ffwMag # 26 Holanda

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sumário 25 Holandesa voadora ffwmag! apresenta: voar alto pela KLm é o mesmo que entrar para o mundo da alta-costura e dos finos tratos

172 Juntando os pontos É por meio do Salão do móvel de milão que o projeto Tutto Bene lança jovens holandeses no mundo internacional do design

36 Holanda-à-porter ffwmag! apresenta os bastidores da marca que já vende prêt-à-porter muito antes de o fenômeno ganhar o globo

180 Homem + ideias Junte design de ponta com a fome de novidade dos holandeses e você terá a Design academy de Eindhoven

42 Onde está Rothuizen? a arte do ilustrador Jan Rothuizen, um aficionado em produzir mapas de amsterdã, mas de um jeito diferente

188 Por objetos menos ordinários Dos materiais que vão parar no lixo, um grupo de designers criou as formas que revolucionaram o mobiliário moderno

44 A floresta negra O hiper-realista Ruud van Empel faz o espectador refletir por meio de personagens até então renegados da história da arte

192 Moda, livros, natureza, comida e cadeiras... Para os holandeses que conhecemos e entrevistamos, tudo isso é puro design

52 Sobre paixão e moda Tema de exposição no São Paulo Fashion Week, Inez van Lamsweerde fala sobre as doces ilusões da fotografia de moda

200 Em algum lugar do presente Passado e futuro moldam as peças de uma das olarias mais tradicionais e modernas da Holanda, a Royal Tichelaar makkum

62 Às vezes me sinto tão pequeno... as impressões do fotógrafo Felipe morozini sobre o parque que só abre as portas, e as pétalas de seu jardim, seis semanas por ano

208 O carimbo holandês Como vai você, geração 90? Pelo menos a de arquitetos da Holanda, muito bem e internacional, obrigado!

74 Lições básicas para o anarquismo... ...Ou como uma trupe de palhaços marginalizados ajudou a mudar a face da careta Holanda do início dos anos 1960 80 O motor da mudança Conheça os criativos personagens que fazem da Holanda a região mais antenada dos Países Baixos 94 O pescador de inovações De Eindhoven, no sul dos Países Baixos, um sul-africano prevê o futuro por meio de “cenários provocativos” 102 Ware liefde na moda desta edição, os canais de amsterdã são veias inflamadas de uma revolução jovem que se aproxima... 164 Da lama ao oásis Quem inventou a paisagem “natural” da Holanda? Os próprios holandeses, ao longo de séculos e séculos de tecnologia de ponta 24

212 Porto democrático O que no passado foi um dormitório de imigrantes virou sinônimo de democracia no quesito hospedagem 220 Inventores de paisagens Bem-vindo ao departamento universitário The Why Factory, que forma alunos que toda universidade gostaria de ter 224 Você sabia? Companhia das Índias Orientais, a Ronda noturna, fazendas aquáticas e mais curiosidades 234 Onde encontrar 235 English Content 250 Última Página Se não fosse o tema desta edição, nosso cafezinho não teria o mesmo gosto Capa: Alicia Kuczman (Way Model), no Museu Van Gogh.

Veste paletó Damyller, saia André Lima, cinto TNG, carteira Malcriada, meia Lupo, sapato Zeferino. Foto: Cristiano Madureira. Edição de moda: Paulo Martinez. Beauty: Ricardo dos Anjos (Capa Mgt). Tratamento de imagem: Jorge Morábito

Foto: Felipe morozini

64 Navegar nem é mais preciso atracados nos canais de amsterdã, barcos cheios de história viram moradias para famílias cheias de prosa

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APRE SEN TA

holandesa voadora Sarah Maluf

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por

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As louças, os copos e os talheres desenhados pelo premiado designer holandês Marcel Wanders deram um toque de luxo às refeições da classe executiva da companhia aérea, como se cada passageiro fosse um convidado

Jonnie Boer e Thérèse

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O menu da classe executiva foi criado pela dupla que comanda a cozinha do restaurante Librije, três estrelas no Guia Michelin

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© Anja van Wijgerden

Marcel Wanders

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Antes mesmo de chegar ao destino final, quem viaja pela KLM já sente um gostinho da cultura holandesa a bordo. Fundada em 1919, a companhia aérea reflete em cada serviço, ambiente e até mesmo no visual dos funcionários, o design inovador, a tecnologia e, claro, a tradição da Holanda. A companhia, que opera no Brasil há 63 anos, encontrou na própria região de origem cabeças e ideias para aliar inovação e praticidade, utilizando, inclusive, as mais novas ferramentas tecnológicas para se aproximar dos clientes e entender suas necessidades. Na classe executiva, por exemplo, desde os talheres até o uniforme dos funcionários foram pensados para que cada passageiro se sinta à vontade e ainda mais próximo do modo como pensam e vivem os holandeses. Os uniformes dos comissários ganharam nova versão nas mãos do estilista Mart Visser, que manteve o clássico tom de azul, mas com modelo mais moderno, prático e confortável. E até mesmo na hora de renovar o visual dos funcionários, a KLM está à frente de seu tempo. Eles reciclaram todo o tecido dos antigos uniformes, como um bom exemplo de que é possível inovar sem destruir o planeta. Das mãos habilidosas de outro holandês, Marcel Wanders – um dos mais conceituados designers do mundo, vencedor do prêmio Visionary!, do Museu de Artes e Design de Nova York – saíram talheres estilizados que são a cara do novo conceito da companhia. A ideia na hora de criar as louças, os copos, as taças e os talheres, que também são ecologicamente corretos, era dar o mesmo prazer e satisfação de se comer em um bom restaurante, transformando cada cliente em convidado.

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Mart Visser

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O estilista Mart Visser entrou no projeto para redesenhar os uniformes das comissárias, deixando-os modernos e ainda mais práticos e confortáveis – mas sem dispensar o tradicional azul da KLM

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© Karl Prouse/Catwalking/Getty Images

ViKtor&Rolf Para combinar com as peças exclusivas, as refeições também ganharam um toque de quem entende do assunto. Os três diferentes menus servidos para a classe executiva foram criados pela dupla Jonnie Boer e Thérèse, do Librije, na cidade de Zwolle. Jonnie, que comanda a cozinha do restaurante – três estrelas no Guia Michelin – é quem preparou os diferentes pratos, que serão servidos nas aeronaves até setembro de 2011. Já Thérèse, mulher de Jonnie e sommelière do Librije, escolheu vinhos de alta qualidade para cada refeição. Ali tudo é muito bem pensado e, depois de um bom jantar servido com talheres exclusivos, os passageiros ganham outro presente da KLM para relaxar e aproveitar o voo. Durante a viagem, cada um recebe um nécessaire elaborado em diferentes cores, tanto para homens quanto para mulheres. Criadas pelos top estilistas Viktor & Rolf, as bolsinhas contêm pasta de dente, meias, máscara para os olhos, fone de ouvido e, para as mulheres, creme facial para diminuir os efeitos do voo na pele. Uma nova cor de nécessaire será lançada a cada seis meses, e um novo design anualmente, nos próximos quatro anos. Serão ao todo 16 looks, que vão virar item de colecionador. Mais uma vez a companhia buscou mentes criativas para desenvolver uma identidade ainda mais moderna. Tudo isso sem esquecer que sustentabilidade e inovação andam sempre juntos. A KLM foi a primeira do mundo a fazer teste de biocombustível para as aeronaves, em 2009, e cada vez mais se preocupa em criar produtos e serviços mais leves, que diminuem o peso nos aviões e, consequentemente, levam à diminuição da emissão de CO2, um dos vilões causadores do aquecimento global.

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Os nécessaires, tanto para homens quanto para mulheres, são criações dos estilistas. Máscara para os olhos, fone de ouvido e creme facial com grife

Enquanto investe no bem-estar do passageiro e na preservação ambiental, a companhia também utiliza as novas tecnologias para facilitar o contato do cliente com os serviços oferecidos. Um ótimo exemplo são as miniaturas de construções tipicamente holandesas, que já viraram item de colecionador entre os clientes mais assíduos. Agora elas podem ser encontradas em um aplicativo para iPod, o KLM Houses, no qual é possível descobrir a história de cada uma delas e ainda encontrar sua localização no Google Maps. E para fazer com que os clientes voem juntos em cada novidade, a empresa decidiu imprimir, literalmente, em suas aeronaves o perfil de quem voa KLM. Com a campanha Tile Yourself, algo como Azuleje-se, criada no Facebook, a companhia incentivou os passageiros a azulejarem a foto de seu perfil no site de relacionamento. A ideia deu tão certo que mais de 50 mil pessoas já participaram da campanha e, em julho deste ano, 5 mil fotos vão decorar um Boeing 777-200, que será “azulejado” com o rosto dos sorteados.

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André V ieira

Camila Soares

Camila Yahn

Jornalista e fotógrafo. Seu trabalho é frequentemente publicado em jornais como The New York Times, Los Angeles Times, The Guardian e outras edições da ffwMAG! | Holanda é: “Bicicleta, boa arquitetura e luz deslumbrante” | O que mais gostou de descobrir: “A simpatia dos holandeses. Com essa viagem, fiquei com uma impressão deles bem mais simpática do que em uma visita anterior”

Na Holanda, foi produtora da ffwMAG!. Há seis anos mora na Alemanha, mas prefere se considerar uma europeia em geral | Holanda é: “Um lugar muito gentil!” | O que mais gostou de descobrir: “Que estava praticamente nadando o tempo todo. A região é quase toda construída em cima do mar”

Jornalista, diretora criativa do Pense Moda e editora-chefe do portal FFW | Holanda é: “Vanguarda em moda, design, fotografia e comportamento” | O que mais gostou de descobrir: “Aprendi mais sobre fotografia e o processo criativo e logístico por trás das grandes campanhas internacionais”

C ristiano Madureira

D aniel P inheiro

Femke Groot

Fotógrafo, colabora desde a segunda edição da ffwMAG!, além de clicar para a revista Made in Brazil e diversas campanhas de moda | Holanda é: “Bicicletas sem fim em uma cidade silenciosa” | O que mais gostou de descobrir: “Que o imprevisto pode ser muito inspirador”

Fotógrafo de várias marcas e colaborador assíduo da ffwMAG! | Holanda é: “Quem inventa a própria terra, tem muito que ensinar!” | O que mais gostou de descobrir: “O trabalho do fotógrafo Hans Hiltermann me fez pensar. Além disso, a Holanda me fez ver que a questão central de tudo parte do desenvolvimento de cada indivíduo”

Depois de dois anos viajando de mochilão ao redor do mundo, a holandesa decidiu ser free-lancer | Holanda é: “Depois da minha viagem, descobri como amo a história, a cultura e as mudanças de estações do lugar em que nasci | O que mais gostou de descobrir: “Adorei trabalhar com a equipe descontraída e profissional da ffwMAG!”

Gabriel Kogan

L uciana P essanha

Sarah L ee

Arquiteto e urbanista formado pela USP. Além de comandar o Studio MK27, prepara-se para um mestrado sobre um assunto vital a São Paulo: as enchentes que atormentam a cidade. Escreveu sobre como o holandês controla seu território | Holanda é: “Um trabalho milenar de transformação da natureza” | O que mais gostou de descobrir: “A configuração original da região”

Escritora, jornalista e professora de Comunicação da PUC-Rio. Da capital carioca, embarcou na comitiva da ffwMAG! para desbravar os mistérios holandeses |Holanda é: “Um incentivo a mentes criativas” | O que mais gostou de descobrir: “A reverência dos holandeses ao belo. Até mesmo nos detalhes mínimos”

Jornalista especializada em moda, repórter e redatora do portal FFW | Holanda é: “Vacas, tamancos e minha amiga Sabine. Ela não é vaca nem usa tamancos, mas é holandesa” | O que mais gostou de descobrir: “Pesquisando para escrever, li uma entrevista inspiradora do diretor da empresa de cerâmica Royal Tichelaar Makkum. Ele gosta do que faz e isso é inspirador”

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Foto: felipe morozini

colaboradores

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Publisher Paulo Borges Conselho Editorial Graça Cabral e Paulo Borges Diretora de Criação Graziela Peres Redator-chefe Zeca Gutierres Redator convidado Bruno Moreschi Editor de Moda Paulo Martinez Diretora de Arte Renata Meinlschmiedt Designers Patricia Teruya e Maria Carolina de Lara Produção Executiva Mauro Braga e Renata Jay Assistentes de Produção Nuno Garcia e Tatiana Palezi Produção de Moda Larissa Lucchese e Juliana Cosentino Assistente de Produção de Moda Gabriela Tannus Produção Gráfica Jairo da Rocha e Daniel da Rocha Revisão Luciana Maria Sanches Tradução Leticia Lima Publicidade Letramidia Assistente de Publicidade Tânia Leone Colaboradores André Vieira, Camila Soares, Camila Yahn, Cristiano Madureira, Daniel Pinheiro, Felipe Morozini, Femke Groot, Gabriel Kogan, Hans Blankenburgh, Katia Wille, Leila Abe, Luciana Pessanha, Philine van den Hul, Ricardo dos Anjos, Sarah Lee, Sarah Maluf A ffwMAG! (ISSN 1809-8304) é uma publicação da Editora Lumi 05 Marketing e Propaganda Ltda. Todos os direitos reservados. Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia do conteúdo editorial. Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da revista. Operação em bancas Assessoria Edicase www.edicase.com.br Distribuição exclusiva em bancas FC Comercial e Distribuidora S.A. Pré-impressão Retrato Falado Impressão Ipsis A Lumi 05 não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados nesta revista nem garante que promessas divulgadas como publicidade serão cumpridas. Lumi 05 Marketing e Propaganda Ltda. Av. 9 de Julho, 4927/4939, Torre Jardim (Torre A) 9º andar, Pinheiros, São Paulo, SP – CEP: 01407-200 – Tel. 55 11 3077-4877 ffwmag@luminosidade.com.br

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Quando recebemos a visita de Katia Wille e Hans Blankenburgh com um desafio em mente, nem passou pela nossa cabeça que estaríamos frente a frente com uma das missões mais emocionantes desta revista, colocando nossa equipe de criação a correr contra o tempo para produzir uma edição tão criativa. Foram 20 dias de intensa imersão em solo holandês, com 13 pessoas na comitiva, quatro produtores locais e muita perna malhada nas bicicletas de Amsterdã. Mas valeu a pena! Em um momento em que o Brasil ensaia uma ascensão econômica, não custa dar um mergulho em um dos exemplos mais sólidos e duradouros de capitalismo do planeta. Para se ter uma ideia, a Companhia Holandesa das Índias Orientais, idealizada por um grupo de investidores privados, foi formada em 1602. Oito anos depois, esse mesmo grupo lançou o conceito do que se compreende hoje como ações, por meio da divisão do seu capital em quotas iguais e transferíveis. São mais de 400 anos de capitalismo e todas as relações daí derivadas. Um passeio no Rijksmuseum, que passa neste momento por uma grande reforma, ilustra bem esse quadro de forma clara. Ali, não vemos retratados reis, rainhas, príncipes e duques. E, sim, mercadores, latifundiários, comerciantes e damas da sociedade. O efeito de séculos de mentalidade burguesa e um enorme interesse em iniciativas inovadoras. A nós, mentes criativas, chamou a atenção o resultado. O Estado, na Holanda, está fortemente comprometido com tudo o que de inovador possa haver, da tecnologia às artes. Ali, criadores são financiados pelo governo não como forma de apoio ou esmola, mas como interesse da nação, no que eles compreendem ser a ponta de lança do que forma a identidade de seu povo. Só para exemplificar o que vimos por lá, o resultado da exposição dos trabalhos dos alunos da Design Academy de Eindhoven de 2008 garantiu à escola uma cota extra de apoio governamental de 1 milhão de euros pelos quatro anos seguintes. Enquanto o governo não encontra novo destino para imóveis, dezenas de artistas ocupam prédios desativados pagando aluguéis simbólicos. Outros tantos ocupam galpões de fábricas em cidades próximas a Amsterdã, em contratos de dez anos, para aquecer a região que, ao fim do contrato, vai se tornar uma vila residencial. A forma encontrada para desvitalizar o Red Light District, área conhecida por ser um ponto tradicional de prostituição e distribuição de drogas, foi alugar imóveis e colocar ali jovens estilistas de alta-costura. Entre uma vitrine e outra, em que meninas se oferecem de biquíni, você pode ver um vestido de noiva ou um longo de seda. Todo esse esforço porque, incentivando mentes criativas, se constrói a nova imagem da Holanda no mundo. E não há outro lugar em que o design tenha tanta razão de existir. Os holandeses voam alto, vendem e exportam realidades que a maioria dos países ainda nem sonhou. Tudo com um olho no dinheiro e outro na sustentabilidade. E qual outro povo deu cara nova à própria natureza? Por meio de diques de contenção e canais desenhados na prancheta séculos atrás, a Holanda melhorou o trabalho divino. De homem para homem, mas sem vaidades porque, como já se sabe, a natureza é mãe. Nessa viagem ao mundo maravilhoso do amanhã esbarramos em muitos personagens que produzem o sonho de consumo de um mundo pós-politicamente engajado. Um pulo de volta aos anos 1960 e contamos também a história do grupo que, por meio de humor e transgressão, fez uma revolução no comportamento do jovem holandês, ajudando, inclusive, a fazer de Amsterdã a cidade mais “chapada” do mundo. A moda é um delicioso passeio pelos canais com clima de revolução flower power. A roupa brasileira vista de outro ponto de vista. Ainda no tema, Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin, dupla e casal, falam sobre fotografia de moda e paixões. Nós vimos, compreendemos e aprovamos. E esperamos que com este novo número da ffwMAG! a gente consiga dividir um pouco de tudo isso com você. Paulo Borges Publisher 34

Foto: felipe morozini

V elho mundo, c onceito n ovo!

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Dois irmãos e um sonho: o prêt-à-porter Fundada na cidade de Sneek, na Holanda, a C&A atravessou décadas e continentes até chegar ao solo brasileiro. Rebobinando a fita...

1841

os irmãos Clemens e August tiveram a ideia de montar uma marca e, juntando as iniciais de seus nomes, fundaram a C&A. Os holandeses nem imaginavam que ganhariam o mundo

1911

1976

A expansão No Brasil, internacional a primeira loja C&A começou em 1911 foi inaugurada em com a inauguração 1976, no shopping de uma loja na Ibirapuera, em Alemanha. Onze anos São Paulo depois já estavam na Inglaterra

Quando o tema desta edição foi definido, a meta foi buscar em solo brasileiro o moderno DNA holandês. Invasão que diz respeito à moda e aos pilares desta ffwMAG!: alta tecnologia, design e sustentabilidade. O nome da C&A surgiu imediatamente. Marca holandesa inserida na vida do brasileiro comum, por meio de uma fast-fashion que nasceu muito antes de qualquer tendência global, a marca agrega valores muito claros de sustentabilidade. Tanto é que criou, em 1999, seu primeiro relatório de sustentabilidade, reunindo ações voltadas não só ao meio ambiente, mas ao bem-estar de seus milhares de funcionários e à comunidade em geral. Mas, antes de avançarmos nos temas, vamos rebobinar a fita da história desta marca que tem as antenas voltadas para as tendências globalizadas de estilo. Dois irmãos da cidade de Sneek, Clemens e August, juntaram as iniciais de seus nomes para abrir, em 1841, a primeira loja com o conceito de levar moda pronta ao grande público, lançando o que o prêt-à-

2011

Hoje são 1,4 mil lojas espalhadas pelo mundo, em 19 países da Europa, América Latina e Ásia

-porter sonhou fazer muito tempo depois. Coisa de gente que enxerga lá na frente, vai contra as correntes regentes e pensa grande, como manda a filosofia dos imaginativos criadores holandeses. Em 1911, o grupo começava sua expansão internacional por meio da Alemanha. Onze anos depois, baixou na Inglaterra. País a país (já são 1,4 mil unidades pelo mundo), atravessou o Atlântico em 1976, e foi uma das novidades do shopping Ibirapuera, em São Paulo. No Brasil, sexto maior produtor têxtil do mundo (o setor emprega 1,65 milhão de pessoas), a C&A encontrou um terreno fértil e inexplorado para crescer e, inclusive, exportar ideias para o mundo. “Nossas investidas em linhas criadas por reconhecidos criadores de moda já são estudadas por nossos colegas da Holanda e de outros países”, diz Elio França e Silva, diretor de marketing da marca no país. Ele nos recebeu na sede da empresa, em Alphaville, São Paulo, para falar dos projetos sustentáveis da C&A.

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A LOJ A DO FUTURO

E m P o r t o A l egre surgiu um p r o j e t o p i o neir o n o Brasi l q ue f a z a m o da f i c ar de b em c o m o mei o am b ien t e . Bem - vind o à l o j a C & A E c o

ÁGUA

ENERGIA

VERDE

SAÚDE

M i c t ó ri o s a se c o , c h uveir o s c o m redu ç ã o de 4 0 % de c o nsum o , c ai x a a c o p l ada c o m sis t ema de des c arga de du p l o f l u x o , t o rneiras de b ai x a va z ã o e sis t ema de ar - c o ndi c i o nad o q ue t ra z redu ç ã o de c o nsum o de água

Pain é is s o l ares ins t a l ad o s na c o b er t ura a q ue c em a água d o s c h uveir o s , e l â m p adas e c o n ô mi c as e e q ui p amen t o s e l e t r ô ni c o s redu z em o c o nsum o

M e t ais , p l ás t i c o s , p a p é is , vidr o e res í du o s o rg â ni c o s s ã o se p arad o s e enviad o s à c o l e t a se l e t iva de l i x o . 5 0 % da área d o p is o é c o b er t a p o r vege t a ç ã o diversi f i c ada , redu z ind o o e f ei t o “ i l h a de a q ue c imen t o ” c au sad o p e l o edi f í c i o . A l é m diss o , o t e l h ad o a b s o rve me l h o r a água da c h uva

Tin t as e verni z es da l o j a p o ssuem q uan t idades m í nimas de su b s t â n c ias n o c ivas à saúde

São muitas as ações que envolvem o tema, e elas vão muito além do tratamento da água, da reciclagem e dos desperdícios em geral. Elas tiveram início em 2007, com a criação de um comitê de responsabilidade ambiental. O resultado foi a C&A Eco, loja construída em Porto Alegre que coloca em prática ações de sustentabilidade. “Além da redução de 10% no consumo de energia e 40% no consumo de água, as obras seguem padrões de construção civil inspirados na certificação internacional Leadership in Energy and Environmental Design, reconhecida mundialmente”, explica França e Silva. O que mais chama a atenção no moderno projeto? O telhado verde com 640 m2, a coleta de lixo eletrônico, os painéis solares, o uso de

tintas com baixo teor de substâncias nocivas, o programa de gestão de lixo etc. É a segunda loja da rede, a exemplo da criada em Mainz, Alemanha, e a tendência é que as ações ganhem todo o país. “A C&A Europa, segundo o último relatório de sustentabilidade divulgado pela Organic Exchange, é a maior vendedora de algodão orgânico no mundo e, no Brasil, a marca introduziu na linha de confecção infantil padrões de segurança mecânica e química únicos no mercado do país. Por exemplo, o tingimento dos produtos é feito com ingredientes que não agridem a pele dos bebês e os botões e outros materiais não machucam e são presos de forma que a criança não consiga retirá-los, evitando engasgamento.”

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Prazer em conhecer: sustentabilidade Falar é fácil, mas agir contra o aquecimento global, o trabalho escravo e a qualidade de vida dos funcionários

© Ed Eckstein/CORBIS

é coisa de gente grande, da C&A!

Prevenção

Parcerias

Educação

A exploração infantil é combatida nas estradas com um projeto que conscientiza e mobiliza caminhoneiros e transportadores da frota. Com regularidade, fornecedores são visitados para que não haja exploração de mão de obra infantil e más condições de saúde e segurança nas oficinas de costura

Dentro do Instituto C&A há um trabalho de voluntariado que reúne 5,2 mil associados. Constantemente são realizados bazares, wokshops, projetos de educação ligados a leitura, oficinas pedagógicas e outros trabalhos desenvolvidos em p a r c e r i a c o m ONG s espalhadas por todo o Brasil

Para promover o acesso de crianças de 0 a 6 anos à educação de qualidade, o Instituto C&A desenvolve o programa Educação Infantil, que, entre 2008 e 2009, realizou parcerias com projetos sociais como a Fundação Abrinq. Entre outras ações, creches para as crianças beneficiadas

Quando a C&A instalou as primeiras lojas no Brasil, ainda na década de 1970, a marca já realizava iniciativas pontuais de apoio às comunidades em que estava presente. O crescimento das operações e, consequentemente, das ações sociais fez com que a rede optasse por centralizar tais iniciativas e estruturar uma política de investimento social privado. Nascia, assim, o Instituto C&A, que hoje é um dos projetos sociais mais bemsucedidos do país. O Instituto C&A, criado em 1991, já atendeu mais de um milhão de crianças com investimentos de mais de R$ 140 milhões, voltados principalmente à educação. Entre as várias iniciativas que a empresa tem ligadas a sustentabilidade, destacam-se os

workshops internos, as auditorias periódicas na cadeia produtiva, a assinatura do pacto de erradicação do trabalho escravo na rede de parceiros da marca, o uso de biodiesel em toda a frota da empresa (vale lembrar que a C&A tem hoje mais de 190 lojas espalhadas pelo país e 17 mil funcionários) e a discussão constante de iniciativas com as quais a empresa possa tomar a frente em ações ligadas a sustentabilidade. “Por isso, em nossas iniciativas de sustentabilidade adotamos o lema: ‘A C&A é feita de pessoas, por meio de pessoas, para servir e atender pessoas’, pois, para nós, sustentabilidade significa manter o equilíbrio dos relacionamentos para que as próximas gerações possam dar continuidade a esta jornada”, completa o diretor de marketing. (ZG)

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Os mapas subjetivos de R othuizen O holandês Jan Rothuizen é um aficionado em produzir mapas de Amsterdã. Mas não se trata daqueles materiais caretas que encontramos em qualquer local da capital holandesa. Seus chamados Soft Maps são definidos por ele como uma espécie de cartografia subjetiva dos mais diferentes cantos da cidade. Nos mapas de Rothuizen, para praticamente todos os elementos há sempre legendas descritivas escritas à mão pelo próprio artista. Os trabalhos desse holandês bem-humorado nos lembram como viajar e conhecer os lugares são momentos repletos de experiências pessoais que definitivamente não estão nos tradicionais guias turísticos insossos. Para a inquieta Amsterdã, isso é uma verdade maior ainda. Este aqui é o mapa do Red Light District.

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World#13. Na pรกgina ao lado, World#1 44

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A f loresta n egra “Por

que até então nunca fomos assunto principal na história da arte ?”

parecem perguntar os meninos - personagens do artista

Ruud van

Empel por

Quando Johannes Vermeer pintou, entre 1665 e 1666, a tela Moça com Brinco de Pérola, ele sabia do poder em retratar um grande olhar. Era de se esperar: o holandês já tinha visto e revisto a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. Por isso, em sua mais conhecida obra, pintou a moça com um olhar tão enigmático quanto o da Gioconda do pintor italiano. Hoje, após mais de três séculos, outro holandês também chama a atenção ao produzir retratos de pessoas com olhares chamativos. Entretanto, os trabalhos de Ruud van Empel têm um detalhe sutil – e que faz uma imensa diferença. Em suas colagens fotográficas, os retratos não são de meninos e

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meninas brancos vindos da fidalguia. As crianças escolhidas pelo pintor são negras. Nascido em Breda, uma pequena cidade do sul da Holanda na qual estudou artes plásticas, Van Empel mora há anos em Amsterdã, local que considera bem mais tolerante se comparado a outras regiões de seu país. Os trabalhos do pintor já viajaram o mundo e foram expostos em cidades como Nova York, Paris, Tóquio e Tel-Aviv. Em entrevistas, em um primeiro momento, seu discurso costuma ser do tipo “faço arte, não crítica social” – postura que evita que sua arte estacione no falatório político e a torna ainda mais complexa. ffwmag! nº 26 2011

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Wonder 46

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Generation ffwmag! nยบ 26 2011

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Brothers & Sisters#1

“É uma loucura as pessoas acharem que hoje em dia os negros ainda não podem ser temáticas para trabalhos artísticos. Somos todos iguais”, ele afirma. Quando questionado sobre o motivo de retratar crianças negras, Van Empel não poderia ser mais certeiro: “E por que não? Há apenas uma única diferença entre elas e as crianças brancas. É o fato de uma criança negra não ser automaticamente aceita como símbolo de inocência, tema que me interessa. A inocência sempre esteve retratada em crianças brancas, e eu acho que isso deveria mudar”. A defesa coloca em xeque um fato da história da arte ocidental que muitas vezes fingimos não ver: o de que gente de pele branca costuma ficar em primeiro plano, enquanto os negros, quando aparecem, estão como pano de fundo. 50

Sangue selvagem Suas questões, porém, não param por aí. Certamente com o intuito de deixar seus trabalhos ainda mais questionadores, Van Empel coloca suas crianças quase sempre em um cenário repleto de vegetação. Ele explica: “Em 1995, quando aprendi a mexer no Photoshop, decidi criar uma velha imagem que tinha em mente: a de uma pequena menina sozinha na floresta. A meu ver, crianças são mais neutras do que adultos. Elas ainda não têm tanta personalidade, por isso estão mais próximas dos animais”. Trata-se de uma justificativa comportada. Alguns críticos de arte vão além e já apontaram uma razão mais provocadora para suas crianças negras estarem em um ambiente tão natural. Se pensarmos bem, essas imagens podem ser vistas como o próprio inconsciente do

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Brothers & Sisters#4

homem branco preconceituoso – uma faceta perversa que acredita que uma criança negra necessariamente precisa estar associada ao estereótipo típico de uma floresta tropical. Em outras palavras, é como se Van Empel não apenas retratasse um matagal ou uma lagoa com uma criança negra, mas, sim, a própria representação do local em que costumamos colocar aqueles que não necessariamente são tão pálidos quanto uma Scarlett Johansson portando um lindo brinco de pérola. Muito desses afrontamentos vêm do fato das obras de Van Empel serem hiper-realistas, estilo que se explica pelo seu próprio nome e passou a marcar a produção de alguns artistas a partir da década de 1970. Para produzir o efeito realista que tanto almeja, o holandês costuma tirar centenas de fotografias de florestas e crianças. Em seguida, combina essas imagens no Photoshop em

um processo que dura, em média, três meses. Dessa maneira, mesmo que com grande parte feita no computador, o trabalho do artista é um processo de colagem tão meticuloso quanto as famosas colagens manuais do alemão Max Ernst. “É claro que uso o computador para fazer minhas colagens, mas é preciso ressaltar que, na verdade, elas também são feitas à mão. Eu não deixo o software tomar as decisões artísticas. Sou eu quem as tomo. E isso é como usar tesoura e cola.” Independentemente do uso do computador, Van Empel consegue um resultado bastante real. Ao sermos observados por essas crianças, somos forçados a pensar nos muitos séculos que evitamos vê-las. web.ruudvanempel.nl ffwmag! nº 26 2011

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Sobre paixรฃo

e Uma

moda

conversa

com a fotรณgrafa

Inez

van

Lamsweerde, qu

e

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ia afinada com in ad t a

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para criar as imagens que a gente deseja sonhar por

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C amila Y ahn

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F r eja a nd R a quel w ith T our is ts by Dua ne H a ns on, 2009

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Donut – K im, 1994

Vigor. Amor. Arte. Casamento. Chloé. Energia. Manipulação digital. Beleza. Questionamentos. Holanda. Revistas. Inspirações. Fotos jornalísticas. Cinema. YSL. Novo. Viagens. Retratos. Colaborações. Limites. Intimidade. Inez. Vinoodh. Pretty Much Everything. ffwMAG! – Vocês fotografam juntos desde 1985 e, recentemente, tiveram de fazer uma revisão de seu trabalho para selecionar imagens para a exposição Pretty Much Everything. O que mudou ou o que se formou na sua fotografia? Inez van Lamsweerde – Vejo como a mesma inspiração que eu tenho desde que comecei ainda me intriga e se repete, mas de formas diferentes. Também percebo como nos tornamos mais sofisticados com o tempo em termos de manipulação de imagem. Também aprendemos a separar ideias em vez de fazer tudo na 54

mesma foto. E gosto muito de como desenvolvemos a parte de portrait. Também abraçamos a fotografia clássica preta e branca, tanto em retratos quanto em imagens manipuladas por computador. ffwMAG! – Como lidam com essas duas faces do trabalho que fazem: moda e arte? IVL – Nós começamos a trabalhar em museus e galerias ao mesmo tempo que nossas fotos saíam em revistas de moda e campanhas. Vejo quase como duas carreiras, mas a verdade é que somos fotógrafos de seres humanos. Fotografamos para um lugar e não importa se é uma galeria, uma marca ou uma revista. Não entendemos esse hype em torno da associação entre arte e moda. Nosso trabalho tem a ver com nossos amigos, nossas inspirações, não fazemos muita diferença entre uma coisa e outra. Tem muitos artistas que

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Freja an d R a q uel , T he J a c k F rea k P ic t ures b y G i l b e r t an d G e o r g e , 2 0 0 9

trabalham à noite em uma pizzaria para poder pagar suas contas. Por que não fotografar moda? ffwMAG! – Vocês têm uma atuação ampla em diversos estilos de fotografia. Fazem desde imagens mais conceituais, provocadoras e artísticas quanto outras que são simplesmente belas, sem grandes questionamentos. Há um momento que é mais desafiador ou mais recompensador? IVL – São desafios diferentes, que provocam gratificações diferentes. Com as imagens mais manipuladas atravessamos fronteiras e questionamos como as pessoas veem a mulher, por exemplo. Mas a ideia de fazer uma foto simples e direta de uma modelo, que vai personificar uma marca, é tão difícil quanto, uma vez que não há truques. Nós também adoramos fazer retratos, seja um rápido,

de 15 minutos, ou um longo, de uma tarde inteira juntos. É um momento de intimidade entre a personagem e a gente que é muito gratificante. Uma grande confiança se estabelece entre nós, e essa é uma das partes mais belas do trabalho. ffwMAG! – Vocês usam bastante manipulação digital nos trabalhos mais artísticos. Qual o uso que fazem do Photoshop em uma campanha de moda? IVL – Usamos só para retocar e não é muito. Temos esse lado de levar a manipulação ao extremo e realmente mostrar as coisas de forma exagerada, e essa é uma característica do nosso trabalho, quando queremos que as pessoas vejam algo que não é possível enxergar normalmente, algo que está lá dentro da pessoa. Um sentimento, uma impressão, uma característica psicológica, na ffwmag! nº 26 2011

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K a te/ Br ide, 2003

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Maggie’ s Box , 1 9 9 8

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Vita l Sta tis tics – Jes s ica , 1991

qual colocamos uma lupa. De outra maneira, usamos apenas para corrigir cores e retocar um ou outro elemento para deixar a imagem mais bonita. Mas nós não mudamos a modelo, não a transformamos em outra pessoa. ffwMAG! – Quais são as próximas fronteiras que a fotografia deve cruzar em breve? IVL – A ideia do vídeo é muito instigante e temos usado bastante. Fazer um filme, pegar stills do vídeo e transformar isso na campanha em si, por exemplo. Cada vez mais é uma coisa que dependerá das modelos, já que elas terão de atuar, controlar o rosto, terão de se preparar para isso. Acho que logo haverá divisões, como modelos para vídeo, modelos para revista etc. É outro ambiente. A concentração necessária para uma foto é diferente da imposta pelo vídeo, então esses dois tipos de captação de imagem ainda não estão casa60

dos, mas vamos ver no que isso vai dar. De qualquer forma estou muito interessada nessa plataforma. Já fizemos filmes lindos para Gucci, Chloé, YSL e Balmain. ffwMAG! – Você acha que esses filmes para as marcas podem levá-la na direção de um curta ou um longa no futuro? IVL – Eu não tenho esse sonho de dirigir, mas se acontecer será um projeto maravilhoso. Gosto da ideia de passar um longo tempo em uma história, tirar um ano para me dedicar a algo diferente. Para nós seria uma espécie de luxo, já que iniciamos e terminamos projetos a cada três dias. ffwMAG! – Ao longo do tempo vocês imprimiram um estilo na fotografia. O que uma marca que contrata vocês espera como resultado?

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Vital Sta t ist ic s – Cl a ud ia , 1 9 9 1

IVL – Nós sempre colocamos um algo a mais na campanha. Eles sabem que, quando nos contratam, vamos trabalhar também a parte estratégica da grife, o que ela precisa comunicar. Sempre mostramos o melhor da roupa, as modelos estão lindas, tudo o que favoreça para que a comunicação seja transmitida da forma correta. Vamos sempre um passo à frente e com uma abordagem mais criativa, que é o que vai diferenciar uma marca da outra. ffwMAG! – Como você usa a internet a seu favor? IVL – Vejo como uma grande beneficiadora do trabalho do fotógrafo. Internet é uma coisa de gratificação instantânea, diferentemente da revista. Adoro Twitter e Tumblr, pois alcanço pessoas diferentes daquelas que veem nossas imagens nas páginas da Vogue francesa, por exemplo. Adoro postar minhas imagens no Tumblr, é como se fosse minha própria revista.

ffwMAG! – Como é trabalhar e viver juntos? No que um influencia o outro? IVL – É incrível. Você sacrifica algumas coisas, mas também ganha muito, por outro lado. Passamos nossa vida juntos, o que é maravilhoso, mas você também perde um pouco de si, pois não tem muito tempo sozinho. Então, às vezes a gente tem de sair de cena, viajar, tirar férias, ficar com nosso filho e nem pensar em trabalho. Mas estamos sempre juntos e isso é a coisa mais linda. Você sabe, a vida é muito curta, a gente aproveita o nosso tempo juntos. ffwMAG! – Vocês se fotografam? IVL – Não! Mesmo quando saímos de férias, esquecemos de tirar fotos, só nosso filho tira! Mas testamos todas as luzes no Vinoodh. E ele sempre fica lindo em todas... Tumblr: #inezvanlamsweerde ffwmag! nº 26 2011

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Às vezes me

sinto tão

pequeno...

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O

fotógrafo

Felipe Morozini

conta como virou miniatura no parque

holandês que só floresce seis semanas por ano

Era uma vez, pelos idos dos anos 1990, um jovem cabeludo que viajava com sua mochila. Ele pegou um folheto turístico que anunciava em letras coloridas “O maior jardim da Europa”, com apenas três imagens do local para nunca mais esquecer. 2011. Lá estava o mesmo jovem, não tão jovem, na frente do Parque Keukenhof. Ao adentrar no parque, deparou-se com uma cena que poderia ser do filme A Lenda, de Ridley Scott, faltando apenas os unicórnios brancos a brincar. Lagos, riachos, tulipas, borboletas, begônias, chafarizes que pareciam cachoeiras e estátuas que pareciam gente. Toda essa visão o fez se sentir pequeno. Diante do poder da natureza, da vida, diante dos homens principalmente. O fato é que são 8 milhões de bulbos das mais variadas flores, de todas as cores e tamanhos, plantadas pela mão do homem em um parque que fica aberto apenas seis semanas por ano, na primavera,

a meia hora de Amsterdã. De repente ele estava pequeno. Muito pequeno. Sete centímetros no máximo. Ele olhava para cima e as flores estavam ainda mais bonitas. Translúcidas. Brilhavam. Grilos, formigas e todas as minhocas vieram dizer olá. Foi quando a senhora Borboleta Dourada sentenciou: “Você terá dez minutos. É melhor se apressar. Corra menino, corra”. E lá foi ele. Primeiro corria “vagarosamente” com sua câmera fotográfica virada para cima. Depois começou a correr mais rápido por todos os cantos e recantos. E ele não mentiu quando disse que um pássaro, não se sabe o nome até hoje, o ajudou a atravessar o lago. Ele estava cansado, pensou em parar, mas lá estavam elas. As tulipas negras, as mais raras e negras. Ele deu mais dois cliques, tropeçou em um tatu-bola e abriu os olhos. Sorrindo. (Felipe Morozini) ffwmag! nº 25 2011

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Navegar nem é mais preciso Flutuar

sobre os canais de

Amsterdã

e viver

um pouquinho da exposição de ser um cidadão europeu excêntrico .

T odos

a bordo do

“ lar,

de nossos personagens híbridos !

doce lar ” por

L uciana P essanha

fotos

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A ndré V ieira

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Condomínio aquático - O v írus

da

água

Kees Harschel já havia vivido em um barco à vela no rio Amstel, em 1978. “Naquele momento fui infectado com o vírus da água.” Em 2006, o tal vírus se manifestou novamente. Na época, a cidade de Amsterdã lançou uma loteria de 38 lotes do que viria a ser um condomínio aquático. Harschel e sua família entraram no jogo com outros 399 candidatos e foram sorteados. As ideias que teve para sua casa se tornaram realidade por meio do Waterstudio, um escritório de arquitetura especializado em projetos flutuantes que vem investindo em um futuro aquático para a Holanda. Um dos hábitos preferidos do casal Harschel é deixar o estresse 66

fora de casa dando voltas a nado em torno do condomínio ao chegar do trabalho, antes de jantar. E sua maior alegria são os pássaros que vivem em torno do barco e os patos que nadam a sua volta e já deixaram 12 ovos no terraço. A vizinhança aquática e festeira garante o resto da diversão. “De vez em quando o vizinho liga o motor do saveiro dele e convida todos que gostam de vinho branco e peixe com fritas pra passear.” Sobre os altos e baixos de viver na água, a explicação de Harschel é bem simples: “O vento faz com que a água suba e desça, e esses são os únicos altos e baixos de viver aqui”.

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Zwerver – Se

meu

barco falasse

O Zwerver, barco em que Frank Meijers e Jacqueline de Ruiter vivem desde que se casaram, há 13 anos, é centenário e durante décadas pertenceu a religiosos. Até pouco tempo ele ainda tinha um órgão, que os cristãos tocavam depois do jantar. Jacqueline vem descobrindo sua história por partes, em viagens pela Holanda. “Às vezes alguém chega e diz: ‘Eu conheço esse barco, era da minha família’, e conta alguma coisa sobre ele.” Foi assim que ela descobriu que o Zwerver, que hoje tem 5 metros de largura por 38 de comprimento, já foi aumentado duas vezes: nos anos 1930 e nos 1970. Quem sempre quis viver sobre as águas foi Frank, que velejava quando criança e chegou a ir à Espanha de barco. Jacqueline, bem 68

menos “aquática”, preferia morar em uma vila. Mas eles nunca chegaram a procurar uma casa, nem mesmo outro barco. “Nós marcamos com uma corretora e, enquanto esperávamos por ela sentados em um bar em frente ao Zwerver, sem nem ter colocado os pés dentro dele, decidimos que queríamos morar ali. Foi amor à primeira vista”, conta Jacqueline. Depois da mudança vieram os dois filhos: Zimmie, de 8 anos, e Zegna, de 7. “Eles são populares por aqui porque moram em um barco. As crianças acham muito mais cool que um apartamento. Viver assim é viver em uma pequena comunidade. Todo mundo se conhece. Não é como morar em um prédio, em que ninguém se conhece. Todos sabem quem nós somos.”

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Casa-Barco – Made

in

China

Sophie van der Schaft estuda mídia e cultura na Universidade de Amsterdã e mora com uma amiga há um ano em uma casa-barco de 98m2 e dois quartos, em um canal no centro da cidade. Alugada do irmão, o poeta e escritor Jan Kleijn, que atualmente vive em Bali, a casa-barco é perfeita para uma estudante: “Vivo na cidade, mas parece viagem. No verão, passo os dias no telhado batendo papo e tomando sol com os meus amigos. Tenho vizinhos, mas posso ouvir música alta. Dei uma festa de aniversário no ano passado, com um DJ, e ninguém ouviu nada”. Por gostar da vista, da luz e de ver os patos nadando no canal, Sophie nunca fecha as cortinas, o que causa certo efeito Big Brother 70

em sua vida. Além dos vizinhos saberem tudo o que se passa por lá, os barcos de turistas passam o verão todo em frente à janela, e todo mundo quer a atenção da moça loira, que mais parece modelo. “Eu vivo aqui, não sou uma atração turística. Acho que já sou famosa na China de tanto dar tchauzinho e sair em fotos. É divertido, mas enche um pouco o saco.” Diferentemente de outras pessoas que moram nos barcos atracados em zonas mais afastadas do centro, Sophie não nada no canal em frente à sua casa. “A água não é limpa. E na semana passada encontraram um cadáver boiando a alguns metros daqui.” Nem só de glamour se vive por estas paragens...

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Wega - Meio c igano, meio y uppie Desde que se casaram, há 12 anos, Mattijn e Sabine Hartemink vivem no Wega, um barco construído em 1905. Os filhos do casal, Sam, de 8 anos, e Noor, de 5, nasceram ali. Mattijn é ator, locutor de rádio e carpinteiro. Mantém uma oficina ao lado de casa, em outro barco, chamado Avontuur, cuja entrada dá para o jardim da mulher. Sabine trabalha com doentes mentais, dando aulas de teatro duas vezes por semana. O resto do tempo dedica aos filhos, ao marido e às flores. A escolha de viver a bordo veio de Mattijn, que já tinha um barco antes de conhecer Sabine. “Você se sente livre. Quando liga o motor, é um lugar diferente, uma luz diferente. Eu gosto de trabalhar com as mãos, e quando você mora em um barco, o trabalho nunca termina.” Já Sabine gosta mesmo é de viajar de férias dentro da própria casa. O 72

Wega, hoje em dia, tem 27 metros de comprimento, mas já teve 36. O encurtamento se deu porque o barco não entrava no canal em que o antigo proprietário do barco vivia. Parece brincadeira, mas aumentar e diminuir embarcações, segundo o tamanho do canal em que se mora, é prática comum na Holanda. Quem pensa que a opção de morar sobre as águas tem a ver com economia está muito enganado. Um barco custa o mesmo preço de um apartamento em Amsterdã e ainda paga licença e estacionamento nos canais. “Antigamente, as pessoas que viviam no mar eram consideradas ciganas. Hoje são yuppies muito bem pagos”, ironiza Mattijn, que vai comemorar os seus 40 anos com uma superfesta em um big boat.

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fotos: International Institute of Social History (Amsterdam)

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Lições básicas para o anarquismo... ...Ou

o que podemos aprender com um palhaço maluco

e sua turma de desajustados por

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pouco tempo, outros malucos começarem a se aproximar dele. Não demorou muito para ser formado o Provo, um grupo originalmente composto por apenas algumas dezenas de pessoas – cada um com ideias bastante diferentes do que julgavam melhor para o mundo. Mesmo assim, a luta contra a caretice os uniu. Juntos, realizaram divertidas e importantes manifestações artísticas e políticas que certamente deixariam cheio de orgulho William Godwin, o filósofo inglês considerado um dos pais modernos do anarquismo. De tão hilárias e certeiras, as ações do Provo deveriam servir de modelo para qualquer revoltado que se preze.

Uma n ova igreja Com 10 anos, Grootveld começou a fumar após seu pai ter lhe oferecido um cigarro. Quando adulto, não demorou muito para que a nicotina começasse a lhe fazer mal. Assim que saiu do hospital com o diagnóstico de uma grave infecção no pulmão, não teve dúvidas: com a ajuda de seus companheiros, o palhaço iniciou um ataque total ao comércio de cigarros na cidade. Entre as ações, uma ficou bastante conhecida. Nas propagandas públicas de cigarro, o Provo costumava pichar um imenso K, de kanker (câncer, em neerlandês). Por causa disso, Grootveld foi preso mais de 20 vezes. Horas depois, sempre acabava solto. Engana-se, porém, quem acha que o palhaço Grootveld parou de fumar. Tabaco, nunca mais. Mas no quesito maconha, o Provo decidiu criar uma igreja chamada Kof-Kof. Nos cultos religiosos,

fotos: International Institute of Social History (Amsterdam)

Antes de começar este texto, um aviso extremamente necessário: vamos falar de Amsterdã, mas não trataremos dos clichês básicos que costumam cercar a capital holandesa. Não vamos falar de liberdade sexual. Não vamos parar para fumar “um” no coffee shop. Tampouco montaremos em uma bicicleta para passear nessa cidade socialmente bastante justa. E o motivo de tamanha falta de diversão é um só: infelizmente, nós não estamos na Amsterdã de hoje. No início da década de 1960, Amsterdã era tão careta quanto qualquer outro local da Europa. Entretanto, foram precisos apenas míseros três anos (1965, 1966 e 1967) para que um grupo de anarquistas chamado Provo transformasse radicalmente a cidade. A partir deles, o caminho estava livre para a Amsterdã que hoje tanto admiramos. A transformação começou com um palhaço que fumava maconha na mesma intensidade que fumava cigarros normais. Em meados de 1960, Robert-Jasper Grootveld, mais conhecido como o palhaço Grootveld, era famoso na cidade por suas apresentações públicas com fogo e a mania de parar qualquer pessoa na rua e pregar o anarquismo tal qual hoje faz um pastor evangélico fanático. Duas expressões frequentemente repetidas por Grootveld podem ser vistas como ponto principal de seu discurso: participação popular e humor. Muito humor. Cada vez mais famoso com sua pregação, Grootveld viu, em ffwmag! nº 26 2011

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Mente aberta Não foi apenas a criatividade de Grootveld que marcou o Provo. O livreiro holandês Hugo Bart Huges entrou no movimento com a intenção de difundir na cidade sua defesa a um método um tanto quanto peculiar e bizarro. Huges acreditava que uma das maneiras de regular a pressão de sangue na cabeça era fazer uma pequena abertura no crânio deixando o cérebro exposto ao ar livre, processo conhecido como trepanação. Para chocar grande parte da população de Amsterdã, Huges realizou a trepanação em plena praça pública. Sua justificativa para o ato foi chamar a atenção para que as pessoas expandissem sua consciência – neste caso, literalmente. O sucesso foi tamanho que Huges chegou a lançar um livro. Em The Mechanism of Brainbloodvolume, ele garante que um furo na mente pode causar uma permanente sensação de se estar chapado.

I gualdade

sobre

duas rodas

Semanas após a manifestação de Huges, todos de Amsterdã falavam sobre o grupo Provo. Definitivamente, era a hora de realizar 78

algo muito maior, capaz de mobilizar grande parte da população da capital holandesa. Em uma reunião na praça de Lieverdje, um dos membros do Provo sugeriu uma ação que tivesse como personagem principal um meio de transporte até hoje muito comum na Holanda: a bicicleta. A ideia era simples (e, talvez, por isso, tenha funcionado tão bem). Aquela reunião na praça seria a noite das bicicletas brancas. Nas ruas próximas, os anarquistas convidaram a população a pintar de branco suas bicicletas e deixá-las livres nas ruas, disponíveis para quem quisesse usá-las. Muitos moradores adoraram a ideia. Na semana seguinte, era comum ver em Amsterdã alguém sair a pé de casa, montar em uma bicicleta branca encontrada na rua, ir ao local que desejasse e, no fim do trajeto, deixar a bicicleta novamente ao ar livre, pronta para ser usada por quem estivesse precisando. Como era de se esperar, a polícia holandesa não gostou e viu a prática como ilegal, já que desrespeitava a lei da propriedade privada na Holanda. Nos primeiros dias das bicicletas brancas, os policiais bem que tentaram prender os infratores. Impossível: seria difícil arranjar prisão para mais de um terço da população da cidade que tinha aderido ao movimento. Com o sucesso do movimento das bicicletas, o Provo decidiu diversificar a ideia. Outras iniciativas semelhantes com a tinta branca apareceram na capital holandesa. E também funciona-

fotos: International Institute of Social History (Amsterdam)

entre uma prensa e outra, os fiéis cantavam um mantra que consistia da repetição kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof. “Dessa maneira, nunca esquecemos como o cigarro normal nos causou o mal”, justificava um sorridente Grootveld.

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ram muito bem. Foi o caso do plano das chaminés brancas, que consistia em pintar de branco as chaminés que soltassem mais fumaça nas regiões industriais de Amsterdã.

Pijamas

e abóboras

Depois de uma igreja, uma cabeça furada e um movimento ciclista igualitário, o Provo desfrutava de uma aprovação popular considerável. Como as eleições para vereador em Amsterdã estavam próximas, eles colocaram um candidato para concorrer. Com 3 mil votos, ele foi eleito, mas não foi somente aquele candidato que apareceu na Câmara dos Vereadores. Como a ideia era infernizar a vida dos políticos, os integrantes do Provo se revezavam, e a cada mês um manifestante diferente do movimento aparecia no local como suplente. Em comum, todos iam de pijamas e descalços. Apesar das hilárias ações políticas, a verdade era que muita gente da Holanda ainda via o Provo como uma espécie de grupo de comediantes e não como um movimento realmente político e artístico. Mas, em 1966, um fato mostrou que não é preciso ser taciturno e sem graça para despertar o lado contestatório de uma cidade inteira. Naquele ano, os Países Baixos estavam todos fascinados pelo casamento da princesa Beatriz com o príncipe Claus von Amsberg. Como vimos recentemente com a celebração real no Reino Unido, uma multidão acampava na frente do local em que seria realiza-

da a cerimônia e comprava lembranças tão horrorosas quanto xícaras com a foto do casal. O Provo, porém, deixou a estúpida fascinação de lado e fez o que qualquer político deveria ter feito: investigou o passado do príncipe. Não demorou uma semana para descobrir que, quando jovem, Von Amsberg servira na Juventude Hitleriana. A revelação foi um choque a uma Holanda que sofreu atrocidades durante o nazismo. A reação popular foi exatamente como o Provo gostava, ou seja, bastante política, mas bem-humorada o suficiente para deixar qualquer realeza completamente constrangida. Quando os recém-casados Beatriz e von Amsberg desfilaram em carro aberto nas ruas, a população, aos berros, jogou na direção deles centenas de pedaços de abóboras. Por incrível que pareça, se deu bem quem levou o vegetal na cara. Von Amsberg conseguiu recuperar o prestígio e se tornou um dos príncipes mais queridos dos Países Baixos. Já o Provo, como é comum nos grupos anarquistas, logo se dividiu em variadas facções e perdeu a força inicial. Tudo bem. Os ideais de liberdade e anarquia já estavam bem postos em Amsterdã. Hoje, a cidade só é assim por causa desses fascinantes baderneiros. Portanto, antes de fazer seu pedido no coffee shop, não se esqueça que a cidade só se tornou o que é hoje porque no passado muita gente precisou afrontar o que eram as regras do jogo. ffwmag! nº 26 2011

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O motor da mudança Inventar, pr

od

uz

ir

em

rie

,

faturar e , o melhor , desfrutar da tranquilidade de

se

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.

s

que fazem da região a mais criativa dos

por

B runo M oreschi

fotos

Cansado de gastar seu tempo registrando produtos para vendê-los, o fotógrafo Hans Hiltermann largou a publicidade, vendeu tudo o que tinha, comprou um estúdio no centro de Amsterdã e começou a desenvolver seu trabalho pessoal. Convencido de que somos o que somos por causa dos nossos parentes, amigos e mestres, decidiu que o objeto primordial da sua atenção seria o ser humano e o que existe de mais humano nele: o amor. A partir daí, começou a tirar fotos de pessoas que o inspiravam. Em seguida, vieram as pessoas que inspiravam as pessoas que o inspiravam e daí por diante. Em nove anos de trabalho foram 400 fotos usando exatamente a mesma técnica. As fotos são retratos hiper-realistas de pessoas olhando diretamente para a câmera. Ao contrário de como aparecem em publicidade, elas não estão maquiadas, os cabelos não estão produzidos, elas não têm um sorriso estampado no rosto, nem um olhar sedutor e muito menos estão ali para empurrar alguma coisa para você. Aparentemente, não há nenhum ruído entre observador e obser80

P aíses B aixos

D aniel Pinheiro

vado, que parece totalmente desarmado e receptivo ao seu olhar. Na verdade, essa naturalidade é conseguida por meio de pequenos artifícios. O modelo é colocado entre quatro paredes brancas, com uma única janela para a lente da câmera, e é atrás dela que o fotógrafo se posiciona. Hiltermann aprendeu meditação e induz seus modelos a entrar em estado meditativo por meio da respiração. Depois de cinco minutos, pede que olhem para a lente da câmera pensando na pessoa que mais amam e em que confiam. São 16 cliques e voilà: você tem uma pessoa olhando diretamente nos seus olhos de forma amorosa, indefesa e aberta ao seu olhar. Impossível não começar imediatamente a fantasiar sobre a pessoa que está na sua frente. Esse é o exercício que Hiltermann nos propõe. Ao inventar histórias e temperamentos para o objeto do nosso olhar, estamos falando, na verdade, muito menos do outro do que da nossa própria visão de mundo. >> documentyou.org

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hans Hiltermann

e a

arte

da

neutralidade

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Frank V isser e a

fuga

para o

t rópico

O holandês nascido em Amsterdã é conhecido em seu país como um dos melhores stylists de cenários. Seus trabalhos quase sempre são repletos de cores. Além disso, Visser faz parte do coletivo artístico IJM, que produz revistas, livros e imagens de alimentos. Com 48 anos, Visser se diz um apaixonado por cidades grandes. Apesar de o país favorito de Visser ser a Coreia do Sul, o artista ainda pretende passar um longo período no nosso Rio de Janeiro. Mas isso não significa que o holandês não goste da cidade em que vive agora. “Amsterdã é incrível na primavera. Essa estação traz o melhor das coisas e das pessoas por aqui. Na verdade, todos os dias eu me surpreendo com a beleza da cidade.” >> ijm.nl

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foto André Vieira

Esther

van

Schagen e o pioneirismo em

Red

Light District

Entre meninas de biquíni atrás das portas de vidro e rapazes de todas as nacionalidades sem a menor inclinação para a moda, o Red Light District reúne os novos estilistas holandeses, misturados ao projeto da prefeitura de Amsterdã, uma tentativa de transformar a tradicional zona de meretrício da cidade em algo mais criativo e fashion. Esther van Schagen chegou ali antes da iniciativa do governo, há três anos. Montou sua loja de sapatos no térreo e foi morar com os filhos Kalle e Joppe no segundo andar da casa. Totalmente desencanada, afirma que ali todos se conhecem, ressalta que existem crianças e velhos e que é uma boa vizinhança. Sabe que as meninas dos peep shows estão rebolando no quarteirão seguinte, mas não precisa vê-las. “Sempre prefiro ver o lado bom das coisas. Adoro viver aqui. Esta região é cheia de visitantes. O mundo inteiro vem a mim sem eu precisar sair de casa. E é ótimo ver gente de todas as partes dizendo: ‘Meu Deus, sapatos!’” (LP) ffwmag! nº 26 2011

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ashley douglas

e o

design

do

entretenimento

Nascida na Escócia e hoje apaixonada pela Holanda, Ashley Douglas coordena vários projetos que têm um único grande objetivo: aproximar as pessoas de marcas importantes ligadas ao universo por meio de programas de músicas, premiações criativas e campanhas virtuais. Nomes importantes do entretenimento musical deixam sob a responsabilidade de Ashley e sua equipe todo esse contato com seus clientes. “Isso inclui regiões como Europa, Oriente Médio, África, Índia e Rússia. É realmente muita coisa para se fazer, mas isso também envolve muita diversão”, explica. Entre seus clientes estão a Harman, uma imensa empresa com mais de 11 mil funcionários que está por trás de marcas lendárias do áudio como a Harman Kardon, a JBL e a Mark Levinson. Em outras palavras, Ashley está ao lado dos maiores nomes do design do entretenimento, um pessoal sedento por novidades. Um dos projetos atuais de Ashley é coordenar um concurso para fanáticos por som. O AKG (Scholarship of Sound) irá escolher dez jovens talentos do mundo todo para participar de um curso avançado de tecnologia sonora em Berlim. Sobre Amsterdã, Ashley define a cidade como “um lugar muito vivo quando há sol”. A descrição dela de um dia ensolarado por ali: “Monto na minha bicicleta, passeio pelos canais e pelas pontes, deito próximo de um lago e uma floresta. Para completar, um vinho tinto com grandes amigos”. Com essa descrição tão serene, nem parece que Ashley é uma executiva responsável por tantos projetos importantes. >> scholarshipofsound.com

Victorine Pasman de

e os balangandãs

carmen miranda

A especialidade da sorridente Victorine, de 32 anos, não é apenas vender sorvetes de maneira nada discreta – esta foi apenas uma de suas dezenas de performances já realizadas na Holanda. O que a moça realmente ama fazer na vida se resume a vestir figurinos chamativos produzidos por ela mesma e, toda colorida, exibir-se publicamente. Quanto mais muvuca, melhor. A lista de nomes que cita para explicar sua inspiração mostra bem o tamanho da explosão visual: o estilista Alexander McQueen, o diretor de cinema Federico Fellini e o designer franco-russo Erté. Nada, porém, inspira mais Victorine do que duas outras referências. A primeira são os longos vestidos do século 17. Victorine já criou, por exemplo, um que a deixou metros acima do solo. Sempre com bom humor: “Vestidos enormes são pesados e desconfortáveis. Mesmo assim, pelo menos dá para esconder qualquer coisa embaixo deles”. Por fim, sua outra grande referência é a nossa inimitável brasileira Carmen Miranda. Sem mais palavras, Victorine é uma holandesa branquinha e simpática que, mesmo separada por um oceano de distância, apaixonou-se pelo balangandã tropical. >> victorinepasman.nl 84

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Mark Chalmers e a

bobagem perfeita

O inglês de 40 anos que escolheu viver na Holanda realiza projetos tão malucos e interessantes que fica até difícil defini-lo só como artista, arquiteto e designer. Chalmers é um dos colaboradores do estúdio Perfect Fools, em português, algo como “bobos perfeitos”. Ele e os outros da equipe defendem uma teoria sem temer serem tachados de bobos por isso: “A bobagem fala a verdade. A bobagem ri de si mesma. Ela não pode ser ignorada. A bobagem domina!”. O curioso é notar que as tais bobagens se transformam em interessantes projetos. Chalmers já criou ambientes em que as pessoas se divertem com um jogo de videogame bastante peculiar. Em vez de uma tela de televisão, o jogador controla um mosaico de tênis que funciona de uma maneira muito mais espetacular do que qualquer tela de alta definição. Seguindo a mesma ideia de materializar o que é virtual, o pessoal do Perfect Fools criou um aplicativo que transforma em livro impresso os melhores momentos registrados em seu Facebook. Para explicar sua fascinação pela Holanda, Chalmers evoca o mar. “O nível dele é uma ameaça constante, mas o holandês tira o máximo de proveito disso. Essa mentalidade engenhosa permeia a mente dos habitantes daqui”, explica.

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strawberry earth e os

dois

lados

da

Holanda

O casal de namorados Mette te Velde e Ikenna Azuike definem seu Strawberry Earth de uma maneira bastante direta: “Um blog para pessoas criativas que se preocupam com o nosso planeta”. Criado em 2008, após a dupla ficar fascinada com o movimento verde que acontece em Nova York, o blog traz diariamente novidades que unem criatividade e soluções sustentáveis. “A natureza oferece tudo de que precisamos: comida, água, ar e beleza. Precisamos preservá-la”, diz Te Velde. Tudo bem, você já deve ter ouvido essa frase um milhão de vezes. Mesmo assim, o casal garante: vão repetir coisas assim até a gente de fato levar essa obviedade a sério. Conforme foi ficando mais popular, o Strawberry Earth passou a realizar dois importantes festivais em Amsterdã – cada um na sua devida estação. Na primavera, a dupla organiza o Strawberry Earth Film Festival, evento que exibe filmes de temática ambiental. No outono, talentos da moda de toda a Europa preocupados com o meio ambiente se reúnem no Strawberry Earth Wonderland. Sobre o lugar que escolheu como base para salvar o mundo, Mette resume: “Por um lado, a Holanda é criativa, linda e aberta. Por outro, ainda há muito conservadorismo”. >> strawberryearth.com

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concrete e a

república i ndependente

de

Amsterdã

Em 1997, Rob Wagemans e dois colegas criaram a Concrete Architectural Associates para realizar a sede principal do Cirque du Soleil em Amsterdã. Infelizmente, o projeto nunca saiu do papel. Mesmo assim, Wagemans decidiu continuar com a empresa. Hoje com 25 funcionários, a Concrete é conhecida por sua especialidade em projetar a arquitetura de diversos restaurantes. Os mais conhecidos? Os Supperclubs, restaurantes que podem ser encontrados em cidades como Amsterdã, Roma, Cingapura, Los Angeles e Istambul. Nesta cidade, Wagemans criou um lounge minimalista em que os fregueses podem comer e ouvir o som de DJs famosos – tudo isso instalados confortavelmente em camas repletas de travesseiros macios. Em alguns dias especiais até um massagista pode aparecer e oferecer uma massagem nos seus pés. Sobre a Holanda, Wagemans acredita que ela nada tem a ver com Amsterdã. “É como se a cidade fosse uma república independente.” >> concreteamsterdam.nl

Há, sem dúvida, um paradoxo na frase do poeta Paul Valéry: “O mais profundo é a pele”. Afinal, nela o profundo está localizado justamente no mais superficial, subvertendo a ideia de que o que é mais importante está situado abaixo da pele, na profundidade; delegando à superfície, à epiderme, o que é superficial, desprezível. Ao observar as fotografias de Roger Ballen esse paradoxo vem à tona. Em suas imagens vemos corpos e sua alma, há toda uma superfície de coisas, mas, além disso, há um território interior que, mais que visto, é sentido. Roger Ballen comprou sua primeira câmera aos 13 anos. Nesta mesma época, os anos 1960, a mãe do artista trabalhava para a agência internacional de fotografia Magnum, e, desde cedo, ele teve a oportunidade de conviver com grandes nomes da fotografia mundial e conhecer in loco seus trabalhos. A partir daí, nunca mais parou e construiu, nos últimos 30 anos, uma obra perturbadora que tem sido exibida em importantes instituições e museus no mundo inteiro como Centro Georges Pompidou, em Paris, Museu Victoria and Albert, em Londres, e o Museu de Arte Moderna de Nova York, entre outros. A maioria de seus projetos demora cinco anos para ser finalizada, para, depois, ser publicada em livros.

Ballen nasceu em Nova York, em 1950, mas adotou há 30 anos a maior cidade da África do Sul, Johannesburgo, para viver e trabalhar. Ele começou fotografando pequenas comunidades rurais do país e – entre o começo da década de 1980 e 2008 – produziu várias séries de fotografias que ficam no limite entre o fotojornalismo e a fotografia artística. Autor de oito livros, ele mantém uma fundação com seu nome dedicada ao ensino da fotografia na África do Sul, a Roger Ballen Foundation. Para quem aprecia fotografia contemporânea, é impossível olhar as fotos de Ballen e não se lembrar do trabalho da fotógrafa Diane Arbus. E mais do que o fato de ambos colocarem em foco pessoas ou situações “marginalizadas”, está o voyeurismo explícito, a subjetividade e as texturas, não só físicas como psicológicas. Roger Ballen segue dois princípios em sua obra: sempre fotografar em preto e branco e sempre usar o flash. E aí surge um paradoxo, uma vez que quanto mais luz ele submete a seus personagens, mais imersos na escuridão, nas trevas, eles estão; eles sempre nos negam algo que está escondido até deles mesmos. Como o próprio fotógrafo diz: “Para mim, o lado escuro sempre tem sido uma fonte de luz e energia. Eu sempre digo às pessoas que elas não ffwmag! nº 26 2011

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Marlein Overakker

e a

fome

de

v iver

Se você está de regime ou morrendo de fome, evite ao máximo conhecer o trabalho de Marlein. Será um sofrimento só: centenas de deliciosos bolos, cupcakes e pratos lindamente montados. Marlein é um dos principais nomes da gastronomia da Holanda – e isso não significa que ela apenas cozinhe bem. A moça também coordena a produção de fotografias que mostram alimentos e escreve para revistas gastronômicas do mundo todo. “Para mim, o conceito de felicidade cabe em uma única palavra: cupcake”, diz, orgulhosa de seus doces. Para ela, a Holanda só consegue ser incrível porque reúne duas coisas bastante opostas: “Pessoas de mente fechada convivem com outras de mente aberta. Além disso, é o local em que a criatividade ainda importa”. >> marleinoverakker.com

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olaf boswijk

dúvida cruel sossegados

e a

dos

Ele tem 32 anos e é proprietário, diretor criativo e DJ residente da famosa TrouwAmsterdam, uma mistura de balada, restaurante, galeria de arte e agência de artista. Engana-se, porém, quem pensa que o dono de uma balada queira o barulho das pick-ups para sempre. Boswijk não quer estresse. Prestes a se casar, é o típico holandês gente boa. Em vez de conquistar o mundo com seu espaço multicultural, ele deseja algo bem mais tranquilo. “Um dia quero viver na Nova Zelândia com minha futura esposa e meus filhos. Assim, vamos aproveitar a natureza e a liberdade com só uma coisa para decidir pelas manhãs: nós devemos praticar snowboard, surfe ou equitação?”. Isso não significa que Boswijk não goste da Holanda: “A região é regras e ordem. Mas também liberdade, tolerância e, o mais importante de tudo, o local em que podemos encontrar uma cidade chamada Amsterdã”. >> trouwamsterdam.nl

Kees K root e a de

c oragem

dizer “ não”

Com o seu estúdio de som SoundCircus, Kees Kroot faz ótimas sonoplastias de comerciais, documentários e filmes. Sua visão sobre o que é trabalho tem muito a ver com a maneira contemporânea de enxergar as relações profissionais. “Se eu não gosto do trabalho que preciso fazer, tento mudar. Se não for possível, preciso falar não. Às vezes, negar um trabalho é de fato algo difícil, mas, confesso, adaptabilidade não é realmente meu forte”, ele explica. Entretanto, o curioso é que a agenda profissional de Kroot dificilmente tem espaços vagos. Para Kroot, a maneira certa de escutar uma boa música é sempre com o fone de ouvido. A dica faz com que se lembre de uma de suas últimas compras: “Recentemente, descobri um sistema de som 3D no formato de uma cabeça humana. Não tive dúvida e comprei na hora. Espero combinar esse aparelho com filmes dramáticos e emocionar mais facilmente as pessoas”. >> soundcircus.nl ffwmag! nº 26 2011

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Fedor van der

V alk e os

belos

jardins suspensos

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Quando Fedor van der Valk, de 36 anos, decidiu produzir jardins que, pendurados por fios, não tocam o chão, muita gente apostou que o resultado final não seria algo bonito. Mas assim que começou a mostrar na internet os jardins do projeto String Gardens, cada vez mais pessoas do mundo inteiro querem uma planta de Van der Valk. Pequenas espécies, árvores maiores e até mesmo plantas carnívoras viram, nas mãos do jardineiro, ótimos objetos de decoração. Para regá-las, é simples: basta enfiar as plantas em um recipiente com água por alguns segundos. Em seguida, elas podem ser novamente penduradas no teto. Como era de se esperar, Van der Valk é completamente apaixonado pela natureza. Na lista das coisas mais importantes para ele estão a mãe, o irmão, os amigos e, em um considerável quarto lugar, suas plantas. Seu futuro provável trabalho: “Quero criar em alguma cidade do interior uma espécie de pousada ou casa de chá com muitas plantas penduradas. Em Istambul ou Portugal, ainda não tenho certeza...”. >> stringgardens.com

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foto André Vieira

De Dakdokters e os

telhados

verdes

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Na Holanda, o telhado pode ser jardim, horta e área de recreação. Os arquitetos Matthijs Bourdrez e Daan de Leeuw aprenderam uma técnica usada na Alemanha há 30 anos e oferecer telhados verdes aos clientes. Bingo! O negócio bombou e os “doutores de telhados”, como são chamados por lá, não pararam mais de trabalhar. A De Dakdokters oferece duas opções de instalação. Na primeira, o cliente escolhe o que quer plantar: ervas, grama, flores, etc. Na outra, a cobertura é vendida a metro, como um tapete, e tem sete meses de idade e já vem com as sementes plantadas. Um plástico grosso protege o telhado contra o crescimento de raízes e é coberto por três camadas de plástico com um recheio capaz de drenar a água. Sobre essa estrutura vem a terra, a grama, sementes e voilà. Além de ser ecológico, o telhado verde refresca o apartamento no verão, sem esfriar no inverno. Custa 100 euros por metro quadrado, valor que pode ser dividido com a prefeitura em algumas cidades da Holanda. A De Dakdokters tem 15 funcionários e alugou um galpão para produzir em maior escala e vender mais barato. “Nós trazemos a cura para telhados doentes”, afirma Bourdrez, que não dispensa o jaleco na hora de subir num telhado. (Luciana Pessanha)

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Valorizar as conquistas brasileiras e reconhecer as suas. Estilo é ter um banco diferente que liga tudo isso.

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©Philips Design – Probe Project SKIN, Fractal

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O pescador de inovações Quer O

saber como se olha para o amanhã ?

sul - africano

Clive

de um projeto da

Philips

do futuro a partir de

por

van

Heerden

está à frente

que capta as tendências

“cenários

provocativos ”

L eila A be

Emissão desenfreada de CO2, superpopulação, esgotamento das fontes naturais de energia e alimentos, desastres naturais, falta de água potável, cidades disfuncionais... Estamos todos à procura, mas, na maioria das vezes, simplesmente à espera de respostas prontas da ciência para problemas ecológicos globais que nos são atirados e apresentados à exaustão diariamente por meio das fontes inesgotáveis de informações virtuais e mediáticas. Paradoxal é que, quanto mais nos inteiramos dos últimos alcances da ciência, mais nos sentimos incertos do que nos espera no futuro. Angústias explicáveis, principalmente, porque ainda não existem respostas prontas da ciência e porque elas estão atreladas a circunstâncias extremamente heterogênicas – populacionais, culturais, políticas, morais, religiosas, históricas, geográficas etc. E são algumas dessas respostas que tentam resolver problemas que dizem respeito a cada um de nós, habitantes do planeta, que já vêm sendo estudadas há anos, e com afinco, na Holanda. Em visita a Eindhoven, cidade holandesa localizada no sul dos Países Baixos, conversamos com uma dessas cabeças pensantes, responsável pelas inovações em design que são uma das grandes armas para a garantia da sustentabilidade do planeta. Trata-se do guru da Philips, Clive van Heerden, sociólogo graduado em política social e sociologia industrial com mestrado em design interativo pelo Royal College of Art, de Londres. Este artigo é a respeito do futuro, das ideias em plano e das cabeças por trás delas. Van Heerden está à frente do projeto Probes, que, resumidamente, começa com um tema que é formado por meio da captação de sinais sutis na sociedade. Está associado a novos comportamentos, mudanças políticas, tendências econômicas e desenvolvimento tecnológico e sustentável. Tudo começa com uma pesquisa que, caso tenha potencial para se tornar uma ação, é encarada pela Philips como projeto a ser explorado a longo prazo. Inclusive, a materialização das conclusões é apresentada em forma de uma publicação chamada Design Provocation, que é usada como base para os futuros projetos da gigante da tecnologia.

ffwMAG! – Como o senhor, que está à frente do projeto Probes, encara o futuro? Clive van Heerden – Penso que nós gastamos os primeiros dez anos tentando prever um futuro específico, e ele vai demorar muito mais para chegar do que nós imaginávamos no início. Esse fato mudou muito a nossa posição em relação aos nossos projetos. Decidimos que, em vez de tentar prever o que aconteceria com os nossos projetos no futuro, o melhor seria começar a testá-los. O que fizemos foi criar cenários provocativos para estimular debate e fazer as pessoas pensarem sobre os assuntos que escolhemos. A partir dessas “provocações” tiramos a opinião da população. As pessoas têm a habilidade natural de diferenciar ficção científica, ou uma onda passageira, de uma mudança real de tendências na sociedade. Essa é a maneira como trabalhamos com os nossos projetos Probes. É como se atirássemos uma pedra no escuro e, se do local vierem gritos de agonia, vamos até lá ver qual é o sofrimento e estudar o ferimento. E se não encontramos nada por lá, mudamos para outro tema. ffwMAG! – O fato de o senhor ser da África do Sul pode ter influenciado na maneira de dirigir projetos nórdicos e europeus? CVH – Cresci em um ambiente muito peculiar, o apartheid, em uma situação muito estranha mesmo. Na universidade eu escrevia para um jornal de estudantes e me envolvi no movimento anti-apartheid. Em seguida, passei a escrever para um jornal local e isso me trouxe muitos problemas. Fui preso em 1981 por seis meses. A partir daí não podia estar em companhia de mais de uma pessoa de cada vez, não podia visitar nem a casa dos meus pais. Mas o pior é que eu não podia mais escrever, filmar, gravar de forma alguma e nunca mais pisar em um campus universitário. Estudava sociologia quando, em 1996, consegui uma bolsa de estudos para que pudesse viver no Reino Unido, justamente quando eu não queria deixar o meu país. Porque, pedindo asilo político, não seria mais autorizado a voltar à África do Sul. ffwmag! nº 26 2011

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Ao

estudar a superfície do corpo , van

que não são apenas lindos .

Eles

Heerden

e equipe criaram vestidos

também são sensíveis ao estado

emocional da pessoa e do ambiente que a cerca

E, curiosamente, por trabalhar com mídia, sempre tive bastante interesse em tecnologia. Com as dificuldades políticas que tínhamos na África do Sul, imprimir era uma coisa muito complicada e eu sempre acompanhei esses processos de perto. Nós começamos a distribuir nossos jornais feitos com fotocópias produzidas a partir da primeira geração do Macintosh. Bom, para prolongar a minha vida na Inglaterra eu fui cursar um mestrado em computer related design no Royal College of Art, de Londres. De certa maneira, isso mudou a direção da minha vida. Nos anos 1990, o meu projeto principal era trabalhar com marketing para tracks eletrônicos, sendo contratado pela EMA para projetos de pesquisa. Eu trabalhei, em grande parte daqueles oito anos, em pesquisa de ponta, mas o mais importante era entender como se pode usar arte e design como coreógrafos, por exemplo, pessoas não técnicas em processos inovadores. Essa foi a fascinação que eu estava procurando por duas décadas! A ideia era desenvolver novas maneiras de gerar novas tecnologias porque tentávamos entender um problema e, quando o detectávamos, encontrávamos uma solução técnica para isso. O primeiro passo era, definitivamente, compreender o problema e começar a desenvolver uma tecnologia para adaptar àquele problema. O que fazemos hoje em dia na Philips é a continuação disso. Eu me tornei um designer por acaso. ffwMAG! – Tem coisas pertinentes a dizer aos brasileiros que, como você, nasceram em um país cheio de problemas sociais? CVH – Acho que a minha experiência foi fantástica porque me proporcionou a possibilidade de acreditar em mudanças. Vindo de uma estrutura superpoderosa como o apartheid, e que foi mudada, acredito na humanidade e na maneira como o homem pode transformar o mundo de uma forma positiva. Acredito que, de alguma forma, isso é uma coisa cool do hemisfério sul. Na Europa, o que me preocupou no começo foi a apatia, a complacência com as coisas em geral e uma grande aceitação das situações e fórmulas estabelecidas. E eu acho que o design é, potencialmente, um instrumento 96

de mudança e teria algo para contribuir por aqui nesse aspecto. Você pode mudar fundamentalmente o jeito que as pessoas veem a vida e percebem as situações por meio do design em combinação com outras áreas, e eu definitivamente penso que ter nascido no hemisfério sul foi uma boa vantagem. Cabem aqui mais duas observações: a improvisação e o fato de que nós, que viemos de países em desenvolvimento, damos o melhor de nós. ffwMAG! – O que o impressionou na Philips? CVH – A empresa tem uma incrível história de desenvolvimento de tecnologia, e nós somos absolutamente confiantes de que isso continuará. Tentamos alargar aquele facho de luz Philips, sabe? Nós tentamos fazer a luz brilhar em áreas antes esquecidas. Quando pesquisamos sobre os equipamentos feitos para cozinha, por exemplo, pesquisamos os alimentos, já que, por centenas de anos, os aparelhos usados na cozinha não mudaram muito. A ideia é compreender mais e mais a respeito do que está no prato. ffwMAG! – Fala-se muito hoje em dia em como lidar com os alimentos. Mas e na falta deles? CVH – Por conta disso idealizamos a fazenda vertical, que são prédios construídos com o intuito de suprir, em termos alimentares, os arranha-céus se utilizando de energia local e técnicas inovadoras para cultivo dos alimentos. Nós temos várias indicações de que os preços dos alimentos estão subindo muito nos últimos anos. Exatamente no ano em que iniciamos esse projeto havia protestos no Senegal, Haiti e Egito. Até mesmo na Itália as pessoas estavam brigando nas ruas por causa dos preços excessivos dos alimentos. Os preços estão subindo e parece que é uma onda que vai continuar. Imagine que você mora no 50º andar em Xangai, tenta suprir as suas necessidades diárias e não possui acesso a nenhum pedaço de solo. Nós tentamos produzir uma “provocação”, que é a criação de uma fazenda vertical que combina diferentes séries técnicas, mas sem a utilização de eletricidade, e que se baseia em outros tipos de

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©Philips Design – Probe Project SKIN, Bubelle

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Apesar

das criações com visuais futurísticos , o

de ficção científica .

Seu

P robes

vai além do visual

principal objetivo é a busca por uma mudança

real na sociedade

tecnologias tradicionais que os seres humanos já procuraram no passado. Prevemos o uso de técnicas aquapônicas e hidropônicas para intensificar o processo de crescimento dos vegetais usando lixo decomposto como fertilizante. Nossa herança enquanto companhia não é somente eletrônica. Queremos compreender como o mundo está mudando e como nós precisamos encontrar energia apropriada para novos contextos específicos. E eu acho que essas preocupações cabem muito bem a sua e a minha experiência de vida, porque nós fomos muito mais expostos a necessidades primárias do que os nossos colegas na Europa. ffwMAG! – Moda e ciência dão liga? CVH – Muito do trabalho que temos feito em moda foram por razões não usuais. Nós trabalhamos por dez anos em um tecido com condutores eletrônicos que serão usados em várias aplicações médicas. Isso aproximou muito a relação dos nossos laboratórios com os profissionais da moda. Estudamos o corpo e suas escalas, a superfície do corpo, o que é o corpo e como ele reage em determinado ambiente. Nós continuamos a trabalhar com moda como suporte físico dos nossos conceitos e ideias. Porque, quando você fala em moda, fala em indústria têxtil. Estudar os processos de manufatura e distribuição tem sido parte do nosso trabalho já há longo tempo. A automação mudará o nosso comportamento de consumo e consequentes hábitos socioculturais. Estamos falando de processos invisíveis de fabricação, por meio de robôs automatizados, peças feitas sob medida e muito mais baratas. Existem, no entanto, algumas implicações no design e você pode entender o motivo. Confeccionando uma peça de roupa no processo automatizado, você, de repente, percebe que não tem como executar uma lapela. Então a lapela tem de mudar, e é isso que dará direção ao design. Mas a ideia toda por trás disso é que o nosso trabalho na moda é uma provocação porque estamos mirando para a cultura do descartável diário, como é o filme que fizemos sobre isso, o de um robô que come lixo e defeca moda por meio de uma microfibra que se amolda em um corpo humano, transformando-a em uma peça de roupa. 98

ffwMAG! – A nanotecnologia vai ser um instrumento importante nessas transformações? CVH – Absolutamente. Estamos bastante interessados na escala dos materiais, e a nanotecnologia é fascinante. Nós investimos bastante tempo tentando entender processos microcapsulares e biológicos em produtos têxteis, os níveis moleculares do material e suas transformações, mas, a priori, estamos interessados em todas as tecnologias de transformação. ffwMAG! – Sustentabilidade, novas tecnologias, futuro. O que nós, brasileiros, podemos aprender com a Philips? CVH – Eu nunca estive no Brasil, infelizmente. Estamos muito interessados no seu país, mas, principalmente, porque o tema do nosso Probes de 2011 é “Cidades Habitáveis”. Olhamos bastante em direção ao Brasil nesse aspecto. Estamos fascinados pela maneira como as pessoas no seu país se ajudam mutuamente como um ponto de partida para um projeto. E a Philips é aberta a soluções inusitadas. Fico sempre muito impressionado que uma companhia tenha essa cabeça aberta e uma perspectiva de longa distância. Na época do Katrina, por exemplo, criamos cenários para ajudar a resolver os estragos decorrentes do furacão. Foram soluções de altíssimo padrão, visando à sustentabilidade tecnológica. Eu digo isso porque grande parte do movimento verde é sobre sustentabilidade, que propõe materiais sofisticados que, às vezes, são transportados da Suécia para a Índia, por exemplo. Uma loucura! Nós precisamos começar a entender sustentabilidade “em casa”, em “sítio“ e em contexto. Em relação ao Brasil, ouvimos falar bastante sobre as favelas. Achamos esses modelos de solução para moradia inacreditáveis, um novo tipo de inovação social e empreendimento. Uma infindável fonte de força humana e determinação. Eu acredito firmemente que nós é que temos bastante a aprender com vocês. design.philips.com/probes/whataredesignprobes/index.page

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A de

casa

Anne

Frank

Entre os muitos mapas criados pelo holandês Jan Rothuizen, um deles representa a casa de Anne Frank, na qual ela passou a maior parte da vida, em Amsterdã. Não faltam piadas (nesse caso, respeitosas) e curiosidades como a indicação de um chão falso para que os moradores do local pudessem se esconder diante de uma invasão nazista. “Qualquer coisa no mundo merece um mapa”, explica Rothuizen. “Uma mesa, um quarto e até mesmo lugares imaginários. Não há regras ou restrições. Pelo menos, não para mim.”

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fotos

C ristiano M adureira

Ware liefde edição de moda

Os

canais de

P aulo M artinez

Amsterdã

são veias inflamadas de

um

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1, 2, 3... V ale Flerte Nos

tudo , então .

ao jeans : a nossa bandeira !

saraus ,

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mas pode ser rock também .

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o clássico

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, , do

Acossado

é inspiração .

final improvável , enfim .

Tão Sonhadores,

tão livres ,

um capítulo à parte da

História.

O

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amor verdadeiro .

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No Museu Van Gogh. Paletó Damyller, saia André Lima, cinto TNG, carteira Malcriada, meia Lupo, sapato Zeferino ffwmag! nº 26 2011

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No Café de Jaren. Camisa Gant, colete Levi’s, calça Emporio Armani, cinto Petulan, pulseiras Mandi, relógio Swatch, óculos Ray-Ban, tamanco holandês acervo ffwMAG! Na página ao lado, casaco Colcci, camisa Triton, short Lança Perfume, chapéu Madame Olly, cinto Ágatha, meia Lupo, sapato Stone Bonker 104

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Vestido Printing, camisa Colcci, óculos Marc By Marc Jacobs para Safilo, bolsa D’Arouche, pulseiras Claudia Arbex e Caleidoscópio, meia Osklen, bota Santa Lolla, lenço acervo ffwMAG! 106

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Saia Dopping, camiseta acervo ffwMAG!, cinto TNG, pulseiras Diferenza, Claudia Marisguia e Hector Albertazzi, bolsa D’Arouche, sapato Zeferino ffwmag! nº 26 2011

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Colete jeans Hechcovitch;Dopping, lenรงo Pucci, pulseira Marco Apollonio ffwmag! nยบ 26 2011

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Em Oostelijke Handelskade. Colete Marisa, camisa Juliana Jabour, bermuda Têca, lenço Hermès, bolsa D’Arouche, relógio Lambretta, pulseiras Stone Bonker e Hector Albertazzi, meia Lupo, sapato Melissa ffwmag! nº 26 2011

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No Museu Van Gogh. Palet贸 DTA, camisa Hugo Boss, cal莽a Ellus, cinto TNG, gravata acervo ffwMAG!, pulseiras Mandi, 贸culos Ray-Ban ffwmag! n潞 26 2011

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No Museu Van Loon. Jaqueta Armani Exchange, camisa Benetton, calça Forum, lenço Diva, cinto Marco Apollonio, bolsa D’Arouche, sapato Santa Lolla. Na página ao lado, casaco Ermenegildo Zegna, camisa Tommy Hilfiger, cardigã Penguin, calça Herchcovitch;Dopping, gravata Stone Bonker, cinto TNG, pulseiras Mandi, óculos Ray-Ban, bota Democrata ffwmag! nº 26 2011

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ChapĂŠu Madame Olly, broche Printing, camisa Lee 116

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Em J.F. van Hengelstraat. Jaqueta Lee, calça Amapô, chapéu Madame Olly, pulseira Emporio Armani, faixa na cintura Hermès, bolsa D’Arouche, meia Lupo, sapato Santa Lolla. Na página ao lado, no Hortus Botanicus. Paletó e colete Amapô, camisa Alexandre Herchcovitch, calça Damyller, óculos Ray-Ban, cinto Petulan, corrente acervo ffwMAG!, bota Democrata 118

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Na Buiten Bantammerstraat. Camisa Pucci, calça Renato Kherlakian, cinto Diferenza, chapéu Madame Olly, broche de penas Printing, bolsa D’Arouche, sapato Santa Lolla

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Na Den Haag. Colete Levi’s, lenço Diva

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No píer de Zeeburg. Paletó Hugo Boss, camisa Armani Exchange, calça Amapô, relógio Swatch, pulseiras Mandi, suspensórios acervo ffwMAG!, bota Democrata

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No Vondelpark. Camisa Triton, body Maria Bonita, calça Levi’s, suspensórios Petulan, pulseiras Osklen, sapato Santa Lolla

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No Vondelpark. Camisa Forum, colete Reserva, calรงa Ricardo Almeida, gravata Armani Exchange, cinto Richards, relรณgio Swatch, pulseiras Mandi, bota Democrata ffwmag! nยบ 26 2011

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Calça Ellus, meia e tamanco holandês acervo ffwMAG! 126

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Tricô Amapô, camisa Stone Bonker, bermuda TNG, chapéu Madame Olly, óculos acervo, relógio Swatch ffwmag! nº 26 2011

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Colete Ágatha, camisa Triton, calça Amapô, cinto Ellus, bolsa Marco Apollonio, bota Santa Lolla

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Camisa Ricardo Almeida, gravata vintage Alexandre Herchcovitch, abotoadura acervo ffwMAG!, 贸culos Ray-Ban

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Vestido Vitor Zerbinato, colete Alexandre Herchcovitch, voilette Daisy & Ruth, colar TĂŞca ffwmag! nÂş 26 2011

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Lenço Hermès, jaqueta Ellus

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Palet贸 Cris Barros, camisa Benetton, cal莽a D&G, gravata Stone Bonker, cinto Mixed, rel贸gio Lambretta, carteira Osklen

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No Café van Daele. Ela: camisa Renato Kherlakian, calça Samuel Cirnansck, cinto Hector Albertazzi, anéis Marco Apollonio. Ele: paletó Calvin Klein, camiseta holandesa acervo ffwMAG!, calça Levi’s, óculos acervo ffwMAG!, relógio Swatch, pulseiras Mandi

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No Vondelpark. Ela: vestido Levi’s, camiseta acervo ffwMAG!, chapéu Madame Olly, bolsa Marc Jacobs para NK Store. Ele: camisa Richards, calça 7 For All Mankind, suspensórios acervo ffwMAG!, lenço Hermès

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Ela: casaco Samuel Cirnansck, camisa e calça Triton, chapéu Daisy & Ruth. Ele: cardigã Missoni, camisa Lacoste, calça Tommy Hilfiger, gravata acervo ffwMAG! 138

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No Lloyd Hotel. Vestido e camiseta Printing, calรงa Forum ffwmag! nยบ 26 2011

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Ela: trench coat Dopping, vestido Farm, flores Madame Olly, pulseira Stone Bonker, bolsa pessoal Alícia Kuczman, meia Lupo, sapato Santa Lolla. Ele: paletó Hugo Boss, camisa Reserva, calça V.Rom, cinto Petulan, bota Democrata

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No pátio de Begijnhof. Casaco Cavendish, camisa Levi’s, vestido Farm, bolsa D’Arouche, meia Osklen, sapato Santa Lollla 142

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No Hortus Botanicus. Ela: colete Renato Kherlakian, camisa Laundry, calça Stone Bonker, bolsa D’Arouche, anel Marco Apollonio, meia Lupo, boina Daisy & Ruth. Ele: camisa Ellus, tricô Osklen, bermuda Totem, lenço acervo ffwMAG!, meia Lupo, pulseiras Mandi

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Na estรกtua de Anna Paulownaplein. Ela: camisa ร gatha, saia Triton, lenรงo acervo ffwMAG!, colar Claudia Arbex, pulseiras Marco Apollonio, meia Lupo, sapato Stone Bonker. Ele: camisa Laundry Boys, colete Stone Bonker, calรงa Cavalera, gravata acervo ffwMAG!, bota Democrata 144

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No Castelo Muiderslot. Macaquinho Colcci, cardigã Marisa Ribeiro, lenço Hermès, bolsa Ellus, pulseiras Marco Apollonio, meia Lupo, sapato Stone Bonker

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Em Durgerdam. Tricô Mara Mac, camisa Tommy Hilfiger, saia Patachou, chapéu Daisy & Ruth, lenço Hermès, relógio Swatch, meia Lupo, sapato Schutz

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Broches Lool

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No Castelo Muiderslot. Jaqueta Dopping, camisa Triton, saia Juliana Jabour, bolsa D’Arouche, meia Osklen, sapato Zeferino ffwmag! nº 26 2011

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Camisa Wรถllner 150

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Camisa Levi’s

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No Café van Daele. À esquerda, jaqueta Ellus acervo ffwMAG!, moletom e calça Osklen. À direita, camisa Hugo Boss, trench coat Burberry acervo ffwMAG!, calça Levi’s ffwmag! nº 26 2011

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No Lloyd Hotel. Bata Pucci, bermuda TNG ffwmag! nยบ 26 2011

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No restaurante Panama. Ela: macaquinho Forum, camisa Tommy Hilfiger, cinto Petulan, bolsa D’Arouche. Ele, à esquerda, macacão Ellus, camisa Forum, gravata American Apparel. Ele, à direita, macacão Colcci, camisa e gravata Stone Bonker, cinto Richards

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No Hotel Linda. Ela: camisa Richards, calça TNG, cinto André Lima, colar e pulseira Stone Bonker, anel Marco Apollonio, sapato Santa Lolla. Ele, à direita, camisa Wöllner, calça Colcci, cinto Petulan, bota Democrata. Ele, à esquerda, camisa Levi’s, bermuda Colcci, cinto Armani Exchange, meia Osklen, bota Richards ffwmag! nº 26 2011

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Na J.F. van Hengelstraat. Macaquinho Herchcovitch;Dopping, cinto Lool, bolsa Denise Fasano, meia Lupo, sapato Zeferino

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Na J.F. van Hengelstraat. Jaqueta Printing, camisa Levi’s, camiseta acervo ffwMAG!, calça Diesel ffwmag! nº 26 2011

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Ela: camisa Armani Exchange, saia e flor brechó Episode, trench coat acervo ffwMAG!, lenço Hermès, carteira Denise Fasano, meia Lupo, sapato Zeferino. Ele: jaqueta Reserva, camisa Ellus, calça Diesel, cinto Armani Exchange, bota Democrata Beauty: Ricardo dos Anjos (Capa Mgt) Produção de moda: Larissa Lucchese e Juliana Cosentino Produção executiva: Camila Soares e Mauro Braga Assistente de produção: Gabriela Tannus Assistente de produção executiva: Femke Groot Assistente de camarim: Philine van den Hul Tratamento de imagem: Jorge Morábito

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O comércio de A msterdã O cartógrafo contemporâneo Jan Rothuizen criou também um mapa das ruas do centro de Amsterdã. Por lá, é possível se deparar com as mais variadas lojas. E o melhor: sem precisar andar muito. >> janrothuizen.nl

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foto Wies de Leeuw-Akkermans

A rede de moinhos de Kinderdijk-Elshout é um patrimônio histórico da humanidade com construções de engenharia hidráulica datadas de 1740 que drenavam as águas da terra encharcada

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O Anna Paulownapolder visto de cima, com os canais navegáveis, os moinhos modernos e as plantações coloridas de flores e hortifrúti, parece uma gigantesca pintura de Mondrian - que, por sinal, nasceu em uma província neerlandesa

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foto Bruxelles5 / www.bruxelles5.info

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foto andré vieira

A paisagem holandesa foi artificialmente construída como um paisagismo de uma casa, mas na escala de um país

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Um

pôlder é construído a partir de diques que contornam o pedaço de terra .

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então um longo e complexo processo de drenagem .

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estreitos desenham o formato da paisagem e se relacionam com canais mais largos , usados para navegação de pequenos barcos de transporte de carga .

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conjunto de canais de drenagem , abastecimento e hidrovia formam

o sistema hídrico fundamental dessa arquitetura do território

“Deus fez o mundo, e os holandeses, a Holanda” diz um antigo provérbio holandês sobre a importância do trabalho humano para a construção do seu território. A transformação da natureza é uma necessidade vital para a existência da Holanda. O homem fez com que áreas alagadas pelo mar e pelos rios se tornassem terras férteis para plantações e para a construção de cidades. Na era da sustentabilidade, o domínio da natureza na Holanda é uma lembrança para a humanidade da necessidade de transformação da paisagem pelo homem para nossa existência no planeta. E se nossa sobrevivência dependesse não de um retorno à vida no campo ou na floresta, mas, sim, de uma total artificialização da natureza? Nenhum lugar está naturalmente pronto para ser habitado sem uma profunda transformação tecnológica. A nossa existência no mundo depende disso – é o que sempre fizemos e continuamos fazendo: transformar a natureza em uma nova natureza. Ao contrário do que poderia se supor, a paisagem bucólica holandesa é, na verdade, uma construção humana. Algumas estimativas apontam que mais da metade do território holandês se encontra abaixo do nível do mar, e essa característica geomorfológica impôs a necessidade de um planejamento milenar de construção de terras. Assim, a natureza holandesa foi pensada como uma gigantesca arquitetura: o design e o planejamento são necessários para a subsistência dos Países Baixos.

O

pântano

europeu

Originalmente, a região em que hoje está parte da Holanda era uma área encharcada, formada principalmente por uma espécie de pântano de turfa, um material vegetal parcialmente decomposto. A região acumulava sedimentos de dois principais rios, o Mosa e o Reno, e configurava uma foz plana e alagada que é chamada normalmente de delta. O traçado dos rios nessa foz era volátil: dependendo da época do ano ou do regime das águas, poderia assumir diferentes desenhos. A imprevisibilidade desse território, somada às sucessivas 170

enchentes fluviais e marítimas, acabavam por inviabilizar o estabelecimento humano na região. Ao subir mesmo que poucos metros, os rios poderiam devastar facilmente enormes áreas da planície. Além disso, o mar adentrava na região, geralmente por meio de fortes tormentas que rompiam os diques naturais formados pelo acúmulo de sedimentos. Para que essa região pudesse ser permanentemente ocupada, ela precisaria ser transformada por uma complexa e eficiente rede de proteção e gerenciamento hídrico. E isso foi feito. Há mais de mil anos, os holandeses começaram a empregar técnicas rudimentares de drenagem e aterros. Com os meios disponíveis na época, utilizou-se a própria turfa seca para construir pequenos diques que poderiam proteger uma área de terra. Tratava-se de um método precário e muito suscetível a problemas, alguns deles inusitados, como a perfuração das barreiras por animais que faziam sua toca na estrutura. Até o século 14, no entanto, o traçado dos rios no delta holandês foi totalmente transformado pelo homem, por meio de barragens. Ainda que de forma embrionária, a natureza começava a ser dominada.

O v ento

a

favor

A ocupação na região permaneceu insípida até o século 16, quando o desenvolvimento e aprimoramento de algumas tecnologias possibilitou uma sólida expansão do território humano em direção ao mar. Além da construção dos diques, o uso de moinhos de vento foi fundamental para a drenagem das águas. Os moinhos proviam a energia necessária para bombear a água das áreas resgatadas do mar, em um trabalho permanente. A energia eólica era uma fonte abundante e renovável que possibilitaria que a terra deixasse de ser encharcada para se tornar agricultável e habitável. O vento funcionava também como uma matriz energética confiável, uma vez que nunca deixaria de soprar e a água estaria sendo sempre empurrada de volta para o nível do mar. Aos poucos, os moinhos de vento começaram a se tornar presença obrigatória na paisagem transformada da Holanda e

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não tardou para se tornarem também um símbolo holandês, que sintetizava o domínio da natureza pelo homem. Atualmente, os moinhos de vento foram substituídos por uma tecnologia avançada similar, que utiliza o vento para gerar energia elétrica e se encarrega de manter o sistema funcionando. Diversas áreas, principalmente entre 1600 e 1700, passaram por um processo de drenagem. Geralmente, os terrenos artificialmente recuperados eram formados pelo que se chamou de pôlderes, que, ao longo dos séculos, constituíram a forma mais importante da configuração espacial da Holanda. Um quinto dos Países Baixos é formado por pôlderes e, provavelmente, mais de 3 mil deles foram construídos desde o século 16. Alguns pôlderes são gigantescos, com mais de 50 mil hectares; outros são bem menores, do tamanho de uma pequena propriedade. Tradicionalmente, um pôlder é construído a partir de diques que contornam o pedaço de terra. Inicia-se então um longo e complexo processo de drenagem. Para o bombeamento das águas é necessária a construção de canais para escoamento. Esses canais estreitos desenham o formato da paisagem e se relacionam com canais mais largos, usados para navegação de pequenos barcos de transporte de carga. O conjunto de canais de drenagem, abastecimento e hidrovia formam o sistema hídrico fundamental dessa arquitetura do território. Os pôlderes são feitos por meio de um trabalho secular e anônimo. Mesmo construções com mais de 400 anos não são consideradas obras prontas, como uma espécie de livro aberto, sempre em transformação. A terra, porém, nunca deixa de ser produtiva desde os primeiros anos depois de sua drenagem inicial. Esse longo processo faz com que a construção do solo seja necessariamente um trabalho coletivo: não há uma única autoria por trás do desenho preciso dessas gigantescas estruturas.

as cidades

do

amanhã

O conjunto territorial de terras drenadas do mar e dos rios formulou uma verdadeira arquitetura na escala do país. Existiam escolhas

práticas – estéticas, funcionais e construtivas ­­– como em um projeto de um edifício, de um gigantesco edifício. Como seriam desenhados os canais? Como eles seriam feitos? Como seria feita a divisão das terras? Qual seria o traçado dessa divisão? Por onde passariam os sistemas de transporte – a hidrovia, a ferrovia e a rodovia? Onde estariam as cidades? Onde estariam as plantações? A paisagem é composta por diversas escolhas humanas que resultam em um objeto totalmente artificial. No decorrer dos séculos, a imagem dessas terras construídas se transformava também em um monumento da Holanda. O pensamento estético que permeava o desenho dos novos territórios se tornou então uma referência simbólica para a identidade do lugar. Assim como os monumentos históricos espalhados pelo mundo, a paisagem construída por um pôlder é vista pelo holandês como uma identidade da sua terra. Alguns projetos foram considerados particularmente importantes para a construção do saber-fazer coletivo. O pôlder Beemster, localizado ao norte de Amsterdã, começou a ser construído na década de 1610 e sintetizou muito dos conhecimentos tecnológicos desenvolvidos até então. O lugar é também uma importante referência estética com seus canais arborizados e sua divisão do solo desenhada com quadrados definidos. Em 1999, Beemster foi reconhecido como um dos Patrimônios Históricos da Unesco, com a justificativa de que sua criação “marca um grande passo em direção a inter-relação entre a humanidade e a água em um período crucial de expansão social e econômica”. Os pôlderes, canais, bombas e diques hoje formam uma complexa rede de controle hídrico na Holanda. Mesmo no século 20, reeditando uma velha história holandesa, uma grande inundação devastou parte do território e, desde então, houve um intenso trabalho de aprimoramento do sistema. As grandes revoltas marinhas acontecem ciclicamente a cada centena de anos e dão continuidade à luta do homem contra as águas ou, de fato, a sua luta para a construção de um espaço habitável e, portanto, artificial. ffwmag! nº 26 2011

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avisam os designers holandeses que ganham o mundo por meio do

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por

L uciana P essanha

fotos

A ndré V ieira

David Heldt alugou, em 2003, um espaço no Salão do Móvel de Milão para mostrar o trabalho do seu estúdio de design. Dois anos depois, quando conheceu seu atual sócio, Victor le Noble, esse espaço ganhou um nome: Tutto Bene. Em 2006 eles criaram uma fundação com a mesma alcunha para selecionar designers que desenvolvessem um trabalho sustentável e fazer a ponte entre eles e a indústria. Desde então, todo ano, um elenco renovável desses novos talentos é apresentado no Salão do Móvel de Milão. “Para nós, designers holandeses, se você não está no Salão do Móvel de Milão, pode desistir de ter trabalho no próximo ano”, conta Heldt. Em 2010, a Tutto Bene chegou a mandar 32 designers à Itália. Este ano, o número caiu para 13. “Foi a forma que encontramos de trabalhar melhor o nosso grupo. Nossos designers gostam de ser independentes e não querem estar sob o guarda-chuva de holandeses.” A Tutto Bene publica também uma revista/catálogo anual, chamada The Dots, na qual todos os designers holandeses, jovens ou já estabelecidos no mercado, têm espaço para mostrar seu trabalho. A terceira edição está sendo preparada para a Contemporary Interior Design Exhibition, que, em 2011, acontece em Londres. 172

Formado em 1999 pelo ArtEZ Institute of the Arts (AKI), em Enschede, e com mestrado em design futures pela Goldsmiths, da Universidade de Londres – uma espécie de escola de filosofia do design – Heldt deixou de vez a prática de desenhar objetos para se dedicar a viabilizar uma relação sólida entre os profissionais que representa e o mercado. A Tutto Bene é uma organização não lucrativa financiada não pelo Ministério da Cultura, mas pelo Ministério da Economia do governo holandês. “Estamos entre 100 outros projetos de agricultura, indústria e comércio. Mas eles gostam de nós porque somos a única iniciativa que aparece na imprensa. O design holandês é esperto, divertido e cheio de inovações. É assim que a Holanda quer ser vista pelo mundo.” Sobre o interesse do governo em mentes criativas, vale registrar que a Tutto Bene fica em um prédio no centro de Amsterdã que espera ser alugado por uma grande empresa. Enquanto isso não acontece, seus 70 escritórios são ocupados por designers, estilistas e criativos em geral, com aluguéis a preço de banana. Tutto molto bene. A seguir, alguns representantes da safra 2011 da Tutto Bene no Salão do Móvel de Milão.

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David Heldt

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Uma das sensações do Salão do Móvel de Milão 2011 foi a Dandelight ou Fragile Future, luminária delicadíssima criada por Lonneke Gordijn, uma das sócias do Studio Drift. Dandelion é uma flor singela, mais conhecida no Brasil como dente-de-leão. O processo de confecção da luminária poderia envolver monges chineses, mas é feito por meninas de várias nacionalidades. O próprio pessoal do Drift colhe as flores, quando ainda estão fechadas, e as estoca em caixas de papelão, esperando que desabrochem. Uma vez aberta a flor, suas pétalas são arrancadas. O coração do dente-de-leão é fixado sobre LED mínimo e as pétalas são recoladas, uma a uma, sobre ele. Detalhe: são usadas somente as pétalas de uma mesma flor para cada luminária, e a cola seca em 30 minutos. O resultado é de uma vulnerabilidade emocionante, embora a luminária seja bem resistente. Seus protótipos têm cinco anos, data da graduação de Lonneke, e ainda estão em perfeito estado. O outro sócio do Drift, Ralph Nauta, já tinha feito sucesso em Milão com a sua Ghost Chair – uma cadeira de acrílico com milhões de microscópicas bolhas de ar injetadas em seu interior, criando o efeito de meia de seda ou aparição de fantasma. A dupla assina ainda a Flightlight, uma instalação luminosa interativa, inspirada no movimento dos pássaros: “Nós buscamos poesia na natureza e tentamos materializá-la”.

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O Molen fica em uma antiga fábrica de tinta em Zaandam, uma cidadezinha próxima a Amsterdã, e tem duas subdivisões: Molenkitchen e Solid Poetry. O trabalho que causou sensação em Milão, o Citylight Chandelier Anamorphosis, um candelabro gigante, com 136 cúpulas, espalhadas por 25 metros de braços de bronze, está mais para obra de arte do que para objeto de design. Produzido artesanalmente, é inspirado nas malhas rodoviárias de Amsterdã, Londres e Xangai, e terá edições limitadas de oito peças por cidade. Segundo seu criador, Frederick Molenschot, ele é “uma espécie de sonho lúcido. Você tem a cidade enorme e, nos seus sonhos, pode pegá-la e colocá-la sobre a cabeça”. A vedete da Molenkitchen é uma divertida churrasqueira portátil 3 em 1, com espetos, defumador de carne e um grill customizado, que estampa na carne mandalas e paisagens bucólicas. A decisão de criar o objeto veio porque o churrasco é parte fundamental da dieta de Molenschot. Ele é ainda responsável pela humanização do HVO-Querido, um abrigo para sem-tetos nos subúrbios de Amsterdã no qual estampou um homem-mandala na fachada. Molenschot também criou uma mesa guarda-chuva para a área comum e planeja desenhar um enorme coração cor-de-rosa nos fundos, que será visto de vários pontos da cidade.

O s onho

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lúcido do

Studio Molen

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A embaixada da Holanda resolveu fazer uma exposição no Marrocos e abriu um concurso que levaria seis artistas para uma residência. Sjoerd Jonkers se inscreveu, ganhou uma bolsa de estudos, arrumou as malas e foi viver dois meses em Casablanca. Ali, interessou-se primeiro pelos restos de malha da indústria de moda. Depois descobriu uma forma de juntar longos fios dessa malha, por meio de uma rede de linha. O processo é feito por uma máquina misteriosa, cujo segredo os marroquinos não revelam nem sob tortura. O resultado é uma espécie de corda tricolor cinza, branca e azul (ou marrom, bege e branca) de malha maleável, que Jonkers trançou em uma sucessão de nós e com a qual fez um tapete, batizado Tapis Noués. O único contratempo que Jonkers teve em todo o processo de criação e confecção de seu trabalho foi cultural. “Eu fazia uma encomenda para o dia seguinte e, quando voltava, eles não tinham nem começado.” Depois de muito bater cabeça, estabeleceu parceria com uma manufatura e já produz 50 tapetes por mês. Aos 27 anos e formado pela Gerrit Rietveld Academie, onde cursou lab experiments of design, Jonkers não esquenta a cabeça. “Gosto de viajar e ver que técnicas e materiais consigo descobrir nos lugares aonde vou.”

Aos

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pés do

Studio S joerd Jonkers

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Contando ovelhas

com o

Studio Jolanda V an Goor

Jolanda van Goor se graduou na Amsterdam School of the Arts, em 2006, e começou o projeto da Sheep Chair e do Funky Dread Stool criando protótipos de madeira. No meio do processo criativo, entendeu que estava fazendo algo que se parecia com uma ovelha. Nesse ponto, parou para estudar os movimentos do animal, os tipos de lã extraídos das ovelhas e as tramas de tricô para trançar a lã. Foram 15 protótipos para descobrir que a trança ficaria mais interessante do lado avesso e qual era a melhor inclinação para a coluna vertebral. Na Sheep Chair pode-se sentar de três maneiras: na posição convencional, de lado ou meio abraçadinho. E não é só chegar e ir sentando. “Você precisa olhar um pouco para ela, ir sentindo o seu clima, até ganhar confiança para tomar assento. Exatamente como faria com um animal”, explica a autora. Outra peculiaridade da cadeira é que ela não serve para sentar a tarde inteira, já que ninguém consegue se aboletar em um bicho por tanto tempo. Já o Funky Dread Stool é feito de restos de materiais da indústria têxtil, e a melhor posição para aproveitá-lo é sentar no chão e se encostar nele. Bem-humorados e mais inclinados a objetos de decoração do que verdadeiramente móveis, tanto a cadeira quanto o banco são confeccionados 100% à mão e de forma sustentável.

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Homem + i deias O

celeiro do design

h olandês

se chama

D esign A cademy e forma alunos para o maravilhoso mundo do amanhã

por

L uciana P essanha

fotos

O que você quer ser? Esta é a primeira pergunta que a Design Academy de Eindhoven (DAE) faz aos alunos na brochura de apresentação, antes mesmo de se matricularem. Veja bem, a pergunta não é “O que você quer fazer?” e, sim, ser. E isso define o perfil dos designers formados ali. Com uma pegada bem artística, eles não estão no mundo somente para criar produtos, mas para se expressar por meio de suas criações. Para isso, encorajamento e ferramentas estão à disposição. Os resultados surpreendentes obtidos pelos meninos e meninas que saem dali fazem com que o mundo do design seja obrigado a voltar seus olhos para essa pequena escola de apenas 700 estudantes, fundada em 1947 e situada entre o terceiro e o quinto andar de um prédio comercial no centro da cidade de Eindhoven. “Não estamos nas mãos do destino. Nós temos poder sobre os possíveis cenários para o futuro.” A declaração do senhor Jochen Otten, diretor da instituição, é o mapa dos caminhos trilhados pelos estudantes da DAE. “O que sua cabeça, seu coração e sua intuição lhe dizem? Você consegue, por meio de uma abordagem ou de um experimento diferente, alcançar uma solução revolucionária?” O desafio está lançado. Cabe aos alunos cumpri-lo durante o processo de aprendizado. “Pessoas criativas são sensíveis de um modo geral. Mas nossos alunos aprendem a ter uma sensibilidade extra, para visualizar a chave do que precisa ser resolvido”, explica uma das coordenadoras da escola, Yolande van Kessel. Estudar na DAE não é fácil. A seleção dos candidatos é feita mediante apresentação de portfólio e um dia inteiro de entrevistas, nas quais são levadas em conta as expectativas, as caracte180

D aniel P inheiro

rísticas do trabalho e o potencial do candidato. Uma vez aceito, durante o primeiro ano letivo, quando se aproximam os exames finais, o aluno chega a estudar de 60 a 70 horas por semana. Mas não é sempre assim, como garante Yolande: “Achamos O.K. ter algumas semanas bem puxadas. Mas não muitas, porque não é saudável. Na verdade, os alunos são muito fiéis, não tanto à escola, mas à profissão que escolheram. Por esse motivo doam muito de si ao processo de aprendizagem”. Na graduação, de quatro anos, o aluno descobre seu próprio método de pesquisa e trabalho e entende onde está sua força criativa. Para auxiliar essa descoberta, a DAE decidiu, há 20 anos, abrir mão do sistema tradicional de disciplinas e focar no que nomeou Compasso – um sistema que gira em torno do homem. “Porque tudo o que você desenha gira, obviamente, em torno do homem, nós estudamos as principais áreas em torno dele para encontrar ali suas principais necessidades”, afirma Marc Ruis, relações-públicas da escola. Dentro do Compasso existem oito departamentos: Homem + modo de vida busca compreender como as pessoas personalizam um espaço para se sentir em casa dentro dele e como se conectam com os ambientes à sua volta. A atenção está focada nos produtos e serviços que nos cercam e dão sentido à vida. Homem + lazer quer entender como preencher o tempo que temos para dedicar a nós mesmos, estimulando os alunos a propor novos produtos, serviços e até sistemas de entretenimento para os nossos momentos de lazer. Homem + mobilidade estuda as possibilidades de transporte para pessoas, cargas e informação. O assunto é abordado tanto física

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A pesquisa de conclusão de curso de Nijssen teve como tema o design em tempos de crise. Suas conclusões foram que, nesses períodos difíceis, os produtos precisam ser funcionais, e ao mesmo tempo, pouco agressivos ao meio ambiente. Além da pesquisa teórica, o aluno produziu produtos como uma prateleira cheia de compartimentos e livre de ostentação

quanto virtualmente. Esse departamento se propõe a falar a língua da indústria buscando um equilíbrio entre sonho e realidade. Homem + bem-estar quer saber o que nos conecta com o mundo à volta. O que dá sentido aos espaços, objetos e serviços que usamos. Os produtos desenhados nesse departamento estão ligados a recursos naturais e sustentabilidade. Homem + comunicação encoraja os estudantes a aplicar a comunicação visual como uma forma de discurso e de desenvolvimento de uma identidade pessoal, social e/ou cultural. Homem + espaço público convida os alunos a analisar hábitos e experiências em vários ambientes e a desenvolver programas, produtos e serviços em colaboração com arquitetos e urbanistas em várias cidades europeias. Homem + atividade investiga o papel da tecnologia, as formas de aperfeiçoá-la e como ela pode influenciar o meio ambiente no futuro, para desenvolver e criar novos produtos e serviços. Homem + identidade analisa o que está por baixo da superfície no nosso dia a dia, percebendo o que vai fazer parte dos gostos e estilos no futuro e quais são as formas e materiais necessários para se chegar lá. O intuito é formar futuros trendsetters. No segundo ano letivo, o aluno escolhe um desses departamen182

tos para seguir seus estudos até a formatura. Uma vez escolhido, ele terá aulas com profissionais que dedicam apenas um dia da semana à escola e estão ligados a indústria do design, trabalhando em grandes empresas ou em seus próprios estúdios. Dentro do departamento eleito o aluno ainda escolherá focar seus estudos em ateliê, que desenvolve trabalhos mais pessoais e artísticos; fórum, voltado à reflexão sobre o design; lab, em que coloca a mão na massa testando materiais e técnicas na criação de produtos; ou market, focado nas demandas do século 21, no qual o aluno aprende a lidar com o mercado. Ao fim do curso de graduação a Design Academy promove o Graduation Show, uma exibição dos trabalhos finais de seus formandos. Durante nove dias, as portas da escola ficam abertas para o mercado e o público. Em 2010 foram 25 mil visitantes. Outro benefício que a DAE oferece aos seus formandos é levar os que mais se destacaram no Graduation Show ao Salão do Móvel de Milão. A exposição do ano passado mostrou o trabalho de 50 alunos. E existe ainda a confecção de um catálogo, cuja última edição mostrava 132 trabalhos. Designers holandeses conhecidos no mundo inteiro como Jurgen Bey, Hella Jongerius, Maarten Baas e Job Smeets saíram da Design Academy de Eindhoven. Agora você já sabe por quê.

Design Academy Eindhoven, Designer: Bart Nijssen, Projeto: Design in times of Crisis, Revisited, Fotógrafo: Vincent van Gurp

Bart N ijssen

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Thomaz Ribeiro

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Bondioli

Thomaz Ribeiro Bondioli se formou na Faap, em São Paulo, e já tinha passado pelo estúdio dos Irmãos Campana e pelo Terra Design, do designer alemão nascido no México Lars Diederichsen, antes de decidir fazer seu mestrado em Eindhoven. Na Design Academy já desenvolveu trabalhos bem diferentes, como o Mutualistic Simbiosis, que investiga a relação entre o que contém e o que está contido usando uma estrutura delicadíssima de porcelana, protegida por banhos de cera de mel, e o interessantíssimo Smile! You´re Under Surveillance, que poeticamente investiga como inverter o estado 1984 de George Orwell ao qual estamos expostos toda vez que saímos à rua. Ao descobrir que Londres tem uma câmera para cada 14 habitantes em espaços públicos, que uma pessoa pode entrar no foco de uma dessas câmeras 300 vezes por dia e que ela tem direito às imagens captadas se pagar por elas, ele resolveu propor uma alternativa a essa forma de controle, usando-a em benefício das pessoas. No projeto de Bondioli, um produtor de cinema com pouca verba pode encenar um filme em frente a essas câmeras e depois pedir ao Estado que lhe mande as imagens. Ou um turista poderia se valer das câmeras nas ruas para montar seu álbum de viagem. Como exemplo de sua proposta, montou um curta de três minutos chamado Going Home – A Short Moment in Renée’s Life, no qual simula, em Eindhoven, a volta para casa de uma amiga filmada pelas câmeras de segurança no caminho. ffwmag! nº 26 2011

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Bert Govers

Design Academy Eindhoven, Designer: Bert Govers, Projeto: Nuage, Fotógrafo: Lisa Klappe

A scooter criada pelo designer não é minimalista apenas na sua forma. Em seu interior, nada de combustível poluente, mas sim, uma resistente bateria elétrica capaz de fazer o veículo andar tão bem quanto qualquer moto poluente

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Massoud hassani Ele nasceu no Afeganistão e na infância criava seus próprios brinquedos: miniaturas de papel para brincar no pátio de casa, um enorme deserto. “Quando o vento batia mais forte, eu levava meu brinquedo para o deserto cheio de minas. Era bem complicado brincar ali sem sair machucado.” Na Design Academy, Hassani foi incentivado a seguir a pesquisa sobre seus brinquedos de infância. “Construí toda sorte de objetos que rolavam. Então pensei que deveria fazê-los para o deserto do Afeganistão e aumentei as proporções até chegar a essa semente de dente-de-leão de dois metros de diâmetro. Esse objeto, que chamei de Mine Kafon, movido pelo vento, ao passar sobre as minas enterradas na areia faz com que elas explodam. Desta forma vai desativá-las usando a força da natureza.” Como o objeto tem 170 pernas e a cada explosão perde apenas uma ou duas, dá pra imaginar sua utilidade. “Existem 20 milhões de minas para 12 milhões de habitantes no Afeganistão, o que faz com que as pessoas mal possam andar pela vizinhança. Por esse motivo meu país continua pobre.” O Mine Kafon ainda tem um GPS que permite localizar as áreas mais perigosas de seu percurso. Hassani já foi contatado pelo ministério da defesa holandês, que está testando sua criação para produção em grande escala. Vale registrar que desativar uma mina custa mil euros, enquanto o Mine Kafon custa apenas 40. ffwmag! nº 26 2011

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Formado em 2009 pela Design Academy, seu projeto final foi um captador de água da chuva que vira regador de plantas chamado Pure Rain Drop. “Mandei um e-mail para uma companhia mostrando o meu produto e perguntei o que eles achavam. Na semana seguinte, entrei com ele debaixo do braço em um trem e depois em um ônibus. Valeu o esforço, a empresa ficou bem entusiasmada.” Hoje, o Pure Rain Drop já está sendo vendido para Bélgica, Inglaterra e França. Bas van der Veer cresceu em Jorwerd, uma cidade no campo com apenas 300 habitantes, e seu interesse sempre esteve ligado a natureza e a formas de economizar água. Recentemente, uma criação dele para cultivar ervas tomou a contramão dos produtos industrializados e começou a ser vendida para a China. A menina dos olhos do designer agora é um bioplástico feito de milho, desenvolvido para transportar mudas sem danificá-las. Uma vez plantado na terra, ele servirá para alimentar o solo e desaparecerá em alguns anos.

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Bart Bekker

Design AcADemy einDhoven, Designer: BArt Bekker, Projeto: BouwPAkketBoot, FotógrAFo: AstriD ZuiDemA

O designer teve uma ideia útil para uma região como a Holanda, que fica tão no nível do mar: um barco portátil. Por incrível que pareça, o Bouwpakketboot é fácil de ser montado e bastante resistente

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Por Objetos M enos Ordinários

Dos

restos do capitalismo

avassalador e sedento para socializar com o novo , um grupo holandês fez uma revolução chamada

Droog

por

L uciana P essanha

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Renny Ramakers, então editora-chefe da revista de design Industrieel Ontwerpen, em 1992, montou uma exposição em Amsterdã com peças de mobiliário criadas por jovens designers. Tudo a partir de materiais industriais baratos e objetos achados, como gavetas velhas e pedaços de troncos. Comercialmente, os móveis de Jan Konings, Jurgen Bey, Piet Hein Eek e Tejo Remy foram um fiasco. Mas algo ali chamou tanta atenção, que ela percebeu naquele conjunto uma clara ruptura com o passado. A sobriedade bem-humorada dos objetos que mostrava e a matéria-prima rústica trouxeram um alento para uma geração que não aguentava mais os neons e o estilo Memphis dos anos 1980. Nesta mesma época, Gijs Bakker, designer e professor do maior celeiro de designers da Holanda, a Design Academy Eindhoven, estava planejando expor o trabalho de seus alunos no Salão do Móvel de Milão de 1993. Esperta, Renny propôs a ele uma parceria, com a seguinte condição: se a exposição fracassasse, eles abortariam a missão; se desse certo, teriam que continuar. A coleção se chamou Droog Design, que em holandês significa desenho seco. Hoje a Droog tem lojas em Amsterdã, Nova York e Las Vegas, é representada por dezenas de lojas em todo o mundo e trabalha com uma rede de cem designers. Por lá, já passaram nomes como Marcel Wanders, Hella Jongerius, Richard Hutten e Ed Annink, entre muitos outros. Os objetos sempre espertos e bem-humorados da Droog foram só o começo. Desfeita a dupla com Gijs Bakker, Renny Ramakers resolveu ganhar o mundo com o projeto LAB. “Nós vivemos em um mundo globalizado, no qual as mesmas marcas estão em toda parte, e tudo parece superficialmente igual. Mas ainda existem diferenças locais, e em cada país a gente pode aprender alguma coisa. Nós vamos a esses locais para nos inspirar. E ver se podemos criar, a partir dessa experiência, um conceito que possa gerar interesse global.”

D aniel P inheiro

Descubra o seu Prestador de S erviços I nterno No projeto Open House, em parceria com Diller Scofidio + Renfro e inspirado na mentalidade nova-iorquina de prestação de serviços, a Droog criou um movimento em que moradores de um subúrbio norte-americano foram incentivados a usar sua criatividade para aumentar a renda e desenvolver uma nova vocação, oferecendo serviços caseiros e facilidades ao público. “Uma das iniciativas que mais me impressionou foi a de uma mulher que se propôs a oferecer os ouvidos e escutar problemas, desabafos e confissões dos seus vizinhos mais solitários”, conta Ramakers. Além de tentar atingir um novo equilíbrio entre o público e o privado, esse projeto buscava aumentar a coesão social por meio da troca de serviços. Em uma época de crise na América do Norte, os moradores que participaram do projeto levantaram mais de US$ 2.500. O Open House foi apresentado em um evento em Levittown, em abril deste ano. Nele, uma das instalações mostrou conceitos para o futuro de casas abertas, com um espaço para receber o público ao mesmo tempo incorporado à casa e separado da área privada. Com essa mesma determinação de se inspirar, a Droog esteve em Moscou, no norte do Canadá, em Mumbai – onde a atenção se voltou às construções improvisadas nas montanhas (favelas) e à economia informal – e em Dubai, onde o que mais os atraiu foi a ambição. “Em Dubai, eles criaram uma cidade de um rascunho, no meio do deserto. Não havia restrições econômicas, só ambição. Nós queremos ser inspirados por essa ambição e por essa criação que parte de um rascunho.”

Design

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download

No quesito ambição, a Droog está dando agora um passo largo. Enquanto as palavras de ordem na Holanda são sustentabilidade ffwmag! nº 26 2011

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© Naho Kubota

A luta da Droog é por um mundo simples. Isso inclui senhoras que se oferecem para ouvir problemas dos outros – iniciativa do Open House, nos Estados Unidos. Além disso, o grupo em breve lançará o Downloadable Design (página ao lado), que irá liberar plantas de seus objetos. Vai nos restar apenas atravessar a rua, entregar o projeto ao marceneiro do bairro e ter um produto ao mesmo tempo local e global

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© Davide Lovatti

e artesanato local, e as discussões giram entre global versus local e sustentabilidade versus rentabilidade, a senhora Ramakers está dando seu pulo do gato e localizando o global com o Downloadable Design, que pretende democratizar o sistema econômico do design. Lançado no Salão do Móvel de Milão deste ano, o projeto prevê a criação de uma plataforma que incluirá designers e marcas do mundo todo. Submetidos à curadoria da Droog, eles venderão ou disponibilizarão gratuitamente plantas de objetos como mesas, armários, aparadores, cadeiras e sofás para serem baixadas do computador. Em seguida, os objetos serão confeccionados por prestadores de serviço locais. “Criamos ferramentas para que as pessoas possam facilmente mudar os tamanhos e as dimensões dos objetos sem prejudicar o desenho. E como vamos criar também uma rede de fornecedores, o carpinteiro da sua esquina pode estar vinculado a nossa plataforma e produzir o objeto para você.” Esse mercado digital de design, a princípio, vai se chamar makeme.com.

O n ovo

é o

novo n ovo

O bom humor e o raciocínio lógico embutidos em todos os objetos da Droog estão também em seus projetos. A novidade mais fresca saída do escritório da Staalstraat 7A é o projeto The New Is the New New. Um dos efeitos da crise financeira que se abateu sobre o mundo em 2009 foi a quebra de muitas empresas na Holanda, seguida de várias liquidações de estoques. Renny Ramakers, atenta às notícias, resolveu reciclar parte desse material. “Entrei na rede para descobrir liquidações de estoques e compramos todo tipo de produtos que as empresas estavam vendendo. Em seguida, convidamos designers para trabalhar com esses objetos.” Alguns leftovers redesenhados, como o colar de colher dourada, já estão nas lojas da

Droog. “O problema é que os estoques de empresas que faliram estão sendo vendidos em lotes de 50 objetos de cada vez porque as companhias não querem que as pessoas saibam que elas têm sobras. E nós precisamos de 10 mil para baratear a nossa produção. The New Is the New New é o nosso projeto apoiado pelo governo de criar um sistema para contatar as empresas, comprar seus estoques e colocá-los de volta no mercado, redesenhados.” Dessa forma, com um olhar muito particular e ao mesmo tempo global e sustentável, a Droog Design vem espalhando galhardia pelo mundo. “Design é um negócio sério, mas também pode ser divertido. Algumas pessoas só abordam antigos problemas do mundo, que são muito complicados. É claro que nós temos muitos problemas e o mundo não é realmente um lugar muito tranquilo. Mas ele também pode ser ótimo. Por isso, no ano que vem, quero ir à África, onde as pessoas celebram muito mais a vida. A semente desse projeto será a alegria. O mundo do design não vem tratando da alegria e, sim, de problemas antigos. Quero chegar, por meio de métodos sérios, a um lado mais leve da vida. As pessoas odeiam ir ao dentista, mas se elas se sentassem em um sofá divertido na sala de espera, esqueceriam que estão com medo. Não consigo resolver os problemas do mundo. Não posso! Mas é fácil levar um pouco mais de prazer e alegria à vida das pessoas. Essa é a nossa ideia de design. Pode ser um pouco diferente, mas eu gosto.” E para os designers brasileiros, dos quais, vale registrar, a senhora Ramakers só conhece os Irmãos Campana, fica o conselho de uma expert: “Pode soar clichê, mas não olhe para fora, não olhe para o design internacional e, sim, para o que existe de forte na sua cultura e em você. Não perca o seu tempo copiando soluções encontradas pelos outros”. droog.com ffwmag! nº 26 2011

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Moda, livros, natureza, comida e cadeiras... Para

os holandeses , tudo isso é puro design por

B runo M oreschi D aniel P inheiro

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Livros

para

serem vistos

Desde 2000, Joost Grootens se especializa em criar o design de diversos livros sobre arquitetura, espaço urbano e arte. Uma de suas maiores especialidades é produzir belos e funcionais atlas. Nesses mais de dez anos de trabalho, o designer já produziu a arte de 100 livros, um total considerável de exatas 18.788 páginas. “Amo livros. Em média faço 15 deles por ano. E não há melhor maneira de ler um livro do que fazer o seu design”, explica. Entre as editoras que costumam ter Grootens como colaborador estão a conhecida Phaidon, de Londres. Em 2009, o designer ganhou o Rotterdam Design Prize, importante prêmio de design da Europa. Um dos trabalhos dele mostra bem o talento de Grootens. Trata-se do Atlas of the Conflict, um livro de 480 páginas com mais de 500 mapas e diagramas sobre o histórico conflito entre israelenses e palestinos. Até então, ninguém havia produzido uma análise visual tão detalhada do tema. Agora, Grootens cria outra extensa obra sobre a coleção do Museu Boijmans Van Beuningen, o principal da cidade de Roterdã, com obras de artistas como Hieronymus Bosch, Rembrandt, Claude Monet, Vincent van Gogh e René Magritte. Formado em design e arquitetura na Gerrit Rietveld Academie, Grootens acredita que o design ainda irá sofrer muitas transformações – e elas não devem demorar muito para acontecer. Ele aposta: “O que eu faço hoje é o processo intermediário entre o autor e o leitor. No futuro, será diferente. Leitores irão se tornar usuários e terão um papel maior no processo de produção dos livros. Com isso, os designers terão menos poder de decisão”. >> grootens.nl

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Além

das

passarelas

Movidos pela paixão e pela frustração, Manon Schaap (foto), Gijs Stork e Cathal McKee começaram o projeto Salon há cerca de um ano. Cansado das tradicionais semanas de moda, o trio decidiu convidar alguns estilistas e artistas para produzir projetos que saíssem da passarela. Para que isso aconteça, eles oferecem aos convidados espaços em museus e casas privadas com direito a visitações públicas. A primeira edição teve como tema a própria moda. Em seguida, vieram assuntos ligados a flores e a natureza em geral. “As peças que estamos mostrando aqui foram apresentadas há apenas duas semanas em Milão, em um evento fechado”, explica Manon. “Muito do que está aqui foi empacotado e trazido pelos próprios participantes diretamente para o Salon. Isso significa que o público não precisa esperar seis meses para ver os produtos nas revistas.” >> salon1.org

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O c eleiro humano No meio de uma plantação em Brabante, Reinder Bakker e Hester van Dijk decidiram criar algo que já foi muito comum na região: um celeiro. Com um porém: a construção não serve para os animais e, sim, para os humanos. O resultado é um espaço de convívio com cafeteria e até mesmo uma área de leitura. No centro há também uma longa mesa com várias ervas orgânicas plantadas. A instalação chamada Sliced Stable é apenas uma das muitas criações dos designers que, juntos, comandam a Overtreders W. “Quando criamos um espaço, queremos que ele seja bom para a pessoa permanecer um bom tempo nele”, explicam. Criada em 2006, a Overtreders W é especializada em projetar espaços exteriores e interiores, exposições e pequenos pavilhões. No portfólio da empresa da dupla há projetos para os mais diferentes tipos de empresa – das menores, que lidam com cultura, até o complexo porto de Roterdã. As criações do estúdio são divididas de uma forma curiosa. Na categoria Space for Imagination, por exemplo, Bakker e Van Dijk criam espaços que não têm a utilidade como principal preocupação. O que conta neles é a capacidade de despertar a nossa imaginação. Mesmo preocupada com o meio ambiente ao produzir suas invenções, a dupla é bastante realista quando o tema é o futuro do mundo: “Esperamos que as companhias assumam suas responsabilidades e não foquem somente no crescimento econômico. Infelizmente, receamos que isso não vá acontecer”. Já a Holanda desperta um pouco mais de otimismo. “Aqui é um dos melhores lugares do mundo para viver.” >> overtreders-w.nl

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I lha

de

hospitalidade

Criado em 1995, Müller van Tol é um estúdio de dois holandeses bastante talentosos: Christiane Müller, designer industrial, e Bas van Tol, designer de interiores. Juntos, eles e sua equipe são conhecidos mundialmente por criar interiores e uma variedade de produtos – texturas de paredes, móveis e design de instalações artísticas, entre tantos outros projetos. A dupla realizou, por exemplo, o design interior do museu Audax Textiel, em Tilburg. Nada mais pertinente para os dois: essa cidade holandesa de 200 mil habitantes desenvolveu uma indústria têxtil importante durante o século 19 graças a um monarca que desejava construir ali a versão holandesa de Versalhes. Em 2009, Müller van Tol recebeu o prêmio de melhor conceito de hospitalidade da Venuez Hospitality & Style para o projeto do clube noturno TrouwAmsterdam. Mesmo com criações tão diversas, duas características marcam a produção de todos os trabalhos do estúdio. A primeira é o fato de a dupla sempre levar em conta o local em que ficarão suas criações. Além disso, eles adoram repetir que sempre criam coisas pensando, em primeiro lugar, nas pessoas. Mas ainda falta um grande sonho para a dupla realizar. Sem medo de sonhar alto, Van Tol diz: “Queremos criar o design de uma ilha inteira”. >> mullervantol.nl

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Comida

como se

fosse arte ( e

sem garçons )

Dupla do tipo tudo a ver, Marjolein Wintjes e Eric Meursing encontraram um lugar para chamar de moderno na Westergasfabriek, área pulsante de Amsterdã em que, até 1981, funcionou uma fábrica de gás à base de carvão mineral – lembrando que foi na década de 1960 que os Países Baixos descobriram grandes reservas de gás natural e, por isso, armazéns foram desativados na cidade. Agora revitalizada e cheia de arte, com estúdios, restaurantes e galerias, a região foi eleita por eles para abrigar o restaurante De Culinaire Werkplaats. A proposta é proporcionar uma nova experiência gastronômica. Localizado em frente ao Parque Cultural Westergasfabriek, o espaço mistura estúdio de design, restaurante de comida contemporânea, oficina de culinária e padaria. Discute, assim, os conceitos do ato de comer. O visitante pode experimentar os incríveis pratos contemporâneos e sanduíches, comprar a massa verde ou os pães 100% orgânicos (eles só trabalham com pequenos produtores rurais), ver a galeria com suas criativas exposições, aprender sobre a cozinha contemporânea em workshops curiosos e realizar os mais diversos eventos, desde lançamentos de produtos até casamentos. Diariamente funciona assim: são servidos cinco pratos. O cliente pode repetir o quanto quiser e há sempre um tema em pauta, que muda todo mês. Flores e arquitetura são alguns deles, mas a lista e a imaginação vão longe. Ah, não tem garçom e, no fim, o cliente paga o que achar que vale. A cada Amsterdam Fashion Week, Marjolein e Meursing participam promovendo o EAT.patterns, um espaço no qual a noção de padrões de alimentação é explorada de uma forma muito divertida. Os visitantes se jogam na degustação do eat’inspiration, uma deliciosa experiência formada por cinco pratos criados pela dupla. Outro exemplo da maluquice gastronômica dos dois? A exposição de vestidos, tecidos e acessórios composta por várias instalações que exploram a relação entre comer e vestir. Detalhe: reservas são fundamentais! (ZG) >> deculinairewerkplaats.nl

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A ndré V ieira

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Coluna r eta

com a

ajuda

de

Gaudí

Bram Geenen se formou na Utrecht School of the Arts há apenas dois anos. Mesmo assim, suas peças de design já foram exibidas em museus importantes de Colônia, Barcelona, Munique, Frankfurt e Milão. O sucesso começou ao criar o Gaudí Stool, um assento que, em seguida, recebeu uma versão ainda mais aprimorada chamada Gaudí Chair. Criada usando as mesmas formas do arquiteto catalão Antoni Gaudí, a cadeira possui um software que oferece uma estrutura perfeita para a coluna de quem senta no mobiliário. Outra criação bastante interessante de Geenen é um interior chamado The Light-Room. No local, ele decidiu criar apenas produtos completamente brancos. Para ele, o mundo deveria ter mais lugares claros assim. A ideia tem fundamento: entre as vantagens, um espaço claro precisa de muito menos luz elétrica. Geenen resume: “O Geenen Studio está só começando. Nosso interesse é pesquisar a evolução tecnológica para criar produtos melhores. Os projetos têm como missão buscar soluções que unem o avanço tecnológico com a forma mais lógica e natural das coisas”. Geenen não gosta de definir a palavra design. “Pode ser qualquer coisa. O importante é o design ser sempre algo ativo e fazer coisas importantes nas suas mais diversas maneiras.” E o que a Holanda tem para ensinar? “A olhar o mundo além de suas fronteiras.” >> studiogeenen.com

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PARA VOCÊ, CULTURA É DIVERSÃO E CONHECIMENTO. PARA O BNDES, É INVESTIR NO DESENVOLVIMENTO DO PAÍS.

Quando se fala em cultura, você pode lembrar de várias coisas: cinema, música, patrimônio histórico. Mas o que não dá para esquecer é que, por trás de tudo isso, existe um banco que valoriza e apoia cada uma dessas formas de expressão. As ações do BNDES junto ao setor cultural buscam ampliar o seu potencial de geração de renda, emprego e inclusão social. Afinal, cultura é diversão, identidade, cidadania. E desenvolvimento.

Ouvidoria: 0800 702 6307 www.bndes.gov.br

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Em Algum Lugar A

doce

r ealeza

da

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do

Presente

que p천e passado e futuro na mesma por fotos

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p orcelana

S arah L ee

D aniel P inheiro

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A Royal Tichelaar Makkum é a última companhia da Holanda a manter viva a técnica tradicional de fabricação de cerâmica que desapareceu no fim do século 19. A argila usada pela olaria é retirada a cada 25 anos na região de Sopsum. O material bruto é lavado, filtrado, pressionado e descansa por seis meses. Depois é moldado, vai ao forno e ganha uma camada de verniz branco pintada à mão

De brincos a tijolos, passando por pratos, azulejos e... Pirâmides. A especialista em cerâmica Royal Tichelaar Makkum, a mais antiga companhia em atividade na Holanda, tem uma variedade de produtos cujo ecletismo só não bate o do seu próprio processo criativo: uma mistura inusitada – mas que funciona com maestria – de técnica artesanal secular com nomes cool do design moderno. O atual prestígio dessa referência em cerâmicas de alta qualidade impressiona ainda mais quando se descobre que a empresa que deu origem à Royal Tichelaar Makkum nasceu há, no mínimo, 439 anos. Pelo menos é isso o que aparece no primeiro registro conhecido: um mapa espanhol de 1572 que indica uma “bricaria”, ou olaria, na exata localização da empresa, em Makkum, no norte da Holanda, muito antes da família Tichelaar adquiri-la, em 1684.

Faraós

na

Holanda?

A pirâmide citada no início do texto é um dos projetos colaborativos mais conhecidos da empresa. Aconteceu em 2008, quando o Amsterdam Rijksmuseum (Museu Nacional de Arte e História) encomendou para a Royal Tichelaar Makkum a restauração de uma autêntica “pirâmide de flores”, um tipo de vaso decorativo datado do século 17. Finalizado o trabalho, a companhia teve a ideia de fazer sua própria réplica do artefato e acionou quatro 202

ícones do design moderno para criar interpretações da pirâmide com uma perspectiva contemporânea, mas usando a técnica tradicional de manipulação de cerâmica mantida intacta até hoje. Hella Jongerius, Studio Makkink & Bey, Studio Job e Alexander van Slobbe foram os escolhidos para a série Pirâmides de Makkum, que resultou em quatro visões artísticas desse item característico de tempos passados da cultura holandesa. A série, com formas complexas e impressionante riqueza de detalhes, foi exibida em salões internacionais de design e acabou virando uma edição limitada com apenas sete unidades – no melhor termo “item de colecionador”. As produções voltadas para o mundo da arquitetura também mostram como o know-how da Royal Tichelaar Makkum é aplicado a projetos contemporâneos. Em 1999, o arquiteto austríaco Ettore Sottsass foi o primeiro a abrir essa porta de colaborações ao encomendar a criação de coberturas envernizadas com cor personalizada e acabamento mate (processo químico aplicado na superfície da pedra). Desde então, outros nomes desse universo procuraram a companhia em busca de produtos que atendam a suas necessidades mais específicas. O Museu Groninger, também na Holanda, é um exemplo disso. Durante uma reforma que sofreu recentemente, a fachada

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Quando o Museu Municipal de Haia (1935), no oeste do Holanda, passou por uma reforma em 1996, a olaria reproduziu azulejos, e foram centenas de testes até chegar ao resultado ideal. Entre outros trabalhos de restauração estão os azulejos da prefeitura de Hilversum (1931), as telhas vitrificadas da Bolsa de Valores de Roterdã e os vasos de cerâmica do rei William III e da rainha Mary II, da Inglaterra, do século 17

do prédio ganhou novo revestimento. O material sintético, nada resistente à luz do sol, perdeu quase toda a coloração em 15 anos e foi substituído por azulejos de cerâmica de 120 cm2, superresistentes aos raios solares e com cores personalizadas. Quem encomendou o material à Royal Tichelaar Makkum foi o top arquiteto italiano Alessandro Mendini. Mais algumas amostras do alcance criativo da companhia: em 2003, o designer holandês Marcel Wanders criou os Patchwork Plates, pratos de cerâmica branca que combinavam estampas silk-screen com tradicionais pinturas à mão; em 2006, foi lançada a Pérolas de Makkum, coleção de brincos e colares de porcelana assinada por Alexander van Slobbe; em 2007, a linha Work, de Dick van Hoff, explorou a possibilidade de criação de produtos funcionais, como relógios e luminárias, com louças tradicionais; em 2009, a Fundamentals of Makkum, também de Van Hoff, era composta por dois modelos de fogão à lenha, feitos de... Cerâmica!

Gerações

de

Midas

Muito da atual vitalidade produtiva da Royal Tichelaar Makkum se deve a duas sábias decisões tomadas ao longo de sua história. A primeira foi em 1890, quando Jan Pieters Tichelaar, tataravô do atual diretor, decidiu ir contra a corrente e passou a produzir

cerâmicas pintadas à mão mantendo os exaustivos processos tradicionais. Gastou mais tempo e dinheiro, mas fez o que ninguém mais fazia. A segunda começou a tomar forma em 1995, quando outro Jan Tichelaar – o representante da 13ª geração da família à frente da empresa – assumiu como diretor-administrativo da empresa. Na obra Brad Cloepfil / Allied Works Architecture, publicada pela luxuosa editora Gregory R. Miller & Co., há uma conversa entre o arquiteto norte-americano Cloepfil e Jan Tichelaar horas antes da inauguração do Museu de Artes e Design de Nova York, fruto de uma colaboração dos dois. O holandês fala sobre a filosofia de combinar tradição mais criatividade e resume suas motivações à frente da companhia: “O jeito fácil é se concentrar em ganhar dinheiro. E para mim é impossível fazer as coisas do jeito fácil. Quero mostrar como um objeto ou produto pode comunicar ideias e princípios. Acho que isso tem a ver com a habilidade de mostrar que a concepção de uma construção ou produto foi realizada com o máximo de cuidado. Você espera que as pessoas reconheçam que o mais importante é o processo criativo. Acho que quando você se dedica a esse processo com amor e carinho, consegue ver isso no resultado. Eu espero que isso toque as pessoas e as ajude a ter um olhar mais intuitivo e menos racional”. ffwmag! nº 26 2011

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Juntos, Winy Maas, Jacob van Rijs e Nathalie de Vries construíram um escritório global que realiza projetos impressionantes na Europa, Índia, China e tantas outras regiões 208

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O

carimbo

holandês Para

realizar projetos incrivelmente ousados , o escritório de arquitetura

MVRDV re

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© Allard van der Hoek

ffwMAG! – Eu reconheço na maneira como vocês fazem arquitetura a influência da Escola de Arquitetura da Universidade de Delft. Jacob van Rijs – Sim! Mentalidade calvinista, organizada e eficiente, mas sempre olhando out of the box.

pa

ço

H olanda:

mes r a

por

Arquitetura é, nos dias atuais, uma das melhores vitrines de uma nação. Especialmente se nessa região se encontra um dos escritórios de arquitetura mais famosos do mundo, engajado em assuntos globais. É assim no MVRDV. Do assunto educação (Why Factory TU Delft) a planejamento das cidades, cabe tudo no escritório holandês situado em Roterdã que reúne 60 arquitetos de 26 nacionalidades e produz, no momento, as mais conhecidas obras do setor. De lá saem literatura, arquitetura, cidades futurísticas. Produtos que vemos espalhados pelos quatro cantos do mundo, da Ásia à Europa, com imagens fortes que impressionam pelas ideias revolucionárias. Conversamos com os cérebros por trás dessas imagens: Jacob van Rijs e Nathalie de Vries , o VR e a DV do MVRDV.

es

m ic e

L eila A be

ffwMAG! – Como você poderia explicar tanto sucesso em um lugar no qual o comportamento de se exibir não é bem-visto? Nathalie de Vries – Nós somos da geração dos arquitetos holandeses dos anos 1990, de um período político de grandes obras, no qual tivemos a chance de executar grandes projetos. Escritórios muito jovens recebiam encomendas de projetos incríveis. Tivemos a oportunidade de misturar todos os ingredientes, fizemos uma série de construções que foram muito divulgadas pela imprensa internacional. E aí teve o pavilhão holandês na Feira de Hannover em 2000. Isso, sim, abriu as portas para a nossa carreira internacional. Ao mesmo tempo, o fenômeno da globalização estava a todo vapor. Novos softwares e toda a parafernália da comunicação. Por exemplo: um escritório da Holanda fazendo o design de algo que estava sendo construído no Japão. Era essa a nossa maneira de trabalhar. Nós descobrimos que poderíamos exportar arquitetura facilmente. Podíamos focar no design aqui e trabalhar com o suporte técnico nos países em que estavam os projetos. ffwmag! nº 26 2011

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ffwMAG! – Eu diria que o trade está incorporado ao DNA holandês. A maneira de ver o mundo além-mar, essa estrutura de pensamento. Certamente, essa foi a maneira como vocês internacionalizaram seu escritório… JVR – Sim, está na história da Holanda. Somos uma região muito pequena e daí é preciso expandir. Mas, claro, nós não fazemos a mesma coisa em todo lugar. Nossos produtos são sempre diferentes, não temos um autógrafo, uma marca registrada. Nossos trabalhos são sempre uma surpresa, somos camaleões, nós adquirimos a cor do local em que estamos. ffwMAG! – Gostaria de uma mensagem sua sobre as ideias por trás das obras. JVR – Esse é um ponto muito interessante. A mensagem não é só o prédio em si, mas a ideia por trás disso. A ideia em si é maior do que aquela construção. Aquele prédio e o protótipo das suas ideias são quase a ilustração delas, mas também é apenas um prédio com 210

as suas lógicas, funções e qualidades. Você não precisa saber de todas as ideias por trás para apreciar uma obra de arquitetura. No entanto, para nós também é parte de um quadro maior. Como otimizar a tipologia, a função e deixar menos marcas no chão; como combinar os prédios tocando apenas um pequeno pedaço de solo. Você pode fazer uma grande história sobre tudo isso, mas, no fim, é apenas uma obra usando técnicas locais, orçamento econômico. Essa, aliás, é uma parte importante da nossa atitude como arquitetos. Não precisamos de um monte de dinheiro para fazer coisas especiais. Acho que é uma maneira holandesa de pensar. O.k., você pode fazer uma obra interessante, mas nós temos um orçamento a cumprir e parte do nosso caráter pragmático nos faz lembrar que temos de fazer algo inteligente. Do contrário, não vai acontecer. É parte do jogo, e nós aceitamos isso! ffwMAG! – Nathalie, você que já foi ao Brasil, conte um pouco para nós sobre suas impressões.

© Edmund Sumner / Chris Wright

Quem passa na principal rodovia do condado inglês Suffolk tem a impressão que a Balancing Barn é um lar modesto. Mas uma visão geral mostra que a casa se prolonga por 30 metros de comprimento. Desta maneira, a construção parece flutuar sobre a natureza. A intenção do MVRDV em produzir um projeto tão retilíneo foi fazer com que a casa ficasse na mesma altura das copas das árvores próximas

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Na cobertura de uma casa, quartos foram construídos como pequenos lares independentes – uma escolha arquitetônica que preserva a privacidade de cada membro da família. A área externa de azul não é mero detalhe: a pintura faz a casa se misturar com o céu de Roterdã

© Rob ‘t Hart

NDV – Quando tivermos problemas demais aqui na Holanda ou no mundo, vou embora para o Brasil. Acho que isso já diz muito sobre o que eu penso. Estive no Brasil há 15 anos, patrocinada por um fundo de cultura nos bons tempos holandeses dos subsídios. Fui visitar todos os lugares interessantes do ponto de vista de um arquiteto. Depois de uma semana a gente muda de comportamento no Brasil. Esquecemos a nossa maneira holandesa de ser. Na volta escrevi um livro, Eating Brazil, inspirada no que vi. Um exagero de impressões perturbadoras. Uma sociedade efervescente, uma inspiração. ffwMAG! – O que representa o Brasil para você nos dias de hoje? NDV – Quando o assunto é design, acho que o Brasil está muitíssimo avançado. Socialmente, talvez tenha problemas a resolver, talvez seja complicado... Mas eu vejo o Brasil como algo único, que possui uma maneira própria de desenvolvimento. Quando você aterrissa no seu país logo pensa que se trata de uma coisa completamente nova. Eu não posso reconhecer nada do que está acontecendo no país e, de

alguma forma, acho o Brasil totalmente integrado e conectado com o resto do mundo. O Brasil é vibrante. Nesse aspecto temos um grande contraste entre os dois locais, mas temos em comum uma forma de modernidade, uma atitude moderna de ver a vida. ffwMAG! – Planos de projetos no Brasil? NDV – Talvez pudéssemos propor tipologias de casas sociais bem interessantes... JVR – É curioso porque temos trabalhando há muito tempo com outros países, mas nunca houve uma oportunidade de trabalhar no Brasil. Já fizemos parcerias com a Rússia, Índia e China, mas nunca com o seu país. Acho que poderia ser bem legal porque estão acontecendo muitas coisas no Brasil neste momento. Ah, temos uma forte ligação, que é o amor pelo futebol. Quem sabe um projeto para a Copa do Mundo? mvrdv.nl ffwmag! nº 26 2011

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Porto democrático Ele

já foi dormitório de imigrantes e , depois de décadas de abandono

e histórias de arrepiar a alma , transformou - se em um dos mais modernos hotéis de

Amsterdã por

Z eca G utierres

fotos

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A ndré V ieira

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Acima, A

quarto que também faz as vezes de sala de exposições .

cama , que mais parece um amontoado de colchões , é assinada por

Richard Hutten, Abaixo,

Amsterdam,

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um dos mais renomados designers holandeses .

quarto que , em

2009,

foi remodelado para o

com papel de parede da marca

Inside Design

Graham & Brown

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Projetado

pelo designer

Joep

van

Lieshout,

o quarto acima é chamado de

sala de música clássica pelos criadores do hotel .

Estonia. A Quando

O

piano negro é da marca

cama tem capacidade para sete pessoas e a escada acaba no vazio . não recebe os hóspedes , o espaço é usado como sala de reuniões

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N esta

página , corredor do

do século passado .

A

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À

Lloyd Hotel,

que já foi dormitório de imigrantes no começo

direita , máquina de café e chá colocada estrategicamente no corredor .

ideia é que os hóspedes interajam enquanto fazem um pit stop

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No distrito portuário de Eastern Docklands, região de Amsterdã que passou de degradada a cult em poucos anos por meio de um belo processo de reurbarnização, há um hotel que simboliza o poder de reinvenção dos holandeses. Um grupo de arquitetos, designers e artistas da nova geração do país foi contratado em 2005 para transformar um antigo dormitório de imigrantes em um hotel luxuoso e democrático, que mistura as cinco estrelas em um único espaço. O Lloyd Hotel fica na Oostelijke Handelskade, ilha de 2 quilômetros de comprimento construída em 1875, época em que veleiros foram substituídos por barcos a vapor. Foi por ali que, no começo do século passado, o Koninklijke Hollandsche Lloyd (KHL) criou seu dormitório. A empresa transportava imigrantes da Europa para a América do Sul (inclusive, para o Brasil), muitos deles tentando escapar da pobreza na Europa Oriental. Durante a Primeira Guerra Mundial, a companhia convidou o arquiteto Evert Breman para 218

projetar um hotel-dormitório que funcionasse como parada para os imigrantes. Nascia, em 1921, o Lloyd, que funcionou até 1935, para então cair no ostracismo marcado pelo fim das imigrações em massa ao Novo Mundo. Reza a lenda que o Lloyd foi também prisão de guerra dos nazistas e abrigo para delinquentes juvenis – deve ser por isso que seus corredores lembram o filme O Iluminado. Percorrendo quarto a quarto da construção eclética do novíssimo Lloyd Hotel, que mantém a arquitetura da chamada amsterdamse school – mistura de art déco e elementos do Renascimento – logo se percebe que a proposta foi criar diferentes hotéis em um único ambiente. Cada um dos 117 quartos reúne decoração assinada por designers e “expõe” obras de artistas da vanguarda holandesa. A garantia é que, mesmo que a escolha do hóspede seja a estrela de número 1, o tratamento segue o padrão de atendimento Lloyd. A diferença do preço, na verdade, está associada principalmente à

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N esta

página , um dos quartos do

N ew P erspectives

em parceria com o arquiteto japonês durante o

DesignT ide T okyo

on

criado pelo hotel

já havia criado um hotel pop - up em

Tóquio

com quartos criados por quatro designers holandeses e quatro japoneses .

Em

março deste ano foi a vez dos japoneses visitarem a

Ao

lado , quarto concebido pela designer holandesa

Royal Mosa,

LL ove P roject,

Jo Nagasaka. O L loyd

Holanda

Ineke H ans,

para dar continuidade ao projeto . com parede e chão criados pela

importante fabricante de revestimentos cerâmicos da

decoração do quarto: de peças clássicas atemporais ao mais moderno design holandês. O hotel fica no coração da moderna doca oriental, com vista para a água e um grande terraço virado para o sul da cidade. Tem o privilégio de estar em uma região relativamente calma de Amsterdã, mas a cinco minutos da estação central da cidade. Dormir no Lloyd é uma experiência e tanto: é só espiar com calma para encontrar peças de designers como Claudy Jongstra, Hella Jongerius, Marcel Wanders e Richard Hutten, para citar alguns deles. São características únicas que fazem a diferença nos quartos: a cama de quatro metros de largura, a banheira colocada estrategicamente no meio do “nada”, o piano de cauda para puro deleite, o teto solar e os móveis que vão da década de 1920 ao mais moderno traço holandês. Para se ter ideia da brincadeira, um dos quartos é uma sala de música clássica e foi projetado pelo designer Joep van Lieshout.

Holanda

É usado também como sala de reuniões. Outro capítulo à parte é a cozinha do Lloyd, que só trabalha com fornecedores locais, garantindo a qualidade dos produtos. Tudo que é servido no hotel é feito no próprio restaurante, com produtos frescos e sem conservantes e agrotóxicos. O restaurante funciona o dia todo e os pratos podem ser adaptados conforme a necessidade do hóspede. Aliás, se quiser sair de lá com o gostinho do Lloyd, basta passar na loja do hotel e comprar compotas e outros produtos 100% locais. Na loja, projetada por Richard Hutten, um dos mais celebrados designers holandeses da atualidade, há produtos desenvolvidos pelo hotel em parceria com designers e artistas, além de ótimos livros de design. Animais de estimação são bem-vindos e a recepção fica aberta 24 horas. O Museu Van Gogh fica perto e vale a visita. Lloydhotel.com ffwmag! nº 26 2011

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Inventores de p aisagens Cidades

robóticas , automáticas , verdes , autossustentáveis

na produção de energia , centros urbanos produtores de alimentos , fazendas de porcos cosmopolitas ...

Bem-vindo

ao departamento universitário

T he Why Factory por

L uciana P essanha

Seguindo a ideia ficcionista proposta no módulo Anarchy, o brasileiro e estudante da Universidade de Tecnologia de Delft, Igor de Vetyemy, criou sua cidade do futuro. “Na primeira semana, com 25 habitantes, o objetivo era traduzir a visão de anarquia em um estilo de vida e em uma arquitetura para 1 habitante da cidade. Minha concepção partiu do princípio de que anarquia é liberdade. Explorei a liberdade de escolher onde estar a qualquer momento e onde buscar os recursos que deveriam ser levados em consideração (água, comida e energia). Portanto, a primeira casa foi criada sobre rodas de tanque para poder ir aonde quer que fosse em uma cidade sem estradas”

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Dentro da Universidade de Tecnologia de Delft, a mais antiga da Holanda, fundada em 1842, sob uma estrutura metálica com pé-direito altíssimo, que se aproveita de duas paredes centenárias para criar um novo espaço totalmente contemporâneo, está o departamento de mestrado da faculdade de arquitetura (The Why Factory), em que os alunos estão pensando novas cidades. Você pode chamá-los de urbanistas, mas o título que parece se encaixar mais perfeitamente a esses cientistas é ficcionista, uma vez que o que fazem ali é identificar possibilidades de cenários futuros para as cidades, perguntar como funcionariam na realidade e elaborar projetos que viram filmes, livros e até produtos com as respostas que encontram. O departamento foi fundado em 2008, abriga 70 estudantes e é dirigido pelo arquiteto e urbanista Winy Maas. O interior do lugar tem imensas janelas de vidro, algumas salas de aula e um salão com mesas de reunião e uma imponente arquibancada laranja, em frente a um telão de quatro metros de altura. Algumas vezes por dia professores pegam o microfone, postam-se diante da arquibancada e chamam os alunos para uma palestra. Nesse espaço, alunos e pro-

fessores estão discutindo assuntos como sustentabilidade, conservação de cidades antigas, a individualização e suas consequências para as metrópoles etc. Tópicos escolhidos pela urgência, relevância ou pelo interesse pessoal dos professores em suas pesquisas. “Nossa abordagem envolve arquitetura e urbanismo: o que queremos fazer é conjugar o sonho à prática - tanto quando pensamos em cidades-modelo para o futuro, como quando estudamos uma maneira de reagir a curto prazo a problemas atuais. É claro que sonhos são sonhos, mas, na verdade, alguns sonhos são bem precisos e podem desencadear um tipo especial de negócios”, explica um dos coordenadores da escola, o russo Alexander Sverdlov. Em um momento no qual o urbanismo parece morto e enterrado em quase todas as partes do globo, em que interesses públicos estão sendo deixados de lado enquanto arquitetos servem basicamente a interesses privados, pode parecer ingênuo pintar quadros de grandes cidades pensadas como um todo. Entretanto, observando os estudos da T?F você percebe exatamente onde existem aberturas capazes de atrair tanto o público quanto a iniciativa privada. Um exemplo é a pesquisa batizada Transformer. Boa parte

“Na segunda semana, com 10 habitantes por participante, meu projeto partiu da percepção de que nessa cidade é necessário produzir todos os recursos porque ninguém vai fazer isso por você onde não há governo, representação ou autoridade. A ideia era oferecer aos outros alguma coisa de que eles precisam, para evitar futura destruição em uma cidade sem leis... Construí um restaurante sustentável, modelando um 3D baseado na litografia Cascata, do holandês Escher. Aproveitando os recursos financeiros ilimitados, apliquei uma segunda pele com 1.055 painéis solares voltados para sul, leste e oeste (a cidade ficou definida como logo acima do Equador), além de 133 moinhos de vento e dois de água (um deles parte da imagem original do Escher)”

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por lá é: “Isso qualquer um pode fazer. Nós queremos ver o extremo dessa situação”. Pensando em extremos, um dos módulos propostos pela escola este período se chama Anarchy. “A anarquia tem hoje uma péssima conotação em muitos países, porque representa caos, falha e desastre. Mas a ideia da anarquia pode significar o máximo de liberdade”, explica o mexicano Felix Madrazo, professor que coordena o curso. Depois de estudar a história da anarquia, seus personagens, citações e algumas cidades que chegaram perto da anarquia, os alunos receberam o seguinte desafio: popular e construir num terreno de 10 quilômetros por 10 quilômetros e 1 quilômetro de altura. A princípio, o número de moradores foi o mesmo de estudantes no curso: 25. Mas a cada semana a população desse espaço fictício, que os alunos escolheram localizar na Venezuela, multiplica-se por cem. O projeto chegará ao fim com 25 milhões de pessoas habitando 100 quilômetros quadrados. Uma densidade imensa para o espaço, proposta justamente para forçar conflitos que deverão ser resolvidos sem nenhuma autoridade ou regulamentação preestabelecida. “Em certo momento, eles começaram a

“Com o novo assentamento definido e já contando com uma população de 3 mil habitantes (3 x 1 mil, por conta da colaboração entre 3 participantes), um parque foi criado ao redor do lago da barragem, trazendo uma opção de lazer para uma cidade que deveria ser um paraíso sem regras, em que, provavelmente, poucos decidiriam trabalhar (até porque todos tinham, por princípio definido em aula, recursos financeiros ilimitados)”

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imagens Igor de Vetyemy

da população urbana do mundo vive em apartamentos de, em média, 100m2 e usa apenas 30m2 de cada vez – quando está na sala, no quarto, na cozinha etc. Como os estudos da T?F vão da escala microscópica à urbana, a ideia foi desenvolver em todas as escalas uma arquitetura que aproveitasse melhor o espaço. Subdivididos em grupos, os alunos estudaram como seriam os cômodos, os apartamentos, os prédios, os ambientes em torno, as cidades e até um mundo Transformer, no qual os espaços fossem aproveitados ao máximo. Outro estudo, Luxury of the North, desenvolvido em parceria com a Droog, pensava em uma situação extrema do Polo Norte, onde só existiria contato com o mundo externo uma vez por ano, quando os barcos conseguissem atravessar o gelo. O desafio era criar uma cidade a partir do nada, enviar essa cidade para o Polo Norte em containers dentro de navios, tentar viabilizar lá a produção dos produtos desenvolvidos e ainda criar produtos para exportação. Esse trabalho, em breve, vai virar uma exposição no Canadá. A marca fundamental da T?F, segundo o estudante brasileiro Igor de Vetyemy, é: “Vá aos extremos!”. O que mais se ouve

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Todos os projetos deste artigo são de propriedade intelectual do departamento de mestrado da faculdade de arquitetura The Why Factory

precisar de ordem. E foi criado um fórum no Facebook para que se autorregulamentassem. Então, diante de certo impasse, alguém achou que a solução era começarem a se matar uns aos outros. E eles votaram no FB: matamos uns aos outros? A cidade chegou a um ponto em que não era mais possível crescer. Como negociar essas questões? Assim que começam os conflitos, acaba a liberdade. E esse é exatamente o momento mais interessante: onde acaba a liberdade e quando nós começamos a precisar de regras?”, complementa Alexander Sverdlov. Sem nenhuma infraestrutura pública inicial, os moradores precisaram criar seus próprios recursos de água, comida e energia. Quando a cidade começou a crescer, surgiram os primeiros alertas. Onde deixar montanhas de detritos? Nesse ponto começaram os desafios. Os habitantes precisaram parar de agir individualmente e começar a brigar, negociar, produzir alianças, trabalhar em equipe. O professor Madrazo esclarece seu intento com um exemplo simples: “Se você resolve mudar para o campo com seus amigos e andar nu, O.K. Mas, no momento em que outras pessoas se mudam para a vizinhança, os conflitos começam a aparecer.

A nossa proposta é testar até onde a anarquia pode ir em uma situação de extrema densidade demográfica”. Todo esse processo vai virar um filme no fim do período. O projeto mais extremo do departamento T?F talvez seja o Biodiversity, que propõe a volta dos animais à cidade de Amsterdã. A ideia era que os alunos desenvolvessem projetos que ajudassem os animais a habitar as cidades, fornecendo a eles espaço e alimento. De propostas aparentemente malucas como essa surgem ideias de produtos, como, por exemplo, a Bola Biodiversidade, cuja produção a T?F pretende viabilizar para distribuir em supermercados como bônus na compra de outros produtos. A Bola Biodiversidade nada mais é que uma bola de sementes com a qual a pessoa não tem que fazer nada além de brincar com a bola na rua. Esse simples ato, no entanto, pode transformar a paisagem da cidade. A intenção é criar um produto industrial que pode mudar a face de Amsterdã. “Fazemos coisas em escala muito pequena, mas que podem afetar o cenário global”, explica Sverdlov. Ele conclui: “Nosso projeto aqui é visualizar o futuro. Seja ele feio, bonito ou assustador”.

“Com o crescimento da população da cidade (que a essa altura já chegava a 2,5 milhões e, na semana seguinte, já seriam 25 milhões!), alguns outros participantes e grupos começaram a invadir a área ocupada por nós três do grupo, ao que respondemos parasitando as estruturas deles e aproveitando as melhores vantagens que elas podiam nos oferecer, como a sombra e a altura, que nos permite pegar os ventos mais fortes e refrescantes nesta cidade quente como o Brasil, já que está logo acima da linha do Equador”

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obra: Albert Cuyp

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A p rimeira bolsa

de

valores

Para que a Companhia das Índias Orientais conquistasse mares mais distantes, a Holanda do século 17 precisava de 6,5 milhões de gulden – na época, uma fortuna imensurável. Como não tinham a quantia, os comerciantes de Amsterdã inventaram o dinheiro em forma de títulos. Desta maneira, os criativos holandeses criaram a primeira bolsa de valores do mundo. (Bruno Moreschi)

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Nas próximas décadas o mundo vai enfrentar um enorme desafio: será necessário dobrar a agroprodução e diminuir em 50% a poluição ambiental. Para tentar resolver esse problema, o doutor Willem A. Brandenburg, cientista sênior em agricultura biossalina do departamento de pesquisas de plantas e agrossistemas da Universidade de Wageningen, na província de Guéldria, vem desenvolvendo fazendas submarinas de criação de alimentos. A diferença dessas fazendas para as de mesma natureza na China é que as holandesas são 100% sustentáveis. “As plantas aquáticas possuem 25% de proteína – com composição bastante similar à da proteína animal. Se comparadas à soja, elas têm mais proteínas e uma composição menos alérgica. Além do fato de que, enquanto a soja oferece duas colheitas por ano, as plantas aquáticas podem ser colhidas a cada duas semanas”, diz Brandenburg. O sabor das plantas aquáticas é que é polêmico. Entre os que já provaram, enquanto uns gostam muito, outros dizem que é como comer plástico. A primeira impressão? Salgado. Mas o doutor Brandenburg já está tentando solucionar o impasse com a ajuda de um chef japonês – o Japão está muito interessado nas fazendas submarinas. Caso a culinária nipônica não consiga resolver o problema, é fácil extrair dessas plantas proteínas e carboidratos que podem ser usados na produção de outros alimentos. Os mares representam 70% da superfície do planeta, e 20% dessa extensão é composta por áreas de grande biodiversidade, cheias de sol e nutrientes, elementos que, combinados, criam belos ecossistemas. “Existe uma oportunidade de produzir proteínas no futuro, de forma muito eficiente e sustentável, sem a intervenção de produção animal – que requer duas vezes mais esforço, uma vez que é necessário criar plantas para alimentar animais. Talvez seja até possível produzir carne e leite diretamente das plantas aquáticas. Minha esperança é que no futuro não vai haver mais economia sem ecologia”, conclui. (Luciana Pessanha)

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MAUriCiO HANdLEr

As Fazendas Submarinas

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André Vieira

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Ciclocivilização O nome pode até parecer estranho, mas esse termo significa algo bastante simples na Holanda: uma civilização que tem como um dos principais meios de transporte a bicicleta. Com mais de 450 habitantes por quilômetro quadrado, o país percebeu logo cedo que não poderia ter uma população tão concentrada assim dependendo de carros. Mas a constatação não ficou só no falatório sobre as vantagens de se andar sobre duas rodas. Para convencer os holandeses a sair com suas bicicletas, o governo criou uma infraestrutura gigantesca. Para se ter uma ideia, a Holanda possui quase 20 mil quilômetros de ciclovias. O resultado é o fato de que 40% da população usa a bicicleta pelo menos uma vez ao dia. Também há regras para que as bicicletas andem tranquilamente na cidade. Na Holanda, o ciclista maior de 12 anos precisa ter uma espécie de carteira de motorista. E, assim como ocorre com os motoristas de veículos motorizados, o ciclista barbeiro também paga multa. (BM) ffwmag! nº 26 2011

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Central Press/Getty Images

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A g rande demonstração pacífica Nunca ninguém fez um ato para promover a paz mundial como fizeram o músico John Lennon e a artista plástica Yoko Ono. Em 1969, no hotel Hilton Amsterdam, eles abriram sua vida privada para a imprensa. De pijamas e deitado na cama, o casal justificou o exibicionismo: “Nós queremos colocar a palavra paz na primeira página do jornal, ao lado das palavras relacionadas à guerra”. Isso em plena Guerra do Vietnã. Durante uma semana, sempre no quarto 902, o casal ficou à disposição da imprensa mundial das 9 da manhã às 9 da noite. Isso fez com que a intenção deles se tornasse realidade. Imagens de John e Yoko invadiram jornais e revistas do mundo todo. Desta maneira, assim como Gandhi e Martin Luther King, o casal conseguiu colocar em escala mundial a discussão da paz. (BM) ffwmag! nº 26 2011

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obra: Albert Cuyp

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O

quadro sobrevivente

Pintada entre 1640 e 1642, A Ronda Noturna não é apenas um dos mais famosos quadros do holandês Rembrandt. É uma teimosa sobrevivente. Ao ser transferida do Grande Salão de Amsterdã para a sede do município, funcionários públicos decidiram cortar uma faixa lateral da obra. Mais tarde, durante a Segunda Guerra, a pintura foi escondida em um bunker no meio das dunas. Como se não bastasse, em 1975 e 1985, dois idiotas invejosos atacaram a pintura com uma faca e um aerossol. Por sorte, após uma restauração meticulosa, a obra hoje está segura no Rijksmuseum. (BM)

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Malcriada feijoandrea@uol.com.br Mandi www.mandi.net + 55 11 3032-9928 Mara Mac www.maramac.com.br + 55 11 3082-8902 Marco Apollonio www.marcoapollonio.com + 55 11 3081-6370 Maria Bonita www.mariabonita.com.br + 55 21 3527-6363 Marisa www.marisa.com.br + 55 11 2109-6078 Marisa Ribeiro www.marisaribeiro.com.br + 55 11 5533-6230 Melissa www.melissa.com.br + 0800 979 8898 Missoni www.missoni.com + 55 11 3034-6469 Mixed www.mixed.com.br 55 11 3031-7268 NK Store www.nkstore.com.br + 55 11 3068-9412 Osklen www.osklen.com.br + 55 11 3083-7977 Patachou www patachou.com.br + 55 31 3239-0244 Penguin www.originalpenguin.com + 55 11 3791-6102 Petulan + 55 11 3812-5159 Printing www.printing.art.br + 55 31 3261-4958 Pucci www.emiliopucci.com + 55 11 3552-2050

Ray-Ban www.ray-ban.com/brazil Renato Kherlakian www.rkdenim.com.br + 55 11 3061-1737 Reserva www.usereserva.com + 55 21 2255-3279 Ricardo Almeida www.ricardoalmeida.com.br + 55 11 3812-6947 Richards www.richards.com.br + 55 11 3062-6784 Safilo www.safilo.com + 0800 701 2097 Samuel Cirnansck www.samuelcirnansck.com.br + 55 11 3891-1733 Santa Lolla www.santalolla.com.br + 55 11 5536-3474 Schutz www.schutz.com.br + 55 11 4508-1499 Stone Bonker www.stone-bonker.com + 55 11 3060-9588 Swatch www.swatch.com + 55 11 3016-4572 Têca www.tecateca.com.br + 55 11 3085-0426 TNG www.tng.com.br + 55 11 4689-9313 Tommy Hilfiger www.tommyhilfiger.com + 55 11 3063-0499 Totem www.totempraia.com.br + 55 21 3539-9900 Triton www.triton.com.br + 55 11 3085-9089 V.Rom www.vrom.com.br + 55 11 3083-7977 Vitor Zerbinato www.vitorzerbinato.com.br + 55 11 4722-5344 Wöllner www.wollner.com.br + 55 21 2239-3222 Zeferino www.zeferino.com.br + 55 11 3064-1006 felipe morozini

7 For All Mankind www.7forallmankind.com + 55 11 3032-8615

ffwmag! nº 25 2011

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english CONTENT 25 The Flying Dutch 36 Holland-à-Porter 44 The Black Forest 52 On passion and fashion 62 Sometimes I feel so small 64 Sailing is no longer necessary 74 Basic lessons on anarchism... 80 The driver of change 94 Fishing for innovation 164 From bog to oasis 172 Connecting the dots 180 Man + ideas 188 For less mundane objects 192 Fashion, books, nature, food and chairs 200 Somewhere in the present 208 The Dutch Stamp 212 Democratic port 220 Landscape dreamers 250 Before sipping your coffee, thank the Dutch

Foto: felipe morozini

Old World, New Concept! When we got a visit from Katia Wille and Hans Blankenburgh with a challenge in mind, we didn’t realize we would be coming up against one of the magazine’s most exciting missions, putting our creation team in a race against time to put together such a creative issue. It was 20 days of intense immersion on Dutch soil, with 13 people on the committee, four local producers and a lot of legwork done on bicycles around Amsterdam. But it was worth it! At a time when Brazil is experiencing an economic boom, it is worthwhile to take a look at one of the most solid and lasting examples of capitalism in the world. For example, the East India Company, formed by a group of private investors, was established in 1602. Eight years later, the same group launched a concept that today is known as stocks, by diving their shares into equal and transferrable quotas. They’ve had 400 years of capitalism and all relationships derived there of. A stroll along the Rijksmuseum, which is going through a large-scale renovation at this time, illustrates this very clearly. At this museum we don’t see portraits of kings, queens, princes or dukes. But rather of merchants, landowners, merchants or great dames of society. The effect of centuries of bourgeois society and an enormous interest in innovative initiatives. To us, creative minds, the results are what caught out attention. The nation state of Holland is strongly committed to all things innovative, from technology to the arts. In Holland, creators are financed by the government, not as a form of support or charity, but as a matter of national interest, which they see as the spearhead that forms the identity of their people. Just to give you an example of the things we saw around there, the result of the exhibition of works by students from the Design Academy of Eindhoven of 2008 guaranteed the school and extra government support of 1 million Euros for the next four years. While the government doesn’t find another definite use for deactivated buildings, artists who pay symbolic rent occupy them. Another handful occupy factories and warehouses in cities nearby to Amsterdam, in ten year contracts, to warm up the region, which at the end of the term will become a residential villa. The way they found to reform the Red Light District, an area traditionally known for prostitution and drug distribution, was to rent out space to young haute-couture designers. Between storefronts where girls in bikinis strut their stuff you can find a wedding gown or a long silk dress. All this effort was put in to motivate creative minds and build a new image of Holland in the world. And there is no other place in which design has so much reason for being. The Dutch fly high, sell and export realities that the majority of countries have never even dreamed of. All with one eye on money and another on sustainability. And what other nation has reshaped their own nature? Using dikes and canals, shaping the landscape centuries ago, Holland has improved upon the Divine design. From Man to Man, but humbly, because, as you know, nature is a mother. During this trip to the wonderful world of tomorrow, we bumped into a lot of characters that create the ultimate consumer’s dream of a post-politically involved world. A jump back in time to the 1960s and we can relive the story of a group that revolutionized the behavior of Dutch youth using humor and transgression, and helped shape Amsterdam into the world’s “highest” capital. Fashion is a delicious stroll through the canals, with a ‘flower power’ feel. Brazilian clothing seen from a different angle. Still on the theme, Inez van Lamsweerde and Vinoodh Matadin, duo and couple, talk about photography and fashion and passion. We came, saw and approved. And we hope that with this new issue of ffwMAG! we can share a little bit of this with you.

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The Flying Dutch By Sarah Maluf Even before arriving at their final destination, passengers flying KLM can already glimpse a bit of Dutch culture on board. Established in 1919, the airline reflects the innovative Dutch design and technology as well as Dutch traditions in every service, environment and even in the staff uniforms. The airline, which has been operating in Brazil for 63 years, sought out brainpower and ideas in their homeland to combine innovation and pragmatism, making use of cutting edge technology to understand and meet client needs. In business class, for instance, details ranging from the silverware to flight attendant uniforms have been designed so that each passenger feels at home and a little bit closer to the Dutch way of life and customs. Flight attendant uniforms have recently been revamped by designer Mart Visser, who opted to maintain the classic blue color, but created a more modern, practical and comfortable design. And KLM is ahead of the curve even when it comes to renovating their look. They recycled all of the fabric from the old uniforms, setting an excellent example that it is possible to innovate without forsaking the environment. In the capable hands of yet another Dutchman, Marcel Wander – one of the most well regarded designers in the world, and recipient of New York MoMa’s “Visionary!” Award – comes the stylized silverware, which perfectly mirror the airline’s new look and attitude. The idea behind the dinnerware, glasses and silverware, which are also eco-friendly, is to give passengers the same satisfaction they get from a fine dining experience, making each passenger a guest. To match the exclusively designed pieces, the meals themselves have also been given special attention by experts in the matter. The three different menus served in business class were created by the duo Jonnie Boer and Thérèse, of the three Michelin star De Librije restaurant, in the city of Zwolle. Jonnie, who runs the kitchen, prepped the different dishes, which will be served in flight until September of 2011. Thérèse, Jonnie’s wife and the De Librije’s sommelier, hand picked fine wines to accompany each meal. Everything is thought out down to the smallest detail, and after a fine dinner served with designer silverware, passengers receive yet another gift from KLM to relax and enjoy their flight. During the trip, each one receives a small bag in different colors, for men or for women. Created by top designers Viktor & Rolf, the bags contain toothpaste, socks, an eye mask, earplugs, and for women, facial cream to diminish the effects of the flight on the skin. A new bag color will be released every six months, and a new design every year for the next four years. In all there will be sixteen different looks, which are sure to become collector’s items. Once again the airline sought out creative minds to develop an even more cutting edge identity. All of these innovations are happening with the idea that sustainability and innovation walk hand in hand always at the forefront. In 2009, the airline was the first in the world to perform biofuel tests for their aircraft, and is increasingly concerned in creating lighter services and products, which weigh less on the aircraft and consequently result in fewer emissions of CO2, one of the greenhouse gases. While they invest in the passenger’s wellbeing and in environmental preservation, the airline also makes use of new technologies to improve communication between the passenger and the services they offer. Great examples are the miniatures of typically Dutch buildings, which have already become a collector’s item among the most eager clients. Now they can be found as an iPod app called “KLM Houses”. You can discover the history behind each building and even find their location using Google Maps. And to guarantee that clients take flight alongside each innovation, the airline has decided to literally imprint onto their aircraft the profile of KLM passengers. A campaign called “Tile Yourself” created on Facebook motivates passengers to “tile” their pictures onto the KLM’s Facebook page. The idea has worked so well that more than 50 thousand people have already taken part in the campaign, and in July of this year, 5 thousand pictures are “taking off” on a Boeing 777-200, which will be ‘tiled’ with the faces of a chosen few.

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Holland-à-Porter When the theme for this issue of the magazine was defined, the goal was to find modern Dutch DNA on Brazilian soil. An invasion that affects fashion and the pillars of this issue of ffwMAG!: cutting edge technology, design and sustainability. Immediately the name C&A came up. The Dutch brand that is part and parcel of the average Brazilian’s life thanks to a fast-fashion that was born long before any global trend and has very clear values of sustainability.

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So much so that in 1999, they created their first sustainability report, garnering actions geared not only towards the environment but also to the well-being of their thousands of employees and society in general. But, before we advance further on the themes, let us rewind the tape of history and look at this brand whose antennas are tuned in to global style trends. Two brother from the city of Sneek, Clemens and August, combined their initials and in 1841 opened the first store with the concept of bringing ready made fashion to the public at large, launching what prêt-à-porter would only dream of doing much later. That is truly seeing far into the future, swimming against the current and thinking big, all precepts of imaginative creators (just so it doesn’t read cr/cr creative creators!) in Holland. In 1911, the group began its international expansion in Germany. Eleven years later, they descended upon England. Country by country (there are over 1.4 thousand units spread all over the world), they crossed the Atlantic in 1976, and were one of the novelties at the Ibirapuera Shopping, in São Paulo. In Brazil, the sixth largest textile producer in the world (the sector employs 1.65 million people), C&A found fertile and unexplored ground to grow, and even began to export ideas from here to the rest of the world. “Our investments in lines created by recognized fashion creators are already being studied by our colleagues in Holland and other countries,” says Elio França e Silva, the brand’s marketing director in Brazil. He welcomed us at the company’s headquarters in Alphaville, São Paulo, so we could talk about C&A’s sustainable projects. There are many actions involving sustainability, and they go far beyond water treatment, recycling or waste in general. They began in 2007 with the establishment of an environmental responsibility committee. The result was C&A Eco, a store built in Porto Alegre that places in practice sustainable actions. “As well as reducing 10% of our energy consumption and 40% water consumption, the buildings follow construction standards inspired by the international certificate Leadership in Energy and Environmental Design, which is recognized worldwide”, explains França e Silva. The thing that most draws attention about the modern project? The 640 m2 green roof, the electronic waste collection, the solar panels, the use of paints with low amounts of toxic substances, the waste management program, etc. It is the chain’s second store, created in the mold of the one in Mainz, Germany, and the idea is that this action will sweep the country. “C&A Europe, according to the latest sustainability report released by Organic Exchange, is the biggest seller of organic cotton in the world and in Brazil the brand introduced a line of children’s clothing with mechanical and chemical safety standards, unique in the domestic market. For examples, the products are dyed with ingredients that will not harm baby skin and buttons and other materials don’t hurt and are attached in a way that the infant won’t be able to remove them, thus avoiding choking hazards.” The C&A Institute, created in 1991, is the brand’s social branch, and has assisted over um million children with investments of over R$ 140 million, especially in education. Among several of the company’s initiatives in sustainability are the in-house workshops, the periodical audits to the productive chain, the signing of a pact to eradicate slave labor, the use of biodiesel for the company’s entire fleet (it is worth noting that C&A Brazil has over 190 stores spread over the country and 17 thousand employees) and the constant discussion on potential initiatives on sustainability. “That is why, in our initiatives geared towards sustainability we adopt the motto: ‘C&A is made for people, by people, to serve people’ because to us, sustainability means keeping a balance in relationships so that next generations might be able to carry on with this work,” adds the marketing director. (ZG)

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The Black Forest

Artist Ruud van Empel’s boy-characters seem to ask: “Why have we never been at the forefront of Art before now?” By Bruno Moreschi When Johannes Vermeer painted the screen Girl with the Pearl Earring between 1665 and 1666, he well knew the allure of a powerful gaze. It was no surprise, after all, the artist had seen Leonardo da Vinci’s Mona Lisa time and again. That is why, for his most famous work of art, Vermeer painted a girl with a look as enigmatic as da Vinci’s La Gioconda. Today, more than three centuries later, another Dutchman is catching people’s attention by painting subjects with piercing gazes. However, Ruud van Empel’s works have a subtle difference that make an enormous difference. In his photographic collages, the artist has opted to ignore the pale-skinned boys and girls of his native land and chose instead to photograph black children.

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Born in Breda, a small city in the south of Holland, where he studied fine arts, Van Empel has been living in Amsterdam for many years. He considers the city a lot more tolerant when compared to other areas of his country. The artist’s work have traveled the world and been exhibited in cities like New York, Paris, Tokyo and Tel-Aviv. During interviews, his approach is usually “I make art, not social criticisms” – at least at first. This approach guarantees that his art is not pigeonholed into a political debate, and makes it even more complex. “It’s crazy that in this day and age people think that black people cannot be the focus of artistic work. We are all equal,” he states. When asked why he chooses to photograph black children, Van Empel could not be more forthcoming, “And why not? There is one single difference between them and white children: the fact that a black child is not automatically viewed as a symbol of innocence. This theme interests me very much. Innocence is always portrayed in white children, and I think these needs to change.” His argument brings to the forefront a fact of art history in the western world that we often pretend not to notice: that white skinned people are often at the front while black people, when present, are relegated to the background. Savage Blood_ The questions he raises, however, don’t stop there. Van Empel nearly always places his children in a background of lush vegetation, undoubtedly with the intent of making his work even more provocative. He explains, “In 1995, when I learned to use Photoshop, I decided to recreate an image I had long had in my mind: of a small girl alone in a forest. In my mind, children are more neutral than adults. They still don’t have fully formed personalities, and therefore they are closer to animals.” It seems like an innocent enough explanation. But some art critics have gone far enough to suggest much more controversial reasons for his black children to inhabit such natural environments. If we stop to think about it, these images can be construed as the subconscious imagination of a racist white man – a perverse facet that believes that a black child must naturally belong in a stereotypical jungle environment. In other words, it is as if Van Empel is not only portraying lush forests or lakes with black children in them, but also the actual representation of a place where a pale-faced girl in a pearl earring – like Scarlet Johansson – is not the first to spring to mind. Many of the controversies arise because Van Empel’s work is hyper-realistic, a self-explanatory style that began to crop up in the 1970s. To produce the realistic effect that he seeks, Van Empel usually takes hundreds of pictures of the children and of forests. Then, he combines these images using Photoshop, in a process that lasts three months on average. Therefore, even though much of the work is done on a computer, his collage work is as meticulous as the famous manual collages by German artist Max Ernst. “Yes, I use the computer to make my collages, but in truth they are also made by hand. I don’t let the software make the artistic decisions – I make them. And that is like using scissors and glue.” And despite using the computer, Van Empel achieves a very realistic result. When these children gaze us upon, we are forced to think about all the centuries we have been avoiding them for. web.ruudvanempel.nl

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On passion and fashion

A conversation with photographer Inez van Lamsweerde, who works in harmony with Vinoodh Matadin to create images we want to dream about By Camila Yahn Vitality. Love. Art. Marriage. Chloé. Energy. Digital manipulation. Beauty. Questioning. Holland. Magazine. Inspirations. Photojournalism. YSL. New. Travel. Portraits. Collaborations. Limits. Intimacy. Inez. Vinoodh. Pretty Much Everything. ffwMAG! – You’ve been photographing together since 1985 and recently had to go through your work to select images for the Pretty Much Everything. What changed about the way you photograph? Inez van Lamsweerde – I still see with the same inspiration I’ve had since I started and I still feel intrigued all of a sudden, but in different ways. I also noticed how we became more sophisticated with time in terms of image manipulation. We also learned to separate ideas instead of putting everything in the same photo. And I really like how we developed the portrait side of things. We also strongly embraced classic black and white photography, both in portraits and in digitally manipulated images. ffwMAG! – How do you deal with these two aspects of the work you do: fashion and art?

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IVL – We began to work at museums and galleries and the same time that our pictures were coming out in magazines and ads. I see it almost as two careers, but the truth is that we are photographers and human beings. We shoot for a place and it doesn’t matter if it’s a gallery, a brand or a magazine. We don’t understand this hype around the association between art and fashion. Our work is about our friends, our inspirations, we don’t discriminate too much between one thing or another. There are a lot of artists that work at night in a pizzeria to be able to pay their bills. Why not photograph fashion? ffwMAG! – You have done extensive work in diverse styles of photography. Your work ranges from more conceptual, provocative and artistic pieces to others that are simple and simply beautiful. Is there a moment that is more rewarding or more challenging? IVL – They are different challenges, which result in different gratifications. With more manipulated images we cross boundaries and question how people see women, for example. But the idea of taking a simple and direct picture of a model, who will personify the brand, is as difficult, because then you have no tricks to rely on. We also love taking portraits, whether it is a quick 15-minute session or a long session that lasts an entire afternoon together. It is a moment of intimacy between the character and us that is very gratifying. There is a great deal of trust established between us, and that is one of the most beautiful aspects of the job. ffwMAG! – You use a lot of digital manipulation in your more artistic work. How much Photoshop do you use in your fashion campaigns? IVL – Just to do retouches and not much more. We have this side of taking manipulation to the extreme and really showing things in an exaggerated light, and this is a characteristic of our work, when we want people to see something you can’t normally see, something that is inside the person. A feeling, an impression, a psychological characteristic that we shine a beam of light on. On the other hand, we use manipulation just to correct colors and touch up one or two elements to make the image more beautiful. But we don’t change the model, we don’t change the person into someone else. ffwMAG! – What are the next frontiers photography must cross in the near future? IVL – The idea for the video is very instigating and we’ve used it a lot. Making a film, taking stills of the video and transforming this in the actual campaign, for example. It is increasingly something that will depend on the models, since they will have to act, control their faces, they have to prepare for it. I think soon there will be division, like models for videos, models for magazines, etc. It’s another environment. The concentration you need for a photograph is different from what you need for a video, so these to types of image capture are not yet married to each other, but we’ll see where they wind up. Anyway, I’m very interested in this platform. We’ve made beautiful films for Gucci, Chloé, YSL e Balmain. ffwMAG! – Do you think films for brands might take you in the direction of making short or feature length films? IVL – I don’t have that dream, to direct, but if it happens it will be a wonderful project. I like the idea of spending a long time on a story, take a year to dedicate myself to something different. To us it would be kind of a luxury, since we start and finish projects every three days. ffwMAG! – Throughout time you guys have imprinted a style onto photography. What can a brand that hires you expect in terms of results? IVL – We always add something extra to the campaign. They know that, when they hire us, we will also work on the strategic part of the brand, what the brand needs to communicate. We always showcase the best of the clothes, the models are beautiful, everything that helps the communication be conveyed in the right way. We are always a step ahead with a more creative approach, which will make the brand stand out from others. ffwMAG! – How do you use the internet in your favor? IVL – I see it as a great advantage to a photographer’s work. The internet is about instant gratification, unlike a magazine. I love Twitter and Tumblr, because I can reach people different from those who see us on the pages of French Vogue, for example. I love to post my images on Tumblr, it’s like my private magazine. ffwMAG! – What is it like to work and live together? How do you influence each other? IVL – It’s incredible. You sacrifice some things, but on the other hand, you also get a lot in return. We spend our life together, which is wonderful, but you also lose a little bit of yourself, because you don’t get a lot of time alone. So, sometimes we have to take some time off, travel, take a vacation, spend time with our son and not even think about work. But we are also together and that is the most beautiful thing. You know, life is very short, and we enjoy our time together. ffwMAG! – Do you photograph each other? IVL – No! Even when we go on vacation, we forget to take pictures, only our son does! But we test out all our lights on Vinoodh. And he always looks gorgeous… Tumblr: #inezvanlamsweerde

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Sometimes I feel so small Photographer Felipe Morozini tells us how he became a miniature in a park in Holland where flowers blooms for only six weeks a year By Felipe Morozini Once upon a time, around the early 1990s, a shaggy-haired youth traveled around with his backpack. He picked up a travel brochure that announced in bold colors, “The biggest garden in Europe,” and featured just three pictures of an unforgettable place. 2011.There was the same youth, no longer so young, standing in front of the Keukenhof Park. Upon entering the park, he came across a scene right out of Ridley Scott’s “Legend” minus the prancing white unicorns. Lakes, brooks, tulips, butterflies, begonias, fountains that looked like waterfalls and statues that looked like people. Awed by the spectacle of nature, or life, and of Man, especially. He found himself among 8 million bulbs of the most varied flowers, in all shapes and colors, hand planted by Man in a park that is open for only six weeks a year during spring, only half and hour away from Amsterdam. Suddenly he felt small. Very small. Three inches tall at most. He looked up and the flowers looked even more beautiful. Translucent. They sparkled. Grasshoppers, ants and all the earthworms came by to say hello. That was when Mrs. Golden Butterfly pronounced: “You will be given ten minutes. You better hurry. Run boy, run.” And off he ran. At first he ran slowly, with his camera pointed upwards. Then he began to run faster, zigzagging to every nook and cranny. And he is not lying when he says that a bird, whose name he doesn’t know to this day, helped him cross the lake. The black tulips, the most rare and black. He snapped two more pictures, tripped over a rollie pollie and opened his eyes. Smiling.

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Sailing is no longer necessary

Drifting along Amsterdam’s canals and indulging a little in the life of eccentric European citizens. All aboard the “home sweet homes” of our hybrid hosts! By Luciana Pessanha Aqua Condo – The water virus_Kees Harschel had already lived on a sailboat on the Amstel River, in 1978. “That’s when I was infected with the water virus.” In 2006, the virus attacked again. At the time, the city of Amsterdam began a lottery for 38 lots for what would essentially become an aqua condo. Kees and his family joined the lottery alongside another 399 candidates and were picked. The ideas they had for their homes came true thanks to the Waterstudio project, an architecture studio specialized in floating projects that has been investing in Holland’s aquatic future. One of the Harschel couple’s favorite habits is to leave stress behind by swimming around the condo when they get home from work, before dinner. And one of their biggest joys is watching the birds that live around the boat and the ducks that swim around it and have laid 12 eggs on their terrace. The bubbly aqua neighborhood guarantees the rest. “Sometimes when the neighbor turns on the motor on his sailboat he invites everyone who likes white wine and fried fish and chips to take a ride with him.” On the ups and downs of living on water, Kees says: “The wind makes the water rise and fall, and those are the only ups and downs of living here.” Zwerver – If my boat could talk_The Zwerver, boat on which Frank Meijers and Jacqueline de Ruiter have lived since they got married, 13 years ago, is over a hundred years old and for decades belonged to the clergy. Until just a short time ago it still had an organ, which the Christians would play after dinner. Jacqueline has been uncovering its past bit by bit in trips throughout Holland. “Sometimes someone will come up to us and say, ‘I know that boat, it belonged to my family,’ and will tell us something about it.” That was how she discovered that the Zwerver, which today is 5 meters wide by 38 meters long, has been lengthened twice: in the 1930s and the 1970s. It was Frank who always had the dream to live on water. He used to sail as a child and even sailed all the way to Spain. Jacqueline, far less “acquatic”, would have preferred living in a villa. But they never got around to looking for a house, nor even another boat. “We set up a meeting with a real estate broker, and while we were waiting for her at a bar across the street from the Zwerver, without ever having set foot on it, we decided that that’s where we wanted to live. It was love at first sight,” says Jacqueline. After they moved they had two children: Zimmie, now eight, and Zegna, seven. “They are very popular around here because they live in a boat. The kids think it’s a lot cooler than an apartment. Living like this is living in a small community. We all know each other. It’s not like living in a building, where no

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one knows each other. Everyone knows who we are.” Houseboat – Made in China_Sophie van der Schaft studies Media and Culture at the University of Amsterdam and has been living with a friend for the past year in a 98m2 houseboat with two bedrooms, in a canal in the city center. The houseboat, which she rented from her bother, poet and writer Jan Kleijn, who is currently living in Bali, is perfect for a student. “I live in the city, but it seems like a trip. In the summer, I spend the days on the roof chatting and sunbathing with my friends. I have neighbors, but I can crank my music up loud. I threw a party last year for my birthday, with a DJ, and no one heard anything.” Because she likes the view, the light and watching the ducks swimming in the canal, Sophie never shuts the curtains, which means her life has a certain Big Brother quality to it. The neighbors know everything that is going on in her house, and tourist boats spend the whole summer in front of her window, where the blonde beauty gets paid a lot of attention. “I live here. I’m not a tourist attraction. I think I’m already in famous in China from waving hello and coming out in so many pictures. It’s fun, but it’s also a bit irritating.” Unlike other people who live on docked boats in areas further from the city center, Sophie does not swim in the canal in front of her house. “The water is not clean. And last week they found a dead body floating a few feet away from here.” Clearly there is more than just glitz and glamour around these parts Wega – Half-gypsy, half-yuppie_Ever since they got married, 12 years ago, Mattijn and Sabine Hartemink have been living on the Wega, a boat built in 1905. The couple’s children, eight-year-old Sam and five-year-old Noor were born there. Mattijn is an actor, radio host and carpenter. He keeps a workshop right by his home, an another boat called Avontuur, which faces his wife’s garden. Sabine works with the mentally ill, giving drama lessons twice a week. The rest of the time she dedicates to her children, husband and flowers. The choice to live aboard came from Mattijn, who already owned a boat before meeting Sabine. “You feel free. When you turn the motor on, it’s a different place, a different light. I like working with my hands, and when you live on a boat, the work never ends.” Sabine likes to go on vacation aboard her own home. The Wega, which was once 36 meters long, is now only 27 meters long. It was shortened because it did not fit into the canal where the former owner lived. It seems bizarre, but lengthening and shortening vessels to suit the size of the canal where you live is common practice in Holland. Those who think that the choice to live on water is a direct crisis of the economic crisis couldn’t be more wrong. In Amsterdam, a boat costs the same thing as an apartment and also has to pay for a parking license to park in the canals. “In the old days, people who lived at sea were considered gypsies. Today, they are well paid yuppies,” says Mattijn of the irony. He will celebrate his 40th birthday with a big bash on a big boat.

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Basic lessons on anarchism...

...Or what we can learn from a crazy clown and his band of misfits By Bruno Moreschi Before beginning this text, a word of warning: we will talk about Amsterdam, but not about the basic clichés that generally involve the Dutch capital. No sexual liberation. No breaks to puff it up at a coffee shop. Nor will we show a bicycle meandering through a socially well-adjusted city. And the reason for missing out on all this fun is because we won’t be talking about Amsterdam today. At the start of the 1960s, Amsterdam was just as prudish as any other city in Europe. However, all it took were three measly years (1965, 66 and 67) for a group of anarchists called Provos to radically transform the city. They cleared the way for the Amsterdam we know and love today. The transformation began with a clown who chain smoked pot like he chainsmoked cigarettes. In the mid 60s, Robert-Jasper Grootveld, better known as the Clown Grootveld, became famous in the city for his fire-filled public appearances and for the habit of stopping people in the street to preach anarchism with the same fervor of a modern-day evangelical preacher. Two frequent expressions used by Grootveld are examples of the foundation of his beliefs: public participation and comedy. Lots of comedy. Increasingly famous for his preaching, Grootveld soon began to attract other ‘crazies’. Soon after they formed Provos, a group originally composed of just a few dozen people – most with very different ideas about what was good for the world. But the fight against prudishness united them. Together, they performed important and entertaining artistic and political manifestations that would have made William Godwin, the British philosopher considered one of the fathers of modern anarchism, proud. Their actions were so hilarious and on the money

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they should be the model for any rebel with a cause. A New Church_ Grootveld began smoking at 10 years old, after his father offered him a cigarette. As an adult, it was not long before the nicotine began to intoxicate him. As soon as he left the hospital with a serious lung infection, he began an all out attack on the city’s cigarette trade with the help of his friends. Among their several actions, one became notorious. Provos would spray paint a giant K for kanker (cancer, in Dutch) on public ads for cigarettes. Grootveld was arrested for this over twenty times. He would always be released just hours later. But those who think the clown gave up smoking would be dead wrong. He quit tobacco, but when it came to weed, he actually founded a church in its honor, called Kof-Kof. During the cult rites, between rolling up joints, the members would chant a mantra repeating kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof-kof. “That way we never forget how normal cigarettes were harmful to us,” says a smiling Grootveld. Open Mind_ It was not only Grootveld’s creativity that gave wings to Provos. Dutch librarian Hugo Bart Huges joined the movement in order to disseminate his theory in defense of a rather peculiar and bizarre method around the city. Huges believed that one of the ways to control blood pressure in the brain was to drill a small hole into the skull and expose the brain, a process known as trepanation. To shock a large part of the population in Amsterdam, Huges underwent trepanation in full view in a public square. His justification for the act was that it caught people’s attention and expanded their awareness – in this case, quite literally. His success was so big that Huges published a book about it. In The Mechanism of Brainbloodvolume, he asserts that a hole in the mind can create a constant feeling of being high. Equality on two wheels_ Weeks after Huges’ manifestation, the whole of Amsterdam was talking about Provos. The time had definitely come to do something bigger, capable of involving a larger part of the population. Provos gathered at the Lieverdje square and one of its members suggested an action where the main character would be a method of transportation common to this day in Holland: the bicycle. The idea was simple (and perhaps that is why it worked so well.) That meeting at the square would become known as the night of the white bicycles. On nearby streets, the anarchists invited the population to paint their bicycles white and to leave them on the street, available to whoever wanted to use them. Many loved the idea. The following week you could see people leaving their houses, grabbing a random white bicycle found on the street, and then dropping the bicycle off at their final destination, ready to be used by the next person. As was expected, the Dutch police didn’t like this one bit and saw the practice as illegal, since it violated the country’s private property laws. For the first few days of the white bicycles, the police tried to arrest violators. Impossible: they were hard pressed to find a jail that could hold over one third of the city’s population, all of which had adhered to the movement. With the success of the bicycles, Provos decided to diversify their strategy. Other actions involving white paint began to pop up around town. It was the case of the white chimneys, where the chimneys that emitted the most smoke in Amsterdam were painted white. Pajamas and pumpkins_ After founding a church, drilling a hole into a skill and beginning an egalitarian cycling movement, Provos was enjoying a considerable wave of public approval. Since the municipal elections for Amsterdam were drawing near, they put up a candidate in the running. He was elected with three thousand votes, but he did not show up alone to the municipal council. Since their plan was to antagonize politicians, the members of Provos would take turns, and every month a different member of the movement would show up to meetings as a representative. They all went barefoot and in their pajamas. Despite their hilarious political antics, the truth was that a lot of people in Holland so Provos only as a group of comedians and not as a truly artistic and political movement. But, in 1966, something happened to prove that one does not have to be bland and taciturn to awaken a whole city to a controversial debate. That year, all of Holland was captivated by the marriage of Princess Beatriz with Prince Claus von Amsberg. Just like at the recent royal celebrations in the United Kingdom, back then a crowd camped out in front of the place where the wedding ceremony was to take place and feverishly bought tacky souvenirs like teacups with the couple’s faces. But Provos placed the mindless fascination aside and did what any politician should have done: they investigated the prince’s past. It took them less than a week to find out that a young Von Amsberg had been a part of the Hitler Youth. Holland, which had suffered many atrocities under Nazism, was shocked. The popular reaction was exactly as Provos wanted it – in other words, very politicized, but also humorous enough to embarrass the pants off the royal family. When the recently married Beatriz and Von Amsberg paraded in an open car along

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the streets, the jeering population threw hundreds of pieces of pumpkins at them. As incredible as it may seem, it ended well for the ones that got pumpkin in the face. Von Amsberg was able to restore his reputation and become one of the most beloved princes in the Netherlands. Provos, on the other hand, as is common with anarchist group, soon split into several factions and lost their initial strength. That’s okay. The ideals of freedom and anarchy were well rooted in Amsterdam by then. Today, the city is the way it is because of these fascinating hellraisers. Therefore, before ordering at a coffee shop, don’t forget the city is the way it is now because sometime ago a lot of people fought hard to change the rules of the game.

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The driver of change Invent, crank out products, make a profit, and better yet, enjoy the tranquility of being Dutch or of living in modern Holland… On location, we checked out the characters that make that area one of the most creative in the Netherlands By Bruno Moreschi Hans Hiltermann and the art of neutrality_ Tired of spending is time registering products to sell them, photographer Hans Hiltermann quit advertisement, sold everything he had, opened a studio in the center of Amsterdam and began to develop his personal work. Convinced that we are who we are because of our parents, friends and masters, he decided that his main focus would be human beings and the most human aspect of humanity: love. From then on, he began to photograph people who inspired him. Next came pictures of people who inspired the people who inspired them, and so on. In nine years of work there were 400 pictures taken using the exact same technique. The hyper realistic pictures are portraits of people staring straight at the camera. Unlike in advertisement, they wear no makeup, their hair is not made up, they are not smiling nor do they have a seductive smile on their lips, and above all, there are not there to try and sell you something. Judging from the completely beguiling and receptive look of the portraits, there is complete between the photographer and subject. In truth, this genuineness is achieved by means of small artifices. The model is placed between four white walls with a single opening for the camera lens, behind which the photographer places himself. Hiltermann learned to meditate and induces his models to enter a meditative state using breathing techniques. After 5 minutes, he asks the subject to look at the camera and think about the person they most love and trust in the world. 16 clicks and voilà: you get a person looking lovingly, openly and unguardedly right at you. It is impossible not to immediately begin fantasizing about the person facing you in the picture. And that is exactly what Hiltermann proposes we do: when we create stories and moods for the objects we look upon we are in fact saying much more about yourselves than about those objects. (LP) documentyou.org Frank Visser and an escape to the tropics_ This Dutchman born in Amsterdam is known in his country as one of the top stylists and set designers. His work is almost always bursting with color. Visser is also part of IJM, an artistic collective that produces magazines, books and images of food. At 48 years old, Visser says he is in love with big cities. Despite the fact that South Korea is Visser’s favorite country, the artist is planning to spend quite a bit of time in our very own Rio de Janeiro. But that doesn’t mean he doesn’t appreciate the city he lives in now. “Amsterdam is incredible in the spring. That season brings out the best in things and people around here. Actually, I am surprised by the city’s beauty every day.” ijm.nl Esther van Schagen , the pioneer in the Red Light District_ Among girls in

bikinis behind glass windows and boys from every corner of the world who show not the slightest inclination for fashion, the Red Light District shelters the newest Dutch designers, blending in to a new project by the Amsterdam Town Hall – an attempt to transform the city’s traditional prostitution zone into something more creative and fashion oriented. Esther van Schagen got there before the government program, three years ago. She set up her shoe shop on the ground floor and moved in with kids Kalle and Joppe into the second floor of her house. Completely laid-back, she states that everyone knows each other there, and affirms that there are children and elderly there and it is a good neighborhood. She knows the peep show girls are swaying their hips one block over, but she doesn’t need to look at it. “I always prefer to see the good side of things. This area gets a lot of visi-

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tors. The whole world comes to me and I don’t have to leave the house. It’s great to see people from all over saying, ‘My God, Shoes!’”(LP) Ashley Douglas and entertainment design_Born in Scotland but enamored of Holland, Ashley Douglas coordinates several projects that have a single main goal: bring together people of important brands in the music universe through music programs, creative prizes and virtual campaigns. Important names in musical entertainment give Ashley and her staff the responsibility for making all the contacts with your client. “That includes areas like Europe, the Middle East, Africa, India and Russia. It really is a lot to do, but it is also a lot of fun,” she says. Among her clients is Harman, a giant company with 11 thousand employees that is behind legendary audio brands such as Harman Kardon, JBL and Mark Levinson. In other words, Ashley is on the side of some of the biggest names in entertainment design, people hungry for the new. One of Ashley’s current projects is to coordinate a competition for audio fanatics, the AKG (Scholar Ship of Sound). The contest will select ten young talented from around the world to participate to spend several days in Berlin at an advanced course on audio technology. Ashley defines Amsterdam as a “very lively place when there is sunlight.” Her description of a sunny day around here: “I get on my bicycle, stroll around the canals and bridges, lie down by a lake or forest. And to top it off, some red wine with close friends.” With such a peaceful description, you would hardly think that Ashley is the businesswoman in charge of so many important projects. scholarshipofsound.com Victorine Pasman and Carmen Miranda’s bling_ Smiley, 32-year-old Victorine’s specialty is not only to sell ice cream in a completely indiscreet way – that was only one of her dozens of her performances in Holland. What she really loves to do in life is to dress herself in outrageous, colorful outfits she herself comes up with and publicly parades. The more mayhem, the better. The list of names she cites to explain her inspiration demonstrates the size of her visual explosion very well: designer Alexander McQueen, film director Federico Fellini and Franco-Russian designer Erté. Nothing, however, inspires Victorine more than two other references: the first are the long gowns worn in the 17th century. For example, Victorine has already created a model that lifted her several feet off the ground. Always witty: “Wearing an enormous dress is heavy and uncomfortable. But, you can hide almost anything under them.” And additionally, her other great reference is our inimitable Brazilian Carmen Miranda. Without further ado, Victorine is a pale and pleasant Dutch lady who, even an ocean apart, fell in love with our tropical bling. victorinepasman.nl Mark Chalmers and the perfect nonsense_ The 40-year-old Englishman who chose to live in Holland makes such crazy and interesting projects that it is actually hard to define him as an artist, architect and designer. Chalmers is one of the Perfect Fools studio’s collaborators. He and other team members defend a theory without the fear of being labeled fools: “Foolishness speaks the truth. Foolishness speaks for itself. It cannot be ignored. Foolishness dominates!” The curious thing is to note that the foolishness actually becomes interesting projects. Chalmers has already created environments in which people enjoy themselves with a very peculiar videogame. Instead of a television screen, the player controls a tennis mosaic that works in a much more spectacular way than any hi-def TV. According to the same principles that materialize the virtual, the staff at Perfect Fools created an app that transforms a printed book into best moments registered on you Facebook. To explain his fascination with Holland, Chalmers evokes the sea. “The level of the sea is a constant threat, but Dutch people make the most of it. This ingenious mentality permeates the mind of residents here,” he explains. Strawberry Earth and the two sides of Holland_ Boyfriend and girlfriend Mette te Velde and Ikenna Azuike defined their Strawberry Earth in a pretty straightforward way: “A blog for creative people who worry about out planet.” Created in 2008, after the couple became captivated by the green movement happening in New York, the blog brings daily news that combines creativity and sustainable solutions. “Nature offers us all we need: food, water, air and beauty. We need to preserve it,” says Mette. Ok, you must have heard this phrase a million times. Anyway, the couple guarantees: they will keep repeating this until we begin to take this obvious fact seriously. As they became more popular, Strawberry Earth began to perform two important festivals in Amsterdam – each in its own season. In spring, the couple organizes the Strawberry Earth Film Festival, an event that exhibits films about the environment. In autumn, fashion talents concerned about the environment from all over Europe gather at the Strawberry Earth Wonderland. About the country she chose as a basis to save the world, Mette says: “On the one hand, Holland is creative, beautiful and open. On the other, it is still very conservative.”

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strawberryearth.com Concrete and the independent republic of Amsterdam_ In 1997, Rob Wagemans and two colleagues created Concrete Architectural Associates to set up the main headquarters of Cirque du Soleil in Amsterdam. Unfortunately, the project never left paper. Even so, Wagemans decided to go on with the company. Today Concrete has 25 employees and is known for its specialty in designing architecture for several restaurants. The most well known? The Supperclubs, restaurants that can be found in cities like Amsterdam, Rome, Singapore, Los Angeles and Istanbul. In Amsterdam, Wagemans created a minimalistic lounge in which guests can eat and drink to the sound of famous DJs, all while comfortably installed on beds covered in soft pillows. On some special days a there may even be a masseuse to massage your feet. On Holland, Wagemans believes that it is nothing like Amsterdam. “It is as if the city were an independent republic.” concreteamsterdam.nl Marlein Overakker and the hunger to live_ If you are on a diet or starving to death, you should avoid getting to know Marlein’s work. It will be endless suffering: hundreds of delicious cakes, cupcakes and beautifully arranged plates. Marlein is one of the top names in gastronomy in Holland – and that doesn’t just mean he cooks well. She also coordinates the production of photographs that display food, and she writes for food magazines the world over. “To me, the concept of happiness fits into a single word: cupcake,” she says, proud of her baked goods. To her, Holland is only incredible because it combines two completely opposite elements: “Close-minded people live alongside open-minded people. Besides which, it is still a place in which creativity still matters.” marleinoverakker.com Olaf Boswijk and the cruel doubt of the chilled_ He is 32 years old and the owner, creative director and resident DJ at the famous TrouwAmsterdam, a mix of nightclub, restaurant, art gallery and artist agency. However, whoever thinks the owner of a nightclub constantly likes the noise of the pick-ups is wrong. Boswijk doesn’t want any stress. About to get married, he is the archetypical agreeable Dutchman. Instead of conquering the world with their multicultural space, he wishes for something way more laid back. “Someday I want to live in New Zealand with my future wife and children. Then we will enjoy nature and freedom, with only one decision to face every morning: should we snowboard, surf or horse ride?” This doesn’t mean that Boswijk doesn’t like Holland: “The country is about rules and order. But it also has freedom, tolerance and, above all, it is the place where we find a city called Amsterdam.” trouwamsterdam.nl Kees Kroot and the courage to say “no”_ With his sound studio SoundCircus, Kees Kroot creates fantastic conceptual sound design for commercials, documentaries and films. His vision on what constitutes work is intimately linked to the contemporary way of looking at professional relations. “If I don’t like the job that I have to do, I try to change it. If it’s impossible to change it, I have to turn it down. Sometimes, turning down a job is something difficult to do, but I confess that flexibility is not really my strong point,” he says. However, it is interesting to note that Kroot’s professional agenda is practically fully booked. To Kroot, the right way to listen to a good song is always wearing headphones. The tip reminds him of a recent purchase: “Recently I discovered a 3D system in the shape of a human head. I didn’t hesitate, just bought it straight away. I hope to use it in dramatic films to really move people.” soundcircus.nl Fedor van der Valk and the beautiful suspended gardens_ When 36-year-old Fedor van der Valk decided to make gardens hanging off threads and not touching the ground, a lot of people thought the final result would not be pretty. But as soon as he started to post the results of String Gardens online, more and more people around the world wanted a Van der Valk plant. Tiny species, bigger trees and even carnivorous plants became accent pieces in the hands of the gardeners. It’s simple to water them: just place the plants in a recipient with water for a few seconds. Then they can be re-hung on the ceiling. As is expected, Van der Valk is completely in love with nature. On his list of most important things are his mother, brother, friends, and in a considerable fourth place, his plants. His probable future career: “I want to create a kind of inn or tea house in a city in the countryside with lots of hanging plants. In Istanbul or Portugal, I’m still not sure…” stringgardens.com De Dakdokters and the green roofs_ While most mere mortals consider their roofs a dead space, in Holland it can become a garden, herb sanctuary or even recreational area. Following the wave of sustainability that has swept over the country since the financial crisis hit in 2009, architects Matthijs Bourdrez and

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Daan de Leeuw, both specialized in terraces and penthouses, learned a technique used in Germany for over 30 years and began to offer their clients “green roofs”. Bingo! Their business took off and the “roof doctors”, as they are now known, have been working nonstop ever since. De Dakdokters, the company founded by the duo, offers two options of green roofs: the “do it yourself” and the “ready roof”. In the first option, the client picks what to plant: herbs, grasses, flowers, and so on. In the second, made for spaces that are more difficult to reach, the green roof is sold by the square foot, like an actual carpet. It is seven months old and already comes with in-built (or planted) seeds. The system is the same for both options: a thick plastic sheet protects the roof from the growth of roots and is then covered over with three layers of plastic that have a filter which drains water, to avoid problems with leaks. This structure is then covered with earth, grass, seeds and voilà: you have yourself a hanging garden. There are many advantages: as well as being eco-friendly and producing plants or flowers, green roofs also cool down apartment buildings in the summer without cooling them down in the winter. A green roof costs roughly 100 Euros per about 10.5 square feet. This cost can be split with the town hall in some cities in Holland. To supply the demand of about ten to fifteen roofs a month, De Dakdokters has fifteen employees and has just rented a warehouse to increase production scale and lower sale costs. “We can heal sick roofs,” says Matthijs Bourdrez, who always sports his doctor’s white lab coat when he inspects a roof. (LP)

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Fishing for innovation Do you want to know how to look at tomorrow? South African Clive van Heerden is heading a project for Philips that captures future trends based on “provocative scenarios” By Leila Abe Uninhibited CO2 emissions, overpopulation, the scarcity of natural energy and food resources, natural disasters, lack of drinking water, dysfunctional cities… We are all in search, but in most cases, in wait, of ready answers from science to global environmental problems that are thrown at us ad naseum by means of unending virtual and media coverage. It is paradoxical that the more we drive ourselves into the furthest reaches of science, the more uncertain we feel about what to expect from the future. They are understandable fears, especially because we don’t yet have ready answers from science and because they are tied to extremely heterogenic circumstances – demographic, cultural, political, moral and religious, historical and geographical, etc. In Holland, where we citizens of this planet have been studied profoundly for years, they are trying to come up with some of the answers that try to resolve issues particular to each of us. In a visit to Eindhoven, a Dutch city located in southern Holland, we spoke to one of the thinking brains behind these answers – a man responsible for innovations in design that are the great weapons to guarantee the future sustainability of the planet. It is Philip’s guru, Mr. Clive van Heerden, a sociologist with a degree in political science and industrial sociology and a master’s in interactive design from the Royal College of Art, in London. This article is about the future, about ideas in the making and the brains behind them. Van Heerden heads the Probes project, which, in sum, is a system of probing subtle signs in society. It is tied to new behaviors, political changes, economic trends and sustainable and technological development. Everything begins with a survey that, in the event it has the potential to become solid action, is seen by Philips as a long-term project to be explored. In fact, the results of their conclusions are presented as a publication called Design Provocation, which is used as a basis for the technology giant’s future projects. ffwMAG! – How do you, as head of the Probes project, face the future? Clive van Heerden – I think we spend the first ten years trying to predict a specific future and it is going to take a lot longer to get here than we imagined at first. This fact really changed our position in relation to our projects a lot. We decided that, instead of trying to foresee what would happen with our projects in the future, it would be better to start testing them. So we started to create provocative scenarios to stimulate debates and make people think about the subjects we chose. Based on these “provocations” we were able to gauge the public’s opinion. People have a natural ability to differentiate science fiction from a passing fad from a real change in trends in society, and that’s how we work Project Probes. It is as we are throwing a stone into the dark, and then we follow the cries of pain to where they are and we study the wound we find. And if we don’t find anything there, we move on to another theme.

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ffwMAG! – Did the fact you are South African influence the way you manage Nordic and European projects? CVH – I grew up in a very peculiar environment, during the Apartheid, a very strange situation. In university I wrote for a student paper and got involved in the anti-apartheid movement. Then I began writing for a local paper and that brought me a lot of problems. I was arrested in 1981 for six months. From then on I couldn’t be in the company of more than one person at a time, I couldn’t even visit my parent’s house. But worst than that, I could no longer write, film, record in any way, nor step foot on any university campus. I was studying sociology in 1996 and I got a scholarship to the United Kingdom, right when I didn’t want to leave my country, because if I asked for a political refugee status, I would no longer be able to return to South Africa. And, oddly, because I worked with the media, I was always very interested in technology. With the political difficulties we were facing in South Africa, printing was a very difficult thing and I always kept a close eye on the process. We began to distribute our newspapers made from photocopies produced from the first generation Macintosh. Well, to prolong my life in England I began a master’s degree in Computer Related Design at the Royal College of Art, in London. In a way, that totally changed the direction my life was taking. In the 1990s, my main project was to work with marketing for electronic tracks, and being hired by EMA for research projects. For a large part of those eight years I worked on cutting-edge research, but the most important thing was understanding how to use art and design like choreographers, for example – non-technical people using innovative processes. That was the fascination I was searching for during two decades! The idea was to develop new ways to generate new technologies because we were trying to understand a problem, and when we detected it, we found a technical solution for it. The first step was definitely understanding the problem and beginning to develop and technology to adapt to that problem. What we do at Philips nowadays is a continuation of that. I became a designer by chance. ffwMAG! – Do you have relevant things to say to Brazilians, who, like you, were born in a country full of social problems? CVH – I think my experience was fantastic because it gave me the chance to believe in changes. Seeing that an all-powerful system like the Apartheid can be changed has made me believe in humanity and in the way Man can transform the world around him in a positive way. I believe that somehow this is something really cool about the Southern Hemisphere. In Europe, what concerned me at first were the apathy I felt there, the complacency with things in general and the acceptance of established situations and formulas. I think that design is potentially an instrument of change and would have something to contribute around here in that sense. You can fundamentally alter the way people perceive life and situations through design in conjunction with other areas, and I definitely think that being born in the Southern Hemisphere gave me a good advantage. I would point out another two aspects of that advantage: improvisation and the fact that we who come from developing countries always give the most of ourselves. ffwMAG! – What impressed you about Philips? CVH – The company has an incredible history in developing technology, and we are absolutely confident this will continue to be the case. We try to brighten that Philips light, you know? We try to get the light to shine on previously forgotten areas. When we research equipment for kitchens, for instance, we research different foods since tools used in the kitchen haven’t changed much for hundreds of years. The idea is to understand more and more about what’s being served up on the plate. ffwMAG! – Today a lot is being said about how to deal with food. But what about the lack of food? CVH – That is why we started the vertical farms, which are buildings built with the capacity to be self-sufficient in supplying their own food; skyscrapers which use local sources of energy and innovative techniques to grow food. We have several indications that the price of food has been rising in the past few years. In the exact year we began this project there were food riots in Senegal, Haiti and Egypt. Even in Italy people were fighting on the streets because of the high cost of food. Prices are rising and it seems this will be an ongoing trend. Just imagine you live on the 50th floor of a building in Shanghai and are trying to meet your daily needs, but don’t have access to a plot of land. Our “provocation” is to try and create a vertical farm that combines different technique series, but without the use of electricity, and is based on other kinds of traditional technologies that human beings have used in the past. We foresee the use of hydroponic and aquponic techniques to increase vegetable growth, and decomposed waste as fertilizer. Our heritage as a company is about more than just electronics. We

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want to understand how the world is changing and we need to find appropriate energy for new and specific contexts. And I think these concerns fit very well into my and your life experiences because we have been much more exposed to basic needs than our colleagues in Europe. ffwMAG! – Do fashion and science go hand-in-hand? CVH – A lot of the work we have done in fashion has had non-visual motivations. We spent ten years working on a fabric with electronic conductors that will have several different medical applications. This has created close ties between our labs and professionals in the fashion industry. We study the body and its scales, the surface of the body, what the body is and how it reacts to certain environment. We continue to work with fashion as the physical pillar to our concepts and ideas. Because, when you are talking about fashion, you are talking about the textile industry. Studying the manufacturing and distributing processes has been part of our work for a long time. Automation will change consumer behavior and consequently social and cultural habits. We are talking about invisible methods of manufacture, using automated robots – made-toorder pieces for a much lower cost. There are however some implications to design, and you can see why. When you are creating a piece of clothing through an automated process, you suddenly realize there is no way to design a collar. So the collar will have to change, and that will redirect design. But the whole idea behind this is that our work in fashion is a provocation because we are aiming it at the culture of the disposable. We are making a film about this, about a robot that eats garbage and defecates fashion by means of a microfiber that molds itself to the human body and becomes an article of clothing. ffwMAG! – Is nanotechnology going to be an important tool in these transformations? CVH – Absolutely. We are very interested in the scale of materials, and nanotechnology is fascinating. We have invested a lot of time trying to understand micro-capsular and biological processes in textiles, the molecular levels of the materials and their transformations, but, a priori, we are interested in all transformation technologies. ffwMAG! – Sustainability, new technologies, the future. What can we Brazilians learn from Philips? CVH – Unfortunately I’ve never been to Brazil. We are very interested in your country, especially because our Probes 2011 theme is “Livable Cities.” We are really looking at Brazil for that. We are fascinated by the way people in your country help each other out mutually as a starting point for a project. And Philips is always open to unexpected solutions. I’m always impressed at how open-minded the company is and what a long-term view they have. When Hurricane Katrina happened, for example, we created different scenarios to help solve some of the resulting devastation. They were very high-quality solutions, aiming for technological sustainability. I say that because a large part of the green movement is about sustainability, which suggests the use of sophisticated materials that are sometimes transported, for example, from Sweden to India. It’s crazy! We need to begin to think about “home-grown” sustainability in this context. In relation to Brazil, we’ve heard a lot about the favelas, the slums. We thought these were unbelievable solutions for housing, a new kind of social undertaking. An inexhaustible source of human strength and determination. I firmly believe we have a lot to learn from you. design.philips.com/probes/whataredesignprobes/index.page

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From bog to oasis In the eternal battle of Man against Nature, Holland teaches the world a lesson on how to build artificial paradises for the future. But that doesn’t mean the war has been won By Gabriel Kogan “God made the world, and the Dutch made Holland.” So goes an ancient Dutch saying about the important man-made efforts to build up their territory. The transformation of nature is a vital necessity for the survival of Holland. Man turned the areas submerged under sea and river water into fertile lands for plantations and land to build cities. In the age of sustainability, man’s domain over nature in Holland is a constant reminder to humanity of the need to transform our landscapes to ensure our survival on the planet. And what if our survival depended not on a return to the fields or forests, but rather on completely synthesizing of nature? No place is truly ready to be inhabited without first undergoing a profound technological transformation. Our existence in the world depends upon it – it

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is what we have always done and still do: transform nature into a new nature. Contrary to what one might assume, the bucolic Dutch landscape is actually a very human construct. Some predictions say that up to half the Dutch territory lies below sea level, and this geomorphologic characteristic has forced them to have a careful planning for land development for thousands of years. Thus Dutch nature has been thought out as an enormous architectural project: the design and planning are necessary for the subsistence of Holland. The European swamp_ Originally, the region in which part of Holland lies today was flooded with water and made up mainly of a kind of peat bog, a partially decomposed vegetable matter. The region gathered sediment from two main rivers, the Meuse and the Rhine, and was a flat and flooded river mouth normally known as a delta. The path of the rivers at this delta was volatile: depending on the season or the regime, the water drew different paths. The unpredictability of this territory, added to consecutive river and ocean floods made human settlement in the region impossible. By rising just a few feet, the rivers could easily devastate large tracts of land. Besides which, the ocean also invaded the region, usually during violent storms which broke the natural levees created by the accumulation of sediments. So that this region could be permanently settled, it needed to be transformed through a complex and efficient safety net and through water management. And that is what was done. Over a thousand years ago, the Dutch began to employ rudimentary drainage and land reclamation techniques. Using the available means at the time, they used the dry turf to build small dikes capable of protecting a small area of land. It was a precarious method highly susceptible to problems, some of them unexpected, such as the burrowing of the levees by animals building dens inside them. However, by the 14th century, Man had completely transformed the course of the rivers in the Dutch delta using dikes. Though yet in embryonic stages, nature had begun to be dominated. Favorable winds_ The area’s occupation remained insipid up to the 16th century, when the development and advances in some technologies allowed for an expansion of the human territory towards the sea. Besides the construction of dikes, the use of windmills was fundamental to water drainage. The windmills provided the necessary energy to pump water from land reclaimed from the sea, a never-ending labor. Wind energy was an abundant and renewable source of energy that allowed the land to be transformed from bog into arable and livable land. The wind also worked as a reliable energy matrix, because it would never stop blowing and water would be constantly pushed back to sea level. Little by little, windmills began to turn into an absolute prerequisite for the Dutch landscape and soon became a symbol of Holland itself, embodying Man’s domain over nature. Currently, windmills have been replaced by a similar advanced technology, which uses the wind to generate electricity and keeps the system running smoothly. Several areas, especially between 1600 and 1700, were drained. Generally, these artificially reclaimed terrains were made up of what were then called polders, which, throughout the centuries, have shaped the most important spatial configuration in Holland. One fifth of the Netherlands is made up of polders and probably over 3 thousand of them were built since the 16th century. Some polders are huge, over 50 thousand hectares large; others are much smaller, the size of a small property. Traditionally, a polder is a tract of land enclosed by dikes. This enclosed land then undergoes a long and complex drainage process. It is necessary to build drainage canals to pump the water out. These narrow canals draw the shape of the landscape and link up to larger canals, used by small boats and cargo transport for navigation. The set of drainage and supply canals and waterways make up the fundamental water system of this territorial architecture. The polders are made using ancient and anonymous techniques. Even constructions over 400 years old are not considered complete. They are a sort of open book, still in writing. The land, however, never loses its productivity after the it is initially drained. This long process makes the construction of the land necessarily a collective effort: there is no single authority behind the precise design of these gigantic structures. Cities of the future_ The combined territory of land reclaimed from rivers and the sea has created architecture on a national scale. There are practical choices to be made – aesthetic, functional and related to construction – just like when erecting a building, an enormous building. How will the canals be drawn? How will they be built? How will the land be divided? What will the division look like? Where will the transport systems – the waterways, the railways and highways – run? Where will the plantations be?

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The landscape is made up of several choices made by humans that have resulted in a completely artificial object. Throughout the centuries, the image of these built lands has also become a symbol of Holland. The aesthetic thinking that permeated the design of these new territories became a symbolic reference for the country’s identity. Just like the different historical monuments spread around the world, the Dutch find their national identity in the built landscape of a polder. Some projects were considered particularly important to the construction of the collective know-how. The Beemster polder, located north of Amsterdam, began to be built in 1610 and synthesized many of the technological advances developed up to that time. It is also an important aesthetic reference, with treelined canals and well-ordered squares. In 1999, Beemster was named a UNESCO World Heritage Site, with the justification that it “marks a major step forward in the interrelationship between humankind and water at a crucial period of social and economic expansion.” Today, the polders, canals, pumps and dikes form a complex network of water control in Holland. Even in the 20th century, once again reliving Dutch history, a great flood devastated part of the territory, and since then, there has been an intense effort to perfect the system. Great sea storms occur cyclically every hundred years and give new life to Man’s fight against the waters – or rather, his struggle to build a livable, and therefore artificial, space.

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Connecting the dots

“All’s well in the land of tulips”, say Dutch designers who are winning the world over at the Salone del Mobile in Milan By Luciana Pessanha In 2003 David Heldt rented a space at the Salone del Mobile in Milan to showcase his design studio’s work. Two years later, when he met his current partner Victor le Noble, they gave the space a name: Tutto Bene. In 2006 they created a foundation with the same name to select designers to develop sustainable work and be the bridge between designers and the industry. Since then, every year, a revolving cast of new talents is introduced at every fair in Milan. “For us Dutch designers, if you are not at the Milan fair, you can just forget next year’s work,” says Heldt. In 2010, the Tutto Bene foundation sent 32 designers to Italy. This year, the number dropped to 13. “It was a way for us to work better with out group. Our designers like to be independent and they don’t like to be placed under the label of ‘Dutch’ design.” Tutto Bene also published an annual magazine/catalog called The Dots, in which all-Dutch designers, up and coming or well established, have an opportunity to showcase their work. The third edition is being prepared for the Contemporary Interior Design Exhibition, which will happen in London in 2011. Heldt graduated from the ArtEZ Institute of the Arts (AKI) in Enschede in 1999, and has a master’s degree in design futures from Goldsmiths, the University of London – a kind of school of design philosophy. Heldt left behind designing objects once and for all in lieu of creating a solid relationship between the professionals he represents and the market. Tutto Bene is a non-profit organization financed not by the Ministry of Culture, but by the Ministry of Finance in Holland. “We are among another 100 projects in agriculture, industry and trade. But they like us because we are the only initiative that gets media attention. Dutch design is intelligent, fun and full of innovations. And that’s how Holland wants to be seen by the world.” On the subject of government interest in creative minds, it is worth noting that Tutto Bene is located in a building in the center of Amsterdam that is just waiting to be rented out by a large corporation. While that doesn’t happen, its 70 offices are occupied by designers, fashion designers and creative folk in general, with very low coast rent. All tutto bene! Below are a few representatives of the 2011 Tutto Bene, at the Salone del Mobile in Milan. Under Studio Sjoerd Jonkers’ feet_The Dutch Embassy decided to host an exhibit in Morocco, and opened up a competition to take six artists for an internship there. Sjoerd Jonkers signed up, won a scholarship, packed his bags and spent two months living in Casablanca. Once there he grew interested in tricot cutoffs from the fashion industry. Then he created a way to combine long strands of this fabric, using a heavy rope. A mysterious machine performs the process, whose secrets the Moroccans won’t reveal even under torture. The result is a kind of three-colored rope of gray, white and blue (or brown, beige and white) flexible knit, which Jonkers knotted into large carpets, which he calls Tapis Noués. The only setback Jonkers had during the creative and productive process of his work was cultural. “I was placing orders for the next day, and when I would come in, they hadn’t even started.” After struggling for a while, he established a partnership with a manufacturer and produces 50 carpets a day. He is 27 years old and has a degree in lab experiments of design from the Gerrit Rietveld

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Academie. But Jonkers keeps a cool head. “I like to travel and look at different techniques and materials that I can discover in those places I visit.” Studio Drift’s dandelion_ One of the big hits at the Milan fair in 2011 was Dandelight or Fragile Future, a very delicate lamp created by Lonneke Gordijn, one of the partners at Studio Drift. The dandelion is a very simple flower. You’d think the process of making the lamp would involve Chinese monks, but it’s actually made by girls from several different countries. The people in the studio pick the flowers themselves, when they haven’t yet bloomed, and stores them in cardboard boxes, waiting for them to bloom. Once they do, their petals are pulled off. The heart of the dandelion is fixed over a tiny LED light and the petals are glued back, one by one, over it. Detail: only the petals of one single flower are used for each lamp, and the glue sets in 30 minutes. The result is a touching vulnerability, though the lamp is actually quite resistant. The prototypes are five years old – the date of Lonneke’s graduation – and are still in pristine condition. The other partner at Drift, Ralph Nauta, had already won some acclaim in Milan with his Ghost Chair – an acrylic chair with millions of microscopic air bubbles injected into it, creating a silky or ghost-like effect. The duo also co-created Flightlight, an interactive luminous installation, inspired on bird movements. “We look for poetry in nature and try to materialize it,” explains Heldt. A lucid dream at Studio Molen_ Molen Studio is located in an old paint factory in Zaandam, a small city nearby Amsterdam, and has two subdivisions: Molenkitchen and Solid Poetry. The Citylight Chandelier Anamorphosis, a giant chandelier with 136 lights spread over 25 meters of bronze arms – more work of art than object of design – caused quite an impact in Milan. Produced in an entirely artisanal fashion, it is inspired on the railroad tracks of London, Amsterdam and Shanghai, and will have a limited edition of eight pieces per city. According to its creator, Frederick Molenschot, it is “a kind of lucid dream. You have an enormous city, and in your dreams, you can take it and place it over your head.” The newest Molenkitchen poster girl is a fun 3 in 1 portable barbecue grill, with skewers, meat smoker and a customized grill, that designs mandalas and bucolic landscapes onto the meat. The decision to create the object came about because 10% of life in Molenschot revolves around barbecues. He is also responsible for humanizing the HVO-Querido, a shelter for the homeless in the suburbs of Amsterdam in which he branded a mandala-man on the façade. Molenschot also created an umbrella table for the common grounds and plans to design an enormous pink heart for the back, which will be visible from several points in the city. Counting sheep with Studio Jolanda Van Goor_Jolanda van Goor graduated from the Amsterdam School of the Arts in 2006, and soon began the projects Sheep Chair and Funky Dread Stool by creating wood prototypes. In the middle of her creative process, she suddenly realized she was making something that looked like a sheep. At that point, she started studying the movements of the animal, the different types of wool, and the knitting weaves. It took fifteen prototypes to discover that the weave would be more interesting inside out and to figure out the best inclination for the spine. You can sit in the Sheep Chair in three different ways: in the conventional position, sideways, or sort of hugging it. But you shouldn’t just sit down in a hurry. “You need to look at the chair a while, get a feel for it, until you gain confident enough to sit down. Just like an animal would do,” explains van Goor. Another of the chair’s peculiarities is that you can’t sit in all day, since no one can rest at ease in an animal for so long. The Funky Dread Stool is made from leftover scraps of textile industrial materials, and the best position to enjoy it in is sitting on the floor and leaning back against it. Humorous and tending more towards decorative pieces that actual furniture, both the chair and the stool are made in a 100% sustainable way.

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Man + ideas

The breeding ground of Dutch design is called the Design Academy and educates students for the wonderful world of tomorrow By Luciana Pessanha What would you like to be? That is the first question the Design Academy de Eindhoven (DAE) asks students in their presentation brochure before they enroll. Pay close attention – the question is not “what would you like to do?” but what you would like to “be”. And that defines the profile of the designers who graduate from there. With a very artistic approach, they are in the world not

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only to create products, but also to express themselves through their creations. To do so, they have support and tools at their disposal. The surprising results obtained by the boys and girls that graduate from there for the world of design to sit up and take notice of this tiny 700 student school, founded in 1947, located between the third and fifth floor of a commercial building in the city of Eindhoven. “We are not in destiny’s hands. We have power over the possible outcomes of the future.” This statement, by Jochen Otten, director of the institution, is the guideline followed by DAE students. “What are your head, heart and intuition telling you? Can you reach a revolutionary solution through a different approach or experiment?” The challenge has been set. Now it is up to the students to meet it during the learning process. “Creative people are sensitive in general. But our students learn to have an extrasensitivity to visualize the key to what needs to be resolved,” explains Yolande van Kessel, one of the school’s coordinators. Studying at DAE is not easy. The students are selected based on the portfolios they present and an entire day of interviews, in which their expectations, work characteristics and potential are taken into account. Once accepted, a student will spend up to 60 or 70 hours a week studying near final exams. But it’s not always that way, guarantees Kessel. “We think it’s ok to have a few really tough weeks. But not too many because it’s not healthy. Actually, our students are very loyal, if not to the school, then to their chosen profession.” For that reason they give it the learning process everything they’ve got.” During the four years of the undergraduate course, the student develops his or her own method of research and work and discovers where their creative force comes from. To assist that discovery, DAE decided 20 years ago to forgo the traditional system of disciplines and focus on what they named Compass – a system that revolves around Man. “Because everything you design obviously revolves around Man, we study the main areas around him to find out what his basic needs are,” says Marc Ruis, the PR for the school. There are eight departments within the Compass: Man + Living seeks to understand how people personalize a space to feel at home inside it and how they connect to the environments around them. The attention is focused on products and services that surround us and give meaning to our lives. Man + Leisure wants to understand how to fill up the time we have to dedicate to ourselves, motivating students to propose new products, services and even new entertainment systems for our times of leisure. Man + Mobility studies the possibilities of transporting people, cargo and information. The subject is approached both physically and virtually. This department proposes to speak the language of the industry seeking a balance between dream and reality. Man + Well Being wants to know what connects us to the world around us. What gives meaning to the spaces, objects and services we use. The products designed in this department are linked to natural resources and sustainability. Man + Communication encourages students to apply visual communications as a form of speech and a way to develop a personal social and/or cultural identity. Man + Public Space invites students to analyze habits and experiences in several environments and to develop programs, products and services in collaboration with architects and urbanists in several European cities. Man + Activity investigates the role of technology, the ways to perfect it, and how it can influence the environment and the future to develop and create new products and services. Man + Identity analyzes what lies underneath the surface in our daily lives, spotting the influences that will impact the tastes and styles of tomorrow, and identifying the necessary shapes and materials to achieve them. The goal is to educate trendsetters. During the second year of the course, the student chooses one of those departments to continue their studies in until graduation. Once the department is chosen, the student will have classes with professionals who dedicate a single day a week to teach at the academy, and have ties to the design industry, working at large companies or in their own studios. The student will further choose to focus his studies in studio within his chosen department, where they will develop more personal and artistic work: at the forum, dedicated to reflections on design; at the lab, where they get their hands dirty, trying out materials and techniques for the creation of products; or market, focused on the demands of the 21st century, where the student learns how to deal with the market. At the end of the undergraduate course, the Design Academy promotes the Graduation Show, an exhibit of their graduating students final projects. For nine

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days, the school days are open to the market and the public. In 2010 they had 25 thousand visitors. Another benefit that DAE offers their students is taking the ones that most stand out at the Graduation Show to the Salone del Mobile in Milan. Last year’s exhibition showcased the work of 50 students. And they also produce a catalog. The last edition contained 132 works. World-renowned Dutch designers, like Jurgen Bey, Hella Jongerius, Maarten Baas and Job Smeets graduated from the Design Academy de Eindhoven. And now you know why. Bas van der Veer_ Graduated in 2009 from the Design Academy. His final project was a rainwater collector that turns into a watering can called the Pure Rain Drop. “I sent a company an email with my product asking them what they thought. The following week I got on a train, and then a bus, with it under my arm. It was worth the effort, the company was pretty excited.” Today, the Pure Rain Drop is being sold in Belgium, England and France. Bas van der Veer grew up in Jorwerd, a city in the countryside with just 300 residents, and his interest has always been in nature and in ways to save water. Recently, one of his creations to grow herbs ran contrary to industrialized products and began to be sold in China. The apple in the designer’s eye right now is a bioplastic made from corn, developed to transport seedlings in safety. Once planted, the plastic becomes a source of food for the soil and decomposes in a few years. Massoud Hassani_ He was born in Afghanistan and as a child created his own toys: paper miniatures to play with in his backyard – an enormous desert. “When the wind blew harder, I would take my toys to the desert, which was full of landmines. It was very difficult to play there without getting hurt.” At the Design Academy, Hassani was encouraged to further his research on his childhood toys. “I built all sorts of rolling objects. Then I thought I should adapt them for the deserts of Afghanistan and I increased the proportion until I got this 2 meter wide dandelion seed. This object, which I called Mine Kafon, is powered by the wind and blows up mines that are buried in the sand as it rolls over them. That way it will deactivate mines using the force of nature.” As the object has 170 legs, and only loses one or two at every explosion, you can imagine it is very useful. “There are 20 million mines for 12 million people in Afghanistan, which makes it so that people can hardly walk around their neighborhood. That is why my country remains poor.” The Mine Kafon also has a GPS that allows you to locate the most dangerous places in its path. The Dutch Ministry of Defense, which is testing his creating for mass production, has contacted Hassani. It is worth noting that deactivating a mine costs one thousand Euros, while the Mine Kafon only costs 40 Euros. Thomaz Ribeiro Bondioli_Thomaz Bondioli graduated from Faap, in São Paulo, and had already been through the studio of the Campana brothers, by Terra Design, and worked with the German designer born in Mexico Lars Diederichsen, before heading to Eindhoven to get his master’s. He has already developed some very different projects at the Design Academy, like Mutualistic Symbiosis, which investigates the relationship between what contains and what is contained using a very delicate porcelain structure protected by layers beeswax, and the very interesting Smile! You’re Under Surveillance, which poetically investigates how to revert the ‘1984’ Orwellian state we encounter every time we leave the house. Upon discovering that London had one camera for about every 14 residents in its public spaces, and that a person may be captured on one of these cameras on average 300 times a day and has the right to buy those images of themselves, he proposed an alternative form of control, to benefit people. In Thomaz’s project, a movie producer with just a few resources can shoot a movie in front of these cameras, and then ask the government to send them the images. Or a tourist can replace photo cameras for the street cameras to create a photo album. As an example, he shot a three-minute film called Going Home – A Short Moment in Renée’s Life, in which a friend is filmed returning home on the streets of Eindhoven.

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For less mundane objects

From the dredges of a crushing capitalism eager to socialize anew emerged a group of Dutch designers with a revolution called Droog By Luciana Pessanha In 1992, Renny Ramakers, then editor-in-chief of design magazine Industrieel Ontwerpen, set up an exhibition with pieces of furniture created by young designers using cheap industrial materials and discarded objects, like old drawers and bits of tree trunks. Commercially, the furniture designed by Jan Konings, Jurgen Bey, Piet Hein Eek and Tejo Remy was a failure. But it created a spark, and Renny saw in the collection of the work a clear break with the past.

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The cheerful sobriety of the objects and the rustic raw materials gave new life to a generation that was sick and tired of the neon and Memphis style of the 1980s. Around the same time, Gijs Bakker, designer and professor of the largest breeding ground for designers in Holland, the Design Academy Eindhoven, was already planning to exhibit his students’ work at the Milano Salon in 1993. Smartly spotting an opportunity, Renny proposed a partnership with the following condition: if the exhibit failed, they would abort the mission. If it was a success, they had to keep going. They called the collection Droog Design, which means dry design in Holland. Today Droog has stores in Amsterdam, New York and Las Vegas, and is represented by dozens of stores around the world and a network of one hundred designers. Names such as Marcel Wanders, Hella Jongerius, Richard Hutten and Ed Annink have been through there, among many others. Droog’s always humorous and intelligent objects were just the beginning. After the partnership with Gijs Bakker was ended, Renny Ramakers decided to take over the world with the LAB project. “We live in a globalized world, in which the same brands are everywhere, and everything looks superficially the same. But there are still local differences, and in each country we can learn something. We go to these places to get inspired. And to see if we can create a concept from these experiences that will generate global interest.” Discover your inner service provider_ Inspired by the service-oriented

– with a very particular gaze and keeping itself global and sustainable. “Design is a serious business, but it can also be fun. Some people only bring up the classic problems in the world, which are very complex. Of course we have many problems and the world is not a very serene place, but it can also be great. That is why, next year, I want to go to Africa, where people really celebrate life. The seed for that project will be joy. The world of design has been dealing only with problems and ignoring joy. I want, through serious methods, to reach a brighter side of life. People hate going to the dentist, but if they sat in a fun sofa in the waiting room, they would forget how scared they are. I can’t solve the world’s problems. I can’t! But it’s easy to bring a little more joy and pleasure into peoples’ lives. That’s our design ideal. It may be a little different, but I like it.” As for Brazilian designers, of which (we must note) Mrs. Ramakers knows only the Campana brothers, here goes a few words of advice from an expert: “It may well be cliché, but don’t look outwards, don’t look at international design, but rather at what is strong in your culture and in you. Don’t waste your time copying solutions uncovered by others.”

mentality of New York, Open House by Droog in collaboration with Diller Scofidio + Renfro is a movement in which suburban homeowners in America supplement their income and develop a new vocation by offering home-made services and facilities to the public. “One of the initiatives I was most impressed by was a woman who offered to listen to her more lonely neighbors and their problems, confessions,” says Ramakers. As well as attempting to find a new balance between what is public and private, this project sought to increase social cohesion by exchanging services. During a time of crisis in North America, the residents of the suburb who participated in the project were able to raise over U$ 2,500. Open House took place as a one-day event in Levittown, in April of this year. One of the installations featured concepts for the future of open houses, with a space to receive the public while maintaining the privacy of the home. Determined to seek inspiration, Droog went to Moscow, to Northern Canada, to Mumbai – where they turned their attention to the improvised constructions in the hills (slums) and to the informal economy – and to Dubai, where they were drawn by the ambition. “In Dubai, they created a city from scratch, in the middle of the desert. We want to be inspired by that ambition and by this drive to create from scratch.”

For the Dutch, all this is pure design By Bruno Moreschi

Design for download_ When it comes to ambition, Droog is taking long strides. While the words of the moment in Holland are sustainability and local artisanship, and debates rage over global versus local and sustainable versus profitable, Mrs. Ramakers is skipping ahead and localizing what’s global with Downloadable Design, intent on making design more affordable. Launched at this year’s Salone di Milano, the project announces the coming of a platform that will include designers and brands from all over the world. Under Droog’s curatorship, they will sale or freely offer the blueprints for objects such as tables, dressers, cabinets, chairs and sofas that can be downloaded onto a computer and manufactured by local service providers. “We have created tools so that people can easily change the size and dimension of the objects without harming the design. And since we will also create a network of suppliers, the carpenter in your neighborhood can use our platform to create the object for you.” This digital design market will be called, in principle, makeme.com. The New is the New New_ The wit and logical rationale found in all of Droog’s objects can also be found in their projects. The freshest news to come out of the offices on Staalstraat 7A, is the project The New Is the New New. One of the consequences of the financial crisis that swept over the world in 2009 was that many companies in Holland went bankrupt and a lot of stock went on sale. Renny Ramakers, with her eye always out for opportunities, decided to recycle part of that material. “I went online to discover sales and we bought all kinds of products that companies were selling. Then we invited designers to work with these products.” Some of the redesigned leftovers, such as a necklace made from gold spoons, are already featured on the Droog website. “The problem is that the stock from bankrupt companies are being sold in lots of 50 objects at a time, because the companies don’t want people to know they have a surplus of stock. And we need 10 thousand to cut the cost of our production. The New Is the New New is our project, with government backing, to create a system to contact these companies, buy their stock, redesign the objects and place them back on the market.” This is how Droog Design has been spreading elegance throughout the world

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droog.com

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Fashion, books, nature, food and chairs In 1992, Renny Ramakers, then editor-in-chief of design magazine Industrieel Ontwerpen, set up an exhibition with pieces of furniture created by young designers using cheap industrial materials and discarded objects, like old drawers and bits of tree trunks. Commercially, the furniture designed by Jan Konings, Jurgen Bey, Piet Hein Eek and Tejo Remy was a failure. But it created a spark, and Renny saw in the collection of the work a clear break with the past. The cheerful sobriety of the objects and the rustic raw materials gave new life to a generation that was sick and tired of the neon and Memphis style of the 1980s. Around the same time, Gijs Bakker, designer and professor of the largest breeding ground for designers in Holland, the Design Academy Eindhoven, was already planning to exhibit his students’ work at the Milano Salon in 1993. Smartly spotting an opportunity, Renny proposed a partnership with the following condition: if the exhibit failed, they would abort the mission. If it was a success, they had to keep going. They called the collection Droog Design, which means dry design in Holland. Today Droog has stores in Amsterdam, New York and Las Vegas, and is represented by dozens of stores around the world and a network of one hundred designers. Names such as Marcel Wanders, Hella Jongerius, Richard Hutten and Ed Annink have been through there, among many others. Droog’s always humorous and intelligent objects were just the beginning. After the partnership with Gijs Bakker was ended, Renny Ramakers decided to take over the world with the LAB project. “We live in a globalized world, in which the same brands are everywhere, and everything looks superficially the same. But there are still local differences, and in each country we can learn something. We go to these places to get inspired. And to see if we can. Books to be seen_ Since 2000, Joost Grootens specializes in designing books on architecture, urban spaces and art. One of his biggest specialties is designing beautiful and functional atlases. In over ten years of work, the designer has produced the art for 100 books, a considerable total of exactly 18,788 pages. “I love books. On average I do 15 of them a year. And there is no better way of reading a book than designing it,” he explains. Among the publishing houses that usually hire Grootens as a contributor are the renowned Phaidon, in London. In 2009, the designer won the Rotterdam Design Prize, an important design award in Europe. One of Grootens’ works exemplifies his talent very well. It is called the Atlas of the Conflict, a 480-page book with 500 maps and diagrams on the history of the conflicts between Israelis and Palestinians. Before then, no one had produced such a detailed visual analysis of the theme. Now, Grootens is creating an extension about the collection at the Boijmans Van Beuningen museum, Rotterdam’s main museum, with works by artists like Hieronymus Bosch, Rembrandt, Claude Monet, Vincent van Gogh and René Magritte. With a degree in design and architecture from the Gerrit Rietveld Academie, Grootens believes that design will still undergo a lot of changes – and they will happen sooner rather than later. He bets: “What I do today is an intermediary process between the author and the reader. In the future it will be different. Readers will become users and will have a bigger role in producing books. With that, designers will have less power of decision.” grootens.nl

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The human barn_At the Brabante plantation, Reinder Bakker and Hester van Dijk decided to create something that was once quite frequent in the area: a barn. With a slight twist: the barn would not house animals, but rather, humans. The result is a communal space with a cafeteria and even a reading area. There is also a long table in the center, with several organic plants growing on it. The installation, called Sliced Stable, is just one of the many creations by the group of designers Overtreders W. “When we create a space, we want it to be good enough for a person to spend a long time in it,” he explains. Created in 2006, Overtreders W is specialized in designing exterior and interior spaces, exhibitions and small pavilions. In the company’s portfolio there are projects for every kind of company – from the smallest, that deal with culture, to the complex port of Rotterdam. The studio’s creations are divided in a curious way. In the category Space for Imagination, for example, use is not the first concern for Bakker and Van Dijk create spaces. What they are most concerned about is the ability to awaken our imagination. Even while concerned with the environment, the duo is quite realistic when it comes to the future of the world: “We hope that companies will own up to their responsibilities and not just focus on profits. Unfortunately, we don’t think it’s going to happen.” But Holland gives them more reason to hope. “This is one of the best places in the world to live.” overtreders-w.nl the island of hospitalitY_ Created in 1995, Müller van Tol is a studio created by two quite talented Dutch men: Christiane Müller, industrial designer, and Bas van Tol, interior designer. Together they and their team are known worldwide for creating interiors and a variety of products – wall textures, furniture and artistic installations, among a lot of other projects. For example, the couple did the interior design for the Audax Textiel museum in Tiburg. Nothing more pertinent to the both of them: this Dutch city with 200 hundred thousand residents developed an important textile industry during the 19th century thanks to a monarch that wanted to build a Dutch version of Versailles. In 2009, Venuez Hospitality & Style awarded Müller van Tol a prize for the best concept of hospitability for the project for the nightclub TrouwAmsterdam. Even with such diverse creations, two characteristics mark all of the studio’s productions. The first is the fact that the duo always takes into consideration the place where their creations will be located. The second is that they love to repeat the fact that they always create things with people at the forefront of their thoughts. But they are still short of executing a big dream. Without the fear of flying high, Van Tol says: “We want to do the design for a whole line.” mullervantol.nl Food like art (and without waiters)_A couple that seems completely in synch with one another, Marjolein Wintjes and Eric Meursing have found a modern place to call their own in Westergasfabriek, a vibrant area of Amsterdam that until 1981 worked as a coal based gas factory – the Netherlands discovered a vast reserve of natural gas in the 1960s and consequently warehouses were shut down in the city. Now the area has been revitalized and is full of art, packed with studios, restaurants, and galleries. The couple chose the area to house their restaurant De Culinaire Werkplaats. Their idea is to provide guests with a new gastronomical experience. Located in front of the Westergasfabriek Cultural Park, the space is a combination of design studio, contemporary food restaurant, cooking workshop and bakery. It therefore brings to light a discussion on all aspects of eating. The visitor can try some of the delectable contemporary dishes and sandwiches, buy green pasta or 100% organic bread (they only work with small rural producers), visit the gallery with its creative exhibits, learn about contemporary cooking in curious workshops and host the most varied events, from product releases to weddings. This is how it works on an everyday basis: five dishes are served. The client can help him or herself as often as they want and there is always an overriding theme, which changes monthly. Flowers or architecture are some examples, but the list is imaginative and long. Oh, there are no waiters and at the end of the meal, the client pays whatever amount they think is fair for the meal. At each Amsterdam Fashion Week, Marjolein and Meursing participate by promoting EAT.patterns, a space in which the idea of eating patterns is explored in a fun and carefree way. Guests indulge in tastings at the eat’inspiration, a mouthwatering experience made up of five dishes created by the couple. Another example of the couple’s gastronomical quirkiness? The dress, fabric and accessories exhibition, where different installations explore the relationship between eating and dressing. Note: reservations are essential! (ZG) deculinairewerkplaats.nl straight Spine with the help of Gaudí_Bram Geenen graduated from the

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Utrecht School of the Arts just two years ago. Even so, his design pieces have been showcased in important museums in Cologne, Barcelona, Munich, Frankfurt and Milan. The success began with the Gaudi Stool, a seat that received an upgraded version called the Gaudi Chair. Created using the same shapes used by Spanish architect Antoni Gaudí, the chair has an in-built software that offers perfect support for the spine of whoever sits in it. Another of Geenen’s very interesting creations is an interior called The Light-Room. He decided to create entirely white products for the space. To him, the world should have more lighter places like that. The argument has a strong basis: among the many advantages, a light space needs a lot less electric lights, says Geenen: “The Geenen Studio is just beginning. Our interest is in researching technological evolution to create better products. The projects seek solutions that combine technological advances in the most natural and logical way.” Geenen doesn’t like to define the word design. It could be anything. The important thing is for design to always be dynamic and do something significant in its many different areas.” And what can Holland teach us? “To look at the world beyond frontiers.” studiogeenen.com

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Somewhere in the present The charming royalty of the pottery that brings together past and present in a single tile By Sarah Lee From earrings to bricks, from plates to tiles, all the way to… pyramids. The ceramic specialists Royal Tichelaar Makkum, the oldest standing ceramic manufacturer in Holland, offer an unbeatable variety of products, shadowed only by their actual manufacturing process: a surprising mix of traditional artisanal techniques and cool names in modern design, which works beautifully. The current prestige enjoyed by this company and their high-quality ceramics gets bumped up a notch when we discover that the company that birthed the Royal Tichelaar Makkum was established at least 439 years ago. I say at least because that is the first known written record indicates: a Spanish map from 1572 states that a “brick maker” or pottery, in the exact location in Makkum, in northern Holland, was already in existence long before the Tichelaar family bought it in 1684. Pharaohs in Holland?_ The pyramid mentioned at the beginning of the text is one of the company’s better-known collaborative projects. It happened in 2008, when the Amsterdam Rijksmuseum (National Museum of Art and History) hired Royal Tichelaar Makkum to restore an authentic “flower pyramid” – a kind of decorative vase from the 17th century. Once they had completed the job, the company chose to make their own replica of the artifact, and contacted four icons of modern design to create different interpretations of the pyramid with a contemporary twist, but using the traditional Dutch manufacturing technique. The chosen designers for what became known as the Pyramids of Makkum series were Hella Jongerius, Studio Makkink & Bey, Studio Job and Alexander van Slobbe. The result was four distinct artistic visions of this characteristic items from Holland’s cultural past. The collection, which boasts complex forms and an impressive wealth of details, has been showcased in international design fairs and has become a limited edition collection with seven pieces – to describe it best, a “collector’s item”. Their productions geared more towards architecture also reveal Royal Tichelaar Makkum’s extensive know-how, and are applied to contemporary projects. In 1999, Austrian architect Ettore Sottsass was the first to open the door of collaboration with them by ordering a set of varnished tiles in a customized color and matt finish (a chemical process applied to the surface of the porcelain). Since then, other names from architecture have sought out the company in search of products that will meet their very specific needs. The Groninger Museum, also in Holland, is a good example of this. During a recent renovation, the building’s façade was given a new cover. The synthetic material that had previously in place was very vulnerable to sunlight, and during a period of 15 years nearly all the color had faded away. It was replaced by ceramic tiles 120 cm2, with customized colors and super resistant to the sun’s rays. Italian architect Alessandro Mendini placed the order for the tiles. A few more examples of the creative reach of the company include: in 2003, Dutch designer Marcel Wanders created the Patchwork Plates, ceramic plates, each with a playful silk-screen or traditional hand-painted design; in 2006, The Pearls of Makkum was released. It is a collection of porcelain earrings and necklaces designed by Alexander van Slobbe; in 2007, Dick van Hoff’s “Work” line explored the possibility of creating functional products, such as clocks and

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lamps, from traditional china; in 2009, the Fundamentals of Makkum, also by Van Hoof, offered two wood ovens made from – you guessed it – ceramic tiles! The Midas Touch_Much of the current productive volatility of Royal Tichelaar Makkum is owed to two wise decisions taken along its history. The first was in 1890, when Jan Pieters Tichelaar, the great-grandfather of the current director, decided to swim against the current and keep producing hand-painted tiles in the time-consuming traditional processes. He spent more time and money, but he was doing what no one else was. The second began to take shape in 1995, when another Jan Tichelaar – a 13th generation representative of the family spearheading the company – took over as CEO. In the book Brad Cloepfil / Allied Works Architecture, published by high-end publishing Gregory R. Miller & Co., there is a conversation between American architect Cloepfil and Jan Tichelaar that took place a few hours before the opening of the New York Museum of Arts & Design, a fruit of their collaboration. The Dutchman talks about his philosophy of combining tradition and creativity and sums up his motivations as head of the company, “The easy way is just to focus on making money, but for me it’s impossible to do things the easy way. I want to show how an object or a product can communicate ideas and principles. I think that has to do with the ability to demonstrate that a product’s conception or construction has been undertaken with the utmost care. I think that when you dedicate yourself to this process with love and care, it is visible in the result. I hope that this touches people and helps them to have a more intuitive, less rational, gaze.”

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The Dutch Stamp Jacob van Rijs and Nathalie de Vries tell us how a generation of architects in the 1990s took Dutch architecture to the four corners of the world By Leila Abe Architecture today is one of the best windowpanes to a nation. Especially if one of the world’s most famous architecture firms – thoroughly engaged in global issues – is found in that nation. That is the case with MVRDV. All subjects are broached at this Rotterdam studio, from education (Why Factory TU Delft) to urban planning. The studio has 60 architects from 26 nationalities and at the moment produces the best-known projects in the sector. Literature, architecture and futuristic cities have emerged from its office. We see their products spread all over the world, from Asia to Europe, strong images that impress for their revolutionary ideas. We spoke to the brains behind those images: Jacob van Rijs and Nathalie de Vries , the VR and DV of MVRDV. ffwMAG! – I recognize an influence of the School of Architecture from the University of Delft in the way you do architecture. Jacob van Rijs – Yes! A Calvinist mentality, organized and efficient, but always thinking outside the box. ffwMAG! – How do you explain so much success from a place where showing off is not well regarded? Nathalie de Vries – We are a generation of Dutch architects from the 1990s, a time where there was a lot of political construction happening, during which we had the opportunity to execute great projects. Very young offices were getting incredible projects. We had the opportunity to mix up all the ingredients; we did a series of buildings that were extensively covered in the international press. And then there was the Dutch Pavilion at the Hannover Fair in 2000. That really opened the doors for our international career. At the same time, the phenomenon of globalization was going full steam. New software and all communication paraphernalia. For example: an office in Holland doing the design for something that is being built in Japan. That was the way we worked. We found out that we could export architecture easily. We could focus on design easily here and work with the technical support in countries that were building the projects. ffwMAG! – I would say that trade is built into the Dutch DNA. A way of looking at the world beyond the ocean, this structure of thought. That was certainly the way you took your office abroad… JVR – Yes, it’s in the history of the Netherlands. We are a very small nation and from that comes a need to expand. But, of course, we don’t do the same thing everywhere, we don’t have a signature, a registered mark. Our work is always a surprise, we are chameleons. We take on the local color wherever we go. ffwMAG! – Can you talk a little bit about the idea behind your projects? JVR – This is a very interesting subject. The idea is not just the building itself, but the idea behind the building. The idea is bigger than that single construction. That building is a prototype of your ideas, almost the illustration of them, but also just a building with its logistics, functions and qualities.

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You don’t need to know all the ideas that went into a work of architecture to appreciate it. However, for us it is also part of a bigger picture. How to optimize typology, the function of leaving less marks on the ground, like linking building by just a small patch of soil. You can make a great story based on all of that, but in the end, it is just a building built using local techniques, an economical budget. That, by the way, is an important part of our attitude as architects. We don’t need heaps of money to build special things. I think that’s a very Dutch way of thinking. Ok, you can build a very interesting building, but we have a budget to follow and it is part of our pragmatic character to remind us to do something intelligent. On the contrary, nothing will happen. It’s part of the game, and we accept it! ffwMAG! – Nathalie, you’ve been to Brazil, tell us a little bit about your impressions. NDV – Whenever we have too many problems here in Holland or around the world, I’ll move to Brazil. I think that says a lot about what I think about it. I was in Brazil 15 years ago, sponsored by a culture fund back in the golden days of Dutch subsidies. I went to visit all the architecturally interesting points. After a week in Brazil we change our behavior in Brazil. We left behind our Dutch way of being. On the way back I wrote a book, Eating Brazil, inspired on what I saw. An exaggerated view of disturbing impressions. An effervescent society, an inspiration. ffwMAG! – What represents Brazil to you today? NDV – When it comes to design, I think Brazil is very advanced. Socially, there are some problems to resolve, it might be complicated… But I see Brazil as somewhere unique that has its own way of developing. When you land in Brazil right away you feel like it’s something new. I may not recognize anything of what’s happening in the country, but in some way, I still think Brazil is totally integrated and connected to the rest of the world. Brazil is vibrant. In that aspect there is a big contrast between our two countries, but we have a form of modernity in common, a modern attitude towards life. ffwMAG! – Do you have any plans for projects in Brazil? NDV – Maybe we could propose some really interesting typologies for residences… JVR – It’s strange because we’ve been working for a long time in other countries, but we’ve never had an opportunity to work in Brazil. We’ve made partnerships with Russia, India, China, but never with your country. I think it would be great because a lot is happening in Brazil right now. Oh, and we have a strong connection between the two countries, which is our common love of soccer. What about a project for the World Cup? mvrdv.nl

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Democratic port It was once a dormitory for immigrants, and after decades of neglect and some hair-raising stories, it has reemerged as one of Amsterdam’s most modern hotels By Zeca Gutierres In the port district of Eastern Docklands, an area of Amsterdam that has transformed itself from derelict to cult in just a few short years thanks to a revitalization program, there lies a hotel that symbolizes the Dutch capacity for reinvention. A group of Dutch up and coming architects, designers and artists was hired in 2005 to transform a former dormitory for immigrants into a democratic and luxurious five star hotel. The Lloyd Hotel is located on Oostelijke Handelskade, an island 1.25 miles long built in 1875 at a time when sail was replaced by steam. The Koninklijke Hollandsche Lloyd (KHL) Company opened up a dormitory on the island. The company transported immigrants from Europe to South America (even to Brazil), many of whom were trying to escape extreme poverty in Eastern Europe. During the First World War, the company asked architect Evert Breman to design a dormitory-hotel that could work as a stopover point for immigrants. Established in 1921, the Lloyd was operational until 1935 before falling into disuse after mass migrations to the New World tapered off. The story goes that the Lloyd was also used a Nazi prison and a shelter for juvenile delinquents – perhaps that’s why its hallways are eerily reminiscent of the film The Shining. The new Lloyd Hotel has kept the architecture of the so-called amsterdamse school – a mixture of art deco and elements from the Renaissance. Going from bedroom to bedroom in the eclectic building we easily see that the idea was to create several different hotels within a single hotel. Each one of the 117 rooms was decorated by a designer and “exhibits” works of art from the Dutch vanguard. The guarantee is that all guests receive the Lloyd standard treatment, even if they are famous stars. The difference in price between the rooms has much to do with the décor of each individual room: from timeless, classic pieces

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to the most cutting-edge, modern Dutch design. The hotel is located in the heart of the modern eastern dock, and has waterfront views and a large terrace facing the south side of the city. It is privileged enough to be in a relatively serene area of Amsterdam, but only five minutes away from the central station. Spending the night at the Lloyd is quite an experience: if you look around carefully you will spot pieces by designers such as Claudy Jongstra, Hella Jongerius, Marcel Wanders and Richard Hutten, just to name a few. Then there are the unique touches that make all the difference in the rooms: the bed is over 13ft wide, the bathtub is strategically located in the middle of “nothing”, there is a grand piano for your entertainment, a sun roof, and furniture ranging from the 1920s to the most modern available in Holland today. To illustrate: one of the rooms is a classical music room and was designed by Joep van Lieshout. It is also used as a conference room. The kitchen at the Lloyd is something else altogether. They only work with local suppliers, guaranteeing the highest quality products. Everything served at the hotel is made in the restaurant itself, with fresh products that have no food additives or chemicals. The restaurant works all day and all dishes can be adapted to suit the guest’s needs. If fact, if you want to take some of that goodness with you, you can go by the hotel store, and pick up jams and other 100% local products. In the store, designed by Richard Hutten, one of Holland’s most renowned designers, you can find products developed by the hotel in partnership with designers and artists, as well as excellent books on design. Pets are welcome and the reception is open 24 hours a day. The Van Gogh museum is nearby and worth a visit. lloydhotel.com

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Landscape dreamers

Robotic, automated, green cities self-sufficient in sustainable energy production, urban food production centers, cosmopolitan pig farms… Welcome to the university department The Why Factory By Luciana Pessanha Within the Delft University of Technology, the oldest in Holland, founded in 1842, under a metal structure with a lofty ceiling supported against two very old walls to create a totally modern space, you will find the master’s department of architecture The Why Factory, where students are dreaming up new cities. You may call them urban planners, but the title that best seems to fit these scientists is fiction planners, given that what they do there is identify possible futures for cities, question how those futures would really work, and develop projects that become films, books and even products based on the answers they find. The department was established in 2008. It has 70 students and is run by architect and urban planner Winy Maas. The department has enormous glass windows, some classrooms and a conference room with imposing orange bleachers facing a 13 ft screen. A few times a day a professor will grab a microphone, stand in front of the bleachers and call the students in for a lecture. In that space, the students and professors will discuss issues such as sustainability, the preservation of historical cities, individualization and its consequences for cities, etc. The subjects are chosen by urgency, relevancy or personal interest of the professors in their research. “Our approach involves architecture and urban planning: what we want to do is combine the dream and the reality – both when we think of cities for the future and when we think of how to respond in the short run to current problems. Of course dreams are dreams, but, in truth, some dreams are very precise and can result in a very special type of business,” explains one of the school’s coordinators, Russian Alexander Sverdlov. At a time when urban planning seemed dead and buries nearly everywhere in the world and where public interests are being put aside while architects serve private interested, it may seem naïve to paint pictures of big cities thinking as a whole. However, if you observe the studies going on at T?F you begin to see openings capable of attracting both the public and the private initiative. One example is the research named Transformer. A large part of the world’s urban population lives in apartments on average 100m2 but uses only 30m2 de at a time – when they are in the living room, the bedroom, the kitchen, etc. Since the studies at T?F range from the microscopic to the urban, the idea was to develop architecture on every scale to improve spaces. Subdivided into groups, the students analyzed what the spaces in a Transformer world would look like, from the buildings to the apartments,

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the environment around them, the cities, and even the world, where spaces would be used to their full capacity. Another study, Luxury of the North, developed in partnership with Droog, created an extreme situation in the North Pole, where contact with the outside world would only happen once a year, when icebreakers could make it through to them. The challenge was to create a city from nothing, ship this city to the North Pole in containers, attempt to grow the products developed and, further, create products for export. This project will soon be exhibited in Canada. According to Brazilian student Igor de Vetyemy, T?F’s fundamental catchphrase is, “Let’s take it to extremes!” What you most hear around here is, “Anyone can do that. We want to see what happens when this situation gets extreme.” And it was thinking of extremes that the school created a module called Anarchy. “Anarchy has a terrible connotation today in many countries, because it represents chaos, failure and disaster. Bu the idea of anarchy is the ultimate freedom,” explains Mexican professor Felix Madrazo, who coordinates the course. After studying the history of anarchy, its key players, quotes and some cities that came close to is, students are faced with the following challenge: populate and build on a 10 x 10 km plot of land. At first, the number of residents equals the number of students in the course: 25. But every week the population of this fictional location multiplies by 100. The students chose to locate the city in Venezuela. The project will close with a population of 25 million people living in 100 km2, a very high density for the space. This was intentionally decided to force conflicts that must be resolved without the intervention of any authority or pre-established regulations. “At a given moment, they began to need order. So a forum was created on Facebook for them to regulate themselves. At one point, someone decided the solution was to start killing each other, so they voted on FB: should we kill him? Yes? No? The city reached a point where it could no longer grow. How to deal with these issues? As soon as the conflicts begin, freedom ends. And that is exactly the most interesting moment: where does freedom end and when do we begin to need rules?” adds Alexander Sverdlov. Without any initial public infrastructure, the residents need to create their own resources to get water, food and energy. When the city began to grow, the first issues began to arise. Where to dump the mountains of trash? And that is when the challenges began. The residents were forced to stop acting individually to begin to negotiate, fight, make alliances, and work as a team. Professor Madrazo clarifies his intentions with a simple example: “If you decide to go to the countryside with your friends and hang around naked, ok. But when other people start moving into the neighborhood, conflicts begin to arise. We propose to try and see how far anarchy will go in a situation of extreme geographic density.” The whole process will become a film when the experiment is finished. The Why Factory’s most extreme project might well be Biodiversity, which proposes the return of wildlife to the city of Amsterdam. The idea was for students to develop projects that would help animals inhabit cities, offering them space and food. From apparently crazy proposal like this come ideas for products, like, for instance, the Biodiversity Ball. T?F plans to produce it and distribute it to supermarket chain, where customers will receive it as a bonus for buying other products. The Biodiversity Ball is nothing more than a ball full of seeds. All a person needs to do is play with it out on the street. This simple act, however, has the power to shape the city’s landscape. The intention is to create an industrial product that can change the face of Amsterdam. “We do things on a very small scale, but that can affect the global scenario,” says Sverdlov. He ends by saying, “Our project here is to visualize the future, whether it is ugly, beautiful or scary.”

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Before sipping your coffee, thank the Dutch By Bruno Moreschi At first it may not seem to make much sense, but it is God’s honest truth: if it weren’t for the Netherlands, our coffee would not taste the same – or, worst yet, the drink would never have become as popular with us as it did. The explanation can be found at the Hortus Botanicus, Amsterdam’s botanical gardens. Established in 1638, it is one of the oldest in the world. In the 17th century, a simple coffee seedling at the Hortus Botanicus (of the Coffea Arabica species) became the basis for all coffee plants harvested in South and Central America. Therefore, it’s time to say: Than you very much Holland

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holandeses A princípio, pode parecer algo sem muito sentido, mas é a mais pura verdade: se não fosse a Holanda, nosso cafezinho não teria o mesmo gosto – ou, na pior das hipóteses, a bebida não seria hábito tão popular entre nós. A explicação vem do Hortus Botanicus, o jardim botânico de Amsterdã. Fundado em 1638, ele é um dos mais antigos do mundo. No século 17, uma simples muda de café que existia por lá (da espécie Coffea arabica) serviu como base para todas as plantas de café cultivadas na América do Sul e Central. Portanto, sem cerimônia: Holanda, muito obrigado. (Bruno Moreschi)

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