O menino e o morcego

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O morcego estava dormindo sossegado, pendurado de cabeça pra baixo.
Ele nem imaginava que alguém apontava uma espingarda em sua direção.
De repente, um tiro atingiu a árvore onde ele estava dormindo.
O morcego tomou um susto tão grande que caiu e bateu a cabeça no chão.

Tonto, ele ouviu outro tiro e saiu voando desesperado pra longe de lá.

Era dia, e o morcego estava com muito sono. Ele voou, procurando outro lugar para dormir.

Até que achou uma pequena caverna.

Ele entrou e se agarrou ao teto. Antes de cair no sono, o morcego se perguntou: Por que será que aquele homem atirou em mim?

Perto de lá, um menino de 9 anos sabia a resposta.

Seu nome era João, e ele morava em uma fazenda. Seu pai trabalhava como peão, cuidando do gado. O dono da propriedade estava com medo que os morcegos vistos na região pudessem morder os animais ou as pessoas do local.

Por isso, mandou seus capatazes atirarem em qualquer morcego que vissem. O pequeno João ficou triste, pois gostava de todos os animais e não queria que nenhum deles morresse.

Ao anoitecer, o morcego despertou com muita fome. Ele saiu voando pra procurar comida.

Logo

achou uma amoreira e se deliciou comendo as suculentas amoras.

Mas não percebeu que uma cobra peçonhenta deslizava em sua direção.
A serpente aproximou-se sorrateiramente e se preparou para atacar. O morcego viu um besouro. No momento em que a víbora ia dar o bote...

O morcego escapou por um triz ao sair voando atrás do besouro. O inseto era rápido. O morcego também. Ele teve que se desviar de folhas, galhos e troncos para se manter na perseguição.

O pequeno besouro voava com toda velocidade. O morcego estava na sua cola, até que bateu as asas bem forte, deu um impulso pra frente e conseguiu abocanhar o delicioso inseto.

Agora o morcego estava satisfeito, com a pança cheia. Ele aproveitou para fazer cocô, que caiu na terra e espalhou novas sementes de amora no solo.

Quando estava amanhecendo, o morcego foi ficando com sono e voltou para sua caverna. No caminho, ele escutou mais tiros.

João resolveu ir à biblioteca da cidade para fazer uma pesquisa. Descobriu que os morcegos nunca pousam sobre as pessoas e não atacam ninguém. Somente se alguém tentar pegá-los, é possível que eles mordam pra se defender.

Existem mais de 1300 espécies de morcegos no mundo. A maioria se alimenta de insetos, frutas ou néctar. Eles desempenham funções importantes na natureza: ajudam a controlar pragas nas plantações, polinizam flores e espalham sementes, que contribuem para o reflorestamento, ajudando assim a combater as mudanças climáticas.

Só um tipo de morcego se alimenta de sangue de mamíferos. É conhecido como morcego hematófago ou morcego-vampiro. Mas ele não é agressivo. Ele se aproxima de um animal que está dormindo, dá uma mordida superficial e quase indolor na pata dele e lambe um pouco do seu sangue. É um bichinho que gera controvérsias. Algumas pessoas defendem sua preservação, outras não.

O menino ficou feliz com o que aprendeu sobre morcegos e voltou empolgado para contar tudo aos pais.

Porém, quando chegou em casa, sua mãe lhe contou que tinham avistado um morcego em uma caverna, e o pai havia sido incumbido de caçá-lo.

“Não!” Exclamou João. “Eu vou atrás dele!”
A mãe viu o filho sair correndo e não entendeu nada.

O pai de João se aproximou da caverna, com um rifle na mão. Entrou e esperou seus olhos se acostumarem à escuridão. Ele estava com medo. Não queria ser mordido por um morcego.

Procurou seu inimigo, até que finalmente conseguiu enxergar o pequeno bicho dormindo no teto e pensou: Será que esse animalzinho é realmente perigoso?

Ele apontou sua espingarda para o morcego e mirou com cuidado, pois não podia errar o tiro.

Seu dedo estava pronto para apertar o gatilho...

Quando ele ouviu passos. Olhou pra trás e viu João chegando esbaforido.

“O que você está fazendo aqui, filho?”

“Eu vim pedir pra você não atirar no morcego.”

“Por quê?”

O menino contou ao pai o que tinha aprendido em sua pesquisa: que os morcegos são inofensivos e ainda têm um papel importante na natureza. Além disso, descobriu que matar animais silvestres é proibido pela lei brasileira. É crime ambiental.

O homem desistiu de atirar. O morcego continuou dormindo sossegado, sem nem imaginar que tinha corrido risco de vida.

Pai e filho voltaram juntos para casa.

O adulto estava preocupado e falou: “O patrão me deu uma ordem. Ele vai ficar bravo quando eu contar que não consegui matar o morcego”.

O filho o acalmou, dizendo: “Ele tem medo de morcegos porque acha que todos se alimentam de sangue e podem nos atacar. Mas isso é só uma lenda”.

Então João bolou um plano. Ele baixou uma foto do morcego hematófago no telefone celular.

Depois, ele e o pai pegaram uma rede de pesca, amarraram-na em dois pedaços de pau e voltaram para a caverna. Lá eles esticaram a rede, cada um segurando de um lado.

Chegaram perto do morcego, que se assustou e tentou voar, mas ficou preso na rede.

Em seguida, eles levaram a rede para a entrada da caverna, onde tinha mais luz. Olharam o pequeno morcego e o compararam com a foto do morcego-vampiro. Concluíram que o morceguinho ali era de outra espécie. Tiraram uma foto dele e depois o soltaram.

O morcego bateu as asas e voou. Ele tinha ficado muito assustado ao ser capturado, mas agora sentia-se aliviado por estar livre de novo.

O pai de João mostrou as fotos ao dono da fazenda e explicou que o morcego encontrado não era perigoso. Também contou tudo o que o filho descobrira sobre os morcegos e a importância deles para os ecossistemas.

O patrão elogiou o bom trabalho do funcionário e compartilhou aquelas informações com outros fazendeiros. Desde então os homens da região nunca mais caçaram morcegos.

O menino ficou muito contente por ter feito sua parte para salvar os morcegos e ajudar a preservar a natureza. O morceguinho já não precisou mais se preocupar com os humanos e voltou a viver livre e feliz!

INFORMAÇÕES EXTRAS

O morcego é o único mamífero que consegue voar. Ele tem hábitos noturnos. Fica acordado de noite e dorme de dia, pendurado de cabeça para baixo. Os morcegos não conseguem se projetar ao ar como as aves; eles precisam se lançar de um lugar alto para poder voar.

Muita gente acredita que os morcegos são cegos. Mas isso não é verdade. Eles enxergam sim. Sua visão é adaptada à baixa luminosidade. Contudo, para se orientar no escuro, o morcego também dispõe de uma habilidade interessante: a ecolocalização. Ele emite ondas sonoras que encontram obstáculos e retornam ao seu ouvido. Pelo sinal reverberado, o morcego consegue medir a distância do objeto, seu tamanho, velocidade e até detalhes de sua textura.

No Brasil há cerca de 180 espécies de morcegos. Pequenos e leves, grandes e pesados, pretos, marrons, laranjas, brancos e até vermelhos.

Os hábitos alimentares dos morcegos são os mais diversos. Há os que comem insetos (insetívoros), frutas (frugívoros), néctar (nectarívoros), peixes (piscívoros), pequenos vertebrados (carnívoros), sangue (hematófagos) e os que comem de tudo um pouco (onívoros). As espécies são conhecidas pelos seus nomes científicos em latim.

Existem somente três espécies de morcegos hematófagos. Eles vivem na América Central e do Sul. São pequenos, o maior deles tem apenas 10 centímetros. Duas espécies bebem exclusivamente sangue de aves. Somente o Desmodus rotundus é que se alimenta do sangue de mamíferos. Ele é conhecido como morcegovampiro-comum. Mas esse nome é infeliz, pois faz parecer que ele é um vilão malvado, quando o fato é que ele é simplesmente um bichinho peculiar que faz parte da nossa rica fauna. Ele não ataca ninguém com agressividade. Aproxima-se de animais que dormem, encontra algum ponto vulnerável e morde, fazendo um corte superficial e quase indolor. Então ele lambe o sangue que sai da ferida. A quantidade diária consumida pelo

morcego é pequena, variando de 15 a 20 mililitros, cerca de duas colheres de sopa. Muitos fazendeiros têm medo desse morcego porque ele pode transmitir ao gado uma doença chamada raiva. Mas pesquisas mostram que menos de 1% dos morcegos carregam a doença. Portanto, só quando se comprova que há perigo de contaminação é que medidas devem ser tomadas (por órgãos competentes, não por pessoas comuns) para o controle populacional dessa espécie.

Um único morcego insetívoro é capaz de ingerir milhares de insetos. Os morcegos são os maiores comedores de insetos do planeta, contribuindo para o combate de pragas na agricultura e para o equilíbrio nos ecossistemas. Também são importantes para a polinização. Sem os morcegos, a habilidade de reprodução de algumas plantas diminui em 50%. Isso inclui as árvores de manga, pêssego, banana e goiaba.

Não há motivo para se ter medo dos morcegos. Eles nunca vão mexer com você e só mordem defensivamente se forem manipulados ou pisados. Inofensivos, são os equivalentes noturnos dos passarinhos e das abelhas.

Se você encontrar um morcego em situação anormal (caído, dentro de casa, pousado em muros e paredes, ou mesmo morto), tome cuidado, pois ele pode estar com alguma doença. Nunca coloque a mão ou tente pegar o bicho, nem pise nele. Tente imobilizálo colocando sobre ele um balde, um pano ou uma caixa. Isso vai impedir que animais domésticos ou pessoas desavisadas entrem em contato com o morcego. Em seguida, chame o Centro de Controle de Zoonoses para a remoção do bicho.

Os morcegos estão cada vez mais em risco de extinção devido às queimadas, ao desmatamento e ao uso de agrotóxicos. Devemos proteger e conservar os morcegos em prol da vida. Eles não devem ser perturbados, perseguidos ou mortos. Assim como qualquer animal silvestre brasileiro, são protegidos por lei e merecem nossa admiração.

Fiquei interessado em morcegos quando li uma matéria sobre um povoado no México onde se cultiva a planta chamada agave-azul, usada para produzir

tequila, bebida típica mexicana. Os habitantes do local tinham medo de morcegos e os caçavam indiscriminadamente. Mas viram que isso estava sendo ruim para as plantações e descobriram que os morcegos são responsáveis pela polinização do agave-azul. Então fizeram um trabalho de educação e conscientização da população sobre a importância dos morcegos. Hoje ninguém mais caça morcegos, e as plantações florescem lindamente, impulsionando a economia local.

Inspirado nessa história real, resolvi escrever este livro, para ajudar as pessoas a não terem medo dos morcegos e aprenderem sua importância na natureza. Se você quiser ler outros livros que escrevi, visite meu site: www.flavito.com.br

Nasci em São Paulo e sempre gostei muito de desenhar. A certa altura, essa paixão acabou se tornando minha profissão. Em minha carreira, produzi ilustrações para diversos projetos diferentes, porém este teve um tom especial por ser um livro infantil, que me possibilitou grande liberdade de criação e me trouxe enorme satisfação.

Agradeço imensamente a oportunidade que tive de criar as imagens desta narrativa. Se quiser conhecer meu trabalho, visite meu Instagram

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Publicação: Ideias Brilhantes Editora.

Diagramação: Flávio Colombini.

Revisão de texto: Alcidema Torres, Alessandra Colombini e Daniela Hessel.

Agradecimentos: Salem Andres e Helga Grigorowitschs.

Agradecimento especial: Gabriel Mendes (biólogo especialista em morcegos).

ISBN: 978-65-85221-05-4

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