KRAKEN de Segura e Bernet

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HÁVEL ONSEL DESAC S DE R ENO E PARA M

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16 ANO

“Você lê a imprensa diária? Vê ao menos os telejornais? Se o faz, estou certo de que pensará que a raça humana está enlouquecida. Estamos todos. Somos uma espécie de monstro global que insiste em demonstrar sua loucura extrema e sangrenta com a mesma paradoxal intensidade com que defende nossa condição de seres civilizados.” Com o parágrafo acima, o roteirista Antonio Segura (Sarvan, Hombre, Burton e Cyb) iniciava a série de textos que contextualizavam a criação de Kraken, série realizada em parceria com o desenhista Jordi Bernet (Torpedo, 1936). O protagonista da série é o tenente Dante, antiherói que lidera os Krakaneiros, um esquadrão que patrulha as gigantescas cloacas de Metropol, a mais corrupta e violenta das cidades, local onde atuam os mais sórdidos criminosos (de políticos corruptos a sádicos assassinos) e lar do Kraken, o monstro mítico composto pelos dejetos de toda a podridão e maldade humana. Kraken surgiu em 1983, na revista espanhola Metropol. O conceito da publicação era original: criar séries de HQs adultas ambientadas em uma

cidade fictícia, batizada com o mesmo nome da revista. Para isso, foram chamados alguns dos melhores nomes dos quadrinhos europeus da época. Segura e Bernet apresentaram, então, esta ficção que sintetiza a essência dos quadrinhos dos anos 1980: hiperviolenta, sexual, distópica ao extremo e com doses de um humor mais negro que os líquidos que escorrem pelos esgotos da cidade. Considerada como a grande obra desta dupla de gigantes do quadrinho europeu e um clássico cult dos quadrinhos, Kraken chegará agora pela primeira vez em edição com a série completa, editada em parceria com você, figura!


Desgraçados! Tiras na boca!

Vamos, entre!

Sim... Ufff!

Unidade seis para estação central. Localizados os assaltantes do supermercado. Estão entrando no esgoto três. Repito. Estão entrando no esgoto três.

Já vooou!


Deixa pra lá. A responsabilidade de caçar eles não é mais nossa.

AZZ-189 superfície chamando subterrâneos. Dois assaltantes armados entraram no esgoto três. Entenderam? Câmbio.

GAS - Grupo Ação Subterrânea - 88. Entendido. Bloqueiem saídas até novo aviso. Desligo.

Rápido, rapazes. Temos trabalho.

Se alista na turma subterrânea e verá o mundo, me disseram.


Um trabalho sensacional... e bem pago, me disseram. E a merda da realidade, qual é? Vou te dizer...

E ainda por cima tem o K... O desgraçado do K.

Treze mil quilômetros de esgotos e túneis pra vigiar. Infestados de ratos, foragidos, jacarés, cami- sinhas, fetos, gangues de fugitivos...

Esse negócio do K é uma lenda metropolitana. Muito papo sobre o K, mas ninguém viu ele.

Patrulheiro Dante na lancha seis. Vamos pra zona verde. Aviso à polícia da superfície: assaltantes armados na entrada dois. Câmbio.

Toda a merda de Metropol se esconde aqui embaixo, como se já não houvesse o suficiente boiando na água. Sente o cheiro, porra!

Eu gosto. Acho melhor que meu primeiro emprego. Era coveiro. Você não pode imaginar como os mortos fedem. Eca!

Não seja idiota. O K existe. E quem vê ele, já não pode contar. Essa é minha experiência pessoal.

Estejam atentos. Há aviso de grupo escolar perdido nessa zona. São 26 crianças em visita à fábrica de gás. Iam acompanhadas por guia estatal e professora. Repito. Grupo perdido nessa...


Três horas depois, na zona verde.

Não AGUENTO mais.

Heinnnn?

Aguenta, seu idiota. Falta pouco pro canal. O Chori está esperando a gente com a canoa. Aguenta!

Desça, desça. Já estamos chegando.

Não te disse? Aí está o Chori com a balsa!

Um morto, Tito. Olhe a mão.

Podia ter aparecido em outro lugar. Mal te vejo.

Mãos ao alto! Estão sob nossa mira!

Choooori!

Se aproximem com as mãos pra cima. Rápido! Use a pistola, gordo. Ainda podemos sair desta.


Não!

Perdão, meu dedo pesou.

Você é um desgraçado! Não precisava mandar bala. Não podiam nos atingir, você sabia disso.

Vai escrever isso no relatório. O último que vai fazer. Esse não foi o trato, seu rato de esgoto. Você mandou bala a sangue-frio. Maldita a hora em que você me pegou.

Só restava “pescar” o gordo antes de voltar pra casa.

Acho que peguei ele.

Bico calado. Já era. Pra mim tanto faz dois que três.

Ok. Puxe. Agora.

meu DEUS! O que é isto?


Nunca tinha visto uma coisa assim. Nem os ratos podem fazer um trabalho tão sujo.

Olhe isto... Tem que ser o guia estatal que acompanhava as crianças. Acho... acho que vou vomitar.

Cuidado!

“Lembre-se sempre: o K, depois de destruir sua vítima, usa-a como recipiente de uma parte de si mesmo. Ele vai se alimentar da carne até ganhar entidade própria. Pensamos que é assim que se reproduz.”

incrível! Isto tá vivo!

Pegue os lança-chamas e queime ele... até transformar em pó.

Sou o tenente Dante falando a todas as seções...

Alerta vermelho! O Kraken furou o bloqueio e está nos esgotos. Repito. O Kraken...


ANTONIO SEGURA (Valência, 1947-2012) foi um dos mais destacados roteiristas de histórias em quadrinhos de sua geração.

Começou sua carreira em 1981, colaborando com autores já reconhecidos, como José Ortiz, Luís Bermejo e Jordi Bernet, e participando do boom dos quadrinhos espanhóis nos anos 1980. Dono de grande criatividade, explorou diferentes temáticas, como terror, policial, erotismo, fantasia e faroeste. Ortiz foi o seu parceiro mais constante, com quem realizou as séries Hombre, Morgan, Burton e Cyb, assim como histórias largas para Tex (tornando-se o primeiro roteirista não italiano a escrever o personagem) e Mágico Vento, da editora italiana Sergio Bonelli. Outra grande parceria que estabeleceu foi com Ana Miralles, com quem criou Eva Medusa, uma de suas criações mais premiadas.

JORDI BERNET (Barcelona, 1944) é um dos maiores desenhistas dos

quadrinhos europeus, com uma carreira que já conta com seis décadas de atividade. Começou aos 15 anos de idade, substituindo seu pai, Miguel, na série Doña Urraca. Nos anos 1960, entrou para o estúdio Bardon Art, onde trabalhou em diversas séries de faroeste, guerras e aventuras. Em 1973, com roteiros de seu tio Miguel Cussó, realizou a série de ficção científica Andrax. A carreira de Bernet atingiu seu auge em 1982, quando, em pleno boom do quadrinho espanhol, ele substituiu o norte-americano Alex Toth na série policial Torpedo 1936, criação do roteirista Enrique Sanchez Abuli. Torpedo torna-se um dos personagens mais populares dos quadrinhos europeus e projeta internacionalmente a carreira de seus autores. Também com Abuli, assinou outras obras, como a Série Negra, Snake e De vuelta a casa. Bernet também teve uma sólida parceria com o escritor argentino Carlos Trillo, com quem produziu Light e Bolt, Custer e especialmente a série de humor erótico Clara de noite. Com Antonio Segura, também assinou a série de fantasia Sarvan, em 1982. Kraken teve apenas dois episódios publicados no Brasil pela revista Animal. Outras colaborações célebres do artista são a autoria de um álbum da série Tex Gigante, uma minissérie do personagem Jonah Rex, da DC Comics, e episódios de O vampiro americano, da Vertigo. Jordi Bernet segue firme e forte desenhando quadrinhos. Seu nome é hoje reconhecido como o de um mestre na técnica do desenho com pincel e no jogo de contrastes entre claro-escuro.


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