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Embaixadores Alumni @FEUP: Liliana Duarte
Texto: Helena Peixoto Fotografia: direitos reservados
Tripeira de gema, Liliana Duarte iniciou o seu percurso académico nas Ciências, mas rapidamente percebeu que era a Engenharia o seu caminho. Mestre em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela FEUP e Doutorada em Ciências pela Eidgenössische Technische Hochschule (ETH) em Zurique, a Embaixadora Alumni FEUP vive na Suíça há já quase 15 anos.
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Porquê Engenharia e porquê a FEUP? A área das Ciências e das Engenharias sempre me fascinou. Ainda estava no secundário e já sonhava com a Engenharia, naquela altura mais até com Engenharia Civil. Contudo, como a Matemática e a Física sempre foram as minhas paixões, acabei por me candidatar à Faculdade de Ciências da U.Porto. Estive dois anos no curso de Matemática e Física aplicada – especialização em Astronomia – que me trouxe excelentes bases das duas disciplinas e amigos para a vida, mas percebi que não era esse o caminho.
Sempre quis ter um papel mais ativo no mundo, e ser Engenheiro dá-nos esse “super-poder”: usar o conhecimento ao serviço de um mundo mais sustentável. Acredito que um Engenheiro faz parte das maiores mudanças do nosso mundo, nas mais diferentes áreas. A área de materiais fascinou-me logo de início e assim que entrei fiquei apaixonada pelo curso. Os grandes avanços da nossa era têm sempre acontecido porque temos conseguido quebrar barreiras com o fabrico de novos materiais, materiais resistentes ou então com propriedades específicas ou Materiais ditos inteligentes que trouxeram a possibilidade termos um mundo cada vez mais desenvolvido e tecnológico.
Quanto à escolha da Faculdade/Universidade, nem ponderei outra opção! Tenho o privilégio de ser do Porto e sempre foi um sonho concluir um curso na FEUP. Mais tarde concretizei um outro – o de concluir o doutoramento na ETH em Zurique, mas nunca esqueço as minhas origens. Estar numa das melhores universidades do mundo só aumentou o meu orgulho por ser alumna da Faculdade de Engenharia, instituição com excelentes profissionais.
Como foi a sua mudança para a Suíça? A minha vinda para a Suíça teve um início engraçado… Foi o Professor da FEUP Luís Filipe Malheiros que soube de uma oportunidade de Doutoramento aqui na Suíça e desde logo que achou que o tema (“Diagramas de fases de ligas metálicas”) era a minha cara. Sabendo também que eu tinha familiares na Suíça, apresentou-me a oportunidade. E qual não é o meu espanto quando percebi que o local era exatamente a cidade que eu visitava desde os meus cinco anos nas férias da escola!
A decisão de mudar de País não foi fácil, mas desde então já passaram 14 anos. Depois do Doutoramento, obtive uma bolsa Fellowship e depois surgiu a oportunidade de ir para a ABB, Coorporate Research, onde fui responsável pela investigação e desenvolvimento de novos métodos de soldadura de chips em componentes eletrónicos. Atualmente trabalho no centro de investigação ‘Instituto Paul Scherrer’ (PSI), onde sou responsável pela investigação do hidrogénio e do seu impacto nas propriedades dos materiais metálicos, estou a orientar duas teses de doutoramento no PSI e leciono o curso de “Advanced Joining Technologies” na ETH de Zurique a alunos do Mestrado de Materiais.
Foi fácil a adaptação a essa realidade? A adaptação à Suíça foi relativamente fácil tendo em conta que tinha cá família e já conhecia muito bem o país – em especial Zurique. Desde muito nova que visitava os meus padrinhos nas férias escolares, o que promoveu o meu contacto à cultura e tradições da
Suíça. Em Zurique a língua oficial é o alemão, pelo que esta foi sem dúvida a parte mais difícil. Contudo, tanto no trabalho como no dia a dia o Inglês é usado com muita frequência, o que ameniza a adaptação ao País.
Os costumes/tradições suíços não são muito diferentes dos nossos, mas claro que com as suas particularidades! Uma das tradições que tive oportunidade de aprender com os meus filhos foi a da procissão das velas com nabos decorados. Chama-se Räbeliechtli e faz lembrar o Halloween mas é celebrada perto da data de S. Martinho. Os meninos fazem desenhos nos nabos, usam-nos como lanternas e seguem para um ritual de procissão onde se cantam canções. No final come-se uma sopa de abóbora – aqui não se come sopa de nabos como em Gondomar :)!
Como faz a gestão familiar com quem ‘deixou’ em Portugal? Eu nasci e estudei no Porto, mas cresci numa aldeia muito pequena chamada Sarnada (Paredes), que fica na fronteira com o concelho de Gondomar, perto de Melres, do rio Douro e das suas praias fluviais. A Senhora do Salto e do rio Sousa são sítios que me transmitem calma e me fazem sentir em casa, pelo que as saudades da minha aldeia e da minha cidade Porto são sempre muitas.
A minha família ainda mora na Sarnada, pelo que nas férias do verão aproveitamos o tempo em família e amigos. Não é possível ir com a regularidades que gostaríamos a Portugal – com filhos ficamos mais restringidos ao calendário escolar, mas fazemos os possíveis para marcar presença nos eventos mais importantes da família, principalmente no Natal.
Como surgiu a ideia de se candidatar a embaixadora Alumni? Em 2014 foi organizado o primeiro encontro Alumni FEUP, em Basel, por Gonçalo Castro (embaixador alumni FEUP na altura) e nos anos seguintes a U.Porto organizou encontros em Genebra. Nenhum deles se realizou em Zurique e foi essa a grande razão que me fez abraçar este projeto. O primeiro encontro Alumni FEUP em Zurique aconteceu logo em 2017 e a adesão foi fantástica! Este ano, o nosso encontro contou com cerca de 20 participantes, entre os quais o Cônsul Geral de Zurique – Paulo Maia Silva – que se tem mostrado muito empenhado em aproximar a comunidade do Consulado.
Quando abracei este projeto queria contribuir para a criação de uma rede de contactos de portugueses que trabalhem cá na Suíça, não só para criar laços mas também para partilhar experiências. Em Zurique, e em especial no inverno, tudo fica muito cinzento e deprimente, pelo que é importante dinamizar este tipo de encontros em que de uma forma descontraída falamos de temas que nos possam ser úteis para as mais diferentes questões.
Quero ver este grupo crescer e pretendo realizar um workshop com apresentações de empresas portuguesas e suíças, numa ótica de dinamização das relações entre os países. Este ano será o meu terceiro ‘mandato’.
Qual a importância de existirem embaixadas Alumni FEUP espalhadas pelo mundo? O projeto dos embaixadores tem sido uma forma de manter a relação entre os ex-alunos e a faculdade. Tem sido uma maneira excelente de manter viva a “alma matter” dos antigos estudantes, que para mim é única quando comparada com outras faculdades!
Além disso, estas embaixadas são muito vantajosas para a Faculdade e para os alunos que ainda estudam. Já fui contactada por alguns alunos que estavam a preparar entrevistas de emprego na Suíça e queriam saber questões como a qualidade de vida e modo de trabalho.
Não podia terminar sem deixar um agradecimento a toda a equipa do Gabinete Alumni FEUP, que trabalha de forma excecional para nos ajudar a organizar os eventos, não só ao nível da divulgação, mas também com os presentes que nos enviam. AS NOSSAS PESSOAS