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Importância das frotas das empresas para a Mobilidade Elétrica

As frotas das empresas são fundamentais para a MOBILIDADE ELÉTRICA avançar

AMOBILIDADE ELÉTRICA está a fomentar novos modelos de negócio, está a estimular o desenvolvimento de tecnologia conexa, está a obrigar a alterar ou repensar infraestruturas urbanas e, gradualmente, está também a habituar os cidadãos a novas soluções de transporte.

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Como se viu nas páginas anteriores, neste processo de mudança da economia e da sociedade, as frotas das empresas são o principal motor dessa mudança, sustentando um sector automóvel que vive também um desafiante processo de transformação.

Dos construtores de automóveis aos fornecedores de tecnologia e de soluções necessárias para a mobilidade avançar, todos estão a responder ao desafio de incrementar uma mobilidade mais sustentável.

Por isso, manter uma conjuntura fiscal estável e uma política que apoie a aquisição e que torne competitiva a posse e utilização destes veículos assume uma enorme importância neste momento de transição. Porque é através da frota automóvel das empresas que muitos utilizadores vão ter o seu primeiro contacto com a mobilidade elétrica, vão familiarizar-se, por exemplo, com todos os processos inerentes à condução e carregamento das baterias destes veículos, mas também, porque são sobretudo as aquisições feitas pelas empresas que estão e vão continuar a alimentar o mercado de viaturas usadas elétricas e híbridas plug-in ao longo dos próximos anos.

No caminho traçado para a democratização da mobilidade elétrica, destaque também para o papel desempenhado por diversas entidades públicas, nomeadamente as autarquias, que rapidamente se aperceberam da sua importância para a imagem ambiental do território e pelo potencial que encerra como fonte geradora de receitas para o município.

São sobretudo as aquisições feitas pelas empresas que estão e vão continuar a alimentar o mercado de viaturas usadas elétricas e híbridas plugin ao longo dos próximos anos

JOSÉ COELHO

GESTOR DE FROTA DOS CTT

JOSÉ GUILHERME

RESPONSÁVEL DE SEGURANÇA RODOVIÁRIA E EFICIÊNCIA DA FROTA

O grupo ctt possui uma das maiores e mais diversificada frota de veículos de empresa em Portugal, composta por viaturas ligeiras e pesadas e mais de mil velocípedes, ciclomotores, motociclos e quadriciclos. • Empresa pioneira na mobilidade elétrica, com experiências que remontam ao século XX, os ctt mantêm um papel ativo em ações internacionais de soluções de transporte sustentável, sendo regularmente convidados para testar novos comerciais elétricos em condições reais de utilização. • Isto coloca-os em condição privilegiada para responder à questão utilizada para título deste testemunho.

Veículos elétricos: e após vários anos de uso?

Com a aceleração das vendas dos veículos elétricos, bem como o piscar de olho dos veículos movidos a hidrogénio, apresentando como escaparate um tempo de carga de minutos, existe alguma incerteza, seja das empresas de renting, seja da parte dos frotistas, de como decorrerá a vida útil dos veículos elétricos em termos de assistência pós-venda (qual o nível de downtime dos veículos) ou até quando será utilizável o veículo, tendo em linha de conta o decaimento natural da autonomia das baterias dos veículos, o grande (e dos poucos) limitadores de vida dos EV.

Por fim, o que deverá acontecer quando for promovido um ciclo completo de vida de veículos elétricos?

HISTóRICO ELÉTRICO DOS CTT

Os ctt têm uma experiência de 20 anos de veículos elétricos de mercadorias, tendo incorporado na sua frota, em 1999, alguns Citröen Berlingo Eletrique, ainda com baterias de chumbo, as únicas então disponíveis.

Em 2011, promoveu-se uma experiência com dois quadriciclos marca Goupil, também com bateria de chumbo. Ambas permitiram a abordagem dos ctt às preocupações ambientais com a sua frota de veículos de mercadorias, num quadro de pioneirismo relativamente a essa questão.

Em 2012, contando as baterias já com a tecnologia de lítio e integrando o projeto FREVUE a nível Europeu, a frota recebeu uma dezena de veículos Renault Kangoo, assim como duas centenas de bicicletas elétricas, promovendo uma análise do projeto de forma transversal durante o ciclo de vida.

De 2015 a 2017 reforçaram a presença elétrica com mais de cem unidades, entre ligeiros de mercadorias, triciclos e quadriciclos, numa lógica de eletrificação na last-mile e descarbonização da sua frota.

Em 2020, manteve-se a tónica de reforço no segmento EV, contando agora com uma frota totalmente elétrica dedicada a clientes específicos.

Que ensinamentos se tiram de uma experiência tão vasta no uso de veículos elétricos, após mais de 4,5 milhões de quilómetros percorridos por diversos tipos de veículos?

1.

ADEquAÇÃO DOS VEÍCuLOS AO TIpO DE uTILIzAÇÃO

Antecipar que necessidades de autonomia diária serão necessárias e, numa previsão de quatro a seis anos, contando com uma redução de autonomia face ao valor inicial real, prever vários tipos de utilização possível, se a estrutura permitir, levará a uma utilização baseada na maximização da autonomia permitida em cada momento da vida do veículo.

2.

GARAnTIA DE ASSISTÊnCIA DO VEÍCuLO

As unidades a serem adquiridas (ainda que em renting) devem ter na base não só a previsão do valor de aquisição/aluguer, como também garantias de que o construtor tem condições para assegurar a assistência de forma fiável, rápida e a custos controlados. Ainda que a assistência apresente um custo muito baixo em termos de componentes ou que exista um período alargado de garantia, se o tempo para assistência ou fornecimento de componentes for dilatado, tal irá comprometer o TCO previsto.

3.

CARREGAMEnTOS DE ACORDO COM O pREVISTO pELO FABRICAnTE

Após vários anos de uso, respeitando esta prática, regra geral, o decaimento na autonomia é baixo. Hoje, com as tecnologias e sistemas de GPS, tudo torna-se mais visível e é possível a qualquer construtor avaliar se os ciclos de cargas foram os corretos.

Isto pode ser essencial para manter a garantia prestada pelo fabricante. O uso sazonal de veículos e carregamentos incorretos podem comprometer a relação com o fabricante, concessão e/ou locadora.

4.

COnDuÇÃO ECO DEFEnSIVA

Sendo o tempo de reabastecimento assunto recorrente nos veículos elétricos, na realidade, uma condução eco defensiva impacta positivamente na quilometragem diária máxima efetuada entre carregamentos, bem como na redução dos riscos da segurança rodoviária.

Os acidentes, além de danos e eventuais lesões corporais, podem também levar a maior tempo de indisponibilidade do veículo, devido à substituição de peças produzidas em quantidades ainda inferiores aos veículos ICE.

A prática de condução eco defensiva poupará também um dos componentes que repre-

senta um custo elevado: os pneumáticos. A maior disponibilidade de binário dos EV pode aumentar o consumo dos pneumáticos, comparado com os ICE.

5.

COnTROLO DE InFORMAÇÃO SOBRE A VIATuRA

A recolha de informação relacionada com custos e quilometragem percorrida (que não pode ser baseada apenas nos inputs dos cartões de frota, o que encaminha necessariamente para o uso de GPS ou para manter processos manuais ou semiautomáticos de obtenção de dados) é essencial para conseguir o apuramento, controlo e revisão sistemática da informação de gestão, matéria que dita o sucesso da escolha de veículos elétricos.

COnCLuSõES

Sabemos que a utilização da frota postal é considerada uma das mais exigentes, por estar sistematicamente em circulação urbana e com paragens frequentes. No entanto, com uso cuidado e contratação adequada, o downtime dos veículos elétricos é realmente muito reduzido. Os problemas com sistemas de embraiagem, danos de motor, sistemas de filtros de partículas ou outros, parecem ser problemas do século passado. E realmente são.

Os veículos elétricos, no seu espectro real de autonomia, podem acumular quilometragens elevadas sem problemas (caso dos primeiros, após quase oito anos de utilização), bastando “carregar e andar”. O único momento de imobilização é o da manutenção, a revisão simplificada que os construtores pedem ou a inspeção periódica obrigatória, sempre que aplicável.

Com os valores residuais dos EV a aumentar e despesas de manutenção mais reduzidas, ambos impactando na redução da rendas em AOV, aliados à poupança gerada no custo da energia (pela diferença de preço por kW/h em consumo doméstico comparado com o valor por litro de gasóleo), perante o aumento generalizado das autonomias dos veículos e com uma análise crítica dos segmentos de utilização, dos custos e do retorno obtido, os veículos elétricos contribuem para a retoma económica das empresas e desempenham um papel crucial na missão de atingir emissões zero com a descarbonização das suas frotas. que ensinamentos se tiram de uma experiência tão vasta no uso de veículos elétricos, após mais de 4,5 milhões de quilómetros percorridos por diversos tipos de veículos?

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