Revista Forum Democratico

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Pubblicazione dell’Associazione per l’Interscambio Culturale Italia Brasile Anita e Giuseppe Garibaldi • Nº 91-92 Ano XI - Fevereiro/Março 10 - R$ 10,00 PODE SER ABERTO PELA ECT

ENTREVISTA Américas, mais democracia, mais diálogo, mais cooperação.

E MAIS:

STORIA “Dalla vittoria della destra all’ulivo. 1994-1996” João Baena Soares

COMUNIDADE L’industria automobilistica fra Europa e Brasile.

GASTRONOMIA • TURISMO • FOTOGRAFIA • ARTES PLÁSTICAS


O INCA-CGIL tutela gratuitamente os trabalhadores e aposentados italianos e brasileiros e suas famílias. RIO DE JANEIRO Av. Rio Branco, 257 sala 1414 20040-009 - Rio de Janeiro - RJ Telefax: 0xx-21-2262-2934 e 2544-4110

INCA INCA CGIL

SÃO PAULO (Coordenação) Rua Dr. Alfredo Elis, 68 01322-050 - São Paulo - SP Telefax: 0xx-11-2289-1820 e 3171-0236 Rua Itapura,300 cj. 608 03.310-000 - São Paulo- SP

“Patronato” da maior Confederação Sindical Italiana, a CGIL

PORTO ALEGRE Rua dos Andradas. 1234 cj. 2309 90020-100 - Porto Alegre - RS Telefax: 0xx-51-3228-0394 e 3224-1718 BELO HORIZONTE Rua Curitiba, 705 - 7º andar 30170-120 - Belo Horizonte - MG Telefax: 0xx-31 3272-9910

http:\\www.incabrasil.org.br

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forum

NOSSA CAPA

D E M O C R A T I C O

A n o

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F e v e r e i r o / M a r ç o

agenda cultural

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às compras

05 Cinema, teatro, shows, exposição, cursos.

15 Sugestões imperdíveis.

06

16

editorial

1 0

encarte

06 Ditadura ou ditabranda?

16 “Itaca per sempre”, di Luigi Malerba

Andrea Lanzi

20

08

comunità

08 Recofia. Lettera deputato Fabio Porta al Ministro del Lavoro.

Italia

Storia italiana 20 1996 Liberamente tratto dal libro “Patria 1978-2008” di Enrico Deaglio.

08 Finanziaria 2010. Niente soldi per gli italiani all’estero.

22 Dalla vittoria della destra all’Ulivo. 1994-1996.

08 Congiuntura Brasile.

Tratto dal libro “La casa brucia. I Democratici di Sinistra dal PCI ai giorni nostri” di Iginio Ariemma.

09 Congiuntura Italia. 09 Partito Democratico. Una proposta di lavoro per i circoli all’estero. 09 Presentato il progetto di formazione CREA FOR MA Impresa. 10 L’industria automobilistica fra Europa e Brasile. Ornella Cilona (Cgil nazionale, Dip. Politiche attive del lavoro)

11

gastronomia

28

Brasil

28 Américas, mais democracia, mais diálogo, mais cooperação. Entrevista com o Embaixador João Clemente Baena Soares. Marisa Oliveira

32

Italia

Emigração 32 Mario Lorenzi: o mundo como casa, o retorno regular ao pago.

11 Calzone italiano, deliciosa receita da chef Nadia Pizzo, do Ráscal.

Marisa Oliveira

12

34

turismo

12 Destino: Vale Europeu/SC. No meio do caminho, cervejarias.

14

cultura

Literatura 14 “...Quero mais é que se danem”, de Mario Lorenzi .

cultura

Fotografia 34 “Kalapalo”, ensaio fotográfico de Dalton Valério. Artes Plásticas 40 Lucio Volpini: construção do lugar, espaço magnífico. Marisa Oliveira

14 “O projeto do Renascimento”, de Elisa Byington.

Reflexão 42 A flauta

Marisa Oliveira

Luis Maffei

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www.forumdemocratico.org.br

Montagem fotográfica: Ana Maria Moura.


expediente

La rivista Forum Democratico è una pubblicazione dell’Associazione per l’interscambio culturale Italia Brasile Anita e Giuseppe Garibaldi. Comitato di redazione Giorgio Veneziani, Andrea Lanzi, Arduino Monti, Mauro Attilio Mellone, Lorenzo Zanetti (em memória). Direttore di redazione Andrea Lanzi Giornalista Responsabile Luiz Antonio Correia de Carvalho (MTb 18977) Redazione Avenida Rio Branco, 257/1414 20040-009 - Rio de Janeiro - RJ forum@forumdemocratico.org.br Pubblicità e abbonamenti Telefax (0055-21) 2262-2934 Revisione di testo (portoghese) Marcelo Gargaglione Lopes Hanno collaborato: Cristiana Cocco, Ornella Cilona, Marisa Oliveira. Logotipo: concesso da Núcleo Cultura Ítalo Brasileira Valença Stampa: Gráfica Opção Copertina e Impaginazione: Ana Maria Moura A Mão Livre Design Gráfico

Nota do Editor Passado e Presente

C

onsiderado um dos pais da sociologia moderna, Émile Durkheim (1858-1917), entre seus ensinamentos, destaca a importância de se conhecer o passado para que possamos entender, no presente, quem somos nós (ser social e sociedade). Se por um lado alguns grupos assimilam tão bem a lição, por outro, alguns sociais coletivos parecem ignorá-la. No primeiro grupo, destaque para a exposição de desenhos e aquarelas de Charles Landseer, artista oficial da expedição diplomática britânica, chefiada por Charles Stuart. Lisboa, seus monumentos e os lisboetas; no Brasil, Rio de Janeiro, a natureza e os escravos urbanos, além de registros de Recife, Olinda, Salvador e Florianópolis. Soberba! (Agenda Cultural) Temos ainda o Mario Lorenzi, que em seu 11º romance – ...Quero mais é que se danem! - passa em revista, através de seus protagonistas, os últimos 70 anos; Elisa Byington, que em sua obra O projeto do Renascimento coloca em destaque alguns desafios estéticos do movimento, entre eles, a combinação da imitação do passado e a invenção do presente (Literatura). E porque estamos sempre em busca de respostas, procuramos o embaixador João Clemente Baena Soares para conversar sobre o momento atual das Américas. Democracia, liberdade de imprensa, Constituição, entre outros temas, e, claro, para falar do presente foi preciso visitar o passado (Brasil). Mas é no Editorial que ganham relevo aqueles que insistem em ignorar o passado: as diretivas 23 e 25 do Plano Nacional de Direitos Humanos, do capítulo que trata do Direito à Memória Armae à Verdade, vêm sendo contestadas pelos comandantes das Forças Arma das. Polêmicas e discussões à parte, os sabores dessa edição ficaram por conta do Calzone Italiano, da chef Nadia Pizzo, e das cervejas e culinária apresentadas na seção Turismo, que propõe uma viagem ao roteiro das cervejarias artesanais no Vale Europeu, em Santa Catarina.

Dados internacionais de catalogação na fonte (CIP) Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - Forum Democratico/ Associazione per l’insterscambio culturale italo-brasiliano Anita e Giuseppe Garibaldi - No.0 (mar. 1999) - Rio de Janeiro: A Associazione, 1999 - v. Mensal. - Texto em português e italiano - ISSN 1516-8123 I. Política - Itália - Brasil - Periódicos. 2. Difusão cultural - Itália - Brasil - Periódicos. I. Associazione per l’interscambio culturale italo-brasiliano, Anita e Giuseppe Garibaldi. CDU 32:316.7(450 + 81)(05)

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f o r u mD E M O C R A T I C O

Carta do leitor “Gostei bastante da edição Dez/Janeiro da revista Forum Democratico. A entrevista com Patrizia Pizzato, mas, especialmente, as seções dedicadas à Literatura. Aproveito para sugerir que a revista traga sempre algum escritor, a exemplo da entrevista com Ondjaki.” Cora Vieira, por e-mail, em 25 de janeiro de 2010.

Fevereiro/ Março 10


agenda cultural

Os 60 anos de pintura de Rubem Ludolf

CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Galeria 3; Av. Amte. Barroso, 25, Centro, Rio de Janeiro; Tel.: (21) 2544-4080; De 3ª a sáb., das 10h às 22h; Dom., das 10h às 21h; Entrada franca; até 28 de fevereiro de 2010.

Charles Landseer: desenhos e aquarelas de Portugal e do Brasil (1825/1826).

Foto: Paula Kossatz

TEATRO

Obra Reunida traz 90 obras – entre guaches, óleos e caixas de acrílico – divididas em três segmentos. A primeira parte se refere à participação de Ludolf no Grupo Frente (2ª metade de 1950), a segunda (1963) tem a ver com suas famosas Tramas, e, finalmente, o retorno do artista ao abstracionismo geométrico estabelecido em 1986. Rigor e força foram as palavras escolhidas para definir a pintura de Rubem Mauro Cardoso “Sem título”, 1957, guache Ludolf, nascido em Maceió (1932) sobre papel, 24cmx24cm e criado no Rio de Janeiro. Ludolf formou-se em Arquitetura pela Universidade do Brasil (UFRJ) e foi aluno de Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Aqueles Dois Da rotina de uma repartição pública revela-se o desenvolvimento de laços de cumplicidade entre dois de seus novos funcionários, gerando incômodo nos demais. Raul e Saul são os personagens do conto Aqueles Dois, de Caio Fernando Abreu, que inspirou a companhia mineira Luna Lunera na concepção do espetáculo homônimo. No palco, os quatro atores se revezam nos papéis de Raul e Saul e como narradores. Cenário, figurino, música e texto explicitam uma simultaneidade abrangente de acontecimentos de várias décadas. O jogo textual e corporal entre atores, espaço e objetos é o esteio da proposta. A peça recebeu o prêmio Shell São Paulo em 2009 de Melhor Iluminação e foi indicada nas categorias Melhor Direção e Cenário. Concepção e Produção: Cia. Luna Lunera; Criação/ Direção/ Dramaturgia: Cláudio Dias & Outros; Iluminação: Felipe Cosse e Juliano Coelho; Elenco: Cláudio Dias, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e Rômulo Braga. CCBB, Rua Primeiro de Março, 66, Centro, RJ, Tel.: 3808-2020; Temporada de 8 de janeiro até 28 de fevereiro de 2010; De 4ª a Dom, às 19h30; Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia); Duração 85 minutos. Classificação etária: 16 anos; Capacidade: 100 lugares; Bilheteria: de 3ª a Dom. das 10h às 21h.

Infantil Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

EXPOSIÇÕES

Essa é a maior exposição individual das imagens feitas por Landseer como artista oficial da missão diplomática britânica – chefiada por Charles Stuart – que tinha o objetivo de negociar o reconhecimento, por parte de Portugal e da Grã-Bretanha, do recém-independente Império do Brasil. São 178 desenhos e aquarelas e mais dois óleos. Charles Landseer (1799-1879) é considerado um dos mais importantes artistas viajantes que visitaram o Brasil nas duas décadas posteriores a 1808 – como Nicolas Antoine Taunay, Jean-Baptiste Debret, Thomas Ender, Johann Moritz Rugendas, Augustus Earle e o botânico William John Burchell, este também integrante da missão Stuart. De Lisboa e cidades vizinhas, mosteiros, igrejas, palácios e castelos assim como do povo das ruas lisboetas: marinheiros, barqueiros, camponeses, trabalhadores, mendigos, padres e frades. Do Rio de Janeiro, os registros são da natureza tropical e os escravos urbanos. Há ainda retratos de cidades como Recife, Olinda, Salvador, Vitória, Santos e São Paulo, além dos Açores e sua população. Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro – Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea, RJ; Tel: (21) 3284-7400; de 3ª a 6ª das 13h às 20h; sáb., dom. e feriados, das 11 às 20h; Visita gTeatro

CURSOS Desamparo na vida moderna – Sandra Niskier Flanzer Vivemos em uma cultura guiada pela expectativa de felicidade e realizações. Diante daquilo que nos falta, cada escolha porta a idealização de um encontro pleno, irretocável, baseado na crença de uma conjunção absoluta, em contraposição a um desamparo fundamental: um estado que revela a impotência do humano diante da vida, sua incapacidade frente à tensão interna inerente à sua estrutura psíquica. Mas a cultura contemporânea insiste em recusar o desamparo como fato de estrutura em prol de um ideal imperativo de bem-estar, regido pelo princípio do prazer. No entanto, ao desejar eliminar o desamparo, mais desamparado o sujeito se encontra. O curso enfocará alguns aspectos dessa importante noção psicanalítica, ressaltando suas implicações cotidianas para Fevereiro/ Março 10

Passarinho À Toa Integrando o projeto Contos Clássicos Brasileiros (literatura, artes cênicas e música), Passarinho à Toa reúne concepção do grupo Os Tapetes Contadores de Histórias, poemas de Manoel de Barros, autor matogrosFoto: Divulgação sense de Cuiabá. O universo da peça, assim como os poemas de Manoel de Barros, brinca com temas como a natureza e a vida no interior. Em cena, tapetes, malas, aventais, caixas e livros de pano como cenários de contos autorais e populares de origens diversas, mesclando narração de histórias, animação de formas e teatro. A autoria da trilha sonora é do grupo Água Viva e o espetáculo apresenta, ao vivo, a viola caipira de Luciano Câmara. Roteiro/Cenário/Figurino/Elenco: Os Tapetes Contadores de Histórias (Warley Goulart, Carlos Eduardo Cinelli, Edison Mego, Helena Contente, Rosana Reátegui e Ilana Pogrebinschi); Direção: Warley Goulart. CCBB, Rua Primeiro de Março, 66, Centro, RJ, Tel.: 3808-2020; Teatro II, dias 20, 21, 27 e 28 de fevereiro; sáb. e Dom. às 16h; Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia); Duração 50 minutos. Classificação etária:Livre; Bilheteria: de 3ª a Dom. das 10h às 21h.

o sujeito moderno. Uma realidade onde todos estão cada vez mais inseridos. 4 aulas, a partir de 10 de março, às quartas-feiras, 17h. Fernando Pessoa. Seu drama em gente, ou em almas – Cleonice Berardinelli; participação especial Othon Bastos para leitura de poemas selecionados Ministrado por uma lusitanista com profundo conhecimento da obra de Pessoa, o curso pretende dissecar as diversas almas (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares) desse gênio da língua portuguesa, mundialmente reconhecido como um dos maiores poetas do século XX. 6 aulas, a partir de 9 de março, às terças-feiras, 20h. Casa do Saber, Av. Epitácio Pessoa, nº 1164, Lagoa, RJ, Tel.: 2227-2237

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editoriale

Andrea Lanzi

Dittatura o no?

N

el corso del 2009 sulle pagine della Folha de São Paulo è scoppiata una polemica dopo l’editoriale del 17 febbraio che riduceva e minimizzava l’ampiezza e la violenza della repressione durante gli anni della dittatura seguiti alla deposizione del presidente eletto João Goulart nel 1964. Nell’articolo, con un gioco di parole di dubbio gusto, - ditadura ou ditabranda – si sosteneva che il regime di eccezione in Brasile aveva usato la violenza moderatamente e comunque permettendo in parte l’espressione del dissenso; e contrapponeva questa realtà al nuovo autoritarismo latino americano per il quale il lider eletto corrode le istituzioni democratiche dall’interno; ossia si approfitta delle regole democratiche per sopprimere le libertà passando per una fase che Eugenio Scalfari riferendosi al caso italiano ha definito di “dittatura dolce”. Quale che sia il giudizio sulla corrosione della “democrazia sostaziale” attraverso il neo populismo, l’occupazione degli spazi informativi, la manipolazione dell’opinione pubblica, pratiche queste comuni al venezuelano Chaves e all’italiano Berlusconi, rimane una grande differenza con i regimi seguiti ai colpi di stato militari: l’uso della violenza. La nostra opinione in proposito è illustrata dalla copertina che ritrae alcune delle vittime della dittatura, che è stata brutale e feroce. Pensiamo che le torture, gli omicidi, la scomparsa degli oppositori, la rimozione dei parlamentari e dei professori universitari dai loro incarichi, la censura, l’esilio, costituiscono una grave violazione dei diritti fondamentali; violazione la cui gravità non si misura dal numero delle persone colpite. La dittatura fu certamente

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Presos políticos

militare, ma non solo; tanto che ebbe fra i suoi sostenitori la Chiesa, inizialmente, prima di diventare una delle forze principali a chiedere il ritorno alla democrazia, molti mezzi di comunicazione, l’elite economica spaventata dalle riforme sociali del Presidente Goulart. Il superamento del periodo dittatoriale si diede gradualmente nel corso di un decennio e la legge di amnistia del 1979 equiparò le vittime e gli esecutori della repressione politica. L’approvazione nel dicembre 2009 del terzo Piano Nazionale dei Diritti Umani ha riaperto le polemiche; i comandanti delle tre armi hanno consegnato le dimissioni al Ministro della Difesa, che si è fatto loro portavoce nei confronti del Presidente Lula, invece che esercitare il comando del potere civile sulle forze armate. La critica dei comandi militari è rivolta in particolare alle direttive 23 e 25 del capitolo riguardante “Il diritto alla memoria e alla verità”; nella prima direttiva si legge “promuovere l’appurazione e il chiarimento pubblico delle violazioni dei Diritti Umani praticate nel contesto della repressione politica”; mentre la seconda recita “sopprimire dall’ordinamento giuridico brasiliano eventuali norme rimanenti di periodi di eccezione”. Sembra che i comandi militari siano preoccupati e contrari a che siano svelati i crimini – tortura, omicidi e sparizioni – contro gli oppositori politici commessi da appartenenti

alle forze armate; sembrano temere che la verità storica possa macchiare la reputazione delle forze armate come istituzione e non invece appurare le responsabilità personali di chi ha disonorato la divisa che indossava commettendo crimini che a detta di molti giuristi non sono soggetti a prescrizione. La OAB, ordine degli avvocati del Brasile, ha protocollato nel 2008 nel Supremo Tribunale Federale una azione con cui chiede che il tribunale si esprima sull’inclusione nella legge di amnistia dei crimini di tortura, omicidio e scomparsa commessi da militari e poliziotti. Sempre nel 2008 con sentenza pubblicata il 9 ottobre, il giudice della 23 sezione civile di San Paolo, Gustavo Santini Teodoro ha dichiarato il colonello Carlos Alberto Brilhante Ustra colpevole del reato di tortura con responsabilità civile per danni derivati da un atto illecito. Sarebbe bene che la parola tornasse alla politica, al Congresso Nazionale che dovrà approvare la legge che istituisce la Commissione Nazionale della Verità per esaminare la violazione dei diritti umani dal settembre 1946 all’ottobre del 1988.

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editorial

Ditadura ou ditabranda?

Marighella

A

Lamarca

o longo de 2009, nas páginas da Folha de São Paulo, surgiu uma polêmica depois do editorial de 17 de fevereiro, que reduzia e minimizava a amplitude e a violência da repressão ao longo dos anos da ditadura, seguidos à deposição do presidente eleito João Goulart, em 1964. Na matéria, com um trocadilho de gosto duvidoso – ditadura ou ditabranda – se argumentava que o regime de exceção no Brasil tinha usado a violência moderadamente e, de todo modo, permitido parcialmente a expressão dos que discordavam do regime. O editorial confrontava esta constatação com o novo autoritarismo na América Latina, na qual o líder eleito enfraquece as instituíções democráticas por dentro; ou seja, se aproveita das regras da democracia para suprimir as liberdades, impondo o que Eugenio Scalfari, se referindo ao caso italiano, chama de “ditadura doce”. Qualquer que seja a avaliação sobre a corrosão da “democracia substancial” pelo populismo, a ocupação dos espaços de informação, a manipulação da opinião pública – práticas estas comuns ao venezuelano Chávez e ao italiano Berlusconi – permanece uma grande diferença em relação aos regimes originados por golpes militares: o uso da violência. A nossa opinião a respeito é comprovada na capa desta edição, que retrata algumas das

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Procurados

Herzog

vítimas da ditadura, que foi brutal e feroz. Consideramos que as torturas, os assassinatos, os desaparecimentos, as remoções de parlamentares e professores dos seus cargos, a censura e o exílio, constituíram uma grave violação dos direitos fundamentais; e a gravidade desta violação não se mede pelo número dos que foram afetados. A ditadura foi certamente militar, mas não só; teve entre os seus apoiadores a Igreja, no início, antes de se transformar numa das forças mais importantes entre as que pediam a volta à democracia; muitos meios de comunicação e a elite econômica, com medo das reformas sociais do Presidente Goulart. A superação do regime ocorreu de forma gradual ao longo de uma década, e a lei de anistia de 1979 equiparou as vítimas e os agentes da repressão política. A aprovação, em dezembro de 2009, do terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos reabriu as polêmicas: os comandantes das forças armadas entregaram cartas de demissão ao Ministro da Defesa, que virou o porta-voz deles junto ao Presidente Lula, ao invés de impor o comando do poder civil sobre as forças armadas. A crítica dos comandantes militares é apontada contra as diretivas 23 e 25 do capítulo referente ao “Direito à Memória e à Verdade”. Na primeira diretiva se lê “promover a apuração e o esclarecimento público das violações de Direitos humanos no contexto da repressão política”. Na segunda encontra-

Manifestação estudantil

se o seguinte texto: “suprimir do ordenamento jurídico brasileiro eventuais normas remanescentes de períodos de exceção”. Parece que os comandantes militares estão preocupados e são contrários à revelação dos crimes contra os opositores políticos, realizados por agentes das forças armadas. Acham que a verdade histórica pode manchar a reputação das instituições, e não pelo contrário, apurar as responsabilidades individuais de quem desonrou a farda que vestia, praticando crimes que, pelo parecer de muitos juristas, não são prescritíveis. A Ordem dos Advogados do Brasil protocolou em 2008, no Supremo Tribunal Federal, uma ação que pede que os crimes de tortura, assassinato e desaparecimento, sejam excluídos da lei de anistia. Também em 2008, com sentença publicada em 9 de outubro, o juiz da 23º Vara Civil de São Paulo, Gustavo Santini Teodoro, declarou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra culpado do crime de tortura com responsabilidade civil por danos derivados de ato ilícito. Seria bom que a palavra voltasse à política e conseqüentemente ao Congresso Nacional, que deverá aprovar a lei que irá instituir a Comissão Nacional da Verdade para examinar a violação dos direitos humanos de setembro de 1946 até outubro de 1988.

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comunità

Recofia. Lettera deputato Fabio Porta al Ministro del Lavoro.

Congiuntura Brasile.

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l governatore di Minas Gerais, Aécio Neves, dopo aver rinunciato a disputare la candida-

tura a Presidente della Repubblica all’interno del suo partito, il PSDB, non intende essere candidato alla vice presidenza al fianco di José Serra; quest’ultimo vede diminuire il vantaggio sulla candidata del Presidente Lula, Dilma Rousseff, (33,2 contro 27,8 per cento) mentre Ciro Gomes del PSB (11,9%) insiste nell’essere il secondo candidato dei partiti che appoggiano il governo. Marina Silva del Partito Verde è in lieve crescita con il 6,8%. Nei vari stati della federa-

Aécio Neves

zione sono in pieno andamento le trattative per definire i candidati a governatore e ai due seggi Fabio Porta

I

l deputato Fabio Porta, eletto nella circoscrizione America Meridionale, ha inviato una lettera al Ministro del Lavoro brasiliano, Carlos Lupi, con la quale segnala l’attività della scuola professionale Recofia che ha già formato dalla fondazione nel 1997 oltre 1100 giovani che in seguito hanno trovato occupazione o nella rete delle concessionarie FIAT o anche in officine multimarca. Il corso è offerto a giovani di età compresa fra i 14 e i 22 anni provenienti da comunità carenti. Il deputato segnala la esigenza di togliere gli ostacoli alla frequentazione del corso ai minori di 18 anni - visto che non si tratta di una attività lavorativa - in quanto questa è esattamente l’età in cui è comune il contatto dei ragazzi con il crimine organizzato.

del senato. Le previsioni sono di un aumento del prodotto interno lordo superiore al 5% nel 2010, nonostante la diminuzione record del 7,4 nel 2009 della produzione industriale anche a causa del crollo delle esportazioni. Le 6 centrali sindacali oggi operanti, risultato di un intenso periodo di scissioni e conflitti interni, sono unite nel difendere la riduzione dell’orario settimanale a 40 ore, forti dell’aumento dell’occupazione regolare e del salario medio nonché di una politica condivisa con il governo di aumento del potere di acquisto del salario minimo (quasi 300 dollari nel 2010)

Dilma Roussef

Finanziaria 2010. Niente soldi per gli italiani all’estero. Di seguito pubblichiamo ampi stralci della dichiarazione dell’Onorevole Fabio Porta sui tagli dei fondi per gli italiani all’estero. “Con meccanica puntualità la politica dei tagli del governo sugli interventi per gli italiani all’estero prevista nel bilancio triennale dello stato sta ricadendo sulle annuali leggi di bilancio, con effetti sempre più chiari e sempre più gravi. Nonostante l’impegno di recuperare nel bilancio di quest’anno i fondi pervenuti nell’ultima parte dello scorso anno tramite l’assestamento di bilancio, le dotazioni per il 2010 non si allontanano da quelle stabilite nel

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bilancio preventivo del 2009 il che significa, in parole povere, che i soldi recuperati per la promozione della lingua e della cultura italiana nel mondo vengono di nuovo cancellati e che i fondi per l’assistenza subiscono un taglio di circa 6 milioni di euro. Per l’America Latina tutto questo è il preannuncio di una più grave difficoltà a far fronte alle esigenze dell’assistenza per indigenti e anziani e di una minaccia al rinnovo delle convenzioni sanitarie stipulate.

Per quanto riguarda la promozione della lingua e della cultura italiana nel mondo, l’analisi fatta sugli effetti prodotti dai tagli degli scorsi anni ha evidenziato che alla contrazione dei corsi corrisponde una parallela e altrettanto grave contrazione degli alunni e che molte famiglie, di fronte all’incertezza dello svolgimento dei corsi sono indotte a non insistere nell’apprendimento della lingua italiana per i loro figli”.

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comunidade

RIO DE JANEIRO

Presentato il progetto di formazione CREA FOR MA Impresa.

Congiuntura Italia.

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partiti di governo, nonostante polemiche al loro interno anche aspre in alcune regioni, quali il Veneto e il Piemonte, sono per ora favoriti nei sondaggi per le elezioni regionali di marzo. Il Partito Democratico se fosse confermato il risultato delle elezioni europee del 2009, correrebbe il rischio di vincere solo in tre delle 13 regioni in cui si va al voto. Per sventare tale rischio il PD ha tentato senza riuscirci di stringere una alleanza globale con l’Unione Democratici di Centro, partito che si è sfilato due anni fa dall’alleanza con Berlusconi rivendicando il superamento del bipolarismo imperfetto all’italiana e la riforma in senso proporzionale della legge elettorale. L’UDC correrà in alcune regioni con il PD e in altre con i partiti di governo o, come in Puglia, da solo. In Puglia si è verificato un episodio eclatante: alle primarie dove concorrevano il governatore uscente, Nichi Vendola, di Sinistra e Libertà, e l’onorevole Boccia del PD, ha vinto il primo con una schiacciante maggioranza e con una ancora più incredibile partecipazione di oltre 200.000 elettori, a dimostrazione che le forze di sinistra hanno difficoltà ad interpretare le ansie della propria base. L’economia è in grave crisi con un record della cassa integrazione guadagni, mentre il governo continua a puntare sulla divisione sindacale e sul conflitto fra generazioni e fra chi è più o meno garantito; per tutte vale ricordare la proposta del ministro Brunetta di togliere 500 euro ai pensionati per darli ai giovani.

Nichi Vendola

Andrea Lanzi e Clara Salvador

I

Brunetta

l 15 dicembre è stato presentato il progetto di formazione professionale rivolto a 40 cittadini italiani che intendono intrapprendere una attività imprenditoriale o migliorare la propria capacità di gestione manageriale. Alla presentazione era presente il Console Generale d’Italia, Umberto Malnati, il direttore dell’Istituto Italiano di Cultura, Rubens Piovano, il SEBRAE. Capo progetto è la FILEF, Federazione Italiana Lavoratori Emigranti e Famiglie, mentre il patner locale è l’Associazione Anita e Giuseppe Garibaldi, rispettivamente presenti con il coordinatore nazionale, Rodolfo Ricci, e il presidente, Andrea Lanzi. L’illustrazione del corso è stata realizzata da Clara Salvador.

Partito Democratico. Una proposta di lavoro per i circoli all’estero.

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al circolo di Londra è stata formulata una proposta di lavoro per gli iscritti e simpatizzanti del PD residenti all’estero basata su un rapporto diretto e uno scambio di idee ed esperienze fra i vari circoli disseminati nei 4 continenti. Si propone inoltre di lavorare su due appuntamenti: il primo marzo che vedrà perlomeno in Francia e Italia - lo sciopero e la protesta dei migranti per dimostrare quanto essi siano indispensabili per il normale funzionamento dell’economia dei paesi sviluppati; il primo maggio, la tradizionale festa dei lavoratori, per porre al centro dell’attenzione le problematiche legate alla mobilità dei diritti e i diritti di chi è in movimento.

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comunità

Ornella Cilona (Cgil nazionale, Dip. Politiche attive del lavoro)

L’industria automobilistica fra Europa e Brasile Il dialogo fra imprese e sindacati è la ricetta giusta per salvare l’occupazione nelle industrie automobilistiche di Europa e Brasile.

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d affermarlo è la Fondazione per il miglioramento delle condizioni di vita e di lavoro, l’agenzia europea specializzata sui temi riguardanti l’occupazione e il dialogo sociale che ha sede a Dublino. Un seminario, organizzato recentemente dalla Fondazione nella capitale irlandese, ha, infatti, messo in luce come la collaborazione fra i grandi gruppi automobilistici e le organizzazioni dei lavoratori stia riducendo nel settore gli effetti negativi causati dalla crisi economica globale all’occupazione. “Se imprese e sindacati lavorano insieme” ha affermato Stavroula Demetriades, a capo dell’unità Relazioni industriali della Fondazione di Dublino “l’industria dell’auto può uscire prima e meglio dalla recessione, non solo nell’Ue, ma anche in altre parti del pianeta”. Oltre il 30% della produzione mondiale di veicoli è concentrata in Europa e gli addetti sono dodici milioni, fra occupazione diretta e indiretta, pari al 6% del totale degli occupati nell’industria manifatturiera. Sono due le sfide che il settore deve affrontare. La prima è tecnologica: l’industria si sta orientando verso motori e carburanti ecologicamente sostenibili. La seconda sfida è originata dai cambiamenti di mercato: mentre in Europa la domanda è sostanzialmente ferma, nei Paesi emergenti la domanda di auto e veicoli a motore sta crescendo e stanno affacciandosi nuovi gruppi a livello internazionale. Il Parlamento europeo ha chiesto misure a favore del settore che sostengano la creazione di nuova occupazione e l’adozione di tecnologie verdi. L’istituzione comunitaria ha sottolineato, inoltre, che il futuro del settore si gioca su uno scacchiere mondiale e non più solo europeo, e che occorre combattere a livello globale le tentazioni protezionistiche. L’industria automobilistica europea è caratterizzata, come in Brasile, da un alto tasso di sindacalizzazione e da un’ampia copertura dei contratti collettivi. Questo ha permes-

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so la diffusione di soluzioni innovative negli accordi siglati fra le parti sociali. “Sono quattro le principali tendenze, per quanto riguarda le relazioni industriali, che emergono nell’industria automobilistica europea a seguito della crisi” ha spiegato Roberto Pedersini, docente all’Università di Milano, nel corso del convegno della Fondazione di Dublino “la preferenza ad adottare misure di carattere temporaneo; la ricerca di compromessi a livello contrattuale; il ruolo crescente della formazione; un’accelerazione dei processi di ristrutturazione”. Mentre l’Europa a quattro ruote arranca, il settore dell’auto è, invece, in forte crescita in Brasile, a causa di una domanda che permane sostenuta nonostante la recessione. La produzione annua ammonta a oltre tre milioni, con 111 mila occupati, concentrati nell’area industriale intorno a San Paolo. Per combattere gli effetti della recessione, il governo ha preferito adottare delle misure volte a salvaguardare la produzione e a facilitare l’accesso al credito da parte delle imprese, lasciando il tema della difesa dei posti di lavoro alla contrattazione collettiva. Durante il convegno della Fondazione di Dublino sono stati esaminati tre accordi

aziendali a tutela dell’occupazione, sottoscritti recentemente dal sindacato brasiliano nei gruppi Mercedes, Ford e Volkswagen. Nel primo, è stata istituita una banca delle ore e sono stati introdotti degli incentivi al pensionamento, di cui hanno usufruito circa 1300 addetti. Nella casa automobilistica Usa Ford ci sono state 166 dimissioni, in gran parte dovute a pensionamento, ma i 200 lavoratori a tempo determinato hanno conservato il proprio impiego. Nel gruppo Volkswagen, infine, nel dicembre 2008 sono state decise alcune temporanee chiusure della produzione, ma ora la situazione è tornata alla normalità, senza bisogno di licenziare né i lavoratori temporanei, né quelli a tempo indeterminato. “La contrattazione collettiva è stata molto importante a livello aziendale per evitare significative perdite di occupazione” afferma Helio Zylberstajn, docente all‘Università di San Paolo, che ha presentato i casi nel corso del seminario “Quanto è avvenuto nell’industria automobilistica brasiliana rappresenta un modello per il miglioramento delle relazioni industriali in tutto il Paese”.

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gastronomia

Calzone italiano

CUCINA ITALIANA Marisa Oliveira

por Chef Nadia Pizzo

Foto: Divulgação

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uem já foi ao Ráscal sabe o quanto é difícil escolher. E tudo por culpa da chef Nadia Pizzo, italiana da Ligúria, que cresceu vendo a mamma e a nonna criarem receitas do dia-a-dia, sempre com ingredientes cultivados pela família, inclusive o vinho. E há cinco anos a chef Nadia empresta à cozinha do Ráscal pitadas essenciais de criatividade, tradição e modo artesanal. São 40 opções de receitas – cuscuz sírio, ovos trufados, leitoa com ervas, atum com gergelim e porchetta - na mesa de saladas e antepastos, e oito sugestões por dia de massas artesanais, ravióli verde com muzzarela de búfala ou com aspargos com brie. Ainda tem os grelhados e assados que acompanham as pastas: polpetta de cordeiro, filé de truta e de salmão assado no forno à lenha, uma variedade enorme de azeites gregos, italianos, portugueses e espanhóis. E vinhos. Ah, os vinhos... Mas havíamos que escolher: calzone Italiano, feito no fogão à lenha. Irretocável! Massa suave, cozimento ao ponto, e os ingredientes do recheio unidos em casamento perfeito. Como o olho sempre é maior do que a boca, um cheescake de limão, por favor, e, acreditem, de novo um acerto total nas medidas e ingredientes, de forma que o resultado deságua em sabores harmonizados e singulares. Como nas melhores tradições da família Pizzo, comida simples transformada em banquete!

Ráscal Shopping Leblon Rua Afrânio de Melo Franco, nº 290, Leblon, RJ Tel.: (21) 2259-6437

Calzone italiano (grande)* Ingredientes Massa 200gr ** Molho de tomate 50gr Muzzarela 100gr Presunto 100gr

Ovos Cebola Parmesão Catupiry

50gr 25gr 10gr 100gr

** Massa do Calzone (quantidade para 15 unidades) Ingredientes: 2 kg de farinha de trigo; 14 g de fermento fleischmann (seco e instantâneo); 10 g de açúcar; 26 g de sal; 40 ml de óleo; 1,120 l de água.

Foto: Divulgação

Modo de fazer

Foto: Divulgação

O maravilhoso cheesecake de limão.

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Misturar o fermento na farinha, acrescentar o açúcar, o sal e o óleo e colocar água aos poucos até a massa ficar macia. Abrir a massa como rolo de macarrão e espalhar molho até a metade da massa; acrescentar mussarela sobre o molho e depois o presunto; espalhar ovo e cebola; acrescentar parmesão e em seguida espalhar o Catupiry; dobrar a massa, fechando o calzone e pressionar as bordas com um garfo; pincelar a parte superior do calzone com azeite; levar ao forno por 4 minutos (forno à lenha). * Uma boa dica de vinho para acompanhar o Calzone Italiano é o Rispollo Rosso, 2008, Médio Corpo, produzido na Toscana; um belo acerto das uvas Merlot, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot. Mas não deixe de consultar o sommelier Edson; há outras opções que são apresentadas com simplicidade, propriedade e muita simpatia.

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Va l e E u r Foto: Divulgação Schornstein

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Maiores Informações http://www.santur.sc.gov.br Cervejaria Bierland Bar da fábrica: de 3ª a 6ª feira a partir das 16h 30min e nos sábados a partir das 10h. Rua Gustavo Zimmermann, 5361, Itoupava Central - Blumenau/ SC - (47) 3337-3100 - http://www.bierland.com.br/ Cervejaria Borck Rua Pomeranos, 1963 Bairro Pomeranos - Timbó/SC (47) 3382-0587 - www.borck.com.br Cervejaria Das Bier Rua Bonifácio Haendchen (estrada geral, na direção de Luis Alves), 5311 - Gaspar-SC (47) 3397-8600 - www.dasbier.com.br Cervejaria Eisenbahn Rua Bahia, 5181 Salto Weissbach - Blumenau/SC (47) 3488-7371 - www.eisenbahn.com.br Cervejaria Heimat Rua Mal. Deodoro da Fonseca, 1498, Bairro Tapajós - Indaial/SC (47) 3333-1793 - www.choppheimat.com.br Cervejaria Schornstein Rua Hermann Weege, 60 (ao lado do Zôo), Pomerode/SC (47) 3387-6655 - www.schornstein.com.br

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om o verão quase acabando, a sugestão é dar uma guinada radical, deixar as praias e piscinas naturais para trás e, copo na mão, degustar as cervejas artesanais que vem sendo produzidas no Vale do Itajaí. Um outro Brasil, formado essencialmente por imigrantes alemães: arquitetura, culinária, eventos e, claro, as cervejas! A região, também conhecida como Vale Europeu – Blumenau, Pomerode, Timbó, Indaial e Brusque, entre outras – empresta ao país outras cores e experiências diversas. Em Pomerode, a cidade mais germânica do Brasil, a cervejaria Schornstein se orgulha de contribuir para a preservação das tradições dos colonizadores alemães e de servir de referência e atrativo para a cidade. Os turistas têm a chance de conhecer o passo a passo da fabricação e experimentar a harmonização* entre bebida e culinária - *palavra tão em voga, que indica quando a combinação perfeita permite que a bebida valorize o sabor do alimento. A Schornstein fabrica cinco tipos de chope: pilsen natural, pilsen cristal (esses dois no verão são os Hackpetter, Restaurante Schornstein Kneipe

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Schornstein

Foto: Divulgação Schornstein

No meio do caminho, cervejarias

Zehn Bier Rua Benjamin Constant, 24 - Brusque/SC (47) 3322-1419 - www.zehnbier.com.br Cervejaria Wunder Bier Rua Fritz Spernau, 155, Fortaleza, Blumenau/SC (47) 3339-0001

Cerveja Bock

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Opa Bier Tel. 47 3435-4707 (Joinville) - www.opabier.com.br

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Foto: Iolita Cunha

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obedecimento à Lei da Pureza Alemã, criada em 1516, que determina que a verdadeira cerveja seja elaborada apenas com malte (de cevada ou trigo), lúpulo, levedura, fermento e água em combinação ideal de quantidade, tempo e temperatura. Também fazem parte do roteiro das cervejarias artesanais as cidades de Gaspar, Brusque, Joinville, Indaial e Timbó. Cada uma delas com seu modo especial de receber os visitantes e um toque caprichado em suas cervejarias com espaço de degustação. Todas, apesar das semelhanças nos traços deixados pelos colonizadores alemães, que foram preponderantes a outros imigrantes europeus, têm suas belezas e encantos próprios, bem como, além das cervejarias, produção industrial diversificada, como tecidos, porcelanas e cristais, metal-mecânico, plásticos e brinquedos. Blumenau é conhecida também como a cidade dos grandes eventos (Oktoberfest) e outras festas populares. Em Pomerode as confeitarias são uma tentação e a culinária tem como vedete, entre outros, o prato de marreco recheado com repolho roxo. Essas e as demais cidades, herdeiras que são da cultura alemã, têm arquitetura em estilo enxaimel (vigas aparentes de madeira com pedras ou tijolos) e, incrustradas em um vale, cercam-se de montanhas, rios e lagos, abrindo espaço para o turismo ecológico e para a prática de esportes ligados à natureza. Sem dúvida, uma excelente opção para esperar o próximo verão!

Foto: Divulgaçã

Foto: DivulgaçãoBierland

preferidos pelo brasileiro comum), pale ale, bock (inverno) e Weiss, além do Imperial Stout, que tem fabricação sazonal, em datas especiais, como Oktoberfest e Festa Pomerana. A visita guiada pode ser agendada por e-mail ou telefone e custa R$ 5,00, com degustação da bebida. Entre as delícias locais, as várias salsichas alemães e o Hackpetter, uma espécie de steak tartar de carne crua, servido com pão feito com cerveja, que podem ser consumidos no Schornstein Kneipe, restaurante e bar da fábrica. Das cidades do Vale do Itajaí, Blumenau é a mais conhecida e oferece aos amantes das cervejas as fabricadas pela Wunder Bier, Eisenbahan e Bierland (há outras!). O espaço de degustação da Bierland tem capacidade para 100 pessoas, com paredes de vidro que separam a fábrica do bar para que os visitantes, enquanto apreciam o sabor da cerveja, possam acompanhar o processo de fabricação. Todas as cervejarias artesanais do roteiro apresentam como excelência, em relação ao seu processo de produção, o Foto: Divulgação

Culinária alemã

Foto: Divulgação Schornstein

Foto: Mario Barbetta

Oktoberfest

Arquitetura alemã

Foto: Divulgação Schornstein

Paisagem rural

Cervejaria Schornstein, Pomerode Fevereiro/ Março10 Fevereiro/março 10

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cultura

literatura

Marisa Oliveira

...Quero mais é que se danem!

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ario Lorenzi, de uma maneira muito especial – repassando fatos acontecidos nos últimos 70 anos da vida dos protagonistas do romance – celebra a amizade entre dois velhos amigos octogenários, cujas trajetórias de vida foram e continuam sendo marcadas pela lucidez. Nesse romance, o elemento que provoca a ação é a conversação que ocorre entre Aristide e Romeo e um jovem rapaz, neto de um deles, através da qual presente e passado dão ensejo a reflexões e confrontações sobre as idiossincrasias do mundo contemporâneo, sempre marcadas por ironia e sarcasmo, traços típicos

de quem viveu intensamente e por um longo período de tempo. Digna de nota a cena do cozinheiro polonês do trem que viraria um sui generis guardacostas. Igualmente tocantes os episódios da resistência italiana durante a Segunda Guerra. Mas não se pode deixar de mencionar como são encantadores os relatos de época, do passado, situados aqui, ali e acolá, bem como o uso de idiomas diferentes para certos vocábulos únicos e intraduzíveis em espontaneidade e emoção.

Quem é Mario Lorenzi? ... Quero mais é que se danem! Autor: Mario Lorenzi Editora: Estação Liberdade Páginas: 294 Preço: R$ 43,00

Mario Lorenzi nasceu em 1926 na Riviera dei Fiori, na Ligúria, Itália e vive há 61 anos na América Latina. Paulistano, italiano e brasileiro, foi jazzista, operário, diretor e presidente de empresas, cônsul, membro de organizações internacionais, é jornalista e escritor. Residiu em vários países, percorrendo a Europa, as três Américas, parte da África e da Ásia em suas andanças. Este é seu décimo primeiro livro. Entre os demais, destacam-se O espelho do alfaiate (1992), Uma rosa para Puchkin (2003) e Se a moda pega... (2006).

O projeto do Renascimento

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a Itália do Renascimento, séculos XV e XVI, Elisa Byington transporta o leitor para um competitivo cenário artístico, colocando em destaque os desafios estéticos do movimento em suas combinações de naturalismo e beleza, imitação do passado e invenção do presente. Com o objetivo de ajudar a entender o projeto do Renascimento, são apresentadas, entre outras, as principais questões da época: luz e

trevas, o espelho ideal, o Homem Universal, o quadro como janela, o modelo de Leonardo da Vinci. Considerado como revolução cultural, o movimento renascentista permanece intrigando especialistas por sua grandiosidade e encantando séculos de gerações pelo legado de gênios como Leonardo da Vinci e Michelangelo.

Quem é Elisa Byington? O projeto do Renascimento Autor: Elisa Byington Editora: Zahar Coleção Arte + Páginas: 84 Preço: R$ 19,00

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Elisa Byington é pesquisadora, formada em Sociologia na PUC-Rio e em História da Arte na Universidade de Roma – La Sapienza. É autora dos livros Galleria Borghese – Os tesouros do cardeal (2000) e Palazzo Pamphilj (2001). Dedicou-se ao estudo da obra de Giorgio Vasari, primeiro historiador do Renascimento italiano. Colabora periodicamente com ensaios e artigos sobre arte clássica e contemporânea em revistas especializadas. Desde 1986 reside na Itália.

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Tal pai

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A natureza agradece Produzir moda e assegurar a preservação ambiental. Não é fácil, mas é possível, que o diga a Reserva Natural que, desde 1992, trabalha com fibras e matérias-prima100% naturais, desenvolvendo responsabilidade e consciência ambiental.

Em seu CD de estréia Zé Luiz Maia assume sua filiação – é filho do reverenciado baixista Luizão Maia - sem medo de comparações. Ao contrário, todas as músicas que interpreta são do pai, e Zé Luiz, num estar bem à vontade, dedilha as cordas do baixo, típico de quem nasceu, viveu e conviveu com a música e com o instrumento, na intimidade dos sons e acordes, dos arranjos e harmonias. Coisa dos grandes. Como o pai. Dividem com ele as faixas do CD, entre outros, Fernando Merlino e Itamar Assere (piano), Gilson Peranzzetta (arranjo e piano), Mario Adnet (arranjo e violão), Rildo Hora (gaita) Leonardo Amuedo (guitarra) e Marcio Bahia (bateria e percussão). Atenção especial para as faixas: Universo Mistério, Pinta Lá (especial!) e Besteira.

Camisa de algodão orgânico e fibras 100% naturais Preço: R$ 75,00

Água perfumada com essências naturais e álcool vegetal orgânico Preço: R$ 36,00

Onde encontrar: Reserva Natural - Rua Lopes Trovão, 134 / Loja 117 - Center V - Icaraí - Niterói - RJ Tel.: (21) 2710-5939 - www.reservanatural.com.br

CD: Tal Pai Músico: Zé Luiz Maia (contrabaixista) Gravadora: Delira Música Preço: R$ 24,90

Foto: Simone Por etellada

Mutações - consumo responsável Trocar informação, fazer pensar e integrar produtos de todas as regiões do país e do mundo, cooperativas, ONGs, redes, artesãos, desde que apresentem o selo ecológico de garantia. E, no Café do Largo, alimentos orgânicos, sucos, sanduíches e sorvetes de soja de vários sabores. Pulseiras de Djenné - de pneu reciclado, produzidas por mulheres de Djenné, Mali. Sua compra garante um dia de cuidados para uma criança no Empire des Enfants (centro para orfãos em Dakar, Senegal). Desde 2007 a ONG Made With Love in Brazil, com a venda de produtos artesanais, ajuda crianças e mulheres na África, no Haiti e no Brasil. Preço: R$ 18,00 o conjunto de 06 pulseiras Onde encontrar: Mutações e Café do Largo, Largo dos Leões, 81 - lj. C - Humaitá Tel: (21) 2530-4201

Bandeja Giratória Claude: suporte de madeira, com pastilhas pintadas individualmente e palitos de bambu descartados (decorativo e utilitário); 36 cm de diâmetro. Preço: R$ 250,00

Centrinho Vinicius: feito de madeira, palitos de bambus, corda e pastilhas pintadas. Preço: R$ 60,00

Beleza, originalidade e reciclagem em alta Peças únicas estruturadas com pastilhas vitrificadas, pintadas individualmente à mão e muitos outros materiais, como tacos, cortinas japonesas, jornais, tampinhas pet , retalhos de tecidos e tudo que estiver ao alcance dos olhos e das mãos. Todas as peças podem ser recriadas pelo comprador, que pode escolher a estampa e determinar o tamanho. Onde encontrar: Bangalô Brasil Solange Fonseca: (21) 8131-8665 - solange@bangalobrasil.com.br Lena Fonseca: (21) 9626-5025 - lena@bangalobrasil.com.br site www.bangalobrasil.com.br - blog: www.bangalobrasil.blogspot.com.br Compras pelo site ou por telefone. As peças são enviadas para qualquer lugar do Brasil por Sedex. Na cidade do Rio de Janeiro as encomendas podem ser retiradas pelo comprador no atelier.

Contatos com a seção Às Compras para apresentação/sugestão de produtos sustentáveis ou demais produtos podem ser enviados para pauta@forumdemocratico.org.br

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Encarte especial Forum 91-92 - Introduzione alla lettura di brevi testi in Lingua Italiana - Fascicolo XLIII

f a s c i c o l o Símbolos utilizados  Informação histórica

 Expressão - locução  “Falsos amigos” ou falsas analogias  Ao fim do parágrafo, há uma janela

com informações fora do texto 

Gírias ou expressões fixas

Anglicismos e neologismos

 Dialetos

Introduzione alla lettura di brevi testi in Lingua Italiana a cura di Cristiana Cocco

Dal libro “Itaca per sempre” di Luigi Malerba Ulisse

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enelope nel suo discorso ai Proci ha parlato di un mio possibile scarso desiderio di ritornare in patria. Solo ora comincio a capire quanto il suo cuore sia colmo1 di rancore per i lunghi, troppo lunghi anni del mio viaggio di ritorno e in questa luce diventa comprensibile la proposta della gara con l’arco. Non posso darle torto2, anche se le sue parole mi hanno gettato nello sconforto3 e mi hanno gonfiato il petto di una amarezza che non mi gioverà quando dovrò piegare l’arco per la gara e poi affrontare con le armi la turba4 dei Proci. Sono ormai venti anni che non ho preso in mano quest’arma superba e ora mi si infiamma la fronte nel dubbio che potrei mancare la prova. Un tentativo fallito mi trascinerebbe nella vergogna di fronte ai Proci e a Penelope. In questo caso mi rimetterei in viaggio in cerca di una nuova patria o riprenderei a vagabondare da una terra all’altra come ho fatto dopo la caduta di Troia. È la prima volta che mi sento sfuggire quella baldante sicurezza che distingue e sostiene anche il guerriero più ottuso. I veri eroi, Achille, Ettore, Agamennone, non hanno mai perduta nemmeno per un istante la fiducia cieca nella loro forza e mai il dubbio è penetrato nella loro mente. Diversamente da loro io ho sempre dubitato di tutto e il dubbio mi ha sempre aiutato a capire e a vincere, ma da quando sono arrivato sotto il cielo di Itaca veramente troppi sono i dubbi che mi tormentano come se fossi approdato nell’isola delle incertezze e delle facili lacrime. «Si faccia avanti ognuno di voi a cominciare da destra e vada a disporsi sulla soglia di pietra.» Così ha ordinato Antinoo che ha preso con queste parole la Pieno L’espressione ‘dare torto’ è il contrario (antonimo) di ‘dare ragione’, espressione che non esiste in portoghese. 3 Lo sconforto è un senso di profonda amarezza o addirittura di prostrazione in conseguenza di gravi o continue avversità. In questo caso in portoghese potrebbe essere tradotto come ‘desalento’o ‘desconsolo’. 4 La turba è un’accozzaglia [mixordia] di persone, perlopiù con un’idea di disordine. 1 2

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direzione della gara come se fosse il padrone di casa o già sapesse di poter contare sui favori di Penelope. La quale stava sul suo seggio5 immobile e silenziosa come una statua, lo sguardo lontano e assente. Io la scrutavo6 con attenzione sperando di sorprenderla incerta o ansiosa e ho colto invece, improvviso sulle sue labbra, un sorriso che ancora una volta mi ha messo in difficoltà. Qual era il senso di quel sorriso e quali pensieri tradiva? Quale segreta sicurezza le permetteva di sorridere in un momento di così grave tensione? Forse aveva proposto la gara già sapendo chi l’avrebbe vinta? Ma trucchi non potevano esserci perché lo stesso Telemaco aveva saggiato l’arco senza successo. O forse aveva ceduto segretamente e in anticipo la chiave del ripostiglio dove era conservato l’arco a uno dei Proci perché si esercitasse? Forse aveva stretto un accordo con Antinoo che vedevo sereno come se già fosse il vincitore? Oppure contava con questo stratagemma e il fallimento della gara di por fine alla presenza dei pretendenti nella reggia? Lo sguardo di Penelope era lontano come se tutto ciò che avveniva sotto i suoi occhi non la riguardasse. Ma come potevo sperare che il suo sguardo si posasse su questo vecchio vagabondo coperto di stracci? Ma perché lamentarmi dal momento che io stesso avevo deciso di tenerla all’oscuro di questa finzione? Per primo si è alzato Leode figlio di Enopo, il più moderato fra i Proci che, a detta di Eumeo7, più volte aveva tentato di frenare l’ingordigia e la superbia dei suoi compagni. Si è avviato con passo svelto alla soglia di pietra e subito ha impugnato l’asta dell’arco sforzandosi di piegarla e di tendere la corda. Con fatica ha fatto due tentativi a vuoto e poi con un gesto di sconforto ha appeso l’arma al gancio della parete. «Io non posso tendere l’arco di Ulisse» ha esclamato «e lo prenda dunque un altro di voi. Ma se con questo arco sperate di conquistare Penelope, preparatevi a corteggiare al5 Nel suo senso arcaico o letterario, è la sedia o il sedile riservato a persona d’autorità o in quanto segno di distinzione e di condizione eletta e superiore. Ma il termine ha altri significati che possono essere visti su qualsiasi dizionario. 6 Oltre al significato di guardare con attenzione per individuare oggetti lontani o scarsamente visibili, il verbo ‘scrutare’ significa – come in questo caso –‘ indagare, esaminare a fondo per cogliere aspetti nascosti o difficili da penetrare.’

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uigi Malerba, pseudonimo di Luigi Bonardi, nacque a Berceto l’11 novembre del 1927 e si è spento a Roma l’8 maggio 2008. Scrittore e sceneggiatore, ha fatto parte della noeavanguardia partecipando al Gruppo 63. Tra i suoi romanzi più noti si citano: La scoperta dell’alfabeto, Il serpente, Salto

mortale, Dopo il pescecane, Testa d’argento, Il fuoco greco, Le pietre volanti, Itaca per sempre, da cui sono tratte queste pagine dell’inserto. Lo scrittore passa dal romanzo al saggio linguistico, alle sceneggiature, ai racconti per ragazzi. Umberto Eco, che ha anch’egli preso parte ai lavori del Gruppo 63, nel ricordarlo ha detto: “Molti lo hanno accostato agli scrittori postmoderni. Ma la definizione funziona fino a un certo punto. L´autore di “Salto mortale” si comporta sempre in modo maliziosamente ironico, con svelamenti e ambiguità”.

(Luigi Malerba visto da Eco. La geniale arte della menzogni su La Reppublica, 8 ottobre 2009)

“Malerba si muoveva nell’ambito della neoavanguardia: gli piaceva l’idea che qualcuno rovesciasse i tavoli delle vecchie discussioni e azzardasse prove nuove, sperimentali. Così con i romanzi “Il serpente” e “Salto mortale” cominciò a giocare sul filo del paradosso, con indagini che non portano a nulla, eroi partoriti dalla mente dello scrittore e fatti vivere sulla pagina salvo poi svelare il trucco e un linguaggio nuovo, assolutamente originale. Avrebbe poi continuato , di romanzo in romanzo, rinnovandosi continuamente nei temi e nei modi”. (Paolo Mauri, È morto lo scrittore Luigi Malerba, maestro di realtà deformate su La Repubblica, 8 maggio 2008).

trove un’altra donna perché non riuscirete a piegare quest’arma e io vi dico che questa gara vi procurerà8 soltanto vergogna.» Le parole di Leode hanno suscitato immediata l’ira di Antinoo. «Non biasimare9 gli altri, Leode, se la madre tua ti generò pessimo arciere. Ben presto vedrai altri fra i tuoi compagni capaci di tendere l’arco e lanciare la freccia entro i dodici anelli. È un segno di viltà attribuire ad altri le proprie debolezze e meglio per la tua dignità sarebbe stato tacere.» Dopo queste parole severe di Antinoo si è fatto avanti Eurimaco e ha ordinato al capraio Melanzio di attizzare il fuoco e di disporre pelli di pecora su uno sgabello davanti al camino e sopra le pelli un bel pezzo di grasso che cominciò a sciogliersi al calore della fiamma. Le pelli calde e unte vennero poi avvolte intorno all’asta dell’arco per renderla più flessibile come era stato richiesto dai gio7

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‘A detta di’ è una locuzione che significa ‘secondo quanto dice’. Il verbo ‘procurare’ ha in italiano il senso di ‘causare’ e non di ‘cercare’.

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vani che si preparavano alla gara. Mentre Melanzio scaldava l’asta dell’arco, io osservavo Penelope che sembrava assente e quasi annoiata per l’attesa. Un atteggiamento ben strano per una gara che metteva in gioco il suo futuro. Dieci e dieci Proci sono quindi passati uno dopo l’altro sulla soglia di pietra e hanno tentato di tendere l’arco scaldato con le pelli imbevute di grasso. Ma ogni prova è fallita con vergogna e alcuni sono ritornati ai loro posti borbottando imprecazioni contro gli dèi. Io assistevo in silenzio alla gara e godevo della inettitudine10 dei giovani pretendenti che si contorcevano nello sforzo e gonfiavano le vene del collo e storcevano la bocca. È arrivato poi il turno dello strabico Anfimedonte, il quale è salito sulla soglia di pietra e ha preso in mano l’arco. Ma Eurimaco lo ha subito interrotto. «Quando mai tu riuscissi a tendere l’arco io scapperei dalla sala

Encarte especial Forum 91-92 - Introduzione alla lettura di brevi testi in Lingua Italiana - Fascicolo XLIII

luigi malerba

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9 Il verbo ‘biasimare’ significa ‘disapprovare mediante un giudizio tacitamente o apertamente espresso’, ossia criticare, condannare. 10 In questo caso il termine ‘inettitudine’ significa limitatezza, inferiorità nei confronti dei propri compiti.

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perché non si sa dove andrebbe a finire la freccia.» Qualche risata in sala. Anfimedonte, offeso, ha gettato a terra l’arco ed è ritornato al suo posto. Ma i miei sguardi, e anche quelli di Penelope, erano tutti volti ad Antinoo e a Eurimaco, i più forti fra tutti i Proci e i più superbi. Mi sono alzato allora lentamente dal mio seggio e con un cenno ho chiamato fuori Eumeo e il fedele mandriano Filezio, come se volessi sottrarmi al triste spettacolo dei Proci alle prese con l’arco inflessibile. Lì fuori ho detto poche e veloci parole ai due mandriani. «Siete pronti a lottare» ho domandato «contro i superbi pretendenti se d’improvviso arrivasse fra noi il forte Ulisse per compiere la vendetta che gli è dovuta come risarcimento per tutte le offese ricevute? Oppure vi troverebbe schierati dalla parte dei pretendenti? Che cosa vi suggerisce il vostro cuore? Quale sarebbe la vostra scelta?» I due mandriani hanno risposto senza esitare che le loro braccia troverebbero una forza raddoppiata se un dio generoso gli facesse comparire davanti agli occhi Ulisse, loro signore e padrone. «Ma gli dèi non riservano i loro sortilegi a due poveri mandriani» disse Filezio con umiltà. «Allora eccomi qua» ho detto ai due fedeli mandriani, «sono io Ulisse, nascosto sotto questo manto di stracci, approdato nella mia terra dopo venti anni di patimenti ma ancora saldo come un ferro ben temperato.» Ho mostrato la cicatrice della ferita profonda che un giorno lontano mi aveva procurato quel cinghiale durante la caccia sul monte Elicona, una ferita che loro ben conoscevano essendo stati a suo tempo presenti all’incidente. Eumeo e Filezio sono ammutoliti per la meraviglia e i loro occhi si sono gonfiati di lacrime. «Non è il momento di piangere» ho detto io per evitare anche la vergogna della mia commozione di fronte ai due mandriani. Che cosa avrebbero pensato del loro re Ulisse se lo avessero visto sciogliersi in lacrime? Li ho incoraggiati con un gesto e ho detto ancora poche parole. «Occupatevi, appena entrati nella sala, di chiudere tutte le porte di uscita con chiavistelli ben saldi in modo che nessuno dei Proci possa allontanarsi. Ma prima fate uscire le ancelle perché non sarà uno spettacolo adatto ai loro occhi. E non parlate a nessuno della mia presenza, nemmeno a Penelope, fino a quando

non ne avrete l’ordine da me stesso.» I due mandriani hanno giurato piangendo che avrebbero percorso con me tutta la strada della vendetta. Hanno preso le mie mani, le hanno coperte di baci bagnandole con le loro lacrime salate come il mare. Non si fa altro che piangere in quest’isola, ho pensato, mentre sarebbe tempo di tenere gli occhi ben vigili e asciutti. «Adesso io rientro» ho detto a quei due «perché nessuno ci veda insieme qua fuori, soprattutto che non ci veda quello spione di Iro. Voi mi seguirete fra poco e, quando Telemaco lo chiederà, tu Eumeo mi porgerai l’arco e le frecce.» Sono rientrato nella sala e ho trovato Eurimaco che scaldava l’asta dell’arco direttamente alla fiamma del camino e poi andava a disporsi sulla soglia di pietra e tentava di tendere la corda per scoccare la freccia. Rosso in volto e sudato per lo sforzo, il collo teso e rigido come un tronco di quercia, gonfie le vene della fronte, dopo due tentativi falliti subito rinunciava abbassando lo sguardo per l’umiliazione e gettando a terra l’arco. Poi si è rivolto ai compagni seduti nel salone. «La disperazione mi opprime» ha detto con voce roca «non solo perché mi sfuggono le nozze con la bella e onesta regina Penelope, ma perché questa nostra vergogna sarà nota ai figli dei figli per lunghi anni. Ho capito da questa prova fallita che nessuno di noi saprà tendere l’arco di Ulisse.» «Parla per te stesso e non per gli altri» lo ha rimproverato Antinoo dicendo che ora conveniva riprendere le libagioni11 e rimandare la gara all’indomani dopo una notte di riposo. «Che i coppieri versino il vino e domani gli dèi daranno vigore a chi piacerà loro, ma non rinunciamo così facilmente a questa gara voluta dalla severa Penelope. Oltre che a noi stessi è a lei che dobbiamo mostrare di non essere inferiori a Ulisse.» Mentre i Proci, rasserenati dalle parole di Antinoo, riprendevano a bere il vino nelle coppe d’argento, mi sono alzato dal mio seggio e ho battuto i piedi per ottenere l’attenzione della sala. «Poche parole vorrei dire a voi pretendenti, ma soprattutto a Eurimaco e Antinoo mi rivolgo affinché mi concedano di mettere alla prova la mia forza e vedere se la vita vagabonda e gli stenti l’hanno fiaccata o se ancora conservo qualche fiamma dell’antico vigore.» «Quale pazza idea frulla12 nella tua men-

11 La libagione era un’offerta sacrificale di bevande, diffusa nei riti dell’antichità classica. Oggigiorno il termine viene usato scherzosamente per indicare un’abbondante bevuta di vino o birra. 12 Nel suo senso figurato il verbo ‘frullare’ – associato alle parole idea, pensiero – significa ‘passare

13 Uno straccione è un uomo vestito solo di stracci [trapos] e pidocchioso significa pieno di pidocchi [piolhos]. 14 E’ il grado o la posizione sociale di una persona, di solito usata nelle espressioni ‘di alto rango’ o ‘di basso rango’. Già il suo uso assoluto ‘di rango’ contiene implicitamente il significato ‘di grado elevato’. In portoghese può essere tradotta come nível, grau, classe.

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te sciagurata, straniero?» mi ha apostrofato Antinoo. «Già ti abbiamo accolto straccione pidocchioso13 alla nostra nobile mensa per insistenza di Telemaco, ma ora i fumi del vino hanno sconvolto la tua ragione e ti inducono a chiedere ciò che non ti compete e a offendere il rango14 che ha consentito a ognuno di noi di proporsi come sposo della regina Penelope. Cattiva consigliera è l’ubriachezza e grave danno rischia di procurare alla tua già meschina persona.» Subito è intervenuta Penelope con voce alta e grave. «Antinoo, non è giusto offendere l’ospite di Telemaco. O forse temi che se riuscirà a tendere l’arco e a lanciare la freccia entro i dodici anelli possa avermi come sposa e prendere il posto di Ulisse anche nel governo dell’isola? Oppure temete che voglia rapirmi come Paride ha rapito Elena quando ben sapete che non possiede nemmeno un tetto che lo ripari dalla pioggia? Io non credo che l’ospite abbia simili pretese, ma che voglia soltanto mettere alla prova la sua forza come in una palestra. Per il resto non avete nulla da temere e perciò restate ai vostri posti e vediamo che cosa sa fare questo straniero e se non riuscirà a piegare l’arco potrete sbeffarlo15 a volontà, ma se invece vincerà la gara si sarà meritato un maggiore rispetto e la fine dei dileggi16 alla sua persona.» «Non temiamo che ti conduca via come sposa, generosa Penelope, o che ambisca a diventare re di Itaca» ha replicato Antinoo «ma che si dica in tutta l’isola e in tutto il nero continente che un povero vagabondo senza grado è riuscito a tendere l’arco di Ulisse mentre fino a questo momento i nobili pretendenti hanno dovuto arrendersi con vergogna. Questa voce d’infamia verrebbe raccontata per molti secoli ai figli dei figli come ha detto Eurimaco, e la nostra memoria finirebbe nel fango. Solo questo temiamo, generosa Penelope.» Povero Antinoo, nella sua superbia pensava che anche in un futuro lontano ci sarebbe stato qualche ozioso cantore che si sarebbe preso la briga di tramandare il suo nome e le vicende della piccola isola di Itaca sperduta nel grande oceano. Succederà invece che fra pochi anni verrà dimenticata anche la guerra di Troia, una impresa che, a noi che vi abbiamo partecipato, sembrava degna di venire scritta sulle tavole della memoria.

15 Ossia ‘schernire, deridere, sbeffeggiare, prendere in giro’. In portoghese ha varie traduzioni: escarnecer, zombar, caçoar, debochar. 16 La parola ‘dileggio’ è un sinonimo di ‘beffa’, da cui viene il verbo ‘sbeffare’, di cui si è già parlato nella nota anteriore.

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Quante illusioni si fanno gli uomini sul futuro ordinamento del tempo e non sanno che le loro memorabili imprese presto verranno dimenticate come le rivalità fra colonne di formiche. Sciagurato Antinoo che si preoccupa della memoria del mondo e non sa che fra poco verrà lui stesso cancellato da questa vita. «Dategli l’arco e vediamo che cosa sa fare» ha detto Penelope severa. «Pare che, nonostante la vita randagia, il nostro ospite sia uomo di nobile stirpe e perciò se riuscirà a lanciare la freccia non sarà disonore per voi principi pretendenti. E se per caso vincerà la gara avrà in dono dalle mie mani un ricco manto e una tunica, un’asta di lucido bronzo, una spada tagliente e ottimi calzari di cuoio perché sicuramente vorrà riprendere i suoi vagabondaggi. Tutti sappiamo che quando un uomo si abitua alla vita randagia e ha percorso vaste regioni di terra e di mare, i viaggi iniziati per necessità diventano una schiavitù e una lussuria. Nessuno riuscirà più a tenerlo fermo in un luogo e continuerà a vagabondare per tutta la vita dimenticando la famiglia, gli amici, gli affetti e le cose che gli appartengono. E quand’anche ritornasse nella sua casa sarebbe incapace di riprendere i sentimenti che un tempo erano un bene più prezioso dell’oro. Per questo, qualora mai vincesse la gara, fra i doni che otterrà da Penelope ci sarà anche un paio di calzari ben confezionati con solido cuoio, legati da una fibbia di bronzo, decorati a fuoco e cuciti con spago passato nella pece.» Ecco, mi sono detto, che Penelope sta parlando al fantasma di Ulisse. Quanta amarezza e quanto rancore nelle sue parole. Ora capisco perché ha indetto la gara. Dopo tanti anni di attesa può ancora versare qualche lacrima, ma Ulisse è scomparso dal suo orizzonte. Se mi sono lasciato trascinare dalle onde capricciose dell’avventura invece di prendere la strada diretta per Itaca, forse è proprio perché segretamente temevo che i sentimenti di Penelope fossero mutati e troppo amaro fosse per me il giorno dell’incontro. E ora, con questo artificio del travestimento mi sto dunque avvicinando alla crudele verità. Sto dunque naufragando nella mia patria, nella mia stessa casa?

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Milano, 18 settembre 1996. Sede della Lega, una visita inaspettata

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ono passati cinque giorni dalla manifestazione dell’ampolla e, di mattina presto, la polizia si presenta alla sede centrale della Lega, in via Bellerio a Milano. Ha un ordine di perquisizione firmato dal procuratore capo di Verona Guido Papalia. La Guardia nazionale padana è sospettata di essere un’associazione di carattere paramilitare; si cercano elenchi di iscritti custoditi negli uffici di via Bellerio. I leghisti, per molte ore, si oppongono alla perquisizione. La polizia ottiene rinforzi, carica i leghisti che non vogliono farla entrare. Un agente guarda in faccia l’onorevole Piergiorgio Martinelli e dice: “E lei, di che parlamento è? Quello di Roma o quello della Padania?” Bossi strepita: “La Padania non può tollerare simili atti. È una vera provocazione. Ecco la doppia morale del regime colonialista. Parlano bene e razzolano male. Parlano di riforme e mandano la polizia. Siamo tornati al tempo del fascismo, ai tempi dei tribunali speciali”. Roberto Maroni viene ferito alla testa e sviene, portato via da un’ambulanza, con un collare che gli regge la colonna cervicale. Due anni fa era il ministro degli Interni. Nei giorni successivi Bossi minaccerà il giudice Papalia, ricordandogli che le pallottole costano molto poco. Fine 1996. La morte di Marcello Mastroianni l 19 dicembre, a 72 anni, muore nella sua casa parigina l’attore Marcello Mastroianni, il volto maschile italiano più conosciuto al mondo. Era nato da famiglia povera a Fontana Liri, in provincia di Frosinone. Il nome di famiglia conteneva una “j” che l’attore aveva sostituito con una più semplice “i”. Suo fratello Ruggero è stato uno dei più geniali montatori cinematografici. Lui è stato l’ambascìatore di una bellezza italiana, che insieme comprendeva una certa fragilità, la ricerca di felicità senza arroganza, una indolenza pronta a incrinarsi di fronte a cose importanti. Per parlare del suo mestiere

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usava la parola francese joueur o quella inglese player, per dire che si trattava, in fondo, di un gioco. Una volta, intervistato in America sui suoi successi con le donne, si era indignato e aveva detto: “i’m not a fucker!”. Uno dei suoi ultimi film è stato Sostiene Pereira di Roberto Faenza, dal romanzo di Antonio Tabucchi. Lo scrittore lo ricorda così: “Credo che nessun altro attore avrebbe potuto interpretare Pereira come l’ha interpretato Mastroianni. Pereira è un antieroe, ed è più difficile interpretare gli antieroi che gli eroi. È necessario un lavoro di interiorizzazione, che poi si traduce in un gioco di sfumature, di accenni, di presque rien, che deve sortire un effetto di emozione sullo spettatore. E in questo, Mastroianni eccelle. La malinconia, l’umanità, la mitezza, e insieme la prudenza quasi goffa dell’antieroe si disegnano sullo schermo in un modo così convincente che allorché Pereira compie il “grande gesto” sempre con la stessa mitezza che gli è propria, lo spettatore percepisce una sorta di catarsi e si commuove”. Tabucchi ricorda anche come Mastroianni, in qualche modo, gli cambiò la vita: “Firenze, inizi degli anni sessanta. Un cinema proiettava La dolce vita. Vi entrai con un gruppo di amici, compagni di scuola, con i quali a volte andavo a passare la domenica a Firenze, come molti giovani della provincia. L’effetto di quel film su un ragazzo che usciva fresco fresco dai banchi del liceo con gli stereotipi che la scuola di allora trasmetteva sulla cultura e soprattutto sulla situazione di un’Italia che si voleva rosea, felice, in sviluppo e serena (bollettino meteorologico rassicurante) fu devastante. La dolce vita era un film feroce e profetico: l’Italia che poi sarebbe diventata ma che già cominciava a essere. Un paese del Basso impero, dove non si salva nessuno: né l’alta borghesia (MaddalenaAnouk Aimée) avida e corrotta, né la piccola borghesia (la patetica figura del padre), né l’aristocrazia (la festa nel castello di Sutri), né il sottoproletariato che nelle periferie aspetta l’apparizione della Madonna, né tantomeno l’intellettuale (Marcello Rubini-Mastroianni), che sogna di diventare un grande scrittore

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e intanto lavora per un giornale di scandali. Quella era l’Italia che Fellini ci presentava. E, indeciso sulla facoltà a cui iscrivermi, la visione di quel film svegliò in me un desiderio: andare a Parigi. Fu in special modo la figura dell’intellettuale o pseudotale interpretato da Mastroianni che istintivamente mi indusse a cercare aria nuova. Portopalo, 26 dicembre 1996. La strage degli immigrati. ono le tre del mattino, è freddissimo e il mare è in tempesta. La Iohan, una grossa motonave, è al largo della Sicilia meridionale, a 19 miglia da Portopalo di Capo Passero, stracolma di pakistani, srilankesi, indiani. Hanno pagato 5000 dollari a testa per imbarcarsi e dopo tre mesi di viaggio si sentono a un passo dall’arrivo. La Iohan viene affiancata dall’FI74, un barcone che deve portarli fino alla costa. Qualcuno si rifiuta perché pensa che sia pericoloso, ma viene minacciato con le armi. L’F174 imbarca acqua, la Iohan arriva in aiuto ma con la prua colpisce la barca e la manda a picco. Muoiono in 283. Per anni gli

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Per la sezione “storia italiana”, a partire da questo numero, sarà utilizzato il libro “Patria 1978-2008” di Enrico Deaglio. In questo numero anche un capitolo del libro “La casa brucia. I Democratici di Sinistra dal PCI ai giorni nostri” di Iginio Ariemma. abitanti del posto pescheranno i cadaveri con le reti a strascico e li ributteranno in mare, per evitare sequestri delle imbarcazioni e lunghe interrogazioni. Nel 2001 un pescatore, Salvatore Lupo, denuncerà il ritrovamento della carta d’identità del giovane cingalese Anpalagan Ganeshu. Nel 2008 sarà condannato a trent’anni di reclusione il comandante della Iohan, il libanese EI Hallal Youssef. Nel 2009 l’armatore pakistano Ahmed Sheik Turab, l’organizzatore del viaggio, sarà condannato dalla Corte d’assise d’appello di Catania, a trent’anni di carcere. Scrittori italiani del 1996 Sergio Atzeni, Bellas Mariposas. ergio Atzeni, sardo di Capoterra in provincia di Cagliari, ha pubblicato Arai dimoniu (1984), Apologo del giudice bandito (1986), Il figlio di Bakunin (1991), Il quinto passo è l’addio (1995). Ci lascia, prima di morire annegato nel mare della sua isola a 43 anni, i due racconti, postumi, di Bellas mariposas. Il secondo, che dà il nome al libro, descrive la giornata di due ragazzine di un quartiere popolare di Cagliari. Da Bellas mariposas: “si è avvicinato e ha detto Diecimila se leccate un altro gelatino che vi do io boj’ e gattu in callenturas Trentamila o niente ha detto Luna e ho sentito una scossa meravigliosa Azione ho pensato l’uomo ha detto Va bene la sburra gli colava dagli occhi Luna ha detto Prima i soldi l’uomo ha tirato fuori di tasca un portafogli nero gonfio ha contato trentamila e le ha date a Luna. Luna se le è messe in tasca e ha detto Tiralo fuori lui ha detto Qui? E ho detto Guardati attorno non c’è nessuno potrai dire di esserti fatto fare un pompino davanti al palazzo di giustizia lui si è messo a ridere e ha tirato fuori la minghilledda dritta dritta Luna mi ha dato il gelato a tenere ha preso in bocca la minghilledda e ha

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morsicato forte lui ha detto Bagassa e come lei ha tolto la bocca si è portato le mani in basso e ha guardato il cornetto sanguinante sa conca mussiara e mezzo staccata ha levato lo sguardo uno che ha visto la morte in faccia per un morso alla minca i maschi sono così la minca è il pezzo più importante il pezzemmerda ha guardato Luna e me che davo i gelati a Luna e gli ho mollato un calcio forte ai coglioni lui si è piegato con una testata a piombo l’ho preso giusto sul naso le gocce Armani sono cadute a terra e si sono spezzate in trenta pezzi ho sentito il rumore, della cartilagine che si spappolava ho visto lo schizzo di sangue dalle narici mi sono spostata in tempo a non sporcarmi il vestito e i sandali e siamo fuggite Luna mi ha dato il mio gelato un po’ è colato via perché abbiamo corso come matte il vento ci spingeva gli abitini si allargavano come ali il levante si è sbrigliato al momento giusto e ci ha portate in un momento a monte Urpinu ci siamo guardate indietro dell’uomo nemmeno l’ombra”.

Sergio Atzeni

Musica italiana del 1996 Voci strane da SanRemo, Elio e le Storie Tese, “La Terra dei cachi” l 20 febbraio, alle 21.28, Elio e le Storie Tese irrompono nella monotonia del 460 Festival di Sanremo con “La terra dei cachi”. Stefano Belisari, in arte Elio, ha un parrucchino in testa. Gli altri sono vestiti di viola perché porta fortuna. Elio parte: “Parcheggi abusivi” e poi singhiozza, fingendo un flop dopo un secondo. Poi con tono lirico, inizia a cantare. La canzone, “La terra dei cachi”, che parla dell’Italia e contiene diverse citazioni nascoste tra cui quella del famoso discorso di Scalfaro dell’”Italia che non ci sta”, sarà apprezzatissima da pubblico e critica. La seconda sera Elio, mentre canta, sfodera da sotto la maglia un braccio misterioso. Un uomo con tre braccia all’Ariston nessuno l’aveva mai visto. La terza esibizione per Elio e le Storie Tese è quella del 23 febbraio. Per regolamento, bisogna mettere in scena soltanto una parte della canzone in gara (al massimo un minuto), ma loro mettono il turbo e condensano tutta la canzone in 55 secondi. Il pubblico è sbigottito. Arrivano in finale, dopo che da una settimana si parla di loro come possibili vincitori. Salgono sul palco dell’Ariston con abiti argentati, pelle argentata, mantelli argentati. Insomma, vestiti da Rockets, un gruppo francese degli anni settanta-ottanta. Il maestro Beppe Vessicchio fa “Pronti, partenza, via” e loro partono. A fine serata arrivano secondi, battuti (come anticipato da Striscia la notizia poche ore prima) da Ron e Tosca con “Vorrei incontrarti tra cent’anni”. A novembre un’inchiesta dei carabinieri rivela che c’è qualcosa di strano nelle schede per le votazioni. Molti voti a Elio e le Storie Tese sono stati annullati. Ma a loro importa poco. Il loro album Eat the Phikis ha un grande successo: Parcheggi abusivi, applausi abusivi, villette abusive, abusi sessuali abusivi; tanta voglia di ricominciare abusiva. / Appalti truccati, trapianti truccati, motorini truccati che scippano donne truccate; il visagista delle dive è truccatissimo. / Papaveri e papi, la donna

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Dalla vittoria della destra all’ Tratto dal libro “La casa brucia. I Democratici di Sinistra dal PCI ai giorni nostri” di Iginio Ariemma.

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cannolo, una lacrima sul visto / Italia sì Italia no Italia bum, la strage impunita. / Puoi dir di sì puoi dir di no, ma questa è la vita. / Prepariamoci un caffè, non rechiamoci al caffè / c’è un commando che ci aspetta per assassinarci un po’. / Commando sì commando no, commando omicida. / Commando pam commando papapapapam, ma se c’è la partita / il commando non ci sta e allo stadio se ne va, / sventolando il bandierone non più sangue scorrerà; / infetto sì? Infetto no? Quintali di plasma. / Primario sì primario dai, primario fantasma, / io fantasma non sarò e al tuo plasma dico no. / Se dimentichi le pinze fischiettando ti dirò / fi fi fi fi fi fi, ti devo una pinza, / fi fi fi fi fi fi fi fi, ce l’ho nella panza./ viva il crogiuolo di pinze. Viva il crogiuolo di panze. / Quanti problemi irrisolti ma un cuore grande così. / Italia sì Italia no Italia gnamme, se famo du spaghi. / Italia sob Italia prot, la terra dei cachi. / Una pizza in compagnia, una pizza da solo;/ un totale di due pizze e l’Italia è questa qua. / Fufaf ìf ì fufafifi Italia evviva. / Italia perfetta, perepepè nanananai. / Una pizza in compagnia, una pizza da solo / in totale molto pizzo, ma l’Italia non ci sta. / Italia sì Italia no, Italia sì / uè, Italia no, uè uè uè uè uè. / Perché la terra dei cachi è la terra dei cachi.

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’Alema è per molti aspetti il prototipo della nuova gerazione che ha guidato la sinistra democratica degli anni novanta e che, con determinazione, l’ha portata al governo. Per questa generazione la volontà di potere e di governo è una molla più potente di quella delle generazioni precedenti. Il sole dell’avvenire comunista e socialista spostava sull’orizzonte desideri, speranze e ambizioni personali, anche per il fatto che a Est vigeva il comunismo, esecrato e aborrito, ma sempre reale. So di non essere originale, ma la metafora che meglio dipinge questa generazione è quella conradiana. Il giovane capitano, protagonista del racconto di Joseph Conrad, La linea d’ombra, deve assumersi la responsabilità condurre in porto la nave con un equipaggio ormai decimato dalla febbre malarica nell’estremo mare tropicale del sud, immobile e senza vento, in preda alla bonaccia. Italo Calvino, dopo la Rivoluzione ungherese del 1956, aveva paragonato il PCI ad un vascello che non riesce a muoversi nella calma piatta dell’oceano. Il giovane capitano di Conrad ce la fa a superare la linea d’ombra, la zona che separa la giovinezza dalla maturità sulla base del principio weberiano di responsabilità, prendendo atto che il senso vero della vita non è la convinzione nell’ideale, non è il sogno o l’utopia, ma il suo ruolo di marinaio e di nocchiero, che deve portare in porto la nave. O la sinistra al governo. Oltre - probabilmente - non c’è nulla, come ha insegnato l’amara vicenda del comunismo e del socialismo. La segreteria di D’Alema, fino alle dimissioni dal partito, si può dividere in due grandi periodi: 1 luglio 1994-21 aprile 1996, lotta al governo Berlusconi e governo di tregua Dini. Secondo periodo: 21 aprile 1996 - 21 ottobre 1998, dal governo dell’Ulivo di Romano Prodi al governo D’Alema. Al

consiglio nazionale del PDS che lo elesse segretario votai Veltroni. In quella occasione ruppi la regola del silenzio che mi ero dato e che oramai non aveva più senso in quanto si andava alla ristrutturazione generale del gruppo dirigente. Intervenni per primo in modo critico, forse aspro, tanto che, il giorno dopo, la stampa dedicò alcuni articoli al mio intervento un po’ eterodosso. Mi risposero i dalemiani, tra i quali Luciano Violante, amico dagli anni torinesi, che mi accusò di avere una concezione proprietaria del partito. Del tutto insensatamente, perché se c’è una cosa che ho compreso presto nella mia vita politica (me lo ha insegnato Luigi Longo) è che il partito non è un fine, ma uno strumento, e che i valori della sinistra sono altra cosa rispetto a quelli della organizzazione di partito. Mi rispose anche D’Alema, in modo assai civile. Non c’era alcun problema personale fra noi, tanto è che, subito dopo l’elezione, rilasciai una dichiarazione di fiducia verso il nuovo segretario e, con una stretta di mano, ci abbracciammo. L’asse strategico di D’Alema, fin dall’inizio, è stato il compromesso costituzionale, cioè la ricerca di una larga intesa fra la sinistra e la destra, o meglio tra il centro sinistra e il centro destra, per riformare, cinquant’anni dopo, la Costituzione del 1948. Abbastanza marcata era la differenza di strategia rispetto a prima: la via referendaria veniva del tutto accantonata; non era più un fattore di pressione sul sistema politico esistente e nemmeno una riserva strategica. Dal 1994 al 1996, in seguito alla caduta del governo Berlusconi, tramite il ministero Dini, D`Alema ha cercato di dare vita al cosiddetto governo delle regole con il sostegno di una ampia maggioranza trasversale del parlamento. Dopo la vittoria dell`Ulivo, invece, la riforma della Costituzione ha avuto la sede di confronto nella commissione bicamerale presieduta dallo stesso segretario del PDS. Nei mesi precedenti la caduta di Berlusconi c`era stato un confronto tra il segretario pidiessino e Giuliano Ferrara, ministro per i rapporti con il parlamento, sulle pagine de «Il Sole-24 Ore», proprio sul tema delle riforme Fevereiro/ Fevereiro/Março Março 10


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Ulivo. 1994-1996. istituzionali e su una possibile intesa. Ma ebbe vita breve, poiché sopraggiunse la rottura della maggioranza da parte della Lega Nord. Secondo D`Alema questa rottura è stata «una anomalia rispetto al bipolarismo, ma anomalia motivata innanzitutto dalla esigenza di rispondere ad una destra immatura, non in grado di governare il paese». Palese era il tentativo di dare vita ad un governo costituente. Dini, anche dopo la sconfessione di Berlusconi (Dini era stato indicato al capo dello Stato dallo stesso leader di Forza Italia) cercò di agire come governo delle regole; propose un pacchetto di riforme istituzionali possibili, concreto e realistico, che poteva essere realizzato senza grandi scossoni istituzionali. Ma alla fine risultò piuttosto un governo di tregua, sebbene abbia avuto il merito di varare una delle riforme sociali più difficili, quella delle pensioni, con larghissimo consenso da parte dei sindacati. Sulle riforme costituzionali lo sforzo più impegnativo venne compiuto nell`autunno-inverno, a cavallo fra il 1995 e il 1996, con l`intento di evitare le elezioni anticipate. I prodromi avvennero a luglio, nel congresso tematico del PDS, in cui Berlusconi, credo per la prima volta, ha parlato ad una tribuna della sinistra. Nel merito il congresso fu assai deludente. Il

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partito non enunciò alcuna proposta concreta e visibile. Berlusconi espose proponimenti generici. Prodi, che era stato da poco indicato come leader dell`Ulivo, lesse un intervento in tono minore e anche un po’ risentito. Al termine scrissi una lunga lettera al nuovo segretario in cui esprimevo la preoccupazione per il mancato confronto programmatico nel centro sinistra e tra le forze, compresa la Lega Nord e Rifondazione Comunista, che sostenevano il governo Dini. «Data la precarietà e la fragilità degli alleati - mi chiedevo - e data la debolezza dei fattori di coesione e di leadership collettiva del centro sinistra, potremmo davvero incidere sul potere economico e finanziario e dare vita a quella stagione di riforme di cui hai parlato nella tua relazione?» La questione economica era in quei mesi il mio lavoro, poiché coordinavo per conto della segreteria i reparti economici del partito. Pochi mesi dopo l`elezione a segretario, su suo invito, gli avevo preparato una proposta, che avevo titolato provvisoriamente, ma a ragion veduta, poiché consideravo questo un tema fondamentale: Lavoro e tendenze del capitalismo. Il riferimento era ai grandi convegni del Cespe degli anni sessanta e settanta promossi da Giorgio Amendola. L`obiettivo era quello di un nuovo

compromesso tra capitalismo e democrazia che andasse oltre a quello keynesiano. I termini dello scambio dovevano essere i seguenti: a favore del capitalismo una più estesa mercatizzazione, ovviamente regolata, anche verso alcuni beni sociali, e meno Stato; dall`altra parte allargamento della proprietà, compartecipazione del lavoro dipendente al processo produttivo, più democrazia economica e salvaguardia dei diritti umani e del lavoro. Tutto ciò in un quadro di riforma del capitalismo, specialmente di casa nostra, contrassegnato dal familismo e da un eccesso di assistenzialismo e protezionismo, oltre che da un intreccio per verso tra politica e affari che nonostante Mani pulite non era stato debellato. La proposta di convegno, così come la mia lettera, recepite positivamente dal segretario, caddero però nel vuoto. Procedette invece il confronto tra destra e sinistra avviato nel congresso. Innanzitutto venne approvata a larga maggioranza in parlamento la nuova legge elettorale per le regioni, il cosiddetto tatarellum, con un passo indietro sul maggioritario, poiché veniva limitato a circa il 20% attraverso il premio di maggioranza alla coalizione vincente. Inoltre, subito dopo le ferie estive, cominciò a riunirsi un gruppo di lavoro di esperti, in stretto rapporto con i rispettivi partiti, per discutere un pacchetto di possibili riforme istituzionali. Franco Bassanini, Domenico Fisichella, Cesare Salvi, Giuliano Urbani, ai quali talvolta si aggiungeva Leopoldo Elia, lavorarono intensamente per alcune settimane e riuscirono a produrre un documento di rilievo su alcune questioni: nuova legge elettorale a due turni o più esattamente, come commentai a caldo, ad un turno e mezzo, perché il secondo turno era possibile soltanto a particolari condizioni; cancellierato forte, capo dello Stato eletto dal parlamento con una maggioranza dei due terzi; federalismo abbastanza spinto e alcune modifiche giurisdizionali. Il cuore era il premierato forte. L`intesa fu bocciata da AN, in particolare dal suo segretario, Fini, che senza mezzi termini dichiarò il suo favore per il presidenzialismo senza aggettivi. Fisif o r u m DEMOCRATICO

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chella che apparteneva allo so stesso partito di Fini si dimise da AN (poi rientrò). Contemporaneamente al lavoro del gruppo Fisichella il PDS aprì al proprio interno una discussione sulla riforma della Costituzione. Venne convocata la consulta sulle riforme istituzionali, allargata a docenti ed esperti iscritti al partito; i gruppi parlamentari svolsero convegni pubblici sulla materia e giunsero a presentare una proposta di legge complessiva di riforma dell`ordinamento dello Stato, che aveva punti di notevole analogia con il documento dei quattro saggi. Il punto non ancora esattamente definito restava la forma di governo: semipresidenzialismo o cancellierato forte? D`Alema nel passato, aprendo una porta verso la destra, aveva dichiarato la sua non Roberto Maroni contrarietà all’elezione diretta del presidente della repubblica e all`allargamento portare la mediazione politica verso la sociedei suoi poteri. Anche Cesare Salvi, che ebbe tà, al momento della formazione delle coaliun ruolo rilevante nel decennio in questo zioni; 4) riformare i partiti e il ceto politico. A campo, propendeva per il modello francese, gennaio, dinnanzi alla nuova crisi del governo ma forti erano le resistenze nel partito nei Dini, causata da Rifondazione Comunista, il confronti del presidenzialismo. Anch`io ave- capo dello Stato incaricò Antonio Maccanico vo dubbi, che ho espresso in due inter venti di esperire un nuovo tentativo di governo in direzione. Non riguardavano ovviamente costituente. Il documento Maccanico si diffela democraticità dell`ipotesi, ma l`eccessiva renziava nettamente rispetto alla proposta personalizzazione che poteva derivarne sen- Fisichella, poiché si muoveva apertamente in za i necessari contrappesi e senza un suffi- direzione del semipresidenzialismo alla franciente equilibrio dei poteri: a causa della cese. Non era ancora il modello gollista, ma molecolarità della struttura economica e so- certamente era un passo in quella direzione. ciale, della maggiore debolezza del sistema Anche questa volta l`onorevole Fini disse di statuale e burocratico, della fragilità dei parti- no. Il tentativo aveva un corollario che poteva ti e della minaccia della telecrazia e della de- interessare direttamente AN: la possibile mocrazia dei sondaggi. A mio parere la scelta elezione con il sistema proporzionale delmaggioritaria non porta con sé, automatica- l`assemblea costituente, che avrebbe dovuto mente, il presidenzialismo e nemmeno la avere il compito di approvare l`intesa sottopersonalizzazione della politica, di cui ho scritta dai partiti. Era una .concessione non di sempre diffidato. Il maggioritario, nella situa- poco rilievo alla destra, da par te di D`Alema. zione presente, è per me necessario per Ma nemmeno questa bastò alla destra. Bervarie ragioni: 1) superare il trasformismo fa- lusconi voleva il cosiddetto governissimo, in vor i to da l si s te ma p ro p or zio na le e cui entrare. Fini voleva le elezioni politiche l`ingovernabilità che ne deriva; 2) dare ai anticipate e quindi continuare ad agitare la cittadini il potere di decidere direttamente il bandiera del presidenzialismo plebiscitario. governo e la maggioranza parlamentare; 3) Sul tentativo Maccanico ci fu una reazione critica da parte di Prodi, che lo vedeva come 8224 4

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un grimaldello per affossare l`Ulivo; reazione rientrata quasi immediataente per l`energico intervento di D`Alema. Anche all`interno del PDS ci furono valutazioni diverse da parte di Veltroni, Mussi, Petruccioli e altri che temevano che governo di unità nazionale sbarrasse la strada al bipolarismo e alimentasse eventuali ritorni al centrismo. Altri, soprattutto nella sinistra interna, avevano riserve sulla legge elettorale a doppio turno, sia sul semipresidenzialismo alla francese. Ma tutto sommato furono reazioni in sordina; la direzione, se non rammento male, durò mezza giornata; l’assemblea dei segretari delle unioni regionali e delle federazioni di provincia (18 gennaio 1996), più che interloquire, approvare o dissentire, ascoltò l`orientamento del segretario. Veltroni, pochi giorni dopo la sconfitta subita come candidato a segretario, aveva tentato di indicare una linea alternativa, più bipolarista, rispetto a quella di D`Alema. In un articolo su «L`Unità» (11 luglio 1994) aveva proposto “l`alternativa a Berlusconi, non lungo lo schema bipolare secco destra-sinistra che si era dimostrato perdente nelle recenti elezioni”, ma attraverso “l`incontro tra una sinistra moderna e di governo e un centro cattolico e laico forte e rinnovato” in una “coalizione dei democratici” che avrebbe dovuto dare vita a un “inedito centro sinistra”. La proposta era coraggiosa: primo, perché dichiarava l`esplicito abbandono di ogni pretesa di autosufficienza della sinistra, secondo, perché riproponeva non il tradizionale sinistra-centro, ma il centro-sinistra, ancora mal digerito dal partito; terzo, perché questa strategia a medio-lungo termine escludeva il rapporto con la destra e con Berlusconi. D`Alema gli rispose un po’ risentito e diffidente, qualche giorno dopo, riproponendo il vecchio asse sinistra-centro. In coerenza con l`orientamento su esposto, Veltroni espresse riserve e contrarietà sia nei confronti del governo Dini che sul tentativo

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Maccanico. La prima volta fu nuovamente sconfitto, la seconda no. Infatti si andò alle elezioni politiche pochi mesi dopo, il 21 aprile 1996. Dal governo Prodi al governo D’Alema La nuova caduta del compromesso costituzionale. 1996-1998 a vittoria dell`Ulivo del 21 aprile 1996 è stata la vittoria della tecnica, più che del progetto politico. A differenza del 1994 questa volta è stata la sinistra a sfrut tare meglio sia l`effetto maggioritario sia quello di coalizione. Mentre allora ci fu la dispersione a sinistra di circa 3 milioni di voti, nel 1996 è s t ato ef fet tuato un lavoro cer tosino nell`individuare i collegi elettorali dove era possibile uno spostamento minimo per vincere. La chiave del successo è stata, da un lato l`alleanza tra sinistra e centro, i cui primi mattoni risalgono all`autunno del 1994, e dall`altro la separazione della Lega Nord dal fronte con Berlusconi e successivamente la creazione della Lista Dini. Così il Polo aveva quantitativamente meno numeri ed era piegato troppo verso la destra estrema e verso il Mezzogiorno, perdendo le stimmate ottenute con le elezioni precedenti che sembravano consacrarlo come portavoce del Nord e quindi dell`apparato produttivo più avanzato. Ho parlato di vittoria della tecnica politica, perché, in termini assoluti, l`esito è stato tutt`altro che brillante. Nel 1994 i Progressisti ebbero quasi 18 milioni di voti, se si somma ad essi il Patto per l`Italia (PPI e Lista Segni). L`Ulivo con RC nel 1996 arrivò a poco più di 16 milioni 200 mila voti. Circa 1 milione 800 mila voti erano passati al centro-destra. Continuava il processo di disgregazione del cosiddetto centro, soprattutto ex democristiano, che tendenzialmente si dirigeva più a destra che a sinistra. Nelle elezioni del 1992 il centro cattolico e laico aveva ancora la maggioranza dei consensi; nel 1994 era al di sopra del 25%, nel 1996, secondo Renato Mannheimer, aveva perso un altro 4%. Il PDS usciva dal voto così così: aveva un aumento in centuale dello 0,8% (dal 20,3 al 21,1 %), ma

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andava indietro in termini assoluti (meno teste votavano la sinistra democratica); e quel lieve incremento non era tale da compensare la nuova alleanza elettorale con i laburisti, i cristiano sociali, i repubblicani di sinistra, i comunisti unitari. I veri vincitori delle elezioni sono stati la Lega Nord (+ 1,7%) e RC (+2,7%). Rifondazione ha fatto un vero salto in avanti nelle metropoli e in totale è aumentata di 900 mila voti. Erano entrambi partiti di confine, al limite della maggioranza che sosteneva il governo Dini. Ha vinto anche Alleanza Nazionale (+2,2%), che aveva avuto una posizione più ferma e intransigente rispetto al governo e al compromesso costituzionale. Il risultato elettorale è stato certamente un alt alla destra, una destra considerata inaffidabile, immatura democraticamente incapace di governare, ma non si può dire retoricante, come è stato detto, che è la vittoria di una grande politica e di un nuovo patto tra gli italiani. L`Ulivo e tanto meno la coalizione di governo, che comprendeva anche la lista Dini e Rifondazione Comunista, non erano un blocco socio-politico alla maniera gramsciana, ma una aggregazione con alcuni elementi comuni, ma di cui era palese la fragilità, poiché metteva insieme interessi vari e diverse componenti culturali, dalla destra tecnocratica, come è stata definita provocatoriamente da Marco Revelli, al centro moderato di matrice cattolica e laica, alla sinistra riformista e a quella massimalista. L`Ulivo aveva un programma, ma il progetto comune era da costruire. C`era chi lo concepiva come mera alleanza, con due o tre gambe, dei partiti riformati, i quali potevano trovare riferimento nell`Europa comunitaria: il Partito Socialista Europeo, il Partito Popolare Europeo, i liberali ecc.; chi, invece, lo considerava il nuovo soggetto politico del bipolarismo che aveva il compito di raggruppare i riformisti al di là della cultura di appartenenza. Anche in questa versione prevaleva l`anima moderata, soprattutto in materia di riforma costituzionale. Il bipolarismo si stava affermando nella popolazione prima che nel parlamento e nei partiti. D`Alema uscì vincitore dalla vittoria dell’Ulivo. La tecnica politica era in larga parte merito suo; così come la

rottura della maggioranza berlusconiana. Anche Romano Prodi doveva parecchio al segretario del PDS. Non è mai stato chiarito a chi spetta la primogenitura dell`Ulivo. Parecchie sono le versioni. Probabilmente perché quando c`è la necessità storica di una soluzione politica, se non è una parola troppo grossa, molti, i più acuti e lungimiranti, lavorano per farla nascere. L`Ulivo quindi ha avuto più di un padre; fra questi certamente c`è anche D`Alema, e non con un ruolo secondario. All`inizio egli pensava all`Ulivo non tanto come coalizione complessiva, quanto come incubatore e raccoglitore delle forze moderate di centro - la cosiddetta seconda gamba - che, secondo questo disegno, doveva affiancarsi al PDS, autore di una operazione analoga di aggregazione delle componenti di sinistra. Romano Prodi doveva essere il leader del primo anello. Già negli anni precedenti, specialmente durante la crisi del 1993 che portò al governo Ciampi, tra D`Alema e Prodi si era creata una comunanza di intenti e di interessi. Ma l`Ulivo fin dall`inizio andò oltre D`Alema. Con la nascita del governo, la coalizione e lo stesso Prodi, in una certa misura, «si autonomizzarono» dai partiti aderenti. D`Alema si sentì un po’ inutile, «confinato» nel ruolo di segretario del PDS. Lo confessò l`anno dopo, raccontando le vicende e gli stati d`animo che hanno preceduto la nascita della commissione bicamerale per la riforma della Costituzione e la presidenza a lui affidata. Il problema però non riguardava soltanto la sua funzione e il sentirsi escluso rispetto a chi governava il Paese. D`Alema comprendeva che il disegno strategico di compromesso costituzionale, che aveva alla base il governo costituente, veniva meno. L`Ulivo era il governo del centro sinistra e voleva governare come tale, non come governo delle regole. L`Ulivo era una struttura specifica che già aveva avuto consensi per conto proprio. Oltre 400 mila voti in più rispetto ai partiti aderenti e uno su quattro elettori aveva votato nella fase finale l`Ulivo in quanto tale. Circa 39 seggi alla Camera e 27 al Senato erano stati eletti grazie alla coalizione; mentre il Polo aveva vinto

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nella quota proporzionale, con il maggioritario era stato l`Ulivo a vincere. Il governo, come ho detto, cercava di caratterizzarsi come soggetto politico autonomo. A questo fine lavoravano apertamente Prodi e Veltroni. La lunga campagna elettorale, in pullman per tutte le città italiane, durata oltre un anno, aveva creato una leadership che andava oltre i rispettivi partiti di appartenenza, con un ruolo di Veltroni, a dire il vero, un po’ secondario. La variante strategica che fece uscire D’Alema dall`impasse in cui si era venuto a trovare è stata la commissione di riforma costituzionale. Anche di questa non so a chi spetti la paternità. Probabilmente, come per l`Ulivo, i padri sono diversi. Determinante è stato certamente il presidente della repubblica. Comunque non era in contraddizione con il disegno complessivo dalemiano. “Si doveva fare il possibile - ha scritto il segretario del PDS - perché la riforma istituzionale non nascesse fuori dal parlamento - potenzialmente contro il sistema dei partiti - ma dentro una cornice istituzionale, come mediazione tra le grandi correnti politiche e culturali del paese”. Il punto difficile era la legittimazione democratica delle destre e in particolare dell`onorevole Berlusconi. Il presidente della bicamerale non aveva dubbi: la legittimazione delle destre era stata data dal voto popolare. Con queste occorreva trattare il nuovo patto, facendosi carico dei problemi che la loro costituzionalizzazione poneva: fuoriuscita dalle radici fasciste di AN, superamento dell`avventurismo politico e affaristico, passato e presente, di Berlusconi e di Forza Italia, sconfitta dell`anima secessionista della Lega Nord. All`inizio - parlo dei primissimi mesi - il dibattito intemo all`Ulivo, e anche al PDS, fu intenso: c`erano le condizioni politiche e culturali per lo sbocco positivo del tavolo costituzionale? Pur considerando che buona parte dei deputati erano nuovi, eletti cioè sulla base della riforma elettorale del 1993 , il legame con il vecchio parlamento era ancora forte: infatti, per fare un esempio, gli ex democristiani erano ancora 182, di cui 100 nell`Ulivo, e 81 nel Polo, uno nella Lega; anche questi, in parte eletti nei collegi unino-

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minali, avevano dovuto però non soltanto trasformarsi, ma anche rinnovarsi. D`Alema era moderatamente ottimista, sulla base di due argomenti che erano tutt`altro che infondati: innanzitutto perché nessuno si sarebbe presa la responsabilità di fare fallire la bicamerale, pena il discredito del Paese; in secondo luogo perché a suo avviso era matura la legittimazione democratica reciproca fra la nuova sinistra e la nuova destra. Era più che convinto che la commissione poteva “contribuire a cambiare la storia del nostro paese” e che “la grande occasione era a portata di mano”. “Se il treno delle riforme era partito - diceva - difficile diventava arrestarne la corsa”. Meno ottimisti erano Prodi e Veltroni, che, invece, propendevano a ritardare la nascita della bicamerale dopo il consolidamento del govemo dell’Ulivo e, preferibilmente, nella seconda parte della legislatura. La scelta non riguardava solamente la riforma del sistema politi co, ma anche i tempi dell’ingresso dell’Italia nell’Unione monetaria europea e in particolare il rientro nei pesanti criteri di Maastricht. Molto forte è stata la pressione in quei mesi per ritardare l’ingresso dell’Italia nell’euro a dopo il 1999 di almeno un anno. Pressione internazionale, soprattutto da parte della Germania, e pressione interna. Nello schieramento nazionale che cercava di rallentare vi erano persone di primo piano, che temevano le misure troppo drastiche da adottare e gli effetti sull’economia complessiva e sulla occupazione. Persone di rilievo e di influenza, come Cesare Romiti, allora presidente della Fiat, e Antonio Fazio, governatore della Banca d’Italia, a cui facevano riferimento settori consistenti e forse maggioritari del mondo finanziario e imprenditoriale. D’Alema non era insensibile a questi richiami. La sua tendenza al realismo lo portava a dare peso a queste preoccupazioni, come potei riscontrare direttamente in un colloquio di quelle settimane. Di questo dibattito dà conto lo stesso segretario del PDS quando ha raccontato che nel centro sinistra “prevalevano scetticismi, disattenzioni, pressapochismi”, poi ché non si comprendeva che “senza la commissione bicamerale si sarebbe

data la possibilità di rilanciare una campagna rozza e demagogica sulla contrapposizione tra presidenzialismo e partitocrazia, tra potere dei cittadini e giochi di palazzo”. La decisione come succede spesso in casi analoghi, è stata un pareggio, se si può usare un termine sportivo. Da una parte si accelerò l’ingresso dell’Italia in Europa, vincendo le esitazioni e adottando misure severe di risanamento finanziario che furono in grado di fare rientrare il nostro Paese nei parametri di Maastricht; dall’altra, con altrettanta rapidità, si avviarono le procedure per la formazione della commissione di revisione della Costituzione che diventerà attuativa nel febbraio 1997 con la presidenza D’Alema. A mio parere fu una decisione che può essere considerata saggia, poiché in questo modo si instaurò in parlamento un clima più positivo che favorì in una certa misura il governo Prodi nella sua azione per il risanamento economico e finanziario. Nonostante il programma dell’Ulivo contenesse alcune proposte sui temi istituzionali (doppio turno elettorale, federalismo, indicazione del premier, elezione diretta del presidente della repubblica con un ruolo prevalente di garanzia), il governo Prodi si tenne sempre al di fuori (o al di sopra?) del dibattito sulla riforma costituzionale. Non disse nulla nemmeno quando la riforma elettorale di casa Letta mise in discussione l’Ulivo come soggetto autonomo. Infatti il suo meccanismo, solleticava il massimo di concorrenza fra i partiti della medesima coalizione per la conquista degli elettori del medesimo bacino elettorale, a differenza del candidato comune nel collegio uninominale maggioritario. Ebbe torto o ragione? A me è sembrato un errore, che pagò caramente appena fu superato il traguardo dell’ingresso dell’Italia nell’Europa monetaria, il 2 maggio 1998. Da quel giorno la crisi politica del governo Prodi prese la china che lo ha portato alla sfiducia del parlamento del 9 ottobre. Prima e subito dopo maggio il vertice del governo e del partito aveva cercato di rilanciare l’Ulivo. Era sorto un coordinamento parlamentare Ulivo-Alleanza di governo che comprendeva anche Dini, Di Pietro e altri ma è durato lo Dezembro Fevereiro/Março 09/ Janeiro 10


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spazio di un mattino. Ad un certo punto era stata avanzata l’ipotesi, in sede ristretta, di procedere al voto anticipato, per porre fine ai ripetuti ricatti di Rifondazione Comunista e per chiedere un mandato pieno dell’elettorato all’Ulivo, ma l’idea, sostenuta soprattutto da Veltroni, venne scartata sia da Franco Marini, il segretario del PPI, sia da D’Alema, il quale riteneva ancora possibile l’intesa con il Polo sulle riforme istituzionali. Anche il calcolo del presidente della bicamerale però si è dimostrato sbagliato. La commissione è durata sedici mesi, dal febbraio 1997 a fine giugno 1998; ha prodotto una proposta che è riuscita ad andare in parlamento, ma qui, dopo l’approvazione dei primi articoli, si è arenata per colpa di Berlusconi, che ha sconfessato l’intesa raggiunta. D’Alema ci aveva lavorato con grande impegno. Nell’agosto 1997, allorché pubblicò La grande occasione, era convinto di avercela fatta. Era passato incolume sotto i colpi delle scorrerie di Bossi, che aveva fatto approvare da una maggioranza risicata, grazie ai voti leghisti, il semipresidenzialismo alla francese, anziché il premierato rinforzato, così come era stato concordato tra i partiti del centro sinistra. “Ex malo bonum” commentò il presidente, sperando che con tale soluzione fosse possibile ottenere il voto favorevole complessivo di AN. Infatti, prima delle ferie estive, riuscì a fare sottoscrivere ai partiti della maggioranza e dell’opposizione l’intesa di casa Letta, come venne definita, sui temi più controversi, a partire dalla nuova legge elettorale che fece arrabbiare mezzo mondo. In autunno, alla ripresa parlamentare, il clima però già si era rannuvolato, soprattutto a causa dei processi in corso che colpivano Berlusconi e il suo entourage. Allorché è iniziato il dibat tito in parlamento la situazione era già deteriorata. Il segretario del PDS, presentando i lavori della bicamerale svolse un discorso impacciato, di non alto profilo, senza quelle punte di sicumera che gli erano abituali in occasioni come questa. Il compromesso raggiunto venne at taccato sia dai giornali e dal mondo intellettuale che dai deputati. La critica più incisiva era rivolta al carattere bicefalo dell’orFevereiro/Março 10

dinamento, con un premier e un capo dello Stato nella pratica eletti entrambi direttamente, i quali avrebbero potuto causare una diarchia rischiosa, forse al di là della coabitazione francese. C’era inoltre il malumore sulla legge elettorale maggioritaria di coalizione a un turno che non risolveva alcun problema, né quello della frammentazione partitica, né quello della governabilità. Sulla forma di Stato e in particolare sul federalismo, la Camera dei deputati con una votazione a sorpresa, ampia e trasversale alla maggioranza e alla minoranza, corresse alcuni limiti e diede una spallata più coraggiosa in direzione del decentramento territoriale dello Stato. Perché Berlusconi rinnegò l’intesa raggiunta? È dif ficile sostenere che sia stato per ragioni di merito. Più probabilmente hanno inciso, come è stato sospettato, interessi personali o di partito o di coalizione. A differenza di quanto pronosticato dallo stesso D’Alema, le forze di destra non hanno pagato alcun prezzo per l’evidente responsabilità del fallimento della commissione bicamerale. E, come era successo nel passato dinnanzi al fallimento delle precedenti bicamerali, anche questa volta, sull’onda del malessere per il compromesso parlamentare ritenuto mediocre, è scattata la via referendaria. I protagonisti erano i soliti, quelli dei precedenti referendum, con Segni e Occhetto in testa, ai quali si è aggiunto Di Pietro. Dopo il 18 aprile 1993 è stato celebrato il 18 aprile 1999, al fine di abolire in modo definitivo e completo la quota proporzionale. Questa, volta però non è stato raggiunto il quorum; soltanto il 49,6% si è recato alle urne e quindi il referendum è stato bocciato. Gli effetti politici sono rilevanti perché la bocciatura indica che la via referendaria per le riforme è quasi impraticabile, e, probabilmente, che il ciclo politico, iniziato nel 1991 con il referendum sulle preferenze, è finito. Prima del referendum è caduto il governo Prodi - venerdì 9 ottobre 1998 - e il 21 ottobre è nato il governo D’Alema, con il sostegno dell’Unione democratica repubblicana di Francesco Cossiga. Anche il governo D’Alema, come quello Dini succeduto a Berlusconi, è anomalo. La

legittimazione demo cratica, infatti, non è stata data dal voto, ma da una iniziativa parlamentare che ha mutato la maggioranza attraverso una operazione trasformistica, tipica della politica italiana. Cossiga, l’attore principale della manovra, l’ha definita un mini compromesso storico, cercando di nobilitarla e di evidenziare il carattere transitorio, non strategico, dell’alleanza. Per Cossiga l’alternativa dovrebbe essere tra un nuovo centro e la sinistra, non tra centro-destra e centro-sinistra. Anzi, in un primo tempo, l’ex presidente della repubblica ha proposto la costituzione di un governo istituzionale di larga unità nazionale presieduto dal presidente del Senato o della Camera, non trovando però ascolto nelle forze politiche maggiori. D’Alema, ben consapevole dell’anomalia, ha cercato di legittimare la presidenza tramite tre strade, che sono a fondamento del suo disegno politico: il rilancio della democrazia dei partiti, la ripresa del processo riformatore in materia istituzionale, con l’incarico a un “uomo ponte” come Amato nel ruolo di ministro, la concertazione sociale in grande stile, che si è conclusa con la firma di decine e decine di organizzazioni sociali e di categoria del cosiddetto “Patto di Natale”. Il governo però, dopo aver superato la prova molto impegnativa della guerra nei Balcani, guadagnando prestgio, ora è in difficoltà. A oltre un anno dall’insediamento i presupposti politici di quella legittimazione stanno vacillando, tanto che lo stesso D’Alema ha preso atto che per dare “coesione profonda” e “una missione comune” al centro-sinistra è necessario “recuperare lo spirito dell’Ulivo” e costruire “un soggetto politico unitario”. Nelle sue intenzioni dovrebbe raccogliere tutte le forze che sostengono il governo. Però sono dodici, eterogenee, instabili e talmente rissose da oscurare la coalizione e la stessa azione governativa. La premiership di D’Alema ha fatto emergere nelle forze moderate di centro, e in particolare in quelle di ispirazione cattolica, un malessere che non si riesce a capire dove si arresterà, dentro o fuori dell’alleanza con la sinistra.

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Início do século 21. Chama a atenção que nas Américas, tendo os regimes de força ficado para trás, muitos líderes estejam fazendo propostas de mudanças nas Constituições de seus países com o objetivo de se perpetuarem no poder. Brasil, Bolívia, Venezuela ... a interferência nas liberdades de imprensa em diferentes países. Honduras, a força das elites oligárquicas, dos líderes familiares, essa estrutura que ainda existe nas nossas Américas. Foram essas premissas que ensejaram a conversa com o Embaixador João Clemente Baena Soares.

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FD – Pensando as Américas em seus diferentes países e realidades, o que as aproxima e o que as distinguem? JB – Américas e Democracia - Não há uma América Latina, mas várias, por isso vamos situar a nossa conversa numa América Latina que está limitada pelo sul, a América do Sul com algumas incursões na América Central e México. Mas não vamos falar sobre o Caribe, porque o Caribe é muito diverso: anglófilo, espanhol, francês e encerra uma situação muito mais diversificada e complexa. Na América do Sul temos a Guiana e o Suriname (temos um resquício colonial na Guiana Francesa) que trazem um complicador, pois ao mesmo tempo são sul-americanos e são caribenhos. Dadas essas circunstâncias, vamos ver a colocação da democracia. O processo democrático nos nossos países padece de um movimento pendular, porque não é dizer que as democracias sejam recentes. Não, porque antes dos governos de força havia democracia. Acontece que o pêndulo veio para o outro lado e está no pólo democrático e temos que contê-lo nesse pólo. Ameaças à democracia Primeira consideração: a reeleição é um horror! Que nós embarcamos no governo Fernando Henrique: no primeiro período o presidente já está mais interessado em programar o segundo e não é só a eleição em nível de presidência, mas em nível estadual e municipal! Juscelino Kubitschek não precisou de reeleição para fazer o que fez em cinco anos. Todos os exemplos que a sra. citou são resultado da situação de reeleição já aprovada e de reeleição desejada. Mais o Uribe, na Colômbia, que está procurando a reeleição. Felizmente o Lula teve o bom senso de não enveredar pela reeleição. Toda a situação criada em Honduras é resultante desse desejo de reeleição. Por isso se

limitam à pequena política, que é a política eleitoral: permanência no poder e permanência no poder de uma forma democrática, pelo voto. Segunda consideração: não há o que existe para os automóveis, o recall. Teria que haver um recall político para chamar de volta à responsabilidade cidadã aqueles que se desviam e exacerbam a sua presença no poder. Terceira consideração: Marketing político. Para aperfeiçoar a democracia, um candidato não pode ser apresentado como se fosse um sabonete; essa é uma grande distorção e está em todos os países. Quarta consideração: O problema mais geral é o das respostas ao povo. Se a democracia não dá respostas ao povo ela se suicida. Pensar que a democracia entre nós é um clube de privilegiados pela educação e pela saúde, já não diria pela riqueza, mas a elite é democrática, mas como? A elite constrói a democracia, mas quem constrói a base da democracia não é a elite, são os cidadãos, é a cidadania toda e se meus desejos e necessidades não são atendidos pelo sistema democrático eu me omito e não voto mais. Quinta consideração: Corrupção. Reeleição, marketing político e corrupção são os três principais e mais a falta de resposta aos povos, questão mais ampla; mas nós estamos aqui, vivendo isso... FD – Em todos os níveis, para cima, para baixo, vertical, horizontal, diagonal. JB – Qual é a maior ameaça à democracia no Brasil? A perda de confiança no processo democrático – o governo distrital de Brasília, o governador e a sua câmara distrital. A corrupção sempre vai existir, o problema é a impunidade da corrupção e a extensão. Aceitando isso a democracia se suicida.

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e n t r e v i s t a Marisa Oliveira

A m é r i c a s Diplomata de carreira, o Embaixador João Clemente Baena Soares foi Secretário Geral das Relações Exteriores do Brasil (1979-1984) e, eleito e reeleito pela Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos, ocupou o cargo de Secretário Geral da OEA por dois mandatos (1984-1993), além de ter sido membro da Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas (1997-2006). João Clemente Baena Soares nasceu em Belém, Pará.

mais democracia, mais diálogo, mais cooperação

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Se alguma coisa incomoda a sociedade (...) a resposta é mais democracia, é mais diálogo e não isolacionismo; mais cooperação e não cortar os canais de entendimento.

FD – Os EUA são América, ali também é possível a reeleição; agora isso se dá de uma forma diferente? JB – Vamos voltar à república. O nosso pecado original foi o Rui Barbosa ter traduzido a constituição americana. Até o nome do país ele copiou. Estados Unidos do Brasil. A bandeira era a mesma, mas verde amarela; alguém teve o bom senso de dizer essa não vale, vamos fazer outra. Quer dizer, estamos sempre macaqueando; esse é um grande defeito cultural nosso. Achar que um é mais democrático que o outro é difícil. Cada um tem o regime democrático ajustado às suas condições sociais, históricas e de composição da sua corporação, da sua cultura, de tudo; os americanos não têm do ponto de vista da teoria democrática uma democracia perfeita, a eleição do Bush foi uma fraude, entre outros exemplos. Por causa do Rui Barbosa nós abandonamos

a nossa tradição parlamentar para herdar, copiar a tradição do outro. O exercício do regime parlamentar melhora os partidos, porque não estão esperando empregos do presidente da república, porque podem ser chamados (recall), pode cair o gabinete, como caía no Império, você chama eleições, sai o gabinete conservador, entra gabinete liberal e há uma alternância no poder. Aqui a nossa alternância só do presidente da república e, às vezes, não é alternância! Em

relação ao Brasil, todas as crises brasileiras foram resultado do regime presidencialista. Elas teriam sido resolvidas normalmente pelo regime parlamentar. A França é semipresidencialista e semi-parlamentarista. A Itália é parlamentar. Porque anda? Porque tem uma estrutura administrativa que conduz o país, os prefeitos. A Alemanha também. Isso é para analisarmos. Não adianta comparar democracias. FD – Então, por exemplo, mesmo sem a comparação com os EUA, embora seja válida: essa diferença, essa personificação, porque isso acontece em países subdesenvolvidos? JB – Não, isso não acontece somente aqui. Veja a França. Não se esqueça do De Gaulle e do Miterrand (14 anos no poder) e agora o Sarkozy. Também é a personificação do

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poder. E na Itália, embora seja parlamentar, o Berlusconi... Não é característica nossa, mas de outros países também. Há várias explicações, mas eu acho que é falta do exercício democrático, embora tivéssemos o império; mas o império era uma democracia qualificada, não era o povo que votava; nos EUA, a democracia é recente, porque até a década de 50 os cidadãos pretos não votavam; até os anos 30 mulheres não votavam. Como é que não é recente? Não foram os pais da pátria que bolaram isso. Thomas Jefferson tinha escravos que o atendiam. Então vamos qualificar as coisas devagar só para não condenar; não aceito essa condenação a priori de toda a América Latina. Começando pelo Brasil. Impossível haver democracia na América Latina – isso é uma posição anglo-saxônica que realmente é racista, porque somos hispanos; agora eles se esquecem que os hispanos também têm uma tradição que vem de Roma, que vem da Grécia, quem inventou a democracia não foram os anglo-saxões. FD – Essa onda de intervir na liberdade de imprensa... JB – Considero um erro e uma arrogância. Duas coisas definem democracia – respeito e tolerância – você pode ter vestimenta jurídica para a democracia, qualquer estrutura política para a democracia, qualquer arranjo institucional; o que você não pode ter é uma democracia sem respeito pelo outro e sem tolerância. Acho que liberdade de imprensa é indispensável porque é um dos fatores do exercício democrático dizer as coisas, veicular as opiniões. Nunca existiu uma democracia absoluta; nem na Grécia antiga: só aqueles habilitados iam à praça para manifestar opinião. Nesse condicionamento, nessa conjuntura, existe uma permanência de valores que são: o respeito e a tolerância e as liberdade fundamentais; discordo do adjetivo, todas as liberdades são fundamentais; qualificar democracia não me agrada muito. Ou se é democrata ou não; um dos fatores da construção, da manutenção e do aperfeiçoamento da democracia

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Educação é como a liberdade de imprensa, um fator essencial para a democracia e nós já perdemos a batalha da educação. Temos que nos recuperar, isso é coisa de muitos anos.

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é a liberdade de imprensa. Mas a liberdade de opinião, se você não puder expressar a sua opinião, o que é que significa isso? Você não tem liberdade; você tem que ter o direito de expressar a sua opinião, o seu voto, a sua palavra, tem que ver escrito, na televisão.

FD – Nossa democracia nas nossas Américas é um sonho de poucos? JB – Não. Foi, agora não é mais. Primeiro porque houve uma evolução de conhecimento e informação, sobretudo de informação, que ainda não chegou ao grau da sabedoria, mas houve um aumento de informação, portanto é muito mais difícil enganar as populações como antes; e aí temos que falar em educação. O Brasil perdeu; educação é como a liberdade de imprensa, um fator essencial para a democracia e nós já perdemos a batalha da educação; temos que nos recuperar, isso é coisa de muitos anos. É só comparar a educação para não dizer outros camaradas, com a China, Coréia, Índia. Lembro que a China mandava cerca de 200 mil estudantes para o exterior para estudar e eles voltavam. No Brasil, se um jovem fosse estudar no exterior, os colegas diziam: “Como é que você descolou essa boca”? Não é só a educação de ordem geral como a gente comentou, é a educação para a democracia, porque você tem que aprender desde criança a dar sua opinião e é isso que a gente não tem. Perdemos a batalha da educação tecnológica, a da cultura geral, que já abandonamos faz tempo. FD – Celso Furtado traçou hipóteses, do ponto de vista econômico, para

vencermos o subdesenvolvimento da América Latina. Para nós deixarmos de legitimar ditadores e ditaduras expressas ou encobertas o mais importante é a educação? JB – Não só a educação, mas também a educação; há outros fatores que já conversamos, porque o cidadão educado percebe aquilo que o outro não percebe, vê onde está a fraude e vê onde está a verdade (tudo é relativo, claro). Veja a China! FD – Mas ela vive um regime de força. JB – A China chegou a um momento em que ela não é emergente: é a segunda economia do mundo, provavelmente vai ser a primeira porque liberou a economia e apertou a política. Então direitos humanos não é bem assim. Agora, com a educação é diferente. Não é uma democracia, mas é uma educação para o trabalho. FD – Década de 70, Eduardo Galeano escreveu Veias Abertas na America Latina. Hoje, quais são as nossas veias abertas? JB – As financeiras, da ordem das finanças e de como os recursos financeiros são transferidos; ora, o Brasil, basta compará-lo com a Índia. No Brasil você mobiliza o povo brasileiro para segurar o superávit primário, enquanto que na Índia você convoca o povo para construir uma nação e os problemas são duzentas vezes piores do que os nossos – diferenças de classes, castas, riqueza, de tudo. A Índia é uma potência nuclear e espacial, além de ser a sede da informática mundial. Não se pode convocar o povo brasileiro para segurar o superávit primário. Não dá! É muito mais do que isso, pelo amor de Deus. FD – E para estancar? JB – Primeiro, voltar-se para dentro, estimular o consumo interno, aproveitar o fator positivo que é o demográfico, etc. Mas para aproveitar o mercado interno é preciso cuidar da infra-estrutura; todos estão satisfeitos Fevereiro/ Março 10


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porque estão com celular, mas não se pode andar de caminhão daqui a São Paulo. Temos esse litoral e não temos uma marinha mercante (já tivemos). Abandonamos as ferrovias. Agora estão discutindo o trem bala. Vamos ter seriedade! Não adianta elevar o padrão de vida e o cidadão estar sitiado. Ocorrem as enchentes e a responsabilidade não é de São Pedro, é daqui; falta a autoridade para administrar a coisa pública; a elite administrativa do país está muito abaixo da qualidade do povo; o exemplo está aqui, no Rio de Janeiro. Como é que pode um administrador público municipal mandar construir a Cidade da Música e deixar as ruas da cidade esburacadas; e aí o sucessor isenta os taxistas do imposto; tudo uma inversão; não se tem quem supervisione e cobre, sejamos nós o Ministério Público! FD – Nunca seremos afortunados, como profetizou Simon Bolívar? JB – No fim da vida ele disse que tinha arado no mar. Acho isso muito pessimista. Não é isso. Falta-nos uma certa disciplina. De fato temos uma disciplina retórica, falamos muito de democracia e da retórica; ao fato a gente escapa; disciplina seria ter administradores eleitos capazes de dar uma resposta. Os exemplos de corrupção são uma agressão à democracia, uma bofetada nas pessoas que pagaram imposto, porque pagar imposto também é parte da democracia. Mas tem que receber e quem recebe são poucos. Embora digam que o otimista é um pessimista ignorante, a gente tem que ser realista, não está tudo bem, mas a gente pode fazer com que tudo fique bem, essa é a diferença. FD – Sobre Hugo Chávez JB – A coisa que o HC mais preza é a adjetivação que seus adversários lhe dão; ele não é o Maquiavel bolivariano que todo mundo crê! O país é riquíssimo e ele tem que dar resposta ao seu povo; na Venezuela, com uma oposição incompetente, ele vem navegando tranquilamente; mas esse tipo de política se esgota porque não traz resposta. Fevereiro/ Março 10

FD – E o apoio irrestrito do Lula a ele? JB – Aí eu discordo, vamos distinguir: não é um apoio irrestrito; acho que ele apóia mais o processo do que a pessoa (apóia a Cristina, o Alan Garcia, o Morales, o Correa). Apóia no interesse nosso, e eu concordo com a política que está sendo desenvolvida; o interesse nosso é ter estabilidade no entorno; o homem é o homem e a sua circunstância; a sua circunstância do Brasil é a América do Sul. Nós não podemos ir sozinhos sem a nossa circunstância, que nos interessa seja estável; aqui também se aplica respeito e tolerância. Há muitos críticos que condenam a generosidade do governo brasileiro. Oferecer coisas à Bolívia e ao Paraguai é o nosso interesse. Estamos mais na frente, devemos puxar os outros, ajudar a trazer. Não nos interessa, por exemplo, que na Argentina haja uma crise institucional. Dizem com certo sarcasmo, que é a política da generosidade; eu aceito o sarcasmo e digo que é isso mesmo. FD – Evo Morales JB – São novas realidades; Evo Morales é um indígena, como o Lula é um operário; o paraguaio é um bispo; o uruguaio é um extupamaro. É tudo novidade; são realidades novas. A primeira reação é não aceitar. Mas não se pode agredir os fatos. Na Bolívia, os indígenas são mais de 50%. Não se pode fazer exercício de adivinhação. O Lula está apoiando o processo democrático, porque é democrático. A gente não está acostumado a ser grande. Quanto mais o Brasil se afirmar como potência, mais a gente vai ter esse problema com mais ou menos intensidade. Além de ser potência, é um país de emigração; temos mais ou menos 3 milhões de brasileiros emigrados na América Latina, Europa, Paraguai, Japão, EUA; fato que cria uma nova realidade para os administradores desses países e o Brasil tem que estar atento a isso.

se vá saber o significado correto: quando o Obama disse “Você é o cara!” Referia-se a Lula ou ao Brasil? JB – Eu interpreto que são as duas coisas, a mensagem dele foi exatamente: é o Lula com o Brasil, é o Brasil, mas é o Brasil com o Lula. Não é o Lula sozinho nem o Brasil. Você é o cara!, reconhece a importância do Brasil neste momento com o Lula. E não foi só o Obama. O Lula é o estadista do ano, o Le Monde também destacou uma série de manifestações que reconhecem o Brasil pelo grande serviço que o Lula prestou à política externa brasileira, entre outros. Eu estou de acordo, é a generosidade, é mostrar uma face do Brasil que ainda era desconhecida; não fala nenhum idioma, mas não precisa. O Lula tem a humildade necessária, não fica deslumbrado. Ele é autêntico, por isso esse reconhecimento. FD – O que gostaria de dizer... JB – Insistir que o Brasil não vai sozinho. É o Brasil e seu entorno e o Brasil está deficitário em educação; o Lula fez bem em não insistir na reeleição, como os outros fizeram; as dificuldades resultam da corrupção, da reeleição e da falta da condição democrática das elites políticas, mas não sou pessimista; acho que vamos ter que aceitar coisas que a minha geração não aceitaria; fui muitas vezes à Bolívia, Aramaio e Patinho e o pessoal morrendo nas minas para benefício deles; museu Patinho; e a gente ignorava o que estava por trás, e o que agora está no poder; as pessoas ficam perplexas. Não, tem que aceitar, a gente não pode agredir os fatos; não pode ignorar o fato do Chávez estar no poder. Ou queremos mandar os fuzileiros americanos lá para bombardear? É impensável. Se alguma coisa incomoda a sociedade nesse processo, a resposta é mais democracia e não menos democracia; é mais diálogo e não isolacionismo; mais cooperação e não cortar os canais de entendimento.

FD – Ocorreu a mim, falando dos EUA, de Obama, simbolicamente, claro, perguntar, embora nunca f o r u mDEMOCRATICO

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emigrazione Marisa Oliveira

O mundo como casa, o retorno regular ao pago

FD – Mario, como foi deixar a Riviera dei Fiori, com todas as suas belezas e familiares, e emigrar para a América Latina? Como era sua vida lá, que motivos o fizeram cruzar o oceano Atlântico? ML - Não foi difícil, minha cidadezinha já não era mais a da minha infância e adolescência. A guerra havia deixado o país em dificuldades, não via futuro. Imaginei que uma experiência fora, talvez temporária, seria interessante. Tentei ir para a África, para a Austrália, não consegui. Aí, Evita Perón veio à minha cidade em visita semi-oficial (conto esse episódio num dos meus livros) e decidi ir para Buenos Aires com quatro amigos.

Foto: Arquivo pessoal

FD – Foi somente em 1949, ao aportar em Buenos Aires, que você descobriu a América? Fale da sua chegada, das primeiras impressões, de fatos marcantes, das dificuldades, das conquistas. ML - Não, alguns amigos já haviam ido para a Venezuela e a Argentina e enviavam notícias, mas, é claro, que foi na chegada que vi o que seria. Por

Local de trabalho, em casa. São Paulo, 2004 832

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permite, viaja... Dois filhos, nono de seis netos que o adotaram, Mario Lorenzi não deixou a bagagem que conquistou para trás: é jornalista ocasional e escreve livros, pois, acredita, vive-se melhor a velhice mantendo-se atividades intelectuais. Perguntado sobre um lugar para se viver, Mario, como um bom lígure, destacou seu cantinho na Riviera dei Fiori/Côte d’Azur, apesar de tudo.

contrato com o governo argentino, que oferecia a viagem, deveríamos trabalhar um ano como operários - foi uma experiência extraordinária, nenhum de nós o era. Um ano depois, cada um tratou da sua vida, mas nos mantivemos unidos. Desse grupo só sobramos dois. Buenos Aires nos impressionou, nenhum de nós havia habitado em uma metrópole. Não foi fácil, mas encontrei meu caminho, graças às línguas que, por diversas razões, falava desde a adolescência e facilitaram minha assimilação do espanhol antes, e do português depois. Lá, em Buenos Aires, comecei minha carreira no transporte internacional. FD – Por que veio para o Brasil, especificamente São Paulo? São Paulo é a sua “cidade-sede”? Por que? ML – Fácil: a empresa me pediu para assumir a direção da filial brasileira, era uma pequena empresa que se tornou a sede de várias filiais, inclusive a Argentina. FD – Mario, você é um cidadão de muitas andanças. Já residiu em vários países, percorreu a Europa, as Américas, parte da África e da Ásia. Viajar é preciso? O que o impulsiona, o espírito genovês de grande navegador? ML - Abri várias representações no exterior para a empresa para a qual eu trabalhava: no Peru, depois no México e na Colômbia. Por várias razões de trabalho, era minha função visitar agentes e clientes no exterior, e, logo, logo, passei a viajar por curiosidade, finalmente para retornar onde havia gostado de ir: sou um viajante, não me confundam com turista. Acabei conhecendo a América do Alaska à Patagônia, literalmente. Acho que sou um dos poucos que conhece o continente todinho, salvo algumas poucas ilhas do Caribe! Para mim, viajar foi necessário nos primeiros anos e se tornou costume depois. Talvez haja algo do que você diz, como escrevo no último livro: “Nós, os Lígures, fomos definidos grudados ao pedregulho e aos rochedos das nossas praias

como lapas, ou andantes que fazem do mundo sua casa, voltam regularmente ao pago, nada os separa dele, a saudade e a decepção se renovando a cada viagem, a primeira se sobrepondo à segunda assim que o deixamos. Sempre.” FD – Fale dos lugares por onde andou. O mundo em sua diversidade é igual em que aspecto (ou aspectos?) O que é mais apaixonante quando se desembarca em uma nova terra? ML - São muitos, mais de 90 países, acho. Nunca fiz a conta. Também residi em Paris, Milão, Nova York, Cidade do México e Lima, etapas alternadas inseridas nos meus 57 anos de Brasil. Os países mais notáveis para mim? Rússia, onde fui desde 60, Costa do Marfim, país do qual me tornei Cônsul Geral Honorário e onde mantenho amigos até hoje. México, Peru, Cuba, onde fui antes e depois da Revolução. Os países escandinavos. Isso não exclui nenhum porque cada um tem seu charme histórico, físico, cultural, etc. E, naturalmente

Foto: Arquivo pessoal

Nas voltas que o mundo dá, Mario Lorenzi, italiano da Ligúria, já viveu muitas delas – a guerra, a época áurea do jazz, a aventura da emigração, a experimentação de atividades diferentes. A partir de um certo momento Mario não esperou pelas voltas do mundo, mas foi ao encontro delas - conheceu mais de 90 países, fez amigos, recebeu títulos. Entre os hobbies do passado, praticou muito esporte. Atualmente, dedica-se à leitura, música clássica e aos amigos. Quando a saúde

Grasse, França, 1982 Fevereiro/Marça10


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Foto: Arquivo pessoal

Pôr do sol do escritório no Arpoador

Trecho do romance de Mario Lorenzi “... Quero mais é que se danem!” (vide reportagem pág. 14)

Tortola, Ilhas Virgens Britânicas

FD - Jornalista e escritor, paulistano, italiano e brasileiro, você foi operário, jazzista, cônsul, presidente de empresas. Mario, fale sobre essa trajetória profissional tão diversificada. ML - É o contrário: jazzista logo depois da guerra, quando formei um quinteto. Trabalhamos em toda a Riviera. Foi bom e divertido. Conheci nessa época, no primeiro Festival de Nice em 48 e, depois, em Nova York, Louis Armstrong, Milton Mezz Mezzrow, Earl Hines, Zuttie Singleton, o Hot Club de France e alguns mais dos históricos heróis do jazz. Cônsul? Por acaso durante trinta anos. Presidente de empresas, empresário e membro de entidades internacionais por interesse pessoal e em função da evolução de minhas atividades. Jornalista ocasional e escritor para me preparar para a aposentadoria e para a velhice! Quem não tem uma atividade intelectual na velhice a vive muito mal.

“Giovanni – Athos morreu repentinamente, sem sofrer, num dia de sol, de trauma craniano, provocado pela queda de um vaso de flores da janela do apartamento do terceiro andar onde morava uma quase – todas eram quase – namorada, a quem havia dado um adeus definitivo momentos antes, que declarou que foi um acidente que nada tinha a ver com o fato de ela estar à janela chorando, vendo-o partir. Aristide não lembra que houvesse um processo na Justiça, se houve, deve estar rolando nos meandros infinitos e cagádicos da nossa dita cuja. Athos deixara a seu advogado suas últimas vontades se viesse a ter que distribuir os milhões ganhos na loteria, e uma carta para o caso contrário, dirigida a Toto, que a recebeu depois do enterro:

FD - Faz 61 anos que você desembarcou na América Latina. Hoje, que sentimento você tem pela Riviera dei Fiori? ML - Pois é, dia 6 de março. Minha Riviera? Volto lá ao menos uma vez por ano. Minha mulher também gosta de ir lá. A Riviera e a Cote d’Azur, que fazem fronteira, são sempre lindas, mas não são mais as mesmas da minha juventude. São menos alegres, mas há os amigos velhos e novos que nos esperam. FD - Ser escritor... ML - Ainda não estou convencido de ser um. Me acho sempre um principiante, apesar de notar que progredi ao longo dos onze livros que foram publicados. Foto: Arquivo pessoal

“meus“ países: Itália, França, Argentina e Brasil, na ordem na qual vivi neles. O que mais me apaixona? Bem, se é um país novo, a novidade, se é conhecido, o prazer de matar a saudade.

Foto: Arquivo pes soal

São Paulo, 1955

Plaza Matriz, San José de Costa Rica, 1982

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Amico mio carissimo, Espero que você esteja lendo esta minha mensagem póstuma tomando um bom vintage ou um rum cubano añejo; um bom champanhe Salon também serve. Se não os tiver à mão, interrompa a leitura e arranje logo, não queria que chegasse ao fim da carta sem poder brindar, gosto de imaginar você fazendo isso. Há homens que a sorte ignora, sou um deles, não ganhei na loteria, mas sempre pensei que muito do que tive e vivi não precisou vir dela, as pessoas que me quiseram a compensaram largamente com o afeto, a compreensão e a tolerância para com meus defeitos e loucuras. Consolem-se pensando que, não tendo eu sido favorecido por ela, fui um componente da sorte de vocês, as estatísticas existem para definir essas coisas. Quanto a você, prometo que, se o suposto lado de lá existir, farei tudo para que tenha a sorte que não tive. Em tal caso, lembre do que eu desejava fazer e faça-o com alegria, dedicando-se seriamente a gastar sem pensar muito, o demônio da prudência está sempre à espreita, e ela é sem dúvida o caminho mais curto para a mediocridade. Minha herança para você são meus sonhos, é o que sempre tive de mais valioso. Agora brinde. Um forte abraço, Giovanni-Athos”

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o coração do Brasil, estado do Mato Grosso, dentro do Parque Nacional do Xingú, na região do Alto Xingú, existe um grupo indígena chamado Kalapalo Kalapalo.. Um dos quatro grupos de língua Karib, tem como referência para a sua vida social um ideal de comportamento pacífico e generoso chamado ifutisu, que remete a um conjunto de percepções éticas. Num sentido mais amplo, ifutisu pode ser definido como uma prática de generosidade, como a hospitalidade e a predisposição para doar ou partilhar posses materiais, e uma ausência de agressividade pública. Os Kalapalo acreditam que a viabilidade da sociedade depende do cumprimento desse ideal. O ensaio fotográfico, que aborda seu cotidiano explorando as saturações das cores, foi premiado no Foto Arte Brasília 2009, no Prêmio Leica de Fotografia 2003 e está com exposição agendada para março na Colorida Galeria de Lisboa e para julho no Festival de Fotografia de Uberlândia.

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el cuore del Brasile, nello Stato di Mato Grosso, dentro al

Parco Nazionale del Xingú, nella regione dell’Alto Xingú vive

un gruppo indigeno denominato Kalapalo Kalapalo.. È uno dei quattro gruppi di lingua Karib ed ha come caratteristica della sua vita sociale un ideale di comportamento pacifico e generoso, chiamato ifutisu che rimanda ad un insieme di percezioni etiche. In un senso più ampio, ifutisu può essere definito come una pratica di generosità, come l’ospitalità e la predisposizione a donare o a dividire la proprietà dei beni materiali, e l’assenza di agressività in pubblico. I Kalapalo sono convinti che il futuro della società dipende dal rispetto di questo ideale. L’esposizione fotografica, che presenta il loro quotidiano avvalendosi della saturazione dei colori, è stata premiata nel Foto Arte Brasília 2009, con il Prêmio Leica de Fotografia del 2003 e sarà presentata in marzo nella Colorida Galeria di Lisbona e, in luglio, nel Festival di Fotografia di Uberlândia.

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Dalton Valério fotografa profisprofissionalmente desde 1994 e é um

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dos sócios fundadores da agência Foto in Cena, Cena, www.fotoincena.com.br www.fotoincena.com.br,, onde desenvolve projetos nas áreas de fotojornalismo documental e institucional, além de moda. Contato: dvalerio@fotoincena.com.br

Dalton Valério è fotografo professionista dal 1994 ed è uno dei soci fondatori dell’agenzia Foto in Cena, www.fotoincena.com.br, dove sviluppa progetti nell’area di fotogiornalismo documentale e istituzionale, oltreché di moda. Contatto: dvalerio@fotoincena.com.br

Lamberto Dini

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cultura Diz o ditado que quem tem boca vai à Roma. No caso de Lucio Volpini, foram a vocação, o desejo e a paixão que o levaram literalmente à Roma. Bisneto de um pintor italiano de afrescos, Lucio atendeu ao chamado das tintas, dos pincéis, das artes, não só como artista, mas como amante e apreciador. Desenhos em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, onde nasceu, e em Firenze, Itália. Sempre aprendendo, sempre se aperfeiçoando, sempre se extasiando, seja no processo de criar, seja no processo de admirar obras de outros artistas. Do clássico ao popular, das telas para os muros. Cultura indígena, carnaval e maracatu. Pintura. Apaixonado por futebol, orgulha-se de torcer pelo Flamengo: vai ao Maracanã toda semana. Na Itália, o coração bate pelo Roma. Assim Lucio Volpini vai construindo seu lugar, um espaço imenso, muito maior do que o próprio homem.

l u c i o v o l p i n i Construção do lugar, espaço magnífico FD - Lucio, em que momento da sua vida você se descobriu artista plástico? Ainda na faculdade? Antes disso? LV - Desenho desde a infância. É uma lembrança tão ancestral quanto andar ou falar. Minha mãe ao ver esta vocação me incentivou ao máximo, fornecendo todo tipo de material, acompanhando e expondo para outras pessoas os trabalhos executados. Existe também a relação da minha família com a arte, pois sou descendente de italianos. Meu bisavô, Vittorio Antonucci, era pintor de afrescos na Itália e meu avô, Antonio Volpini, músico e amante das Belas Artes. Meus bisavós, em 1892, imigraram para o Espírito Santo, lugar onde vivi até os 15 anos. FD - Após cinco anos de formado em Arquitetura, já trabalhando, você foi para Firenze estudar desenho. Fale sobre a decisão, o processo e as experiências lá e em Velletri e Roma. LV - Participei de todo tipo de atividade artística na minha vida escolar, mas quando chegou o momento de optar pela faculdade, em 1979, aos 17 anos, escolhi Arquitetura. Acredito que na época faltou um pouco de ousadia para optar pelo curso de Belas Artes. Em 1986, já formado, parti para a Europa para passar um período de seis meses em Amsterdam. Este primeiro contato com diversas manifestações de arte, e, principalmente, as obras de Van Gogh, foi fundamental para retomar a pintura e também para ter conhecido a Itália. Aflorou em mim o desejo de estar mais perto da Arte. Fui para Ferrara e San Marino, regiões de onde minha família é oriunda. Mas quando conheci Roma, iniciou-se uma verdadeira história de amor pela cidade. Voltei para o Brasil e ingressei no Grupo Itapemirim, onde tive uma maravilhosa experiência de trabalho, pois conheci grande parte do Brasil viajando pela empresa, além do que, nesse período, minhas obras estiveram presentes em várias cidades e estados do Brasil. Em 1989, após férias na Itália, voltei

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com a decisão tomada de, com o apoio da família, que não escondia o orgulho pela minha escolha, fazer o caminho de volta. Retornei à Itália, escolhendo Firenze para morar. Em Firenze, ingressei em num curso de desenho clássico e passei a ter certeza de que a Arquitetura seria apenas uma ponte para a pintura. Por ocasião de uma das idas a Genzano di Roma, em visita a parentes e amigos, nessa cidade dos castelos romanos, a 19 km de Roma, recebi uma proposta para trabalhar em Velletri como arte-finalista de projetos, em um pequeno estúdio de Arquitetura. Vejam como é a vida, além de adorar aquele paese, ainda tive oportunidade de trabalho! Ainda morando em Genzano, fui trabalhar em Roma, permanecendo na Itália até 1996. Durante todo esse período freqüentei paralelamente diversos cursos de arte e visitei todos os museus, galerias e exposições que podia. Tive oportunidade de conhecer quase toda a Europa ocidental e suas diferentes produções artísticas e tal imersão produziu efeitos imediatos: fiz exposições nas cidades de Firenze, Genzano e Radda-in-Chianti. Em 1995 dois fatos marcaram minha vida: uma exposição de Giacometti em Roma, que visitava diariamente enquanto esteve aberta, e minha volta ao Brasil, pois meu pai passava por sérios problemas de saúde e tive que assumir seus negócios, voltando

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a morar em Cachoeiro. Período difícil, pois acabava de trocar um estúdio de artes em Roma por um posto de gasolina em Cachoeiro de Itapemirim, mas poder retribuir o que minha família havia feito por mim foi uma grande recompensa. Um ano depois, decidi retomar minhas atividades artísticas e escolhi a Escola de Artes Visuais Parque Laje, no Rio de Janeiro. Vinha todos os sábados para ter aula de desenho com Marcelo Rocha (só 400 km de distância!). Nessas idas e vindas, conheci três pessoas que seriam muito importantes no meu futuro próximo: o ator e fotógrafo Hércules Franco, o arquiteto Mário Victor e a artista plástica Elenice Nogueira. Foram eles que praticamente promoveram minha volta ao Rio, no final de 1998. Recuperado, meu pai reassumiu suas atividades e voltei a trabalhar como arquiteto e tornei-me um assíduo freqüentador do Parque Lage. 2002 foi um ano-chave. Assumi definitivamente a pintura, abandonando a arquitetura. FD - Impressionistas, românticos, contemporâneos e as artistas brasileiras Beatriz Milhazes e Adriana Varejão. Qual deles exerce no seu trabalho maior influência e fascínio. Por que? LV - Minha primeira fase segue uma área de grande interesse para mim – culturas indígenas das Américas, objeto de estudos desde 1992, e onde tento através da pintura fazer um resgate destas culturas vencidas e esquecidas. Com a orientação do artista plástico Ronaldo Rego Macedo, desenvolvi um trabalho geométrico com simetria, utilizando grafismos e mitologia indígenas numa explosão de cores. Após três anos, já sob a orientação dos artistas plásticos Maria do Carmo Secco e Chico Cunha, mudei minha temática, retorno aos anos 60 e executo um trabalho voltado para o psicodelismo, onde busco meus ídolos da música como inspiração: Janis Joplin, Jim Morrison, Jimmy Hendrix e Led Zeppelin.

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artes plásticas

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Livro de Cabeceira - A Parte e o Todo, Heisenberg. Prato preferido – Lagosta. Artista que desponta - Claudia Lyrio (Claudia Figueira de Almeida/Forum Democratico, Junho/Julho 2009), Denise Araripe e Elenice Nogueira. Local para viver - Roma e Rio de Janeiro (duas paixões) Local para trabalhar - Um bom atelier, com muita paz. Próximas exposições: Cara do Rio 2010, Centro Cultural dos Correios – RJ, com abertura no dia 28 de fevereiro. EU.LUGAR, no Galpão das Artes/RJ, com abertura no dia 11 de março.

Essa fase foi o trampolim para o meu envolvimento com o graffiti. Abandono o atelier durante um ano e passo a pintar na rua. Um período de descobertas de novas técnicas e possibilidades infinitas. Este trabalho me levou para a pintura de arte no carnaval, a convite de meu amigo Manoel, que havia assumido o setor de pintura da escola de samba Império Serrano. Comecei no barracão na pintura de carros alegóricos e lá, o convívio com todo tipo de artistas e com a comunidade me seduziu completamente; além da emoção de ver o trabalho na avenida foi uma experiência das mais positivas e que continua a fazer parte de minha vida. Em 2007 passei a ter a orientação da artista plástica Suzana Queiroga, que fez uma verdadeira revolução na minha pintura e no meu olhar sobre a arte: liberto-me do desenho e passo a me dedicar a estudar Teoria da Arte, ler escritos de artistas e desenvolver uma técnica pessoal. Vou buscar inspiração na História da Arte, os impressionistas e os românticos passam a ser uma referência para mim, principalmente Caspar Friedrich (espaço sublime). Então, com a ajuda da Física (Universo), passo construir o lugar. Busco criar o lugar, não como paisagem, mas como uma ponte sublime para o espaço magnífico, magnífico porque ele é imenso e faz do homem um pequeno observador. Esta é minha fase atual e motivo da próxima exposição que farei no Galpão das Artes, em março, junto à artista Cláudia Lyrio – EU.LUGAR – ela falando do sujeito e eu do lugar que ele ocupa. Antes disso, em fevereiro, participo da coletiva Cara do Rio, no Centro Cultural dos Correios. Conhecer as artistas Beatriz Milhazes e Adriana Varejão e seus trabalhos foi fundamental na elaboração da minha metodologia e no desenvolvimento de minha técnica atual, onde utilizo grossas camadas de tinta, em sucessivas aguadas, trabalhando com restos e sobras de outros artistas e também tinta trabalhada fora do suporte. Os artistas que mais me fascinam são Alberto Giacometti, Caspar Friedrich e Odilon Redon. Dos contemporâneos, Clemens Krauss tem uma forte influência. Atualmente, meu orientador é o artista plástico João Magalhães. FD - De que técnicas você mais se utiliza? LV - Trabalho, no momento, quase que exclusivamente com pintura, seja sobre tela, muros, no carnaval e onde mais puder pintar. FD - Seu processo de trabalho obedece a um ritual bem marcado. A obra que dele resulta... LV - Tenho todo um ritual para começar um trabalho, a preparação da tela é uma etapa muito importante, pois começo ali a trabalhar o lugar. O preparo de tintas e os materiais que serão empregados é a etapa seguinte e onde começa a conexão com o mundo

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Civilização IV - 2007 que existe dentro de mim e que está preste a emergir. As primeiras aguadas acontecem sem minha interferência, onde começam a surgir os contornos do que será o lugar e também minha interferência. FD - O espaço, a técnica, as cores, são para você inquietações ou apenas elementos de construção de arte? LV – Sou muito influenciado pelas manifestações populares, como Carnaval e o Maracatu, e também pelo Tropicalismo, daí o uso das cores, elemento que exerce enorme fascínio sobre mim. O espaço é herança da Arquitetura, e me leva também a tentar entender qual é o lugar que ocupamos. O estudo e o conhecimento de técnicas de pintura são fundamentais para a criação da minha pintura.

Série Indígena - 1999

FD - Você exerce outras atividades profissionais? LV - Há dois anos enveredei para o lado do cinema, passei a trabalhar com dublagem, trabalho na preparação do filme a ser dublado, faço minutagem das vozes e sons do filme no original para encaixar o texto em português. FD - Lucio Volpini nos próximos cinco anos... LV - Os próximos cinco anos serão de dedicação total à pintura.

A Cidade - 2005 - Graffiti

f o r u mDEMOCRATICO

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cultura

r e f l e x ã o

Luis Maffei

A flauta a Pedro

I

magino um homem com muitas coisas na cabeça, cinco

soprar-me sua flautazinha com coisas de escrever durante

dedos de cada lado e uma flauta. Imagino-o enquanto

madrugadas em telas de computador e insônia a seco.

o vejo tocar, imagino-o aprendiz de música, não músico,

Insônia e frio sequer sente o homem que imagino, homem-

certamente homem-música. Porque o homem tem muitas

música a intuir Paganini e praticar festinhas na cabeça de seus monstros. Imagino-o,

e dispara pela casa afora,

ele que tantas coisas tem

casa adentro, movendo

na cabeça, tocar seus cinco

apenas os músculos ine-

dedos e não deixar que a

gociáveis, não é preciso

casa acorde, nem vizinhos,

caminhar depressa. Ape-

nem o homem que escreve

nas, depressa, uns dedos

numa madrugada inquieta

(todos? Quantos? Não sei

e quente. Sinto, não sei

tocar flauta, não sei tocar)

se dedos ou a música da

que fogem das coisas de

flauta, não sei se o escuro

dentro da cabeça para de-

ou as tantas coisas que vão

sabalar no ritmo enorme

na cabeça, agora frágeis,

de um Paganini.

do homem, sinto, não sei

É madrugada alta, tenho

se o bocejo que me acusa

insônia, não toco flauta,

as horas serem muitas ou

olho uma tela de compu-

a imagem de um gato que

tador e imagino um ho-

acorda porque acorda, com

mem dentro da madrugada alta, dentro da insônia, a escurecer a casa, apagar os sonhos, desligar seu

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Ilustração: Ana Maria Moura

coisas, cabeça inclusive,

olhos escassos pela fotofobia, mas é tarde. Imagino mais que nunca um homem com muitas coisas na cabe-

computador portátil e sacar do bolso do colete uma flauta.

ça, cinquenta dedos possíveis e uma flauta. E um gato que

O homem, com frio e sem pulôver, aquece a casa e toca,

não sabe flauta, e um monstro quase ensinado a parar. E um

é muito o escuro, e toca em surdina para não acordar os

homem que escreve na madrugada alta, dentro da insônia e

outros. Nem os monstros que nalgum lugar se situam co-

de uma tela de computador.

gitam interromper-me, eu que imagino, interrompê-lo, ele

Preciso conhecer a sabedoria da flauta, a sabedoria dos

que toca, ainda que um monstro de disfarce vago costume

sonhos.

f o r u mDEMOCRATICO

Fevereiro/ Março 10


Fevereiro/ Marรงo 10

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