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ELLE fashioN closet de ideias

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ábado de sol em São Paulo e eu sentada na calçada de um café na rua Oscar Freire, curtindo minha água de coco e relaxando do jeito que jornalista relaxa. Ou seja, obedecendo o vício profssional de observar tudo e todos. Na mesa ao lado, quatro alemães, que não têm cara de jornalistas, estão ainda mais atentos do que eu. Não preciso entender a língua deles para constatar o quanto se mostram fascinados diante das mulheres que passam na rua e circulam no café. Afnal, o que faz com que os estrangeiros achem tanta graça nas brasileiras? Respondo olhando para as próprias. Elas têm uma autoconfança louvável e se produzem para ser admiradas. Acatam o elogio dos olhares masculinos (e não as cantadas, please!) e, por que não, se sentem lisonjeadas quando copiadas pelas mulheres (se assim não fosse, não teríamos tantas blogueiras de sucesso). Andam de um jeito especial, único. Têm molejo. Pense nas garotas do Rio e no tal “doce balanço”. É fato. E é atraente. São vaidosas – o Brasil é o segundo maior mercado de cosméticos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, muito mais rico e populoso. E são bonitas: a mais bem-sucedida mistura de raças do planeta replicou mil tipos de beleza! Temos – somos – todas as mulheres do mundo! Adoram um cabelão. Loiras, morenas, ruivas, mechadas, “brasileiras arriscam tudo quando se trata de mudar a cor dos fos, já o corte... elas gostam mesmo é de cabelo longo, com muitas camadas ou desfados, para se mexer, movimentar”, afrma, com conhecimento de causa, o expert Marco Antonio di Biaggi. “Sexy, né?” O jeito de se vestir... Bom, muitas vezes há certo exagero. Raro o ambiente em que a gente não se depara com mínis justas

e microscópicas combinadas a saltos monumentais. Mas não vamos esquecer que existem vários e importantes contrapontos, a começar pelo jeito casual que a gente tem e que, de certa forma, compensa peruíces e deixa tudo mais relax. A meu ver, por exemplo, a brasileira veste um jeans como ninguém. Além disso, é inegável que somos antenadas e rápidas em absorver tendências, devidamente avalizadas por nossos estilistas, que cada vez mais demonstram entender e atender às ambições das fashionistas locais. Não fosse assim, Alexandre Herchcovitch, um campeão da sacada fashion, não traria em seu verão 2015 uma lady tão cool e moderna, nem Pedro Lourenço mostraria uma mulher tão chic e poderosa. Ou, focando todas as que amam moda + sensualidade, Giuliana Romanno não desceria barras sem abrir fendas e aprofundar decotes, Vitorino Campos não economizaria transparências em seus looks mais sóbrios ou Gloria Coelho não apostaria em saias curtas e decotes pontiagudos, temperando seu estilo, por tantas vezes monástico. Para terminar: se a francesa é reconhecida como tendo o maior QI fashion do mundo, a brasileira também tem um carimbo internacional: é a mulher que não tem medo ou pudor de assumir sua feminilidade, de reconhecer que gosta de agradar a si mesma, ser ícone das amigas e fazer sucesso entre os homens. Ela quer ser sexy. E é. O que pode ser mais sedutor?! Lenita assef Nossa colunista, a jornalista dirigiu ELLE por 11 anos, lançou o projeto da revista NOVA BELEZA e é expert no mundo cor-de-rosa das mulheres: leia-se batons, perfumes, roupas e muitos acessórios! Capricorniana e divertidíssima, divide aqui as suas impressões sobre moda e beleza com a propriedade de quem entende muito do assunto.

fotos DUDU + MENDEZ (arqUivo EllE), NElsoN Di raGo, lEvi MENDEs Jr. E aGêNcia fotositE

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ELLE hot hits DOCUMENTÁRIO Ney durante a turnê Os Inclassificáveis, de 2010. abaixo, o pôster do documentário.

Transgressão exposTa mariana marçal

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se você fosse recebida por Ney Matogrosso em sua casa e conversasse enquanto o cantor mostra vídeos de sua carreira e de sua vida? É essa a sensação que Olho Nu, flme dirigido por Joel Pizzini, que chega aos cinemas no dia 8 deste mês, dá ao expectador. É como um papo intimista com o cantor, que transgrediu com sua voz fna e interpretação teatral no palco e a atitude e a opinião libertárias. Feito no estilo flme-retrato, o longa tem depoimentos do próprio Ney gravados em sua casa no Rio e em Bela Vista (MT), cidade natal do artista, além de registros de shows e de uma edição de vídeos históricos, que estavam nas gavetas do intérprete e ilustram sua vida e obra. Há o começo, no teatro. Toda a história como integrante do grupo Secos & Molhados, que se apresentava com os rostos pintados (reza a lenda que foram a inspiração para o produtor da banda norte-americana Kiss). A carreira de cantor meio bicho, meio homem,

coberto por peles, chifres e penas. Duetos com músicos como Chico Buarque, Nelson Gonçalves e Toquinho. Além de entrevistas com amigos, como Cazuza, de quem foi namorado. Com uma vida recheada de histórias suculentas, surgem momentos em que curiosidades são desvendadas, como a origem do sobrenome Matogrosso (dado pelo avô aos flhos que nasceram no estado), seu relacionamento com o pai militar, a emancipação aos 13 anos e a descoberta da homossexualidade quando estava no Exército, tudo contado de forma leve no decorrer de 1 hora e 40 minutos de flme. Tom que se mantém na entrevista que o cantor deu à ELLE. Como surgiu a ideia do documentário? Foi do Paulinho Mendonça,

diretor do Canal Brasil. Contei a ele que eu tinha muito material em casa – para a minha própria surpresa, mais de 600 horas de flmagem – e disse que não sabia o que fazer com tudo isso. A minha intenção era dis-

fotos divulgação

Filme retrata de Forma intimista a vida de Ney Matogrosso com uma seleção de mais de 600 horas de registro recuperadas e de depoimentos atuais do artista.

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ELLE hot hitS EXPOSIÇÃO

ponibilizar na internet, mas aí pensei em fazer antes um documentário. Olhando o seu arquivo, houve algo que você viu e fez questão de que estivesse no flme? Tem um dueto com

Toquinho que eu insisti para fcar. É uma cena engraçada porque existiu um ferte. Naquela época, as pessoas podiam fazer essas coisas e ninguém fcava chocado. Nunca tivemos nada. Foi o momento em que estávamos gravando Se Todos Fossem Iguais a Você. Assim é fácil fazer uma cena, né?

de drogas com a maior tranquilidade. Usei mesmo. Todo mundo usava! Era outra época. Era diferente. Usar drogas não tinha o mesmo signifcado de hoje. Não tinha esse banditismo. Era muito mais light. No flme, acho que o Joel fez a opção de ser discreto com o tema para limpar minha barra. Mas não precisa limpar minha barra. Eu não limpo. Não sou preocupado com isso. (risos) Ter um flme sobre você o fez refetir sobre a sua história? Não sou

saudosista. Acho que tudo acontece no momento certo. Até coisa ruim, quando rola, é porque tinha que rolar. No caso do flme, quando vi a primeira versão, achei que parecia um ser melancólico. Disse: “Ó, não quero que me vejam assim. Estão faltando loucura e desbunde aí”. E a edição mudou. Como foi ver a estreia do documentário no Festival de Brasília? Assistir

na frente de uma multidão dá nervoso, né? Eu expus o que eu não exponho normalmente. E ali está tudo, inclusive cenas de meu aniversário, eu abraçado com meus amigos. Podem falar: ali ele, agarrado com outro homem! Mas isso já não incomoda mais. Para mim, é problema das outras pessoas.

De cima para baixo, apresentação no final da década de 1980, figurino dos anos 1990 e em dois momentos da banda Secos & Molhados. Abaixo, posando para um calendário com acessório de cabeça.

fotoS MArcelo cArnAvAl, joel MAiA, j.ferreirA DA SilvA, DiDier bizouS, lucio MArreiro e DivulgAção

No flme, as drogas aparecem de maneira muito sutil. Como é a sua relação com o tema? Sempre falei

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ELLE Hot Hits NOvidades

A programação do Cine Joia (cinejoia.tv) este mês é das mulheres. No festival Popload Gig, no dia 11, apresenta-se a banda cult, comandada por três garotas do Brooklyn, Au Revoir Simone, famosa pelo pop de acento vintage. O duo noventista Cibo Matto, das japonesas radicadas em Nova York Yuka Honda e Miho Hatori, volta aos palcos, depois de um hiato de quase 15 anos, para fechar a noite.

música e arte TELÃO DE ESTRELAS

VISTA MoNuMENTAL Instigado por uma contradição da natureza (tão imponente e ao mesmo tempo tão suscetível), o alemão Frank Tiel lança, no dia 13, sua exposição individual na Galeria Leme, com fotos gigantes tiradas na Patagônia. A grande escala é o charme do trabalho, que dá a sensação de estar frente a frente com as grandiosas paredes de gelo. Av. Valdemar Ferreira, 130, Butantã, São Paulo.

Nada mais romântico do que assistir a um flme sob as estrelas, certo? Entre os dias 15 de maio e 1° de junho, a Marina da Glória, no Rio, será palco, mais uma vez, do Vivo Open Air (vivo.com.br/openair), o maior festival de cinema ao ar livre do mundo. Após as sessões, shows nacionais e internacionais – o da cantora Céu, interpretando Bob Marley, e o do Jesus and Mary Chain transformarão o lugar em festa.

fotos rodrigo trevisan e divulgação/com colaboração de marina junqueira

GIRLS NIGHT ouT

VIVA o JAZZ!

O maior festival brasileiro de jazz, o BMW Jazz Festival (facebook.com/bmwjazzfestival), chega em maio à sua quarta edição, passando por São Paulo (de 29 a 31 de maio, no HSBC Brasil), Rio (de 30 de maio a 1° de junho, no Vivo Rio) e Belo Horizonte (3 de junho, no Cine Brasil). Entre os convidados, todos estrangeiros, estão o cantor Bobby McFerrin (foto) e o pianista Ahmad Jamal. Em São Paulo, além das apresentações no HSBC, será organizado um show gratuito no Auditório Ibirapuera (1° de junho).

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reGistrO nOstálGicO Mesmo morando há décadas nos Estados Unidos, o fotógrafo Valdir Cruz seguiu fotografando sua terra natal, Guarapuava (Paraná). Do trabalho, surgiram um livro com 90 fotos e uma exposição de 40 retratos. A mostra estará no MIS (mis-sp.org.br) a partir do dia 1° e também na recém-inaugurada flial paulista da galeria gaúcha Bolsa de Arte (bolsadearte.com.br).

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No pequeNiNo e quase secreto Ema, restauraNte com meNu autoral de iNspiração caiçara, a chef reNata VaNzetto dá Vazão à criatiVidade e às iNfluêNcias da iNfâNcia e adolescêNcia, passadas em ilhabela.

O ca ntO da

daNiel taVares fotos christiaN maldoNado

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A chef Renata Vanzetto posa no salão de seu pequeno e charmoso restaurante, o Ema. Na página ao lado, camarão na moranga, polvo à vinagrete e creme de iogurte com calda de maracujá e frutas vermelhas.

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assistência de fotografia Marcelo guanabara

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o caminhar pela rua da Consolação, nos Jardins, em São Paulo, um desavisado à procura de um lugar especial para jantar provavelmente passará reto pela entrada do restaurante Ema, a empreitada mais recente da chef Renata Vanzetto. Não existe uma fachada convidativa, apenas um néon branco com o nome do lugar sobre uma porta preta, que por sua vez está camufada em um sobrado pintado com a mesma cor. Para conhecer o pequenino salão, ainda é preciso subir uma escada. “É como se fosse um esconderijo”, conta a chef, que abriu as portas de sua nova casa em novembro do ano passado e está agora em seu melhor momento. Desde a elaboração do conceito até a materialização do negócio, mais de dois anos se passaram. As primeiras ideias começaram a surgir durante o estágio de um mês que ela fez na Dinamarca, em 2011, no restaurante Noma (atualmente o segundo melhor do mundo de acordo com a lista da revista britânica Restaurant). Na época, ao perceber que a grande inspiração do chef dinamarquês René Redzepi vinha dos ingredientes e pratos de sua região, Renata começou a idealizar o Ema. “Fiquei com muita vontade de abrir algo que refetisse minha história em Ilhabela (SP), onde cresci e passei a maior parte da minha vida, sempre em contato com a natureza e “depois de um estágio com a comida caiçara.” Foi na ilha que a chef prono noma, na dígio começou a cozinhar, dinamarca, fiquei ainda criança, com a avó. Aos 14 anos, já fazia jantares para com vontade de abrir os amigos por encomenda, algo que refletisse aos 15 preparou o primeiro minha história em banquete profissional e, um ilhabela, onde cresci ano depois, ganhou o concurso de melhor chef da cidade. em contato com Com o dinheiro, viajou para a a comida caiçara.” Europa para fazer estágios em alguns restaurantes na França e na Espanha e, na volta, passou a vender sanduíches para barqueiros na marina de seu pai. Aos poucos, foi elaborando pratos, montando uma estrutura, colocando mesas. E foi assim que, sem nenhuma pretensão, nasceu o seu primeiro restaurante, o Marakuthai. A casa deu origem a outra unidade em São Paulo e mais dois bufês, que levam o mesmo nome, ambos comandados por sua prima e sócia, a chef Aline Frey. O que para muitos poderia ser o sufciente, para Renata era pouco. Em dezembro de 2012 – depois de se recuperar de uma tragédia pessoal, a morte do namorado durante um mergulho –, abriu o bar e ceviceria MeGusta, em Ilhabela, com o amigo de infância Ado Manetti e, só no ano seguinte, encontrou por acaso o imóvel que tanto procurava para o Ema. Em apenas três meses, ela e a prima Aline transformaram o que

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ELLE GouRmEt era um escritório em um restaurante de 27 lugares que funciona somente às terças, quartas e quintas-feiras, exclusivamente no jantar. “O fato de abrir apenas três noites por semana me dá tempo para cuidar das outras casas, e sei que é viável economicamente porque o Marakuthai da ilha também tem um funcionamento parecido ”, explica a chef, cuja marca registrada são os lenços coloridos na cabeça e os dólmãs estilizados. Assim como ela imaginou lá atrás, durante seu estágio, as receitas do Ema refetem sua história e personalidade. A inspiração caiçara aparece em muitos pratos, mas ela faz questão de deixar claro que ali o espaço é autoral e de extrema liberdade e que, se um dia quiser visitar a cozinha francesa, por exemplo, não há nada que a impeça. O cardápio, que muda semanalmente, é bem reduzido, com aproximadamente oito opções de entrada, cinco de prato principal e duas de sobremesa – estas assinadas por Aline. O menu degustação, pelo qual é possível sentir de maneira mais intensa o caminho de sabores proposto por Renata, sai por 130 reais (seis tempos) ou 148 reais (oito tempos). Algumas de suas criações viraram hits e aparecem frequentemente tanto nas opções fxas quanto na degustação. Entre eles, estão o camarão na moranga, o polvo à vinagrete, o peixe vermelho na farinha e a casquinha de siri com crosta crocante – releituras de clássicos da praia. Quanto ao layout do lugar, Renata fez praticamente um milagre com uma planta retangular, que nada mais é do que um corredor. No diminuto espaço, que ganhou pé-direito alto graças à remoção do forro do teto, fcam a cozinha (à vista) e o salão, com quatro mesas e um grande balcão de madeira de demolição de 12 lugares. Não há sala para espera. Por isso, reserve antes de ir. Sem muita badalação, a protagonista ali é de fato a comida. E são justamente os foodies, apaixonados por culinária e que adoram fotografar os pratos, que têm lotado o Ema. “Cheguei até a autografar cardápio para alguns clientes”, diz a chef, que também assina os quadros que decoram o restaurante. Recentemente, Renata incluiu à sua atribulada rotina as gravações da segunda temporada do reality de gastronomia Cozinheiros em Ação, do GNT. É com esse saldo enorme que a jovem chef completa 12 anos de carreira profssional com apenas 25 anos. “Esse tempo de trajetória me ajudou a amadurecer em diversos sentidos. Aprendi a delegar e descentralizei algumas atividades, o que me permite ter uma vida pessoal mais saudável, com direito a alguns fnais de semana com meu namorado na praia, por exemplo”, refete ela, que namora o empresário Fernando Whately (sobrinho do banqueteiro Charlô) há dez meses. Sonhos? Dedicar-se à pintura e formar uma família. Enquanto isso não acontece, segue frme, focada em sua cozinha, cheia de histórias para transformar em receitas.

Renata, com as roupas coloridas, que são sua marca registrada, na cozinha aberta do Ema.

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os foodies, apaixonados por culinária que adoram fotografar os pratos, é que têm lotado o ema.

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