discretos até o momento, composto por manifestações neuropsiquiátricas agudas e crônicas por ação direta do patógeno e pelas medidas intervencionistas durante o manejo clínico da doença. Os efeitos do confinamento e do trauma coletivo, sejam pelo impacto globalmente observado e/ou pelas variadas formas possíveis de intervenção, são os maiores responsáveis pelas repercussões em saúde mental, estando sob responsabilidade de diferentes profissionais e por isso recebem maior destaque neste texto. A intensidade do distanciamento social, a qualidade das relações familiares e o tempo de duração deste isolamento são variáveis importantes na avaliação dos prejuízos emocionais dessa medida (BROOKS et al, 2020). Até o momento, inquéritos populacionais vêm corroborando a importante premissa que embora menos susceptíveis às formas clínicas graves da COVID-19, crianças e adolescentes não são indiferentes ao seu impacto, quando considerada a dimensão mental (WANG et al, 2020). A partir de questionários online respondidos por pais numa amostra de 320 crianças e adolescentes (três a 18 anos), Jiao et al (2020), identificaram a presença dos seguintes sintomas e condições: dependência excessiva dos pais (36%), desatenção (32%), irritabilidade (31%), preocupação (29%), pedidos constantes de atualização (28%), medo de adoecimento de familiares (21%), problemas de sono (21%), hiporexia (18%), pesadelos (14%), desconforto e agitação (13%). Ainda que a triagem não tenha permitido uma formatação diagnóstica, os autores puderam avaliar uma maior gravidade nos sintomas de dependência, desatenção e irritabilidade. Orgilés et al (2020) concluíram que 85,7% dos 1143 pais espanhóis e italianos relataram mudança no comportamento de seus filhos (três a 18anos) durante a quarentena; esse estudo, cujos dados foram obtidos virtualmente, apontou a dificuldade de concentração como o principal sintoma na amostra (76,6%). Tédio (52%), irritabilidade (39%), nervosismo (38%), sentimentos de solidão (31%) e preocupações (30,1%) vieram em seguida. Um dado relevante dessa publicação foi a correlação da magnitude dos sintomas nas crianças e adolescentes conforme a descrição de estressores nos pais, corroborando a associação entre os sintomas familiares e ambientais com os sintomas infantojuvenis (BRONFENBRENNER, 1996). Um inquérito online conduzido por Xie et al. (2020) respondido por 2330 escolares chineses identificou a prevalência de sintomas depressivos em 22,6% e de sintomas ansiosos em 18,9% dessa amostra. Os autores argumentam que o aumento dessa prevalência está associado às privações sociais e pela redução de atividades ao ar livre, sugerindo que a pandemia influencia diretamente a saúde mental de crianças e adolescentes, como uma experiência traumática.
2.4. Saúde Mental durante a pandemia: repercussões presentes e futuras As famílias precisaram se adaptar para restaurar alguma normalidade em casa neste difícil momento. Suspensão das atividades escolares, afazeres remotos do trabalho e da escola, perda do convívio com amigos,
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