Nº 28>>2011>>R$ 22,90
Eli Sudbrack alla Scala dE Milão dESign for thE othEr 90% ana claudia MichElS Plínio, o VElho MárVio doS anjoS bruno MorESchi donald judd
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o maximo
No miNimo, o maximo
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Parques: até o fim de 2012, serão cem em toda a cidade
Theatro Municipal: a grande casa de ópera da América Latina
Teatro: mais de 200 peças em cartaz
Museu do Futebol: em dois anos e meio, mais de 1 milhão de visitantes
Metrô de São Paulo: R$ 2 bilhões investidos até 2012
Represa de Guarapiranga
Biblioteca Mário de Andrade: totalmente restaurada
Ciclofaixa: 45 km ligando quatro parques da cidade
Fotógrafos: Caio Silveira, Dede Fredrizzi, Jefferson Pancieri, Sylvia Masini, Caio Pimenta, Fábio Góis, Alex André Diniz, Nage Gonzaga, Fernando Conti (Secom), Paulo Dias (Seme), Luiz Guadagnoli (Secom) e Ronaldo Franco. Metrô: foto de divulgação.
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O QUE ESPERAR DE UMA CIDADE QUE TEM TUDO? TUDO. São Paulo é sempre uma estreia. São Paulo se reinventa todos os dias. Novas pessoas, culturas diferentes, lugares que se multiplicam. Uma cidade que conta histórias nas ruas, nos prédios e nos parques como o da Represa de Guarapiranga, agora revitalizada. Visitar São Paulo é levar histórias de seus restaurantes, museus como o do Futebol, único do gênero no Brasil, e teatros como o Municipal, ainda mais moderno e emocionante. São Paulo acolhe quem quiser se misturar e mergulhar nesse caldeirão de atrações para todos os gostos e bolsos. São Paulo é cultura, diversão, arte, criatividade. É uma combinação de experiências que nunca se repetem. São Paulo. Cidade criativa.
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A P RE S E N T A
para calรงar um sonho A histรณriA dA mArcA que nAdou contrA A c o r r e n t e e c r i o u u m A m o d A 100% n A c i o n A l
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A busca por perfeição faz toda a diferença. Cada detalhe é aplicado manualmente, um a um. Dos rebites e pespontos manuais das peças até a caixa dos sapatos, tudo é cuidadosamente planejado
O que se esconde em um simples par de sapatos? Primeiramente, uma fôrma que mantenha os pés no mais puro conforto. Mas isso é o básico, é o que se espera de uma boa marca. Mas assim como nas coleções de roupas – do prêt-à-porter à alta-costura – há ideias, muitas ideias transmitidas por meio de inspirações e técnicas. Ah, sim, muita técnica, de preferência artesanal e inovadora. Na Rua Oscar Freire, em São Paulo, entre centenas de marcas importadas com tudo aquilo que a Europa e os Estados Unidos nos proporcionam de beleza e modernidade, há uma grife de sapatos que olha para dentro do nosso território, sem perder o charme universal. É a Zeferino, que, em 2011, comemora cinco anos e que criou um estilo próprio. A ffwMAG! foi investigar o sucesso de um produto que, disputando vaga com selos com quase 100 anos de existência e marketing avassalador, impõe-se, evolui. Rebobinando a fita... Eduardo Rabinovich criou a Zeferino para dar nome a um sonho: uma marca de acessórios de luxo
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que tivesse DNA 100% brasileiro. Na bagagem, décadas de experiência na indústria têxtil. “O nome tem tudo a ver com o desejo de colocar no mercado matérias-primas de qualidade, primor no acabamento e inventividade na criação de moda”, diz o empresário, que usou o background que tem para montar uma fábrica no Rio Grande do Sul, onde 70 artesãos muito bem selecionados emprestam seu conhecimento a produzir bolsas, sapatos e cintos usando técnicas artesanais. São dezenas de processos até chegar ao produto final, entre departamentos de corte e divisão; preparação e costura; pré-fabricação; e montagem e acabamento. O que faz da Zeferino uma joia rara é ter a mistura bem-sucedida entre design refinado, matéria-prima de excelência e a arte do artesão. É esse mix que cria valor tão exclusivo ao produto. São três linhas lançadas por temporada: Pink Label (linha festa), Coleção (itens temáticos) e Closet (linha mais clássica, feita para quem gosta de peças básicas e de impacto).
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Um sapato Zeferino pode demorar até três dias para ficar pronto, dependendo da complexidade da peça. Todo o processo de desenvolvimento é acompanhado criteriosamente por um especialista
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As mATériAs-primAs refinADAs são esColhiDAs A pArTir Do TemA DA Coleção e DesenvolviDAs Com exClUsiviDADe, DesDe A Cor ATé o CoUro. pyThon, TrAmAs e TexTUrAs fAZem pArTe Desse Universo
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Da ideia do estilista ao acabamento final são até 100 etapas. De cima para baixo, pesquisa do tema, croquis, modelagem 3D e a finalização da peça
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TéCniCAs De AlTA-CosTUrA são TrAnsferiDAs e ApliCADAs à linhA pink lAbel, DesDe A CriAção ATé o ACAbAmenTo
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“para desenvolver as coleções, já viajei para Amazônia e lençóis maranhenses, e de lá trouxe texturas de folhas, madeiras e outros materiais que foram levadas para o curtume e transformadas em lindas tramas modernas”, diz o estilista Cristiano rodriguez
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Todas as peças são pintadas à mão por artesãos na fábrica em novo hamburgo, no rio Grande do sul. A marca valoriza o trabalho artesanal, que aparece no toque, no visual e na qualidade
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modelo da linha Closet ao lado de salto inspirado no barroco mineiro. A marca cria modelos que vão do clássico ao arrojado, para mulheres contemporâneas 46
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Quem explica o conceito das coleções é o estilista da marca, Cristiano Rodriguez, que vem do segmento de prêt-à-porter e aplica os mesmos conceitos de criação de roupas para elaborar sapatos, bolsas e cintos. “Penso em um tema e vou atrás do resultado, mas sempre apostando em referências brasileiras. Para desenvolver as coleções, já viajei para Amazônia, Lençóis Maranhenses, e de lá trouxe texturas de folhas, madeiras e outros materiais que foram levadas para o curtume e transformadas em lindas tramas modernas. Das cidades históricas de Minas vieram inspirações de vitrais e tecidos, além do olhar reservado aos personagens que marcaram época naquela região, como Xica da Silva e Hilda Furacão.” Tudo isso vira uma verdadeira obra de arte de calçar. Arquitetura, gastronomia, personalidades e música inspiram as coleções, mas a marca também dá atenção a tudo no mundo que instiga o olhar. Isso aparece desde o corte até a modelagem das peças, passando pela costura, pelo desenho
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e pelas aplicações. Uma das marcas registradas dos sapatos Zeferino é a sola pink, e há peças que demoram até três dias para ficar prontas, tamanha a preocupação com os detalhes. “Produzimos poucas peças por grade a fim de manter o padrão de exclusividade. Somos uma marca que valoriza o trabalho artesanal, que aparece no toque, no visual e na qualidade. Somos criadores de moda, e isso quer dizer que usar uma de nossas peças é apostar na moda brasileira, autoral e individual. A filosofia da empresa é o coletivo. A Zeferino é feita de pessoas”, completa Rodriguez, sabendo muito bem onde pisa. Texto: Zeca Gutierres Imagens: Richard Luiz Câmera: Alan K. Produção: Rodrigo Arcangelo para Protótipo Filme Tratamento de imagem: Toninho Araújo
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54 O pequeno príncipe Slinkachu Artista inglês que não mostra o rosto ao mundo, Slinkachu espalha miniaturas por Londres para imortalizá-las em imagens lúdicas
156 Tudo é tão desigual Sabe em que mundo vivemos? Naquele em que no topo da lista dos mais desenvolvidos está a Noruega, e lá no fim, o Zimbábue...
56 A explosão do artista Eli Sudbrack mistura papéis de parede, fotografia, vídeo, música e referências ao tropicalismo para criar um mundo todo seu
158 Engolindo um mundo Medindo cerca de meio centímetro, o comprimido causa efeitos tão perceptíveis no corpo e na mente que faz a gente sorrir à toa
66 Deserto do essencial Marfa, no Texas, quase virou cidade fantasma não fosse a inventividade do artista Donald Judd, que a transformou em museu a céu aberto
160 Respostas máximas para perguntas mínimas Qual o sentido da vida? Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? Estas e outras perguntas e suas (não) respostas
74 O coliseu milanês Sinônimo da máxima cultura ocidental, o Teatro alla Scala, de Milão, brinda-nos com a celebração do excesso e bate forte no coração operístico da Itália
166 Bahia de todos os recantos O hotel Pestana Convento do Carmo e o Hotel Lagoa da Fazenda nos convidam para relaxar entre o antigo e o novo, o mínimo e o máximo!
86 Tropical new age No verde, amarelo, azul e branco da bandeira brasileira há um mundo de inspirações para o alto verão, como mostram as fotos de Fabio Bartelt
172 A mansão cigana O italiano Carlo Gianferro pediu permissão para fotografar as casas de ciganos que enriqueceram sem perder os excessos
132 Leia na minha camiseta A bandeira da juventude vem hasteada no peito e é isso que mostra o ensaio clicado pelo fotógrafo Marcio Simnch
185 English Content
146 O todo talentoso A ffwMAG! foi a Nova York entrevistar Gareth Pugh, estilista que trabalha as contradições como poucos no mundo da moda 150 Pequeno grande design O pensamento humanista do Design for the Other 90%, projeto que usa a inteligência dos grandes designers para criar soluções para um mundo melhor
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182 Onde encontrar
194 Última Página O máximo é ter o céu como livro aberto a ser lido. O mínimo é ler uma página por dia. Com vocês, o mapa astral de Gandhi Capa: Ana Claudia Michels (Way Model) veste camisa 2nd
Floor, top do biquíni Cia. Marítima, bermuda Ágatha, faixa João Pimenta, carteira, cinto e sandália Zeferino. Foto: Fabio Bartelt. Edição de moda: Paulo Martinez. Beleza: Henrique Martins (Capa Mgt). Tratamento de imagem: Regis Panato | PHOTOUCH
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d ouglas garc i a
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Jornalista e artista plástico, escreveu sobre o mundo que se esconde em um único comprimido e sobre as “respostas máximas para perguntas mínimas”. Tudo: “Seria ótimo se fosse o nada”. Nada: “É uma sensação provisória durante a meditação matinal”.
Abandonou o curso de Direito para se jogar de cabeça no mundo da fotografia. Clicou os hotéis Pestana Convento do Carmo e Fazenda da Lagoa, na Bahia. Tudo: “Pode ser nada?”. Nada: ”Pode ser tudo?”.
Fotógrafo, libriano com ascendente em Libra e caseiro, ama fazer dupla com Paulo Martinez. Fotografou a moda Tropical New Age. Tudo: “Que eu preciso é seguir em frente”. Nada: “Me faz voltar atrás”.
g uto Ba rra
Joao ac ui o
mar c io sim nc h
Jornalista apaixonado por música, escreveu sobre a cidade de Marfa. Tudo: “Uma das expressões mais usadas na última década, esvaziou-se a ponto de ter hoje apenas 50% de seu significado”. Nada: “Como ficou provado na composição ‘4’33”’, de John Cage, o nada é algo inatingível”.
Virgo, astrólogo, idealizador e editor do site Saturnália, escreveu o mapa astral de Gandhi para a Última Página. Tudo: “É ter o céu como o livro aberto a ser lido”. Nada: “Ou o mínimo: ler uma página por dia”.
Fotógrafo, 37 anos, gaúcho que ama São Paulo, virginiano e disléxico, fotografou a moda de camisetas da edição, Leia na Minha Camiseta. Tudo: “Inocência”. Nada: “A esconder”.
ma r co s g uin o za
mar vi o d os anJos
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Vive seus tempos de freelancer no jornalismo. Escreveu dois textos nesta edição: sobre o Design for the Other 90% e a desigualdade entre a Noruega e o Zimbábue. Tudo: “Pode”. Nada: “É proibido”.
Carioca, 33 anos, jornalista, cantor e compositor da banda Cabaret, escreveu sobre o Teatro alla Scala, de Milão. Tudo: “É possível. O difícil mesmo é saber exatamente o que se quer”. Nada: “É mais idiota do que tentar controlar tudo. Há de se confiar nos milagres”.
Pai, companheiro, amigo, viajante, fotógrafo e morador de Milão, clicou as maravilhas do Teatro alla Scala. Tudo: “É voltar pra casa depois de cada viagem”. Nada: “Se cria, nada se acaba, tudo se transforma”.
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Publisher Paulo Borges Conselho Editorial Graça Cabral e Paulo Borges Diretora de Criação Graziela Peres Redator-chefe Zeca Gutierres Editor de Moda Paulo Martinez Diretora de Arte Renata Meinlschmiedt Designers Patricia Teruya e Maria Carolina de Lara Produção Executiva Mauro Braga e Renata Jay Assistente de Produção Tatiana Palezi Produção de Moda Larissa Lucchese e Juliana Cosentino Assistente de Produção de Moda Tiago Fioravante Produção Gráfica Jairo da Rocha e Daniel da Rocha Revisão Luciana Maria Sanches Tradução Leticia Lima Publicidade Tânia Leone Colaboradores Alex Batista, Bruno Moreschi, Douglas Garcia, Fabio Bartelt, Fernando Tomaz, Guto Barra, Henrique Martins, João Acuio, Marcio Simnch, Marcos Guinoza, Marcos José, Márvio dos Anjos, Renan Prando, Ricardo Bhering, Ruy Teixeira, Sarah Lee, Vito Mariella A ffwMAG! (ISSN 1809-8304) é uma publicação da Editora Lumi 05 Marketing e Propaganda Ltda. Todos os direitos reservados. Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia do conteúdo editorial. Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da revista. Operação em bancas Assessoria Edicase www.edicase.com.br Distribuição exclusiva em bancas FC Comercial e Distribuidora S.A. Pré-impressão Retrato Falado Impressão Ipsis A Lumi 05 não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados nesta revista nem garante que promessas divulgadas como publicidade serão cumpridas. Lumi 05 Marketing e Propaganda Ltda. Av. 9 de Julho, 4927/4939, Torre Jardim (Torre A) 9º andar, Pinheiros, São Paulo, SP – CEP: 01407-200 – Tel. 55 11 3077-4877 ffwmag@luminosidade.com.br
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G i G a n t e propria
p e l a natureza
Paulo Borges Publisher
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SLINkACHU
O mínimo que a gente espera da vida é que ela nos dê o máximo de oportunidade para sonhar. E grandioso é transformar sonhos em realidade. Um dom de poucos, um dom natural de ffwMAG!, que, nesta edição, comemora cinco anos. Foram muitas edições lançadas, temas instigantes em pauta, incontáveis artigos e grandes colaboradores e editores que por aqui passaram. Arte, moda, música, política e tantos outros temas se entrelaçaram neste laboratório que é ffwMAG!. Livre, leve e solta de amarras, a revista visitou e explorou cidades brasileiras e países do mundo em busca do novo, de gente instigante e de histórias que a gente gostaria de ler – histórias bem contadas, muito bem ilustradas. Portanto, o tema Mínimo e Máximo se encaixa perfeitamente com o aniversário da revista. Grande projeto este, simples e complexo ao mesmo tempo, explosivo e delicado nas medidas certas. A publicação incita novas ideias, mostra o Brasil e o mundo com olhar generoso. Neste número, ffwMAG! abraça o tema Mínimo e Máximo para contar a história explosiva do carioca Eli Sudbrack, fotógrafo que, nos anos 2000, converteu-se em artista internacional ao misturar papéis de parede, adesivos de chão, neons, música, referências ao pop e ao tropicalismo e colagens mil. A moda da edição vem dividida em dois ensaios: o primeiro foi fotografado por Fabio Bartelt e mostra o máximo que se apresenta na cartela de cores da bandeira brasileira, tendo como cenário o exclusivo Hotel Fazenda da Lagoa, no sul da Bahia. A outra, clicada por Marcio Simnch, brinca com a simplicidade da camiseta na revolução de um estilo individual. Outro destaque da edição é o artigo Respostas Máximas para Perguntas Mínimas, que faz refletir sobre questões universais e corriqueiras sem respostas. O nova-iorquino Donald Judd, um dos fundadores do minimalismo nas artes plásticas, entra nesse jogo de contradições com a cidade/museu que inventou no Texas. O movimento Design for the Other 90% mostra que soluções simples do design podem resolver questões de ordem máxima como saúde e moradia. Conheça também a pop art do inglês Slinkachu, que espalha miniaturas de homens e mulheres nas ruas de Londres para depois imortalizá-las em fotografias lúdicas. Mais adiante temos o complexo mundo dos comprimidos, as diferenças gritantes entre o índice de desenvolvimento humano do mais rico e o mais pobre país do mundo e as riquezas do centenário Convento do Carmo de Salvador, hoje transformado em hotel de luxo. Seguimos com a fotografia do italiano Carlo Gianferro, que registrou as casas de ciganos que enriqueceram na Itália, e com a história do Teatro alla Scala, de Milão, sinônimo da máxima cultura ocidental. E fechamos esta generosa edição com o mapa astral do pequeno-grande Mohandas Mahatma Gandhi. Simples assim.
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pequeno
principe
Slinkachu
Entorpecidos pelo dia após dia, robotizados pelo mesmo caminho de sempre, aterrorizados pela multidão desatenta que se aglomera nas grandes cidades, quase nunca paramos e observamos os pequenos detalhes. Simplesmente passamos. E, apressados, quem sabe deixamos escapar a boa surpresa de um ipê florido, de um olhar amigo, de uma pichação amorosa. Foi pensando nisso que um artista inglês interveio no cotidiano das pessoas. Atende pelo misterioso nome de Slinkachu. Numa noite de 2006, deparou-se com um besouro na varanda de sua casa, em Londres, onde vive. O inesperado encontro o fez refletir sobre o “mundo a seus pés”, sobre o chão estéril e áspero das cidades, em que não há nada além de concreto, poeira e lixo. Ali, Slinkachu teve a ideia de inventar outra “realidade” e, a partir daí, povoar Londres com minúsculos seres em situações corriqueiras ou absurdas. Surgiu, assim, o Little People Project. (Por Marcos Guinoza)
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A do
explosAo ArtistA
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Na
arte
nada
se
cria,
tudo
se
recria,
expande-se.
Por trás da máscara do Assume Vivid Astro Focus, o carioca E l i
S u d b r a c k
inventou um mundo novo tendo o outro e a si mesmo como referências
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Todo artista que se eleva ao Olimpo da inventividade vive um boom. Big Bang este entre o vazio e a criação, o nada e o tudo, a falta de dinheiro e a estabilidade econômica. O carioca Eli Sudbrack começou a emergir para o mundo das artes, em definitivo, a partir de 1998. Morava na São Paulo das festas intermináveis, dos esquentas seguidos de noites eletrônicas, dos after hours seguidos de chill outs, mas abandonou tudo e todos para tentar a sorte em Nova York. “Nem sabia ainda o que queria da vida”, conta ele, que conquistou a Grande Maçã e o mundo com sua arte explosiva, que mistura papéis de parede, adesivos de chão, recortes de temas ligados ao universo pop, tropicalismo e referências ao underground sujo e criativo das grandes cidades. Voltemos no tempo mais um pouco. Era o começo dos anos 1990. Uma nova ordem surgia nas pistas de dança. House era o novo som, os personagens exóticos se multiplicavam nas metrópoles embaladas por experiências sintéticas. Eli era um desses seres noturnos. Andrógino, lábios grandes, voz de entonação grave, alto e com roupas justas e coloridas, era um personagem para ser visto. Vinha do Rio, parada obrigatória que fez depois de passar meses viajando pela Europa e pelos Estados Unidos. Morou em Londres seis meses e mais seis deles em Paris, para estudar língua francesa na Sorbonne. “Cansei de tudo e passei mais dois meses viajando entre a Grécia e a Turquia. Só em 1992 voltei ao Brasil. Com a conclusão do curso de Comunicação na PUC me mudei para São Paulo. Meu namorado arrumou um emprego na cidade. Eu queria ser diretor de cinema, fui me especializando no tema. Minha tese na faculdade foi cinema. Achei que ia ser um diretor, mas justo naquela época havia o Fernando Collor de Mello. A Embrafilme foi fechada. O Brasil ia de mal a pior”, lembra ele.
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Em Sampa, Eli se inscreveu em vários cursos na oficina Três Rios. O curso principal foi com o arquiteto e artista Rubens Mano. “Eu virei assistente do Rubens, depois virei parceiro dele no projeto Panoramas da Imagem. Era ele, o Everton Ballardin e o Fujocka Neto. Virei o quarto do grupo. Fazíamos palestras, exposições e workshop ligados à fotografia.” Da exposição Novíssimos eles descobriram artistas como Bia Guedes, Marcelo Zocchio e Mauro Restiffe. “O Rubens foi o responsável pela minha entrada para o mundo da arte. Por eu virar artista”, conta. Com os novos amigos aprendeu e disseminou que fotografia não se restringe ao bidimensional. “Pensávamos a fotografia como uma expansão para o mundo das artes.” Ah, sem esquecer que ele já tinha estudado fotografia no Parque Lage, no Rio, com Paula Trope. Em fase de reinvenção, Eli apostou todas as fichas na fotografia, na revelação de filmes. “Montei um laboratório em casa, fazia ampliação para as pessoas e comecei a fazer trabalhos artísticos. Meus autorretratos são dessa época, lá pela metade dos anos 1990” – Eli se refere à fase em que se travestia de personagens eróticos para se autofotografar. “Sair na noite de São Paulo também foi importante. Levava a câmera comigo. Lembro que nessa época a Erika Palomino me convidou para cobrir umas festas para a coluna Noite Ilustrada, da Folha de S.Paulo, porque a fotógrafa Claudia Guimarães estava saindo ou querendo diminuir o ritmo de trabalho, algo assim. Virei o segundo fotógrafo da coluna, assim como fazia trabalhos no backstage dos desfiles como o do Phytoervas Fashion. Aproveitei a onda e fui dar aula de fotografia na Faap. Era o Edu Brandão e eu”, diz. Ao introduzir arte contemporânea aos alunos de fotografia do último ano, experimentou o maravilhoso mundo da arte coletiva.
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À esquerda, pôster da exibição Demolition Disco. Nesta página, pôster de Abra Vana Alucinete Fogo, mostra que “abravanou” a paulistana Casa Triângulo em 2006
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EDOUARD FRAIPONT / CORTESIA FUNDAçãO BIENAL DE SãO PAULO
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Parte da 28ª Bienal de São Paulo, Axé Vatapá Alegria Feijão misturou instalação e performance, como manda a filosofia tropicalista e antropofágica do carioca Eli Sudbrack
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A instalação Homo Crap #1 fez a alegria dos visitantes da galeria Geffen Contemporary at MOCA, de Los Angeles, em 2005; a escultura “Giant Lady” deixou a plateia de queixo caído
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JOSH WHITE / CORTESIA MOCA, LOS ANGELES E PERES PROJECTS, LOS ANGELES-BERLIM
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ATSUSHI YOSHIMINE / CORTESIA HIROMI YOSHII GALLERY, TóqUIO
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Em 2006, na Hiromi Yoshii Gallery, em Tóquio, Eli Sudbrack mostrou sua mistura de adesivo de chão, papéis de parede, colagens, neon, vídeo e outras referências da pop art
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“Era uma troca muito boa entre eu e os alunos e, além do coletivo, o conceito do pseudônimo nasceu nessa época. O jornalista Jackson Araujo me apresentou ao trabalho de Helmut Batista, que organiza residências de artistas no Copan. Naquela época ele usava um pseudônimo; me inspirei e assinei como Diamantino nos postais de São Paulo que fiz naquela época.” Ideias essas que também ajudaram a moldar o Eli Sudbrack dos anos 2010. A gente já chega lá... A h ,
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Agora sim, o Big Bang. “Só comecei a me considerar artista quando me mudei para Nova York. Fui fazer um curso de fotografia. Um pretexto para ficar na cidade. O Mauro Restiffe tinha feito o mesmo curso e me indicou. Com ele viria uma residência na cidade. Adorei porque poderia trabalhar e arrumar um visto provisório.” Foi também nesse período que Eli se enveredou para a web, era a época do boom da mídia, ao mesmo tempo que se interessava menos por fotografia. “Daí arrumei um emprego para editar um site. Fiz isso por dois anos. No final estava desmotivado, trabalhava muito e ganhava pouco. Tudo para estar em Nova York. Não desisti e voltei para os desenhos. Desenhei muito, mas perdi o tal emprego com o 11 de Setembro, crise fodida na cidade. Então me dediquei mais à arte, enquanto para sobreviver fazia uns bicos de limpeza de apartamentos, pintava paredes...” – papel de parede foi a primeira mídia de Eli, inspirado na arte do cubano Felix Gonzalez-Torres. Eli já sabia que queria ser artista. Vinha trabalhando com os papéis de parede e os vídeos que mesclava ideias psicodélicas, muitos recortes. Informação para ligar os pontos: arte sempre esteve na cabeça de Eli. É filho de pai cearense, que morreu em 64
1989, e de mãe catarinense. Estudou desenho quando criança e, de tão bom que era, dava aulas de desenhos para os amiguinhos do primário a pedido de uma professora. “Uma lembrança? A revista Disneylândia, que eu adorava, mas ficava frustrado porque tinha poucas páginas. Meu pai me ensinou a recortar as figuras e colar em cartolinas, nas quais eu fazia as minhas próprias histórias. Isso durou até os 12 anos. Criava raios de poder, a arquitetura do fundo e viajava nas ideias. Só na adolescência desisti do desenho.” Assume
Vivid
Astro
Focus
“Já em Nova York fui procurar um pseudônimo. Estava em uma loja bacana do East Village quando um vendedor me perguntou se eu era o Astro. Adorei o nome. Depois de um tempo descobri que era o nome de um maquiador de Nova York. O rapaz me confundiu com ele. Também fui a uma exposição na Exit Art sobre capas de discos. Amei as imagens, mas me peguei pelos títulos e nomes das bandas. Decidi voltar e anotar as palavras que me atraíam. queria um nome difícil de lembrar, comprido e que fosse estranho, meio como o projeto dos anos 1970 de Andy Warhol, Exploding Plastic Inevitable, que unia vídeo, música, projeção de filme, dança.” Anotou uma série de palavras das capas de discos, fez um mishmash e chegou ao AVAF. “O álbum da banda Throbbing Gristle e uma música da Yoko Ono, ‘Walking on Thin Ice’, também me inspiraram. Acreditava na ideia de que as pessoas pudessem ‘assumir’ minha visão, que elas pudessem ver meu trabalho como uma divisão, um antes e depois. Uma utopia minha, uma coisa generosa, como uma troca. Eu olho seu trabalho e assumo parte dele” – no liquidificador do artista tudo faz sentido.
DO LIVRO “ASSUME VIVID ASTRO FOCUS”. DESIGN: KLEBER MATHEUS E ROBERTA CARDOSO. “MULHERES”, 2006 (COLABORAçãO DE KLEBER MATHEUS)
O artista inventou, em 2006, um mundo de “mulheres” com forte inspiração no universo carnavalesco, com participação de Kleber Matheus
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Absolutely Venomous Accurately Fallacious (Naturally Delicious) foi mostrada na galeria Deitch Projects, em Nova York: “bagunça” brasileira
Em 2000, os donos da galeria Bellwether montaram a exposição To Be Continued, que acontecia tanto na galeria como no Art in General. “Foi o primeiro show do qual participei. Daí algumas coletivas aconteceram um pouco em função disso em galerias como John Connelly Presents, Daniel Reich, White Columns e Apexart, até acontecer uma mini-individual na Bellwether, em um espaço novo deles.” Mas a primeira boa individual foi na Peres Projects de São Francisco, do galerista Javier Peres. “Daí o Jeffrey Deitch, que tinha uma galeria em Nova York chamada Deitch Projects, viu o pôster dessa exposição e se apaixonou pelo meu trabalho. Na individual de 2003 mostrei um vídeo com a brasileira Carla Machado.” Big Bang: Eli já fazia parte da cena cultural de Nova York e ganhou uma agente, Suzanne Geiss. Em São Paulo é da Casa Triângulo.
TOM POWEL IMAGING / CORTESIA DEITCH PROJECTS, NOVA YORK
Cavaleiros:
todos
por
um!
Apesar de não gostar mais do termo coletivo, Eli fez história convidando amigos para ajudá-lo a explorar o máximo do espaço das galerias em que expõe. Usou papéis de parede, adesivos de chão, neons, vídeos e música para colocar o espectador de corpo e alma na arte dele. “Uso do chão ao teto, coloco música, dou máscaras para os visitantes se desligarem da realidade. Tudo faz parte do conceito de colocar o visitante em um mundo novo, meu.” Um recado dele: o AVAF nunca foi um coletivo fixo. Os artistas são convidados e por vezes dirigidos por ele e o francês Christophe Hamaide-Pierson, os nomes por trás do Assume Vivid Astro Focus. O divisor de águas do AVAF no Brasil foi a exposição organizada pela Casa Triângulo com uma turma conhecida da moda de São Paulo. Em Abra Vana Alucinete Fogo, de 2006, Eli convocou a stylist
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Renata Abadde, os artistas Rick Castro e Fabio Gurjão, o diretor de arte Kleber Matheus e o estilista Dudu Bertholini, entre outros, para a bagunça. Foi a Renata que o indicou a essa turma. Ele já conhecia o Rick e o Fabio, e eles bolaram a exposição que serviu para jogar na cara do Brasil a inspiração carnavalesca, a explosão de cores e a “abravanação”, como Rick chama a desordem. “Das aberturas de exposição que fiz, foi a mais poderosa.” O livro AVAF é a conclusão disso tudo. Foi lançado em outubro do ano passado pela editora Rizzoli e teve sessão de autógrafos no New Museum de Nova York, em Miami, Londres, no Rio e em São Paulo. “O livro foi um parto de um ano inteiro trabalhando com os designers Kleber Matheus e Roberta Cardoso. É um apanhado de projetos de 2003. Começa com a primeira individual em Nova York, na Deitch Projects, e vai até nosso projeto para o National Museum of Art, Architecture and Design de Oslo, em 2009.” Depois do impresso, Eli se prepara para concretizar um projeto com a popstar Lady Gaga. “A história aconteceu por intermédio da minha agente comercial, Cary Leitzes, que tem uma companhia chamada Artco. Já tinham pintado algumas conversas de fazer algo com a Gaga no passado, por meio do meu galerista de Berlim, mas nunca tinha acontecido. Daí apresentaram a ideia para ela e para o Nicola Formichetti. Eles me chamaram para fazer o logo do projeto e a instalação que será colocada no quinto andar da Barneys.” Entenda: no Gaga’s Workshop várias pessoas produzem artigos inspirados na cantora para o Natal de Nova York, de onde, pelo visto, Eli não arreda o pé tão cedo. Pudera: foi lá que ele nasceu para o mundo. cheapcream.com / casatriangulo.com
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Ao lado, as cordilheiras de Marfa, no Texas. Nesta página, o Architecture Studio, edifício comprado por Donald Judd em 1989: foi um banco no passado e hoje é um estúdio de arte em que o artista expôs seus primeiros trabalhos artísticos
imagine uma estrada reta no meio de um vasto deserto no estado do texas. durante o percurso de mais de três horas, raramente outro veículo aparece no caminho. um trem de carga ocasionalmente interrompe o silêncio absoluto da região. ao longe, as montanhas chinati indicam a fronteira com o México. sutilmente, uma estrutura quadrada de concreto aparece ao longe no lado direito da estrada deserta. alguns segundos depois, uma espécie de miragem se materializa e você está à frente de uma loja da Prada. Pela vitrine é possível ver sapatos e bolsas da marca italiana cobertos de poeira e a pintura verde-menta típica das lojas em todo o mundo. em volta, só a vegetação semidesértica em muitos quilômetros sem nenhum sinal de civilização. a “loja”, hermeticamente fechada, é, na verdade, uma instalação da dupla de artistas escandinavos
elmgreen and dragset, inaugurada em 2005. concebida como uma “escultura arquitetônica” é apenas uma das visões insólitas de Marfa. Bem-vindo a um dos destinos mais intrigantes da arte minimalista no mundo. um vilarejo com 2 mil habitantes, a 300 km do aeroporto mais próximo, Marfa hoje centraliza fundações, galerias e projetos temporários diversos. só a chinati foundation, principal marco local, ocupa os 137 hectares de uma base militar abandonada. transformada em destino cultural nos últimos anos, a cidade é palco de um festival de cinema e diversas séries de músicas. nomes como david Byrne e a banda spoon já fizeram residências e trabalhos específicos por lá. Marfa é uma utopia artística em que colecionadores e caubóis dividem as mesmas ruas, praças e restaurantes. ffwmag! nº 28 2011
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segundo os donos de uma das pousadas locais, é “o destino final para quem foge de um mundo de urgência”. Para entender como Marfa foi possível, é preciso voltar ao fim dos anos 1960. a região oeste do texas passava por uma seca de mais de uma década. Marfa, especificamente, estava perto de se transformar em uma cidade fantasma, com a maior parte de suas construções abandonada. a maior lembrança local, as filmagens de Assim Caminha a Humanidade, que levou elizabeth taylor, rock hudson e James dean para o hotel Paisano, nos anos 1950, desbotava no tempo ao lado das últimas placas de bancos, fábricas e supermercados. foi este cenário que o artista donald Judd descobriu, em 1971, ao viajar pela região “à procura do vazio”. um dos principais nomes do minimalismo – termo que, por 68
sinal, rejeitava –, Judd inicialmente conquistou a cena artística nova-iorquina nos anos 1960 com pinturas e, depois, com esculturas estilizadas feitas com materiais como metal, ferro e acrílico colorido. ao lado de nomes como dan flavin, frank stella e John chamberlain, impulsionou o movimento que sucedeu o expressionismo abstrato de Jackson Pollock, Mark rothko e Willem de Kooning. em 1968, ganhou uma grande retrospectiva no Whitney Museum, evento que parece ter despertado no artista uma vontade de buscar novas direções. como grande pensador da arte, Judd passou a acreditar que o esquema de exposições temporárias de museus e galerias fazia um desfavor para as obras e que, uma vez que um trabalho é colocado em um lugar, não deveria mais ser transportado. “instalar uma obra de arte é um trabalho cuidadoso e
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Nesta página, Donald Judd no Art Studio Building, em 1982. Ao lado, obra do artista de 1975. Marfa, localizada no Texas, é uma utopia artística em que colecionadores e caubóis dividem as mesmas ruas, praças e restaurantes
isso não deve ser descartado”, escreveu anos mais tarde. em Marfa, ele viu a oportunidade perfeita para criar um “antimuseu” e fugir do “confinamento de nova York”. Judd passou a frequentar Marfa na primeira metade dos anos 1970 e trocou nova York pela quase-cidade-fantasma em 1976. imediatamente começou a comprar galpões, casas e prédios que estavam abandonados. ele passou a morar em um complexo que toma a extensão de uma quadra, que havia sido usado pelo exército americano. em outras propriedades foi instalando seus diferentes trabalhos e também o de amigos. Quando morreu, em 1994, tinha 15 propriedades diferentes, incluindo mais de 16 hectares de terra e seu mais ambicioso projeto, a chinati foundation – um centro de artes como poucos no mundo, que aproveita as instalações do fort
d.a. russell, uma base militar construída há 100 anos para proteger a fronteira americana com o México. a antiga casa, batizada como the Block, é uma incrível instalação na qual não há uma divisão clara entre artista e obra. Judd gostava de ter camas em todos os ambientes em que trabalhava, para ter a opção de dormir perto das obras que estava criando. camas se escondem por trás de escadas ou aparecem no meio de uma vasta biblioteca. seus milhares de livros são organizados com o peculiar método da data de nascimento do autor de cada volume. toda a mobília interna e externa também são trabalhos dele, um statement brutal de minimalismo aplicado a disciplinas múltiplas. o complexo, aberto à visitação, fica ao lado de uma grande fábrica com uma estética que combinaria com o mundo subterrâneo de Metrópolis. ffwmag! nº 28 2011
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O ar austero é reforçado pela omissão quase completa de vegetação. Na Chinati, iniciada em parceria com a Dia Art Foundation, está uma das obras mais impressionantes do artista: 100 Cubes, uma coleção de cem cubos de aço escovado, de cerca de 1 metro de aresta, todos diferentes, dispostos em dois enormes galpões com paredes de vidro. 15 Untitled Works in Concrete é formado por uma série de estruturas de concreto, de 2,5 metros de altura por 5 metros de comprimento, espalhados pela área exterior da antiga base militar. Seis construções em forma de “U”, que serviam de alojamento para soldados, abrigam uma única obra de Dan Flavin: uma instalação de luzes fluorescentes coloridas que se desmembra ao longo da caminhada entre as seis construções. O contraste entre a artificialidade dos tubos e a paisagem desértica de Marfa é uma 70
experiência única. O diálogo entre o ambiente e a arte foi o ponto de partida de Judd na criação de seu antimuseu. Para seu amigo John Chamberlain, Judd reservou um complexo de três armazéns em que funcionava uma tecelagem, na região central da microcidade. Os dois passaram anos renovando os espaços para criar uma longa galeria de arte composta pelos galpões consecutivos. Lá foram instaladas 22 esculturas feitas de destroços de carros retorcidos e pintados meticulosamente enfileiradas ao longo do espaço, em uma perfeita combinação entre as obras e a ambientação. Andar pelas ruas de Marfa provoca a sensação de se estar interagindo com a maior obra de arte que um artista já criou. Mas o lugar é hoje muito mais do que Donald Judd. Suas criações atraí-
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Ao lado, visão externa da Chinati Foundation, principal marco local, que ocupa 137 hectares de uma base militar abandonada. Acima, obra de Judd com ferro fundido, um dos pilares do artista que ajudou a fundar a arte minimalista
ram outros empreendedores dedicados a continuar desenvolvendo a visão de um centro de artes que contrasta com uma paisagem pouco provável. histórias como as de ree e Jason Willaford são cada vez mais comuns no local. um casal de galeristas de santa fé, no novo México, eles abriram uma pop gallery por dois verões seguidos, até que resolveram instalar a Galleri urbane em caráter permanente, em 1999. a arquitetura é outro destaque local. Judd teve um papel importante, cuidadosamente transformando os prédios e galpões que comprava em blocos monolíticos utilitários, em geral removendo detalhes decorativos para obter um look (ainda mais) austero. outras instituições, como a ayn foundation, que abriga parte de A Última Ceia de andy Warhol, também fizeram modernas adapta-
ções de antigas construções simplórias. Paralelamente ao circuito da arte, uma das melhores adaptações arquitetônicas é o thunderbird, um motel de beira de estrada que se segurava em funcionamento desde 1959. ele foi transformado em um hotel-butique pelo arquiteto Bob harris, da Lake/flato architects, que conseguiu um resultado moderno e minimalista, uma adição perfeita ao ar rústico de Marfa. a sensação de atravessar a rua – na verdade, a estrada que corta a cidade – para buscar um drink no bar do antigo motel é bem peculiar. em volta da piscina do thunderbird, música ao vivo e uma fogueira, em geral, marcam o início das animadas noites de Marfa. várias das instituições de arte que vieram depois de Judd são multidisciplinares e organizam eventos de música experimental, ffwmag! nº 28 2011
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rainer Judd
festivais de músicas, screenings de filmes ao ar livre etc. Marfa já tem uma companhia de teatro e uma fundação só dedicada à literatura, a Lannan foundation. nos últimos anos, o cinema também injetou energia criativa no local, com as produções dos filmes Sangue Negro, de Paul thomas anderson, e Onde os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos coen. o Ballroom Marfa, uma fundação que é ligada ao Museu de arte Moderna de nova York, convida artistas como as bandas Japanther e Grizzly Bear para criar trabalhos específicos para o lugar. É comum que trabalhos produzidos ali sejam exibidos depois em eventos como a art Basel Miami. os curadores do Ballroom (que era o salão de bailes oficial da cidade) estão planejando um drive-in permanente fora da cidade, no qual filmes do acervo do MoMa 72
serão exibidos debaixo de estrelas. a experiência de passar alguns dias em Marfa não poderia ser mais distante de uma visita a um museu. como a arte tomou conta de praticamente toda a minúscula cidade, a visitação é feita a pé ou de bicicleta, em esquema individual ou em grupos. nos restaurantes e livrarias de arte, colecionadores, curiosos e universitários, muitos vindos da vibrante cidade de austin, conversam sobre arte. É fácil também encontrar pessoas que acabaram ficando por lá ao planejar só uma rápida visita. em uma noite conheci uma repórter do jornal The New York Times que, depois de fazer uma matéria sobre o lugar, resolveu ficar trabalhando como bartender no thunderbird em vez de voltar para a redação da publicação em nova York. curiosamente, a chegada de tantos artistas e simpatizantes
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Nesta página, escritório montado no interior do Art Studio Building, um dos muitos espaços de visitação de Marfa. Ao lado, interior de edifício de ferro fundido. Marfa hoje centraliza fundações, galerias e projetos temporários diversos
não criou nenhuma tensão com os moradores originais da cidade. famílias tradicionais de Marfa entendem que a arte salvou o lugar da extinção e aceitam a movimentação como uma força que reenergizou a região. É comum ver um churrasco sendo organizado na rua para quem quiser aparecer – caubóis lado a lado com artistas e entusiastas. a Pizza foundation, uma pizzaria que aproveita as antigas instalações de um posto de gasolina e oficina mecânica, é outro palco do permanente diálogo entre fazendeiros e artistas. Para a comemoração dos 25 anos da chinati foundation, além de uma exposição do fotógrafo hiroshi sugimoto, será organizado um café da manhã grátis em uma das fazendas que Judd deixou. a permeabilidade dos diferentes grupos que hoje passam por Marfa talvez seja um efeito secundário da visão original do artis-
ta, que procurava o diálogo entre a arte e o ambiente. ao apostar que obras de arte deveriam ser permanentes, Judd provou que a própria arte transcende barreiras geográficas. ele criou uma espécie de vórtex em que o vazio do deserto e o ar cosmopolita se alimentam mutuamente. uma plataforma única em que a criação artística é despida de muitas das ideias tipicamente associadas a esse universo. depois de absorver a utopia artística do lugar, a visão da Prada Marfa na estrada deserta durante o longo retorno a el Paso já não parece mais tão insólita. chinati.org juddfoundation.org ffwmag! nº 28 2011
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Entrada do Ansaldo, pr茅dio em que 茅 feita a cenografia e os figurinos das 贸peras do Teatro alla Scala. Ao lado, imagem ic么nica de Maria Callas
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Cenografia em construção no Ansaldo
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Acima, à esquerda, Angelo Sala, responsável pelo laboratório cenográfico do Scala. À direita, Clara Sarti, que cria os figurinos dos espetáculos
Mesmo quem ama ópera reconhece: uma das definições mais precisas desse gênero de música e cena é exagero. Diferentemente de outras formas de dramaturgia, como teatro falado, TV e cinema, é impossível atuar de forma natural – ainda mais quando tantos personagens agonizam cantando por três ou mais minutos antes de morrer. Tudo isso normalmente depois de um agudo saudável e exuberante. Explicar como essa celebração do excesso permanece viva nos obriga a buscar o coração operístico da Itália, que criou o gênero e onde nenhuma casa rivaliza com o Teatro alla Scala, de Milão. O coração da região da Lombardia e da moda italiana abriga um palácio de história charmosa e grandiloquente, como a maior parte do repertório anual que apresenta. Ali se conta uma trajetória em que as paixões de libretos e partituras contaminam a plateia e o país e despertam sentimentos de amor, ódio e orgulho pátrio, que os italianos sabem expressar como ninguém. Tanto é assim que, no La Scala, a vaia é um direito “que se compra ao pagar pela entrada”, conforme dizia o poeta francês Boileau-Déspreaux (1636-1711). Como os ingressos são caros – custam de 12 euros (quase R$ 29) a 187 euros (cerca de R$ 450) –, essa prerrogativa costuma ser exercida, ainda mais por quem está muito mal-acostumado com um histórico de qualidade, que vai desde Enrico Caruso a Plácido Domingo. Em 2006, o tenor ítalo-francês Roberto Alagna foi alvo dessa severidade no último grande incidente de fúria do teatro. Ao fim de seu primeiro solo da ópera Aída, de Giuseppe Verdi, recebeu vaias vindas do loggione, setor que fica no último andar do teatro. Os loggionisti são impiedosos com o que consideram quebras de tradição – no caso de Alagna, uma
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voz considerada “leve” demais para encarnar um general egípcio. Indignado, o tenor deu uma banana para a plateia e deixou no palco a filha do faraó (que o esperava para o próximo dueto). Declarou depois que se sentiu em uma arena de gladiadores e foi demitido. “Os loggionisti ficam lá na última galeria do teatro e vão a todas as apresentações sem falta. A maioria fica encostada na parede e nem vê o espetáculo. Ficam só julgando a qualidade do canto”, conta o tenor brasileiro Fernando Portari, um dos raros talentos nacionais a encarar as feras no coliseu milanês. O carioca teve seu batismo no fogo milanês em uma situação incômoda, em 2010. Em uma produção do Fausto, do francês Charles Gounod, Portari, foi chamado às pressas para substituir o italiano e consagrado Marcello Giordani, que já era conhecido dos loggionisti desde 1998. “Graças a Deus eles gostaram de mim, vinham falar comigo ao fim do espetáculo, me abraçaram e beijaram como se eu fosse da família”, conta o tenor, aliviado e ciente de que o respeito vem de especialistas. A prova de que Portari agradou é que ele voltou neste ano, desta vez sem urgências, para cantar Romeu e Julieta, do mesmo Gounod. “Muitos desses loggionisti viram Maria Callas, Giuseppe Di Stefano, Beniamino Gigli. Conheci uma dessas, chamada Luisa Mandelli, que cantou com Maria Callas em uma produção de La Traviata dos anos 1950. E ela está lá todas as noites.” O apreço também é demonstrado sem limites e cria mitos. Carlo Maria Cella, diretor de comunicação do La Scala, lembra à ffwMAG! a famosa lenda em torno da soprano Renata Tebaldi (1922-2004), estrela dos anos 1950 e 1960. “Na noite em que La Tebaldi retornou, após um período no Metropolitan de Nova York, há quem jure que
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Ao lado, figurinos prontos para entrar em cena. Acima, hangar do Ansaldo, em que sรฃo produzidos os cenรกrios dos espetรกculos
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ela foi aplaudida por 45 minutos.” É um número difícil de acreditar, de fato. Mas, em se tratando de Tebaldi, a acolhida deve ter sido realmente monumental. Natural de Pesaro, a soprano protagonizou uma das mais clássicas disputas da ópera. Já consagrada, ela viu seu trono de diva ser ameaçado por uma recém-chegada nova-iorquina de origem grega, com enorme talento dramático e uma voz singular: Maria Callas (1923-1977). As duas cantoras trocavam farpas publicamente, para delírio da imprensa e das gravadoras, que viram as vendas aumentarem consideravelmente até o fim do conflito, selado em 1968 no Metropolitan de Nova York. No La Scala, isso representou cenas de partidarismo explícito na plateia, dividida entre os fãs da doçura de Tebaldi – que tinha um quê de defesa dos valores nacionais - e a eletricidade atormentada de Callas. C e n á r i o
p a r a
c r i s e s
Aos 233 anos, o La Scala é acostumado a crises e a influenciar na política. O teatro foi desenhado em estilo neoclássico pelo arquiteto Giuseppe Piermarini, em 1778, e o que acontecia no palco era o que menos interessava. Jogatina, negócios e assuntos de Estado eram resolvidos na plateia, em meio a uma algazarra que decepcionava amantes da ópera, como a escritora inglesa Mary Shelley, de Frankenstein. O prédio foi bombardeado em 1943 e levou três anos para ser reconstruído. Recentemente, outra crise no território europeu – mais precisamente na economia do continente – faz a terra tremer pelos lados da Piazza della Scala. O templo luta para sobreviver no cenário de uma crise econômica europeia que tem o país de Berlusconi no olho do furacão: depois 82
de uma reforma que custou em torno de 60 milhões de euros (cerca de R$ 143,5 milhões), entre 2001 e 2004, os diretores viram o orçamento sofrer sucessivos cortes, em razão da queda de subsídios do Ministério da Cultura, que banca as casas de ópera no país. Na abertura da última temporada, em 7 de dezembro de 2010, com A Valquíria, de Wagner, os ânimos se exaltaram: além dos habituais manifestantes do lado de fora, o então maestro-convidado da orquestra, o argentino-israelense Daniel Barenboim, fez questão de ler o artigo 9 da Constituição Italiana para o presidente da República, Giorgio Napolitano, presente no camarote. O trecho afirma que é dever do governo “promover a cultura e a pesquisa científica”. A plateia aplaudiu, e houve votos irônicos: “Feliz Natal” a Napolitano. Os clamores visavam a não diminuir o ritmo de uma máquina que a cada ano realiza oito produções inéditas – seis de ópera e duas de balé –, que se juntam a outras 11 reapresentações, perfazendo 19 espetáculos. O teatro tem um quadro fixo de 840 funcionários que ainda se reforça com outros 100 ao longo da temporada. Depois da reforma finalizada em 2004, a lotação caiu para 1.984 lugares; para efeito de comparação, trata-se de 387 assentos a menos que o Theatro Municipal do Rio. Segundo Cella, o lucro anual chega aos 7 milhões de euros (R$ 16,8 milhões). O episódio ocorrido antes da apresentação de A Valquíria ajudou. No dia 13 de outubro, o superstar Barenboim foi escolhido pelo diretor artístico Stéphane Lissner para ser o novo diretor musical até 2016 – talvez como reconhecimento pela defesa corajosa. Ele assume o cargo em 1º de dezembro. Entre os superlativos do La Scala, está a capacidade do lugar de transformar a ópera em
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Ao lado, sala de costura e moldes. Nesta página, Teodosio Nacci, chefe de alfaiataria do Scala, e um dos profissionais que acompanham os convidados até as poltronas
um jogo que afeta a política. Já era assim na estreia de Nabucco, de Verdi, em 1842; cantado por escravos hebreus, o coro “Va, pensiero” (“Vai, pensamento”) foi “adotado” como hino da luta pela Unificação Italiana, e o sobrenome Verdi, transformado em parte do lema “Viva Verdi (Vittorio Emanuele, Rei da Itália)”. Antepassada
do
cinema
No La Scala, a “obra de arte total” (como foi denominada pelo alemão Richard Wagner) em muito antecipa sensações que o cinema viria a dominar depois: uma dramaturgia potencializada pelo uso da música. Hoje entendemos como elegante o padrão de interpretação que foi desenvolvido ao mesmo tempo que o uso da câmera avançou em planos e movimentos. No cinema, elegância pode ser traduzida pela expressão econômica, porém convincente, de atrizes como a francesa Juliette Binoche. Sem closes, o caminho para transmitir uma emoção máxima passava por expressão máxima. Foi assim que gradativamente criaram-se vozes superpoderosas, tanto em volume quanto em velocidade, capazes de se fazerem escutar acima dos conjuntos orquestrais, que também cresciam em número. A associação a uma grande extravagância de fato se justifica. Trata-se de um espetáculo opulento, que ultrapassa duas horas de duração e conta histórias de mulheres corpulentas e canastrões estáticos hiperfantasiados de heróis. Nas mãos de diretores inábeis, tramas batidas podem cair tanto no kitsch quanto em modernizações estéreis – invencionices que os fãs na internet gostam de chamar de eurotrash. Gravado com qualidade, o repertório não corre o risco de ser esquecido. Não é difícil concluir que o maior inimigo
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da ópera hoje é a ópera mal-encenada. Desde a chegada de Lissner como diretor artístico, em 2005, a política no La Scala é de revalorização da parte cênica. A filosofia, segundo Carlo Maria Cella, é a de trabalhar com diretores cênicos autorais, em “sintonia com a estética e a sensibilidade contemporâneas”. O rejuvenescimento do repertório foi importante, trazendo obras menos conhecidas de compositores nem tão encenados à baila. Menos Verdi, Rossini e Puccini, mais século 20, por meio de montagens de peças de Alban Berg e Benjamin Britten. Além deles, houve resgates históricos como o de Claudio Monteverdi, surgido na aurora do período barroco, no século 17. Em ambos os casos, a direção percebe que é mais fácil conceder à ousadia nessas obras menos consagradas: avançam-se conceitos cênicos do teatro como um todo sem despertar a ira do público mais reacionário. “Com ciclos dedicados, temos conseguido boa resposta do público, mesmo daqueles mais tradicionais”, afirma Cella. O diretor de comunicação afirma que acredita piamente na capacidade de sedução da ópera. Para quem vê o gênero como um anacronismo diante do conceito de bom gosto vigente, Cella recorda que ainda se trata da única forma de espetáculo que atende ao vivo ao conceito de arte total. “Comparada às outras artes, a força da ópera reside, em primeiro lugar, na sua ambição pelos mais altos padrões de perfeição; em segundo, no fato de que não há aplausos falsos, como nos programas de TV; e por fim, em nos instigar a viver, de forma conjunta, tanto uma dimensão social quanto uma experiência estética.” teatroallascala.org
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slinkachu na
terra
de
gigantes
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O artista inglês usa homenzinhos que medem até 5 milímetros para colocar em prática sua arte. A maioria é fabricada pela empresa alemã Preiser e vendida em conjuntos de trens de brinquedo. São pintados e modificados pelo artista. Slinkachu ainda acrescenta acessórios como capuzes e calças jeans. A produção depende do cenário que ele deseja montar. Os homenzinhos, então, são instalados em diferentes espaços – bancos de praças, postes, caixas de correios, bares, banheiros, calçadas, poças d’água etc. – e deixados ali a fim de surpreender e divertir as pessoas, retirando-as, ainda que por alguns minutos, do seu estado autômato. O Little People Project é, ao mesmo tempo, instalação de arte e projeto fotográfico. E foi a partir das fotos das instalações que Slinkachu conquistou fama mundial e passou a expor a sua obra em galerias. (MG)
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Macacรฃo Alessa, braceletes Maria Dolores; vestido Alessa, bracelete Camaleoa, brinco Lรกzara Design, turbante acervo ffwMAG! 86
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tropical new age O
máximo:
Ilhéus, de
no
cenário
verdes, Hotel para
a
amarelos,
azuis
e
brancos.
Fazenda
da
Lagoa,
releitura
de
fotos
serve icônicas
de bíblias da moda dos anos 1950, 1960, 1970. Os
portões
do
paraíso
foram
abertos
para
a
passagem das criações de alto verão da moda brasilis
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Mai么 e braceletes Lenny, turbante Minha Av贸 Tinha 88
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Look total Joรฃo Pimenta, sandรกlia Luiz Leite
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Macacão João Pimenta 90
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À esquerda: paletó Emporio Armani, biquíni Skinbiquini, colar Otávio Giora, chapéu Daisy & Ruth. À direita: bolsa Victor Hugo, colar Printing
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Sunga Butch, toalha acervo ffwMAG! ffwmag! nยบ 28 2011
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Camisa e bermuda British Colony, regata Joรฃo Pimenta
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Looks totais Jadson Raniere ffwmag! nยบ 28 2011
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Biquíni Cia. Marítima, blusa Espaço Fashion, sandália 2nd Floor
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Camisa 2nd Floor, top do biquíni Cia. Marítima, bermuda Ágatha, faixa João Pimenta, carteira, cinto e sandália Zeferino
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Sunga Butch, guarda-sol Osklen. Na página ao lado: biquíni e cinto de correntinhas Cia. Marítima, pulseiras Otávio Giora, brinco Diferenza, lenço acervo ffwMAG!
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Biquíni Amir Slama, pulseiras Otávio Giora e Printing 100
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À esquerda: vestido Osklen, turbante Minha Avó Tinha, piteira Juisi by Licquor. À direita: maiô Salsa 102
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Paletó e calça Cori, chapéu Minha Avó Tinha, joia-escultura no pescoço Nádia Taquary, sapato Cavalera, bengala acervo ffwMAG! ffwmag! nº 28 2011
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À esquerda: biquíni Amir Slama, pulseira Caleidoscópio. No meio: top do biquíni Skinbiquini, saia e cinto Huis Clos, turbante Minha Avó Tinha. À direita: paletó e calça Osklen, camisa João Pimenta, cinto Ellus, broches Diferenza e Duza
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Mai么 Adriana Degreas, braceletes Claudia Marisguia
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Sunga Cia. Marítima, saia e faixa João Pimenta, piteira Juisi by Licquor
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Caftan Neon, turbante Minha Av贸 Tinha
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Sunga Cyann, casaco R. Groove 110
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Biquíni DiBikini, brinco Emporio Armani, turbante acervo ffwMAG! ffwmag! nº 28 2011
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Capa Vitor Zerbinato, maiô Triya, cinto Skinbiquini, turbante Minha Avó Tinha. Na página ao lado: bermuda V.Rom, joia-escultura no pescoço Nádia Taquary
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Vestido Printing, pulseiras Otรกvio Giora 114
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À esquerda: calça OEstudio, sapato Cavalera. À direita: vestido OEstudio, pulseiras Otávio Giora, óculos Danilo Costa
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À esquerda: biquíni Blue Man, jaqueta Ellus, brinco Lázara Design, carteira Kate Spade. À direita: look total Cavalera
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Top ร gua de Coco, saia Blue Man, pulseiras Alex Palma
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Mai么 e pulseiras Lenny, saia Herchcovitch, cinto e bolsa Zeferino 118
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Vestido Victor Hugo, joia-escultura no pescoço Nádia Taquary Na página ao lado: maiô Movimento, pulseiras Diferenza e Lenny, turbante acervo ffwMAG!
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À esquerda: top Cyann, saia Rober Dognani, faixa João Pimenta, cinto Mary Zaide, colar Lenny, bracelete Diferenza, carteira Kate Spade, sandália Patricia Motta. À direita: top Água de Coco, saia FH por Fause Haten, faixa João Pimenta, colar Lenny, pulseiras Otávio Giora, sandália Rober Dognani, lenço acervo ffwMAG! 122
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Palet贸 Totem, camisa Ellus, bermuda Luiz Leite, cinto Skinbiquini
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Biquíni de crochê Helen Rödel, lenço Neon
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À esquerda: bermuda e chapéu V.Rom. À direita: macaquinho Neon, bermuda vazada Tufi Duek, cinto Alessa, pulseiras Otávio Giora e Printing, chapéu acervo ffwMAG!
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Top Reinaldo Lourenรงo, brinco Nica Kessler ffwmag! nยบ 28 2011
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Blusa e pulseiras Tufi Duek, chapéu Daisy & Ruth, lenço acervo ffwMAG!
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Top Alór, saia André Lima, faixa João Pimenta, cinto Skinbiquini, pulseiras Lenny e Otávio Giora, sandália Zeferino, tapete Marcelo Andreotti 130
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Blusa e calça Triton, gravata e faixa João Pimenta, chapéu Daisy & Ruth, óculos Prada para Luxottica, relógio Swatch, pulseiras Diferenza, lenço acervo ffwMAG!
Beleza: Henrique Martins (Capa Mgt) Produção de moda: Larissa Lucchese e Juliana Cosentino Assistentes de fotografia: Fernando Tomaz e Renan Prando Assistente de produção: Tiago Fioravante Tratamento de imagem: Regis Panato | PHOTOUCH ffwmag! nº 28 2011
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Camiseta Reserva, bermuda Ellus, colar e pulseiras Clessi Cardoso para Cartel 011, cinto Reserva, tĂŞnis All Star, skate Star Point
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leia na minha c a m i s e t a
Estampa
hasteada
Avancem
poetas
Nos
corações
Da
desordem
No
mínimo
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silkscreen.
juvenis, surge
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c
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peito. anarquia.
nova
revolução
ordem. pessoal
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Camisa e bermuda British Colony, regata Jo達o Pimenta
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Acima: camiseta Cavalera, samba-canção Richards, colar acervo Vito Mariella, pulseiras Clessi Cardoso para Cartel 011 Ao lado, acima: camiseta Herchcovitch, bermuda B.Luxo, camisa Billabong. Abaixo: camisetas Cavalera
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Acima: camiseta acervo ffwMAG!, colar 2nd Floor, pulseiras dThales para Surface to Air. Abaixo: camiseta Laundry Boys, pulseiras acervo Vito Mariella Ao lado, acima: camiseta Hang Ten para Cartel 011, bermuda 2nd Floor, tênis New Balance, taco Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol (modelo em pé). Camiseta Calvin Klein, bermuda V.Rom, tênis Nike na À La Garçonne (modelo deitado). Abaixo, à esquerda: camiseta Sumemo, tênis All Star. À direita: camiseta Adidas, colar 2nd Floor, pulseiras dThales para Surface to Air
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Camiseta Surface to Air, bermuda Juisi by Licquor
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À esquerda: paletó Emporio Armani, biquíni Skinbiquini, colar Otávio Giora, chapéu Daisy & Ruth. À direita: bolsa Victor Hugo, colar Printing
Camiseta Bar-Bazar Caos, pulseiras Clessi Cardoso para Cartel 011
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Acima: camiseta Comme des Garรงons na Choix, pulseiras dThales para Surface to Air. Ao lado: camiseta acervo ffwMAG!, colares 2nd Floor e dThales para Surface to Air
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À esquerda: camiseta Cavalera. À direita: camiseta 2nd Floor, skate Star Point Abaixo: camiseta Ellus, samba-canção Richards, acessórios acervo Vito Mariella
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Mai么 Adriana Degreas e braceletes Claudia Marisguia
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Sunga Cia. MarĂtima, saia e faixa JoĂŁo Pimenta, piteira Juisi by Licquor
Camiseta Jeremy Scott para Adidas, pulseiras Clessi Cardoso para Cartel 011
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Camiseta Marc by Marc Jacobs, colares dThales para Surface to Air
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Acima e ao lado: camiseta João Pimenta Beauty: Vito Mariella (Liceu de Maquiagem) Assistentes de fotografia: Alex Batista e Marcos José Agradecimentos: Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol, Clessi Cardoso e Vito Mariella (Liceu de Maquiagem) Tratamento de imagem: Fujocka Photodesign
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APRE SENTA
O tOdO t a l e n t O s O Em o
entrevista delicado
equilíbrio
exclusiva, de
Gareth
contradições
Pugh de
seu
fala
sobre
universo
particular
p o r
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Fale o nome Gareth Pugh e a imagem que vem à cabeça é a de um estilista inglês com cara de mau que faz roupas-armaduras apresentadas com a ajuda de vídeos conceituais sombrios, quase perturbadores. O que não deixa de ser verdade; mas para entender o porquê do hype – e do seu contínuo sucesso com a crítica e da crescente popularidade com o público – é preciso olhar além e compreender as dualidades que, conscientemente ou não, fazem parte tanto da persona quanto de sua marca. Em Nova York, frente a frente com o estilista durante entrevista de divulgação da linha colaborativa M.A.C + Gareth Pugh, as camadas começam a se revelar. Vestido de preto da cabeça aos pés, dono de uma pele pálida e com os olhos parcialmente cobertos por sua característica franja assimétrica, Pugh pode até ser intimidante, mas alguns minutos de conversa são suficientes para perceber que ele é dono de uma personalidade amável, sorriso fácil e bom humor. Como não se render quando ele relembra seus tempos de balé clássico e quando diz que era muito flexível? “Eu colocava a perna até aqui”, disse, rindo e esticando o braço ao lado da orelha. Sim, Gareth Pugh era bailarino, e esse é o caminho que ele teria seguido se não tivesse enveredado pelas artes no City of Sunderland College, em sua cidade natal, no norte da Inglaterra, para depois se formar em design de moda na Central Saint Martins, em 2003. Daí até o início do burburinho na mídia foi um pulo. Nicola Formichetti, então diretor de moda da Dazed & Confused, deu a ele espaço na revista, enquanto Rick Owens, que o havia contratado como assis-
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tente, percebeu seu potencial criativo e decidiu, ao lado da consultora Michele Lamy, apoiar o fortalecimento da novíssima marca Gareth Pugh, o que deu ao jovem estilista mais espaço para trabalhar, além de acesso a materiais sofisticados como cashmere e peles caras. Isso ofereceu uma nova dimensão, mais usável, ao trabalho de Pugh, que chamava a atenção pela manipulação habilidosa, mas comercialmente inviável, de materiais inusitados como látex, PVC e... eletricidade. Em uma das primeiras apresentações do estilista, o look final era uma espécie de vestido-lâmpada eletrificado que só pôde ser mostrado na passarela depois que Casey Spooner, membro do Fischerspooner e convidado de Pugh para fechar o desfile, assinou um termo concordando que, se ele morresse eletrocutado, não seria culpa de ninguém. Hoje em dia, o designer deixou os riscos de morte de lado e prefere impactar a audiência orquestrando todos os aspectos relacionados à criação em sua marca: ele desenvolve uma moda autoral, não trabalha com estilistas assistentes e, de alguns anos para cá, começou a explorar – até pela possibilidade de ter ainda mais controle sobre a imagem da marca – a plataforma de vídeo com os incríveis filmes de moda dirigidos por Ruth Hogben, que, inclusive, substituíram seus desfiles de inverno 2009 e verão 2011. A contradição é que, apesar de estar na vanguarda da exploração das novas tecnologias no mundo da moda, ele mantém o mistério sobre seu lado pessoal e não tem perfil no Facebook nem no Twitter. Até seu site oficial é uma página simples, só com os contatos de imprensa e do setor comercial.
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fOTO: DIVulGAçãO
Gareth Pugh posa com James Gager, vice-presidente sênior e diretor-criativo da M.A.C, durante coquetel de lançamento da coleção do estilista em parceria com a gigante dos cosméticos, em Nova York
Pele
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Pugh, que só começou a vender mesmo depois do quarto ou quinto desfile, continua apresentando sua moda conceitual e de alto impacto na passarela, enquanto administra colaborações comerciais como com a brasileira Melissa, a marca sueca de vodca Absolut e a gigante canadense de cosméticos M.A.C. “Eu não faço esse tipo de coisa com muita frequência, então tem de ser certo e tem de fazer sentido”, ele explica sobre esta última parceria. De fato, toda a apresentação da linha de Pugh para a M.A.C, que aconteceu no subsolo do New Museum, espaço da arte contemporânea em Nova York, parecia refletir bem o universo do estilista. O cenário era dramático, com a sala grande, escura, quase no breu – exceto pelos focos de luz estrategicamente distribuídos que destacavam, no fundo esquerdo de quem entrava no salão, um display com as roupas-armaduras de Pugh, e, do outro lado, no fundo direito, o próprio estilista sentado ao lado de Alexis Page e Jennifer Balbier, respectivamente gerente e vice-presidente sênior de desenvolvimento de produtos da M.A.C. A colaboração em si é cheia de elementos que são essencialmente “Gareth Pugh”, como o próprio filme de divulgação, as suas amadas formas geométricas transpostas para as embalagens da linha e o uso do tema luz x escuridão, transformado nos dois looks-chave que regem a cartela de cores: o leve, frágil e etéreo; e o poderoso, sombrio e misterioso. Pugh explica: “A ideia é ter uma tempestade elétrica. Quisemos criar algo frágil e com a cor
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prateada, como se fosse o relâmpago, e criar também o outro lado da moeda, de um roxo azulado escuro e sombrio, que seria a névoa que o envolve. São como os opostos com os quais trabalho as minhas coleções”, ele afirma, e elabora: “Gosto da ideia de opostos porque eles criam uma espécie de fricção. É como quando você coloca dois ímãs juntos, e eles meio que lutam, ou como quando você veste uma mulher em algo bem masculino”. Ele continua: “Os ingredientes estão aí para você brincar do jeito que quiser; esse é o grande lance da maquiagem, ela é muito mais acessível e sutil do que roupas. Você pode fazer o extremo da maquiagem para a noite, ou usar um pouco do delineador e do esmalte e ter uma versão muito mais diluída, mas ainda com algo de mim naquilo”, ele diz, acrescentando: “Eu não trabalho com assistentes. Tudo vem de mim, então há um fio condutor muito específico que corre em tudo o que eu faço, e acho que é um jeito muito bom de trabalhar porque significa que posso manter minha identidade, o que eu suponho que, como estilista, é a coisa mais importante a se manter. Isso foi uma oportunidade de oferecer algo a que qualquer pessoa pode ter acesso. Minha mãe não tem nenhuma roupa minha, mas ela vai amar isso, porque vem de mim, vem do mesmo lugar. Mas ela nunca poderia sair por aí vestindo uma daquelas coisas”, ele ri, apontando para os looks-armaduras que fizeram dele um criador. Saiba mais: garethpugh.net / maccosmetics.com
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O DO
liliputianO
De
Mun
Slinkachu
O trabalho do misterioso artista natural do condado de Devon, no sudoeste da Inglaterra, foi reunido em livro, Little People in the City: The Street Art of Slinkachu. E uma de suas últimas ações foi grafitar caramujos vivos e deixá-los transitar pela capital inglesa carregando os seus homenzinhos. A intenção do artista foi dar movimento às instalações – ainda que lento e nem sempre percebido. Esta é a ideia por trás da obra de Slinkachu: fazer a gente parar, respirar fundo e, mesmo em meio ao inferno urbano das congestionadas metrópoles, prestar mais atenção nas pessoas e nas coisas que orbitam ao nosso redor. Se estiver em Londres, cuidado onde pisa. (MG) >> slinkachu.com/little-people
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P E Q U E N O G R A N D E O pensamento humanista do Design for the Other 90%, movimento que busca soluções simples para questões complexas e convoca os designers a usar a criatividade para ajudar os marginalizados em seus desafios de sobrevivência p o r
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© 1993 P. J. Hendrikse
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Essencial para povos que vivem nas distantes áreas rurais da África, o Q Drum é feito de material resistente, rola com facilidade e serve para carregar água; foi produzido pelos designers P. J. e J. P. S. Hendrikse
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© DALA StuDIOS
Criado pelo arquiteto Doung Anwar Jahangeer, o Spaza-de-move-on é um dispositivo portátil, de fácil locomoção e que oferece conforto e praticidade para os vendedores de rua; é usado pelos camelôs de Durban, na África do Sul
É só ouvir a palavra DESIGN e as modernetes arregalam os olhos de cobiça, sentem uma comichão no ego e logo pensam em popstars como Philippe Starck ou Karim Rashid. Há outros, dezenas de outros designers purpurinados que fazem do mundo um lugar mais bonito e colorido, criando formas, reinventando texturas, seduzindo o olhar. Mas o design não se limita a converter cadeiras em “obras de arte”, luminárias em objetos de decoração, espremedores de laranja em esculturas. Esse é o lado mais espetaculoso do design. É o que sempre fez – com admirável engenhosidade, devemos reconhecer – a empresa do Steve Jobs, o gênio que transformou tecnologia em fetiche. Repare no que afirma o inglês Deyan Sudjic, autor de A Linguagem das Coisas (Editora Intrínseca, 2010): “A Apple pode até não ter a tecnologia mais avançada, mas a embala de um jeito desejável e sedutor”. Alguém aí, louco de pedra por um iPad, duvida? Sudjic é diretor do Design Museum de Londres. E, por isso, sabe das coisas. E tanto sabe que provoca: “A inutilidade 152
é, ao que parece, a qualidade mais valorizada. Assim os designers aspiram a ser artistas”. Mas, sejamos justos. O design tem outras mil e uma utilidades além de enfeitar a doce vida das pessoas e, como acredita Sudjic, estimular a nossa angústia consumista. O design pode, por exemplo, salvar vidas – ou, ao menos, minimizar a penúria de milhares de desamparados que vivem nas periferias do mundo. E é essa a ideia central do movimento Design for the Other 90%. No site do movimento somos informados que 90% da população do planeta tem pouco ou nenhum acesso a produtos e serviços que, para muitos de nós, são triviais. E quase metade desse enorme contingente de desassistidos não dispõe nem do básico para sobreviver: comida, água limpa e moradia. Espantado com essa escandalosa realidade? Não deveria. Esqueça o mundo por um instante e pense no Brasil, onde os 10% mais ricos concentram 75,4% da riqueza do país. Desigualdade social: a gente vê por aqui (ah, esse dado, de 2008, é do Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
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© 2000 TOmAS BErTELSEN
O sistema Pot-in-pot, produzido por Mohammed Bah Abba, consiste em dois potes, um dentro do outro, com um espaço entre eles preenchido com areia e água. Quando a água evapora, o sistema puxa o calor do interior da panela menor e assim mantém vegetais e frutas conservados
É óbvio. O Design for the Other 90% não vai resolver os históricos problemas sociais e econômicos da humanidade. A iniciativa tem o mérito de evidenciar e incentivar as criações que têm como único objetivo auxiliar os mais necessitadas. De quebra, cutuca os deslumbrados. Fala Paul Polak, da International Development Enterprises: “A maioria dos designers se concentra em criar produtos e serviços para os 10%. É preciso uma revolução no design para atingir os outros 90%”. Boa, Polak! Ao navegar pelo site do movimento descobrimos dezenas de projetos que estão sendo colocados em prática em várias regiões do globo, divididos em seis categorias: moradia, saúde, água, educação, energia e transporte. Algumas aplicações são incríveis. Atenção para os exemplos: o Q Drum é uma roda-reservatório usada para transportar grandes quantidades de água por longas distâncias; o LifeStraw é um tipo de canudo com filtro, essencial em lugares nos quais as pessoas não têm outra saída além de beber água diretamente de poços e rios; a Big Boda load-carrying bicycle é uma bicicleta
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com garupa ampliada capaz de carregar cargas mais pesadas; e a Inclusive Edge Canopy, uma cobertura de lycra, sustentada por cabos de aço, que oferece abrigo e sombra em áreas de calor intenso. Esses são apenas alguns experimentos bem-sucedidos de ideias mínimas, simples e viáveis com resultados máximos, eficientes e transformadores. E é bem inspirador e emocionante ver designers fazendo uso de suas habilidades técnicas e criativas para produzir soluções que realmente afetam a qualidade de vida de milhares de indivíduos. Quem sabe essas iniciativas não sirvam para alertar outros profissionais da área sobre a necessidade de utilizar o design para missões mais humanitárias – e sustentáveis? Na entrevista que concedeu para a Folha de S.Paulo, Deyan Sudjic vai direto ao ponto: “Seria mais útil começarem a agir como designers, pensar sobre os problemas reais. [...] O design deveria tratar de fazer perguntas difíceis”. Prossegue Sudjic em seu livro: “O design é a linguagem que uma sociedade usa para criar objetos que reflitam seus objetivos e seus valores”.
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© 2005 VEStERGAARD FRANDSEN / à DiREitA: © 2003 iNtERNAtiONAl DEVElOPMENt ENtERPRiSES
Torben Vestergaard Frandsen criou o LifeStraw, que purifica a água e evita doenças como febre tifoide, cólera e diarreia. Já a bomba de pedal feita de bambu permite que os agricultores tenham acesso à água subterrânea durante a estação seca do ano; criação de Gunnar Barnes
Se assim é, quais seriam os objetivos e os valores de uma sociedade cada vez mais apegada ao inútil e ao supérfluo, à ostentação do luxo e ao consumo irresponsável? Para tudo! Acaba de chegar um e-mail urgente. A assessoria de imprensa do Cooper-Hewitt, National Design Museum, informa a abertura de uma nova exposição chamada Design for the Other 90%: Cities. Antes de prosseguir, preciso saber o que é isso. O.k., podemos seguir em frente. O museu, localizado em Nova York, informa que abre as suas portas para mais uma exposição dedicada ao design humanitário. Desta vez, serão apresentados 60 projetos de 22 países. A mostra, porém, é temática, com foco nas grandes cidades. Ou, mais especificamente, nos problemas causados pelo crescimento acelerado e desordenado dos conglomerados urbanos e que resultaram no surgimento de favelas e comunidades periféricas em que, muitas vezes, os habitantes vivem em condições sub-humanas. Hoje, avisa o Cooper-Hewitt, quase 1 bilhão de indivíduos vivem nesses lugares. A previsão é que até 2030 esse 154
número duplique. E tal expansão ocorrerá principalmente nos países emergentes e em desenvolvimento. São projetos de design que buscam soluções simples e inovadoras para questões como moradia, saneamento básico, manejo do lixo, transporte, educação. Entre essas iniciativas está o brasileiro Favela Painting. A ideia partiu dos holandeses Jeroen Koolhaas e Dre Urhahn. Para chamar a atenção da mídia internacional para as carências do local, os artistas, com a ajuda dos moradores da comunidade, pintaram a fachada de 34 casas do Morro Dona Marta, em Botafogo, no Rio, deixando o lugar mais alegre e colorido. A dupla já pintou painéis em Pernambuco e regiões pobres do México, da Colômbia e do Equador. Outro projeto que combinaria bem com o Brasil, país onde milhares de pessoas vivem da economia informal, é o Spaza-demove-on. Criado pelo arquiteto Doung Anwar Jahangeer, é um dispositivo portátil, durável e que oferece comodidade para os camelôs de Durban, na África do Sul. Ainda tem o Garden-in-a-sack.
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© 2006 ED LUcErO
Com a criação da empresa Worldbike, uma simples bicicleta ganha multifunções; a ferramenta já ajudou muita gente que precisa no Quênia
Utilizado em Kibera, no Nairobi, o recipiente permite realizar pequenas plantações em espaços reduzidos. Para o diretor do museu, Bill Moggridge, a exposição é uma oportunidade para os visitantes saberem como o design é capaz de resolver os problemas mais críticos enfrentados pelas grandes cidades dos países em desenvolvimento. Ao reunir designers, engenheiros, estudantes e professores, arquitetos e empreendedores sociais em um movimento que busca encontrar soluções simples para questões complexas, o Design for the Other 90% pretende alterar, inovar, transgredir, fazer algo para chacoalhar as consciências. E a gente sabe: qualquer mudança exige vontade, determinação e boas ideias. Sim, nem sempre boas intenções resultam em boas ideias ou em ideias viáveis. E muitos projetos acabam naufragando, como foi o caso do laptop de US$ 100 criado pelo cientista da computação Nicholas Negroponte. É essencial levar em conta a aplicabilidade, o acesso e – por que não? – a necessidade estética. Afinal, beleza não pode ser exclusividade de quem tem grana para comprá-la.
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O arquiteto chileno Alejandro Aravena ganhou, em 2011, o Index, o maior e mais valioso prêmio de design do mundo, com seu projeto de “meia casa boa” na categoria moradia. Em vez de fazer uma casa inteira de má qualidade para os mais pobres, Aravena e sua equipe projetam a parte mais complicada (estrutura, escada, banheiro e cozinha) e deixam o restante para os próprios moradores finalizarem. É um modo criativo de romper com a monotonia das habitações populares. De qualquer forma, movimentos como o Design for the Other 90% mostram que é fundamental olhar com mais atenção para os marginalizados, encontrar maneiras de ajudá-los a vencer os seus desafios de sobrevivência. E este momento é agora. Passada a primeira década do século 21, não dá mais para fechar os olhos e o vidro do carro blindado para o menino que vende chicletes na esquina. É preciso redesenhar o mundo. E os designers podem estar à frente desse movimento. other90.cooperhewitt.org / cooperhewitt.org
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diferenças
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norte africano,
s o c i a i s ?
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Baseada no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2010, ffwMAG! decidiu apresentar as imensas diferenças sociais, econômicas e políticas entre as nações que ocupam a primeira e a última posição no ranking elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). No topo da lista está a Noruega. Lá no fim, entre os países com desenvolvimento humano baixo, o Zimbábue (169o). E ali no meio, bem atrás do Chile (45o) e da Argentina (46o), vem o Brasil, em 73o. Mas deixemos o nosso país aos cuidados da Dilma. Entre o país do norte da Europa e o país do sudeste africano, existe um mundo inteiro a separá-los. De um lado está a desenvolvida Noruega – e o máximo (de respeito à cidadania); do outro, o miserável Zimbábue – e o mínimo (para sobreviver em meio ao caos). Ambas nações de um mundo historicamente demarcado por dessemelhanças extremas. Antes de prosseguir, é importante explicar o que é esse tal Índice de Desenvolvimento Humano. Idealizado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq (1934-1998), com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1998, o IDH é publicado anualmente pelo Pnud. Seu objetivo é oferecer um contraponto a outro indicador, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Este considera apenas a questão econômica. O IDH é mais abrangente. Leva em conta, além do PIB, outras duas características: longevidade e educação. E os três componentes têm
do
M
a r c o s
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o mesmo peso no índice. Em 2011, o Pnud comemora 20 anos de estudos realizados. E pesquisou a qualidade de vida da população de 169 países. Em uma escala que vai de zero a um, a Noruega alcançou índice 0,938, e o Zimbábue, 0,140. Para entender esse colossal abismo entre o melhor e o pior IDH entre os países avaliados pelo Pnud não é preciso nenhum malabarismo teórico. Basta atentar para a realidade em que vivem noruegueses e sobrevivem zimbabuanos. A Noruega tem população de 4,8 milhões de habitantes. É país membro da União Europeia (UE) – embora tal condição hoje, em razão da crise que assusta o velho continente, não seja lá muito abonadora. Na questão econômica, combina de modo exemplar igualdade social com crescimento econômico. Por lá, o acesso à saúde é universal e o ensino superior é subsidiado, com taxa de alfabetização de 99%. De acordo com relatório divulgado pelo FMI em 2008, o país possui o segundo maior PIB per capita do planeta (US$ 59.100), atrás apenas de Luxemburgo. E a expectativa de vida ao nascer é, na média, de 80,2 anos. Fora isso, a Noruega está sempre envolvida em missões de paz instaladas em áreas de conflito. É a maior doadora de ajuda externa per capita do mundo. E, se existe algo de podre no reino da Noruega, o mau cheiro veio à tona de uma só vez em julho, quando Anders Behring Breivik saiu atirando a esmo numa ilha próxima
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© GIDEON MENDEl/CORBIS (DC)/lAtINStOCk
Em Chirundu, na fronteira entre Zâmbia e Zimbábue, homem mostra notas que parecem valer milhões, mas que não servem para comprar um pão. Resultado da hiperinflação do Zimbábue e das políticas do presidente Robert Mugabe
da capital, Oslo, e matou 77 inocentes. O episódio abalou a pacífica Noruega, país escandinavo com os mais baixos índices de criminalidade do mundo e que tem uma das mais rigorosas legislações sobre a compra e o porte de armas. Sim, o massacre, covarde e terrível, deixou os noruegueses – e boa parte da humanidade – em estado de choque. Mas que tal descermos a ladeira e irmos até o Zimbábue para conhecer o estrago que décadas de governo ditatorial são capazes de fazer com um país inteiro? O Zimbábue tem população de 12,5 milhões de habitantes. Era colônia britânica. E, desde que conquistou a sua independência, em 1980, é comandado com mão de ferro pelo sanguinário Robert Mugabe. A situação por lá é tão desesperadora que um hospital da missão americana em Chidamoyo atende os pacientes na base do escambo. Isso mesmo: escambo! Os zimbabuanos pagam socorro médico com galinhas, cabras, milho, amendoim. O hospital funciona assim desde 2008, quando a inflação anual no país atingiu níveis estratosféricos – e bastante divergentes: indo de 11,2 milhões por cento, segundo cálculo do FMI, a 231 milhões por cento, de acordo com o governo. De qualquer forma, em um cenário assim, o dinheiro vale o mesmo que papel de pão: nada. Essa bagunça econômica, evidentemente, levou os sistemas de saúde e educação à derrocada. Para reduzir os danos, o Zimbábue, em 2010, abandonou a sua moeda e a substituiu pelo dólar ame-
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ricano. A inflação caiu para normais 3,6%. Mas o país ainda está muito, muito, muito distante de resolver seus problemas sociais, econômicos e políticos. Se é que um dia os resolverá. Só essa hipermegainflação que arruinou com a economia do país já seria suficiente para colocar o Zimbábue na última posição do ranking do IDH. Mas outros dois fatores negativos também contribuíram. O PIB per capita de US$ 176, o mais baixo do planeta. E a expectativa de vida ao nascer. Os afegãos, que ocupam a pior colocação neste quesito, vivem, em média, 44,6 anos. Os zimbabuanos, 47. Menos o Mugabe, claro. O déspota, com 87 anos, continua firme e forte no poder, resistindo bravamente a virar defunto e confirmando aquela máxima popular conhecida por todos: vaso ruim não quebra. Basta uma breve observação na lista dos 169 países que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano para perceber o óbvio. Embora os revoltosos da Revolução Francesa, lá em 1789, tenham legado à posteridade a ideia de liberdade, igualdade e fraternidade, o mundo continua um lugar extremamente autoritário, desigual e belicoso. Do Zimbábue, ali na ponta de baixo da tabela, até chegar ao topo, no qual está a Noruega, a humanidade ainda vai ter que camelar e evoluir muito para aproximar máximo e mínimo – e, quem sabe, alcançar o bem-estar social para todos. Eu duvido. Mas o pessoal da Banda Mais Bonita da Cidade deve acreditar. Cantemos, então, a “Oração” que salva o coração.
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e n g o l i n d o um mundo Grande a
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o r e s c h i
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h e r i n g
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No ano 79, depois de mais de uma década de muita observação da natureza, o naturalista romano Plínio, o Velho, finalmente concluiu seu calhamaço de 37 volumes chamado Naturalis Historia. Ali estavam suas descobertas em geografia, etnografia, zoologia, botânica e farmacologia. Nesta área, ele citou pela primeira vez a ideia de algo pequeno, de fácil deglutição e capaz de comprimir os benefícios de algumas plantas medicinais. Surgiu assim a ideia do comprimido. Desde então, o mundo passou a receber a companhia dessas pequenas e multicoloridas formas arredondadas em uma quantidade tão surpreendente que, até hoje, não se sabe ao certo quantos comprimidos são consumidos por dia. Só nos Estados Unidos o 158
uso deles saltou de 18,4%, em 1976, para 52%, em 2000. Para os laboratórios farmacêuticos trata-se de um lucro pomposo que já chega a US$ 200 bilhões – US$ 10 bilhões só no Brasil. Um comprimido, em média, tem meio centímetro. Diante de um tamanho tão desprezível, é quase impossível não olhá-lo com ares de dúvida: como é possível algo tão pequeno causar efeitos tão perceptíveis no corpo e na mente de uma pessoa? A resposta está em um complexo processo de compressão que une o pó medicamentoso com a substância aglutinante, também conhecida como substância inativa, uma espécie de liga para a mistura, mas que não causa nenhum efeito ao paciente. Juntar esses dois elementos em uma coisa tão pequena significa engolir algo extremamente concentrado.
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ASPIRINA,
uma
velha
conhecida
Alguns farmacêuticos costumam afirmar que só há um único comprimido no mundo: a aspirina. O restante é apenas variações de seus componentes. A afirmação pode até ser exagero, mas de fato esse comprimido revolucionou a medicina. Ele foi o primeiro comprimido do mundo – e tudo começou em 5 a.C. com o filósofo Hipócrates escrevendo que o pó da casca do salgueiro aliviava dores e diminuía a febre. Para o laboratório Bayer restou reunir o princípio ativo da casca da planta (o ácido salicílico) com o acetato. Dessa maneira, surgiu uma forma menos tóxica que a encontrada na natureza: o ácido acetilsalicílico. Após 112 anos, o sucesso continua. A aspirina é o medicamento mais conhecido e consumido do mundo. 9 9 , 9 9 %
d e
a l í v i o
Um comprimido de aspirina é composto quase que totalmente de ácido acetilsalicílico. Esse componente possui a capacidade de aliviar dores e diminuir a febre. Pesquisas mais recentes sugerem que o ácido também é capaz de impedir o desenvolvimento do câncer de próstata, de cólon e de mama. Menos
de
0,01%
de
doçura
O comprimido de aspirina para um adulto é de 500 mg. Já as crianças costumam tomar o de 100 mg. O AAS infantil, um concorrente da aspirina, mas de mesma composição, tem gosto doce por causa do uso do adoçante sacarina sódica, da lactose monoidratada e do amido de milho. Sua característica tonalidade amarela vem dos corantes conhecidos como número 5 e número 6. Menos
de
0,01%
de
RIVOTRIL,
consumo
em
toneladas
No Brasil, esse comprimido é conhecido pela grande maioria: somos o país que mais consome Rivotril no mundo. Só em 2010 foram 2,1 toneladas. O que espanta é que esse remédio tão consumido por aqui é tarja preta. Mas acabou sendo um sucesso, pois costuma ser receitado por vários tipos de médicos – de ginecologistas, para pacientes que sofrem de TPM severa, a psiquiatras que querem acalmar os mais estressados. Diante de tanta calmaria, é preciso registrar um alerta: o Rivotril causa dependência severa. Em média, 80% das pessoas que tomam esse comprimido ficam dependentes já a partir do segundo mês de uso. 99,99%
de
tranquilidade
Usar Rivotril é tomar quase 100% de clonazepam, que tem como principal propriedade inibir suavemente as funções do sistema nervoso central. O resultado é alguém levemente sedado, com o corpo relaxado e bastante tranquilo. Perfeito para quem sofre de insônias, por exemplo. Menos
de
0,01%
de
excipientes
Além de talco e amido, é possível encontrar a celulosa em forma de cristais. Ela é responsável por concentrar o clonazepam em um comprimido tão pequeno.
excipientes
Os excipientes são compostos que facilitam na junção do ácido acetilsalicílico em formato de pequeno comprimido. Alguns são nomes poucos convidativos como a croscarmelose sódica e a sílica precipitada amorfa. Outros dois, porém, são bem conhecidos por nós: o amido e o talco.
Menos
de
0,01%
de
gosto
de
fruta
A versão líquida do remédio contém a mesma composição do comprimido. Há, porém, apenas uma diferença: a essência de pêssego, um alívio para o tradicional gosto levemente amargo do remédio. Consultoria: Helder Bobbato, farmacêutico (CRF-SP 37.874) ffwmag! nº 28 2011
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respostas para perguntas
maximas minimas
Alguns mistérios gramaticais, filosóficos, ovíparos, artísticos, ecológicos, infantis, interplanetários ou divinos são, na verdade, perguntas muito curtas. Respondê-las, porém, é uma tarefa quase impossível p o r
B
r u n o
M
o r e s c h i
160
Com a precisão de uma adaga bem afiada e a potência de um canhão, Coutinho disse: “Para perguntas muito complexas é preciso ser simples. Minha resposta a tudo isso é ‘não’”. O rapaz ficou inconformado. E, por sorte, não abriu mais a boca. O inverso da teoria de Coutinho também parece funcionar. São nas perguntas mais curtas que estão as mais longas e complexas respostas. Como se vê nos próximos dez exemplos, respondê-las é quase sempre se passar por idiota e incompetente.
YAO-LuNG CHENG - www.CHENGYAOLuNG.COm E www.fLiCkr.COm/YAYAu
Quando convidado para alguma palestra, o cineasta brasileiro Eduardo Coutinho possui uma tática infalível para as pessoas que lhe fazem perguntas muito extensas. Certa vez, na Universidade Federal de Minas Gerais, um aluno soltou uma questão que envolvia vida, morte, problemas sociais, cinema, preços de ingressos, enfim, um verdadeiro falatório sem propósito. Ao terminar o longo discurso, o acadêmico ainda teve a audácia de colocar uma entonação como se aquilo fosse de fato uma pergunta, não uma oportunidade para ele expor sua opinião.
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que r
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O famoso historiador de arte E. H. Gombrich começou seu best seller com duas frases: “Nada existe realmente a que se possa dar o nome Arte. Existem somente artistas”. Em seguida, completou: “Na verdade, Arte com A maiúsculo passou a ser algo como um bicho-papão, como um fetiche”. Antes de Gombrich, Tolstói escreveu um texto sobre o assunto que demorou 15 anos para ser finalizado. Quando a obra foi publicada, leu-se que o escritor condenava artistas como Shakespeare, Dante, Goethe, Bach e Beethoven. Não havia meio termo para Tolstói: arte deve transmitir o sentimento do bem. Hoje, sabe-se que a ordem é diariamente desrespeitada. Cortar vacas como faz Damien Hirst, definitivamente, não é algo bondoso. Nas galerias, a regra mercadológica funciona. “Vendeu é arte”, dizem as galeristas mais honestas. “Se não vendeu, é uma obra ainda em processo”, complementam as outras mais criativas. Já o frequentador de vernissage sempre apela para o relativismo: “Depende do contexto”. Entretanto, nenhum dos grupos consegue vencer em poesia os artistas mais sensíveis e conceituais. Esses acreditam piamente que estão produzindo arte enquanto respiram.
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WojTek MSzycA jr - flickr.coM/WojSzycA
Uma
árvore
faz
barulho
quando
cai
numa
floresta
sem
ninguém
para
ouvir?
Uma questão difícil de ser apurada, visto que este texto está sendo escrito em São Paulo. Nos parques daqui, a resposta é clara. A árvore não produz nenhum som ao cair e, se o fizesse, não seria notado, uma vez que barulho mesmo vem do lado de fora, das buzinas e dos escapamentos dos veículos. Henrique Tavares, um dos funcionários do Parque Trianon, localizado em São Paulo, em plena Avenida Paulista, pensa menos de um minuto para dar a resposta. Após cinco buzinadas, ela vem de forma lógica: “A árvore faz muito barulho, sim. Numa floresta sem pessoas, pode-se fazer o barulho que quiser”.
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WIKIMEDIA COMMONS - WGORDON.WEB.WESLEyAN.EDU/KAMIKAzE
Por que os Pilotos kamikazes u s a v a m caPacetes? É no mínimo curioso uma pessoa que irá se matar se preocupar com o acessório que protege a cabeça. Pode-se especular que esses pilotos eram tímidos, uma teoria que não combina muito com o barulho e a destruição de um avião. A assessoria da Força Aérea Brasileira não entendeu a gravidade da questão e se negou a levá-la para seus superiores. “É uma norma. Todo piloto usa capacete”, respondeu o assessor de imprensa em tom de brincadeira. Apelando para a etimologia japonesa, kamikaze é uma junção da palavra kami (deus) e kaze (vento). Antes da Segunda Guerra Mundial era o nome de um tufão que, diferentemente de outros desastres da natureza, salvou o povo japonês. Em 1281, quando a região estava sendo invadida pela tropa do conquistador mongol Kublai Khan, veio a ventania que espantou os invasores. A lenda pode até ser bonita e ecologicamente correta, mas não contribui para a questão chave dos pilotos kamikazes: o capacete. A verdade é que a missão dos kamikazes era destruir navios dos Estados Unidos. A princípio, prezava-se pela vida. Eles voavam sob intensa artilharia antiaérea. Se mesmo assim conseguissem sobreviver, o uso do capacete passava a ser a mais lógica das decisões. Caso os pilotos vissem que a coisa piorou, a ordem era lançar o avião no alvo. Nesta segunda opção suicida, quase sempre a que acontecia, o capacete era de fato um peso a mais para contribuir na queda.
Por
que
“tudo
junto”
se
escreve
separado
“Porque tem pessoas que não têm nada para fazer e ficam inventando perguntas idiotas?” foi a resposta de um professor de português da Universidade de São Paulo (USP) quando lhe lançaram essa questão altamente complexa. Mesmo com a revolta acadêmica, alguns defendem o “tudo junto” escrito “tudojunto” e o “separado” como uma dessas variações: “sepa rado”, “se parado”, “separa do”, “se pa ra do” ou “s e p a r a d o” – este, um sucesso entre os extremistas. Há também um grupo menor de pessoas que lança uma resposta de que a Língua Portuguesa é mesmo cheia de encantos. O mais arauto representante dessa facção é Aldo Rebelo, deputado e autor do projeto de lei que gostaria que o Brasil escrevesse “massa arredondada com queijo e molho de tomate” em vez de “pizza”. “São as deliciosas peculiaridades da Língua Portuguesa!” é a resposta de uma mulher que vive em Lisboa e que se nomeia como Santa Cinta em um fórum de perguntas e respostas na internet. “Deliciosas peculiaridades da Língua Portuguesas!?”. Uma res162
e
“separado”
se
escreve
tudo
junto?
posta assim não vale. E é justamente por isso que, logo abaixo do comentário, está a fala poética de outro português que já começa zombando do nome dela. Ele escreve: “SantaCinta (tudojunto), cita a santa sabedoria e emite genial aprofundamento, arqueologizando linguisticamente em meandros gregos, troianos, latinos e outros arcanos, que de tanta erudição nos tiram o ar dos canos com que esperneamos em arquejos de falta de ar, por causa de uma outra Santa, a Santa Ignorância. Bem hajas, Santa Cinta, que me sinto de léxico enriquecido, o que parecendo que não nos faz tanta falta nos dias que correm quase parados, todosjuntos, se parados”. Em resumo, ele não respondeu nada. Mas falou bonito. A verdade, monolítica ou em fragmentos, é que o sentido das palavras não vem de sua forma escrita e, sim, de todo um contexto. Separado é um adjetivo. Tudo junto é um pronome associado a um adjetivo. Tudo bem, isso pode até ser verdade. Mesmo assim, ainda prefiro o “s e p a r a d o”.
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NANCY CHAN
Qual
o
sentido
Q u e m
BETH HEiNS
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da
vida?
Biologicamente a resposta pode até parecer simples: vivemos para a reprodução. Mas não podemos ignorar dois fatos importantes: já somos muitos no planeta Terra e colonizar Marte é ainda um sonho distante. Viver para realizar sonhos parece comercial de banco. Para ajudar o próximo soa simpático, porém utópico. Melhor seria fazer como um Machado de Assis e escrever: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes de meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas”. Bonito, mas significativo demais para uma pergunta que questiona justamente o sentido de algo. É por isso que alguns mórbidos mais diretos preferem algo menos alegórico. “A vida é uma merda”, eles afirmam para, em seguida, continuar: “O bom é que um dia ela acaba”. Não aconselhamos a depressão. Aconselhamos o otimista disfarçado que prefere seguir a lógica do celular perdido. Quanto mais você procura o aparelho, menos chance você terá de encontrá-lo.
n a s c e u ovo
ou
p r i m e i r o : a
galinha?
Um clássico. E que confunde a mente da maioria. O ovo parece ser uma resposta razoável, pois do ovo nasce a galinha. Mas é verdade também que para surgir o ovo é preciso da galinha. Pendendo para o lado mais fraco, o cientista Charles Darwin respondia que tudo aconteceu graças a um processo evolutivo no qual seres vivos que nasciam de ovos se transformariam mais tarde em galinha. Parecia a vitória do ovo. Mas a primeira década do século 21 veio com o anúncio de dois cientistas da universidade inglesa de Warwick e Sheffield. Eles sabiam a solução. Quem veio antes foi… a galinha. Tudo começou a partir de um complexo processo que uniu duas substâncias encontradas dentro da ave: uma proteína chamada de ovocleidina-17 e o carbonato de cálcio. Quando elas se juntam, o resultado é a formação de pequenos cristais. Com a capacidade de se multiplicar, os cristais podem crescer e formar a casca do ovo. Assim, por causa de uma única galinha, nasceu um galinheiro. O desafio agora é outro e muito mais complexo: fazer uma galinha entender essa resposta que tanto diz respeito a ela.
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Por depois
que
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Pato
Donald
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cintura calças?
AlyssA VAN sTEEN
Mistérios de desenhos animados são frequentes. Eis alguns: com aquele efeito tão poderoso, seria mesmo espinafre o que há na lata do Popeye? Por que as Tartarugas Ninjas acreditam que usar máscaras apenas por cima dos olhos iriam deixá-las menos reconhecíveis na rua? E responda sem titubear: a Pantera Cor-de-Rosa é do sexo feminino ou masculino? Nada, porém, se compara a mais inquietante das questões: a toalha na cintura do Pato Donald após o banho. Um pato que não usa calça deveria conservar esse pudor? Dois anos antes de morrer, Walt Disney respondeu a pergunta. E ela é tão óbvia que causa constrangimentos: o pato usa a toalha para não molhar o chão do banheiro.
AdAo
tinhA
umbigo?
De autor desconhecido, um dos quadros do século 12 que representam Adão e Eva era do grupo do NÃO. Nem Adão, nem Eva possuíam o tal buraquinho. Quatro séculos depois, o pintor flamenco Mabuse veio com um quadro do casal que lançou polêmica. Não há dúvida de que o Adão dele possui umbigo bastante visível. Verdade seja dita: eles não são apenas visíveis. Estão na tela como dois buracões, uma licença poética que não parece combinar muito com o restante tão harmônico da pintura. Quando tentaram avisar Mabuse do exagero, o pintor explodiu. Disse que o umbigo não era do Adão. Era dele, já que ele era o artista. Autora do livro infantil Endrigo, o Escavador de Umbigo (Editora 34), a jornalista Vanessa Barbara responde com a precisão típica de uma verdadeira especialista: “Adão era desprovido de umbigo. Eva se aproveitava dessa deficiência para chacotear o marido, que não tinha direito a acumular a sujeirinha do umbigo. É por isso que a questão umbilical está no cerne da luta de classes”. 164
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ESTAMOS NO
SOZINHOS UNIVERSO?
SAShA KURMAz - www.hOMER.ORG.UA
Deve-se saber muito de matemática para responder essa questão. Em 1961, o físico Frank Drake criou uma equação capaz de mostrar o número de civilizações inteligentes em nossa galáxia. O resultado de Drake é obtido pela multiplicação de sete termos: N = E x P x S x V x I x T x C. O E é o número de estrelas que aparecem anualmente em nossa galáxia. O P é a porcentagem dessas estrelas que se formam e que possuem sistema planetário. O S é o número médio de planetas com superfície líquida. E assim seguem as variáveis até o último C. O professor Renato Las Casas, do Observatório Astronômico Frei Rosário, da UFMG, já andou repetindo que o resultado dessa equação pode chegar a 1,5 milhão de possibilidades de termos vizinhos na galáxia. Infelizmente, não há ainda uma fórmula para se responder por que os que costumam aparecer por aqui são todos verdes. Uma falha da matemática ainda a ser resolvida.
Infelizmente, a última pergunta não pode ser respondida com um “só Deus sabe”. Com uma fórmula criada há 200 anos, o físico inglês Stephen Unwin lançou um tratado matemático que parece resolver a questão. O chamado cálculo bayesiano começa com a probabilidade de que Deus tem 50% de chance de existir e outros 50% de não existir. Em seguida, somam-se as evidências contra ou a favor dessas duas respostas. A ideia era equilibrar o discurso religioso com o discurso científico. O resultado: Deus tem 67% de chances de existir. É mais do que a maioria. Portanto, termina-se aqui esta lista de questionamentos. Não se pode correr o risco de escrachar uma provável figura divina e, em seguida, receber um castigo celestial. >> answers.yahoo.com / howstuffworks.com
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ANA CABALEIRO
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Hospedar-se no Pestana Convento do Carmo é mergulhar em um patrimônio histórico, artístico e cultural do Brasil inserido na paisagem do Pelourinho. Aqui, altar pintado a ouro em estilo rococó/barroco. Detalhe para a exuberante pintura do teto 166
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Bahia de todos os r e c a n t o s Dois e
p o r
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Foi fugindo dos povos sarracenos no século 18 que a Ordem dos Carmelitas migrou para o Ocidente. Nasceu entre 1153 e 1159 na região de Monte Carmelo, onde hoje fica a cidade de Haifa, em Israel. Remonta ao mito de Elias, que optou por uma vida eremítica de oração e silêncio. Inspirados no profeta, cristãos construíram uma capela na gruta em que ele teria entrado em reclusão. Vindos da Terra Santa, os carmelitas pisaram em Portugal em 1251, em Moura, e a capela ali construída inspirou outras pelo país, a exemplo do Convento do Carmo de Lisboa, fundado em 1389. O fim da Ordem em Portugal está atribuído ao grande terremoto seguido de tsunami de 1755, que assolou Lisboa e derrubou muitos dos conventos, mas teve seu golpe final com um decreto de 1834 expedido por Joaquim Antônio de Aguiar, um dos mandachuvas da Monarquia Constitucional, que declarou extintos todos os conventos, mosteiros, colégios e outras instituições ligadas à Igreja. Era o fim da Ordem no país, até ela ser revivida em 1930. No Brasil, os carmelitas chegaram em 1580, com padres se instalando na Paraíba. Em 1586 veio o Convento do Carmo de Salvador, no Pelourinho. Mas por pouco a história não se perde em Salvador. Foram décadas de abandono até que uma parceria firmada entre a inicativa privada e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
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para
u t i e r r e s
o u G l a s
História
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(Iphan) transformou o convento em patrimônio. Em 2003 o grupo Pestana adquiriu o complexo e criou o hotel Pestana Convento do Carmo. Foi reaberto ao público em outubro de 2005. Já integrou a rede Leading Hotels of the World e figura entre os hotéis mais luxuosos do Brasil. São quase 80 apartamentos, entre categoria luxo, suíte júnior, loft e máster. A decoração é com peças dos séculos 17 e 18. Segundo Carlos de Freitas, diretor-geral dos Hotéis Pestana na Bahia, que assumiu o cargo há um ano, o Convento do Carmo está voltando definitivamente aos braços do povo baiano. “A ideia inicial era a de fazer uma pousada de Portugal fora de Portugal. No início deu muito certo, mas a crise internacional mudou nossos planos. Passamos a privilegiar os brasileiros, o que fez muito bem pra gente.” Na prática, a mudança aparece no preço das diárias e, principalmente, na estratégia de divulgação nacional e local. O executivo português contratou um chef chileno para dar uma pitada internacional ao cardápio, até então tipicamente português. “Até pratos brasileiros, do tempo dos avós, entraram no cardápio, e tem festa regada a bacalhau, tardes de jazz e confraria de vinhos.” Nesta fase nova, o patrimônio artístico do convento dividirá espaço com a arte contemporânea. “Em parceria com o galerista Roberto Alban criaremos uma galeria permanente.” Mais? São 13 mil m2 com hotel, igreja, sacristia, capelas e 1.500 peças do Museu do Carmo.
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Acima, fachada do Convento do Carmo, com construção iniciada em 1586. As paredes firmes e seculares serviram como quartel das tropas portuguesas na época da rendição dos holandeses, em 1625. Abaixo, Capela do Noviciado, que tem este nome porque fica próxima ao antigo dormitório dos noviços. Toda de azulejos portugueses do século 18, tem painéis que contam a história da Ordem dos Carmelitas
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Acima, parte das dependências do Hotel Fazenda da Lagoa e a paisagem natural da região, que não sofreu alteração no projeto arquitetônico. Abaixo, detalhe do quarto de hóspedes do chalé, em que os proprietários do projeto, o casal Mucki Skowronski e Arthur Bahia, ficam quando viajam do Rio de Janeiro para o hotel. A casa foi construída em forma de paiol
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Ao lado, a exuberante piscina do Hotel Fazenda da Lagoa e a vegetação de restinga, natural da região. Nesta página, a varanda da sede do hotel. Detalhe para o sofá de madeira chamado pelos hóspedes de Planetário, já que dali eles observam estrelas cadentes passarem no céu
No
mínimo,
intocável
A Bahia tem dessas de amor à primeira vista e o lance aconteceu com a artista plástica carioca Mucki Skowronski e o marido dela, Arthur Bahia. Eles pisaram a primeira vez na praia de Una no Réveillon de 2003 e nunca mais esqueceram o mar, a praia deserta, o Rio Aliança e os manguezais. O problema? Os 1.500 quilômetros que separavam o casal do sonho. O que começou como um projeto de uma casa de praia se transformou aos poucos em um hotel de luxo, com a simplicidade que o termo implica no Brasil. Encravado em uma região protegida por mata intocada, o Hotel Fazenda da Lagoa fica a 40 quilômetros ao sul do aeroporto de Ilhéus e a 25 quilômetros ao norte de Comandatuba. Foi construído sobre uma fazenda de coco e dendê de 600 hectares e tem praia privativa de 3,7 quilômetros. Conta Mucki que o projeto exigiu empenho da dupla, “porque a gente queria que os visitantes sentissem a mesma emoção que a nossa naquele Réveillon, a de encarar uma região intocada. Por isso não mudamos nada na vegetação. Na verdade, arrancamos um único coqueiro para a realização do projeto”, diz ela. O casal convidou a amiga arquiteta Lia Siqueira para garantir que a privacidade e a reclusão fossem pontos altos do empreendimento. O engenheiro florestal Eduardo Lins foi chamado para criar o paisagismo, que valoriza a vegetação local. “A pesquisa veio do Jardim Botânico do Rio, já que a proposta era manter coqueiros
centenários e garantir a preservação da restinga na região”, diz. Só para lembrar, restinga é a vegetação que sobrevive entre dunas e a areia da praia, bem típica daquela região do país. O hotel não tem recepção. Informal é a palavra de ordem por lá. São apenas 14 espaçosos bangalôs de 120 m2 a 140 m2. Foram construídos em palafitas e estão cercados por um deck privativo. Mucki empregou no hotel todo o aprendizado de vida na arte de pintar tecidos para decoração. “Cada quarto tem seu estilo, mas fiz questão de usar muita cor nos detalhes. A decoração é garimpada no Brasil todo e valoriza nossa arte popular. Só os mosquiteiros são da Indonésia, por ser de melhor qualidade.” Para se ter uma ideia do investimento, até um paiol de milho foi erguido na fazenda para abrigar o petit palais da dupla. “Muita madeira de demolição, telhas antigas e madeira vindas da produção de cacau... Tudo foi pensado para não consumir matéria-prima da natureza. São 4 mil m2 de área construída. Nossa lagoa, natural e cristalina, tem sete nascentes. São três quilômetros de Mata Atlântica e um bar à beira do rio, a dois quilômetros dos bangalôs.” Mais? Um spa deluxe e a culinária internacional com curadoria da chef Roberta Ciasca, mas com o tempero baiano e delícias do mar e da terra. Simples e grandioso assim! fazendadalagoa.com.br / pestana.com ffwmag! nº 28 2011
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À esquerda, Arthur Cerari, natural da República da Moldávia, e espécie de chefe da tribo de ciganos que vivem em Roma. Nesta página, cigana que, como outras mulheres do clã, não frequenta a escola
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Acima, menina natural da Roménia. Assim como outras da sua idade, ela sonhava em se tornar cidadã romana. Abaixo, cigano do mesmo país. As peças de decoração das casas são compradas ao redor do mundo e servem para valorizar a cultura e a excentricidade do clã
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Acima, menina mostra com orgulho o quarto em que os pais dormem. Abaixo, mãe e filha romenas espantam o frio em frente ao aquecedor com inspiração barroca. Mesmo morando em Roma, os romenos mantêm suas tradições como se casar muito jovens, a ponto de as mulheres se tornarem avós antes dos 40 anos
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Acima, pai e filho no abarrotado quarto. Os homens ciganos passam longos períodos longe de casa, em expedições pela Europa e Rússia, a fim de realizar negócios. Abaixo, mulher em sua suntuosa cama. Vale lembrar que a primeira casa cigana em Roma foi construída na década de 1990 depois da queda da União Soviética
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Acima, decoração dramática, principalmente em cima da cabeceira. Abaixo, moça e seus bichinhos de estimação, mas detalhe para o rádio tipo “rapper” no criado-mudo. Com curso superior em mãos, ela tornou-se uma ativista do clã que vive em Roma e hoje é uma das professoras das meninas ciganas
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Acima, rapaz mostra um dos quartos que ainda não têm mobília. É que, de tão grandes que são os palácios, decorar leva muito tempo... Abaixo, o Dollar Room, que o fotógrafo Carlo Gianferro não conseguiu descobrir do que se trata. Uma excentricidade? Ou seria a mina do Rei Salomão?
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