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M arce lo ro se n bauM e o d e sig n qu e t r an s c en d e o obje to Nº 31 >> 2012
Marcelo rosenbauM e o design que transcende o objeto transforMa o Mundo redesenha relações recria forMas conecta pessoas coMpartilha ideias valoriza saberes renova tradições inova forMatos e surpreende. e Mais: várzea queiMada parque santo antônio honey & bunny geovani da silva Melo zee nunes adélia borges janete costa little sun MoçaMbique
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olafur eliasson azuza MurakaMi rochelle costi fabio bartelt frederico duarte lucas Moura adriana benguela sarah colson andré vieira populardelujo heloisa crocco Mariana Molinos eduardo rezende renato iMbroisi food design alexander groves robert estevão conflict kitchen cecilia Macedo carol trentini lua nova gui MohalleM
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SUMÁRIO 28 ORGULHO DE SERMOS NÓS MESMOS Esqueça o asséptico do design minimalista. Isso é coisa para holandês. Estamos em Bogotá e somos chamativos por natureza!
172 PODE ENTRAR Adélia Borges sempre achou que o design deve ser para todos. Não por acaso escancarou as portas de um museu especializado quando foi sua diretora
38 SÃO PAULO: SINFONIA DE UMA CIDADE Os designers Azusa Murakami e Alexander Groves fotografaram a cidade de São Paulo. E nos mostram como a capital paulistana é um lindo caos poético
174 LUZ E VIDA Conheça o Little Sun, a nova criação do artista Olafur Eliasson. Uma mistura de obra de arte com design ecologicamente sustentável
46 E O POVO SE ACABOU DE COMER Uma galeria de arte, um pessoal fino, muita comida, mas nenhum talher ou copo. Assim foi a performance coletiva da artista britânica Sarah Colson em São Paulo 50 WELCOME: O REGISTRO DE UMA ESTRANHEZA O fotógrafo mineiro Gui Mohallem registra com mistério e poesia o Beltrane, uma festividade que acontece em Tennessee, Sudeste Central dos Estados Unidos 60 MARCELO ROSENBAUM... ... e o design que transcende o objeto, transforma o mundo, redesenha relações, recria formas, conecta pessoas, compartilha ideias, valoriza saberes, renova tradições, inova formatos e surpreende 76 O INTERMEDIADOR Renato Imbroisi e seu talento para desenvolver projetos sociais nas mais diferentes regiões do Brasil e do mundo 78 ARTES E OFÍCIOS Uma grande oficina tenta valorizar as técnicas de artesanato de uma região do país africano. O resultado é um desfile de cor e qualidade 88 CONSTRUÇÃO O Verão 2013 em um país ainda em formação. Os modelos pelo fotógrafo Fabio Bartelt e as modelos por Zee Nunes. Edição de moda assinada por Paulo Martinez 168 “INTERFERIR SEM FERIR” A jornalista Adélia Borges escreve sobre a importância de Janete Costa, a visionária que defendia o artesanato brasileiro 170 NOSSO NORTE É AQUI As pesquisas diversas de Heloisa Crocco, uma designer que mudou sua visão de mundo ao adentrar a Floresta Amazônica
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176 UMA IDEIA (COLETIVA) PARA JOVENS MÃES A história da ONG Lua Nova e como a união de arquitetos e estudantes de Arquitetura ajudou a levantar a nova sede da instituição 178 VIDA BANDIDA Geovani da Silva Melo era o traficante Cabelo. Mas decidiu mudar de vida quando conheceu Rosenbaum e sua turma 182 PROVOCAR PARA TRANSFORMAR As mudanças profundas do Parque Santo Antônio, mais uma ação bem sucedida do projeto A Gente Transforma 184 ATIVISMO PARA VIAGEM A genial forma de fazer crítica política do Conflict Kitchen, um restaurante que serve apenas pratos de países com os quais os Estados Unidos estão em conflito 186 FORMAS DA FOME A dupla Honey & Bunny nos revela uma nova visão dos alimentos. Comida não é só comida. É também cultura e design 194 É COISA NOSSA Marcelo Rosenbaum e Rochelle Costi se unem para produzir um ensaio visual com os objetos mais brasileiros do mundo. Caixa de isopor, saleiro, pente redondo, galinha porta ovos... 204 Onde encontrar 207 English Content 218 Última Página CAPA: Carol Trentini / FOTO Fabio Bartelt EDIÇÃO DE MODA Paulo Martinez DIREÇÃO DE ARTE Fabiana Zanin / MAKE UP Henrique Martins TRATAMENTO DE IMAGEM CR2_D2 ESTÚDIO Burti
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Mariana ChaMa
C O L A B O R AD O R E S adélia BorGes Jornalista, foi diretora de redação da revista Design + Interiores. autora de mais de 10 livros. Sonho de design: Que o acesso a ele seja disseminado por todas as classes sociais. Como ela melhora o mundo: Levando mais qualidade, prazer e alegria para nossas vidas.
adriana BenGuela arquiteta pela UnESP, sócia de Marcelo rosenbaum, responsável pela direção executiva dos projetos e novos negócios. Sonho de design: Um jardim. Como ela melhora o mundo: Olhando para as pessoas mais do que para as coisas.
azusa MurakaMi e alexander Groves Sócios do Studio Swine, em Londres. nessa edição, eles mostram suas fotografias e interpretações de São Paulo. Sonho de design: Uma solução internacional para produtos plásticos descartáveis. Como eles melhoram o mundo: Sintetizando as várias formas de arte para as atuais necessidades.
João Wainer Fotógrafo paulistano, publica regularmente para a ffwMag!, Trip e Rolling Stone. Sonho de design: O que transcende objetos e páginas. Como ele melhora o mundo: na mesma proporção em que o mundo o melhora. a natureza ainda desenha melhor do que qualquer designer.
Jurandy valença alagoano radicado em São Paulo, artista plástico, curador, jornalista e diretor de projetos do instituto hilda hilst. Sonho de design: Uma casa projetada pelo Warchavchik com mobiliário do Tenreiro e do Sergio rodrigues. Como ele melhora o mundo: Sendo cada vez mais acessível e funcional.
Marcos Guinoza Jornalista freelancer, colabora frequentemente para a ffwMag! Entre os texto para edição, entrevistou Geovani da Silva Melo. Sonho de design: não tenho sonhos relacionados a isso. Como ele melhora o mundo: Criando coisas bonitas, duráveis e úteis.
Mariana Molinos Vive em Porto alegre, foi assistente de Jacques Dequeker, hoje comanda o Studio Molinos+Lima. Sonho de design: Os banquinhos de gnomo, attila, napoléon, Saint Esprit, do Starck! Como ela melhora o mundo: Sendo aliada na busca por um planeta sustentável.
rochelle costi artista visual, nasceu em Caxias do Sul e vive em São Paulo desde 1988. Já expôs na Bienal de São Paulo, de havana e do Mercosul. Para a edição, produziu o portfólio de objetos brasileiros. Sonho de design: Uma valise que neutralize o peso. Como ela melhora o mundo: inserindo no cotidiano elementos sofisticadamente simples, práticos e acessíveis a todos.
silas Martí Escreve sobre artes visuais, arquitetura e design na Folha de S. Paulo, The Art Newspaper e Frieze. Sonho de design: a fusão perfeita entre forma e função, sem esquecer a audácia. Como ele melhora o mundo: Só quando é uma questão de bom senso, não um item de butique.
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Publisher Paulo Borges Conselho Editorial Graça Cabral e Paulo Borges Diretora de Criação Graziela Peres Redator-chefe Bruno Moreschi Editor de Moda Paulo Martinez Diretora de Arte Renata Meinlschmiedt Designer Fábio Di Chiara Produção Executiva Mauro Braga Produção de Moda Gabriel Sorribas Assistente de Produção de Moda Gabriela Tannus Produção Gráfica Jairo da Rocha e Daniel da Rocha Revisão Luciana Braga Tradução Leticia Lima Publicidade Tânia Leone tleone@luminosidade.com.br Projetos Especiais Luciana Eschiapati luciana@luminosidade.com.br Colaboradores Adélia Borges, Alexander Groves, Azusa Murakami, Jurandy Valença, Marcos Guinoza, Silas Martí, Fabio Bartelt, Robert Estevão, Zee Nunes, Cecilia Macedo, Fernanda Brianti, Jon Rubin, João Wainer, Marques Casara, Mariana Molinos, André Vieria, Lucas Moura, Rochelle Costi, Lena Trindade, Raquel Barros, Gui Mohallem, Esteban Ucrós, Martin Hablesreiter, Sonja Stummerer A ffwMAG! (ISSN 1809-8304) é uma publicação da Editora Lumi 05 Marketing e Propaganda Ltda. Todos os direitos reservados. Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia do conteúdo editorial. Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da revista. Operação em bancas Assessoria Edicase www.edicase.com.br Distribuição exclusiva em bancas FC Comercial e Distribuidora S.A. Pré-impressão Retrato Falado Impressão Ipsis A Lumi 05 não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados nesta revista nem garante que promessas divulgadas como publicidade serão cumpridas. Lumi 05 Marketing e Propaganda Ltda. Av. 9 de Julho, 4927/4939, Torre Jardim (Torre A) 9º andar, Pinheiros, São Paulo, SP – CEP: 01407-200 – Tel. 55 11 3077-4877 ffwmag@luminosidade.com.br
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ro sen baum eo r ed e s enho do br a s il
Nós da ffwMag! adoramos design. Em números anteriores, publicamos reportagens e ensaios visuais de grandes nomes como Jeroen Verhoeven; uma seleção de talentosos designers na edição Holanda; uma revista inteira dedicada à questão artesanal x tecnológico; e um material sobre Design for the other 90%, o impressionante projeto que viabiliza soluções para aqueles que mais precisam de ajuda no mundo. Mas tudo isso era somente um aquecimento para esta ffwMag! que você lê agora. Finalmente, temos a oportunidade e o espaço necessários para defendermos aquilo que sempre repetimos quando esse é o assunto. Para nós, o design não é apenas a cadeira, o abajur, o objeto em si. Design é, acima de tudo, um “redesenho”, uma nova maneira de reconstruir o mundo – e, assim, claro, torná-lo mais bonito, acessível e, especialmente, mais justo. Ninguém no Brasil seria melhor para transformar essa nossa defesa em uma revista inteira do que Marcelo Rosenbaum. Talentoso como poucos, o designer, que começou no mundo da moda, é hoje um grande agregador. Usando sua fama vinda da televisão a favor de seus projetos sociais, Rosenbaum vem fazendo história com iniciativas como o A Gente Transforma, um projeto que conecta o Brasil às suas técnicas mais antigas e, assim, cria um novo caminho para nosso design. Esse homem polivalente não hesitou em aceitar nossa proposta em ser uma espécie de editor convidado dessa edição. Rosenbaum não só sugeriu grande parte dos temas, ele também nos inspirou muito com sua energia contagiante. Quando nossa equipe o encontrou pela primeira vez, ele de cara lançou o norte da revista: “No Brasil, somos privilegiados. A solução de nossos problemas está aqui mesmo. Já temos uma cultura incrível, multifacetada, repleta de técnicas únicas. Só precisamos catalisar esse potencial.” Olhar para nós mesmos. Assim como fizeram os modernistas na Semana de 1922, como fazem os africanos de Moçambique em uma de nossas matérias; como pregou com tamanha persistência uma de nossas homenageadas, a designer Janete Costa, defensora do artesanato brasileiro como elemento principal de nossa decoração; e como fez Geovani Melo, o ex-traficante Cabelo, ao olhar com novos olhos para sua própria vida. Entretanto, para nós, olhar para dentro não necessariamente é nos ater ao próprio umbigo. É tratar o Brasil muito além do que apenas um país. Podemos ser (e caminhamos para isso) um novo modelo para o mundo. E foi pensando para além de nossas proporções continentais que refletimos sobre nós mesmo olhando também para fora. Alguns exemplos disso: o pesquisador português Frederico Duarte nos responde com propriedade questões fundamentais sobre nosso design; os ingleses Azusa Murakami e Alexander Groves analisam a cidade de São Paulo de uma maneira que nativo nenhum seria capaz; o colorido tropical do pessoal do Populardelujo nos lembra como é divertido ser latino-americano; e o pensamento pioneiro do Food Design transforma nossa relação com a comida (temos certeza que, após conhecer esse projeto, você nunca mais vai ver um pãozinho da mesma maneira). Mas, antes de você começar a desfrutar esta edição, queremos retomar a ideia de Rosenbaum que também é a nossa: a de que design é mudança de vida. Pense com carinho nos dados da Associação Brasileira de Designers de Interiores. O mercado brasileiro de decoração movimenta 60 bilhões de reais por ano. O de artesanato, 57. Estamos falando de mais de 100 bilhões de reais anuais (sim, você leu certo!). Esse número fica ainda mais grandioso se pensarmos que, por trás de tantos zeros, há milhares de brasileiros. Paulo Borges Publisher ffwmag! nº 30 2012
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ORG U L H O DE S E R M O S N ÓS M E S M O S / S OMO S M A R AV I LH O S O S S E M P R E CI SA R C OPIA R NING U É M . S O M O S P OP UL A R E S . E , PO R Q U E N Ã O, LUXU O S O S ? FOTOS pOpulardelujO
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Para entender o que de fato significa o projeto Populardelujo temos que esquecer por alguns momentos seu portfólio extremamente colorido e chamativo. Precisamos nos concentrar no discurso de seus integrantes. Nas primeiras páginas do site, o objetivo fica claro: “Populardelujo é um projeto sem ânimo de lucro e em função do patrimônio coletivo, dedicado a dar conta, proteger e estimular o capital cultural, popular e urbano de Bogotá.” Em março de 2012, os integrantes do projeto foram convidados para apresentar suas pesquisas no What Design Can Do, um respeitado congresso em Amsterdã. Ao lado de Juan Esteban Duque e Roxana Martínez, Esteban Ucros é um dos fundadores do Populardelujo. Sua história pessoal, relatada a uma plateia atenta, nos ajuda a entender melhor por que tamanho fascínio pela mistura que ilustra essa e as demais páginas. Ucros estudou design na faculdade e teve como principais referências o design clean europeu e norte-americano. Mas o ensinamento teórico não servia muito para entender o contexto em que Ucros vivia. Nas salas de aula, o minimalismo do design. Nas ruas 32
de Bogotá, a confusão multicolorida e maravilhosa. Foi olhando para esse contexto tão comum a nós que nasceu o Populardelujo. O trio fundador, junto com dezenas de outros colaboradores, criou uma espécie de banco de dados do que há de mais incrível no design popular de Bogotá e, consequentemente, Colômbia e América do Sul. Tudo isso evitando um discurso que costuma ridicularizar nossas televisões de cachorro. Eles explicam: “Nós gostamos de ser daqui. As peças gráficas que fazem parte do Populardelujo são peças pelas quais sentimos profundo carinho e admiração.” É um material de nos matar de orgulho. Não precisamos copiar a discrição dos outros povos. Esqueçamos a cadeira blá-blá-blá brilhosa e sem arestas. Nós temos cantores populares com cabelos divididos ao meio, desenhos de garrafas de Coca-Cola que Andy Warhol nenhum seria capaz de realizar, e um tigre feroz disposto a colorir uma Colômbia inteira. populardelujo.com populardelujo.wordpress.com
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Em cada construção, vemos tapumes cor-de-rosa, indicando a baixa qualidade da madeira. Talvez a tinta que permeia o compensado impeça sua reutilização para outros fins ou indique que seja madeira de uma fonte sustentável. Seja qual for a razão, as obras perdem um pouco de sua bravata machista com a cor vibrante. Durante uma fase em que São Paulo passa por uma grande expansão, a cidade tornou-se um mar rosa graças ao esforço para alcançar uma vida melhor. (Rua Purpurina / Rua Harmonia)
s ã o Paulo: s i n f on i a d e u ma cida de a me G al ÓP o l e c inZ a e Ba Ru l H e n Ta V i sTa Pelo s o l H o s d e d ois d e s i G ne R s e sT R a n Ge i Ro s por AzusA MurAkAMi e AlexAnder Groves
A cidade de São Paulo está inunda por chuva e ideias. Estamos curiosos e entusiasmados, aterrissando no topo da cidade que inspirou e se tornou tema de muitos enredos de samba. Intoxicados pelo calor intenso, vagamos pelas ruas durante horas, explorando a cidade a pé, descobrindo aos poucos seus muitos encantos ocultos. Ficamos cada vez mais decepcionados com o guia, que leva o visitante a conhecer a cidade pelos rumos do comércio. Embarcamos, então, no projeto de escrever nosso próprio guia através de cartões postais, relatando nossas descobertas diárias. O projeto rapidamente se tornou um relato íntimo de nossas experiências. Durante três meses, observamos e arquivamos São Paulo e sua abundância de talentos, soluções e particularidades. Trata-se de um motor industrial que desempenha um papel crucial na economia global. E, ao mesmo tempo, é um local engenhoso e bonito. A indústria, a modernidade e o artesanato cortam essa imensa metrópole de charme caótico, e continua a nos inspirar e fascinar. studioswine.com 38
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Em São Paulo, não raras vezes, uma raiz de árvore vira banco após o rebaixamento da calçada. (Rua Bresser) Poucos móveis chamam tanta atenção quanto este banco. De crianças a adultos, todos entram na brincadeira lúdica, fingindo ser um bichinho deslizando pelo tronco. A madeira tropical foi esculpida de forma tateável e bem bolada. (Parque Ibirapuera)
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Na cidade, é comum cortar as copas das árvores para evidenciar as dimensões bizarras dos prédios. (Avenida Roque Petroni Junior) Sob um enorme toldo, pairando como uma estrutura comunista, o mercado de flores representa um denso aglomerado de flora, um grande oásis. O cenário atrai centenas de pássaros que cantarolam do telhado. À medida que a população se vai e o oásis é recolhido, os pássaros mergulham para colher as sementes caídas durante as intensas negociações.
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Uma lei municipal determina que prédios em construção ou em reforma devam ser protegidos por uma rede para conter a possível queda de detritos. O efeito visual destes prédios drapeados muda de acordo com as condições meteorológicas: esvoaçando, debatendo-se em ondas gigantes, como um agitado mar vertical. (Rua do Gasômetro) Enquanto produtos chineses de plástico inundam o mercado brasileiro, ainda há produtos locais que conseguem competir com a economia de produção em massa. Essa vassoura é feita de galhos caídos de uma palmeira do mesmo lugar onde é utilizada. (Parque do Ibirapuera)
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Um aspecto engraçado do design é a função que o objeto desempenha. A caixa de papelão encaixa-se perfeitamente à cadeira. A moldura do tijolo está na medida certa para acompanhar a topografia da rua. A cadeira seria incômoda sem esses elementos adicionais. (Rua Teodoro Sampaio) Quase todos os telefones de fibra de vidro, vulgo orelhões, são cobertos por pequenos adesivos. Estes, é claro, oferecem os serviços de diferentes prostitutas. Nada de novo em uma cidade grande. Mas é justamente a banalidade dos anúncios que chama a atenção. Sempre baseados em pequenos textos com uma gama limitada de fontes e cores, eles atendem o mesmo formato: um retângulo 4 x 2,5 cm. Ocasionalmente, e apenas no Centro, aparecem maiores. Nunca incluem fotos – ao contrário do Rio, onde são quase exclusivamente assim. Os adesivos são retirados por funcionários da prefeitura, mas não na mesma frequência que homens visitam os orelhões para repô-los. (bairro da Liberdade)
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Os detritos dos carros alegóricos do carnaval ficam empilhados em montanhas de isopor. Uma mão gigantesca segura um caneco de cerveja. Vemos metade de uma criatura mítica, o busto de Hórus, a proa de um navio viking, tudo isso formando uma massa fragmentada de temas passados. Em outras palavras, uma paródia de civilizações arruinadas. A concepção dos carros do próximo ano começa uma semana após o final do carnaval. Seus segredos ficam guardados a sete chaves até dois meses antes do desfile. Os responsáveis pela construção correm de um lado para outro, reaproveitando as estruturas metálicas por baixo do isopor de carnavais anteriores. Um carrinho atravessa uma área industrial oferecendo amendoim e doce de coco. A roupa do vendedor, o carrinho e suas guloseimas, tudo transmite um charme saudoso e difícil de resistir.
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Em São Paulo, os proprietários são os responsáveis pelas calçadas em frente às suas propriedades. A consequência disso são calçadas quebradas. Apesar disso, muitas delas levam alguma indicação do dono – as das padarias têm desenho de pães no concreto, as dos chaveiros, de chave... Jane Jacobs, no livro Morte e Vida de Grandes Cidades: “Toda noite amena de verão, os aparelhos de televisão são avistados ao ar livre, para uso público, nas calçadas tumultuadas e antigas do East Harlem. Cada aparelho tem fios que correm a calçada a partir da tomada de alguma loja. São o ponto de encontro de mais ou menos uma dúzia de homens, que dividem sua atenção entre a televisão, as crianças que estão cuidando, suas latinhas de cerveja, os comentários dos amigos e os cumprimentos dos que passam por ali.” Jacobs propõe instalar televisões nos parques e espaços públicos. Em São Paulo, é comum ver aparelhos nas ruas, bancas, pontos de táxi. As noites de verão muitas vezes vêm acompanhadas de chuvas torrenciais, e as televisões ficam protegidas dentro de pequenas casinhas.
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Uma vista do Cemitério São Paulo, um dos menores entre os 22 da cidade. Ele cobre 104 mil m2, área equivalente a 4 quadras. A necrópoles abriga cerca de 140 mil túmulos, uma densidade altíssima comparada à população das quadras vizinhas. Não podemos deixar de pensar na demanda constante por novos espaços para enterros em um país de maioria católica, onde a concorrência por espaço é intensa. Se as coberturas de prédios pudessem ser adaptadas como cemitérios, teriam efeito semelhante aos telhados verdes. Eles iriam resfriar os edifícios, amenizar a poluição visual vinda da rua, dando um toque sublime à experiência do cemitério. (Rua Cardeal Arcoverde) Estacionamentos em azulejo oferecem espaços limpos e claros que podem ter múltiplos usos com a ventilação correta. Esses espaços híbridos de escritórios são os antecedentes, de um ponto de vista puramente pragmático, do estacionamento projetado por Herzog & de Meuron em Miami. (Rua Bresser / avenida Alcântara Machado)
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E O P OVO S E ACA B OU DE C OMER / A NOITE EM QUE UMA G ALERIA DE ARTE SERVIU UM JANTAR PREPAR ADO PELO S PRÓPRIO S C ONVIDADO S C OM C OMIDA CRUA E SEM TALHERE S . UMA L AMBANÇA REG ADA A CAPIRINHA SERVIDA EM CA SCA DE L AR ANJA Por SILAS MArTÍ*
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FoToS FeLIPe BArreTo
Nas mãos de artistas e designers, um jantar vira uma performance. Somado o ingrediente do cenário, que não foi uma casa ou restaurante, e sim uma galeria de arte no bairro de Pinheiros, em São Paulo, a coisa muda mesmo de figura. Logo na entrada, funcionando como convite para a festa, os comensais recebiam colares feitos pelos designers ingleses Azuza Murakami e Alex Groves. Esses colares foram confeccionados com os adesivos que os artistas coletaram dos orelhões de São Paulo. Lá dentro, nada de garçons circulando com taças de champanhe. Havia duas bancadas de metal cheias de comida crua, pronta para ser transformada em banquete pelos próprios convidados. “Eu já tinha percebido que no geral uma pessoa cozinha e todo mundo come. Queria inverter isso, então pensei em todos cozinhando juntos”, conta a artífice do encontro ocorrido em outubro de 2011, Sarah Colson, artista plástica britânica, morena, de óculos, camiseta listrada e ar muito polido e comportado. “Para deixar mais interessante, impus algumas restrições. Removi todos os talheres e copos das mesas, obrigando todo mundo a pensar fora da caixinha,
em especial na estética da comida.” No fundo, Colson arquitetou seu jantar-performance chamado The Meal # 3 sobre um tripé conceitual que reúne gosto, estética e um pensamento criativo sobre os restos orgânicos da empreitada. “Não podia ter lixo, tinha que ter gosto e ser bonito”, resume Marcelo Rosenbaum, que convidou Colson para tocar o jantar na galeria Moura Marsiaj. “A gente aproveitava uma casca, um talo, uma folha, para ser copo, talher, prato.” Essa realidade de improvisos lembra o primeiro encontro do designer com a artista. Rosenbaum conheceu a britânica quando ela veio participar de seu projeto de revitalização dos barracos na megafavela do Parque Santo Antônio, na zona sul de São Paulo, realidade distante do cenário abastado dos cubos brancos de pé-direito alto que vivem de vender obras de arte para decorar mansões. Colson juntou seu background de cozinheira de iate no Mediterrâneo a seus estudos de arte no Royal College de Londres e a passagem pelo Parque Santo Antônio para compor a brincadeira que transformou galeristas, designers, artistas ffwmag! nº 31 2012
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e colecionadores em chefs de ocasião, atarantados com a falta de copos, talheres e afins. “Era preciso ter jogo de cintura não só para preparar a comida, mas também se servir com uma coisa que não era feita para aquilo”, lembra Juliana Asmir, uma das vendedoras da galeria, que se encantou com uma descoberta gastronômica da noite – um sanduíche de salmão com banana. “Foi bacana ver gente de arquitetura, paisagismo, design, esse pessoal fino metendo a mão na massa, fazendo uma coisa mais normal, sem nenhum glamour. Tinha uma coisa de humanizar as estrelas, e o povo se acabou de comer e beber.” Laura Marsiaj, uma das sócias da galeria, parece mesmo se divertir ao despejar vodca no oco de uma melancia cavada por Colson à guisa de bacia de ponche. “Cada um se relaciona de um jeito com a comida. Muita gente me perguntava o que fazer, e eu ensinava como construir as coisas com frutas”, lembra Colson. “Tinha aqueles que não queriam sujar as mãos no começo, mas acabaram a noite lambuzados de comida e felizes da vida.”
Sem dúvida, a música das picapes no meio das frutas e as caipirinhas servidas em cascas de laranja e maracujá amorteceram o estranhamento da noite e tudo fluiu melhor. “Se fosse num contexto mais sisudo, sem esse aval da arte, as pessoas podiam achar mais estranho”, reflete Rosenbaum, que já fez uma dessas festas com Sarah Colson na própria casa. “É uma discussão do que é arte, o que pode ser feito no coletivo, o que pode ser criado.” Colson lembra que escolheu frutas e verduras desconhecidas para ela, querendo que os designers, arquitetos e artistas convidados mostrassem o que fazer com iguarias como canela, maracujá, repolho e afins. No fim, ela, que fez o primeiro teste desse tipo de jantar com os pais e os irmãos numa cidadezinha inglesa, diz que também acabou aprendendo coisas novas. Depois dos exóticos paulistanos, a artista se prepara agora para encarar uma trupe de romenos famintos em Bucareste. “Comida tem tudo a ver com a identidade que criamos para nós mesmos”, sentencia a artista. *Silas Martí é jornalista da Folha de S. Paulo. ffwmag! nº 31 2012
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As fotografias dessa e das páginas anteriores é o resultado de um retorno. Em 2009, o fotógrafo mineiro Gui Mohallem conheceu uma festividade chamada Beltrane, que acontece em Tennessee, no Sudeste Central dos Estados Unidos, entre o equinócio da primavera e o solstício de verão. Trata-se de uma comemoração que ocorre desde a época do povo Celta, com danças em volta de fogueiras e, em algumas ocasiões, rituais que valorizam a sensualidade humana. Um ano depois de assistir ao Beltrane, Mohallem retornou ao local. Dessa vez, disposto a registrar. Mas não foi um registro qualquer. Como destaca o curador Gabriel Bogossian, Mohallem esteve numa posição intermediária – e, talvez por isso, conseguiu um resultado tão único: “O fotógrafo se põe no meio da entrega sensual, da partilha da comida; se põe ali, com passos de libélula, contemplando a celebração (e, portanto, está fora) e participando da sua construção (e, portanto, está dentro) ao mesmo tempo.” Nas fotografias desse ensaio há uma estranheza espantosa. Explicá-la é de certa maneira acabar com seu encanto. Não sabemos ao certo onde estamos e com quem estamos. É desse mistério que se alimenta a poesia. www.guimohallem.com ffwmag! nº 31 2012
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Q UE ST Õ E S B R A SI L E I R A S / Mestre em crítica de design na School of Visual Arts em Nova Iorque, o português Frederico Duarte é autor de diversos artigos sobre design, arquitetura e criatividade. Atual professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Duarte frequentemente escreve sobre o design brasileiro e suas potencialidades. Fomos direto ao ponto: lançamos a Duarte três perguntas essenciais sobre o nosso design. As respostas estão ao longo dessa edição – com comentários de Marcelo Rosenbaum.
C O MO FA ZER C O M Q UE O DE SIGN SE JA O S O F T POW E R* D O BR A SIL? “O poder do design brasileiro só será verdadeiramente afirmado e reconhecido globalmente se os seus designers souberem interpretar o termo soft. Para tal, devem procurar e encontrar uma suavidade, uma leveza (o que não é o mesmo que ligeireza) na prática e nos resultados dos seus trabalhos. Esta leveza, este light touch, deve entender o potencial da complexidade, miscigenação e multiculturalidade da população brasileira – mas também reconhecer e, sempre que possível, mitigar a sua ainda enorme desigualdade. Isso faz com que os designers tenham de reconhecer o seu papel enquanto agentes ativos no progresso social do seu país e estar à altura do desafio. Deve também saber como explorar, de forma leve e sustentável, a enorme e, em muitos casos, ainda pouco explorada riqueza dos recursos naturais desse país continental: do cultivo à extração, da manufatura à forma, do uso ao ciclo de vida. Os materiais são hoje (tal como serão no futuro) um dos maiores trunfos do design brasileiro. Este entendimento do poder do povo e da natureza do Brasil deverá ainda ser acompanhado de uma nova apreciação e confiança (que não é o mesmo que soberba) na cultura material e visual brasileiras. E também de uma vontade de inovar, de arriscar e de implementar novos modelos e conceitos, como inovação frugal, prosperidade com crescimento, comércio justo, consumo colaborativo, impressão tridimensional, criação e distribuição de direitos livres. Estou seguro que, ao tratar destes elementos com leveza e suavidade, mas também com o respeito e orgulho que merecem, os designers e todos os outros agentes empenhados em fazer do Brasil uma nação do futuro – democrática, justa, tolerante, pacífica, desenvolvida – conseguirão afirmar o poder do design pensado e aplicado por brasileiros no mundo complexo em que vivemos.”
“ TODA E S SA QU E ST ã O DO C O N S U M O DO B R A S I L , DE Q U E S OM O S A B OL A DA v E Z , T U D O I S S O é M U I TO C O M PL E xO. O Q U E A G E N T E vAI AP RE SE NTAR AO MU N D O? R E P E T IR U M M O DE LO DE L á DE F O R A? AC h O QUE NãO. DEvE MO S P ROP OR U M N OvO M O DE LO. ” M A RC E LO RO S E NBAUM * Soft power, ou poder brando, é uma expressão típica das Relações Internacionais que significa a habilidade de um determinado grupo ou país para influenciar o comportamento de outras pessoas por meio da cultura. A expressão foi usada pela primeira vez pelo professor de Harvard Joseph Nye no livro Soft Power: Os Meios para o Sucesso na Política Mundial. Nas suas palavras: “O conceito básico de poder é a habilidade de influenciar outros a fazer o que você quer. Há três maneiras de se fazer isto: uma delas é ameaçá-los com galhos; a segunda é comprá-los com cenouras; e a terceira é atraí-los ou cooperar com eles para que queiram o mesmo que você. Se você conseguir atraí-los a querer o que você quer, te custará muito menos cenouras e galhos.” ffwmag! nº 29 2012
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MARCELO RO SENBAUM / E O d E SigN qUE tR ANSCENdE O OBjE tO tR ANSfORMA O MUNdO REdE SENhA REL AçõE S RECRiA fORMA S C ONECtA pE S S OA S C OMpARtiLhA idEiA S vALORiz A SABERE S RENOvA t R AdiçõE S iNOvA f ORMAtO S E SURpREENdE r e t r ato : a n d r é v i e i r a f oto s d e v Á r Z e a Q U e i M a da : tat i a n a Ca r d e a L e d i t o r i a L C o M C a r o L t r e n t i n i : f o t o s f a B i o B a r t e Lt / e d i Ç Ã o d e M o d a P a U L o M a r t i n e Z 60
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Marcelo Rosenbaum em seu est煤dio, no Bogoi贸 Simples Grande. Ao fundo, foto de Douglas Garcia no Parque Santo Ant么nio, antes do A Gente Transforma ffwmag! n潞 31 2012
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O cesto Bogoió de Franjas, da coleção Toca de Palha, foi um dos produtos desenvolvidos em Várzea Queimada. Ao lado, Carol Trentini carrega o Rosário, da coleção Toca de Borracha
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FOTOS FAbiO bArTelT / eDiÇÃO De MODA PAulO MArTinez / DireÇÃO De ArTe FAbiAnA zAnin / MAKe uP Henrique MArTinS / TrATAMenTO De iMAGeM Cr2_D2 / eSTÚDiO burTi
Acima, 3 Bogoiós Simples em uma casa típica da tranquila Várzea Queimada. Ao lado, as Comitivas da coleção Toca de Palha. Durante o A Gente Transforma, nessa igreja sem padres, os artesãos construíram milagres com as próprias mãos
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A históriA de um povo forte, c o r A j o s o e c r i At i vo No sertão, nos lugares muito secos, as histórias são como as flores do mandacaru. Quando ele flora, é sinal de que a chuva chega no sertão. A vida aparece, depois de meses e meses de seca. As histórias que se contam no sertão são como essas flores lá da seca. Sempre estiveram ali. Mas como as flores precisam de água, as histórias, para viver, precisam ser contadas. Uma vez, há muitos e muitos anos, junto com a chuva, nasceu no sertão um amor proibido. João Barbosa, fazendeiro, se apaixonou por Maricó, cozinheira. Desse amor proibido nasceu uma história. Dessa história, nasceu um lugar. Várzea Queimada, no interior do Piauí, no coração do semiárido. Vivem aqui 800 pessoas, todos parentes entre si, todos filhos de um amor que nasceu há muitos e muitos anos. Uma história que estava esquecida no tempo. A história de um povo forte, corajoso e criativo. Um povo que guarda saberes muito
antigos. Técnicas de artesanato que sobreviveram aos séculos e que agora renascem. Como as flores do mandacaru renascem regadas pela água, Várzea Queimada renasce regada por um sonho e pela vontade de transformar. Em Várzea Queimada, numa igreja sem padres, os artesãos constroem milagres com as próprias mãos. O A Gente Transforma é um mergulho na alma e na cultura dos povos que formam o Brasil. O A Gente Transforma usa o design para expor a alma brasileira. Nas histórias que a gente conta, a água molha o sertão e fecunda a esperança. Nas histórias que a gente constrói, o futuro está nas mãos de cada um. Várzea Queimada renasce de sua própria história, de um amor proibido, da mistura das raças, da sabedoria ancestral, do sonho de fazer do design o retrato da alma brasileira. Por Marques Casara ffwmag! nº 31 2012
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Marcรฃo de Vรกrzea Queimada e Carol Trentini , ao lado, vestem o Bogoiรณ de Argolas ffwmag! nยบ 31 2012
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Grupo durante a extração sustentável da palha de carnaúba. Ao lado, uma casa típica de Várzea Queimada ffwmag! nº 31 2012
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Mandacaru em Várzea Queimada. Ao lado, Carol Trentini veste uma Comitiva da coleção Toca de Palha 70
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O centro comunitário de Várzea Queimada foi projetado e construído durante o A Gente Transforma pela comunidade e 18 estudantes de Arquitetura e Design de todo o País, com a orientação e coordenação dos arquitetos permacultores Henrique Pinheiro e Tomás Lotufo
Várzea Queimada é o nome de um povoado que fica na região da Chapada do Araripe, no coração do semiárido nordestino, a 400 quilômetros de Teresina, capital do Piauí. Para entendermos melhor que lugar é esse, reproduzo a seguir trecho do texto do escritor Marques Casara sobre projeto A Gente Transforma, que esteve no local no início deste ano: “Várzea Queimada é um típico povoado do sertão brasileiro, com oito meses de seca por ano, agricultura de subsistência e calor, muito calor. É um lugar esquecido. As casas não têm banheiro, as torneiras não têm água e os chuveiros estão sempre secos. Não tem telefone, não tem internet. Mas tem conversa, diversão e união. A distância que separa Várzea Queimada de uma cidade moderna não pode ser medida em quilômetros. Não é somente uma separação geográfica, mas também de tempo.” Várzea Queimada é aquele Brasil perdido em algum lugar do passado e foi escolhida para receber a segunda edição do A Gente Transforma porque apresenta um dos menores índices de desenvolvimento humano do País. Isso significa que a comunidade é pobre, muito pobre – e completamente abandonada pelo poder público. Ao saber disso, Marcelo Rosenbaum reuniu sua equipe e mais 17 estudantes universitários e se mandou para lá com o objetivo de criar e produzir uma coleção de peças de design em parceria com homens e mulheres do local. Para auxiliá-lo em seu objetivo, entre outros profissionais, convocou o arquiteto Henrique 72
Pinheiro e o ambientalista Kaka Werá. Henrique Pinheiro: “Minha missão foi coordenar os estudantes junto com a comunidade para elaborar um design permacultural e construí-lo conforme a demanda levantada no início do processo participativo.” E o que é design permacultural? “É uma metodologia de design, planejamento e execução que busca a integração dos elementos de um sistema (pessoas, animais, plantas, tecnologias), onde tudo funciona de forma integrada para a economia de energia e recursos. O objetivo principal é resolver as necessidades essenciais das pessoas, sem comprometer as futuras gerações.” Kaka Werá: “O projeto tem um fundamento com o qual eu trabalho há mais de 15 anos. Trata-se de fortalecer as comunidades a partir da valorização de sua identidade cultural e geração de renda a partir disso. Minha missão no projeto foi justamente essa: através de interação direta com a comunidade, fazê-la perceber o seu potencial.” E o grande potencial dos moradores de Várzea Queimada, como acontece em várias regiões do Brasil, está no artesanato. Lá, as mulheres criam objetos utilizando palha de carnaúba e os homens trabalham com a borracha, reciclando pneus e produzindo joias e peças de decoração. São artesãos com conhecimentos ancestrais, que desenvolvem sua arte com técnicas que aprenderam com índios, negros e imigrantes europeus.
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Além de construir um centro comunitário, o A Gente Transforma também levou modernos métodos de design com o intuito de ampliar o potencial do artesanato já feito em Várzea Queimada. As técnicas foram ensinadas pelos arquitetos e professores Henrique Pinheiro e Tomás Lotufo. Ao longo de 15 dias, em “uma pequena igreja sem padres, os artesãos construíram milagres com as próprias mãos”, produzindo uma coleção de objetos, chamada Toca de Palha e Toca de Borracha, que atravessou o Atlântico e desembarcou em Milão, na Itália, no Pavilhão Brasil S/A, durante a Semana de Design. Marcelo Rosenbaum explica: “Eles tinham a técnica e a matériaprima. Eu só levei o olhar, coloquei o holofote.” Henrique Pinheiro acrescenta: “O A Gente Transforma consegue envolver ambientalmente, socialmente e economicamente a comunidade. Os eixos estão relacionados entre si, formando um design (projeto) consistente e sólido e dando autonomia para a comunidade.” Vale lembrar: o A Gente Transforma não é uma ONG, é um negócio social, como define Rosenbaum. Kaka Werá: “O desafio é fazer um povoado com parcos recursos, mas com um princípio ecológico muito claro em seu modo de subsistência, se tornar uma comunidade sustentável.” Por sustentável, entenda-se: fazer com que os habitantes de Várzea Queimada produzam um artesanato de qualidade e possam distribuí-lo no mercado brasileiro de decoração, gerando renda e mudando sua realidade. É o que Rosenbaum chama de “design 74
útil”, que transcende a matéria, que transforma o mundo. “Que todos os lugares desse mundo possam ser um lugar melhor”, deseja a estudante Clarissa Nunes Alexandrino, que participou do projeto. Outro estudante, Gabriel Kehdi Pedro, vai além em suas observações: “Percebi que a vida de Várzea não se encerra em Várzea. Os jovens de lá querem ir embora. Os mais velhos têm saudade de quem foi embora ou da época que viveram em outro lugar. É um povoado marcado pelo ‘olhar para fora’. Mesmo com a frugalidade do povoado, a ausência de saneamento, a precariedade da saúde pública, é um povoado com um potencial maravilhoso. O que é possível fazer na roça, dadas as condições do local, é feito (e muito bem feito). Falta apenas assistência para aquelas pessoas.” Assistência – e respeito. Jamais imposição. Finaliza Kaka Werá: “O objetivo é despertar na comunidade seus sonhos e sua memória, a consciência do poder do coletivo. E usar a cultura e os saberes locais como ferramenta para a transformação.” Por Marcos Guinoza rosenbaum.com.br/agentetransforma papelsocial.com.br bioarquiteto.com.br institutoarapoty.ning.com kakawera.blogspot.com.br tatianacardeal.blogspot.com.br
FOTOS FABIO BARTELT / EDIÇÃO DE MODA PAuLO MARTINEz / DIREÇÃO DE ARTE FABIANA zANIN / MAKE uP HENRIQuE MARTINS / TRATAMENTO DE IMAGEM CR2_D2 / ESTÚDIO BuRTI
Carol Trentini veste colares da Coleção Toca de Borracha
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O INTERMEDIADOR / RENATO IMBROISI É O HOMEM QUE VIABILIZ A . SEM PE S S OA S C OMO ELE , PROJE TO S SERIAM APENA S PROJE TO S Foto ANDRÉ VIEIRA
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“ É U M g r a n D E D E s b r ava D O r q Ua n D O fa l a M O s E M T r a n s f O r M a r a rT E sa naTO E M D E s i g n . E l E C O n s E g U E fa z E r U M a T rO Ca D E i n f O r M a Ç õ E s E n T r E a s D Ua s E x T r E M i Da D E s : q U E M fa z E q U E M va i C O M p r a r O U paT rO C i na r . E M U M M O M E n TO, E l E E sT á C O M O p E s s Oa l Da C O M U n i Da D E . E M O U T r O , a r T i C U l a n D O C O M p O l í T i C O s E O U T r a s l i D E r a n Ç a s . a i M a g E M D E U M g r a n D E p O lv O a j U D a a D E f i n í - l O . ” MarCElO rOsEnbaUM
É comum repararmos nos extremos de qualquer projeto social. De um lado, a comunidade e seus problemas. De outro, as ações de melhoria sendo colocadas em prática. Fascinados por esses polos, poucas vezes nos lembramos de que há algo entre a necessidade e a solução. É nesse espaço intermediário que trabalha Renato Imbroisi. O currículo de Imbroisi impressiona. Em 30 anos, ele já coordenou cerca de 150 ações nas mais diversas regiões do Brasil, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Itália e Japão. Na grande maioria das vezes, Imbroisi viaja aos locais para acompanhar os projetos de perto. Em apenas duas ou três ocasiões, isso não aconteceu. “A experiência me ensinou que é preciso estar presente. Ir e ver com os próprios olhos. O projeto no papel é apenas um esboço do que de fato será feito”, explica. Mas estar presente é apenas um dos segredos de um projeto social bem sucedido. De acordo com Imbroisi, é preciso se comunicar bem com a comunidade. Ele diz: “Cada lugar exige um tipo de diálogo e uma maneira de aproximação”. Em alguns locais da África, por exemplo, etnias falam idiomas diferentes – detalhe que dificulta ainda mais a comunicação. A equipe é outra questão a se levar em conta. Na maioria das vezes, Imbroisi conta com a ajuda de um fotógrafo e um designer para registrar as transformações, além de um articulador que chama as pessoas. Tal intermediador costuma ser alguém da própria comunidade. Fora esses integrantes, a equipe muda de acordo com as peculiaridades do projeto. “Já tivemos psicólogos, atores, arquitetos, escritores e, até mesmo, um maestro.” Um dos muitos projetos de Imbroisi acontece em São Tomé e Príncipe, um estado insular localizado no Golfo da Guiné. Mesmo sendo um local extremamente rico em matéria-prima, a população de lá vive basicamente de doações de alimentos. Há seis anos, Imbroisi viajou de norte a sul para conhecer o local e reparou que, apesar do país estar atolado de banana, nada ali era feito com a fruta. Dentre as oficinas que criou, uma delas ensina a fazer papel com fibra de banana. Era para atender 30 pessoas. Mas apareceram mais de 150. “Não quis excluir ninguém. Isso só prova que há muita demanda”, afirma. COMO TUDO COMEÇOU
Pode-se afirmar que Imbroisi não seria quem é hoje se não fosse a sua avó. Nascido no pequeno bairro carioca da Urca, ele se lembra
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dela como a costureira do bairro e dos artistas do cassino local. Ele assistia com fascínio sua habilidade manual, mesmo sem nunca imaginar que seu trabalho no futuro estaria intimamente ligado a isso. Desde pequeno, Imbroisi viajava para Carvalho, uma pequena cidade no interior de Minas Gerais, onde a avó tinha uma casa. Com frequência, visitava um dos seus bairros rurais, conhecido como Muquém. Muitos são os significados dessa palavra. Muquém pode se referir a uma espécie específica de árvore. Mas não seria uma injustiça se tivesse entre seus sinônimos a expressão “fim de mundo”. Para se ter uma ideia, a luz elétrica chegou por ali apenas no ano 2000. O que para muitos pode parecer uma região esquecida, para Imbroisi, era o local perfeito para uma transformação radical e, que até hoje, traz benefícios. Imbroisi passou anos voltando a Muquém para conversar e observar a pequena população que produzia tecidos em teares antigos, feitos com madeira local. Com 14 anos, após aprender um pouco a técnica, começou a ganhar alguns trocados ao produzir e vender colares. Quando se mudou para São Paulo, em 1981, Imbroisi fez alguns cursos na área de artesanato. Em nenhum momento deixou de voltar para o interior de Minas. Suas sucessivas viagens fizeram com que ele encontrasse diversas tecelãs. Não era uma tarefa fácil achar essas mulheres: elas costumam viver isoladas, separadas por quilômetros de distância. Além disso, havia o desafio de convencê-las a inovar na produção. “Eu não queria tirar nada dali. Queria que elas produzissem as coisas dentro daquele contexto. Mas a maioria tinha medo de se arriscar. Elas temiam fazer algo que fosse diferente de uma coberta, um tapete, enfim, dos modelos que elas já estavam habituadas a repetir”, conta. Nas idas e vindas, Imbroisi encontrou as irmãs Noemia e Eva Maciel, tecelãs que toparam produzir algo que não fosse o mesmo de sempre. Ele queria que elas fugissem da mesmice das cobertas e passassem a fazer cortinas, xales e vários outros produtos manuais. A ideia deu certo. E continua dando. Imbroisi não para. Viaja toda hora. E parece ser uma pessoa extremamente feliz por isso. Podemos até nos esquecer, mas vale sempre lembrar: se um projeto dá certo é por causa de pessoas como ele. Por Bruno Moreschi renatoimbroisi.com.br
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Artesãs de Palma (província de Cabo Delgado, Moçambique) com seus tapetes trançados em fibra de palmeira mulala
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ARTE S E OFÍCIO S / RENATO IMBROISI TEVE A BRILHANTE IDEIA DE CRIAR UMA GR ANDE OFICINA PAR A UNIR O S TALENTO S DO S MAIS DIVERS O S ARTE SÃO S DE MOçAMBIQUE por bruno Moreschi
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fotos lucas Moura
Há 10 anos, Renato Imbroisi visita Moçambique. Tudo começou quando foi convidado por Graça Machel, a mulher de Nelson Mandela, para dirigir uma escola de artes e ofícios. Depois de quase 6 anos de intenso trabalho, o brasileiro foi convidado para dirigir um programa de artesanato patrocinado pela Fundação Aga Khan. Aceito o convite, Imbroisi fez um estudo de campo da região onde iria atuar, a província de Cabo Delgado, extremo nordeste do País. Não foi uma tarefa fácil, visto que se trata de uma faixa litorânea de mais de 600 quilômetros com povos bastante distintos e que falam pelo menos 3 idiomas diferentes. Mas ele contou com a ajuda de dois designers que ocuparam o cargo de coordenador no projeto, Eliane Damasceno e Emile Badran As habilidades já estavam ali. Especialistas em joias, cerâmica, tecido, bordado, madeira, chifres. O desafio era integrar tantos talentos. A ideia não poderia ter sido melhor. Imbroisi resolveu criar uma espécie de grande oficina que reunisse todas essas especialidades. No início do projeto, essas oficinas aconteciam de quatro a cinco vezes por ano. Atualmente, com os artesãos muito mais integrados, elas acontecem duas vezes por ano. Mas o que ensinar durante essas ocasiões? Imbroisi responde: “Eles já sabem produzir coisas maravilhosas. Nosso foco é a comercialização, organizar cooperativas, profissionalizar técnicas que são maravilhosas e únicas. E, principalmente, desenvolver novos produtos com design.” Para se ter uma ideia, antes das oficinas, as comunidades da região viviam basicamente da troca. Hoje, seus produtos são comercializados em aeroportos e hotéis de Moçambique. O projeto Ujamaa (que, em português, significa “comunidade”)
beneficia cerca de 500 artesãos. Se levado em conta suas famílias, são mais de 3 mil pessoas que mudaram a maneira de fazer artesanato, e, com isso, transformaram também as suas vidas. O esforço de Imbroisi e a participação maciça dos moçambicanos buscam um único objetivo: construir um país mais justo. É um sonho antigo, encravado na própria história de Moçambique. O escritor Marcelino dos Santos escreveu um dos mais conhecidos poemas locais inspirado justamente nessa grande utopia africana: Mãe negra eMbala o seu filho e esquece que o Milho já a terra secou que o aMendoiM onteM acabou. ela sonha Mundos Maravilhosos onde o seu filho irá à escola à escola onde estudaM os hoMens (...) ela sonha Mundos Maravilhosos Mundos Maravilhosos onde o seu filho poderá viver.
Ainda há muito o que fazer. Mas as imagens ao lado e das próximas páginas mostram um povo não só maravilhoso, mas capaz de mudar seu próprio destino – com seus próprios produtos. ffwmag! nº 31 2012
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Alfaiate da cidade de Palma, costurando uma bolsa feita de capulana e esteira de palha
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Artesã da ilha do Ibo (província de Cabo Delgado, Moçambique) com bolsa feita de folhas desidratadas tingidas com vegetais do mangue local ffwmag! nº 31 2012
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Artesã da aldeia de Mecúfi (província de Cabo Delgado, Moçambique) com bolsas de palha. Ao lado, Idaia, líder de um grupo de artesãs da cidade de Palma, com bolsa produzida a partir das esteiras de palha e capulana
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Mussagy Ande, líder de artesãos da aldeia de Guludo (província de Cabo Delgado, Moçambique), com colar de palha tingida com vegetais e cerâmica. Ao lado, artesãos de Mecúfi mostram os novos modelos de bolsas de palha produzidos na grande oficina de Palma 84
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A vista da cidade de São Paulo, o cardápio do Chef espanhol Sergi Arola - duas estrelas no guia Michelin - e a perfeita harmonização dos vinhos de uma adega mais que especial, garantem uma experiência gastronômica única. Aguce seus sentidos no Arola Vintetres.
AROLA VINTETRES ALAMEDA SANTOS, 1437 | 23º ANDAR CERQUEIRA CÉSAR | SÃO PAULO | SP | BRASIL
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Q UE ST õE S B R A SI L E I R A S /
C O M O TOR NAR O DE S IGN U MA PRÁTI CA Q UE VÁ ALÉ M D O SIMP LE S O B J E TO E PA S SE A DE S E MP ENh AR U MA F UNÇÃO S OCIA L? “Todo o mundo gosta de coisas. De coisas que nos fazem sentir melhor, que melhoram o nosso entorno, que ficam bem conosco, com o nosso estilo de vida, com aquilo a que aspiramos ter ou ser. Talvez seja injusto, mas não falso, dizer que os designers gostam mais de coisas do que de outras pessoas. Dão-lhes mais atenção, reparam em detalhes – como uma perna de uma cadeira, uma serifa de uma letra – que mais ninguém vê ou valoriza. Alguns nascem com esse olho, com essa apetência para as coisas. Outros aprendem, ou refinam esse gosto pelas coisas na escola, na faculdade, no trabalho, no dia-a-dia. Outros ainda descobrem no passado, na história, referências e inspiração para as coisas que querem acrescentar ao mundo, pois esse é muitas vezes o que se entende como a sua função na sociedade: criar, fazer, adicionar coisas. Acredito que o design só poderá ir além do simples objeto quando os designers prestarem menos atenção às coisas e mais às pessoas que as produzem, compram, usam, oferecem, recriam. Só tendo em conta, de uma forma consciente e responsável, as necessidades e desejos das pessoas (e não só das pessoas enquanto consumidores) é que os designers irão conseguir desenvolver uma consciência da função social do design. Para isso, é preciso saber, observar, ver, ouvir, ser humilde, respeitoso e generoso. Além disso, essa mudança de foco entre coisas e pessoas só acontecerá se repensarmos o próprio estatuto social do designer: de alguém que acrescenta coisas ao mundo para alguém que trabalha para melhorar a forma como as pessoas vivem nesse mundo. Isto não é algo que os designers possam fazer sozinhos – outros cidadãos, como jornalistas, empresários, educadores, políticos, deverão partilhar dessa busca e responsabilidade. Também não é fácil, nem uma coisa que acontece de um dia para o outro. Mas é possível.” Frederico Duarte.
“DE SIG N N Ã O É Só C ON S U M O. N Ã O É A M E SA , A CA DE I R A . É UM G R AND E CATA LI z A D OR D E ID E I A S , DE S O LU Ç õE S E DE R E N OVA Ç Ã O PAR A O S NOVO S D I A S . QUA N D O VOC ê M U DA O O L hA R DI A N T E DE UM OB JE TO D E ARTE SA NATO, VO Cê PA S SA TA M B É M A M U DA R A VI DA DA PE S S OA QUE FA z I S S O. VOC ê RE C ON h E C E O T R A BA L h O DE L A N Ã O M A IS AP E NA S C OM O UM SI MP LE S A RT E SA NATO, M A S C O M O U M O B J E TO DE A RT E . E E S SA MUDA N Ç A D E OLh A R G E R A T R A N S F O R M A Ç õE S . ” M A RC E LO RO SE NBAUM ffwmag! nº 29 2012
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C ON STRUÇ Ã O / HO m eN S e mUlHeRe S NUm de S eNHO má g iC O V e ST i N d O aqUel a Sa ia e aqU el e TeRNO C Om O Se fO S Sem O S Ú lT i mO S e OUViS S em mÚ SiCa em pl eN O VeRÃ O 2013 EDIÇÃO DE MODA / PAulO MArtInEz EDItOrIAl FEMInInO_ F O t O S / F A b I O b A r t E lt bElEzA / rObErt EStEvÃO EDItOrIAl MASCulInO_ FOtOS / zEE nunES bElEzA / CECílIA MACEDO
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A N D R E A M A RQU E S
Bolsa Melissa, tĂŞnis New Balance
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2ND FLO O R
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2ND FLO OR
Lenรงo Scarf Me
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HE RC HC OV ITC H
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HE RC HC OV ITC H
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ALL P URP O S E
Colar 2nd Floor, calça Levi’s, cinto Diesel
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ALE X ANDRE HERCHC OVITCH
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M OVI MENTO
Sapatos Colcci, Meias Lupo
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SALI NAS
Tiara 25 de Marรงo, pulseira Triton
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O S KLEN
Sunga Poko Pano
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O S KLEN
Brincos Caleidosc贸pio, cinto Calvin Klein, bolsa New Order
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JADS O N R ANI ER E
Bolsa Blue Man, meias Lupo, tĂŞnis New Balance
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C I A M A RITIMA
Colar usado como tiara Movimento
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C OLC C I
Cinto 25 de Março, sapatos Mr.Cat para Ausländer, sacola brinde Osklen, boné Billabong óculos Dsquared para Marcolin
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C OLC C I
Colar e sandรกlias Osklen, sacola Mercado Municipal
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J Oร O P IM E N TA
Lenรงo acervo ffwMag!
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TOTEM
Len莽o acervo ffwMag!, 贸culos Weider Silverio, alpargatas Neon
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TUFI DUEK
TĂŞnis Nike, sacolas Martin Margiela
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ALE X ANDRE HERCHC OVITCH
テ田ulos Absurda
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BLUE M AN
Bon茅 Adidas, 贸culos Dsquared, rel贸gio Swatch, mochila The North Face, meias Lupo, t锚nis Nike
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B LU E M A N
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LENNY
テ田ulos Absurda, presilhas e pulseiras 25 de Marテァo, sacola brinde Alexandre Herchcovitch, meias acervo ffwMag!
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R . GRO OVE
テ田ulos Ray-ban, cinto 25 de Marテァo, sacola acervo ffwMag!, tテェnis New Balance
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Ă G ATH A
Brincos Ale Chueire para Conceito Showroom, cinto Andrea Marques, anel Swarovski
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ALE X ANDRE HERCHC OVITCH
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C OLC C I
Presilhas e pulseiras 25 de Marรงo, cinto TNG, meias Lupo, sapatos Maria Bonita Extra
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TNG
TĂŞnis Vans
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C OV EN
Boné New Order, presilha 25 de Março, meias acervo ffwMag!, tênis Nike
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CAVALER A
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N E ON
Chap茅u e cinto Alexandre Herchcovitch, bolsa Cavalera, rel贸gio Nixon
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AUS LÄNDER
Chapéu 2nd Floor, cinto TNG
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JADS O N R ANI ER E
Meias acervo ffwMag!, tĂŞnis Nike
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REI NAL D O LOUREN ร O
Mรกquina fotogrรกfica Lomo
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W EI DER S I LVEI RO
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ÁGUA DE C OC O
Viseira e pulseiras Movimento, legging Amapô, sacola brinde Osklen, sapatos Totem
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O S KLEN
Mochila Billabong, lenรงo Neon para Scarf Me, cinto 25 de Marรงo
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ANI MALE
ChapĂŠu 2nd Floor, pulseiras Camila Klein, bolsa Sacada, sapatos 2nd Floor
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CA IO B R A Z
Camiseta e sapatos Colcci, mรกquina fotogrรกfica Lomo, meias acervo ffwMag!
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FO RUM
Brincos Rafaela Andrade, cinto 25 de Marรงo
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RE S ERVA
テ田ulos Absurda para Jadson Raniere, cinto All Purpose, meias acervo ffwMAG!, chinelos Billabong
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SACADA
BonĂŠ Sumemo, brincos e colar Rafaela Andrade, bolsa New Order, pulseiras Oh Boy!
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ELLUS
Cinto 25 de Marรงo
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ELLUS
Cinto 25 de Marรงo
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CAVALER A
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M A R IA B ON ITA E X T R A
Pulseiras Printing, bolsa Cavalera
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R .GRO OVE
テ田ulos Absurda, sapatos Ellus
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T Ê CA
Shorts Dona Filó, cinto Jadson Raniere, lenço Alexandre Herchcovitch, bolsa Chica Neta Bolsas, chapéu Teca, flor e meias acervo ffwMag!
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LI V ER P O O L CAMISETAS
Chapéu João Pimenta, calça Cavalera, anéis A Gente Transforma por Marcelo Rosenbaum, cinto 25 de Março
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CANTÃ O
Legging R. Rosner, chapéu Teca, óculos Thierry Lasry, bolsa Calvin Klein, tênis New Balance
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A N D R ร L IM A
Brincos Movimento, lenรงo usado como faixa Scarf Me
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J O テグ P I MENTA
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AMAPÔ
Boné Griffe Company, fone Nixon, colar A Gente Transforma por Marcelo Rosenbaum
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C OCA- C OL A C LOT HIN G
Máquina fotográfica Lomo, cinto 25 de Março, meias Lupo, tênis New Balance
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E S PAÇ O FAS H I O N
Tênis Nike
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TRI TO N
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F H p or FAU S E HAT E N
Rel贸gio Nixon, meias acervo ffwMag!, t锚nis Nike sacola brinde Alexandre Herchcovitch
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AMAPÔ
Fone e relógio Nixon, sunga Poko Pano, meias Alexandre Herchcovitch, sapatos Colcci
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ELLUS
Fone e rel贸gio Nixon
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GLĂ“ R I A C OEL HO
Viseira Diego Cattani para Totem, bolsa Chica Neta Bolsas, anĂŠis A Gente Transforma por Marcelo Rosenbaum, sapatos Ellus
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AM AP Ô
Boné Adidas, óculos Osklen, pulseiras Diesel e Swarovski, cinto 25 de Março, sacola acervo ffwMag!, sapatos Colcci
Edição de Moda: Paulo Martinez (SD Mgmt) Produção de Moda: Gabriel Sorribas Assistente de Moda: Gabriela Tannus Produção Executiva e de Objetos: Fernanda Brianti EDITORIAL FEMININO Fotos: Fabio Bartelt (SD Mgmt) Beleza: Robert Estevão (Capa MGT) Equipe de Beleza: Alê Fagundes, Leila Turgante, Jô Castro (Capa Mgt) Assistente de Beleza: Bruno Cardoso (Capa Mgt) Assistentes de Fotografia: Sérgio Nascimento, Pedrita Junckes e Fernando Tomaz Tratamento de Imagem: CR2_D2 EDITORIAL MASCuLINO Fotos: Zee Nunes (SD Mgmt) Beleza: Cecilia Macedo (Capa MGT) Assistente de Beleza: Patrick Pontes (Capa Mgt) Assistentes de Fotografia: Sándor Kiss e Renan Vitorino Tratamento de Imagem: Leo Vas
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TRI YA
Fone Nixon
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APRESENTA
e u v e j o f lore s em você / ff W mag ! e s ebr ae m a peia m o br a sil c o m o ol ha r Da moDa EDIÇÃO DE MODA / PAulO MArtInEz FOtOS / EDuArDO rEzEnDE
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Ela: biquíni Camoa Brasil, blazer Brblue Ele: camiseta Liverpool Camisetas, sunga Adidas ffwmag! nº 29 2012
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Camiseta Onng, chapéu acervo ffwMag! 152
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Macacรฃo Vivi Moda Exclusiva ffwmag! nยบ 29 2012
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Vestido/camisa Chemise And Cor, biquíni Iska, anéis usados como colar Mãe D`Água 154
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Camisa Renda de Agulha, calรงa All Purpose, รณculos acervo ffwMag! ffwmag! nยบ 29 2012
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Tênis MUV Custom Shoes 156
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Calรงa Onng ffwmag! nยบ 29 2012
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Vestidos sobrepostos Pimentรก
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Vestido Cyntia Fontanella
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Biquíni Nidas 160
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Camisa Duna, saia pare么 Difuzi ffwmag! n潞 29 2012
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Camiseta Liverpool Camisetas, saia Renda de Agulha, colares Dayrell Bijoux, colar usado como cinto Joias do Pantanal
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Vestido Tugore, lenรงo acervo ffwMag! ffwmag! nยบ 29 2012
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Blusa e parka Sann Marcuccy, calça Histológica
Fotos: Eduardo Rezende (S.D Mgmt) Edição de Moda: Paulo Martinez (S.D Mgmt) Produção de Moda: Gabriel Sorribas Beleza: Cecilia Macedo (Capa Mgt) Assistente de Beleza: Miracle Mirian Assistentes de Fotografia: Denny Sach, João Julio Mello e Gabriel Henrique Produção Executiva: Mauro Braga Tratamento de Imagem: CR2_D2 164
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ffwmag! nยบ 29 2012
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Q UE ST Õ E S B R A SI L E I R A S /
C OM O EVITAR QUE O B R A SIL SE TORNE UM PAÍS QUE FA Z M ÓV EIS PAR A O S RI C O S D O MUNDO INSPIR A D O S N O S SEUS POBRE S ? “Exigindo aos designers brasileiros, e a todos os outros que trabalham no e para o Brasil, que respeitem quem produz, quem consome ou quem usa os seus projetos. Se os designers não o fizerem, eles não deverão merecer o respeito de todos os outros profissionais responsáveis pela divulgação e promoção do seu trabalho. O problema é que neste “ecossistema” de divulgação e promoção do design – do qual fazem parte jornalistas, editores, curadores, galeristas, empresários, educadores e agentes governamentais – é raro ouvir uma palavra dissonante, um comentário crítico, uma história bem contada (e como é raro encontrar uma história de design que seja fácil de contar!). São todas estas pessoas que devem olhar para o trabalho dos designers, ouvirem o que eles têm para dizer e, quando for necessário, exigir o respeito que o povo (e o ambiente, e a cultura) brasileiro merece. Pode não ser fácil desafiar esta cultura do oba-oba que pouco mais faz que elogiar o novo, o exclusivo, o caro ou – esse o mais pernicioso dos termos – o original. Nem de (quando falamos de design brasileiro no exterior) ir além do “exótico, erótico e caótico” – uma expressão usada pelo crítico de arquitetura Fernando Luiz Lara para se referir ao caráter peculiar e periférico do Brasil no discurso de arquitetura internacional. Encarando esse respeito e também certa ‘leveza no toque’ como princípios fundamentais de projeto, acredito que os designers e todos os outros à sua volta possam mesmo mudar as expectativas e experiências do design feito por brasileiros. Se conseguirem trabalhar juntos, poderão fazer uma coisa tão difícil quanto importante: mudar a opinião pública.” Frederico Duarte, que, além dessa declaração, nos enviou o link de uma canção country que diz: You can’t be a beacon if your light don’t shine (Você não pode ser um farol se a sua luz não brilha).
“DIF E R E N T E DA E U ROPA E O U T RO S PA Í S E S M A I S A N T I gO S , AI NDA NãO TEMO S A C U LT U R A D E C O M PR A R DE S I g N. DE C O M PR A R P E NSAND O QUE AQ UE LE P ROD U TO T E M U M A h I ST Ó R I A . C O M O E L E F O I F E I TO? OND E ELE FOI FE I TO? C OMP R A R DE S I g N PO R AChA R Q U E é BACANA: I S S O é kITS C h! N ã O há D IFE R E N ç A N I S S O E E M C O M PR A R U M A â NC OR A D E UM ANTI QU áR I O OU U M FL A M I N g O DE PO RC E L A NA . ” M A RC E LO RO SE NBAUM ffwmag! nº 29 2012
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Por ADÉLIA BorGES 168
foto LUCIA LEAL / CPDoC JB
“INT E R F E R I R S E M FE RI R” / E S SA E R A U M A DA S M Á X I M A S DE JA NE T E C O STA , A V I S I O N ÁRIA QUE VA LOR IZO U N O S SA CU LT U R A P O P UL A R E I N FLUE N CIA AT É HOJ E O D E S I G N BR A S I L E I RO ffwmag! nº 31 2012
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“O pOucO que cOnvivi cOm ela fOi muitO marcante. ela sempre fOi uma referência. HOje, as pessOas nãO cOnHecem a janete. e p r e c i s a m c O n H e c e r . e l a f O i a m u l H e r q u e e d u c O u s e u s c l i e n t e s r i c O s a g O sta r , a d m i r a r e c O l e c i O n a r a a r t e p O p u l a r b r a s i l e i r a . a s s i m , v i r O u a p r i m e i r a g r a n d e m e st r e e m t r a z e r O p O p u l a r n a d e c O r a ç ã O . u m t i p O d e p e n s a m e n t O q u e t e m a b s O lu ta m e n t e tudO a ver c Om O que façO.” marcelO rOsenbaum
Para Janete Costa, ter nascido brasileira não foi mero acidente geográfico. O local de nascimento – Garanhuns, no interior de Pernambuco, em 1932 – foi balizador para o norte de sua atuação. Numa carreira marcada por contribuições significativas nos campos da arquitetura, design de interiores, design de produtos e curadoria de exposições, ela se empenhou para mostrar que a arte, o design e a arquitetura no Brasil precisam refletir as identidades culturais locais. Janete teve também ação decisiva ao valorizar não só a arte popular e o artesanato nacional, mas também os artistas e artesãos, procurando sempre contemplar a questão da inclusão social e da geração de renda por meio de seus projetos. Reflexo de que, em sua trajetória, atividade profissional e vida pessoal sempre andaram junto com o exercício da cidadania. Formada em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Janete teve uma prolífica atuação nessa área. Foram mais de 3.000 projetos desde a sua graduação, em 1961, até seu falecimento, em 2008. Projetou bibliotecas, cinemas, auditórios, edifícios públicos, escritórios, galerias, prédios comerciais e residenciais, lojas, museus, restaurantes, teatros, palácios de governo, clubes... Nos últimos anos de vida, fez dezenas de hotéis, cujos projetos preenchem todos os requisitos técnicos da hotelaria internacional, mas ultrapassam as receitas rígidas da hotelaria suíça e americana, resultando em espaços com personalidade e expressão cultural. Seu trabalho em design de produtos foi consequência dos anos que atuou na decoração de interiores. Em sua obsessão pelo detalhe, se não encontrava no mercado o que imaginava para um ambiente, ela própria desenhava os elementos que iriam compô-lo – da cadeira à luminária, da colcha ao castiçal, lidando com facilidade com materiais como granito, mármore, vime, vidro, madeira, metal etc. A execução desses projetos era confiada, sempre que possível, a comunidades e cooperativas de trabalhadores. Acima de todas essas qualificações profissionais, Janete pode ser considerada uma grande educadora. Clientes, estagiários, amigos e parceiros de trabalho são unânimes em afirmar que aprenderam a discernir e a conhecer arte e design por meio da convivência com Janete. Ela como que tomava as mãos de seu interlocutor para compartilhar com ele o seu olhar, marcado pelo entusiasmo e pela generosidade. Vários arquitetos e decoradores, sobretudo do Nordeste, dizem pertencer à “escola Janete”, aquela em que a cultura erudita e popular eram absorvidas em pé de igualdade. Com os clientes, nunca exerceu uma ditadura do gosto, antes, os levava a uma valorização de suas próprias histórias, somadas às vivências que ela proporcionava. Sobre o gosto, aliás, tinha uma expressão perspicaz: “Mau gosto é o gosto dos outros”, dizia, denunciando com graça a postura impermeável ao diálogo daqueles que se acham donos da verdade e árbitros do que é bom. Outra expressão sua, de rara síntese, foi aquela em que proclamava “interferir sem ferir”, como postura a ser adotada pelos designers que desenvolvem projetos de revitalização do artesanato. Em outras palavras, ela defendia o respeito ao conhecimento do arte-
são, uma prática que nem sempre ocorre. Era no relacionamento direto com os criadores populares que ela se sentia melhor. Já passada dos 70 anos de idade, sempre muito ativa e inquieta, brincava: “Quando eu crescer, quero me dedicar só aos projetos nas comunidades de artistas e artesãos.” Além de valorizar as produções deles em seus projetos de interiores, pagando sem regatear o que pediam, Janete levou a criação popular a espaços de prestígio, onde podia ser devidamente reconhecida e valorizada. Janete Costa fez curadoria de dezenas de exposições, entre elas Artesanato como um caminho, na Fiesp, 1985; Bienal de Artesanato, no Centro de Convenções, Recife, 1986; Viva o povo brasileiro, no Museu de Arte Moderna-MAM, Rio de Janeiro, 1992; Arte Popular Brasileira, no Riocult, Rio de Janeiro, 1995; Arte Popular Brasileira, no Carreau du Temple, Paris, 2005 (Ano do Brasil na França, a convite governo brasileiro); Somos-criação popular brasileira, no Santander Cultural, Porto Alegre, 2006, e Do Tamanho do Brasil, no Sesc Avenida Paulista, São Paulo, 2007. Outra faceta sua foi a de colecionadora de arte, retratada na ampla exposição Uma Vida – Janete Costa e Acácio Gil Borsoi, no Museu do Estado de Pernambuco, no Recife, em 2007. A mostra apresentou uma seleção de obras acumuladas por ela e por Borsoi, seu companheiro de vida, também arquiteto. Ao lado de todas essas realizações públicas, que não são poucas nem menores, outra dimensão surge com força quando nos recordamos de Janete Costa. Ela derramava afeto às pessoas ao seu redor, sem distinções de classe social, cor da pele ou qualquer outra circunstância. As pessoas se transformavam, para melhor, a partir de um encontro, mesmo fortuito, com Janete. Poderão alegar que minha amostragem é limitada, mas não. Nos cerca de 20 anos em que convivi com ela, conheci muita gente por seu intermédio. Janete era gregária. Tinha verdadeiro prazer em se cercar de gente. Os amigos dos amigos instantaneamente se transformavam em amigos também. Nessa condição, merecedores de compartilhar o pão, o vinho e a conversa solta de quem não guardava segredos, mas trocava conhecimento e vida nos lautos jantares que preparava pessoalmente em suas casas – fosse a do centro histórico de Olinda, a da praia de São Conrado, no Rio de Janeiro, ou o apartamento nos Jardins, em São Paulo. Se estivesse viva, em 2012 Janete Costa completaria 80 anos de idade. A data foi lembrada em julho em uma homenagem na feira de artesanato Fenearte, no Recife, com a reedição da exposição Espaço Interferências, que ela idealizou há 10 anos. Em novembro, será inaugurado em Niterói o Museu de Arte Popular Janete Costa. Outra homenagem, esperada para o próximo ano, é a inauguração de um museu de arte popular em Olinda, com parte do acervo provavelmente derivada de sua coleção. A brasileira e pernambucana Janete Costa foi visionária. E se hoje a arte e o artesanato de nosso país merece mais respeito, sem dúvida, parte dessa mudança se deve à sua apaixonada atuação. ffwmag! nº 31 2012
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NO S S O NORTE É AQUI / O TR ABALHO DE HELOISA CROCC O NO S MOTIVA A OLHAR A NATURE Z A DO BR A SIL C OM ATENÇÃO. A S OLUÇÃO NÃO E STÁ LÁ FOR A Foto MARIANA MoLINoS
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“ D o l a D o Da s ua ca s a t e m u m e sto q u e g r a n D e D e p i n u s . H á D é ca Da s , e l a t r a b a l H a c o m e s s e m at e r i a l . F i c o m u i t o i m p r e s s i o n a n D o c o m a s ua o b s e s s ã o e m t r a b a l H a r c o m a m e s m a m at é r i a- p r i m a . é a p rova D e c o m o a lg o p o D e s e r r e p e n s a D o v á r i a s e v á r i a s v e z e s . ” marcelo rosenbaum
Entrevistar Heloisa Crocco é enviar um e-mail com questões sobre sua carreira e receber quase dez arquivos diferentes como resposta. Pode-se pensar que a atitude é fruto de confusão. Pura impressão. Não há nada de confuso no pensamento dessa designer gaúcha. Crocco é uma mulher de pontos de vista simples e certeiros. A quantidade de e-mails é culpa apenas do seu vasto repertório. Um desses e-mails contém a chave para entender suas convicções. Nele, ela cita a Semana de Arte Moderna como exemplo de um momento em que o Brasil buscou soluções em si mesmo. Ela escreve: “Nosso norte não é para o além-mar! Ao contrário, é para dentro do Brasil, para nossas regiões, referências, histórias, quintais com diversidade enormes, seja nas matérias-primas, fibras, tipologias, iconografia, fauna e flora.” Foi com esse pensamento que, em 1984, Crocco desbravou a Floresta Amazônica. “Estava com 30 anos e vivia um grande embate com o trabalho que desenvolvia. Não queria fazer as coisas como os outros”, recorda. Crocco falou sobre sua crise profissional a ninguém menos do que José Zanine Caldas. Reconhecido como um dos maiores mestres brasileiros da madeira, Caldas foi um paisagista escultor, moveleiro e arquiteto autodidata que morreu em dezembro de 2001, deixando um legado ainda a ser melhor explorado no Brasil. Poucos brasileiros defenderam com tamanha veemência a união do artesanato com o modernismo brasileiro. Não por acaso, seu trabalho foi reconhecido internacionalmente e exposto na década de 1980 no Museu do Louvre, em Paris. Caldas respondeu às reclamações de Crocco com uma simples frase: “Crise se cura no mato.” E lá foram os dois, começando a viagem no quilômetro zero da Transamazônica e terminando com o encontro das grandes árvores da Amazônia – chamadas
por muito de catedrais. Foi uma experiência até hoje inesquecível: “Passamos 10 dias andando, filosofando pelos seringais, entre cipós, bromélias, canto de pássaros, cheiros e texturas.” Crocco voltou ao Rio Grande do Sul certa de que sua pesquisa já não era mais a de antes da viagem. Seu foco de interesse passou a ser os anéis de crescimento das árvores, um projeto que recebeu o sugestivo nome de Topomorfose. Até hoje, a designer aplica a objetos do cotidiano os veios que a madeira sugere. “Com o tempo, a Topomorfose acabou ganhando autonomia e se transformando em modelo de pensamento, ou seja, numa metodologia de pesquisa da forma e de suas aplicações no design. Ultrapassa, assim, o plano da estética da forma, entrando em questões mais abrangentes, que tocam a sociologia e a antropologia, enfim, a relação do homem com a natureza e os objetos com os quais convive”, explica Crocco. Seu local de trabalho resume bem essa pregação do homem se relacionar com a natureza. No bairro de Vila Conceição, em Porto Alegre, ela realiza suas pesquisas em um cubo minimalista feito com pinus reflorestado. São 3 andares com ateliê, escritório, galeria e um pequeno espaço museológico onde estão em exibição as mais recentes formas criadas por Crocco a partir do interior das árvores. Seu trabalho nos ensina a olhar as coisas de maneira diferente. Ela olhou para uma árvore. Dali, um mundo inteiro de formas brotou. Isso é design: “Para mim, o design não é simplesmente um símbolo de status ou de poder aquisitivo. Ele é espaço de sonhos, de emoções, de sobrevivência e de filosofia do ser. Atrás de um projeto estético há sempre a busca de um homem novo.” Por Bruno Moreschi croccostudio.com ffwmag! nº 31 2012
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PODE ENTR AR / EM TUDO QUE FA Z , ADÉLIA BORGE S PENSA EM AMPLIAR O PÚBLIC O. ABRIR A S PORTA S DE UM MUSEU BR A SILEIRO E SPECIALIZ ADO EM DE SIGN É APENA S UM E XEMPLO DIS S O Foto ANDRÉ VIEIRA
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Adélia Borges na exposição “Lã em Casa”, com trabalhos de revitalização do artesanato gaúcho, coordenados pelas designers Tina e Lui Lo Pumo. A mostra foi em A Casa – Museu do Objeto Brasileiro.
“AdéliA tem um pensAmento dire to e e x tremAmente lógic o s obre o de sign do br A sil . Além de ter revolucionAdo o museu dA cA sA b r A s i l e i r A , é u m A p e s s oA e x t r e m A m e n t e s é r i A , At uA n t e e q u e , q uA n d o c o n h e c i , f o i A m o r à p r i m e i r A v i stA . ” mArcelo rosenbAum
Museu da Casa Brasileira, 2003. Até esse ano, a instituição localizada no Jardim Paulistano, em São Paulo, não era exatamente um lugar convidativo. Alguns achavam que se tratava de uma igreja. Outros, um buffet de festas. E os mais inventivos juravam que aquele local pomposo era, na verdade, uma casa de repouso para senhoras endinheiradas. Como o próprio nome sugere, aquilo era (e ainda é) um museu. Mas, literalmente, de portas fechadas. Quando convidada para dirigir o local, de 2003 a 2007, Adélia Borges não teve dúvida sobre qual seria sua primeira ação. Escancarou o portão. E, por isso, não seria nenhuma figura de linguagem afirmar que Adélia abriu as portas do Museu. “Fiz reuniões com os funcionários e avisei que todas as pessoas que entravam ali eram importantes. Independente da classe social. Não era para reparar na roupa, perguntar o que queria. E disse mais: quanto menor a classe social, melhor a pessoa deveria ser tratada.” Adélia conta isso com naturalidade, pois “museu é um lugar de todos.” A resposta não poderia ter sido ser melhor. Durante o seu período de diretora do MCB, a visitação aumentou 400%. E o local passou a ser um espaço não só para exibir o design internacional. Muitas das mostras seguiam a ideia de um design acessível. Uma das primeiras foi a exibição de fotografias de casas de brasileiros. Eram moradias de quase todos os tipos e regiões. Nenhuma mansão. “Tudo que faço na minha vida segue um norte: ampliar a audiência. O design (bom ou ruim) está na vida do pobre e do rico. Por isso, não me venha com essa história de que design é algo necessariamente caro.” Mas o que ganhamos ao valorizar o design? “Passamos a reparar que ele está presente em toda a nossa vida. Dormimos numa casa projetada por alguém. Tomamos café da manhã numa mesa. Reparar no design é adquirir discernimento de como as coisas ao nosso redor são feitas. É deixar de ser um simples consumidor. Virar cidadão diante das coisas.” Talvez seja por isso que Adélia gosta tanto de escrever, dar palestras e realizar exposições sobre design. Livros sobre o assunto, ela já escreveu mais de dez. O último foi Design + Artesanato – o caminho brasileiro, uma radiografia do objeto artesanal no Brasil. A obra revela transformações de um artesanato nacional que tenta se aperfeiçoar para ser cada vez mais tratado como design de fato. Os barcos de Miriti, de Abaetetuba, Pará, é um ótimo exemplo disso. Até pouco tempo atrás, os turistas compravam a lembrança, colocavam em suas malas e, quando chegavam a suas casas, lamentavam o fato da chaminé do barquinho ter quebrado na truculência da viagem. O livro apresenta a solução: os mastros agora são retirá-
veis, uma mudança simples, mas fundamental, pois previne danos durante o transporte. O pensamento de Adélia trata o artesão não como um ingênuo, mas como alguém que quer e pode se atualizar. “De que adianta fazer só toalhas de mesa enormes, se as famílias diminuíram de tamanho? Insistir em toalhas quando muita gente está optando pela informalidade dos jogos americanos? Ou fazer toalhinhas de bandeja minúsculas, se hoje elas não são mais usadas? Várias práticas artesanais surgiram para o consumo próprio do artesão, de sua família e de sua comunidade. Em sua casa, um pano bordado pode ser usado para cobrir um pote de água ou ‘vestir’ um liquidificador. Esse mesmo pano, numa casa urbana, terá outros usos, e o artesão precisa estar atento a eles para poder atender à demanda.” (Página 74 do mesmo livro) Na década de 1970, Adélia começou no jornalismo escrevendo sobre soluções para cidades no O Estado de S. Paulo. De 1987 a 1994, virou editora da primeira revista de design de produtos e interiores do Brasil, a Design & Interiores. “No início, as pessoas não entendiam o que fazia. Contava que era editora de uma revista brasileira de design e elas me perguntavam: mas existe design no Brasil? Nos anos de 1980, quando falava que era brasileira em uma feira internacional de design, o segurança aparecia e proibia as fotos. Éramos visto como meros copiadores. Isso mudou completamente. Falo agora que sou do Brasil e vejo que há uma ideia de que somos um país com frescor e tentando sugerir coisas novas para o design internacional.” Mas verdade seja dita: não vamos conseguir competir com um Philippe Starck. Resta saber o que podemos propor. Adélia concorda com uma das teses defendidas pelos principais nomes brasileiros que aparecem nessa revista. O Brasil precisa usar sua cultura popular para se destacar no design. Mas, para ela, isso é apenas um dos nortes. “Na verdade, acho que tudo que é isso ou aquilo é bobo. Não precisamos ser apenas artesanais. Tampouco termos uma crença de que a indústria irá nos salvar. Durante muito tempo, as faculdades de Design do Brasil ficaram presas no ideário do modernismo brasileiro. E tudo que era artesanal foi banido. Não acho que o artesanal seja excludente do industrial.” Em outras palavras, Adélia parece almejar que nosso artesanal não seja apenas ingênuo e que nosso industrial não seja soberano. É uma defesa ao pensamento multifacetado brasileiro. A solução está na nossa própria história. Por Bruno Moreschi adeliaborges.com ffwmag! nº 31 2012
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LUZ E VI DA / O L A FU R E L I A S S O N C O N SE G UI U C R IAR UMA OBR A D E A RT E Q U E N Ã O É A PE NA S E ST E T I CA ME NT E AG R A DÁ VE L . É TA MBÉ M T R AN SF O R M A D O R A PA R A MAI S DE 1,6 B I LH Ã O DE PE S S OA S Desde 1997, o dinamarquês Olafur Eliasson ilumina museus do mundo inteiro. Conhecido por usar luzes, fumaça e ilusionismo óptico para provocar os sentidos do público, o artista ganhou fama internacional em 2003 no Tate Modern. Chamada de The Weather Project, a instalação era um sol artificial que enchia de luz um dos espaços do museu londrino. Foi um sucesso: mais de 2 milhões de pessoas visitaram a exposição e, não raras vezes, muitas delas se deitavam no chão do museu como se estivessem, de fato, tomando sol. Não era preciso fazer mais nada. Com a instalação do sol artificial, Eliasson alcançou um espaço nobre na arte contemporânea. Mas a história não ficou confinada apenas ao mundo das artes. Sorte para o resto do mundo. A partir de sua instalação artística, Eliasson e o engenheiro mecânico Fredrik Ottesen decidiram criar algo que eles chamam de “uma obra de arte que funciona para a vida”. A tradução para essa frase não carrega o trocadilho presente na frase original: a work of art that works in life. O Little Sun é uma espécie de lanterna que se carrega com a luz solar. Cinco horas de luz natural é convertida em cinco horas de luz artificial. Para alguns, o Little Sun é apenas um objeto de design ecologicamente correto. Entretanto, Eliasson argumenta que seu projeto é algo que pode mudar a realidade de 1,6 bilhão de pessoas que não tem acesso à energia elétrica. “Crianças pobres poderão estudar à
noite, comércios locais poderão ficar abertos por mais tempo e o problema com a intoxicação de querosene será resolvido”, afirma Eliasson no material que explica o Little Sun. A afirmação do artista chama atenção para a questão do querosene, um problema sério que muitos de nós não nos damos conta. Para produzir luz durante uma única noite, a queima de querosene faz uma família respirar emissões tóxicas que equivale a fumar 40 cigarros. Em um ano, é como se essa família tivesse fumado 14.600 cigarros. Em julho de 2012, o Little Sun será exibido no mesmo Tate Modern, onde Eliasson levou 2 milhões de pessoas a venerarem seu sol artificial. Engana-se, porém, quem pensa que o produto estará em uma sala branca. Durante duas horas nas noite de sábado, as obras expostas no Tate serão iluminadas por um conjunto de Little Suns. Isso corresponde exatamente à ideia que o artista tem sobre esse trabalho. “Vida e luz são inseparáveis. Queria uma obra de arte que não apenas mostrasse luz no museu, mas que usasse a luz de uma maneira mais ambiciosa e integrada ao mundo.” P.S.: Para a infelicidade dos brasileiros, o Little Sun é vendido no seu site oficial apenas para os Estados Unidos e Europa. Por Bruno Moreschi littlesun.com olafureliasson.net ffwmag! nº 31 2012
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Tatiane Castro dos Santos e Kamila Harley, duas mulheres beneficiadas pelo projeto Lua Nova 176
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UMA IDEIA (C OLE TIVA) PAR A JOVENS MÃE S / C OMO UMA ONg C ONSEgUIU S UA NOVA SEDE PEL A UNIÃO DE DOIS E SCRITóRIO S E 11 E STUDANTE S DE ARq UITE TUR A
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Conversar com as mulheres da ONG Lua Nova é se deparar com uma realidade repleta de dificuldades. Elas são mães muito novas, grande parte delas com histórico de uso de drogas e vindas de famílias desestruturadas. Uma das meninas conta: “Fui abandonada, usei drogas por algum tempo. Vivia de favores das pessoas, sem destino.” Mas, diante de tantos problemas, o fato de serem mães de filhos recém-nascidos ou prestes a nascer é também o fio de esperança que tanto faltava. “O momento que a menina se torna mãe é ideal para reconectá-la ao mundo, à sua família, enfim, melhorar sua condição de ser humano”, explica Raquel Barros, presidente da Lua Nova. Curioso é descobrir que a ONG nasceu a partir de uma história relacionada à maternidade. Durante 4 anos, Raquel tentou ser mãe. Chegou a ir para a Itália fazer um tratamento. Mas não conseguiu. Quando voltou ao Brasil, tinha uma certeza: a impossibilidade de ser mãe seria a energia necessária para criar um local que ajudasse mães socialmente carentes. Deu certo. Hoje, a Lua Nova dá abrigo a 32 mulheres, 27 crianças, além de atender uma média de 100 jovens mães e seus filhos. Em 2002, Raquel tinha conseguido um terreno para a construção da sede da Lua Nova em Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo. Quando o espaço começou a se tornar mais conhecido, a reação conservadora de uma típica cidade pequena surgiu. Em uma noite de outubro desse mesmo ano, um grupo de pessoas mascaradas cercou a sede e começou um violento apedrejamento. Raquel e as jovens mães chamaram a polícia. As três viaturas estacionaram diante da cena. Quem deveria protegê-las ficou apenas observando a destruição. “Impossível não lembrar da música do Chico Buarque. Foi
literalmente uma típica cena Joga Pedra na Geni”, lembra Raquel. Aos poucos, a parte conservadora da cidade passou a tolerar a presença das meninas e seus filhos. Tudo parecia estar dando certo. Até Raquel ser informada de que a ONG não poderia ficar mais ali. O terreno iria ser usado para outros fins. É nesse momento que entra o designer Marcelo Rosenbaum. Ele foi procurado por Raquel, que já tinha em vista um outro espaço, dessa vez cedido pela prefeitura de Sorocaba. Rosenbaum ouviu o pedido da diretora da ONG e foi muito além da simples entrega de um projeto para uma nova sede da Lua Nova. Ele explica: “Eu gostaria de unir as pessoas para criar algo maior. Não apenas um de monte de papel. Mas uma transformação de fato.” Para ajudar a Lua Nova, Rosenbaum lembrou-se de uma história que gosta sempre de contar: a de que os índios consideram que uma ideia nunca é fruto individual de um único homem, mas sim, algo que pertence a um grupo. Assim, o escritório de Rosenbaum se uniu com Lourenço Gimenez, Rodrigo Marcondes Ferraz e Fernando Forte, três arquitetos do escritório FGMF, além de quatro instituições de ensino de São Paulo (USP, Belas Artes, Escola da Cidade e FAAP). Nessas escolas, foram selecionados 11 estudantes interessados e aptos para ajudar a Lua Nova. O grupo conviveu com as meninas da ONG durante uma semana, entendendo suas necessidades, analisando como de fato eles poderiam ajudá-las. Hoje, após as ações desse mutirão, Raquel está feliz. O novo terreno de 16 mil m2 agora tem projeto, e as construções logo vão começar. A história preferida de Rosenbaum sobre os índios e a coletividade mais uma vez foi confirmada. luanova.org.br fgmf.com.br ffwmag! nº 29 2012
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V I DA BA N D I DA / E L E C O MANDAVA O T R Á F I C O D E D RO G A S NO PARQ UE SA NTO A N T Ô N I O, NA ZO NA S UL DE S ÃO PAULO. NA DA E R A F E I TO A L I S E M A S UA AUTO R I Z A Ç Ã O. M A S , AO VI VE NC IAR A S MUDA N Ç A S PROVO CA DA S PE LO PROJE TO A G E N T E T R ANS F O R MA , G E OVA N I TA M B É M QUIS MUDAR POR MARCOs GUINOzA
Geovani da Silva Melo, 28, nasceu em Pernambuco. Aos três anos, mudou-se para São Paulo com a família. Ele tem seis irmãos. O pai é operador de máquinas. A mãe, costureira. Ao chegar à capital paulista, a família foi morar no Jardim Ângela. Por ter amigos no Parque Santo Antônio, ali próximo, Geovani cresceu entre esses dois bairros da zona sul da cidade. INFÂNCIA
“Minha infância foi boa. Não posso reclamar. A gente passava por dificuldades que quase toda família passa. Mas sempre fui bem cuidado pela minha mãe e pelo meu pai. Meu pai nunca bebeu, nunca fumou. Na família, eu sou o único que fuma. Parei durante três anos e voltei. Mas vou parar de novo.” (Na sessão de fotos para esta reportagem, ele pediu para não ser clicado com o cigarro na mão) Geovani estudou até a 8ª série: “Parei por causa da minha condição. Eu já era pai. Tive que largar os estudos para trabalhar.” Casado com Jaqueline, ele tem três filhos: Beatriz, de 9 anos, Rafael, 6, e Kevin Geovani, 2. Para sustentar mulher e filhos, trabalhou em um restaurante libanês, em Moema, e, depois, como mecânico de automóveis. Mas aí a situação complicou e Geovani não resistiu ao chamado da tal ‘vida bandida’. OPORTUNIDADE
“Quando entrei para o tráfico, foi uma opção de vida mesmo. Eu não tinha como sustentar minha mulher, meus filhos, pagar aluguel. Estava difícil arrumar trampo. Foi uma oportunidade. Os caras te convidam. ‘Olha, tem uma lojinha, você quer tocar ela pra mim?’. Mas eu tinha em mente que, se fosse pra entrar pro tráfico, eu seria o dono, não trabalharia pra ninguém. Foi aí que veio a ideia de abrir uma lojinha no Parque Santo Antônio.” (Lojinha, para os traficantes, significa boca de venda de drogas) Decidido a ter o seu próprio “negócio”, Geovani saiu em busca de parceiros: “Tive uns acompanhamentos por fora, pra trocar umas ideias comigo. Não é assim que funciona: vou chegar e abrir uma boca. Precisa ter uns conhecimentos aqui e ali.” No período em que dominou o tráfico no Parque Santo Antônio, Geovani comandava oito “funcionários”. Vendia cocaína, maconha e lança perfume. “Só não vendia pedra. Nunca fui a favor de crack.” Por semana, ele revela que faturava de R$ 6 mil a R$ 7 mil. “Quanto mais droga eu pegava pra vender, maior era o lucro.” Geovani pagava R$ 500 por
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semana para cada funcionário – “todos maiores de idade” – e, dependendo do movimento da boca, embolsava de R$ 3 mil a R$ 4 mil. E de onde vem a droga, Geovani? “Ah, a droga vem de vários lugares, de vários pontos.” VULGO: CABELO
“Eu tinha uns 13 anos e fiz uma mecha no cabelo, fiquei com um topete amarelo. Chegou um cara novo lá no Jardim Ângela e ficou falando do meu cabelo. O apelido acabou pegando.” Geovani, hoje, prefere não ser chamado mais por esse apelido: “Foi, passou o tempo do Cabelo. Não uso mais esse vulgo e ninguém mais me chama assim. Agora é Geovani.” Para abrir o seu ponto de tráfico, ele teve que acabar com outro que já funcionava ali perto. No início, para se proteger “de qualquer eventualidade que viesse a acontecer”, Geovani e seus parceiros de crime andavam armados. “Você arruma treta com meio mundo, tem cara querendo te pegar e você não quer ficar pra trás. Ou é meu ou não é de ninguém. No começo foi complicado. Mas, depois de uns dias, perceberam que o ponto era meu e não tinha jeito.” POLÍCIA
“Nunca tive problema com a polícia. Os caras sabiam do Cabelo, mas não sabiam quem era o Cabelo. Procuravam, mas não achavam. Eu comandava, mas não ficava aqui.” (Geovani tem apenas um único antecedente criminal: por porte ilegal de arma) TEMIDO OU ADMIRADO?
“Eu era mais admirado. Temido nem tanto, porque não precisava ficar batendo em ninguém, ficar puxando revólver pra ninguém. O nome Cabelo cresceu e acabou botando pânico nos outros. Querendo ou não, o pessoal fica meio assustado, com medo. Mas quem me conhece sabe que não sou esse terror. Sou um cara tranquilo. É que o pessoal passa uma impressão de que você é um cara mau. Aí, fica essa imagem ruim.” Geovani explica que ter essa “imagem ruim não é bom negócio”, porque o traficante acaba sendo denunciado pela população. “Você tem que ter uma imagem boa, de um cara que ajuda as pessoas. Desse jeito, você trás a população pro seu lado. Se tiver alguém querendo te matar, o morador te conta. Agora, se você é um cara ruim, ninguém vai te avisar.” ffwmag! nº 31 2012
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“F icava ac orda d o, p e n sa n do : o s ca r a s v ã o i n va di r a m i n h a ca sa , a po lí ci a va i apa r e c e r . h oj e , não d evo na da pr a n i n g u é m . no t rá Fi c o, vo c ê t e m d i n h e i ro to da h o r a , m a s nã o tem pa z . e a pa z q u e e u v ivo ag o r a vale p o r tu d o. ”
E alguém já tentou te matar, Geovani? “Nunca tive confusão com ninguém. Nunca recebi ameaça, ninguém deu tiro em mim. Ando por aqui a qualquer hora.” Geovani não enfrentou nenhuma reação dos moradores do Parque Santo Antônio quando montou a sua “lojinha” ali. Ao contrário. Ele conta que “o lugar era bagunçado”, tinha muitos usuários de droga e roubos. Ao se instalar no local, a sua primeira providência foi afastar “os noias e os ladrões”, além de oferecer proteção e ajuda para os moradores. “Se o cara precisava comprar leite para os filhos e estava sem dinheiro, eu mandava comprar logo duas caixas.” Assim, conquistou o respeito da população. Hoje, Geovani e sua família moram em uma casa de frente para o Campo do Astro, um campo de futebol de terra batida cercado por um córrego coberto de esgoto e lixo. Foi ali que o designer Marcelo Rosenbaum e o projeto A Gente Transforma desembarcaram para mudar a vida de Geovani. O PRIMEIRO ENCONTRO COM ROSENBAUM
“Os caras começaram a vir. Não mexiam comigo, eu não mexia com os caras. Aí, falaram pra mim que iam fazer um projeto aqui. Legal, bom pra nós. Falei para os meus meninos que o que os caras precisassem, podia liberar. Meu primeiro encontro com o Rosenbaum aconteceu numa reunião na Casa do Zezinho. Ele me perguntou se podia fazer o projeto. Eu respondi que sim.” (Nessa época, nada era feito no Parque Santo Antônio sem a permissão de Geovani) No dia 25 de maio de 2010, data em que o projeto A Gente Transforma foi inaugurado, Geovani chamou Rosenbaum para uma conversa. E foi a partir dessa conversa que a sua vida começou a se modificar. “Eu falei pra ele que não aguentava mais o tráfico, que queria ser alguém na vida. O cara ficou emocionado pra caramba e eu também.” Resolvido a deixar o crime, Geovani se reuniu com seus comparsas e comunicou a sua decisão (dois deles preferiram continuar no tráfico e estão presos). Depois, deu alguns telefonemas para avisar que ninguém mais vendia drogas no Campo do Astro. “Muita gente ficou admirada, tanto do lado da civilização quanto do lado do crime. Alguns me perguntavam: ‘Cara, você parou a boca, vai trabalhar?’ Eu respondia: ‘Cansei dessa vida. Quero ter uma vida digna agora.’” Não foi de uma hora para outra que Geovani decidiu mudar. 180
“Eu já tinha esse pensamento, mas não tinha surgido a oportunidade. Por isso, eu falo que o A Gente Transforma foi a chave de tudo, uma porta que se abriu pra mim. O tráfico, chega uma hora, te sufoca. Você não pode sair, não pode curtir. E eu já me sentia sufocado.” Assim que fechou a boca, Geovani foi trabalhar na Casa do Zezinho, no setor de manutenção. Recebia R$ 800 por mês. “No começo, sair de um lucro de R$ 4 mil por semana para R$ 800 por mês é complicado. Só que aí você pensa, analisa a situação. Eu tenho três filhos. No tráfico, eu podia morrer ou ir preso. E se isso acontecesse, quem iria cuidar dos meus filhos?” A PA Z QUE EU VIVO AGORA
“Me sinto aliviado. Ando por aí, saio, coisa que eu não fazia antes. Eu vivia trancado. Ia dormir lá pelas seis da manhã. Ficava acordado, pensando: ‘os caras vão invadir a minha casa, a polícia vai aparecer’. Hoje, não devo nada pra ninguém. No tráfico, você tem dinheiro toda hora, mas não tem paz. E a paz que eu vivo agora vale por tudo.” Parque Santo Antônio, Campo Limpo e Capão Redondo formam uma região que já foi chamada de “triângulo da morte”, devido aos altos índices de assassinato do lugar. Embora a situação ainda seja alarmante, tanto na questão da segurança quanto no vergonhoso descaso do poder público, Geovani acredita que a realidade melhorou. “Antigamente, ninguém entrava aqui. Era morte direto. Hoje, está na paz, você não vê tanta confusão.” De comandante do tráfico, Geovani passou a combatente. “No meu pedaço, ninguém mais põe droga. Os caras me respeitam.” Geovani saiu da Casa do Zezinho e tem viajado com Rosenbaum para contar sua história, em algumas palestras, como a que apresentou na última edição do São Paulo Fashion Week. Sobre o futuro, ele deseja apenas que seus filhos estudem. “Eles agora podem se espelhar em mim”, diz, sem esconder o orgulho. Ele também será personagem da escritora Natércia Pontes, que escreve um livro sobre o A Gente Transforma no Parque Santo Antonio. Ao fim da entrevista, Geovani fez a gentileza de levar este repórter até o ponto de táxi mais próximo a bordo de seu fusca branco – comprado, segundo ele, depois que mudou de vida, depois que se reinventou como cidadão. “Tráfico, nunca mais!”, avisa. casadozezinho.org.br
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P ROVOCA R PAR A TR ANSFORMA R / PA Rq u e SANTO ANTôNiO: A AuTOe STiMA C OMO iMPulS OR A de Mu dA N çA S Por Marcos Guinoza
Seguindo pela Estrada de Itapecerica, sentido bairro, em determinado trecho, basta virar à esquerda e logo você “cai” no Parque Santo Antônio. “Cair” é o verbo apropriado. A comunidade fica lá embaixo, onde um amontoado de pequenas casas, entrecortadas por passagens estreitas, formando o que podemos chamar de “arquitetura do improviso”. Estamos na periferia, em um lugar onde nada parece ter sido planejado. É observar e ver que tudo ali foi se acumulando e se encaixando de acordo com as necessidades e carências dos moradores. O Parque Santo Antônio está situado em uma das áreas mais desassistidas da Zona Sul de São Paulo. Lá, o único espaço público de lazer é um campo de futebol de terra batida: o Campo do Astro. E foi no entorno desse fundamental ponto de convivência da população local que aconteceu a primeira edição do projeto A Gente Transforma. O lugar foi escolhido para receber a iniciativa depois que Marcelo Rosenbaum conheceu a Casa do Zezinho, organização comandada por Saulo Garroux e sua mulher, a educadora Dagmar Garroux, mais conhecida como Tia Dag. A ONG atua na região desde 1993, com foco na formação, educação e desenvolvimento humano de crianças de baixa renda. Fala Tia Dag: “Esse projeto, o A Gente Transforma, pra mim é a gente provoca. A gente provoca em todo mundo a beleza, a gente provoca compartilhar, a gente provoca estar junto.” Idealizado por Marcelo Rosenbaum, o A Gente Transforma reúne uma equipe multidisciplinar. Estão envolvidos com o projeto arquitetos, designers, jornalistas, fotógrafos, produtores, videomakers. A intervenção urbana ocorrida no Parque Santo Antônio ainda contou com a participação de 35 estudantes de arquitetura e design de vários estados do Brasil. Da Inglaterra, vieram cinco designers graduados e estudantes da Royal College of Arts.
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Fotos douGlas Garcia
Um deles resumiu bem o sentimento de todos: “Acho que todo mundo vai voltar transformado daqui.” Ao chegar ao Parque Santo Antônio e observar as casas em volta do Campo do Astro, logo percebemos que algo novo aconteceu ali. No lugar da aridez do concreto, as casas agora têm cores vibrantes e alegres. No total, foram pintadas 63 casas durante a Semana da Mão na Massa, mutirão feito com metodologia e coordenação do Instituto Elos, e que uniu e mobilizou os moradores em prol de um bem comum. “Um morador ajuda o outro a rebocar a casa. Isso é inédito aqui”, avalia Saulo Garroux. Mas a pintura, segundo Rosenbaum, foi só uma desculpa para estar lá. A ideia era levar autoestima para a população e fazer com que o projeto virasse um catalisador de mudanças. Foi o que aconteceu. Fala novamente Tia Dag: “É um projeto que provoca. Provocou a comunidade, que passou a cuidar mais do que tem e até formou uma associação para discutir suas questões e exigir seus direitos.” Ao lado do Campo do Astro também foi construída a Biblioteca Para Todos. É lá que, hoje, trabalha Jaqueline, a mulher de Geovani da Silva Melo, o ex-traficante que abandonou o crime depois que se envolveu com o projeto. Se tivesse mudado apenas a vida de Geovani, o A Gente Transforma já teria cumprido importante missão social. Mas não foi só ele quem mudou. Foi toda uma comunidade que, sobrevivendo “do jeito que dá”, ganhou confiança para, quem sabe, transformar o rumo da sua história. rosenbaum.com.br/agentetransforma casadozezinho.org.br institutoelos.org
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Organizações pacifistas das mais diversas partes do mundo tentam convencer os Estados Unidos a evitarem o uso de seu poderio militar. Protestos na frente da Casa Branca, shows de rock pregando a paz, pressões de entidades poderosas como a ONU, nada parece deter uma espécie de sede por sangue alheio que tanto evoca a história norte-americana. Diante dessa dificuldade, os ativistas Jon Rubin e Dawn Weleski decidiram usar em favor da paz outra característica que marca os Estados Unidos: a obsesidade crônica. Conflict Kitchen surge a partir desse dueto guerra e comida. Em poucas palavras, o projeto é um restaurante que serve apenas pratos para viagem de países com os quais os Estados Unidos estão em conflito. Além da comida servida, o Conflict Kitchen promove performances e discussões sobre esses países. Alguns desses eventos foram espécies de jantares internacionais que uniram cidadãos de Pittsburgh, cidade sede do Conflict Kitchen, e habitantes de outros 184
locais como Teerã, Cabul e Caracas. No momento da escrita desse texto, o projeto estava na sua versão Cuba. A comida foi preparada por membros da comunidade cubana de Pittsburgh e as embalagens tratavam de assuntos como o embargo econômico dos EUA contra Cuba. Em algumas dessas embalagens, havia também entrevistas de cubanos relatando diferentes pontos de vistas da pequena ilha que ainda assusta tanto os norte-americanos mais conservadores. No site do projeto, há uma promessa. Em breve, o Conflict Kitchen irá também servir comida típica da Coreia do Norte. Espera-se que o restaurante prepare o mais político dos Kimchee, a conserva de vegetais tipicamente norte-coreana. Por Bruno Moreschi conflictkitchen.org
fOTOS CORTESIA DE CONflICT KITChEN
ATI V ISMO PAR A V I AG E M / TALV E Z A C OMI DA DE O U T RO S PAÍ S E S A JU D E A TORNA R O N ORT E -A ME R I CANO ME NO S BÉ L I C O
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F O r ma s da F O me U m a dU PL a de a rQU I Te TO s e de sIGNers aUsTrÍaC O s C r Ia m NOVa s reL a Ç Õe s C O m O aLIm eNTO. Pa r a HON eY & BU N N Y, C OmI da É CULTUr a , de sIGN É aLG O ma Is ImPOrTa N Te d O QUe POLÍTICa
Comidas viajam em caminhões, passam por carrinhos de mercado, sacolas e geladeiras de forma que ocupem menos espaço possível. Sejam legumes congelados ou manteiga, barras de chocolate ou caldos de carne, os habitantes das nações industrializadas compram comida quadrada em pacotes quadrados 186
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por Jur andy Valença
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Pães como a imagem acima foram inspirados na antiga tradição de se oferecer o próprio cabelo. Até mesmo na cultura cristã, tranças originalmente tinham caráter ritualístico: pães trançados eram feitos para presentear jovens mães nos Dia de Todos os Santos, Natal ou Páscoa. Como é fácil reparar, a forma deles remete a um bebê enrolado em cueiros. Ao lado, em nome da praticidade, produtos naturais como filé de peixe, são processados em retângulos. Em forma de palitos, podem facilmente ser industrializados e transportados. Eles cabem perfeitamente na boca – e, como não se parecem com o original, podem até atrair os que detestam peixe
Imaginem uma refeição na qual os alimentos “voam”, a comida é chicoteada, um maçarico é usado para assar bolos, uma serra para cortar legumes, além de brocas e outros equipamentos industriais usados no preparo dos pratos servidos. A “performance” descrita acima aconteceu durante uma apresentação sobre as ferramentas tradicionais de consumo de alimentos ministrada pela dupla de arquitetos e designers austríacos Sonja Stummerer (1973) e Martin Hablesreiter (1974), mais conhecida como Honey & Bunny. Para eles, há uma verdade incontornável na qual nós humanos, deveríamos cada vez mais acreditar: o design dos alimentos é mais relevante do que a política. “As pessoas deveriam falar sobre a comida como um aspecto da cultura, como o bem mais importante, como negócio, como um produto de design da vida diária.” Eles se convenceram disso depois de anos estudando a produção e o design de alimentos. A investigação da dupla esmiuçou a ciência, a cultura e a história dos alimentos, abrangendo áreas como semiótica, física e psicologia. O resultado pode ser visto em um documentário de TV, em uma exposição e em dois livros publicados: Food Design
(2005) e Food Design XL (2010). Stummerer e Hablesreiter combinam em seu trabalho arquitetura com design de interiores e design de produtos. Além da atividade artístico-gastronômica, escrevem para jornais e várias revistas de arquitetura. Em 2003, fundaram, em Viena, o estúdio interdisciplinar de arquitetura Honey & Bunny Productions. E entre seus últimos trabalhos estão o desenvolvimento e construção de coberturas e projetos de lojas, a direção de um curta-metragem e um documentário, curadorias, além da participação em inúmeras exposições, palestras e aulas como professores visitantes em universidades nos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Romênia, Turquia e Índia. Honey & Bunny desejam que as pessoas pensem sobre como se comportam diante dos alimentos e “como o consumo de alimentos é usado para manter a organização social como ela é”. Em Coma Design, projeto de 2011, por exemplo, eles não só questionam sobre o que comemos, mas também sobre a forma como comemos, e isso inclui a nossa posição à mesa, as ferramentas (talheres) ffwmag! nº 31 2012
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1. O sorvete austríaco é mole por dentro e um dos exemplos mais antigos de comida gelada. Coberturas e casquinhas funcionam como uma proteção comestível. Elas isolam e preservam o conteúdo, protegem ingredientes sensíveis para que não sequem, amassem ou estraguem 2. Reciclagem culinária: às vezes damos vestimentas mais atraentes a comidas amanhecidas ou estranhas. É o caso da sobremesa austríaca Punschkrapfen – bolinhos velhos embebidos no rum e com cobertura cor-de-rosa 3. A torrada veio à tona durante a Renascença e recebeu seu formato contemporâneo durante a Segunda Guerra Mundial. Com essa nova forma, era mais fácil e barato enviá-la dos EUA para as tropas aliadas na Europa. E provavelmente não existiria queijos e presuntos quadrados se não fosse pelo pão de forma 4. Um potencial futuro para o design de comida: pratos e talheres comestíveis 5. O formato certo para recheio de pretzels e croissants ainda está por ser inventado 6. Formas compridas e curvadas como a banana são perfeitas para serem mordidas. Triângulos são formas singulares por serem difíceis de comer e seus ângulos pontudos causam um efeito psicológico ameaçador 7. Se fatias de pão árabe substituem pratos, o design de outros alimentos servem como colheres e garfos também. Os talheres só se tornaram aceitos depois do Renascimento. Nos séculos anteriores, o design de comida precisava funcionar de modo que as pessoas pudessem facilmente comer com as mãos
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CO SA
A comida pode habitar um mundo cômico e colorido: bolachinhas da Hello Kitty, biscoitinhos de peixe, macarrão em forma de árvores, flores, estrelas e balas de goma em forma de hambúrgueres. Só na Europa, 10 mil novos produtos são lançados todo ano. Ao lado, nojo como conceito de design: pirulitos espanhóis com sabor de conhaque recheado de formigas comestíveis
e as roupas que usamos no momento. “As pessoas pensam que têm um instinto sobre gosto e cheiro; não é verdade, você aprende. Gostos são influenciados pela cultura”, completam. Em pelo menos uma ocasião, Honey & Bunny – juntamente com Tom Hanslmaier (performer e dançarino austríaco) – já prepararam e serviram alimentos utilizando ferramentas e máquinas de um artesão. Food Tools, mais que uma performance, é uma tentativa lúdica de abordar e permitir a mistura do conhecimento técnico e da concepção “clássica” do design industrial com o design de alimentos; estes, por sinal, são preparados com brocas, serras circulares e fresadoras. E, simultaneamente, processos bioquímicos são realizados com o uso dos métodos de gastronomia molecular. Ao final, é servida a cada convidado uma parte diferente dos alimentos preparados, como pratos feitos de carne, colheres de cenoura moída e outras ferramentas comestíveis. Tudo estritamente coreografado. Martin Hablesreiter e Sonja Stummerer proporcionam refeições nas quais a comida não só se torna uma experiência social,
mas principalmente uma ferramenta. Eles estão interessados em descobrir as conexões que existem entre a produção e o design de alimentos, as decisões e os processos envolvidos em sua produção, dissecando assuntos como cor, sabor, consistência, forma e tamanho, nas relações que acontecem entre aquele que consome e aquilo que é consumido. Como lidamos com os nossos hábitos alimentares? Afinal de contas, por que as pizzas são redondas e os pães geralmente têm forma de tijolos? Por que preferimos alimentos vermelhos aos azuis? O que torna o marshmallow atraente e o escargot não? Em seu pioneirismo, Honey & Bunny nos sequestram para uma dimensão estética e social na qual o paladar, o olfato, a visão, o tato e a audição nem sempre têm o mesmo peso, medida e cor. Afinal, como disse Goethe, “ideias ousadas são como as peças de xadrez que se movem para a frente; podem ser comidas, mas podem começar um jogo vitorioso”. honeyandbunny.com ffwmag! nº 31 2012
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É c o i sa n o s sa / M a rcelo ro s en bau M e ro ch e ll e c o st i s e u nir a M pa r a a cri a çã o d e u M i nv e nt á ri o d e o bje to s popul a re s e o ni p re se nt e s t i p i caMen te b r a s i l e i ro s
G a r r a F õe s
Eles podem ser de várias cores. Surgidos nos anos 70, não são diversificados apenas nas suas tonalidades, mas também na sua função. O que pode ser colocados neles? No Sul do País, em versões de vidro esverdeado, eles servem para guardar vinhos artesanais. Mas não é dificil encontrá-los também para armanezar água potável
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Va s s ou r a ( Nó s p r e f e r im o s a d e pa l ha )
A vassoura de palha é geralmente produzida com sorgo, considerado o 5° cereal mais importante do mundo, antecedido pelo trigo, o arroz, o milho e a cevada. É um objeto sustentável: não leva petróleo como as de plástico e sua decomposição não agride o meio ambiente. Muitas são as lendas que cercam uma vassoura de palha. Uma das mais conhecidas sugere não varrer a casa durante a noite. Dizem que a atitude espanta a tranquilidade da casa e incomoda as almas de boas intenções
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E s c ov i nh a dE pl ástic o
Ideal para os donos de cabelos indomáveis. Por ter dentes mais largos e separados, ela consegue desembaraçar com mais facilidade aqueles fios que teimam em ser do contra. Há ainda outra vantagem nessas escovas: sua pontas arredondadas massageiam o couro cabeludo. Os mais sensíveis chegam a sentir um leve e delicioso formigamento na cabeça
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Suc o S c olorido S
Eles podem ser no formato de pinhas, carrinho, jacaré, ratos, bola de futebol... Num passado não tão politicamente correto havia também as versões granada e revólver (em São Paulo, claro, o Kassab proibiu). Até hoje, beber esses sucos é ficar com a língua colorida. Sucos? Bem, há quem suspeite que na verdade eles são 100% corante – o gosto azedinho típico reforça a suspeita
Sa l e iro d e b on e c o S
O casal de saleiros vem de uma ideia: a de que casados sabem muito bem como é comer sal juntos. A versão feminina sempre está com o chapéu vermelho, lacinho na cabeça e olhos fechados. O homem usa boné, tem olhar de tarado e boca sorridente de esfomeado. Ter só um deles em casa traz azar e sete anos de solidão
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cadei r a e spaguete
Também conhecida como “cadeira de varanda” e “cadeira da vó”, ela existe em diversas cores. Suas principais vantagens: ser extremamente leve, o que facilita levá-la de um lado para o outro, e de preço bastante acessível. Na hora de guardá-las, basta colocá-la uma sobre as outras
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ca r r in ho d e f e ir a
Eles estavam bem esquecidos. Isso até muitas das cidades brasileiras proibirem o uso da sacola plástica. Hoje, chega a ser charmoso circular pelas gôndolas do supermercado puxando um deles. A divisória central cria dois espaços separados, ideal para separar os alimentos dos produtos de limpeza. Isso sem falar que eles são dobráveis
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cai x a de i s opor
O clássico dos clássicos. Ela está na peixaria, nas praias, no porta-mala dos carros e nos finais de semanais de regiões movimentadas como a rua Augusta, em São Paulo. Com pedras de gelo, essas caixas são ideais para conservar os produtos gelados
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p orta- sa pato s
A praticidade em forma de objeto – especialmente para as mulheres que costumam exagerar na q uantidaded es apatos. CCostumeiramente, esses porta-sapatos são colocados atrás de portas, escondidos dos olhares das pessoas. CCostuma ser também a prova final para quem suspeita sofrer de TOC. Há casos de pessoas que não conseguem dormir se os sapatos não estiverem enfiados no mesmo sentido e formando um degradê de cores.
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TO ST E X
Algumas pessoas acham chique chamá-lo de Bitost. É claro que não compactuamos com essa bobagem. Quase sempre, o Tostex é feito de ferro fundido e possui um cabo com extremidade de madeira. Como poderíamos ter sobrevivido sem essa incrível invenção?
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g ali nha porta- ovo s
Sem dúvida alguma, esse é o objeto mais filósofico do Brasil. Olhá-lo é costantemente se perguntar quem surgiu primeiro: o ovo ou a galinha? Ele também é responsável por uma dúvida infantil comum. “Quer dizer que as galinhas são feitas de ovos?” ffwmag! nº 31 2012
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english COnTenT 28 PoPuLARDeLuJo 38 PoSTCARDS FRoM SÃo PAuLo 46 SARAH CoLSon 50 GuI MoHALLen 59 BRAzILIAn MATTeRS 1 60 VáRzeA queIMADA 76 RenATo IMBRoISI 78 MozAMBIque 87 BRAzILIAn MATTeRS 2 167 BRAzILIAn MATTeRS 3 168 JAneTe CoSTA 170 HeLoISA CRoCCo 172 ADéLIA BoRGeS 174 LITTLe Sun By oLAFuR 176 LuA noVA 178 LIFe oF CRIMe 182 PARque SAnTo AnTônIo 184 ConFLICT kITCHen 186 FooD DeSIGn
RO S E N BAUM AN D RE DE S I G N I N G BR A ZIL Here at ffwMag!, we love design. In previous issues, we’ve published articles and visual essays on great names, such as Jeroen Verhoeven, a selection of talented designers in the Dutch issue, an entire magazine dedicated to craftsmanship vs. technology, and a report on Design for the other 90%, the impressive project that seeks solutions to people’s most pressing needs around the world. But all of that was just a warm-up for this issue of ffwMag! that you are now holding. Finally, we have the opportunity and space needed to defend what we always reiterate when design is the subject: to us, design is much more than a chair, a lamp, or any object per se. Design is, above all, a ‘redesign’, a new way to reconstruct the world – and thereby, of course, make it more beautiful, more accessible, and especially, more just. There is no one in Brazil better suited to take our defense and transform it into an entire magazine than Marcelo Rosenbaum. With a rare talent, the designer, who began his career in fashion, has become a great aggregator. Putting his TV fame to good use in social projects, Rosenbaum has been making history with initiatives such as A Gente Transforma, a project that connects Brazil back to its traditional roots and techniques, creating a new path for our national design. This multitalented man did not hesitate to accept our invitation to work as an editor-in-kind for this issue. Rosenbaum not only suggested many of the themes, he also inspired us with his contagious energy. When the magazine’s staff met him for the first time, he immediately pronounced the guiding principle behind this issue: “We are privileged in Brazil. The solution to our problems can be found right here, within our boundaries. We already posses an incredible, multifaceted culture, abounding in unique techniques. All we need to do is catalyze this potential.” Looking inwards. As did the modernists during the Modern Art Week of 1922; as do the residents of Mozambique featured in one of our articles; as adamantly preached by Janete Costa, a designer and defender of Brazilian craftsmanship as a central element of our décor, who we pay tribute to; and as Geovani Melo, the former drug lord known as Hair, who turned a fresh gaze on his own life. However, looking inwards does not mean staring down at our own navel. It means treating Brazil as more than just a country. We can become a new world model (and are already taking steps in that direction). And it was in thinking beyond our own continental boundaries that we gathered other ‘inward’ looks at Brazil, such as: Portuguese researcher Frederico Duarte, answering fundamental questions about our design at length; British bloggers Azusa Murakami and Alexander Groves analyzing São Paulo as only a foreigner could; the tropical colorfulness of Populardelujo, reminding us that it is fun to be Latin American; and the pioneer thinking behind Food Design, transforming our relationship with food (we guarantee that after reading about it, you will never look at a slice of bread the same way). But, before you begin to enjoy this issue, we want to reiterate Rosenbaum’s – and our – idea: that design can change lives. Think carefully about the data provided by the Brazilian Association of Interior designers. The Brazilian market generates R$ 60 billion a year. Arts and crafts alone move R$ 57 billion. We are talking about over R$ 100 billion (yes, that’s right!) a year. This number takes on greater significance it we stop to ponder that behind all of those zeroes, there are millions of Brazilians. Paulo Borges Publisher
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PROUD OF BEING OURSELVES
We are wondeful as we are, without needing to copy anyone else. We are popular and, why not, luxurious? By Bruno Moreschi To truly understand the meaning of the project Populardelujo we must momentarily forget its extremely colorful and attention-grabbing portfolio. We need to focus on the discourse of its members. A glimpse at the first pages of the website reveals that, to them, there is no single practical objective: “Populardelujo is a non-profit project for the collective heritage, dedicated to caring for, protecting and promoting the cultural, popular and urban culture of Bogotá, Colombia, South America.” In March of 2012, the members of the project were invited to present their research at What Design Can Do, a respected congress in Amsterdam. Along with Juan Esteban Duque and Roxana Martínez, Esteban Ucros is one of the founders of Populardelujo. As he relates his personal story to an audience, we begin to better understand his fascination for the mix that is pictured on this and other pages. Ucros studied design at university and his main references were the clean European and North-American design. But the theoretical teachings didn’t help Ucros understand the context in which he lived. In the classroom, minimalistic design. On the streets of Bogotá, a multi-colored and wonderful chaos. It was this situation, common to us, that gave rise to Populardelujo. The founding trio, alongside dozens of other collaborators, created a kind of data bank of Bogotá’s most incredible popular design, and through that, South America’s. All achieved while avoiding a discourse that often ridicules our localisms. They explain: “We like being from here. We feel the greatest affection and admiration for the graphic pieces that compose Populardelujo.” It is material that makes us proud. We needn’t copy the discretion of other peoples. We can forget the shiny, rounded such-and-such chair. We have popular singers that part their hair down the middle, coke bottle designs that Andy Warhol couldn’t come up with, and a ferocious tiger determined to color all of Colombia. populardelujo.com/ populardelujo.wordpress.com/
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SãO PaULO: URBaN SymPhONy
The gray and busy metropolis seen through the eyes of two foreign designers By Azusa Murakami and Alexander Groves The city of São Paulo streaming with rain and ideas. It is October, exhilarated and curious we descended on the hilltop city, which inspired and became the subject of many samba songs. Intoxicated by the feverish heat, we roamed the streets for hours exploring the city on foot and on the way discovering many aspects of it’s hidden beauty. We grew increasingly dissatisfied by the guidebook that leads one to consume the city by commerce; we began to make our own guide by writing postcards recording our daily discoveries. It quickly became an intimate textbook for our own work, for 3 months we observed and archived São Paulo and its rich source of skills, solutions and peculiarities. It is an industrious grindstone that plays a progressively crucial role in global economics, but it’s equally ingenious and beautiful. Modernity, heavy industry and handcraft intersect in this immense city of chaotic charm, which continues to inspire and fascinate us. At every construction site they use a tinted pink ply that indicates that the wood is ‘low grade’. Perhaps the permeating dye deters its premature reuse, perhaps it indicates a sustainable source, either way the building sites aren’t so aggressively macho with the vibrant hue. In a period where São Paulo is undergoing such a widespread development, the city’s turned pink with the industrious efforts of self-improvement. (R. Purpurina / R. Harmonia) Tree root after the street level has been lowered functioning as a bench. (R. Bresser) Rarely does public furniture draw so much attention as this bench. From kids to adults it’s fun piece where one can pretend to be a grub in a hole. The carved tropical hardwood is tactile and well crafted. (Parque do Ibirapuera) Curtailing the height of the trees to maintain the bizarre scale of the building behind. (Av. Roque Petroni Júnior) Under a huge concrete awning like a brutal communist structure the flower market is a dense mass of flora like a mega oasis. The event attracts hundreds of birds that tweet invisible in the roof as incessantly as the porters whistle to clear the path of the thronging people. As the people leave and the oasis get packed away the birds swoop down to pick at fallen seeds shaken off by vigorous trade. A city regulation that makes buildings undergoing construction or renovation be covered with a mesh netting to catch falling debris. The effect of draped buildings is a soft structure that responds to the meteorological conditions billowing &
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buffeting in a large undulating mass like a vertical swelling sea. (R. do Gasômetro) Whilst plastic products from china increasingly flood the Brazilian market there are still locally made products that can compete with the economics of mass production. This broom is made with the fallen palm fronds in the park where it is used. (Parque do Ibirapuera) The strange thing about design is the specific function it performs. The cardboard box folded by machine specifically to fit the chair just so, the brick mold at the right depth for the topography of the street, the electric box the right width to support the arm and the chair designed unbearable to sit on without these additional elements. (R . Teodoro Sampaio) Almost every fiberglass phone dome a.k.a. ‘orelhão’ or ‘big ears’ has a lining of little paper stickers. They of course advertise the services of prostitutesunremarkable for any city, however it’s the very unremarkable nature of the adverts that are curious. Always text based and in a limited range of fonts and colors the format is always the same 4 x 2.5 cm rectangle, occasionally and only in Centro, the stickers come in a larger version. Never any photographs- unlike in Rio where the ads are almost exclusively so. The stickers are removed by municipal workers though not as frequently as they men who visit the ‘ears’ to replenish the lining as methodically as bees visiting flowers. The use of only text gives a greater distance to the business and allows for a enjoyment of the language which is rich in common parlance, whilst the strength of the descriptions vary across the city providing a portrait of the locality as well as the lady. (Liberdade) The remains of past years carnival floats lie in mountains of broken polystyrene. Giant hands holding foaming mugs of beer, half a mythical beast, the bust of Horus, the bow of a Viking gallon, all lie fragmented mass of past themes in a parody of fallen civilizations. The conception of the floats starts a week after carnival ends and with two months to go their construction is a closely guarded secret. Float builders hurry to a fro visiting the float mountains to rip the metal infrastructures from the polystyrene shells for reuse. Whilst giant blocks of expanded polystyrene are still being carved into a multitude of forms for carnival this year, there is some hope for more sustainable materials. The latest trend is to import art directors from Boi Bumba carnival, deep in the Amazon and situated too far from polystyrene manufacturing, spectacular carnivals floats are constructed with an intricate lattice of metal framework and stretched fabric. Mechanically activated through cables and pulleys from within like an inverted puppet the forms are animated with astonishing realism, the fabric surfaces seem alive in a way that can’t be achieved with polystyrene. Sweet cart passing through industrial area offering peanut and coconut sugar snacks. The stallholder’s uniform, the cart and its contents all have a charming nostalgia that’s hard to resist. In São Paulo the building owners are responsible for the paving of the pavement in front of their building. The consequence of which is, for the most part, poorly maintained sidewalks of broken concrete though many businesses pave the street with tiles that carry the emblem of their trade- a bakery will have bread patterns and a locksmith will embed keys in the concrete so the building is continued into the fabric of the street. “Every fine summer night, television sets can be seen outdoors, used publicly, on the busy old sidewalks of East Harlem. Each machine, its extension cord run along the sidewalk from some store’s electric outlet, is the informal headquarters spot of a dozen or so men who divide their attention among the machine, the children they are in charge of, their cans of beer, each others’ comments and the greetings of passers-by.” – Jane Jacobs, Life and Death of Great American Cities Jacobs then goes on to propose installing TV sets in park playgrounds to encourage greater use. In São Paulo outdoor sets are common on the streets, in street stalls, taxi points and in this case at a bus stop. The summer nights here have frequent downpours and the TVs are sheltered in little houses. Looking over Cemitério São Paulo, one of the smaller of the cities 22 cemeteries covering 104,000 m2 an area equivalent to 4 city blocks. The necropolis holds some 140,000 recorded burials, an incredible density in comparison to the population of the surrounding blocks despite the lack of any structures exceeding one storey. One can’t help consider the constant demand for new burial grounds in a predominately catholic country, and the competition for space in a city ranked third in the world for the number of high-rise buildings. If building tops could be adapted for the purpose of cemeteries their effect could be the equivalent to that of green roofs, with their upkeep sponsored by selling grave lots with all the knock on benefits of cooling the building below, subduing the level of light pollution from the streets and adding an element of sublime to the experience of the cemetery. (R. Cardeal Arcoverde) Tiled car parks that are clean and bright are spaces that allow multifunction given the right ventilation. Functioning as hybrid spaces with offices from a purely pragmatic reason they foresaw the Herzog & de Meuron Miami car park. (Viaduto Bresser / Alcântara Machado) www.studioswine.com
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WHEN PEOPLE GORGED THEMSELVES
The night an art gallery served up dinner –raw food and no cutlery - prepared by the guests. A feast regaled with caipirinhas served in orange halves. by silas martí (*)
of the sensual release, in the sharing of food; he places himself there with butterflylike caution, contemplating the celebration (while looking in from the outside) and participating in its construction (and therefore, in its midst) at the same time.” There is an astounding bizarreness to these photos. To explain it would be, to a degree, to shred its mystique. We are uncertain of where we are or whom we are with. This mystery feeds the poetry.
In the hands of artists and designers, a dinner becomes a performance. The setting, not a house or a restaurant, but rather an art gallery in the neighborhood of Pinheiros, São Paulo, changes the whole game. Right at the entrance, shepherding people into the party, trinkets hung from low-lying tree branches with typical ads for prostitutes and transvestites. Inside, a blatant lack of waiters carrying champagne glasses; instead, two metal tabletops were covered in raw food waiting to be transformed into a feast by the guests themselves. “I had noticed that generally speaking one person cooks and everybody else eats. I wanted to invert that, so I thought we could all cook together,” says the mind behind the event, which took place in October of 2011 – Sarah Colson, British, artist, brunette, in glasses, a striped shirt and a very polished and well-behaved air. “It was to make things more interesting and force everyone to think outside the box, especially about the aesthetics of food.” In truth, Colson organized her dinner-performance, named The Meal #3 under a conceptual tripod of taste, aesthetics, and creative thinking about the organic waste produced by the event. “There couldn’t be any waste generated, it had to taste good and look good,” says Marcelo Rosenbaum, who invited Colson to head the dinner at the Moura Marsiaj gallery. “We used the peels, the stalks, the leaves, as cups, utensils, plates.” This improvisation remits to the first time the designer met with the artist. Rosenbaum met her when she came to Brazil to participate in his project to revitalize homes in the mega favela of Heliópolis, in São Paulo’s south end – a reality very distant to the posh white cubes with soaring ceilings whose business is selling art to hang in mansions. Colson combined her skills as a chef in a Mediterranean yacht, her experience studying art history at the Royal College of London and her visit to Heliópolis to create the event which transformed galleryowners, designers, artist and collectors into accidental cooks, dazed by the lack of glasses, cutlery and plates. “People needed to have the flexibility to not only prepare the food, but also to serve the dishes in recipients not intended for that purpose,” remembers Juliana Asmir, who works at the gallery. She fell in love with one of the gastronomical discoveries she made that night: a salmon and banana sandwich. “It was great to see architects, landscape artists, designers, these refined people getting their hands dirty, doing something ordinary, without glamor. It shed a more humane light on these celebrities, and people really gorged themselves on food and drink.” Pictures of the event show that, Laura Marsiaj, one of the partners at the gallery, was really having a good time pouring vodka into a watermelon carved by Colson to serve as a punch bowl. “Everyone has a different way of relating with food. Lots of people asked me what to do, and I would show them how to make things with fruits,” remembers Colson. “There were those who didn’t want to get their hands dirty at first, but wound up covered in food and happy as could be by the end of the night.” Without a doubt, the music blaring form the pickups sitting between the fruit and the caipirinhas served in orange halves broke the ice and helped everything flow smoothly. “If it had happened in a more conventional setting, without the art flare, people might have found it stranger,” reflects Rosenbaum, who has thrown a similar party with Sarah Colson in his own home. “It’s a discussion about what is art – what can be achieved collectively, what can be created.” Colson recalls that she chose fruits and vegetables that she was unfamiliar with, wanting the guest designers, architects and artists to show her what to do with delicacies such as cinnamon, passion fruit, cabbage and so on. Her first attempt at this kind of dinner was with her parents and siblings in a small English town, but by the end of the night at the gallery, even she had learned new things. After the exotic paulistanos, she prepares herself to face a group of ravenous Romanians in Bucharest. “Food is all about the identity we create for ourselves,” declares the artist.
www.guimohallem.com
* Silas Martí is a journalist at the Folha de S. Paulo. sarahcolson.com mouramarsiaj.com.br
MARCELO ROSENBAUM / AND DESIGN THAT TRANSCENDS THE OBjECT/ TRANSfORMS THE WORLD / REDESIGNS RELATIONSHIPS / RECREATES SHAPES / CONNECTS PEOPLE / SHARES IDEAS / VALUES kNOWLEDGE / RENOVATES TRADITION INNOVATES fORMS AND SUPRISES
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WELCOME HOME
Registering the uniqueness of a place The photographs on this and the following pages are the result of a returning. In 2009, photographer Gui Mohallem, from Minas Gerais, attended a Beltrane festival in Tennessee, in southeast-central USA. Beltrane takes place between the spring equinox and the summer solstice. It is a celebration dating back from the Celtic people, and involves dancing around bonfires and, on some occasions, rituals that honor human sensuality. A year after witnessing the festival, Mohallem returned to the spot, this time, camera-ready. But he didn’t take just any pictures. As curator Gabriel Bogossian explains, Mohallem was caught somewhere in the middle, and perhaps that is why he was able to obtain such unique results: “The photographer places himself in the midst
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BRAZILIAN MATTERS 1
With a Master’s degree in Design Criticism at the School of Visual Arts in New York, Portuguese designer Frederico Duarte has authored several articles on design, architecture and creativity. Currently a professor at the School of Fine Arts at the University of Lisbon, Duarte frequently writes about Brazilian design and its potential. We got straight to the point: we asked Duarte three fundamental questions about our national design. You will find his answers throughout this issue, with commentary by Marcelo Rosenbaum. HOW DO WE MAKE DESIGN BRAZIL’S SOFT POWER*? “The power of Brazilian design will only truly emerge and be recognized globally if your designers come to fully understand the term soft. In order to do so, they must place softness and levity (not the same as haste) in their work process and in its resulting products. This levity, this light touch, must comprise the whole potential of Brazil’s complex, miscegenated, multicultural population – while also recognizing, and, whenever possible, mitigating its enormous inequality. This means designers must recognize their role as proactive agents of social change in their country, and be up to the challenge. They must know how to explore, subtlety and sustainably, the great and often unexplored wealth of natural resources this continental country has to offer: from farming to extraction, from manufacturing to form, to using the life-cycle. The greatest triumph of Brazilian design today (and in the future) lies in its materials. This understanding of the power of Brazil’s people and nature must grow alongside a new appreciation and confidence (which is not the same as haughtiness) in Brazilian cultural and visual materials. And there must also be a will to innovate, to take risks and try out new models and concepts, such as frugal innovation, prosperity with growth, fair trade, collaborative consumerism, threedimensional printing, the creation and distribution of open rights. I am certain that if these elements are treated with levity and softness, as well as with the respect and pride they deserve, Brazilian designers and all others working towards making Brazil a country of the future – democratic, just, tolerant, pacific, developed – will consolidate the power of design created by and applied by Brazilians all over this complex world we live in.”
“The whole question of consumerism in Brazil – the “it” country right now – is very complex. What will we showcase to the world? Copies of foreign models? I don’t think so. I think we must propose a new model.” Marcelo Rosenbaum. *Soft power is an expression typical of International Relations. It reflects the ability of a specific group or country to influence the behavior of other people through culture. The expression was first used by Harvard professor Joseph Nye in his book Soft Power: The Means to Success in World Politics. In his own words: “Power is simply the ability to affect others to get the outcomes you want, and you can do it in three ways. You can do it with threats of coercion, “sticks,” you can do it with payments, “carrots,” or you can do it by getting others to want what you want. And that ability to get others to want what you want, to get the outcomes you want without coercion or payment is soft power. Indeed, if you can learn to use more soft power, you can save a lot on carrots and sticks.”
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TALES OF A STRONG, BRAvE AND cREATIvE PEOPLE In the sertão, the bone-dry hinterlands of Brazil, stories are like the flowers of the mandacaru cactus. When they bloom, it’s a sign that rain has finally come to the sertão. Life resurfaces, after months and months of drought.
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The stories told in the sertão are like the flowers in the surrounding aridness. They have always been there, lying in wait. But just as flowers need the rain to bloom, stories need to be told to stay alive. Once upon a time, a long time ago, the rains came and the flowers bloomed, and a forbidden love bloomed along with them. João Barbosa, a powerful farmer, fell in love with Maricó, a humble cook. This forbidden love gave rise to a story. The story, in turn, gave birth to a place. Várzea Queimada, in the semi-arid heart of the state of Piauí, is home to 800 people, all interrelated, all fruit of the love story from so long ago. A story that had been forgotten with time. A story of a strong, brave and creative people; people that held ancestral knowledge. Of craftsmanship skills that survived the centuries are just now are resurfacing. Just as the flowers of the mandacaru are replenished by the rains, Várzea Queimada now flourishes thanks to a dream and a desire for change. In Várzea Queimada, in a priest-less church, artisans create miracles with their hands. The project A Gente Transforma – we transform – is an in-depth gaze into the soul and culture of the different people of Brazil. A Gente Transforma uses design to uncover the Brazilian soul. The stories we tell will bring rain to the sertão and sow the seeds of hope. In those same stories, the future lies in each person’s hands. Várzea Queimada is being reborn from the memory of its own history, from a tale of forbidden love, of mixed race, of ancestral knowledge, of the dream to make design a window into the Brazilian soul. By Marques Casara
craftsmanship and give them the opportunity to distribute it in the Brazilian décor market, generating revenue and changing their lives. It’s what Rosenbaum calls “useful design,” which transcends the object and transforms the world. “May all places around the world become a better place,” wishes student Clarissa Nunes Alexandrino, who participated in the project. Yet another student, Gabriel Kehdi Pedro, takes his observations one step further: “I realized that the life of Várzea doesn’t end in Várzea. Their youth wants to leave. Their elders miss those who have left or long for a time when they lived somewhere else. It is a settlement marked by constantly looking outwards. But despite their frugality, the absence of basic sanitation, the precariousness of public health, they have enormous potential. What they can do within their environment, they do (very well). All they lack is some assistance.” Assistance – and respect. Never imposition. Kaka Werá sums up: “The goal is to always awaken the community’s dreams and memories, and the awareness of the power of collectivity. And to use the local knowledge and culture as a tool for transformation.” By Marcos Guinoza
VárzEA QuEImAdA is the name of a small village located in the Chapada do Araripe, a plateau in the hinterland of the Brazilian northeast, 400km away from Teresina, the capital of the state of Piauí. To get a better feel for the place, I’ve transcribed below an excerpt from the presentation of the project A Gente Transforma, which has been active there since the beginning of this year: “Várzea Queimada is a typical settlement of the Brazilian sertão, the hinterlands, with eight months of drought per year, subsistence agriculture and elevated temperatures – it gets very hot. It is a forgotten place. Homes have no bathrooms, the taps are dry and the showers never have any water. There are no telephone lines, no Internet access. But there is plenty of conversation, fun and unity. The distance that separates Várzea Queimada from a modern city cannot be measured in miles. It is more than physical distance, there is also a gap in time.” In sum, Várzea Queimada represents a Brazil lost somewhere in the past. It was chosen to house the second edition of A Gente Transforma because it has the lowest Human Development Index (HDI) in the country. This means the community is devastatingly poor, and completely abandoned by the public authorities. Upon hearing this, Marcelo Rosenbaum, gathered his team and 17 university students and headed over there to create and produce a collection of design pieces in partnership with local men and women. To help him attain this goal, he called, among other professionals, architect Henrique Pinheiro and environmentalist Kaka Werá. Henrique Pinheiro: “My mission was to coordinate the students alongside the community, come up with a permaculture design and build it according to the needs we defined at the start of the participation process.” What is permaculture design? “It is a methodology for design, planning and execution that aims to integrate all of the elements within a system (people, plants, technologies). Everything works in an integrated fashion to save energy and resources and meet essential needs, without compromising the needs of future generations.” Kaka Werá: “The project has a fundamental pillar that I have been working with for over 15 years – the empowerment of communities through the appreciation of their culture identity and by generating revenue from that. My mission within the project was precisely that: making the community realize their potential through direct interaction.” The enormous potential of the residents of Várzea Queimada, as with other parts of Brazil, lies in craftsmanship. There, women create objects with carnauba palm, and the men work rubber, recycling tires to create jewelry and decorative pieces. They are artisans with ancestral knowledge, who develop their art using techniques they learned from native Indians, African slaves and European immigrants. A Gente Transforma brought the community running water, a library, a telephone center, and modern design methods, with the goal of developing the latent arts and crafts talent of Várzea Queimada. Throughout 15 days, in “a small, priest-less church, artisans performed true miracles with their hands,” creating a collection of objects, labeled Toca, which crossed the Atlantic and disembarked in Milan, Italy, in the Brasil S/A Pavilion of the Design Week. Marcelo Rosenbaum explains: “They already had the technique and the raw materials. All I did was shine a spotlight on it.” Henrique Pinheiro adds: “A Gente Transforma has the ability to get the community involved environmentally, socially and economically. These elements are interconnected, forming a solid and consistent design (project), and lending the community autonomy.” Worth mentioning: A Gente Transforma is not a NGO, it is a social business, as defined by Rosenbaum. Kaka Werá: “The challenge is to take a settlement with few resources, but a very clear environmental principle followed in their existing subsistence, and turn it into a sustainable community.” By sustainable, read: having the residents of Várzea Queimada produce high-quality
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rosenbaum.com.br/agentetransforma papelsocial.com.br bioarquiteto.com.br institutoarapoty.ning.com kakawera.blogspot.com.br tatianacardeal.blogspot.com.br
THE MIDDLE MAN
Renato Imbroisi is a man that makes things happen. Without people like him, projects would be just projects By Bruno Moreschi We are most often aware of the extremities of social projects. On one side, the community and its problems. On the other, the actions being put into practice. Fascinated by these extremities, we seldom remember that there is a gap between needs and solutions. It is within this gap that Renato Imbroisi operates. Imbroisi’s track record is impressive. Over thirty years, he has coordinated over 150 initiatives in diverse areas of Brazil, Mozambique, São Tomé and Príncipe, Italy and Japan. In most cases, Imbroisi travels to the location to oversee the projects himself. Only on two or three occasions was this not the case. “Experience has taught me that I need to be present. To go and see things with my own eyes. The project on paper is just a fraction of what will really take place,” he explains. But being physically present is only one of his secrets to a successful social program. According to Imbroisi, it is essential to communicate well with the local community. He says, “Each place requires a certain kind of dialogue and a different approach.” For instance, in some places in Africa, diverse ethnic groups speak different languages – something that can further complicate communication. The project’s staff is also something to take into account. In most cases, Imbroisi relies on the help of a photographer and a designer to register the changes, as well as an articulator to bring together the people in the community. This intermediary is usually someone from the community itself. Other than these fixed members, the composition of the staff varies according to the particularities of each project. “We’ve worked with psychologists, actors, architects, writers and even a music conductor.” One of Imbroisi’s many projects is housed on São Tomé and Príncipe, an isolated island nation located in the Gulf of Guinea. Even though it is rich in raw materials, the population basically lives off of food donations. Six years ago, Imbroisi crossed the island north to south and noticed that, despite the enormous quantities of bananas everywhere, little or nothing was done with the fruit. Among the workshops he created was one explaining how to make paper from banana fiber. The workshop was set up for 30 people, but over 150 showed up. “I didn’t want to leave anyone out. It just goes to show that there is a large demand,” he states. HOW IT ALL BEGAN You could say that, if not for his grandmother, Imbroisi would not be the man he is today. Born in the small neighborhood of Urca, in Rio de Janeiro, he recalls his grandmother, a seamstress, would sow for the neighbors and artists at the local casino. He would watch her work, fascinated by her natural ability, without ever imagining that one day he himself would work closely with the same craft. As a child, Imbroisi would travel to Carvalho, a small city in the heart of Minas Gerais, where his grandmother owned a house. He would frequently visit Muquém, a rural district in the area. Muquém is a word of manifold meanings – it can refer, for instance, to a native tree species. But one of its synonyms may well be “the boondocks” – they only received access to electricity around the year 2000. What to many may be a forgotten backwater, was, to Imbroisi, the ideal location for a radical transformation. Imbroisi went back to Muquém year after year to talk to and observe the small local population, which produced fabric in old looms made from native wood species. At 14 years old, after learning the technique, he began to earn a little bit of money by making and selling necklaces. When he moved to São Paulo, in 1981, Imbroisi took some classes in craftsmanship, but never stopped going back to Minas Gerais. During his recurring journeys, he met several weavers. It wasn’t easy to find these women: they tend to live in isolation, separated by miles and miles between them. Once
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he found them, he faced the challenge of convincing them to innovate their production. “I didn’t want to take anything away from them. I wanted them to continue to produce things in that context. But most of them were afraid of taking the risk. They were afraid of making something that wasn’t a bedspread, a rug, in sum, anything outside the models they had been habitually repeating,” he says. During his wanderings, Imbroisi met Lila, a weaver that agreed to make something new. He wanted her to move away from the traditional bedspreads, curtains and other handcrafted goods. The idea turned out to be a good one – and still is. Imbroisi doesn’t sit still. He travels all the time, and seems to be a happier person for it. We may forget, but it’s important to remember that projects owe their success to people like him. renatoimbroisi.com.br
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ARTS AND CRAFTS
Renato imbroisi had the brilliant idea of creating a workshop to bring together the country’s most diverse craftsmen of Mozambique by Bruno Moreschi Ten years ago, Renato Imbroisi visited Mozambique. It all happened thanks to an invitation he received from Graça Machel, the third wife of Nelson Mandel, to direct an arts and crafts school. After nearly six years of intense labor, the Brazilian weaver and designer was invited to direct an artisanship workshop sponsored by the Aga Khan Foundation. Having accepted the invitation, Imbroisi conducted a field study of the area where he would work, in the province of Cabo Delgado, extreme northeast of Mozambique. It was not an easy task. Cabo Delgado is a stretch of coast over 370 miles long, populated by very diverse peoples that speak at least three different languages. Imbroisi found that the skills were already there – experts in jewelry, ceramics, fabrics, embroidery, wood and horn; his real challenge would be to bring all of these abilities together. His idea couldn’t have been better. Imbroisi decided to create a kind of large workshop to bring all of these specialties together. In the beginning, these workshops took place four to five times a year. Currently, with far more integrated artisans, they happen twice a year. But what does he teach during these events? Imbroisi answers: “They already know how to make beautiful things. Our focus is on commercializing, organizing co-ops, in sum, professionalizing these wonderful and unique techniques.” To illustrate, before the workshops, local communities subsisted on trade. Today, their products are sold at airports and hotels across Mozambique. The project is named Ujamaa (meaning “community”), and benefits roughly 500 artisans. Taking into account their families, over three thousand people changed the way they create arts and crafts, and, consequently, changed their lives.
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BRAZILIAN MATTERS 2 HOW TO TURN DESIGN INTO A PRACTICE THAT TRANSCENDS THE MERE OBJECT TO BECOME AN AGENT OF SOCIAL CHANGE? “Everybody likes things. Things that make us feel better, that improve our surroundings, that suits us, our lifestyles, which remit to what we want or want to be. It may be unfair, but not inaccurate, to say that designers like things even more than other people. They lavish things with attention, noting every detail – the leg of a chair, the serif on a letter – which no one else seems to notice or care about. Some people are born with an eye, an appetite, for things. Others learn, or refine their taste for things in school, at university, at work, during their daily lives. Yet others find references and inspirations in history, in the past, for things they want to add to the world. It is often what they perceive as their role in society: create, produce, and add things. I believe that design is only capable of transcending mere objects when designers pay less attention to objects and more attention to the people producing them, buying, using, offering, recreating them. Only if designers consistently and responsibly take into account people’s needs and desires (and not just people as consumers), will they be able to awaken to the true social function of design. For that to happen, they must learn, observe, look, listen and be humble, respectful and generous. This shift in focus from things to people will only happen if we rethink the designer’s social status: from someone who adds objects to the world to someone who works to improve the way people live in this world. Yet designers cannot do it by themselves – other citizens, such a journalists, businessmen, educators, politicians, should all share in this quest for responsibility. It’s not an easy task, nor will it happen overnight. But it is possible.” Frederico Duarte.
“Design is not only consumerism. It’s not just the table, the chairs. It is a great catalyst for ideas, solutions and innovation for our daily lives. When you change the way you see crafts, you also change the lives of craftsmen. You recognize their work not as a simple craft, but as an object of art; this change in perspective provokes transformations.” Marcelo Rosenbaum.
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BRAZILIAN MATTERS 3 HOW TO STOP BRAZIL FROM BECOMING A COUNTRY THAT SELLS DESIGN INSPIRED BY THEIR POOR TO THE GLOBAL RICH? “By insisting that Brazilian designers and all others who work for, or in, Brazil, respect those who produce, consume or use their projects. If they don’t, then they should not have the respect of other professionals responsible for disseminating and promoting their work. The problem is that this ‘ecosystem’ of disseminating and promoting design – which includes journalists, editors, curators, gallery owners, businessmen, educators and authorities – rarely sounds a dissonant chord, criticism, or a well-told story (and it is so difficult to find a design story that is easy to tell!). All of these people should be examining designers’ work, listening to what they have to say, and whenever necessary, demand the respect that the Brazilian population (and the environment, and culture) deserves. It may not be easy to stand up to this culture of elation, that does little more than praise all that is new, exclusive, expensive, or – and this is the most pernicious of terms – original. Nor will it be easy, when we speak of Brazilian design abroad, to shed the label of “exotic, erotic or chaotic” – an expression coined by architectural critic Fernando Luiz Lara to denote the peculiar and peripheral characterization of Brazil in international architectural discourse. If this fundamental respect and a light touch are made integral principles of a project, I believe that designers and all those around them may really change the expectations and experiences of Brazilian design. If they can work together, they will achieve something as difficult as it is significant: to change the public opinion.” Frederico Duarte, who, along with his comments, sent us a link to a country song that says: You can’t be a beacon if your light don’t shine.
“Unlike Europe and older countries, we still haven’t developed the habit of buying design. We don’t think about the history of the product we are buying. How was it made? Where was it made? Buying design because you think that’s the cool thing to do is totally kitsch. There’s no difference between that and buying an anchor at an antique shop or a porcelain flamingo.” Marcelo Rosenbaum.
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“INTERVENING WITHOUT INTERFERING”
A maxim of Janete Costa, the visionary who valued our popular culture and continues to influence brazilian design today By Adélia Borges To Janete Costa, being born in Brazil was not a mere geographic whim. Her birth in Garanhuns, in the heart of Pernambuco, in 1932, set her inexorably on her path in life. Throughout a career marked by significant contributions to architecture, interior design, and curatorships, she worked hard to show that art, design and architecture in Brazil should reflect the local culture. Janete was also decisive in valuing not only popular art and national artisanship, but also the artists and artisans themselves, always concerned with issues of social inclusion and generating revenue for them through her projects. It’s a reflection of the fact that her life, professional activities and personal life walk hand-in-hand with exercising her citizenship. With a degree in architecture from the Federal University of Rio de Janeiro, Janete was prolifically active in the field. There were 3,000 projects from her graduation in 1961 to her death in 2008. She designed libraries, movie theaters, auditoriums, public buildings, offices, galleries, commercial and residential buildings, stores, museums, restaurants, theaters, government houses, clubs… In the last years of her life, she designed dozens of hotels, all up to technical international hotel standards, but which surpassed the rigid molds of Swiss or American hotels, resulting in spaces full of personality and cultural expression. Her work as an interior designer eventually led to product design. Obsessed with details and frustrated that she couldn’t find the things she imagined for a space on the market, she began to draw the components herself – from chairs to lamps, bedspreads to candlesticks – easily handling materials such as granite, marble, wicker, glass, wood, metal, etc. The execution of the projects was entrusted, whenever possible, to communities and co-ops. Beyond all of these professional qualifications, Janete may also be considered a great educator. Clients, interns, friends and work partners are unanimous in stating they learned to discern and understand art and design by spending time with her. She took them by the hands to share with them her outlook, filled with enthusiasm and generosity. Several architects and decorators, especially from the Northeast, claim to belong to the “School of Janete”, one in which erudite culture was distributed without prejudice. Janete never exercised a dictatorship of taste with her clients; rather, she focused on valuing their personal stories to enhance the life experience she wished to offer them. In fact, she had a very perceptive saying about taste: “Bad taste is always other people’s taste,” gracefully denouncing the immutable opinion of those who think themselves the holders and judges of what is considered ‘good’ taste. Another of her expressions, with acute syntax, was “intervening without interfering.” This was the posture she believed designers should adopt to develop projects that revitalize craftsmanship. In other words, she believed in respecting the artisans’ knowledge and craft, something that not always takes place.
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She was at her best in her direct interactions with the popular craftsmen. Over 70 years old, but sprightly and restless, she would joke, “When I grow up, I want to dedicate myself entirely to projects that work with communities of craftsmen and artists.” As well as valuing their work in her interior design, always paying their full asking price without bargaining, Janete also brought their work into prestigious spaces, where they could be duly recognized and appreciated. Janete Costa worked as a curator for dozens of exhibitions, among them Artesanato como um caminho, (Craftsmanship as a pathway) at the federation of Industries of the state of São Paulo (Fiesp), 1985; Bienal de artesanato, (Craftsmanship Biennial) at the Convention Center in Recife, 1986; Viva o povo brasileiro, (Long live the Brazilian People) at the Museum of Modern Art -MAM, Rio de Janeiro, 1992; Arte popular brasileira, (Brazilian Popular Art) at Riocult, Rio de Janeiro, 1995; Arte Popular Brasileira, (Brazilian Popular Art) at the Carreau du Temple, Paris, 2005 (The Year of Brazil in France, by invitation of the Brazilian government); Somos-Criação Popular Brasileira, (We are a Popular Brazilian Creation) at the Santander Cultural center, Porto Alegre, 2006, and Do Tamanho do Brasil, (The Size of Brazil) at Sesc Avenida Paulista, São Paulo, 2007. Another of her many facets was as an art collector, portrayed during the comprehensive exhibition Uma Vida – Janete Costa e Acácio Gil Borsoi, (A Life – Janete Costa and Acácio Gil Borsoi) at the Museum of the State of Pernambuco, Recife, in 2007. The exhibition presented a selection of works collected by Janete and by Borsoi, her life partner, also an architect from Pernambuco. Alongside these many and significant public feats, when we think of Janete Costa there is yet another facet of her that emerges strong in our memories. She poured affection on all who surrounded her, without distinguishing between their socio-economic background, the color of their skin, or anything else. People were changed for the better after even a chance meeting with Janete. People may claim that my sample is too limited to make such a claim, but it’s not. In the roughly 20 years in which I knew her, I met many people thanks to her. Janete was gregarious. She found true pleasure in surrounding herself with people. The friends of her friends immediately became her own. And as such, were welcome to share her bread, wine and unguarded and frank conversation. She would share her life experiences during the lavish dinners she herself prepared in her different homes – whether the house in the historic heart of Olinda, the beach house in São Conrado, Rio de Janeiro, or her apartment in Jardins, in the city of São Paulo. She would have turned 80 years old in 2012 had she not passed away. The date was celebrated in July in her honor at a crafts and arts market in Fenearte, in Recife, with a new edition of the exhibition Espaço Interferências, created by Janete 10 years ago. In November, the doors to the Janete Costa Museum of Popular Art will open in Niterói. Another tribute, expected some time next year, will be the inauguration of a museum of popular art in Olinda, with part of the works featured from her own private collection. Janete Costa, Brazilian, from Pernambuco, was a visionary in her time. And if today art and craftsmanship in our country garner more respect it is undoubtedly due in large part to her dedicated passion.
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OUR PATH LIES HERE
Heloisa Crocco’s work encourages us to take a closer look at Brazil’s nature. The solution is not out there By Bruno Moreschi I began interviewing Heloisa Crocco by sending her an email with several questions about her career. In response, I received almost ten different files as answers. You may think that this could signal some misunderstanding, but that’s not the case. There is nothing muddled in the mind of this designer from Rio Grande do Sul. Crocco is a woman of simple and precise points of view. The large amount of files in her email response is simply a reflection of the vastness of her repertoire. One of those emails contains the key word to understanding her convictions. In it, she cites the Modern Art Week of 1922 as an example of a moment in which Brazil sought out solutions internally. She writes: “Our path does not lie beyond the ocean! On the contrary, it lies inside of Brazil, in our different regions, references, stories, backyards; in our enormous diversity, whether in raw materials, fibers, typology, iconography, flora or fauna.” It was with this belief that, in 1984, Crocco explored the Amazon Rainforest. “I was 30 years old and feeling in conflict with the work I was doing. I didn’t want to do things like everyone else,” she recalls. Crocco brought her professional crisis to the ears of José Zanine Caldas. Recognized as one of Brazil’s greatest experts in wood, Caldas worked as a landscaping sculptor, furniture-maker, and self-taught architect. He passed away in December of 2001, leaving behind him a legacy that has not yet been fully explored here in Brazil. Few Brazilians defended so vehemently the marriage of Brazilian craftsmanship and modernism. His work was duly recognized internationally and exhibited during the 1980s at the Louvre Museum, in Paris. Caldas answered Crocco’s concerns with this simple phrase: “You can solve a crisis out in the bush.” And off they went, the two of them, beginning their trip at kilometer zero of the Trans-Amazonian Highway, and working their way
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up to the enormous Amazonian trees, called “cathedrals” by many. It was an unforgettable experience: “We spent 10 days walking, philosophizing through the rubber trees, among vines, bromeliads, bird song, smells, textures.” Crocco returned to Rio Grande do Sul certain that her research, after her trip through the Amazon, needed to change. She shifted her focus instead to tree growth rings, a project she suggestively named Topomorphosis. The designer still respects and follows the natural variations found in the wood she works with. “In time, Topomorphosis wound up garnering a certain autonomy, and became a model for thought. In other words, it became a methodology for researching form and its applications in design. It therefore surpasses the aesthetic plane of form and delves into more comprehensive matters, that brush on sociology and anthropology – in sum, the relationship between man and nature and the objects we live with,” explains Crocco. Her office is a prime example of what she preaches about man and nature. Located in the neighborhood of Vila Conceição, in Porto Alegre, she conducts her research in a minimalist cube built with reforested pine. The three floors feature a studio, an office, a gallery and a small museum-like space where she exhibits her most recent work in tree cores. Her work teaches us to look at things differently. She saw a tree, and in that tree she saw a whole world of possible forms. This is design: “To me, design is not simply a symbol of status or purchasing power. It is the realm of dreams, emotions, survival and the philosophy of being. Behind every aesthetic project lies the search for a new man.” croccostudio.com
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COME ON IN
In everything she does, Adélia Borges is thinking about how to reach a broader public. Opening the doors to a brazilian museum specialized in design is just one example by Bruno Moreschi Museu da Casa Brasileira, 2003. Up until that year, the institution, located in the Jardim Paulistano neighborhood of São Paulo, was not a particularly inviting space. Some passersby believed it to be a church; others thought it was an entertainment venue. The more imaginative ones claimed that the ornate building was a resting home for rich, elderly women. But as the name suggests, it was (and still is) a museum. But its doors were literally closed. When she was first invited to direct the space – a post she held from 2003 to 2007 – Adélia Borges knew without a doubt what her first point of action would be. She threw the gates wide open. So when we claim Adélia opened up the museum’s doors, it’s not a figure of speech. “I held meetings with the employees and let everyone know that the people coming in through the door were important, no matter what their background. The kinds of clothes they wear are not important, and they should feel free to ask any questions they like. And I also said: the humbler the person’s background, the better they should be treated.” Adélia discusses it with ease, because, as she claims, a “museum belongs to everyone.” The response to her approach couldn’t have been more positive. During her reign as director of the MCB, visitation increased by 400%, and became more than just a venue for the exhibition of international design. Many of the exhibitions pursued the idea of accessible design. One of the first was a photography exhibition of Brazilian homes from nearly every corner of the country and of every shape and size. But no mansions. “Everything I do in my life follows the same guideline: to reach a wider public. Design (good or bad) is present in the life of the rich and the poor. So I don’t buy the idea that design is something that needs to be expensive.” But what do we gain by valuing design? “We begin to notice design everywhere in our lives. We sleep in a house designed by someone. We eat breakfast at a table. Noticing design is acquiring an understanding of how objects around us are made. It means becoming more than just a consumer. It means becoming a citizen before all of these things.” Perhaps that’s why Adélia enjoys writing, lecturing and organizing exhibitions on design so much. She’s written over ten books on the subject. The latest, Design + Artesanato – o caminho brasileiro, (“Design + Artisanship – the Brazilian path”) is an x-ray of artisanship in Brazil. The book examines the transformation Brazilian artisans have gone through as they try to perfect their work and achieve recognition for their work as actual design. The boats made by Miriti, in Abaetetuba, in the state of Pará, are an excellent example. Until a short while ago, tourists would by the souvenir, place them in their suitcases, and when they got home, were dismayed to see the boat’s tiny chimney stack had been broken during the flight. The book reveals the solution taken: the chimneystacks are now retractable – a simple yet fundamental change that prevents damage during transportation. Adélia’s approach is to treat the artisan not as an ingénue, but as someone who can, and wants to, modernize. “What’s the point in continuing to make enormous tablecloths if the average family has gotten smaller? Insisting on tablecloths when most people are opting for the easier-to-use placemats? Or to make tiny embroidered tray cloths that have fallen into disuse? Several artisanal techniques developed out of the artisans’ own needs, and the needs of the family and the community. At home, a piece of embroidery can be used to cover a jar or a blender. That same cloth, in an urban
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setting, can take on different functions, and the artisan needs to be aware of these changes to meet demands.” (Page 74 of the book) In the 1970s, Adélia began her career in journalism writing about urban solutions for the newspaper O Estado de S. Paulo. From 1987 to 1994, she became the editor of Brazil’s first interior and product design magazine: Design & Interiores. “In the beginning people didn’t understand what I was doing. I would tell them I was the editor of a Brazilian design magazine, and they would ask: is there such a thing as Brazilian design? In the 1980s, when I went to an international design fair and said I was Brazilian, security would show up and forbid me to take photos. That all changed. Now when I say I am from Brazil I see people regard us as a country that has fresh ideas and is trying to make innovative contributions to international design.” But, truth be told, we are not going to compete with a Philippe Starck. We need to figure out what we can offer. Adélia agrees with a thesis proposed by one of the top Brazilian names featured in this magazine. Brazil needs to take advantage of its popular culture to make a stand in design. But, she believes this is only one of the paths we can follow. “Honestly, I think labels are silly. We don’t need to be just artisans. Nor do we need to foster the belief that industry will save us. For a long time, design colleges in Brazil were stuck in the ideals of Brazilian modernism. Everything that was artisanal was set aside. But I don’t believe artisanship and industry are mutually exclusive.” In other words, Adélia seems to long for artisans to be regarded as more than ingénues and for industry not to be considered sovereign. It is a defense of multifaceted Brazilian thinking. The solution lies within our own history. adeliaborges.com
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LIGHT AND LIFE
By experimenting with light, Olafur Eliasson was able to create a work of art beyond mere aesthetic beauty. It also transforms the lives of over 1.6 billion people by Bruno Moreschi Since 1997, Danish artist Olafur Eliasson lights up museums worldwide. Known for using lights, smoke and optical illusions to rouse the public’s senses, he garnered international fame in 2003 at London’s Tate Modern with an installation called The weather project. It comprised of an artificial sun that flooded the museum spaces with light. It was a hit: over two million people visited the exhibition, and many of them would lie down on the museum floor as if to really sunbathe. There was nothing more Eliasson needed to do. With his artificial sun, he reached the stratosphere of contemporary art. But his story did not remain in the confines of the art world – lucky for the rest of the world. Eliasson and mechanical engineer Fredrik Ottesen decided to base themselves on the artist’s work to create something they call “a work of art which works for life.” The Little Sun, as it is called, is a kind of lamp that is charged by solar power. Five hours of natural sunlight are converted into five hours of artificial light for the lamp. To some, the Little Sun is just an eco-friendly object of design. However, Eliasson argues that his project can change the reality of 1.6 billion people who have no access to electricity. “Underprivileged children will be able to study at night, local commerce will stay open for longer and the problem of kerosene intoxication will be solved,” states Eliasson in the explanation behind the Little Sun. The artist’s claim calls to light the question of kerosene, a serious problem that many of us are unaware of. To produce light for one single night, burning kerosene leads an entire family to inhale toxic emissions equivalent to smoking 40 cigarettes. In one year, it is as if the family had smoked 14,600 cigarettes. In July of 2012, the Little Sun will be exhibited again at the Tate Modern, the same venue to which Eliasson drew 2 million visitors to venerate his artificial sun. But if you think the installation will be set up in a blank, white room, you are mistaken. For two hours on Saturday nights, the works exhibited at the Tate will be illuminated by a set of Little Suns. This corresponds exactly to the artist’s idea about the project. “Light and life are inseparable. I wanted to create a work of art that not only displayed light at a museum, but that used light more ambitiously and connected to the world.” P.S.: To the dismay of Brazilians, the Little Sun is still unavailable for sale in Brazil. olafureliasson.net littlesun.com
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A (COLLECTIVE) IDEA FOR YOUNG MOTHERS Chatting to the women who are part of the NGO Lua Nova, we come face to face with a different reality, fraught with difficulties. These are very young women, many with a background in drug abuse and broken-up families. One of the girls recounts how, “I was abandoned, and was a drug user for a long time. I lived off of people’s kindness, without purpose.” Faced with so many problems, it is nonetheless the fact that they are about to
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give birth or have just given birth to newborn babies that gives them the hope they so desperately needed. “The moment a young woman becomes a mother is the ideal time to reconnect her with the world, with her family, in sum, to improve her human condition,” explains Raquel Barros, president of Lua Nova. It is curious to find out that the NGO was born out of a personal struggle with maternity. For four years, Raquel tried in vain to become pregnant, even traveling to Italy for fertility treatments. When she came back to Brazil, it was with the certainty that she would transform her inability to conceive into the positive energy needed to create a space dedicated to needy mothers. It worked. Today, Lua Nova shelters 32 women and 27 children, as well as aiding an average of 100 mothers and their children. In 2002, Raquel was able to secure a plot of land on which to build the headquarters for Lua Nova, in Araçoiba da Serra, in the state of São Paulo. Once news of the project got out, the conservative wariness typical of a small country town began to emerge. During one night in October of the same year, a group of masked people surrounded the building and began to violently throw stones. Raquel and the young mothers called the police. But when the three patrol cars arrived, they simply parked in front of the building. They were meant to protect them, but instead stood aside, watching the destruction. “It was impossible not to think of the song by Chico Buarque – it was a scene straight out of Joga Pedra na Geni,” recalls Raquel. Little by little, the conservative faction of the town grew used to the presence of the women and their children. Everything seemed to be working out – but then Raquel was informed the NGO could no longer stay there because the land was to be put to a different use. That’s when Rosenbaum came in. Raquel sought him out after seeing another piece of land that was available, through the Sorocaba Town Hall. Rosenbaum heard her request and did much more than design a blueprint for the new headquarters of the NGO. He explains, “I wanted to bring people together and create something bigger than just a pile of papers. I wanted to bring about real change.” To help Lua Nova, Rosenbaum evoked a tale he often likes to tell: that Native Indians believe that an idea is never the individual fruit of one single man, but belongs to the community as a whole. Therefore, Rosenbaum’s office joined efforts with Lourenço Gimenez, Rodrigo Marcondes Ferraz and Fernando Forte, three architects from the offices of FGMF, as well as four educational institutions from São Paulo (USP, Belas Artes, Escola da Cidade and FAAP), from which 11 interested and capable students were selected to help Lua Nova. The group spent one week with the women in the NGO in order to understand their needs and analyze how best to help them. Today, after the concentrated efforts by the group, Raquel is finally happy. The new plot of land, over 16 thousand m2 large, will soon house the architectural project. Construction is set to begin soon. Rosenbaum’s favorite tale has once again proven to be true – collectivity triumphs. luanova.org.br
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A TRIGGER FOR CHANGE
Parque Santo Antônio: self-esteem as a motivator for change By Marcos Guinoza Follow the road to Itapecerica and at a certain point, make a left. You will suddenly tumble into Parque Santo Antônio. ‘Tumbling’ is the right verb – after all, the neighborhood lies at the bottom of a vale, where a huddle of small houses, crisscrossed by narrow passageways, forms what can only be described as “improvised architecture.” We are at the periphery of São Paulo, a place where there is no apparent planning of any sort. Everything there seems to have been piled atop each other, coming together to meet the needs and wants of the local residents. Parque Santo Antônio is located in one of the most unassisted areas in São Paulo’s south end. Their only public space is a trodden earth soccer field called the Campo do Astro. It was at this fundamental meeting place for the community that the first edition of the social project A Gente Transforma took place. The location was chosen to house the initiative after Marcelo Rosenbaum became acquainted with Casa do Zezinho, an NGO headed by Saulo Garroux and his wife, educator Dagmar Garroux, better know as ‘Tia’ Dag. The organization has been active in the region since 1993, focusing on the qualification, education and human development of low-income children. As Tia Dag explains, “This project, A Gente Transforma [We Transform] in my view should be called we trigger. We trigger beauty in everyone, we trigger sharing, and we trigger togetherness.” The idea, the goal, is precisely that: to trigger change. Created by Marcelo Rosenbaum, A Gente Transforma relies on a multidisciplinary team, including architects, designers, journalists, photographers, producers and videographers. The urban intervention that occurred at Parque Santo Antônio also counted with the participation of 35 students of architecture and design from all over Brazil, as well as five graduate students from England, one of which summed up well how everyone was feeling: “If I’m going to change? I think we’ll all come out of this experience transformed.”
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Soon after arriving at Parque Santo Antônio and observing the houses around the Campo do Astro, we realize that something has recently been taking place. The houses, formerly of barren concrete, are now painted in vibrant, happy colors. Over all, 63 houses were renovated and painted during a week long event, called the Semana da Mão na Massa, something like the ‘week to get your hands dirty’ – a community effort that united and mobilized all residents towards a common good. “One person helped the other to do up their house. This had never happened here before,” says Saulo Garroux. The painting of the houses, according to Rosenbaum, was just a pretext – the real goal was to raise the population’s self-esteem and make the project a catalyst for change. And that’s exactly what happened. Tia Dag again explains, “It is a project that triggers things: it triggered the community into action, and they began to take better care of what belongs to them. They’ve even formed an association to discuss issues and claim their rights.” A library was also built, next to the Campo do Astro. Named A Biblioteca Para Todos, or the ‘Library for All’, it is the workplace of Jaqueline, the wife of Geovani da Silva Melo, a former drug lord who abandoned his life of crime after becoming involved in the project. If A Gente Transforma had changed just a single life, Geovani’s, it would already have accomplished an important social mission. But it did much more. It transformed the lives of an entire community that used to ‘just get by any way we could’ and now has the confidence to, perhaps, change the course of their destiny. rosenbaum.com.br/a-gente-transforma casadozezinho.org.br
(He asked not to be photographed smoking during the photo shoot for this interview.) Geovani attended school up to the 8th grade: “I quit school because of my situation. I was already a father by then. I had to stop studying and start working.” He is married to Jaqueline and has three children: Beatriz, nine years old, Rafael, six, and Kevin Geovani, two. In order to support his family, he worked as a waiter at a Lebanese restaurant in the neighborhood of Moema, and later as an auto mechanic. But then things got complicated and Geovani fell into a ‘life of crime’. OPPORTUNITY “When I got into drug trafficking, it was really like entering into an entire lifestyle. I couldn’t support my wife, my kids, or pay the rent. It was hard to get a job. Then opportunity came knocking on my door. These guys ask you to join up, like, “Look, there’s this store, can you run it for me?” But I had decided that if I was going to get into the drug game, then I was going to be my own boss – I wasn’t going to take orders from anyone. That’s when I thought of opening up a store in Santo Antônio.” (A store, in drug dealing lingo, means a drug sales point) With his mind made up to run his own “business”, Geovani went out in search of partners: “I called some people on the outside, to help me think things through. I mean, you can’t just up and say, I’m going to start selling drugs right here. You need to get a feel for things and know some people here and there.” During his time running drug trafficking in Parque Santo Antônio, Geovani was in charge of eight “employees”. He sold cocaine, marijuana and lança-perfume, an ether-based drug. “I never sold rocks though. I’ve always been against crack.” He tells us he was bringing in between R$ 6 and R$ 7 thousand a week. “The larger the volume of drugs I sold, the bigger my profit.” Geovani paid each of his employees – “none of whom were underage” – R$ 500 a week, and, depending on how much product he was moving, personally pocketed roughly R$ 3 to R$ 4 thousand. But where do the drugs come from, Geovani? “Oh, from lots of places, lots of different drug joints.” A.K.A.: “HAIR” “I was about 13 years old when I dyed a tuft of my hair – it turned out yellow. A new guy moved into Jardim Ângela and started talking about my hair, so the nickname stuck.” Geovani prefers not to be called by the nickname today. “Those days are gone – Hair’s days are over. I don’t use the nickname anymore and nobody calls me that. Now I’m just Geovani.” To open up his drug point, he had to shut down another existing one nearby. At first, in order to protect himself “from anything that might go down,” Geovani and his partners in crime carried guns. “You got beef with half the world, there are guys trying to get at you and you have to watch your back. My stuff is either mine or nobody else’s. The first few days were rough. But after a while they realized that the point was mine – end of story.” THE COPS “I never had trouble with the cops. They knew of Hair, but they didn’t know who Hair was. They searched, but couldn’t find me. I ran the gig, but didn’t stick around here.” (Geovani has only one prior on his criminal record: carrying a weapon without a permit)
Geovani da Silva Melo, 28, was born in Pernambuco. He and his family moved to São Paulo when he was just three years old. He has six siblings. His father is a machine operator, his mother a seamstress. When they reached the city, they moved into the neighborhood of Jardim Ângela. Geovani had friends in the neighboring Santo Antônio vicinity, and so grew up between these two areas of São Paulo’s south end.
FEARED OR ADMIRED? “I was more admired than feared – I didn’t need to go around beating people up, pulling out my piece in front of people. The reputation behind Hair just grew and that put the fear into people. Whether you like it or not, people are frightened, scared. But those who know me know I’m not that scary. I’m a chill guy. It’s just that people give other people the idea that you’re this bad guy. Then you get a bad rep.” Geovani explains that “having a bad rep is not good for business,” because then the drug dealer winds up being fingered to the authorities by the local population. “You’ve got to have a good rep, as someone who helps people out. That way you get the local population on your side. So if someone is out to kill you, people will warn you about it. But, if you’re a bad guy, no one will warn you.” And has anyone tried to kill you, Geovani? “I never had any trouble from anyone. I was never threatened; nobody ever took a shot at me. I can walk around here anytime of day or night.” Geovani didn’t face any opposition from the residents of Parque Santo Antônio when he set up his “store” there. On the contrary. He tells us that the “place was messed up,” there were a lot of drug users and petty thefts. The first thing he did after setting up shop was to push back “poppers and thieves,” as well as offering residents help and protection. “If a man needed to buy milk for his kids but didn’t have the cash, I would send over two cartons.” That’s how he earned the respect of local residents. Today, Geovani and his family live in a house facing Campo do Astro, a trodden-down dirt soccer field surrounded by a drainage pipe covered in sewage and garbage. It was there that designer Marcelo Rosenbaum and the A Gente Transforma Project first transformed Geovani’s life.
CHILDHOOD “I had a good childhood, I can’t complain. We went through the same problems many other families did, but my parents always took good care of me. My father never drank, never smoked. I’m the only smoker in the family. I quit for three years, but then started back up. But I plan to quit again.”
THE FIRST MEETING WITH ROSENBAUM “These guys just started showing up. They didn’t mess with me and I didn’t mess with them. Then they came and told me they were going to set up a social project. Great, it was a good thing for us. I told my guys that whatever they needed, they should get. The first time I met Rosenbaum was at a meeting at the Casa do Zezinho
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LIFE OF CRIME
He was the head of a drug trafficking ring at Parque Santo Antônio, in São Paulo’s south end. Nothing went down without his knowledge, but after seeing the changes brought about by the social program A Gente Transforma, he decided to transform himself By Marcos Guinoza
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Ve nha fazer par te do CRIO, pri mei ro fe s tiv al de c r iativ idade da Amér ic a L atina. O f est i v al c ons olida o pape l de lider anç a c r iativ a da ci da de d o Rio de J ane ir o que des de 2010 faz par te d a re de i n t ernacional de d is t rit os de Criat ividade. Em 2012 o CRIO recebe o 9º Fórum* e a 2ª Bienal Mundial da Criatividade, event o s que reúnem pe ns ador e s e pr ofis s ionais das mais div e r s as ár eas em tor no do te ma: Re de s ign e Tr ans for mação Ur bana.
d e 20 a 25 d e novemb r o 2012 Pier mauá - r io d e janeir o criof est iv al.com.br
realização:
* O Fórum Mundial da Criatividade é uma evento anual da Rede de Distritos Criativos. DC Network: Baden-Württemberg | Catalonia | Central Denmark | Flanders | Karnataka | Lombardia | Nord-Pas de Calais | Oklahoma | Qingdao | Rhône-Alpes | Rio de Janeiro | Scotland | Shanghai | Tampere
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[youth program]. He asked me if he could set up the project. I said yes.” (At the time, nothing got done in Parque Santo Antônio without Geovani’s approval) On May 25th, 2010, the day the A Gente Transforma Project was launched, Geovani called Rosenbaum in for a chat. That conversation was the first step in changing Geovani’s life. “I told him I was sick and tired of trafficking, that I wanted to amount to something in life. We both got very emotional.” Geovani made up his mind to leave behind his life of crime. He gathered up his accomplices and announced his decision (two of them decided to remain active in crime and are now under arrest). Later, he placed a few phone calls to let people know no one was selling drugs at Campo do Astro anymore. “A lot of people were shocked – both ordinary citizens and criminals. Some would ask, ‘Man, you’ve shut down the point, are you going to get a job now?’ And I would answer: I’m sick and tired of this life. I want to lead a life of dignity now.” The decision to change didn’t happen overnight. “It had been burning in the back of my mind for a while, but the opportunity hadn’t come up yet. That’s why I always say that A Gente Transorma was the key to everything, a door that opened up to me. At some point drug trafficking suffocates you. You can’t get out, you can’t enjoy life. I was feeling suffocated.” As soon as he shut down his business, Geovani went to work in maintenance for Casa do Zezinho. He earned R$ 800 a month. “At first, going from earning R$ 4 thousand a week to R$ 800 a month is pretty tough. But then you stop to think, to reflect on the situation. I have three kids. When I was dealing drugs, I could have been killed or sent to jail. If that happened, who would take care of my kids?” A LIFE OF PEACE “I feel relieved. I can walk around, something I avoided before. I was always locked away, I would only go to sleep around six in the morning. I used to lay awake thinking, ‘they’re going to break into my house, the cops are going to show up.’ Today, I owe nobody anything. In the drug trade, you’re always flush with cash, but you have no peace of mind. No I live in peace, and that’s worth more than anything else.” Parque Santo Antônio, Campo Limpo and Capão Redondo form an area formerly known as the “triangle of death,” due to the high incidence of murders that occurred there. Although the situation remains alarming, both in terms of safety and in the shameful disregard in which public authorities hold residents of the city’s periphery, Geovani believes that things have gotten better. “Before, nobody dared come here. It was certain death. Now, we are at peace. You don’t see so much trouble.” Geovani went from drug lord to drug combatant. “In my area, where I live, no one sells drugs anymore. Out of respect for me.” Geovani left Casa do Zezinho to work with Marcelo Rosenbaum. He has traveled to different locations in Brazil to deliver lectures, such as the one he gave during the São Paulo Fashion Week. His only wish for the future is that his kids stay in school. “My kids can look up to me now,” he says, brimming with pride. He is also writing a book in partnership with Natércia Pontes, a member of the A Gente Transforma Project, in which he will relate his story. At the end of the interview, Geovani kindly drove this reporter to the nearest taxi stand in his white VW bug – which he says he bought after he changed his life and reinvented himself as a citizen, exclaiming: “Drug dealing – never again!” casadozezinho.org.br
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ACTIVISM TO GO
Perhaps other countries’ specialties will help Americans become less bellicose By Bruno Moreschi Pacifists all over the world are attempting to convince the United States to stop the use of their military might. Protests in front of the White House, rock concerts promoting peace, pressure from powerful institutions such as the UN – nothing seems to stop the thirst for blood evoked by American history. To tackle this problem, activists Jon Rubin and Dawn Wleski decided to make use of another key American trait – chronic obesity – to campaign for peace. Conflict kitchen was born from the dichotomy war and food. In brief, the project is a restaurant that only serves cuisine from countries with which the United States is in conflict. Besides the food, Conflict kitchen promotes performances and discussions on each of the countries. These events have included live international dinner parties between citizens of Pittsburgh, home of Conflict kitchen, and people in other cities, such as Tehran, Kabul, and Caracas.
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TYPES OF HUNGER
An austrian duo of architects and designers create new relationships with food. To Honey & Bunny, food is culture and design is more important than politics. That’s why they eat design By Jurandy Valença Imagine a meal in which food ‘flies’ or is flogged, where a blowtorch is used to bake cakes, a saw to chop vegetables, and which includes drills and other industrial equipment to prepare the dishes. Such a display took place during a presentation on utensils traditionally used to consume food, run by the Austrian architect and designer duo Sonja Stummerer (1973) and Martin Hablesreiter (1974), better known as Honey & Bunny. They believe there is an inalienable truth that we, human beings, should increasingly believe in: food design is more relevant than politics. “People should talk about food as an aspect of culture, as the most important good, as business, as a design product of daily life.” They became convinced of this after years of studying food production and design. Their investigation led them to scrutinize science, culture and the history of food, spanning over subjects such as semiotics, physics and psychology. The result can be seen in a TV documentary, an exhibition and in two published works: Food Design (2005) and Food Design XL (2010). Stummerer and Hablesreiter combine in their work interior design and product design. Besides their artistic-gastronomic initiatives, the duo also writes for newspapers and several architectural magazines. In 2003, they founded the interdisciplinary architectural studio Honey & Bunny Productions in Vienna. Their latest work includes the design and construction of penthouses and commercial stores, directing a short film and a documentary, curatorships, as well as participating in numerous exhibitions, lectures and classes as visiting professors at Universities across the United States, Germany, England, Romania, Turkey and India. Honey & Bunny want people to think about how they behave towards food and “how consumption of food is used to keep social organization as it is”. For instance, in Coma Design, a project from last year, they not only question what we eat and also how we eat, from the way we position ourselves at the table, to utensils (cutlery) and the clothes we wear. “People think we have an instinct concerning taste and smell, it’s not true, you learn it. Tastes are influenced by culture,” they add. On at least one occasion, Honey & Bunny – alongside Tom Hanslmaier (Austrian performer and dancer) – have prepared and served food using tools and artisanal machinery. Food Tools, more than a simple performance, is a fun attempt to address and allow for the fusion of technical knowledge and the “classic” conception of industrial design and food design; the food is prepared using drills, circular saws and milling machines. Simultaneously, biochemical processes are conducted using molecular gastronomy techniques. At the end of the presentation, each guest is served a different part of the dishes, which include plates made from meat, grated carrot spoons and other edible utensils. All strictly choreographed. Martin Hablesreiter and Sonja Stummerer create meals in which food not only become a social experience, but also a tool. They are interested in uncovering the connections that exist between food production and design, the decisions and processes involved in its production, dissecting subjects such as color, taste, consistency, shape and size, in the relationships between the consumer and the consumed. How do we deal with our eating habits? After all, why are pizzas round and breads generally brick-shaped? Why do we prefer red foods to blue? What makes a marshmallow appealing and an escargot unappealing? True pioneers, Honey & Bunny sequester us into a social and aesthetic dimension in which taste, smell, sight, touch and hearing do not always carry the same weight, shape or color. After all, as Goethe said, “Daring ideas are like chessmen moved forward; they may be beaten, but they may start a winning game.” honeyandbunny.com
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ObjECTS wITH HISTORY
On their website, a promise: soon, Conflict kitchen will be offering North Korean specialties. You can expect them to prepare a politically loaded kimchee, a typical North Korean dish of pickled vegetables.
Rochelle has had her work shown at the Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, in Madrid, and at the 6th and 7th Havana Biennial, among other international venues. But the piece above was exhibited right here in Brazil, specifically at the end of 2011, when the Rio de Janeiro-based NGO Observatório de Favelas inaugurated a new exhibition venue at the Maré. A total of 15 artists were invited to exhibit their work for the opening. Rochelle Costi was one of them. When she discovered that the venue had once been a disposable plate and cup factory, she had an idea. Following in the steps of her research on objects neglected by us but rich with individual history, Rochelle used the paper cups and plates to build a curious installation. Called Stand – Choreography for party plates, the installation placed the objects on metal supports while a host of tiny motors worked nonstop to keep them in constant movement.
conflictkitchen.org
rochellecosti.com
At the time this text was being penned, the project was engaged in a Cuba version. The food was prepared by members of Pittsburgh’s Cuban community and came packaged in take out boxes sealed with stickers and wrappers that include subjects such as the U.S. economic embargo on Cuba. Some of the wrappers included interviews with Cubans with different points of view on the little island that still alarms many conservative Americans.
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foto divulgação
F E STA F RE NÉTICA Rochelle já expôs seus trabalhos no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, na 6ª e 7ª Bienal de Havana, entre outros espaços internacionais. Mas a obra acima foi mostrada aqui mesmo no Brasil. Mais precisamente no final de 2011, quando a ONG carioca Observatório de Favelas inaugurou um espaço expositivo na Maré. Um total de 15 artistas foi convidado para a exposição de estreia. Rochelle Costi era um deles. Quando descobriu que o espaço havia sido uma fábrica de copos e pratos de papel, ela não teve dúvida. Seguindo sua pesquisa com objetos esquecidos por nós, mas repletos de pequenas histórias, Rochelle pegou os copos e pratos descartáveis e construiu uma curiosa instalação. “A região da Maré foi um polo industrial que foi se diluindo com a favelização. A obra trabalhou com a memória disso e trouxe para a população a identidade desse momento”, explica Rochelle. Em Stand – Coreografia para pratos de festa, esses objetos ficavam em suportes de metais. Sem parar, um sistema de pequenos motores os movimentava freneticamente. rochellecosti.com 218
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Fonte: IBGE/PNAD 2009.
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