Copyright do texto © Flávio Colombini
Copyright das ilustrações © Luiza Beda
Publicação: Ideias Brilhantes Editora
Diagramação: Flávio Colombini
Revisão de texto: Luisa Ghidotti
Agradecimentos:
Helga Grigorowitschs, Alcidema Torres, Alessandra Colombini, Daniela Hessel e Raquel Larangeira.
ISBN: 978-65-996699-3-4
Em um final de tarde, Roberto estava passeando com seus amigos perto do lago, nos arredores da cidade do interior onde moravam.
As crianças viram um sapo-cururu, com pele enrugada e olhos salientes.
— Nossa, como ele é feio! — exclamou um dos meninos.
Roberto era o único que tinha um estilingue.
Os outros dois o desafiaram:
— Duvido que você consiga acertar o sapo com uma pedra!
Roberto sacou seu estilingue, pegou uma pedra do chão e mirou no sapo, que estava ali pertinho... Mas alguma coisa o impedia de atirar a pedra.
— Vai, atira! — gritou seu amigo.
— Você não tem coragem? — provocou o outro. Roberto estava dividido. Queria provar para seus amigos que era corajoso e bom de mira, porém não queria machucar o sapinho. Por mais que algumas pessoas achem ele feio, ainda assim era um ser vivo, um bichinho que vive na natureza.
A bondade que existia no coração de Roberto falou mais alto.
Ele não atirou a pedra, e o sapo pulou alegre para dentro do lago.
— Ah, por que você não atirou? — reclamou o amigo.
— Eu não quero machucar nenhum animal.
— Mas é um bicho nojento, não serve pra nada. Além disso, é perigoso. Ouvi falar que ele faz xixi nos olhos das pessoas.
Roberto duvidou do que o amigo disse, mas preferiu não discutir e mudou de assunto.
— Quer ver eu acertar aquele tronco?
— Duvido.
Roberto mirou no tronco, a dez metros de distância.
— Nossa, você é bom mesmo! — exclamaram seus amigos. O menino ficou feliz com a admiração deles.
Ao pôr do sol, Roberto voltou para casa, que era ali pertinho. Por coincidência, avistou de novo o sapo-cururu.
Ficou admirado ao ver como ele conseguia pular alto, arremessar a língua e comer insetos.
Antes de dormir, Roberto pesquisou na internet e leu que os sapos não espirram veneno nas pessoas. Isso é só uma lenda. Eles não fazem mal algum aos seres humanos. Pelo contrário, eles cumprem uma função importante na natureza, ajudando a controlar a quantidade de insetos e outras pragas. O menino se perguntou: quais são as outras pragas? Mas acabou não pesquisando mais, pois logo pegou no sono.
Mal sabia ele que, naquela região, estava ocorrendo uma infestação de escorpiões. Naquela noite, um escorpião-amarelo apareceu no quintal da casa de Roberto.
Ele caminhou com suas oito patas e subiu na parede. Estava indo em direção à janela do quarto do menino, que estava aberta.
De repente, uma língua grudou no escorpião e o puxou.
O sapo-cururu abocanhou o aracnídeo e o engoliu.
Satisfeito, o sapo foi embora. O menino dormiu sossegado a noite inteira. Ele nem imaginava que seu ato de bondade, horas antes, ajudou a livrá-lo de uma situação perigosa. O sapo, que teve sua vida poupada e suas qualidades apreciadas por Roberto, retribuiu o amor do garoto e comeu o escorpião venenoso, que estava indo para o quarto do menino e poderia picá-lo.
Como diz a sabedoria popular: “Tudo o que vai, volta”.
Todo o bem que a gente faz no mundo, volta para nós.
O menino respeitou o sapo, e o sapo protegeu o menino. E assim tudo terminou bem.
Curiosidades sobre o sapo-cururu (Rhinella icterica)
Também é chamado de sapo-boi ou sapo comum. É mais ativo durante a noite. Ele consegue viver longe da água, procurando-a somente para se reproduzir.
Alimenta-se de insetos em geral, além de outros bichinhos, como os escorpiões (o sapo é imune ao veneno do escorpião). Também pode comer plantas e restos orgânicos. É uma das poucas espécies de sapo que é onívora (come de tudo).
É capaz de inflar os pulmões para parecer maior diante de seus predadores, que são jacarés, serpentes, peixes, ratos e aves. Os machos têm cor amarelo-esverdeada, e as fêmeas são de cor bege ou amarela com manchas escuras. Elas são maiores que os machos. Os machos coaxam para atrair a fêmea. O canto é uma sequência de notas curtas e repetidas, como o som de um pequeno motor, percebido aos nossos ouvidos como um “cururu”. É daí que o sapo ganhou seu nome popular.
No Brasil, há vários boatos sobre o sapo-cururu, de que ele faz xixi nos olhos de quem se aproxima, ou espirra um leite venenoso. Nada disso é verdade. São apenas crenças populares.
O sapo é incapaz de esguichar veneno propositalmente. Ele possui grandes glândulas atrás dos olhos e espalhadas pelas costas. Quando pressionadas, elas soltam um líquido tóxico, branco e leitoso.
Normalmente o sapo não é perigoso para os seres humanos. Mas é importante ensinar às crianças que sapo não é brinquedo nem animal de estimação. As crianças não devem pegar os sapos com as mãos, para evitar que espremam sem querer as glândulas de veneno e depois coloquem a mão na boca ou nos olhos.
Também é importante evitar que seu cachorro brinque com sapos. Ao abocanhar o anfíbio e pressioná-lo, pode acabar ingerindo a toxina. Se isso acontecer, leve o cão ao veterinário imediatamente.
O sapo é popular na cultura brasileira, aparecendo em contos e cantigas infantis. Uma delas é assim:
Sapo-cururu, da beira do rio quando o sapo canta, menina, é porque tem frio.
Curiosidades sobre o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus)
Pode ficar meses sem comer, mas não vive muito tempo sem água. Seus alimentos favoritos são baratas, grilos, cupins e aranhas.
Os predadores do escorpião são sapos, gambás, lagartos, morcegos, corujas, seriemas e galinhas.
A reprodução deles é curiosa. As fêmeas dão cria sem auxílio de machos, num processo que se chama partenogênese. Os óvulos da fêmea se dividem e geram cerca de vinte embriões. Quando nascem, a mãe carrega os filhotes nas costas por volta de quinze dias. Depois, eles se tornam independentes.
Os escorpiões procuram refúgio em locais como lixeiras, entulho, caixas de energia, buracos, troncos podres ou sob pedras, onde esses bichos, de hábitos noturnos, repousam durante o dia.
Ao contrário do que se pensa, os escorpiões não atacam pessoas. Eles picam apenas para se defender de alguém que invadiu seu território.
Se você encontrar um escorpião, afaste-se e tenha calma. Avise um adulto, que deve chamar um técnico do Centro de Controle de Zoonoses para retirar o bicho e verificar se não há outros no local. Se for preciso remover o escorpião imediatamente, o adulto pode usar uma vassoura e uma pá de recolher lixo.
Em caso de picada de escorpião, recomenda-se não sugar o veneno, nem fazer torniquete ou incisões. Simplesmente lave o local com água e sabão e vá imediatamente a um posto de saúde ou hospital.
Muitas pessoas acham que a picada de escorpião é fatal, mas a taxa de mortalidade é relativamente baixa: 4 mortes a cada 10 mil ocorrências.
Se na região onde você mora aparecerem escorpiões, eis algumas dicas para evitar acidentes: use telas nos ralos; procure colocar soleiras nas portas; mantenha jardins com a grama aparada, e quintais livres de
entulhos e folhas; guarde o lixo doméstico em sacos bem fechados, pois os resíduos podem atrair baratas, que servem de alimento para os escorpiões; evite colocar a mão em buracos, embaixo de pedras ou em troncos apodrecidos; use luvas e calçados ao lidar com entulho e materiais de construção.
Lembre-se: os escorpiões só buscam residências que lhes oferecem abrigo e alimento. Mantenha sua casa limpa!
Conclusão
Se por um lado é importante manter os escorpiões longe das nossas casas, por outro, vale lembrar que eles não são propriamente vilões, mas sim parte do ecossistema, ajudando a equilibrar a população de insetos.
Da mesma forma, o sapo-cururu, apesar de nem sempre ser querido, tem um papel importante na natureza. Por isso, é necessária a preservação dos sapos, bem como de todos os outros animais e das áreas onde eles vivem, para ajudar a manter o equilíbrio ecológico.