na Grande São Paulo é de 628.624 moradias. ● PÁG. C3
Um projeto de lei formulado pela Prefeitura de São Paulo quer barrar a construção de prédios e viadutos que atrapalhem a paisagem da cidadee obstruama vista demarcos urbanísticos. O Plano Diretor da Paisagem Urbana é uma espécie de segunda fase da Lei Cidade Limpa. Para os críticos, já há leis contra os excessos. ● PÁG. C1
Tempo: CAPITAL
Hoje: 72 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 6 ● G. Agrícola: 12
Tribunal mantém censura ao ‘Estado’ Recurso do jornal é rejeitado pelo TJ-DF e censura completa 75 dias. ● PÁG. A10
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SERGIO NEVES/AE
Por produzir pouco, TJ-DF passará por inspeção
CADASTRO – Franciane e o filho: ‘Tem que começar de novo, do zero’
NOTAS E INFORMAÇÕES
Sob o controle do clã O caso da hora, de novo envolvendo Fernando Sarney, é uma amostra de como ele contro-
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29º
MÁX.
la o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, pau-mandado do velho José Sarney. ● PÁG. A3
● PÁG. C2
16º
MÍN.
Sol reaparece e faz calor. No fim da tarde, pancadas de chuva.
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●● Hoje às 19 horas, a seleção
de Maradona precisa vencer para ir à Copa. ● PÁG. E1 Maradona, por Loredano ● PÁG. A2
Na despedida, Brasil pega a Venezuela ●● Em Campo Grande, às 19 horas,Dungafazsua50ªpartida como técnico. ● PÁG. E6
Vestibular
Medicina é o mais concorrido na Unesp São 129,2 candidatos por vaga. Depois, vêm Direito e Arquitetura. ● PÁG. A18
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agrícola
Muito mais coco ●● Embrapa vai recuperar áreas de plantio de coqueiro em 6 Estados nordestinos. ●
A2 ESPAÇO ABERTO
QUARTA-FEIRA, 14 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Será que Lula está testando seu teflon?
Aos mestres, com respeito
JoséNêumanne
PauloRenatoSouza
Desde que noço líder genial dos povos da floresta, Luiz Inácio Lulinha Paz e Amor o Cara da Silva, envergou a toga, travestindo-se ao mesmo tempo de supremo magistrado perdoador dos amigos e condenador dos adversários tornados inimigos e senador romano defensor do lema “in dubio pro reo” (“na dúvida, a favor do réu”), seus desesperados adversários tucanos e dêmicos se torturam com a imbaixável (apud Magri) popularidade dele. E foi aí que cunharam a teoria do teflon. Pois é. Sabe aquela película que é posta nas frigideiras para evitar que a fritura adira a elas? Sua Insolência também teria tal propriedade, pois sujeira nenhuma gruda nele. Por mais evidências que surjam à tona sobre a eventual participação de assessor próximo, amigo do peito, senhorio compadre ou filho prático, sua imagem sempre sai, impávido colosso, de quaisquer complicações, sem máculas nem sequer nódoas de gordura. Nem os dólares na cueca do irmão do companheiro o sujaram. Lula comporta-se como se
A oposição não consegue sequer tirar proveito das lambanças federais desfilasse despido em praça pública, mas num carro protegido por um permitido insulfilm (o teflon da indústria automobilística) que evita que o guri xereta lhe aponte o dedo e berre à multidão que o aplaude: “O reizinho está nu.” Mas, magnânimo, como seria um califa de mil e uma urnas abarrotadas de votos, Sua Insolência aventura-se às vezes a testar a consistência da camada protetora que mantém sua efígie imaculada, enfrentando desafios nunca antes arriscados por quaisquer antecessores mais temerários. É o caso de apostar nisso neste momento em que ele surfa sobre mais de 80% de aprovação do eleitorado a um ano de se tornar paraninfo da eleição da chefe de sua Casa Civil, Dilma Rousseff, que enfrentará o ogro favorito da oposição, José Serra, na sucessão presidencial. Nunca antes na história deste governo seu chefe desafiou com tanto destemor os favores dos fados benfazejos. Sua Insolência mandou, por exemplo, que os generais da política econômica desafiassem o dogma da poupança intocável. E fez mais: permitiu que os econometecas do governo cometessem a suprema blasfêmia de fixar como limite da taxação R$ 50 mil, lembrando os Cr$ 50 mil da medida governamental mais impopular da História do Brasil: o confisco da poupança por seu antecessor Fernan-
do Collor e pela ministra dele Zélia Cardoso de Melo, que dizem alguns engraçadinhos ter sido a primeira piada a se casar com um humorista. A única explicação próxima da lógica para a lambança da taxação da poupança seriam os arrepios de náusea que essa modalidade popular de investimento para evitar a corrosão da moeda provocam hoje nas instituições financeiras. Se essa hipótese de maledicentes da oposição for absurda, resta o dilema atroz provocado pelo anúncio da medida: para que mexer nesse vespeiro em véspera de eleição difícil com candidato pesado para enfrentar adversário favorito? Só pode ser a disposição de Lula de testar a consistência de seu teflon. Ousada? Pode ser. Tanto que o próprio Lula, ao que tudo indica, mandou a turma da economia voltar atrás na medida, não por ser absurda, mas por não haver razões políticas para adotá-la. E ainda houve outras piores. Que tal essa de o governo não devolver o dinheiro, tomado antecipadamente das pessoas físicas, do Imposto de Renda? O próprio presidente disse que esse empréstimo compulsório sem devolução à vista não atende aos princípios elementares da economia, pois o governo quer é ver o cidadão com dinheiro no bolso para poder comprar, gastando mais. O comentário seria de uma lógica cristalina se não fosse o comentarista chefe do governo que tomou a medida antipática, apostando na certa no fato de a grande maioria do eleitorado, residente nas favelas que ardem e nos morros que deslizam, não ter um tostão guardado com o infidelíssimo depositário federal. E mais: lembrou que já houve similares batidas de carteira do contribuinte no passado. Quer dizer, então, que para a tunga – e só para a tunga – não vale o refrão “nunca antes na História deste país”, é? Tá bom! Os exemplos de Lula testando seu teflon se multiplicam, não havendo aqui espaço para citar todos. Vamos apenas a mais um. O Ministério da Educação (MEC) contratou uma empresa privada para cuidar das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que vinha reunindo cacife para substituir o vestibular como uma forma mais transparente e justa de selecionar universitários. Alguns funcionários temporários da gráfica carregaram a prova impressa debaixo da blusa e dentro da cueca, evidenciando o vazamento, do qual saíram prejudicados milhões de estudantes que se beneficiariam com a inclusão da nota do Enem para terem acesso à universidade. Chamar os autores da façanha de “pés de chinelo” seria exagerado: não
chegam a sê-lo. A Polícia Federal (PF) detalhou as falhas da segurança da empresa contratada e elas atingem as raias do incrível. Ainda assim, a PF das operações espetaculares, a PF republicana que não dá mole para bandidos, forjou um perdão para o contratante de fazer corar frade de pedra. “A fragilidade foi da empresa contratada, que ganhou a licitação. Não houve fragilidade do governo”, disse seu superintendente, Fernando Duran. A mesma Federal não teme prender banqueiros que promotores e juízes consideram inescrupulosos, mas não dá ao Ministério Público uma informação que o autorize a pedir a prisão de Valdomiro Diniz, o factótum da Casa Civil do tempo de Zé Dirceu, que confessou ter achacado um empresário da jogatina e passeia sua impunidade pelo Planalto Central. Uma pergunta que não quer calar é se essa dubiedade pode explicar o teflon de Lula. Outra é se o insulfilm que impede a visão da nudez real não resultaria da suspeição inepta da oposição, incapaz de apontar o dedo por temer que vejam que ele não está muito limpinho. ● José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
Vai ou racha?
FÓRUM DOS LEITORES CPIdo MST
Alei?Ora,a lei...
O ministro do Desenvolvimento Agrário – mais um cabide de empregos do PT –, Guilherme Cassel, afirmou solenemente que o governo não tem nenhum receio de que seja instalada uma CPI do MST. Não teme o sr. ministro porque quem coordena e manda no famigerado MST é o próprio governo. E outra: que CPI foi para a frente e puniu culpados, nesta republiqueta de bananas em que esse senhor é ministro? A quantidade de anões, mensaleiros, corruptos e outros assaltantes do erário, livres das palhaçadas chamadas CPIs, trabalhando e legislando, soltos em Brasília, isso é um fato de que até Deus duvida!
Quando um bandido entra na sua casa, você chama a polícia. Quando são os bandidos do MST, é preciso obter uma liminar da Justiça. Tudo com as bênçãos de Lula. DIONYSIO VECCHIATTI dio.vecchiatti@terra.com.br
Valinhos
Candidaturadecentro
ROBERTO STAVALE
Tendo em vista que o centro político ainda não está representado, pois Dilma Rousseff, José Serra, Ciro Gomes e Marina Silva são candidaturas dos vários tons do vermelho, gostaria de sugerir a algum partido patriota o lançamento de um nome que vista as cores verde, amarela, azul e branca.
bobstal@dglnet.com.br
JOÃO ALFREDO CASTELO BRANCO
São Paulo
São Paulo
No Dia dos Professores, que celebramos amanhã, é oportuno destacar o profundo respeito e a admiração que tributamos a nossos mestres, em especial aos que atuam na rede estadual de ensino. Foi esse o sentido de todas as ações desenvolvidas no atual governo e que, na essência, buscam apoiar os professores no seu dia a dia na escola, premiar seu desempenho e valorizar sua carreira pelo mérito. Reconhecemos a dedicação de nossos professores, que são capazes de superação extrema para alcançar resultados notáveis com seus alunos, muitas vezes sem contar com todas as condições que seriam desejáveis para o desenvolvimento de seu trabalho. Diariamente nos deparamos com esses exemplos, que, não poucas vezes, nos emocionam no limite das lágrimas, pela prova de amor à profissão que revelam. De outro lado, somos obrigados também a reconhecer a justiça das cobranças da sociedade brasileira por uma educação de mais qualidade para nossas crianças e nossos jovens. Nos últimos 15 anos, nosso país foi capaz de garantir o acesso das crianças às escolas, mas todas as avaliações educacionais mostram que, mesmo em nosso Estado, estamos ainda muito longe de assegurar a todos a qualidade edu-
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Justiçaem dívida Estes 75 dias de censura imposta ao Estadão refletem a cara do Brasil institucional: lento, perverso, não enfrenta as prioridades, produz só privilégios, inclusive para corruptos. E liberdade de expressão, pelo visto, só no discurso. E o Lula ainda se diz muito preocupado com Honduras... PAULO PANOSSIAN paulopanossian@hotmail.com
São Carlos ● A onda censória que varre estes trópicos aloprados em que vivemos não é exclusividade local e vitimou o jornal inglês The Guardian, proibido de divulgar informações sobre uma pergunta feita por um membro do Parla-
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
cativa que o mundo de hoje exige para formar os cidadãos do futuro. Sabemos que a chave para solucionar esse problema está no professor: na qualidade de sua formação, na sua valorização e no apoio ao desenvolvimento de seu trabalho na escola. Reconhecer deficiências na formação dos mestres não significa responsabilizá-los pelas mazelas na qualidade educacional. Ao contrário, em boa medida eles também são vítimas de um sistema de formação que privilegia o estudo de teorias que estão muito longe da realidade da sala de aula de nossas escolas. Somos solidários com nossos mestres e orientamos o trabalho da Secretaria de Educação no atual governo no sentido de oferecer todas as condições para que nossos professores possam desempenhar suas tarefas com dignidade, competência e eficácia nos resultados. Desde os primórdios do atual governo, definimos programas e ações voltados para a sala de aula, que procuram apoiar os professores em suas tarefas de ensinar. É o caso dos programas Ler e Escrever e São Paulo faz Escola, que, além de definirem um currículo objetivo e abrangente, contemplam a formação continuada, o professor auxiliar na primeira série e farto material de apoio para alunos e professores de todos os segmentos da educação básica. Também devem ser mencionadas a recuperação da aprendizagem, a criação de função gratificada para professor coordenador pedagógico e as novas gratificações para diretores, vices e supervisores. Além disso, estamos permanentemente trabalhando para a melhoria da infraestrutura física de nossas escolas, para apoiar diretores e professores nas questões de segurança e por dotar todas as escolas de ensino médio com o programa Acessa Escola – laboratórios ligados à internet em banda larga. A seguir, definimos o índice de qualidade para nossas escolas – o Idesp –, que combina os resultados das avaliações dos alunos por meio do Saresp com os indicadores do fluxo escolar, medido pelas aprovações, repetências e evasão. Com base no Idesp fixamos metas de qualidade para cada ciclo do ensino fundamental e instituímos o bônus por resultado, de acordo com a evolução, para cada escola, que pode significar um ganho de até praticamente 25% para os funcionários da educação do Estado a cada ano. O bônus premia o trabalho coletivo de toda a equipe da escola e é igual para todos os integrantes de um mesmo segmento do ensino em cada escola. Mais recentemente, definimos novas jornadas de trabalho, criamos regras claras para garantir o trabalho dos temporários, passando a exigir um exa-
FAX:
(11) 3856 2920
Quemusa cuida mento sobre o despejo de lixo tóxico pela empresa Trafigura, em Abidjã, na Costa do Marfim. A mordaça imposta ao Guardian foi, a exemplo da que ainda obriga ao silêncio o Estadão, fruto de decisão judicial, em afronta à lei de 1688, que garante a liberdade de expressão. Ontem, antes de o jornal britânico apelar à Suprema Corte, os advogados da Trafigura manifestaram à Justiça sua desistência da proibição – uma tolice que beira a ingenuidade, pois a notícia já havia sido reproduzida em blogs mundo afora. A censura é uma Hidra de Lerna: cortamse-lhe as cabeças, outras brotam. LUIZ M. LEITÃO DA CUNHA luizleitao@ebb.com.br
São Paulo
Com relação à carta do leitor sr. Tito Costa (12/10) sobre o livro Honoráveis Bandidos, de Palmério Dória, é fácil apostar que a famiglia Sarney já deve ter um Dácio Vieira no bolso do mesmo colete onde perdura a ignominiosa censura ao Estadão. Corramos às livrarias!
me para todos os que vierem a dar aulas, e criamos 80 mil vagas de professor efetivo no Estado. Mais importante, definimos novas regras para os concursos de ingresso, que serão feitos em duas etapas, com um curso de formação a ser oferecido pela Escola de Formação de Professores de São Paulo, nos moldes das mais importantes carreiras de Estado em nosso país. Agora, está em análise na Assembleia Legislativa a proposta de Valorização pelo Mérito, um projeto que promove melhoria radical nas carreiras do magistério do Estado de São Paulo e reconhece tão somente o esforço individual do professor no seu constante empenho por melhorar a qualidade de nossa educação. Por meio das novas faixas salariais criadas, os professores, diretores e supervisores poderão multiplicar por mais de três vezes a sua remuneração inicial, mediante indicadores de assiduidade, permanência numa mesma escola e aproveitamento em exames a serem organizados pela Secretaria da Educação. A proposta está estrutu-
Reconhecemos a dedicação e o amor à profissão dos nossos professores rada de forma que, ao longo do tempo, a grande maioria dos nossos professores possa alcançar os níveis salariais mais elevados. Com ela buscamos solucionar o problema da falta de perspectivas de uma verdadeira progressão salarial nas atuais carreiras do magistério. Uma vez aprovado, o projeto haverá de tornar as carreiras do magistério verdadeiramente atraentes para os jovens egressos do ensino médio e voltar a despertar o respeito da sociedade, que foi sua marca no passado. Respeito é a palavra que define o relacionamento que procuramos ter com nossos professores. Em relação e eles, o mais comum em nosso país é os governantes adotarem discursos paternalistas, às vezes piegas, que escondem preconceitos e profundo desrespeito. Os professores da rede estadual de São Paulo são capazes e pelos seus méritos e dedicação haverão de liderar um processo de reversão da má qualidade da educação em nosso país. Para tanto não basta consolá-los com palavras bonitas. Devemos oferecer-lhes condições dignas de trabalho, apoio na escola e estímulos para que busquem constantemente o seu aperfeiçoamento. Somos parceiros! Aos mestres, com respeito. ● Paulo Renato Souza é secretário da Educação do Estado de São Paulo
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
cente gastança. Quando um empresário deixa de recolher impostos e contribuições retidas sobre rendimentos pagos, comete crime de sonegação e pode ir para a cadeia. Mas os donos do “pudê” são impuníveis. E la nave và. JOÃO SARTI JÚNIOR sarti.junior@terra.com.br
São Paulo
DOCA RAMOS MELLO ddramosmello@uol.com.br
São Sebastião
Estelionatofiscal Não bastasse a retenção indevida da restituição do Imposto de Renda, vem agora a notícia de que o governo federal açambarca recursos de fundos especiais (13/10, B1 e B3) para fazer caixa e financiar a sua incontida e sempre cres-
NovaCPMF O ministro Temporão afirma que a nova CPMF/CSS será a salvação para a saúde! Por que, então, o Brasil não resgata para a saúde os US$ 10 bilhões “emprestados” ao FMI e outros tantos colocados em obras inexistentes do PAC da ministra Dilma, em lugar de tungar o dinheiro do bolso da população brasileira?
QUARTA-FEIRA, 14 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS E INFORMAÇÕES A3 NOTAS E INFORMAÇÕES A3
Informação
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Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
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Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
Sob o controle do clã
U
m homem de negócios indiciado pela Polícia Federal por formação de quadrilha, gestão irregular de instituição financeira, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica conseguiu que um desembargador relacionado com a sua família proibisse o Estado de continuar publicando evidências comprometedoras para ele e a sua gente, sob a forma de registros de conversas interceptadas pela mesma Polícia Federal, com autorização da Justiça, no inquérito que o investigava. O desembargador, Dácio Vieira, foi declarado impedido de atuar no processo, o tribunal em que a ação tramitava se considerou incompetente para julgá-la, mas a censura prévia não foi levantada – o ultraje completa hoje 75 dias. O indiciado que se beneficia da censura é Fernando Sarney, o único filho do presidente do Senado sem mandato parlamentar ou cargo executivo. Isso, no entanto, não impede que o condutor das empresas do clã transite com extraordinária desenvoltura pelos bastidores do poder estatal. Eis uma proeza que possivelmente estaria além das suas presumíveis qualificações profissionais se o seu genitor não fos-
se quem é e não o tivesse preparado para o exercício de uma atividade em que ele próprio de há muito se distingue: a de manipular a máquina pública para torná-la instrumento dos seus interesses políticos – e das clientelas que gravitam ao seu redor. No universo patrimonialista pelo qual essas figuras circulam com a naturalidade dos que se sabem diferentes das pessoas comuns, a indicação de tipos que lhe serão obedientes para os lugares certos e a distribuição dos favores em momentos adequados são a garantia de mais poder, prestígio e riqueza, num círculo vicioso escarnecedor que nada parece perturbar. O caso da hora, de novo envolvendo Fernando Sarney – configurado a partir de gravações da Polícia Federal –, é uma amostra de como ele e um antigo apadrinhado da primeira-família maranhense, o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau (que deixou o cargo há dois anos sob suspeita de corrupção), controlam a Pasta, entregue pelo presidente Lula a outro pau-mandado do velho Sarney, o ministro Edison Lobão. Tendo tido acesso a oito diálogos grampea-
dos pelos federais, a Folha de S.Paulo publicou domingo trechos de conversas em que Fernando Sarney e Rondeau “ditam compromissos para Lobão ou para seus assessores e secretárias, marcam e cancelam reuniões do ministro sem avisá-lo previamente, orientam Lobão sobre o que dizer a empresários que irá receber, falam de nomeações no governo e discutem contratos que acabariam assinados pelo Ministério”. Segundo o jornal, a Polícia Federal concluiu que os diálogos caracterizam tráfico de influência e que Fernando Sarney “coordenou a prática ilícita”. Lobão nega a interferência. “O relacionamento é de amizade”, disse, por meio de sua assessoria, como se isso lhes desse direitos especiais junto à administração federal. Os três amigos se tratam por apelidos – alguns reveladores. Lobão é “magro velho”. Rondeau, “baixinho”. Fernando, “bomba”, “bombinha” ou “madre”. O senador José Sarney é “madre superiora”. Numa gravação, de 16 de setembro do ano passado, Fernando avisa Lobão de que “o pessoal da Abert” (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão)
Os novos números da educação
Inchaço federal
D
O
ivulgada pelo IBGE, a Síntese de Indicadores Sociais revela avanços importantes no sistema educacional brasileiro, ainda que em ritmo considerado lento pelos especialistas. Propiciado pela expansão das universidades privadas e pelo ProUni, um dos avanços mais importantes é o aumento de 6,9% para 13,9% no número de alunos do ensino superior, entre 1998 e 2008. Esse também é o período em que o Enem foi implantado no País. O levantamento do IBGE não leva em conta a faixa etária dos universitários.Alguns especialistas afirmam que muitos alunos continuam se formando bem mais velhos do que os estudantes dos países desenvolvidos. Mesmo assim, reconhecem eles, esse fato é positivo, na medida em que revela uma crescente qualificação das novas gerações. “Para o mercado é importante que a pessoa se forme, independentemente da idade. Como a educação no Brasil ainda é deficiente, as pessoas terminam o ensino médio mais tarde, vão trabalhar antes e entram para a universidade depois”, afirma o economista Cláudio Moura Castro, que já dirigiu a Capes e foi consultor para assuntos de educação de importantes organismos multilaterais. Outro importante avanço constatado pelo IBGE foi a expansão do ensino médio. Entre 1998 e 2008, a proporção de jovens com mais de 15 anos matriculados nas três séries desse ciclo pulou de 76,5% para 84,1%. E, deste total, 50,6% dos alunos estão na série adequada à sua faixa etária, o que tam-
bém é um progresso. Em 1998, o índice era de 30,4%. Se o ritmo for mantido, diz o IBGE, o Brasil chegará a 2018 com 70,8% dos estudantes com idade adequada no ensino médio (nos países desenvolvidos, a taxa é superior a 90%). O levantamento também mostra que o porcentual de jovens de 18 a 24 anos com pelo menos 11 anos de estudo passou de 18,1%, em 1998, para 36,8%, em 2008. No ano passado, 45,3% dos jovens com mais de 15 anos tinham menos de oito anos de escolaridade e 21% tinham menos de quatro anos de estudo. Como era de espe-
O IBGE constata melhorias lentas, mas positivas, no ensino brasileiro rar, os indicadores do IBGE mostraram uma acentuada diferença no número de anos de estudo entre os brasileiros que moram na cidade e no campo. Em 2008, 4,6% dos habitantes de áreas rurais tinham estudado 15 anos ou mais, ante 7,9% dos moradores de áreas urbanas. O levantamento do IBGE mostra ainda a melhoria da média de anos de estudo dos mais pobres por quintos de renda. Por essa metodologia, a sociedade foi dividida em cinco grupos de 20%, de acordo com a renda familiar per capita, dos mais pobres para os mais ricos. Há dez anos, o grupo mais pobre tinha, em média, 2,6 anos de estudo. Em 2008, esse número chegou a 4,3. No segundo quinto mais pobre, a evolução foi de 3,4 pa-
ra 5,4 anos de escolaridade. Outro avanço importante é o número de crianças entre 7 e 14 anos na escola. A taxa, que era de 94,7%, há dez anos, foi de quase 98%, em 2008. Todos esses números mostram que, depois de vencida a etapa da universalização do ensino fundamental, a partir de 2000, o País agora tem pela frente o desafio da universalização do ensino médio. Mas, como advertem os especialistas, essa é uma meta que só será atingida a longo prazo. Os indicadores do IBGE revelaram “um salto grande, mas não dá para ir mais rápido”, diz Moura Castro. Isto porque não adianta expandir quantitativamente o número de matrículas do ensino médio sem, ao mesmo tempo, adotar programas para melhorar a qualidade da educação. “O ensino médio é muito ruim, chato e abstrato. Se a escola for boa o curso é voltado para o vestibular. E, se for ruim, o currículo do Ministério da Educação não diz o que fazer”, afirma ele. Como esse nível de ensino hoje não é nem profissionalizante nem formativo, ele fornece o que alguns especialistas chamam de “escolaridade rarefeita”, o que acaba levando muitos estudantes a desistir do curso. O acesso à escola melhorou nos últimos dez anos, em todos os níveis. Todavia, como mostram os mecanismos de avaliação do MEC, o ensino ministrado para a maioria dos estudantes continua longe de apresentar resultados minimamente aceitáveis.
governo federal continua inchando os quadros do funcionalismo. Só à folha do Executivo foram acrescentados 57,1 mil servidores entre 2003 e 2009 e mais 14,4 mil vagas poderão ser abertas até o próximo ano, com base em 25 leis aprovadas pelo Congresso em 2009 e sancionadas pelo presidente da República. O total de contratações autorizadas por essas leis pode chegar a 26,1 mil, se forem considerados os Três Poderes. Mas a ambição do governo é maior. Afinal, as eleições serão o grande tema político de 2010 e a disputa já começou há muito tempo. Enquadra-se muito bem nesse panorama a criação de 77,7 mil cargos federais, indicada no anexo V da proposta de lei orçamentária para o próximo ano. Desse total, 56,8 mil deverão ser preenchidos no exercício, a maior parte (47,3 mil) no Executivo. Ainda não está claro de onde sairá o dinheiro para essas contratações, porque não está prevista dotação, segundo estudo produzido pela Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados e citado em reportagem do Globo. A despesa com salários e encargos cresceu demais nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O gasto estimado para este ano, R$ 153,8 bilhões, é 14,1% maior que o de 2008, em valores correntes. A variação é muito maior que a de qualquer dos indicadores de inflação usados no País. Além do mais, o governo tem demonstrado uma clara preferência pelos gastos com pessoal, embora se declare empenhado em elevar os in-
vestimentos. Nos 12 meses desde o agravamento da crise, em setembro do ano passado, o Tesouro Nacional investiu R$ 29 bilhões em obras e compras de equipamentos, 13% mais do que nos 12 meses imediatamente anteriores. O gasto com pessoal dos Três Poderes chegou a R$ 135 bilhões nos 12 meses terminados em setembro deste ano e foi 20% maior que o desembolso com salários e encargos no período anterior. O governo continuou, portanto, inflando a despesa com o funcionalismo, enquanto noutros países a política de combate à recessão era realizada
Aumenta o pessoal, o orçamento fica mais rígido e nada melhora no serviço principalmente por meio de incentivos fiscais e investimentos – itens flexíveis e passíveis de redução depois de vencida a crise. Salários e encargos são normalmente irredutíveis em termos nominais, exceto quando não há reposição de funcionários aposentados, mortos ou afastados voluntariamente. No Brasil, tem havido mais que reposição: o quadro tem crescido e, se depender da atual administração, continuará crescendo, juntamente com o custo da folha. Entre o primeiro semestre de 2002 e o primeiro deste ano, o gasto com pessoal da administração direta, das autarquias, fundações e empresas dependentes do Tesouro aumentou 49%, descontada a inflação, segundo cálculos da ONG Contas Abertas, es-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
borisbecker@uol.com.br
São Paulo
Nonsensena penitenciária Nada mais nonsense que a discussão que terminou em violência física entre o ex-megainvestidor americano Bernard Madoff e seu “colega” de penitenciária. Motivo: discordância sobre economia e o estado da bolsa de valores. Ah, se a moda pega... ALEXANDRE FUNCK afunck1@gmail.com
Bragança Paulista
APEC dosCartórios Duas correntes se contrapõem na discussão da PEC 471, que tramita na Câmara dos Deputados.
A primeira, contra o concurso público, restrita a prepostos ou substitutos provisórios, que chegaram a tais posições por afinidades ou proximidades pessoais ou porque merecedores de confiança, advinda de virtudes morais, experiência e preparo profissional específico. Nessa corrente, todavia, está um grupo que só deitou e rolou ao longo do tempo, usufruindo os favores pessoais que sabiam momentâneos, e não se preparou para os concursos que viriam, por imposição constitucional, a partir de 1988; decerto, à espera de um trem da alegria, no qual ora busca embarcar, por emenda à Carta, modelo que esta repudia, por violar princípios como moralidade, impessoalidade e publicidade, ex vi seu artigo 37. A segunda corrente se alinha ao lado do interesse
“
Se dependêssemos dos alimentos plantados pelo pessoal do MST... morreríamos de fome”
VirgílioMelhadoPassoni mmpassoni@gmail.com Osasco
geral, a favor do concurso público, previsto no artigo 236 da Constituição. Compõe-se de brasileiros que se prepararam ou se preparam para concorrer ao mister, pela via seletiva e democrática, que propicia iguais oportunidades a todos, independentemente de afinidades ou proximidades pessoais. Oxalá trilhe a egrégia Casa legislativa o caminho da isenção e da imparcialidade.
MARDEN BRAGA mardenbraga@bol.com.br
São Paulo ● Durante todo o período de ocupação irregular da posição de interino – responsável por serviços de registro e tabelionato –, esse profissional sempre foi adequadamente remunerado, pois do contrário não teria dado continuidade à atividade do antecessor, muito menos teria interesse na sua perpetuação via “PEC Gambiarra”. Dizer que a efetivação dos interinos é feita como medida de justiça a essa classe é subestimar a inteligência do brasileiro: seja em decorrência da hereditariedade ou por apadrinhamento político (causas imorais e inconstitucionais para a delegação de serviço público), o interino já gozou por
pecializada no acompanhamento das contas públicas. “Não há inchaço”, disse o líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PTRS). Segundo ele, as contratações são destinadas a tornar o Estado mais eficiente. A justificativa é obviamente insustentável diante da experiência cotidiana de uma administração cada vez mais aparelhada, incompetente e improdutiva. A inépcia do governo é demonstrada pelos próprios números da execução de seus investimentos. Desde seu lançamento, no começo de 2007, até agosto deste ano, foram desembolsados R$ 338 bilhões para obras do Programa de Aceleração do Crescimento, 53% do total previsto para ser gasto até 2010. Quase todo o investimento dependente das estatais foi executado pelo Grupo Petrobrás (uma participação superior a 90% neste ano e no próximo). A execução do chamado PAC orçamentário tem sido igualmente precária, com desembolso de cerca de 50% do montante previsto entre 2007 e 8 de outubro deste ano. As melhoras observadas ano a ano em setores como educação e saúde são pequenas. Resultados iguais ou proporcionalmente maiores foram obtidos, em anos anteriores, com um quadro menor de funcionários. O indisfarçável empreguismo serve apenas a objetivos políticos do governo federal e de seus aliados. É parte de uma estratégia não só eleitoral, mas também de ocupação da máquina pública. De resto, só produz consequências indesejáveis para o País, como o engessamento das contas públicas e o inchaço da administração federal.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
BORIS BECKER
lhe pedirá para adiar por uma semana o horário de verão. “Mas já está o decreto assinado pelo presidente”, reage o ministro. Fernando admite a dificuldade, mas insiste: “Escuta e vê se é possível. Entendeu?” O outro responde: “Tá bem, escuto.” Ele repetirá “tá bem”, depois de Fernando lhe pedir que ele remarcasse um “contato mais próximo” com um interessado. “Você faz isso para mim?”, ordenou o filho do senador. Em outras conversas, Rondeau, como se fosse ele o titular da Pasta, combina com um empresário e com a secretária de Lobão um encontro de negócios no Ministério, além de intermediar o agendamento de uma audiência a membros de um grupo espanhol do setor de gás natural. Minutos depois de acertar a reunião, Rondeau informa os espanhóis de que o ministro tinha “bastante interesse em ouvir” os seus planos para o Maranhão. Antes de ser nomeado, o ex-jornalista e político maranhense Edison Lobão não tinha familiaridade alguma com questões energéticas. A oposição quer que a Polícia Federal e o Ministério Público apurem se ele cometeu algum crime com os serviços prestados ao antecessor e ao primogênito do seu padrinho político José Sarney.
tempo suficiente bom faturamento, sem dar chance a pessoas preparadas – e tão cidadãos quanto os interinos – de concorrer à vaga. HENRIQUE DE A. PRADO FRANCESCHI henriquefranceschi@yahoo.com.br
São Paulo
PrefeitosdeSão Paulo A carta do sr. Jorge Wilheim (Faria Lima, 10/10) não pode passar sem reparo. Nela o ilustre arquiteto pretende consagrar o nome de Marta Suplicy, de quem foi secretário de Planejamento, num seleto grupo de proeminentes de São Paulo, ao lado de Faria Lima, Prestes Maia e outros. Por razões de espaço, atenho-me a um breve registro histórico deste último. O engenheiro politécnico professor Francisco Prestes Maia, duas ve-
zes prefeito (1938-45 e 1961-65), foi um gênio que idealizou e implementou o mais extenso e importante conjunto de obras viárias e urbanísticas da cidade. Seu talento e sua capacidade de trabalho foram decisivos para que São Paulo assumisse as feições próprias da metrópole em que se transformou. Estudos como o laureado Planos de Avenidas para a Cidade de São Paulo e Os Melhoramentos de São Paulo, de autoria do prefeito, dão testemunho da magnitude de sua obra. Equiparar Marta a homens públicos do quilate de Prestes Maia ou Faria Lima (que terminou o mandato com 97% de aprovação) é uma injustiça para com a memória desses extraordinários realizadores, a quem tanto devem os paulistanos. CELSO LUIZ P. MENDES
São Paulo
A10
QUARTA-FEIRA, 14 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 75 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Tribunal mantém censura ao ‘Estado’
Sarney no Maranhão.” TRANSAÇÕES
Desembargadores do TJ-DF rejeitam recurso contra liminar em vigor desde 31 de julho Mariângela Gallucci BRASÍLIA
O Estado continua sob censura. Os desembargadores do Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) rejeitaram recurso no qual era contestada a manutenção da liminar que impede a publicação de reportagens sobre
aOperação BoiBarrica,da Polícia Federal, que investigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Na votação de ontem, os desembargadores confirmaram decisão tomada em setembro pelo Conselho Especial, que afastou do processo o desembargador Dácio Vieira, autor
da liminar que censurou o jornal.Mas,aomesmotempo,manteve a mordaça que vigora desde 31 de julho. Ao negar o recurso proposto pelo Estado, o TJ-DF manteve a linha de ação classificada como “bagunça jurídica” pela principalONGemdefesado jornalismo mundial, a Repórteres Sem Fronteiras, que acompa-
nha de perto o caso Sarney. De acordo com a entidade, a situaçãododesembargadoréde“claroconflitodeinteresses”eamanutençãodamordaça“juridicamente nonsense”. Ficou inalterada a decisão dos desembargadores da 5ª Turma Cível do TJ-DF, que ordenaram o envio do processo para a Justiça Federal Cível de
primeira instância no Maranhão,lardafamíliaSarney.“Decisão desconcertante”, na visão do Comitê de Proteção aos Jornalistas, ONG em defesa da liberdade de expressão com sede em Nova York. “Há claramente um problema de lugar”, alerta Repórteres Sem Fronteiras. “Todo brasileiro sabe do poder político e econômico da família
Responsávelpordirigirosnegócios dos Sarney, Fernando está sob investigação há quase 3 anos. A operação federal mapeou transações financeiras suspeitas das empresas de seu grupo, detectadas às vésperas da eleição de 2006. Em julho, ao final de quase seis horas de depoimento na Superintendência da PF do Maranhão, em São Luís, o empresário foi indiciado por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica. ● COLABOROU ROBERTO ALMEIDA
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JUDICIÁRIO
CNJ aponta produtividade baixa de juízes de Brasília Corte julgou 300 mil casos em 2008, enquanto TJ-RS, com verba similar, decidiu 2,3 milhões ANDRE DUSEK/AE–13/10/2009
Felipe Recondo BRASÍLIA
Com um orçamento de R$ 1,1 bilhão, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) entrou ontem na mira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por causa de sua baixa produtividade. A corte tem a segunda melhor média do País – 11,2 juízes para analisar processos de cada grupo de 100 mil habitantes – e, proporcionalmente, a maior quantidade de servidores. Na comparação com outrostribunais,porém,aprodutividade dos magistrados não condiz com o grande volume de recursos disponível. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por exemplo, tem um orçamento de R$ 1,2 bilhão – valor bem próximo ao do TJ-DF. Mas os desembargadores gaúchos julgaram, em 2008, cerca de 2,3 milhões de casos, enquanto no Distrito Federal as sentenças ficaram em 300 mil. Dadosdo própriotribunal reforçam a necessidade de inspecionaro trabalho dos juízes. Em agosto passado, 4.904 processos estavam, há mais de cem diasàesperadasentençadomagistrado, um atraso que, de acordo com o CNJ, precisa ser justificado. À ESPERA
Outras 24.383 ações ajuizadas antes de 2005 permaneciam, no mesmo período, a espera de julgamento ainda no primeiro grau da Justiça. Foram dados como esses que levaram o Conselho Nacional de Justiça a iniciar ontem uma inspeção completa no tribunal.
Balanço contrasta com 2º lugar no ranking de juízes por habitantes “Osresultados nãoestãosendo compatíveis com a estrutura do tribunal. Isso precisa ser verificadoinloco”,afirmouocorregedor nacional de Justiça, ministro Gilson Dipp. “O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios é o mais bem estruturadoeaquinhoado, porquerecebe recursos da União. Parece que o desempenho poderia ser melhor.” Durante essa investigação,
PARANÁ
Vereador é preso acusado de peculato O vereador de Londrina, Rodrigo Gouvêa (PRP), foi presoontemsobacusação depeculatoeconstrangimento ilegal. A denúncia aponta que o vereador mantinha uma funcionáriafantasmaemseugabinete. A Câmara instaurou um processo para cassação do mandato. Mas, segundo o Ministério Público, Gouvêa ameaçou uma testemunha, o que levou ao pedido da prisão preventiva. O vereador não se pronunciou ontem, masjáhavianegadoanteriormente as acusações. DISTRITO FEDERAL
Câmara fixará pauta semanalmente O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e os líderes partidários não chegaram a um acordo sobre os projetos que deverão ser votados até o fim do ano. Em reunião realizada ontem, cada partido apresentou suas prioridades, mas não houve consenso. Temer decidiu fixar os projetos em reuniões semanais. Saiu da pauta, no entanto,aPropostadeEmenda à Constituição (PEC) 471/05,queefetivaosresponsáveis por cartórios admitidos sem concurso público. JUSTIÇA ELEITORAL
Vídeo na web ajuda eleitores no exterior
O CORREGEDOR – ‘Resultados não estão sendo compatíveis com a estrutura do tribunal. Isso precisa ser verificado in loco’, afirma Gilson Dipp
Emenda beneficia Cezar Peluso
NÚMEROS
4.677
processos estavam conclusos há mais de cem dias no TJ-DF, em agosto, à espera de atos burocráticos
A Câmara dos Deputados aprovou ontem uma emenda constitucional que muda a composição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A alteração beneficiará o ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele deverá assumir a presidência da corte, provavelmente em maio do próximo ano, e não poderia presidir o conselho sem a mudança na Constituição. A proposta retira o limite de idade para ocupar a presidência do CNJ e determina que o cargo será automaticamente do chefe do Supremo.
Pela regra atual, Peluso pode assumir o comando do STF, mas estaria impedido de presidir o CNJ porque estará com 67 anos. O artigo constitucional estabelece que os 15 integrantes do Conselho Nacional de Justiça devem ter mais de 35 anos e menos de 66 anos de idade. A proposta aprovada acaba com esse limite. A decisão foi por unanimidade, com o placar registrando 383 votos a favor. O projeto – que já passou pelo Senado – voltará ainda à pauta para a votação em segundo turno na Câmara. ● DENISE MADUEÑO
bilhão foi a despesa total do TJ em 2008
que não tem prazo para terminar,os gabinetesdosdesembargadores, contratos feitos por licitação, a forma de contratação de servidores e demais serviços da Justiça do Distrito Federal serão auditados.
Se houver constatação de irregularidades, os responsáveis poderão responder a processo disciplinar no Conselho Nacional de Justiça. As falhas administrativas, que forem identificadas, deverão ser corrigidas
por determinação do CNJ. “Confiamos que, ao final dos trabalhos, eventuais falhas serão apontadas para as devidas correções, e as boas práticas aqui adotadas serão divulgadas”, disse o presidente do TJ-
●●●
4.904
processos esperavam havia mais de cem dias que o juiz desse a sentença
37%
das unidades de Brasília não informaram ao CNJ a movimentação de processos
R$ 1,1
DF, Nívio Geraldo Gonçalves, em nota. “Nada temos a omitir, porque sempre acatamos as diretrizesemanadasdaConstituição, das leis vigentes no País e dos atos normativos do Poder Judiciário,com oúnico propósito de construir uma Justiça maiseficiente ecélere, paramelhor servir à sociedade, ao Distrito Federal e ao Brasil.” AUDITORIAS
OTJ-DFéo15ºaserinspecionadonoPaís. EmBrasília, oTribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região já foi auditado pelo CNJ. O relatório deverá ser apresentado e votado amanhã, na sessão do órgão. Foram também vistoriados pelo CNJ os tribunais de Alagoas, Piauí, Amazonas, Pará, Maranhão,Bahia, Paraíba,Ceará, Espírito Santo, Tocantins, Pernambuco e a Justiça Militar do Rio Grande do Sul, além do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e a Justiça Federalem Minas Gerais. ●
Vídeo postado no canal do Supremo Tribunal Federal no YouTube (www.youtube. com/stf) ajuda a responder dúvidasdebrasileirosqueresidem fora do País sobre as eleições de 2010. De acordo com a chefe da Zona Eleitoral do Exterior, Sayonara Bracks,muitosdeixamdevotarapenasporquedesconhecem os procedimentos. Aqueles que tiveram títulos cancelados porque deixaram de votar ou justificar devem se encaminhar a consulados ou embaixadas. RIO GRANDE DO SUL
Deputada lê parecer contra impeachment O parecer da deputada estadual e presidente do PSDB no Rio Grande do Sul Zilá Breitenbach pelo arquivamento do pedido do processo de impeachment da governadora Yeda Crusius (PSDB) foi lido ontem na Assembleia Legislativa. Aprovado pela comissão especial que tratou do assunto, o texto será votado dia 20. Zilá sustenta que não há prova concreta contra Yeda. A oposição deve elaborar relatório pedindo a abertura do processo.
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
15 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42366
Obra no São Francisco vira palanque, mas não tem verba
RICARDO STUCKERT/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
O presidente Lula admitiu ontem, em ato falho, o caráter eleitoral da viagem dele e da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) paravisitarasobrasdatransposição do Rio São Francisco. Ao discursar, ele afirmou que sua ideia inicial não era participar de “comício”, apenas cumprir umprogramadeinspeção.Apesar da atenção dada por Lula às obras, o projeto recebeu só 3,68%do R$ 1,68bilhão reservado a ele neste ano. ● PÁG. A4 ANÁLISE
Dora Kramer
Turnê revela uma nação intimidada O País parece estar de cócoras ante Lula, mito que se alimenta da covardia alheia de apontar seus erros. ● PÁG. A6 ●●●
PALANQUE PARA TODOS – Os pré-candidatos Ciro Gomes, Dilma Rousseff e Aécio Neves com Lula no aeroporto de Pirapora (MG): avião da FAB foi utilizado na visita a obras do São Francisco
SP será o 2º polo petrolífero do Brasil, prevê Gabrielli
Como escolher a escola dos filhos ●● Preçoelocali-
zaçãonãosãoos únicoscritérios. Vejaoquemais estáemjogo nahorade decidir. ●
Para presidente da Petrobrás, Estado deve superar Espírito Santo até 2020 A exploração da camada présal pode transformar São Paulo no segundo maior produtor de petróleo do Brasil até 2020, superando o Espírito Santo e ficando atrás apenas do Rio de Janeiro. Aprevisão foi feitapelo presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, em entrevista a Leonardo Goy. “A Ba-
cia de Santos é extremamente prolífica e diversificada”, disse Gabrielli. “Tem possibilidades em águas rasas e profundas, tem gás. E a maior parte dessa bacia está em São Paulo.” Ele afirmou, ainda, que as ações da Petrobrás negociadas em Nova York dispararam depoisdo anúncio domarco re-
ESPORTES
Consumidor da Grande São Paulo pagará mais pela água
●●● O bom humor do mercado internacional, com os sinais de recuperação, fez o Ibovespa superar os 66 mil pontos pela primeira vez desde junho de 2008.
No ano, a valorização atinge 76%. A entrada de dólares levou a moeda americana a cair para R$ 1,703, a menor cotação desde setembro de 2008. ● PÁG. B10
CADERNO 2 Ney Matogrosso, ‘pop no conceito’
●● Em Beijo Bandido, cantor mescla regravações de sucessos com novidades. ●
Prefeito não define valores nem prazo O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, defendeu reajuste do IPTU para incorporar a valorização imobiliária nos últimos anos. Ele disse que o teto para o aumento “pode ser de 50%, 100%, 200%”,
mas não deu prazo para mandara propostaà Câmara.Overeador Milton Leite (DEM) disse que o texto será enviado em até duas semanas. Estudo indica imóveis valorizados em mais de 300%. ● PÁG. C6
Toda restituição do IR sairá neste ano
Coquinho da moda ●● O licuri, joia do semiárido baiano, serve como doce e salgado. ●
Fórmula 1
Para Massa, Alonso sabia de armação Brasileiro critica futuro companheiroecausamal-estar na Ferrari. ● PÁG. E3
●●
O governo pagará todas as restituições de Imposto de Renda ainda neste ano. A ação ●●
ALÍVIO - Maradona vibra com o gol e a classificação da Argentina
No sufoco, Argentina se classifica para a Copa A Argentina sofreu até o último jogo das eliminatórias, mas se classificou para a Copa. A seleção de Maradona derrotou o Uruguai em Mon‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 76 DIAS q PÁG. A11 NOTAS E INFORMAÇÕES
Mais um cabide à vista A Previc será uma generosa fonte de empregos, se o Senado não tiver um ataque de austeridade. ● PÁG. A3
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7 8 9 10 11 12
Bovespa dispara, dólar cai
Kassab diz que IPTU precisa ser reajustado
SANDRO PEREYRA/EFE
A partir de 1º de janeiro de 2011, as contas de água terão um acréscimo de 2% a 3% na Grande São Paulo. É que o Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê passará a cobrar pelo uso da água. A cobrança será feita das concessionárias de abastecimento (como Sabesp), mas os custos deverão ser repassados para o consumidor residencial, que hoje só paga pela captação, tratamento e distribuição da água. ● PÁGS. C1 e C3
gulatóriodo pré-sal,oque sinalizaqueosinvestidores estrangeiros deverão entrar “pesado” na capitalização prevista para a companhia brasileira. Sobre seu futuro, o petista Gabriellidissequeéum“serpolítico”, porémdescartou secandidatar a algum cargo no ano que vem. ● PÁGS. B1 e B3
tevidéu, por 1 a 0, e obteve a 4ª vaga. O Uruguai foi para a repescagem. Em Campo Grande, Brasil e Venezuela ficaram no 0 a 0. ● PÁGS. E1 e E4
Tempo: CAPITAL
30ºMÁX.
● PÁG. C2
18ºMÍN.
Faz calor e pode chover forte à tarde.
Hoje: 120 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 4 ● H. Especial .EDU: 20 ● P. Paladar: 8 ● Cl. Classificados: 20 (1.964 anúncios)
visaareverterdesgastecausado pelo atraso dasrestituições para fazer caixa. ● PÁG. B5
QUINTA-FEIRA, 15 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 76 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Especialistas: censura atropela Constituição Para constitucionalista Wiegerinck, decisão do TJ-DF ‘tem cara de Irã, Venezuela e Honduras’ Roberto Almeida
Adecisão deanteontemdoConselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF), que manteve a censura ao jornal O Estado de S.Paulo e ao site estadao.com.br no caso Sarney, atropelou um princípio básico da Constituição brasileira, ratificado pelo País em três tratados internacionais, alertam especialistas. Segundo eles, trata-se de mais uma derACORDOS
Só nas intenções Declarações que versam sobre liberdade de imprensa assinadas ou ratificadas pelo Brasil ● ONU Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos Ratificado em 6 de julho de 1992* Artigo 19: Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou qualquer outro meio de sua escolha ● OEA Convenção Americana de Direitos Humanos Ratificada em 25 de setembro de 1992* Artigo 13: Liberdade de pensamento e de expressão 1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha 2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeita à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente previstas em lei ● OEA Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão Aprovada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos em 2000 5º princípio: A censura prévia, interferência ou pressão direta ou indireta sobre qualquer expressão, opinião ou informação difundida através de qualquer meio de comunicação oral, escrito, artístico, visual ou eletrônico, deve estar proibida por lei. As restrições na circulação livre de ideias e opiniões, assim como a imposição arbitrária de informação e a criação de obstáculos ao livre fluxo informativo, violam o direito à liberdade de expressão ● Sociedad Interamericana de Prensa (SIP) Declaração de Chapultepec Lula renovou compromisso com a carta no dia 3 de maio de 2006. Parágrafo 2º: Toda pessoa tem o direito de buscar e receber informação, expressar opiniões e divulgá-las livremente. Ninguém pode restringir ou negar esses direitos Parágrafo 5º: A censura prévia, as restrições à circulação dos meios ou à divulgação de suas mensagens, a imposição arbitrária de informação, a criação de obstáculos ao livre fluxo informativo e as limitações ao livre exercício e movimentação dos jornalistas se opõem diretamente à liberdade de imprensa
* Ao ratificar, o País assumiu obrigações jurídicas no plano internacional
rota da população, que tem o direito fundamental de ser informada. O princípio básico atropelado pela decisão é o artigo 5º da Constituição, que exalta a liberdade de expressão no Brasil, e as convenções internacionais ignoradas são o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos da Organização das Nações Unidas (ONU), a Convenção Americana de Direitos Humanos da Organização dos Es-
NACIONAL NACIONAL A11 A11
tadosAmericanos(OEA)eaDeclaraçãodeChapultepec,daSociedadInteramericanadePrensa (SIP). Osdispositivosnacionaiseinternacionais, porém, não impediramqueacortedoDistritoFederalacatassealiminar proposta pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), que proíbe o Estado desde o dia 31 de julho de publicar informações sobre a Operação
Boi Barrica, da Polícia Federal. O andamento processual tampouco eliminou a censura. O desembargador que acatou a liminar, Dácio Vieira, foi declarado suspeito e acabou afastado do caso. Em seguida, o TJDF se declarou incompetente para julgar a ação e decidiu remeter o caso para a Justiça do Maranhão. Além disso, Fernando, autor do pedido de censura e gestor dos negócios da família Sarney,
já foi indiciado pela PF por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Tratouaindadadistribuiçãodecargos no Senado. “Não háque se falar em privacidade do acusado quando o que está em julgamento são bens e recursos do Estado”, assinala o constitucionalista João Antônio Wiegerinck. De acordo com ele, essa é a interpretação corrente no mundo inteiro – menos em
países autoritários. “A decisão tem cara de Irã, de Venezuela, de Honduras, onde há interpretação restritiva dosdireitoshumanos.Todomagistrado deve fazer com que os direitos protegidos se estendam a maior número de indivíduos, e o povo tem direito sim dereceberainformação”, continua Wiegerinck. LuizTarcísioTeixeiraFerreira, também constitucionalista, tem a mesma opinião,. “De um lado você tem uma pessoa que sealegaprejudicada,masdooutro lado estão valores muito maisamplos.São valorescoletivos. Como a sociedade será ressarcida?Indubioproreu?Indubio pro liberdade de imprensa”, afirma. ●
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
16 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42367
ESPORTES
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
Button avisa: será cauteloso em Interlagos
SORRISOS – Barrichello e Button, da Brawn GP, durante entrevista sobre o GP Brasil: o brasileiro se disse ansioso para ouvir a torcida de Interlagos, ‘a mais fanática do mundo’
Governoestudataxarcapital externoparasegurarodólar
Lula ironiza preocupação de Serra com o Nordeste
Moeda americana fica abaixo de R$ 1,70 e cobrança de IOF pode ser retomada Diante da contínua desvalorização do dólar ante o real, o governojáestudaaopção deretomar a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada da moeda americana no Brasil, informamosrepórteres Fabio Gra-
ner e Adriana Fernandes. A medida funcionaria como uma espécie de pedágio ao ingresso decapitalexterno,que nasúltimas semanas se intensificou e vem se tornando um problema para a competitividade dos exportadores brasileiros. A esti-
mativaé queaté ofinal do ano o Brasil receba algo entre US$ 20bilhõeseUS$30bilhões.Ontem, o dólar fechou abaixo de R$ 1,70 pela primeira vez desde o início de setembro de 2008.No ano,a desvalorização já chega a 27,2%. ● PÁGS. B1 e B3
BB quer liderar resseguros O Banco do Brasil anunciou que pretende comprar o controle do Instituto de Resseguros do Brasil, maior empresa
responsável pelos contratos de seguro com as próprias seguradoras. O governo federal detém 50% do IRB. ● PÁG. B4
●● Seis misses, como Natália Guimarães, falam de OPequeno Príncipe,afábula de SaintExupéry que virou exposição na Oca. ●
O presidente americano, Barack Obama, deve visitar o Brasil no fim deste ano ou no início de 2010, relata a correspondente Patricia Campos Mello. A informaçãofoidadapeloembaixador brasileiro nos EUA, Antonio Patriota. Segundo ele, a viagem depende da confirmação de Thomas Shannon para a embaixadanoBrasil,pendenteporqueaoposiçãorepublicanacritica seu posicionamento sobre a crise em Honduras. ● PÁG. A10
ALEX SILVA/AE
●● Artistabrasileiroinaugura hoje exposição antológica na Suíça. ● PÁG. D1
Chuva de granizo atinge o Sul
ALVARÉLIO KUROSSU/AG. RBS
A arte nômade de Antonio Dias
O presidente Lula ironizou José Serra (PSDB-SP) depois que o governador paulista disse faltar investimento em irrigação para comunidades às margens do São Francisco. “Eu não sabia que o Serra tinha preocupação com o Nordeste. Mas, se começa a ter umpouquinho,perto das eleições, é um bom sinal”, disse Lula, em visita a obras no rio. O PSDB vai entrar na Justiça acusando Lula de fazer uso eleitoral da viagem. ● PÁG. A4
Obama deve visitar Brasil até o início do ano que vem
Guia Príncipe na Oca
CADERNO 2
Jenson Button precisa subir ao pódio no Brasil para garantir o título da F-1 com uma corrida de antecedência. Ontem, ao lado de Rubens Barrichello, seu companheiro na Brawn, Button avisou que será “cauteloso” e “equilibrado”. Para o colunista Reginaldo Leme, a chuva, desta vez, não será bem-vinda para o brasileiro. ● PÁGS. E1 a E3
Telhado danificado em Curitibanos, um dos municípios catarinenses afetados por temporais. ● PÁG. C6
●●
Número de roubos com morte já supera o de 2008
Milton Hatoum
Sobre os carteiros
●● Não sei se as cartas su-
mirão, mas a amizade está muito virtual. ● PÁG. D14
Educação
‘Estado’ e Ciee premiam Jatene Cirurgião de 80 anos recebe troféu Guerreiro da Educação. ● PÁG. A22
●●
7 8 9 10 11 12
ARTIGO
NOTAS E INFORMAÇÕES
Tarso Genro, ministro da Justiça
Censura discriminatória Recentemente, afirmei que não entendia como censura a decisão do desembargador Dácio Vieira em prol de Fernando Sarney. Agora,
●●●
é possível dizer que o ato se mostrou inconsequente e se configura como uma censura discriminatória e unilateral contra o Estado. ● PÁG. A8
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 77 DIAS
O palanque do São Francisco ●●● O temor aos 80% de popularidade funciona como um incentivo para Lula intensificar a propaganda eleitoral sob a aparência de atos administrativos que evidenciariam a suposta operosidade do governo. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
21º
MÁX.
● PÁG. C2
17º
MÍN.
Tempo instável, com céu nublado e chuva. Temperatura cai.
Hoje: 202 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 14 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 6 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 4 (146 anúncios)
Os casos de latrocínio (roubo seguido de morte) registrados de janeiro a setembro de 2009 superaram os de todo o ano passado na capital paulista – 73 ante 69. O número pode ser maior, já que ao menos dois casos em que as vítimas morreram durante assalto foram registrados como roubo consumado e homicídio doloso. A maioria dos latrocínios no terceiro trimestre ocorreu na zona leste. ● PÁGS. C1 e C3
A8 NACIONAL
SEXTA-FEIRA, 16 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 77 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Artigo
Ato contra Estado é ‘discriminatório’
FUNCIONALISMO
Servidor faz greve de alerta por retomada de negociações Ricardo Brandt
ANDRE DUSEK/AE–12/3/2009
Tarso
Genro *
R
ecentemente, afirmei que não entendia como censura prévia a decisão do desembargador Dácio Vieira, do TJ-DF, que determinou a não-publicação de certas informações sobre o filho do presidentedo Senado,JoséSarney. Interpretei o ato como um exercício regular de jurisdição, queformalmentevisavaaproteger o patrimônio subjetivo – algo que toda pessoa tem o direito de reivindicar. Logo, fui apontadoporalgunsadversáriospolíticos, levianamente, como defensor da censura. Sustentei, inclusive pessoalmente para jornalistas do Estadão, que colocar a questão como “censura”, na minha opinião, era tecnicamente errado. Entendiaqueoato judicialde interdiçãodainformaçãotinhaoutro fundamento que o caracterizava: a precaução de defender o patrimôniosubjetivodeumcidadão, defesa que não é destinada somente ao sr. Fernando Sarney, mas a qualquer indivíduo de qualquer classe, situação civiloupenal.CaberiaaoEstadão rapidamente mostrar à Justiça que não haveria qualquer lesão irreparável ao patrimônio moral do sr. Fernando, até em função das demais matérias publicadas sobre o assunto em diversos veículos de comunicação. Passados alguns dias desde minhadeclaração,tenho,agora, dois convencimentos: primeiro,
BALANÇA – ‘Situação inclinou-se para um tratamento desigual e, portanto, não abrigado pelo ordenamento constitucional do País’, diz Tarso
que naquele momento – com as circunstânciasdefatoededireito ali emergentes – não se tratava, efetivamente, de “censura”; e, segundo, que tendo em vista todas as informações já divulgadas sobre aqueles episódios é possível dizer, agora, que o ato jáseconfiguracomoumacensura discriminatória e unilateral contra o Estadão. Esta conversão do “tipo” de um ato jurisdicional é perfeitamente possível e, aliás, bastante recorrente.Poderíamoscitarcomo exemplo a aceitação, pelo juiz, do exercício dilatório do direito de defesa (que se transforma em “má-fé”) ou o despacho judicial,aindaquetecnicamente regular, que visa a atrasar uma
decisão judicial,para ajudar que um réu alcance a prescrição. O Brasil goza da mais ampla liberdade de imprensa e assim deverá permanecer. O que não sepodeesqueceréquealiberdade de imprensa convive com as demais liberdades e que ninguém, na democracia, “pode tudo”. Assim como é possível corrigir,através do PoderJudiciário, difamações que, eventualmente, podem ser produzidas por profissionaisirresponsáveis,seria possível mudar rapidamente o despacho que interditou as informações do Estadão, no caso a que nos referimos, pois a vedação da informação realmente não produziu as consequências
que o despacho do desembargador pretendeu. Comoodespachoquepretendeu proteger direito individual se mostrou inconsequente, ele se transformou em censura. Coloca,agora,umórgãodeimprensa em situação discriminatória em relação aos demais, até porque é reconhecido pelos tribunais que a divulgação de informações pela imprensa, mesmo aquelas obtidas ilegalmente, não constituem delito em nosso país. Desta forma, a permanência doatoenãosuamotivaçãoorigináriaéoqueconfigura,nestecaso, censura ao referido jornal. Até por que diversos outros órgãos já veicularam diversas in-
formaçõesarespeitodocaso, sem que houvesse qualquer obstrução por parte do Poder Judiciário. A situação inclinou-se para um tratamento desigual e, portanto, não abrigado pelo ordenamento constitucional do País. Por esses motivos, considerolegítimaaposiçãodojornal O Estado de S. Paulo, que visa tão somente a restabelecer, neste caso, o fundamento constitucional da igualdadeperantealei.Tratase, sem sombra de dúvida, de uma questão do interesse de todaa sociedadebrasileira. ●
* Tarso Genro é ministro da Justiça
Parte dos servidores públicos federais de todo o País iniciou ontem uma paralisação de 48 horas em protesto pelo nãocumprimento por parte da União de acordos assinados com a categoria desde 2007 – ano da última grande greve do funcionalismo, que atingiu mais de 100 mil funcionários. Quadrosdosetoradministrativo dos Ministérios do Trabalho, da Cultura, da Agricultura, de Ciência e Tecnologia, da Advocacia-GeraldaUnião(AGU)e do Incra aderiram à paralisação. Em São Paulo, houve manifestações em frente aos prédios doMinistériodoTrabalho,doIncra e da AGU. Cerca de 150 funcionários cruzaram os braços. A mobilização é uma ameaça ao governo por causa da suposta “interrupção de negociações”, segundo a Confederação dos Servidores no Serviço Público Federal (Condsef). Beth Lima, representante do Condsef em São Paulo, afirmou quea paralisação é um aviso para que o governo retome as negociações e “os acordos com o funcionalismo sejam cumpridos”.“Casacontrárioiremosentrar em greve por tempo indeterminado.” A pauta de reivindicações tem cinco prioridades: cumprimento integral dos acordos coletivos firmados desde 2007; reestruturação de carreiras e tabelas salariais; instituição de gratificaçãode qualificação etitulação; reajuste do auxílio-alimentação e demais benefícios, além da paridade entre ativos e aposentados.Aparalisaçãocontinua hoje e só no fim do dia será divulgado um balanço geral do movimento.OMinistériodoPlanejamento não comentou. ●
o estado de s. paulo
� Edição de
0h15
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
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SĂ BADO
Spas de São Paulo fazem promoção
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ADIANTE O RELĂ“GIO
de verão começa à meianoite, em 10 Estados. � Pà G. C6
enquete do portal estadao.com.br, Luis Fabiano Ê titular absoluto do ataque da seleção. Nilmar teve 19,8% dos votos. � Pà G. E7
Restaurant Week, 14 spas darĂŁo descontos de atĂŠ 70% em tratamentos. â—? PĂ G. C8
DIRETOR:
RUY MESQUITA
â—?â—? O horĂĄrio
â—?â—? Para 36,2% dos que votaram em
â—?â—? Em evento inspirado na
(1891-1927)
17 de outubro de 2009 --ANO 130. NÂş 42368
Rumo Ă Ă frica O preferido da torcida
BEM-ESTAR
JULIO MESQUITA
EVELSON DE FREITAS/AE
ApĂłs pressĂŁo de Lula, Vale decide investir US$ 12 bi
Arrecadação de setembro cai 16%, mostra dado provisório Dados preliminares do sistema de acompanhamento da ReceitaFederalindicamqueaarrecadação de setembro pode ter recuado 16% em relação ao mesmo mês de 2008, descontada a inflação. Se o número se confirmar, o resultado acumulado do ano passaria a ser de queda de 11,3%, mesmo com os sinais de melhora da economia. � Pà G. B11
Plano Ê 30% superior ao deste ano, indicando trÊgua entre empresa e governo te gastos pela empresa neste ano. Antes da crise, a Vale planejava investir US$ 14 bilhþes em 2009, mas a forte retração mundial reduziu esse orçamento em US$ 5 bilhþes. A decisãode pisarno freio desagradou ao governo. O presidente Lula passou a criticar publica-
mente a gestĂŁo de Agnelli, em especial a falta de investimentosem siderurgia. Aexpectativa da empresa, agora, ĂŠ atender a essa demanda, reduzindo a pressĂŁo de Lula pela saĂda deAgnelli. NosEUA,oexecutivo receberĂĄ prĂŞmio por seu trabalho na Vale. â—? PĂ GS. B1 e B4
Leilão exclui hidrelÊtricas Cinco das sete hidrelÊtricas cadastradas para participar de leilão de energia nova devem ficar de fora, por falta de licença
â—?â—?â—?
ambiental prĂŠvia. Associação de infraestrutura vĂŞ “descompassoâ€? entre necessidades do PaĂs e os ĂłrgĂŁos ambientais. â—? PĂ G. B8
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 78 DIAS q PĂ G. A16
ESPORTES
ONU endossa relatĂłrio que vĂŞ crimes de Israel e Hamas
Barrichello diz ter vantagem em Interlagos Rubens Barrichello foi mais rĂĄpido que Jenson Button em Interlagos, no treino livre para o GPdoBrasil,eesperaseclassificar entre os primeiros hoje. “Nasciaquieconheçobemapistaâ€?, disse. Para Barrichello, o tempo instĂĄvel torna a estratĂŠgia uma “loteriaâ€?. â—? PĂ GS. E1 a E4
A ONU endossou ontem o relatĂłrio que exige investigação sobre supostos crimes de guerra de Israel e do Hamas durante a ofensivaisraelenseemGaza,entre o fim de 2008 e o inĂcio de 2009. Foram 25 votos a favor (inclusive o do Brasil), 6 contrĂĄrios e 11 abstençþes. Israel ameaça paralisar as tentativas de retomar o diĂĄlogo. â—? PĂ G. A20
Button acha que pneu pode decidir â—?â—? InglĂŞs, que pode ser cam-
CADERNO 2
peĂŁo amanhĂŁ, admitiu o desempenho insatisfatĂłrio. â—? PĂ G. E2 CLAYTON DE SOUZA/AE
O mais caro nem sempre ĂŠ o melhor â—?â—? A melhor visĂŁo de Interlagos
Ê a do setor A, que tem o segundo menor preço. � Pà G. E3
NA BRIGA – Barrichello deixa o box da Brawn para o treino livre em Interlagos: o piloto brasileiro acha que Mark Webber farå a pole hoje
A crescente pressĂŁo de Lula contra a diretoria da Vale torna cada vez mais claro seu projeto de poder. â—? PĂ G. A3
Cinco pontes da Marginal terĂŁo faixas interditadas
Tempo: CAPITAL
Lentidão aumentarå 40%; mudança começa 2.ª-feira
NOTAS E INFORMAÇÕES
PresidĂŞncia imperial â—?â—?â—?
30Âş MĂ X.
â—? PĂ G. C2
16Âş MĂ?N.
Sol predomina e a temperatura sobe.
Hoje: 140 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 32+4 â—? B. Economia:22 â—? Ba. NegĂłcios: 6 â—? C. MetrĂłpole: 8 â—? D. Caderno2: 14 â—? E. Esportes: 8 â—? Es. Estadinho: 8 â—? Ca.Autos:24 â—? Ci.ImĂłveis: 14 (3.301 anĂşncios)
7 8 9 10 11 12
As pontes Vila Maria, Bandeiras, Casa Verde, Limão e Freguesia do Ó terão faixas bloqueadas para obras de ampliação da Marginal do Tietê. A interdição, que começa segundafeira, vai atÊ 8 de fevereiro – no caso da Ponte das Bandeiras. Segundoa CompanhiadeEnge-
nharia de TrĂĄfego, as obras vĂŁo aumentar em atĂŠ 40% os congestionamentos em toda a cidade. As viagens vĂŁo ficar atĂŠ 50% mais demoradas, admite a Prefeitura. Estudos mostram que o pior perĂodo de engarrafamentos serĂĄ de 11 de novembro a 15 de dezembro. â—? PĂ GS. C1, C3 e C4
FRASE
“O interessante ĂŠ que eles nĂŁo perguntam nada a ninguĂŠmâ€? Luis Malheiros,
analista de sistemas
Aluna de 7 anos ĂŠ levada por PMs a delegacia Uma aluna de 7 anos foi levada por policiais militares a uma delegacia, apĂłs brigar com colegas e tentar agredir funcionĂĄrios de escola estadual em Campinas. “Ela tem distĂşrbio de comportamento e toma dois remĂŠdios. A escola sabeâ€?, disse a mĂŁe da menina, Madalena Ludovico, que vai Ă Justiça. â—? PĂ G. A27
Saramago retoma crĂticas Ă Igreja â—?â—? Em Caim,
o escritor propĂľe uma leitura pessoal das primeiras obras da BĂblia. â—?
GIUSEPPE GIGLIA/EFE
O armistĂcio entre o presidente da Vale, Roger Agnelli, e o governo Lula virĂĄ empacotado em umplano de investimentos de US$ 12 bilhĂľes para 2010,informaarepĂłrterMĂ´nica Ciarelli. A cifra supera em pouco mais de 30% os US$ 9 bilhĂľes que serĂŁo efetivamen-
Segurança
Candidatos relatam falhas em concurso �� Procedimentos durante prova para oficial de Justiça são questionados. � Pà G. A28
Planeta diversĂŁo â—?â—? Prepare-se para a exposi-
ção sobre O Pequeno PrĂncipe, queestreiadia22emSP. â—?
SÁBADO, 17 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
Presidência imperial
A
crescente pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a diretoria da Vale torna cada vez mais claro seu projeto de poder. Não lhe basta chefiar o Executivo da maior democracia latino-americana. Ele quer presidir também a maior empresa privada do Brasil – e tantas quantas ele considere necessárias para a consumação de seus objetivos. À primeira vista, seu projeto parece conduzir a uma reestatização, com apoio de pelo menos alguns partidos aliados e também de sindicatos e movimentos ditos sociais, mas não é essa, neste momento, a questão mais importante. Muito mais do que à ampliação das funções e dos poderes do Estado, as ações do presidente Lula visam ao fortalecimento do seu governo e à centralização de um conjunto importante de decisões econômicas. Centralização, nesse caso, tem sentido literal: concentração de poder no principal gabinete do Palácio do Planalto. A tendência não é nova, mas ficou mais evidente a partir do agravamento da crise, quando o presidente Lula tentou intervir nas demissões da Embraer e da Vale. As pressões sobre a mineradora continuaram, depois, quando a
empresa anunciou a redução temporária de seus investimentos. O presidente da República simplesmente cobrou explicações do chefe da empresa, como se estivesse tratando com um executivo sujeito a seu comando. O passo seguinte foi tentar obter o controle da empresa para demitir o presidente Roger Agnelli e determinar a pauta de investimentos. A tentativa só não deu certo, até agora, porque o Bradesco se recusou a vender as ações necessárias à formação de um novo bloco de controle. O jogo continua. Se der certo para o presidente, ele terá um estímulo a mais para intervir noutras empresas consideradas estratégicas. A interferência do presidente já é explícita na administração da Petrobrás. Bem antes de se anunciar a descoberta do pré-sal, Lula tentou forçar a estatal a comprar equipamentos pesados de fornecedores nacionais. O plano só não foi adiante, há alguns anos, porque os velhos estaleiros não tiveram condições de atender a empresa. Mas as pressões voltaram e a legislação proposta para o pré-sal transforma a Petrobrás em instrumento de política indus-
A volta do exame criminológico
P
or 16 votos contra 1, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou o projeto de lei que restabelece a obrigatoriedade do exame criminológico para a concessão dos benefícios de progressão de pena para presos – primários e reincidentes – condenados por crime hediondo, como tráfico de drogas, estupro e homicídio. Aprovado em caráter terminativo, o projeto seguirá direto para a Câmara dos Deputados. Previsto pelo Código Penal de 1940, o exame criminológico era aplicado por psicólogos, assistentes sociais, criminalistas e agentes penitenciários e permitia aos juízes de varas de execução penal avaliar o grau de periculosidade e a capacidade de convívio social de cada preso condenado pela Justiça, antes de decidir sobre a concessão de liberdade condicional, um pedido de passagem do regime fechado para o semiaberto ou a solicitação de autorização de saída temporária, para passar o Natal, a Páscoa e outras datas festivas em família. Como acarretava gastos para os governos estaduais, aos quais cabe a responsabilidade pela gestão do sistema prisional, a revogação do exame criminológico passou a ser veementemente defendida pelos governadores a partir da década de 1990, quando era urgente cortar despesas e equilibrar as finanças públicas. Além disso, como muitos exames criminológicos concluíam pela rejeição de concessão de benefícios a presos, por considerá-los incapazes de conviver em sociedade, a exigência dessa avalia-
ção passou a ser vista como obstáculo para o descongestionamento dos superlotados estabelecimentos penais. Por isso, em 2003, após uma onda de motins e rebeliões nas penitenciárias de São Paulo e do Rio de Janeiro, o Ministério da Justiça, desprezando advertências de especialistas e alegando a necessidade de “humanizar a pena”, cedeu à pressão dos governadores e propôs a revogação do exame criminológico. Defendendo a medida, alguns secretários de administração penitenciária chegaram a afirmar, na época, que não há método científico
Exame analisará grau de periculosidade de condenados de avaliar a periculosidade de um criminoso. O verdadeiro objetivo dos que recorriam a esse tipo de argumentação era aliviar a superlotação carcerária, para que os governadores pudessem adiar investimentos na expansão do sistema penitenciário e aplicar os recursos disponíveis em obras com maior apelo eleitoral. Para dar uma satisfação à sociedade, o Ministério da Justiça propôs a emissão de um atestado de “bom comportamento”, emitido pelas autoridades penitenciárias, como forma de “compensar” a revogação do exame criminológico. Como revelam as estatísticas em matéria de violência urbana e criminalidade, os resultados dessas mudanças foram desastrosos. Ao mesmo tempo que os juízes criminais ficaram
sem um instrumento essencial para balizar suas decisões, os presos de alta periculosidade passaram a considerar direito adquirido a concessão dos benefícios previstos pela Lei de Execução Penal (LEP). Com isso, a cada data festiva aumentava significativamente o número de presos beneficiados por indultos ou saídas temporárias envolvidos em roubos, assassinatos e estupros. O mesmo ocorreu com condenados beneficiados pela progressão para o semiaberto e pela concessão de liberdade condicional. O retrocesso patrocinado pelo Ministério da Justiça, em 2003, teve como resultado recordes sucessivos dos índices de reincidência e foi certamente um dos fatores responsáveis pela crise da segurança pública. Foi para tentar reduzir os índices de violência e criminalidade e dar à magistratura laudos técnicos que balizem suas decisões que a CCJ do Senado aprovou o restabelecimento do exame criminológico. “Só uma equipe profissional pode dizer se um criminoso traz ou não riscos à sociedade”, diz o presidente da CCJ, senador Demóstenes Torres (DEMGO), que foi promotor de Justiça. No entanto, apesar de o projeto ter recebido votos de todos os parlamentares da base governista que integram a CCJ do Senado, com exceção da senadora Ideli Salvatti (PT-SC), o ministro da Justiça já avisou que recomendará ao presidente da República que o vete, caso seja aprovado pela Câmara.
trial. Manobra semelhante – e mais audaciosa – ocorreu quando o presidente criticou a Vale, recentemente, por encomendar navios a um estaleiro chinês. No caso da Petrobrás, a subordinação ao Planalto será completada com a criação de uma estatal para comandar a exploração do pré-sal. Esses fatos dão um novo sentido às investidas do governo, desde o início do primeiro mandato, contra a autonomia das agências de regulação, para sujeitá-las de forma irrestrita aos interesses políticos do Executivo. As agências foram concebidas para funcionar como órgãos de Estado, não de governo, mas o objetivo de Lula, obviamente, é fortalecer o governo, não o Estado. Se derem certo as tentativas de enfraquecer o Tribunal de Contas e de afrouxar a Lei de Responsabilidade Fiscal – objetivo permanente de muitos prefeitos e governadores –, o poder de arbítrio do Executivo Federal aumentará tremendamente e os avanços institucionais iniciados nos anos 90 irão para o ralo. Resta a pergunta: para quem o presidente Lula prepara essa configuração de po-
der? A resposta parece clara: para si mesmo. Se o seu sucessor for eleito por um partido de oposição, terá muita dificuldade para retomar a pauta de reformas inaugurada nos anos 90. Terá de enfrentar a resistência de um funcionalismo engordado e moldado segundo os interesses políticos do atual governo. Terá de enfrentar, além disso, a pressão de grupos articulados para movimentos de rua e para demonstrações de força. Para isso deverão servir o MST, sindicalistas cevados com dinheiro do contribuinte e a mais nova categoria de pelegos – dirigentes estudantis dispostos a declarar publicamente sua condição de estudantes profissionais sustentados pelo governo. A moldura perfeita para este quadro é o conjunto, em torno do Brasil, formado por governos com evidente vocação autoritária, todos apoiados pela atual diplomacia brasileira, francamente intervencionista. Não se trata só dos governos de Venezuela, Equador e Bolívia. A recém-aprovada legislação argentina de controle dos meios de comunicação combina com essa tendência, até agora defendida como perfeitamente democrática pelo presidente Lula e por seus assessores. É uma afinidade cada vez mais clara e mais preocupante.
A afronta é múltipla
A
censura judicial imposta a este jornal há mais de dois meses e meio não é uma aberrante afronta apenas aos dispositivos constitucionais concernentes à liberdade de expressão e ao direito de a sociedade receber, livremente, todas as informações que digam respeito ao interesse público. Esse, afinal, é um dos fundamentos do regime democrático de Direito. A afronta se estende a outros institutos constitucionais, tais como os que têm na isonomia ou igualdade de Direitos uma garantia fundamental da cidadania e aqueles que se reportam a tratados internacionais. Em artigo publicado no Estado de sexta-feira, o ministro da Justiça, Tarso Genro, faz percuciente menção ao desrespeito constitucional que representa o ato de “censura discriminatória e unilateral contra o Estadão”. Logo que surgiu – para espanto dos meios jurídicos – a sentença liminar do desembargador Dácio Vieira, amigo íntimo da família Sarney, proibindo este jornal de publicar matérias com base nas gravações da Polícia Federal, que comprometiam o empresário Fernando Sarney, filho e administrador dos negócios do presidente do Senado, José Sarney, o ministro Tarso Genro pronunciou-se contrário à interpretação de que se tratava de censura, considerando aquele ato jurisdicional normal, em defesa do “patrimônio subjetivo de um cidadão”, em termos de imagem e privacidade. Mas a evolução do processo e das circunstâncias que o envolviam levou o ministro a
reconsiderar seu julgamento. Agora, admite que a liminar sofreu uma “conversão do ‘tipo’ de ato jurisdicional”, passando de exercício regular de jurisdição a censura. E acrescenta: “Poderíamos citar como exemplo a aceitação, pelo juiz, do exercício dilatório do direito de defesa (que se transforma em ‘má-fé’) ou o despacho judicial, ainda que tecnicamente regular, que visa a atrasar uma decisão judicial, para ajudar que o réu alcance a prescrição.” Recorde-se o andamento do processo. O desembargador Dácio Vieira foi declarado sus-
Ministro da Justiça reconhece que ‘Estado’ está sob censura judicial peito e acabou afastado do caso – mas sua decisão, assim mesmo, foi considerada judicialmente válida. Em seguida o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (o mesmo que havia se considerado competente para acatar a liminar, proferida monocraticamente por um de seus desembargadores, assim como para declarar o impedimento deste) declarou-se incompetente para julgar a ação e remeteu o caso para a Justiça do Maranhão. E o ministro assim chega à discriminação: “Desta forma, a permanência do ato e não sua motivação originária é o que configura, neste caso, censura ao referido jornal. Até porque diversos outros órgãos já veicularam diversas informações a respeito do caso, sem que houvesse qualquer obstrução por
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
manchete: O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que a solução para o conflito em Honduras passa pelo fato de que Roberto Micheletti deixe o poder e permita o retorno do presidente deposto, Manuel Zelaya. O texto prosseguia citando Lula, que teria afirmado que a única coisa errada em Honduras era estar “na presidência alguém que não deveria estar”. Não consigo escapar do Brasil, pensei comigo mesmo. Ali, no suposto “quintal” do Tio Sam, era o Brasil que estava em alta na diplomacia internacional. Na página seguinte, a coluna do comentarista Ángel Verdugo aconselhava os mexicanos a aprender bossanova para serem mais parecidos com os brasileiros. Verdugo elogiou a “valente adaptação” do Brasil à nova realidade mundial que
se vem construindo desde o final da década de 1950. O Brasil escolheu estratégias sábias e medidas públicas que ajudaram o País a se desenvolver. Esta abordagem protegeu o Brasil dos piores efeitos da crise econômica atual e, sem dúvida, contribuiu para a escolha do País como sede da Olimpíada. Alguns brasileiros podem achar estranho Lula ser elogiado no México por evitar os discursos vazios, cheios de “demagogia e triunfalismo”. A comparação com os políticos mexicanos não foi nada sutil. O presidente brasileiro é admirado e tem sua presença requisitada em todo o mundo, enquanto o presidente mexicano nunca se cansou de culpar os EUA por provocar a crise econômica e os problemas dela decorrentes. Com efeito, o Brasil está jogando nas
“
Lampião, chefe do cangaço de outrora, é café pequeno perto do MST”
JoséEduardoZambonElias zambonelias@estadao.com.br Marília
primeiras divisões, enquanto o México não tem chances de sucesso nem mesmo nas divisões inferiores da política internacional. O povo brasileiro é também admirado. De acordo com Verdugo, não faltam dificuldades aos brasileiros, mas eles mostraram o que pode ser feito sob um governo considerado “inteligente, trabalhador e dotado de visão de futuro”. Segundo a coluna, o México, infelizmente, tem “governantes e polí-
ticos com grandes limitações intelectuais e adoradores do passado”. A solução que ele propõe aos mexicanos é que se tornem mais parecidos com os brasileiros: “Só nos resta aprender bossa-nova. Poderemos?” Não sei dizer se a música será suficiente para fazer os mexicanos mais parecidos com os brasileiros, mas o fato de ser a bossa-nova o estilo de música mais tocado nos restaurantes e nos saguões dos hotéis desse resort praiano no Estado de Jalisco é digno de nota. Com nosso presidente Lula desempenhando um papel cada vez mais importante no palco mundial (basta lembrar a foto em que ele aparece do lado direito de Obama no encontro do G-20 em Pittsburgh), o Brasil representa um exemplo de desenvolvimento humano e econômico
parte do Poder Judiciário. A situação inclinou-se para um tratamento desigual e, portanto, não abrigado pelo ordenamento constitucional do País”. E conclui o ministro da Justiça: “Considero legítima a posição do jornal O Estado de S. Paulo, que visa tão somente a restabelecer, neste caso, o fundamento constitucional da igualdade perante a lei. Tratase, sem sombra de dúvida, de uma questão do interesse de toda a sociedade brasileira.” O ministro não está isolado nessa interpretação. Considerando que o autor do pedido de censura ao jornal, Fernando Sarney, já foi indiciado pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica, o constitucionalista João Antonio Wiegerinck afiança que “não há que se falar de privacidade do acusado quando o que está em julgamento são bens e serviços do Estado”. E esta é a interpretação corrente no mundo inteiro, menos nos países autoritários. “A decisão (de censurar o jornal) tem cara de Irã, de Venezuela, de Honduras, onde há interpretação restritiva dos direitos humanos. Todo magistrado deve fazer com que os direitos protegidos se estendam a maior número de indivíduos, e o povo tem direito, sim, de receber a informação.” Já o constitucionalista Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira assim argumenta: “De um lado você tem uma pessoa que se alega prejudicada, mas do outro lado estão valores muito mais amplos. São valores coletivos. Como a sociedade será ressarcida? In dúbio pro reo? In dúbio pro liberdade de imprensa.”
que será amplamente seguido. FRANK D. MCCANN, professor da Universidade de New Hampshire monteagleridge@msn.com
Durham (NH), EUA
Censurarotribunal?
MST, só 14,6 milhões são produtivos e 69,4 milhões não conseguem retornar nem um quilo de alimento para a sociedade, que, além de doar as terras, em cinco anos lhe deu mais R$ 115 milhões para plantar. Esses números demonstram a falência da reforma agrária tocada nos governos FHC e Lulla pelas mãos do MST e que ainda se vai refletir em aumento no custo dos alimentos justamente para a população mais pobre.
Depois da censura ao Estadão, que já dura 78 dias, querem calar, ou “flexibilizar”, o TCU e adoçar o Ibama? Esta é a democracia que Lula, numa das vezes em que esteve no Brasil, disse ser perfeita?
EDVALDO ANGELO MILANO
DECIO PENTEADO DE CASTRO
e_milano@msn.com
depecastro@gmail.com
Limeira
Piracicaba
Reformafalida Pela pesquisa Ibope divulgada em 14/10, conclui-se que, dos 84 milhões de hectares nas mãos do
Super-Homem O senador Eduardo Suplicy perdeu a noção de decoro. JANDIRA MOLINA DOS SANTOS
São Paulo
A16 NACIONAL
SÁBADO, 17 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 78 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura é kafkiana’, diz cientista político Para Cláudio Couto, decisões do TJ-DF constituem ‘um completo absurdo’ e atentam contra Judiciário Moacir Assunção
O cientista político Cláudio Couto, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), classificade“kafkianas” asdecisões doTribunaldeJustiçadoDistrito Federal (TJ-DF) que mantêm, desde 31 de julho, o Estado e o site estadao.com. br censurados no caso da OperaçãoBoiBarrica.Areferência de Couto é ao famoso romance O Processo do escritor checo Franz Kafka, em que o personagem principal, Josef K., se vê envolvido em uma questão jurídica sem sentido ou razão. “Os atos do tribunal desde o começo dessahistóriasão deumcompleto absurdo. Como é possível, por exemplo, se declarar incompetente para julgar uma causa, mas manter a decisão anterior?”, questionou. A decisão foi criticada por vários juristas. Na opinião de Couto, não há base jurídica para as decisões tomadas pelo tribunal. “O que dá para perceber é que, ao manter a decisão de censura mesmo após a declaraçãodeincompetência,oTJDF demonstrou um corporativismo da pior espécie, cuja intençãoé proteger a decisão do desembargador do tribunal, Dácio Vieira, totalmente ligado à família Sarney.” Na Operação Boi Barrica, a Polícia Federal investigou o empresário Fernando Sarney,filhodopresidentedoSenado, José Sarney (PMDBAP).Vieira temrelaçõespessoais com o senador e, após recursos do Estado, foi declaradosuspeitopor seuspares. Mesmo assim, sua decisão de censurar o jornal foi mantida. Ao mesmo tempo, oTJ-DFdeterminouaremessa do processo à Justiça Federal do Maranhão, Estado onde os Sarney exercem grande influência. Fernando Sarney foi indiciado pela PF por lavagem de dinheiro, tráfico de influência,formaçãodequadrilha e falsidade ideológica. Além disso, o empresário, responsável pelos negócios da família, tratou da distribuição de cargos no Senado. CREDIBILIDADE
O corporativismo, para o cientista político, repercute negativamente na imagem do tribunal e do próprio Poder Judiciário, afetando sua credibilidade. “Com todos os absurdos que cercam esse processo, o corporativismo me parece o mais grave”, assinalou ele, para quem os juízes de primeira instância têmproduzidocomcertafrequência, em vários casos peloPaís,“sentençasestapafúrdias”, principalmente em questõesqueenvolvem liberdade de imprensa e de opinião. “Ao assumir a sentença de Vieira, o próprio colegiado do TJ-DF diz que concorda com a decisão. Daí, a decisão reflete a defesa de interesses não da população, como seria de se esperar, mas de um membro do tribunal em particular.” Muitas dessas decisões, na visão de Couto, têm demonstrado o que chama de “excesso de criatividade” ao interpretar a legislação. “Não há amparo legal para censurar um jornal e temos visto isso ocorrer em todo o País. Tudo somado, o caso é umcompletoabsurdoeconstitui uma demonstração de abuso de poder.” ●
PAULO PINTO/AE-28/6/2001
CORPORATIVISMO – Para o professor, não há base jurídica para as decisões tomadas pelo tribunal do DF
● Edição de
1h15
o estado de s. paulo DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
CULTURA
q
(1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
18 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42369
tv&lazer
ESPORTES
Com a pole, Barrichello vai à luta
Com história em quadrinhos sobre a filha de uma doméstica negra do Rio, franceses revisitam mitos sociais e raciais do Brasil. ●
JULIO MESQUITA
CLASSIFICADOS
14.788
Onda retrô
é o total de ofertas
Música inédita na TV é exceção. Filipe Galvão regravou Só Você, sucesso na voz do pai, Fábio Jr., para Malhação. ●
8.217
anúncios classificados
autos Teste: renovada, Saveiro encara aStrada e a Montana. ●
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
JOÃO MIGUEL JR/GLOBO
Cresce número de juízes investigados TotaldesindicânciasnoConselhoNacionaldeJustiçajáé653%maior ● São113investigações em2009,ante15em2008 ● Puniçãomáxima,noentanto,éaposentadoriacomdireitoasalário
●
DOSSIÊ ESTADO RAIOX DOJUDICIÁRIO
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já abriu 113 sindicâncias contra juízes e desembargadores em 2009, ante 15 em todo o ano passado, um crescimento de 653%. Criado em 2004, o ór-
gão de controle do Judiciário mudou sua forma de atuação. Passou a adotar expedientes de polícia,comoanálisedepatrimônio e movimentações financeiras, para investigar desvios éti-
cos, apesar das resistências. Na esfera administrativa, porém, a penamáximaaqueumjuizpode ser submetido é a aposentadoria compulsória, com direito a salário. Os presídios e delega-
cias escancaram outro problema do Judiciário brasileiro: a morosidade.Sãopresossemdenúncia, sem processo e prisões provisórias que se tornam definitivas. No Espírito Santo, por
exemplo, prisões superlotadas estão infestadas de ratos. Na Grande Vitória, em uma unidade de internação socioeducativa, adolescentes são colocados em contêineres. ● PÁGS. A4 a A10
Fogo destrói mais de mil obras de Oiticica Prejuízo estimado é de US$ 200 milhões
PABLO JACOB/O GLOBO
Um incêndio destruiu mais de mil obras produzidas por Hélio Oiticica (1937-1980), um dos maiores artistas plásticos do Brasil. As peças representavam 90% do acervo de Oiticica guardado na casa da família no Jardim Botânico, no Rio. O prejuízoéestimadoemUS$200milhões pelo irmão do artista, César Oiticica. As obras não tinham seguro. Hélio Oiticica se notabilizou por deixar os quadros de lado, criando penetrá-
POLÍTICA
GUERRA – Ônibus pega fogo na entrada da Favela do Jacaré: tumulto e violência se espalharam por bairros da zona norte da cidade
‘Lula’, uma campanha de cinema
Tráfico abate helicóptero no Rio C Dois PMs morrem em explosão de aeronave; confronto deixa 10 bandidos mortos Um confronto entre traficantes e policiais, ontem, no Morro dos Macacos,emVila Isabel,no Rio, deixou12mortos.Umhelicóptero da PM foi atingido, fez pouso forçado e explodiu. Dois policiais morreram carbonizados e quatro sofreram queimaduras. Oconflito começou com tiroteio entre traficantes pelo controle
USP ganha estudantes, mas perde professores Em 20 anos, a USP cresceu em número de alunos e cursos, mas o corpo de professores e funcionários encolheu. O resultado são salas de aula mais cheias e estrutura sobrecarregada. Problemas que o novo reitor, cuja escolhacomeça na terça-feira,terá de enfrentar. ● PÁG. A22 NÚMERO
108
cursos foram criados na USP desde 89 7 8 9 10 11 12
de pontos de venda de drogas. Em outro ponto da zona norte, perto da Favela do Jacaré, pelo menos oito ônibus foram incendiados até o início da tarde. Sites americanos e europeus destacaram que o conflito ocorreu duas semanas após o Rio ter sidoescolhidopara sediar aOlimpíada de 2016. ● PÁGS. C1 e C6
ALIÁS Os dilemas da reforma agrária ●● Especialistas discutem
os limites da redistribuição de terras no Brasil. ●
Campos do Jordão
Fracassa hotel dos milionários
SP: menos favelas, mais favelados Após crescimento acentuado nas décadas de 80 e 90 e estabilização nos últimos dez anos, o número de favelas sofreu uma queda na capital paulista: eram
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 79 DIAS q PÁG. A15
NOTAS E INFORMAÇÕES
A caravana do São Francisco Lula transgride a legislação eleitoral e utiliza descaradamente a máquina e o dinheiro do contribuinte. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
Após briga de sócios, empreendimento é posto à venda. ● PÁG. B20
26º MÁX.
Futebol
Tiragem: 301.191 Hoje: 258 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 8 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 44 ● F. Feminino: 20 ● Ca. Autos: 28 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 34 ● Co. Oportunidades: 10
●●
São Paulo mais longe do título ●● Atlético-MG vence no Morumbi; Santos empata em Barueri. ● PÁG. E8
● PÁG. C2
17º MÍN.
Sol aparece entre nuvens e chove.
1.641 em 2008 e hoje são 1.636. Mas a população favelada, que é de 1,3 milhão de pessoas, cresce em média 3,7% ao ano. ● PÁGS. C3 e C4
om a simpatia do governo, os produtores de Lula, o Filho do Brasil trabalham para que o filme tenha o maior lançamento do cinema brasileiro. Em ano eleitoral, o longa será exibido em mais de 400 salas – 88 delas fora do circuito convencional. Sindicatos venderão ingressos com preços promocionais. ● PÁG. A12
FRASE
César Oiticica Irmão do artista “Fracassei. Minha missão era cuidar da divulgação e da guarda da obra dele. Me sinto péssimo.”
veis (obras em que as pessoas podem entrar) e parangolés (obras para vestir). Foi um dos inspiradoresdomovimentomusical tropicalista. ● PÁG. C7
Olimpíada e Copa exigem investimentos de R$ 130 bi ACopa de 2014 e a Olimpíada de 2016 vão exigir investimentos de quase R$ 130 bilhões em projetos, mostra estudo do economistaJoséRobertoAfonso,ligado ao PSDB. O valor é superior aos R$ 116 bilhões investidos na economia durante os sete primeiros anos do governo Lula. Outros planos ambiciosos competem por dinheiro, como a exploração do petróleo do pré-sal (R$ 400 bilhões) e a construção do trem-bala entre São Paulo e Rio (R$ 34 bilhões). ● PÁG. B1
DOMINGO, 18 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 79 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura subverte o papel do Judiciário’ Presidente da Associação Juízes pela Democracia vê sinais de autoritarismo na decisão Moacir Assunção
A censura contra o Estado, mantida desde 31 de julho pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal,demonstra,para opresidente da Associação Juízes pela Democracia (AJD), o juiz Luís Fernando de Barros Vidal, a força de um Estado autoritário que se crê onipotente, o que é muito grave para a democracia brasileira. “Expandindo um pouco esta
questão, é o mesmo Estado que seconsideradesobrigadodepagar precatórios aos contribuintes, de punir torturadores que agiram sob suas ordens. Tudo isso demonstra uma consciência fortemente antidemocrática e que ainda há confusão entre o público e o privado no Brasil”, afirmou. O Estado foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) de publicar informações sobre as investiga-
NACIONAL A15
ções da Polícia Federal sobre o empresário Fernando Sarney, indiciado por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, tráfico de influência e falsidade ideológicanaOperaçãoBoi Barrica. Fernando é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e responsável pelos negócios da família. OdesembargadorDácioVieira, ligado a Sarney, foi o responsável pela decisão, mantida pelo tribunal apesar de seu afasta-
mento sob suspeição do caso. O TJ-DFsedeclarouincompetente para julgar a censura, que foi mantida,edeterminou aremessa dos autos à Justiça Federal do Maranhão, que dará a palavra final sobre o caso. Para o jurista, a decisão do desembargador atenta contra a liberdade de opinião, um dos principais pilares da democracia, juntamente com o direito ao voto, além de se contrapor à Constituição.
“Os chamados pais fundadores da democracia americana semprefizeramquestãodelembrar que este é um direito basilar. Assim como o Judiciário jamais fez menção de controlar o voto, também não poderia nunca censurar a livre manifestação do pensamento.” A Constituição, relembra Vidal, estabelece que não pode existir a censura prévia. Eventuaisexcessosnousodaliberdade ensejam ações civis e crimi-
nais, a posteriori, para reparar danos à privacidade . “Há uma completa subversão do papel do Judiciário, que existe para tutelar a liberdade de opinião e nãopara restringi-la, oque é extremamente grave.” PRIVACIDADE
Além da censura, para o presidente da AJD há uma confusão de conceitos no caso que envolve o filho de Sarney. “O direito à privacidade existe para proteger o cidadão comum, privado, quelevasuavida deformapacata. Os personagens envolvidos neste caso são públicos, tratando de questões públicas, o que joga por terra as alegações do tribunalpara sustentara ação”, afirmou o especialista. ●
+ 9 PARÁ
STF apura acusação feita por Kátia Abreu O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, pediu ao Tribunal de Justiça do Pará (TJ-PA) e à governadora Ana Júlia Carepa (PT) informações sobre a situação das forças policiais do Estado. O objetivoé esclarecersehá déficit de contingentes ou se o Executivo se nega a efetuar as sentenças do Judiciário, conforme acusa a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que alega falta de cooperação em reintegrações de posse. RIO GRANDE DO SUL
Deputado nega esquema com Yeda O deputado José Germano (PP), que, segundo a revista IstoÉ, é investigado pelo Supremo Tribunal Federal por suspeita de obter recursos ilegais para a campanha da governadora Yeda Crusius (PSDB), negou ontem ter participado de qualquer esquema.“Amatériaéinverídica e irresponsável”, afirmou seu advogado, José Boschi. Fábio Osório, advogado de Yeda, disse que “referências caluniosas” à sua cliente são armações de adversários. VICE-PRESIDÊNCIA
Alencar completa 78 anos e recebe Lula O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Marisa Letícia fizeram ontem uma visita surpresa ao vice-presidente José Alencar,paracumprimentá-lopelo seu aniversário. Alencar, que completou 78 anos, ficou emocionado. Lula e Marisa chegaram ao Palácio do Jaburupelamanhã.Aprimeiradama deu de presente para o vice,queluta contra o câncer há12anos,umagravataalusiva à Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. AMAPÁ
Deputado do PCB terá de sair do cargo Oprocurador-geraldaRepública, Roberto Gurgel, encaminhou parecer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinando que a Assembleia Legislativa do Amapá retiredocargoodeputadoestadual Jorge Elson (PCB), eleito em 2006, e dê posse ao primeirosuplente,LeurySalles Farias (PMDB). Elson se mantém no cargo apesar de ter sido cassado pelo TSE por compra de votos, em esquema envolvendo cursos gratuitos para eleitores. MINAS
Baependi tem eleição suplementar suspensa As eleições suplementares marcadasparahoje nomunicípio de Baependi, no sul de Minas Gerais, foram suspensas pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A determinaçãofoifeitaa pedido do vice-prefeito eleito em 2008, Márcio Augusto Nardi Neves (PTN), que entrou com recurso pela suspensão da cassação dele e do prefeitoCláudio Rollo(PTN).Oministro considerou prudente suspender a eleição até o julgamento final do recurso.
● Edição das
23h15
o estado de s. paulo
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SEGUNDA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
19 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42370
ESPORTES
CNJ descobre 5 milhões de processos sem baixa DOSSIÊ ESTADO RAIOX DOJUDICIÁRIO
O estabelecimento, pelo Conselho Nacional de Justiça, da meta de identificação e julgamen-
to, ainda em 2009, de todos os processosajuizadosaté31dedezembro de 2005, levou a uma descoberta impressionante: cerca de 5 milhões de processos estavam julgados em definitivo,porémcontinuavam alimentando a pecha de morosidade daJustiçapoisnãohaviamrecebido baixa. O processo que é jul-
gado,mas não baixado, aparece nos levantamentoscomo se ainda estivesse pendente. Segundo o CNJ, o impacto disso no dia a dia dos cidadãos é real; alguém que tenha sido inocentado num processo, sem a baixa continuarácomoacusado.Aausência da baixa só não interfere nocaso de quemtenha sido con-
denado, pois, nessa situação, asentençacomeçaasercumprida logo após o resultado do julgamento. O Conselho também contabiliza 3,8 milhões de ações anteriores a 2006 que ainda aguardam julgamento.Ametaneste caso é que sejam julgadas até o fim deste ano. ● PÁG. A4
HELVIO ROMERO/AE
Embora já com decisão final, ações aparecem nos levantamentos do Conselho Nacional de Justiça como pendentes; outras 3,8 milhões aguardam julgamento
NÚMERO 1 – Button comemora: ‘Foi um conto de fadas para todos’
Jenson Button faz a festa em Interlagos Inglês chega à frente de Barrichello no GP do Brasil e é campeão mundial A torcida que lotou Interlagos esperava comemorar vitória de Rubens Barrichello, mas quem fez a festa foi Jenson Button. O inglês largou em 14º, chegou em 5º e conquistou o título mundial
deFórmula1pelaestreanteBrawn GP, feito inédito. Na última corrida, em Abu Dhabi, Barrichello lutará pelo vice-campeonato. Mas admitiu: “Vai ser difícil ter motivação.” ● PÁGS. E1 a E5
ANÁLISE
Livio Oricchio PAULO PINTO/AE
FIA ditou rumos do Mundial O merecido título de Button, e da Brawn, foi também fruto de ação do presidente da ●●●
MAIS TRÂNSITO – A Ponte Jânio Quadros (Vila Maria), uma das três que terão bloqueios: motoristas se dizem surpresos com as mudanças
Começa hoje interdição em pontes
Palmeiras cai, Inter empata e campeonato ganha emoção
A partir de 23 horas, pistas serão fechadas para reforma da Marginal do Tietê sa Verde e a Jânio Quadros (VilaMaria).Amedida fazparte da reforma da Marginal, que ganhará mais uma pista até mar-
NOTAS E INFORMAÇÕES
Quando os governos são os hackers
Manobras para a gastança O esforço para assegurar mais recursos para 2010 mostra como é perdulária a política fiscal do governo Lula. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
Tendência forte no mundo virtual, governos abrem seus próprios bancos de dados, como fazem os hackers, para que programadores criem sistemas a partir das informações“vazadas”.Chama-secrowdsourcing orecurso de apropriação de informações coletivas, com vistas àsolução deproblemasespecíficos e novas tecnologias. ●
●●
7 8 9 10 11 12
28º
MÁX.
● PÁG. C2
17º
MÍN.
Sol entre nuvens e pancadas de chuva.
Hoje: 78 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 12 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 12 ● H. Especial Professor Emérito: 8 ● L. Link: 10 Classificados: 111 anúncios
ço. O projeto exigirá, mais adiante, a interdição de pistas também nas pontes do Limão e das Bandeiras. ● PÁGS. C5 e C6
ComdoisgolsdePetkovic,oFlamengo venceu o Palmeiras e levouemoçãoàretafinal doBrasileiro.Paraotimepaulista, oprejuízo só não foi maior porque o
●● CONFIRA: na página C5,
mapa com rotas alternativas
Rio caça bandidos que CADERNO 2 abateram helicóptero Associações oferecem até recompensa Associações e clubes de policiais militares do Rio oferecem recompensas de até R$ 12 mil para quem der informações sobre os traficantes que anteontemderrubaramatirosum helicóptero, matando dois PMs. Mais dois bandidos foram mortos ontem pela polícia, elevando para 14 o total de mortes cometidas pela PM nos confrontos iniciados no sábado. A atual política de ocupação de favelas pelas forças de segurança dimi-
FRASE
Rosa Maria Barbosa Tia de PM morto “Fazem o teatro para trazer a Olimpíada para o Rio, mas não equipam os policiais, que seguem para a morte”
nuiu a área sob comando dos bandidos, mas acirrou a disputa entre facções por pontos de droga. ● PÁGS. C1 e C3
CRISTIANO SANT´ANNA/INDICEFOTO
A partir das 23 horas de hoje, haverá interdição de pistas em três pontes da Marginal do Tietê: a da Freguesia do Ó, a da Ca-
FIA, Max Mosley, que autorizou o duplo difusor e rompeu a união das equipes. ● PÁG. E3
Internacional empatou. A oito rodadas do final, o Palmeiras tem 54 pontos, seguido de Atlético-MG (50), Internacional (49) e São Paulo (49). ● PÁG. E12 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 80 DIAS q PÁG. A7
Incêndio
Peças de Oiticica podem ser salvas ●● Sobrinhodoartistaecura-
dor da obra admite que exagerou ao estimar em 90% as perdas pelo fogo. ● PÁG. C7
Arte reflexiva na Bienal sulina ●● Mostra Desenho das Ideias
(na foto, obra de Cruzvillegas) éatraçãodaBienaldoMercosul, em Porto Alegre. ●
Professor Emérito 2009
Adib Jatene, vida dedicada ao coração ●● O cardiologista ensina: “É precisoensinartécnica,comportamento, postura e ética.” ● CADERNO ESPECIAL
SEGUNDA-FEIRA, 19 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 80 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Especialista vê ‘clientelismo’ Para Leôncio Rodrigues, episódio demonstra que País não se livrou do patrimonialismo colonial Moacir Assunção
O cientista político e professor aposentado da USP, Leôncio Martins Rodrigues, vê a censura ao Estado, imposta desde 31 dejulho, como um casotípico de clientelismo e patrimonialismo que prejudica a consolidação da democracia e o desenvolvimento do País. “O caso mostra como o poder público brasileiro não consegue se afastar dos interesses particulares. Formase uma rede que une e mistura interesses familiares, econômicos, de relações de amizade e de parentesco, que assegura a ascensãopolíticaeeconômica por meio do controle de setores do Estado, e torna muito difícil a racionalizaçãoeprofissionalização do serviço público. Houve alguma melhora ao longo dos anos mas, especialmente no Nordeste, o progresso foi bem menor”, alertou. Rodriguesteme que esse tipo de decisão, como a tomada pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), possa fortalecer uma certa intolerância, até mesmo da sociedade civil, contra a imprensa e os jornalistas. “Ninguém gosta de ser criticado, contudo é das normas das sociedades democráticas que os que se consideram ofendidos busquem reparação nos tribunais que, por sua vez, devem ser prudentes a fim de evitar que a alegadadefesadosdireitosindividuais sirvam, de fato, para ferir a liberdade de opinião, um
dos valores da democracia.” O episódio que amordaçou o Estado, para o professor, demonstra a força e a capacidade de pressão de lobbies políticos, no caso da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),cujofilho,oempresário Fernando Sarney, entrou com a ação contra o jornal, acatada pelo desembargador Dácio Vieira, ligado ao senador. “Não creio que o País possa voltar a uma situação de censuracomo a que existiu nos governos militares ou no Estado Novo, mas poderemos passar por situações de censura tópicas ao sabor dos interesses políticos e da capacidade de pressão dos lobbies. O presidente Luiz Iná-
Podemos ter outros casos de censura, alerta cientista político cio Lula da Silva vem demonstrandoqueestábemmaisempenhado do que os anteriores a nãoabandonarasdelíciasdopoder.Paratanto,lançamuitas indicações de que, se necessário, passará por cima de certas regras disciplinadoras da competição”, afirma Rodrigues. Ele continua. “Basta observar a atuação aberta dele e da provável candidata à sucessão, a ministra Dilma Rousseff, em eventos públicos que ele pró-
prio define como comício.” INDICIADO
FernandoSarney,filhodosenador José Sarney, foi investigado na Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, e indiciado por crimes de lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Depois de recursos do Estado, Vieira foi afastado e declarado suspeito. Na sequência, o tribunal sedeclarouincompetentepara julgar a ação, mas manteve a mordaça. Também foi determinada a remessa do processoparaaJustiçaFederaldoMaranhão,ondeafamília Sarney têm enorme influência. Até mesmo o fórum do Estado leva o nome do pai do presidente do Senado. IRONIA
Na opinião do professor, é uma ironia histórica no momento que o País vive em termos de avanços democráticos haver pressões contra a imprensa. “É irônico que tenha sido sob o imperador D. Pedro II, sempre acidamente criticado pelos jornais, que a imprensa brasileira tivesse gozado do maior grau de liberdade de sua existência. A República poderia ter herdado essa qualidade da monarquia”, disse. “A realidade tem demonstrado a diferença no tratamento.” ●
NACIONAL A7 A7 NACIONAL
o estado de s. paulo
● Edição de
0h15
TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
20 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42371
Governo taxa capital externo em 2% Medida visa a reduzir entrada de dólares e atinge investimentos em renda fixa e variável O governo vai cobrar Imposto sobre Operações Financeiras sobre a entrada de capital estrangeiro para investimentos emrenda fixaevariável,conforme antecipou o Estado na sexta-feira. A taxação entra em vigor hoje, por medida provisó-
bre investimento estrangeiro direto. Segundo o ministro Guido Mantega (Fazenda), a medida visa a evitar um “excesso de especulação”emrazãoda grandeliquidez do mercado internacional. Mantega afirmou também que é preciso proteger a
ria, e servirá para conter a alta do real ante o dólar – além de melhorar a arrecadação de impostos,que está em queda. Com alíquotade2%,oIOFserácobrado apenas na entrada e não terá diferença entre curto e longo prazo. Não haverá taxação so-
Justiça Eleitoral cassa 13 dos 55 vereadores de SP
produção nacional, impedindo que o real se valorize ainda mais,oque barateia asimportações e encarece as exportações. Paraespecialistas,porém,amedida terá efeito apenas temporário e não deverá inibir a atração de capitais. ● PÁGS. B1 e B3
ANÁLISE
Celso Ming
Um jeito de ‘fazer alguma coisa’ ● ● ● É estranho que mexidas no câmbio sejam antecipadas a conta-
gotas. Não se pode ser leviano com essa matéria. ● PÁG. B2
RIO: FALTA DE INVESTIMENTO EM SEGURANÇA
Punidos por receber doação ilegal, eles vão recorrer sem deixar cargo OS CASSADOS ● Abou Anni (PV) ● Adilson Amadeu (PTB) ● Adolfo Quintas Neto (PSDB) ● Carlos Apolinário (DEM) ● Carlos Alberto Bezerra Jr. (PSDB) ● Claudinho (PSDB) ● Dalton Silvano (PSDB) ● Domingos Dissei (DEM) ● Gilson Barreto (PSDB) ● Marta Costa (DEM) ● Ricardo Teixeira (PSDB) ● Ushitaro Kamia (DEM) ● Wadih Mutran (PP)
Também foi cassado o suplente Quito Formiga (PR)
FELIPE DANA/AP
A Justiça Eleitoral cassou ontem 13 dos 55 vereadores de São Paulo – um suplente também foi cassado. Eles foram condenadosporteremsidobeneficiáriosdedoaçõesdaAssociação Imobiliária Brasileira (AIB). Apontada como braço político do Secovi, o sindicato dahabitação,aAIBganhounotoriedade ao figurar entre os maiores doadores das eleições de 2008 no Estado – foram R$ 10,6 milhões. A legislação eleitoral proíbe associaçõesdeefetuaremdoações paracampanhaselimita orepasse de entidades a 2% de sua receita no ano anterior. Segundo a sentença, havia interesse direto em projetos como a Nova Luz, o plano de revitalização da Cracolândia. Os cassa-
dos, inelegíveis por três anos, poderão permanecer no cargo até o julgamento final dos recursos. ● PÁGS. C1 e C3
Policial toma posição durante ação na Favela do Jacarezinho, zona norte do Rio, depois de fim de semana com 17 mortos
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Ex-promotor Igor é preso após 8 anos
Ciência
Descobertos 32 planetas distantes Achados reforçam a ideia de que o universo estárepletodepossíveispalcos para a vida. ● PÁG. A16
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Tempo: CAPITAL
27º
MÁX.
● PÁG. C2
17º
MÍN.
Tempo instável, com pancadas de chuva e risco de temporal. Hoje: 82 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 16 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 16 ● Classificados: 442 anúncios
denado a 16 anos e 4 meses de prisão pelo assassinato a tiros da mulher grávida, em 1998. A polícia foi alertada por telefonema anônimo. ● PÁG. C12
NOTAS E INFORMAÇÕES
O Rio perde essa guerra É lamentável que o fato de o Rio ter sido escolhido para sediar a Olimpíada esteja sendo visto como incentivo de esforços do poder público no campo da segurança. Essa deveria ser meta permanente. ● PÁG. A3
JOSE PATRICIO/AE
Alerta veio por telefonema anônimo O ex-promotor de Justiça Igor Ferreira da Silva foi preso ontem na Vila Carrão, zona leste deSãoPaulo.Eleestavaforagido desde 2001, quando foi con-
Educação
USP começa a eleger reitor hoje CADEIA – Igor na delegacia
Direto Da Fonte
Hora do banho mais barato
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 81 DIAS q PÁG. A8
em razão de confrontos entre traficantes e a polícia. Dados da Secretaria da Fazenda do Rio mostram que o Estado só conse-
A Agência Nacional de Energia Elétrica propõe banhomaisbaratoforadohorário de pico (das 18 às 21 horas), informa Sonia Racy. A economia nas contas de luz é estimada em 15%. O projeto incluiadoçãodesistemainteligente de medição. ● PÁG. D2
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●● Primeiro turno escolhe
listadeoitonomes. Representatividade eleitoral é questionada. ● PÁG. A15
VIAGEM & AVENTURA
Uma expedição pelas cavernas ●● Pouco conhecido até pelos paulistas, o Parque Estadual do Alto Ribeira é de tirar o fôlego. ●
guiu aplicar R$ 102,1 milhões dos R$ 421 milhões previstos para segurança pública em 2009. Programas como moderni-
Lula agora aceita bases na Colômbia Presidente diz crer em garantias O presidente Lula declarou que aceitou as explicações da Colômbiasobreousode basesmilitarespelos EUA. Ele disse acreditar nas garantias dadas por
CADERNO 2
Jovem poesia
Bruna Beber, de 25 anos, é um dos destaques da nova – e promissora – geração de poetas brasileiros. ●
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JOSÉ PATRICIO/AE
7 8 9 10 11 12
zação operacional da PM, que previam investimento de R$ 16,99 milhões, praticamente não saíram do papel. ● PÁGS. C6 e C11
Bogotá e Washington de que as bases servirão para uso interno. Em agosto, Lula se alinhara àscríticasdeVenezuelae Equador sobre as bases. ● PÁG. A9
A8 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 20 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
+ 9
ANOS DE CHUMBO
Ministro questiona versão de militares sobre arquivos Vannuchi afirma não haver informações de que dados tenham sido destruídos e ressalta que Forças Armadas sempre mantêm tudo registrado WERTHER SANTANA/AE
CONGRESSO
Suplicy se livra de investigação por desfilar de sunga para TV
PERSONALIDADE
Déda recebe alta do Sírio-Libanês O governador de Sergipe, Marcelo Déda, recebeu alta ontem à tarde do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava internado desde 1º de outubro, após ter sido submetidoaumacirurgiapara a retirada de um nódulo pancreático benigno. De acordo com o hospital, Déda se recupera bem da operaçãoecontinuarásendoacompanhado pelas equipes coordenadas pelos médicos Marcel Cerqueira César Machado e Roberto Kalil Filho.
Carol Pires BRASÍLIA
O corregedor-geral do Senado, senador Romeu Tuma (PTBSP), desistiu de abrir investigação contra o senador Eduardo Suplicy(PT-SP),que,naquartafeira da semana passada, desfilou pelos corredores da Casa trajando uma sunga vermelha por cima da calça social. A brincadeira do senador atendeu a umpedido da apresentadora da RedeTV!,SabrinaSato,quealegou que ele ficaria parecido com o “Super-homem” se vestisse a indumentária. Após o ocorrido, Suplicy foi alvo de críticas de senadores que o acusaram de quebrar o decoro parlamentar. Tuma pretendia, ao final da investigação, advertir Suplicy sobre a má repercussão do fato. Ontem, no entanto, o corregedor anunciou que vai apenas produzir um relatório sobre como se comportar em entrevistasaprogramas de humore distribuí-lo aos senadores. “Este episódio serviu de alerta de que tem coisas que a gente deve aceitar e outras não”, disse o corregedor. Na avaliação de Tuma, o Senadoestá em processode restabelecimento da imagem perante a opinião pública e abrir investigação contra Suplicy neste momento “causaria um problema maior”. “Ele tomou as providências para evitar que a cena fosse exibida, também me telefonou no sábado para explicar o ocorrido, as informações foram confirmadas pela Sabrina Sato. Então, eu achei melhor não dar corda para isto e evitar que o senador seja levado ao Conselho de Ética”. A cena na qual Suplicy desfila pelo Senado com a sunga vermelha não foi exibida pelo programa Pânico na TV!, que foi ao ar na noite de domingo. O desfile durou cerca de um minuto e o senador defendeu-se dizendo que o pedido da apresentadora foi“amável”.Em notaàimprensa, ele informou que conversou com os produtores do programa e pediu que a cena fosse cortada da reportagem. Os produtores atenderam ao pedido porque não tiveram a intenção de provocar nenhuma ofensa ou diminuição de sua imagem ou do Senado, afirmou o senador. “Estou de acordo, conformetantosamigos medisseram, que teria sido melhor não ter atendido ao insistente apelo de Sabrina”, concluiu. ●
TERRA SEM LEI
MST ocupa sede do Incra no Recife Cercade280trabalhadoresligados ao MST ocuparam ontem a sede do Incra, no Recife. Os manifestantes chegaram a interditar uma movimentada avenida. De acordo com o coordenador do movimento, José Aglaílson da Silva, o objetivo da ação foi cobrar a vistoria de quatro áreas reivindicadas há anos pelos sem-terra. O superintendente do Incra, Abelardo Siqueira, disse que vai notificarosproprietárioserealizar vistorias nessas áreas. CPI DA CORRUPÇÃO
Base aliada de Yeda vota convocações
DÚVIDAS – ‘Quem decidiu destruir os arquivos, quando isso ocorreu, como foi feito?’, indagou o ministro Paulo Vanucchi durante o evento
Roldão Arruda
O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos, disse ontem que considera inaceitável a versão, dada pelas Forças Armadas, de que os arquivos secretos dos órgãos militares, referentes à repressão política no período da ditadura, não existam mais. “Trabalho há 40 anos com direitos humanos e não aceito a tese de que todos os arquivos em poder das Forças Armadas tenham sido destruídos”, afirmou. As afirmações de Vannuchi foram feitas durante a sessão de abertura da Conferência Internacional sobre o Direito à Verdade, organizada pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP). Um dos objetivos do evento, que conta com o patrocínio da secretaria de Vannuchi, é discutir a criação de uma comissão nacional de verdade,
com a tarefa de esclarecer violações de direitos humanos ocorridas no período da ditadura militar e apontar os responsáveis pelos crimes. Vannuchi defende a criação do grupo. Com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele tem estimulado iniciativas para tentar resgatar informações ainda ocultas do período da ditadura. Uma de suas metas é esclarecer as histórias de 140 opositores do regime militar que, depois de terem sido detidos pelos órgãos de repressão, desapareceram e nunca tiveram os corpos localizados. As iniciativas de Vannuchi esbarram quase sempre, porém, nas Forças Armadas, cujos arquivos, que poderiam conter informações sobre os desaparecidos, nunca foram abertos. Segundo informações oficiais, já teriam sido destruídos. “Quem decidiu destruir os arquivos? Quando isso ocor-
reu? Como foi feito? Não há nenhum registro sobre isso, o que é estranho, pois se sabe que tudo que ocorre nas Forças Armadas é cuidadosamente registrado”, disse Vannuchi. MAIS PRESSÕES
De maneira indireta, o ministro admitiu que o governo do qual faz parte não tem força política para determinar a localização e
Filho de Jango cobra o julgamento dos responsáveis pelos crimes a abertura dos arquivos militares – uma vez que se trata de um “presidencialismo de coalizão”, com divergências no interior do próprio ministério. Diante desse cenário, ele considera positivas as pressões da sociedadedoPaís e deorganiza-
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ções internacionais sobre o Estado brasileiro, para que esclareça a verdade. O ministro da Defesa, NelsonJobim, também convidado para a abertura da conferência, enviou uma mensagemexplicando que, porproblemas na agenda, não poderia participar. O advogado José Gregori, que chefiou a pasta de Direitos Humanos no governo de Fernando Henrique Cardoso, também defendeu a criação de uma comissão de verdade. Na opinião de João Vicente Goulart, filho do presidente João Goulart, deposto do cargo com o golpe militar de 1964, a comissão só teria sentido se os responsáveis pelos crimes também fossem julgados. “Só teremos direito à verdade se tivermos direito à Justiça”, disse ele, durante o depoimento que fez na abertura da conferência. ●
A base aliada da governadora Yeda Crusius (PSDB) compareceu ontem em peso à sessão da CPI da Corrupção e aprovou a convocação de testemunhas com poucos vínculos com a administração estadual para depor. Os aliados de Yeda rejeitaram, um a um, os requerimentos da oposição. “Votam um monte de nomes para levar até o final de novembro e depois não votar a prorrogação da CPI”, reagiu o deputado Elvino Bohn Gass (PT). MENSALÃO
Defesa de Jefferson quer Lula como réu A defesa do ex-deputado RobertoJefferson(PTB)voltou apedirqueoSupremoTribunal Federal (STF) inclua o presidente Lula entre os réus do processo do mensalão. Arrolado como testemunha pelo ex-deputado, Lula vai usar a prerrogativa de responder por escrito. O advogado de Jefferson, Luiz Francisco Barbosa, diz que a corte precisa definir se Lula é testemunha ou réu. “É precisoqueoSTFdecidaissoantes do depoimento.”
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 81 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Não há justificativa para a censura do TJ-DF ao jornal’ Socióloga Maria Vitória Benevides estranha mordaça Moacir Assunção
A socióloga e professora da Universidade de São Paulo (USP) Maria Vitória Benevides não consegue imaginar nenhum ângulo que possa, ao menos remotamente, justificar a censura ao Estado desde 31 de julho pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal(TJ-DF).“Podemos entenderrestrições aum veículo de comunicação em situações excepcionais de exceção, por força de proteção de sigilo diplomático ou de grupos vulneráveis da sociedade, entre as quais crianças, e contra a incitação à violência, mas jamais numa situação em que são veiculadas matérias informativas de interesse da população – o que é o caso”, comentou. A intelectual vê a censura, após ação movida pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), como “um exemplo paradigmático da persistência de velhas tradições corone-
lísticas na política brasileira”. “Se estivesse vivo, Raymundo Faoro já teria se pronunciadosobreesseescândalo,quedemonstra a força das oligarquias não só no Legislativo, como no Judiciário e no Executivo”, afirmou. Faoro é o autor do clássico livro Os Donos do Poder, de 1958, que analisa o mandonismo na tradição política brasileira. Para a professora, o caso dos Sarney e da censura tem muitas semelhanças com os métodos do senador baiano Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007. “Há uma cumplicidade do Poder Judiciário com isso, o que é extremamente lamentável. Por outro lado, vemos um silêncio estarrecedor de outros setores do Estado que deveriam denunciar a afronta a um direitoirrevogáveldaConstituição, a liberdade de opinião”, afirmou. No caso específico da família Sarney, a socióloga disse estranhar certa “seletividade” da Justiça, que não teria agido da mesma forma em outros casos. Em sua opinião, isso pode ter ocorrido porque, justamente
no momento em que se iniciou a mordaça ao Estado, os Sarney enfrentavam uma crise de credibilidade. “A filha Roseana assumiu o governo do Maranhão em uma posse muito discutível, seu irmão Fernando estava sob investigação da Polícia Federal e o pai, José Sarney, enfrentava vários problemas no Senado”, disse. INDICIADO
Fernando, que teve pedido de liminar contra o Estado acolhido pelo desembargador Dácio Vieira – depois afastado do caso por suspeição –, foi indiciado pela PF por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Além disso, apareceu em gravações autorizadas pela Justiça tratando de distribuição de cargos no Senado para parentes. Depois de recursos do Estado, Vieira acabou afastado do caso, mas a decisão de censura foi mantida. O TJ-DF determinou a remessa do processo ao Maranhão. ●
o estado de s. paulo
● Edição de
0h15
QUARTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Para o governo, visita a obras no São Francisco não é campanha antecipada que há uma “mais-valia natural”dos candidatosligados agovernos, por causa da exposição, mas disse haver confusão entre ações administrativas e eleitorais: “É lícito transformar um evento rotineiro de governo em um comício? E aí desequiparam-se as relações de oportunidade que deve haver no proces-
so eleitoral”. O ministro Tarso Genro (Justiça) negou que Lula e Dilma tenham cometido irregularidade. “O governo tem não só o direito, mas a obrigação de dar visibilidade a seus atos”, disse Tarso, afirmando que a lei eleitoral estabelece período específico em que esse tipo de ato é vetado. ● PÁG. A4
FRASES
“É lícito transformar um evento rotineiro de governo em um comício? A Justiça tem de ser chamada para evitar esse vale-tudo” Gilmar Mendes Presidente do STF
(1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
21 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42372
ViagemdeLulaé‘vale-tudo’ eleitoral,dizGilmarMendes O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, sugeriu que a Justiça Eleitoral investigue a viagem do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), presidenciável do PT, às obras de transposição do Rio São Francisco. Para Mendes, é preciso “evitar esse vale-tudo”. Ele afirmou
JULIO MESQUITA
“Tudo que o presidente está fazendo em matéria de mobilidade está dentro da lei. É uma fatalidade política da democracia” Tarso Genro Ministro da Justiça
Acordo põe Ciro fora da corrida ao Planalto O Planalto dá como certo que o deputado Ciro Gomes (PSBCE) não disputará a Presidênciaem2010,informamosrepórteres Marcelo de Moraes, Vera Rosa e João Domingos. Seu destino será a eleição para o governo paulista, com apoio do PT. A retirada de Ciro da corrida presidencial se dará depois que Dilma Rousseff se consolidar nas pesquisas. Ontem à noite, o PMDB selou aliança com o PT. O partido indicará o vice na chapa de Dilma. ● PÁG. A6
Taxação de investimento externo faz Bolsa cair
Vaticano vai aceitar padres anglicanos casados
A taxação do capital estrangeiroparaaplicaçõesemrenda fixa e ações fez o mercado voltar a ter fortes oscilações. Após intenso vaivém, o índice da Bovespa caiu 2,88% e o dólar subiu 1,93%, para R$ 1,744. Para analistas, o movimento justificou realização de lucros, e a taxação terá efeito limitado. ● PÁGS. B1 a B8
O Vaticano anunciou que facilitaráoingressonacomunhãocatólicadefiéisanglicanosinsatisfeitoscomsuaigreja.Padresanglicanos poderão permanecer casados após se converterem aocatolicismo.Ostradicionalistas anglicanos se opõem à ordenação de bispos mulheres e homossexuais e à bênção de uniões gays. ● PÁG. A16
ANÁLISES
Edemir Pinto
‘É o que se chama de fogo amigo’ PÁG. B3
Arminio Fraga EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL
WERTHER SANTANA/AE
PRESIDENTE DA BM&FBOVESPA
‘Tributação traz altíssimos custos’
Interdições pioram lentidão na Marginal
PÁG. B5
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 82 DIAS q PÁG. A8
NOTAS E INFORMAÇÕES
em comparação com as outras terças-feiras. A circulação de pedestres também foi prejudicada. A Secretaria dos Trans-
RIO: CENA DE BARBÁRIE
Pedágio para o dólar Se a ideia é mexer no câmbio, a alternativa escolhida por Guido Mantega talvez seja mesmo a menos arriscada. ● PÁG. A3
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28º
MÁX.
● PÁG. C2
17º
MÍN.
Sol aparece e faz calor. Chuvas isoladas no fim da tarde.
Hoje: 74 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 18 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● G. Agrícola: 12 Classificados: 115 anúncios
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WILTON JUNIOR/AE
Tempo: CAPITAL
Um corpo foi deixado dentro de um carrinho de supermercado em um dos acessos ao Morro dos Macacos, na zo-
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na norte do Rio, como um sinal indiscutível da ousadia dos traficantes e de seu controle sobre a favela. ● PÁG. C8
portes pode adotar baldeações que obrigariam os passageiros de ônibus a atravessar as pontes a pé. ● PÁGS. C1 e C3
Cassações de vereadores adiam Plano Diretor de SP A decisão judicial que cassou 13vereadoresteveefeitoimediato na revisão do Plano DiretordeSão Paulo,emtramitação desde fevereiro. Para as principais lideranças da Câmara, não há clima para que os parlamentares definam calendário de votação neste ano. O projeto, que servirá para reordenar o crescimento da cidade nos próximos 5 anos, é defendido pelo setor imobiliário. ● PÁG. C5
●●● O Conselho Nacional de Meio Ambiente decidiu tornar a inspeção veicular obrigatória em todo o Brasil. ● PÁG. C4
Corinthians
Ronaldo promete se aposentar no clube ●● “Amor que sempre tive pelo Flamengo ficou de lado, sou corintiano”, diz ele, que cogita jogar em 2011. ● PÁG. E2 MARCOS DE PAULA/AE
A interdição parcial de três pontes na Marginal do Tietê fez a lentidão da via aumentar 31% ontem no pico da manhã,
HÉLVIO ROMERO/AE
IMPROVISO – Pedestres passam pelo canteiro de obras na Ponte da Vila Maria, na manhã de ontem: risco em meio a entulho e máquinas
Caso Igor
Ex-promotor pode ganhar benefício
CADERNO 2 O tempo de Francis Hime
Aos 70 anos, o cantor, pianista e compositor lança disco duplo, ganha tributo da Osesp e prepara caixa com obra completa para 2010. ●
Em 3 anos, ele terá direitoapediroregimesemiaberto, já que pena por aborto do bebê prescreveu. ● PÁG. C7
●●
agrícola ●● Paraevitarextinçãode es-
pécies de abelhas, criadores instalam colmeias em locais próximos a residências. ●
A8 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 21 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
+ 9
GOVERNO
Planalto aposta em Múcio para enquadrar o TCU Ex-ministro de Lula ocupa seu posto no tribunal de contas, assumindo o papel de bombeiro, e garante que vai investir na conciliação DIDA SAMPAIO/AE
Vannildo Mendes BRASÍLIA
ESTADOS
Assembleia arquiva impeachment contra Yeda
SEM-TERRA
DEM registra pedido de criação da CPI do MST Com apoio de 188 deputados e 35 senadores, o DEM registrouontempedidode criação da CPI do Campo para investigar supostos repasses ilegais de verba do governo federal para o Movimento dos Sem-terra (MST). Para ser considerado válido, o documentoterádeserlidoemsessão conjunta do Congresso, que foi marcada para hoje, às 10h, pelo presidente do Senado,José Sarney(PMDB-AP).
Elder Ogliari PORTO ALEGRE
OplenáriodaAssembleiaLegislativa do Rio Grande do Sul arquivou ontem o pedido de impeachmentcontraagovernadora Yeda Crusius (PSDB), por acusação de corrupção, que havia sido apresentado pelo FórumdosServidoresPúblicosEstaduais em 9 de julho. O parecer da relatora Zilá Breitenbach (PSDB), contrário ao processo, foi aprovado por 30 votos a 17. Nasemanapassada, a4ªTurma do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4.ª Região (RS, SC, PR)já haviaexcluídoa governadora de ação por improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal. O parecer assevera que “não estápresentejustacausaaautorizar a admissibilidade do pedido de instauração de processo por crime de responsabilidade contraa governadora”.Aoposição acusa a tucana de envolvimento em fraude no Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS) de R$ 44 milhões. Durante a sessão de ontem, somente os representantes de partidos de oposição subiram à tribunaparapedira admissibilidade do processo e desafiar os aliados de Yeda a pelo menos defenderem o parecer. “O parecer é tão constrangedor para o governo que ninguém teve a coragem de defendê-lo”, afirmou Raul Pont (PT), que acusou a base governista de cumplicidade com a corrupção no Estado. A bancada da situação ouviu os discursos, não fez nenhum pronunciamento e, ao final, fez valer sua maioria para livrar a governadora definitivamente do desgaste de um processo.
SATIAGRAHA
Escalado pelo Planalto para ser no Tribunal de Contas da União (TCU) um defensor do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o novo ministro do órgão, José Múcio Monteiro, tomou posse ontem em meio a umclimapluripartidárioeamistoso. A esperada batalha verbal entre dirigentes do governo e do TCU deu lugar a discursos de conciliação. Estavam presentes, além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável pela indicação, dez ministros de Estado e os presidenciáveis José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). Osânimosno governoseacirraram após as frequentes paralisações de obras determinadas pelo TCU, por suspeita de irregularidades. Em setembro, foram atingidas 13 obras do PAC. Inconformado, Lula tem feito críticas ao tribunal, que julga ser um “aparelho” da oposição. Ele indicou Múcio para o lugar do ministro Marcos Vilaça, que se aposentou, na esperança de neutralizar o que considera um foco de hostilidade ao governo. O presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, ex-deputado do PSDBCE, tem rebatido o Planalto. Mas, em vez de agir como soldado de infantaria, Múcio assumiu papel de bombeiro. “Não creio no exercício fútil da divergência improdutiva e no debate inócuo, porque esse é o lado do espetáculoqueserve apenaspara distrair os espectadores”, disse. Num discurso de dez minutos, Múcio – que foi ministro
Relator mantém caso com juiz De Sanctis O caso Satiagraha fica com o juiz Fausto De Sanctis, da 6ª VaraFederal,para“medidas urgentes” até que o Tribunal Regional Federal julgue conflito de competência. A decisãofoidodesembargadorJohonsom Di Salvo. A juíza Silvia Rocha, da 2ª Vara,alega ser competente para processar o banqueiro Daniel Dantas, porque Satiagraha teve origem em inquérito que abriu sobre o mensalão. JUSTIÇA ELEITORAL
Prefeito de Praia Grande é cassado
EM SILÊNCIO – Alvo de ironia, Lula permaneceu sério o tempo todo, mas trocou acenos com Serra
de Relações Institucionais de Lula–deixouclaroquevaiinvestir na conciliação, evitando o confronto. “Sempre que possível, vou orientar e prevenir, em lugar de condenar e remediar.” Ele prometeu lealdade ao órgão, garantindo que vai exercer a tarefa de avaliação e aplicação das políticas públicas com empenho. “Não só como dever, mas também como um gesto de respeito ao dinheiro do contribuinte, que paga seus impostos, e ao cidadão.” E enfatizou: “Minha vida pública sempre foi marcada pela convergência, poisacreditono diálogoenatro-
cadeideiascomopontodepartida e de chegada.” A única resposta às críticas do governo saiu do discurso do presidente do órgão, feita com um toque de ironia. Ubiratan Aguiar agradeceu a Lula por ter sido, como constituinte em 1988,umparlamentar quesubscreveu, “com seu voto isento”, o capítulo que trata das competências dos tribunais de contas, inclusive o TCU, e “a ação do controle que se faz necessário para o aperfeiçoamento da administraçãopública”.Emseguida,elefezumasaudaçãodiscreta ao novo colega.
Lula troca os nomes na posse: ‘Entra Salomão e sai Gabeira’ Samuel Pinheiro substituiu Mangabeira em secretaria
C
om cinco trocas de nomes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva empossou ontem “Salomão” – na realidade, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães – como ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, cargo antes ocupado por “Gabeira”
– na verdade, Roberto Mangabeira Unger, que deixou o posto em junho. Os equívocos somaram-se ao anseio explicitado por Lula de deixar, como legado, um plano de infraestrutura para os governos que se seguirem até 2022. “Essas decisões vão exigir do governo, ainda em 2010, preparar toda a infraestrutu-
ra para que a gente possa fazer as coisas acontecerem no nosso País”, afirmou Lula, no Itamaraty, referindo-se à Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. “De 2016 para 2022, faltam apenas seis anos. Se você está trabalhando de 2010 para 2016, nada mais justo que ampliar a cabeça e fazer até 2022.”
Elogios explícitos, o presidente do TCU só dirigiu ao vice-presidente José Alencar, o qual qualificou como “exemplo de homem ético, determinado e de moral elevado” – o discurso foi interrompido por aplausos. Lula permaneceu sério o tempo todo e somente teve um leve sinal de descontração quando o governador José Serra (PSDB) chegou, atrasado, ao recinto. O presidente deu um leve sorriso, saudando-ocom opolegarlevantado, e foi correspondido com um aceno. ●
O presidente empossou Pinheiro Guimarães, o embaixador que desde 2003 conduziu a Secretaria-Geral do Itamaraty, na cota que cabe ao PRB, do vice José Alencar e do senador Marcelo Crivella (RJ), bispo da Igreja Universal. Recémfiliado ao partido, ele é diplomata há 46 anos. E autor de 500 anos de Periferia, um dos livros favoritos do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. “Ele é o guru do Chávez”, disse o presidente.● Tânia Monteiro Denise Chrispim Marin BRASÍLIA
AJustiçaEleitoralcassou,na segunda-feira, os mandatos do prefeito de Praia Grande (SP), Roberto Francisco dos Santos (PSDB), e do vice, Arnaldo Amaral (PSB). O juiz João Sales do Nascimento considerou cabíveis provas de que houve compra de votos nas eleições de 2008. A sentença de 1ª instância torna ambos inelegíveis por três anos. Cabe recurso ao TRE. JUDICIÁRIO
Evento reunirá 3 mil juízes em São Paulo Cerca de 2 mil juízes estarão em São Paulo, entre quintafeira e sábado da próxima semana, para debater como participar da elaboração do orçamento do Judiciário e do gerenciamento de recursosdodascomarcasedostribunais. Ainda no XX Congresso Brasileiro, eles discutirão as principais dificuldades na administração do Poder e as soluções possíveis.
Cerca de 250 pessoas, divididas entre favoráveis e contrários à abertura do processo, ocuparam as galerias da Assembleia eprovocaramtensão.Ummanifestante jogou um tomate no plenário, quase acertando o deputado Coffy Rodrigues (PSDB), e foi detido pela segurança. Uma pequena confusão entre os dois grupos deixou uma pessoa ferida com arranhões. Os manifestantes de oposição gritavam “quadrilha” e “cadeia para a máfia do Detran”, enquanto os aliados provocavam os petistas com os coros “mensalão” e “Petrobrás”. Batalha política vencida, os governistas cantaram o hino do Rio Grande do Sul com ênfase no verso “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a Terra”, enquanto de dentro do plenário também se ouvia o barulho da queima de fogos de artifício que partidários de Yeda fizeram ao lado do Palácio Piratini. ●
MATO GROSSO DO SUL
Arrendamento ilegal de terras é denunciado Índios e fazendeiros de Douradosforamdenunciadosontem pelo Ministério Público à Justiça Federal pelo arrendamento de terras localizadas em reservas indígenas. A prática é crime, conforme prevê o inciso XI do artigo 20 daConstituição. Osfazendeirossãoacusados do arrendamento no valor de R$ 2,6 milhões. A pena é de detenção de 1 a 5 anos, além de multa.
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 82 DIAS
OBRAS ACELERADAS
PROTESTOS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Caso prejudica imagem do País O conceito sofisticado e inovador de morar que conquistou São Paulo, chegou à melhor Quadra do Campo Belo.
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Censura atrasa Brasil, diz Repórteres Sem Fronteiras Roberto Almeida
A ONG Repórteres Sem Fronteiras, principal entidade em defesa do jornalismo no mundo, divulgou ontem seuranking anualdeliberdade de imprensa. O Brasil ficou em 71º lugar de um total 175 países avaliados, ainda atrás de Paraguai e Argentina. Uma das razões, sublinha a entidade, é a quantidade de decisões judiciais impondo censura prévia, como a que amordaça o Estado desde o dia 31 de julho. Para avaliar o nível de liberdade de imprensa no País, a ONG enviou questionários com 40 tópicos a serem respondidos por jornalistas, pesquisadores, juristas e ativistas na área de direitos humanos. Na avaliação, a crítica à mordaça aos meios de comunicação. “A censura prévia permanece ativa em certos Estados, nos
quais as autoridades controlam a mídia local”,alerta a entidade. DeacordocomrankingsanterioresdaRepórteres SemFronteiras, o Brasil vem subindo de posição. Em 2007 era o 84º. Em 2008, o 82º, e agora emplacou o 71º lugar. A escalada de 13 posições em três anos, segundo a entidade, ocorreu por causa da queda da Lei de Imprensa, em 1º de maio de 2009, e “dos esforços desenvolvidos pelo governo Lula em matéria de acesso à informação”. No entanto, as ameaças à liberdade de imprensa continuameoBrasilpoderiatersubido ainda mais. Em termos de América Latina, além de ter ficado atrás de Paraguai e Argentina, o Brasil observa de longe a evolução do Uruguai–omelhorcolocadoentre os latino-americanos, em 29º –e do Chile, o39º dalista. Eé observado de perto por Nicarágua, o 76º e El Salvador, o 79º. “Apesardessasevoluçõespo-
sitivas, o Brasil ainda padece de uma violência persistente contra os meios de comunicação nas grandes aglomerações urbanasenasregiõesNorteeNordeste”, descreve a ONG, que reportou em 2009 atentados contra jornalistas no Pará. ‘BAGUNÇA JURÍDICA’
A Repórteres Sem Fronteiras acompanha de perto a batalha judicial envolvendo a censura ao Estado e considera o caso “emblemático” para o Brasil. Durante o andamento do processo, que já dura 82 dias, a ONG se pronunciou duas vezes. Em ambas, fez duras críticas àsdecisõesdoTribunaldeJustiça do Distrito Federal (TJ-DF), responsável pela mordaça. O chefe para as Américas da entidade,BenoîtHervieu,ementrevista ao Estado chegou a classificar a situação como “bagunça jurídica” e as decisões do TJDF como “absurdas”. ●
● Edição de
1h15
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
22 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42373
Governo propõe livrar da prisão pequenos traficantes
Ministro diz que IOF só serve para arrecadar
Plano introduz penas alternativas e reforça repressão ao crime organizado
O ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e ComércioExterior)contrariouontem declarações do colega da Fazenda, Guido Mantega, segundo as quais a taxação do capital estrangeiro com IOF de 2% vai ajudar os exportadores. “Não vejo que possa ter algum efeito paramelhorar”, disse Miguel Jorge. Para o ministro, a tributação terá impacto positivo na arrecadação da Receita, que teve em setembro a 11ª queda consecutiva. ● PÁG. B1
O governo vai propor ao Congressomudanças naleiantidrogas para livrar pequenos traficantes da cadeia, informa o repórter Felipe Recondo. Quem for flagrado vendendo pequena quantidadededroga,estiverdesarmado e não tiver ligação com o crime organizado seria condenado a penas alternativas. A intenção é evitar que essas pessoas sejam cooptadas nos presídios pelos grupos criminosos, alémde permitirque a polícia concentre a repressão nos grandes traficantes. “Isso
não é bondade ou leniência com o tráfico de drogas. É estratégia”, disse o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Pedro Abramovay.Pesquisaencomendadapelo ministério mostra que 66,99% dos presos por tráfico são réus primários e têm bons antecedentes. Apesar disso, o Superior Tribunal de Justiça nega liberdade provisória em 80% dos casos que chegam à corte. As mudanças propostas nãovãoincluiradescriminalização das drogas. ● PÁGS. C1 e C3
DRAMA
O medo no Rio tem um rosto
M
aiá Gonçalves, de 12 anos, não voltou para casa depois da aula. Em pânico durante tiroteio na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio, ela só chorava e segurava a mão de um desconhecido num bar. Maiá simboliza o medo dos cariocas em meio à nova demonstração de força dos traficantes. ● PÁG. C4
●●● Uma ofensiva da Polícia Militar em dez favelas dominadas pelo Comando Vermelho em vários morros do Rio deixou oito mortos
e resultou na prisão de 17 pessoas. Desde sábado, conflitos entre traficantes e destes com a polícia já mataram 34 pessoas. ● PÁG. C4
Crianças terão prioridade nas filas de transplante
WILTON JUNIOR/AE
PM mata 8 em favelas cariocas
PARÁ: MADEIRA BARRADA PELA COMUNIDADE
Com a nova regulamentação do SistemaNacionaldeTransplantes, que entra em vigor hoje, crianças e adolescentes menoresde 18 anos passam a ter prioridade para receber órgãos de doadores da mesma faixa etária. E poderão entrar na fila de transplante de rim, mesmo que não estejam em fase terminal. Além disso, pessoas que tenhamdoença transmissível, como hepatite, vão poder doar seus órgãos a pacientes com o mesmo problema. ● PÁG. A20
Palmeiras perde a terceira seguida ●● O líder foi derrotado por 2 a 0 pelo Santo André, um dosúltimos colocados, e agora balança. ● PÁGS. E1 e E4
Em pré-acordo, Irã aceita enviar à Rússia seu urânio
Criada CPI para investigar repasses de verba ao MST ●●● Balsa carregada de toras é impedida de deixar Santarém por trabalhadores rurais e índios, que exigem fiscalização da carga. ● PÁG. A21
EUGÊNIO BUCCI
Saramago nos traz notícia velha
CADERNO 2
●● Informaçãosobreainexistência de Deus tem um quê de coisa artificialmente requentada. ● PÁG. A2
Prepare-se para duas semanas de cinema em SP ●● Críticos do Estado indi-
cam o que assistir na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A estreia hoje é só para convidados, mas a partir de amanhã serão exibidos 424 filmes, de todos os gêneros. O cartaz do maior evento de cinema da cidade é criação dos grafiteiros osgemeos. ●
NOTAS E INFORMAÇÕES
Bilhões para a campanha O governo e seus aliados continuam trabalhando para montar um orçamento de campanha, feito sob medida para a gastança eleitoral. ● PÁG. A3
●●●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 83 DIAS q PÁG. A11 7 8 9 10 11 12
●●● Os Ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda disputam o controle do Eximbank, órgão a ser criado para apoiar exportações. Os técnicos não chegaram a consenso. Caberá ao presidente Lula a decisão final sobre o banco, que terá R$ 27 bilhões. ● PÁG. B12
A Agência Internacional de Energia Atômica informou ter chegadoaacordopreliminarentre Irã e EUA, Rússia e França que, em tese, diminui os riscos deTeerã usarseu programanuclearpara produzir um arsenal. O acerto prevê que a Rússia enriquecerá 75% das reservas de urânio do Irã para uso em reator de finalidade civil. O diálogo é visto como o primeiro engajamento diplomático sério entre americanos e iranianos em 30 anos. ● PÁGS. A14 e A15
ALBERTO CESAR ARAÚJO/GREENPEACE
Futebol
Eximbank é alvo de disputa
Tempo: CAPITAL
28º
MÁX.
● PÁG. C2
16º
Tempo fica abafado e pode chover forte.
Hoje: 120 páginas A. 1º caderno: 30 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 6 ● P. Paladar: 8 ● Cl. Classificados: 26 (2.256 anúncios)
MÍN.
●● Ouse no preparo da tarte
tatin. Uma sugestão: substitua as maçãs por tomates. ●
A CPI Mista do MST foi criada ontem no Congresso. A oposição quer investigar o financiamento de associações de apoio ao Movimento dos Sem-Terra comverbas públicaseouso desses recursos em invasões. Para contra-atacar,aliadosdogoverno pretendem focar nas finanças da Confederação Nacional da Agricultura. ● PÁG. A4
QUINTA-FEIRA, 22 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 83 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Estado’ vai ao STJ para derrubar censura Recurso que pretendia barrar envio do processo à Justiça Federal do Maranhão não foi aceito BRASÍLIA
Os advogados de O Estado de S.Paulo vão recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra a censura imposta pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), que há 83 dias impedeapublicaçãodereportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney
CONGRESSO
Do divórcio ao plantio de árvores pelos ex
B
oas intenções, às vezes, caem na tentação do exagero. Um projeto de lei do deputado Carlos Mannato (PDT-ES) é exemplo disso. Torna obrigatório o plantio de árvores nos casos de divórcio, casamento, compra de veículos e construção de edifícios. Diz o deputado que todos os casos levam ao aumento no consumo de água, energia e alteração da ocupação do espaço urbano. “Quando duas pessoas se casam há deslocamentos e construção de novas moradias, o que implica agressão ao meio ambiente; quando há divórcios, a separação leva à ocupação de dois lugares, o que também agride o ambiente. O mesmo se aplica à compra de carros e à construção”. Mas, diante das críticas, e da rejeição do projeto pela Comissão de Indústria e Comércio na semana passada, o deputado admite mudar a proposta. “Vou ouvir especialistas e fazer uma coisa mais técnica”, disse. Pela proposta, os casais que desejarem se casar deverão providenciar o plantio de 10 mudas de árvores e os que se separarem terão de plantar 25 mudinhas. Há exigências burocráticas: o plantio deverá ser atestado pelo órgão competente, que emitirá recibo a ser anexado ao processo de casamento ou divórcio. Num próximo passo, o projeto será apreciado pela Comissão do Meio Ambiente e, depois, pela Comissão de Constituição e Justiça, que dará o parecer final sobre a constitucionalidade ou não do projeto. A tendência é que a proposta seja rejeitada novamente. O relator Antônio Andrade (PMDB-MG) argumentou que o gasto ambiental dessas ações deve ser combatido por meio do controle de emissões, e não de ações corretivas. Por isso, defende medidas de combate à emissão de gases de efeito estufa, como o aumento da mistura do álcool à gasolina. “Trata-se de, entre outras ações, adotar limites para a emissão de poluentes por fonte de poluição atmosférica”, disse. ●
João Domingos BRASÍLIA
(PMDB-AP). Ontem, ao julgar mais um recursodojornal,os desembargadores que integram a 5ª Turma do TJ-DF confirmaram a decisão tomada por eles no dia 30 de setembro, quando, além de manter a censura, determinaram a transferência do processoparaaJustiçaFederaldoMaranhão – terra da família Sarney. O julgamento foi sigiloso. Apenas os advogados do Estado puderam assisti-lo.
NACIONAL NACIONAL A11 A11
Esgotadas as possibilidades de recorrer no TJ, a defesa do Estado deverá protocolar um recurso a ser julgado pelo STJ, que será encaminhado após a publicação da decisão tomada ontem pelos desembargadores. Em 30 de setembro, a 5ª Turma havia concluído que o tribunalnãoeramaiscompetenteparajulgarocaso,jáque asprimeiras decisões foram tomadas por um juiz da Justiça Federal do Maranhão. Apesar disso, a
5ª Turma manteve a liminar que impôs a censura. A mordaça foi determinada no final de julho pelo desembargador do TJ-DF, Dácio Vieira. Reportagem publicada em O Estado de S.Paulo no mesmo mês mostrou que Vieira era do convívio social da família Sarney e do ex-diretor-geral do Senado, Agaciel Maia. Em setembro, a pedido dos advogados do Estado, Vieira foi afastado do processo pelo
Conselho Especial do tribunal, composto por 17 desembargadores. Na ocasião, eles concluíram que Vieira não era mais isento para continuar a relatar o caso. ISENÇÃO
A perda de isenção ocorreu, segundo o conselho, no momento em que Vieira atribuiu ao jornal e à mídia “ação orquestrada mediante acirrada campanha com o nítido propósito de inti-
midação”. O pedido de censura ao Estadofoi feitopelo empresárioFernando Sarney, responsável pela direção dos negócios da família, que estão sob investigação da PF há quase três anos. A Operação Boi Barrica, depois desdobrada em cinco inquéritos, mapeoutransações financeiras suspeitas dasempresasdogrupodafamília,detectadas às vésperas da eleição de 2006. Em julho, ao final de quase seishorasdedepoimentona Superintendência da PF do Maranhão, em São Luís, Fernando Sarney foi indiciado por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica. ●
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23 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42374
Imagens mostram PMs agindo como bandidos ainda teriam ficado com um casaco e os tênis que os assaltantes roubaram de Evandro. Câmeras de segurança mostram a ação dos assaltantes e dos PMs. Sem receber auxílio, Evandro morreu na rua. ● PÁGS. C1 e C3
ALESSANDRO COSTA/AG. O DIA
O capitão Dennys Bizarro e o cabo Marcos Sales, da PM do Rio, estão sendo acusados de liberar dois bandidos que haviam baleado Evandro João da Silva, do grupo AfroReggae, e de não socorrer a vítima. Eles
CRIME APÓS CRIME – Na foto acima, o cabo Marcos Sales (à esq.) chega para depor; à direita, em imagem de câmera de segurança, ele aparece com o tênis e a jaqueta do coordenador do AfroReggae, enquanto os assassinos, nos destaques em vermelho, deixam o local
Reformas no Senado ficam só na promessa
Guia Uma festa para os cinéfilos
●● Dicas para você aproveitar ao máximo, a partir de hoje, a 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Após 8 meses de gestão, Sarney não faz mudanças anunciadas As mudanças prometidas por José Sarney (PMDB-AP) para acabar com os desmandos do Senado ainda não saíram do papel, após mais de oito meses de gestão do senador na presidênciadaCasa.Afolhadepagamento,deR$2,1bilhões,segueintac-
reiracontribuem pararetardar as mudanças, recomendadas por estudo da FGV. O procuradorMarinusMarsico,queinvestiga a administração do Senado, lamenta a demora e diz que abrirá “quantos processos forem necessários”. ● PÁG. A4
ta.Os3,5milservidoresterceirizados pressionam Sarney para não serem demitidos – num dos casos, ele impediu redução de gastoscomterceirizados dizendo que os cortes não poderiam se dar “em detrimento dos mais humildes”. Servidores de car-
●● Acompanhe no
Caderno 2 a cobertura diária do evento e confira a programação completa no estadao.com.br.
NÚMERO
2,8
mil é o numero de funcionários de confiança; os senadores se recusam a fazer cortes
CADERNO2
Iggy, o incorreto ●● Ao Estado, Iggy Pop fala sobre moralismos, rock e seu show no Brasil em novembro. ●
ESPORTES
Gastos com novo Enem já passam de R$130 milhões
Ao definir “procedimentos invasivos”, o projeto de lei que regulamenta o ato médico, aprovado pela Câmara, dá margem a contestações na Justiça. Pelo texto, práticascomoacupunturaetatuagem podem ser enquadradas entre as que necessitam de indicação ou supervisão médica. O projeto segue agora para o Senado. ● PÁG. A15
Os gastos com o novo Enem já ultrapassam os R$ 130 milhões – R$ 31 milhões com a impressão das provas e R$ 99,95 milhões com a montagem e o processo de correção. O exame foi adiado de outubro para 5 e 6 de dezembrodepois queoEstado alertou o Ministério da Educação sobre o vazamento da prova. ● PÁG. A18
●● Alimento
Tempo: CAPITAL
●● O
Um fatalismo conveniente Lula não moveu uma palha para reformar o sistema que obrigaria Jesus a negociar o apoio de Judas. ● PÁG. A3
28ºMÁX.
7 8 9 10 11 12
Fumante ganha o ‘kit fissura’ com fibras é oferecidoparacortarvontade de fumar. ● PÁG. C4
IPVA
Cobrança começa em 8 de janeiro desconto para quem optar pelo pagamento à vista será de 3%. ● PÁG. C5
● PÁG. C2
17º MÍN.
Sol predomina e não chove.
●●●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 84 DIAS q PÁG. A7
São Paulo
Hoje: 212 páginas A. 1º caderno: 22 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 12 ● Guia: 132 ● E. Esportes: 6 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 4 (166 anúncios)
TIAGO QUEIROZ/AE
NOTAS E INFORMAÇÕES
BILL AUTH/REUTERS
Tatuagem pode precisar de prescrição médica
CNBB a Lula: ‘Jesus não se aliou a fariseus’ Ao ser indagado sobre declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que se Jesus Cristo vivesse nos dias de hoje teria de fazer coalizão até com Judas para poder governar, o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Dimas Lara Barbosa, comentou: “Judas era um discípulo de Jesus. Mas Jesus não fez aliança com fariseus e saduceus.” ● PÁGS. A8 e A9
Israel e Irã participaram de reunião no Egito Um representante de Israel e um do Irã participaram em setembro de conferência no Cairo sobre armas nucleares, em raro contato entre os dois governos. O evento, a portas fechadas, incluiu outros países. A informação, trazida por jornal australiano, foi negada pelo Irã, mas confirmada por Israel. Os relatos indicam que houve conversa entre ambos. ● PÁG. A10
ANÁLISE
Washington Novaes
Telefonia
Rumo a Copenhague, pisando em ovos
Fabricante de celularesdizqueaAppledesrespeita patentes. ● PÁG. B16
O Brasil deve estar atento às discussões sobre o clima. O maior rebanho bovino do mundo tem contribuição forte para mudanças climáticas. ● PÁG. A2
Nokia vai à Justiça contra o iPhone
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Vagner Love e Muricy Ramalho em dia tenso no Palmeiras, após derrota para o Santo
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André. O presidente do clube, Luiz Gonzaga Belluzzo, já cogita intervir no time. ● PÁG. E1
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SEXTA-FEIRA, 23 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 84 DIAS
Após censura, confiança na Justiça cai 5% Nota do Judiciário, aferida pela Direito GV, ficou em 5,6 pontos Fausto Macedo
A censura ao Estado é apontada como um dos motivos que fizeram cair em 5% o índice de confiança na Justiça no terceiro trimestre de 2009, em comparação ao segundo trimestre – revelapesquisada EscoladeDireito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (Direito GV). Numa escala da 0 a 10, a nota da Justiçaficouem5,6pontos. “Escândalos de censura, como os que atingem o Estado há mais de2meses,eoaumentodadivulgação das intervenções do ConselhoNacionaldeJustiçaemtribunais têm impacto na população”, declarou a professora Luciana Gross Cunha, coordenadora da pesquisa.
Mordaça e ações do CNJ têm impacto na população, analisa professora Ela atribui o aumento da descrença da população na toga à maior exposição do Judiciário na mídia. Ela aponta o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) no caso Antonio Palocci – a corte não abriu ação penal contra o ex-ministro da Fazenda, acusado de envolvimento na quebra do sigilo bancário de um caseiro –, as frequentes inspeções do CNJ que
desvendam mazelas do Poder e os mutirões carcerários, que revelam abusos. “Tudo isso dá mais exposição ao Judiciário, uma exposição negativa, e possivelmente o impacto é maior entre quem ganha menos ou é menos instruído.” A mordaça ao Estado foi imposta em 31 de julho pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal – a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Para Luciana, a censura também pode ser questão importante que interfere na avaliação. “Até porque envolve grupos específicos da política nacional. Hátambém umefeito negativonoquediz respeitoao tempo do processo, essa demora na solução do caso.” O Índice de Confiança na Justiça (ICJBrasil) começou a ser mensurado este ano pela Direito GV. Foram entrevistadas 1.616 pessoas de sete regiões metropolitanas – SãoPaulo,Rio,BeloHorizonte, Recife, Salvador, Brasília e Porto Alegre. A pesquisa conclui que a população tem dúvidasacercadaimparcialidade e da capacidade da Justiça em dirimir conflitos – 70% declararam não ter segurançasobre a honestidade do sistema. ●
NACIONAL NACIONAL A7 A7
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
● Edição das
23h15
o estado de s. paulo SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
CADERNO 2
q CONSUMO
Dos EUA para ruas de SP ●● Grifes de moda de rua, ao estilo skatista e grafiteiro, chegam com bons preços.
Filme como teatro
Ator Alessandro Pinezzi é adepto. ● PÁG. C8
●● Estreia de Christiane Jatahy (foto)
na direção, A Falta Que Nos Move testa o limite entre realidade e ficção na Mostra de Cinema de SP. ● PÁG. D7
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24 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42375
A mostra na internet ●● Confira no portal
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SERGIO NEVES/AE
Órgãos que fiscalizam obras ‘travam o Brasil’, diz Lula Presidente afirma que assim ‘não é fácil governar’ e pede liberação mais ágil O presidente Lula reiterou ontem suas críticas aos órgãos de fiscalização de obras públicas, como o Tribunal de Contas da União,ao dizerque oBrasil“está travado”. Para ele, “não é fá-
cil governar com a poderosa máquina de fiscalização e a pequena máquina de execução”. Em discurso na posse do novo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, Lula aproveitou
ainda para pedir a criação de uma espécie de câmara de nível superior, que possa decidir rapidamente pela liberação de uma obra suspensa por liminares da Justiça, e avisar que vai
apresentar “um relatório de coisas absurdas” que motivaram algumas das paralisações. O presidente também rebateu as acusações de que transforma as viagens para inaugurar
obrasem“comícios”,comoafirmou o presidente do Supremo TribunalFederal, GilmarMendes – que estava na cerimônia. “O que engorda o porco é o olho do dono”, disse Lula. ● PÁG. A4
Fazendeiros ganham tempo para recompor área desmatada O governo adiará de dezembro para junho o prazo para que os proprietários rurais já notificados apresentem planos de recomposição das áreas de preservação.Osnãonotificados ganham 3 anos. O objetivo é evitar que3milhões das4,3 milhõesde propriedades pequenas e médias fiquem irregulares e ainda manter o apoio dos ruralistas da base aliada. ● PÁG. A29
Investimento externo em ações do País bate recorde
MARGINAL DO TIETÊ: NOVA PISTA CENTRAL
Os investimentos estrangeiros em ações de empresas brasileiras em outubro somavam até ontem US$ 13,025 bilhões. O volume é recorde – a série do Banco Central começou em 1947. Só em ações negociadas no País, as aplicações chegaram a US$ 8,761 bilhões. O cenário, no entanto, pode sofrer alteração por conta da reação à cobrança de IOF. ● PÁGS. B1 e B4 ARTIGO
Paul Krugman THE NEW YORK TIMES
A ameaça chinesa O mau comportamento cambial da China é ameaça crescente para a economia mundial. A pergunta é o que o mundo, particularmente os EUA, fará a respeito. ● PÁG. B18
HÉLVIO ROMERO/AE
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primeiros trechos da nova pista da Marginal, num total de 3,4 km, foram liberados ontem; mais 6,5 quilômetros devem ser abertos em 30 de novembro. ● PÁG. C6
Motor do Gol 1.0 está com defeito, admite Volks A Volks admitiu que o motor 1.0 EA-111 bicombustível, que equipa os modelos Gol, VoyageeFox,apresentaproblema ainda não identificado. Ao menos 300 casos foram notificados. A montadora diz que dará um parecer em até três meses. ● PÁG. B22
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Para Zelaya, diálogo em Honduras fracassou OpresidentedepostodeHonduras, Manuel Zelaya, deu por encerrado o diálogo com ogoverno de facto, de Roberto Micheletti. Horas depois, Micheletti voltou a oferecer a renúncia se Zelaya desistir de voltar ao poder, o que o deposto não aceita. ● PÁG. A16
Justiça
Pedida extradição de Polanski EUA querem que cineasta, preso na Suíça, cumpra pena. ● PÁG. A38
Guerra ao tráfico leva terror a bairro do Rio
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Copa-2010
Parreira volta à África do Sul O técnico substituirá Joel Santana na anfitriã do Mundial. ● PÁG. E6
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A caçada aos traficantes acusadosdederrubarumhelicóptero da PM no Rio aterrorizou ontem moradores do bairro da Penha, na zona norte. Na Vila Cruzeiro, 180 policiais foram recebidos a tiros. Três pessoas ficaram feridas por balas perdidas. Mais seis corpos foram encontrados na favela do Fumacê, em Realengo
NÚMERO
180
policiais participaram de ação no Rio
(zona oeste), elevando para 42 o número de mortos na cidade desde o início dos confrontos, há uma semana. ● PÁGS. C1 e C3
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 85 DIAS q PÁG. A10
NOTAS E INFORMAÇÕES
Associação ameaçada O Brasil começa a responder com mais eficácia às medidas protecionistas da Argentina. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
31º MÁX.
● PÁG. C2
16º MÍN.
Sol predomina e temperatura sobe.
Hoje: 144 páginas A. 1º caderno: 40 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 8 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 28 ● Ci. Imóveis: 14 (4.064 anúncios)
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SÁBADO, 24 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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O direito à violação
Um intelectual público
MauroChaves
MarcoAurélio Nogueira
Os pedestres que cruzam as ruas transversais da Avenida Paulista nunca esperam o sinal verde para atravessar – pois a demora deste é proporcional ao movimento da mais importante avenida paulistana. Lá são frequentes os quase atropelamentos de pessoas que atravessam com semáforo no vermelho. (Geralmente fico sozinho esperando o verde, o que até dá um certo constrangimento). Outro dia, ia na minha frente uma jovem cega, que seguia com sua bengalaguia, conduzindo-se pela faixa especial, quando chegou ao cruzamento. Com toda a gentileza, um jovem ofereceu-se para ajudá-la a atravessar, com o sinal vermelho (como todo mundo fazia). E faltou pouco para a moça ser atropelada por uma enorme camionete. Assim, por generoso espírito de solidariedade, o jovem cidadão quase fez a moça morrer esmagada sob as rodas potentes de um utilitário. Deve ter pensado: se todos ali tinham o direito de se arriscar, violando a regra (de atravessar no ver-
É a plena autonomia criminosa, estendida a todos os interessados... de), não conceder tal direito aos cegos não seria uma odiosa discriminação? Um menino de 11 anos viajou clandestino, entre o diferencial traseiro e o tanque de combustível do ônibus de romeiros, de Sales a Aparecida – viagem de 600 quilômetros, em dez horas – para pagar uma promessa à padroeira, por seus pais terem parado de brigar. Todos – especialmente coleguinhas comovidos nas rádios – falavam do “milagre”. Certamente Nossa Senhora havia salvado aquele pequeno “herói”, que quase jogou a vida fora por uma violação estúpida de regras mínimas de segurança. É claro que o piedoso heroísmo do garoto será imitado por inúmeras crianças, portadoras de precoce fobia de anonimato – pois a coragem de se arriscar violando regras pode ser a ascensão de qualquer um ao estado de celebridade. Segundo um ministro de Estado, trata-se de uma “onda persecutória” contra os “movimentos sociais” a animosidade que despertaram aquelas cenas nos telejornais em que apareciam tratores derrubando pés de laranja enfileirados e outros atos de vandalismo praticados por militantes sem-terra. E é a “onda persecutória”, certamente, que tem levado a essa insistente tentativa de instalar uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para in-
vestigar o repasse de dinheiro público a tais movimentos, que lutam para ver implantada a justiça no campo – luta na qual exercem seu sagrado direito de violar (propriedades, liberdade de locomoção do próximo, sedes de fazendas produtivas, laboratórios de aperfeiçoamento genético de sementes, espaços públicos ou particulares, cabines de pedágio e suas receitas, cargas de caminhão, etc., etc.). Foi só um gesto singelo, mas cheio de simbolismo: o chefe de Estado e governo pegou um bombom, que lhe ofereceram enquanto assistia a determinada apresentação, desembrulhou-o, começou a comê-lo, enquanto discretamente amassava o papel e o jogava no chão, meio escondido – cena captada por uma câmera de televisão e transmitida para o mundo. Ora, por que se impediria uma pessoa – só por ser presidente da República – de exercer seu pleno direito de violar, discretamente, pequenas regras de educação, como fazem os demais cidadãos? Outro ministro de Estado negou que o “comício do São Francisco” representasse qualquer antecipação da campanha sucessória presidencial. Disse ele que “o governo não só tem o direito, mas a obrigação de dar visibilidade a seus atos”. Achou natural que essas inspeções técnicas tenham distribuição de brindes, sorteios, cantores e outros festejos no palanque. Ou será que se deveria prantear por antecipação a provável morte do rio? E ainda vêm falar em “vale-tudo”? Ora, prefeririam um “vale-nada”? E quantas violações não têm sido praticadas em nosso espaço público-político, por meio de atos secretos, de mensalões, de tráfico de influência, de caixa 2, de operações sanguessuga, de operações vampiro, de dólares na cueca, de dossiês de aloprados, de lavagem de dinheiro, de formação de quadrilha, de falsidade ideológica, tudo isso até hoje desfrutando a mais ampla, geral e irrestrita impunidade? Há que se concluir, então, que o País está passando por uma formidável revolução silenciosa, não vista antes em lugar nenhum do mundo: é o princípio constitucional da isonomia transmudado em democrática liberdade de delinquir, de violar regras, é a plena autonomia criminosa, estendida a todos os interessados, sem preconceito de raça, de cor, de grupo social, de localização regional ou que mais diferenças existam entre os cidadãos circulantes no vasto território nacional. E a maior prova da generosidade com que é estendido esse nosso sagrado direito à violação é seu pleno desfrute, também concedido a todos os estrangeiros que nos vi-
FÓRUM DOS LEITORES Atéquando,Senhor? É inacreditável o que vem acontecendo no Rio de Janeiro esta semana, quando já foram mortas 36 pessoas, entre bandidos, policiais e inocentes, numa guerra declarada entre traficantes rivais e a polícia. Como se já não bastasse o que vem acontecendo, cerca de 60% dos moradores do Morro dos Macacos tiveram de deixar suas casas às pressas. A situação tomou um rumo que me faz lembrar a semana em que São Paulo, com ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), literalmente parou. Parecia que vivíamos um filme de ficção. Infelizmente, era real e violento, mas o pânico só piorou a situação. Outra vez o terror tomou conta das pessoas e de uma das maiores cidades do Brasil, agora o Rio. Imagi-
nem deparar com o corpo de uma pessoa, no meio da rua, dentro de um carrinho de supermercado? É o fim da picada. Fiquei pensando na angústia de pais e mães sem saber para onde irem com seus filhos àquela hora da noite e na incerteza do retorno pacífico no dia seguinte. Atualmente, em todo mundo se questiona como o Rio sediará a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada em 2016. Há grandes desafios a serem transpostos, como o combate ao narcotráfico, e uma lista infindável de sérios problemas para resolver, não só no Rio, mas em todo o País. Aí está, ao vivo, para quem quiser ver, não será possível empurrar a sujeira para debaixo do tapete quando os visitantes chegarem. Socorro, Senhor! TURÍBIO LIBERATTO
sitem. Expressivo foi o caso, por exemplo, do jovem turista francês que, bêbado, atropelou uma jovem, deixando-a em estado vegetativo, pagou uma pequena fiança e voltou encantado para sua terra, afirmando com orgulho: “Eu já sabia que aqui isso não ia dar em nada.” É que o mundo já sabe deste nosso paraíso, onde o direito à violação foi democraticamente institucionalizado – daí a liberdade de turismo sexual, de pedofilia, de atropelamentos sem punição, de “pequenos tráficos”... Bem a propósito, o governo está propondo ao Congresso mudanças na lei antidrogas para “livrar os pequenos traficantes da cadeia”. Agora será mais fácil para os grandes traficantes convencerem os pais das pequenas “mulas” de que não haverá risco algum em introduzirem seus filhos num negócio que significará a independência financeira da família. E será festejada pela delinquência mundial a abertura, no Brasil, da Primeira Escola Maternal de Tráfico (Premat). ● Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e pintor. E - mail: mauro.chaves@attglobal.net (www.artestudiomaurochaves. wordpress.com)
A morte do cientista social Carlos Estevam Martins, aos 74 anos, duas semanas atrás, em São Paulo, privou a intelectualidade brasileira de uma de suas aves raras. Carlos Estevam foi daqueles intelectuais de visão abrangente, refinada, avessa a modas, especializações e formalidades. Não atuou somente como professor, ainda que sua carreira docente tenha sido brilhante, tanto na USP quanto na Unicamp. Recusou-se a seguir passivamente os cânones da academia, escapando de suas armadilhas e de sua arrogância. Mergulhou no mundo da gestão e da política, atuando durante anos como diretor de projetos da Fundap e sendo secretário de Estado da Educação por duas vezes, na primeira metade da década de 1990, durante os governos do PMDB. Nascido no Rio de Janeiro, trabalhou no Iseb e foi um dos fundadores, o primeiro diretor e o autor do manifesto do Centro Popular de Cultura (CPC), da UNE, criado em 1962. Ali, ao lado de Vianinha, Leon Hirszman e Ferreira Gullar, dentre outros, experimentou os caminhos da arte popular. Depois do golpe de 64 e do fechamento do CPC, mudou-se para São Paulo e participou da formação do Cebrap em 1969, juntamente com Fernando
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
Luís Inácio Adams, advogado-geral da União
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turibioliberatto@hotmail.com
São Caetano do Sul ● A falta de segurança na cidade do Rio de Janeiro é o retrato do descaso. Vítima agonizando sem ser socorrida é um horror. O presidente Lula disse que não faltarão recursos. Mas de que adianta o dinheiro, se não chega aonde é preciso? Deve-se fazer uma fiscalização intensa nas fronteiras, por onde as armas passam sem a menor dificuldade. Outra providência é enfraquecer o tráfico, sem dinheiro o mercado não se movimenta nem haverá interesse da polícia em pactuar com o crime. A cidade que sediará a Olimpíada está expondo ao mundo o seu coração frágil, dominado pelos bandidos. Não é à toa que estão dizendo que o Rio está “em ponto de
bala” para a Olimpíada. Se São Paulo tem a banda podre da polícia, o Rio tem uma orquestra sinfônica. Daqui a pouco o Cristo Redentor será visto com os braços levantados... Acordem, governos. Antes de pensar em comprar os caças franceses, salvem o povo das balas perdidas e acabem com a indústria das drogas! Mudem as leis e punam os bandidos de colarinho branco e preto! IZABEL AVALLONE izabelavallone@yahoo.com.br
São Paulo ● O problema enfrentado pelo Rio de Janeiro tem um nome: droga. A violência é apenas um reflexo dessa dura realidade.
Henrique Cardoso, Francisco Weffort, José A. Giannotti e Francisco de Oliveira. Carlos Estevam rejeitou a torre de marfim da especialização e dos princípios abstratos sem se converter em mero operador tecnopolítico. Foi um intelectual público, bem próximo daquela figura que o marxista italiano Antonio Gramsci tornou famosa: um agente de atividades gerais que é portador de conhecimentos específicos, um especialista que também é político e que sabe não só superar a divisão intelectual do trabalho, como também combinar “o pessimismo da inteligência e o otimismo da vontade”. Ave rara. Foi também escritor talentoso, que escrevia para ser lido por todos, não somente pelos pares ou iniciados. Publicou dezenas de ensaios sobre história das ideias, política externa brasileira, redemocratização, sistema político, Estado e capitalismo no Brasil. Alguns de seus livros são preciosos, como A Tecnocracia na História (1975), Capitalismo de Estado e Modelo Político no Brasil (1977), O Circuito do Poder (1994). A polêmica foi sua marca registrada, impulsionada por uma inventividade exuberante. Quando, em 1977, saiu Capitalismo de Estado e Modelo Político no Brasil, a discussão correu solta. Choveram aplausos e questionamentos. Passado o primeiro temporal, Carlos Estevam escreveu um artigo em resposta às críticas, A democratização como problemática pós-liberal, publicado pelo Cebrap. Queria ampliar a discussão, explicitar as “alegrias e dores de cabeça” trazidas pelo livro. Elaborou um texto sintomático do seu modo de ser, saudando os “intelectuais capazes de dar o devido valor ao debate de ideias, audazes trapezistas dispostos a passar por cima das divergências de opinião, que sempre existem, para ir buscar a compreensão empática do ponto de vista alheio”. Nele declarava sua disposição de dialogar com a sociedade: “Os mandarins são misantropos, comunicam-se com o público impessoalizado ou com os discípulos, jamais com o próximo.” Foi uma oportunidade de ouro para que se clareassem posicionamentos e estilos: “Nunca consigo fugir à tentação de imaginar que há outros fatos além dos dados disponíveis, assim como não resisto à propensão de supor que qualquer teorização pode ser refeita por meio de mudanças de ênfase, graças à introdução de novos elementos conceituais até então não incluídos na estrutura do marco teórico.” Não duvidava do valor e da utilidade das pesquisas empíricas, mas não admitia que seus resultados pudessem resolver questões e pendências que se alojavam em outras dimensões da vida real. Para ele, o mais impor-
FAX:
(11) 3856 2920
Planoperfeito O inocente cigarro é considerado um mal, praticamente o maior inimigo público, abrindo cada vez mais espaço para a droga, que só cresce. Em complemento, o governo quer que o pequeno traficante não vá para a cadeia. O plano é perfeito. BOB SHARP bobsharp@uol.com.br
São Paulo ● Lula da Silva vai abrandar a pena do pequeno traficante. É preciso avisar ao presidente que o pequeno traficante é empregado do grande traficante. HUMBERTO DE LUNA FREIRE FILHO
M. CAROLINA G. V. DE CAMPOS SALES
hlffilho@gmail.com
mariacarolina.sales@bol.com.br
São Paulo
São Paulo
tante era interrogar o “presente como fluxo”, buscando as “oportunidades, promessas e ameaças que ele encerra para o futuro dos diferentes grupos e classes sociais”. O rigor com palavras e conceitos foi outra de suas preocupações. Numa das últimas intervenções, em 2005, na revista Lua Nova, manifestou sua perplexidade “face ao que se diz e se prega a respeito de democracia, cidadania e temas conexos”. A situação derivada da hegemonia neoliberal e da emergência de uma “nova esquerda romântica” degradara o vocabulário. Em tempos de despolitização, tudo tenderia à diluição. “Nova esquerda” e direita neoliberal se confundem sempre mais e estabelecem “relações homólogas” (isto é, de equivalência, ainda que não de identidade), que ajudam a despojar a política de critérios razoáveis de embate e compreensão. A questão passa a ser a defesa da “sociedade contra o Estado e os partidos políticos”, como se existisse um “Partido Único da Sociedade Civil” que dispensaria tudo o que está
Ave rara, o cientista social Carlos Estevam Martins fará muita falta institucionalizado. Daí a “maldição” lançada contra conceitos e valores essenciais para a democracia: Estado, burocracia, nação, partidos políticos, representação. No lugar deles, formando uma espécie de discurso único, um outro léxico estruturado pela dupla mercado e sociedade civil. Como, então, esperar que a democratização se desenvolva “numa sociedade em que a opinião pública é levada a hostilizar toda uma série de elementos ideais, quadros institucionais e mecanismos operacionais” sem os quais a democracia não pode funcionar? Carlos Estevam Martins foi um “pessimista da inteligência”, mas em nenhum momento deixou de acreditar que seria possível lutar por um futuro melhor, tarefa para a qual seria imprescindível a presença de uma esquerda “menos subdesenvolvida, que não deixe tanto a desejar”. Como escreveu em 2005, nunca teremos “um vigoroso pensamento de esquerda se cada linha de esquerda não tiver o direito de cumprir o seu dever, qual seja, o de explicitar sua identidade, definir seus antagonistas, cultivar sua tradição e criticar e atualizar sua trajetória no campo da teoria, assim como no da prática política”. Fará muita falta. ● Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política da Unesp
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Censura,85 dias Na qualidade de cidadão brasileiro, revoltado com a gritante arbitrariedade que resultou na censura a esse importante órgão da imprensa nacional e internacional, privando-nos do conhecimento de assuntos que interessam a todos nós, pagadores de impostos e eleitores compulsórios; considerando, outrossim, que tal ato fere o Estado Democrático de Direito, consoante pronunciamento de eminentes conhecedores da matéria; considerando, bem assim, que gera a descrença do cidadão brasileiro na Justiça do País; entendendo, ainda, que isso nos iguala às falsas democracias da América Latina, verdadeiras autocracias, onde os direitos e liberdade são sistematicamente violentados; considerando, ainda, que 85
SÁBADO, 24 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
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Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Associação ameaçada
C
om a decisão de suspender as licenças automáticas para a entrada no Brasil de alguns produtos muito sensíveis no comércio com a Argentina, o governo brasileiro começa a responder com mais eficácia às sucessivas medidas de proteção colocadas em prática pelo governo da presidente Cristina Kirchner para conter a entrada de produtos brasileiros em seu país. De nada têm adiantado as concessões na área comercial e os esforços diplomáticos do governo brasileiro para preservar o que chama de parceria estratégica do Brasil com a Argentina, pois, diante de qualquer problema na balança comercial, o governo argentino vem adotando medidas protecionistas sem fazer nenhuma distinção entre seu parceiro estratégico e os demais países. Desde quando, por causa da crise mundial, o governo Kirchner ergueu novas barreiras às importações, com o objetivo de “preservar a indústria nacional e os empregos dos argentinos”, os produtos brasileiros vêm perdendo espaço rapidamente naquele mercado, enquanto cresce na mesma proporção
a fatia ocupada por produtos asiáticos, especialmente chineses. As importações da Argentina, como as de muitos outros países, estão diminuindo, mas diminuem muito mais suas compras de produtos brasileiros do que as de produtos chineses. O exemplo mais recente dessa consequência das restrições impostas pelo governo argentino é o mercado de calçados. Como mostrou reportagem do jornal Valor na terça-feira, o Brasil perdeu a liderança que detinha no mercado de calçados da Argentina. No ano passado, o Brasil produziu 52,9% dos calçados importados pela Argentina, enquanto os calçados asiáticos representaram 45,4%. De janeiro a agosto de 2009, a fatia do Brasil se reduziu para 47,4%, enquanto a dos asiáticos aumentou para 50,9%. Entre 2007 e 2009, a fatia do produto brasileiro no mercado argentino encolheu 13 pontos porcentuais, enquanto a do calçado asiático aumentou 13,6 pontos. Para um funcionário do governo brasileiro, esta é “uma evidência clara” de que, por causa das medidas protecionistas da Argentina, está havendo um
A falta de moradias
A
região metropolitana de São Paulo concentra 10% do déficit habitacional brasileiro. Há 628.624 famílias esperando por moradia na capital e nas 38 cidades vizinhas, cerca de metade das que estão na mesma situação em todo o Estado. Na cidade de São Paulo, essas famílias estão, na maior parte, abrigadas em barracos em mais de 1,5 mil favelas e em mil loteamentos irregulares. Essas concentrações de submoradias se formam em áreas de mananciais, nas margens de córregos, em fundos de vales inundáveis e em encostas, onde o esgoto corre a céu aberto e água potável e luz chegam clandestinamente aos moradores. No ano passado, a população das favelas paulistanas aumentou 4%, duas vezes mais do que o crescimento vegetativo da cidade no período, conforme dados da Secretaria Municipal da Habitação. Os governos federal, estadual e municipal têm procurado formular políticas habitacionais que facilitam o acesso ao crédito para a população de baixa renda (90% das famílias que esperam por moradia ganham até três salários mínimos). Mas não conseguem evitar que, principalmente, na região metropolitana de São Paulo, a periferia se pulverize, tornando o atendimento mais difícil, os serviços públicos mais caros e a agressão ao meio ambiente maior. Na Bacia da Represa de Guarapiranga, onde há 200 mil domicílios, 40 mil despejam esgoto diretamente nas águas do manancial que abastece 4 milhões de moradores
da região metropolitana de São Paulo. No ano passado, a Prefeitura anunciou investimentos de R$ 1,7 bilhão no Programa de Urbanização de Favelas, no prazo de três anos. Do total, R$ 842 milhões são do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), R$ 482 milhões da Prefeitura e o restante do BID, da CDHU e da Sabesp. Em setembro, em visita a um evento do mercado imobiliário, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, anunciou que os financiamentos para a habitação atingirão R$ 38 bilhões neste ano. Segundo
Uso de imóveis ociosos poderia ajudar a minorar o problema ela, é “factível” erradicar o déficit de 8 milhões de moradias no País no prazo de 15 anos e o programa Minha Casa, Minha Vida é o caminho. Na região metropolitana de São Paulo, o programa está longe de trazer resultados. O Minha Casa, Minha Vida dá subsídio de R$ 52 mil para habitações destinadas a famílias que ganham até três salários mínimos e tem alcançado relativo sucesso em capitais do Nordeste, onde o custo dos imóveis é bem mais baixo do que na capital paulista e vizinhanças. Em entrevista ao Estado, o presidente do Sindicato da Habitação, João Crestana, estima que aqui o subsídio deveria ser de pelo menos R$ 72 mil. Mais uma vez, o governo federal falha ao dar tratamento homogêneo a regiões
desvio de comércio, em prejuízo do produto brasileiro. Este fenômeno, que beneficia os produtos chineses em detrimento dos brasileiros, vem sendo apontado pela indústria há meses. Recente estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre os efeitos das medidas protecionistas da Argentina mostrou que, “no período de janeiro a abril de 2009, comparativamente ao mesmo período de 2008, o market share do Brasil no grupo de produtos atingidos por licenças não automáticas caiu de 42% para 31,5%, enquanto a China expandiu sua participação de 21,5% para 30,5%”. Em janeiro, a Argentina estendeu para os pneumáticos a suspensão da licença automática de importação, que até então afetava 58 produtos. A restrição, hoje, atinge mais de 260 produtos. Entre os produtos brasileiros que dependem de licença não automática para entrar na Argentina, além dos calçados, estão cutelaria, móveis, máquinas debulhadoras, eletrodomésticos de linha branca e têxteis. Em resposta, o governo brasileiro suspen-
deu, desde o dia 14 de outubro, as licenças automáticas de importação para farinha de trigo, pré-mistura de trigo, vinhos, alho, azeite, azeitonas, alguns outros itens alimentares e rações animais provenientes da Argentina. Se pelo menos estimulasse a ampliação da indústria local, dando-lhe mais competitividade – como o governo Kirchner alega ser seu objetivo –, e fosse temporário, o protecionismo argentino seria até compreensível. Mas não há sinais de investimentos produtivos. Desde o início da década, como lembrou a economista Sandra Polónia Rios, diretora do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, em artigo publicado pelo Estado na terça-feira, Brasil e Argentina “seguem caminhos opostos em sua estratégia de inserção internacional”. O Brasil aumenta sua integração à economia global e ganha projeção nos foros econômicos mundiais, enquanto a Argentina adota atitudes defensivas e se isola na tentativa de se industrializar. Não pode sobreviver por muito tempo uma associação em que os sócios caminham em sentidos opostos, mesmo que um deles, o Brasil, tenha sido tão tolerante com o outro por tanto tempo.
O nó eleitoral afegão distintas do País. Por sua vez, o governador José Serra assinou, em dezembro, o decreto que sanciona o Fundo Garantidor Habitacional (FGH). São Paulo foi pioneiro na criação do fundo, inspirado nas experiências de países como México e Chile. O governo se colocou como avalista nas aquisições e financiamentos feitos para famílias de baixa renda por agentes imobiliários do setor privado. A intenção é reduzir os riscos de inadimplência e, assim, estimular maior participação da indústria imobiliária. De acordo com a nova regra, 20% dos recursos serão destinados às famílias com renda entre cinco e dez salários. Os 80% restantes atenderão aquelas que recebem até cinco salários mínimos. Economistas e urbanistas consideram que a parceria entre o setor privado e o governo custará muito a evoluir. Imóveis desse tipo oferecem margem de lucro muito pequena na venda. O mercado imobiliário só começou a atender a classe média no início desta década e demorará anos para se interessar pelas classes de menor renda. Para fugir dos custos da construção, da falta de terrenos disponíveis e da burocracia, ganha força a ideia de reutilização dos imóveis ociosos. Na capital há 400 mil unidades vagas nos bairros com melhor infraestrutura. A redução da burocracia e dos impedimentos legais para o uso social desses imóveis facilitaria a solução do déficit habitacional.
O
presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, é um intrincado problema para os Estados Unidos. Já não bastassem a corrupção e o autoritarismo de seu governo, que auxiliou o Taleban a recrutar simpatizantes, ele procurou se reeleger no pleito de 20 de agosto graças a uma fraude colossal. Um comitê fiscalizador credenciado pela ONU acabou anulando mais de 900 mil dos 2,1 milhões de votos que, se fossem validados, manteriam Karzai no poder sem a necessidade de um segundo turno. A depuração das urnas reduziu a sua maioria de 54% para 49% do total. O seu principal adversário, o ex-chanceler Abdullah Abdullah, viu o seu porcentual aumentar de 28% para 32%. Sob intensa pressão dos EUA e da Grã-Bretanha, Karzai concordou com a realização do segundo turno que ele tentara evitar por todos os meios. Fez um discurso dizendo que era hora de seguir em frente, mas silenciou sobre a extravagante lambança que patrocinara. Os seus aliados ocidentais participaram da farsa. O presidente Barack Obama afirmou que a decisão de Karzai estabeleceu um precedente importante para “a nova democracia afegã”. O primeiro-ministro Gordon Brown o chamou de “estadista”. A eleição foi marcada para 7 de novembro. A urgência se explica pela aproximação do inverno, que lá é rigoroso. Mas nada garante que as autoridades consigam organizar o escrutínio em um par de semanas nem que os partidários de Karzai deixem de recorrer à fraude.
Por fim, é certo que o Taleban tentará novamente aterrorizar os eleitores. Em agosto, mais de 20 foram mortos em atentados. Enquanto o nó eleitoral não for desfeito, Obama terá escassas condições de anunciar a sua esperada estratégia para mudar o rumo da guerra que os EUA travam há oito anos contra a Al-Qaeda e os seus apoiadores taleban. Washington precisa ter certeza de contar em Cabul com um parceiro dotado de credibilidade antes de decidir se enviará novas tropas ao país. O comandante dos EUA no Afeganistão, general Stanley McChrys-
Só sob intensa pressão Karzai concordou com o segundo turno tal, defendeu o envio de mais 40 mil homens, o que elevaria a cerca de 110 mil o total de soldados americanos em solo afegão. A ideia foi rechaçada pelo vice-presidente Joe Biden e por líderes do Partido Democrata. Os republicanos a apoiam entusiasticamente. Enquanto Obama promove sucessivas reuniões do seu conselho de guerra, em busca de uma saída para o atoleiro que ameaça transformar o Afeganistão em um segundo Vietnã, pesquisas indicam que apenas 40% dos americanos apoiam o engajamento dos EUA naquela que o presidente considera “uma guerra necessária” (por oposição à “guerra de escolha” no Iraque). O governo americano considera que o Afeganistão é o santuário da Al-Qaeda – que representa uma ameaça
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
dias não foram suficientes para revogar uma liminar concedida em 24 horas por um magistrado considerado impedido posteriormente, sem que o ato praticado o fosse, entendo que a sociedade civil deste país deveria promover um manifesto ao Poder Judiciário solicitando, rigorosamente dentro da ética, da lei e da ordem democrática, a urgentíssima revogação da referida censura. ÁLVARO RAMOS addi@addi.com.br
São Paulo
Justiçadesacreditada Se para proteger o filho de uma pessoa incomum o Judiciário comete absurda arbitrariedade contra o Estado, jornal dos mais conceituados e respeitados tanto no
País como no exterior, com a censura que se arrasta há quase três meses, o que podemos esperar nós, os comuns, desse Poder? JUNIA VERNA FERREIRA DE SOUZA juniaverna@uol.com.br
São Paulo
Passeatas Está mais que na hora de o povo brasileiro se unir e promover passeatas nas capitais do Brasil contra a censura ao Estado, que está chegando aos cem dias, em pleno início do século 21! E também se unir contra a visita, prevista para o início de novembro, do presidente Ahmadinejad, do Irã, que reiteradas vezes disse que quer destruir Israel e renega o Holocausto, um absurdo. Um país que se diz democrático não se pode
“
E cadê a CPI da Petrobrás? Foi para o lado obscuro do cérebro dos políticos também?!”
AnaPrudente ana_prudente@uol.com.br SãoPaulo
dar ao luxo de receber um homem com esse perfil nefasto e, ainda, ter um grande jornal sob censura. LINEU M. DIAS DE LIMA lmd@matrix.com.br
Paraíso
Despotismo Leitura obrigatória para os amantes da democracia e que se preocupam com o futuro do País os ar-
tigos de Cecilia Sosa e Rolf Kuntz (22/10, A2 e B2). Faço a relação entre os textos porque, enquanto a primeira desnuda a ditadura camuflada vivida na Venezuela, o segundo descreve com precisão cirúrgica o comportamento despótico do rei Lula. Considerando o apreço de nosso presidente à lei, os ditames do Foro São Paulo e que os cumpanheros Morales, Correa, Chávez, Ortega e o nem tanto hermano Uribe rasgaram a Constituição para se eternizarem no poder, confirmando a tradição golpista da América Latina, devemos pôr nossas barbas de molho, ainda mais diante do pífio desempenho nas pesquisas de sua candidatíssima, e em plena campanha eleitoral. Congresso ajoelhado ante a sua popularidade para alterar a Constituição já temos...
real ao mundo –, embora deva existir mais terroristas da facção no Paquistão, no Iêmen e mesmo na Somália do que no próprio Afeganistão. Por isso mesmo, argumentam os opositores do plano de McChrystal, o certo seria concentrar as operações para dizimar a organização terrorista e tratar o Taleban estritamente como um problema interno afegão. A questão é saber se é possível dissociar os dois movimentos. E, ainda que fosse, argumentam os céticos, se a estratégia americana se limitar a ações de contraterrorismo a cargo de forças especiais e de aviões não tripulados, o Afeganistão mergulhará numa guerra civil entre militantes e inimigos do Taleban. O conflito transbordará de vez para o vizinho Paquistão, onde a Al-Qaeda também se instalou. O que leva a perguntar se Obama tem realmente escolha. Mas a intensificação da presença militar americana, com vistas a retomar a iniciativa no terreno, depende vitalmente do tipo de governo a que os EUA se associem, para não parecer aos afegãos uma ocupação imposta por uma potência colonial, mas uma força destinada a estabilizar o país e proporcionar segurança aos seus habitantes. Nesse sentido, o respaldo a Karzai, com a sua corrupção em escala industrial e intimidação sistemática dos líderes tribais, não poderia ser mais contraproducente. “A insurgência liderada pelo Taleban”, observou dias atrás o colunista Thomas Friedman, do New York Times, “é cada vez mais uma insurreição contra o comportamento do governo Karzai.” Poderão os EUA mudar esse padrão?
MARCOS JOSÉ DE FREITAS E SILVA
Palmeiras
Sarney: “Não se pode fazer reforma em 24 horas.” E em 12 meses?
Presidente Belluzzo, futebol não é igual a política. Não se pode demorar para decidir. Do jeito que o time do Palmeiras jogou contra o Santo André, o Muricy Ramalho tinha de ter sido demitido no intervalo do jogo, no campo, na frente de toda a torcida que, suadamente, pagou o preço do ingresso desse jogo. Parecia que estava dirigindo o Palmeiras pensando na classificação do São Paulo. Ganhar o que ele ganha para dirigir um time completamente desnorteado, inseguro e sem nenhuma opção tática é um absurdo. O Palmeiras ainda é líder. Faltam oito rodadas e, se nenhuma atitude for tomada já, nem para a Libertadores iremos.
ROBERT HALLER
ROBERTO GERAB
robelisa@click21.com.br
gerab@ajato.com.br
São Paulo
São Paulo
marcosjfreitas@uol.com.br
Praia Grande
CPIs Será instalada uma CPI para investigar o MST. Por falar em CPI, alguém sabe informar qual foi o resultado da CPI da Petrobrás? Os nossos políticos parece que estão brincando de governar... VIRGÍLIO MELHADO PASSONI mmpassoni@gmail.com
Osasco
Reformas
A10 NACIONAL
SÁBADO, 24 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 85 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Júri do Prêmio Esso 2009 repudia censura
na de multa diária. Segundo o editor do jornal, Oswaldo Vivani,todosos recursos apresentados foram negados.
Comissão vê ‘aplicação distorcida dos princípios legais’ para manter ‘Estado’ sob mordaça De acordo com a comissão, o encaminhamento do processo pelo Tribunal de Justiça do DistritoFederal(TJ-DF),que manteve a censura mesmo após declarar suspeito o desembargadorDácio Vieira eremeteu ocaso à Justiça do Maranhão, é uma “aplicação distorcida dos princípios legais para evitar que a divulgação de fatos em apuração pela Polícia Federal sejam tornados públicos”.
Roberto Almeida
A Comissão de Seleção dos trabalhos concorrentes ao Prêmio EssodeJornalismode2009,formada por 25 jornalistas, entre eles integrantes de equipes dos maiores jornais brasileiros, declarou “repúdio, protesto e preocupação” com a censura ao Estado e atacou decisões judiciais que amordaçam jornais em todo o País.
O Estado está impedido de publicar informações a respeito da Operação Boi Barrica, da PF, que indiciou Fernando Sarney,filhodopresidentedoSenado José Sarney (PMDB-AP). As conversastelefônicasentreFernando e o senador, gravadas com autorização judicial, foram retiradas do site estadao. com.br. Tal prática judicial, segundo a comissão, é usual e acaba aco-
bertando crimes cometidos por agentes públicos. “(A prática) Tem sido usada com frequência para manter privilégios e ocultar métodos pouco claros de gestão do bem público, muitas vezes confundido e tratado como se privado fosse.” Acomissão lembra ainda que sentenças contra jornais menores, nos grotões do País, causam,pordiversas vezes,que encerrem suas atividades. “Tal
pressão é ainda muito forte, principalmente, em pequenos jornais, muitas vezes submetidos a processos e sentenças indenizatórias que chegam a inviabilizarasuaexistência”,anota o grupo. O Jornal Pequeno, notório opositordoclã Sarney noMaranhão, também está sob censura. Uma reportagem sobre a Operação Boi Barrica teve de ser retirada de seu site, sob pe-
NOVO RECURSO
O Estado, amordaçado há 85 dias, vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para derrubaracensura.Oúltimorecurso apresentado no TJ-DF não impediu que o processo fosse remetido para o Maranhão. Nabatalhajudicialquejáchega a quase três meses, o Estado recebeu o apoio de organizações internacionais, como a Associação Mundial de Jornais, da Sociedad Interamericana de PrensaedaOrganizaçãodosEstados Americanos. ● ÍNTEGRA DA NOTA
B R E V E
L A N Ç A M E N T O
Original na localização, único na concepção. Foto aérea da região
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●● ● “A Comissão de Seleção dos trabalhos concorrentes ao Prêmio Esso de Jornalismo de 2009 vem manifestar o seu repúdio, protesto e preocupação com a censura judicial imposta ao jornal O Estado de S. Paulo, por ter este noticiado a trajetória e os negócios do filho do ex-presidente da República e presidente do Senado, José Sarney. Não se trata de reivindicar imunidade nem de considerar a imprensa acima de lei, mas de apontar uma aplicação distorcida dos princípios legais para evitar que a divulgação de fatos em apuração pela Polícia Federal sejam tornados públicos. Sob os mais diversos argumentos tal prática têm sido usada com frequência para manter privilégios e ocultar métodos pouco claros de gestão do bem público, muitas vezes confundido e tratado como se privado fosse. Tal pressão é ainda muito forte, principalmente, em pequenos jornais, muitas vezes submetidos a processos e sentenças indenizatórias que chegam a inviabilizar a sua existência.”●
+ 9 JUSTIÇA ELEITORAL
Prefeito de Praia Grande fica no cargo O prefeito de Praia Grande (SP), Roberto Francisco dos Santos (PSDB), e o vice, Arnaldo Amaral (PSB), conseguiramontem liminardo Tribunal Regional Eleitoral que suspende a sentença de cassaçãode ambos.OdesembargadorFlávio Yasrshell considerou os fundamentos do pedido “relevantes ao ponto de suscitar dúvida ponderável acerca dos acertos das graves sanções impostas” a eles.
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Prefeituras fecham em protesto por FPM
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Cerca de 80% das prefeituras demunicípiosdooestepaulista fecharam na tarde de ontem em protesto contra a redução de 25% no repasse pela União do Fundo de ParticipaçãodosMunicípios(FPM).“É caótica a situação financeira das prefeituras menores”, afirmou Alberto Cesar CenteiodeAraújo(PSDB),prefeito de Rancharia. O FPM representa 60% da arrecadaçãodospequenosmunicípios. OPERAÇÃO PACENAS
PF conclui inquérito e indicia 22 pessoas APolíciaFederalconcluiuontem o inquérito da Operação Pacenas,quedesarticulousuposta quadrilha envolvida em fraudes de licitações do PAC em Mato Grosso, e indiciou 22 pessoas. Servidores, agentes do governo e empresas estariam envolvidos no esquema, que pode ter desviado até R$ 6 milhões. Seus bens estão bloqueados. As 13 peças do inquérito foram encaminhadas à 1ª Vara da Justiça Federal.
SÁBADO, 24 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A11 A11
IMPRENSA
‘Estado’ é finalista em prêmio com caso Sarney e Araguaia Os dois trabalhos estão entre os 38 selecionados do total de 520 inscritos Duas séries de reportagens publicadas por O Estado de S.Paulo são finalistas da 54ª edição do Prêmio Esso, o mais prestigiosodo jornalismobrasileiro. Dos atos secretos aos secretos atos de José Sarney, realizadapelosrepórteresLeandroColon,Rodrigo Rangele Rosa Costa, escancarou a farra de cargosnoSenado econcorre aoEsso de Reportagem. Araguaia, do repórter Leonencio Nossa,
PECs tentam restabelecer exigência de diploma Vannildo Mendes BRASÍLIA
Com o apoio de uma frente parlamentar, que soma 241 adesões, avançam no Congresso duas Propostas de Emenda Constitucional (PECs),umana Câmaraeoutra no Senado, para restabelecer a exigência de curso superior para o exercício da profissãodejornalista, abolida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em junho. De autoria do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), a PEC da Câmara tem 191 assinaturas e entrou na pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para ser votada em regime de urgência na próxima semana. Com 50 assinaturas,a doSenado,do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), foi submetida a audiência pública e está quase pronta para ir a voto. O senador Inácio Arruda (PC do B-CE), relator da PEC do Senado, antecipou que dará parecer favorável à constitucionalidade da proposta. Em ambas as Casas a proposta tem de ser votada em dois turnos e precisa de dois terços dos votos para ser aprovada. Arruda opina que até o fim do próximo ano a questão estará resolvida no âmbito legislativo. Emsuadecisão,oSTFconsiderou inconstitucional o Decreto-Lei 9.672, editado em 1969 pelo regime militar, que exigia o diploma de comunicação para o exercício do jornalismo. O tribunal entendeu que o decreto feria o princípioconstitucionaldaliberdade de expressão. As duas PECs reintroduzem a exigência, mas agora como dispositivo da Constituição, não mais como lei ordinária. Os dois textos abrem espaço para a atuação de não jornalistas nos meios de comunicação. ‘QUESTÃO DECIDIDA
O diploma de jornalista é “uma questão já decidida”, disse a presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Judith Brito, em artigono jornalValor Econômico, de 21 de outubro. “Em junho, o STF decidiu que essa legislação é totalmente incompatível com a Constituição de 88, por ir contra o princípio maior da liberdade de expressão. Agora, pretende-se colocar dentro da Constituição aquilo que a mais alta Corte do país definiu como inconstitucional.” O projeto do Senado traz um parágrafo que abre exceções. Uma permite a presença nas redações da figura do colaborador, não diplomado. A outra beneficia jornalistas provisionados que obtiveram oregistroespecialdoMinistério do Trabalho. Para parlamentares, constitucionalizar o tema é uma forma de obrigar o STF a rediscutir a exigência de diploma. “É como um segundo turno, para que o STF tenha a chance de rever esseequívoco”,disseodeputado Flávio Dino (PC do B-MA), da frente parlamentar. ●
abriu os arquivos do Major Curió sobre a guerrilha e concorre na categoria Prêmio Esso Regional Sudeste. Os trabalhos foram selecionados por uma comissão de 25 jornalistasincumbidosdeanalisar 520 reportagens inscritas. A série sobre os atos secretos teve início dia 10 de junho com a manchete Senado usou 300 atos secretos para beneficiar amigos, assinada por Leandro Colon e
Rosa Costa. O arquivo de Curió, em reportagem de Leonencio Nossa, apareceu pela primeira vez nas páginas do Estado no dia 21 de junho. O caso dos atos secretos concorre com Voo Air France 447, publicado na revista Época, e Cura Falsificada, do jornal Estado de Minas. A reportagem do Araguaia disputa com Pecados da Arquidiocese, do jornal O Dia, e Democracia nas Favelas, do jornal O Globo.
O Esso, que surgiu em 1955, é omaistradicionalprêmiodojornalismo brasileiro. São escolhidos os melhores trabalhos em reportagem, fotografia, criação gráfica e telejornalismo. Cerca de 20 mil trabalhos já foram analisados. Ambas as séries do Estado causaram grande repercussão. Os atos secretos do Senado resultaram em forte crise institucional, já que grande parte dos
beneficiários dos boletins sigilosos era de familiares do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).Sobguaridadopresidente Luiz Inácio Lula da Silva, Sarney ficou no cargo, mas por pressão da opinião pública foiobrigadoaanulartodasasnomeações. Enquanto Sarney se defendiadatribuna,oentãodiretor-geraldaCasa,AlexandreGazineo, foi exonerado, o que já havia acontecido com Agaciel Maia, que caiu em março. A série sobre os atos secretos chegou até o Maranhão. Nosautos da OperaçãoBoi Barrica, da Polícia Federal, constavamdiálogosemqueoempresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, discutia a nomeação de seus parentes para cargos no Parlamento. A publicação da reportagem marcou o fim da série. No dia 31 dejulho,FernandoSarneyobteve liminar do desembargador
Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que resultou na censura ao Estado, que está amordaçado até hoje. Ao mesmo tempo em que a sociedade discutia a crise ética que vivia o Senado, a guerrilha do Araguaia ganhava novos capítulos nas páginas do Estado. Os arquivos de Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o Major Curió,quepermaneceramguardados por 34 anos, trouxeram à tonaaexecuçãode41guerrilheiros – até então eram conhecidos25casos.Areportagemcausou reação de entidades de direitos humanos, que já haviam pressionado por nova expedição a Xambioá, no Tocantins, e Lula pediu que arquivos fossem analisados. A série de matérias forçou o governo a reconhecer comosendodoguerrilheiroBergsonGurjãoFarias, umadasossadas que estavam nos armários do Ministério da Justiça ●
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o estado de s. paulo
Edição das 23h15
DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
feminino
15.665
Charme dos velhos tempos
(1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
25 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42376
CULTURA
CLASSIFICADOS
JULIO MESQUITA
é o total de ofertas
Osertão é cenário de um dos bons filmes da Mostra de SP, relata Luiz Zanin Oricchio. E é tema de livro do fotógrafo Araquém Alcântara, que captou em Canudos imagens comoa deste sertanejo. ●
8.704
anúncios classificados
A atriz Débora Fallabela gosta de se vestir com a cara dos anos 50 e 60. ●
q COMPORTAMENTO
As crianças de três culturas Elas têm pais de nacionalidades diferentes e ainda moram em outro país. ● PÁG. A22
FELIPE RAU/AE
FOTOS JF DIORIO/AE
País deve conter gastos para crescer, diz chefe do BNDES
Dilma fica no cargo até o último dia permitido
Para Luciano Coutinho, alta de despesa com custeio atrapalha investimento
A ministra Dilma Rousseff ficará no cargo até o último dia permitido pela lei eleitoral, 3 de abril. A decisão contraria o roteiro definido pelo PT. O partido queria que ela antecipasse a saídaparafevereiro, quandoserá aclamada candidata à Presidência. O Planalto, porém, avalia que Dilma deve aproveitar ao máximo a vitrine ministerial, visitando obras federais e pegando carona na popularidade do presidente Lula. ● PÁG. A4
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, defende o corte de gastos de custeio do Estado para elevar a capacidade de investimento do Brasil. Em entrevista a David Friedlander e Ricardo Leopoldo, Couti-
nho,quegerencia umainstituição financeira com R$ 100 bilhões para aplicar, diz que será necessário investir o equivalente a 25% do PIB ao ano nos próximos tempos para manter a prosperidade brasileira – a taxa atual é de 18%. Essa mudançadepatamar, afirmaCou-
LITORAL NORTE
tinho, fará com que o Brasil cresça 6% ao ano de forma sustentada, sem alta da inflação. Além da contenção dos gastos, Coutinho defende a reforma da Previdência Social e a maior participação dos bancos privados no financiamento de longo prazo. ● PÁG. B1
Mais governo nas empresas ●● Um estudo do Ipea revela os laços de dependência dos principais grupos nacionais em relação ao Estado. Entre as 30 maiores multinacionais
brasileiras, quase todas obtiveram empréstimos do BNDES e 20 têm participação estatal,informa FernandoDantas. ● PÁG. B3
Uruguai vai às urnas hoje sob a sombra do passado
PROTESTO: TRAGÉDIA, SEGUNDO ATO
A obra que nem todos querem
O
plano de expansão do porto de São Sebastião, no litoral norte paulista, orçado em R$ 5 bi, tem deixado apreensivos os moradores do município. ● PÁG. B10
Ariel Palacios ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU
O Uruguai escolhe hoje seu novopresidenteentreumex-guerrilheirotupamaro,umex-presidente e o filho de um ex-ditador. A volta ao passado assombra o país que discute os crimes da ditadura militar. ● PÁGS. A16 e A17
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 86 DIAS q PÁG. A14
NOTAS E INFORMAÇÕES
Lula não admite nenhuma responsabilidade pelos obstáculos enfrentados na realização de projetos. A culpa é sempre dos outros. ● PÁG. A3
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ALIÁS
FÁBIO MOTTA/AE
Lula e o desconforto das leis
Violência reforça paradoxos do Rio ●● Para Carlos Lessa, a cida-
de sintetiza a glória dos anos 50 e a tristeza atual. ●
Gripe suína Tempo: CAPITAL
27º
MÁX.
Obama declara emergência nacional
● PÁG. C2
18º
Sol pela manhã e, à tarde, pancadas de chuva.
MÍN.
●●● Em Copacabana, manifestantes lembram o episódio do corpo abandonado em carrinho; 10 chefes do tráfico foram transferidos para MS. PÁG. C4
atendimento em caso de pico dadoençanosEUA. ● PÁG.A25
ESPORTES Tiragem: 301.976 Hoje: 252 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 6 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 44 ● F. Feminino: 20 ● Ca. Autos: 30 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 36 ● Co. Oportunidades: 10
7 8 9 10 11 12
●● Medida preventiva facilita
ARTIGOS
Rodada que pode embolar tudo Dos 14 times que estarão em campo hoje pelo Campeonato Brasileiro,11 precisamganhar seus jogos, quer para brigar
pelo título, quer para evitar o rebaixamento. A tensa rodada inclui clássicos, como Santos x São Paulo. ● PÁGS. E1 a E3
JORGE CASTAÑEDA
TIMOTHY GARTON ASH
Obama pode ser um grande presidente progressista, ou um grande presidente negro – mas não pode ser ambos. Mas quer e deve sê-lo. ● PÁG. A19
A oposição de Margaret Thatcher à unificação da Alemanha mostrou deslealdade, falta de respeito e miopia da primeiraministra britânica. ● PÁG. A18
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Justiça
A luta para ter os filhos de volta ●● Famílias de Itaquaquecetuba (SP) contestam perda de pátrio poder. ● PÁGS. C1 e C3
%HermesFileInfo:A-14:20091025:
A14 NACIONAL
DOMINGO, 25 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 86 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Artigo
A censura está de volta Roberto
Muylaert*
N
os 20 anos em que durouoregimemilitar,nãoeranecessário ser de extrema esquerda para se defrontar com a censura a cada passo – como empresário editorial, profissional de imprensa ou mesmo como leitor. As notícias proibidas pelos censores não podiam ser deixadas em branco no jornal, assim como não era permitido fazer menção no próprio veículo censurado às restrições impostas
às redações, onde um censor tinha sempre cadeira cativa. FoiquandosurgiramosfamosostrechosdeOsLusíadas,deCamões,noEstadodeS.Pauloeas receitas culinárias no Jornal da Tarde em substituição aos parágrafos eliminados pela censura. Na televisão, os produtores precisavam assistir aos programas novos, ainda não exibidos, com um censor sempre ao lado, quepoderiainterromperaexibiçãoaqualquermomentoparaesclarecimentos e exigência de mudanças. NoprogramaVoxPopuli,criadopormimeCarlosQueirozTelles na TV Cultura, na década de 70, a entrevista sensação seria a de um metalúrgico carismático, líder sindical de São Bernardo do Campo (SP), em sua estreia
JUAN GUERRA/AE-1/10/2009
ALERTA – Muylaert vê ‘clara violação do direito de livre expressão’
na televisão. Era o primeiro programa de entrevistas na TV permitido pelo regime militar, que partia do princípio de que, ao aprovar um programa como aquele, em emissora com audiência restrita, estaria mostrando certa liberalidade em relação ao controle que exercia sobre as mídias, ao mesmotempoemquecorria risco tolerável, não tão grande quanto se a transmissão fosse numa emissora comercial. Aquele Vox Populi era aguardado com expectativa pelas autoridades do governo, que desejavam descobrir o que passava na cabeça daquele líder que julgavam de extrema esquerda, chamado Lula, e que riscos estariam correndo quando ele expusesseseuspontosdevistaeasua
oratória na TV. No estúdio da TV Cultura, num domingo à noite, com a emissoraquasedeserta,enquantoseaguardava,porviadasdúvidas, o início da transmissão do programa já gravado, irrompe um oficial do corpo de paraquedistas exigindo, enérgico, a fita do programa, que, segundo ele, não iria ao ar de forma alguma. Depoisdeváriostelefonemas para as autoridades que aguardavam a transmissão, mais a interferência do governador de SãoPaulo,oprogramafoioficialmente liberado e exibido ao impaciente oficial, que precisou se conformar, bastante irritado, com a situação de fato, embora ele fosse um livre atirador, agindo por conta de um grupo que não concordava com esse tipo
de abertura. Outro fato testemunhado porinúmerosjornalistasfoioenterro de Vladimir Herzog, conduzido com muita rapidez para evitar incidentes e presenciado por alguns presos que estavam sendo torturados nos quartéis, simultaneamente a Herzog, e que foram conduzidos à cerimônia, por tempo reduzido, apenas para provar que estavam vivos. No culto ecumênico de sétimodiadeHerzog,nacatedralda Sé, ninguém estranhou quando um “acidente” interrompeu o trânsito na Av. Nove de Julho e limitou o grande afluxo de pessoas que se dirigiam à Sé. Assim como foi considerado compatívelcomasituaçãopolíticaalgunsandaresde umedifício comercialcontíguoàcatedralestarem ocupados por uma dezena de fotógrafos oficiais, cuja missãoerafazeroregistrodetodos os que chegavam à missa. Todasessasperipéciasprecisavam ser encaradas, na época, por aqueles que deviam conviver com as restrições, por obrigação profissional, num regime de exceção. Mas agora, num Estado democrático de Direito, torna-se quaseimpossívelentenderacensura imposta há três meses ao jornal O Estado de S. Paulo, proibido de divulgar informa-
ções sobre Fernando Sarney – filho do senador José Sarney –, indiciado pela Polícia Federal por falsificação de documentos para favorecer empresas em contratos com estatais. Umaclaraviolaçãododireito delivreexpressão,garantidopela Constituição brasileira e por convençõesinternacionaissubscritas pelo Brasil. O processo foi transferido para a Justiça Federal de primeira instância do Maranhão,capitaniaemqueafamília Sarney exerce reconhecida influência. Fica assim conspurcado odireito da sociedade brasileira à livre informação sobre assuntos de interesse público, numa situação esdrúxula, em que a censura prévia dos tempos da ditadura parece ressurgir das cinzas, com renovado e descarado vigor, em pleno regime democrático. ●
*Roberto Muylaert , de 74 anos, é jornalista, editor, escritor e presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas (ANER). Presidiu a TV Cultura de São Paulo (1986 a 1995) e foi ministrochefe da Secretaria da Comunicação Social (1995, governo FHC) † Este artigo foi originalmente publicado na ‘Folha de S. Paulo’ na sexta-feira, dia 23
●
o estado de s. paulo
Edição das 0h30
SEGUNDA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
26 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42377
Atentado mata 132 no Iraque
MOHAMMED AMEEN/REUTERS
Na ação mais violenta em dois anos, prédios do governo foram destruídos
CAOS EM BAGDÁ – Prédio do Ministério da Justiça, em uma das zonas consideradas mais seguras da capital iraquiana, foi arrasado
Dois carros-bomba explodiram quase ao mesmo tempo ontem de manhã, no centro de Bagdá, deixando 132 mortos e cerca de 500 feridos. Foram atingidos o prédio do Ministério da Justiça e a prefeitura de Bagdá, que ficam perto da Zona Verde, a região mais segura da cidade, onde estão embaixadas e ministérios. Autoridades do país atribuíram o atentado ao grupo radical Al-Qaeda. “O objetivo é
Varejo vê crise superada e investe pesado em 2010 Pesquisa mostra que 75% das empresas colocarão até 10% a mais no negócio Abrir mais pontos de vendas e centros de distribuição, além de reforçar os estoques, é o que está nos planos das empresas varejistas para 2010. Pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, obtida
com exclusividade pelo Estado, mostra que 97% das empresas da região metropolitana, o principal mercado consumidor doPaís,vãoampliarinvestimentos no ano que vem. A maioria delas (75%) pretende elevar em
até10%ovolumedeinvestimentos, em comparação com 2009, e15%dasempresasplanejaminvestir até 20% mais. Outras 7% esperam investir mais de 20% no ano que vem. Há otimismo também em outros Estados.
NOTAS E INFORMAÇÕES
O fracasso do biodiesel Criado há 5 anos para, como disse Lula, ser “uma chama no coração” dos nordestinos, programa está se apagando. ● PÁG. A3
●●●
Tempo: CAPITAL
24º
MÁX.
● PÁG. C2
19º
MÍN.
Uma nova frente fria traz chuva e diminui a temperatura.
Hoje: 62 páginas A. 1º caderno: 14 ● B. Economia: 12 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 8 ● L. Link: 10 ● Cl. Classificados: (195 anúncios)
7 8 9 10 11 12
Veículos apreendidos viram sucata em São Paulo Cerca de 30 mil carros, motos e caminhões, recolhidos pelapolícia porcausa de multas não pagas, IPVA atrasado e outras irregularidades, aguardam destino em 38 pátios particulares na capital. Semdefiniçãosobreoquepode ser leiloado, muitos pegamfogo,têmpeçasfurtadas ou desaparecem. O MP Estadual investiga o caso. ● PÁG. C1 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 87 DIAS q PÁG. A7
atingir o governo”, afirmou o presidente iraquiano, Jalal Talabani. Entre as vítimas estão muitos pedestres, além de funcionários públicos e hóspedes de um hotel próximo. ● PÁG. A9
Disputa no Uruguai deve ir para o 2º turno Ariel Palacios ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU
Pesquisas de boca de urna da eleição presidencial uruguaia, divulgadasapósavotaçãodeontem,indicavamvitóriadocandidatogovernista,JoséPepeMujica, com índices entre 47% e 49% dosvotos.Seconfirmadooficialmente, o resultado levará a disputa para 2º turno. ● PÁG. A8
Tudo novo de novo, daqui a cinco anos
leira continuarão sendo reinvestidos no País. Em novembro, ele virá ao Brasil anunciar novos planos. O executivo prevê que, nos Estados Unidos, a empresa esteja pronta para a abertura de capital no segundo semestre de 2010. ● PÁG. B9
●● Caderno faz 5 anos e prevê salto de evolução tecnológica para os próximos 5. ●
Investigação
Mulher morre após passar mal em voo ●● TAM diz que serviço de emergência da Infraero demorou 25 minutos. ● PÁG. C3 MÁRCIO FERNANDES/AE
Sete meses após assumir o comando da General Motors no pior momento de sua história, FritzHendersonafirma,ementrevista exclusiva, que os dividendosgeradospelafilialbrasi-
consideram ter superado a crise econômica com o registro de mais 5% no volume de vendas deste ano, após crescer 9,1% em 2008. Para 2010, o comércio espera crescer entre 5% e 8,5%. ● PÁG. B1
500
pessoas ficaram feridas nos ataques
ESPORTES
‘Lucros ficarão no Brasil’, diz presidente da GM Cleide Silva
Embalados pela Copa do Mundo de Futebol, varejistas reforçam os estoques de televisores e uma distribuidora de tênis vai investir R$ 150 milhões em 42 lojasemcapitaisdoNorteeNordeste. No geral, os varejistas
NÚMERO
Rio
Tráfico usa igreja para vigiar polícia CAMBALHOTA – Hernanes comemora seu gol na Vila Belmiro, o primeiro do São Paulo na partida
Clássico de valer o ingresso São Paulo bate Santos por 4 x 3 e volta a brigar por título Em partida empolgante disputada contra o Santos na Vila Belmiro, o São Paulo aproveitou bem a rodada para se aproximar novamente da liderança do Campeonato Brasileiro. O
time do Morumbi está agora em quarto lugar, mas soma 52 pontos, apenas 2 a menos que o Palmeiras, primeiro colocado. Dossetegolsmarcadosnoclássico, cinco nasceram em joga-
das de bola parada. A vitória tricolor veio em cobrança de falta do goleiro Rogério Ceni. Ele marcou o 84º gol da carreira, porém foi expulso depois de cometer uma falta. ● PÁG. E1
●● Segundoarcebispo,crimi-
nososinvademtorreparamonitorar zona norte. ● PÁG. C3
CADERNO2 A fotografia encontra Rodin ●● Mostra inédita no Masp traz, além de esculturas do artista, 193 imagens raras. ●
SEGUNDA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 87 DIAS
NACIONAL NACIONAL A7 A7
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Advogado avalia censura como um ‘absurdo jurídico’ Especialista em direito constitucional diz que decisão mostra uma ‘confusão em termos de sigilo judicial’ Moacir Assunção
O advogado constitucionalista e professor de direito constitucional na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Pedro Estevam Serrano, considera que há uma grande confusão em termos de sigilo judicial na decisão segundo a qual o Estado está proibido, desde 31 de julho,depublicar informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou FernandoSarney, filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “O sigilo judicial é uma obrigação do poder público, que ele não pode transferir para a sociedade. Ao mesmo tempo que guardar o sigilo é obrigação dos funcionários do Estado,adosjornalistaséinvestigar e publicar o que for obtido. Isso para mim parece primário”, explicou. Exigir que um jornalista guarde sigilo sobre investiga-
ções de interesse público, segundo ele, equivale a pedir que o advogado denuncie seu cliente ou ao padre que entregue à Justiça o fiel que se confessou na sacristia. “Ora, as funções do jornalista e advogado existem exatamente para impor limites, e se for o caso, contestar o poder do Estado. Caso isso não ocorra, o governo passa a gozar de um poder imperial, absoluto, que conspira contra o sistema democrático. Seria como se vivêssemos numa ditadura.” Para o professor, a censura determinada pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que vê como absurdo jurídico, se constitui como uma espécie de resíduo do sistema autoritário quesobreviveuaofimdaditaduramilitar.“Adecisãoé inconstitucional, profundamente criticável.AConstituiçãodeixamuito claro que nenhuma ação pode obstar a livre circulação da informação, que é um patrimô-
nio público.” Ele sugere uma lei vedando expressamente a censura prévia, o que, em sua visão, tornaria claros os limites dos poderes em casos semelhantes. Por todo o País, decisões de juízes de primeira instânciatêmdeterminadoacensura de jornais a pedido de prefeitos, deputados e empresários. “Parece que não está muito claro que não pode haver censura, apesar de a Constituição vedá-la expressamente. A legislação tiraria qualquerdúvida,atéparabalizar o trabalho dos juízes.” O fato de a censura ter sido imposta por liminar é tão grave quanto o próprio ato, em sua opinião. “Assim como as Medidas Provisórias que permitem ao presidente governar por decreto essas liminares são traços do poder imperial concedido aos entes públicos.” ●
PeloBrasil MINAS GERAIS
SÃO PAULO
FORTALEZA
Itamar Franco éeleito De Sanctis lança livros vice-presidentedo PPS sobre crime organizado
Tasso pode disputar governo em 2010
O Diretório Nacional do PPS elegeu ontem o ex-presidente Itamar Franco (MG) o novo vicepresidente da legenda. O ex-deputado Roberto Freire continua na presidência. Itamar não participou do encontro porque se recupera de uma cirurgia. Ele deve ter alta hoje ou amanhã, informou sua assessoria.
Motivado pela militância, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) colocou-se ontem à disposição do partido para disputar pela quarta vez o governo cearense, em vez de tentar a reeleição para o Senado. A ideia é fortalecer o palanque, no Ceará, do candidato tucano à Presidência.
O juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6.ª Vara Federal Criminal, lança na quarta-feira, em São Paulo (SP), dois livros. O primeiro intitulado Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro – Destinação de Bens Apreendidos, Delação Premiada, Responsabilidade Social, o outro Responsabilidade Penal das Corporações e Criminalidade Moderna.
Lima Cultural e Gastronômica 3 noites
123
Entrada R$ 278,................................................+ 9x R$ ,55 Voando LAN. Saídas diárias. Inclui passagem aérea, traslados, hospedagem com café da manhã e assistência de viagem. Passeio pela cidade de Lima, com visita aos museus Larco e de Arqueologia e Antropologia. 1 jantar no restaurante Junius com show e 1 no Rosa Náutica. À vista R$ 1.390, Base US$ 788, Preço para saídas até 1O/dezembro.
Machu Picchu e Valle Sagrado 5 noites
Mistérios de Machu Picchu 5 noites
196
Entrada R$ 443, .............................................. + 9x R$ ,88 Voando LAN. Saídas diárias. Inclui passagem aérea, traslados, hospedagem com café da manhã e assistência de viagem. 1 noite em Lima, 3 em Cuzco e 1 em Águas Calientes ou Machu Picchu. Passeio em Machu Picchu e Lima. Trem Vistadome Cuzco/Águas Calientes/ Cuzco com passeio e almoço em Machu Picchu. À vista R$ 2.215, Base US$ 1.258, Preço para saídas até 1O/dezembro.
Linhas de Nazca e Machu Picchu 7 noites
214
Entrada R$ 482, .............................................. + 9x R$ ,22 Voando LAN. Saídas diárias. Inclui passagem aérea, traslados, hospedagem com café da manhã e assistência de viagem. 1 em Lima, 3 em Cuzco e 1 no Valle Sagrado. Passeios em Lima, Cuzco, Valle Sagrado e visita à feira artesanal de Pisac com almoço. Trem Vistadome Valle Sagrado/Águas Calientes/Cuzco com passeio e almoço em Machu Picchu. À vista R$ 2.410, Base US$ 1.368, Preço para saídas até 1O/dezembro.
260
Entrada R$ 587,............................................... + 9x R$ ,88 Voando LAN. Saídas diárias. Inclui passagem aérea, traslados, hospedagem com café da manhã e assistência de viagem, 2 noites em Lima, 1 em Nazca, 1 em Paracas e 3 em Cuzco. Passeios em Lima e Cuzco. Passeio em monomotor sobrevoando as Linhas de Nazca e de barco até as Ilhas Ballestras em Paracas, trem Vistadome Cuzco/ Águas Calientes/Cuzco com passeio e almoço em Machu Picchu. À vista R$ 2.935, Base US$ 1.668, Preço para saídas até 1O/dezembro.
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Prezado cliente: preços por pessoa em apartamento duplo voando LAN, com saídas diárias de São Paulo, válido para compras realizadas até um dia após esta publicação. A oferta de lugares é limitada e as reservas estão sujeitas a confirmação. Taxa de embarque não está incluída. Preços, datas de saídas e condições de pagamento sujeitos a reajuste e mudança sem prévio aviso. Câmbio base do dia 16/10/2009: US$ 1,00 = R$ 1,76.
Parabéns aos alunos vencedores do 40º WorldSkills Competition.
Vocês representam o Brasil tão bem quanto o nosso ex-aluno.
Oferecer ensino de qualidade para a formação de bons profissionais para a indústria sempre foi a prioridade do SENAI, antes mesmo de ter um importante aluno chamado Luiz Inácio Lula da Silva. O resultado desse compromisso está no 40º WorldSkills Competition – Canadá, a maior competição de talentos em educação profissional. Com a competência e o esforço de nossos alunos, o Brasil foi o 3º colocado do mundo. E para dividir e comemorar essa vitória, o ex-aluno mais ilustre do SENAI, o presidente Lula, recebeu nossos heróis em um encontro que vai ficar para sempre na história de cada um deles.
www.senai.br
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
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JULIO MESQUITA (1891-1927)
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RUY MESQUITA
27 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42378
Aeronáutica aponta causas do acidente da TAM Relatório apresentado 2 anos após tragédia lista 8 fatores para desastre de Congonhas O relatório final do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) conclui que 8 fatores contribuíram para a tragédia com o voo 3054 da TAM, que deixou 199 mortos em 17 de julho de 2007, informam os repórteres
Bruno Tavares e Fausto Macedo. O Cenipa aponta que a hipótese de erro dos pilotos é a mais provável para o fato de os manetes estarem fora da posição recomendada. A investigação aponta diversas irregularidades em Congonhas. ● PÁG. C1
KARIM KADIM/AP
Táxi terá desconto nas noites de sexta e sábado IRAQUE – Funeral de uma das vítimas dos atentados que mataram 155 pessoas no domingo; equipes de resgate encontraram corpos de 24 crianças num ônibus atingido por uma das explosões. No Afeganistão, 14 soldados dos EUA morreram em acidentes com helicópteros. ● PÁGS. A17 e A18
A Prefeitura de São Paulo vai reduzir as tarifas dos táxis nas noites de sexta-feira e sábado. Ainda não foi definido o tamanho do corte, mas o porcentual deve ficar entre 20% e 30%. Pa-
Escândalo faz Sarney fechar sua fundação
CortedeIPI sobrelinha brancapodeser permanente
Senador afirma que denúncia de desvios afastou doadores O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), anunciou o fechamento da fundação que levaseu nome.Emjulho,oEstado revelou desvio de dinheiro público em contrato de patrocínio da Petrobrás com a entidade no valor de R$ 1,3 milhão. Além disso, a Justiça mandou devolver o prédio de 1654 que abriga a sede da fundação, em
Na família de Fidel, uma infiltrada da CIA
7 8 9 10 11 12
●●● Representantes do Ministério Público afirmaram ontem que, fechada ou aberta, a Fundação José Sarney será obrigada a se explicar sobre as irregularidades em suas contas. No Tribunal de
Contas da União, a denúncia contra a entidade no caso da Petrobrás será analisada pelo ministro José Múcio Monteiro, ex-articulador político do Planalto, recémempossado na corte. ● PÁG. A4
SP: PASTEL CAMPEÃO
CADERNO 2 O flâneur do carro
●● Exposição traz fotos de Robert Doisneau para a montadora Renault. ●
● PÁG. C2
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VIAGEM AVENTURA &
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Basquete
sa e agitam a temporada, que começa hoje. ● PÁG. E4
Chuva constante, mas sem temporal.
Hoje: 116 páginas A. 1º caderno: 22 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● H. Especial .EDU: 40 ● V. Viagem: 14
Especialistas apontam os erros que são garantia de reprovação. ●
●● Astrostrocamdecami-
Por seu mau funcionamento, o bloco já tem sido um peso para o Brasil. Com Chávez, será um peso muito maior e muito mais prejudicial. ● PÁG. A3
MÁX.
Os 7 pecados da redação
NBA começa com times renovados
●●●
21º
●● Cadernomensalmostra como funciona o vestibular na China, com 10 milhões de candidatos. ●
Ogovernoestudatornarpermanentea reduçãode IPIsobregeladeiras, fogões e máquinas de lavar, implementada em abril. A indústria considera altas algumas alíquotas, como os 20% sobre máquinas de lavar. A ideia está sendo discutida junto com a possível renovação do corte do imposto. ● PÁG. B1
COLUNISTA
Dora Kramer
Visão de vanguarda Em matéria de preocupação com o aperfeiçoamento dos modos da política no Brasil, os tribunais têm assumido a vanguarda. O Judiciário agora abre o debate sobre o voto obrigatório, antecipando-se de novo ao Legislativo. ● PÁG. A6 ●●●
Chávez, ameaça ao Mercosul
Tempo: CAPITAL
Maior do mundo
●●
NOTAS E INFORMAÇÕES
J
● PÁG. A16
Iniciativa não anula caso
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 88 DIAS q PÁG. A8
HISTÓRIA
uanita Castro, uma das irmãs de Fidel, revelou ter colaborado com a CIA, agência de inteligência americana, nos anos 60. A agente “Donna” levou, em latas, dinheiro para homens da CIA em Havana.
São Luís (MA). Presidente vitalício da entidade, Sarney afirmou em nota que há “falta de meios” para manter a fundação aberta, porque a divulgação das irregularidades afastou os doadores.“LamentopeloMaranhão, que perde um centro de documentação e pesquisa que é uma referência nacional”, disse o senador. ● PÁG. A4
ra o secretário dos Transportes,AlexandredeMoraes,a medida é prioritária para estimular o uso dos táxis por causa das festas de fim de ano, com o alto consumo de álcool. ● PÁG. C3
Caribe irresistível ●●● Em competição com 730 barracas de feira de SP, o Pastel da Ma-
ria, de Maria Kuniko Yohaha, foi eleito o melhor da cidade. ● PÁG. C10
●● Ilhas Virgens Britânicas oferecem praias desertas e mergulho. ●
Venda de 60% da Santelisa forma gigante do etanol O controle acionário da usina Santelisa Vale, com sede em Sertãozinho (SP), passou oficialmente para a empresa francesa Louis Dreyfus. O acordo cria a segunda maior companhiamundialdeetanol,bioenergia e açúcar. ● PÁG. B11
A2 ESPAÇO ABERTO
TERÇA-FEIRA, 27 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 - falecom.estado@grupoestado.com.br
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Mitosedesafiosda citriculturanoBrasil
Novocolonialismoounovas oportunidades?
ChristianLohbauer
RubensBarbosa
Talvez uma pequena parte da opinião pública brasileira saiba que o Brasil é responsável por 80% das exportações mundiais de suco de laranja. E talvez também saiba que não há outro setor econômico em que o País tenha posição mundial mais absoluta do que na exportação de sucos cítricos. Mas isso é tudo. A percepção de como funciona a citricultura, os processos de produção industrial, as características dos produtos, a sofisticada logística e o mercado internacional são desconhecidos. Pior do que isso, nos últimos anos vários estigmas foram criados a respeito do setor – e o desequilíbrio entre a realidade e a ficção tornou-se abissal. O Brasil é o maior produtor de laranjas e também o maior produtor e o maior exportador de suco de laranja do mundo. Mais de 30% de toda a laranja produzida no mundo está no Brasil. Mais de 97% de todo o suco de laranja produzido no nosso país é exportado. O brasileiro bebe muito suco de laranja, mas tem o privilégio de poder comprar a fruta na feira
Os ressentimentos devem ficar para trás, é hora de virar a página ou no supermercado e consumir o suco fresco, em casa ou em restaurantes. Ao contrário da avicultura e da suinocultura, a cadeia produtiva da citricultura não é integrada. Isso significa que não há um sistema totalmente conectado entre a totalidade dos produtores da fruta, a indústria processadora e os mercados importadores. É semelhante aos sistemas cafeeiro, sucroalcooleiro e pecuário. A citricultura tem parte de sua produção pertencente às próprias indústrias processadoras (cerca de 30%); outra parte, vinculada às indústrias por meio de parcerias ou contratos plurianuais com preços fixos por caixa (cerca de 50%) e aos fornecedores do mercado spot, isto é, aqueles produtores que vendem sua fruta no momento da safra (cerca de 20%). Esse sistema permite que, em momentos de mercado internacional em alta, os produtores do mercado spot consigam preços muito bons pela fruta ofertada. Quando o mercado está superofertado, como ocorre hoje, não há procura pela fruta fora dos contratos plurianuais. E com a aflição de parte dos produtores em repetidos ciclos de baixa, neste quadro clássico de oferta e procura, foram criados mitos em relação à indústria brasileira de suco de laranja. A laranja não é uma commo-
dity, mas o suco de laranja é. Isso significa que tem seus preços referenciados pela Bolsa de Valores de Nova York, a única no mundo a cotar suco de laranja, e sua cotação de contratos futuros contribui para explicar os preços do produto no mercado internacional e o preço que a indústria paga pela fruta no mercado brasileiro. Quando se verificam a trajetória das cotações de contratos futuros de suco de laranja e os preços médios pagos pela indústria no mercado nacional, comprova-se a exata relação entre a demanda internacional e o preço pago pela fruta no mercado nacional. Ao contrário de um dos mitos, não existe conflito entre a indústria de suco de laranja e os produtores da fruta. O que existe, sim, é uma insatisfação geral quando os preços internacionais do suco caem e o excesso de oferta provoca prejuízos para todos. E para momentos como este a indústria de suco tem manifestado apoio a qualquer iniciativa pública que possa trazer algum conforto ao produtor. Outro mito envolve a concentração do setor exportador de suco de laranja. É verdade que, nas últimas duas décadas, cerca de 15 empresas se consolidaram em quatro grandes empresas, responsáveis hoje por mais de 95% da exportação do País: Citrosuco Fischer, Citrovita Votorantim, Louis Dreyfus Commodities e Sucocítrico Cutrale. Isso foi apenas uma antecipação do fenômeno de concentração verificado atualmente em vários setores do agronegócio brasileiro, como os de carne bovina, carne de aves e suínos, açúcar e álcool. Essa concentração na citricultura é consequência da busca incessante por maior competitividade e eficiência produtiva em pomares e indústrias. São outros tempos e um outro mundo. Nos anos 1980, pomares sem irrigação e sem adensamento, produzindo 400 caixas por hectare, eram competitivos. Hoje, com menos de 700 caixas por hectare ficou difícil ganhar dinheiro como fornecedor da indústria. A qualificação do produtor é uma exigência muito maior nos dias de hoje. Mas, em vez de se prestigiar um processo resultante do capitalismo moderno de empresas que precisam investir maciçamente em produção, tecnologia industrial e logística do transporte terrestre e marítimo, há uma campanha constante para desqualificar essas companhias, com acusações levianas e conspirações de toda natureza. Ao mesmo tempo que produzir e exportar suco de laranja se torna uma operação cada vez mais cara e sofisticada, o consumo mundial do produto vem-se reduzindo há anos. De
2001 a 2008 a queda foi de 17%, diante do maior interesse de europeus, norte-americanos e japoneses por águas aromatizadas, sucos de outras frutas, isotônicos e energéticos. Além, é claro, dos eternos refrigerantes. Esse quadro representa um desafio para toda a cadeia da citricultura brasileira. É preciso provocar o interesse e renovar o impulso dos consumidores de todo o mundo pelo mais nutritivo e saudável suco entre todas as frutas. Também há outro desafio, na ponta da produção, que se tem mostrado ameaçador e até arrasador em algumas regiões: o greening, doença bacteriana que tem atingido os pomares de São Paulo, provoca a destruição de parcelas significativas da produção e põe a lucratividade de muitas áreas em xeque. É hora de virar a página na citricultura. Informar a sociedade sobre a competência industrial e produtiva do setor, além de unir forças para combater o greening e provocar a retomada do consumo internacional. Não há tempo a perder. Os ressentimentos devem ficar para trás. ● Christian Lohbauer é presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR)
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
O filhão do senador ama trabalhos manuais
FÓRUM DOS LEITORES Osnomes eos bois A que ponto chegamos no processo de diluir responsabilidades! Praticamente tudo o que lemos e ouvimos sobre a situação do Rio de Janeiro se refere à guerra “entre o tráfico e a polícia”. E nós, onde estamos nessa história? Imaginemos, por um instante, que o tráfico vença essa guerra. O que acontecerá, então: ligaremos para um 190 do tráfico pedindo uma patrulha? Nossos impostos serão recolhidos por um “avião” embalado de submetralhadora? “Soldados” do tráfico ficarão nas esquinas organizando o trânsito? Não, o que se trava no Rio de Janeiro é uma guerra entre a Nação (da qual o Estado do Rio de Janeiro é um ente federado) e o tráfico. A polícia, ao que se saiba, é apenas um elemento dessa equação:
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
trata-se de servidores públicos incumbidos pelo Estado das tarefas de segurança. A guerra conduzida pelo tráfico não é “contra a polícia”, é contra todos os que ainda acreditam que o Brasil e a segurança de seus cidadãos devem prevalecer sobre as facções criminosas. É contra os que se sentirão desamparados se a Nação for transformada num acampamento controlado por gangues e milícias. A guerra é conosco!
seu inconformismo com os trágicos acontecimentos verificados recentemente no Rio de Janeiro. Enquanto isso, ao lado, pessoas, alheias ao protesto, aproveitam o dia para praticar esporte na areia ou tomar banho de sol. Parece que a violência já foi incorporada à rotina e, pela frequência com que ocorre, passou a ser vista com naturalidade.
ODILON TOLEDO
São Paulo
CLÁUDIA FERNANDES claufer2004@uol.com.br
odilonto@terra.com.br
Belo Horizonte
Tragédia,segundoato Bastante emblemática a foto estampada na capa do Estado de domingo. Na praia, alguns poucos manifestantes expressam o
Uma das áreas que mais sofrem os efeitos das profundas transformações que estamos vendo ocorrer em todos os continentes é a da produção de alimentos. A mudança de clima, as crescentes dificuldades do uso da água nas plantações, o aumento da população e da demanda mundial e a pouca disponibilidade de terra arável na maioria dos países são alguns dos fatores que influem na produção e no fornecimento de alimentos. Se acrescentarmos a isso a volatilidade dos preços das commodities, o gradual empobrecimento do solo, a forte presença da China no mercado e a decisão política de alguns países produtores, sobretudo asiáticos, de proibir a exportação de determinados produtos, como o arroz, temos um quadro realista das incertezas que afetam o setor agrícola mundial. De acordo com projeções de instituições especializadas, em 2050 a Terra poderá passar dos 9 bilhões de habitantes, cerca de 2 bilhões mais do que hoje. Nos próximos 20 anos espera-se que a procura mundial de alimentos cresça cerca de 50%. A China, com 20% da população mundial, dispõe de apenas 9% de terras aráveis. Os Estados do Golfo importam 60% de seus alimentos, enquanto as
ProfessorCarlosLessa Com relação à declaração de que deveríamos deixar livres as drogas e quem quiser usar que use (25/10), faltou dizer que, então, quando necessitar de tratamento, que pague de seu bolso, e não
pôr nas costas do povo. É muito cômodo: assume risco consciente e o povo que pague? EVERARDO MIQUELIN everardo.miquelin@ig.com.br
São Paulo
Censura O excelente artigo A censura está de volta, do jornalista Roberto Muylaert, publicado no domingo (25/10), é uma advertência que ninguém pode ignorar. As sombras da ditadura parecem de fato ressurgir das cinzas. E Muylaert tem uma história que o credencia como defensor da liberdade e da democracia. RODOLFO KONDER, diretor da Representação da ABI São Paulo abi.spaulo@gmail.com
São Paulo
reservas naturais de água são suficientes apenas para irrigar a agricultura por mais 30 anos. Para garantir a segurança alimentar a suas populações países desenvolvidos e emergentes estão examinando a possibilidade de criar estoques de alimentos e com isso evitar o risco de escassez. A combinação de mais população e menos terra transforma os alimentos em investimento seguro com rentabilidade anual entre 20% e 30%, excepcional para os anos de crise que estamos vivendo. Segundo o Relatório Mundial de Investimentos da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), entre 1990 e 2007 o fluxo de investimento direto externo na produção agrícola triplicou, atingindo US$ 3 bilhões. Fundos de investimento e bancos começaram a antecipar essa situação de potencial desequilíbrio global entre a oferta e a demanda de produtos agrícolas. Não apenas essas instituições financeiras, mas também governos estão adquirindo terras em outros países, sobretudo na África e também na Ásia e na América Latina, para a produção de alimentos com o objetivo de reduzir sua dependência da volatilidade do mercado mundial e das importações. Não se trata de investimentos visando à produção para o consumo interno nesses países, mas para a exportação, em especial para os países do Oriente Médio ou para a China. De acordo com o International Food Policy Research Institute, desde 2006 cerca de 20 milhões de hectares foram vendidos ou arrendados, a maior parte em nações pobres da África. Os principais compradores são países do Oriente Médio e da Ásia. A China comprou extensas áreas no Congo, na Zâmbia e na Tanzânia e a Coreia do Sul, no Sudão. O Egito pretende cultivar trigo e milho em 840 mil hectares em Uganda; a Arábia Saudita, que já está presente no Sudão e no Punjab paquistanês, está alocando US$ 800 mil numa nova companhia pública que investirá em projetos agrícolas no exterior, buscando terceirizar o abastecimento das necessidades alimentares em culturas estratégicas, como arroz, trigo, cevada e milho. Em razão dos riscos envolvidos, a preferência crescente por parte dos fundos é por contratos de produção, em vez de compra de terra. Os investidores fornecem a tecnologia e o capital, enquanto os fazendeiros locais, trabalhando em suas próprias terras ou em terras arrendadas, produzem arroz ou trigo a preços fixados. No Brasil, 75% da produção de frango e 33% da de soja são feitas com base nesses contratos. A América Latina, longe des-
ses mercados, ainda está imune a essa tendência. Há mais interesse nos recursos minerais e energéticos, como mostram exemplos recentes de iniciativas da China ao comprar companhias produtoras de cobre e petróleo, do que na compra de terras para a produção agrícola, até porque na maioria dos países desta região a venda de terra a governos é proibida, como é o caso do Brasil. Resta saber como essa tendência vai evoluir no futuro. Será uma nova forma de colonialismo? Como reagirão as populações eventualmente deslocadas de seu hábitat por companhias estrangeiras produtoras de alimentos? Como reagirão os governos desses países se houver escassez interna de alimentos, enquanto terras produtivas são utilizadas para a exportação? Caso essa tendência se firme e tenha impacto sobre a demanda global, qual o efeito sobre a exportação de produtos agrícolas brasileiros? Se houver um planejamento adequado, essa situação crítica poderá ser aproveitada por paí-
Temos de pensar em como assegurar mercados num mundo em mutação ses como o Brasil para assegurar contratos a longo prazo em mercados como os do Oriente Médio ou da China, mediante joint ventures com empresas nacionais para produzir o que for demandado por países dessas duas regiões. Grupos nacionais poderiam associar-se a empresas de fora para plantar alimentos ou desenvolver a pecuária para a exportação casada com investimentos no Brasil. O setor agrícola brasileiro, tão competitivo e com tanta perspectiva de expansão, não pode observar passivamente essas tendências sem, de alguma forma, planejar as próximas décadas. Essa nova forma de negócios é tanto mais perigosa para o Brasil quando se sabe que nossa produção agrícola pode continuar aumentando, mas a infraestrutura (estradas, ferrovias, portos) continua insuficiente, sem muita perspectiva de mudança no médio prazo. Temos de começar a pensar em como assegurar mercados, de forma estável, num mundo em constante mutação. Valeria a pena explorar a possibilidade de combinar, por exemplo, investimento externo em infraestrutura (portos) com contratos de longo prazo para fornecimento de produtos agrícolas. ● Rubens Barbosa, consultor de negócios, é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp
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CPIdo MST É de causar indignação ler que intelectuais redigiram um manifesto contra a abertura da CPI do MST. Como podem pessoas de tal nível intelectual apoiar um movimento que, claramente e à vista de todos, promove atos de vandalismo, roubo e depredação de bens particulares? É de conhecimento de todos que o MST não promove o desenvolvimento dos assentamentos agrários, além de cobrar dos assentados propinas (melhor dizendo, suborno) para facilitar empréstimos. Todavia, o que podemos esperar de um país governado por um presidente capaz de usar um boné desse movimento? O governo tem a obrigação de investigar, a
forum@grupoestado.com.br
“pente fino”, o dinheiro repassado às ONGs que apoiam o MST, de modo a não permitir que recursos destinados ao desenvolvimento dos assentados sejam usadas para financiar invasões, cujo único objetivo é causar danos ao patrimônio privado. ALEXANDRE G. NEGRI agnegri@gmail.com
Cotia ● Notamos que os “intelectuais” que apoiam o MST são sempre os mesmos de outros “apoios”. São todos socialistas, desde que com o dinheiro e a propriedade dos outros... BENEDITO DANTAS CHIARADIA bdantas@uol.com.br
São Paulo
A8 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 27 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 88 DIAS
1º Fórum Mercados Brasileiros
Oportunidades em todos os lugares
29 de Outubro Centro Britânico ¶ São Paulo
Participe deste encontro que busca novas oportunidades para as empresas que querem crescer em todas as regiões do País.
O Marketing e a Comunicação como alavanca de negócios.
A ABA e a Fenapro, com o suporte do Sinapro-SP, irão realizar o 1º Fórum Mercados Brasileiros, como o objetivo
APOIO INSTITUCIONAL
Censura fere tratado firmado com OEA, alerta especialista País poderia receber sanções por mordaça ao ‘Estado’ Moacir Assunção
A censura ao Estado contraria frontalmente a DeclaraçãodePrincípiossobreLiberdade de Expressão – mais conhecida como Pacto de San José da Costa Rica –, aprovadapelaComissãoInteramericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). A opinião é da advogada do CentropelaJustiçaeoDireito Internacional (Cejil), Helena Rocha. O Brasil é signatário do texto, que integra o ordenamento jurídico nacional. “A convenção é muito clara.Cerceara imprensaconfigura censura prévia e atenta contraaliberdadedeexpressão e de opinião”, destaca a especialista. O Cejil, cuja sede fica em Washington,noEstadosUnidos, com uma regional no Brasil, tem como objetivo promovera plenaimplementaçãodasnormasinternacio-
nais de direitos humanos nos Estados-membros da OEA. INDENIZAÇÕES
No ano passado, de acordo com advogada,oBrasil jáfoiquestionadopor causadasaltas indenizações impostas a jornais e jornalistas para os chamados crimes de imprensa, que estariam se convertendo em uma forma indiretade seexercer a censura prévia no País. “Há uma forte preocupação da comissão interamericana comessaquestãodesdeorelatório que fizemos, junto com a Artigo19,outraONG ligadaàliberdade de expressão. O caso do Estado e outros que temos acompanhado no Brasil devem fazer aumentar o risco de o País receber sanções por causa da censura à informação”, ressaltou a advogada. OChile,deacordocomaespecialista, foi condenado por oferecer obstáculos à liberdade de expressão. Lá, foram censuradosofilme A Última Tentaçãode
Cristo, de Martin Scorsese, e um livro. “As condenações podem ir de censura ao pagamento de indenizações aos prejudicados”, informou. “A interpretação é de que não pode haver censura e qualquer abuso deve ser discutido na Justiça depois da publicação da informação questionada”, declarou Helena. Aúnicaexceçãoem queseadmite a censura prévia, de acordo com a especialista, é quando há a exposição de crianças em espetáculos públicos. MORDAÇA
O Estado está sob mordaça por determinação do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) desde 31 de julho. Autor da açãocontraojornal,oempresário Fernando Sarney, filho do presidentedoSenado,JoséSarney (PMDB-AP), foi indiciado pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica. ●
de estimular a descoberta das muitas necessidades e oportunidades de atuação regional das empresas nacionais e relatar experiências de sucesso nessa estratégia, ressaltando ações práticas bem sucedidas.
Inscreva-se e veja a programação completa: www.mercadosbrasileiros.com.br REALIZAÇÃO
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
PATROCÍNIO MASTER
PATROCÍNIO INSTITUCIONAL
PeloBrasil RIO GRANDE DO SUL
SÃO PAULO
BAHIA
CPIda Corrupção ouve gravaçõestelefônicas
AMB discutirá soluções para falhas do Judiciário
SIP pede apuração de morte de jornalista
A CPI da Corrupção analisou ontem oito gravações telefônicas que indicariam movimentação de empresários, pedindo a intercessão de deputados para liberar obras, e conversas cifradas que poderiam versar sobre propina. A base da governadora gaúcha, Yeda Crusius (PSDB), não viu nenhum indício de crime.
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) lança na quintafeira a campanha Gestão Democrática do Poder Judiciário. O objetivo é diagnosticar problemas e apontar soluções para as falhas na gestão do Judiciário. No mesmo dia terá início o 20.º Congresso Brasileiro de Magistrados, que discutirá o mesmo tema.
A Sociedad Interamericana de Prensa (SIP) pediu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intervenha e a Justiça avance na investigação sobre o assassinato do jornalista Manoel Leal de Oliveira. Ele foi morto no dia 14 de janeiro de 1998, e os culpados ainda não foram punidos.
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Bancos voltam a aumentar os juros
ENCHENTE: REPRESA TRANSBORDA EM SP
Óleo é problema de motor, diz Volks ●● Deficiêncianalubrificação seria a causa de ruídos no motor 1.0. ● PÁG. B13
agrícola
Leite lucrativo ●● Produtores familiares de Sorocaba (SP) dobram lactação das vacas. ●
7 8 9 10 11 12
JOSE MANUEL RIBEIRO/REUTERS
●● Ata-
Automóveis
●●● Inundação na divisa entre Carapicuíba e Barueri (Grande São Paulo), causada por temporal e pelo
transbordamento de represa; vários bairros foram alagados, e a Sabesp culpou a força da chuva. ● PÁG. C1
CADERNO 2 O último show de Michael Jackson
O Tamiflu, antiviral para o tratamento da gripe suína, deve voltar a ser vendido nas farmácias brasileiras no ano quevem, quandoestá previstanovaondadadoença.Ogoverno estuda exigir a retençãodareceitae,comisso,evitar o uso indiscriminado. O remédio parou de ser comercializadoapedidodoMinistério da Saúde. ● PÁG. A20
●● Hoje é a estreia mundial do documentário This Is It, com os bastidores do que seria o último show de Michael Jackson, morto em junho. A guitarrista australiana Orianthi Panagaris tocou com o rei do pop. “Os fãs vão poder ver como o trabalho foiintenso”,disseelaaoEstado. O filme ficará em cartaz só duas semanas. ● PÁG. D6
NOTAS E INFORMAÇÕES
O fim da Fundação Sarney O fim da fundação não pode significar o esquecimento das fraudes. Deve haver limite à impunidade dos poderosos que têm por eles próprios apreço inversamente proporcional ao respeito pela decência. ● PÁG. A3
●●●
KEVIN MAZUR/DIVULGAÇÃO
Hulk, a nova aposta de Dunga
● PÁG. E4
Para Serra, explorar feitos de governo é ‘legítimo’
Os juros na ponta do crédito ainda são enormes, e o spread, extorsivo, mas a concorrência entre bancos deve começar a mudar isso. ● PÁG. B2
Venda de Tamiflu deve ser liberada nas farmácias
Seleção
cante do Porto é convocado para amistosos em novembro.
●●● O senador Tasso Jereissati aceita negociar com o governo e admite rever relatório contrário à entrada da Venezuela no Mercosul. A votação é amanhã. ● PÁG. A7
●●● CELSO MING
metas de corte de emissão de CO2. Para ele, que espera 4%, a estimativa entre 5% e 6% vai de “altamente improvável” a “improbabilíssima”. ● PÁG. A16
Venezuela prende e acusa colombianos de espionagem
Acordo pode pôr Chávez no Mercosul
EVELSON DE FREITAS/AE
O ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) questionou o cenário de crescimento defendido pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) para cálculo das
DIRETOR:
RUY MESQUITA
A Venezuela acusou a Colômbia de espionagem ao capturar no país agentes da inteligência colombiana.OgovernodopresidenteHugoChávez disseterflagrado os detidos com “planos dedesestabilização contra ogoverno, o povo e a democracia” na Venezuela. A relação entre os países havia piorado no fim de semana com a descoberta do assassinato de colombianos na Venezuela. ● PÁGS. A10 e A11
vel desde 1994. Além disso, os bancos aumentaram o spread (margem entre o que pagam pelo dinheiro e o que cobram ao emprestá-lo), e cada vez mais clientes estão recorrendo a crédito mais caro, como cartão e cheque especial. O presidente Lula disse que os juros desses produtos são “quase um assalto”. ● PÁG. B1
Meta de crescimento é improvável, diz Minc
(1891-1927)
28 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42379
Após 10 meses de queda, taxa do crédito ao consumidor tem alta Levantamento do Banco Central sobre os primeiros dias de outubro revela que os bancos estão pagando juros mais altos para captar dinheiro e, por isso, passaram a cobrar mais dos clientes. É a primeira vez em dez meses que a taxa sobe, emparteporcausadaexpectativa de que a taxa básica vá subirem 2010.Na média dos empréstimospara as pessoasfísicas, o juro subiu de 43,6% ao ano em setembro para 46% em 13 de outubro. Antes, o governo comemorava porque, no mês passado, a taxa ao consumidor estava no menor ní-
JULIO MESQUITA
Roberto DaMatta
Aula de Lula sobre Judas e Jesus O malandro não rompe com a lei. Ele passa por suas brechas. Revela o poder do costume contra a lei e traz à tona o paradoxo brasileiro de segui-la, pois, se a malandragem é um ideal, como seguir a lei sem ser otário? Lula está certo: é difícil ficar com Jesus num país de Judas. Afinal, o que seria dos malandros se não fossem os trouxas? ● PÁG. D14 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 89 DIAS q PÁG. A9
Trupe teatral toma as ruas de Taboão
Tempo: CAPITAL
Nas noites de sábado, o Grupo Clariô encena nas ruas de Taboão da Serra (SP) o espetáculo Hospital da Gente,uma radiografiado cotidiano na periferia. ● PÁG. D4
Hoje: 72 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 4 ● G. Agrícola: 12
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ENSAIO – A guitarrista Orianthi e Michael: ‘Ele estava cheio de energia’
O governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato tucano à Presidência, disse que considera legítimo usar ações de governo para “colher dividendos políticos”.OPSDBéumdospartidos que acusam o presidente Lula na Justiça de explorar eventos oficiais eleitoralmente. Serratemcriticado oPSDB por não capitalizar feitos de administrações do partido. ● PÁG. A6
24º
MÁX.
● PÁG. C2
15º
MÍN.
Dia nublado, com chuviscos no litoral norte, Vale do Paraíba e Mantiqueira.
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A2 ESPAÇO ABERTO
QUARTA-FEIRA, 28 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Freios e contrapesos, cheques e balanços
CNJ, alavanca ética
JoséNêumanne
JoséRenatoNalini
No topo de uma preferência popular nunca antes alcançada na História deste País, já superando os 82% e se aproximando da unanimidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se acha, como dizem os jovens a respeito dos megalômanos. Pois acabou de mandar São Paulo calar a boca. O apóstolo dos gentios, que inventou o amor e a solidariedade numa Antiguidade em que predominavam a força bruta e o poder absoluto de divindades cruéis e astutas a partir da pregação singela de um profeta de província, certamente ficaria desnorteado se tivesse de debater teologia com um cristão que acredita ser possível a coligação da redenção com a delação. Lula, poderoso a ponto de comparar seus neobajuladores com o venal supremo, Judas Iscariotes, que vendeu o próprio mestre por um punhado de moedas, sem que deles se ouça um gemido sequer de reprovação, não se peja em bancar o Duda Mendonça do Jesus Cristo, troca patacoadas pela blasfêmia e nem assim se dá mal.
Popularidade em excesso leva Lula a desafiar Cristo e democracia Os milhões de votos que Sua Insolência tem e pretende transferir para sua candidata favorita entorpecem a consciência da Nação e anulam qualquer reação. O papa, representante do Deus dos católicos na Terra, não foi sequer informado da batatada ofensiva. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu um pífio protesto teológico lembrando que Jesus não transigiu com os fariseus, citados, coitados, na parábola do traidor Judas Iscariotes como dizem que o cônsul romano Pôncio Pilatos entrou no Credo. Das escassas convicções irremovíveis que o presidente tem, há duas inegáveis: é cristão e corintiano. O criminoso desmanche do campeão da Copa do Brasil, desfigurado no Campeonato Brasileiro, não levou Sua Insolência a apontar sua metralhadora giratória para o Parque São Jorge e ele continua adulando o ídolo de seu time, de cujo ventre volumoso já reclamou em passado recente. No entanto, sua incontinência verbal ousou desrespeitar o que de mais sagrado há para a fé da maioria dos brasileiros, ele e sua família inclusive: a saga do Salvador que sucumbiu à traição de um discípulo para lavar com o próprio sangue os pecados do mundo. Comparado com essa ofensa, o pontapé do bispo da Igreja Universal do Reino de Deus na
imagem de Nossa Senhora favor do então advogado-geral da União, José Antônio Aparecida foi um ósculo. Dizem os morigerados que Dias Toffoli, justificado como em demasia tudo faz mal. Tal- um pedido de um amigo covez o excesso de popularidade, mum – explicação mais aproque, somado ao gênio político priada para um consórcio de do ex-dirigente sindical, gera compadres que para uma depoder excessivo, afete uma de cisão política responsável. Faz parte desse antagonissuas mais notórias virtudes – o bom senso. Certo é que, da mo a freios e contrapesos a mesma forma que o sagrado fí- campanha que Lula tem feito gado de Jesus, lanceado pelo nos constantes discursos em inimigo em consequência da intermináveis comícios pelo traição de Judas Iscariotes, a País contra a mania fiscalizademocracia profana, mas cida- dora dos meios de comunicadã, também tem sido golpeada ção e a desabusada marcação dos raros e nem sempre pela retórica presidencial. Autoincumbido de perdoa- eficazes órgãos de controle dor geral dos amigos e aliados ainda existentes. O presidene algoz dos adversários reni- te mira seu fuzil contra comutentes, Lulinha Paz e Amor o nicadores que não aceitam a Cara da Silva tem mandado às postura de apresentadores favas, além dos escrúpulos, os de showmícios e produtores pilares sobre os quais se sus- de biografias cinematográfitenta a democracia, que, com cas laudatórias por preferiseus defeitos, combate a barbá- rem zelar pelo interesse púrie política na prática secular blico, embora contrariem do Parlamento britânico e na mandatários. E também não experiência transplantada pa- deixa em paz os Tribunais de ra a América pelos Pais Funda- Contas, que assessoram o Podores. O ex-comandante de der Legislativo, não fazendo greves que se tornou chefe de parte do Judiciário, particuEstado no maior país da Amé- larmente quando estes, mesrica Latina é fruto de uma no- mo compostos por membros bre e respeitável instituição da casta encastelada no topo desse regime político imperfei- dos Poderes, se inquietam to, cujo seio nutre a civilização com excessos de malversahumana: o sufrágio universal. ção do erário – como ocorreu Não se faz, contudo, uma de- há pouco com obras do Projemocracia somente com votos. to de Aceleração do CresciA eleição é a forma consagra- mento (PAC), promovido por da pela História de consultar o Sua Insolência a cavalo de bapovo para a escolha dos gover- talha da candidata oficial. nantes. Estes, porém, não poEssa débil reação às invesdem gerir o interesse coletivo tidas de Lula contra cânones tendo como base apenas os da cristandade e da democrapróprios interesses e as ambi- cia leva a temer que, em desuções de seus correligionários. so, freios e contrapesos se Os eleitos submetem-se à im- tornem cheques e balanços. ● pessoalidade das instituições – estas, sim, fundamentos das José Nêumanne, jornalista democracias avançadas – e e escritor, é editorialista aos checks and balances (freios do Jornal da Tarde e contrapesos – favor não confundir com cheques e balanços). Na peculiar República lulista, em que se perdoa Judas pela traição a Jesus em troca de seu apoio nas votações de interesse do líder, inexiste a autonomia soberana dos três Poderes. Assuntos de economia interna do Legislativo são resolvidos pelo Executivo – caso da manutenção de José Sarney na presidência do Congresso, apesar do enorme desgaste representado pela decisão imposta por Lula aos senadores. E a oposição aceita, cabisbaixa, o poder sem limites do presidente sobre a composição da alta cúpula do Judiciário, como deixou claro o voto do líder do PSDB no Senado, ‘Esse meu moleque...’ Artur Virgílio (AM), a
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Novoadvogado-geral Pera aí! Eu entendi bem? Novo advogado-geral da União diz que vai defender Lula e Dilma contra a denúncia de andança eleitoreira?! Ele foi contratado com dinheiro público para servir de advogado particular? É brincadeira, né? ÉLLIS A. OLIVEIRA elliscnh@estadao.com.br
Cunha ● A ministra é boa aluna: com a maior cara de pau, nega estar em campanha, mas não desgruda do chefe em nenhum evento. O desespero de fazer decolar o poste é evidente, motivos não faltam. Agora, o sr. Luís Inácio defender o sr. Luiz Inácio no TSE é cômico e triste. ANDRÉ C. FROHNKNECHT anchar.fro@hotmail.com
São Paulo
Prestes a completar cinco anos, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão do Poder Judiciário criado pela Emenda Constitucional 45/2004, já mostra a que veio. Suas atribuições são abrangentes e superam a rubrica do parágrafo 4º do artigo 103-B da Carta Política, que a ele comete controlar a atuação administrativa e financeira do Judiciário e fazer cumprir os deveres funcionais dos juízes. A intensificação das suas áreas de atuação atende a um clamor da sociedade brasileira. É verdade que esta acredita na Justiça, para a qual se voltou de maneira singular a partir de 1988. Foi a Constituição cidadã a que mais confiou no Judiciário e se tornou concausa da multiplicação das ações judiciais. Mas o mesmo constituinte que reforçou a crença no Estado-juiz enfatizou a urgência de se prover a administração da Justiça de uma gestão otimizadora. É intolerável o custo da lentidão do equipamento encarregado de solucionar controvérsias. Está inteiramente divorciado do ritmo a que a sociedade se acostumou com a revolução científico-tecnológica das últimas décadas. É saudável que o CNJ seja acionado para coibir a disfunção do Judiciário. Seus conselheiros têm condições de detectar as denúncias dos ressentidos com a solução desfavorável, dos que não compreendem qual a exata função do órgão, das situações a serem efetivamente apuradas e corrigidas. A mera possibilidade de se recorrer a uma instância correcional superior, desvinculada da realidade e até mesmo
Dedonatário a faraó... ... tem dó! A Fundação Memória Republicana, fundada em 1990, acabou por se transformar na Fundação Sarney, abrigando desde documentos a partir de 1985, quando da posse de Sarney como presidente, até meros desenhos escolares de seus filhos, sem esquecer as capas de seus livros publicados, já que Sarney é um imortal da Academia Brasileira de Letras. O acervo é um verdadeiro culto à memória da família Sarney, portanto, nada mais justo que o prédio que abrigou essa fundação fosse o histórico Convento das Mercês, datado de 1654, que pertencia ao governo do Estado do Maranhão, mas foi doado à fundação por um go-
dos interesses locais, já representa um fator de incremento das corregedorias preexistentes. Todos sabem que o CNJ autua as queixas, solicita informações, nomeia um relator e dá uma resposta ao interessado. Tal certeza é motivo de segurança para a cidadania. Seria conveniente que as respostas atendessem também a uma necessidade pedagógica de alertar os usuários da Justiça quanto à independência do juiz. Fator de garantia de uma prestação jurisdicional isenta e legítima. As denúncias cujo objeto é a decisão que não agradou deveriam merecer esclarecimento formador de uma opinião comum sinalizadora do que será apurado e do que será sumariamente arquivado. A Justiça é um serviço público apto a desagradar a pelo menos uma das partes, quando não a todos os envolvidos. A cidadania merece um esclarecimento para distinguir entre o mau procedimento e o julgamento adequado, ainda que não atenda aos interesses ou expectativas dos adversários. Mas a função primordial do CNJ é prover o Judiciário brasileiro de um órgão de planejamento. Por atuar com vista ao passado, centrado no processo, que é ciência reconstrutiva, o magistrado prioriza essa dimensão do tempo. A instituição perdeu o tirocínio para a elaboração de planos que ultrapassem o biênio das gestões administrativas. Por isso o “inventar da roda” a cada transitória passagem de excelentes juízes pelos cargos de mando e a frustração de quem espera a necessária transformação do Poder. Dentre os Poderes da República, foi o Judiciário o que menos conseguiu se adaptar aos novos tempos. Tanto que foi o destinatário direto do comando de eficiência, hoje exigível à administração pública em geral, mas LOREDANO que não constava do artigo 37 da Constituição de 1988. Foi introduzida dez anos depois, pela Emenda 19/98, exatamente porque a Justiça não havia feito a sua “lição de casa”. Quando se fala em eficiência, pensa-se em prestação oportuna da jurisdição. Num país que abusa do sistema recursal, permite dezenas de vezes a reapreciação da mesma questão, até que ela mereça uma decisão definitiva, há de se pensar em otimizar o tempo da resposta. Principalmente porque o ordenamento propicia o exaurimento de verdadeiras qua-
ENDEREÇO
MARA MONTEZUMA ASSAF montezuma.fassa@gmail.com
São Paulo
Faltaderecursos O mesmo problema que atinge boa parte da estrutura do Estado é a razão alegada para o fechamento da Fundação Sarney: falta de recursos. Infelizmente, é crescente a falta de recursos morais. CARLOS DELPHIM N. DA GAMA NETO delphim@ibl.com.br
Santos ● Uma vez fechada a Fundação Sarney, que já nasceu sob o signo do descaminho, nós, os verdadeiros donos do dinheiro, esperamos que a quantia desviada
tro instâncias, pois o processo que tem início no primeiro grau de jurisdição necessariamente passará pelo tribunal e sem dificuldades maiores chegará aos tribunais superiores. Uma das ferramentas mais eficientes a prover a função judicial dessa responsabilidade de não apenas proferir as soluções mais eruditas, sofisticadas e tecnicamente inabaláveis, mas editadas com presteza, é insistir na ética da magistratura. Houve evidente opção pela tecnicalidade nos concursos de recrutamento de juízes – e não é diferente nas demais carreiras jurídicas – em detrimento do compromisso moral. Um juiz provido de ética irrepreensível – essa a exigência da Lei Orgânica da Magistratura reiterada no Código de Ética editado pelo CNJ – encontrará fórmulas para a outorga da prestação jurisdicional que realmente solucione o conflito. Saberá arrostar as dificuldades e se comportar como um agente da pacificação, não como burocrata afeiçoado às lamentações de quem se acredita injustiça-
O Judiciário foi o Poder que menos se adaptou aos novos tempos do pelo sistema. A ética é a única matéria-prima de que o Brasil se ressente. Se houver incremento em sua reflexão e, principalmente, em sua vivência, o mais será enfrentado com galhardia. A mente privilegiada que decorou todo o conhecimento enciclopédico exigível de um candidato a juiz, contido na legislação, na doutrina e na jurisprudência, se não for sensível aos apelos éticos de uma nacionalidade sedenta de justiça, nada mais fará senão afligir o já aflito. Já a consciência direcionada à moral cívica de servir, ainda que não compartilhe a genialidade da erudição, terá condições de prestar a melhor justiça humana possível. Esta a necessidade do Brasil: magistrados humanos, capazes de compreender as angústias de quem necessita recorrer ao Judiciário e aptos a decidir em tempo oportuno. Justificando, sim, a sua opção. Mas mais preocupados em resolver a controvérsia do que em evidenciar sua sofisticada ilustração. Ao atuar com seriedade, severidade e celeridade, o CNJ funciona como eficiente alavanca ética para a magistratura e presta um serviço à Nação que só a posteridade conseguirá avaliar. ● José Renato Nalini, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, é presidente da Academia Paulista de Letras
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Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
vernador mui aliado da família... Seria o mesmo que imaginar o Pátio do Colégio, em São Paulo, sendo doado pelo então governador Geraldo Alckmin para abrigar o acervo do Instituto FHC! Comenta-se que Sarney planejava usar o prédio da fundação como seu mausoléu, jazendo ali para todo o sempre... Porém, em virtude das denúncias de que parte das verbas públicas direcionadas à fundação teriam acabado em contas particulares da família, a Justiça obrigou à devolução do maravilhoso prédio do convento ao Estado. E lá se foi o mausoléu para o beleléu, o que demonstra que quem nasceu para Sarney nunca chegará a Ramsés... E o Estadão está há 89 dias sob censura!
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
E-MAIL:
(11) 3856 2920
forum@grupoestado.com.br
o que acontecerá nesse episódio, quando as investigações recaem sobre o poderoso Sarney.
volte aos cofres públicos. Imponderável seria apostar em condenação por esse delito no Brasil sob o comando do “cara”.
FRANCISCO ZARDETTO
LEILA E. LEITÃO
fzardetto@uol.com.br
Itanhaém
São Paulo
Finalfeliz?
Santamodéstia!
A relatoria do processo contra o desvio de verbas da Fundação Sarney ficará a cargo do novo ministro do TCU, José Múcio Monteiro, ex-articulador político do Planalto, recém-empossado e indicado por Lula. Os ventos sempre sopram a favor de Sarney, pois ter um aliado como relator sempre é mais confortável, no que se refere ao andamento e decisão do feito. A sorte está lançada. Aguardemos
O que me encanta no senador José Sarney é a sua modéstia. Nem sequer enrubesce ao declarar a falta que a sua fundação fará ao Maranhão. Francamente, “seu Zé”, fará falta a V. Exa. e aos seus apaniguados, cuja falta de pudor nos deixa arrepiados. E na sua idade... CELIA H. G. GUERCIO celitar@hotmail.com
Avaré
QUARTA-FEIRA, 28 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 89 DIAS
NACIONAL NACIONAL A9 A9
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Promotor quer nova lei para coibir mordaça à imprensa
Na passagem, você gasta pouco. No traslado, não gasta nada.
Moacir Assunção
Paraopromotorde JustiçaAlexander Martins Matias, presidente do Ministério Público Democrático (MPD), a censura ao Estado, em vigor desde 31 de julho, demonstra que falta ao País uma legislação exclusiva para os crimes de imprensa. A LeideImprensa,editadadurante o regime militar, foi extinta em abril pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Precisamos de uma legislação moderna e eficiente, que regulamente as relações entre a imprensa e a sociedade. Enquanto isso não ocorrer, ficaremos à mercê da subjetividade dos juízes”, alertou Matias. Essa nova legislação, propôs,
deve contemplar o direito de respostaeareafirmação dapreponderância do direito à informação sobre o direito à privacidade individual, no caso de figuras públicas. “Nãorestamdúvidaseéconstitucional que, entre os dois direitos em choque, prevaleça a obrigação da ampla publicidade de todos os atos dos servidores públicos, em qualquer nível”, afirmou o promotor. PRIVACIDADE
Matias disse temer a censura comoumretorno atempossombrios da história – referência à ditadura militar. O jornal está proibido de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que in-
Toffoli solta acusada de pequeno furto Decisão marca estreia no STF
E
m sua estreia como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), José Antonio Dias Toffoli suspendeu a pena imposta a uma mulher acusada de furtar seis embalagens de creme hidratante, no valor de R$ 177, de farmácia em Lajeado (RS). L.S.M.N. havia sido conde-
nada a dois anos de reclusão. Toffoli baseou-se em decisões anteriores do STF, citando julgamento da 1ª Turma da corte que beneficiou acusado de furtar uma novilha holandesa, avaliada em R$ 200, e no argumento da defesa de que o furto foi cometido por pessoa primária, envolvendo objeto de pequeno valor. Ele disse que a mulher deve ser solta
vestigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Matias salientou que a família Sarney, por historicamente ocupar cargos públicos, tem o dever de prestar contas. “São pessoas públicas, para as quais não cabe a proteção total da privacidade, principalmente quando gerenciam recursos.” Há outros meios de punir desvios, destacou. “Se houver algum abuso da imprensa, cabe ao ofendido buscar nostribunais odireito deresposta ou eventuais indenizações. O que não pode é haver censura prévia, como no caso do Estado.” ●
imediatamente e determinou expedição de salvoconduto em favor dela. “A concessão de liminar em habeas corpus, como se sabe, constitui medida excepcional justificada apenas quando a decisão impugnada estiver eivada de ilegalidade flagrante”, concluiu. Toffoli tomou posse como ministro do Supremo na sexta-feira. Ontem, participou de sua primeira sessão de julgamentos e, nas votações, acompanhou relatores. ●
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Para presidente do Ministério Público Democrático, censura ao ‘Estado’ remete aos tempos da ditadura
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● Edição de
1h15
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
29 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42380
Atentado mata mais de 100 no Paquistão e desafia EUA
Bovespa sofre maior baixa desde março
Ataque ocorre durante visita de Hillary e mostra escalada do Taleban
O Índice da Bolsa de São Paulo teve ontem a queda mais profunda desde março. O indicador perdeu 4,75% e fechou em 60.162 pontos. Na semana, o recuo chega a 7,52% e, no mês, a 2,20%. O dólar subiu 0,92%, para R$ 1,755. Para analistas, o mau humor se explica por números ruins da economia dos EUA e pela taxação de investimentoestrangeiro –desde a imposição do IOF, há quatro dias, a entrada de dólares para esse fim caiu 73%. ● PÁGS. B1 e B4
ARSHAD ARBAB/EFE
Numsinal claro da escaladadas ações do Taleban contra o governo do Paquistão, um carrobomba explodiu ontem num mercado lotado em Peshawar, matando mais de 100 pessoas. Em sua maioria, as vítimas são mulheres e crianças. O ataque, o mais sangrento em dois anos, coincidiu com a chegada ao Paquistão da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. “Esse atentado contra inocentes não é corajoso, é covarde”, reagiu Hillary, dizendo que o Taleban é um movimento que está “do lado derrotado da história”. O ataque acrescenta pressão sobre os EUA no momento em que o país revisa sua estratégia contra o Taleban e a Al-Qaeda no Afeganistão – que também foi palco de atentado ontem, quando militantes invadiram a sede da ONU em Cabul e mataram 12 pessoas. Para Washington, a ação visa a desestabilizar oAfeganistãoàs vésperasdosegundo turno da eleição presidencial. ● PÁGS. A16 e A17
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 90 DIAS q PÁG. A10 ●● Para o ministro Celso
de Mello, do STF, a censura judicial prévia a jornais é “inaceitável, intolerável e insuportável”. ●
Lucro da Vale recua mais de 60% no 3º trimestre
ANÁLISE
Scott Shane
O lucro da Vale no terceiro trimestre caiu mais de 60% ante igual período de 2008, no balanço tanto em reais (R$ 3 bilhões, com queda de 61,3%) quanto em dólares (US$ 1,7 bilhão, recuo de65,2%).Obaquejáeraesperado após a retração da demanda externa e do preço do níquel e do minério de ferro. A direção da empresa, criticada pelo governo nos últimos meses, batizou o balanço de “Retomando o crescimento” e enfatizou seus investimentos. ● PÁG. B18
THE NEW YORK TIMES
A ameaça dos dois Taleban O desafio para o governo americano no Paquistão e no Afeganistão é ainda mais complexo do que parece. Além de ser uma ameaça a dois governos aliados, o Taleban não é um inimigo único: há sua versão afegã e há uma outra, paquistanesa. ● PÁG. A16 ●●●
TERROR – Cenário de morte e destruição depois do atentado com carro-bomba em Peshawar: ataque mais sangrento em dois anos no Paquistão
São Paulo bate o Internacional e lidera o Brasileiro Com gol de Washington, o São Paulo bateu o Internacional (1 a 0) no Morumbi e, a seis rodadas do fim do campeonato, chegou pelaprimeira vez à liderança do Brasileiro, com 55 pontos. Hoje, o Palmeiras (54 pontos) enfrenta o Goiás, no Palestra Itália, e podereassumiraponta.EmSalvador, o Corinthians venceu o Vitória (1 a 0) – primeiro gol do argentinoDefederico. EmCuritiba, o Santos empatou com o Atlético-PR (1 a 1). ● PÁGS. E1 a E4
q ESPECIAL
●● Enqueteapontaos
melhores arquitetos e os símbolos da cidade – o Masp venceu. ●
paladar
Um vale de cores e sabores ●● Paladar traz o melhor da cozinha do Vale do Paraíba. ●
Bichos Guia
Construtoras desistem de revitalização da cracolândia
PF culpa só pilotos por acidente com avião da TAM
O mercado imobiliário desistiu de investir no projeto da Prefeitura de São Paulo para revitalizararegiãodaNovaLuz,conhecida como cracolândia, no centro. A alegação é que a exigência de construção de até mil habitações populares numa área de 15 mil m² criaria “guetos” de baixa renda. Para as incorporadoras, os imóveis deveriam estar espalhados. A Prefeitura afirma que o projeto sairá em quatro anos, sem mudanças nas regras. ● PÁGS. C1, C3 e C4
O relatório da Polícia Federal sobre a tragédiacom ovoo 3054 da TAM atribui taxativamente aos pilotos Kleyber Lima e Henrique Stefanini di Sacco a responsabilidade pelo acidente que deixou 199 mortos, em 17 de julho de 2007, informam os repórteres Fausto Macedo e Bruno Tavares. O inquérito criminal concluiu que o uso incorreto de manetes levou à tragédia em Congonhas. A investigação não interfere no processo de indenizações. ● PÁG. C11
NOTAS E INFORMAÇÕES
Operação Copenhague A intuição de Lula parece indicar-lhe que só terá a ganhar se o Brasil ostentar papel de vanguarda na conferência do clima. O cumprimento das metas é outra história. ● PÁG. A3
●●●
A vez do seu pet ●● Dicas, produ-
tos e serviços para todo tipo de animal de estimação. ●
Tempo: CAPITAL
26º
MÁX.
●● Estreia sábado peça
baseada no livro de Lygia Fagundes Telles. ●
7 8 9 10 11 12
17º
MÍN.
Sol aparece fraco, com chuviscos na capital e no litoral.
CADERNO2 Toda a ousadia de ‘As Meninas’
● PÁG. C2
Hoje: 160 páginas A. 1º caderno: 30 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 12 ● Guia Bichos: 36 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 6 ● H. Arquitetura em SP: 8 ● P. Paladar: 10 ● Cl. Classificados: 24 (2.072 anúncios)
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ESPORTES
DEGRADAÇÃO – Esquina da Nova Luz: obras avançam devagar
A10 NACIONAL
QUINTA-FEIRA, 29 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 90 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Decano do STF diz que censura prévia é ‘inaceitável e intolerável’ Para Celso de Mello, medida que proíbe ‘Estado’ de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica é inadmissível, ‘especialmente num regime fundado em bases democráticas’ Fausto Macedo
OministroCelsodeMello,decano do Supremo Tribunal Federal, mandou um recado categórico a autoridades que impõem censura à imprensa. “Os tribunais devem se mostrarimpregnadosdessaconsciência democrática de que agora vivemos um novo tempo, o tempo de liberdade. Liberdade com responsabilidade, é evidente, mas não faz sentido essa proibição apriorísticaqueéumvetoinaceitável, intolerável e insuportável. Isso não pode ser admitido, especialmente num regime fundado em bases democráticas.” O Estado está sob censura desde 31 de julho, por ordem do desembargador DácioVieira,doTribunaldeJustiça do Distrito Federal, que acolheu pedido de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Sem falar especificamentesobreocaso,oministro advertiu. “A censura governamental, emanada de qualquer um dos 3 poderes, é aexpressãoodiosadafaceautoritáriadopoderpúblico.Representainterferênciaindevida na vida dos cidadãos que nãopodemestarsujeitosacritérios definidos pelos detentores do poder. O debate sobre assuntos públicos tem que ser tratado de maneira ampla, sem contenção ou reserva. Aqueles que estão na arena pública devem se expor ao permanente escrutínio dos cidadãos para que o ofício de governo, que é tão nobre, possa ser exercido sem desvios.” MellodestacouqueaConstituição “instituiu veto permanente a qualquer ensaio de intervenção estatal na esferadasliberdades”.Elerecomenda:“Bastaaleituradoartigo 220 para verificar que o legislador constituinte exprimiu a hostilidade do ordenamento constitucional a qualquer forma de embaraço à plena liberdade de informação jornalística e proibiu censura política, ideológica e artística.” “A censura representa a própria antítese dos grandes princípios que dão sustentação ao regime democrático”, alerta o ministro. “A gente sente e nota que ainda existe dentro do sistema institucional brasileiro núcleos ou bolsões que guardam resíduo de autoritarismo. Imprensa livre é condição fundamental para uma sociedade se protegercontraqualquer formade opressão estatal. Ato de censura constitui manifestação inqualificável de desrespeito e de transgressão às liberdadesfundamentais.Etãopreocupante quanto à censura do Executivo é aquela revelada em decisões judiciais.” ●
O QUE DISSERAM
Tarso Genro Ministro da Justiça
“Tendo em vista as informações já divulgadas sobre aqueles episódios é possível dizer, agora, que o ato já se configura como uma censura discriminatória e unilateral”
CRONOLOGIA
90 dias de mordaça 10/6
31/7
13/8
●
●
O desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiçado Distrito Federal, informa o Estado da proibição de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica
● Estado revela a existência de mais de 300 atos secretos para criar cargos e nomear parentes de políticos para o Senado. Conversas telefônicas comprovaram o envolvimento do presidente da Casa, José Sarney, com os atos secretos e a prática de nepotismo
20/6
21/8
1/8
Jornal publica reportagem mostrando que Amaury de Jesus Machado, conhecido como ‘Secreta’, mordomo da casa de Roseana Sarney, filha de Sarney, é funcionário efetivo do Senado e ganha em torno de R$ 12 mil
● Jornal revela que Dácio Vieira, ex-consultor do Senado, é do convívio da família Sarney e do ex-diretor da Casa, Agaciel Maia. A Associação Nacional de Jornais (ANJ), outras entidades, senadores e o ex-ministro do STF, Carlos Velloso, criticam decisão
16/7
12/8
●
A Operação Boi Barrica esbarrou em provas contra o grupo do empresário Fernando Sarney, filho de José Sarney. A PF divulgou que o grupo usava o poder do sobrenome Sarney para ter acesso a ministérios e estatais. Fernando foi interrogado na PF do Maranhão ●
O desembargador Waldir Leôncio Cordeiro, da 2.ª Câmara Cível do TJ, mantém censura ao jornal, ao não acolher pedido de liminar no mandado de segurança. Cordeiro deixa para deliberar após receber dados de Vieira e da Procuradoria
● Estado entra com mandado de segurança. O recurso tem o objetivo de garantir o reconhecimento de direito líquido e certo, incontestável, que está sendo violado ou ameaçado por ato ilegal ou inconstitucional de uma autoridade
● Estado ingressa com nova exceção de suspeição do desembargador Dácio Vieira. A base do recurso é extraída da própria decisão de Vieira, quando ele ignorou um primeiro pedido para que se declarasse suspeito no caso
15/9
● O TJ-DF declara Vieira suspeito para decidir sobre o pedido de censura. A decisão afasta o desembargador do caso. No mesmo dia foi indicado o novo relator, Lecir Manoel da Luz
30/9
● Os desembargadores da 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal decidem manter o Estado sob censura. Os juízes consideram que o tribunal de Brasília não é foro competente para julgar o assunto e determinam que o caso seja transferido para a Justiça do Maranhão
Carlos Ayres Britto Ministro do STF “Não pode haver censura prévia. Nenhum juiz pode fazer isso. Não existe meia liberdade de imprensa, assim como não há mulher mais ou menos grávida”
13/10
● Os desembargadores do Conselho Especial do TJ-DF rejeitam recurso do Estado contestando a liminar e jornal continua sob censura
21/10
● Ao julgar mais um recurso do jornal, os desembargadores da 5ª Turma do TJ-DF confirmam a decisão tomada por eles no dia 30 de setembro, mantendo a censura e a transferência do processo para a Justiça Federal do Maranhão
Hoje
Censura completa 90 dias e Estado aguarda publicação da decisão para protocolar recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ●
José Álvaro Moisés Cientista político “Não há sentido democrático em criar obstáculos a um órgão de imprensa que obtém informações por uma fonte confiável, segura, que são de interesse público”
Odilon Wagner Ator e diretor “Essa censura é uma coisa absolutamente vergonhosa. Eu me sinto envergonhado de viver neste país depois de tantos anos de luta pela liberdade”
Entidades manifestam repúdio à mordaça WAN e WEF enviaram carta a Lula e Mendes, do Supremo, pedindo ‘ação’ Moacir Assunção
Asprincipaisentidadesbrasileiras e internacionais de defesa daliberdade de expressãoe opinião já se manifestaram repudiando fortemente a censura ao Estado. A Associação Mundial de Jornais (WAN) e o Fórum Mundial de Editores (WEF) chegaram a enviar carta conjunta, subscrita pelos seus presidentes, Gavin O’Reilly e Xavier Vidal-Folch, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao presidente do Supremo TribunalFederal (STF),Gilmar Mendes,relatandoprofundapreocupação e pedindo “ação”. Não houve resposta. A Organização dos Estados Americanos (OEA), por meio da sua relatora especial para liberdade de expressão, Catalina Botero Marino, chegou a alertar o Brasil para uma possível “responsabilização internacional”. O Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) também se manifestou. O seu coordenador
Ouvintes criticam a proibição ●● ● Mais de 250 ouvintes da Rádio Eldorado, que integra o Grupo Estado, já se manifestaram contra a censura ao jornal, desde que a mordaça foi determinada. Por meio do telefone do ouvinterepórter (0800 770 4686), eles deixam gravações de protesto e hipotecam solidariedade ao Estado e ao site www.estadao.com. br, proibidos desde 31 de julho de
publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. Cláudio Duarte classificou a censura como “uma atitude com cheiro de coronelismo”. A ouvinte Daniela afirmou “sentir vergonha de ser brasileira porque o obscurantismo está apoiando a corrupção”. Outra ouvinte, Conceição, parabenizou o Estado pela coerência. ● M.A.
para a América Latina, Carlos Lauria, declarou apostar em uma resposta da sociedade para o “absurdo” da situação. A ONG Artigo 19, que luta em prol da liberdade de expressão, questionou a mordaça. Da mesma forma, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), uma das principais entidades de defesa da liberdade de expressão do mundo, que congrega1.400publicações,cri-
ticou duramentea censura. Seu presidente, Enrique Calderón, por nota, disse lamentar “que a Justiça brasileira se caracterize por proteger excessivamente os direitos das pessoas quando estão imiscuídas em temas de interesse público, como nesse caso, e deixe em segundo plano a liberdade de expressão”. NO BRASIL
Entre as entidades nacionais, a
repercussão também foi grande.OpresidentedoConselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), CézarBritto, disse que a censura é inconstitucional. “A liberdade de expressão dos meios de comunicação não pode ser frustrada por decisão judicial.” O diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, também fez questão de destacar a inconstitucionalidade da medida. “Numa democracia consolidada, não podehavercensuraoulimitação à liberdade de informação”, comentou. O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azedo, também demonstrou seu inconformismo. “O artigo 220 da Constituição declara de forma expressa que é vedada qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.” ●
Cezar Britto Presidente da OAB “A persistência da censura ao jornal e a morosidade do Judiciário em fazer valer um preceito constitucional preocupam”
Carlos Melo Cientista político “Censurar a imprensa me parece culpar o termômetro pela febre. Quem deveria estar sendo interpelado por isso não é o jornal, e sim a Polícia Federal”
MEMÓRIA
Jornal publicou poemas durante regime militar ●●● O jornal O Estado de S. Paulo passou 6 anos e 23 dias sob censura prévia, de 12 de dezembro de 1968 a 3 de janeiro de 1975, durante o regime militar, período em que decidiu substituir os textos, fotos e desenhos proibidos por material de ficção, para alertar os leitores. Cartas inventadas na Redação, comentários desconexos e poemas de Castro Alves, Gonçalves Dias, Manuel Bandeira e outros autores, especialmente versos de Os Lusíadas, de Luis de Camões, ocuparam o espaço que, por imposição da polícia, não poderiam ser deixados em
branco. No Jornal da Tarde, do mesmo grupo pertencente à família Mesquita, as reportagens censuradas eram substituídas por receitas de doces e bolos. A história da censura sofrida pelos dois jornais está no livro MordaçanoEstadão,lançadopelo jornalista José Maria Mayrink,emdezembrode2008, lembrando os 40 anos da edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Como Julio de Mesquita Filho, morto em julho de 1969, não concordou em fazer autocensura, decisão mantida por seus filhos Julio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita, o Ministério da
Justiça instalou censores no Estado e JT. A censura prévia começou à meia-noite de 12 de dezembro de 1968, um dia antes da edição do AI-5, porque Julio de Mesquita Filho se recusou a cortaro texto Instituições em frangalhos,últimoeditorialqueredigiu, noqualdenunciavaasarbitrariedades do regime. “Meu pai caiu doente logo depois e nunca mais voltou ao jornal”, recorda Ruy Mesquita, diretor do Estado, que na época dirigia o JT. Segundo a pesquisadora MariaAparecidadeAquino,daUniversidade de São Paulo (USP), foram cortados 1.136 textos, de
29 de março de 1973 a 3 de janeiro de 1975. “Versos de Os Lusíadas foram publicados 655 vezes, desde o dia 2 de agosto de 1973, quandoaparecerampelaprimeiravezparataparovaziodeixado por um editorial que criticava a eventualindicaçãodeummilitar para o Ministério da Justiça”, informaohistoriadorJoséAlfredo Vidigal Pontes, curador do acervo cultural do Grupo Estado. Além de recorrer à Justiça contra a censura, o jornal protestou contra a arbitrariedade em telegramas a ministros, deputados e senadores. “Todos os que estão hoje no
poder dele baixarão um dia e então, senhor Ministro, como aconteceu na Alemanha deHitler,naItáliadeMussolini, ou na Rússia de Stalin, o Brasilficarásabendoaverdadeira história deste período”, escreveuRuyMesquitaaoministroda Justiça, AlfredoBuzaid, em agosto de 1972. “O Estado não aceita passivamente a censura a que vem sendo submetido”, afirmou Julio de Mesquita Neto, em outubro de 1973, na assembleia geral da Sociedad Interamericana de Prensa (SIP). Por ordem dele, todo o material censurado foi arquivado para ser reaproveitado no futuro–oquedefatoocorreu. ● JOSÉ MARIA MAYRINK
Walter Maierovitch Jurista “É inadmissível que não tenhamos um instrumento que garanta a via direta ao STF em episódios como esse que atinge o Estadão”
Cris Couto Atriz “Para mim que vi tudo o que o Sarney fez é complicado achar que está tudo bem. Todos conchavados. Tenho uma vergonha enorme”
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
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JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
30 de outubro de 2009 --ANO 130. Nº 42381
Eletrodomésticos terão ‘IPI verde’
OBAMA: HOMENAGEM AOS SOLDADOS MORTOS
Produtos econômicos pagarão menos O governo anunciou a renovação, até 31 de janeiro, da redução do IPI para eletrodomésticos da linha branca, mas apenas paraprodutos de baixo consumo de energia. O “IPI verde” é a primeira medida tributária do atual governo com viés ambiental, tema que deverá ter peso na eleição de 2010. “Qual-
quer medida será interpretada comoeleitoral,maseu,comoministrodaFazenda,tenhodepensar em crescimento e no bemestardaspessoas”,afirmouGuido Mantega. As grandes lojas decidiram manter a redução mesmo para produtos que consomem mais energia, até o fim dos estoques. ● PÁGS. B1 e B3
PABLO MARTINEZ MONSIVAIS/AP
Governo admite manobra para garantir superávit
●●● Presidente dos EUA assiste, em Delaware, à chegada de corpos do Afeganistão: imagens de caixões estavam proibidas desde 1991. ● PÁG. A18
Em razão da deterioração das contas públicas, o governo admitiuqueterádededuzir,docálculo do superávit primário, até R$ 28 bilhões em investimentos. A manobra contábil é legal e visa a garantir o cumprimen-
Senado cede e aprova Venezuela no Mercosul ter a aprovação.A questão era controversa por causa das acusaçõesde que ogovernode Hugo Chávez atenta contra a democracia e adota modelo econômico contrário aos interesses do Mercosul. Os senadores da base governista que eram contrários à aprovação transformaram suas críticas em “ressalvas”. ● PÁGS. A4 e A6
Nova Lei do Inquilinato pode ter vetos de Lula
O ingresso da Venezuela no Mercosul não deveria ter sido tratado como caso político. O carro foi colocado na
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U
REPRODUÇÃO
Tempo: CAPITAL
diálogo produtivo e impeça a completa desmoralização do Mercosul. ● PÁG. A3
frente dos bois. O Brasil assinou a adesão antes das negociações de redução tarifária. É algo inédito. ● PÁG. A4
ESPORTES
ma universitária da Uniban, de 20 anos, foi ofendida e acuada por centenas de coLEG – Janananan legas por causa do comprimento do vestido e saiu escoltada pela polícia. Vídeos do tumulto pararam na internet. “Fui tratada como se eu fosse um bicho”, disse ela. “O pessoal parecia estar no tempo das cavernas, só faltou arrastá-la pelos cabelos”, contou um colega. ● PÁG. A22
Resposta ao protecionismo
7 8 9 10 11 12
Um lamentável fato consumado
Aluna sofre assédio em massa
NOTAS E INFORMAÇÕES
Ao adotar, enfim, a linguagem do governo argentino, o Brasil talvez consiga estabelecer um
Esforço isolado
Rubens Ricupero, ex-embaixador na OMC
TUMULTO
Aprovado no Congresso, o projetoquealteraa Leido Inquilinato pode sofrer vetos do presidente Lula. Entre os pontos polêmicos em análise pelaCasa Civil está o que agiliza o processo de despejo, adotandoritosumárioemcasos de má-fé do inquilino ou atrasos de pagamento. Lojistas apontam danos às pequenas empresas. ● PÁG. B7
●●●
q SUSTENTABILIDADE ANÁLISE
27º
MÁXIMA
● PÁG. C2
17º
MÍNIMA
Dia começa com névoa, mas ainda cedo o sol aparece.
Após jejum, Palmeiras goleia e volta à liderança O Palmeiras voltou a vencer após quatro jogos, com uma goleada sobre o Goiás (4 a 0) no Palestra Itália – Obina fez três gols. Com isso, o time reassumiu a liderança do Brasileiro,doispontosàfrente do São Paulo. Outro candidato ao título, o Atlético-MG, foi derrotado pelo Fluminense por 2 a 1. ● PÁGS. E1 e E2
Sobrinho de Senna chega à Fórmula 1 ●● Bruno Senna assinou com
a Campos, que também vai estrear. ● PÁG. E4
●●● FIM DA RECESSÃO
O PIB dos EUA subiu 3,5% entre junho e setembro, superando previsões. ● PÁG. B10
Chip no carro vai controlar de velocidade a imposto
Pressão de Lula e de empresários quebra resistência a Chávez O ingresso da Venezuela no Mercosul foi aprovado ontem, naComissãodeRelaçõesExteriores do Senado, por 12 votos favoráveis e cinco contrários. A decisão resultou de pressão dopresidente Lulaedeempresários que têm interesses na Venezuela. O tema irá agora ao plenário, e o governo não deveráterdificuldadeparaob-
to da meta de economia para o ano, de 2,5% do PIB. ● PÁG. B4
Caderno mensal mostra que o brasileiro se preocupa mais com ambiente do que a média mundial, mas falta agir. ●
●●
Amazônia
Avião desaparece com 11 a bordo ●● Caravan
da FAB fazia trajeto entre o Acre e Amazonas. ● PÁG. C8
Guia
Escultor das ruas
EmnomáximocincoanososDetrans do País deverão monitorar a frota de seus Estados com chips instalados nos veículos. A cidadedeSãoPaulo deveráadotar a tecnologia em 2011. O mecanismo terá várias funções: facilitarogerenciamentodotráfego, localizar veículos roubados e verificar se a situação tributária é regular. O sistema tornará dispensáveis radares e praças de pedágio. ● PÁGS. C1 e C3 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 91 DIAS q PÁG. A14
Senado tem servidores que ganham sem trabalhar
●● Exposições
celebram VictorBrecheret, que tem obras pela cidade. ●
CADERNO 2 De Chanel às chacretes
Estreias incluem filmes sobre estilista e dançarinas de Chacrinha. ●
●●
A relação de 88 funcionários que ignoraram o recadastramento “caça-fantasmas” do Senadoconfirmasuspeita quepairasobreaCasa:servidoresrecebem salários sem trabalhar. Wanda Avelino, que está na lista, foi nomeada em 2007 para o gabinete de João Vicente Claudino (PTB-PI), mas ontem trabalhava no seu restaurante em Teresina. ● PÁG. A10
Hoje: 222 páginas
A. 1º caderno: 26 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 14 ● D. Caderno2: 16 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 4 ● H. Vida&Sustentabilidade: 8 ● X. Especial Suas Contas: 10 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 4 (321 anúncios)
A2 ESPAÇO ABERTO
SEXTA-FEIRA, 30 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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A verdade única da transposição
Por uma Justiça saneada e rápida
WashingtonNovaes
AloísiodeToledoCésar
Os recentes despautérios do presidente da República, em sua viagem às obras de transposição de águas do Rio São Francisco – atirando ao fogo dos infernos, de cambulhada, o Judiciário, o Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério Público, organizações sociais, científicas e religiosas, até bispos –, levam a temer que tanta pretensão à verdade única e incontestável possa conduzir a conflitos institucionais muito graves. Ou ao ridículo, já configurado em charge do cartunista Jorge Braga, do jornal O Popular (25/8) de Goiânia, que retratou o chefe da Nação ouvindo o preço de Judas por seu apoio: “Trinta dinheiros do mensalão.” A repercussão das falas presidenciais, entretanto, parece haver deixado em segundo plano a questão específica do projeto de transposição, já executado em cerca de 15%, apesar dos argumentos alinhavados há mais de dez anos por muitos especialistas, que apontaram alternativas mais adequadas para os problemas que a transposição supostamente resolveria
Teme-se que leve a graves conflitos institucionais. Ou ao ridículo – argumentos desqualificados pelo presidente e por alguns de seus ministros e ex-ministros como fruto de “má-fé”, “ignorância”, “irresponsabilidade” e por aí afora. Ao longo dos 12 anos em que ocupa este espaço, e mais alguns antes, o autor destas linhas apontou – sem resposta – muitas dessas questões, desde que projeto semelhante, do ex-ministro Aluizio Alves, no início da década de 1990, foi inviabilizado por um parecer do TCU. Ainda assim, voltou à cena logo no primeiro ano do atual governo. Especialistas do porte dos professores Aldo Rebouças, Aziz Ab’Saber, João Suassuna, João Abner e muitos outros mostraram que se tratava de um mau caminho, já que o problema de água nas regiões a serem beneficiadas não era de escassez, e sim de má gestão – pois existem ali, em 70 mil açudes, nada menos que 37 bilhões de metros cúbicos (m3) de água (sem redes que os distribuam), quando a transposição levará 2,1 bilhões de m3, mas também sem redes de distribuição para as áreas isoladas, mais carentes. Nada menos que 70% da água se destinará a projetos de irrigação e 26% ao abastecimento de cidades. Além do mais, a disponibilidade de água no Nordeste setentrional é de 220 m3 por segundo, para um consumo humano e industrial de 22 m3/segundo; e será de 131 m3/se-
Mas, com a aprovação da gundo o consumo na irrigação ça de instalação, mas com 51 O presidente Lula, no seu priprevisto no projeto (226 mil hec- condicionantes (que também meiro mandato, movido, Emenda nº 45, foi criado o Contares). Não bastasse, o Comitê não se sabe se foram cumpriquem sabe, por desgosto par- selho Nacional de Justiça, com de Gestão da Bacia do São das). A Procuradoria-Geral da ticular ou talvez por uma res- poderes e competência limitaFrancisco – que conhece de per- República pediu ao Supremo saca política, acabou investin- dos pela própria Constituição. to a área –, por 44 votos a 2, con- Tribunal Federal a suspensão do duramente contra o Poder A sua competência é exclusivadenou o projeto, que conside- da licença, mas não teve êxito Judiciário. Ele disse, textual- mente administrativa e de conrou “centrado em grandes – como não o tiveram 11 oumente, que era preciso abrir a trole da administração financeira dos tribunais, além de fiscaliobras, desconectadas de uma vi- tras ações propostas pela Or“caixa-preta” do Judiciário. são mais ampla e adequada do dem dos Advogados do Brasil Como por castigo, dias de- zação do cumprimento dos desemiárido” e que se destina- (OAB), pelo Ministério Públipois estourou o escândalo dos veres pelos juízes. Nesses limites, forçoso é reriam a beneficiar essencialmen- co e outras instituições. O Fópagamentos que eram feitos a te grandes projetos de exporta- rum Nacional da Reforma parlamentares para a aprova- conhecer que o novo órgão tem Agrária ofereceu 140 tecnoloção de grãos e frutas. ção de leis de interesse do Pla- demonstrado um fôlego maior Tem mais. Embora o proje- gias alternativas que considenalto e a Nação toda percebeu nas últimas semanas e causa a to ainda tivesse de ser aprova- ra mais adequadas que a que a verdadeira “caixa-pre- impressão de que realmente do pelo Ibama, a então minis- transposição – não adiantou. ta” a ser aberta estava no seu procura eliminar lamentáveis descalabros que ocorrem em tra do Meio Ambiente, em pro- O Comitê de Gestão voltou à gabinete, e não no Judiciário. nunciamento público, deu-lhe o carga: a transposição atendeMas, todos sabem, o presi- tribunais diversos. É bom que seu aval. E o Ibama, ao exami- rá a menos de 20% da populadente Lula era inocente, nada assim aja, porque o Judiciário, nar o estudo de impacto am- ção do Semiárido e 40% contitinha que ver com aquilo, não sendo um Poder do Estado, é biental, observou que os açu- nuarão sem água. Para esses sabia de nada e poderia até passível de falhar em sua admides para os quais a água trans- milhões de pessoas em áreas mesmo ser canonizado. A irri- nistração, como os outros dois posta seria encaminhada per- isoladas, a alternativa ideal estação contra o Judiciário, que Poderes. Imagine-se se fosse criado diam, por evaporação, em mé- tá nas cisternas de placa, das o acometera como uma gripe dia 75% do que acumulavam; quais já se construíram mais suína, continuou e desaguou um conselho nacional para fisnos solos que seriam beneficia- de 200 mil, a custo muito mena proposta de uma medida calizar o Senado, a Câmara dos com irrigação, 20% tinham nor. Argumentos não ouvidos. provisória que criou o Conse- dos Deputados e os setores da “limitação para usos agrícolho Nacional de Justiça (CNJ). administração federal responAgora, com o “tour” do prelas”; somados os “solos litóli- sidente e de seus ministros Era preciso dar puxões de sáveis pelas licitações e pelos cos, notadamente impróprios nas obras, dom Luiz Cappio orelha em juízes que não tra- pagamentos a empreiteiros e para esse uso”, chegava-se a voltou à carga: “O governo Lubalhavam, acabar com despe- fornecedores. O olho corretivo do CNJ é mais de 50%; e “62% precisam la se tornou refém dos gransas absurdas dos tribunais e, de controle, por causa da forte des projetos transnacionais enfim, moralizar o Judiciário. bem-vindo na medida em que tendência à erosão”; sem falar (...); o projeto é um tsunami e Foi nesse clima que o Con- exerce essa fiscalização admique o desmatamento no Cerra- a revitalização do rio, uma magresso Nacional aprovou a nistrativa sobre o Judiciário e do já comprometia o fluxo dos rolinha (...); é um computador Emenda Constitucional nº 45, seus juízes. Mas às vezes de seu rios formadores do São Fran- cheio de vírus, chega um moem 30 de dezembro de 2004, trabalho se extraem imprescisco. Ainda assim, o Ibama mento em que ele para.” Por e inseriu na Carta de 1988 dis- sões incompletas e também concedeu licença prévia, condi- isso tudo, mandou soar na posições um tanto frustran- equivocadas. Há algumas semacionada ao cumprimento de 31 igreja de sua cidade o dobre tes para os que tinham a ex- nas, por exemplo, pesou sobre exigências (que até hoje não se de finados. E o bispo dom Topectativa de uma Justiça o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o maior do País, sabe se foram cumpridas). mais rápida. más Balduíno sentenciou: “O Logo em seguida, o bispo de dobre de finados dos sinos e o A alteração constitucional a acusação de gastar 99% de Barra (BA), dom Luiz Flávio jejum do bispo têm o peso de não fez reduzir um único dia seu orçamento com o pagamenCappio, fez greve de fome con- uma profecia, a transposição sequer no prazo de duração to de funcionários e juízes. Para quem leu a notícia fitra o projeto; o TCU apontou so- não se concluirá.” dos processos, que contibrepreços de R$ 460 milhões; a nuam tramitando conforme cou a impressão equivocada de Diante da história do projeSociedade Brasileira o Progres- to, cabe perguntar: será? ● sistema processual idealiza- que o seu presidente, Roberto so da Ciência (SBPC) e a Sociedo para décadas atrás, quan- Vallim Bellocchi, estaria pondo dade Brasileira de Limnologia Washington Novaes é jornalista do a demanda ao Judiciário fogo em dinheiro público. O ângulo de análise é outro: realizapediram ao governo uma reava- E-mail: wlrnovaes@uol.com.br era pequena. da a folha de pagamenliação; o ex-ministro do to, sobra para o TJ Meio Ambiente e secrepaulista quantia insufitário dessa pasta em ciente até mesmo para Minas Gerais, José Caras suas principais nelos Carvalho, considecessidades. rou-o “um projeto nociLOREDANO Esse orçamento invo ao Brasil”. Novo pasuficiente obriga a Jurecer do TCU trouxe diciário a mendigar reoutros e mais graves cursos ao governador questionamentos. A José Serra, que semAgência Nacional de pre os nega. Esse é um Águas propôs como alproblema crônico, que ternativa, pela metade se arrasta há décadas. do custo da transposiOs juízes do Rio de ção, obras para 530 Janeiro, mais espertos municípios. Nada muque os de São Paulo, dou o curso e o Exérciconseguiram aprovar to iniciou as obras – o uma lei que resolveu paque o bispo dom Luiz ra eles esse problema. Flávio Cappio consideA referida lei permite rou “um desrespeito que o próprio tribunal para o Brasil”, partido receba os recursos prodo presidente. venientes das custas juOs obstáculos criadiciais e devolva à Fados pelo Comitê de Geszenda estadual somentão da Bacia foram sute o que estiver acima perados submetendo o de suas necessidades. projeto ao Conselho NaGraças a essa mucional de Recursos Hídança, a população do dricos, no qual o goverRio detém hoje uma no federal, sozinho, tem Justiça mais rápida, maioria absoluta. E o Rio Branco e o último retoque – centenário do Tratado do Uruguai quem sabe a mais rápiIbama concedeu licen-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES CavalodeTroia Com a decisão favorável na Comissão de Relações Exteriores do Senado à entrada da Venezuela no Mercosul, o governo ganha e o Brasil perde. Na semana que vem é provável que o plenário também vote a favor, restando só a assinatura do presidente. Marquem o que digo: um verdadeiro cavalo de Troia está chegando. Quando o abrirem, não reclamem da presença constante do hermano Hugo Chávez tentando influenciar nosso comércio exterior via Mercosul, de molde a ampliar sua radical megalomania antiamericana e terceiro-mundista (vulgo bolivariana). E nós, que já tínhamos problemas “empurrando” o Mercosul, sempre à deriva, agora, com o peso da ingerência chavista, vamos vê-lo naufragar de vez. Não
dou um ano para isso acontecer! SILVANO CORRÊA scorrea@uol.com.br
São Paulo ● O que deveria estar sendo discutido é a falência do Mercosul. O princípio de um grupo de países para um acordo como esse deveria ser o livre comércio de produtos e trânsito de pessoas entre eles. Centenas de caminhões estão retidos na fronteira Argentina-Brasil, do lado de lá como do lado de cá. É claro que a Venezuela tem interesse em comprar produtos brasileiros, pois pelo menos nas cuecas aqui fabricadas cabem mais dólares que nas produzidas em qualquer outro país. RONALDO JOSÉ NEVES DE CARVALHO rone@roneadm.com.br
São Paulo
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Gilberto‘Calçab’ Nosso digníssimo alcaide quer aumentar em até 350% o IPTU e ainda criar a Taxa Calçab? O prefeito quer nos fazer ter saudades de dona Martaxa? Parabéns, o Livro dos Recordes o espera. RENATO OTTO ORTLEPP renatotto@hotmail.com
São Paulo ● Vejo que, quando interessa ao prefeito, a discussão sobre as calçadas da cidade é responsabilidade dos donos de imóveis. Quando são invadidas por vendedores ambulantes, os proprietários nada podem fazer e os governantes simplesmente ignoram, deixando que eles se apropriem das calçadas sem toma-
FAX:
(11) 3856 2920
da do País, embora bem mais cara que a de São Paulo. Espera-se do CNJ efetivo esforço para que o Judiciário tenha recursos próprios. E que também atue de maneira verdadeira e ampla para convencer o Congresso Nacional a reformar nossa legislação processual, sem o que o atravancamento de processos continuará. O que foi realizado até agora causa a impressão de uma maquiagem no defunto, para que não pareça tão feio. Falta o principal: dar ao juiz condições processuais de julgar com rapidez. Estão sobrando palavras, entrevistas, mas há pouca ação. Duas coisas são distintas: uma é a administração dos tribunais e outra, a prestação da atividade jurisdicional. O saneamento da administração fará bem para o ego de todos nós que odiamos a corrupção, porém a atividade jurisdicional, privativa dos juízes, está adstrita a uma legislação processual que impede a prestação rápida de justiça. Enfim, sanear a administração é bom, mas não é o princi-
O que foi realizado até agora parece uma maquiagem no defunto... pal problema. O principal é atualizar essa legislação retrógrada e torná-la compatível com o gigantismo da procura por justiça. Em cidades como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, por mais que a administração esteja saneada, por mais que a máquina do Judiciário se mostre azeitada, a enorme fila dos processos vai crescer a cada dia. Juízes não julgam por atacado. Ao contrário, cada processo tem de ser examinado em suas peculiaridades, pela ordem cronológica e com base em leis idealizadas para uma época em que os processos eram muito poucos. Pelo sistema processual vigente, após obter decisão judicial favorável à sua pretensão, o jurisdicionado tem de entrar com outra ação (de execução) para receber a importância correspondente. Nas áreas penal e trabalhista tudo é ainda pior. Sobram recursos protelatórios que não deixam o processo chegar ao fim. Os americanos, pragmáticos e extremamente simples na prestação de justiça, têm certa dificuldade de entender como isso ocorre entre nós. Mas o samba de Noel Rosa explica: “Nossas coisas, coisas nossas.” ● Aloísio de Toledo César, desembargador aposentado, é advogado e jornalista Email: aloisioparana@ip2.com.br
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Inquéritoda TAM rem providências. Nem mesmo se lembram que elas são para uso dos pedestres. O sr. Marcos Belisário deveria introduzir em suas sugestões providências contra esse abuso. Conheço bem a região do Brás e o convido e a outros cadeirantes que tentem andar com suas cadeiras de rodas pelas Ruas Maria Marcolina e Oriente, entre outras, para comprovar a situação (é uma vergonha). O bairro foi tomado pelos ambulantes, com a conivência das agentes da Zona Azul, que não multam seus carros por medo de represálias – os camelôs estacionam carros e carrinhos o dia inteiro nas áreas destinadas ao estacionamento rotativo de veículos. Repito: ninguém resolve nada, num verdadeiro des-
respeito aos pedestres e portadores de deficiência. Agora, para criar taxas, nossos governantes são hábeis. Pergunto: de quem é a competência de proibir o comércio ambulante nas calçadas e na Zona Azul? Os proprietários dos imóveis nada podem fazer (mas são responsáveis pelas calçadas!) e poderão ter de pagar a taxa, que certamente será aprovada. Nessas horas ninguém lembra que as calçadas são direito dos pedestres para ir e vir. Mas, para os ambulantes, isso não importa, pois não serão eles que pagarão as taxas (nenhuma). MOHAMED ABDALLA KILSAN kilsanabdalla@terra.com.br
São Paulo
O Estado sob censura há 91 dias. Amordaçar quem realmente ajuda a informar e vigiar é fácil. Quem tem o dever de fiscalizar despreza o reverso, o estado da pista... E como morto não fala, fica fácil concluir sobre a culpa. BENTO DE BARROS NETO bento@etad.com.br
São Paulo
Assombração É inacreditável como o MST pode existir para receber elevadas somas de auxílio financeiro e cestas básicas do governo federal e dos países ricos, com o apoio do Incra e as bênçãos da Pastoral da Terra, ala à esquerda da Igreja Católica. Também pode existir para vender as terras recebidas de desa-
A14 NACIONAL
SEXTA-FEIRA, 30 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 91 DIAS
+ 9
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
INVESTIGAÇÃO
STF vai encurtar recurso anticensura
DIDA SAMPAIO/AE–17/9/2009
Em depoimento à Justiça, o deputado Arlindo Chinaglia (PTSP)confirmouontem queopresidentedo PTB, Roberto Jefferson, denunciou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, o caso do mensalão. O fato teria ocorrido em março, em reunião no Palácio do Planalto, onde estariam Lula, Jefferson, o ex-ministro Walfrido Mares Guia (Turismo), o hoje ministro do TCU José Múcio Monteiro e o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP). Segundo Chinaglia, Lula pediu que o caso fosse apurado. ANOS DE CHUMBO
Tarso vê ‘fraude’ em anistia para torturador
Jornais e revistas sob mordaça poderão recorrer direto ao Supremo Mariângela Gallucci BRASÍLIA
O Supremo Tribunal Federal (STF) deverá publicar na próxima semana, no Diário da Justiça, oresultadodojulgamentono qual a corte decidiu derrubar a Lei de Imprensa e fixou o entendimento de que a liberdade de expressão é ampla e não se admite nenhum tipo de censura. A impossibilidade de ocorrer a censura prévia constará textualmente no acórdão, que é o resumodadecisãoaserpublicada. De acordo com ministros do STF, após a publicação, veículos de comunicação que estão sob censura poderão recorrer diretamente ao Supremo, sem passar pelos tribunais inferiores, para derrubar decisões judiciais que impedem a publicação de reportagens. Um desses veículos é o Estado. Há 91 dias o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça (TJ) do Distrito Federal, censurou o jornal, proibindo a publicação de reportagem sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que in-
vestigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Reportagem publicada pelo Estado mostrou que Vieira, exconsultordoSenado,eradoconvívio da família Sarney. A defesa do jornal recorreu diversas vezes ao TJ, mas a censura persiste até hoje. ‘INACEITÁVEL’
Ementrevista publicada ontem pelo jornal, Celso de Mello, o decanodoSTF, afirmouque acensuraprévia é“inaceitávele intolerável”. “Os tribunais devem se mostrar impregnados dessa consciência democrática de que agora vivemos um novo tempo,otempo deliberdade. Liberdade com responsabilidade, é evidente, mas não faz sentido essa proibição apriorística que é um veto inaceitável, intolerável e insuportável”, disse. A decisão sobre a Lei de Imprensa,quepoderáservirdabase para as reclamações contra censuras impostas pelo Poder Judiciário, foi tomada em abril pelo plenário do STF. Na oca-
Jefferson alertou Lula do mensalão, diz petista
RESUMO – O ministro Carlos Ayres Britto deve enviar acórdão para publicação na próxima semana
sião, o tribunal concluiu que a essa lei era incompatível com a Constituiçãoeconsiderouacensura inadmissível.
Fim da Lei de Imprensa servirá de base para as reclamações Editada em 1967, a Lei de Imprensa era uma das últimas herançasdotempodaditaduramilitar no Brasil que continuavam em vigor. Duranteojulgamento,ministros do Supremo leram votos,
bastante claros, reconhecendo o amplo direito à liberdade da imprensa e comunicação. Essestextosdeverãointegraradecisão a ser publicada no Diário da Justiça. “A liberdade de imprensa não se compraz com uma lei feita com a preocupação de restringi-la, de criar dificuldades ao exercício dessa instituição política”, afirmou no julgamentooministroCarlosAlbertoMenezes Direito, que morreu em setembro vítima de um câncer no pâncreas. “A liberdade de imprensa não traduz uma questão meramente técnica. Representa matériaimpregnadadomaiorrele-
vo político, jurídico e social. Essa garantia básica que resulta da liberdade de expressãodopensamentorepresenta um dos pilares da ordem democrática em nosso País”, argumentou Celso de Mello. PRÓXIMO PASSO
O relator da ação sobre a Lei de Imprensa, ministro Carlos Ayres Britto, afirmou que enviaria ontem o texto para publicação, o que só deverá ocorrer na próxima semana, porque hoje é feriado no Judiciário, em comemoração ao dia do servidor público, e na segunda-feira é o Dia de Finados. ●
O ministro da Justiça, Tarso Genro, voltou a criticar ontem a tesedequetorturadoresetorturados foram igualmente beneficiadospela LeidaAnistia.“Quererfundirasduas condições,como fazem pessoas ilustres muitopróximasdemim,quesouministro, de dizer que ambos estãoanistiados.Éumafraudehistórica e jurídica”, afirmou o ministro, no Rio. A tese de que a anistia vale para os dois lados é defendida pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, que Tarso não citou nominalmente. PARANÁ
Polêmica com gays é ‘bobagem’, diz Requião O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), disse ontem que sua intenção ao relacionarocâncerdemamaemhomens às passeatas gays, na terça-feira,era“explicarqueohormônio feminino e o implante de silicone podem gerar o câncer de mama”. Requião considerou a repercussão negativa como uma “bobagem” e atacou o deputado estadual José Lemos (PT), que o criticou. “Nunca imaginei que fosse mexer com suas opções sexuais.” O petista estuda pedir reparação moral.
� Edição de
0h25
o estado de s. paulo SĂ BADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
FIM DE SEMANA
RODIN â—?â—? No Masp, 22 obras do escultor francĂŞs, alĂŠm de 193 fotografias que retratam o trabalho do artista. â—?
Mestres e grafiteiros são atração em museus �� Para quem não for viajar no feriado prolongado,
hå boas opçþes na cidade, como as mostras de Matisse, Rodin e dos grafiteiros osgemeos. � Pà G. C5
MATISSE �� É a última chance para visitar a exposição Matisse Hoje. A Pinacoteca abre dia 2 atÊ as 20h. �
ESPORTES
Daiane ĂŠ flagrada em exame antidoping
to em votação prevista para 29 de novembro. No Congresso, zelaystas informam que o Partido Nacional, segundo maior do paĂs, votarĂĄ a favor da restituição, o que garantiria sua vitĂłria. O lĂder do PN ĂŠ PorfĂrio “Pepeâ€? Lobo, favorito para suceder a Zelaya. â—? PĂ GS. A10 e A12
DIRETOR:
RUY MESQUITA
OSGEMEOS
â—?â—? No Museu
da Faap, todas as cores dos grafites dos irmãos paulistanos. É gråtis. �
Governo estuda mudanças no câmbio
Após 4 meses, acordo entrega ao Congresso decisão sobre futuro de Zelaya so,instânciaquedecidiråa restituição de Zelaya. Os dois lados se comprometeram a respeitarqualquerdecisãodosdeputados. O acerto impþe limites a Zelaya, como o veto à convocação de plebiscitos. Seu mandato acaba em janeiro, quando assume o governo elei-
(1891-1927)
31 de outubro de 2009 --ANO 130. NÂş 42382
PressĂŁo dos EUA encerra impasse em Honduras EmissĂĄrios do presidente deposto Manuel Zelaya e do lĂder do governo de facto, Roberto Micheletti, assinaram acordo e declararam o fim do impasse em Honduras, que jĂĄ durava quatro meses. O pacto, forjado apĂłs pressĂŁo decisiva dos EUA, foi enviado ao Congres-
JULIO MESQUITA
Crise obrigou americanos a agir ��� O governo americano havia adotado uma posição de distanciamento do impasse hondurenho, na esperança de que a solu-
ção viesse sob mediação da OEA ou do Brasil. Mas, segundo analistas, Washington acabou se vendo obrigado a agir. � Pà G. A12
RESGATE NA AMAZÔNIA
AUREO NETO/AGĂŠNCIA O GLOBO
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, confirmou ontem a retomada de estudo “abrangenteâ€?para alterar o sistema cambial. As regras atuais, disse ele, sĂŁo da ĂŠpoca em que o PaĂs tinha de atrair o mĂĄximo de dĂłlares. Segundo Meirelles, existe preocupação com o câmbio “no sentido de que nĂŁo haja distorção na formação de preços, que possa gerar desequilĂbrios na economiaâ€?. â—? PĂ G. B6
SuperĂĄvit das contas pĂşblicas ĂŠ o menor desde 2001 A queda da arrecadação e o aumentodegastosdogovernoderrubaramoresultadodas contas pĂşblicas.SegundooBancoCentral, o esforço para pagar juros da dĂvida, o superĂĄvit primĂĄrio, somou R$ 34,66 bilhĂľes nos 12 meses atĂŠ setembro. O valor corresponde a 1,17% do PIB, o pior resultado da sĂŠrie iniciada em 2001, e estĂĄ abaixo da meta de 2,5% do PIB. â—? PĂ G. B1
Longe das competiçþes desde 2008, a ginasta Daiane dos Santos foi flagrada pela Federação Internacional de Ginåsticanumexameantidoping realizado em julho. Ela alega que tomou diurÊtico emtratamentocontragordura localizada e diz ter informado a Confederação Brasileira de Ginåstica. � Pà G. E1
Rumo Ă Ă frica â—?â—? DungasĂł pensarĂĄ em con-
tarcomPatoquandoeleamadurecer. Mas acha que isso nĂŁo ocorrerĂĄ logo. â—? PĂ G. E4 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 92 DIAS q PĂ G. A9
Obama libera entrada de portadores de HIV nos EUA O presidente Barack Obama afirmou ontem que anularĂĄ o veto – em vigor hĂĄ 22 anos – Ă entrada de portadores de HIV, vĂrus causador da aids, nos Estados Unidos. As visitas serĂŁo liberadas a partir do inĂcio do ano que vem. “Se queremos ser um lĂder mundial no combate Ă aids, devemos nos comportar como talâ€?, disse Obama. â—? PĂ G. A18
7 8 9 10 11 12
DEPOIS DO MILAGRE – HelicĂłptero da AeronĂĄutica com sobreviventes chega a Cruzeiro do Sul (AC): “Desespero de ver a morteâ€?
Ă?ndios acham 9 sobreviventes da queda de aviĂŁo na floresta
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ndios matises localizaram o aviĂŁo C-98 da FAB que havia feito um pouso forçado no Rio ItuĂ, a 9 horas de lancha da cidade de Atalaia do Norte (AM). “O aviĂŁo
deu pane no alto. Parou o motor e começou a cair�, contou uma passageira. Pelo menos 9 das 11 pessoas a bordo sobreviveram – duas estavam desaparecidas, e acredita-se
Tempo: CAPITAL
NOTAS E INFORMAÇÕES
O mentor da imprensa Neutralizados, pelo descrĂŠdito, os intermediĂĄrios entre o lĂder e os liderados, quem quer
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que estejam no aviĂŁo, agora no fundo do rio. Segundo sobreviventes, o suboficial Marcelo Dias foi o responsĂĄvel por salvĂĄ-los, mas acabou preso na aeronave. â—? PĂ GS. C1 e C3
que ouse criticar o presidente Lula serĂĄ facilmente execrado como inimigo do povo. â—? PĂ G. A3
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Sol aparece e a temperatura sobe. NĂŁo hĂĄ previsĂŁo de chuva.
MĂ?N.
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Hoje: 100 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 26 â—? B. Economia: 14 â—? C. MetrĂłpole: 6 â—? D. Caderno2: 14 â—? E. Esportes: 6 â—? Es. Estadinho: 8 â—? Ca. Autos: 12 â—? Ci. ImĂłveis: 14 (2.909 anĂşncios)
CADERNO 2
As paixĂľes de Borges
â—?â—? Livros revelam diĂĄlogos em que o argentino fala de preferĂŞncias culturais. â—?
direto da fonte
Arte garantida
â—?â—? Mais de R$ 16 milhĂľes jĂĄ estariam garantidos para a Bienal de 2010. â—? PĂ G. D2
DiversĂŁo e susto â—?â—? Para comemorar o Dia do
Saci e o Halloween, sugerimos um jogo de cartas. â—?
A2 ESPAÇO ABERTO
SÁBADO, 31 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Efeito sem causa
Carlos Lacerda e a Olimpíada
A.P.QuartimdeMoraes
SandraCavalcanti
Dias atrás circulou na grande mídia a informação de que o governo Lula é “o maior comprador de livros do mundo”, já que adquiriu “57,5% dos 211.542.458 livros vendidos no Brasil em 2008”. Peta. Não conheço dados sobre a compra de livros por governos de outros países, por isso não sei se também nesse campo nosso façanhudo presidente é “o cara”. Mas segundo a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro-2008, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), no ano passado foram vendidos no Brasil 333.264.519 exemplares de livros (e não apenas 211 milhões), dos quais 121.722.061 (apenas 36,3%, não 57,5%) foram compras governamentais, em todos os níveis. Essa pesquisa anual revela, para todos os efeitos – menos, é claro, propaganda enganosa – os números oficiais do mercado livreiro no Brasil. Não é a primeira vez que se
É um fenômeno de que esta alegre Nação se tem revelado tão pródiga veiculam números discutíveis sobre o mercado de livros no País. Não se trata de questionar a idoneidade das pesquisas, mas sabemos que metodologia e interpretação permitem sempre a subjetividade que pode, em alguma medida, comprometer a precisão dos resultados. E quando esses resultados tendem a favorecer sempre os interesses promocionais do poder público, é prudente manter aceso o espírito crítico. Refiro-me de modo geral aos recentes indicadores do desempenho do mercado editorial brasileiro, que tendem a alimentar a fantasia de que nunca antes neste país se fez tanto, e tão bem, em benefício do livro e da leitura. É o caso da informação imprecisa citada na abertura deste texto e muitas outras. Mas chama particularmente a atenção a auspiciosa novidade de que o índice de leitura no Brasil quase triplicou nos últimos sete ou oito anos, espetacularmente catapultado da marca de 1,8 livro lido por ano, em média, por cada cidadão brasileiro para os 4,7 que hoje se comemoram acriticamente. O projeto Retratos da Leitura no Brasil, que teve duas edições, a primeira de 2001 e a última de 2008, é uma admirável iniciativa do Instituto Pró-Livro (IPL), organização sem fins lucrativos mantida pelos mencionados CBL e Snel, mais a Associação Brasileira de Editores
de Livros (Abrelivros), que reú- bém não explica o prodígio, ne as editoras do segmento de pois a própria pesquisa revela que três de cada quatro didáticos e paradidáticos. Em 2001 o Retratos confir- brasileiros não frequentam mou o que era então voz cor- casas de leitura. E embora o rente no mercado editorial. O Ministério da Cultura tenha índice médio de consumo de li- anunciado que quase 90% vros/ano no País era de menos dos municípios brasileiros de 2 per capita. Mais precisa- têm pelo menos uma bibliotemente, 1,8. Aí incluídos os li- ca, apenas 66% dos entrevisvros didáticos e paradidáticos, tados confirmam isso. Para que sejam lidos hoje de consumo compulsório na re2,6 vezes mais livros do que de escolar. A pesquisa realizada no se- há sete anos é preciso que esgundo semestre de 2007 e divul- ses livros existam. A produgada em maio do ano passado ção e o acervo bibliográfico revelou que em sete anos aque- nacionais do início da década le índice saltou para 4,7, bem davam conta de um consumo mais próximo da realidade dos médio muito modesto. Hoje a indústria livreira continua se países do Primeiro Mundo. Nesta segunda edição, a pes- queixando da baixa demanquisa foi realizada pelo Ibope In- da. De 2007 para 2008, por teligência, com metodologia de- exemplo, o aumento do númesenvolvida pelo Centro Regio- ro de exemplares vendidos nal de Fomento ao Livro na foi de insignificante 1,4%, seAmérica Latina e no Caribe gundo a Fipe. Salvo a hipótese de que o in(Cerlalc), organismo da Unesco, com o intuito de estabelecer dicador de 2001 é que estivesum padrão internacional de me- se muito subestimado, o que dição. Duas instituições absolu- teria, afinal, possibilitado o tamente idôneas, a exemplo do quase ingresso do Brasil na seIPL. Desta vez foi significativa- leta lista dos países letrados? Mesmo sem medo de ser mente ampliado o universo pesquisado, que antes abrangia feliz, não é fácil aceitar o indiapenas os brasileiros com 14 cador 4,7 avalizado pela próanos ou mais e que tivessem li- pria indústria do livro. Talvez do pelo menos um livro nos três esse incremento impressiomeses anteriores à consulta. nante tenha algo que ver com Agora foram ouvidos todos os a mudança na metodologia brasileiros de 5 anos ou mais, da pesquisa do IPL. Mas isso não fica claro em lugar nena mesma condição. Com essa nova metodologia, nhum, pelo menos para o enque incluiu ainda as pessoas tendimento dos mortais. Tracom menos de três anos de es- ta-se, portanto de um fenômecolaridade, o universo investiga- no da misteriosa categoria do pelo método de amostragem dos efeitos sem causa, de que passou a abranger 92% da popu- esta alegre Nação se tem relação brasileira: 172 milhões. velado tão pródiga. ● Em 2000 esse universo era de apenas 86 milhões e correspon- A. P. Quartim de Moraes é dia a 49% da população. jornalista e editor. E-mail: O fato de o universo pesqui- apquartim@dualtec.com.br sado ter praticamente dobrado de uma edição para a outra não explica por si só, é claro, a espetacular multiplicação por 2,6 do índice médio de leitura per capita no País. Para que a população brasileira passasse a ler, em média, 2,6 vezes mais é de imaginar que ao longo dos últimos sete anos tivessem sido executadas políticas públicas quase revolucionárias nas áreas de educação e cultura. E isso traria também como consequência um aumento expressivo na produção e venda de livros. Nem uma coisa nem outra ocorreram. As compras governamentais de livros permanecem relativamente estáveis de ano para ano. O louvável recente esforço do governo federal para aumentar a rede de bi- Bruno Senna, piloto bliotecas públicas tam-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES UnibaneaIdadedasTrevas Fiquei chocado e perplexo com as cenas de preconceito, intolerância e barbárie exibidas no interior da Uniban, onde uma jovem aluna foi enxovalhada, insultada e ofendida por centenas de estudantes apenas por usar minissaia. Realmente, a estupidez humana não tem limites. Parecia que a garota estava no Afeganistão dos taleban ou na Idade Média da Santa Inquisição. É revoltante uma aberração dessas em São Paulo, no Brasil, em 2009. É o fim da picada. E pensar que essa covardia foi cometida por universitários, pessoas que teriam, supostamente, melhor nível cultural e que serão futuros profissionais com nível superior. RENATO KHAIR renatokhair@uol.com.br
São Paulo
Vibrei com a vitória da Cidade Maravilhosa! Moro aqui desde os 4 anos de idade. Aprendi a amar este Rio de Janeiro incomparável e a sentir tudo o que a cidade representa em nossa História. Principalmente seu espírito indomável. Minha geração participou de seus momentos mais difíceis. A absurda e inesperada destituição da capital do País. Sua insensata redução à condição de município. Os castigos que sempre sofreu pelas manifestações corajosas de amor à lei e à liberdade. Como reduto de oposição aos regimes de força, o Rio foi sempre prejudicado por medíocres ocupantes do poder federal. Nada disso, entretanto, conseguiu apagar sua bravura ou diminuir sua capacidade de trabalho. O maior exemplo dessa garra foi dado ao País em 1960. Contra tudo e contra todos, Carlos Lacerda foi o primeiro governador eleito do Estado da Guanabara, criado após a transferência da capital da República para o planalto deserto de Goiás. Sua vitória foi um episódio inédito na nossa História política. Quando Carlos Lacerda se apresentou como candidato, e venceu, essa vitória foi vista como a crônica de um fracasso anunciado. Jornalista consagrado, escritor, deputado federal respeitado, tribuno amedrontador, crítico audacioso das ideologias totalitárias, Carlos Lacerda não trazia em seu currículo nenhuma informação sobre experiência administrativa. No entanto, como jornalista, estudioso, poliglota, viajante observador, grande conhecedor de nossa História, ele sabia muito bem o que o es-
Marimbondoconfuso Sarney afirmou ser contrário à entrada da Venezuela no Mercosul, pois naquele país ocorrem fatos antidemocráticos, como o cerceamento da imprensa. Depois de 90 dias de censura ao Estadão, é de perguntar se o senador entende que o Brasil deve ser expulso do bloco, sob a mesma argumentação. Aliás, os senadores governistas que aprovaram a entrada de Hugo Chávez no Mercosul, quando indagados a respeito da vocação ditatorial desse senhor, argumentaram que a entrada da Venezuela se dará somente após assinatura de documento no qual seu presidente se responsabilize por comportar-se democraticamente. Tal
perava. Sabia que a cidade precisava de um estadista. Encontrou o novo Estado-cidade em situação desesperadora. Sem água havia mais de 30 anos. Sem luz, sem energia, sem telefones, sem rede de esgotos, sem vagas nas escolas públicas, sem hospitais que pudessem atender à demanda, sem transporte coletivo e, principalmente, sem projetos para o seu desenvolvimento. O João Havelange sabe disso, ele é desse tempo. O pai do governador Sérgio Cabral, também. É dessa época. Quem viveu aqueles tempos e ainda estiver lúcido e atuante conhece essa epopeia. Foi uma verdadeira Olimpíada! A data marcada era o dia 30 de dezembro de 1965, quando ele entregaria a cidade ao seu sucessor. Um desafio assustador. Primeiro, era preciso resolver o problema da falta d’água. A cidade vivia esse drama fazia mais de 30 anos, quando ele assumiu. Acontece que ela não dispunha de um Rio Sena, um Tâmisa, um Tejo, um Potomac, um Tibre. Chamava-se Rio de Janeiro por equívoco. Não tinha um rio que pudesse abastecê-la. Esse era o desafio olímpico! Todos os projetos falavam em canais. Mas onde localizálos? Uma equipe de engenheiros brasileiros, liderada pelo saudoso Veiga Brito, respondeu a essa pergunta com uma proposta surpreendente: captar água no distante Rio Guandu, represála, tratá-la, cruzar com ela o território do Estado, atravessando o maciço da Serra da Tijuca. Uma estação elevatória faria a água alcançar as alturas da serra, jogando-a num túnel escavado nas pedras, com 46 km de comprimento e 6 m de diâmetro. Pois isso foi feito. Um projeto olímpico! Em 2008, um dos mais acreditados centros de análise de projetos hidráulicos do munLOREDANO do, com sede em Londres, considerou que “o maior e mais importante projeto de captação, tratamento e distribuição de água do século 20 foi o projeto do Guandu”. Era a nossa medalha de ouro. A cidade do Rio de Janeiro e muitas vizinhas vivem ainda hoje da água que jorra dessa obra-prima. Ao assumir o governo, Carlos Lacerda encarou um grande escândalo: o aterro da Praia do Flamengo. Obra que se arrastava desde 1943, para alegria dos empresários de caminhões, que apanhavam pedras e terra no Morro de Santo Antônio. Terminado o aterramento, a área ia ser objeto da mesma negociata imobiliária que
ENDEREÇO
FAX:
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
papel será o equivalente tupiniquim à famosa folha brandida orgulhosa e tolamente por Chamberlain ao descer do avião em retorno de Berlim. Para quem não se lembra, o ex primeiro-ministro britânico foi à Alemanha pedir garantias de não-agressão ao então mandatário germânico, Adolf Hitler, que assinou prontamente tudo o que Chamberlain quis e, meses depois, desencadeou o mais sangrento conflito da humanidade, em 1939. Que fique registrado para Suas Excelências: ditador é ditador. E nenhum papel assinado os faz desviar dos seus intentos absolutistas! JÚLIO CRUZ LIMA NETO juliocruzlima@uol.com.br
São Paulo
Muyamigos No Rio, na inauguração da quadra poliesportiva da Vila Olímpica de Mangueira, o presiMente disse que bandido não é um ser normal – que, aliás, foi como classificou José Sarney (uma pessoa “incomum”). Sob a sua batuta, a base liderada por Romero Jucá aprovou a entrada no Mercosul da Venezuela do “democrata” bolivariano Discursando Chávez. E lá sobra censura, mas falta comida. Arriba, Mercosur... MÁRIO A. DENTE dente28@gmail.com
São Paulo
Oiníciodo fim E a Comissão de Relações Exterio-
(11) 3856 2920
res do Senado aprovou a entrada da Venezuela no Mercosul. Falta a votação em plenário, que vai aprovar o que o presidente Lula quiser. A nós resta torcer para que o bloco econômico sobreviva a Hugo Chávez. VICTOR GERMANO PEREIRA victorgermano@uol.com.br
São Paulo
Ironia Xiii, será que o Paraguai é que vai salvar o Mercosul do produto falsificado de democracia Hugo Chávez? Será muita ironia... TANIA TAVARES taniatma@hotmail.com
São Paulo
ocorrera na Esplanada do Castelo. O governador escolheu um destino diferente: implantar ali o maior parque urbano das Américas. Para alegria dos cariocas, o parque é hoje uma das mais belas joias da cidade. Carlos Lacerda encontrou a cidade do Rio sem nenhum planejamento de desenvolvimento urbano. Planejamento de verdade, de estadista, de longo prazo. Contratou, então, o melhor urbanista da época, famoso pelo que fizera em Londres, Los Angeles e outras grandes cidades pelo mundo. Constantino Doxiádis era o nome dele. Quem passa hoje pela Linha Vermelha, pela Linha Amarela, pela Linha Verde, pelo Túnel Rebouças, pelo Túnel Dois Irmãos e descortina a Barra, usa o trabalho do urbanista grego. Como bom ambientalista, Carlos Lacerda preservou a reserva do Recreio dos Bandeirantes, tombou o Parque Lage e implantou a defesa do Maciço da Pedra Branca. Na área da educação, ele, que como deputado federal acabara de ver vitoriosa a Lei de Diretri-
Graças à sua ação de estadista, o Rio vai mostrar por que é a Cidade Maravilhosa zes e Bases, exigida desde 1946, mostrou a que viera: em menos de um ano resolveu a questão da falta de vagas na rede pública de ensino. Dois terços da rede de esgotos da cidade foram construídos nesse período, no qual também a rede pública de hospitais foi recuperada. Alguns deles, construídos então, ainda garantem o bom atendimento atual. Muitas favelas, que devastavam a mata atlântica, poluíam lagoas e rios ou ocupavam áreas de risco, foram reassentadas em condomínios populares. Na imensa área da antiga Favela do Esqueleto ergue-se hoje o câmpus da Uerj. Ali viviam mais de 5 mil famílias, que foram reassentadas nas casas da Vila Kennedy. Sei que os Jogos Olímpicos vão ser um sucesso. Os eventos cariocas juntam multidões, mas são sempre pacíficos. Quem viver até 2016 verá uma fantástica Olimpíada! Idosos como o Havelange, eu mesma, os pais do Sérgio Cabral, do prefeito Eduardo Paes, nós confiamos. O Cabral e o Paes, bem mais moços, vão ter a alegria de ver o Rio mostrar por que é a Cidade Maravilhosa! ● Sandra Cavalcanti, professora, jornalista, foi deputada federal constituinte, secretária de Serviços Sociais no governo Carlos Lacerda, fundou e presidiu o BNH no governo Castelo Branco E-mail: sandra_c@ig.com.br
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Democraciaameaçada Não há como não comentar o corajoso artigo Yoani em Berlim (29/10, A2), de Demétrio Magnoli, um escritor sempre atento ao que se passa no nosso país e que tem a capacidade de analisar com inteligência e objetividade os passos que estamos vendo nossos governantes darem em direção ao totalitarismo, fatos que na maioria das vezes passam despercebidos à maioria, pois vêm em doses homeopáticas, mas com uma consistência certa. A adesão de Lula e seus ministros a Chávez e outros políticos latinos, as atitudes antidemocráticas que vemos todo dia, uma delas há já três meses (censura ao Estado), as invasões dos criminosos sem-terra a fazendas, destruindo tudo o que encontram e que são
SÁBADO, 31 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS & INFORMAÇÕES
O mentor da imprensa
À
primeira vista, o presidente Lula é um poço de contradições em relação à imprensa. Ora ele diz que “é importante a gente ler todos os jornais que puder por dia”. Ora diz que não lê jornais porque tem “problemas de azia”. Mais de uma vez creditou à “imprensa livre e independente” a sua ascensão política. Mas também já declarou que se elegeu não porque “a imprensa me ajudou”, mas porque “suei para enfrentar o preconceito e o ódio dos de cima para com os debaixo”. Nesse ponto pelo menos é coerente: está seguro de que a sua reeleição no segundo turno de 2006, depois dos escândalos do mensalão e dos aloprados, representou uma fragorosa derrota da mídia e dos “formadores de opinião” que tentavam tutelar o eleitorado. Não só para ele, de fato, mas para 11 em cada 10 petistas, os meios de comunicação, aliados aos “de cima”, tentaram derrubá-lo, fabricando a história da compra sistemática de deputados para que votassem com o governo. É a teoria da conspiração em sentido literal. O Lula contraditório, a “metamorfose ambulante”, como certa vez se autodefiniu, rea-
parece quando ele se manifesta sobre o cerco do governo Hugo Chávez ao que ainda resta de independente na imprensa venezuelana. Três anos atrás, fazendo campanha pela reeleição do caudilho, subiu num palanque no vizinho país para afirmar que o caudilho era “vítima da incompreensão e do preconceito” da mídia. Mas, anteontem, numa entrevista por escrito ao El Universal, de Caracas, Lula se recusou a comentar as perseguições chavistas aos órgãos de informação – só este ano 32 emissoras de rádio foram tiradas do ar na Venezuela. Preferiu falar da situação no Brasil. “No meu país, a imprensa goza de total liberdade”, ufanou-se, omitindo embora o caso do Estado, sob censura prévia há 3 meses por decisão judicial. E completou, com palavras irrespondíveis, se tomadas pelo valor de face: “Sou duramente criticado no Brasil por boa parte da imprensa, muitas vezes de maneira injusta, em minha opinião. Mas isso não muda em nada minha convicção de que a liberdade de imprensa é essencial.” Se assim é, Lula não deveria se dar ares de mentor da mídia, ainda que ela tenha toda a
liberdade de rejeitar, criticar ou mesmo tratar com sarcasmo os seus preceitos. Na semana passada, por exemplo, ele disse à Folha de S.Paulo que a missão do jornalismo é apenas informar e não fiscalizar o poder, traindo, quem sabe, uma fantasia de ver a imprensa brasileira transformada em um grande Diário Oficial. Isso não é nada perto do que ele fez na quarta-feira em São Paulo, antes de seguir para Caracas. Em mais uma contribuição para a série “nunca antes…”, pela primeira vez Lula atiçou uma plateia contra jornalistas. Falando para cerca de 3 mil catadores de lixo reunidos na feira Expocatadores 2009, abandonou em dado momento o discurso escrito e voltou-se para os “companheiros” repórteres. “Hoje vocês têm a oportunidade de fazer a matéria da vida de vocês.” Bastaria “esquecer a pauta do editor” e se “embrenhar no meio dessa gente” para ouvila falar de sua vida. E ordenou, com uma acusação implícita: “Publiquem apenas o que eles falarem. Não tentem interpretar.” Ficasse nisso, a exibição de prepotência ainda seria um vexame venial, ao menos pa-
ra os padrões da retórica lulista. Mas, na ânsia de mostrar que se identificava com a plateia e, como sempre, empolgado pelo som da própria voz, ensinou que, se os jornalistas seguissem a orientação do presidente-pauteiro, entenderiam “por que a figura do chamado formador de opinião pública, que antes decidia as coisas neste país, já hoje não decide mais”. Na apoteose, ungiu a audiência com uma louvação desencapada. “Esse povo não quer mais intermediários” – ou seja, a imprensa. “Esse povo tem pensamento próprio, esse povo anda pelas suas pernas, trabalha pelos seus braços, enxerga pelos seus olhos e fala pela sua boca.” Deu no que teria de dar: os catadores em peso vaiaram os jornalistas. Se Lula quisesse e as circunstâncias permitissem, o “pensamento próprio desse povo” poderia provocar uma reação ainda mais agressiva. É assim que funciona a política da manipulação autoritária: neutralizados, pelo descrédito, os intermediários entre o líder e os liderados – as instituições do Estado e da sociedade e a imprensa independente –, quem quer que ouse criticar o Chefe será facilmente execrado como inimigo do povo.
Mais múltis brasileiras
Os planos da Justiça paulista
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Ministério do Desenvolvimento prometeu lançar, em dezembro, um programa para estimular a internacionalização da economia brasileira, segundo informou o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral. Seria a primeira iniciativa concreta do governo para buscar o equilíbrio entre os ingressos e as saídas de capital, reduzindo o fluxo líquido de dólares para o País, após a decisão do Ministério da Fazenda – com efeitos pífios, até o momento – de impor a cobrança do IOF de 2% sobre as entradas de dólares na Bolsa e na renda fixa. Estimular a internacionalização significa ampliar o número das companhias multinacionais com sede no Brasil – caso de empresas privadas como Vale, Embraer, Gerdau, Votorantim, Aracruz, Marcopolo ou Weg, entre outras, e a estatal Petrobrás. Proporcionalmente às dimensões da economia brasileira, esse número ainda é pequeno. Com a desvalorização do dólar de cerca de 25%, até agora, neste ano, em relação ao real, investir no exterior tornou-se mais barato para as companhias que faturam em reais. Mesmo assim, a evolução desses investimentos é lenta e declinante, segundo os dados do Banco Central: de US$ 11,9 bilhões, nos primeiros nove meses de 2008, caiu para menos da metade, US$ 5,8 bilhões, no mesmo período de 2009. Na indústria, os investimentos diretos do Brasil no exterior foram de US$ 7,6 bilhões, em 2008, e, neste ano, até setembro, limitaram-se a US$ 1,6 bilhão. Medidas tributárias, legisla-
tivas e administrativas estão sendo elaboradas pelos Ministérios do Desenvolvimento, da Fazenda, o Itamaraty e o Banco Central, para entrar em vigor no ano que vem, com vistas a estimular a política de internacionalização, explicou Barral. Nas negociações comerciais bilaterais, o Itamaraty passaria a incluir mecanismos capazes de estimular os investimentos brasileiros no exterior. E o Ministério do Desenvolvimento proporá um novo regulamento sobre a atuação das trading companies, pois a legislação, da década de 70, está ultrapassada.
Governo incentivará a internacionalização de empresas Mas o governo terá de definir uma política bem estruturada e de longo prazo para o setor externo – o que, até agora, não tem demonstrado capacidade de fazer. Barral argumentou, sextafeira, que o câmbio ficou mais estável em todos os momentos em que se elevaram os investimentos das empresas brasileiras no exterior. De fato, em 2006, quando a Vale investiu US$ 13,2 bilhões na compra da mineradora Inco, do Canadá, a desvalorização do dólar em relação ao real foi de apenas 8,6%. Mas o presidente Lula quer que a Vale invista mais no Brasil e menos no exterior, sem levar em conta o impacto no mercado cambial. O Brasil não inova ao estimular a internacionalização da economia, pois esta é a política
de países como a China e a Índia. No passado, também foi a política de países industrializados, como o Japão, que, por exemplo, investiu pesadamente em montadoras nos Estados Unidos. Esses países se tornaram altamente superavitários – e o aumento dos investimentos diretos no exterior foi a maneira encontrada para evitar uma desvalorização excessiva do dólar, que pusesse em risco a exportação. O Brasil atrai volume crescente de investimentos diretos, que passaram de US$ 15,1 bilhões, em 2005, para US$ 18,8 bilhões, em 2006; US$ 34,6 bilhões, em 2007; e US$ 45,1 bilhões, em 2008, cedendo com a crise, neste ano. Os recursos contribuíram para manter em níveis baixos o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos. Desde 2007, o ingresso de dólares é muito maior do que a saída de cambiais. As reservas passaram de US$ 85,8 bilhões, em dezembro de 2006, para US$ 180,3 bilhões, em 2007, e chegaram a US$ 233,2 bilhões há uma semana. Este ainda é um fenômeno relativamente novo na economia, habituada a déficits recorrentes do balanço de pagamentos. Agora, acreditam especialistas, a perspectiva é de o superávit cambial continuar por longo tempo – o que recomenda a adoção de políticas de estabilização da taxa cambial. Mas todo o governo precisará estar convencido de que a internacionalização da economia brasileira é o melhor caminho.
umprindo a Resolução 70 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que foi editada em fevereiro e impôs uma política de metas administrativas para todas as Cortes do País, com o objetivo de agilizar a tramitação dos processos, acelerar a implantação de programas de informatização e democratizar o acesso ao Judiciário, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) acaba de divulgar a primeira minuta de seus planos estratégicos para os próximos cinco anos. Atualmente, a Corte concentra 50% das ações judiciais que tramitam no Brasil. Embora ainda possa sofrer mudanças, uma vez que tem de ser aprovado pelo Conselho Superior da Magistratura e pelo Órgão Especial do TJSP, o documento é importante. Por meio dele, a cúpula da Justiça paulista, que é a mais congestionada de todo o País e está atrasada em seu programa de informatização, comprometese a aumentar sua produtividade em 20%, na primeira instância, e em 30%, na segunda instância, até 2014. Para assegurar o cumprimento dessas metas, o TJSP pediu sugestões a todos os juízes e desembargadores, em seu site na internet, e decidiu adotar 21 medidas. Entre elas destacam-se o remanejamento de servidores judiciais, a adoção de controles mais rígidos dos processos que permanecem nos gabinetes dos magistrados, a contratação de mais analistas judiciários para o segundo grau, a criação de uma escola para a qualificação de servidores e a instalação de um portal para divulgar atos e
processos em tempo real. Além dessas medidas, a Justiça paulista decidiu criar duas câmaras digitais de julgamento, aperfeiçoar o sistema de comunicação entre todas as comarcas do Estado, interligar as varas por meio de um sistema único de gerenciamento de processos e fixar indicadores para avaliar a qualidade dos serviços prestados. Para melhorar o sistema de controle dos precatórios, o TJSP também pretende instalar, em dois anos, um sistema informatizado para o acompanhamento dos pagamentos das dívidas judiciais do governo estadual e
TJSP tem planos para dar maior rapidez e eficiência a seus serviços das prefeituras paulistas. O inédito, na minuta dos planos estratégicos do TJSP, é o reconhecimento público de seus gargalos. A Corte reconhece a ineficiência de seus órgãos de divulgação e a “falta de habilidade” para se comunicar com a sociedade. Entre os obstáculos mencionados, porém, dois são de alçada de outras instâncias e Poderes. Um deles é a superlotação das penitenciárias paulistas, problema de responsabilidade do Executivo. Outro obstáculo é o anacronismo da legislação processual penal, que foi editada pela ditadura varguista, em 1940, e da legislação processual civil, que foi editada pela ditadura militar, em 1977. A modernização dos dois códigos é de responsabilidade do Congresso Nacional. Há menos de duas sema-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
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O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
defendidas e financiadas pela base aliada de Lula e por intelectuais do PT, são apenas pequenos exemplos de um projeto que se detecta até agora em pleno andamento. Tal como o escandaloso silêncio de todos os que fazem parte do governo e de seus aliados sobre a proibição da viagem da cubana Yoani Sánchez, que consegue, apesar da mão de ferro de Fidel Castro, ser uma voz de dissidência nesse país totalitário, considerado por Lula uma maravilha e um exemplo. Só lamento que sejam poucos os que se expressam sobre o perigo desses democratas de araque, que iludem o povo com demonstrações e atos populistas. MARIA TEREZA MURRAY
FundaçãoSarney Agora que eu ia fazer uma doação financeira à Fundação Sarney, ele a extingue. Estou pensando em dá-la ao MST, para ajudá-lo a fazer mais invasões criminosas em terras produtivas. F. KAIRALLA, produtor rural
HumbertodeLunaFreireFilho hlffilho@gmail.com SãoPaulo
kairalla@itelefonica.com.br
Neves Paulista
Senado Senadores e Mesa Diretora confirmam demissão do ex-diretor Zoghbi. Ninguém me tira da cabeça que tem coisa combinada entre as partes por trás dessa demissão. ORIVALDO TENORIO DE VASCONCELOS prof.tenorio@uol.com.br
Monte Alto
terezamurray@hotmail.com
São Paulo
“
Lula tem razão: ‘Enfrentar quadrilha organizada é apenas ilusão’”
●
Eta, nóis, tudo continua como
dantes no quartel de Abrantes. FILIPPO PARDINI filippo@pardini.net
São Paulo
OperaçãoCopenhague É sintomático que o governo só se preocupe com a encenação. Segundo a proposta do ministro Minc, vai-se tolerar a irresponsabilidade do desmatamento até 2020, e mesmo além. Mas não
ocorre a ninguém “colar” o modelo chinês de desenvolvimento: estabelecer cidades industriais na costa para ocupar os contingentes pobres, em especial os que estão na floresta. A China já resgatou centenas de milhões da pobreza oferecendo trabalho urbano com mais alta produtividade. Aqui nem se pensou nisso. No caso do Pará, a indústria podia ser “verde” trabalhando com matéria renovável fornecida por extensos reflorestamentos. Não haveria mais desculpas sociais nem econômicas para desmatar. O Brasil poderia, com certa comodidade, assumir metas de redução de emissões de 50% em relação a 1990 para 2015. Então teria papel de líder de fato. HARALD HELLMUTH hhellmuth@uol.com.br
São Paulo
nas, o Senado nomeou uma comissão de juristas para elaborar um novo Código de Processo Civil, revendo prazos e diminuindo o número de recursos por instância judicial. E, há sete meses, os presidentes dos Três Poderes assinaram mais um “pacto republicano” comprometendo-se a tornar a Justiça mais eficiente e ágil, fortalecendo as defensorias públicas, instituindo Juizados Especiais da Fazenda Pública nos Estados, atualizando a legislação sobre crime organizado e lavagem de dinheiro e revendo a Lei da Ação Civil Pública, com o objetivo de disciplinar as ações coletivas para a tutela dos chamados interesses e direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. Os planos do TJSP são oportunos e necessários, mas sua implementação não será fácil. Um dos desafios a ser vencido é de natureza corporativa, pois alguns setores da magistratura paulista insistem em afirmar que a política de metas imposta pelo CNJ esvazia sua autonomia. O outro desafio é de caráter financeiro. A cúpula da Justiça reclama da escassez crônica de verbas e se queixa dos cortes que têm sido feitos em seu orçamento pelo Executivo estadual. A Corte se propõe a adotar uma “gestão inteligente” de recursos financeiros, mas deixa claro que, se não obtiver mais verbas, terá dificuldades para cumprir as metas previstas. O problema financeiro é antigo, mas esta é a primeira vez que o TJSP reconhece publicamente que precisa aprender a gerir os recursos disponíveis com maior racionalidade. Isso é, certamente, o maior avanço da Justiça paulista.
Leido Inquilinato O projeto da nova Lei do Inquilinato aguarda a sanção do presidente da República. Essa lei vem só prejudicar o inquilino. O locador tem inúmeras armas para se defender. Há algum tempo alugamos um apartamento e “morremos” em R$ 6 mil de seguro-fiança. Se o locador tem ao seu dispor fiador, seguro-fiança, depósitofiança, por que o Senado se preocupa tanto com ele? O inquilino não tem nada que o favoreça, sem contar que é inquilino porque seu poder aquisitivo é menor. Se o locador quiser se livrar de um determinado locatário, basta conseguir um “laranja” que diga que vai pagar mais. Assim, quem não tem condições de comprar um imóvel vai ficar cada vez mais oprimido. Espero que o presidente pense
bem antes de bater seu carimbo. ELISABETE B. SOUZA BUENO bethbsb@uol.com.br
Bragança Paulista
PrisõesdaPolíciaCivil A Polícia Civil fez uma operação especial e prendeu mais de 2 mil pessoas em um dia. Claro que isso é bom. Mas por que não faz isso todos os dias, que é a sua obrigação? Traria mais segurança à população se estivesse sempre usando todos os esforços para diminuir a criminalidade. Parece que a desvantagem para a polícia e para a Secretaria da Segurança Pública é que isso traria menos repercussão nos noticiários. ABELARDO QUINDERÉ FRAGA JR. abelardo_f@terra.com.br
São Paulo
SÁBADO, 31 DE OUTUBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 92 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura é insana’, diz especialista no assunto Para advogado Lourival J. Santos, da Aner, a decisão do TJ-DF é um completo absurdo Moacir Assunção
O advogado Lourival J. Santos, diretor jurídico da Associação Nacionaldos EditoresdeRevistas (Aner), é um especialista, até pela função que exerce, em liberdade de expressão. Ele não consegue entender a razão de a censura imposta ao Estado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) se manter e, pior ainda, perdurar há mais de 90 dias, apesar de opiniões con-
JUDICIÁRIO
Juízes querem alterar nomeação para STF Fausto Macedo
Osjuízesqueremmudarosistema de indicação de ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF), mais alta instância do Judiciário. Eles avaliam que o modelo atual, que confere exclusividade ao presidente da República na composição da corte, se revestedeinquestionávelinterferência política. Em seus dois mandatos, o presidente Lulajánomeou8dos11ministros do STF e mais de 50% dosquadrosdosoutrostribunais superiores – o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior do Trabalho e o Superior Tribunal Militar. “A forma de acesso vigente há muitos anos lança dúvidas sobre a independência e a imparcialidade do Judiciário”, observa Mozart Valadares, presidente da AssociaçãodosMagistradosBrasileiros (AMB), mentor da proposta de emenda à constituição que a entidade levará ao Congresso quarta-feira com sugestões para alterar o caminho até o STF. Valadares acentua que “nãoháradicalismos”naproposta e afirma que a classe está aberta ao debate. Os juízes não almejam excluir do rol de atribuições do presidente a nomeação dos ministros,nemdocrivodoSenado, mas consideram vital mexer no sistema, que é secular. Sugerem que entre 5 e 6 cadeiras sejam reservadas para magistrados de carreira. Hoje, apenas um ministro, Cezar Peluso, é juiz de origem. “A falta de regras objetivas para fundamentar a indicação do Executivo abre espaço para questionamentos”, alerta Valadares. OtextodaemendafoiaprovadopeloConselhodeRepresentantes da AMB – colegiado formado por mais de 30 associações da toga – e divulgadono20ºCongressoBrasileiro de Magistrados, em São Paulo,onde2miljuízesdiscutiramumagestãodemocrática do Poder ao qual estão vinculados. A AMB aloja cerca de 14 mil magistrados. É a mais influente trincheira dos juízes. “O objetivo é contribuir para o aperfeiçoamento do sistema com regras mais democráticas e transparentes, o critério de indicação é uma preocupação antiga da AMB”, assinala Valadares. Ele ressalta que a proposta “busca dar mais impessoalidade no acesso ao Supremo.” Osjuízesquerem estabelecer 45 anos como idade mínima para os indicados e 20 anos de atividade jurídica. Eles comporão lista sêxtupla, elaborada pelo STF, que será levada ao presidente e depois aprovada por três quintos do Senado. Querem quarentenadetrêsanospara quem exerceu cargo eletivo ou de confiança no governo. “Não se mexe num tribunal comtradiçãocentenáriasimplesmente por uma vontade de fazer um experimentalismo qualquer”, declarou o ministro Gilmar Mendes, presidente do STF. ●
trárias dos mais conceituados juristas brasileiros. “A mordaça é um completo absurdo, algo insano que não tem cabimento, principalmentenostemposquevivemos”,criticou Santos. “A nossa Constituição, promulgada em 1988, varreu este entulho autoritário e não há mais que se falar em censura no Brasil.” Santosafirmouquenãoépossível, como alegou o TJ-DF, se declararincompetente parajul-
NACIONAL NACIONAL A9 A9
gar ações relacionadas à censura. “Ora, nenhum dos Poderes pode se dizer competente ou incompetente para julgar este tema”, argumentou. “Qualquer tentativa de se censurar o direitoàexpressão étotalmente descabida, inconstitucional e autoritária.” O repúdio à censura, de acordo com o especialista, tem raízes profundas na história do Brasil. “Nos discursos de Rui Barbosa, a ojeriza às tentativas
de se calar a opinião democrática é uma constante. Ele chega a dizer que a liberdade está acima da pátria, para mostrar sua importância”, afirmou. ATRIBUIÇÕES
Umdosmaisimportantesjornalistas e advogados do Brasil, Rui fazia questão de lembrar que a imprensa não integra o conjunto de direitos de caráter individual, mas o de ordem pública,oque,paraodiretorjurídi-
co, torna mais grave a censura. Até mesmo o filósofo Karl Marx,quefoijornalistada Gazeta Renana, de acordo com ele, condenou as tentativas de se amordaçar a imprensa. “Marx dizia que o papel de censurar não fazia parte das atribuições dos juízes, mas dos censores. O juizapenas julga,masnão impede ninguém de publicar algo porque isso não faz parte do seu cargo.” Na sua própria área, de acor-
do com Santos, também houve várias tentativas – algumas bem-sucedidas inicialmente – de impor a censura. A revista Veja foi censurada durante a ditaduramilitar,a exemplodoEstado. “Houve até alguns casos de apreensões de revistas, em períodos anteriores a 1988 e mesmo depois. Em todos os casos, foram revertidas nos tribunais,como,comcerteza,acontecerá em breve com o Estado.” Autor do pedido de censura, o empresário Fernando Sarney é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Fernando foi indiciado pela Polícia Federal sob acusação de tráfico de influência, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e falsidade ideológica. ●
●Edição das
23h15
o estado de s. paulo DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
1 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42383
HÉLVIO ROMERO/AE
DAVID M. HEALD
tv&lazer CULTURA A fórmula para reagir no ibope
RAFAEL FRANÇA
Ao lado de Flávia Alessandra, Malvino Salvador faz a Globo recuperar a audiência na faixa das 19 horas. ●
CLASSIFICADOS
q
10.743 é o total de ofertas
5.970
anúncios classificados
empregos Museu Guggenheim de NY faz 50 anos e deixa de lado as exposiçõesextravagantes. ●
Empresas nacionais estão maisatrativas que múltis. ●
Ensaio sobre cartazes gigantes banidos de SP está no novo blog de fotografia do ‘Estado’. ● PÁG. C6
Após crise, MEC vai adotar modelo da Fuvest no Enem Em entrevista ao ‘Estado’, Haddad defende o fim das licitações para o exame de própria encarregada de organizar o exame todos os anos. “Será a Fuvest do MEC”, diz ele, em entrevista ao Estado. A ideia é reproduzir o modelo da fundação que, sem a necessidade de licitações, há mais de 30
Renata Cafardo
Para tentar aprimorar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o ministro da Educação, Fernando Haddad, pretende dotar o MEC de uma entida-
Crédito no País deve ter reforço de até R$ 500 bi
anosrealizacomeficáciaovestibular da USP. Pelos planos de Haddad, a coordenação do Enem ficará a cargo do Centro deSeleção (Cespe),daUniversidade de Brasília. O ministro lembra com angústia o vaza-
mento dos cadernos com questões do Enem deste ano: “Às vezes acho que sonhei isso tudo.” Elelamentanãoter insistidoparamudaras regrasde contratação da empresa que aplicaria o Enem. ● PÁGS. A26 e A27
FRASE
“Às vezes acho que sonhei isso tudo. E que o Enem não foi adiado, ocorreu normalmente”
EM SÉRIE: A MAIOR FÁBRICA DE ESPUMANTES DO MUNDO
George H. Bush subiu no palco comuma bengala; Helmut Kohl, na cadeira de rodas. Apenas Mikhail Gorbachev caminhou sem auxílio. Ontem, os protagonistas da queda do Muro de Berlim reuniram-senacapitalalemãpara lembrar o episódio que mudou o cenário mundial, relata LourivalSant’Anna. ● PÁG.A22
‘Estado’ traz série sobre o tema
Terras
Para juiz, ação do Incra é ‘deboche’ Magistradogaúchocritica vistorias feitas pelo instituto. ● PÁG. A15
●●
Acidente na floresta
Um morto no avião submerso
●● Resgate encontra C98 da FAB. Um militar segue desaparecido. ● PÁG. C8
7 8 9 10 11 12
CLAYTON DE SOUZA/AE
Prefeitura quer moradias populares em edifícios desocupados. ● PÁG. C1
O governo já estuda a criação de uma câmara técnica para resolver pendências relacionadas com a paralisação de obras diretamente com o Tribunal de Contas da União. “Queremos que a fiscalização continue, mas com critérios”, justificou o ministro Paulo Bernardo (Planejamento),que levouaproposta à direção do tribunal. O Planalto considera o TCU um bastião oposicionista. ● PÁG. A4
Encontro histórico inicia celebrações da queda do Muro
Centro de São Paulo
●●
Governoquer órgãoque fiqueacima doTCU
DOSSIÊ ESTADO
O crédito total na economia brasileira pode ter reforço de até R$ 500 bilhões no ano quevem.Como comparação, o estoque de empréstimos no País deve avançar R$ 180 bilhões em 2009. Entre os fatores que contribuem para a expectativa, estão a expansãodascarteiras dosbancos, de 20%, e operações recentes no setor, como a oferta de ações do Santander. ● PÁG. B1
58 prédios vão ser reformados
METRÓPOLE
●●● Linha de engarrafamento de espumantes da Cereser em Jundiaí (SP); empresa familiar há mais de 80 anos no mercado, a fabricante de bebi-
●●● O ‘Estado’ inicia hoje uma série sobre o Muro de Berlim, cuja queda faz 20 anos. A primeira reportagem mostra a gestação do Muro, erguido para evitar que a Alemanha Oriental acabasse. ● PÁG. A24
das inaugurou uma nova estrutura de produção para engarrafar sua popular sidra, com capacidade para 16 mil unidades por hora. ● PÁG. B15
COLUNISTA
Fernando Henrique
A lógica do poder sem limites Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do “autoritarismo popular” do governo Lula vai minando o espírito da democracia constitucional. ● PÁG. A2
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ESPORTES
São Paulo vence e volta ao topo
NOTAS E INFORMAÇÕES
Mercosul bolivariano? Se a adesão da Venezuela passar, os acordos do bloco ficarão sujeitos às pretensões políticas de Chávez e aos critérios do bolivarianismo. ● PÁG. A3
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Tricolor fez 1 a 0 no Barueri e torce por um tropeço do Palmeiras contra o Corinthians, hoje, em Presidente Prudente, para continuar líder. No Rio, o Santos desperdiçou dois pênaltis e perdeu do Flamengo por 1 a 0. ● PÁGs. E1 e E3
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 93 DIAS q PÁG. A13
Tempo: CAPITAL
33º MÁX.
● PÁG. C2
18ºMÍN.
Sol brilha forte e a temperatura sobe. Tiragem: 303.630 Hoje: 202 páginas A. 1º caderno: 30 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 6 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 28 ● F. Feminino: 12 ● Ca. Autos: 20 ● Ce. Empregos: 8 ● Ci. Imóveis: 24 ● Co. Oportunidades: 8
ALIÁS
Tariq Ali não aposta em Obama ●● Os EUA estão diante de uma
das maiores crises de sua história, e o presidente Obama não está à altura dela, na opinião de Tariq Ali. “Obama é fraco”, disseointelectual paquistanês,entusiasta de Fidel e Chávez. ●
A2 ESPAÇO ABERTO
DOMINGO, 1 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 - falecom.estado@grupoestado.com.br
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Para onde vamos?
A perereca é um detalhe
FernandoHenriqueCardoso
GaudêncioTorquato
A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio “talvez” porque alguns estão de tal modo inebriados com “o maior espetáculo da Terra”, de riqueza fácil que beneficia poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornouse habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei? Só que cada pequena transgressão, cada desvio vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advém do nosso
É mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo, antes que seja tarde príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o País, devagarzinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade que pouco têm que ver com nossos ideais democráticos. É possível escolher ao acaso os exemplos de “pequenos assassinatos”. Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal-ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira “nacionalista”, pois, se o sistema atual, de concessões, fosse “entreguista”, deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública. Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares, se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental numa companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem nenhum pudor, passear pelo Brasil à custa do
Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso...) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos? Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do “autoritarismo popular” vai minando o espírito da democracia constitucional. Esta supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os “projetos de impacto” (alguns dos quais viraram “esqueletos”, quer dizer, obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: “Brasil, ame-o ou deixe-o.” Em pauta temos a Transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no Orçamento e mínguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo Tribunal de Contas da União. Não importa, no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: “Minha Casa, Minha Vida”; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos. Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo “Brasil potência”. Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU – contra a letra expressa da Constituição – vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil. Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que se tenha esquecido de acrescentar: “L’État c’est moi.” Mas não se esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender o “nosso pré-sal”. Está bem, tudo muito lógico. Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despau-
térios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocráticocorporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados. Foi no “dedaço” que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são “estrelas novas”. Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam. Ora, dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas –, mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou “privatizadas”. Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo, antes que seja tarde. ●
Um empresta o avião, o outro empresta a casa, o terceiro faz discurso na ONU e, no final, sempre o grandão resolve o problema. ROBERTO ARANHA rcao@globo.com
São Paulo
Lourosalheios Os EUA resolveram a crise de Honduras em 24 horas, o que o presidente Lula e seu ministro Celso Amorim – que se adonaram das negociações – não conseguiram em quatro meses. Perde o Brasil, processado em Haia depois do desastre do mal explicado acolhimento de Zelaya em nossa embaixada. Perde Hugo Chávez e sua trupe bolivariana, pois Zelaya, se for mesmo reconduzi-
do, não terá poder algum nos poucos dias que restam até as eleições. Nem a Justiça Eleitoral nem as Forças Armadas ficarão sob seu mando! E Lula, sendo Lula, certamente colocará sobre a própria cabeça a coroa de louros dos americanos. É esperar para ver.
Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República
LEO MARTINS
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
MARIA CRISTINA ROCHA AZEVEDO crisrochazevedo@hotmail.com
JORGE ALVES
Florianópolis
jorgersalves@estadao.com.br
Jaú
Cristoe Judas Se Lula é o Cristo chegando à Venezuela, será Hugo Chávez o Judas que vai traí-lo? Uma coisa é certa: acreditar que Chávez vá honrar sua palavra e os compromissos assumidos para entrar no Mercosul é como acreditar que o programa nuclear de Ahmadinejad é para fins pacíficos. E Lula acredita nos dois. RONALDO GOMES FERRAZ
●
Liberdadedeimprensa
ronferraz@globo.com
Rio de Janeiro
Lula disse mais uma mentira, agora em Caracas: “No meu país, a imprensa goza de total liberdade.” E a censura ao Estadão o que é?
● Lulla não é Cristo, Chávez errou feio. Lulla não se sacrifica por ninguém...
ROBERT HALLER
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São Paulo
São Paulo
A. FERNANDES
simpático que, eleito hoje, não conseguiria licença, segundo Lula, nem para construir a pista no Planalto Central onde desceria o avião com os pioneiros de Brasília. Sob essa onda crítica, a corrupção, que inexoravelmente se faz presente nos pareceres do TCU ou nos encaminhamentos feitos pelo MP, acaba sendo esmaecida, eis que o lado do Bem, o Brasil das hidrelétricas, das estradas, das pontes e dos túneis, se defronta com o Brasil do Mal, a terra da burocracia, da inércia e das visões retrógradas. Os órgãos fiscalizadores vivem sob emboscada. Órgão auxiliar do Congresso Nacional, o TCU tem por função avaliar a gestão pública sob os aspectos da economicidade, eficiência e efetividade. Apura os desvios. Ao fazer o encontro de planilhas, com preços, prazos e condições, o tribunal se defronta com situações de superfaturamento, incorreta execução de atividades ou de recursos públicos. E pede providências. Lula parece esquecer que a máquina fiscalizadora é conquista dos Es-
Dinheiro público não é cheque em branco para se gastar a rodo e a bel-prazer tados, antigos e modernos. Há registros de controle de contas no Eclesiastes, atribuído ao rei Salomão, no código indiano de Manu, na Grécia antiga e no Império Romano. Na França e na Inglaterra, são mecanismos muito antigos. Hoje se fazem cada vez mais necessários para monitorar interesses dentro do triângulo de forças que juntam poder político, administração e grupos de negócios. Essa disposição precisa ser controlada. A burocracia a ser extirpada é a dos prazos dilatados de processos, montanha de papéis, bitributação e duplicidade de órgãos com as mesmas funções. O eixo da democracia é o respeito às leis. Sua Excelência não pode fechar os olhos à matéria legal. O TCU e o MP têm funções definidas pela Constituição de 1988. E não devem ser condenados pelo atraso dos programas. O dinheiro público não é um cheque em branco para se gastar a rodo e a bel-prazer. A dimensão material (fazer obras a toque de caixa em ciclos pré-eleitorais) não pode prevalecer sobre a dimensão institucional (respeito aos arranjos institucionais). Mas no Brasil pode. Até porque, para quem se acha um Alexandre Magno, as leis não passam de velhos pergaminhos. ● Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação
Daiane dos Santos, ginasta brasileira
tir sua recondução, pode arrastar-se até a posse do novo presidente, cuja eleição já tem o processo devidamente reconhecido pelos EUA, inclusive com o compromisso de a OEA mandar observadores), a posição brasileira foi realmente reconhecida como... incompetente!
Realmente o presidente Lula deve estar muito satisfeito com o acordo em Honduras (me engana que eu gosto)! Gerado 30 dias antes das eleições, já com o Exército constitucionalmente sob o comando da Justiça, e prevendo a decisão sobre o eventual retorno do presidente deposto ao poder pelo Congresso, ouvido o Judiciário (o que, além de não garan-
o nosso Alexandre. Ou, de outra forma, Alexandre foi o primeiro mandatário pragmático. A imagem é consoante às ferinas observações que o presidente da República tem feito a propósito do “travamento” de obras públicas, a cargo de uma “poderosa máquina de fiscalização que agora é superior à máquina de produção”. Em sua vida de sindicalista, afirmação como essa seria inimaginável. As críticas ao TCU, ao MP e até ao Ibama, por conta dos óbices que esses órgãos fazem a processos nos campos da administração e da gestão orçamentária, abrem intensa polêmica sobre limites das entidades fiscalizadoras e, ainda, sobre a relação entre o poder do governante e a obediência aos arranjos institucionais. Partamos do princípio de que reprimendas à burocracia massageiam a alma popular. Os disparos presidenciais, que tencionam atacar a “burrice” de burocratas, ganham loas, o que denota, mais uma vez, o senso de oportunidade de Sua Excelência no uso da linguagem. A referência a uma perereca que atrasou em sete meses a obra de um túnel ligando o Rio Grande do Sul à Argentina provocou reação de núcleos ambientalistas. Mas a demora em descobrir que o animalzinho não corria perigo de extinção acabou corroborando a impressão de que Luiz Inácio acertou na mosca, aliás, na pequena rã. O hábitat da perereca poderia ter sido mapeado em menos tempo. A ilação é a de que o presidente só não faz mais coisas porque a burocracia não deixa. O painel ganha, ainda, a imagem de Juscelino Kubitschek, o desbravador
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Honduras
A cultura do passado é sempre útil para melhor entender os costumes do presente. Pincemos uma velha e conhecida historinha. O que fariam o Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério Público (MP) e Luiz Inácio se lhes fosse dado o desafio de desatar o nó górdio? O prognóstico do oráculo dizia: “Quem conseguir desatar o nó que prende o jugo à lança do carro de Górdio, rei da Frígia, dominará a Ásia.” Só Alexandre, o Grande, conseguiu. O nosso TCU avaliaria a maneira mais econômica, eficaz e efetiva de desatar o nó, observando se os patrocinadores do evento haviam estipulado preço justo e adequado para as torcidas. E só depois de fiscalizar as condições do evento, em atendimento às normas vigentes, decidiria enfrentar o problema. O MP, por sua vez, só aceitaria entrar no jogo caso o espetáculo não agredisse a ordem jurídica e social, em obediência às leis do País. E o presidente Luiz Inácio? Sem se preocupar com firulas legais e preços exorbitantes dos ingressos, adotaria o gesto de Alexandre Magno: pegaria a espada e com um golpe cortaria o nó. Levaria o troféu. O conquistador da Ásia era intrépido. Seus rompantes o tornaram famoso. Como se achava inexpugnável, procurava fazer de sua ética uma bússola para os bárbaros de um tempo sem compromisso com atos politicamente corretos ou condizentes com a sustentabilidade. Feitas as devidas reduções históricas e sociológicas, podemos dizer que Lula é
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Cruzadacamarada O governo brasileiro promoveu uma verdadeira cruzada para ter a Venezuela como membro do Mercosul. Mas o que a Venezuela tem a oferecer ao Brasil como membro do bloco? Para quem não sabe, ou já esqueceu, esse nosso vizinho, por intermédio do seu mandatário, atuou contra o Brasil no confisco da Petrobrás pelo presidente da Bolívia, Evo Morales; no calote que o presidente do Equador, Rafael Correa, quis dar no BNDES; e na chantagem do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, para conseguir mais dinheiro do Brasil com a energia de Itaipu. O líder do governo brasileiro no Senado alegou que “não é uma questão de governo e, sim, de Estado”. Só que é preciso discutir o Estado e o go-
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verno, a Venezuela e Hugo Chávez. Para que, se amanhã o governo venezuelano, por suas constantes intervenções provocativas em assuntos internos de outros países, vier a ser punido com algum tipo de embargo econômico, não venha a prejudicar os outros países do Mercosul. Na votação que aprovou a entrada da Venezuela no bloco, alguns senadores queriam uma garantia de que dali para a frente o presidente Chávez “respeitasse a democracia na América Latina”. Isso é impossível. Pelo menos no pensamento de um ditador que mantém os Poderes do seu país submissos a seus interesses. Um chefe de Estado que manipula o Congresso, a Justiça, os bancos e ainda obriga o povo a apoiar suas ideias. Um mandatário que, sozinho, de-
DOMINGO, 1 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 93 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura demonstra seletividade da Justiça’ Para advogado, atos como a mordaça ao ‘Estado’ contribuem para má imagem do Judiciário Moacir Assunção
A censura ao Estado desde 31 de julho, por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal(TJ-DF),reflete,paraoadvogado Ariel de Castro Alves, uma faceta do Poder Judiciário que, em sua visão, contribui muitopara amá imagemdossetoresjurídicos estataisnasociedade:aseletividadeea discriminação da Justiça, que age, muitas vezes, em função do poder
+ 9 GOIÁS
Deputados analisam propostas de emendas A Assembleia Legislativa de Goiásdeve apreciarnaterçafeira duas propostas de emenda constitucional. Uma delas, considerada a maisimportanteda16ªLegislatura, devolve ao Poder Legislativoaprerrogativadelegislarsobrematériasquetratamde tributos e orçamento, antes exclusiva do Executivo. A outra proposta a ser analisada pretende obrigar os prefeitos a formar comissões de transição após a eleição municipal. QUESTÃO FUNDIÁRIA
Quilombolas recebem titulação de terras Oito anos após pedir ao Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a regularização fundiária da área onde vivem, em Canoas, no Rio Grande do Sul, a Associação Remanescente do Quilombo Chácara das Rosas recebeu a titulação das terras. Atualmente, 28 famílias remanescentes do quilombo vivem no local. Na Superintendência Regional do Incra gaúcho existem 66 processos abertos de regularização fundiária de terras quilombolas. DIPLOMACIA
STF retomará dia 12 julgamento de Battisti A continuação do julgamento do processo de extradição do ex-ativista italiano Cesare Battisti será dia 12 no Supremo Tribunal Federal. A análise da ação tinha 4 votos a favor e 3 contrários quando foi interrompida por pedido de vista do ministro Marco Aurélio Mello. Condenado à prisãoperpétua em1993acusado de quatro assassinatos, Battisti passou 28 anos exilado na França e no México antes de se refugiar no Brasil. Foi preso em 2007. MENSALÃO MINEIRO
Denúncia contra tucano deve ter decisão quarta O Supremo Tribunal Federal deveanalisar, na próxima quarta-feira, se aceita a denúncia contra o senador Eduardo Azeredo (PSDBMG), no chamado caso do mensalãomineiro.Nadenúncia, o senador e outros investigados,incluindoopublicitário Marcos Valério, são acusados de montar e gerir suposto esquema de caixa 2 durantea campanhaparaa reeleição de Azeredo ao governodeMinas,em1998.Osenador nega as acusações. PIAUÍ
PP cassa filiação de vereador ‘infiel’ O diretório estadual do PP no Piauí cassou a filiação do vereadorFranciscoLimaRodrigues, do município de Jaicós, por infidelidade partidária. Rodrigues foi acusado de apoiar adversários nas Eleições de 2008. O vereador foi à tribuna denunciar perseguição. “O partido não tem poder para cassar mandato de nenhum vereador, de nenhum prefeito. O máximo que o partido pode fazer é o queelesfizeram,meexpulsaram. O mandato apenas a Justiça pode cassar”, reagiu.
econômico dos demandantes. Membro do Movimento Nacional de Direitos Humanos, o especialista considera o Judiciário o poder que menos se democratizou no Brasil, atrás do Executivo e do Legislativo. “A visãodocidadãocomum,refletida em inúmeras pesquisas, é que o Judiciário é lento, muito burocratizado e protege as pessoas de influência, poder e dinheiro.” Para o advogado, é no Poder
NACIONAL NACIONAL A13 A13
Judiciário que sobrevive boa partedopensamentoconservador e autoritário do País, o que ajuda a transformá-lo – de garantidor dos direitos constitucionais que deveria ser – em um ente temido pela população, na medida em que ela não consegue se ver representada na estrutura judicial. “Isso demonstra que a democracia ainda não se consolidou no Brasil e continuamos convivendo com muitos resquícios da ditadura”, co-
mentou. Na avaliação do advogado, o segredo de Justiça – criado no Brasil para proteger acusados sem condenação da execração pública – tem sido usado para proteger pessoas poderosas do assédio da imprensa e dos órgãos de fiscalização. “Basta ver que ninguém estranha se um criminoso comum for ‘escrachado’ nos programas populares da TV, mas se algum integrante da elite econômica pas-
sarporalgominimamenteparecido, haverá uma gritaria imensa”, comparou. Até nisso, de acordo com Alves, a Justiça demonstra uma face contraditória.“Um pedido de decretação de segredo de Justiça sairá muito mais rápido para alguém com poder econômico”, analisa. “Ao que parece, a Justiça considera que pobres não têm moral ou nome a proteger, ao contrário dos ricos.” No caso específico do Esta-
do, o especialista lembra que não havia nas reportagens publicadas acusações descabidas contramembrosda famíliaSarney. “Eram só investigações em andamento do que se falava. Nas escutas da Polícia Federal, poroutrolado,setratavadepessoas públicas, falando sobre recursos públicos, o que desmonta a tese da defesa”, explica. Oempresário FernandoSarney, responsável pela mordaça, é filho do presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP). Fernando foi indiciado pela Polícia Federal sob acusação de tráfico de influência, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Ele tratouaindadadistribuiçãodecargos no Senado para aliados. ●
o estado de s. paulo
● Edição das
23h15
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
SEGUNDA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
2 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42384
ESPORTES
Palmeiras empata e mantém a liderança Com um jogador a menos depoisdaexpulsãodogoleiroMarcos no primeiro tempo, o Palmeirasarrancouumempateheroico por 2 a 2 no jogo contra o Corinthians, em Presidente Prudente. No Corinthians, destaque para Ronaldo, que marcou os dois gols. O Palmeiras igualouoplacar duas vezescom Danilo e Maurício. Com o resultado,otimecontinuaemprimeiro, com o mesmo número de pontos do São Paulo. ● PÁG. E1
JONNE RORIZ/AE
Vettel vence e fecha 2010 como vice
POR UMA CABEÇA – Com uma jogada semelhante à do primeiro gol, após uma cobrança de falta, o palmeirense Maurício cabeceia e empata a partida com o Corinthians
Obama eleva pressão por venda de caças à FAB
Grupo financeiro CIT quebra nos EUA A ajuda de US$ 2,3 bilhões recebida do governo americano em 2008 não impediu a quebra do CIT, que acumula dívidas de US$ 30 bilhões. O grupo financeiro, que tem 1 milhão de clientes, pediu concordata ontem, e tentamanterempréstimosamilhares de pequenas e médias empresas.Éaquintamaiorquebra da história dos EUA e a terceira maior do mercado financeiro americano. ● PÁG. B6
Proposta envolve ‘transferência de tecnologia sem precedentes’ Patrícia Campos Mello CORRESPONDENTE EM WASHINGTON
O governo do presidente Barack Obama pressiona o Brasil para que a Boeing vença a disputa que apontará quem vai fornecer 36 caças para a FAB. Ellen Tauscher, subsecretária deEstado paraControle deAr-
mas e Segurança Internacional dos EUA, disse que “seria umapenaoPaísnãolevaromelhor avião e a melhor oportunidade”. De acordo com ela, a compra dos F-18 tornaria a relação entre os dois países mais dinâmica e profunda. Ellen afirmouque Obama, envolvido pessoalmente na negociação,
fez “uma oferta sem precedentesdetransferênciadetecnologia”, que não pode ser alterada peloCongresso.AEmbraerganhará um contrato para montarasasde58SuperHornetpara a Marinha americana, se a Boeing levar o contrato de R$ 12 bilhões. O Brasil prefere os caças franceses. ● PÁG. A4
Saab afirma que será a escolhida ●● A Saab, empresa sueca fabricante do caça Gripen, diz que se convenceu de que será a escolhida pelo Comando da Aeronáutica. ● PÁG. A4
Kindle no Brasil ●● Leitor de e-books da A-
NOTAS E INFORMAÇÕES
Negociação em Honduras ●●● O caso de Honduras mostra um dos melhores lados da política externa de Obama.● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
32º MÁX.
● PÁG. C2
18º MÍN.
Sol e calor, com chuva passageira à tarde.
Hoje: 50 páginas A. 1º caderno: 14 ● B. Economia: 8 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 8 ● E. Esportes: 6 ● L. Link: 8 ● Classificados: 188 anúncios
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mazonpodeameaçarsobrevida do livro em papel. ●
Candidato da oposição desiste de eleição afegã
Honduras
●● Zelaya quer voltar antesdaquinta-feira.Micheletti discorda. ● PÁG. A11
O candidato da oposição à presidência do Afeganistão, Abdullah Abdullah, anunciou ontem que desistiu de disputar o segundo turno das eleições, marcado para sábado, por acreditar que não será transparente.Adecisão dá vitória ao presidente Hamid Karzai. ● PÁG. A10
Falsificação
Venda de pirataria dará cadeia em SP ●● Suspeitos serãoenqua-
dradosnocrimecontrarelação de consumo. ● PÁG C1
FRASE
“Tenho desconfianças muito graves sobre a credibilidade do processo” Abdullah Abdullah
Ex-candidato à presidência afegã
NÚMERO
US$ 2,3
bilhões foi a ajuda que o CIT recebeu do governo americano em 2008
Definição de data ameaça acordo
MUSADEQ SADEQ/AP
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 94 DIAS q PÁG. A7
●●● O alemão Sebastian Vettel, da Red Bull, ganhou o Grande Prêmio de Abu Dabi e terminou a temporada como vice-campeão, evitando que o brasileiro Rubens Barrichello fizesse dobradinha com Jenson Button, da Brawn, o vencedor de 2010. ● PÁG. E6
EM RETIRADA – Em Cabul, Abdullah abandona disputa presidencial
CADERNO 2 Na contramão
●● Seleção popular na 33ª Mostrareveladivórcioentre cinéfilos e crítica. ●
Brasil é reprovado em programa contra aids O Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária recusou-se a financiar dois projetosnoBrasilpelafalta deindicadores. Para observadores, isso retrata a queda da qualidade técnica na área de aids, em que o País sempre foi líder. Juntos, os projetos pleiteavam € 90 milhões. Essa é a segunda vez que o País concorre a recursos do fundo. ● PÁG. A13
SEGUNDA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 94 DIAS
NACIONAL NACIONAL A7 A7
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘A liberdade de opinião foi ferida de morte’
cisões judiciais como esta, do Estado, que não atentam para a Lei Maior”, disse Damous.
Presidente da OAB-RJ diz que censura ao ‘Estado’ é equivocada e deve ser condenada
CLAREZA
Moacir Assunção
O advogado Wadih Damous, presidenteda Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) seção Rio de Janeiro, considera “muito preocupante” que o Poder Judiciário – cuja função institucional é exatamente defender o Estado Democrático de Direito – patrocine a censura de um órgão de imprensa da importância do Estado. Para ele, que dirige uma das mais atuantes seções da OAB no País, a decre-
+ 9 DISTRITO FEDERAL
Ministério da Justiça mira crime de fronteira Com o objetivo de combater os crimes mais comuns das regiõesfronteiriças,comoentradadearmasedrogas,oMinistério da Justiça lançou o Projeto de Policiamento Especializadona Fronteira (Pefron). A iniciativa tem parceria com as Secretarias de Segurançade 11Estados. Odiferencial do projeto é a união de diversas forças de segurança – Polícias Federal, Rodoviária,Militar,CivileGuardas Municipais, além de outros órgãos das prefeituras locais. PARAÍBA
TJ arquiva processo contra juiz e promotor O Tribunal de Justiça da Paraíba arquivou, por unanimidade, o processo que acusava de abuso eleitoral o juiz Bruno César Azevedo Isidro eopromotordeJustiçaMarinho Mendes Machado, da comarca do município de Guarabira. Segundo o relatório, do desembargador Joás de Brito Pereira Filho, eles editaramumaportariaqueestabelecia toque de recolher aos cidadãos, às vésperas das eleiçõesmunicipais,emoutubro de 2008. MARANHÃO
Assembleia debaterá conflitos agrários A Assembleia Legislativa do Maranhão realiza na quintafeira audiência pública com o tema “Violência no Campo – uma realidade que envergonha o Maranhão”, que reúne diversos especialistas no assunto.Organizadopela deputada estadual Helena Barros Heluy (PT), o objetivo do evento é debater o agravamento dos conflitos agrários noEstado, apontadoem relatório da Comissão Pastoral da Terra, entregue à deputada em setembro. RORAIMA
Governo veta validação de títulos do Mercosul O governador de Roraima, Anchieta Júnior (PSDB), vetou integralmente o Projeto de Lei Ordinária 048/09, que dispõe sobre exigências para títulos em instituições deensino superior noMercosul. De acordo com Anchieta Júnior, o tema envolve matéria objeto de tratado internacionale somente a Uniãopossui competência legislativa e material para estabelecer as regras que deverão ser observadas para validação dos títulos. MINAS
EleitoradodeJuizde Foraserá redividido O Tribunal Regional do Trabalho de Minas aprovou a redivisão do eleitorado de Juiz de Fora, que será distribuído entre as seis zonas eleitorais da cidade. Além do município-sede, a medida abrange os municípios de Belmiro Braga, Coronel Pacheco e Chácara. A proposta, que obrigará 60 mil eleitores a trocar seus títulos, pretende aumentaraeficiênciaeaqualidade na prestação jurisdicional e execução dos serviços cartorários.
tação da mordaça pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) atingiu em cheio a democracia brasileira. “Com a censura, a liberdade de opinião, um dos principais preceitos democráticos, foi ferida de morte.” Em sua avaliação, a decisão do tribunal, por meio do desembargador Dácio Vieira, que proibiu em 31 de julho o Estado de publicar reportagens sobre o filho do presidente do Senado, José Sarney, o empresário
Fernando Sarney – indiciado pela Polícia Federal por vários crimes – encerra vários enganos. “O ato foi completamente equivocado e deve ser criticado a qualquer tempo”, afirmou o presidente da OAB-RJ. LEGISLAÇÃO
O especialista considera surpreendente o fato de o Judiciário ser, por meio do TJ-DF, o autor da mordaça. “A possibilidade, ainda que remota, de ser cometido algum abuso por
meio da divulgação das informações não pode ser usada como argumento para impor a
Advogado critica o fato de o Judiciário ser autor indireto da mordaça ao jornal censura prévia”, ressaltou. Damous lembrou que a legislação prevê que o uso abusivo da li-
berdade de expressão por veículos de comunicação, quando verificada, pode levar ao pagamento de indenizações a eventuais ofendidos. A censura prévia de reportagens, entretanto, fere a Constituição, que defende a plena liberdade de expressão. “É uma rematada bobagem, além de tudo de cunho autoritário, dizer que decisão da Justiça não se discute, cumpre-se. Temos todo o direito de, se for o caso, criticar e questionar de-
Na opinião dele, o Judiciário merecerá tanto mais respeito da população quanto mais claras e justas forem suas decisões. “Quando se trata de uma questão polêmica como esta, é preciso que tudo fique muito claro, para que a população possa formar seu juízo sobre o tema”, afirmou. O advogado considera que o Judiciário precisa se abrir mais para a sociedade. “É o mais hermético dos três Poderes. A população tem medo, quando deveria ter respeito pelo Judiciário”, lamentou. ●
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23h15
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3 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42385
Afeganistão cancela 2º turno e declara Karzai reeleito
PROSTITUIÇÃO INFANTIL: DRAMA NA BEIRA DA ESTRADA
Autoridades afegãs declararam reeleito o presidente Hamid Karzai, candidato apoiado pelos EUA. A decisão foi tomada um dia após o opositor Abdullah Abdullah desistir do segundo turno, alegando não haver condições para uma votação limpa. O presidente dos EUA, Barack Obama, ligou para Karzai e cobrou que ele fizesse “muito mais” para combater a corrupção no país. ● PÁG. A10 ANÁLISE
Victor Sebestyen TIAGO QUEIROZ/AE
THE NEW YORK TIMES
As lições da URSS Obama deve aproveitar os ensinamentos da guerra soviética no Afeganistão. ● PÁG. A11 ●●●
●●● Jovem que se prostitui para obter crack na Dutra; meninas chegam a se vender por R$ 2 e, segundo a polícia, há pontos de prostituição infantil a cada 27 km de rodovias. ● PÁG. C1
Após mais de uma década, BC tem saída para bancos falidos Proposta para Bamerindus abre caminho para solucionar outros cinco casos lhões de dívidas só com o BC. A saída está em um projeto-piloto apresentadoaoBCparasolucionar o caso Bamerindus. Pela proposta, o Fundo Garantidor deCrédito(FGC),principalcredor do Bamerindus, aceitou re-
O Banco Central (BC) está perto de se livrar da massa falida de seis bancos liquidados extrajudicialmente há mais de uma década. São falências históricas, ocorridas nos anos 90, que resultaram em quase R$ 60 bi-
NÚMERO
R$ 60
bilhões é o valor total das dívidas dos bancos com o BC
ceberporúltimosua dívida, que chega a R$ 4,6 bilhões. O FGC é formadocomrecursosdasinstituiçõesfinanceiras,paragarantir a correntistas e investidores a recuperação de seu dinheiro, em caso de quebra. O acordo
abre caminho para que o BC, os acionistas minoritários e os exempregados recebam o que o Bamerindus lhes deve. Na fila estãotambémNacional,Econômico, Banorte, Mercantil de Pernambuco e BMD. ● PÁG. B1
FÉ: MARCHA REÚNE 1 MILHÃO EM SP
DOSSIÊ ESTADO
Vizinhos do Brasil Projeto brasileiro reúne em caixa com 16 CDs e 228 faixasa atualproduçãomusicaldeArgentina,Chile,Paraguai e Uruguai. ●
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Arnaldo Jabor
A primeira brecha na Cortina de Ferro surgiu em agosto de 1989, num evento entre ÁustriaeHungriaquepermitiu a fuga de alemães orientais.“Foiomelhoranodenossas vidas”, disse uma húngara a Jamil Chade. ● PÁG. A14
Antispam para bobagem ●● Ademocracialiberaaidio-
tice. Na web, sou amado pelo que não escrevi. ● PÁG. D10
Trânsito
THOMAS PETER /REUTERS
ANDRE PENNER/AP
Marginal do Tietê amplia interdições ●● Bloqueio da CET inclui partes das Pontes do Limão e da Casa Verde. ● PÁG. C7
●●● Evangélicas na Marcha para Jesus, liderada por Estevam e Sônia Hernandes, da Renascer: para o casal, a igreja é ‘discriminada’. ● PÁG. A20
& AVENTURA
●● Os 20 anos da queda do
Muro renovam o interesse pela capital alemã. ●
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A Ford divulgou lucro de US$ 997 milhões no terceiro trimestre. É a primeira vez desde o início de 2008 que a montadora apresenta lucro operacional. O resultado surpreendeu Wall Street. A divisão americana da montadorasaiudovermelhodepois de quatro anos e meio no prejuízo. Na América Latina, a Ford teve seu melhor trimestre desde o início da crise, com lucro de US$ 247 milhões. ● PÁG. B6
CADERNO 2
Piquenique abriu brecha na Cortina de Ferro
VIAGEM
Ford lucra quase US$ 1 bi e surpreende Wall Street
Tempo: CAPITAL
NOTAS E INFORMAÇÕES
Reestatizar o Estado A hipertrofia do Estado posto a serviço do governo acaba resultando, paradoxalmente, na sujei-
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33º
MÁX.
ção do público ao privado, na subordinação do interesse geral ao interesse particular. ● PÁG. A3
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17º
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Massa de ar quente predomina e garante dia de sol e temperatura alta.
Hoje: 72 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 12 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 6 ● V. Viagem: 12 ● Cl. Classificados: 4 (301 anúncios)
Educação
Curso a distância é alvo de preconceito Alunos são discriminados no mercado de trabalho, diz associação. ● PÁG. A18
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 95 DIAS q PÁG. A8
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Querela florestal
O câmbio e o equilíbrio macroeconômico
XicoGraziano
IlanGoldfajn
Aumenta a confusão sobre o Código Florestal. Agenda desastrosa. Ao invés de encontrar soluções, o governo cria novos problemas, acirrando a briga entre ambientalistas e ruralistas. A mídia se delicia. O assunto atormenta os agricultores nacionais, a exemplo de José Batistela, ali na região de Araras. Quieto em seu canto, o velho sitiante acompanha essa polêmica há anos. Gente simples, italiano como grande parte dos colegas da roça, cujas famílias desembarcaram há mais de século para trabalhar no colonato do café, seu José não consegue entender por que não se resolveu ainda essa pendenga ambiental. Fosse ele o presidente, pensa o agricultor, dava um pito bravo nesses ministros que vivem às turras, um falando mal do outro pelas costas, e os colocava fechados numa sala, exigindo uma boa proposta para o País. Afinal, para que mais serve um presidente da República senão para arbitrar e decidir sobre os graves problemas da Nação? Passam-se os meses e a en-
Passam-se os meses e a encrenca continua, parece novela chata crenca sobre a legislação florestal continua, parecendo drama enrolado de novela chata. Seu José gostaria, pelo menos, de avaliar o que se passa. Talvez, pensa, o presidente Lula esteja ocupado demais nessas viagens para lá e para cá, cada dia num lugar diferente, aproveitando a fama para conhecer o mundo. José Batistela aceita, resignado, essa distância do chefe da Nação, vivendo no mundo da lua, curtindo a popularidade que pode ser efêmera como o voo sexual das libélulas. Vira para seu neto e pergunta: escuta, menino, você não acha que o Lula deveria pelo menos delegar a alguém essa tarefa de bater logo o martelo nisso, encontrando uma boa saída para esse impasse ecológico entre produzir e conservar? Claro que sim, responde o jovem. Normalmente, quem assume esse papel na ausência do presidente é o chefe da Casa Civil. Talvez lá se pudesse promover esse necessário acerto de contas entre o passado e o presente da agropecuária brasileira. Sei não, medita seu José. Aquela mulher com jeito de casca grossa não parece ter nenhum talento conciliador. Além do mais, só a vejo também andando mais que notícia ruim, sempre atrás do chefe, tirando fotografia, fazendo o que nunca entendi direito. Com tanto passeio do poder, quem será
que está governando o Brasil? Vai saber... Importa que o País, mesmo enfrentando dificuldades variadas, assumiu na última década forte liderança agrícola mundial. Tradicionalmente mandava no mercado de açúcar, café e tabaco. Agora, graças ao suor dos agricultores e aos modernos sistemas de produção, passou a dominar na carne bovina, nas aves, na soja, no suco de laranja. O Brasil virou uma potência agropecuária. Assustam-se por aqui os estrangeiros ao conhecerem a integração da lavoura com a pecuária, o plantio direto, as safras sucessivas no mesmo terreno, a fruticultura deslanchando, a silvicultura dando um show de produtividade, o etanol se impondo. Nem as terríveis barreiras comerciais impedem o País de vencer o jogo da competição rural internacional. O caipira José Batistela acompanhou essa fantástica evolução do campo. Suas mãos grossas e calejadas pelo cabo da enxada testemunharam o avanço da engenharia agronômica, o conhecimento aplicado livrando o homem do duro serviço braçal. Somente quem tirou à mão o leite da vaca, no frio da madrugada, reconhece o valor de uma ordenhadeira mecânica. Meu Deus, questiona-se José Batistela. Se a agricultura ajuda tanto o desenvolvimento do País, por que o governo não destrava logo esse assunto do Código Florestal, propiciando uma solução negociada, nem tanto ao mar nem tanto à terra? Por que não acaba com essa chateação na vida do agricultor, perdido por aí como cachorro caído da mudança, sem saber para que lado correr, levando xingo à toa, empurrado para os braços de um ruralismo atrasado sem ter a chance de mostrar que gosta da novidade ambiental? Presidente Lula, ergue a sobrancelha José Batistela, pensando com seus botões. Pare nesta semana um dia que seja lá naquele lindo Palácio do Planalto, chame os ministros do Meio Ambiente e da Agricultura, bote à mesa do lado as ONGs ambientalistas, situe do outro a turma ruralista da CNA e, por favor, promova um acordo, o senhor que tem experiência nessa matéria desde a época das brigas sindicais. Atue, presidente. Não permita que os agricultores brasileiros continuem massacrados pela opinião pública, injustiçados como se fossem criminosos ambientais. Embora exista uma meia dúzia de perdulários que ainda trabalham como se na escravatura vivessem, ofereça a chance aos agricultores de mostrarem sua modernidade. Impeça essa estúpida rivalidade entre ruralistas e ambientalistas, cheiro de coisa antiga.
Comece a reunião, presidente, determinando uma moratória no desmatamento deste País por, no mínimo, cinco anos. Em seguida, ordene aos ministros que se acertem para regularizar aqueles que, no passado, retiraram seu sustento das áreas protegidas na beirada dos rios. Se eles erraram, nada os distingue do pessoal da cidade que também ocupou equivocadamente as várzeas, erguendo residências nas áreas de preservação. Cidade vale igual o campo. Descubram como compensar a reserva legal surrupiada indevidamente. Nada de perdoar os algozes da floresta. Há que encontrar caminhos, oferecer estímulos para a recuperação ambiental, conscientizando os agricultores. Educação ambiental funciona melhor que o reio da fiscalização. José Batistela quedou pensativo. Não parece difícil encontrar saídas nessa querela florestal. Pensou em escrever uma carta ao presidente expressando suas melhores ideias. Ficou em dúvida: qual endereço colocaria no envelope? ● Xico Graziano, agrônomo, é secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xico@xicograziano.com.br Site: www.xicograziano.com.br
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
O setor elétrico
FÓRUM DOS LEITORES Metamorfoseditatorial Lula protege o amigo Sarney, que protege seu filho Fernando, que é protegido pelo juiz amigo Dácio, que censura o Estadão para que não divulgue a prática de crimes ligados aos protegidos do presidente. Depois vem o respeito aos preceitos constitucionais. Na Venezuela a democracia funciona assim. Com as incessantes visitas que Lula e seus assessores têm feito à Venezuela, é de pressupor que, em troca da ajuda dada por Lula para que Hugo Chávez ingresse no Mercosul, nosso presidente tenha trazido de lá alguma contrapartida vantajosa para nossa Nação. O déspota bolivariano, não acostumado à democracia e à alternância de poder, declarou: “Por que Lula tem que sair?” Seria essa a grande vantagem que
Lula quer importar da Venezuela? PETER CAZALE pcazale@uol.com.br
São Paulo
Chávez pede terceiro mandato de Lula ou a eleição de Dilma. Lembrando o saudoso Garrincha, pergunto: ele já combinou com o povo brasileiro? ●
FAUSTO FERRAZ FILHO faustofefi@ig.com.br
São Paulo
Mercosul A aprovação da entrada da Venezuela no Mercosul provocou algumas reações contrárias. Até que ponto pode chegar a posição de um setor político! As posições do presidente Hugo Chávez nada têm que ver com a área comer-
Dizem que o sistema de churrascaria rodízio foi inventado no Brasil, nas margens das rodovias do Sul, na década de 1960. O apelo é a ausência de limite, a não ser o da própria saciedade. É o inverso do “you can’t eat your cake and have it too”, uma expressão em inglês que indica: se comer, não tem mais. No Brasil, o atual viés é comer e esperar mais, como no rodízio. Explico. O Brasil quer investir e consumir mais, tanto no setor público como no privado. E, pelo ritmo atual, bem mais. Para que isso seja possível simultaneamente há a necessidade de financiamento externo, o que significa influxos de capital, apreciação cambial e déficits externos. Mas essas consequências são indesejadas por muitos. Colocam-se barreiras aos fluxos de capital, esperando conter a apreciação e os déficits. Mas o consumo público e privado continua sendo estimulado, o que requer os mesmos déficits que se deseja evitar. O contexto internacional reforça esse dilema. Tudo indica que o Brasil está tendo um novo papel global. É uma economia com vista a um crescimento acelerado do seu mercado doméstico, num mundo em que o consumidor global deve retrair-se. A pers-
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
cial. E, ao que consta, a economia venezuelana ainda está em poder da iniciativa privada. Além do mais, as decisões em organismos como o Mercosul são discutidas em conjunto. De uma vez por todas, vamos praticar uma política internacional independente de determinações de países capitalistas do Primeiro Mundo. Que nos deixam ainda como nações emergentes, embora tenhamos condições de ser liderança em várias áreas.
Combate àaids Estarrecedor que o governo petista não consiga nem formular um pleito para programa de combate à aids. Um país que já teve um programa premiado e comentado no mundo de combate a essa doença está retrocedendo. Que tal pedir ao ex-ministro da Saúde José Serra cópia do que ele fez e deu certo? Ou o governo lullista vai fazer o País desandar de vez? JOSÉ CARLOS CRUZ
URIEL VILLAS BOAS
cruz.jc02@gmail.com
urielvillasboas@yahoo.com.br
Osasco
Santos
O Mercosul está quase pronto, falta só Cuba. E já agora, Líbia e Burkina Faso... ●
CELSO LUIZ P. MENDES
São Paulo
● Até a aids, que sempre foi referência, está virando bandalheira? DAVID NETO drdavidneto@uol.com.br
São Paulo
pectiva de um crescimento maior do mercado doméstico abre uma nova fronteira de oportunidades para investimentos. Isso atrai novos empreendedores locais, assim como investimentos estrangeiros. Ao mesmo tempo, a riqueza internacional está em busca de oportunidades nos mercados emergentes, agora que a crise global deve pôr limites ao crescimento nas economias maduras (as elevadas dívidas públicas devem limitar o crescimento potencial e o sistema financeiro internacional mais regulado deve ter mais dificuldade em reduzir a disponibilidade de crédito – a chamada “desalavancagem”). O lado da demanda e o da oferta de recursos combinam, o que normalmente indica uma tendência. E, nessa tendência, os déficits externos devem continuar aumentando. Com crescimento mais forte no Brasil (por exemplo, 5,5%, em 2010) e com o câmbio na faixa de R$ 1,70, o déficit deve elevar-se para 4% do PIB em dois a três anos. Uma boa parte desse déficit deve ser financiada com maiores ingressos de investimento direto (próximos de 3% do PIB). Fluxos de portfólio – para a bolsa, em emissões primárias ou não, e renda fixa – também devem continuar a entrar. Alguns questionam se esses mesmos déficits externos irão depreciar a taxa de câmbio e aliviar esse processo de apreciação. A resposta é não, já que a existência do financiamento, que permite déficit sem depreciação, são os próprios fluxos de capital, que fazem parte intrínseca desse processo. É claro que se o cenário mudar e as perspectivas para o Brasil piorarem haverá menos fluxos, menos financiamento, mas, também, menos investimento e crescimento no Brasil. A lógica econômica global e local não significa que não haja opções de política econômica. Uma redução do crescimento do gasto público seria uma medida que alteraria o equilíbrio macroeconômico e permitiria mudanças permanentes na taxa de câmbio (mais controle sobre o gasto público, mais espaço para as exportações, via um câmbio mais depreciado). Ou seja, uma mudança na taxa de câmbio no médio e no longo prazos depende de alteração do atual equilíbrio macroeconômico: uma economia que deseja simultaneamente aumentar o gasto público, o consumo privado e os investimentos requer poupança externa (ou seja, déficit externo). O câmbio (em termos reais) é apenas o veículo que a economia encontra para viabilizar esse déficit. Portanto, existe, sim, a possibilidade de crescimento maior – sem déficits maiores ou câmbio mais apreciado – desde que
FAX:
(11) 3856 2920
Retratodarealidade O artigo Moralidade tributária (2/10, B2), assinado pelo ex-secretário da Receita sr. Everardo Maciel, é o mais absoluto retrato da realidade. O Estado, sorrateiro, insensível, gastador, deixa de cumprir as suas obrigações e não efetua o pagamento de precatórios, principalmente os alimentares, mas para cobrar dívidas atua de forma firme e ágil. Caçoa da Justiça e esta trata o desrespeito total às suas sentenças de modo impávido, nada fazendo para punir os responsáveis. Em São Paulo, devem-se precatórios que já constavam do orçamento de 1998. E ainda querem aprovar a PEC do Calote! Isso é descabido, mancha a reputação de todos os governos do PSDB, principalmente o do sr. José Serra, que
se faça a opção política pela redução do crescimento dos gastos correntes, premiando a eficiência na provisão dos serviços públicos. É uma visão que leva em consideração o equilíbrio macroeconômico. Mas ter essa visão não significa abdicar de intervir no mercado cambial, em qualquer circunstância. Ao contrário, bancos centrais costumam intervir no mercado, como tem sido o caso no Brasil, com uma acumulação de reservas que já alcança mais de US$ 230 bilhões. É possível acumular mais reservas (por algum tempo, depois o diferencial de juros torna o custo muito elevado). O Banco Central do Brasil pode também intervir no mercado de derivativos (por meio dos swaps cambiais), o que não tem sido o caso recentemente. O uso de fundos soberanos que acumulam reservas e permitem ao País poupar os recursos naturais (como os do présal) para o futuro também é bem-vindo. Mas todos esses mecanismos são mais eficazes quando empregados simulta-
No Brasil, o atual viés é comer e esperar mais, como no rodízio neamente com medidas de equilíbrio macroeconômico, como a política fiscal. Nessa linha, mesmo medidas de controle da entrada de capitais de curto prazo não deveriam ser um dogma, desde que seus custos não ultrapassem os benefícios. Recentemente, o governo anunciou que vai recolher 2% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no ingresso de capital estrangeiro para a renda fixa e, mais prejudicial, também para a renda variável no País. Sem a contrapartida fiscal, esse tipo de ação não se mostrou eficaz nem aqui nem em outros países. Em suma, o debate sobre a apreciação cambiai reflete os conflitos que surgem neste novo contexto internacional: financiamento internacional abundante para economias que têm grande potencial de crescimento dos mercados domésticos. Isso gera influxos de capital, apreciação cambial e aumento do déficit externo. O governo batalha para evitar excessos e bolhas. Há instrumentos disponíveis (como a volta dos swaps cambiais), mas há a necessidade de reduzir o crescimento do gasto público para alterar o equilíbrio macroeconômico e permitir mudanças permanentes na taxa de câmbio. ● Ilan Goldfajn é economista-chefe do Itaú Unibanco
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
não mostra solução a curto prazo. É um vergonha! JOSÉ RENATO NASCIMENTO jrns@estadao.com.br
São Paulo
TribunaisdeContas Os Tribunais de Contas da União, dos Estados e dos municípios estão na berlinda. Está para ser votada no Congresso uma emenda constitucional que virá criar um órgão de fiscalização e controle de todos esses tribunais, com a denominação Conselho Nacional dos Tribunais de Contas (CNTC). A finalidade de tal conselho pode ser plausível (controle administrativo e financeiro, criação de regras, fiscalização de membros e anulação de atos), mas o modus faciendi para a composição dos
A8 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 3 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 95 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura prévia é algo típico dos regimes autoritários’ Para Lewandowski, mordaça contraria ideais e princípios do Estado Democrático de Direito Fausto Macedo
“A censura à imprensa é abso-
lutamente negativa, ela não é compatível em hipótese alguma com o Estado Democrático
de Direito”, advertiu o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF). “A censura prévia à imprensa é realmente algo típico dos regimes autoritários.” O Estado atravessa longa jornada sob censura, desde 31 de julho, por decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). Ele acolheu ação movida pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), citado na Operação Boi Barrica, da Polí-
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cia Federal. Contra a mordaça, o Estado ingressou com duas exceções de suspeição do desembargador e mandado de segurança. Mas a censura não cai. O alerta de Lewandowski contra o silêncio imposto à imprensa reforça relatos de seus colegas. Na semana passada, o ministro Celso de Mello, decano do Supremo, assinalou que a censura “é inaceitável, intolerável”. Mello observou que “tão preocupante quanto a censura emanada do Poder Executivo é também a censura revelada em decisões judiciais”. “A Constituição diz expressamente, em seu artigo 1º, que o Brasil é um Estado Democrático de Direito”, ressalta o ministro Eros Grau, que nos anos de repressão notabilizou-se pelo empenho na luta contra a censura prévia no teatro. ‘POSTURA SÓLIDA’
Nos últimos dois anos, segundo levantamento feito pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), pelo menos 12 sentenças da Justiça decretaram censura prévia a veículos de imprensa. “Essas decisões ainda não chegaram ao Supremo”, anotou Lewandowski. “O STF tem uma postura absolutamente sólida no sentido de garantir a mais ampla liberdade de imprensa”. O ministro disse ainda que a posição do STF foi reafirmada no julgamento sobre a Lei de Imprensa, em abril. Sete dos 11
ministros da corte, em sessão histórica, derrubaram a lei com data de 1967, resquício do regime de exceção que ainda vigorava. A lei era incompatível com a democracia, concluíram. “A Lei de Imprensa foi considerada pelo STF totalmente inconstitucional”, disse Lewandowski, doutor em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. “Mesmo quando julgamos (em junho) a questão da obrigatoriedade do diploma de jornalista, as intervenções do Supremo foram no sentido da mais absoluta e irrestrita liberdade de imprensa.”
Medida contra liberdade de imprensa cairá no STF, diz ministro Ele prevê que a censura aosjornais deve ser derrubada no STF. “Eu tenho a impressão que, se essa matéria chegar ao Supremo, uma decisão que tenha dado guarida à censura prévia deverá ser revista”, analisa. Lewandowski diz ficar chocado com a censura a veículos de comunicação. “Vai contra todos os ideais e princípios do Estado Democrático de Direito”, observa o ministro. ●
+ 9 SÃO PAULO
Presidente de Câmara reassume em Araçoiaba A liminar que afastava do cargo apresidente da Câmara deAraçoiaba da Serra, Aldemir Lopes de Mesquita Franklin (PTB), foicassadapeloTribunaldeJustiça do Estado de São Paulo. Ela era acusada de não colocar em votação o parecer do Tribunal de Contas do Estado que rejeitouas contasde2005deseumarido, o prefeito João Franklin (PTB). Aldemir já vinha afastada desde o dia 13 de outubro por conta de uma ação civil pública de improbidade administrativa. Ela reassume o cargo hoje. RIO GRANDE DO SUL
Deputado propõe fim de subsídio vitalício A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) deve votar hoje parecer do Projeto de Lei 168/2007.De autoriadodeputado Luciano Azevedo, o projeto propõe a revogação da Lei 7.285, de23 dejulho de1979, que garante subsídio vitalício aos ex-governadores.Azevedoconsidera “privilegiada aposentadoria” o valor de R$ 22.111 mensais pago atualmente. O relator LuizFernandoZáchiajádeuparecer contrário por considerar que não é atribuição do Legislativo. GOIÁS
Poder Legislativo é tema de seminário A Assembleia Legislativa de Goiás realiza na próxima sextafeira, na cidade de Senador Canedo, a 20 quilômetros da capital, a 6.ª edição do Seminário de Aperfeiçoamento do Poder Legislativo. O evento faz parte do Programa de Apoio, Desenvolvimento e Integração do Poder Legislativo e pretende reunir vereadores e assessores de 18 municípiosdaregiãometropolitana de Goiânia e da Estrada de Ferro. A próxima edição do seminário será em Formosa, no dia 12.
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
A
morte de Claude LéviStrauss, um dos maiores intelectuais do século passado, deixa o mundo menos inteligente. Lévi-Strauss, que deu aulas na USP entre 1935 e 1938, é considerado o pai da an-
“Foi um dos maiores antropólogos de todos os tempos. Revolucionou a antropologia” Fernando Henrique
“Ele deixou um legado literário e filosófico, uma maneira de ler o mundo”
FRASE
“A viagem ao Brasil representa a experiência mais importante da minha vida. Tenho, com este país, uma dívida muito profunda”
Roberto DaMatta
“A contribuição de Lévi-Strauss vai muito além da antropologia” Sérgio Medeiros
Lévi-Strauss, em 2005
DÉCADA DE 30 – O antropólogo em uma de suas expedições no Brasil
Brasil deve ir a reunião de clima sem meta definida Falta de consenso impede governo de fixar objetivos precisos contra aquecimento aquecimentoglobal –comoa redução do desmatamento da Amazônia em 80% até 2020 e ações nos setores industriais e da agroindústria. Ontem, após reunião ministerial, ficou claro que o País caminha para levar a Copenhague uma proposta
Em vez de metas de redução de gases de efeito estufa, o Brasil deve levar à Conferência das Nações Unidas sobre MudançasClimáticas (COP-15), em dezembro, uma carta de intenções que mostraria o “esforço voluntário” para combater o
Falso militar enganou recrutas em São Paulo
DIRETOR:
RUY MESQUITA
REPERCUSSÃO
Antropólogofoiumdosgrandespensadores doséculo20 Antonio Gonçalves Filho
(1891-1927)
4 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42386
Morre Lévi-Strauss, 100 tropologia moderna, lembrado como o reformador da disciplina e introdutor do estruturalismo. Não existiria, dizia ele, diferençasignificativa entre pensamento primitivo e civilizado, tesedesenvolvidaemOPensamento Selvagem, seu livro mais importante. ● CADERNO ESPECIAL
JULIO MESQUITA
semdefiniçãodemetas dereduçãode emissãode gases.Sóhouve consenso quanto à redução da derrubada da Floresta Amazônica. Os ministros pediram ao presidente Lula mais tempo e um novo encontro foi marcado para o dia 14. ● PÁG. A16
Impasse também em Barcelona ●● Em reunião em Barcelona, os países africanos deram um ultimato às nações ricas: só continuariam a discutir o Pro-
tocolo de Kyoto após os desenvolvidos apresentarem novas metas de redução de emissões. O Brasil apoiou. ● PÁG. A17
Relator do ‘mensalão de Minas’ quer que STF abra ação O ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, deverá propor hoje a abertura deaçãocontraosenadorEduardoAzeredo(PSDB-MG),acusadode tercometidocrimesdepeculato e lavagem de dinheiro na campanha pela reeleição ao governode Minas,em 1998. Ocaso é chamado de “mensalão mineiro”, com desvio de recursos públicos, tido como embrião do mensalão petista. Azeredo negou o esquema. ● PÁG. A4
Governo ataca projeto sobre reajuste para aposentados
SANTO ANDRÉ: ATROPELAMENTO E REVOLTA
O governo quer um acordo com as centrais sindicais e entidades de aposentados para evitar a aprovação do projeto de lei queestendeatodasasaposentadorias e pensões o mesmo índice de correção dos benefícios no valor de um salário mínimo. A mudança teria impacto de R$ 6,9 bilhões no próximo ano nas contas da Previdência. Ontem, o governo procurou evitar que o projeto fosse levado a votação hoje na Câmara. ● PÁG. B1
DOSSIÊ ESTADO
Campeonato Brasileiro
Gilles Lapouge
Ummundodominadopelainternet tem inconvenientes. Maséummundoondeasbarreiras entre os países, entre os cérebros, estão destinadas a desaparecer. Mesmo o IrãintegristaeaChinacomunista acabarão percebendo. Ainternet anuncia, talvez, “o fim dos Muros”. ● PÁG. A12 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 96 DIAS q PÁG. A9
7 8 9 10 11 12
No Sul, São Paulo tem teste mais difícil ●●● Micro-ônibus queimado por moradores em Utinga, após a morte de garoto de 15 anos: cerca de 200 pessoas enfrentaram a polícia. ● PÁG. C7
CADERNO 2
O ‘autoritarismo popular’ de Lula
Poesia à mão
●● Com caligrafia caprichada, Manoel de Barros, que completa 93 anos em dezembro, prepara novo livro. ●
Desde a derrota de 2006, o PSDB praticamente desistiu de expor as responsabilidades pes-
●●●
Tempo: CAPITAL
33º
MÁX.
● PÁG. C2
18º
●● Time, na luta pelo título, enfrentaoGrêmio,queainda não perdeu em casa. ● PÁG. E1
Justiça
NOTAS E INFORMAÇÕES
STEPHAN HESS
O fim do Muro de Berlim e de todos os muros
JOTABE/ABCDIGIPRESS
A polícia de São Paulo prendeuumfalsooficialdoExército que oferecia curso para integraraforçadaONUnoHaiti.RafaelFernandesdosSantos, de 24 anos, cobrava até R$5 mil desuas vítimas,dandotreinamentodeselva–tratavaos alunos“como sefosse o capitão Nascimento”, segundo a polícia. Sua experiência se resumia a cinco mesescomorecrutaembatalhão de Caçapava. ● PÁG. C1
MÍN.
Sol forte e calor; pancadas de chuva no norte e centro-oeste do Estado.
soais do adversário vitorioso pela autocracia em marcha no País. ● PÁG. A3
Hoje: 72 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 4 ● G. Agrícola: 12 ● H. Especial Lévi-Strauss: 4 Classificados: 125 anúncios
Itália terá de retirar crucifixos de escolas ●● Para Corte de Direitos Humanos, símbolo pode perturbar não-cristãos.● PÁG. A18
agrícola
Orquídeas em alta ●● Espécies brasileiras e seus cruzamentos ganham mercado externo. ●
NACIONAL NACIONAL A9 A9
QUARTA-FEIRA, 4 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 96 DIAS
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Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
PIAUÍ
‘A censura é o ovo da serpente’ Presidente do IAB afirma que a mordaça é ‘ato abusivo’, que viola a Constituição de 1998 Moacir Assunção
O presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Henrique Maués, se diz “indignado”comacensuraaoEstado, que já dura 96 dias. “É um ato abusivo e inconstitucional, que violaprincípiosbásicosdaConstituição democrática de 1988”, afirma. “A censura, típica de períodos autoritários, foi jogada na lata de lixo da história.” Opresidentedo IAB– entidade de 166 anos, sediada no Rio – critica a proibição de o jornal publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. A mordaça foi determinada pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal
(TJ-DF), por solicitação do empresário Fernando Sarney, filhodopresidentedoSenado,José Sarney (PMDB-AP). A PF já indiciou o empresário por tráfico de influência, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Na visão de Maués, a postura de Vieira, que é amigo da família Sarney, e de seus colegas do TJ-DF, que mantiveram a censura, suscita ainda mais reprovação. “O censor não é melhor ou pior se for um juiz ou um policial”, declara. “Independentemente do cargo, não passa de um censor. E a censura é o ovo da serpente do autoritarismo.” Para ele, outro ponto negativo é que a censura pode criar uma espécie de jurisprudência
QUESTÃO AGRÁRIA
Procuradoria apura nova denúncia contra MST José Maria Tomazela SOROCABA
O Ministério Público Federal em Bauru vai investigar denúnciadecrimeambientalnoassentamentoAimorés,emPederneiras (SP), onde cortaram eucaliptosparavender.Ontem,o Estado mostrou que 409 famílias do Movimento dos Sem-Terra (MST) e da Federação de Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetagri) sobrevivem da venda da madeira e construíram fornos para fazer carvão.
O Incra disse que as famíliastêmautorizaçãoparacortar madeira até o limite de um alqueire por lote. O controle da saída é feita pelo próprio órgão, mas “cabe aos assentados providenciar o licenciamento”. O superintendente do Incra em São Paulo, Raimundo Pires Silva, afirmou que suspendeu o convênio antes do pedidoda procuradoria. Uma equipe decidirá o que fazer com mais de milhectaresdepinusquerestaram no assentamento. ●
FRASES
Henrique Maués Presidente do IAB “Nenhuma autoridade pode se arrogar o ‘direito’ de ser a consciência crítica da sociedade. É o próprio leitor que vai filtrar o que lhe interessa” “Temos que esmagar a cabeça desta serpente”
negativa sobre o tema. “Qualquer autoridade pode alegar que, se vale para a pessoa em questão,porquenãopoderiavaler para ela?”, argumenta. A censura tem se tornado comum em decisões judiciais de primeirainstância,oquepreocu-
pa entidades ligadas à defesa da expressão e da opinião. Segundo a Associação Nacional dos Jornais(ANJ),pelomenos12decisões impondo a mordaça a órgãos de comunicação foram registradas nos últimos dois anos. De acordo com o especialista, a saída para a situação é uma só: “Temos de esmagar a cabeça dessa serpente, antes que ela setornefortedemais”,defende, referindo-se à censura prévia. INDENIZAÇÃO
Mauéslembraque sempre existemmeiosparasupostosofendidos por reportagens buscarem reparações de eventuais danos sofridos. “Basta entrar na Justiça pedindoindenizações, quea solici-
tação será estudada para confirmar se há sentido no que é pleiteado”, afirma. “O que não pode é fazer a censura prévia. Esse tipo de posturaatentacontra odireitoque ocidadãotemdeserinformado, ou seja, há um prejuízo para toda a sociedade.” Maués fez questão de dizer que o direito individual à privacidade não pode, se sobrepor ao direito de opinião e de expressão da coletividade, como no caso do Estado, em que toda a sociedade acabou punida.“Nenhuma autoridade pode se arrogar o ‘direito’deseraconsciênciacrítica da sociedade. É o próprio leitor que vai filtrar o que lhe interessa.” ●
TRE cassa 2 prefeitos e fará novas eleições O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PI) cassou os mandatos dos prefeitos de Caracol, Isael Macedo (PTB), e de São Pedro, HiginoBarbosa(PT).OTREdeve convocar novas eleições nas duas cidades. O prefeito de Caracol e seu vice, Lamartine Dias Figueiredo, são acusados de comprade votos,conduta vedada a agentes públicos e abuso de poder. Barbosa também é acusado de abuso de poder. PARANÁ
Requião volta a fazer ironia com ‘parada gay’ Depois de causar polêmica com a comunidade gay, o governador do Paraná, Roberto Requião(PMDB), voltou a falar em tom jocoso do movimento durante seu programa de TV. Ele disse que sua equipe havia faltado à reunião porque estava na 14ª Parada do Orgulho Gay, no RiodeJaneiro.Domingo,durante o evento, Requião foi criticado pelo ministro Carlos Minc.
Pensou cruzeiro, pensou AGAXTUR! Com AGAXTUR e ROYAL CARIBBEAN você tem muito mais vantagens.
MINIS 3 e 4 noites VISION OF THE SEAS Saídas DEZ a MAR
A partir de R$207 ou 10x R$21 (7 DEZ - cat. Z)
REVEILLON, 8 noites SPLENDOUR OF THE SEAS
BAHIA, 7 noites VISION OF THE SEAS
CRUZEIROS, 6 noites SPLENDOUR OF THE SEAS
Saída 26 DEZ
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o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
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JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
5 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42387
Entrada de dólares cai 75% com novo imposto
CADERNO2
Apesar disso, o fluxo de outubro foi o maior em dois anos a cifra era de US$ 919 milhões. Apesar disso, no mês passado a entrada de dólares superou a saída em US$ 14,59 bilhões, o maiorsaldoemdoisanos,representando 64% de tudo o que ingressou no País nos dez primeiros meses deste ano. Segundo analistas, a entrada de dólares deve continuar forte nos próximos meses, embora em volume menor. ● PÁGS. B1, B3 e B4
Governo alerta para risco de inundações
ANÁLISE
Fernando Dantas
Eficácia será limitada O Brasil precisa de capital externo para fechar suas contas. Como o mundo confia no País e está disposto a financiá-lo, os dólares vêm a
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rodo, e a resultante é o câmbio valorizado. O IOF de 2% é tido como insuficiente para mexer significativamente nessa equação. ● PÁG. B3
SÃO PAULO: PRIMAVERA COM JEITO DE VERÃO
FABIO MOTTA/AE
A entrada de investimentos externos para aplicações no Brasil caiu 75% desde 20 de outubro, quando passou a vigorar o IOF sobre as aplicações de estrangeiros em ações e títulos de renda fixa. Nos últimos dez dias de outubro, a média de transferências para o Brasil ficou em US$ 231 milhões, praticamente um quarto da verificada nos 19 primeiros dias do mês, quando
‘Marina Silva não é analfabeta como Lula’ Sonia Racy
O
cantor CaetanoVeloso anuncia sua opção pela candidatura de Marina Silva ao Planalto. “Não posso deixar de votar nela”, diz Caetano, que se apresenta em São Paulo a partir de amanhã. “É por demais forte, simbolicamente, para eu não me abalar.” Para ele, Marina é uma “cabocla” que mistura características de Barack Obama e Lula. ●
O excesso de chuvas no mês de outubro elevou o nível dos principais reservatórios de água do País para o ponto mais alto dos últimos dez anos e pôs o governo em alerta. A perspectiva é de aumento no risco de inundações, no fimdeste anoe noinício do próximo. A Agência Nacional de Águas criará hoje uma “sala de situação” para controlar o volume dos reservatórios, mobilizar a Defesa Civil e tentar evitar catástrofes. ● PÁG. C1
FRASES
“Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla. É inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro” “Esse negócio de Estado muito forte não me atrai. Acho que ele tem de ser firme, mas não tem de ser um Estado de força”
Decisão sobre patentes afeta produção de genéricos
Resultado de eleição indica problemas para Obama
Fernando Henrique critica ‘inércia da oposição’
Uma decisão do governo limita aatuaçãodaAnvisaeabreespaço para facilitar a concessão de patentes de medicamentos para grandes farmacêuticas, liberando menos remédios para a indústria de genéricos. A medida pode ter reflexos no bolso do consumidor. ● PÁG. A22
Os republicanos venceram as eleições para governador na Virgínia e em New Jersey, que eram democratas. O resultado é visto nos EUA como termômetro da eleição parlamentar de 2010, num possívelrepúdioaopresidente Barack Obama. ● PÁG. A12
Oex-presidente FernandoHenrique criticou ontem a “inércia da oposição” e voltou a lançar ceticismosobre ofuturodo País com a gestão petista, como já havia feito em artigo publicado noEstado. “Háumrisco dedesfazer o que a gente pensou que estivesse consolidado.” ● PÁG. A4
DOSSIÊ ESTADO
●●● A analista de sistemas Claudia Ribas, de 30 anos, aproveita dia de sol no Sesc Vila Mariana, na capi-
tal paulista: a umidade relativa do ar aumenta hoje, o que deve provocar chuva no fim da tarde. ● PÁG. C3
Futebol
Juiz expulsa 3 do São Paulo Timearrancaempate dramático (1 a 1) contra o Grêmio. ● PÁG. E1
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Finanças
Caixa disputa microempresas
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 97 DIAS q PÁG. A11
NOTAS E INFORMAÇÕES
Sem meta para Copenhague Dilma Rousseff é como o seu chefe e patrono: entende pouco e simpatiza ainda menos com a causa verde. ● PÁG. A3
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●● Banco oferecerá R$ 200 milhões em empréstimos. ● PÁG. B8
Tempo: CAPITAL
Viagem q ESPECIAL
Faz calor e ocorrem pancadas de chuva.
Programe-se para as férias
Uma seleção de roteiros na praia, na neve, com pouco ou muito agito. ●
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7 8 9 10 11 12
Micro-organismos cevados em casa servem para produzir iogurtes pungentes e pães crocantes. ●
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31º MÁX. Hoje: 144 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 16 ● E. Esportes: 8 ● H. Especial Viagem: 24 ● P. Paladar: 8 ● Cl. Classificados: 22 (1.797 anúncios)
● PÁG. C2
19º MÍN.
FELIPE RAU/AE
Atentativadeapuração doscrimes cometidos pelos regimes comunistas da Cortina de Ferro ainda enfrenta resistência, mostra o enviado especial à Romênia, Jamil Chade. ● PÁG. A18
Seres bem vivos na sua geladeira
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
Ex-comunistas abafam crimes
A6 NACIONAL
QUINTA-FEIRA, 5 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
A desordem das coisas
SUCESSĂƒO
PT e PMDB buscam acerto em 5 Estados para selar aliança Peemedebistas consideram obrigatório pacto em Minas, Rio, Cearå, Parå e MS Denise Madueùo Vera Rosa BRAS�LIA
O presidente do Senado, JosĂŠ Sarney, ĂŠ seletivo em sua conceituação sobre democracia. Quando precisa, nĂŁo hesita em acionar seus poderes para abrir o Legislativo Ă interferĂŞncia do Executivo ou para impor censura Ă imprensa. Fez assim recentemente ao pedir socorro ao presidente da RepĂşblica para se safar de processos por quebra de decoro parlamentar e hĂĄ 97 dias goza do nefasto privilĂŠgio de ver O Estado de S. Paulo obrigado ao silĂŞncio a respeito das investigaçþes da PolĂcia Federal envolvendo um de seus filhos, o empresĂĄrio Fernando Sarney. Quando lhe interessa, faz pose de democrata. Faz assim quando invoca seu papel na transição democrĂĄtica, fez assim em 2004, quando se disse impedido de instalar a CPI para apurar as malfeitorias de Waldomiro Diniz – como manda o regimento da Casa e conforme mandou depois o Supremo Tribunal Federal –, sob a alegação de que nĂŁo poderia substituir-se aos lĂderes partidĂĄrios na indicação dos integrantes da CPI. Faz de novo agora, quando se declara contrĂĄrio Ă protelação do cumprimento da sentença de cassação do mandato do senador tucano Expedito JĂşnior por abuso de poder econĂ´mico na eleição de 2006, mas aceita “democraticamenteâ€? a decisĂŁo da Mesa Diretora do Senado de acatar um recurso (inĂştil) Ă ComissĂŁo de Constituição e Justiça. Antes da conveniente cena, em nenhum momento se ouviu de Sarney, influente e poderoso, um argumento sequer de ponderação a seus pares para que se evitasse essa demonstração de impertinĂŞncia institucional. Compartilhou do atrevimento e depois, diante da reação geral, da anunciada intenção do procurador-geral da RepĂşblica de tomar alguma medida legal contra o ato do Senado, o presidente da Casa aparece vestido de Maria SantĂssima fazendo a defesa do diĂĄlogo e da “harmonia entre os Poderesâ€?. NĂŁo hĂĄ como aceitar a tese dos advogados do senador cassado de que ele tem direito a defesa junto Ă CCJ. A cassação foi determinada em junho. Estamos em novembro, tempo suficiente para apresentação da mais extensa das defesas. No lugar disso, o cassado preferiu esperar para lançar mĂŁo de um expediente protelatĂłrio. O grave aĂ nĂŁo ĂŠ o gesto do senador, mas a atitude da Mesa do Senado. Primeiro, ao nĂŁo cumprir de pronto a sentença do STF. E, depois, sobrepondo-se Ă autoridade da Corte Suprema e, portanto, Ă Constituição. O Legislativo reclama que o JudiciĂĄrio lhe usurpa os poderes. Parece acreditar que a resistĂŞncia ao cumprimento de sentenças funciona como uma espĂŠcie de afirmação de autonomia, quando nĂŁo passa de uma reles desobediĂŞncia Ă lei. Se o Legislativo ignora decisĂľes do JudiciĂĄrio o que a sociedade entende ĂŠ que tudo o mais ĂŠ permitido. O caso nĂŁo mereceria grande atenção se fosse um fato isolado. NĂŁo ĂŠ. Reiteradas vezes o Congresso tem sido chamado Ă s falas por ministros do Supremo para cumprir decisĂľes judiciais, ao custo de ouvir crĂticas ao seu “ativismoâ€?. Ora, melhor um JudiciĂĄrio hiperativo que um Legislativo passivo diante de um Executivo altamente impositivo. EquilĂbrio? NĂŁo hĂĄ como exigi-lo numa conjuntura desequilibrada em que o Executivo exorbita no exercĂcio do poder, o Congresso Nacional aceita ser usado como anexo do Planalto e, imbuĂdo do espĂrito de auxiliar administrativo da popularidade do presidente da RepĂşblica, ainda se sente no direito de desdenhar das atribuiçþes do Supremo Tribunal Federal. E, se a oposição se cala – ora por estratĂŠgia eleitoral, ora, como no caso do senador cassado, integrante do PSDB, porque lhe ĂŠ conveniente –, alguĂŠm precisa falar. E o Supremo fala. Fora dos autos e dentro do seu papel de fazer valer o poder da lei.
Quando o Legislativo ignora o JudiciĂĄrio tudo o mais passa a ser permitido
Zero a zero O ministro relator do mensalĂŁo mineiro, Joaquim Barbosa, foi tĂŁo contundente em seu voto de acolhimento da denĂşncia do MinistĂŠrio PĂşblico contra o senador Eduardo Azeredo e “coautoresâ€? no crime de peculato, quanto fora dois anos atrĂĄs quando aceitou a denĂşncia contra os 40 (agora 39) integrantes da “organização criminosaâ€? acusada de arquitetar e executar o mensalĂŁo federal. Se o plenĂĄrio seguir o relator, a oposição terĂĄ dificuldades para falar de ĂŠtica na campanha presidencial. Na ĂŠpoca que estourou o escândalo, Eduardo Azeredo era presidente do PSDB e, nessa condição, foi defendido por seus pares de uma acusação, na essĂŞncia, semelhante Ă s que os oposicionistas imputavam aos adversĂĄrios na CPI dos Correios.
Em ovos A nota do Supremo Tribunal Federal sobre a festa de posse do ministro JosĂŠ AntĂ´nio Toffoli, parcialmente financiada pela Caixa EconĂ´mica Federal por intermĂŠdio da Associação dos JuĂzes Federais do Brasil, diz que ĂŠ “usualâ€? entidades de classe patrocinarem esse tipo de comemoração. Mas nĂŁo diz que acha normal o emprego de recursos pĂşblicos nos festejos. â—?
Dezesseis dias apĂłs firmarem compromisso para o casamento eleitoral em 2010, o PT e o PMDB buscam solução para divergĂŞnciasna montagem depalanques conjuntos em cinco pontos-chave. Na primeira reuniĂŁo realizada ontem entre as cĂşpulas das duas legendas para acertar os ponteiros, ficou decidido que o trabalho de aproximação nos Estados terĂĄ a participação do presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva. Os partidos analisaramoscinco Estadosonde o acordo serĂĄ fundamental paraoPMDBgarantiraformalização da aliança. A sigla fez as contas e alertou os petistas de que o acerto serĂĄ imprescindĂvel em Minas Gerais, Rio de Janeiro, CearĂĄ, ParĂĄ e Mato Grosso do Sul. Sem esses Estados ou sem a parte deles, o PMDB nĂŁo poderĂĄ “entregar a mercadoriaâ€? que prometeu, ou seja, a aliança formal com o PT aprovada na convenção. Esses cinco Estados somam 318 votos dos cerca de 800 que serĂŁo dados pelos convencionais que se reunirĂŁo em junho do prĂłximo ano. Na reuniĂŁo, os representantes do PMDB constataram que, se apenas dois desses Estados se negarem a apoiar a aliança nacional, o partido nĂŁo terĂĄ como concretizar o acordo firmado em 20 de outubro sob a coordenação do presidente Lula. A intenção do partido ĂŠ conseguir
mais de 80% dos votos dos convencionais a favor da aliança com o PT. Uma maioria simples, entendem os peemedebistas, provocaria desgaste interno e divisĂŁo na campanha. “Ainda nĂŁo hĂĄ acordo para os problemas regionaisâ€?, admitiu o lĂder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). “Sabemos, porĂŠm, que as soluçþes nĂŁo podem demorar nem atravessar o ano.â€? No mapa de votos, o PMDB descarta o apoio dos convencionais do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, de Pernambuco, do Acre e da metade de SĂŁo Paulo, controlado pelo ex-governador Orestes QuĂŠrcia. O partido avalia que nessesEstados a aliançaa favor da candidata Dilma Rousseff sĂł receberĂĄ votos pulverizados. Em alguns Estados, onde o controle da cĂşpula nacional ĂŠ forte,onĂşmerodevotosĂŠpequeno, o que aumenta a necessidade de conseguir o apoio do grupo dos cinco Estados. O presidente do Senado, JosĂŠ Sarney, por exemplo, tem o comando dos convencionais do AmapĂĄ, mas sĂŁo apenas 4 votos. O lĂder doPMDBnoSenado,RenanCalheiros, tem os 12 votos de Alagoas. O mesmo acontece com os convencionais de Roraima sob o comando do senador Romero JucĂĄ (PMDB): sĂŁo 6. O comando do PT pediu mais prazo para tentar enquadrar seus pares. Petistas alegam ser precisoesperara eleiçãoquerenovarĂĄ as direçþes nacionais, estaduaisemunicipais dopartido, no prĂłximo dia 22. Na prĂĄti-
ca, a eleição interna pode mudar a correlação de forças no partido e influenciar na definição das candidaturas petistas. Em Minas, Lula jĂĄ disse que nĂŁo quer prĂŠvia entre o ministro do Desenvolvimento Social, PatrusAnanias,eoex-prefeitoFernando Pimentel, de Belo Horizonte,paraaescolhadocandidato quedisputarĂĄ a cadeirado governador AĂŠcio Neves (PSDB). Tanto o grupo de Patrus como o dePimentelbrigam pelocontrole regional do PT, na tentativa de se fortalecer para a prĂŠvia. AlĂŠm da divergĂŞncia domĂŠstica, a cĂşpula do PT tem de resolver outro problema: o ministro das Comunicaçþes, HĂŠlio Costa (PMDB), quer ser candidato ao governo mineiro. Presente Ă reuniĂŁo de ontem, Costa propĂ´s que o PT e o PMDB cheguem a um acordo com base em pesquisas de intenção de voto. Pela sua sugestĂŁo, o prĂŠ-candidato que estiver na dianteira atĂŠ março deve liderar a chapa. O critĂŠrio tem o apoio da cĂşpula do PMDB e de parte do PT que sabe da necessidade de ter o aliado mineiro na aliança. “NĂŁo negamos os problemas, mas temos toda a disposição de resolvĂŞ-losâ€?, disse o secretĂĄriogeral do PT, deputado JosĂŠ Eduardo Martins Cardozo (SP). “O presidente Lula terĂĄ muito a contribuir nessa operação.â€? As cĂşpulas do PT e do PMDB tambĂŠm decidiram formar um fĂłrum para discutir diretrizes do programa de governodeDilmaea agendadacandidata. â—?
No Rio, Lindberg vai ‘dominar’ maioria das inserçþes petistas
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De olho no governo estadual, prefeito contraria comando do partido, que prefere apoiar Cabral WILTON JUNIOR/AE-18/8/2009
Alfredo Junqueira RIO
Considerada um dos obstĂĄculos para a aliança nacional entre o PT e o PMDB, a prĂŠ-candidatura ao governo do Rio do prefeito de Nova Iguaçu, o petista Lindberg Farias, ganhou força na noite de anteontem. O diretĂłrio regional do partido determinou que a maior parte das inserçþes que a legenda terĂĄ na televisĂŁo, entre os dias 25 e 30 deste mĂŞs, serĂĄ ocupada por Lindberg. Dos 40 comerciais previstos, o prefeito vai aparecer em 30. A ministrachefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, prĂŠ-candidata Ă sucessĂŁo do presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva, ficarĂĄ com os outros 10. A decisĂŁo do colegiado foi apertada – 29 votos a 26 – e expĂľe a divisĂŁo do PT do Rio entre o apoio Ă reeleição do governador SĂŠrgio Cabral (PMDB) e a tese da candidatura prĂłpria. Animado com o resultado, Lindberg afirma que vai contar com a orientação do publicitĂĄrio Duda Mendonça. O petista espera que ele seja o diretor de suas inserçþes e coordene seu programa de televisĂŁo, caso consiga emplacar a candidatura ao governo do Estado no ano que vem. “O Duda topou fazer esses spots para mim. Estamos numa fase de namoroâ€?, disseLindberg. “Ele estĂĄ gostando, estĂĄ
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ANIMAĂ‡ĂƒO – Lindberg vai contar com orientação de Duda Mendonça
com prazer pela disputa aqui no Rio.� DIRETÓRIOS
O próximo e decisivo round da disputa entre os petistas que defendem a aliança com Cabral e os que preferem a candidatura própria serå no dia 22, quando o partido passa pelo Processo de Eleiçþes Diretas (PED) – que vai selecionar os novos membros dos diretórios municipais, estaduais e nacio-
nal. No Rio, sĂŁo cinco candidatos Ă presidĂŞncia regional do partido: trĂŞs sĂŁo aliados de Lindberg, um prefere seguir com ogovernador e o Ăşltimo ĂŠ indiferente. “A gente esperava ter maioria sĂł depois do PED. No atual diretĂłrio, existia maioria que defendia aliança com Cabral. Essa vitĂłria foi uma importante sinalização. Estamos ganhando forçaâ€?, comemorou Lindberg. â—?
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QUINTA-FEIRA, 5 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 97 DIAS
NACIONAL NACIONAL A11 A11
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘A censura estrangula a sociedade’ Para historiador, medida é típica de nações pouco desenvolvidas e atrasadas, não de um país moderno Moacir Assunção
O historiador Hernani Donato, presidente de honra do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Paulista de História,confessousuaincredulidade diante da censura ao Estado. “Tenho lido diariamente no jornal manifestações de revolta pela mordaça. A minha não é de revolta, mas de pena por ver ocorrerem no meu País,
IMPRENSA
Diocese quer proibir notícias sobre vigário Tatiana Fávaro CAMPINAS
A Diocese de Limeira ingressou na Justiça com um pedido de liminar para proibir a veiculação de informações sobre decisões ou ações da instituição. O caso está nas mãos do juiz Rilton José Domingues, da 2ª Vara Cível de Limeira, que deve tomar uma decisão hoje. O pedido de liminar foi feitonasexta-feira passada.Segundo a assessoria da diocese, o objetivo é “proteger o bispo,domVilsonDiasdeOliveira, e o vigário-geral, Reynaldo Ferreira de Mello, de ofensas” feitas por jornalistas da cidade. ALVOS
Seis veículos de comunicação seriam os alvos do processo, ao qual a reportagem do Estado não teve acesso. “Querem atacar o bispo e a mim. Isso já virou pessoal”, afirmou o vigário-geral ontem. “O que pedimos foi uma medida cautelar para podermos fazer o nosso dever.” Mello também declarou que não vê nenhum tipo de censura no pedido de liminar. “Não queremos ferir a liberdade de imprensa”, disse ele, ao comentar que anteontem houve uma reunião do conselho episcopal e, depois do encontro, “a imprensa foi atendida”.
‘Não é censura’, alega Mello, que vê ‘perseguições pessoais’ “Não é censura”, alegou o vigário-geral. “O que queremos é nos proteger de perseguições pessoais.” A polêmica teria começado depois do vazamento da informação de uma possível transferência do padre Alquermes Valvasori, pároco da Catedral de Limeira. A diocese não informou quando ou para onde ele será transferido. Por meio de funcionários da catedral, o padre Alquermes mandou avisar que não dará entrevista sobre o assunto. Segundo Mello, a transferência do pároco vem sendo discutida desde o fim do mês de agosto, mas só acabou virando notícia em jornais, rádios e emissoras de televisão durante as últimas semanas. O bispo informou, por meio de sua assessoria, que não vai se pronunciar sobre o caso por se tratar de “uma questão interna”. O vigário-geral afirmou que somente o bispo poderá falar sobre a mudança, mas adiantou que não há nenhuma denúncia nem qualquer queixa contra o padre. “É simplesmente uma questão interna, uma decisão do bispo”, disse. A decisão sobre mudar ou nãoopadreAlquermesdeparóquia poderá ocorrer na reunião do conselho, marcada para 9 de dezembro. ●
por ações de um juiz e de um senador, coisas típicas de nações atrasadas, como a censura”, desabafou. O que mais assombra o veterano historiador é a postura do presidentedoSenado,JoséSarney (PMDB-AP), pai do empresárioFernandoSarney,quesolicitou e obteve no Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) a censura ao Estado, por divulgarinformaçõesdaOpera-
çãoBoi Barrica da Polícia Federal, na qual foi indiciado por vários crimes. “Não sei exatamente que medida ele (Sarney) poderia tomar, mas deveria agir para preservar a biografia de liberal e de democrata, que sempre afirmou ser, acabando com esta censura”,defendeu.Emsuaopinião, as atuais leis existentes são suficientes para garantir a liberdade de expressão. “A lei
formata a sociedade. A censura a estrangula”, disse. CAMÕES
Donato, autor dos clássicos Dicionário das Batalhas Brasileirase Revolução de 1932, acompanhou, quando trabalhava na Editora Abril, a censura imposta ao Estado e ao Jornal da Tarde durante a ditadura militar e tem fortes lembranças daquele período.“Porisso,sofroduasve-
zes, já que também vivi aquela época, em que os jornais estampavam poemas de Camões e receitas de bolo para escapar dos censores.” A censura deixou marcas em várias épocas da história da humanidade, de acordo com ele. Até mesmo São Paulo, gentio convertidoaocristianismo,condenou à mordaça a liberdade de expressão. “Em sua carta aos tessalônicos, ele ressalta que o
fiel deve examinar tudo, retendo o que é bom”, disse. A mordaça também integra a herança portuguesa no Brasil. “No período do Rei Miguel no país europeu ele dizia que a imprensa e a liberdade de expressão eram o pão espiritual do povo. O governo seguinte acrescentou que, assim como a batata e o bacalhau, o pão também precisa ser fiscalizado, ou seja, controlado.” ●
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SEXTA-FEIRA
Projeto prevê que militares possam revistar suspeitos e fazer prisões Armadas vão ganhar mais poder de polícia e proteção legal para realizar operações como policiamento de favelas ou retenção de aviões de traficantes. A lei, que respalda a Estratégia NacionaldeDefesa,deveserenviada ao Congresso neste mês e dará força ao ministro da Defe-
Exército, Marinha e Aeronáutica poderão revistar pessoas, veículos e instalações, além de fazer prisões em flagrante, conformenovotextodaLeiComplementar 97, a que o Estado teve acesso. Em resumo, as Forças
sa,queperdeoatualperfildecorativo. As três Armas receberãoreforçosdepessoaleequipamentos. A Marinha terá mais três batalhões de fuzileiros navais;oExércitoganharáoitobrigadas e 21 pelotões de fronteira. A Aeronáutica terá mais três bases na Amazônia ● PÁG. A4
(1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
6 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42388
Governo quer dar poder de polícia às Forças Armadas Tânia Monteiro
JULIO MESQUITA
ANÁLISE
Roberto Godoy
Modelo exige garantias Exército não é polícia – até que seja convocado para tratar da preservação da lei e ●●●
da ordem. É um modelo moderno, mas, antes, é preciso ter certas garantias. ● PÁG. A4
Operações de IPO vão ter imposto reduzido O ministro da Fazenda, Guido Mantega,deveaceitaraproposta da BM&F Bovespa de isentar dacobrança de IOFas emissões iniciais deações – operaçõesconhecidas pela sigla IPO. Em compensação, o governo pode aumentar o imposto cobrado em outras aplicações financeiras. Os investimentos financeiros de estrangeiros foram taxados para conter a entrada crescentede dólarese frear a valorização do real. ● PÁG. B1
Empresário com 200 ações assume vaga de senador
Projeto da reforma de Congonhas muda de novo
O senador Expedito Júnior (PSDB-RO), que teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral, deixou ontem o Senado.OempresárioAcirGurgacz (PDT-RO), segundo colocado na eleição em 2006, foiempossadoontem.Gurgacz comanda empresa de transporteeturismoqueresponde a cerca de 200 processos no norte do País. ● PÁG. A7
O governo federal apresentou novo projeto para o Aeroporto de Congonhas, um ano após ter anunciado a ampliação das pistas e a desapropriação de 2 mil imóveis para a criação de área deescape. Aideiaagoraéremodelar Congonhas a partir da transferência dos hangares às margens da Avenida dos Bandeirantes para um terreno anexo, da Vasp. ● PÁGS. C1 e C3
DOSSIÊ ESTADO
Prazo de 22 anos para reflorestar CHOQUE – Um sargento conforta uma recruta enquanto telefona a parentes e amigos em frente à base de Fort Hood, no Texas, após o tiroteio
Majoratiraemata12em base militar dos EUA Um major do Exército dos EUA abriu fogo ontem dentro da Base Fort Hood, a maior do país, no Texas, matando 12 pessoas e ferindo31.Oatirador,NidalMa-
ARTE URBANA
lik Hasan, foi baleado, mas sobreviveu. O ataque levou pânicoàbase,ondevivem65mil pessoas, incluindo soldados e familiares.Hasan,de39anos,erasol-
Líder histórico checo vê ‘crise existencial’ após o Muro VaclavHavel,olíderda revolução checa após a queda do Muro de Berlim, disse estar insatisfeito com a velocidade das reformas no país. “Estamos em um momento de crise existencial causada pela busca do materialismo e pelo legado do comunismo”, afirmou Havel ao enviado especial Jamil Chade. ● PÁG. A14
Presos podem ter visita virtual
teiro. Psiquiatra, trabalhava no Centro de Estudos de Estresse Pós-Traumático da base. Fora promovido neste ano e seria enviado ao Iraque. ● PÁGS. A11 e A12
Problema adiado Por demagogia e incompetência, governo deixou que o projeto corrigindo aposentadorias pelo índice do mínimo virasse um problema. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
30ºMÁX. DISPUTA – Pichações encobrem grafites no túnel da Paulista
Pichação busca status D
epoisdosgrafiteiros,são os pichadores que avançamnomundodaarte.Rabis-
cos dos muros de São Paulo jáinteressamatéàFundação Cartier, de Paris. ● PÁG. C14
● PÁG. C2
20º MÍN.
Sol aparece, mas nuvens aumentam e ocorrem pancadas de chuva à tarde.
Hoje: 198 páginas A. 1º caderno: 22 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 14 ● D. Caderno2: 14 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 4 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 4 (142 anúncios)
Em prisões federais, parentes se comunicam por computador. ● PÁG. C4
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NOTASE INFORMAÇÕES PAULO LIEBERT/AE
●● Fazendas desmatadas ilegalmente terão de recompor vegetação até 2031. ● PÁG. A16
Justiça
AFP
OpresidentedepostodeHonduras, Manuel Zelaya, recusou-se a indicar os nomes para o gabinete de transição acertado com o governo de facto, relata o enviado especial Roberto Simon. Zelaya dissequesónomearáseusrepresentantes após o Congresso determinar sua volta ao poder. ● PÁGS. A11 e A12
Ambiente
BEN SKLAR/AFP
Zelaya recua e condiciona acordo a sua volta ao poder
ATIRADOR – Hasan tem 39 anos
Guia
Duelo de festivais
Entidade debate censura à imprensa A Assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa(SIP),naArgentina,discutirádecisõesjudiciaisque impõem censura prévia. Um dos temas será o caso do Estado, impedido de divulgar informaçõessobreinvestigação que atingiu o empresário Fernando Sarney. ● PÁG. A10 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 98 DIAS
●● Planeta Terra e MaquináriaFestivaldisputam o público na cidade, amanhã. ●
CADERNO 2
A meca do show biz ●● Mercado
aquecido faz do Paíspalcodegrandesconcertos e festivais de música. ●
Esportes
Pelé defende ‘mala branca’ no futebol ●● Para ele, incentivo é “nor-
mal”: “Inaceitável é receber para perder”. ● PÁG. E1
A2 ESPAÇO ABERTO
SEXTA-FEIRA, 6 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Quepensamda sucessão seusprotagonistas?
Etanol– benefícios, riscose desafios
WashingtonNovaes
MarcosSawayaJank
São cada vez mais recorrentes as discussões sobre motivos que expliquem os altos índices de aprovação do presidente da República e, em contrapartida, a incapacidade de as oposições a seu governo formularem propostas para a sucessão capazes de contrapor-se a ele. Mas não parece tão difícil assim explicar nem os índices, nem as dificuldades oposicionistas. Em síntese, parecem ser três os fatores em que se apoia a aprovação: a quase ausência de inflação, programas de renda e decisões que permitiram o aumento de consumo dos setores de menores rendimentos. Começando pela inflação: durante décadas os segmentos de menor renda e renda média conviveram com o fantasma inflacionário, que lhes corroía todo o poder de compra em poucos dias após o recebimento dos salários – enquanto os de maior renda, com a possibilidade de correção monetária e juros em aplicações financeiras, até aumentavam seus rendimentos reais e sua participação na renda total. Não foi outro o
Veja o que disseram FHC, Sarney e Lula em situações diferentes das atuais motivo central que levou à eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, que passou de intenções de votos bem reduzidas ao ser lançada a sua candidatura – quando os índices mensais de inflação chegavam à casa dos 80% – à vitória no primeiro turno, com a vigência plena do Plano Real. E o segredo, no caso, foi o prazo dado aos setores empresariais para que se adaptassem ao novo modelo, com a vigência da URV, que lhes permitiu acumular “gorduras” e não aumentar preços. A estabilidade monetária trouxe de volta valores (não apenas financeiros) esquecidos. E, mantida, explica boa parte do êxito do atual presidente (vale a pena, a propósito, relembrar que os índices de aprovação do presidente José Sarney, nos primeiros tempos do Plano Cruzado, também chegaram ao céu). A segunda razão está na permanência e ampliação de programas de complementação de renda, que vinham de antes – englobando o Vale-Transporte e o Vale-Alimentação, merenda escolar e farmácia básica, do governo Sarney; e Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, seguro-desemprego e aposentadoria rural do governo FHC. Muitos deles são agora parte do Bolsa-Família, que hoje tem cerca de 12 milhões de beneficiários e, com seus dependentes, soma mais de 40 milhões de pessoas – uma base eleitoral
importante, também ampliada maticamente, portanto, o que Desde março de 2008 o concom o crédito consignado, que explicaria a aprovação do presumo de álcool combustível, o expandiu o poder de consumo sidente seria essa defesa de inetanol, supera o de gasolina. dos setores de menor renda (as teresses estabelecidos, seja Por isso se pode dizer que o classes C e D responderam pe- em segmentos de menor renBrasil é o único país do munla metade do crescimento das da, seja nos mais altos. do onde o combustível “alterE que pensa disso tudo o vendas de alimentos e artigos nativo” é o fóssil e o “princide higiene e limpeza no primei- atual presidente ? Sua entrepal” é renovável. Isso só foi ro semestre deste ano – Agên- vista é de novembro de 1995, possível graças à sábia decium ano após a derrota para cia Estado, 1º/11). são adotada depois do choEm meio a essas discussões, FHC. Ele começa criticando a que de 1975, quando lançavale a pena rever, no livro O Me- taxa de desemprego na Granmos o mais arrojado progralhor do Roda Viva, organizado de São Paulo, de 13,4% (hoje ma de substituição de petrópor Paulo Markun, o que disse- está em 14,1%), a ausência de leo da época. Hoje misturaram no programa de entrevis- projetos para reforma agrámos 25% de etanol à gasolina, tas da TV Cultura de São Paulo ria, critica o programa de sotemos uma frota de carros alguns dos personagens cen- corro aos bancos, a dívida púflex que já alcança 90% dos trais dessas discussões de hoje, blica vigente, defende a reeleiveículos novos e 37% da frota mas no momento em que se en- ção (mas não para ocupantes total e contamos com uma contravam em situações dife- de mandatos no momento da ampla distribuição de etanol rentes das atuais – FHC ainda reforma), pensa que o mérito puro em todos os postos de como presidente, Lula como lí- da estabilização econômica combustível. der oposicionista derrotado em foi de Itamar Franco, não de Estudos recentes trazem eleições presidenciais e Sarney FHC. E pede do governo FHC dados impressionantes sobre já fora da Presidência, mas ain- exatamente o que seus crítios impactos dessa indústria. da longe da via-crúcis de hoje. Considerando somente a procos lhe pedem hoje: ajuste fisSarney, por exemplo, diz cal, um “modelo de desenvoldução do etanol, são 465 mil (em 2005) que Lula é o “resulta- vimento” e uma reforma tribuempregos diretos criados no do da transformação da socie- tária que inclua alíquotas de País, seis vezes mais do que a dade durante aquele tempo” Imposto de Renda de 5% a indústria do petróleo. O eta(seu governo e seus programas 50%, além de maior taxação nol está presente em 1.042 sociais), que o Plano Real não sobre o lucro bruto das emmunicípios, ante 176 no caso teria existido sem o Plano Cru- presas. Porque, a seu ver, do petróleo, o que se traduz zado, mas que ainda é preciso “não é distribuindo cesta básiem maior distribuição de renfazer “um pacto social”. da e interiorização do desenca que resolve o problema”, já Já FHC, em entrevista no fi- que o número de pobres contivolvimento. Uma simulação nal de 2002, afirma que no Bra- nua a crescer. Sua conclusão: feita por professores da USP sil “a diferença entre pobres e “No Brasil, as pessoas são eleimostra que 15% de substituiricos é muito grande” e que um tas para presidente e depois ção de gasolina por etanol em dos caminhos para enfrentar o pensam que são rei. A pessoa nível nacional gera 118 mil emproblema seria aumentar (o pensa que o povo deu um chepregos líquidos, com uma que não ocorreu em seu gover- que em branco.” massa salarial adicional de no) o Imposto de Renda das pesR$ 236 milhões anuais. Resta aos detentores do soas físicas, hoje no limite de poder descobrir como transNa área ambiental, desde 27,5%, enquanto “na Europa ferir para sua candidata a 1975 o uso de etanol em subsvai a 30 e 40%”. Mas acha que aprovação do presidente. A tituição à gasolina permitiu Lula acabou vencendo a eleição seus opositores, formular políuma redução de emissões de presidencial de 2002 com o ticas mais concessivas que as 600 milhões de toneladas de “Paz e Amor”: “Se você não ti- atuais, mas sem perder votos CO2, o equivalente ao plantio ver uma pitada de candomblé, nos segmentos de baixo ou de 2 bilhões de árvores. Espealgo de emoção, algo até de irra- aprovação nos de cima. ● cialistas afirmam que para cacional, de explosivo em certas da litro de etanol consumido circunstâncias, você não se co- Washington Novaes é jornalista US$ 0,20 deixam de ser gasmunica.” E, para ele, “na socie- E-mail: wlrnovaes@uol.com.br tos na mitigação de gases caudade contemporânea, por causa da capacidade que você hoje tem de falar para milhões de pessoas, você sendo um bom ator”, pode até “tentar se sobrepor às instituições”. E Lula “é um bom ator”, maior que o partido: “O PT não gorou (...), ficou um partido de massa (...), ainda é corporativista” e, no fundo, “defende interesses estabelecidos”, quando o problema maior seria exatamente defender “esse tipo de gente que não tem representação”. Por essa razão, “o perigo de um partido como o PT é ser defensor dos interesses estabelecidos”. E “isso é complicado para a Caê ou quando ler jornal requer guarda-chuva democracia”. Esque-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Antesfosse Caetano Veloso, em entrevista ao Estado e tentando criar polêmica, disse que Marina Silva não é analfabeta como Lula. Está redondamente enganado, Lula não é analfabeto, mas uma pessoa perigosa que tomou gosto pelo poder e dele não quer arredar tão cedo. Observe com quem ele anda, quem reverencia e protege e a quem se associa para ver que o “cara” pretende mais que uma simples faixa de presidente, é muito pouco para o seu ego e o seu desejo de poder. A ladainha vai ser sempre a mesma, o povo quer assim, como quiseram Hitler, Perón, Vargas e outros ditadores ao longo do tempo e pelo mundo afora.
● O sr. presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é um “intelectual”, mas num país onde predominam “acadêmicos” de minguada obra (vide FHC) chamar Lula de analfabeto demonstra que Caetano Veloso – quando não se manifesta por meio de sua respeitável produção musical – é grosseiro e leviano. Comporta-se como um moleque! SÉRGIO PAULO TEIXEIRA POMBO sp.pombo@estadao.com.br
Campinas ● Valeu, Caetano! Ufa, até que enfim alguém do meio artístico e intelectual para falar o que muita gente pensa e sabe! Depois dessa, só falta o presidente pedir censura prévia no Estadão!
ALBERTO B. CARDOSO DE CARVALHO
JOSÉ ERASMO NEGRÃO PEIXOTO
albcc@ig.com.br
jenp@bitweb.com.br
São Paulo
Tatuí
sadores do aquecimento global. Um estudo realizado pelo Laboratório de Poluição da Faculdade de Medicina da USP estima que se todos os carros da Região Metropolitana de São Paulo fossem movidos exclusivamente a gasolina haveria um incremento de 400 mortes e mais de 25 mil internações hospitalares por ano, com um custo anual de R$ 140 milhões para o sistema de saúde. Uma das razões do bom desempenho dessa indústria foi a liberalização do mercado na década de 1990. A extinção dos controles de produção e preços do antigo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) propiciou importantes ganhos de produtividade e reduções reais nos preços desses dois produtos. O petróleo, ao contrário, além de altamente poluente, torna-se cada vez mais escasso no mundo e, portanto, mais caro. Uma das consequências complicadas da desregulamentação, todavia, foi o expressivo aumento da volatilidade de preços, tanto em termos sazonais (safra e entressafra) como cíclicos (ao longo dos anos). Ao contrário da gasolina e do diesel, que têm seus preços artificialmente fixados pelo monopólio de facto da Petrobrás, os preços do açúcar, do etanol e da cana sofrem grandes variações de acordo com a lei da oferta e da procura. Nesse aspecto o etanol brasileiro é semelhante ao petróleo no mercado mundial, já que ambos flutuam ao sabor das leis de mercado. Nos últimos dois anos, por exemplo, o que se viu no Brasil foi um ciclo de preços extremamente deprimidos do etanol em razão do forte aumento da oferta decorrente de elevados investimentos em expansão e novas usinas. Se, por um lado, os baixos preços derrubaram a rentabilidade do setor, por outro, eles favoreceram, juntamente com o crescimento da frota flex, LOREDANO um acentuado aumento de consumo, entre 2005 e 2008, de impressionantes 185% de etanol hidratado, ante apenas 7% de gasolina. Em março deste ano, os empresários do setor sucroenergético reuniram-se repetidas vezes com o governo para discutir formas de estocar o produto, diante da safra recorde que se iniciava e da derrubada de preços causada pela crise financeira global, que abalroou as usinas. Com o balanço da maioria das empresas comprometido pela cri-
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Cadêoprogramatucano? Sinto que o PSDB está encolhido, agachado, de cócoras, acovardado por causa dos 80% de popularidade do sr. Lula e somente girando em torno de uma possível disputa do sr. José Serra com o sr. Aécio Neves. Chega disso. Não é assim que deve viver um partido político. Afinal, qual é o programa do PSDB? Tem algum ou vai continuar a criar os filhos do casamento FHC-Lula? Isto é, vai ser o mais do mesmo? Francamente, não é isso que se espera de um partido que deveria ter uma ideologia. Nesse sentido, relembro o velho PCB, que mesmo sem nenhuma chance de eleger um presidente tinha o
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Inérciadaoposição seu programa e o distribuía de porta em porta, em Belo Horizonte, nos anos 50. Aqui, em São José do Rio Preto, o PSDB só existe nas vésperas de eleições, enquanto o PT, lá na Boa Vista, funcionou este ano todo das 8 da manhã até as 8 da noite? É preciso que os “cartolas” do PSDB arregacem as mangas da camisa, trabalhem e produzam um programa para o partido. Que Lula chegue a 99,9% de popularidade, mas nem por isso os tucanos devem se encolher. Estou à espera desse programa para decidir se voto nos seus políticos ou não. ANTONIO RIBEIRO DE ALMEIDA ribercor33@uol.com.br
São José do Rio Preto
Fernando Henrique critica a “inércia” da oposição. Eu diria que nunca houve na gestão do PT oposição no País. É um mistério!
se, o programa de estocagem não teve o resultado esperado. Sete meses depois, na mesma safra, chuvas excessivas prejudicam a colheita da cana e o governo fala em reduzir a mistura de etanol na gasolina de 25% para 20%. Leia-se: uma mudança radical de cenários e políticas dentro da mesma safra! Acontece que o setor sucroenergético tem reagido muito bem aos estímulos e demandas do mercado, aumentando rapidamente a produção e a sua eficiência econômica e operacional para atender à crescente demanda. Salvo a ocorrência de novos volumes absurdos de chuvas até dezembro, não há motivo para alterar o nível de mistura do etanol na gasolina neste momento. Já se foi o tempo do carro movido unicamente a álcool e, portanto, mais vulnerável a problemas de desabastecimento. Hoje os carros são “flexíveis” e o etanol compete com a gasolina pela preferência do consumidor em cada bomba de combustível. Ou seja, o ajuste de mercado ocorrerá naturalmente nos postos, pelas
Não há motivo neste momento para o governo reduzir a mistura à gasolina mãos soberanas do consumidor, que hoje pode decidir em função dos preços relativos e dos valores intrínsecos de cada combustível em termos de potência, consumo, clima, saúde pública, etc. Sabemos, porém, que tanto os consumidores como os produtores desejariam ver menos oscilações nos preços do etanol. Acontece que o etanol é uma commodity agrícola, altamente influenciada pelo clima e produzida durante sete meses para ser vendida o ano todo. Ao contrário do mercado de açúcar, a rigidez das regras de comercialização de etanol dificulta a presença de agentes de comercialização, gera pouca liquidez e enorme volatilidade num mercado primitivo que só funciona no spot diário de preços. É por isso que o setor tem insistido na necessidade de novos instrumentos de comercialização física e futura que gerem maior liquidez e gestão de risco, com a entrada de novos agentes. É preciso também desenvolver políticas tributárias que reconheçam as externalidades socioambientais do etanol para a sociedade, lembrando que ele representa uma das grandes inovações criadas em terras brasileiras. ● Marcos Sawaya Jank é presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) Site: www.unica.com.br
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de querem ir? Com a palavra os tucanos. ADEMAR MONTEIRO DE MORAES ammoraes57@hotmail.com
São Paulo
ANGELO TONELLI angelotonelli@yahoo.com.br
São Paulo
Por que só depois de sete anos FHC resolve sair de cima do muro e emitir opinião sobre este processo de “venezuelização” que o PT impõe ao Brasil? ●
PAULO RUAS pstreets@terra.com.br
São Paulo ● Para onde vamos? O nosso ilustre ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deveria fazer a pergunta diretamente aos seus colegas de PSDB. Ou, então, para on-
Semprena defensiva Que infeliz a opinião de Berzoini sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Quem não tem argumentos lança dardos de todos os lados... Depois de duas gestões saudosas e laureadas, haverá amargura ou é indignação com o que ocorre no governo Lula?! Certamente o ex-presidente, com sua brilhante formação e invejável capacidade, estará acima de tanta leviandade ou ignorância. RUTH DE SOUZA LIMA E HELLMEISTER rutellme@terra.com.br
São Paulo
SEXTA-FEIRA, 6 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Problema adiado
O
governo conseguiu adiar a votação do projeto de lei que estende a todas as pensões e aposentadorias a correção pelo índice aplicado ao salário mínimo. Se aprovada neste ano, essa mudança custaria à Previdência, já em 2010, uma despesa adicional de R$ 6,9 bilhões. Seria um peso excessivo até para um governo conhecido por sua propensão à gastança, agora acentuada pela campanha eleitoral. Em caso de aprovação pelo Congresso, restaria o recurso ao veto presidencial. Mas, precisamente por causa das eleições, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está empenhado em evitar o custo político de vetar a extensão do benefício a milhões de aposentados e pensionistas. Se o problema se resolver no Legislativo, tanto melhor para o presidente e para sua candidata, a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil. Por enquanto, o presidente apenas ganhou tempo. Um aliado, o deputado João Carlos Bacelar (PR-BA), provocou o trancamento da pauta de votação da Câmara, ao pedir prazo para analisar uma medida provisória (MP) sobre o setor elétrico. Enquanto essa MP não for
votada, nenhum outro projeto será submetido ao plenário da Câmara. Ninguém sabe por quanto tempo o projeto das aposentadorias ficará parado, até porque os projetos de regulamentação do pré-sal deverão ser a prioridade dos parlamentares nas próximas semanas. A votação do projeto na quarta-feira seria especialmente arriscada para o governo, por causa da presença de grande número de aposentados e pensionistas nas galerias (cerca de mil, segundo o serviço de segurança). A pressão era forte e quem votasse contra o projeto correria um grande risco político. Rejeitar a extensão do benefício ainda será politicamente arriscado, mesmo numa sessão mais tranquila, com muito menos interessados nas galerias. De toda forma, será preferível para o governo uma votação num ambiente menos tenso que o da última quartafeira. O presidente Lula terá, a partir de agora, mais tempo para mobilizar apoio parlamentar ao acordo negociado há cerca de dois meses com representantes das centrais sindicais e das associações dos aposentados. Pelo acordo,
as aposentadorias e pensões superiores a um salário mínimo serão reajustadas por um índice diferente daquele aplicado ao salário básico, mas terão um aumento especial nos próximos dois anos. Se esse entendimento prevalecer, o governo terá em 2010 menos problemas fiscais do que teria com a aprovação do projeto. Mas o benefício maior para as contas públicas viria mais tarde. A médio e a longo prazos, a correção das aposentadorias e pensões pelo índice aplicado ao salário mínimo seria desastrosa. Em 2050, essas despesas corresponderiam a 18% do Produto Interno Bruto. Em outras palavras, quase um quinto de toda a produção brasileira de bens e serviços seria destinada ao pagamento dos inativos. Nenhuma economia do mundo poderia funcionar nessas condições. Ao propor a emenda que unifica as correções do salário mínimo, das aposentadorias e das pensões, o senador Paulo Paim (PT-RS) desprezou, simplesmente, as advertências dos especialistas em cálculos previdenciários. Ao fazê-lo, criou um problema político para o governo petista e virtual-
A reforma das calçadas
A
Prefeitura de São Paulo poderá assumir a tarefa de reformar as calçadas em mau estado, responsabilidade que hoje é do proprietário do imóvel, conforme a legislação municipal. O custo poderá ser incorporado ao Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) ou cobrado como contribuição imediata, a chamada taxa de melhoria. As normas que regulamentam a construção e manutenção das calçadas da cidade são bastante rígidas, mas a falta de fiscalização anula seus efeitos. Considerando que 30% dos 12,5 milhões de deslocamentos diários na capital são realizados a pé, as calçadas devem merecer do governo o mesmo tipo de atenção que as vias dedicadas aos ônibus e automóveis. Dos 30 mil quilômetros de calçadas existentes, apenas 440 quilômetros estão em boas condições, isso porque foram reformadas pela Prefeitura entre 2005 e 2008. No mesmo período, cerca de 900 quilômetros de ruas foram asfaltadas ou recapeadas. Além de esburacadas, as calçadas de São Paulo são usadas como área de estacionamento, faixa de circulação de motos e depósito de entulho. A situação piora com a desorganização do mobiliário urbano (bancas de jornais, telefones públicos, floreiras, etc.), e há o comércio ambulante, as ações de marketing de guerrilha do setor imobiliário e outros obstáculos que expulsam os pedestres dos passeios, ampliando o número de atropelamentos na capital. Das 690 pessoas que perderam a vida no trânsito da capital no primeiro semestre
deste ano, quase 50% morreram atropeladas. Uma série de reportagem publicada nos últimos dias pelo Jornal da Tarde mostrou que nas ruas do Centro, onde milhões de pessoas circulam diariamente, os buracos nos calçadões dificultam as caminhadas e produzem acidentes. Conforme dados do Instituto de Traumatologia da Universidade de São Paulo (USP), 9 em cada mil paulistanos já se acidentaram em calçadas. Em 2005, a Prefeitura criou, por meio do Decreto 45.904, o Programa Passeio Livre, com o objetivo de padroni-
É urgente impor as multas da lei a quem não cuida das suas calçadas zar os tipos de pisos usados nas calçadas, organizar o mobiliário urbano, melhorar a drenagem e assegurar a acessibilidade. Em novembro daquele ano, as Subprefeituras começaram a recuperação dos passeios de responsabilidade do Município, usando blocos intertravados. Até junho do ano passado, haviam sido reformados 315 quilômetros de calçadas em toda a cidade. Em janeiro de 2008, o prefeito Gilberto Kassab sancionou lei de autoria da vereadora Mara Gabrilli que criou o Programa Emergencial de Calçadas (PEC). A nova lei estipula que a Prefeitura arque com os custos da reforma das calçadas que estiverem dentro das chamadas rotas estratégicas e de segurança, determinadas pelas Secretarias das Subprefei-
mente pôs em xeque o presidente Lula. Mas o próprio Lula não entra nessa história apenas como vítima. Seu governo jamais foi estritamente responsável no tratamento das questões previdenciárias. Suas decisões contribuíram para inflar os custos da Previdência. O discurso de seus auxiliares e de muitos de seus aliados foi sempre contrário a um tratamento sério do problema das aposentadorias e pensões. O déficit previdenciário nunca foi reconhecido como um problema grave, e às vezes nem mesmo como problema. Por demagogia e incompetência, o núcleo do governo petista deixou espaço para iniciativas como a do senador Paulo Paim. Só recentemente o perigo de um descontrole dos gastos da Previdência parece ter sido notado no Palácio do Planalto. Daí a tentativa de um acordo com dirigentes das centrais sindicais e das associações de aposentados. Na quarta-feira, o líder do PT, deputado Cândido Vaccarezza, ainda tentou, num discurso, mostrar os perigos da mudança no reajuste das aposentadorias e pensões. O público das galerias deu-lhe as costas. Se pelo menos os seus aliados levarem a sério as suas palavras, o problema será contornado, para alívio do presidente Lula.
O calote confirmado
A
turas e da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (Seped). A lei aumenta o valor da multa para quem não mantém o piso das calçadas de seus imóveis, de R$ 200,00 para R$ 1 mil por metro linear. Nas rotas estratégicas de segurança foram incluídas 300 ruas e avenidas e, desde meados do ano passado, mais 100 quilômetros dessas calçadas foram recuperadas. São rotas que levam a serviços públicos e privados, como saúde, educação, esporte, cultura, correios, bancos, além de paradas ou estações de embarque e desembarque do transporte público. Os 700 fiscais das 31 Subprefeituras têm multado cada vez menos aqueles que não cumprem a obrigação de manter as calçadas. Em 2007 foram 2.079 multas. No ano passado foram 1.687 e, nos primeiros nove meses deste ano, 898. O secretário da Pessoa com Deficiência promete adotar um novo modelo de fiscalização. Quer, no entanto, que a Prefeitura expanda sua atuação na reforma das calçadas para além das rotas estratégicas e de segurança. Defende a contratação de empresas para reformar grandes extensões das calçadas em mau estado e a cobrança dos proprietários. A Prefeitura precisa fiscalizar com rigor e multar, principalmente em regiões nobres, os proprietários que não conservam suas calçadas. Nas demais áreas, o parcelamento dos custos da reforma no IPTU é uma solução eficaz.
Câmara modificou o projeto de emenda constitucional (PEC) que o Senado aprovou em abril, permitindo a Estados e municípios pagar quando quiserem as dívidas atrasadas com empresas e pessoas físicas, reconhecidas em sentenças judiciais de última instância – os chamados precatórios. Mas a nova versão, aprovada quarta-feira em primeiro turno por 328 deputados, apenas 20 a mais do que o quórum mínimo de 3/5 dos votos exigidos para alterações constitucionais, não é menos indecente do que a original, ao ratificar na sua essência o princípio do calote, promovido a “ferramenta permanente de gestão pública”, conforme a avaliação irrefutável da Ordem dos Advogados do Brasil. Tanto que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que em ambas as votações liderou o lobby de seus pares pela “legitimação do calote”, nas palavras do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), deu-se por satisfeito com o desfecho. “O texto aprovado”, declarou, “está bastante consensual” – decerto “na ótica dos governantes e não da cidadania”, como diz Alencar. A Prefeitura paulistana deve R$ 14 bilhões em precatórios vencidos. No País inteiro, estima-se que o estoque desses débitos já ultrapassa R$ 100 bilhões, ou cerca de 20% das receitas estaduais e municipais. É um escândalo continuado. A Carta de 1988 deu ao poder público oito anos para pagar os seus precatórios, fossem eles alimentares (em geral salários, pensões e aposentadorias), relativos a desapropria-
ções, ou por obras e serviços executados. Em 2000, o Congresso premiou os inadimplentes com mais 10 anos de prazo. Se a PEC do Calote for definitivamente aprovada nos termos atuais, o prazo será de 15 anos no mínimo – e ilimitado. Limites, só para o cumprimento das decisões judiciais: para todos os efeitos práticos, o desembolso não excederá a 2% das receitas líquidas anuais (no caso dos Estados) ou 1,5% (no dos municípios). As dívidas deixarão de ser corrigidas, como estipula a Constituição, por uma fórmula que combina inflação mais ju-
A desmoralização do poder público ganha mais um forte impulso ros de 12% ao ano. Quando a emenda for sancionada, a correção passará a ser feita pela variação da TR mais 0,5% ao mês, como nas cadernetas de poupança. A alteração beneficia os entes devedores. Eles também ficarão livres do risco de bloqueio dos seus recursos em caso de não-pagamento. Em cada exercício, governadores e prefeitos terão a prerrogativa de saldar metade dos seus débitos por meio de leilões ou “câmaras de conciliação” (sic). Dessas modalidades participarão os credores que aceitem, como último recurso, receber apenas uma fração do que lhes cabe, para não esperar uma eternidade pelos valores a que têm direito líquido e certo. Os outros 50% serão pagos em ordem cronológica – o que a Constituição previa para
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
● O presidente nacional do PT diz que Fernando Henrique Cardoso é “amargurado” e inveja o partido. Não quero defender FHC, só gostaria de saber o que o PT tem para ser invejado. Mensaleiros, aloprados, “quadrilheiros”...? Me poupe. HUMBERTO DE LUNA FREIRE FILHO hlffilho@gmail.com
São Paulo
Contra os argumentos decisivos de Fernando Henrique apresentados no Estadão criticando o governo Lula com fatos comprovados, a reposta petista não passa de considerações sentimentais como inveja, inferioridade, despeito, tristeza e assim por diante, as quais teriam motivado o presidente Cardoso a se manifestar. O petismo e o lulismo são grosseiras manifestações emocionais, desprovidas ●
de considerações racionais. REGINA ESCOBAR reginaulhoa@uol.com.br
São Paulo
Autoritarismopopular Finalmente um político brasileiro enxergou a ditadura lulista. FHC narra com precisão o imperialismo da ditadura velada e, o pior, com a anuência dos nossos políticos (com raras exceções). Nosso presidente governa o País como se fosse sua casa; para ele, tudo pode. Imagine se o governo FHC (ou outro qualquer) fizesse campanha eleitoral antecipada, incentivasse invasões de terras e greves, fingisse não ver, não saber e protegesse descarada e vergonhosamente políticos corruptos com os quais tem fiel amizade, impusesse
censura à imprensa, etc.? Se isso acontecesse, levaria ao impeachment! Isso sem falar que, para Lula/PT, o Brasil prosperou graças ao seu governo, quando todos sabem que o País cresceu por políticas adotadas no governo anterior, cujos louros estamos colhendo agora! E agora, que país é este? MÁRCIA ROSSI SOARES
“
A PEC do Calote, que incrivelmente vai sendo aprovada no Legislativo, tem nome e sobrenome: José Serra” ClodomiroVergueiroPortoFilho cvporto@terra.com.br SãoPaulo
marciarossisoares@yahoo.com.br
São Paulo
Avanços Não dá para entender o motivo de tanta má vontade e egoísmo no conteúdo do editorial O ‘autoritarismo popular’ de Lula (4/11, A3). O governo atual não é perfeito. Mas são inquestionáveis os avanços que o Brasil viveu nos últimos tempos, fruto do avanço geral da so-
ciedade e também de muitos acertos do governo. Lula teve o grande mérito de reunir vários feixes dispersos e colocá-los numa única direção, e isso não é autoritarismo, é tentar colocar o foco na direção de um futuro em que o País vai ser melhor para todos, e não só para alguns. Não dá mais para ficar citando FHC, que de maneira petulante e arrogante fica ditan-
todos os precatórios –, respeitadas as prioridades para os precatórios de natureza alimentar e, entre esses, para os credores com mais de 60 anos. Para os caloteiros, o melhor dos mundos era o do texto que vingou no Senado. Mas a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara flagrou naquela versão diversas provisões inconstitucionais. Uma delas previa que 40% dos recursos anuais para a quitação dos débitos seriam destinados a pagamentos de precatórios em ordem crescente. Isso permitiria aos devedores quitar valores menores antes dos outros, modificando, em consequência, a posição dos credores na fila original – uma rematada violência. Em seu lugar foi adotado o esquema de 50%-50% acima referido, que doura a pílula. Outra inovação, acrescida à proposta pelo relator Eduardo Cunha (PMDBRJ), cria uma espécie de mercado paralelo de precatórios, ao autorizar os credores a transferir parte ou todos os seus direitos a terceiros. O parecer foi aprovado pela maioria dos deputados de ambos os lados da divisa entre governo e oposição, do PT ao DEM. Ainda assim, 76 parlamentares votaram contra a enormidade, repelida formalmente pelo PSOL, o PDT e o PSC. (Quatro deputados se abstiveram e uma centena deles se ausentou.) Fosse o Brasil um país em que os eleitores se interessassem em saber o que fazem os seus representantes, os políticos que patrocinaram mais esse ato de lesa-cidadania correriam o sério risco de receber o troco nas urnas. Mas, sendo as coisas como são, sobra para os prejudicados.
do regras conceituais do que é certo (para ele, lógico) ou errado. O Brasil precisa cuidar de sua gente, que é muito mais do que o quadrilátero dos Jardins, de Moema ou do Morumbi, e pensar realmente como país. O desenvolvimento passa por todos, precisamos parar de difundir essas ideias ultrapassadas de que só alguns poderão “resolver” os problemas nacionais. E é aí que o negócio pega. Quem sempre dominou conceitos e atitudes se vê posto em xeque quando um presidente de fora do “grupo intelecto” se impõe. E sem autoritarismo, apenas mudou um pouco a direção dos holofotes. É o sinal de que alguma coisa mudou, que a maioria da população agora tem chance de participar e de discutir os rumos do País. EMERSON DE OLIVEIRA
emmodeia@ig.com.br
São Paulo
Paíssemcomando O presidente Lula passa 70% do seu tempo viajando pelo exterior. Quando está no Brasil, usa a maior parte do tempo... viajando pelo nosso país, fazendo propaganda de sua candidata e alfinetando o governo anterior. O vice-presidente, por motivos de saúde, não tem condições físicas para substituir o titular em sua ausência. O Congresso está ocupado em justificar atos de corrupção e maracutaias e instaurar CPIs que não levam a lugar nenhum. Afinal, quem governa o Brasil? ADOLFO ZATZ dolfizatz@terra.com.br
São Paulo
A10 NACIONAL
SEXTA-FEIRA, 6 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 98 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Sindicato pró-Kirchner Censura sitia ‘Clarín’ e ‘La Nación’ em alta Artigo
Bloqueio protagonizado por caminhoneiros impediu saída de mais de 700 mil exemplares, às vésperas de assembleia da SIP em Buenos Aires
Menos de 48 horas antes do início da 65ª assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que começa hoje na capital argentina, as instalações dos jornais Clarín e La Nación foram bloqueadas pelo sindicato dos caminhoneiros, liderado por Pablo Moyano, filho de HugoMoyano, secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), organização aliada do governo da presidente Cristina Kirchner. Obloqueioprotagonizadopeloscaminhoneiros –queimpediram a saída de mais de 700 mil exemplares de jornais e revistas – começou na madrugada da quarta-feira e estendeu-se, com algumas interrupções, ao longo do dia. Não houve intervenção policial para a retirada do bloqueio. Dehojeatéterça-feira, representantes da SIP debaterão as leis sobre a mídia que governos da região aplicaram nos últimos anos e que geraram restrições à liberdade de imprensa. Aparalisaçãodavendadejornais argentinos na quarta-feira foioresultado do bloqueioordenado por Moyano, cujo objetivo formal era o de conseguir 300 filiados adicionais para seu sindicato.SegundoMoyano,asem-
presas não cumpriram o acordo de incluir os funcionários que trabalham com a distribuição de jornais e revistas no sindicato dos caminhoneiros. Analistaspolíticos,porém, viram no bloqueio aos principais jornaisdo país oobjetivo de reafirmara determinaçãodaadministração Kirchner de pressionarosmeiosdecomunicaçãoargentinos com posturas críticas sobre o governo. Ontem, o ministro do Interior, Florêncio Randazzo, negou que o governo estivesse por trás do bloqueio dos caminhoneiros. CENSURA
A Associação de Entidades Jornalísticas da Argentina (Adepa) emitiu um comunicado no qual ressaltou que o bloqueio aos jornais é “um flagrante caso de censura e de dano à liberdade de imprensa”. Líderes da oposição também protestaram. Um dos principais assuntos do encontro da SIP será o estado de conflito permanente entre o casal Kirchner – a presidente é casada com Nestor Kirchner, que a antecedeu no cargo e tem grande influência no governo – e a imprensa, além de mecanismos “sutis” aplicados na região para o controle da mídia. O encontro contará com a
presença de representantes dos principais jornais do continente,além detrêsex-presidentes sul-americanos que foram jornalistas – o uruguaio Julio Maria Sanguinetti, o boliviano Carlos Mesa e o colombiano César Gaviria. Ogovernomantémum intenso confronto com a mídia desde a posse de Nestor Kirchner, em 2003. O conflito intensificou-se a partir de março do ano passado, quando o casal presidencial desferiu uma guerra contra o Clarín, o jornal de maior tiragem na Argentina.
Governo mantém intenso confronto com a imprensa desde 2003 A partir de junho, as pressões sobre o setor aumentaram, com a intervenção do governo no setor de mídia, que pressionou para que a Associação de Futebol da Argentina (AFA) finalizasse abruptamente o contrato que tinha com a empresa TyC para a transmissão dos jogos de futebol. Kirchner ofereceu à AFA um contrato com valores maiores para estatizar as transmissões dos jogos. Na sequência, a presidente
Cristina Kirchner suspendeu a fusão entre as empresas de TV a cabo Multicanal e Cablevisión (operaçãoaprovadaporseumarido dois anos antes), prejudicando o dono de ambas, o Grupo Clarín. De quebra, há poucas semanas, o governo conseguiu a aprovação do Congresso para a polêmica lei de mídia, que impõe a desconcentração da propriedade dos órgãos de imprensa no país. Como contraponto à reunião da SIP em Buenos Aires, o governo da Venezuela convocou o Primeiro Encontro Internacional de Meios e Democracia na América Latina, na própria capital argentina. O evento do líder bolivariano Hugo Chávez é patrocinado pelo governo argentino. Um dos principais conferencistas será o autor da polêmica lei de mídia argentina, Gabriel Mariotto, interventor do Comitê Federal de Radiodifusão (Comfer). Outra das estrelas do evento será o venezuelano Andrés Izarra, presidente da rede de TV Telesur, usada desde sua criação como tribuna do governo de Chávez. Parlamentares discutirão os “monopólios midiáticos” na região. A embaixada venezuelana, além do evento jornalístico paralelo, também promoverá uma passeata para protestar contra a SIP. ●
Encontro da SIP vai debater censura judicial ●● ● As decisões judiciais que impõem censura prévia, como a que atingiu o Estado, estão entre os principais temas a serem discutidos na assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em Buenos Aires. Desde o dia 31 de julho, o Estado está impedido de divulgar informações sobre uma investigação da Polícia Federal que atingiu o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O Tribunal de Justiça do Distrito Federal manteve a censura mesmo após declarar a suspeição do desembargador Dávio Vieira, autor da decisão. O caso foi remetido à Justiça do Maranhão, para que esta se manifeste sobre a procedência da ação movida pelo empresário. ●
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s norte-americanos respeitam a Suprema Corte. Têm consciência da importância do ato do presidente da República ao indicar seus integrantes. A opinião pública acompanha atentamente a sabatina, pelo Senado, dos indicados. Deveras, os juízes da Suprema Corte dos EUA influenciaram historicamente a evolução das liberdades civis. Ao longo de maisde dois séculos, arbitraram questões como escravidão, tributação ilegal, liberdade de expressão, discriminação racial e aborto. O expresidente Richard Nixon teve de renunciar depois que a Suprema Corte, por unanimidade, determinou a exibição das gravações de suas conversas com assessores na Casa Branca, durante as investigações do escândalo Watergate. Se não renunciasse, sofreria impeachment. Alguns dos juízes de então haviam sido nomeados por presidentes republicanos, inclusive o próprio Nixon. Sobretudo a partir da Constituição democrática de 1988, os brasileiros começam a perceber a importância do Supremo Tribunal Federal. Nossa mais alta corte tem contribuído para fortalecer a incipiente democracia e merece o respeito dos cidadãos. Porém não deixa de surpreender recente decisão que impediu o acesso do jornal Folha de S. Paulo aos comprovantes de despesas efetuadas por deputados federais. Medida liminar, concedida nesse sentido pelo ministro Marco Aurélio Mello, fora reiteradamente descumprida pelo eminente deputado Michel Temer, presidente da Câmara. Acabou derrubada por apertada maioria dos ministros da corte. Ora, o princípio da publicidade exige ampla divulgação dos atos praticados pelos agentes públicos de todos os Poderes e esferas federativas. Como frisa o ilustre professor Carlos Ari Sundfeld (Fundamentos de Direito Público, 1997), se todo poder emana do povo “é óbvio, então, que o povo,titular do poder, tem o direito
O princípio da publicidade exige ampla divulgação dos atos praticados Norberto Bobbio desencantou-se com os recorrentes escândalos de corrupção política na Itália. Para o saudoso filósofo, “o caráter público do poder, entendido como não secreto, como aberto ao ‘público’, permaneceu como um dos critérios fundamentais para distinguir o Estado constitucional do Estado absoluto e, assim, para assinalar o nascimento ou o renascimento do poder público, em público” (O Futuro da Democracia: Uma Defesa das Regras do Jogo, 1989). Que democracia teremos se a imprensa não puder realizar livremente seu trabalho de investigar e informar?●
* Rogério Medeiros Garcia de Lima, desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, doutor pela UFMG e professor universitário
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OPORTUNIDADE ZABO NA VILA NOVA CONCEIÇÃO. VOCÊ MERECE.
de conhecer tudo o que concerne ao Estado, de controlar passo a passo o exercício do poder” (arts. 1º, § 1º , e 37 da Constituição). Isso parece não valer para as cúpulas de Brasília e encerra grave contradição. Em boa hora, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), presidido pelo próprio presidente do STF, obriga juízes e tribunais de todo o Brasil a divulgarem suas atividades e outros dados à opinião pública. Pode-se indagar: o que faria o CNJ se juízes e tribunais passassem a recusar tão ampla divulgação? Reconheceria ausência de interesse e rejeitaria eventual reclamaçãode algum cidadão ou entidade? A sociedade brasileira percebe com preocupação o incremento da censura aos meios de comunicação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou recentemente: “Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar” (jornal O Globo, 23.10.2009, p. 4). Nessa toada, por exemplo, o sr. Fernando Sarney obteve medida judicial liminar para impedir o jornal O Estado de S. Paulo de publicar matérias a respeito de sua suposta influênciajunto a órgãos da administração pública. Conseguiu ainda levar o respectivo processo a julgamento pela Justiça do Maranhão, onde sua família exerce o poder político há mais de quatro décadas.
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o estado de s. paulo
● Edição de
0h15
SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
O cinzeiro na era da lei antifumo
CADERNO2
●● Peças que ficavam em mesas de bares viram obras de arte. ● PÁG. C6
Chega hoje às livrarias o inédito O Seminarista, primeiro livro brasileiro lançado também em formato para Kindle e iPod. ●
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
7 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42389
Um novo Rubem Fonseca Artistas mirins Eles soltam a imaginação para fazer arte. ● JONNE RORIZ/AE
Militares aceitam poder de polícia, mas PF ataca projeto Negociação inclui submissão a civis; para Polícia Federal, ideia é ‘temerária’ ações de manutenção da lei e da ordem, são “evolução natural”. Mas a ideia foi criticada pelo diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Para ele, é “temerário”conferirpoderpolicial aos militares. Além disso, Corrêadisse quea Constituição definequearesponsávelpelasegurança é a polícia. ● PÁG. A4
jeitando ao ministro da Defesa até mesmo nomes de indicados apromoções militares–e envolveu a promessa de mais verbas para as Forças Armadas. Para Eduardo Azeredo (PSDB-MG), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado, as mudanças, que dão aos militares proteção legal em
O governo não deverá enfrentar problemas nos quartéis durante a tramitação da proposta que dá às Forças Armadas poder de polícia, revelada ontem pelo Estado. A negociação foi comandada pelo ministro Nelson Jobim (Defesa). O diálogo tratou da submissão completa dos militares ao poder civil – su-
WILTON JUNIOR/AE
EXERCÍCIO – Jobim testa arma no Rio: ‘Vamos privilegiar formação’
Lula diz que crítica de Caetano é fruto da burrice OpresidenteLularespondeudiretamenteaocantor e compositor Caetano Veloso – que, em entrevista a Sonia Racy, do Estado, o chamara de “analfabeto”. “Tem gente que acha que a inteligênciaestáligadaàquantidade de anos de escolaridade quevocêtem”,disseLula,aodiscursar em congresso do PC do B, emSão Paulo. “Não temnada maisburrodoqueisso.”Opresidente também reagiu a críticas de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, atribuindoas ao desconforto com o sucesso do atual governo. ● PÁG. A8
Obama teme ‘precipitação’ sobre atirador muçulmano
Um assalto a dois carros-fortes deixou um empresário morto e levou pânico a uma das principais rodovias de São Paulo – a Anhanguera –, na cidade de Araras, anteontem à noite. Os dez bandidos, que usaram um ônibus para bloquear a estrada, dispararam cem tiros e levaramR$6 milhões,segundoa polícia. Ivo Zanatta Miranda, de 59 anos, seguia para a capital, foi atingido dentro do seu carro e morreu na hora. ● PÁGS. C1 e C3
O presidente dos EUA, Barack Obama, pediu que os americanos não tirem “conclusões apressadas” sobre o atirador que matou 13 pessoas em ataque em base militar no Texas. Problemas psiquiátricos, insatisfação pela possibilidade de serenviadoaoAfeganistão,perseguição por ser muçulmano e radicalismoislâmico eramalgumas das especulações sobre os motivos do major Nidal Malik Hasan. ● PÁG. A16
FRASE “Parecia filme de guerra, todo mundo olhando pra trás, fugindo” Alexandre, autônomo
R. MARTINS/JORNAL DE LIMEIRA
Assaltantes levam morte e pânico à Anhanguera
Ambiente DESTRUIÇÃO – Após ser alvejado por tiros de fuzis, carro-forte bateu em ônibus: assaltantes usaram explosivo para abrir o cofre
Reunião sobre clima termina sem avanço Última rodada antes da conferência de Copenhague acaba sem acordo sobre meta para emissões. ● PÁG. A25
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NOTAS E INFORMAÇÕES
DOSSIÊ ESTADO: 20 ANOS DA QUEDA DO MURO
O kirchnerisno utiliza todos os meios para silenciar seus opositores. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
31º
MÁX.
● PÁG. C2
20º
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Sol aparece e faz calor. Pancadas de chuva à tarde.
Hoje: 140 páginas A. 1º caderno: 32+4 ● B. Economia: 24 ● Ba. Negócios: 4 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 6 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 26 ● Ci. Imóveis: 14 (3.754 anúncios)
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Símbolo do fim do comunismo, Gdansk mudou Gdansk, berço do sindicato polonês Solidariedade e ícone da revolução de 1989, espelha as contradições da transição no Leste Europeu, relata o enviado especial Jamil Chade. Em 20 anos, o estaleiro foi privatizado e demitiu 90% de seus 18 mil empregados. Parte de seus funcionários é de vietnamitas, ucranianos e coreanos que aceitam salários baixos. ● PÁG. A22
Jornal pode ir direto ao STF para recorrer de censura Veículos de comunicação censurados podem agora recorrer diretamente ao Supremo Tribunal Federal. “Nãoháliberdadedeimprensa pela metade ou sob tenazes da censura prévia”, diz o STF. Sob censura, o Estado fará uso imediato da nova jurisprudência. ● PÁG. A12
JAMIL CHADE/AE
Kirchnerismo explícito
LOCAL HISTÓRICO - Portão do estaleiro de Gdansk: contradições
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 99 DIAS
sérgio augusto
O cinéfilo Lévi-Strauss O antropólogo adorava westerns e Hitchcock. Não gostava de Bergman nem de Godard. ● PÁG. D8 ●●●
Turnê social
Madonna vem ao Brasil ajudar favela Cantora quer fazer no Rio,ondeestarásegunda-feira, projeto semelhante ao que tem no Malauí. ● PÁG. C7
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A12 NACIONAL
SÁBADO, 7 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 99 DIAS
Jornais sob censura podem recorrer direto ao STF
DIDA SAMPAIO/AE -17/9/2009
Reclamações devem se basear em decisão tomada em abril pelo Supremo, mas publicada ontem no ‘Diário da Justiça’, derrubando a Lei de Imprensa BRASÍLIA
Com base em acórdão redigido peloministroCarlosAyresBritto, do Supremo Tribunal Federal, os jornais, revistas, rádios e TVs censurados podem agora recorrer diretamente ao STF. As reclamações deverão se basear em decisão tomada em abril pelo Supremo, mas publicada apenas ontem no Diário da Justiça, derrubandoa LeideImprensa. “Nãoháliberdadedeimprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive a procedente do Poder Judiciário, pena de se resvalar para o espaçoinconstitucionaldaprestidigitação jurídica”, estabeleceoacórdão.“NãocabeaoEstado, por qualquer dos seus órgãos, definir previamente o que pode ou o que não pode ser dito por indivíduos e jornalistas.” Na opinião de ministros do STF, a decisão dá respaldo pa-
RESPALDO – Decisão de Ayres Britto permite que ‘Estado’ vá ao STF
ra que veículos sob censura entrem com reclamações no Supremo. Um desses veículos é o jornal O Estado de S.Paulo. A DiretoriaJurídica do GrupoEstado informou que irá “fazer uso imediato dessa nova jurisprudência”. ‘PEÇA DEFINITIVA’
O acórdão foi considerado pelo diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, como “ uma peçahistórica,definitiva,em favor da liberdade de imprensa como valor maior da democracia”. Para a ANJ, daqui para frente veículos de comunicação atingidos por censura prévia por meio de sentenças judiciais poderão se utilizar de ação judicial chamada de “reclamação”.
Liberdade de imprensa é tema de debate no Secovi “Opróximo domingo ficarágravado na história: são 100 dias da censura à qual está submetido umdos maisimportantesveículos de comunicação do Brasil.” Comessas palavras,opresidente do conselho consultivo do Secovi, Romeu Chap Chap, abriu ontem em São Paulo um debate promovido pela entidade, que congrega as empresas do ramo imobiliário.
“Cabelembrarqueaconquista da democracia em muito se deveu à nossa imprensa, especialmenteaOEstadodeS.Paulo, que inspirou nos brasileiros o desejo de libertação ao, sabiamente, revelar dia a dia a força dos censores de plantão com a publicação de textos de Camões ou receitas de bolo”, disse Chap Chap, referindo-se ao período em que o jornal esteve sob
Há 99 dias o desembargador DácioVieira,doTribunaldeJustiça (TJ) do Distrito Federal, censurou o jornal, impedindo a publicação de informações sobre a operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou oempresário FernandoSarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Reportagem do Estado mostrou que Vieira, ex-consultor do Senado, era do convívio da família Sarney. Os advogados do jornal recorreram no TJ, mas a censura continua. No julgamento ocorrido em abril, o STF derrubou a Lei de Imprensa por considerá-la incompatível com a Constituição. Datada de 1967, a lei era uma das últimas legislações do tempo da ditadura militar. ●
censura prévia, durante a ditadura militar. Odebateocorreuapóspalestra do diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, convidadopela entidadea falar sobre o tema Liberdade de Imprensa. “O jornal vem lutando no campo jurídico contra a decisão,afinal,estamosnumEstado de Direito”, disse. “A imprensa deve se desenvolver com responsabilidade, em plena liberdade, e responder pelo que publica. Mas o impedimento prévio de publicar é inaceitável, pois exclui a sociedade da discussão de temas de interesse público”, afirmou Gandour.●
SÁBADO, 7 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL A13
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
SIP vê ‘censura sutil’ no continente Rede de esquemas para restringir funcionamento da mídia é um dos eixos da assembleia aberta ontem Ariel Palacios CORRESPONDENTE BUENOS AIRES
A denominada “censura sutil” sobre a imprensa – uma rede de esquemas criados pelos governos para restringir o funcionamento da mídia – é um dos eixos da assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), aberta ontem no Hotel Hilton na capital argentina. Mais de 500 editores da região analisarãoatéterça-feiraasmedidas de censura sobre o trabalho jornalístico, reformas legais que dificultam a ação da mídia, alémdainterferênciadosgovernos latino-americanos nos conteúdoseditoriaiseataquesajornalistas. A SIP, fundada em 1942, é integradapor1.300jornaisdocontinente, com circulação diária total de 50 milhões de exemplares. Segundo o chileno Julio Muñoz, diretor executivo da SIP desde 1994, “existe uma atitude de revanchismo contra a imprensa” na Argentina, onde o governo de Cristina Kirchner mantém intenso e persistente confronto com a mídia desde 2008. Muñoz também destacou
problemas graves na Venezuela, no Equador, na Bolívia, em Honduras e na Nicarágua. Segundo ele, as modalidades dos ataques à liberdade de imprensa variam de acordo com os países.Nocasoargentino,aliberdade foi atingida pela recém-aprovadaLeide Mídia, querestringe a ação dos canais de TV e rádio. Muñoz considera que a lei aplicada por Cristina e as normas determinadas pelo presidente do Equador, Rafael Correa – segundo o qual, as leis contra a mídia são para “proteger os cidadãos” – têm “o propósito de controlar os meios de comunicação, criar um monopólio estatal de mídia e eliminar a imprensa independente”. A presidente foi convidada pela SIP para participar do evento, mas, até ontem não respondeu. No caso da Venezuela, as restrições são realizadas no formato de agressões e ameaças contra informações consideradas “incômodas”nosjornaisetelevisão. Os especialistas também discutirão casos de censura encobertas no Brasil, El Salvador e Colômbia, além do assassinato de jornalistas no México. BICENTENÁRIO
Grupopró-Kirchner impederevistadecircular Depois de bloquear por dois dias seguidos a saída de caminhões que distribuem os jornais argentinos Clarín e La Nación, entre outros, sindicalistas ligados ao governo da presidente Cristina Kirchner continuavamontem impedindo a circulação de parte dos exemplares da revista semanal Notícias, uma das maiores da Argentina.
A reportagem principal da última edição da revista,segundo o jornal Clarín, tem como títuloO pesadelo de Kirchner e trata de um livro que contaria a suposta “história secreta” de Néstor Kirchner, marido e antecessor da atual presidente. O sindicato dos caminhoneiros, controlado por Hugo Moyano, líder da Confederação Geral do Trabalho (CGT),
O principal painel da primeira jornada da assembleia da SIP a discutir os problemas para a liberdade de imprensa na região foioLuzesesombrasdobicentenárionaAméricaLatina,comaparticipação da veterana jornalista argentina Magdalena Ruiz Guiñazú, a historiadora María Sáenz de Quesada e o senador e jornalista Rodolfo Terragno. Terragno, que foi perseguido nos anos 70 por suas atividades jornalísticas pelo governo de Isabelita Perón e a posterior a ditadura militar, sustentou que a internet dificultará aos governos autoritários a imposição de restrições à mídia. Segundo ele, “nunca antes tantas pessoas puderam comunicar-se com tantas outras pessoas. E isso é uma coisa que está apenas começando. Os governos não estão preparados para isso, pois estão acostumados apenas à propaganda oficial. Com essa revolução jornalística na web, os governos não poderão mais buscar os jornalistas nas redações nem limitar a circulaçãodosexemplares.Ainternet dificultará a tarefa dos governos despóticos”. A historiadora Maria Sáenz de Quesada destacou que o pro-
promoveu o bloqueio em empresas de distribuição de jornais e revistas com o alegado objetivo de obrigá-las a cumprir um acordo trabalhista. O governo negou envolvimento no caso e anunciou que forças policiais vão patrulhar os arredores das empresas para impedir novos bloqueios. A ação provocou atrasos na distribuição dos principais jornais de Buenos Aires. A Associação de Entidades Jornalísticas da Argentina (Adepa) considerou o episódio “um flagrante caso de censura e de dano à liberdade de imprensa”. ● DANIEL BRAMATTI
blema atual é que governos eleitos nas urnas, ao chegar ao poder, acreditam que dispõem de “um butim de guerra” e não apreciamaimprensaquefiscaliza suas ações. O Instituto Imprensa e Socie-
dade (Ipys) da Venezuela anunciou o registro de 107 ataques contrajornalistas e meios decomunicação no país nos primeirosdez meses deste ano. Segundo Ewald Scharfenberg, do Ipys, 2009 foi o ano de mais in-
tensaviolênciacontraaimprensa na Venezuela. Desde 2002 foram registrados 464 casos de violência contra jornalistas e as empresas de mídia, a maioria dos quais direcionados contra repórteres de canais de TV. ●
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Edição de 0h15
o estado de s. paulo DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
8 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42390
CULTURA
CLASSIFICADOS
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Morre Anselmo Duarte
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Símbolo da resistência francesa
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Estilistas como Adriana Barra unem moda e design. ●
de autos
Ele dirigiu O Pagador de Promessas, único filme nacional a vencer o Festival de Cannes.
Empregos
Quadrinhos de Asterix e Obelix completam 50 anos. Novo livro chega ao Brasil na quarta-feira. ●
MEMÓRIA
Bancários estão cada vez mais escolarizados, mostra estudo. ●
● PÁG. A26
REPRODUÇÃO
ZECA WITTNER/AE
Fraude envolve irmão do presidente do TCU Investigação da Polícia Federal e Ministério Público mapeia desvios de verba na Fundação Nacional de Saúde, órgão dominado pelo PMDB A Polícia Federal e o Ministério Público Federal mapearam os caminhos do desvio de verbas da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), informa o repórter Rodrigo Rangel. Os relatórios da investigação indicamque esseórgão do Ministério da Saúde, cuja atribuição é financiar projetos de sanea-
mento e saúde indígena pelo País, se transformou num balcãode negócios.Entreosinvestigados estão o deputado estadualGuaracy Aguiar,eleito pelo PMDB, e Danilo Forte, presidente da Funasa indicado pelo partido. Irmão de Ubiratan Aguiar, presidente do Tribunal de Contas da União (TCU),
o deputado coordenou a Funasa no Ceará entre 2007 e 2009 e é suspeito de liberar verbas e atestar como prontas obras inacabadas, apesar de evidências de superfaturamento, fraudes em licitações e desvio de dinheiro. Já Forte é citado como facilitador na liberação de verbas para obras sob sus-
peita.Os dois negamparticipação nas irregularidades. Aguiar alega que não era o responsável pela aprovação dos convênios firmados pela Funasa no Ceará. Forte, por sua vez, diz que “jamais trata ou tratou diretamente da liberação de verbas com engenheiros de campo”. ● PÁGS. A4 e A6
Latinos caem em ranking da liberdade de imprensa
Historiador acha lulismo pior do que peronismo
Entre 2002 e 2009, quase todos os países da América Latina perderam posições no ranking mundial da liberdade de imprensa preparado pela organização Repórteres Sem Fronteiras. Fechamento de emissoras de rádio e TV, projetos que restringem meios de comunicação, atos de censura e agressões a jornalistas tornaram-se mais frequentes, apesar do caráter formal da democracia na região. ● PÁG. A10
HánoBrasilhoje um“superpresidencialismo desbussolado e pitoresco”, em que se produz “a montagem de um novo bloco de poder”, diz o historiador Carlos Guilherme Mota em entrevista a Gabriel Manzano Filho. Para ele, é algo pior que o subperonismo apontado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.“OpopulismodePerónpolitizava, enquanto o pobrismo do Brasil avilta.” ● PÁG. A8
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 100 DIAS
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DORA KRAMER
Quemvivedevoto, comoospartidos de oposição, tem o dever de opinar. ● PÁG. A8
DOSSIÊ ESTADO
Muro invisível ainda divide os alemães
CLAYTON DE SOUZA/AE
Diferenças se mantêm após 20 anos O Muro de Berlim não existe mais.Mas,20anosapóssuaqueda, eleinsiste em continuar vivo na cabeça dos alemães, relata o enviado especial Lourival Sant’Anna. Em vários países do Leste Europeu, percorridos pelo enviado especial Jamil Chade,afestapeladatafoisubstituída pela crise econômica e pela agitação social. Já o jornalista William Waack, que cobriu a queda do Muro para o Estado, relembra em artigo especial a “entusiasmada solidariedade entre gente que não se conhecia”. ● PÁGS. A15 a A18
ANÁLISES ● MIKHAIL GORBACHEV Privado de seu velho adversário, o capitalismo pode levar a sociedade ao beco sem saída. ● PÁG. A19 ● FRANCIS FUKUYAMA
Nem a atual crise abalou a percepção de que a democracia é o melhor sistema. ● PÁG. A20 ● IAN BURUMA O ano de 1989 parecia a aurora de uma nova era liberal. Hoje vemos que isso não ocorreu. ● PÁG. A22
RIQUEZA - Geólogo da Potássio do Brasil vistoria área na cidade de Autazes (AM), onde a empresa pretende instalar mina de extração
Mudança no IPI do carro
Potássio deve recolocar a Petrobrás na mineração
O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, defende o fim doincentivotributárioparacarros com motor 1.0 e a transferência desse benefício para au-
Memória
Luta de Francisco Mesquita é marco Mortohá40anos,administrador do ‘Estado’ enfrentou Vargas. ● PÁG. A13
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Violência
Condomínios exigem ficha limpa Atéprestadoresdeserviço têm de apresentar atestado. ● PÁGS. C1 e C3
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ALIÁS
Guardiã de Aécio Irmã do governador coordena a comunicação de Minas e muito mais. ● ●●
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Uniban expulsa aluna assediada por colegas A Uniban decidiu expulsar a estudante Geisy Arruda, que foi encurralada e xingada por um grande grupo de alunos nos corredores da instituição porque usava vestido curto.Auniversidade culpou Geisypelotumulto.Elavairecorrer à Justiça. ● PÁG. A27 FRASE “A atitude provocativa da aluna buscou chamar a atenção para si” Nota da Uniban
Última grande fronteira da exploração de potássio no mundo, aregião entre os Rios Madeirae Amazonas será reativada neste mês, informa o enviado espe-
NOTAS E INFORMAÇÕES
Até onde Lula acertou O mérito de Lula consistiu, em grande parte, em resistir às pressões para adotar políticas mais próximas daquelas defendidas pelo PT. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
27º
MÁX.
● PÁG. C2
19º
MÍN.
Frente fria chega ao Estado. Na capital, sol com chuva à tarde. Tiragem: 302.269 Hoje: 256 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 8 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 40 ● F. Feminino: 20 ● Ca. Autos: 32 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 38 ● Co. Oportunidades: 10
cial Nicola Pamplona. A áreaé consideradaestratégica pelo governo, que caminha para recolocar a Petrobrás na mineração. ● PÁG. B14
tomóveis com baixo consumo de combustível. “Tem que rever isso”, diz ele, em entrevista a David Friedlander e Raquel Landim. ● PÁGS. B1 e B3
A2 ESPAÇO ABERTO
DOMINGO, 8 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Os próximos 12 meses muito dirão
Felizes trópicos! Felizes tempos!
PedroS. Malan
GaudêncioTorquato
Dos seis presidentes civis eleitos diretamente pelo voto popular no Brasil pós-1945, nada menos que quatro – Vargas, Quadros, Collor e Lula – tinham ou têm características messiânicas. Um belo livro de José Murilo de Carvalho, O Longo Caminho, publicado oito anos atrás, apresenta uma hipótese para esse fenômeno, relevante para o entendimento de nosso passado, de nosso presente – e de nosso futuro pós-Lula. José Murilo nota que o processo de constituição de nossa cidadania seguiu lógica inversa à do caso clássico, tão estudado, da sequência inglesa, “na qual as liberdades civis vieram primeiro, garantidas por um Judiciário cada vez mais independente do Executivo. Com base no exercício das liberdades, expandiram-se os direitos políticos consolidados pelos partidos e pelo Legislativo. Finalmente, pela ação dos partidos e do Congresso, votaram-se os direitos sociais, postos em prática pelo Executivo”. Aqui, no Brasil, “primeiro vieram os direitos sociais, implanta-
Caminhamos para reafirmar nosso anacrônico legado político? dos em períodos de supressão de direitos políticos e de redução dos direitos civis por um ditador que se tornou popular” (Vargas durante o Estado Novo). “Depois vieram os direitos políticos de maneira também bizarra: a maior expansão do direito de voto deu-se em outro período ditatorial, em que os órgãos de representação política foram transformados em peça decorativa do regime.” Finalmente, vieram os direitos civis, embora ainda hoje nem sempre acessíveis às pessoas muito “comuns”. O autor nota que seria tolo achar que só há um caminho para a cidadania plena. Seu ponto fundamental é que caminhos diferentes afetam o produto final, o tipo de cidadão e de democracia que se gera. Isso é particularmente verdade quando há inversão da sequência. Uma primeira consequência importante é a excessiva valorização do Poder Executivo. Se direitos sociais foram implantados em períodos ditatoriais, em que o Legislativo ou estava fechado ou era apenas decorativo, cria-se a imagem, para o grosso da população, da centralidade do Executivo. O Estado é visto como todo-poderoso: na pior hipótese, como repressor e cobrador de impostos; na melhor, como um distribuidor paternalista de empregos e favores. A ação política, nessa visão, é, sobretudo, orientada para a negociação direta com o go-
verno, sem passar pela media- mente à voracidade das demandas com que se defronta. ção da representação. Seria possível olhar para Uma segunda consequência dessa forte preferência revela- todos esses fenômenos em da pelo Executivo é a busca por perspectiva e, com complaum messias político, por um sal- cente bonomia, chegar à convador da Pátria. Como a nossa clusão de que a democracia experiência democrática é rela- brasileira precisa de tempo tivamente curta e mazelas so- para, por meio de seus mecaciais de toda ordem ainda per- nismos de pesos e contrapesistem, pode crescer também a sos, fazer os ajustes e correimpaciência popular. Daí a bus- ções de rumos necessários. Mas o excesso de complaca de soluções mais rápidas por lideranças carismáticas e mes- cência é particularmente siânicas. Como os quatro presi- preocupante neste momento. dentes mencionados no primei- Por que digo isso? Porque não ro parágrafo deste artigo, que, à se trata apenas de reconhediferença dos outros dois (JK e cer que a supervalorização do FHC), adotaram ou adquiriram Poder Executivo, que a suposcerto vezo mandonista e uma ta supremacia do Estado sopropensão ao apelo direto às bre a sociedade, que o clientemassas quando defrontados lismo, o corporativismo e a com reais ou percebidas limita- busca por messias e salvadoções ao exercício mais amplo de res da Pátria têm profundas seus poderes. raízes históricas entre nós. Uma terceira consequência Trata-se de saber, por meio da inversão de sequência e da ex- do debate público, se estamos cessiva valorização e hipertrofia caminhando para uma clara do Executivo e seus poderes é a reafirmação política dessa tradesvalorização do Legislativo e dição do século passado ou se dos seus titulares. As eleições le- nos estamos afastando, ainda gislativas sempre despertam que gradualmente, desse anamenor interesse que as do Exe- crônico legado e construindo cutivo. A campanha pelas elei- uma sociedade mais moderna. ções diretas referia-se à escolha Uma sociedade que não seja do presidente da República, não contra o Estado, mas apenas – à defesa de eleições legislativas. e exatamente porque a favor Há uma convicção abstrata da da res publica – seja contra a importância dos partidos e do apropriação indébita e o uso inCongresso como mecanismos devido de recursos públicos e de representação, convicção es- contra a ocupação e o apareta que não se reflete em avalia- lhamento da máquina pública ção positiva de sua atuação. para servir a interesses eleitoUma quarta, e fundamental, rais, corporativistas, partidáconsequência de nossa “se- rios e clientelistas. Os próxiquência inversa” é que esta fa- mos 12 meses muito dirão. ● voreceu uma visão corporativista dos interesses coletivos. Pedro S. Malan, economista, Não se pode dizer que a culpa foi ministro da Fazenda foi toda do Estado Novo e da no governo FHC clara influência que sobre ele E-mail: malan@estadao.com.br exerceram, por exemplo, os corporativismos do fascismo italiano e do nacional-socialismo alemão. Mas o autor nota, corretamente, que “o grande êxito de Vargas indica que sua política atingiu um ponto sensível da cultura nacional”. Com efeito, a distribuição dos benefícios sociais por cooptação sucessiva de categorias de trabalhadores para dentro do sindicalismo corporativo encontrou entre nós terreno fértil para se enraizar. Os benefícios sociais não eram considerados como direitos de todos, mas como fruto da negociação de cada categoria com o governo. A sociedade passou a se organizar para garantir os direitos e privilégios distribuídos pelo Estado. E este passou a ser um distribuidor de recursos públicos, sem- Mahmoud Ahmadinejad pre escassos relativa-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Ovírusse propaga Um paralelo entre o contundente artigo de Fernando Henrique Cardoso publicado no domingo passado no Estadão (Para onde vamos?, A2), no qual o ex-presidente faz uma leitura precisa a respeito de uma onda que vai ganhando força nos subterrâneos do poder, com o nome de “autoritarismo popular”, e a pancadaria em São Luís (MA) no lançamento de um livro que aborda de maneira crítica a trajetória política de José Sarney (sempre ele!), noticiada discretamente por este jornal (6/11, A7), permite-nos fazer o raciocínio de que o vírus desse mesmo autoritarismo se propaga de maneira preocupante na atmosfera política nacional. Censura-se um jornal do peso do Estadão, cria-se uma milícia de
Há 71 anos Claude LéviStrauss, embrenhado na densa solidão das matas de Mato Grosso, enfrentando endemias rurais típicas da região, escolheu uma expressão amarga para descrever, anos depois, o “ambiente mais hostil ao homem sobre a superfície do planeta”: tristes trópicos. Ao falecer, aos 100 anos, o antropólogo francês, considerado um dos maiores pensadores do século passado, deixa definitivamente impregnado no mapa do Brasil o nome com que batizou seu clássico livro, produto de seis meses de viagem à Serra do Norte, no centro-oeste do País. Os nossos trópicos conseguiram diminuir significativamente a malária, a ancilostomose, o tracoma, a doença de Chagas, a leishmaniose, porém não têm sido capazes de conter a pandemia ética e moral que faz padecer o corpo da Nação, haja vista as intermitentes infrações ao Estado de Direito, o farisaísmo com que se encobrem os ilícitos, usando-se sempre a recorrência de que as “instituições funcionam normalmente” e o rolo compressor de um aparato governativo que bombardeia qualquer reação das oposições e amortece esporádicas vozes críticas. Tristes trópicos! O ministro Marco Aurélio Mello, com a autoridade de membro do Supremo Tribunal Federal (STF), profere a sentença: “Talvez a quadra seja sinalizadora de fecharmos o Brasil para balanço.” Referia-se ele à decisão “mandamental” do STF – de cassar o mandato do senador Expedito Junior (PSDB-RO) e empossar o segun-
desordeiros para tumultuar o lançamento de uma publicação, cujos autores têm – constitucionalmente falando – todo o direito assegurado de expor o seu ponto de vista acerca do assunto que abordam nessa obra, e, não bastasse tudo isso, assistimos, boquiabertos, a um presidente que não perde oportunidade de espezinhar veículos de imprensa, quando não, como fez recentemente, se aproveita de sua popularidade para colocar uma saiajusta nos jornalistas, criando um tipo de ameaça velada para os profissionais do setor, com um recado direto para as chefias de redação: L’État c’est moi! Aonde isso vai parar? FERNANDO CÉSAR GASPARINI fernando.gasparin@terra.com.br
Mogi-Mirim
do colocado nas eleições de 2006 – só acatada pelo Senado após forte reação pública, confirmando a verve de Getúlio Vargas nos idos de 30: “A Constituição foi feita para ser violada.” Se o Poder Legislativo deixa de cumprir decisão da mais alta instância do Poder Judiciário, como negar crise entre os Poderes, como tem feito o próprio presidente do STF, ministro Gilmar Mendes? Se a desobediência à Lei Maior, ainda mais sob a lupa acurada da mídia, é considerada coisa normal, a conclusão é de que o império da bagunça se implantou solidamente no mais elevado patamar das instituições. E sob a complacência dos integrantes dos Poderes. Não há o que fazer. Resta, apenas, alterar parcialmente o bordão de Stanislaw Ponte Preta, para alegria geral: se não se restaura a moralidade, vamos todos nos locupletar. A transgressão aos códigos, o despudor, o caradurismo e a leniência são pragas que encontram terreno fértil para germinar no País, a ponto de se indagar sobre a lógica que explica sua propagação, porquanto, em outra vertente, descortina-se um ambiente focado nos eixos da transparência, da racionalidade, do civismo e da promoção da cidadania. Não há contradição entre os dois retratos? Aparentemente, sim. Mas é preciso entender que as cargas renovadas do oxigênio moral que vivifica os pulmões da sociedade são engolfadas por ares poluídos que correm pelos canais da administração pública, como é o caso do chamado valerioduto, objeto de investigação pela Justiça. Ademais, o quadro degenerativo decorre de mudanças que se operam nos dutos do próprio sistema democrático. Nas últimas décadas a democracia baixou de patamar. A democracia atomizada do século 19 LEO MARTINS foi substituída pelo ciclo das tecnodemocracias, pavimentadas por complexos negociais e quadros burocráticos. Sob essa configuração, as clássicas estruturas de contrapeso – os três Poderes – perderam vitalidade, enquanto a nova tríade do poder (negócios, burocratas e políticos) começou a dar o tom. Na esteira, a política passou a se guiar pelo impulso da economia. A peça Brasil se encaixa perfeitamente na cartela. O discurso econômico, se já era forte antes, ganha força na era Lula. Domina as agendas do Executivo e do Legislativo, funciona como polo de disputa entre unidades federativas (veja-se a polêmica sobre os projetos do pré-
ENDEREÇO
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Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Cegueira Os comentários e as reações contrários ao artigo do sr. Fernando Henrique Cardoso me fazem lembrar o Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago. No momento, FHC está fazendo o papel da personagem que continua vendo, enquanto a maioria (80%) já está cega e caminha sem questionar (cegueira branca?). Os restantes que ainda enxergam (20%) estão sendo coagidos, intimidados pelos servos do chefão. A pessoa que enxerga tem a responsabilidade de lutar, para salvar os que perderam os olhos, contra o despotismo (autoritarismo popular?) de um chefão, e consegue. Mas o melhor é que no final elas vão recuperando a visão (2010?). É esta a nossa esperança: que enxerguem. Isso o artigo tenta alertar!
TANIA TAVARES taniatma@hotmail.com
São Paulo ● Desde que Lula assumiu, ele e sua equipe vêm montando a estrutura do neogetulismo: sindicatos pelegos, a UNE anestesiada, forte intervenção nas grandes empresas (Oi-Telemar/Brasil Telecom, assédio na Vale, entre outras), além, é claro, de todo o populismo assistencialista que não resolve o problema dos menos favorecidos, mas atenua as tensões. É o projeto Lula/PT-sindicalista nos velhos moldes do getulismo, ou peronismo, como FHC prefere, mas, sem dúvida, com um viés muito autoritário.
(11) 3856 2920
FHCea oposição
O novo batismo do Brasil deixaria perplexo o grande Lévi-Strauss tomóveis) é um exemplo. Transparece sob esse pano de fundo a figura de um governismo opressor, que coopta perfis mais refratários e aviva os mais recônditos desejos. O confortável cobertor econômico – alinhavado no passado e aperfeiçoado pelo governo Lula – confere ao presidente poderes nunca d’antes conseguidos por antecessores. E o que faz o chefe? De maneira competente, digase, preenche os buracos da pirâmide social com programas para todas as classes. Chovem loas nos arredores do Palácio do Planalto. Não satisfeito, o presidente avança. Costura alianças, convoca siglas para o balcão de benesses e esnoba o poder da crítica, a partir da imprensa, que, no fundo, ganha seu desprezo. Partidos amorfos, oposições flácidas, empresariado cooptado, sindicalismo de gaveta, base econômica sob rígido controle ajudam a compor a conclusão: o Brasil, sob Lula, bate às portas do céu. Nem a língua acesa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com sua cunha sobre o subperonismo lulista (1º/11, A2), tira o sono do comandante da campanha da ministra Dilma. Felizes trópicos! Felizes tempos! O novo batismo do Brasil deixaria perplexo o grande Lévi-Strauss. ● Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político e de comunicação
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Mensalãomineiro
borba.neto@uol.com.br
Com a decisiva participação de FHC na época, a “oposição” (PSDB) preservou a Presidência da República no caso do mensalão. Agora, tendo Lula escapado solenemente do impeachment, o ex-governador Eduardo Azeredo será condenado como chefe corrupto do Poder Executivo.
São Paulo
JORGE JOÃO BURUNZUZIAN
O cara real sabe das coisas, portanto, o que mais falta para desmistificar essa bolha de êxtase coletivo? A síntese do artigo de FHC é que com nhenhenhém não dá mais, oposição. JOSÉ DE CARVALHO BORBA NETO
As palavras de FHC espelham bem o triste quadro da nossa oposição: ideologicamente inconsistente e moralmente envergonhada pelo farto telhado de vidro de grande parte de seus integrantes. ●
RICARDO SALLES
FRANCISCO DA COSTA OLIVEIRA
salles@casmf.com.br
fco.paco@uol.com.br
São Paulo
São Paulo
sal), planta obras nos espaços (obreirismo faraônico do PAC) e, por fim, apaga fogueiras que poderiam incendiar o ambiente institucional, como centrais sindicais e movimentos que se esbaldam com recursos das fontes do Estado. O sindicalismo brasileiro hoje é movido à pecúnia. Não por acaso, uma nova oligarquia se instalou no centro do poder. São os filhos do sindicalismo de resultados. E haja resultados! Os fundos de pensão são as estrelas da constelação. Só a Previ dispõe de mais de 200 cargos nas grandes empresas do País. A teia nos intestinos da administração propicia uma simbiose interburocrática, reunindo alas sindicais, correntes partidárias e dirigentes indicados por grupos empresariais. A nova oligarquia, para se preservar, esforça-se para tornar o Estado um ente ativo e cada vez mais forte. Eis a cara do neocapitalismo esboçado pelo governo e que encontra respaldo no grande empresariado, cuja força crítica feneceu ante os benefícios que lhe são concedidos. O programa de redução do IPI (linha branca, au-
burunlegal@hotmail.com
São Paulo
Comparaçãoinfeliz Que infelicidade do sr. Berzoini comparar o sr. Fernando Henrique Cardoso a Alberto Fujimori. Lá no Peru, Vladimiro Montesinos reunia-se com o Congresso para comprar apoio. Aqui, no mensalão do governo Lula, quem
A10 NACIONAL
DOMINGO, 8 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 100 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proĂbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negĂłcios do empresĂĄrio, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens jĂĄ apuradas sobre o caso
Ranking da liberdade de imprensa indica retrocesso na AmĂŠrica Latina Em levantamento da organização RepĂłrteres Sem Fronteiras, 19 dos 20 paĂses da regiĂŁo perderam posiçþes desde 2002 LEANDRO MONACHESI/EL CLARIN
Daniel Bramatti
QuasetodosospaĂsesdaAmĂŠrica Latina perderam posiçþes, entre 2002 e 2009, no ranking mundial da liberdade de imprensa elaborado pela organizaçãoRepĂłrteres Sem Fronteiras (RSF). RelatĂłrios de outras entidades,como aSociedadeInteramericana de Imprensa (SIP) e a ComissĂŁo Interamericana de Direitos Humanos, serĂŁo divulgados em breve e tambĂŠm devem mostrar a multiplicação de ameaças Ă livre expressĂŁo na regiĂŁo. Fechamento de emissoras de rĂĄdio e televisĂŁo, projetos de lei para restringir a ação de meios de comunicação, censura, agressĂľes e atĂŠ assassinatos de jornalistas marcam o panorama da imprensa em paĂses que, apesar do carĂĄter formal de sua democracia, ainda convivem com arbitrariedades quando o queestĂĄemjogoĂŠalivrecirculação de informaçþes. Dos paĂses latino-americanos, somente o Haiti subiu no ranking da RepĂłrteres Sem Fronteiras entre o primeiro e o mais recente levantamento feito pela organização. Para atribuir a posição de cada paĂs, a entidade leva em conta episĂłdiosdeviolĂŞnciacontrajornalistas (como ameaças, detençþes, agressĂľes fĂsicas e assassinatos) e ĂłrgĂŁos de imprensa (censura, assĂŠdio governamental, pressĂľeseconĂ´micas).SĂŁolevados em conta nĂŁo apenas abusos atribuĂdos a agentes do Estado, mas tambĂŠm a milĂcias armadas, organizaçþes clandestinas e grupos de pressĂŁo. SegundoBenoĂŽtHervieu,responsĂĄvel pelo escritĂłrio das AmĂŠricas da RSF, uma variação de atĂŠ 10 posiçþes no ranking pode nĂŁo ser significativa – Ă svezes um paĂsperde posiçþes nĂŁo porque ficou pior, mas porque outros melhoraram. Ainda assim, o cenĂĄrio ĂŠ de deterioração generalizada: 16 dos 20 paĂses tiveram quedas superiores a 10 posiçþes (veja quadro). Cinco dos sete maiores tombos no ranking ocorreram em paĂses marcados pela influĂŞncia de Hugo ChĂĄvez, presidente da Venezuela, paĂs que caiu 47 posiçþes desde 2002.
Haiti foi o Ăşnico latino-americano que subiu na classificação “NĂŁo ĂŠ nada bom o caminho que as AmĂŠricas estĂŁo seguindoâ€?, disse Robert Rivard, presidente da ComissĂŁo de Liberdade de Imprensa da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), ao comentar o grau de tensĂŁo entre imprensa e governos. Rivard tambĂŠm citou paĂses sob a Ăłrbita chavista, como BolĂvia, NicarĂĄgua e Equador, como focos de preocupação. A situação de Honduras, que jĂĄ
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OPERAĂ‡ĂƒO – Agentes do governo argentino na sede do Grupo ClarĂn
Violaçþes Ă livre expressĂŁo crescem na Venezuela Nos primeiros nove meses de 2009, a Venezuela teve 165 casos de violação Ă liberdade de expressĂŁo, segundo relatĂłrio divulgado recentemente pela ONG Espacio PĂşblico. É como se o direito de informar e ser informado fosse violado a cada 40 horas no paĂs governado pelo presidente Hugo ChĂĄvez. Para DĂŠbora CalderĂłn, uma das coordenadoras da entidade, os nĂşmeros revelam o agravamento da situação. “Em 2009, o nĂşmero de casos atĂŠ setembro jĂĄ supera o registrado em todo o ano passadoâ€?, afirmou. Entre os casos considerados mais graves estĂĄ o anĂşncio, feito pelo governo, de que as concessĂľes de 240 emissoras de rĂĄdio serĂŁo revogadas. â—? D.B.
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era vista pela SIP como problemĂĄtica quando Manuel Zelaya – um aliado de ChĂĄvez – estava no poder, piorou apĂłs o golpe que derrubou o presidente. Mas o dirigente da SIP tambĂŠm destaca o agravamento da situação no MĂŠxico, por conta da corrupção e da violĂŞncia do crime organizado, e na Argentina, paĂs-sede da assembleia que a SIP promove atĂŠ a prĂłxima terça-feira. A relação entre o governo argentino e o grupo midiĂĄtico ClarĂn ĂŠ marcada por ataques mĂştuos desde 2008, quando o casal CristinaeNĂŠstorKirchner–presidente e ex-presidente, respectivamente –, acusou a imprensa de favorecer os fazendeiros que promoviamgrevecontraumaumento de impostos. Em setembro deste ano, cerca de 200 fiscais do ĂłrgĂŁo responsĂĄvel pela arrecadação de impostos na Argentina fizeram uma operação decoletadedocumentosnasede
do conglomerado, que apontou umatentativa deintimidação–o que foi negado pelo governo. O Grupo ClarĂn – que possui jornais, emissoras de rĂĄdio e televisĂŁo e explora os principais serviços de TV a cabo no paĂs – tambĂŠm foi o principal prejudicado com a aprovação de uma lei de radiodifusĂŁo que impĂľe a desconcentraçãoda propriedade de meios de comunicação. ASIP,quetemjornaisdogrupo ClarĂn entre seus associados,consideroualei“revanchistaâ€?. JĂĄ a RSF apoiou a desconcentraçãodosmeiosdecomunicação – no ranking da entidade, aArgentinacaiu por outrosmotivos, como a violĂŞncia contra jornalistas no interior do paĂs.
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CORRESPONDENTE BUENOS AIRES
Mais de 300 integrantes do sindicato dos caminhoneiros, o principal aliado sindical da presidente Cristina Kirchner e do seu marido, o ex-presidente NĂŠstor Kirchner, bloquearam ontem de madrugada o acesso Ă s grĂĄficas do La NaciĂłn e do ClarĂn. O cerco Ă s grĂĄficas dos dois principais jornais argentinos durou quatro horas. A polĂcia nada fez e a Casa Rosada se limitou a convocar “paz socialâ€?. A Associação de Editores de
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Diretor da SIP faz alerta para regiĂŁo â—?â—? â—? “Existe uma estratĂŠgia na AmĂŠrica Latina para desprestigiar os meios de comunicaçãoâ€?, alertou ontem Ricardo Trotti, um dos diretores da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). Segundo ele, a estratĂŠgia, que seria adotada por vĂĄrios governos da regiĂŁo, â€œĂŠ preocupanteâ€?. Em declaraçþes Ă rĂĄdio AmĂŠrica, de Buenos Aires, ele afirmou que essas açþes “quase sempre tentam dividir e criar polariza-
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çþesâ€? na sociedade. â€œĂ‰ triste que tudo isso nĂŁo ĂŠ criado nas bases, mas no prĂłprio Estado, que tem o dever de assegurar os direitos e garantias. É esse Estado que incentiva que os direitos e garantias sejam pisoteadosâ€?, frisou. Em referĂŞncia a mecanismos para controle da mĂdia por governos na regiĂŁo, Trotti disse que a estratĂŠgia dos governos Kirchner e ChĂĄvez “assemelham-seâ€?, por desprestigiar a imprensa. â—? A.P.
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Para entidade de editores, Argentina vive maior ataque Ă imprensa desde o fim da ditadura Jornais de Buenos Aires (Adeba) afirmou que o bloqueio ĂŠ o maior ataque Ă circulação de jornais desde o fim da ditadura militar, em 1983. A entidade emitiu um comunicado no meio da madrugada para anunciar o “estado de mĂĄximo alertaâ€? perante o “insĂłlito ataqueâ€?. O sindicato citou questĂľes trabalhistas para justificar a obstrução das grĂĄficas. Analistas polĂticos afirmam, porĂŠm, que por trĂĄs do bloqueio estĂĄ o casalKirchner,quemantĂŠmduro confronto com a imprensa. Aaçãocoincidecomarealização em Buenos Aires da assem-
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Aliados dos Kirchner voltam a bloquear jornais Ariel PalĂĄcios
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ATAQUES
Na BolĂvia e no Equador, como na Venezuela, o tom beligerante dos governantes em relação Ă imprensa ĂŠ usual. O presidente equatoriano, Rafael Correa, jĂĄ chamou uma jornalista de “gordinha horrorosaâ€? durante um evento pĂşblico. Correa tambĂŠm provocou polĂŞmica ao propor uma lei para regulamentar a imprensa. ApĂłs protestos de entidades internacionais, o governoadmitiusubmeteroprojeto Ă ComissĂŁo Interamericana de Direitos Humanos. O boliviano Evo Morales disse, no final do ano passado, que “sĂł 10% dos jornalistas sĂŁo dignosâ€?. Morales acusa a imprensa de estar a serviço das “oligarquiasâ€?. Mas as reaçþes a seus mĂŠtodosnĂŁovĂŞmapenasdos setores empresariais. “Depois de resistir a tentativas de controle por parte da direita, agora vemos com pesar que um partido que chegou ao poder encarnando as aspiraçþes de setores popularesutilizeosmesmosmĂŠtodos e argumentos do fascismo para tentar domesticar os trabalhadoresdaimprensaâ€?,declarou, em manifesto lançado em março, o principal sindicato de jornalistas da BolĂvia. â—?
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bleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que avalia as pressĂľes recentes sofridaspelosjornalistase empresas de mĂdia na regiĂŁo. “Aqui, depois da tempestade nĂŁo virĂĄ a bonança, mas a inundaçãoâ€?, disse Marcos Aguinis, filĂłsofo, psiquiatra e ex-ministro da Cultura argentino. Ontem, durante o painel da SIP “Os novos mecanismos de censura sutilâ€?, Aguinis, autor do best-seller O atroz encanto de ser argentino, disse que “nĂŁo hĂĄ nada de sutileza no que estĂĄ ocorrendoâ€?. “SĂŁo atitudes hostis com a imprensa. Os jornalis-
tas sĂŁo acusados com nome e sobrenome desde a tribuna do palĂĄcio presidencial, algo que nunca havia ocorrido desde a volta da democraciaâ€?, afirmou. Outra participante do painel, a jornalista MarĂa O’Donnell, autora de livros sobre corrupção no governo Kirchner, disse que a publicidade oficial ĂŠ uma das formas de pressionar os meios de comunicação. â€œĂ‰ ilustrativo que a publicidade oficial na Argentina cresceu de US$ 11 milhĂľes em 2003 para US$ 261 milhĂľes em 2009â€?, disse. Julio Blanck, editor do ClarĂn, afirmou que suspeita da existĂŞnciadeumarede deespionagemcontra os jornalistas crĂticos ao governo Kirchner. Ele sustentou, ainda, que o “sarampo anti-imprensa que afeta os Kirchner ĂŠ parte de um amplo mecanismo para tentar ficar no poder mais quatro anosâ€?. â—?
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o estado de s. paulo
Edição de 0h15
SEGUNDA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
GastobĂĄsico depobres jĂĄsupera odericos
ESPORTES
A Câmara dos EUA aprovou na noitedesåbadoareformadosistema nacional de saúde, uma grande vitória para o presidenteBarackObama.Foi umavotação apertada: 220 votos a favor e 215 contra. Hå dÊcadas os EUA vêm tentando reformar seusistemadeassistênciamÊdica, que deixa milhþes de pessoas sem plano de saúde. Controlada pelos democratas, a Câmara aceitou expandir a cobertura para mais 36 milhþes de americanos. A legislação irå agora ao Senado. � Pà GS. A9 e A10
pirâmide social no Norte e no Nordeste com bens não duråveis havia sido 5% inferior ao das classes A e B do Sudeste. Para os pesquisadores, inflação em baixa, ganhos de renda e menor exposição à crise financeira explicam o fenômeno. Desse modo, a classe C, que era a mais cortejada pela indústria e pelo comÊrcio, começa a perder a atratividade para as camadas inferiores – cujas despesas só estão focadas no båsico. � Pà GS. B1 e B3
80% dos casos que chegam Ă PF ficam sem solução Uma pesquisa com base em dados do Tribunal de Contas da UniĂŁo e da PolĂcia Federal revela que cerca de 80% dos crimes comunicadosĂ PFnĂŁosĂŁoesclarecidos.Autor doestudo, odelegado Gustavo Schneider defende que a polĂcia seja mais seletiva e ganhe autonomia. Nos Ăşltimos 20 anos o nĂşmero de inquĂŠritos abertos pela PF cresceu 2.000%. AlĂŠm dos casos sem fundamento, hĂĄ problemas na investigação e na demora da Justiça–oqueaumentaasensação da impunidade. â—? PĂ G. A4
R$ 8,8 bilhĂľes R$ 5,5 bilhĂľes CLASSE C
FONTE: ‚€ � ƒ€ ‚
CLASSES DeE Â? Â? Â?Â?Â? Â€
Rio tem 10 mil mortos em ‘confrontos’ com policiais Entre janeiro de 1998 e setembro deste ano, 10.216 pessoas foram mortas em alegados confrontos com policiais – os chamados “autos de resistĂŞn-
NOTAS E INFORMAÇÕES
O processo necessĂĄrio O histĂłrico do mensalĂŁo mineiro pulveriza a hipĂłtese de que Eduardo Azeredo pudesse ignorar a origem da dinheirama que sustentava a sua tentativa de se reeleger. â—? PĂ G. A3
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Frente fria deixa o cĂŠu nublado e provoca chuva a qualquer hora.
Hoje: 64 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 18 â—? B. Economia: 12 â—? C. MetrĂłpole: 6 â—? D. Caderno2: 12 â—? E. Esportes: 8 â—? L. Link: 8
Classificados: 101 anĂşncios
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Pelo BrasileirĂŁo, o Palmeiras de VĂĄgner Love (foto) perdeu para o Fluminense por 1 a â—?â—?â—?
cia� – no Estado do Rio, mÊdia diåria de 2,4 mortes. Na gestão do governador SÊrgio Cabral, iniciada em 2007, a mÊdia Ê de 3,33 mortes. � Pà G. C1
0 e ficou um ponto atrĂĄs do lĂder SĂŁo Paulo. JĂĄ o Flamengo subiu para o 3ÂŞ lugar ao vencer
o AtlĂŠtico-MG. No Pacaembu, Corinthians bateu o Santo AndrĂŠ (2 a 0). â—? PĂ GS. E1, E3, E4 e E8
MEC vai notificar a Uniban
TIAGO QUEIROZ/AE
CLASSES AeB
Tempo: CAPITAL
FABIO MOTTA/AE
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Universidade terå de explicar expulsão de aluna O MinistÊrio da Educação afirmouquenotificarånestasemana a Universidade Bandeirante(Uniban),paraqueainstituição explique a expulsão da es-
tudante Geisy Arruda, de 20 anos. Ela foi perseguida e xingada por alunos no câmpus de SãoBernardoporusar umvestido curto. A ministra NilcÊa
Freire condenou a atitude da Uniban e avisou que a Secretaria Especial de PolĂticas para as Mulheres tambĂŠm cobrarĂĄ explicaçþes. â—? PĂ GS. A15 e A16
Iggy Pop levou o pĂşblico do Festival Planeta Terra literalmente ao palco.
Sociedade de imprensa vĂŞ ameaça de governos O presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa(SIP),EnriqueSantos,disse ontem que a liberdade de imprensa em vĂĄrios paĂses da AmĂŠrica Latina estĂĄ “sob assĂŠdioâ€?. No terceiro dia da 65ÂŞ Assembleia da SIP, houve crĂticas a governos que “apelam a qualquer recurso para intimidar o jornalismo livreâ€?, como disse BartolomĂŠ Mitre,presidentedo argentino La NaciĂłn. â—? PĂ G. A7 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 101 DIAS
CADERNO2 Punk de raiz
â—? PĂ G. D8
Direito autoral â—?â—? RevisĂŁo da lei vira campo debatalha nacultura. â—?PĂ G. D1
Clima
FuracĂŁo mata 124 em El Salvador â—?â—? HĂĄ 60 pessoas desaparecidas. Tempestades chegam ao MĂŠxico. â—? PĂ G. A11
Tecnologia rima com ecologia
O
acúmulo de peças de aparelhos eletrônicos despejados no meio ambiente jå soma 5% do lixo tóxico produzido no
mundo. Governos e empresas tomam medidas para reduzir o impacto na natureza. Saiba o que vocĂŞ pode fazer para ajudar. â—?
São Paulo VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
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DIRETOR:
RUY MESQUITA
Reforma de Obama na saúde passa na Câmara
MAIS RENDA
R$ 8,4 bilhĂľes
(1891-1927)
9 de novembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42391
Estudo mapeia consumo de alimentos e itens de higiene Nos Ăşltimos 12 meses atĂŠ setembro deste ano, as classes D e E das regiĂľes Norte e Nordeste do PaĂs gastaram R$ 8,8 bilhĂľescomalimentoseprodutos de higiene e limpeza. Essa cifra ĂŠ 5% maior que a desembolsada pelas camadas A e B do Sudeste no mesmo perĂodo com esses itens, informa estudo da empresa de pesquisa domiciliar LatinPanel. Em igual perĂodo de 2008, a situação era inversa: o gasto das camadas que compĂľem a base da
JULIO MESQUITA
Somem mĂłveis da sede da Segurança MobĂlia deveria equipar delegacias, mas paradeiro ĂŠ desconhecido. â—? PĂ G. C3
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SEGUNDA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 101 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
SIP acusa governos de agir contra imprensa Vice-presidente da entidade alerta para tentativa de políticos da América Latina de controlar a mídia com objetivo de se perpetuar no poder Ariel Palacios CORRESPONDENTE BUENOS AIRES
“Sob assédio” foi a expressão usada ontem pelo presidente da Sociedade Interamericana da Imprensa (SIP), o colombiano Enrique Santos, para explicar o estado da liberdade de expressão em vários países das América Latina. Na sequência, durante a terceira jornada da 65ª Assembleia-Geral da SIP, em Buenos Aires, o argentino Bartolomé Mitre, presidente do centenário jornal La Nación e diretor do comitê anfitrião do evento, ressaltou que a situação regional é “deprimente” e os jornalistas e as empresas de mídia transformaram-se em alvos de “irracionais agressões”. Ainda segundo Mitre, diversos governos “apelam a qualquer recursopara intimidar ou silenciar o jornalismo livre”. Gonzalo Marroquín, vicepresidente da SIP, diretor do jornal Prensa Libre, da Guatemala, alertou para a tendência “muito perigosa” existente
atualmente na América Latina de “legislar contra a imprensa”. Ele apontou para um cenário que considera perigoso, com “governos autoritários” que desejam “se perpetuar no poder”.Para atingir esseobjetivo, “tentam controlar a mídia”. ASSASSINATOS
Opresidente daComissãodeLiberdade de Imprensa, Robert Rivard, do jornal americano San Antonio Express News, destacou que havia muitos anos a liberdade de imprensa não passava“porum semestretão complexo”. Citou que 16 jornalistas foram assassinados no período – oito no México, três em Honduras, dois na Guatemala, dois na Colômbia e um El Salvador. Os assassinatos, explicou Rivard,ocorreram emumcontexto de crescimento do crime organizado, ao lado de campanhas contra a imprensa, conduzidas por chefes de governo. Nesse cenário, de acordo comospalestrantes,aVenezuelaaparececomoopaís maisproblemático. O governo do presi-
Mordaça ao ‘Estado’ é vexame, diz relatório BUENOS AIRES
A censura ao Estado, que está há 101 dias impedido de citar a Operação Boi Barrica da Polícia Federal, foi citada ontem na 65ªassembleiadaSociedadeInteramericana de Imprensa (SIP). O caso foi lembrado por Sidnei Basile, vice-presidente de Relações Institucionais da Editora Abril, durante o relató-
rio sobre o estado da liberdade da imprensa no Brasil. Basiel afirmou que a mordaça ao jornal – por meio de liminar obtida por Fernando Sarney,filhodopresidentedoSenado, José Sarney (PMDB-AP), e alvo da PF – trata-se de “um dos casos dos crescentes e sucessivos episódios de censura prévia por determinação judicial”. Ele destacou a duração da liminar e
NACIONAL NACIONAL A7 A7
dente Hugo Chávez, no relatório preliminar apresentado por David Natera, presidente do Bloco de Imprensa Venezuelano, “continua deteriorandoaliberdade porintermédio de agressões legais, judiciárias e físicas contra meios de comunicação e jornalistas independentes como parte de uma estratégia que avança na imposição deumregime comunista,militarista e totalitário”. De acordo com Natera, desde que chegou ao poder, há dez anos, Chávez fechou 34estaçõesderádioe prometeu fechar outras 240. Durante a reunião também foi comentada a situaçãodaArgentina. Namadrugada de sábado, integrantes dosindicatodos caminhoneiros, aliado da presidente Cristina Kirchner e do seu marido,oex-presidente Néstor Kirchner, bloquearam o acesso às gráficas dos jornais La Nación e Clarín – o que foi considerado um ataque à sua circulação. ●
a “inconsistência jurídica das decisões tomadas”. Basilelembrouaosparticipantes as “contradições” da Justiça no caso, frisando que a liminar do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, “ésemdúvidaumvexamepara a democracia brasileira”. O ex-presidente da Bolívia, o jornalista e escritor Carlos Mesa Gisbert, afirmou que não está otimista com o cenário generalizado de restrições à imprensa na região. Ele disse conhecer o caso do Estado e expressou a sua preocupação. ● A.P.
CEZARO DE LUCA/EFE
DEBATE – Encontro da SIP em Buenos Aires: situação ‘deprimente’
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
10 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42392
Festa do Muro lembra vítimas do comunismo Lourival Sant’Anna ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
WOLFGANG KUMM/EFE
Os 20anos da queda do Muro de Berlim foram lembrados ontemnacapitalalemãcomhomenagens às vítimas do regime comunista. Milhares de pessoas enfrentaram a chuva e o frio para se reunir no Portão de Brandenburgo. “Antes da alegria da liberdade, muitos sofreram”, discursou a chanceler alemã, Angela Merkel. ● PÁGS. A12 e A13
DOMINÓ HISTÓRICO – Mil peças de isopor de 2,5 metros de altura, pintadas por crianças, foram usadas para simbolizar a queda do Muro: fila de 1,5 km no centro de Berlim
Dólar cai a R$ 1,70 e BC prevê que câmbio seguirá instável Cotação volta ao patamar anterior ao IOF e mercado espera novas medidas
CADERNO 2 Um Hamlet sexy na Broadway
Jude Law provoca romaria de mulheres a teatro de Nova York. ● PÁG. D5
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VIAGEM AVENTURA &
Beleza americana ●● Omelhordequatrosurpreendentes parques nacionais dos EUA. ●
Redução de CO2
Planalto muda e diz que terá meta ●● Segundo Dilma, País apresentará proposta em Copenhague. ● PÁG. A18
América Latina
SIP vê ‘esquema legal’ contra mídia Entidade alerta para aprovação de leis contra a imprensa. ● PÁGS. A10 e A11
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 102 DIAS
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de”, mas acrescentou: “Espero que seja restrita ao dólar”. Segundo Meirelles, como a economia brasileira está sendo “impulsionada pela demanda doméstica e pela capacidade de comprar reservas”, a situação nãodeveráafetaro“crescimento forte” do País. ● PÁGS. B1 e B3
trangeiros pelo Brasil, e analistas consideram que o governo deverá tomar novas medidas para conter a valorização do real. Em entrevista ao Estado, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse preverqueamoedaamericanacontinuará “com certa volatilida-
Economia pós-crise cresce 9% A economia brasileira cresceu quase 9% no terceiro trimestre do ano, segundo projeções de consultorias, que levam
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Criticada, Uniban recua de expulsão de aluna Universidade havia culpado Geisy por assédio coletivo A repercussão negativa da expulsãodaestudanteGeisyArruda, sob acusação de “provocar” o assédio coletivo que sofreu ao usar um vestido curto, fez o reitor da Uniban, Heitor Pinto Filho, revogar a decisão. O recuo ocorreu após discussões com as áreas de comunicação e de publicidade da instituição – cuja opinião contrária à expulsão fora ignorada por Pinto Filho.“Estãomechamandodecoisas que eu não sou”, afirmou Geisy. Ela acusou a universidade de distorcer seu depoimento na sindicância. ● PÁGS. A16 e A17
em conta a taxa anualizada do PIB. No quarto trimestre, porém, a expansão deve recuar para cerca de 6%. ● PÁG. B3
ESPORTES
CBF afasta o árbitro Carlos Simon Carlos Eugênio Simon não apitará mais neste Brasileiro. Domingo, o árbitro anulou gol legal do Palmeiras, queperdeu para o Fluminense por 1 a 0. O presidente do Palmeiras disse que vai processar Simon. ● PÁG. E1
“Não vou deixar barato. Todo aquele que atingir minha honra, honestidade e caráter será processado” Carlos Eugênio Simon
Tempo: CAPITAL
28º
ANÁLISE
Roldão Arruda
MÁX.
● PÁG. C2
18º
MÍN.
Sol aparece e fica abafado. Pancadas de chuva à tarde.
O estímulo a preconceitos latentes
Os principais pré-candidatos à Presidência – os tucanos José Serra e Aécio Neves, a petista Dilma Rousseff e odeputado Ciro Gomes (PSB) – participaram ontemnaFiespdeumahomenagem ao vice-presidente José Alencar. Em discurso emocionado, o presidente Lula chorou e descreveu Alencar como sua “cara-metade”. Ao se referir à debilitada saúde do vice, Lula brincou com a possibilidade de disputar um terceiro mandato: “A gente até que aguentaria mais uns cinco anos”. ● PÁG. A6
POLÊMICA
FRASE
José Celso Martinez Corrêa
Lula faz política culta e com arte Acho, diferentemente de Caetano, que temos em Lula o primeiro presidente antropófago brazyleiro. Ele tem phala e sabedoria carnavalesca nas artérias. Lula não para de carnavalizar, de antropofagiar, pro País não parar de sambar, usando as próprias oligarquias. ● PÁG. D11 ●●●
‘Fala analfabeta atinge a maioria’ ●● ● Em carta ao Estado, Caetano Veloso explica suas declarações sobre Lula. ● PÁG. A6
NOTAS E INFORMAÇÕES
Chávez vai à guerra Na América Latina, guerras já foram travadas por motivos menos graves do que as ambições do caudilho bolivariano Hugo Chávez e o seu medo de ver a maioria dos seus súditos se voltar contra ele. ● PÁG. A3
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O caso da Uniban é questão de direitos civis. O que se viu foi a volta do patriarcalismo, que apesar das conquistas femininas continua nos assediando. ● PÁG. A17
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PAULO LIEBERT/AE
Pela primeira vez desde que começou a cobrança de IOF sobre investimentos estrangeiros, o dólar voltou para a casa de R$ 1,70 – ontem, perdeu 1,05% e fechou cotado a R$ 1,701. É o menor valordesde 15 de outubro. A nova baixa se explica pelo grandeinteressedosinvestidoreses-
Lula brinca ao sugerir ‘mais 5 anos’ com Alencar
MEDO – Geisy chora em entrevista e diz temer nova humilhação
Hoje: 74 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 14 ● Classificados: 551 anúncios
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A10 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 10 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 102 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
SIP denuncia ‘esquema legal’ para enfraquecer imprensa Entidade alerta para ‘pretexto’ usado por alguns países para aprovar leis que debilitam os meios de comunicação Ariel Palacios CORRESPONDENTE BUENOS AIRES
O presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Enrique Santos Calderón, alertou ontem para o cenário que desponta na América Latina comumsofisticado“esquemalegal” implantado por diversos governos para enfraquecer a imprensa independente. Durante a penúltima jornada da assembleia da SIP, realizada em Buenos Aires, Santos Calderón sustentou que “está sendo construída uma arquitetura legal” contra os meios de comunicação por parte de governos, fazendo alusão aos casos da Venezuela,Argentina,EquadoreBolívia,entreoutros.Segundoele,essespaísesexibem“ummarcopopular e democrático, que é pretexto para aprovar leis que debilitam os meios de comunicação”. NoBrasil,levantamentodaAssociação Nacional de Jornais (ANJ), divulgado em agosto, revelou que, em um ano, houve 31 casosdecensuraàimprensabrasileira, 16 deles decorrentes de decisões judiciais. O Estado sofre censura prévia desde 31 de julho. Liminar do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de JustiçadoDistritoFederal,proibiuo jornal de publicar reportagens sobre a operação Boi Barrica, da PolíciaFederal,que temcomo alvo o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). RISCOS
A Lei de Mídia da Argentina foi aprovada recentemente em meio a acusações de compra de votos por parte do governo da
FRASES
Enrique Santos Calderón Presidente da SIP “Estásendo construída uma arquitetura legal contra os meios de comunicação por parte de governos, que exibem um marco popular e democrático, e que é somenteum pretexto para aprovaras leis que debilitam os meios de comunicação”
Joaquín Morales Solá Colunista político do La Nación “A imprensa argentina vive hoje seu pior momento desde a volta da democracia em 1983”
presidenteCristinaKirchner,segundo o presidente da SIP. Para ele, a liberdade de imprensa na região corre riscos com o projeto do Equador para os meios de comunicação,elaboradopelopresidenteRafaelCorrea,que“pretende limitar ação do jornalismo”. Santos Calderón ressaltou o caso da Argentina, onde a imprensa “enfrenta sérios desafios”, entre os quais piquetes de sindicalistas aliados do governo paraimpediradistribuiçãoderevistasejornais, inesperadas blitzedo Fiscosobre as empresas de mídia e ameaças a jornalistas. O vice-presidente da Argentina, Julio Cobos – que aparece comopresidenciávelpara2011 eestá afastado de Cristina Kirchner desde o ano passado – declarou que os ataques à imprensa no país são “lamentáveis”, em referência aos piquetes realizados contra os jornais Clarín e La Nación. Cobos foi o convidado especialda SIP na cerimônia de aber-
tura de evento. A presidente Cristina recusou oconvite feito pela entidade. ‘PIOR MOMENTO’
Durante o painel Disparem contraimprensa, editores ecolunistas dos principais jornais portenhos afirmaram que a mídia transformou-se no alvo de diversos governos da região. O colunista político Joaquín Morales Solá, do La Nación, disse que “a imprensa argentina vive o seu pior momento desde a volta da democracia em 1983” e destacou que,emváriospaíses,ogoverno não fala com a imprensa. Eduardo van der Kooy, o principal colunista do Clarín, sustentouquediversosgovernos na região, embora eleitos nas urnas, aplicam mecanismos de controle da liberdade de expressão “mais sofisticados que os governos autoritários tradicionais”. O presidente da Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas, Gustavo Vittori, declarou que a Constituição foi violada com a recente aprovação da Lei da Mídia, que implica uma drástica restrição à atuação dos grupos de comunicação. “A mídia constitui hoje um limite para o poder do governo”, acredita. “E é isso exatamente que o governo tenta dinamitar.” Na opinião de Vittori, a ofensiva de Cristina Kirchner contraamídianosúltimosmeses aumentou de forma inversamente proporcional à queda do poder político da presidenteargentinaedeseumarido, o ex-presidente Néstor Kirchner. ●
TERÇA-FEIRA, 10 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
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ENRIQUE MARCARIAM/REUTERS-29/6/2009
STF dá liminar à ‘Veja’ contra decisão judicial ●● ● Com base na decisão que derrubou a Lei de Imprensa, os advogados da Editora Abril conseguiram uma liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) livrando a revista Veja da obrigação de publicar nesta semana uma sentença judicial favorável ao ex-ministro Eduardo Jorge Caldas Pereira. Assinada na sexta-feira pelo ministro Carlos Ayres Britto, do STF, a decisão é a primeira depois
‘CONTRARREUNIÃO’ – Cristina Kirchner é anfitriã do 1.º Encontro Internacional de Meios e Democracia
Chávez organiza reunião na Argentina contra jornais Encontro que defende interferência estatal na ação da mídia na região teve apoio do governo Cristina Kirchner BUENOS AIRES
A capital argentina foi o cenário ontem de dois encontros antagônicos. Enquanto no Hotel Hilton transcorriaareuniãodaSociedade Interamericana de Imprensa (SIP) – que se encerra hoje com debates sobre o clima perigoso paraliberdadedeimprensanaregião, com a presença de mais de 500 editores de quase todos os países das Américas –, a Embaixada da Venezuela realizava a “contrarreunião”daSIP, odenominado “Primeiro Encontro InternacionaldeMeioseDemocracia na América Latina”. O evento preparado por ordem direta do presidente venezuelanoHugoCháveznaterrada amiga Cristina Kirchner – anfitriãdoencontroquepretendedefender a interferência dos gover-
nos na ação da mídia na região – teve o patrocínio da Secretaria de Cultura da Argentina. Um dos principais conferencistas da “contrarreunião” foi o autor da polêmica Lei de Mídia argentina, Gabriel Mariotto, interventor do Comitê Federal de Radiodifusão (Comfer). Mariotto denominou a rival reunião da SIPde“corodesaforadodedinossauros que tenta deslegitimar” a Lei de Mídia. O dispositivo, aprovado recentemente no Parlamento argentino no meio de denúncias de compra de votos pelo governo Kirchner, implica drástica redução da ação dos grupos de mídia. Entre os vários pontos do polêmico pacote que regula a atuação de imprensaestáarevisãodaslicenças a cada dois anos. Além disso, nas cidades de mais de 500 mil habi-
tantes, elas serão concedidas de forma direta pelo governo, sem necessidade de licitação. O encontro “anti-SIP” também contou com a participação do venezuelano Andrés Izarra, presidente da Telesur, rede estatal de alcance regionalquetemsidoapontadelança publicitária do governo Chávez na América Latina. Tambémparticiparamparlamentares dos governos aliados de Chávez e dos Kirchners, que na “contrareunião” dissertaram sobre os “monopóliosmidiáticos naregião”. A deputadaargentinaSilviaVázquez,aliada dogovernoKirchner, afirmou que a realização da reunião da SIP em Buenos Aires tem intenção de gerar opinião pública internacional “contra a Argentina”. ● A.P.
da publicação do acórdão no Diário da Justiça, na semana passada, permitindo que os jornais, revistas, rádios e emissoras de TV censurados possam recorrer diretamente ao Supremo. Entre os veículos que sofrem censura prévia por decisão judicial está o Estado. Na reclamação protocolada no STF, os advogados da Editora Abril sustentaram que estava ocorrendo uma violação à decisão do tribunal
sobre a Lei de Imprensa. Isso porque o veículo de comunicação teria sido obrigado a publicar uma sentença condenatória com fundamento no artigo 75 da Lei de Imprensa. Procurado pela reportagem do Estado, Eduardo Jorge disse que vai recorrer. Segundo ele, a decisão favorável a ele não foi baseada na Lei de Imprensa e sim na Constituição Federal e no Código Civil. ● MARIÂNGELA GALLUCCI
D6 CADERNO 2
TERÇA-FEIRA, 10 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Design Lançamento:
A evolução gráfica num livro único
EDITORA VERSO BRASIL/DIVULGAÇÃO
Impresso no Brasil mostra e comenta nosso passado editorial, de 1808 a 1930 Antonio Gonçalves Filho
Darelaçãodosdespachospublicadosna Corteno dia13 de maio de 1808, primeira obra impressa no Brasil, ao primeiro número da revista O Cruzeiro, publicado em 15 de dezembro de 1928, passando pelo cardápio do célebre baile da Ilha Fiscal, a extensa pesquisa iconográfica desenvolvida porRafael Cardoso, organizador do livro O Impresso no Brasil, 1808-1930: Destaques da História Gráfica no Acervo da Biblioteca Nacional (Editora Verso Brasil, 180 páginas, R$ 90), resultou num sedutor volume que reúne nada menos que 350 ilustrações raras. Garimpadas num acervo público, o da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, muitas delas são desconhecidas ou nunca foram reproduzidas. Mais do que um curioso livro para nostálgicos, o livro organizado por Cardoso mostra a evolução não só da linguagem gráfica como acompanha o nascimento da modernidade entre nós, revelando, por exemplo, como a configuração visual dos grandesjornais, entre eles oEstado, mudou nas primeiras décadas do século 20 em função das exigências do público, acelerando, inclusive, o desenvolvimento da linguagem publicitária nos periódicos, assunto ainda pouco estudado.
Artistas que depois ficariam famosos,como Bordallo Pinheiro e Di Cavalcanti, começaram suas carreiras como criadores gráficos de anúncios publicitários. Peça pouco conhecida do último, o anúncio que Di Cavalcanti fez para a pasta de dentes Odol, em 1928, já prenuncia o futuro do desenhista (melhor até que pintor) que se tornaria um dos principais modernistas brasileiros. Em tempo: o anúncio foi produzido para a revista O Cruzeiro, um marco na imprensa, que acompanhou quatro gerações de brasileiros.
REVISTAS DA LOUCA DÉCADA DE 1920 AINDA SURPREENDEM PELA OUSADIA VISUAL No entanto, “o livro é sobre a históriadosimpressos,enãosomentedaimprensa”,alertaoorganizador Rafael Cardoso, emboraa distinção,como reconhece, possa parecer artificial. Referindo-seaestudossériosjápublicadossobreoassuntono Brasil – entre os quais se destacam os quatro volumes da História da Caricatura no Brasil de HermanLimaeaHistóriadaImprensa no Brasil, de Nelson Werneck Sodré –, Rafael Cardoso diz ser revelador o fato de esses estu-
REVOLUÇÃO – Semana de 22 mudou
Para Todos (1927), capa de Coração Encantado (1923) e de A Maçã (1923), enterrando o estilo art nouveau do maço de cigarros (1910)
dos terem surgido no exato momento em que a imprensa “se viu acuada pela ameaça da censura e sua concretização na ditadurade1964 a1985”. Porcoincidência, seu livro Impresso no Brasil é publicado justamente quandoojornalEstadocompleta 102 dias sob censura. Um periódico desrespeitado é uma história que deixa de ser contada, prejudicando toda a comunidade. De certo modo, o livro conta como a censura no fim do século 19, de modo semelhante, tentou ser mais real que a realidade ao destinar ao limbo revistas lidas às escondidas como O Rio Nu. Fundada em 1898 e bastante crítica quando o assunto era a hipocrisia de respeitáveis burgueses frequentadores de bordéis, o periódico semanal,numlancedeousadia,estampa na capa (isso em 1903) uma mulher nua ao lado de um sonolento dândi, que desliza num sofá para lá de suspeito. O século 20, escreve Cardoso, chegou fazendo barulho e o pesquisador conseguiu preciosos exemplos da modernidade gráfica e comportamental, como a capa de outro semanário, A Maçã, publicado em 1923 (um ano depois da Semana de Arte Moderna). Nele, uma domadora de circo, com chicote e figurino sadomasoquista, tenta fazer com que um urso obedeça ao seu comando (veja ilustração ao lado). Como a década de 1920 marcou a consolidação do mercado de revistas no Brasil, um capítulo é dedicado a publicações que faziam enorme sucesso junto aos leitores, como a revista semanal Para Todos, da qual se reproduz nesta página a capa de uma edição de1927. O estudo de Cardoso termina justamente com as revistas pioneiras que integram imagens fotográficas à estrutura de suas páginas, entre elas a Para Todos, que fazia uso (já em 1926) de uma diagramação pouco convencional e colorizava fotomontagens. Como se vê, a edição em fotoshop não surgiu com o computador. Muitos corpos de beldades já foram corrigidos antes dele. ●
o estado de s. paulo
� Edição de
2h15
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
QUARTA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
11 de novembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42393
Falha em linha de Itaipu causa apagão em 12 Estados e no DF Problemas se concentraram emSP, RJ e ES � ParaguaitambÊmficousemenergia � Telefonia eserviços essenciaisforamafetados � Governoacreditaquetemporal tenhacausadoapane
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EVELSON DE FREITAS/AE
A queda de uma linha de transmissĂŁo de Itaipu tirou os 14 mil megawatts gerados pela usina do sistema elĂŠtrico e provocou blecaute em 12 Estados e no Distrito Federal, alĂŠm do Paraguai. Os mais atingidos foram SĂŁo Paulo, Rio e EspĂrito Santo, mas a falta de energia afetou tambĂŠm Minas, GoiĂĄs, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, ParanĂĄ, Pernambuco, Acre, RondĂ´nia e Roraima. Houve confusĂŁo, assaltos e acidentes no Sudeste. O sistema de telefonia e os serviços essenciais tambĂŠm foram afetados. “Houve desligamento completo de Itaipuâ€?, disse o ministro Edison LobĂŁo (Minas e Energia). O diretor da usina, Jorge Samek, informou que o problema nĂŁo foi na hidrelĂŠtrica, que estava funcionando bem, mas na transmissĂŁo. Segundo LobĂŁo, os tĂŠcnicos acreditam que um raio ou uma tempestade tenha motivado a queda na transmissĂŁo. Para especialistas, pode ter havido interrupçãoem Furnasouproblemas em subestaçþes que convertem energia do Paraguai para o Brasil. Os Ăşltimos apagĂľes ocorreram em 2005e 2007, noRio enoEspĂrito Santo. â—? PĂ GS. C1 e C3 a C6
Av. SumarĂŠ
22h31
MAPA DO BLECAUTE
SP vive caos com acidentes e assaltos
NOTAS E INFORMAÇÕES
Letra da Lei, letra da Liberdade O acĂłrdĂŁo de Ayres Britto, do STF, reconcilia o maior ideal da Justiça com o melhor espĂrito do jornalismo. â—? PĂ G. A3
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Tempo: CAPITAL
28Âş
MĂ X.
Hoje: 82 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 22 â—? B. Economia: 18 â—? C. MetrĂłpole: 12 â—? D. Caderno2: 12 â—? E. Esportes: 6 â—? G. AgrĂcola: 12 Classificados: 144 anĂşncios
7 8 9 10 11 12
â—? PĂ G. C2
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MĂ?N.
São Paulo mergulhou no caos ao ficar às escuras. A população sofreu com acidentes, semåforos desligados, assaltos e falta de informação. Somente nos primeiros 20 minutos, entre 22h15 e 22h35, os bombei-
ros registraram 40 chamados de pessoas presas em elevadores. O transporte pĂşblico e o trânsito pararam. A Prefeitura suspendeu o rodĂzio de veĂculos no perĂodo da manhĂŁ de hoje e cogitava sustar as aulas
Senado paga bônus via ato secreto Manobra jå custou R$ 20 milhþes Ato irregular que criou gratificação para funcionårios do Senadocontinuasecreto.Pelomenos R$ 20 milhþes foram gastos, nos últimos seis anos, com o bônusautorizadopelopresidentedaCasa,JosÊSarney(PMDBAP). Descoberta pelo Estado e
investigada pelo TCU, a manobra permite que, ao ser indicado para cargo de chefia, um servidor de nĂvel mĂŠdio receba, alĂŠm da função comissionada de R$ 2 mil, salĂĄrio de final de carreira de nĂvel superior. â—? PĂ G. A4
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 103 DIAS q PĂ G. A10
narede municipalde ensinocaso o blecaute persistisse. Na PolĂcia Militar, apenas um gerador funcionava para atenderaos chamados deemergĂŞncia. A rede da PolĂcia Civil tambĂŠm ficou fora do ar. â—? PĂ G. C5
Sem MetrĂ´, saĂda foi dormir na rua Sem metrĂ´ e com o trânsito parado, muita gente nĂŁo conseguiu chegar em casa. “Nunca pensei em passar a noite na ruaâ€?, disse Ester Damasceno, moradora de Guarulhos. â—? PĂ G. C5
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Lula decide colar Dilma em agenda ambiental
Protesto obriga USP a transferir eleição
O governo Lula vai transformar o anĂşncio da queda do desmate da AmazĂ´nia, amanhĂŁ, em evento polĂtico, para ajudar a imagem de Dilma Rousseffcomodefensoraambiental. Ontem, Dilma criticou a meta de redução de emissĂŁo de gases fixada pelo governo Serra comparada Ă meta federal. â—? PĂ GS. A8 e A19
Cerca de 300 alunos, funcionårios e moradores de favelasbloquearamontemoacesso à reitoria e impediram a realização das eleiçþes para reitornaUSP.Osegundoturno, remarcado para hoje, serå no Memorial da AmÊrica Latina. Manifestantes consideram o processo eleitoral pouco democråtico. � Pà G. A20
No Rio, Bope patrulha avenidas O Estado do Rio de Janeiro ficou totalmente sem luz. Na capital, o Bope assumiu o patrulhamento das vias expressas. Na zona sul, o blecaute nĂŁo atrapalhou a noite de quem estava nos bares. â—? PĂ G. C6
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CADERNO 2
Arquiteto Jacques Herzog fala do projeto do Teatro da Dança, em São Paulo. �
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DANIELPIZA
O caso Belluzzo faz pensar: por que futebol dĂĄ vazĂŁo Ă irracionalidade? â—? PĂ G. E4
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agrĂcola Agricultoresvendemprodução para mercados, sem intermediĂĄrios. â—?
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QUARTA-FEIRA, 11 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Letra da Lei, letra da Liberdade
N
a sexta-feira passada, a história da imprensa brasileira ganhou uma página de rara clareza – e de rara Justiça. Nesse dia, 6 de novembro de 2009, o Diário da Justiça publicou o acórdão redigido pelo ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal (STF), que sepulta de uma vez por todas a antiga Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67). O acórdão deu forma final à decisão que o STF tomara em abril, quando declarou que a velha lei não fora recepcionada pela Carta Federal de 1988, sendo, portanto, inconstitucional. Mas o acórdão é bem mais que uma formalidade: o arrazoado do ministro-relator prima ao mesmo tempo pela precisão jurídica, pela prudência humanista e pela radicalidade democrática. Trata-se de uma página histórica, em que o maior ideal da Justiça se reconcilia com o melhor espírito do jornalismo. As palavras de Ayres Britto repõem o que a Justiça entende por liberdade de imprensa. Já era tempo. Além da velha Lei de Imprensa, elas removem do ambiente jurídico uma violência obscura que aturdia a normalidade democrática: a censura prévia imposta por
decisão judicial, uma extravagância interpretativa que vinha se convertendo em regra, vitimando leitores de diversos jornais brasileiros – entre os quais os do O Estado de S. Paulo. Atente-se para o que escreve o ministro-relator: “O pensamento crítico é parte integrante da informação plena e fidedigna. O possível conteúdo socialmente útil da obra compensa eventuais excessos de estilo e da própria verve do autor. O exercício concreto da liberdade de imprensa assegura ao jornalista o direito de expender críticas a qualquer pessoa, ainda que em tom áspero ou contundente, especialmente contra as autoridades e os agentes do Estado. A crítica jornalística, pela sua relação de inerência com o interesse público, não é aprioristicamente suscetível de censura, mesmo que legislativa ou judicialmente intentada.” Há mais: “Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive a procedente do Poder Judiciário, pena de se resvalar para o espaço inconstitucional da prestidigitação jurídica.”
O ministro ensina que a dignidade humana só se alcança num regime de liberdade: “O corpo normativo da Constituição brasileira sinonimiza liberdade de informação jornalística e liberdade de imprensa, rechaçante de qualquer censura prévia a um direito que é signo e penhor da mais encarecida dignidade da pessoa humana, assim como do mais evoluído estado de civilização.” Contra os que, espertamente, argumentam que a “honra” – pessoal ou familiar – pode servir de argumento legal para amordaçar repórteres, Ayres Britto lança outra lição. Para ele, a instituição do jornalismo livre e independente precede “as relações de intimidade, de vida privada, imagem e honra”, e, em hipótese alguma, pode-se conceber que alguém, sob a alegação de proteger a própria honra, peça que a Justiça censure jornalistas. Diz o ministro: “As relações de imprensa e as relações de intimidade, vida privada, imagem e honra são de mútua excludência, no sentido de que as primeiras se antecipam, no tempo, às segundas; ou seja, antes de tudo prevalecem
A lei ambiental paulista
P
ara serem eficazes, as políticas de combate ao efeito estufa, responsável pelas mudanças climáticas que representam o maior e mais espinhoso desafio com que a humanidade passou a se defrontar, dependem de um enfoque peculiar, muito caro aos ambientalistas: “Pense globalmente, aja localmente.” Em outras palavras, a visão mais ampla possível do problema – a que focaliza em escala planetária os impactos dos processos econômicos e dos padrões de comportamento das sociedades sobre o meio ambiente – terá escassa serventia se não se desdobrar numa infinidade de ações em áreas, atividades e ecossistemas específicos. Claro que a noção de local varia conforme a perspectiva. Quando se trata, por exemplo, de estipular, por acordo internacional, metas quantitativas para a redução das emissões de carbono que provocam o aquecimento global – o ideal de que a próxima Conferência de Copenhague parece distanciar-se cada vez mais –, a unidade de referência são os Estados nacionais ou os blocos regionais como a União Europeia. Mas, em cada país, a implementação dos objetivos com os quais os respectivos governos venham a se comprometer se traduziria em programas que teriam de ser estabelecidos e fiscalizados em espaços geográficos e político-administrativos relativamente restritos – em anéis que se entrelaçam ou se sobrepõem –, ainda que sejam os mesmos os setores visados (no caso brasileiro, a cobertura vegetal da Amazônia, a economia agrope-
cuária, as modalidades de transporte e o sistema de geração de energia, notadamente). Logo se vê, portanto, que dentro de um país – ainda mais em um país das dimensões deste – a crise do clima cobra não apenas do governo central, mas também dos poderes subnacionais, iniciativas que produzam controles ambientais efetivos. Desde que, naturalmente, elas sejam coerentes entre si em relação ao objetivo primeiro – a diminuição dos volumes de gás carbônico lançados à atmosfera – e definam linhas de intervenção adequadas às realidades locais. As-
Até 2020 a partir de 2011 as emissões de CO2 deverão ser 20% menores sim, se no Brasil como um todo as maiores emissões vêm do desmatamento da floresta tropical, em São Paulo o principal problema é a queima de combustíveis fósseis na indústria e no transporte de carga. Desse ângulo, a decisão do presidente Lula de dar prioridade à redução do desmate – em 80% – faz tanto sentido como a do governador José Serra de enfatizar a substituição de combustíveis poluentes, na lei que institui a Política Estadual de Mudanças Climáticas, assinada na segunda-feira. É a primeira do gênero a fixar metas de corte de carbono. Até 2020, a contar de 2011, as emissões de CO2 em São Paulo deverão diminuir 20% em relação aos volumes lançados em 2005. “Nossa lei vai implicar mudança de comportamento
O emprego das Forças Armadas
O
do setor privado e do setor público”, advertiu Serra. “São Paulo está adotando uma posição ousada” – mais ousada, deu a entender, do que aquela que o governo federal fala em adotar. De fato, depois de idas e vindas, o Planalto anunciou, por meio da ministra Dilma Rousseff, que o Brasil afinal levará a Copenhague um “compromisso voluntário” com uma meta numérica de redução de CO2 da ordem de 40%. A diferença é que os 20% de São Paulo significam um corte de 24 milhões de toneladas (do equivalente a 122 milhões de toneladas em 2005 para 98 milhões). Já os 40% de Lula incidirão sobre a tendência de aumento das emissões ao longo da próxima década. Comparando: uma coisa é um preço cair; outra é aumentar menos do que o esperado. A ministra teve a elegância de dar parabéns a Serra – seu provável adversário nas urnas em 2010 – pela sua decisão “positiva e produtiva”. Mas ressalvou que não se pode comparar um Estado ao País. O que conta é o exemplo, diz o governador. A transição para a economia sustentável requer, no plano interno, a multiplicação de iniciativas locais. Em junho, por exemplo, o prefeito paulistano assinou a primeira lei municipal de combate ao aquecimento global. O mesmo efeito demonstração vale no exterior. “Quanto mais o Brasil ousar”, acredita Serra, “maior será o poder de pressão da comunidade internacional sobre os países que resistem à mudança.”
anteprojeto que altera a Lei Complementar 97 – que dispõe sobre as normas de organização, preparo e emprego das Forças Armadas –, antecipado pelo Estado na sexta-feira, não dá às forças militares nenhum poder de polícia. Apenas explicita o que podem fazer, na faixa de fronteira, para a manutenção da lei e da ordem. Na verdade, pelo menos uma das atribuições que estão sendo apresentadas como novidade – poder fazer prisões em flagrante – é prerrogativa e dever de qualquer cidadão honesto, paisano, policial ou militar, que presencie um crime. Outra atribuição, a de revistar embarcações suspeitas, está consagrada nas leis do mar desde sempre. O governo agiu com prudência ao tratar das chamadas missões subsidiárias das Forças Armadas, principalmente as relativas à manutenção da lei e da ordem. Às tarefas já consagradas não se acrescentou nenhuma e, às existentes, não se deu maior amplitude. Tinha razão o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Correa, ao advertir que seria uma temeridade conferir poder de polícia aos militares. “Não podemos confundir segurança externa com segurança interna”, disse. Essa não foi uma reação corporativa, mas uma manifestação de elementar bom senso. Farta literatura demonstra que, onde quer que os militares tenham exercido poder de polícia, as consequências foram desastrosas para a democracia e para as liberdades individuais. O que se fez foi dar aos militares respaldo legal explícito
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
ofereço, “a cada confronto entre quadrilhas do narcotráfico”, o emprego da Força Nacional de Segurança. No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, os investimentos da União em segurança já somam R$ 778,36 milhões, considerando o ano de 2007, quando o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) foi aprovado por unanimidade no Congresso Nacional, até a metade deste ano. 3) A política nacional contra drogas é coordenada pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, onde está a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad). 4) O Pronasci e a Senad firmaram parceria, com aporte de R$ 54 milhões na primeira etapa de ações integradas, em cinco regiões metropolitanas, para prevenção e
enfrentamento do uso de drogas. 5) Na repressão, a Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) têm atuado fortemente. Citando apenas uma droga, a PF apreendeu 19,7 toneladas de cocaína no ano passado. Este ano, até o momento, a cifra já chegou a 17,2 toneladas. A PRF apreendeu 14 toneladas de cocaína de 2006 até hoje. 6) O tráfico de drogas, atualmente, é uma atividade financeirizada e globalizada. Por isso o Ministério da Justiça atua em conjunto com vários outros países e com a Interpol para cortar os fluxos financeiros das quadrilhas internacionais. TARSO GENRO, ministro da Justiça vera.spolidoro@mj.gov.br
Brasília
N. da R. – De fato, trocamos o
nome do chefe da Secretaria Nacional de Segurança Pública. As demais observações não procedem. Rebatizado com o nome de “PAC da Segurança”, o Pronasci até hoje rendeu mais discursos e bolsas de estudo do que ações concretas em matéria de segurança da coletividade. E se a atuação do governo no combate ao narcotráfico fosse eficiente, como afirma o ministro Tarso Genro, ele não teria passado o constrangimento de saber, pela imprensa, em 29 de outubro, que equipamentos de última geração capazes de detectar armas e drogas em caminhões, ônibus e automóveis em rodovias, comprados pela Secretaria Nacional de Segurança Pública por R$ 90 milhões, para serem usados durante os Jogos Pan-Americanos de
as relações de imprensa como superiores bens jurídicos e natural forma de controle social sobre o poder do Estado, sobrevindo as demais relações como eventual responsabilização ou consequência do pleno gozo das primeiras.” Com efeito, a lei assegura aos ofendidos todos os canais para que reclamem, em juízo, pelos danos que julgam ter sofrido. Mas a posteriori, assegurando-se primeiro a livre e plena manifestação do pensamento, da criação e da informação. Qualquer coisa fora disso é o arbítrio. Acalentar a ilusão de que um poder de Estado – o Judiciário ou qualquer outro – possa substituir as redações independentes na decisão sobre o que deve ou não ser publicado é aninhar um projeto antidemocrático. Não cabe ao poder controlar a imprensa. Aliás, o que a democracia exige é justamente o oposto. “Ela, Constituição, destinou à imprensa o direito de controlar e revelar as coisas respeitantes à vida do Estado e da própria sociedade.” Nada mais precisa ser dito. É a mais alta Justiça quem assegura: a lei não é um freio, mas um esteio para a plena liberdade de imprensa.
“
Caetano, cuidado, o Cara pode te oferecer um Ministério!”
MiltonGandolpho gandolphomilton@uol.com.br Vinhedo
2007, até hoje permanecem encaixotados num galpão da Polícia Rodoviária do Rio de Janeiro.
‘Lulla’em branco O editorial As drogas e o mea culpa de Lula deixou a nu o despreparo de Lulla e seu (des)governo nesse campo. Em sua campanha eleitoral, ainda concorrendo ao primeiro mandato, Lulla tinha todas as respostas para o problema,
para o cumprimento dessas missões, na rotina das patrulhas nas fronteiras. Há muito os militares reclamavam a definição legal de sua competência e responsabilidade. O anteprojeto atende, de maneira razoável, à reivindicação. Assim, as missões estão claramente definidas no texto e os militares que, em consequência de ações de manutenção da lei e da ordem, forem processados, responderão à Justiça Militar. Pela lei ainda vigente, os militares ficam numa espécie de limbo jurídico. Por exemplo, os soldados que atuaram no Rio, em 1994 e 1995 e foram processa-
Lido com atenção o anteprojeto não sustenta as versões saídas na imprensa dos na Justiça comum, ficaram sem a proteção de suas Forças e têm de pagar seus advogados. Com a mudança, ficará claro a quem caberá o controle legal dos participantes das missões complementares. Essas mudanças, sem dúvida, darão a tranquilidade necessária para que os militares exerçam as suas atividades de patrulha e fiscalização nas fronteiras. Mas não são as mais importantes do anteprojeto. No texto, o que mais se destaca é o processo de subordinação dos militares ao que se convencionou chamar de poder civil. Os militares continuam subordinados ao presidente da República, mas agora com a intermediação do ministro da Defesa, no que se refere ao controle operacional da tropa, ao sistema de promoção de oficiais e
à designação dos comandos de unidades. Trata-se de um avanço natural, no longo processo de amadurecimento e consolidação do Ministério da Defesa. Quando ele foi criado, em 1999, previa-se a sua evolução por etapas. O que não se esperava é que demorasse uma década até que o governo decidisse ser este o momento de ampliar a autoridade do ministro da Defesa, criando ao mesmo tempo o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, uma medida imprescindível para que as Forças Armadas, no futuro, possam atuar integradamente e não, como ocorre hoje, cada Força por si ou, no máximo, em exercícios combinados. Outra medida positiva do anteprojeto é a que determina que o orçamento das Forças será elaborado em conjunto com o Ministério da Defesa, que o consolidará, definindo prioridades. Da mesma forma que o anteprojeto não atribuiu poder de polícia às Forças Armadas, ele não cuida dos mirabolantes planos de reequipamento descritos em matérias publicadas pelo Estado. São coisas distintas. O projeto deve ser apreciado logo pelo Congresso e trata da estrutura do Ministério da Defesa. Já o reequipamento está no terreno dos planos e, por mais necessário que seja, depende de disponibilidades orçamentárias que não existem a curto e a médio prazos. Afinal, não custa nada ao Tesouro o anúncio da futura compra de uma esquadra capitaneada por portaaviões e navios-escola, ou a criação de oito brigadas. Somados os planos quinquenais e decenais anunciados pela imprensa, o Brasil teria as maiores e mais poderosas Forças Armadas do planeta.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
mas hoje o que se vê é a explosão do consumo de drogas. Quanto a Lulla, está aí um homem perdido, tão sem noção que não vê mal em fazer propaganda de cachaça – bebida alcoólica cujos malefícios dispensam considerações –, passando em branco, sem maiores aspirações e sem meter o nariz quando o assunto é o narcotráfico, transferindo o problema para seu sucessor. E o pior: seu Ministério da Justiça ainda quer “livrar a cara” dos chamados pequenos traficantes, sinalizando amaciar com esses transgressores da lei, motivando, assim, o “movimento” que vê subir suas ações na Bolsa da Impunidade, reduzidas a pó as intenções iniciais do governo de lhe dar efetivo combate. Há semanas, num evento na Bolívia, notório produtor de cocaí-
na, Lulla, junto ao seu “companheiro” Evo Morales (ex-cocaleiro), usou um simbólico colar feito com folhas de coca, das quais se extrai a cocaína que envenena nossa juventude. Nosso presidente é tão “sem noção” que parece não enxergar a força simbólica de alguns de seus atos – como aquele de pôr na cabeça o boné do MST. No caso da Bolívia, seu gesto evidenciou a falta de norte a contrastar com a proficiência exibida pelo crime organizado, que já tem “soberania” em vastas áreas dominadas pelos “comandos”. Como em outros temas importantes, também nesse a administração Lulla está mais perdida que bala de grosso calibre em morro do Rio. SILVIO NATAL silvionatal49@yahoo.com.br
São Paulo
A10 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 11 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 103 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
SIP vê deterioração das liberdades Segundo relatório apresentado ao fim do encontro, Chávez tem como meta a ‘hegemonia comunicacional’ CÉZARO DE LUCA/EFE
Ariel Palacios CORRESPONDENTE BUENOS AIRES
A 66ª Assembleia-Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) foi encerradaontemcomumalertasobrea “deterioração das liberdades” na América Latina. A SIP, que reuniu mais de 500 editores de jornais das Américas ao longo de cinco dias em Buenos Aires, apresentou relatório anual no qual aponta “ação coordenada de governosparacontrolaraimprensa”, além da atitude, por parte de altos dirigentes de “submeterosmeiosdecomunicação ao desprestígio”. Destacaainda“umavançoforadonormaldaviolênciacontra os jornalistas” na região. Segundo a SIP, a América Latina está sendo assolada pela “proliferação de mecanismos legislativos e arbitrárias decisões judiciárias” que emum“ambientededebilitamento da democracia servem para assediar” os jornalistas e as empresasde mídia. O relatório condena a prisão de 27 jornalistas em Cuba, que receberam penas de 1 a 28 anos de detenção, por tentar exercer a liberdade de expressão no país. Exige sua “liberação incondicional”eofimdas“açõesrepressivas”contrablogueirosindependentes na ilha. A SIP também ressaltou preocupação pelo assassinato de 16 jornalistas nos últimos oito meses – metade no México. E pediu “maior empenho na investigação” dos crimes. CHÁVEZ
A entidade indicou que o governodeHugoChávez,daVenezuela, vem “exportando ideologia” para outros países daregião,quetambémcomeçamaaplicardurotratamentoàmídiaindependente.Avalia que “não é coincidência que diversos governos estejamunidos”napolíticaaplicada por Chávez, que propôs “uma lei de delitos midiáticos” e fechou 34 estações de rádio. Segundo o relatório, o presidente venezuelano “avança na imposição de um governo antidemocrático” e tem como meta a “hegemonia comunicacional”. A SIP indica que a tendência de interferência na liberdade de imprensa repete-se de forma ostensiva no Equador, ondeo presidenteRafael Correa pretende implementar a Lei de Comunicação, que implicará restrições à ação da mídia. É o caso também da Argentina, em que o governodapresidenteCristinaKirchneraprovourecentemente a polêmica Lei de Mídia, “no marco de uma inédita campanha de hostilidades contraosmeiosdecomunicação independentes”. Alémdisso,aentidadealerta para riscos de cerceamento da liberdade de expressão emoutrospaísesporintermédiode leis queforam recentemente propostas, como Colômbia, Chile e Uruguai. A SIP também indicou que o Brasil “está organizando umaconferêncianacionalsobre mídia que poderia derivar na criação de medidas de controle da imprensa”. ●
TROCA DE COMANDO – O novo presidente da SIP, Alejandro Aguirre, recebe de seu antecessor no cargo, Enrique Santos Calderón, um cetro que simboliza o comando da entidade
Resolução cobra fim da censura ao ‘Estado’ SIP pede a presidentes do STF e STJ ‘ação imediata’ para restabelecer liberdade de imprensa BUENOS AIRES
AAssembleia-GeraldaSociedade Interamericana de Imprensa(SIP) criticouontem a censura aplicada ao Estado há 103 dias,medidaqueimpedeapublicação de detalhes de investigação da Polícia Federal que envolveFernando Sarney, filho do presidentedoSenado,JoséSarney (PMDB-AP). Durante sua reunião na capital argentina, concluída ontem, a SIP resolveu solicitar aos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunalde Justiça (STJ),além de outras autoridades do Poder Judiciário, “a interferência e ação imediatas para acelerar o processo de restabelecimento da plena liberdade de imprensa no país”. A entidade destacou que a Constituição brasileira “clara e definitivamente” inibe a imposição de censura prévia aos veículos de comunicação. A Assembleia-Geral da SIP tambémtomoua decisãodemanifestar ao grupo de comunicação da família Sarney “sua decepção diante do constrangimento a que submeteu o jornal O Estado de S. Paulo e seus diversos veículos de comunicação por meio de um processo e de mecanismos, no mínimo, repletode contradições e de violações aos direitos de informar e deserinformados, pilaresdoregime democrático, outrora tão defendidos por aquela família”. OsrepresentantesdaSIPressaltaram que as reportagens e informações que o Estado vi-
Entidade apoia término da obrigatoriedade do diploma BUENOS AIRES
Uma das resoluções aprovadas ontem pela Sociedade Interamericanade Imprensa(SIP)pede aos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados no Brasil que seja preservado o entendimento de que o diploma de jornalistanãodeveserobrigatóriopara oexercícioda profissão
– conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal. ASIPobservaque hápropostas tramitando no Congresso Nacionalcomoobjetivo dereintroduzir a exigência do diploma. Também cita projeto no Equador que “estabelece, entre outros mecanismos de controle dos meios, a obrigação de diploma universitário para os jorna-
ÍNTEGRA DA RESOLUÇÃO ● Considerando que o Brasil convive, há mais de três meses, com um caso de censura judicial imposta ao jornal O Estado de S. Paulo, sob a alegação de que o segredo de justiça, em ação que apura supostas irregularidades praticadas pelo empresário Fernando Sarney, alcança as informações, obtidas de forma legítima pelo jornal relacionadas às investigações da operação Faktor, da Polícia Federal, e que a decisão o impede, desde 31 de julho, de publicar reportagens sobre o assunto
● Considerando que as reportagens e informações das investigações que O Estado de S. Paulo vinha publicando baseavam-se em gravações, obtidas de forma legítima, pelo jornal de conversas telefônicas entre o referido empresário e diversas pessoas, entre as quais seu pai, José Sarney, ex-presidente da República e atual presidente do Senado Federal, cuja família, entre outros negócios, controla um grupo de comunicação que inclui jornal, rádio e televisão
novo pedido de suspeição e, em 15 de setembro, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal declarou Vieira suspeito para decidir sobre o pedido de censura, e indicou para o seu lugar como relator, o desembargador Lecir Manoel da Luz ● Considerando que, apesar disso, a decisão original, que estabelecia a censura prévia foi incompreensivelmente mantida
● Considerando que o princípio 10 da Declaração de Chapultepec estabelece que "nenhum meio de comunicação ou jornalista deve ser sancionado por difundir a verdade, criticar ou fazer denúncias contra o poder público"
● Considerando que mesmo assim, o desembargador se declarou competente para julgar o processo e fez, na oportunidade, comentários críticos ao jornal, o Grupo Estado ingressou, com
● Considerando que, em 21 de outubro, ao julgar novo recurso do jornal, a 5ª Turma do Tribunal de Justiça do Distrito Federal confirmou sua decisão de 30 de setembro, mantendo a censura imposta
● A assembleia da SIP resolve: solicitar aos presidentes do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, e demais autoridades competentes do Poder Judiciário, a interferência e ação imediatas para acelerar o processo de restabelecimento da plena liberdade de imprensa no País, cuja Constituição Federal tão clara e definitivamente inibe a imposição de censura prévia aos veículos de comunicação manifestar ao grupo de comunicação da família Sarney a sua decepção diante do constrangimento a que submeteu o jornal O Estado de S. Paulo e os seus diversos veículos de comunicação, por meio de um processo e mecanismos, no mínimo, repletos de contradições e de violações aos direitos de informar e de ser informados, pilares do regime democrático, outrora tão defendidos por aquela família.
nha publicando sobre o caso baseavam-seemgravaçõestelefônicas “obtidas de forma legítima pelo jornal”. Além disso, a entidade classificoude“incompreensível”adecisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal de manter a
censura apesar da remoção do desembargador Dácio Vieira do caso, por seus comentários críticos sobre o jornal. ASIPconsiderouainda “contraditória” a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que declarou-se incompe-
tente para julgar o caso, remetendo-o para a Justiça Federal doEstadodoMaranhão,aomesmo tempo em que mantinha a liminardodesembargadorVieira, confirmado a censura. A SIP destacou que a Declaração de Chapultepec – decálo-
go dos princípios de liberdade de imprensa na América Latina – estabelece que “nenhum meio de comunicação ou jornalista deve ser sancionado por difundir a verdade, criticar ou fazer denúnciascontra opoder público”. ●
listas e sua filiação a uma associação”. Outraresoluçãorelacionada ao Brasil enumera diversos casos de violência contra jornalistaseapontaaimpunidadecomo característicacomum.Aentidadecobraaparticipação da Polícia Federal na investigação de crimes contra profissionais da imprensa. A SIP cita, entre outros, o caso do jornalista ManoelLeal deOliveira,assassinadoemjaneirode1998,eexigequegovernodaBahiaindenizeainda neste ano a família da vítima. ●
Web é alvo por violação de propriedade intelectual
mudar isso”, diz Nehm. Em julho, empresas jornalísticas – principalmente da Europa – elaboraram a Declaração de Hamburgo para fundamentar a necessidade de proteger a propriedade intelectual na internet.Ainiciativacontacomorespaldo de jornais alemães e de diversos periódicos da Europa. O documento tem também o apoio do The Wall Street Journal, de Nova York, do portenho La Nación e do Estado. A Associação Nacional dos Jornais (ANJ)aderiu aomovimento durante a realização da Assembleia Geral da SIP. ●
● Considerando que a decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, proíbe ainda os demais veículos de comunicação do Grupo Estado - emissoras de rádio, televisão, agencia de notícias e internet - de utilizarem ou citarem informações sobre o caso publicadas por O Estado de S. Paulo, sob pena de, em caso de descumprimento, incorrerem em multa de R$ 150 mil para "cada ato de violação do presente comando judicial"
● Considerando que, em sua defesa, O Estado de S. Paulo protocolou recurso alegando, inclusive, conflito de interesses por parte do desembargador Vieira ("exceção de suspeição"), pelo fato de ser ex-funcionário do Senado, presidido por José Sarney, e evidências de que mantinha relações pessoais muito próximas com essa família
BUENOS AIRES
Editores que participaram da Assembleia Geral da SIP abriram espaço para os problemas que os jornais enfrentam com a internet,principalmenteosconflitos com as violações sobre a propriedadedeconteúdojornalístico reproduzido na web. De acordo com Florian
● Considerando que em 30 de setembro, em nova decisão contraditória, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal se autodeclarou incompetente para julgar o caso, remetendo-o à Justiça Federal no Estado do Maranhão, ao mesmo tempo em que mantinha a liminar do desembargador Vieira confirmando a censura
Nehm, diretor de Sustentabilidade e Management de Ideias daAxelSpringererepresentante do Conselho Europeu de Editores, sites como o Google colocam em suas páginas de notícias conteúdos elaborados por empresas jornalísticas, mas não compartilham os lucros obtidospela publicidadecom notícias reutilizadas. “Queremos
� Edição de
1h15
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
12 de novembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42394
Governo atribui apagĂŁo a raios; para especialistas, rede ĂŠ frĂĄgil Blecaute que afetou 18 Estados, o maior em 10 anos, mostra sistema vulnerĂĄvel a ‘efeito dominó’ EPITĂ CIO PESSOA/AE
OministroEdisonLobĂŁo(Minas e Energia) disse que raios e chuva forte em ItaberĂĄ (SP), onde fica uma subestaçãodeFurnas, sĂŁoa provĂĄvelcausado maior apagĂŁono PaĂs em dez anos. Para especialistas do Inpe, porĂŠm, a hipĂłtese ĂŠ remota – embora houvesse tempestade perto da linha de transmissĂŁo, nenhuma descarga elĂŠtrica foi detectada. O blecaute, que o ministroTarso Genro (Justiça)chamoude “microproblemaâ€?, atingiu 18 Estados por atĂŠ quatro horas na terça. Afetoumais pessoas do queo Ăşltimo grande incidente, em 1999.Paraespecialistas, ocaso expĂ´s a fragilidade de um sistemadependentedehidrelĂŠtricas e vulnerĂĄvel ao “efeito dominĂłâ€? – foram desligadas 15 linhas de transmissĂŁo. Mas eles destacaram que a rede mostrou maior agilidade para o restabelecimento da energia. â—? PĂ GS. C1 e C3 a C12
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â—?â—? ‘PARECIA TROVĂƒO’ – Manoel Perli Filho mostra a subestação de Furnas em ItaberĂĄ (SP), que teria sido
o ‘epicentro’ do apagĂŁo; o cerealista, que mora a 300 m dali, disse ter ouvido estrondo. â—? PĂ G. C1
Falta de ågua afeta 24% da população paulista
VaivĂŠm de versĂľes irrita Lula, que tira Dilma de cena
Ao menos 10 milhþes de pessoas no Estado de São Paulo (24% da população) sofreram desabastecimento de ågua em
As versĂľes desencontradas no governo para o apagĂŁo irritaram o presidente Lula. Pela manhĂŁ, ele mandou que os auxiliares nĂŁo dessem mais declaraçþes. O Planalto tentou confinar o problema ao MinistĂŠrio de Minas e Energia, blindando Dilma Rousseff, que ĂŠ apresentada como responsĂĄvel por uma “revoluçãoâ€? no sistema elĂŠtrico. JĂĄ o governador JosĂŠ Serra disse que esse sistema estĂĄ “vulnerĂĄvelâ€?. â—? PĂ G. C4
ANĂ LISES
razão do apagão. Só na Grande São Paulo foram 6,7 milhþes. A normalização Ê lenta, disse a Sabesp. � Pà G. C10 ANà LISES
Celso Ming
Como cegos em tiroteio
Os outros apagĂľes
Tanto o governo quanto a oposição se atrapalham ao tentar fazer uso eleitoral do apagão. � Pà G. A6
O Brasil ĂŠ hoje um repositĂłrio de apagĂľes que, no entanto, nĂŁo mobilizam a energia nacional. â—? PĂ G. B2 â—?â—?â—?
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Menino teve cirurgia adiada
Lavador pensou ser o culpado
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Banho quente, sĂł na favela
Luz acabou no meio do assalto
Dora Kramer
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HISTĂ“RIAS DE ESCURIDĂƒO
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Manga na carta
�� Fruta ganha espaço no cardåpio dos chefs. �
EVELSON DE FREITAS/AE
ESPORTES
Torcedor do Palmeiras lamenta 2 a 2 com Sport, no Palestra; time de Pernambuco caiu para a SĂŠrie B. â—? PĂ G. E1
EMPATE AMARGO –
CADERNO2 Formas de amor â—?â—? O
Mix Brasil celebra a partir de hoje o sexo entre iguais em 104 filmes.â—?
SaĂşde
Bronzeamento artificial ĂŠ vetado â—?â—? Anvisa proĂbe uso do equipamento, que causaria câncer. â—? PĂ G. A26
Internet
TelefĂ´nica perde clientes do Speedy â—?â—? Operadora deixa de ser a segunda maior da banda larga. â—? PĂ G. B18 7 8 9 10 11 12
NOTAS E INFORMAÇÕES
A imprensa sob fogo cerrado Para a Sociedade Interamericana de Imprensa, cenĂĄrio ĂŠ de “tendĂŞncia ao autoritarismoâ€? na AmĂŠrica Latina. â—? PĂ G. A3
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Sol aparece e faz calor; Ă tarde ocorrem pancadas de chuva.
Hoje: 128 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 32 â—? B. Economia: 20 â—? C. MetrĂłpole: 20 â—? D. Caderno2: 18 â—? E. Esportes: 4 â—? P. Paladar: 8 â—? Cl.Classificados: 26 (2.327 anĂşncios)
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 104 DIAS q PĂ G. A11
Glaucius Oliva ĂŠ o mais votado para reitor da USP
DĂłlar baixo faz indĂşstria comprar no exterior
SP vira alvo preferencial de sem-terra, indica pesquisa
O engenheiro Glaucius Oliva foio mais votado nas eleiçþes para reitor da USP, mas não obteve maioria dos votos. A lista que serå entregue a JosÊ Serra terå ainda João Grandino Rodas e Armando Corbani. � Pà G. A23
Indústrias brasileiras estão recorrendo a fornecedores estrangeiros de matÊriasprimas e peças graças à desvalorização do dólar. A diferença de preço chega a 20% entre os produtos nacionais e os importados. � Pà G. B1
Pesquisa de grupo ligado Ă Unesp mostra que o nĂşmero de invasĂľes de terra no Estado de SĂŁo Paulo aumentou 88,8% no primeiro semestre de 2009 ante igual perĂodo de 2008. No mesmo intervalo, o PaĂs registrou queda de 46%. â—? PĂ G. A4
A2 ESPAÇO ABERTO
QUINTA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Populismo judicial
Leviatã
FábioTofic Simantob
DemétrioMagnoli
Num país onde está consagrada a máxima de que só pobre vai para a cadeia, é cada vez mais corrente ouvir das autoridades a promessa de solução do problema: começar a mandar para o xilindró alguns ricos também. Já que o sistema é injusto com alguns, melhor que seja com todos. Há nesse raciocínio um dissimulado desejo de vindita social que não se resolve na Justiça penal. Luta de classes resolvese com política socioeconômica, Justiça penal é outra coisa. Quem usa a tinta da caneta para reescrever a História do País, buscando consertar as injustiças sociais, além de pretensioso, é autoritário e não serve bem à função de juiz. O juiz reescreve apenas a história de um caso concreto e o faz balizado por princípios legais e constitucionais, que existem para que o homem ideológico não tome o lugar do juiz justo. Sem embargo, a demagogia corre o risco de tomar conta das varas especializadas em crimes financeiros. À míngua de soluções para os problemas
Combater o crime é função da polícia e do Ministério Público, não do juiz nacionais, as prisões espetaculosas de homens de negócios, ricos e famosos, funcionam como um analgésico para as feridas sociais. Há um outro problema. A História está repleta de exemplos do que pode acontecer quando um homem é escalado para combater problemas tão específicos. É o que advertia Myra y Lopes sobre o perigo de se juntar num único homem dois gigantes da alma: o dever e a ira. Há o risco de se criarem funções só para justificar o cargo. O especialista sempre enxerga o mundo pela ótica da especialização. O Direito deve cuidar para que o homem público não se apaixone pelo cargo e pela função que exerce, de modo que não mais consiga enxergar trabalho, mas apenas missões; não lê notícias, recebe atribuições; não trabalha, milita. Sintoma disso no Brasil é a notória disputa de casos entre as varas financeiras de diferentes Estados. O juiz militante não espera o caso, sai correndo atrás dele. Torquemada via hereges por todos os lados, McCarthy via comunistas até debaixo da própria sombra. Outro dia, um corretor terceirizado vendeu título de capitalização oferecendo ao cliente gato por lebre. Típico problema de má venda ao consumidor. Não deu outra: a diretoria inteira do banco acabou processada por crime financeiro. O caso chegou ao STJ, onde
os ministros da 6ª Turma deci- sua decisão, tampouco reveJornalismo se faz no calor da do “fim da História” anunciava diram que a vara obcecada por lar o conteúdo do voto. É cerhora; História, só depois que o “ponto final da evolução ideocrime financeiro não era com- to que se sente confortável paos eventos adormeceram no lógica da humanidade” e a “unira julgar de acordo com sua petente para julgar o caso. leito do passado. No ano louco versalização da democracia liUma vara da Justiça penal própria convicção, sem se de 1989, Timothy G. Ash con- beral ocidental”. Fukuyama coespecializada em processar ri- preocupar com o que vão diseguiu a façanha de juntar os metia um erro de diagnóstico. cos e famosos (uma Ilha de Ca- zer da sua decisão. Julga codois, no livro Nós, o Povo (Com- Hoje sabemos que também coras da Justiça brasileira) dificil- mo juiz, não como líder social. panhia das Letras, 1990). Es- meteu um erro de prognóstico. mente resiste à tentação do po- Desejo popular por desejo poO primeiro erro: o triunfo crevendo pouco antes da quepulismo judicial. Tão ou mais pular, como às vezes se preda do Muro de Berlim, ele tra- não foi do “capitalismo liberal”, grave do que se corromper pe- tende invocar na Justiça espeduziu o sentido mais amplo mas de um sistema mais comlas mãos do acusado é bandear- cializada financeira, melhor das revoluções que destruí- plexo, que denominarei “capitase para o lado da opinião públi- seria ouvir diretamente o polismo de mercado”. No modelo ram o “socialismo real”. ca, sobretudo quando ela é for- vo do que seus representan“Karl Marx jogou com a am- liberal clássico, o Estado cummada por uma massa descon- tes togados. É mais ou menos biguidade da expressão alemã pre apenas as funções de sentitente. O populismo judicial é o como escolher ser julgado peburgeliche Gesellschaft, que nela da soberania externa, da orque há de mais anacrônico na lo vagabundo de Tempos Motanto podia ser traduzida como dem interna e da santidade da Justiça. É a justiça à moda Pôn- dernos ou pela máquina que sociedade civil quanto como so- moeda. O capitalismo de mercacio Pilatos. Um juiz populista ele opera. A máquina vai tociedade burguesa. Marx (...) ni- do é algo bem diverso, que se deabre as porteiras da lei e deixa car sempre no mesmo diapavelou deliberadamente as duas senvolveu sob os signos da deentrar os acessos de ódio e pai- são, ao passo que o vagabun‘cidades’ da modernidade, os mocracia de massas e do Welfaxão que infectam e aniquilam o do, menos especializado, vai frutos da Revolução Industrial re State. Nos anos 1920, os gasjulgamento justo. A lógica que fazer a cada volta da engrenae Francesa, o burguês e o cida- tos públicos sociais nos EUA se deve evitar no julgamento gem uma nova descoberta. dão. (...) O que a maior parte não atingiam 5% do PIB. Hoje de crimes financeiros é mais Sem demanda, a máquina gidos movimentos de oposição por tais gastos superam a marca de ou menos a seguinte: se vive- ra em falso; o vagabundo vai toda a Europa central e grande 20% do PIB – e isso no país que mos num país onde só pobre buscar outros ares. Entre o júparte do povo que os apoia está é o ícone do “liberalismo”. Covai para a cadeia, o juiz que só ri incauto e o juiz especialista, realmente dizendo é: Sim, Marx mo colar o rótulo do liberalismo julga ricos deve aproveitar ca- melhor ficar com o primeiro, tem razão, as duas coisas estão sobre um sistema no qual os lida sentença para resolver essa que é quem normalmente esintimamente ligadas – e nós berais não se reconhecem? desigualdade; como o número tá mais disposto a ouvir, porA modernidade é o fruto queremos as duas! Direitos cide pobres presos ainda é astro- que está menos ensimesmado vis e direitos de propriedade, li- combinado dos princípios comnomicamente maior que o de ri- nas suas convicções pessoais. berdade econômica e liberdade plementares, mas contraditócos, um caso financeiro sem Falar e ouvir são até hoje as política, independência financei- rios, da liberdade e da igualdacondenação é uma enorme bai- ferramentas mais preciosas ra e independência intelectual, de. O capitalismo de mercado xa na luta para reduzir o abis- que o homem encontrou na arcada um desses termos apoia o foi gestado pela concorrência mo sociopunitivo. Resultado: a te de fazer justiça. outro. De maneira que, sim, que- entre o “partido dos liberais” e regra é condenar. Se os triburemos ser cidadãos, mas tam- o “partido dos social-democraSe o júri não for o melhor nais superiores depois anulam juiz para os crimes financeibém queremos ser de classe mé- tas”, que se alternam no poder a condenação por qualquer ra- ros, é certo que acabar com dia, no mesmo sentido que a nas democracias de massas. zão, viram o vilão da história; o as varas especializadas é um maioria dos cidadãos da meta- Sob o impacto do movimento juiz está de cara limpa, afinal, bom caminho para despersode mais afortunada da Europa operário, os direitos políticos “fez a sua parte”. universalizaram-se e inventaé de classe média.” nificar o combate ao crime e Combater o crime é impor- desmecanizar um pouco a A vaga de triunfalismo ram-se os direitos sociais. Tudo tante, mas a função é da polícia função de julgar o próximo. ● que se seguiu à queda do Mu- isso aconteceu do lado de cá da e do Ministério Público, jamais ro se exprimiu no discurso da Cortina de Ferro, pois do outro do juiz. O juiz que veste a farda Fábio Tofic Simantob, “Nova Ordem Mundial”, de lado da fronteira geopolítica o abandona a toga. O único para- advogado criminalista, é George H. Bush, e no quase si- sistema soviético proibiu os lelo que existe com as varas es- diretor do Instituto de multâneo, logo célebre, artigo partidos políticos e estatizou as pecializadas no combate ao cri- Defesa do Direito de Defesa de Francis Fukuyama. A tese organizações sindicais. me financeiro é o tribuA fusão do modelo libenal do júri, especializado ral com o programa soem crimes dolosos concial-democrata produziu tra a vida. Há uma pequeum sistema original, exna diferença: o juiz no júpresso diferenciadamenri é o povo, que se renova te nos países da Europa LOREDANO a cada julgamento. O poOcidental e da América vo não se senta no consedo Norte. No Manifesto lho de sentença para comComunista, Karl Marx bater o crime de homicíconcitou à revolução os dio (e há quem considere trabalhadores, que “nada o homicídio um crime têm a perder, exceto os mais grave do que o criseus grilhões”. O capitalisme financeiro), vai ao júri mo de mercado outorgou para julgar um semelhancidadania política e econôte, buscando compreenmica aos trabalhadores, der as circunstâncias do frustrando a conclamacrime, os motivos que leção revolucionária. Ele varam o réu a praticá-lo, triunfou em 1989 porque mas, antes de mais nada, não mais era “liberal” – e investigando e refletindo os trabalhadores tinham se há prova para afirmar um mundo a perder. a autoria e materialidade O segundo erro: a Hisdaquele crime. Se os hotória não terminou, pois o micídios acabarem, o juespectro do Leviatã se errado não ficará desapongue mais uma vez, sob a tado, ele não vive daquiforma do capitalismo de lo, tampouco sentirá falEstado, e desafia a hegeta da glória, porque nunmonia do capitalismo de ca a desfrutou. Ou almercado. A China do poguém se lembra de quem der burocrático de partifoi o jurado deste ou dado único é a expressão quele caso? mais insinuante do capitaO jurado, juiz leigo, Já vão logo botar a culpa no coitado lismo de Estado, mas o não precisa fundamentar modelo aparece nas dis-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES OPaísdeDilma A ministra candidata, cada vez mais empolgada, vocifera que o atual governo mudou o País e “dá de 400 a zero no anterior”. Ontem tivemos uma boa demonstração dessa mudança. Neste governo não há racionamento, acaba a luz e pronto. É assim que se faz, viu FHC, 400 a zero?! PAULO DE ATALIBA N. T. SAYÃO paulosayao@terra.com.br
São Paulo
Na campanha eleitoral nos espera um festival de mentiras. Pois que jogo é esse que Dilma alega ser 400 x 0? Será o PAC das estradas esburacadas, saúde precária, ensino e política externa nem se fala, Senado fazendo ●
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
ENDEREÇO
Apagão tudo na calada da noite, aposentados mendigando um direito de quem trabalhou uma vida, censura e ataques à única coisa que funciona, a imprensa? Ah, tem a Copa e a Olimpíada... Seriedade!
Não voto no PT, mas a ministra falou a verdade: FHC, em especial no segundo mandato, promoveu, sim, aumento da carga tributária e de juros, que quebrou milhares de empresas e empobreceu milhões de brasileiros. Sociologia não enche barriga de ninguém.
Como o PT se incomoda com FHC! Mas de nada vai adiantar, pois ele estará sempre em patamar superior ao dos que o atacam. Sempre acompanhei a vida política do País. Hoje, aos 88 anos de idade, vejo que os maus políticos se sobressaem cada vez mais, ainda que envolvidos em anunciados descalabros, em detrimento dos que trabalham com seriedade e honram o voto popular. Só uma oposição firme e patriótica conseguirá dar um basta ao delicado momento que atravessamos, inclusive de censura velada na nossa democracia, antes que seja tarde demais.
BASÍLIO JOSÉ BERNAL
JOSÉ ROBERTO PALMA palmapai@ig.com.br
São Paulo ●
FAX:
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
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● Será que nosso presidente também nos vai mandar usar lanternas durante a noite, seguindo o seu grande mestre Hugo Chávez?
São Paulo
CARLOS ANGELO FERRO
Olha o bolsa-lamparina aí, gente! A. FERNANDES
“Nunca antes neste país” vimos Itaipu completamente desligada!
carlosangelo@uol.com.br
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Mogi-Mirim
CLÉA M. CORRÊA
● Foi só Hugo Chávez querer entrar no Mercosul que já vamos ter de tomar banho de três minutos.
cleacorrea@uol.com.br
São Paulo
Pronto, agora Lula já tem um apagão para chamar de seu! ●
MARCELA BRAGATTO
Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@terra.com.br
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Odia 11petista O aparelhamento político do Ministério de Minas e Energia, que primeiro foi ocupado pela atual ministra candidata Dilma Rousseff e agora pela turma do senador-censura José Sarney, revelou na madrugada de 11/11 o que essa turma merece: ser apagada de vez da nossa História. ANDREA C. CARVALHO spdeiacarvalho@gmail.com
São Paulo
São Paulo
ANA CANDIDA NOVAES LIMA
bernal@roloflex.com.br
dione-mari@hotmail.com
ÂNGELO DE AGOSTINI
MÁRCIO ALEXANDRE DA SILVA
São Paulo
São Paulo
angedemari@gmail.com
marciobressane@hotmail.com
Campinas
Assis
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nar a oposição, que é figurada como representação do interesse estrangeiro. A vida política impregna-se de um ácido corrosivo, que consiste na identificação da voz dissonante com a quinta-coluna. Como a liberdade não pode ser fracionada, o capitalismo de Estado opera pela restrição tanto dos direitos econômicos quanto dos direitos políticos. Há pouco, nesta página, Fernando Henrique Cardoso ofereceu um esboço do bloco de poder organizado em torno do lulismo. No seu desenho, destacase o tripé constituído por um Estado esvaziado de sentido público, empresas estatais capturadas por uma máquina partidária e empresas semiprivadas geridas por alianças entre grandes empresários e fundos de pensão sob controle de sindicalistas. Eis aí o estágio embrionário de um capitalismo de Estado brasileiro. Nas eleições de 2006 Geraldo Alckmin foi desafiado a defender o capitalismo de mercado. Ele se fez de desentendido e, no lugar do confronto de ideias, ofereceu uma rendição sem combate ao discurso do capitalismo de Estado. Lula e sua candidata reeditarão o desafio em 2010. ●
gt-pena@uol.com.br
Alô, Lulla: desta vez o culpado pelo apagão será Judas?
São Paulo
Lulismo, o estágio embrionário de um capitalismo de Estado brasileiro
GUMERSINDO TREVISAN
Apagão do Enem. Apagão da CPI da Petrobrás. Apagão elétrico. O que nunca apaga é a esperança de um dia sermos levados a sério.
marcela_bragatto@yahoo.com.br
tintas roupagens da Rússia autoritária pós-comunista, da autocracia teocrática do Irã e do regime caudilhista da Venezuela de Hugo Chávez. Em torno desse projeto regressivo se rearticula uma esquerda nostálgica do “socialismo real”, mas despojada da bandeira da revolução. No capitalismo de mercado, uma nítida linha divisória separa as esferas da economia e da política. O capitalismo de Estado reúne as duas esferas, subordinando a elite econômica à elite política e fazendo uma classe privilegiada de grandes empresários orbitar em torno de um Estado que tudo pode. Nada há de verdadeiramente novo nisso: o Japão Meiji, a Itália fascista, a Alemanha nazista e a África do Sul do apartheid estão entre os precursores dos sistemas atuais de capitalismo estatal. Nacionalismo e autoritarismo são feições inerentes ao capitalismo de Estado. A elite política extrai sua legitimidade de um pacto imaginário com o destino grandioso da nação. A promessa de potência serve-lhe de ferramenta para calar ou elimi-
●
● Sempre há um dia em que a casa cai quando o apagão toma conta das mentes governamentais. LEILA E. LEITÃO
São Paulo ● Com todo o sistema elétrico de transmissão interligado, não existe um plano B para manobras de
QUINTA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Opinião
Conselho de Administração
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
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Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
A imprensa sob fogo cerrado
O
diagnóstico da 65ª AssembleiaGeral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) sobre as vicissitudes do jornalismo independente no hemisfério evidenciou um nexo inquietante entre o acúmulo de restrições – menos ou mais ostensivas, conforme o país – ao direito do público à informação e o que a entidade considera a “deterioração das liberdades” na América Latina. O cenário é de “tendência ao autoritarismo”, concluiu a SIP ao fim do evento que reuniu, em Buenos Aires, mais de 500 editores de jornais. Fundada em 1942, a organização é integrada por 1.300 periódicos das três Américas, cuja circulação alcança 50 milhões de exemplares diários. O cerceamento da imprensa, como parte dos mecanismos de controle social dos quais dependem a imposição e a sobrevivência de regimes autocráticos, tem sido disseminado pelo mais virulento deles, o do caudilho venezuelano Hugo Chávez – descontada, naturalmente, a esclerótica ditadura castrista em Cuba, onde a imprensa foi exterminada logo que Castro ingressou na órbita da União Soviética. No plano interno, a repressão à imprensa
livre se acentua a olhos vistos. Segundo o Instituto Imprensa e Sociedade (Ipys), sediado em Caracas, 2009 vem sendo o pior ano para a mídia desde a ascensão de Chávez, em 1999. Foram 107 ataques a jornalistas e meios de comunicação em 10 meses. Destes, 2/3 perpetrados por agentes ou aliados do governo – o que talvez ajude a explicar por que apenas 10% dos atos de violência são denunciados à Justiça. Além da proposta de uma lei de “delitos midiáticos”, ele tem no seu prontuário o fechamento de 34 emissoras de rádio e a ameaça de fazer o mesmo com outras 240. No plano regional, o seu principal produto ideológico de exportação é a ofensiva contra a imprensa, no marco da chamada “revolução bolivariana”. O termo é um eufemismo, mas as investidas são reais. A exemplo da Lei de Comunicação do governo Rafael Correa, no Equador, o assédio tem o claro propósito de intimidar e afinal asfixiar a imprensa independente, criando condições para o monopólio estatal de facto da informação. O chavismo e a propensão autoritária de governantes como os Kirchners na Argentina se
A politização do Enade
A
instrumentalização política da máquina administrativa federal não está poupando nem mesmo as áreas mais técnicas do setor educacional, como o sistema de avaliação do ensino superior. Das dez questões de conhecimentos gerais comuns às 27 carreiras profissionais avaliadas pelo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), que foi aplicado a mais de 1 milhão de estudantes no último domingo, pelo menos seis fazem propaganda do governo e tratam determinados problemas de forma a elogiar iniciativas do presidente Lula e a classificar como preconceituosos os veículos de comunicação que o criticam. Em quase todas essas questões, as respostas certas são as alternativas favoráveis ao governo ou as que se caracterizam pelo preconceito ideológico. Duas questões têm em seu enunciado elogios a uma campanha para a redução do consumo de sacolas plásticas, lançada em junho deste ano pelo Ministério do Meio Ambiente, e à criação do Índice Geral de Cursos pelo Ministério da Educação (MEC) para “orientar o público sobre a qualidade do ensino”. Uma terceira questão destaca, de forma subliminar, a importância do PAC, da exploração do petróleo encontrado na plataforma submarina e da concessão de incentivos fiscais à indústria automobilística, pelo governo, “para que o Brasil pudesse se livrar com maior rapidez da crise econômica”. Na pergunta sobre as “ações que não contribuem para a formação de uma sociedade leitora”, a alternativa corre-
ta é a que afirma que “a desaceleração da distribuição de livros didáticos para estudantes das escolas públicas, pelo MEC”, enriqueceria editoras e livreiros. Numa questão sobre eventuais manipulações de resultados das corridas de Fórmula 1 e a maneira como eles têm sido divulgados, todas as alternativas criticam os órgãos de comunicação. E a resposta correta é a que enfatiza a “negligência ou omissão dos profissionais na apuração real dos fatos”. A questão mais ilustrativa da instrumentalização do Enade é a que menciona as críticas feitas pela imprensa brasi-
Testes escolares não podem abrigar propaganda política induzida leira a Lula, em 2008, por ter afirmado que a crise financeira seria um tsunami nos EUA e uma simples “marolinha” no Brasil. O enunciado diz que a imprensa internacional confirmou a “previsão” do presidente e os alunos são orientados a considerar a “realidade atual da economia no Exterior e no Brasil” e julgar se houve por parte dos críticos de Lula “atitude preconceituosa”, “irresponsabilidade”, “livre exercício de crítica”, “manipulação política da mídia” ou “prejulgamento”. Ao justificar a pergunta, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes, afirmou que ela nem elogia nem critica o presidente Lula, pois a resposta correta seria “livre exercício de
coordenam para construir uma “arquitetura legal” destinada a debilitar a mídia, denunciou semana passada o então presidente da SIP, Enrique Santos Calderón (ele foi sucedido ao término da reunião de Buenos Aires por Alejandro Aguirre). No caso argentino, a recente Lei de Serviços Audiovisuais restringe drasticamente a atuação das empresas de comunicação do país. O vice-presidente da Argentina e presidente do Senado, Julio Cobos, que rompeu com Cristina Kirchner, prega a revisão da lei e o estabelecimento de “relações institucionais” entre o Estado e a imprensa a fim de preservar a liberdade de expressão – tudo que a presidente abomina. Para respaldar o garroteamento legal, a estratégia autoritária procura “submeter os meios de comunicação ao desprestígio”, denunciou a SIP no seu relatório anual, divulgado anteontem. O processo varia de país para país. Na Argentina, é política de governo. Na Bolívia, traduz-se nas agressões verbais do presidente Evo Morales a jornalistas e órgãos de informação. Mesmo no Brasil, onde o Executivo decer-
Barreira contra barreira
crítica”. Esta não é, contudo, a opinião de professores e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). “Parece um discurso de autodefesa de Lula, quase ufanístico. O presidente tinha razão, mas somos uma democracia e temos de tolerar as críticas. A pergunta é tendenciosa”, diz o professor Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília. “Está mais para relações públicas e propaganda do que para uma prova com o objetivo de verificar o conhecimento dos estudantes. A pergunta confirma a opinião do presidente, o que acho discutível. Não é um consenso que a crise tenha sido superada. Para quem perdeu o emprego, foi uma baita de uma crise”, afirma o jornalista Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Fenaj. Segundo o MEC, todas as perguntas da prova do Enade deste ano, que é obrigatório para os estudantes que concluem o ensino superior, foram produzidas por uma conceituada empresa de consultoria em recursos humanos, com base em diretrizes estabelecidas por sete professores escolhidos pelo Inep. Evidentemente, não existem fórmulas para se afastar o risco de politização ou ideologização de questões de conhecimento geral. Por isso, o MEC e o Inep deveriam ter tido mais cuidado para evitar perguntas que dessem margem a suspeitas de alinhamento político, culto à personalidade e proselitismo ideológico, que corroem a credibilidade dos mecanismos de avaliação de ensino.
O
governo brasileiro impôs mais uma barreira à importação de produtos argentinos, ao instituir licenças não automáticas para a compra de autopeças, um item especialmente importante no comércio bilateral. A nova restrição entrou em vigor na semana passada. Nessa segunda-feira, os ministros de Relações Exteriores dos dois países, Celso Amorim e Jorge Taiana, reuniram-se para preparar o encontro dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner marcado para dia 18. A imposição de mais um entrave burocrático à entrada de mercadorias argentinas também foi, obviamente, um ato preparatório da reunião presidencial. Tornou mais ostensiva a insatisfação brasileira em relação às condições do comércio bilateral, prejudicadas nos últimos 12 meses pelo aumento do protecionismo argentino. As medidas protecionistas haviam incluído barreiras contra autopeças produzidas no Brasil. A reação brasileira tornouse mais dura a partir do mês passado, quando foram adotadas licenças não automáticas para a importação de 15 classes de produtos, incluídos vinhos, trigo e frutas. Empresários e autoridades argentinas protestaram, acusando o governo brasileiro de agir sem aviso-prévio. O chanceler Taiana também mencionou esse ponto, mas essa não é a questão essencial. O problema importante, de fato, é outro. É preciso saber se governantes e empresários argentinos estão dispostos a levar a sério a integração
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
remanejamento, e sim um bando de incompetentes! MILTON BULACH mbulach@gmail.com
Campinas
PACdaenergia Pergunta à ministra e candidata petista: como as obras do PAC tratam a questão da energia? Corremos risco de falta ou racionamento? Aproveito para lembrá-la de que foi ministra de Minas e Energia, o que me faz pressupor que saiba tudo dessa área. MIREL GONÇALVES SOUZA mirelgsouza@yahoo.com.br
Santos
Oque apagouo Brasil? Acidente? Pode ser. Mas é preciso
que se faça luz urgente sobre esse acontecimento. O Brasil exige uma resposta e tem esse direito, porque anda pagando a conta da luz acima do valor devido desde 2002. O contribuinte vai pagar a conta da renovação do contrato com a Itaipu do Paraguai e nem sabe se será ressarcido pelos prejuízos gerado por este apagão.
Brasília endurece a política para preparar diálogo com Buenos Aires lho problema. Novidade, mesmo, é a decisão do governo brasileiro de responder às ações argentinas com a adoção de barreiras do mesmo tipo. Durante anos, o presidente Lula e os chefes da sua diplomacia preferiram ser tolerantes em relação ao protecionismo argentino. De fato, foram mais que tolerantes e aconselharam os empresários brasileiros a aceitar acordos de restrição “voluntária” de exportações. Esses acordos foram duplamente prejudiciais ao País. Diminuíram suas exportações e facilitaram a conquista de espaço no mercado argentino por indústrias de outros países, porque houve desvio de comércio. Isso já havia ocorrido há alguns anos, quando houve restrições a eletrodomésticos
Sobreomensalão mineiro
As declarações do ministro Tarso Genro sobre o apagão que deixou metade do Brasil sem luz soa como deboche. Dizer que foi um “microacidente”, um “problema insignificante”, é demais! JAYR LUCIANO
WILSON SCARPELLI
data@estadao.com.br
wiscar@estadao.com
São Paulo
Cotia
O editorial Processo necessário (9/11, A3) contém alguns equívocos. O inquérito apresentado pela Procuradoria-Geral da República apenas registra o recebimento de uma cópia xerox do que seria um “recibo” assinado por mim. Trata-se de um documento forjado, cujo original nunca apareceu (mesmo porque não existe), entregue à Polícia Federal pelo lobista Nilton Monteiro – pessoa já desmascarada pelo próprio Estadão. De tão falso – e aí reafirmo o que tenho dito –, esse papel não foi considerado como prova pelo procurador na denúncia (parte final) apresentada ao STF. Juridicamente, a defesa deve se ater ao que está na denúncia. E esse “documento” não faz parte da peça acusatória do Ministério Público. Rei-
“
Apagão, um momento bolivariano no Brasil”
RicardodaSilvaRego calibam2045@hotmail.com SãoPaulo
olhos dos outros é refresco.
leondinizdiniz@gmail.com
mapeli@uol.com.br
São Paulo
São Paulo ●
brasileiros. Desta vez, produtores de sapatos perderam espaço para concorrentes chineses. Nas duas ocasiões, o governo brasileiro só reagiu depois da divulgação, pela imprensa, de informações sobre o desvio de comércio. Nem o presidente Lula, apesar de sua disposição de tolerar desaforos de certos parceiros, poderia omitirse em situações como essas. Segundo Amorim, ele e seu colega argentino expuseram seus pontos de vista sobre o comércio bilateral, mas ainda é preciso aproximar as visões dos dois países. Em outras palavras: não se chegou a nenhum acordo relevante sobre como eliminar as distorções acumuladas no intercâmbio entre Brasil e Argentina. “O ideal”, disse Amorim, “é não precisar dessas licenças não automáticas de importação.” Ele está certo, em princípio, mas a questão é mais complicada. As licenças foram apenas mais um entrave imposto pelo governo argentino ao comércio bilateral. Muitos outros haviam sido adotados em anos anteriores. Além disso, nem os critérios para administração das licenças foram respeitados. Pelas normas da OMC, o licenciamento não pode tardar mais que 60 dias, mas a demora vinha sendo, em vários casos, muito maior. Esse tipo de política arruína o Mercosul, compromete as possibilidades de ação conjunta em negociações internacionais e, afinal, não serve sequer para fortalecer a indústria argentina, cada vez menos competitiva. Renunciando à política de panos quentes, talvez o presidente Lula consiga uma conversa produtiva com a companheira Kirchner.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
Quando o mensalão veio à tona, ficou claro que tudo começara em Minas Gerais, com o então governador Eduardo Azeredo. Para acobertá-lo o PSDB deixou o mensalão escoar pelo ralo, vergonhosamente poupando os seus culpados. Essa covarde omissão deu força aos infratores e por ela hoje pagamos todos. Vêse agora que, enquanto a covardia não adiantou nada e o ex-governador está exposto à Justiça, os infratores subiram degrau por degrau na escada das infrações, com a impunidade assegurada pelos covardes de rabo preso. Precisamos de uma oposição de verdade.
MAURÍCIO LIMA
O ministro Tarso Genro critica a oposição por querer explorar o apagão politicamente. Ué, essa história de apagão, o do governo FHC, não foi sempre uma das bandeiras eleitorais do PT? Fica cada vez mais claro que pimenta nos
comercial dos sócios do Mercosul e a cumprir as regras de que depende o bom funcionamento de uma zona de livre comércio. Há anos a resposta a essa pergunta vem sendo claramente negativa. A adoção de licenças não automáticas para a importação de produtos brasileiros, a partir do agravamento da crise internacional, apenas piorou um quadro já insatisfatório. Antes disso, exportadores brasileiros já estavam sujeitos a barreiras e a acordos de limitação “voluntária” de embarques. O protecionismo da Argentina, a maior parceira do Brasil no Mercosul, é um ve-
Chegadecovardia
LEON DINIZ
Pimenta
to não teria condições de amordaçar a mídia, o presidente Lula não perde oportunidade de promover o descrédito da imprensa, com o argumento de que o povo dispensa “formadores de opinião” – como se estes existissem apenas nas redações e não na própria sociedade. O problema da liberdade de informar, de todo modo, é outro no País. Em um ano, 16 decisões judiciais impuseram a censura a periódicos. Desde 31 de julho, este jornal está proibido de publicar reportagens com base nas investigações da Polícia Federal sobre o empresário Fernando Sarney, primogênito do presidente do Senado. A censura prévia, imposta por um desembargador relacionado com o político, foi considerada pela SIP “um vexame para a democracia brasileira”. A entidade dedicou ao assunto amplos trechos da sua resolução. Depois de historiar o caso, o documento solicitou ao Poder Judiciário “interferência e ação imediatas para acelerar o processo de restabelecimento da plena liberdade de imprensa no País” – o que já havia sido feito com a publicação do acórdão do ministro Ayres Britto, do STF, comentado em nosso editorial de ontem, Letra da Lei, letra da Liberdade.
tero que nunca houve “mensalão” em Minas Gerais. As questões financeiras da campanha de 1998 foram delegadas. Também não autorizei os patrocínios de que trata a denúncia. Além disso, os empréstimos bancários feitos por empresa de publicidade não tiveram meu conhecimento ou minha autorização e não contaram com minha assinatura ou meu aval. Essa é a verdade. Confio na posição isenta do STF. EDUARDO AZEREDO, senador (PSDB)
Brasília
N. da R. – Não é o que sustenta o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, que aceitou o pedido de abertura de processo contra o senador, de acordo com a denúncia do procurador-geral da República.
A10 NACIONAL
QUINTA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 104 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura insidiosa, sob aparência legal’ Para Batochio, a medida era clara durante a ditadura e havia como reagir, o que é mais difícil nos tempos atuais ALEX SILVA/AE-30/9/2005
Moacir Assunção
Para o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) José Roberto Batochio, a liberdade de imprensa é um conceito absoluto. Advogado criminalista e ex-deputado pelo PDT de São Paulo, Batochio defende a tese de que a responsabilização por eventuais abusos na mídia deve ser a posteriori – a exemplo da jurisprudência americana sobre o assunto. Em sua avaliação, é exatamente o contrário do que ocorre com o Estado desde 31 de julho, submetido a censura prévia por determinação do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). “A liberdade de imprensa é o mais fundamental e inalienável de todos os pilares da democracia e qualquer interpretação do texto legal, por mais torto que seja, para restringir esse direito é inconstitucional”, afirmou. AsegundaemendadaConstituiçãodosEUAvetaexpressamentea censura,ao deixar claro que o Congresso é proibido de criar leis que inibam a liberdade. Assim, de acordo com Batochio, abusos devem ser punidos depois que a reportagem é publicada e não antes, o que configura censura prévia. “O Esta-
Cai condenação de Kfouri por crítica a chefe da CBF O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), concluiu em decisão tomada ontem que a imprensa tem o direito de criticar, ainda mais figuras públicas. Ele anulou uma condenação a pagamento de indenização que tinha sido imposta ao jornalista Juca Kfouri por ter criticado o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, em texto publicado no jornal Lance em 1999. Em seu despacho, o ministro afirmou que num regime democrático é intolerável a repressão ao pensamento. “Ninguém ignora que, no contexto de uma sociedade fundada em bases democráticas, mostra-se intolerável a repressão estatal ao pensamento, ainda mais quando a crítica – por mais dura que seja – revele-se inspirada pelo interesse coletivo
e decorra da prática legítima, como sucede na espécie, de uma liberdade pública de extração eminentemente constitucional.” Para Celso de Mello, Kfouri exerceu a liberdade de expressão, prevista na Constituição Federal, que garante aos profissionais da imprensa o direito de fazer crítica, ainda que desfavorável e contundente, contra quaisquer pessoas e autoridades. “Não se pode desconhecer que a liberdade de imprensa, enquanto projeção da liberdade de manifestação de pensamento e de comunicação, reveste-se de conteúdo abrangente, por compreender, dentre outras prerrogativas relevantes que lhe são inerentes: (a) o direito de informar, (b) o direito de buscar a informação, (c) o direito de opinar e (d) o direito de criticar”, disse.
Segundo o ministro, o Estado não pode fazer controle das palavras e ideias manifestadas pelos profissionais da imprensa. “O Estado – inclusive o Judiciário – não dispõe de poder algum sobre a palavra, sobre as ideias e sobre as convicções manifestadas pelos profissionais dos meios de comunicação social”, afirmou Celso de Mello. No texto contestado na Justiça, Kfouri fez um comentário sobre entrevista concedida na época por Ricardo Teixeira à revista Playboy: “O jornalista Carlos Maranhão fez quase todas as perguntas que devia ao presidente da CBF na entrevista da Playboy deste mês. E, como sempre, o cartola respondeu sem nenhuma preocupação com a ética ou com a verdade.” ●
que não conhece nenhum paralelo atual de mordaça nas nações democráticas do mundo. “Isso seria impensável.”
raregular aatividadejornalística, observa o advogado, acabaram resultando em restrições. “É por isso que defendo a liberdade total, com responsabilização civil e criminal posterior. Mesmo que se cometam abu-
sos, esse é um risco que temos decorrer,paragarantirasobrevivência da democracia.” Na avaliação de Batochio, a censura vivida pelo Estado, a partir de uma decisão judicial, tem um componente curioso
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BATOCHIO – Jornal sofre agressão
FRASE
José Roberto Batochio Ex-presidente da OAB “A liberdade de imprensa é o mais fundamental e inalienável de todos os pilares da democracia e qualquer interpretação do texto legal, por mais torto que seja, para restringir esse direito é inconstitucional”
do está sofrendo uma agressão comessadecisão.Não hádemocracia digna dessa acepção que possa conviver com a censura, absolutamente inaceitável sob qualquer ponto de vista.” O expresidente da OAB ressaltou
RESTRIÇÕES
Todas as tentativas estatais pa-
MARIÂNGELA GALLUCCI
em relação ao que ocorria nos tempos do regime militar. No tempo da ditadura, lembra ele, oscensoresinstaladosnasredações tinham nome e sobrenome e, até, mesmo cor. “Era verdeoliva.” Hoje a mordaça adquire um aspecto que ele qualifica de “insidioso”. “Ela é mais sutil e chega até a se escudar em uma aparente legalidade para praticar suas ações. Naquele período, conhecíamos o inimigo e tínhamos como reagir, o que é mais difícil hoje”, comparou. Batochio disse que, em momentos de sua trajetória como parlamentar, se sentiu injustiçado pela imprensa, mas nem por isso recorreu a tentativas de amordaçar jornais. “O comportamento abusivo, claro, não é a regra, mas a exceção. Assim, seria um absurdo imaginarqueum abusoeventuallevariaàproibiçãodeumdireitofundamental a toda a sociedade.” O empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP),foi oresponsável pelopedido de censura ao Estado. O jornal foi proibido de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que indiciou Fernando por vários crimes. ●
SATIAGRAHA
Ministério Público livra Abin Não houve crime na parceria entre a Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para a Operação Satiagraha. A conclusão é da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal que confirmou arquivamento do inquérito policial aberto para apurar supostas irregularidades nacessãodeservidoresecolaboração de arapongas da Abin no cerco ao banqueiro DanielDantas,doOpportunity.Emseuvoto,osubprocurador-geral da República Wagner Gonçalves assinalou que osagentesdeinteligêncianão praticaram atos de gestão ou decisão, mas efetuaram atividades de pesquisa, vigilância, seleção e degravação de ligações interceptadas. Gonçalves destacou que as medidas cautelares – buscas e interceptações autorizadasjudicialmente–,nãoforam solicitadas pela Abin, mas pela PF ou pelo Ministério Público, e seu cumprimento executado pelos policiais. Os agentes da Abin, anotou Gonçalves, foram cedidos como meros “coadjuvantes, em questões pontuais e determinadas, muitos desconhecendo o objetivo maior da operação”. A decisão da 2ª Câmara fulmina pedido do juiz federal Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal de São Paulo, que queria a investigação e não aceitou o arquivamento requerido pela procuradoria. Gonçalves observou que “no sistema acusatório é vedada a participação do magistrado na fase pré-processual, ressalvadashipótesesdemedidas cautelares”. Segundo ele,“quandodaanálise dopedido de arquivamento, deve ojuiz,quandodiscordar, fundamentar suas razões com extremacautela,sob penade inversão de papéis e falta de imparcialidade”. Em 19 páginas, o subprocurador-geral identificou “excesso de linguagem do juiz” ao rejeitar o arquivamento do inquérito. “O juiz não pode obrigar o Ministério Público a fazer uma acusação, nem pode se sentir ofendido caso ele não a faça”. Mazloum não se manifestou sobreoparecerpeloarquivamento. ● FAUSTO MACEDO
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Desmatamento na Amazônia cai 46%
ED FERREIRA/AE
Após falha, Itaipu é posta sob investigação DILMA – ‘Não controlamos
chuvas, raios e ventos’
Os órgãos de regulação e planejamento do setor de energia vão investigar Itaipu. O objetivo é saber se, na noite do apagão, a hidrelétrica operava a
plena carga, o que pode ter sobrecarregado as linhas de transmissão. Nesse caso, elas podem ter ficado vulneráveis a tempestades. ● PÁG. C4
BAIXADA FLUMINENSE: CALAMIDADE PÚBLICA FABIO MOTTA/AE
Índice é o menor em 21 anos, mas ritmo de queda não deve se manter O Brasil teve entre agosto de 2008 e julho de 2009 o menor índice de desmatamento na Amazônianos últimos21 anos: 7.008km²,segundodadospreliminares do Inpe. Em relação ao período 2007-2008, a queda foi de 45,7%. Os números foram mostrados ontem em umacerimôniafestiva comandadapelopresidenteLulaepela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Para o Inpe, não há como manter esse ritmo no próximo período. ● PÁG. A14
ANÁLISE
Herton Escobar
Devemos bater palmas? No Brasil, infelizmente, é certo bater palmas para a destruição de 7 mil km² da mais importante floresta tropical do mundo. Mas palmas para quem? ● PÁG. A14
STF suspende pela 3ª vez o caso Battisti
JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/AE
Crime
Cães eram abatidos para restaurantes ●● Polícia
fecha abatedouro em Suzano; freezer tinha 60 quilos de carne. ● PÁG. C10
Futebol
No Brasileiro, mais um juiz é afastado
to de entidade que usa a cabala em trabalho com jovens carentes. ● PÁG. C14 ●●●
CADERNO 2 Guia
7 8 9 10 11 12
● PÁG. B7
O jurista João Grandino Rodas é o novo reitor da USP. Ele havia ficado em segundo nas eleições de anteontem, atrás do cientista Glaucius Oliva, mas era o preferido de José Serra. Foi a primeira vez desde o regime militar que um governador não escolheu o primeiro da lista tríplice para reitor. ● PÁG. A15
Madonna e os carentes
O compositor Villa-Lobos é pop e dois novos discos celebram a vitalidade de sua música sofisticada. ● PÁG. D6
O País decola, diz ‘The Economist’
Serra escolhe o 2º da lista para reitor da USP
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VISITA - Madonna na Casa do Saber: fãs descobrem roteiro
●● Nelson Motta
Por problemas de gestão, o governo Lula deixou de investir R$20bilhõesprevistosnoOrçamentoparaexpandiremodernizar a infraestrutura brasileira, informa a repórter Renée Pereira. Entre 2004 e 2008, foram reservados R$ 72 bilhões para os Ministérios de Minas e Energia,Transportes, Comunicações, Integração Nacional e Cidades, mas só R$ 52 bilhões foram gastos. ● PÁG. B1
O Supremo Tribunal Federal suspendeude novoa decisão sobre a extradição do ex-ativista italiano Cesare Battisti, quando o placar estava em 4 a 4. O presidente do STF, Gilmar Mendes,únicoqueaindanãovotou, interrompeu a sessão porque vários ministros já haviam ido embora. ● PÁG. A4
CELEBRIDADE
A cantora Madonna foi à Casado Saber,emSãoPaulo, onde participou de even-
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Governo Lula deixa de gastar R$ 20 bi em infraestrutura
Ministra afasta, porém, risco de racionamento, como ocorreu no governo FHC “O que nós prometemos é que não terá neste País mais racionamento. Racionamento é barbeiragem”, atacou a ministra, em referência ao governo FHC e às críticas da oposição. A ministra “lamentou” os transtornoscausadospelo apagão,reconhecendo que o episódio foi “muito desagradável”. Mas disse que não se pode “tentar apresentar ao País uma fragilidade que não existe”. ● PÁGS. C1 e C3 a C8
(1891-1927)
13 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42395
Dilma admite que Brasil não está livre de novos apagões A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) reapareceu ontem, 40 horasdepoisdoapagão,paracomentar o problema. E a presidenciável petista admitiu que o País pode voltar a sofrer cortes de energia: “Nós não estamos livres de blecautes”. Ela negou que o governo tenha prometido que não haveria mais apagões, embora, no dia 29 de outubro, Dilma houvesse afirmado que o Brasil estava livre do problema.
JULIO MESQUITA
●● Woody total
Os 40 filmes de Woody Allen estão em mostra no CCBB. Críticos elegem os favoritos e os nem tanto. ●
Em Duque de Caxias (RJ), moradora é resgatada após chuva que matou 3 pessoas ● PÁG. C10
NOTAS E INFORMAÇÕES
Duplo apagão em Brasília O apagão de competência do governo e de integridade da oposição é deplorável. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
29º
MÁX.
● PÁG. C2
20º
MÍN.
Sol aparece e faz calor, mas ocorrem pancadas de chuva.
Hoje: 196 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 14 ● D. Caderno2: 16 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 4 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 4 (145 anúncios)
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 105 DIAS q PÁG. A9
●● Elmo Resende validou gol polêmico do Palmeiras contra o Sport. ● PÁG. E2
Telefonia
Dell vai vender celulares no Brasil ●● Fabricantedecomputadores entra no mercado também pela China. ● PÁG. B12
SEXTA-FEIRA, 13 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 105 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
NACIONAL NACIONAL A9 A9
MÍDIA
‘Sociedade teve tolhido direito de se informar’
Entidades pedem isonomia na internet
Amâncio, da ONG Educa São Paulo, também critica ‘enorme silêncio’ sobre censura ao ‘Estado’ de entidades antes combativas, como a UNE
ANJ e Abert querem limitação de capital estrangeiro em portais
PAULO LIEBERT/AE–28/6/2008
Moacir Assunção
Daniel Bramatti
Para o presidente da organização não-governamental Educa São Paulo, Devanir Amâncio, a censura ao Estado demonstra que há “um enorme silêncio” no País em relação às questões que incomodam o poder, ao mesmo tempo que se promove uma tentativa de desqualificação da imprensa. “É lamentável esta censura porque demonstra que as nossas mais aguerridas entidades, que sempre questionaram o governo, nem de longe representam o que já foram um dia, em uma demonstração de que foram cooptadas pelas benesses do poder ”, disse. Responsável pela ONG, que lutapelainserçãoculturaldepopulações marginalizadas como indígenas e garis, Amâncio afirmou que a mordaça pode, a partir desse caso concreto, ser usada por qualquer outra autoridade que se considere perseguida pelos órgãos de comunicação. “Hoje,foioEstadão,amanhãpode ser a Folha de S. Paulo e depois a Globo. Sabemos que, no Brasil, a Justiça é muito rápida para os poderosos e lenta para os que mais necessitam dela e daí para conseguir liminares contra jornais é um pulo e isso pode se espalhar.” Amordaça,emsuavisão,prejudica principalmente os cidadãos. “Toda a sociedade teve tolhido o seu sagrado direito de se informar, até para formar juízo
A Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Brasileira de Internet (Abranet) deram nesta semana os primeiros passos de um movimento para exigir restrições ao capital estrangeiro em empresas produtoras de conteúdo jornalístico na internet. A Constituição limita em 30% a participação do capital estrangeiro em empresas jornalísticas. Mas, como a norma legal foi feita antes da explosão da internet no País, os chamados portais da web – alguns com capital majoritariamente de fora – atuam em um vácuo jurídico. Em audiência pública na Comissão de Ciência e TecnologiadaCâmaradosDeputados,naquarta-feira,representantesdeempresasjornalísticas nacionais cobraram regras iguais para todos os que atuam no setor. “Empresas totalmente estrangeiras tem produzido jornalismo no Brasil”, disse ao Estado o diretor executivo da ANJ, Ricardo Pedreira. “Ao fazer jornalismo, essas empresas desrespeitam a Constituição.É preciso que o governo ou o Congresso promovam uma regulamentação sobre o tema.”
MORDAÇA – ‘A censura envergonha o Brasil diante das nações desenvolvidas’, lamenta Devanir Amâncio
sobre algum tema. Se não tiver informação,comovaiseposicionar?” Para ele, em termos institucionais, isso é também ruim paraoPaís.“Acensuraenvergonha o Brasil diante das nações desenvolvidas, nas quais vigora a democracia e onde ninguém pensaemcensuraraimprensa.” INTIMIDAÇÃO
Segundo ele, além da truculência, a censura é uma tentativa
de intimidação. “Se eu proíbo uma pessoa de falar, de se expressar, na verdade estou coagindo toda a sociedade”, disse. Nesse cenário, Amâncio vê o que chama de mais completa inatividade de entidades com a União Nacional dos Estudantes (UNE), muito combativa em outras épocas. “Recentemente, a UNE promoveu a peruada pelo centrodacidadee haviaum cartaz contra o senador José Sar-
Lima Cultural e Gastronômica 3 noites Mistérios de Machu Picchu 5 noites
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Entrada R$ 278,................................................+ 9x R$ ,55 Voando LAN. Saídas diárias. Inclui passagem aérea, traslados, hospedagem com café da manhã e assistência de viagem. Passeio pela cidade de Lima, com visita aos museus Larco e de Arqueologia e Antropologia. 1 jantar no restaurante Junius com show e 1 no Rosa Náutica. À vista R$ 1.390, Base US$ 788, Preço para saídas até 1O/dezembro.
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Machu Picchu e Valle Sagrado 5 noites
Linhas de Nazca e Machu Picchu 7 noites
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Entrada R$ 482, .............................................. + 9x R$ ,22 Voando LAN. Saídas diárias. Inclui passagem aérea, traslados, hospedagem com café da manhã e assistência de viagem. 1 em Lima, 3 em Cuzco e 1 no Valle Sagrado. Passeios em Lima, Cuzco, Valle Sagrado e visita à feira artesanal de Pisac com almoço. Trem Vistadome Valle Sagrado/Águas Calientes/Cuzco com passeio e almoço em Machu Picchu. À vista R$ 2.410, Base US$ 1.368, Preço para saídas até 1O/dezembro.
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Entrada R$ 587,............................................... + 9x R$ ,88 Voando LAN. Saídas diárias. Inclui passagem aérea, traslados, hospedagem com café da manhã e assistência de viagem, 2 noites em Lima, 1 em Nazca, 1 em Paracas e 3 em Cuzco. Passeios em Lima e Cuzco. Passeio em monomotor sobrevoando as Linhas de Nazca e de barco até as Ilhas Ballestras em Paracas, trem Vistadome Cuzco/Águas Calientes/Cuzco com passeio e almoço em Machu Picchu. À vista R$ 2.935, Base US$ 1.668, Preço para saídas até 1O/dezembro.
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ney (PMDB-AP). Pensei que eles fossem fazer um ato contra ele, mas não aconteceu nada.” O Estado está sob censura, desde 31 de julho, por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. O empresário FernandoSarney,filhodopresidentedo Senado, entrou com ação pedindoqueojornalnãopublicassereportagens sobre a Operação Boi Barrica da Polícia Federal, que o indiciou por vários crimes. ●
“Precisamos de isonomia”, afirmou ontem o presidente da Abert, Daniel Slaviero. “O que vale para o offline precisa valer para o online.” Nãohá,porenquanto,nenhuma iniciativa formal no Congresso para resolver o problema por meio de projeto de lei. “Quandoo assunto vier à tona, é preciso que estejamos bem informados”, disse ontem o deputado Eduardo Gomes (PSDBTO), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, que promoveu o debate.
Norma sobre capital estrangeiro na imprensa não contemplou a web Representantes de portais de internet também foram convidados para a audiência pública, mas não compareceram, segundo o deputado. Ele avalia a possibilidade de promover um novoevento,voltado apenas paraosetor.“As posições sãomuito divergentes”, afirmou. Para o parlamentar, um dos caminhos para tentar resolver a questão é fazer uma consulta ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o cumprimento ou não das regras constitucionais por parte das empresas estrangeiras que produzem conteúdo jornalístico no Brasil. ●
● Edição das
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o estado de s. paulo SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
NUVEM DE PARTÍCULAS COM H²0
SONDA
ILUSTRAÇÃO: NASA/REUTERS
O CHIQUE É A SOBRA ●● Pratos, como o frango com talos, feitos com ingredientes desprezados.
● PÁG. E3
● PÁG. C6
PAULO PINTO/AE
HELVIO ROMERO/AE
Declarações de diretor abrem crise no Banco Central DeclaraçõesdodiretordePolíticaMonetária,MárioTorós,abriramcrisenoBancoCentral.Responsável pela administração dasreservasdoPaísepelasoperações no mercado de câmbio, Torós descreveu ao jornal Valor Econômico bastidores da atuação do BC na crise econômica, os bancos que sofreram saques e o ataque especulativo contra o real – temas que dizem respeito ao presidente do banco, HenriqueMeirelles.Torósdeverádeixar o BC. ● CADERNO DE ECONOMIA
Objetivo, a ser levado a Copenhague, é reduzir emissão de gases em até 38,9%
STF deve deixar decisão sobre Battisti para Planalto
rio.Naprática,areduçãoresultará em diminuição de 300 milhões de toneladas de gases de efeito estufa ante o que o País emitiu em 2005. No cenário internacional, esse compromisso é até agora o mais audacioso dos países em desenvolvimento. Para atingir o objetivo, ogo-
verno fixou como meta reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% e o do cerrado em 40% até 2020, além de prever medidas para agricultura, energia e siderurgia. O anúncio da meta “voluntária”foifeitoontem pelaministraDilmaRousseff(Casa Civil). ● PÁGS. A25 e A26
Especialistas defendem lei ●● ● O próximo passo para que a meta brasileira de redução de gases do efeito estufa seja levada a sério é transformá-la em
lei, disse o diretor do Greenpeace no Brasil, Marcelo Furtado. O físico José Goldemberg é da mesma opinião. ● PÁG. A26
Obra do Rodoanel desaba sobre a Régis
Para Lula, ‘só Deus sabe’ se haverá novos apagões
DESTRUIÇÃO –
Apenas uma das 4 vigas não caiu
Sondagem feita pelo Estado com ministros do Supremo Tribunal Federal revela que o STF vai deixar a critério do presidente Lula a decisão de extraditar ou não o ex-ativista italiano Cesare Battisti. Anteontem, o presidente do STF, Gilmar Mendes, cobrou de Lula que cumpra a decisão do tribunal. ● PÁGS. A4 e A6
Questionado sobre a hipótese de novos apagões, o presidente Lula disse que só “se Deus quiser que não aconteça”. Ele pôs em dúvida a tese de que a causa do blecaute de terça tenha sido umraio,queixando-sede“achismo”.Para oministro EdisonLobão(MinaseEnergia),odesligamento de energia “foi um bem”, porque evitou “acidente de grandes proporções”. O senador Romeu Tuma (PTB-SP) defendeuque a Polícia Federal entre no caso. ● PÁGS. B1, B4, B6 e B8
FRASE
Marco Aurélio Mello Ministro do STF “Quem conduz a política internacional não é o Judiciário, é o Executivo”
7 8 9 10 11 12
Justiça condena Maluf e Pitta
Pelo menos três pessoas ficaram feridas após a queda de três vigas de um viaduto em construção no Trecho Sul do
NOTAS E INFORMAÇÕES
A teoria do raio e a lei do teflon A politização do blecaute ficou evidente no desaparecimento de Dilma, para quem o Planalto vinha criando oportunidades de exposição. ● PÁG. A3
RodoanelMárioCovas,emEmbu, Região Metropolitana de São Paulo. As vigas, que teriam rachado ao meio, segun-
Tempo: CAPITAL
33º
MÁX.
● PÁG. C2
20º
MÍN.
Sol brilha forte e faz calor. À tarde, pancadas de chuva
dotestemunha,caírampor volta das 21h sobre uma carreta basculanteedoiscarrosdepasseio na altura do km 279 da Ro-
STJ põe em xeque multas das CETs
dovia Régis Bittencourt, pista sentido São Paulo. As vítimas foram levadas para hospitais da região. ● PÁGS. C1 e C3
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 106 DIAS q PÁG. A9
CADERNO2
Decisão fora do Morumbi O São Paulo faz hoje, contra o Vitória, sua última partida no Morumbi em 2009. Jogo com o Sport será em outro estádio: o clube foi punido por causa de invasão de gramado. ● PÁG. E1
●●
Em sentença para ação de Belo Horizonte, 2ª Turma do STJ entende que, por sua constituição jurídica, CETs podem ter interesse privado na fiscalização. ● PÁG. C4
Grupo de artistas ensina a criar brincadeiras. ●
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ESPORTES
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Hoje: 146 páginas A. 1º caderno: 34+4 ● B. Economia: 30 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 6 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 28 ● Ci. Imóveis: 16 (1.996 anúncios)
●● Ex-prefeitos terão de devolver valores pagos a mais por obra. ● PÁG. C5
DIVULGAÇÃO
Khalid Sheik Mohammed, mentor confesso do 11 de Setembro, e outros quatro réus apontados como cúmplices serão julgados em um tribunal civil de Nova York, próximo de onde ficavam as torres do World Trade Center. Ativistas que criticam a situação de suspeitos de terroraplaudiramadecisão.Para os republicanos, é “irresponsabilidade”. Mohammed e os outros réus estão presos em Guantánamo. ● PÁG. A14
São Paulo TIAGO QUEIROZ
Mentor do 11 de Setembro será julgado em corte civil
DIRETOR:
RUY MESQUITA
‘ADRIANO É O MELHOR’ ●● Para Ronaldo, que falou ao Estado, o craque do Flamengo se destaca no Brasileiro.
Meta ambiental do Brasil é a mais radical dos emergentes O Brasil vai levar à Conferência do Clima de Copenhague, em dezembro, compromisso de reduzir entre 36,1% e 38,9% suas emissões de gases que causam aquecimento global. O porcentual é relativo ao que o País emitiria em 2020 se nada fosse feito para alterar o cená-
(1891-1927)
14 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42396
A Lua tem água, anuncia a Nasa ● ● Descoberta muda a percepção sobre o satélite, tido como árido. No experimento da Nasa (ao lado), o impacto de foguete contra cratera levantou poeira com partículas de gelo, captadas por sonda. ● PÁG. A28
JULIO MESQUITA
Vampiro light AsagaCrepúsculoéofenômeno romântico da vez. ●
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SÁBADO, 14 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 106 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘É inadmissível em um país que se pretende democrático’ Jair Krischke classifica censura ao ‘Estado’ de ‘vexame internacional’ Moacir Assunção
“Um vexame internacional.” Assim, o veterano militante da área de direitos humanos e presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, classificou a censura ao Estado, por imposição do Tribunal de Justiça do Distrito
SATIAGRAHA
STF manda juiz entregar arquivos da investigação Fausto Macedo
O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou ao juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, que encaminhe imediatamente à corte máxima do Judiciário cópia integral de documentos reservados que fazem parte do processo Satiagraha – investigação contra o banqueiro DanielDantas,doOpportunity. A decisão é do ministro Eros Grau, que acolheu em caráter liminar reclamação do engenheiro Dório Ferman, braço direito de Dantas. O ministro ordenou “a produção das cópias das mídias, discos rígidos e pen drives apreendidos”. Eros destacou que o STF, em habeas corpus, já deferiu liminar “para garantir aos pacientes daquele feito (Satiagraha) acesso aos elementos de prova”. O ministro observa que a corte “firmou jurisprudência no sentido de permitir o acesso amplo àqueles contra os quais são produzidos elementos de prova em procedimentos investigatórios”. Sustenta que amedidarepresenta“amaterialização das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa”. Osarquivosforamrecolhidos em abril pela Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal na sede da Angra Partners Gestão de Recursos e AssessoriaFinanceiraLtda.,sucessora do Opportunity Equity Partners na gestão de fundo de investimento em ações. A busca foi autorizada por De Sanctis.APFconfiscouagendas pessoais de um ex-sócio da Angra e de dois ex-diretores de compras da Brasil Telecom. O juiz decretou sigilo nos autos. Diretor-presidente do Banco Opportunity, Ferman foidenunciadopelaProcuradoria da República por crimes de gestão fraudulenta, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A procuradoria acusa outros 12 investigados, entre eles Dantas. Ferman recorreu ao STF sob alegação de que “está prestesater contra sirecebida ação penal pública sem que tenha tido acesso à integralidade dos arquivos apreendidos”. Seu advogado, o criminalista Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, sustentaque“parafazeradefesa prévia é fundamental quetenhaconhecimentodesse conjunto de arquivos”. Segundo o advogado, no material apreendido haveria “inúmeras anotações e informações concernentes à disputa pelo controle da Brasil Telecom”. Ele diz que “há menção a estranhas práticas utilizadas pelos adversários comerciais do Opportunity Equity interessados no controle da empresa telefonia, o que é essencial para a defesa técnicacomprovarasinúmeras ilegalidades que macularama própriaSatiagraha”. ●
Federal (TJ-DF), que já dura 106 dias. Para ele, a mordaça “é inadmissível em um país que se pretende democrático”. Krischke, que sempre participa de eventos sobre temas correlatos nos países latino-americanos, afirmou que tem enorme dificuldade de discutir esse assunto no exterior. “A razão é
NACIONAL NACIONAL A9 A9
que ninguém acredita que isso possa ocorrer mais de 20 anos depois do fim da ditadura”, observou. Oque espanta o militante, especialista na Operação Condor – acordo entre as ditaduras do Cone Sul para caçar inimigos nos países vizinhos –, é o fato de nenhuma autoridade do Poder
Judiciário ter impedido o TJDF de estabelecer a censura, expressamente vedada na Constituição. “O direito à informação é um direito humano, consagrado em todas as convenções e tratados assinados pelo Brasil nos fóruns internacionais sobre o setor. Ao censurar o Estado, o País viola sua
própria legislação e todos esses acordos”, ressaltou. Para Krischke, a liberdade de imprensa é a principal régua para medir se um país é ou não democrático. O ataque contra esse princípio, em sua opinião, demonstra que o Brasil ainda tem muito a caminhar para se ombrear com nações verdadeiramente democráticas. “É vergonhoso que ainda passemos por isso. A censura é a barbárie,queesperávamosverdefinitivamente banida do Brasil.” REMÉDIOS
Ele lembrou que a legislação prevêque sempre haveráremédios constitucionais para eventuais abusos cometidos por órgãosdecomunicação.“Daí,civilizadamente, como deve ser nas relações humanas, o poten-
cial ofendido entrará com uma ação pedindo indenização”, afirmou. “A censura prévia, em que alguém me proíbe de falar dele, embora nem saiba o que vou dizer, é que é odiosa.” Parao militante,odesembargador do TJ-SP Dácio Vieira, que determinou a censura ao Estado após ação do empresário Fernando Sarney, demonstrou, desde o início sua parcialidade. “Ele podia ter se declarado suspeito, já que integra o círculodeamizadesdafamília Sarney, mas mesmo assim julgou o caso”, afirmou. Fernando, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi indiciado por várioscrimespela Polícia Federal na Operação Boi Barrica, que investigou os negócios da família. ●
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
q CAMPEONATO BRASILEIRO
São Paulo vence e é líder JorgeWagner(foto)marcou o primeiro gol nos 2 a 0 contra o Vitória. Cruzeiro empatoucom o Grêmio e Atlético-MG perdeu para o Coritiba. ● PÁG. E1
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
15 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42397
CULTURA
CLASSIFICADOS
15.152
50 anos sem o múltiplo Villa-Lobos
éototal deofertas
8.420 anúncios classificados
Autos
Talento do compositor se livra de rótulos. ●
Porsche 911: de 0 a 100 km/h em 3,4 s. ●
NILTON FUKUDA/AE
tv&lazer Todos para a roça
Record põe toda a programação a serviço da segunda edição de A Fazenda, que estreia hoje. ●
ARQUIVO/AE
Transgêniconasafrade milhovaide19%para53%
Consórcio mudou vigas para cortar custo do Rodoanel
Alta em apenas um ano surpreende especialistas; produto, de largo consumo no País, deve chegar à mesa do brasileiro
Estruturas pré-moldadas não estavam previstas no projeto
Mais da metade (53%) do milho brasileiro na safra de inverno de 2010 deverá ser transgênica, isto é, resultará de sementes com gene que tornam a planta resistente a lagartas, informaorepórterHertonEsco-
bar.Nasafraanterior,aprimeira autorizada no Brasil, a taxa foi de 19%. A presença do milho transgênico na mesa do consumidor deve crescer, porque o cereal é mais usado do que a soja, cujo tipo transgênico é le-
gal desde 2003. “A velocidade com que essa tecnologia está sendo adotada é surpreendente”, avalia o economista José Maria da Silveira, da Unicamp. Agricultoresqueexperimentaram o milho transgênico dizem
que o rendimento é melhor do que o do convencional, embora a semente seja mais cara. No casoda soja transgênica, a consultoria Céleres prevê que a produção suba de 65% para 71% na safra 2009-10. ● PÁG. A24
USINA DE BELO MONTE: BATALHA À VISTA DIDA SAMPAIO/AE
O consórcio formado pelas empreiteiras OAS, Mendes Júnior e Carioca usou vigas pré-moldadas nos novos viadutos do Trecho Sul do Rodoanel. O projeto previa fundações de concreto, mais caras. A troca foi uma das
79 irregularidades classificadas como “graves” pelo TCU em setembro. Não se sabe se a troca do material tem relação direta com a queda de três vigas, que deixoutrêsferidos.Asempresas não se manifestaram. ● PÁG. C1
Tucanos se dividem sobre uso político do apagão
Obama chega hoje à China em busca de cooperação
OPSDBestá dividido sobre a conveniênciadeexplorarpoliticamente o apagão da última terça-feira. José Serra e Aécio Neves são contra. Mas os tucanos concordam que a resposta dada pelo governo ao problema merece ser atacada. No PT, há a certeza de que o PSDB não vai deixar o assunto morrer. ● PÁG. A4
Cláudia Trevisan
NOTAS E INFORMAÇÕES
Uma casa à prova de tombo para idosos
É difícil entender o interesse do Brasil em negar a extradição do criminoso. ● PÁG. A3
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 107 DIAS q PÁG. A11
Índios da etnia Arara pescam no Xingu, no oeste do Pará, perto de onde será construí-
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ALIÁS Ensino à venda
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da a hidrelétrica de Belo Monte, cujo leilão deve acontecer 21 de dezembro; a tribo prome-
te resistir ao projeto, relata a enviada especial Renée Pereira. Empresários locais se unem
para manter a obra, cuja licença ambiental pode sair amanhã. ● PÁGS. B8 e B10
COLUNISTAS ●● Para o filósofo Fausto
Castilho, a mercantilização impede que o País se escolarize. E lembra: reitor não é função administrativa, nem deve ser o “dono da faculdade”. ●
THOMAS FRIEDMAN ●● Se mantido, o velho modelo de desenvolvimento econômico vai devorar o que restou das florestas tropicais. ● PÁG. A25
DANIEL PIZA ●● O esconde-esconde do apagão mostra que a República brasileira, que faz 120 anos hoje, ainda não é madura. ● PÁG. D3
29º
MÁX.
● PÁG. C2
21º
●● Adaptações ajudam a reduzir o alto índice de acidentes domésticos. ● PÁG. A26
Urbanismo
MÍN.
Sol ainda aparece, mas frente fria traz nuvens e chuva. Tiragem: 301.542 Hoje: 258 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 16 ● E. Esportes: 8 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 32 ● F. Feminino: 20 ● Ca. Autos: 30 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 36 ● Co. Oportunidades: 12
A cooperação em temas globais dará o tom da primeira visita à China do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Ele vai enfatizar as questões planetárias que dependem do empenhodosdoispaíses,comoeconomia e ambiente. ● PÁGS. A13 e A16
Sociedade
A novela de Battisti
Tempo: CAPITAL
CORRESPONDENTE EM PEQUIM
Berlim ainda longe da reunificação Processo levará mais 20 anos, estima o arquiteto Pedro Moreira. ● PÁGS. A22 e A23
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Paulistânia
Balada Literária na Vila Madalena ●● Festa cult idealizada por Marcelino Freire reúne neste ano cem autores. ● PÁG. C10
DOMINGO, 15 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 107 DIAS
NACIONAL NACIONAL A11 A11
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura cairá no Supremo ’ Para o constitucionalista Ives Gandra Martins, o STF tem demonstrado que é totalmente contrário à mordaça Moacir Assunção
Um dos mais respeitados especialistas brasileiros em direito constitucional e advogado com atuação há 51 anos nas áreas constitucional e tributária, além de autor de várias obras sobre o assunto, Ives Gandra Martins não tem dúvida alguma sobre a inconstitucionalidade da censura contra o Estado
desde 31 de julho, decretada pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). “Estou absolutamenteconvencido de que a mordaça cairá, tão logo chegueao SupremoTribunal Federal (STF). Pelos antecedentes do tribunal e por declarações de vários ministros sobre o tema é isso o que ocorrerá e seria uma surpresa monumental se não se concretizasse”, afirmou.
Na opinião do advogado, professor de direito constitucional na Universidade Mackenzie, as decisões do TJ-DF, responsáveis pela censura ao Estado a partir de ação movida pelo empresário Fernando Sarney, filhodopresidentedoSenado,José Sarney (PMDB-AP), são absolutamente questionáveis. “O Poder Judiciário tem o direito de cautela, mas há um equívoco
nas decisões, em termos de interpretação da Constituição”, observou. O artigo 220 da Carta de 1988, que trata da comunicaçãosocial, lembrouoespecialista,vedaexpressamenteacensura prévia. “É apenas uma questão de tempopara a mordaçaserrevogada. Desde o julgamento da Lei de Imprensa, o STF tem demonstrado que não aceitará a
censura e que vivemos em um regime de absoluta liberdade de imprensa”, afirmou. Martins lembrou que no regime democrático é natural que supostosofendidos porveículosde comunicação recorram aos tribunais para buscar indenizações por danos, mas não se pode recorrer à censura prévia. As interpretações equivocadas da lei, segundo ele, sempre
são corrigidas nas instâncias maiores da Justiça. ESTABILIDADE
“Os tribunais superiores existem exatamente para garantir a estabilidade jurídica do País. Ainterpretação do Supremono caso da Lei de Imprensa é que leis da ditadura não podem convivercomoordenamentojurídico nacional.”●
+ 9 RIO
Assembleia promove debate sobre minério A Frente Parlamentar em Defesa da Mineração da Assembleia Legislativa do Rio terá sua primeira reunião na terça-feira. Parlamentares participarãodeumdebatesobre o novo marco regulatório mineral. De acordo com o deputado Glauco Lopes (PSDB), presidenteda Comissão de Minas e Energia, a frente atuarácomoporta-vozdoEstado.“Hoje,todadecisãorelativa ao nosso minério é tomada em Brasília e nem sempre atendeàsnecessidadesfluminenses”, disse. JUSTIÇA
Genro terá reuniões com ministros na Suíça O ministro da Justiça, Tarso Genro, estará na Suíça entre os dias 24 e 28, onde terá reuniões com os ministros da Justiça e Relações Exteriores a respeito do fortalecimento da cooperação jurídicabilateral e adoção de ações conjuntas para o combate ao tráfico de pessoas, à lavagem dedinheiro eagilizaçãodarecuperação de ativos. A viagem tem ainda o objetivo de examinar o estado de implementação da Declaração de GenebrasobreViolênciaArmada e Desenvolvimento. MINAS
Três municípios voltam às urnas hoje Os municípios mineiros de Itabirito, Bom Jesus do Amparo e Baependi terão novas eleições hoje para escolha do prefeito e vice. De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), nas três cidades cerca de 52 mil eleitores terão de voltar às urnas por determinação da Justiça Eleitoral, já que os candidatos eleitos no pleito de 2008 foramcassados.Comisso,somente este ano 12 municípiosmineiros precisaram escolher novamente os titulares do Executivo. BOLSA-CELULAR
Entrega de telefones pode atrasar, diz Costa O ministro das Comunicações, Hélio Costa, admitiu que o projeto de criação do bolsa-celular pode ser atrasado para depois das eleições de 2010, caso fique evidente uma implicação eleitoral na proposta que prevê a distribuição gratuita de telefonescelularespré-pagospara beneficiários do programa Bolsa-Família. Costa disse que precisa ser convencido do suposto caráter eleitoreiro do projeto, que ainda deveráseroficialmenteapresentado ao presidente Lula.
SEGUNDA-FEIRA, 16 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 107 DIAS
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Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
GOVERNO
‘Decisão mancha o Judiciário’, diz professor Para Luiz Carlos Auricchio, a democracia brasileira andou para trás, já que ‘a última coisa observada pelo TJ-DF foi a Constituição’ Moacir Assunção
A censura ao Estado, para o professor da Escola Superior de Direito Constitucional, Luiz Carlos Auricchio, demonstra que, em vários momentos, o País tem andado para trás em termos de consolidação democrática.“Issomepreocupamuito porque, recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) afastou todas as punições previstas na Lei de Imprensa no sentidodecoibiralivremanifestaçãodo pensamento.Asentença contra o jornal tem o sentido exatamente contrário desta”, observou. Adecisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) que, desde 31 de julho, impede o Estado de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que indiciou por vários crimes o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP), na visão do especialista, representa um destes passos para trás. “Ela contraria a própria Constituição Federal e vai contra o espírito do documento legal”, disse. De acordo com Auricchio, a Constituição pode ser vista como um catálogo de liberdades. “Quando a Constituição foi escrita, havia um recado claro queosconstituintes e asociedade gostariam de passar, que era uma resposta clara contra os
Agências criam sites e anúncios contra mordaça O jornal Propaganda e Marketing convidou sete das principais agências de publicidade do País para criar anúncios contra a censura imposta ao Estado. O resultado, que circula desde sábado na edição impressa do veículo, foi um alerta contra os riscos à liberdade de imprensa. A partir de hoje, todas as peças publicitárias podem ser acessadas pelo site www.propmark.com.br. O material foi produzido pelas agências LeoBurnett, Neogama/ BBH, Lew’Lara/TBWA, Borghierh/Lowe, Fischer+Fala, Ogilvy e Y&R. “Todas foram direto ao ponto”, comemorou Marcello Queiroz, diretor do jornal.
Três agências decidiram criar sites contra a censura. A Neogama/BBH construiu em www.censuranao.com.br um manifesto, seguido de abaixo-assinado, para ser enviado ao Supremo Tribunal Federal. A LeoBurnett protestou contra a mordaça no site www. leoburnett.com.br/censura. “A LeoBurnett é contra a censura. Não deixar o Estadão falar é não deixar a gente ouvir.” A Y&R, por sua vez, criou um link – www.tinyurl.com/yhjwdjf – que direciona o leitor para o resultado de busca no Google pelos termos “censura” e “Estadão”. São 1,3 milhão de páginas sobre a mordaça.
Entre os anúncios publicados no jornal, foram claras as referências ao presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP) e sobre a ditadura, em que o Estado publicou receitas de bolo e trechos de Os Lusíadas. A Ogilvy utilizou a frase “o que a gente pensa sobre a censura”, seguida de um bolo de cenoura. A Borghierh/Lowe deu receitas de 12 pizzas. A Lew’Lara/TBWA apresentou um bigode estilizado sobre recortes de jornal. “Há mais de 100 dias que o Estadão está sob censura. A gente não podia ficar calado.”
tempos da repressão, inaugurando um período de liberdadesplenas”,afirmou. Assim, relembrou o constitucionalista, a chamada Constituição Cidadã consagroudireitoscomoaliberdade de imprensa, de expressão e a livre manifestação do pensamento em oposição à vedação das liberdades e à perseguição aos opositores, práticas comuns do regime militar. Naturalmente, relembra ele, os constituintes e a sociedade não podiam tolerar o outro extremo,ouseja,oabusodasliberdades. Por isso, foi estabelecido o pagamento de indenizações
quando houver ataques injustificados aos cidadãos por parte dosmeiosdecomunicação.“Tudo isso é muito triste. Em vez de florescer, vemos a nossa democraciadefinhar porcausade decisões como estas”, afirmou.
vada foi a Constituição”, lamentou. Outro aspecto que chamou a atenção de Auricchio no caso foi a vinculação do autor da decisão, o desembargador Dácio Vieira, à família Sarney. “É algo que vem a manchar ainda mais a nossa democracia”, disse. Vieira foi declarado suspeito porseusprópriospares,mesmoassimadecisãofoi mantida. Depois, o TJ-DF se declarou incompetente e remeteu o processo à Justiça Federal do Maranhão. E mesmo assim a decisão permanece. ●
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‘INTÉRPRETES’
O que mais surpreendeu o professor foi que a censura, que antes era utilizada pelo Executivo para oprimir seus opositores, agora foi da lavra de um juiz. “Ora, os juízes são os intérpretes da Lei Maior. Em uma decisão desta, que mancha o Judiciário,aúltimacoisaaserobser-
● ROBERTO ALMEIDA
CGU expulsou 2,3 mil servidores em 5 anos A Controladoria-Geral da União (CGU), órgão vinculado à Presidência, contabiliza a expulsão de 2.315 servidores durante o governo Lula. Desse total, as demissões de cargos efetivos somaram exatos2milcasos,asdestituições de cargos em comissão 177 e as cassações de aposentadorias 138. A maior parte – 1.180 agentes – foi punida por uso do cargo em benefício próprio. A improbidade administrativa veio em seguida, com 688 casos. RONDÔNIA
TRE-RO se nega a julgar doações ilegais O Tribunal Regional Eleitoral em Rondônia (TRE-RO) emitiu um acórdão em que nega competência para julgar doações com valor acima do limite legal realizadas no Estado, durante as eleições de2006.Deacordocomacorte, as ações – um total de 484 –devemser avaliadasporjuízes eleitorais. A Procuradoria Eleitoral de Rondônia entrou com recurso no Tribunal Superior Eleitoral para obrigaroTRE-RO a julgar os casos. JUDICIÁRIO
2 mi de processos da Meta 2 foram julgados O Judiciário atingiu a marca de 2.002.336 processos da Meta 2 que já foram julgados, de acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os números estão disponíveis no Processômetro,ferramenta criadaemsetembro deste ano e disponível na página de abertura do portal do CNJ (www.cnj.jus. br). A Meta 2 visa identificar e julgar até o final do ano todos os processos protocolados até 31 de dezembro de 2005.
NACIONAL NACIONAL A7 A7 PERSONALIDADE
FHC deve reconhecer filho que teve há 18 anos Oex-presidente FernandoHenriqueCardosoteria decididoreconhecer oficialmente seu filho, Tomas Dutra Schmidt, frutodeumrelacionamento queteve com a jornalista Mirian Dutra, da TV Globo, no início da década de 1990. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, FHC está em Madri, onde vive Mirian, para formalizar o assunto. Tomasnasceuem1991,período em que o ex-presidente era senador. O caso foi mantido sob sigilo por Fernando Henrique e Mirian. Na época, ele era casado com Ruth Cardoso, com quem teve três filhos, Luciana, Paulo Henrique e Beatriz. Ruth morreu em junho de 2008, vítima de um enfarte, aos 77 anos. Em1992,umanoapósonascimento de Tomas, Mirian foi transferida pela TV Globo para a Europa. Ela trabalhou como correspondente em Lisboa, LondreseMadri.Apesarda distância,acabouganhandorepercussão com a ascensão política de Fernando Henrique. O ex-presidente passou de senador a ministro da Fazenda em 1993, ano em que a classe política e jornalistas começaramasaberdaexistênciadeTomas. Em 1994, quando ele se candidatou à Presidência, a imprensa procurou Mirian na Espanhaparaquecontasseahistóriade seu filho, masela senegou a falar do assunto. FHC, por sua vez, nunca falou publicamente sobre Tomas. No período em que esteve na Presidência, ele teve contatos esporádicos com o garoto. Após o fim de seu mandato, FHC teria ido à Espanha com frequência para visitar Tomas e até participado de sua formatura, em Londres. Hoje, ele está com 18 anos e estuda nos Estados Unidos. ●
o estado de s. paulo
● Edição de
0h15
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
TERÇA-FEIRA
será substituído por Aldo Luiz Mendes, que ocupou, entre 2005 e 2009, a vice-presidência de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com Investidores do Banco do Brasil.
Quando ogovernotrocouopresidente do BB – Antônio Francisco de Lima Neto por Aldemir Bendine –, Mendes foi um dos vice-presidentes mantidos. Ele deixou a função há cer-
DIRETOR:
RUY MESQUITA
IPTU deve subir até 60% em São Paulo A Prefeitura pretende aumentar o IPTU residencial em até 40% e o não-residencial em 60%.Os principais atingidos serão imóveis em bairros de classemédia alta. “É questão de justiça tributária, até porque existem pontos na cidade que tiveram investimentos expressivos dopoderpúblico”,disseoprefeito Gilberto Kassab. ● PÁG. C1
Mário Torós dá lugar a Aldo Luiz Mendes na área de Política Monetária do BC tamento era esperado desde o fim de semana, depois que Torós revelara a jornalistas detalhes dos momentos de tensão vividos no BC no auge da crise financeira internacional. Ele
(1891-1927)
17 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42399
Diretor do Banco Central é substituído por nome do BB O Banco Central anunciou ontem a saída do diretor de Política Monetária, Mário Torós. Em nota, o BC informou que a mudança ocorreu “a pedido” e “por motivos pessoais”. O afas-
JULIO MESQUITA
ca de três meses para assumir aCompanhiade SegurosAliança, empresa ligada ao BB. A definição do nome de Mendes para a diretoria do BC aconteceu na sexta-feira. ● PÁGS. B1 e B3
Alteração de projeto corta 14 meses na obra do Rodoanel
Com a criação de 230.956 postos de trabalho em outubro, o País bateu recorde na geração de empregos com carteiraassinada.Noacumulado do ano, já são 1,164 milhãodepostos.Comasdemissões sazonais de dezembro, o ano deve fechar com 1,1 milhão de novas vagas. ● PÁG. B6
Alterações no método construtivo e na execução do Trecho Sul do Rodoanel permitiram abreviar de 48 para 34 meses a conclusão dos trabalhos. A obraéuma dasvitrinesdaadministração José Serra (PSDB) e deveserentregueemmarço,antesdo prazo de desincompatibilização para a eleição. ● PÁG. C4
JASON REED/REUTERS
Brasil já criou 1,16 milhão de empregos neste ano
Análise Celso Ming
Obama com estudantes pré-selecionados pelo governo chinês: perguntas quase sempre refletiam ponto de vista oficial
Obama é censurado na China Liberdade de informação é tema de fala do presidente dos EUA No primeiro dia de visita à China, o presidente Barack Obama defendeu a liberdade de informaçãoe valorescomoparticipação política e liberdade re-
NOTAS E INFORMAÇÕES
O derretimento de Copenhague Os brasileiros devem cobrar do presidente detalhes das ações para cumprir metas de redução de emissões. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
28º
MÁX.
MÍN.
Sol aparece em todo o Estado; deve chover no interior.
Hoje: 100 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 14 ● H. Especial Nordeste: 12 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 14 ● Cl. Classificados: 4 (515 anúncios)
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Brasil ainda crê em acordo sobre clima ●● Dilma
diz que dá para apostar na conferência de Copenhague. ● PÁG. A17
Tribunal libera dois do Palmeiras
● PÁG. C2
19º
Ambiente
Futebol
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 109 DIAS q PÁG. A11
A uma semana da chegada do presidente Mahmoud Ahmadinejad, a Petrobrás prepara sua saída do Irã. A estatal alega estar explorando poços que não são rentáveis. Apesar das pressões internacionais que vem sofrendodesde 2004, quandochegou ao país, a Petrobrás diz que a decisão é “técnica”. ● PÁG. A4
●● Marcos e Danilo foram
ligiosa.Odiscursonãofoitransmitido pela TV nacional e trechos sobre a importância da liberdadenainternet foramretiradosdesites. Alémdisso,ogo-
verno chinês selecionou estudantes que ouviram Obama. Mas David Axelrod, assessor da Casa Branca, disse que o evento “valeu a pena”, pois o
presidente dos EUA teve grande audiência na TV local e na internet. Segundo Obama, os EUA não pretendem conter a emergência chinesa. ● PÁG. A12
CADERNO2
VIAGEM AVENTURA &
A vanguarda faz 30 anos
Os estúdios de Los Angeles abrem as portas de seus sets de gravação para os turistas. ●
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q ESPECIAL
Os30anosdoteatroLiraPaulistana serão comemorados a partirdehojecomumasériede shows. Pelo palco, passarão nomes dachamadavanguardapaulistana, como Premê, Língua de Trapo, Rumo e Arrigo Barnabé. ●
absolvidos; São Paulo vai aobancodos réus. ● PÁG. E1
Vestibular
Filme sobre Lula agita Brasília
Um quarto das carreiras tem menos de 5 candidatos por vaga. ● PÁG. A20
O Festival de Brasília começa hoje com a exibição de Lula, o Filho do Brasil. Mesmo sem ter visto o filme, muita gente já é contra ou a favor. ● PÁG. D7
Fuvest tem cursos pouco disputados ●●
VOLTA – A vanguarda diante do prédio do extinto Lira Paulistana
Férias no Nordeste
LUIZ EDUARDO/DIVULGAÇÃO
Enquanto no resto do planeta a recuperação econômica se dá com desemprego, o Brasil cria postos de trabalho. Isso fortalece o ambiente positivo para o País. Mas se houver recaída lá fora o emprego será atingido por aqui. ● PÁG. B2 ●●●
ESCOLHIDOS –
CLAYTON DE SOUZA/AE
Em contraste com o mundo
Petrobrás anuncia que está pronta para sair do Irã
A2 ESPAÇO ABERTO
TERÇA-FEIRA, 17 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Apagão da mamona
O Ministério Público e a investigação criminal
XicoGraziano
MarciadeHolandaMontenegro
Apagão deu também no programa nacional de biodiesel. Gorou uma invencionice do governo Lula. Por sorte, a lavoura da soja evitou o efeito dominó advindo do fracasso da mamona. Menos mal. Introduzir óleo vegetal na matriz energética dos transportes espelha uma excelente ideia. A novidade surgiu em 1970, quando a Universidade Federal do Ceará registrou uma patente para fabricação do biodiesel. Ninguém, entretanto, acreditou no processo. Há apenas cinco anos, com a alta do petróleo, o assunto esquentou. Com o preço do diesel castigando os distantes agricultores de Mato Grosso, alguns produtores começaram a colocar óleo de soja direto no motor de suas máquinas agrícolas. Por incrível que pareça, o trator, mesmo fumaçando branco, andava. A ousadia espelhava apenas uma angústia. Os motores careciam de alterações técnicas para bem funcionar. E o óleo vegetal precisava ser transformado em biodiesel. Ca-
O projeto da Brasil Ecodiesel parecia uma maravilha, mas nada deu certo beria ao governo federal aprontar a nova legislação. Tudo ocorreu rapidamente. Por meio da transesterificação se modifica óleo vegetal em biodiesel. Consiste numa reação química do óleo de cozinha comum com o etanol (álcool etílico), ou metanol, estimulada por um catalisador. O produto resultante ganha poder de combustão, reduz a viscosidade e libera glicerina, um subproduto valioso no mercado de cosméticos. Vale também para gorduras animais, como sebo de boi. A legislação, aprovada em 2005, estabeleceu a obrigatoriedade de, a partir de 2008, misturar 2% de biodiesel no óleo combustível derivado do petróleo comercializado no País. Em 2013 tal quesito deverá ser elevado para 5%. De olho no mercado, as empresas fabricantes de motores aceleraram seus investimentos para a adaptação à nova realidade. Tratores ecológicos. O desafio maior residia na disponibilidade da matéria-prima. Seriam necessários perto de 900 milhões de litros de biodiesel para assegurar a mistura B2 logo em 2008. Mais que dobraria a quantidade para garantir o B5 em 2013. Foi aqui, na equação da oferta de biodiesel, que o governo cometeu seu grande equívoco. Dezenas de espécies vegetais oleaginosas se propiciam à produção do biodiesel. Destacam-se soja, mamona, dendê, gi-
rassol e pinhão manso. Cada qual apresenta vantagens e desvantagens. A soja, por exemplo, vence na escala de produção e na tradição de cultivo. Mas perde no teor de óleo da semente, entre 18% e 20%. Bastante proteica, a soja esmagada gera grande quantidade de farelo, ótimo para ração animal, um estorvo, porém, para uma fábrica de biodiesel. O girassol apresenta de 40% a 45% de óleo na semente, bem mais que a soja. Inexiste no País, todavia, tradição de plantio de girassol. O pinhão manso, planta com elevado teor de óleo, acima de 50%, virou coqueluche sem que nunca tivesse sido cultivada em escala. O dendê, ou a palma, palmeira de origem africana, oferece excelente óleo a partir de sua polpa. Rivaliza com a soja na produção mundial de óleo, graças aos grandes cultivos na Malásia e na Indonésia. No Brasil, porém, adapta-se somente na região úmida da Amazônia. Resta a mamona. Resistente, apropriada para solos fracos, seus caroços são conhecidos desde a Antiguidade por causa do óleo de rícino, famoso purgativo na medicina popular. Sua semente traz de 45% a 50% de óleo. No mundo industrial, o óleo de mamona sempre guardou excelente valor como lubrificante, pois mantém boa viscosidade em ampla faixa de temperatura. Nessa euforbiácea recaiu a aposta do governo para abastecer o mercado de biodiesel. O projeto incluiu uma grande novidade: a mistura da solução energética com a reforma agrária. Festiva solenidade comandada por Miguel Rossetto, então ministro do Desenvolvimento Agrário, lançou no Palácio do Planalto, há quatro anos, a inusitada proposta de grudar o biodiesel nos assentamentos rurais. Criada para favorecer o negócio, a empresa Brasil Ecodiesel prometia sozinha fornecer 800 milhões de litros do novo combustível, sugado principalmente das terras do Piauí. Dinheiro público bancava o projeto. Tudo parecia uma maravilha. Mas nada deu certo. As lavouras não vingaram, os assentados desistiram, o dinheiro do Pronaf sumiu, a mamona murchou. E a Ecodiesel acaba de falir. Na bomba do posto, todavia, felizmente o óleo combustível contém a mistura renovável. Mágica? Não, em vez da mamona, a soja garante o biodiesel para a Petrobrás, respondendo por 80% da oferta, seguida do biodiesel de sebo bovino (15%). Para sorte da sociedade e do meio ambiente, a lei se cumpriu. Avança em todo o mundo a agricultura energética. Na agenda das mudanças climáticas globais, definitivamente a energia renovável se imporá.
Que ninguém duvide: os biocombustíveis, tanto quanto a bioeletricidade, ostentarão lugar de destaque na economia verde do futuro. Energia renovável representa um passaporte da sustentabilidade. Será importante, porque democrático, trazer a massa dos pequenos agricultores a esse decurso virtuoso. As novas tecnologias, amigáveis com a natureza, jamais poderão ser apropriadas apenas pelos ricos e poderosos. Nessa construção da economia de baixo carbono, todavia, inexiste espaço para a demagogia e o amadorismo. Muito menos para qualquer tentativa de sobrepor uma ideologia atrasada sobre o moderno desafio ambiental. Socioambientalismo, sim, manipulação política, não. O mais curioso dessa história do apagão da mamona se descobre no fisiologismo do poder. O mesmo Rossetto que, naquela época, articulou a festa da Ecodiesel hoje comanda a Petrobrás Biocombustíveis. Não se descobriu ainda se lá está para tentar salvar a cria ou para enterrála de vez. Coisas da política. ● Xico Graziano, agrônomo, é secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xico@xicograziano.com.br Site: www.xicograziano.com.br
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
Heitor Villa-Lobos ( ✟ 17-11-1959)
FÓRUM DOS LEITORES Democraciaem risco O que era de esperar acontecerá, a exemplo do que já ocorre na Venezuela. O discurso “Lulinha paz e amor”, conversa fiada para iludir os ingênuos, começa a ser substituído pela retórica totalitária dos líderes petistas. A manutenção da censura imposta ao Estadão, ao arrepio do Estado Democrático de Direito e sob a proteção de uma Justiça ao menos leniente, nada mais é do que o ponto de partida para o controle estatal da mídia que o PT, na prática, pretende propor na Conferência Nacional de Comunicação, a se realizar em dezembro, em Brasília. A guinada para a esquerda da estratégia do PT (16/11, A4) é a reafirmação das
Há algum tempo se discute o poder de investigação do Ministério Público (MP). Sustenta a maior parte dos opositores, com argumentos de viés corporativista, caber tão somente à polícia a investigação criminal. Outros, e de forma até compreensível, são os que se tornaram réus a partir de investigações presididas pelo MP e que têm, às vezes, como única defesa a tentativa de desqualificá-las com o objetivo de anular o processo-crime contra eles iniciado. Os argumentos contrários à atuação do MP no campo da investigação criminal são frágeis e não resistem a uma análise técnica. A instituição detém com exclusividade a titularidade da ação penal pública (artigo129, I, da Constituição federal). Nada mais natural que lhe caiba, como senhor da ação (dominus litis) que é, promover e dirigir a investigação criminal em casos pontuais – naqueles em que o interesse público o exige. Não se pode, entretanto, confundir o poder de investigação do MP com a função rotineira da polícia, que é a de investigar os crimes de qualquer natureza. Jamais o MP buscou isso. O que se afirma é que possa a instituição exercer – como, aliás, vem fazendo há mais de uma década – paralelamente à polícia, e de
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
forma concorrente, o poder de presidir e realizar investigação criminal em casos especiais e, sempre, de forma excepcional. Dentre as várias funções institucionais do MP, como a proteção do meio ambiente, do consumidor, o combate à improbidade administrativa e outras, o carro-chefe é, sem dúvida, a área criminal. É nos esforços que a sociedade desenvolve para coibir a criminalidade organizada que o MP deve empregar suas energias e suas ações. No início da década de 1990, o Ministério Público do Rio de Janeiro, comandado pelo então procurador-geral de Justiça Antonio Carlos Biscaia, desencadeou investigações para combater o crime organizado, especialmente os chamados “barões” do jogo do bicho. A ação pioneira – no estilo da Operação Mãos Limpas, da Itália – alcançou repercussão internacional. Convidado pela administração Bill Clinton, Biscaia formou um grupo com promotores e procuradores de Justiça de alguns Ministérios Públicos estaduais para acompanhar nos EUA o trabalho desenvolvido pelos promotores federais norte-americanos no combate ao crime organizado. No ano de 1995, imergimos num “programa de cooperação técnica” desenvolvido pelo Departament of Justice (Ministério da Justiça) e observamos o trabalho dos agentes federais norte-americanos com meios e recursos de que, infelizmente, não dispomos. No Brasil nem sequer havia lei para o combate à lavagem de dinheiro e para o emprego da interceptação telefônica como mecanismo de investigação. Não se questiona nos EUA o poder de investigação dos promotores. Os crimes de interesse nacional têm suas investigações por eles coordenadas, cabendo-lhes traçar as linhas mestras das ações. Ao longo destes anos, no Brasil, o MP tem caminhado nesse sentido, em que pesem as iniciativas de alguns para derrubar ou comprometer esse poder de investigação, que, em verdade, lhe é inerente. O Ministério Público, instituição autônoma, tem seus membros dotados de garantias constitucionais, que lhes permitem atuar com independência e imparcialidade, requisitos básicos para uma eficaz investigação, especialmente quando envolve determinados agentes públicos. E não estamos imunes a ameaças, na maior parte das vezes veladas, restando-nos continuar o trabalho com a imparcialidade de antes. A instituição vem exercendo, desde há muito, o controle da atividade policial, com a supervisão dos inquéritos policiais e de medidas de investigação (interceptações telefônicas,
FAX:
(11) 3856 2920
prisões cautelares, etc.), o que permite intervir nesses procedimentos para coibir ilegalidades e suprir omissões ou falhas. Por ser o MP o destinatário final da investigação realizada pela polícia é que lhe cabe dizer – quando da requisição do inquérito policial, no curso dele ou quando findo – quais as diligências imprescindíveis à formação da opinio delicti, as que servirão para lastrear a denúncia ou a promoção do arquivamento da investigação. Promulgada a Constituição da República vigente, em 1988, a fiscalização da atividade policial, exercida pelo MP e fulcrada em legislação infraconstitucional, consolidou-se, passando a ser prevista na Carta Magna, que a intitulou “controle externo da atividade policial” (artigo 129, VII). Indaga-se aos contrários ao poder de investigação do MP: como realizar com eficácia e resultados o controle externo da atividade policial sem o instrumento da investigação para fazê-lo? Retirar o poder de investigação do MP seria o puro esva-
É um verdadeiro nonsense entender que o MP não possa investigar ziamento dessa atribuição consagrada constitucionalmente. Entender que o mesmo MP ao qual cabe intervir na investigação feita pela polícia não possa investigar é um verdadeiro nonsense. Não há dúvida de que para coibir eventuais ilegalidades no trabalho de investigação do MP o controle formal dessas investigações se faz necessário. Controlar a investigação, sim, impedi-la a pretexto de cometimentos de ilegalidades, não. O Conselho Nacional do Ministério Público, ao editar a Resolução nº 13/06, já se mostrou atento e sensível à necessidade de disciplinar e uniformizar – no âmbito dos Ministérios Públicos do País – a instauração e a tramitação do procedimento investigatório criminal. E na mão da História veio a recente decisão da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, relatada pelo ministro Celso de Mello, que reconheceu o poder de investigação do Ministério Público. Espera-se agora que a decisão reflita a dos demais ministros da Corte Suprema do País. ● Marcia de Holanda Montenegro, procuradora de Justiça (atua na Câmara Especializada em Crimes Praticados por Prefeitos), integrou o Grupo de Atuação Especial do Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público do Estado de São Paulo
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Injustiçacomas oposições reais intenções que ardilosamente vem escondendo. Os irresponsáveis populistas, ávidos pelas vantagens que auferem com o apoio ao governo, não perdem por esperar, pois não ficarão livres das afiadas garras que a esquerda brasileira começa novamente a mostrar. ARNALDO AMADO FERREIRA FILHO amadofilho@terra.com.br
São Paulo ● A democracia brasileira é ameaçada diuturnamente pelas “viúvas” de Lenin e de Hitler. A única maneira de exorcizar as nefastas esquerda e direita é o liberalismo, com uma drástica redução do tamanho do Estado, pois sem o Estado essas “viúvas” não têm competência para sobreviver. Seria uma
bela faxina ideológica... BENEDITO DANTAS CHIARADIA bdantas@uol.com.br
São Paulo
Mordaçana imprensa Quando lemos que o pt (com minúscula mesmo) quer criar mecanismos para amordaçar a imprensa, chegamos à conclusão de que o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o presidente Lulla mentiram quando manifestaram repúdio à mordaça sofrida pelo Estadão por obra do primogênito do senador Sarney. Deram tiro de festim para enganar a população. Na realidade, eles devem estar por trás da mordaça, pois é do conhecimento geral que o pt age em grupo e ne-
nhum militante, simpatizante ou dirigente pode discordar, senão é expulso do partido! A cúpula petralha, por intermédio do seu presidente, diz-se a favor da mordaça à imprensa! Berzoini apenas manifestou publicamente o que já deve estar sendo decidido nos subterrâneos do palácio. Espero que a imprensa independente abra os olhos e comece a se defender do ataque, que até 2010 será implacável. De jeito nenhum eles querem largar o osso suculento! BEATRIZ CAMPOS beatriz.campos@uol.com.br
São Paulo ● Qual é o entrave? Contra a censura ao Estadão, por empenho da família Sarney, já se pronuncia-
ram ministros do Supremo Tribunal Federal, juristas, cientistas políticos, artistas, filósofos, políticos, entidades nacionais diversas, entidades internacionais de direitos humanos, empresários e até o ministro da “Justiça”, ora vejam! O que acontece que essa censura não tem fim, apesar de quase o mundo todo ser contrário a ela? Será “respeito” aos senhores feudais, aos donos do poder no Brasil, que comandam conforme sua vontade? Machado de Assis já dizia: “Não há alegria pública que valha uma boa alegria particular.” E lá se vão quase quatro meses de censura! MYRIAN MACEDO myrian.macedo@uol.com.br
São Paulo
Concordo que a oposição, às vezes, mira no alvo errado. Mas seria a oposição limitada ao governador José Serra? O editorial Oposição sem rumo (16/11, A3) acaba repetindo o novo mantra petista, apenas. Sejamos justos: quem acompanha os pronunciamentos dos senadores do PSDB e do DEM sabe que os partidos apontam, sim, incansavelmente, a política da gastança, do aparelhamento, do desmonte da educação e da saúde. Suas opiniões e ideias, todavia, dificilmente chegam aos jornais. Se falta alguma coisa aos partidos da oposição não é discurso nem propostas. É visibilidade, espaço para falar, interesse de órgãos de imprensa em ouvi-los. O governo Lula e o PT ocupam todo o espaço disponí-
TERÇA-FEIRA, 17 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 109 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura é um enorme desserviço à sociedade’ Para o desembargador José Renato Nalini, medida é um retrocesso da ordem democrática Moacir Assunção
O desembargador do Tribunal deJustiçade SãoPauloJoséRenato Nalini, considera a censura ao Estado, decretada pelo TJ do Distrito Federal em 31 de julho, “um enorme desserviço à sociedade”, além de retrocesso da ordem democrática. “Como poderemosgarantir queapopulação em geral vai exercer o seu protagonismo, se ela não puder se informar do que está aconte-
cendo?”, argumentou Nalini, autor de vários livros na área de direito e presidente da Academia Paulista de Letras (APL). Ele ponderou que os governantes gostariam de não sofrer fiscalização, mas essa é umacondição essencial da existência da democracia. Ofato deum tribunal,portanto um órgão do Poder Judiciário, ter decretado a censura demonstra para o escritor que há problemasno aprendizado jurí-
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dico no País. “Sofremos de um anacronismo na formação que faz com que os juízes se enxerguem como representantes de um poder soberano estatal e não servidores públicos, portanto da sociedade”, afirmou. Os membros do Judiciário, lembrou Nalini, são os guardiães da Constituição e devem balizar suas ações pelo respeito irrestrito às normas constitucionais, totalmente contrárias à mordaça e às manifesta-
ções do poder absoluto. “Uma decisão como esta da mordaça nos causa perplexidade.Alguém quefaçaisso, meparece, se sente imbuído do direito divino do monarca, como se não pudesse ser criticado. O governo não pode ser imune à fiscalização”, ressaltou. Em sua opinião, pedidos de censura de veículos de comunicação poderiam até partir de governantes em início de governo, mas jamais ser acolhidos por juízes.
Estes, em sua visão, devem perceber que a Constituiçãorepresenta uma espécie de pacto entre a sociedade e os Poderes constituídos,de forma queo poder constituinte é superior ao Estado e ao governo de plantão. “Os juízes são os guardiães da Constituição, mas não são os únicos e privilegiados leitores dela; que deve ser lida e observada por todos”, afirmou. Nesse prisma, a censura, em sua opinião, se configura como
uma espécie de aberração legal nos dias de hoje. “Esta é uma leitura tacanha das leis. Tanto se fala de transparência, mas esta só tem valor quando é a favor?”, questionou Nalini. SUPREMO
No entanto, para ele, com o que concordam vários especialistas da área jurídica, a mordaça cairá tão logo seja submetida à apreciação do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Nalini, vários membros e decisões do Supremo têm demonstrado o repúdio do tribunal à mordaça.“Em boa hora, o STF, por seus membros, tem dito que a censura foi banida no espírito da Constituição de 1988.” ●
Juiz proíbe blogs de opinar sobre deputado sob suspeita A Justiça proibiu dois blogs de Cuiabá – Prosa e Política, da economista Adriana Vandoni, e Página do E, de Enock Cavalcanti – de emitirem “opiniões pessoais” sobre o deputado José Riva (PP), presidente da Assembléia Legislativa do Mato Grosso e alvo de quase uma centena de ações judiciais movidas pelo Ministério Público por supostos atos de improbidade. Em decisão do dia 10, o juiz Pedro Sakamoto, da 13ª Vara Cível, acolheu pedido deliminarem açãode indenização por danos movida por Riva, “conhecida personalidade pública do Estado”. Os blogueiros devem se abster “de emitir opiniões pessoais pelas quais atribuam àquele (deputado) a práticadecrime,semquehajadecisãojudicialcomtrânsito em julgado que confirme a acusação, sob pena de multa deR$1.000,00poratodedesrespeito a esta decisão e posterior ordem de exclusão da notícia ou opinião”. “Em algumas matérias os réus extrapolaram o direito de informação e agrediram a
Riva é alvo de quase cem ações por supostos atos de improbidade dignidade do autor por meio de afirmação indevida da prática de crimes sobre os quaisaindanão hádecisãojudicial irrecorrível”, asseverou o juiz. “Estou convicto de queamantença dessasmatérias jornalísticas em site da internet resultará em prejuízo à imagem do autor uma vezqueesteestásendotachado de criminoso antes mesmo da existência de sentença com trânsito em julgado.” “Não será esta concessão de liminar que me acovardará ou intimidará”, reagiu Adriana em seu blog (www. prosaepolitica.com.br). Acensuraprovocoumanifestações de solidariedade a Adriana até no Senado. “Fatos como esse, bem como a censura ao Estadão no caso da família Sarney, só demonstram que temos que caminhar muito para que tenhamos uma democracia não só formal, mas sobretudo material”, alerta o procurador da República Pedro Taques. “A decisão viola princípios constitucionais. A responsabilização não pode serprévia,notadamentetendo em conta fatos narrados empeçasjudiciaisedoMinistério Público.” “Todo excesso deve ser combatido”,declarouodeputado. “A notícia pode ser publicada, mas dentro do limite da notícia. Não tenho condenação com trânsito em julgado. Em que pese os processos, ela (Adriana) não tem direito de emitir opiniões jocosas e agressivas contra a minha pessoa. Fiz o que devia fazerparaacabarcomexageros.SerquestionadonaJustiça tudo bem, mas não é justo que a imprensa condene você.” ● FAUSTO MACEDO
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TERÇA-FEIRA, 17 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Direto Da Fonte
Colaboração
Doris Bicudo doris.bicudo@grupoestado.com.br Gabriel Manzano Filho gabriel.manzanofilho@grupoestado.com.br Pedro Venceslau pedro.venceslau@grupoestado.com.br Marilia Neustein marilia.neustein@grupoestado.com.br
Sonia Racy
/diretodafonte
protegidos de Madonna Em passagem-relâmpago pelo Brasil, para quem mesmo Madonna veio arrecadar recursos? Não se sabe bem a razão, mas a cantora, tão pública em tudo o que faz, manteve segredo sobre seus protegidos. Só quem contribuiu recebeu explicações detalhadas – e assim mesmo com assinatura de confidencialidade em documento de 14 páginas. A papelada conta a atuação da Success For Kids Brasil, que funciona desde maio de 2008. A filial brasileira da ONG de Madonna já tem 620 crianças em 22 cursos pilotos voltados para quatro focos: habilidade na solução de problemas, autoestima, competência social e senso de vida. Os alunos foram pescados entre os 1,6 milhão de crianças pobres, das 6 milhões com idade entre 7 e 14 anos no Estado de São Paulo. No Rio, a situação é pior. Segundo o paper da ONG, lá vivem 4 milhões de crianças, das quais 2 milhões em famílias com renda per capita inferior a meio salário mínimo.
Protegidos 2 No conselho consultivo da SKF Brasil, em fase de constituição, figuram nomes como Jayme Garfinkel, Pedro Sirotsky, André Kaufmann e Bernadette Coser. Mas o que Madonna entende da pobreza no Brasil? Quem conversou com ela se surpreendeu. A moça é inteligente, pragmática e conhece, sim, a situação das favelas e favelados...
O Bem Amado A formatação da publicidade das Olimpíadas em 2016 estará pronta entre abril e maio do ano que vem. Mas uma coisa já é certa, avisa Carlos Nuzman. “O Comitê Olímpico Brasileiro não terá agência de marketing e tampouco pagará comissões”.
JUAN GUERRA/AE
GREG SALIBIAN
Foi em grande estilo a estreia do novo show de Ney Matogrosso, Beijo Bandido. Sexta, no Teatro Bradesco.
As agências vão adorar...
Copy cat?
●● Ana Carolina, em aquecimento pré-palco. Sexta-feira, na estreia de seu novo show n9ve. No Credicard Hall.
A Livraria Cultura foi à Justiça contra a Saraiva por causa de sua filial em Manaus. “Ela reproduz loja que fiz para a Cultura no Market Place de São Paulo”, avisa Fernando Brandão, arquiteto dos projetos da Cultura.
Na FRente ● Geisy Arruda já escolheu suaescolade samba:serádestaque da Porto da Pedra, no Rio.
A Saraiva, que ainda não recebeu a citação judicial, garante que o projeto de Manaus “possui inspiração e temática próprias”.
● Tom Wolfe, um dos pais do jornalismo literário, chegou sábado a convite do Fronteiras do Pensamento. Avesso a entrevistas, passou o dia em uma fazenda de amigos em Jundiaí e jantou no Figueira Rubaiyat onde não economizou nos elogios sobre a árvore.
Preliminares Indícios revelam que a viga que ocasionou o desastre no Rodoanel não teve içamento apropriado.
● Niura Bellavinha inaugurahoje a mostra Fluidos E Fixos, na Galeria Luciana Brito. ● Edison Veiga lança, hoje, Essa Tal Proclamação da República. Na Vila da Fradique.
Verde, a esperança Carlos Minc recebeu boas informações ontem por telefone. Índia e África do Sul avisaram que estão dispostos a levar metas de redução do carbono ao encontro climático de dezembro.
● Marcelino Freire e a Record trazem para a Balada Literária o premiado autor angolano João Melo. Para uma mesa, quinta, no Sesc Pinheiros. ●A homenagem da Grande Rio a Joãozinho Trinta em 2010 vai fazer parte do documentário A Raça Síntese de Joãosinho Trinta. De Paulinho Machline.
Apesar das decisões, de Obama e da China, de nada decidir em Copenhague. LUCIANA SERRA
● Parece piada de petista mas não é. Quem liga no departamento de comunicação do Ministério de Minas e Energia em busca de informações sobre o apagão é orientado a falar com... Fernando Henrique. O coordenador da área.
Coisa nossa O Iphan reúne-se quintafeira para tombar como patrimônio público, coisa algo inédita: um sistema indígena de produção agrícola.
PAULO GIANDALIA/AE
PAULO GIANDALIA/AE
Trata-se de um processo utilizado por cinco comunidades do Rio Negro.
4, 3, 2, 1... Nem Dilma, nem Marina, nem Serra. Foi oficializada, sexta, a primeira candidatura ao Planalto em 2010: a de José Maria de Almeida, do PSTU. Plataforma? Acabar com o capitalismo.
Rubros verdes Com a decisão do PSTU, foi dissolvido o bloquinho da ultra esquerda formado por PSOL, PSTU e PCB. E o partido de Heloisa Helena voltou a conversar com o PV de Marina Silva.
●● Regina Mayall com Ricardo e Gisela Amaral, no evento beneficente em prol da Parceiros da Educação, sexta, no Espaço Iguatemi. A entidade arrecadou R$ 1,6 milhão.
Famiglia unida
olimpíadas 2016
Enquanto a censura no Estado é mantida, o macarrão corre solto no clã Sarney.
Conversa testemunhada pela coluna, neste fim de semana, entre duas moradoras de rua na calçada da rua Garcia D’Ávila – a Oscar Freire do Rio.
Para o casamento de Ana Clara, filha de Fernando Sarney, viajaram até o Maranhão de avião 150 kg de massas frescas, do restaurante Beth Cozinha de Estar.
“Menina, para dormir aqui, tive que passar horas limpando. Tava uma sujeira...”
●● Alex Flemming abriu a mostra Sistema Uniplanetário, sábado, na Pinacoteca. E Rose Costa.
●● Guto Lacaz conferiu a exposição que faz referência a Galileo Galilei.
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QUARTA-FEIRA
Pressão faz comissão levar adiante fim do chamado fator previdenciário A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou, por unanimidade, relatório favorável a projeto de lei que prevê o fim do fator previdenciário – mecanismo que retarda as aposentadorias. O embate agora segue para o plenário da Câmara. Os líderes do governo dizem que o assunto só deve entrar na pauta depois da votação dos projetos do pré-sal. Além disso,eles querem umaalternativa ao fator previdenciário, usando o déficit da Previdência Socialcomoargumento.Osaposentados, porém, já avisaram que não aceitam essa substituição e ainda pretendem pressionar para que todas as aposentadorias sejam reajustadas com o mesmoíndicedecorreçãodosalário mínimo. ● PÁG. B1
DIRETOR:
RUY MESQUITA
60% dos imóveis de SP terão IPTU maior Os proprietários de 1,7 milhão de imóveis na cidade de São Paulo pagarão até 60% mais de IPTU em 2010. Calcula-se que o reforçonoorçamentodaPrefeitura será de R$ 644 milhões. Nospróximosanos,276milimóveis, já taxados com 40% em 2010, serão atingidos por novos reajustes, com base na correção do valor venal. Capitais como Salvador e Belo Horizonte também planejam aumentar o imposto. ● PÁGS. C1, C3 e C4
Crea vai vistoriar 2 mil vigas do Rodoanel
ED FERREIRA/AE
Pane elétrica na Caixa suspende liberação de FGTS
DE OLHO – Aposentadas acompanham a sessão na Comissão de Constituição e Justiça: proposta vai para votação no plenário da Câmara
Apagão tem duas hipóteses, diz ONS
Sucessão
ALEX DE JESUS/O TEMPO
Nos dois casos, causa é climática Uma semana após o apagão, o Operador Nacional do Sistema elétrico informou que técnicos levantaram duas hipóte-
(1891-1927)
18 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42400
Avança na Câmara projeto que muda regras da aposentadoria
●● ● Uma pane elétrica no prédio central da Caixa Econômica Federal no Rio, segundo o banco, causou a suspensão do pagamento de FGTS. A CEF informou que o serviço já voltou, mas em ao menos 13 agências paulistanas ele seguia fora do ar ontem. ● PÁG. B3
JULIO MESQUITA
ses para o blecaute: raios nas linhas de transmissão e curtocircuito causado por fortes chuvas e ventos. ● PÁG. B3
Todas as 2 mil vigas dos viadutos, pontes e passagens de nível do Trecho Sul do Rodoanel serão vistoriadas pelo Conselho Regional de Engenharia (Crea-SP), informa o repórter Eduardo Reina. A decisão foi tomada em razão da queda de três vigas na sexta-feira. O Crea, que já tinha sugerido a hipótese de erro de construção da estrutura, quer saber se há risco semelhante em outros pontos da via. ● PÁG.C9
EUA recomendam mamografia aos 50
Supremo decide hoje o caso Battisti
Diretriz não é consenso no Brasil
Comovotodedesempate doministro Gilmar Mendes, o STF define hoje o processo de extradição de Cesare Battisti. Mas ministros ainda querem discutirse opresidenteLula éobrigado a seguir o veredicto. ● PÁG. A4
Estudo de um grupo de médicos que assessora o governo dos EUA orienta as mulheres a fazer mamografia só a partir
dos 50 anos. O governo brasileiro já dava a mesma recomendação, mas muitos médicos não a seguiam. ● PÁG. A20
ABRAÇO – Encontro em BH NOTAS E INFORMAÇÕES
Palmatória do mundo A busca de prestígio exacerba a oportunista diplomacia presidencial de Lula e move sua política externa. ● PÁG. A3
●●●
Tempo: CAPITAL
31º
MÁX.
● PÁG. C2
18º
MÍN.
Dia de sol e calor, com nuvens, mas sem chuvas na capital.
Hoje: 90 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 22 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 6 ● G. Agrícola: 16 Classificados: 145 anúncios
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Palmeiras, sem direito de errar O Palmeiras, que liderou boa parte do Brasileiro e caiu para a terceira posição, tenta manter o sonho do título. Para isso, precisa vencer os três jogos que restam. O primeiro é contra o Grêmio, hoje, no Olímpico. O presidente doclube,LuizGonzagaBelluzzo, foi suspenso por 270 dias pelo STJD. ● PÁG. E1
Ciro diz que sai em favor de Aécio ●● Segundo deputado, governador de Minas encerra “provincianismo” de PT e PSDB. ● PÁG. A7
TUTTYHUMOR
Não vale chorar
O DEM liberou a bancada para ver Lula, o Filho do Brasil, mas vai expulsar quem chorar. ● PÁG. C12
agrícola ●● ProdutordeSãoCarlos
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 110 DIAS q PÁG. A10
(SP) aposta na oferta de vinhos personalizados. ●
CADERNO 2
EUA e China agora falam em meta climática
RENATO ROCHA MIRANDA/TV GLOBO
ESPORTES
AMOR – Adriana Esteves (Dalva) e Fábio Assunção (Herivelto)
Tapas e beijos na MPB Aconturbadarelaçãoamorosa entreacantoraDalvadeOliveira e o compositor Herivelto Martins é tema de minissérie
deMariaAdelaideAmaral.“Paraumdramaturgo,éumahistória irresistível”, disse a autora à repórter Patrícia Villalba. ●
EUAeChinamudaramodiscurso sobre a Conferência do Clima em Copenhague, mês que vem. Os presidentes Barack Obama e Hu Jintao disseram que os países desenvolvidos devem apresentar metas de redução de CO2. No domingo, líderes mundiais tinham descartado a hipótese de acordo. ● PÁG. A18 ●●
MARCOS SÁ CORRÊA
Lulajá fezpose dequem vaichegar a Copenhague sem suor, como um corredor de maratona que apareceu de repente na reta de chegada. ● PÁG. A19
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QUARTA-FEIRA, 18 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 110 DIAS
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Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proĂbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negĂłcios do empresĂĄrio, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens jĂĄ apuradas sobre o caso
RONDÔNIA
Recurso contra censura ao ‘Estado’ chega ao Supremo Em reclamação com pedido de liminar, defesa do jornal ataca, ponto a ponto, a censura decretada pelo desembargador DĂĄcio Vieira, do TJ-DF ANDRE DUSEK/AE
Fausto Macedo
A batalha do Estado para se desvencilhar da mordaça que o calahĂĄ110diaschegouaoSupremo Tribunal Federal (STF). Pormeiodeumrecursodenominado reclamação – com pedido deliminar–, protocolado ontem demanhĂŁ na mais alta instância do JudiciĂĄrio, a defesa do jornal ataca ponto a ponto, em 17 pĂĄginas,o decreto de censura baixado pelo desembargador DĂĄcio Vieira,da5ÂŞTurmaCĂveldoTribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). A reclamação foi distribuĂda para o ministro Cezar Peluso. Subscrito pelo advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, o documento requer a “pronta suspensĂŁoâ€?docursodaaçãomovida contra o jornal pelo empresĂĄrio Fernando Sarney, filho do presidentedo Senado,JosĂŠSarney (PMDB-AP). Essa ação foi iniciadana12ÂŞVaraCĂveldeBrasĂlia, que rejeitara a censura, provocando recurso de agravo deinstrumentoporpartedeSarney. No TJ-DF o recurso caiu nas mĂŁos de DĂĄcio Vieira. O desembargador ordenou ao jornal que parasse de publicar reportagens sobre a OperaçãoBoiBarrica,queenvolveFernando Sarney. E estipulou multadeR$150mil“poratodeviolaçãoâ€? de seu “comando judicialâ€?. O Estado pede ao STF: “A suspensĂŁo dos recursos dela (açãocivil)tirados,especialmente o agravo ao qual a 5ÂŞ Turma CĂvel do TJ, sob presidĂŞncia e relatoriado desembargador Lecir Manoel da Luz, conheceu para, dando-se por incompetente, declinar dessa competĂŞncia paraoJuĂzoCĂvelFederaldoMaranhĂŁo e, invocando o ‘poder geral de cautela’, continuar tolhendo ao Estado.â€? A defesa pleiteia que o STF libere o Estado para “a regular divulgaçãodas informaçþesque obteve sobre Fernando Sarney e sĂŁo objeto da impetração judicial inibitĂłriaâ€?. Manuel Alceu ressalta que o jornal foi impedido de “divulgar as informaçþes e os elementos que recebeu e que, no exercĂcio do direito-dever jornalĂstico de comunicar, pretendia e continua querendo repassar a seus leitoresâ€?. Para ele, o TJ-DF “desacatouâ€? o histĂłrico julgamento do STFqueculminoucomarevogação da Lei de Imprensa, do regimeautoritĂĄrio.Oadvogadoassinalou que a censura judicial foi “operadasob asvestes daproteção aos direitos da personalidade como se a eles pudesse ser
OpresidentedaComissĂŁodeDireito Constitucional da OABSP, Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, enxerga, na decisĂŁo doTribunaldeJustiçadoDistrito Federal (TJ-DF), que instituiu a censura ao Estado, um dilema que nem deveria existir. “Aos polĂticos se exige um plus de ĂŠticaâ€?, afirmou ele, para lembrar a necessidade de ocupantes de cargos pĂşblicos se lembraremdo ditado segundoo
O Tribunal Superior Eleitoral adiou para a próxima semana o julgamento do processo de cassação do governador de Rondônia, Ivo Cassol (PP), que seria realizado ontem. O relator do caso, ministro Arnaldo Versiani, pediu mais tempo para examinar a questão. Nos bastidores, especula-se que o adiamento seja por causa da greve dos servidores do Poder Judiciårio. O governador faz parte do grupo de oito governadoresameaçadosdecassação por causa de irregularidades nas eleiçþes de 2006. RIO
BNDES ĂŠ o novo alvo de sem-terra e Ăndios SerĂĄ realizado no Rio, na semana que vem, o Encontro Sul-Americano de Populaçþes Afetadas pelos Projetos Financiados pelo BNDES. Trata-se de uma tentativa de articulação de diferentes tipos de movimentos sociais na regiĂŁo, com a participação dos sem-terra, indĂgenas, ambientalistas e outros grupos que afirmam sofrer algum tipo de impacto com obras financiadas pelo BNDES, um dos maiores bancosde fomentodo mundo. Os organizadores criticam os critĂŠrios de financiamento. QUESTĂƒO AGRĂ RIA
CPT vĂŞ aumento das tensĂľes no ParĂĄ Os conflitos na ĂĄrea rural do ParĂĄ estĂŁo se agravando perigosamente, segundo a ComissĂŁo Pastoral da Terra (CPT). Em nota sobre o assunto, a entidade atribui as tensĂľesĂ â€œexpansĂŁoindiscriminadadamineraçãoedapecuĂĄriaâ€?. A CPT tambĂŠm diz que estĂĄ em curso no Estado uma articulação de setores ruralistas, de parte do JudiciĂĄrioe dosmeios decomunicação com o objetivo de desestabilizar o governo de Ana Julia Carepa (PT) e atacar os movimentos sociais. SĂƒO PAULO DEFINIĂ‡ĂƒO – Recurso do jornal, que pede ‘pronta suspensĂŁo’ da censura, foi distribuĂdo ao ministro Peluso
Câmara aprova moção de repĂşdio Ă mordaça Uma moção de repĂşdio Ă censura ao Estado foi aprovada ontem, por unanimidade, na Câmara de SĂŁo Paulo. Apresentada pelo vereador Carlos ApolinĂĄrio (DEM), com apoio de lĂderes de todos os partidos, a moção relembra a luta do jornal contra as ditaduras do Estado Novo e dos militares. SerĂŁo enviadas cĂłpias aos presidentes da RepĂşblica, Luiz InĂĄcio Lula da Silva, do Senado, JosĂŠ Sarney (PMDB-AP), do STF, Gilmar Mendes, e da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). â—?
â—?â—? â—?
forasteiro, apartado, quiçå incompativelmente distante, o fundamental direito Ă manifestação do pensamentoâ€?. A reclamação faz citação a manifestaçþes de ministros do Supremo.Umadelas,dodecano Celso de Mello. “A censura governamental, emanada de qualquer um dos trĂŞs Poderes, ĂŠ expressĂŁo odiosa da face autoritĂĄria do poder pĂşblico.â€? Manuel Alceu sustenta que o TJ-DF, “canonicamente agindo sob a roupagem de verdadeira Congregação para a Doutrina da FĂŠ, aviltou a liberdade informativa, sujeitando-a Ă inibição judicial prĂŠvia (...) e privilegiou, ou pensou estar privilegiando, direitos personalĂsticos subjacentes Ă privacidade e Ă
“Aos polĂticos se exige um ‘plus’ de ĂŠticaâ€?, afirma dirigente da OAB Moacir Assunção
TSE adia julgamento da cassação de Cassol
qualâ€œĂ mulherdeCĂŠsarnĂŁobasta ser honesta, tambĂŠm tem de parecer honestaâ€?. Aliberdadedeimprensa,lembra o especialista, nĂŁo ĂŠ um valor fundamental que se esgota por si sĂł, mas tem a ver com o papel exercido pela instituição imprensa na sociedade. OdireitoĂ intimidadedocidadĂŁo, destacou Amaral, ĂŠ garantido desde que suas atividades nĂŁo sejam pĂşblicas ou nĂŁo digam respeito a temas pĂşblicos. “Assim, as matĂŠrias jornalĂs-
ticas feitas pelo Estado, um jornal sĂŠrio e ĂŠtico, que nĂŁo tem o interessedecausarsensacionalismo, tratam de temas pĂşblicos, jĂĄ que envolvem personagens que discutem cargos em ĂłrgĂŁosdoEstadoâ€?,disseopresidente da comissĂŁo da OAB, ao questionar a mordaça, instituĂda a partir de ação movida pelo empresĂĄrio Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, JosĂŠ Sarney (PMDB-AP). NĂŁo vale neste caso, de acordo com Amaral, alegar que o
honra, sobrepondo-os ao direito prevalecente da atividade informativaâ€?. Areclamaçãodestacaqueoutros veĂculos de imprensa “propalaramĂ largaâ€? o conteĂşdo das gravaçþes da PF. “Os assuntos tratadospelosinterlocutores-familiares (os Sarney), e por terceiros, nĂŁo diziam mĂnimo respeito Ă s possĂveis intimidades do nĂşcleo familiarâ€?, argumenta o advogado. “Tudo o que naquelas gravaçþes estĂĄ contido consubstancia temĂĄrio de interesse pĂşblico, a abranger o preenchimento, nepotista ou nĂŁo, de cargosestatais,favorecimentosgovernamentais, intromissĂľes em licitaçþes e contratos da administração direta e das entidades paraestatais.â€? â—?
responsĂĄvel pela censura nĂŁo ĂŠ oparlamentar,masseufilho,como subterfĂşgio para diminuir a sua responsabilidade. “Quem ĂŠ parente de polĂtico tem de tomar mais cuidado ainda com as tentaçþes do poder. EstĂĄ implĂcito que a sua vida serĂĄ submetida ao escrutĂnio pĂşblico e nĂŁo poderĂĄ usar o escudo da privacidade, como se fosse um cidadĂŁo comumâ€?, afirmou. Fernando foi indiciado pelaPolĂciaFederalpor vĂĄrioscrimes na Operação Boi Barrica. Neste caso, lembrou o especialista, o tema tratado pelo Estado ĂŠ da mais alta relevância para a sociedade. “Trata-se de dinheiro pĂşblico. Dificilmente haveriaoutro temamais importanteâ€?, destacou. â—?
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Marcelo DĂŠda recebe alta do SĂrio-LibanĂŞs O governador de Sergipe, Marcelo DĂŠda (PT), recebeu alta mĂŠdica na tarde de ontem do Hospital SĂrio-LibanĂŞs, em SĂŁo Paulo. Internado desde o dia 4 para corrigir uma aderĂŞncia intestinal decorrente de uma cirurgia no pâncreas realizada no mesmo hospital, em outubro, o petista deve voltar ao SĂrio amanhĂŁ para exames de avaliação. A data de seu retorno paraSergipenĂŁoestĂĄmarcada. Durante sua ausĂŞncia, o vice Belivaldo Chagas (PSB) comanda o governo. DIREITO
Presidente da OAB serĂĄ conhecido hoje A Ordem dos Advogados do Brasil em SĂŁo Paulo vai conhecer oficialmente hoje seu novo presidente. AtĂŠ 23h20 deontemadisputaestavapolarizada, sobretudo nos discursos, entre Luiz D’Urso, atualpresidente,eRuiFragoso, seu principal opositor. D’Urso jĂĄ fez festa da vitĂłria. Ele informou que, apurados os votos de 203 subseçþes, de 223, estava bem Ă frente – 52.518 votos contra 45.630 do rival.“Causa espanto brutal essa divulgação porque eu estou com 1050 votos na frenteâ€?, reagiu Fragoso. SATIAGRAHA
De Sanctis envia mĂdias para STF O juiz Fausto De Sanctis enviouaoSupremoTribunalFederal discos rĂgidos e pen drives da Operação Satiagraha por ordem do ministro Eros Grau. De Sanctis afirma que prestigia o direito de defesa e que jamais vetou acesso Ă s provas.DĂłrioFerman,doOpportunity, alegou nĂŁo ter tido acesso.Segundoojuiz,cĂłpias de mĂdias nĂŁo foram entregues devido Ă informação da PF sobre defeito ou por nĂŁo conterem dados. Ele anotou que 603 certidĂľes revelam que a defesa recebeu cĂłpias e consultou os autos.
GOVERNO
PaĂs sobe no ranking, mas segue entre os mais corruptos Roberto Almeida
Levantamentoanualrealizado pela ONG TransparĂŞncia Internacional com fontes do mundo econĂ´mico, divulgado ontem, mostra que o Brasil melhorou cinco posiçþes, passando da 80ÂŞ colocação para o 75Âş lugar. A imagem de um Brasil corrupto, porĂŠm, continua forte. Ao todo, 180 naçþes foram pesquisadas para o Ă?ndice de Percepção da Corrupção (CPI, na sigla em inglĂŞs). O Brasil obteve nota 3,7. Na escala, zero indica um governo com alto grau de corrupção e 10, o mais baixo Ăndice. Isso significa que o Brasil nĂŁo consegue se livrar do estigma de corrupto entre as fontes pesquisadas, incluindo especialistas do Banco Mundial, lĂderes empresariais do FĂłrum EconĂ´mico Mundial e membros de bancos de desenvolvimento. ABAIXO DE 5
Desde 1995, quando começaram a ser realizados os Ăndices da TransparĂŞncia Internacional, o PaĂs nunca atingiu marca superior a 4,1, anotada em 1999. Somente uma nota acima de 5 ĂŠ considerada satisfatĂłria pela entidade. Sua posição na tabela sempre correspondeu Ă de paĂses como ColĂ´mbia, Peru e MĂŠxico, fato que se repete no Ăndiceelaboradoesteano,emque oBrasilteveamesmapontuação de ColĂ´mbia, Peru e Suriname (ver quadro abaixo). “Entre os nove paĂses que falharam em chegar Ă nota 5 (nas AmĂŠricas) estĂŁo Brasil, Peru, ColĂ´mbia e MĂŠxico, lĂderes econĂ´micos na regiĂŁo que deveriam se tornar bastiĂľes anticorrupção, mas foram atingidos por escândalosdeimpunidade,pagamentosdepropina,corrupçãopolĂtica e captura do Estadoâ€?, descreve a entidade. IMPRENSA LIVRE
ATransparĂŞnciaInternacional tambĂŠm faz um alerta a paĂses latinos que aprovaram leis para silenciar a imprensa – o que reduz a possibilidade de escancarar casos decorrupção.“Tantoa sociedade civil como a mĂdia tĂŞm um papel essencial na prevenção e na luta contra a corrupçãoâ€?, sublinha o documento. “EnfraquecĂŞ-las limita a possibilidade de atingir a prosperidade duradoura e a redução de desigualdades.â€? â—?
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● Edição de
0h35
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
19 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42401
Governo tenta evitar mudança na aposentadoria Projeto combatido pelo Planalto retoma critério anterior à reforma
DIDA SAMPAIO/AE
Projeto do senador Paulo Paim (PT-RS) que trata do fim do fator previdenciário ressuscita critério anterior à reforma da Previdênciafeitaem1998.Ocálculo da aposentaria voltaria a ter como base os últimos três anos de contribuição – o que, na maioria dos casos, permitiria a obtenção de benefícios de valor mais alto do que hoje. O governo teme pelo impacto nas contas da Previdência. ● PÁG. B4
CANSAÇO –
Aposentados dormem no corredor de acesso ao plenário da Câmara: pressão sobre deputados para garantir aprovação do projeto
STF deixa para Lula decisão sobre Battisti Extradição de italiano é autorizada, mas palavra final caberá ao Planalto
direto da fonte
ve ser extraditado. Desse modo, a extradição é tratada como questão de política externa. Em votação anterior, também com placar de 5 a 4, os ministros do STF concluíram que
opedido de extradição feito pela Itália é legal – a maioria dos votos considerou que o ativista foi condenado por crimes comuns, e não políticos, base para o refúgio concedido pelo mi-
ESPORTES
Viaduto que caiu estava quase pago
O empresário Fernando Sarney entrou com pedido de manutenção da censura, um dia após o jornal ter reclamado no Supremo Tribunal Federal da ordem que o impede de noticiar casoenvolvendoofilho dopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O Estado está sob censura há 111 dias. ● PÁG. A11
Esoterismo
Médium explicará apagão ao Senado
Kassab quer subir até 700% base para calcular IPTU
O BNDES liberou R$ 4,4 bilhões ao Grupo Oi, o maior empréstimo da instituição a umaempresa detelecomunicações. O valor é destinado a expansão, e não para melhorar o perfil da dívida da Oi, de R$ 21,1 bilhões. O BNDES é o maior sócio da controladora da tele, mas nega que o financiamento tenha a ver com essa relação. ● PÁG. B1
Aproposta decorreção daPlanta Genérica de Valores (PGV) enviada pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM) à Câmara eleva em até 700% a base de cálculo do IPTU. O metro quadrado em bairros como Santana, Morumbi, Jardins, Pinheiros e Tatuapé sofreu acréscimos de ao menos 100%. A Prefeitura defende a atualização da PGV, inalterada desde 2001. ● PÁGS. C1, C3 e C4
Restaurantes de verdade que você já viu no cinema
●● Fundação
Cacique Cobra Coral é chamada para falar de clima. ● PÁG. B9
Enem
Segurança sairá por R$ 1,26 milhão
VEXAME – Obina agride Maurício (encoberto): expulsos
●● Exército recebe recursos para proteger a distribuição da prova. ● PÁG. A23
Palmeiras perde a cabeça O Palmeiras ficou praticamenteforadadisputadotítulo brasileiro ao perder para o Grêmio por 2 a 0. No final do
primeiro tempo, ainda no gramado, Obina e Maurício, do Palmeiras, discutiram e trocaram socos. ● PÁG. E1
EUROPA ● Espanha ● Holanda ● Alemanha ● Inglaterra
● Sérvia ● Dinamarca ● Eslováquia ÁSIA ● Austrália
AMÉRICA DO NORTE E CENTRAL
● Nigéria
● EUA
● Gana
● México
● África do Sul
● Honduras
AMÉRICA DO SUL
OCEANIA
● Brasil
● Japão
● N. Zelândia
● Portugal
● C. do Sul
● Suíça
● C. do Norte
● Chile
● Grécia
ÁFRICA ● Camarões
● Eslovênia
● C. do Marfim
● Uruguai
● Argentina ● Paraguai
Com a mão, França vai à Copa
NOTAS E INFORMAÇÕES
Pequim não cede a Obama Apesar dos desmentidos, prevalece a visão de que o presidente dos EUA saiu da China de mãos vazias. A China ou se calou sobre as demandas de Barack Obama ou afirmou seu desacordo com elas. ● PÁG. A3
O vovô dos DJs
Osvaldo Pereira, de 74 anos, vai comandar festa na Barra Funda. ●
● Argélia
● França
A França classificou-se para a Copa ao empatar (1 a 1) com a Irlanda na prorrogação. O
CADERNO 2
●●
AS SELEÇÕES DA COPA
● Itália
gol francês foi marcado após Thierry Henry ajeitar a bola com a mão. ● PÁGS. E3 e E4 Tempo: CAPITAL
33º
MÁX.
● PÁG. C2
19º
MÍN.
Sol e calor em todas as regiões; pancadas de chuva no fim do dia.
●●●
7 8 9 10 11 12
BNDES dá empréstimo de R$ 4,4 bi ao Grupo Oi
Não é só coisa de filme
TCU aponta que Estadotinhaadiantadodinheiro de obra. ● PÁGS. C9 e C10
●●
Um e-mail originário da Prefeitura de São Bernardo pede patrocínio para a pré-estreia do filme sobre Lula na cidade, informa Sonia Racy. Será a única exibição à qual ele comparecerá. São oferecidas cotas de R$ 70 mil para a festa. ● PÁG. D2 ●●●
●●● O governo anunciou que cobrará 1,5% de IOF sobre a compra de ações de empresas brasileiras negociadas no exterior. A medida visa a conter a migração de recursos da bolsa brasileira para a de Nova York. ● PÁG. B5
paladar
Rodoanel
‘Vaquinha’ para a festa do filme
Clã Sarney vai aoSTF contra o‘Estado’
nistro Tarso Genro (Justiça). O STF entende ainda que a Itália tem de se comprometer a transformar a prisão perpétua em 30 anos de reclusão, pena máxima no Brasil. ● PÁG. A4
Hoje: 126 páginas A. 1º caderno: 30 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 16 ● D. Caderno2: 20 ● E. Esportes: 6 ● P. Paladar: 10 ● Cl. Classificados: 24 (2.184 anúncios)
DIVULGAÇÃO
O Supremo Tribunal Federal resolveu ontem, por 5 votos a 4, quecabe aopresidenteLuladecidirseoativistaCesareBattisti, condenado à prisão perpétua na Itália por homicídio, de-
Ação negociada no exterior pagará IOF
À MESA – Em ‘Vicky Cristina Barcelona’, Scarlett Johansson no Els Quatre Gats
QUINTA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 111 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Filho de Sarney pede a STF para manter censura Petição foi entregue ao ministro Peluso, que analisa reclamação do ‘Estado’ contra mordaça Fausto Macedo
OadvogadoEduardo Ferrão ingressouontemcompetiçãojunto ao Supremo Tribunal Federal (STF) por meio da qual pede manutenção da decisão do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), que proibiu o Estado de publicar detalhes da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. A petição foi entregue no gabinete do ministro Cezar Peluso, para quem foi distribuída terça-feirareclamaçãodoEstadocontraaordemdodesembar-
gador. O recurso, subscrito pelo advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, pede liminarmente a suspensão da censura ao jornal, em vigor há 111 dias. Manuel Alceu assinala que a mordaça imposta pelo Judiciárioé“certamenteamaisavassaladorae lastimáveldelas”. Oadvogado sustenta que o TJ-DF, “canonicamente sob a roupagem de verdadeira Congregação para a Doutrina da Fé, aviltou a liberdade informativa, sujeitando-a à inibição prévia (...) eprivilegiou,oupensa estarprivilegiando, direitos personalísticos subjacentes à privacidade
‘É intolerável’, diz professor da PUC ●● ● O advogado e professor de direito da PUC-SP Rubens Naves considera que a sociedade e o Judiciário precisam discutir uma nova legislação que permita respostas rápidas a temas de caráter constitucional, como a censura ao Estado. “É intolerável que uma situação tão sensível para a democracia, como a que está vivendo o Estado, perdure por tanto tempo sem uma resposta adequada do Judiciário. Espera-se
que, com a reclamação apresentada ao STF, a corte restabeleça a liberdade de expressão e de imprensa, tão caras a uma democracia como a nossa”, afirmou. Advogado da ONG Artigo 19, especializada em liberdade de expressão, Naves disse que a censura ao jornal é “abusiva e arbitrária”. “Mais que um direito, é um dever de um veículo de comunicação trazer a público dados relevantes.” ● MOACIR ASSUNÇÃO
e à honra, sobrepondo-se ao direito prevalecente da atividade informativa. ARGUMENTOS
“Pedimos que seja mantida a decisão que já havia sido tomada”, assinalou Ferrão, advogado de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), alvo da Boi Barrica. Os argumentos de Ferrão são os mesmos usados no agravo de instrumento – recurso ao TJ-DF contra decisão da 12ª Vara Cível de Brasília, que havia indeferido o pedido de Fernando. ●
ANOSDECHUMBO
Vinícius leva título post mortem de embaixador
O
poeta Vinícius de Moraes vai virar embaixador. Vinte e nove anos depois de sua morte e quatro décadas desde sua cassação pelo regime militar, o governo encaminhou ao Congresso um projeto de lei que o promove post mortem a ministro de primeira classe, topo da carreira diplomática. A iniciativa concluirá a reabilitação do poeta e diplomata. Em 2006, o Ministério das Relações Exteriores o reintegrou a seu quadro durante uma homenagem no Rio. Menos reconhecido como diplomata, Vinícius é reverenciado como poeta e coautor de canções emblemáticas da música popular – A Felicidade, Chega de Saudade, Garota de Ipanema, Eu Sei que vou te Amar, em parceria com Tom Jobim. Também é reconhecido por obras teatrais, como Orfeu da Conceição, e por seus sonetos. Nos anos 40, ingressou no Itamaraty. Mas sua carreira foi interrompida pelo maior expurgo da história da diplomacia brasileira, quando servia na embaixada em Paris, em 1969. Em seu desembarque no Rio, fez questão de anunciar à imprensa que fora cassado por ser “alcoólatra”. ●
NACIONAL NACIONAL A11 A11 IGUALDADE RACIAL
680 cidades comemoram ‘Consciência Negra’ Roldão Arruda
Levantamento da Secretaria Especial da Igualdade Racial indicaquecercade680municípios do País vão comemorar amanhã – com feriado ou ponto facultativo – o Dia Nacional da Consciência Negra. Isso representa 12,2% do total de 5.564 municípios. No Rio e em Mato Grosso, a data será lembrada em todos os municípios, por determinação de suas Assembleias Legislativas. Em São Paulo, Estado com a maior população negra do País, em termos absolutos, 104 municípios, de um total de 645, aderiram à comemoração. Na Bahia, apenas seis municípios vão lembrar a data, segundo o levantamento. É um número que pode ser considerado pequeno, levando em conta que, entre todos os Estados, a Bahia é o que registra a maior participação de negros no conjunto da população, chegando a 13%. Este foi, aliás, um dos motivos quelevaram o presidente LuizInácio LuladaSilvaa optar pela cidade de Salvador para anunciar, amanhã, medidas que beneficiam a população negra. Por motivos diferentes, também chama a atenção no levantamento a situação do Rio Grande do Sul. Embora os negros representem ali 5,2% da população, trata-se doEstado comomaiornúmerodemunicípiosquedecretaram feriado ou ponto facultativo: são 281, mais da metade dos 486 municípios gaúchos.
Lula escolheu Salvador para anunciar pacote de benefícios Existem dois prováveis motivosparaessacifra.Oprimeiro é que as comunidades negras do Rio Grande do Sul estãoentre as mais organizadas do País. O segundo é o fato de ter surgido naquele Estado, em 1971, a ideia de se lembrar o dia da morte do herói negro Zumbi dos Palmares, ocorrida em 20 de novembro de 1695, como o Dia da Consciência Negra. Em plena ditadura, a proposta do movimento negro eracriaruma celebração que se opusesse à celebração oficial, o 13 de Maio. No lugar da princesa Isabel, que assinou a lei de libertação dos escravos,puseramoheróidaresistência armada à escravidão. Foi só em 1995, no entanto, quea data foioficialmentereconhecida por uma cidade. Quem encabeçou a lista foi o Rio,apósa Câmarade Vereadores ter aprovado uma lei proposta pelo atual ministro da Igualdade Racial, o petista Edson Santos. Em 2002, a Assembleia estendeu a data a todos os municípios. ●
Denise Chrispim Marin BRASÍLIA
Entrevista Luiz Flávio Borges D’Urso: virtual presidente reeleito da OAB-SP
‘Uma mobilização pediu o terceiro mandato’ D’Urso diz que, se não fosse por esse movimento, não teria concorrido e garante que trocou projeto pessoal pelo de seu grupo Luis Flávio Borges D’Urso, virtualmente eleito presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional de São Paulo, quer uma Justiça com “mais mediações, mais conciliações, mais arbitragens, porque o processo não pode ser solução única para os conflitos”. Às 22h40 de ontem, o site da OAB indicava 46.033 votos para D’Urso (35,63%) e 41.066
(31,79%) para seu principal opositor, Rui Fragoso. Ainda resta apuração de 60 urnas. D’Urso já fala como eleito. Confirmado o triunfo, ele assumirá pela terceira vez o posto de mandatário máximo da entidade que aloja o terceiro maior colégio de advogados do mundo, com 285 mil inscritos, e arrecada R$ 200 milhões por ano. Filiado ao DEM desde 30 de setembro, D’Urso garante não ter projetos políticos. Ao Estado ele falou de metas prioritárias (gestões no Senado para aprovação do projeto que criminaliza violação de prerrogativas dos advogados) e do pa-
pel de sua categoria numa Justiça marcada por lentidão impressionante. Por que sempre D’Urso na presidência de uma seccional com 285 mil advogados?
Quem foi eleito não foi o D’Urso, foi a chapa liderada pelo D’Urso, com 130 nomes que vão comandar a OAB-SP. O presidente tem de ser um advogado. Não pode ser colegiado, não funciona assim. Por que eu? Por causa da mobilização que pediu o terceiro mandato para o D’Urso e que teve início no interior. Não fosse isso eu não teria concorrido, estaria
fazendo um trabalho político no Conselho Federal. Não há mais opções para a classe?
Ser presidente da OAB exige situações específicas. A primeira é ter disponibilidade de tempo para se dedicar à Ordem e situação financeira estável. Que não dependa da sua atividade plena no escritório. Precisa ter vida associativa, gostar disso. Senão, não funciona. Precisa ser profissional disposto a participar de processo onde vitória e derrota andam juntas. A abstenção bateu recordes. Em algumas seções foi a 40%. A que o
sr. atribui esse desinteresse de seus pares?
Reflete a frieza dessa campanha. Os outros candidatos, de oposição, tinham um único discurso contra o terceiro mandato do D’Urso. Só se falou nisso. Os outros temas se tornaram secundários quando o processo eleitoral deve se prestar ao debate dos grandes temas da advocacia, questões que envolvem ética profissional, prerrogativas, mercado de trabalho, papel institucional da Ordem, luta pelas liberdades públicas. Não existiu campanha. Qual o papel do advogado numa
Justiça tão lenta?
Meu pai é formado em 1956. Eu me formei em 82. Meus filhos estão se formando. Há mais de 50 anos não muda o perfil de formação do bacharel. O advogado, o juiz, o promotor, o delegado, todos têm a mesma formação. A formação do bacharel é a de um profissional amarrado. Os processos continuam se arrastando por 10 a 20 anos. Temos de abrir espaço para alternativas de solução dos conflitos. O processo judicial continuará existindo, mas não pode ser única solução. A negociação é o caminho. ● FAUSTO MACEDO
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Governoestuda MPparaconter aposentadorias da pressão dos aposentados, o governo não pretende negociar nada além do que foi acertado em agosto com as centrais sindicais – reajuste de 6% para as aposentadorias com valor acima do mínimo, em 2010 e 2011. Os aposentados querem8%, índice previsto pa-
APAGÃO: SUMIU O CRUCIFIXO
ra o mínimo. As MPs separariamosdoisassuntos– umadefiniriaomínimo ea outratratariadoreajustedas aposentadorias.Alémdisso,ogovernopretende vetar o projeto de Paim que elimina o fator previdenciário, fórmula que retarda a aposentadoria. ● PÁGS. B1 e B3
Brasil critica EUA sobre Honduras
Presente de grego Do ponto de vista do presidente Lula, ter de decidir o destino de Cesare Battisti é puro enrosco. ● PÁG. A6 ●● ●
ANDRÉ DUSEK/AE
Dora Kramer
No Ministério de Minas e Energia, crucifixo é removido para solenidade com o ministro Edison Lobão e o diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner. Assessores não quiseram associar as autoridades da área do apagão à ideia da morte na cruz. ● PÁG. B9
●●●
ESPORTES
SEGURANÇA PÚBLICA
JONNE RORIZ/AE
O assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, rejeitou a pressão dos EUA para que o Brasil reconheça as eleições em Honduras. Para ele, seria dar um “atestadodebonsantecedentes aos golpistas”. ● PÁG. A14
Hoje: 198 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 14 ● D. Caderno2: 10 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 6 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 4 (136 anúncios)
7 8 9 10 11 12
Tribunal mantém pena a jogadores do São Paulo O São Paulo não conseguiu efeito suspensivo para a pena de três jogos imposta a Jean, Borges e Dagoberto, expulsos diante do Grêmio. O time tem jogo decisivo domingo, contra o Botafogo, no Engenhão. ● PÁG. E4 ●●● Em crise, o Palmeiras já tem dúvida se chega à Libertadores. “Vai ser difícil. Atlético-MGeInterestãochegando”, disse Muricy. ● PÁG. E1
Lei argentina visa ‘crianças da ditadura’ O Senado argentino aprovou lei que permitirá a juízes ordenar teste de DNA para verificar o paradeiro de crianças sequestradas pela ditadura militar (1976-83). Filhos de opositores, alguns foram adotados. ● PÁG. A12
CHOQUE – Policial com pistola elétrica usada para imobilizar pessoas: descarga de 50 mil volts
PM entra enfim na era da tecnologia
A
PM paulista investe R$ 9 milhões em equipamentos hi-tech co-
mo mochilas com link, pistolas de choque e supercâmeras para helicópteros. Um
NOTAS E INFORMAÇÕES
Em sua decisão sobre Battisti, o presidente Lula deve levar
●●●
dos objetivos é reduzir o crescente número de mortes causadas pela polícia. ● PÁG. C1
Tempo: CAPITAL
Pura perda de tempo no STF? em conta mais do que o relacionamento com a Itália. ● PÁG. A3
Brasileiro está mais alto e obeso, diz estudo
Censura ao ‘Estado’ vai ao plenário do STF
Por isso, tendência é manter Battisti no Brasil, diz ministro cídio quando militava em grupo extremista de esquerda. Tarso disse que a tendência do governo é de manter Battisti no País,por “razões humanitárias”. O Supremo Tribunal Federal autorizou a extradição, mas deixou a decisão final ao presidente Lula. ● PÁG. A4
DIRETOR:
RUY MESQUITA
O brasileiro está mais alto e morre menos de doenças do coração. Em compensação, está mais gordo e morre mais de diabete.AsconclusõesestãoemdadospreliminaresdoestudoSaúde Brasil 2008, divulgados ontem pelo Ministério da Saúde. Os responsáveis pela pesquisa ressaltam que houve redução expressiva na subnutrição, principalmente infantil, mas a qualidade da alimentação deixa a desejar. ● PÁG. A17
Tarso: fascismo avança na Itália OministroTarsoGenro(Justiça) identificou “crescimento preocupante do fascismo” na Itália,tanto“empartedapopulação” quanto em “setores do governo”. A declaração é respostaàpressãoitalianapelaextradição de Cesare Battisti, condenado na Itália por homi-
(1891-1927)
20 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42402
Ideia é evitar o reajuste do benefício pelo salário mínimo, como querem aposentados Ogoverno já fala em recorrer a medidas provisórias para impedir a aprovação da emenda do senador Paulo Paim (PTSP)queestende atodos os aposentados o mesmo índice de correção do salário mínimo, projeto que ameaça piorar as contas da Previdência. Apesar
JULIO MESQUITA
31º
MÁX.
● PÁG. C2
21º
MÍN.
Sol aparece e faz calor, mas à tarde frente fria provoca pancadas de chuva e trovoadas.
O plenário do Supremo Tribunal Federal deverá decidir só em dezembro se acolhe ou não a reclamação apresentada pelo Estado para derrubar a censura imposta há 112 dias pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal. O jornal está impedido de noticiarinvestigaçãosobreFernando Sarney, filho do senador José Sarney (PMDB-AP). Fernandopediu ao STF a manutenção da censura. ● PÁG. A8
C ADERNO 2 Roqueiros com opinião vêm aí
●● JasonMrazéumdosartistas “engajados” que farão shows no País. ●
Guia
BOLEIROS
ANTERO GRECO Banir Maurício e Obina é culpá-los pela perda de um título tão certo quanto a eficiência de San Gennaro. ● PÁG. E2
A queda do muro
Constrangida, França festeja
Aviação
Gol irregular fez os franceses comemorarem a classificação à Copa de maneira envergonhada. ● PÁG. E2
●● Problema provocou o atraso de 236 voos e o cancelamento de 15. ● PÁG. C11
●● Seis artistas fazem a par-
tir de hoje primeira exposição de arte de rua do Masp. ●
Falha no check-in atrasa voos da TAM
A8 NACIONAL
SEXTA-FEIRA, 20 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 112 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Relator leva ‘Estado’ a plenário do STF Ministro Cezar Peluso preferiu não decidir sozinho e julgamento do caso da mordaça deve ficar para dezembro DIDA SAMPAIO/AE
BRASÍLIA
O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) deverá decidir somente em dezembro se acolhe ou não pedido de liminar emreclamaçãoapresentadapeloEstadocomoobjetivodederrubar a censura imposta há 112 dias pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal. A mordaça, aplicada pelo desembargador Dácio Vieira, do TJ-DF, impede apublicaçãodedadosdaOperaçãoBoiBarrica,daPolíciaFederal, que investigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidentedoSenado,JoséSarney (PMDB-AP). O relator da reclamação movida pelo Estado, ministro Cezar Peluso, preferiu não decidir sozinho ocaso e resolveu ontem queopedidode liminardeve ser julgado pelo plenário do STF, integrado por 11 ministros. Como Peluso estará em viagem internacional na próxima semana e sua presença é indispensável para a realização do julgamento, o plenário só deve decidir a questão em dezembro. Na terça-feira, o Estado entrou com reclamação no STF, instância máxima do Judiciário. Oadvogadodojornal,ManuelAlceu Affonso Ferreira, alega que a censura “é lamentável e avassaladora”. A defesa pediu que o Supremo libere o Estado para divulgar informações que obteve sobre Fernando Sarney. De acordo com os advogados, o jornal foi impedido de divulgar as informações e pretende exercer seu direito-dever de comunicar e repassar os dados aosleitores. Segundoadefesa, o TJ desacatou o julgamento em
DECISÃO COLEGIADA – Peluso, relator da reclamação, resolveu que pedido de liminar feito pelo jornal deve ser julgado pelo plenário do Supremo, com a presença dos 11 ministros
que o Supremo revogou a Lei de Imprensa e reforçou o pleno direitoàliberdade deinformação. Na quarta-feira, Fernando Sarney protocolou no Supremo
pedido para que seja mantida a censura determinada por Dácio Vieira. Ex-consultor jurídico do Senado, o desembargador é do convívio social da famí-
lia Sarney e do ex-diretor-geral Agaciel Maia. Peluso não estará no STF na próxima semana porque viajará para Helsinque, na Finlân-
dia. Ele é presidente e relator do comitê permanente da América Latina para revisão das regras mínimas da Organização das Nações Unidas (ONU) para
o tratamento de presos. Ele vai participar da reunião preparatória do 12º Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Crime e Justiça Criminal. ●
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
da USP, no Ipiranga, tem mostra sobre Darwin.
21 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42403
●● Sesc Interlagos
reproduz aldeia com índios de cinco etnias. ●
●● Exposição no Museu Afro Brasil
celebra o percurso das lutas políticas dos negros americanos. ●
● PÁG. A23 JONNE RORIZ/AE
REPRODUÇÃO
Ministro do STF diz que não se dobrou a pressões Ayres Britto afirma que não recuou ao deixar para Lula decisão sobre Battisti tisti, negou ter cedido a pressões a favor do ex-ativista, condenado na Itália por homicídio. “Eu sou imune a pressão”, disse em entrevista ao Estado.
Europeus investigam mutação da gripe suína
“Não estou nem aí. Estou me lixando para os que pensam que me dobram.” Ayres Britto afirmouqueseuvotofoicoerente com seu posicionamento em
casoanterior e quea decisão de extraditar alguém é política – o Supremo deve se limitar a “ver seos pressupostos legaisda extradição estão presentes”. Lu-
la pediu que Battisti suspenda greve de fome, qualificada de “pressão”, e disse que ainda não tomou a decisão sobre se irá extraditá-lo. ● PÁGS. A4 e A6
Paraespecialistas,exame deve ser feito só a partir dos 21 anos. ● PÁG. A22 CLAYTON DE SOUZA/AE
●●
Alunos do cursinho pré-vestibular do Objetivo, na Avenida Paulista, cantam em coro We
●●●
Are The Champions, do grupo Queen. Em pleno feriado, cursinhos funcionaram normalmen-
te e houve comparecimento em massa. Amanhã, 128.144 estudantes farão a prova da primei-
ESPORTES
WERTHER SANTANA/AE
Escândalo abala o futebol europeu Promotores alemães e a Uefa revelaram investigações que apontamamanipulaçãodecer-
Faixas de pedestre sofrem apagão ●● Há 48 pontos com problemas em apenas 70 km de ruas de SP. ● PÁG. C1
7 8 9 10 11 12
Estudo do Operador Nacional do Sistema Elétrico sobre os disjuntoresdarededoPaísmostra problemas em 48% desses dispositivos, que dão proteção contrasobrecarga.Segundo especialistas,oritmoda substituição dos equipamentos não tem acompanhado a expansão do sistemanacional,oqueelevarisco de danos. ● PÁGS. B1 e B4
Potências que negociam com Irã expressam ‘decepção’
EUA recomendam adiar papanicolau
Trânsito
Sistema elétrico usa peças obsoletas
Opresidente daAutoridadeNacional Palestina, Mahmoud Abbas, pediu ontem a Lula que o Brasilassumaopapeldemediador no conflito com Israel, dizendoqueo presidentebrasileiro é “muito capaz”. Lula criticou Israel por causa da expansão de assentamentos. ● PÁG. A7
Medicina
●● Produtor foi o pioneiro das dublagens de filmes no Brasil. ● PÁG. D12
WERTHER SANTANA/AE
Abbas pede mediação de Lula, que critica Israel
FUVEST: FESTA PARA ALIVIAR A TENSÃO
Cientistas europeus investigam a mutação do H1N1 e uma eventual transmissão entre pessoas de novos vírus dagripesuína,queseriamresistentes ao Tamiflu. Na Noruega, foi registrada mutação “substancial” do vírus em três pacientes. ● PÁG. A21
Herbert Richers morre aos 86 anos
DIRETOR:
RUY MESQUITA
A saga de King a Obama
●● Museu de Zoologia
Memória
(1891-1927)
CADERNO 2
Uma viagem pela evolução
O ministro Carlos Ayres Britto,cujovotonoSupremoTribunal Federal garantiu ao presidente Lula a prerrogativa de decidirodestinodeCesareBat-
JULIO MESQUITA
NOTAS E INFORMAÇÕES
O impasse Brasil-Argentina Sem acordo, o Mercosul continua a se enfraquecer. ● PÁG. A3
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cade 200 jogos, incluindo a Copa dos Campeões da Europa. Há dezenas de suspeitos de pa-
Tempo: CAPITAL
28º
MÁX.
● PÁG. C2
19º
MÍN .
Sol aparece, mas há condições de chuva durante o dia.
gar a árbitros, atletas e técnicos para forjar resultados e lucrar em apostas. ● PÁG. E3
Hoje: 146 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 4 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 14 ● Ci. Imóveis: 12 (3.138 anúncios)
ra fase da Fuvest, o maior vestibular do País, na disputa por 10.607 vagas.● PÁG. A22
Representantes de EUA, GrãBretanha, França, China, Alemanha e Rússia se disseram ontem “desapontados” com o Irã porcausada dificuldadedeconcluir o acordo nuclear proposto em outubro. Os diplomatas discutiram a hipótese de impor novas sanções ao país. ● PÁG. A18
Desabamento em shopping de SP fere 10
Blogueiros de Mato Grosso são censurados
Duas paredes de uma obra caíram na cobertura do Shopping SP Market, zona sul de São Paulo. Dez pessoas ficaram feridas. A Prefeitura responsabilizou a chuva e os ventos. Foi o segundo desabamento no local em cerca de um mês. ● PÁG. C4
A Justiça determinou censura a dois blogueiros de Mato Grosso que vinham fazendo comentários sobre deputado acusado de desvio de dinheiro público. Eles vão recorrer. ● PÁG. A8 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 113 DIAS q PÁG. A8
SÁBADO, 21 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS E INFORMAÇÕES A3 NOTAS E INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
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NOTAS & INFORMAÇÕES
O impasse Brasil-Argentina
O
comércio entre Brasil e Argentina continuará travado por barreiras, porque os presidentes Cristina Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiram, em cerca de duas horas de conversa, resolver as pendências comerciais entre os dois países. Apenas combinaram respeitar as normas da OMC, passando a expedir licenças não automáticas de importação no prazo de 60 dias e em liberar mais prontamente o ingresso de bens perecíveis ou sazonais. Nem sequer o prazo vinha sendo respeitado pelas autoridades argentinas. Se os dois presidentes precisam reunirse para prometer o cumprimento de uma regra válida para os 153 membros da OMC, para que serve o Mercosul? Houve muito mais entendimento sobre questões nada urgentes para o bloco. Os dois presidentes concordaram em exigir o retorno do presidente deposto José Manuel Zelaya ao governo de Honduras, falaram de novo sobre a cooperação militar entre Estados Unidos e Colômbia e voltaram a defender a reforma da arquitetura financeira internacional. A solução do problema principal da agenda, a elimi-
nação das barreiras bilaterais, vai continuar sendo discutida. Enquanto não vier, importantes setores produtivos dos dois países continuarão prejudicados, à espera da suspensão de alguma medida protecionista. A declaração conjunta assinada pelos dois presidentes é inversamente proporcional, em sua extensão, à importância política e econômica dos pontos sobre os quais houve acordo. O documento, com 35 itens, é recheado de retórica sobre compromissos democráticos, apoio ao multilateralismo e palavras a favor de mudanças na ordem mundial. Esse tipo de palavrório é usado habitualmente como complemento, não como prato principal – mas neste caso faltou o prato de resistência. Todos os pontos complementares estavam mais ou menos acertados e, de modo geral, poderiam ser sacramentados sem uma reunião de presidentes: cooperação no setor farmacêutico, facilitação de trânsito de turistas e colaboração no combate à dengue pertencem à rotina do entendimento bilateral, não à esfera das decisões políticas de nível mais alto – não, pelo menos, quando os
Um bairro no lugar do morro
P
assaram-se 50 anos entre as primeiras invasões no Morro do Sabão, no Jaguaré, zona oeste da capital, onde muitas vezes os barracos desaparecem em deslizamentos, e o início de um projeto de urbanização para dar segurança aos 12 mil moradores de 4 mil domicílios erguidos numa das maiores áreas de risco da cidade de São Paulo. A conhecida Favela do Jaguaré, que agora é bairro e se chama Nova Jaguaré, é resultado de um investimento de mais de R$ 132 milhões – 60% da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do governo estadual, e 40% da Prefeitura de São Paulo – em obras do Programa de Urbanização de Favelas da Secretaria Municipal de Habitação. Já foram entregues 655 novas moradias e outras 110 estão em construção. Até 2011 serão mil novas unidades habitacionais. Além das novas casas com dois ou três dormitórios, os prédios do Projeto Cingapura, construídos no local em 1993 com 260 apartamentos, foram recuperados por meio de um programa de revitalização do empreendimento e de regularização fundiária. O comércio da antiga favela também será organizado e na encosta, de onde pendiam os barracos, estão sendo construídos patamares de contenção, que abrigarão quadras de esportes, centros de lazer e de convivência. A infraestrutura terá 10 mil metros lineares de canalização de esgoto, 3 mil metros de galerias para drenagem das águas pluviais, 9 mil metros de redes de água, 25
mil metros de pavimentação de ruas e vielas e 10 mil metros quadrados de áreas verdes e de lazer. Esses números fazem da transformação do Morro do Sabão em bairro um exemplo que deveria ser replicado em outras áreas de risco e de proteção de mananciais. Apenas na Bacia da Represa de Guarapiranga, estima-se em 200 mil o número de domicílios instalados, dos quais 40 mil despejam esgoto diretamente nas águas do manancial responsável pelo abastecimento de 4 milhões de moradores da região metropolitana de São Paulo.
A urbanização de favelas anda bem, mas o caminho ainda é longo Urbanistas calculam que o crescimento populacional nas favelas da cidade foi 660% maior do que o da média da cidade, entre os anos de 2000 e 2007. Nesses sete anos, o total de habitantes da capital cresceu apenas 0,55% ao ano, conforme dados da Fundação Seade; a concentração de moradores nas favelas, no entanto, aumentou 4,18% ao ano. O resultado é que as favelas concentram 65 mil habitantes por quilômetro quadrado, enquanto no distrito da Bela Vista, considerado o de maior densidade da capital, há 23 mil pessoas por quilômetro quadrado. Depois do crescimento descontrolado de favelas ocorrido entre as décadas de 1960 e 1990, São Paulo vive agora o adensamento descontrolado. Dados da Secretaria Munici-
pal de Habitação mostram que, em 1973, a população favelada se aproximava de 1% na capital. Em 1980, esse índice se elevou para 8% e, dez anos depois, para 19,4%, um crescimento de 17,8% no período de 20 anos. Há pouco mais de um ano, a Secretaria Municipal de Habitação informou que pretendia, até 2024, urbanizar as 1.595 favelas da cidade. O cálculo é feito sobre uma estimativa de que existam 380 mil domicílios em favelas. A intenção é atender, até o fim do governo Gilberto Kassab, um total de 120 mil unidades. Assegurados os investimentos e mantida a média de atendimento por mais três governos municipais, a meta poderá ser cumprida. A previsão de investimentos no Programa de Urbanização de Favelas até 2011 é de R$ 1,7 bilhão – R$ 824 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, R$ 482 milhões da Prefeitura e o restante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da CDHU e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Se o governo Gilberto Kassab usar como modelo o projeto do Morro do Sabão, cuidando para que os prazos de realização das obras sejam cumpridos, consolidará uma política habitacional e urbanística para as concentrações de moradias carentes e em áreas de risco. É a maneira correta de evitar a pulverização de domicílios e moradores pelas áreas de proteção de mananciais.
envolvidos são dois vizinhos. Nos dois discursos, durante o almoço, houve referências aos desentendimentos comerciais. Segundo o presidente Lula, investimentos brasileiros na Argentina deverão contribuir para o crescimento econômico do país e para o equilíbrio comercial. A presidente Cristina Kirchner defendeu a integração das duas economias e a superação das pendências, mas acabou reconhecendo o seu vezo protecionista. “Somos sócios”, disse, “mas a Argentina não pode desconhecer a escala da economia brasileira e a consistência de sua indústria, conquistada ao longo do tempo.” De certa forma, reiterou a política defendida pela ministra da Indústria, Débora Giorgi, favorável ao protecionismo como instrumento de política industrial. Mas o instrumento, nesse caso, é usado contra um sócio num bloco regional, O resultado do encontro, quase nulo, já era esperado. Na semana passada, os ministros de Relações Exteriores, Celso Amorim e Jorge Taiana, haviam tentado criar condições para uma cúpula presidencial mais frutífera.
Mas os diplomatas só conseguiram juntar uma porção de temas sem grande novidade e escassa substância para dar volume à declaração conjunta. Há pouco mais de um ano, antes do agravamento da crise internacional, o governo argentino exigia licenças para a importação de 53 produtos brasileiros. Hoje, as licenças não automáticas são exigidas para o ingresso de 411 itens. O governo brasileiro contemporizou, como de costume, mas foi forçado a agir, quando se comprovou o desvio de comércio. Fabricantes brasileiros têm perdido espaço no mercado argentino para concorrentes chineses. Desde o mês passado Brasília passou a exigir licenças de importação para 35 produtos argentinos. As autoridades de Buenos Aires protestaram, mas o objetivo brasileiro – a eliminação das barreiras nos dois países – não foi alcançado. Se o governo brasileiro se mantiver firme, talvez o outro lado se disponha a negociar. Enquanto isso não ocorre, o Mercosul continua a se enfraquecer. Dia a dia fica mais difícil defender a preservação da união aduaneira, tão estropiada hoje, depois de um início promissor.
Surrupio de dinheiro público
N
a segunda-feira o Ministério Público denunciou, por furto qualificado, os sem-terra Ivanildo Cosmo de Oliveira e José Alves de Lima Neto, que participaram, em setembro, da invasão da Fazenda Santo Henrique, da Cutrale. Os dois estão presos desde 6 de outubro, quando foram flagrados tentando vender mercadorias roubadas durante a invasão. Não se pense que é alguma novidade a tentativa de obrigar os militantes ou “combatentes” desses ditos movimentos sociais, como o Movimento dos SemTerra (MST), a responder perante a Justiça por suas ações contra a lei. Desde que opera – embora sem existência legal, pois assim se julga livre de prestar contas do dinheiro público que recebe – o MST tem tido muitas centenas de militantes respondendo a processos na Justiça. Raríssimas são, no entanto, as condenações que resultam em efetivo cumprimento de penas. Na semana passada, o Tribunal de Contas da União (TCU) condenou o petista Bruno Maranhão – que ficou conhecido por ter comandado 500 sem-terra na invasão e depredação da Câmara dos Deputados, em junho de 2006 – a devolver R$ 2,2 milhões aos cofres públicos. Esse dinheiro fora repassado, há quatro anos, pelo governo federal à Associação Nacional de Apoio à Reforma Agrária (Anara), dirigida pelo militante petista. Só que não se sabe para onde foi o recurso público. “É isso o que queremos saber: onde foi parar esse dinheiro”, disse Marinus Marsico, representante do
Ministério Público no TCU. Segundo o tribunal, o valor corrigido chega hoje a R$ 3,6 milhões. A entidade deveria ter usado esse recurso para capacitar 7 mil famílias, realizar 36 cursos de formação, 114 oficinas e encontros regionais e nacionais, entre outras atividades. Nada disso, no entanto, foi comprovado, de acordo com a auditoria do TCU. “Não há comprovação da boa e regular aplicação dos recursos”, dizem os ministros do tribunal, em sua decisão. A associação dirigida por Bruno Maranhão esconde, entre outras coisas, os extratos
Com mercadorias roubadas e dinheiro público, o MST faz a sua féria da conta bancária do convênio e os documentos das licitações que teriam sido feitas. A suspeita do TCU é de que a entidade, ligada ao Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), tenha usado a verba para organizar a invasão dos 500 militantes à Câmara dos Deputados, que causou um prejuízo de R$ 150 mil ao Congresso. Seria dinheiro público financiando a depredação de bens púbicos! O convênio da Anara foi celebrado – como não poderia deixar de ser – com o Incra. O mais incrível é que em março de 2006 – portanto, cerca de três meses antes de receber os mencionados R$ 2,2 milhões – a Anara já havia sido condenada a restituir R$ 3,3 milhões, referentes a outros convênios que jamais saíram do papel! Na verdade, os auditores do
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
● Dizer que as “autoridades” do apagão não quiseram associar a sua imagem à ideia da morte na cruz é patético, de tão ridículo e mentiroso. O ministro de Minas e Energia do Sarney e o diretor da Aneel tiraram o crucifixo por vergonha, isso sim, para que Deus não testemunhasse mais mentiras e engodos a que o povo brasileiro se sujeita. Mas que as “autoridades” não se enganem, pois Deus está em toda parte, mesmo onde não está o crucifixo. FERNANDO BAHDUR GIANNINI fbgiannini@uol.com.br
São Paulo
Na hora do apagão, clamam pela ajuda de Deus. Na hora da explicação, execram a figura de Cristo. Já temos o nosso Judas: o ministro Lobão. ●
JOSÉ EDUARDO ZAMBON ELIAS zambonelias@estadao.com.br
Marília ● A retirada do crucifixo da parede do Ministério de Minas e Energia deveria ser seguida por todos os demais órgãos públicos, federais, estaduais e municipais, em respeito às demais religiões e também aos ateus brasileiros. Conforme a Constituição em vigor, o Estado não tem religião oficial, portanto, nenhum símbolo sacro deve ser exibido ou servir de adorno em repartições do governo, sob pena de prevalecer sobre os demais credos seguidos e respeitados no País. Em nome da paz entre as religiões, amém! J. S. DECOL decoljs@globo.com
São Paulo
“
Um fato nos conforta: ao menos ‘perante’ Deus Lobão não mente”
AngeloAntonioMaglio angelo@rancholarimoveis.com.br Cotia
Censura,113dias Com o pedido do filho de Sarney ao STF para que mantenha a censura ao Estadão, vamos ver quanto vale ser amigo de “uma toga”! MYRIAN MACEDO myrian.macedo@uol.com.br
São Paulo
Novaera Inaugurada nova era da Justiça no Brasil: de ora em diante, fica
a critério do ocupante do Poder Executivo o cumprimento ou não das decisões do STF. Por este andar, aonde chegaremos?
NOEL GONÇALVES CERQUEIRA
AUGUSTO FERNANDES DE AZEVEDO az3.azevedo@terra.com.br
● O “teflon” petista não impedirá Battisti de “grudar” no Lulla.
São Paulo
A. FERNANDES
noelcerqueira@gmail.com
Guarujá
standyball@hotmail.com
Chamao vice O caso do italiano Cesare Battisti acabou virando uma “batata quente” nas mãos do governo petista. Logo, coube ao vice-presidente oferecer os seus préstimos, quando adiantou sua opinião: resta ao governo cumprir a decisão judicial. Assim, para evitar maior desgaste do petismo, caberá ao vice assinar o ato de extradição, numa das costumeiras vacâncias do cargo – não será a primeira vez que livra a cara do titular.
TCU constataram uma esbórnia com dinheiro público ainda mais generalizada: em todos os convênios da Anara com o Incra, nos últimos cinco anos, a entidade apresentou recibos e notas fiscais sem qualquer ligação com os projetos e transferiu recursos a 80 pessoas físicas sem justificativas. “Não há informações que vinculem os pagamentos realizados a quaisquer despesas, tampouco há documentação que comprove despesas em nome das pessoas”, dizem os auditores. A Anara não entregou, por exemplo, documentos que comprovem a realização de licitações para a escolha de fornecedores. E a investigação do TCU mostra que a entidade fez saques no valor total de R$ 1,1 milhão, com cheques avulsos. Para variar, nesse “jogo de empurra” geral que hoje se faz “como nunca antes na história deste país”, o Incra informa que tem ajudado o TCU nas investigações, e até tem tomado a iniciativa de iniciar processos quando suspeita de irregularidades cometidas por entidades ligadas aos sem-terra, mas atribui inteira responsabilidade pelos desvios às próprias entidades que os desviaram – sem se dar conta de que o poder público tem a obrigação de fiscalizar a aplicação das verbas públicas e de avaliar a idoneidade pregressa das entidades que subsidia. E assim os ditos “movimentos sociais” vão causando prejuízos à sociedade brasileira: o primeiro decorre de suas ações fora da lei, como os esbulhos e depredações, e o segundo diz respeito ao surrupio do dinheiro público. De quebra, desmoralizam as instituições do Estado, que os financiam.
São Paulo
USPLeste Apesar de concordar com várias observações do professor Castilho sobre os rumos do ensino superior no Brasil (15/11), a democracia na universidade e o papel que a pesquisa deveria ter, creio que o seu desconhecimento das características da USP Leste (na verdade, EACH-USP) acabou por diminuir o mérito da sua entrevista. Fui docente da EACH-USP por
dois anos (2007-2008), depois de ter feito graduação, mestrado e doutorado no câmpus Butantã, com especialização nos EUA, e posso dizer que a EACH foi o único lugar onde pude observar uma proposta real de interdisciplinaridade e convivência de alunos e professores de áreas díspares no mesmo espaço. Ouso ainda sugerir que o nível geral dos professores da EACH (a maioria bastante jovem e hiperqualificada, quase todos com pós-doutorado) é superior ao de seus pares no “centro” (câmpus Butantã). Assim, ironicamente, a EACH é o que mais se avizinha do ideal de universidade almejado pelo professor Castilho. ASTOLFO GOMES DE MELLO ARAUJO, Museu de Arqueologia e Etnologia (USP) astwolfo@usp.br
São Paulo
A8 NACIONAL
SÁBADO, 21 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
Palavras de presidente
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 113 DIAS
Blogueiros vão recorrer contra mordaça em MT Adriana e Cavalcanti vão ao TJ para tentar derrubar liminar que os impede de ‘emitir opiniões’ sobre deputado alvo de 92 ações por desvios de verba MAURÍCIO BARBANT/ALMT–19/11/2009
É de praxe que as partes aguardem a publicação oficial da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a extradição de Cesare Battisti. Tanto o presidente Luiz Inácio da Silva para dar a última palavra, quanto o governo italiano para anunciar o que fará caso se considere legalmente lesado. Não obstante as cautelas, as posições são conhecidas. Para a Itália é ponto de honra que Battisti volta ao país para cumprir pena de prisão perpétua a que foi condenado por quatro homicídios. Já para o presidente brasileiro, a concessão do refúgio pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, é correta e seu cumprimento “uma questão de soberania nacional” à qual a Itália teria de se curvar gostando ou não. Foi isso que ele disse no dia 16 de janeiro último e quase o mesmo escreveu em carta ao presidente Giorgio Napolitano três dias depois. Na época, Lula defendia seu ministro da Justiça, que havia tomado uma decisão tida como “absurda” pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e contrária ao parecer do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) do Ministério da Justiça. Mas Lula avalizou: “Nós tomamos uma decisão de entender que essa pessoa italiana (sic) não precisaria voltar à Itália e poderia ter o status de exilado. O ministro da Justiça entendeu que esse cidadão deveria ficar no Brasil e tomou a decisão que é do Estado brasileiro. Portanto, alguma autoridade italiana pode não gostar, mas tem de respeitar”. Na carta ao presidente Napolitano Lula assegurava que o ato de Tarso Genro estava amparado “na Constituição Brasileira, na Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados e na legislação infraconstitucional (Lei 9.474/97)”. Em defesa de Battisti lembrou que o Brasil é um “país generoso”, contestou a validade das provas dos assassinatos – “o acusador fez um processo de delação premiada e hoje nem existe mais para provar essas acusações”– e convalidou a lisura da conduta do italiano “que trabalhou e hoje é escritor”. Na ocasião dessas declarações o presidente não teve o cuidado de fazer ressalvas a um possível entendimento diverso do Supremo Tribunal Federal. Foi peremptório ao conferir ao juízo do ministro da Justiça o grau de instância máxima. Foi arrogante, autoritário no trato das instituições italianas e brasileiras e, sobretudo, demonstrou que não sabia da missa a metade a respeito das implicações do caso. Tocou de ouvido em assunto em que conviria conhecer a partitura.
Daniel Bramatti Moacir Assunção
Dia depois
DEFESA
Em janeiro Lula dizia que refúgio a Battisti era questão de soberania nacional
Se o presidente Lula resolver manter Battisti no Brasil, já se sabe, pode levar o País a responder perante tribunal internacional por quebra do tratado de extradição com a Itália e se arriscar também a sofrer denúncia por crime de responsabilidade, já que o tratado tem força de lei. O que ainda não se aventou é a hipótese de os advogados de Battisti pleitearem do governo brasileiro reparo por danos morais e materiais. Afinal, se Lula decidir pela anistia, o italiano terá ficado dois anos preso por nada. Ou, como disse o ministro Cezar Peluso na sessão de quarta-feira: “Por gratuito exercício de crueldade.”
Cubanos Segundo o ministro da Justiça, Tarso Genro, não está correta a afirmação feita aqui de que a motivação humanística que o fez conceder refúgio a Cesare Battisti não alcançou os pugilistas cubanos mandados de volta a Havana, em 2008. Por meio de sua assessoria, envia a seguinte mensagem: “Durante o Pan, cinco atletas pediram refúgio ao Brasil. Estão vivendo aqui até hoje o ciclista Michel Garcia, o jogador de handebol Rafael Capote e o treinador de ginástica artística Lázaro Ramirez. “Os outros dois atletas, os boxeadores Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, inicialmente quiseram ficar. Eles tinham contato com um empresário que prometera leválos para a Alemanha. Deixaram a delegação cubana, foram para um hotel numa praia do Rio e esperaram; o empresário não apareceu. “Pediram a um pescador que fizesse contato com a polícia, pois estavam sem dinheiro e sem saber o que fazer. Foram ouvidos pela Polícia Federal, na presença de um procurador da República e de um conselheiro da OAB-RJ. A todos declararam que queriam voltar para Cuba, e assim foi feito. Não pediram refúgio, ao contrário de seus outros três colegas. “Em março último Lara confirmou, em entrevista à TV Globo, o desejo de voltar a Cuba. De lá foi para o México, depois para a Alemanha e atualmente vive em Miami. “Há no Brasil 124 cubanos refugiados. O refúgio mais recente foi dado a um grupo de músicos no ano passado, que vieram para um festival de música e vivem em Recife. “Portanto, o ministro Tarso Genro não teria motivos para negar refúgio aos dois boxeadores, visto que o concedeu a outros dois atletas e também aos músicos, mais recentemente”. ●
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Dois blogueiros de Mato Grosso vão recorrer na próxima semana ao Tribunal de Justiça do Estado para tentar derrubar a censura imposta no último dia 10 por decisão do juiz Pedro Sakamoto, da 13ª Vara Cível. AdrianaVandoni eEnockCavalcanti, responsáveis pelos blogs Prosa e Política e Página do E, respectivamente, vão apresentar agravo de instrumento ao TJ. No dia 10, o juiz atendeu a um pedido de liminar do deputado José Geraldo Riva (PP), presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, que se disse vítima de dano moral. Os blogueiros foram proibidos de “emitir opiniões pessoais pelas quais atribuam (ao deputado) a prática de crime, sem que haja decisão judicial com trânsito em julgado que confirme a acusação”. O juiz também determinou que dois textos sobre o deputado fossem retirados do blog Página do E. José Geraldo Riva é alvo de 92 ações civis públicas propostas pelo Ministério Público, nas quais é acusado de desviar cerca de R$ 450 milhões da Assembleia,segundoaONGMovimento Organizado pela Moralidade Pública (Moral). Ademar Adams, diretor da Moral e autor de artigos sobre supostos atos de corrupção que envolvem o presidente da Assembleia, também foi proibido de se manifestar pelo juiz Sakamoto, assim como o jornalista Antônio Cavalcanti e o advogado Vilson Neri, integrantes do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral (MCCE). Adamsdissequepretendedivulgar,napróximasemana,carta aberta ao juiz Sakamoto, na qual afirma que o Estado não pode interferir na opinião de umjornalista.Segundoele,odeputado Riva o processou para atingir a ONG da qual faz parte – o MCCE é um dos promotores da campanha Ficha Limpa, que
‘VÍTIMA’– Deputado José Geraldo Riva (PP): pedido de liminar para proibir blogueiros de falar sobre ele
API pede fim da censura ao ‘Estado’ A Associação Paranaense de Imprensa (API), entidade fundada em 1934, encaminhou ontem ao ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal (STF), um apelo para apressar o fim do processo que envolve a censura imposta ao Estado. Por e-mail, o texto – assinado pelo presidente da Diretoria Executiva, Rafael de Lala, e pelo presidente do Conselho Deliberativo, Bernardo Bittencourt – diz que o pedido expressa a decisão unânime da associação. “O ato impugnado, além de violar o devido processo legal por
ter sido emitido por tribunal manifestamente incompetente para o feito, se coloca em confronto com a Constituição da República – conforme entendimento dominante desse egrégio tribunal, quando firmou linha reiterando a liberdade de imprensa como um dos pilares do sistema democrático no Brasil”, diz o texto. “Estamos, por isso, seguros de que a decisão serena e justa de V. Exa. e de seus ilustres pares será no sentido de restaurar a liberdade de expressão, confirmando nossa condição de povo culto e civilizado.” ●
pretende impedir políticos processados por corrupção de participar das eleições. Adriana Vandoni disse que consideraacensura“umatentado contra a democracia”. Enock Cavalcanti se declarou surpreso com a censura prévia. O deputado Riva não foi localizadonaAssembleiaontem,emvir-
tude do feriado na capital matogrossense.
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REPÚDIO
No Amapá, jornalistas e blogueiros aprovaram, anteontem, durante a Conferência Estadual de Comunicação, uma moção de repúdio contra o presidente do Senado, José Sarney
General defende poder de polícia para outras Forças De acordo com comandante do Exército, atuação deve ser ampliada para Marinha e Aeronáutica Tânia Monteiro BRASÍLIA
O comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, defendeu, em entrevista ao Estado, a necessidade de a Marinha e a Aeronáuticaterempoderdepolícia, a exemplo do que a Força Terrestre já tem hoje nas fronteiras. Ressalvou, no entanto, que “não se trata de substituir a Polícia Federal ou nenhum outra polícia”, mas ter uma permissão prévia para agir, de forma subsidiária, e preservadas as competências exclusivas das polícias judiciárias. “OExércitoatua,prendeeencaminha para a polícia que faz o registro e todo o processamento”, disse o comandante, ao explicarque, com a aprovação das
modificaçõesdaleicomplementar 97, encaminhadas pelo Executivo, a Aeronáutica e a Marinha poderão fazer o mesmo, sempre em ações subsidiárias. “A Aeronáutica hoje tem a lei do abate, mas ela faz com que o aviãopouse,sóque,mesmopousando, não tem como prender o fulano que estiver praticando uma irregularidade. Tem de esperar que chegue alguém para prender”, comentou. No caso da Marinha, segundoEnzo, elaexecuta seustrabalhos de patrulhamento em rios e executa missões na fronteira, além de fazer fiscalização também no mar. “Por isso, precisa ter semelhante situação.” O comandante do Exército responde,indiretamente,àscríticas do superintendente da Po-
Militares vão julgar mortes em caso de uso de lei do abate ●● ● A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado aprovou projeto de Lei que estabelece que o militar que matar alguém, usando a lei do abate, será julgado pela Justiça Militar. Como não havia legislação específica, esse tipo de caso iria para a justiça comum. O projeto foi aprovado em caráter terminativo e não passará pelo plenário do Senado. Por isso, entrará em vigor assim que for sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que poderá acontecer em até 15 dias úteis. ● T. M.
(PMDB-AP), que acusam de cercear a liberdade de expressãoaomovermais decemações durante a campanha eleitoral de 2006. Uma das atingidas pelas ações, a jornalista Alcinéia Cavalcante já deve mais de R$ 2 milhões em multas contra o blog que mantinha, aplicadas pelo Tribunal Regional Eleitoral(TRE). “ Tive quetiraro blog do ar e fui abrindo outros. Claro, não tenho a menor condição de pagar este valor de multa”, afirmou ela, que responde a 20 processos. Também jornalista, Antônio Correa Neto, que mantinha um blog na época, responde a 17 ações. “Parei de contar quanto deviaquando passoude R$ 1 milhão. O que mais me surpreende é que ninguém pediu direito de resposta, simplesmente a multa foi aplicada.” O assessor de imprensa de Sarney, Chico Mendonça, disse que as ações não foram patrocinadas pelo senador, mas pelo advogadodacoligaçãoqueoelegeu, Fernando Aquino, que não respondeu aos telefonemas do Estado. ●
lícia Federal, Luiz Fernando Correa, que considerou uma temeridadeatribuirpoderdepolícia às Forças Armadas, já que não se poderia confundir segurança externa com interna. Sobre atuação nas cidades, o comandante do Exército insistiuquealegislaçãonãotrazalterações. “Para que possa haver uma ação na cidade, é preciso que o governo do Estado se declare incapaz de agir e solicite ao presidente da República ou outro chefe de Poder que empregue as Forças Armadas. Só neste caso podemos entrar. Fora isso não modifica nada.” O comandante comemorou o artigoqueestá sendo introduzido na lei, que estabelece proteçãoaosmilitares dasForçasArmadas que estiverem em missões da garantia da lei e da ordem ou com papel de polícia. “Há um artigo que protege os militares. Aqueles que forem empregados nestas operações estarão protegidos e hoje em dia não estão”, afirmou. Segundo o general, a primeiravezqueosmilitaresforampara as ruas com proteção legal foi no ano passado, quando o Exército deu apoio ao processo eleitoral no Rio de Janeiro. ●
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o estado de s. paulo
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DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
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DIRETOR:
RUY MESQUITA
22 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42404
As novas de Dalton Trevisan
6.260
anúncios classificados
Novo livro de contos do recluso escritor curitibano, Violetas e Pavões mistura diferentes formas de narrativa. Cultura publica conto inédito do autor. ●
1.156 de autos
●● Gilberto Gil diz não ter nenhuma saudade da política: “Voltei a cantar mais do que falar.” ●
(1891-1927)
CULTURA
CLASSIFICADOS
ALIÁS
JULIO MESQUITA
3.637 de imóveis
RODOLFO BUHRER/AE
MIMI MOLLICA/AE
Caso Battisti expõe vale-tudo no STF Ministros divergem nos julgamentos e se ofendem nos bastidores O caso da extradição do ativista italiano Cesare Battisti expôs o clima de vale-tudo entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em conversas reservadas, há magis-
trados que até xingam colegas por desavenças nos julgamentos, relatam Felipe Recondo e Mariângela Gallucci. Recentemente, ao citar o caso Battisti, um deles questionou se o au-
Indústria vê início de 2010 a todo vapor
torde determinadovotochegaria ao STF se tivesse de se submeter a exame prévio de sanidade mental. Outro, chamado de “burro” por um de seus pares numa conversa reservada,
acusouum terceiro de ser “menino de recados” do presidente do Supremo, Gilmar Mendes. Para o ministro Eros Grau, a paixão está se sobrepondoà razão noSTF. ● PÁG. A4
Relatório vai dizer que é difícil apagão se repetir Responsável pelo sistema avalia ser inviável fazer obras contra blecaute O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, adianta que o relatório oficial sobre o apagão não deve sugerir obras para evitar a repetição do inci-
dente. “É antieconômico”, diz eleementrevistaaNicolaPamplona. Para Chipp, é pouco provável que o problema se repita, o que não justificaria grande investimento. ● PÁGS. B1 e B3
Cuba vive sua pior crise desde o fim da URSS
TEATRO MUNICIPAL: A ARTE DA REFORMA
Empresários e economistas preveem que a produção industrialterá, no primeirotrimestre de 2010, crescimento de dois dígitos. As projeções chegam a 16,5%, num período marcado por férias e demissões de funcionários. Reposição de estoques e política fiscal e monetária são razões do otimismo. ● PÁG. B4
Jamil Chade ENVIADO ESPECIAL A HAVANA
No ano que deveria celebrar os 50 anos de sua revolução, Cuba se viu às voltas com a crise mais aguda desde que secou a ajuda vinda da URSS. Nem o setor de saúde de Cuba, aclamado por atender a todos, parece resistir aos problemas. ● PÁG. A17
casa&
Morre o ex-prefeito Celso Pitta
Trabalhe em casa, com estilo e conforto
Morreuàs23h50desexta-feira, vítima de câncer no intestino,oex-prefeitodeSãoPaulo Celso Pitta, de 63 anos, afilhado político de Paulo Maluf.Isoladopoliticamenteevivendodeconsultoriasemeconomia, chegou ao fim da vida acuado por acusações de improbidade administrativa e corrupção. ● PÁG. A12
Tempo: CAPITAL
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Sol e temperatura elevada, com pancadas de chuva a partir da tarde.
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 114 DIAS q PÁG. A10
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planejados para homeofficedão personalidade ao imóvel. ●
EDUARDO NICOLAU/AE
●● Espaços
Desabamento
Prefeitura fecha shopping até 3ª Operários trabalham na cúpula de cobre do Teatro Municipal. Desde julho de 2008,
●●●
Tiragem: 319.039 Hoje: 244 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 22 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 8 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 36 ● F. Feminino: 24 ● Ca: Autos: 24 ● Ce: Empregos: 8 ● Ci: Imóveis: 32 ● CoT: Oportunidades: 10
70 profissionais dedicam-se à recuperação de ornamentos, esculturas de bronze, pinturas
NOTAS E INFORMAÇÕES
no teto e vitrais deteriorados, informa o repórter Edison Veiga. É a terceira grande interven-
ção no prédio, símbolo da erudição de uma São Paulo de quase cem anos atrás. ● PÁG. C8
tv&lazer
ESPORTES
Os riscos da Conferência da Comunicação
No Engenhão, o maior desafio
A convocação é oportuna, mas o cenário está longe de ser promissor. ● PÁG. A3
O São Paulo enfrenta hoje seu maior obstáculo na rota do título: o Botafogo, que tenta fu-
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●● Técnicos e bombeiros farão vistoria para identificar causas do acidente. ● PÁG. C4
‘Lie to Me’, a febre do pega na mentira ●● Fãs da série da Fox diver-
gir da Série B. O Corinthians de Ronaldo perdeu em casa do Náutico, por 3 a 2. ● PÁGS. E1 e E5
tem-se aplicando a técnica para flagrar mentirosos. ●
A10 NACIONAL
DOMINGO, 22 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 114 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Analista prevê súmula do Supremo contra censura Professor da PUC teme que casos como o do ‘Estado’ se espalhem no País Moacir Assunção
Especialistaemliberdadedeimprensa e professor de direito constitucional na PUC-SP, o promotor de Justiça Vidal Serrano Nunes Júnior acredita
+ 9 PARÁ
STF abre processo contra deputado O deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) e seu irmão WlaudecirCosta vãoresponder a processo por crime de peculato. O STF acolheu denúncia segundo a qual, de fevereiro de 2003 a março de 2005,osirmãos contrataram três funcionários fantasmas na Câmara. Os três sacavam quase todo o valor do salário e o entregavam a Wlaudecir, que, por sua vez, depositava o dinheiro na conta do deputado. A defesa alega que não há provas ou sequer indícios da prática do suposto delito.
ROLAND SCHLAGER/EFE–22/8/2007
DIPLOMACIA
Presidente tcheco visita o Brasil O presidente da República Tcheca, Václav Klaus, chega nesta semana ao Brasil para sua segunda visita ao País. Na terça-feira está previsto um encontro com a comunidade tcheca, em Brasília. A programação do dia inclui reuniãocomopresidenteLula e visitas ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal. Na quarta, ele estará em São Paulo, onde deve se reunir com o governador José Serra(PSDB)eoprefeitoGilberto Kassab (DEM). Na quinta, Klaus irá para Pernambuco. OPERAÇÃO PACENAS
Juiz de MT determina fim de investigações O juiz César Augusto Bearsi, da 3ª vara da Justiça Federal deMatoGrosso, anulouasinvestigações da Polícia Federal e determinou o arquivamento da Operação Pacenas, deflagrada em agosto, que indiciou 22 pessoas. Bearsi se baseou em decisão do TRF da 1ª região, que anulou as escutas telefônicas. “Toda fundamentação só se sustenta em cima da interceptação anulada e, sem ela, perde todo o lastro e sentido, não sobra nada”, disse o juiz. ÍNDIOS
Educadores repudiam construção de usina Os participantes da 1ª Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena, realizada em Luziânia, Goiás, enviaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma moção de repúdio à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Segundo osrepresentantesdoseducadores indígenas, a hidrelétrica “causará um grande impacto social e ambiental em toda região do Xingu, prejudicando os moradores das margens dos rios afetados”.
que o Supremo Tribunal Federal(STF)usaráocasoda censura ao Estado, em vigor desde 31 de julho, por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal(TJ-DF), paraeditar umasúmula vinculante na qual deverá
deixar clara a ilegalidade da mordaça à imprensa. “Este é, verdadeiramente, o papel do STF, o de garantir a defesa dos direitos fundamentais, principalmenteseestiverem ameaçados por órgãos públicos”, diz.
A defesa do jornal apresentou na semana passada uma reclamação à corte para derrubar liminar obtida por Fernando Sarney, alvo da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, e filho do presidente do Senado,
José Sarney (PMDB-AP). O relator, Cezar Peluso, mandou o casoao plenário,quesódevedeliberar em dezembro. Para Nunes, em países como o Brasil, “o controle dos mandatários políticos é exercido pela imprensa”. “Se esta é proibida de expor informações, muitas vezes de denúncia contra os políticos, de que forma a cidadania poderá exercer a fiscalização?”, indaga Nunes, autor do livro A proteção constitucional da informação e o direito à crítica jornalística, editado pela FTD. “Só por meio da informação críticaépossívelcriaroquechamamos de opinião pública livre. Uma decisão como a do TJ-DF nãopodeacontecer deforma alguma”, opina. “Com a perma-
nência da censura por tanto tempo, gera-se um efeito cascata. Outros políticos poderão se sentir encorajados a tomar medidas semelhantes.” LESÃO
Paraoespecialista,oSTFprecisa deixar clara a importância da liberdade de imprensa para esclarecer os tribunais inferiores. “Uma lesão a essa liberdade é um ataque à democracia.” “A Constituição diz que todo o poder emana do povo e em seu nome será exercido. Os mandatários são os meios pelos quais se exerce este poder e, se uma decisão dessas se mantiver, eles passarão a ter preponderância sobre os que deveria representar”, alerta. ●
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o estado de s. paulo
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SEGUNDA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
23 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42405
Lula admite divisão de palanques para Dilma Depoisde votar na eleiçãopara o comando do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a ministra Dilma Rousseff poderá ter mais de
um candidato nos Estados em 2010.Lulaafirmouqueasdivergências entre PT e PMDB não podem prejudicar a campanha de Dilma à Presidência. “Não
tenho mais ilusão quando se trata das disputas locais. Por maisquea genteoriente aspessoas que o que deve prevalecer é um projeto nacional, cada um
olha para o seu umbigo.” Dilma considerou “normal” a volta de petistas envolvidos no mensalão, como José Dirceu, à direção do partido. ● PÁG. A4
FÁBIO MOTTA/AE
Presidente diz que não tem ilusão de resolver disputas de partidos nos Estados e, em alguns casos, a saída será a ministra ter dois candidatos
PROTESTOS EM IPANEMA – Cartão vermelho para Ahmadinejad
Brasil quer Irã em acordo nuclear
ESPORTES
Lula tentará convencer Ahmadinejad a aceitar limites do pacto de Viena O governo enfrenta hoje uma prova de fogo na política externa. Lula recebe seu colega iraniano Mahmoud Ahmadinejad e vai reiterar a posição de que o paístemdireitoà tecnologia nuclear, mas deve aceitar os limi-
PAULO LIEBERT/AE
Energia
Sting apoia Raoni contra Belo Monte
WILTON JUNIOR/AE
●● Líder indígena disse que seu povo não foi ouvido sobre hidrelétrica no Rio Xingu. ● PÁG. B7
ALÍVIO – Com dois gols no jogo, atacante Jóbson foi fundamental para manter seu time, o Botafogo, fora da zona de rebaixamento
São Paulo perde jogo, mas não liderança Derrotado pelo Botafogo, clube ainda fica um ponto na frente do Flamengo O São Paulo deu um passo atrás,ontem,nadisputapelotítulo do Campeonato Brasileiro. Na antepenúltima rodada, podendo se distanciar na lide-
rança da competição, o clube paulista foi derrotado por 3 a 2 pelo Botafogo, depois de estar vencendo por 2 a 1, no Engenhão. Mas se manteve em pri-
meiro na tabela, com 62 pontos, porque o Flamengo não conseguiu sair do 0 a 0 contra o Goiás, num Maracanã tomado por torcedores rubros-negros.
Comosresultadosdestedomingo, Palmeiras e Internacional, que derrotou o Atlético-MG por1 a 0, no Mineirão,voltaram a ter chances. ● PÁGS. E1, E2 e E3
C ADERNO 2 Nos anos 70, os reis de Hollywood
Livro narra como uma geração de cineastas geniais tomou o poder nos grandes estúdios. ●
Novo Castro, mesma Cuba A repressão sistemática aos críticos e dissidentes não arrefeceu com a substituição de Fidel por Raúl Castro. Tornou-se apenas menos ostensiva. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
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MÁX.
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MÍN.
Sol fraco e tempo abafado, com vento forte e chuva a partir da tarde.
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Hoje: 70 páginas A. 1º caderno: 16 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 8 ● L. Link: 10 ● Classificados: 78 anúncios
Camarote desaba e fere 60 em show
Fornecedora de merenda admite fraude
Acidente em São José dos Campos aconteceu durante micaretacomChicletecomBanana.Duaspessoastiveramferimentos graves. ● PÁG. C6
A Coan, contratada pela PrefeituradeSãoPaulo,envolveuse com laranjas, empresas de fachadae sonegação, dizo Ministério Público. ● PÁGS. C1 e C3
Pessoa física já domina 30% dos negócios na Bolsa de SP A Bolsa de Valores de São Pauloregistrouemoutubro onúmero recorde de 555 mil contas de investidores individuais. Eles já respondem por 30% do volume negociado. “As pessoas físicas são hoje a menina dos olhos para empresas, corretoras e outros agentes do mercado”, diz o diretor-presidente da BM& FBovespa, Edemir Pinto. Para empresas, a visão de longo prazo do novo investidor ajudou a segurar o valor de suas ações durante a crise. ● PÁGS. B1 e B3
●●
Um ‘museu’ de grandes novidades ●● Ritmo acelerado de ino-
NOTAS E INFORMAÇÕES
tes do acordo de Viena. A visita provocou protestos. No Rio, 800 pessoas saíram às ruas para condenar o iraniano por negar o Holocausto. Lula disse ontemque sua intençãoé “conversar sobre a paz”. ● PÁGS. A6 e A7
vaçãoeonipresençadodigitalnocotidianotrazemfrescor à arte tecnológica. ●
Amazônia
Cai a emissão de CO2 por desmate ●● Queimadas geram entre 2,5% e 5% do total de emissões de gases no País, diz Inpe. ● PÁG. A14
Fuvest tem questões sobre gripe suína e crise mundial AprimeirafasedaFuvest,realizada ontem em 109 locais, teve questõessobregripe suínaecrise econômica mundial. Candidatos a 10.797 vagas, a maioria na USP, reclamaram da dificuldadedasperguntasdematemática e de física. A prova teve 90 questões de múltipla escolha de português, matemática, história, física, geografia, química, biologiaeinglês.Oíndicedeabstenção foi de 5,95% dos 128.144 inscritos, o maior desde o vestibular de 2006. ● PÁG. A16
SEGUNDA-FEIRA, 23 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 115 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Cientista político diz esperar ‘divisor de águas’ Para Amaury de Souza, STF deve legislar contra a censura e em favor da liberdade Moacir Assunção
Ocientista político e sócio-diretor da MCM Consultoria, Amaury de Souza, espera que o julgamentodacensura aoEstado pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ), previsto para o próximo mês, seja um divisor de águas entre os que defendem o direito constitucional da liberdade de expressão e os que lhe são contrários. “Não tenho dúvidas de que
este caso, muito emblemático, marcará a escolha pela democracia e pelo respeito aos preceitos constitucionais. Confio que o resultado, como demonstram os recentes posicionamentos do STF nesta questão, seráem prol da liberdade”, afirmou. Por decisão do Tribunal de Justiçado Distrito Federal(TJDF), o jornal está proibido, desde 31 de julho, de divulgar informações sobre a Operação Boi
NACIONAL A9
Barrica da Polícia Federal que investigou e indiciou por vários crimes o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), e responsável pelos negócios da família. Para ocientista político, a decisão do TJ-DF, de autoria do desembargador Dácio Vieira, é marcadamente ilegal. “Tratase de um atentado à Constituição, que deve ser repudiado por todos”, afirmou. A liberda-
de de expressão e de imprensa, relembrou o especialista, é um direito fundamental da cidadania e nada justifica sua supressão, a qualquer pretexto. “O STF deve se manifestar, de formaperemptórianestecaso, deixando bem clara a sua posição, contrária à mordaça, conforme tem demonstrado em vários casos”, opinou. CARÁTER PEDAGÓGICO
Para Souza, que foi professor
de Ciência Política em algumas das principais universidades do Rio, o mais importante da futura decisão do STF, em sua visão será o caráter pedagógico da medida. “Não é aceitável que tribunais de grau inferior, como o TJ-DF, decidam de forma absolutamente contrária a uma jurisprudência formada pelo STF, de total rejeição à censura”,afirmouele.Ocientista político citou, entre outros casos, a extinção da Lei de Im-
prensa como momentos em que a Corte mais alta do País demonstrou sua interpretação constitucionalista da lei. Oespecialista vê como “inadmissível” o fato de ainda haver censura no Brasil. “Teremos, embreve, umseminário promovido pela Sociedad Interamericana de Prensa, no qual o caso do Estadão será discutido e, certamente, condenado por seus membros”, comentou. Para ele, a mordaça representa uma verdadeira violência contra a Constituição de 1988 que, em seu texto e mesmo no espírito da lei, define-se como inimiga de todas as formas deopressão, em especial dasrelacionadas à liberdade de expressão. ●
+ 9 INVESTIGAÇÃO
PF recebe laudo de corpo de indígena A Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso do Sul deve encaminhar hoje, para a Polícia Federal, o laudo cadavérico do professor indígena Genivaldo Verá, encontrado no último dia 7. O professor estava com o colega Olindo Verá, que continua desaparecido, durante um confronto com supostos seguranças contratados para retirar os índios de uma fazenda na região, em outubro. MATO GROSSO DO SUL ANDRE LESSA/AE–14/11/2009
Marina Silva discute estratégia para 2010 A senadora Marina Silva, pré-candidata do PV à Presidência, estará hoje, em CampoGrande, paradiscutir com 70 líderes de movimentos sociais e do partido estratégia eleitoral para 2010. O tema central do encontro será a construção de um palanque para a senadora no Estado. O presidente regional do PV, vereadorMarcelo Bluma,explicou que Marina terá fortes concorrentes pela frente. PETROBRÁS
Senador entregará documentos para CPI O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento de criação da CPI da Petrobrás, marcou para o dia 24 a entrega das 18 representações, preparadas pela oposição,àProcuradoria-Geral da União. Os documentos apontam irregularidades cometidas pela atual administração da Petrobrás e algumas de suas subsidiárias. A CPI foi criada em agosto deste ano. QUESTÃO RACIAL
Decreto regulariza terras quilombolas As comunidades quilombola de Preto Fôrro, em Cabo Frio, na Região dos Lagos, e São José da Serra, em Valença, no Médio Paraíba, ambas no Rio, avançam no processo de regularização fundiária. No dia 20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que permite ao Incra avaliar os imóveis para indenizar os donos das terras e repassá-las às comunidades. MERCOSUL
Senado tenta votar adesão da Venezuela OProjetodeDecretoLegislativo430/08, queaprovaotexto do protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul, poderá ser votado amanhã pelo plenário do Senado. A votação, que já foi adiada quatro vezes, só depende de decisão política das lideranças partidárias e da Mesa Diretora da Casa.Ogovernodefendeaentrada, enquanto a oposição diz que a questão deve ser mais debatida.
SEGUNDA-FEIRA, 23 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
LINK LINK L3 L3
Navegar Impreciso Pedro Doria*
Censura, jornais, blogs e liberdade de expressão
N
o último dia 10, o juiz Pedro Sakamoto, da 13ª Vara Cível, Mato Grosso, acolheu pedido de liminar contra dois blogueiros. Cobrava deles mais respeito com o deputado estadual José Riva (PP-MT) e pedia que alguns posts “ofensivos” fossem retirados do ar. Riva, presidente da Assembleia Legislativa, tem 92 ações civis públicas por improbidade administrativa movidas contra ele; para não contar outras 17, por formação de quadrilha e peculato. O Ministério Público Estadual tem uma bela ficha do deputado, que está no comando da principal Casa Legislativa do Estado – seja como presidente, seja como primeiro secretário – faz 16 anos. Segundo a interpretação da decisão que corre no Mato Grosso, os blogueiros podem listar secamente a lista de acusações contra o deputado. O que o juiz não deixa é opinar. Qualquer conclusão que tirem periga culminar de presto em R$ 500 de multa diária. A Justiça brasileira acaba de
inventar a democracia em que o cidadão não pode dizer livremente o que pensa sobre quem elegeu. Os blogueiros condenados ao silêncio são a economista Adriana Vandoni, que assina o blog Prosa e Política, e o advogado Enock Cavalcanti, responsável pelo Página E. O problema que os dois têm com o deputado certamente não é ideológico. Cavalcanti é militante do PT. O blog que Vandoni edita é de todo avesso às políticas do presidente Lula. Se estão em extremos distintos do arco ideológico, no entanto, sérias suspeitas de corrupção política parecem incomodar a ambos profundamente. Mas enunciar os adjetivos que lhes vêm a mente, não podem. Nesta segunda-feira, hoje para quem lê a coluna nas páginas impressas, O Estado de S. Paulo completa 115 dias sob censura. Os casos não são iguais, mas similares. O jornal está proibido de listar o que sabe a respeito de uma investigação policial que envolve o presidente do Senado, José Sarney. O argumento, aqui, é
FARRELL/AE
que fere o segredo de Justiça. Quando políticos recorrem à Justiça para censurar o livre fluxo de informação na sociedade, jornais e blogueiros, imprensa tradicional ou a nova imprensa, têm a mesma cau-
sa: é a da liberdade. Um povo só é realmente livre quando pode saber do que seus representantes eleitos são acusados e com base em quê; daí, tal liberdade se completa quando qualquer um pode subir no
caixote de madeira e se manifestar publicamente, não importa com que adjetivos. Ninguém disse que democracia tem que ser sempre agradável para políticos. É principalmente no interior,
onde não há muita imprensa, que entra o poder libertário da internet, capaz de permitir a qualquer cidadão a capacidade de distribuir a informação que tem ou a opinião que estabeleceu. Jornais pequenos, assim como blogueiros, sofrem particularmente com a censura judicial. Ela é uma forma de pressão econômica. Advogados e acesso aos tribunais superiores só vêm a um alto custo. A censura vira eterna. Mas, e o caso do Estado o mostra, até a imprensa tradicional se vê refém neste processo. O Brasil tem uma democracia jovem. Não temos um equivalente à Primeira Emenda dos EUA, que proíbe que o Congresso legisle limites à liberdade de expressão. A democracia dos EUA, aliás, a mais antiga do mundo moderno, foi erguida por cidadãos publicando livremente acusações comprovadas ou apenas insultos ao rei e a políticos. Não é à toa que, por lá, o princípio é sacrossanto.
link
*pedro.doria@grupoestado.com.br
Microsoft mais perto da nuvem com o Office 2010 A Microsoft sabe que o futuro está na nuvem. Seu sistema operacional, o Windows 7,lançadonofinaldomêspassado, já sinalizava esta mudança ao ser integrado aos serviços e aplicativos online da empresa. Nesta semana, por sua vez, uma versão beta e gratuita do Office 2010 foi disponibilizada para download. Como não poderia deixar de ser, a maior novidade de programas como Word, Excel e Power Point, é a integração com a internet. Mas a empresa não está só correndo atrás do prejuízo – e já havia previsto a fusão entre hardware, software e rede. Mais precisamente, no dia 30 de outubro de 2005, quando Bill Gates enviouumcomunicadoextraordinárioaosprincipaisfuncionáriosda empresa,quedizia: “A próxima virada da maré já está em cima da gente”, em referência à computação online. Essa onda, concluiu, “será muito destrutiva”. A tal destruição a que ele se referia é ao modelo de negócios da Microsoft, baseado na venda de produtos físicos,softwaresem CDs.Qualquer semelhança com a indústria cultural, principalmente as gravadoras, não é mera coincidência. Mas, ao contrário destas, Ray Ozzie, o homem contratado por Gates para o seu lugar, o de arquiteto-chefe de programas, passouosúltimosanostrabalhandonatransição dagigante de Redmont da era dos PCs para a da nuvem. Assim, será possível trabalhar em documentos, planilhas ou apresentações onde quer que esteja. É “o Office além do desktop”, como diz Chris Bryant, gerente de produto da Microsoft, em vídeo sobre o novo pacote. Por fim, a companhia anunciou o lançamento do Azure (plataforma web para aplicativos) para 1º de janeiro. Mas é preciso ter em mente que apesardospassosaparentementelentosdaMicrosoft,ousuário comum – e o corporativo principalmente – também é lento. M muita gente não vai, da noite para o dia, abandonar o “conforto” da Microsoft. É no hábito que reside a maior força de Gates. ● B.G.
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Garantia de 3 anos CRU(5) IBM, o logo da IBM, ibm.com, BladeCenter e Express Advantage são marcas registradas e de titularidade da International Business Machines Corporation em todos os países do mundo onde atua. Uma lista atual das marcas registradas e de titularidade da IBM está disponível na internet no item “Copyright and trademark information” no site www.ibm.com/legal/copytrade.shtml. Intel, o logotipo Intel, Xeon e Xeon Inside são marcas da Intel Corporation nos Estados Unidos e em outros países. Fotos ilustrativas. (1) Preço à vista com impostos base São Paulo válido até 25/12/2009. Cabos de conexão ao servidor não inclusos. (2) Disco rígido não incluso na máquina. Deverá ser configurado separadamente. (3) Frete grátis somente para o estado de São Paulo. (4) A IBM ou Autorizada Técnica IBM irá reparar a máquina com defeito no estabelecimento do cliente, de acordo com os termos e as condições de garantia-padrão IBM, disponíveis no site http://www.ibm.com/servers/support/machine_warranties (Declaração de Garantia Limitada). Os reparos poderão exigir o envio da máquina para o laboratório do Centro Autorizado de Serviços IBM. (5) 3 anos de garantia CRU (Customer Replacement Unit), ou seja, a IBM realizará a determinação do problema junto ao cliente por telefone. Se o problema não puder ser resolvido, a IBM enviará uma unidade ou peças de reposição diretamente à localidade do cliente, de acordo com os termos e as condições de garantia-padrão IBM.
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
24 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42406
EUA recusaram plano do Brasil sobre Honduras Proposta tardia de adiar eleição para restituir Zelaya irritou Washington Patrícia Campos Mello CORRESPONDENTE EM WASHINGTON
O Itamaraty propôs aos EUA, no último dia 17, que a eleição presidencial em Honduras fosse adiada por duas semanas, com o objetivo de conseguir
tempoparaa restituição deManuel Zelaya ao poder. Washington não aceitou, e a posição tardia do Brasil irritou o governo americano. Para os EUA, a realização da eleição no próximo dia 29, como marcado, ainda é “a melhor opção”. ● PÁG. A14
WILSON PEDROSA/AE
Pressão americana racha OEA OsEUAestãopressionandopaíses da OEA a reconhecer a eleição hondurenha. Entre os governos que decidiram aderir à posição de Washington estão
os de Peru e Colômbia, que haviam firmado declaração do Grupo do Rio crítica ao pleito. Essa mudança irritou o governo brasileiro. ● PÁG. A14
BONS AMIGOS – Lula durante recepção a Ahmadinejad no Itamaraty: brasileiro anunciou que pretende visitar o Irã em abril ou maio
Irã tem direito a energia nuclear, defende Lula
Ciro tira votos de Serra, diz pesquisa
Ao lado do presidente iraniano, brasileiro apoia programa ‘para fins pacíficos’ O presidente Lula recebeu ontem o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e apoiou o programa nuclear iraniano, contestado por grande parte da comunidade internacional. Lula disse que é direito do Irã desenvolver energia nuclear
“para fins pacíficos”. Ao mesmo tempo, defendeu “um Estado de Israel seguro e soberano” com o qual terão de conviverpalestinos eiranianos. Desse modo, Lula expôs a estratégia do Brasil para tentar desempenhar algum tipo de me-
diação no conflito no Oriente Médio. Jornais estrangeiros, porém, criticaram o encontro. ParaoNew YorkTimes, ainiciativa de Lula atrapalha a pressãoparaevitar queoIrãproduza armas nucleares. Ahmadinejad,que já negouoHolocaus-
to, disse que os EUA e Israel não têm “coragem” de atacar o Irã e advertiu que o país não permitirá que potências estrangeiras fixem a quantidade decombustível nuclearque pode usar. Ele chamou Lula de “bom amigo”. ● PÁGS. A4, A6 e A7
.edu
Caras novas Suplemento mensal mostraquemsãoosalunos da classe C que estão mudando as universidades. ●
●●
Mídia
Murdoch negocia acordo anti-Google
Arrecadação cresce com receita atípica
Microsoft, objetivoépublicar conteúdo em concorrentes. ● PÁG. B18
●● Com
Futebol
São Paulo vai à luta no tribunal
A arrecadação federal subiu em outubro, após 11 meses de queda: R$ 68,839 bilhões, alta real de 0,9% ante outubro de2008, graçasàtransferênciadeR$5bilhõesemdepósitos judiciais que estavam na Caixa e R$ 776 milhões em dívidas parceladas. ● PÁG. B1
Dados da Organização Mundial de Meteorologia indicam que desde o Protocolo de Kyoto, em 1997, a concentraçãodegasesdeefeitoestufa subiu 6,5%. ● ●● Desmatamento da Amazônia emite 1,5% dos gasesestufado mundo. ● PÁG. A22
7 8 9 10 11 12
●● Clube tenta liberar três para o jogo contra o Goiás, domingo. ● PÁG. E1
CADERNO 2 Irmãos usam a arte contra Mao
WERTHER SANTANA/AE
Desde Kyoto, emissão de CO2 sobe 6,5%
OtucanoJoséSerraseriaoprincipal prejudicado pela eventual entrada de Ciro Gomes (PSB) na corrida presidencial, segundo nova pesquisa CNT-Sensus. No cenário em que disputa apenas com Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV), Serra lidera com 17 pontos porcentuais a mais que a candidata do presidente Lula (40,5% a 23,5%). Com a inclusão de Ciro na lista, a vantagem do tucano sobre a petista cai para apenas 10 pontos (31,8% a 21,7%). ● PÁG. A10
Trânsito na Rua Zanzibar, que dá acesso à Ponte da Casa Verde; com obras em pontes da Marginal, motoristas usam rotas alternativas que passam por ruas residenciais. ● PÁGS. C1 e C3
PESADELO –
NOTAS E INFORMAÇÕES
Perigo para as contas externas ●●● Em 2010, País poderá cres-
cer em ritmo acelerado, mas isso não sairá de graça. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
29º
MÁX.
● PÁG. C2
21º
MÍN.
Sol aparece e o tempo fica abafado. Chove a qualquer hora.
Hoje: 112 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 18 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● H. Especial .EDU: 28 ● V. Viagem: 14 ● Cl. Classificados: 4 (403anúncios)
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 116 DIAS q PÁG. A13
●● No trabalho dos Irmãos Gao, o culto ao líder ganha tons sombrios. ●
VIAGEM AVENTURA &
De A a Z, o melhor de Istambul Guia rápido mostra as atrações que não podem ficar de fora do roteiro. ●
●●
ANÁLISE
José Roberto de Toledo ESPECIAL PARA O ESTADO
Para eleitor, disputa ainda não começou Na pesquisa espontânea, só 25% dos eleitores optaram por um candidato elegível. A eleição ainda está distante das preocupações. ● PÁG. A10 ●●●
Família de Jean Charles vai ser indenizada AfamíliadeJeanCharlesdeMenezes fechou acordo com a Scotland Yard e deve receber indenização de 100 mil libras (cerca de R$ 286 mil). O brasileiro foi morto a tiros no metrô de Londres em julho de 2005 ao ser confundido pela polícia com um terrorista . ● PÁG. A19
A2 ESPAÇO ABERTO
TERÇA-FEIRA, 24 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Notas sobre comércio exterior
O que há de errado com o Código Florestal
RubensBarbosa
CiroSiqueira
A crise da economia global nos últimos dois anos deixou evidente a vulnerabilidade do setor externo pela redução das linhas de financiamento, pela volatilidade do preço das commodities e pela recessão nos mercados desenvolvidos e em desenvolvimento. No plano doméstico, ficaram ressaltadas as dificuldades de coordenação e a falta de um comando claramente identificado. Nesse contexto, não chega a surpreender que a rentabilidade das exportações, tanto de manufaturados quanto de produtos agrícolas, tenha sido a menor da História. A crise, por outro lado, propiciou uma mudança no perfil das exportações brasileiras: pela primeira vez desde 1978, a exportação de commodities supera a de produtos manufaturados. Com a perda da competitividade dos produtos manufaturados, nossas exportações em 2009 devem cair mais de 30%. Já o volume das importações, que cresceu mais de 60%, acarretando a substituição do fornecedor brasileiro, ficou acima da produção em 2009. As
Urge estabelecer uma organização institucional mais efetiva no setor perspectivas para 2010 não são diferentes, prevendo-se uma significativa queda do superávit na balança de comércio. Apesar da declarada baixa prioridade das exportações em relação ao mercado interno, algumas medidas concretas de apoio ao comércio exterior foram ou estão sendo tomadas, levando em conta, sobretudo, os efeitos negativos da apreciação do câmbio (cerca de 50% desde dezembro) sobre as exportações e importações e sobre o emprego e a viabilização de muitas empresas. Depois do IOF de 2% sobre a entrada de capital externo na Bolsa de Valores para tentar reduzir a apreciação do real, o governo cogita de elevar o montante de empréstimo aos exportadores a juros subsidiados e eliminar o prazo para que as empresas usem os seus créditos de PIS e Cofins obtidos na aquisição de máquinas e equipamentos. Essas medidas são importantes e devem ser vistas como muito positivas, mas isso é pouco diante da gravidade da situação. A demora para que as autoridades responsáveis se sensibilizem com as dificuldades do setor é resultado da multiplicidade de órgãos que interferem no processo decisório e da clara falta de um ponto de referência no comando do comércio exterior brasileiro. O sucesso representado pelo crescimento do comércio ex-
terior, que, em valor, quadrupli- e o mais emblemático exemcou desde 2003, fez com que plo da descoordenação interfossem ignoradas as vulnerabi- na. O Ministério de Desenvollidades internas e externas do vimento, Indústria e Comérsetor exportador, agora ressal- cio Exterior e o da Fazenda, o tadas pela crise. Essa notável Banco do Brasil e o BNDES expansão se deveu, sobretudo divergem burocraticamente ao crescimento da economia quanto à criação desse banco mundial e dos preços das maté- e não consta que o assunto terias-primas, em especial, agrí- nha sido discutido pela Cacolas e minérios. Tivesse havi- mex, o órgão competente, sedo vontade política para imple- gundo a legislação vigente. Os desafios e a crescente mentar políticas públicas que compensassem os altos custos complexidade dos problemas de produção dos bens exporta- relacionados com o setor exdos e a crescente burocracia terno tornam ainda mais urnos procedimentos de exporta- gente o debate sobre uma efeção, os resultados poderiam tiva política industrial e sobre a coordenação interna do coter sido bem melhores. Do lado das negociações co- mércio exterior, como deve merciais, governo e setor priva- ocorrer no encontro anual do interagem pouco. Embora dos exportadores a partir de não tendo havido a avalanche hoje, no Rio de Janeiro. A política industrial deveprotecionista prevista como resultado da crise econômica, o ria visar a efetiva desoneração Brasil sofre restrições pon- tributária e estimular investituais, como as da Argentina, mentos em novas tecnologias que encontram boa vontade po- e inovação para aumentar a lítica, em detrimento dos inte- competitividade dos produtos resses do setor produtivo nacio- brasileiros de exportação. nal. A agressividade comercial A reorganização institucioda China – considerada econo- nal passaria pelo fortalecimia de mercado pelo governo mento da Camex e pelo reforbrasileiro – transformou o país ço de suas atribuições. A maasiático no segundo parceiro neira mais simples de promoda maioria dos países da Améri- ver essa mudança seria a criaca do Sul, em muitos casos pela ção do cargo de presidente da substituição dos produtos brasi- Camex, vinculado diretamenleiros. A decisão de privilegiar te ao presidente da Repúblias negociações multilaterais da ca. Essa medida colocaria, de Rodada Doha colocou em se- imediato, o comércio exterior gundo plano os entendimentos num nível decisório como nunpara avançar em acordos de li- ca antes e daria força ao covre-comércio para a abertura mando do processo decisório, de mercados para produtos bra- por delegação expressa do sileiros. O resultado foi que, en- presidente da República. ● quanto os demais países negociaram mais de cem acordos du- Rubens Barbosa é presidente rante os oito anos de impasse do Conselho de Comércio da Rodada Doha, o Mercosul/ Exterior da Fiesp Brasil negociou apenas um, com Israel, em 2007, ainda não ratificado pelo Congresso. O Mercosul institucional, estagnado, terá ainda de enfrentar o desafio de ter entre seus membros a Venezuela, por pressão do governo brasileiro. Urge que o comércio exterior brasileiro passe por um amplo processo de revisão. Não somente pela sua modernização e eliminação das barreiras internas que dificultam seu crescimento e evolução, mas também pela definição de novas prioridades e pelo estabelecimento de uma organização institucional mais efetiva. Para que o comércio exterior seja tratado como uma variável estratégica e para reforçar o comando do setor serão necessárias a revisão da estrutura burocrática existente e a modificação no processo decisório. A discussão sobre a criação Batata quente para o presidente do Eximbank é o último
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES LembrandoChamberlain Como Lula não deve saber quem foi Arthur Chamberlain e o que a ingenuidade desse ministro inglês causou por acreditar em pactos e tratados com governantes desequilibrados como Hitler, por exemplo, isso o faz repetir tal atitude ao receber Ahmadinejad no Brasil. Por sua vez, Dilma, que deve conhecer bem a história de Chamberlain, diz: “O Brasil mostra sua relevância no quadro internacional ao ser consultado sobre o conflito árabe-israelense.” E eu, conhecendo as veredas que Dilma trilhou, sei bem que lado ela defende nesse conflito. Já os judeus que imigraram no pós-guerra e aqui formaram uma das mais importantes comunidades judaicas do mundo, ajudando a construir o Brasil moderno de hoje ao con-
ceberem verdadeiras potências empresariais, como bancos, indústrias metalúrgicas, eletroeletrônicas, de plástico, papel e celulose, rádio e televisão, construção civil, etc., além de enriquecerem o nosso campo médico e científico com mentes brilhantes, enfim, essa comunidade é açoitada na face com a visita do iraniano. E o que mais me irrita é ver alguns membros dessa mesma comunidade bajulando publicamente membros do PT e o próprio presidente Lula. Daqui a alguns dias é o Natal dos cristãos e o Chanuká dos judeus e como presente para a colônia judaica Lula trouxe ao Brasil o sr. Ahmadinejad, fidelíssimo embaixador de Hitler na Terra. FREDERICO D’ÁVILA fredericobdavila@hotmail.com
São Paulo
contra a alteração recebe o rótulo de protetor do meio ambiente. A discussão se polariza e se transforma numa batalha entre os que querem destruir o meio ambiente, os ruralistas, e os que lutam para defendê-lo, os ambientalistas. Olhando para o problema dessa forma simplória, o julgamento é imediato. Entretanto, a despeito da improbabilidade de alguém, em pleno século 21, continuar empenhado em destruir o meio ambiente, é esclarecedor nos fazermos a seguinte pergunta: a agropecuária brasileira quer mesmo desmatar mais? Seguramente, deve haver alguém, em algum lugar, que queira, mas nem de forma muito irresponsável essa pecha pode ser jogada sobre todo o setor agropecuário. A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que também é presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e representa o setor rural sindicalizado, publicou artigo em que advoga o desmatamento zero na Amazônia e na mata atlântica. Então, qual é o problema? Se os produtores rurais não querem destruir o meio ambiente, qual é a razão do descontentamento com a lei florestal? O que incomoda o setor rural no Código Florestal é que ele joga o custo da preservação ambiental apenas nos produtores. A nossa lei florestal obriga cada proprietário de imóvel rural a manter dentro dos limites de sua propriedade uma área de floresta, a chamada reserva legal. Essa reserva legal varia de tamanho de acordo com a localização da propriedade. Nas florestas amazônicas ela é de 80% da área do imóvel, nos cerrados amazônicos é de 35% e no restante do País é de 20%. Isso significa dizer que o proprietário rural não pode LOREDANO utilizar a sua propriedade como bem entender. Parte do seu direito de propriedade é sacrificado em nome de um benefício coletivo maior. É esse sacrifício que faz a lei ser percebida como uma legislação avançada e há todo um arcabouço legal – constitucional e infraconstitucional – que o legitima. Mas não é esse o problema fundamental. O problema é que o fato de o proprietário não poder utilizar sua área da forma mais eficiente em termos econômicos faz com que ele incorra em perdas financeiras e a lei reza que esse é um problema, única e exclusivamente, dele. Imagine-se uma propriedade de mil hectares em São Paulo – onde a reserva legal é de 20% –
Desde o final do ano passado o governo vem cozinhando uma divergência entre os ministros do Meio Ambiente, Carlos Minc, e da Agricultura, Reinhold Stephanes, sobre o Código Florestal Brasileiro. As tentativas de alterar a lei florestal não se restringem ao Executivo. Também no Congresso Nacional há um movimento em duas frentes para mudá-la: a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável analisa um projeto de lei (PL 6.424) e uma comissão especial avalia condensar toda a legislação ambiental num único diploma, o Código Ambiental, no bojo do qual o Código Florestal viria modificado. Não é a primeira vez que esse debate vem à tona. Em 2002, no final do governo Fernando Henrique Cardoso, o Congresso tentou modificar a medida provisória por meio da qual o código vige. Houve um embate encarniçado entre os ruralistas do Congresso e os ambientalistas que resultou no arquivamento da proposta. Desde a instituição do nosso primeiro Código Florestal, em 1934, durante a ditadura Vargas, são recorrentes as tentativas de modificá-lo. O debate sobre o Código Florestal tem estereótipos muito bem definidos. A lei é tida de forma quase dogmática como uma das melhores e mais avançadas leis de proteção ambiental do mundo. Logo, sempre que alguém tenta modificá-la é rapidamente rotulado como alguém que quer destruir o meio ambiente e qualquer um que se coloque
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
● A visita de Mahmoud Ahmadinejad é o apagão da diplomacia brasileira perante a comunidade internacional. ROBERTO TWIASCHOR rtwiaschor@uol.com.br
São Paulo
Brasil-Irã Será que o Brasil precisa mais dos benefícios dessa relação comercial do que de respeito por escolhas mais sensatas? PAULO R. KHERLAKIAN paulokherlakian@uol.com.br
São Paulo ● Tudo já foi dito. Argumentos políticos e fatos históricos foram colocados. A visita do sr. Ahmadinejad não trará sequer resultados comerciais, tão ao gosto dos
pragmáticos de plantão. Enfim, só nos resta marcar posição e protestar veementemente contra o sectarismo religioso, o obscurantismo político e o antissemitismo explícito. O governo brasileiro deveria envergonhar-se de receber tal visita. OHAD SALZSTEIN ohad@ig.com.br
Capão Bonito
Árabesilustres Na matéria D. Pedro II ‘desbravou’ Oriente Médio (22/11, A9), o jornalista Gustavo Chacra menciona alguns políticos brasileiros de expressão, descendentes de povos de língua árabe que vieram “fazer a América”, como se dizia na época, após a visita feita pelo imperador em 1876, referida no títu-
FAX:
(11) 3856 2920
arrendada a uma usina de álcool. O imóvel é todo ocupado com cana-de-açúcar, que deverá virar biocombustível no final da safra, ocasião em que o proprietário receberá, digamos, R$ 300 por hectare com o arrendamento da fazenda. Ele receberia, então, R$ 300 mil por ano pelo aluguel do imóvel. Mas ele tem de manter uma reserva florestal de 20% da área, logo, ele só pode ter 800 hectares de cana e tem a obrigação, por lei, de reconstruir a mata original nos 200 hectares de reserva legal. Por outro lado, com apenas 800 hectares em produção ele terá uma redução na sua receita anual de R$ 300 mil para R$ 240 mil e ainda precisará investir pesadamente na reconstrução da floresta original da reserva legal, sem saber como fazê-lo. Imagino que apenas Deus saiba como construir uma floresta original. Esse raciocínio pode ser estendido a qualquer propriedade rural, bastando substituir o porcentual de reserva legal e o valor da terra de acordo com a localização do imóvel e refazer
A lei joga o custo da preservação ambiental apenas nos produtores as contas. É precisamente esse efeito do Código Florestal que causa a maior parte da motivação para os esforços de alteração da lei. É muito mais uma questão de preservar a área agrícola existente do que de aumentá-la com novos desmatamentos. Há, sem dúvida, várias outras inquietações que a essa se somam. Alguns proprietários cumpriram a lei de 1934 e viraram criminosos em 1965, quando o código foi alterado; há alguns que cumpriram as exigências da lei de 1965 e viraram criminosos em 1996, quando a lei foi alterada novamente; alguns compraram de boa-fé áreas sem floresta e agora têm de internalizar o passivo. O tema não é simples. É um desrespeito à sociedade brasileira reduzir o debate do Código Florestal a uma guerra entre ruralistas tentando destruir o meio ambiente e ambientalistas tentando salvá-lo. O Brasil precisa de leis realmente capazes de proteger os seus biomas sem que o setor rural reste inviabilizado. E não são os ruralistas que mais têm a ganhar com isso, é o meio ambiente, a princípio, e o povo brasileiro, ao cabo. A sociedade merece uma discussão racional e séria sobre o Código Florestal. ● Ciro Siqueira é engenheiro agrônomo E-mail: ciro.siqueira@gmail.com
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
lo. Permito-me incluir na lista expressivas autoridades como nada menos que cinco ministros, Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Fernando Haddad (Educação), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Jorge Félix (Gabinete de Segurança Institucional) e Jorge Hage Sobrinho (ControladoriaGeral da União), o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), e o comandante militar do Sudeste, general de exército Antonio Gabriel Esper, todos de origem libanesa, e o senador Romeu Tuma (PTB-SP), de ascendência síria.
● Os brasileiros esperam que o STF não abdique de seus deveres e direitos, proferindo uma rápida e definitiva sentença contra a censura ao Estadão.
CARLOS ABUMRAD, autor do livro
LUIGI VERCESI
‘Gente do Líbano que Faz no Brasil’
luver44@terra.com.br
carlos@editoraclc.com.br
Botucatu
São Paulo
Censura O excelente artigo do historiador Boris Fausto (22/11, A2) alerta especialmente os mais jovens para o perigo crescente da censura no Brasil. Um texto lúcido, corajoso, que nos faz lembrar Santo Agostinho: “A memória é a morada da alma.” RODOLFO KONDER, jornalista, representante da ABI em São Paulo
São Paulo
TERÇA-FEIRA, 24 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 116 DIAS
NACIONAL A13
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Judiciário precisa dar resposta à censura’ Presidente da Comissão de Combate ao Nepotismo da OAB critica demora na apreciação de caso do Estado Moacir Assunção
Opresidente da Comissão de Combate ao Nepotismo da OAB-SP, Luciano Caparroz Pereira dos Santos, vê a censuraaoEstado,quejáperdurahá116dias,como“umcompleto absurdo”. Na sua visão, em casos semelhantes o Poder Judiciário precisa adotar, a exemplo da Justiça Eleitoral, uma resposta rápida, de forma a se garantir o direito da cidadania de ter acesso a todas as informações que possam lhe ser úteis para a formação do juízo crítico. “Não dá para aceitar uma decisão dessas, ainda mais queseestendaportantotempo”, criticou ele. Desde 31 de julho, o Estado está proibido, por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou e indiciou porvárioscrimesoempresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O caso está no Supremo Tribunal Federal (STF) e deverá ser julgado pelo plenário da corte no próximo mês. O advogado lamentou que exatamente o Judiciário que, segundo a Constituição, é o guardião dos direitos fundamentais, tenha sido o responsávelpela censura ao jornal. “Não poderíamos jamais, nos dias de hoje, depois do fim da ditadura, sofrer com esses problemas de repressão à liberdade de informação”, disse Caparroz.
Plenário do Supremo deverá julgar o caso no próximo mês Paraele,osórgãosdoJudiciário devem, ao contrário do que houve neste caso, evitar que a mordaça se instale mais uma vez no Brasil. “Em casosdessanatureza,aJustiça pode ser tardia e falha. É nosso papel coibir tentativas de calar a opinião”, alertou. Naopiniãodoadvogado,a sociedade como um todo é prejudicada com atos de censura, não apenas o Estado ou qualqueroutro veículo decomunicação vítima deste procedimento. “Desde o início desse caso do Estado, houve ilegalidades como o fato de o desembargador (Dácio Vieira) que determinou a mordaça e deveria ter se declarado impedido”, afirmou. Vieira mantém relações próximas com a família Sarney e chegou a atuar como consultor jurídico do Senado. Após o Estado ter entrado com recurso, o desembargador foi afastado e declarado suspeito por seus próprios pares. RAPIDEZ
Processos usados pela Justiça Eleitoral que permitem a cassaçãodesupostosofensores das leis em um tempo mais rápido seriam, para Santos, uma saída para casos de censura semelhantes ao do Estado. “Jamais isso poderia demorar tanto tempo. É preciso oferecer uma resposta rápida à sociedade para evitar que casos como esses se tornem comuns.” ● FRASES
Luciano Caparroz Da OAB de São Paulo “Não dá para aceitar uma decisão dessas, ainda mais que se estenda por tanto tempo” “Não poderíamos jamais, nos dias de hoje, depois do fim da ditadura, sofrer com esses problemas de repressão à liberdade de informação”
● Edição de
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o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
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Para Marco Aurélio Garcia, posição dos EUA sobre Honduras é ‘equivocada’ tedomingoemHonduras,mesmo sem a restituição do presidente deposto, Manuel Zelaya – como quer o Brasil. Ao fazer um balanço do governo de Barack Obama e da relação dos EUA com a América Latina, Garcia disse que há “certa decepção” e “certa frustração”
coma políticaexternadopresidente americano. Assessores do Planalto informaram que Obama enviou uma carta a Lula, na qual abordou o caso hondurenho e a visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil, entre outros assuntos. ● PÁGS. A10 e A11
Carro flex terá IPI reduzido até março
Aliados usam pesquisa para fazer pressão sobre Serra
O Brasil recebeu US$ 14,45 bilhões em aplicações de investidores estrangeiros paraacompradeaçõesbrasileiras em outubro, o maior valor desde 1947. Boa parte foi direcionada à compra de ações do Santander. ● PÁG.B8
DEM, PSDB e PPS vão usar as pesquisas para pressionar José Serra (PSDB-SP) a definirrapidamente suacandidaturaaoPlanalto. Acúpula desses partidos prevê queda do governador ante Dilma Rousseff (PT). ● PÁG. A4
CADERNO 2
Levantamentodo Ministério da Saúde sobre uma possível epidemia de dengue mostra que 71,3%dascidades analisadas foram consideradas de risco ou emestadodealertaparaadoença. Em 2008, 47,8% das cidades estavam nessas duas categorias. Há cerca de 2 milhões de pessoas nas áreas vulneráveis. Apesar dos indicadores, o ministro José Gomes Temporão (Saúde) afirmou que ainda há como evitar uma epidemia no próximo verão. ● PÁG. A24
MUDANÇA CLIMÁTICA: SECA NO AMAZONAS SINALIZA PREJUÍZOS
●●● Seca atinge Careiro da Várzea (AM); estudo mostra que o Brasil pode perder R$ 3,6 trilhões até 2050 por causa do clima. ● PÁGS. A20 a A22
ESPORTES
MARCEL GAUTHEROT
Ronaldo fora, sinaliza Dunga
O Norte, por Gautherot
7 8 9 10 11 12
2003, Lula declara simpatia pelo ex-guerrilheiro tupamaro José “Pepe” Mujica no segundo turno das eleições, no próximo domingo. ● PÁG. A16
Ministério alerta para risco maior de dengue
os eletrodomésticos. Pela primeira vez em 14 anos, as montadoraspreveemvendasmaiores que a produção. ● PÁG. B1
Investimento estrangeiro em ações bate recorde
Imagens marcantes do fotógrafo Marcel Gautherot (foto) numaviagem à Amazônia, nos anos 1940, foram reunidas em livro, Norte, e em exposição. A
DIRETOR:
RUY MESQUITA
MARCIO SILVA/A CRITICA
O governo estenderá até 31 de março a redução do IPI para carros flex de até 2.000 cm³. O “IPI verde” já é adotado para
Planalto toma partido no Uruguai Pela segunda vez em 6 anos, o presidente Lula toma partido por um candidato à presidência do Uruguai. Depois de apoiar Tabaré Vázquez, em
(1891-1927)
25 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42407
Assessor de Lula critica política externa de Obama O governo Lula considera “equivocada” a posição dos EUA sobre a crise em Honduras, afirmou o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia. A irritação manifestada por Garcia refere-se à decisãodeWashingtonde considerar legítima a eleição des-
JULIO MESQUITA
coletânea – um roteiro que começa em Manaus e termina em Belém – sintetiza o olhar do francês sobre o modo de vida do caboclo. ●
TUTTYHUMOR ●● Acabou em pizza a gre-
ve de fome de Battisti, mais um duro golpe neste tipo de protesto. ● PÁG. C10
OtécnicoDungapraticamente acabou com as esperanças de Ronaldo disputar seu quinto Mundial. O treinador da seleção disse ontem que “certos jogadores não precisam ser testados”, mas pediu aos jornalistas que “não iludam o torcedor”. ● PÁG. E1
Chega hoje à Livraria Cultura obra que conta a trajetória do diretor do Estado. ● PÁG. D10
DANIEL PIZA
agrícola
Crepúsculo A dificuldade em apontar a revelaçãodocampeonatoésinal de que o futebol brasileiro não vive grande fase. ● PÁG. E2
História
Um perfil de Julio de Mesquita Filho ●●
Algodão polêmico ●● Suspeita de que uso do caroço na dieta de bovinos altera sabor da carne abre discussão no setor. ●
Jovem corre menos riscos em São Paulo
NOTAS E INFORMAÇÕES
O gol contra de Lula O ponto da diplomacia lulista para justificar Ahmadinejad: confraternizar com qualquer regime que prestigie o País. ● PÁG. A3
●●●
Cidades paulistas, inclusive a capital, estão entre as mais seguras no Brasil para habitantesde12 a29anos,dizpesquisa do governo federal. Na outraponta,osjovensde Pernambuco e Bahia estão mais vulneráveis a assassinatos e acidentes. ● PÁGS. C1, C3 e C4
44% já viram um assassinato Porcentual diz respeito a jovens que estão mais expostos à violência no País, mostra pesquisa. ● PÁG. C4
Tempo: CAPITAL
32º
MÁX.
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21º
MÍN.
Sol em todas as regiões do Estado; chuva a partir da tarde.
Hoje: 90 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 18 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 18 ● E. Esportes: 4 ● G. Agrícola: 12 Classificados: 162 anúncios
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 117 DIAS q PÁG. A8
A8 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 25 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
ESTADOS
Polícia baiana prende homem de Geddel Ligado ao PMDB, Lomanto foi acusado de comandar esquema de corrupção no setor de transportes do Estado Tiago Décimo SALVADOR
A Polícia Civil prendeu ontem, em Salvador, o ex-diretor executivo da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), Antônio Lomanto Netto. O episódio eleva a tensão e acirra a ruptura, no cenário político baiano,entre o PMDB do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e o PT do governador Jaques Wagner. Ligado aos peemedebistas, que o indicaram para o posto,
Lomanto Netto foi acusado de comandar um esquema de corrupção na liberação de linhas intermunicipais de ônibus. Foram detidas mais seis pessoas, entre funcionários do órgão e empresários do transporte. Lomanto Netto ocupou a diretoria executiva da agência por 32 meses, entre o início do governo Jaques Wagner, em janeiro de 2007, e agosto deste ano, quando os partidos romperam para que Geddel lançasse sua pré-candidatura ao executivo estadual em 2010. Ele é filho do ex-governador da Bahia (1963-1967) e ex-sena-
dor (1979-1987) Antônio Lomanto Junior e tio do atual líder do PMDB na Assembleia Legislativa baiana, Leur Lomanto Junior. De acordo com o secretário de Segurança Pública da Bahia, César Nunes, as investigações sobre a agência estadual foram iniciadas há cerca de sete meses, depois que a polícia recebeu denúncia de que o órgão estaria cobrando propina para liberar novas linhas de ônibus. Foram usadas interceptações telefônicas para acompanhar as negociações. “Colhemos novas provas ho-
BETO BARATA/AE–23/9/2009
je e as investigações continuam”, afirmou Nunes. Os agentes cumpriram dez mandados de busca e apreensão na capital baiana e em Itabuna, no sul do Estado, sede de uma das empresas investigadas. LÍDER
WAGNER – Rompido com Geddel
Ainda segundo a polícia, Lomanto Netto liderava o grupo, comandando o esquema de cobrança de verbas adicionais para conceder linhas rodoviárias às empresas interessadas. O advogado do ex-diretor da agência, Sérgio Habib, negou as acusações, afirmando que
todos os procedimentos adotados pelo órgão foram analisados e aprovados pelas procuradorias responsáveis. Ao longo do dia, peemedebistas cogitaram a possibilidade de a operação ter cunho político, mas a polícia rebateu a hipótese, lembrando que as investigações foram iniciadas quando os partidos eram aliados. O líder do governo na Assembleia Legislativa, Waldenor Pereira (PT), negou qualquer relação entre a atuação dos agentes e a disputa partidária. “Também fomos pegos de surpresa”, afirmou o deputado. ●
+ 9
GOVERNO
Tarso critica delegados que querem eleger chefe da PF
QUESTÃO AGRÁRIA
PF prende acusados de crime ambiental A Polícia Federal cumpriu, até a tarde de ontem, 15 dos 29mandadosdeprisãodepessoas acusadas de crimes ambientais no Assentamento CelsoFurtado, em Quedas do Iguaçu (PR). Também foram interditadas 35 madeireiras da região e apreendidos 107 caminhões de toras. O assentamento foi oficializado em 2004, após compra da área, da empresa Araupel, invadida desde 1999. Hoje, 1.097 famílias estão cadastradas na área de 23.733 hectares, dos quais 5,3 mil hectares são de preservação ambiental.
Fausto Macedo
O ministro da Justiça, Tarso Genro,criticouontemdelegados da Polícia Federal que querem alterar o modelo de escolha do diretor-geral da corporação. “Há alguns delegados que acham que podem elegerodiretor,issonãoécorreto”, declarou. “O diretor da PF não é um diretor para a corporação, é diretor para o Estado brasileiro. Ele tem de responder para autoridades do Estado e do governo.” É crescente a mobilização de delegados que defendem mandato de dois anos, renovável por mais dois, para o chefe da PF, que seria indicado em lista tríplice eleita pela classe e submetida ao presidentedaRepública.“Issonos daria tranquilidade de uma política estável dentro da PF”,dizSandroAvelar,presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal.“Omandatonãoésuficiente para impedir ingerências externas, mas reforça a autonomia funcional.” Ontem, o governo enviou ao Congresso a Lei Orgânica da PF. Para Tarso, a norma tornará a instituição “cada vezmenosumórgãoeventualmente manipulável por interesses políticos”. O texto não altera o capítulo da escolha do diretor – o ministro sugere, o presidente nomeia “dentredelegados federais decarreira”.Avelardisse queosdelegados planejam gestões com os parlamentares para inserir na lei as alterações que reputam importantes. Tarso avalia que o formato emvigornãoguardaviéspolítico. “Poderia ser qualificado como cargo político se o diretor fosse eleito pela corporação. Daí ele responderia aos interesses da corporação queoelegeuenãoaosdoEstado e da Constituição.” ●
SANGUESSUGAS
Ministério Público quer ressarcimento O Ministério Público Federal entrou ontem na Justiça com pedido de devolução de R$ 885 mil e a devida condenação dos acusados de participar da chamada máfia dos sanguessugas. Mais de 70 funcionários públicos municipais, ex-secretários, exprefeitos e um ex-deputado de Mato Grosso do Sul são acusados de envolvimento em esquema de adulteração de licitação pública das prefeituras de cinco cidades do sul do Estado para compra de ambulâncias com dinheiro do governo federal. INTELIGÊNCIA
Senado aprova Trezza para comandar Abin O plenário do Senado aprovou, por 49 votos a 10, a indicação de Wilson Roberto Trezza para o cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Em agosto, seu nome havia sido ratificado pela Comissão de Relações Exteriores. Desde setembro de 2008, ele exercia interinamente o comandodaagência,emsubstituição a Paulo Lacerda, afastado após revelação de que arapongasdaAbinhaviamsido cedidos para trabalhar na Operação Satiagraha. JUSTIÇA ELEITORAL
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 117 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Relator vota contra cassação de Cassol
Mordaça é ‘lastimável’, diz diretor da Abert Moura destaca que não cabe ao Judiciário tutelar o acesso dos cidadãos à livre informação Moacir Assunção
RodolfoMachado Mouratrabalha em uma área sensível a temas relacionados à liberdade de expressão – advogado, ele é diretor jurídico da Associação BrasileiradasEmissorasdeRádio e Televisão (Abert) e costuma lidar com o assunto. Mesmo assim, Moura ficou surpreso coma censuraimposta ao Estado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), desde 31 de julho. “Essa atitude é lastimável, ainda mais vinda do Poder Judiciário”, lamentou. Ele lembrou que não cabe ao Estado, por meio dos seus ór-
gãos, tutelar os cidadãos no seu direito à livre informação. “Defendo que a população tenha todo o acesso à informação e decida o que vai lhe interessar. Este é um direito fundamental.” O especialista reconhece que o Brasil avançou em vários aspectos recentemente, mas ainda há problemas quanto ao cerceamento à expressão. “A cada dois bimestres, em média, com frequência além da desejável,temos notíciasderestrições à livre circulação da informação. Não é um fato corriqueiro, mas causa muita preocupação”, afirmou. Segundo informou,émaiscomumamorda-
ça em jornais, mas também há casos envolvendo emissoras de rádio e TV. Moura disse considerar importante que não haja confusão entre os direitos da cidadania e os das empresas jornalísticas.
‘Com frequência além da desejável, temos notícias de restrições’, alerta “É preciso deixar claro à sociedade que a liberdade de expressão não existe para proteger os
veículos de comunicação, mas a sociedade. A Constituição estabelece a liberdade dos meios de informação, mas determina limites muito claros à sua atuação, baseados na responsabilidade total pelo que for publicado”, comentou. Emsuavisão,aprópria população deve se preocupar com restrições ao trabalho da imprensa, uma vez que é o seu direito que está sendo atacado. “Precisamos proteger os direitosfundamentais emnossopróprio interesse”, frisou. No caso específico que levou à censura ao Estado, pedida por Fernando Sarney, filho do
presidentedoSenado,JoséSarney (PMDB-AP), Moura lembrouqueoepisódio envolvepessoas públicas e recursos públicos,portanto,passíveisdefiscalização por parte da população e da imprensa. “É público e notório que houve crimes e uma investigação da Polícia Federal, que foi noticiada pelo jornal. Além disso, quem se torna pessoa pública já sabeque sua privacidade setornará mais restrita por causa dessa condição”, disse. Investigado e indiciado pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica, Fernando é suspeito de vários crimes. ●
Os ministros do TSE começaram a julgar ontem um recurso que definirá o futuro do governador de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido). Por enquanto, um ministro (o presidente do TSE, Carlos Ayres Britto) votou pela cassação de Cassol e outro (o relator, Arnaldo Versiani) contra. O julgamento foi interrompido por um pedido de vista de RicardoLewandowski.OMinistério Público Eleitoral pede a cassação do governador por suposta compra de votos na eleição de 2006.
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Projeto veta tráfego de motocicletas entre carros em projeto de lei que começou a ser votado ontem na Comissão de Viação e Transportes da Câmara. Para os poucos deputados contrários à restrição para as motocicletas, a medida é inaplicável: “As motos não pode-
A primeira grande reforma do Código de Trânsito Brasileiro proíbe que motociclistas trafeguementreoscarrosquandoestes estiverem em movimento e criminaliza a recusa ao teste do bafômetro. As mudanças estão
CELULAR Falar ao telefone enquanto dirige passa a ser infração gravíssima, punida com 7 pontos na Carteira de Habilitação
rão mais ultrapassar os carros. Fico imaginando isso em São Paulo: uma moto atrás da outra”, disse Marcelo Almeida (PMDB-PR). O texto também eleva a multa por dirigir falando ao celular. ● PÁGS. C1, C3 e C4
(1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
26 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42408
PRINCIPAIS MUDANÇAS
Nova restrição integra reforma do Código de Trânsito
JULIO MESQUITA
BEBIDA Quem fugir do bafômetro poderá ser punido como se estivesse comprovadamente bêbado MULTAS Os valores sobem. Nos casos de excesso de velocidade, a multa pode chegar a R$ 957,65
MOTOS Ficam proibidas de transitar nos corredores entre veículos
Estados e municípios pagam por IPI menor
Shoppings têm nova regra para garagens Entra em vigor lei que obriga os shoppings paulistas a não cobrarem estacionamento de quem gastar nas lojas 10 vezes o valordataxa degaragem.Associação dos shoppings pretende ir à Justiça contra a lei. ● PÁG. C5
paladar Prêmio
Revista com 116 páginas apresenta os melhores pratos de São Paulo. ●
Fazenda anuncia novos cortes do imposto, cuja maior fatia não é federal ANÁLISE
Beatriz Abreu
Desoneração, de olho na eleição O ideia de Lula é usar o corte de impostos na campanha, ampliar o apoio en●●●
tre empresários e sedimentar a candidatura de Dilma no setor privado. ● PÁG. B3
LUIZ HENRIQUE MENDES/AE
de” para carros. A maior parte do corte de IPI oferecido pelo governo federal será bancada por Estados e municípios, donos de 57% da arrecadação com o tributo. Para a Confederação Nacional dos Municípios, tratasede “fazercaridade com ochapéu alheio”. ● PÁGS. B1, B3 e B5
O ministro Guido Mantega (Fazenda) anunciou um novo pacote de incentivos fiscais. Os setores beneficiados foram a indústriademóveise,de novo,a construçãocivil.Arenovaçãodasdesonerações e as novas isenções foram anunciadas um dia após Mantega apresentar o “IPI ver-
●●
Rosbife em crosta de lapsang souchong, do restaurante Maní
ESPORTES
Diplomacia
‘Vamos matar os bambis’, grita Belluzzo durante festa
Amorim nega tensão com EUA ●● EmmeioàcrisedeHonduras, chanceler diz haver só “diferenças” com Washington. ● PÁG. A14
Sem-terra
Um vídeo que está na internet mostra o presidente do Palmeiras, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, gritando “vamos matar os bambis”, em uma festa da escola de samba Mancha Verde, em outubro. Era referência a uma derrota do São Paulo – na época, o Palmeiras liderava o Brasileiro. “Falei no sentido futebolístico, figurado”, justificou Belluzzo. ● PÁG. E6
Incra amplia sua atuação em SP Governo federal assumirá atribuição que era de órgão estadual na reforma agrária. ● PÁG. A4
●●
Aumento do IPTU passa na Câmara berto Kassab, que eleva imposto em até 60%, não teve alterações. ● PÁG. C6
Flamengo pede à torcida que poupe Ronaldo
Hemofilia
Indústria propõe acordo a pacientes ARI FERREIRA/LANCEPRESS
●● Laboratórios acusados devenderremédioscontaminados propõem pagar até R$ 50 mil. ● PÁG. A31
INGRESSO DIFÍCIL – Torcedores do Corinthians tentam comprar bilhetes em Campinas: desorganização
CADERNO 2
NOTAS E INFORMAÇÕES
A eleição no PT e a de 2010 Ao reabilitar os envolvidos no mensalão, o PT para de ajoelhar no milho e volta-se ao “projeto nacional” em que o presidente Lula vem se empenhando desde a primeira hora. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
31º
MÁX.
● PÁG. C2
19º
MÍN.
Sol aparece entre muita nebulosidade; chuva a partir da tarde.
Diversão com reflexão
DIDA SAMPAIO/AE
●●●
Luiz Zanin Oricchio Hoje: 234 páginas A. 1º caderno: 36 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 6 ● P. Paladar: 6 ● Revista Paladar: 116 ● Cl. Classificados: 24 (2.051 anúncios) 7 8 9 10 11 12
O consumo brasileiro de energia chegou a níveis históricos na última terça-feira, superandoonívelverificadoantesdacrise financeira. Reflexo das altas temperaturas e da recuperação da economia, o aumento vem sendo usado pela Light como justificativa para os apagões no Rio de Janeiro nas últimas semanas. ● PÁG. B15
São Paulo
●● Projeto do prefeito Gil-
A necessidade de vitória contra o Corinthians, domingo, fez com que diretor do Flamengo procurasse representantes de torcidas organizadas do time para pedir que não provoquem Ronaldo. Pelo menos um integrante das organizadas disse ao Estado que o pedido não deverá ser aceito. ● PÁG. E2
Consumo de energia sobe e supera nível anterior à crise
Com Glória Pires como melhor atriz, o filme É Proibido Fumar foi o grande vencedor do Festival de Brasília. A comédia oferece diversão – e também reflexão. ●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 118 DIAS q PÁG. A9
EUA assumem redução de 17% na emissão de gases Os EUA vão apresentar em Copenhague meta de redução, até 2020, de 17% das suas emissões de poluentes, em relação a 2005.OpresidenteBarackObama apresentará pessoalmente as metas. É a primeira vez em mais de uma década que os EUAsecomprometemcommeta de redução de gases que causam aquecimento. ● PÁG. A25
NACIONAL NACIONAL A9 A9
QUINTA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 118 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘A medida é abominável, odiosa e perigosíssima’ Para presidente da Comissão de Exame da Ordem da OAB-SP, mordaça atenta contra princípios da democracia Moacir Assunção
O advogado Braz Martins Neto, presidente da Comissão de Exame da Ordem da OAB-SP, não economiza adjetivos ao qualificar a censura ao Estado, decretadapelo Tribunalde Justiça do Distrito Federal (TJDF). “A medida é abominável, odiosa e perigosíssima. A imprensa não pode ser privada do seu direito e dever de informar. O cidadão, por sua vez, tem todo o direito de receber todas as informações”, afirmou. Desde 31 de julho, o Estado está proibidode publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou o empresário Fernando Sarney pelos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e tráfico de influência. Fernando, indiciado após as investigações, é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o principal responsável pelos negócios da família.
Martins Neto afirmou não verrazõespara censuraàimprensa, ainda mais nos dias atuais. “A mordaça atenta contra todos os princípios dademocracia,pela qualtanto lutamos”, disse. “Nada impede, claro, que se punam eventuais excessos dos meios de comunicação, observados após a publicação da reportagem ou artigo.” O próprio sistema democrático no qual vive o País, de acordo com o advogado, consagrou o princípio da observância dos limites à atuação da imprensa, sempre depois da veiculação das informações. O ato de censurar uma reportagem antecipadamente, na avaliação de Martins Neto, se configura comocensura prévia. “Sou um leitor assíduo do Estado e conheço sua seriedade e o cuidado no trato com a informação”, destacou. PLENA LIBERDADE
Reclamação do ‘Estado’ deve ir ao plenário do STF em dezembro A mordaça foi baixada pelo desembargador Dácio Vieira, que acatou liminar pedida por Fernando, mas depois o magistrado acabou afastado do caso, por ter sido declarado suspeito pelos próprios colegas. Após ter recursos rejeitados no TJDF, que remeteu o caso para a Justiça do Maranhão, o Estado apresentou uma reclamação ao Supremo Tribunal Federal (STF), que deve ser julgada no próximo mês pelo plenário.
A Constituição de 1988, lembrou o advogado, estabelece o sistema de plena liberdade de imprensa, limitada à responsabilidade na publicação, sempre observada pelos veículos de comunicação sérios e cientes do seu papel social. “Qualquer cidadão tem o direito de questionar alguma publicação, por se sentir injuriado ou caluniado, mas não pode tentar impedir a veiculação”, afirmou. Em sua visão, o princípio da censura prévia traz uma série de perigos, ao atentar contra os pilares básicos do sistema democrático, como a liberdade de expressão e de opinião. ●
Cancún
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0h15
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
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JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
27 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42409
Crimes da ditadura geram processos
CHUVA FORTE EM SP: PREJUÍZOS
Promotoria acusa Maluf e Tuma de ocultar cadáveres de opositores O Ministério Público Federal entrou na Justiça com uma ação civil pública contra o senador Romeu Tuma (PTB-SP) e o deputado Paulo Maluf (PP-SP). Elessãoacusadosdeocultarca-
dáveresdepresospolíticosmortos pelos órgãos de repressão durante o regime militar. Os corposforamenterradosnoscemitérios paulistanos de Perus e de Vila Formosa. ● PÁG. A6
China lança plano para corte de CO2 TIAGO QUEIROZ/AE
Objetivo inclui o desenvolvimento de energia limpa, segundo Pequim
Um temporal em São Paulo, com ventos fortes, fechou o
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Aeroporto de Congonhas e derrubou árvores na região – na
foto, uma delas atingiu uma casa; a chuva causou 21 pontos de
A China anunciou a meta de reduzir de 40% a 45% as emissões decarbononecessáriasparagerarcadaunidadedoPIB.Oobjetivo, segundo Pequim, será alcançadopelareduçãodaquanti-
alagamento e 188 km de congestionamento. ● PÁG. C3
Superávit sobe, mas meta está ameaçada
Estacionamento
Justiça dá liminar aos shoppings ●● Gratuidade é suspensa por inconstitucionalidade, diz juiz. ● PÁG. C4
Guia
Para adolescentes
Contas públicas só melhoram com artifícios contábeis e receitas atípicas receitas atípicas, como o recolhimento de R$ 5 bilhões em depósitos judiciais que estavam na Caixa Econômica Federal. Além disso, o superávit acumulado em 12 meses caiu de 1,17% do PIB em setembro para 1% do PIB em outubro. Foi o menor valor dos últimos oito anos. O Banco Central, no entanto, acredita que a meta será cumprida, apesar da onda de isenções fiscais. ● PÁG. B1
ANÁLISE
Rui Nogueira
Isenções fiscais esvaziam debate ● ● ● A concessão de isenções deixa de lado o debate sobre reforma tributária. Conceder benefícios é fácil. Difícil é tirar depois. ● PÁG. B3
Indústria de eletrodomésticos já faz três turnos ●● ● A demanda aquecida do Natal, aliada à isenção parcial de IPI, levou indústrias de eletrodo-
NOTAS E INFORMAÇÕES
Divergências sem fel Iniciativas sensatas, em Brasília e Washington, reduziram às suas verdadeiras proporções as críticas do assessor diplomático do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, a posições do governo Obama. ● PÁG. A3
mésticos a produzir em três turnos para dar conta das encomendas. Uma consultoria prevê
Tempo: CAPITAL
30º
MÁX.
● PÁG. C2
20º
MÍN.
Sol e calor, mas frente fria provoca pancadas de chuva à tarde.
●●●
Hoje: 228 páginas A. 1º caderno: 26 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 14 ● Guia: 132 ● E. Esportes: 4 ● H. Sustentabilidade: 8 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 4
que este Natal será o melhor da década, com faturamento de R$ 91,9 bilhões. ● PÁG. B4
Moratória em Dubai assusta investidores
T
dos dinossauros do rock, toca no Morumbi. ●
●● Vi
uma moça num ônibus em Brasília, olhar que merecia poema. ● PÁG. D14
festa na Casa Branca. Seria normal, se os dois não fossem penetras. ● PÁG. A20
História
Reforma amplia arquivo estadual ●● Obra elevará em nove vezes a capacidade de armazenamento. ● PÁG. C12
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AP
À espera de Copenhague Caderno mensal fala da conferência mundial sobre aquecimento que começa em nove dias. Entenda como estão as negociações entre os países e saiba o que cada cidadão pode fazer para preservar o planeta. ●
Empreiteira pagou ‘mesada’ para políticos, aponta PF Investigação da Polícia Federal envolvendoexecutivosdaConstrutora Camargo Corrêa indica supostos pagamentos mensais a parlamentares e servidores entre 1995 e 1998, relata Fausto Macedo. A empreiteira diz desconhecer o documento e afirma que, na mesma investigação, doaçõessupostamenteirregulares se provaram legais. ● PÁG. A4
Uma tarde de 1969
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 119 DIAS q PÁG. A10
7 8 9 10 11 12
AC/DC faz hoje show para 70 mil
Milton hatoum
Cara de pau à americana areq Salahi e a mulher, Michaele, posam com Joe Biden (centro), vice-presidente dos EUA, em
CADERNO 2 ●● Banda australiana, um
Investidores do mundo todo reagiram mal ontem à decisãodeDubaidepedirseismeses de moratória da dívida do grupo estatal Dubai World. O conglomerado árabe tem passivos de quase US$ 60 bilhões – a exposição maior é de bancos europeus. A decisão derrubou bolsas e criou dúvidas sobre a saúde de empresas ligadas ao governo de Dubai. ● PÁGS. B8 e B9
q SUSTENTABILIDADE
dade para quem já se cansou dos vampiros. ●
GUIDO KARP/DIVULGAÇÃO
O superávit primário das contaspúblicas,isto é, a economia para pagar juros da dívida do governo, atingiu em outubro R$ 13,818 bilhões, o maior saldo para esse mês desde 2001. Mesmo assim, há um alto risco de que não seja cumprida a meta prevista para o ano, de 2,5% do PIB, mesmo com as manobras contábeis feitas pelo governo. Nas contas divulgadas ontem estão incluídas
●● Confira atrações na ci-
dade de energia gasta para sustentar a expansão econômica e pelo desenvolvimento de fontes limpas. A meta foi considerada ambiciosa e deve ajudar a Conferência do Clima. ● PÁG. A22
ESPORTES
São Paulo retoma mando de campo O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) restituiu ao São Paulo o direito de mandar no Morumbi seu último jogo no campeonato, contra o Sport. Jean foi liberado pelo tribunal e poderá enfrentar o Goiás no domingo. Já Dagoberto e Borges continuam suspensos. ● PÁG. E1
A12 NACIONAL
SEXTA-FEIRA, 27 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
+ 9
GOVERNO
Ministro da Cultura afirma que jornalistas são pagos para mentir
RIO GRANDE DO NORTE
Convênios beneficiarão 16 mil famílias rurais Pelo menos 16 mil famílias do Rio Grande do Norte devem se beneficiar com os 411 convênios do programa Desenvolvimento Solidário – de combate à pobreza rural – que a governadora Wilma de Faria (PSB) assinará hoje. Os convênios fazem parte da segunda fase do programa desenvolvido pela Secretaria doTrabalho, Habitaçãoe Assistência Social (Sethas). De acordo com a assessoria do governo, entre 2003 e 2008, 72 mil famílias foram beneficiadas diretamentecom R$ 64 milhões voltados a projetos produtivos.
Reação veio após ser questionado sobre panfleto com lista de parlamentares que apoiam a pasta MARCOS ARCOVERDE/AE–25/11/2009
Roberta Pennafort RIO
Lista contém nomes de parlamentares da base e da oposição Irritado com as perguntas, o ministrodissequefoidesrespeitado pela imprensa na coberturadocasodopanfleto,ressaltando que sua reação foi normal. “Meu pinto, meu coração, meu estômago e meu cérebro é uma linha só. Não sou um cara fragmentado, entendeu? Fui des-
RORAIMA
Governo repassa terras para o domínio estadual Até 2010, 6 milhões de hectares distribuídos em 9 glebas rurais devem ser repassados para o Estado de Roraima. Os beneficiários são antigos posseiros que receberão status de proprietários de fato e de direito. A decisão do governo federal é considerada uma conquista para o Estado, que via na questão fundiária um empecilho para o desenvolvimento de Roraima. Comoobjetivo deatrair investidores, o governo estadual colocou à disposição de empresários uma série de incentivos financeiros e benefícios fiscais.
CONOTAÇÃO
IRRITAÇÃO – Juca Ferreira recebe turbante em cerimônia no Rio e se diz desrespeitado por jornalistas
ANJ e Fenaj rebatem declaração de Juca Ferreira reira foi feita anteontem no Rio, quando ele participava do lançamento do novo formato do programa de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à cultura. Questionado pelos jornalistas por que o ministério publicou um folder com os nomes de mais de 300 deputados que, supostamente, defendem a cultura, Ferreira atribuiu a reação da oposição à ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT ao Planalto. ●
Associações que representam jornais e jornalistas reagiram duramente à declaração do ministro da Cultura, Juca Ferreira, segundo a qual “os jornalistas são pagos para mentir”. O diretor executivo da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, rebateu: “Repórteres são remunerados para apurar e investigar notícias, em busca de informações, a serviço da sociedade. Nos surpreende a declaração de uma autoridade que está à frente da pasta da Cultura.”
Por sua vez, o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio Murillo, se declarou indignado e exigiu que o ministro pedisse desculpas aos jornalistas e à imprensa enquanto instituição. “Acredito que a frase, absolutamente infeliz, é fruto de um momento de tensão, mas ofende a toda uma categoria. Acho que uma retratação do ministro colocaria a questão na dimensão que ela realmente tem”, comentou. A polêmica declaração de Fer-
MOACIR ASSUNÇÃO
respeitado pela imprensa, que reverberou sem investigar, e por dois ou três parlamentares. É um trabalho suprapartidário. Não trabalho com esse critério, a cultura é muito mais ampla do que a política.” Ontem, o senador Heráclito
Fortes (DEM-PI) declarou ser “inaceitável”aformacomooministro falou da imprensa e de parlamentares, reclamando dos termos “chulos”. A reportagem do Estado procurou o ministro da Cultura, mas sua assessoria infor-
mou que, por causa de compromissos assumidos em Ilhéus (BA), na abertura da 3ª Conferência Nacional de Cultura, ele nãopoderiafalar coma imprensa no dia. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, considerou o episódio do
●● ●
O presidente da Associação dos Produtores de Teatro do Rio, Eduardo Barata, assim como a presidente do Sindicato Nacional dos Editores deLivro,SôniaMachadoJardim,concordamqueéimportanteparaoeleitorinteressado na área cultural saber a posição dos parlamentares sobre a questão. Como não viram o folheto, não quiseram falar especificamente sobre seu conteúdo. Barata, no entanto, ressalvou que é preciso ter cuidado para que eleitores ingênuos não sejam manipulados. “Mas não acredito que tenha tido conotação eleitoral”, disse. “Não sei se era propaganda política. Estou num setor que tem tão pouco recurso, que a gente deve buscar quem tenha uma plataforma que possa ajudar”, afirmou Sônia,vice-presidentedeoperações da editora Record. “Os deputados, senadores e vereadores em quem eu voto devem ter alguma coerência com meu pensamento.” Alémdosetorteatraleeditorial, o cinematográfico também estava representado no BNDES. O Procult vai aceitar propostas também nas áreas de patrimônio histórico,música,jogoseletrônicos e dança. ● COLABOROU JOTABÊ MEDEIROS
PERSONALIDADE
LEONARDO CASTRO/AE
OministrodaCultura,JucaFerreira, atacou a imprensa, dizendo que os jornalistas “são pagos para mentir”. A reação ocorreu durante o anúncio do Programa BNDES para o Desenvolvimento da Economia da Cultura (Procult), pelo qual será destinado R$ 1 bilhão para projetos culturais, até 2012. Os representantes do setor que foram à sede do BNDES na manhã de quarta-feira prestigiar a iniciativa se depararam com outra discussão: a impressão, pelo Ministério da Cultura, de um panfleto dirigido a eleitores, com uma lista de mais de 300 parlamentares que votam favoravelmente às iniciativas da pasta. Logo depois do anúncio, feito pelo diretor de Inclusão Social e Crédito do BNDES, Elvio Gaspar, o ministro foi questionado sobre o folheto, mas respondeu que preferia falar sobre o Procult. Quando os repórteres insistiram, Ferreira, que no dia anterior havia negado que o panfleto houvesse sido impresso pelo ministério, esclareceu que se trata de uma listacom nomes de vários partidos, e não só da base aliada. A listagem tem deputados de todo o País, de partidos como PT, PSDB, PP, PV, PMDB, DEM e PDT.
folder como caso de “pressão legítima” da sociedade sobre o Congresso. “E é assim que se faz no Brasil. O Congressofuncionasobpressão, uma pressão saudável, as pessoas se mobilizando”, afirmou. “Portanto, ministroJuca, euquero, como prefeito da cidade mais cultural do Brasil, me unir a vossa excelêncianessapressão legítima que se faz sobre os parlamentares para que nós possamos ter aprovadas nossas iniciativas culturais.”
Comissão concede anistia a Paulo Freire A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça considerou ontem, por unanimidade, o educador pernambucano Paulo Freire, morto em 1997, como anistiado político. Segundo o órgão, Freire foi punido durante a ditadura militar por “identificar na alfabetização um processo de libertação dos oprimidos”. Caso o ministro da Justiça concorde com a decisão, a portaria deve ser publicada ainda este ano. Com isso, a viúva do educador, Ana Maria Araújo, deve receber indenização de 480 salários mínimos. RIO GRANDE DO SUL
Comissãovê3 Poderes contramovimento social
SENADO
Sarney é internado com quadro de gastroenterite Presidente do Senado passou mal durante audiência e fica quatro horas em observação Rosa Costa Carol Pires BRASÍLIA
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), permaneceu ontem por quatro horas em observação no Centro Médico da Casa, após sentir-se mal por volta das 11 horas, quando recebia em audiência o presidente daConferênciaConsultiva Polí-
tica do povo Chinês, Jia Qinglin. Sarney saiu do encontro direto para o posto médico. As primeirasinformaçõesdivulgadas por sua assessoria era que o senador,de79anos,teve “umpequeno mal-estar”, pouco depois identificado como sendo um “quadro de gastroenterite”. O boletim divulgado por volta das 14 horas, pelo diretor do centro médico, Roberto Rodri-
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MAL-ESTAR – Agenda suspensa
A Presidência do Senado chegou a pedir à Força Aérea Brasileira que mantivesseumavião deplantão parao caso de Sarney precisar ser transferidoparaoutrohospital fora de Brasília. Logo em seguida, porém, o avião foi dispensado, segundo sua assessoria, porque o diagnóstico mostrou não ser necessária sua remoção. ●
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Supremo vai derrubar censura, diz advogado
PRONTO PARA MORAR
Realização:
SERGIO DUTTI/AE
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OPORTUNIDADE ZABO NA VILA NOVA CONCEIÇÃO. VOCÊ MERECE.
gues Ramalho, confirmou o diagnóstico, acrescentando que naquele momento, o senadorencontrava-se“emobservação clínica pós uso de medicação específica”. Por um equívoco, mais tarde corrigido, o boletim trazia a data de 29 de maio de2009.Sarneypassouporexames de raio X e ecografia e, ainda, medição da taxa de açúcar no sangue.
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O advogado e conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Jorge ElufNeto afirmou nãoter dúvidasde queoplenário do Supremo Tribunal Federal vai corrigir a censura sofrida peloEstado desde 31de julho. A mordaça foi imposta a partir de liminar obtida no Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) pelo empresárioFernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “Acredito que o STF vai se utilizar de uma prerrogativa aprovada recentemente na reforma do Judiciário e editar uma súmula vinculante paraimpedirquetribunaisin-
Relatório apresentado ontem na Assembleia do Rio Grande do Sul acusa os três Poderes no Estado de criminalização dos movimentos sociais do campo e da cidade. O documento foi preparado por comissão especial constituída pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. Cita conflitos da BrigadaMilitar comsem-terra que deixaram mais de 50 feridos em Rosário do Sul e iniciativas do Ministério Público Estadual, acolhidas pela Justiça, que impedem o MST de se aproximar dealgumas fazendas do Estado.
ferioresdecretemacensuraprévia, como neste caso”, previu. Eluf disse que desde o início comentou o processo contra o Estado com o presidente do Conselho Federal da OAB, Cezar Britto, e com o presidente estadual da Ordem, Luiz Flávio BorgesD’Urso.Emanifestouinconformismo com a decisão do desembargador Dácio Vieira, do TJ-DF, depois afastado do caso e declarado suspeito por seus pares. Na visão do conselheiro, os dois preceitos fundamentais presentes no caso – o direito à livre informação e opinião e o direitoàintimidade–sãoimportantes e não se chocam. “A Constituiçãoprevêpuniçõespara eventuais abusos cometidos pela imprensa, que vão desde o
direitoderespostaaopagamento de indenizações. O que não pode haver é a censura prévia.” O advogado lembrou que a Constituiçãoprevêaplenaliberdade de imprensa. “A imprensa exerce um papel fundamental de informar à população e fiscalizar eventuais abusos nos órgãos públicos e não pode ter seu trabalho cerceadopor quem querqueseja”, observou. Para ele, a própria imprensa pode estabelecer um princípio de autorregulamentação para casos semelhantes. DEMOCRACIA
Apesar da censura contra o Estado e de outros casos de perseguição a jornais e jornalistas listados pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) no País, a democracia não corre riscos, na opinião do conselheiro da OAB. “Nossas instituições são sólidas.” Fernando Sarney foi investigadopor várioscrimeseindiciado pela Polícia Federal. ●
● Edição de
0h30
o estado de s. paulo SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
São Paulo, cidade animal ●● Censo da USP mostra que, entre 2002
e 2008, o número de cães em São Paulo aumentou 60% e o de gatos, 152,17%. O empresário Danilo Silva (foto) já pensa em se mudar para um espaço maior. ● PÁG. C7
Esportes
●● Show no Morumbi
●● O Flamengo anunciou
que Adriano não enfrenta o Corinthians. O artilheiro queimou o pé numa lâmpada. ● PÁG. E3
reuniu gerações como a de João Prado e a do pai, Humberto. ● PÁG. C6
KEINY ANDRADE/AE
Emirados devem US$ 123 bi a bancos A exposição de bancos internacionais a Dubai e aos demais Emirados Árabes Unidos chega a US$ 123 bilhões. Por essa razão, a notícia da moratória da dívida da Dubai World, o braço de investimentos do emirado, deixou o mercado financeiro nervoso ontem na Europa, na Ásia e nos EUA. O temor é que o problema de Dubai não se limiteaoconglomeradoestataleinicie um efeito cascata, com novas quedas de bolsa ou quebras de bancos e empresas. ● PÁG. B1
Esquema de propina teria até mesmo participação do governador Arruda Investigação da Polícia Federal flagrou no governo José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal, esquema de cobrança depropinase distribuição dodinheiro pela base aliada, numa espécie de mensalão que envolve ao menos quatro secretários e quatro deputados distritais. Arruda aparece em documentosorientandoosecretárioDurval Barbosa (Relações Institucionais) a “entregar R$ 400 mil aMaciel,parapagamentodabase aliada” – em referência a José Geraldo Maciel, chefe da Casa Civil. O trabalho da PF contou com a colaboração de Barbosa, que fez acordo de delação premiada. O governador afastou os secretários envolvidos e informou que não pretende renunciar. A liderança do DEM disse que só se posicionará quando souber do teor das investigações. ● PÁGS. A4 e A6
Governo erra e infla desmate do Cerrado em 33%
FRASE DIDA SAMPAIO/AE
“Vamos esperar essas apurações. Temos total confiança no governador” Rodrigo Maia (RJ) Presidente do DEM BUSCA – Policiais federais vasculham gabinete de parlamentar do DEM no DF: Operação Caixa de Pandora mobilizou 150 agentes
O fracasso da cúpula de Manaus Seis chefes de governo sulamericanos deram um choque de realidade no presidente Lula ao se ausentar da cúpula dos países amazônicos sobre mudança climática, para a qual foram convidados. ● PÁG. A3
ção Superior. O governo Lula investe R$ 2 bilhões em programadeexpansão.Paraespecialistas, o fato demonstra direcionamentoequivocadoesaturação do mercado. ● PÁG. A29
Tempo: CAPITAL
28º
MÁX.
País já é um dos cinco principais mercados da empresa. ● PÁG. B22
●●
São Paulo
Kassab oferece pagamentos ao BB
● PÁG. C2
20º
MÍN.
Tempo abafado e frente fria deixam o céu com muitas nuvens.
Aula de gibi Confira as dicas de Mauricio de Sousa para criar e desenhar uma história em quadrinhos. ●
TENSÃO – Soldado hondurenho vigia urnas: reforço militar
Apoio à eleição em Honduras cresce
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7 8 9 10 11 12
No Brasil, Skype mira celulares
●● Repassedafolhadeservidores reforçaria caixa da Prefeitura. ● PÁG. C1
Hoje: 146 páginas A. 1º caderno: 34+4 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 12+4 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 8 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 22 ● Ci. Imóveis: 14 (3.894 anúncios)
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 120 DIAS q PÁG. A11
Divulgados em setembro, números do Ministério do Meio Ambientesobre odesmatamentonoCerradoestavamsuperestimados. A média anual de devastação, inicialmente estimada em 21.260 quilômetros quadrados entre 2002 e 2008, foi corrigida para 14.179 km² – um erro de 33%. Segundo a nota, o erro deveu-se a uma “inconsistência na atribuição da data do desmatamento”. ● PÁG. A30
Número de ex-fumantes no País já bate o de fumantes
Comunicações
YURI CORTEZ/AFP
Universidades não preenchem vagas
NOTAS E INFORMAÇÕES
DIRETOR:
RUY MESQUITA
AC/DC na veia
Polícia flagra ‘mensalão do DEM’ no governo do DF
As vagas ociosas nos cursos de universidades federais subiram 117% em um ano. Em 2008, 7.387 vagas não foram preenchidas pelos vestibulares, segundo Censo da Educa-
(1891-1927)
28 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42410
WILTON JUNIOR/AE
TIAGO QUEIROZ/AE
JULIO MESQUITA
Ruth Costas ENVIADA ESPECIAL A HONDURAS
O presidente da Costa Rica, Oscar Arias, mediador de diálogo entre o governo deposto e
o de facto em Honduras, pediu quese reconheçam as eleições de amanhã, como pregam os EUA. O Brasil é contra. O deposto Manuel Zelaya já pensa em exilar-se. ● PÁGS. A14 e A16
Pesquisa do IBGE mostra que o número de ex-fumantes já é maior do que o de fumantes no País. Dos adultos, 24,6 milhões fumam e 26 milhões pararam de fumar, a maioria há mais de dez anos. Dos fumantes, 52% dizem querer parar, mas, destes, só 7% disseram que tentariam no próximo mês. ● PÁGS. A31 e A32 ARTIGO
Tutty Vasques
Parei e sou feliz Larguei o cigarro há 2.128 dias e dei a sorte de não virar um desses chatos intolerantes com o vício alheio. ● PÁG. A32 ●●●
SÁBADO, 28 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 120 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura descaracteriza os meios de comunicação’ Para professor, mordaça tem intenção de barrar investigação jornalística Moacir Assunção
O advogado Rogério Donnini transita entre dois mundos. Professor da Faculdade de Direito da PUC-SP, nasceu numa família de jornalistas e é autor do livro Imprensa livre, dano moral,danoàimagem esuaquantificação à luz do novo Código Civil (Editora Método). Nessa dupla
+ 9 ANOS DE CHUMBO
UFMG vai apurar caso de ossadas Assim como a Universidade de São Paulo (USP) e a UniversidadedeCampinas(Unicamp), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não foi notificada oficialmente da ação em que o Ministério Público acusa as instituições de descaso na identificaçãodeossadaslocalizadas em uma vala comum, em São Paulo, as quais podemserdevítimasdaditadura militar. Segundo a assessoria de imprensa da UFMG, a atual reitoria desconhece o caso e vai apurar os fatos.
WILTON JUNIOR/AE–10/11/2009
SÃO PAULO
De Sanctis abre teatro financiado por multas A Casa do Cristo Redentor, ONG situada em Itaquera que atende 600 crianças e 280 famílias carentes da zonaleste, inaugura hojeoTeatro Nelson Lobo de Barros, com 383 lugares. A obra custou R$ 730 mil – valor destinado à entidade em forma de doaçãopelojuizfederalFausto Martin De Sanctis. O dinheiro é oriundo de processos sob responsabilidade de De Sanctis cujos acusados fizeram delação premiada e pagaram multas à União. NEPOTISMO
Mulher perde cargo no gabinete do marido Amulher do desembargador Ademir Paulo Pimentel, Silvia Rocha de Oliveira Pimentel, terá de deixar o cargo queocupa nogabinetedomarido, no Tribunal de Justiça do Rio. O ministro Eros Grau, do STF, cassou a decisão tomada pelo TJ-RJ que permitiu a manutenção de Silvia no cargo de assessora de órgão julgador. A decisão foi baseada em interpretação da Resolução 7/05 do Conselho Nacional de Justiça, que proíbe o nepotismo. JUSTIÇA ELEITORAL
TSE multa prefeito e vice de Guaratinguetá O prefeito de Guaratinguetá (SP), Antônio Filippo Fernandes Júnior (DEM), e seu vice, Miguel Sampaio Júnior, foram multados em R$ 5.320,50, cada um, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)porpropagandaeleitoral irregular na campanha de2008,quandoforamcandidatos. O TSE entendeu que as fotos de obras e eventos divulgadas no site da prefeitura configuraram propagandainstitucional emperíodo vedado.
condição, Donnini classifica de uma “violação a vários artigos da Constituição” a censura imposta ao Estado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF),apósliminarobtidapelo empresário Fernando Sarney,filhodopresidentedoSenado, José Sarney (PMDB-AP). O jornal está impedido desde 31 de julho de publicar informa-
NACIONAL NACIONAL A11 A11
ções sobre a Operação Boi Barrica da Polícia Federal, que investigou Fernando Sarney. Deacordo comoespecialista, há na decisão uma lesão a dois direitos fundamentais do regime democrático: o de informar eodese informar, queintegram o artigo 5º da Constituição. “O problemaémuitomais gravedo que parece em uma primeira
análise”,afirma.Oadvogadoargumenta que a função principal da imprensa, nos dias de hoje, mais do que informar é investigar,oquetemfeitocomfrequência. E em muitos casos, na sua visão, ela faz isso com mais eficiência do que as autoridades policiais às quais cabe a tarefa. “Diante da inércia ou ineficiência do poder público, a im-
prensateminvestigadocominegáveleficiênciacasosrelacionados a atividades ilícitas, apontando infratores, alguns que integram os mais elevados postos doLegislativo,ExecutivoeJudiciário, prática fundamental para o exercício da democracia. Sem a imprensa ou com os jornalistas tolhidos, não teríamos nem 10% das denúncias que vemos nos jornais”, defende. DANO
Por essa razão, para Donnini, há na mordaça decretada pelo desembargador Dácio Vieira – que mantém relações muito próximas à família Sarney – um dano difuso a toda a coletividade.“Os leitoresdo Estado estão tolhidos no seu direito de se informar, o que é muito sério.” O próprio Judiciário, na avaliação do advogado, está violan-
do outros dispositivos da Constituição, ao permitir a duração de censura por tanto tempo. “Háuma lesão difusaconsistente na impossibilidade de exercício de um direito constitucional àinformação,quenãoéapreciada pelo Poder que deveria, de plano, preservar váriosdireitos fundamentais transgredidos.” Essa violação das normas constitucionais,dizoespecialista, conspira contra o próprio sentido da democracia. “No dia em que se tolher de uma vez, se é que isso é possível, a capacidadeinvestigativadaimprensa,toda a sociedade brasileira será penalizada, por não ter a menor condição de se informar, diante deescândalosedenúncias”,afirma. “A censura descaracteriza os meios de comunicação, que têm de ser livres para informar, propagar notícias e criticar.” ●
●Edição de
0h15
o estado de s. paulo DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
29 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42411
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q ESPORTES
32%
SÃO PAULO
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O São Paulo pode ser campeão brasileiro hoje, com uma rodada de antecedência. Mas Flamengo, Inter e Palmeiras ainda lutam. ●
1.809 de autos
4.607
6%
de imóveis
PALMEIRAS PAULO LIEBERT/AE
NELSON ANTOINE/FOTO ARENA
LUCAS UEBEL/PREVIEW.COM
EVELSON DE FREITAS / AE
UNE é suspeita de fraudar convênios Entidade recebeu R$ 2,9 milhões do Ministério da Cultura, mas apresentou documentos suspeitos e não prestou contas Dados do Ministério da Cultura apontam irregularidades da União Nacional dos Estudantes em nove convênios firmados nosúltimosdois anos.Nesse período,a UNE recebeu R$ 2,9 milhões do ministério. O repórter
Leandro Colon analisou dois desses convênios, ambos com prazo de prestação de contas já expirado. A organização recebeuR$ 342 mil para realizar seu congresso nacional em Brasília. Para obter o dinheiro, apre-
sentou orçamentos de duas supostas empresas de Salvador. No endereço de uma delas, não funciona nenhuma empresa. Noda outra,nãohánenhumempregado. O ministério também repassou R$ 435 mil para a pro-
Em vídeo, Arruda recebe R$ 50 mil
dução de um livro e um documentário. O prazo venceu em junho, mas até hoje a UNE não concluiu o projeto nem entregou notas fiscais e extratos bancários referentes a sua execução. ● PÁG. A4
Líder da entidade nega má-fé ●● ● O presidente da UNE, Augusto Chagas, negou má-fé por parte da entidade, que recebeu R$ 10
milhões durante o governo Lula. “A UNE também tem seus problemas administrativos.” ● PÁG. A4
ÁRVORE DE NATAL: TRABALHO NAS ALTURAS
Fita incrimina o governador do DF, suspeito de ser ‘chefe da quadrilha’
Com medo, Honduras faz hoje a eleição contestada A eleição de hoje em Honduras está envolta em clima de medo, violência e repressão, informa Ruth Costas, enviada especial. Mas o pleito tem oapoiodamaioriadoshondurenhos. ● PÁGs. A14 e A15
COLUNISTA
Dora Kramer
A vulgaridade está no ar Lula tem oferecido ao País demonstrações de sua capacidade de superação no que tange à deselegância das maneiras. Quem não se impõe limites não pode exigir ser tratado com respeitabilidade. ● PÁG. A8 ●●●
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panha, Durval Barbosa. Arruda é suspeito de ser “chefe da quadrilha” desde 2003, quando era deputado federal. Segundo a Polícia Federal, o governador se beneficiava da cobrança de propina. ● PÁG. A12
CULTURA Quatro vezes André Gide ●● Chegam às livrarias dois inéditos e duas novas traduções do francês. ●
ALIÁS
No rastro de uma visita polêmica ●● Para o filósofo italiano Gianni Vattimo, é melhor dialogar com Ahmadinejad que demonizá-lo. ●
WERTHER SANTANA/AE
Um dos 30 vídeos juntados ao inquérito da Operação Caixa de Pandora mostra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), recebendo R$ 50 mil, em notas de R$100,doseuex-caixadecam-
Funcionário trabalha na montagem da árvore de Natal
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Professorda redepública ganhamais
do Ibirapuera; cerca de 30 pessoas estão na operação, e algu-
Eletricidade encarecee ficapior
ETHEVALDOSIQUEIRA
Show tecnológico ●● Londres
terá na Olimpíada de 2012 novidades decomunicação queparecem ficção. ● PÁG. B15
O professor de ensino fundamental da rede pública recebe salário médio 11% maior que o da rede privada, diz estudo da USP. Com ganhos previdenciários, a margem sobe para 38%. ● PÁG. A25
Aqualidadedoserviçodeeletricidadepiorouno País, apesar dos aumentos na conta de luz. Em algumas localidades, o número de horas sem energia é o maior da década, diz a Aneel. ● PÁGs. B1 e B4
mas delas ficam perto do topo, a 75 metros de altura. “Lá é fres-
NOTAS E INFORMAÇÕES
Do campo para o mundo ●●● O Brasil é hoje um dos líderes do comércio agrícola. O suprimento interno melhorou quando o País se tornou potência exportadora. ● PÁG. A3
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 121 DIAS q PÁG. A13
quinho”, conta Ivanildo Araujo, de 65 anos. ● PÁG. C6
Tempo: CAPITAL
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Frente fria deixa o céu nublado. Há risco de chuvas fortes. Tiragem: 302.690 Hoje: 260 páginas A. 1º caderno: 32+8 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 8 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 40 ● F. Feminino: 20 ● Ca. Autos: 30 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 38 ● Co. Oportunidades: 10
DOMINGO, 29 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Censura viola cláusulas pétreas da Carta, diz dirigente da OAB Para advogado, direito à intimidade de pessoas públicas foi relativizado Moacir Assunção
OpresidentedaComissãodeDireito Criminal da OAB-SP, Fernando José da Costa, considera que a censura ao Estado desde 31 de julho, por determinação doTribunaldeJustiçadoDistri-
to Federal (TJ-DF), viola cláusulas pétreas – aquelas que não podemseralteradas sobnenhuma hipótese – da Constituição de 1988, o que a torna ilegal. De acordo com o especialista, a livre manifestação do pensamento e de opinião são os
principais princípios constitucionais atacados na decisão do desembargador Dácio Vieira, apósliminarpedidapeloempresário Fernando Sarney, filho do presidentedoSenado,JoséSarney(PMDB-AP).Fernando,responsável pelos negócios da fa-
mília, é investigado por vários crimes e foi indiciado pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica. Além disso, para o advogado, o caso demonstra uma confusão entre dois preceitos constitucionais:aliberdadedeexpres-
são e o direito à intimidade. O segundo constituiu a principal tese do empresário para pedir a mordaça ao Estado. “Os cidadãos têm sua intimidade assegurada, mas, no caso de pessoaspúblicas,essedireitoérelativizado. A livre informação é um bem absolutamente indispensável nos dias de hoje.” TRANSPARÊNCIA
Assim, a vida privada dos homens públicos, em todos os níveis, tem se restringido sensivelmente, exatamente por conta das exigências de uma sociedade globalizada. “Essas pessoas recebem salários da sociedade, então, nada mais justo que prestem contas dos seus atos a essa mesma sociedade.”
Emsuavisão,osprincipaisinteressados na investigação sobre a sua atuação na vida públicadeveriamserosprópriospolíticos, que devem satisfações à sociedade. “No entanto, principalmente neste caso do Estado, os que deviam pedir a investigação para provar sua idoneidade censuraram o jornal.” Um exemplo de casos em que a vida privada interfere na função pública, para o especialista, é o de um hipotético piloto de Fórmula 1 que tenha problemas de visão e esconda essa condição do público. “Ele não pode fazerisso, porque,se nãoenxergar bem, vai causar vários problemas a terceiros.” No caso de umpolítico,oprincípioéequivalente, em sua opinião. ●
+ 9 GOVERNO
Avião de Tarso faz pouso de emergência O voo da Swiss no qual estava o ministro da Justiça Tarso Genro na madrugada de ontem, vindo da Suíça para o Brasil,sofreuproblemastécnicosefezumpousodeemergência no aeroporto de Zurique.Segundo o secretário de Justiça, Romeu Tuma Júnior, que estava no voo, uma hora e meia após a decolagem o piloto avisou que o avião apresentava sério problema. A aeronave sobrevoou os Alpes por mais duas horasparaliberar combustível antes de retornar para Zurique, sem feridos. LEGISLAÇÃO
CELSO JUNIOR/AE –14/10/2009
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 121 DIAS
NACIONAL A13
Começa elaboração de novo Código Civil A comissão de juristas instituídapeloSenadoparaelaborar o anteprojeto de um novo CódigodeProcesso Civilrealiza amanhã sua primeira reunião.Oobjetivo do encontroédefiniroroteiroeaagenda de trabalho que deverá orientar os parlamentares na elaboração do texto, como ocorreu no caso do projeto do novo Código de Processo Penal, que também contou com a colaboração de especialistas.Criadaemsetembro, a comissão terá até o fim deabrilpara apresentaroanteprojeto. QUESTÃO AGRÁRIA
Incra vai licenciar 76 assentamentos no TO O Incra do Tocantins realiza amanhã licitação para contratar empresa especializada na elaboração de projetos ambientais. O objetivo é licenciar 76 assentamentos. A previsão de investimento é deR$613.127,82, quedevebeneficiar 4.352 famílias. A ação atende a determinações do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2008. Desde a assinatura já foram expedidas licençaspara48 projetos.Tramitam ainda no Estado processos de licenciamento de outros 128 assentamentos. DIREITO
Marco Aurélio Mello lança livro em SP Será lançado amanhã, às 18 horas, no Tribunal de JustiçadeSão Paulo, olivroMinistroMarco AurélioMello:Acórdãos - Comentários e Reflexões. A obra apresenta uma coletânea de seus principais votos no Supremo Tribunal Federal (STF) e uma análise sobre os votos. A coordenação do trabalho foi feita pelo desembargador Francisco Vicente Rossi, do Tribunal de Justiça, e da presidente doInstitutoBrasileirodeAdministraçãodoSistemaJudiciário (Ibrajs), Eliane Trevisani Moreira.
● Edição de
0h45
o estado de s. paulo
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
SEGUNDA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
30 de novembro de 2009 --ANO 130. Nº 42412
Vídeo traz aliado de Arruda escondendo propina na meia Deputados foram gravados pegando maços de dinheiro do ‘mensalão do DEM’ deral,LeonardoPrudente,também do DEM, aparece escondendo dinheiro nas meias e nos bolsos da calça e do paletó. As imagens foram gravadas com câmera escondida pelo ex-secretário de Relações Institucionais de Arruda, Durval Barbosa,um dos responsáveispelaar-
recadaçãodedinheiroentreempresas que mantinham contratos com o governo e pela distribuição do “mensalão do DEM” a integrantes do primeiro escalão e a aliados. Há vídeos em poder da polícia que mostram o próprio governador recebendo dinheiro. ● PÁGS. A4 e A6
Panetone para crianças pobres ●● ● Roberto Giffoni, secretário de Ordem Pública do DF, nega que o governador José Roberto Arruda tenha recebido propina. Os R$
50 mil que Arruda aparece recebendo num vídeo, diz Giffoni, seriam para comprar panetones para crianças carentes. ● PÁG. A6
ESPORTES
Pela primeira vez na história do campeonato brasileiro por pontos corridos, quatro times chegam à última rodada com chances de levantar a taça. A derrota do São Paulo para o Goiás por 4 a 2 e as vitórias do Flamengo sobre o Corinthians ( 2 a 0), do Internacional sobre o Sport (2 a 1) e do
NA MEIA – Com os bolsos cheios,
deputado improvisa esconderijo
Pesquisas dão vitória a Porfírio Lobo em Honduras
Fla, Inter, Palmeiras e São Paulo com chances de título ●●
REPRODUÇÃO
Novos vídeos do esquema de corrupçãonogovernodoDistrito Federal revelado pelaOperação Caixa de Pandora aprofundam ainda mais a crise política que pode custar o mandato do governadorJoséRoberto Arruda (DEM). O presidente da CâmaraLegislativado DistritoFe-
Palmeiras sobre o Atlético Mineiro (3 a 1) mexeram com as quatro primeiras colocações. Agora o Flamengo é o novo líder, seguido pelo Inter. Palmeiras subiu para 3º e o São Paulo caiu para o 4º lugar, e a promessa é de uma rodada final emocionante. ●
As primeiras pesquisas após o fechamento das urnas em Honduras apontam Porfírio “Pepe” Lobo, do Partido Nacional, como novo presidente, informa a enviada especial Ruth Costas. Opaísespera superarcinco meses de impasse após a queda de Manuel Zelaya. ● PÁG. A10
WERTHER SANTANA/AE
‘Pepe’ Mujica vence eleição presidencial no Uruguai
O SONHO NÃO ACABOU –
Ao lado de Vagner Love e Diego Souza (abraçados), Cleiton Xavier comemora primeiro gol do Palmeiras, que abriu caminho para os 3 a 1 de ontem
Detran investiga fraude
CPI da tarifa elétrica deve apontar falcatruas
Esquema com placas teria dado prejuízo de R$ 40 mi O Departamento Estadual de Trânsito(Detran)mandoususpender o pagamento dos últimos três meses às empresas
responsáveis pelo emplacamento de carrosem São Paulo. Além de empresários, delegados também são suspeitos de
ComodiretordaAgênciaNacional de Energia Elétrica, José Maria Abdo autorizou a Neoenergia a repassar R$ 300 milhõesaosconsumidores. Aodei-
integrar um esquema que teria custado ao Estado de São Paulo R$ 40 milhões de prejuízo. ● PÁG. C1
xaraagência, Abdofoi trabalhar para a Neoenergia. O fato está no relatório da CPI da Tarifade Energia a ser divulgado hoje. ● PÁG. B1
José“Pepe”Mujicaéonovopresidente do Uruguai. Apurados 80% dos votos, ele tinha 52,8%. Seu rival, Luis Alberto Lacalle, que reconheceu a derrota, tinha 43%, relata o enviado especial Ariel Palacios. ● PÁG. A11
Empresas limitam navegação na web Acesso a redes sociais e a outras ferramentas da internet,durante ohorário detrabalho, é objeto de polêmica.
Questão nuclear NOTAS E INFORMAÇÕES
Afrouxando a fiscalização Vem do governo uma das críticas mais duras ao anteprojeto que limita os poderes do TCU. O texto “precisa ser profundamente alterado”, diz o ministro Jorge Hage. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
30º
MÁX.
● PÁG. C2
20º
MÍN.
Céu ainda nublado, mas o sol aparece. Deve chover à tarde.
UNE repassa dinheiro ilegalmente
CADERNO 2
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 122 DIAS q PÁG. A7
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EVELSON DE FREITAS/AE
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A UNE transferiu recursos públicos destinados à pesquisa a uma empresa suspeita de integrar esquema para fraudar convênios da entidade com o Ministério da Cultura. ● PÁG. A7
Teresa Berganza, meio-soprano espanhola, dáaulaeentusiasma jovens brasileiros.Eladizpreferir a voz ‘com personalidade. ●
●● País reage à censura da Agência Internacional de Energia Atômica. ● PÁG. A13
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Hoje: 62 páginas A. 1º caderno: 16 ● B. Economia: 12 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 8 ● L. Link: 10
Irã fará mais dez usinas atômicas
Saúde
Venda da Medial prejudica usuário Com a compra, Amil fica com 10% do mercado e reduz a oferta de planos. ● PÁG. A14
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SEGUNDA-FEIRA, 30 DE NOVEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOBCENSURA HÁ 122 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Não tenho dúvidas de que censura cairá’ Arystóbulo de Oliveira Freitas defende criação urgente de legislação sobre os chamados crimes de imprensa Moacir Assunção
A censura ao Estado desde o dia 31 de julho tem criado um mal-estar generalizado nos meios jurídicos, pois em plena democracia, remete aos tempossombriosdasditadurasmilitar e getulista. A constatação é do vice-presidente da Associação dos Advogados de São Paulo, Arystóbulo de Oliveira Freitas. “Vemos a decisão, que se mantém há tanto tempo, com grande preocupação. É que, nas democracias consolidadas, somente em casos especialíssimos e muito pontuais se recorre a medida dessa natureza, que nos leva para 20, 30 anos atrás.” Apesardisso,Freitasestáoti-
mista com a decisão a ser tomadapeloSupremoTribunalFederal(STF)sobreocaso.“OSupremo tem demonstrado, com frequência, um enorme repúdio às pressões contra a imprensa. AchoqueoministroCézarPeluso, que analisou o caso em um primeiro momento, demonstrou muita cautela, mas não tenho dúvidas de que a censura cairá”, disse. Peluso remeteu o processo ao plenário. NaavaliaçãodeFreitas,adecisão do desembargador Dácio Vieira, que decretou a censura ao Estado, é tão absurda que chega a ser “teratológica”. A mordaça foi imposta a partir de liminar do empresário FernandoSarney,filhodopresidentedo
SUCESSÃO
Filme ‘é uma baita mentira’
P
ersonagem no filme Lula, o Filho do Brasil, o sindicalista aposentado Paulo Vidal criticou o longa de Fábio Barreto, ao afirmar que o retrato histórico é “mentiroso” e tenta “mitificar” o presidente Lula. Após assistir à pré-estreia sábado, em São Bernardo do Campo, Vidal, que presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos antes de Lula, disse que o filme de-
põe contra a realidade. “O retrato da inserção de Lula no universo sindical é uma baita de uma mentira que não tem cabimento”, afirmou. Presidente do sindicato entre 1969 e 1975, Vidal no filme é Cláudio Feitosa, um sindicalista pelego que não representa a categoria e flerta com a ditadura. Feitosa é posto contra a parede por um Lula, ainda diretor, que exigia ser o sucessor. O ator que
Senado,JoséSarney(PMDBAP), para impedir a publicaçãodeinformaçõesdaOperaçãoBoiBarrica,daPolíciaFederal. Responsável pelos negócios da família, Fernando é investigado por vários crimes e foi indiciado pela PF. Na opinião de Freitas, o Congresso precisa criar com urgência legislação mais específicaparaoscrimesdeimprensa, de forma a vetar expressamente a censura. “A Constituição tem regras gerais, mas precisamos de algo mais específico, que deixe tudo relacionado ao assunto muito claro, principalmente a liberdade de expressão como valor fundamental.”●
interpreta Lula chega a dar um soco na mesa. “Foi totalmente diferente”, afirmou. “Entrar na minha sala e ditar regra? Mentira. Eu fiz o Lula presidente do sindicato. E não ele foi lá e ditou regra”, completou. Segundo Vidal, “qualquer um pode prestar a homenagem que quiser, mas na parte sindical o Lula não era aquele que foi retratado”. ● Julia Duailibi Ricardo Brandt SÃO PAULO
+ 9 LEGISLATIVO
Casagrande propõe rede de fiscalização O senador Renato Casagrande (PSB-ES) apresentará amanhã, durante o 5º Fórum Senado Debate Brasil, a proposta de criação da Rede de Fiscalização e Controle do Poder Legislativo. O projeto será elaborado a partir das conclusões apresentadas no evento – que tem o objetivo depromover aintegraçãoentreparlamentaresdascomissõesresponsáveispelafiscalização e controle dos Legislativos estaduais e municipais. ELEIÇÕES
Pleito de 2010 é tema de debate no TSE O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realiza amanhã e quinta-feiraaudiênciaspúblicas para discutir as instruções que vão reger as eleiçõesdopróximoano.Oministro Arnaldo Versiani apresentaráasminutas deseisresoluçõescomoobjetivodereceber sugestões de partidos, da Ordem dos Advogados do Brasil, do Ministério Público e de interessados para redigir a versão final dos documentos. O TSE deve aprovar as instruções até março. SENADO
Casa deve votar 95 itens ainda este ano Até o fim da sessão legislativa, no dia 22, os senadores têm uma extensa pauta de projetos para votar. Constam da agenda 95 itens. Um assunto polêmico, mas que está entre as prioridades, é a decisão sobre o protocolo de adesãoda Venezuela ao Mercosul.Segundoosenador RomeroJucá (PMDB-RR), a votação está marcada para dia 9. Também deve ser apreciada em plenário a Lei Orçamentária Anual, em estágio de apreciação de emendas.
NACIONAL NACIONAL A7 A7
FINANÇAS PÚBLICAS
UNE pagou por pesquisa a empresa de segurança MG já fora usada pela entidade para suposta fraude em outro convênio Leandro Colon BRASÍLIA
A União Nacional dos Estudantes (UNE) transferiu recursos públicos destinados à pesquisa sobre a história estudantil para a mesma empresa de segurança de Salvador usada para fraudarumorçamentode outroconvênio da entidade estudantil com o governo federal. No dia 19 de dezembro do ano passado, a UNE repassou R$ 7,8 mil para a conta da MG Portaria e Limpeza, que tem como endereço uma sala em um pequenosobrado naregião daBaixa dos Sapateiros, na capital baiana.Odinheirosaiu da conta do convênio do projeto Sempre Jovem e Sexagenária, celebrado entre a entidade e o Ministério da Cultura em 2008. Em junho do ano passado, a UNE recebeu R$ 435 mil para realizar o projeto, que propunha escrever um livro e produzirumdocumentáriosobreamilitância estudantil secundarista. Ontem, o Estado revelou que, apesar de o convênio ter terminado em junho, o livro e o documentário não foram feitos e nenhuma prestação de contas chegou ao ministério. No sábado pela manhã, o presidente da UNE, Augusto Chagas, mostrou à reportagem uma pasta com notas fiscais e recibosde transferênciabancárias que seriam desse projeto. No item “pesquisadores”, aparece o documento de transfe-
rência do Banco do Brasil, no valor de R$ 7,8 mil, para a MG Portaria e Limpeza, a mesma empresa usada pela UNE para aprovar um orçamento de R$ 342 mil de patrocínio do governo ao Congresso Nacional realizado em julho, em Brasília. Diante do pedido do Ministério da Cultura para que os valores fossem justificados, a UNE apresentou um orçamento de duas empresas de segurança de Salvador. A MG – que ocupa uma sala de 30 metros quadrados e não tem funcionários – apresentou um orçamento de R$ 32 mil com 280 seguranças para o trabalho em Brasília. A outra empresa, Patorg Segurança, é fantasma. Nadocumentaçãoapresentada ao Estado consta ainda que o dinheiro do projeto Sempre Joveme Sexagenária serviupara pagar passagens aéreas de dirigentes da UNE entre as capitais brasileiras. Dos R$ 435 mil repassados pelo patrocínio, R$ 35 mil deveriam ser usados para imprimir 10 mil livros e R$ 35 mil com cachê de uma banda para divulgar a obra. Cobrada desde outubro a prestar contas do evento de julho, a entidade só enviou um relatório de atividades em que exalta a presença do presidente LuizInácioLula daSilva nocongresso. Augusto Chagas nega qualquer irregularidade e diz que a UNE tem dificuldades administrativas para concluir a prestação de contas. ●
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Arruda se nega a sair por mensalão e adverte partido que contará o que sabe O governador José Roberto Arruda (DEM) reagiu com ameaças diante da pressão de seu partido para deixar a legenda,trêsdiasapósarevelação do pagamento de mensalão no Distrito Federal. Em reunião com a cúpula do DEM, na qual chegou a ser propostasua expulsão,Arruda disse que tem como se defender e falou em “radicalizar”. No fimde semana, ele já havia prevenido interlocutores do partido de que não se calaria se fosse expurgado. Afirmou que revelaria os recursos que saíram do Distrito Federal para várias campanhas do DEM, incluindo a do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. ● PÁGS. A4 a A9 CELSO JUNIOR/AE
RESISTÊNCIA – O governador José Roberto Arruda, após fazer pronunciamento para se defender: ‘Estamos firmes, vamos até o fim’, disse
Diretora de empresa aparece em vídeo acusando o PPS de pedir propina para manter contrato com a SecretariadeSaúde,dodeputadoAugusto Carvalho. ● PÁG. A4
Dora Kramer
João Bosco Rabello
Brasília cai de podre
Corrupção como base política
Nunca se viu nada parecido. Um escândalo que não se
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resolve com o impeachment do governador. ● PÁG. A6
Não haverá partido livre de flagrantes de negociatas
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sem uma ampla reforma política. ● PÁG. A9
Com Nossa Caixa, BB põe R$ 800 milhões em São Paulo
NOTAS E INFORMAÇÕES
A podridão no Distrito Federal Quando se pensava que as denúncias de corrupção no Distrito Federal tinham alcançado o seu pico nos governos de Roriz, surge um dos mais bem documentados escândalos do gênero no País. ● PÁG. A3
VIAGEM AVENTURA &
Férias hi-tech
KAMRAN JEBREILI/AP
MÔNICA NÒBREGA/AE
●● Um guia para fazer da tecnologia uma grande aliada nas viagens. ●
Negócios QUEDA – Operadores na bolsa de Dubai, que caiu 7,3%: governo nega garantias a credores. ● PÁG. B10
Empresa de Eike se liga a chineses
Tempo: CAPITAL
Chinesa Wisco terá 21,52%damineradorabrasileira MMX. ● PÁG. B15
30º
MÁX.
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21º
MÍN.
Nebulosidade aumenta no Estado. Pancadas de chuva à tarde.
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DIRETOR:
RUY MESQUITA
Aval externo à eleição em Honduras deve crescer Umdia apósPorfírio “Pepe” Loboserdeclaradopresidenteeleito de Honduras, a dúvida era se a votação passaria no teste da comunidadeinternacional,relata a enviada especial a TegucigalpaRuthCostas.Paísesjádispostos a reconhecer a votação, comoosEUA, se mostraram satisfeitos com a eleição tranquila.AEspanhaestariaprontapara adotar posição mais conciliadora. Até o Brasil poderá rever suaposição,segundoMarcoAurélio Garcia, assessor do presidente Lula. ● PÁGS. A12 e A13
Contratos do Detran de SP serão alvo de devassa
ANÁLISES
O Banco do Brasil (BB) vai investir R$ 800 milhões em São Paulo nos próximos cinco anos, após a incorporação da Nossa Caixa. O dinheiro será aplicado em três frentes:renovaçãodoparquetecnológico, abertura de agências e melhora da infraestrutura do banco em São Paulo, o que inclui a contratação de mais funcionários. “Queremos consolidar nossa posição de liderança no Estado”, afirmou o presidente do BB, Aldemir Bendine. ● PÁG. B1
(1891-1927)
1 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42413
Governador do DF ameaça DEM e expulsão é adiada
Vídeo mostra acusação de propina a PPS
JULIO MESQUITA
Hoje: 76 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 18 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 12 ● Cl. Classificados: 4 (394 anúncios)
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ESPORTES
Inter irá à Justiça se Grêmio não se esforçar O Internacional ameaça ir à Justiça se o Grêmio “entregar” o jogo contra o Flamengo –caso orivalnãoperca, oInter pode ser campeão. Pressiona-
do pela torcida a facilitar para os cariocas, o Grêmio não deu férias a seus jogadores, mas deixounoarahipótesedeescalar reservas. ● PÁGS. E1 e E4
CADERNO 2 Nordeste terá mês musical
●● Quatro festivais oferecem atrações variadas até perto do Natal. ●
Todos os contratos em vigor no Detran de São Paulo passarão por auditoria da Secretaria da Fazenda e do Tribunal de Contasdo Estado. A devassa foi motivada pelas irregularidades constatadas no emplacamento de veículos. O esquema de fraudes,mostradoontem peloEstado, provocou rombo de ao menos R$ 40 milhões. A principal irregularidade é o superfaturamento da medição do serviço – prestação de contas incluía número superior de veículos emplacados. ● PÁGS. C1 e C3
Teste reprova oito de dez marcas de filtro solar Cinco das dez principais marcas de protetor solar fator 30 vendidas no Brasil não são resistentes à radiação, diz a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste). Os produtos perdem até 50% do fator de proteção aos raios UVB, responsáveis pelo câncer de pele, quando expostos a uma hora de sol. Oito marcas foram reprovadas por também não resistir à água ou não bloquear raios UVA. ● PÁG. A16
direto da fonte
Lula e a pirataria Lula chorou ao ver o filme sobre sua vida. Depois, ao saber que a produção não tinha cópias para evitar pirataria, brincou com Luiz Carlos Barreto: “Ué, não vai ter cópia pirata?”. ● PÁG. D2 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 123 DIAS q PÁG. A11
A2 ESPAÇO ABERTO
TERÇA-FEIRA, 1 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Censura prévia, nunca mais
Salto alto na economia
JudithBrito
IlanGoldfajn
Nos próximos dias o Supremo Tribunal Federal (STF) deverá julgar ação do jornal O Estado de S. Paulo contra a censura que vem sofrendo há mais de 120 dias, impedido que está por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou denúncias de corrupção contra o empresário Fernando Sarney. O Supremo, que há alguns meses acabou com a autoritária Lei de Imprensa herdada do regime militar, poderá agora, neste julgamento do caso do Estadão, fechar o ano com uma palavra definitiva em favor da liberdade de expressão e contra todo e qualquer tipo de censura prévia. Deverá ser um divisor de águas em benefício não apenas de um jornal, mas de todos os meios de comunicação e do direito geral da sociedade de ser livremente informada. Por ocasião da última assembleia-geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), realizada em Buenos Aires, no início de novembro, o
Julgamento do caso do ‘Estadão’ pelo STF deverá ser um divisor de águas caso de O Estado de S. Paulo foi considerado “emblemático” da gravidade dos crescentes e sucessivos episódios de censura prévia por determinação judicial registrados no Brasil, por sua duração e pela inconsistência jurídica das decisões tomadas. Lamentavelmente, entretanto, não é um episódio isolado. Nos últimos anos, esse tipo de cerceamento da liberdade de expressão se tornou tão recorrente a ponto de suplantar em número os incidentes envolvendo formas “tradicionais” de arbitrariedade contra jornais e jornalistas, como os atos de violência física. Outro fator que contribui para ressaltar a importância da próxima decisão do Supremo é o fato de que a mesma instância judicial que mantém a censura sobre este jornal em duas oportunidades acolheu parcialmente recursos da defesa, primeiro substituindo o desembargador relator, por considerá-lo suspeito, e mais tarde declarando o próprio Tribunal de Justiça do Distrito Federal incompetente para julgar a ação. Criou-se, assim, uma situação que, se não representasse uma grave violação dos preceitos constitucionais, seria tragicômica: o jornal tem razão, mas continua sob censura mesmo assim. O julgamento, que promete ser histórico pelo longo alcance de seus desdobramentos,
acontecerá graças ao acórdão sobre a decisão relativa à Lei de Imprensa, produzido pelo ministro Carlos Ayres Britto e recentemente divulgado. É um texto memorável, que não deixa dúvida sobre a compreensão do Supremo quanto à liberdade de imprensa no Brasil. “Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive a procedente do Poder Judiciário”, diz o texto. O Supremo não poderia ter sido mais claro e preciso. Pois foi exatamente com base nesse acórdão que os advogados do Estadão entraram naquela Corte com uma ação judicial chamada simplesmente de “Reclamação”. Eles reclamam que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal não está cumprindo o que determina a mais alta instância do Poder Judiciário brasileiro. Embora a Constituição brasileira seja absolutamente categórica na impossibilidade da censura prévia, é deprimente a frequência com que alguns juízes exercem o papel de censores. De forma geral atendendo a pleitos de figuras públicas, que alegam possíveis danos à imagem, esses juízes acabam impedindo a livre circulação de informações. Não importa se é decisão de um juiz. Não importa se é decisão que dura muito ou pouco tempo. É inconstitucional e desrespeita o direito dos cidadãos de serem livremente informados. O julgamento da Lei de Imprensa, considerada incompatível com os preceitos libertários da Constituição de 1988, e o acórdão do ministro Ayres Britto jogaram uma luz incontrastável sobre a questão. A expectativa de todos os que consideram a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão como valores maiores da democracia é que o Supremo, no julgamento da reclamação do Estadão, mostre na prática aquilo que já definiu conceitualmente. Desta forma, estará apontando o caminho a ser seguido por todos os juízes que no futuro venham novamente a ser provocados a se manifestar sobre a possibilidade da censura prévia. É fundamental registrar: o entendimento de que a censura prévia é uma afronta ao direito dos cidadãos de serem livremente informados e, portanto, uma afronta à própria democracia implica também a certeza de que toda veiculação de informação ou opinião pode ser posteriormente punida caso se comprove mentirosa ou caluniosa. É dessa forma que se pratica o jornalismo responsável – independente, instigante, a serviço do interesse público, mas necessariamente cumpridor das leis que regem toda a sociedade. Mas censura prévia é um
FÓRUM DOS LEITORES Fiscalizaçãofrouxa Recebi ontem o meu Estadão e na primeira página as manchetes: Vídeo traz aliado de Arruda escondendo propina na meia, Detran investiga fraude, CPI da tarifa elétrica deve apontar falcatruas, UNE repassa dinheiro ilegalmente. Apesar de todos esses graves descalabros, o que acontece no mundo de faz de conta de Brasília? A resposta, no editorial Afrouxando a fiscalização (A3). Ser brasileiro é viver constantemente indignado com o mundo político, não importando a ideologia de quem está no poder. ANTONIO PEREIRA digitallawyer@hotmail.com
São Paulo
Destinodapropina PT enche a cueca, DEM faz pé-de-
meia. No fundo, é tudo igual. Só as moscas mudam de lugar. ROSA CRISTINA AZEVEDO SOUZA COSTA titaazevedo@hotmail.com
São Paulo
Instituiçõesem frangalhos Diante de tanta indecência entre instituições, políticos e poder, mereceria ser republicado o editorial Instituições em frangalhos, do inesquecível dr. Julinho. Dia a dia, após décadas, verifica-se que nada mudou, aliás, só piorou a moralidade pública. E mesmo se generalizada essa observação sobre a imoralidade, a margem de erro será tão insignificante que pode ser desprezada. Pobre País. MARIO COBUCCI JUNIOR maritocobucci@terra.com.br
São Paulo
instrumento típico do autoritarismo, em que alguns decidem o que todos podem ou devem expressar e tomar conhecimento. Era assim no regime militar instalado em 1964, quando censores ligavam para as redações dos jornais dizendo o que podia ou não podia ser publicado. Ou quando censores ficavam dentro das próprias redações, vigiando cada vírgula do que se escrevia e determinando o que deveria ser cortado. Já é clássico da nossa História recente o recurso usado nessa época pelo mesmo Estadão agora censurado pela Justiça, de colocar poemas de Camões no lugar dos textos vetados pelos censores de plantão... Nestes novos tempos inaugurados pelo julgamento da Lei de Imprensa, em que o Supremo reafirma a liberdade de imprensa como um sobredireito, não é adequada qualquer decisão judicial que venha impedir as informações de chegarem aos cidadãos. Mas certamente caberá aos mais altos representantes do Poder Judiciário, no julgamento dos próximos dias, restabelecerem o que determina a Constituição. Censura prévia, nunca mais! ● Judith Brito é presidente da Associação Nacional de Jornais
Analogias futebolísticas andam em voga. A minha é a seguinte: o time finalmente assumiu a liderança, após anos de reformulações e várias rodadas de vitórias, mas a diretoria flerta com uma mudança do esquema tático. A torcida não percebe, os patrocinadores duvidam, mas os jogadores sentem mudanças nos treinos. Na economia, o contexto é favorável ao Brasil: mais investimentos e crescimento a caminho. Eleições por aqui e incerteza no mundo. O momento é de serenidade, não de experimentação. Há momento para tudo. Estimular quando é preciso, restringir quando há exagero. A economia está crescendo a 8% ao ano (anualizando o crescimento dos últimos dois trimestres) e os contratos futuros indicam juros subindo para conter o excesso. As últimas medidas de estímulo (isenções fiscais e novas capitalizações), por não se sintonizarem com o momento, colocam dúvidas sobre se o “esquema tático” será mudado. As medidas para evitar um possível exagero no câmbio (denominado overshooting, ou simplesmente bolha), se necessárias, devem ter o cuidado de evitar colocar dúvidas sobre o regime de câmbio flutuante, um dos pilares macroeconômicos atuais.
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
Espírito natalino no Distrito Federal
Colocar dúvidas neste momento é muito custoso. O time lidera. Há muito em jogo. Afinal, o Brasil alcançou credibilidade e estabilidade que lhe permitiriam investir e crescer mais rápido nos próximos anos. Evidente que há muita incerteza tanto globalmente quanto no Brasil. Mas, paradoxalmente, é mais fácil considerar o cenário de longo prazo (dez anos) que o dos próximos anos. Ajuda a organizar os possíveis caminhos. No cenário básico o Brasil investe, cresce mais. Há razões objetivas para acreditar que, na ausência de alteração de rumo, o investimento pode crescer de forma intensa, retomando a trajetória crescente dos últimos anos, interrompida pela crise em 2009. Não é difícil projetar que o investimento como proporção do produto interno bruto (PIB) possa atingir valores próximos a 22% já nos próximos anos. As razões são várias: ● Contexto global que favorece investimentos em economias emergentes com elevado potencial de crescimento do seu mercado consumidor (o mundo “em busca do consumidor final de última instância” para substituir o americano); ● mercado doméstico no Brasil impulsionado pelo crescimento da sua classe média, que tende a ter uma propensão maior a consumir; ● manutenção da tendência de queda dos juros reais, favorecendo o investimento, principalmente no mercado imobiliário; ● compromisso com os investimentos necessários para a Olimpíada de 2016 (nosso exercício estima um impacto da Olimpíada em torno de 0,7% do PIB nos quatro anos antes do evento); ● investimentos para o présal (estimamos em torno de US$ 55 bilhões nos próximos dez anos); ● investimentos para a Copa do Mundo. Em suma, é muito compromisso com investimento adicional no Brasil, e condições globais e locais para tal façanha. O investimento poderia até ser maior (25% do PIB?), mas a atual capacidade ociosa global em indústrias manufatureiras básicas e essas dúvidas recentes de alguns investidores sobre a continuidade dos pilares das políticas econômicas podem reduzir o ímpeto. A perspectiva de elevação dos investimentos no Brasil tem duas consequências importantes. Em primeiro lugar, um maior volume de investimentos deve elevar o crescimento potencial brasileiro para algo próximo de 5% ao ano ao longo do horizonte de previsão, acima dos 4%-4,5% que a maioria dos analistas tende a embutir no planejamento dos seus negócios nos próximos anos. Claro
ENDEREÇO
Um dia gastam o nosso dinheiro em falsos ranários e não dizemos nada. Em seguida constroem túneis superfaturados, depositam o lucro em suas contas numeradas e de novo não dizemos nada. Quando achamos dinheiro no cofre do marido da candidata, ficamos quietos e quase pedimos desculpas pelo inconveniente. Eles ficam mais ousados e nem quando são filmados pegando dinheiro, ao vivo, dos Correios nós nos manifestamos. Como nada acontece, a coisa cresce e dezenas deles são flagrados recebendo mesada fixa com dinheiro desviado e de novo não falamos na-
que o crescimento efetivo pode superar o potencial em 2010, já que o Brasil cresceu abaixo do potencial neste ano: estimamos crescimento de 5,5% ou acima em 2010. Mas, ao longo dos anos, o crescimento converge para o potencial. O crescimento no Brasil vai beneficiar-se do aumento dos investimentos. A segunda consequência da elevação do investimento é uma maior necessidade de financiamento (poupança). Inevitavelmente, o financiamento terá de vir de uma combinação dos seguintes fatores: ● Aumento do financiamento externo, pela elevação do déficit nas contas externas; ● e alguma elevação da poupança doméstica em função do desejo de substituir, em parte, o financiamento externo por uma elevação da poupança pública (a partir de 2011?). Acreditamos que, dada a dificuldade de elevar a poupança pública de forma considerável, a maior parte do acréscimo dos investimentos deve ser financiada pela poupança externa. O déficit em transações correntes
O time é líder, mas a diretoria flerta com uma mudança do esquema tático pode mostrar uma trajetória de elevação dos atuais 1,2% do PIB até quase 5%, em 2016, e, a partir daí, voltar a convergir para um valor próximo a 3,5% do PIB, à medida que o efeito dos eventos esportivos perca força e as receitas do pré-sal comecem a ingressar na balança comercial. Consistente com esse déficit nas contas externas, o câmbio mantém-se próximo do atual 1,7 em termos reais. Neste cenário básico, o Brasil deve crescer em torno de 5% (mas com financiamento externo e câmbio apreciado). Mas ainda há muita incerteza no horizonte. Esse cenário pode não se materializar diante de alterações nos pilares básicos da economia. O investimento seria menor, assim como o crescimento. Um cenário com ajuste fiscal maior, ao contrário, pode elevar ainda mais o investimento e a taxa de crescimento da economia. O Brasil pode dar um salto alto nas suas perspectivas econômicas nos próximos dez anos. Mas tem de evitar o outro salto alto, aquele que o torcedor sabe que derruba os melhores times e as melhores perspectivas. Continuo acreditando na racionalidade e nas decisões corretas no final. É muito custoso desviar de um cenário tão positivo. ● Ilan Goldfajn é economista-chefe do Itaú Unibanco
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BBB da. Pagam, então, pensão às amantes com dinheiro de empreiteiras, andam com dólares na cueca, desviam dinheiro de ambulâncias, compram alopradamente dossiês falsos com dinheiro sujo, usam suas fundações fajutas para desviar dinheiro do público para o privado... E mais uma vez, inacreditavelmente, não abrimos a boca. Assim eles se fortalecem e nem disfarçam mais, pegam maços de dinheiro vivo e enfiam nas meias ou em sacos de papel. A impunidade é mesmo a mãe de todas as corrupções, mas, como diz a canção... “a gente somos inútil”.
Em Brasília, ao menos, eles inovaram: não vai acabar em pizza, mas em panetone”... Haja estômago!
PAULO RIBEIRO
RAFAEL SILVEIRA
São Paulo
rafedu@terra.com.br
As manipulações escusas com o nosso dinheiro estão cada vez mais evidentes! Agora temos vários casos filmados em vídeo. Logo, logo, teremos suficiente material para uma edição do BBB – Big Bandalheira Brasil (também disponível na versão Bandidos Bombam em Brasília). Aguardem futura apresentação. Acompanhada de pizza, naturalmente!
forum@grupoestado.com.br
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Eu também quero panetone!
PANAYOTIS POULIS ppoulis@yahoo.com.br
Rio de Janeiro
Imprudência
scorrea@uol.com.br
Que bela foto e que maravilhoso exemplo do deputado Leonardo Prudente enchendo as meias com dinheiro (30/11, A4). Ele não foi nada prudente. Com certeza vai negar, alegando que estava ajeitando as meias... Desanima votar.
São Paulo
ARIOVALDO J. GERAISSATE
SILVANO CORRÊA
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São Paulo
ari.bebidas@terra.com.br
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Financiamento público A inexistência de financiamento público das campanhas eleitorais talvez seja uma das causas
TERÇA-FEIRA, 1 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
Informação
Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editor-Chefe Responsável: Roberto Gazzi
Membros Fernão Lara Mesquita Francisco Mesquita Neto Júlio César Mesquita Patricia Maria Mesquita Roberto C. Mesquita
Administração e Negócios
Diretor Presidente: Silvio Genesini Diretor de Operações: Rubens Prata Jr. Diretor Financeiro: Ricardo do Valle Dellape Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
NOTAS & INFORMAÇÕES
A podridão no Distrito Federal
S
empre pode ficar pior. Quando se pensava que as denúncias de corrupção no Distrito Federal (DF) tinham alcançado o seu pico nos sucessivos governos de Joaquim Roriz, eis que a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF), destampa um dos mais bem documentados escândalos do gênero no País. O governador José Roberto Arruda, o único eleito pelo DEM em 2006, é acusado de chefiar um esquema de pagamento sistemático de propinas a auxiliares diretos, membros do seu secretariado e deputados distritais, perfazendo R$ 600 mil mensais. A dinheirama vinha do caixa 2 de empresas fornecedoras do governo. Desde os tempos de Roriz, elas vinham pagando pedágio para fechar contratos, não raro superfaturados, com a administração local. Um vídeo arrasador mostra Arruda recebendo R$ 50 mil das mãos do seu então secretário de Relações Institucionais – o título é uma preciosidade –, Durval Barbosa. Ex-policial civil, ele dirigiu no governo Roriz a Companhia de Desenvolvimento do Planalto (Codeplan) e depois, apropriadamente, foi caixa de campanha de Arruda. Os negócios da estatal
chamaram a atenção do Ministério Público e motivaram a abertura de mais de 20 processos contra Barbosa. Em troca de uma condenação mais branda, ele aceitou trabalhar para a Polícia Federal, no sistema de delação premiada. Especialista em gravações clandestinas, ele ajudou a registrar a entrega da bolada a Arruda – e o desconforto deste. “Você poderia passar lá em casa”, sugere, “porque descer com isso aqui é ruim.” No fim, quem leva o dinheiro, dentro de um envelope pardo, é o motorista do governador. Divulgado o vídeo, o secretário de Ordem Pública do DF, Roberto Giffoni, alegou que as imagens são de 2005, quando Arruda era deputado e Barbosa presidia a Codeplan, e que a soma era para ser gasta na compra de panetones a serem distribuídos a crianças carentes. Algumas das 30 fitas produzidas por Barbosa com uma câmera escondida parecem um clipe da lambança. O melhor momento é o que mostra o presidente da Câmara Legislativa (o equivalente às assembleias estaduais), Leonardo Prudente, literalmente enchendo os bolsos de dinheiro; quan-
do não cabia mais, ele enfia um maço de notas nas meias. O mensalão do DEM, como vem sendo chamado o esquema, contemplou também, entre diversos outros integrantes da base aliada de Arruda, o corregedor da Câmara, Júnior Brunelli. Segundo Barbosa, desde dezembro de 2002, ele recebe R$ 30 mil mensais. Numa cena tocante, ele, Brunelli e Prudente são vistos abraçados fazendo uma oração: “Nós precisamos da Tua cobertura e dessa Tua graça…”, rogam, em dado momento. Outra filmagem registra um encontro de Barbosa com Marcelo Carvalho, que administra as empresas do vicegovernador Paulo Octávio (DEM). Carvalho aparece recebendo uma pasta preta de Barbosa. Conforme seu depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público, o executivo era quem repassava a parte que tocava ao vice – 30% da contribuição de campanha de uma empresa, segundo uma anotação. A primeira reação de Arruda, na sexta-feira, quando a PF executou 16 mandados de busca e apreensão, foi demitir Barbosa e um
punhado de outros suspeitos. No domingo, ele e Paulo Octávio divulgaram uma nota espantosa em que se apresentam como vítimas perplexas de um “ato de torpe vilania” para “tentar manchar o trabalho sério e bem-sucedido que tem sido feito pela nossa administração”. A palavra de Arruda já se sabe o que vale. Em 2001, então senador, subiu à tribuna e, em lágrimas, jurou ser inocente da acusação de ter participado da violação do sigilo do painel de votações da Casa, no caso da cassação de Luiz Estevão, do DF. Dias depois, admitiu a culpa e renunciou ao mandato – para não ser cassado também, é claro. Agora, para não ser expulso do DEM, poderia se desfiliar da sigla. Já se renunciar ao mandato perderá o foro privilegiado. O seu governo, de todo modo, acabou – para não falar na sua candidatura à reeleição. A questão é quando ele será removido do cargo. A oposição fala em impeachment, mas só detém 5 das 24 cadeiras da Câmara Legislativa. E a sua sucessão será um imbróglio, dadas as acusações ao seu vice e ao presidente da Câmara. A turbulência no DF promete durar tanto quanto a corrupção entranhada no seu governo.
O Censo do Ensino Superior
Dubai, um lembrete sombrio
E
A
laborado pelo Ministério da Educação (MEC) com base em dados de 2008, o Censo da Educação Superior revela que o ritmo de expansão da oferta de vagas e do número de matrículas já começou a diminuir, depois de ter registrado taxas anuais de crescimento de até 13% na primeira metade da década de 2000. Segundo o Censo, o País tem hoje 5 milhões de estudantes universitários. A vertiginosa expansão do ensino superior, nesse período, com o surgimento de novas universidades particulares confessionais e o aumento de vagas nas universidades públicas, foi o desdobramento natural de um processo iniciado com a universalização do ensino básico, na década de 1990, e o crescimento do número de estudantes do ensino médio. Agora, como lembram os especialistas, a criação de novas instituições universitárias está perdendo fôlego e a tendência para os próximos anos é de estabilização do setor. Entre 2007 e 2008, o número de centros universitários, faculdades e universidades caiu de 2.281 para 2.252, ao mesmo tempo que aumentou o número de vagas ociosas. Só as 57 universidades federais, que têm 643 mil alunos, ficaram com 7 mil vagas não preenchidas no ano passado. Esse número representa metade das vagas criadas em 2008 pelo programa de expansão do ensino superior custeado pela União. Esse programa, que prevê investimentos de R$ 2 bilhões, é uma das iniciativas mais divulgadas do governo do presidente Lula. Segundo as
estimativas, o custo médio de cada vaga numa universidade federal é de R$ 12 mil. A existência de vagas ociosas nas universidades federais, como mostrou o Censo do Ensino Superior, vai obrigar o MEC a rever sua política para o setor. Para os especialistas, além de criar cursos não profissionalizantes e pouco atrativos para os estudantes, o governo cometeu o equívoco de criar novas universidades federais em regiões já suficientemente atendidas por instituições públicas, confessionais e particulares. “Não houve planejamento. Em algumas regiões, o au-
Ritmo de aumento das vagas e de alunos começa a perder fôlego mento era desnecessário, pois não havia demanda”, diz o pedagogo Carlos Monteiro. Outro equívoco apontado pelos especialistas foi a criação de universidades federais em cidades pequenas situadas em regiões de fronteira ou no interior do Nordeste, onde a qualidade do ensino básico e do ensino médio é reconhecidamente baixa. É grande o número de candidatos a uma vaga nessas instituições que não conseguem ser aprovados nos vestibulares e de universitários que desistem, por não conseguir acompanhar os cursos oferecidos. “Isso é dinheiro público jogado fora”, diz o consultor Ryon Braga, comentando a elevada taxa de evasão nessas universidades. O mais sensato, nesse sentido, teria sido investir no ensino fundamental.
Rebatendo a crítica, a secretária de Ensino Superior, Maria Paula Dallari Bucci, lembra que essas universidades foram criadas para oferecer cursos de formação a professores. Outra importante constatação do Censo do Ensino Superior é o aumento de 11%, entre 2007 e 2008, das matrículas de universidades com notas baixas nos mecanismos de avaliação do MEC. O Censo revela que as 558 instituições reprovadas em provas como o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) concentram 16% dos universitários do País. Quase todas essas instituições pertencem à rede privada e cresceram justamente porque suas mensalidades são as mais baixas do mercado. Em outras palavras, o levantamento do MEC mostra que, na hora de escolher um curso, os alunos se preocupam mais com os valores que terão de pagar do que com a qualidade da universidade. Para o MEC, como esses estabelecimentos atendem as faixas mais pobres da população, o mais adequado não é fechá-los, mas supervisioná-los, estimulálos a melhorar e aplicar punições, como o corte de vagas – sanção que recentemente foi imposta pelo órgão a algumas faculdades de direito e de medicina. A função do Censo do Ensino Superior é propiciar um diagnóstico do setor, dando às autoridades as informações de que precisam para aprimorar um sistema educacional que sempre primou pela falta de qualidade.
crise não acabou, o setor financeiro ainda vai contabilizar perdas importantes e tem razão quem, como o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, recomenda cautela. A moratória da estatal Dubai World, em apuros com uma dívida de cerca de US$ 60 bilhões, é mais um alerta sobre as condições ainda precárias da economia mundial. A suspensão de pagamentos afeta credores dentro e fora do país e atinge até o Tesouro britânico, por seu respaldo a bancos em dificuldades. O governo de Dubai, no entanto, procura livrar-se de responsabilidades, embora a gigante imobiliária seja controlada pelo setor público. Suas dívidas não têm garantia oficial e os investidores devem assumir a responsabilidade por suas decisões, disse o diretor-geral do Ministério das Finanças do emirado, Abdulrahman Al Saleh. Dirigentes dos maiores bancos centrais e do FMI poderiam recitar em coro: “Nós avisamos.” As carteiras dos bancos americanos continuam recheadas de hipotecas comerciais de baixa qualidade, disse em depoimento no Congresso o diretor associado de Supervisão do Fed, John Greenlee. Segundo ele, havia inadimplência em cerca de 9% daquelas hipotecas, no fim do segundo trimestre. Naquele momento, os bancos detinham aproximadamente US$ 3,5 trilhões de créditos pendentes e relativos a hipotecas comerciais. As expectativas de perdas, acrescentou, continuam elevadas. Em seu depoimento ele detalhou em
linguagem corrente as advertências contidas na Ata da última reunião do Comitê de Mercado Aberto do Fed. A ata menciona a expectativa de elevação dos níveis de inadimplência. Muitos bancos pequenos e regionais, segundo o relatório, são vulneráveis a perdas nas carteiras de crédito imobiliário comercial e por isso os novos empréstimos estão contidos. Mas não apenas esses bancos têm limitado suas operações. A contração dos financiamentos bancários ocorre em todo o mercado e só os governos – federal, estaduais e municipais – continuaram a endivi-
A crise continua, os bancos sofrerão mais perdas e é preciso ter cautela dar-se em outubro. O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, também tem mostrado preocupação com a saúde do setor financeiro. Os bancos da Europa ainda terão de passar por um demorado ajuste antes de voltar a condições normais de operação. Os comentários de Trichet valem para os bancos da Europa Ocidental e para os da antiga área socialista, severamente atingidos pela crise financeira global. O desemprego elevado e as condições ainda precárias do mercado imobiliário, tanto nos EUA quanto na Europa, dificultam a recuperação do setor financeiro. A desocupação tem o duplo efeito de aumentar a inadimplência dos empréstimos pessoais e de retardar a recuperação do setor de imó-
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
do mensalão em alguns segmentos políticos. Não se pode acreditar que políticos recebam grandes fortunas de terceiros, a título de colaboração nas despesas de campanha, sem o retorno posterior, principalmente se o beneficiário for eleito. Ademais, não se pode ignorar o custo financeiro elevadíssimo de uma campanha eleitoral, até para vereador de cidade pequena do interior. Por isso é mister a reforma da legislação eleitoral para inserir, entre outros regramentos, o financiamento público das campanhas eleitorais.
sa dinheiro ilegalmente (30/11, A1), hoje entendo por que os caras-pintadas estão omissos diante dos desmandos que ocorrem em nosso país, a começar pela absurda censura imposta ao Estado.
ANTONIO MACEDO
rdseg@terra.com.br
antoniomacedo@uol.com.br
São Paulo
ALVAREZ AGUILAR alvarez.atib@hotmail.com
São Paulo
Parabéns ao presidente da UNE. As explicações dadas sobre os destinos das verbas públicas recebidas (29/11) o credenciam a ser um político de grande futuro.
Diante da reportagem UNE repas-
RonaldoGomesFerraz ronferraz@globo.com RiodeJaneiro
●
ANTONIO FERNANDO FERREIRA
São Paulo
Caras-pintadas
“
Depois desse tombo do Arruda, o DEM vai comer no Natal o panetone que o diabo amassou”
Ordeme progresso Sentimo-nos impotentes diante de tanta roubalheira dos nossos
bolsos. O caso da UNE é só mais um deles. Não estou mais surpreso com a conivência de setores da Justiça e dos demais Poderes diante de tanta podridão. O sistema político está falido, a começar por um presidente da República que nunca sabe de nada e permite a impunidade generalizada, gerando um efeito cascata em vários níveis. O Brasil precisa mudar e deixar de ser o país da “desor-
dem e recesso” para ser novamente o país da “ordem” de suas instituições e “progresso” do povo.
jevarallo@hotmail.com
tar todas as situações de ingerência em Honduras de países que gostariam de ver mais um ditador ao estilo Hugo Chávez/Evo Morales no poder. Parabéns ao povo hondurenho, que compareceu ao pleito e fez valer a sua vontade. Não importa se escolheu bem o seu próximo governante. O que importa mesmo é que tenha tido condições de escolhê-lo, o que não teria ocorrido caso o sr. Manuel Zelaya continuasse no poder.
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ADELAIDE OLIVEIRA VIEIRA SANTOS
MAURO LACERDA DE ÁVILA lacerdaavila@uol.com.br
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EDUARDO KAMEI YUKISAKI eduardo1964@uol.com.br
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Balzacnunca tãoatual “Sabes como fizeram seu caminho até aqui? Pelo brilho do gênio ou pelo recurso da corrupção. É preciso penetrar nessa massa de gente como uma bala de canhão, ou devastar como uma peste. A honestidade não serve a ninguém. A corrupção predomina, o talento é raro. Sendo a corrupção a arma da mediocridade que abunda, você a sentirá por toda parte” – Vautrin iniciando o jovem Rastignac nas tramas da vida (Pai Goriot, 1834) – Honoré de Balzac.
veis. Os dois problemas afetam os bancos, forçados a continuar reconhecendo perdas em suas carteiras de empréstimos. Em contrapartida, as instituições financeiras, ainda sujeitas a grande número de calotes, adotam políticas mais prudentes e limitam a concessão de empréstimos. Com isso, dificultam a recuperação da economia. O círculo se fecha. Todo esse quadro foi esboçado, com sucessivas correções, pelo FMI no último ano e meio. Em outubro, na última edição do Relatório de Estabilidade Financeira Global, os economistas do Fundo melhoraram ligeiramente suas estimativas de perdas do sistema financeiro. Pelos novos cálculos, as perdas entre o começo da crise, em 2007, e 2010 devem ficar em cerca de US$ 3,4 trilhões. Em abril, a estimativa era de US$ 4 trilhões de prejuízos derivados do estouro da bolha americana. O número se refere a bancos de todo o mundo afetados pela mesma onda de problemas. Segundo o relatório, a inadimplência do setor empresarial americano continuou crescendo neste ano e deve atingir a intensidade máxima neste fim de ano ou no começo de 2010. Mas os problemas do mercado imobiliário e o elevado desemprego continuarão ainda por algum tempo, de acordo com as projeções do Fundo, a pressionar os bancos nos Estados Unidos e na Europa. Permanece o risco de uma recuperação global lenta e sujeita a uma perda de impulso, se os estímulos fiscais e monetários forem retirados antes da hora. Qual o momento certo para a retirada ninguém sabe por enquanto.
Honestidade Após as denúncias de corrupção no governo do Distrito Federal, no Detran de São Paulo, na Aneel e na UNE, dá para acreditar no Brasileirão de 2009? JOÃO ERNESTO VARALLO
adelaidescs@yahoo.com.br
Eleiçõesem Honduras Parabéns a Honduras. Suas instituições, aparentemente frágeis, souberam livrar o país de mais um exótico ditador no continente. Parabéns ao sr Micheletti, que soube, com tranquilidade, enfren-
São Caetano do Sul ● Quando o povo fala, os políticos abaixam as orelhas. O povo hondurenho falou... MANOEL BRAGA manoelbraga@mecpar.com
Matão
NACIONAL A11
TERÇA-FEIRA, 1 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOBCENSURA HÁ 123DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
+ 9 INVESTIGAÇÃO
‘Censura é enorme retrocesso’ Para Pujol, mordaça vai na contramão da democracia Moacir Assunção
O professor de Filosofia do Direito da Faculdade Padre Anchieta, em Jundiaí (SP), Sebastião Pujol, considera a censura ao Estado desde 31 de julho, por determinação do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF), “um enorme retrocesso” no regime democrático. “O episódio demonstra que o fundamento do direito é o poder e vai exatamente no sentido contrário ao fortalecimento da democracia”, afirmou. Pujol lembrou que, desde a Revolução Francesa, quando foi contestada e derrubada a monarquia absolutista, a evoluçãopolíticadahumanidadeconsiste em estabelecer o princípio de que todos são iguais perante a lei e ninguém estará acima da
legislação que vale para todos, em um princípio de responsabilidade legal. “Com a censura, resgata-se um rol de pessoas de sua própria responsabilidade política e judicial.” O professor destacou que, em tempos de democracia, a proibiçãodeveiculaçãodeinformações pode ser decretada, porémsomenteemcasosmuitoespeciais e pontuais. “Caberia em uma situação de sequestro, em queénecessáriogarantir aintegridade física do sequestrado ou nos de segredo de Estado, quando se precisa proteger informações de interesse público.” No caso que envolve a censura ao Estado, mediante liminar concedidapelo TribunaldeJustiça do Distrito Federal a pedido do empresário Fernando
Sarney, filho do presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP), o especialista afirma que ela não se justifica. “Não há interesse público relevante a se proteger, mas apenas os interesses privados da pessoa que pediu a mordaça.”Fernandofoiindiciado por vários crimes pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica. A transparência nas relações do poder com os cidadãos comuns, de acordo com ele, é uma tendência mundial. “A ideia-força do Estado Democrático de Direito é a liberdade, que cria a noção de que todos os atos republicanosdevemserpúblicos,para que a sociedade possa fiscalizar seus representantes”, comentou. ●
Diretor jurídico do BB é destituído do cargo O advogado Joaquim Cerqueira César foi destituído do cargo de diretor jurídico do Banco do Brasil. O funcionário de carreira Orival Grahl o substituiu. Desde que assumiu, em 2007, César demitiu vários advogados porsupostas falhas na defesa do banco em ações de grande valor e virou alvo de acusações por assédio moral. JUSTIÇA
Tarso responde a declaração de Mendes O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse ontem que “umadivergênciajurídicasobre a questão constitucional nãovaiimpedirseurelacionamento” com o presidente do Supremo Tribunal Federal, GilmarMendes.Nasexta-feira, Mendes afirmou que, ao anularorefúgioa CesareBattisti, o STF “contribuiu para a biografia do ministro”.
MÍDIA
Indenizaçãojudicial tira jornalgaúcho decirculação Elder Ogliari PORTO ALEGRE
Detentor de dezenas de prêmios, inclusive um Esso nacional, o jornal mensal Já suspendeu sua circulação em novembro. O motivo: asfixia financeira determinada por decisão judicial que condenou a publicação ao pagamento de R$ 54 mil à viúva Julieta Diniz Vargas Rigotto, 88 anos, inconformada com a veiculação de matéria que julgou ofensiva à memória dofilhoLindomarVargasRigotto,irmãodoex-governadorGermano Rigotto (PMDB). Os processos começaram em 2001, mas a mordaça se agravou em agosto deste ano, quando a Justiça determinou o bloqueio de 20% das receitas da Já Editores, responsável pelo jornal, para garantir a indenização. “Isso é pesado para quem é pequeno e tem rentabilidade
baixa”, afirma Elmar Bones, diretor da empresa, que chegou a ter faturamento bruto de R$ 380 mil por ano em seus melhores tempos. A penhora foi levantada no dia 24 de novembro porque a Justiça entendeu que o valor irrisório do faturamento atual da empresa não remuneraria nem a quantia devida ao administrador.Maso casonãoterminou. A autora tem dez dias para recorrer e pedir outras penhoras. Lindomar foi uma das 22 pessoas e 11 empresas denunciadas pelo Ministério Público Estadual à Justiça por participação em fraude na Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), com base em informações oferecidas por uma sindicância interna, uma auditoria da Contadoria e Auditoria-Geral do Estado (Cage) e um relatório de Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia. ●
Florida Penthouses São Paulo - SP
foto by Ucha Aratangy
INOVAR É TRANSFORMAR IDÉIAS EM CONCEITOS ÚNICOS. Inovar é ser responsável por conceitos que mudaram as linhas das maiores cidades do País, criando verdadeiros marcos urbanos. É assim, através de um olhar que busca sempre o novo, que a Brookfield Incorporações tornou-se uma das maiores incorporadoras do país, verdadeira referência nos locais onde atua.
w w w . b r . b r o o k f i e l d . c o m
DEFESA
Brasil vai fazer gás de urânio para combustível nuclear Testes começam em maio e até dezembro de 2010, País terá domínio completo da tecnologia Roberto Godoy
O Brasil terá domínio completo do ciclo do combustível nuclear em dezembro de 2010, quando entrará em funcionamento pleno a Usexa, usina de produção de gás de urânio, no Centro Experimental Aramar, a sede do Programa Nuclear da Marinha, em Iperó (SP). Os testes começam em maio. A fábrica, um pavilhão ocupado por quilômetros de tubos, válvulas e uma rede de controle digital, está recebendo o ajuste final para iniciar o ciclo de 150 dias de ensaios que antecede a produção regular. Esse não é o único segredo guardado na área de 90 mil metros quadrados, garantida por fuzileiros navais, sensores eletrônicos e rígidas normas de segurança. Depois que voltou a receber investimentos, há pouco maisdedoisanos,Aramaracelerou o ritmo das obras civis e das investigações científicas. Em meioavestígiosdaMataAtlânti-
ca e da densa vegetação de cerrado,háprédiosde30metrosde altura em construção, lastreados sobre a rocha pura. Ali vai funcionar em 2014 um reator de 48 MW de US$ 130 milhões. Estáparcialmenteprontoeestocado. Vai servir ao submarino atômico que a Marinha está produzindo em parceria com os estaleiros DCNS, da França. De determinados pontos, que só podem ser frequentados pelostécnicos diretamenteligados às atividades do Centro Experimental, estão saindo duas novasgeraçõesdeultracentrífugas, 15% e 30% mais eficientes nodelicadotrabalhodeenriquecer o urânio de forma que possa produzir energia. As facilidades atendem à demanda atual das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), mas terão de ser expandidas para supriras exigênciasdasoito novas centraiselétricasplanejadaspara o setor. O segredo em torno da engenharia e da tecnologia
SERGIO NEVES/AE–21/10/2009
COMPONENTES – Dois geradores de vapor desenvolvidos em Aramar
Marinha investe R$ 400 milhões ●● ● A Marinha está investindo mais de R$ 400 milhões em Aramar. O reforço garantido pelo presidente Lula,em2007,édeR$130milhões por ano – com promessa de totalizar R$ 1,04 bilhão até 2016. OCentro Tecnológico da Mari-
nhaentrega em dezembro para a estatal INB o segundo e mais avançadoconjunto de ultracentrífugas detecnologia própriapara enriquecimentode urânio. São máquinas dageração1/M2,15%maiseficienteque a sérieanterior. ● R.G.
dasultracentrífugas é extremo. “Tudo isso significa que 25% dos objetivos pretendidos para 2014, nosso ano chave, estão resolvidos”,explicaocomandante André Ferreira Marques, coordenador de Propulsão Nuclear. A usina de gás é a quarta do mundo. Tem capacidade para fornecer 40 toneladas por ano, volumenecessárioaosuprimento da Força, empenhada no desenvolvimento próprio do sistema de propulsão dos futuros submarinos. O primeiro navio entra na água em 2020. É o único segmento do processo que o País ainda compra no exterior, embora domine todooconhecimento.AUsexacustou R$ 40 milhões. Do total, R$ 23,6milhõessaíramdaFinanciadora de Projetos e Pesquisas. Em 13 de dezembro de 2005, emescaladelaboratório,foiobtida a primeira amostra de conversão do yellow cake – estágio básicodo beneficiamento do minério–emhexafluoreto,aforma
gasosa que é utilizada no enriquecimento do urânio. Atualmente,omaterial–livredeimpurezas – é enviado ao Canadá em tambores de 400 quilos para ser modificado na agência Cameco. Depois, volta para o Brasil. RITMO ACELERADO
No canteiro de Aramar trabalham 1.100 técnicos. A maior obra é um complexo de sete prédios e 6 mil metros quadrados. Fica pronto em 2014. O edifício principal tem 30,5 metros de altura. Ali vai funcionar o LabGene, Laboratório de Geração Nucleoelétrica. No vão livre do pavilhão de ensaios será instalado oreatorPWR,deáguapressurizada, capaz de gerar 48 MW. Os componentes começam a ser reunidos. Semana passada partes dos vasos de aço especial dividiam um armazém com dois geradores de vapor, peças “que exigiram20 anosde investimentocientífico”,segundoMarques. Essas máquinas movimentarão osubmarino de 6 mil toneladas e 100 metros. Após dez anos parado, o programa nuclear voltou a ser prioridade em 2007, quando recebeu R$ 55 milhões para manutenção e salários. ●
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o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
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RUY MESQUITA
2 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42414
Obamaquer saída doAfeganistão apartirde 2011 Plano inclui mais 30 mil soldados para estabilizar conflito, que já dura 8 anos O presidente dos EUA, Barack Obama, enviará 30 mil soldados para o Afeganistão ao longo dos próximos seis meses, acelerando o processo de mobilização de forças americanas para o território afegão. O objetivo é tentarestabilizar oconflitoecomeçar a retirada das tropas em julho de 2011, antes das próxi-
mas eleições nos EUA. O anúncio foi feito na noite de ontem. Com o reforço das tropas, os EUA terão 100 mil soldados lutando contra a Al-Qaeda e o Taleban, numa guerra que já dura oito anos. O plano de Obama incluiatrair membros do Taleban para trabalhar nas forças de segurança. ● PÁGS. A15 e A16
ARTIGO
Bob Herbert, do New York Times DIDA SAMPAIO/AE
Enviar mais tropas é erro trágico Para Obama, teria sido um ato autêntico de coragem parar de atirar nossos jovens soldados no incansável tritura●●●
CRISE – Reunião da Executiva do DEM em Brasília: avaliação é de que o partido pagará um custo político muito alto se não expulsar Arruda
DEM marca expulsão de Arruda para o dia 10
Palmeiras
Love é agredido por torcedores O incidente ocorreu em banco. Os agressores foram detidos. ● PÁG. E1
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Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República “A imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração e de investigação”
expulsá-lo de seus quadros. Essa perspectiva, aliada às ameaças de retaliação feitas por Arruda, acabou mudando a posição de defesa até de seus alia-
Vacina contra gripe reduz mortes por enfarte em SP
Para aprovar IPTU, Kassab recua da alta de até 60%
A vacinação contra a gripe comum reduziu em 20% a mortalidadedeidososporenfarte na capital paulista, revela pesquisa do Instituto do Coração de São Paulo (Incor).Isso aconteceporque os efeitos da gripe, como desidratação, taquicardia, febre e inflamações, podem atuar como gatilho para problemas cardíacos. ● PÁG. A20
A Câmara Municipal aprovou ontem o reajuste do IPTUem São Paulo. Para obter apoio ao projeto, o prefeito GilbertoKassabreduziuoteto do aumento – de 60% para 45% no caso de imóveis comerciais e de 40% para 30% nos residenciais. Para compensar a perda, imóveis comerciaisdealtopadrãopagarão mais IPTU. ● PÁGS. C1 e C3
Ligação do governador com TJ é investigada O Conselho Nacional de Justiça abriu investigação sobre o suposto envolvimento do Tribunal de Justiça do Distrito Federal com o mensalão do DEM. Nas gravações, há menção a desembargadores. ● PÁG. A4
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IBIRAPUERA: ENFEITE DE NATAL
MIC BOTHMA/EFE
dos, como o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). O PSDB aderiu à debandada de partidos que sustentavam o governo Arruda, o que irritou os dirigentes do DEM. Já o presidente Lula, em suas primeiras declarações sobre o caso, disse que os vídeos mostrando Arruda e assessoresrecebendodinheironãoprovam nada. “A imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração e de investigação”. ● PÁGS. A4, A6 e A8
FRASE
Copa-2010
África do Sul será cabeça de chave País-sede comandará um dos grupos no sorteio de sexta-feira. ● PÁG. E4 ●●
IBGE
Expectativa de vida cresce 3 anos ●● Índice passa de 69 anos em 1998 para 72 anos em 2008. ● PÁG. A24
Finanças
Caixa compra 35% do Panamericano Com o negócio de R$ 740 milhões, banco estreia no leasing. ● PÁG. B14
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JOSE PATRICIO/AE
agrícola
Plantio na palha ●●● Inauguração da fonte lumino-
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 124 DIAS q PÁG. A13
7 8 9 10 11 12
sa do Parque do Ibirapuera, com música, para as festas de fim de
ano. Haverá sessões diárias de 27 minutos do espetáculo, às 20h30 e às 21h. ● PÁG. C10
Pressão por hidrelétrica derruba dois no Ibama Um diretor e um técnico do Incra que estavam trabalhando no licenciamento da Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), decidiram deixar o órgão. Sebastião Pires e Leozildo Benjamin pediram desligamento em razão de pressões do governo para aprovar a obra, segundo um funcionário do Ibama. O instituto disse que a mudança foi decisão interna. ● PÁG. B1
Partido considera denúncias graves e dá oito dias para a defesa do governador, que perdeu mais uma legenda de sua base de sustentação ODEMabriuprocessodeexpulsão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. A cúpula do partido deu oito dias para que Arruda se defenda e mais dois para o relator do processo dar seu parecer, mas a decisão política está tomada: eleseráexpulsonodia10.Adireção do DEM considerou graves as denúncias de envolvimento deArrudaemesquemadepagamento de propinas em seu governoeachaqueopartidopagará um custo político alto se não
dor de carne que é o Afeganistão e encarar o terrível custo da guerra, para as tropas e para a nação. ● PÁG. A16
Técnica já usada em 26 milhões de hectares reduz o efeito estufa. ●
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Gabrielli nega fuga de múltis petroleiras ●● Presidente da Petrobrás diz ao Estadoque interesse noPaís é “extraordinário”. ● PÁG. B3
NOTAS E INFORMAÇÕES
Duas faces da mesma moeda As palavras de Arruda expõem o estofo característico dos políticos sem princípios, que fazem qualquer negócio para salvar a pele quando apanhados. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
31º MÁX.
● PÁG. C2
21º MÍN.
Temperatura sobe e chove à tarde.
Hoje: 78 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● G. Agrícola: 12 Classificados: 136 anúncios
QUARTA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 124 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura ao Estado é inconcebível’ Presidente de ONG que atua nos municípios diz que País ainda não é uma ‘democracia de fato e de direito’ Moacir Assunção
O presidente da entidade Amigos Associados de Ribeirão Bonito (Amarribo), Jorge DonizeteSanchez,vêcomo“inconcebível”acensuraaoEstado,mantida por ordem judicial desde 31 de julho. “É realmente um absurdo. Primeiro, que a censura tenha sido determinada em pleno regime democrático e, mais ainda, que ela se mantenha por tanto tempo, apesar dos vários recursos do jornal”, disse. Para Sanchez, advogado que dirige, como voluntário, uma das mais atuantes organizações não-governamentais (ONGs) do País, na fiscalização de prefeitosevereadores,amordaça determinada pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) contraria frontalmente o artigo 5º da Constituição Federal, que trata da liberdade de expressão. De acordo com o advogado, a mordaça ao Estado demonstra que o País ainda tem muitas deficiências a corrigir. Ele ressalta que a Constituição prevê o acesso à informação pela populaçãodeformairrestrita,deforma a permitir que os cidadãos formem conceito sobre temas controversos. Acensurafoibaixadapelo desembargador do TJ-DF Dácio Vieira, a pedido do empresário FernandoSarney, filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Fernando foi in-
STF vai julgar recurso no dia 9 ●● ● O Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar no próximo dia 9 o pedido de liminar do Estado para que seja derrubada a censura que impede o jornal há 124 dias de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica. Na reclamação protocolada na corte, os advogados sustentam que a mordaça contraria decisão na qual o STF revogou a Lei de Imprensa e reforçou o pleno direito à liberdade de informação. No último dia 19, o relator do recurso no Supremo, ministro
Cezar Peluso, preferiu não decidir sozinho o pedido de liminar e levou o caso para o plenário do STF, integrado por 11 ministros. Já o empresário Fernando Sarney protocolou uma petição pedindo que a censura seja mantida pelo Supremo. O anúncio da data do julgamento foi feito pelo STF por meio do Twitter. O tribunal inaugurou ontem a sua página nessa rede social e já tinha mais de 600 seguidores. ●
vestigado e indiciado por vários crimes pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica. Vieira é do círculo de relações da família. O Estado, pela sentença, não pode noticiar o caso.
Federal e da Polícia Federal. “No caso, ao que parece, a famosa divisão tripartite dos Poderes, de Montesquieu, nãotemvalidade. Édifícilentender a submissão do Judiciário à vontade de uma pessoa somente”, comentou. “Em termos jurídicos, sociaiseaté pessoais,essadecisão é lamentável.” Medidas como o impedimento determinado contra o jornal demonstram, para Sanchez, que o Brasil ainda está muito distante de ser uma verdadeira democracia. “Temos muito a caminhar nesse sentido. Infelizmente, ainda não podemos nos considerar uma democracia de fato e de direito.” ●
INTERFERÊNCIA
Na visão de Sanchez, interesses políticos influindo nas decisões da Justiça explicam a censura ao jornal. “Conheço muito bem São Luís, a capital do Estado em que vivem os Sarney, e é muito fácil perceber a influência que o senador e sua família exercem”, afirmou o advogado, quevisitouoConventodasMercês, na capital maranhense, onde funcionou a extinta FundaçãoSarney,alvo deváriasinvestigações do Ministério Público
NACIONAL NACIONAL A13 A13
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JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
3 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42415
Arruda licita panetones para justificar propina
Temer é citado em lista de empreiteira
Edital da compra foi publicado na sexta-feira, dia da operação da Polícia Federal CELSO JUNIOR/AE
Onomedo deputado Michel Temer (SP), presidente da CâmaraedoPMDB,aparecenoarquivo secreto da Construtora Camargo Corrêa – planilhas que sugerem contabilidade paralela da empreiteira. Temer é citado 21 vezes, entre 1996 e 1998, ao lado de quantias que somam US$ 345 mil. Os documentos foram recolhidos pela Polícia Federal, no âmbito da Operação Castelo de Areia. “É uma infâmia”, reagiu o deputado. A Camargo Corrêa afirmou desconhecer as planilhas. ● PÁG. A10
Consumo faz indústria crescer pelo 10º mês seguido A produção industrial medida pelo IBGE teve crescimento de 2,2% em outubro, sobre setembro, impulsionada pelo consumo de veículos e de eletrodomésticos. Foi o décimo mês seguidode alta.Comisso,reforçase a tendência de que o mercado interno continue sustentando o crescimento do setor – para o ano que vem, especialistas projetamqueomercadodoméstico responderá por 80% da expansão industrial. ● PÁG. B1
PROTESTO - Manifestantes invadem a Câmara Distrital do DF em ato contra o escândalo de corrupção que envolve o governador Arruda: processo de impeachment foi aberto
vado em 2006. O edital da licitação,abertanasexta-feirapassada, menciona a compra de 120 mil panetones. Arruda sabia com antecedência da investigação da PF. A própria produção de recibos dos panetones, para
TENSÃO: HIDRELÉTRICA POLÊMICA
Crimes da ditadura
Maluf e Tuma viram réus
Eles são acusados de ocultar cadáveres de opositores. ● PÁG. A13
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Evasão de divisas
●● Casal Hernandes vai ter de prestar serviços a entidades. ● PÁG. A23
Memória
Morre em SP o locutor Lombardi Por mais de 40 anos, ele foi a voz do programa de Silvio Santos. ● PÁG. D7
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CADERNO 2
Museus renovados Ministério da Cultura debatepolíticasparaaquisição de obras de arte. Peça dos irmãos Campana (foto) foi doada ao MAM. ●
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verissimo
Fé no futebol ●● Se oGrêmiovencer,dará exemplo de superioridade moral. ● PÁG. D14 7 8 9 10 11 12
DIDA SAMPAIO/AE
DonosdaRenascer sãocondenados
A índia Tuire adverte representante da Funai durante audiência no Senado sobre o
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Comissão dá aval a projeto que pune overbooking Uma comissão do Senado aprovou projeto que obriga as empresas aéreas a indenizar quem for vítima do overbooking – quando a companhia vende mais passagens do que o número disponível de poltronas no avião. O valor do ressarcimento será igualaodatarifasem descontos promocionais. O projeto ainda terá outra votação antes de ir à Câmara. ● PÁG. C1 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 125 DIAS q PÁG. A12
impacto da construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). ● PÁG. B12
NOTAS E INFORMAÇÕES
A meta afegã de Obama A estratégia de Obama para o Afeganistão não será possível enquanto os afegãos continuarem convencidos de que os americanos estão ali apenas para proteger o presidente Hamid Karzai. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
28º MÁX.
● PÁG. C2
21º MÍN.
Risco de temporais em todo o Estado.
Hoje: 122 páginas
A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 22 ● C. Metrópole: 16 ● D. Caderno 2: 16 ● E. Esportes: 4 ● P. Paladar: 6 ● H. Especial Regiões: 8 ● Ca. Autos: 8 ● Ci. Imóveis: 10 ● Co./Ce. Oportunidades/Empregos: 4 Classificados: 2.133 anúncios
justificar as supostas propinas, teria sido combinada com o entãosecretáriode RelaçõesInstitucionais Durval Barbosa, pivô do caso e que fez as gravações. Arruda é alvo de seis pedidosde impeachment. ● PÁGS. A4 a A8
●●● BLINDAGEM
O vice-governador Paulo Octávio não deverá ser punido peloDEMporcausadoescândalo no Distrito Federal. Poderá até ser o nome da legenda ao governo local. ● PÁG. A6
●● ● O Nobel de Economia Paul Krugman disse que o fluxo de capitais no Brasil é uma “bolha”, fruto de exagero dos investidores, e que a atual valorização do real “não é saudável”. ● PÁG. B9
Congresso de Honduras veta retorno de Zelaya
Mensalidade escolar de SP sobe o dobro da inflação
Sob forte esquema de segurança, o Congresso de Honduras rejeitou a restituição do presidente Manuel Zelaya, informa a enviada especial Ruth Costas. Essa era consideradaa últimaoportunidade de o deposto voltar ao poder. Até as 23 horas de ontem(hora deBrasília), 65dos 128 deputados haviam votado contra o retorno e apenas sete a favor, placar que assegurava a rejeição. ● PÁG. A18
O aumento médio das mensalidades para 2010 das melhores escolasparticularesdeSãoPaulo será de 8,6%, o dobro da inflação esperada para este ano (4,25%). A mensalidade média ficará em R$ 1.600. O levantamento abrange o ensino médio dos colégios que se revezaram nos 20 primeiros lugares dos rankingsdo ExameNacionaldo Ensino Médio (Enem). Escolas alegam que têm de investir para continuar no topo. ● PÁG. A20
BOB KRIST/CORBIS
Arruda (DEM). A aquisição regulardepanetones,para“distribuição a famílias de baixa renda”, foi o argumento usado por Arruda para justificar os R$ 50 mil que recebeu, em dinheiro, conformeapareceemvídeogra-
O governo do Distrito Federal abriulicitaçãoparacomprarpanetones no dia em que a Polícia Federal deflagrou a operação que desmontou suposto esquema de corrupção comandado pelo governador José Roberto
Para Krugman, há otimismo excessivo
Na rota do uísque americano ●● Fomos descobrir as dife-
renças entre o bourbon e o tennessee whiskey. ●
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A12 NACIONAL
QUINTA-FEIRA, 3 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
CONTAS PÚBLICAS
PEC dos Precatórios passa no Senado e vai à promulgação Classificada de ‘calote’, emenda prevê pagamentos por meio de leilão CELSO JUNIOR/AE-8/1/2009
Carol Pires BRASÍLIA
Comissão aprova teto único
O Senado aprovou ontem a proposta de emenda à Constituição que fixa novas regras para pagamento de precatórios – dívidas decorrentes de decisões judiciais. A chamada PEC dos Precatórios será levada, agora, à promulgação do Congresso. O projeto estabelece que pelo menos 50% dos recursos reservados aos precatórios serão destinados ao pagamento em ordem cronológica, com base na data em que a Justiça determinou o pagamento. A metade restante poderá ser paga por
●● ● Comissão especial da Câmara aprovou ontem a unificação do teto salarial para toda a administração pública. A comissão também acabou com a impossibilidade de acumulação de remunerações cuja soma ultrapasse o teto. Com essa alteração, caso o servidor público federal, estadual ou municipal tenha mais de um vencimento, seja por acumulação de cargos, aposentaria ou pensão, poderá receber mais que o limite máximo, estipulado como o subsí-
dio integral dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Hoje, o salário dos ministros é de R$ 25,7 mil e chegará a R$ 27,9 mil em fevereiro do ano que vem. A comissão analisou a proposta de emenda do deputado João Dado (PDT-SP). O texto aprovado foi o substitutivo do relator, Gonzaga Patriota (PSB-PE), que incluiu a possibilidade de acumular as remunerações. A proposta ainda terá de ser votada em dois turnos pelo plenário. ●
KÁTIA – ‘Solução possível’
meio de leilão ou por câmaras de conciliação, a serem criadas por lei pela entidade devedora, o Estado ou município. IDOSOS
No caso dos leilões, o devedor poderá optar pelo pagamento prioritário das dívidas de menor valor ou das quais o credor ofereceromaiordescontodadívida. Pelo projeto, dívidas decorrentes de ações envolvendo natureza alimentícia ou que os credoressejamidosos ou portadores de doença grave terão prioridade no recebimento. Órgãos representativos da magistratura e da advocacia qualificam a proposta como “PEC do Calote”.Para essas entidades– comoa OrdemdosAdvogados do Brasil (OAB), a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação dos Juízes Federais (Ajufe) e a AssociaçãoNacionaldosMagistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) –, as novas regras são “um atentado ao Estado democrático”. A estimativa é de que haja um estoque de R$ 100 bilhões
de pagamentos não efetuados porEstadosemunicípios.Oprojeto prevê prazo de 15 anos para os entes devedores quitarem suas dívidas, mas determina limites mínimos para pagamento dos precatórios até o final do prazo: 2% da receita corrente líquidaparaEstadosdoSuleSudeste; 1,5% para municípios do Sul e Sudeste;1,5% para Estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste; e 1% para os municípios dessas últimas regiões. Na avaliação da relatora da proposta, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), a alteração na regra para pagamento dos precatórioséuma “soluçãopossível ao grave problema dos estoques de precatórios pendentes de pagamento, equalizando, na medida do possível, os interesses das Fazendas devedoras – as quais estão sujeitas também a outros encargos, igualmente importantes, como os ligados à saúde e à educação – e dos credores, que estão obtendo instrumentos de recuperação de seus créditos judicialmente assentados, contra o Poder Público”. ●
Condomínio Villa Monteverde - foto by Fabio Correa
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 125 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Censura ataca normas constitucionais’ Academia de Letras Jurídicas espera sinalização contrária do STF Moacir Assunção
O presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas, Ruy Altenfelder, acredita que o Supremo Tribunal Federal (STF) dará,nojulgamentodareclamação do Estado contra a censura, no dia 9, uma sinalização à sociedade e ao mundo jurídico de que não aceita mordaça de meios de comunicação. Na opinião dele, esse sinal coroará as últimas manifestações da corte,todasfavoráveisà livremanifestação do pensamento. “Anossa expectativa, na condição de advogados e juristas, é que o Supremo diga em alto e bom tom que não pode mais haver censura no Brasil e que todas as normas constitucionais em prol da liberdade estão em vigor”, afirmou. Os advogados do jornal lembraram na recla-
mação – termo técnico do pedido de liminar – que a mordaça determinada pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) atenta contra decisões recentes do STF em termos de liberdade de expressão e opinião. Com relação à mordaça determinadapeloTribunaldeJustiça do Distrito Federal (TJDF) em 31 de julho contra o Estado, a pedido do empresário FernandoSarney, filhodopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Altenfelder não tem dúvidas em classificá-la como absolutamente contrária aos preceitos constitucionais. “Esse é um tema que sempre nos incomoda e nos deixa desconfortáveis,na condição de estudiosos do direito”, disse. A mordaça, segundo ele, ataca ao mesmo tempo a Constituição
brasileira, uma das mais avançadas que o País já produziu, principalmenteemsuascláusulas pétreas, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Somente na Constituição, a decisão do TJ-DF contraria três pontos fundamentais, dois do artigo 5º e um do artigo 220, que tratam, respectivamente, dos direitos fundamentais e da comunicação social,” afirmou. O inciso 9 do artigo 5º, relembra o especialista, define que “é livre a expressão intelectual do cidadão, independente de censura ou licença”, enquanto o 14 do mesmo artigo define que “é livre o acesso de todos à informação”. COMUNICAÇÃO
O artigo 220, por sua vez, assegura que as informações destinadas ao público não sofrerão
nenhum tipo de censura ou restrição. A Declaração dos Direitos Humanos também, de acordo com Altenfelder, tem seus princípios atingidos pela decisão do desembargador Dácio Vieira, do TJ-DF, após liminar de Fernando Sarney. “A Declaração, da qual o Brasil é um dos signatários e portanto está forçado a respeitar, lembra, em seus itens 18 e 19, que todo homem tem direitoà liberdadedeexpressão e de opinião, sem sofrer coação”, afirmou. A academia, de acordo com seu presidente, se manterá no que chamou de “vigília cívica” à espera da decisão do STF. “Estão em jogo, olivre exercício da cidadania e a plenitude do sistema democrático”, definiu. ●
CONGRESSO
CCJ ‘corta’ aposentadoria de juízes acusados de crimes Felipe Recondo BRASÍLIA -
Uma proposta aprovada pela ComissãodeConstituição eJustiça do Senado acaba com um dosprincipaisbenefíciosdosjuízes e membros do Ministério Público brasileiro: a aposentadoria compulsória, com rendimentosproporcionais,comopena máxima para aqueles acusados de cometer algum crime. O texto altera a Constituição e permite que magistrados percam seus cargos por decisão de dois terços dos membros do tribunal ao qual estiver vinculado. DECORO
A punição vale para casos em que o juiz pratique ato que viole o “decoro de suas funções”, se receber contribuições de pessoas ou entidades e se exercer atividade política partidária. “A rigor, para quem cometeu infrações de maior gravidade, a
aposentadoria chega a ser um prêmio. A meu juízo, raciocínio semelhante pode ser aplicado à disponibilidade.Colocarem disponibilidade um juiz que infringiude modointolerávelseus deveres funcionais, ainda que com subsídios proporcionais, significa premiá-lo, pois implicaráremuneraroseuócio”,avaliou Demóstenes Torres (DEMGO), relator da proposta. VENDA DE SENTENÇAS
A senadora Ideli Salvatti (PTSC),autoradaPEC,dizterapresentado o texto depois que dois juízes, flagrados negociando a venda de sentenças a traficantes, terem sido punidos com aposentadoria compulsória. A ideia é permitir a demissão dejuízese integrantesdoMinistério Público como pena máxima em caráter administrativo. A proposta ainda será votada em plenário e depois precisará da aprovação da Câmara. ●
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4 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42416
STF abre ação contra ‘mensalão tucano’
Planilhadetalha doaçõespara caixa2deArruda
Azeredo é acusado de ter feito campanha com verba desviada de estatais
Lista cita 41 empresas e R$ 11 milhões
O Supremo Tribunal Federal abriuontemumprocesso criminal contra Eduardo Azeredo (PSDB-MG). A partir de agora, o senador será julgado por sua suposta ligação com o caso que ficou conhecido como “mensalão tucano”. Azeredo é acusado de participar de um esquema
de desvio de recursos públicos e de caixa 2 na campanha de 1998, quando tentou se reeleger governador de Minas, mas perdeua disputapara ItamarFranco. “Não há a menor dúvida de queocorreramdesviosdasestatais. Não há a menor dúvida de que houve aparentemente uma
lavagem de dinheiro”, disse o ministro-relator, Joaquim Barbosa. O ministro José Antonio Dias Toffoli, ex-advogado do PT em campanhas eleitorais, votou contra a abertura do processo. Segundo ele, não há na denúncia indícios da participação de Azeredo. ● PÁG. A8
Uma planilha manuscrita, preparada por Márcio Machado, presidente do PSDB do Distrito Federal, revela que na campanha de 2006 o então candidato aogovernodo DF, JoséRoberto Arruda (DEM), abordou pelo menos41empresasparaarrecadar doações e engordar o caixa
FRASE
Marco Aurélio Mello Ministro do STF
“O Supremo não é cemitério de inquéritos e ações penais contra quem quer que seja”
Temporal deixa cinco mortos em São Paulo
Lula e Merkel divergem em público sobre o Irã OprogramanucleardoIrãmotivou divergência pública, em Berlim, entre o presidente Lula e a chanceler alemã, Angela Merkel. Em entrevista coletiva, Merkel disse que a tolerância com o Irã estava acabando e falou em novas sanções; a seu lado, Lula pediu “muita paciência” com o país. ● PÁGS. A12 e A13
A chuva forte que atingiu São Paulo na tarde de ontem deixou cinco mortos, um ferido e dois desaparecidos. Deslizamentos mataram três crianças e uma adolescente em M’Boi Mirim, na zona sul, e uma pessoa no Jardim São Rafael, na zona leste. Entre 15h40 e 16h40, a região central registrou 53 milímetros de precipitação, 25% do esperado para todo o mês. A tempestade provocou mais de 40 pontos de alagamento e deixou três bairros sem luz. ● PÁGS. C1, C4 e C5
Petrobrás cria barreira contra equipamentos importados
JOSÉ PATRICIO/AE
Áreas nobres ficam alagadas
DRAMA – Em M’Boi Mirim, zona sul de SP, bombeiros trabalham no local onde quatro crianças foram soterradas por causa das chuvas
ESPORTES
Brasil conhecerá hoje primeiros desafios na Copa
São Paulo
Táxis começam a dar desconto hoje Corte de 30% é voluntário e vale para sextas e sábados à noite. ● PÁG. C10
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O Brasil vai saber hoje quais serão os primeiros passos na sua luta para chegar ao hexa mundial. E espera dar sorte paranãopegarumachavedifícil no sorteio, sobre o qual Dunga não esconde a ansiedade. A cerimônia começa às 15 horas. ● PÁG. E1
Banco aprovou R$ 39 bi até novembro, quase o dobro de 2008. ● PÁG. B8
ANTEROGRECO
Guia
Anistia geral
Se triunfar, o Flamengo seráhexa?Essabagunçaacabaria se a CBF reconhecesse todos os títulos. ● PÁG. E2 ●●
7 8 9 10 11 12
Casa própria
Caixa tem recorde de empréstimos ●●
Diversão natalina Confira as atrações da cidade para celebrar as festas de fim de ano. ●
Técnico vê ‘açodamento’ para liberar hidrelétrica O ex-coordenador geral de Infraestrutura de Energia Elétrica do Ibama, Leozildo Tabajara da Silva Benjamin, confirmou que seu pedido de demissão do cargo foi causado pela pressão do governo para que o órgão ambiental agilizasse a concessão da licença prévia para o projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte.“Estavahavendoaçodamento”, disse. ● PÁG. B3
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 126 DIAS q PÁG. A11
NOTAS E INFORMAÇÕES
O falso patrono da reforma
A Petrobrás criou uma barreira técnica que dificultará a entrada de equipamentos importados no País, principalmente vindosdaChinaedaÍndia,informa a repórter Raquel Landim. Os empresários brasileiros comemorama medida. Representantes dos importadores veem falta de transparência. ● PÁG. B1
GUI PAGANINI
Ruas da Vila Olímpia, na zona sul, ficaram intransitáveis por causa dos alagamentos de ontem à tarde. Na Rua Gomes de Carvalho, motoristas ficaram ilhados nos veículos. ● PÁG. C5
2 em R$ 11 milhões. Das 20 construtorascitadasna planilha, pelomenosnovefecharam contrato com o governo que tomou posse em 2007. Apenas duas empresas aparecem na prestaçãodecontas de Arruda àJustiçaEleitoral,mascomvalores diferentes. ● PÁG. A4
Nunca antes um presidente teve, como Lula, tantas condições de promover as reformas políticas que diz ter tentado, mas que na verdade não fez porque não quis. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
24º
MÁX.
● PÁG. C2
18º
MÍN.
Frente fria provoca chuva e acentuada queda de temperatura.
Hoje: 210 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 14 ● Guia: 116 ● E. Esportes: 8 ● Cc. Construção: 8 ● Cl. Classificados: 8 (144 anúncios)
CADERNO 2
Loucuras da Raia ●● A atriz Claudia Raia cria
cenário virtual para viajar por 17 capitais com o musical Pernas pro Ar, que estreia hoje em São Paulo. ● PÁG. D4
SEXTA-FEIRA, 4 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 126 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Constituição é taxativa contra censura’ Para Audálio Dantas, é curioso, mais uma vez, o Estado ser vítima de mordaça à informação Moacir Assunção
O jornalista e escritor Audálio Dantas, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo durante os anos de chumbo, sabe bem o que é censura e tem ojerizaa ela. Contraesseinstrumento de ditaduras de todos os naipes, relembra, insurgiramse jornalistas, intelectuais, escritores e democratas em geral, durante a ditadura militar e em vários outros momentos.
MÍDIA
Juíza rejeita ação de filho de Lula contra revista ‘Veja’ A juíza Luciana Novakoski de Oliveira, da 2ª Vara Cível dePinheiros,nacapital,indeferiu ação de indenização por danos morais movida por Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho do presidente Lula, contra a Editora Abril e o repórter Alexandre Oltramari, da revistaVeja. Ajuízaindeferiu ainda outra ação contra os mesmosréus, além dolobista Alexandre Paes dos Santos, que, em conversa com o repórter, cuja transcrição foi anexada a processo judicial, se referiu a Fábio Luís da Silva com termos ofensivos. A primeira ação foi movida após publicação, pela revista,dareportagemORonaldo de Lula, sobre a atuação de Lulinha na empresa Gamecorp. O texto, segundo a juíza,“traçaumparaleloentreo sucesso profissional do autor (da ação), filho do presidente da República, com o jogador defutebolRonaldo,jáqueambos seriam considerados ‘fenômenos’ em suas respectivas áreas”. A juíza acrescenta que “a matéria insinua que tal sucesso decorre de sua filiação e das facilidades de acesso” a pessoas influentes. “O fundo da reportagem é verdadeiro e aborda assunto de relevante interesse público”, diz ela. As sentenças determinam que Lulinha arque com despesas processuais e honorários advocatícios de R$ 20 mil. Cabe recurso. ●
+ 9 ÍNDIOS
Juiz em MS devolve terra baseado no STF O julgamento da demarcação da Reserva Raposa Serra do Sol (RR) valeu para os índios de Mato Grosso do Sul. Com basenadecisãodoSTF,aJustiça Federal devolveu aos índios terenas 392 hectares da Fazenda Santa Bárbara que estavam dentro da Aldeia Limão Verde, em Aquidauana. SENADO
Sarney tira licença médica até quinta O senador José Sarney (PMDB-AP) ficará licenciado atéquinta-feira,porrecomendação dos médicos do Hospital Sírio-Libanês. Segundo suaassessoria,Sarney,queteve diagnóstico de gastroenterite, passa bem. Hoje, embarca para São Luís (MA), onde ficará em repouso.
Informe Publicitário
ERRATA
Srs. Clientes No tablóide de ofertas, da rede de supermercados Rede Smart da região de São Paulo e Grande São Paulo do Estado de São Paulo de 01/12 a 13/12/2009, os produtos AVE FIESTA SADIA KG R$6,99, PERU SADIA TEMPERADO CONGELADO KG R$8,99, PERU CONGELADO TEMPERADO PERDIGÃO KG R$7,99, AVE CHESTER TRADICIONAL PERDIGÃO KG R$7,99, foram anunciados com preço erroneamente, sendo que o preço correto é AVE FIESTA SADIA KG R$8,19, PERU TEMPERADO CONGELADO SADIA KG R$9,99, PERU TEMPERADO PERDIGÃO KG R$9,18, AVE CHESTER TRADICIONAL PERDIGÃO KG R$9,18, ou enquanto durarem os estoques. Agradecemos à compreensão de todos e pedimos desculpas pelo transtorno.
NACIONAL NACIONAL A11 A11
Agora, mais de 20 anos depois dos tempos de arbítrio, ele se espantaao ver de volta o fantasma que julgava banido por causa de sentença do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF). A mordaça impede o Estado de noticiar reportagens da Operação Boi Barrica da Polícia Federal, que investigou e indiciou por vários crimes o empresário Fernando Sarney, filhodopresidentedoSenado,José Sarney (PMDB-AP).
“Não deixa de ser curioso que exatamente o Estadão, um dos poucos jornais da chamada grande imprensa que conviveu com censores em sua redação, seja mais uma vez vítima da mordaça”, disse. Ele se refere ao período entre 1968 e 1975, quando o jornal publicava poemas de Camões – e o Jornal da Tarde, receitas de bolo – em suas páginas para mostrar à sociedade que estava sob censura da ditadura.
“Lutamos muito contra a mordaça à livre opinião e ao livre pensamento e construímos uma Constituição que é taxativa, ao banir a censura do País. De repente, vemos esse instrumento de volta com o Judiciário fazendo o triste papel de censor no lugar dos militares.” SURREAL
ParaAudálio,asituaçãosópode ser classificada como surreal. “O caso do Estado, apesar de
grave,nãoéoúnicoediariamente temos tido notícia de jornais censurados.” Levantamento da Associação Nacional de Jornais (ANJ)constatou12casosdecensura a veículos de informação emvárias partesdoPaíssomente a partir de julho deste ano. Umaagravante nocasoespecífico do Estado, na opinião do jornalista,éotempoquetemdemorado para haver uma resolução – desde 31 de julho, quando o desembargador Dácio Vieira,
do TJ-DF, determinou a censura. “A Justiça é muito rápida em alguns casos como, por exemplo, ao conceder, em meras 24 horas, liminar para os donos de shoppings em relação à lei do estacionamento grátis, mas a censura ao Estado se arrasta, sem solução.” A reclamação do jornal contra a decisão do TJ-DF será julgada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 9.Nopedidode liminarpela derrubada da mordaça, os advogados do Estado sustentam que a decisãodoTJ-DFcontrariasentença na qual o STF revogou a Lei de Imprensa e reforçou o pleno direito à liberdade de informação,aoderrubara legislação da ditadura. ●
� Edição das
23h30
o estado de s. paulo
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
SĂ BADO
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
5 de dezembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42417
COPA 2010 CADERNO ESPECIAL
Brasil pega Portugal na primeira fase da Copa ARTURO RODRIGUEZ/AP
Almir Leite ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO CABO
O Brasil vai enfrentar Portugal, Costa do Marfim e Coreia do Norte na primeira fase da Copa. Para Dunga, o fato de jogar contra equipes “boasâ€? logo no inĂcio “evita a euforiaâ€?. Mas o tĂŠcnico jĂĄ provocou Portugal, que tem trĂŞs brasileiros, ao dizer que serĂĄ o duelo entre Brasil A e Brasil B. JĂĄ a anfitriĂŁ Ă frica do Sul, de Parreira, enfrentarĂĄ França, MĂŠxico e Uruguai. “Talvez a nossa chave seja a mais difĂcilâ€?, admitiu o tĂŠcnico. â—? PĂ GS. H1 a H20
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DANIELPIZA
Uma mistura quase ideal â—?â—? Todo mundo discute se ĂŠ
com a à frica do Sul e, ao mesmo tempo, deu uma gelada na França. As bolinhas se encarregaram de restabelecer a ordem natural, ao empurrarem a atual vice do mundo para a chave dos anfitriþes. � Pà G. H5
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â—?â—? A Fifa mostrou-se gentil
Que azar dos anfitriĂľes
ESTRELAS – Kakå e Cristiano Ronaldo, após o sorteio: companheiros no Real e adversårios na Copa
Pão de Açúcar compra Casas Bahia e cria gigante varejista Com faturamento de R$ 40 bilhþes, grupo iguala Walmart e Carrefour juntos O Grupo Pão de Açúcar anunciou ontem a compra do controle das Casas Bahia, criando um gigante de varejo de alimentos, móveis e eletroeletrônicos, com um faturamento de R$ 40 bilhþes por ano. Com a união, o grupo passa a ter vendas iguais às do Walmart e do Carrefour juntos, seus principais concorrentes. O negócio foi adiantado pelacolunistaSoniaRacynaRådio Eldorado. Pelo acordo, as Casas Bahia serão sócias do Pão de Açúcar numa nova empresa de móveis e eletroeletrônicos, que terå um faturamento anual deR$18,5bilhþes,1.015lojase62 mil funcionårios. O Pão de Açú-
KEINY ANDRADE/AE
FRASE
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AbĂlio Diniz
Dono do Pão de Açúcar
“Senti muita inveja quando vi que as Casas Bahia tinham aberto loja na favela de ParaisĂłpolisâ€?
car ficarĂĄ com 51% do capital e as Casas Bahia, com 49%. Michael Klein, dono das Casas Bahia, prefere dizer que nĂŁo houve venda: â€œĂ‰ uma sociedade nova que estĂĄ sendo montadaâ€?. O alvo do PĂŁo de Açúcar, com a incorporação das Casas Bahia, ĂŠ o mercado das faixas de menor renda. â—? PĂ GS. B1 a B11 e D2
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Em quatro dias, as açþes da Globex, controladora do Ponto Frio, que pertence ao Pão de Açúcar, subiram 95%. A valorização
NOTAS E INFORMAÇÕES
Nova polĂtica da PetrobrĂĄs A polĂtica para compra de mĂĄquinas pode ser preocupação com qualidade ou protecionismo disfarçado. â—? PĂ G. A3
levantou a suspeita de vazamento do negĂłcio com as Casas Bahia. O anĂşncio, entĂŁo, foi antecipado em uma semana. â—? PĂ G. B10
Tempo: CAPITAL
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Dia fica chuvoso e a temperatura cai.
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Ação dispara e anúncio Ê antecipado ���
ANTEROGRECO
SĂ“CIOS – Michael Klein e AbĂlio Diniz: conversa começou hĂĄ 2 meses
Após vazamento, Enem começa hoje
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ESPORTES
Todos de olho no GrĂŞmio
melhor ter adversĂĄrios fracos ou fortes na primeira fase: os fracos permitiriam condicionamento; os fortes seriam o “batismo de fogoâ€?. O grupo do Brasil ĂŠ, como no penta em 2002, um mix quase ideal. â—? PĂ G. H7
Caixa 2 no DF cita empresas ligadas a parlamentares O “mensalĂŁo do DEMâ€? vai alĂŠm de pagamentos a aliados do governador JosĂŠ Roberto Arruda (DEM). HĂĄ suspeita de que empresas ligadas a parlamentares ganharam contratos do governo do Distrito Federal em troca de bancar o caixa 2 da campanha eleitoral de Arruda em 2006. A revelação da planilha desse esquema, feita pelo Estado, derrubou o presidente do PSDB-DF, MĂĄrcio Machado, autor da lista. â—? PĂ GS. A4 a A7
Dois dias de temporais em SP deixam 11 mortos As fortes chuvas que atingiram SĂŁo Paulo nas Ăşltimas 48 horas deixaram pelo menos 11 mortos em soterramentos – 8 na Grande SĂŁo Paulo. Em MauĂĄ,apenas em 12 horas ocorreram 60 deslizamentos. Os temporais afetaram 21 municĂpios desde terça. â—? PĂ GS. C1 a C5
COADERNO 2 prĂłximo livro do escriâ—?â—?
toralemĂŁo Ingo Schulze terĂĄ a AmazĂ´nia como tema. â—?
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 127 DIAS q PĂ G. A11
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Hoje: 178 pĂĄginas
A. 1Âş caderno: 38 â—? B. Economia: 24 â—? C. MetrĂłpole: 10 â—? D. Caderno2: 18 â—? E. Esportes: 8 â—? Es. Estadinho: 8 â—? H. Copa 2010: 20 â—? H. Focas: 8 â—? Ca. Autos: 30 â—? Ci. ImĂłveis: 14 (3.790 anĂşncios)
Cerca de 4,1 milhĂľes de estudantes em todo o PaĂs realizam hoje e amanhĂŁ o Enem. SĂŁo 180 questĂľes, que servirĂŁo como seleção para 25 uni-
versidades federais. A prova seria realizada em outubro, mas o vazamento de seu conteĂşdo, revelado pelo Estado, levou ao adiamento. â—? PĂ G. A25
�� O Grêmio deixou para hoje a divulgação do time que enfrentaråoFlamengo,nojogo que pode decidir o Brasileiro. A equipe deverå ter vårios desfalques. � Pà G. E1
Em O Sapo e a Princesa, umacomĂŠdiadeerrosmistura tudo na fĂĄbula.â—?
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SÁBADO, 5 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 127 DIAS
NACIONAL NACIONAL A11 A11
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Repórteres sem Fronteiras critica País Moacir Assunção
A organização não-governamental Repórteres sem Fronteiras mandou uma carta abertaaogovernobrasileiroparapedir a intervenção federal em alguns casos que envolvem liberdade de expressão – entre eles a censura imposta ao Estado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). São citados, também, o caso do jornalista Antônio Muniz, comentarista de TV e colunista do jornal O Rio Branco, preso no Acre por supostas ofensas ao senador Tião Viana (PT), e de dois blogs tirados da internet por ordem judicial.
Carta aberta pede intervenção federal em casos de censura e prisão Na correspondência, assinada pelo secretário-geral JeanFrançois Julliard e endereçada aosministrosTarsoGenro(Justiça) e Hélio Costa (Comunicações),aONG denunciaqueojornalista acreano está preso em Rio Branco com base na Lei de Imprensa, extinta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em maio deste ano. Odocumentotambémcondena a censura aoEstado, apartir deliminar obtida pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) e deplora a proibição de circulação dos blogs www.prosaepolitica.com.br, da jornalista Adriana Vandoni, e do www.paginadoenock. com. br, de Enock Cavalcanti, pela Justiça de Mato Grosso, a pedido do deputado e presidente da
Assembleia Legislativa, José Geraldo Riva (PP), que teriasidocriticadopelos jornalistas. A mordaça ao Estado écitadacomdestaquenacarta, em uma crítica à decisão do TJ-DF, que determinou o envio do processo à Justiça do Maranhão. “Transferir o processopara um tribunal do Estado do Maranhão, cuja governadora, Roseana Sarney, é irmã de (Fernando) Sarney, leva a umflagrante conflito de interesses”, afirma Julliard na carta. Fernando, que entrou comaliminar pedindocensura ao Estado, foi investigado pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica e indiciado por vários crimes. Os casos, para a ONG, representam “um ataque direto ao princípio da liberdade deexpressãoeopiniãoconsagradona Constituiçãodemocrática de 1988”.Depois de ser condenado a um ano de prisão, em 2002, sob a acusação de difamar Viana em um artigo de 1999, Muniz conseguiuqueapena fossesuspensa.Naquarta-feira,entretanto, foi preso.
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AVANÇOS
A ONG reconhece que houve avanços em termos de liberdade de imprensa no Brasil, mas isso ainda não se refletiu nos Estados e na Justiça. “A soberaniadosEstadosindividuais em um sistema federal só é aplicável enquanto princípios constitucionais fundamentais não sejam violados”, afirma a ONG no documento. Procuradas, as assessoriasdosministrosTarsoGenro e Hélio Costa não retornaram aos telefonemas. ●
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Edição de 0h15
o estado de s. paulo DOMINGO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 4,00. Demais Estados: ver tabela na página A2.
(1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
6 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42418
RODRIGO LOBO/JC IMAGEM – 15/11/2009
tv&lazer
Guerra de viúvas Marília Gabriela e Maria Padilha estão no elenco de Cinquentinha, minissérie que estreia na terça. ●
ANTONIO MILENA/AE
JULIO MESQUITA
CLASSIFICADOS
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Suspense até o fim
é o total de ofertas
O Brasileiro mais emocionante da era dos pontos corridos chega ao fim hoje, com o Flamengo de Adriano muito perto do título.
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● PÁGS. E1 a E6
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empregos Mercado para executivos está aquecido. ●
LOURIVAL RIBEIRO/AGNEWS
Patrimônio de Arruda cresce1.060% Em sete anos, soma de bens do governador do DF passa de R$ 600 mil para R$ 7 milhões em 2002 e 2006, a soma dos bens do governador não passava de R$ 600 mil. Agora, o patrimônio real da família Arruda, só em imóveis em Brasília, acumula um valor de mais de R$ 7 milhões. Da posse como governador, em 2007, para cá, há pe-
O patrimônio do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, filmado recebendo dinheiro vivo no escândalo do “mensalão do DEM”, cresceu 1.060% em sete anos, informa o repórter Rodrigo Rangel. Nas declarações à Justiça Eleitoral,
Eleição testa projeto de ‘refundação’ da Bolívia
A massa podre dos mensalões ●●● A corrupção é a face cruel de um sistema político em que a democracia solapa a República, diz o historiador José Murilo de Carva-
lho. “Não creio em democracia sólida num país em que a população acredita que ser político e ser corrupto é uma coisa só.” ● ALIÁS
lo menos dois casos de imóveis comprados por terceiros – entre eles um empresário do setor de transportes de Brasília – e depois transferidos para filhos de Arruda. A lista de bens inclui aquisições recentes. Em 17 de setembro,ogovernador,quere-
‘Mudança climática não é monopólio de ambientalista’
CLAYTON DE SOUZA/AE
OBRAS CARAS: MEIO AMBIENTE COBRA A FATURA
OpresidenteEvoMoralesdeve dar, na eleição de hoje, um dos mais importantes passos para a consolidação de seu projeto de “refundar” a Bolívia. Cada vez mais popular, ele deve se reeleger com facilidade. A dúvida é saber se Evo terá maioria absoluta no novo Congresso, que será responsável por redesenhar as estruturas do Estado boliviano. ● PÁGS. A14 a A17
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), acredita que a mudança do clima deixou de ser “um quase monopólio dos ambientalistas” e se tornou um tema econômico importante. Em entrevista ao Estado, Serra, que estará na Conferência do Clima que começa amanhã, em Copenhague, acredita que haverá acordo. Para ele, a pressão da opinião pública está sendo decisiva para isso. ● PÁG. A28
80% já sentem efeitos do aquecimento no Brasil
CULTURA Diálogos teatrais
BAPTISTÃO
●● Nikolai
Gógol e Arthur Miller ganham edição simultânea de suas peças. ●
●●● Funcionário trabalha no Ro-
doanel, em trecho próximo a área de proteção; o empreendimento
é um dos exemplos de como as exigências ambientais têm encarecido as obras de infraestrutura
no País – há casos em que o valor chega a aumentar 30% por causa disso. Para especialistas, a ten-
dência é a conta subir ainda mais no futuro, em razão da conscientização da sociedade. ● PÁG. B1
Pedofilia
SP tem índice baixo de delações Estado só está à frente do Amapá em número de denúncias. ● PÁGS. C1 e C3 ●●
Rússia
Incêndio em casa noturna mata 109 Tragédia foi provocada por fogos de artifício. Dono está preso. ● PÁG.A24
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cebe R$ 16 mil por mês, comprou cinco salas em prédio comercial com localização nobre em Brasília, por R$ 1,6 milhão. “O patrimônio é absolutamente compatível com a renda que ele tem”,dizCláudioFruet,advogado de Arruda. ● PÁGS. A4 a A9
NOTAS E INFORMAÇÕES
Clima incerto em Copenhague Nesse ritmo, os efeitos da mudança climática continuarão a superar a disposição da comunidade das nações em conter as suas causas. ● PÁG. A3
Tempo: CAPITAL
26º
MÁX.
● PÁG. C2
16º
MÍN.
Pancadas de chuva à tarde. A temperatura sobe.
Atrasos marcam 1º dia do Enem
Dramaturgo e músico são baleadosemSP
Centenas de alunos não fizeram ontem o Enem porque chegaram após o fechamento dos portões. Estudantes reclamavam das mudanças nos locais das provas e temiam nova fraude. ● PÁG. A30
O dramaturgo Mário BortolottoeomúsicoCarlosCarcará foram baleados durante assalto ontem no bar do Espaço Parlapatões, no centro deSão Paulo. Bortolottoestá em estado grave. ● PÁG. C5
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Análise, a pedido do Estado,revelaque80%dosbrasileiros já notaram alguma mudança climática nos últimos anos. Desses, 89% classificaram os efeitos como ruins. O aquecimento global é conhecido por nove em cada dez entrevistados. Para 68%, o Brasil deve fazer sua parte, mesmo que outros países não combatam o problema. ● PÁG. A29
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 128 DIAS q PÁG. A12
Tiragem: 314.542 Hoje: 256 páginas A. 1º caderno: 32 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 8 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 36 ● F. Feminino: 24 ● Ca. Autos: 32 ● Ce. Empregos: 8 ● Ci. Imóveis: 38 ● Co. Oportunidades: 10
COLUNISTA
SUELY CALDAS
A Previdência tem de garantir a aposentadoria dos idosos hoje e dos jovens no futuro. ● PÁG. B2
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A12 NACIONAL
DOMINGO, 6 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
SUCESSÃO
Montagem de novo comando divide PT
CELSO JUNIOR/AE-15/9/2007
Grupo de Marta Suplicy quer tirar Secretaria-Geral da ala de Tarso
ficaropartidoem2010,adiscussão precisa ser mais política do que numérica. “A meta do PT é se preparar para eleger a companheira Dilma. Não há definiçãosobrenenhumcargonadireçãodoPT”,insistiuDutra.“Este é o momento de chamar todo mundo para um pacto de unidade. Não existe tendência que construa o PT sozinha”, emendouFranciscoRocha,coordenador da tendência CNB. O embate, no entanto, continualonge dos holofotes. O deputadoJoãoPauloCunha(SP),réu noprocessodomensalão,écotadoparaaSecretariadeComunicação do PT, que terá forte influência na campanha de Dilma. João Paulo, hoje, já integra o Grupo de Trabalho Eleitoral do partido, a exemplo do que fazia em outras campanhas de Lula. TESOUREIRO
Vera Rosa BRASÍLIA
A montagem da nova Executiva Nacional do PT já provoca queda de braço entre as correntes petistas nos bastidores. As divergênciasocorrem naantessala do ano eleitoral de 2010, quando o partido terá o maior desafio de seus 30 anos dehistória: emplacar a ministra da CasaCivil,DilmaRousseff,noPalácio do Planalto. Escudados no fortalecimento obtido na eleição direta, com voto dos filiados,que escolheu José Eduardo Dutra para presidir o PT, discípulos da ex-prefeita Marta Suplicyqueremtirarocargodesecretário-geral – o segundo na hierarquia partidária – do grupo do ministro da Justiça, Tarso Genro. “Nós defendemos a proporcionalidade e, por esse critério, a nossa chapa deve ficar com os três postos estratégicos, que são Finanças, Secretaria-Geral e Organização”, afirmou o deputado Jilmar Tatto (SP), da corrente PT de Lutas e de Massas (PTLM). “Não vamos tensionar, mas é uma questão de justiça.” O grupo de Tatto e a ala Novo
Rumo – que giram como satélites em torno de Marta – fecharam acordo com a tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), do ex-ministro José Dirceu, para apoiar Dutra. Eles negam ter feito qualquer exigência,masocomentárionoscorredores do PT é de que pediram a Secretaria-Geral, hoje ocupada pelo deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP). Em conversasreservadas, o nome mais citadopara olugar deCardozoé o do deputado Rui Falcão, líder do PT na Assembleia paulista. AliadodeTarso,principaldesafeto de Dirceu no mosaico ideológico do petismo, Cardozo fazdetudo para passarlonge da polêmica. “É natural que as correntes indiquem os cargos dentroda correlação de forçasobtida com o resultado eleitoral”, amenizou. Tanto ele como sua chapa,MensagemaoPartido,ficaramemsegundolugarnaconfiguração petista que saiu das urnas após a eleição do último dia 22. Na dança das cadeiras da Esplanada, o secretário-geral do PTtambémtemonomelembrado para substituir Tarso, que deixará a Justiça para concorrer ao governo gaúcho, em
BASTIDORES – Aliado de Tarso, o deputado José Eduardo Cardozo poderá ser substituído por Rui Falcão
Petistas do Rio definem hoje nova direção estadual ●● ● A divisão entre tendências, as adesões de última hora e a pressão exercida por ministros e demais autoridades acirraram ainda mais o segundo turno da eleição à presidência do PT do Rio entre o deputado Luiz Sérgio e o ex-subsecretário estadual de Direitos Humanos Lourival Casula. Mais do que o comando estadual, está em jogo como o PT deverá participar da eleição de 2010: apoiando a reeleição do Sérgio Cabral
(PMDB) ou com candidatura própria – do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias. Mais de 35 mil petistas são esperados hoje para participar da segunda votação. Vencedor do primeiro turno com 39% dos votos válidos, Luiz Sérgio mudou radicalmente de discurso na reta final. Depois de defender a aliança com Cabral já no primeiro turno, agora fala em esperar a diretriz que será estabelecida pelo congresso na-
cional do partido, em fevereiro. Para Lindberg, o deputado percebeu que o discurso em favor da aliança com Cabral “não agradava a quase ninguém no partido”. “A votação nas chapas para o congresso estadual já nos deu 55% dos delegados. A eleição de Casula pode facilitar, mas a tese da candidatura própria já saiu vencedora no primeiro turno.” ●
2010. Talvez por isso não queira encrenca.
terá direito a 10 das 21 cadeiras da Executiva do PT . Poderá ocupar, ainda, 45 dos 81 assentos do Diretório Nacional. Com o apoio das facções PTLM e Novo Rumo, a corrente praticamente ressuscitou o antigo
Campo Majoritário, que deteve a hegemonia no comando petista até 2005, quando estourou o escândalo do mensalão. Embora seguidores de Marta reivindiquem a Secretaria-Geral,Dutratemditoque,parauni-
PACTO
Vitorioso na disputa interna, o grupo de Dutra – o mesmo de Dirceu e do presidente Lula –
ALFREDO JUNQUEIRA
Se não houver imprevisto de última hora, também está certo que o ex-secretário-geral da CUT João Vaccari Neto será o tesoureiro do PT. Alvo dos adversários no escândalo do mensalão, a gestão da Secretaria de Finanças–quenacrisefoidirigidapor DelúbioSoares –preocupa o governo. Vaccari é homem da confiança de Lula, como Delúbio, e ajudou a arrecadar doações para váriascampanhasdopetista,incluindo a última, de 2006. SegundosuplentedosenadorAloizio Mercadante (PT-SP), o sindicalista enfrenta investigação noMinistérioPúblicosobredesvios de recursos da Bancoop, a cooperativa habitacional dos bancários, para o PT. “Isso já foi profundamente investigado e reinvestigado. Não há nenhuma irregularidade”, garantiu o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). Na prática, porém, o que pode impedir a ida de um ou outro nome para a Executiva é muito mais o caráter regional do que o ético.Noconfronto entreasfacções, petistas lembram que São Paulo já tem vários assentos no comando partidário e querem ampliar a direção para além das fronteiras do Sudeste. ●
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 128 DIAS
Para Konder, mordaça viceja onde não existe liberdade Moacir Assunção
O jornalista e escritor RodolfoKonder, de 71 anos, já completou quase 45 de “convivência” nem um pouco pacífica com a censura, desde que começou a trabalhar como repórter em 1965 na agência Reuters. Hoje diretor da seção paulista da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), jamais deixa de se indignar com a mordaça, que considera uma marca inconfundível dos regimes autoritários. “O vírus do autoritarismo está solto por aí. Aliás, nesse governo há setores que veem a imprensa com muita restrição, mas, no mundo inteiro, a censura viceja exatamente onde não há liberdade, casos de Cuba, Irã e Coreia do Norte, por exemplo”, disse o jornalista, que classificou a censura ao Estado, por liminar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), como “um absurdo.” Desde 31 de julho, o Estado está proibido de publicar reportagens já apuradas sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Responsável pela liminar que pediu a mordaça, Fernando foi indiciado por vários crimes. O caso deve ser julgado na quarta-feira pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Uma declaração recente do ministro da Cultura, Juca Ferreira, segundo a qual “os jornalistas são pagos pa-
ra mentir”, ajuda a demonstrar, para Konder, que há um certo ranço no atual governo com a imprensa livre e a crítica. “No fundo, ele demonstrou que há uma tendência autoritária do governo, que fica incomodado com a imprensa”, observou Konder. QuestionadopelaAssociação Nacional de Jornais (ANJ) e Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o ministro se retratou em seguida e disse não ter intenção de generalizar a crítica a todos os profissionais. AUTORITARISMO
ParaKonder, queesteve preso com o também jornalista Wladimir Herzog – morto na tortura durante a ditadura militar –, a sociedade precisa ficar atenta a tentativas autoritárias de manietar a imprensa. “Temos de discutir o assunto sempre e denunciar toda vez que se tentar oprimir a livre expressão do pensamento, em suas várias formas”, defendeu. Para ele, um dos papéis da ABI, entidade centenária do jornalismo, é exatamente o de lutar contra o arbítrio. Durante sua trajetória, relata o jornalista e autor de 21 livros, a censura se manifestou pela primeira vez ainda de forma moderada no governo Castelo Branco, em 1965. “Depois, com a promulgação do AI-5, em 1968, e o endurecimento do regime militar, a mordaça também foi se tornando mais presente. Somente a democracia nos protege contra o poder”, disse. ●
Toffoli ganha vaga de substituto no TSE O ministro José Antonio Dias Toffoli, mais novo integrante do Supremo Tribunal Federal (STF), foi eleito na quinta-feira passada para uma vaga de ministro-substituto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O exadvogado-geral da União já advogou perante o tribunal para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante suas campanhas ao Palácio do Planalto. Toffoli substituirá a também ministra do Supremo Cármen Lúcia Antunes Rocha, que agora passará a ocupar uma cadeira efetiva no Tribunal Superior Eleitoral. MUNICÍPIOS
Prefeito é condenado a devolver R$ 52 mil O prefeito de Marabá Paulista, José Monteiro da Rocha (PSDB), foi condenado a devolver R$ 52,4 mil aos cofres públicos por ter exercido dois cargos quando era vice-prefeito. Entre 2000 e 2004, ele também trabalhou como bancário na Nossa Caixa. Rocha já recorreu da sentença do juiz Darci Lopes Beraldo, do Fórum de Presidente Venceslau. “Sou inocente. Consultei para saber se havia algum impedimento e o setor jurídico informou que nada impedia o acúmulo de função”, disse. JUSTIÇA
STF derruba suspensão imposta a procurador O procurador Williams João Silva conseguiu sustar no Supremo Tribunal Federal (STF) uma suspensão de 45 dias de suas atividades profissionais, assim como dos direitos e vantagens decorrentes do cargo por ele ocupado, sob acusação da prática de crimes ambientais. A punição havia sido imposta pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), mas o ministro do STF Ricardo Lewandowski entendeu que o órgão excedeu o limite legal na aplicação da punição ao procurador, que atua no Acre.
A8 NACIONAL
SEGUNDA-FEIRA, 7 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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SUCESSĂƒO
Terceira via em 2010 ĂŠ quase impossĂvel, indica pesquisa
PARTIDOS
Rossi prepara chapa para enfrentar QuĂŠrcia Um grupo de peemedebistas liderados pelo deputado Francisco Rossi (SP) decidiu desafiar o domĂnio do ex-governador Orestes QuĂŠrcia (SP) no diretĂłrio estadual do partido. Rossi preparou anteontem o registro de uma chapaparadisputarocomando da sigla na convenção do prĂłximo fim de semana, para tirarQuĂŠrciadapresidĂŞncia.
Corrida nĂŁo serĂĄ plebiscitĂĄria, mas polarizada entre PSDB e PT, diz professor da PUC-RJ Wilson Tosta RIO
O resultado de um estudo de quatro pesquisadores sobre a eleição presidencial de 2006 indica a virtual impossibilidade de uma terceira via na sucessĂŁo em 2010. O PaĂs voltarĂĄ a viver uma disputa polarizada entre tucanos e petistas, segundo um dos quatro pesquisadores, professor CĂŠsar Romero Jacob, da PUC do Rio. Ao analisar o cenĂĄrio da divisĂŁo eleitoral do Brasil na Ăşltima corrida pelo PalĂĄcio do Planalto, os estudiosos notaram que ele pode se repetir. Em 2006, nas regiĂľes Norte e Nordeste, onde os programas sociais, como o Bolsa-FamĂlia, foram mais fortes, o presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva teve ampla vitĂłria. JĂĄ na regiĂŁo Centro-Sul, onde o dĂłlar barato derrubou o agronegĂłcio, o tucano Geraldo Alckmin teve melhor desempenho. Em 2010, as condiçþes nĂŁo devem variar, porque hĂĄ uma nova e franca desvalorização da moeda americana e, paralelamente, mais beneficiĂĄrios no principal programa social do governo. “NĂŁo acho que essa divisĂŁo de votos entre Norte/Nordeste eCentro/Sul tenharelação com a questĂŁo da escolaridadeâ€?, diz Jacob. “Tucanos poderiam achar que o presidente Lula caiu nas regiĂľes mais ricas porque os escândalos do mensalĂŁo calaram no eleitorado mais informado. Mas prefiro a mĂĄxima de Delfim Netto: o bolso ĂŠ a parte mais sensĂvel do homem.â€? O estudo foi publicado na revista acadĂŞmica Alceu, sob o tĂtulo “A Eleição Presidencial de 2006 no Brasil: Continuidade PolĂtica e Mudança na Geografia Eleitoralâ€?. AlĂŠm de Jacob, foi assinado por Dora Rodrigues Hees, da PUC, Philippe Waniez, da Universidade de Bordeaux, França, e Violette Brustlein, do Centro Nacional de Pesquisa CientĂfica, da França. Para estudar o comportamento dos eleitores, os pesquisadores adotaram a divisĂŁo do
TERRAS
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OConselhoNacionaldeJustiça iniciou em MarabĂĄ (PA) o primeiro mutirĂŁo fundiĂĄrio para acelerar a tramitação de processos de reintegração de posse e desapropriação. SerĂĄ a Ăşltima chance de acordo para a desocupação de16fazendas,antesqueapolĂciacumpraordensdereintegração. Os trabalhos seguem atĂŠ o fim desta semana.
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CNJ faz mutirĂŁo para desocupar fazendas
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OPERAĂ‡ĂƒO ANACONDA
STJ nega recurso ao ex-juiz Rocha Mattos
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Brasil em 558 microrregiĂľes, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂstica (IBGE). Lula e Alckmin ganharam mapas distintos do PaĂs, nos quais cores e tons mais escuros mostravam as maiores proporçþes de votos. Os modelos mostram a predominânciadomarrom,vermelho, ocre e laranja nas regiĂľes onde o presidente reeleito obteve maior proporção de votos, e de azul escuro nas parte onde o tucano se saiu melhor. Os dois ganharam votos por todo o PaĂs, diferentemente da terceira colocada, HeloĂsa Helena (PSOL), cuja votação concentrou-se nas grandescapitais, no Estado do Rio e em Alagoas. “PorissonĂŁoacreditona ter-
ceira viaâ€?, afirma Jacob. “Nas grandes capitais, tem mercado polĂtico para tudo – mas nĂŁo necessariamente para ganhar.â€? Segundo o pesquisador, nenhum candidato consegue ser viĂĄvel nacionalmente sem recorrer Ă fĂłrmula usada por Fernando Collor de Mello, em 1989, repetida por Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998, e, finalmente, por Lula, em 2002 e 2006. Ela conjuga a adesĂŁo de oligarquiasquedominampoliticamente o interior, o apoio de pastores evangĂŠlicos pentecostais e de polĂticos populistas – nas periferias dos grandes centros urbanos – e um discurso ideolĂłgico para a classe mĂŠdia das grandes cidades. O tom ĂŠ calibradocomaajudadepesqui-
sas de opiniĂŁo qualitativas, que possibilitam ao candidato dizer aquilo que o eleitor quer ouvir. SEM SINTONIA
Osterceiroscolocadosnadisputa desde a primeira eleição pĂłsditadura nĂŁo tinham nada em comum, em termos territoriais, dizele. “LeonelBrizola tinhavotaçãoconcentrada noRio deJaneiro e no Rio Grande do Sulâ€?, cita Jacob. “EnĂŠas Carneiro teve mais votos nas periferias das regiĂľes metropolitanas, de viĂşvas de Collor. Em 1998, Ciro Gomes teve votos no Nordeste, em BrasĂlia e nas capitais. JĂĄ Anthony Garotinho teve votos dos fiĂŠis deigrejaspentecostaisnasperiferias, mais Rio e Pernambuco.
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 129 DIAS
HeloĂsa Helena teve voto urbano, nas capitais.â€? Jacob lembra que a senadora Marina Silva (PV-AC), possĂvel candidata pelo PV, seria uma candidata temĂĄtica, como HeloĂsa.Brigaria,portanto,apenas pelo eleitorado das grandes cidades, onde hĂĄ real disputa ideolĂłgica e programĂĄtica. O professor acredita que a eleição nĂŁo terĂĄ um carĂĄter plebiscitĂĄrio, como deseja o PT. Mas serĂĄ polarizada, como acontece hĂĄ 15 anos. O fato novo ĂŠ que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a ungida por Lula para disputar o cargo pelo PT, tem base polĂtica no Rio Grande do Sul – Estado onde o presidente perdeu em 2006. â—?
A 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça rejeitou habeas-corpus e manteve condenação do ex-juiz federal JoãoCarlosdaRochaMattos –presonaOperaçãoAnaconda,da PF,em2003 –e do policial CÊsar Herman Rodriguez por peculato e prevaricação. Mattos foi acusado de integrar esquema de venda de sentenças. Ele nega. TRANSPARÊNCIA
ONG lança relatĂłrio sobre corrupção O Movimento de Combate Ă Corrupção Eleitoral divulga quarta-feira relatĂłrio inĂŠdito de transparĂŞncia que analisa a corrupção no mundo do ponto de vista do setor privado. O lançamento serĂĄ no seminĂĄrio Superando a Cultura da Corrupção, que ocorre atĂŠ odia10emBrasĂliaevaidebater açþes para o combate Ă corrupção e Ă impunidade.
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proĂbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negĂłcios do empresĂĄrio, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens jĂĄ apuradas sobre o caso
Jornalista critica censura por prazo ‘indeterminado’ ao ‘Estado’ Presidente do Sindicato dos Jornalistas do DF, RomĂĄrio Schettino diz que PaĂs precisa resolver falta de regulação para crimes de imprensa Moacir Assunção
O presidente do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, RomĂĄrio Schettino, demonstra perplexidade com a censura ao Estado determinada pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), que se estende, de forma ininterrupta, desde 31 de julho. A situação, em sua visĂŁo, reflete uma novidade negativa na atuação do JudiciĂĄrio e demonstra que os problemas causados pela falta de regulação podem ser mais graves do que se supunha. “JĂĄ vi vĂĄrias vezes o JudiciĂĄrio impedir a veiculaçãode umdeterminado assunto por prazo definido, mas com prazo indeterminado, como o caso do EstadĂŁo, ĂŠ a primeira vez que observoâ€?, disse. AlĂŠm da demora na queda da mordaça, chama a atenção do jornalista, que tem passagens pelo Correio Brasiliense e Jornal de BrasĂlia,oprĂłprioobjetocontestadopelapartecontrĂĄriaaojornal, o empresĂĄrio Fernando
Sarney, filho do presidente do Senado, JosĂŠ Sarney (PMDBAP). “A censura nĂŁo faz sentido. Se uma pessoa se sentir prejudicada pelo noticiĂĄrio, deve entrar com ação indenizatĂłria, depois da publicação, para pedir reparaçãoâ€?, afirmou. Investigado na Operação Boi Barrica, da PolĂcia Federal, Fernando, que cuida dos negĂłcios da famĂlia, foi indiciado por vĂĄrios crimes. ‘VĂ CUO’
HĂĄ, entretanto, na visĂŁo do sindicalista, um problema ainda maiscomplicadoque oPaĂsprecisa resolver, sob pena de a censura aparecer em outros momentos no cenĂĄrio jurĂdico – a falta de regulação para os chamados crimes de imprensa, que faz com que as decisĂľes na ĂĄrea fiquem nas mĂŁos de juĂzes de primeira instância. “Isso foi causado pela extinção da Lei de Imprensa que, bem ou mal, garantia alguma forma de regulação. O cenĂĄrio atual ĂŠ ruim para os jornais, os jornalistas e as fontes de informaçãoâ€?, disse. ALei 5.250/67,maisconheci-
FRASES
RomĂĄrio Schettino Presidente do Sindicato dos Jornalistas do DF “JĂĄ vi vĂĄrias vezes o JudiciĂĄrio impedir a veiculação de um determinado assunto por prazo definido, mas com prazo indeterminado, como o caso do EstadĂŁo, ĂŠ a primeira vezâ€? “Isso foi causado pela extinção da Lei de Imprensa, que, bem ou mal, garantia alguma regulaçãoâ€?
da como Lei de Imprensa, foi derrubadapeloSupremoTribunal Federal (STF), por ter sido editadadurantea ditaduramilitar e nĂŁo se enquadrar Ă Constituição de 1988. Omaior problema da faltade regulação, na opiniĂŁo de Schettino, ĂŠ que fica somente ao arbĂtrio dos juĂzes definir o que pode ou nĂŁo ser considerado abuso de liberdade de imprensa. “A relação entre os veĂculos de comunicação e os cidadĂŁos em geral se baliza em regras especĂficas, que nĂŁo estĂŁo contempla-
das em nenhum lugar, o que gera um vĂĄcuo jurĂdico, que nĂŁo contribuiparaesclarecerascoisasâ€?, defendeu. NOVA LEI
Para o jornalista, a sociedade precisa exigir que o Congresso legisleomaisrĂĄpido possĂvelsobre o assunto. “HĂĄ uma ausĂŞncia de regulação, que ĂŠ prejudicial a todas as partes envolvidas. Diante de situaçþes como estasqueatingem o Estado, entre outros jornais, nĂŁo hĂĄ muito o que fazer, embora o Supremo tenha definido que os veĂculos podem recorrer Ă prĂłpria corte parasanar problemasâ€?, comentou. “Precisamos evitar que os juĂzes de primeira instância se arvorem no direito de dizer o que a imprensa pode ou nĂŁo publicar.â€? O caso do Estado serĂĄ julgado na prĂłximaquarta-feira pelo plenĂĄrio do STF. Os advogados do jornalpedem aderrubada da liminar que permitiu a censura, lembrando que a decisĂŁo do TJDF contraria asposiçþes recentes da prĂłpria corte suprema, favorĂĄveis Ă liberdade de expressĂŁo e de opiniĂŁo. â—?
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
TERÇA-FEIRA
Crise mudou condições de negociação sobre fundo de ajuda, dizem europeus tes, como o Brasil. Trata-se do principal meio de financiar açõescontraoaquecimentoglobal, com € 100 bilhões por ano entre 2013 a 2020. A discussão ocorreu nos bastidores da Conferência do Clima, que começou ontem em Copenhague em tom otimista. Negociadores eu-
ENVIADOS ESPECIAIS A COPENHAGUE
Cinco são denunciados por fraude no Enem
ANÁLISE
Herton Escobar
Tudo depende dos números Sem uma meta clara de redução de emissões e sem ajuda financeira aos mais atingi-
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dos pelas mudanças climáticas, Copenhague será um fracasso. ● PÁG. A18
ANDRE LESSA/AE
Com a União Europeia à frente, os países industrializados estão se recusando a repassar recursos dos fundos de Adaptação e Mitigação aos países emergen-
ropeus e sul-americanos alertam que, sem o entendimento sobre o repasse de recursos, as chances de acordo são baixas. Paraoseuropeus,a criseeconômica, que afetou mais os países industrializadosdoqueosemergentes, alterou as condições de negociação. ● PÁGS. A17 e A18
Arruda põe aliados na Câmara para reagir O governador José Roberto Arruda,acusadodelideraro“mensalãodoDEM”,tentaagoracontrolar a Câmara do Distrito Federal para salvar seu mandato. Ele recolocou na Casa dois deputados tarimbados de seu partido, que ocupavam secretarias importantes: Eliana Pedrosa (Desenvolvimento Social) e Paulo Roriz (Habitação). Ontem, o PMDB decidiu deixar o governo – é o sexto partido a romper com Arruda. ● PÁG. A4
O governo vai financiar, por meio do BNDES, cerca de 60% (R$ 20,9 bilhões) do projeto do trem-balaCampinas-SãoPauloRio, estimado em R$ 34,6 bilhões. Além disso,a União deverá ter participação de cerca de 30% do capital da empresa que será criada para construir e administrar o trem. Segundo o secretário executivo do Ministério dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, o leilão deverá ocorrer em maio de 2010. ● PÁG. B1
Mais de 9 mil caem no golpe de visto para os EUA
Vandalismo
Estádio do Coritiba é interditado Pena máxima é perda de dez mandos de campo e multa de R$ 200 mil. ● PÁG. E1
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Bolívia
A Operação Anarquia do Ministério Público Estadual (MPE) desarticulou ontem uma quadrilha internacional especializada em fraudar o processo de obtenção de visto de trabalho nos EUA. Onze pessoas foram presas em São Paulo, Uberlândia (MG), Palhoça(SC)e Curitiba(PR). Cerca de 1.800 vítimas foram identificadas, mas o total pode superar 9 mil. ● PÁG. C4
NOTAS E INFORMAÇÕES
A reeleição de Evo Morales No segundo mandato, Evo Morales terá de conciliar as suas plataformas nativistas com as demandas das organizações indígenas pela auto-gestão das suas áreas. ● PÁG. A3
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●● Presidente reeleito obteve maioria na nova Assembleia, diz projeção. ● PÁG. A13
Ladrõesfazemtúnele levamR$20milhões ENGENHOSO - Carrinhos usados por ladrões para retiraro dinheiro de transportadora de valores; no detalhe, o acesso para o túnel
Tempo: CAPITAL
25º MÁX.
● PÁG. C2
O glamour das heroínas ●● Livro revê o papel
da mulher nas histórias em quadrinhos. ●
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final do Brasileiro para efetuar o crime sem chamar a atenção. Os malotes foram retirados em carrinhos feitos sob medida para o túnel, cuja estrutura impressionou os policiais. ● PÁGS. C1 e C3
CADERNO 2
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Frente fria deixa o tempo chuvoso.
Hoje: 86 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 12 ● Cl. Classificados: 4 (483 anúncios)
Ladrões levaram anteontem cerca de R$ 20 milhões de uma transportadora de valores na zona oeste de São Paulo. O grupo comprou uma casa vizinha à empresa há sete meses, fez um túnel de 150 metros e esperou a
VIAGEM AVENTURA
ELIANA APONTE/REUTERS
milhões foram arrecadados pela quadrilha
Morales comemora controle legislativo
DIVULGAÇÃO
R$ 90
DIRETOR:
RUY MESQUITA
BNDES vai bancar até 60% do projeto do trem-bala
O Ministério Público Federal denunciou cinco envolvidos na tentativa de fraudar o Enem, adiado em outubro após o Estado avisar o Ministério da Educação sobre o vazamento da prova. Os acusados foram denunciados pelos crimes de peculato, corrupção passiva, violação de sigilo funcional e, um deles, também por extorsão. A pena pode chegar a 60 anos de prisão. ● PÁG. A19
NÚMERO
(1891-1927)
8 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42420
Países ricos vetam recursos a emergentes para o clima Andrei Netto Afra Balazina
JULIO MESQUITA
Israel e suas águas ●● Aventure-se e relaxe nos mares Mediterrâneo, Morto, Vermelho e da Galileia. ●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 130 DIAS q PÁG. A12
A12 NACIONAL ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 130 DIAS
TERÇA-FEIRA, 8 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
+ 9
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
ESTADOS
‘O Estado deveria ser ressarcido’ Presidente do site Comunique-se considera liminar contra jornal como ‘inacreditável’ e ‘um absurdo’ Moacir Assunção
O presidente e fundador do site Comunique-se (www.comuniquese.com.br), jornalista Rodrigo Azevedo, define em uma palavra a censura imposta ao Estado desde 31 de julho, por liminar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF): “Inacreditável.” Para Azevedo, que dirige o portal de conteúdo jornalístico, fundado em 2001, é incrível que, em pleno século 21, um dos jornais mais importantes do Brasil continue impedido de noticiar fatos sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. Um dos alvos da investigação foi o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), e autor do pedido que instaurou a mordaça no jornal. “A censura prévia é um absurdo. As reportagens feitas pelo Estado estavam todas tecnicamente corretas. Não houve emissão de opinião, mas somente a descrição dos fatos e, mesmo assim, foram censuradas”, afirmou. Para Azevedo, a mordaça interfere até mesmo na imagem que os brasileiros fazem do seu próprio país. “Dá para ficar desanimado ao ver ocorrerem estas coisas. Quando se fala que o Brasil será a próxima potência mundial, nos perguntamos se isso será possível com decisões assim”, lamentou.
Para o jornalista, o Estado deveria, depois que a censura for derrubada, pedir indenização ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal por causa do período em que ficou proibido de repassar informações aos seus leitores, uma vez que outros jornais não sofreram censura prévia e puderam publicar reportagens sobre a mesma operação da PF. “Houve um prejuízo e o Estado deveria ser ressarcido”, destacou.
‘O TJ-DF tomou uma série de medidas protelatórias’ De acordo com Azevedo, quando saíram os informes sobre a mordaça no Comuniquese, a maioria esmagadora dos internautas demonstrou, nos comentários, repulsa à censura imposta pelo TJ-DF – após liminar obtida por Fernando. Na opinião do jornalista, a censura cairá no julgamento no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), marcado para amanhã. “Não espero mais que o fim da censura prévia, um dos maiores absurdos em termos de imprensa que vimos nos últimos anos”, afirmou. Azevedo considera que, desde o início do processo, o TJDF teve uma única preocupa-
ção: ganhar tempo para fazer com que a mordaça se estendesse cada vez mais, a ponto de completar, hoje, 130 dias de interdição. “Essa história de mandar o processo para o Maranhão é um absurdo completo, que demonstra que as manobras são somente protelatórias”, comentou. O presidente do Comunique-se criticou ainda a postura do desembargador Dácio Vieira, que concedeu a liminar a Fernando. “Ele cometeu um enorme equívoco e deveria ter a grandeza de reconhecer que errou. Isso, entretanto,não exime de culpaos demaisdesembargadores do TJ-DF, que deveriam ter acertado o rumo.” SUSPEIÇÃO
Depois de recursos do jornal, Vieira foi afastado do caso e declarado suspeito pelosseus próprios pares. Mesmo assim, a decisão permaneceu em vigor. Na sequência, o TJ-DF se declarou incompetente para julgar o caso, determinando sua remessa à Justiça Federal do Maranhão. Por fim, o Estado entrou com uma reclamação no STF, alegando que a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal contraria decisões recentes do próprio Supremo. ●
INFORME PUBLICITÁRIO
COMUNICADO
CONSTRUTORA CAMARGO CORRÊA A CONSTRUTORA CAMARGO CORRÊA tomou conhecimento, por meio de comunicado divulgado no site do Ministério Público Federal, da existência de representações feitas por esse órgão solicitando a outras esferas da Justiça a abertura de investigações envolvendo a empresa. Mais uma vez, nos vemos alvo de acusações públicas sem que tenhamos tido acesso às informações que lhes deram origem e que são parte de processo judicial que corre em segredo de justiça. Ressaltamos que, neste mesmo processo, houve denúncias divulgadas precipitadamente à imprensa que se mostraram infundadas. A CAMARGO CORRÊA está convicta da licitude da sua conduta e espera ter acesso a essas informações para que possa fazer sua defesa, direito que constitui base fundamental de um Estado democrático.
Yeda prevê investir 30% a mais em 2010 A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), sancionou ontem a Lei Orçamentária de 2010, prevendo investimentos de R$ 2,8 bilhões, aumento de quase 30% em relação à previsão deste ano. As secretarias e órgãos estaduais poderão gastar R$ 1,6 bilhão com programas sociais e obras. Outro R$ 1,2 bilhão será aplicado por estatais como a Companhia Estadual de Energia Elétrica e a Companhia Riograndense de Águas e Saneamento. Yeda, quer, ainda, elevar o superávit para R$ 2 bilhões. PARÁ
Capital paraense tem dois prefeitos no cargo Belém tem, desde ontem, dois prefeitos. O reeleito, Duciomar Costa (PTB), que teve o mandatocassadonasexta-feira,obteve liminar para ficar no cargo até a Justiça julgar o mérito da cassação. Mas José Priante (PMDB), segundo colocado na eleição de 2008, ganhou da mesma Justiça direito de assumir o cargo e foi empossadopelaCâmara.Duciomar deve recorrer amanhã contra a sentença de cassação, enquanto Priante alegará que o juiznãoeracompetenteparajulgar o recurso do rival. PARTIDOS
Rossi ameaça ir ao TRE para obter informações O deputado Francisco Rossi (SP) protocolou ontem pedido no PMDB para obter o número de delegados que votam na convenção estadual de domingo. Rossi lançou uma chapa para enfrentar a do ex-governador Orestes Quércia, que defende a aliança com os tucanos em 2010. O deputado alega que a sigla resiste em lhe dar os dados e ameaça entrar no Tribunal Regional Eleitoral. O PMDB diz queasinformaçõesserãorepassadas.
JUSTIÇA
STF autoriza Battisti a viajar para depor no Rio Ex-ativista italiano é investigado no País por uso de documentos falsos JOSÉ CRUZ/ABR /DIVULGAÇÃO-17/11/2009
Mariângela Gallucci BRASÍLIA
Preso no Brasil desde março de 2007, por falsificação de documento e uso de passaporte falso, o ex-ativista italianoCesareBattistideveviajarnestemêspara oRio,para prestar depoimento ao juiz da 2ª Vara Federal Criminal. O ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a viagem. Após muita polêmica e três sessões – em 9 de setembro, 12 e 18 de novembro –, o Supremo concluiu que Battisti pode ser extraditado para a Itália. No entanto, a corte deixou a prerrogativa de entregá-lo ou não ao seu país deorigemsobdecisãodopresidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo já indicou que não tem pressa. O processo penal por falsificação e uso de documento falso é um dos principais entraves para a devolução de Battistiàsautoridadesitalianas, que o condenaram à prisão perpétua por acusação de envolvimento em quatro homicídios nos anos 70. Resta esclarecer agora se Battisti deveficar noPaís até que seja julgado e, no caso de condenação, se a pena precisa ser cumprida antes de uma eventual extradição. Por fim, resta ainda o Supremo publicar o acórdão do caso para que a decisão produza efeito – o que pode de-
BATTISTI – Itália quer extradição
morar alguns meses. MILITÂNCIA E FUGA
Ex-integrante do movimento Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), Battisti começoua participar de movimentos estudantis em 1968 e se engajou na extrema esquerda. Em 1983, foi condenado à prisão. O militante foi preso em 1979, acusadodoassassinatodeAntonio Santoro, agente de custódia morto em junho de 1978, dos comerciantes Pierluigi Torregiani e Lino Sabbadin, ambos mortos em fevereiro de 1979, e do policial Andrea Campagna, morto em abril de 1979. Em 1981,Battisti fugiudaItália, passou pela França e pelo México. Em 2004, ele chegou ao Brasil. Foi preso pela Polícia Federal três anos depois, no Rio. ●
● Edição de
0h20
o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
9 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42421
Chuva paralisa SP e mata seis HÉLVIO ROMERO/AE
● Quatroirmãosde SantanadeParnaíba estãoentre os mortos ● Com acapitalintransitável,rotina éalteradaeruasficam vazias ● Prefeituranega problemas ● Previsão édemais chuva hoje
NÚMEROS
105
pontos de alagamento, inclusive as duas Marginais
99,7
DESOLAÇÃO –
Às 8h56, paulistanos caminham pela Marginal do Tietê, um dos pontos intransitáveis na cidade
milímetros de chuva, 49,3% do esperado para todo o mês
A Grande São Paulo enfrentou em 24 horas a chuva mais volumosaemdoisanos –foi oequivalente a quase metade do que era esperado para todo o mês. Como resultado, houve seis mortes – o caso mais grave foi em Santana de Parnaíba, onde um deslizamento de terra matou quatro irmãos, três deles crianças.Jáacapitalficou intransitável, com 105 pontos de alagamento, entre os quais as duas Marginais – e especialistas di-
zem que o aprofundamento da calha do Tietê já está no limite. A explicação para o fenômeno climático foi a chamada “chuva frontal” – o encontro de uma massa de ar frio e seco com uma massa de ar quente e úmido. De intensidade mais fraca, mas de longa duração, ela atinge toda a área de forma simultânea. Para estudiosos,aschuvaspersistentes em São Paulo podem já ser resultado das mudanças climáticas. ● PÁGS. C1, C3 a C12 e C16
Em trabalho de parto e ilhada
No meio da tarde, zero km de lentidão
●● Patrícia de Oliveira foi
●● As ruas estavam livres e
resgatada pelo helicóptero da Polícia Civil numa avenida da zona norte. Na maternidade, deu à luz Tayla. ● PÁG. C10
os pontos de ônibus, vazios. A chuva da manhã obrigou muita gente a voltar para casa e adiar compromissos. ● PÁG.C7
127 morrem em série de ataques no Iraque
CADERNO 2
Pelo menos 127 pessoas morreram e 390 ficaram feridas numa série de cinco ataques com carros-bomba e suicidas em Bagdá. A operação é a terceira desta dimensão desde agosto no Iraque. Forças de segurança dizem que oobjetivodaaçãoéenfraqueceroprimeiro-ministroNouri al-Maliki, ligado aos EUA, nas eleições parlamentares de março. ● PÁGS. A12 e A13
O jornalista e músico Arthur Nestrovski será o novo diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo a partir de janeiro. Interino, o maestro francês Yan Pascal Tortelier foi confirmado no cargo de regente titularatéofimde2011.“Acabou a fase de transição”, disse o ex-presidente Fernando HenriqueCardoso,doConselho da Fundação Osesp. ●
7 8 9 10 11 12
Tortelier é confirmado na Osesp
ANDRE LESSA/AE
Para Kassab, dia de caos teve seu ‘lado positivo’ Em meio ao caos na cidade, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) afirmou ter visto “o aspecto positivo da chuva” – para ele, as obras contra as enchentes “estão dando resultado”. Kassabdisseque osinvestimentos são suficientes. ● PÁG. C4 FRASE
DOR – Casa onde deslizamento matou 4 irmãos que dormiam no mesmo quarto, em Santana de Parnaíba
NOTAS E INFORMAÇÕES
Polícia
Presos 6 acusados de roubar R$ 20 mi ●● Envolvimentodepresidiários e do PCC é investigado. ● PÁG. C13
Crise no DF
Arruda aparece em lista de empreiteira Governadorteriarecebido US$ 637 mil da Camargo Corrêa. ● PÁG. A4 ●●
agrícola ●● Não há sementes e mu-
das suficientes para recompor as matas. ●
O triste saldo do Enem A abstenção é o desdobramento natural da sucessão de equívocos no Enem. ● PÁG. A3
●●●
Tempo: CAPITAL
24ºMÁX.
● PÁG. C2
19º MÍN.
Previsão de chuva em todo o Estado.
Hoje: 80 páginas A. 1º caderno: 20 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 16 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● G. Agrícola: 12 Classificados: 179 anúncios
“As obras já estão dando resultado” Gilberto Kassab
Prefeito de São Paulo
Governo cede mais uma vez para votar pré-sal
Atos secretos do Senado dão Prêmio Esso ao ‘Estado’
Governistas cederam mais uma vez e acertaram um novomodelo de partilha do présal. A proposta de divisão do dinheirogarante maisrecursos para os municípios produtores, como Rio e Espírito Santo, reduz a parcela da União – de 30% para 20% – e preserva as receitas dos Estados. Com as mudanças, o projeto começou a ser votado na Câmara. ● PÁG. B1
O Estado ganhou o Prêmio Esso de Reportagem, com a série sobre os atos secretos do Senado e o envolvimento de aliados e familiares do senador José Sarney. O trabalho foi dos repórteres Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel. ● PÁG. A8 ●●●
CENSURA
O Supremo julga hoje liminar doEstado contra a censura, em vigor há 131 dias. ● PÁG. A8
A8 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 9 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 131 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Supremo deve julgar hoje censura ao ‘Estado’ Plenário vai analisar pedido de liminar baseado em decisão que derrubou a Lei de Imprensa Mariângela Gallucci BRASÍLIA
O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) marcou para hoje o julgamento de um pedido deliminar feitopelo jornalO Estadode S.Pauloparaderrubar a censura que impede há 131 dias a publicação de reportagens sobre a Operação Boi Barrica. Essa operação da Polícia Federal,deflagradaem2006,investigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A censura foi imposta ao Estado no final de julho, pelo de-
No julgamento de abril, o STF entendeu que a Lei de Imprensa era incompatível com a atual Constituição Federal e que a censura era inadmissível. Editada em 1967, a regra era uma das últimas legislações do tempo do regime militar (1964-1985) que continuavam em vigor. Ao decidir pelo fim da lei, os ministros deram votos bastante claros reconhecendo o amplo direito à liberdade de imprensaerepudiandoacensura prévia. Na decisão, há referência explícita à censura procedente do Poder Judiciário. “Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes
sembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) Dácio Vieira. Reportagem publicada na época pelo jornal mostrouqueVieiraeradoconvívio social da família Sarney e do ex-diretor-geraldoSenadoAgaciel Maia. Advogados do jornal fizeram cinco recursos ao TJDF, mas a censura foi mantida. Agora, o STF analisará o pedidodeliminarfeitonumareclamaçãodoEstado,quefoibaseadaem decisão deabrildeste ano doSupremo.Naocasião,otribunal derrubou a Lei de Imprensa e fixou o entendimento de que é plena a liberdade de imprensa e não é admitida a censura.
Belisário vê mordaça como ilegal ●● ●O advogado Belisário dos Santos Junior, representante do Brasil na Comissão Internacional de Juristas, entidade com sede em Genebra (Suíça), vê várias irregularidades no processo que culminou na censura ao Estado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). Ele critica, principalmente, o fato de se estabelecer a própria mordaça – expressamente vedada pela Constituição de 1988 – e a duração da medida. “Há uma clara violação contra
o Estado no que diz respeito ao tempo decorrido desde a instituição da censura. Uma das principais regras da Justiça é que ela precisa ser ágil, para que os cidadãos tenham uma resposta rápida”, afirmou. Para o jurista, o Supremo Tribunal Federal (STF) dará uma resposta importante à decisão do TJ-DF, que instituiu a mordaça. “Não tenho nenhuma dúvida de que os ministros oferecerão uma resposta à altura da violação.” ● MOACIR ASSUNÇÃO
IMPRENSA
‘Estado’ ganha Prêmio Esso por revelar atos secretos Repórteres Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel venceram na categoria ‘reportagem’ MARCOS ARCOVERDE/AE
Fernando Paulino RIO
O Estado recebeu ontem o prêmio Esso de Reportagem com a sérieDosAtosSecretosaosSecretos Atos de José Sarney, dos repórteres Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel. Rosa, ao receber o prêmio, criticou a censura sofrida pelo Estado em razão de liminar concedida pelo Tribunal de Justiça do DF, em ação movida por Fernando Sarney, proibindo o jornal de publicar dados sobre a investigação da Polícia Federal acerca dos negócios do empresário, que é filho do senador José Sarney . “Dedico (o prêmio) ao nosso jornal, que está censurado. Espero que isso acabe de uma vez. O mínimo que se pode falar é que é uma indecência”. O material do Estado sobre o casoSarney venceu 1.091trabalhos inscritos. O Esso de Jornalismo, a mais importante premiação,foiparaoJornaldoCommercio, de Recife, com Os Sertões. A série sobre os atos secretos teve início dia 10 de junho com a manchete Senado acumula mais de 300 atos secretos para criar cargos. O jornal mostrou que esses boletins sigilosos envolviafamiliaresealiados deJosé Sarney (PMDB-AP), entre eles sobrinhos e até o namorado da neta. Na mesma série, o Estado revelou que a Fundação Sarney desviou R$ 500 mil de patrocínio de R$ 1,3 milhão da Petrobrás para empresas fantasmas, de fachada ou da família do senador. A Comissão de Seleção, ao terminar o julgamento que definiuosfinalistas,fezumadeclaração em que repudia a censura. “AComissãode Seleção dostrabalhos concorrentes ao Prêmio Esso de Jornalismo de 2009, vem manifestar o seu repúdio, protesto e preocupação com a
PeloBrasil CIDADANIA
Estatuto Racial deve ir a voto hoje Está prevista para hoje a votação no Senado do projeto que cria o Estatuto da Igualdade Racial. De autoria do senador Paulo Paim (PT), ele objetiva combater e reduzir as desigualdades provocadas por preconceitos raciais. Os aspectos mais polêmicos do projeto, como cotas para negros nas universidades, foram suprimidos em sua passagem pela Câmara. Não deverá haver restrições à sua aprovação. ANOS DE CHUMBO
Maluf ataca procuradores O deputado Paulo Maluf (PP), réu numa ação civil que apura responsabilidades por ocultação de cadáveres durante a ditadura militar, quer que o Conselho Nacional do Ministério Público investigue os procuradores que o processaram no caso das ossadas de Perus. “É impossível que durante minha administração tenha sido feito um único enterro porque as obras foram entregues na gestão do meu sucessor”, disse Maluf. TERRA SEM LEI
RECONHECIMENTO – Colon, Rosa e Rangel recebem a premiação, no Hotel Copacabana Palace: apelos pelo fim da censura ao jornal
vilégios e ocultar métodos poucoclarosdegestãodobempúblico, muitas vezes confundido e tratado como se privado fosse. Tal pressão é ainda muito forte, principalmente, em pequenos jornais, muitas vezes submetidos a processos e sentenças indenizatóriasquechegamainviabilizar a sua existência.” Osganhadoresem cadacategoria foram os seguintes: jornalismo – Jornal do Commercio de Recife com Os Sertões; reportagem – Estado; fotografia – Jornal do Commercio de Recife com Exilados da Fome; informação
censura judicial imposta ao jornal O Estado de S. Paulo, por ter este noticiado a trajetória e os negócios do filho do ex-presidentedaRepública epresidente do Senado, José Sarney. Não se trata de reivindicar imunidade nem de considerar a imprensa acima de lei, mas de apontar uma aplicação distorcida dos princípioslegaisparaevitar que a divulgação de fatos em apuração pela Polícia Federal sejam tornados públicos”, diz a nota. “Sobosmaisdiversosargumentos tal prática têm sido usada comfrequênciaparamanterpri-
IMAGEM VENCEDORA
DemocraciadasFavelas;Telejornalismo – SBT com Confronto na Linha Vermelha. Os sites Museu corrupção e Congresso em foco receberam o prêmio de melhor contribuição à imprensa . O primeiro por agrupar todos os casos de corrupção desde 1964 e o outro por ter noticiado o descontrole do uso de passagens aéreas por parlamentares. Criado em 1955 , o Esso é o mais tradicional prêmio de jornalismo do Brasil e está completando 54 anos ininterruptos de existência. ●
Rayfran Sales, assassino confesso da religiosa Dorothy Stang, será submetido amanhã a júri popular, em Belém. O julgamento foi pedido pela defesa, que procura reduzir a pena de 27 anos a que Rayfran foi condenado anteriormente. Os advogados alegam que não houve pagamento pela morte, em 2005. Se a tese for aceita, os dois fazendeiros acusados de terem encomendado o crime podem ser inocentados. MÍDIA
Hélio Costa Ministro das Comunicações
EM REFERÊNCIA À 1ª CONFERÊNCIA DE COMUNICAÇÃO (CONFECOM)
DEFESA
Marinha incorpora navio-patrulha Macaé
DIDA SAMPAIO/AE
buiu na tarefa de esclarecer a opinião pública sobre a realidade do campo brasileiro, “sensibilizando o homem urbano sobre a importância da atividade agropecuária para toda a sociedade”. Foram também premiados Cláudio Junqueira, da Rádio Bandeirantes; Giovani Ferreira, do jornal Gazeta do Povo, de Curitiba; Denise Saueressig, da revista A Granja, de Porto Alegre, e Talita Nonato Moreira, da TV Terraviva, do Grupo Bandeirantes. Integraram o corpo de jurados Heraldo Pereira, da TV Globo; Estevão Damázio, da Rádio CBN; Orlando Brito, da ObritoNews; Maria Devanir Rodrigues e Rosângela Evangelista, da assessoria de imprensa da Embrapa; e Zélia Leal Adghirni, da UNB. ●
econômica – Correio Braziliense comOBrasilqueEmergirádaCrise; informação científica, tecnológica e ecológica – Folha de S. Paulo com No Coração da Antártida;primeirapágina–ODiapor AFaixaPretaHojeédeLuto;criação gráfica – Jornal do Commercio do Recife por Os Sertões e revista Época por Voo Air France 447; interior – A Tribuna de Santos com Caso Alessandra; Regional1 – Diário de Pernambuco com Quilombola - Os Direitos Negados de um Povo”; Regional 2 – Diário Catarinense com O Flagelo da Chuva;Regional3–OGlobocom
Assassino de Dorothy volta a júri popular
“Existe acordo de cavalheiros. E não vamos discutir o controle da mídia, pois seria uma interferência. Não vamos tocar nesse assunto”
CNA premia fotógrafo do jornal ●● ● O fotógrafo Dida Sampaio, da sucursal de Brasília do Estado, recebeu ontem o IV Prêmio CNA de Jornalismo, com a imagem intitulada Ambiente. O tema deste ano foi Abastecimento e renda: o caminho para o futuro da agropecuária brasileira. Os vencedores de cada uma das cinco categorias receberam R$ 10 mil e um certificado da entidade. A cerimônia, conduzida pela presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), ocorreu após uma entrevista na qual ela apresentou um balanço do setor agropecuário neste ano e perspectivas para 2010. De acordo com a CNA, o objetivo da premiação é reconhecer o material jornalístico que contri-
da censura prévia, inclusive a procedente do Poder Judiciário”, estabeleceu a decisão. A reclamação do jornal foi distribuída em 17 de novembro ao vice-presidente do STF, CezarPeluso.Comorelator,ele optou por submeter o pedido de liminar ao plenário do tribunal, que é integrado por ele e por mais 10 ministros. A defesa do jornal alega que a decisão do TJ é uma censura judicial operada sob as vestes de proteção aos direitos da personalidade. Isso seria incompatível com o direito à manifestação de pensamento. Fernando Sarney pediu formalmente ao Supremo que mantenha a censura. Entre outros argumentos, os advogados do empresário sustentam que o jornal quer noticiar conteúdo de interceptações telefônicas oriundas de inquéritoquetramitaemsegredo de Justiça. ●
A Marinha faz hoje a incorporação do Macaé, novo navio-patrulha da Armada. Com base no francês Classe Vigilante 400 CL54, o projeto ganhou desenvolvimento tecnológico e melhorias. A Marinha alcançou índice de 60% de nacionalização. A cerimônia, em Fortaleza, terá a presença do ministro da Defesa, Nelson Jobim, do governador do Ceará, Cid Gomes, e do comandante da Marinha, Almirante Julio de Moura Neto.
● Edição de
0h30
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
10 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42422
Após mensalão do DEM, Lula pede rigor contra corrupção
Zelaya acertasua idaparao México
Presidente quer que crime seja inafiançável, 4 anos depois do mensalão do PT
OpresidentedepostodeHonduras, Manuel Zelaya, acertou sua ida para o México. Segundo a imprensa hondurenha e funcionários do governo mexicano, ele obteve salvo-conduto e deixaria nesta madrugada a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde se abrigou em 21 desetembro. OItamaratyinformou que nada teve a ver com a negociaçãodeZelaya,eum político ligado a ele disse que a iniciativa foi do deposto. ● PÁG. A14
DIDA SAMPAIO/AE
Pacote eleva renúncia fiscal para R$ 5,5 bilhões O governo anunciou ontem medidas para estimular os investimentos do setor privado e sustentar o crescimento na casa dos5%.Oquartopacotede“bondades” em dois meses eleva de R$ 2,3 bilhões para R$ 5,5 bilhões o volume de renúncias fiscais.Entreasmedidas,aprorrogaçãodadesoneraçãodeIPI para bens de capital e do crédito do BNDES para investimentos, além do reforço de R$ 80 bilhões no caixa do banco. PÁG. B1
VIOLÊNCIA – Manifestantes pró-impeachment do governador José Roberto Arruda (DEM) são reprimidos pela PM próximo do Palácio do Buriti, sede do governo do DF
Quatro anos depois do “mensalão do PT”, o presidente Lula aproveitou o “mensalão do DEM” para anunciar que vai propor ao Congresso que a corrupção cometida por autoridades seja considerada crime hediondo, ou seja, inafiançável. O anúncio foi feito na solenidade pelo Dia Internacional Contra a Corrupção, mas o ambiente foi otempotododeexploraçãopolítico-eleitoral do escândalo que
envolve o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM). Segundo Lula, o projeto é “mais um degrau no combate à safadeza com o dinheiro público”. Ele disse que é difícil atacar a corrupção porque, “às vezes, o corrupto é o cara que tem a cara mais de anjo, é aquele cara que mais fala contra a corrupção, é aquele cara que mais denuncia, porque acha que não vai ser pego”. ● PÁG. A4
FRASES
Luiz Inácio Lula da Silva Presidente
“A corrupção é assim (como a droga). Às vezes ela está dentro da sua casa, ela está na sua porta e você não sabe.” “(O projeto de lei anticorrupção) é mais um degrau no combate à safadeza com o dinheiro público”
ADERNO2 Mortos pela chuva CDesenho retrô em SP chegam a 8 Estreia amanhã A Princesa e o Sapo, a animação mais clássica da Pixar. ●
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SERGIO NEVES/AE
Lei antifumo
Melhora saúde de garçom fumante TRANSTORNO – Rua da zona leste permanecia alagada ontem
Onúmero de vítimas em razão das chuvas que atingiram a Grande São Paulo chegou a oito. No Estado, foram 23 pessoas, e há 700 desalojados em
NOTAS E INFORMAÇÕES
Mercosul, palanque para Chávez A reunião do Mercosul terminou como uma sessão de circo mambembe. PÁG. A3
34 municípios. Um abrigo improvisado pela Prefeitura para receber 36 famílias estava sem água e sem condições sanitárias. ● PÁGS. C1 e C3 a C7
Tempo: CAPITAL
27ºMÁX. Chuva a qualquer hora.
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 132 DIAS q PÁG. A10 7 8 9 10 11 12
Hoje: 134 páginas
A. 1º caderno: 30+4 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 20 ● E. Esportes: 6 ● P. Paladar: 10 ● H. Especial Fóruns: 8 ● Ca. Autos: 8 ● Ci. Imóveis: 10 ● Co./Ce. Oportunidades/Empregos: 4 (2.141 anúncios)
● PÁG. C2
19ºMÍN.
●● Concentração de monóxido de carbono cai 35,7%, diz Incor. ● PÁG. C9
Automóveis
Volks compra 20% da Suzuki Meta da montadora alemã é se tornar a maior do mundo. ● PÁG. B23
●●
Celebridades
Nasce filho de Gisele Bündchen ●● Parto foi anteontem emBoston.Nomeémantido em sigilo. ● PÁG. C10
Protesto acaba em violência ●●● Subordinada ao governador do Distrito Federal, a Polícia Militar mobilizou ontem um arsenal que incluiu cavalaria, bombas de gás lacrimogêneo e cachorros para impedir que manifestantes contrários a José Roberto Arruda chegassem à Rodoviária do
Plano Piloto. Mesmo deitados, manifestantes foram golpeados. Um estudante foi pisoteado por cavalos. Arruda entrou com recurso no TSE pedindo que seja suspensa a reunião marcada para amanhã pelo DEM para decidir sobre seu futuro. ● PÁG. A7
BC mantém juro e indica estabilidade no início do ano O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem manter a taxa básica de juros em 8,75% ano. Segundo comunicado do Copom, a ociosidade da indústria está sendo gradualmente ocupada, mas, por enquanto, o juro está em nível adequado à meta de inflação. O mercado vê estabilidade na taxa no início de 2010. ● PÁGS. B12 e B13
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Reunião do clima expõe racha entre países ricos
Modelo de partilha do pré-sal passa na Câmara
No terceiro dia da Conferência do Clima, em Copenhague, a União Europeia condicionou sua presença no acordo final à entrada dos EUA no Protocolo de Kyoto. Em resposta, os americanos avisaram que não pretendem aderir. ● PÁG. A23
ACâmara aprovouotexto-base doprojetodeleiquedefineomodelo de partilha da produção de petróleo no pré-sal. Mas os deputados ainda têm de votar um destaque ao projeto que propõe uma mudança completa na forma de distribuição das receitas obtidas. ● PÁG. B11
Presente de comer ●● Dicas de quitutes, como estrelinhas de manteiga, para preparar e presentear. ●
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QUINTA-FEIRA, 10 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Dez erros sobre a crise de Honduras
Uma estátua equestre para Lula
RaulJungmann
DemétrioMagnoli
Estive em Honduras no final de setembro, chefiando uma missão parlamentar da Câmara dos Deputados, e estive com toda a cúpula política do país. Em novembro voltei à capital hondurenha como observador internacional das eleições. Acho que aprendi algo sobre o que se passa lá e me chama a atenção a repetição, como um mantra, de erros grosseiros, factuais ou de interpretação sobre a crise em que foi mergulhado o país. Resolvi, então, selecionar os dez mais comuns e dar-lhes a minha visão, no propósito de desfazer equívocos e informar corretamente. 1) Em Honduras ocorreu um golpe – Se por um golpe tomamos algo que se dá contra a Constituição de um país, certamente não. A deposição do presidente Zelaya se deu de acordo com a Carta hondurenha. Todas as instâncias legais foram observadas e todas as instituições se manifestaram como manda a Constituição e em todas elas o sr. Zelaya foi condenado jurídica e politicamente. 2) Micheletti é um presidente
Se o Brasil não reconhecer a eleição, erraremos em definitivo de facto e golpista – O sr. Micheletti é o presidente constitucional de Honduras, e não de facto ou interino. Ele chegou à presidência por comando claro da Constituição, dado que era o sucessor legal, pois o vice se afastara para concorrer às eleições. Ele deverá passar o cargo ao seu sucessor no prazo previsto. Golpista algum se torna presidente e deixa de sêlo de acordo com o que manda a Constituição. 3) O presidente Zelaya não teve direito a defesa – Sigamos a cronologia dos fatos. Em fevereiro o sr. Zelaya torna pública a sua intenção de realizar um plebiscito. Em abril, a Procuradoria da República manda-lhe uma primeira carta alertando-o sobre a flagrante inconstitucionalidade de tal ato. Ainda em abril, uma segunda carta pública lhe é enviada pela Procuradoria com o mesmo resultado. Então, a Procuradoria oficia, em maio, para que se pronuncie o advogado-geral do Estado e este o faz reforçando a tese da inconstitucionalidade. Nesse momento, a Procuradoria requer à Justiça que instaure processo, do qual resulta a condenação final do presidente, percorridas todas as instâncias. Entra em cena o Congresso Nacional, que julga a conduta do presidente e, por 123 votos a 5, incluso a maioria do seu partido, decide afastá-lo. Onde, portanto, a ausência ou restri-
ção ao amplo direito de defesa? ao atentar contra a Carta 4) Zelaya é um homem de es- Constitucional e as instituiquerda e popular – Nada na bio- ções hondurenhas. Portanto, grafia e na trajetória do presi- é ele que ameaça a democradente deposto autoriza essa cia na América do Sul, e não constatação. Eleito pelo Parti- o contrário. 9) Lula errou ao receber Zedo Liberal, de direita, privatista e antiestatista, o sr. Zelaya laya na embaixada brasileira – se elegeu com um programa Não, ele agiu certo. É tradipró-mercado e de reformas. ção humanitária do Brasil reNo poder, cai nas graças de ceber em nossas embaixadas Hugo Chávez, ingressa na Al- quem nos procura em situaba e, por essa “conversão”, tor- ção de risco. O erro foi dar na-se um ídolo para uma certa status de “abrigado” ao sr. Zelaya, quando o correto, jurídiesquerda. 5) Zelaya não voltou ao poder ca e diplomaticamente, seria por conta da ditadura golpista – conceder-lhe asilo. Ao lhe dar Nada mais falso. Em primeiro abrigo, e não asilo, o ex-presilugar, todas as instituições hon- dente pode legalmente usar a durenhas estão abertas e fun- embaixada brasileira como cionando normalmente. Em se- palanque político, interferingundo, contando com o esma- do na política hondurenha. Imaginem Collor deposto gador apoio de toda a comunidade internacional, da OEA e e convocando uma insurreida ONU, e dizendo-se popular ção de uma embaixada em e com o apoio dos hondure- Brasília... 10) A posição do Brasil foi nhos, por que “Mel” não retorna ao poder? Por dois motivos: correta diante da crise – Antes a totalidade das instituições de de mais nada, a América CenHonduras está definitivamen- tral e Honduras, em particute contra ele e a maioria do seu lar, jamais foram importantes ou área de influência do povo também. 6) As eleições não são válidas Brasil, donde resulta em erro – As atuais eleições foram con- o calibre e o engajamento da vocadas e datadas antes da resposta. Ao ver golpe onde havia atual crise. Todos os partidos puderam apresentar candida- um grave desrespeito aos ditos e debater seus programas reitos humanos e, em seguinas praças, nas rádios e nas da, ao defender o retorno do TVs; 4,5 milhões de hondure- sr. Zelaya ao poder, erramos nhos estão aptos e puderam vo- feio. As eleições em Honduras tar livremente; o Tribunal Superior Eleitoral, órgão indepen- foram limpas e o comparecidente, supervisionou e fiscali- mento às urnas foi razoável. Caso o Brasil teime em não zou o pleito. Apenas 0,5% dos mais de 15 reconhecê-las, erraremos de mil candidatos inscritos aten- novo, e em definitivo. ● deram ao apelo do sr. Zelaya para boicotar as eleições e o Raul Jungmann é deputado principal partido de esquerda federal (PPS-PE) e da “resistência”, a UD, disputou o pleito. 7) O resultado das eleições não será reconhecido no exterior – A princípio será por uns e por outros, a maioria, não. Porém, com o passar do tempo, tendo sido as eleições limpas, o primeiro grupo irá paulatinamente crescer e o segundo, minguar. 8) O golpe em Honduras ameaça a democracia na América do Sul – O que ameaça a cláusula democrática no subcontinente é o meio compromisso com a democracia. Se o sr. Zelaya foi apeado do poder segundo as regras constitucionais do seu país, chamar isso de golpe de Estado é ir contra os fatos. E isso vale, em especial, para o governo Lula. Foi a Constituição que colocou a o sr. Roberto Micheletti na presidência, e não um golpe. E é o sr. Manoel Ze- Cinquentinha laya o golpista de fato,
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Mensalãoconfirmado A candidata de Lula à Presidência, dona Dilma, diz que o mensalão do PT é diferente do mensalão do DEM. Então, podemos constatar que o mensalão de fato existiu, pois é a ministra da Casa Civil quem confirma. E concordamos: o mensalão do PT não teve nem terá similar, se compararmos a magnitude. Realmente, o estilo cara de pau tomou conta do País. LEILA E. LEITÃO
Itanhaém
Pesquisa Só novo filme do mesmo cineasta pode fazer decolar a candidata do Planalto: Dilma, a Filha do Lula.
MorosidadedaJustiça Permitam-me registrar, para ilustrar o importante artigo do ex-ministro Almir Pazzianotto Pinto (Conselho Nacional de Justiça, 9/12, A2), que minha mulher e eu temos uma ação trabalhista contra a Fazenda Pública Estadual (processo 2.371/73) tramitando na 2.ª Vara do Trabalho (SP) há simplesmente 36 anos! Difícil não fazer coro com o ilustre articulista: “De nada bastam a Constituição e a lei quando o magistrado aderiu aos princípios da morosidade e entrega ao tempo a incumbência de encontrar solução para a pendência.” EUCLIDES ROSSIGNOLI
PAULO DE SOUZA CAVALCANTI
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Itatinga
Ribeirão Preto
Tirando a espuma, o filme Lula, o Filho do Brasil não passa de mais uma versão da fábula do indivíduo virtuoso que, arrostando a adversidade extrema, luta, persevera e triunfa montado apenas nos seus próprios esforços. Como cada um encontra aquilo que procura, o fiel extrai dessa fábula uma lição singela sobre a intervenção misteriosa da providência, enquanto o doutrinário liberal nela encontra o argumento clássico em defesa do princípio do mérito individual. Nenhuma das interpretações se amolda ao pensamento de esquerda, que se articula ao redor das noções de circunstância histórica e sujeito social. Lula, o Filho do Brasil é uma narrativa avessa ao programa do PT. A espuma é vital. O livro homônimo de Denise Paraná, inspiração original do filme, apresenta Lula como personificação de um ator coletivo que é a classe trabalhadora. A obra mais cara da história do cinema brasileiro rejeita a metáfora esquerdista, substituindo-a por outra, nacionalista. Lula é o Brasil do futuro, que emerge purificado do pântano do sofrimento – eis a mensagem de Lula, o Filho do Brasil. Já se escreveu abundantemente sobre as óbvias finalidades eleitorais da hagiografia produzida pela família Barreto. Mas passou-se ao largo do seu sentido político profundo: o filme condena o PT à vassalagem. No Palácio de Versalhes, uma imagem que simboliza a França abençoa o leito real de Luís XIV. As monarquias ab-
ENDEREÇO
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Filhosbastardos O Estadão ganhou o Prêmio Esso por revelar atos secretos do Senado (isto é, atos inconfessáveis) e por isso permanece censurado há 132 dias. Neste país se premia pela excelência da informação e se pune por afrontar os poderosos. Um caso corriqueiro e comum de corrupção, desnudado pelo Estado, chega até o STF, quando deveria ficar restrito à ação da polícia contra os que se beneficiam do “pudê” – filhos bastardos da Pátria mãe.
destas últimas semanas de 2009: o primeiro lugar do ano no ranking dos jornais mais admirados do País, de acordo com pesquisa da consultoria Troiano, o Prêmio Esso de Reportagem e a defesa da liberdade de imprensa, pela luta contra a censura a que foi submetido. Nós, da Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano (Aelo), também estamos felizes com essas conquistas de um grande jornal, tão respeitado, fundamental para a sociedade brasileira.
ALBERTO B. CARDOSO DE CARVALHO
FLAVIO AMARY, presidente
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São Paulo
São Paulo
Grandesconquistas
ABalabrás
Parabéns ao nosso querido Estadão pelas importantes conquistas
No Estado de 8/12 (B1) ficamos sabendo que o governo vai gastar
solutas foram modernas no seu tempo, pois produziram um imaginário nacional. O maior dos soberanos Bourbon completou a tarefa de subordinação da nobreza ao poder central, suprimindo os privilégios políticos dos senhores e convertendo-os em cortesãos. Quando se curvavam diante do rei, os nobres domesticados estavam reverenciando a França. Lula, o Filho do Brasil funciona como instrumento de domesticação do PT, impondo a seus dirigentes e militantes a obrigação de se curvar diante de Lula. Não há, porém, nada de moderno nisso. A República é a nação sem a figura do soberano, cujo lugar passa a ser ocupado pelo povo. As tiranias republicanas, nas suas modalidades fascistas, comunistas ou caudilhistas, desviam-se patologicamente desse modelo despersonificado da nação. Elas têm um pendor irresistível a erguer estátuas de líderes vivos, que cumprem o papel de lugares de culto. Lula, o Filho do Brasil é a coisa mais parecida com uma estátua equestre de Lula que se pode produzir no Brasil do século 21. Mas, como as instituições políticas da democracia estão de pé, o culto ao líder vivo não se espraia além de um círculo restrito formado essencialmente pelo partido que dele depende. O PT original viu-se a si mesmo como um projeto coletivo de transformação do Brasil. Lula seria apenas uma face, relevante, mas circunstancial, da caminhada redentora do povo trabalhador. O livro de Denise Paraná inscreve-se nessa visão e, não por acaso, termina com a prisão de Lula em 1980: depois dela começaria uma outra história, que é a do PT. Na ala esquerda petista, enxergou-se Lula como um inconveniente inevitável, mas passageiLOREDANO ro, na senda da revolução socialista. No outro extremo do partido, num passado não tão distante, dirigentes como José Genoino e Antonio Palocci procuraram alternativas mais “presidenciais” à figura rombuda do sindicalista do ABC. Todos eles fracassaram, nos planos prático e simbólico. Lula, o Filho do Brasil salta diretamente da prisão de Lula para a festa da posse na Presidência, colocando entre parêntesis a história inteira do PT. O filme chegará ao público juntamente com a homologação da candidatura de Dilma Rousseff, ungida por Lula na base do dedazo, nome que os mexicanos deram à indicação presidencial dos sucessores nos tempos da hegemonia do PRI.
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US$ 14 bilhões para implantar o trem-bala para a Copa do Mundo de 2014, a qual também vai sugar outros bilhões das verdinhas, boa parte saindo “por fora”, como de rotina, trafegando em meias e cuecas. E que será criada nova estatal para gerir o empreendimento, obviamente, bem aparelhada e com sede na Ilha da Fantasia, bem longe do espinhoso projeto. A Balabrás, que ao que parece seria o nome mais adequado desse operoso órgão governamental, distribuirá até passagens de primeira classe a congressistas, familiares e acólitos. Mais uma vez o Brasil ensina ao mundo a arte de queimar etapas. Enquanto os países que têm o trem de alta velocidade o implantaram como evolução natural das ótimas redes ferroviárias que já operavam,
Na vida real, o “filho do Brasil” nutriu desprezo completo pelos partidos e correntes de esquerda, algo bem documentado em depoimentos e entrevistas. Indignado com a mistificação cinematográfica dos Barretos, César Benjamim relatou, em artigo publicado pela Folha de S.Paulo, que Lula se gabou durante a campanha presidencial de 1994 de ter tentado currar um “menino do MEP”, preso político com quem dividiu uma cela no Deops. O filme é uma curra consumada: a violação da narrativa canônica do PT e sua substituição por uma história de cartolina na qual a redenção se identifica com a trajetória do líder providencial. Lula, o Filho do Brasil tem todos os traços de cinema oficial. A obra foi financiada por empresas com vultosos contratos públicos e sua versão final acolheu sugestões provenientes do entourage presidencial. Segundo os que o viram, é um mau filme, mesmo se analisado nos seus próprios termos. Ele não provoca uma empatia firme nem desata turbilhões emocionais. Dificil-
Filme de Barreto funciona como instrumento de domesticação do PT mente terá impacto eleitoral significativo. Mas, antes ainda da estreia formal, cumpre a função mais sutil de domesticação simbólica dos petistas. Na corte de Luís XIV, um sistema sofisticado de regras de precedência e de etiqueta regulava as relações entre o soberano e os nobres cortesãos. No seu conjunto, aquelas regras tinham a finalidade de atestar continuamente a fidelidade à figura real, que personificava a França. A primeira pré-estreia de Lula, o Filho do Brasil, destinada a ministros, diretores de fundos de pensão e altos dirigentes petistas, obedeceu a um improvisado sistema similar. Programam-se sessões especiais para intelectuais, artistas, sindicalistas e militantes, já convocados a “prestigiar” o filme. Todos, cada um a seu momento, devem fazer a genuflexão diante da nova ordem da história. Golbery do Couto e Silva, o “mago” da ditadura militar e da abertura política, profetizou certa vez que Lula cumpriria a missão histórica de destruir a esquerda no Brasil. Se vivo, ele daria um jeito de assistir escondido ao espetáculo proporcionado pelo público de uma dessas pré-estreias voltadas para a corte petista. ● Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@terra.com.br
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forum@grupoestado.com.br
aqui vamos pular esse detalhe e partir para a modernidade. E comprar deles. Enquanto isso, nosso transporte de carga segue via rodoviária e não temos trens de passageiros decentes, em velocidades normais, que podem ser fornecidos por nossa indústria – até o Aerolula é importado, enquanto a Embraer exporta... Realmente, o subdesenvolvimento manifestase em todas as oportunidades. E vamos turbinando a candidata... NELSON CARVALHO nscarv@gmail.com
São Paulo ● Que serventia terá o caríssimo trem-bala para paulistas e paulistanos? Já existem outras formas de chegar ao Rio de Janeiro. O BNDES deveria destinar a verba à ampliação das linhas do me-
� Edição de
0h15
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
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JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
11 de dezembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42423
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 133 DIAS
STF rejeita recurso do ‘Estado’; censura estĂĄ mantida Sarney, filho do senador JosĂŠ Sarney(PMDB-AP).Comargumentação tĂŠcnica, a maioria dos ministros discordou da tese do jornal de que a censura viola a decisĂŁo do Supremo que derrubou a Lei de Imprensa. Para
O Supremo Tribunal Federal, por 6 votos a 3, arquivou recurso do Estado contra a censura imposta hå 133 dias pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que impede o jornal de citar investigaçþes sobre Fernando
eles, como o TJ-DF não usou a Lei de Imprensa, não se podia julgar o mÊrito da reclamação. O presidente do STF, Gilmar Mendes, afirmou que a honra e a intimidade, citadas pelo TJDF para impor a censura, são
FRASES
Gilmar Mendes
Celso de Mello
“Se sĂŁo inviolĂĄveis a honra e a intimidade, ĂŠ preciso que isso tenha alguma consequĂŞnciaâ€?
“O poder geral de cautela ĂŠ o novo nome da censura em nosso paĂsâ€?
Presidente do STF
Ministro do STF
PIB de 1,3% decepciona e ameaça resultado do ano
PF vai pedir quebra do sigilo bancĂĄrio de Arruda
Mercado previa crescimento sobre o segundo trimestre em torno de 2% mestre, sobre igual perĂodo do ano passado. Para analistas, a perspectiva de alta de juros no inĂcio de 2010 perde força. Dois destaques positivos do terceiro trimestre foram a recuperação da indĂşstria e dos investimentos. Em tom de brincadeira, o ministro Guido Mantega (Fazenda)negouqueoresultadoseja um “Pibinhoâ€?: “UniĂŁo Europeia, positivo 0,4%. Esse ĂŠ que ĂŠ o Pibinhoâ€?. â—? PĂ GS. B1 e B3 a B7
O PIB cresceu 1,3% no terceiro trimestre de 2009, resultado que frustrou o governo – o mercado previa 2%. A expansĂŁo no segundo trimestre foi revisada de 1,9% para 1,1%. Na comparação com o mesmo perĂodo do ano anterior, o recuo foi de 1,2% e, no acumulado do ano, foi de 1,7%.Comessedesempenho,para empatar com o resultado do anopassado, oPIB precisacrescer perto de 5% no quarto tri-
Nobel da Paz, Obama diz que hĂĄ ‘guerra justa’
ANĂ LISE
Celso Ming
O ‘Pibinho’ nĂŁo ĂŠ a surpresa maior
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A maior surpresa na divulgação do PIB foi o tamanho da revisão a que o IBGE submeteu os números dos trimestres anteriores. � Pà G. B2 ���
Â? Â?   €Â?
7 8 9 10 11 12
â—?â—?â—? GOVERNADOR SAI DO DEM
JosĂŠ Roberto Arruda anunciou ontem que vai deixar o DEM. O governadornĂŁopoderĂĄsecandidatar em 2010. â—? PĂ G. A8
A proposta de um “protocolo de Copenhagueâ€?, a ser apresentada hoje na ConferĂŞncia do Clima, visa a incluir os EUA num acordo de redução de emissĂľes de CO2 , relatam os enviados especiais Andrei Netto e Afra Balazina. O texto se assemelha ao Protocolo de Kyoto, rejeitado pelos americanos. â—? PĂ G. A21 â—?â—?â—? SUSTENTABILIDADE
Caderno mensal mostra como calcular a “pegada ecolĂłgicaâ€?. â—?
Lei do Inquilinato
Vetos favorecem inquilino comercial �� Mas o presidente Lula manteve a simplificação do despejo. � Pà G. B9
PAULO PINTO/AE
OgovernodefactodeHonduras negou ao presidente deposto,ManuelZelaya,autorização para ir ao MĂŠxico. Os mexicanos chegaram a enviar um aviĂŁo a Tegucigalpa, porque a negociação parecia avançada. Como Zelaya seria recebido como “hĂłspedeâ€?, e nĂŁo como “asiladoâ€?, o salvo-conduto acabou sendo indeferido.O depostoestĂĄ na Embaixada do Brasil desde 21 de setembro. â—? PĂ G. A12
A PolĂcia Federal vai pedir a quebra do sigilo bancĂĄrio e fiscal do governador do Distrito Federal, JosĂŠ Roberto Arruda, de seis parlamentares, entre eles o presidente licenciado da Câmara Distrital, secretĂĄrios e autoridadesenvolvidasno mensalĂŁo do DEM. O objetivo ĂŠ investigarindĂciosdemovimentaçãosuperior Ă renda dos suspeitos, lavagem de dinheiro, aumento patrimonial e enriquecimento ilĂcito. â—? PĂ G. A8
ConferĂŞncia tenta incluir EUA em marco climĂĄtico
LULA: PALANQUE E PALAVRĂƒO
Opresidente dosEUA, BarackObama,disseontem,aoreceber o Nobel da Paz, que hĂĄ guerras“moralmente justificĂĄveisâ€?. Foi uma resposta Ă s crĂticas sobre a premiação, jĂĄ que ele lidera os EUA nas guerras afegĂŁ e iraquiana. “Dizer que a força algumas vezesĂŠnecessĂĄrianĂŁoĂŠcinismo. É o reconhecimento da histĂłria, das imperfeiçþes do homem e dos limites da razĂŁoâ€?, argumentou. â—? PĂ G. A16
Honduras nega licença para Zelaya ir ao MÊxico
“inviolĂĄveisâ€?. JĂĄ o ministro Celso de Mello disse que outros jornais continuam a noticiar o caso e nĂŁo sofreram a censura, indicandoque“ainterdiçãoĂŠarbitrĂĄria e discriminatĂłriaâ€? contra o Estado. â—? PĂ GS. A4, A6 e A7
TĂŠcnicos â—?â—?â—? Lula, com um ipĂŞ de alumĂ-
nio, divide o palanque com JosĂŠ Sarney em SĂŁo LuĂs; em outro
evento no MaranhĂŁo, o presidente, ao falar sobre investimentos em saneamento, usou um pala-
vrĂŁo: “NĂŁo quero saber se (o prefeito) ĂŠ do PSDB, se ĂŠ do PFL, se ĂŠ do PT. Quero saber se o povo
Tempo: CAPITAL
NOTAS E INFORMAÇÕES
â—? PĂ G. C2
O presidente e a corrupção
31Âş
HĂĄ quatro anos, revelado o mensalĂŁo petista, o presidente Lula nĂŁo se cansou de dizer que
Ă reas de instabilidade chegam ao Sudeste e, por isso, hĂĄ risco de chuva e vento fortes.
â—?â—?â—?
nĂŁo sabia o que estava acontecendo nas suas barbas, embora tivesse sido advertido. â—? PĂ G. A3
MĂ X.
19Âş
MĂ?N.
estå na merda. Eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra�. � Pà G. A10
Hoje: 226 pĂĄginas
A. 1º caderno: 24+4 � B. Economia: 16 � C. Metrópole: 12 � D. Caderno2: 14 � Guia: 132 � E. Esportes: 4 � H. Especial Sustentabilidade: 8 � Cc. Construção: 8 � Cl. Classificados: 4 (123 anúncios)
Dunga ĂŠ o 11Âş mais bem pago na Copa â—?â—? Com â‚Ź 800 mil anuais, ele fica longe de FĂĄbio Capello (â‚Ź 8,8 milhĂľes). â—? PĂ G. E4
Guia
Deixe o carro em casa e descubra como aproveitar SĂŁo Paulo de Ă´nibus. â—?
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SEXTA-FEIRA, 11 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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As tempestades de Copenhague
Mais uma na ferradura
WashingtonNovaes
A.P.QuartimdeMoraes
Eventos extremos, como as chuvas dramáticas, não estão acontecendo apenas em São Paulo, no Sul e em outras partes do País. Outros tipos de tempestade estão acontecendo também em Copenhague, na reunião da Convenção do Clima – de onde estas linhas estão sendo escritas na quintafeira. Elas acontecem até mesmo nas negociações para um acordo que possa levar todos os países a reduzir suas emissões de gases que contribuem para o aquecimento da Terra e a intensificação das mudanças climáticas. A primeira tempestade maior aqui aconteceu com o vazamento, pelo jornal The Guardian, do texto de um documento confidencial submetido pelo governo da Noruega a uns 15 países, entre eles Estados Unidos, China, Brasil, Índia e vários europeus, com propostas muito polêmicas: ● Criar um grupo intermediário entre países industrializados e subdesenvolvidos, para China, Brasil, Índia e outros “emergentes” (o que quebra-
Há uma corrida contra o tempo, que não está sendo ganha ria a unidade do G-77); ● exigências maiores de redução de emissões pelos subdesenvolvidos, mas sem criar obrigações maiores de financiamento para os países mais ricos; ● nenhuma proposta de um acordo obrigatório, como o de Kyoto, para o período após 2012, quando termina a vigência da fase atual. O documento confidencial foi recolhido pela Dinamarca, diante das dissensões, mas a tempestade inevitável foi forte e obrigou a muitas explicações e tomadas de posição, inclusive do Brasil, que discordou das propostas. A segunda tempestade veio dois dias depois, com uma proposta do país-ilha Tuvalu (um dos mais de 30 ameaçados de desaparecer com a elevação do nível dos oceanos), apoiada por várias nações africanas e outros países-ilhas, que exigem a aprovação, aqui, de um documento vinculante, obrigatório para todos os países e mais duro que o Protocolo de Kyoto. E isso é praticamente impossível, não apenas por causa de discordâncias de muitos países, mas também porque os Estados Unidos não poderiam assiná-lo em Copenhague, já que nem a proposta do presidente Barack Obama para a área do clima foi ainda aprovada pelo Senado – o que é indispensável. Estabelecida a
discórdia, as negociações tiveram de ser suspensas no plenário mais amplo. E só continuam nos vários grupos de trabalho (implementação, cooperação a longo prazo, assessoramento técnico e científico, novas metas para os países industrializados, etc.). Mas a suspensão ameaça o resultado final da convenção, porque um acordo teria de ser alcançado até o começo da próxima semana, para ser submetido aos chefes de Estado que chegarão. E nas convenções da ONU qualquer decisão tem obrigatoriamente de ser aprovada por consenso – basta um voto para impedir. As alternativas são difíceis. A primeira, convocar para o primeiro semestre de 2010 uma prorrogação desta reunião (chamada COP 15), na prática seria quase impossível, por coincidir com a Copa do Mundo de Futebol prevista para a África do Sul, que é um dos países importantes do grupo dos “emergentes”. A segunda, deixar tudo para a COP 16, em dezembro de 2010, no México, certamente provocaria uma enorme decepção aqui e em toda parte, dadas a urgência das questões e as pressões crescentes da sociedade em toda parte. E isso no momento em que até representantes de ONGs em Copenhague (há milhares de todo o mundo na COP15) se mostram cautelosos nas palavras, preocupados com não serem acusados de estar acentuando o pessimismo num momento crucial. E tudo isso sem falar ainda em condições apresentadas por vários países, como a norte-americana de não aceitar outro protocolo como o de Kyoto ou homologar o atual – além de não aceitarem financiar a China. O Brasil tem aproveitado a enorme afluência de pessoas na reunião para ganhar apoio para programas de bioenergias, fundo amazônico gerido pelo BNDES ou o fundo REDD (com doações de outros países para projetos que evitem desmatamento). Da mesma forma, tem capitalizado a boa repercussão de suas metas voluntárias para redução de emissões. Mas sua delegação está muito preocupada, inquieta, com o impasse mais amplo nas negociações, que pode dificultar tudo. Os impasses trazem de volta discussões antigas, sobre formas de superar problemas como a exigência de consenso para decisões. Mas as alternativas já foram discutidas em outras COPs, como a de criar uma organização mundial só para o meio ambiente, separada da ONU. Só que ela enfrentaria problemas semelhantes: como ter regras universais sem a concordância de todos os países? E a urgência de decisões é implacável. Ainda há poucos dias a Organização Me-
teorológica Mundial advertiu que esta primeira década do século 21 está sendo e será a mais quente desde 1850, com temperatura média superior à da década de 1990, que já fora mais quente que a de 1980. Há uma corrida contra o tempo, que não está sendo ganha. Não têm mudado o rumo nem mesmo advertências dramáticas, como as do ex-secretário-geral da ONU Kofi Anan, mais de uma vez citado neste espaço: hoje, a maior ameaça global não está no terrorismo, como parece; está nas mudanças climáticas e nos padrões de consumo vigentes, já além da capacidade de reposição do planeta; essas questões é que ameaçam “a sobrevivência da espécie humana”. Palavras que, na boca de um diplomata experiente e competente, não podem ser postas de lado. Quem está vivendo os dramas do clima em São Paulo ou no Rio Grande do Sul sabe disso. Quem conhece os diagnósticos para o Brasil, feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – para a hipótese de as emissões globais continuarem crescendo –, também teme o que possa acontecer sem novas regras. ● Washington Novaes é jornalista E-mail: wlrnovaes@uol.com.br
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
Bem lembrado: e o Battisti, hein?
FÓRUM DOS LEITORES Censura,133dias Decepcionante a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de não julgar o mérito da ação movida pelo Estadão contra a censura de que o jornal vem sendo vítima, no caso envolvendo a família Sarney. O STF perdeu uma ótima oportunidade. Devia ter deixado de lado questões meramente formais e decidido a favor do que é justo, certo e constitucional, como a liberdade de imprensa, de expressão e o combate veemente à censura. Nesse momento, estamos todos do lado do Estadão, da liberdade de expressão e contra a censura, prática nefasta que já devia ter sido banida do Brasil há muito tempo. RENATO KHAIR renatokhair@uol.com.br
São Paulo
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
● Votando a maioria dos ministros do STF contra a reclamação do Estadão, junta-se o apagar das luzes deste melancólico ano ao enfraquecimento do pensamento democrático. Lamentável.
JOSÉ PIACSEK NETO
JOSÉ EDUARDO ZAMBON ELIAS
Em nome de todos os seus conselheiros e colaboradores, o Instituto Vladimir Herzog parabeniza os jornalistas Leandro Colon, Rosa Costa e Rodrigo Rangel pelo Prêmio Esso de Reportagem. E lamentamos profundamente, mesmo depois de tantos anos de luta pela democracia, que os dispositivos da ditadura, como a censura que o jornal O Estado de S. Paulo vem sofrendo, ainda sejam amplamente utilizados por aqueles que querem mascarar a verdade. Parabéns!
zambonelias@estadao.com.br
Marília
Quero, mais uma vez, demonstrar minha indignação contra a censura ao Estadão, por causa do sr. José “cidadão especial” Sarney! Será que o STF não vê que essa censura é inconstitucional? Isso é inaceitável! ●
ALEXANDRE R. FIGUEIRA MANARA xandefigueira@hotmail.com
Pindamonhangaba
Decisão é decisão e não se discute. Mas que é assustadora, é. ●
O governo federal acaba de desferir mais uma bordoada no mercado editorial, particularmente nas editoras, confirmando a contribuição compulsória de 1% sobre a receita (e não 0,33%, como se pleiteava e já parecia decidido) para o Fundo Pró-Leitura, como contrapartida pela desoneração fiscal concedida em 2004. O que não falta no Brasil são entidades ditas representativas do mundo do livro. Andam aí pela casa da centena. São câmaras, sindicatos, associações, uniões, ligas, cooperativas, etc. Nada contra, fique bem claro. O problema é outro: o que sobra em quantidade e diversidade de entidades, tanto do ponto de vista das muitas categorias profissionais que integram a atividade livreira quanto no que diz respeito a sua distribuição regional, acaba faltando em termos de efetiva e eficiente qualidade e legitimidade de representação política para a indispensável interlocução com o poder público e com a sociedade e, não menos importante, de articulação dos interesses, principalmente econômicos, por vezes conflitantes, dos vários elos que compõem a cadeia de produção do livro. Para começar pela articu-
bubapiacsek@yahoo.com.br
Avanhandava
Cumprimentos
IVO HERZOG, diretor executivo
São Paulo
Rigorcontra a corrupção A que ponto chegamos! Este pobre Brasil, país tão abençoado por Deus, pois foi aquinhoado com riquezas naturais, um clima perfeito para o desenvolvimento dos maiores projetos agropecuários de que o mundo possa ter conhecimento, está sendo governado por políticos corruptos, por um sindicalista que pensa ser um chefe de Estado, mas nada é além de um apedeuta interessado em se manter no poder, para poder manipular as massas mais humildes e conseguir seus propósitos de enriquecimento, não importando quem pagará a conta no final. Quando esse senhor que está presidente vem a público pedir mais rigor contra a cor-
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
lação interna e pensando apenas na produção editorial para a comercialização no varejo, o exemplo mais ilustrativo talvez seja a relação entre dois dos principais elos da cadeia: editores e livreiros. É uma relação tensa, difícil e desequilibrada. No ano passado as editoras brasileiras lançaram cerca de 5 mil títulos novos apenas na categoria de obras gerais, que equivale a menos da metade dos livros comercializados. Uma média de quase 15 títulos novos por dia. Ora, não há livraria capaz de comprar tudo isso. Não há nem espaço físico para expor toda essa produção. No mercado do livro, portanto, a oferta é muito maior do que a demanda. Então, o livreiro negocia sempre a partir de uma posição de força. A maior evidência disso é que, nos últimos 15 anos, o desconto exigido pelos varejistas sobre o preço de capa dos livros aumentou cerca de 15 pontos porcentuais. Já superou largamente os 50%. É a lógica do mercado. Isso é bom para o livro? Qualquer cadeia tem a força de seu elo mais fraco. Parece óbvia, portanto, a necessidade de que, estando todos no mesmo barco, editores e livreiros não percam de vista a meta comum que é o fortalecimento do mercado do livro como um todo. Uma questão política essencial a ser discutida entre os interessados – se alguém se der ao trabalho de articular esse debate. Já a questão da representação política junto aos poderes públicos e à sociedade é ainda mais aguda, porque envolve fundamentos do negócio, como se verifica, dramaticamente, neste momento. Um breve retrospecto da agenda nacional do livro na última década dá bem uma ideia da escassa influência da comunidade livreira nas questões que são de seu interesse vital. Já em 2003, por razões políticas internas do Ministério da Cultura, foi desativada a Secretaria Nacional do Livro e da Leitura, privando a política do livro de um instrumento institucional importante, a partir do qual se acenava com a perspectiva da institucionalização de uma “política de Estado” para o setor. Nesse mesmo ano foi assinada a Lei do Livro, o primeiro, digamos assim, marco regulatório do setor na História brasileira. Mas longe de ser o resultado de uma ampla e democrática consulta aos interessados, a lei foi iniciativa do senador José Sarney com o apoio de grandes editores do Rio de Janeiro. Melhor ela do que nada, claro, mas o fato é que está até hoje à espera de regulamentação.
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rupção, obviamente se esqueceu do seu mensalão, dos dólares na cueca, da morte dos ex-prefeitos Celso Daniel e Toninho de Campinas, entre outras falcatruas. Que tal pormos na cadeia os 40 ladrões daquele escândalo? Quem era o chefe? Então, vamos pôr todos atrás das grades e, principalmente, recuperar o dinheiro roubado do erário. Reage, Brasil! CLAUDIO DALCENO SPILLA Claudio.Spilla@CSpilla.org
São Caetano do Sul ● Por acaso o presidente Lula estava fazendo uma autocrítica ao dizer que, “às vezes, o corrupto é o cara que tem mais cara de anjo, o que mais fala contra a corrupção”? Anjo, por sinal, é a ima-
No final de 2004 o governo decretou a desoneração fiscal do livro. E as entidades do setor, depois de se terem comprometido a uma contrapartida na forma de contribuição para o Fundo Pró-Leitura, enrolaram durante cinco anos, tentando dar o calote. Aparentemente haviam conseguido, há poucos meses, reduzir o prejuízo, diminuindo a contribuição para 0,33%. Agora vem a decisão final do governo, que expõe em toda a sua dimensão a impotência das entidades livreiras, que já estavam começando a se achar muito espertas. E apesar de outras iniciativas, como a reativação da Câmara Setorial do Livro e da Leitura (CSLL) e a criação do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), o que produziu muita espuma e pouco resultado, a tal política “de Estado” para o livro ainda é um sonho. E como se comportam as entidades do livro? Como se comporta, em especial, a Câmara Brasileira do Livro (CBL), que é a única das gran-
A decisão sobre o Pró-Leitura expõe a impotência das entidades livreiras des entidades que teoricamente representam toda a cadeia livreira? Aparentemente, a CBL tem estado muito preocupada, pelo menos, com sua própria imagem. Anda plantando na mídia notícias de seu próprio interesse, com dados estatísticos manipulados que, não por coincidência, são festivamente comemorados nos gabinetes de Brasília. Ou seja, aquela que está mais próxima de ser a mais importante entidade representativa da cadeia editorial, incapaz de influir decisivamente nas políticas que interessam ao livro, age como se tivesse sido cooptada pelo governo federal. Mas sejamos justos: se não tem poder suficiente para a interlocução com o poder público, não é porque a CBL assim o queira. O que lhe falta é a legitimidade que só pode resultar do reconhecimento de sua representação por toda a comunidade livreira. E isso não existe. A CBL é vista, fora de São Paulo, como uma “entidade paulista”. Quem esteve no Encontro de Editores realizado três anos atrás em Fortaleza (aliás, acabaram esses encontros anuais?) sabe do que falo. Está na hora de colocar essa e muitas outras questões na agenda do mundo do livro. ● A. P. Quartim de Moraes é jornalista e editor. E-mail: apquartim@dualtec.com.br
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
gem que querem passar dele com o filme Lula, o Filho do Brasil. E quem mais se vem dizendo de pureza ética sem igual no mundo desde os tempos da primeira tentativa de se eleger presidente? MARCOS GELLIS m.gellis@terra.com.br
São Paulo ● Lula dá gargalhadas da partilha do pré-sal, do mensalão do PT, que se foi, dos panetones do Arruda, que se vão, e da sociedade, que nada pode fazer, mas, agora quer o mensalão do DEM apurado com rigor. Demorou, mas a justiça será feita, é só esperar. SILVIO DO NASCIMENTO COSTA sinasco@ig.com.br
São Paulo
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SEXTA-FEIRA, 11 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL ‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 133 DIAS
PF pedirĂĄ quebra de sigilo bancĂĄrio de Arruda Objetivo ĂŠ investigar indĂcios de crimes como lavagem de dinheiro e enriquecimento ilĂcito q PĂ G.A8
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proĂbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negĂłcios do empresĂĄrio, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens jĂĄ apuradas sobre o caso
STF rejeita recurso e censura ao ‘Estado’ continua em vigor Por 6 votos a 3, ministros recusaram tese de que mordaça desrespeita decisĂŁo que derrubou a Lei de Imprensa Mariangela Gallucci Felipe Recondo BRASĂ?LIA
O Supremo Tribunal Federal (STF), por 6 votos a 3, arquivou ontem a reclamação em que os advogados do Estado pediam o fimda proibiçãoao jornalde publicar reportagens sobrea Operação Boi Barrica, que investigou o empresĂĄrio Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, JosĂŠ Sarney (PMDBAP). Com isso, fica mantida a censura imposta no fim de julho pelodesembargadorDĂĄcioVieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e TerritĂłrios (TJ-DF). A mordaça ao Estado, que vai recorrer, jĂĄ soma 133 dias. A maioria dos ministros – numa decisĂŁo que discutiu aspectos tĂŠcnicos e nĂŁo o mĂŠrito – nĂŁo concordou com a tese defendida pelos advogados do jornal, de que a censura desrespeita a decisĂŁo do prĂłprio Supremo que derrubou a Lei de Imprensa e consagrou o pleno direito Ă liberdade de expressĂŁo. Naquela decisĂŁo,tomada em abril deste ano, hĂĄ referĂŞncia explĂcita contra a censura imposta pelos Poderes estatais, como o JudiciĂĄrio. “NĂŁohĂĄliberdadedeimprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prĂŠvia, inclusive a procedente do Poder JudiciĂĄrioâ€?, diz o texto publicado no DiĂĄrio da Justiça. A Lei de Imprensa que vigorou atĂŠ o julgamentodeabrileraumdocumentolegaldotempodoregimemilitar (1964-1985).
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Voto vencedor foi dado por Peluso, que arquivou ação sem discussĂŁo do mĂŠrito de Imprensaâ€?, afirmou Cezar Peluso durante o julgamento. Votaram com Peluso os ministros Eros Graus, JosĂŠ Antonio DiasToffoli, GilmarMendes,Ellen Gracie e Ricardo Lewandowski. AlĂŠm de concordar com a argumentação tĂŠcnico-jurĂdica de Peluso, o presidente do STF, GilmarMendes,dissequeahon-
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Uma decisĂŁo da qual me envergonho WALTER FANGANIELLO MAIEROVITCH*
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INTERCEPTAÇÕES
Apesar de ter decidido dessa forma neste ano, ontem a maioria dos ministros do STF afirmou que o resultado do julgamento sobre a Lei de Imprensa nĂŁo poderia ser aplicado ao caso do Estado. De acordo com a ala do Supremo vencedora no julgamento de ontem, a decisĂŁo judicial do TJ-DF de censurar o jornal baseou-se na Constituição e na legislação que trata de interceptaçþestelefĂ´nicas.Portanto, nĂŁo haveria referĂŞncia Ă Lei de Imprensa e ao julgamento de abril do STF. Por esse entendimento, nĂŁo caberia reclamação ao Supremo por suposto desrespeito Ă decisĂŁo da corte. Reclamação ĂŠ um recurso usado quando uma decisĂŁo do STFĂŠ descumprida por um magistrado ou outro tribunal. No caso, entra-se no Supremo com uma reclamação para fazer valer a decisĂŁo que a corte tomou sobre o tema. Ovotovencedordojulgamento foi dado pelo vice-presidente do STF e relator do caso, ministro Cezar Peluso, que arquivou sem discussĂŁo do mĂŠrito a ação apresentada pelo Estado. “A decisĂŁooraimpugnada nĂŁotangencia sequer aspectos da Lei
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â—? â—? â—? Quando em jogo a Liberdade de Imprensa – que assegura o desenvolvimento da vida democrĂĄtica–, nĂŁo se pode, numa Suprema Corte, adotarse uma postura burocrĂĄtica, como se estivĂŠssemos ao tempo do direito sumular romano, em que a forma tinha mais importância do que o fundo. Deixar de examinar o mĂŠrito da questĂŁo, a tĂtulo da inadequação da via escolhida e quando de uma clareza solar a violação Ă liberdade de imprensa, coloca a nossa Suprema Corte entre as piores do planeta. Afinal, nenhuma lesĂŁo a direito – e no caso era lesĂŁo a direito fundamental – pode ser excluĂda da apreciação do JudiciĂĄrio. E o STF, pela maioria, deixou de examinar a lesĂŁo para se fixar em questĂŁo processual, de forma. Quando se ouve, pela boca do ministro Eros Grau, que “aplicar a lei nĂŁo ĂŠ censuraâ€?, preocupa sobremaneira. AtĂŠ um rĂĄbula de porta de cadeia sabe que se aplicada mal a lei pode gerar censura. Depois do voto de Eros Grau, voltei a lembrar o grande Mario Quintana, que afirmou: “A Justiça ĂŠ cega. Isso explica muita coisa.â€? Em resumo. Houve censura. O STF, no entanto, preferiu entender que a roupagem, para se obter o seu reconhecimento, foi mal escolhida. LamentĂĄvel. E quando penso no segundo hĂĄbeas corpus concedido a Daniel Dantas, quando se rasgou a prĂłpria sĂşmula e se pulou instâncias para atendĂŞ-lo, volto a pensar em Mario Quintana e acrescento: “me envergonho da decisĂŁo da mais alta Corte do meu paĂsâ€?. â—?
* Walter Fanganiello Maierovitch Ê presidente do Instituto Giovanni Falcone, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo e professor de Direito
ra e a intimidade, citados por DĂĄcio Vieira para impor a censura ao jornal, tĂŞm de ser preservadas.“Se ĂŠ inviolĂĄvel a honra e a intimidade, ĂŠ preciso que isso tenha alguma consequĂŞncia. Esses valores sĂŁo inviolĂĄveis. E o que ĂŠ inviolĂĄvel nĂŁo ĂŠ para ser violadoâ€?, afirmou. ‘VISĂ•ES AUTORITĂ RIAS’
Primeiro ministro a votar pela derrubada da mordaça impostaaoEstado,CarlosAyresBritto lembrou que ao declarar o fim da Lei de Imprensa, em abril, o tribunal levou em conta dispositivos da Constituição que vedam a censura prĂŠvia Ă mĂdia,Ă s manifestaçþes e Ă s publicaçþes. A ministra CĂĄrmen LĂşcia e o decano do STF, Celso de Mello, acompanharam Ayres Britto. ParaCelsodeMello,ĂŠprofundamente grave e preocupante que ainda remanesçam no aparelho de Estado “visĂľes autori-
tĂĄriasâ€? que buscam justificar a prĂĄtica da censura a publicaçþes em geral. Ele lembrou que no dia 13 serĂŁo rememorados os 41 anos da data em que o marechal Artur da Costa e Silva, segundopresidentedo regimemilitar,impĂ´saoPaĂsoAtoInstitucional nÂş 5, o AI-5. “O passado deve ser respeitado pela corte, pelosmagistrados epelostribunaisâ€?, afirmou Celso de Mello. “O poder geral de cautela ĂŠ o novo nome da censura em nosso paĂs.â€? ALTERNATIVAS
De acordo com ministros do STF, o jornal ainda pode questionara censurapormeio deoutros instrumentos que não sejam a reclamação. Um dos ministros afirmou que a solução do caso, seguindo esse caminho, certamente vai demorar. � †Mais informaçþes nas påginas A6 e A7
Jornal aguarda publicação de acĂłrdĂŁo para recorrer O advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira, que defende o Estado, disse que vai aguardar a publicação do acĂłrdĂŁo sobre a decisĂŁo tomada ontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para definir que estratĂŠgia adotar na luta contra a censura imposta ao jornal. “A partir dos votos escritos, vamos ver que caminho seguir, sem emoçãoâ€?, afirmou. Normalmente, o Supremo leva de 15 a 20 dias para publicar os seus acĂłrdĂŁos. Mas Manuel Alceu acredita que, neste caso, o prazo deve ser um pouco mais extenso. HaverĂĄ muitas declaraçþes de voto por parte dos ministros do STF – ele prevĂŞ –, o que levaria para 30 dias, a contar de hoje, o prazo para a publicação do acĂłrdĂŁo. Uma das possibilidades de re-
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curso sĂŁo os embargos de declaração (quando a parte que se sentiu prejudicada pede ao juiz – ou juĂzes – que explicite o que pretendeu dizer com a sua decisĂŁo). Manuel Alceu informou que tramitam no Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) dois recursos, um especial endereçado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e outro extraordinĂĄrio, para o Supremo. Esses recursos foram interpostos hĂĄ 17 dias – depois da apresentação da reclamação ontem julgada pelo STF. A reclamação foi um atalho Ă instância mĂĄxima do JudiciĂĄrio para nĂŁo ter que aguardar a tramitação complexa dos recursos. O objeto dos dois recursos ĂŠ o mesmo: fazer cair a censura. O controle de admissibilidade – ou
seja, exame dos argumentos do jornal para saber se os recursos podem subir para julgamento nos tribunais superiores – Ê realizado pela presidência da corte, no caso o Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Por meio do recurso especial a defesa do Estado alega negativa de vigência à lei federal – Código de Processo Civil. No recurso extraordinårio a defesa sustenta que houve ofensa ao artigo 220 da Constituição, que garante a liberdade de informação. Em ambos os recursos o Estado pleiteia o fim da mordaça. Os dois recursos estão sendo processados, fase em que Ê dada vista à outra parte. Depois, a presidência do TJ-DF decidirå se estão presentes os requisitos de admissibilidade. �
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SEXTA-FEIRA, 11 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
Efeitos especiais Quem pode o mais pode o menos. Se o presidente Luiz Inácio da Silva tem convicção para propor e condições objetivas para fazer aprovar no Congresso lei tornando a corrupção de “altas autoridades” um crime hediondo, tem também disposição e meios para ajudar na aprovação da emenda popular que veda candidatos “fichas-sujas”. A emenda, agora já com 1,5 milhão de assinaturas, está na Câmara desde 29 de setembro e propõe alterar a Constituição para permitir o veto ao registro de candidaturas de gente que tenha sido condenada pela Justiça em decisão de primeira instância. Os líderes dos partidos já avisaram ao presidente Michel Temer que não vão mexer com isso porque acreditam na universalidade do direito à presunção da inocência até a condenação transitada em julgado em todas as instâncias, demore o tempo que demorar, tenha isso o efeito que tiver sobre a qualidade da composição do Parlamento. É mais ou menos como a história do fracasso da reforma política: não mudam aquilo que os favorece. Tampouco brigam com os fatos que os beneficiam. O mais vistoso em tela, a popularidade do presidente Lula, que faz a quase totalidade do mundo político ficar ao lado dele ou evitar contestá-lo de maneira contundente. De posse desse capital, o presidente teria força suficiente para enfrentar de forma efetiva o mal da corrupção. Falta-lhe, porém, autoridade moral por ele mesmo solapada na constante e insistente defesa que faz de gente suspeita, na proteção que dá a acusados de faltas graves e no tratamento fidalgo que confere a transgressores comprovados e, não raro, assumidos. Nessa seara, entretanto, a palavra do presidente está desacreditada por seus atos. Daí a desconfiança com que foi recebido o anúncio do envio ao Congresso do projeto de agravamento de penas aos corruptos dos altos escalões. Se um dia reivindica tratamento especial para um aliado político cercado de denúncias por todos os lados, no outro considera que “não falam por si” imagens tidas pela Polícia Federal e pela Justiça como provas de corrupção explícita, não há como acreditar na franqueza do gesto de propor penas mais duras para corruptos. Ainda mais quando o discurso vem sozinho, sem a companhia do compromisso de torná-lo uma ação objetiva no Congresso. O próprio presidente alimenta a desconfiança de que não fez mais que aproveitar a chance da passagem do Dia Mundial de Combate à Corrupção para se promover. “Pode ser (que a lei) não resolva o problema, mas ajuda a passar à sociedade a ideia de que não há impunidade”. Quer dizer, ele mesmo já reconhece que entra na história com uma proposta provavelmente fadada à inconsequência. Mas ao departamento de publicidade e incremento do espetáculo do crescimento da popularidade do presidente do Palácio do Planalto isso basta, porque a intenção é “passar à sociedade” a ideia de que Lula é o general desse combate e nada mais. A questão é que o entendimento do recado não pode ser absorvido como pretendido sem que haja uma atitude diferente daquela que pautou o envio de outras tantas propostas enviadas ao Congresso e lá deixadas no limbo, como a reforma política, para citar apenas a de caráter correlato. A ausência de atos que sustentem o discurso do “combate à safadeza com o dinheiro público” desqualifica a palavra e reduz o gesto a apenas mais um lance de propaganda enganosa.
Lula faria mais pelo ‘combate à safadeza’ se parasse de proteger gente suspeita
Versão paulista O discurso oficialmente preponderante entre os aliados do governador José Serra é o de que Geraldo Alckmin será mesmo o candidato ao governo de São Paulo. E, de fato, essa é a linha de trabalho mais visível. Mas há outra que direciona Alckmin para a candidatura ao Senado e ainda aposta em Aloysio Nunes Ferreira, chefe da Casa Civil do Palácio dos Bandeirantes. Com o seguinte raciocínio: deixar o governo na mão de Alckmin equivaleria a abrir mão da cidadela de poder para o grupo adversário. Em português claro, perder o controle político sobre São Paulo. Mas, e as pesquisas que dão a Alckmin 60% das preferências? No entendimento do grupo, ganha quem tiver o apoio de Serra. Qualquer semelhança com o pensamento predominante no PT sobre a relação Lula-Dilma Rousseff não é mera coincidência.
No telhado Ao pedir que o PMDB indique “três nomes” para ocupar a vaga de vice da chapa de Dilma, o presidente Lula desmancha a esperança acalentada pelo presidente da Câmara, Michel Temer.
Era vidro Depois da série de desventuras – fraude, questão anulada e gabarito de prova errado – com o Enem, nunca mais se ouviu falar na candidatura ao governo de São Paulo do ministro da Educação, Fernando Haddad, que já foi o preferido de Lula. ●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 133 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
STF começa a debater tutela judicial sobre imprensa Gilmar Mendes e Eros Grau concordaram que juízes devem ter o direito de impedir a publicação de reportagens; Ayres Britto contestou a tese DIDA SAMPAIO/AE
BRASÍLIA
Durante o julgamento de ontem, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) anteciparam o debate sobre o poder do Judiciário de impedir a publicação de jornais, livros e revistas para impedir a violação de direitos individuais. Dois dos ministros adiantaram o entendimento sobre o assunto. O presidente do STF, Gilmar Mendes, foi enfático ao dizer que os juízes podem impedir a publicação de matérias jornalísticas, por exemplo, caso o assuntoviole a intimidade ou honra de alguém. Mendes citou um episódio ocorrido em 1994 envolvendo a Escola Base, que funcionava no bairro paulistano da Aclimação, em São Paulo. A escola teve de ser fechada depois que os donos e funcionários foram apontados por um delegado como suspeitos de abusar sexualmente dos alunos. “Setivessehavidonaquelecaso uma intervenção judicial, infelizmentenãohouve, quetivesse impedido aquele delegado, mancomunado com órgão de imprensa,dedivulgaraquelefato, aquela estrutura toda escolar e familiar teria sido preservada. E não foi”, disse Mendes. OministroErosGrauconcordou com a tese. “O juiz está limitado pela lei. O censor não está
OPOSIÇÃO – Para Carlos Ayres Britto, não há lei que chancele censura
limitado por lei alguma. Aí não há censura. Há aplicação da lei. Aqui não estamos falando em censura. Estamos falando na aplicação da Constituição pelo PoderJudiciário”,afirmouoministroaotratardoprocessoprotocolado pelo Estado. Oministro CarlosAyres Britto, que relatou o processo que culminou na extinção da Lei de Imprensa, disse que o Judiciário não pode censurar prévia ou posteriormente a publicação de matérias. “Não há no direito brasileiro norma ou lei que chancele poder de censura à magistratura”, dclarou. Decano do STF, o ministro
Celso de Mello afirmou que desde o Império as Constituições brasileiras vedavam a censura, com exceção do governo ditatorial de Getúlio Vargas e dos go-
Vários ministros optaram por não se posicionar em relação ao tema vernos militares. Ele lembrou quehá41 anos era baixado oAto Institucionalnúmero 5,quesuspendeu diversos direitos no Brasil e permitiu a censura pré-
via, inclusive em caráter administrativo. “O poder de cautela é o novo nome da censura no nosso País”, criticou. Oprópriorelatordareclamação, Cezar Peluso, que votou contra o pedido do Estado, admitiu que estranhava o fato de o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) ter mantido a liminar que impede a publicação mesmo depois de ter afastado o desembargador Dácio Vieira da relatoria e transferido o caso para a Justiça Federal no Maranhão. “Não há, por fim, lugar para estima da legitimidade do trâmiteprocessualdacausa,embora admire, à primeira vista, a manutençãodeliminarconcedida por magistrado afastado por suspeição em acórdão do tribunal que se declarou absolutamente incompetente para o feito, ao avistar conexão entre o objeto do agravo de instrumento e a decisão de quebra de sigilo telefônico emitida por juiz federal do Estado do Maranhão”, afirmou Peluso. Ao final, porém, negou o pedido do jornal. Os outros ministros não se manifestaram sobre o tema. O ministro José Antonio Dias Toffoli, por exemplo, afirmou que seu voto limitou-se a analisar se a decisão do Tribunal de Justiça desrespeitava julgamento do STF ao analisar a Lei de Imprensa. ●
Divisão da corte sobre o caso já era anunciada Ministros criticavam Ayres Britto por acórdão sobre Lei de Imprensa BRASÍLIA
A polêmica e a divisão no julgamentode ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) já era anunciada por alguns ministros da corte. Reservadamente,diziamhavia semanas que o ministro Carlos Ayres Britto, relator da ação quequestionavaacompatibilidade da Lei de Imprensa com a Constituição de 1988, exagerou ao escrever o acórdão do julgamento, ultrapassandooslimites doquefoidecidido pelo tribunal. O texto, redigido por Ayres Britto e publicado no Diário da Justiça, estabelece que o direito à liberdade de imprensa é pleno e não é admitida a censura prévia, inclusive pelo Poder Judiciário.Combasenoacórdão,veículos de imprensa poderiam, em tese, entrar com reclamações na corte contra sentenças que censurassem matérias jornalísticas. Relator da reclamação do Estado, o vice-presidente do STF, Cezar Peluso, mostrou discordância dos termos do acórdão, ao afirmar que a decisão que derrubou a Lei de Imprensa não pode ser alargada “por inspiração das mais elevadas ou nobres razões políticas ou institucionais” e “instaurar, onde não cabe nem a fórceps, ampla querela constitucional a respeito do alcance da liberdade de imprensa na relação com o poder jurisdicional”. De acordo Peluso, não é possível, com base no julgamento da Lei de Imprensa, questionar sentenças envolvendo veículos de comunicaçãoquevenhamaserimpedidos de publicar matérias por causa de decisão judicial embasada em outros termos que não sejam a legislação
FRASE
Cezar Peluso Ministro do Supremo Tribunal Federal “Salvas as ementas, que ao propósito refletem apenas a posição pessoal do eminente ministro relator, não a opinião majoritária da Corte, o conteúdo semântico geral do acórdão traduz, na inteligência sistemática dos votos, o mero juízo comum de ser a Lei de Imprensa incompatível com a nova ordem constitucional”
derrubada pelo tribunal. Ele afirmou que não se pode extrairdaquele julgamentomotivos determinantes que “sejam capazes de transcender as fronteiras de meras opiniões pessoais isoladas” para convertê-lasnoqueseriao“pensamento da corte” e assim obrigar “de maneira perene e peremptória, toda e qualquer decisão judicial acerca dos casos recorrentes deconflito entredireitosdapersonalidade e liberdade de expressão ou de informação”. O ministro chegou a dizer que, em determinado trecho da decisão que foi publicada, estava expressa a posição pessoal de Britto em relação ao assunto. “Salvas as ementas, que ao propósito refletem apenas a posição pessoal do eminente ministrorelator, nãoa opinião majoritáriadacorte,oconteúdosemântico geral do acórdão traduz, na inteligência sistemática dos votos, o mero juízo comum de ser a Lei de Imprensa incompatível com a nova ordem constitucional”, disse o ministro. ●
SEXTA-FEIRA, 11 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 133 DIAS
NACIONAL NACIONAL A7 A7
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Celso de Mello vê censura como ato discriminatório contra o ‘Estado’ Ministro recordou apreensão do jornal em 13 dezembro de 1968, data da edição do Ato Institucional número 5 DIDA SAMPAIO/AE
FRASES
Guilherme Scarance
Ao proferir o seu voto, o decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, remontou ao período do Império, se referiuaconvençõesinternacionaiselembroudecisõesdospróprios colegas para repudiar, do começoaofimdesuafala,aproibição imposta ao Estado. “A censura traduz a ideia mesma da perversão das instituições democráticas, em um regime político onde a liberdade deve prevalecer”, disse. Para ele, a mordaça é um “retrocesso político-jurídico”, que devolve o País “ao período colonial”. Oministrorecordouaapreensão do Estado na madrugada de 13 de dezembro de 1968, com a entrada em vigor do Ato Institucionalnº5 (AI-5), e citouoeditorial Instituições em Frangalhos, mantido pelo diretor e proprietário do jornal, apesar das pressões dos militares. “Julio de Mesquita Filho publicou um editorial, eu mesmo tive acesso aele.Aediçãofoiapreendidapelos órgãos de repressão.” Mello destacou que a decisão doTribunaldeJustiçadoDistrito Federal (TJ-DF) só impede o Estado deexercer a suafunção, enquanto os demais veículos trabalham normalmente. “Outros órgãos de comunicação social continuam divulgando e não sofreram essa interdição. Portanto,essainterdição étambém, além de arbitrária, além de inconstitucional, é uma decisãodiscriminatória.Eincideso-
Celso de Mello Ministro do STF
“A censura traduz a ideia mesma da perversão das instituições democráticas, em um regime político onde a liberdade deve prevalecer” “Outros órgãos de comunicação social continuam divulgando e não sofreram essa interdição. Portanto, essa interdição é também, além de arbitrária, além de inconstitucional, é uma decisão discriminatória. E incide sobre um órgão da imprensa que, já no final do Segundo Reinado, então A Província de São Paulo, fez da causa da República um de seus grandes projetos” “Entendo particularmente grave e profundamente preocupante que ainda remanesçam, sim, no aparelho de Estado, determinadas visões autoritárias” TRADIÇÃO – Celso de Mello, seguido por Marco Aurélio e Peluso: ‘Quase todas as Constituições do Brasil expressamente repudiaram a censura’
bre um órgão da imprensa que, já no final do Segundo Reinado, então A Província de São Paulo, fezdacausadaRepública umde seus grandes projetos.” Ao traçar um paralelo com os anos de chumbo, Mello fez umalerta: “Entendoparticularmente grave e profundamente preocupante que ainda remanesçam, sim, no aparelho de Estado,determinadasvisões autoritárias que buscar justificar, pelo exercício arbitrário do poder geral de cautela, a prática
ilegítima da censura.” Aindadeacordocomoministro, “quase todas as Constituições do Brasil expressamente repudiaramacensura”.“Contavam com uma cláusula de veto explícito”, completou. TRATADOS
Mellocomeçouoseu votodizendo que ontem se celebrava uma data histórica – “61º aniversário da promulgação, em Paris, pelas Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos da
TERRAS
Evo ‘importa’ reforma agrária do Brasil Bolívia já acertou programa de cooperação com País ANDRE DUSEK/AE-15/9/2008
Roldão Arruda
O governo da Bolívia, sob a chefia do recém-reeleito presidente Evo Morales, está interessado em importar o modelo brasileiro de reforma agrária. Os dois países já acertaram um programa de cooperação, que começou a deslanchar nesta semana, com a chegada ao Brasil de uma equipe de oito técnicos do Instituto Nacional de Reforma Agrária, da Bolívia. Eles já visitaram projetos de assentamentos e cooperativas rurais no Paraná e hoje devem se deslocar para Santa Catarina. No município catarinense de São Miguel do Oeste vão conhecer a experiência de uma cooperativa de assentados que envasa cerca de 400 mil litros de leite por dia. Amanhã eles visitam um frigorífico de peixes e uma fábrica de conservas de pepino em Abelardo Luz. Na segunda-feira o grupo de bolivianos vai a Brasília, para participar de uma série de painéis e debates, na sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O objetivo é oferecer aos visitantes uma visão detalhada do que está sendo feito no País nas áreas de reforma agrária, organizaçãode cadastro fundiário, georreferenciamento e titulação de imóveis rurais. No fim da semana, os técnicos bolivianos deverão encerrar o programa no Brasil com visitas a assentamentos rurais localizados nos arredores de Brasília. Em cada uma dessas etapas eles são acompanhados por diretores do Incra. INTERCÂMBIO
O governo brasileiro tem procurado cada vez mais estabelecer contatos com países do Mercosul nessa área de refor-
FOCO – Evo: regularização de terras ocupadas por índios é desafio
ma agrária, regularização fundiária e produção de alimentos em pequenas propriedades. Já existe no Incra uma diretoria encarregada de estimular esse tipo de intercâmbio. Duas expressõescomuns nasmesas-redondas e seminários sobre o assunto são soberania alimentar e gestão territorial.
Técnicos bolivianos deverão visitar assentamentos perto de Brasília Um dos principais problemas da Bolívia, segundo informações dos técnicos enviados ao Brasil, é a regularização fundiária de terras ocupadas por grupos indígenas. Bastante organizados, especialmente após a ascensão de Evo ao poder, eles cobram do governo a titulação das terras e documentos de propriedade. Daí o interesse boliviano nos programas brasileiros de georreferenciamento. Na terça-feira, no Incra, em Brasília, o tema principal do
painel para os bolivianos será a fiscalização da função social da propriedade. Os expositores serão os técnicos encarregados de obter terras para a reforma agrária no Brasil, de acordo com as determinações constitucionais, que preveem a desapropriação de áreas consideradas improdutivas. Na quinta-feira será discutida a questão da legalização fundiária na região amazônica. TECNOLOGIA
O governo de Evo já pôs em andamento um programa de reforma agrária no país – com características históricas e sociais bem diferentes das brasileiras. O que se busca agora, segundo declarações dos técnicos do Instituto Nacional de Reforma Agrária, é seu aprimoramento, com a transferência de tecnologia adotada nos programas brasileiros. Os dois governos parecem bastante afinados nos discursos sobre o tema, afirmando que a desconcentraçãode terras favorece a cidadania. ●
Pessoa Humana”. “O artigo 19 do estatuto contempla direito à liberdade de opinião e expressão. Inclusive a prerrogativadeprocurar,dereceber e de transmitir informações e ideias”, acrescentou. Odecanodotribunalreferiuse, depois, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, aprovado em 1966, “sob a égide das Nações Unidas”. Fez, por fim, referência ao Pacto de São José da Costa Rica, firmado em 1969, “tão temido pelo re-
gime militar”, que “proclama, em seu artigo 13, que toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão”. Segundooministro,todosesses tratados foram endossados peloscolegasdeSupremonojulgamento que derrubou a Lei de Imprensa, em 30 de abril. Emseguida,elelembrouoescritor inglês John Milton. “Em discurso pela liberdade de imprensa,noParlamentodaInglaterra, após destacar a absoluta inutilidade da censura, salien-
ta: ‘A censura obstrui e retarda aimportaçãodanossa maisrica mercadoria, que é a verdade’.” “A liberdade de informação, portanto, tem um aspecto nuclear em nosso sistema jurídico”, insistiu Mello, na leitura do voto. “O cidadão tem a prerrogativa de receber informações sem qualquer obstrução, sem qualquerinterferênciaporqualquerórgãodepoder público,seja do Poder Executivo, seja do Poder Legislativo, seja do Poder Judiciário.” ●
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
ERNESTO RODRIGUES/AE
CADERNO 2
Nem tão parecidos assim
nás), desenhos e manuscritos de Hércules Florence, pioneiro da fotografia. ●
●● Muitos gêmeos idênticos, como Lucca e Filipe,de 5 anos, têm personalidades completamente diferentes. ●
(1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
12 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42424
●● Exposição reúne aquarelas (na foto, os índios gua-
Retrato do Brasil
JULIO MESQUITA
q ESPORTES
O 4º brasileiro na Fórmula 1 O piloto Lucas Di Grassi, de 25 anos, correrá pela estreante Manor em 2010. ● PÁG. E5
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Arruda cria esquema igual ao ‘valerioduto’
Alencar critica cerco à liberdade de imprensa
Produtora da campanha de 2006 recebe dinheiro de contratadas oficiais
Vice se referiu à censura ao ‘Estado’
2006. O sistema se assemelha ao “valerioduto”, que envolveu o governo Lula e a gestão de Eduardo Azeredo em Minas, no qual empresas-mãe contratadas repassavam dinheiro a políticos mediante subcontratações. No caso do Distrito Fede-
ral,o dinheiro vai primeiro para contratadas oficiais que fazem publicidadeedepoisétransferido à produtora. O governo negou irregularidades. Nos últimoscincoanos,averbadepublicidade do Distrito Federal foi de R$ 500 milhões. ● PÁG. A10
NÚMERO
R$ 500 mi
é o valor total da verba de publicidade do governo do DF nos últimos cinco anos
Estado. Há 134 dias o jornal não pode citar investigações sobre FernandoSarney,filhodo senador José Sarney. Para a Repórteres Sem Fronteira, a decisão é “perigosa”. ● PÁGS. A4, A6 e A7
O vice-presidente José Alencar disse estar preocupado com o cerceamento à liberdade de imprensa, em referência à decisão do Supremo Tribunal Federal de manter a censura judicial ao ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 134 DIAS
Receita intima 50 mil empresas devedoras
CHRISTIAN ALS/AFP
Câmara dos EUA aprova regulação financeira
CONFUSÃO – A polícia dinamarquesa prendeu 67 pessoas durante protestos ontem; uma grande manifestação está marcada para hoje
Texto pede corte de 25% nas emissões Um documento de sete páginas tornou concreta a chance de um acordo global na Conferência do Clima das Nações
Unidas, informam os enviados especiais a Copenhague Andrei Netto e Afra Balazina. Segundo o rascunho, a meta
Tempo: CAPITAL
NOTAS E INFORMAÇÕES
A mordaça ignorada O Supremo Tribunal Federal perdeu oportunidade histórica para afirmar a incolumidade do
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7 8 9 10 11 12
mínima de corte de emissões de gases-estufa até 2020 é de 25% para os países industrializados. O financiamento não foi
mais importante princípio singular das sociedades abertas – a liberdade de informar. ● PÁG. A3
● PÁG. C2
29º
21º
MÁXIMA
MÍNIMA
Risco de chuva e vento fortes em todas as regiões do Estado.
definido. Apesar das lacunas, a maior parte dos delegados viu o texto como um “passo à frente”. ● PÁGS. A25 e A26
Hoje: 140 páginas A. 1º caderno: 32+4 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 16 ● E. Esportes: 6 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 30 ● Ci. Imóveis: 12 (3.681 anúncios)
A Câmara dos Deputados dos EUA aprovou ontem o plano de Obama para reforma do sistema de regulação financeira. As mudanças incluem regras para a proteção de investidores e salários de executivos. ● PÁG. B16
América Latina deve evitar Irã, pede Hillary A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que é “péssima ideia” a aproximação de países da América Latina com o Irã. Sem citar o Brasil, pediu que se “pense duas vezes” antes de flertar com Teerã. ● PÁG. A14
Escândalo afasta Tiger Woods do golfe
●● Após
admitir traição, atleta mais bem pago do mundo sai por tempo indeterminado.
MICK TSIKAS/REUTERS
A Receita Federal intimou 50.390 empresas a quitarem seus débitos, no valor de R$ 4,3bilhões. Além disso,a partir de abril passará a pedir a inscrição no Cadastro de Inadimplentes (Cadin) de quem não acertar suas contas em 75 dias. ● PÁG. B1
Questões familiares
● PÁG. E1
Chuvas em SP
Em 11 dias, mais mortes que no verão Desde o início do mês, já são sete vítimas, todas na zona leste. ● PÁG. C1
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MARCOS DE PAULA/AE
O governo do Distrito Federal abasteceu nos últimos três anos com ao menos R$ 14,4 milhões,semlicitação,umaprodutora que fez programas para o diretório do DEM em Brasília e cuidou da campanha do governador José Roberto Arruda em
Internet no Brasil
104,7 milhões não têm acesso à rede ●● Em2008, 35,2%dos internautas utilizavam o serviço pago de lan houses. ● PÁG. B10
Detran de SP
No novo endereço, problemas antigos Prédios no centro não têm elevadores nem ar-condicionado. ● PÁG. C4
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A2 ESPAÇO ABERTO
SÁBADO, 12 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Protagonismo inconsequente
Não havia lugar para eles
J.A.GuilhonAlbuquerque
DomOdiloP. Scherer
Pouquíssimos países, como o Brasil, terão passado por mudanças tão rápidas e radicais em seu perfil externo nos últimos 20 anos. Acossado pelo pesadelo da dívida externa e pela inflação descontrolada, nosso país era, até meados dos anos 80, um pária na comunidade internacional, em dívida com a democracia, os direitos humanos, a proteção ambiental, os direitos dos povos e das minorias. Não era considerado um país confiável. Hoje tem assento obrigatório em qualquer fórum em que as questões mais relevantes para o destino do planeta sejam discutidas. E esse processo, construído ao longo de quatro governos, sofreu uma aceleração significativa no governo Lula, é justo que se anote. O número, a diversidade e a relevância das oportunidades que se abrem diante do Brasil – políticas, econômicas, morais – são difíceis de estimar, mas não são infinitas nem à prova de retrocesso. Todo exercício de poder tem custo. O exercício de po-
As oportunidades que se abrem para o Brasil não são à prova de retrocesso der no contexto internacional tem sempre um custo elevado e a liderança internacional tem um custo diretamente proporcional ao preço de seus objetivos. Por isso é indispensável medir a necessidade e a viabilidade das ações de política externa, não pelo alto perfil que elas podem emprestar ao País, muito menos a um ator político, mas por sua posição na hierarquia dos interesses vitais da Nação. Minha diferença com relação à política externa do governo Lula não é porque ela seja “de esquerda” – não é –, ou porque seja audaciosa – não é –, ou porque seja protagônica, o que pode ser ocasionalmente conveniente, desde que não vire obsessão. A política externa do atual governo é conceitualmente pobre – o que dificulta o diagnóstico correto dos desafios e oportunidades do contexto internacional. É operacionalmente chã – o que a leva a colocar todos os objetivos e atores no mesmo saco. É economicamente irracional porque não leva em conta nenhuma noção de custo e imagina que o capital de prestígio e influência de Lula, sua universal moeda de troca, seja inesgotável. Tudo isso converge na noção, que os áulicos não cessam de confirmar no presidente, de que, quanto maior o número de ações protagônicas de política externa, mais aumenta o capi-
tal de “liderança global” de Lu- das Nações Unidas, anunla, e quanto mais oportunida- ciando uma expansão sem des de exibir o presidente em precedentes de seu prograalto perfil, maior será o poder ma nuclear, com a construinternacional do País, e maio- ção de dez novas refinarias res os benefícios para o Brasil. de urânio. Lula foi mais longe em visiHaverá exemplo melhor em contrário do que o fiasco daque- ta a Berlim, insurgindo-se la reunião de países amazôni- contra nossos principais parcos, em que tivemos o dissabor ceiros estratégicos: desqualide ver esse expoente do reacio- ficou quatro anos de negocianarismo europeu, Sarkozy, pon- ções entre o sexteto (Estados tificar sobre nosso maior patri- Unidos, Reino Unido, França, mônio natural, como único in- Rússia, China e Alemanha) e terlocutor relevante de nosso o Irã, com vista a limitar as presidente? Será que os estra- ambições nucleares daquele tegistas do Planalto e do Itama- país, e negou legitimidade à raty aprenderão a lição? Não é Rússia e aos Estados Unidos, para exigir que qualquer país o que indica seu retrospecto. Primeiro, porque não sa- renuncie a seus objetivos bélibem distinguir divergência de cos, já que não promoveram traição, e a tratam com arro- o desarmamento. gância. Em sua defesa da visita Quem governa o Brasil há ao Brasil do presidente Ahma- tantos anos deveria saber que dinejad, do Irã (Folha de S.Pau- o protagonismo externo pode lo, 26/11), o assessor internacio- ser inútil e nocivo, porque nal do presidente Lula, Marco oneroso. O Mercosul, o Grupo Aurélio Garcia, dedica seis de do Rio, a Unasul e agora tamuma dezena de parágrafos não bém a OEA e o Pacto Amazôa apresentar seus argumentos nico vêm sofrendo, um depois ou refutar os contrários, mas a do outro, o desgaste e as diviofender aqueles que divergem, sões decorrentes da obsessão segundo ele, “subservientes”, de Lula pela liderança e sua “vira-latas”, “eleitoreiros”, pes- inclinação para o maniqueíscadores de “águas turvas”. Is- mo. Desde a fundação da so tudo porque algumas vozes ONU o Brasil vem sendo reindependentes se levantaram conduzido, regularmente, ao para manifestar sua divergên- Conselho de Segurança, no cia a que o governo brasileiro qual goza de merecido prestírecebesse, com pompa e cir- gio pela qualidade de sua parcunstância, o representante de ticipação. Que isso não se poum governo totalitário, suspei- nha também a perder por um to de desenvolver um progra- ativismo inconsequente, a serma nuclear com objetivos béli- viço de um indisfarçado culto cos, ele mesmo envolvido em à personalidade. ● maciça fraude eleitoral e responsável por cruel massacre J. A. Guilhon Albuquerque é de seus opositores. professor titular de Relações Segundo, porque os parcos Internacionais da FEA-USP argumentos do assessor em prol dos lucros da visita do líder do regime xiita se resumem a apresentar uma lista de governantes que teriam demonstrado apreço ou manifestado altas expectativas com relação às iniciativas externas de Lula. Como se atender às expectativas dos poderosos bastasse para legitimar o papel de um chefe de Estado. Se não é subserviência, é um argumento obsequioso. Mas nem sequer verdadeiro: enquanto com uma mão Lula afiançou os planos nucleares do regime xiita desde que “dentro dos compromissos internacionais”, com a outra determinou que o Brasil se abstivesse de aprovar o voto de censura da Agência Internacional de Energia Atômica contra violações de Teerã, decisão endossada até mesmo pela Rússia e pela China. Alentado por esse apoio sem contrapartida, no dia seJosé Roberto Arruda guinte Teerã desafiou o Conselho de Segurança
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Atétu,máxima toga? Os doutos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com honrosas três exceções, esqueceram-se de uma das máximas da Lei das 12 Tábuas (451 a.C.), que deveria (?) inspirar o espírito público dos juízes, salus populi suprema lex (a salvação do povo é a suprema lei), ao julgarem o processo de reclamação interposto contra o TJDF pelo nosso combativo Estadão. No esdrúxulo (des)entendimento da nossa Suprema Corte, a medida interposta pelo jornal, legalmente, estaria incorreta, muito embora o mérito, a abominável e indesejável censura, transbordasse razões intransponíveis a ensejar o pronto julgamento da cau-
proveito imoral da situação; a nova mistura de povos e culturas também fez emergirem velhas fobias, preconceitos e racismos em relação aos migrantes e estrangeiros, considerados uma ameaça ou, simplesmente, indesejados. No Brasil, as migrações desgovernadas produziram o avanço sobre a natureza, a ocupação descontrolada do território, o inchaço das metrópoles. Diante de uma realidade tão impressionante, que atinge praticamente todos os países, ainda não há uma atitude adequada dos governos e da comunidade internacional. O fato migratório é deixado, sobretudo, à iniciativa e à liberdade pessoais: cada um migra se quiser, vai para onde desejar, procura o que lhe interessar. No entanto, o fenômeno e suas consequências não são apenas individuais; o fluxo migratório é estimulado por enormes interesses econômicos e, muitas vezes, “governado” por organizações criminosas, que não hesitam em traficar seres humanos, expondo-os à insegurança total, como acontece com os clandestinos abandonados nas fronteiras, ou em navios à deriva, depois de terem sido explorados economicamente; ou, quando conseguem atravessar a fronteira, são mantidos em regime de semiescravidão. Os direitos humanos são violados sem piedade. No contexto atual da comunidade humana, as pessoas geralmente migram por necessidade, bem mais que por outros fatores. Há uma realidade inegável: a riqueza, o conforto, as oportunidades e perspectivas de vida melhor estão muito concentradas em alguns países ou em algumas regiões. E é para lá que o povo quer ir. LEO MARTINS Quando o pão falta em algum lugar, as pessoas saem à sua procura e batem à porta de quem o tem em abundância. Se as portas não se abrirem, o desejo de entrar, a necessidade e a fome levam a forçar as portas ou a pular os muros para entrar lá... Nem as políticas repressivas da imigração clandestina conseguem evitar o problema, e até o agravam com novos ingredientes. Nosso mundo globalizado precisa encarar com realismo e grandeza de alma esta situação. Também o papa Bento XVI, na encíclica Caritas in Veritate, tratou das migrações na atualidade: “Um fenômeno impressionante pela quantidade de pessoas envolvidas, pelas problemáticas sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas
Estudiosos estimam que no mundo, hoje, seriam mais de 200 milhões as pessoas em situação de migração! Deixam seus países, por escolha ou necessidade, fugindo de guerras, perseguições e desastres ambientais, da miséria e da fome. A globalização abateu muitas fronteiras, abriu novas perspectivas para o trabalho, facilitou a comunicação, a superação das distâncias e estimulou o deslocamento das pessoas. Também no Brasil: ao mesmo tempo que continua a receber imigrantes, hoje há cerca de 5 milhões de cidadãos vivendo fora do País. Sem falar das migrações internas, que levaram cerca de 30% dos brasileiros a pôr o pé na estrada. No entanto, na era da globalização, as migrações estão marcadas por uma série de contradições: os sonhos despertados, a vontade de partir e as novas oportunidades criadas permanecem uma miragem para muitos e não estão ao alcance de todos; aumentaram o desemprego, a fome e a miséria, as tensões sociais e as guerras; cresceu a concentração da riqueza e se aprofundou o abismo das desigualdades entre Norte e Sul do mundo; a sociedade eletrônica ignora fronteiras, mas na vida real levanta novos muros para se proteger contra as ameaças do novo; reapareceram velhas formas de violência, de exploração da pessoa, até de escravidão, estimuladas pela perspectiva do
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Fotodacapa sa. A comédia encenada pelo STF expõe a precariedade dos cérebros e do saber jurídico dos seus membros, mas expõe, sobretudo, a subserviência da toga às orientações emanadas do Poder Executivo. Vergonhoso, travestido e pusilânime julgamento. Até quando teremos de suportar?
vida dos que foram eleitos para defendê-lo é ditatorial. Queiram ou não, esse é o pensamento dos milhões de brasileiros que sempre leram o Estadão. Uma decisão que não transpira democracia, e sim vingança. Socorro, Brasil! LEÔNIDAS MARQUES
Não entendi a foto da capa do Estadão de ontem. Ao lado de Lula, em solenidade em São Luís, aparece um eleito no Amapá?! Não existe nenhum senador ou deputado federal eleito no Maranhão que pudesse participar desse evento com o presidente? E pergunto: suserano existe no Brasil?
JOSÉ CARLOS DE AZEVEDO PENCHEL
leo_vr@terra.com.br
DANIEL MILANI
iphacbicas@bol.com.br
Volta Redonda (RJ)
milanidf@terra.com.br
Betim (MG)
Acensuravoltou Por determinação do STF, cuja maioria dos ministros foi indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Estadão continua censurado. Privar o povo de conhecer as verdades que cercam a
São Paulo
Apocalipsenow A foto da cavalaria batendo naquele senhor... O Estadão censurado... Gente, acorda, o apocalipse já começou! JACY LORI ÁRTICO MATTÉDI jacymattedi@globo.com
São Paulo
● Vendo a foto estampada na primeira página do Estadão de ontem (Lula: palanque e palavrão), na qual o presidente aparece, ao lado de um de seus mais recentes amigos de infância, trajando uma roupa estranha, perguntei-me que diabos era aquilo. Mas mais adiante, à pagina A7, eis que surge Evo
que levanta, pelos desafios dramáticos que coloca à comunidade nacional e internacional” (n. 62). A responsabilidade pela administração adequada desse fato social e humano epocal, de dimensões imensas e complexas, não pode ser descarregada nas costas, muitas vezes frágeis, dos países de origem dos migrantes, mas requer uma forte e clarividente política de cooperação internacional, bem como a estreita colaboração entre as comunidades de origem e os países que recebem os fluxos de migratórios. Nenhum país está em condições de enfrentar sozinho esse problema; por isso o papa pede que sejam feitas normas internacionais capazes de harmonizar os diversos sistemas legislativos para salvaguardar as exigências e os direitos das pessoas e das famílias emigradas e, ao mesmo tempo, das sociedades que acolhem os emigrantes. Nas relações de trabalho, os imigrados não podem ser tidos, simplesmente, como peças do jogo econômi-
A questão dos migrantes faz-me lembrar a história de Jesus Cristo co e seria indigno e desumano reservar-lhes o tratamento dado a qualquer “fator de produção”: são pessoas humanas, com dignidade e direitos fundamentais inalienáveis, que devem ser respeitados sempre (cf. n. 62). A questão dos migrantes faz-me lembrar a história do nascimento de Jesus: César Augusto havia ordenado um recenseamento em todo o Império Romano e cada família tinha de se deslocar para seu lugar de origem, para se inscrever nas listas de controle da população. José e Maria, grávida de nove meses, também partiram de Nazaré para Belém, de onde eram originários. A pé, ou de burrinho, era longe! Não era turismo, mas migração forçada. Ordens do grande imperador. Chegando a Belém, não houve quem os acolhesse: “Não havia lugar para eles.” E o menino nasceu num abrigo para animais (cf. Lc 2,6-7). Teríamos nós aberto as portas? Também hoje, na pessoa dos migrantes, Ele continua a vir ao nosso encontro e, um dia, poderá surpreender-nos com este convite: “Era eu o forasteiro, e tu me acolheste. Agora vem, sê bem-vindo à casa do teu Senhor!” (cf. Mt 25,35). Palavras boas de serem lembradas no tempo do Natal. ● Dom Odilo P. Scherer é cardeal-arcebispo de São Paulo
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Morales (Evo ‘importa’ reforma agrária do Brasil) com traje semelhante. Conclusão: estaria Lula “importando” a moda indígena dos Andes? Enquanto for importação só do traje bolivariano, tudo bem. É só mais vexame internacional. Estamos nos habituando. ROBERTO ALIBERTI aliberti-rbe@uol.com.br
São Paulo ● Dize-me com quem andas e te direi quem és (em todas as línguas, por séculos e séculos).
forum@grupoestado.com.br
mília ou empresta dinheiro ao governo com os juros mais altos do planeta. Resolvi passar para a turma dos 84% de aprovação. FABIO MORGANTI tao2@terra.com.br
São Paulo
CPIdo MST Com Almeida Lima na presidência e Jilmar Tatto como relator, alguém ainda tem alguma dúvida sobre o resultado? CARLOS MONTAGNOLI
RUY CELIDONIO
carlosmontagnoli@uol.com.br
tioruycelif@hotmail.com
Jundiaí
São Paulo
Lulaé meurei Este país é uma beleza com seu Lula! Ou você pega uma Bolsa-Fa-
Enchentesem São Paulo “Está bom” que houve excesso de chuvas em São Paulo, como diz o prefeito do DEM. Só não enten-
SÁBADO, 12 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS & INFORMAÇÕES
A mordaça ignorada
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pegado ao formalismo jurídico, e decidindo como se fosse apenas um tribunal de quarto grau de jurisdição, e não uma corte constitucional, o Supremo Tribunal Federal (STF) perdeu oportunidade histórica para afirmar a incolumidade do mais importante princípio singular das sociedades abertas – a liberdade de informar – que lhe incumbe salvaguardar em última instância. Prendendo-se a ritos processuais, o que é comum nas instâncias inferiores do Judiciário, a Corte arquivou, por 6 votos a 3 – sem que a maioria entrasse no mérito da questão –, recurso apresentado por este jornal contra o ato do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) que o proibiu de continuar publicando informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. O alvo principal do inquérito é o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado e responsável pelos negócios da família. A censura prévia foi imposta em julho, em caráter liminar, a pedido do empresário, que alegou invasão de privacidade. O recurso – reclamação – sustentava que o TJDF, ao amordaçar o jornal, descumpriu de-
cisão do próprio Supremo, que em abril deste ano derrubou a Lei de Imprensa, instituída em 1967 pelo regime militar, e consagrou o direito irrestrito à liberdade de informar e de ser informado. Na ocasião, a posição do STF foi inequívoca e deu aos advogados a segurança jurídica que tanto reivindicavam, em matéria de direito da comunicação. “Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive a procedente do Poder Judiciário”, definiu a Corte. Tratava-se, portanto, de fazer valer a sua decisão. Mas o relator da reclamação, ministro Cezar Peluso, relegando para segundo plano a questão maior do princípio constitucional da liberdade de comunicação, entendeu que o instrumento era inadequado porque o TJDF não se baseou na Lei de Imprensa quando acolheu a ação de Fernando Sarney. A lei citada foi a de Interceptações Telefônicas. Votaram com Peluso os ministros Gilmar Mendes, Ellen Gracie, Eros Grau, José Antonio Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski. Discordaram dele os ministros Celso de Mello, Carlos Ayres Britto e Cármen Lúcia.
Jogo de empurra das agências
A
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) anunciou, terçafeira, o adiamento da 11ª Rodada de Licitações, que deveria ser realizada neste ano. Simultaneamente, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou o cancelamento do leilão de energia nova, marcado inicialmente para o dia 18 e remarcado para dia 21 próximo. Nos dois casos, há um jogo de empurra: as agências reguladoras ignoram obrigações elementares, deixam de conferir previsibilidade aos leilões e pretendem transferir para terceiros o que é de sua estrita responsabilidade. Desde que vige a Lei do Petróleo, de 1997, a ANP realiza leilões anuais em que os investidores já pagaram mais de R$ 5 bilhões em bônus de assinatura e comprometeram-se a investir mais de US$ 20 bilhões. Mas a 8ª Rodada, de 2007, interrompida por decisão judicial, ainda não foi concluída. E, terça-feira, em reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), foi anunciado que a ANP pediu a retirada de pauta da 11ª Rodada. Explicações vagas foram dadas pelo secretário executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Marcio Zimmermann, de que cerca da metade das áreas que seriam licitadas – no caso, 70 mil km² da Bacia do Solimões, no Amazonas – teria de ser retirada do leilão, porque não foram cumpridos os pré-requisitos ambientais. Explicação semelhante foi dada pela Aneel para suspender o leilão de energia A-5 (para geração de eletricidade a
partir de 2014), sob a alegação de que apenas uma usina, a de Santo Antonio do Jari – de um total de sete projetos de aproveitamento hidrelétrico –, recebeu licença ambiental. Nos dois casos, as agências reguladoras não fizeram o que lhes compete. Leilões de concessão de áreas de petróleo e gás ou de aproveitamentos hídricos só podem entrar na pauta do CNPE ou ter data marcada para a realização depois de obtida a licença ambiental. Foi o que explicou, ao pedir demissão do cargo de coordenador-geral de Infraestrutura de Energia Elétrica do Institu-
Sem licença ambiental, a ANP e a Aneel não devem marcar leilões to Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), Leozildo Tabajara da Silva Benjamin, em entrevista ao Estado de domingo passado. “A condição para ter o leilão é ter primeiro a licença, e já quiseram colocar o leilão na frente da licença”, declarou ele, denunciando as pressões recebidas do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, para apressar o licenciamento da Usina de Belo Monte. Se a licença for mal justificada, notou Leozildo, os técnicos correm o risco de sofrer ações judiciais. Por exemplo, o coordenador substituto da área específica de energia “já está com processo movido pelo Ministério Público, que a Justiça acatou”, disse ele, explicando: “Esse servidor, que faz parte da equipe de Belo Monte, está
respondendo a processo única e exclusivamente porque a procuradoria achou que ele disponibilizou o estudo para a população. O detalhe é que nenhum desses (ministros) que estão se arvorando a dizer o dia em que sai a licença será processado.” Mais importante do que discutir se as exigências ambientais são exorbitantes é impedir que as agências reguladoras transfiram para os órgãos ambientais a responsabilidade pelo atraso dos leilões. Às agências compete criar um ambiente de estabilidade para os investimentos, nacionais e estrangeiros, sobretudo em infraestrutura, onde maiores são as carências que retardam o desenvolvimento econômico do País. A ANP, por exemplo, terá papel decisivo na aplicação do novo marco regulatório do petróleo, em discussão no Congresso Nacional, num momento em que grandes investidores em petróleo e gás, como a Devon norte-americana, a ENI italiana e, provavelmente, também a Gás Brasiliano espanhola, estão deixando o Brasil. É possível que a fuga de investidores, além de significar mera realocação de portfólio, como interpreta o presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, se deva à falta de segurança regulatória. Promover leilões de concessão de áreas de petróleo ou de usinas elétricas é responsabilidade das agências. Mas elas não podem deixar de cumprir o dever elementar de só marcar um leilão depois de atendidos os requisitos ambientais.
Desse modo, o STF se dividiu em partes desiguais entre os que privilegiaram uma preliminar – a da pertinência da reclamação – e os que focalizaram o tema substantivo das liberdades fundamentais asseguradas pela Constituição. “Nada autoriza o juiz a exercer esse poder de censura prévia a nenhum jornal”, argumentou, por exemplo, Ayres Britto. Para ele, o TJDF valeu-se indiretamente da Lei de Imprensa, porque essa seria “a única base legal” para a sua decisão. O seu colega Lewandowski disse concordar com ele no mérito – o primado da liberdade de expressão. Admitiu, porém, que não conseguia “ultrapassar a questão preliminar”. Numa defesa apaixonada dos direitos fundamentais, pondo a questão dos princípios à frente das tecnicalidades processuais, Celso de Mello qualificou a decisão do TJDF de “discriminatória, além de arbitrária e inconstitucional”. Ele considerou “particularmente grave e profundamente preocupante que ainda remanesçam no aparelho de Estado determinadas visões autoritárias que buscam justificar, pe-
lo exercício arbitrário do poder geral de cautela, a prática ilegítima da censura”. Antes dele, o ministro Gilmar Mendes tocara no assunto ao afirmar que direitos invioláveis, como o da honra e da privacidade, devem ser protegidos contra “lesão ou ameaça de lesão”. Ayres Britto contrapôs que “o artigo 5º da Constituição não fala em ameaça de lesão, não autoriza censura prévia”. Mendes insistiu na tese de que “o direito de imprensa suporta limitações”, citando o episódio da Escola Base, em São Paulo, que teve de fechar as portas depois que os seus diretores foram expostos na mídia sob a falsa acusação de abusar dos alunos. Ele lamentou que à época a Justiça não tivesse restringido a imprensa. Retrucou Britto: “Não é pelo temor do abuso que se vai proibir o uso.” Esse é o problema de fundo de que o Supremo deveria se ocupar – a afirmação dos princípios fundamentais da Constituição. Ante dele, era absolutamente secundário saber se foi ou não formalmente apropriado o meio escolhido por este jornal para contestar a censura prévia que o atinge há 134 dias. O nervo da questão é o que foi dissecado por Britto. “Não há no direito brasileiro”, ensinou, “norma ou lei que chancele poder de censura à magistratura.”
O CNJ e o sistema prisional
A
publicação da lei que cria o Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário é mais uma medida posta em prática graças ao II Pacto Republicano de Estado por um Sistema de Justiça mais Ágil e Efetivo, assinado há oito meses pelos presidentes dos Três Poderes. Elaborado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o projeto teve rápida tramitação no Legislativo e institucionaliza um mecanismo de controle dos estabelecimentos penais que o CNJ adotou em caráter experimental, no ano passado, para verificar as condições de vida, a situação jurídica e os direitos previdenciários dos presos. Com base nessa experiência, o CNJ realizou mutirões carcerários em 17 Estados entre 2008 e 2009. A iniciativa resultou no reexame de 31 mil ações penais e na expedição de mais de 5 mil alvarás de soltura de presos que estavam encarcerados indevidamente. Além de registrar um déficit de 156 mil vagas nos estabelecimentos penais, o CNJ divulgou um levantamento revelando que, dos 446.687 homens e mulheres que estão presos, 254.738 já foram condenados e 191.949 são presos provisórios. Entre estes estão os que já cumpriram pena e os que estão à espera de julgamento, que não tem data para ser realizado por causa do congestionamento da Justiça Criminal. Somente no Estado de São Paulo, onde há 149.647 pessoas encarceradas em 160 estabelecimentos penais, é necessária a criação de pelo menos 55 mil vagas para se resolver o pro-
blema da superlotação das prisões. Na região metropolitana, os Centros de Detenção Provisória (CDPs) abrigam 21.670 presos a mais do que o número de vagas disponíveis. Segundo o CNJ, a situação mais grave está no Nordeste, especialmente nas unidades prisionais de Alagoas, Maranhão, Piauí e Sergipe, onde os provisórios constituem entre 65% e 77% da população carcerária. Os mutirões do CNJ também detectaram ausência de estrutura adequada para a condução de presos a audiências na maioria dos Estados fiscalizados. Depois de constatar que a
O trabalho do CNJ para melhorar as condições nas prisões brasileiras maioria desses presos está vivendo em condições degradantes, sem dinheiro para contratar advogados particulares, contando somente com o apoio técnico dos sobrecarregados serviços de assistência jurídica gratuita, o CNJ, com base na premissa de que esse quadro realimenta a violência urbana, propicia o surgimento de facções criminosas no sistema prisional e afronta direitos e garantias básicas, exigiu que os dirigentes dos17 Estados fiscalizados adotassem, até dezembro de 2010, medidas legais, administrativas e financeiras destinadas a expandir as defensorias públicas e a aumentar a oferta de vagas nos estabelecimentos penais. O problema é que o CNJ necessitava de um órgão específico, com orçamento próprio e
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
do por que ele gasta três vezes mais em publicidade do que em proteção das encostas “em risco”. Saudades do PSDB... FABIO FIGUEIREDO fafig3@terra.com.br
São Paulo ● Perguntar não faz mal: se as verbas para obras de emergência serão, na verdade, usadas pela Prefeitura para campanhas de publicidade da gestão, o que será divulgado, a própria propaganda? LAILA GUILHERME DOS SANTOS
São Paulo
O nosso prefeito Kassab tem razão em aumentar o IPTU de nossas propriedades, pois realmente elas se valorizaram, sim. Nós passamos a ter acesso a elas de iate... ●
WALTER GOZZI
“
Mais seguro que esconder a sujeira sob o tapete é mantê-la sob a toga”
A.Fernandes standyball@hotmail.com SãoPaulo
São Paulo
Magistratura O editorial As férias da magistratura (9/12, A3) deixa de examinar os fundamentos do pedido de providências formulado pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para que seja reconhecida e aplicada a simetria
constitucional entre magistrados e membros do Ministério Público (MP). A Constituição federal de 1988 estabelece o Poder Judiciário como ápice e paradigma das carreiras públicas e define o subsídio de ministro do Supremo Tribunal Federal como teto remuneratório. Dessa forma, a magistratura federal não pode ser convertida em piso das demais carreiras do serviço público. E é isso que na prática está acontecendo. Outros servidores, inclusive subordinados aos juízes, têm regime remuneratório e vantagens funcionais superiores à magistratura. Essa é uma inversão do sistema. O MP tem obtido sucesso no reconhecimento da simetria de direitos, vantagens e prerrogativas da magistratura. No pedido da Ajufe, elaborado por um dos mais respeitados
constitucionalistas do País, o professor Luís Roberto Barroso, busca-se que essa via seja de mão dupla, comunicando aos magistrados o regime jurídico mais favorável dos procuradores da República. É um pleito justo, ético e baseado em direitos legítimos. Por outro lado, o Judiciário Federal tem feito enorme esforço para agilizar os processos. De 2004 a 2008, foram distribuídos mais de 13 milhões de casos novos na Justiça Federal, sendo julgados 12,4 milhões de processos, com uma média de produtividade de quase 95%, o que equivale a mais de 1.840 por magistrado nesse período. A produtividade em segundo grau é de quase 100% na relação entre processos distribuídos e julgados. Nos Juizados Especiais Federais foram distribuídos mais
pessoal especializado, para monitorar o sistema prisional, fiscalizar a implementação das medidas socioeducativas previstas pela Lei de Execução Penal, promover mutirões para a reavaliação das prisões provisórias e das prisões definitivas, inspecionar hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico, assegurar a instalação de processo eletrônico em todas as Varas Penais, viabilizar programas de reinserção social e de capacitação profissional de internos e egressos das prisões e baixar resoluções disciplinando a internação de jovens e adolescentes “em situação de risco ou em conflitos com a lei”. A lei proposta pelo CNJ, aprovada pelo Legislativo e sancionada pelo presidente da República em tempo recorde, prevê uma estrutura enxuta para o funcionamento do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário, autorizando a criação de não mais do que um cargo de assessor em comissão e de seis cargos de supervisores e assistentes comissionados. Ela também define formalmente as competências funcionais do novo órgão e determina que ele poderá ser chefiado somente por um juiz-auxiliar, supervisionado por um conselheiro a ser designado pelo plenário do CNJ. Evidentemente, as autoridades judiciais e carcerárias ainda estão longe de vencer o desafio da modernização e humanização do sistema prisional. Mas, graças ao II Pacto Republicano para a Reforma do Judiciário, as iniciativas do CNJ mostram que o Executivo, o Legislativo e a Justiça estão caminhando na trilha certa.
de 7,5 milhões de processos e, entre 2004 e 2008, após as decisões judiciais, pagos mais de R$ 17 bilhões, beneficiando mais de 5 milhões de pessoas, em especial as mais carentes. Por meio das Varas de Execução Fiscal, a União recuperou, entre 2004 e 2008, cerca de R$ 60 bilhões, um saldo positivo superior a R$ 38 bilhões na proporção receita/despesa. Os juízes federais têm consciência de sua responsabilidade, inclusive ao formular pedidos perante o CNJ. FERNANDO CESAR BAPTISTA DE MATTOS, presidente da Ajufe imprensa.leticia@ajufe.org.br
Brasília ● O leitor sr. Francisco Antonio Bianco Neto, em carta sob o título Magistratura, publicada ontem,
afirma que “a grande maioria trabalha fora do expediente forense, à noite, aos sábados, domingos e feriados”. Ao que me consta, a magistratura não é uma profissão liberal, que é definida pelo Dicionário Aurélio como “profissão de nível superior caracterizada pela inexistência de qualquer vinculação hierárquica e pelo exercício predominantemente técnico e intelectual de conhecimentos”. Assim, pergunto: não sendo o magistrado um trabalhador autônomo, quem atesta essas suas hipotéticas horas extras alegadas para usufruir vantagens que os trabalhadores assalariados, mas não protegidos por privilégios, não possuem de direito? AFFONSO A. CARNEIRO CARDOSO affonsocardoso@uol.com.br
São Paulo
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SÁBADO, 12 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 134 DIAS
Arruda pagou R$ 14,4 mi a produtora sem licitação Esquema repetiu fórmula do ‘valerioduto’ para repassar dinheiro a políticos q PÁG.A10
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Alencar critica cerceamento à liberdade de imprensa no País Entidades nacionais e internacionais também condenaram decisão do STF que manteve censura ao ‘Estado’ O vice-presidente José Alencar afirmou ontem estar preocupadocomoqueconsideroucerceamento à liberdade de imprensa, apósdecisãodoSupremoTribunal Federal (STF) de arquivar recurso do Estado que pedia o fim da censura a que está submetido. Há 134 dias o jornal está proibido de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica da Polícia Federal, que investigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A mordaça foi imposta pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiçado DistritoFederale Territórios (TJ-DF) no dia 31 de julho. “Eu não quero entrar no mérito do caso em si. Agora, tenho preocupação quando há decisão que cerceia a liberdade de imprensa”, disse Alencar. “Temumafrase antigaqueagora não me está ocorrendo quem é o autor. Ela diz assim: ‘o preço da liberdade é a eterna vigilância’. Um dos instrumentos mais importantes para liberdade é a liberdade de imprensa. É isso que fortalece a democracia.” Entidades nacionais e internacionais ligadas ao jornalismo e à defesa da liberdade de expressão repudiaram ontem a sentençadoSupremo.Aorganização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras, com sede em Paris, divulgou nota em que classifica a decisão do STFde“incompreensíveleperigosa”. A entidade afirma que o arquivamento é “um grave revés para a liberdade constitucional fundamental”. “Incompreensível porque foi essa mesma jurisdição a que revogou integralmente, no passado mês de abril, a Lei de imprensade1967,herdada doregime militar. Perigosa, pois esta validação de uma medida de censura preventiva estabelece
MARCOS DE PAULA/AE
REPERCUSSÃO
Pedro Simon Senador (PMDB-RS)
“Estamos sob o regime da censura no Brasil e esse fato repercute no mundo inteiro, com protestos das entidades de imprensa e reflexos negativos na imagem do País”
Marco Antonio Teixeira Cientista político
PREOCUPAÇÃO – ‘Um dos instrumentos mais importantes para liberdade é a liberdade de imprensa’, defendeu o vice-presidente
FRASES
José Alencar Vice-presidente da República “Eu não quero entrar no mérito do caso em si. Agora, tenho preocupação quando há decisão que cerceia a liberdade de imprensa” “Um dos instrumentos mais importantes para liberdade é a liberdade de imprensa. É isso que fortalece a democracia”
um precedente arriscado que poderá ser utilizado por personalidades importantes contra o direito dos cidadãos brasileiros a serem informados”, informa. Para a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o STF “deu aval à censura no Estadão”. “Além de sacramentar a mordaça à liberdade de informação típica da ditadura militar, o Supremo Tribunal deu mostra de seu inadequado entendimento acerca da Constituição, persistindo em incompreensões constantes em votos devários dos seusmembros,co-
mo o ministro Gilmar Mendes, que se tornou, como demonstram recentes julgamentos, um defensor de restrições ao exercício da liberdade de imprensa que a Carta Magna não admite”,afirmouopresidente dainstituição, Maurício Azêdo. “O ministro Gilmar Mendes, noseu discurso, banalizou e justificoualgoabsurdo comoa censura prévia, comparando a situaçãodoEstado aocaso daEscola Base, que não tem relação alguma”, criticou o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio Mu-
rillo. As entidades Comitê de ProteçãoaosJornalistas,AssociaçãoBrasileiradeJornalismo Investigativo e a ONG Artigo19tambémsemanifestaram contra a decisão. Para diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, apesar da derrota, a entidade crê que os argumentos dedefesado Estado serãovitoriosos na análise do mérito. ● ALFREDO JUNQUEIRA, CLARISSA OLIVEIRA, MOACIR ASSUNÇÃO e RICARDO BRANDT
Mendes é criticado por ligar caso ao da Escola Base
“É lamentável essa decisão, que cerceia o direito à informação em um assunto que é de interesse público. Com isso, se prolonga uma situação na qual, em pleno regime democrático, vemos um jornal impedido de atuar livremente”
Luiz Flávio Borges D’Urso Presidente da OAB-SP “A decisão do STF surpreende. Mas, mais uma vez, ela tem seu lugar, por causa da ausência de uma lei específica sobre o assunto. Com a decisão que derrubou a Lei de Imprensa, ficou um vácuo que propicia situações como a vivida pelo Estadão”
Para especialistas, o presidente do STF ‘se repete’ e faz comparação ‘infeliz’ e ‘descabida’ Roldão Arruda
Na opinião de estudiosos de questõesrelacionadasàatividade da imprensa, o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), errou ao tentar estabelecer comparações entre o episódio daEscola Base,de1994, ea proibição imposta ao Estado de publicar reportagenssobre a Operação Boi Barrica. Na quartafeira, Mendes argumentou que os dois casos estariam relacionados à violação da intimidade ou ofensa à honra de alguém.
No episódio da Escola Base, diretores e professores foram acusados pela polícia de abusar sexualmente dos alunos e a imprensa deu ampla cobertura à história. Mais tarde verificouse que o inquérito fora mal feito e que as acusações eram falsas. O jornalista e escritor Alberto Dines, diretor responsável do Observatório da Imprensa, considera que no caso da escola a polícia errou e arrastou a imprensa.“Foiumerrogeneralizado.Masnãosetratadeumpecado eterno, pelo qual se deva pagar sempre”, observou. “O Gil-
mar Mendes já usou esse mesmo argumento no parecer que deu contra o diploma de jornalista. Ele é tão monocórdio que começo a duvidar de sua cultura jurídica. Fica repetindo coisas para justificar sua posição censória. A imprensa erra, mas tem seus próprios meios para corrigir. Não deve ser punida com a censura.” Paraoprofessor deéticaCarlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, a comparaçãofeitapelopresidente do STF é “desproporcional e infeliz”. No caso da escola, re-
cordou,houvecumplicidadeentre polícia e imprensa. “Jáfizemos aautocrítica ereconhecemos o erro. O caso de agora é diferente”, afirmou. “O imbróglio envolve de maneira diretaumafigurapública,opresidente do Senado, e é dever da imprensa publicar as informações relevantes.” O professor Eugênio Bucci, daEscoladeComunicaçãoeArtes da USP, qualificou a comparação de “descabida e diversionista”. E justificou: “A Escola Baseera umainstituiçãodeportepequeno, queseviu totalmen-
te indefesa frente aos holofotes e ao erro gravíssimo da condução do inquérito policial. No caso da censura que se abateu sobre o Estado, o ladofracoéojornal eos direitos do cidadão à informação, agredidos com essa medida. A imprensa está investigando o poder, não está bisbilhotando a vida de ninguém.” Ainda segundo Bucci, “está na moda o uso de recursos retóricos e demagógicos por meio dos quais os poderosos tentam se passar por cordeiros indefesos”.●
operações secretas, sempre negadas pelas autoridades do governo. Ellsberg, que fazia parte do grupo que produziu os documentos para o Pentágono, passou quase um ano copiando trechos desses relatórios e decidiu vazá-los por supostamente não concordar com os rumos que as operações militares tinham tomado na região do Vietnã. O New York Times começou a publicar a série no dia 13 de junho de 1971 e causou profundo mal-estar dentro do governo, que foi sur-
preendido com a divulgação das histórias. John Mitchell, procurador-geral do governo, apresentou recurso à cortes federais para proibir o jornal de manter o assunto nas suas páginas, alegando questões de segurança nacional. Conseguiu um mandado nesse sentido. Logo em seguida, o Washington Post também teve acesso, via Ellsberg, a outra parte dos documentos e iniciou sua própria série, sem levar em consideração a ordem judicial que proibia a publicação dos papéis.
Maria Victoria Benevides Socióloga e professora “É um precedente horroroso. Eu não concordo com a tese de que o direito de livre expressão tem de ser absoluto, até porque nenhum direito é absoluto. Mas a liberdade de imprensa é essencial em uma democracia, em uma República. Portanto, acho que não há o que discutir”
MEMÓRIA
NosEUA, segredode guerra revelado Marcelo de Moraes BRASÍLIA
Nem mesmo uma suposta situação de segurança nacional foi capaz de impedir a Suprema Corte dos Estados Unidos de deliberar a favor da liberdade de imprensa no célebre caso dos “Pentagon Papers (Papéis do Pentágono)”, em 1971. Na ocasião, através de ações
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judiciais, o governo do presidente Richard Nixon tentou impedir a publicação nos jornais de documentos secretos do Pentágono, a respeito das operações norte-americanas no Vietnã. Acionada para deliberar sobre o assunto, a Suprema Corte considerou inconstitucionais todos os mandados judiciais que impediam a divulgação dos documentos e permitiu sua publicação.
Os papéis tinham sido vazados por Daniel Ellsberg, um técnico do Pentágono, e foram entregues primeiro ao New York Times e, posteriormente ao Washington Post. As informações representavam um verdadeiro tesouro jornalístico. Cerca de 14 mil páginas mostravam os bastidores políticos dos movimentos militares americanos no Vietnã e revelavam a realização de várias
No dia 30 de junho de 1971, a Suprema Corte foi provocada a deliberar sobre o assunto. Por 6 votos a 3 (por coincidência, o mesmo placar da votação em que o Supremo Tribunal Federal brasileiro decidiu manter a censura ao Estado), decidiu derrubar todos os mandados judiciais que proibiam a publicação dos papéis por considerá-los inconstitucionais. Na interpretação da Suprema Corte, a proibição violava a Primeira Emenda, que trata da garantia de liberdade de expressão. ●
A6 NACIONAL
SÁBADO, 12 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 134 DIAS
STF debate alcance do segredo de Justiça
DIDA SAMPAIO/AE -10/12/209
Ministros divergem sobre definição da liberdade de imprensa Felipe Recondo BRASÍLIA
Os argumentos usados por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento quemanteve a censuraao Estado mostra que, a depender de alguns magistrados, jornalistaspoderãoserproibidosdepublicar detalhes de processos quecorrememsegredo dejustiça ou trechos de interceptações telefônicascaptadasduranteinvestigações policiais. Esse tema específico nunca foi decidido pelo tribunal e há casos de jornalistas processados por publicar detalhes de investigações sigilosas ou, como no caso do Estado, impedidos previamente de publicar os dados. Parte dos ministros, entre eles Celso de Mello e Carlos Ayres Britto, entende que a liberdade de imprensa permite a publicação dos dados. Mas outrosministrosindicaramqueesta tese não é pacífica. O ministro Eros Grau, por
FRASES
Eros Grau Ministro do STF “O juiz não está limitado pela lei”
Celso de Mello Ministro do STF “A obrigação de manter o sigilo não compete aos jornalistas, mas é obrigação das autoridades que lidam com o processo” SEM ENTENDIMENTO – Parte dos ministros defende que juiz não está limitado pela lei e que é possível impedir publicação de matérias
exemplo,afirmaserpossívelimpedir por via judicial a publicaçãodematérias. “O juiznão está limitado pela lei. O censor não está limitado por lei alguma. Aí não há censura. Há aplicação da lei”, disse na quinta-feira. O presidente do STF, Gilmar Mendes,quevotoupeloarquivamentodorecursodojornal,afirmou que a liberdade de expressão e de imprensa “não pode permitir que alguém grite fogo num teatro lotado”. “Esse direito comporta limitações”, disse.
Por esse entendimento, os jornalistas poderiam ser acusados de violar o segredo de justiça e o direito ao sigilo das comunicações telefônicas. A lei das interceptações telefônicas, que foi usada para embasar a censura ao Estado, prevê pena de reclusão de dois a quatro anos para quemquebrarsegredodaJustiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. Os detalhes de processos sob sigilo só poderiam ser publicados depois de julgado o
caso ou se o magistrado julgasse não ser mais necessário o segredo. Na outra direção, o ministro Celso de Mello adiantou que escreverá expressamente no acórdão do julgamento que entende não ser possível punir um jornalista que publique conversas captadas em interceptaçõestelefônicas autorizadaspela Justiça. A obrigação de manter o sigilo, afirmou o ministro, não compete aos jornalistas, mas é obrigação das autorida-
des que lidam diretamente com o processo: o juiz, o integrante do Ministério Público e os policiais que participam da investigação.OCódigoPenal prevêpena de detenção de seis meses a dois anos para quem revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo. Mas não há especificamenteprevisãode punição para o jornalista. Além disso, lembram outros ministros, a Constituição não permite restrições à manifesta-
ção do pensamento, à criação, à expressão e à informação e impede que qualquer lei contenha dispositivo que possa “constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística emqualquerveículodecomunicação social”. Não há processos no STF em que estes pontos sejamespecificamentequestionados, mas diante da polêmica que envolveu o julgamento da censura ao jornal, essas divergências poderão ser pontualmente dirimidas. ●
SÁBADO, 12 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A7 A7
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entrevista JoséRoberto Batochio: advogadocriminalista
‘Liberdade de imprensa é basilar’ SERGIO DUTTI/AE-4/4/2006
Criminalista condena ‘juristas de tendência autoritária’ que alegam não existir direito absoluto Fausto Macedo
“O princípio da liberdade de imprensa é um princípio basilar da estrutura do Estado Democrático de Direito”, disse ontem o criminalista José Roberto Batochio.Advogadodetantas causas nos tribunais superiores, 40 anos de experiência, Batochio ressalta que não defende uma imprensa com poderes absolutos, acima da Justiça e de todos. “O que deve prevalecer é uma liberdade acima de todos para informar.” A censura imposta ao Estado, desde 31 de julho, incomoda o advogado. Ele condena“juristasdetendênciaautoritária”quealegam nãoexistir direito absoluto. “Há sim princípios absolutos, eu afirmo.” Afinal,aJustiçapodecensurarpreviamente a imprensa?
Existem certos princípios que são absolutos. Esses princípios estão enunciados na nossa lei máxima, que é a Constituição da República. Não se pode a nenhum pretexto negar vigência ou mortificar esses dispositivos. Muitos juristas de tendência autoritária, quando estão diante de garantias fundamentais do cidadão ou de liberdades públicas,dizemquenãohádireitos absolutos. Há sim princípios absolutos, eu afirmo. Não se pode admitir que, em nome
democracia tem que ser objeto de uma reparação, mas sempre aposteriori.Aliberdadeparainformar deve ser ampla e total, complena responsabilidadepor excessos. Éassim que se resolve o conflito desses dois grandes princípios da democracia. Acima de tudo a liberdade de informar. Qualquer incorreção promova-se depois a composição dos danos de quem foi atingido. O ministro Celso de Mello, do STF, dissequeopodergeraldecautelaé a nova forma de censura no País. O sr. concorda?
PRECONDIÇÃO – ‘Nunca, em nenhum lugar, em tempo algum, uma sociedade que limitar a liberdade de imprensa poderá se dizer democrática’
Quem é: José Roberto Batochio ● Ex-deputado federal, ex-presi-
dente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. ● Advogado criminalista , 65 anos,formado pela Universidade Mackenzie, mestre em Direito Penal e Processo Penal pela USP. Presidiu a Associação dos Advogados de São Paulo
de uma chamada flexibilização, revoguem garantias expressas. OSupremoTribunalFederalnãorevogou a censura ao Estado.
Querodeixarclaroqueessatendência não se verifica no Supremo. A composição do STF tem prestado serviços inestimáveis à democracia na medida em que ataca e coíbe abusos e desmandos. Não estou falando do Supremo Tribunal Federal, até porque o Supremo não julgou esta causa da censura ao Estadão pelo mérito. Apenas não aceitou a modalidade de recur-
so interposto, o instrumento processual. Estou falando doutrinariamente. Por isso insisto que um princípio absoluto é o daliberdade deinformação.Assim como o Brasil é um Estado de Direito Democrático. Ninguém pode revogar. Ao lado desses princípios existe o da liberdade de imprensa. O direito e o dever da imprensa de informar correspondem ao direito público que todo cidadão tem de tomar ciência do que acontece em seu País. Comoficaoprincípio,tambémcon-
sagrado pela Constituição, que é o da privacidade?
Muitosediscutequandoessedireitoabsolutodeliberdadedeinformação colide com o princípio, também fundamental da intimidade. Como resolver esse impasse? Ora, os que não são muito favoráveis à liberdade de imprensa acham que se resolve assim: limita-se o direito da imprensa. Errado. A imprensa deve ter sempre o direito e o dever de informar o que for de interesse público. Qualquer excesso quesepratiquenoexercíciodessa função fundamental para a
Celso de Mello enunciou algo muito real nos dias que correm. Em nome desse poder de cautela do juiz é que se suprimem direitos individuais, que se prende,quesevasculha,quesegrampeia, que fazem o diabo. O poder de cautela tem que servir ao esclarecimento da verdade, à preservação de direitos, mas dentro das regras que a própria lei estabelece. Quando esse poder decautelaatingedireitosfundamentais ele não é legítimo. A censura voltou para ficar?
Em tempos passados a censura era exercida abertamente pelos poderosos de plantão. Está em vigornovamodalidadedecensura, mais sutil, mais insidiosa, que é esta censura que se faz hoje com aparente legitimidade. O problema é que nem à força e nem com sutilezas o direito de informar pode ser tolhido. Nunca, em nenhum lugar, em tempo algum, uma sociedade que limitar a liberdade de imprensa poderá se dizer democrática. ●
A8 NACIONAL
SÁBADO, 12 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
Liturgia do chulo
SUCESSÃO
PMDBreageàlistatríplice paravicesugeridaporLula Após líder na Câmara dizer que a escolha cabe só ao seu partido, ministros tentam desfazer ‘curto-circuito’ com aliado e Lula promete ligar para Temer CELSO JUNIOR/AE -9/11/2009
Quando o presidente da República se dá ao desfrute de falar palavrão em cerimônia oficial, quase nada de inédito resta para ser visto e ouvido. Assim que pronunciou o termo – dos mais comuns, digase, usado como sinônimo de “sorte” no teatro e inadequadamente incorporado à linguagem escrita em jornais e revistas –, o presidente Luiz Inácio da Silva percebeu a grosseria. “É lógico que eu falei um palavrão aqui. Amanhã os comentaristas dos grandes jornais vão dizer que o Lula falou um palavrão.” Porém, como de hábito, o presidente não se deu por achado. “Mas eu tenho consciência de que eles falam mais palavrão do que eu todos os dias. Tenho consciência de como é que vive o povo pobre deste país”, emendou ao molde do velho truque de dizer que faz o que todo mundo faz e justificar exorbitâncias verbais pela representação de identidade social nelas contidas. Se fala errado é porque vem do “povo” que assim também se expressa. Se é grosseiro, isso resulta da indignação com as condições em que vive o “povo”. Se ofende, é sua maneira de se defender do preconceito das “elites”. Aceito o critério, torna-se aceitável também que o presidente dê vazão a seus impulsos e rebaixe cada vez mais o palavreado para se juntar ao “povo”. Lá embaixo, onde, por esse raciocínio, é o lugar do “povo”. Notadamente em Estados como o Maranhão, onde o presidente Lula oficializou a introdução do uso da palavra chula na liturgia do cargo e a “elite dominante” mantém há décadas o “povo” na convivência dos piores índices de (sub)desenvolvimento social do País. São tantos os absurdos ditos por Lula que nada mais que o presidente diga soa assim tão absurdo. Se amanhã ou depois ele resolver usar palavras mais pesadas, dirão que o fez em razão de seu crescente grau de indignação. E talvez seja aplaudido por isso, como ocorreu na cerimônia no Maranhão. Muito possivelmente sob o argumento de que tudo é permitido a quem internamente é aprovado por mais de 80% da população e externamente é escolhido “personagem do ano” pelo jornal El País, um dos melhores e mais respeitados do mundo. Se à maioria assim parece, que seja. Apenas causa algum desconforto que a lógica não seja a oposta: exatamente por contar com alta popularidade e prestígio internacional é que o presidente poderia aprimorar no lugar de deteriorar sua conduta e linguajar. Usar esse capital fenomenal para elevar, não rebaixar, o nível geral. A começar, por exemplo, por conferir qualidade à indignação com as condições de vida do “povo”. Do que vale uma frase de efeito ante a realidade de celebração da família Sarney, dona do Maranhão, com tentáculos no Amapá, ambos entre os cinco piores Estados no índice de desenvolvimento dos municípios medido pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, em 2008? O Maranhão é o campeão do ranking e o Amapá fica em quarto lugar. Nenhum reparo, ao contrário, é feito sobre a participação da família por Lula tão festejada na manutenção do “povo” daqueles Estados na condição definida pelo presidente com uma palavra chula para expressar uma aversão que verdadeiramente não sente. Donde a grosseria é puramente gratuita.
São tantos os absurdos ditos por Lula, que nada mais soa assim tão absurdo
Retrocesso A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal se apegou ao aspecto técnico para negar a suspensão da proibição ao Estado de publicar informações sobre a operação da Polícia Federal que investiga Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. Como disse ontem o pai do investigado, “decisão do Supremo, respeita-se”, não obstante o Senado tenha recentemente tentado resistir ao cumprimento da decisão do STF de cassar o mandato do senador Expedito Júnior. Mas fato é que, no conceito, o resultado do julgamento do Supremo imprime um caráter relativo à liberdade de imprensa consagrada na Constituição como valor absoluto. Afirmou com propriedade do ministro Celso de Mello: “O poder de cautela é o novo nome da censura no nosso país.” Fica consagrado o preceito defendido pelo ministro Eros Grau de que a aplicação da lei não é censura e que qualquer juiz, por qualquer motivação, tem nas mãos o poder de subtrair do cidadão o direito à informação. Quando a ditadura vigia, pautava-se também por suas leis de exceção sustentando sua legitimidade na legalidade da ocasião.
Jogada ensaiada Ao adiar por oito dias a decisão de expulsar o governador José Roberto Arruda de suas fileiras, o DEM conferiu ao correligionário a prerrogativa da saída honrosa. Por algum motivo o partido perdeu deliberadamente a chance de fazer um gesto forte. Alegou receio de reação jurídica por parte de Arruda, preferindo ignorar que o caso, no âmbito partidário, é político e o prejuízo da hesitação ficou com o DEM, que ainda tinha algo a perder: o poder da iniciativa. ●
Otimista, Alencar já admite ser candidato
O
CORREÇÃO - O correto para o PMDB é o que o PMDB entender ser o correto, diz Henrique Eduardo Alves BRASÍLIA
O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, reagiu de forma dura à declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sugeriu que o PMDB apresente uma lista tríplice para o posto de vicena chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata petista à Presidência. “Essa prerrogativa, esse direito,porfavor,ninguémtenterestringir. Em respeito ao PMDB”, disse o líder em nota, deixando claroquecabeaopartidoaescolha do único candidato a vice. Anteontem emSão Luís,Lula havia dito que o vice será dos partidos aliados. “O PMDB é o maior partido da base”, afirmou. “O correto não é o PMDB impor um nome forte. O correto
éoPMDBindicartrêsnomespara a ministra Dilma escolher.” “O ‘correto’ para o PMDB é o queoPMDB entender ser ocorreto”, rebateu Henrique Alves. “O PT já definiu sua candidatura à Presidência. Seus critérios merecem o respeito, a lealdade e a confiança do PMDB. Mas a recíproca tem, e terá, que ser absolutamente verdadeira.” Para evitar que o clima entre governo e PMDB azede de vez, Lulavai telefonar,no final desemana, para o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDBSP), cotado para vice de Dilma. Ontem, os ministros Franklin Martins, de Comunicação Social, e Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, tentaram desfazer o curto circuito com o partido, acalmando não sóTemercomoHenriqueAlves.
LulafaloucomFranklinportelefone e pediu que o ministro detalhasse a Temer o que houve emSãoLuís.Segundoele,durante viagem ao Maranhão, apenas respondeu a uma pergunta de um repórter que queria saber se o vice seria o presidente da Câmara ou o ministro das Minas Energia, Edison Lobão. “Foi umaresposta genérica”, comentou Franklin, ao contar que telefonouparaTemerelherepassou a preocupação do presidente. Padilha também conversou com Temer e Henrique Alves, reiterandoa ambosa importância do papel do PMDB na aliança do governo e também na “pavimentação”dasucessão.“Ogoverno está certo que o partido teráumexcelentenomeparaindicar para vice”, disse. ● DENISE
vice-presidente José Alencar (PRB) anunciou que o tratamento contra o câncer está dando resultado e o tamanho dos seus tumores na região abdominal já foi reduzido em 51% desde setembro. Otimista, admitiu concorrer a uma vaga ao Senado ou à Câmara. “Se eu estiver curado e as lideranças e o povo quiserem, eu aceito (disputar as eleições). Tenho a experiência do setor privado, experiência no Senado, do Poder Executivo, como vice-presidente, então, posso levar alguma contribuição. Mas isso se eu estiver curado e em condições de exercer o meu mandato”, disse, após a posse da diretoria do Clube de Engenharia, no Rio, onde também foi homenageado. Alencar afirmou que recebeu com surpresa, na quarta-feira, os resultados dos exames que fez no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, que mostraram regressão dos tumores. “É uma vitória. Se ele continuar caindo, vamos poder colocar o verbo no passado: havia um câncer no Zé Alencar”, disse, sempre demonstrando bom humor. Aos 78 anos, Alencar enfrenta o câncer há 12. Ele já passou por 15 cirurgias. ●
Alfredo Junqueira RIO
MADUEÑO e TÂNIA MONTEIRO
+ 9 PERSONALIDADE
Ex-ministro Jamil Haddad morre no Rio Um enfarte matou ontem o médico e ex-ministro Jamil Haddad, de 83 anos. Ex-senador e ex-deputado, Haddad sentiu-se mal de madrugada, em casa, no Rio. Não houve tempoparaquefossesocorrido. Carioca, era presidente de honra do PSB, que integrou nos anos 60 e ajudou a reorganizar nos anos 80. Foi ministro da Saúde de Itamar Franco (1992-1994). Reivindicava a iniciativa da produção dos remédios genéricos, atribuídaaotucanoJoséSerra.O enterrofoirealizadonoCemitério São João Batista. QUESTÃO AGRÁRIA
Novo assentamento do Itesp no Pontal O Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) entregou oficialmente ontem um novo assentamento rural, no município de Mirante do Paranapanema, na região do Pontal, no extremo oeste paulista. Na área denominada Asa Branca, com 500 hectares, foram instaladas 21 famílias. Foi o quinto assentamento entregue pelo Itesp neste ano no Pontal. Com isso sobe para 106 o número de áreas da reforma implantadas pelo Estado naquela região, com um total de seis mil famílias instaladas.
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13 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42425
PÁG. C12
tv&lazer O velho Chico Chico Anysio reúne 19 dos seus personagens mais marcantes em um programa especial. ●
ARQUIVO/AE
Governo reforça Ibama para acelerar licenças ambientais Mas chefe do órgão avisa: se não forem cumpridas as regras, usina de Belo Monte não sai diz, acrescentando que é preciso ter gente treinada, e bem paga, para acelerar os trabalhos com qualidade. Em entrevista a Lourival Sant’Anna, Messias conta que o Ibama vem perdendo técnicos de nível superior, engenheiros bem preparados,
O presidente do Ibama, Roberto Messias Franco, informa que o Ministério do Planejamento autorizou a ampliação do quadro de técnicos encarregados de conceder licenças ambientaisde300para350.“Setivéssemos 600, seria muito melhor”,
PMDB quer cargo que decidirá polo exportador
até para a Polícia Rodoviária. E afirma que o licenciamento da hidrelétrica Belo Monte, no Pará, é o mais difícil em seus 35 anos de carreira. As conversas com a Eletrobrás começaram nofinalde2008, quandofoi concedido o termo de referência.
Mas Franco afirma que, se não forem cumpridas todas as regras, a obra não sai. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera que “vale a pena perder dias, meses que sejam,paraterumacoisade qualidade incontestável”. ● PÁG. B6
FRASE
Roberto Messias Franco Presidente do Ibama
“Perdemos técnicos e engenheiros bem preparados para a Polícia Rodoviária, que paga melhor”
LíderesdoPMDBestãopressionando o governo para colocar um aliado em cargochave do conselho que escolheráoslocaisondeserãoinstaladas as Zonas de Processamento de Exportação. A ZPE, ideia do senador José Sarney (PMDB-AP), cria área livre de impostos a fim de atrair empresas exportadoras para áreas pouco desenvolvidas. O projeto divide especialistas. ● PÁGS. B1 e B3
CULTURA
Luz sobre Cuba ●● Cabrera Infante é lem-
brado com nova edição de Três Tristes Tigres. ●
Urbanismo
Maior remoção de favela vai começar
Cerca de 900 manifestantes foram presos no protesto que reuniu pelo menos 25 mil
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NOTAS E INFORMAÇÕES
Mídia
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Jornal obtém a maior pontuação em pesquisa de imagem. ● PÁG. B19
Membros de um organismo público criado para proteger os direitos difusos da sociedade violam o direito à presunção da inocência. ● PÁG. A3
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7 8 9 10 11 12
A1ªConferênciaNacionaldeComunicação (Confecom), que começaamanhãemBrasília,juntará propostas polêmicas, como controle social sobre a mídia e recriaçãodeestataiscomoaEmbrafilme. O Ministério das Comunicações também quer a volta das delegacias regionais, alegando que facilitariam a fiscalização do setor de radiodifusão. Extintas em 2002, as delegacias distribuíam empregos e apadrinhamento político. ● PÁG. A4
NOS BASTIDORES
O ‘ópio’ do Ministério Público
‘Estado’ é o veículo mais admirado
Confecom prega a volta dos cabides de emprego
A direita desafia hoje nas urnas duas décadas de hegemonia da Concertação, a coalizão de centro-esquerdaquegovernaoChile desde o fim da ditadura Pinochet (1973-90), informa a enviada especial Ruth Costas. Pesquisas põem o direitista Sebastián Piñera à frente de Eduardo Frei, da Concertação, na disputa presidencial. A única chance dosgovernistas é atrairosdissidentes da coalizão que se lançaram candidatos. ● PÁG. A18
Estratégias envolvem 40mil pessoas no Córrego Água Espraiada. ● PÁG. C1 ●●
FOTOMONTAGEM ALEX FREITAS/AE
Direita chilena desafia hoje hegemonia da esquerda
COPENHAGUE: PROTESTO LEVA MULTIDÃO ÀS RUAS
BOB STRONG/REUTERS
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
Nos últimos cinco anos, a cineasta Laís Bodanzky levou filmes de graça a625 mil pessoaspelo interior do Brasil. ●
JULIO MESQUITA
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 135 DIAS q PÁG. A17
pessoas em Copenhague, segundo a polícia – os organizadores do manifesto falam em 100
Tempo: CAPITAL
23º MÁX.
● PÁG. C2
17º MÍN.
Chuva e temperatura em queda
Tiragem: 312.507 Hoje: 256 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 20 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 6 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 36 ● F. Feminino: 28 ● Ca. Autos: 30 ● Ce. Empregos: 10 ● Ci. Imóveis: 34 ● Co. Oportunidades: 10
mil. Chefes de Estado e de governo têm seis dias, os últimos da 15ª Conferência do Clima
COLUNISTA
JIM O’NEILL Esperamos que a demanda doméstica nos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e no mundo emergente continuará vigorosa em 2010 e em 2011. Serão dois anos de crescimento do PIB global acima de 4%. ● PÁG. B10 ●●●
† Jim O’Neill, criador do termo Brics, passa a escrever bimestralmente no Estado
(COP-15), para decidir o grau de compromisso contra o aquecimento global. ● PÁGS. A24 e A25
ESPORTES
Em Havana, um sonho a cada golpe ●● No centro da capital cubana, meninos de 9 a 14 anos treinam num ringue de boxe deteriorado. O sonho de todos é ser o próximo campeão e sair do país. ● PÁG. E5
Dirceuarticula paraDilmae diz:‘Esteéo meugoverno’
O
ex-ministro José Dirceu trabalha nos bastidores do Senado para que o PT não fique refém do PMDB. Acusado pelos desafetos de querer montar a “bancada do Dirceu”, ele diz que não precisa disso, por ter “apoio declarado” de Lula e Dilma. E acrescenta: “Este é o meu governo”. ● PÁG. A8
A2 ESPAÇO ABERTO
DOMINGO, 13 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Complexa transição
Reforma no freezer
PedroS. Malan
GaudêncioTorquato
“A eleição de 2010 não pode se fazer em torno das pobres alternativas de ou voltar ao passado ou dar continuidade a Lula. A discussão precisa incorporar os horizontes do século 21 e a superação dos problemas que certamente restarão do seu governo.” A pertinente observação é do ilustre ex-ministro Delfim Netto (Folha de S.Paulo, 11/11). Sobre o século 21, um respeitado historiador inglês, Hobsbawm, observou que este teria começado com cerca de uma década de antecedência: “o breve século 20” teria tido seu tardio início com a Grande Guerra de 1914 e terminado com os eventos do início dos anos 90. Tais eventos parecem dar razão a Hobsbawm: a queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha; o colapso da URSS e a fragmentação de sua vasta zona de influência em mais de duas dezenas de países; a emergência da China como potência regional e global, após mais de 12 anos de reformas e de integração com a economia mundial; o avanço do processo de integração europeu com o acordo
É crucial lançar um olhar objetivo para 2011 e adiante – o pós-Lula de Maastricht (1991) e a decisão de lançamento do euro ainda nos anos 90; o início das reformas econômicas modernizadoras na Índia; a renegociação da dívida externa do setor público de quase duas dezenas de países “emergentes”; e a transformação dos EUA de país credor do resto do mundo para a posição de devedor, agravada a partir de 1991, quando passou a incorrer em déficits crescentes em seu balanço de pagamentos. Em seu conjunto, esses fatores levaram a uma expressiva redução da aversão ao risco e à uma extraordinária ampliação das oportunidades de comércio e investimento, doméstico e internacional, em áreas que passavam a se integrar à economia global. Adicionalmente, avanços tecnológicos nas áreas de informática e telecomunicações propiciaram antes impensáveis reduções de custo e aumentos de produtividade. E permitiram que, ao longo dos últimos 20 anos, centenas de milhões de pessoas passassem a ter acesso, em tempo real, a informações sobre eventos correntes, e sobre padrões de consumo, níveis de renda e riqueza, estilos de vida em outros países, levando a uma revolução de expectativas de milhões de recém-integrados à economia global. Do ponto de vista econômicoestrutural, portanto, Hobsbawm estava certo: parece ter ocorrido uma reacomodação de
placas tectônicas na economia mundial por volta do início dos anos 90, gerando um período sem precedentes de expansão da economia global, do comércio internacional (volumes e preços) e dos fluxos internacionais de capitais privados. Um ciclo de expansão global que, como notou Ken Rogoff, foi “o mais intenso, o mais longo e o mais amplamente disseminado da história moderna” – e cujo auge, é ainda Rogoff quem nota, foi alcançado no quinquênio 2003-2007 (algo que o lulo-petismo faz questão de ignorar). Auge de exuberância que, sabe-se bem hoje, contribuiu em boa medida para a grande crise global de 2008-2009, cujas consequências ainda se estarão fazendo sentir por alguns anos à frente. O combate ao pânico avassalador que tomou conta de mercados financeiros e de governos em fins de 2008, e a busca da retomada da atividade econômica nos países desenvolvidos, foi feito à custa de uma historicamente sem precedentes intervenção do poder público – Tesouros e bancos centrais –, em termos de políticas expansionistas, fiscais, parafiscais e monetárias. Circunstâncias excepcionais exigem respostas excepcionais. Como Keynes sabia, e como sabem hoje os governos dos países desenvolvidos, essas medidas devem ter caráter transitório, até que se restabeleça a indispensável confiança dos investidores e consumidores privados. Mas essas extraordinárias respostas de governos – que estão permitindo uma gradual superação da crise – têm levado ao que parece ser uma nova leitura de Hobsbawm: o século 20 estaria terminando só agora, com esta crise – e com o novo “paradigma” que emerge da forma como a crise vem sendo enfrentada. Na sua vertente mais “econômica”, o suposto “novo paradigma” conduz a uma reafirmação do papel do Estado, não apenas na superação da crise por meio de medidas extraordinárias – e temporárias, de caráter “contracíclico” –, como também do papel renovado de um Estado que passa a ser o elemento essencial para assegurar, ao longo do tempo, o desenvolvimento econômico e social acelerado. Na sua vertente mais “política”, o novo paradigma procura apresentar a crise atual como o último prego no caixão do “ideário” que teriam representado, nos anos 80 do século passado, Ronald Reagan e Margaret Thatcher. A “derrota” de ambos – e seus seguidores, vistos como legião – só agora teria sido consumada com o enterro, definitivo, das ideias de “Estado mínimo”, da “desestruturação do bem-estar social” e do “fundamentalismo de mercado” – e de seus seguidores no Brasil, que seriam, para os militantes do lulo-petismo, em princípio, quaisquer
FÓRUM DOS LEITORES Censura,135dias Após 24 anos da queda do regime militar no Brasil, vimos o Supremo Tribunal Federal (STF), que deveria ser o guardião da democracia, dos direitos dos cidadãos e da Constituição – cujo artigo 220, § 2.º, diz que “é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica ou artística” –, votar a favor da censura ao Estado. Ao jornal é vedado, por juiz amigo da família Sarney, publicar as inúmeras ilegalidades que se têm visto, perpetradas pelos componentes do clã responsável pela desgraça e pobreza do Maranhão, todos aliados do presidente Lula. Essa família exerce seu poder privatizando áreas estratégicas do País, como a de energia, sem contar o uso de verbas, repasses da Petrobrás e até de espaços públi-
cos usados em seu favor. A lei determina que a imprensa deve ser livre. Nem na ditadura se tem notícia de que ministros de STF tenham coonestado a censura à imprensa, ao contrário. Seis ministros do STF apoiaram o obscurantismo e votaram contra a democracia, em desprezo à Constituição de 88. Estamos vivenciando o momento da morte da liberdade. MARIA TEREZA MURRAY terezamurray@hotmail.com
São Paulo ● A Constituição garante a liberdade de imprensa, o STF garante a censura à imprensa. Quem manda mais neste país, a Constituição ou o Supremo? ALBERTO NUNES albertonunes77@hotmail.com
Itapevi
oposicionistas. A vertente “econômica”, sobre o papel ampliado do Estado e de suas empresas, pode e deve ser amplamente debatida, esperemos que com um mínimo de honestidade intelectual e respeito aos fatos e aos outros. A vertente “política” mencionada no parágrafo anterior, ao contrário, é simplesmente um caso de flagrante desonestidade e indigência intelectual, desrespeito aos fatos e aos outros, tentativa de fazer com que uma mentira, e sua rotulagem barata e demagógica, se mil vezes repetida, possa chegar a assumir foros de veracidade para desavisados e adeptos de estereótipos e maniqueístas palavras de ordem. É, no entanto, exatamente por conta desse exacerbado clima de palanque que vozes sensatas precisam insistir – como no texto que abre este artigo – na importância crucial de lançar um olhar objetivo para 2011 e adiante – o pósLula –, com foco nos problemas que este governo (como, aliás, fazem todos os governos) deixará para seu sucessor. Qualquer que seja seu nome, este não se chamará Lula. Feliz Natal e bom 2010. ● Pedro S. Malan, economista, foi ministro da Fazenda no governo Fernando Henrique Cardoso E-mail: malan@estadao.com.br
Uma tática que funciona bem quando se quer armar uma pista falsa é parecer estar apoiando uma ideia que, na verdade, contraria o que a pessoa sente. O método é frequentemente usado por políticos e governantes na ressaca das crises. Exemplo? A reforma política. Que aparece como esparadrapo para fechar a ferida aberta por escândalos, denúncias, gravações e máfias que agem nos porões da administração pública. O presidente Luiz Inácio, instado a falar sobre o mensalão do DEM, recomendou profunda mudança nos padrões políticos, lembrando que já enviou ao Congresso duas propostas. A pista parece falsa. Fosse verdadeira, o chefe do Executivo já teria mobilizado seus exércitos para aprovar a matéria, como acaba de fazer com relação aos projetos do pré-sal. É evidente que a maioria dos políticos também não tem interesse em mudar as regras do jogo em pleno campeonato. Algo mais substantivo até poderia ser votado, tendo como parâmetro a aplicação de novas disposições em futuro distante. Batatas quentes como sistema de voto, fidelidade partidária, cláusula de barreira, financiamento de campanha são jogadas de uma mão para outra até esfriarem. Acabam sendo colo-
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
Lucas Di Grassi, rumo à Fórmula 1
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Supremosconceitos O Estadão tem sido a minha voz. Ao ler sobre a decisão do STF de manter a censura ao jornal, senti pessoalmente a mordaça, somada a uma sensação de cansaço e desamparo. Onde buscar a verdadeira justiça? Os tentáculos do poder invadiram o STF e estão na garganta de nossos ministros (nossos?). O conceito de “honra inviolável”, citado pelo ministro Gilmar Mendes, e a frase “o que é inviolável não é para ser violado” refletem o pensamento da nossa mais alta Corte. Estou decepcionada e assustada. Não posso deixar de prestar solidariedade à única instituição deste país em que ainda acredito: a imprensa.
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
cadas no freezer. E, assim, chegamos ao fim de 2009 no meio de mais um furacão mensaleiro, sob o lema “vamos deixar como está para ver como é que fica”. Por que a tão propalada reforma política não anda? A resposta começa com a lembrança de Maquiavel: “Nada é mais difícil de executar, mais duvidoso de ter êxito ou mais perigoso de manejar do que dar início a uma nova ordem de coisas.” Se imprimir nova disposição ao sistema político é tarefa complicada em qualquer democracia, imagine-se o grau de dificuldade que gera no meio de uma cultura inoculada pelo vírus patrimonialista, que costuma corroer as entranhas do Estado. Nossos representantes, como donatários do mandato, querem ter o direito de exercer e usufruir funções e benesses inerentes a ele. Por conseguinte, resistem a votar disposições que possam vir a limitar seu poder. Querem ter liberdade de pular de partidos a seu bel-prazer. Fazer coligações com siglas aliadas e adversárias. Partidos pequenos, mesmo sem expressão eleitoral, devem continuar a existir? Ajustar a proporção da representação, tornando mais justa a relação entre número de votos conquistados pelos partidos e cadeiras obtidas, nem pensar. Como se sabe, por força de disposição constitucional, estabeleceu-se um mínimo de 8 e o máximo de 70 parlamentares por Estado, gerando desproporção média em torno de 10% na representação territorial. Aos exemplos acima se somam outros que geram conflitos de visões, como o sistema de voto em lista fechada. Se alguns defendem a ideia de que esse mecanismo contribuiria para o fortalecimento partidário, outros argumentam com a hipótese de que o sistema reforçaria o mandonismo das cúpulas, que comporiam chapas com nomes de sua preferência numa ordem de importância. Formar um sistema misto, sendo uma parte eleita pelo atual modelo aberto e outra por meio de lista fechada, é algo polêmico. Em suma, o território pessoal prevalece sobre o espaço dos anseios coletivos e o mapa de qualificação dos partidos. De tão complexa, a dialética da mudança emperra. Chegase, assim, ao diagnóstico: a reforma não sai porque não há vontade política suficiente; já a escassez de vontade decorre do particularismo que impregna a vida pública. Noutros termos, o declínio do conjunto partidário, a fragmentação de lideranças, o arrefecimento do engajamento das massas, a deterioração dos padrões e temáticas pontuais – patrocinadas pelo Executivo ou pinçadas de uma agenda de circunstâncias – impedem os projetos de caráter mais estrutural. A análise pode ser feita sob outro prisma. A reforma políti-
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Réquiem MARILIA MACHADO marilia.a.machado@gmail.com
Guaratinguetá ● A frase “se é inviolável a honra e a intimidade, é preciso que isso tenha alguma consequência” não seria mais apropriada para o caso do caseiro Francenildo Costa? Provavelmente o mesmo ministro não a tenha proferido naquela ocasião porque então se julgava a violação do sigilo bancário de uma pessoa comum, perpetrada por pessoas incomuns. Nenhum Poder da República se salva... PLÁCIDO Z. TÁBOAS, professor titular do ICMC-USP pztaboas@gmail.com
São Carlos
“O que há num simples nome? O que chamamos rosa com outro nome não teria igual perfume?” – Shakespeare Impedir um jornal de publicar algo sobre determinada pessoa pública é censura prévia, qualquer que seja outro nome rebatizado na novilíngua deste Supremo Tribunal Federal. Um dia triste para a democracia; infelizmente, o primeiro de muitos outros que virão. Ditaduras não são feitas do dia para a noite, mas de pequenos gestos, cerceamentozinhos diários e progressivos, em escalada, todos muito bem justificadinhos e cheios de boas intenções. Quando nos dermos conta do estrago, este periódico poderá ser apenas um suplemento de receitas e poemas de Camões. Em que pese o
ca não evolui porque não se extrapola o ambiente onde é artificialmente trabalhada, no caso, o círculo dos três Poderes. A matéria política circula por ali, saindo de uma Casa parlamentar para outra, às vezes sob o patrocínio do Palácio do Planalto e, eventualmente, ganhando um adicional – interpretações constitucionais – pelo Poder Judiciário. Em face das dúvidas e diante do acirramento de posições entre os próprios aliados, chegase à acomodação para não votar a reforma política, mesmo com o reconhecimento de que ela é necessária. Não passa de falácia, portanto, a lembrança do presidente de que os projetos de minirreformas do Executivo não andaram. Do alto de sua imensa popularidade, liquidaria essa fatura se assim o quisesse. Neste ponto, emerge a conclusão: enquanto for um evento centrífugo, de dentro para fora, a reforma não caminhará. Fator decisivo nessa teia é a pressão da sociedade. Para avançar a reforma carece de uma força centrípeta, articulada por entidades e movimentos. Acontece
Do alto de sua popularidade, Lula liquidaria a fatura se assim o quisesse que a matéria política decepciona a sociedade. Este é mais um nó que deve ser desamarrado: o trem da mudança atrela-se à locomotiva social, mas para tanto os políticos devem dar bons exemplos e melhorar a representação. O que se sente é o contrário: comunidade desmotivada ante os escândalos que batem no conceito de mandatários de todas as esferas. Se os atores envolvidos na trama forem capazes de chegar a um consenso, a reforma tem condição de ser uma utopia. Da parte da sociedade, a mobilização passa pela integração de entidades de reconhecido prestígio com a organização de uma agenda focada nesse tema específico. Se o universo associativo se expande, na esteira de uma miríade de entidades, os campos de interesse variam, dificultando a convergência de abordagens e a defesa de projetos de alto interesse social. Mas, como diria o sábio chinês, uma caminhada de mil quilômetros começa com um primeiro passo. E como até nos pântanos nascem lindas flores, a esperança é que, no meio do lodo que escorre pelos desvãos institucionais, a reforma política desça do espaço etéreo das intenções para baixar em terra firme, limpando o nosso amanhã de vendilhões da política. ● Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político e de comunicação
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fato de o STF chamar a censura prévia de outra coisa, impedir a publicação de uma matéria é censura, e se isso se dá antes mesmo de sua divulgação, é prévia. Porque mudar o nome das coisas não altera a sua essência. Guardemos este triste dia na memória: o dia em que o STF deixou de ser o guardião da Constituição para se converter em seu algoz. DANIELA CÂMARA FERREIRA danicamara@terra.com.br
São Paulo ● Mas se perguntarem ao Lula e ao Sarney, a resposta será óbvia: os “companheiros” ilibados e de saber notório do STF tomaram a decisão correta. ARMANDO GURGEL armandogurgel@yahoo.com.br
São Paulo
DOMINGO, 13 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
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O ‘ópio’ do Ministério Público
C
om base no relatório final da Operação Castelo de Areia e na documentação apreendida no seu decorrer pela Polícia Federal, o Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) encaminhou na segunda-feira passada 18 pedidos de investigação a 6 órgãos federais e estaduais aptos a devassar contratos suspeitos entre empresas fornecedoras de bens e serviços à administração pública. Trata-se de uma razzia de grande porte. A empresa, no caso, é uma só, a Construtora Camargo Corrêa. Três de seus executivos, Fernando Arruda, Dárcio Brunatto e Pietro Banchi, já figuram como réus em ações penais. Os agentes públicos com os quais a empreiteira manteria relações promíscuas e que são considerados suspeitos de envolvimento em crimes financeiros, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, além de ilícitos civis e eleitorais, incluem conselheiros de tribunais de contas, autoridades federais e estaduais, bem como parlamentares de 7 partidos (DEM, PC do B, PMDB, PSB, PSDB, PR e PT). Os delitos giram em torno de 14 obras de construção pesada, entre elas a eclusa da Hi-
drelétrica de Tucuruí, no Pará; o Aeroporto de Vitória; os metrôs de Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo; o Rodoanel da capital paulista; e a BR-101, entre Rio Grande do Norte e Pernambuco. As investigações foram pedidas à Procuradoria-Geral da República, Procuradorias-Gerais da Justiça de São Paulo e Rio de Janeiro, Ministério Público Federal do DF, Justiça Federal de São Paulo e Procuradoria Regional Eleitoral também de São Paulo. Esta receberá do MPF-SP uma planilha de 54 páginas com nomes de ex-candidatos e parlamentares suspeitos de terem recebido contribuições eleitorais irregulares. Três deles, ao que este jornal foi informado, seriam o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, o chefe da Casa Civil do governo paulista, Aloysio Nunes Ferreira, e o secretário paulistano de Esportes, Walter Feldman. Todos se indignaram com a inclusão dos seus nomes – e com o vazamento. De fato, há excessos. A Polícia Federal, por exemplo, já não se contenta em divulgar indícios colhidos em suas investigações. Agora, como mostra reportagem de Fausto Macedo (9/12), divulga
Receita para investir
O
governo do Estado de São Paulo recebeu R$ 1,2 bilhão há três anos e meio pela venda do controle acionário da até então estatal estadual Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP) para um grupo colombiano, mas reteve uma parcela significativa das ações da empresa. Pelo preço atual de mercado, as ações da empresa que continuam em poder da Secretaria da Fazenda valem R$ 466 milhões. Como a posse dessas ações não se deve a nenhum interesse estratégico do Estado na empresa, cuja gestão foi inteiramente privatizada, o governo paulista considera que sua venda e a aplicação do produto da venda em obras e serviços públicos são mais proveitosas para a administração estadual e para os cidadãos do que sua retenção pela Secretaria da Fazenda. Por isso, o governador José Serra decidiu colocar à venda essas ações e outras que o governo do Estado – por meio da Secretaria da Fazenda ou de outros órgãos e empresas estaduais – tem em companhias privadas. Dados da Secretaria da Fazenda mostram que o governo tem ações de mais de duas dezenas de companhias particulares, entre as quais um banco, empresas de telecomunicações, uma siderúrgica e uma indústria alimentícia. Isoladamente, são participações muito pequenas – o valor das ações que o Estado possui de cada uma dessas empresas não chega a R$ 100 mil na grande maioria dos casos –, mas sua soma supera R$ 1 mi-
lhão. Desse modo, o total de ações em poder da Secretaria da Fazenda alcança R$ 467,3 milhões. Também a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) tem ações da CTEEP e de outras empresas do setor elétrico, cedidas pelo governo do Estado para serem dadas como garantia de empréstimos concedidos pelo BNDES. São, em geral, ações de empresas que resultaram do desmembramento da Cesp e foram privatizadas. Entre essas empresas estão a Geração Paranapanema, a AES Tietê, a Eletropaulo, a EDP Energia do
Governo paulista quer vender ações que possui em várias empresas Brasil e a CPFL Energia. No total, as ações em poder do Metrô somam R$ 326,7 milhões. Para vendê-las, o governo terá de negociar com o BNDES a troca de garantias dos empréstimos. Outras empresas do governo paulista têm ações de empresas privadas e também poderão vendê-las. Por enquanto, a intenção do governo Serra é vender as ações em poder da Secretaria da Fazenda e do Metrô, cujo valor de mercado é de R$ 794 milhões. Se comparado com a receita tributária dos 12 meses encerrados em outubro, o valor é pequeno, pois corresponde a apenas 0,9% do que foi arrecadado no período. Mas ajuda a reforçar o caixa do governo do Estado, compensando parcialmente a perda de receita pro-
meras suspeitas. Já nas suas representações, o Ministério Público divulgou apenas os cargos dos presumíveis envolvidos, sem nomear os seus titulares, porque o inquérito corre em segredo de Justiça. Mas em alguns casos a sua identidade é óbvia. O diretor-geral do Dnit é Luiz Antonio Pagot; o diretor de Engenharia e Planejamento da Eletronorte é Ademar Palocci, irmão do ex-ministro da Fazenda; o senador do PSB capixaba é Renato Casagrande; o senador do PC do B do Ceará é Inácio Arruda. O senador Casagrande considerou a divulgação “uma irresponsabilidade muito grande do Ministério Público”. Ele diz nunca ter tido ligações com a Camargo Corrêa ou dela ter recebido doações. Ele pode estar dizendo a verdade, ou não, o que vale também para os desmentidos veementes de Temer, Ferreira e Feldman. Mas não resta dúvida de que o direito de cada um deles à privacidade e à presunção da inocência foi violado por membros de um organismo público criado para proteger os direitos difusos da sociedade – entre eles, o do gasto adequado dos tributos com que ela sustenta o Estado.
Uma lei que deu certo vocada pela crise. A intenção é utilizar o que for obtido com a venda dessas ações em investimentos durante 2010. Já foi publicado o edital de licitação para a contratação de uma instituição financeira que ficará encarregada de avaliar o melhor momento para a venda das ações de empresas privadas de propriedade do Estado. O pregão eletrônico está marcado para o próximo dia 18. O governo do Estado espera assinar o contrato com a empresa vencedora logo no começo de 2010. No ano passado, o governo do Estado de São Paulo tentou leiloar a Cesp, mas a operação fracassou. Como ainda está indefinida a renovação, pela União, da concessão das Usinas de Jupiá e Ilha Solteira, que vence em 2015, não houve interessado disposto a depositar as garantias exigidas para participar do leilão. Mas o Estado teve êxito na concessão de cinco trechos rodoviários, pelos quais recebeu R$ 3,5 bilhões, que está investindo em estradas. Além disso, as empresas que venceram a licitação assumiram o compromisso de investir R$ 8 bilhões na conservação e melhoria das estradas durante o período de 30 anos da concessão. Também no ano passado o governo concluiu a venda, para o Banco do Brasil, de 71,3% das ações da Nossa Caixa, pelo valor de R$ 5,386 bilhões. O pagamento, em 18 parcelas mensais, começou a ser feito em março deste ano.
E
m apenas quatro anos e meio de vigência, período que inclui a crise econômica de 2008, a Lei de Recuperação de Empresas apresenta um saldo muito mais positivo do que imaginaram seus mais ardorosos defensores. Foram deferidos pela Justiça 122 pedidos de recuperação, desde junho de 2005, e que, em sua grande maioria, resultaram na sobrevivência dos negócios, na renegociação dos direitos dos credores, na preservação de marcas e, principalmente, na manutenção de empregos. Pela antiga Lei de Falências e Concordatas, dificilmente essas empresas teriam conseguido sobreviver. Editada nos estertores da ditadura varguista, quando o País ainda não se havia industrializado, essa legislação deixava aos empresários em dificuldades financeiras e a seus credores apenas duas saídas: a concordata ou a falência. Decretada a pedido de empresas insolventes, a concordata permitia a continuidade de suas atividades em caráter precário, num processo que, a não ser nos raros casos em que o devedor contasse com o apoio de seus credores, só prolongava a agonia do empreendimento. Já a falência significava a destruição de ativos e fechamento de postos de trabalho e eram comuns os casos de credores de importâncias relativamente pequenas que preferiam pedir na Justiça o encerramento do negócio a negociar o recebimento dos valores a que tinham direito. Inspirada no direito comercial americano e mais adequada a um ambiente econômico moderno, na medida em que
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Nãoquiseram nem saber Essas decisões dos tribunais que se apegam a uma série de formalidades para não apreciar o mérito das causas se parecem muito com as reações iradas das pessoas despreparadas quando, diante de uma argumentação qualquer, simplesmente dizem: “Não quero nem saber...” ANTONIO DO VALE
● Por favor, alguém que entenda de democracia pode me explicar para que serve o tal de STF? CARLOS ALBERTO DE ABREU FERREIRA caaferreira@globo.com
Campinas ●
E quanto vale o STF?
CELIA PINOTTI celia_pinotti@hotmail.com
São Paulo
“
A absurda decisão do guardião da Constituição brasileira não foi um golpe contra o ‘Estadão’, foi um golpe contra a democracia”
Telhadodevidro Indeferido o recurso da inconcebível censura ao Estadão, só nos resta uma conclusão: até a Suprema Corte tem telhado de vidro! VALTER LOPES valter@estagiarios.com
São Paulo
Cortesem autoridade O STF vive o mais negro período da sua história e seus membros jogam para os ares a respeitabilidade, confiabilidade e autoridade que essa Corte sempre demonstrou em episódios até mais graves no passado. As polêmicas decisões sobre o marginal assassino Battisti e a censura ao Estado são
ma chula em público e nada o constrange. Esse atraso vai custar muito caro ao Brasil, pois uma nação não prospera com a desordem que brota em toda parte. ADEMAR MONTEIRO DE MORAES ammoraes57@hotmail.com
São Paulo
RobertoAranha rcao@globo.com SãoPaulo
Coragem,‘Estadão’
dois exemplos de absoluta clareza para detectar a falência das instituições no País. Outro caso emblemático é o dos mensaleiros do PT, pois ninguém foi punido até hoje. Nós, brasileiros e patriotas, temos de nos vestir de luto por tudo o que vem acontecendo. É por isso que o presidente da República se expressa, sem cerimônia, de for-
A censura poupa os corvos e persegue as pombas, segundo o poeta romano Juvenal. Séculos mais tarde, nosso cotidiano confirma o acerto desse antigo achado. Ao não aceitar a reclamação dos advogados do Estado, as excelências do STF escreveram uma página de raro cinismo da história da instituição. Aparentemente, houve um apego da maioria a minudências inexpressivas, com total e
adevale@uol.com.br
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Do mesmo modo que são mais do que necessárias as investigações sobre alegações de corrupção de autoridades, políticos e burocratas por empresas que vivem de fazer negócios de vulto com a área estatal – como uma Camargo Corrêa, no setor da empreita –, não se justifica a divulgação de acusações sem que os acusados tenham tido acesso prévio às informações que as embasam. Pior ainda, considerando o princípio do segredo de Justiça invocado neste caso, são os “vazamentos pontuais” criticados com contundência pelo presidente do STF, Gilmar Mendes. “Há uma certa farra, um certo ópio dos investigadores em passar notícia para vocês (jornalistas)”, apontou, “mas isso é um desserviço que se faz à causa da Justiça e à democracia.” Especificamente sobre o episódio do deputado Michel Temer, que, segundo vazou, aparece 21 vezes na planilha da Camargo Corrêa, como tendo recebido ao todo US$ 345 mil, Mendes advertiu para “essa coisa de revelações às vezes pouco consistentes”. No limite, o que está em jogo não são apenas as salvaguardas de figurões dos negócios e da política. Trata-se do respeito à incolumidade das pessoas comuns antes que sejam declaradas rés em um processo.
oferece prazos mais flexíveis para o pagamento dos débitos das companhias em dificuldades financeiras, antes limitado a apenas dois anos, a Lei de Recuperação de Empresas se constituiu numa revolução no sistema jurídico brasileiro. Ela inovou ao conceder à empresa insolvente a possibilidade de propor um plano de saneamento judicial, com prazo de duração de até 15 anos, criando uma alternativa à concordata. Para os credores, especialmente os fornecedores de insumos e suprimentos, isso permite preservar seus mercados. Para os funcionários, a recupe-
Os bons resultados na recuperação de empresas em quatro anos ração torna possível, além da manutenção do emprego, o recebimento de salários atrasados. E, para as empresas, a recuperação lhes dá liberdade para cortar custos, fechar unidades improdutivas, desenvolver novos produtos e fortalecer as marcas mais conhecidas. Entre as companhias que se beneficiaram pela nova legislação falimentar, segundo balanço publicado pelo jornal Valor, encontram-se grupos empresariais que já ocuparam posições de liderança em setores de transportes aéreos, refrigeração industrial, alimentos e produtos de madeira. Algumas companhias saíram-se tão bem no processo de recuperação judicial que triplicaram a produção. Outras desenvolveram produtos que lhes permitiram ampliar a partici-
pação no mercado interno e até exportar. A trajetória da Lei de Recuperação de Empresas, até sua plena consolidação, dá a medida das dificuldades que o País tem de enfrentar para reformar suas anacrônicas instituições jurídicas – condição necessária, ainda que não suficiente, para a modernização da economia nacional. Preparado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, o projeto foi enviado ao Congresso em 1993, enfrentando a oposição do PT, que, à época, temia que a recuperação judicial prejudicasse os trabalhadores. Com isso, o projeto ficou esquecido nos escaninhos do Legislativo até 2004, quando o PT, uma vez no poder, “descobriu” que a reforma da legislação falimentar era essencial para a ampliação da base produtiva e para a estabilidade macroeconômica. A partir daí, o governo petista empenhou-se por sua aprovação. Por causa das concessões que tiveram de ser feitas na ocasião para que fosse aprovada, a lei ainda precisa ser aprimorada, especialmente na parte tributária. Entre outros requisitos, ela impõe como condição para que a Justiça acolha a proposta de recuperação a apresentação de certidão negativa de débitos fiscais pela empresa devedora. Para os especialistas, essa é uma obrigação impossível de ser cumprida, pois muitas companhias em dificuldades não dispõem de condições de liquidar seus passivos tributários para pleitear a recuperação. Sensatamente, os tribunais têm dispensado essa exigência. Mas o ideal seria que ela fosse revogada formalmente pelo Congresso.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
aberrante perda de foco. Em suma, evitou-se entrar no mérito da questão – censura – para dar ênfase a filigranas, resultando o placar de 6 x 3 – o mesmo do histórico confronto Hungria x Inglaterra em Wembley, decretando o fim da invencibilidade em casa do English Team. Seria inexato afirmar que nesse caso a invencibilidade das causas justas caiu pela primeira vez. Futebolisticamente falando, foi só uma derrota a mais. Pelo jeito, faltou um despachante para apresentar o dossiê no guichê adequado. Mais assustadora foi a argumentação do ministro Gilmar Mendes, segundo o qual até que um pouco de censura não há de fazer mal, dependendo do caso. No quesito bizarrice, sobressaiuse o parecer do ministro Ricardo Lewandowski. Já que Dácio Vieira
não citou a Lei de Imprensa, não houve desrespeito à decisão anterior do Supremo, logo... Vivam a nouvelle cuisine e suas receitas! Com a sarabanda de escândalos a embelezar o cotidiano, a Operação Boi Barrica há de soçobrar na bruma do esquecimento de leitores e eleitores. Até que se encontre uma forma de sair da m... – para citar, com todo o respeito, fala recente do nosso presidente. ALEXANDRU SOLOMON asolo@alexandru.com.br
São Paulo ● Esse tipo de censura atinge não só o Estadão, mas a todos nós, cidadãos. Pois é direito do cidadão não ser vítima da corrupção! DOUGLAS ROCHA douglas@ctc.com.br
Araras
DOMINGO, 13 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 135 DIAS
NACIONAL A17 A17 NACIONAL
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entrevista Walter Fanganiello Maierovitch: desembargador aposentado e professor
‘Foi como se os guardiães tivessem saído de férias’ Segundojurista,ao mantera censura ao ‘Estado’,STFadotou ‘escapismo’em vezde discutira Constituição Moacir Assunção
“Os ministros do Supremo, que gostam de lembrar que são os guardiães da Constituição, usaram da má técnica processual do escapismo para não discutir a Constituição.” Dessa forma irônica o desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e professor de direito Walter Fanganiello Maierovitch classificou a decisão do STF no caso da censura ao Estado. O STF negou recurso contra mordaça imposta ao jornal em 31 de julho pelo TJ do Distrito Federal. Na opinião de Maierovitch, que preside o Instituto Giovanni Falconi, os ministros se furtaram a debater uma questão constitucional – censura à liberdade de expressão – ao privilegiar uma questão de forma, ou seja, se o instrumento usado pelo jornal, a reclamação, era o mais adequado. O STF agiu de forma inadequada na questão?
Não tenho nenhuma dúvida disso, e esse precedente é absolutamente preocupante. O que estava em discussão, independentemente do método utilizado, era a censura à liberdade de expressão, ou seja, um valor constitucional que precisa ser preservado. Os ministros do Supremo, que gostam de lembrar que são os guardiães da Constituição, quando confrontados com uma questão constitucional usaram da má técnica processual do escapismo para não discutir a Constituição. Foi como se os guardiães tivessem saído de férias. Isso significaria usar uma questão de forma para não discutir o conteúdo?
Exatamente. Falou-se que a questão não dizia respeito à Constituição, mas à Lei das Interceptações Telefônicas, ora, a questão de fundo é constitucional, mas os ministros alegaram, de forma absurda, que deveria ter uma roupagem específica. Isso equivale ao antigo Direito Formulário Romano, em que a forma tinha mais valor que o conteúdo. Era algo tão curioso que, se um casal se apresentasse diante do pretor para se casar e um deles respondesse “quero” em vez de “sim”, o casamento seria anulado. Foi exatamente isso que eles fizeram ao arquivar o recurso do Estadão contra a censura. Por que isso se dá.?
Há algum tempo tem se falado do que se convencionou chamar de ativismo judiciário, com o STF interferindo em assuntos que diziam respeito ao Legislativo, como se fosse algo positivo. No entanto, isso pode conduzir à pior ditadura que se possa imaginar, que é a ditadura do Judiciário. O que temos hoje é um presidente do órgão, o ministro Gilmar Mendes, falando sobre tudo, inclusive fora dos autos e antecipando decisões. O STF tem se tornado cada vez mais um tribunal político. Não político no sentido de tomar decisões políticas, mas de ser, aos olhos do povo, comandando por políticos. ●
PAULO LIEBERT/AE-10/7/2008
CRÍTICA AO ATIVISMO – ‘Isso pode conduzir à pior ditadura que se possa imaginar, a ditadura do Judiciário’
J6 ALIÁS
DOMINGO, 13 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Às favas com a livre imprensa Uma corrente contra a liberdade de informação percorre quase toda a América Latina, do México à Argentina DIDA SAMPAIO/AE
Sérgio Augusto
Por seis votos a três, o Supremo Tribunal Federal ratificou, na quinta-feira, a mordaça imposta ao Estado pelo desembargadorDácio Vieirano fimde julho, e este jornal continuouproibido de publicar reportagens sobre aOperaçãoBarrica,queinvestigou o empresário Fernando Sarney,filhomaisvelhodosenador José Sarney. Como hoje faz 41 anos que o Ato Institucional nº 5 foi assinado, já tem gente desconfiada de que dezembro, e não novembro (quando se decretouo Estado Novo, em 1937), talvezseja“o mais crueldosmeses” para a Justiça brasileira. Ao pôr seu jamegão no AI-5, o então ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, cunhou este imortal desabafo: “Às favas com os escrúpulos de consciência”– e a ditadura militar atarraxou as cravelhas. Nada do mesmo teor foi dito durante ou após o julgamento de quintafeira, mas uma frase do decano do STF, Celso de Mello, um dos três magistrados que não engoliram os argumentos de “inviolabilidade da honra e da intimidade” invocados pelo desembargador, não me sai da cabeça: “O poder geral de cautela é o novo nome da censura em nosso país”. Se bem entendi, o ministro quis dizer que o direito pleno à liberdade de expressão, consagrado pelo Supremo com a derrubada da Lei de Imprensa em abril, foi mandado às favas por seis dos seus colegas porque estes entenderam que a defesa acauteladora da honra e da intimidade, ainda que de réus com o lastro de indiciamentos de Fernando Sarney, vale mais que o seu, o nosso direito de ser
plenamente informado sobre um caso que envolve os crimes de formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Resumo da ópera: a liberdade de imprensa, ao contrário da honra e da intimidade, não é mais inviolável no Brasil. Haja vista as 16 decisões judiciais que, ao longo do último ano, amordaçaramperiódicosdevários pontos do País. A volta da censura, agora recauchutadacomoadjunto“cautelar”,não surgiudo nada, é fruto de “visões autoritárias” que ainda perduram no aparelho de Estado, na avaliação do ministro Ayres Britto, e segue a corrente anti-imprensa que percorre quase todo o continente, doMéxico à Argentina, passando pela Venezuela (em apenas dez meses de governo, Hugo Chávez fechou 34 emissoras de rádio e estimulou 107 ataques a meios de comunicação e jornalistas, números dignos de uma ditadura militar) e pelas reiteradas críticasdo presidente Lula ao ceticismo, ao “azedume” e à mania dos nossos jornalistas de fiscalizar, que audácia!, os três Poderes. Perdi a conta de quantas vezes, em seus sete anos de governo, Lula gozou, desqualificou e deu maus conselhos aos profissionais da informação. A última foi na segunda-feira, durante a entrega de um prêmio conferido ao presidente por uma... revista. Um ato de indelicadeza, para dizer o mínimo. Se o presidente se restringir, como deve se restringir, às agressões verbais, sairemos lucrando. Sorte nossa que, embora já tenha manifestado desejo de criar “algum mecanismo de
QUINTA, 10 DE DEZEMBRO
Meia dúzia de vozes contra ●●● Por 6 votos a 3, os ministros do Supremo Tribunal Federal não acataram o recurso do Estado contra o veto à publicação de notícias sobre o empresário Fernando Sarney, filho mais velho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
STF – Resumo da ópera: defesa acauteladora da ‘honra e da intimidade’ vale mais que direito de informar
controle externo da mídia”, Lulaaindanãofoicontaminadopelo vírus do bolivarismo chavista, como Evo Morales e, de certo modo, Cristina Kirchner. Mas ele parece longe de compreender que a imprensa, como nos ensinou Millôr Fernandes, é oposição – “e o resto é armazém de secos & molhados”. Poucas vezes, em tempos de guerraoupaz,aliberdadedeimprensaesteve tão ameaçadacomo agora. Em plena revolução digital,comosmeiosde comunicação cada vez mais sofisticados, abundantes, eficazes e pervasivos, uma conjura de forças políticas e econômicas, ideologiasnacionalistas,fundamentalismos religiosos e criminalidade organizada se desdobra pa-
ra evitar que a informação jornalística cumpra seu destino manifesto, que é buscar e transmitir sem restrições a verdade dos fatos. Com armas e métodos os mais variados, coagem, intimidam, censuram, prendem, agridem, torturam e até matam jornalistas. É flagelo universal, mais frequente em regimes totalitários ou autoritários, como China, Irã, Eritreia, Cuba, Venezuela, e em democracias fragilmente consolidadas,comoRússia,México, Colômbia. Em3 denovembro ojornalista José Antuna foi estrangulado em Durango (México) por haver denunciado ligações da polícia com o tráfico de drogas. Sobre seu cadáver, os esbirros
puseram umcartaz, comum recado intimidatório para os colegas de Antuna: “Foi nisso que deu eu escrever o que não devia. Cuidem bem de seus textos”. Três semanas depois, nas Filipinas, 24 jornalistas foram trucidados, com mais 30 pessoas, num sequestro envolvendo um poderoso clã familiar de Mindanao. Pela última contagem da ONG internacional Repórteres SemFronteira,chegaa 178onúmero de jornalistas presos injustamente no mundo inteiro; presos por terem escrito “o que não deviam”. A China divide com o Irã a medalha de ouro da repressão à imprensa: 88jornalistas encarcerados, 58 dos quais atuantes na blogosfera,
Para o bem do Enem, é melhor esquecer 2009
entre eles o ativista de direitos humanos Hu Hia, cumprindo penadetrês anosemeio por“incitar à subversão” em seus artigos online. Cuba vem logo atrás,com 24 jornalistas condenados a penas entre 14 e 22 anos. Seguem-se Mianmar, Turcomenistão, Coreia do Norte e Eritreia. Não é inexpressiva, nesse ranking, a posição do Marrocos (redações fechadas, jornalistas presos e obrigados a pagarmultasextorsivas),daArgélia e da Tunísia. No ranking exclusivo da repressão à internet, a campeã é a Arábia Saudita, seguidados habituais suspeitos (Mianmar, China, Coreia do Norte, Cuba, Irã, Tunísia, Turcomenistão), reforçados pelo Egito, Usbequistão, Síria e Vietnã. Todos eles transformaram a rede numa vigiada intranet, inventando assim a blogosfera de segurança máxima. ●
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
Juntar pedagogia e política levou ao açodamento com as mudanças e comprometeu resultados Nílson José Machado*
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi realizado pela primeira vez em 1998 e destacou-se, desde o início, pela consistência e pela nitidez de sua proposta: as disciplinas escolares são meios para o desenvolvimento das competências pessoais, que devem situar-se no centro das atenções de um processo de avaliação. O esforço de convergência e de síntese, realizado entre as diversas áreas e disciplinasdeconteúdos,conduziu à explicitação de cinco competências fundamentais, a serem demonstradas pelos estudantes,aofinal doensino médio: capacidade de expressão em diferentes linguagens, de compreensão de fenômenos em variados âmbitos, de análise e argumentação consistente, de enfrentar situações-problema em diferentes contextos, e de ser propositivo, indo além do diagnóstico e formulando propostas de intervenção na realidade. Inicialmente, houve incompreensão e resistência ao novo tipo de exame, temendo-se uma desvalorização dos conteúdos disciplinares. Aos poucos, tais reações foram parcialmente amortecidas. Os próprios alunos contribuíram para isso: como a prova era mais simples do que os vestibulares tradicionais, os alunos tiravam melhores notas, não se sentiam “incompetentes”aorealizá-laegostavam de fazê-la. E o Enem cresceu, passando dos cerca de 150 mil participantes em 1998 para
DOMINGO, 6 DE DEZEMBRO
Abstenção recorde ●●● No primeiro ano em que o Enem é usado como vestibular para faculdades federais, a abstenção chega a 37,5%. Dos 4,1 milhões de inscritos, 1,5 milhão não compareceram. No Estado de São Paulo, a abstenção atingiu 46,9%: 470 mil em 1 milhão.
os mais de 4 milhões em 2009. Nesse percurso, no entanto, nem tudo são flores, e o Enem entrou em alguns desvios perigosos,quechegamacomprometer sua integridade. Um deles foi sua transformação em processo seletivo para as universidades, o que nunca fez parte do projeto inicial. Como instrumento de avaliação, o Enem não é adequado para classificação de alunos; é como usar uma faca de cortar pão como bisturi. No mesmo sentido, os resultados do Enem não são adequados para a classificação e o ordenamento de escolas. Na última divulgação de tais resultados, entre os escores 64 pontos e 65 pontos havia nada menos do
que 70 escolas. Entre elas, um reles ponto de diferença, e 70 posições no pseudorranking: muito barulho, muito marketing por quase nada. Pela natureza do exame, os resultados serviriam, no máximo, para organizar as escolas em quatro ou cinco faixas de rendimento: A, B, C, D, E. Qualquer passo além disso é mera caricatura. Nocorrenteano,foiapresentado o projeto de um Novo Enem, apontando numa direção que nos parece essencialmente correta. O objetivo seria uma maior aproximação entre as competências gerais já descritas e as matérias do ensino médio. Os conteúdos disciplinares são agora subdivididos em quatro áreas (Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências Naturais) e foram explicitadascompetênciasespecíficas a serem demonstradas em cada uma das áreas. Em vez de uma prova (63 questões), passou-se a quatro provas, uma para cada área, cada uma delas com 45 questões. As transformações propostas foram profundas e o mais prudente teria sido dedicar um tempo maior para a maturação e a consolidaçãodasmesmas.Umaçodamento na implementação das mudanças, compreensível apenas quando se misturam os cronogramas político e pedagógico, comprometeuseriamenteosresultados neste ano de 2009. Ocorreram problemas graves tantodopontodevistadalogística, com vazamentos das questões e adiamento da realização
DESVIO – Transformar um exame de avaliação em processo seletivo pode ter levado à abstenção de 40%
da prova, quanto na própria arquitetura da prova. Naturalmente, o vazamento prejudica a credibilidade do exame, e a confiançana integridadedo processo é condição sine qua non para o sucesso de qualquer sistema de avaliação. Mas o efeito mais perversodoaçodamentodizrespeitoà arquiteturada prova,como será mostrado a seguir. Oprimeiroaspectoquedeveria ter sido mais bem examinado é o tamanho da prova. O número de questões (180) parece exagerado – bastariam 20 a 25 por área. A reiteração de conteúdos– como a análisede gráficos,porexemplo–torna-seenfadonha e a realização do exame em quatro etapas constitui um desgaste físico excessivo e desnecessário. Um segundo aspecto, que se soma ao primeiro, é o fato de que, na formulação das questões,aânsia decontextualização a qualquer custo,associa-
da a uma interpretação estreita da ideia de contexto, conduz a enunciados verborrágicos, longos demais. Nada pressupõe mais nitidamente um contexto do que uma piada; no entanto, as melhores piadas são, quase sempre, as mais curtas. Os examinadores não parecem levar em conta tal fato, e é praticamente impossível responder a todas as questões de uma das provasmantendooníveldeinteresse, em razão de seus imensos e cansativos enunciados. Um terceiro aspecto problemático é um defeito técnico na arquitetura de diversas questões: as alternativas completam o enunciado (caput) de modo independente, transformando o que deveria ser uma questão em cinco questões, e comprometendo ainda mais o tempo de realização da prova. Esses fatos combinados estão presentes, ainda que em diferentes ní-
veis,emtodasasprovas,tornandosuarealizaçãouma verdadeira maratona extenuante, esvaindo-secompletamenteogostoque osalunos tinhamde realizar o “velho” Enem. Por essas razões, aos responsáveis pelo Enem resta esquecer o ano de 2009 e retomar sua trajetória bem-sucedida, corrigindo desvios como os apontados. Afinal, se a transformação do Enem em processo seletivo teve alguma influência na consolidação do exame, nos anos iniciais de realização, hoje, tal associação pode ser a principal responsável pela verdadeira anomalia que consiste em uma abstenção de cerca de 40% dos inscritos. ● *Professor titular da Faculdade de Educação da USP. Escreveu, entre outros, o livro Educação – Competência e Qualidade
●Edição de
0h15
o estado de s. paulo SEGUNDA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
(1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
14 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42426
ANDRE LESSA/AE.
Governo brasileiro sobe o tom na COP-15
Carta da ONU contra censura foi ignorada O relator da ONU para defesa da liberdade de expressão, Frank La Rue, dirigiu carta ao Itamaraty pedindo explicações sobre a mordaça imposta ao Estado desde 31 de julho. De conteúdo sigiloso, como é praxe, a carta foi enviada antes da decisão do STF que manteve a censura ao jornal, impedido de publicar reportagem sobre a Operação Boi Barrica da PF, cujo alvoéoempresárioFernandoSarney,filhodopresidentedoSenado. Como o governo brasileiro ignorou o documento, a ONU agora prepara um comunicado público, informa o correspondente Jamil Chade. ● PÁG. A4
Dilma Rousseff chama de ‘escândalo’ proposta de ricos Presente à primeira reunião de ministros da 15ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15), a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, acusou os países ricos de “inverter papéis”etratarnaçõesemdesenvolvimento – incluindo o Brasil – como se fossem seus pares. A ministra definiu como “um escândalo” a proposta de quepaíses em desenvolvimento venham a contribuir com financiamento para o fundo global de combate às mudanças climáticas. “É uma inversão de responsabilidades. Digam
JULIO MESQUITA
quanto vocês vão colocar no fundo”,reagiuaministra,referindo-se aos países ricos. Ela afirmou que o Brasil vai investir, mas quer ter acesso a financiamentos internacionais. A senadora Marina Silva (PV-AC) divergiu da posição da ministra ao afirmar em Copenhague que países emergentes têm condições de entrar no fundo. Em entrevista ao Estado, o enviado especial do governo americano, Jonathan Pershing, reclamou de falta simetria para um acordo final. ● PÁGS. A14 e A15
FRASE
Frank La Rue
Relator da ONU
“O escrutínio e a vigilância da sociedade sobre os políticos e funcionários públicos não podem ser criminalizados”
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 136 DIAS
Candidatodadireita sainafrentenoChile Eleição presidencial terá 2º turno
Muita água, pouca esperança
ra, diante de milhares de pessoas, no centro de Santiago. Segundo analistas, ele agora tem fortes chances de sair vitorioso no segundo turno, em 17de janeiro,pondofim àhegemoniadeduas décadasdacentro-esquerda. Os chilenos também foram às urnas para renovar as 120 cadeirasda Câmara e 20 dos 38 assentos do Senado. ● PÁGS. A10 e A11
Chuva parou, mas Jardim Romano continua alagado As ruas do Jardim Romano, na zona leste, não têm esgoto, galerias de água pluvial ou bueiros.Comas chuvas,são invadidas pelas águas do Tietê e vi-
NOTAS E INFORMAÇÕES
LIVIO ANTICOLI/ITALIAN PRIME MINISTER'S PRESS OFFICE
ITÁLIA: BERLUSCONI É AGREDIDO
O Tesouro e o BNDES O BNDES terá mais R$ 80 bilhões para financiar investimentos. Esse novo empréstimo é mais um motivo de temor para quem se preocupa com as contas do governo. ● PÁG. A3
●●●
Tempo: CAPITAL
27º
MÁX.
● PÁG. C2
15º
MÍN.
Frente fria se afasta, o sol aparace e a temperatura sobe no Estado.
●● O
primeiro-ministro Silvio Berlusconi foi agredido após comícioemMilão. Eleteve fra-
7 8 9 10 11 12
tura no nariz e perdeu dois dentes. O agressor teria problemas mentais. ● PÁG. A12
Hoje: 64 páginas A. 1º caderno: 16 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 4 ● L. Link: 10 ● Cl. Classificados:
(90 anúncios)
ram córregos com mais de um metrode profundidade.Por isso, a rotina de cerca de 2 mil famílias não vai voltar ao normal tão cedo. As águas podem
baixar em oito dias, mas só se aschuvascessarem,dizaDefesa Civil. Hoje, pela primeira vez, o prefeito Gilberto Kassab vai visitar o bairro. ● PÁG. C8
Estado de SP municipaliza liberdade assistida
Consumode etanol cresce 20%;gasolina ficaestagnada
A partir de 1º de janeiro, o atendimento a 10 mil jovens infratoresemliberdadeassistida passará a ser feito pelas prefeituras e não mais pela Fundação Casa (ex-Febem). Centoevintemunicípiospaulistas, incluindo a capital, já começaram a testar o sistema. Com a medida, o Estado ficará de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente,segundooqualotrabalho deve ser realizado pelos municípios para garantir a convivênciafamiliareainclusão social. ● PÁGS. C1, C3 e C4
Enquantoomercadodegasolina deve fechar 2009 estagnado, o consumo de etanol no Brasil cresce acima de 20% ao ano. Isso, apesar da alta do preço verificada nas últimas semanas. Tal cenário está provocando mudanças na estratégia da Petrobrás, que reduziu a produção de gasolina para ampliar a de óleo diesel. ● PÁG. B1
●● JásabeoquedarnoNatal?
Selecionamos os melhores lançamentos do mercado. ●
CADERNO 2 Quando o ídolo vira cicerone Artistas como Sarah Brightman fazem tours com fãs para faturar mais. ●
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Libertadores
Paulistas apostam tudo nos veteranos Corinthians e São Paulo estão contratando craques na casa dos 30 anos. ● PÁG. E1
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Morre Samuelson, Nobel de Economia ● PÁG. B5
BRIAN SNYDER/REUTERS
O candidato de direita Sebastián Piñera chega ao segundo turno como favorito para a presidência do Chile. Com 98%dasurnas apuradas,Piñera tinha 44,03% dos votos e o ex-presidente Eduardo Frei, da Concertação, 29,62%. O independente Marco EnríquezOminami somou 20,12%“Foi umgrande triunfo,que nos enche de esperança”, disse Piñe-
SOFRIMENTO – Família se dirige a festa na casa de parentes: enchente mistura água da chuva e esgoto
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SEGUNDA-FEIRA, 14 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Controle versus democratização
Pornopolítica
CláudioVignatti
CarlosAlbertoDi Franco
A resolução aprovada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) para a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), convocada pelo governo federal, contempla reivindicações históricas dos movimentos sociais brasileiros que visam a democratizar os meios de comunicação e o acesso a conteúdos, enquanto direito do cidadão. Mas se contradiz quando fala em controles público e social. A resolução do PT teria de ter deixado claro que a 1ª Confecom não poderá permitir enredar-se por nenhuma tendência de controle autoritário de meios e conteúdos por quem quer que seja, muito menos permitir acentuar ou recrudescer controles autoritários pelo Estado. Esse talvez seja o maior desafio do debate. É importante ressaltar que desde 2003 o governo realizou 57 conferências para debater os mais variados temas de interesse público. Uma iniciativa que faz parte do diálogo permanente do governo com a sociedade para facilitar os avanços no processo de democratização do País.
Todo o cuidado é pouco para não cercear a liberdade de imprensa... A tecnologia que ocasionou a convergência de meios e conteúdos cada vez mais se afirma como processo irreversível e o novo marco regulatório deve ser pautado não apenas para impedir a concentração, mas sobretudo para ampliar os direitos dos cidadãos e sua defesa quanto a abusos praticados pela grande mídia. Isso não foi devidamente valorizado na resolução. As mudanças tecnológicas já apresentam resultados concretos de desconcentração, mesmo com o atual modelo, que carece de correções. Outro aspecto que não mereceu relevância na resolução foi o fato de que crescem no País, por exemplo, as mídias regionais, o interesse por conteúdos locais, ao tempo que se observa um recuo das mídias nacionais, representadas pelos grandes grupos concentrados no Sul e no Sudeste. Trata-se de um alvissareiro processo de convergência contínua e progressiva. A 1ª Confecom precisa debater a mídia regional, porque o Brasil cresce no interior, não só nos grandes centros. A área da comunicação foi, sem dúvida, a que sofreu maiores transformações no mundo, desde o início da terceira revolução tecnológica, principalmente com o advento da digitalização, entre outras inovações. Multiplicou-se a produção de conteúdos e emergiu um notável cenário tecnológico de
difusão cultural. Daí a necessi- todos os serviços de comunicadade das reformas para adequa- ção (TV, rádio, cabo, telefone, ção do sistema de comunicação internet, impressos) em condicontemporâneo à garantia do ções isonômicas. Precisamos direito fundamental do cidadão avançar no rumo do provimenà informação, à pluralidade e à to de meios e conteúdos para diversidade cultural. Tal direi- garantir o acesso a todos. to, além de sua feição humana No tocante aos abusos, há inscrita em resolução da ONU, que criar regras que reforda qual o Brasil é signatário, es- cem, sobretudo, a defesa do tá ordenado também na nossa cidadão em contraponto ao Constituição da República. poder das mídias e seus mecaPositivamente, a resolução nismos de manipulação da soaprovada pelo PT reafirma es- ciedade quanto aos rumos ses direitos e aponta a vigência que convêm ao poder econôde elevada concentração dos mico – mediante as distormeios de comunicação priva- ções frequentemente verificados, frequentemente em asso- das na produção da notícia, ciação com grupos estrangei- em aberta ofensa à integridaros, com seus interesses comer- de da pessoa humana. ciais – enquanto entrave ao proNão obstante os avanços cesso de democratização e de conquistados, ainda se faz disdesenvolvimento do País. Afi- tante um sistema de comuninal, somos uma nação em movi- cação que atenda ao interesmento, na busca da superação se público e às necessidades de profundas desigualdades sociais, econômicas, culturais, po- do desenvolvimento. A 1ª Conlíticas e regionais e de afirma- fecom é um passo significatição da democracia. Nessas cir- vo no processo de diálogo e cunstâncias, cabe ao Estado construção da democracia, prover e afiançar a democrati- mas todo o cuidado é pouco zação do sistema de comunica- para não incorrer em erros ção e do acesso irrestrito aos que venham cercear a liberdaconteúdos a todos os cidadãos, de de imprensa, de pensamenpara o seu desenvolvimento – to e de produção e veiculação com definição de políticas públi- de conteúdos. Desse modo, trata-se de cas elaboradas com a livre participação da sociedade e de combater a constituição de suas instituições democráticas. grupos para controlar grupos Porém essa participação da so- e a escalada da concentração ciedade é inconciliável com ins- na área da comunicação – tâncias de controle em que pre- sob a premissa da luta pela livaleça a censura – contradição berdade e igualdade. ● fundamental da democracia. Na resolução consta a neces- Claudio Vignatti, deputado fesidade de “criação de instâncias deral (PT-SC), presidente da regulatórias que garantam a Comissão de Finanças e Tribuparticipação popular na formu- tação, foi presidente da Frente lação das políticas do setor e na Parlamentar da Mídia Regional avaliação das outorgas de comunicação, com mecanismos que impeçam a reprodução dos aspectos autoritários do sistema atual”. Certamente a participação da sociedade no tocante a debate das políticas públicas já é fato no atual estágio de democratização do País. Nesse sentido, não há como admitir o controle de meios e conteúdos alinhados a tendências internacionais tanto pelo setor privado quanto pelo setor público. No contraponto, evidenciam-se a necessidade de remoção do arcabouço legal vigente, de privilégios de grupos privados, assegurandose a igualdade de condições de participação no âmbito do sistema de comunicação; a criação de mecanismos de acesso aos meios de produção e consumo da informação, do conhecimento e da cultura enquanto garantia do direito à comunica- José Serra e Aécio Neves ção; a universalização de
Censura,136dias Segundo Auguste Comte, o significado do dístico na nossa Bandeira Nacional é: o amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim. Digo isso porque não é somente um jornal, com princípios, base e fins, que está sendo proibido descaradamente de publicar matérias que envolvem um simples homem com poder. Mas é a população, toda a Nação representada por essa majestosa Bandeira, que, por falta de princípio, ordem e progresso do STF, está sendo desrespeitada. Afinal, o que é um simples homem com poder perto de nossa Bandeira hasteada junto ao STF? É lucro? TATIANA BATTISTINI
do, vive assombrado com o fantasma do seu próprio mensalão. Recentemente, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ex-governador de Minas, virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) e vai responder penalmente pela sua suposta participação no valerioduto mineiro. Alguns, equivocadamente, minimizam a gravidade da corrupção. O Brasil está bombando. O desenvolvimento absolve todos os pecados. O crescimento da economia é uma viseira que impede um olhar mais profundo sobre o País que queremos construir. O custo humano e social da corrupção brasileira é assustador. O dinheiro que desaparece no ralo da corrupção é uma tremenda injustiça, uma bofetada na cidadania, um câncer que, aos poucos e insidiosamente, vai minando a República. As instituições perdem credibilidade numa velocidade assustadora. O fantasma do caudilhismo está aí. A imagem do presidente da República, construída numa impressionante operação de comunicação, não tem precedentes na História das democracias. Lembra, sim, esquemas clássicos de comunicação em regimes ditatoriais. E não se trata, por óbvio, de um plano de comunicação para quem está saindo, mas de uma estratégia de perpetuação no poder. O perigo não é o Lula, mas o lulismo. O culto ao presidente da República não combina com a democracia. A corrupção, independentemente do seu colorido partidário, precisa ser duramente combatida. É ela que alimenta a fome que o presidente da República pretendeu, certamente com boa intenção, combater na alvorada idealista do seu governo. É ela que abandona os LEO MARTINS idosos que são maltratados nas filas da saúde pública. É ela que empurra a juventude desempregada para o consumo e o tráfico de drogas. No ano passado, matéria da revista Megazine, suplemento para jovens do jornal O Globo, radiografou a imensa frustração da juventude com a política. Desencanto com política era uma das razões apontadas por jovens de 16 e 17 anos que optaram por não votar nas eleições de 2008. O voto aos 16 anos foi uma conquista do movimento estudantil, incorporada à Constituição de 1988. A renúncia ao exercício de um direito, tão imprópria do idealismo juvenil, mostra o grau da frustração adolescente. É um tiro na democracia e uma vitória dos demagogos, dos desones-
A História mundial está repleta de exemplos inspiradores. E a saga brasileira, também. Os defeitos pessoais e as limitações humanas dos homens públicos, inevitáveis e recorrentes como as chuvas de verão, não matavam a política. Hoje, no entanto, assistimos ao advento da pornopolítica. A vida pública, com raras e contadas exceções, transformou-se num espaço mafioso, numa avenida transitada por governantes corruptos, políticos cínicos e gangues especializadas no assalto ao dinheiro público. Quando se pensava que as denúncias de corrupção no Distrito Federal (DF) tinham alcançado um patamar intransponível nos governos de Joaquim Roriz, a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF), revela um dos mais bem documentados e abjetos escândalos do gênero no País. O governador José Roberto Arruda, o mesmo que derramou lágrimas de crocodilo ao jurar inocência no caso da violação do sigilo do painel de votações do Senado, volta à cena em grande estilo. Arruda é acusado de chefiar um esquema sistemático de propinas a auxiliares diretos, membros do seu secretariado e deputado distritais. A sociedade assiste, atônita, ao nascimento do mensalão do DEM. O filme lembra em tudo, até mesmo no uso de cuecas e meias como esconderijo da dinheirama, o até agora impune mensalão do PT. O PSDB, por outro la-
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Crimehediondo battistini.t@gmail.com
São Paulo ● Tanta gente renomada no campo da Justiça vem a público dizer que é absurda a censura ao Estadão, inclusive o próprio ministro da área, e o Supremo “amarela”? A família Sarney é mesmo poderosa! Estudantada, cadê vocês, não se vão manifestar? CLÉA MARIA GRANADEIRO cleacorrea@uol.com.br
São Paulo ● “Antes do compromisso com a lei, o magistrado tem um compromisso com a justiça e com o alcance da função social do processo para que este não se torne instrumento de restrita observância da
forma distanciando-se da necessária busca da verdade real” – decisão da ministra Nancy Andrighi, do STJ, no Recurso Especial 330. 550/RJ. Corretíssimo o ministro Carlos Ayres Britto, que anteriormente classifiquei como camaleônico (Acórdão x acordão, 22/11); inegável, entretanto, a sua profundidade jurídica, bem distante do recente nomeado pelo mais lídimo e representativo dos “caras de anjo” deste país. Não há como chancelar a censura, pois essa mancha na nossa História foi superada a duras penas. A decisão é seguramente um retrocesso vergonhoso. É chegada a hora de ser aplicada pra valer a famosa Constituição do historiador cearense Capistrano de Abreu, de só dois
artigos: “Art. 1.º – Todo brasileiro tem obrigação de ter vergonha na cara. Art. 2.º – Revogamse as disposições em contrário.” SÉRGIO BRASIL GADELHA sbgadvocacia@gmail.com
São Paulo
E a ditadura togada ratifica decisão que dá ao Poder Judiciário o direito de decidir o que podemos ler num jornal sério. ●
PEDRO MORI advpedromori@ig.com.br
São Paulo ● É, para certas coisas na vida não encontramos explicações... VIRGÍLIO MELHADO PASSONI mmpassoni@gmail.com
Osasco
Tramita no Congresso projeto de lei que torna crime hediondo a corrupção no alto escalão da administração pública, a partir de 2010. Segundo se noticia, integrantes do Executivo já conversaram com o presidente do STF, representantes do Ministério Público (MP) e líderes partidários para facilitar a tramitação. O texto aumenta as penas previstas no Código Penal para crimes como corrupção ativa e passiva, peculato e concussão. Se aprovada e sancionada a lei, resta saber a sua efetividade na prática. Em que pese a ação firme e eficiente da Polícia Federal investigando e prendendo corruptos e grandes dilapidadores dos cofres públicos e do MP denunciando-os à Justiça, não me ocorre ter lido notícias de envolvi-
tos, dos oportunistas e dos que vivem de costas para a ética. “Não quero sujar as mãos. Depois de eleito, o político só faz besteira e o povo se culpa por ter votado nele. Como posso escolher, vou tirar meu título quando for obrigado (aos 18)”, dizia João Gabriel de Souza, então com 17 anos. Há cinco anos havia no País 3,6 milhões de eleitores de 16 e 17 anos. Em 2008 o número chegou a 2,9 milhões, redução de 19%. No mesmo período, o eleitorado geral brasileiro aumentou de 121 milhões para 130,6 milhões. Quer dizer: a esperança juvenil encolheu. São dados preocupantes. A imprensa, sem as mordaças que alguns defendem e livre de quaisquer tentativas de cooptação, tem um papel decisivo no processo de recuperação da ética. Denunciar a corrupção é um dever. Mas, ao mesmo tempo, devemos construir uma agenda positiva e apoiar ações afirmativas no campo da ética na política. A Conferência Nacional dos Bispo do Brasil (CNBB) e outras
A vida pública, com raras e contadas exceções, tornou-se um espaço mafioso 40 entidades da sociedade civil se empenharam na coleta de mais de 1,3 milhão de assinaturas para apresentar no Congresso um projeto de lei de iniciativa popular que veta a candidatura às eleições de pessoas com ficha suja. O projeto foi protocolado na Câmara dos Deputados no passado dia 29. Pelo texto, não poderão concorrer pessoas condenadas em primeira instância, ou com denúncia recebida por um tribunal, por crimes de racismo, homicídio, estupro, tráfico de drogas e desvio de verbas públicas, além dos candidatos condenados por compra de votos ou uso eleitoral da máquina. Ficam ainda impedidos de concorrer os parlamentares que renunciaram ao cargo para evitar abertura de processo por quebra de decoro – caso, por exemplo, de alguns deputados envolvidos no escândalo do mensalão. Tais iniciativas merecem destaque e apoio. O veto aos candidatos com ficha suja e o fim do foro privilegiado podem mudar o Brasil. ● Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, é diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br) e da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com) E-mail: difranco@iics.org.br
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
dos sendo condenados e presos. As garras da lei parecem não os alcançar. Há 2.500 anos, dizia Sólon: “As leis são como teias de aranha, quando algo leve cai nelas, fica retido, ao passo que, se for algo maior, consegue rompêlas e escapar.” Quem viver verá. MARIO PALLAZINI mpallazini@hotmail.com
São Paulo
Meengana que eugosto O projeto de lei que transforma a corrupção em crime hediondo é mais uma jogada do governo para tentar enganar o povo. De nada adianta uma lei severa se o nosso sistema penal permite uma infinidade de recursos e protelações e concede foro especial aos ocupantes de altos cargos nos três Pode-
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SEGUNDA-FEIRA, 14 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
NACIONAL
Sarney adia reforma do Senado para 2010
Pressão de servidores faz chefe da Casa deixar de lado a promessa de moralização q PÁG.A6
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 136 DIAS
Relator da ONU cobra posição do governo sobre mordaça no jornal Planalto ignorou carta das Nações Unidas, que agora preparam comunicado público expressando preocupação Jamil Chade CORRESPONDENTE GENEBRA
A censura imposta ao Estado é umtemaparaasNaçõesUnidas questionarem o governo brasileiro. O relator da ONU para defesa da liberdade de expressão, Frank La Rue, enviou ao Itamaraty carta pedindo explicações sobre a mordaça no jornal e cobrando solução do caso. Em sua avaliação, foi “terrível como precedente” a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), tomada na quinta-feira passada, que manteve a censura. “Qualquer obstáculo ao trabalhodaimprensaéumatoantidemocrático”, disse o relator. Desde31dejulho,oEstadoestá proibido de publicar reportagenssobreaOperaçãoBoiBarrica,daPolíciaFederal, queinvestigou e indiciou o empresário FernandoSarney,filho dopresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Na reclamação ao STF,oEstadoafirmouqueoTribunal de Justiça do Distrito Federal instaurou a censura judicial, proibida pela Constituição. Orecursofoiarquivadopor6votos a 3. O jornal vai recorrer. A reportagem apurou com fontes da ONU que a carta foi enviada antes da decisão do STF. Mas até agora foi ignorada pelo governo, que não prestou informações. Os relatores de Direitos Humanos da ONU têm como mandato fiscalizar e avaliar a situação de diversos temas em todos os continentes. O instrumento que contam para pressionar por mudanças é o diálogo com os governos e a capacidade de influenciar a opinião pública mundial.
A carta foi enviada antes da decisão do STF que rejeitou recurso do ‘Estado’ Tradicionalmente, quando um relator identifica problema num país, envia carta cobrando explicações. Tanto o envio da carta como seu conteúdo são mantidos em sigilo. Foram os próprios governos que elaboraram os códigos de conduta para atuação dos relatores da ONU. Outroinstrumentodosrelatoreséode“envergonhar”publicamente um país, ao emitir um comunicado internacional expressando a preocupação. La Rue, um guatemalteco que ocupa o posto de relator na ONU há pouco mais de um ano, não revela o conteúdo da carta nem a data em que foi enviada. Mas, diante do silêncio do governo e da decisão do STF, ele admite que seu
MORDAÇA NA IMPRENSA
Cronologia do caso 10/6
23/6
22 e 23/7
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Estado revela que dois funcionários que trabalham na Fundação José Sarney, em São Luís (MA), são assessores do Senado. Raimundo Nonato Quintiliano Pereira Filho ganhou o cargo em 1995, com salário de R$ 7,6 mil. Já Fernando Nelmásio Belfort esteve na folha de pagamento da Casa entre agosto de 2007 e abril de 2009
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Estado revela a existência de mais de 300 atos secretos para criar cargos, aumentar salários e nomear parentes e amigos de políticos para o Senado. Conversas telefônicas comprovaram o envolvimento do presidente da Casa, José Sarney, e a prática de nepotismo. Uma das nomeações que aparecem é a de um neto de Sarney no gabinete de Epitácio Cafeteira (PTB-MA) ●
O desembargador Henrique Nelson Calandra, presidente da Associação Paulista dos Magistrados (Apamagis), contesta a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que rejeitou o recurso do Estado contra a censura que lhe foi imposta pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). “Me filio à tese derrotada, defendida pelos ministros Carlos Ayres Britto, Celso de Mello e Carmen Lúcia,
O desembargador Vieira conclui que é competente para julgar o processo. Caso segue para Conselho Especial do Tribunal de Justiça. O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), critica censura ao Estado. Entidades continuam a repudiar a censura ●
A comissão de sindicância que analisa os atos secretos do Senado divulgou que detectou cerca de 650 decisões mantidas sob sigilo nos últimos anos. O levantamento identificou que muitos boletins contêm mais de um ato
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Jornal revela que Dácio Vieira, ex-consultor do Senado, é do convívio da família Sarney e do ex-diretor da Casa, Agaciel Maia. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e outras entidades criticam decisão. Vieira foi um dos convidados presentes ao casamento de Mayanna Cecília, filha de Agaciel. Sarney foi padrinho do casamento ●
Jornal publica reportagem mostrando que Amaury de Jesus Machado, conhecido como ‘Secreta’, mordomo da casa de Roseana Sarney, filha de Sarney, é funcionário efetivo do Senado e ganha em torno de R$ 12 mil. Ele deveria trabalhar no Congresso, mas desde 2003 dá expediente a sete quilômetros dali, na residência que Roseana mantém no Lago Sul de Brasília
A Operação Boi Barrica esbarrou em provas contra o grupo do empresário Fernando Sarney, filho de José Sarney. A PF divulgou que o grupo usava o poder do sobrenome Sarney para ter acesso a ministérios e estatais. Há conversas dos investigados com o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, indicado de Sarney. Fernando foi interrogado na PF do Maranhão
próximopassoemrelaçãoàcensura ao Estado será emitir um comunicado público. Para o relator, governos precisam acabar com leis que dão proteção a políticos e servidores públicos e impedem a transparência de seus atos. “Essas leis são da época em que monarquiasmandavam. Não podemos
continuar assim. O escrutínio e a vigilância da sociedade sobre políticosefuncionáriospúblicos não podem ser criminalizados”, disse. “Servidores devem ser transparentes, o que significa aceitara vigilância pública.” Para o relator, deve ser obrigatório que homens públicos esclareçam seus atos.
até porque uma liminar não pode durar para sempre. A reclamação ao STF formulada pelos advogados do Estado era, sem dúvida,a medida mais acertada para o caso”, defendeu. Reclamação é um recurso usado quando decisão do STF é descumprida por um juiz ou outro tribunal. No caso do fim da LeideImprensa,entra-senoSupremocomumareclamaçãopara fazer valer a decisão que a corte tomou sobre o tema. O que estava em discussão,
● Estado entra com mandado de segurança. O recurso tem o objetivo de garantir o reconhecimento de direito líquido e certo, incontestável, que está sendo violado ou ameaçado por ato ilegal ou inconstitucional de uma autoridade
● O desembargador Waldir Leôncio Cordeiro, da 2.ª Câmara Cível do TJ, mantém censura ao jornal, ao não acolher pedido de liminar no mandado de segurança
● O desembargador Dácio Vieira, do TJ-DF, proibiu o Estado de publicar reportagens da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. O recurso judicial, que pôs o jornal sob censura, foi apresentado pelo empresário Fernando Sarney
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segundo Calandra, “claramente, era o direito à liberdade de imprensa e de opinião, uma garantia constitucional, e não a roupagem jurídica”. “O Estadão, um dos jornais mais importantes do País, permanece com a boca cerrada quasemeio ano após aedição da liminar”, afirma. Calandra diz que se sentiu “incomodado” com a decisão do STF. “Foi comose um médico fosse proibido de fazer cirurgia ou um juiz de julgar, atividades que estão no
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Estado ingressa com nova exceção de suspeição do desembargador Dácio Vieira. A base do recurso é extraída da própria decisão de Vieira, quando ele ignorou um primeiro pedido para que se declarasse suspeito no caso ●
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O TJ-DF declara Dácio Vieira suspeito para decidir sobre ● Amparado na artigo 35 do o pedido de censura ao Estado. Código de Processo Civil, o advoga- A decisão afasta o desembargado Manuel Alceu Affonso Ferreira dor do caso. No mesmo dia pede que o desembargador que cen- foi indicado o novo relator, surou o Estado se declare suspeito Lecir Manoel da Luz
5/8
30/9
12/8
14/8
Associação de juízes contesta decisão do Supremo que manteve a censura Moacir Assunção
para tomar decisões no processo. A exceção de suspeição é protocolada no próprio Tribunal de Justiça do DF. O requerimento sustenta que há laços entre Dácio Vieira, Fernando Sarney e Agaciel Maia. E que o desembargador prestou serviços ao Senado durante largo período
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16/7
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31/7
● Reportagem do Estado mostra que o esquema do crédito consignado no Senado inclui entre seus operadores José Adriano Cordeiro Sarney, neto de José Sarney. De 2007 até a época da denúncia, a Sarcris Consultoria, Serviços e Participações Ltda, empresa de José Adriano, recebeu autorização de seis bancos para intermediar consignados aos servidores
18/6
20/6
Estado publica diálogos gravados entre 30 de março e 2 de abril de 2008, que mostram a articulação para nomear Henrique Dias Bernardes, namorado de Maria Beatriz, filha de Fernando Sarney. As ligações amarram Sarney a Agaciel Maia na prestação de favores por meio de atos secretos
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● Desembargadores da 5.ª Turma do TJ-DF decidem manter o Estado sob censura, consideram que o foro competente da Operação Boi Barrica é a Justiça do Maranhão e determinam que o caso seja transferido para lá
13/10
● Os desembargadores do Conselho Especial do TJ-DF rejeitam recurso do Estado
6/11 ● Diário da Justiça publica acórdão que permite veículos de comunicação sob censura entrarem com reclamação diretamente no STF. O texto também deixa claro que a Constituição garante à imprensa o direito de revelar “as coisas respeitantes à vida do Estado e da própria sociedade”
17/11 ● Estado entra com recurso denominado reclamação pedindo a “pronta suspensão” da censura no STF. Documento ataca ponto a ponto o decreto de censura
10/12 ● Numa decisão que discutiu aspectos técnicos e não o mérito, o STF – por 6 votos a 3 – rejeitou recurso do Estado contra a censura. A mordaça continua em vigor
(SP),apósdenúnciasdecorrupção policial. Em junho, outra carta pedia explicações sobre ataques ao Diário do Amazonas, cujo prédio foi metralhado. “Há uma preocupação de que o incidente seja uma tentativa direta de impedir a liberdade de expressão no Brasil”, afirmou a ONU. ●
Em maio deste ano, a ONU divulgoudezcartas–antesmantidas sob sigilo – enviadas ao Brasil em 2008, alertando para casos de jornalistas e pessoas “silenciadas”. As cartas pediam informações sobre o que estava sendo feito para proteger as vítimas e punir os culpados. O Brasil só respondeu a
duas delas. Em janeiro de 2008, a ONU enviou comunicado sobre o assassinato do cinegrafista Walter Lessa, da TV Assembléia em Maceió (AL), depois de reportagens sobre tráfico de drogas.Outro casofoi a emboscada contra Edson Ferraz, da TV Diário, em Mogi das Cruzes
centro de suas profissões”, diz. “Me sinto extremamente incomodado quando vejo violadoalgumpreceitodademocracia. Isso é muito grave em qualquer sociedade democrática e causa um mal enorme.” De acordo com o presidente da Apamagis, ditar o que jornalistas “devem ou não escrever é violação da liberdade de imprensa”. Desde 31 de julho, o Estado está proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que indiciou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). ●
Site jurídico vê ‘inusitada escapulida’ de ministros O site Migalhas (www.migalhas. com.br),espaçojurídiconainternetapoiadopelasprincipaisbancas de advocacia, deu destaque à recusa do Supremo Tribunal Federal em abolir a censura ao Estado. “Numa inusitada escapulida,evitandoadentrarnomérito, o STF não recebeu a reclamação impetrada pelo Estadão”, diz o site. “Acomodados no gabinete, alguns ministros nãosabemoquepode acontecer nos rincões do País: o dono de jornal de cidade pequena, seja
Diamantino (MT), Tiradentes (MG) ou Joanópolis (SP), como exemplo, pode agora discutir pauta editorial com o magistrado na cabeceira da mesa: isso vai; isso não; é matéria, mas não gosto; publica com tal enfoque.” O site cita o caso da Escola Base – exemplo de abuso da imprensa para o presidente do STF, Gilmar Mendes – para comentar a frase do ministro Carlos Ayres Britto, segundo o qual “não se pode, por medo do abuso, coibir o uso”. ● M.A.
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo TERÇA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
15 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42427
BB negocia compra de banco da Argentina Aquisição faz parte do plano de transformar o banco numa ‘multinacional financeira’ O Banco do Brasil (BB) prepara sua primeira grande incursão internacional e negocia a compra de parte do argentino Banco Patagônia. Com 126 agências, o Patagônia tem presença forte em Buenos Aires e no sul do país. América do Sul e Esta-
dos Unidos são os mercados prioritáriosna estratégiado governo para transformar o BB numa “multinacional financeira”. O Itaú, um de seus principais concorrentes, tem participação destacada na Argentina, Chile e Uruguai. ● PÁGS. B1 e B3
Citi paga empréstimo nos EUA ED FERREIRA/AE
●●● Uma das instituições mais afetadas pela crise global, o Citigroup anunciou ontem que devolverá ao governo americano US$ 20 bilhões. Com isso, o banco vai se
livrar das restrições e dos exames minuciosos a que foi submetido após Washington ter injetado US$ 45 bilhões por meio de programa de recuperação em 2008. ● PÁG. B9
BARRADOS – Após horas no frio, milhares de pessoas foram impedidas de entrar no local onde é realizada a conferência, em Copenhague
ILUSTRAÇÃO DENIS RODRIGUES
Emergentes paralisam debate em Copenhague
Sobpressão do movimentopróimpeachment, o governador do DF,JoséRobertoArruda,anunciouontemumpacotedebondades, no valor de R$ 248 milhões: a antecipação do salário de dezembro para 45 mil servidores e o pagamento de gratificação a bombeiros e PMs. ● PÁG. A4
Países não se entendem sobre metas na Conferência do Clima Representantes de países africanos paralisaram ontem a 15ª Conferência do Clima (COP 15) da ONU, em Copenhague, diantedaausênciadepropostasconcretasporpartedepaísesindustrializados para a renovação do Protocolo de Kyoto, informam os enviados especiais Andrei Netto e Afra Balazina. Inconformados, negociadores africanosseretiraram da reuniãoplenária que discutia o texto-base
FRASE
Bernaditas Muller Representante do G77 mais a China “Todo o trabalho de dois anos pode ser colocado em risco”
doeventual“ProtocolodeCopenhague”. Essa atitude, que bloqueou a negociação, recebeu o apoio formal do G77, o grupo dos países em desenvolvimen-
to,comatuaçãoexplícitadaChina,e tornou mais concreto o risco de fracasso nas negociações. Bernaditas Muller, representantedo G77maisa China,disse queos países ricos estão dificultando as negociações sobre adaptação e financiamento. Em represália à ação do G77, países como EUA e Japão bloquearam discussões na plenária sobre a renovação do Protocolo de Kyoto. ● PÁG. A15
Serra e Dilma divergem sobre fundo do clima ●● Em Copenhague, os presi-
denciáveisJoséSerraeMarina Silva defenderam que o Brasil dê dinheiro para o fundo climático. Dilma Rousseff rejeita a ideia. ● PÁG. A15
Alunos-atletas ●● Esporte ajuda brasileiros
na disputa por bolsas de estudo nos EUA. ●
Crise em Honduras ESPORTES
Nos EUA, Joaquim Cruz treina feridos de guerra
Brasil e EUA fecham acordo
VIAGEM
●● Assessor de Lula e sub-
& AVENTURA
secretário defendem saída de Micheletti. ● PÁG. A10
ESPECIAL
ÁFRICA DO SUL
Ouro nos 800 m na Olimpíada de Los Angeles, em 1984, JoaquimCruz hojededica-se ao esporte paraolímpico americano. O ex-meio-fundista busca talentos entre os soldados feridos no Iraque e no Afeganistão. ● PÁG. E1 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 137 DIAS q PÁG. A8
7 8 9 10 11 12
Jovens de 20 a 29 anos terão vacina anos e grávidas também são prioridade. ● PÁG. A17
São Paulo
Operário morre em obra do Metrô ●●● A bela Cidade do Cabo integra o time de atrações imperdíveis do país que
seráa sede da Copa de 2010. Confira tudo sobre os 11 roteiros campeões. ●
Tempo: CAPITAL
29º
Obama freia os bancos Quanto mais longa for a tramitação no Senado, maior possibilidade terão os bancos de tornar a
Gripe suína
Lula critica empresários que deixaram a Confecom Na abertura da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, o presidente Lula criticou os empresários que abandonaram o evento sob o argumento de que era um jogo de cartas marcadas. “É horade uma decisão que resgate os acertos e corrija o passado”, disse. ● PÁG. A6
●● Crianças de 6 meses a 2
NOTAS E INFORMAÇÕES
●●●
Arruda abre o cofre para agradar a servidores
Lei de Reforma de Wall Street, projeto de Barack Obama, mais aguada. ● PÁG. A3
MÁX.
● PÁG. C2
17º
MÍN.
Dia com sol e pancadas de chuva à tarde. No norte do Estado, chove a qualquer hora.
Hoje: 114 páginas
A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 4 ● H. Especial Melhores Empresas: 12 ● V. Viagem: 10 ● X. Especial Viagem África do Sul: 12 ● .Edu: 16 ● Cl. Classificados: 4 (434 anúncios)
●● Homem
foi atingido portrilhodeaçoquesesoltou de guindaste. ● PÁG. C7
CADERNO 2
Arte em destaque
●● Um papo entre Beatriz
MilhazeseVikMuniz,brasileiros em ascensão. ●
Água causa mais de 60% de internações de crianças Doenças transmitidas por água, como hepatite A e diarreia, sãocausa de 63% das internações de crianças no SUS no verão. O infectologista Arthur Timerman alerta para os riscos dos moradores de bairros inundados de São Paulo onde a água se mistura com esgoto ● PÁG. C1
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TERÇA-FEIRA, 15 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Esquerda ou direita?
Caras de anjo enganam caras de pau
XicoGraziano
SandraCavalcanti
Toda a atenção em Copenhague. Líderes mundiais, políticos e ambientalistas, cientistas e jornalistas discutem um acordo global sobre o clima. Entre o pessimismo e o otimismo, uma certeza: o aquecimento do planeta acende luz amarela para o futuro. Hora de ação. A crise ecológica vem de longe denunciando, agora definitivamente, a falência do modo de produção erigido nos últimos séculos. Tanto faz a cor ideológica. Capitalismo e socialismo nunca ligaram para a ecologia. Por isso o ambientalismo sempre mostrou dificuldades para ser politicamente rotulado. Ainda na época da guerra fria parecia bucólico discutir a depredação da natureza. Concorrendo entre si pela supremacia mundial, a ex-URSS e os EUA mostravam a mesma visão deturpada sobre o crescimento econômico. A poluição era vista, por ambos os lados, como o “preço do progresso”. Os ambientalistas foram chamados pelos conservadores de “melancias”, quer dizer, verdes por fora, vermelhos por
Esse debate ideológico pouco importa para o ambientalismo dentro. Esse apelido se justificava mais pela novidade que os ecologistas representavam do que propriamente por suas posições políticas. Na esquerda socialista, sem nenhuma tradição com o tema ambiental, muitos os consideravam uma espécie de anarquistas verdes, chamados depreciativamente de “porras-loucas”. Após o fim do comunismo e a distensão política mundial, grupos de ecologistas europeus fundaram os Partidos Verdes, mostrando certa independência da política tradicional. Ao mesmo tempo, as modernas questões ecológicas começaram a ser adotadas pelos antigos partidos políticos, sem distinção ideológica. Foi bom. Ao chegar ao Brasil, onde o sistema partidário sabidamente é mais frágil, uma miscelânea de posições confunde a coloração ideológica do ambientalismo. O antigo rótulo, aliás, anda confuso em geral. Como enquadrar o “chavismo”? Aparelhar o Estado pela companheirada soa a esquerda, em nome da revolução, ou a direita, nas vantagens pessoais? O MST, por exemplo, supõese pertencer à esquerda radical. Mas as invasões de terra invariavelmente destroem grandes remanescentes vegetais do País. Florestas são consideradas ainda “terra ociosa”, nunca “reservas de biodiversidade”. Na Amazônia, a motosserra
que deita gigantes árvores não vas ideias farão a diferença. Pensem no pré-sal. Sua exdistingue assentamentos rurais ploração tenderá a agravar o de latifúndios. O dilema contemporâneo si- fenômeno climático, em ratua-se noutro contexto, fora do zão do elevado teor de CO2 debate ideológico entre “esquer- que apresenta. Mas do limão da” e “direita”. Para o ambienta- pode sair uma limonada. Valelismo, pouco importa saber se o rá a pena sua utilização se, na regime é capitalista ou socialis- riqueza escondida nas profunta, neoliberal ou estatizante. A dezas do oceano, o País enconquestão essencial reside na com- trar os recursos de que necespreensão sobre o desenvolvi- sita para investir em limpas mento, se sustentável ou preda- tecnologias e subsidiar a constório. Progressistas defendem trução da economia de baixo as energias renováveis, para fu- carbono. O negro óleo ajudangir do fóssil petróleo; conserva- do o verde. dores defendem termoelétricas Os céticos mostram desmovidas a óleo combustível. Po- crença nisso tudo. Sempre foi lêmica típica do século 21. assim. A percepção sobre os Neste momento de transfor- processos de mudança demomação das economias mun- ra especialmente nas mentes diais, processo inescapável pa- cujas posições serão derrotara o Brasil, a presença do Esta- das pela História. Aconteceu do, atuando de forma ativa, se- na queda do Muro de Berlin. rá fundamental. Nada que ver, Fora os teimosos, aqueles porém, com essa discussão to- que morreram sem acreditar la, manipulada pelo lulismo, so- que o homem tenha pousado bre governo “privatista” ou “na- na Lua. cionalista”. Pura bobagem. Heráclito dizia que não há A necessária descarbonifica- nada permanente, exceto a ção das economias mundiais vai mudança. Alinhar-se com as provocar grandes modificações propostas ambientalistas exino modo de exploração, na pro- ge superar os cacoetes da podução de riquezas e no padrão lítica tradicional, especialdo consumo humano. Países co- mente o ultrapassado debate mo o Brasil só têm a ganhar nes- entre direita e esquerda, libese processo. Sua maior vanta- ral ou estatizante. gem reside no potencial das O desenvolvimento sustenenergias renováveis, abundân- tável aceita apenas um rótucia invejada no mundo. lo: o da modernidade. ● Claro está que o mercado, por si só, jamais conseguirá, Xico Graziano, agrônomo, em tempo hábil, caminhar no é secretário do Meio Ambiente sentido desejado do desenvolvi- do Estado de São Paulo. E-mail: mento sustentável. Poderá, tal- xico@xicograziano.com.br vez, com apoio de novas tecno- Site: www.xicograziano.com.br logias e mudança de métodos, aprimorar suas técnicas, reduzindo parte da poluição. Mas o aquecimento global atesta que não basta consertar os estragos ambientais causados pelo crescimento da economia. Tampouco aprimorar as tecnologias mantendo o padrão de produção. Não. O porvir exigirá algo mais profundo, uma verdadeira revolução. Um novo paradigma. Quem supõe que a agenda ambiental freia o progresso raciocina de forma tradicional, conservadora, como se fazia no século passado. O pensamento progressista enxerga na necessidade de revisão do padrão civilizatório a chave para o sucesso da humanidade, construindo uma nova economia, a economia verde. Chega de emitir notas promissórias contra o futuro. Haverá longa e difícil transição, por décadas. Primordial, porém, será a compreensão do processo. Alguns países vão liderar a mudança, outros se tornarão retardatários. Certas empresas vão ganhar, outras perderão. Otimistas enxergarão oportunidades, pessimistas verão des- Paul Samuelson (1915-2009) graças. Novos conceitos, no-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES R$1trilhão! R$ 1 trilhão é a cifra alcançada pelo governo em arrecadação de impostos, ontem. Se fosse num país sério, esse valor seria mais do que suficiente para se ter transporte eficiente e de qualidade, saúde e educação, moradia, segurança e emprego para todos. Ao contrário, pagamos impostos da Suécia e temos serviços do Zimbábue. Não fossem nossos representantes os maiores caras de pau, que não se intimidam nem um pouco quando se trata de votar medidas que sobrecarregam o bolso do contribuinte. Enquanto isso, a corrupção corre solta em todas as instâncias. Todos são absolvidos e perdoados, pois não existe punição para corruptos do dinheiro público. A população assiste a tudo calada.
Vamos ver até quando aguentará, se é que vai aguentar. IZABEL AVALLONE izabelavallone@yahoo.com.br
São Paulo
Prêmios
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Censura,137 dias Nos países democráticos não existe censura à imprensa. Logo, o Brasil não é um país democrático.
● Infelizmente o nosso máximo tribunal não é o máximo defensor da democracia. É só o nosso máximo defensor das oligarquias.
JAMES F. SUNDERLAND COOK
JOSÉ EDUARDO ZAMBON ELIAS
sunderland2008@gmail.com
zambonelias@estadao.com.br
São Paulo
Marília
Felicitações e cumprimentos pela dupla premiação recebida: Veículo Mais Admirado/Grupo Troiano de Branding e Veículo de Comunicação/revista PropagandaEditora Referência. Os prêmios reforçam e consagram o caráter democrático, independente, ético e firme que é a marca registrada, por excelência, do Estadão nosso de cada dia. Bravo!
Não posso calar-me sem antes transmitir os meus mais profundos sentimentos de pesar à sociedade brasileira. Pêsames pela perda da democracia. Sepultada que foi pelo STF. Embora eu não possa deixar de reconhecer que se trata de um caso de eutanásia, praticada pelos discípulos chavistas de plantão.
J . S. DECOL – Decol JS Marketing &
LUIZ CARLOS CEGLYS
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Podem escrever: ainda vão surgir outros por aí, porque, na verdade, como sentenciou o grande pajé, “tudo isso é caixa 2 e todo mundo sempre fez...” Muitos sociólogos (!) e cientistas políticos (!) estão oferecendo análises profundas, explicando que a corrupção mora na alma do brasileiro e que todo mundo, em nosso país, por meio do famoso jeitinho ou do sabe-comquem-está-falando, age assim. Daí a leniência de nossas autoridades e daí a impunidade geral! O fato é que esse presidencialismo caudilhesco, pelego, sindical, oligárquico e imperial, vigorando há tantos anos, é que cria todas as condições e fornece todas as ocasiões. Depois, providencia as desculpas. Neste nosso sistema, quando o presidente da República se elege sem que, na mesma eleição e juntamente com ele, fique formada uma segura e legítima base majoritária no Legislativo, o resultado é sempre o mesmo: ou ele compra os aliados, para fingir que governa com o Legislativo, ou dá um golpe. Tem sido assim ao longo de toda a nossa História republicana. No período da monarquia parlamentar, durante quase sete décadas, o Brasil não viveu um só dia de desobediência às normas constitucionais. Nunca houve estado de sítio nem censura à imprensa. Sem maioria eleita pelo povo, o Gabinete caía e o povo era, de novo, chamado a escolher. Democracia. Após a implantação da República, durante quase cem anos tivemos dezenas de golpes, quarteladas, revoluções, insurreições e mudanças de Constituição. Sempre por falta de maioria no Congresso. Essa foi a origem do voto LOREDANO proporcional, imposto por Vargas, quando todos os poderes vigilantes dos eleitores do Brasil foram retirados. Esse tipo de voto, além disso, ainda conseguiu ser piorado com a diabólica invenção do coeficiente eleitoral, no governo Geisel. O povo dançou de vez. O eleitor, no Brasil, é um simples coadjuvante. Nunca tem papel principal e nem sabe o que é voto proporcional... O coitado vota no seu candidato, crente que escolheu alguém. Mal sabe que o voto dele vai servir para eleger outro, que ele talvez nem conheça. Trata-se de uma manobra perversa. O voto proporcional acabou com o distrito eleitoral. O distrito eleitoral do cidadão passou a ser o seu Estado e o seu município. Para presidente o distrito eleitoral é o País inteiro. E ainda dizem que somos uma República Federativa! Por conta dessa perversidade política, o eleitor fica a anos-luz de distância dos
Tinha de acontecer! Estava escrito e só não viu quem não quis ver... Os três Poderes, instalados em Brasília, estão sendo afogados pelo tsunami das ilegalidades consentidas. São caras de anjo enganando caras de pau. E vice-versa! A História ensina que a democracia só dá bons frutos quando funciona sob a eterna e atenta vigilância de um povo livre e consciente. Do contrário, tudo apodrece. Infelizmente, a capital do Brasil não produz vigilantes... Uma epidemia de cumplicidades tomou conta daquele silencioso e distante planalto. Ali só se ouvem murmúrios e sussurros. Conversas sempre cifradas. Personagens que se empenham em esconder o que pensam e o que fazem. Caras de anjo que enganam caras de pau e caras de pau que fingem estar sendo enganados... Primeiro veio o mensalão do PT. Foi um susto, pois o partido era o porta estandarte da moralidade política. Depois apareceu o mensalinho mineiro, exatamente dentro do mesmo modelo. Agora, o mensalão brasiliense, sempre dentro do mesmo modelo. Por conta deles, várias informações sobre mensalinhos anteriores, só agora descobertos e identificados. Todos seguindo o mesmo modelo: o que o Marcos Valério tornou famoso, que o Dirceu aprovou e para o qual o Delúbio criou toda uma logística.
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Imprensalivre O excelente artigo do jornalista Sérgio Augusto Às favas com a livre imprensa (Aliás, 13/12) deveria ser lido nas praças públicas e distribuído nas escolas e universidades. É um compromisso, um louvável compromisso com a ética e uma séria advertência: o mundo atual está ameaçado, seriamente ameaçado pelo autoritarismo. Defender a liberdade
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candidatos. Para estes, o território a ser trabalhado fica imenso. Por isso as campanhas ficaram tão caras, tão dependentes de rádio, televisão, seitas, ONGs e “contribuições generosas de grandes empresas”... Fica fácil entender a origem do caixa 2. Sujeitas às leis fiscais, as empresas são levadas a encontrar caminhos para financiar os candidatos que lhes parecem ser úteis para seus municípios ou Estados. Mesmo com a ajuda da chamada “propaganda gratuita” no rádio e na TV, os partidos ficam na dependência desses grandes arranjos. Não é fácil ser candidato a deputado federal num Estado grande ou populoso. Onde, para ir da capital a outra cidade, ele vai levar três dias de embarcação. Ou quatro horas de avião. Ou enfrentar 12 horas de estradas caindo aos pedaços. Daí a importância das telecomunicações. Daí a importância dos minutos de TV e de rádio. Daí essas coligações espúrias, feitas apenas para somar segundos. Quem provoca caixa 2 é o nosso processo eleitoral! Só
Aquele distante planalto foi tomado por uma epidemia de cumplicidades quem tem como manobrar caixa 2 faz maioria legislativa. Fica com os representantes do povo em suas rédeas. Faz o que bem entende com o Legislativo, com o orçamento e com a opinião pública. Isso explica por que jamais será feita uma reforma política neste país. Os donos do poder não querem. Não interessa a eles. E essa história de o atual presidente dizer que enviou uma proposta ao Congresso é um escárnio! Ao contrário, Lula e o PT acabaram com a cláusula de barreira assim que puderam. Montaram um esquema de facilidades para infidelidades. Inventaram tortuosos caminhos para um tal de financiamento público, que é uma vergonha. E agora, quando o último mensalão foi praticado por políticos fora do PT, o chefão estufa o peito e acha que está na hora de tomar providências. Que providências? As que ele tomou com a sua gente? Tirando o autor da denúncia e o líder que foi apanhado com a boca na botija, quem sofreu alguma coisa? Conversa. Conversa de cara de pau querendo enganar cara de anjo. Ou vice-versa... ● Sandra Cavalcanti, professora, jornalista, foi deputada federal constituinte, secretária de Serviços Sociais no governo Carlos Lacerda, fundou e presidiu o BNH no governo Castelo Branco. E-mail: sandra_c@ig.com.br
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forum@grupoestado.com.br
da esquerda são revelados.
de imprensa significa enfrentar a ameaça e garantir a democracia.
CARLITO SAMPAIO GÓES
RODOLFO KONDER, jornalista, diretor
carlitosg@estadao.com.br
da ABI em São Paulo
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São Paulo ● Muito bom o texto de Sérgio Augusto, no caderno Aliás deste domingo, sobre a mordaça imposta ao Estado. Quando esta esquerda, representada por muitos homens e mulheres que hoje estão no PT, lutava contra a ditadura de direita que vivemos no Brasil, pensávamos que eles queriam a liberdade. Hoje vemos que eles queriam derrubar uma ditadura e nos submeter a outra, só que de esquerda. Recomendo a leitura do livro A Ditadura Envergonhada, onde os segredos
Mordaçareveladora Com a recente decisão da Justiça, não foi o Estadão que perdeu, mas sim todos os brasileiros. Quando um jornal é bom, mesmo na adversidade consegue surpreender os seus leitores. Afinal, involuntariamente o Estadão fez o enorme serviço de mostrar a todos nós quem é o Poder Judiciário atualmente. ROBERTO MORETTI BUENO robmoretti@terra.com.br
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TERÇA-FEIRA, 15 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Obama freia os bancos
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presidente Barack Obama conseguiu uma primeira vitória em sua campanha para disciplinar o sistema financeiro, prevenir crises, proteger os consumidores e livrar o Tesouro de caríssimas operações de socorro a bancos e outras instituições de crédito. A Câmara de Representantes aprovou na sexta-feira, por 223 votos a 202, a chamada Lei de Reforma de Wall Street, o mais ambicioso projeto de regulação do setor financeiro desde o primeiro mandato do presidente Franklin Roosevelt, na década de 1930. O texto aprovado foi mais suave do que pretendia o governo, graças à ação de lobbies e à resistência de parlamentares dos dois partidos. Além disso, a proposta ainda será examinada no Senado, onde se discutem outros projetos sobre o mesmo assunto e os defensores da reforma deverão enfrentar novos obstáculos importantes. Mas isso não impediu a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, de festejar o resultado de sexta-feira e de mandar uma mensagem a Wall Street: “A festa acabou. Nunca mais o comportamento sem freios de uns poucos ameaçará a estabilidade fiscal de nosso povo.”
Quando o debate for retomado para valer, provavelmente no começo de 2010, os bancos estarão mais fortes e mais preparados para pressionar os congressistas. Na semana passada o Bank of America devolveu os US$ 45 bilhões fornecidos pelo governo como ajuda. Nessa segunda-feira, o Citigroup anunciou um acordo com as autoridades para reembolsar US$ 20 bilhões de auxílio custeado pelos contribuintes. A maior parte desse dinheiro, US$ 17 bilhões, será obtida com a emissão de ações, segundo o comunicado. O governo manterá uma participação de US$ 25 bilhões no capital do grupo, mas deverá vender os papéis gradualmente nos próximos 6 a 12 meses. Mesmo na dependência do socorro oficial, o setor financeiro foi capaz, nos últimos meses, de influenciar políticos em Washington para amaciar o projeto de regulação do setor. Com esse trabalho, o lobby de Wall Street conseguiu, por exemplo, demover os políticos de confinar em Bolsa a negociação de derivativos. Pelo projeto aprovado na Câmara, os bancos poderão manter as negociações de balcão,
Na calada da noite
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ara variar, foi na calada da noite de quarta-feira passada que, em menos de três minutos, por votos de liderança, foi aprovado na Câmara dos Deputados um pacote de bondades para os funcionários da Casa. Não houve divergência alguma entre partidos ou entre governistas e oposicionistas. Registrou-se apenas o protesto solitário do deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), que disse nem ao menos conhecer o projeto, visto só ter entrado em pauta na última hora. E votou contra. Uma das justificativas para o reajuste foi o fato de os funcionários da Câmara não terem tido aumento desde janeiro de 2006. Ocorre que nesse período o índice de inflação (IPCA) foi de 17%, enquanto em média os aumentos de salários, agora, foram de 15% para os funcionários concursados, mas de 33% para os não concursados. Na primeira categoria estão 3.300 funcionários e na segunda, 1.300. Também foram beneficiados 2.030 aposentados. Foi instituído um “adicional de especialização” que poderá significar 50% de acréscimo salarial. E é aí que está a mágica deste generoso aumento: terão direito a esse adicional todos os concursados, mesmo que o curso em questão seja obrigatório para o cargo. Por que, então, o “adicional” para remunerar o que já é exigência para se obter o posto? O analista legislativo, por exemplo, para entrar nos quadros do funcionalismo da Câmara dos Deputados precisa ter curso superior. Mas já no início de carreira vai ganhar 15% a mais, em razão de ter
curso superior. A propósito, o projeto estabelece que o primeiro curso superior equivale a 3 pontos e cada ponto acumulado será convertido em 5% de adicional de especialização. É permitido o acúmulo de até 10 pontos e, para pontuar, servem os cursos de especialização feitos na própria Câmara dos Deputados. E o projeto não faz distinção se a especialização foi feita antes ou após a entrada do funcionário no serviço público – mesmo que esta tenha sido a condição da própria entrada. Outra aberração é o fato de os aposentados também serem
Reajuste para funcionários da Câmara é aprovado em três minutos favorecidos com o adicional de especialização, Quer dizer, o cidadão parou de trabalhar, especializa-se e passa a ganhar mais dos cofres públicos pela especialização que obteve, sem que o beneficiário tenha condições objetivas de transformála em fator de aperfeiçoamento do serviço público que já não presta. Segundo o primeiro-secretário da Câmara, o aumento foi concedido porque a Casa “está perdendo muitos servidores” para outros setores da Administração Pública por defasagem salarial. Os salários dos consultores legislativos – considerados a elite da Casa – passarão de R$ 18,9 mil para cerca de R$ 22 mil. No caso dos funcionários sem concurso o reajuste médio foi de 33% – o que é sem dúvida brutalmente significativo, especial-
com menor custo e maior lucratividade. Além disso, os bancos não serão obrigados a avaliar se os consumidores entendem corretamente os produtos oferecidos. Os juízes não terão poder para alongar os prazos de hipotecas nem para cortar juros e saldos devedores em casos de insolvência dos compradores de imóveis. Outras vitórias foram conseguidas, mas essas dão uma ideia de como os lobistas foram bem-sucedidos. Segundo uma organização civil, foram gastos US$ 344 milhões, nos três primeiros trimestres de 2009, na defesa dos interesses do setor financeiro. Embora o projeto aprovado seja menos severo do que pretendia o governo, o resultado está longe de ser desprezível. Se a proposta for convertida em lei, pela primeira vez a supervisão e a regulação federais cobrirão tanto os bancos comerciais quanto as demais instituições financeiras – como já ocorre, há anos, no Brasil. A supervisão será exercida por um conselho formado pelo secretário do Tesouro, pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e pelos chefes de outros
organismos de regulação. As autoridades deverão identificar as instituições “grandes demais para quebrar” em caso de risco, propor o seu desmantelamento para evitar desastres como o da falência do banco Lehman Brothers. Também será criada uma agência de proteção financeira do consumidor para impedir práticas consideradas injustas e abusivas. O novo esquema de regulação deverá incorporar a lei contra práticas predatórias no mercado de empréstimos e hipotecas, aprovada anteriormente neste ano. As autoridades terão poderes para intervir no pagamento de bônus e outras compensações a executivos do setor financeiro, se esses pagamentos estimularem práticas de alto risco. A proposta não fixa limites para a remuneração de executivos, mas torna obrigatória a divulgação dos critérios de incentivos adotados pelos bancos. Não só republicanos se opuseram ao projeto aprovado na sexta-feira. Também alguns deputados democratas votaram contra e vários deles trabalharam nos últimos meses para suavizar as mudanças. Quanto mais longa for a tramitação no Senado, maior possibilidade terão os bancos de tornar o projeto mais aguado.
E Lula tem razão mente se esse porcentual é cotejado com uma inflação de 5%. O adicional de especialização não é estendido a esse grupo, conhecido como CNE – Cargo de Natureza Especial. Neste o maior salário subiu de R$ 9,5 mil para R$ 12 mil. De acordo com a direção-geral da Câmara dos Deputados, o reajuste vai significar aumento anual de R$ 400 milhões. Em 2010, o impacto será de R$ 200 milhões, porque o reajuste será concedido a partir de primeiro de julho. A propósito, o que vem a ser um “cargo de natureza especial”? Esse é o cargo das pessoas que os parlamentares empregam, sem concurso, para assessorá-los – todos pagos pelo contribuinte. São, obviamente, cargos ocupados por pessoas da estrita confiança do parlamentar. Esse funcionário pode até fazer muito, ao assessorar o gabinete do parlamentar, a que serve, na pesquisa e elaboração de projetos de lei. Mas também pode cuidar, exclusivamente, do setor político-eleitoral do parlamentar, na condição de permanente cabo eleitoral. Na verdade, em termos mais claros, esses funcionários têm por qualificação não o serviço público que prestam, mas a presteza com que servem, eleitoralmente, a seus “patrões” parlamentares. Certamente não houve novidade alguma nesse reajuste feito na calada da noite. E o escorchado contribuinte continua tendo que pagar, cada vez mais, por um serviço parlamentar que ele sabe valer cada vez menos.
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e o presidente Lula errou na forma, ao desrespeitar a majestade do cargo de chefe de Estado e governo, quando proferiu em público um palavrão, acertou no conteúdo, quando disse que queria “tirar o povo da merda”, pois a maioria do povo nela permanece (às vezes literalmente) em razão dos parcos investimentos governamentais no campo do saneamento básico. De fato, estudo do Ministério das Cidades – como atesta matéria publicada no jornal O Globo de sábado – demonstra que, mesmo com todos os recursos reservados para projetos de saneamento básico nos últimos anos, com o atual ritmo de investimentos em obras de coleta de esgoto o Brasil só terá universalizado esse serviço público essencial daqui a nada menos do que 66 anos! Enquanto o presidente da República repete, exaustivamente, que o País está quase às vésperas de ocupar seu lugar de “5ª potência” no mundo, hoje, apenas 42% dos cidadãos brasileiros são atendidos por coleta de esgoto, o que nos coloca mais próximos é do 5º mundo. Mantido o ritmo atual de investimentos em saneamento, a “meta do milênio” – estabelecida em pacto firmado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) – que visa a ampliar a rede de coleta para fazê-la chegar a 70% da população em 2015, só poderá ser alcançada em, no mínimo, 40 anos. De 2007 até hoje o governo federal só conseguiu executar 11% dos R$ 12,6 bilhões reservados para progra-
mas de saneamento básico urbano e rural no Orçamento da União. E, dos mais de R$ 8 bilhões do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) alocados para financiar esse tipo de obra desde 2003, apenas 35% foram usados. Depois de um ano do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – que, como bandeira eleitoral, só supera o alardeado programa “Fome Zero”, do início do primeiro mandato do presidente Lula –, o próprio governo concluiu que para o saneamento básico não há planejamento estratégico nem gestão adequada em
Recursos estão orçados, mas o saneamento básico não anda todas as esferas da Administração. É por isso que, para tentar recuperar o tempo perdido e aplicar os recursos orçados, mas ociosos, o governo federal pretende lançar em meados de 2010 – portanto, às vésperas das eleições – o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), com novas metas de projetos de investimento na área. Nesse sentido os ministros das Cidades e do Meio Ambiente têm a intenção de aprovar um compromisso de governo para redobrar os esforços com coleta e tratamento de esgoto. De acordo com o Ministério das Cidades, o governo triplicou os recursos para saneamento no segundo mandato do presidente Lula, chegando, no ano passado, a R$ 12,2 bilhões. Só que, destes, apenas
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
Maisverba paraum fiasco A TV Brasil, a que não sai do zero de audiência, quer mais verba! Não seria mais ético e honesto Lulla reconhecer que essa TV é um fiasco e destinar a verba de R$ 500 milhões/ano a estradas, saúde pública ou educação? Mas onde Lulla recolocaria todos os apadrinhados em fim de carreira empoleirados nessa estatal, cujo único objetivo é fazer propaganda petralha pelo Brasil afora? O povão pode aprovar a propaganda política desse governo que invade suas casas em horário nobre em emissoras a que está acostumado, mas mudar de canal para ir atrás dela, impossível! E a nós só resta trabalhar para pagar o salário desses “cumpanheiros”... Não existe Lei de Responsabilidade Fiscal para presidente? Chega de
desperdício de dinheiro público! BEATRIZ CAMPOS beatriz.campos@uol.com.br
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Lei?Ora,lei... Observa-se que as pessoas levam a sério a possível criação de uma lei – atendendo a uma ordem do presidente da República – que teria o poder de transformar a corrupção (menos a cometida pelo PT e seus aliados, é claro) em crime hediondo. Mas ninguém exige que ela inclua a devolução rigorosa da grana surrupiada dos cofres públicos! De modo que essa lei já nasceria inócua, comprometendo a tão almejada punição.
“
O STF perde o seu mérito por não julgar o mérito da censura ao Estadão”
RobertoTwiaschor rtwiaschor@uol.com.br SãoPaulo
‘Pornopolítica’
mcecilianh@gmail.com
Em uma frase Carlos Alberto Di Franco (14/12, A2) disse tudo: “O veto aos candidatos com ficha suja e o fim do foro privilegiado podem mudar o Brasil.” A sociedade precisa se mobilizar para conseguir dar esse importante passo, tão indispensável à nossa cidadania. Todos devem lutar para alcançar essa conquista.
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FERNANDO CORRÊA DO CARMO
MARIA CECÍLIA NACLÉRIO HOMEM
R$ 5,7 bilhões foram usados. Disse o diretor de Articulação do Ministério: “A falta de planejamento no setor foi uma dificuldade identificada com o PAC. Quase ninguém tem projeto.” Assim, periodicamente, o Ministério das Cidades expede decretos prorrogando prazos para cumprimento de exigências técnicas, com o objetivo de evitar que prefeitos percam seus “empenhos”. As verbas ficam reservadas, enquanto os contratos permanecem congelados. Os prefeitos também não conseguem resolver problemas como os licenciamentos. O resultado da já histórica lentidão, na expansão e melhoria desse serviço público essencial, é que no país o atendimento da população com rede de água chega a 81% e com rede de esgoto não ultrapassa 42%. Diz-se que saneamento básico tem sido historicamente descuidado, em nosso país, pelo fato de os investimentos públicos não serem eleitoralmente tão “visíveis”, como as estradas, os hospitais, as melhorias de transporte, etc. As redes de esgoto estão “enterradas” – e sua extensão não pode ser facilmente dimensionada por todo o eleitorado. Ocorre que, nos dias atuais, a omissão do poder público nessa área está se tornando cada vez mais notória, até em razão de intempéries, derivem estas ou não de alterações climáticas – e melhor exemplo disso são as grandes enchentes nas cidades, de consequências trágicas, independentemente de se saber qual a maior parcela de culpa de cada esfera de Administração Pública, já que todas para tanto têm contribuído.
fernandocorrea29@yahoo.com.br
CARLOS PACHECO FERNANDES FILHO
JUDSON BENEDITO BRISOLLA FRANCHI
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c-pacheco-filho@uol.com.br
jb2frch@hotmail.com
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Itapetininga
PhanThi Kim Phuc
NobeldaPaz
O destino de uma menina que foi a cara de uma guerra (13/12, A21), mais que representar, vem reafirmar que a presença de cada pessoa neste planeta é poder viver em paz. O sonho mais lindo da vida é o sonho de viver, sua ação é a essência da vida, que assim perfaz a grandiosidade da humanidade. Lembro-me quando vi a foto da barbárie em 1972 e é muito emocionante ver a foto com o sorriso de Phan nos dias de hoje. A vitória só existe quando todos ganham e Phan Thi Kim Phuc retrata que a vitória maior é a dignidade humana. Honradamente,
Declara o Prêmio Nobel da Paz Barack Obama: “Haverá momentos em que os países verão que o uso da força não é apenas necessário, mas moralmente justificável” (13/12, J7). Bin Laden deve estar pensando a mesma coisa.
Omissãode legenda Peço aos srs. políticos que não me enviem mais os costumeiros votos de fim de ano ou qualquer outra correspondência em que não conste o partido político a que pertencem. Essa prática dá ao eleitor o direito de julgar que, assim fazendo, o seu representante quer estar sempre disponível para negociar a troca da sua legenda por alguma vantagem adicional. Lembrem-se de que a Justiça Eleitoral, recentemente, decidiu que o voto pertence ao partido, e não ao candidato. Eu acrescentaria: com o aval do eleitor. Além disso, é um péssimo exemplo para o despreparado eleitorado médio brasileiro.
TIBOR RABÓCZKAY trabocka@hotmail.com
São Paulo ● Filosofia de Barack Obama para ganhar o Nobel da Paz: si vis pacem, para bellum. PEDRO TRABBOLD JR. pedro.trabbold@uol.com.br
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A8 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 15 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 137 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Para professor, ‘STF confundiu conceitos’ O jornalista e professor de ética jornalística da Faculdade Cásper Líbero, Caio Túlio Costa, viu com “enorme estranheza” a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que negou provimento ao recurso do Estado contra a censura imposta pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal(TJ-DF).“A decisão, na verdade uma não-decisão, é de uma estultice tão grande que ficoem dúvida se os ministrosconhecem a Constituição, o que é grave para membros do STF. Elesfizeramumaenormeconfusão de conceitos e demonstraram um entendimento errôneo sobre o que é liberdade de imprensa”, afirmou, indignado. Oconceitodeliberdadedeimprensa, afirma o jornalista, está perfeitamentedelineadonaprópria Constituição e não pode ser limitada por decisões judiciais. “Se um órgão de imprensa tem condições técnicas para divulgaruma determinadanotícia, subentende-se que ele é plenamente responsável por isso. Nesse caso, eventuais prejudicados pela divulgação devem buscar reparação nos tribunais, como é, aliás, em todo o mundo.” Em sua visão, o STF fez um
Caio Túlio Costa Professor de Ética Jornalística
“O ministro Gilmar Mendes disse que a Justiça pode impedir, a priori, a publicação de reportagens. Ora, não há sentido algum em sua fala, já que se há problemas com a reportagem o pedido de reparação virá posteriormente, para que não se instale a censura prévia”
julgamento que os próprios ministros viram como técnico, mas resvalou no mérito, a julgar pelos pronunciamentos dos cinco que foram responsáveis pela vitória da tese do relator, ministro Cezar Peluso, ante os três que se posicionaram contrários. “O ministro Gilmar Mendes disse que a Justiça pode impedir, a priori, a publicação de reportagens. Ora, não há sentido algum em sua fala, já que se há problemas com a reportagem o pedido de reparação virá posteriormente, para quenãoseinstalea censuraprévia”, criticou. CONFUSÃO
Para o jornalista, primeiro ombudsman da Folha de S. Paulo,
as declarações do presidente do STF demonstram confusão entre os conceitos constitucionais de liberdade deimprensae direitoà privacidade. “Se um processo corre em segredo de Justiça, é função de seus guardiães, os órgãos públicos, mantê-lo. Caso a informação chegue a um meio de comunicação, ele tem o direito e o dever de publicartodasasnotícias,afinal de contas, esse é o seu papel”, afirmou. Ele disse concordar com a faladodecanodoSTF, ministro Celso de Mello, segundo quem, “o poder geral da cautela é o novo nome da censura em nosso país”. “Os três ministros que foram contrários à tese vencedora – CarlosAyres Britto, CármenLúcia e Mello – demonstraram um discurso coerente com o texto constitucional ao rejeitar a censura prévia, mesmo que via Judiciário.” Desde o dia 31 de julho, o Estado está proibido de publicar informações sobre a operação da Polícia Federal, que investigou e indiciou por vários crimes o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). ●
Informe Publicitário
w w w. fi a b c i b ra s i l . c o m . b r
São Paulo, 15 de dezembro de 2009
U
ma boa notícia para o mercado de equipamentos e empresas integradoras de soluções de automação residencial a serviço do lar: passados alguns anos com poucas comercializações de sucesso, presenciamos hoje o amadurecimento desse mercado, que objetiva ajudar as pessoas a tornar o ‘Lar Digital’ mais simples, prático e confortável. Está claro que tal avanço já chegou até nós e de forma irreversível. Atualmente, é possível adquirir, no mercado brasileiro, soluções baseadas em redes sem fio que simplificam a instalação digital. Elas viabilizam a integração dos diversos eletroeletrônicos disponíveis na residência por meio de controle remoto único, propiciando experiência de uso mais intuitiva para o usuário. E claro, com preços mais acessíveis, o que demonstra ser processo irreversível.
Avança no País, de forma irreversível, a automação residencial a serviço do lar São grandes as mudanças a que temos assistido, provocadas pela inovação e desenvolvimento tecnológico. Desde o aparecimento dos computadores, acompanhamos a evolução de várias indústrias e seus dispositivos, propiciando-nos maior conforto, melhorando consideravelmente nossa qualidade de vida e trazendo mais segurança. Esse avanço tecnológico se faz presente seja no trabalho, em
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Roberto Oliveira (*)
dispositivos que funcionam de forma isolada, possuindo comandos e funcionalidades diferentes e exigindo uso de controle remoto para cada um deles. Complexo, porém, para ajudar o morador. Neste cenário, a automação residencial possui papel de destaque e vem se desenvolvendo para tornar a vida nos lares cada vez mais fácil. As soluções de automação residencial farão parte de todas as residências nos próxi-
Planalto desconhece carta da ONU Assessor presidencial afirma que não sabe de nada Leonencio Nossa BRASÍLIA
Mesmo cobrado, o Palácio do Planalto manteve o silêncio sobre a censura imposta ao jornal O Estado de S.Paulo pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF). Ontem, a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis comentar a carta do relator da Organização das Nações Unidas (ONU) para a defesa da liberdade de expressão,FrankLaRue,pedindoexplicações sobre a mordaça imposta ao jornal. Ao deixar na tarde de ontem
oCentroCultural BancodoBrasil (CCBB), sede provisória da Presidência, o assessor Marco AurélioGarciadisse quenãoestava sabendo da carta de La Rue e não podia comentar um assunto que não é do Executivo. “Trata-se de um tema do Judiciário”, limitou-se a dizer. Procurado pelo Estado para comentar a carta do relator da ONU, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, não respondeu ao telefonema. Desde que a censura foi imposta ao jornal, no dia 31 de julho último, o presidente Lula e
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ESTADOS
U n i n d o o B r a s i l à m o d e r n i d a d e i m o b i l i á r i a
viagens ou, hoje de forma cada vez mais crescente, em nossos lares. Vão desde as fábricas que utilizam robôs nas atividades mais perigosas até celulares com acesso à internet e dotados de câmera fotográfica etc. Passa até pelos aviões que navegam por computador, com aplicativos decidindo, por exemplo, que ação tomar em situações de risco. É justamente no ambiente residencial que começamos a presenciar a adoção mais acelerada de novas tecnologias, numa prova de que a moradia alavanca o consumo e, portanto, toda a economia. São TVs de última geração, aparelhos de home theaters, videogames interativos, tocadores de música digital, ar-condicionado e persianas com controle remoto, além de eletrodomésticos programáveis, sistemas de iluminação mais elaborados, portões e portas elétricas, câmeras de segurança, alarmes etc. Se por um lado a residência está se tornando tecnológica, esse ‘Lar Digital’ ficou ainda mais complexo para seu morador, com
SEM COMENTÁRIOS – ‘Trata-se de um tema do Judiciário’, disse o assessor Marco Aurélio Garcia
mos anos. Hoje em dia, já é possível abrir a porta por meio do reconhecimento da digital, acionar a iluminação da residência a partir de cenas pré-definidas, ouvir música distribuída nos ambientes e controlar todos os eletroeletrônicos usando um
Ex-PM acusa deputados de Alagoas de pistolagem
PERNAMBUCO
Proprietário de jornal e rádio é assassinado O dono da emissora de rádio Bezerros FM e do jornal Folha do Agreste, José Givonaldo Vieira, de 40 anos, foi assassinadoontem,quandochegava à sede da rádio, em Bezerros. Dois homens desceram de um carro atirando e Vieira foi atingido por três tiros na cabeça. A polícia descarta a hipótese de assalto e investiga possível execução.
Ricardo Rodrigues MACEIÓ
Roberto Oliveira
único controle remoto, que pode ser inclusive um smartphone. Embora esse mercado seja muito atraente, ainda existem algumas barreiras do ponto de vista do consumidor que dificultam a comercialização, tais como preço alto, complexidade de instalação, baixa disponibilidade de serviços qualificados e ainda a percepção de que a automação residencial é “coisa do futuro”. Para aqueles que possuem interesse em adquirir uma oferta de automação residencial, é importante verificar, além das garantias usuais do consumidor, se a proposta está alinhada às tendências de mercado. E o mais importante: ter em mente que a automação em casa não é para tornar a vida mais difícil, muito pelo contrário, é para simplificar as atividades já realizadas no cotidiano de um lar. (*) Roberto Oliveira é executivo do Grupo Telefonica no Brasil e responsável pela “At Home”, Unidade de Negócios de Automação Residencial.
Ricardo Yazbek na Bienal de Arquitetura
presidente da Fiabci/Brasil e vice do Secovi-SP, Ricardo Yazbek, disse em fórum de debates na recente Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo que um bem tombado não significa necessariamente estar devidamente preservado. Para Yazbek, é necessário antes selecionar o que será conservado e determinar a finalidade da ação. A questão tributária também pesa, disse, uma vez que pode implicar ônus para o proprietário, podendo resultar em descaso no tombamento. Yazbek defendeu a discussão multidisciplinar sobre o destino correto de antigas áreas industriais nas cidades e ressaltou que poder público, iniciativa privada e demais instituições podem juntos promover uma preservação boa e adequada, "sem preconceitos que somam mais perdas do que ganhos ao desenvolvimento urbano”, concluiu.
FIABCI/BRASIL - CAPÍTULO BRASILEIRO DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DAS PROFISSÕES IMOBILIÁRIAS fiabci@fiabci.com.br - Jornalista responsável: Everton Capri Freire (Mtb. 9593) - Produção gráfica: Publicidade Archote
Em depoimento ontem ao juizMaurícioBreda,da7ªVara Criminal, o ex-tenente-coronel da Polícia Militar Manoel Francisco Cavalcante acusou três parlamentares alagoanos de envolvimento no assassinato do cabo PM José Gonçalves da Silva Filho,ocorridoem1996.Segundo o promotor de Justiça Marcos Mousinho, durante a audiência o ex-oficial citou os deputados estaduais Antônio Albuquerque (PT do B) e João Beltrão (PRTB), além dofederal Francisco Tenório (PMN-AL). Suposto líder de gangue fardada, Cavalcante responde a vários crimes de pistolagem em Alagoas. “Ele disse que o cabo Gonçalves foi executado porque queria matar o deputado João Beltrão e o crime teria a participação de Albuquerque e Tenório”, contou o promotor. Mousinho disse que Cavalcante revelou detalhes do assassinato. “Ele disse que o deputado João Beltrão estava na cena do crime, de longe,paraverocaboGonçalves ser executado, com vários tiros de metralhadora”, afirmou o promotor. Segundo ele, Cavalcante disse ainda que Tenório foi quem “entregou” o cabo aos algozes. REAÇÃO
O deputado estadual Antônio Albuquerque classificou Cavalcante de “irresponsável”enegouligaçãocomocrime. “Eu sou inocente e é uma pena que Alagoas e as autoridades deem ouvidos a um delinquente dessa qualidade. MasvouaguardarqueaJustiça me procure.” A reportagem do Estado também tentoucontatocomJoãoBeltrão e Francisco Tenório, mas não conseguiu localizá-los. ●
SÃO PAULO
Alencar deve retomar hoje quimioterapia
SERGIO DUTTI/AE-5/10/2009
FRASE
Moacir Assunção
ANDRE DUSEK/AE
Segundo Caio Túlio, negar recurso ao ‘Estado’ mostra entendimento errôneo sobre liberdade de imprensa
O vice-presidente José Alencar deve passar hoje por maisumasessãodequimioterapia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele luta contra um câncer na região abdominalhá12anos.Nasexta-feira, Alencar anunciou que o tratamento está evoluindoeotamanho dostumores já foi reduzido em 51% desde setembro. PARÁ
Simão Jatene vai disputar governo O PSDB do Pará definiu no fimdesemanaqueoex-governadorSimãoJateneserácandidato a governador. Com a decisão, o partido resolve impasse em torno do palanque presidencial no Estado, governado por Ana Júlia Carepa (PT). Os tucanos vinham assistindo a uma disputa interna entre os ex-governadores Jatene e Almir Gabriel.
sua equipe não fizeram comentários sobre a mordaça no jornal. MANIFESTAÇÕES
Em outubro, o gabinete de Lula játinharecebidocartasdaAssociação Mundial de Jornais (WAN) e do Fórum Mundial de Editores(WEF)pedindoaopresidenteparafazeroque estivesse ao seu “alcance” para garantir a liberdade de expressão. Assessores do governo apenas disseram que o presidente Lula não se manifestaria numa questãoqueera apenas do Judiciário. ●
INVESTIGAÇÃO
Justiça condena Goro Hama por improbidade Acusado de improbidade administrativa, o ex-presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) Goro Hama foi condenado à perda dos direitos políticos pelo prazo de 5 anos, ressarcimento de dano ao Tesouro no valor de R$ 512,1 mil – em valores de1996, que deverão ser corrigidos até o pagamento – e multa de caráter civil no mesmo montante. É a primeira condenação de Goro por improbidade. A sentença é do juiz Luís Fernando Camargo de Barros Vidal, da 3ª Vara da Fazenda Pública da Capital. Segundo a ação – subscrita pelo promotor de Justiça Nilo Spínola Salgado Filho –, Goro teria privilegiado consórcio de empresas com o qual firmou contrato em 17 de julho daquele ano, no valor de R$ 12,7 milhões, para construção de 608 unidades habitacionais destinadas à população de baixa renda do município de Campinas. O juiz assinalou que a licitação não foi conduzida por Goro, que na época não era dirigente da CDHU, mas ele subscreveu o contrato. “Ao assinar o contrato e conceber sua execução omitiu-se do dever de probidade que lhe impunha recusar tais atos, pois a nulidade era evidente e inquestionável.” OadvogadoFernandoUeda, que defende Goro, informou que vai recorrer. Ueda afirmou que dezenas de outras ações contra o ex-presidente da CDHU estão sendo rejeitadas pela Justiça. “Estamos ganhando todas as ações. Essa decisão muito provavelmente será modificada pelo Tribunal de Justiça. Não houve prejuízo para o erário. Goro Hama conseguirá demonstrar que é uma pessoa proba, íntegra.” ● FAUSTO MACEDO
o estado de s. paulo
● Edição das
23h15
QUARTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
16 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42428
Brasil cede e vai pagar mais pelo gás boliviano
Senado aceita que Venezuela entre no Mercosul
Resultado de decisão política, aditivo trará gasto extra de US$ 1,2 bilhão
Governistas defendem integração
A Petrobrás e a estatal boliviana YPFB marcaram para sexta-feira a assinatura de aditivo ao contrato de importação de gás que garantirá à Bolívia um ganho extra de ao menos US$ 1,2 bilhão até 2019. Pelo acordo,
o Brasil se compromete a pagar mais pelas chamadas “frações líquidas” do gás boliviano: propano, butano e gasolina natural. Serão R$ 100 milhões por ano, no mínimo. A Petrobrás relutou o quanto pôde pa-
ra chegar a um acordo, segundo envolvidos no processo, que começou em 2007. O entendimentona empresaé quenãohá base legal para justificar o pagamento adicional, que poderá ser contestado pelo Tribunal
deContasdaUnião.Dificilmente a alta de custos poderá ser repassada, diante do cenário de excedente de oferta de gás no País. A expectativa é que o Brasil feche o ano com consumo igual ao de 2005. ● PÁG. B1
GUERRA: TERROR NOS FRONTS AMERICANOS
tas defenderam a aprovação ao dizer que é preciso integrar a Venezuela, e não isolá-la. Segundo Romero Jucá (PMDBRR), as exportações brasileiras para o país saltaram 758% entre 2003 e 2008. ● PÁG. A4
OSenadobrasileiroaprovouontem,por35votosa27,oprotocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul. Durante a sessão, a oposição acusou o presidente venezuelano, Hugo Chávez, de autoritarismo. Já os governis-
Massasalarialcai R$13binaindústria Crisenãocortousóemprego,dizFiesp 12 bilhões que serão pagos como 13º salário neste ano. Apesar da retomada da atividade, a produção e a massa salarial na indústria continuam abaixo dos níveis pré-crise. ● PÁG. B7
AHMAD MASOOD/REUTERS
Consumidor terá desconto em caso de apagão
●●● Mulher
é socorrida após explosão que deixou 8 mortos no Afeganistão; ataques e mortes também no Paquistão e no Iraque. ● PÁG. A18
ESPORTES
MP aponta sobrepreço em obra de Congonhas
NO TEMPO DO BONDE
Pancadaria tira30mandos doCoritiba
OMinistérioPúblicoentrahoje com ação contra cinco funcionários da Infraero e dirigentes do consórcio de empreiteiras que atuou na reforma do Aeroporto de Congonhas de 2004 a 2007. Foi detectado sobrepreço de R$ 18 milhões e superfaturamento de R$ 13 milhões. A Infraero diz que tem todo o interesse em esclarecer eventuais irregularidades. ● PÁGS. C1 e C3
Com o aumento da pressão sobre os emergentes na ConferênciadoClima,oBrasil cedeu e disse que aceita prestar contas sobre as ações para corte de CO2 que tiverem financiamento externo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje a Copenhague. ● PÁGS. A20 a A22
NOVA ESTATAL
O governo anunciou instituto para “refundar a política esportiva no Brasil”. ● PÁG. E4
CADERNO 2 O futuro é azul
●● Começam amanhã as pré-
estreiasdo esperado Avatar, de James Cameron. ●
Infraestrutura
Brasilaceita prestarcontas deaçõespara cortedeCO2
A Justiça esportiva decidiu ontem tirar 30 mandos de campo do Coritiba e multar o clube em R$ 610 mil por causadosincidentesemseuestádio, na última rodada do Brasileiro. A pena é a mais alta prevista na lei. ● PÁG. E1 ●●●
A partir de janeiro, as distribuidoras de energia elétrica que estourarem seus limites de blecautes terão de ressarcirosconsumidorescomdescontosna conta.O cálculoserá baseado no número de horas sem luz a cada mês. A decisão é da Aneel. ● PÁG. B3
DIVULGAÇÃO
Pesquisa da Fiesp mostra que a soma dos salários pagos pelas indústrias caiu de R$ 190 bilhões para R$ 177 bilhões entre outubro de 2008 e setembro de 2009. A diferença supera os R$
FGTS poderá ser aplicado em fundo Recursos poderão ainda ser usados para quitar consórcio imobiliário. ● PÁG. B8
●●
Caso Isabella
Casal Nardoni vai a júri em março ●● Pai e madrasta são acusados de agredir e jogar menina do 6º andar. ● PÁG. C7
Mistério
Menino tem 40 agulhas pelo corpo Garoto de 2 anos está internado em estado grave na Bahia. ● PÁG. A23
●●
30º
MÁX.
● PÁG. C2
19º
MÍN.
Faz sol e a temperatura sobe. À tarde, pancadas de chuva.
Hoje: 86 páginas A. 1º caderno: 24 ● B. Economia: 16 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 20 ● E. Esportes: 4 ● G. Agrícola: 12 Classificados: 119 anúncios
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 138 DIAS q PÁG. A8
7 8 9 10 11 12
NOTAS E INFORMAÇÕES KEINY ANDRADE/AE
Tempo: CAPITAL
Os perigos da Confecom A “correção do passado” não pode servir de pretexto para sortidas autoritárias. ● PÁG. A3
●●●
O bonde turístico de Santos, cujo trajeto por 40 pontos históricos tem agora 5 quilômetros: passeio custa R$ 5. ● PÁG. C10
●●●
agrícola ●● Carrapatos bovinos estão maisresistenteseoscarrapaticidas, menos eficientes. ●
A2 ESPAÇO ABERTO
QUARTA-FEIRA, 16 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Todos seremos melhores Agronegócio, câmbio com a imprensa livre e competitividade RicardoGandour O País acompanha nos últimos meses uma novela que parece não ter fim: os procedimentos jurídicos para derrubar a censura prévia que se abate sobre este jornal e seu site na internet. Uma decisão judicial impede o Estado, desde 31 de julho, de publicar informações sobre a investigação da Polícia Federal apelidada Boi Barrica, que esmiúça negócios do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. Desde então, o Grupo Estado vem recorrendo às sucessivas instâncias do Judiciário. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inadequado um recurso impetrado pelo jornal na esperança de encurtar o caminho e apressar o restabelecimento da plena liberdade. O STF declarou imprecisão técnica e arquivou o pedido. Continuam os recursos pelas vias que os advogados já vinham trilhando.
Os riscos da liberdade são mais frutíferos que os do controle prévio Ao oficialmente deliberar apenas sobre a forma do recurso, a Suprema Corte acabou tangenciando o delicado tema da liberdade de imprensa. Delicado e, ao que pareceu, mal compreendido. Parte do plenário articulou seu discurso para sustentar que a liberdade de imprensa talvez não deva mesmo ser plena. Para alguns ministros, uma “intervenção judicial” que impeça um veículo de publicar algo pode, em alguns casos, ser plausível e até benéfica! Escrevo evidentemente não como especialista. Escrevo como jornalista e editor, mas principalmente como cidadão preocupado com o que viu e ouviu ao assistir à plenária pela TV Justiça, solução tecnológica que potencializa a concepção essencial de Oscar Niemeyer. Ao projetar a Praça dos Três Poderes, o arquiteto quis que o tripé sustentáculo da democracia fosse ali vislumbrado, vivido e, quem sabe, influenciado pelo cidadão comum. O plenário do Supremo Tribunal praticamente não tem portas ou obstáculos à entrada. Suas sessões são abertas, vistas e até ouvidas pelo povo na praça. Temos atualmente, no Brasil, uma carência de debates e de aprofundamento em torno da função da imprensa livre nas democracias. É fato que diversos autores, acadêmicos ou na prática do mercado, têm se debruçado sobre o assunto em teses e livros re-
AndréMeloni Nassar centes. Mas o foco em moda escudo para esconder da fistem recaído primordialmente calização do público o que sobre as novas mídias e o im- poderia vir a ser de elevado pacto da internet, ficando em interesse para todos. E segundo plano a análise do pa- quem poderá dizer em que pel central da informação jor- casos a cautela antecipada nalística livre e fiscalizadora, não se transformará em ime seu futuro inclusive nos no- punidade pré-adquirida? vos meios de veiculação. Li- Os juizados se verão abarroberdade de imprensa deveria tados de demandas baseaser assunto obrigatório em di- das na imaginação do que versos cursos superiores, pode vir a acontecer, e não não só nas áreas de comunica- em fatos concretos. A edição final passará pelos juíção social. A democracia precisa de zes, um desvio bárbaro no uma imprensa plenamente li- método e no tempo. Ruim vre, que responda (e amadu- para as duas atividades, reça) com responsabilidade péssimo para as mínimas pelos seus erros e acertos, chances de transparência e aos quais as coisas, principal- debate públicos. A democracia voltou a mente as públicas, estão e devem ser expostas. Imaginar reinar entre nós tendo o poque algum tipo de tutela te- der fiscalizador da imprennha a capacidade de melho- sa como aliado e catalisarar a atuação da imprensa, dor. Lideranças hoje atuanem favor do povo ou “prote- tes são ao mesmo tempo tesgendo-o” de potenciais equí- temunhas e frutos dessa hisvocos, é raciocínio, no míni- tória. Ao País parece estar mo, infantilizado. O ato de reservado um futuro inegaproibir um veículo de divul- velmente próspero no plano gar não encontra outro lastro material. A sociedade brasisenão o da presunção do que leira não merece, para dizer se está prestes a editar. “Eu o mínimo, seguir adiante este proíbo, em nome da lei, de tampando ao mundo essa editar o que eu estou imagi- enorme rachadura em sua nando que você está imagi- construção democrática, o nando.” Coerção do pensa- que pode abalá-la no futuro, mento! A proteção prévia mo- até em termos econômicos. tivada por temor é prima do O Judiciário ainda terá a paternalismo, todos parentes chance de ratificar ao Brado autoritarismo. Os riscos sil a plena liberdade de sua da liberdade são muito melho- imprensa, com a qual somos res e mais frutíferos do que e seremos todos melhores. ● os riscos do controle prévio. Cada texto de um repórter Ricardo Gandour, jornalista, será sempre pontual, sujeito é diretor de Conteúdo ao escrutínio público e passí- do Grupo Estado vel de interação com as partes, complementação, ajuste e correção. Os tribunais classicamente operam em outra dimensão, se e quando provocados e a partir de fatos concretos. Suas sentenças serão sempre mais definitivas, e sua ação será tanto melhor quanto mais a posteriori for, com o máximo possível de informações apuradas e postas em público. Ambos os ofícios sujeitos aos erros de toda obra humana. Mas cada qual com o seu tempo e o seu método. Sinalizar ao País que a liberdade da imprensa não é plena trará precedente gravíssimo. Instituições de diversas naturezas demandarão o Judiciário para impedir a realização de reportagens que julguem, por mera presunção, incômodas – e a sociedade jamais poderá comprovar. Corruptores e corrompidos, governantes que não cumprem metas, organizações que desrespeitam a lei, o meio ambiente e os consumidores: todos terão a chance de A sereiazinha de Copenhague encontrar no Judiciário o
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Leilãodeenergiaeólica A notícia mais auspiciosa é o preço da energia contratada, entre R$ 131 e R$ 153,07, no nível da energia paga às pequenas centrais hidrelétricas e próximo dos preços nos EUA. Cai por terra o argumento de que o custo da energia eólica comprometeria a competitividade da indústria nacional. Com a expansão da produção nacional dos equipamentos e a acumulação de experiência, os custos tenderão a baixar. Há consenso de que o potencial explorável é de 140 mil MW, superior a toda a capacidade de geração até agora instalada, dispensando longas linhas de transmissão e levando renda a regiões pobres do Nordeste. HARALD HELLMUTH hhellmuth@uol.com.br
São Paulo
● Toda pessoa bem informada e responsável sabe que uma das formas de deter a mudança climática é via geração de energias limpas em substituição às geradas pelo carvão ou petróleo. O governo realizou na segunda-feira um leilão de energia eólica, depois de dois adiamentos. Na sexta-feira passada, o Confaz, que reúne os 27 Estados, decidiu por unanimidade acabar com a isenção de ICMS sobre os equipamentos geradores, aumentando em 17% o seu custo. É terrível ver que todos os governadores do Brasil preferem arrecadar, pouco se importando com o futuro do País, a geração de empregos que viria do desenvolvimento dessa atividade ou a imagem que uma decisão desse tipo criará no exterior, onde estão muitos dos investidores
variáveis: menor crescimento da demanda mundial e menor competitividade do exportador brasileiro, devido ao real forte e à desvalorização do dólar. Essas duas variáveis, em sentido contrário, explicaram a expansão brasileira de 2001 em diante: um real que passou a perder valor a partir de 1999 e um forte crescimento mundial observado até 2008. O exemplo dos EUA é ilustrativo para o Brasil. As exportações norte-americanas, de 1994 a 2009, apresentaram comportamento muito semelhante ao caso brasileiro: estagnação até 2002, crescimento até 2008 e queda em 2009. A diferença está nos detalhes. Enquanto no Brasil, de 1994 a 2001, houve aumento de 10% do valor exportado, nos EUA o aumento foi de 6%. Já no período de expansão mundial, nos EUA cresceram 96% e no Brasil, 300%. Assim, embora a tendência de ambos seja semelhante, a magnitude revela que há diferenças relevantes no desempenho das exportações do agronegócio. A primeira evidência que a magnitude do crescimento revela é que o agronegócio brasileiro se mostrou mais competitivo do que o norte-americano, sobretudo quando a economia mundial saiu da estagnação dos anos 1990 e entrou na expansão dos anos 2000. Dado que a economia mundial cresceu igualmente para os dois países e, com exceção de alguns produtos, ambos possuem uma pauta exportadora semelhante e baseada em commodities, uma variável fundamental que explica a diferença de desempenho é a taxa de câmbio. Enquanto o Brasil mudou seu regime cambial em 1999, gerando imediata competitividade inLOREDANO ternacional para o agronegócio, o dólar seguiu valorizado ante outras moedas até 2003, quando passou a dar os primeiros sinais de desvalorização. Assim, o Brasil aproveitou-se antes e com maior rapidez do crescimento da demanda mundial que os EUA. A situação que observamos atualmente é bem diferente. Além de a demanda mundial estar contraída, salvo em alguns casos, como as importações chinesas de soja, a situação de taxa de câmbio de ambos os países está diametralmente oposta. Enquanto temos assistido a uma valorização do real desde 2006, o dólar vem perdendo valor nesse período. Assim, a competitividade dos EUA está maior do que a brasileira para enfrentar o cenário de menor demanda que deve permanecer na economia mundial, sobretudo entre os países desenvolvidos, em 2010. Concluímos, então, que o
Um dos temas que têm me preocupado ultimamente é o futuro da inserção internacional do agronegócio brasileiro. Acredito que o setor esteja num processo de mudança: antes era fortemente baseado em expansão das exportações e de agora em diante, por razões que discutirei neste artigo, contará com crescentes investimentos estrangeiros diretos no exterior como estratégia de expansão internacional. A primeira constatação é de que existem razões para acreditar que estamos entrando num período de menor crescimento das exportações do agronegócio, quando comparado com o período de forte expansão observado de 2001 a 2008. Na realidade, períodos de estagnação nas exportações não são novidade para o agronegócio brasileiro e, fazendo uma retrospectiva do início do Plano Real (1994) até hoje, observamos isso. De 1994 a 2000 as exportações ficaram praticamente estagnadas, girando ao redor de US$ 15 bilhões. A partir de 2001 as exportações decolaram, atingindo o recorde de US$ 61,4 bilhões em 2008. Em 2009 os dados até outubro indicam queda de 11% no valor total exportado. Afinal, essa queda em 2009 é temporária ou estamos entrando em mais um ciclo de exportações crescendo marginalmente, como observado entre 1994 e 2000? Minha aposta é que vamos amargar um período de estagnação determinado por duas
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ALDO BERTOLUCCI accpbertolucci@terra.com.br
São Paulo
Nacaladadanoite... ... em três minutos foi concedido aumento para os funcionários dos parlamentares (15/12, A3). Já para o ministro da Previdência Social, José Pimentel, “não há como dar reajuste maior...” Isso prova que o povo só assiste, de longe, ao festival das benesses que ele mesmo paga. Que País! Nossa resposta: não votar nos fichas-sujas. Provemos a nossa força! RUTH DE SOUZA LIMA E HELLMEISTER rutellme@terra.com.br
São Paulo
Censura,138dias Estamos órfãos. É essa a sensação que tenho diante da decisão do STF de manter a censura ao Estadão. Com o Legislativo não podemos contar, porque se trata de pessoas “incomuns” e nós, não. Tampouco com o Executivo, pois não somos “companheiros” nem temos acesso a cargos com altos salários. Pensava que, embora tardia, a justiça viria. Vejo agora que não. Não vem em socorro das pessoas comuns, que trabalham e pagam impostos para sustentar a corrupção e os apaniguados do poder. Sou estudante de Direito e aprendi com meus professores que para propor uma ação é preciso legitimidade e adequação do pedido ao meio proces-
Para o setor, uma estrutura do tipo Eximbank seria de grande serventia las no Brasil. Afinal, o crescimento das exportações foi o grande motor do superávit da balança comercial do País nos anos recentes. A perda de competitividade do agronegócio norte-americano nos anos 90 foi enfrentada de três formas: desonerando a cadeia de produção com investimentos em infraestrutura (na realidade, esses aportes vinham sendo feitos nos EUA desde antes dos anos 80, o que aumenta ainda mais o déficit brasileiro nesse quesito); políticas pró-competitividade de exportação por meio dos programas de garantia de seguro de crédito; e uma forte política de subsídios via preços, para garantir renda ao produtor diante de preços mundiais baixos. A alternativa de pesados subsídios não faz sentido no Brasil: ela custa muito para os contribuintes e expõe o País às regras da OMC. A alternativa de investimento em infraestrutura depende de decisões de longo prazo, que serão feitas paulatinamente e não resolverão o problema da competitividade para 2010. A alternativa de uma política de seguro de crédito é a que Brasil deveria adotar imediatamente como estratégia de gerar competitividade para o agronegócio brasileiro. Para o agronegócio, uma estrutura do tipo Eximbank seria de grande serventia. ● André Meloni Nassar é diretorgeral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). E-mail: amnassar@iconebrasil.org.br
FAX:
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
interessados. A expressão “se lixar” está cada vez mais presente nos administradores públicos.
Brasil deixou de ser competitivo no mercado internacional? Certamente, o Brasil continua sendo competitivo no agronegócio, até porque parte da competitividade internacional decorre não apenas do menor custo, mas da capacidade de aumentar a oferta. Países como os EUA, que já utilizam grande parte dos seus recursos naturais para produção agropecuária, vivem o problema gerado pelo fato de que a expansão de um produto intensivo em terra leva à retração de outro, porque o ganho de produtividade não compensa imediatamente a perda de área, e isso não ocorre no Brasil. Nesse sentido, o Brasil continuará sendo competitivo porque tem capacidade de incrementar a oferta mais rapidamente do que os EUA. Aumentar a oferta, no entanto, não refresca muito em momentos de demanda reprimida. Um cenário de menor demanda mundial e menor competitividade internacional deveria acender algumas luzes amare-
E-MAIL:
(11) 3856 2920
sual. Mas também que, muitas vezes, o juiz permite ao advogado refazer a petição quando esta não está pertinente com o objetivo pretendido, entre outros motivos, para a economia processual. Isso no primeiro grau de jurisdição. Agora vem a mais alta Corte do País, integrada, supõe-se, pelas pessoas que mais entendem da aplicação da lei, ou melhor, da justiça, e dá um chute nos princípios gerais do Direito, rasga normas constitucionais elementares e mantém a censura para resguardar direitos individuais, que deveriam estar abaixo dos coletivos. Força, Estadão! Nada como um dia após o outro.
forum@grupoestado.com.br
Oque estãoesperando? A rejeição da petição do Estadão deve-se a um ou mais destes três motivos: 1) Erro na petição do jornal, o que provocou sua rejeição pelo tribunal; 2) decisão açodada do tribunal, sem entrar no mérito da questão; e 3) falta de legislação que servisse de apoio ao advogado do jornal. Aparentemente, esta última foi a causa mais forte, indicando a necessidade urgente de o Legislativo preparar legislação adequada, de modo a evitar a absurda censura a que estamos assistindo. Srs. senadores e deputados federais, o que estão esperando?
BEATRIZ COUTINHO
WILSON SCARPELLI
bholica@hotmail.com
wiscar@estadao.com
Cruzeiro
Cotia
A6 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 16 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
Conduta abusiva
PARTIDOS
‘Morto’ votou duas vezes em eleição do PT no Rio Denúncia faz parte de pedido para impugnar vitória de aliado de Cabral DIDA SAMPAIO/AE–26/3/2008
Wilson Tosta RIO
Não faz ainda 20 dias que apareceu diante de todo o País recebendo um dinheiro das mãos de notório distribuidor de propinas e o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, já dá nova demonstração de conduta abusiva. Valeu-se do cargo que, pelos critérios do bom senso, ocupa de maneira ilegítima, para distribuir R$ 248 milhões entre funcionários do DF. Antecipou o pagamento de dezembro para todos os 45 mil servidores e liberou verbas de gratificação a bombeiros e policiais militares. Estes últimos especialmente merecedores, sob a ótica do governador, de recompensa pela atuação truculenta na repressão a estudantes em protesto contra a presença no governo de uma autoridade investigada por corrupção e filmada em flagrante delito. Ao presentear os funcionários, a intenção do governador foi presentear a si mesmo, pois supõe que assim contribua para esvaziar os movimentos em prol do seu impeachment. Não fez nada de ilegal. Inclusive porque sua cota nessa seara já foi exposta. Mas impressiona nesse caso a desfaçatez. Não só de Arruda ao tentar simular normalidade reunindo o secretariado para falar de assuntos “de governo” e organizando “a base” na Câmara Distrital para decidir a melhor (para ele) data do início do recesso, a fim de ganhar tempo na esperança de que esfrie o clima do escândalo. O cinismo é generalizado. Alcança todos os partidos a ele aliados, cujos filiados também aparecem nas imagens ou são citados no inquérito, mas permanecem incólumes, impunes, levando a vida quase normalmente, como se nada tivesse acontecido. A falta de pudor alcança também o DEM, que tanto escarcéu fez pela saída de José Roberto Arruda do partido por causa do vídeo em que o então candidato aparece recebendo dinheiro, mas não se importuna com a presença do vice Paulo Octávio em suas fileiras. Isso, apesar de o principal executivo do empresário do ramo imobiliário (o maior de Brasília) ter sido filmado enchendo uma mala preta. O DEM alega que nada há contra o vice. Amplamente citado no inquérito, mas sem a imagem dele na tela. As coisas chegaram a um ponto em que evidências, citações, a óbvia divisão de responsabilidades entre o governador e o vice – que nem uma palavra de reparo disse sobre a conduta de seu companheiro de governo – não bastam. E, nesta altura de um campeonato em que o governador se arvora o direito de ler comunicados sem permitir perguntas para não ser constrangido pela imprensa, usa o patrimônio público em feitio de autoajuda, nem as provas comprovam. É preciso, no dizer dos correligionários de Arruda, uma CPI da Câmara Distrital para “investigar” se as cenas a que o Brasil todo assistiu significam que o governador recebeu dinheiro, que os deputados embolsaram propina, que os empresários levaram notas nas cuecas, que os corruptos oraram em atenção à graça recebida, ou se porventura as imagens não falam por si.
Um morto que “votou” nos dois turnos do Processo de Eleição Direta(PED)do PTestánapautadareunião de hojedaexecutiva regional do partido no Estado, que examinará impugnações ao processo que deu ao deputado federal Luiz Sérgio a presidência estadual da legenda. Mais de dois anos depois de ter sido enterrado, em abril de 2007, o falecido “assinou” as listas de eleitores das duas rodadas de votação – com letras totalmente diferentes. Osindíciosdefraudesãoobjeto de recurso apresentado por petistasligadosaLourivalCasula,candidatoapresidenteregionalderrotado no segundoturno e defensor da candidatura própriaaogovernoestadual,reivindicada pelo prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias. Luiz Sérgio quer apoiar a reeleição de Sérgio Cabral (PMDB). De acordo com certidão de óbito registrada no cartório da 13ª Circunscrição do Registro Civil de Pessoas Naturais, obtida pelo Estado, o eletricitário Omenir da Cruz Cortopassi morreu às 22 horas de 9 de abril de 2007, na Casa de Saúde Nossa Senhora do Carmo, em Campo Grande. As causas foram choque neurogênico e acidente vascular encefálico hemorrágico, segundo atestado do médico Rafael Klas R. Leal. Cortopassi morreu aos 62 anos, foi enterrado no CemitériodeCampoGrande,masconsta como votante nas listas da 43ª zonal do PT do Rio, no primeiroturno,nodia22denovembro, e no segundo, em 6 de dezembro, em Campo Grande. “Recebi esse recurso e ainda não o examinei com a profundidade necessária”, disse ontem o secretário de Organização do PT fluminense, Ernesto Braga. Elegarantiu,porém, que as“dezenas” de pedidos de impugnação encaminhadas seriam checadas por ele e pela comissão eleitoral. “Eu oriento, dou opinião, instruo”, disse Braga. “Nas situações nas quais há duas partes, elas serão chama-
Ação parlamentar
AcúpuladoPMDBesperaretratação pública do presidente LuizInácioLuladaSilva,aomesmo tempo em que evita colocálocontraa parede. Peemedebistas que defendem aliança com o PT em torno da candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência, esperavam que Lula conversasse com o deputado Michel Temer (PMDBSP),anteontem,comoumaespécie de desmentido, o que não ocorreu. Temer, presidente licenciado do PMDB, é o princi-
Arruda agora usa oficialmente dinheiro do público em causa própria
É do deputado Miro Teixeira a ação de inconstitucionalidade contra vários pontos da legislação eleitoral alterados pelo Congresso neste ano, que ensejará a chance de o Supremo Tribunal Federal interpretar a Constituição de modo diferente ao desejado pelos parlamentares. Por exemplo, no que tange à limitação do prazo de 15 dias após a diplomação do eleito, para contestação de mandatos. A legislação impede a cassação de José Roberto Arruda por crime eleitoral em 2006 e teria impedido também a interrupção dos mandatos de governadores e prefeitos condenados antes da aprovação das novas regras. Foi do deputado Miro Teixeira a ação que permitiu a derrubada da Lei de Imprensa, bem como foi da autoria dele uma antiga consulta que permitiu ao Tribunal Superior Eleitoral instituir a obrigatoriedade de alianças uniformes para eleições nacionais e regionais. A chamada verticalização, já extinta pelo Congresso por contrariar interesses dos grandes partidos. O deputado Miro, aliás, anda sumido. Ele e outros de atuação parlamentar significativa perderam espaço, hoje totalmente ocupado pela turma da fisiologia.
Limites “O censor não está limitado por lei alguma”, disse o ministro Eros Grau, em seu voto contrário ao recurso do Estado ao Supremo Tribunal Federal, pela suspensão da censura prévia à publicação de informações sobre a operação da Polícia Federal que investiga atividades ilícitas do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. Pelo raciocínio do ministro, só o juiz está limitado pela lei, cuja aplicação não pode ser confundida com censura. O ministro Eros Grau não levou em conta que não apenas o censor, mas qualquer cidadão – inclusive juízes – está não só limitado como impedido pela Constituição de ferir os preceitos da liberdade de expressão e do direito à informação. ●
NA MIRA – Luiz Sérgio: eleição para presidir PT fluminense tem indícios de fraude e é objeto de recurso
das a falar, por cinco minutos.” EM CASA
Outra denúncia envolveu o PED em Italva, no interior do Estado. Lá, os filiados Aristolina do AlmoGodinho e Juscelino Coelho Nepomuceno disseram, em depoimento gravado em vídeo, queassinaram a listade votação do segundo turno em casa, mas não foram à Câmara
Municipal da cidade, onde era a votação. Ali, Luiz Sérgio venceu Casula por 303 a 0. No placar geral do Estado, o deputado venceu por 14.743 a 13.657 – 51,9% a 48,1%, com 514 votos em branco e 225 nulos. Ao todo, votaram 28.400 filiados, segundo os petistas. Braga afirmou desconhecer a denúncia de Italva, mas afirmouquenenhumasuspeitafica-
rásem apuração.“Defendodesde o primeiro turno que, onde haja erro, apuremos”, declarou. “Não temos de jogar nada para baixo do tapete, tem de haver respeito às regras internas. Não vou, em nenhuma hipótese, transgredir o regimento.” A executiva inicia sua reuniãoparaexaminarasimpugnações às 15h de hoje. “Sem hora para acabar”, disse Braga. ●
PMDB lulista quer retratação do presidente Partido espera desagravo por ideia de lista tríplice para indicar vice de Dilma Denise Madueño BRASÍLIA
palcotado paravice na chapade Dilma e um dos principais articuladores da aliança com o PT. O motivo da crise foi declaraçãode Lula, na quinta-feira passada, quando sugeriu que o PMDB apresente lista tríplice comnomes de viceparaescolha de Dilma. A resposta do PMDB foi dura, dizendo que cabe apenas ao partido indicar o único nome para a chapa. O episódio provocoucancelamentoda reunião de hoje do grupo de trabalho eleitoral do PT e PMDB. “Em função do ambiente, o PMDB achou melhor não fazer a reunião. Temos de trabalhar
com calma. É melhor”, afirmou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). “Esse desconforto não vai acabar, enquanto não tiver um esclarecimento público”, disse o deputado Eduardo Cunha (PMDBRJ).“Namedidaquenãoháconserto, ajuda os que estão contra a aliança do PMDB com o PT.” MAL-ESTAR
O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), autor da nota mais dura em reação à declaração de Lula, afirmouqueoPTtemfeitoumgrandeesforçoparadirimiromal-es-
tar. “Houve reconhecimento de que não foi a melhor colocação (de Lula).” O líder lembrou que Dilma, os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais)eFranklinMartins(ComunicaçãoSocial),alémdedirigentes petistas, telefonaram para Temer na tentativa de darem explicações e colocarem panos quentes na crise. “Em algum momento haverá uma explicação do presidente, até porque não há outro horizonte.Não dá para ser outronome", afirmou Henrique Alves, referindo-se à indicação de Temer para a chapa com Dilma. ●
EVENTO HETERODOXO
Fundação Sarney aluga Convento das Mercês como palco para festa sexy ‘Libertesuasfantasias’,dizconvite,proibidoparamenores
E
m vias de fechar as portas, alegando falta de dinheiro, a Fundação José Sarney inovou na captação de recursos. No último dia 7, a entidade alugou sua sede, o imponente Convento das Mercês, no Centro Histórico de São Luís, para evento nada ortodoxo: uma festa sexy. O pátio e os largos corre-
dores do convento – inaugurado no século 17 por padre Antonio Vieira – serviram de palco para um evento ao som das garotas do Female Angels, cuja especialidade, além do estilo musical, Sexy House, é a sensualidade das integrantes. “Liberte suas fantasias”, dizia o convite, que destacava a proibição para menores de 18 anos. A festa reuniu 1.500 pessoas, nas contas do organi-
zador, o empresário Alexandre Maluf. Tudo dentro da mais absoluta responsabilidade, garantiu. “Houve até distribuição de camisinhas.” Maluf não quis contar quanto pagou pelo aluguel do local. “Isso eu não vou dizer, mas garanto que foi tudo legal. O contrato estava fechado há bastante tempo.” Os ingressos custavam de R$ 60 a R$ 150. O convento, construído em
1654, foi doado em 1990 à fundação pelo então governador João Alberto, aliado dos Sarney. Ali funciona um museu destinado à exaltação da carreira do senador. As despesas são bancadas por amigos e dinheiro público. Um dos patrocínios partiu da Petrobrás – o Estado revelou que, do R$ 1,3 milhão, R$ 500 mil foram para empresas fantasmas ou da família Sarney. A Justiça Federal determinou que a fundação devolva o convento, tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, mas a decisão ainda não foi cumprida. ● Rodrigo Rangel BRASÍLIA
A8 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 16 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
JUDICIÁRIO
TRF afasta juiz De Sanctis do caso MSI-Corinthians Decisão tem caráter liminar, mas representa mais duro revés na carreira do magistrado O Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF 3) ordenou ontem o imediato afastamento do juiz Fausto Martin De Sanctis do caso MSI-Corinthians. Titular da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, De Sanctis está alijado da condução de ação penal sobre a parceria entre a empresa (Media Sports Investments) e o clube paulistano, alvos de investigação por suposto esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Éa primeiravezqueDeSanctis é excluído da presidência de uma ação penal em sua carreira. Trata-se do mais severo golpe já desferido contra o juiz que acumula a direção dos casos mais emblemáticos da Justiça Federal – como os processos do Banco Santos, a Operação Satiagraha e a Castelo de Areia – e, em julho de 2008, enfrentou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, ao mandar prender duas vezes o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, instalandoumacrisesemprecedentes na magistratura. Na ocasião, 135 juízes assinaram documento em apoio a De Sanctis, sob ameaça de investigação pelo Conselho Nacional deJustiça(CNJ)porsupostadesobediência ao presidente do Supremo. De Sanctis não se manifestou sobre seu afastamento. A decisão de tirá-lo do caso MSI-Corinthians foi tomada por unanimidade, em caráter liminar, pelos desembargadores Cecília Mello, relatora, Henrique Herkenhoff e Nelton dos Santos, todos da 2ª Turma do TRF3. Eles reconheceram a parcialidade do magistrado. PREJULGAMENTO
Avisadoporfax,ojuizinterrompeuaudiênciadocasoquepresidia em seu gabinete. Naquele momento estava sendo ouvida a única testemunha de acusação, Antonio Roque Citadini, conselheirodoTribunalde Contas do Estado (TCE) e ex-dirigente do Corinthians, opositor ferrenho da aliança com a MSI. Ontem mesmo assumiu a direção do processo o juiz substituto Marcelo Cavalli. Novo depoimento de Citadini foi remarcado para 11 de janeiro. Também foramadiadososrelatosdastestemunhas de defesa, marcados para hoje e amanhã. A medida do TRF 3 vale até que a corte coloque em julgamento duas medidas de exceção de suspeição do magistrado propostas pelos empresários Boris Abramovich Berezovsky, Kiavash Joorabchian e Nojan Bedroud – réus no processo MSI-Corinthians. Os pedidos pelo afastamento são dos advogados criminalistas Roberto Podval e Alberto Zacharias Toron, que defendem os empresários da MSI. Elessustentamqueojuizprejulgou a causa ao fundamentar o recebimentodedenúnciacriminaldaProcuradoriadaRepúbli-
ENTENDA O CASO
Parceria suspeita
BETO BARATA/ AE
Fausto Macedo
POLÊMICA – O juiz Fausto De Sanctis condenou empresários ligados à MSI, mas teve sua decisão suspensa pelo Supremo Tribunal Federal
24/11/2004
O Conselho Deliberativo do Corinthians aprova parceria com a Media Sports Investiment (MSI), representada pelo iraniano Kia Joorabchian. Contrato assinado dá ao fundo de investimentos a gestão do departamento de futebol e direitos sobre licenciamento de produtos ●
14/2/2005
Já sob suspeita de negócios ilícitos, Kia Joorabchian depõe na Polícia Federal ●
23/2/2005
● O procurador Roberto Porto, do Gaeco, descobriu que a MSI enviou US$ 2 milhões ao clube e o remetente seria uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas, a Devetia Limited. Só que o remetente constou como pessoa física, um indivíduo da Georgia
15/4/2005
O relatório final das investigações do Ministério Público de São Paulo aponta crime de lavagem de dinheiro da MSI na parceria com o Corinthians. O caso foi encaminhado para o Ministério Público Federal, que tem competência para apurar o suposto delito e denunciar os investigados à Justiça Federal ●
18/10/2006
Em depoimento ao delegado Protógenes Queiroz, na Polícia Federal, o então presidente do Corinthians, Alberto Dualib, e seu vice, Nesi Curi, confirmam que o iraniano Kia Joorabchian estava fora do comando da MSI e que os três investidores da parceira com o clube eram o russo Boris Berezovski, o georgiano Badri Patarkatsishvilli e o israelense Pini Zahavi. Dualib e Curi depuseram por mais de cinco horas ●
Procurador não vê suspeição “O fato de um juiz tomar decisão que contraria interesse da parte não é motivo de suspeição, senão a independência do magistrado pode estar em risco”, alertou ontem o procurador regional da República Pedro Barbosa Pereira Neto, que subscreveu dois pareceres nesse sentido perante o Tribunal Regional Federal. “Não conheço a decisão do tribunal, mas me manifestei pelo não acolhimento da suspeição do juiz. Decisões contrárias que o juiz proferiu contra a parte não
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geram suspeição, senão acabou a independência da magistratura”, declarou. Para Pereira Neto, “pode-se reconhecer aqui e ali algum excesso na linguagem do juiz, mas de modo algum se pode reconhecer suspeição”. “Decisão que desagrada a parte não é motivo de suspeição, a parte não pode escolher e nem recusar juiz”, disse. “Se a parte gostou ou não de decisão, pode recorrer. O que não pode é afastar o juiz. Isso é complicado”, reagiu. ● F.M.
13/7/2007
23/8/2009
O juiz Fausto De Sanctis aceita denúncia do Ministério Público Federal. Alberto Dualib, Nesi Curi, Renato Duprat Filho, Paulo Angioni e Alexandre Ferri são indiciados por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Boris Berezovski, Kia Joorabchian e Nojan Bedroud têm pedido de prisão decretado
● O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), manda suspender os efeitos de sentença do juiz Fausto Martin De Sanctis, que condenou os empresários Boris Berezovsky e Kia Joorabchian ao pagamento de multa de R$ 37,2 mil cada um
16/8/2009
26/8/2009
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O juiz Fausto Martin De Sanctis condena os empresários Boris Berezovsky e Kia Joorabchian ao pagamento de multa no valor de R$ 37,2 mil cada um porque seus advogados, Alberto Zacharias Toron e Roberto Podval, teriam praticado “litigância de má-fé”. Os dois defensores haviam ingressado com exceção de suspeição do juiz, atribuindo a ele parcialidade e requerendo seu afastamento do caso MSI-Corinthians
● O juiz Fausto De Sanctis afirma que não desobedeceu ao Supremo Tribunal Federal (STF) ao condenar os empresários Boris Berezovsky e Kia Joorabchian ao pagamento de multa por suposta litigância de má-fé da defesa
ca.“Observa-se,apartirdosdiálogosmonitorados, quea suposta organização criminosa não somente se destinaria a lavar valores no futebol brasileiro, mas a praticar, em tese, toda sorte de ilícitos-tipo envolvendo este, além de lançar voos na administração pública federal”, diz um trecho da decisão do juiz. O ponto mais tenso e decisivo desse embate veio em agosto, quando De Sanctis condenou Boris e Kia ao pagamento de multa de R$ 37 mil por “litigância de má fé” de seus defensores. Toron e Podval recorreramao STFeconseguiramanular a sentença. Eles já haviam
pedido uma primeira vez a suspeição do juiz. Em setembro do ano passado, o STF mandara anular todo o processo. Os advogados ingressaram com novas exceções de suspeição. O Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual apuraram que à sombra da parceria MSI-Corinthians atuava um magnata russo, Boris Berezovsky, dono de US$ 32 milhões investidos no time de Parque São Jorge entre 2004e2006.Odinheiroteriaorigemcriminosa,segundodenúncia daProcuradoria da República. A investigação indica que a MSI se associou ao Corinthians para lavar dinheiro ilícito. ●
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‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 138 DIAS
Ontem
● De Sanctis é afastado do caso MSI-Corinthians por ordem do Tribunal Regional Federal
INVESTIGAÇÃO
Promotoria acusa Marta em ação por improbidade O Ministério Público Estadual pediu a condenação da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) por improbidade administrativa, que ela teria praticado ao contratar sem licitação, em outubro de 2002, a empreiteira OAS para obra orçada em R$ 34,9 milhões. Em ação civil proposta à 5ª Vara da Fazenda Pública, a Promotoria do Patrimônio Público e Social sustenta que Marta autorizou “pagamentos indevidos” e a construção foi superfaturada. A promotoria pede suspensão dos direitos políticos de Marta por até oito anos, pagamento de multa equivalente a até duas vezes o dano e o ressarcimento de “prejuízos ao município” de R$ 4,6 milhões. Também são acusados o ex-secretário Roberto Luiz Bortolotto, de Infra-Estrutura Urbana e Obras de São Paulo, e a OAS, empreiteira contratada em “regime de emergência” para construção de reservatório de contenção de cheias no córrego Rincão, na zona leste. Abase da ação é oinquérito civil 355/08, conduzido pelo promotor de Justiça Saad Mazloum. O inquérito foi aberto em 2008 a partir de auditoria do Tribunal de Contas do Município (TCM) que “julgou ilegal a dispensa de licitação, o contrato e as despesas decorrentes”. A promotoria avalia que Martaagiu com“negligência gravíssima, sobretudo diante do extraordinário superfaturamento e prejuízo causado aos cofres municipais”. EMERGÊNCIA
Mazloum destaca que a prefeitura abriu processo administrativo visando à realização das obras 60 dias depois das enchentes que assolaram o Aricanduva e outros bairros da zona leste. “A emergência não estava mais caracterizadae ficouconstatado que a OAS já havia sido escolhida de antemão”, acusa o promotor. Segundo a ação, Marta “se dedicava em buscar pessoalmente junto ao governo federal a liberação de R$ 100 milhões para as obras”. “Sem licitação e sem planejamento, Marta determinou o imediato início da execução das obras”, afirma Mazloum. “Jamais houve projeto básico, o que era de pleno conhecimento de Marta”, acrescenta. O TCM apurou que o preço para o serviço de remoção de terra foi superior em 75% ao valor constante da tabela da própria Secretaria de Infra-Estrutura. Por meio de sua assessoria de imprensa, a ex-prefeita rebateu a acusação. “Obras contratadas em caráter de emergência para a construção de piscinão se deram na gestão Marta Suplicy pela preservação de vidas, prevenção e diminuição de danos em consequência de chuvas.” Bortolotto não foi localizado. A OAS não se manifestou. ● F.M.
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
ABI e Abraji protestam contra Supremo Entidades ligam visão de ministros sobre ‘tutela judicial’ a censura prévia Ricardo Brandt Moacir Assunção
A Associação Brasileira de Imprensa e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) declararam-se preocupadas com as manifestações dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre “tutela judicial”,feitasnasemanapassada, durante o julgamento em que arquivaram reclamação do Estado contra a censura
a que está submetido. Há 138 dias o jornal está proibidodepublicarreportagenssobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou o empresário Fernando Sarney,filhodopresidentedoSenado, José Sarney (PMDB-AP). A mordaça foi imposta pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal(TJ-DF),em 31 de julho. “A Abraji vê com preocupação a manifestação da maioria dos ministros do STF a favor do
que chamam de ‘tutela judicial’, pois ela implica censura prévia e, portanto, a relativização da liberdade de imprensa”, reagiu a entidade. “Quando se fere a liberdade de imprensa, a democracia também é atingida. Uma não existe sem a outra.” AABI, em carta assinadapelo seu presidente, Maurício Azêdo,considerou “preocupante” a discussão no Supremo. “É que vários dos seus ministros se detiveram em tecnicalidades queprolongam a censura
prévia imposta ao jornal, com graveviolaçãodaordem constitucional”, informa a ABI. “Com fortes razões, o ministro Celso de Mello, decano do Supremo, assinalou que tem sido tão abusivo o comportamento de alguns magistrados e tribunais que, hoje, o poder geral decautelaé onovo nomedacensurajudicialnonossopaís”, ressalta a entidade. A carta ainda relembra advertência de Mello sobre o risco de uma volta “ao passado colonial”. ●
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
17 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42429
ReceitafechacercoàrestituiçãodeIR Contribuintequeapresentardeduçõesfictíciasousemcomprovaçãoterádepagarmulta de75% A Receita Federal anunciou ontem medidas para fechar brechas utilizadas pelas pessoas físicas e empresas para pagar menos imposto. Um dos alvos principais do pacote, incluído em medida provisória, é a cha-
partir de agora de pagar uma multa de 75%. Se a Receita conseguir provar que houve dolo, sobepara150%.Amultavaiincidir sobre a parte da restituição que a pessoa receberia a mais com a dedução irregular. Hoje,
mada “indústria da restituição” do Imposto de Renda da PessoaFísica(IRPF).Oscontribuintes que apresentarem deduções – como despesas médicas ou com educação – fictícias ou sem comprovação terão a
Mensaleiros do DF negociaram verbadaBeija-Flor
não há nenhum tipo de pena para quem cai na malha fina e tem imposto a restituir. A Receita também apertou o cerco às empresas que fizerem pedidos fictíciosdecompensação de créditos tributários. ● PÁGS. B1 e B3
PRINCIPAIS MEDIDAS ● Deduções: multa de 75% para despe-
sas indevidas com saúde e educação ● Compensações: multa de 75% para
empresas que compensarem créditos
considerados indevidos ● Paraíso fiscal: despesas pagas por empresas em paraísos fiscais sem comprovação não poderão ser abatidas
TEMPESTADE EM SP: DE VOLTA AO CAOS
Parlamentares tentaram usar ONG de Joãosinho Trinta para intermediar propina Deputadosenvolvidosnomensalãodo DEM tentaram usar a ONG do carnavalesco Joãosinho Trinta como intermediáriaparaobterpartedopatrocínio que a Beija-Flor receberá do governo do Distrito Federal para o carnaval de 2010. Eles queriam elevar o patrocínio à escola, de R$ 3 milhões para R$ 6 milhões, e ameaçaram usar a Câmara local para dificultar o processo caso não fossem atendidos. Mas o vice-
FRASE
Joãosinho Trinta Carnavalesco
“É o panetone malfeito. É um dinheiro maldito”
governadorPauloOctáviodeixou a ONG do carnavalesco de fora, e os recursos foram liberados diretamente à BeijaFlor.“Édinheiromaldito”,disse Joãosinho Trinta. ● PÁG. A4
Goldman e ganhou a guarda do filho. Ela morreu em 2008, e S. passou a viver com o padrasto. Goldman, apoiado pelo governo dos EUA, deve chegar hoje para buscar o filho. Ainda cabe recurso. ● PÁG. C1
●●● Enchente em rua de Osasco,
onde um bairro ficou debaixo d’água, durante o novo temporal
ALAGOAS
L
PABLO DE LUCA/AE
uiz Gonzaga Mendes de Barros foi transformado no marajá mais famoso do Brasil após ser apontado por Fernando Collor como modelo de servidor parasita. Como “caçador de marajás”, Collor elegeu-se presidente há exatos 20 anos. Barros vive bem, com aposentadoria de R$ 25 mil. ● PÁG. A10
Conferência ressuscita Conselho de Jornalismo
Felipão: ‘Volto em 2011 para SP’ VALENTIN FLAURAUD/REUTERS
Marajá resiste, 20 anos depois
Futebol
●● LuizFelipe Scolari,téc-
nico campeão do mundo em 2002, voltará ao Brasil em 2011. “Minha mulher e meu filho topam, se for para São Paulo”, disse ao Estado. ●
Infância
Pai pode levar filho a filme adulto Projeto aprovado em comissão do Senado segue para Câmara. ● PÁG. C4
●●
A 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) retomou a proposta de criação doConselhoNacionaldeJornalismo. A Federação Nacional
NOTAS E INFORMAÇÕES
Mercosul para Chávez O Senado aprovou a subordinação do bloco às ambições do caudilho Chávez. ● PÁG. A3
dos Jornalistas (Fenaj) já havia tentado aprová-la, mas o projeto foi rechaçado por temorde controledogoverno sobre a mídia. ● PÁG.A9
Tempo: CAPITAL
29ºMÁX.
7 8 9 10 11 12
20º MÍN.
Frente fria avança e provoca chuva.
●●●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 139 DIAS q PÁG. A9
● PÁG. C2
Hoje: 134 páginas A. 1º caderno: 32+4 ● B. Economia: 18 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 18 ● E. Esportes: 4 ● P. Paladar: 8 ● Cl. Classificados: 22 (2.006 anúncios)
Ataque forjado
Suíça condena brasileira a multa Paula Oliveira terá de pagar até R$ 22 mil por mentir à Justiça. ● PÁG.A20
●●
CADERNO 2
Sugestões para um Natal cultural
●● Dicas de discos, DVDs, livros, fotos e gravuras para presentear. ●
norte. Com quatro pontos de alagamento intransitáveis, houve 193 km de congestionamento às
que atingiu a Grande São Paulo, na tarde de ontem. Vários bairros ficaram sem luz nas zonas oeste e
19h10, e o motorista chegou a perder uma hora na travessia de pontes da Marginal em obras. ● PÁG. C5
Brasil se alia a China, Índia e África do Sul sobre clima
Irã testa míssil e EUA acusam país de violar obrigações
Brasil, África do Sul, Índia e China, aliados na Conferência do Clima em Copenhague, decidiram trabalhar para impedir o que consideram uma tentativa dos países ricos de extinguir o Protocolo de Kyoto. A decisão surgiu em reunião sigilosa num escritóriodaChina,comaparticipação,entreoutros,dosministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Carlos Minc (Meio Ambiente). ● PÁGS. A25 e A26
O Irã testou ontem uma versão mais moderna do míssil Sajjil-2, com alcance para atingir Israel e bases militares americanas no Golfo Pérsico. Para os EUA, o teste prova a “contínua violação” iraniana de suas “obrigações internacionais” em relaçãoaseuprogramanuclear.Horas antes, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou uma legislação que impõe sançõesaempresasquevendamgasolina para o Irã. ● PÁGS. A16 e A18
ALEX SILVA/AE
A Justiça do Rio reiterou ontem a decisão de que S., de 9 anos, seja devolvido ao pai biológico,oamericanoDavid Goldman. O menino foi trazido ao Brasil em 2004 pela mãe, Bruna Bianchi, que se separou de
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Justiça manda devolver menino a pai americano
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O Prêmio Tesouro Nacional 2009
Os juízes vão editar os jornais?
RobertoMacedo
EugênioBucci
No dia 10 deste mês, na Escola de Administração Fazendária (Esaf), em Brasília, ocorreu a entrega do 14º Prêmio Tesouro Nacional, criado pela secretaria de idêntico nome, do Ministério da Fazenda, para estudos sobre finanças públicas. Este ano o prêmio homenageou o engenheiro, funcionário público, escritor, jornalista e encrenqueiro Euclides da Cunha, que em 2009 teve marcado o centenário de seu trágico falecimento. Participei novamente da comissão julgadora. Trabalho difícil, toma muito tempo, mas compensa pelo que traz de novos conhecimentos que vêm de bem fundamentadas análises atualizadas de temas de enorme importância, particularmente neste momento de grande preocupação com o volume e a qualidade dos acelerados gastos do governo federal. Quem chegar à Presidência da República em 2011 encontrará um enorme problema a resolver, tamanhas as distorções que se somaram à gestão fiscal do governo federal, em particu-
Os estudos levam a reflexões que de outra forma não exercitaríamos lar às despesas de pessoal. Com algum ajuste a prioridades do momento, os prêmios vieram em quatro áreas: Política Fiscal e Dívida Pública, Tópicos Especiais de Finanças Públicas, Política Fiscal e a Crise Econômica Internacional e Qualidade do Gasto Público. Novamente sem correção monetária, os valores continuaram atraentes, com R$ 20 mil, R$ 10 mil e R$ 5 mil para os três primeiros colocados em cada área. Houve também três menções honrosas para o conjunto das quatro áreas. Dadas a acirrada disputa, a tradição do prêmio e a qualidade das monografias que atrai, ele também traz muito prestígio para os que o recebem. Desta vez a comissão de dez membros avaliou 90 monografias inscritas, sempre sem conhecer o nome dos autores. Um dos membros faz uma primeira triagem das monografias e, em seguida, a comissão é separada em grupos para o exame em cada área, o que leva a um conjunto que vai ao julgamento final. Nessa ocasião, qualquer membro da comissão pode recuperar para exame alguma que tenha sido eliminada nas fases anteriores. Os prêmios cabem às monografias que em cada área recebem o maior número de indicações de todos os avaliadores – e o voto de cada um recebe ponderação ligada à posição em que colo-
cou cada monografia em sua seleção. De novo houve convergência nas indicações, o que nem sempre ocorre em prêmios desse tipo. Com esta rodada, o Prêmio Tesouro Nacional acumulou 1.386 monografias apresentadas e 192 premiadas. No site www.tesouro.fazenda.gov.br estão as premiadas e as que tiveram menções honrosas – esse conjunto será publicado pelo Tesouro Nacional, sob a forma de livro, em 2010. O mesmo site também dá acesso aos resumos das não premiadas. Esses e vários outros estudos apresentados constituem um conjunto que interessa a administradores públicos, a pesquisadores e ao público em geral. Jornalistas também encontrarão aí farto material para reportagens. Farei breve referência aos trabalhos classificados em primeiro lugar em cada área, mas sem demérito dos demais premiados, pois, entre os que chegaram a essa condição, em geral a diferença de pontuação foi pequena. Aliás, com este artigo e essa referência espero atrair interesse para todos, premiados ou não. Na primeira área, Tito Belchior Silva Moreira, com o estudo Mecanismos de Transmissão da Política Fiscal no Brasil, entre outros resultados mostrou que maiores valores da dívida pública como proporção do produto interno bruto (PIB) estão associados a maiores valores da taxa básica de juros e a menores níveis de investimento. Na segunda área, com um estudo de natureza jurídica, O Gasto Tributário no Direito Brasileiro, Élcio Fiori Henriques tratou desses “gastos”, ou benefícios fiscais, concluindo que os relatórios orçamentários do governo federal lhes dão uma definição restrita, excluindo alguns benefícios em desobediência a dispositivos legais e da Constituição. Na terceira área, José Adrian Pintos-Payeras e Sergio Carlos de Carvalho ofereceram o estudo As Alterações Recentes nos Impostos e seus Impactos na Arrecadação e Distribuição de Renda, concluindo que a carga tributária caiu para todos os estratos de renda analisados, mas proporcionalmente mais para os estratos mais ricos. Na quarta área, Trajano Augustus Tavares Quinhões, com o estudo O Modelo de Governança das Organizações Sociais de Saúde (OSS) e a Qualidade do Gasto Público Hospitalar Corrente, voltado para os serviços públicos hospitalares no Estado de São Paulo, concluiu que quando comparados aos hospitais públicos tradicionais, diretamente administrados pelo governo, os regidos pelas OSS mostraram custos 1% maiores, mas apresentaram desempenho significativamente mais satisfatório, com 20% a mais de al-
tas hospitalares por leito operacional, 160% a mais de atendimentos ambulatoriais por sala, 10% a mais de internações por médico, 1,6% menos de funcionários por leito e taxa de mortalidade 1% menor. Mas, no meio de tantos estudos interessantes, como ficou a homenagem a Euclides da Cunha? Entre outras menções, houve as que vieram na divulgação do prêmio e na página que capeou cada monografia. Entretanto, entre os estudos que li, só um, de um jornalista, foi além, colocando frases de Euclides da Cunha na introdução. Para reforçar a homenagem, uma frase de minha escolha, retirada do livro Migalhas de Euclides da Cunha (Editora Migalhas, Ribeirão Preto-SP: 2009), que revela um autor também filósofo, a qual me pareceu particularmente adequada à natureza do prêmio, pois os estudos que todo ano atrai levam a reflexões que de outra forma não exercitaríamos: “Não é o tempo que nos falta – é a serenidade para pensar noutra coisa além do alarmante assunto de todos os dias.” ● Roberto Macedo, economista (UFMG, USP e Harvard), professor associado à Faap, é vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
Feminino de trator
FÓRUM DOS LEITORES Insanidadebolivariana O Senado aprovou a entrada da Venezuela no Mercosul. Já se sabe que a Venezuela e o Irã firmaram inúmeras parcerias de fachada, como a “fábrica de tratores” que recebeu, em janeiro, contêineres de peças iranianas para montar um laboratório de explosivos (segundo a AP), e o acordo de “cooperação técnica” entre os dois países para procurar urânio, que, segundo a empresa canadense U308, existe em grande quantidade em Salto del Angel, ali pertinho da Reserva RaposaSerra do Sol, onde também há urânio. Parece que o Brasil deseja ardentemente entrar na aventura atômica de Ahmadinejad e Chávez. Não foi à toa que Hilary
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inadequado e arquivou o pedido deste jornal para que fosse extinta a censura prévia que sobre ele se vem abatendo há vários meses. Os fundamentos da decisão apontam para razões formais, processuais, mas seu efeito de mérito é inequívoco: O Estado de S. Paulo segue impedido de publicar notícias sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga atividades do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. Estamos diante de uma ironia trágica. O jornal foi castigado não por ter agido com irresponsabilidade, mas por ter cumprido o seu dever. O excelente trabalho dos repórteres Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel, que, no primeiro semestre, revelou os atos secretos do Senado, entre outras irregularidades, recebeu, no início de dezembro, o Prêmio Esso de 2009, mas antes, no dia 31 de julho, mereceu outro tipo de reconhecimento, este macabro: a censura prévia por via judicial. Na prática, a despeito de justificativas processuais, foi essa violência que o Supremo corroborou. De repente, a sociedade
viu-se atirada a um constrangimento quase indescritível. Durante o julgamento do pedido do Estado, o presidente do STF, Gilmar Mendes, comparou o caso ao episódio da Escola Base, de 1994, quando uma pequena escola, do Bairro da Aclimação, em São Paulo, foi vítima de um inquérito policial conduzido de forma espalhafatosa pelo delegado encarregado, gerando uma avalanche de notícias sensacionalistas que arruinaram a reputação dos donos da instituição. Em sua edição de 11 de dezembro, este jornal reproduziu as palavras de Mendes: “Se tivesse havido naquele caso uma intervenção judicial, infelizmente não houve, que tivesse impedido aquele delegado, mancomunado com órgão de imprensa, de divulgar aquele fato, aquela estrutura toda escolar e familiar teria sido preservada. E não foi.” A analogia é perversa. Ela vem sugerir que o mal da imprensa no Brasil é a falta de tutela; estivessem os juízes mobilizados para impor censuras prévias a granel e os erros jornalísticos não mais aconteceriam. Poucas vezes uma inversão de valores foi tão longe na nossa Corte Suprema. Esqueceu-se o presidente do STF de que, durante a ditadura militar, as arbitrariedades praticadas pelas autoridades policiais não eram sequer noticiadas, e nem por isso famílias deixaram de ser destroçadas pela truculência. Não foi por excesso de reportagens, mas exatamente por escassez, que a tirania encontrou espaços para se impor sobre o País. A imprensa não agrava, mas previne o arbítrio, ainda que cometa erros – como efetivamente cometeu no caso da Escola Base. Agora, estamos à mercê da mentalidade equivocada que foi expressa por Gilmar Mendes. Se generalizada, ela pode nos abrir um cenário sufocante, como bem alertou, em artigo publicado ontem nesta mesma página, Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Estado: “Instituições de diversas naturezas demandarão o Judiciário para impedir a realização de reportagens que julguem, por mera presunção, incômodas – e a sociedade jamais poderá comprovar. Corruptores e corrompidos, governantes que não cumprem metas, organizações que desrespeitam a lei, o meio ambiente e os consumidores: todos terão a chance de encontrar no Judiciário o escudo para esconder da fiscalização do público o que poderia vir a ser de elevado interesse para todos. E quem poderá dizer em que casos a cautela antecipada não se transformará em impunidade pré-adquirida? Os juizados se verão abarrotados de de-
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mandas baseadas na imaginação do que pode vir a acontecer, e não em fatos concretos. A edição final passará pelos juízes, um desvio bárbaro no método e no tempo. Ruim para as duas atividades, péssimo para as mínimas chances de transparência e debate públicos.” Para complicar o cenário, alguns, em apoio à intromissão de juízes nos afazeres da imprensa, alegam que a investigação sobre as operações de Fernando Sarney tramitam em sigilo de Justiça e, por isso, não podem ser objeto do noticiário. Nada mais enganoso. A sociedade não pode ficar refém daquilo que os Poderes de Estado consideram ou não consideram sigiloso. Bem ao contrário, a democracia precisa da imprensa justamente porque ela é a única instituição capaz de tornar públicas as decisões que o poder gostaria de tomar às escondidas. Pense bem o leitor: para que uma sociedade precisa de jornais livres senão para revelar segredos? O que é uma notícia senão um segredo revelado? Eis aí o núcleo da
Ainda que cometa erros, a imprensa não agrava, mas previne o arbítrio missão da imprensa: investigar e fiscalizar o poder, informando o cidadão. Sem isso não há segurança democrática. Guardar o sigilo de Justiça é função dos juízes. A função da imprensa é descobri-lo e, a partir daí, considerar a necessidade de publicá-lo. Em liberdade. A posteriori, e apenas a posteriori, ela poderá ser responsabilizada, aí sim, na Justiça, pelos excessos em que vier a incorrer. Não custa lembrar que em momento algum as reportagens do Estado “premiadas” com a mordaça invadiram a intimidade familiar de quem quer que fosse. Elas apenas trataram de assuntos de clamoroso interesse público, apenas levaram ao cidadão aquilo que é seu direito conhecer. A prevalecer a decisão que se vem mantendo até aqui, o Judiciário não está protegendo privacidades. Talvez de forma inadvertida, está simplesmente amparando interesses privados que guardam vínculos mal explicados com o poder público. Agora, resta torcer para que, nos lances do processo que ainda estão por vir, os princípios democráticos sejam repostos. Assim como jornalistas, juízes também erram. Assim como jornalistas, que saibam se corrigir. ● Eugênio Bucci, jornalista, é professor da ECA-USP
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PapelãodeDilma Clinton advertiu os países da América Latina para os riscos e consequências de sua associação com países exportadores do terror. O Senado escolheu não dar ouvidos às advertências e nós todos pagaremos o preço, certamente alto, por esta insanidade bolivariana.
e com maioria no Senado, onde muitos não se dão ao respeito de emitir opinião divergente dos desejos do nosso reizinho do Planalto, acabou aprovando. Isso será um atraso para a união sul-americana e para o Brasil. Quem viver verá.
M. CRISTINA DA ROCHA AZEVEDO
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São Paulo
CARLOS E. DE BARROS RODRIGUES
Florianópolis ● Se alguém ainda tinha esperança de que nosso Senado vetasse a presença da Venezuela no Mercosul, agora a perdeu. Esse país, governado por um presidente brucutu, que censura a imprensa e pratica atos da forma que quer, deveria, só por isso, ficar fora do Mercosul. Mas Lula, amigão de Chávez,
Presençanefasta A incorporação da Venezuela ao Mercosul pode ser algo muito perigoso. Não por nossos nobres vizinhos venezuelanos, cidadãos de bem, mas por seu presidente, homem ignóbil e de trato ríspido. Chávez defende a tal Revolução Bolivariana, mas vai contra os prin-
cípios desta ao censurar jornais, televisões e profissionais em seu país. Criou o terceiro mandato, para justificar seu devaneio ditatorial e fez amizade com gente do mal, como Ahmadinejad – que mata mulheres, crianças e homossexuais, além de perseguir judeus e cristãos e defender a destruição do Estado de Israel, a única democracia no Oriente Médio. O presidente da Venezuela é também o maior representante do antissemitismo no Continente Americano. Com seu discurso antiamericano e suas rivalidades regionais, Chávez quer impor sua voz à força juntamente com suas políticas nada sociáveis ou democráticas. Por aceitá-lo no Mercosul, o Brasil de Lula dá asas àquele que não
VALTER GALI
“O meio ambiente é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável, e isso significa que é uma ameaça pro futuro do nosso planeta e dos nossos países” (sic). Ato falho? Não importa. Demonstra de forma incontestável que a ministra-candidata (ou seria candidata-ministra?) é despreparada, não entende nada do que se está discutindo na Dinamarca, foi apenas cumprir a agenda da sua precipitada, apesar de negada, campanha presidencial e deixará como saldo motivos para zombarias. Foi impressão minha ou um discreto sorriso irônico se estampou na face de sua desafeta, a senadora Marina Silva?
vgali@concili.com.br
LUIZ NUSBAUM
São Paulo
lnusbaum@uol.com.br
deve voar. O crescimento de Chávez em nosso grupo só pode trazer conflito e desagregação. SÉRGIO ECKERMANN PASSOS sepassos@yahoo.com.br
Porto Feliz
Loshermanos O Mercosul já não estava indo bem das pernas, agora, com a entrada da Venezuela, o que será que acontecerá? E com a Bolívia fizemos um novo acordo, aumentando a tarifa do gás. Como vemos, a dupla infernal (Evo e Chávez) faz o que quer do todo-poderoso Lula. Até quando...?
São Paulo
QUINTA-FEIRA, 17 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
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Opinião
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NOTAS A3 NOTAS E E INFORMAÇÕES INFORMAÇÕES A3
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NOTAS & INFORMAÇÕES
Mercosul para Chávez
O
Senado brasileiro aprovou a entrada da Venezuela no Mercosul e, portanto, a subordinação do bloco às ambições e projetos pessoais do caudilho Hugo Chávez. O mesmo erro já foi cometido pelos Parlamentos da Argentina e do Uruguai. Só falta a aprovação do Congresso paraguaio para o caudilho bolivariano ganhar poder de voto e de veto na outrora promissora união aduaneira. “Não estamos fazendo uma avaliação do governo Chávez, porque os governos passam, mas a integração econômica, política e cultural vai ficar”, disse o senador Aloizio Mercadante, líder do PT. Talvez o senador saiba quando terminará o reinado chavista. Nesse caso, sabe mais que os venezuelanos. Para quem não foi premiado com essa iluminação, é uma tolice distinguir a República Bolivariana da Venezuela de seu atual governo, quando se trata de avaliar custos, benefícios e riscos de uma associação diplomática. Tolice de igual calibre é mencionar a importância do comércio entre os dois países para justificar o apoio brasileiro à ampliação do bloco. O comércio entre os dois países cresceu co-
mo resposta a interesses concretos, assim como os investimentos de empresas brasileiras no país vizinho. Segundo o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), autor do relatório final sobre a admissão da Venezuela, a intensificação de relações econômicas com o Brasil decorreu de uma decisão política do governo venezuelano. Essa decisão, afirmou o senador, foi baseada na premissa de inserção do país no Mercosul. “Assim, não aprovando a adesão da Venezuela, estaremos convidando um país vizinho – nosso sexto maior cliente no mundo – a procurar outros parceiros”, concluiu. Essa argumentação carece de fundamento. Em fevereiro de 2005 entrou em vigor o Acordo de Complementação Econômica (ACE-59) entre os países do Mercosul, a Venezuela, o Equador e a Colômbia. Foram incluídos entre seus objetivos a formação de uma área de livre comércio, a integração dos transportes e a cooperação no setor energético. Esse compromisso deveria bastar, no caso de um acordo sério, para os governos tentarem alcançar aquelas metas. Além disso, o go-
Mudanças no aluguel
O
s vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto que muda a Lei do Inquilinato preservam algumas garantias dos locatários, sobretudo de imóveis comerciais, sem reduzir demais as dos proprietários. Embora tenham desagradado a uma parte do empresariado do comércio – que está preocupada com a redução do prazo para a desocupação do imóvel nos casos em que não houver acordo para a renovação do contrato de aluguel –, as mudanças devem estimular o mercado de locação. Elas dão mais garantia aos proprietários e, assim, tendem a aumentar a oferta de imóveis para locação e reduzir o valor dos aluguéis. As mudanças entram em vigor na segunda quinzena de janeiro. O início da vigência 45 dias depois da publicação da lei é consequência de um dos vetos, pois o texto aprovado pelo Congresso previa sua aplicação imediata. Na justificativa desse veto, o presidente argumentou que a vigência imediata de um dispositivo legal só pode ser adotada quando trata de normas de pequena repercussão, o que não é o caso das mudanças nas regras de aluguel de imóveis. Durante a tramitação da matéria no Congresso, foi lembrado que estão em vigor atualmente no País cerca de 7 milhões de contratos de locação. Além disso, há cerca de 3 milhões de imóveis desocupados. Até agora, muitos proprietários têm preferido mantê-los vazios a correr o risco de nada receber pela locação, pois, pelas regras atuais, são frágeis as garantias de que eles dis-
põem para retomar os imóveis nos casos de falta de pagamento ou de desacordo nas renovações contratuais. O ingresso desses imóveis no mercado de locação, além de reduzir o déficit habitacional no País, tenderá a pressionar para baixo o valor dos aluguéis. A lei reduz os prazos para a desocupação dos imóveis, queixou-se o assessor jurídico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Raphael Noschese, e, mesmo com os vetos presidenciais – um dos quais ao dispositivo que determinava o prazo de 15 dias para a devolução do imóvel no caso
Mais garantias podem aumentar a oferta de imóveis para locação de o proprietário receber uma oferta melhor para alugá-lo –, “continuam curtos”. Ao sancionar a lei, o presidente manteve o artigo segundo o qual, nos casos de não renovação do contrato, o juiz determinará a desocupação, com prazo de 30 dias para a saída voluntária do locador. Os representantes do comércio queriam o veto também desse dispositivo, pois o despejo ocorrerá mesmo quando o inquilino tem o direito de recorrer a instâncias superiores. No texto em vigor, o despejo do lojista só será determinado “após trânsito em julgado da sentença”, expressão eliminada pela lei agora sancionada. Outro veto favorece os locatários. O texto aprovado pelo Congresso condicionava qualquer mudança societária do lo-
verno brasileiro escolheu como prioridade a inclusão de um só daqueles parceiros no Mercosul. Serão os outros irrelevantes? Mas há outro detalhe – o mais importante – pouco explorado nos debates parlamentares e raramente valorizado pelos senadores da oposição, contrários à admissão da Venezuela de Chávez. O objetivo central de uma união aduaneira não é a intensificação das trocas entre os sócios. Para isso basta um acordo de livre comércio. Um bom acordo de integração comercial produz muito mais que a mera expansão do intercâmbio. A multiplicação dos investimentos e a formulação de projetos de complementação produtiva são consequências normais e bem conhecidas. Uniões aduaneiras, no entanto, são criadas para fins muito mais ambiciosos. Seus sócios assumem o compromisso de agir em bloco em relação aos de fora: adotam uma tarifa externa comum – a União Europeia foi descrita, durante algum tempo, como uma fortaleza – e negociam conjuntamente acordos comerciais com outros blocos ou parceiros individuais.
A importância do mercado venezuelano poderia justificar um acordo de livre comércio, como aquele em vigor há quase cinco anos, mas não o ingresso da Venezuela no Mercosul. Só se amplia uma união aduaneira quando se tem suficiente segurança quanto à afinidade entre os valores e objetivos dos novos sócios e aqueles do bloco já constituído. Mais de uma vez Hugo Chávez manifestou o desejo de reformar o Mercosul e ajustá-lo a seus padrões. Sua participação, ainda como convidado, na recente reunião de cúpula do bloco, em Montevidéu, mostrou mais uma vez sua disposição de usar o Mercosul como palanque para seus comícios e trincheira para seus conflitos. A admissão de um sócio no Mercosul é especialmente arriscada, porque as decisões dependem de consenso e, portanto, cada sócio tem poder de veto. Assim, as negociações externas ficarão sujeitas ao humor, às antipatias e às ambições de um fanfarrão necessitado, cada vez mais, de inventar inimigos para preservar seu poder. Os senadores oposicionistas discutiram muito a política interna de Chávez. Deram pouca atenção a sua ação externa, a mais perigosa para o Mercosul.
O novo CEP de Guantánamo catário à aprovação prévia do locador. Uma operação de fusão de bancos, por exemplo, dependeria da concordância prévia e explícita dos locadores de todas as suas agências. Para as locações residenciais, as mudanças tendem a beneficiar os dois lados. Elas aumentam as garantias do proprietário e reduzem as incertezas quanto ao recebimento do aluguel. O despejo por falta de pagamento, por exemplo, que hoje demora em média 14 meses, deve levar de 4 a 6 meses com as novas regras. Hoje, no caso de não-pagamento, a comunicação de intenção de pagar o aluguel em atraso evita o despejo. Com a nova regra, o despejo só não ocorrerá se o inquilino pagar o que deve em até 15 dias após a citação. Uma das mudanças que favorecem o inquilino é a redução da multa por rescisão do contrato. Hoje ele é obrigado a pagar a multa integral; com a mudança, a multa será proporcional ao tempo restante do contrato. No caso da separação do casal locatário, ficará responsável pelo contrato o cônjuge que permanecer no imóvel. Mas o grande benefício para locadores e locatários deve ser a dinamização do mercado. Imóveis que hoje, por falta de segurança legal, nada rendem para seus proprietários serão colocados no mercado. E os que estão à procura de imóvel para alugar pagarão menos por ele. Aos que já ocupam imóvel alugado, o benefício chegará no momento da renovação do contrato.
Q
uando o presidente Barack Obama, no dia seguinte à sua posse, em 20 de janeiro, anunciou a decisão de fechar em um ano a infame prisão de Guantánamo, parecia que ele se dera esse prazo para resolver a situação dos cerca de 240 suspeitos de terrorismo então detidos sem julgamento na base militar americana em Cuba. Por ali passaram, entre 2002 e 2008, perto de 800 “combatentes ilegais” – na esdrúxula definição fabricada pelo governo Bush para não ter que considerá-los nem prisioneiros de guerra, o que lhes daria os direitos previstos nas Convenções de Genebra, a começar da proteção contra a tortura, nem presos comuns, o que obrigaria a tratá-los pelas leis penais americanas, com as salvaguardas nelas previstas. Se aquele era, de fato, o seu objetivo, Obama subestimou o emaranhado jurídico e os obstáculos políticos dos quais teria de se desvencilhar para atingi-lo. Mas é provável que o novo presidente, interessado em reconstruir de imediato a imagem de seu país, tenha querido, isso sim, criar um fato de repercussão internacional que demonstrasse que os EUA, conforme prometera ao longo da campanha, virariam a página no campo dos direitos humanos, sistematicamente violados pelo antecessor no combate aos perpetradores do 11 de Setembro e seus aliados. Guantánamo se tornara o símbolo primeiro das enormidades praticadas contra os inimigos reais e presumíveis do país, com a autorização ou a cumplicidade tácita da Casa Branca.
A administração Obama reduziu a 210 a população encarcerada na ilha, com a transferência de 30 presos para outros países. Dez – entre os quais Khalid Sheikh Mohammed, o cabeça dos atentados de 2001 – foram escolhidos para ser julgados por tribunais civis ou pelas comissões militares que Obama desistiu de extinguir. Mas ao longo do ano ficou claro não só que o chamado “centro de detenção” de Guantánamo dificilmente seria desativado na data prometida, o que o presidente acabaria tendo de admitir, como também que dezenas de presos, no
Parece que é a única mudança que Obama conseguirá fazer na situação limbo legal, nem sequer poderiam ir a julgamento. Ou por falta de provas ou por terem sido as suas confissões extraídas sob tortura. Tampouco poderiam ser soltos – onde? – ou devolvidos aos países de origem. Muitos dos 116 suspeitos dos quais as autoridades americanas até querem se livrar não teriam quem os acolhesse. Diante dessa situação kafkiana, o melhor que Obama conseguiu foi anunciar, na terça-feira, a compra de um presídio de segurança “supermáxima” praticamente vazio no interior de Illinois, e transferir para lá, não se sabe quando, um número também indeterminado de presos – talvez uma centena. Isso, segundo o governo, permitiria fechar a cadeia de Guantánamo “em tempo oportuno, de modo seguro e de
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● O que está havendo com nossa ilustre ministra? A Dilminha (sic) parece que ainda está presa ao discurso da política estudantil dos anos 60 e 70. Além do mais, sobra arrogância e faltam coerência, competência, oportunidade, e por aí vai. Dificuldade de concatenar ideias? Que será que ela quer dizer? Qual o recado? A mãe de todos (PAC, Petrobrás, pré-sal, etc., e agora do meio ambiente) estará com sobrecarga? Se não houver um trabalho rápido e eficaz de assessoria, sua candidatura corre sério risco de não colar. Oxalá. ULYSSES FERNANDES NUNES JUNIOR ulyssesfn@terra.com.br
São Paulo
A ministra Dilma Rousseff, ao declarar em Copenhague que o meio ambiente é uma ameaça ao ●
desenvolvimento sustentável, vem confirmar com toda a certeza que não passa de uma papagaia que, mal assessorada, repete um monte de abobrinhas, mostrando assim que nem sabe o que está fazendo na Dinamarca, ou seja, sabe, sim, foi fazer politicagem, ocupar espaço como a grande estadista defensora do meio ambiente no Brasil. Todos sabemos que as estruturas do poder começam a tremer com a pré-candidatura de Marina Silva a presidente e que o governo Lula, salvo raríssimas exceções, nunca priorizou a questão do ambiente, por isso estamos neste caos ambiental em nosso país. Agora que vivemos a era ambiental, será que devemos apostar numa presidente que não entende nada da questão e usa a linguagem do “enroleixon” para
“
Pior do que ser papagaio dos EUA é ser papagaio do déspota bolivariano”
PauloR.Kherlakian paulokherlakian@uol.com.br SãoPaulo
enganar a população mais uma vez? Por que o governo Lula não indicou a senadora para representar o Brasil em Copenhague, se temos uma das maiores autoridades em meio ambiente no mundo, em vez de pagar um mico histórico ao enviar uma despreparada? JÂNIO ALBERTO LIMA, presidente da ONG WW Brasil janiolimapv@yahoo.com.br
Santa Maria (RS)
Imprensalivre “Somos e seremos melhores com plena liberdade de nossa imprensa”, escreve o jornalista Ricardo Gandour em seu corajoso artigo (16/12, A2). Como representante da Associação Brasileira de Imprensa em São Paulo e membro do Conselho Municipal de Educação, manifesto minha solidariedade e também reafirmo que “a liberdade de imprensa deveria ser assunto obrigatório em diversos cursos superiores, não só nas áreas de comunicação social”.
gócios particulares Fernando Sarney, administrador dos bens do clã Sarney, não pode alegar direito de privacidade para se sobrepor ao direito de informação, constitucionalmente garantido. A censura imposta pelo STF ao Estadão é incompreensível e inexplicável, mesmo para os doutores da lei. ARMANDO PODADERA
Osasco ● Tentando esclarecer o inexplicável: STF = Sarney Tem Força. CLAUDIO JUCHEM
RODOLFO KONDER
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São Paulo
São Paulo
Censura,139dias A toga tungou o direito de a imprensa informar. O gestor de ne-
acordo com a lei”. Falta a Casa Branca combinar com o Capitólio, apesar da sua maioria nominal nas duas Casas. O Congresso proibiu que se trouxessem para solo americano detentos da base que não tenham sido processados. E dezenas deles permanecerão presos indefinidamente sem processo. Eles são considerados perigosos demais para merecer a liberdade, ainda que no exterior, assim como são frágeis demais as evidências contra eles – do contrário iriam a juízo. De sua parte, a minoria republicana fará o que puder para obstruir qualquer mudança nessa legislação ou bloquear os recursos necessários à realocação dos detentos. A oposição ameaça não autorizar nem “um centavo” para o que considera “um risco desnecessário para o povo americano”. Por motivos diametralmente opostos, as organizações de defesa dos direitos humanos também condenam a iniciativa de Obama. “Os detentos que forem transferidos não são acusados de crime algum”, observa o diretor da Anistia Internacional nos Estados Unidos, Tom Parker. “Em sete anos, o governo, incluindo a CIA e o FBI, não produziu uma única prova que permita levá-los a um tribunal.” Em 2005, a entidade declarou Guantánamo um “Gulag ocidental”, numa alusão aos campos de prisioneiros da antiga União Soviética. A incapacidade de Obama de desmontar a bomba-relógio que herdou de Bush parece justificar o comentário cáustico de Parker, para quem “a única coisa que o presidente anunciou que vai fazer é mudar o código de endereçamento postal (CEP) de Guantánamo”.
Boas-festas O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de ABMES, Agência Ve-
ro Comunicação Corporativa, Alexandru Solomon, André Luiz Mazzaropi, Andréa Sgarro, Assessoria de Imprensa Ibmec-MG, Associação Médica Brasileira, Associação Paulista de Medicina, Barioni & Carvalho Advogados, Beto Richa, Bruno Oel, Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Daniela Capuano, Danielly Dometilia – Atento Brasil, David Neto, deputado José Bittencourt, Dilson Rocha Melo, Delcio – Din Din Cred, Domingos Altobello Neto, Ecourbis, Equipe da Accesso, Equipe da GWA Comunicação, Equipe da Provitec – Sistemas de Controle e Dosagem, Equipe da SP4 Comunicação Corporativa, Escola Focus, Everardo Maciel, Fernando Marrey Ferreira, Francisco de Figueiredo Corrêa, Fraterno Maria Nunes e Lody Brais.
QUINTA-FEIRA, 17 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A9 A9
MÍDIA
DIDA SAMPAIO/AE
Confecomretoma ConselhoNacional deJornalismo Projeto da Fenaj já foi rechaçado no início da gestão Lula, por temor de controle do governo sobre o setor João Domingos BRASÍLIA
A1ªConferênciaNacionaldeComunicação(Confecom),queterminahoje, ressuscitoua propostadecriaçãodoConselhoNacionaldeJornalismo(CNJ).AFederação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) havia tentado aprovar o conselho durante o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas a proposta foi rechaçada sob o argumento de que era uma forma de o Estado controlar os meios de comunicação. Anova propostacontinuaráa sercorporativa,masmenospolítica. Não deverá incluir, por exemplo, a parte em que atribui aoCNJafunçãodeórgãofiscalizador e regulamentador do jornalismo. De acordo com Celso Schröder, vice-presidente da Fenaj, deverá constar no novo texto que o CNJ será o fiscalizador do trabalho do jornalista. “É comooConselhoFederaldeMedicina, que é corporativo, mas também tem uma natureza mais ampla, porque serve à sociedade e pune os maus médicos”, compara.
to-leidaditaduramilitar,odiploma foi derrubado pelo STF. Hojeaindahaveráplenáriapara a votação de propostas. Já as
teses que obtiveram 80% de aprovação nos grupos de trabalho seguiram direto para o livro final dos documentos. ●
GRUPO DE TRABALHO – Aliança de governo, empresários, centrais e ONGs tirou do foco tese de controle social
INVESTIGAÇÃO
CNJ tranca procedimento disciplinar contra juiz O Conselho Nacional de Justiça(CNJ), por maioria, decidiu ontem trancar procedimento administrativo disciplinar aberto pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) contra o juiz federal Ali Mazloum. O plenário do CNJ julgou procedenteopedidoparaarquivamento da apuração – o juiz respondia ao processo por ter concedido habeas corpus a um médico, em 13 de setembrode 2002, após as 19 horas, fora do horário normal de funcionamento do fórum federal. A medida provocou adiamento do julgamento do médico pelo Conselho RegionaldeMedicina,marcadopara a manhã seguinte. Na sessão do CNJ venceu o argumento do conselheiro Ives Gandra, de que não havia gravidade no ato praticado por Mazloum que justificasse a apuração do tribunal. Por causa do habeas corpus,oTRF3instaurou procedimento disciplinar por “violação de competência”, propondo que o juiz fosse condenadoàpenaderemoçãocompulsória.Inconformado,Mazloum recorreu ao CNJ alegando que a punição feria a Lei Orgânica da Magistratura e a Resolução 30 do conselho, quecontém regras sobre os procedimentos administrativos disciplinares aplicáveis aos magistrados. Em junho deste ano, o plenário do CNJ já havia concedido liminar suspendendo temporariamente a investigação no TRF3. “Fico muito contente”, declarou Mazloum. “Justiça foi feita depois de infindáveis ataques à minha honra e graves prejuízos à minha carreira. O CNJ mais uma vez demonstrouequilíbrio e altivez, mostrando a que veio ao exigir respeito às garantias da magistratura.” ●
CONSTITUIÇÃO
A aliança entre governo, Central Única dos Trabalhadores, Força Sindical, ONGs, como o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, e um grupo de empresários do setor de radiodifusão (Bandeirantes e RedeTV) e das telefônicas, conseguiu tirar do foco o controle social da mídia, uma bandeira dos grupos mais radicais. Esse setor majoritário resolveucentrarsuastesesnaregulamentação dos artigos da Constituição que tratam dos meios de comunicação. A ideia central é propor a regulamentação do artigo 220 na parte que trata da proibição de monopólios e oligopólios nos meios de comunicação e no que se refere à fiscalização do conteúdo da programação das empresas. A conferência quer ainda maior vigilância sobre programas jornalísticos que exploram crimes e expõem pessoas a situações vexatórias, além daqueles que mostram violência, tráfico de drogas e exploração de menores.
Também deverá ser proposta a recriação da Lei de Imprensa AConfecom defende a regulamentaçãodoartigo221daConstituição, exigindo das emissoras de radiodifusão preferência a produções com finalidades educativas,culturais e informativas. O artigo diz que as emissoras devem promover a cultura nacionaleregionaleestimularaprodução independente. O porcentual defendido para as produções independentes deve ser de 5%. A publicidadepoderáterdeselimitar a 25% na programação. “Uma vez regulamentada a Constituição, caberá aos órgãos fiscalizadorescuidardocumprimento da lei. Não queremos fiscalizar o conteúdo. Não queremos exercer nenhum controle socialsobreosmeios decomunicação”, disse Ottoni Fernandes Júnior, secretário executivo da Secretaria da Comunicação do Governo (Secom). Também deve ser proposta recriação da Lei de Imprensa, derrubada pelo STF. Como hoje há lacuna sobre o direito de resposta,participantesdaconferência decidiram que esta será ser uma das primeiras reivindicações que levarão ao Congresso. Mas a proposta mais aplaudida foi a da exigência do diploma de jornalismo para o exercício daprofissão. Frutodeumdecre-
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 139 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
STJ derruba indenização baseada na Lei de Imprensa Em outro caso, tribunal manteve punição a emissora de TV acusada de veicular notícia falsa Mariângela Gallucci BRASÍLIA
Oito meses após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter derrubado a Lei de Imprensa, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou anteontem dois recursos emqueeradiscutidoousodessa norma em condenações impostas a veículos de comunicação. No primeiro caso, um ex-administrador da Santa Casa de Juiz de Fora (MG) tinha obtido na primeira instância o direito de receber indenização de R$ 20mil de um jornal. Naação original, ele contestou reportagem em que era apontado como suspeitodeenvolvimento emir-
regularidades na administração da instituição. O jornal foi condenado a pagar a indenização e a publicar a sentença. O veículo recorreu ao tribunal em Minas e conseguiu se livrar da obrigação de publicar a sentença. Com base em um artigo da Lei de Imprensa, o ex-administrador da Santa Casa recorreu ao STJ, que rejeitou o recurso porque o STF revogou a lei. No outro caso analisado pelo tribunal,umaTVdoMato Grossofoicondenada apagarindenizaçãodeR$30milpor terveiculado notícia supostamente falsa sobreumapessoaqueseriaprocurada por suspeita de envolvimento em assassinatos. A TV
alegou que teria se retratado no dia seguinte à veiculação da notícia.Masaindenizaçãofoimantida. Uma decisão judicial baseada na Lei de Imprensa já foi derrubada em caráter liminar no Supremo. O ministro Carlos Ayres Britto concedeu liminar à Editora Abril para que não tivesse de pagar R$ 150 mil ao exsecretário da Presidência Eduardo Jorge e publicar a sentença na revista Veja. Apesar de decisões como essas, o tribunal manteve, na semana passada, a censura ao Estado, imposta pelo desembargadorDácio Vieira,do Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
O ministro do STF Eros Grau, que votou pelo arquivamento da reclamação do jornal contra a proibição, afirmou não haver censura no caso, somente uma decisão judicial. “O juiz está limitado pela lei. O censor não está limitado por lei alguma. Aí não há censura. Há aplicação da lei. Aqui não estamos falando em censura. Estamos falando na aplicação da Constituição pelo Poder Judiciário”, afirmou o ministro durante o julgamento. Os ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Ellen Gracie, José Antonio DiasToffolieRicardoLewandowski também votaram contra o recurso do jornal. ●
SIP pede que corte reconsidere decisão A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) pediu anteontem ao STF que reconsidere a decisão que mantém a censura sobre investigações jornalísticas que poderiam revelar irregularidades sobre o Senado brasileiro. Em comunicado, a instituição ressalta que “a transparência e a divulgação de informações de interesse público são essenciais para fortalecer a liberdade de imprensa e a democracia”. ●
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● Edição de
0h30
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Mineiro diz que sua costura de alianças ficou comprometida pela demora da definição tucana RODRIGO CLEMENTE/O TEMPO
Mercado tenso faz dólar ter maior alta em seis meses OFICIAL – Aécio Neves anuncia no Palácio da Liberdade, ao lado do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, a desistência da candidatura
ANÁLISES
Dora Kramer
João Bosco Rabello
Roteiro original
Um vice com mais poder?
● ● ● O anúncio da “desistência” de Aécio Neves torna desnecessário o ritual da escolha:
AJustiçaaceitouontem adenúncia do Ministério Público contra os quatro fraudadores da prova do Enem. Eles só não devem ser processadosporpeculato (furtopraticado por servidor público). As demais acusações no caso foram aceitas. ● PÁG. A29
7 8 9 10 11 12
José Serra é o candidato. Desta vez, o PSDB cumpre o roteiro original. ● PÁG. A8
● ● ● Aécio sai forte do páreo e pode negociar sua presença numa chapa com Serra, de forma
a não ser um vice decorativo. Decisivo, ele pode ser um vice com mais poder. ● PÁG. A7
O Fed (banco central dos EUA) sinalizou que pode subir juros antes do previsto, o que criou clima de aversão ao risco e fez o dólar disparar ontem. A moeda americana subiu 2,29%, a maior valorização em seis meses, e fechou a R$ 1,79, a maior cotação desde setembro. A Bovespa teve queda de 2,27%. ● PÁG. B17
Conferência do Clima acaba hoje sob risco de fracasso
LITORAL DE SP: ESGOTO NO MAR
Itália
Berlusconi pede ‘calma’ na política ●● O premiê, que foi agre-
dido domingo, fez o apelo ao receber alta. ● PÁG. A20
GIUSEPPE CACACE/AFP
A Conferência do Clima chega ao fim hoje com a perspectiva de fracasso. Negociações intensas entre os 193 países participantestentavam superarosimpasses e impedir que a adoção de um novo protocolo climático seja adiada por pelo menos seis meses. ● PÁGS. A23 e A24
Chuvas em SP
Justiçaaceita denúnciano casodafraude doEnem
A Receita adotou medida de exceçãoparafiscalizar pessoasjurídicas devedoras de tributos. A partir de janeiro, as empresasapontadaspelaáreadefiscalizaçãocomo inadimplentessistemáticas poderão ter de conviver diariamente com um fiscal dentrodoestabelecimento,controlando ocaixa e a movimentação financeira. Além disso, as empresas sujeitas ao regime terão reduzido à metade o prazo para pagar os tributos. ● PÁG. B1
“Estão vindo algumas maldades por aí. Aos poucos, vocês vão ver”
Supremo mantém o garoto S. no Brasil O Supremo Tribunal Federal suspendeu ontem decisão da Justiça do Rio que determinavaa entregado garoto S., de 9 anos, aopai biológico, o americano David Goldman. “Foi uma covardia”, reagiu Goldman, após desembarcar no Rio. ● PÁG. C5
Receita põe fiscal dentro de empresas devedoras
Marcos Neder Subsecretário da Receita
Mortos chegam a 29 em dezembro ●● Temporal de anteontem fez 6 vítimas. Entre elas, uma criança. ● PÁG. C7
CADERNO 2
REGINALDO PUPO/AE
“Devemos estar preparados para responder ao discurso que tenta dividir o País ao meio”
DIRETOR:
RUY MESQUITA
FRASE
FRASE
Aécio Neves Governador de Minas
(1891-1927)
18 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42430
Aécio sai da disputa e abre espaço para chapa com Serra O governador de Minas, Aécio Neves, anunciou que desistiudacandidaturaà Presidência pelo PSDB. A decisão deixa o governador de São Paulo, José Serra, como úniconometucano paraa disputa.Pressionadoaaceitaravaga de vice de Serra, Aécio não disse o que fará nas eleições.Omineirochegouaconvidar o paulista para participar de seu pronunciamento, mas Serra declinou, alegando compromissos. No texto que leu, Aécio disse que sua intenção eraobter “um perfil maisamplo”dealiançasedeixou claro que a decisão de Serra de só se definir sobre a candidaturaemmarçominaria esse esforço. Ele advertiu ainda que o partido deve evitar o “confronto plebiscitário”, em alusão à estratégia petista de opor o presidente Lula ao ex-presidente FHC. Emnota,Serradissequeconcorda com Aécio e afirmou: “Não somos semeadores da discórdia”. ● PÁG. A4 a A8
JULIO MESQUITA
●●● Crianças brincam em córrego poluído na Praia do Saco da Capela, em Ilhabela: pelo
menos metade do esgoto – ou 1,5 mil litros por segundo – produzido nas 13 cidades do lito-
ral paulista é despejada sem tratamento no mar e no lençol freático. ● PÁG. C4
Paixão e tragédia Em Partir, que estreia hoje, a história de um intenso caso de amor. ●
●●
Guia
●● Atrações para as férias
das crianças.
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NOTAS E INFORMAÇÕES
A exumação de uma ameaça A Fenaj exumou a sua nefasta iniciativa de criar o Conselho Nacional de Jornalismo. ● PÁG. A3
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Hoje: 208 páginas A. 1º caderno: 30+8 ● B. Economia: 24 ● C. Metrópole: 14 ● D. Caderno2: 16 ● Guia: 100 ● E. Esportes: 4 ● Cc. Construção: 4 ● Cl. Classificados: 8
Tempo: CAPITAL
24º
● PÁG. C2
19º
MÁX. MÍN. Tempo chuvoso. Temperatura cai no sul e no leste do Estado.
(154 anúncios)
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 140 DIAS q PÁG. A13
Relatório cita 36 panes iguais à do voo da Air France Entre 12 de novembro de 2003 e 7 de agosto deste ano, houve 36 incidentes em aviões da Airbus envolvendo os sensores de velocidade(sondas Pitot). A conclusão é do órgão francês que apuraatragédiadovoo447(Rio-Paris) da Air France, que deixou 228 mortos em junho. ● PÁG. C1
A2 ESPAÇO ABERTO
SEXTA-FEIRA, 18 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 - falecom.estado@grupoestado.com.br
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Clima e ambiente no centro de tudo
Presente político versus futuro ambiental
WashingtonNovaes
MarioCesar Flores
No momento em que este texto é escrito, na manhã de quartafeira, em Copenhague, as negociações na reunião da Convenção do Clima continuam muito difíceis – tanto que se decidiu prorrogar até a noite de quintafeira, provavelmente madrugada de sexta-feira, o texto que será submetido aos chefes de Estado, muitos deles aqui presentes, entre eles o presidente Lula. Embora diplomatas sempre digam que as negociações continuam avançando, na prática há obstáculos enormes no caminho de um consenso (e aqui tudo precisa de consenso para ser aprovado) sobre metas de redução de emissão de gases do efeito estufa para mais de 190 países; sobre recursos financeiros dos países desenvolvidos aos demais para essa diminuição; sobre a prorrogação do Protocolo de Kyoto, com metas obrigatórias de redução para os países desenvolvidos (e, por tabela, com regras para nova etapa do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que permite a uma empresa de país desenvolvido financiar em outros
Esses são temas que estarão no palco da campanha eleitoral de 2010 países projetos que reduzam as emissões e descontar essa redução das suas próprias emissões – o que forma o chamado mercado de carbono). Também estão complicadas as negociações sobre um fundo para combater o desmatamento (Redd): os financiamentos serão no nível nacional (governos doadores para governos receptores)? Ou poderão ser diretamente no nível subnacional (para governos estaduais), como desejam EUA e Colômbia? Ou poderá haver repasse dos governos nacionais para outros níveis? Em que condições? Não é segredo – e o próprio secretário-geral da convenção, Yvo de Boer, já o admitiu em público – que se chegue aqui apenas a uma declaração conjunta que, depois de enumerar avanços e compromissos concretos já atingidos, crie um novo mandato que permita estender as negociações para 2010 (o atual mandato, aprovado em Bali, em 2007, encerra-se aqui). Mas, como se mencionou neste espaço na semana passada (11/8), as alternativas são difíceis. No primeiro semestre, por causa da Copa do Mundo na África; no segundo, porque teria de ser na próxima reunião da convenção, em dezembro, no México – o que poderia criar uma visão de fracasso para esta COP 15. Já há diplomatas, inclusive brasileiros, cogitando de uma prorrogação dessa reu-
nião para maio de 2010. Enquanto isso, fica claro nesta reunião que o tema das mudanças climáticas e toda a chamada questão ambiental estão ganhando um novo status. E esse “upgrade” se explica por vários motivos: 1) A gravidade dos chamados eventos climáticos extremos que já estão acontecendo no mundo e no Brasil e a perspectiva de agravamento se não se reduzirem fortemente as emissões, enfatizada aqui pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, que menciona a concordância de mais de 90 mil cientistas no mundo com seus diagnósticos; 2) o extraordinário potencial brasileiro, que fascina o mundo, com possibilidade de matriz energética renovável e limpa, a maior biodiversidade do planeta e a presença de florestas em seu território continental, recursos hídricos invejáveis – tudo com que o mundo sonha. O fato de o governo federal haver adotado metas de redução de emissões, ainda que apenas voluntárias, e não como compromisso no âmbito da convenção, também contribui para a imagem do País na opinião pública mundial. Mas não se pode deixar passar em branco que a presença em Copenhague de três possíveis candidatos à sucessão presidencial – a ministra Dilma Rousseff, comandando a delegação brasileira e se expondo diariamente ao bombardeio dos jornalistas; o governador José Serra, promovendo eventos com figuras como o governador da Califórnia, falando da política de seu governo de redução de emissões em seu Estado e assinando acordo de financiamento com BID e Banco Mundial; e a ex-ministra e senadora Marina Silva, desembaraçada das contingências ministeriais e assumindo um discurso mais duro – contribui muito para o “upgrade” no plano interno das questões climática e ambiental. Elas serão um dos temas centrais da próxima campanha presidencial. E ainda há mais. É muito forte a presença de governadores, parlamentares e empresários em Copenhague, estes últimos tanto na qualidade de dirigentes de suas instituições como em caráter em pessoal – nas áreas da agropecuária, da construção, da indústria, do comércio, da energia, de setores especializados no Estufa mercado de car-
bono. E todos os dias há discussões paralelas. Como, por exemplo, sobre emissões da agropecuária brasileira, que já chegaram a mais de 1 bilhão de toneladas anuais equivalentes de dióxido de carbono em 2003 e baixaram para 869 milhões em 2008. Também nessas discussões se mencionou que 1 quilo de carne industrializada pode gerar até 300 quilos de carbono emitido. Mas os empresários parecem estar atentos, alguns deles mencionando a possibilidade de reduzir o rebanho até pela metade, com técnicas de confinamento que permitam baixar o tempo para o abate e aumentar o rendimento. Ou mudando a alimentação para reduzir as emissões de metano pelo gado. Também se discute ser imprescindível adotar sistemas de rastreabilidade para a carne exportável – fortemente recusados em algumas áreas – como condição para recuperar mercados, como o europeu, perdido também pela falta dessa rastreabilidade. Enfim, não é temerário afirmar que o Brasil não será o mesmo após esta reunião, qualquer que seja o desfecho das negociações. Mudanças climáticas e meio ambiente tenderão a deslocar-se para o centro do palco, principalmente na campanha eleitoral pela Presidência da República de 2010. Que terá ainda, contribuindo na mesma direção, as prováveis novas negociações na convenção e as eleições para o Congresso dos EUA, do qual dependem a aprovação da política do clima proposta pelo presidente Barack Obama e a aprovação de qualquer financiamento para reduzir emissões em outros países. Já não é sem tempo. ● Washington Novaes é jornalista E-mail: wlrnovaes@uol.com.br
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Dequatro A Conferência Nacional de Comunicação aprovou ontem proposta que prevê a implantação de mecanismos de fiscalização com controle social da atuação das emissoras de rádio e televisão. Além do controle social, já foram aprovadas propostas para a criação de um Conselho Nacional de Jornalismo. Apavorante é que não existe ninguém, em lugar algum do poder público no Brasil, com dignidade e competência para anular o que preconiza essa proposta – e quem tem dignidade não aceita tutela de controle social, que só se concebe numa sociedade de fantoches, comodamente de quatro para liberticidas.
Censura,140dias Em meu nome e em nome do Movimento Nossa São Paulo, gostaria de expressar o nosso repúdio à censura que foi imposta ao jornal O Estado de S. Paulo por aqueles que não têm um real compromisso com a democracia, a justiça e a ética. Este cerceamento à liberdade de informação, este afrontamento à própria Constituição brasileira, não deve desanimar, mas, ao contrário, reforçar o empenho de todos os que se dedicam à construção de um Brasil cada vez mais democrático, com menos corrupção e mais justiça social.
MOACYR CASTRO
ODED GRAJEW
jequitis@uol.com.br
São Paulo
Ribeirão Preto
A declaração atribuída à exministra Marina Silva de que “a sociedade precisa exigir urgência” (Estado, 29/11), referida à questão ambiental, sugere uma dúvida: a urgência a ser exigida teria motivação homogênea? Vivemos num mundo em parte desenvolvido, rico e consumista e, em grande parte, em desenvolvimento ou subdesenvolvido e pobre. Essa grande parte aspira à ascensão ao consumismo, identificado como símbolo de cidadania pela propaganda que o sustenta. Ascensão praticamente inviável sem danos ao meio ambiente: as demandas de 7 bilhões de habitantes – e crescendo a 10 bilhões em alguns decênios mais –, dramaticamente críticas as de alimentação e energia, comprometem necessariamente a natureza. Muito ou pouco, em consonância com o maior ou menor cuidado humano, mas comprometem. Medidas disciplinadoras e inovações tecnológicas podem moderar o ritmo do comprometimento, mas não o eliminam. Voltando à frase atribuída à ex-ministra: a grande parte da população global pretendente à ascensão socioeconômica prefere urgência para a melhora de sua vida ou urgência para as medidas redutoras dos danos ao meio ambiente? Prefere urgência para menos carros, menos DVDs e TVs, menos empregos, menos consumo de energia, menos degradação ambiental e menos poluição, ou prefere urgência para a melhora de vida a curto prazo, na contramão de tudo isso? Manifestações como as de Copenhague não refletem o anseio da humanidade completa: embora à sombra da retórica ambientalista, grande parte dela hierarquiza compreensi-
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Não há palavras que traduzam o sentimento do povo em geral com relação à censura ao Estadão. Sem palavras! Imprensa livre? Quando? Como? ●
MARIA DE MELLO nina.7mello@uol.com.br
São Paulo
Muito claro o artigo Os juízes vão editar os jornais? (17/12, A2), de Eugênio Bucci, revelando conhecimento de causa. Todos os argumentos estão ali, mostrando que o juridiquês do STF usado em excesso pode conduzir a uma decisão sem lógica ou bom senso, contrariando a Constituição federal na questão da censura à imprensa. Apesar de o próprio Supremo ter acabado com quais●
velmente suas necessidades presentes – reais (alimentação, por exemplo) ou criadas pela paroxística propaganda da economia moderna – acima da ameaça ambiental de maior prazo. A respeito das manifestações cabe aqui uma observação instigante: elas são praticadas por pessoas em confortável nível de bem-estar no paradigma consumista, que não teria como se sustentar caso a contenção do descalabro por elas preconizado viesse a ser “para valer”...! Estariam aqueles manifestantes sinceramente propensos a abdicar de seu padrão de vida, alcançado no modelo que retoricamente condenam? Soam mal as posições peremptórias do tipo “os ricos têm que...” Afinal, estamos todos no mesmo barco, sob ameaça do mesmo temporal, que já vem soprando ventos preocupantes. E soa mal a vociferação da culpa alheia como justificativa de erros próprios – algo assim como justificar a destruição da selva amazônica porque a Europa destruiu a “floresta negra”. É justo que o preço dos rumos redutores da ameaça – preço do corte da emissão de gases, da inovação tecnológica e outros – recaia em maior proporção nos países desenvolvidos e ricos, porque estará incidindo sobre um padrão de vida mais alto, mas isso não significa orgia livre para os pobres ou remediados, o Brasil entre eles. Há nesse imbróglio – o que fazer/qual o sacrifício, quem deve pagar – um detalhe imperativo e complexo, curiosamente omitido da discussão: a interveniência crítica da política democrática no processo. Sempre careceu de fundamento realista a expectativa de que tudo se resolveria com a chegada a Copenhague dos presidentes e chefes de governo: se líderes de democracias, poderiam eles acordar benevolamente medidas corretivas de descalabros ambientais que repercutissem no (des)emprego, nos anseios e no bem-estar imediato dos seus poLOREDANO vos? Suas decisões poderiam ser indiferentes ao sistema homologatório inerente à democracia, às eleições? Estariam eles e suas correntes políticas propensos a aceitar perder a próxima eleição, em proveito da defesa de um futuro ambiental em que já serão página virada, na política? É improvável: a lógica e a dinâmica da democracia não corro-
boram essa hipótese. Por judiciosos que sejam os políticos – o que não é regra geral –, na política democrática a pressão da conveniência imediata do eleitor que vota hoje tende a prevalecer sobre o interesse virtual do eleitor que ainda não nasceu, sobre a ideia de ameaça ao mundo natural e à civilização que nele construímos – ameaça de fato amedrontadora, a ser concretizada ao longo de um futuro talvez não longínquo, mas posterior à próxima eleição... As manifestações ao estilo Copenhague não significam aval eleitoral ao sacrifício. Havia nelas destituídos e pretendentes à ascensão, de inexorável custo ambiental, maciçamente influentes no mercado eleitoral do mundo subdesenvolvido e em desenvolvimento? A ameaça ambiental merece atenção e cuidado, mas no fundo ela não entusiasma decisivamente quem luta agora para sobreviver, quem pretende ascender agora no modelo socioeconômico que criamos, caracterizado pelo consumismo comprometedor da natureza! Ou quem
Como resolver essa equação com justiça e democracia? simplesmente vive muito bem nele e assim quer continuar, embora esbravejando hipocritamente cuidados ambientais que, se levados a cabo, implicariam moderação de seu padrão de vida. Enfim: poucos, se tanto, discordam da existência do macroproblema ambiental, e já existe realmente razoável consenso global quanto à necessidade de contenção do descalabro em curso, mas o consenso ocorre no diagnóstico, não chega à medicação, cujos custos caberiam sempre aos outros... Na hora do pagamento prepondera o interesse imediato, que se reflete no campo político-eleitoral. Esta é a realidade política: a sustentabilidade sadia da natureza e com ela a do futuro de maior prazo da humanidade compele a alguma provação hoje, que, por sua vez, induz turbulência política no curto prazo: no mundo democrático, impor privação ao povo, por mais que a lógica e a sensatez a recomendem, significa risco político-eleitoral. Daí a tendência a “empurrar” o preço para os outros: estar-se-á assim simultaneamente salvando o mundo ambiental e, em casa, não comprometendo a próxima eleição... Resolver a equação do presente político x futuro ambiental, com justiça e democracia, é um desafio que vivemos hoje. ● Mario Cesar Flores é almirante de esquadra (reformado)
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ReceitaFederal ingrata
Gásboliviano Papai Noel chegou mais cedo à Bolívia, graças ao presidente Lula, pelo pagamento adicional de US$ 1,2 bilhão pelo gás boliviano.
EDENILSON MEIRA
Creio que, se a Receita acerta em punir, mas punir de verdade, empresas e milionários que sonegam a olhos vistos, por que também não para de “sacanear” o contribuinte, tomando duas providências honestas? A primeira, reajustar as faixas da Tabela do Imposto de Renda, que estão defasadas em, no mínimo, 35%. A segunda, autorizar a atualização dos valores de nossos bens imóveis, o que reclamamos desde a época de FHC. Portanto, que seja dura com o sonegador, mas, em compensação, adote tabelas e correções justas para não pesar demais no bolso do contribuinte honesto, principalmente o assalariado.
merojudas@uol.com.br
LAÉRCIO ZANINI
Itapetininga
arsene@uol.com.br
quer restrições ao conteúdo jornalístico, não faz muito tempo. ROBERTO MUYLAERT bobmuy@uol.com.br
São Paulo
Segundo especialistas, o STF não vem cumprindo suas próprias decisões, quando um ou mais ministros, por discordâncias internas, simplesmente desprezam as decisões antes existentes, causando incerteza e insegurança jurídica, a exemplo do caso da censura ao Estadão. Isto posto, o que esperar um cidadão quando aguarda uma decisão final e o cumprimento da lei? ●
São Paulo
ALOISIO PEDRO NOVELLI celnovelli@teraa.com.br
Marília ● John Foster Dulles, secretário de Estado dos EUA, na década de 50, dizia que “nações não têm amigos, têm interesses”. A doutrina Lula inverteu o mote: o Brasil tem “muy amigos”, como Evo Morales, que já deu um pontapé na Petrobrás com a apropriação de suas instalações na Bolívia, e agora o premia com mais US$ 1,2 bilhão no reajuste do contrato de fornecimento de gás da estatal YPFB. Onde estão os nossos interesses, no saco sem fundo do
SEXTA-FEIRA, 18 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 140 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Tutela à imprensa causa perplexidade entre juristas Para Oscar Vilhena, tese do STF da censura prévia ‘fere a Constituição’ Moacir Assunção
A vitória no Supremo Tribunal Federal (STF), durante o julgamento do recurso do Estado contra a censura imposta pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal(TJ-DF),da tesesegundo a qual o Judiciário poderia tutelar a imprensa e impor a censura prévia, tem causado forte repercussão no meio jurídico. O professor de direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e diretor da ONG Conectas, voltada à defesa dos direitos humanos, Oscar Vilhena, e o
presidentedacomissãodedireito constitucional da OAB-SP, AntonioCarlosRibeirodoAmaral, rechaçaram a ideia, criticada também no voto vencido do decano do STF, ministro Celso de Mello, para quem “o poder geral da cautela é o novo nome da censura em nosso País”. Na visão de Vilhena, a tese “fere brutalmente a Constituição”. Houve um enorme equívoco, para o professor, na formulação desta ideia. “O voto do STF consolidou uma tendência muitoruimquetem ocorridonacorte suprema, a de que deve haver
uma ponderação do Judiciário entre liberdade de expressão e direito à privacidade”, afirmou. Vilhena lembrou que a própria Constituição de 1988 fez esta ponderação,aoestipularaliberdade absoluta dos meios de comunicação, também com total responsabilidade. “A Carta Magna diz que o discurso não é passível de censura prévia, mas estabeleceu omecanismode reparação após a publicação de eventual texto que não reflita a realidade”. A escolha feita pelos constituintes de 1988, de acordo com
FRASE
Antonio C. R. do Amaral Pres. da comissão de direito constitucional da OAB “Este é um caso sui generis em que, passado quase meio ano da decisão monocrática de um juiz – o desembargador Dácio Vieira, notadamente ligado à família Sarney – ninguém discutiu o mérito. O TJ-DF se declarou incompetente na questão e o STF disse que não era com ele. Sendo assim, a quem o jornal pode apelar?”
JUDICIÁRIO
Criminalistas enxergam aplicação indevida do segredo de Justiça Advogados criminalistas protestam contra “setores da polícia e da Justiça” que, segundo eles,serecusam a permitirà defesa acesso aos autos que tratamde crimesfinanceiros,lavagemdedinheiroeevasãodedivisas. Segundo os advogados, defensores de alvos de polêmicas operações policiais, são inúmeros os casos em que lhes é vetada a consulta a inquéritos e a processos sob o argumento do segredo de Justiça e da preservação da investigação. Para eles, há “uma clara afronta” à
Súmula 14, do Supremo TribunalFederal,quefranqueiaosautos à defesa. Antonio Claudio Mariz de Oliveira, com quase meio século de vida nos tribunais, assevera que nos tempos da ditadura os advogados iam às auditorias militares munidos de procuração e podiam consultar os autos. “Hoje, os obstáculos são colocados por autoridades, quer da polícia quer do Judiciário”, afirma. “O advogado encontra mais dificuldades para exercer a profissão do que em épocas
NACIONAL NACIONAL A13 A13
em que não vigia o pleno Estado de Direito.” “A regra do processo penal é a publicidade dos atos, salvo a tutela da privacidade do próprio investigado”, observa Antônio Sérgio de Moraes Pitombo. “Impedir a defesa de conhecer a investigação e de requerer provas relevantes e pertinentes é uma ilegalidade, prática de regime totalitário.” O advogado Celso Vilardi afirma que “alguns setores têm procurado estabelecer debate pela mídia, provocando vaza-
mentos de dados sigilosos”. O presidente da Associação dos Juízes Federais em São Paulo, Ricardo de Castro Nascimento, avalia que “há necessidade de se alcançar um ponto de equilíbrio paraque segarantaa eficiência da ação policial e, ao mesmo tempo, se preservem os direitos fundamentais do investigado”. “É importante o aprimoramento das relações, mas a solução não é simples, por causa das peculiaridades de cada caso”, diz Nascimento. “Os autos, às vezes, não estão com o juiz, mas com o Ministério Público. Tem juiz que faz cópia para assegurar vista ao advogado.” ● FAUSTO MACEDO
o jurista, está dentro da lógica de privilegiar o princípio democrático, correndo os riscos que esta decisão comporta, em vez de se estabelecer a tutela judicial sobre a imprensa. Para Amaral, há outros problemas tão graves quanto estes na decisão do STF. “Este é um casosuigeneris emque, passado quase meio ano da decisão monocrática de um juiz – o desembargador Dácio Vieira, notadamente ligado à família Sarney – ninguém discutiu o mérito. O TJ-DFsedeclarouincompetente na questão e o STF disse que não era com ele. Sendo assim, a quem o jornal pode apelar?”, questiona. Segundo o presidente da comissão de direito constitucional, o caso do Estado será levadoa debate na OABporque causa perplexidade entre os juristas. “O caso trata de liberdade de imprensa e de opinião, um princípio constitucional. Isso é muito mais do que o direito de o jornalpublicaralgo,masodireito do cidadão de ter acesso a informações que vão formar seu
juízo crítico, em vez disso, o tribunal foi ao tecnicismo da questão processual”, disse. De acordo com ele, passados 140 dias da concessão da liminar, não houve a discussão do mérito. CONFUSÃO
Alémdisso,relembraoconstitucionalista,nãodeveriahaverdúvida, no caso concreto, em algum suposto confronto entre liberdade de expressão e o direito à privacidade. “As matérias do Estado não tratam do cidadão comum Fernando Sarney, masde negociação de cargos no Senado, um órgão público. O princípio da intimidade não pode servir de escudo para a malversação de recursos públicos”, afirmou o especialista. Desde 31 de julho, o Estado estáproibido de publicarreportagens sobre o Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou e indiciou por vários crimes o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP). O jornal prepara recurso contra a medida. ●
● Edição de
1h30
o estado de s. paulo SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
19 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42431
JONNE RORIZ/AE
CESAR CIELO: RECORDE MUNDIAL NOS 50 METROS LIVRE
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O nadador Cesar Cielo comemora o recorde, de 20s91, na final de torneio em São Paulo: ‘A concorrência que fique com medo porque depois dessa até eu estou com medo de mim’, avisa. ● PÁGS. E1 a E3
Fracassa a Conferência do Clima Encontro de Copenhague termina só com acordo político, sem alcançar objetivos originais foi obtido entre EUA, Brasil, China, Índia e África do Sul, mas prevê metas para o corte das emissões só para 2050 e em níveis abaixo do esperado – e ainda dependia do aval dos 193
FHC vê porta aberta para chapa puro-sangue
Com mais R$ 4,7 bilhões, União reforça obras em 2010
UmdiaapósogovernadorAécioNeves(MG)desistirdacorrida pelo Planalto, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que ele “não fechou a porta” para compor umachapa com o governador José Serra (SP). Para FHC, há um “sentimento nacional” a favor da unidade. ● PÁG. A4
O governo federal liberou mais R$ 4,76 bilhões para gastos dos ministérios dentro do Orçamento de 2009, aumentando a capacidade de investimentos em 2010, ano eleitoral. O alvo principal são as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). ● PÁG. B1
Em SP, bairro alagado tem suspeita de leptospirose
CADERNO 2 Célebres e efêmeros
O crítico Calvin Tomkins reúne em livro dez perfis de artistas. ●
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países na conferência. Os únicosavançosforam ummecanismo de financiamento para combate ao aquecimento e um compromisso para conter a elevação da temperatura em 2˚C. O
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CULTURA ESPECIAL
Na edição deste domingo, o Estado publica nove contos inéditos de Natal e um clássico para reler – Missa do Galo, de Machado de Assis
Notícias de mentirinha Programa Plantão do Taslevanotíciasabsurdas ao Cartoon Network. ● ●●
Hoje tem duelo Messi x Verón ●● Barcelona e Estudiantes fazem a final às 14 horas. ● PÁG. A4 AHMAD AL-RUBAYE/AFP
7 8 9 10 11 12
emergentes. O presidente dos EUA, Barack Obama, apareceu sem ser convidado e pediu para se sentar ao lado do presidente Lula.Oencontroacabousemresultados. ● PÁGS. A20 a A24
FRASE
Barack Obama Presidente dos EUA “(O acordo) é um avanço significativo, mas insuficiente”
Fernando Sarney anuncia retirada de ação contra ‘Estado’ Efeito da atitude é apenas midiático, diz diretora jurídica do Grupo Estado O empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, apresentou ontem, véspera do recesso forense, pedido de desistência da ação contra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término do
MUNDIAL DE CLUBES
Pelo menos nove casos suspeitosdeleptospirose,transmitidapela urinaderatos,foram contabilizados pela Secretaria Municipal de Saúde no Jardim Romano, bairro da zona leste alagado há duas semanas. A doença pode ser fatal. ● PÁG. C1
consenso foi minado porque os EUA defendiam fiscalização das ações ambientais em países em desenvolvimento, o que a China vetou. O esforço final foi feito numa reunião entre os
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 141 DIAS
AMANHÃ
LOREDANO
A Conferência do Clima acabou sem que fossem alcançados os objetivos originais: ter metas para reduzir emissões de CO2 e elaborarformas clarasdefinanciamento. Um acordo político
recesso, o jornal será intimado a decidir se concorda com a extinção ou se prefere que a Justiçaaprecieomérito.ParaMariana Uemura Sampaio, diretora jurídica do Grupo Estado, no momento o anúncio tem “apenas efeito midiático”. ● PÁG. A8
NOTAS E INFORMAÇÕES
Hoje: 112 páginas A. 1º caderno: 30 ● B. Economia: 14 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 14 ● E. Esportes: 4 ● Es. Estadinho: 8 ● Ca. Autos: 22 ● Ci. Imóveis: 10
O novo formato da sucessão
(2.666 anúncios)
Aécio Neves se qualificou para ser mais do que um vice convencional – o que abre um novo capítulo na história da sucessão. Uma eventual chapa puro-sangue com José Serra colocaria Lula-Dilma diante do imponderável. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
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MÁX.
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17º
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Sol aparece ainda cedo e a temperatura sobe. BERNAT ARMANGUE/AP
A2 ESPAÇO ABERTO
SÁBADO, 19 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Eatoga viroujapona
Gravesvulnerabilidadesna diplomaciaedefesa
MauroChaves
LuizEduardo RochaPaiva
Mais obtuso do que impedir o uso para evitar o abuso – dizendo-se, por exemplo, que o famoso caso da Escola Base não teria havido se aplicada boa dose de censura prévia – é invocar o pensamento de Karl Marx (mesmo tentando escondê-lo sob o disfarce de um anônimo “autor do século 19”) para justificar o poder censório dos magistrados. Na verdade, os ministros que afrontaram, com as mais fortes cargas de cinismo, um dos valores mais preciosos da democracia, que é a plena liberdade de expressão, conseguiram sintetizar, melhor do que quaisquer exibições de intolerância vindas à tona nos últimos tempos, a verdadeira face de uma Mas o leal vassalo, conhecendo/ Que seu senhor não tinha resistência,/ Se vai ao castelhano, prometendo/ Que ele faria dar-lhe obediência./ Levanta o inimigo o cerco horrendo, / Fiado na promessa e consciência/ De Egas Moniz; Mas não consente o peito/ De moço ilustre a outro ser sujeito. (Os Lusíadas, Canto 3º - 36) Quando a ditadura impõe censura supõe que o corte na
A maioria dos ministros do STF desmentiu Auro de Moura Andrade circulação da notícia, da informação ou da opinião é capaz de desfazer a “comunicação corrente”, sem fio e sem papel, que sempre se estabeleceu entre as comunidades. Mas se hoje em dia essa comunicação se tornou mais incontrolável, na mesma proporção virou mais incensurável. Por exemplo, até as pedras do Estado com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do País sabem que o filho administrador do presidente do Senado é o verdadeiro executor e, portanto, o maior responsável por todas as Tome 1 frango depenado e tempere-o inteiro, com vinagre, caldo de limão, gengibre ralado, mostarda, alho, pimenta tabasco, sal, bicarbonato de sódio e algumas gotas de angustura, esfregando-o bem com cheiro verde. Deixe descansar nesse tempero por algum tempo. Leve ao fogo uma caçarola com gordura e quando esta estiver quente deite-lhe o frango com todo o tempero. Tampe a panela para que o frango vá assando devagar, com o bafo. Escreveu o jurista Walter Fanganiello Maierovitch (Estado, 11/12), no seu texto Uma decisão da qual me envergonho: “Quando em jogo a Liberdade de Imprensa – que assegura o desenvolvimento da vida democrática – não se pode, numa Su-
prema Corte, adotar-se uma postura burocrática, como se estivéssemos ao tempo do direito sumular romano, em que a forma tinha mais importância que o fundo. Deixar de examinar o mérito da questão, a título da inadequação da via escolhida e quando, de uma clareza solar, há violação à liberdade de imprensa, coloca a nossa Suprema Corte entre as piores do planeta.” Nas verdade o jurista foi até generoso em chamar de “postura burocrática” o que a maioria dos ministros (felizmente, com brilhantes exceções) revelou em termos de espírito autoritário e censório, nisso desmentindo, finalmente, o saudoso Auro Soares de Moura Andrade, quando disse que “japona não é toga” – pois a toga virou japona. Agora, o que pareceu mais repulsivo foi quando E por estes ao Rei presentes manda,/ Por que a boa vontade que mostrava/ Tenha firme, segura, limpa e branda,/ A qual bem ao contrário em tudo estava./ Já a companhia pérfida e nefanda/ Das naus se despedia e o mar cortava./ Foram com gestos ledos e fingidos,/ Os dois da frota em terra recebidos. (Os Lusíadas, Canto 2º - 8) Como já passamos por censura férrea em ditaduras, nossa Constituição é mais enfática, quanto à aversão à censura, do que as Constituições de quaisquer democracias. Nos EUA, por exemplo, a plena liberdade de expressão é garantida pela Primeira Emenda e, por decisão da Suprema Corte (caso Red Lion, de 1969), estabeleceuse que o direito primordial não é o de quem transmite a informação (jornalistas, veículos de comunicação), e sim de quem a recebe (leitor, ouvinte, telespectador). Mas nem lá existe repetição tão exaustiva da repulsa à censura como a contida nos artigos 5º, 220 e respectivos parágrafos e incisos de nossa Constituição. É por isso que, quanto à sua capacidade de interpretar nosso texto constitucional, a maioria dos membros de nosso chamado Pretório Excelso se revelou, no mínimo,
Entre outras coisas, disse ele: “A censura traduz a ideia mesma da perversão das instituições democráticas, em um regime político em que a liberdade deve prevalecer.” E disse mais: “Entendo particularmente grave e profundamente preocupante que ainda remanesçam, sim, no aparelho de Estado, determinadas visões autoritárias que buscam justificar, pelo exercício arbitrário do poder geral de cautela, a prática ilegítima da censura.” Realmente, parece incrível que o mesmo colegiado que tem como participante mais antigo alguém imbuído de tal percuciência e sensibilidade democrática também seja integrado por alguns que, com o perdão da palavra, Por vos servir, a tudo aparelhados;/ De vós tão longe, sempre obedientes;/ A quaisquer vossos ásperos mandados,/ Sem dar resposta , prontos e contentes./ Só com saber que são de vós olhados,/ Demônios infernais, negros e ardentes,/ Cometerão convosco, e não duvido/ Que vencedor vos façam, não vencido. (Os Lusíadas, Canto 10º - 148) ● Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e pintor E-mail:mauro.chaves@attglobal. net (www.artestudiomaurochaves.wordpress.com)
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
Corte meio quilo de fígado de vitela em postas, tempere com sal, alho, coentro, raspa de limão, pimenta malagueta, uma colher de sopa de conhaque e frite em manteiga bem quente, deixando dourar dos dois lados. Quando estiverem cozidas retire as postas da frigideira, ponha-as no prato sobre folhas de alface, untadas com mel de abelha e salpicadas com pitadas de páprica, junte um pouco de caldo de limão galego e vire por cima um pouco de molho de peixe. Foi o decano ministro do Supremo quem proferiu o voto mais lúcido e brilhante em defesa da liberdade de expressão.
Silvio Berlusconi
FÓRUM DOS LEITORES Censura,141dias
O Brasil é visto como potência emergente no campo econômico e adquiriu peso político para ser ouvido globalmente. Essa ascensão implica assumir responsabilidades e gera novas necessidades para o País que o colocarão em rota de colisão com atores poderosos, particularmente EUA, China, Rússia, União Europeia e Japão – eixo do poder que conduz os destinos do mundo –, todos eles potências nos campos político, econômico, militar e científicotecnológico. O crescente poder econômico nos faz ser ouvidos, mas não basta para sermos acatados. Potências são países com capacidade para defender a soberania, o patrimônio e a integridade territorial contra ameaças estrangeiras, projetar-se externamente para garantir interesses importantes e participar com autoridade de decisões em fóruns internacionais. Existem condições que contribuem decisivamente para lograr tal status. Vasto território rico em recursos naturais e uma grande população. Poder econômico, militar e científico-tecnológico. Permanência de políticas e estratégias durante sucessivos governos para a consecução dos objetivos fundamentais, condição difícil em países divididos por ideologias, etnias e
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Perfeita e clara a opinião do decano do STF, ministro Celso de Mello, sobre a censura ao Estadão. Sem dúvida, o valor supremo de toda sociedade republicana é o pluralismo informativo.
JOSÉ NILVO GENOVA akatah@terra.com.br
IZABEL AVALLONE
Curitiba
izabelavallone@yahoo.com.br
dor, prevê algum escândalo maior e, com esse gesto de “bom menino”, põe as barbas de molho? Os próximos dias darão a resposta.
São Paulo
ROBERTO STAVALE
JOSÉ ERASMO N. PEIXOTO
A intenção de desistir de processar o Estado por parecer censura, segundo Fernando Sarney, cheira mais a golpe. Quem sabe a Confecom tenha algo a dizer, já que pretende regular a mídia e desqualificar a democracia... E como explicar estar o Estadão há 141 dias sob censura sem uma palavra do presidente da República, que está sempre palpitando em todas as áreas, ante as numerosas manifestações dos mais renomados juristas deste país mostrando a incoe-
Tatuí
O presidente do Senado, José Sarney, diz que o ano está terminando “brilhantemente”. Discordo. Está, sim, terminando obscuramente, com o Estadão, jornal democrático e secular defensor da democracia, sob censura injusta e ditatorial há alguns meses, sem poder divulgar notícias sobre investigação da Polícia Federal en●
FAX:
(11) 3856 2920
emergente que, preservando o interesse nacional, atraia o apoio às suas demandas pelo expressivo universo de países periféricos dos fóruns internacionais, bem como ponha os países mais fortes na defensiva. Não é um seguro total contra as potências do eixo, mas limita-lhes a liberdade de ação parcialmente, enquanto a potência emergente reduz suas vulnerabilidades. A liderança nacional está inviabilizando a ocupação desse espaço por conduzir a política exterior pela linha ideológica socialista radical e jurássica do Foro de São Paulo, subordinando interesses nacionais aos partidários, e pelo discurso dúbio, que acerta ao condenar a prepotência e falta de solidariedade do eixo do poder, mas perde credibilidade ao endossar regimes ditatoriais que sufocam a liberdade, amordaçam a imprensa, prendem, torturam e matam opositores. Peca pela parcialidade mal disfarçada no conflito entre Colômbia e Venezuela, instando por moderação aos respectivos presidentes quando está claro que as provocações e ameaças partem do aliado Hugo Chávez. Erra ao inter-
O poder econômico nos faz ser ouvidos, mas não basta para sermos acatados ferir em Honduras desastradamente, recebendo contundentes respostas do povo hondurenho nas urnas, do Congresso e da Suprema Corte do país ao confirmarem a deposição de Manuel Zelaya. Mera incoerência ou hipocrisia? Mas a maior vulnerabilidade é a enfermidade moral do País. A liderança é patrimonialista e se apodera ilegalmente dos bens públicos como se fossem de sua propriedade. Apoia-se na impunidade e na omissão da sociedade, que, sem esperança na Justiça, também assume a falta de ética e valores. Sociedade carente de exemplos e referências que, anestesiada, se contenta com a satisfação de necessidades básicas e a falsa noção de liberdade, que usa sem responsabilidade e disciplina, tornando-a um bem ilusório. Tudo isso debilita a coesão nacional e a autoridade moral de nossa liderança, condições para inserir o Brasil no cenário dos conflitos onde reina o eixo do poder. Só um choque de valores e um sistema educacional moral e profissionalmente recuperado poderão sanar essa gravíssima vulnerabilidade. ● Luiz Eduardo Rocha Paiva, general da reserva, é professor emérito e ex-comandante da Escola de Comando e EstadoMaior do Exército
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Capitale meioambiente rência dessa aberração? Como dizia aquele humorista, aí tem...
jenp@bitweb.com.br
religiões inconciliáveis. Educação integral – conhecimento, cultura, ética e civismo –, raiz da coesão nacional e de uma liderança com visão estratégica e autoridade moral dentro e fora do país. A liderança brasileira manifesta o propósito de ombrear o País ao eixo do poder, mas não garante a constância dos recursos orçamentários para fortalecer as Forças Armadas, de modo a reduzir oportunamente o hiato com as potências do eixo nos campos militar e científicotecnológico. O Brasil poderá viver em curto e médio prazos conflitos em que, por não dispor de poder militar para respaldar intenções do Estado, terá de limitar ou abdicar de interesses importantes ou, então, buscar alianças para defendêlos, com o inconveniente de que elas cobrarão um preço elevado. Mas essa não é a nossa única vulnerabilidade. O Brasil ainda é um país em formação, pois falta integrar a imensa Amazônia, área de enorme valor por sua riqueza e posição geoestratégica, onde a plena soberania será fator determinante para nossa inclusão no eixo do poder. A liderança brasileira, sem visão de futuro, não entende que interessa àquele eixo compartilhar a soberania sobre a Amazônia não só pelos seus recursos e sua posição, mas também para impedir a ascensão do Brasil como potência rival. Assim, submete-se à pressão internacional exercida por meio de uma estratégia indireta, progressiva e velada, particularmente na questão indígena, e adota políticas que comprometem a soberania e o patrimônio amazônico. Mas essa não é a nossa última vulnerabilidade. As relações internacionais são como um teatro de operações onde a batalha é pelo poder. É correto dizer, ao contrário de Clausewitz, que a política é a continuação da guerra por outros meios. A derrota nesse jogo tem um custo elevado para um Estado, desde a perda de status internacional até o seu próprio desaparecimento – vide Roma na Antiguidade e Reino Unido, Alemanha e URSS no século 20. Portanto, é natural priorizar o realismo pragmático sobre o idealismo em política exterior. Tal desequilíbrio aumentou graças ao egocentrismo, materialismo, consumismo e prepotência, antivalores em voga transmitidos do indivíduo para a nação e daí para as estratégias nas relações entre países, sempre com prejuízo dos mais fracos. Há um anseio mundial pela valorização do humanitarismo, com ênfase em justiça e solidariedade, no sentido de reduzir as grandes diferenças entre nações ricas e pobres. Abre-se o espaço para um discurso idealista-realista de uma potência
volvendo o sr. Fernando Sarney!
Desistência?!
Aleluia! Depois de mais de quatro meses de censura, o benevolente maquiavélico Fernando Sarney informa que desiste da ação contra o Estadão. Usando de toda a verborragia própria do clã, como que debulhando lágrimas de crocodilo, Fernando diz que o faz em nome da democracia, pois a imprensa é seu sustentáculo. Mas quando a esmola é demais o santo desconfia! Será que ele está assustado com o estremecimento entre o PT e o PMDB do seu querido papai? Ou, como bom alvitra●
bobstal@dglnet.com.br
São Paulo
Controledaimprensa A censura ao Estadão vem se somar à absurda votação de a “ética do jornalista depender do controle social”, que nada mais é que a multiplicação de dois fenômenos sintomáticos disso tudo que está aí e nos assola como uma praga que se autoalimenta: 1) A completa ignorância do que seja ética – não existe ética deste ou daquele, nem ética relativa, nem “erro” ético,
existe ética e ponto, e disso os petistas e seu messias não entendem; 2) a criação de um cabide de empregos que cumpre a função de curral eleitoral não passa de versão adaptada dos soviets, que só pode mesmo brotar da cabeça de certos guerrilheiros anacrônicos e ressentidos, sempre em busca de sua vingança contra a “burguesia”. Sem falar que essa ação aponta uma vez mais para a diferença fulcral entre regime democrático e governo democrático, que tanta gente (sobretudo a intelligentsia tupiniquim) parece ultimamente desconsiderar e merece ser discutida com seriedade. MARLY N. PERES lexis@uol.com.br
São Paulo
Alentadoras e esclarecidas as palavras de Washington Novaes no artigo Clima e ambiente no centro de tudo (18/12, A2), mas vemos que a burocracia dos governos dita muitos dos entraves nos acordos ambientalistas em Copenhague. O chefe de governo e/ou de Estado pensa em seus votos, na economia imediata e, quiçá, na sobrevivência sustentável da população. São avanços, não há dúvida, mas num mundo individualista e consumista há muito o que fazer para se chegar em uma alternativa global viável. O Brasil tem muito a ensinar em termos de equilíbrio socioambiental e fontes energéticas sustentáveis e o mundo precisa evoluir para domesticar o capitalismo selvagem. ADILSON ROBERTO GONÇALVES
A8 NACIONAL
SÁBADO, 19 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
Verdades convenientes Todo gesto político presta-se a variadas leituras, de acordo com os interesses em jogo. Com a decisão do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de deixar o governador de São Paulo, José Serra, desde já sozinho no cenário oposicionista da sucessão presidencial, não foi diferente. Os aliados de Aécio dizem que com isso ele reassume o comando do próprio destino, deixando de ficar refém do calendário de Serra. Os correligionários do paulista interpretam o gesto como um sinal de desapego e saúdam a “nobreza” do companheiro de partido. A direção do PSDB enxerga agora espaço aberto para tentar concretizar o sonho da chapa puro-sangue, juntando São Paulo a Minas para “fechar” o Sudeste, acoplar os eleitorados dos dois maiores colégios eleitorais do País e, assim, enfrentar com vantagem o favoritismo do presidente Luiz Inácio da Silva no Norte e Nordeste. O maior inimigo de Serra, o deputado Ciro Gomes, vê reforçada a “necessidade” de concorrer à Presidência e aproveita para pôr Aécio na moldura de vítima de ladina conspiração de “setores serristas” da imprensa. O PMDB sorri de soslaio. Não abre o jogo, mas fica nitidamente mais confortável na relação delicada com o PT que, enquanto perdurasse a teórica indefinição, se apresentava como a única saída para o aliado. O Palácio do Planalto festeja a “boa notícia” e reedita a versão de que, na avaliação do presidente Lula, Aécio seria um candidato mais difícil, por causa de seu “potencial de crescimento”. O PT sofistica os argumentos. E se enreda na excessiva complexidade de muitos deles. Diz que a retirada de Aécio facilita a vida de Dilma Rousseff em Minas, como quem insinua que o governador deixará espaço aberto para o adversário no Estado. Só não explica qual seria o interesse de Aécio Neves em preferir continuar na oposição, sendo mais um senador entre tantos outros, filiado a um partido fadado a ficar cada vez mais fraco. Nesta hipótese, abriria mão de voltar a fazer parte do núcleo do poder central do País, até de se eleger presidente do Senado e ocupar com seus correligionários amplos espaços na administração federal. Uma outra possibilidade que Aécio descartaria pela leitura do PT, de que sua saída da disputa significa ausência de compromisso com o projeto do PSDB de retomar a Presidência da República, seria a de ser vice-presidente acumulando ministério da área política e funções de representação diplomática às quais seu perfil é afeito. Isso para quê? Para ser malcriado com o PSDB ou como forma de vingança por não ter sido ele o escolhido? Os fatos apontam para explicações mais racionais: o partido, as pesquisas e a determinação de José Serra em disputar a Presidência. O governador de São Paulo é o preferido do PSDB desde 2006. Em 2002, Serra “forçou a barra” da candidatura e pagou o preço de uma cristianização mitigada, bem ao estilo tucano. Mas, na eleição seguinte, em primeiro nas pesquisas, seria o nome escolhido. Não fosse o receio de ser acusado de “rachar” São Paulo, por causa da postulação de Geraldo Alckmin, e a certeza de que, sem a base de lançamento “fechada”, perderia para Lula. Na ocasião, os cardeais diziam que Serra só não seria candidato se não quisesse. A regra continuou valendo e Aécio sempre soube disso. Inclusive porque faz parte do referido cardinalato, não é um “outsider” nem uma figura menor ou um dissidente dentro do PSDB. Daí não fazerem sentido algumas interpretações segundo as quais Aécio “percebeu” recentemente que o partido é “dominado por paulistas” e que não ajudaria a construir sua candidatura. O governador mineiro apenas fez o que tinha de fazer. Postulou o que também lhe era de direito, jogou até onde poderia jogar e retirou-se da disputa para entrar em cena como peça fundamental na montagem do projeto da oposição. A Presidência agora, sempre disse, nunca foi uma obsessão. Era uma possibilidade que requeria lances de visibilidade até para a retomada futura da candidatura. Não há, portanto, grandes mistérios a ser desvendados. Serra ficou exultante com a decisão anunciada um pouco antes do prazo previsto, em janeiro? Provavelmente não, dado que a embromação da, como disse Aécio em sua carta ao partido, “falsa candidatura” o favorecia. Alongava o calendário de providências. Sem o “acerto” entre ele e Aécio, Serra não poderia se pronunciar sobre a própria candidatura. Não que a inexistência desse obstáculo vá fazê-lo se sentir obrigado a ceder à aflição dos aliados. Mas o deixa mais exposto ao desconforto das pressões. De outro lado, o grupo de Serra poderá argumentar que agora não há mais impedimento para definições nos Estados, uma vez que a retirada de Aécio o leva obviamente à condição de candidato. Condição definitiva? A única possibilidade de desistência seria uma vantagem acachapante de Dilma, cenário em que Aécio não aceitaria ser apresentado como candidato previamente derrotado para ficar sem nenhum mandato. ●
Gesto de Aécio presta-se a variadas leituras, dependendo do interesse
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 141 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Fernando Sarney propõe fim de censura contra ‘Estado’ Jornal ainda está proibido de publicar dados da PF sobre empresário, até que Justiça intime empresa a se manifestar se aceita ou não arquivamento O empresário Fernando Sarney propôs ontem a desistência da ação contra o Estado de S. Paulo, mas a censura ao jornal permanece em vigor. Por meio de nota à imprensa, ele afirma, em texto de onze linhas, ter encaminhadoà Justiçasua renúncia ao processo que há 140 dias provocou o decreto de mordaça, baixado em 31 de julho pelo desembargador Dácio Vieira, doTribunaldeJustiçadoDistrito Federal (TJ-DF). O pedido de desistência – novediasdepoisdeoSupremoTribunal Federal (STF) ter arquivado reclamação do jornal contra a censura sem decidir sobre o mérito – foi comunicada ontem mesmo ao TJ-DF, poucas horas antes do início do recesso do Judiciário. Entre 20 de dezembro e 6 de janeiro os trabalhos forenses ficam interrompidos, salvo em situações excepcionais e de urgência atendidas pelo plantão judicial. Até lá, a censura continua de pé. Ape-
Diretora vê ação midiática ●● ● A diretora jurídica do Grupo Estado, Mariana Uemura Sampaio, considerou a iniciativa de Fernando Sarney uma ação de “efeito midiático”. De acordo com ela, somente em janeiro o Grupo Estado vai definir se aceita ou não o fim da disputa judicial. “O anúncio de desistência da ação feito esta tarde (ontem) por Fernando Sarney teve apenas efeito midiático, pois não suspendeu a censura imposta ao Grupo Estado”, disse Mariana “Como o pedido de desistên-
cia da ação foi protocolado no final desta tarde (véspera do início do recesso forense), o Grupo Estado só poderá se manifestar – concordando ou não com a extinção da ação – a partir de 7 janeiro, quanto termina o recesso. Até lá infelizmente o jornal continua sob censura, de acordo com a lei vigente. Assim, apenas após o recesso o Grupo Estado decidirá se concorda com a extinção da ação proposta pelo autor (Fernando Sarney) ou se prefere que o Judiciário aprecie o mérito”. ●
nas depois desse período o jornal vai se manifestar sobre a sua concordância ou não com o pedido de desistência.
mo Tribunal Federal (STF) rejeitou reclamação do Estado contra a censura – por 6 votos a 3, os ministros arquivaram, semdiscutir o mérito,a tese dos advogados do jornal segundo a qual acensura desrespeita adecisãodopróprioSTFquederru-
CARTA
A carta de Sarney foi produzida nove dias depois que o Supre-
bou a Lei de Imprensa e consagrou o pleno direito à liberdade de expressão. Ademanda teveiníciona JustiçadeBrasília,emprimeirainstância, que rechaçou a censura. Contra a decisão,Sarney recorreuaoTJ-DFemagravo,acolhido pelo desembargador Vieira. ADVOGADOS
Sarney disse que orientou seus advogados a “desistirem da ação”. Os advogados Eduardo Antônio Lucho Ferrão e José RollembergLeiteNetosubscrevem petição endereçada à Presidência do TJ-DF nesses termos. “O ora recorrido é o autor da presente demanda judicial. Nessa condição, vem à Vossa Excelência,que sobreofeito detém a jurisdição neste instante, requerer a desistência da presente ação, respondendo pelas custas e ônus sucumbenciais, rogando que sobre tal pleito seja ouvida a parte adversa, como ordena a legislação.” ●
ÍNTEGRA DA CARTA DE FERNANDO SARNEY À ANJ São Luiz, MA, 18 de dezembro de 2009 Sra. Presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Jornalista Judith Brito,
● A Polícia Federal indi-
ciou Fernando Sarney por lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha e tráfico de influência
● Diversos juristas – incluindo
o decano do Supremo, ministro Celso de Mello – defendem a tese de que cabe à Justiça, e não aos meios de comunicação, a manutenção do sigilo processual. Quem comete crime é o servidor público, nunca o jornal
● Quem defende o direito da socie-
dade, lutando para que a Constituição seja respeitada, é o “Estado”. O artigo 5º, em seu inciso IX, estabelece expressamente que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de CENSURA (grifo nosso) ou licença”. No artigo 220, em seu parágrafo 1º, a Constituição estabelece que “nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no artigo 5º, IV, V, X, XIII e XIV”. No mesmo artigo, no parágrafo 2º, diz que “é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”
Em respeito à ANJ, da qual o jornal O Estado do Maranhão, que dirijo há mais de três décadas, é associado, quero comunicar-lhe decisão que acabo de tomar em relação ao litígio que mantenho, na esfera da Justiça, em defesa dos meus direitos de cidadão, com o jornal O Estado de S. Paulo. Como é de amplo conhecimento público, houve vazamento criminoso do teor de investigações da Polícia Federal, das quais sou alvo em razão de um empréstimo que tomei, registrado em cartório e já resgatado por mim, e pelo qual fui grampeado por mais de oito meses. Orientado por meus advogados, recorri à Justiça em defesa dos meus direitos pessoais, quais sejam, minha privacidade, minha imagem e minha honra, que estavam sendo flagrantemente violados pelo jornal O Estado de S. Paulo, ao divulgar diálogos protegidos por sigilo processual – o que constitui crime. Meditei bastante antes de tomar a decisão. Entendi que não existem direitos absolutos. Eu não poderia considerar que a contrariedade ao que está dito na lei, a afronta ao que é determinado por um juiz federal, seria algo ao alcance de um veículo de comunicação. Agi, creio sinceramente, como era meu dever de cidadão. Contei com a resistência de um adversário combativo. No processo e fora dele. Os julgadores acolheram a tese que defendi nos tribunais. E, afinal, com meu oponente batendo às portas do Supremo Tribunal Federal, encontrei o reconhecimento de meu direito. É certo que a decisão da Suprema Corte animou-me a perseverar no combate. Mas, entendo que é hora de guardar as armas e deixar que a sociedade tome conta de um tema que lhe pertence. Os dados que dizem respeito ao procedimento que corre em segredo de Justiça já foram tornados públicos, em grande medida. Coube, até agora, a mim, e a ninguém mais, defender o que reputo ser um direito de toda a sociedade: o
● O empresário poderia ter
recorrido, se o seu objetivo fosse mesmo o da defesa da privacidade, imagem e honra, ao Código Penal e processar o jornal por supostamente ter cometido crime de injúria, calúnia ou difamação. Em nenhum momento o empresário contestou as informações publicadas e preferiu o caminho da censura prévia ● A lógica da imprensa é o da defesa do interesse público. O jornal vai continuar se pautando por ela e, por isso mesmo, publicando informações de interesse do conjunto da sociedade, como obviamente era o caso das investigações da PF sobre as atividades de Fernando Sarney. O ‘Estado’ publicou apenas informações de relevância pública, evitando a divulgação de dados de cunho pesoal
● O STF não reconheceu a tese do empresário. Simplesmente mandou arquivar a reclamação, sem julgar o mérito
● A ANJ, reiteradamente, tem manifestado a sua preocupação com a censura a que este jornal vem sendo submetido. “Pode parecer que afeta apenas um jornal, mas na verdade afeta a imprensa e prejudica a sociedade”, disse Judith Brito, presidente da ANJ
Em nota, ANJ afirma que mordaça ao jornal afronta direito à informação A Associação Nacional de Jornais (ANJ) manifestou, ontem, em nota, que “sempre se posicionou contra essa ação de censura prévia, que afrontava o direitodasociedadeserlivremente informada”. No documento, assinado pela presidente da entidade, Judi-
th Brito, a ANJ expressa a sua satisfaçãocomapropostadedesistência,porpartedoempresário Fernando Sarney, da ação movida contra o Estado que resulta, desde 31 de julho, na censura à divulgação de informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal.
A ANJ afirma, também, na nota que o fundamental é que “o livre exercício do jornalismo seja restabelecido em benefício dos cidadãos, que não devem ter tutelado seu pleno acesso às informações”. Nos 141 dias sob censura, o Estado recebeu apoio das prin-
de que uma decisão judicial seja respeitada, o de que a lei tenha serventia. A inércia dos que deveriam lutar por que fosse tal direito protegido não poderia, nem pode, onerar-me isoladamente. Por isso, orientei os meus advogados a desistirem da ação que movo contra O Estado de S. Paulo. Não estou, com tal providência, renunciando a direito algum. Não quero, porém, hastear, sozinho, uma bandeira que cabe à sociedade empunhar: a da defesa de decisões judiciais válidas e amparadas na legislação. Declino da prerrogativa, que me foi assegurada pelo Supremo Tribunal Federal, de continuar com a ação contra O Estado de S. Paulo. Assim como um jornalista preza o sigilo da fonte, entendo que devem ser prezados, em nome do interesse público, os dados coletados em uma investigação policial em segredo de Justiça. Enquanto a lei assim o disser, enquanto este for o entendimento dos juízes, assim também acreditarei que seja esse o comportamento correto. Não continuarei a promover, solitariamente, esse combate de teses. Estou dando por encerrada essa batalha. Lutei por direitos fundamentais que a Constituição me assegura. Agi só, contra uma avalanche de incompreensões e aleivosias. Se não contei com apoios, revigoraram-me, sempre, a altivez e a independência da Justiça de meu País, coroadas pela irrepreensível decisão do Supremo Tribunal Federal. Desisto da ação. Não dos meus direitos. Faço questão de comunicar tudo isso a Vossa Senhoria que, na leal defesa dos pontos de vista dos associados desta instituição, jamais se negou ao diálogo. Tributo muito desta minha decisão à sobriedade com que fui tratado pela Associação, mesmo quando sabia que o seu entendimento era contrário ao que eu tinha. São essas as palavras que lhe dirijo, com o respeito de sempre, e com os votos de um Natal radioso e um Ano Novo luminoso para Vossa Senhoria e todos os seus. Atenciosamente, Fernando Sarney
cipais entidades internacionais enacionaisdedefesa daliberdade de expressão. Se manifestaramcontraamordaça aOrganização das Nações Unidas (ONU), a Associação Mundial de Jornais (WAN), a Sociedade Interamericana de Prensa (SIP), a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), a ONG Repórteres sem Fronteiras, a Ordem dos Advogados do Brasil(OAB),aAssociação Brasileira de Imprensa (ABI), e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). ●
C10 CIDADES/METRÓPOLE
TUTTY
SÁBADO, 19 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
HUMOR
O chuchu de Copenhague
N
dinamarquesa em outubro, quando o homem mais envolvente do mundo não conseguiu seduzir ninguém por lá para a candidatura de Chicago a cidade-sede da Olimpíada de 2016. Fenômeno inverso faz de Copenhague cenário das melhores performances públicas de Lula no exercício da Presidência. Ontem, mais uma vez, o filho do Brasil roubou a cena do colega americano ao apagar das luzes da COP-15. A julgar pela reação da plateia, se as eleições para presidente do planeta fossem hoje, “o cara” ganhava! ●
BAPTISTÃO/AE
ão sei se a astrologia ou alguma ciência oculta pode esclarecer o mistério, mas, definitivamente, alguma coisa esquisita acontece a Barack Obama quando ele pisa em Copenhague. O presidente americano que discursou ontem na Conferência do Clima não foi nem sombra daquele sujeito brilhante que o mundo elegeu como guia. Mal comparando, parecia o Alckmin em matéria de entusiasmo, carisma e desenvoltura ao microfone. A face chuchu de Obama já havia dado as caras na capital
Tutty Vasques escreve todos os dias no portal Estadao.com.br, de terça a sábado neste caderno e aos domingos no caderno Aliás
CLIMA ESTRANHO
“Essa mania do Lula e do Sarkozy se abraçarem por trás toda vez que se encontram já está pegando mal!” Barack Obama, em Copenhague.
NÚCLEOS EM CHAMAS ● Por que diabos Aguinaldo
Silva trocou de mal com Manoel Carlos? Só se fala de outras coisas na TV Globo!
● Mole, mole O brasileiro pode começar a se adaptar à temperatura ambiente do futuro no verão que entra em cartaz às 15h47 de segunda-feira. Se suportar bem à previsão de 40º C, o fim do mundo vai ser uma barbada. ● Justiça seja feita... Há que se dar um desconto ao prefeito Gilberto Kassab: cuidar de enchente em São Paulo é como enxugar gelo. O trabalho não rende, né? ● Ofício errado Quem foi a enfermeira que fez aquele curativo no rosto de Silvio Berlusconi?! Não leva o menor jeito para o serviço! ● Presente de grego Aécio Neves já decidiu: se tirar o nome de José Serra na brincadei-
ra de amigo secreto do PSDB, vai dar o vice Itamar Franco de presente ao candidato à Presidência. ● Livre mercado George Bush está cobrando cachê de US$ 150 mil por palestra. E tem gente que ainda acha muito os R$ 40 mil que Jesus Luz cobra por seus serviços de DJ! ● Loura eterna Silvio Santos fez constar do novo contrato de Hebe Camargo com o SBT uma cláusula de rescisão automática em caso de fim do mundo. Vai que a apresentadora sobrevive! ● 140 dias depois... Já que a Justiça não acabou com a censura à imprensa, o próprio filho do Sarney resolveu tirar o bode da redação. O STF deve estar aliviado! ●
ANO-NOVO
Réveillon da Paulista já celebra Copa 2010
DIVULGAÇÃO
Festa verde-amarela terá shows de Pitty, Maria Rita e Martinho da Vila Lais Cattassini
Oréveillon na Paulista marcará o início da torcida pela seleção brasileira na Copa do Mundo de 2010. Com o tema “São Paulo, a torcida do Brasil se encontra aqui”, a festa será decorada em verde e amarelo e contará com os shows de Pitty, Dudu Nobre, Edson e Hudson, Maria Rita, Martinho da Vila, KLB e da escola de samba Mocidade Alegre, vencedora do carnaval 2009. A expectativa é de que cerca de 2 milhões de pessoas participem da virada – incluindo pelo menos 100 mil turistas.
Expectativa de público é de 2 milhões, incluindo 100 mil turistas Para organizar a festa foram investidos R$ 5,5 milhões. A Prefeitura,segundo opresidenteda SãoPauloTurismo(SPTuris), Caio Luiz de Carvalho, é responsável por R$ 520 mil desse valor. A participação de empresas privadas garantiu, também segundo Carvalho, a magnitude da festa. Foi investido
cerca de R$ 1,5 milhão a mais do que no ano passado. Um palco de 800 metros quadrados será instalado na Paulista e haverá telões de alta definição com imagens que remetem à brasilidade e à musicalidade. Treze torres com painéis eletrônicos e sistema de som farão a transmissão ao vivo ao longo da avenida do que ocorre no palco. A importância do evento tem atraído celebridades interessadas em se apresentar, segundo o presidente da SPTuris. “Muitos artistas começaram a brigar para participar do réveillon.” A proposta foi democrática: convidaram artistas de diferentes gêneros. A cantora Pitty abrirá o show, às 20h30, com músicas no estilo pop rock. Em seguida, o compositor Dudu Nobre fará uma apresentação em homenagem ao centenário de Adoniran Barbosa. A dupla sertaneja EdsoneHudson continuaascomemorações. A cantora Maria Ritaprometeu,segundoosorganizadoresdoevento,umshowinéditoparaosmomentosqueantecedem a contagem regressiva para 2010. A virada será marcada por umshowpirotécnicode15minu-
FESTA DE R$ 5,5 MILHÕES – Palco terá 800 metros quadrados e haverá telões de alta definição e 13 torres com painéis eletrônicos e sistema de som
Barracas vão aceitar cartões pela primeira vez A implementação do sistema de cartões nas barracas que venderão comidas e bebidas ao longo da Avenida Paulista deverá diminuir o número de roubos ocorridos durante o evento. Pela primeira vez em 13 anos, a população poderá pagar o que consumir com cartões de crédito e débito. Serão 80 quiosques instalados entre a Rua Ministro Rocha de Azevedo e a Alameda
Campinas. Todos aceitarão o pagamento em cartão, uma iniciativa feita em parceria com a Cielo, ex-VisaNet. A segurança ao longo de toda a avenida será reforçada para evitar incidentes. Haverá, segundo a Playcorp, 2.800 policiais militares, guardas-civis e seguranças particulares atuando na região. A Polícia Militar (PM) vai blo-
quear toda a Avenida Paulista com grades e fará vistoria em todos os acessos à festa. Também se pretende inibir a venda de substâncias ilícitas em ruas paralelas. “Não queremos que se repitam incidentes como os da Parada GLBT”, adiantou Caio Carvalho, presidente da SPTuris. O público também vai contar com dez pontos de atendimento médico. ● L.C.
tos. Serão usados, segundo a Playcorp, empresa responsável pelo evento, 100 mil tiros e 6 mil bombas multicoloridas. “O ano-novo de São Paulo não é um ano-novo pirotécnico. Ele se-
gue o modelo de festas urbanas, não festas de praia. O que temos de importante é a tecnologia”, explica Carvalho. O primeiro artista a se apresentar no dia 1º de janeiro será
Martinho da Vila. O trio KLB, que sobe no palco em seguida, cantará Beatles, lembrando os 40 anos do fim do grupo musical,completadosem2010.Afesta será encerrada, por volta das
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2h30 do dia 1º, com a Mocidade Alegre. TRANSPORTE
Um esquema especial de transporte será montado para o dia do evento. De acordo com Carvalho,o metrôserá a melhor opção para o público. O sistema vai operar durante toda a madrugada do dia 31 para o dia 1º nas Linhas 1 (azul), 2 (verde) e 3 (vermelha), com as estações abertas para embarque e desembarque até as 2 horas. Após essehorário, as Estações Paraíso,Brigadeiro,ConsolaçãoeClínicas ficarão abertas para embarque, enquanto as demais continuarão funcionando para desembarque. A Estação Trianon-Maspseráfechadaàs 19horas do dia 31 e reaberta às 4h40 do dia 1º. ●
TRANSPORTES
Ciclovia da Radial é ampliada Mais 4 km serão abertos hoje, completando 2.ª fase O novo trecho da ciclovia da Radial Leste, que atualmente tem 6 quilômetros, será inaugurado hoje. Com a ampliaçãoemmaisquatroquilômetros,completa-seasegunda fase do projeto e ficarão faltando apenas dois quilômetros, ainda bloqueados, para ser finalizados. Para o secretário dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, é importante ouvir as sugestões dos usuários das ciclovias agora para garantir a segurança e o conforto. “Eles pedem apenas o que está no regulamento.” Segundo ele, a faixa para ciclistas da Radial Lestepodeser consideradaa única ciclovia de São Paulo que ouviu os ciclistas antes de ser concluída.
O ciclista André Pasqualini, diretor do Instituto CicloBr, concorda com o secretário. “Não adianta fazer obras sem nos escutar. Senão, acabam fazendo corredores como na Avenida Robert Kennedy, impossível de ser usado.” Pasqualini contesta ainda a postura da Prefeitura de São Paulo quando se trata de meios de transporte não motorizados, apesar da criação do Departamento de Planejamento Cicloviário pela Secretaria Municipal de Transportes. “Será muito legal se levar em conta a opinião dos usuários”, diz. Para “garantir maior segurança aos ciclistas de São Paulo”, segundo nota da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o novo departamento elaboroutrêsnovoscircuitosci-
cloviários. O investimento total é de R$ 22 milhões. BIKE TOUR
As inscrições do 2º Bike Tour em São Paulo começam à zero hora do dia 1º, via internet, com pagamento de boleto bancário na segunda-feira, primeiro dia útil do ano. O valor é o mesmo do ano passado, R$ 180, assim como o kit, com bicicleta, capacete, mochila e camiseta. Neste ano, serão 6 mil vagas (foram 5 mil no ano passado) e o circuito, no dia 25 de janeiro, é o mesmo: partida da Ponte Octavio Frias de Oliveira e chegada na Cidade Universitária. ● L.S.
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Juliana Paes é destaque na eleição dos melhores de 2009. ●
Campeão olímpico e recordista mundial, Cesar Cielo é eleito o atleta do ano na Pesquisa Estado. ● PÁG. E1
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Acordo ambiental fica para o fim de 2010
Notassãodamesmasériedecédulasapreendidasnocasodo‘mensalãodoDEM’
O fracasso da Conferência do Clima (COP-15), que acabou ontem em Copenhague, foi reforçado, depois que o documento assinado por EUA, China, Brasil, Índia e África do Sul acabou recusado pelo plenário. Com isso, oencontro ficou sem um texto final e a tentativa de elaborar um acordo de metas de redução da emissão de gases-estufa foi adiadapara ofimde 2010, quando nova conferência ocorrerá no México. ● PÁG. A24
das em duas empresas acusadas de bancar o “mensalão do DEM”. O dinheiro foi apreendido na sala de trabalho de Fábio Simão, então chefe de gabinete de Arruda. Simão foi demitido apósa operação. Asuspeita é de que o dinheiro seja proveniente do caixa dessas empresas. Em
Rodrigo Rangel
A Polícia Federal encontrou na Granja de Águas Claras, residência oficial do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (ex-DEM), dinheiro cuja série numérica é a mesma de um lote de cédulas apreendi-
Consumo interno banca retomada do investimento
outro endereço, os investigadores descobriram com um ex-assessor de Arruda notas previamentemarcadas comtinta invisível pela PF para identificar os destinatários da propina. As informações constam de relatório encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça. ● PÁG. A4
Vice teria recebido R$ 200 mil ●● ● Em depoimento à PF, Durval Barbosa pela primeira vez incluiu o vice-governador, Paulo Octávio (DEM), como receptor
direto de propina. Barbosa disse que entregou ao vice pouco mais de R$ 200 mil no Hotel Kubitschek Plaza. ● PÁG. A4
ARTIGO
NOVA LUZ: MAIS UMA CHANCE EM SP
Paulo Sotero JORNALISTA
Cresce clima negativo entre Brasil e EUA
Após o trauma da crise, indústriasvoltadas paraomercadointerno,comoautomotivaedeeletrodomésticos,planejam aumentos de capacidade que não se viam desde o Plano Real. Em apenas dois meses, 167 empresas anunciaraminvestimentos,dizestudo do Bradesco. ● PÁG. B1
Um sentimento negativo está rapidamente tomando o lugar da disposição favorável dos EUA em relação ao governo Lula. A recíproca é verdadeira. Um funcionário americano afirmou que a visita de Barack Obama ao Brasil não está mais na pauta. ● PÁG. A18 ●●●
FHC: ‘Imaginei que o Brasil não voltasse a ver censura’
Futebol
Barcelona vence Mundial no sufoco
Trabalho
Mínimo pode subir para R$ 510 Reajuste em 2010 será de9,67%,prevêOrçamento da União. ● PÁG. B9
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ALIÁS
Respeito pelos políticos acabou
Ataque a Berlusconi revela crise das hierarquias, dizacríticaBeatrizSarlo. ● ●●
7 8 9 10 11 12
PAULO PINTO/AE
●● Time perdia para o Estudiantes até os 44 minutos do 2º tempo. ● PÁG. E6
Paulistanos caminham perto da Estação Júlio Prestes, um dos símbolos das dezenas de
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tentativas de revitalizar o centro de São Paulo, que vão somar R$ 1,2 bilhão até 2010 – o próxi-
NOTAS E INFORMAÇÕES
Tempo: CAPITAL
O saldo da Confecom Com a representatividade comprometida, a 1.ª Conferência Nacional de Comunicação foi encerrada com uma série de re-
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mo empreendimento será a Nova Luz. Apesar dos esforços, ainda há um abismo entre os
comendações ideologicamente enviesadas que, se transformadas em lei, restringiriam a liberdade de informação. ● PÁG. A3
30º
MÁX.
● PÁG. C2
18º
MÍN.
Massa de ar seco deixa o tempo firme e com sol na maior parte do Estado de São Paulo
projetos e a realidade, e especialistas dizem que falta visão de conjunto. ● PÁGS. C1 e C3
Tiragem: 317.786 Hoje: 232 páginas A. 1º caderno: 28 ● B. Economia: 18 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 6 ● J. Aliás: 8 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 24 ● F. Feminino: 20 ● Ca. Autos: 26 ● Especial Contos de Natal: 24 ● Ce. Empregos: 6 ● Ci. Imóveis: 26 ● Co. Oportunidades: 8
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a liberdadedeimprensaéocontrapeso “fundamental” para a democracia.“Afunçãodequemestá na mídia é criticar e de quem estánogovernoéentenderafunçãodamídia”,disseementrevista a Julia Duailibi. Para o expresidente,acensura préviapela qual passa o Estado é resquício da ditadura. “Imaginei que o Brasil não voltasse a ver esses momentos.” ● PÁGS. A14 e A15 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 142 DIAS
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DOMINGO, 20 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Partidarização da política externa
O jogo de Aécio Neves
CelsoLafer
GaudêncioTorquato
A política externa tende a ser, no Brasil e em outras nações, uma política de Estado, e não de governo ou de partido – como vem ocorrendo na Presidência Lula –, em função de certas regularidades da inserção internacional de um país. Essas regularidades contribuem para dar, com as adaptações devidas à mudança das circunstâncias, uma dimensão de continuidade à ação diplomática. É isso que explica por que a política externa tende a ser uma política de Estado. No caso do Brasil são exemplos esclarecedores de regularidades: a localização geográfica na América do Sul; a menor proximidade dos focos de tensão presentes no cenário internacional; a escala continental que dá relevância ao nosso país na vida internacional; a importância de um pacífico relacionamento com dez vizinhos; a natureza do contexto regional latino-americano, que é distinto de outros; os cuidados no gerenciamento da forte presença dos EUA nas Américas e no mundo; as realidades das assimetrias de poder; o desafio do desenvolvimento.
Um símbolo é a recente filiação do chanceler Celso Amorim ao PT A dimensão de continuidade confere coerência à ação diplomática e contribui para a credibilidade da política externa do Estado. Continuidade, no entanto, não é imobilismo, pois o objetivo da política externa como política pública é traduzir necessidades internas em possibilidades externas. Mudanças assim ocorrem seja em função da identificação de novas necessidades internas, seja por conta da avaliação de novas possibilidades ou dificuldades externas, provenientes das transformações do sistema internacional. A construtiva interação continuidade/ mudança tem feito, no correr dos tempos, da política externa brasileira, como política de Estado, uma “obra aberta”, continuamente enriquecida no seu repertório por aquilo que cada governo e cada chanceler, em distintas conjunturas, acrescentam de relevante à inserção internacional do País. É natural que a política externa leve em conta, na sua execução, além da avaliação do cenário internacional, os dados da política interna de um governo. No caso, por exemplo, das mudanças promovidas na Presidência Geisel, uma dimensão importante foi a de fazer dela um componente do processo de distensão e de encaminhamento da redemocratização. Esta dimensão, aperfeiçoada na gestão do chanceler Saraiva Guerreiro, propiciou, com a redemocra-
tização, um consenso em torno diplomático a característica da política externa como políti- de uma “herança maldita”. ca de Estado. À existência deste A consequência dessa posconsenso referiu-se Tancredo tura instigará, no debate eleiNeves em novembro de 1984. toral que se inicia, um forte Evidentemente, ele pretendia componente partidário no acrescentar uma nota própria à campo da política externa, diplomacia brasileira. Por isso, em detrimento da sua dimenna sua viagem ao exterior, co- são de política de Estado. mo presidente eleito, no comeDo ponto de vista da conduço de 1985, indicou que ia inse- ção da política externa, a parrir na agenda externa brasileira tidarização vem levando a a democracia e os direitos hu- equívocos da gestão diplomámanos em consonância com os tica. O mais clamoroso é a desdados internos, provenientes da medida de uma ilusão voluntaredemocratização. rista empenhada em realçar o O empenho na manutenção papel da liderança do preside um consenso em torno da po- dente no mundo e a sua capalítica externa como política de cidade de encaminhar, a parEstado foi uma das notas dos go- tir do Brasil, todos os grandes vernos dos presidentes do Bra- problemas da vida internaciosil democrático – de Sarney a nal – da paz no Oriente Médio FHC. Hoje esse consenso não à não-proliferação nuclear miexiste mais, como vem apontan- litar do Irã, passando pelos do Rubens Ricupero. O esgarça- problemas de Honduras, pela mento crescente desse consen- alteração da geografia econôso é fruto da inédita partidariza- mica do mundo e pelo térmição da política externa promovi- no planetário da fome. O atida pelo governo Lula. Explicita- vismo voluntarista contrise pela desconsideração do que buiu, inter alia, para os insufoi feito antes, por meio da as- cessos das candidaturas brasiserção de um marco zero diplo- leiras a postos internacionais. mático. É o tema do recorrente Os antigos diziam que a di“nunca jamais em tempo algum ferença entre o remédio e o vena História desse país”, denega- neno é a medida. A falta de dor dos méritos da política ex- medida é o veneno da atual terna como política de Estado. partidarização da política exA partidarização tem como terna. Propicia, na incessante um dos seus componentes a indi- busca de prestígio, a inconsecação do professor Marco Auré- quência de muita agitação palio Garcia como assessor diplo- ra poucos resultados. ● mático do presidente. Com efeito, este, como prócer do PT, que Celso Lafer, professor titular sempre cuidou das relações ex- da Faculdade de Direito da ternas do partido, se incumbiu USP, membro da Academia de zelar por essa partidarização, Brasileira de Ciências e da que a cúpula do Itamaraty incor- Academia Brasileira de Letras, porou nas suas práticas diplomá- foi ministro das Relações ticas, a elas atribuindo, com pre- Exteriores no governo FHC ponderância, a nota de uma política de governo. A partidarização vem crescendo, nos últimos tempos, facilitada pelas boas condições da presença do Brasil no cenário internacional e pela positiva imagem do presidente no mundo. Um símbolo da partidarização é a recente filiação do chanceler Celso Amorim ao PT. A partidarização responde a três objetivos. O primeiro e o mais óbvio, desde o início, foi e é o de dar uma satisfação ideológica aos segmentos mais radicais da base de apoio do presidente para compensá-los pelos elementos de continuidade da responsável política econômica do governo FHC. O segundo foi e é o de identificar no PSDB o inimigo político com o qual cabe travar, ao modo de Carl Schmitt, em todos os campos, uma guerra pública. O terceiro, que se vincula ao anterior, é o de glorificar o presidente Lula, desconstruindo politicamente FHC, conferindo também Cesar Cielo ao seu significativo legado
COP15 Foi importante a discussão sobre emissões de CO2 na atmosfera, na conferência de Copenhague, pelos 192 países presentes. Serviu para sensibilizar algumas autoridades, ainda arredias, para a gravidade da questão. Porém faltou a inclusão de um tema sem o qual nada será resolvido: o controle populacional. Não se poderá falar em redução da agressão ambiental enquanto nossos rios permanecerem sem vida e nossos oceanos acumularem em seu leito bilhões de toneladas de lixo, resultado da pobreza incentivada que se alastra nos países pobres e em desenvolvimento e das necessidades consumistas do homem moderno. As chaminés não poderão ser apagadas enquanto não forem implementadas políti-
cas públicas em todos os continentes que reduzam o número de nascimentos. E se elas forem apagadas prematuramente, faltarão empregos e impostos e a violência tomará conta de tudo. O planeta já não suporta produzir para atender a população atual e para salvá-lo será preciso diminuir a demanda mundial, por meio de rígido controle da natalidade. Essas discussões ambientais, lamentavelmente, são alimentadas também por pessoas encharcadas de ideologias que ruíram com o Muro de Berlim e dificultam a convergência das ideias, introduzindo, sempre que podem, um ranço anticapitalista na questão. Sempre falta foco a essa turma. SERGIO VILLAÇA svillaca@terra.com.br
Recife
A retirada de Aécio da arena presidencial estreita o espaço de articulação do PSDB. A observação ampara-se no perfil de um governador que transita com facilidade na esfera partidária, colecionando amigos e simpatizantes nas grandes agremiações. Trata-se de um político de centro, identificado com um escopo pontuado por conceitos como modernização, eficiência e eficácia, desburocratização e integração de estruturas. Não se veste da coloração ideológica pesada que se impregna em bolsões de partidos, inclusive do PT, identificando-se como tucano defensor do ideário da social-democracia, cuja balança ajusta os pesos de uma economia aberta e plural com controles do Estado para evitar excessos. Por isso mesmo Aécio Neves se recusa a entrar no jogo do “a favor ou contra” o governo Lula. Tanto apoia programas como critica desvios. O selo que inventou – “pós-lulismo” – lhe conferiria, enquanto candidato, boa condição para escapar da armadilha que o PT seguramente vai arrumar para capturar as oposições. A armadilha chama-se plebiscito. O petismo/lulismo anuncia a todo momento que a comparação entre os oito anos de FHC e os dois mandatos de Lula será objeto central da campanha. Aécio, de maneira cordial, sem arengas, fugiria à emboscada. Como? Reconhecendo pontos positivos, sem louvações exageradas, e pontuando sobre áreas que estão a merecer ajustes. Já o governador Serra terá dificuldades para enveredar por essa trilha, eis que simboliza o oposicionismo dos embates históricos entre PSDB e PT. Ademais, agrega valores, ideias e atitudes mais próximas ao perfil técnico de Dilma Rousseff. A verdade é que o ideário de ambos não pareLEO MARTINS ce tão diferente, havendo quem garanta ter o paulista visão até mais estatizante que a pré-candidata de Lula. As divergências dãose mais na esfera de abordagens formais e detalhes do que no plano substantivo. Sob o prisma partidário, diminuem as chances de amplo leque de alianças em torno da chapa oposicionista. O PSDB poderá atrair boa fatia do PMDB, por exemplo, mas essa parcela poderia ser mais larga caso Aécio fosse o candidato. O mesmo poderia ocorrer com outros partidos, entre eles o PDT, que chegaram a acenar simpatia pelo candidato mineiro. O estreitamento do espaço de articulação na seara oposicionista poderia ser compensado com a chapa puro-sangue. Serra e Aécio formariam uma dupla de peso e respeito. Mas esse é o busílis do tucanato. O risco é alto. Se
Tancredo Neves era ás na arte de dizer um sim puxando as letras do não. Depois de entrevista a um repórter, pediu para ler o texto. Lá estava: “Não pretendo ser governador de Minas.” Pediu licença, pegou a caneta e emendou: “Não pretendo ser candidato a governador de Minas.” Aécio Neves herdou a matreirice do avô. Anuncia, em nota, sua desistência do páreo presidencial de 2010. Antes que a leitura sugira fechamento de portas, é mais que oportuno o esclarecimento. Aécio, como a raposa Tancredo, quer dizer: “Quero ser presidente da República, mas reconheço que José Serra tem preferência. Cedo a vez para ele.” O gesto do governador mineiro, bem pensado, terá implicações na frente política com vista à disputa do próximo ano. Ao deixar José Serra entre a cruz e a caldeirinha – o governador paulista é tolhido na alternativa de recuo –, Aécio contribui para acelerar o processo eleitoral, ajustar o foco do discurso dos contendores, definir as alianças eleitorais e clarear os horizontes, que até o momento se mostram nebulosos. Com sua decisão o mineiro também demonstra preferência pela hipótese bastante utilizada no enfrentamento de circunstâncias adversas: nem sempre a menor distância entre dois pontos é uma reta, pode ser uma curva. O desvio momentâneo poderá ser-lhe útil para galgar, no futuro, meta mais ambiciosa que a vaga do Senado por Minas Gerais.
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES
ENDEREÇO
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Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Censura,142 dias Não entendi o que Fernando Sarney quis dizer com não ter sido seu objetivo restringir a liberdade de imprensa. O que mais poderia resultar da sua ação contra o Estado, a não ser a lamentável censura sofrida pelo jornal, que já dura 142 dias? Vamos esperar para ver o que está por trás dessa decisão dele e aguardar, ansiosos, por notícias atualizadas da Operação Faktor, que é o novo nome da Operação Boi Barrica. RONALDO GOMES FERRAZ ronferraz@globo.com
Rio de Janeiro
A censura imposta ao Estado é inconcebível. Minha humilde sugestão é que o jornal publique
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Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
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Novelatucana todos os dias a Oração aos Moços, de Rui Barbosa, em negrito, até que essa censura termine. ALVAREZ AGUILAR alvarez.atib@hotmail.com
São Paulo
Por ser um jornal que tem sua linha editorial voltada para a ética, combatendo a imoralidade, o Estadão tem se sentido impotente diante de poderes bem articulados, tal qual os menos favorecidos da sociedade. Ó, Estadão, não dobre os joelhos diante de tais poderes, seja sempre um exemplo de dignidade para os leitores que tanto o estimam! ●
JOÃO BATISTA DE LACERDA jblmo1948@gmail.com
Poços de Caldas (MG)
Finalmente chegou ao fim a novela peessedebista. Será mesmo José Serra o candidato dos tucanos à Presidência. Na verdade, já era de esperar, pois o desempenho de Aécio Neves nas pesquisas era pífio. Veremos agora se Serra será mesmo um candidato de convergência de forças e de conciliação, uma vez que precisará do apoio do próprio Aécio (leiase eleitores de Minas Gerais) e de outros personagens importantes dos partidos de oposição. JOSÉ EDUARDO ZAMBON ELIAS zambonelias@estadao.com.br
Marília ● Em 2002 José Serra foi o anticandidato. Em 2006 Geraldo Alckmin foi o não-candidato. Esperase que em 2010 o PSDB queira
ambos perderem a campanha, ficariam sem palanque. Passariam boa temporada em limbo político exatamente no ciclo em que se começa a enxergar a aura de um Brasil potente no contexto das nações. Ora, a viabilidade de derrota conta com certa lógica aritmética, fácil de recitar. Vejamos os grandes números que cercam a base da pirâmide: a Previdência Social beneficia cerca de 75 milhões de brasileiros, o salário mínimo laça 43 milhões e o Bolsa-Família, distribuído a 12 milhões de famílias, atinge 46 milhões de pessoas. Se considerarmos que os maiores contingentes desses programas tendem a votar pensando no bolso (leia-se também estômago), deduz-se que será dado um voto de agradecimento aos patrocinadores. Núcleos insatisfeitos – que se localizam nos estratos médios – poderão fazer contraponto ao discurso emotivo das margens, sem condições, porém, de abalar a avalanche que delas virá. As oposições terão de achar um verbo para desconstruir espaços sociais pulverizados de
Desvio pode ser-lhe útil para metas mais ambiciosas do que o Senado programas, ações e benesses. Mudar? Se a palavra for essa, a candidata governista alçará voo. Melhorar, ajustar, aperfeiçoar? Soariam como promessas nas nuvens da abstração. A desconstrução dessa arquitetura seria possível sob um perfil que não assumisse o papel de cavaleiro do tropel da desarrumação. Essa seria a jornada de Aécio Neves. Que, ao ver o caminho tomado por obstáculos, não teve dúvidas. Imitou o gesto de Júlio Cesar ao atravessar o Rio Rubicão: “Alea iacta est” – a sorte está lançada. Mas a dúvida que aflige tanto a oposição quanto a situação persiste: e se José Serra desistir mais adiante, Aécio toparia entrar no lugar dele? Em política não existe ponte quebrada que torne inviável a volta de um cavaleiro andante. Os momentos fazem as circunstâncias. O que era impossível ontem poderá acontecer amanhã. Os timoneiros, os guerreiros, os estrategistas, os vencedores costumam se valer da audácia. Valor que T. S. Elliot brindou com a frase “somente aqueles que se arriscam a ir longe conseguem saber até onde podem chegar”. Resta saber o que Tancredo Neves, com seu indecifrável sorriso, andou cochichando aos ouvidos do neto nestes dias prénatalinos. ● Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
que seu candidato ganhe, sim, a eleição presidencial. Aécio Neves da Cunha, enfim, cumpriu seu compromisso com o PSDB. Agora falta os tucanos cumprirem seu compromisso com o partido. NEY JOSÉ PEREIRA neyjosepereira@yahoo.com.br
São Paulo
Aécio,Serra e Dilma O anúncio de Aécio de que desistiu da pré-candidatura à Presidência não trouxe novidade à disputa de 2010, a não ser a de que o PSDB, finalmente, resolveu agir com racionalidade e, de fato, pavimentar seu caminho para o Planalto. Explico-me: para Aécio, que já não tinha nada a perder, continua igual, até porque ele pode escolher o que vai fazer em
A8 NACIONAL
DOMINGO, 20 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
Dedo na ferida O procurador-geral da República, Roberto Rangel, tomou uma atitude que pode fazer pelo País o que nenhuma reforma política seria capaz. Na quinta-feira, ele pediu ao Supremo Tribunal Federal autorização para investigar as atividades do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, sem autorização da Câmara Distrital, a Assembleia Legislativa de Brasília. Roberto Gurgel apresentou o STF uma ação direta de inconstitucionalidade contra uma lei aprovada pela própria Câmara do DF que vincula a abertura de ações contra o governador à decisão dos deputados distritais (estaduais). O argumento do procurador é meridiano: considerando a maioria da “base aliada” ao governador, é obviamente inviável qualquer possibilidade de se obter o aval da Câmara para a investigação pretendida pelo Ministério Público. “Todos sabemos que não apenas no Distrito Federal, mas na grande maioria dos Estados, senão na totalidade deles, o governador sempre tem maioria na Assembleia Legislativa e essa maioria recusa a licença ou simplesmente não examina, não aprecia, o pedido de licença formulado pelo Judiciário. Os anos se passam, nada acontece e se assegura a impunidade do agente político”, justificou o procurador-geral. Tocou num ponto essencial da deformação do sistema, das relações entre Poderes Executivo e Legislativo e da degradação da política, decorrente das infrações escancaradas sob a proteção de instituições que deveriam resguardar o cumprimento da lei e guardar o decoro nos procedimentos. O procurador-geral deu ao Supremo a oportunidade de desmontar um dos pilares da impunidade: a conivência por conveniência. Além disso, expôs a natureza do problema: a servidão das maiorias parlamentares formadas a partir do critério da troca de favores. Se conseguir ganhar a causa, Roberto Rangel terá ido além do caso específico da Câmara Distrital, que aprovou uma lei concedendo a si direitos superiores aos conferidos pela Constituição. Pela Carta, a competência para processar e julgar governadores é do Superior Tribunal de Justiça. Se julgar procedente a ação direta de inconstitucionalidade, o STF estará mandando um recado de atenção a vários tipos de abusos que, por repetidos, já vão se incorporando à rotina de transgressões como se fossem atos muito naturais. Não é apenas a Câmara Distrital do DF que adotou como prática a edição de leis que transgridem a Constituição e a subserviência de resultados, em nome de seus interesses imediatos. No Congresso Nacional, nas Assembleias e Câmaras Municipais Brasil afora ocorre o mesmo. A maioria que se comporta como mercadoria – em todos os governos – impede investigações, produz artificialmente resultados convenientes à chefia e está sempre disposta a prestar quaisquer serviços mediante a distribuição de benesses. O gesto do procurador não soluciona o problema, mas joga luz sobre a questão.
Procurador contesta poder de ‘base aliada’ sustentada por favores do Estado
Deslustre Depois de 140 dias de imposição de censura ao Estado, o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado desistiu da ação contra o jornal, a fim de reafirmar, com o gesto, seu apreço pela liberdade de imprensa. Pena que o Poder Judiciário tenha deixado passar a oportunidade de condenar a agressão ao Estado de Direito e com isso evitado o regozijo do cinismo.
O limbo Enquanto puder, José Serra esticará a oficialização da candidatura ao máximo. Pelas razões já expostas – não quer antecipar o confronto com Lula, quer completar o período regulamentar de governo até o prazo de desincompatibilização etc. –, mas também por um motivo de caráter prático. Serra argumenta que até a convenção oficial do partido não há nada de objetivo que um candidato possa fazer. A campanha é proibida pela legislação eleitoral e o eleitorado ainda não está devidamente engajado na disputa. As articulações políticas não contam, porque essas já estão sendo feitas há muito tempo e ocorrem longe dos olhos do público. Em 2006, quando deixou a prefeitura em abril para ser candidato ao governo do Estado, Serra operou o estômago e passou um mês de molho sem que isso tivesse qualquer efeito sobre a campanha.
Máscaras Aécio Neves assumiu a desistência alegando que não estava mais disposto a sustentar uma “falsa candidatura”. José Serra, em sua resistência de assumir, sustenta agora uma falsa não-candidatura.
Gato escaldado Desde o estouro do escândalo, o governador José Roberto Arruda só faz reuniões na ausência de telefones celulares. Todos os assessores e secretários são obrigados a deixar os aparelhos do lado de fora da sala, aos cuidados de um guardião. ●
SUCESSÃO
Datafolha mostra Serra com 37% e Dilma com 23% Ciro tem com 13% e Marina surge com 8% das intenções de voto para presidente, segundo pesquisa realizada entre os dias 14 e 18 de dezembro GILBERTO TRAVESSO/SUBPREFEITURA DE SÃO MIGUEL
Clarissa Oliveira
Uma nova pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha coloca o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), 14 pontos à frente da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), ao simular a corrida presidencial do ano que vem. No levantamento, realizado entre os dias 14 e 18 de dezembro, o tucano obteve 37% das intenções de voto, seguido da ministra e pré-candidata petista,queficoucom 23%.Emterceiro lugar, odeputado CiroGomes (PSB-CE) teve 13%. Já a senadoraMarinaSilva(PV-AC)ficou com 8%. O levantamento contou com 11.429 entrevistas e a margem de erro é de dois pontos porcentuais. Os dados apontam 9% de votos em branco ou nulos, enquantooutros10%dos entrevistados alegam indecisão. A diferença entre Serra e Dilma também fica na casa de 14 pontos se o nome de Ciro Gomes não aparecernaconsulta.Mas,nestecaso, o governador paulista sobe para40% e Dilma vai a 26%. Marina pula para 11%. Na pesquisa anterior do Datafolha, realizada em agosto, a diferença do tucano para Dilma oscilava de 19 a 25 pontos, de acordo com o cenário. As simulações, entretanto, incluíam a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL),que seretirou dadisputa presidencial. Naquele mês, Serravariavade36% a44%. Dilma pendia entre 16% e 24%. A mais recente verificação ocorreu depois que PSDB e PT exibiram na TV e no rádio seus programas partidários e antes da decisão do governador mineiro Aécio Neves (PSDB) de desistir da candidatura a presidente. O partido de Serra apresentou comercialdia 3. O PT, no dia 10. REPERCUSSÃO
Tanto partidários de José Serra quanto de Dilma Rouseff viram nos números motivo para comemoração. Do lado tucano, o líder do partido na Câmara,
Haddad diz ao PT que depende de aval de Lula Clarissa Oliveira
EM SP – Serra visitou ontem, pela primeira vez, o Jardim Pantanal
PESQUISA
14
pontos porcentuais é a diferença entre o governador José Serra (PSDB) e a ministra Dilma Rousseff (PT)
37%
é quanto o tucano José Serra tem de intenções de votos
2%
é a margem de erro da pesquisa Datafolha
deputado José Aníbal (PSDBSP), afirmou que os dados confirmam Serra em uma posição de “estabilidade consolidada”. “Já a Dilma continua patinando, apesar da exposição feroz queelavemtendonamídia”,disse Aníbal. Já o presidente nacional do PT,
deputado Ricardo Berzoini (SP), classificou os números como“excelentes”paraDilma.Segundo ele, era de se esperar que o tucano demonstrasse um desempenho melhor considerando “a longa história eleitoral” que tem. Berzoini também negou que os números possam desestimular os esforços do PT de tirar Ciro da corrida presidencial. O Planalto aguarda uma resposta do deputado ao convite para que saia candidato ao governo de São Paulo, num esforço para viabilizar uma eleição plebiscitária entre Serra e Dilma. O presidente do PT garantiu, entretanto, que o partido não vai criar “constrangimentos” se Ciro decidir se manter na disputa presidencial. “É obvio que preferimos um cenário ondesejapossívelopordoisprojetos. Mas esta é uma decisão que cabe ao PSB”, disse Berzoini. ● COLABOROU FAUSTO MACEDO
OministrodaEducação,Fernando Haddad, deu ontem mais um passo na estratégia parasecolocarcomoalternativa para disputar o governo de São Paulo em 2010. Reunido a portas fechadas com a Executiva Estadual do PT, ele deixou claro que está disposto a entrar na corrida para o Palácio dos Bandeirantes. Mas disse que a movimentação depende de aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de apoio interno no partido. Na conversa, relatada por participantesdareunião, HaddadnãoeconomizounascríticasaogovernadorJoséSerra (PSDB) e disse ter todo o interesse em integrar um projetoalternativoàatualadministração. Mas o ministro deixou claro que não vai bater de frente com o Palácio do Planalto, que trabalha para tirar o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) da corrida presidencial e lançá-lo em São Paulo. Haddad disse ainda que a primeira sugestão para que saísse candidato partiu de Lula. Ele admitiu, entretanto, que o próprio presidente apontou a falta de apoio ao seu nome no PT como o maior obstáculo. Lula, contouoministro,brincoudizendo que lhe faltavam “garrafas para vender” no partido. A reunião faz parte de uma série de sabatinas que o PT paulista planeja realizar com pré-candidatos. Ainda assim, Haddad desconversou sobre a candidatura na saída do encontro. “Eu vim
Ministro também cita apoio interno como decisivo para candidatura aquimaiscomocientistapolítico”, afirmou, sem conter o riso. “Quando fui convidado a ser ministro da Educação, me foram colocadas duas condições: apresentar em 60 dias o Plano de Desenvolvimentoda Educaçãoepermanecer no governo até o final do mandato”, continuou. Haddad chegou a dizer queconsideraosenadorAloizio Mercadante (SP) e a exprefeitaMartaSuplicyosmelhores nomes para a vaga. Mas desconversou quando questionado sobre o favoritismo que cerca o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci no PT. “Não sei se o Palocci se colocou. Acho que não. Não se colocou, nunca foi candidato.” O presidente estadual do PT, Edinho Silva, disse que a exposição de Haddad foi “extremamente valorizada” pela direção partidária. “O PTSP está de portas abertas se ele quiser oferecer seu nome”, disse. Aliados de Haddad comemoraram. “Foi um gesto importante e reforça a nossa luta pela candidaturaprópria”,disseodeputado estadual, Simão Pedro. ●
ERRATA
Informamos que na edição do Jornal O Estado de S. Paulo, do dia 20/12/2009, no caderno Suplemento Feminino, página 05, no anúncio da empresa COLLINS, o preço do vestido longo floral está errado. Onde consta R$ 149,99; lêse R$ 299,99. Moda Collins. www.modacollins.com.br
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A14 NACIONAL
DOMINGO, 20 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 142 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entrevista FernandoHenriqueCardoso: ex-presidente
FHC considera ‘absurdo’ qualquer atropelo à mídia e alerta que democracia no País deve ser ‘cuidada permanentemente’ Julia Duailibi
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a liberdade de imprensa é o contrapeso“fundamental”paraademo-
cracia.“Acríticasempreincomoda.Masa função de quemestána mídia é criticar e de quem está no governo é entender a função da mídia. Não pode, como agora, antes de qualquer coisa, dizer que você não pode entrar em tal matéria. Me parece absurdo.” ParaFHC, que combateu oregime militar de 1964, a censura prévia pela qual passa o Estado é um resquício daquele período. “ImagineiqueoBrasilnãovoltas-
seaveressesmomentosdecensura prévia.” Abaixo, a entrevista: Como o sr. vê a censura ao Estado?
Com espanto. Imaginei que o Brasilnãovoltasseavermomentos de censura prévia. Depois que o STF acabou com a Lei de Imprensa, dava a impressão de queiríamos para outro caminho. NoBrasil, háumflerte commedidas autoritárias?
IssonoBrasilépermanente.Nossaraizhistóricanãoédemocrática. As pessoas custam a aceitar o jogo da democracia, do respeito à lei. A tendência é da arbitrariedade do poder. A democracia aqui tem de ser cuidada permanentemente porque toda hora há forças,no fundo,contrárias aela. Que forças são essas?
Forças culturais. Isso vem da nossacultura, que é formada nu-
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE–30/1/2009
‘Imaginei que o Brasil não voltasse a ver censura prévia’
FARPA – Em ‘falcatrua de ordem pública’não há privacidade, diz FHC
‘Não há democracia não houver contrap HánaAméricaLatinaesseriscoà liberdade de imprensa, em razão de medidas recentes adotadas na Venezuela, na Argentina?
Também. Na América Latina toda,eemmuitaspartes, existeessatendênciaquevemjunto com outras coisas, como tendência ao monopólio, a achar que é o Estado que deve fazer tudo. Isso vem tudo junto, é um bloco cultural que já seexpressaemtradiçõeseinstituições e, depois, em crenças e pessoas que se entusiasmam por ideias autoritárias. Há correlação entre liberdade de imprensae desenvolvimento?
Sim. No fundo, a integração da Europa generalizou regras de comportamento mais calcadas em valores da competitividade, da transparência e de respeito à regras. A
gente não consegue aplicar essas regras nem no Mercosul. O Brasil fica hesitando entre assumir claramente esta posição, a da democracia, do respeito à regra e da transparência, e namorar com regimes que são mais controladores, mais autoritários. Como sempre, namorando com o outro lado. Esse contexto demonstra fragilidade das instituições brasileiras?
Acho que sim. A própria opinião pública não cobra. Não é que a imprensa não cobra, a imprensa fala. A opinião pública se encolhe diante disso. Agora parece que a própria opinião pública nãoecoa.Nãotoma posiçãodiante das coisas. Vai para o outro caso,aquestãodacorrupção.Todo mundo sabe que para mudar a questão é a impunidade. Mas quem é que cobra punibilidade?
DOMINGO, 20 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL A15
Ação é retirada, mas censura segue O empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, apresentou na última sexta-feira, véspera do recesso forense, pedido de desistência da ação contra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término do recesso, o jornal será intimado a decidir se concorda com a extinção ou prefere que a Justiça
aprecie o mérito. Mariana Uemura Sampaio, diretora jurídica do Grupo Estado, afirmou que, no momento, o anúncio tem “apenas efeito midiático”. O pedido do empresário foi feito nove dias após o Supremo Tribunal Federal ter arquivado reclamação do jornal contra a censura sem decidir sobre seu mérito. ●
ma visão onde a separação entre o público e o privado é confusa, onde o favoritismo, o clientelismo e o arbítrio permanecem como uma tendência. Aqui a ideia de quem pode, quem não pode se sacode é generalizada.
calada, mas como isso tem uma base cultural, quando não há forçasquecontrapõemfirmemente, isso renasce. Mesmo neste último congresso sobre os meios de comunicação houve tendências controladoras.Nãocreioqueprevaleçam.A minha aposta é queas forças mais abertas, mais democráticas, avancem no Brasil. ●
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AANJdizhaverumaescaladadedecisõesnaJustiçacontraliberdadede imprensano País.
Não poderia dizer que há uma es-
a se esos’ As pessoas que foram alegadamente acusadas de corrupção são muito bem recebidas na sociedade, continuam atuando como se nada houvesse. O sr. disse recentemente que há uma inércia no País hoje.
Há uma certa inércia. Precisamos tentar despertar o sentimento de maior consistência com os valores. Mas hoje vivemosnuma sociedade que quem a organiza é o mercado. O mercado temregra. Masqueoutros valores existem, em que mais está baseada a sociedade? Na solidariedade? Muito pouco. Coesão? Muito pouco. Na participação, na vontade de que as pessoas realmente se informem e tenham uma opinião mais clara? Muito pouco. E um País não pode ser só o mercado. Tem de ter os valores. Valor da democracia,
† Continua abaixo
da liberdade da imprensa. Aqui estátudosendoresumidoa‘cresceu ou não cresceu’ e ‘a quanto cresceu’. Aumentou o poder de compra? Isso é muito bom, mas não basta. O resto está um tanto descuidado. As instituições, ao meu ver, não se fortaleceram nestes últimos tempos. Issoserefletenaquestãodaliberdade de imprensa?
Sim, porque as pessoas ficam mais ou menos preocupadas com outros valores. Osr.achaque oscontrapesos dasociedade estão frágeis?
Exatamente. Não há democracia se não houver contrapesos. E a liberdade de imprensa é fundamental para isso. Fui presidente, ministro, a crítica sempre incomoda. Mas a função de quem está na mídia é criticar, e de quem está no governo é entender a função da mídia. Claro que quando a mídia exagera, mente, distorce, tem que reclamar também. Se você é ofendido, tem de ter um tribunal que te defenda. Mas não pode, como agora, antes de qualquer coisa, dizer que você não pode entrar em tal ma-
téria. Me parece absurdo. Na Presidência, teve algum assunto que o sr. gostaria que tivesse sido censurado?
Nunca. Olha, aguentei durante dois anos uma chantagem de um negócio chamado Dossiê Cayman. Eu, o Mário Covas. Uma chantagem. Aquilo apareceu como se fosse uma possibilidade, sem que ninguém tivesse dito de onde saiu o dinheiro. O que eu fiz? Fui para os tribunais. Para reclamar não da mídia, mas de quem tinha feito. Aliás, diga-se de passagem, até hoje não foi julgado. Está errada também essa morosidade das decisões. Mas vontade de censurar, nunca. Alémdamorosidade,aJustiçaainda estásubmetidaàinfluênciapolítica?
Existe influência política, morosidade e legislação inadequada. Não é a Justiça só, é um conjunto. Mas trabalhamos pouco para mudar essas questões. Agora, devo dizer, o Conselho Nacional de Justiça tem tido um papel importante de acelerar decisões. Uma das razões pelas quais há sensação de impunidade na questão da corrupção é porque
há mecanismos protelatórios de decisão.Tudoé protelado.Aquele cara nos Estados Unidos que deu um golpe (Bernard Madoff) está na cadeia. Aqui só está na cadeia o juiz Lalau, aliás desde o meu tempo. Não vou dizer que no meu tempo tinha muita gente, não, porque também não tinha.Nãoé umaquestão do presidente, é mais amplo do que isso. Temos que continuar mantendo uma pregação pela liberdade e democracia. Denunciar o arbítrio, não deixar que esses valores mais atrasados voltem.
Para ele, liberdade de imprensa é como oxigênio: ‘Só sente quando deixa de ter’ Há dicotomia entre liberdade de expressão e direito à privacidade?
Acho que é uma falsa dicotomia. Uma coisa é direito à privacidade, que todo mundo tem de ter. Outra é limitar o direito de expressão antes de saber se afetou qualquer direito de privacidade. Se você está metido numa falca-
trua de ordem pública, aí não é privacidade. Você pode dizer: eu não quero ser condenado antes de julgado. Tem todo direito. Qualopapeldaliberdadedeimprensano fortalecimento democrático?
É fundamental. Mas liberdade você só sente quando deixa de tê-la. É como oxigênio. Como em geral não está acontecendo nada, as pessoas não dão valor. Mas é só começar a ter um processo de limitação de liberdade que as pessoas vão perceber que muda tudo. Como caiu o regime autoritário no Brasil? Houve muita pressão. Participei ativamente disso. Mas caiu efetivamente quando foi possível enfraquecer a censura e fazer com que as notícias circulassem. Foraisso, oqueacontecia no Brasil, torturae tudo omais, pouca gente tomava conhecimento e poucosse mexiam para lutar contra. Eram poucos que gritavam. Na medidaemquehaviacensura,isso não transpirava. No momento em que a opinião pública, sobretudo a televisão, começou a noticiar o que estava acontecendo, houve grandes mobilizações populares, que cercaram o regi-
me. Mas isso não existiria se não tivesse havido a liberdade de imprensa. Essa censura prévia ao Estado é um resquício de 1964?
Não tenha dúvida. Trabalhei na época do regime autoritário num jornal chamado Opinião. E havia censura. Era um inferno. Ao censor você mandava um artigo,elescortavampalavras,frases. Você tinha que mudar, ficava naquele dilema: se diz então ‘não publico’, ninguém sabe por que não publicou. Se você publica, não publica exatamente o queestá pensando, temque mitigar. É inaceitável. Qual mensagem fica para os que achavamqueoBrasilestavalivreda censura?
Infelizmente, dada a anestesia noBrasil,areaçãoépequena.Deveria ter sido maior. Estamos vivendo um momento difícil porque vem junto com a expansão da economia. Como é o mercado que rege a sociedade no Brasil, infelizmente, o resto fica obscurecido. É uma pena. Espero que agora,com a eleição,asociedade desperte um pouco mais. ●
o estado de s. paulo
● Edição das
23h15
SEGUNDA-FEIRA
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(1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
21 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42433
Governo abre o cofre para demitir sem ônus político Incentivos criados por estatais elevam em 74% gastos com obrigações trabalhistas aposentadoria não rompe vínculos empregatícios. Desde então, 76.225 aposentados mantiveram o cargo. Os Correios, por exemplo, já gastaram R$ 352,8 milhões em dois PDVs que levaramàdispensade6.023servidores, dos quais 4.769 estavam aposentados. ● PÁGS. B1 e B3
JULIO MESQUITA
Força-tarefa de ministros vai ajudar Dilma em SP O Planalto usará uma tropa de choque de ministros como Guido Mantega (Fazenda) para divulgar programas federais em São Paulo e apoiar a candidatura Dilma Rousseff. A intenção é evitar que o tucano José Serra capitalizesozinhooapeloeleitoral de obras que têm apoio federal, como o Rodoanel. “Precisamos consolidar essa marca do governonoEstado”,diz oministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. ● PÁG. A4
Ogovernofederaldesembolsou R$ 155 milhões em indenizações trabalhistas de janeiro a novembro, 74% a mais do que no mesmo período de 2008. Por trásdoaumento dedespesas estão os incentivos financeiros de ProgramasdeDemissão Voluntária(PDVs)criados pelas esta-
tais para estimular a saída de aposentados sem a necessidade de arcar com o ônus político de demissões. Em muitos casos, esses funcionários ocupam cargos altos e resistem a deixálos. O quadro se agravou em 2006,quandooSupremoTribunal Federal (STF) decidiu que a
Autópsias mostram que H1N1 lesiona o pulmão
Obama fecha primeiro ano com balanço modesto
Tarifa de ônibus subirá para R$ 2,70 no dia 4 de janeiro
As autópsias de 21 vítimas brasileiras da gripe suína mostram que o vírus H1N1 causadanosaopulmãosemelhantes aos das pandemias de influenza de 1918, 1954 e 1968. Os exames, feitos por cientistas da USP, indicam ainda que houve resposta exageradadosistemaimunológico à doença, o que acabou prejudicando os pacientes. ● PÁG. A12
BarackObamaencerraoprimeiro ano na presidência dos EUA contabilizando como vitórias da sua gestão a reforma do sistema de saúde eatésuaparticipaçãonaconferência sobre o clima de Copenhague. Analistas põem emdúvidaavançosfeitos nas duas frentes e afirmam que o desempenho de Obamaficou aquémdasexpectativascriadas por sua posse. ● PÁG. A8
Após três anos sem reajuste, a tarifa de ônibus vai subir em 4 de janeiro para R$ 2,70 – alta de 17,4%. Com isso, São Paulo terá uma das passagens mais caras do País. Nas outras capitais o valor não passa de R$ 2,50. O congelamento até o fim do ano foi uma promessa de campanha doprefeitoGilbertoKassab.Para cumpri-la, ele bancou R$ 783 milhões em subsídios às empresas de ônibus. ● PÁGS. C1 e C3
Dívida pública já assusta ●●● A dívida bruta do setor público, que já se aproxima de R$ 2 trilhões, é o novo fantasma dos analistas da economia brasileira.
Ela cresceu de 53% para 67% do Produto Interno Bruto (PIB) durante o governo Lula e pode superar 70%. ● PÁG. B5
ESPORTES
CADERNO 2 Mordaça literária
PAULO PINTO/AE
●● Herdeiros tentam barrar obra sobre assassinato de Euclides da Cunha. ●
●●● Com 5 a 2 sobre o México, a seleção brasileira de futebol femini-
O STF e a incerteza jurídica Cabe ao STF garantir segurança jurídica. Mas tem tomado decisões confusas, imprecisas e mal fundamentadas. ● PÁG. A3
●●●
Tempo: CAPITAL
33ºMÁX.
● PÁG. C2
19º MÍN.
Tempo aberto e calor em todo o Estado.
Hoje: 56 páginas A. 1º caderno: 14 ● B.
Acidente de carrodeixa em coma cineasta Fábio Barreto O cineasta Fábio Barreto, de 52 anos, diretor do filme Lula, o filho do Brasil, está internado, em coma induzido, no Hospital Copa D’Or, no Rio. Ele capotou o carro na noite desábadoesofreutraumatismo craniano. Seu estado é considerado grave. ● PÁG. C7
Economia: 10 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● L. Link: 8 Classificados: 91 anúncios
7 8 9 10 11 12
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 143 DIAS q PÁG. A7
Derradeiro check-out
●●● O empresário italiano Marco Crippa, um dos últimos hóspedes do Grand Hotel
Ca’d’Oro, deixa seu quarto. Aberto em 1953 e outrora ponto de encontro de artistas e intelectuais, o primeiro cinco-estrelas paulistano fechou as portas ontem. ● PÁG. C8
DECIO GERALDO/FOTOREPÓRTER/AE
NOTAS E INFORMAÇÕES
TIAGO QUEIROZ/AE
no levou ontem a taça do Torneio Cidade de São Paulo. ● PÁG. E2
Clima
Frio causa caos e mortes na Europa ●● SóPolôniaregistra29mortos; trens do Eurostar têm operação suspensa. ● PÁG. A9
10 anos de ouro em 60 games ●● Os melhores jogos,
entre eles Super Mario, de um período marcante na história eletrônica. ●
Saúde pública
Morre criança de bairro alagado ●● Médicos suspeitam que leptospirose matou morador da Vila Itaim. ● PÁG. C6
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SEGUNDA-FEIRA, 21 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Dilma e Serra em Copenhague
Liberdade de imprensa
JoséGoldemberg
DenisLerrerRosenfield
Os dois principais candidatos à sucessão do presidente Lula participaram da Conferência do Clima que se reuniu durante as duas últimas semanas em Copenhague. O que isso significa é que preocupações com o clima deixaram de ser privilégio dos especialistas e amantes da natureza para entrar na agenda política. Os candidatos prepararam seus discursos não só para impressionar os participantes da conferência, mas, principalmente, os eleitores brasileiros, sobretudo aquela parte do eleitorado que não se preocupa apenas com Bolsa-Família. A ministra Dilma Rousseff apresentou no caderno Aliás de 13 de dezembro suas visões sobre o problema e o governador José Serra expressou as dele na apresentação que fez, juntamente com o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, na terça-feira, dia 15, em concorrida sessão na capital dinamarquesa. A ministra repetiu no seu artigo a posição histórica do governo federal, que não muda
Retórica obsoleta da ministra contrasta com ação do governador há muitos anos, incluindo o período do governo Fernando Henrique Cardoso: ● Os países industrializados são os que têm de reduzir primeiro suas emissões por causa da “dívida acumulada com o planeta” (responsabilidade histórica). A Convenção do Clima e o Protocolo de Kyoto são intocáveis porque isentam os países em desenvolvimento de reduzir suas emissões. ● Os países industrializados têm de pagar pelas ações necessárias nos países em desenvolvimento – nunca fica claro se é por meio de financiamentos (o que o Banco Mundial já faz) ou de concessões a “fundo perdido” que não são reembolsáveis. Essas colocações são obsoletas e foram superadas pelos fatos. Em 1992, quando a Convenção do Clima foi adotada, os países em desenvolvimento emitiam menos de um terço das emissões mundiais. Hoje emitem metade e estão crescendo a 4% ao ano, principalmente por causa da China, que já é o maior emissor mundial. Cerca de metade das emissões mundiais ocorreu desde 1980, de modo que a “responsabilidade histórica” é difícil de justificar. Além disso, as “ações necessárias” não são do tipo que foi preciso para enviar um homem à Lua, mas tecnologias simples e disponíveis. No caso brasileiro, aliás – em que a maioria das emissões
se origina no desmatamento da que nos paguem por fazer o Há 143 dias o jornal O Estado la severamente. Os algozes da Amazônia –, não é necessária que não é mais do que nossa de S. Paulo está sob censura. democracia estão fortemente nenhuma tecnologia nova, mas obrigação com a saúde do plaO número é propriamente as- estruturados na América Latia presença do poder público na neta. sustador, dificilmente imagi- na, no interior de sua proposta região, regularização da proO governador Serra não nável num país que vive sob socialista autoritária. Realce depriedade da terra e estimular condicionou suas ações a beregime democrático. As idas ve, portanto, ser dado a essa dealternativas de desenvolvimen- nesses internacionais, mas exe vindas desse processo, afo- cisão anterior de nossa mais alto que não sejam predatórias. plicou que a lei adotada em ra as tecnicalidades jurídicas, ta Corte. No entanto, o mesmo SupreNo caso da China, isentá-la São Paulo pretende reduzir mostram quão difícil é viver de assumir compromissos de as emissões do Estado em num regime de liberdades, mo, confrontado com um recurreduzir suas emissões (que, por 20% (abaixo do nível de 2005) porque os que se articulam so do Estadão, voltou atrás em sinal, ela já está fazendo com o até 2020, por meio de um concontra ele se fazem perigosa- relação aos princípios por ele assegurados. É bem verdade uso mais eficiente de energia) é junto de políticas públicas mente presentes. também difícil de justificar. que, ao contrário de frear o O Supremo Tribunal Fede- que tecnicalidades jurídicas poA posição tradicional do Ita- desenvolvimento paulista, vai ral deu um exemplo à Nação dem ter influenciado essa decimaraty, que a ministra agora estimulá-lo pela adoção de quando aboliu a Lei de Im- são. Há, contudo, algo bem endossa, sempre se baseou na tecnologias mais modernas, prensa, que era um resquício maior aqui em causa, relativo tentativa de manter coeso o mais eficientes e, portanto, do regime autoritário. Naque- ao princípio mesmo da liberda“Grupo dos 77” (que tem mais menos poluentes. le então, chegou a se esboçar de de imprensa versus uma de 120 países), incluindo os A ministra tenta dar às uma discussão, aliás, perti- questão processual. O paradomais pobres da África e da propostas do Brasil (feitas nente, sobre se não se criaria xo consiste em que a nossa SuÁsia, como Sudão e Tuvalu, em novembro) o papel de deum vácuo legal no sentido da prema Corte, confrontada com que realmente necessitam de sencadear ações de outros proteção de algumas liberda- uma questão de princípio, funassistência técnica e financei- países e atribuir, portanto, ao des individuais. Foi, no entan- ção primordial sua, optou por ra. Usá-los como desculpa para Brasil um papel de liderança to, vencedora a proposta de uma resposta processual, que não reduzir as emissões na Chi- no processo. As medidas em que o mais importante consis- deixa a descoberto o fundamenna, na Índia, na África do Sul e preparação nos outros países tia numa afirmação de princí- to de nossa Constituição. A hoem outros países com econo- (como China, Índia e EUA) pio, consoante com os funda- ra era emblemática: a de afirmia pujante pode ser boa políti- são bem conhecidas há vários mentos de nossa Constitui- mação de uma questão de princa no tabuleiro político das Na- meses e o Brasil foi um retarção. A liberdade de imprensa, cípio, diante dos já longos 143 ções Unidas, mas reflete uma datário nas discussões, excenaquele momento, foi elevada dias de censura completados hoje. Para um regime democráfalta de compreensão real da to pelos progressos na redua princípio incontestável. gravidade dos problemas que ção do desmatamento da Observe-se o valor de tal tico, é uma eternidade. O assunto reveste-se ainda estão sendo criados pelo aque- Amazônia, que são mérito da afirmação de princípios, socimento global. então ministra Marina Silva. bretudo considerando que o de maior gravidade porque a É por essas razões que a reLiderar teria sido reunir atual governo tentou, com a censura em questão visa a protórica da ministra de que o os principais emissores entre proposta de criação de um teger o filho do presidente do Brasil está no grupo dos países os países em desenvolvimenConselho Federal de Jornalis- Senado, ex-presidente da Repúdos quais se esperam ações vo- to – que se contam nos dedos mo, fazer valer princípios cor- blica, envolvido em vários atos luntárias (mas que, apesar dis- – e apresentar uma proposta porativos que poderiam aten- considerados ilícitos pela Políso, apresentou em novembro comum, assumindo as suas tar contra essa mesma liber- cia Federal. Ele está sob investias metas de reduzir as emis- responsabilidades e se afasdade. Considere-se igualmen- gação da Operação Boi Barrisões em nosso país entre 36,1% tando de retórica inútil de te que o entorno latino-ameri- ca, com gravações telefônicas e 38,9% do que se estima que “culpar os outros”. ● cano é dos mais perigosos pa- que parecem atestar uma série elas serão em 2020) é um exerra a liberdade de imprensa, de condutas não condizentes cício de futurologia e impres- José Goldemberg, professor da com Hugo Chávez, na Vene- com o ordenamento jurídico de siona pouco. Em primeiro lu- Universidade de São Paulo, zuela, procurando suprimi-la, nosso país. Até diria que o filho gar, a precisão dos números foi secretário do Meio Ambiente com Cristina Kirchner, na Ar- de um ex-presidente deveria (até com casas decimais) tenta da Presidência da República gentina, procurando cerceá- ser um exemplo para o País, e passar uma imagem de segu- em 1992, durante a Conferência la, e com Rafael Correa, no não o contrário. Acontece que rança técnica que inexiste nes- do Clima no Rio de Janeiro Equador, tentando restringi- ele se encontra na iniciativa da ação de censura, que tersa área. Em segundo luminou acolhida por um gar, o governo federal só juiz amigo da família, flafez isso depois de um amgrado numa foto festiva plo movimento nacional de confraternização. Paque o forçou a abandora o cidadão comum, esnar o seu imobilismo – e LEO MARTINS tamos diante de um “priseria generoso da parte vilégio”. da ministra reconhecer O que é um “priviléisso. Em terceiro lugar, gio”? Segundo o Dicionáa insistência na palavra rio Houaiss, privilégio “voluntárias” acaba por significa “direito, vantadesorientar as pessoas. gem, prerrogativa, váliSe as metas são mesmo dos apenas para um indipara valer, qual é a difevíduo ou um grupo, em rença entre metas volundetrimento da maioria; tárias e “legalmente vinapanágio, regalia”. A culantes”, que é a linguasua etimologia vem do lagem dos tratados intertim “privilegium, ii, ‘lei nacionais? excepcional concernenEm contraste, o diste a um particular ou a curso do governador Serpoucas pessoas; priviléra, tal como o do governagio, favor, graça’; ver pridor Schwarzenegger, é vilegi-; f.hist. sXIII priviexemplo de discurso legio, sXIV priuylegyos, adulto, que reconhece sXV preuilegio”. O seu claramente que estamos elemento de composição todos contribuindo para é “antepositivo, do lat. o aquecimento do planeprivilegium, ii, ‘lei excepta e precisamos tomar cional em favor de um providências concretas e particular; privilégio’”. efetivas para evitá-lo, inA censura é, nesse sentidependentemente do do, um privilégio. que os outros estão fazen- Obama: e essa chuva que não para... Privilegiados são, pordo e tampouco exigindo
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES DNAsubdesenvolvido Nosso Lulinha paz e amor, como negociador esperto que sempre foi, fez sua média no último dia da conferência sobre o clima, sexta-feira, em Copenhague, puxando novamente a sardinha para o lado dos 5/6 da humanidade que beiram a miséria. Lula acusou os países ricos de se terem desenvolvido e industrializado antes de africanos, sul-americanos e asiáticos e, portanto, devem pagar a conta da destruição do meio ambiente. Esqueceu-se nosso ilustre apedeuta de que a América Latina teve universidades bem antes que Harvard ou que a primeira universidade fosse criada nos EUA. Esqueceu-se também de que Alemanha, França, EUA, Canadá e outros países hoje ricos e desenvolvidos eram pobres co-
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
mo os latino-americanos quando embarcaram no vagão da industrialização inglesa e nos deixaram a ver navios no horizonte da História. O que aconteceu por aqui é que a maioria dos cidadãos que povoaram o planeta abaixo da Linha do Equador se acostumou com a fartura da natureza e, em vez de se desenvolver mental e tecnologicamente para sobreviver, preferiu o caminho mais fácil de extrair, destruir e desmatar. Sofremos até hoje com a herança dessa mentalidade primária, quando políticos e administradores continuam egoisticamente destruindo a natureza, enganando os seus eleitores e assaltando os cofres públicos. VICTOR GERMANO PEREIRA victorgermano@uol.com.br
São Paulo
ENDEREÇO
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Censura,143 dias De quem é a culpa pela “interpretação equívoca de restringir a liberdade de imprensa”? Do juiz amigo da família? Do TJDF? Dos seis membros da Suprema Corte que há 143 dias vêm deixando a mordaça ativa? Não devemos esquecer de que são todos dotados de notório saber jurídico. LUIZ CARLOS TIESSI tiessilc@hotmail.com
Jacarezinho (PR)
Qual terá sido o real motivo da repentina atitude de “benevolência” de Fernando Sarney, retirando a ação contra o Estadão? Ter-se-iam “perdido” as provas cabais contra es●
(11) 3856 2920
Malna fita se cidadão? O tempo dirá. LEILA E. LEITÃO
Itanhaém ● Um fato é óbvio: o cidadão que se comporta direito terá sempre garantida a defesa dos seus direitos pessoais. ANTONIO WUO wuo.antonio@gmail.com
Mogi das Cruzes
A mordaça prossegue, mas a luta continua. Pois a censura cala a voz, mas não tapa olhos e ouvidos. Enfim, a censura impede o texto, mas não esconde o contexto. ●
A. FERNANDES stndyball@hotmail.com
São Paulo
Cesare Battisti e David Goldman, dois imbróglios que afetam a imagem do Brasil no cenário internacional. O primeiro refere-se àquele homicida italiano cuja extradição já deveria ter sido consumada, mas continua uma incógnita. O segundo caso é o do menino americano que deveria estar com seu verdadeiro pai. Qualquer cidadão que tenha um mínimo de inteligência se sente envergonhado ao ver tantas decisões jurídicas administrativas conflitantes e desconexas. Estamos diante de um verdadeiro cipoal jurídico! ALOISIO PEDRO NOVELLI celnovelli@terra.com.br
Marília ● “Nunca antes neste país” o STF ficou tão exposto a questionamen-
tanto, aqueles que gozam de um direito exclusivo, usufruindo legalmente vantagens em detrimento dos outros. Privilégio é uma lei cuja validade é apenas particular, dirigida a um grupo social, a um estamento, a um conjunto determinado de indivíduos, por razões corporativas, sociais, sexuais, raciais, profissionais, econômicas ou outras. Trata-se de uma “lei excepcional”, direcionada exclusivamente a um grupo de pessoas. No caso, os interesses de um grupo regional que usufrui, oligarquicamente, suas posições políticas. A situação é tanto mais grave que ela contrasta com outros escândalos que têm permeado a História recente. Apesar de nossos graves e constantes problemas de “imoralidade pública”, com corrupção e desvio de recursos públicos povoando nossas páginas políticas, que mais parecem páginas policiais, o País tem crescido com isso. E tem crescido graças à publicização dada a esses atos ilícitos, mostrando e flagrando políticos cujo currículo mais se assemelha a uma folha
Os algozes da democracia estão fortemente estruturados corrida. Há mesmo uma iniciativa popular, já apresentada à Câmara dos Deputados, impedindo que políticos condenados em primeira instância possam candidatar-se. Uma iniciativa tão louvável não teria sequer ocorrido se a imprensa e os meios de comunicação em geral não tivessem exercido a sua função. E essa sua função está assentada justamente no exercício da liberdade. Os últimos anos foram os dos mensalões: do PT, do PSDB e do DEM. Foram exaustivamente expostos pela imprensa, dando aos cidadãos a possibilidade de julgar. Não houve nenhum cerceamento à liberdade. Os meios de comunicação, e a imprensa em particular, agiram sem nenhuma trava. Os envolvidos podem ter sido prejudicados, alguns alegando inocência, outros dificilmente podendo sustentá-la. Estão eles no seu direito de ser ressarcidos, em sua honra, se tiverem sido injustamente condenados pela opinião pública. Não houve, no entanto, censura e o País fez e continua fazendo o aprendizado de seus erros. Erro maior consiste, porém, na manutenção da censura, pois esta, sim, é irreversível e, a médio prazo, extremamente daninha para as instituições democráticas. ● Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS. E-mail: denisrosenfield@terra.com.br
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
tos. Discussões internas, decisões polêmicas e vaivéns sobre casos recentes, como os da censura ao Estadão, da extradição do fugitivo italiano Battisti e, agora, o da devolução do menino S. ao pai, dentre outros, são sinais de que o Supremo está perdendo a supremacia. Sinal de esgotamento dos princípios constitucionais ou simples apagão do STF? GILBERTO DIB gilberto@dib.com.br
São Paulo ● Uma criança pertence a seus pais. Se um deles morre, ela pertence ao que ficou vivo. Eu achava que quanto a isso não podia haver dúvida. Mas estou vendo que, para a Justiça brasileira, a questão é bem mais complicada. Ela precisa de anos para
SEGUNDA-FEIRA, 21 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Fundado em 1875
Julio Mesquita (1891-1927) Julio de Mesquita Filho (1927-1969) Francisco Mesquita (1927-1969) Luiz Carlos Mesquita (1952-1970) José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988) Julio de Mesquita Neto (1969-1996) Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997) Américo de Campos (1875-1884) Nestor Rangel Pestana (1927-1933) Plínio Barreto (1927-1958)
Conselho de Administração Presidente Aurélio de Almeida Prado Cidade
Opinião
Diretor de Opinião: Ruy Mesquita Editor Responsável: Antonio Carlos Pereira
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NOTAS & INFORMAÇÕES
O STF e a incerteza jurídica
A
o discutir um recurso no qual o governo italiano pedia esclarecimento de dúvidas constantes do texto que resume o julgamento do ex-ativista italiano Cesare Battisti, o Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a agir de maneira insólita, alterando a decisão que havia dado ao caso há exatamente um mês. Foi uma “virada de mesa”, afirmou o ministro Marco Aurélio Mello durante a sessão, que foi marcada por novas e constrangedoras cenas de bate-boca entre seus integrantes. “Estamos aqui a reabrir os votos. Isso é perigosíssimo”, disse Mello nas altercações que teve com o ministro Eros Grau. No julgamento de novembro, por 5 votos contra 4 o Supremo decidiu que Battisti deveria ser extraditado, mas que a palavra final caberia ao presidente da República, que poderia entregá-lo ou mantê-lo no País. Em seu pedido de esclarecimento, os advogados do governo italiano perguntaram à mais alta Corte brasileira se Lula teria liberdade total para tomar essa decisão ou se seria obrigado a levar em conta o tratado de extradição que foi firmado pelo Brasil com a Itália, em 1989,
e aprovado pelo Congresso, em 1993. Ao responder ao pedido, Eros Grau afirmou que o presidente somente poderá agir com base nos termos do tratado, sob pena de responder por crime de responsabilidade e ficar sujeito a contestação no próprio Supremo. Na prática, isso limita as alternativas legais de que Lula disporia para decidir o futuro do exativista, que foi condenado por quatro crimes de homicídio em plena vigência da democracia na Itália. Como em momento algum o tratado de extradição Brasil-Itália foi invocado no julgamento de novembro, o “esclarecimento” acabou abrindo uma brecha jurídica para que os advogados do governo italiano entrem com um novo recurso contra a decisão do Supremo, o que pode mudar radicalmente os rumos do processo. Para os ministros Marco Aurélio Mello e Ayres de Britto, o colega Eros Grau teria alterado o teor do voto que deu em novembro, derrubando com isso a decisão dos cinco ministros que, ignorando o tratado de extradição, deram a Lula a liberdade total para entregar ou não Battisti à Itália.
Jogando dinheiro fora
S
ó a generosidade excessiva do governo do PT, fruto da ambição de seu chefe de tornar-se um líder regional a qualquer preço, pode explicar, mas não justificar, a concordância do Brasil em pagar mais US$ 1,2 bilhão pelo gás que compra da Bolívia. Desde que, em 2006, decretou a nacionalização do setor de gás natural e colocou em risco o fornecimento regular, o governo bolivariano de Evo Morales vem pressionando o Brasil para pagar cada vez mais pelo produto. O governo Lula aceitou a pressão e, em 2007, assinou a Ata de Brasília, por meio da qual se comprometia a pagar mais pelas “frações líquidas” – propano, butano e gasolina natural – do gás da Bolívia. Trata-se de um mero jogo de palavras, pois o gás continuará sendo o de sempre, já que a Bolívia não tem condições de separar as frações. Por isso, a Petrobrás não aceitava pagar mais. Mas a resistência da Petrobrás chegou ao fim na semana passada, com a decisão de assinar, com a estatal boliviana YPFB, um termo aditivo ao contrato de importação de gás – cuja vigência se estenderá até 2019 – que assegura à Bolívia o pagamento adicional de cerca de US$ 100 milhões por ano com efeito retroativo a 2007. Para a Bolívia é uma ótima notícia, pois o dinheiro extra vem no momento em que suas contas externas começam a registrar dificuldades em razão da baixa demanda de gás, do qual o Brasil é o grande comprador, e da queda da cotação do produto. Pior para o Brasil. Ao acei-
tar pagar mais pelo mesmo produto, o governo Lula admite e reforça sua condição de refém da política de gás natural que o governo de Evo Morales lhe impôs. E faz isso num momento em que, afinal, o Brasil vai adquirindo as condições para livrar-se, de uma vez por todas, da dependência das idiossincrasias e da chantagem político-econômica de Morales. Um dos efeitos da crise mundial sobre a produção industrial do Brasil foi a queda da demanda de gás natural. Além disso, as condições climáticas muito favoráveis reduziram a utilização do combustí-
A aceitação das pressões sobre o preço do gás da Bolívia vel para a geração de energia elétrica. De uma média de 59 milhões de m³/dia em 2008, o consumo da gás natural no Brasil caiu para cerca de 45 milhões de m³ em 2009. Há cerca de quatro meses, o Brasil registrou a maior sobra de gás natural de sua história. No total, deixaram de chegar ao mercado 20,4 milhões de m³/dia, em média, volume comparável ao que o Brasil compra da Bolívia. Parte desse gás é retirada dos poços de petróleo, mas, não tendo como ser transportados para os centros de consumo, 8,7 milhões de m³ são queimados na atmosfera; outros 11,7 milhões de m³ são reinjetados nos poços, por falta de demanda ou de infraestrutura para transporte. Do lado da produção e do
Qualquer que venha a ser o desfecho desse caso, ele é mais um exemplo da incerteza jurídica reinante no País. Como instância máxima do Poder Judiciário, cabe ao Supremo aplicar a Constituição e garantir a segurança jurídica nas relações sociais, econômicas e políticas. Nos últimos tempos, contudo, tem proferido decisões confusas no mérito, imprecisas na forma e mal fundamentadas em termos legais, a ponto de gerar mais confusões do que oferecer soluções para quem bate em suas portas com o objetivo de preservar seus direitos. A mudança no rumo do caso Battisti ocorreu uma semana após o STF, ao julgar o recurso impetrado pelo Estado contra a censura prévia que lhe está aplicada por uma Corte de 2º grau, impedindo-o de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, ter dado uma decisão contrária a outra que fora tomada meses antes, em matéria de direito de informação. Na ocasião, a Corte revogou a velha Lei de Imprensa da ditadura militar e o extenso acórdão da decisão, divulgado na primeira semana de novembro, enfatizou a im-
portância das liberdades públicas, das garantias fundamentais e da certeza jurídica para o regime democrático e o Estado de Direito. Desde então, os advogados de jornalistas e órgãos de comunicação passaram a utilizar o acórdão como marco legal para suas petições nas diferentes instâncias judiciais. No julgamento do recurso do Estado, porém, alguns ministros do STF ignoraram o voto dado no caso da Lei de Imprensa, desprezaram o acórdão correspondente e mantiveram a censura. E, ao justificar a contradição, apelaram para formalismos processuais, esquecendo-se de que, numa Corte constitucional, o que deve prevalecer são os princípios fundantes da República, princípios esses que – inclusive no que diz respeito à liberdade de imprensa –, pela Constituição de 88, são cláusula pétrea. As incertezas jurídicas que têm sido causadas por tribunais cuja atribuição é garantir a segurança do direito e zelar pela Constituição, como os casos do Estado e de Battisti evidenciam, solapam a confiança da sociedade na Justiça e geram tensões institucionais, políticas e diplomáticas que poderiam ser evitadas.
‘Forças Armadas à míngua’ transporte, o Brasil vai obtendo as condições para se tornar inteiramente autossuficiente em gás natural, mesmo que o mercado se reaqueça. Elaborado logo após a nacionalização dos hidrocarbonetos bolivianos, o Plano de Antecipação da Oferta de Gás Natural começa a apresentar resultados positivos. Em 2010 entrará em operação o gasoduto da Petrobrás que ligará a Bacia de Santos aos principais centros consumidores. Também em 2010 deverá entrar em operação o último grande projeto de produção de gás na Bacia de Santos, que injetará até 15 milhões de m³/dia na malha brasileira de gasodutos. Por imposição contratual, o Brasil precisa pagar à Bolívia pelo menos o equivalente a 21 milhões de m³/ dia. A Bolívia pode fornecer até 31 milhões de m³ diários. A resistência da área técnica da Petrobrás em aumentar o valor pago à Bolívia deve-se ao fato de que, por não haver uma explicação convincente para o aumento – visto que o produto comprado continuará o mesmo –, o termo aditivo acertado com a YPFB seja vetado pelo Tribunal de Contas da União. Afinal, aceitar um aumento nessas circunstâncias é jogar dinheiro fora. Nas atuais condições do mercado, dificilmente a Petrobrás conseguirá repassar esse aumento para os consumidores. Nesse caso, perderão seus acionistas, milhares de brasileiros que investem sua poupança na empresa, e o próprio governo.
O
orçamento do Ministério da Defesa continua sendo absorvido, em níveis alarmantes, pelo pagamento dos salários dos 427 mil militares da ativa e das aposentadorias e pensões dos 138 mil inativos e dos 191 mil pensionistas. Segundo levantamento do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divulgado pelo jornal O Globo, de cada R$ 100 que o Ministério da Defesa desembolsa anualmente, R$ 80 são destinados a pagamento de pessoal ativo e inativo. Dos R$ 20 restantes, 13,7% são gastos com custeio e apenas 6,74% com investimentos. Os números foram extraídos do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). O estudo também mostra que esse padrão de gasto vem se mantendo há 14 anos e prevê que o déficit previdenciário das Forças Armadas, que hoje é de cerca de R$ 5 bilhões, continuará crescendo mesmo que os quadros de pessoal do Exército, da Marinha e da Aeronáutica não sejam aumentados nas próximas décadas. No valor de mais de R$ 50 bilhões, o orçamento do Ministério da Defesa é o terceiro maior da União, ficando atrás apenas dos orçamentos dos Ministérios da Saúde e da Previdência Social. Comparativamente, contudo, os gastos com a folha de pagamento da Defesa são superiores aos das demais Pastas. Segundo o Instituto de Economia da UFRJ, em 2008 o Ministério da Defesa gastou 63% de seu orçamento só com inativos e pensionistas – ante 18% no Ministério da Saúde e 43% no Ministério da Educação.
Como não sobram recursos suficientes para treinamento adequado, para manutenção de equipamentos, para aquisição de peças e para investimentos na renovação de equipamentos, as Forças Armadas enfrentam enormes dificuldades operacionais. Ao participar de uma audiência na Câmara dos Deputados há dois anos, o comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, disse que, dentro de 15 anos, 87% dos navios de guerra do País terão de ser aposentados por obsolescência. As corvetas e fragatas das décadas de 1970 e 1980, por exemplo, já estão
No orçamento da Defesa sobra pouco dinheiro para reequipamento passando por um processo de canibalização, pois para manter uma embarcação em operação é preciso retirar peças de outra. Problemas semelhantes vêm ocorrendo no Exército, onde a maioria dos fuzis tem mais de 40 anos. Por absoluta falta de recursos para pagamento de água, luz, telefone e alimentação, há três meses o comando do Exército ordenou a redução do expediente. Às segundas-feiras, os trabalhos só começam após o almoço e, às sextas, terminam antes dele. A regra vale para todos – dos recrutas aos oficiais de maior patente, inclusive generais. Em nota, o Ministério da Defesa afirma que não há vínculo direto entre orçamentos de custeio e investimento e despesas com pessoal ativo e inativo. A
ATENÇÃO: As cartas devem ser enviadas com assinatura, identificação, endereço e telefone do remetente e poderão ser resumidas.
Leia mais cartas http://www.estadao.com.br/opiniao/opi_forumleitores,0.htm
O Estado se reserva o direito de selecioná-las para publicação. Correspondência sem identificação completa será desconsiderada.
decidir. É triste. EUCLIDES ROSSIGNOLI euros@ig.com.br
Itatinga
Qual será, de fato, o verdadeiro motivo de Tarso Genro querer, de qualquer forma, manter o Battisti no Brasil? Será que é só coincidência ideológica? É estranho! ●
JOÃO MENON joaomenon@terra.com.br
São Paulo
Receita A propósito da matéria Receita põe fiscal dentro de empresas devedoras, será que no pacote sobre a fiscalização tem algum banco? Afinal, além de cobrarem os juros mais aviltantes do planeta, tem banco privado vendendo na TV
crédito de confiança. Por essas e outras é que nosso presidente está mais para “chairman da popularidade” que para governante. FRANCISCO JOSÉ SIDOTI fransidoti@terra.com.br
São Paulo
Créditoe prêmio A Nota Fiscal Paulista do governo José Serra é um sucesso estrondoso entre os consumidores. Pena que os sonegadores ainda sigam tentando dar volta nos clientes. O Ministério da Fazenda e a Receita Federal deveriam implantar, em conjunto com os outros Estados brasileiros, o mesmo sistema. Isso permitiria a toda a população se beneficiar dos créditos devolvidos e ainda aumentaria a arrecadação, sem precisar colo-
“
car fiscais dentro de empresas.
considerados inocentes por falta de provas, a menos que sejam da oposição, é agora visto como “criminoso” pela Receita Federal. Pobre dele se lhe faltar um recibo de consulta médica, serviço que lhe deveria ser prestado pela rede pública de saúde, conforme reza nossa Carta Magna. Ainda por cima ficará sujeito a ter o crime tipificado como culposo ou doloso, dependendo dos bons ou maus bofes de quem analisar o caso.
VALDEIR CELESTINO DE OLIVEIRA
CLÉA M. CORRÊA
vcelestinodeoliveira@yahoo.com
cleacorrea@uol.com.br
Cotia
São Paulo
Se a propaganda política é gratuita, por que para assistir ao filme ‘Lula, o Filho do Brasil’, teremos de pagar ingresso?” VirgílioMelhadoPassoni mmpassoni@gmail.com Osasco
Pobrecontribuinte O contribuinte brasileiro, cidadão que trabalha quatro meses por ano só para pagar impostos, num país onde políticos corruptos são
● Concordo que a Receita Federal deve combater sem tréguas a sonegação fiscal. Mas o tratamento deve ser idêntico para os beneficiados com mensalões, caixa 2, dólares na cueca e nas meias.
nota também afirma que o problema “das despesas previdenciárias no setor público, e sua relação com o investimento, é uma discussão mais abrangente do Estado brasileiro, e extrapola a questão da Defesa”. Quanto ao déficit previdenciário, o órgão informa que o estudo do Instituto de Economia da UFRJ não incluiu a previsão de aumento de efetivos nas próximas décadas, para atender às diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa. Segundo o Ministério da Defesa, esse impacto será incorporado “no estudo que acompanhará a Lei de Diretrizes Orçamentárias a ser entregue em 2010”. Há quem defenda a transferência dos gastos com aposentadorias e pensões para o Tesouro Nacional, com o objetivo de reduzir o “inchaço” da folha de pagamento, como se essa medida contábil resolvesse o problema da falta de recursos das Forças Armadas. O fato é que a estrutura das Forças Armadas leva inevitavelmente à absorção de recursos vultosos e crescentes pela rubrica de pessoal – principalmente inativos. E ninguém quer discutir a reforma da carreira militar, indispensável para a correção dessa distorção. Ao analisar os planos do ministro Nelson Jobim para aquisição de caças e construção de modernos submarinos, o presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, Eurico Figueiredo, chama a atenção para a contradição representada por “uma visão generosa do futuro e a compreensão medíocre do presente, porque nossas Forças vivem à míngua”. O diagnóstico não poderia ser mais claro, lúcido e objetivo.
Que se punam os que superfaturam os preços das obras públicas com pesadíssimas multas, pois o País vem sofrendo uma sangria financeira enorme pela ação desses quadrilheiros. Tomara que a partir de 2010 as coisas comecem a mudar, mas com igualdade de tratamento para todos. ADEMAR MONTEIRO DE MORAES ammoraes57@hotmail.com
São Paulo
Boas-festas O Estado agradece e retribui os votos de feliz Natal e próspero ano-novo de Angelo Tonelli, Antonio Brandileone, Cersosimo Castro, Luiz Eduardo Cheida, Kazuaki Obe – cônsul-geral do Japão em São Paulo, Luiz Ricardo Navarro, Paulo Pereira da Silva, Pedaço da
Vila, Pedro Galuchi, Pedro Rodrigues – Associação Comercial de São Paulo, Pedro Sergio Ronco, PR Newswire, Presidência Redecard, Privilege Equipamentos, Promocat Marketing Integrado, Publiway, Qiu Xiaoqi – embaixador da República Popular da China, Raffaello Pappone, Reale e Moreira Porto Advogados Associados, Reginaldo Batista de Oliveira, Renan Calheiros, Revista Missões, Ricardo Melhem Abdo, Roberto Lima – Vivo, Roberto Stavale, Roberto Twiaschor, RockRioBrazil, Rodrigo Meinberg – Gold Editora Ltda., Ronaldo Campos Carneiro, Ronilson de Souza Luiz, Roque Pellizzaro Junior – Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, RP1 e equipe, Rubens Colonezi, Ruy Martins Altenfeider Silva – CIEE e Sá Editora.
SEGUNDA-FEIRA, 21 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 143 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
‘Imprensalevaculpamesmosemtê-la’,dizBucci Em artigo publicado em revista da USP, professor fala sobre o tema e lista os furos do ‘Estado’ Roldão Arruda
A censura imposta ao Estadão, há 143 dias, é tema de um dos artigos da edição número 67 da revista Estudos Avançados, que acaba de ser lançada. Assinado pelo professor Eugênio Bucci, daEscoladeComunicaçãoeArtes, da Universidade de São Paulo (USP), com o título Quando só a imprensa leva a culpa (mesmo sem tê-la), oartigo analisadetidamente os fatos queculminaram com censura. Conclui, entre outras coisas, que ela foi o “prêmio” dado ao jornal por seus esforços para garantir notícias exclusivas e de interesse dos cidadãos na cobertura dos escândalos do Congresso – que começaram a eclodir ainda no primeiro semestre. “Assim foi que, pelo reconhecidopadrãodeexcelência jornalística, conseguindo uma sequência de notícias exclusivas e de grande impacto sobre o escândalo do Senado, o Estadão se viu premiado com a censura judicial”,escreveBucci,apóslistaros furos dereportagem obtidos pelo jornal. Para ele, tratase de “algo de inacreditável numa democracia” e que, por isso mesmo, “deve ser mais estudado do que foi, mais debatido, mais conhecido – exatamente para evitar que os ataques por ele sofridos não prosperem mais do que já prosperaram”. A revista é uma publicação quadrimestral do Instituto de Estudos Avançados da USP. A cada número traz um ou mais dossiês sobre temas de interesse da sociedade brasileira, com a participação de estudiosos convidados e de pessoas diretamente envolvidas com essas questões, segundo explicações do editor assistente Dario Borelli. Para o número 67, cujo tema principal é a crise no Congresso, foram convidados cientistas políticos, juristas e também integrantes do Congresso. O artigo de Bucci, doutorado em comunicação e integrante
+ 9 LEGISLATIVO
Congresso entra em recesso na quarta O Senado realiza amanhã a última sessão deliberativa do ano legislativo da casa. O primeiroitem dapauta devotação é o projeto de lei da Câmaraquealteraa Leide Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No mesmo dia, haverá votação, em sessão conjunta com a Câmara, do projeto de lei do Orçamento para 2010. A partir de quartafeira, o congresso entra em recesso parlamentar. O ano legislativo de 2010 terá início em 2 de fevereiro. JUDICIÁRIO
Redução de processos marca 2009 no STF Ao encerrar a última sessão de2009,nasexta-feira,opresidentedo STF, GilmarMendes, apresentou um balanço do ano. Segundo ele, o destaque foi a redução de processos recebidos pelo tribunal. Foram 82.342 casos novos, 18,3% a menos que no ano anterior. A redução foi maior considerandooregimederepercussão geral. Em 2007, cada ministro recebia 904 processos por mês. Este ano, a média caiu para 337/mês.
CORREÇÃO Ao contrário do informado na reportagem “PF encontrou dinheiro ‘marcado’ na residência oficial de Arruda” (página A4), da edição de ontem, Fábio Simão, exchefe de gabinete do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, não é vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Simão é acusado de arrecadar propina entre empresas contratadas pelo governo.
do quadro de pesquisadores do instituto,seestendepor16 páginas. Um de seus eixos é a ideia, confirmada seguidamente pelosfatos,dequeopodernãogosta da imprensa, padecendo da síndrome de atribuir a culpa por todos problemas. Cita comoexemploumadeclaraçãofeita pelo presidente do Senado, José Sarney, em 15 de setembro, em meio a um sequencia de denúncias envolvendo seus familiares, políticos e funcioná-
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rios do Congresso. Ele disse: “A mídia passou a ser uma inimiga das instituições representativas”. Mais adiante ele disseca e contesta as crenças com as quaisseprocurajustificarocerceamentodaimprensa.Umadelas é de que assuntos que correm em sigilo de Justiça não podem ser noticiados. “Jornalistas não são responsáveis por acobertar segredos dos poderesdaRepública”,afirmaoestu-
Censura permanece em vigor ●● ●● O empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, apresentou na última sextafeira, véspera do recesso forense, pedido de desistência da ação contra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término do recesso, o jornal será intimado a
decidir se concorda com a extinção ou prefere que a Justiça aprecie o mérito. O pedido do empresário foi feito nove dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter arquivado reclamação do jornal contra a censura sem decidir sobre seu mérito. ●
dioso. “Ao contrário. Por mais chocante que isso possa parecer aos ouvidos de agentes políticosbrasileiros, jornalistas são responsáveis precisamente por descobrir e publicar esses segredos.” Na opinião de Bucci o que ocorreu com o Estadão só tem um nome: censura prévia. Seu artigo pode ser lido na versão impressa da revista, vendida em livrarias, ou diretamente no site, cujo endereço aparece abaixo. ●
Leia a íntegra do artigo do professor Eugênio Bucci no endereço abaixo
www.estadao.com.br/e/a7
SEGUNDA-FEIRA, 21 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
CADERNO CADERNO 22 D3 D3
Literatura Polêmica:
Trabalho de pesquisador sob censura
ALAOR FILHO/AE
Na Espera ●● O projeto de lei apresentado
pelo deputado federal Antonio Palocci (PT-SP) propõe a inclusão de um parágrafo ao artigo 20 da Lei Federal n.º 10.406, que permite proibir a divulgação de dados que prejudiquem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade das pessoas. A modificação torna mais seguro o trabalho de biógrafos sérios: “É livre a divulgação de informações biográficas sobre pessoas públicas ou que tenham participado de acontecimentos de interesse da coletividade.” Como está hoje, a lei não contempla a diferença entre o direito de privacidade de pessoas públicas e de privadas, e a proteção para que o autor possa escrever sobre figuras conhecidas sem o receio de haver punição. ● U.B.
A historiadora Mary Del Priore conta como foi editar Matar Para Não Morrer Ubiratan Brasil
Uma surpresa desagradável aguardava a historiadora Mary Del Priore tão logo terminou a escrita de Matar Para Não Morrer (Objetiva, 160 págs., R$ 29,90)emquenarraoassassinato do escritor Euclides da Cunha por Dilermando de Assis, amante de sua mulher, Anna, em 1909. “Como sempre faço,envieiuma cópiadotextopara os herdeiros dos personagens para eventuais comentários”, conta ela que, em troca, foi aconselhada a não publicar o livrosobapena deserprocessada – os netos discordavam da forma como foram apresentados determinados fatos e prometiam recorrer a advogados. Matar Para Não Morrer acompanha a tragédia que vitimou o autor de Os Sertões mas privilegiando Dilermando de Assis, jovem cadete que o alvejou com três tiros. “Ele reagiu a umataque deEuclides, quebuscava limpar sua honra. Mesmo assim, Dilermando foi transformado em vilão, rótulo que o perseguiu até o fim”, conta Mary que, durante a pesquisa para o livro, garimpou informações emjornais e autores do iníciodo século,muitosdeles,como ojornalista João do Rio, espectadores da cena histórica. “Baseeime em dados comprovados historicamente mas, mesmo assim,AnnaSharpeTaniaAndrade Lima, netas de Dilermando e Anna, afirmaram que eu denegria seus familiares.”
riodadelicadarelaçãoentreeditoras e biógrafos com descendentes de biografados. “Não existe mais a figura do censor, de tesoura na mão. Mas existe uma forma de censura explícita, que proíbe a jornalistas, pesquisadores, historiadores e jornais, a publicação de matérias e entrevistas, e a censura mais implícita, que se configura em mecanismos repressivos que se exercem de maneira dissimulada na sociedade”, comenta Mary, estendendo seu comentário à censura sofrida há 143 dias pe-
MARY – “No Brasil, os heróis são vistos sob uma só chave: a elogiosa”
lo Estado, proibido por liminar doTribunaldeJustiçadoDistrito Federal de publicar dados da Polícia Federal acerca de negócios do empresário Fernando Sarney. “Chegamos a recusar a biografia do Roberto Carlos, escri-
ta pelo Paulo Cesar Araujo, por medodareaçãodoartista.Também preferimos não fazer a de Ademar de Barros e a do Torquato Neto”, conta Luciana Villas-Boas, diretora editorial da Record. “Toda biografia que vamos publicar é lida com lupa
por nosso advogado. Em geral temos mais medo de personagenssecundáriosdo quedopróprio biografado.” Oproblemaestáemumabrecha no Código Civil que possibilita descendentes de biografados embargarem obras que jul-
gam caluniosas. “Assim, como consequência de uma legislação equivocada (única no mundo),netosdepersonagens históricos têm o direito de censurar e cercearo trabalho de historiadores relativo a fatos passados há mais de um século”, reclama Roberto Feith, da Objetiva. “Nossa legislação absurda está matando um gênero literário queatépoucotempoatrásrevelava-se dos mais promissores no Brasil”, completa Luciana. Aesperançaestá emumprojeto de lei apresentado pelo deputado federal Antonio Palocci (PT-SP) no ano passado, que propõe alterar o artigo 20 da LeiFederalnº10.406,justamente o evocado pelas famílias de biografados que se julgam maltratadas (veja situação no quadro ao lado). O projeto, porém, ainda aguarda espaço na agenda para ser votado na Câmara Federal. Enquantoisso,otrabalhodebiógrafos continua ameaçado – a fim de evitar maiores confusões, o livro de Mary Del Priore foipublicadosemnenhumailustração. “Meus leitores também devem ter notado que a obra saiu mais enxuta, com menos páginas que as outras, e com uma linguagem mais telegráfica em alguns trechos.” ●
Frases
“A deliberada ‘política de esquecimento’ convida a acreditar que tudo está acontecendo pela primeira vez, neste país. Que a história não é um processo”
“NOSSA LEGISLAÇÃO ESTÁ MATANDO UM GÊNERO LITERÁRIO”, DIZ EDITORA
MARY DEL PRIORE, HISTORIADORA E ESCRITORA
“Enquanto não acontecer alguma mudança, a história do Brasil viverá sob mordaça em nosso Estado plenamente ‘democrático’”
Em carta à escritora, Anna Sharp reclamou das descrições físicasedasatitudescomprometedoras dos avós que figuravam no livro – procurada pelo Estado, ela preferiu não se manifestar. “Mas é justamente a junção da vida pública com a privada que revela o verdadeiro perfil dessas figuras públicas”, defende-se Mary. “No Brasil, os heróis são vistos apenas sob uma chave:aelogiosa.”Curiosamente, a historiadora recebeu apoio integral de Dirce, filha de outro casamento de Dilermando. Mesmo sob pressão – um escritório de advogados de São PauloenviouumacartaàObjetiva em setembro, solicitando a não publicação da obra –, Mary e a editora decidiram prosseguir com a edição. Atitude distinta da tomada pela Planeta que, em 2007, fez um acordo com os advogados de Roberto Carlos, evitando a abertura de um processo: alegando que sua privacidade havia sido invadida, o cantor queria interromper a venda de Roberto Carlos emDetalhes, biografianão-autorizada de Paulo César de Araújo, o que de fato aconteceu. Trata-se do caso mais notó-
RUY CASTRO, ESCRITOR E BIÓGRAFO
“O silêncio da sociedade em muitos casos acabou estimulando atos como a censura ao Estadão” FERNANDO MORAIS, ESCRITOR E BIÓGRAFO
“Toda biografia que vamos publicar é lida com lupa por nosso advogado. Em geral temos mais medo de personagens secundários do que do próprio biografado” LUCIANA VILLAS-BOAS, EDITORA RECORD
Consagração não evita situações insólitas
FABIO MOTTA/AE - 19/11/2007
MARINA MALHEIROS/AE – 9/6/2008
Biógrafos respeitados falam de pressões e até tentativa de suborno por familiares Autor de biografias consagradas, como as de Assis ChateaubriandePauloCoelho,oescritor FernandoMoraisjáenfrentousituações insólitas por conta da desproteção legal sofrida pelos biógrafos. “O juiz Jeová Sardinha, de Goiânia, me proibiu em 2005 de referir-me publicamente sobre meu próprio livro, Toca dos Leões, sob pena de pagar R$ 5 mil de multa a cada transgressão – felizmente derrubada em
instância superior”, conta ele, acusado de calúnia pelo deputado Ronaldo Caiado. “A censura fardada da ditadura vem sendo sorrateiramentesubstituídapela censura togada.” E os descendentes parecem não ter limites – Morais conta que os netos de Chateaubriand entraramcom umaação naJustiça do Rio pedindo para ver o copião do ainda inédito filme Chatô,oReidoBrasil,deGuilher-
me Fontes, cuja produção se arrasta desde 1995. “O silêncio da sociedade em muitos casos acaba estimulando atos como a mordaça ao Estadão.” Já Ruy Castro e a editora Companhia das Letras enfrentaram uma pressão econômica na publicação de Estrela Solitária, biografia de Garrincha. “Um dos advogados das filhas do jogador telefonou para a editoranodiaseguinteaumamaté-
ria do Fantástico comigo – e a uma semana da saída do livro nas livrarias (ou seja, ninguém ainda o tinha lido) – ameaçando com um processo por difamação. Mas que ‘retirariam o processo’ caso houvesse acordo equivalente a US$ 1 milhão, na época. Ou seja, havendo dinheiro, pode-se difamar à vontade.” O livro, lançado em novembrode 1995,foi proibido ummês depois e ficou um ano sem po-
CASTRO E MORAIS – Ameaças têm se tornado rotina para biógrafos
der ser reimpresso ou vendido. Foi liberado em novembro de 1996, mas o processo se arrastou pelos dez anos seguintes –
só terminou em 2006, quando as herdeiras, contrariando os advogados, propuseram um acordo mais em conta. ● U.B.
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SEGUNDA-FEIRA, 21 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Navegar Impreciso Pedro Doria*
Imprensa livre é internet livre
A
liberdade da internet está seriamente ameaçada, no Brasil. Desta vez, a blogosfera, em geral tão ativa na luta por seus direitos, não percebeu que a sombra da censura prévia paira acima de todos nós. É quase Natal, época em que, sugere o bom gosto, deveríamos todos falar de assuntos agradáveis. Mas não dá. Se o Supremo Tribunal Federal se manifestar a respeito do caso movido por Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, contra o Estado de S. Paulo, ele poderá enfim de-
cidir o mérito: se o Judiciário tem ou não o direito de impor censura prévia. Se não for neste caso, será em outro. Por enquanto, a dúvida está lá. Quando os americanos elevaram a liberdade de imprensa a questão pétrea de sua Constituição, no final do século 18, era uma defesa de gente miúda que com suas prensas de tipos móveis imprimiam panfletos com ideias fortes e as faziam circular pelo país. Blogueiros de seu tempo. Durante o século 20, liberdade de imprensa por um tempo talvez tenha parecido uma liberdade apenas de grandes
empresas de comunicação. Mas não é: liberdade de imprensa é a essência da liberdade da internet. É o que praticamos todo dia. É a liberdade de tornar público o que se pensa, o que se imagina, o que se sabe. É a liberdade essencial de todo cidadão numa democracia que a era digital reforça, reafirma. Liberdade de imprensa não é garantia de impunidade. O Brasil tem leis. Se o dito for injúria, termina em condenação. Se for racismo, termina atrás das grades. O poeta satírico romano Juvenal gostava de perguntar:
“Quem vigia os vigilantes?”, pergunta repetida no clássico quadrinho de Alan Moore, Wathcmen. Se um dos braços do governo – não importa se Executivo, Legislativo ou Judiciário – tem o poder de coibir o direito de qualquer cidadão de se expressar, no primeiro dia talvez uma injustiça seja impedida. Na sequência, pela cautela, punição de crime que ainda não houve, se impede uma ideia de circular. Quando começa a se legitimar censura, o término é o mesmo: alguém com poder o suficiente, em algum canto do País, conseguirá uma liminar
e impedirá que informação nociva a ele circule. Se a tese da censura prévia for estabelecida pelo STF, os grandes veículos de comunicação não serão as únicas vítimas. E é por isso que a causa é muito maior do que a do caso Fernando Sarney versus Estadão. Este ano que entra, 2010, é ano eleitoral. Um exército de pessoas espalhadas pelos rincões do Brasil se prepara para discutir e noticiar o que acha e sabe sobre política. Vão fazer isto pelo Orkut, pelo Facebook, pelo Twitter e por blogs. E quando contarem como atua um deputado ou outro quando está em casa, estarão imediatamente ameaçados. Censura prévia é fácil – e, por isso, perigosa se legitimada. O juiz não precisa ser desonesto, basta estar inseguro. Só
para prevenir, por via das dúvidas: assina e cala uma voz. Num dos futuros terríveis do escritor de ficção científica Philip K. Dick, Minority Report, as pessoas são punidas pelos crimes que não cometeram ainda. A censura prévia é isso: arranca-se um direito para prevenir algo que talvez sequer aconteça. Mas é quase Natal, não a época de pensar em coisas assim. Hora de nos sentirmos bem, de festejar com a família. As preocupações ficam para o ano que vem. Que assim seja. Mas não custa uma lembrança que deveria ficar conosco por todo 2010, ano de eleição: quem vigia os vigilantes?
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o estado de s. paulo
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TERÇA-FEIRA
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JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
22 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42434
STJ susta operação contra Dantas Liminar paralisa Satiagraha depois que defesa do banqueiro alegou suspeição do juiz De Sanctis O Superior Tribunal de Justiça suspendeu toda a Operação Satiagraha – investigação da Polícia Federal contra o banqueiro Daniel Dantas. O ministro Arnaldo Esteves Lima tomou a decisão atendendo a pedido de liminar da defesa de Dantas, que
ma tem impacto também sobre outros três inquéritos que a PF abriu após decreto do juiz De Sanctis. A decisão do STJ valerá até o julgamento do mérito, período no qual De Sanctis não poderá baixar nenhum ato, nem mesmo medida cautelar –
por crime de corrupção ativa. Está suspenso também o processo principal da Satiagraha, aqueleemqueDantasfoidenunciado pela Procuradoria da República por crimes financeiros, evasãoelavagem dedinheiro. A ordem do ministro Esteves Li-
alegou suspeição do juiz federal Fausto de Sanctis, responsável pelo caso. A medida tem alcance ilimitado, ou seja, bloqueia qualquer ato relativo à Satiagraha, até mesmo a ação penal que culminou na condenação de Dantas a 10 anos de prisão
buscas, interceptação telefônica ou quebra de sigilo. Essa situação deverá perdurar até pelo menos fevereiro. O juiz, que já mandou prender Dantas duas vezes e viu sua decisão ser anulada, não se manifestou sobre o caso. ● PÁG. A4
NÚMERO
10
anos é a pena de prisão à qual Daniel Dantas foi condenado, além de multa de R$ 12 milhões.
Lula ironiza chapa tucana puro-sangue Presidente diz que não sabe se ‘dois Tostões’ jogam bem no mesmo time ANÁLISE
Celso Ming
Inversão de papéis O governo faz campanha para dizer que Dilma é garantia de estabilidade econômica. Serra será obrigado a assinar uma Carta ao Povo Brasileiro, como Lula em 2002. ● PÁG. B2
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O presidente insistiu no caráter plebiscitário que quer dar à campanha, comparando governos do PT e do PSDB. Garantiu que Dilma, se eleita, manterá a política econômica e o controle da inflação. “A Dilma tem juízo. Não rasga nota.” ● PÁGS. A8 e A9
CELSO JUNIOR/AE
Emcaféda manhãcomjornalistas, o presidente Lula recorreu aofutebolpara reduzir a importância de uma eventual chapa puro-sangue do PSDB à Presidência, com os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves.“Eu não sei se dois Coutinhos, dois Tostões se saem bem no mesmo time”, brincou. Serra reagiu no mesmo tom: “Quando o jogador é muito bom, dá para duplicar”. Lula também jogou água na fervura da crise com o principal aliado, o PMDB, ao fazer rasgadoselogios ao presidenteda Câmara,MichelTemer, cotadoparaumadobradinhacomaministra Dilma Rousseff. Mas ressaltou que a candidata é Dilma e “é ela que tem de escolher o vice”.
NOVO VISUAL – A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, aparece em público pela primeira vez sem peruca, após tratamento contra o câncer
ESPORTES
O funeral do aiatolá oposicionistaHosseinAliMontazerivirou uma grande manifestação contra o governo do Irã. Houve confrontos entre membros da oposição e policiais ou sim-
NOTAS E INFORMAÇÕES
O fiasco de Copenhague O fiasco da Conferência Copenhague 2009 foi maior do que o esperado. A ameaça ambiental é séria demais para ser tratada por amadores. ● PÁG. A3
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Tempo: CAPITAL
34º
MÁX.
● PÁG. C2
18º
MÍN.
Dia ensolarado e ar quente mantêm temperatura alta na Capital. Hoje: 86 páginas A. 1º caderno: 26 ● B. Economia: 14+4 ● C. Metrópole: 12 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 4 ● V. Viagem: 10 ● Cl. Classificados: 4 (410 anúncios)
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patizantesdogoverno.Opresidente Mahmoud Ahmadinejad foi qualificado de “ditador”, e o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, de “assassino”. ● PÁG. A12
Retaliação aos EUA pode chegar a US$ 829 mi Subiu para US$ 829,3 milhões a retaliação que o Brasil pretende aplicar sobre os EUA por causa dos subsídios ao algodão. Já os americanos admitem, no máximo, US$ 294 milhões. Parte da sanção será na forma de imposto sobre royalties de patentes e marcas. ● PÁG. B4 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 144 DIAS q PÁG. A10
CADERNO 2 Takla faz versão de ‘O Rei e Eu’ ●● Odiretorprepara espetáculo musical com 70 atores e 500 figurinos. ●
Europa
Onda de frio mata mais de 80 ●● Temperatura bate nos -33˚C e provoca caos na infraestrutura. ● PÁG. A14
VIAGEM AVENTURA &
Segurança é prioridade do Enem, diz novo responsável
MICHAEL PROBST/AP
Funeral mobiliza oposição no Irã
PRÊMIO – Futebol tem rei argentino e rainha brasileira em 2009
Marta e Messi são os melhores do mundo Sem surpreender ninguém, Marta e Lionel Messi foram anunciados ontem em Zurique, na Suíça, como os melhores jogadores do mundo deste ano pela Fifa. Para a brasilei-
ra, foi o tetracampeonato. Já o jogador do Barcelona se tornou o primeiro argentino a receber o troféu de melhor do mundo, desde que ele foi instituído, em 1991. ● PÁGS. E1 a E3
ANÁLISE
Antero Greco
Fé na França
Espanha e Inglaterra mandam
●● Cidades-santuários revelamroteiroinspirador ●
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A seleção da Fifa é a confirmação de que os times es-
panhóis e ingleses são o centro do futebol. ● PÁG. B2
OnovopresidentedoInep,instituto responsável pela aplicação do Enem, propõe que a logística da aplicação do exame não seja entregue a um processo de licitaçãoque privilegie preço. Para JoaquimJoséSoaresNeto,énecessáriodar“grandepeso”à segurança. ● PÁG. A22
Morre Gordon, o embaixador dos EUA no Brasil em 1964 O embaixador dos EUA no Brasil durante o golpe militar, Lincoln Gordon, morreu no sábado, em Washington, aos 96 anos. O diplomata era acusado de envolvimento no levante que derrubou o então presidente JoãoGoulart em 1964, mas sempre negou. ● PÁG. A10
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TERÇA-FEIRA, 22 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Ser ou não ser
O presidente, o ministro e o analfabetismo
RubensBarbosa
JoãoBatista Araujo eOliveira
A Argentina vive uma crise existencial pela dificuldade de encontrar uma saída para os problemas políticos e econômicos domésticos e para encontrar uma atitude adequada nas relações com o Brasil, vizinho e principal parceiro. Isso é agravado pela percepção de perda de espaço, resultado da estabilidade da economia e da projeção externa brasileiras. Um dado sintetiza bem o drama psicológico vivido pelo governo e pela sociedade argentinos. Até a década de 60, o PIB da Argentina era maior que o do Brasil. Em 2009 o PIB de São Paulo é uma vez e meia o daquele país. Só o investimento da Petrobrás para o período 2009-2013 representa mais de 55% do PIB argentino. Pesquisas de opinião na Argentina registram a preocupação com o caráter que as relações bilaterais estão adquirindo e mostram que não há consenso entre as diferentes visões sobre o futuro do país. As lideranças políticas e econômicas estão obcecadas pela percepção de que a Argentina tem de se
A Argentina tem de resolver o que prefere ser em relação ao Brasil defender do Brasil pelas assimetrias do tamanho, da participação no mercado, de padrões de especialização e regulatórias. As explicações para o crescimento diferenciado entre as duas economias criam bodes expiatórios como o BNDES (não existe banco de fomento na Argentina), que gera um déficit estrutural, e o dinamismo do comércio exterior brasileiro, que gera desequilíbrio da balança comercial. Essas desculpas escondem convenientemente as mazelas políticas, os desencontros na política econômica e a falta de uma visão de futuro das elites políticas e empresariais argentinas. Fui convidado a participar em Buenos Aires de encontro para discutir, de maneira franca, as preocupações com o futuro do país e sobre como a Argentina deveria se posicionar em face das novas realidades bilaterais e também no contexto da integração regional. Hesitei em participar porque, depois de tantos anos acompanhando as relações bilaterais, formei minhas próprias convicções, nem sempre positivas, sobre as possibilidades existentes para a Argentina com o avanço econômico do Brasil e seu papel mais relevante no cenário internacional. Há, atualmente, no Brasil percepções distintas entre governo e setor privado em relação à Argentina e minhas ob-
servações procuraram refletir as visões prevalecentes no meio empresarial. As condições políticas, econômico-financeiras e comerciais do relacionamento mudaram pelos avanços registrados no Brasil e pelo retrocesso ocorrido na Argentina. Embora o Brasil tenha continuado a ser um sócio muito importante, a agenda argentina se tornou essencialmente defensiva. Aí talvez resida hoje o principal problema do ponto de vista psicológico e das percepções. Interessa ao Brasil uma Argentina próspera e bem-sucedida e, por isso, encontrando um ponto de equilíbrio em sua política interna, ela deveria aproveitar ao máximo o crescimento econômico brasileiro. No entanto, o problema psicológico argentino, agravado pela dificuldade de escolher o caminho que o país deveria seguir, impede a adoção de uma atitude mais ofensiva para aproveitar as oportunidades que se abrem pela nova inserção global do Brasil. O governo e o setor privado argentinos deveriam deixar de se preocupar com o sucesso do Brasil e começar a aproveitar o crescimento do mercado vizinho, como alguns já estão fazendo. Para tanto, a atual posição defensiva na área comercial, que tantas restrições e abusos têm criado aos produtos brasileiros, não parece ser a forma mais adequada para a defesa dos interesses do setor produtivo argentino. Mais abertura e menos protecionismo seria o nome do jogo. Um dos obstáculos para alcançar esse objetivo é a extrema dependência por parte do empresariado em relação ao governo de Buenos Aires, o que, visto do ponto de vista do setor privado brasileiro, dificulta uma parceria direta para desenvolver uma agenda positiva entre os empresários dos dois países. Em atenção às indagações argentinas, não deixei de tecer alguns comentários procurando identificar as perspectivas no relacionamento bilateral para os próximos anos. A prioridade para o Brasil das relações com a Argentina deve continuar, pois se trata de uma política de Estado, e não de governo. No caso de vitória nas urnas da candidata da situação, a atual política possivelmente seria mantida e talvez aprofundada. No caso de vitória da oposição, arrisquei a opinião de que poderá haver mudanças de ênfases e de estilo. A diplomacia da generosidade do atual governo, refletindo uma atitude de paciência estratégica, poderá sofrer modificações. As restrições comerciais que hoje já afetam quase 20% do intercâmbio comercial dificilmente seriam toleradas, como está ocorrendo agora. Observei que
FÓRUM DOS LEITORES Maisque umamarola Os analistas acordaram para a estrondosa dívida bruta do setor público, que já bateu os R$ 2 trilhões. Cresceu para 66,8% do PIB no governo de Lula e pode chegar a 70%. O jeito petista de governar já tem mais do que uma marolinha para explicar.
Censura,144dias
cruz.jc02@gmail.com
A abominável censura ao Estado se prolonga por 144 dias. Agora o sr. Fernando Sarney pretende desistir da ação, em manifesto e demagógico sinal de arrependimento. Uma atitude tardia, sem qualquer efeito benéfico, que jamais reparará o estrago feito.
Osasco
FRANCISCO ZARDETTO
JOSÉ CARLOS CRUZ
fzardetto@uol.com.br
Herançasinistra Imaginem o que o governo Lula não aumentará de gastos em 2010, com a eleição presidencial? Isso, sim, será uma herança sinistra. Quem viver verá! TANIA TAVARES taniatma@hotmail.com
São Paulo
São Paulo ● Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) perderam a oportunidade de condenar a agressão ao Estado de Direito e mantiveram a censura ao Estadão. Espero que a preclara direção do jornal aceite a desistên-
o governo argentino deveria tentar obter todas as vantagens possíveis ainda durante o atual governo brasileiro, porque dificilmente qualquer outro governo em Brasília manteria um ambiente tão generoso e concessivo aos interesses argentinos. Em termos de integração regional, o Mercosul continuará a existir, mas o Brasil não aceitaria ficar subordinado aos humores internos argentinos e a união aduaneira possivelmente se transformaria, na prática, numa área de livre comércio, como começa a ocorrer hoje. Em vez de inventar desculpas – assimetrias, déficit estrutural, desequilíbrio comercial – para justificar o crescente distanciamento entre os dois países, ressaltei, de forma cândida, as vantagens para a Argentina de uma relação política e comercial aberta, sem ressentimentos nem restrições com o Brasil. Referindo-me à recente declaração da presidente Cristina Kirchner de que a Argentina quer ser sócia, mesmo menor, do Brasil, concluí, para perplexidade geral, que a Argentina apenas teria de resolver o que prefere ser em relação ao Brasil: se um México ou um Canadá. ●
A mídia noticiou, recentemente, que o presidente Lula cobrou de seu ministro da Educação ações e resultados mais eficazes no combate ao analfabetismo entre adultos. Infelizmente, esse não é um assunto que se resolve por decreto. E, não por acaso, inexistem avaliações e resultados desse tipo de programa nas últimas décadas. Tratase de uma guerra perdida. Será possível vencer pequenas batalhas apenas em determinadas situações em que há chance de sucesso. O realismo do ministro é mais pertinente que o sonho do presidente. Mas há um porém. Não é esse o analfabetismo mais preocupante. O que compromete o nosso futuro como Nação são os milhões de brasileiros matriculados no ensino fundamental, especialmente nas séries iniciais, que são incapazes de escrever uma frase ditada pelo professor ou de ler um texto e explicar o seu conteúdo. Esse problema é muito maior e muito mais grave do que o anterior. Enquanto não for resolvido na base, todos os demais esforços para melhorar a educação serão desperdiçados. Se usarmos a definição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) – teste realizado com jovens
Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
Fernando Sarney
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de 15 anos –, quase 60% dos brasileiros são analfabetos funcionais, ou seja, embora conheçam o alfabeto, não sabem fazer uso adequado dele no seu dia a dia. As pesquisas anuais do Instituto Montenegro vão na mesma direção: pouco mais de 30% das pessoas que circulam pelas ruas compreendem o sentido de textos simples. A média de escolaridade desse público é próxima da média de idade dos alunos que fazem o Pisa. Isso significa que o Brasil continua a produzir essa proporção de analfabetos escolarizados. Se usarmos a definição do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) para a 4ª série, constatamos que cerca de 30% dos alunos chegam ao fim dessa etapa sem conhecer o alfabeto e cerca de 80% são analfabetos funcionais. São eles que alimentam as estatísticas descritas no parágrafo acima. Por que o Brasil não consegue alfabetizar os seus alunos? Seria fácil atribuir ao estado geral da educação pública, que não oferece ensino de qualidade. Embora correta, essa resposta é parcial e insatisfatória, dado que é muito mais fácil alfabetizar as crianças do que ensiná-las a fazer uma redação ou a compreender um texto. Além disso, a alfabetização é menos afetada pelos fatores extraescolares e, portanto, depende muito mais do que a escola efetivamente é capaz de fazer. Descartada a geleia geral como álibi, cabe examinar o mérito da questão. Na maioria dos países do mundo, e certamente nos países da OCDE, há clareza sobre o que é alfabetizar. Consequentemente, nesses países há determinações claras a respeito da série em que as crianças devem ser alfabetizadas. Isso se dá no 1º, no 2º ou no 3º ano da escolarização formal. A variação depende exclusivamente da complexidade ortográfica de cada língua. Quanto mais simples a ortografia, mais comum é alfabetizar aos seis anos de idade. A regra de ouro é alfabetizar na hora certa. Quanto mais tarde o processo se der, mais difícil será. No Brasil não há clareza nem determinações a respeito do que seja alfabetizar. Há documentos oficiais que afirmam tratar-se de “processo permanente”. Também se confunde alfabetizar, isto é, ensinar a ler, com ensinar a compreender. Essa confusão leva os educadores brasileiros a ignorarem o fato de que grande parte da dificuldade de compreender se deve à dificuldade de ler. Em consequência da confusão conceitual, não há diretrizes oficiais a respeito de quando se deve alfabetizar. Para aumentar a confusão, há metas bem-
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Dinheiromarcado cia de Fernando Sarney e, assim, casse o palco para perorações e comparações infundadas de certos ministros da Corte Suprema. FLÁVIO JOSÉ R. DE AGUIAR rsd100936@terra.com.br
Resende (RJ)
intencionadas, mas vagas, que se referem a “alfabetizar todas as crianças até os 8 anos de idade”. O que significa isso? Será que as pessoas que definem tais metas para a escola pública colocariam seus filhos nela? Nos demais países também há determinações claras sobre como se deve alfabetizar e sobre a importância de materiais e, especialmente, de métodos adequados para isso. Pesquisas realizadas nos últimos 20 anos são inequívocas a respeito da superioridade dos métodos fônicos. Aqui, os governos de todos os níveis e a “comodidade acadêmica” continuam a ignorar essas evidências e a repetir palavras de ordem no lugar de ensinar aos futuros professores o que há de mais atualizado sobre o tema. Lavam-se as mãos em nome da “autonomia” do professor e das escolas. Na maior parte das nações desenvolvidas, salvo raras exceções, os professores são formados e orientados para utilizar métodos de alfabetização consistentes com os conheci-
Não há clareza nem determinações sobre o que seja alfabetizar mentos científicos mais atualizados. Nossos alfabetizadores ou não recebem nenhuma formação ou recebem formação eminentemente teórica e baseada em conhecimentos científicos equivocados e ultrapassados. As próprias capacitações patrocinadas pelo Ministério da Educação se baseiam em documentos elaborados por instituições acadêmicas que continuam a disseminar essas ideias. Mais grave, a função de alfabetizador frequentemente é atribuída a professores inexperientes ou a estagiários sem nenhuma formação específica. É bom que um presidente da República se incomode com os intratáveis problemas do analfabetismo dos adultos. Mas o incômodo presidencial passa e o analfabetismo continua. A única maneira de acabar com o analfabetismo adulto é eliminar o analfabetismo escolar. Isso é algo que se deve e se pode fazer no 1º ano do ensino fundamental. Se decidirmos fazer isso a partir de 2010, em 2018 teremos a primeira geração de brasileiros que concluirá o ensino fundamental sem contar com analfabetos escolarizados em suas fileiras. Esse, sim, um sonho olímpico que vale a pena sonhar. ● João Batista Araujo e Oliveira é presidente do Instituto Alfa e Beto
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mortal que o eleitor não perdoará.
O Estado não deve aceitar o término da ação sem o julgamento do mérito. É preciso que a imprensa e seus leitores saibam o que é correto e legal para que a legislação vigente, conforme o caso, seja aprimorada.
Como, para Lula, as imagens no caso do mensalão do DEM não provam nada, com certeza o dinheiro “marcado” encontrado na residência oficial de José Roberto Arruda também não.
RONALDO GOMES FERRAZ
ANGELO TONELLI
JOSÉ MARIA DA ROCHA FILHO
angelotonelli@yahoo.com.br
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Está de parabéns a OAB do DF, por requerer a suspensão do recesso da Assembleia de Brasília para que os deputados votem o pedido de impeachment do governador Arruda. O mesmo deveria ser feito pela OAB nacional com relação ao Congresso Nacional, pois deputados federais e senadores entrarão em recesso sem votar um pedido público de 1.200.000 assinaturas para que políticos com ficha suja sejam impedidos de concorrer em 2010. É um total desrespeito à democracia. Nós, eleitores, devemos nos
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● O artigo de Mauro Chaves (E a toga virou casaca, 19/12, A2) está magistral. Foi brilhante a escolha das estrofes de Camões: “Mas o leal vassalo (...) Por vos servir, a tudo aparelhado, de vós tão longe, sempre obedientes a quaisquer vossos ásperos mandados (...) prontos e contentes.” Parabéns ao Mauro e ao Estado.
Sugiro ao Estado, quando a censura cair, publicar um caderno especial com todas as informações apuradas sobre Fernando Sarney que não puderam ser publicadas desde 31/7. Os brasileiros de bem agradeceriam.
CLARICE DE ANDRADE S. E CASTRO
BEATRIZ COUTINHO
capclarice@uol.com.br
bholica@hotmail.com
Mogi das Cruzes
Cruzeiro
São Paulo ●
● Com a declaração de Durval Barbosa de que entregara pessoalmente ao vice-governador do Distrito Federal (DF), Paulo Octávio, R$ 200 mil de propina, e com a confirmação do acerto do esquema criminoso por um executivo de uma das empresas envolvidas, o que o DEM está esperando para limpar o nome do partido? Pôr panos quentes no caso e tentar salvar Paulo Octávio é um pecado
ronferraz@globo.com
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TERÇA-FEIRA, 22 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DIPLOMACIA
Lula diz que decidirá sobre Battisti após acórdão Presidente rompe silêncio sobre o caso desde decisão do STF e afirma que decisão é dele Vera Rosa Beatriz Abreu BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou um café da manhã com jornalistas, ontem, para dar uma resposta contundente ao Supremo Tribunal Federal(STF)nocasodoex-ativista italiano Cesare Battisti. Lula demonstrou contrariedade com o novo julgamento do STF,obrigando-oatornarexplícitos os motivos para manter Battisti no Brasil ou extraditá-
lo, e disse que tomará uma decisão assim que receber o acórdão da corte. “Não me importa o que disse o Supremo. Não tenho nada a ver com o STF. Ele teve a chancedefazerefez.Eunãodeipalpite. Agora, a decisão é minha. Vou tomar a melhor decisão para o País”, afirmou Lula, rompendo o silêncio sobre o caso pela primeira vez. O presidente não quis, porém, esticar a polêmica. “Só vou me pronunciar nos autos”, insistiu. Apesar de se recusar a adian-
MEMÓRIA
Aos 96, morre Lincoln Gordon Americano teve papel decisivo em 64 Gustavo Chacra CORRESPONDENTE NOVA YORK
O embaixador dos EUA no Brasil durante o golpe militar, Lincoln Gordon, morreu sábado em Washington aos 96 anos. Até poucos meses atrás, o diplomata e acadêmico ainda estava ativo e filiado ao think-tank Brookings Institute, na capital americana, ondefaziapesquisasparaumnovo livro. Com a saúde deteriorada, acabou deixando a instituiçãoeviviaemumabrigoparaidosos que necessitam de assistência médica. Sua carreira como diplomata éconsideradaumadasmaisbemsucedidas da história dos Estados Unidos. Chegou a ser o responsável por coordenar o Plano Marshall em Paris e Londres depois da Segunda Guerra, antes de desembarcar no Brasil, em 1961,comoorepresentantedogoverno de John Kennedy. O presidente brasileiro ainda era João Goulart.LigadoaoPartidoDemocrata, Gordon permaneceu no cargomesmodepoisdamortedo presidente,quando assumiu ovice Lyndon Johnson. Comoem1964 eleeraoembaixador dos EUA, Gordon sempre foi acusado de envolvimento no golpe militar que derrubou Jango. Por muitos anos, o embaixa-
dor negava envolvimento no episódio. Doze anos mais tarde,aindaduranteoregimemilitar no Brasil, Gordon afirmou que os EUA estavam prontos para intervir caso comunistas tomassem o poder em Brasília. Documentos divulgados em 2004 pelo governo americano e tornados públicos pela Universidade George WashingtonrevelamopensamentodeGordon. Em27demarço de 1964, ele escreveu: “Se nossa influência serve para ajudar a evitar um grande desastre, que poderia transformar o Brasil na China dos anos 1960,aquiéondeeuemeusassessores achamos que nosso apoio deve ser colocado.” Mais adiante, em outra comunicaçãoporcabodirigidaà Casa Branca, CIA e Departamento de Estado, Gordon recomenda que medidas “sejam tomadas o mais cedo possível para a preparação de um envio clandestino de armas não originárias dos EUA para os apoiadoresde CasteloBranco emSãoPaulo”.Nosdocumentos oficiais disponibilizados Em 1966, o embaixador deixouoBrasileretornouaosEstados Unidos, onde assumiu a Presidência da Universidade Johns Hopkins. ●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 144 DIAS ●●● Oempresário FernandoSarney,filho do senador José Sarney, apresentou nasexta-feira, véspera dorecessoforense,pedidode desistênciada açãocontra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término dorecesso, o jornal será
intimadoa decidir se concorda com a extinção ouprefere que a Justiçaaprecie o mérito. O pedido do empresário foi feito nove dias após o Supremo Tribunal Federal ter arquivado reclamação dojornalcontraacensura semdecidir sobre seu mérito. ●
tar sua decisão, Lula deve manter Battisti no Brasil por “razões humanitárias”, sob o argumento de que na Itália ele sofre-
rá perseguição política. Na última quarta-feira, o STF decidiu que a palavra final sobre o destino de Battisti cabe ao presiden-
te, mas deixou uma brecha para o governo do primeiro-ministro SilvioBerlusconirecorrernovamente à Justiça, se o ex-integrante do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) não for despachado. ASSASSINATOS
Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália, acusado de participação em quatro assassinatos, de 1977 a 1979. O ex-militante de extrema esquerda está preso naPenitenciária daPapuda, em Brasília, e conta com a
simpatiado ministro daJustiça, Tarso Genro, para se refugiar no Brasil. Tarso já havia decididoabrigá-lonoPaís,contrariando recomendação do comitê de refugiados. Depois da decisão de Tarso, a Itália aumentou a pressão para obteraextradição.Apósojulgamento do STF que delegou a palavra final a Lula, o governo italiano apresentou questão de ordem à corte, pedindo esclarecimentos do voto do ministro Eros Grau, que declarara ser de Lula o “caráter discricionário” do cumprimento da decisão. Na resposta à indagação da Itália, o STF retirou do voto de Eros Grau a expressão “caráter discricionário”. O ministro afirmou que a decisão de Lula tem de estar condicionada ao Tratado de Extradição. ●
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QUARTA-FEIRA
Arrecadação é de R$ 72 bi em novembro; presidente fala em ‘Estado forte’ MARCOS DE PAULA/AE
A arrecadação de impostos federais atingiu em novembro sua maior marca no ano, superandoasexpectativasdomercado: foram R$ 72,090 bilhões, crescimento real de 26,39% ante novembro de 2008, o que comprova a retomada da atividade econômica depois da crise internacional. A arrecadação refletiu ainda a continuação da transferênciadedepósitosjudiciais e a adesão de empresas a programa de parcelamento de dívidas. A Receita espera que dezembro possa representar a recuperação das perdas do ano por causa da crise. Em encontro com exportadores, o presidenteLuladissequenãopretende reduzir impostos, porque o Estado deve ser “forte”. “Vou deixar claro para vocês: não imaginem um país com carga tributária fraca. Não tem um país do mundo em que o Estado possa fazer algo sem uma carga tributária razoável.” ● PÁG. B1
Orçamentode 2010é aprovado peloCongresso
NO CLIMA – Moradores de Manguinhos, na zona norte do Rio, tentam tocar o presidente Lula, após inauguração de obras do PAC. ● PÁG. A8
PF mira ONG da STFdizqueS.deve mulher de Arruda retornaraosEUA
CADERNO 2 Palavras de fino trato
Polícia busca mais provas no DF
●● Genialidade do compositor Paulo César Pinheiro chega à literatura ●
JONNE RORIZ/AE
Em novos mandados cumpridosanteontem, aPolícia Federal ampliou o cerco em torno do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda,
na Operação Caixa de Pandora – esquema de propina no DF. Um dos alvos foi a ONG presididapelamulherdeArruda, Flávia Peres. ● PÁG. A4
Menino será devolvido ao pai O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, ordenou que S., de 9 anos, seja entregue ao pai, o americano David Goldman. Para
ACIDENTE: MORTE NO RIO AMAZONAS
agrícola
Natal com flores ●● Cresceavendadeespécies que enfeitam a mesa da ceia, como a gérbera. ●
HELIO SIBIE/RÁDIO MIRANTE
Meio ambiente
7 8 9 10 11 12
O consumo deve puxar o crescimento de 5,8% em 2010, segundo o Relatório de Inflação divulgado ontem pelo Banco Central. A aceleração da atividade econômica, porém, preocupa o BC, que agirá “preventivamente” contra a inflação, projetada em 4,6% para o ano. O porcentual é ligeiramente acima do centro da meta, fixada em 4,5%, e da previsão de 4,4% do relatório de setembro. O mercado viu sinais de alta de juro. ● PÁG. B3
“Quem está fazendo movimento para aumentar a taxa de juros são aqueles que têm saudade de ganhar só com juros”
bilhões foi o peso dos depósitos judiciais na arrecadação da Receita Federal em novembro
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 145 DIAS q PÁG. A6
BC vê risco de inflação e indica alta de juro
Guido Mantega Ministro da Fazenda
R$ 7,2
Parque Nacional Altos da Mantiqueira englobaria16municípios. ● PÁG. A16
DIRETOR:
RUY MESQUITA
FRASE
NÚMERO
●●
(1891-1927)
23 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42435
Receita bate recorde e Lula defende carga de impostos
Vale do Paraíba não quer parque
JULIO MESQUITA
NAUFRÁGIO – Barco com mais de 100 pessoas bate em banco de areia, vira e mata 7 no Pará. ● PÁG. C5
Mendes,amanutenção do menino no Brasil com o padrasto – caso que mobilizou o governo dos EUA – contraria tratado internacional. ● PÁGS. C1 e C3
ESPORTES
O governo conseguiu aprovar ontem à noite no Congresso o Orçamento de 2010, após redução de 30% para 25% no máximoderemanejamentoderecursos por obra do PAC. Já o salário mínimo sobe para R$ 510 em 1º de janeiro, por MP. ● PÁG. B5
Governador é assassinado na Colômbia O governador do Estado colombiano de Caquetá, Luis FranciscoCuéllar,foisequestradonasegunda-feira e encontrado morto ontem, numa ação atribuída àsFarc.Opresidente daColômbia,ÁlvaroUribe,haviaordenado um resgate militar. ● PÁG. A10
NOTAS E INFORMAÇÕES
Para Platini, Brasil e Inglaterra são os favoritos
Austeridade zero em 2010
Carrasco do Brasil na Copa de 1986, o ex-craque francês Michel Platini acha que a seleção chega como favorita à África do Sul. Mas, em entrevista ao Estado, ele cutucou: “O Brasil sempre penou contraa França”.Eleapontaainda a Inglaterra como candidata ao título. Sobre o gol irregular que classificou a França, Platini disse que “faz parte do jogo”. ● PÁG. E1
Tempo: CAPITAL
O governo não fará esforço para controlar gastos no ano eleitoral, mas Lula promete manter a “política fiscal séria”. ● PÁG. A3
●●●
32º
MÁX.
● PÁG. C2
17º
MÍN.
Sol e temperatura alta. Calor pode provocar pancadas de chuva à tarde. Hoje: 76 páginas A. 1º caderno: 22 ● B. Economia: 14+4 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 12 ● E. Espor-
tes: 2 ● G. Agrícola: 12 Classificados: 97 anúncios
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QUARTA-FEIRA, 23 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Vacas de presépio que se O colapso anunciado do fazem de pastores sistema de saúde JoséNêumanne Naquelas históricas assembleias gerais dos operários metalúrgicos de São Bernardo do Campo no Estádio de Vila Euclides na segunda metade dos anos 70 do século passado, o presidente do sindicato, Luiz Inácio da Silva, que ainda não havia incorporado o apelido Lula ao sobrenome, forjou um estilo ao qual foi fiel e que ao longo dos anos aperfeiçoou com esmero. Ele tinha dois lugares-tenentes, Osmar Mendonça, o Osmarzinho, e Enilson Simões de Moura, o Alemão. Encarregava cada um de defender uma posição e, enquanto os dois discursavam, Lula observava atentamente a multidão lá do alto do palanque. Somente quando tinha certeza absoluta sobre qual seria a posição a ser adotada para agradar a plateia dava a palavra final. Ali ele subverteu a ordem monolítica, mas frágil, da ditadura militar, que logo depois desabaria, e também inverteu o sentido original da palavra líder, não mais alguém que conduz a massa, mas quem se deixa por ela conduzir. Non duco, ducor.
Atual geração de estadistas pigmeus põe em risco nosso futuro Os longos anos de militância no PT, na oposição em plena democracia, frágil como a ditadura que sucedeu, ainda que parecesse inquebrantável, o retirante de Caetés, Pernambuco, tornou-se aos poucos o mais manhoso e bem-sucedido político da História do Brasil por aprimorar a arte de adular a massa para permanecer no topo. É um estilo de mando que contraria o dístico latino usado para definir o orgulho paulista. Tal como citado na última linha do parágrafo anterior, não mais o “não sou conduzido, conduzo” dos bandeirantes, dos coronéis, dos estancieiros e mesmo dos mineiros manhosos do PSD, mas um esperto “não conduzo, sou conduzido”, que garante a permanência no alto das pesquisas de prestígio popular. Adular o povo é o jeitinho mais eficiente e menos perigoso de perpetuar seu excelente emprego, que garante fama e fortuna fáceis e um bando de bajuladores ao redor por muito mais tempo do que jamais poderia sonhar algum pretendente ao exercício pleno do mando. Trata-se de um meio extremamente inteligente e sem riscos de exercer o poder e garantir satisfação especial para si mesmo, a família, os amigos e os compadres sem ter de adotar uma decisão difícil, angústia que sempre incomodou o repouso dos guerreiros que de fato comandam.
JoséReinaldo Nogueirade OliveiraJunior Os altos índices de populari- dem: “não é comigo.” Aos que dade alcançados por Lula, co- podem postergar reagem: “remo não o foram “nunca antes solveremos no ano que vem.” Foi isso que ocorreu em Cona História deste país”, não são, contudo, um fenômeno pa- penhague, como antes já havia roquial, uma esquisitice tropi- acontecido na Rodada Doha. cal num universo estranho. Co- Lula dá lições de moral ao resmo se sabe, noço guia providen- to do mundo em matéria de cial dos povos da floresta, da ro- preservação, mas não põe fim ça, do açude e da transposição à destruição da Amazônia do Rio São Francisco é o cara com uma simples proibição de (man) do homem mais podero- queimadas e cortes pelos banso da Terra, Barack Obama. didos internacionais da motosHá entre o menino que teve o serra. Falta-lhe coragem para picolé recusado pelo pai sob o fazer o que deve, mas lhe sopretexto de que não sabia chu- bram argumentos para transpar e o primeiro mulato a ocu- ferir a culpa para os outros. par a presidência dos Estados Neste mundo em que viveUnidos da América muito mais mos, Obama teve o topete de afinidades do que pode supor defender a guerra no habilíssinossa vã historiografia. Mas is- mo discurso que fez na soleniso não se tem comprovado em dade em que recebeu o absurseus sucessos evidentes, e, sim, do Prêmio Nobel da Paz. Essas vacas de presépio em seus fiascos ocultos. Como esse sofrido por ambos na Con- que se fingem de pastores de ferência do Clima em Copenha- rebanhos repetem a geração gue semana passada. de eunucos que permitiu o Protagonistas de reuniões avanço de Hitler e Mussolini que partem de intenções magní- no período entre as guerras. ficas e terminam em nulidades Em pleno século 21, o mundo tenebrosas, ambos fazem parte está a precisar que surja um de uma geração de estadistas novo Winston Churchill, um pigmeus que de tanto se preocu- líder no sentido verdadeiro parem com o que oferecer aos da palavra (condutor), temeeleitores nas próximas eleições rário a ponto de prometer se esquecem do mundo que es- “sangue, suor e lágrimas” a tão destruindo para as próxi- seu povo para, contrarianmas gerações. Os dois se asse- do-o e provocando-lhe dor, famelham ao descendente de hún- zê-lo emergir sobrevivente e garos Nicolas Sarkozy, que só orgulhoso da devastação de se aproxima do corso Napoleão uma guerra mundial. ● Bonaparte na estatura física, distanciando-se do exemplo de José Nêumanne, jornalista antecessores em seus postos. e escritor, é editorialista do Como Abraham Lincoln, que Jornal da Tarde fez a guerra civil para garantir a unidade da confederação americana, e Dom Pedro II, sob cuja égide foi consolidado o domínio dos brasileiros sobre este território semicontinental onde estamos instalados. Tanto eles quanto outros conduzidos que se fazem de condutores – Sílvio Berlusconi na Itália, Angela Merkel na Alemanha, etc. e tal – são hábeis comunicadores, capazes de encantar e engabelar as massas, mas inaptos para pôr em prática o verdadeiro sentido de governar: escolher metas a cumprir e persegui-las. Obama tem a habilidade de encantador de serpentes quando discursa. Lula põe as velhas raposas felpudas da política brasileira nos chinelos quando se trata de dizer a um interlocutor o que ele quer ouvir, seja individual, seja coletivamente. Mas nenhum dos dois tem a ousadia de enfrentar adversidade alguma para traçar o caminho a seguir, seja para resolver os impasses do comércio internacional, seja para evitar a tragédia ambiental que se abaterá sobre nós se providências não forem adotadas. Aos proble- 145 dias mas que surgem respon-
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Decisõespreocupantes Numa única semana os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) mantiveram a censura ao jornal Estado e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspendeu o processo em que o banqueiro Daniel Dantas era réu – a Operação Satiagraha. No primeiro caso os argumentos se referiam às “tecnicidades” do processo, ignorando o que diz a Constituição. No segundo, os argumentos foram uma suposta parcialidade do juiz Fausto De Sanctis, que condenara Dantas. Mais recentemente tivemos o julgamento “lava-mãos” do caso Cesare Battisti e, se examinarmos com lupa, seguramente veremos outros julgamentos em que nossos (muito bem remunerados) magistrados proferiram sentenças polêmicas, sempre em
favor de poderosos. Seria só coincidência? FERNANDO CESAR GASPARINI fernando.gasparin@terra.com.br
Mogi-Mirim ● O mérito de uma causa é cada vez menos relevante ou um mero detalhe quando envolve poderosos. Pobre Brasil... JOSÉ EDUARDO ZAMBON ELIAS zambonelias@estadao.com.br
Marília
A decisão do STJ é um presente de Natal a Daniel Dantas e coloca uma interrogação sobre o estado de impunidade nacional. A continuar assim, o risco é de linchamento moral dos magistrados. ●
YVETTE KFOURI ABRAO abraoc@uol.com.br
São Paulo
cado, mas custa dinheiro. A conclusão, portanto, é simples. O orçamento para a saúde precisa de acréscimos permanentes e crescentes e, mesmo assim, nunca se chegará a um número suficiente. Não é um raciocínio mercantilista, mas apenas realista diante da natureza da questão. E deve ser respeitado, pelo menos se a intenção é oferecer um sistema público que funcione na prática e com qualidade, e não apenas utilizar o conceito de saúde universal para publicidade. Diante disso, é preocupante observar o ministro da saúde informar que a previsão de orçamento para 2010 “é a pior possível”. Segundo José Gomes Temporão, é provável que os reajustes não alcancem a metade da média histórica dos últimos sete anos, já que o repasse está condicionado ao crescimento econômico do País – regra que, indiretamente, confia no fortalecimento da saúde dos cidadãos em épocas de recessão econômica. E o resultado do PIB do 3º trimestre confirma essas expectativas. Se, como foi dito, é necessário aumento orçamentário permanente apenas para manter o atendimento já realizado, diminuir os reajustes é a receita para o colapso. Infelizmente, em saúde não há como economizar dinheiro. Nem é preciso dizer o que significa, na prática, contenção de despesas nessa área. No Brasil o quadro ainda é mais grave. A redução orçamentária para 2010 já seria um problema se a assistência tivesse sido satisfatória em 2009. Por aqui, no entanto, é necessário muito investimento para recuperar uma estrutura que vem sendo deterioraLOREDANO da há anos. A questão não é aumentar o orçamento para manter o nível do atendimento, mas investir pesadamente para estabelecer um sistema digno, do qual ainda estamos longe. De acordo com o que o próprio ministro disse aos jornais, “a situação do financiamento da saúde continua crônica do ponto de vista da falta de uma sustentabilidade econômico-financeira de longo prazo que lhe permita incorporar novos procedimentos, novos medicamentos, ampliar centros de tratamentos especializados”. Neste cenário, o colapso da saúde no Brasil está muito próximo. Não é preciso ser especialista para concluir isso. Apenas aqueles que fecham os olhos para a realidade dos hospitais que prestam atendimento pelo SUS não conseguem enxergar esse naufrágio iminente. No caso das Santas Casas e dos hospitais beneficentes, que respondem por cerca de um terço dos leitos hospitalares do País e realizam mais
Um sistema universalizado e gratuito de saúde pública, como o adotado constitucionalmente pelo Brasil e materializado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), tem duas características principais: é democrático e justo com os cidadãos, mas, por outro lado, exige fontes de recursos crescentes para funcionar. Nesse último caso, a lógica é incontestável. Ano após ano a população se multiplica, novas doenças são identificadas e procedimentos, adotados, tratamentos mais complexos são desenvolvidos e a expectativa de vida aumenta. Todos esses aspectos, relacionados ao desenvolvimento da sociedade, contraditoriamente pressionam o sistema de saúde, que necessita de mais dinheiro para continuar atendendo a toda a demanda, oferecendo recursos médicos mais modernos (e eficientes) e ampliando a cobertura. Como exemplo desse aumento de abrangência, podemos citar as cirurgias estéticas, e até de mudança de sexo, atualmente realizadas pelo SUS. Esses tipos de intervenções e, consequentemente, de gastos, não faziam parte do planejamento quando o SUS foi criado, há 20 anos. Essa situação se repete periodicamente e vai continuar ocorrendo no futuro. Sem dúvida, são ganhos para a população, que recebe um atendimento mais amplo e qualifi-
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Lulae Battisti Comédia em um ato: Sua realeza dom Luiz I, do reino Brasilis, deixou claro: “Não me importo com o que disse o STF. Ele teve a chance de fazer e fez. Eu não dei palpite.” Agora “a decisão sobre Battisti é minha. Tomo a decisão que for melhor para o País. Até lá não tenho o que comentar”. E os acuados súditos se curvam em obediência e admiração. Fim do ato. Democracia à Lula é isso aí. Será que merecemos tanta prepotência, tanto desaforo? SILVANO CORRÊA scorrea@uol.com.br
São Paulo ● Será mesmo que a nova decisão do STF no caso Battisti colocará Lula numa saia-justa, quase obrigando-o a extraditar o assassino
italiano para evitar um confronto com o governo da Itália? Ou só servirá de desafio para quem não admite ser desafiado, fazendo com que, junto com a saia-justa, ele resolva por uma decisão do tipo “salto alto”? Battisti, por alguma razão insondável, tem todo o apoio de Lula. Talvez por algum favor especial recebido...? O futuro nos dirá o que Lula vai decidir.
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Definitivamente, “não” deve ser a resposta do Estadão ao jogo espúrio e canhestro de Fernando Sarney, que pede a extinção do processo. Pela tradição, honra e combatividade deste jornal para que tivéssemos um Estado verdadeiramente democrático, teremos de exigir que o STF desça do muro, sem “filigranas” jurídicas.
São Paulo
PAULO VICENTE DE OLIVEIRA
MARA MONTEZUMA ASSAF
Por que o Brasil não troca Cesare Battisti por Massimo Tartaglia? Battisti está (é) ocioso, ao passo que Tartaglia teria muito trabalho em Brasília. Fica a sugestão. ●
GILBERTO MARTINS COSTA FILHO marcophil@uol.com.br
Santos
leoscavassa@yahoo.com.br
Águas de São Pedro ● O artigo do professor Denis Lerrer Rosenfield (Liberdade de Imprensa, 21/12, A2) é uma aula de Ética e Direito e grave advertência: “Os algozes da demo-
de 185 milhões de atendimentos ambulatoriais de pacientes da rede pública, a situação é alarmante. Há anos essas unidades têm trabalhado com um déficit de 40% nos procedimentos realizados pelo SUS. Esse quadro produziu uma dívida que as entidades não conseguem mais suportar. Algumas fecharam e várias estão diminuindo sua capacidade de atendimento para o SUS. É preciso, urgentemente, direcionar verbas para corrigir essa distorção. Mas, pelo que se pode observar, o problema vai se agravar. E a solução não se resume ao aumento dos números. Existem questões estruturais que também devem ser resolvidas para garantir a boa aplicação do dinheiro. Nesse caso, a principal é a regulamentação da Emenda Constitucional (EC) nº 29. Sem essa medida, pouco importa a quantidade de recursos destinada para a saúde. Simplesmente porque, atualmente, não existem regras para definir o que são procedimentos de saúde, e o dinheiro para hospitais e pacientes pode ser usado para uma va-
Sem a EC nº 29, pouco importa o volume de recursos destinado ao setor riedade interminável de ações governamentais, como obras de saneamento básico ou incrementos em ações sociais. Por isso, mesmo que o Orçamento da União destine sua maior fatia para a rubrica “saúde”, não quer dizer que todo o valor seja realmente investido em atendimento médico para a população. É recomendável, também, incluir na atual discussão o incentivo às Organizações Sociais de Saúde (OSS), entidades privadas sem fins lucrativos encarregadas de gerenciar hospitais públicos. Trata-se de um modelo que tem apresentado seguidamente resultados positivos na gestão dos recursos e na qualidade dos serviços. Em São Paulo, unidades com essa forma de gestão atenderam 25% a mais de pacientes com economia de 10% de recursos. As soluções para o financiamento para a saúde devem obrigatoriamente respeitar a lógica de orçamento crescente e a boa administração dos recursos públicos. Sem isso, o colapso está mais próximo do que se imagina e a atitude mais honesta será admitir que o Estado fracassou em sua nobre intenção de oferecer atendimento público gratuito e de qualidade para a população. ● José Reinaldo Nogueira de Oliveira Junior, advogado, é presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
cracia estão fortemente estruturados.” É fato. Os defensores da democracia e da liberdade de imprensa precisam se organizar e responder: não passarão! RODOLFO KONDER, Associação Brasileira de Imprensa (ABI) abi.spaulo@gmail.com
São Paulo ● A censura ao Estadão não é resquício da ditadura, como diz FHC (‘Imaginei que o Brasil não voltasse a ver censura prévia’, 20/12, A14). Muito pior, é o início da anarquia institucional, já que a Constituição é oficialmente desrespeitada! GILBERTO DIB gilberto@dib.com.br
São Paulo
A6 NACIONAL
QUARTA-FEIRA, 23 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
Uvas verdes
OPERAÇÃO SATIAGRAHA
Tarso ataca decisão do STJ a favor de Daniel Dantas Ministro critica sistema que permite ‘recursos dilatórios infindáveis’ ANDRE DUSEK/AE–15/12/2009
Vannildo Mendes BRASÍLIA
Na essência, o presidente Luiz Inácio da Silva está certo na análise que faz das ditas vantagens eleitorais da oposição. A dianteira do governador José Serra não significa que o resultado da eleição presidencial lhe será favorável em outubro de 2010, bem como a hipótese da formação de uma chapa com Serra na cabeça e Aécio Neves de vice não produz uma vitória certa. Além de águas a mancheias para rolar, há no meio das fórmulas bem engendradas pelos partidos, o sentimento do eleitorado. Este não obedece a contas matemáticas. A soma dos eleitores de Minas e São Paulo – os dois maiores colégios eleitorais, representando quase um terço do eleitorado brasileiro – não se dá automaticamente. Da mesma forma como a popularidade do presidente da República não se transfere mecanicamente para quem quer que seja. Mas, como na política vale mais a forma que o conteúdo, o presidente Lula sem querer acabou marcando um gol contra no embate com a oposição. Sempre cuidadoso, desta vez Lula escorregou num ato falho cometido no improviso de uma fala qualquer que pudesse traduzir indiferença à hipótese de uma chapa puro-sangue do PSDB. “Acho que num time de futebol nem sempre dois Coutinhos e dois Tostões, dois Dirceu Lopes dariam certo no mesmo time. Às vezes é preciso uma composição diferenciada para dar certo”, disse o presidente. Na tentativa de desqualificar, acabou levantando a bola para o adversário chutar. “Quando o jogador é muito bom, dá para duplicar”, rebateu José Serra. Recebeu, de graça, a chance de sublinhar que Lula os havia qualificado de craques e a oportunidade de abordar pela primeira vez em público aquilo que já corria nos bastidores: seu desejo de ter Aécio como companheiro de chapa. O governador de São Paulo deu, assim, mais um passo sem precisar dizer que estava caminhando. E Lula, que não tem por hábito distribuir elogios a não ser a si mesmo, perdeu-se na confusão de produzir uma declaração que é o oposto do pensamento em vigor nas hostes governistas. Tanto quanto a oposição deseja, o governo teme a concorrência conjunta de dois políticos de expressão nacional, com votos e influência nos dois colégios eleitorais que somam um terço do eleitorado de todo o País. Quem acompanha política se lembra de que o PT e o Palácio do Planalto sempre apostaram na divisão do PSDB como forma de o partido inviabilizar por si mesmo as suas possibilidades eleitorais. Não que isso esteja fora do cenário. Quando a campanha começar é que o tucanato mostrará se vai para a eleição afinado ou atabalhoado, como ocorreu nas duas últimas presidenciais. Mas o sonho de consumo do governo, a saída de Aécio Neves do partido, não se concretizou. E se a esperança era a briga interna é porque a unidade soava ameaçadora. E continua soando ainda mais agora que o mineiro saiu do páreo. A chapa “pura”, se sair, define a eleição? Não, mas dá um trabalho danado e obriga o governo a reforçar suas tropas em dois Estados onde o PT já esteve forte, mas, por razões distintas, deixou o terreno ser ocupado pelo adversário.
Lula tenta desqualificar, mas acaba emprestando seu aval à qualidade do adversário
A decisão do ministro Arnaldo Esteves Lima, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de suspender os atos da Operação Satiagraha recebeu duras críticas ontem do ministro da Justiça, Tarso Genro. Para ele, a medida, emboralegítima, cria sensação de impunidade na população. “Num processo dessa importância, isso tem grave reflexo no senso comum”, observou o ministro. “Confirma aquela conclusão clássica: os poderosos no Brasil dificilmente vão para a cadeia.” Tarso considerou a decisão temerária e a atribuiu às falhas do sistema processual penal do País, que a seu ver permite “recursos dilatórios infindáveis”. “Não se pode transformar o STJemterceiro graudejurisdição e o STF em quarto grau”, censurou. “Há um emaranhado no processo penal que hoje torna as ações importantes intermináveis.” O problema, enfatizou, “é que uma decisão desse tipo cria no senso comum a visão de que os ricos são inatingíveis pela Justiça”. Ele ressalvou que sua crítica não leva nenhum demérito a quem proferiu a sentença. “Os ministros são conscientes e decidem de acordo com a lei, mas obviamente algo tem de mudar na estrutura processual penal brasileira, para que essas coisas não se repitam de maneira
FOCO – Tarso: ‘Obviamente algo tem de mudar na estrutura processual’
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 145 DIAS ●●● O empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, apresentou na sexta-feira, véspera do recesso forense, pedido de desistência da ação contra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término do recesso, o jornal
será intimado a decidir se concorda com a extinção ou prefere que a Justiça aprecie o mérito. O pedido do empresário foi feito nove dias após o Supremo Tribunal Federal ter arquivado reclamação do jornal contra a censura sem decidir sobre seu mérito. ●
tão frequente”, pregou. Baixada pelo ministro Arnaldo Esteves Lima, da 5ª turma do STJ, a sentença suspende toda a Operação Satiagraha e as sanções já determinadas contra Daniel Dantas e suas empresas. Alcança tanto a primeira fa-
se, comandada pelo delegado Protógenes Queiroz, afastado do caso por abuso de poder, como a segunda, que refez todo o trabalho anterior sob a chefia dodelegadoRicardoSaad.Oministro relativizou a medida. Argumentou que ela atinge ape-
Tribunal analisa caso Satiagraha após volta do recesso, no início de fevereiro Fausto Macedo
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) vai recolocar em pauta o caso Satiagraha na abertura do ano judiciário, em fevereiro. A decisão é do ministro Arnaldo Esteves Lima, da 5ª turma do STJ, que concedeu liminar em habeas corpus para o banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, suspendendo todos os atos relativos à investigação. A medida alcança o processo principal, no qual Dantas é acusado por crimes financeiros, lavagem e evasão de divisas, e a ação penal em que foi condenadoa10anos deprisãoporsuposto crime de corrupção ativa e queé alvo de apelação da defesa peranteoTribunalRegionalFederal (TRF) da 3ª Região. Tam-
bém é extensiva a outros desdobramentos da Satiagraha. O habeas corpus para Dantas foi impetrado contra acórdão do TRF que, em 2008, julgou improcedente exceção de suspeição do juiz Fausto Martin De Sanctis, titular da 6ª VaraCriminal FederaldeSãoPaulo e condutor da Satiagraha. No habeas corpus, os criminalistas Andrei Schmidt e Luciano Feldens, defensores de Dantas, pedem anulação da Satiagraha alegando a suspeição do magistrado. Também pleiteiam a redistribuição dos autos para a 2ª Vara Criminal Federal que, segundo eles, teria competência para cuidar da Satiagraha. O habeas corpus tem como trunfo o voto de um desembargador do TRF que se manifes-
tou contra De Sanctis. Ao acolhertemporariamenteapretensão da defesa, Esteves Lima fez referência ao voto. “Ponderáveis as razões contidas no voto vencido”, assinalou o ministro.
Até julgamento de mérito, juiz não pode adotar medida alguma nos autos Com a decisão, De Sanctis, até o julgamento de mérito, não poderá adotar nenhuma medidanosautos. Relatorda demanda no STJ, Esteves Lima acolheu o pedido em caráter liminar. “Compulsando os autos verifico presentes a plausibilida-
nas a conduta do juiz Fausto De Sanctis, titular da ação, acusado de agir com parcialidade, mas não o inquérito nem toda a investigaçãoconduzidapelaPolícia Federal e pelo Ministério Público. “A segunda etapa da Satiagraha foi rigorosa e bem feita,deu sustentaçãoa umadenúncia muito bem fundamentada e não teve os eventuais equívocoscometidosnoprimeiro inquérito.” Tarso discorda da tendência, que identifica no STJ, de invalidaraatuaçãodeDeSanctisintegralmente. “Eu o tenho como um juiz sério, muito trabalhador e dedicado”, elogiou. Além disso, segundo o ministro, não se pode perder de vista um fato anterior à decisão do STJ. “O réu principal foi condenado em outro processo e não está cumprindopena”,criticou.Elese referia à sentença em que Dantas foi condenado a dez anos de prisão por corrupção ativa pela 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Paraele,ofato deDantaspermanecer solto também decorre de falhas do sistema processual, “que gera infindáveis rituais de demora” e a seu ver muitas vezes acaba em prescrição da pena. FÉRIAS
O gabinete do ministro Arnaldo Esteves Lima informou que ele está em férias e não poderia fazer nenhum comentário a respeito da fala de Tarso Genro. ●
de jurídica do pedido e o perigo na demoraa justificar a liminar, restando temerário o curso de ações penais em que o paciente (Dantas) figure como acusado e que houve ou há atuação de magistradoeventualmentesuspeito (De Sanctis).” O ministro assevera que “a imparcialidade do juiz constitui princípio estruturante do ordenamento jurídico brasileiro e do Estado de Direito”. Segundo o relator, “prevenir nulidades constitui tarefa básica de todo magistradonaconduçãodoprocesso, o que, igualmente, recomenda, em casos da espécie, a imprescindível ponderação dos valores e garantias jurídicas em cotejo”. Esteves Lima anotou, ainda: “Neste juízo primeiroeprecário,entendorecomendável o sobrestamento das ações penais até o pronunciamento definitivo pela 5ª turma, afastando, por ora, eventual constrangimento.” Ojuiz DeSanctisnãose manifestou sobre a liminar. ●
Lula chama Prova de que o governo sentiu o impacto do gesto de Aécio – e não da forma positiva como rezam as versões palacianas – que o presidente Lula saiu a campo de imediato. Ao seu estilo simplificador, fazendo uso de metáforas que supostamente facilitam o entendimento, mas de fato nada têm a ver com a realidade do assunto tratado, o presidente provoca José Serra a sair da toca para responder às suas declarações. Se conseguir, terá obtido sucesso no projeto de criar um clima de plebiscito já nas preliminares da campanha eleitoral. A ofensiva não é só no campo da política. Não são ocasionais as manifestações de Lula e do presidente do Banco Central a respeito dos efeitos da eleição sobre a economia. Henrique Meirelles prevê “tensões” e Lula aponta Dilma como fiadora exclusiva da continuidade da atual política. A ideia é nitidamente explorar as desconfianças que o mundo dos negócios nutre em relação ao grau de intervencionismo de Serra.
+ 9
A Brasil São Paulo Sotheby's International Realty se orgulha em assinar contrato do empreendimento Praça Villa Lobos - Alto de Pinheiros.
Acelerados “O processo eleitoral está tão antecipado que já tem vereador querendo discutir boca de urna” (Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional e pré-candidato ao PMDB ao governo da Bahia). ●
Sem-terra liberam pedágio no Paraná Entre200e 300sem-terrainvadiram ontem cedo uma praça de pedágio da BR-369, em Arapongas, a 400 quilômetros de Curitiba, liberando a passagem dos carros sem pagamento de tarifa. Os manifestantes pediam que o governo apressasse os processos de desapropriação de áreasinvadidasparaassentamento. ESTADOS
Lerner é denunciado pelo Ministério Público
Antiga musa Em meados do ano o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, e o presidente da Casa, Michel Temer, diziam que Temer só não seria indicado para vice se Aécio formasse dupla com Serra e Hélio Costa precisasse ser escalado para compor a chapa com Dilma, a fim de disputar o eleitorado de Minas. Isso foi antes de Costa liderar as pesquisas para governador do Estado.
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A juíza da 9ª Vara Criminal de Curitiba, Ângela Regina RaminadeLucca,acolheudenúncia do Ministério Público contra o ex-governador Jaime Lerner e outras dez pessoas, acusadas de formação de quadrilha, peculato e dispensa irregular de licitação. Adefesade Lernerargumentouqueas contasforamaprovadas pelo TCE.
� Edição de
0h15
o estado de s. paulo QUINTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na pĂĄgina A2.
NĂşmero ĂŠ trĂŞs vezes o de 2008 e estĂĄ ligado a despesas mĂŠdicas irregulares dicos concedidos para pessoasfĂsicas.Aprimeiradeclaração deve ser entregue em 2011, com dados relativos a 2010. “Vamos punir os que fraudame liberarosquerealmente tĂŞm despesas mĂŠdicaselevadasâ€?,explicouosubsecretĂĄrio de Fiscalização da Receita, Marcos VinĂcius Neder. â—? PĂ G. B1
apertar o cerco aos contribuintesqueusamirregularmenterecibos mÊdicos para pagar menosimposto oureceber restituição, a Receita anunciou ontem a criação da Declaração de ServiçosMÊdicos.Amedida obriga empresas que prestam serviços de saúde, como hospitais e laboratórios,a prestarinformaçþes sobre todos os recibos mÊ-
para o mês desde 1995. Apesar disso, o governo terå de abater os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para atingir a meta de superåvit primårio. � Pà G. B4
PRESENTE DE NATAL: REDE SOLIDĂ RIA FELIPE RAU/AE
DevoluçãodeS. aopaiĂŠâ€˜crime hediondo’,dizavĂł
Governo tem saldo de R$ 10,7 bi �� � Favorecidas pela melhora da arrecadação, as contas do governo federal (Tesouro, Banco Central e Previdência) fecharam novembro com um superåvit de R$ 10,7 bilhþes, o maior
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Lula oferece ‘pacote de bondades’ a catadores O presidente Lula anunciou um “pacote de bondades natalinasâ€? paramoradoresderuaecatadores de material reciclĂĄvel. No centro de SĂŁo Paulo, Lula disse que haverĂĄ crĂŠdito presumido de IPI para a empresa que comprar produtos de material reciclĂĄvel coletado por cooperativas. AlĂŠm disso, ele disse que o Bolsa-FamĂlia serĂĄ estendido a todos os moradores de rua. Falando em tom de despedida, Lula se disse “rei postoâ€? e afirmou que 2010, ano de sua sucessĂŁo, serĂĄ “uma pauleiraâ€?. â—? PĂ G. A4
Gastos com pessoal vão subir 8,6% em ano de eleição O governo federal terå em 2010, anoeleitoral, umorçamento em queaprevisãodegastocompessoal e investimento Ê maior do que o autorizado para 2009. Pelo relatório aprovado anteontem no Congresso, o gasto com folha de pagamento e encargos devecrescer8,6%em2010,atingindo R$ 183,75 bilhþes. Jå o investimento deve se elevar em 5,6%, chegando a R$ 53,53 bilhþes, dos quais R$ 29,8 bilhþes se referem ao PAC. � Pà G. B4
FamĂlia brasileira tem atĂŠ 9 horas de hoje para entregar o menino A avĂł brasileira do menino S. classificou de “crime hediondoâ€? a decisĂŁo do STF de devolvĂŞ-lo ao pai biolĂłgico, o americano David Goldman. O prazo termina hoje Ă s 9 horas. SilvanaBianchiestavatentando en-
(1891-1927)
24 de dezembro de 2009 --ANO 130. NÂş 42436
1 milhão de contribuintes caem na malha fina do IR A malha fina da Receita Federal reteve neste ano as declaraçþes de Imposto de Renda (IR) de cerca de 1 milhão de contribuintes. Em 2008, o número foi bem mais baixo: 361,4 mil. Com a malha fina em 2009, a Receita descobriu que tinha R$ 2,1 bilhþes em impostos a receber, e 12% desse valor estava relacionado a despesas mÊdicas. Para
JULIO MESQUITA
contrar um voo para Nova York para dar suporte ao neto. Segundo ela, a famĂlia tenta negociar com Goldman umatransição menos traumĂĄtica: “Criança nĂŁo ĂŠ um pacote que vocĂŞ despachaâ€?. â—? PĂ G. C1
DEBATE
JoĂŁo A. Wiegerincki
George W. T. Marcelino
ADVOGADO CONSTITUCIONALISTA
ADVOGADO
Uma decisĂŁo que tarda
Criar filho Ê função dos pais
A decisão da Justiça sobre o menino S. G. tarda no quesito da proteção efetiva das condiçþes emocional e psicológica da criança em questão. � Pà G. C1
Justiça
STF manda soltar Abdelmassih â—?â—? MĂŠdico Roger Abdelmassih, acusado de 56 crimes sexuais, foi libertado. â—? PĂ G.A11
A criação de um filho ĂŠ função dos pais, e somente a eles cabe esse direito. NĂŁo ĂŠ possĂvel conceber, neste caso, que se prive o pai de criar um filho. â—? PĂ G. C1
â—?â—?â—?
â—?â—?â—?
CADERNO 2
Xuxa e ‘O MistĂŠrio da Feiurinha’ â—?â—? Rainha
FELIPE RAU/AE
fecha 2009 com especial de Natal hoje na Globo e filme que estreia amanhĂŁ.â—? BLAD MENEGHEL
Torça para sobrar peru
AutomĂłveis
Ford vende Volvo Ă Geely, da China â—?â—? SugestĂľes para
â—?â—?â—? Lindemberg Oliveira, de 10
anos, morador de cortiço em SP, brinca com a bola que ganhou
graças a uma rede de solidariedade natalina. Voluntårios doam o brinquedo e outros recolhem a
doação, entregando-a Ă criança. ‘Foi o melhor presente que ganhei’, disse o menino. â—? PĂ G. C6
ESPORTES
NOTAS E INFORMAÇÕES
Schumacher assina com a Mercedes e retorna Ă F1
As exorbitâncias do ministro Ao comentar a decisão do STJ na Operação Satiagraha, o ministro Tarso Genro endossou a tese de que as garantias fundamentais podem ser atropeladas quando a causa Ê justa. � Pà G. A3
â—?â—?â—?
Â
Com a Mogi-Bertioga interditada durante o feriado de Natal, a opção mais curta para chegar ao litoral norte pode ser tambÊm a mais perigosa. A Tamoios estå com sinaliza-
çãoapagada,asfaltoesburacado e trechos sem acostamento. Os veĂculos que desceriam pela Mogi serĂŁo distribuĂdos para a Tamoios e para a Anchieta-Imigrantes. â—? PĂ G. C4
‘ESTADO’ SOB CENSURA HĂ 146 DIAS q PĂ G. A8
A Mercedes anunciou ontem que fechou contrato com Michael Schumacher pelas três próximas temporadas da Fórmula 1, no valor de ₏ 7 milhþes (R$ 17,8 milhþes) por ano. Depois de três anos fora das pistas, o alemão, que nunca deixou o automobilismo de lado, voltarå a fazer o que mais gosta e o consagrou: correr. Aos 40 anos – faz 41 em 3 de janeiro –, Schumacher diz estar pronto para colecionar mais trofÊus. � Pà G. E1
Tempo: CAPITAL
REUTERS
Situação da Tamoios na descida Ê precåria
7 8 9 10 11 12
Negócio serå fechado em 2010 e amplia participação chinesanomercado. � Pà G.B11
â—?â—?
usar fatias de peru, tender e pernil e montar deliciosos lanches. â—?
NOVO CARRO – AlemĂŁo buscarĂĄ seu oitavo tĂtulo na categoria
31Âş
MĂ X.
ANĂ LISE
O que todos que apreciam a F1 querem saber ĂŠ se o piloto de estatĂsticas impressioâ—?â—?â—?
nantes manterĂĄ o nĂvel de antes. Nem ele mesmo pode, por enquanto, responder. â—? PĂ G. E1
19Âş
MĂ?N.
Dia de sol e calor com pancadas de chuva Ă tarde e Ă noite na Capital.
Livio Oricchio
O peso do retrospecto
â—? PĂ G. C2
Hoje: 52 pĂĄginas A. 1Âş caderno: 12 â—? B. Economia: 12 â—? C. MetrĂłpole: 6 â—? D. Caderno2: 8 â—? E. Esportes: 2 â—? P. Paladar: 6 â—? Cl. Classifica-
dos: 6 (687 anĂşncios)
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QUINTA-FEIRA, 24 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Kant e a república dos nossos sonhos
O inimigo americano
RicardoVélezRodríguez
DemétrioMagnoli
A onda de cinismo e corrupção a que temos assistido ao longo dos últimos anos deixa transparecer uma coisa: estamos longe do ideal republicano que, na tradição liberal, encontrou em Immanuel Kant (1724-1804) um dos seus mais importantes formuladores. Direi, na parte final deste comentário, em que pontos o Brasil, em particular, e a América Latina, de um modo geral, se afastaram do ideal republicano apresentado pelo filósofo alemão. Primeiro, destacarei alguns dos seus conceitos básicos. Immanuel Kant defendia a organização livre dos Estados como fundamento para a paz. Uma estrutura política, para ser sadia, pensava o mestre alemão, deveria se alicerçar no respeito à pessoa humana e ao seu mais prezado direito, a liberdade. Só a constituição do Estado como república garantiria essas duas exigências. Nem o despotismo de um nem o de vários poderiam ser aceitos, pois a vontade pública é, neles, utilizada como se fosse a vontade particular do governante.
A América Latina tem enveredado pelo despotismo de um só ou de alguns Nas formas despóticas de organização política, o governo trata o povo como se fosse a sua propriedade. A Constituição republicana, segundo Kant, é aquela que se encontra estabelecida de conformidade com os seguintes três princípios: ● Da liberdade dos membros de uma sociedade enquanto indivíduos; ● da dependência de todos em relação a uma única legislação comum, enquanto súditos; ● e de conformidade com a lei da igualdade de todos os súditos, enquanto cidadãos. Essa forma de governo é a única que decorre da ideia do contrato imaginário e sobre a qual se devem fundar as normas jurídicas de um povo. A Constituição republicana, ainda segundo o mestre alemão, além de ter nascido na pura fonte do conceito do direito, tem a vista posta na paz perpétua. Se o consentimento dos cidadãos é necessário para decidir se deve haver guerra ou não, nada é mais natural que eles pensem muito antes de começar um jogo tão maligno. Para Kant, são essenciais à forma republicana de governo a representação e a separação entre os poderes Legislativo e Executivo. Duas formas de governo tornam impossível a república: o despotismo de um (tirania) e o de todos (democracia da vontade geral). Nessas
duas formas de governo é a mesma pessoa que legisla e que executa a lei. Quanto mais reduzido for o número de pessoas do poder estatal e quanto maior for a representação das mesmas, tanto mais aberta estará a Constituição à possibilidade do republicanismo. Ao longo da última década a maior parte dos países latinoamericanos enveredou pelo duvidoso caminho dos “populismos constitucionais”, que visam a instaurar regimes que se autoperpetuam com a bênção das suas respectivas sociedades, conduzidas ardilosamente pelos mandatários de plantão a fazer reformas plebiscitárias que garantam a hegemonia dos donos do poder, sem que haja a mínima possibilidade de alternância do mesmo e com a destruição das instituições republicanas – como o funcionamento da oposição, a preservação e o aperfeiçoamento do governo representativo e a liberdade de imprensa. As estruturas políticas surgidas dessas reformas partiram para a ignorância em relação à pessoa humana e ao seu direito mais prezado – a liberdade –, como está ocorrendo na Venezuela, na Bolívia e na Nicarágua. O centro motor dessa maré montante é o regime venezuelano, que estendeu os seus tentáculos sobre os quatro cantos da América Latina, financiando com os abundantes petrodólares o maluco modelo da “revolução bolivariana”, que tem servido de inspiração para as mudanças que se apresentam aqui e acolá. A Venezuela de Hugo Chávez transformou-se em foco irradiador da instabilidade regional, em decorrência da louca corrida armamentista desatada pelo truculento coronel. Ele é, atualmente, sem dúvida nenhuma, quem pauta a agenda política do nosso continente. O Brasil terminou refém desse modelo, notadamente no que tange à escolha dos rumos da política externa, voltada para um populismo esdrúxulo que acaba sacrificando os interesses do nosso país nas fantasias terceiro-mundistas que levaram Lula a prestigiar o presidente iraniano num momento em que ele é seriamente questionado por ignorar as políticas antinucleares assinadas pelas Nações Unidas. De Lula, de Chávez e dos demais líderes populistas latinoamericanos poder-se-ia dizer o que Kant criticava como despotismo de um só ou de alguns, que utiliza a vontade pública como se fosse a vontade particular do governante e do seu séquito de bajuladores. Os vários chefes populistas latinoamericanos se unificam nesta negativa caracterização: tratam o povo como se fosse a sua
propriedade. As Constituições republicanas e as práticas políticas que começam a pipocar na América Latina como fruto das “revoluções bolivarianas” em andamento estão sendo estabelecidas de acordo com três antiprincípios que reforçam a velha tradição patrimonialista de gerir o Estado como propriedade particular do governante e que se contrapõem diametralmente aos princípios republicanos apregoados por Kant. Chávez e companhia partiram, nas suas reformas constitucionais “bolivarianas”, da negação da liberdade dos membros da sociedade enquanto indivíduos; da não dependência de todos em relação a uma única legislação comum, enquanto súditos (pois os governantes de plantão não estão submetidos, nem os seus colaboradores, à lei vigente para todos); e de conformidade com a lei da desigualdade de todos os súditos, enquanto cidadãos (temos cidadãos de primeira, de segunda ou de terceira, dependendo da sua proximidade da esfera dos donos do poder). ● Ricardo Vélez Rodríguez é coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: rive2001@gmail.com
SINAIS PARTICULARES LOREDANO
Agora é moderar um bocadinho esse bom humor
FÓRUM DOS LEITORES MensagemdeNatal Recebi uma bonita mensagem natalina do sr. deputado José Aníbal. Fico feliz com os votos e pela lembrança. Mas a correspondência utiliza papel timbrado da Câmara dos Deputados, o que me faz crer que sua confecção e seu envio foram pagos com o dinheiro público. Preferia, sinceramente, que a quantia tivesse sido doada a uma instituição de caridade ou utilizada noutra benfeitoria para a sociedade. Peço que reflitam sobre essa “propaganda” disfarçada paga com dinheiro público. Será que é uso da máquina em período pré-eleição de 2010? Por favor, um pouco mais de comprometimento com a verba pública. São esses pequenos gestos que acabam por mostrar o “espírito de lambança” que parece predomi-
nar na Casa. Estimado deputado, tenho afinidade com sua legenda, mas é desanimador ver o líder do partido na Câmara dando um exemplo como esse. No meu caso o efeito da mensagem foi péssimo. Desejo mais seriedade aos srs. deputados. Feliz 2010 sem esperteza e, sim, com seriedade e comprometimento.
ENDEREÇO
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Migalhas Após inúmeros embrulhos (eles não gostam que falemos em pacotes) concedidos ao povo brasileiro ao longo do ano, o bom velhaco assinou medida provisória natalina para aumentar o salário mínimo para R$ 510 a partir de 1.º de janeiro de 2010 – mais algumas migalhas para os aposentados.
JOÃO G. NETO
ALBERTO BASTOS C. DE CARVALHO
edificiomaranello@terra.com.br
albcc@ig.com.br
São Paulo
São Paulo
PapaiNoelnão vem...
Não é falsa, mas gera pouca luz a tese predominante sobre as motivações originais da política externa do governo Lula. Essa tese assegura que a política externa inaugurada na primeira posse de Lula foi concebida como uma compensação “de esquerda” à política econômica ortodoxa capitaneada por Antonio Palocci e Henrique Meirelles. As coisas são mais complicadas. Numa ponta, a substituição de Palocci por Guido Mantega introduziu uma ambivalência na política econômica, que agora combina um núcleo ortodoxo com iniciativas orientadas pelo programa do capitalismo de Estado. Na outra, a política externa sofreu uma inflexão sutil, que acentua suas inclinações antiamericanas. A crise em Honduras, a visita do iraniano Mahmoud Ahmadinejad e a aprovação parlamentar do ingresso da Venezuela no Mercosul delineiam os contornos de um novo cenário. Na montagem de seu primeiro governo, Lula entregou nove décimos da política econômica aos liberais ortodoxos, deixando apenas o feudo do BNDES ao grupo nacionalista ligado a Carlos Lessa, que teve vida curta. A política externa, em contraste, foi dividida equitativamente entre os ultranacionalistas, representados pe-
● O reajuste de 6,14% para as apo-
Tudo dentro da normalidade: juiz suspenso, decisão anulada, condenado em liberdade e população à espera do Papai Noel...
sentadorias, autorizado pelo “pai do Brasil”, vai virar pó com o aumento do IPTU decretado pelo prefeito Gilberto Kassab para 2010.
VICTOR GERMANO PEREIRA
ROBERTO STAVALE
victorgermano@uol.com.br
bobstal@dglnet.com.br
São Paulo
São Paulo
Censura,146dias Depois de mais de cem dias de censura ao Estado, Fernando Sarney desiste da ação e diz que a liminar contra o jornal foi um “gesto individual de cidadão” (?), que “restringir a liberdade de imprensa” jamais foi o seu objetivo (?) e que “a liberdade de imprensa é um patrimônio da democracia”. Que raciocínio lento. A censura ao Estado não prejudicou só o jornal, mas todos os brasileiros acostumados com as informações a tempo das inúmeras falcatruas, maracutaias e ilicitudes orquestradas pelos nossos “dignos” políticos e autoridades, que chegam ao poder e se tornam imunes a qualquer pena. Que punição
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
lo secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, e a corrente majoritária petista inspirada pelo castrismo e personificada no assessor presidencial Marco Aurélio Garcia. O ministro Celso Amorim, um mestre da maleabilidade política, da dissimulação e do equívoco, ficou encarregado de administrar a coalizão de interesses, que só é estranha na superfície. A ponte entre as visões de mundo dos dois grupos é constituída pelo antiamericanismo. A esquerda bafejada pelo castrismo norteia-se por uma caricatura da teoria do imperialismo que substitui o sistema de relações da economia mundial pelo “império americano”. Os ultranacionalistas, cujas referências históricas formam um panteão que conecta Getúlio Vargas a Ernesto Geisel num mesmo “projeto nacional”, encaram os EUA como a fonte principal dos valores odiosos de democracia política e liberdade econômica. Uma política externa consistente, mesmo se abominável, pode emanar de tal coalizão. Lula, hoje todos sabem, não é uma rainha da Inglaterra. Ele arquitetou seu governo como um caleidoscópio de grupos de interesses, mas nunca renunciou ao exercício do comando efetivo. Amorim qualificou-o como o “Nosso Guia”, lançando mão de um panegírico ridículo para produzir uma asserção verdadeira. O presidente, um provinciano incorrigível, jamais nutriu interesse pela política internacional, interpretando a política externa essencialmente como um instrumento para a edificação de sua imagem de estadista. No primeiro mandato, com essa finalidade, o “guia” definiu como meta prioritária a ascensão do Brasil à condição de membro permanente do Conselho de Segurança (CS) da ONU. Lula cultivou uma relação pessoal com George W. Bush e o Brasil atendeu a um pedido expresso da Casa Branca para liderar a missão da ONU no Haiti, oferecendo uma solução à crise aberta por um gesto aventureiro dos neoconservadores americanos. O Itamaraty cuidou de amenizar a crítica brasileira à geopolítica de Bush no Oriente Médio e de não fazer nenhuma menção significativa aos escândalos de direitos humanos em Abu Ghraib e Guantánamo. O presidente e o ministro Amorim alimentavam a esperança de retribuição, na forma do apoio de Washington ao ingresso definitivo do País no CS. Mas, previsivelmente, os EUA decidiram não imolar sua política para a ONU no altar da obsessão do Brasil. No segundo mandato, em virtude do fracasso daquela pleiteação, Lula afrouxou as rédeas que cerceavam o impulso antiamericanista da coalizão de política externa. A virulência desse impulso não diminuiu, mas cresceu,
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com a troca de comando na Casa Branca. O aparente paradoxo decorre de um temor fundamentado: enquanto as diretrizes de Bush serviam como contraponto ideal para as manifestações de apreço do Brasil a tiranos de diversos matizes, as de Obama tendem a restaurar a credibilidade dos valores políticos defendidos pelos EUA. A alardeada “química pessoal” entre Lula e Bush deu lugar a uma crescente hostilidade retórica contra os EUA, expressa no tom arrogante das críticas à cessão do uso das bases militares colombianas, e a gestos antes impensáveis: a conversão da embaixada hondurenha em tribuna para Manuel Zelaya, o apoio explícito à duvidosa reeleição de Ahmadinejad e a proclamação de confiança no suposto caráter pacífico do programa nuclear iraniano. Nesse curso, pouco antes da visita de Arturo Valenzuela, novo secretário-assistente para as Américas, Marco Aurélio Garcia manifestou publicamente a “decepção” brasileira com a política de Obama para a América Latina – uma iniciativa
Brasil desafia as convenções da diplomacia entre países amigos que desafia as convenções da diplomacia entre países amigos. O ato mais recente na escalada triunfante do antiamericanismo foi a admissão pelo Senado do ingresso da Venezuela no Mercosul, uma decisão de amplas repercussões, derivada de intensa pressão do Executivo sobre a sua base parlamentar. A presença de Hugo Chávez implicará a “morte” do Mercosul original, como anunciou certa vez o próprio venezuelano, e sua conversão numa plataforma de denúncia permanente do “império”. Não é, obviamente, um cenário ideal para a parceria entre EUA e Brasil com a qual contava Obama na hora em que anunciou as grandes linhas de sua política latino-americana. Política externa é a expressão internacional dos valores e dos interesses da sociedade nacional. Não é a esfera adequada para a veiculação de doutrinas partidárias ou de correntes ideológicas minoritárias. É o campo da unidade, não da confrontação interna. No primeiro mandato de Lula, a política externa brasileira oscilou no interior dos limites de uma tradição. No segundo, ela viola essa tradição, transformando-se aos poucos num pátio de folguedos de ideólogos irresponsáveis. ● Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em geografia humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@ terra.com.br
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Forçaestranha receberá o desembargador “amigo da família” que concedeu a liminar? Continua impune aquele que se perpetua no poder e ainda na presidência do Senado, na prática de atos secretos (e ilícitos) – o que é fácil comprovar, pelas dezenas de milhares de servidores públicos dessa instituição, concursados ou não, com ganhos muito além do razoável, para atender 81 senadores, tudo pago pelo cidadão brasileiro. Será que é por isso que o povo tem a pior educação, a pior saúde e o pobre está na “m...”? Conseguiram fazer do Brasil o país de tolos. LUIZ DIAS lfd.silva@uol.com.br
São Paulo
Como ouvinte assíduo da TV Senado, minha vã filosofia não consegue entender o que se passa nas sessões do plenário daquela Casa. Depois de um período conturbado, em que senadores pediam a saída imediata de José Sarney da presidência do Senado em sessões tumultuadas, passou a reinar ali a calmaria, como se nada tivesse acontecido. É muito estranho. Antes, Mão Santa, no PMDB e hoje no PSC, sempre criticava o governo Lula. Depois, presidindo a maioria das sessões do plenário, não cansou de fazer autoelogios, dizendo ter sido um dos maiores cirurgiões do Piauí, além de elogiar José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor, tropa de choque do presidente Lula. “Há mais coisas entre o céu e a
A8 NACIONAL
QUINTA-FEIRA, 24 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
DORA KRAMER dora.kramer@grupoestado.com.br
Fator de risco
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 146 DIAS
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Juristas criticam STF por causa da censura judicial Para Lazzarini e Altenfelder, a proposta contraria espírito constitucional AGLIBERTO LIMA/AE–27/4/2004
Há um grupo de pessoas influentes que circulam na indústria, no comércio, no mercado financeiro, o mundo chamado genericamente de “negócios”, muitas delas integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso. Umas por um tempo, outras durante todo o tempo. Nem todas mantiveram com José Serra uma relação amistosa, até porque algumas eram alvos da crítica permanente por parte do então ministro do Planejamento e depois da Saúde. Entre elas vigora um pensamento: José Serra é um homem público de preparo inequívoco para presidir a República e, a despeito das divergências, preferem vê-lo eleito à continuidade por intermédio de Dilma Rousseff. Aqui, até mais por razões de ordem institucional, a fim de que a alternância preserve a diversidade partidária impondo obstáculos a projetos de hegemonia que asfixia o exercício do contraditório, reduz os espaços de oposição e consolida Lula como o líder carismático catalisador da política mesmo formalmente fora do poder. Não concordam com a declaração do presidente Luiz Inácio da Silva de que a ministra Dilma representa a garantia da estabilidade na economia. Está fresco ainda na memória aquele momento em 2005 em que a chefe da Casa Civil “detonou” a proposta de se estabelecer em lei um limite para os gastos públicos. Dentro do governo, além do ministro Antonio Palocci e da equipe da Fazenda, considerada de qualidade superior à atual, a sugestão contava com o apoio de Paulo Bernardo (Planejamento) e, segundo consta, com a simpatia – depois não confirmada – do presidente Lula. De fora, ex-comandantes da Economia como Delfim Netto, Pedro Malan e Maílson da Nóbrega também deram seu aval. Dilma explodiu a iniciativa qualificada por ela de “rudimentar”. É um fato citado para acentuar as preocupações com a estabilidade frente à despreocupação com o aumento dos gastos públicos. Muito bem. Apesar de tudo isso, esse grupo de pessoas influentes acha que Serra em algum momento, de preferência sem demora, deve se pronunciar sobre suas ideias na área. Admite que o governador resista e até aceita a alegação de que suas posições são muito bem conhecidas por quem transita por esse lado da vida. Apoia a estratégia do governador paulista de não assumir desde já a candidatura, diz que ele está fazendo (pela primeira vez) tudo certo na política. Mas enxerga um nó na economia, um setor em que o silêncio só favorece o adversário. No caso, o governo que pela voz do presidente da República explora e tenta ampliar a real desconfiança que existe em relação às posições de Serra. Tido como intervencionista. Mas Lula não vai por aí, até porque o discurso da candidata oficial é assumidamente estatizante. Ele envereda pelo rumo do risco à estabilidade do País que representaria outro candidato que não o do atual governo. Procura carimbar o oponente como um fator de instabilidade. Na realidade fria, uma ironia, já que foi no governo anterior que se instituiu o Plano Real, a noção de estabilidade da moeda, o fim da inflação e o conceito de responsabilidade fiscal. O PT bateu-se contra essa política, só a adotou quando percebeu que era o caminho para ganhar a eleição e com ela prosseguiu porque sem ela não estaria até hoje no governo.
Na economia silêncio tático de Serra só favorece a estratégia do governo
Moacir Assunção
Umjuizpoderia,constitucionalmente, censurar a imprensa ou determinaroquejornalistas devem escrever? O desembargadoraposentadoÁlvaroLazzarini, ex-presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), e o presidentedaAcademiaPaulista de Letras Jurídicas, Ruy Altenfelder, não têm dúvidas sobre a resposta. Para ambos, a ideia, defendida por pelos menos dois ministros do STF no julgamentodacensura ao Estado,nãoencontranenhumamparo na Constituição, o que a torna, portanto, inconstitucional. “O artigo 5.º da Constituição Federal deixa bem claro que é livre a expressão, independente de censura ou licença, assim como o artigo 220 esclarece, com todas as letras, que não poderá ser aprovada nenhuma lei quecontenha embaraço à plena liberdade de informação, além de vedar explicitamente a censura”, afirmou Lazzarini. Também estudioso de temas constitucionais, Altenfelder concorda com o ex-presidente doTRE. “Ojulgamentonos causou uma enorme estupefação. O Supremo Tribunal Federal (STF)ficounoterrenodas preliminares e não discutiu o mais importante, um ataque direto à liberdade de imprensa, assegurada na nossa Carta Magna, por um tribunal inferior.” ParaLazzarini,oSTFcontradisse a si próprio durante o julgamento, ao não discutir o principaltemaque deveria serapre-
DESDOBRAMENTOS A POSTERIORI – Para Lazzarini, indenização é o caminho contra abuso
Autor anunciou desistência de ação ●●● O empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, apresentou na sexta-feira, véspera do recesso forense, pedido de desistência da ação contra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término do recesso, o jor-
nal será intimado a decidir se concorda com a extinção ou prefere que a Justiça aprecie o mérito. O pedido do empresário foi feito nove dias após o Supremo Tribunal Federal ter arquivado reclamação do jornal contra a censura sem decidir sobre seu mérito. ●
ciadopelosministros.“Oqueestava em jogo era a volta da censura prévia, o que é detestável em um País que se pretende democrático. Mas a questão não foi sequer tocada”, criticou. Em abril, a própria corte suprema extinguiuaLeideImprensa,vista como uma legislação draconiana que previa a censura pré-
via e, até mesmo, prisão de jornalistas. Altenfelder, por sua vez, lembrouque a liberdadedeimprensa e de opinião integra o conjuntode direitosfundamentaisprevistos na Constituição, o que a torna cláusula pétrea, ou seja, aquela que não pode ser contrariada, ainda mais por órgãos do
Na opinião do desembargador, o Estado não deveria aceitar a desistência do empresário FernandoSarney do processo,conformeele anunciouna sexta-feira, último dia antes do recesso do Judiciário. “Ele quer posar de magnânimo,comosefossevítimadeinfâmia. O jornal deveria, em minha visão, levar o processo adiante, para forçar o STF a, enfim, emitir sua opinião sobre o assunto, deimportânciafundamentalpara a nossa democracia”, disse. Fernando Sarney entrou com um pedido de liminar contraoEstado,impedindoadivulgação de reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que o indiciou por vários crimes. O pedido de liminar foi aceito pelo desembargador Dácio Vieira, ligado à famíliaSarney.Elefoideclaradosuspeito e afastado do caso. ●
+ 9 SÃO PAULO
Dilma faz exames no Sírio-Libanês Pré-candidata do PT à Presidência da República, a ministrada CasaCivil,DilmaRousseff, passou ontem por uma bateria de exames no Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista.Aunidade nãoinformou a que tipo de procedimento ela foi submetida nem os resultados. Em abril, a ministra fez uma cirurgia para a retirada de um linfoma – câncer no sistema linfático – na axila esquerda. Em seguida, passou por quimioterapia durante meses. Em setembro, o hospital anunciou que Dilma estava curada. QUESTÃO INDÍGENA
Índios ocupam Funai para cobrar terras Gravatas de seda
Falar e fazer Na teoria soou sensata a reclamação do presidente Lula de que o PT troca muito de candidatos em São Paulo, dificultando a identificação de uma liderança junto ao eleitorado. Na prática, soou incoerente. Uma vez que na condição de comandante supremo do partido Lula influiu em todas as escolhas e ao longo de sua trajetória sempre se notabilizou por não propiciar a emergência de figuras de muito destaque no PT. Incentivou o rodízio e, no tocante à Presidência, não deixou prosperar as postulações de correligionários: Tarso Genro, Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque, para citar os mais conhecidos. Lula adotou a receita para si, mas não deixou que fosse aplicada a outrem.
Um grupo de 75 caingangues ocupadesdeterça-feiraoprédio da Funai em Passo Fundo.OsíndiospressionamoórgãoademarcarareservaPasso Grande do Rio Forquilha. A área de 1,9 mil hectares já foireconhecidacomoterraindígena, mas a Funai diz que o processo pode demorar até chegar à fase de homologação. Há 108 contestações feitas por agricultores à espera de julgamento. O cacique Ireni Franco disse que o grupo ficará no local até obter alguma sinalização de que o processo está avançando. JUSTIÇA ELEITORAL
Porta-vozes
PSOL vai ao TSE por direito a TV em Goiás
Marta Suplicy, ao dizer que Ciro Gomes não tinha “nada a ver” com São Paulo e Aloizio Mercadante, ao apontar que o deputado pegou “o pau-de-arara” na direção errada quando mudou de Pindamonhangaba (SP) para o Ceará, foram obrigados a se desmentir. Entretanto, vocalizam exatamente o que se escuta em rodas paulistanas “de raiz”.
Senhor da razão O governador Aécio Neves saiu do páreo da Presidência para não ficar refém do calendário de José Serra. O presidente do PSDB interditou o debate público sobre a chapa puro-sangue a fim de que o partido não ficasse agora a reboque de uma decisão de Aécio.
Pausa Feliz Natal e até o ano novo.
Poder Judiciário. “Pensamos que, com o fim da ditadura, jamais veríamos o fantasma da censura prévia em nossa frente. No entanto, eis que ela está de volta, patrocinada pelo Judiciário”, lamentou. A própria Constituição estabelece, de acordo com os juristas, em seu sistema de pesos e contrapesos, o antídoto para eventuais abusos da liberdade deimprensa. “A indenização judicial, a posteriori, fixada pela autoridade competente, é o caminho natural para quem se sentir ofendido por matéria jornalística”, afirmou Lazzarini.
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OPSOLapresentouaoTribunalSuperiorEleitoralmandado de segurança, com pedido de liminar, contra decisão que impede a veiculação das inserçõesdepropagandapartidária da legenda em Goiás. OTREgoianoentendeuqueo partido não faz jus à veiculação de inserções porque não elegeu nenhum representante para a Assembleia nem obteve 1% dos votos válidos nas eleições de 2006 no Estado. O PSOL alega ter direito às inserções com base em julgamentos precedentes do TSE.
A10 INTERNACIONAL
QUINTA-FEIRA, 24 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
AMÉRICA LATINA
Morte na Colômbia causa comoção
MAURICIO DUEĂ‘AS/EFE
VILLAHERMOSA, MÉXICO
ONU diz que assassinato de governador ĂŠ ‘crime de guerra’ BOGOTĂ
DiversospaĂses,ONGseorganizaçþes internacionais repudiaram ontem o assassinato atribuĂdoĂ s ForçasArmadasRevolucionĂĄrias da ColĂ´mbia (Farc) do governador Luis Francisco CuĂŠllar, do Departamento (Estado) de CaquetĂĄ. O crime foi condenado por Brasil, EUA, UniĂŁo Europeia, Organização dos Estados Americanos (OEA) e ONU. “Para o direito internacional humanitĂĄrio, tomar refĂŠns ĂŠ crime de guerra e a morte do governador confere extrema gravidade Ă prĂĄtica recorrente dessa infração por esse grupo guerrilheiroâ€?, diz o comunicado da ONU em BogotĂĄ, que exorta as Farc a soltar seus refĂŠns. “Esta atrocidade e barbĂĄrie merece o rechaço da comunidade internacional, que apoia os esforços para a paz da ColĂ´mbiaâ€?, disse o secretĂĄrio-geral da OEA, JosĂŠ Miguel Insulza. TambĂŠm se pronunciaram as ONGs Anistia Internacional e a Human Rights Watch. Para o cientista polĂtico Pedro MedellĂn, a estratĂŠgia da guerrilha ĂŠ contraditĂłria. “Ela continua a reivindicar apoio internacional para seu projeto de ser reconhecida como um grupo beligerante, mas parece nĂŁo entender que degolar um governador simplesmente para demonstrar força nĂŁo ĂŠ uma boa estratĂŠgia para conseguir issoâ€?, disse MedellĂn ao Estado. Em entrevista ao jornal colombiano El Tiempo, Alfredo Rangel, da Fundação Segurança e Democracia, disse que o governo pode ter subestimado os resultados de sua polĂtica de segurança. “Eles baixaram
Â
MĂŠxico detĂŠm suspeitos de massacre da famĂlia de herĂłi
a guarda por excesso de confiançaâ€?, disse Rangel. Nos Departamentos de CaquetĂĄ, NariĂąo e Meta, as operaçþes de segurança foram reduzidas em 30%. Os analistas destacam a capacidade, comprovada historicamente, de as Farc se recuperarem apĂłs derrotas. O prĂłprio movimento que deu origem Ă guerrilha nasceu em 1964, quando o ExĂŠrcito desmantelou um assentamento de camponeses e guerrilheiros na localidade de MarquetĂĄlia. Nos anos 80, novo golpe. Os guerrilheiros aderiram ao processo de paz do presidente Belisario Betancur (1982-1986) e formaram o partido UniĂŁo PatriĂłtica. Nos anos seguintes, 3 mil polĂticos do grupo foram mortos por paramilitares. Hoje, a capacidade de recuperação, segundo MedellĂn, deve-se Ă vantagem estratĂŠgica oferecida pela geografia da ColĂ´mbia e aos recursos do narcotrĂĄfico. â—? RUTH COSTAS COM AP
ENTERRO – Parentes e amigos do governador de Caquetå assistem a cerimônia na Catedral de Florencia
CuĂŠllar foi sequestrado 5 vezes Governador era perseguido pelas Farc havia 22 anos REUTERS
BOGOTĂ
O governador de CaquetĂĄ, Luis Francisco CuĂŠllar, foi perseguidopelasForças ArmadasRevolucionĂĄrias da ColĂ´mbia (Farc) por 22 anos. Antes de ser capturado na segunda-feira em sua casa, CuĂŠllar, que antes de entrarpara apolĂticaerafazendeiro,jĂĄhaviasidosequestrado outras quatro vezes por diversas frentesdas Farc –sendoobrigado a pagar resgate para conseguir a liberdade. A primeira vez foi em 1987 quando estava em sua fazenda, no municĂpio de Morelia, do qual, mais tarde, ele se tornaria prefeito. A segunda, em 1995, quando ele e a mulher foram interceptados na estrada, a caminho de uma de suas fazendas. Segundo o jornal El Tiempo, de BogotĂĄ, nessa ocasiĂŁo, CuĂŠllar
CUÉLLAR - Dificuldade para andar
haviaacabadodefazerumaoperaçãonojoelho,mas, mesmoassim, os guerrilheiros o fizeram caminhar por dias e dias na selva nos mais de dois meses que ele ficou em cativeiro – o que lhe deixou como sequela certa dificuldade para caminhar. O terceiro sequestro ocorreu em junho de 1997, quando CuĂŠllar jĂĄ era prefeito, e o quarto em março de 1999, no municĂpio de BelĂŠn de los AndaquĂes. “NinguĂŠm pode imaginar o que
ĂŠ o sequestro atĂŠ passar por isso. É algo que nĂŁo desejo nem para meu pior inimigoâ€?, disse certa vez, em uma entrevista. Depois disso, CuĂŠllar elegeu-se deputado e, em seguida, governador. Recentemente, ele foi acusado de associação com paramilitares de ultradireita que nos anos 80 e 90 eram os maiores inimigos das Farc na ColĂ´mbia. Segundo o filho de CuĂŠllar, apenas duas horas antes de ser capturado, o governador disse que tinha informaçþes de que a guerrilha estava “preparando algo para estes diasâ€?. â€œĂ‰ preciso se cuidarâ€?, teria dito CuĂŠllar. Seu corpo foi velado ontem na sede da Assembleia Departamental, em Florencia. â—? REUTERS, AP E EFE
MORDAÇA
AprocuradoriadoEstadodeTabasco informou ontem a prisĂŁo de quatro suspeitos de envolvimento no massacre da famĂlia deumfuzileironavalemvingança pela morte do barĂŁo das drogas Arturo BeltrĂĄn Leyva e vinculou os detidos com o grupo de mercenĂĄrios os Zetas. O procurador Rafael GonzĂĄlezinformouem entrevistacoletiva que os detidos sĂŁo trĂŞs homens e uma mulher que supostamente trabalhavam como informantes dos Zetas, um grupo associado ao Cartel do Golfo, mas que nos Ăşltimos anos tambĂŠm se associou aos BeltrĂĄn Leyva. A mĂŁe, dois irmĂŁos e uma tia do militar Melquisedet Angulo CĂłrdova foram assassinados na madrugada de terça-feira. O fuzileiro naval morreu durante o confronto com BeltrĂĄn Leyva, conhecidocomo “chefe doschefesâ€?, e sete de seus pistoleiros no dia 16 em Cuernavaca, nas imediaçþes da Cidade do MĂŠxico. O barĂŁo das drogas e seis de seus homens tambĂŠm morreram no confronto. Normalmente, o nome de militares que participam de açþes desse tipo nĂŁo sĂŁo divulgados. Mas Angulo CĂłrdova foi tratado como “herĂłi nacionalâ€? pelo governo, o que acabou expondo seus parentes. Segundo o procurador, os quatro forampresos na noite de terça-feira em um hotel de Villahermosa, capital do Estado de Tabasco. Ele acrescentou que os detidos transportavam dinheiro para pagar os mercenĂĄriosquemassacraramafamĂlia de Angulo CĂłrdova. GonzĂĄlez disse que policiais tambĂŠm poderiam estar envolvidos nos assassinatos, mas nĂŁo deu mais detalhes. Na madrugada de terça-feira, homens fortemente armados entraram na casa do fuzileiroemataramseusparentes.SegundoapolĂcia,foramencontradas mais de 80 cĂĄpsulas de balas na casa. Horas antes do ataque, a mĂŁe de Angulo CĂłrdova havia recebido uma bandeira do MĂŠxico e a promessa de uma pensĂŁo vitalĂcia em uma homenagemaofuzileiromorto.Opresidente Felipe CalderĂłn qualificou os assassinatos de “ato de covardiaâ€? e prometeuampliar a guerra Ă s drogas. â—? AP
POR LLOYD ROBINSON/AP
Equador revoga licença de rĂĄdio indĂgena A Arutam ĂŠ acusada de incitação Ă violĂŞncia durante protesto em outubro QUITO
O governo do Equador revogou ontem a licença de uma rĂĄdio indĂgena na regiĂŁo da AmazĂ´nia sob a acusação de incitação Ă violĂŞncia durante protestos em outubro, que deixaram um morto. A medida foi anunciada um dia apĂłs a suspensĂŁo, por trĂŞs dias, da TV Teleamazonas, acusada de divulgar “informaçþes falsasâ€?. O diretor da rĂĄdio Arutam, Pepe Acacho, disse que a emissora continuarĂĄ a divulgar sua programaçãoparaa comunidade indĂgena shuar apesar da revogação da licença. Ainda ontem, o presidente do Equador, Rafael Correa, negou ontem seu envolvimento na sanção contra o canal opositor
Teleamazonas. Correa, que anteriormente ameaçou pedir o “fechamento definitivoâ€? da TV, afirmou que nĂŁo ordenou a suspensĂŁo dos serviçosdaTeleamazonasedisse que a medida foi tomada pela SuperintendĂŞnciadeTelecomunicaçþes (Suptel), um organismo subordinado ao Executivo. O vice-presidente de notĂcias da emissora, Carlos JijĂłn, disse ter motivos para “suspeitar que a decisĂŁo de fechar a TeleamazonasnĂŁotenhasidotomadapela SuperintendĂŞncia, mas pela presidĂŞncia da repĂşblicaâ€?. Em maio, a Teleamazonas foi acusadapelogoverno deincitar protestosaodivulgara informação de que operaçþes de exploração de gĂĄs no Golfo de Guayaquil, executadas pela Venezue-
RESTRIĂ‡ĂƒO Ă€ IMPRENSA â—? Equador: Correa quer criar Conselho de Comunicação que terĂĄ poder de sancionar a mĂdia â—? Venezuela: ChĂĄvez nĂŁo renovou licença da RCTV e ameaça cassar a da GlobovisiĂłn, ambas redes opositoras â—? Argentina: Cristina aprovou lei que limita tamanho de conglomerados e amplia controle estatal â—? BolĂvia: Evo criou jornal estatal, ameaçou nacionalizar o “La RazĂłnâ€? e processou o “La Prensaâ€? â—? Brasil: Justiça impĂľe censura
prĂŠvia ao “Estadoâ€?em reportagens sobre a Operação Boi Barrica
la, poderiam impedir a pesca por seis meses, prejudicando os moradores da regiĂŁo. A medidas foram adotadas em meio a um debate na Assembleia Legislativa sobre um polĂŞmico projeto de Lei de MĂdia, que planeja a criação de um conselho estatal para fixar polĂticas de comunicação. AdecisĂŁo contra a Teleamazonas foi tomada no primeiro dia de debate, masa discussĂŁofoitransferida para janeiro por conta do recesso. “Porque sĂŁo poderosos, acreditam que a lei nĂŁo serĂĄ aplicadaâ€?, afirmou Correa durante um evento em Guayaquil ao negar envolvimento com o pedido de sanção. â—? AFP E REUTERS
Acidente na Jamaica Funcionårios e policiais vasculham destroços do Boeing 737 da American Airlines, procedente de Miami, que saiu da pista quando aterrissava durante uma tempestade na Jamaica na noite de terça-feira. O aparelho partiu-se em três e parou a poucos metros do mar. Entre os 154 passageiros e tripulantes, 90 ficaram feridos, mas sem gravidade.
â—?â—?â—?
PeloMundo GUANTĂ NAMO
FILIPINAS
Fechamento pode ser adiado para 2011
Vulcão lança cinzas e pode entrar em erupção
FuncionĂĄrios do governo Barack Obama creem que o fechamento de GuantĂĄnamo e a transferĂŞncia de presos nĂŁo serĂŁo possĂveis antes de 2011. Segundo fontes, o orçamento aprovado para o sistema penitenciĂĄrio nĂŁo inclui a verba para comprar a prisĂŁo em Illinois e nem para as obras necessĂĄrias para receber os suspeitos de terrorismo.
O vulcĂŁo Mayon (foto), o mais ativo das Filipinas, lançou colunas de fumaça e cinzas ontem, enquanto as autoridades advertiam para o risco de uma erupção. Cerca de 50 mil pessoas que moram nas imediaçþes do vulcĂŁo foram retiradas de suas casas. A presidente Gloria Arroyo viajou ontem para a ProvĂncia de Albay, onde fica o vulcĂŁo.
ERIK DE CASTRO /REUTERS
ARGENTINA
IRAQUE
Cristina dĂĄ cĂłpias de seu contracheque
Ataques contra xiitas e cristĂŁos matam 8
A presidente argentina, Cristina Kirchner, distribuiu cĂłpias de seu contracheque a jornalistas nos cumprimentos de fim de ano apĂłs o jornal “La NaciĂłnâ€? denunciar que o governo tinha rejeitado revelar o salĂĄrio presidencial. Descontada a contribuição Ă previdĂŞncia social e o pagamento do imposto, Cristina recebe 16.337,58 pesos (R$ 7.589,00).
Atentados com aparente motivação religiosa provocaram a morte de pelo menos 8 pessoas e deixaram ao menos 48 feridos no Iraque ontem. Os alvos foram uma igreja cristã e peregrinos xiitas em Bagdå. AlÊm do Natal celebrado pelos cristãos, os muçulmanos xiitas participam nesta semana de uma peregrinação a Kerbala para o dia da ashura.
Edição das 17h
o estado de s. paulo SEXTA-FEIRA
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
WILTON JUNIOR/AE
O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse em entrevista ao Estado que, se os tucanos tivessem vencido a eleição em 2002 ou em 2006, partes da empresa poderiam ter sido privatizadas. “Ela teria investimento e crescimento menores do que teve. Provavelmente teria menos preocupação com o controle nacional, portanto teria menos impacto no estímulo da indústria brasileira”, afirmou Gabrielli. ● PÁG. B1 NÚMERO
FRASE
US$ 16
David Goldman
bilhões estão previstos para os investimentos da Petrobrás no exterior, segundo Gabrielli
Pai do menino S.
“Agora é a hora de um novo começo, o renascimento da nossa família”
do episódio de S. tivesse sido distinta, disse o advogado-geral,LuisInácioAdams. Afamília brasileira de S. criticou a atuação do governo e disse que nenhum dos pedidos feitos a Goldman foi aceito, entre eles o de que a avó fosse junto no avião. ● PÁGS. C1 e C3 MARCOS DE PAULA/AE
Brasil é o terceiro mercado de IPOs em 2009
EMBARQUE – S. sobe com o pai, David Goldman, em avião fretado
CADERNO2
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, comemorouaaprovação noSenado, na manhã de ontem, do projeto de reforma do sistema de saúde. Para Obama, a reforma,queterádeserunificadacomaspropostasdaCâmara e do Senado, significa uma grande vitória. Há cerca de 50 milhões de pessoas sem seguro de saúde no país. Comareforma,onúmerocairá para 19 milhões. ● PÁG. A7
AIgrejaCatólicaemSãoPaulo fez pesquisa para aprimorar suas estratégias pastorais e melhorar a comunicação com a sociedade. Foram entrevistadas 10 mil pessoas para traçar o perfil do católicopraticante no centro da cidade: 70% são mulheres acima de 40 anos. ● PÁG. A9
Lula e o peso do Estado O presidente Lula voltou a defender a carga tributária, indispensável, diz ele, para a manutenção de um Estado forte. Um Estado não pode ser forte quando impõe à economia uma tributação irracional. ● PÁG. A3
Campanha para reformar o Cristo
WILTON JUNIOR/AE
●● Arquidiocese do Rio quer arrecadar R$ 7 milhões em doações. ● PÁG. C6
O cineasta francês Alain Resnais fala ao Estado sobre seu novo filme, Ervas Daninhas (foto), que estreia hoje. ● DIVULGAÇÃO
NA ÚLTIMA HORA: COMPRAS TRANQUILAS CLAYTON DE SOUZA/AE
Igreja faz pesquisa para melhorar comunicação
Igreja
Resnais dá seu presente de Natal
Obama e Luiz Inácio Lula da Silva. O presidenteamericano indicou o embaixador em 27 de maio, mas ele foi vetado duas vezes por senadores republicanos. Shannon é fluente em português e tem um filho nascido no Brasil. ● PÁG. A4
Senado aprova plano de Obama para a saúde
Homenagem
Lula é destaque no ‘Le Monde’ ●● Jornal francês escolhe o presidentecomo‘personalidade do ano’. ● PÁG. A4
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 147 DIAS q PÁG. A6
Tempo: CAPITAL
30º
MÁX.
Justiça
Abdelmassih sai da cadeia
● PÁG. C2
20º
●● Alvará
de soltura do médico chegou ao meio-dia de ontem. ● PÁG. A10
MÍN.
Dia de sol, mas tempo quente e úmido provoca chuvas à tarde.
Verão
Falta chope em bares de S. Paulo
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7 8 9 10 11 12
Hoje: 32 páginas A. 1º caderno: 10 ● B. Economia: 6 ● C. Cidades: 6 ● D. Caderno2: 8 ● E. Esportes: 2 Classificados: 41 anúncios
De janeiro a novembro deste ano,ovolumedecapitallevantado nas ofertas iniciais públicas de ações (IPOs, em inglês) no Brasil atingiu US$ 12,7 bilhões. O valor só foi superado por China e Estados Unidos, de acordo com levantamento da consultoria Ernst & Young. O estudo indicaque oBrasil foi responsável por 13% do volume em IPOs no período.ParaPauloSérgioDortas, sócio da consultoria, 2010 deve ser o ano da verdadeira retomada das operações de abertura de capital no País. ● PÁG. B6
TUMULTO – S. G. esconde o rosto e abraça o padrasto, na chegada ao consulado americano do Rio
Shannon é confirmado para embaixada no Brasil
NOTAS E INFORMAÇÕES
DIRETOR:
RUY MESQUITA
Gabrielli diz que PSDB privatizaria Petrobrás
Aumentamcasoscomoodo meninoS.,dizAdvocaciaGeral
O Senado dos Estados Unidos rompeu um impasse de quase sete meses e aprovou o nome de Thomas Shannon como o novo embaixador em Brasília. Sua nomeação era tida como chave para as relações entre as administrações de Barack
(1891-1927)
25 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42437
EUA pedem devolução de mais 28 crianças Os EUA ainda esperam a volta de 28 crianças que vivem no Brasilafastadasdepais americanos, como o caso do menino S., que ontem foi devolvido ao pai,DavidGoldman.Olevantamento, feito pela Advocacia GeraldaUnião apedido doEstado, indica que os processos são semelhantes ao de S. e são tidos como sequestro. “Os casos vêm aumentando com o passar dos anos”, disse Daniele Aleixo, da AGU. Segundo ela, o Brasil pode ser considerado um país bastante cooperante, mas essa imagem poderia ser arranhada se a solução
JULIO MESQUITA
●●● Quem deixou para fazer
compras ontem, de última hora, encontrou um clima tranquilo,
com ruas e lojas mais vazias em relação ao dia 23. Nos shoppings, nas ruas do Brás e no Merca-
do Municipal (foto), consumidores ficaram surpresos com o pequeno movimento. ● PÁG. B4
●● Consumocresceu ebebi-
da só pode ser estocada por sete dias. ● PÁG. B4
A2 ESPAÇO ABERTO
SEXTA-FEIRA, 25 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
Classificados por telefone: 3855-2001 Vendas de assinaturas: Capital: 3950-9000 Demais localidades: 0800-014-9000 Central de atendimento ao leitor: 3856-5400 - falecom.estado@grupoestado.com.br
Central de atendimento ao assinante Capital: 3959-8500 Demais localidades: 0800-014-77-20 www.assinante.estadao.com.br Central de atendimento ao jornaleiro: 0800-011-00-94 - www.jornaleironline.com.br Central de atendimentos às agências de publicidade: 3856-2531 - cia@estado.com.br
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Reduzir emissões ou mudar a vida?
Vinicius – promoção ou castigo?
WashingtonNovaes
AloísiodeToledoCésar
Rosto tenso, aparência de extremo cansaço, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, começou sua entrevista final em Copenhague dizendo ter consciência da profunda decepção dos participantes com o “fracasso da COP 15”. Mas pediu que entendessem que “o desafio do nosso tempo” não é apenas chegar a regras para reduzir emissões, mas tem que ver com formatos de “mudar o mundo, nossas formas de viver”. Ficava subentendido que, se já há obstáculos quase intransponíveis para fixar regras globais para baixar as emissões, incrustados nas lógicas financeiras de países ricos e pobres, governos, setores econômicos, empresas e até pessoas (tenho de dividir minha renda, trocar de carro, reformar minha casa para consumir menos energia, tornar-me vegetariano, etc.?), que dirá definir um novo modo de viver em qualquer parte e que nos leve a superar essa crise do padrão civilizatório com seus caminhos incompatíveis com a capacidade do planeta? Um modo de viver que, no dizer do fa-
Transferir as decisões para a COP 16 apenas agrava o problema moso biólogo Paul Ehrlich, nos leve a respeitar os direitos de qualquer ser vivo? Talvez por isso tudo Ban Ki-moon terminou afirmando que “é hora de compromisso, de coragem”. Neste momento em que cada país atira sobre outros a culpa pelo “fracasso”, é inevitável que venha à memória a Cúpula do Desenvolvimento de 2002, em Johannesburgo, quando a evidência dos impasses já era muito forte e, em eventos paralelos, se discutiu a possibilidade de criar caminhos alternativos, já que nas conferências da ONU é indispensável, para qualquer decisão, o consenso entre quase 200 países com interesses contraditórios. Uma militante ambientalista sugeriu que seria indispensável “tomar o poder na Organização Mundial do Comércio”, a seu ver o foro onde se decidiam os destinos do mundo. Já uma alta autoridade no âmbito internacional propôs a criação de uma organização mundial de meio ambiente, separada da ONU e de suas regras “paralisantes”, como o consenso obrigatório. Mas foi bombardeada pelos que argumentavam levar esse caminho aos mesmos impasses para estabelecer regras válidas em todos os cantos. Para complicar tudo, já estamos atrasados no tempo, como demonstraram em Copenhague o presidente do Painel Intergovernamental de Mudan-
ças Climáticas (IPCC) e Prêmio concentração de carbono. Coisas engraçadas às vezes alguém como ele, que gostava Nobel, Rajendra Pashauri, e váÉ impressionante que talacontecem e servem ora para de vestir um velho calção de barios diretores do IPCC, lem- vez já sejam mínimas as diverdesanuviar os ambientes, ora nho, deitar numa esteira na brando o aval que dão a seus gências quanto ao diagnóstico para melhorar o humor de Praia de Itapuã e ficar olhando diagnósticos mais de 90 mil planetário e a urgência de noquem vive nesta sofrida cida- para um mar que não tem tamacientistas no mundo todo. Sim- vos caminhos. Até figuras code de São Paulo. O aconteci- nho, enquanto tomava uma plesmente transferir as deci- mo o ex-ministro Delfim Netmento mais bizarro dos últi- água de coco – como diz a sua sões para a COP 16, no México, to, defensoras durante décamos tempos talvez tenha sido canção –, seria bastante incômoem dezembro de 2010, apenas das do desenvolvimento à cusa pretensão noticiada recente- do ter de usar terno e gravata e contribui para agravar o proble- ta da preservação dos biomas, mente de conceder ao incom- aturar em reuniões públicas, ma, não para solucioná-lo. Es- dizem agora que o Brasil preparável poetinha Vinicius de por exemplo, a arrogância de tão diante dos olhos os núme- cisa de “um programa de ecoMoraes o título post-mortem Hugo Chávez ou o hálito de ros crescentes de vítimas dos nomia de baixo carbono”. O bomba atômica de Mahmoud de embaixador brasileiro. eventos climáticos “extremos” ex-ministro até aponta (AgênLá no céu das almas, se Ahmadinejad. em toda parte, inclusive no Bra- cia Estado, 22/12) mudanças Para quem não se lembra, Viexistir, é possível que ele sil. Um imenso cartaz num sa- antes tidas como impensáveis olhe para si mesmo e fique nicius de Moraes, na época um guão do aeroporto da capital di- por essas figuras no setor de pasmado por lhe oferecerem nome já consagrado da literatunamarquesa, colocado por uma transportes, no petroquímico algo que certamente nunca ra brasileira e também na proONG, já antecipava 2020, com e em todas as áreas indusdesejou. Pelo contrário, é al- dução de inesquecíveis canções, um presidente Lula de barba e triais. Mais ainda: afirma o exgo que ele deixara claro não teve seus direitos políticos cassacabelos totalmente brancos se ministro da Fazenda que os dos por ato da ditadura militar. pretender. explicando: “Desculpem-me”, novos caminhos não poderão Corria o ano de 1969 e o enMas, neste momento em estava escrito no papel. “Não ser atingidos “com a atividade que certamente já não tem tão presidente João Batista Ficonseguimos reduzir as emis- exportadora de produtos agrípreferências, pois nos deixou, gueiredo, que desfrutava a fama sões até 2020.” E seguia dizen- colas e de minérios”, porque a a preferência dos outros pela de ter a sensibilidade de rinocedo que as primeiras vítimas agricultura, além dos outros homenagem tem a consequên- ronte num roseiral, resolveu eram dos países-ilha, que não problemas, “vai economizar cia incômoda de fazer exata- que era necessário cassar os dicontribuíram para o problema, mão de obra e terra”, enquanmente o que ele não queria. reitos de alguns “subversivos” e das nações pobres, que quase to “o desenvolvimento da miNuma entrevista gravada, que estariam infiltrados no Itanada emitiram. neração é poupar mão de tempos atrás, ele revelou que maraty. Eram chamados de subNa verdade o presidente bra- obra; é tudo mecanizado”. Seera preferível na diplomacia versivos quaisquer brasileiros sileiro, em seu discurso na COP riam, por isso, esses setores inpermanecer numa posição que exprimissem seu inconfor15, já se referira a esses países e capazes de “dar emprego de que não despertasse tanto a mismo com os atos de governos à necessidade de “pagamento qualidade a 150 milhões de ciatenção. Enfim, externou que militares não eleitos pelo povo, pelo problema” que deve ser dadãos, para que o País continão desejava ser embaixador. como exigia a Constituição. atribuído “aos países que emi- nue crescendo”. E conclui: “É Uma reportagem muito bem Certamente a promoção tetem há dois séculos” – embora preciso uma nova concepção rá reflexos entre seus familia- elaborada e publicada no jornal também dissesse que “todos po- de crescimento (...) Não é só res e herdeiros, com um possí- O Globo, anos depois, revelou deríamos ter dado mais” e que dinheiro; é ciência básica e vel acréscimo no montante da que o ministro das Relações Ex“é preciso não pensar em ga- ciência experimental.” aposentadoria (pensão). Sob teriores Magalhães Pinto certanhar mais ou perder menos”. E O avanço é grande. Mas esse aspecto, há que com- mente afinado com o Planalto, ainda desabafou, ao dizer que ainda está no terreno do diagpreendê-la e aceitá-la, mas fugindo ao costume de sair à casó acredita mesmo numa inter- nóstico. E “o mundo nos está certamente falta à promoção ta de comunistas ou simpatizanvenção especial: “Acredito em olhando”, como advertiu Ban tes de esquerda, determinou a necessária motivação. Deus e em milagre”, afirmou. Ki-moon. Com muita pressa. ● Em verdade, Vinicius já uma devassa no Itamaraty, paNem isso o livrou de críticas era, desde décadas atrás, em- ra afastar pela força da ditadudos países-ilha e países pobres, Washington Novaes é jornalista baixador brasileiro, com as ra diplomatas com reputação de que o condenaram por haver E-mail: wlrnovaes@uol.com.br músicas e seus poemas. Para homossexuais e outros acusatentado decidir só com o dos de condutas desregrapresidente dos EUA e dos das ou pouco convencionais. países emergentes um texForam cassados 44 servito que seria obrigatório padores do Itamaraty, inclusira todos (foi rejeitado). Cove 13 diplomatas – entre mo não escapou às crítieles, Vinicius da Cruz de LOREDANO cas de adotar só “metas voMello Moraes, que ingresluntárias”, embora contrasou na carreira em 1943, senditoriamente aprovadas do destacado para ser vicecomo lei. E à crítica por cônsul em Los Angeles e denão haver incluído o cerrapois na França. do – responsável por cerca Vinicius, que sempre foi de 40% das emissões brasimuito bem humorado, leiras por mudanças no quando soube de que souso da terra, desmatamenmente foram cassados hotos e queimadas – no zomossexuais e outros acusaneamento ecológico-econôdos de conduta extravaganmico que regulará o avante, teve ao estilo carioca um ço territorial da cana-detirada que fez o País rir: açúcar – num bioma que o “Eu sou alcoólatra.” E ele Ministério do Meio Ammesmo riu bastante com a biente disse sofrer desmaressalva indireta feita à sua tamento anual de 22 mil masculinidade. km2, depois baixados para Talvez irritado pela postura do compositor, que em 14 mil km2 e que podem momento algum se mostrou ser de 5 mil km2, segundo atingido pela brutalidade do outro estudo científico. Noato, o presidente João Batisvas questões virão, como ta Figueiredo teve uma de as levantadas pelos cientissuas conhecidas explosões e tas que dizem ter evidêndisse, na época, mais ou mecias de que seriam maionos o seguinte: “O Vinicius res que as divulgadas as não foi cassado por subveremissões por desmatasão. Ele foi cassado porque, mento na Amazônia, já em vez de permanecer no que este agora atinge soseu posto de diplomata em bretudo áreas de floresta Papai Noel há de se lembrar do Supremo Montevidéu, ficava em Ipamais densa, onde há maior
SINAIS PARTICULARES
FÓRUM DOS LEITORES Lulae oNatal Na antevéspera do Natal, em nossa pobre republiqueta bananal, o sr. Luiz Inácio Lula da Silva ocupou a televisão por dez minutos em horário nobre e cadeia nacional para fazer propaganda políticoeleitoral, demonstrando total desrespeito ao cidadão e às leis. Onde está o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)? Até quando teremos de engolir sapos como esse? HUMBERTO DE LUNA FREIRE FILHO hlffilho@gmail.com
São Paulo
Será que o Ibope fez pesquisa (séria) para saber qual foi a audiência do longo e cansativo pronunciamento do presidente da República? Seria um termômetro para realmente medir a popularidade do home. Tenho certeza de ●
que poucos aguentaram. ADEMAR MONTEIRO DE MORAES ammoraes57@hotmail.com
São Paulo
‘Nãocaionessa’ José Serra é uma pessoa séria e não vai entrar no jogo infantiloide de Lula de antecipar a campanha eleitoral. Quanto mais não seja, porque se trata de uma ilegalidade. Se o TSE não coíbe a campanha eleitoral fora de época, escancarada, feita por Lula e Dilma, não quer dizer que a lei não exista. Cidadãos de bem cumprem as leis, estejam ou não sob a observação de agentes da lei. Ponto para Serra.
ENDEREÇO
FAX:
Avenida Eng. Caetano Álvares, 55, 6.º andar, CEP 02598-900
Puro-sanguee pangaré Ironizando a possível chapa formada por Serra e Aécio Neves, Lula disse não saber se “dois Tostões” dão certo no mesmo time. O presidente é um bom entendedor de futebol, mas não precisava ter lembrado que essa chapa tucana é puro-sangue, porque os brasileiros sabem qual a diferença entre ela e a chapa pangaré formada pelos aloprados do seu governo.
● Outro treinador também disse: “Clodoaldo e Piazza juntos? Não”, “Gerson e Rivelino juntos? Não” e, finalmente, “Tostão e Pelé juntos? Não.” E no entanto... COLBERT CURY DE AGUIAR BARROS colbertcab@uol.com.br
São Paulo
Colocadorde aspas
11 3856-2920
Censura,147dias É Natal e meu desejo é que haja luz sobre as trevas que despontam no horizonte e envolvem aqueles que buscam ceifar a liberdade de imprensa do meu Brasil. Pelo fim da censura ao Estadão! Que a luz da verdade traga para os brasileiros um ano-novo pleno em liberdade.
ração: Serra e Aécio são dois Ronaldos. Dilma ainda é uma jogadora de várzea.
Transformar a campanha eleitoral de 2010 em mera comparação dos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Lula, como parece ser a orientação do PT, faz pouco da inteligência do eleitorado brasileiro. O futuro governo não poderá ser um simples colocador de aspas.
M. CRISTINA DA ROCHA AZEVEDO
BEATRIZ CAMPOS
ALEXANDRU SOLOMON
mtaglianetti@uol.com.br
crisrochazevedo@hotmail.com
beatriz.campos@uol.com.br
asolo@alexandru.com.br
Curitiba
Florianópolis
São Paulo
São Paulo
FRANCISCO RIBEIRO MENDES frmendes@correioweb.com.br
Brasília ● Lula deu abertura para a compa-
LEON DINIZ leondinizdiniz@gmail.com
São Paulo
Feliz Natal e que em 2010 a liberdade de expressão seja de fato praticada. ●
MARIANO TAGLIANETTI
nema enchendo a cara e tocando violão.” Esse ex-presidente, para quem não se lembra, ao deixar o poder, fez uma declaração profética: “Eu quero que me esqueçam”, disse ele, carregado de mau humor. É forçoso reconhecer que Figueiredo não foi totalmente esquecido, como pretendia, e sempre será lembrado, mas talvez somente nos livros de História. Enfim, não deixou saudade. Quanto a Vinicius de Moraes, certamente as gerações futuras sempre dele se lembrarão, tanto por suas composições literárias como pelas músicas que compôs ao lado de outros “subversivos” como Chico Buarque, Tom Jobim, Toquinho e outros. Ele era detentor de uma irreverência educada, não agressiva, que o levava com enorme graça a deixar escapar frases que certamente atravessarão os tempos. “O melhor amigo do homem – dizia ele, um beberrão confesso – não é o cachorro. O melhor amigo do homem é o uísque. O uísque é o cachor-
O incomparável poetinha com certeza nunca quis ser embaixador ro engarrafado.” O lirismo de seus poemas sempre mexe nos corações e mostra que eles ficarão para sempre como expressão da arte brasileira. Orfeu da Conceição, Para viver um grande amor, Soneto da Fidelidade, Soneto da Separação, Samba em Prelúdio, Minha Namorada, Garota de Ipanema, além de muitas outras obras, encantaram as gerações e com certeza farão com que dificilmente ele seja esquecido. É incrível que a sua carreira, exercida sobretudo fora da diplomacia, tenha chegado ao extremo de incomodar ou ameaçar os militares. Mas incomodou, tanto que o cassaram. É de observar que ela, no início, se desenvolveu no plano tão somente intelectual – com poemas escritos no navio que o levava a Londres –, para depois concentrar-se na música, período que com certeza mais o divertiu e o fez feliz. O lado certamente curioso da promoção post-mortem de Vinicius de Moraes é o de que ele não desejava ser embaixador, por entender – repita-se – que nos escalões inferiores da carreira seria possível viver sem que nele prestassem a atenção. Pelo jeito não conseguiu. ● Aloísio de Toledo César, desembargador aposentado, é advogado e jornalista, E-mail: aloisio.parana@gmail.com
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Pontofinal Cumprimento o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, pela decisão de autorizar a ida do menino S. Goldman para os EUA, com seu pai biológico, norte-americano. Depois de tantas idas e vindas e trapalhadas judiciárias que só causaram danos emocionais ao menino, até que enfim o bom senso e a justiça prevaleceram. Como a mãe já morreu, o lugar do filho é com o pai e ponto final. Felizmente, a novela teve um final feliz. RENATO KHAIR renatokhair@uol.com.br
São Paulo ● Decisão de juiz não se discute, cumpre-se. Mas será que a data da entrega (qual um pacote) do menino Goldman ao seu pai não
A6 NACIONAL
SEXTA-FEIRA, 25 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
CONGRESSO
Zoghbi vai ao STF para tentar anular demissão Ex-diretor do Senado ainda requer Justiça gratuita, alegando que não tem como pagar custas Mariângela Gallucci BRASÍLIA
O ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que anule sua demissão, assinada em novembro pela direção da Casa. Zoghbi quer ser readmitido. Ele também requereu a concessão do benefício da Justiça gratuita, alegando que não tem condições de pagar as custas do processo,porqueestásemreceber salário.
Naaçãoprotocoladanaquarta-feira no STF, Zoghbi contesta ato assinado pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),quelevouàsuadispensa. Ele foi diretor do Senado de 2004 a 2009. Em abril, Zoghbi passou a ser acusado de usar o cargo para proveito pessoal. Surgiram suspeitas de que uma ex-funcionária de Zoghbi teria sido usada como “laranja” em uma empresa que intermediava convênios com o Senado. De acordo com a defesa de Zoghbi, no processo que resul-
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 147 DIAS
tounademissãoteriamsidodesrespeitados direitos previstos na Constituição, como a ampla defesa. O advogado também argumentou que a comissão que investigou as suspeitas contra Zoghbi teria rejeitado pedidos para que fossem produzidas provas. A defesa também alega que teria ocorrido um prejulgamento de Zoghbi. Uminquérito abertopelaPolícia Legislativa constatou que Zoghbiparticipoude um esquema de intermediação ilegal de empréstimos consignados no
Senado por meio dos quais ele, a mulher e o filho teriam recebido R$ 3 milhões em apenas um anoemeio,a título de comissão. A Polícia Federal também entrou no caso e, em agosto, indiciou Zoghbi pelos crimes de formação de quadrilha, inserção de dados falsos em sistema oficial e concussão. AGACIEL
Zoghbi não foi o único a perder o cargo na crise no Senado. O então diretor-geral, Agaciel Maia, também foi afastado e vi-
Liminar do Tribunal de Justiça do DF em ação movida por Fernando Sarney proíbe o jornal de publicar dados sobre a investigação da PF acerca de negócios do empresário, evitando assim que o ‘Estado’ divulgue reportagens já apuradas sobre o caso
Entidadedos EUA cobra Lula por caso ‘Estado’ Por carta, Overseas Press Club of America cita mordaça ao jornal como um dos exemplos das frequentes ameaças aos jornalistas no Brasil DIDA SAMPAIO/AE-10/12/2009
Daniel Bramatti
A organização internacional de jornalistas Overseas Press Club of America enviou carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que cita, como uma das ameaças à liberdade de imprensa registradas no Brasil, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que impediu a derrubada da censura imposta ao Estado desde 31 de julho. A carta afirma que o ano de 2009 foi bom para o Brasil, destacando a escolha do Rio como sede das Olimpíadas, mas ressalva que a maior visibilidade do País no cenário internacional também evidencia frequentes ameaças aos profissionais da imprensa local. Noúltimodia10, oSTF arquivou, por 6 votos a 3, a reclamação que pedia o fim do veto a reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que atingiu o empresário FernandoSarney,filhodopresidente do Senado, José Sarney. O tribunal não chegou a avaliar o mérito da censura – apenas não concordou com a tese defendida pelos advogados do jornal, de que a proibição desrespeitou decisão do próprio Supremo quando da derrubada da Lei de Imprensa.
+ 9 GOVERNO
Dilma e Jobim entram em férias em janeiro Pré-candidata do PT à Presidência da República na eleição do ano que vem, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, estará em férias no período de 28 de dezembro a 5 de janeiro de 2010. A autorização para a ministra tirar o descanso, referente ao exercício de 2008, foi publicada no Diário Oficial da União de ontem. O ministro da Defesa, Nelson Jobim,tambémvaitirarumasemana de férias. Ele sairá no dia 4, segundo despacho da PresidênciadaRepúblicapublicado ontem no Diário Oficial da União. RIO GRANDE DO SUL
PMDB anuncia saída do governo Yeda
JULGAMENTO – No último dia 10, STF arquivou reclamação do Estado sem avaliar o mérito da censura
ASSASSINATOS
Alémdocaso doEstado,a organizaçãointernacionalcitouoassassinato do radialista José Givonaldo Vieira, em Pernambuco, por supostos pistoleiros; um atentadoatiroscontradoisintegrantes da equipe do programa Campo Mourão Urgente, da TV Carajás, no Paraná; e o caso do fotógrafo Lúcio Távora, do jornal A Tarde, de Salvador, que denunciou ter sido agredido por policiais militares enquanto registrava imagens de um protesto de estudantes. A carta também faz um relato sobre Antônio Muniz, jornalista acreano que ficou preso por dois dias, no início do mês, graças a uma condenação ocorrida em 2002 por difamar o senador Tião Viana (PT-AC). “Ele foi libertado porque, no no-
rou alvo de inquérito acusado de não registrar em seu próprio nome uma casa no valor de R$ 5 milhões. Agaciel era o braço direito do presidente da Casa. Em junho, com a divulgação pelo Estado da edição de atos secretos no Senado, mais uma onda de demissões ocorreu. Desta vez, caíram o diretor-geral,AlexandreGazineo, eodiretor de Recursos Humanos, Ralph Campos. Reportagens do jornal revelaram a existência de mais de 500 atos secretos, que servi-
Autor anunciou desistência de ação ●●● O empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, apresentou na sexta-feira, véspera do recesso forense, pedido de desistência da ação contra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término do recesso, o jor-
nal será intimado a decidir se concorda com a extinção ou prefere que a Justiça aprecie o mérito. O pedido do empresário foi feito nove dias após o Supremo Tribunal Federal ter arquivado reclamação do jornal contra a censura sem decidir sobre seu mérito. ●
vo Brasil, não há mais crimes de imprensa – uma vitória para a livre expressão. No entanto, Muniz foi algemado em uma audiência fechada, o que contraria as regras estabelecidas pelo Judiciário federal”, diz o texto. Todos os casos relatados na carta enviada ao presidente
Lula ocorreram em dezembro. “Ficamos francamente surpresos com o fato de a lista de um único mês ser tão longa. O Brasil se transformou em um brilhante farol para outros países no caminho do moderno desenvolvimento econômico. O trabalho da imprensa livre foi ab-
solutamente central para essa conquista. Não pode haver melhor reconhecimento dessa centralidade que uma firme manifestação de preocupação e ação concreta em relação aos jornalistas mencionados acima”, afirma o texto, assinado por Kevin McDermott e Jeremy Main, do Comitê de Liberdade de Imprensa da entidade. A Overseas Press Club of America foi fundada em 1939, em Nova York, por um grupo de correspondentes estrangeiros. Atualmente, congregajornalistas quetrabalham nos Estados Unidos e em outros países, e tem a liberdade de imprensa entre suas principais bandeiras. ●
O senador Pedro Simon, que também é presidente estadual do PMDB no Rio Grande do Sul, confirmou ontem queopartidodeixaráogoverno da tucana Yeda Crusius em janeiro. “Estamos saindo pelofato determos definidoa candidatura de José Fogaça edesabermos quea governadora também é candidata”, explicou, referindo-se à entrada do prefeito de Porto Alegre na corrida estadual. Simon ressalvou que o PMDB não vai para a oposição e deixou aberta a possibilidade de alguns de seus integrantes ficarem no governo. SUCESSÃO
Serra tem palanque de candidato na Baixada Uma semana depois de Aécio Neves ter anunciado sua desistência de disputar a candidatura do PSDB à Presidência, o governador José Serra foi recebido ontem em palanque na Baixada Santista como virtual candidato à sucessão do presidente Lula. O deputado Beto Mansur (PP) e o prefeito de Santos, João PauloTavaresPapa(PMDB),saudaram Serra em discurso como “a melhor opção para cuidar dos destinos do País”. Em entrevista à imprensa, contudo, o governador negou-se a falar de eleições e repetiu que não antecipará a campanha. CIDADANIA
Professor não vê conflito entre direito à privacidade e liberdade de expressão Moacir Assunção
O promotor de Justiça e professor de direito constitucional da PUC-SP, Vidal Serrano Júnior, não vê conflito entre liberdade de expressão e direito à privacidade no caso concreto, que le-
vou à mordaça contra o Estado, determinada pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), após pedido de liminar do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP). O jornal fez uma reclamação contra a censura, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) não aceitou o instrumento e a arquivou, sem julgamento de mérito. Serranolembraquealiberda-
de de imprensa e de expressão não integra por acaso o rol de direitos fundamentais na Constituição. “Se trata de um verdadeiro pressuposto da opinião públicalivre,dopluralismopolítico e da própria democracia.” O direito à privacidade, também uma garantia constitucional, deve ser interpretado de forma diferenciada quando se tratarde homenspúblicos, diz o constitucionalista. “A pessoa que se oferece ao
julgamentodosseusconcidadãos, com o objetivo de vir a gerir o patrimônio público, se coloca em situação de evidênciaparaqueseuspredicados possam ser avaliados e ela vir a merecer ou não o mandato que postula”, explicou. A regra, em sua visão, vale tanto para políticos quanto para seus parentes, também submetidos à vigilância da sociedade. “Na falta de instrumento de controle direto dos eleitorescomo,porexemplo,a cassação popular dos mandatos, é evidente que os eleitores têm como meio mais eficiente a fiscalização feita pelos meios de comunicação.”●
Governo faz plano de manejo comunitário Populações quilombolas, ribeirinhas, indígenas e assentadosdareforma agráriaque vivem na região amazônica vão receber apoio do governo federal para desenvolver seusplanos de manejo florestal. O primeiro Plano Anual deManejoFlorestalComunitário foi apresentado esta semana pelos ministros do Meio Ambiente, Carlos Minc, e do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel. Cerca de 18 mil famílias devem ser beneficiadas. Entre as ações estão capacitação técnica e linha de financiamento.
ram para nomear parentes e amigos, além de criar privilégios para servidores e senadores. Familiares e afilhados políticos do próprio Sarney foram beneficiados por essas medidas,queresultaram eminquéritos na Polícia Federal e no Ministério Público. Para responder às denúncias, Sarney, que escapou de 11 pedidos de processo no Conselho de Ética, tentou acelerar a reforma administrativa, anunciada em fevereiro. Todas as ações foram arquivadas. Sarney prometera concluir a proposta até dezembro, mas fracassou. A reforma empacou em uma guerra interna entre servidores de carreira e a FundaçãoGetúlioVargas,contratada por R$ 250 mil para apresentar estudo de reestruturação. ●
CAIXA DE PANDORA
Gestão Arruda agora enfrenta denúncia por desmatamento Lisandra Paraguassú BRASÍLIA
Polêmicodesdeoseulançamento, com o metro quadrado avaliado em R$ 12 mil – um dos mais caros do Brasil –, o setor Noroeste, nova área residencial do Distrito Federal, já causou seu primeiro impacto ambiental. Uma área de 600 mil metros quadrados foi desmatada esta semana no parque ecológico Burle Marx – que fica ao lado – por ordem da Novacap, companhia de urbanização de Brasília, para a construção das galerias pluviais no novo bairro. Existe uma estreita ligação entre o Setor Noroeste, o mais lucrativo negócio imobiliário de Brasília, e os escândalos que envolvem a Câmara Legislativa – com dinheiro em meias, bolsas e cuecas. A Polícia Federal e o Ministério Público já encontraram indícios de que, para aprovar a criação do novo setor habitacional,parlamentaresteriam recebido propinas de empreiteiras que atuam no ramo da construção civil, em Brasília. De acordo com informação de Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do governo e autor das gravações que resultaram no escândalodo “mensalão doDEM”,cada deputado da base governista teria recebido R$ 420 mil para votar a favor do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT). Este plano deu outra configuração às áreas rurais e urbanas de Brasília. A denúncia do desmatamento foi feita na quarta-feira pela ONG Rodas da Paz, um grupo deciclistasdacapitalquedefende o uso de bicicletas como transportealternativo,ao Instituto Brasília Ambiental (Ibram), órgão também do governo do Distrito Federal, que fez a fiscalização. A obra foi embargada,aempresaBasevi,contratada por licitação para a obra, multada em R$ 250 mil e a Novacap denunciada como coautora. De acordo com fiscais que foram ao local, praticamente toda a área de cerrado nativo que havia no parque foi destruída por tratores. A obra não tinha licençaambientalefoifeitaclandestinamente,jáquedificilmente obteria o documento. O próprio parque, hoje, é bastante mal cuidado. Apesar de ser uma área de preservação, está praticamente abandonado,sem cercas ou fiscais. No entanto, ainda preserva uma das poucasáreasde vegetaçãonativa em Brasília. Vendidocomoum bairroecológico, com aproveitamento de água da chuva, coleta seletiva de lixo e sistemas de energia alternativos, o Noroeste tem como uma dessas atrações justamente a proximidade do parque, que deverá ser urbanizado. O desmatamento ocorrido agora vai prejudicar essa urbanização. A Novacap e a Basevi, responsáveispelodesmatamento, foram procuradas, mas não se manifestaram. ●
DORA KRAMER A coluna volta a ser publicada no dia 5 de janeiro.
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o estado de s. paulo
Edição das 0h15
SÁBADO
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
Esportes ‘Preparação será vital’
DIRETOR:
RUY MESQUITA
CADERNO 2 E-book, mercado em ascensão
●● Para Kaká,
● PÁG. E1
(1891-1927)
26 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42438
METRÓPOLE
treino e tranquilidade são essenciais para o Brasil levar a taça em 2010.
JULIO MESQUITA
●● Lenny Niemeyer,
●● Preço mais baixo do e-reader e maior oferta de títulos firmam setor no País. ●
expert em festas, agora em livro. ● PÁG. C6
EVELSON DE FREITAS/AE
REUTERS
FABIO MOTTA/AE
EUA reforçam segurança após atentado frustrado Passageiro nigeriano que tentou explodir avião disse que pertencia à Al-Qaeda dir o avião. Um oficial da agência de combate ao terrorismo dos EUA disse ter sido “uma tentativadeatentadoparatentar derrubar o avião”. O FBI, queinvestigaoepisódio,nãosabe determinar qual tipo de explosivo utilizado na ação. Mudallad, segundo as autoridades, disse que pertencia à Al Qaeda. Em férias no Havaí, o presidente Barack Obama fez uma conferência com seu assessor para contraterrorismo,
Acessoaopapa deveráserlimitado
Syed Jafry PASSAGEIRO “Escutamos e barulho e, segundos depois, vi uma luz seguida de fogo”
John Brennan. “O presidente nos instruiu a tomar as medidas apropriadas para aumentar a segurança em viagens aéreas”, disse um porta-voz da Casa Branca. ● PÁG. A7
Prefeituras bancam gastos da União e dos Estados
Medidasesegueaagressãoemmissa O Vaticano decidiu rever a segurança de Bento XVI depois que o papa foi derrubado, antesdatradicionalMissadoGalo, por uma mulher de 25 anos. Susanna Maiolo, cidadã suíça e italiana, saltou a barreira de proteção, agarrou o papa pelo pescoço e o puxou. Bento XVI, de 82 anos, saiu ileso e manteve a programação. Uma das possibilidades cogitadas pelo Vaticano é limitar ainda mais
FRASE
Asprefeiturasbrasileirasdesembolsaram indevidamente, em 2008, pelo menos R$ 11,8 bilhões com o pagamento de despesas da União e dos Estados. Segundo estudo do economista François Bremaeker publicado pela ONGTransparênciaMunicipal, por falta de repasses dos órgãos devedores essas contas acabam sendo assumidas pelos prefeitos, que ficam com receio de perder os serviços. ● PÁG. A4
FRASE
Paul Poupard Cardeal francês “Foi objetivamente uma ameaça contra o papa”
o acesso do público ao papa. Susanna,quejáburlaraasegurança do pontífice no Natal de 2008, foi levada a uma clínica psiquiátrica. ● PÁG. A9
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
Em uma ação classificada como terrorista pela Casa Branca, um homem detonou um pequeno explosivo em um Airbus que vinha de Amsterdã e aterrissava em Detroit. Segundo a companhia aérea Delta, algumas pessoas ficaram feridas na tentativa de atentado. A aeronave, com 278 passageiros, pousousemproblemas.Autoridades americanas acusaram o nigeriano Abdul Mudallad, de 23anos,pelatentativadeexplo-
DRAMA - Inácia Ramira observa o quintal alagado em sua casa no Jardim Romano: ‘Daqui eu não saio’
S. COM O PAI: SORRISO
Telecomunicações
Reclamações têm aumento de 53% ●● AAnatel recebeu,de ja-
REPRODUÇÃO/MSNBC.COM
neiro a novembro, 1,38 milhão de queixas dos serviços das empresas. ● PÁG. B1
Imagem da TV NBC mostra S. com o pai, David Goldman, no voo para os EUA. Segundo a ●●●
7 8 9 10 11 12
reportagem, o menino estava feliz. “É milagre de Natal”, disse Goldman. ● PÁG. C1
Triste Natal no bairro alagado Nova chuva no Jardim Romano impede celebração O Natal foi só mais um dia de tristeza e apreensão no Jardim Romano, bairro da zona leste de São Paulo que ainda está ala-
Na Trilha dos Isolados
Garimpo invade reserva indígena
Cinco balsas ilegais de garimpo de ouro foram achadas no Rio Boia, a 500 km de Jutaí (AM). ● PÁG. A6
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NOTAS E INFORMAÇÕES
Papai Noel de comício É Natal e Lula se fantasia de Papai Noel, distribuindo bondades a catadores. ● PÁG. A3
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gado por causa das chuvas das duas últimas semanas. Ontem voltou a chover. Isildo dos Santos, que pretendia fazer um
churrasco para esquecer o drama, resumiu: “Passamos a noite com medo, tirando os móveis aqui da frente”. ● PÁG. C3
Tempo: CAPITAL
Hoje: 42 páginas
29º
MÁX .
● PÁG. C2
20º
MÍN.
Céu com muita nebulosidade em São Paulo. Deve chover à tarde.
A. 1º caderno: 10 ● B. Economia: 6 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 8 ● E. Esportes: 2 ● Ca.Autos: 6 ● Ci. Imóveis: 4
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 148 DIAS q PÁG. A5
A2 ESPAÇO ABERTO
SÁBADO, 26 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
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Conta em dólar no Brasil? Esqueça!
A falta de uma oposição
AlexandreBarros
MarcoAurélio Nogueira
Os vários anos em que vivi na International House de Chicago foram os melhores de minha vida. Ganhei amizades do mundo inteiro. Meus colegas economistas me ensinaram muito em conversas. O resto aprendi lendo e vivendo. Lembra-se, leitor, do confisco de Collor? Pois é, quando as economias de sua vida inteira viraram pó graças a uma sandice do presidente e de seus ministros. A operação foi simples. José Sarney, que saía, decretou um feriado bancário, mancomunado com Fernando Collor, que entrava. A vilania de Collor não teria sido possível sem a cumplicidade de Sarney. Uma penada, bancos fechados e seu dinheiro congelado. Collor cortou o sangue que mantinha viva a economia brasilleira. Efeito benéfico? Zero. Na política econômica amanteigada, que está ameaçando virar moda, o governo propõe autorizar os bancos que funcionam no Brasil a receberem depósitos em moedas estrangeiras. Uma das lições que meus amigos economistas da International House me ensinaram:
O primeiro passo da política cambial amanteigada já foi dado nunca abra conta bancária numa moeda que não seja a emitida pelo país em que está o banco. É simples: a receita de Collor pode ser aplicada a qualquer momento. Abrir conta em moeda forte num banco no país que não é o emissor da moeda é colocar todos os seus frangos no galinheiro da raposa. O Banco Central do Brasil vem administrando a política monetária e o câmbio de maneira inatacável, só que seus dirigentes passam e vão fazer outras coisas na vida. Em 2011 vem um governo que ninguém sabe qual será. Tampouco sabe-se como pensam os dois candidatos com mais chance de serem eleitos, se a eleição fosse hoje. Serra e Dilma (ou vice-versa) são atores desconhecidos em matéria de política econômica. Qualquer um pode fazer desde as coisas mais corretas (como acabou fazendo Lula, apesar das previsões pessimistas em 2002) até bobagens, como Collor. Quando a sua conta é em moeda estrangeira se agrega uma variável ausente nos tempos de Collor. Se muitos brasileiros fugirem do real e depositarem seus caraminguás em bancos instalados no Brasil, a raposa terá todos esses valiosos frangos no seu galinheiro. Outra penada igual à de Collor e seu dinheiro virará fumaça invisível. Isso acontece quando o país tem muitas dívidas em moedas
estrangeiras e não as tem em quantidade suficiente para pagálas. A solução mais fácil é congelar os depósitos de quem acreditou no governo quando ele disse que você poderia ter sua conta em moeda estrangeira. Depois ele dirá aos brasileiros que ninguém perdeu nada, porque o governo pagará a todos. Só que o que você tinha em moeda estrangeira será pago em moeda nacional. O mais grave é que o governo roubará o seu rico dinheirinho fixando a taxa de câmbio que bem lhe aprouver. E você não ficará sequer a ver navios. A história econômica é pródiga em exemplos. Os países começam a se endividar em moeda estrangeira e a coisa fica séria quando o governo fixa a taxa de câmbio (em vez de deixá-la flutuar). O primeiro passo foi dado pelo ministro da fazenda, Guido Mantega, em 17 novembro de 2009, quando declarou na Fiesp que o preço ideal do dólar seria de R$ 2,60. O primeiro passo da política cambial amanteigada foi dado. Sem o mercado sinalizador para dizer quanto vale de verdade cada moeda (já que na política cambial amanteigada as moedas valem o que diz o governo), os desequilíbrios e as dívidas do governo começam a acumular e você ficará erradamente tranquilo e confiante, porque suas economias estão em moeda estrangeira. De repente, o Brasil fica sem dinheiro para pagar suas contas, mas a solução está à mão: seu rico dinheirinho em moeda estrangeira será confiscado pelo governo para pagar as dívidas dele. O mico é todo seu. Não estou insinuando nem que isso vai acontecer, nem que isso pode acontecer, nem quando, mas os sinais de fumaça já estão aí: governo intervindo na taxa de câmbio e a consequente perda de referência do valor verdadeiro de cada moeda. As pessoas que decidem a política cambial mudam e com elas as concepções e políticas. Felizmente, nos últimos anos tivemos pessoas responsáveis na administração monetária e cambial, mas com as mudanças incertas que podem estar por vir, nunca se sabe o que podem fazer seus sucessores. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Se você não sabia o que faz um analista de risco político, este é um bom exemplo. Avisa às pessoas aquelas coisas perigosas que nem sempre são aparentes à primeira vista. Não sou portador de más notícias. E mais, quase sempre prefiro prever o passado, porque minha taxa de acerto é sempre de 100%. Às vezes, no entanto, arrisco-me a prever o futuro. Agora me sinto na obrigação de fazê-lo. Desejo apenas lembrar-lhe que todos os negócios ótimos
sempre acabam sendo ilegais ou demasiado arriscados. Assim começam as bolhas. A crise de 2008-2009 foi assim: os americanos achavam que suas casas subiriam de valor indefinidamente. Re-hipotecavam-nas várias vezes, confiantes de que aquele amontoado de madeira, tijolos e tintas subiria de preço sempre. Quando o mercado (que são milhões de pessoas tomando decisões independentes que ninguém controla) passou a achar que aquelas casas não valiam aquilo que os proprietários achavam, a bolha estourou, como as bolhas de sabão que fazíamos quando crianças. Dois princípios básicos: um, informação é um bem que, como qualquer outro, não é distribuído igualmente por toda a humanidade – quando você desconfiar que o governo pode congelar os seus depósitos, ele já o terá feito. Você é que vai ficar pendurado na brocha. Dois, considere sempre que as outras raposas são sempre mais felpudas do que você. Boa sorte e esqueça conta em moeda estrangeira no Brasil. ● Alexandre Barros, cientista político (Ph.D. – University of Chicago), é diretor-gerente da Early Warning: Análise de Risco Político (Brasília) E-mail: alex@eaw.com.br
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
Luiz Inácio Lula da Silva
FÓRUM DOS LEITORES TarsoGenro e o STJ Exorbitâncias do Ministro (Estadão, 24/12, A3) é um título muito ameno para qualificar a postura do ministro da Justiça, Tarso Genro, diante da decisão judicial que determinou a paralisação dos processos contra Daniel Dantas. Causa verdadeira repulsa a ideia de que um processo, mesmo conduzido por autoridade comprometida pela parcialidade, pudesse ter sequência para contentar a opinião pública ou aplacar o sentimento de impunidade. Para os que imaginam ser esse um modo democrático de realização da justiça, isso, não custa lembrar, realiza o ideal nazista, segundo o qual “Direito é aquilo que é útil aos interesses do povo” (Gilmar Mendes). Não por acaso se tem insistido que o combate à
criminalidade deve ser feito nos marcos da legislação e com a rigorosa observância do devido processo legal. Do contrário, campeará o autoritarismo de quem se julga intérprete dos “interesses do povo”. Daí o acerto da sábia colocação do editorial de que o ministro Tarso Genro “endossou a tese – comum nos regimes autoritários – de que as garantias fundamentais podem ser atropeladas quando a causa é justa”. Parabéns ao Estadão, guardião da democracia!
Não poderia ser mais melancólico o final do ano político. Em meio ao foguetório e às confraternizações habituais, oculta-se um quadro sem brilho, pobre, desqualificado, que não promete nenhum bom augúrio. É um quadro curioso, que intriga precisamente porque não sugere nenhum indício de ameaça à estabilidade política ou de algo que esteja pondo em risco a democracia no País. Se nada ameaça a legalidade política, se tudo parece indicar que continuaremos a viver democraticamente, a assistir ao revezamento regular dos governantes e à eleição sem traumas dos parlamentares, por que persiste este clima de indiferença e pessimismo com relação à política? Será que é porque tudo parece estar bem – ou muito bem, como pensam alguns – que ninguém no País se mostra civicamente comprometido, interessado em participar das decisões nacionais ou mesmo decidido a brigar para eleger os melhores representantes políticos? Pode-se associar a isso ao menos uma dupla preocupação. Por um lado, se a política não funciona bem, não envolve nem compromete os cidadãos, aumenta o risco de que a cidadania não consiga se manter ativa e organizada, pressionando por seus direitos e vigiando
ENDEREÇO
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Ojuiz paralelo
Censura,148dias
secretário-geral adjunto do Conselho
O editorial de 24/12 tem a clareza de “sol mediterrâneo”, como diria o imortal Nelson Hungria, e repõe a lucidez e o bom senso jurídicos ao criticar o ministro da Justiça, Tarso Genro, que, rebelando-se contra a decisão do ministro Arnaldo Esteves Lima, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no processo de Daniel Dantas, interpretou o lastimável papel de juiz paralelo. O ministro ofendeu o princípio republicano da autonomia dos Poderes e revelou, com o discurso popularesco, seu antagonismo com outros princípios constitucionais: a independência do Judiciário e o devido processo legal.
Federal da OAB
RENÉ ARIEL DOTTI
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Assis
São Paulo
Curitiba
ALBERTO ZACHARIAS TORON, advogado, presidente da Comissão Nacional de Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Nacional e
O Estadão deve dizer não ao pedido de extinção do processo movido por Fernando Sarney. Com a censura, a Carta Magna está sendo ultrajada num de seus princípios básicos, que é manutenção de um Estado verdadeiramente democrático, onde é livre a expressão da atividade de comunicação, independentemente de censura (art.5º-IX). O pedido de extinção é uma vergonhosa estratégia de quem está sem rumo, sem provas para agasalhar sua aleivosia e temendo o futuro. ANTONIO BRANDILEONE
Preços venda avulsa: SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). DF: R$ 2,50 (segunda a sábado) e R$ 4,00 (domingo). ES, RS, GO e MT: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 5,80 (domingo). MS: R$ 3,20 (segunda a sábado) e R$ 4,20 (domingo). BA, SE, PE, TO e AL: R$ 4,00 (segunda a sábado) e R$ 6,00 (domingo). AM, RR, CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC e RO: R$ 4,50 (segunda a sábado) e R$ 7,20 (domingo)
os governos. Como poderá ela manifestar suas aspirações e lutar para garanti-las? Como serão formados os consensos que nortearão as escolhas dos governantes? Por outro lado, a inoperância da política pode significar um obstáculo a mais para os planos futuros da sociedade, tanto quanto para as promessas e os compromissos anunciados pelos governantes. Mesmo o tão aclamado e acalentado desenvolvimento ficará sob risco, e isso para não lembrar das expectativas de reforma social e melhoria da distribuição de renda, operações que são eminentemente políticas e dependem de forma crucial de consensos que somente a política pode produzir. A sucessão de escândalos, a corrupção convertida em prática cotidiana, o baixo nível dos debates e a ausência dramática de propostas integradas e factíveis para governar o País são a ponta de um iceberg que hoje aprisiona todo o campo político nacional. Não há partido que escape dele. Depois do caso Azeredo, em Minas, foi a vez do caso Arruda, no Distrito Federal, amplificado com os boatos de que novas revelações estariam prestes a atingir políticos de outras unidades da Federação. Ou seja, ligando os fios ao mensalão de 2005, aos vários pequenos casos que a ele se seguiram, à indigência do Congresso e à opacidade programática dos partidos políticos, o resultado é que a sujeira e a mediocridade contaminaram o sistema inteiro. Dada a variável tempo, o prejuízo acabou localizado: afetou a medula das oposições, tirando delas aquele sussurro “ético” que poderia se converter num dos eixos do discurso com que disputar o pleito de 2010. Ou seja, o que já era ruim ficou péssimo. E as oposições chegaram ao fim do ano em situação de miséria política e programática, sem discurso, sem propostas, até mesmo sem candidatos e lideranças consensuais. Quando se fala em oposições, fala-se em PSDB, DEM e PPS, partidos de caráter e dimensões distintas, mas que vêm falando linguagem semelhante e afinada. Como articular coisas tão diferentes? Quem comanda, quem define os conteúdos, qual o papel de cada parceiro dessa operação? A “frente” oposicionista não responde a essas questões. Não é comandada por ninguém, não tem definições programáticas e não fala outro dialeto que não o anti-Lula, com pitadas improdutivas de frustração e udenismo moralista. Define-se como centro-esquerda, mas de esquerda não tem nada, nem sequer uma retórica. É algo que intriga, especialmente quando se lembra que o PPS é herdeiro do PCB e o PSDB se considera expressão da socialdemocracia, ou seja, são conti-
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11 3856-2920
PomposoJudiciário A rapidez com que a família da mãe do menino S. Goldman conseguiu, há cerca de cinco anos, a guarda legal dele (em desrespeito à clara legislação internacional) e as protelações judiciais subsequentes são um retrato acabado do nosso paquidérmico e pomposo sistema judiciário. Faz parte deste quadro a constatação de que, no chamado período de festas, a grande maioria dos brasileiros tem direito a apenas alguns dias de descanso, ao passo que o Judiciário entrou em recesso no fim do dia 18 de dezembro e só reabrirá no dia 7 de janeiro. Isso sem falar nas férias de 60 dias a que só juízes têm direito. Alegam os beneficiários que essas regalias foram estabelecidas pela Lei n.º 5.010 de 20/5/1966 (assina-
nuadores de tradições repletas de glórias e identidades, gostese ou não delas. 2010 será um ano novo se esses partidos honrarem suas tradições. Uma oposição sem discurso e sem coerência não deveria ser vista como objeto de desejo da situação. Pode ser que agrade a alguns setores governistas ou a parte da cúpula que conduzirá a campanha de Dilma Rousseff, pois é, afinal, um obstáculo eleitoral a menos. Mas é uma tragédia para a democracia e para a sociedade, especialmente porque deixa parcelas importantes da população sem um norte e reforça o clima de unanimidade que, ao não corresponder à realidade, funciona como um elixir de apatia e desinteresse. A ausência de uma oposição vigorosa não é boa para os governos em geral e muito menos para aqueles que se seguirão à era Lula, pois os despoja de “consciência crítica” e os deixa sem qualquer tipo de freio ou contraponto factível. O ano só não terminou perfeito para a situação porque perfeição não existe. Não há como negar que o governo Lula abre
Partidos chegam ao fim do ano em miséria política e programática 2010 em posição de vantagem, fortalecido pelos escândalos do último bimestre, pela alta popularidade do presidente e pelas previsões de que 2010 trará consigo crescimento econômico e mais benefícios sociais. Isso forma uma conjunção astral terrível para as oposições, roubando delas quase todas as fichas. Em nome do que se baterão os candidatos contrários a Dilma? A ladainha moralista ou gerencial, a denúncia do “assalto petista ao Estado” e as acusações de populismo serão inócuas, sobretudo se não forem apresentadas com um mínimo de razoabilidade e suporte factual. Do lado governamental há, é claro, os riscos inerentes a uma aliança com o PMDB, a conduta mercurial de parceiros pesados como Ciro Gomes, a ruindade intrínseca das falas triunfalistas e maniqueístas tão usuais, a dificuldade que o PT terá de superar o lulismo, dar cara própria à sua candidata e qualificar seu discurso como força reformadora. Se o PT e os demais partidos conseguirem sacudir a poeira e ganhar consistência, 2010 estará salvo. Se fracassarem, continuaremos na mesma velha e boa toada de sempre. Bom ano-novo a todos. ● Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política da Unesp E-mail: m.a.nogueira@globo.com
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
da pelo general Castelo Branco). A enorme parcela trabalhadora da população brasileira precisa expressar claramente sua vontade de acabar com a perpetuação dessas práticas injustificáveis. CLAUDIO JANOWITZER cjano@terra.com.br
Rio de Janeiro
Picadeirodiplomático Precisas as considerações do sociólogo Demétrio Magnoli (O inimigo americano, 24/12, A2). Os três aloprados que equacionaram e estragaram o nosso prestígio diplomático – Samuel Pinheiro Guimarães, Marco Aurélio Garcia e o dublê de ministro e ventríloquo Celso Amorim – sempre calcaram suas trapalhadas, desde o início, no viés ideológico, deixan-
SÁBADO, 26 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A5 A5 + 9
PARTIDOS
Brasil pode chegar a 58 legendas se nanicos obtiverem registro Maior dificuldade, entretanto, é obter 468 mil assinaturas de apoio por todo o País MARCIO FERNANDES/AE–16/12/2009
Moacir Assunção
Nada de somente PT, PSDB ou PMDB. No futuro, eleitores mais à direita poderão votar no Movimento Integralista Brasileiro (MIB), os que preferem a esquerda terão a possibilidade de optar pela Liga Bolchevique Internacionalista (LBI) ou pelo Partido Comunista Revolucionário (PCR). Os de espírito mais alternativo poderão depositar suas esperanças no Partido Pirata. Se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovar a fundação das novas legendas, o Brasil pode chegar a 58 partidosanteos27queexistematualmente.Trintaeumanovasagremiações aguardam a oportunidade de se tornar partidos. A questão, para o eleitor, será descobrir quem, dentro dessasopa de letrinhas,tem propósitos de realmente representar setores da sociedade. E quem pretende apenas vender seu espaçonaTVenorádioparapartidos maiores ou se tornar “língua de aluguel”, encarregandose de atacar rivais na defesa de interesses de terceiros, em troca de cargos ou dinheiro. Os cientistas políticos demonstraminconformismodiante da ideia de fundar novos partidos. “Isso confunde mais ainda o eleitor. Hoje, já temos um número exagerado de legendas,oque distorceodebate eleitoral e dá margem para todo tipodenegociaçõesespúrias”,argumenta o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marco Antonio Teixeira. O conselheiro político do Mo-
ainda mais incisivo. “Mesmo os atuais partidos, que já são muitos, não representam mais ninguém. Na prática, como na maior parte dos países democráticos, no Brasil há duas ou três grandes legendas, em torno das quais gravitam todas as demais”, diz. Os novos partidos que venham a conseguir registro terão direito a dividir uma média anualde R$ 140 milhõesdoFundo Partidário – dinheiro que é repassado às legendas – e disporde cerca de5 minutos de TV e rádio por semestre para explicar suas propostas. OBSTÁCULOS
EMBARAÇO – Para Sousa, País não pode impedir criação de legendas
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 148 DIAS O empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, apresentou no dia 18, véspera do recesso forense, pedido de desistência da ação contra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término do recesso, o jornal
será intimado a decidir se concorda com a extinção ou prefere que a Justiça aprecie o mérito. O pedido do empresário foi feito nove dias após o Supremo Tribunal Federal ter arquivado reclamação do jornal contra a censura sem decidir sobre seu mérito. ●
vimentoVotoConsciente,Humberto Dantas, concorda com Teixeira. “Do ponto de vista puro, parece lógico que a sociedade seja representada nos partidos, na prática não é isso que
ocorre. Muitos surgem para reforçar o fisiologismo e a partilha de recursos do Fundo Partidário”, critica. Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), é
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Não é fácil, entretanto, conseguir o aval do TSE. Além de ter de montar um grupo de 101 pessoas que integrarão o futuro partido, as legendas precisam obtercerca de 468 mil assinaturas de apoiadores espalhados por, pelo menos, nove Estados da Federação, de forma que demonstrem caráter nacional. É exatamente nesse ponto – que exige gastos de somas consideráveisdedinheiro–queospartidos patinam. “Esse é o principal obstáculo. Em geral, quando chegam nesse ponto, os novos partidos não avançam. Muitos acabam optando por se juntar em dois ou trêsparaconseguir asassinaturas”,explicaoadvogadoMarcelo Augusto Melo Rosa de Sousa, vice-presidente da comissão de direito político-eleitoral da OAB-SPe especialistaem legislação eleitoral. Mesmocomrestrições ao nú-
merodepartidos, Sousaconsidera que o País não pode impedir a criação de legendas. “A Constituição diz que temosumsistemapluripartidário. Não podemos regredir ao tempo da ditadura, quando só havia Arena e MDB.” Ex-presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) paulista, Álvaro Lazzarini concorda que é difícil barrar novas legendas, mas defende mudanças na legislação. “Poderíamos ser mais rígidos,deformaquefosse possível impor dificuldades à criação indiscriminada de agremiações.” ●
Soluções em Tecnologia da Informação ao alcance de todos.
O Governo Federal, por meio do Ministério do Planejamento, teve uma iniciativa única no mundo e reconhecida internacionalmente: o Portal do Software Público Brasileiro. Nele são disponibilizados softwares para áreas como saúde, educação, finanças, entre outras. Há também uma área específica, com ferramentas livres para a melhoria da gestão municipal. www.softwarepublico.gov.br Não deixe de acessar. É fácil, é rápido, é para todo mundo.
PERNAMBUCO
TJ derruba no Supremo determinação do CNJ OministroSTFRicardoLewandowski suspendeu decisão do Conselho Nacional de Justiça queimpunhaaoTribunaldeJustiça a adequação do quadro funcional à legislação e aos atos do próprio CNJ. A determinação do conselho fora baixada a pedido do Sindicato dos Servidores de Justiça, que defende a observânciadaleiquantoaopreenchimento de, no mínimo, 50% dos cargoscomissionadosporservidoresconcursados.ParaLewandowski,nãoécompetênciaconstitucional do CNJ examinar, mesmoindiretamente,umanorma local. Isso porque o conselho encaminhou projeto de lei para modificar o texto da lei estadual a fim de que se adequasse às regrase estipulouprazo de 90dias para seu cumprimento.
DORA KRAMER A coluna volta a ser publicada no dia 5 de janeiro.
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o estado de s. paulo
Edição das 23h15
DOMINGO
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JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
27 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42439
CULTURA
ALIÁS
Descobrir Nabuco
Travessia Da tensão política à fúria ambiental, da mídia em xeque ao Brasil em transformação, o que trazem as águas de 2010. ●
O Estado publica textos inéditos e visita o engenho onde cresceu esse autor ainda pouco divulgado. ●
MAUREEN BISILLIAT/ACERVO IMS
VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
‘Novo desenvolvimentismo’ de Dilma prega Estado forte
Alfabetizar aos 3 anos divide pais e educadores A antecipação da alfabetização de crianças, cada vez mais comum nos colégios de classe média, tem sido motivo de polêmica entre famílias, escolas, educadores, psicólogos e médicos. Pelo método tradicional, a idade para a criança aprender a ler e escrever está entre os 6 e 7 anos. Hoje, a alfabetização precoce antecipa esseaprendizado para os 3 a 4 anos. ● PÁG. A14
Programa da candidata defenderá investimento público e distribuição de renda Vera Rosa
Aplataformade governodaministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência,será embaladapelo mote do “novo desenvolvi-
mentismo”. O modelo defendido pelos petistas para escapar do rótulo da mera continuidade do governo Lula mescla incentivosao investimentopúblico e privado com distribuição de renda. Os eixos do projeto
em debate no PT são ciência, tecnologia e inovação, pré-sal, ambiente e matriz energética, educação, reconstrução do sistema de saúde, programas de moradia, transporte de massas e saneamento. O PAC será
tratado como “estratégia de desenvolvimento”. No duelo comoPSDB,oPlanalto pretende derrubar a pecha de gastador: Dilma dirá que o que mais aumentou na era Lula foi a despesa com benefícios sociais.
Embora o programa de Dilma ainda esteja em discussão, o PT e o Planalto já têm um diagnóstico: a nova concepção de desenvolvimento exige planejamento econômico de longo prazo e Estado forte. ● PÁG. A4
Ataque pode ter matado 7 brasileiros no Suriname
TURISMO: TODOS A BORDO
Um ataque a 81 brasileiros que trabalham com o garimpo no Suriname pode ter deixado 7 mortos na véspera do Natal. O número foi informado por um padre católico que atua na região. Segundo ele, mulheres foram violentadas. A informação oficial era de 14 feridos. O incidente começou após a morte de um surinamês, numa briga com um brasileiro. ● PÁG. A7
Comércio
Shoppings faturam R$ 20 bi no Natal Vendas nacionais já chegam a R$ 78,8 bi no ano e crescimento é de 10%. ● PÁG. B7
Passageiros do navio CVC Zenith observam concurso de drag queen, uma das várias ati-
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vidades a bordo. O navio, lotado, é prova da recuperação do setor turístico, impulsionada
A atuação do STF em 2009
JOSE ROBERTO DE TOLEDO
O balanço mostra que o Supremo vai se tornando rápido no cumprimento de seu papel. O desafio é melhorar a qualidade de suas decisões. ● PÁG. A3
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BORIS FAUSTO
MÁX.
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29º
MÍN.
Sol surge forte em São Paulo. Previsão de pancadas de chuva à tarde.
Tiragem: 302.230 Hoje: 134 páginas A. 1º caderno: 18 ● B. Economia: 8 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 10 ● E. Esportes: 2 ● J. Aliás: 12 ● T. TV&Lazer: 20 ● M. Casa&: 24 ● F. Feminino: 12 ● Ca. Autos: 6 ● Ce. Empregos: 4 ● Ci. Imóveis: 8 ● Co. Oportunidades: 4
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Lula e o futuro Prevalecerá a narrativa mítica ou outra que se preocupe em indagar como se deram as inflexões de sua carreira? ● PÁG. A2
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TIMOTHY GARTON ASH
Roubo no inferno O letreiro de Auschwitz foi roubado. Lutamos para imaginar que tipo de ser humano gostaria de ter um objeto desse. ● PÁG. A11
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JOSÉ LUÍS DA CONCEIÇÃO/AE
Um em cada quatro eleitores diz ter preferência pelo PT, mas nem sempre essa popularidade se traduziu em votos ● PÁG.A6
dois anos aumentou 83% em comparação com o levantamento anterior. ● PÁG. B6
Cresce o número de cristãos na China
Partido popular
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19º
Ministério do Turismo, o número de pessoas que fizeram ao menos uma viagem nos últimos
COLUNISTAS
NOTAS E INFORMAÇÕES
Tempo: CAPITAL
sobretudo pela participação cada vez maior da nova classe média. Segundo pesquisa do
FORÇA – Janaína e o filho: ela amamentou bebê desconhecido
Impulso de ajudar cria heróis anônimos
O
Estado conta hoje histórias de heróis anônimos, como a de uma mulher que deu de mamar a um bebê desco-
nhecido em meio a um incêndio e a de um homem que resgatou uma motociclista arrastada por uma enchente. ● PÁGS. C1 e C3
Números oficiais indicam que apenas 100 milhões do 1,3 bilhão de chineses professam alguma fé. Entre estes, o governoreconheceaexistência de 14 milhões de cristãos. Mas, entidades independentes calculam que existem de 54 milhões a 111 milhões de cristãos, sempre com os protestantes como maioria. Sejam quais forem os números, o fato é que o cristianismo avança no país. ● PÁG. A10 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 149 DIAS q PÁG. A7
EUA retêm público nos aeroportos País adota vistoria rigorosa de passageiros após susto provocado pelo atentado. ● PÁG. A12
Futebol
Pesquisa mede valor de nomes dos times Flamengo e Corinthians valem R$ 500 milhões cada, indica o estudo. ● PÁG. E1
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ideias para mudar o visual da sua casa sem precisar comprar móveis. ●
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DOMINGO, 27 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Lula e os enigmas do futuro
A política e o homem público
BorisFausto
GaudêncioTorquato
Em meio a uma conversa despretensiosa, um amigo me pergunta: como você acredita que Lula e seu governo serão avaliados no futuro? Evitei dizer que assuntos do futuro se situam no campo das projeções dos cientistas políticos, enquanto os historiadores lidam com o passado. Preferi enfrentar a questão, embora a resposta seja difícil, na melhor das hipóteses. Isso por duas razões principais, e a primeira é bastante óbvia. A carreira política do presidente Lula não está encerrada. Não só porque ele tem ainda um ano de mandato, às voltas com o triunfo, custe o que custar, da sua candidata a presidente. Depois, porque não se sabe quem vencerá as eleições, afora a possibilidade, ao menos hoje vista como muito possível, de que Lula volte a se candidatar, nas eleições de 2014. A outra dificuldade da resposta é menos óbvia e tem que ver com a constatação de que não existe “um veredicto da história”. Essa dama caprichosa flutua ao sabor das diversas in-
Muitos dos traços do seu governo e do petismo ficarão na sombra terpretações, umas superando as outras e vice-versa, ao longo do tempo. Dois exemplos expressivos: Getúlio Vargas é lembrado, por um lado, como o pai dos trabalhadores, o ícone da industrialização, o doador da legislação trabalhista e, de outro, como o repressor das liberdades públicas, do direito de expressão e como introdutor da tortura de presos políticos. Na Argentina, guardadas as diferenças, o mesmo acontece com o general Perón. Mais ainda, sua figura se projeta, retrospectivamente, no passado. O controvertido Juan Manuel de Rosas, que governou um país cuja unidade ainda não se realizara, em boa parte das décadas de 1830 e 1840, é visto como antecessor do nacionalismo personalista e do peronismo, tanto por peronistas como por liberais, mas com avaliações opostas. Assim, respectivamente, Rosas ganha as cores de um abominável caudilho ou de um notável precursor da construção da nacionalidade. É curioso notar, no caso de Getúlio, que a imagem positiva se impôs à negativa. Os aspectos condenáveis dos 15 anos do primeiro governo Vargas figuram em segundo plano, como evidenciam os textos publicados por ocasião dos 50 anos de seu suicídio. Mas a pergunta de meu amigo abre caminho a outra abordagem: ela gira em torno das
perspectivas da história imediata, voltada a um passado que é quase presente, e da história a ser escrita no futuro. Superada, nos dias de hoje, a questão da possibilidade de escrever a história do presente, convém lembrar as diferenças. É verdade que quem vive ou viveu fatos muito recentes reflete nos escritos suas opiniões e mesmo suas paixões com maior intensidade. O historiador distanciado dos eventos tende a ser mais frio, mas dificilmente consegue introduzir em sua narrativa um elemento importante: o calor da hora. Outra diferença significativa é a inclinação do historiador do presente no sentido de ressaltar a trama da política cotidiana, enquanto o historiador do futuro tenderá a ignorar processos e fatos que para os contemporâneos são relevantes. Em certos casos, ele terá ainda a vantagem de poder pesquisar em arquivos hoje indisponíveis ou desconhecidos, como ocorreu, com alto rendimento, no caso da história da União Soviética. A essa altura, vou ao tema da pergunta inicial lidando só com alguns aspectos mais significativos. No plano pessoal, o futuro deverá lembrar a extraordinária biografia de Lula, que já nos dias de hoje está a merecer uma análise equilibrada. Se os primeiros anos da biografia são conhecidos, quem se preocupará, no futuro, em responder a muitas questões que emergem quando a história de vida chega à fase adulta? Prevalecerá uma narrativa mítica ou outra que se preocupe em indagar como se deram as inflexões de sua carreira? Como um discurso com um verniz socialista – “verniz” porque seu conteúdo nunca foi explicitado – se converteu num extremado pragmatismo, para dizer o menos, que levou a alianças com Sarney, Collor, Renan Calheiros, Roberto Jefferson e tutti quanti, mas levou também à sensatez, no âmbito da política econômica e financeira? Indo adiante, como serão vistos os dois mandatos sucessivos dos presidentes Fernando Henrique e Lula, que cobrem 16 anos da história brasileira? Esse tema, nos tempos atuais, é um instrumento da luta política desfechada pelo governo, mal refutado por uma oposição cujo fio parece perdido. Basta lembrar o rótulo da “herança maldita”, aplicado a um conjunto de reformas institucionais e medidas legislativas que deram bases de sustentação ao governo Lula. Penso que esse aspecto e outros como, por exemplo, a continuidade dos programas de transferência de renda, apesar de suas diferenças, tenderão a ser ressaltados no futuro. Em suma, a meu ver, a pers-
pectiva de continuidade tenderá a prevalecer sobre a da ruptura, significando que muitos dos traços específicos do governo Lula e do petismo ficarão na sombra. Arrisco dizer que a ocupação de milhares de cargos de confiança, o mais das vezes segundo critérios partidários; o avanço da corrupção em níveis nunca antes alcançados; e o aviltamento da vida política serão temas considerados menos relevantes. Não afirmo, obviamente, que essa tendência seja positiva, apenas acredito que ela irá se impor. Por último, quem sabe num futuro mais serenado acadêmicos e jornalistas se dedicarão a temas como o da emergência de uma nova elite, formada de sindicalistas, mas não só deles, que chegou aos vários escalões do poder no bojo da ascensão de Lula. Ou ainda se voltarão para a imagem do presidente, para o conteúdo de suas falas, em que a imensa capacidade de se identificar com a grande massa deixa em segundo plano as tiradas reveladoras de uma monumental ignorância. ● Boris Fausto, historiador, presidente do Conselho Acadêmico do Grupo de Conjuntura Internacional (Gacint-USP), é autor, entre outros livros, de História do Brasil (Edusp)
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
Michael Schumacher , o retorno
FÓRUM DOS LEITORES Estadoforte O presidente Lula diz que é preciso ter uma carga tributária “razoável” para termos um Estado forte. Em primeiro lugar, a carga tributária brasileira não é razoável, é altíssima. Em segundo lugar, o Estado forte não seria aquele que atende sua população nas necessidades de saúde, educação, segurança, infraestrutura, etc.? Pagamos muitos impostos e pagamos de novo pelo plano de saúde, pela escola dos nossos filhos, pela segurança privada, temos estradas horríveis e aeroportos saturados. Enfim, tudo o que o Estado forte deveria nos proporcionar não temos. Acho, então, que ou Lula se referia a outro país ou ele queria dizer que Estado forte é, na verdade, uma classe política privilegiada. Nos-
sos impostos vão para todas as distorções da coisa pública no Brasil (mensalões, por exemplo). Prefiro o Estado pequeno e sei administrar o meu dinheiro melhor do que o Estado.
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● Presidente Lula, Estado forte não é só dinheiro em caixa recolhido na canetada, mas sim um Estado que trabalha. Não é ter dinheiro para comprar votos por meio de programas “sociais”, e sim criar condições para que os brasileiros sejam cidadãos.
São Paulo
EDUARDO KAMEI YUKISAKI
ABELARDO QUINDERÈ FRAGA JR
● Ninguém tem medo de um Esta-
2009 chega ao fim deixando a impressão de que a política, aqui e alhures, não passou no teste para aferir sua qualidade. A frustração generalizada com os pífios resultados da conferência de Copenhague aponta para o fracasso da missão de mandatários importantes, a partir de Barack Obama, em que se depositavam as maiores esperanças da coletividade mundial. Espraia-se por todos os continentes o sentimento de que a política, além de não corresponder aos anseios das sociedades, não é representada pelos melhores cidadãos, como estatuía o ideário aristotélico. A estampa dos homens públicos também se apresenta esboroada. Basta olhar para o nariz e os dentes quebrados do premier italiano, Silvio Berlusconi, pelo impacto de uma pequena réplica do Domo de Milão, jogada por um manifestante de rua. Aquela imagem reflete o sexto compromisso não cumprido pela democracia, que trata da educação para a cidadania, e que foi objeto de análise de um dos mais proeminentes pensadores da ciência política, o também italiano Norberto Bobbio, em seu vigoroso ensaio sobre o ideário democrático. Governantes das mais diferentes ideologias dão efetiva contribuição à degenerescên-
eduardo_kamei@uol.com.br
Guarulhos
do forte. Aliás, o Estado tem de ser forte para ser justo, exercer as suas funções e defender os interesses do país. Mas o Estado brasileiro virou um mostro insaciável que devora todos os recursos disponíveis para se manter, em vez de prestar serviços aos cidadãos. Isso, sim, dá medo!
● Com uma dívida pública de R$ 2 trilhões, cada brasileiro ao nascer já deve mais de R$ 10 mil. E não é só teoria. Essa conta só poderá ser paga pela população. A carga tributária tende a subir para que a dívida pelo menos se estabilize.
FABRIZIO GUIDI
PAULO SERODIO
fabrizioguidi@terra.com.br
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Monte Verde
São Paulo
Censura,149dias Para que 2010 comece com o pé direito para o Brasil, após a sábia decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, determinando que o garoto S. fosse entregue ao pai biológico, só falta extraditar Cesare Battisti para a Itália, entregar Zelaya para o seu tutor Hugo Chávez e, acima de tudo, acabar com a mordaça ao Estadão, que já dura 149 dias. STEFAN LITVAY litvay@amcham.com.br
São Paulo ● Gustave Flaubert, grande literato francês do século 19, em carta à amiga Colet, comenta-
cia da arte de governar, pela qual Saint Just, um dos jacobinos da Revolução Francesa, já expressava, nos meados do século 18, grande desilusão: “Todas as artes produziram maravilhas, menos a arte de governar, que só produziu monstros.” A frase se destinava a enquadrar perfis sanguinolentos. Mas, na atualidade, a canalhice e a mediocridade também frequentam espaços públicos. Quando Bill Clinton foi flagrado em atitudes não muito litúrgicas nos salões da Casa Branca, o panteão da esculhambação se elevou às alturas. Da mesma forma, ao admitir ter recebido doações do caixa 2, o ex-presidente Helmut Kohl cindiu o escudo da ética alemã. O que explica a propensão de homens públicos a assumirem o papel de atores de peças vis, cerimônias vergonhosas e, ainda, abusarem de linguagem chula, incongruente com a posição que ocupam? O que explica a imagem de um governador recebendo pacotes de dinheiro ou a de um presidente de Assembleia escondendo propina na cueca? A resposta pode ser esta: a despolitização e a desideologização, que se expandem na sociedade pós-industrial. Os mecanismos tradicionais da democracia liberal estão degradados. Outra resposta aponta para o paradigma do “puro caos”, que o professor Samuel Huntington identifica como fenômeno contemporâneo e que se ancora na quebra no mundo inteiro da lei e da ordem, nas ondas de criminalidade, no declínio da confiança na política e na solidariedade social. No caso da política, esse declínio é acentuado. Ela deixou o espaço missionário para entrar no mercado das profissões. Por que os mecanismos clássicos da política vivem crise descomunal? As nações democráticas registram, neste princípio de século, forte declínio da participação dos cidadãos no exercício da vida pública. Basta apurar o retraimento dos eleitores por ocasião dos pleitos. O profundo desinteresse das populações pela política se explica pelos baixos níveis de escolaridade e ignorância sobre o papel das instituições, e pelo desinteresse dos políticos em relação às causas sociais. Este fenômeno – a distância entre a esfera pública e a vida privada – se expande de maneira geométrica. Na Grécia antiga, a existência do cidadão se escudava na esfera pública. Esta era sua segunda natureza. A pólis constituía o espaço contra a futilidade da vida individual, o território da segurança e da permanência. Até o final da Idade Média, a esfera pública se imbricava com a esfera privada. Nesse momento, os produtores de mercadorias (os capitalistas) invadiram o espaço público. Aí começa o ciclo da decadência. Que, na primeira década do século 20, se acentuou
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com o declínio moral da classe governante. Assim, o conceito aristotélico de política – a serviço do bem comum – passou a abrigar o desentendimento. E a ambição. Com a transformação dos estamentos, as corporações profissionais se multiplicaram. Campos privados articularam com o poder público leis gerais para as mercadorias e as atividades sociais. Sensível mudança se processa. Agora, a esfera pública vira arena de interesses. Disputas abertas e intestinas são deflagradas, na esteira de discussões violentas. Bifurca-se o caminho da res publica com a vereda do negócio privado. O diagnóstico é de Hannah Arendt: “A sociedade burguesa, baseada na competição, no consumismo, gerou apatia e hostilidade em relação à vida pública, não somente entre os excluídos, mas também entre elementos da própria burguesia.” Em suma, a atividade econômica passou a exercer supremacia sobre a vida pública. Os eleitores se distanciaram de partidos, juntando-se em núcleos ligados ao trabalho e à vida corpo-
O que explica a propensão a assumir o papel de ator de peças vis? rativa – sindicatos, associações, movimentos. Eis a nova face da política. Se há participação dos aglomerados sociais, ela ocorre dentro das organizações intermediárias. O discurso institucional, levado a efeito por atores individuais e partidos, não faz eco. Mas a estética da política pontua e remanesce nos sistemas cognitivos, emoldurando a policromia e o polimorfismo do modus operandi dos atores em seus palcos: parlamentares se atracando em plenários, dentes quebrados, sangue jorrando pelo nariz, encontros mafiosos, orações de propina, dólares na cueca, descrições de cenas de sexo, ovos podres atirados em autoridades, etc. O que fazer para limpar a sujeira que borra a imagem do homem público? Não adianta colocar sobre ela camadas de tinta. Equivaleria a pintar uma parede sem argamassa, oca. A pintura deve ser feita por dentro. A reengenharia voltada para o resgate da moral na vida pública é tarefa para mais de uma geração. Mas pode ser iniciada já. Primeiro passo: o homem público deve cumprir rigorosamente o papel que lhe cabe. Segundo: punir os que saem da linha. Terceiro: revogam-se as disposições em contrário. ● Gaudêncio Torquato, professor titular da USP, jornalista, é consultor político e de comunicação
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Petrobrásprivatizada va: “A censura, qualquer que seja, apresenta-se como uma monstruosidade, algo pior que o homicídio; o atentado contra o pensamento é um crime de lesa-alma.” O que dirão nossos juízes? VIVIANO FERRANTINI engferrantini@ig.com.br
São Paulo ● Nesses 149 dias não encontrei no dicionário uma palavra para exprimir minha indignação. Não caibo dentro da vergonha que essa mordaça traz ao Brasil. 2010 começará sendo um ano muito velho conhecido. JACY LORI ÁRTICO MATTÉDI jacymattedi@globo.com
São Paulo
O presidente da Petrobrás, sr. José Sérgio Gabrielli, em entrevista publicada pelo Estado (25/12, B1), afirma que “o PSDB teria vendido a Petrobrás” se José Serra ou Geraldo Alckmin tivessem vencido as eleições de 2002 e 2006. Se esquece o presidente nomeado da estatal de que todas as privatizações realizadas pelo PSDB trouxeram benefícios inegáveis ao País, inclusive ao governo Lula, que colhe os resultados da empresa e os exibe como feitos de seu governo. Em vez disso, ele deveria explicar por que nossa gasolina, vendida a R$ 0,16 o litro para a China, é uma das mais caras e piores do mundo para o consumidor brasileiro. Ou por que o nosso diesel é um dos mais sulfurosos do planeta.
DOMINGO, 27 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL A7 A7 NACIONAL
DIPLOMACIA
Ataque a brasileiros pode ter feito 7 mortos no Suriname Informação é do padre Vergílio; embaixador fala em 14 feridos graves Gabriel Pinheiro ESTADAO.COM.BR
Um ataque contra um grupo de 81 brasileiros no Suriname pode ter deixado sete mortos na véspera do Natal. De acordo comopadrebrasileiroJoséVergílio, que atende a comunidade, em entrevista à Globonews, as vítimas teriam sido mortas por
agressores surinameses armados.Muitasmulheresteriamsofrido violência sexual. O embaixador brasileiro no país, José Luiz Machado e Costa, falou em 14 feridos. Segundo ele, o incidente começou após uma briga entreumbrasileiroeum surinamês,que se desentenderam por conta de uma dívida na cidade de Albina, a 150 km da capital
REPRODUÇÃO/TV
DESTRUIÇÃO – Agressores queimaram carros e posto de gasolina
Paramaribo. Costa disse que o número de brasileiros feridos pode chegar a 25, embora ainda não haja confirmação do governo local. “Com a morte do morador, cerca de 300 surinameses lançaram umataque brutal e indiscriminado com facões contra homens, mulheres e crianças que trabalhavam como garimpeirosna região”,disseoembaixador. Na região de Albina, há minas de ouro que empregam brasileiros ilegais. A grávida, identificadapelaembaixada como Érica, seria uma das mortas, assim, como o bebê que esperava. Os agressores destruíramcarroseumpostodegasolina ao lado de onde os brasileiros estavam alojados. Outrosbrasileirosforam realocados em hotéis pelo governo do Suriname, que investiga o
episódio. Segundo Costa, o Brasil “não pode duplicar a investigação porque a atitude poderia ser considerada interferência diplomática em assuntos internos.”Oembaixadorafirmou,entretanto, que informações da polícia local indicam que quatro pessoas ligadas ao episódio foram presas e possivelmente serão interrogadas hoje. Ainda de acordo com o diplomata, a Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou um avião para levar mantimentos e roupas para os brasileiros. “Aqueles que quiserem retornar ao País poderão embarcar no voo”, acrescentou. A cidade de Albina,comcercade10milhabitantes,fica na fronteirado Suriname com a Guiana Francesa. A presença de brasileiros ilegais tem provocado tensão na região. ● COM AFP
JUSTIÇA ELEITORAL
Escolha de prefeitos mobiliza 900 mil eleitores Alfredo Junqueira RIO
Umtotalde900mileleitoresdeve voltar às urnas para escolher novos prefeitos, em processo que invadirá o ano de eleições presidenciais. Dados de 26 Tribunais Regionais Eleitorais mostram que em pelo menos 52 cidades candidatos eleitos em outubro de 2008 com mais de 50% dos votos válidos tiveram o mandato cassado pela Justiça em segunda instância. A legislação vigente determinaarealizaçãodeeleiçõessuplementares nesses casos. Recursos e embargos apresentados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no entanto, seguram a maior parte dos prefeitos nos cargos. Caso os ministros do TSE confirmem as decisões das cortes inferiores, esses eleitores participarãodoquesepodechamar de eleições gerais no ano que vem. Escolherão do sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao prefeito – além de governador, senadores e deputados federais e estaduais. O número de eleições suplementares para prefeito não para de crescer. Neste ano, segundooTSE,forampromovidasvotaçõesextraordináriasem57 cidades. Em 2008, haviam sido apenas seis. De 2004 a 2007, esse crescimento já vinha se evidenciando – foram registradas 6,12,10e12eleiçõessuplementares, respectivamente. ACUSAÇÕES
As cassações ocorrem por problemasnoregistrodoscandidatos, acusações de abuso de poder econômico ou político ou compra de votos. O crescimento no número de processos de perda de mandato pode ser explicado pelas modificações promovidas na legislação em 2006. A realização de eleições extras provoca situações inusitadas. Os 10.148 eleitores aptos a votar no município de São Pedro do Piauí (PI) tiveram ontem de dar uma pausa nas festas de fim de ano, desengavetar o título de eleitor e ir aos locais de votação para escolher o novo prefeito. “Estamos num caminho de judicialização do processo eleitoral. Hoje, investe-se cada vez mais em assessoria jurídica”,aponta oadvogadoeprofessor de direito eleitoral da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj), Luiz Paulo Viveiros de Castro. ●
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 149 DIAS ●●● Oempresário FernandoSarney,filho do senador José Sarney, apresentou nodia 18,véspera do recesso forense,pedido de desistênciada açãocontra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término dorecesso, o jornal será intimadoa decidir se concorda com a extinção ouprefere que a Justiçaaprecie o mérito. O pedido do empresário foi feito nove dias após o Supremo Tribunal Federal ter arquivado reclamação dojornalcontraacensura semdecidir sobre seu mérito. ●
DOMINGO, 27 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
Travessia
Amídia amordaçada
2009
Censura ao ‘Estado’ 31/7
Ataque à Globovisión 3/9
O desembargador Dácio Vieira,doTribunal de Justiça do Distrito Federal, proíbeoEstado de publicar reportagens que vinculem o nome de FernandoSarney,filhomaisvelho do presidente do Senado, JoséSarney(PMDB-AP),àoperaçãoBoiBarrica,daPolíciaFederal. O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal, que manteve a censura. Este mês, Fernando Sarney desistiu da ação. O caso aguarda nova análise do TJ, de férias até 7 de janeiro.
Trinta militantes do partido radical Unidade Popular Venezuelana (UPV), aliado de Hugo Chávez, invadem a emissora antichavista Globovisión, em Caracas, e lançam bombas de gás depois de o governo tirar do ar 34 emissoras de rádio. Segundo o Instituto Imprensa e Sociedade, 2009 foi o pior ano para a imprensa venezuelanadesdeaascensãodeChávez, em 1999. Foram 107 ataques a jornalistas e meios de comunicação,2/3 perpetrados por agentes ou simpatizantes do governo.
Clarín sob marcação 10/10 O Senado argentino aprova a nova lei de radiodifusão que reduz a
liberdade de atuação de emissoras comerciais de TV e rádio e fortaleceapresençadoEstadonaimprensa. A vitória do casal Kirchner é um golpe contra a principal empresa de comunicação do país, o Grupo Clarín, que poderá transmitir apenas para 35% da população, enquanto as emissoras estatais terão alcance nacional.
Agressão à voz cubana 6/10 Yoani Sánchez, autora do blog GeneraciónYecríticadogoverno cubano, é presaemumapassea-
ta contra a violência. Acusada de ser “contrarrevolucionária”, foi forçadaaentraremumcarroedissetersidoagredidadurante20minutos. No mesmo mês, seu marido, Reinaldo Escobar, foi agredidoporum grupode simpatizantes do regime castrista.
Obama versus Fox 15/10 A então diretora de comunicaçõesdaCasaBranca,Anita Dunn, acusa a rede de TVFox News,do bilionário australiano Rupert Murdoch, de ser um “braço armado do Partido Republicano” e informa que dali em diante a
ALIÁS J11 ALIÁS J11
emissora passaria a ser tratada “como um oponente” do governo Obama.
Jornalistas massacrados 26/11 Vinte e nove jornalistas são assassinados na Província de Mangudadatu, nas Filipinas, durante uma carreata política de oposição ao regime do chefe tribal Andal Ampatuan Jr. Nomundotodo,em2009,onúmero de jornalistas mortos por motivos ligados à atividade, 68 nototal, foi omaiordesdeque a organizaçãoComitêparaaProteção dos Jornalistas, com sede em Nova York, iniciou a contagem, em 1992. Na Somália as mortes foram nove. No Paquistão, quatro.
ENRIQUE DE LA OSA/REUTERS
Jornalismo na torcida Futuro modelo de mídia eletrônica permitiria a recuperação de receitas detonadas pela internet FAHAD SHADEED/REUTERS
Lúcia Guimarães*
Em2010os jornalistasamericanos cobriram, mais do que nunca, sua ameaça de extinção. Como raras aves de plumagem que perdeu o viço, eles se somaram às estatísticas de seus colegas desempregados. Jornais centenários fecharam as portas, revistas tradicionais sumiram das bancas. É fácil demais culpar a internet como um tsunami que achatou igualmente a pequenamídiaeosconglomerados criados pela quimera da sinergia, como a finada AOL-Time Warner. Haverá um componente masoquista no DNA do jornalista? Acompanhar nosso infortúnio é uma espécie de tique nervoso da profissão. Num fim de noite, meu começo de sono foi despertado por um sotaque intensamente nova-iorquino num programa de TV. O entrevistado declaravaconfiante:“Novalâmpada, novo gênio”. Opa! Explico ao leitor cuja profissão se apoia em alicerces mais sólidos: no jargão apocalíptico corrente, a metáfora inspirada em Aladim é comum para descrever como o conteúdo jornalístico, neste caso, o gênio, escapou da lâmpada com o acesso livre pela internet. A publicidade online nunca pagou a conta e tentar cobrar pelo que custa mais caro, a reportagem – hoje de graça em sites como o Google –, é o equivalente a tentar passar aquele careca gordo de volta pela boca da lâmpada. O editor Peter Kaplan era o entrevistado naquela noite. Como editor por 15 anos do New York Observer, hoje dando sinais evidentes da falta que ele faz, Kaplan me pareceu a fonte
LUGAR AO SOL – A salvação pode estar numa espécie de iPod com esteroides capaz de suportar formatos revolucionários de anúncios
ideal do que se tornou o cálice sagrado na lenda arturiana da mídia:uma boanotícia.Eleestava promovendo o lançamento do livro que editou como sua canção de cisne no Observer, The Kingdom of New York, uma coletânea de grandes textos publicados no jornal. Localizei Kaplan em seu novo escritório, no edifício da Editora Condé Nast, que vivia um banho desangue, com fartas demissões e desaparecimento de títulos nobres como a Gourmet Magazine. Sem a menor compostura, declarei minhas intenções:“Gostariadeouvirpessoalmente aquela história com final feliz que você contou no ar”. Numa tarde fria de novem-
bro, eu me postei numa mesinha na área de pedestres da Times Square, onde aguardava o chamado de Kaplan, alguns andares acima do calçadão. Enquanto esperava, tive duas visões que interpretei como sinais de que deveria perseverar. Passou por mim Arthur Sulzberger Jr, o Pinch, o irascível herdeiro e publisher do New York Times, que acabava de anunciar seu próprio passaralho na redação. Minutos depois, marchou sorrindo para o público Lou Dobbs, o âncora da CNN que anunciaria sua partida no dia seguinte, depois de longa controvérsia sobre sua xenofobia. Pinch representaria a mídia que deve ser salva? Dobbs,
com seu reducionismo populista, a que merece ir para o brejo? Quando atravessei a porta de vidro da suntuosa sede da Condé Nast Traveler, me ocorreu, com atraso, que um jornalista com o pedigree de Kaplan, que inclui passagens pelo New York Times e a New York Magazine, não teria pedido demissão da chefia editorial de um semanário influente para editar matérias sobre safáris africanos. Kaplan é mais do que um subeditor da revista de turismo. Ao ser denunciado como um attaché cultural de embaixada americana que trabalha para a CIA, ele deu uma gargalhada e admitiu que tem uma função de estrategista, de “dar os primei-
ros passos para fazer desta uma revista eletrônica”. Kaplan atravessa lépido o obrigatório lamento pelos colegas que tombaram, mas declaraser este umgrande momento para pertencer à mídia. Ele aposta suas fichas no que chama de um “iPod com esteroides”. Um tablete – no momento, provável, mas não inevitável criaçãodaApple–quevaireanimar o jegue empacado da publicidade na internet. “Teremos uma chance, a exemplo do que aconteceu no começo da televisão, de refazer o meio”, diz ele. “Um novo meio com uma nova economia.Criarum novomodelo de receita, mas também um novo modelo de jornalismo.”
Kaplan acredita que a solução tecnológica do tablete que vemporaívátornarosanúncios mais atraentes do que a mais artística publicidade impressa em revistas. O leitor, treinado para evitaroanúncioonline,vaisedeter sobre a publicidade não linear, extradimensional, como uma experiência cultural integrada ao resto do conteúdo. Quero acreditar em Kaplan porque ele não pertence à turmanovidadeiraqueficaregurgitando cenários improváveis na Wired. Acredito no que ele me deu como leitora – um jornal idiossincrático, sofisticado, sinceramente opinativo. Ele se declaraumevangelistadojornalismo. “As pessoas podem não se lembrar do que leram no jornal há dois dias, mas quando leram foram um pouco transformadas”, diz. O Observer de Kaplan era um anti-New York Times que adorava o Times. Ele explica: o Times emergiu da era em que a cidade tinha inúmeros jornais como a única voz com autoridade. Até o Times ficar solitário no seu papel, lembra ele, o alto níveldeculturadaimprensanovaiorquinaeracomparávelàHollywood na era dos estúdios. “Eles nos deram uma literatura de não ficção”, diz. Kaplan aposta na paixão americana por novos brinquedos.Obrinquedoeletrônicocerto,elepromete,podesalvar a indústria da mídia e tirar do exílio bons editores que vão ofereceraoleitorumanovaestética e preservar o poder democrático do jornalismo. Que seu otimismo vire manchete e não outra lenda das Mil e Uma Noites. ● *ColunistadoEstadoecolaboradoradaRádioEldoradoedocanalGNT
Quando dividir fortalece Redes digitais subvertem a lógica da concentração de poder e são mais poderosas quanto mais compartilhado fica seu uso Gilson Schwartz*
A melhor definição para o efeitodainternetnoscostumes políticos é a que celebra a emergência da liderança distribuída. As redes, já se sabe, são mais poderosas quanto mais distribuído, espalhado e compartilhado o seu uso. No Brasil, essa noção é confirmadapelo avesso: no país da concentração de renda e poder, a internet está sempre aquém do potencial. Um dos maiores desafios da política contemporânea é traduzir a ideia de distribuição de informação e poder, que vem do modelo de computação distribuída, para um universo onde a concentração de poder, a assimetria de informação e a dissimulação tornaram-se sinônimos de sucesso. Ao menos em tese, internet e política são irreconciliáveis. Todo líder político existe para ser consagrado num altar, virar ícone, o culto à personalidade parece um desaguadouro natural e inevitável da vida pública. Na China, nos EUA ou no Brasil, a política está mais para folhetim do que para manifesto. A internet veio subverter essa lógica nos mercados, na cul-
tura e na vida pessoal. Antes da internet, por exemplo, a produção e a distribuição de bens e serviços tendia à concentração. As redes digitais abrem possibilidades de quebrar esse modelo. Em vez de artistas “consagrados” pelos esquemas de grandes gravadoras e estúdios, multiplicaram-se os espaços para a produção e consumo deartistas independentesedesconhecidos do “grande público”. A própria noção de um “grande público” reduzido a massa facilmente manipulável pelomarketingdasgrandes empresas entra em declínio. No lugar do culto às estrelas, impõem-se o culto ao amador, o indivíduo quase anônimo quese faz pop efêmero, mas efetivo, usando recursos do YouTube, do Orkut, do Twitter e mesmo do singelo e-mail. Se os donos do poder e das leis deixarem, claro. No Brasil, esses midiocratas têm feito de tudo para controlar a voz do povo. Em 2010, aparentemente está tudo liberado. Mas preservaram o direito de resposta, regras para debates, querem legislar na internet como se fosse uma televisão em miniatura.Comoaredeédisper-
sa e pulverizada, esse resquício de controle moral sobre a opinião pública pode virar um monumental labirinto kafkiano. Eduardo Azeredo (PSDBMG), destaca-se como um obcecado pelo controle da opinião alheia (ele é disparado o mais anacrônico “legislador” da opinião digital). O TSE dá sua contribuição, criando mais regras sem meios para que elas sejam cumpridas em tempo hábil. Como sempre no Brasil, ninguém sabe se o controle vai “pegar”. Na dúvida, o senador se faz de vestal e o TSE finge que controla os costumes políticos nacionais. A campanha de Obama tornou-se a referência global para a nova arquitetura da informação política. Se na web 2.0 o mantra é “conteúdo criado pelo usuário”, na campanha de 2008 o mote converteu-se em “conteúdo gerado por eleitores”. Mas nem tudo é tecnologia nesse novo mundo. Um dos principais organizadores do obamismo digital, Marshall Ganz, militou por décadas em movimentos comunitários locais, depois de abandonar os estudos no último ano da faculdade. Voltou a Harvard 26
Esfera pública ganha em complexidade, mas fica mais fragmentada – e populariza flagrantes da intimidade e atos falhos anos depois, terminou o curso, fez doutorado e hoje dá aulas de política. Foi dele a coordenação dos “Camps Obama”, encontros de três dias que mobilizaram nada menos que 23 mil militantes, de baixo para cima (uma entrevista com Ganz está no site http://techpresident. com/node/6545). Uma análise detalhada da campanha obamista, feita por Colin Delany no blog epolitics, está disponível para os interessados (http://www.epolitics.com/lear-
ning-from-obama.pdf). Foram várias ferramentas: vídeo online, redes sociais, propaganda pura e simples. A vedete foi o portal com “ferramentas para ativistas” (MyBarackObama. com). Aliás,nem tudo é voluntariado e doação – Barack Obama gastou US$ 7,5 milhões para integrar as várias plataformasdo Google nacampanha afinal vitoriosa. Nem tudo é sucesso e virtude no cruzamento entre internetepolítica.Na França,ospolíticos movem uma espécie de cruzada anti-internet frente à disseminação de vídeos comprometedores mostrando Sarkozy e ministros em situações embaraçosas. A rede pode ajudar a democratizar a vida política, mas, como acontece com quase tudo na internet, é o caminho para um novo ceticismo frente aos profissionais do poder e para a dessacralização dos legítimos representantes do povo. A esfera pública ganha em complexidade, mas também fica mais fragmentada e muitas vezes torna maispopulares os flagrantes da intimidade ou os atos falhos, não produzindo necessariamente mais consciência cívica
ou mobilização popular. Outra dimensão ambígua da politização da internet é o novo papel assumido por empresas privadas com desenvolturae domínio crescente daopinião pública, como o Google. Recentemente, os ataques ao Googlepartem tanto de concorrentes (jornais reagem contra a reprodução desautorizada de conteúdo) quanto de políticos e governantes (o governo francês acaba de anunciar uma ofensiva para financiar a digitalização do patrimônio cultural nacional antes que a herança simbólica vire mais um ativo apropriado ou dependente de empresas como o Google). Na prática, construir ícones políticos depende menos de regras inócuas e cada vez mais da competência para gerenciar múltiplas mídias em que será mais ouvido o líder que estiver mais preparado para ouvir o que dizem todos os demais. Ganha a parada não quem fala mais alto, mas quem está mais preparado e disposto a conversar. ● *Professor de economia da Escola de Comunicações e Artes da USP
o estado de s. paulo
● Edição de
0h15
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
SEGUNDA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
28 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42440
Suriname reforça segurança após ataque a brasileiros Itamaraty não confirma mortes, mas sobrevivente fala em ‘carnificina’
HUGO DEN BOER/REUTERS
O Suriname informou ao Brasil que reforçou a segurança na cidade de Albina para proteger os brasileiros que vivem na região. Na noite de Natal, brasileiros que participavam de uma festa foram atacados a pauladas e a golpes de facão por surinameses – seria vingança pela mortedeumdeles porumbrasileiro. O Itamaraty não confirmou nenhuma morte – relatos iniciais falavam em sete. Um dos sobreviventes, o paraense Maurice Alves, relatou que várias mulheres foram estupradas. “Escapei da morte porque
VINGANÇA - Cenário de destruição depois do ataque de surinameses a brasileiros em Albina, no Suriname: relatos de ao menos 25 feridos
Participação no lucro tem alta de até 36%
São Silvestre
Africanos vêm com toda a força ●● Grupos de elite do Quê-
nia e da Etiópia são, de novo, os favoritos. ● PÁG. E1
Crise afeta pouco pagamento de PLR, que se refere ao exercício de 2008 gen em São Bernardo do CampoeemTaubaté(SP),porexemplo, receberam este ano R$ 8.477, o que representa um aumento de 36,4% em relação ao ano passado. Levantamento do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região indica que a
Mesmo sob os efeitos da crise global, os trabalhadores conseguiram negociar acordos de participação nos lucros ou resultados (PLR) que garantiram pagamento de valores até 36% superiores aos de 2008. Os 18,2 mil funcionários da Volkswa-
PLRinjetoucercadeR$95,3milhões na economia local. Segundo a consultoria de RH Hay Group, como a crise só prejudicou os negócios no fim de 2008, o impacto maior deverá recair sobre o PLR relativo a 2009, a ser pago em 2010. ● PÁG. B1
NÚMERO
R$ 95,3
30º
MÁX.
● PÁG. C2
22º
MÍN.
Sol aparece. À tarde e à noite, ocorrem pancadas de chuva.
Hoje: 46 páginas A. 1º caderno: 14 ● B. Economia: 6 ● C. Metrópole: 6 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 2 ● L. Link: 6 ● Classificados: 61 anúncios
7 8 9 10 11 12
WALKER EVANS
CADERNO 2 O ano que nos fez pensar a fotografia ●● Mostras e livros inspiram discussão sobre o valor da imagem. ●
Lei Seca
REUTERS
Mulheres são 1/3 dos flagrados VIOLÊNCIA - Opositores batem em policiais iranianos durante conflito com manifestantes em Teerã
Tempo: CAPITAL
●● Um roteiro, com bem maisde140caracteres,para usar a ferramenta. ●
milhões foi o dinheiro injetado em Taubaté e região, com o PLR pago aos metalúrgicos
Novo alerta em voo para Detroit alarma EUA Um alerta em avião que ia de Amsterdã para Detroit causou apreensão ontem nos EUA, dois dias depois da prisão de um nigeriano acusado de planejar explodir o mesmo voo. A tripulação desconfiou de um passageiro, mas a suspeita foi descartada. Já no caso do nigeriano Umar Abdulmutallab, o governo afirma que não há ligação dele com a Al-Qaeda. ● PÁG. A10
Você tem um Twitter. E agora?
Repressão no Irã mata 5 Entre os mortos está um sobrinho de líder opositor Pelomenoscincopessoas morreram e outras 300 foram presas na repressão de forças de segurançairanianasamanifes-
tantesemTeerã.Aoposiçãofala em mais de dez mortos. Uma das vítimas é um sobrinho do líder opositor Mir Hossein
Mousavi. Foi o mais tenso dia de protestos desde as manifestações que se seguiram às eleições de junho. ● PÁG. A7
●● Índice de embriagadas ao volante passou de 5,16% para 38,6%. ● PÁG. C1
Litoral
Ilhabela eleva taxa ambiental ●● Reajuste de 150% deve garantir receita de até R$ 3 milhões. ● PÁG. C6
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 150 DIAS q PÁG. A6
FRASE
Maurice Dias Alves Sobrevivente “Foi horrível, uma carnificina. (Os agressores) não são humanos. A brutalidade é impressionante. Era uma multidão. Todos estavam armados”
dei tudo o que tinha”, disse ele. Boapartedosbrasileirosque vivem em Albina trabalham em garimpos de ouro, atividade proibida no Suriname. São quase todos ilegais. ● PÁG. A4
Matrícula de deficientes no 3º grau aumenta 425% Nos últimos nove anos, a inclusão de pessoas com deficiência na universidade cresceu 425%. O aumento está relacionado às novas políticas de inclusão e a umamaiorconscientizaçãopromovida por movimentos sociais. Esses alunos, no entanto, representam 0,22% dos mais de 5 milhões de universitários brasileiros.ExistemnoPaís24,6milhões de portadores de necessidades especiais. ● PÁG. A12
Empresário é assassinado em padaria de Higienópolis Dácio Múcio de Souza Júnior, de 29 anos, foi esfaqueado pelo segurança Eduardo Soares Pompeu na calçada da padaria Dona Deôla, em Higienópolis, na madrugada de domingo. Na terça-feira passada, a irmã da vítima discutiu com o segurança. Ontem, ela e Souza Júnior, herdeiro do Grupo Europa, voltaram ao local. Houve bate-boca e Pompeu o feriu no abdome e fugiu. Está foragido. ● PÁG. C5
NOTAS E INFORMAÇÕES
O balanço do TST em 2009 O bom balanço do Tribunal Superior do Trabalho é consequência das medidas que têm sido adotadas desde a Reforma do Judiciário, como a uniformização dos procedimentos. ● PÁG. A3
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SEGUNDA-FEIRA, 28 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
O ESTADO DE S. PAULO Publicação da S.A. O ESTADO DE S. PAULO Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - CEP 02598-900 ● São Paulo - SP ● Caixa Postal 2439 CEP 01060-970-SP Tel. 3856-2122 (PABX) Fax Nº (011) 3856-2940
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Setor sucroalcooleiro e o STF – necessária capital estrangeiro revisão MaurilioBiagi Filho Alguns anos atrás, disse que em 2012 mais de 20% de toda a cana processada no Brasil já estaria nas mãos de grupos estrangeiros. Infelizmente, aquele prognóstico se confirmou antes do previsto. Com as últimas fusões e aquisições realizadas ao longo do ano que chega ao fim, as grandes tradings já controlam um quinto da moagem de cana no País líder mundial no setor. Se a isso acrescentarmos a transferência do controle do Grupo Moema – o último grande negócio do ano –, esse índice subirá para 25%. É um número elevado, principalmente se levarmos em conta que até dez anos atrás o setor estava totalmente em mãos de brasileiros. A internacionalização pode ser ainda maior se levarmos em conta que o maior grupo nacional (Cosan), liderado por Rubens Ometto de Mello, com 18 usinas, tem o capital aberto, sendo muito disputado por fundos de investidores que não se interessam nem pelo controle acionário nem pela gestão, mas pela rentabilidade do negócio – esse porcentual de participação é muito maior.
25% do segmento não está nas mãos do empresariado brasileiro A internacionalização parcial do setor sucroenergético brasileiro demonstra, em primeiro lugar, que a produção de cana, açúcar e etanol é um negócio suficientemente rentável para atrair o capital estrangeiro. Em segundo lugar, comprova que o empresariado nacional não teve cacife para acompanhar a grande valorização da atividade canavieira desde que o etanol se tornou uma promessa de commodity energético-ambiental. Olhando por um ângulo positivo, porém, a entrada de grandes grupos no setor pode garantir ao Brasil uma presença mais firme, efetiva e duradoura no mercado internacional de açúcar e de etanol. Efetivamente, não adianta chorar sobre o leite derramado. O capital nacional perdeu a liderança do setor, mas ninguém foi banido definitivamente da atividade. Resta intacto o capital intelectual construído ao longo dos séculos: uma habilidade agrícola sem igual e uma grande capacidade de manejo de usinas e destilarias em diversas latitudes do território brasileiro. A mais antiga lavoura brasileira, cuja implantação se confunde com a fundação do País, está agora num novo patamar. Ficaram para trás, sucessivamente, as eras dos senhores de engenho do Nordeste, dos barões do açúcar do Sudeste e
CarlosAlbertoDi Franco dos usineiros estabelecidos em latifúndios familiares no interior. Na década de 1970, graças ao Proálcool, o setor foi parcialmente renovado pelas destilarias autônomas, que abriram terras de pastagens para o cultivo da cana. Num segundo momento, nos anos 90, esses pioneiros da era do etanol passaram a produzir açúcar também. A partir do final daquela década, outro tipo de investidor se interessou pelo setor sucroalcooleiro. Tratava-se do início da era dos head fundings e dos IPOs (sigla em inglês de Oferta Pública Inicial – de ações). No início dessa década, enfim, importantes tradings de origem agromercantil, como ADM, Bunge, Cargill e Luis Dreyfus, associaram-se a empresas brasileiras produtoras de açúcar e de álcool. Esse movimento de internacionalização ganhou velocidade em 2009, tendo em vista a crise vivida pelo setor desde o início de 2008, em decorrência dos baixos preços do açúcar e do álcool, agravada pela crise financeira internacional. A internacionalização parcial do setor ocorre simultaneamente a um movimento de concentração econômica, reflexo também da violenta descapitalização ocorrida a partir do segundo semestre de 2008. Hoje os 30 maiores grupos do setor controlam 91 usinas, processam quase 50% da cana e são responsáveis por 54% da oferta de álcool da região Centro-Sul. Tanto a internacionalização quanto a concentração, em qualquer setor, são resultantes do avanço do capitalismo, caracterizado pela acumulação permanente de capital, a geração de riquezas, a concorrência, a permanente inovação tecnológica e, nas fases mais avançadas de evolução do sistema, o surgimento e a expansão de grandes empresas multinacionais. Em 1997 a fusão da Santa Elisa com a Companhia Açucareira São Geraldo, dando origem à Companhia Energética Santa Elisa, significou o início desse processo de concentração, acelerado recentemente como reflexo da crise vivida pelo setor em 2008. A tendência é que as unidades menos produtivas sejam incorporadas pelas maiores. Esse movimento de concentração é cíclico, pois nas décadas de 60 e 70 desapareceram só na região de Ribeirão Preto oito usinas, seis delas incorporadas pela Santa Elisa e as outras duas, pela Santo Antônio. O setor de biocombustíveis tem de ser consolidado. Não é viável ter mais de 400 unidades independentes vendendo para basicamente quatro ou cinco distribuidoras. Entre as vantagens da consolidação estão a economia de escala e a
possibilidade de organizar melhor a oferta. Não vejo desvantagem na consolidação e sou favorável ao capital estrangeiro. Destaco apenas o fato de as empresas multinacionais estarem participando ativamente desse processo. O Brasil lidera com grande vantagem esse segmento no mundo, tanto comercialmente quanto no que se refere à tecnologia, e deve buscar permanecer nesse comando. Ao despertar o interesse das grandes tradings agrícolas do mundo, a agroenergia e especialmente o etanol de cana ganham destaque no cenário internacional. Com certeza, porém, não soubemos defender os interesses do setor de forma a preservar tudo o que foi conquistado. Nesse sentido, cabe a nós, brasileiros, nos posicionarmos estrategicamente diante dos grandes grupos internacionais, de forma a trazermos retornos importantes para o País. Afinal, não estamos vendendo apenas ativos, mas o acesso a mercados conquistados ao longo de muitos anos, décadas e até séculos. ● Maurilio Biagi Filho, empresário, é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República
SINAIS PARTICULARES LEO MARTINS
Serra e Aécio, namoradeiras
FÓRUM DOS LEITORES Semrecursos A última piada (política) do ano: o ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi, demitido por corrupção (R$ 3 milhões recebidos por ele, a mulher e o filho a título de comissão em negócios escusos dentro do Senado), está agora pleiteando no Supremo Tribunal Federal (STF) o cancelamento de sua demissão. Vergonhosamente, ele também tenta obter a concessão do benefício da Justiça gratuita, alegando não ter recurso pecuniário para arcar com os custos do processo. Que deslavada mentira, que repugnante falta de caráter. Basta esse último pedido para qualificar o ilustre ex-diretor do Senado como um autêntico cara de pau e que o processo de readmissão seja indeferido in li-
mine litis. ANTONIO BRANDILEONE abrandileone@uol.com.br
Assis ● Zoghbi não tem recursos e anda com um advogado a tiracolo? Alguém conhece algum advogado no Brasil que trabalhe de graça, principalmente para “mensaleiros”, tendo como mestre Márcio Thomaz Bastos, que reina acima do Supremo? E por coincidência é prata do home? Eta ditadura difícil de entender... ARIOVALDO BATISTA arioba06@hotmail.com
São Paulo
Mico O Supremo Tribunal Eleitoral de Honduras declarou oficialmente
A virada do calendário é sempre um convite à reflexão. Muitos leitores, aturdidos com a reiteração dos escândalos que mancham a vida pública brasileira, pedem um balanço do desempenho ético da imprensa. Todos são capazes de intuir que a informação é a pedra de toque do processo de moralização dos nossos costumes políticos. Um balanço sereno indica um saldo muito favorável ao empenho investigativo dos meios de comunicação. O despertar da consciência da urgente necessidade de uma revisão profunda da legislação brasileira e do sistema político, responsáveis pelo clima de estelionato e banditismo nos negócios públicos, representa um serviço inestimável prestado pelo jornalismo deste país. A imprensa não tem ficado no simples registro dos delitos. De fato, vai às raízes dos problemas. A imprensa, numa democracia moderna e madura, demanda liberdade para apurar, informar, opinar e denunciar. O próprio presidente da República, em discurso pronunciado na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), afirmou que o seu compromisso com a liberdade de imprensa “é sagrado” e que tem “orgulho” de dizer que a imprensa no Brasil é livre. “Ela apura
ENDEREÇO
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e deixa de apurar o que quer. Divulga e deixa de divulgar o que quer. Opina e deixa de opinar quando quer”, declarou. A fala do presidente, frequentemente desmentida pelo comportamento autoritário de alguns de seus companheiros, é irretocável. Os que pregam o “controle social da mídia” – eufemismo para subordinar o livre fluxo da informação aos interesses de grupos organizados que dizem representar a sociedade e estimulam a ingerência do Estado no setor – não têm, de fato, o perfil dos verdadeiros democratas. Na verdade, não há imprensa sem liberdade. E também não há democracia sem imprensa livre. Por isso preocupa, e muito, decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) julgando inadequado um recurso impetrado pelo jornal O Estado de S. Paulo na esperança de restabelecer a plena liberdade de informação. O STF deliberou apenas sobre a forma do recurso, declarou imprecisão técnica e arquivou o pedido. Prendeu-se aos procedimentos formais. Perdeu, infelizmente, a oportunidade de sinalizar o compromisso da instituição com a liberdade de imprensa e de expressão, valores consagrados na nossa Constituição. O empresário Fernando Sarney, embora ostente o cargo de diretor de um jornal, jogou no lixo seu compromisso com a liberdade de imprensa. Patrono da censura por 150 dias, comunicou ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF), poucas horas antes do início de recesso do Judiciário, sua desistência da ação contra O Estado de S. Paulo. Tenho grande respeito pelo Poder Judiciário. Acredito firmemente na retidão de intenção dos ministros do STF. Temo, no entanto, que tenham aberto uma avenida para a censura prévia no Brasil, algo que, como é lógico, não estava na mente dos constituintes e muito menos no coração dos brasileiros. Como bem lembrou o jornalista Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Grupo Estado, “sinalizar ao País que a liberdade de imprensa não é plena trará precedente gravíssimo. (...) Corruptores e corrompidos, governantes que não cumprem metas, organizações que desrespeitam a lei, o meio ambiente e os consumidores: todos terão a chance de encontrar no Judiciário o escudo para esconder da fiscalização do público o que poderia vir a ser de elevado interesse para todos. E quem poderá dizer em que casos a cautela antecipada não se transformará em impunidade pré-adquirida?”, indaga Gandour. O secretismo de Estado é um perigo para a democracia. O direito à intimidade e a presunção de inocência foram invocados de modo equivocado para justifi-
FAX:
11 3856-2920
violão perto da árvore de Natal erguida em sua homenagem. Esperamos que, para a Páscoa, o violeiro das multidões oprimidas vá cantar para os coelhinhos em outras freguesias.
lucianavlins@hotmail.com
de posse perpétua do imóvel, com a complacência do governo brasileiro. Parabéns ao chanceler Celso Amorim e ao assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio “toptop” Garcia, pela competência demonstrada na formulação de nossa política externa nos últimos anos.
Campinas
FRANCISCO ZARDETTO
● Agora que ficou claro e comprovado que as embaixadas brasileiras possuem fins hoteleiros – vide o projeto piloto de Tegucigalpa – e oferecem hospedagem gratuita, aviso de antemão ao Itamaraty que me agradam muito o Palácio Pamphilj, em Roma, e o palacete Schneider, em Paris.
Porfirio Lobo presidente eleito daquele país. A posse será em 27 de janeiro de 2010. Lobo somou 1.213.695 votos, 56,56%. A forma intransigente do Brasil acerca do golpe dado por Zelaya evidencia o fracasso da diplomacia brasileira. Que mico! LUCIANA LINS
fzardetto@uol.com.br
Festana embaixada A embaixada brasileira em Honduras, que já abriga por sete meses o ex-presidente do país Manoel Zelaya e sua trupe, agora serve também de palco para que Zelaya exiba seus dotes musicais, cantando músicas acompanhadas do seu violão. Aos poucos ele vai realizando seu sonho
São Paulo
Na casa da mãe joana, ou melhor, na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, o senhor Zelaya, hóspede oficial do presidente Lula, passou o Natal comendo e bebendo a custa dos filhos pobres desse sacrificado Brasil. E de chofre o bon vivant posou para a mídia internacional tocando ●
ROBERTO STAVALE bobstal@dglnet.com.br
São Paulo
car a censura ao jornal. Não há sociedade democrática sem informação. Informação ampla, transparente, completa. O direito à intimidade não pode ser um escudo protetor, sobretudo no caso de figuras públicas. Entendo que o direito à intimidade não é intocável. Pode cessar quando a ação praticada tem transcendência pública. É o caso das reportagens do jornal sobre supostas ações da família Sarney. Acabo de reler um texto belíssimo e de grande atualidade: A Imprensa e o dever da verdade, de Rui Barbosa. Recomendo-o vivamente a todos os que se preocupam com a ética informativa e as relações entre a imprensa e o poder. “A imprensa”, dizia Rui Barbosa, “é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam (...) O poder não é um antro: é um tablado. A autoridade não é uma capa, mas um farol. A política não é uma maçonaria, e sim uma liça. Queiram,
Temo que tenha sido aberta uma avenida para a censura prévia ou não queiram, os que se consagraram à vida pública, até à sua vida particular deram paredes de vidro. Agrade, ou não agrade, as constituições que abraçaram o governo da Nação pela Nação têm por suprema esta norma: para a Nação não há segredos; na sua administração não se toleram escaninhos; no procedimento dos seus servidores não cabe mistério; e toda encoberta, sonegação ou reserva, em matéria de seus interesses, importa, nos homens públicos, traição ou deslealdade aos mais altos deveres do funcionário para com o cargo, do cidadão para com o país.” Pois bem, um abismo separa os ideais de Rui Barbosa das tentativas de cerceamento da liberdade de imprensa e de expressão. Estou certo, amigos leitores, que o Supremo Tribunal Federal, integrado por magistrados dignos, terá a grandeza de rever sua posição. A liberdade de imprensa é um bem que não pode sucumbir ao mero formalismo jurídico. A todos um feliz 2010! ● Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo (www. masteremjornalismo.org.br), professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com). E-mail: difranco@iics.org.br
E-MAIL:
forum@grupoestado.com.br
Censura,150 dias Como leitor e assinante do jornal Estado, espero que em janeiro de 2010 eu seja agraciado com uma página especial que conte em detalhes a história do “boi barrica”. Creio que, como eu, milhões de leitores por este país também estejam ansiosos para conhecer essa história... VIRGÍLIO MELHADO PASSONI mmpassoni@gmail.com
Osasco ● A carta desistência de Fernando Sarney tem jeitão de “carta marcada”. A. FERNANDES
FREDERICO D’AVILA
standyball@hotmail.com
fredericobdavila@hotmail.com
São Paulo
São Paulo
A6 NACIONAL
SEGUNDA-FEIRA, 28 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
TERRA SEM LEI
MST invade fazenda de 4 mil hectares em SP
rior, as invasões em território paulista cresceram 88,8% este ano, segundo levantamento do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos da Reforma Agrária (Nera), vinculado à Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Militantes, ligados ao líder José Rainha, dizem que área foi considerada improdutiva pelo Incra José Maria Tomazela SOROCABA
Um grupo com 60 integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiu ontem a Fazenda Santa Rosa, em Iacri, a 535 km de São Paulo, na região de Marília, oeste paulista. A propriedade, no distrito de Anápolis, tem mais de 4 mil hectares e, segundo o coordenador do movimento, Luciano de Lima, foi considerada improdutiva pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O grupo chegou de manhã,
em vários carros e um caminhão, e iniciou a montagem dos barracos. A bandeira do MST foi hasteada em um mastro improvisado. Os sem-terra ocuparam três das oito casas de colonos que, segundo o líder, estavam vazias. A propriedade pertence ao espólio do fazendeiro Eduardo Marques e tem áreas arrendadas para criação de gado e produção de cana. Policiais militares estiveram na área invadida, acompanhados por herdeiros do fazendeiro falecido. Eles tiraram fotos do local e anotaram as placas
dos veículos usados pelos semterra. Advogados do espólio devem entrar hoje com pedido de reintegração de posse. De acordo com Lima, a fazenda faz parte de um conjunto de cincoáreas naregiãojávistoriadas pelo Incra e consideradas improdutivas. Segundo ele, 150 famílias fizeram cadastros e estão em acampamentos, esperando para serem assentadas. “Queremos que o Incra acelere a desapropriação das terras.” O grupo coordenado por Lima segue as orientações de José Rainha Júnior, líder do MST
GRILAGEM
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 150 DIAS O empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, apresentou no dia 18, véspera do recesso forense, pedido de desistência da ação contra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término do recesso, o jornal
será intimado a decidir se concorda com a extinção ou prefere que a Justiça aprecie o mérito. O pedido do empresário foi feito nove dias após o Supremo Tribunal Federal ter arquivado reclamação do jornal contra a censura sem decidir sobre seu mérito. ●
daBase,consideradoumadissidência do MST nacional. Os seguidores de Rainha foram responsáveis por 54 das 68 invasões ocorridas no primeiro se-
mestre no Estado, número que colocou São Paulo na liderança das invasões de terra no País. Em comparação com o primeiro semestre do ano ante-
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CONTAS PÚBLICAS
Rio gastará cem vezes mais em publicidade
O The New York Times publicou ontem reportagem em que aborda a grilagem de terras na Amazônia e a tentativa do governo, através da regularização fundiária, de “colocar ordem nesse território sem-lei” e, consequentemente, combater o problema do desmatamento. “Pela primeira vez, o governo brasileiro está formalmente estabelecendoqueméoproprietário de dezenas de milhões de acres pela Amazônia, permitindo identificar quem é responsável pela derrubada da mata.” ●
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MARCOS ARCOVERDE/AE
CONGRESSO
Verba indenizatória paga viagens turísticas Notas fiscais apresentadas pelos deputados para justificar o uso da verba indenizatória – criada para custear gastos com o exercício do mandato nos Estados – indicam que o benefício está sendo usado para turismo. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, há notas fiscais de resorts, hotéis-fazenda e restaurante sofisticados em Estados diferentes daqueles em que os parlamentares foram eleitos. EnioBacci(PDT-RS),porexemplo, hospedou-se na pousada maiscaradeBombinhas,nolitoralcatarinense.Procurado, disse que o objetivo era estudar o sistemaprisionaldeSantaCatarina. As 70 mil notas fiscais foramentreguesporordemdoSupremo Tribunal Federal (STF).
Para 2010, prefeito Eduardo Paes prevê despesa de R$ 60 milhões
SUCESSÃO RIO
A poucos dias de encerrar seu primeiro ano à frente da Prefeitura do Rio, Eduardo Paes (PMDB) se prepara para multiplicar por quase 100 o gasto anualdo municípiocompublicidade, passando-o de pouco mais de R$ 600 mil em 2009 para R$ 60 milhões. Uma licitação para contratar três agências do setor e uma empresa de eventos por 24 meses, ao preço de R$ 120 milhões, já está em curso, devendo quebrar um padrão anterior da administração municipal – o de gastar pouco na área. “Aqui não tinha agência, o Cesar Maia não fez”, diz Paes, admitindo que seu antecessor gastou pouco com divulgação na gestão passada. Ele afirma, entretanto, não ter pressa para fechar o contrato e, apesar da presença forte que tem na mídia, nega tê-la como prioridade. “É uma publicidade institucional.Minhaideiaégastar institucionalmente, fazer campanhas, divulgar as ações da prefeitura, masnãotenhoaindafoco definido”, diz Paes. “Não estou com muita pressa, estou há um ano lançando o edital. Não é o que está me angustiando.” Na proposta orçamentária, com votação prevista para hoje, a publicidade tem pouco mais de R$ 20 milhões reservados – será necessário fazer uma suplementação,depoisdalicitação. Não será difícil, se o prefeito conseguir aprovar o índice de 30% de remanejamento de verbas sem consulta aoLegislativo. É o que propõe no projeto delei.Em2005,adespesaempenhada pela prefeitura para publicidade foi R$ 1.947.461; em 2006, 166.866; em 2007, R$ 818.029,11; em 2008, R$ 448.286,20; em 2009, R$ 649.492. Paes reconhece que apertou muito as despesas em 2009. Tambémobteve algumas receitas extras, como o aumento de arrecadação do IPVA, devido à Operação Lei Seca, do governo estadual,parareprimiramistura de bebida e direção – nas blitze,checa-setambémseostributos do veículo estão em dia. Levantamento do Fórum Popular do Orçamento mostra o tamanho do garrote. Até o fim de novembro, a prefeitura investira apenas R$ 453 milhões, cerca de R$ 200 milhões abaixo dos R$ 673 milhões investidos em 2005, primeiro ano da última gestão de Maia. Os números já estão corrigidos pelo IPCA. “O caixa veio muito aperta-
Site oficial destaca ‘grande talento’ do peemedebista Uma torrente de elogios ao prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), ocupa a página da prefeitura carioca na internet. Segundo o site oficial do município, Paes é um “grande talento de sua geração”, teve “reconhecimento por seu trabalho tão grande que se elegeu vereador aos 27 anos” e, em 2000, assumiu a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, onde “imprimiu sua marca de realizador”. Diz ainda que, seguindo uma rotina de “15 horas” diárias de trabalho, o prefeito não se queixa. O mesmo site tem um diretório de notícias, nas quais, em sua maioria, a estrela é o prefeito. Confrontado com o perfil elogioso, Paes reconhece que o texto “é meio autocentrado”. “Não fui eu que fiz não”, diz, atribuindo o trabalho à assessoria de imprensa. “Deixe-me ler o meu perfil. Nossa, está marqueteiro demais”, admite, prometendo “reavaliar”. Até o fim da semana passada, continuava no ar. ● W.T.
do”, diz Paes. “Apertei no custeio, nos cargos.” Mesmo não investindo, Paes garantiu noticiário positivo com o “choque de ordem” – operações contra ambulantes, sujeira e desordem urbana – e atividades de rua. O prefeito segue intensa agenda pública diária, com iniciativas de impacto, que vão de descer de bicicleta da residência oficial, na Gávea Pequena, ao Palácio da Cidade,emBotafogo,no DiaMundial sem Carro, a tocar em bateriae“brincar”depaciente de dentista, como no Pavão-Pavãozinho, no dia 18. Para a vereadora Andréa GouvêaVieira(PSDB),daminoriaoposicionistanaCâmara Municipal, o prefeito foi para a rua por motivo político. Ela lembra que Paes venceu um segundo turno muito apertado, derrotando Fernando Gabeira (PV) por pouco mais de 50 mil votos, e assumiu uma cidade dividida. “Quando ele tomou posse, tinha gente na rua pedindo anulação da eleição.” Paes nega. “Saio no fim de semana direto, sem vocês, sem imprensa. Sábado e domingo saio andando de bicicleta pelo subúrbio.” ●
MARCOS DE PAULA/AE
Wilson Tosta
Aécio participa de jogo beneficente no Rio
VISIBILIDADE – Paes no morro Pavão-Pavãozinho: intensa agenda pública e medidas de impacto
Oposição critica atuação de Paes Vereadora do PSDB diz que ele legitimou ‘fichas-sujas’ RIO
O estilo do prefeito Eduardo Paes (PMDB) teve repercussão positiva na Câmara Municipal carioca, que ele e seu governo procuraram prestigiar, pelo menos no primeiro semestre de 2009, reconhece a vereadora Andréa Gouvêa Vieira (PSDB), da oposição. “Ele mesmo trouxe à Casa projetos de interesse do Executivo e os secretários vieram discuti-los”, diz. A postura, entretanto, teria mudado no segundo semestre, quando, afirma Andréa, pareceu haver a decisão de entregar arelaçãoentregovernoeCâmara a quem “sabe fazer”. Paes, dizela,uniuosgruposdosvereadores Jorge Felippe (PMDB), atual presidente da Casa, e Jorge Pereira (PT do B), até então rivais, e legitimou parlamentares “fichas-sujas”. Um deles, conta, foi Cristiano Girão, do PMN. O parlamentar foi preso na semana retrasada, acusado de integrar uma milícia.
“O prefeito também distribuiuasvilasolímpicasdaprefeitura a vereadores”, acusa a parlamentar. Ela também afirma que Paes usou vereadores “laranjas” para assumir o desgaste por projetos de repercussão ruim, como o Plano de Estruturação Urbana das Vargens, que alterou regras de ocupação em Vargem Grande e Vargem Pequena, e a criação da Taxa de Iluminação Pública.
Tucana diz que ‘laranjas’ assumem desgaste pelos projetos polêmicos Andréadiz,porém,queapráticapolíticadoprefeito,quechama de “muito ruim”, se combina com iniciativas “interessantes” de gestão, como o estabelecimento de metas por secretaria. “O PPA (Plano Plurianual) que ele lançou tem muitas coi-
sasboas,muito boas,bonsindicadores para acompanhar e ver resultados”, admite. Paes foi do PSDB, antes de se mudar para o PMDB. O líder do governo na Câmara,AdilsonPires (PT), defende Paes, dizendo que a postura dele em relação ao Legislativo tem sido elogiada pelos vereadores. “O prefeito recebe a todos, com mais informalidade, é muito brincalhão”,diz.Segundo Pires, isso garantiu a aprovação de mais de 40 projetos de interesse do Executivo, alguns polêmicos, como a alienação de terrenos para o metrô e o uso de organizações sociais na gestão municipal. Ele atribui a relação de Paes com parlamentares polêmicos, como Girão, e sua atitude sobre vilas olímpicas, nomeando indicados, à compreensão do prefeito de que os vereadores são representantes do povo, com peso local. ● W.T.
O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), participou ontem da partida preliminar do tradicional Jogo das Estrelas, organizado pelo ex-jogador Zico, no Maracanã. O tucano não quis falar de política. Apenas reiterou que não tem planos de ser candidato a vice na chapa de José Serra. “Não é o melhor caminho. Me dedicar à eleição de Minas é a melhor maneira de ajudar o nosso candidato”, declarou Aécio, ao deixar o campo depois de jogar 20 minutos do primeiro tempo. O governador, que joga de meia-direita, voltou no segundo tempo e saiu quando seu time perdia por 5 a 3. Aécio jogou ao lado de sambistas e atores. O placar final foi 6 a 6, sem gols do governador. JUSTIÇA
STJ lança no mês que vem ‘processômetro’ O Superior Tribunal de Justiça lançará em seu site até o fim de janeiro a visualização eletrônica de todos os processos que estão na corte. O “processômetro”, desenvolvido por técnicos da casa, permitirá não só acompanhar o tempo de tramitação decadacasocomotambémverificar o trabalho de digitalização dos documentos, que, segundo o STJ, se encontra em fase final. A expectativa é de que até março a corte passe a ser o primeiro tribunal superior totalmente“virtualizado”.Adigitalização está sendo feita por mais de 200 deficientes auditivos – um convênio permitiu a eles obter o primeiro emprego.
DORA KRAMER A coluna volta a ser publicada no dia 5 de janeiro.
o estado de s. paulo
Edição de 0h15
SP, RJ, MG, PR e SC: R$ 2,50. Demais Estados: ver tabela na página A2.
TERÇA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927)
DIRETOR:
RUY MESQUITA
29 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42441
Lula deve aprovar lei do clima com vetos
CHUVAS EM SP: TRANSTORNOS NO INTERIOR E NA CAPITAL
O presidente Lula deve sancionar hoje a Lei de Mudanças Climáticas, que fixará a meta de redução de emissão de CO2 entre 36,1% e 38,9% até 2020. O texto, que recebeu críticas moderadas de ambientalistas, cita “medidas fiscais e tributárias” para estimular ações, como alíquotas menores e isenções. Lulavetou três pontos, entre eles a determinação de abandonar “paulatinamente” os combustíveis fósseis. Segundo o governo, a proposta é estimular fontes limpas, e não deixar de usar as não renováveis. ● PÁG. A11 CARLOS BASSAN/AAN
FRASE
Sérgio Leitão
Diretor do Greenpeace ●●● Cerca
de 3.500 pessoas e 800 casas foram afetadas na cidade de Capivari, na região de
Campinas, após o transbordamento do Rio Capivari com as fortes chuvas de domingo; na
capital paulista, o Jardim Romano teve ontem os piores alagamentos desde os
temporais do dia 8 de dezembro e os técnicos da Prefeitura afirmam que não há soluções
“É uma lei de cumprimento voluntário. É mais uma bobagem para o velho festival de besteira que assola o País”
emergenciais para o bairro da zona leste até o fim do período chuvoso. ● PÁGS. C1 e C3
35 são presos no Suriname por ataque a brasileiros
Al-Qaeda assume atentado frustrado O braço iemenita da Al-Qaeda reivindicou ontem a autoria do atentado fracassado do dia 25 em um voo entre Amsterdã e Detroit, operado pela Delta, quando o nigeriano Umar Farouk tentou explodir o avião. Em comunicado, o grupo disse que o ataque foi uma represália às ações dos EUA contra a rede terrorista no Iêmen. Para a organização, Farouk “destruiu o grande mito da inteligência americana”. ● PÁG. A8
Apesar da tensão, governo surinamês afirma que situação está sob controle A polícia do Suriname prendeu 35 pessoas acusadas de participar do ataque a brasileiros ocorrido na véspera de Natal, na cidade de Albina, a 150 quilômetros da capital Paramaribo. Os presos são acusadosde incêndiocriminoso,rouboeestuprodemulheresbrasi-
leiras. Ao menos 16 pessoas – entre elas quatro brasileiros – teriamficado gravementeferidas no ataque. No dia 24, em represália pela morte de um morador de Albina supostamente por um brasileiro, cerca de 300 surinameses atacaram mais de cem brasileiros. A polí-
Cidades de SP discutem quiosques nas praias
cia e as Forças Armadas surinamesas retiraram 130 pessoas que se esconderam na selva. Entre elas estão cerca de 80 brasileiros e 20 chineses, levados para Paramaribo. O governosurinamêsdisseaoItamaraty que a situação está “plenamente sob controle”. ● PÁG. A4
‘Todos estão apavorados’ ●●● De Tabiki, Rita Cardoso, do Amapá, disse ao Estado que desde sábado os brasileiros do povoado não dormem e só andam
em grupos, temendo um ataque. “Em Albina, eles estupraram mais de 20. Aqui está todo mundo apavorado”, afirmou. ● PÁG. A4
Irã amplia cerco a líderes dissidentes e Obama critica
PAQUISTÃO: TERROR NA PROCISSÃO
Noiníciodatemporadadeverão, cidades litorâneas paulistas discutem regras para osquiosquesnaspraias.Santos revogou restrição de horário de funcionamento dos quiosques. No Guarujá, em São Vicente e em Itanhaém, comerciantesdiscutemlocalização e padrão arquitetônico com as prefeituras. Em Ubatuba, a Justiça proibiu a colocação de mesas e cadeiras nas praias. ● PÁG. C10
Um dia depois de manifestantes entrarem em novo choque com a polícia, o governo iraniano ampliou o cerco a opositores. Forças de segurança fizeram várias buscas em entidades reformistas e prenderam ao menos dez líderes da oposição. O presidente dos EUA, Barack Obama, manifestou apoio aos opositores. “A situação é terrível”, disse o irmão de um dissidente preso à repórter Adriana Carranca. ● PÁG. A7
NOTAS E INFORMAÇÕES
O hábito do governo de mudar regras do jogo econômico na virada do ano tem efeito negativo nas empresas. ● PÁG. A3
●●●
Economia
Rombo nas contas públicas sobe 278%
REHAN KHAN/EFE
Segurança e crescimento
Com a alta, governo descarta meta de zerar o déficit nominal em 2010. ● PÁG. B1
●●
●●● Ônibus incendiado por xiitas em resposta a ataque terrorista que matou 30 pessoas durante procissão na cidade de Karachi. ● PÁG. A10
Tempo: CAPITAL
29ºMÁX.
● PÁG. C2
VIAGEM AVENTURA
21º MÍN.
&
Hoje: 50 páginas A. 1º caderno: 12 ● B. Economia: 10 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 8 ● E. Esportes: 2 ● V. Viagem: 8 Classificados: 191 anúncios
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 151 DIAS q PÁG. A6 7 8 9 10 11 12
ADRIANA MOREIRA/AE
Sol, calor e pancadas de chuva.
ARTIGO
Paul Krugman THE NEW YORK TIMES
Década que acabou é o ‘Grande Zero’ Na primeira década do novo milênio nada de bom aconteceu na economia dos EUA. Os pensamentos otimistas nos quais depositamos crenças não se revelaram verdadeiros. ● PÁG. B6
●●●
●●● Todas as atrações de Búzios, no litoral fluminense, ainda mais
badalado depois que virou cenário da novela de Manoel Carlos. ●
CADERNO 2 Lilian Pace aponta quem se destacou na moda em 2009. Entre eles, Jesus Luz, que virou top. ● PÁG D8
CLAYTON DE SOUZA/AE
Ferido em assalto
Dramaturgo recebe alta após 23 dias Mário Bortolotto levou três tiros em bar na Praça Roosevelt. ● PÁG. C4
●●
Inspeção veicular
Prefeitura não vai mais restituir taxa ●● Em 2010, toda a frota terá
de passar pela inspeção; valor será reajustado. ● PÁG. C7
A6 NACIONAL
TERÇA-FEIRA, 29 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
+ 9
QUESTÃO INDÍGENA
Quadro de pessoal da Funai terá reforço de 131% até 2012 Decreto de Lula prevê contratação de 510 funcionários em 2010 e 2.645 nos 2 anos seguintes SERGIO DUTTI/AE
Leonencio Nossa BRASÍLIA
A Fundação Nacional do Índio (Funai) ampliará seus poderes nos grotões amazônicos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem decreto que reforçaa estruturadaentidade, com aumento de 20% no número de funcionários já em 2010. Hoje,oórgãotem2.400servidores.Nopróximoano,serãoabertas 425 vagas por concurso de nívelsuperiore85cargoscomissionados de nível médio. Mas o crescimento maior virá até 2012,com entrada demais2.645 concursados. No total, serão contratados 3.155 servidores, o que representa um aumento de 131,4% sobre o quadro atual. Onúmero de postos em áreas com indícios de tribos isoladas passará de seis para 12, informouopresidentedaFunai,MárcioMeira.Atualmente,cemservidores trabalham na proteção a comunidades sem contato comasociedade.Aáreadeisolados, considerada ‘filé mignon’ da Funai por atrair o interesse da comunidade internacional, terá 75 novos indigenistas.
Começa temporada de férias de ministros O ministro da Fazenda, Guido Mantega, entrou em férias ontem, dando início à temporada de recesso dos titulares do primeiro escalão do governo federal. De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda, Mantega só deve retornar ao trabalho no dia 16 de janeiro. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, tambémvaitirarperíododedescanso entre os dias 4 e 12 de janeiro. Também no dia 4, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, entrará em férias, com volta programada para o dia 20 de janeiro. De 16 a 24 de janeiro, será a vez do descanso do ministro da Educação, Fernando Haddad. A autorização para os ministros utilizarem o período de férias foi publicada no Diário Oficial da União de ontem. PIAUÍ
Prefeito cassado fecha prefeitura e leva chaves Prefeita interina de Alagoinha, apresidente daCâmaraMunicipal, Maria de Lourdes Silva (PSB), está despachando numa mesa instalada na calçada da prefeitura. É que o prefeito Clodoaldo de Moura Rocha (PT), cassado por suposto abuso de poder econômico e compra de votos, fechou a prefeitura e fugiu com as chaves do prédio. Clodoaldo disse que não passou ocargoparaa presidentedaCâmara porque não foi notificado da decisão nem houve publicação do acórdão. Alegou ainda queseusadvogadosestãorecorrendodacassaçãodeleedoviceprefeito Francisco João de Carvalho. Pela decisão da Justiça, Lourdesdeveassumirimediatamente o comando da cidade até nova eleição, a ser realizada dentro de 90 dias.
Número de postos em áreas com indícios de tribos isoladas vai dobrar Um dos postos será instalado na região do rio Madeira, onde especialistas encontraram vestígios de isolados numa área próxima ao canteiro de obras dasusinashidrelétricasde Santo Antônio e Jirau. Outro posto será criado no Maranhão, onde vivem guajás isolados. Desde 1987, a Funai deixou de fazer contatos com isolados. Escritóriosnoslugaresmaisremotos da Amazônia servem como pontosdevigilância contraação de madeireiros, caçadores e garimpeiros. “A Funai precisa ter maior presença nessas regiões, pois há muita pressão de madeireiros”, disse Márcio Meira. A ampliação do número de servidorestambémocorrediante do aumento da demanda com acriaçãodenovasreservasindígenas, como a Raposa Serra do Sol, em Roraima. Fazendeiros e políticos do Estado reclamam dopoderdaFunai em Boa Vista. Meira, que ontem despachou com o presidente Lula, avisou que parte dos novos contratados irá trabalhar em Roraima, para atender Raposa Serra do Sol. “Cerca de 90% (dos novos servidores) irão para o trabalho
GOVERNO
MÍDIA
Marco da internet deve ir a debate em março DÍVIDA – No início de 2007, Lula admitiu, em evento com líder indígena no Planalto, que não havia feito nada pelos índios no primeiro mandato
FUNAI EM NÚMEROS
2.400
funcionários é o quadro atual da Funai
3.070
vagas de nível superior serão abertas por concurso até 2012
85
cargos comissionados de nível médio serão criados em 2010
5.555
servidores é o total de funcionários que a Funai terá até 2012
R$ 150
milhões é quanto a Funai gastou em 2009, fora despesas com pessoal
na ponta, na Amazônia, e não para a burocracia de Brasília”, afirmou o presidente da Funai. Um indigenista com nível superior,eminíciodecarreira, ganhará cerca de R$ 4 mil, fora gratificações. Os 85 cargos comissionadoscriadospelogoverno serão preenchidos por barqueiros, mecânicos de motores e mateiros. Neste ano, o governo teve uma despesa de R$ 150 milhões com a Funai em investimentos e custeio, fora pessoal. O governo não divulgou o impacto das novas contratações no orçamento. Desde os anos 1970, o órgão vemperdendo forçae prestígio. Em 1992, no governo Collor, a Funai perdeu a responsabilidade de cuidar da saúde e da educação das comunidades indígenas para a Funasa, órgão do Ministério da Saúde.
Indigenistas esperam que, nos próximos meses, o governo anunciea criação de uma secretaria especial, também ligada à pasta da Saúde para tratar dos índios. As queixas das principaisliderançasindígenasemrelaçãoao trabalho da Funasa são históricas. No começo de 2007, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, num evento com o líder txucarramãe Raoni no Planalto, que não havia feito nada pelosíndiosnoprimeiromandato. “Tudo o que não ocorreu de 2003a2006a gentefará acontecer até 2010”, prometeu. Sem realizar concursos há duas décadas, a Funai não conta mais com sertanistas na ativa. Os poucos que comandam frentes de proteção a índios isolados já estão há anos aposentados e recebem salários de comissionados.
Sucateada, a entidade virou símbolo de inoperância e mal uso do dinheiro público. No início do governo Lula, o então diretor da Funai, Mércio Gomes, causou polêmica por emitir em seu nome 118 bilhetes aéreos para o Rio de Janeiro, onde morava, 16 bilhetes para a Europa e 12 para a região Norte, onde vive a maioria dos índios brasileiros.Elefoidemitidoem 2006. As terras indígenas representam hoje 13% do território brasileiro. A criação de novas reservas nos últimos anos foi acompanhada pelo aumento da população nas tribos isoladas ou que mantém contato com cidades. No finaldosanos1970,estimavase que viviam no Brasil apenas 70 mil índios. Hoje, esse número passa de 700 mil, segundo a Funai. ●
Até março próximo deve chegar ao Congresso projeto de lei donovomarcoregulatóriodainternet. Produzido pelo Ministério da Justiça, ele deverá tratar de direitos fundamentais e responsabilidade dos usuários da rede, bem como dos deveres do Estado. “A ideia é criar uma primeira camada de interpretações para assuntos legais relacionados à internet, lançando pedras fundamentais para depoistrataroutrasquestões”,explica o coordenador do projeto, Paulo Rená da Silva Santarém. SegundoaAgênciaBrasil,oprojetoseráfocadoemquestões comoanonimato,privacidadeedivulgação de dados dos usuários. O texto vai na contramão de alguns projetos que tramitam no Congresso que buscam mais controle e restrição na rede.
DORA KRAMER A coluna volta a ser publicada no dia 5 de janeiro.
Artigo
Imprensa: o que o STF dá com uma mão tira com a outra? Rodrigo Xavier Leonardo*
H
á pouco tempo atrás acompanhamos a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que decretou a inconstitucionalidade da Lei de Imprensa, em vigor no Brasil desde os idos de 1967. Dentre tantos argumentos para a medida extrema, sustentou-se que a liberdade de comunicação, amplamente garantida pela Constituição Brasileira de 1988, não conviveria com uma legislação ordinária de conteúdo restritivo, sobretudo quando tal lei foi concebida à luz de circunstâncias políticas, para dizer o mínimo, adversas e bem diferentes das atuais. Após mais de duas décadas de interpretação da velha Lei de1967 à luzdaConstituiçãoFederal de 1988 – sob o custo do
esforço cotidiano de advogados,juízesepromotores –,parecia que a modernização da velha Lei de Imprensa já tinha ocorrido: os aspectos inconstitucionais foram topicamente afastados pela orientação dos tribunais dos diversos Estados da Federação, recebendo uma unificação de entendimento pelostribunaissuperiores,inclusive pelo STF. Neste contexto, a decisão de inconstitucionalidade da integralidade da Lei de 1967, nalguma medida, significou uma desconsideração de todo este trabalho de adaptação, realizado por mais de vinte anos por toda a comunidade jurídica. Talvez mais. Relevantes assuntos, como o direito de resposta ou o reconhecimento de situações a priori em que o exercício do jornalismoépresumivelmentelícito,tantonoaspecto materialcomo no aspecto processual, caíram por terra de um dia para o outro, exigindo de todos a construção de novas soluções para os inevitáveis conflitos entre a
liberdade de expressão e os direitos de personalidade. O acerto ou desacerto dessa históricadecisão só seráaquilatada com o tempo. No presente, pode-se dizer que a retirada da Lei de 1967 do ordenamento jurídico nos legou o difícil desafio de aplicação direta da Constituição Federal ao caso concreto, muitas vezes sem qualquer mediação pela legislação infraconstitucional. Diante disso, além do esclarecimento de como dever-se-ia concretizar a liberdade de comunicação tal como lançado nas mais de trezentas páginas da decisão de inconstitucionalidade da Lei de 1967, esperavase do STF que funcionasse como o guardião das violações exemplares a essa liberdade tão cara aos regimes democráticos. A recentíssima decisão da suprema corte brasileira de negar conhecimento à reclamação contra a violação desse histórico precedente no comentado caso de censura ao jornal O
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 151 DIAS ●●● O empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, apresentou no dia 18, véspera do recesso forense, pedido de desistência da ação contra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término do recesso, o jornal
será intimado a decidir se concorda com a extinção ou prefere que a Justiça aprecie o mérito. O pedido do empresário foi feito nove dias após o Supremo Tribunal Federal ter arquivado reclamação do jornal contra a censura sem decidir sobre seu mérito. ●
EstadodeSãoPaulo, noentanto, faz parecer que a homenagem à liberdade de informação jornalística, conferida pelo STF pela mão de um julgado, foi logo em seguida retirada com outro. O STF entendeu que a reclamação não seria o mecanismo processualadequado paraafastaras situações de censura. Julgou pela forma em detrimento dasubstância,emafrontaà promessa feita na decisão de inconstitucionalidade da Lei de 1967que prometia nãohaver“liberdadedeimprensapelametade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive a procedente
do Poder Judiciário (...)”. De que adianta a Constituição ser a guardiã única da liberdade de imprensa, em tese incompatível com o trabalho legislativo infraconstitucional, se o acesso à corte constitucional brasileira deve pressupor o exaurimento de um sistema recursal cujo tempo para decisão é longo demais? Exigir da imprensa o esgotamento das vias recursaisanterioresaoSTF,comomeiopara afastarumasituação de censura, não seria omesmo que pedir para um doente terminalesperar anos e anos de um processo burocrático para receber um medicamento cuja
prescrição deve ser imediata? O tempo da notícia é o tempo do agora. Pouco adianta garantir à imprensa o direito de comunicar à população um escândalo público vários anos após se exaustar todos os recursos infraconstitucionais cabíveis para, num grand finale, conseguir abrir as portas do Supremo. Se o tempo da notícia é o tempo imediato, o tempo do julgamento e da decisão do STF contra os casos exemplares de censura também deveria ser imediato. Ocasodacensuraàsreportagens envolvendo a família Sarney lamentavelmente indicia a fragilidade da proteção à liberdade de informação jornalística no Brasil. Hoje e agora. Até quando?
* Rodrigo Xavier Leonardo, advogado sócio da Losso, Tomasetti & Leonardo, é professor de Direito Civil da UFPR, doutor em Direito Civil pela USP, vice-coordenador do programa de pósgraduação em Direito da UFPR
● Edição de
0h15
o estado de s. paulo QUARTA-FEIRA
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JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
30 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42442
Projeto muda Lei de Anistia e Jobim ameaça se demitir
Índice que reajusta o aluguel cai pela 1ª vez
Lula recua após mobilização de militares, queconsideram texto ‘revanchista’
Pela primeira vez desde que começou a ser calculado em 1989, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) registrou neste ano deflação. O indicador, usadoparareajustaraluguéisecontratos de prestação de serviço, acumulou de janeiro a dezembro queda de 1,72%. ● PÁG. B1
O Programa Nacional de Direitos Humanos, que prevê a criação de uma comissão especial para revogar a Lei de Anistia de 1979, provocou uma crise militar. O ministro da Defesa, NelsonJobim,procurouopresidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 22, para entregar sua carta de demissão, informam as re-
pórteres Christiane Samarco e Eugênia Lopes. Os três comandantes das Forças Armadas decidiram que também deixariam os cargos. Para os militares, o programa, lançado no dia 21 e proposto pelo ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, tem trechos “revanchistas e provo-
cativos”.Elesreclamamdo“ambiente de constantes provocações” criado pela secretaria. Ao final de três dias de tensão, Lula eJobimfizeram umacordo político: não se reescreve o texto do programa, mas as propostas de leiaseremenviadasaoCongresso não afrontarão as Forças Armadas. ● PÁG. A4
‘Discussões são comuns’ ●●● O ministro Paulo Vannuchi não nega as divergências com o colega Nelson Jobim, mas insiste que cada uma delas é discutida no interior do governo. “As dis-
cussões são comuns”, disse. “É uma questão de escolha de termos, que pode ser resolvida no processo de redação (do programa).” ● PÁG. A4
●●●
CELSO MING
As imobiliárias não gostam dessaderrubadaetendemaescamoteararealidade,mantendoosvalores deste ano. ● PÁG. B2
Mogi-Bertioga reabre amanhã com esquema improvisado A Rodovia Mogi-Bertioga será parcialmente liberada amanhã para tráfego de veículos leves, ônibus e vans. Interditada desde o dia 8 por causa do deslizamento de barreira no km 89, a estrada será aberta apenas para tráfego no sentido litoral. A partir da tarde de sexta-feira, e até a manhã de segunda-feira, as pistas estarão liberadas para o retorno dos veículos a São Paulo. A data da liberação total da rodovia será definida na próxima semana. ● PÁG. C4
JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO/AE
Praia da Baleia, paraíso mantido por ‘xerifes’
OPERAÇÃO RÉVEILLON – Operários no km 89 da Mogi-Bertioga, afetado por desmoronamentos: governo vai definir data da liberação completa da estrada só depois do feriado
Embaixador confirma estupro de brasileiras
PERSONAGEM
FABIO MOTTA/AE
Ataque no Suriname foi marcado por violência sexual, relata diplomata O embaixador no Suriname, José Luiz Machado e Costa, afirmou que mulheres foram estupradas na cidade de Albina durante ataque a garimpeiros brasileiros: “Houve comprovadamente estupros e foi em número preocupante.” Não existe ainda balanço das vítimas. “Ele me perguntou
Obama faz duras críticas à segurança nos voos O presidente Barack Obama qualificou como “sistêmicas” e “totalmente inaceitáveis” as falhas de controle que quase permitiram ao extremistanigerianoUmarFarouk Adbulmutallab detonarumabomba em vooAmsterdã-Detroit. Autoridades dos EUA admitiram que os explosivosusadospeloterrorista poderiam abrir um buraco na fuselagem do avião. Novas medidas de segurança serão adotadas. ● PÁG. A8 7 8 9 10 11 12
NOTAS E INFORMAÇÕES
Justiça limita acesso de turistas à Jureia
Mais distante o déficit zero Em 2010, as despesas com a folha voltarão a crescer e o orçamento será inflado por bondades eleitorais. ● PÁG. A3
●●●
Tempo: CAPITAL
28º MÁX.
● PÁG. C2
20ºMÍN.
Previsão de temporal à tarde e à noite.
Hoje: 66 páginas A. 1º caderno: 12 ● B. Economia: 12 ● C. Metrópole: 8 ● D. Caderno2: 12 ● E. Esportes: 2 ● G. Agrícola: 12 ● H. Retrospectiva: 8 Classificados: 92 anúncios
Mega da Virada vai pagar mais de R$120 milhões Apostadorestêmatéas14horas de amanhã para jogar na Mega da Virada, que pagará mais de R$ 120 milhões. Se ninguémacertarasseisdezenas, a bolada vai para quem fizer a quina. Aplicado na poupança, o prêmio garantirá renda superior a R$ 600 mil mensais. O sorteio ocorre às 20h, na Luz. ● PÁG. C6
por dinheiro. Depois tentou tirar minha roupa”, conta Lúcia Oliveira, que diz ter sido salva do estupro pelo vigia de um mercado. As marcas do ataque ainda são visíveis em Albina, informa o enviado especial Felipe Recondo. A FAB envia hoje aopaís um aviãopara resgatar feridos. ● PÁG. A5
SURPRESO – Ghiggia: ‘Nunca pensei que receberia homenagem’
Os pés do carrasco, para sempre no Maracanã
A
utor do gol da vitória sobre o Brasil por 2 a 1, de virada, na Copa de 1950, o uruguaio Ghiggia deixou ontem a marca de seus pés na Calça-
da da Fama do Maracanã. A cerimônia, apesar de rápida, emocionou o ex-craque de 83 anos, que relembrou o gol: “Foi o maior momento da minha vida.” ● PÁG. E1
●●● Na Praia da Baleia, litoral norte de São Paulo, 40 pessoas contratadas pelos veranistas vigiam, limpam e garantem a preservação da área. “Se dependêssemos só do poder público, não manteríamos esse paraíso”, diz Eduardo Nunes, o “xerifão” da Baleia. ● PÁG. C8
O governo paulista vai baixarportarialimitandooacesso de turistas à Estação Ecológica da Jureia. A medida é uma resposta a decisão judicial, válida desde domingo, que proíbe a visitação em parte da estação. Moradores da região fecharam ontem uma estrada em protesto contra a restrição. ● PÁG. A11 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 152 DIAS q PÁG. A7
A DÉCADA
pelos internautas
●● Cadernoespecialapresenta os ícones dos últimos dez anos escolhidos em eleição online. ●
Caso S.
Pai de garoto vai cobrar US$ 500 mil ●● David Goldman quer que família brasileira pague custos de processo. ● PÁG. C7
CADERNO 2
No balanço das artes
●● 2009,anodeexperimentação na MPB e fortes turbulências na música erudita. ●
agrícola
Época das frutas ●● Venda é 40% maior no fim do ano. Excesso de chuva atrapalhou a safra. ●
NACIONAL NACIONAL A7 A7
QUARTA-FEIRA, 30 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
+ 9
JUDICIÁRIO
TJ-SP garante segurança pessoal para ex-integrantes do conselho Provimento foi um dos últimos atos do desembargador Bellocchi na presidência do tribunal Fausto Macedo
Provimento 1721/2009, um dos atos derradeiros da gestão do desembargador Roberto Antônio Vallim Bellocchi na presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo, assegura proteção permanente de dois seguranças militares a ex-integrantesdoConselhoSuperiordaMagistratura. Estão entre os beneficiados desembargadores ativoseinativos.Amedidaéextensiva a seus familiares “durante as 24 horas do dia, até o término do biênio subsequente ao do mandato exercido”. A todos é facultadaa“disposição deagentedesegurançae viatura fixos”. O provimento, de 10 de novembro, “dispõe sobre a manutençãodesegurançasaos membros do conselho, depois de findos os seus mandatos”. Entrou em vigor na data da publicação no Diário Oficial, antevéspera do Natal, 23 de dezembro. São duas as justificativas para a escolta especial aos magistrados. Uma delas considera que “os integrantes do conselho, ao término de seus mandatos, ainda dispõem de informações que, se conhecidas por terceiros, poderão influenciar na
EVELSON DE FREITAS/AE-21/7/2009
atuação dos sucessores”. A outra destaca para “a necessidade de preservação da integridadefísica dosmembros doconselho que deixam o exercício de seus mandatos”. A vigilância, diz o parágrafo único, “poderá ser reduzida ou dispensada a critério de cada umdosex-integrantesdoconselho”.Oprovimento invoca “analogia com outros Poderes”. O conselho é atualmente constituído pelo presidente do TJ, pelo corregedor-geral e pelo vicepresidente. A partir de janeiro
Medida é extensiva aos familiares, ‘durante as 24 horas do dia’ serão integrados os presidentes das três seções do tribunal – Direito Público, Privado e Criminal. No dia 4 toma posse o novo presidente da corte, desembargador Antonio Carlos Viana Santos, que substitui Bellocchi. Oconselhotemfunçõesadministrativas. Decide sobre quadros de pessoal, gestão e planejamento. A assessoria da presi-
ATO FINAL – Bellochi será substituído por Antonio Carlos Viana Santos
‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 152 DIAS ●●● O empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, apresentou no dia 18, véspera do recesso forense, pedido de desistência da ação contra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término do recesso, o jornal
QUESTÃO INDÍGENA
AGÊNCIA ESTADO
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, suspendeu os efeitos do decreto presidencial, do último dia 21, que homologou a demarcação da terra indígena denominada Arroio-Korá, no município de Paranhos, em Mato Grosso do Sul. Mendes concedeu liminar após mandado de segurança impetrado pelos proprietários da Fazenda Iporã, até que a decisão final de mérito seja julgada. A terra indígena, de povos guarani,tem 7.175hectares,dos quais 184 ocupados pela fazenda.Adecisão alcançaapenasesta área. O presidente do STF considerou que faltou no procedimento legal de homologação o direito à ampla defesa. Segundo Mendes, “são plausíveis os argumentos quanto à violação ao devido processo legal, à ampla defesa e ao contraditório”. RAPOSA
O ministro considerou também a argumentação da defesa de que documentos atestam que o registro do imóvel é de 1924, data muito anterior, portanto, a 5 de outubro de 1988, marco fixadopeloSTFnocasoRaposaSer-
ra do Sol para o reconhecimento, aos índios, dos direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Outracircunstânciaconsideradapor Mendesfoianotíciadeque a publicação do decreto homologatório gerou a movimentação de líderes indígenas para, nos próximos dias, “perpetrarem atos de ocupação”das terrasdemarcadas. “Motivos suficientes para o acolhimento da liminar”, concluiu. RESERVAS
A área em questão é uma das nove reservas indígenas, que somam mais de 5 milhões de hectares, cuja demarcação foi homologada por decretos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, publicados na edição do dia 22, do Diário Oficial da União. Quatro delas estão no Amazonas, duas no Pará, uma em Roraima e as outras duas abrangendo esses mesmos três Estados. A homologação garante legalmente a posse permanente das terras para os grupos indígenas que nelas vivem. ● RICARDO VALOTA
TRE revoga a cassação de prefeito de Alagoinha Nove dias depois de ter o mandato cassado, o prefeito de Alagoinha,Clodoaldode MouraRocha (PT), retornou ao cargo, por força de uma liminar concedida pelo presidente do TRE, desembargador Raimundo Eufrásio Alves. O prefeito foi acusado de compra de votos e abusode podereconômicoe, depois disso, sumiu do município trancando a prefeitura e levando as chaves. O desembargador diz que a sentença de primeiro grau contraria resolução do Conselho Nacional de Justiça e normas do Tribunal Eleitoral. SÃO PAULO
Decisão judicial barra nepotismo em Bertioga AJustiçaacatouumpedidoproposto por ação popular e determinou que a Prefeitura de Bertioga suspenda a nomeação da secretária de Educação, Zélia Maria Orlandini Passos, irmã do Prefeito Mauro Orlandini (DEM). A decisão foi tomada na semana passada pelo juiz da 1ª Vara de Bertioga, Christopher Alexander Roisin e está amparada na Lei do Nepotismo. Professoradematemática,Zéliaseria empossada no dia 21, em substituiçãoaoprofessorAmer José Feres. A prefeitura vai recorrer da decisão.
DORA KRAMER A coluna volta a ser publicada no dia 5 de janeiro.
Cancún
Supremo suspende demarcação de terra Mendes deu liminar após mandado de segurança de fazendeiros do MS
será intimado a decidir se concorda com a extinção ou prefere que a Justiça aprecie o mérito. O pedido do empresário foi feito nove dias após o Supremo Tribunal Federal ter arquivado reclamação do jornal contra a censura sem decidir sobre seu mérito. ●
dência do TJ informou que quem se beneficia da medida são “os que estão deixando seus cargos no final deste ano e não permanecerão no conselho”. Segundo a assessoria, “carros à disposição os desembargadores já dispõem”. O custo da guarda “é de competência da Polícia Militar e do Executivo”. O desembargador Nélson Calandra, 30 anos na magistraturapaulista,nãovêprivilégios. “É coisa hipotética, a maioria não usa, nãogosta. O provimento é norma meramente programática e abstrataporquedepende desolicitação ea maioria não solicita. Ninguém gosta de andar escoltado, é sempre um transtorno.Temosqueadmitirquemuitagenteéameaçada, especialmente magistrados da sessão criminal. Mas tem que ter efetivo policial. E não tem. Muitas vezes somos ameaçados em razão do cargo.Eu mesmojáfuiameaçado, denúncias anônimas. Quadrilhas criminosas aprontam. Um dia assaltaram minha mulher na porta de casa, levaram meu carro zero e minhas roupas.” ●
PIAUÍ
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QUINTA-FEIRA
JULIO MESQUITA (1891-1927) DIRETOR:
RUY MESQUITA
31 de dezembro de 2009 --ANO 130. Nº 42443
Problemas nas estradas a caminho do réveillon Problemas antigos, como congestionamentos, buracos e má sinalização, esperam os motoristasnas viasque levamaolitoralpaulista–1,1 milhãodeveículos devem chegar à região no feriado. No Sistema AnchietaImigrantes, basta um acidente para o tráfego atingir o máximo dacapacidade dasvias.A Rodovia dos Tamoios não recebe reforma há mais de dez anos. Na Oswaldo Cruz, o tráfego de caminhões abriu buracos. ● PÁG. C1
ALEX SILVA/AE
Metrô e CPTM estendem horário
FUGA – Rodovia dos Imigrantes, às 18h40 de ontem: Sistema Anchieta-Imigrantes receberá, até domingo, cerca de 635 mil veículos na descida para o litoral sul de São Paulo
Bovespa sobe 120,9% e lidera ranking global
Congresso faz críticas a revisão da anistia
ley. Comparada com índices das bolsas de países como EUA e Japão, a diferença é imensa. Nospregõesamericanos,avalorização era de 25,4% e nos japoneses, de 6,7%. Contribuiu de forma decisiva para a performance da Bovespa a valorização do real ante o dólar. Ontem,
último pregão do ano no mercado brasileiro, o dólar fechou em R$ 1,743, com queda acumulada no ano de 25,35%. Foia maior desvalorização nominal da históriadodólarno mercadobrasileiro, de acordo com a empresa deinformaçõesfinanceirasEconomática. ● PÁG. B1
ANÁLISE
Celso Ming
O espaço da Bolsa Ações têm potencial para valorização. O risco é despesa pública disparar. ● PÁG. B2 ●●●
PAULO LIEBERT/AE
Já o dólar registra em 2009 desvalorização recorde de 25,35% A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acumulou os maiores ganhos entre as principais bolsas do mundo em 2009. Até terça-feira, o índice MSCI Brasil avançava 120,9%, ante 118,8% do MSCI Indonésia, segundo colocado com base em dados do banco Morgan Stan-
●●● Para transportar cerca de 2 milhões de pessoas esperadas no réveillon na Avenida Paulista, o metrô (exceto a estação TrianonMasp) e a CPTM funcionarão até a madrugada de amanhã. ● PÁG. C10
São Silvestre
Nove campeões se reencontram hoje O brasileiro Franck Caldeira está entre os favoritos. ● PÁGS. E1 e E3
Parlamentares governistas e da oposição criticaram a revogação da Lei de Anistia, prevista no Programa Nacional de Direitos Humanos, que provocou uma crise no governo, com ameaças de demissão do ministro Nelson Jobim (Defesa) e de comandantesmilitares.“Aanistiaé paraos doisladose nãotem que ser revista”, disse Eduardo Azeredo(PSDB), presidente da comissão do Senado que trata da Defesa Nacional. ● PÁG. A5
●●
SONHO PAULO LIEBERT/AE
Loteria: quem vai ser um milionário?
CADERNO 2 Um olhar para os palcos em 2009
●● Noanodoteatroligeiro, a dança perde Pina BauscheMerceCunningham. ●
N
a fila da Mega-Sena da Virada, a resposta sobre o que fazer com a bolada que pode chegar aos R$ 140 milhões é uníssona: “ajudar a família, os amigos e instituições de caridade”, relata a repórter Flávia Tavares. Cansada de ver os outros ganharem, a vendedora de bilhetes da loteria federal Edivânia resolveu arriscar. Com o namorado, apostou mais de R$ 500 na Mega. ● PÁG. C5
verissimo ●● Não merefiz da primei-
ra vez que o vi: o GPS fala e é poliglota. ● PÁG. D8
As bolhas da virada ●● Conheça os princi-
PLANOS – Se ganhar, Edivânia quer estudar, comprar uma casa, virar cantora e ajudar os dez irmãos
Apesar de decisão judicial que proíbe desde domingo o acesso de turistas à Estação da Jureia, litoral sul, mais de 1.600 pessoas foram ontem à Cachoeira do Paraíso, uma das atrações da reserva. Elas afirmaram ignorar a proibição. O governo paulistadizterbaixadoportariaparalimitar visitas.Otextoprevê que monitores acompanhem grupos de, no máximo, 30 turistas. ● PÁG. A14 7 8 9 10 11 12
Avião da FAB resgata mais 33 brasileiros no Suriname
ED FERREIRA/AE
Cachoeira da Jureia fica lotada com turismo ilegal
FILA – Brasileiros embarcam: sonho de voltar e lucrar com garimpo
Um avião da Força Aérea Brasileira resgatou ontem mais 33 brasileiros de Paramaribo, capital do Suriname, relata o enviado especial Felipe Recondo. No dia 24 eles estavam em Albina quando um grupo de quilombolas atacou brasileiros que trabalham no garimpo. A maioria avisou que pretende voltar ao Suriname. Outros cinco foram resgatados na segunda-feira . ● PÁG. A6
pais tipos de espumante do mundo e escolha o seu. ●
Professores terão piso nacional de R$ 1.024 OMinistériodaEducaçãoanunciou que o piso nacional de professores da rede pública subirá de R$ 950 para R$ 1.024,67 em 2010. O reajuste de 7,86% põe emxequeacapacidadedemunicípios cumprirem a lei do piso, de 2008. Este ano, graças a uma regra de transição, as prefeituraspodiam pagaraté75% do salário fixado. Para o ministro Fernando Haddad, o custo será coberto pelo aumento de repasses da União. ● PÁG. A12 ‘ESTADO’ SOB CENSURA HÁ 153 DIAS q PÁG. A7
NOTAS E INFORMAÇÕES
Brincando com fogo Por pouco, o governo não termina o ano imerso em crise militar ao permitir a edição do decreto que instituiu o Programa Nacional de Direitos Humanos. ● PÁG. A3
●●●
Crise no DF
Arruda gasta em show R$ 700 mil ●● Governo paga R$ 300 milsóparaZezédiCamargo e Luciano. ● PÁG. A7
Tempo: CAPITAL
26º MÁX.
● PÁG. C2
20º MÍN.
Chuva a qualquer hora do dia no Estado.
EUGÊNIO BUCCI
Entre a novela e a realidade ●● Sem as imagens da fic-
ção, saberíamos dizer quem somos? ● PÁG. A2
Hoje: 54 páginas A. 1º caderno: 14 ● B. Economia: 10 ● C. Metrópole: 10 ● D. Caderno2: 8 ● E. Esportes: 2 ● P. Paladar: 6 ● Cl. Classificados: 4 (304 anúncios)
QUINTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
NACIONAL NACIONAL A7 A7
OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA
IMPRENSA
Arruda gasta R$ 700 mil em show após mensalão
‘Estado’ está sob censura há 153 dias
Serão R$ 620 mil para músicos, como Zezé di Camargo e Luciano, e R$ 80 mil para fogos Leandro Colon BRASÍLIA
Mergulhado numa crise política sem precedentes no Distrito Federal, o governador José Roberto Arruda (sem partido) abriu os cofres para contratar artistas de peso, como a dupla sertanejaZezédiCamargoeLuciano, para o show da virada de ano, visando diminuir o desgaste sofrido com a revelação do “mensalão do DEM”. Além do gasto de R$ 620 mil com músicos, o governo terá despesa de R$ 80 mil com fogos.
JUDICIÁRIO
Denúncias contra juízes crescem mais de 100% Fausto Macedo
Aumentou em mais de 100% o número de reclamações contra juízes em todo o País, revela balanço anual do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em 2009, foram protocoladas 1.584 queixas e denúncias de âmbito disciplinar contra magistrados – 726 ocorrências em 2008. A grande maioria dos relatos aponta para uma velha ferida do Judiciário, a lentidão que marca as ações judiciais. Segundo o relatório, este ano o CNJ instaurou 125 sindicânciasparaapurar supostos desvios, desmandos e falhas na atuação de juízes – em 2008, 12 sindicâncias foram abertas. Em 2009 foram instalados16processosadministrativosdisciplinares(PADs),quevisamanalisara conduta ética do magistrado no exercício da função – em 2008, foram 5 PADs. Nunca, desde a criação do CNJ, em 2004, foi tão elevado o índice de casos comunicados ao órgão, que tem a missão constitucional de fiscalizar o Judiciário. Muitas reclamações se revelam improcedentes.Outrassão acolhidas. De acordo com o balanço, em 2009 o CNJ afastou oito magistrados. O conselho recebeu, ainda, entre janeiro e dezembro, volume global de 8.679 procedimentos,incluindosugestões – 4.547 registros no ano passado, o que corresponde a aumento de 90%. O balanço anual do CNJ foi divulgado pelo ministro Gilmar Mendes, que acumula a presidência do conselho edoSupremoTribunalFederal. O relatório contém dados estatísticos sobre o total de reclamações, quantidade desindicânciasabertas,resoluções e recomendações aprovadas e um resumo das ações de cada programa do conselho. “Inúmeras queixas (contra juízes) são relativas à morosidade”, assinala Mendes. “Esta é uma reclamação geral.”Eletambémreputaoaumento de denúncias “à maior visibilidade do CNJ e a eficiência que lhe é atribuída”. Destaca que não existem muitos requisitos de admissibilidade, o que facilita acesso direto ao conselho por quem se sente atingido pelos problemas da toga. O plenário do CNJ aprovou 37 resoluções referentes aprocedimentosadministrativos a serem seguidos pelos tribunais federais e estaduais. Na última sessão plenáriadoano,passouaresolução 102, que busca dar transparência aos gastos dos tribunais, criando uma espécie de Siafi do Judiciário – cada corteteráquedivulgarperiodicamente todos os gastos com investimentos, serviços e folha de pessoal. ●
DORA KRAMER A coluna volta a ser publicada no dia 5 de janeiro.
Zezé di Camargo e Luciano vão receber R$ 300 mil pela apresentação na Esplanada dos Ministérios antes da meianoite. Mais R$ 260 mil serão pagos à banda Aviões do Forró, alémdeR$20milparaasambista brasiliense Dhi Ribeiro e R$ 40 mil à dupla sertaneja Pedro Paulo e Matheus. A bateria da escola de samba Beija-Flor, do Rio de Janeiro, vai animar o públiconamadrugada.Aescolarecebeu R$ 3 milhões do governo Arruda para homenagear os 50 anos de Brasília no carnaval carioca de 2010.
Alvo da Operação Caixa de Pandora,ArrudaéapontadopelaPolíciaFederalepeloMinistério Público como ‘cabeça’ do esquema de corrupção no DF. O governador desistiu de passar o réveillon no Rio, como fez no ano passado, e fica em Brasília. Seu vice, Paulo Octávio (DEM), preferiu sair de Brasília e foi passar o Ano Novo em São Paulo. O vice também é suspeito de envolvimento no esquema do “mensalão do DEM”. SegundoDurval Barbosa,exsecretário de Relações Institucionais e delator das fraudes ao
CELSO JUNIOR/AE -30/11/2009
Ministério Público, o governador e o vice participavam da arrecadação de propina. DEPUTADO DA MEIA
ARRUDA - Música contra desgaste
O deputado distrital Leonardo Prudente confirmou que vai reassumir a presidência da Câmara Legislativa em 11 de janeiro, na volta do recesso. Prudente havia se afastado do cargo após a revelação do vídeo em que coloca nas meias dinheiro recebido das mãos de Durval Barbosa. Pressionado, ele pediu desfiliação do DEM. ●
O empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney,apresentounodia18,véspera do recesso forense, pedido de desistência da ação contra o Estado, mas a censura ao jornal permanece em vigor. A partir de 7 de janeiro, término do recesso, o jornal será intimado a decidir se concorda com a extinção ou prefere que a Justiça aprecie o mérito. O pedido do empresário foi feito nove dias apóso Supremo Tribunal Federal ter arquivado reclamação do jornal contra a censura sem decidir sobre seu mérito. ●
O Estado Novo de São Paulo agosto/dezembro 2009 Org. Fernando Piola vol. I Publicação realizada sob os auspícios do Programa de Residência Artística do Memorial da Resistência de São Paulo Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo Impresso em papel Offset 90 g/m2 pela Prol Editora Gráfica Encadernado pelo Atelier Luiz Fernando Machado com capa revestida de couro São Paulo: Edição do autor, 1a edição, cópia de artista 2013