Montevideu_PV

Page 1

Montevid茅u Revista Pr贸xima Viagem

Agosto, 2008


Montevidéu montevidéu

Um outro

tempo

Carne de primeira, bons vinhos,

pequenas ousadias e até tango: a capital

uruguaia cresceu e já tem tudo aquilo que você também encontra em Buenos Aires. Mas tudo à sua maneira, sem pressa,

tratando de preservar o que de melhor

ficou dos velhos tempos: a qualidade de vida, a gentileza em cada esquina e um

jeito de cidade do interior que fará você se esquecer que esta é a capital de um país

p o r

32

xa v i e r

b ar t a b u r u

P R Ó X I M A v i a g e m

f o t o s

d e

f e r n a n d o

mar t i n h o



montevidéu

Q

uis o destino que, por força da linhagem familiar, Montevidéu se tornasse uma das cidades da minha infância. Falo de pouco tempo atrás, coisa de duas décadas. Mas as recordações dos inúmeros invernos e verões que vivi na capital uruguaia me remetem sempre a uma era anterior, como se viajar de férias implicasse também um deslocamento no tempo. Aquele era um lugar onde os homens circulavam de chapéu e sobretudo, onde Fords negros e rechonchudos dos anos 40 dominavam o trânsito e os trólebus deslizavam sobre as linhas de bonde, ainda impressas no asfalto das ruas. Isso há meros 20 anos. O fato é que Montevidéu nunca teve muita vocação para a pressa. Em que outra capital latino-americana os motoristas, mesmo com o sinal verde, esperam você cruzar a rua? Em que metrópole as pessoas sentam-se à soleira das portas, em pleno Centro, para tomar mate? Pena que tantos turistas não se dêem conta disso. Para muitos, a capital uruguaia não passa de escala para uma visita apressada no

VIDA NOVA

Começou no Mercado del Puerto (foto menor). Aos poucos, a onda de modernização passou a se alastrar por todo o Centro antigo.

34

P R Ó X I M A v i a g e m

caminho entre Buenos Aires e Punta del Este, carente de grandes atrações, daquelas de tirar foto e comprar suvenir. Montevidéu é cidade para se degustar despacito, permitindo-se gastar o tempo flanando pela orla ou sentado num desses cafés cuja decoração não muda há pelo menos cinco décadas. Montevidéu não teve pressa nem para nascer. Temporã entre as metrópoles da América hispânica, a cidade foi criada só em 1726, quase 200 anos depois da fundação de Buenos Aires, quando os espanhóis importaram meia dúzia de famílias das Ilhas Canárias para estabelecer-se no que viria a se chamar San Felipe y Santiago de Montevideo. As razões eram estratégicas: os portugueses, firmados em Colonia del Sacramento, davam francos sinais de avanço de seus domínios sobre o Rio da Prata. Nas décadas seguintes, a cidade foi base naval da Coroa espanhola, porto de escravos e uma valiosa porta de entrada e de saída para o comércio da prata que movimentava as artérias fluviais da América do Sul. Em 1828, com apenas 100 anos de vida e 15 mil habitantes, Montevidéu tornou-se a capital do Uruguai, a última nação da América do Sul a conquistar a independência.


Grandes mudanças na Ciudad Vieja: antigos cortiços agora abrigam o que há de mais moderno em moda e design Se Montevidéu um dia teve pressa, foi na primeira metade do século 20, quando as duas guerras na Europa permitiram que a exportação da carne uruguaia vivesse o maior boom de sua história. Enriquecido, o Uruguai investiu na modernização e no bem-estar social, atingindo níveis superiores aos de muitas nações europeias — muitos dos quais mantidos até hoje. Foram os anos da chamada “Suíça da América”. Sinais vísiveis dessa idade do ouro na capital são o Palacio Salvo, erguido em 1925 para ser o edifício mais alto da América Latina; o Palacio Legislativo, um dos congressos mais bonitos do mundo; e oEstádio Centenario, inaugurado em 1930 com o jogo inicial da primeira Copa do Mundo. A cidade chegou ao final dos anos 50 com pouco mais de 1 milhão de habitantes. E, então, parou. O Uruguai todo parou, mergulhado numa crise da qual nunca se recuperou, agravada pelos anos escuros da ditadura militar (1973–1980). A taxa de natalidade caiu, a taxa de emigração subiu e a população da capital continuou com o mesmo milhão de moradores até hoje. Quem ficou, passou a desfrutar sua lenta decadência, tratando de fazer perdurar as coisas boas que sobravam daqueles tempos de fausto. É bem sabido que os uruguaios não são muito afeitos às grandes transformações. Contagiado por uma nostalgia crônica, o Uruguai dos últimos 50 anos tornou-se um lugar onde as novidades sempre demoravam um pouco mais para chegar. Na capital, onde vive quase metade da população do país (3,5 milhões), não era diferente. P R Ó X I M A v i a g e m

35


montevidéu

Em certas ruas do Centro, você pode achar que está numa pacata vila do interior, nunca na capital de um país Mas novidades, por mais que se resista, sempre chegam. A onda que nasceu em Buenos Aires e bateu em Punta del Este haveria de, mais cedo ou mais tarde, varrer Montevidéu. Começou de forma sorrateira há uma década, quando artistas plásticos vieram instalar seus ateliês nas ruas vizinhas ao porto, “quando isto era só estivadores e gente de mala vida” — lembra Ana Baxter, pintora estabelecida há cinco anos na área. “Eles tiveram uma intuição. O porto é abertura: para você e para os outros.” Dito e feito. De repente, navios de cruzeiro começaram a materializar-se no porto de Montevidéu. Quando isso acontece, mais de 2 mil turistas enchem de uma vez só as ruas da Ciudad Vieja, como é chamada a parte mais antiga e, ao mesmo tempo, a mais degradada da capital. Há dez anos, eles não tinham muita opção a não ser almoçar no Mercado del Puerto, onde estão as melhores parrillas da cidade. Com o tempo, o governo reformou alguns dos belíssimos edifícios históricos, muitos do século 19, e acabou criando um corredor de atrações que interliga a Plaza Indepedencia, a mais importante da cidade, a Plaza Constitución, coração da velha Montevidéu, e o mercado. Hoje os visitantes têm pelo menos dez museus à disposição só na Ciudad Vieja. Destaco alguns: o Museo Torres García, que reúne obras do maior expoente da pintura uruguaia; o Museo Gurvich, dedicado a um de seus discípulos e mais bem montado que o do mestre; o Museo Histórico Nacional, instalado na casa do primeiro 36

P R Ó X I M A v i a g e m


VELHO CONTINENTE

Como Buenos Aires, Montevidéu exala um profundo charme europeu. Na foto menor, o Teatro Solís. Nesta foto, a Plaza Independencia. Abaixo, o Mercado del Puerto.

P R Ó X I M A v i a g e m

37


montevidéu

estilo parisiense

Dos inúmeros cafés do século passado que se mantêm na ativa, um dos mais conhecidos é o Brasilero, com 130 anos de idade.

38

P R Ó X I M A v i a g e m


O Carnaval mais longo do mundo Começa sempre no fim de janeiro, com um desfile pela Avenida 18 de Julio. E, então, arrasta-se por 40 dias até o início de março, fazendo da capital uruguaia uma cidade em festa permanente durante boa parte do verão. O Carnaval de Montevidéu, tido como o mais longo do mundo, é na verdade o encontro de várias manifestações culturais, algumas trazidas da África, outras da Europa, agrupadas num único evento. Duas dessas manifestações são particularmente características do Carnaval uruguaio. A mais importante é o candombe (não confundir com nosso candomblé), ritmo de forte acento africano nascido há 200 anos entre os escravos que viviam em Montevidéu. Hoje, a comunidade descendente desses escravos (cerca de 10% da população) sai pelas ruas do Barrio Sur — em particular a Isla de Flores — na forma de comparsas, grupos que reúnem tamborileros (tocadores de tambor) e dançarinos. É o chamado Desfile de Llamadas (foto). Também faz parte da festa a murga, exclusiva dos brancos. Trazida no começo do século 20 da Espanha, ganhou influências da commedia dell’arte, misturou-se a ritmos negros e acabou virando uma expressão híbrida carregada de humor e sátira política. As apresentações ocorrem em tablados espalhados pela cidade, onde coros de homens maquiados comentam, de forma teatral, os acontecimentos do ano que passou. Caso você esteja em Montevidéu nessa época, ambos são imperdíveis. Em janeiro, também é possível assistir aos ensaios. Para saber onde eles acontecem, basta consultar o posto de informações turísticas que fica ao lado do Mercado del Puerto.

O Carnaval da capital uruguaia dura nada menos que 40 dias. Aqui, nem a folia tem pressa para acabar presidente uruguaio; e o novíssimo Museo del Carnaval, que revela curiosidades do Carnaval mais longo do mundo (veja quadro acima). Vale também espiar o Teatro Solís, inaugurado há 140 anos e recém-restaurado. As visitas guiadas incluem números de clown. As grandes mudanças da Ciudad Vieja, porém, não estão nas obras do governo, e sim nos pequenos empreendimentos privados. A rua 25 de Mayo, por exemplo, tornou-se a preferida de designers descolados como Fernando Escuder, Ana Livni e Luciana Premazzi. Já a Pérez Castellanos tornou-se um ímã para a instalação de ateliês como o de Ana Baxter e galerias de arte contemporânea. A isso, soma-se o número cada vez maior de estrangeiros que têm comprado velhos casarões da área para transformá-los em casas de veraneio ou bens de investimento. “Em qualquer lugar do mundo, o Centro antigo é a parte mais bonita da cidade. Em Montevidéu, as pessoas estão finalmente redescobrindo a beleza da Ciudad Vieja”, diz Natalia Acquistapace, dona da Imaginario Sur, loja que mistura roupas, objetos de decoração e livros de poesia de jovens artistas locais. Tudo isso não tem nem cinco anos de idade. Embora rápidas para os padrões uruguaios, são transformações discretas. Fora da zona turística, a Ciudad Vieja ainda é uma região barra-pesada de cortiços, edifícios em ruínas e batedores de carteiras. A revitalização total deve começar a surgir a partir de maio, quando o governo uruguaio mudará sua sede para a Plaza P R Ó X I M A v i a g e m

39


montevidéu

A livraria que é museu Há poucos meses, eles venderam uma primeira edição de Cem Anos de Solidão, obra-prima de Gabriel García Márquez, por 1500 dólares. Ainda há uma primeira impressão sul-americana de Dom Quixote, datada de 1880, à espera de um comprador, guardada com segurança duplicada numa sala onde descansam outras raríssimas edições de clássicos da literatura latino-americana — incluindo relatos originais de viajantes do século 18. A livraria Linardi y Risso é uma jóia escondida no Centro antigo de Montevidéu desde 1944, um verdadeiro museu construído com velhas bibliotecas particulares que as viúvas da cidade não quiseram mais. Antes de virar livraria, a casa centenária serviu de ateliê ao pintor Joaquín Torres-García. Quando trocou os quadros pelos livros, o lugar prosseguiu sua vocação artística e passou a abrigar tertúlias literárias organizadas pelos grandes escritores uruguaios, como Mario Benedetti e Eduardo Galeano. Estes, por sua vez, sempre levavam seus amigos ilustres para conhecer a livraria. O livro mais valioso da coleção é, na verdade, um caderninho onde os visitantes deixaram suas assinaturas. Nas páginas, surgem nomes como o de Pablo Neruda, Mario Vargas Llosa e Tomás Eloy Martínez. Do Brasil, apenas um; logo ele, que com um único livro elegeu-se à Academia Brasileira de Letras: José Sarney. n Linardi y Risso. Juan Carlos Gómez, 1435, www.linardiyrisso.com

Na lista das cidades com melhor qualidade de vida do mundo, Montevidéu ocupa o primeiro lugar na América Latina Independencia, fronteira entre a cidade antiga e a nova. O mais curioso é que, mesmo caminhando a passos firmes rumo à modernidade, os montevideanos mantêm-se firmemente atados a costumes dos velhos tempos, carregados de um certo provincianismo. Desgarre-se da 18 de Julio, a agitada avenida principal, numa tarde de verão e em menos de dois quarteirões você se verá metido num território de ruas silenciosas e casas centenárias mergulhadas na sombra dos plátanos. Do lado de fora, haverá um sujeito sentado na espreguiçadeira, tomando mate, energético das estâncias que se adaptou incrivelmente à vida citadina. Aqui, ninguém sai de casa sem uma cuia numa mão e uma garrafa térmica na outra. Quando não estão tomando mate, os montevideanos tomam café. De preferência numa daquelas cafeterias decadentes do Centro cujo cardápio não muda há séculos — mas a qualidade se mantém a mesma. Na Ciudad Vieja, procure por lugares como El Hacha, Brasilero, Fun Fun e Tasende. A idade deles varia entre 120 e 200 anos. E, embora tenham sofrido inúmeras metamorfoses, preservam intacto aquele espírito retrô involuntário, aquele desejo de nunca se adaptar aos novos tempos que as metrópoles do mundo já quase levaram à extinção. O apego ao antigo tem a sua mais eloquente manifestação nas manhãs de domingo, quando a rua Tristán Narvaja e seus arredores tornam-se palco de um dos mercados de pulgas mais excêntricos 40

P R Ó X I M A v i a g e m


do planeta, na ativa desde 1909. Tanto é que virou atração turística. Tudo que as famílias montevideanas guardaram durante décadas e não querem mais — e alguma outra há de querer — está lá, amontoado em barracas ou no chão por quadras e quadras. De barbeadores e sapatos usados a uma pavão-fêmea pela bagatela de 300 dólares. Esse quadro pode levar você a acreditar que falo de uma cidade vetusta e atrasada. Nada disso. Afaste-se do Centro em direção ao leste e você vai topar com bairros como Punta Carretas, Pocitos e, mais adiante, Carrasco, onde não faltam bares, restaurantes, danceterias e shopping centers. E o mais importante: uma intensa vida social ao ar livre nos parques, nos bulevares e nas ramblas. Rambla é o nome dado ao calçadão costeiro de 18 quilômetros de extensão que acompanha a capital uruguaia em todo seu perímetro. E é o exato lugar onde os montevideanos cultivam — senão todos os dias, ao menos nos finais de semana — o saudável exercício da qualidade de vida, regando-a de preferência com muito mate. Uma orla dessas é luxo que não se despreza, e seus habitantes sabem muito bem gozar de todas as possibilidades que ela oferece: caminham, correm, andam de bicicleta, dão um mergulho no rio, tomam sol nas pedras, pescam, jogam conversa fora.

Se os montevideanos são tão resistentes às mudanças, é em grande parte pelo receio de perder o que resta de um tempo em que se tinha tempo. Talvez por isso tanta gente venha morar aqui quando decide se aposentar. Se você se permitir conhecer Montevidéu com a tranquilidade que ela merece, vai entender por que ela encabeça a lista das cidades com melhor qualidade de vida da América Latina. Num ranking mundial elaborado anualmente pela consultora americana Mercer, a capital uruguaia ocupa um invejável 76o lugar, três acima de Buenos Aires e 43 acima de São Paulo. As capitais uruguaia e argentina de fato são muito parecidas, já que compartilham do mesmo código genético. Separadas por um rio que mais parece mar, porém, cada uma cresceu à sua maneira. Montevidéu pode não ter o brilho e o desvario de Buenos Aires, mas ainda não conhece os vícios das grandes metrópoles, como o trânsito, a poluição e a violência. Nesse contexto, não há exagero algum em enxergar Montevidéu como uma versão menor, mais compacta, mais sossegada e mais barata de sua irmã portenha. E que você não se arrependerá de ter descoberto. Está, pois, lançado o desafio: que tal dar um tempo em Buenos Aires e dar uma chance a Montevidéu? O.k., a capital argentina é insubstituível, mas saiba de uma coisa: o que há de bom do lado de lá do Rio da Prata pode muito bem ser encontrado do lado de cá. Duvida? A carne, por exemplo, é a mesma. Mesmo gado, mesma pampa, mesmos cortes. A melhor do mundo, portanto. Parrilladas há às centenas, mas não perca tempo procurando. Vá direto ao Mercado del Puerto, onde a qualidade é insuperável. Para acompanhar, peça um tinto tannat e descubra por que os vinhos uruguaios têm ganhado tanto prestígio entre os paladares internacionais (veja quadro). Se você é um amante do tango, já deve então saber que o maior clássico do gênero, “La Cumparsita”, não só foi composto por um uruguaio como também executado pela primeira vez

para relaxar

As ramblas são o espaço de socialização preferido dos montevideanos. A de Pocitos vive lotada nos finais de semana.

P R Ó X I M A v i a g e m

41


montevidéu

Tannat, o vinho da vez As primeiras sementes da uva tannat, casta obscura dos Pireneus franceses, foram trazidas ao Uruguai em 1870 por um imigrante basco. A uva adaptou-se tão bem ao clima local que os tintos tannat tornaram-se tão emblemáticos do Uruguai quanto os carménère do Chile. Um século depois, consultores franceses ensinaram como melhorar a qualidade dos vinhos. Deu certo: no ano passado, 30 tintos uruguaios conquistaram medalhas de ouro e de prata em concursos internacionais. São vinhos em geral muito adstringentes, perfeitos para acompanhar carnes. Lugar ideal para comprovar essa tese é o restaurante Tannat, especialista na uva. Além de compor uma adega respeitável, os tintos uruguaios figuram também nas excelentes receitas da casa, muitas com carnes exóticas, como o filé de ñandú (ema). Outros pratos do menu são o taglietelle de tannat e um delicioso sorvete de tannat regado a licor de tannat (foto). “Por causa do tanino, é um dos vinhos mais fortes que há, com um sabor muito especial”, resume o jovem chef Pablo Saravia. Ao contrário do que ocorre em Buenos Aires, as vinícolas uruguaias ficam a 15 minutos do centro de Montevidéu. Muitas abrem para degustações e visitas a suas belas propriedades. É o caso da Bouza, bodega-butique que tem até museu de calhambeques, e da Juanicó, cuja cava é uma das mais antigas da América Latina. A agência Cisplatina tem um roteiro de cinco horas pelas vinícolas do tannat por US$ 75. n Tannat. San José, 1063, % 900-8127, www.tannatrestaurant.com n Bouza. C. de la Redención, 7658, % 323-4030, www.bodegabouza.com n Juanicó. Ruta 5, km 37500, % 335-9725, www.juanico.com n Cisplatina. % 9963-1547, info@cisplatinauruguay.com

Montevidéu é uma espécie de versão resumida de Buenos Aires. Mas dotada de praia, sossego e muita gentileza em Montevidéu, num antigo café embaixo do Palacio Salvo. Nem o maior clássico nem o maior ícone são portenhos: Carlos Gardel, ao que atestam alguns biógrafos, teria nascido no interior do Uruguai, na cidade de Tacuarembó. Sim, acredite, o tango também é uruguaio. E Montevidéu está cheia de tanguerías. Vamos agora ao que Buenos Aires não tem. Aos que gostam de economizar, artigos de couro e de lã a preços ainda menores que os das lojas portenhas. Aos que gostam de jogo, um suntuoso cassino no bairro de Carrasco. Aos que gostam de praia, dezenas delas, uma após a outra, ao longo de 13 quilômetros, conectadas por uma orla que lembra a do Rio de Janeiro (embora tendo um rio no lugar do mar). Quatro delas — Ramírez, Pocitos, Buceo e Malvín — ganharam em 2005 um selo de qualidade ambiental ISO 14001, tornando Montevidéu a primeira capital do mundo com tal distinção. Os que fazem da gentileza, por fim, um item obrigatório das relações sociais gostarão de saber que Montevidéu esbanja a amabilidade que tanto falta do outro lado do Rio da Prata. A capital uruguaia ainda é do tempo em que os homens se cumprimentavam na rua com uma levantada de chapéu e um aceno da cabeça. Ao contrário dos carros antigos e dos trólebus da minha infância, já quase desaparecidos, as transformações dos últimos anos parecem ter poupado a simpatia e a polidez. Certas coisas, como os montevideanos bem sabem, não têm a menor necessidade de mudar. Para que a pressa? 42

P R Ó X I M A v i a g e m


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.