Forum Democratico

Page 1

Pubblicazione dell’Associazione per l’Interscambio Culturale Italia Brasile Anita e Giuseppe Garibaldi • Nº 95-96 Ano XI - Julho/Agosto 10 - R$ 10,00 PODE SER ABERTO PELA ECT

COMUNIDADE Partito Democratico in America Latina.

ENCARTE “Come Dio comanda”, di Niccolò Ammaniti.

ENTREVISTA Sérgio Cabral e Fernando Gabeira falam sobre suas propostas.

Lula e Berlusconi, um Chefe de Estado e um quaquaraquà

E M A I S : G A S T R O N O M I A • T U R I S M O • L I T E R AT U R A • F O T O G R A F I A • A R T E S P L Á S T I C A S


O INCA-CGIL tutela gratuitamente os trabalhadores e aposentados italianos e brasileiros e suas famílias. RIO DE JANEIRO Av. Rio Branco, 257 sala 1414 20040-009 - Rio de Janeiro - RJ Telefax: 0xx-21-2262-2934 e 2544-4110

INCA INCA CGIL

SÃO PAULO (Coordenação) Rua Dr. Alfredo Elis, 68 01322-050 - São Paulo - SP Telefax: 0xx-11-2289-1820 e 3171-0236 Rua Itapura,300 cj. 608 03.310-000 - São Paulo- SP

“Patronato” da maior Confederação Sindical Italiana, a CGIL

PORTO ALEGRE Rua dos Andradas. 1234 cj. 2309 90020-100 - Porto Alegre - RS Telefax: 0xx-51-3228-0394 e 3224-1718 BELO HORIZONTE Rua Curitiba, 705 - 7º andar 30170-120 - Belo Horizonte - MG Telefax: 0xx-31 3272-9910

http:\\www.incabrasil.org.br

D E

S E G U N D A

A

S E X T A ,

D A S

8 : 3 0

À S

1 3 : 0 0


forum D E M O C R A T I C O

A n o

05

X I

-

N

o

9 5 - 9 6

-

J u l h o / A g o s t o

agenda cultural

16

1 0

encarte

05 Cinema, teatro, shows, exposição, cursos.

16 “Come Dio comanda”, di Niccolò Ammaniti.

06

20

editorial

06 Lula e Berlusconi, um Chefe de Estado e um quaquaraquà. Andrea Lanzi

08

comunità

08 Rio de Janeiro: Crisi Associação Cultural Ítalo Brasileira. 08 Congiuntura Brasile. 09 Congiuntura Italia. 09 Partito Democratico in America Latina.

10

gastronomia

10 Mezzelune di batata, delícia do chef florentino Luca Gozzani, do restaurante Fasano Al Mare, do Rio de Janeiro.

11

turismo

11 Destino: Brasília para o Brasil. A capital brasileira completa 50 anos.

14

cultura

Literatura 14 “O mundo visto daqui (Praça General Osório)”, de Millôr Fernandes e “A raposa e o rouxinol”, de Ana Maria Moura.

15

às compras

15 Sugestões imperdíveis, confira.

Italia

Storia italiana 20 1998 Liberamente tratto dal libro “Patria 1978-2008” di Enrico Deaglio.

26

Brasil

26 O que tem a dizer Sérgio Cabral e Fernando Gabeira, candidatos ao cargo de governador do Estado do Rio de Janeiro. Marisa Oliveira e Andrea Lanzi

30

Italia

Emigração 30 Entrevista com Antonietta Palmieri. Marisa Oliveira

32

cultura

Fotografia 32 “Vietnã”, ensaio fotográfico de Maurício Seidl. Artes Plásticas 36 Elenice Nogueira: o direito de fantasiar e colorir a vida. Marisa Oliveira

Reflexão 38 Cadelas Céleres da Raiva Luis Maffei

LEIA TAMBÉM ON LINE, AGORA EM FORMATO PDF

www.forumdemocratico.org.br

NOSSA CAPA


expediente

La rivista Forum Democratico è una pubblicazione dell’Associazione per l’interscambio culturale Italia Brasile Anita e Giuseppe Garibaldi. Comitato di redazione Giorgio Veneziani, Andrea Lanzi, Arduino Monti, Mauro Attilio Mellone, Lorenzo Zanetti (em memória). Direttore di redazione Andrea Lanzi

Nota do Editor

E

stamos no ano de eleições amplas. Vamos exercer nosso direito-cidadão ao escolher governantes e parlamentares para nossos estados e país. Por isso incluímos

na pauta desta edição as entrevistas com dois dos candidatos ao governo do estado do Rio de Janeiro – Sérgio Cabral e Fernando Gabeira. Situação e oposição. Nesse tantinho de conversa, podemos definir o perfil de cada um e conhecer as

Giornalista Responsabile Luiz Antonio Correia de Carvalho (MTb 18977) Redazione Avenida Rio Branco, 257/1414 20040-009 - Rio de Janeiro - RJ forum@forumdemocratico.org.br

propostas do programa de governo. Enquanto outubro não chega, podemos assistir à mostra de German Lorca e à dança vigorosa de Deborah Colker, além de espairecer as preocupações nas sessões de filmes de amor do Cineclube Baukurs.

Pubblicità e abbonamenti Telefax (0055-21) 2262-2934

A seção Turismo homenageia os 50 anos de criação de

Revisione di testo (portoghese) Marcelo Gargaglione Lopes

Elenice Nogueira expõe sua arte e nos confirma a impor-

Brasília, com menção ao Programa o Brasil visita Brasília. tância das ações sociais, através de gestos de solidariedade

Hanno collaborato: Cristiana Cocco, Marisa Oliveira.

e generosidade. Inclusão social e trans-

Logotipo: concesso da Núcleo Cultura Ítalo Brasileira Valença

Mais arte nos acordes melodiosos de

formação pela Educação. Yasser Chediak e no trabalho dos artesãos de São Gonçalo/RJ e

Stampa: Gráfica Opção Copertina e Impaginazione: Ana Maria Moura A Mão Livre Design Gráfico

Iguape/SP (Às Compras). O chef Luca Gozzani, do restaurante Fasano al Mare, nos ensina a fazer ravioli de batata com provolone defumado e alcachofrinha (Gastronomia) e Antonietta Palmieri é a entrevistada da seção Emigração. Ah, confira também o texto do Luis Maffei. Você vai

Dados internacionais de catalogação

gostar.

na fonte (CIP) Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - Forum Democratico/ Associazione per l’insterscambio culturale italo-brasiliano Anita e Giuseppe Garibaldi - No.0 (mar. 1999) - Rio de Janeiro: A Associazione, 1999 - v. Mensal. - Texto em português e

Carta do leitor

italiano - ISSN 1516-8123 I. Política - Itália

Anita e Giuseppe Garibaldi.

“Tocante, para usar o mesmo verbo utilizado no nome do Instituto Tocando em Você, o trabalho que os músicos do Grupo Educart vem fazendo junto aos cidadãos da Grande Tijuca. Sorte deles e da cidade do Rio de Janeiro poder contar com esse altruísmo e vontade de transformar através da arte a realidade daqueles que tem menos acesso à educação e às vias formais de profissionalização.”

CDU 32:316.7(450 + 81)(05)

José Ribeiro, por e-mail, em julho de 2010.

- Brasil - Periódicos. 2. Difusão cultural - Itália - Brasil - Periódicos. I. Associazione per l’interscambio culturale italo-brasiliano,

84

f o r u mD E M O C R A T I C O

Julho/Agosto 10


DANÇA

agenda cultural

Foto: Divulgação

EXPOSIÇÕES “São Paulo crescendo”, São Paulo, 1965

“Foto de moda”, São Paulo, 1970 German Lorca: Olhar Imaginário

‘4 por 4’ é um encontro entre a dança e as artes plásticas. Obras de artistas brasileiros de épocas e focos distintos interagem com a dança sob a ótica da coreógrafa Deborah Colker que reestreia o premiado espetáculo em temporada popular. Dividido em quatro atos, Cantos (baseado em Cildo Meireles), Mesa (grupo Chelpa Ferro), Povinho (Victor Arruda) e Vaso’ (Gringo Cardia) são cenário e inspiração da coreografia concebida por Deborah para um grupo de 17 bailarinos. Teatro João Caetano – Pça Tiradentes, s/nº, Centro, RJ; Tel: 2332-9257; Temporada de 24 de julho a 5 de setembro; de 5ª a sáb., às 21h; Dom., às 18h; Ingressos a R$ 20 e R$ 15 (balcão). Pela internet: www.ingresso.com; Em domicílio: (21) 2568-8742 e (21) 2234-8600; Duração 80 minutos; Classificação livre; Cia. de Dança Deborah Colker.

Foto: Divulgação

CINECLUBE Com Treze Vezes Amor como tema, a mostra promete sessões com filmes clássicos, os quais, apesar de se ocuparem de um tema “surrado”, o amor, são originais e, por que não dizer, corajosos por ousarem tratar do banal. Luzes da Cidade, de Charlie Chaplin, será o primeiro filme a ser exibido. Casablanca, A princesa e o plebeu, A primeira noite de um homem, O homem que amava as mulheres, Casa Vazia, Brilho eterno de uma mente sem lembranças, entre outros, para deleitar os que já viram e os que estão tendo o privilégio de serem apresentados a grandes atores, diretores e histórias muito bem contadas, porque não dizer, inesquecíveis.

Um dos olhares fotográficos mais importantes do Brasil expõe 60 anos de produção de obras (1949-2009) até o final de agosto: German Lorca: Olhar Imaginário. São 57 imagens selecionadas pelo curador Eder Chiodetto, que marcam o experimentalismo radical de Lorca e o realismo, influenciados por movimentos como o surrealismo e o concretismo. German Lorca auxiliou de forma decisiva a implantar a fotografia de pensamento e estética modernista em meados da década de 1940 e 1950, quando atuou no Foto Cine Clube Bandeirante, em São Paulo. Hoje, aos 88 anos de idade, e em plena atividade, o artista paulistano é considerado por historiadores como um marco da fotografia experimental no Brasil. Deixando de lado o caráter de denúncia social, Lorca capitaneou no Brasil, junto com alguns de seus parceiros de Foto Clube – como Geraldo de Barros, Thomaz Farkas e Eduardo Salvatore, entre outros – uma profunda mudança de paradigma da fotografia, agregando à linguagem uma grande parcela de lirismo e de investigação estética, como poderá ser observado na mostra da CAIXA Cultural. CAIXA Cultural RJ – Galeria 1- Av. Almirante Barroso, 25, Centro, Rio de Janeiro (Metrô: Estação Carioca); Tel: (21) 2544-4080; de 3ª a sáb., das 10h às 22h; dom., das 10h às 21h; Entrada franca; de 20 de julho a 29 de agosto de 2010.

MÚSICA Concertos Internacionais Clara Cernat (violino) e Thierry Huillet (piano) – Programa CCBB – Rua 1º de Março, 66, Centro, RJ, Tel.: (21) 3808-2020; 6ª feira, 27 de agosto, às 19h30min - R$ 10,00.

Jean-Louis Steuerman e convidados celebram Schumann – Programa Teatro Municipal – Pça Mal Floriano, s/n, Centro, RJ, Tel.:(21) 2332-9191; sábado, 28 de agosto, às 16 h; domingo, 29 de agosto, às 17h; Platéia e Balcão Nobre: R$ 60,00 | Frisas e Camarotes: R$ 360,00 | Balcão Simples: R$ 30,00 | Galeria: R$ 20,00.

Cineclube Baukurs – Rua Goethe, 15, Botafogo, RJ, Tel.: (21) 2530-4847; a partir do dia 21 de agosto, sempre aos sábados, às 19 h; capacidade 24 lugares; reservas são recomendadas. Julho/Agosto 10

f o r u m DEMOCRATICO

5


editoriale

Andrea Lanzi

Lula e Berlusconi: un capo di stato e un quaquaraquà

N

el romanzo “Il giorno della civetta” di Leonardo Sciascia, il capo mafia spiega al capitano dei carabinieri la sua suddivisione degli esseri umani: “…l’umanità, e ci riempiamo la bocca a dire umanità, bella parola piena di vento, la divido in cinque categorie: gli uomini, i mezz’uomini, gli ominicchi, i (con rispetto parlando) pigliainculo e i quaquaraquà… Pochissimi gli uomini; i mezz’uomini pochi, ché mi contenterei l’umanità si fermasse ai mezz’uomini… E invece no, scende ancora più giù, agli ominicchi: che sono come i bambini che si credono grandi, scimmie che fanno le stesse mosse dei grandi… E ancora più in giù: i pigliainculo, che vanno diventando un esercito… E infine i quaquaraquà: che dovrebbero vivere come le anatre nelle pozzanghere, ché la loro vita non ha più senso e più espressione di quella delle anatre…” Non troviamo altra parola che quaquaraquà, per indicare il primo ministro italiano, Berlusconi, che anche nella sua brevissima visita in Brasile ha trovato il modo di ridicolizzare l’Italia intrattenendosi con 7 ballerine di lap dance nella suite dell’hotel dove era ospitato a San Paolo. Secondo Carta Capital, nella edizione del 21 luglio, chi avrebbe ingaggiato le allegre signorine è tale Valter Lavitola, proprietario della Empresa Pesqueira de Barra de São João Ltda, nominato dal capo del governo rappresentante della Presidenza del Consiglio per Panama e il Brasile. Berlusconi in questi giorni ha cacciato dal Partito della Libertà il cofondatore Gianfranco Fini, dopo mesi di aspre polemiche e lo ha pubblicamente

86

f o r u mD E M O C R A T I C O

invitato a dimettersi dall’incarico di presidente della Camera dei Deputati; l’accusa è di dissentire dal capo e di offrire la sponda ai partiti di opposizione. Fini non solo non rinuncia all’incarico, ma da vita a un nuovo gruppo parlamentare “Futuro e Libertà per l’Italia”, sia alla Camera che al Senato, che voterà di volta in volta insieme al governo quando quest’ultimo seguirà il programma elettorale, mentre voterà contro a partire dalle questioni del rispetto della legalità e della libertà di stampa. Il governo non ha più la maggioranza alla Camera e probabilmente Berlusconi tenterà la strada delle elezioni anticipate già in autunno per evitare di essere messo alla graticola. Comunque il Presidente della Repubblica, Giorgio Napolitano, ha il dovere di verificare se non esiste in parlamento la possibilità di non interrompere la legislatura e potrebbe anche tentare la carta del governo di emergenza nel caso ritenesse che nuove elezioni mettono in pericolo la stabilità del paese; una strada simile fu adottata all’inizio degli anni 90 con il governo Ciampi. La cosiddetta seconda Repubblica è finita e le forze di centro sinistra devono dire al paese cosa vogliono fare in termini istituzionali, di politica economica, di valorizazione del lavoro, di patto federale fra nord e sud. Il centro dello schieramento politico con l’Unione di Centro di Casini e la nuova formazione di Gianfranco Fini, sarà forse in grado di attrarre personaggi

e notabili locali in particolare nelle regioni meridionali e si conferma come un dato non eliminabile della politica italiana. In Brasile siamo in piena campagna per l’elezione del presidente, dei governatori, dei deputati federali e degli stati e di due terzi del Senato. I sondaggi elettorali, a pochi giorni dall’inizio della propaganda elettorale televisiva, danno i due principali candidati - Dilma Roussef, del Partido dos Trabalhadores, e José Serra, del Partido Social Democrata Brasileiro- sostanzialmente in equilibrio. Il dato significativo é che Serra è tendenzialmente in calo rispetto ai vecchi sondaggi anteriori all’inizio effettivo della campagna elettorale mentre la candidata del presidente Lula è in crescita. Inoltre a Rio de Janeiro e in Minas Gerais - due dei tre collegi elettorali decisivi insieme a San Paolo- i candidati a governatore che appoggiano Dilma Roussef sono ampiamente in vantaggio e forse possono vincere nel primo turno elettorale. Chiunque vincerà le elezioni - e i lettori della nostra rivista sanno che chi firma l’editoriale appoggia Dilma Roussef come ha appoggiato in passato il presidente Lula- il Brasile darà seguito a un processo di superamento delle enormi disuguaglianze sociali che ancora castigano il paese. E nessuno dei due candidati appoggerebbe - se votasse in Italia- il quaquaraquà Berlusconi. (10/08/2010)

Julho/Agosto 10


editorial

Lula e Berlusconi, um Chefe de Estado e um quaquaraquà

N

o livro “O dia da coruja”, de Leonardo Sciascia, o chefe mafioso explica ao capitão da PM a própria classificação da humanidade: “....a humanidade, e enchemos a boca em dizer humanidade, bela palavra que parece uma ventania, eu a subdivido em cincos categorias: os homens, os homens pela metade, os homenzinhos, os (com todo o respeito) que são fodidos e os quaquaraquà... Pouquíssimos os homens; os homens pela metade, poucos, já ficaria contente até que a humanidade fosse de homens pela metade... E pelo contrário não, desce ainda mais embaixo, aos homenzinhos: que são como as crianças, as quais se acham adultos, macacos que se comportam como os adultos.... E ainda mais embaixo: os que o tomam no cu, eles estão virando um exército... E finalmente os quaquaraquà: que deveriam viver como os patos nos alagados, porque a vida deles não tem mais sentido e nem mais expressividade do que a vida dos patos...” Não encontramos outra palavra mais adequada do que quaquaraquà para definir o Primeiro Ministro italiano Silvio Berlusconi, que até em sua rapidíssima visita ao Brasil, encontrou um modo de ridicularizar a Itália, convidando para a suíte do hotel em que estava hospedado em São Paulo, 7 dançarinas de lap dance. A Carta Capital, na sua edição de 21 de julho, afirma que o responsável pela contratação das “alegres senhorinhas” foi um senhor chamado Valter Lavitola, dono da Empresa Pesqueira de Barra de São João Ltda, nomeado pelo chefe do governo Representante da Presidência do Conselho pelo Panamá e pelo Brasil. Berlusconi, nestes dias, depois

Julho/Agosto 10

de meses de ásperas polêmicas, expulsou do Partido da Liberdade Gianfranco Fini, que o fundou com ele. E o convidou a pedir demissão da Presidência da Câmara dos Deputados. A acusação girou em torno de fatos como as demonstrações de discordâncias por parte de Fini e os seus oferecimentos de espaços à oposição. Fini não só não deixou o cargo como também fundou uma nova bancada na Câmara e no Senado, “Futuro e Liberdade para a Itália”. O novo grupo votará com o governo quando este for fiel ao programa eleitoral, mas estará na oposição em questões que digam respeito à legalidade e à liberdade de imprensa. Vale lembrar que nos últimos 18 meses o trabalho do parlamento foi paralizado pela posição da situação no sentido de limitar o direito de crônica e de livrar o chefe de governo dos processos judiciais. Governo este que não tem mais a maioria parlamentar na Câmara, o que deve impulsionar Berlusconi a tentar antecipar as eleições já no outono, para evitar que seja “cozinhado em fogo lento”. De todo modo, o Presidente da República, Giorgio Napolitano, tem o dever de confirmar se existe no parlamento a possibilidade de não encurtar a legislatura, e se seria viável a via de um governo de emergência, caso entendesse que novas eleições poderiam criar riscos para o país. O mesmo ocorreu no início da década de 90 com o governo Ciampi. A chamada “segunda república” acabou, e as forças de centro esquerda precisam indicar para a população as próprias propostas institucionais, de política econômica, de valorização do trabalho, de pacto federativo entre o norte e o sul. O centro do quadro político, representado pela União de Centro, de

Casini, e a nova formação de Gianfranco Fini, pode atrair cabos eleitorais, sobretudo nas regiões meridionais, e se confirma como uma presença não eliminável da cena política italiana. No Brasil, estamos em plena campanha eleitoral para eleger presidente, governadores, deputados federais e estaduais, e dois terços dos senadores. As pesquisas, a poucos dias do início da campanha na televisão, demonstram um empate entre Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, e José Serra, do Partido Social Democrata Brasileiro. O dado significativo é que Serra apresenta uma tendência de queda, em comparação com as pesquisas que antecederam o início efetivo da campanha, enquanto a candidata do presidente Lula está crescendo. Alem disso, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, que formam com São Paulo dois dos três colégios decisivos para a eleição, os candidatos que tentam se eleger para o governo dos estados e apóiam Dilma Roussef, apresentam resultados expressivos e podem conquistar a vitória já no primeiro turno. Independente de quem ganhe a eleição presidencial, e os leitores da nossa revista sabem que quem assina o editorial apóia Dilma Roussef, como no passado apoiou o presidente Lula, o Brasil continuará seguindo em frente na busca da superação das enormes desigualdades sociais que ainda assolam o país. E nenhum dos dois candidatos apoiariam – se votassem na Itália - o quaquaraquà Berlusconi. (10/08/2010)

f o r u m DEMOCRATICO

7


comunità

Congiuntura Brasile.

José Serra

Dilma Rousseff Marina Silva

C

omincia ad entrare nel vivo, a pochi giorni dall’inizio della propaganda televisiva, la campagna elettorale per l’elezione del presidente, dei governatori, dei deputati federali e degli stati dell’Unione, di due terzi del senato. I due principali candidati, Dilma Rousseff e José Serra, rispettivamente del PT e del PSDB, risultano sostanzialmente alla pari nei sondaggi di opinione, alternandosi in testa alla corsa presidenziale, comunque dentro il margine di errore, salvo nei dati IBOPE del 30 luglio dove Dilma è data al 39% e Serra al 34%, e nel DataFolha del 14

agosto con Dilma in vantaggio di 8 punti; Marina Silva rimane al terzo posto con il 7% nella stessa ricerca. In alcuni stati decisivi per il risultato finale, i sondaggi si stanno consolidando; è così in Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais, dove i candidati a governatore collegati con Rousseff sono saldamente in testa; ed è così a San Paolo, stato con maggior numero di elettori, dove è in vantaggio Geraldo Alckmin che sostiene Serra. Ad oggi non si avverte nella popolazione, né grande attenzione, né grande passione intorno alle elezioni; il sentimento che forse va per la maggiore, è il desiderio che le cose vadano

migliorando, consolidando la fuoriuscita di milioni di persone dallo stato di miseria e di pura sussistenza. Le accuse al Partito dos Trabalhadores da parte del vice di Serra, il giovane Indio Da Costa del DEM, di essere connivente con il narcotraffico e la guerriglia delle Farc colombiane, si sono trasformate in un danno per chi le ha formulate, dimostrando l’inadeguatezza per una responsabilità di questo tipo. E la legge della “ficha limpa” per la quale si può vietare la candidatura di coloro che hanno condanne emesse da collegi giudicanti, comincia a dare i primi positivi effetti.

RIO DE JANEIRO

Crisi Associação Cultural Ítalo Brasileira.

L

’ente gestore dei corsi di lingua italiana è entrato in una grave crisi già alla fine dell’anno scorso quando è stato costretto a licenziare il personale dopo che nel corso de-

88

f o r u mD E M O C R A T I C O

gli ultimi anni il contributo ministeriale è andato sempre diminuendo. Nel corso dell’anno hanno poi rassegnato le dimisioni sia il presidente che il vice presidente rendendo necessario

procedere all’elezione rispettivamente di Francisco Scofano e di Julio Vanni. Il mandato della attuale Direzione scade a fine anno.

Julho/Agosto 10


comunidade

Congiuntura Italia.

Partito Democratico in America Latina.

S

i è svolto il 18 e 19 giugno a Buenos Aires l’assemblea dei circoli dell’America Meridionale

cogliendo l’occasione della realizzazione dell’assemblea continentale del CGIE. Nel corso dei lavori è stato eletto quale coordinatore continentale del partito Francisco Rotundo ed è stato approvato un documento in cui si afferma fra l’altro: Il Partito Democratico deve essere costruito e organizzato in forma aperta, plurale e rappresentativa di tutte le culture e sensibilità che costituiscono la sua ricchezza in Italia e in America Meridionale, considerando fondamentale il rapporto con la base e l’inclusione, per il particolare e innovativo contributo che possono apportare, dei giovani e

Gianfranco Fini

S

coppiata la crisi nel centro destra. Con un comunicato dell’ufficio politico dai toni caratteristici di qualsiasi partito unico, il Partito della Libertà ha cacciato il cofondatore Gianfranco Fini reo di non essere d’accordo con Berlusconi; e su materie a quest’ultimo molto care: la legge bavaglio che impedisce ai giornali di riportare le notizie che riguardano i potenti; la necessità di pretendere chiarezza e le dimissioni dagli incarichi ai colleghi di partito accusati di corruzione e di altri gravi reati. La risposta dei finiani non si è fatta attendere e sono stati costituiti alla camera e al senato i gruppi del movimento, che potremmo già chiamare partito, “Futuro e Libertà per l’Italia”. Il gruppo alla camera ha 33 componenti e il governo non ha più la maggioranza. Cosa farà Berlusconi e perché si è spinto tanto avanti? Parte della colpa sarà del carattere (qualche giorno fa parlando dei problemi del paese, ha detto “ghe pensi mi”); parte della concezione del partito come se fosse una azienda di cui lui è il padrone; parte di Bossi che non ne ha voluto sapere degli inviti all’Unione di Centro di Casini per entrare nella maggioranza e ha voluto umigliare Fini per continuare a dettare legge sul federalismo fiscale. Di fronte al pericolo di essere cucinato a fuoco lento, Berlusconi potrebbe tentare le elezioni anticipate al più presto per essere riconfermato al potere a furor di popolo senza ormai altri ostacoli nella deriva antidemocratica impressa all’Italia. Intanto la situazio-

Julho/Agosto 10

dei neo cittadini ai quali il partito dovrà rivolgersi ne economica rimane difficile senza segnali di ripresa, con una manovra economica recessiva da parte del governo, mentre sul piano sindacale e sociale con la FIAT in testa si intende far fare al paese un salto indietro di 40 anni; che altro significa la disdetta unilaterale del contratto dei metalmeccanici da parte della FIAT, con l’applicazione di nuove regole per quello che riguarda i permessi, le malattie, il diritto di sciopero? L’opposizione forse presa in contropiede dalla velocizzazione del quadro politico non ha ancora trovato un linguaggio unico; mentre il Partito Democratico e l’UDC propongono un governo di emergenza che cambi la legge elettorale e affronti l’emergenza economica, l’Italia dei Valori e gli altri partiti di sinistra propongono di andare immediatamente alle urne.

per informare e stimolarne la partecipazione civile e politica. Deve avere l’obiettivo di dar vita a un coordinamento giovani che sappia rispondere e coinvolgere questa specifica fascia della popolazione, fondamentale per costruire il futuro del PD e il futuro dei diversi paesi latinoamericani. Importante sarà anche attivare i collegamenti con le istituzioni, le associazioni, i partiti locali per sviluppare tutte le possibili forme di collaborazione finalizzate alla promozione sociale e civile dei paesi di accoglienza e delle nostre comunità residenti. Per questo è altrettanto importante stimolare la partecipazione degli aderenti e dei simpatizzanti del PD nei diversi ambiti politici e istituzionali dei paesi di accoglienza, dando vita così alla affermazione della integrazione ai diversi livelli. Il PD in America Latina riafferma la difesa del voto all’estero e al tempo stesso l’introduzione di adeguate riforme che ne garantiscano l’assoluta trasparenza e legalità, a partire dalla stampa delle schede e dello scrutinio in Italia. Il PD America Meridionale, riconferma la propria opposizione al rinvio delle elezioni dei COMITES e del CGIE.

Manifestazione paulista

f o r u m DEMOCRATICO

9


gastronomia

Mezzelune di batata

CUCINA ITALIANA

com provolone, espinafre, molho de camarão e alcachofrinha

Ingredientes

Modo de fazer

200 gr de batata cozida 50 gr de farinha 100 gr de provolone fresco, defumado e ralado 100 gr de espinafre cozidos em água e picados 1 ovo 30 gr de mini alcachofras 80 gr de camarão sem casca 50 ml de vinho branco Uma colher de sopa de salsa picada 20 gr de tomate seco cortado em tiras Um pouco de alho picado 10 ml de azeite extra virgem Sal a gosto Pimenta do reino a gosto

Mesclar a batata com a farinha, o ovo e sal. Utilizar essa massa esticando com um spessor de meio centímetro e fazer os raviólis utilizando o recheio feito com o queijo provolone defumado e o espinafre cozido e picado. Temperar a gosto.

Fasano Al Mare Av. Vieira Souto, 80 – Ipanema, RJ Tel.: 3202-4000 Capacidade: 75 lugares (parte interna) e 30 lugares (área descoberta)

810

f o r u mDEMOCRATICO

Colocar em água fervente e salgada por 2 minutos e servir com um molho (refogue o azeite e alho, depois acrescente as alcachofras, os camarões e o tomate. Para finalizar, banhar com o vinho branco e colocar a salsa).

Rendimento: 1 porção

Horário de funcionamento: 2ª a 6ª : Almoço das 12h às 15h30 Jantar das 19h às 1h Sáb.: das 12h30 à 1h30 Domingo: das 12h30 à 0h

CC: American, Diners, Mastercard e Visa CB: Cheque eletrônico, Maestro, Redeshop e Visaelectron

É do chef florentino Luca Gozzani, do restaurante Fasano Al Mare, do Rio de Janeiro, a receita dessa edição. O sommelier Dionísio Chaves sugere o Riesling Alsaciano da Safra 2004, produtor Trimbach, como a bebida que harmoniza bem com o raviole de batata, recheado de provolone defumado e... À receita!

Julho/Agosto 10


t u r i s m o

D

E

S

T

I

N

O

Bp arr aa so í Blr ai s ai l O Brasil sempre surpreende. Com mais de 500 anos de existência, sua capital só tem 50 anos, feitos no dia 21 de abril Praça dos Três Poderes

de 2010. Do barro vermelho à mais linda estrutura arquitetônica assinada por Oscar Niemeyer, a cidade é diferente, especial.

Foto: Alan Pereira

Igrejinha

Catedral de Brasília

Foto: Adriano Yamaoka

Vista interna da Catedral

Julho/Agosto 10

f o r u mDEMOCRATICO

11


t u r i s m o

B A

r

a

s

o chegar, pela rodovia ou pelo aeroporto, percebe-se

pode deixar de ver. E, por favor, visitem o Catetinho, primeira

uma atmosfera muito peculiar - a ausência de arranha-céus

residência oficial do Presidente Juscelino Kubitschek, também

que permite imaginar espaços livres, o traçado estudado do

conhecido como Palácio das Tábuas pela sua construção sim-

arruamento, único no país, o céu do cerrado no seu colorido

ples, feita de madeira, ícone do espírito empreendedor de quem

fabuloso, a economia nas linhas de construção dos monumentos

concebeu Brasília e de quem trabalhou por ela.

e prédios a denunciar a grandeza do projeto de cidade. E tem o silêncio... A ausência de burburinhos de linhas de ônibus, de

As comemorações do cinqüentenário da capital incluíram o

gente que se esbarra na Avenida Rio Branco ou em Copacaba-

lançamento do Programa O Brasil visita Brasília, cujo público-

na. E tem as gentes de todo o Brasil, belo exemplo de diversida-

alvo são os jovens estudantes de todo o país; como proposta

de cultural.

pedagógica esse programa de turismo na capital federal oferece aos visitantes aulas de civismo e cidadania,

Merecem ser visitados a Catedral Metropolitana Nossa Senhora

estimulando os estudantes a assumirem posturas mais

Aparecida, a Alameda dos Estados, o Congresso Nacional.

proativas dentro do seu contexto social, político e cultural.

Como pontos altos, o Palácio da Alvorada, a Esplanada dos

(http://www.brasilvisitabrasilia.com.br/).

belíssimo. O Memorial JK, a Biblioteca Nacional e o Museu Vivo

Vale à pena. Emociona. Pela beleza, pela história, pelo espírito

da Memória Candanga estão, sem dúvida, na lista do que não se

empreendedor daqueles que a ergueram e desenharam.

Foto: Aparecido Pinto

“Sem título 2”

Foto: Aparecido Pinto

Ministérios, a Praça dos Três Poderes. O Palácio do Itamaraty é

812

f o r u mDEMOCRATICO

Julho/Agosto 10


t u r i s m o

l

i

a

Foto: Adra Mesquita

í

Foto: Adriana Costa

“O movimento dos monumentos”

“Linhas, luz, cores” Julho/Agosto 10

Foto: Adriana Costa

Foto: Berenice Abud

“Até o céu”

“Um dos belos cartões postais de Brasília”

f o r u mDEMOCRATICO

13


cultura

literatura

O mundo visto daqui

P

O mundo visto daqui (Praça General Osório) 1980-1983 Autora: Millôr Fernandes Editora: Desiderata Páginas: 224 Preço: R$ 44,90

ara quem viveu atentamente o início dos anos 80; para quem os viveu desatentamente; ou para quem não os viveu – O mundo visto daqui, de Millôr Fernandes, traz-nos , desenha-nos, “cronifica” em traços ou textos o Brasil daquela época e seus brasileiros, visto por dois ângulos: o do autor e o do seu bunker (se é que são dois de fato e não apenas um!), a praça General Osório, em Ipanema, Rio de Janeiro. Uma coletânea de textos, pensamentos e crônicas e desenhos do escritor e humorista publicados na imprensa entre 1980 e 1983.. Seja no prefácio (assinado por Millôr), seja em qualquer dos textos, um agradável passeio pela língua portuguesa, que, ao transgredir e inventar, consagra, típico de quem a tem sob domínio. Uma aula! Também digno de registro é o passeio pelos temas escolhidos – o dia a dia, o feijão com arroz, o leite, a vaca, a

(Praça General Osório)

falcatrua, a economia na opinião de um homem in-comum, para falar das coisas do país para traçar nosso perfil, nossa identidade e podermos olhar no espelho e dizer “somos isso, fomos aquilo”. Outra aula! Da época dos escritos para cá, já são quase trinta anos. É bom não esquecer o valor da incansável contestação que o autor exerceu contra governos e governantes durante os anos de chumbo e nos anos seguintes. Atualmente, contestar é mercadoria barata... Mais uma bela lição. Para os admiradores do autor, um trecho singelo e poético: “ Lá em cima no céu, o Sol, caminhando de um dia para o outro como quem não quer nada.” Para quem nunca simpatizou com o autor, renda-se ao texto Ser Político (página 25). Agora, na página 33 – Publicidade. Reclame. Promoção: aula magna.

Quem é Millôr Fernandes? Millôr Fernandes é escritor, dramaturgo, humorista e tradutor. Um dos fundadores de O Pasquim, já colaborou com os principais jornais e revistas brasileiros. Traduziu inúmeras obras, entre elas clássicos de Shakespeare, Sófocles e Tennessee Williams. Pela Desiderata já lançou os livros Um nome a zelar, 30 anos de mim mesmo, Que país é este?, A verdadeira história do paraíso, Mistério das perguntas cretinas (com Jaguar), Contos fabulosos e Novas fábulas fabulosas (ambos com Angeli).

A raposa e o rouxinol

I

nspirado em lembranças da infância – a mãe a falar para a autora que ela vivia no mundo da lua ou que estava pensando na morte da bezerra, A raposa e o rouxinol, nas palavras da autora, Ana Maria Moura, é uma maneira criativa de interpretar os fenômenos da natureza e da vida. Assim, Rita, uma menina curiosa e cheia de imaginação, ao se deparar com a chuva que caía de um céu azul de sol brilhante, resolve

desvendar esse mistério da natureza. As descobertas vêm recheadas de informações do passado da sua família e de elementos da cultura popular. No universo encantado de Ana Moura, o encontro da chuva com o sol casa a raposa com o rouxinol. No universo da obra, um texto leve conta uma bela história e as ilustrações nos envolvem numa atmosfera de encantamento. A raposa e o rouxinol é o primeiro livro de Ana Maria Moura como autora e ilustradora.

Quem é Ana Maria Moura? A raposa e o rouxinol Autora: Ana Maria Moura Editora: Cortez Editora Páginas: 32 Preço: R$ 24,00 Categoria: Infanto-juvenil

814

f o r u mDEMOCRATICO

Carioca, ilustradora, designer e artista plástica, vive no Rio de Janeiro e trabalha para diversas editoras. Como pintora, já participou de várias exposições coletivas e três individuais. Desde 1997, participa do evento Arte de Portas Abertas, no qual os artistas plásticos de Santa Teresa (Rio de Janeiro, RJ) abrem seus espaços à visitação do público. Ana Maria Moura é responsável pela diagramação e arte da revista Forum Democratico.

Julho/Agosto 10


à s

“A Viola e o Mar”

c o m p r a s

Panelas, Moquequeiras e Cumbucas As artesãs do Grupo Iguart – Iguape/SP criam peças marcadas pelas culturas africana e europeia, além de se deixarem influenciar, no bom sentido, claro, pela cultura indígena, como é o caso das panelas, travessas e potes pretos. Preço: Panelas e moquequeiras (vários tamanhos): de R$ 36,00 a R$ 120,00 Cumbucas: de R$ 6,00 a R$ 12,00

Quando a gente pensa que já ouviu de tudo, já gastou tudo em termos de ouvir celebrados sucessos, Yassir Chediak inventa de gravar o CD A viola e o Mar “reinventando” quase tudo, junto com composições de sua autoria, de um jeito muito simples: através da criação de uma sono-

Onde encontrar: Ponto Solidário Av. 9 de julho, nº 3.186, Jardim Paulista, SP www.pontosolidário.org.br Vendas pelo correio: pontosolidario@yazigi.com

ridade própria com sua viola de dez cordas. Causam impacto a riqueza de sons da linha melódica de suas composições e as percussões utilizadas. Chora Morena, Ela Deixa, Leva eu Morena, parceria com Jorge Mautner, A Lenda do Pescador, Anunciação, de Alceu Valença, Dandá, Mistérios, Correnteza, de Tom Jobim e Luís Bonfá, Na Força do Patuá, Flor da Noite, parceria com Braz Chediak e Botão de Saudade formam um repertório eclético, contagiante, deste trabalho que é um divisor de águas na utilização da viola, um autêntico marco da Música

Bonitos e originais Usando materiais reaproveitados como jornal, papelão e papéis reciclados da La Estampa, o grupo Mãos Brasil, de São Gonçalo, formado por sete integrantes, desenvolveu técnicas inovadoras para criar peças originais e bonitas. Vale à pena explicar que antes de se transformarem em tecidos, as padronagens desenvolvidas pela La Estampa são impressas em papéis que iriam para o lixo. Onde encontrar: www.redeasta.com.br

Azulejo: R$ 15,00

Popular Brasileira. O CD conta ainda com as participações de grandes nomes como Geraldo Azevedo, Paulão 7 cordas e Mestre Camisa. A produção é de André Agra e a gravadora, a SALADESOM. A soma desses talentos resultou num CD alegre, melodioso, gostoso de ouvir. Atenção para as faixas Chora Morena e Ela Deixa (belos arranjos) e Dandá, onde o acordeão (lindo!)

Prancheta La Estampa: R$ 19,00 Relógio: R$ 29,00 (cada um)

acompanha afinado, na medida certa. (M.O.)

Contatos com a seção Às Compras para apresentação/sugestão de produtos sustentáveis ou demais produtos podem ser enviados para pauta@forumdemocratico.org.br

Julho/Agosto 10

f o r u mDEMOCRATICO

15


e n c a r t e

Encarte especial Forum 95-96 - Introduzione alla lettura di brevi testi in Lingua Italiana - Fascicolo XLV

f a s c i c o l o Símbolos utilizados  Informação histórica

 Expressão - locução  “Falsos amigos” ou falsas analogias  Ao fim do parágrafo, há uma janela

Gírias ou expressões fixas

Anglicismos e neologismos

di brevi testi in Lingua Italiana a cura di Cristiana Cocco

 Dialetos

“Come Dio comanda” di Niccolò Ammaniti Ed. Mondadori

1

«Svegliati! Svegliati, cazzo!» Cristiano Zena aprì la bocca e si aggrappò1 al materasso come se sotto ai piedi gli si fosse spalancata una voragine. Una mano gli strinse la gola. «Svegliati! Lo sai che devi dormire con un occhio solo. È nel sonno che t’inculano2.» «Non è colpa mia. La sveglia...» farfugliò3 il ragazzino, e si liberò dalla morsa4. Sollevò la testa dal cuscino. Ma è notte, pensò. Fuori dalla finestra era tutto nero tranne il cono giallo del lampione in cui affondavano fiocchi di neve grossi come batuffoli di cotone. «Nevica» disse a suo padre, in piedi al centro della stanza. Una striscia di luce s’infilava dal corridoio e disegnava la nuca rasata di Rino Zena, il naso a becco5, i baffi e il pizzo6, il collo e la spalla muscolosa. Al posto degli occhi aveva due buchi neri. Era a petto nudo. Sotto, i pantaloni militari e gli anfibi7 sporchi di vernice. Come fa a non avere freddo? si domandò Cristiano allungando le dita verso la lampada accanto al letto. «Non accenderla. Mi dà fastidio.» Cristiano si accoccolò8 nel groviglio caldo di coperte e lenzuola. Il cuore gli batteva ancora forte. «Perché mi hai svegliato?» Poi si accorse che suo padre stringeva in mano la pistola. Quando era ubriaco spesso la tirava fuori e girava per casa puntandola sul televisore, sui mobili, sulle luci. «Come fai a dormire?» Rino si voltò verso il figlio. Aveva la voce impastata come se avesse ingoiato un pugno di gesso. Cristiano si strinse nelle spalle. «Dormo...» «Bravo.» Suo padre tirò fuori dalla tasca dei pantaloni una lattina di birra, l’aprì e la finì in un sorso e si pulì la barba con un braccio, poi l’accartocciò e la buttò a terra. «Non lo senti, il bastardo?» Non si sentiva niente. Nemmeno le macchine che di giorno e di notte Aggrapparsi: afferrarsi fortemente, ossia ‘agarrar-se’ Termine volgare, letteralmente ‘sodomizzare’, ma in senso figurato ‘fuder, ferrar’. Quindi, in port. “é no sono que te f.”. 3 Farfugliare significa ‘parlare in modo confuso’. 4 Stretta tenace che imprigiona. Ossia ‘aperto, torniquete’. 5 Tipo di naso, come il ‘becco’ degli uccelli. 6 Pizzo è la barba chiamata in portoghese ‘cavanhaque’. 7 Tipici stivaloni neri usati dai militari e da chi segue la moda di usare indumenti ispirati a quelli militari. 8 In portoghese si potrebbe dire ‘aconchegou-se encolhido’. 1 2

816

Introduzione alla lettura

com informações fora do texto 

f o r u mDEMOCRATICO

X L V

sfrecciavano davanti a casa e che se chiudevi gli occhi avevi l’impressione ti entrassero nella stanza. È la neve. La neve copre i rumori. Suo padre si avvicinò alla finestra e poggiò la testa sul vetro umido di condensa. Ora la luce in corridoio gli dipingeva i deltoidi e il cobra9 tatuato sulla spalla. «Dormi troppo pesante. In guerra a te ti bevono per primo.» Cristiano si concentrò e sentì lontano l’abbaiare rauco del cane di Castardin. Ci si era talmente abituato che oramai le sue orecchie non lo percepivano più. Stesso discorso per il ronzio del neon in corridoio e lo sciacquone rotto del cesso. «Il cane?» «Ce l’hai fatta10... Incominciavo a preoccuparmi.» Suo padre si girò di nuovo verso di lui. «Non ha smesso un minuto. Neppure sotto la neve.» Cristiano si ricordò cosa stava sognando quando suo padre lo aveva svegliato. Giù in soggiorno, vicino alla televisione, in un grande acquario fosforescente c’era una medusa verde e gelatinosa che parlava una lingua stranissima, tutta e, z, r. E la cosa bella era che lui la capiva perfettamente. Ma che ore sono? si chiese sbadigliando. Il quadrante luminoso della radiosveglia poggiata a terra segnava le tre e ventitré. Suo padre si accese una sigaretta e sbuffò: «Ha rotto il cazzo»11. «È mezzo scemo, quel cane. Con tutte le bastonate che ha preso...» Ora che il cuore aveva smesso di marciargli in petto, Cristiano sentì il sonno premergli sulle palpebre. Aveva la bocca secca e il sapore dell’aglio del pollo della rosticceria. Forse, bevendo, quello schifo se ne sarebbe andato, ma faceva troppo freddo per scendere giù in cucina. Gli sarebbe piaciuto riprendere il sogno della medusa lì dove lo aveva lasciato. Si stropicciò gli occhi. Perché non te ne vai a letto? La domanda gli scappava, ma la trattenne. Da come suo padre si aggirava per la stanza non sembrava molto intenzionato ad abbattersi. Tre stelle. Cristiano aveva una scala di cinque stelle per stabilire l’incazzatura12 di suo padre. Anzi, fra le tre e le quattro stelle. Già in zona “stai molto attento”, dove l’unica strategia era quella di dargli sempre ragione e stargli il più possibile lontano dai coglioni. Falso amico del portoghese, il cobra é ‘a naja’. Nel senso di ‘até que enfim...’. 11 Altra espressione volgare, in portoghese sarebbe ‘encheu o saco’. 12 In portoghese sarebbe ‘o emputecimento’. 9

10

Julho/Agosto 10


N

iccolò Ammaniti, nasce a Roma il 25 settembre 1966; il suo primo romanzo, Branchie, (1994) pare che sia tratto dalla sua tesi di laurea; nel 1999 dal libro è stato tratto l’omonimo film. Nel 1995 pubblica insieme al padre Nel nome del figlio, da cui è stato tratto il film Cresceranno i carciofi a Mimongo. Nel 1996 partecipa all’antologia Gioventù cannibale e pubblica la raccolta di racconti Fango; dal racconto L’ultimo capodanno dell’umanitá, è stato tratto il film di Marco Risi L’ultimo capodanno. Nel 1999 pubblica il romanzo Ti prendo e ti porto via. Arriva alla notorietà nel 2001 con Io Non ho paura che diventa l’omonimo film di Gabriele Salvatores due anni dopo. Nel 2006 esce per Mondadori Come Dio comanda con cui vince il Premio Strega e da cui sempre Gabriele Salvatores nel 2008 si ispira per l’omonimo film. Nel 2009 pubblica Che la festa cominci.

Suo padre si voltò e diede un calcio violento a una sedia di plastica bianca che rotolò per la stanza e finì contro il mucchio di scatoloni in cui Cristiano teneva i suoi panni. Si era sbagliato. Quelle erano cinque stelle. Allarme rosso. Qui l’unica strategia era ammutolirsi13 e confondersi con l’ambiente. Era da una settimana che a suo padre rodeva il culo14. Qualche giorno prima se l’era presa con la porta del bagno che non si apriva. La serratura era rotta. Per un paio di minuti aveva provato ad armeggiare con un cacciavite. Se ne stava lì, in ginocchio, a bestemmiare, a insultare Fratini, il ferramenta che gliel’aveva venduta, i fabbricanti cinesi che l’avevano costruita con la latta, i politici che permettevano d’importare quella merda, ed era come se fossero tutti lì, proprio davanti a lui, e niente, quella porta non ne voleva sapere di aprirsi. Un pugno. Uno più forte. Un altro. La porta sussultava sui cardini, ma non si apriva. Rino era andato in camera, aveva preso la pistola e aveva sparato contro la serratura. Ma quella non si era aperta. Aveva solo prodotto un botto assordante che aveva rintronato15 Cristiano per mezzora. Una cosa 13 14

Ossia, diventare muto: ‘emudecer-se’. Volgarmente, come in italiano, sarebbe ‘estava puto da vida’.

Julho/Agosto 10

buona c’era stata: Cristiano aveva imparato che è una stronzata16 quella che si vede nei film, dove se spari alle serrature le porte si aprono. Alla fine suo padre l’aveva presa a calci. L’aveva sfondata urlando e strappando pezzi di legno con le mani. Quando era entrato nel bagno aveva dato un pugno allo specchio e le schegge17 erano finite dovunque e lui si era aperto una mano ed era rimasto un sacco di tempo a sgocciolare sangue seduto sul bordo della vasca, fumandosi una sigaretta. «E a me cosa me ne frega se quel cane è scemo?» riprese Rino dopo averci pensato un po’ su. «Mi ha rotto i coglioni. Io domani devo lavorare...» Si avvicinò al figlio e si sedette sul bordo del letto. «La sai una cosa che mi dà veramente fastidio? La mattina, quando faccio la doccia, uscire fuori tutto bagnato e mettere i piedi a terra, sulle mattonelle gelate, rischiando pure di rompermi l’osso del collo.» Gli sorrise, caricò la pistola e gliela porse reggendola per la canna: «Stavo pensando che ci vorrebbe proprio un bel tappetino di cane».

Encarte especial Forum 95-96 - Introduzione alla lettura di brevi testi in Lingua Italiana - Fascicolo XLV

niccolò ammaniti

e n c a r t e

Ossia ‘rendere sordo’. In portoghese sarebbe ‘besteira’. 17 In portoghese sono ‘os estilhaços’. 15 16

f o r u mDEMOCRATICO

17


Encarte especial Forum 95-96 - Introduzione alla lettura di brevi testi in Lingua Italiana - Fascicolo XLV

e n c a r t e

2

Alle tre e trentacinque di notte Cristiano Zena uscì di casa indossando stivali di gomma verdi, i pantaloni a scacchi del pigiama e la giacca a vento di suo padre. In una mano stringeva la pistola, nell’altra la torcia elettrica. Cristiano era un ragazzino esile, alto per i suoi tredici anni, con i polsi e le caviglie sottili, le mani lunghe e scheletriche e il quarantaquattro di piede. In testa gli cresceva un cespo18 ingarbugliato di capelli biondicci che non riuscivano a nascondere le orecchie a sventola e che proseguivano sulle guance con due basette poco curate. Gli occhi grandi e azzurri divisi da un nasino piccolo e all’insù, e una bocca troppo larga per quel viso smilzo19. La neve scendeva giù fitta. L’aria era ferma. E la temperatura era di qualche grado sotto lo zero. Cristiano si cacciò in testa un cappello di lana nera, sbuffò una nuvoletta di condensa e puntò la luce sul cortile. Uno strato di neve copriva la ghiaia, il vecchio dondolo arrugginito, i cassonetti della spazzatura, un mucchio di mattoni, il furgone. La statale, che passava proprio davanti alla casa, era una lunga e immacolata striscia bianca. Nemmeno un segno di pneumatici a rovinarla. Il cane continuava ad abbaiare lontano. Chiuse la porta di casa e s’infilò meglio il pigiama negli stivali di gomma. “Vai, forza. È una stronzata. Che ci vuole20? Gli spari in testa, mi raccomando in testa se no si mette a guaire e ti tocca sparargli un’altra volta, e te ne torni a casa. Tra dieci minuti sei di nuovo a letto. Dai, guerriero.” Il discorsetto che suo padre gli aveva fatto quando l’aveva tirato fuori dal letto gli risuonò in testa. Alzò lo sguardo. La sagoma scura di suo padre era dietro la finestra e gli faceva segno di muoversi. S’infilò la pistola nelle mutande. Il freddo dell’acciaio gli raggrinzì lo scroto. Fece un cenno al padre e si avviò con il suo passo incerto verso il retro della casa mentre il cuore lentamente cominciava a salire di ritmo.

3

Rino Zena guardava dalla finestra suo figlio uscire di casa sotto la neve. Aveva finito la birra e la grappa. E questo è un bel guaio di per sé, ma se in più hai un fischio acuto come un punteruolo che ti trafora i timpani diventa un vero problema. Quel sibilo era cominciato quando Rino aveva sparato alla porta del bagno e anche se era passata una settimana non diminuiva. Forse mi sono rotto un timpano. Dovrei andare da un medico, si disse accendendosi una sigaretta. Ma Rino Zena si era giurato che sarebbe entrato in un ambulatorio solo a zampe in avanti21. Lui non ci finiva nella trappola. Quei bastardi incominciano col dirti che ti devi fare una serie di analisi così entri nel tunnel e grazie e arrivederci. Se non ti stronca la malattia, ci pensano i debiti che devi fare per curarti. Rino Zena aveva passato la sera accasciato su una sedia a sdraio davanti alla

Di solito usato per indicare un insieme di rami, di steli o di foglie, come in ‘un cespo di lattuga’. Molto magro. 20 Letteralmente sarebbe ‘cosa è necessario per fare questo?’, ma dal punto di vista del significato: ‘è una cosa facile da fare’. 21 Ossia, entrando dalla parte dei piedi, morto. Nel testo viene usato ‘zampe’, che di solito si usa per gli animali. 22 In quella televisione schifosa, come un cesso (tazza del gabinetto, ‘vaso sanitário’ o, riferito ad un essere umano, come più tardi nel testo, persona bruttissima). 18 19

818

f o r u mDEMOCRATICO

televisione, ubriaco fradicio. Con due fessure al posto degli occhi, la mandibola appesa e una lattina in mano aveva tentato di seguire un programma assurdo, che ogni tanto gli si sfocava davanti. Da quello che era riuscito a capire c’erano due mariti che accettavano di scambiarsi le mogli per una settimana e lo sapeva solo Iddio perché. Non avevano più rispetto di niente in quel cesso di televisione22. Tanto per fare una cosa originale una famiglia era di morti di fame di Cosenza e l’altra di romani con i soldi che gli uscivano dal culo23. Il padre povero faceva il carrozziere. Il padre ricco, uno di quei froci a cui bisogna spiegarglielo24, lavorava con qualcosa che aveva a che fare con la pubblicità. E chiaramente la moglie del carrozziere era un cesso25 inguardabile e l’altra una biondona con due gambe lunghe come trampoli che passava la giornata a insegnare come respirare in una palestra. Alla fine però la storia aveva preso Rino e seguendola si era finito una bottiglia di grappa. A casa del pubblicitario il cesso di Cosenza era odiata da tutti perché aveva la mania di girare impugnando il Vetril26 e non ti potevi sedere che quella cominciava a dire che i cuscini si rovinavano. Dopo un giorno la comandavano come una cameriera negra e lei era tutta contenta. Rino era più interessato alla situazione di Cosenza. Il carrozziere trattava la strappona come fosse lady Diana. Rino aveva sperato che il carrozziere, in una botta di ignoranza, acchiappasse la strappona che faceva tanto la raffinata, ma si vedeva che era in pesante astinenza da cazzo, e se la facesse27. «Vieni qua, troia! Ti faccio capire io come si fa a casa Zena!» aveva cominciato a ragliare Rino lanciando un barattolo di birra contro lo schermo della televisione. Lo sapeva benissimo che era tutta una commedia, che quella roba era vera come le borse che vendono i negri davanti ai centri commerciali. Poi si era addormentato. Si era risvegliato poco dopo con la sensazione di avere un rospo morto in bocca e con una morsa che gli stava spappolando le tempie. Si era aggirato per casa alla ricerca di qualcosa di alcolico per alleviare il dolore. Alla fine, in fondo a un pensile della cucina, aveva trovato una bottiglia impolverata di Pera Williams. Chissà da quanto tempo era là. L’acquavite era finita, ma la pera sembrava ancora bella zuppa di alcol. Aveva spaccato la bottiglia sul lavello e piegato sul tavolo si era succhiato la pera. Allora si era accorto del cane. Non la piantava più di abbaiare. Ci aveva messo un po’ a capire che era il bastardo del mobilificio di Castardin. Che se ne stava buono buono nella sua cuccia tutto il giorno e la notte attaccava ad abbaiare e non smetteva più fino all’alba. Probabilmente il vecchio Castardin neanche lo sapeva, all’orario di chiusura se ne usciva e con la sua BMW grossa come un carro da morto se ne

23 In questa frase entra l’ironia di Ammanniti: le famiglie usate nei programmi televisivi di questo tipo di solito sono o di morti di fame, ossia di gente che ha pochissimi soldi, del sud, o gente piena di soldi, dell’Italia centrale o del nord. Quindi qui l’autore richiama l’attenzione sullo stereotipo televisivo. 24 Ossia che non sanno di essere froci [una delle tante forme volgari di definire un omosessuale]. 25 V. Nota 22 26 Prodotto per pulire i vetri. 27 Ossia la portasse a letto.

Julho/Agosto 10


andava al circolo a buttare soldi a poker. In paese si diceva che era un gran giocatore, di quelli di una volta, che perdono con classe. Che voleva dire che rosicava28 in silenzio. E così lui perdeva con classe i soldi che rubava con quei mobili di cartone e il suo maledetto cane abbaiava tutta la notte. E se anche qualcuno gliel’avesse fatto notare, lui, con la sua classe d’altri tempi, avrebbe detto che lì intorno c’erano solo capannoni. A chi mai poteva dare fastidio un cane che faceva solo il suo dovere? Rino metteva mani e piedi sul fuoco che all’uomo d’altri tempi non lo aveva neppure sfiorato il pensiero che a meno di mezzo chilometro c’era una casa dove dormiva un bambino. Un bambino che doveva andare a scuola. Perfetto, si era detto Rino Zena tirando fuori la pistola dal cassetto, domani avrai la possibilità di far vedere al mondo la tua infinita classe quando troverai il tuo cane stecchito.

4

Cristiano decise di arrivare al mobilificio attraverso i campi. Anche se la statale era coperta di neve, qualcuno poteva sempre passare. La luce del lampione non arrivava dietro casa e l’oscurità era totale. Con la torcia illuminò il muso contorto di una Renault 5, una impastatrice di cemento, i resti sbrindellati29 di una piscinetta gonfiabile, una sedia di plastica, lo scheletro di un melo morto e una recinzione alta un paio di metri. Cristiano era uscito di casa di corsa, senza pisciare. Avrebbe potuto farla là, ma poi decise che era meglio di no, che faceva troppo freddo e che voleva finirla subito con quella storia. Avvicinò la sedia alla rete, ci montò sopra, si mise tra i denti la torcia, si aggrappò con le dita alle maglie e si tirò su. Passò una gamba dall’altra parte, ma il fondo dei pantaloni gli rimase impigliato in uno spunzone30. Provò a liberarsi senza riuscirci e alla fine lanciò la pila a terra e si gettò giù

Gli faceva rabbia. Sinonimo di ‘lacerato’. 30 Grossa punta. 28 29

sentendo uno strap31 e un dolore alla gamba. Si ritrovò disteso sul dorso tra le erbacce zuppe e con la neve che gli si scioglieva sulla faccia. Si rialzò e infilò la mano nello strappo che gli aveva aperto mezzo pigiama. Un lungo graffio, non abbastanza profondo da sanguinare, gli segnava l’interno della coscia. La pistola era ancora nelle mutande. Raccolse la torcia e cominciò ad avanzare a fatica seguendo le recinzioni dei capannoni industriali, risucchiato dal fango e ostacolato dai rovi. Si trovava sul bordo di un campo arato che di giorno si stendeva fino all’orizzonte. In fondo – quando non c’era la nebbia, ma la nebbia d’inverno c’era sempre – s’intravedevano le chiome grigie del bosco che cingeva gli argini del fiume. Se non ci fossero stati quel cane che abbaiava e il suo respiro affannato il silenzio sarebbe stato assoluto. Lontano, oltre il fiume, brillavano le luci sospese delle fabbriche e lo sfavillio giallastro della centrale elettrica. Le dita, strette nella morsa del freddo, cominciavano a intorpidirsi e il gelo gli risaliva su per i piedi e gli azzannava32 i polpacci. Che idiota. Nella fretta di uscire, incazzato con suo padre, non si era nemmeno messo le calze. I fiocchi di neve gli cadevano sul collo e la giacca cominciava a bagnarsi sulle spalle. I contorni neri dei capannoni industriali si susseguivano uno dopo l’altro. Superò una rivendita di prodotti sanitari. Cessi. Mattonelle. Lavandini. Impilati in ordine tutto intorno alla costruzione. Poi un concessionario di trattori e macchine agricole e il retro di una discoteca chiusa per fallimento. Basta, me la faccio addosso33. Spense la luce, mise la pistola nella tasca della giacca, si abbassò i pantaloni e tirò fuori l’uccello. Per il freddo e la paura gli si era rattrappito34. Sembrava un salammo. Lo scroscio di urina fuse la neve e una nuvola di vapore acre si levò da terra. Mentre se lo scrollava si rese conto che il cane abbaiava più forte. Il prossimo capannone era il mobilificio dei fratelli Castardin. Sembrava che il bastardo andasse a pile, non riprendeva nemmeno fiato. Ogni tanto però smetteva di abbaiare e ululava, neanche fosse un coyote del cazzo. Accese la torcia e riprese a camminare più veloce. Ci stava mettendo troppo. Sicuro che il pelato già fremeva35. Se lo vedeva aggirarsi per casa come un leone in gabbia.

Informazione sul testo Informação dialetal sobre ‘strappona’. A Roma il termine “strappona” si usa per parlare di una donna ‘che se la tira’, ossia che crede di essere più bella di quanto lo sia veramente e che fa credere di essere una difficile da portarsi a letto, quando poi non è vero. Il termine potrebbe derivare dall’inglese ‘Strap on’, che c’è scritto su alcune linguette di coperchi a strappo, come quelli delle lattine di birra o di bevande gassate. Quindi è passato ai dialetti centro-meridionali in questo senso: la ‘strappona’ è una donna a cui piace molto il sesso, perché il termine sarebbe sinonimo di ‘strappafiletti’ (che rimanda al filetto della verginità che si trova sull’organo maschile, quello che poi si strappa facendo sesso). Il verbo ‘strappare’ significa, in portoghese, rasgar ou arrancar.

Julho/Agosto 10

31 Onomatopea dello strappo dei pantaloni (v. significato strappare nel testo alla fine su ‘strappona’). 32 Da ‘zanna’, ossia il dente canino di vari animali come l’elefante, la tigre e il leone. Da questa deriva il verbo ‘azzannare’, ossia mordere con forza. E qui il freddo gli morde i polpacci [as panturrilhas]. 33 Letteralmente, mi sto facendo la pipí addosso, ‘estou me mijando nas calças’. 34 Rattrappirsi significa contrarre, specialmente di membra del corpo (le mani, il pene). 35 Ossia ‘o careca’. Qui si riferisce al padre, Rino, che si aspetta che lui uccida il cane con la pistola, che probabilmente ‘freme’, ossia ‘non vede l’ora’.

f o r u mDEMOCRATICO

Encarte especial Forum 95-96 - Introduzione alla lettura di brevi testi in Lingua Italiana - Fascicolo XLV

e n c a r t e

19


italia

1

9

Italia, gennaio-maggio 1998. Il Dottor Di Bella, un tuffo nel medioevo. L’Italia si sveglia convinta che un miracolo sia davvero avvenuto. Un vecchissi­mo professore, l’ottantacinquenne Luigi Di Bella, già titolare della cattedra di Fisiologia di Modena, ha scoperto una cura per il cancro: centinaia di persone sono già guarite. La tv e i giornali non parlano d’altro. La storia comincia sei mesi prima quando un tour operator, Ivano Campone­schi, si incarica di «piazzare» Di Bella su tv e giornali. Camponeschi lavora con metodo; ha l’esclusiva sulla scoperta dello sconosciuto professore, porta nella va­ligetta decine e decine di fax di ringraziamento di malati che attestano la guarigio­ne. Assicura che il vecchio professore è anche una sicura personalità televisiva: un uomo molto riservato, al di fuori dei circuiti accademici, una specie di apostolo. «Il professore» dice il suo piazzista «ha scoperto una sostanza, la somatostatina, che ha risultati sorprendenti, anche in casi disperati.» Il racconto di Ivano Cam­poneschi non è niente male: assicurano il loro interesse Vittorio Feltri, direttore del Giornale, Italia 1 e la trasmissione Moby Dick di Michele Santoro. L’unico che lo tratta male e lo mette alla porta è Emilio Fede di Rete 4: «Non è normale che un tour operator faccia proposte del genere, ho sentito puzza di bruciato». Il caso scoppia in Puglia, quando il pretore di Maglie (Lecce), Carlo Madaro, impone alle autorità sanitarie la somministrazione gratuita dei farmaci usati nel­la multiterapia a un bambino di due anni, affetto da un tumore al cervello. Sarà il primo dei 17 provvedimenti d’urgenza firmati dal pretore. Silvio Garattini, direttore dell’Istituto Mario Negri di Milano e rappresen­tante italiano

Rosy Bindi

8220 0

f o r u m DD EE MM OO CC RR AA TT II CC OO

9

presso l’Emea, l’Agenzia europea di valutazione dei medicinali di Londra, definisce un’assurdità mettere a disposizione di un ammalato un farma­co di cui deve essere provata l’efficacia. Ma ormai la speranza si fa strada: e se fosse vero? Perché non tentare? Perché la casta dei medici si oppone così strenuamente? Perché non ci danno la somatostatina? Perché non la danno gratis? Perché non permettono ai pazienti la libertà di cura? Gli uomini intorno al vecchio professore (il figlio, il tour operator) si dichia­rano favorevoli a una Commissione ministeriale purché sia presente anche il fi­siologo. Il Consiglio superiore di sanità chiede al ministro Bindi di intervenire su questa situazione selvaggia e di sospendere immediatamente la terapia Di Bella. Ma il ministro dichiara di non poter impedire una terapia di cui non è stata prova­ta la pericolosità. I giudici di Torino affermano che non esiste reato nel prescrivere la somatostatina. Il ministro Rosy Bindi firma l’ordinanza che impone al professor Di Bella di consegnare entro 20 giorni al ministero almeno cento documentazioni cliniche di malati curati con la terapia a base di somatostatina. Di Bella considera l’ordinanza una violazione del segreto professionale; solo quattro cartelle cliniche vengono consegnate dai pazienti direttamente ai carabinieri. Il governo (10 gen­naio 1998) dà il consenso alla sperimentazione del metodo Di Bella. Dopo la Pu­glia anche la Lombardia decide la distribuzione gratuita della somatostatina. Il 14 gennaio gli italiani assistono in diretta tv, su Canale 5, al duello tra il ministro Ro­sy Bindi e il vecchio professor Di Bella, che alla fine accetta l’invito di partecipare alla riunione della Commissione oncologica prevista per l’indomani. La situazione precipita Il governo stabilisce che si deciderà sulla bontà della cura dopo una fase di sperimentazione ufficiale della “Mdb” ovvero la multiterapia Di Bella, ma subito (6 febbraio) il professor Luigi Di Bella, ospite di un programma televisivo su Rai Due, La nostra storia, dichiara di non fidarsi di chi gestisce i test della sperimen­tazione. La somatostatina viene venduta al mercato nero, il presidente Scalfaro si dice scandalizzato, ma secondo il professor Di Bella il prezzo della somatosta­tina è stato tenuto scandalosamente alto proprio da quegli organismi di quello stesso Stato di cui Scalfaro è presidente. Il 16 febbraio 1998 è una data da segnare: sfilano

Luigi Di Bella

8

per le vie di Roma almeno 15mila «dibellisti», organizzati sotto le bandiere di Alleanza nazionale, al cui par­tito il clan Di Bella è particolarmente legato. Chiedono «libertà di cura», chie­dono che lo Stato distribuisca gratis la somatostatina, chiedono che il decreto sia cambiato, raccontano storie terribili legate alla chemioterapia. Si moltiplicano i malati che vogliono abbandonare le cure tradizionali; il Collegio dei primari on­cologi ospedalieri invita i pazienti a non abbandonare le terapie convenzionali per metodi di cui non si conosce l’efficacia. L’obiettivo dei manifestanti è chia­ro: le regioni (oltre la Puglia e la Lombardia) devono comprare e fare scorte di somatostatina da distribuire gratuitamente a chi ne farà richiesta; la somatosta­tina è molto cara, alcuni calcolano un costo astronomico di 3500 miliardi di li­re, altri stimano la metà. Il 19 febbraio il decreto entra in vigore, ma non viene accettato da Di Bella. Il 25 febbraio Gianfranco Fini chiede al ministro Bindi di riformulare il decre­to. Il 10 marzo il governo cambia il decreto sulla sperimentazione. Ma tra il mi­nistro Bindi e i giudici del Tar scoppia una battaglia. Il Tar del Lazio, con una seconda ordinanza, ribadisce la gratuità del farmaco (stabilita il 9 febbraio) per i malati terminali. Il 2 aprile la Camera converte il decreto sulla sperimentazio­ne della terapia Di Bella in legge. Ma Giuseppe Di Bella (il figlio) minaccia di scendere in piazza. Ma, naturalmente... Ma, naturalmente, la somatostatina non ha mai guarito nessuno dal cancro. Il professore Andrew Viktor Schally, premio Nobel per le sue ricerche nel 1977, ha individuato questo ormone prodotto dall’ipotalamo nel 1972; ha spie­gato da tempo che «la somatostatina esercita un effetto soppressivo sui diversi tumori, ma come farmaco anticancro è poco pratico da usare: la sua azione non è abbastanza specifica e il suo effetto dura solo tre minuti azzerandosi al termi­ne della somministrazione che deve quindi avvenire lentamente, o per flebo o tramite una siringa temporizzata. Per questo abbiamo creato in laboratorio una serie di derivati sintetici alternativi alla somatostatina naturale, gli analoghi, che hanno maggior potenza e più lunga durata d’azione». Tra questi analoghi c’è l’octreotide che a Di Bella non piace tanto: preferisce la somatostatina naturale, nonostante questo significhi lasciare i pazienti con la siringa temporizzata infilata nel petto per tutta la notte. Ma né somatostatina, né i suoi analoghi, in vent’an­ni di sperimentazione, hanno mai prodotto risultati degni di nota in una pubbli­cazione scientifica. In Italia lo hanno fatto notare altri due premi Nobel, Rita Levi-Montalci­ni e Renato Dulbecco, oltre che gli esponenti del Cuf (Commissione unica del farmaco). Eppure, nonostante tutto ciò, l’Italia ci ha creduto: che un proféssore dai ca­pelli bianchi avesse compiuto il miracolo. Forze politiche si sono schierate, Julho/Agosto 10


i t ál i a

storia italiana

Liberamente tratto dal libro “Patria 1978- 2008” di Enrico Deaglio. Casa editrice Il Saggiatore.

il ministro di Grazia e Giustizia si sarebbe mosso, avrebbe investito il suo collega degli Affari esteri. Il ministro de­gli Esteri avrebbe sollecitato i governi stranieri. E invece ... D’AVANZO: E invece? COLOMBO: È storia d’oggi. Dopo un anno di impasse, è la sortita del procuratore confederale Carla Del Ponte a smuovere qualcosa o almeno la promessa di qual­cosa. No, ahimè, abbiamo toccato soltanto la superficie. Chi non è stato tocca­ to dall’azione della magistratura e ha scheletri nell’armadio si sente non protetto, debole perché ricattabile. La società del ricatto trova la sua forza, appunto, su ciò che non è stato scoperto.

ma­gistrati si sono espressi, miliardi sono stati spesi sotto l’impeto della televisione e delle manifestazioni di piazza. Per fortuna, il miracolo laico comincia a scema­re verso maggio, quando dalla sperimentazione si capisce che nessun risultato è mai stato ottenuto: nessuno è mai stato guarito dalla somatostatina perché, se co­sì fosse stato, il professor Di Bella l’avrebbe comunicato a qualche rivista scien­tifica. Ma era bello, un sogno. Un sogno che dovevamo permetterci tutti, anche se la somatostatina costava molto cara. Rio de Janeiro, 1904, il vaccino un caso analogo, al contrario L’Italia si dimostra molto fragile, molto credulona nei primi sei mesi del 1998. Ma mostra anche quanto siano estese le sofferenze reali, l’ignoranza e la super­stizione. Ogni politico ne deve tenere conto. Tutto ciò mi ha fatto ricordare un breve appunto dallo splendido libro di Eduardo Galeano, Memoria del fuoco, la storia dell’America Latina. Narra di un episodio successo nel 1904 a Rio de Janeiro, in Brasile: Uccidendo topi e zanzare ha sconfitto la peste bubbonica e la febbre gialla. Ora Oswaldo Cruz dichiara guerra al vaiolo. Il vaiolo uccide i brasiliani a migliaia. Ne muoiono sempre di più, mentre i medici dissanguano i moribondi e i medi­castri scacciano la peste con il fumo di sterco di vacca. Oswaldo Cruz, responsa­bile dell’igiene pubblica, promuove la vaccinazione obbligatoria. Il senatore Rui Barbosa, oratore dal petto gonfio e dal parlar forbito, pronuncia discorsi che at­taccano il vaccino con armi giuridiche infiorettate di aggettivi. In nome della li­bertà Rui Barbosa difende il diritto di ogni individuo di contagiarsi a piacere. A ogni frase, lo interrompono applausi torrenziali e ovazioni. I politici si oppongono al vaccino. E i medici. E i giornalisti: non c’è giornale che non pubblichi edi­toriali irosi e caricature spietate che prendono a bersaglio Oswaldo Cruz. Il quale non può affacciarsi in strada senza subire insulti e sassate. Contro il vaccino, il paese intero serra le file. Dappertutto si grida abbasso il vaccino. Contro il vac­cino si sollevano in armi gli allievi della Scuola militare, che per poco non fanno cadere il presidente. Milano,22 febbraio 1998, una visione di quanto è successo; parla il giudice Gherardo Colombo Gherardo Colombo, uno dei pubblici ministeri di Mani pulite, rivela la sua ama­rezza e la sua disillusione a sei anni dall’inizio della famosa inchiesta del pool. Lo fa con una lunga intervista a Giuseppe D’Avanzo che il Corriere della Sera pub­blica in prima pagina. Il magistrato, che nel 1981 aveva scoperto l’esistenza del­la loggia P2, dichiara: «C’è in Italia una “società del ricatto” frutto degli opachi compromessi degli ultimi venti anni della Repubblica. Una “società” ben viva, ben vegeta, assai vivace. Per nulla convinta di dover cedere il passo. Al contrario, obbligata - per garantirsi il futuro - a riprendere in mano il “gioco” della politi­ca». Il magistrato riflette su quanto sta accadendo nella Commissione bicamera­le a proposito della riforJulho/Agosto 10

Gherardo Colombo

Roma, la fine della Bicamerale La «Bicamerale» a cui fa riferimento il giudice Gherardo Colombo è una corpo­sa novità istituzionale, nata insieme al governo di Romano Prodi e voluta principalmente da Massimo D’Alema, che non è entrato nel governo considerandola prioritaria. Istituita con una legge costituzionale, la Commissione parlamentare per le riforme costituzionali è composta da 35 deputati e da 35 senatori. Il 5 feb­braio del 1997 D’Alema è stato eletto presidente con 52 voti su 70 con l’appog­gio di Forza Italia e dei centristi del Polo. Tre i vicepresidenti: Leopoldo Elia (Ppi), Giuliano Urbani (Forza Italia) e Giuseppe Tatarella (An). A nessuno, nel mondo politico, è sfuggito che con questa commissione Sil­vio Berlusconi è diventato, di fatto, uno statista. A fianco di un governo appena eletto che non si occupa di tutto ciò, Massimo D’Alema, che sembra essere a ca­po di una «azione parallela» come quella descritta dallo scrittore Robert Musil, disegna una nuova Italia con sofisticati meccanismi elettorali (si studiano quello francese, quello tedesco, quello inglese, quello spagnolo), i poteri futuri (un pre­mier forte? Un cancelliere? Un presidente eletto dal popolo?) e il nuovo ordina­mento della giustizia: i magistrati dovranno essere potere autonomo in contrasto con la corruzione, o dovranno adeguarsi alla corruzione corrente? Il 26 febbraio vengono costituiti i quattro comitati su: forma di Stato, forma di governo, Parlamento, Giustizia. Sulla nuova forma di governo (di cui è relatore Cesare Sal­vi) e sulla giustizia (Marco Boato) si sono concentrate contestazioni, polemiche e spaccature trasversali nella maggioranza e nell’opposizione.

ma della giustizia e di un ritorno alla «normalità»: COLOMBO: Il compromesso in Italia è stato sempre opaco e occulto. Le dico di più, negli ultimi venti anni la storia della nostra Repubblica è una storia di accordi sot­tobanco e patti occulti. L’Italia la si può raccontare a partire da una parola ... D’AVANZO: Una parola sola? Quale? COLOMBO: Ricatto. D’AVANZO: Ricatto? COLOMBO: Mi spiego con qualche esempio. Dallo sbarco degli alleati in Sicilia, e dalla scelta di coinvolgere la mafia per facilitarlo, si è stabilito un rapporto di «quieto vivere» con questa organizzazione criminale, che ha caratterizzato decen­ni della nostra storia. È stato un accordo necessariamente occulto. E ancora più occulto e opaco è stato necessariamente il suo perpetuarsi. Cosa ha potuto pro­durre se non il ricatto? Il ricatto dei poteri criminali sulla politica. Un altro esem­pio di quel modo di governare il paese con il compromesso, e poi con il ricatto, è il «caso Cirillo». Ricorda? Una parte della Dc si accorda con la camorra di Raf­faele Cutolo per la liberazione dell’assessore Ciro Cirillo concedendo, in cambio, l’accesso della criminalità alle risorse pubbliche della ricostruzione postsismica. E potrei continuare: i fondi neri dell’Iri; la P2 ... D’AVANZO: Ma Mani pulite non aveva disarticolato il sistema della corruzione? COLOMBO: Disarticolato? Vuole scherzare? Noi abbiamo appena inciso la super­ficie della crosta. Se avessimo disarticolato qualcosa, dinanzi alle difficoltà di ve­dere evase le nostre rogatorie internazionali, Il Presidente Lula e il Presidente Massimo D’Alema

f o r u m DEMOCRATICO

21


italia

Vengono accantonati altri temi di dibattito, come il «conflitto di interessi» o lo strapotere mediatico del Cavaliere; restano sullo sfondo le circostanze (l’in­chiesta Mani pulite e le stragi siciliane) che hanno portato all’improvviso collas­so dei partiti della Prima repubblica. La Bicamerale non si occupa di ciò. Non tutto il dibattito si svolge in aula: un avvenimento importante avviene in una ca­sa privata, quella di Gianni Letta. Lì, il18 giugno 1997, in un incontro detto del­la «crostata», per il dolce casalingo offerto dal padrone di casa, Pds, Ppi, An e Forza Italia raggiungono l’intesa per un presidente di garanzia e una legge elet­torale a doppio turno di coalizione. Come rivelerà dopo il presidente della Ca­mera Luciano Violante, a Berlusconi è stato garantito che le sue televisioni non saranno toccate. Il 30 giugno la Bicamerale vota il testo di riforma completo, al quale vengono presentati 42mila emendamenti. Poi il Cavaliere sorprende tutti, il 1 febbraio 1998, ribaltando le decisioni condivise fino a quel momento con la richiesta di cancellierato e sistema propor­zionale. Il 27 maggio 1998 Berlusconi lancia un ultimatum, che ha l’effetto pra­tico di far saltare il tavolo delle trattative. Il 9 giugno il presidente della Camera Luciano Violante comunica ufficial­mente la fine della Bicamerale, annunciando in aula che in mattinata l’ufficio di presidenza della «Commissione ha preso atto del venire meno delle condizio­ni politiche per la prosecuzione della discussione». Il clima è un po’ grottesco, un po’ surreale. Fabio Mussi, dei Ds, commenta: «La Bicamerale è morta. Sia chiaro che non è né un suicidio né un ictus. È un omicidio e l’assassino si chia­ma Silvio Berlusconi». Massimo D’Alema si reca dal barbiere di Montecitorio. La Bicamerale è finita. Firenze, 1993-1998, un’altra storia. Gabriele Chelazzi, il pm «d’urgenza» Nella notte in cui scoppia la bomba di via dei Georgofili a Firenze, Gabriele Chelazzi è il pm «d’urgenza», ovvero colui che in Procura deve essere disponi­bile in caso succeda qualcosa. A 49 anni, Chelazzi è un fiero rappresentante del senso civico di una delle città più belle del mondo: ama la sua città, la storia, la discussione, la squadra di calcio. Dalla notte in cui Firenze ha sperimentato l’inimmaginabile (chi può averci fatto questo?), in cui si sono trasportati all’obi­t orio cinque cadaveri fra cui due bambine, e in ospedale 37 feriti, e si sono fatti i primi sopralluoghi negli Uffizi deturpati, in cinque anni è riuscito a ricostruire tutto, a trovare i colpevoli, Bettino Craxi 22 822

f o r u m DD EE MM OO CC RR AA TT II CC OO

Romano Prodi a scoprire il «disegno». E il 1998 è l’anno in cui, momentaneamente, si ferma. A Firenze si dice: «Se Totò Riina avesse saputo che quella notte di turno c’era il Chelazzi, avrebbe cambiato data», perché la sua tenacia ha sgretolato muri. Firenze, 15 settembre 1997. Cronaca Giudiziaria, le (esatte) previsioni di Bettino Craxi Nei giorni in cui la Commissione bicamerale sulle riforme istituzionali lavora alacre­mente, la giornalista Franca Selvatici della Repubblica pubblica il seguente articolo sullo stato delle indagini fiorentine, con il titolo «Bombe di mafia, nuova pista»: L’inchiesta bis sulle autobombe del ‘93 è giunta con ogni probabilità alla stret­ta decisiva. Da almeno tre anni i magistrati della Direzione antimafia di Firenze danno la caccia ai «mandanti a volto coperto» delle stragi, o più esattamente a quell’intreccio di complicità e di interessi coincidenti - non solo mafia ma anche «lobby finanziarie, soprattutto lobby segrete» - che secondo molti mafiosi dive­nuti collaboratori di giustizia sarebbe alla radice della strategia delle autobombe. In questi ultimi mesi l’inchiesta bis si è arricchita di contributi che potrebbero ri­velarsi decisivi. Ha scelto di collaborare l’ex capo mandamento di Alcamo Giu­seppe Ferro, che simulando per anni una malattia mentale è riuscito in realtà a partecipare alle scelte più segrete e più delicate di Cosa Nostra. E forse c’è anche qualcun altro che sta ricostruendo le strategie dei boss nel ‘92 e nel ‘93, gli an­ni in cui la Dc e il Psi, i partiti nei quali la mafia vedeva i propri referenti, crolla­vano per effetto delle indagini di Mani pulite. In quegli anni - lo ha raccontato il catanese Maurizio Avola, lo ha ribadito Giovanni Brusca - Cosa Nostra scelse la via del terrorismo per conseguire una serie di obiettivi che uno dei magistra­ti antimafia di Firenze ha così sintetizzato: «Ricattare lo Stato per costringerlo a rinunciare alla legge sui pentiti e al carcere duro per i boss, ma anche destabiliz­zare il quadro politico e istituzionale, dare il colpo di grazia a una classe politica morente e favorire l’avvento di un nuovo ceto politico come

interlocutore più di­sponibile al dialogo con Cosa Nostra». Un progetto complesso, dunque. Parlan­ do in aula, Avola e Brusca hanno detto pubblicamente che l’interlocutore finale che Cosa Nostra in quegli anni ha cercato di agganciare sarebbe stato Silvio Ber­lusconi, che l’obiettivo dei boss era quello di stringere un’alleanza con il nuovo partito a cui il Cavaliere stava dando vita. [ ... ] «Siamo arrivati agli attentati. Ma l’avevo previsto, mi pare.» È Bettino Craxi che parla. L’intervista esce sul nume­ro di Panorama in edicola il 22 maggio 1993. C’è appena stata l’autobomba di via Fauro, quella agli Uffizi esploderà 5 giorni più tardi. Nell’intervista Craxi preve­de altri attentati. «Temo che ci saranno altre bombe, oltre quella di via Ruggero Fauro. Perché? Perché oltre a una giustizia a orologeria politica in Italia esistono anche le bombe a orologeria politica.» Dunque a metà maggio ‘93 l’ex presiden­te del Consiglio del Psi prevede una catena di attentati in uno scenario da strategia della tensione. Sarà buon profeta. Il suo mondo sta crollando, Craxi medita di lasciare l’Italia. Ma qualche settimana prima ha incontrato a Villa San Marti­no l’amico Silvio Berlusconi. Lo racconta Ezio Cartotto, allora nello staff del Cavaliere. Secondo Cartotto, Berlusconi stava preparando da mesi il nuovo partito. Ma era roso dai dubbi. Si tormentava: «Confalonieri e Letta mi dicono che è una pazzia entrare in politi­ca e che mi distruggeranno, che andranno a frugare tutte le carte. E diranno che sono un mafioso. Cosa devo fare?». Fu Craxi - sostiene Cartotto - a convince­ re l’amico. Gli spiegò che trovando la sigla giusta, con le sue tv e la sua struttura aziendale poteva farcela. «Bene, adesso so quello che devo fare» disse Berlusconi. Era il 4 aprile 1993. La nascita di Forza Italia verrà resa nota ufficialmente sol­tanto in autunno. I mafiosi erano informati da tempo? È quello che Brusca e Avola -a quanto pare - hanno cercato di far sapere con le loro ambigue dichiarazioni in aula.

Julho/Agosto 10


i t ál i a

storia italiana

Palermo-Roma-Firenze-Milano, 19931998. Il viaggio di una bomba La storia dell’indagine lascia senza fiato. L’esplosivo per Firenze, 250 chili di tri­tolo, fa parte di uno stock ordinato dai fratelli Filippo e Giuseppe Graviano per ordine di Leoluca Bagarella, che voleva scatenare un’offensiva contro lo Stato. Ol­tre ai due, sono «operativi» quattro fidati killer del quartiere: Giuseppe Barranca, Gaspare Spatuzza, Cosimo Lo Nigro, Francesco Giuliano. Da Palermo viene tra­sportato a Roma, dove viene depositato in un condominio di via Ostiense 895. Di lì viene smistato per le azioni da compiere a Firenze, Roma e Milano. La bomba fiorentina viene trasportata su un Fiorino da Cosimo Lo Nigro e Gaspare Spatuzza e scaricata a Prato, nella casa di Antonino Messana, cognato di un vecchio capo­mafia, Giuseppe Ferro. Da qui, nella sera dell’attentato, l’esplosivo viene conse­gnato a Pietro Carra, vicino alla sala del tempio dei testimoni di Geova. E da qui trasportato lungo le stradine strette del centro di Firenze. È appurato che l’esplo­sivo per gli attentati è lo stesso, ed è stato usato per la prima volta contro Maurizio Costanzo; che l’idea di ricattare lo Stato colpendo i suoi monumenti è maturata in Cosa Nostra alla fine del 1992; che, come dice il procuratore Vigna, ci sono «man­danti a volto coperto». Il tritolo è salito per l’Italia con molte connivenze, fino ad arrivare a quei fratelli Graviano arrestati mentre facevano shopping a Milano. Caltanissetta,1993-1998. Le inchieste sulle stragi Sono stati quasi «costretti» a occuparsene. Davanti ai magistrati di Caltanis­setta che indagano sull’attentato di Capaci, sfilano decine di testimoni, ognu­no dei quali ha notizie sconvolgenti da mettere a verbale. C’è un motivo, per questo improvviso crollo dell’ omertà: da quasi cinque anni -la stagione delle stragi -l’esercito di Cosa Nostra è in rotta. Non era mai successo prima nella storia della mafia: la polizia li ha arrestati, il governo li ha messi al carcere du­ro, 1’esercito pattuglia la Sicilia. Leoluca Bagarella è stato arrestato a Palermo il 24 giugno 1995; un anno dopo, il 20 maggio 1996, nei pressi di Agrigento, è stato preso Giovanni Brusca, l’uomo che ha dichiarato di aver azionato il te­lecomando della strage di Capaci. La Squadra mobile palermitana, indossan­do le «diavoline» per non essere riconosciuti, lo ha portato in Questura con un corteo di auto e di clacson. Ora, arrestati, «pentiti», «dissociati» riempio­no centinaia di pagine di interrogatori in cui danno la loro versione dei fatti: siamo stati noi, in sintesi, ma non siamo stati «solo» noi. E chi c’era sopra di voi? I pentiti (Salvatore Cancemi, Giovanni Brusca, Angelo Siino e decine di altri) indicano lobby economiche finanziarie, progetti politici, contatti con i carabinieri, assicurazioni ricevute, «persone importanti», i padroni del cemen­to, gli industriali del Nord, i politici che hanno promesso loro una riduzione del carcere duro, la revisione dei processi. I magistrati di Caltanissetta, che indagano sugli esecutori e i mandanti della strage di Capaci, ordinano un’in­chiesta approfondita sulla Fininvest, visto che i nomi di Marcello Dell’Utri e di Silvio Berlusconi sono quelli che ricorrono più frequentemente sulla boc­ca dei pentiti. Censiscono 401 aziende, trovano contatti con Cosa Nostra nel mondo delle Julho/Agosto 10

televisioni, degli appalti edili, contatti con i carabinieri, con la Confindustria siciliana, una società in cui è presente un capo mafia di Sciacca insieme all’ex ufficiale della Guardia di finanza e ora deputato di Forza Ita­lia Massimo Maria Berruti. Legami tra la Fininvest e il colonnello dei carabinieri Mario Mori. Firenze-Palermo, 1998. I personaggi inconfessabili Nelle indagini sui mandanti a volto coperto delle stragi del 1993 , così come per le stragi del 1992 a Palermo, sia la Procura di Firenze, sia quella di Caltanisset­ta hanno iscritto delle figure misteriose nel registro degli indagati. A Firenze si chiamano «autore 1» e «autore 2». A Caltanissetta si chiamano «alfa» e «beta». Sono sospettati di essere i mandanti delle stragi e sono, anche se protetti dalla privacy, nientemeno che Silvio Berlusconi e Marcello Dell’Utri. Ambedue le pro­cure, tra il 1998 e il 2000, lasciano cadere le accuse perché difficilmente avreb­bero retto il vaglio di un processo, e intimorite dal nome degli indagati: il primo, Silvio Berlusconi è stato presidente del Consiglio nel 1994, capo dell’opposizio­ne nel 1996, membro molto influente della Commissione bicamerale nel 1997. Il secondo, Fausto Marcello Dell’Utri, artefice della nascita di un nuovo partito in Ita­lia, in soli tre mesi. Questa è la situazione in Italia nel 1998. Due onorati statisti, a Roma, com­paiono invece nel registro degli indagati a Firenze e Caltanissetta - sotto il nome di «autore1» e «autore 2», «alfa» e «beta» - come sospetti mandanti di omicidi e stragi. I casi saranno archiviati. Perciò, di fatto, i due, in mancanza di prove a loro carico, rimangono statisti. Torino,15 gennaio 1998. Grandi famiglie, il punto di vista di Edoardo Agnelli Edoardo Agnelli, 44 anni, figlio maggiore dell’ avvocato Gianni Agnelli si incontra con il giornalista Paolo Griseri del quotidiano comunista il manifesto. L’appuntamento è di fronte a un convento di frati francescani sulle rive del Po. Il discorso parte da lontano. Da Francesco d’Assisi, «uno che soffrì molto perché era con­siderato un matto e venne esautorato dall’ amministratore del suo ordine»: PAOLO GRISERI: C’è un episodio noto della vita di Francesco. Quello in cui il santo distribuisce ai poveri i beni del padre. Che effetto le fa pensare a quel gesto? EDOARDO AGNELLI: Ho un grande rispetto per figure come Gesù e Francesco d’Assisi. Quando attraverso momenti di difficoltà penso che Gesù si fece crocifiggere, una scelta molto più difficile di quelle che mi tocca affrontare. E questo mi incoraggia. Anche Francesco è per me un modello forte. Ma io non ho fatto la sua scelta. Ho deciso di seguire un’altra strada. Allo stato attuale ho scelto di lavorare all’interno della famiglia, con il mio nome e cognome. Non ho cambia­to paese e abito. Ma non rinuncio a rilevare che nei tempi in cui viviamo c’è un grave decadimento dei valori. Resta solo il mito dell’accumulazione del denaro, un mito molto più pericoloso per i giovani di quello della droga. Ci si preoccu­pa perché i ragazzi ri-

Bertinotti corrono agli spinelli o ai narcotici e non si capisce che stia­mo andando verso un mondo basato solo sulla misura del conto in banca. Ma tutto questo è destinato a finire. Andiamo verso la fine dell’epoca moderna, ba­sata sull’empirismo e sul razionalismo cartesiano. Personalmente ho in mente la nascita di una fondazione, complementare a una già esistente, per occuparsi della rinascita di questi temi. Oggi infatti siamo arrivati a un compimento, cioè, in termini marxisti, alla cosiddetta fase avanzata del capitalismo, cosa che Rus­sia e Cina non riuscirono a fare prima della rivoluzione. Come già dissi, sono contrario a ogni forma di violenza politica e vedo, anziché una rivoluzione, una trasformazione della società, una forma di marxismo riformato quale si sta stu­diando presso la Fondazione Gorbacev. È un problema che riguarda tutti, an­che voi della sinistra. Anni fa, quando studiavo negli Stati Uniti, venne in visita nella mia università Giorgio Napolitano. Gli chiesi come pensava di organizza­ re concretamente la società senza classi prospettata da Marx. Mi rispose che il suo partito aveva messo al lavoro sull’argomento diverse commissioni di studio ma che, per il momento, il problema principale da risolvere era quello della ri­duzione dell’inflazione. PAOLO GRISERI: Quando lei, anni fa, espresse queste convinzioni, non suscitò com­ menti favorevoli a sinistra. Si temeva che, se avesse assunto il comando della Fiat, quelle posizioni avrebbero finito per danneggiare l’azienda. L’idea di trasformare Mirafiori in una fabbrica di fiori non aveva suscitato entusiasmo tra i dipendenti. EDOARDO AGNELLI: Ricordo quelle reazioni e le capisco. Ma non dobbiamo dimen­ticare che lo sfruttamento dell’uomo sulla natura è la premessa per lo sfruttamento dell’uomo sull’uomo. E con il problema del modello di sviluppo un governo se­rio,

f o r u m DEMOCRATICO

23


italia

tanto più se rafforzato da una riforma istituzionale seria, deve misurarsi. Non è certo un argomento che deve affrontare un’industria di automobili, il cui com­pito è invece quello di produrre e di dare da vivere a migliaia di famiglie. Ma il de­naro deve essere uno strumento, non un fine. Uno stato deve chiedersi dove si va a finire seguendo, come unica logica, la massimizzazione del profitto. Trieste,14 marzo. Violante e il revisionismo, incontro con Fini Per Violante e Fini l’Italia che sta per entrare in Europa necessita di un’identità nazionale. E pertanto deve recuperare il concetto della «libertà di memoria». In­dividuale o collettiva, postcomunista o postfascista che sia, non importa. «L’Ita­lia che deve darsi valori condivisi» sostiene Violante «non deve dimenticare le gravi responsabilità del Pci e dei fascisti.» Fini è d’accordo e replica: «L’antifa­scismo non è mai stato antitotalitario». Per Trieste si tratta di equiparare il campo di sterminio della Risiera di San Sabba alle uccisioni nelle foibe all’atto della liberazione della città. A livello na­zionale, decine di professori di storia firmano un appello promosso dal professor Aldo Agosti contro «l’ambigua campagna di pacificazione» favorita da Violante, mentre «gli eredi politici del fascismo si rifiutano di riconoscere le enormi re­sponsabilità di un regime reazionario». Come cade il governo Prodi, seduta n. 420 ottobre 1998 A due anni e mezzo dalla sua formazione, il governo Prodi affronta nuovamente una mozione di sfiducia del gruppo parlamentare di Rifondazione comunista. In giorni altamente drammatici per la sorte dell’Ulivo, si fanno continui pronostici sull’esito. La deputata Irene Pivetti dichiara che difficilmente potrà muoversi da Milano per motivi di allattamento della neonata Ludovica Maria, frutto del matrimonio con Alberto Brambilla. Gli esperti pensano comunque di superare la prova con un voto di scarto. L’intervento di Romano Prodi «Non posso credere ... » Romano Prodi legge un lungo intervento a difesa del suo governo. Stralci: ROMANO PRODI: Un paese debole rende più deboli anche i suoi cittadini. Un paese incerto rende più fragile la condizione della sua economia e quindi del suo sistema produttivo. NICOLÒ ANTONIO CUSCUNÀ: Ci stiamo addormentando! FRANCESCO STORACE: Cambia canale! ROMANO PRODI: Un paese continuamente in crisi, incapace di tener ferma nel tempo la sua rotta, non può far crescere l’occupazione né garantire il proprio popolo dal rischio di soccombere. Per questo chi, tra le forze della maggioran­za, decidesse di far mancare in quest’aula il suo voto alla proposta del gover­no si assumerebbe una responsabilità davvero pesante verso tutti gli italiani. So bene, onorevole Bertinotti, che lei, con la maggioranza del comitato politi­co del suo partito, ha assunto la decisione di votare contro questa legge finan­ziaria e contro il governo. Ma io non posso rassegnarmi al fatto che davvero questo sia ciò che lei intende fare. Non posso rassegnarmi all’idea che per cau­sa di una scelta così incomprensibile sia bocciato il 824

f o r u mDEMOCRATICO

Oliviero Diliberto

primo grande esperimen­to di un governo sorretto da una coalizione che comprende tutte le forze del riformismo italiano. GENNARO MALGIERI: Dai trotzkisti! I trotzkisti sono noti riformisti! PRESIDENTE: Onorevole Malgieri ... ALFREDO BIONDI: C’è un limite all’apologia! PRESIDENTE: La prego, onorevole Biondi. ROMANO PRODI: Un governo espressione di un grande sforzo comune della miglio­re tradizione cattolica, laica e socialista. Un governo nato dalla ribellione e dalla mobilitazione morale, oltre che politica, delle donne, degli uomini, dei giovani, degli anziani, dei lavoratori, uniti tutti da un’unica convinzione: che fosse neces­sario un grande impegno comune per dare al paese una guida capace di portare l’Italia fuori dalla transizione, sulla via delle riforme, del progresso e dello svilup­po economico. Non posso credere ... ANGELO SANTORI: Che tu debba andare a casa! ROMANO PRODI: Non posso credere, onorevole Bertinotti, che davvero lei combatta e contrasti il primo governo che è nato anche grazie alla vostra scelta e all’impegno di migliaia e migliaia di vostri militanti. lo non posso credere che lei intenda davvero respingere la prima finanziaria che dopo molti anni torna a dare attenzio­ne ai problemi veri della gente più debole, alle necessità dei pensionati più pove­ri, ai bisogni dei giovani in cerca di occupazione e alla domanda di sviluppo che viene dalle aree [...]. lo non posso credere, infine, che davvero lei voglia riconse­gnare il paese proprio a coloro che insieme abbiamo combattuto e vinto. Roma, 7-9 ottobre 1998 L’intervento di Fausto Bertinotti «Siamo gli eredi di Marx e di Kant» FAUSTO BERTlNOTTI: Signori presidenti, signore e signori deputati, il Partito della rifondazione comunista ha chiesto ai suoi parlamentari di ritirare la fiducia al go­verno e di votare contro questa finanziaria e contro l’operazione politica che oggi si rende più evidente con la rottura a sinistra. La decisione è stata presa in pie­na democrazia dal massimo organo dirigente del mio partito con una maggioran­za assoluta. In quell’organismo dirigente solo il 30% ha chiesto di continuare ad appoggiare il governo. Tante assemblee e tanta

partecipazione hanno conferma­to questa scelta che noi confermiamo qui dopo il discorso di Prodi, un discorso fondamentalista. Il presidente del Consiglio ha inventato un integralismo della fi­ nanziaria e così si è confermato il «signor no» alle nostre richieste dopo mesi di non ascolto. [ ... ] Avete detto «occupazione» e date soldi alle imprese, riducendo il costo del lavo­ro, senza guadagnare delle condizioni sociali, come dimostra clamorosamente il caso Fiat, alla quale è arrivato il regalo della rottamazione e che ha risposto con il regalo ai lavoratori della cassa integrazione. [ ... ] Sui ticket il grosso della popo­lazione continuerà a pagare tutto e persino gli esenti pagheranno ancora il ticket sui medicinali. I pensionati non otterranno neanche quello che è stato loro tol­to l’anno scorso. Presidente del Consiglio, lei ha detto: uscita dall’indigenza. Ma quale uscita dall’indigenza, se la grande massa dei lavoratori e dei pensionati (che prendono 697mila lire al mese di pensione) non ha avuto niente? Niente sui libri di testo: penso che dovrebbe essere un dolore per tutte le forze progressiste do­ver constatare che anche quest’anno ci saranno dei ragazzi che non potranno an­dare a scuola perché le loro famiglie non hanno i soldi per pagare i libri di testo. [ ... ] Per questo siamo costretti a votarvi contro. [ ... ] Abbiamo scelto di fare l’op­posizione al vostro governo e a questa maggioranza: noi vorremmo poter essere eredi di Marx; certamente siamo coerenti con il lascito di Kant, quello di cam­minare eretti. Ci volevate piegare, non ci avete piegato: la coerenza di oggi lavo­ra per l’alternativa di domani. RAMON MANTOVANI: Andate a casa! L’intervento di Oliviero Diliberto «Noi non ci tiriamo indietro» Signor presidente, colleghi, nella serata di mercoledì scorso, dopo il dibattito in aula, segretari regionali, provinciali, di circolo di Rifondazione comunista, au­toconvocati a Roma, hanno raccolto attorno a sé quasi mille tra dirigenti e mili­tanti del nostro partito: lavoratori, partigiani, singole personalità democratiche e del mondo della cultura. In quella sede è stato lanciato al gruppo parlamentare, e comunque alla sua maggioranza, un appello teso innanzitutto a raggiungere un obiettivo, quello di impedire che le destre, grazie alla caduta del governo, otte­nessero un successo insperato e cioè tornassero loro a governare. La maggioranza del gruppo, quella stessa che mi ha dato mandato di parlare in aula, ha aderito a quell’appello: voteremo pertanto, noi deputati comunisti che ci richiamiamo a quelle posizioni, a favore della fiducia. [ ... ] È una responsabilità grande, cari col­leghi, e chi vi parla in questi momenti è quasi schiacciato da essa. Ma una sola co­sa posso promettervi: nessuno di noi si tirerà indietro. L’intervento di Umberto Bossi «Avete dato troppo a Berlusconi» Onorevole presidente, il suo governo verrà ricordato soprattutto per i quattrini che ha saputo spillare ai cittadini: tasse in tutte le varianti e con tutte le improv­visazioni per svuotare i portafogli. Il tutto è stato condito con la promessa del paradiso che non c’è, ovvero dell’ingresso nell’Europa di Maastricht, che lei van­ta quale risultato eclatante dell’azione del suo governo. [ ... ] Nel suo programma di governo era manifestata anche la Julho/Agosto 10


i t ál i a

storia italiana

ferma - così era detto - volontà di fare le ri­forme della democrazia. Invece niente. Sappiamo tutti che la corruzione è il ve­ro male del nostro tempo per tutti i paesi, ma arrivare al punto che il cosiddetto capo dell’opposizione - in realtà della finta opposizione - nasconda al garante dell’editoria il vero assetto societario della Fininvest, cui lo Stato concede l’uti­lizzo di un mucchio di frequenze televisive, francamente non è accettabile. Ben sedici holding occulte, con finanziarie, immobiliari, centri commerciali, altre te­levisioni e chi più ne ha più ne metta - cose create dai soliti palermitani - sareb­ bero le prove nelle mani della Procura di Palermo. Spero che si possa andare fino in fondo, senza interferenze politiche, senza scambi di cui però si avverte il brutto odore. Con questo governo c’è stato il buonismo, il minimalismo, la Bica­ merale; ebbene, sono solo nomi differenti di un gattopardismo che è antidemo­cratico. Occorre il cambiamento vero, profondo, la libertà del paese, la libertà della Padania, che la cerca, del Meridione, che non la vuole. Per tutto questo il nostro voto è contro il suo governo. Le votazioni sotto per un voto Il presidente della Camera Luciano Violante comunica il risultato delle votazio­ni per appello nominale sulla risoluzione presentata da Fabio Mussi a favore del governo Prodi, sulla quale il governo ha posto la questione di fiducia. Presenti e votanti 625 Maggioranza 313 Hanno votato sì 312 Hanno votato no 313 La Camera respinge - vedi votazioni - vivissimi, prolungati applausi dei depu­tati dei gruppi di Forza Italia, di Alleanza nazionale, dell’Udr e misto-Ccd, che scandiscono: «Tutti a casa!». La fine del 1998 è questo, in sintesi: la Bicamerale voluta da Massimo D’Ale­ma è fallita. Il governo Prodi è caduto. Le accuse contro Berlusconi e Dell’Utri come mandanti delle stragi del 1992-1993 sono state archiviate. Si forma un nuo­vo governo guidato da Massimo D’Alema. Scrittori italiani del 1998 Giuseppe Ferrandina, ischitano, ha 40 anni ed è uno dei più importanti sceneg­giatori di fumetti. Cinque anni fa la casa editrice Granata Press ha pubblica­to Pericle il nero, il suo primo romanzo, ma il libro è passato quasi inosservato. Due anni dopo, nel 1995, la Gallimard, casa editrice francese, ha pubblicato il romanzo, che oltralpe è diventato un vero caso editoriale. Quest’anno l’Adelphi ripubblica Pericle il nero, la storia di Pericle Scalzone, un fallito a servizio di un boss locale. Pericle si trova in una situazione pericolosa: tutta la camorra vuo­le farlo fuori. Io mi chiamo Pericle Scalzone. Ho trentotto anni. [ ... ] Di mestiere faccio il culo alla gente, stordisco la persona con un sacchetto di sabbia, la lego coi polsi vicino ai piedi a cavalcioni di una sedia o di un tavolo, e poi uso pasta antibiotica per fa­re scivolare il pesce. Giovanni il ricchione dice che la pasta antibiotica non serve a niente se uno si deve prendere l’aids, ma io non ci credo. Io dico che è sempre meglio l’antibiotico della vaselina, che ha pure un odore un poco schifoso. A Forcella, nessuno mi dice niente o si prende confidenza. Lo sanno

Julho/Agosto 10

a quale chiodo si appendono. Io mi faccio i fatti miei, saluto tutti con educazione e stop. Se qual­ cuno non mi piace come mi guarda, lo guardo in faccia e vediamo a chi abbassa per primo gli occhi. Comunque non finisce mai a mazzate. Loro magari ci hanno pure il coltello, ma lo sanno che col sacco di sabbia io li mando al Cardarelli pri­ma che hanno il tempo di dire a. Per non parlare di quello che gli può succedere in una notte qualunque, fra un mese o fra un anno, mentre che soli soli belli bel­li se ne stanno tornando a casa loro. «Don Leone, vi ho fatto una siringa di eroina.» «E che cos’è?». «La droga. L’eroina.» «Mi hai fatto una siringa di eroina?» «Sissignore.» Ha fatto qualche smorfia e poi si è messo a piangere. «Dove hanno portato Signorinella dopo che l’ho trovata qui con voi? [ ... ] Se non me lo dite vi faccio un’ altra siringa.» Anna guardava me, e le due bambine guardavano la madre. Quando hanno vi­sto Anna piegare la bocca pure le bambine mi hanno guardato. «Che vuoi far­ci con quella?» «Due siringhe da mezzo grammo. Una per ciascuna delle bambine.» Lei si è mes­sa la mano sulla bocca e si è piegata come se avesse avuto un cazzotto. Poi ha spa­lancato le braccia e sempre piegata è arretrata verso le bambine. Gina si è messa a piangere. «Mamma, che siringa ci vuole fare Pericle?» La piccola a guardare la madre rideva. Poi quando ha visto la grande piangere si è messa a piangere pure lei. «Va bene. Facciamo così» ha detto Anna fingendosi all’improvviso di nuovo indifferente. «Io chiamo mio padre e ve la vedete tra voi.» «Che ... ? Ah, sì... Papà, tiene l’eroina. Dice che se non ti sbrighi comincia a fare le siringhe alle bambine ... Papà, papà!» Ho capito che Luigino non mi credeva ca­pace. Ho appoggiato il mitra sul frigo, mi sono sistemato la bambina tra le gam­be e le ho infilato l’ago a casaccio nel braccio. Anna ha abbandonato il telefono ed è corsa verso di me. Io ho fatto un passo indietro, ho ripreso il mitra e mi so­no allontanato. Mentre la madre abbracciava la figlia, ho preso l’altra bambina e l’ho portata in un angolo. Appena si sono svegliati Anna si è messa a tremare. Luigino invece aveva comin­ciato a smuoversi per liberarsi. Io mi sono girato in un angolo e ho cominciato a strofinarmi i pantaloni sopra il pe-

sce. Tremavo un poco e mi sono messo a pen­sare a certi film porno finché mi sono arrapato. Ho tirato fuori il pesce e l’ho co­perto di certa pasta antibiotica che avevo trovato nel bagno. [ ... ] Ho messo la crema antibiotica sul buco del culo di Luigino. Lui lo teneva stretto e ho dovuto dargli due o tre pacche sulle natiche. Quando però stavo per infilarglielo mi so­no fermato. Sono rimasto col pesce dritto in mano, a guardare il culo rapposo di Luigino, sentendo come una meraviglia. Ho pensato: ma che sto facendo? Stavo facendo quello che Luigino e chiunque come lui avrebbe fatto al posto mio. Sta­vo facendo quello che si fa in questi casi. Che c’era da capire? Era chiaro chiaro. Come sempre nella mia vita stavo facendo quello che mi dicevano di fare. Volevo dimostrare a me stesso di essere uomo, ma se uno, per considerarsi, fa quello che si aspettano gli altri, è una sega, altro che uomo. All’improvviso mi sono sentito cretino. Mi sono alzato e ho tirato su i pantaloni. Volevo dargli almeno un calcio nel culo, ma non ho fatto neanche quello. Andavo dove volevo e ho pensato: se la madonna mi accompagna, in questo pae­se di merda non ci torno neanche morto. Musica italiana del 1998. Il 9 settembre 1998, a 55 anni, muore, dopo una lunga malattia, Lucio Battisti. Ha pubblicato, dal 1969 al 1994, 19 album. Durante la sua carriera ha porta­to avanti una lunga collaborazione, fino al 1980, col paroliere Mogol. Poi i testi delle sue canzoni sono stati scritti dalla moglie, che si firma con lo pseudonimo Velezia (E già, 1982) e dal poeta Pasquale Panella. Tutta l’Italia, da quarant’anni, canta le canzoni di Lucio Battisti. Non c’è italiano che non ne conosca almeno una decina. Una delle più famose è «Il mio canto libero»: In un mondo che / non ci vuole più / il mio canto libero sei tu. / E l’immensità / si apre intorno a noi / al di là del limite degli occhi tuoi. / Nasce il sentimento, / nasce in mezzo al pianto / e s’innalza altissimo e va / e vola sulle accuse della gen­te, / a tutti i suoi retaggi indifferente / sorretto da un anelito d’amore, / di vero amore. / In un mondo che - Pietre un giorno case / prigioniero è - ricoperte dal­le rose selvatiche / respiriamo liberi, io e te - rivivono ci chiamano. / E la verità ­Boschi abbandonati / si offre nuda a noi - perciò sopravvissuti vergini / e limpida è l’immagine - si aprono / ormai - ci abbracciano. / Nuove sensazioni, / giovani emozioni / si esprimono purissime / in noi. / La veste dei fantasmi del passato / cadendo lascia il quadro immacolato / e s’alza un vento tiepido d’amore, / di ve­ro amore. / E riscopro te, / dolce compagna che / non sai domandare ma sai / che ovunque andrai / al fianco tuo mi avrai / se tu lo vuoi. / Pietre un giorno case / ricoperte dalle rose selvatiche / rivivono / ci chiamano. / Boschi abbandonati / e perciò sopravvissuti vergini / si aprono / ci abbracciano. / In un mondo che / prigioniero è / respiriamo liberi / io e te. / E la verità / si offre nuda a noi / e limpida è l’immagine / ormai. / Nuove sensazioni, / giovani emozioni / si esprimono pu­rissime / in noi. / La veste dei fantasmi del passato / cadendo lascia il quadro im­macolato / e s’alza un vento tiepido d’amore / di vero amore / e riscopro te.

Lucio Battisti

f o r u mDEMOCRATICO

25


b r a s i l e

O que tem a dizer

Marisa Oliveira e Andrea Lanzi

Ainda temos muito trabalho pela frente

826

f o r u mDEMOCRATICO

C a b

Foto: Divulgação

S é r g i o

FD - Antes de ser eleito governador, o Sr. transitou na vida pública como Deputado Estadual e Senador. A experiência trazida do Legislativo o preparou para assumir o cargo de Governador do Estado do Rio de Janeiro? SC - Sem dúvida, a minha vivência no Legislativo me ajudou e me ajuda até hoje a entender e, consequentemente, a governar o nosso estado. Tanto a minha experiência na Assembléia Legislativa do Rio, onde fui deputado por três mandatos e presidente durante oito anos, quanto no Senado, me fizeram aprender muito, como político e como cidadão, para legislar e depois para governar com o objetivo de melhorar a vida das pessoas. Aprendi não só a enxergar a pluralidade do Rio e do Brasil, mas também a interagir com visões políticas de diversos segmentos que representam o nosso povo. Essa trajetória permitiu que eu aperfeiçoasse a capacidade de diálogo, de respeitar as diferenças, de saber lidar melhor com as divergências. Nesse longo período, trabalhei para diminuir o isolamento sofrido pelo Estado do Rio durante décadas. Trabalhei para mudar esse quadro, o que felizmente já começou a acontecer. Vou dar um exemplo que ilustra bem essa virada do Rio: quando assumi o governo, em 2007, o estado era o penúltimo da federação em volume de recursos recebidos do governo federal; hoje, é o primeiro. FD - Quais os principais desafios do cargo de Governador? SC - Governar um estado como o Rio de Janeiro é um enorme desafio. Digo que “é um desafio” porque ainda há muito a ser feito, estamos longe do ideal – e sabemos disso. Mas foram muitas as conquistas alcançadas nesses três anos e meio de governo. E, isso, em várias áreas, como Saúde , com as UPAs e a modernização dos hospitais; Segurança, com as UPPs, que pacificaram territórios que há décadas estavam nas mãos de criminosos; Infraestrutura , com obras como as do PAC nas comunidades; Meio Ambiente , com o avanço na despoluição da Baía de Guanabara e das lagoas, para citar apenas dois dos vários exemplos. E Educação, com investimento no professor e no aluno. Minha experiência na vida pública, de modo geral, permitiu uma aproximação muito grande com o povo do Rio. E poder trabalhar pelo crescimento do nosso Estado, pela melhoria na qualidade de vida das pessoas é não só um desafio que me motiva, mas uma grande paixão. FD - O Sr. inovou ao estabelecer um plano estratégico para governar o Estado. Nele foi apresentada uma Visão de Futuro para 2027,

Julho/Agosto 10


b r a s i l

e n t r e v i s t a

r a l

Candidato ao cargo de governador do Estado do Rio de Janeiro pelo PMDB

quando o Rio de Janeiro será considerado um lugar bom para viver e investir, próspero, ambientalmente sustentável, e onde Educação e Cultura serão valores transformadores. Para isso, foram considerados como eixos prioritários: reconstruir a gestão pública estadual; segurança pública e cidadania, articular e promover investimentos. Trabalhando esses eixos, esperava-se alcançar, em 2010, entre outros, resultados concretos na área de negócios, na promoção das vocações do estado, na Educação e na qualificação profissional, na área de Saúde, em infraestrutura e logística de transportes e em saneamento. Governador, temos boas notícias? SC - Em três anos e meio, conseguimos grandes avanços. Mas queremos avançar ainda mais. O Estado do Rio vive um momento extraordinário. Todas as conquistas que alcançamos se devem ao fato de haver planejamento, metas. Sempre deixei claro que uma das minhas prioridades era arrumar a casa, fazer um choque de gestão no Estado. E esse dever de casa o nosso governo tem cumprido à risca. O Rio deixou de ser inadimplente, tem dinheiro em caixa para investir e, recentemente, recebeu o “grau de investimento” da respeitada Agência Internacional de Classificação de Risco Standard and Poor’s, o que mostra a consistência das nossas finanças. Um estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, a Firjan, mostra que nos próximos três anos o Estado receberá cerca de R$ 100 bilhões em investimentos, públicos e privados. Arrumar a casa foi fundamental para conseguirmos esses resultados. Após 17 anos voltamos a fazer concurso público para Fiscal de Renda, o que vem melhorando a arrecadação. Recuperar o estado só foi possível com gestão, com administração, com valorização do servidor público, cujo trabalho resulta em uma melhor aplicação de recursos em saúde, segurança, educação e infraestrutura. Na prática, a população já pode contar com serviços públicos muito melhores. Na Segurança Pública, com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Além disso, mudamos a relação com os nossos policiais, acabando de vez, desde o início do nosso governo, com as indicações por puro interesse político e resgatando uma política de valorização salarial, uma política de metas que tem feito cair os índices de violência em todo o estado. Na Educação, os nossos professores contam com reajustes anuais desde 2007. Distribuímos para eles um total de 50 mil laptops (usam no trabalho e nas horas de folga). Os melhores alunos são premiados por mérito, anualmente, com notebooks. Na Saúde, desde que foram implantadas, as

Julho/Agosto 10

Unidades de Pronto Atendimento 24 horas resolvem mais de 99% dos casos de pacientes que procuram atendimento. Mais de 5 milhões de atendimentos e o paciente já sai com os remédios. Modernizamos ainda boa parte da rede de hospitais do estado, que hoje contam com aparelhos de última geração para atender a população. Há as PAC das Comunidades, em parceria com o governo do Presidente Lula, nosso grande parceiro; no Arco Metropolitano, a compra de novos e modernos trens urbanos, a ampliação do metrô, e o avanço da despoluição da Baía de Guanabara, da Lagoa Rodrigo de Freitas e das lagoas da Barra e de Jacarepaguá, só para citar alguns exemplos. É um quadro, portanto, de crescimento, de desenvolvimento, de mudança de paradigmas em diversos setores. Não foi à toa que conquistamos o direito de sediar os Jogos Mundiais Militares de 2011. Seremos uma das sedes e palco da final da Copa do Mundo de 2014. Vamos sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Eventos como esses darão ainda mais visibilidade para o nosso Estado e deixarão um legado verdadeiro de realizações que vão mudar para muito melhor a vida de toda a população. FD - A crise mundial de 2008 comprometeu o planejamento estratégico? SC - Sofremos um impacto muito menor em relação a outros Estados brasileiros e isso tem a ver com o fato de termos feito o dever de casa com uma séria gestão dos recursos públicos. Por isso, apesar da crise mundial, as áreas prioritárias, como Saúde, Segurança e Educação, continuaram recebendo os investimentos previstos. O investment grade que recebemos, ao qual já me referi, comprova que passamos bem pela crise e que temos condições competitivas para funcionar como porta de entrada de empresas estrangeiras no país e como plataforma de exportações para outros países. FD - Em busca de negócios e investimentos o Sr. esteve na Itália divulgando o Estado. Que avanços foram registrados? SC - Tanto na Itália como nos outros países a que fomos em missões de governo, o nosso objetivo foi sempre o de que o Rio saísse da toca. Eu acho que, com planejamento e trabalho, temos conseguido “vender” bem o Rio, no sentido de mostrar ao mundo as nossas possibilidades e vocações e atrair investimentos para o estado. As Olimpíadas de 2016 fazem parte desse processo. O Rio voltou a ganhar o mundo. No caso dessa viagem à Itália, depois dela, empresários

italianos vieram ao Rio nos procurar interessados em investir nas áreas de construção civil e infraestrutura. Houve também o anúncio da instalação de uma fábrica de fogões industriais da brasileira Falmec (fabricante de coifas), numa joint venture com a italiana Smeg, só para citar mais um exemplo. FD - Considerando essa perspectiva ousada de criar bases e plantar sementes para o Rio de Janeiro colher vinte anos depois, uma vez reeleito, o que o Sr. faria de diferente para os próximos quatro anos como governador? SC - Uma política séria e comprometida com a melhoria de vida das pessoas em um Estado tão importante como o Rio de Janeiro tem que pensar no futuro da população. É isso que estamos fazendo. Mas esse processo não é simples, porque pegamos o Estado completamente degradado, entregue à marginalidade, endividado, em grande isolamento político e econômico. Tivemos que sanear as contas e começar a tirar o Rio do atraso. No nosso caso, o “diferente” é seguir em frente nesse caminho de tantas mudanças positivas para o povo do nosso estado. Todo projeto sério para melhorar de verdade a vida das pessoas, a educação, a saúde, a segurança, a infraestrutura, é de médio e longo prazo. Não existe mágica. FD - O presidente Lula, recentemente, durante um evento de inauguração de obras públicas, afirmou que “a única razão para ser Prefeito, Governador ou Presidente é governar para os mais pobres.” Que motivação impulsiona o governador Sérgio Cabral? SC - O que me motiva é o amor pelo Rio e o amor pelo povo do Estado. Governamos para todo o Estado, pensando no desenvolvimento dele como um todo. Programas nossos como o Rio Rural, o Rio Leite e o Estradas da Produção estão levando infraestrutura e condições de trabalho e crescimento para o homem do campo, beneficiando cidades menores do interior. Esses programas contemplam, entre outras necessidades, incentivos fiscais para os produtores e recuperação de milhares de quilômetros de estradas por onde há o escoamento da produção. É claro que os mais pobres, as áreas mais degradadas e menos desenvolvidas sempre precisam de mais atenção, de mais investimentos. Tudo que já citei em termos de melhorias e implantações nas áreas-chaves, como Segurança, Saúde e Educação é apenas o começo. Ainda temos muito trabalho pela frente.

f of or u r ummD EDME OM CO RC AR TA ITCI OC O

27 27


b r a s i l e Marisa Oliveira e Andrea Lanzi

O que tem a dizer

F e r n a n d o

G a b e FD - O Sr. foi uma das primeiras lideranças do movimento verde no Brasil; quais são os pontos programáticos “verdes” na sua candidatura ao governo do estado do Rio de Janeiro e as afinidades com o programa do PSDB, DEM E PPS nesta área? FG - Dadas as características do estado do Rio de Janeiro, que hoje é o maior produtor de petróleo do país, produz 85 % do país e tem 90 % das reservas, eu considero principal no nosso trabalho ambiental a segurança do mar, porque é dele que retiramos a maior parte do petróleo e essa retirada se dá em profundidade muito grande e cada vez maior. Para isso já tenho projetos apresentados na Câmara, que é o projeto do casco duplo para petroleiros- trabalho com acidentes de petróleo há algum tempo; também tenho projeto de avaliação ambiental estratégica para definir a exploração depois de uma avaliação ambiental estratégica, que inclui, entre outros, um mapa do fundo do mar, um levantamento da situação das espécies que estão em extinção, afinal, é uma área de 800 por 200 km de largura. A outra preocupação ambiental é com o saneamento básico. O Rio tem uma cobertura pequena de saneamento básico; tenho a pretensão de propor a universalização de saneamento básico até 2020, a exemplo de São Paulo, que está um pouco mais adiantado que nós. Proteção do oceano e o saneamento básico são elementos fundamentais, além do controle da indústria petroleira, pois apesar da indústria estar aqui a gente pode caminhar para uma economia de baixo carbono, focando no desenvolvimento do turismo e outros setores que são menos problemáticos em termos de emissões. Há outros temas como a questão da água; o Rio, como Estado, tem os recursos hídricos limitados, apesar de muita gente não saber disso. A idéia é estabelecer um programa que leve em conta essas limitações e consiga prever o uso racional da água para não se ter problemas no futuro. Também fundamental é a questão das baías de Guanabara e de Sepetiba. É nossa pretensão fazer uma agenda ambiental com dez pontos e colocar essa agenda em sintonia com os prefeitos e seus municípios; uma agenda se ocupe do tratamento do esgoto, de depósitos de lixo, plantação de matas ciliares, dos rios, enfim, todo um processo. Na verdade, os outros partidos não têm um programa ambiental; a única sintonia é a Agenda Azul e Verde, como nós chamamos, que foi desenvolvida em São Paulo. A agenda com os prefeitos, é o único ponto de sintonia com os outros partidos mais identificável.

Votar em mim é colocar o Rio no século 21

Foto: Divulgação

828

f o r u mDEMOCRATICO

FD - O estado do Rio de Janeiro é muito mais que o litoral. Muito mais e muito diferente (saúde, educação, economia). O que o seu programa de governo estabelece como metas para as cidades do interior do estado? FD - Temos a noção de que no Rio de Janeiro, como a capital é muito importante no país, o interior foi muito desprezado ao longo desses anos, e a nossa intenção é fazer pólos de desenvolvimento regional, buscar em cada região a contribuição local para que tenhamos um programa regionalizado. A idéia é determinar em cada região um responsável por esse programa, uma espécie de subgovernador, que teria acesso ao governo e à região para

Fevereiro/ Julho/Agosto Março 10


b r a s i l

e n t r e v i s t a

i r a

Candidato ao cargo de governador do Estado do Rio de Janeiro pelo PV (PSDB, DEM e PPS)

realizar essas perspectiva do ponto de vista econômico. A primeira grande decisão nesse campo é que passaremos pelas Olimpíadas e pela Copa do Mundo e o processo não pode ser apenas favorável à capital. Queremos que todo o estado seja incluído nesse processo. O estado vai ter um calendário turístico, de forma a oferecer aos turistas não apenas a cidade Rio de Janeiro, mas os diversos roteiros que nós criaremos, assim o turismo não ficará concentrado na capital. A outra disposição está ligada à agricultura, que representa apenas 1% do produto do estado, e que tem um potencial enorme nunca explorado (já tivemos produtos famosos como a laranja de Itaboraí). A intenção é recuperar a possibilidade de produção agrícola. Estou ajudando e enfatizando a agricultura orgânica. Ajudei a Escola Agrícola de Pinheiral e também estou interessado na criação de um modelo semelhante em Paulo de Frontin. No geral, fazer a ciência e a tecnologia, que já existem incorporadas na Embrapa e outras entidades, ajudarem a agricultura do Rio a florescer. A agricultura fluminense pode fazer muito no campo da produção orgânica. Com as Olimpíadas e a Copa do Mundo, nosso cálculo é o mercado ficar mais amplo, fazendo com que o interior do Estado se aproveite, ampliando o mercado pela presença de pessoas que têm o hábito de consumir orgânico. E também estou trabalhando no levantamento da situação das estradas estaduais, das estradas vicinais que são fundamentais para o desenvolvimento dessas regiões, algumas delas muito abandonadas. FD - Pensando no Estado como um todo, qual é a sua prioridade – Saúde, Educação, Economia? FG - Minha prioridade não é nenhuma dessas mencionadas, mas sim a prioridade política. Precisamos fazer uma reforma na concepção política do Estado. Primeira decisão importante é que não haverá loteamento político do governo, o que não significa discriminação aos políticos; aqueles que forem honrados e competentes especificamente para as tarefas poderão ser aproveitados. O outro aspecto que também é muito importante é o do transporte coletivo. Sobretudo na visão metropolitana. Queremos colocar os transportes no trilho, trens e metrô. Para isso temos um grande potencial, 250 km de trilho, o mesmo que São Paulo. Nós transportamos 500 mil pessoas diariamente e lá eles transportam dois milhões. A prioridade é melhorar o transporte porque vai significar melhorias tanto para os trabalhadores como para as mercadorias circularem com mais facilidade. Essa prioridade de solução não é universal, mas atinge 75 % do estado. Outra prioridade, que eu já mencionei, é o saneamento básico, vergonha para o Brasil. Não conseguimos resolver um problema que é do século 19. Ainda com relação à reforma política, o que se pretende é criar uma continuidade virtuosa através de profissionais competentes, técnicos ou políticos. A relação com o parlamento e prefeituras é uma relação de clientelismo. Na prática, oferece-se ao deputado/prefeito algumas obras e em troca dessas obras é exigida a fidelidade dele. Queremos instalar a relação republicana – trabalhar em cima de orçamento e as regiões serão contempladas conforme suas necessidades e importâncias. Não haverá nenhuma

Fevereiro/ Março Julho/Agosto 10 10

exigência para que eles sejam do partido do governador. Não pensaremos no prefeito, mas na cidade que ele representa. Sobre isso tenho alguma autoridade para dizer, porque grande parte das emendas parlamentares que eu destino são para prefeitos que são meus adversários. FD - Mais propriamente em termos políticos, o Sr. considera que a aliança no Rio de Janeiro com os partidos que apoiam José Serra para presidente da República pode vir a prejudicar a candidata do seu partido, Marina Silva? FG - Acho que não. É uma aliança voltada para o governo do Estado e nós temos feito com Marina Silva todas as atividades de que ela precisa e as pessoas poderão optar. Não é uma aliança num campo oposto; nós estamos todos no campo da oposição. FD – O Sr. se tornou personagem da vida pública brasileira na época do Brasil ditatorial. De lá para cá, o que mudou no Brasil? O que mudou no Fernando Gabeira? FG - Bem, na época da ditadura eu fazia luta armada contra o governo e o primeiro grande passo da minha transformação foi condenar essa forma de luta. E também tinha um perspectiva socialista; minha visão agora é diferente. O primeiro ponto é condenar a luta armada; o segundo ponto é rejeitar qualquer forma de ditadura como forma de governo e optar pelo caminho pacífico e pela democracia como estratégia. Então nisso eu mudei. O que o Brasil mudou? Virou um país democrático, com algumas imperfeições, que estamos tentando corrigir e talvez tenhamos que corrigir por muito tempo porque democracia não é uma coisa acabada; conseguimos uma boa política econômica que deu ao país uma boa posição internacional de destaque; retirou da pobreza quase 15 milhões de brasileiros, criou um nova classe média. Entretanto, a política mesmo está em descrédito. Os políticos ficaram um pouco distante da população e são desprezados parcialmente por ela. Precisa haver um movimento que dê uma certa credibilidade à política, que nasce da responsabilidade. Os ingleses chamam isso de accountability, o fato de você ser responsável pelos seus atos, reconhecer os seus erros e repará-los. FD - Na sua trajetória, o sr. tem fatos muito marcantes e polêmicos - o seqüestro do embaixador Charles Elbrick, o exílio, a tanga, a defesa da descriminalização da maconha, o uso indevido da cota parlamentar de passagens aéreas. Que peso tem essas marcas para a sua candidatura atual? Elas são mais fortes do que seu programa de governo? FG - Primeiro ponto: as outras questões são questões parlamentares. O que você chama de uso indevido foi uma passagem que eu dei para a minha filha que eu reconheci, devolvi o dinheiro, devolvi todo o crédito de 81 mil reais que eu tinha e contribuí

para a Câmara para ela mudar o sistema o que resultou em uma economia de 32 milhões por ano. Isso é que é “accountabilidade” a pessoa reconhece o erro, repara o erro, corrige o rumo e foi tudo que eu fiz nesse processo que você chama de uso indevido de cota parlamentar - o exercício da responsabilidade diante de um erro. Quanto aos outros temas, são temas que são parlamentares e tudo que eu digo é: uma coisa é defender um tema como parlamentar e outro é ser um majoritário; quando somos candidato majoritário e simultaneamente um democrata, nunca vamos fazer passar por majoritárias aquelas posições que são pessoais. A população pode ficar tranqüila que eu jamais farei com que uma posição minha seja entendida majoritária, em outras palavras, jamais vou levar adiante esses temas se não forem pactuados e aceitos pela maioria. FD - Parece que o Sr. se colocou a favor da nãoextradição do Cesare Battisti, réu de crimes comuns na Itália; o Sr. acha que na época dos homicídios atribuídos ao Battisti existia uma ditadura na Itália? FG - Não acho que existia uma ditadura na Itália e não é essa a minha relação com os refugiados políticos italianos. Houve um período na Itália, chamado Anos de Chumbo que não teve uma solução satisfatória, quando concluído. Houve duas alternativas para resolver isso internacionalmente: uma da França, doutrina Miterrand, e que dizia que todos os refugiados italianos que chegarem ao país e se arrependerem do que fizeram serão aceitos. Caso do Battisti. Doutrina que depois foi contestada pelo governo Chirac. A solução brasileira para contribuir com os Anos de Chumbo foi um pouco diferente da francesa; o Brasil deu um tratamento caso a caso através do Supremo Tribunal Federal. Foi o que o Brasil fez nos casos julgados até agora, Luciano Pessina, Piero Mancini, Achille Lollo; concedeu a residência a esses refugiados e isso não chocou a Itália; o caso do Battisti quando chegou ao Brasil, eu procurei ouvir as forças políticas e senti que havia uma resistência muito grande em relação a ele e, naquele momento, declarei ao jornal O Globo, há quatro anos atrás, que como não havia possibilidade política de discutir o caso, a palavra final do Brasil, deveria ser a do STF como foi nos outros casos. Mas nesse ínterim, o governo resolveu, sem me consultar, sem diálogo entre nós, decidiu conceder asilo político. O que não mudou minha posição: acho que a palavra final do Brasil é do STF. Explicando aos cidadãos italianos, tudo que eu fiz no Brasil foi contribuir para a solução dos problemas italianos de uma forma tranqüila. Fui várias vezes à polícia visitar o Luciano Pessina, o Piero; achava que eles estavam inseridos na vida brasileira e talvez não fosse interessante que eles saíssem daqui. FD - Por que votar em Fernando Gabeira? FG - Acho que votar em mim significa quebrar uma hegemonia de um partido político que é o PMDB, uma hegemonia perversa para o Rio de Janeiro - clientelismo, corrupção em alguns setores, como o da Saúde e significa também atraso em muitos pontos. Votar em mim é colocar o Rio de Janeiro no século 21.

f o r u mDEMOCRATICO

29


emigrazione

oal Foto: Arquivo pess

Marisa Oliveira

Antonietta Palmieri Florambel nasceu em Casteluccio Inferiore, província de Potenza, na região da Basilicata. Nas voltas que o mundo dá veio parar no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro. Casou com um brasileiro, José Florambel. Teve filhos e netos. É bonita, alegre e amiga. Sorte de quem a conhece e com ela convive. Tem força e sabedoria. Conta histórias bem contadas, embora tenha esquecido de mencionar que, antes de embarcar no Bretagne, embrulhou um salame, que foi o que a “salvou” da fome, pois a comida era intragável. E tinha a italiana que casara por procuração, sem o noivo conhecê-la. Era surda e carente de atributos de beleza... Muitas histórias, muitos acontecimentos, alguns bem típicos de uma época e de quem precisa deixar o lugar onde nasceu.

polo sé, Piazza del Po Antonietta e Jo FD - Antonietta, que razões a fizeram sair da Itália, cruzar o oceano Atlântico e vir morar no Brasil? AP - Quando eu vim, meu pai e minhas duas irmãs mais velhas já se encontravam no Brasil. Meu pai veio em 1949, em busca de melhores condições de sobrevivência, porque não tendo uma qualificação profissional adequada e sabedor de que no Brasil a oferta de emprego era grande, tomou a decisão de emigrar, seguindo o exemplo de vários paesani, ou seja, resolveu andare in America. Minhas irmãs vieram em 1955 para ajudar com seu trabalho a sustentar o restante da família que ficara na Itália. A idéia era que eu, Pina, minha irmã mais nova, e minha mãe, nós três, tão logo a esperada melhoria das condições econômicas da família que já vivia aqui acontecesse, também viéssemos para nos reunir a eles. Infelizmente minha mãe adoeceu gravemente e não conseguiu o visto para o embarque. Nosso sustento na Itália ficou ainda mais difícil e, em 1959, meu pai decidiu que eu deveria vir para também ajudar, o que, com o tempo, se revelou uma decisão acertada. Em resumo, posso afirmar que as condições econômicas em meu país de nascimento foram determinantes para a minha família decidir emigrar, pois vivíamos em uma cidade pequena que ainda sofria os efeitos da guerra. Não oferecia condições adequadas para o total da sua população, embora pequena (cerca de três mil habitantes).

830

f o r u mDEMOCRATICO

FD - Como foi a chegada no Brasil, que impressões a Srª teve da cidade, do país? AP - Na chegada, os sentimentos se confundiam, eram estranhos para mim. Estava em outro país, pela primeira vez fora da Itália, sem saber como seria o futuro, se veria minha mãe de novo. De fato, nunca mais a vi, minha mãe morreu em Castelluccio, em 1968. Por outro lado, estaria perto de meu pai, que eu não via há dez anos. Minhas irmãs haviam partido quatro anos antes. Eu estava ansiosa para conhecer meus primos, tios e tias que não conhecera na Itália. Tudo isso se confundia com a esperança de melhorar, estudar, trabalhar e, quem sabe, fazer novos amigos. A cidade em tudo me surpreendia: edifícios, carros, bondes, cuja existência eu nem desconfiava. Muita gente nas ruas, que me pareceram muito largas. Tudo era muito grande como jamais tinha visto antes, nem mesmo em Napoli. Grande e diferente. Mas tive que conviver com tudo e ainda esperar por um futuro incerto, o que, para uma menina de 17 anos, se confundia com um sonho, que haveria de ser bom, não podia ser de outra maneira. FD - Nos primeiros tempos, tempos de adaptação, do que mais a Srª sentia falta, em termos de terra natal? AP - Acostumada a falar quase que exclusivamente dialeto, como todos em Castelluccio, sem nenhum conhecimento de idiomas estrangeiros, a dificuldade de aprendizado do idioma português foi imensa. Durante algum tempo usava a linguagem dos gestos para me fazer entender, apontando o pão, a garrafa

Foto: Arquivo pessoal

FD - A Srª pode contar como foi a travessia de navio? Muitas histórias podem ser contadas? AP - Meu embarque se deu em Napoli, em 11 de março de 1959, no navio francês Bretagne. Junto vieram alguns paesani, acho que uns seis ou sete. O balanço do navio, a comida muito diferente, causaram enjôos e alguns passageiros adoeceram. Eu só comia frutas, pão e água. Nem a canja eu conseguia comer. Com essa dieta, nada me afetou, nem enjoada eu fiquei. Com isso ajudava os amigos que comiam e depois devolviam tudo... Levei-os algumas vezes para a enfermaria. Minha atividade principal era assistir às missas que eram diárias; além disso, restava-me ficar olhando o horizonte, que permaneceu imutável durante cinco dias, sem nenhum sinal de terra. Me lembro de uma festa a bordo, que apenas olhei de longe sem vontade de me aproximar, talvez por medo, pois sabia que iam eleger uma rainha de “não sei o quê”, a qual, uma vez eleita, seria jogada na piscina. Isso me encheu de medo – medo

da água, de mergulhar e afundar, medo de ser notada pelos demais.

de leite, etc. Para facilitar, meu pai me apresentou aos comerciantes do bairro, pedindo que procurassem me entender. Um mês após minha chegada, meu pai me levou à Rua da Alfândega para apanhar roupas que costurávamos em casa. Mas ele tinha outras coisas para fazer e, após me explicar como eu deveria voltar, me deixou na loja esperando a encomenda. Nem sei como, mas consegui chegar em casa sem problemas. E ainda não falava nada de português! Freqüentemente me vinha à mente a imagem de minha mãe, minha irmã, dos amigos, agora tão distantes. Longe também ficaram as domingueiras na casa de algum amigo, com as mães sentadas em torno da sala, em vigília. E só dançávamos. Nem mesmo comíamos ou bebíamos. Mas era o divertimento que tínhamos e que deixou saudades. O inverno também pertencia ao passado, com as bolas de neve, a paisagem branca, a lareira acesa na sala-cozinha. Aqui não teríamos mais o ritual da matança do porco, a salsiccia e a sopressata artesanais, feitas com a ajuda de amigas, que levava quase uma semana e, no final, tínhamos alimento para um ano inteiro. FD - A Srª quando emigrou imaginava que ficaria para sempre em terras brasileiras? O que a fez permanecer por aqui? AP - Bem, todo o processo da minha vinda para o Brasil já definia uma situação de caráter definitivo. O grande problema era providenciar a vinda de minha mãe e da irmã mais nova, que era nosso objetivo mais imediato. Em 1960 perdemos nosso pai, doloroso imprevisto para nossos objetivos. Agora éramos só nós três para trabalhar e conseguir dinheiro suficiente para nos sustentar e mandar alguma coisa para minha mãe e minha irmã. Naquela ocasião, até pensamos em retornar à Itália, mas aqui tínhamos algumas perspectivas e lá voltaríamos para as mesmas condições, sem emprego, sem dinheiro, só a casa própria e mais nada. A vinda da minha mãe, bem como da minha irmã, tornou-se um sonho jamais realizado. Minha irmã se casou na Itália, em 1964, e minha mãe faleceu em 1968. O sonho de reunir toda a família parecia impossível. Retornar como? Meu cunhado, operário qualificado, não tinha nenhum motivo para emigrar e a Itália, na década de 60, já era um país em franco

Antonietta e José em Canoa Quebrada, Ceará Julho/Agosto 10


Foto: Arquivo pessoal

em i g r a ç ã o

FD - Para a Srª, onde é o melhor lugar do mundo? AP - O melhor não dá para responder, mas apenas posso comparar meu país de nascimento e meu país adotivo ou que me adotou. Como estou aqui há 51 anos, só posso dizer que viver aqui foi o que de melhor me aconteceu e ir para a Itália como turista pode ser muito melhor que viver lá.

José em Oppido Lucano

Tuni e Maria no Rio (Engenho Novo) Foto: Arquivo pessoal

FD- A Srª já retornou à Itália algumas vezes. Retornar ao país onde nasceu, à cidade onde cresceu desperta que sentimentos na Srª? AP - Com o passar dos anos eu e meu marido começamos a pensar em viajar e o destino óbvio seria a Itália. A idéia da viagem ia amadurecendo, deixando de ser um sonho impossível, que teimava em não chegar. Esse dia tão esperado chegou em julho de 1980, mas não iríamos diretamente para a Itália e sim Paris. E só após 15 dias fomos para a Itália, depois de percorrer outros três países da Europa. Finalmente, em 12 de julho, no dia do aniversário da minha irmã Antonietta e Pina, chegamos em Milano – uma outra Itália, onde o dialeto já não tinha vez, um “país” mais rico, uma vida mais agitada de cidade grande. Só mesmo Castelluccio parecia imutável: tudo estava igual como deixara – as ruas, as casas, a minha casa, que havíamos vendido a uma prima. O primeiro impacto foi bastante penoso. Tudo igual, mas faltava a vida em família, a minha mãe, as coisas de que gostava de fazer. Mas retornar foi bom e a acolhida maravilhosa. Hoje, após várias viagens, já me acostumei à nova Itália, que, às vezes, me parece um país estrangeiro, pois antes só existiam duas cidades a minha e a de meu pai, Lagonegro.

para os jovens que sonham em deixar seu país de origem? AP - Que nenhuma mudança é garantia de sucesso. O risco é muito grande, mas, em algumas situações pode ser a única alternativa, como no meu caso. Antes de mais nada, cada um deve amadurecer muito a idéia, da forma mais realista possível. Os jovens devem ter em mente que o objetivo deve ficar bem claro antes de tomar qualquer decisão nesse sentido e, lógico, entrar na luta com muita vontade de vencer. Outra coisa muito importante é que qualquer decisão que seja tomada de forma pessoal afeta outras pessoas, toda a sua família.

Foto: Arquivo pessoal

desenvolvimento. Aqui, no Rio de Janeiro, com uma casa alugada, mas que nos atendia plenamente, conseguimos sobreviver e, então, perfeitamente adaptadas ao Brasil, já não pensávamos em voltar. Em 1964, casei-me. Novos desafios, novas lutas e prioridades. Novos amigos, novo estilo de vida. Sentia-me cada vez mais distante da minha terra, mas ainda tinha a esperança de um dia rever minha cidade, os amigos e parentes que lá ficaram.

pessoal

Antonietta em Lagonegro

Foto: Arquivo

Foto: Arquivo pessoal

Tuni e amigas em Lauria

FD - Emigrar, imigrar. Movimentos de ir e vir. Sobre isso, o que a Srª teria a dizer

Julho/Agosto 10

f o r u mDEMOCRATICO

31


em a u rtí c i o ns e i dãl

cultura

Fotografo dalla metà degli anni 70, quando ancora studiava Comunicazione in Francia, Maurício Bueno Seidl, è, in verità, un pittore della luce per la grande capacità che possiede dell’arte e della tecnica fotografica. Per lui, tutto esiste -si potrebbe direper essere catturato dalla macchina fotografica. E Maurício lo fa con una sensibilità senza uguali, originale. Coautore del libro Velho Chico mineiro - che ritrae le sue peregrinazioni per il mitico rio São Francisco-, collaboratore di numerosi giornali e riviste, Seidl ha percorso il mondo con la sua macchina. Ha abitato in Francia, come si è già detto, ma anche in Algeria e in Mozambico, presente nell’epopea della liberazione nazionale di queste due ex colonie europee. Il suo ultimo viaggio? Addirittura il Vietnam, una terra eroica. La patria di Ho Chi Minh, Giap e Le Duc Tho. Una terra della quale Maurício Seidl ha fotografato la bellezza e lo splendore, con un registro etnografico, in pratica. A rigore le immagini riprodotte parlano esse stesse - o meglio disegnano un bel quadro di uno dei paesi più affascinanti del mondo attraverso la sua capitale Hanói. Ammiriamole, quindi.

v

i

Fotógrafo desde meados da década de 70, quando ainda estudava Comunicação na França, Maurício Bueno Seidl é, na verdade, um desenhista da luz, tamanho o domínio que exerce sobre a arte e a técnica de fotografar. Para ele, tudo existe para ser captado pela câmera, dir-se-ia. E Maurício faz isso com uma sensibilidade ímpar, original. Co-autor do livro Velho Chico mineiro - que retrata suas andanças pelo mítico rio São Francisco -, colaborador de inúmeros jornais e revistas, Seidl correu mundo com sua máquina a tiracolo. Morou na França, como já foi dito, mas também na Argélia e em Moçambique, presenciando a saga da libertação nacional dessas duas ex-colônias européias. Sua última viagem? Nada mais nada menos do que o Vietnã, uma terra heróica. A pátria de Ho Chi Minh, Giap e Le Duc Tho. Uma terra que Maurício Seidl fotografou com beleza e candura, em registro de natureza etnográfica, praticamente. A rigor, as imagens estampadas aqui falam por si só – ou melhor, desenham um belo painel de um dos países mais fascinantes do mundo, através de sua capital, Hanói. Vamos a elas, então.

832

f o r u mDEMOCRATICO

Julho/Agosto 10


fotografia

Julho/Agosto 10 Agosto/Setembro 09

cultura

f o r u mDEMOCRATICO

33


v

i

em a u rtí c i o ns e i dãl

cultura

834

f o r u mDEMOCRATICO

Julho/Agosto 10


fotografia

Julho/Agosto 10

cultura

f o r u mDEMOCRATICO

35


cultura Marisa Oliveira

O direito de fantasiar e colorir a vida Anjos da guarda, livrinhos de colorir, caixas de lápis de cor, a casa, a rua, a cidade: peças importantes no universo encantatório da arte produzida por Elenice Nogueira, a Elê. Carioca, Elê nasceu em Marechal Hermes, no Rio de Janeiro. Curiosa, irriquieta, é ilustradora, tatuadora, pintora, costureira, o que se apresentar. Tem nos amigos a força necessária para prosseguir, acreditar, ir além do seu próprio talento. FD - Como se deu o contato com as Artes Plásticas? EN - Primeiramente em família com minha avó, que me contava que pintava enxovais para as lojas da redondeza de Rocha Miranda, onde ela morava. Ela também pintava telas. E tinha meus amigos, que me davam livros de arte que ganhavam em leilões de arte. Mas foi meu primeiro anjo da guarda a jornalista alemã Astrid Prange, que me apresentou o Parque Lage. Quando ela teve que voltar ao seu país me deixou aos cuidados da Yvone Bezerra de Mello. Nessa época eu já estava por aí...

relações se dão através de mecanismos impessoais, onde as leis são os pontos focais e dominantes (e não as pessoas). Ambos revelam o que a sociedade pensa e como institui códigos de valores e idéias. Para você que viveu a rua como se fosse casa, de que maneira a casa e a rua estão presentes na sua obra? EN - No início da carreira por pinturas que retratavam cenas violentas ou não do cotidiano das crianças nas ruas; hoje, por cenas também de crianças, mas não tão evidentes, mais escondidas, mais felizes.

FD - O antropólogo Roberto DaMatta observa a sociedade brasileira, em suas relações sociais, trabalhando os conceitos da casa e da rua. A casa, local privilegiado, onde prevalecem as preferências, os laços de simpatia e lealdade pessoais, as compensações. Em oposição, a rua, local onde as

FD - Qual delas tem maior relevância? EN - As duas têm igual importância para mim; gosto de quem eu sou e devo isso às duas experiências que tive oportunidade de ter durante a minha existência - na medida do possível, uma

Livro de cabeceira Livros de bibliografia de artistas plásticos, mas, na verdade, não leio tanto quanto eu gostaria, livro é muito caro. Prato preferido Bife à milanesa. Artista que desponta Hundertwasser Local para viver Meu país, Brasil, minha cidade, Rio de Janeiro, em minha casa. Local para trabalhar Meu ateliê

excelente educação religiosa, em casa, o que eu acho que não permitiu que eu me corrompesse nas ruas. Até hoje, quando eu tenho que tomar alguma decisão importante, penso no que meu pai e minha mãe me diriam; apesar de parecer confuso, isso acontece! E, nas ruas, fiz grandes amigos e tive a oportunidade de ter experiências que com certeza eu não teria tido se eu não tivesse saído de casa. Entre as boas e as ruins, a mais importante delas é ter acesso à educação, estou cursando uma faculdade. Tenho muito a agradecer ao Sr. Paulo Tupinambá e à Srª Lydia Kristina Swam, que me concederam a oportunidade de me tornar cidadã e de perceber que a gente pode ser o que sonhar. FD - Por quais caminhos sua formação artística tem se dado? EN - Estou terminando meu curso universitário de Educação Artística / Artes Visuais no Instituto Metodista BENNETT. Continuo pintando e fazendo exposições sempre que sou convidada. Mas meu primeiro contato formal com as Artes, em termos de aprendizado, foi na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, aos dezesseis anos, através de uma bolsa concedida pela

“Pão de Açúcar” 115cm x 154cm

836

f o r u mDEMOCRATICO

Julho/Agosto 10


artes plásticas

cultura

“Cristo”

152cm x 150cm

professora Maria do Carmo Secco. FD- O que você considera mais marcante nessa trajetória? EN - Considero mais marcante a força que os muitos amigos que fiz durante minha trajetória sempre deram e ainda dão. Graças a eles tenho conseguido prosseguir com minha carreira. São eles que me fazem acreditar que eu posso, que eu tenho talento e que não posso desistir. FD - Quais foram suas primeiras influências em termos de produção de arte? EN - Minhas primeiras influências foram uns livrinhos de colorir e caixa de lápis de cor que meu pai me dava sempre, sempre e sempre. Por qualquer motivo de natureza boa eu ganhava presentes acompanhados desses livrinhos, que de um lado vinham com desenhos coloridos e do outro vinham em preto e branco para colorir igual. Depois uns livros da Editora Globo que eu comprava no jornaleiro, livros de aulas de pintura.

“Meninos jogando futebol” 200cm x 200cm

FD - E atualmente? EN - Atualmente, aprendo com a minha curiosidade, na faculdade e também aprendi muito no Parque Lage, com a professora Maria do Carmo Secco.

“Sem título”

160cm x 200cm

FD - Através do trabalho de muitas organizações sociais, as Artes têm sido generosas para muitos brasileiros, dando-lhes cidadania, perspectiva de vida, dignidade. As cores, as tintas e as telas também têm sido generosas com você? EN - Sim, imensamente, dando-me todas as coisas citadas acima. Me sinto tendo nas mãos o direito de fantasiar e de colorir a vida do jeito que eu achar mais legal, liberdade de viajar e sonhar. FD - Além de artista, você exerce outras atividades profissionais? EN - Um monte, não paro nunca!!!

Mostras de que participou: Coletivas 1998 |Colégio Batista de São Paulo junto com Aldemir Martins. 2001 |Barrearte, espaço de Artes Plásticas do restaurante Barreado, em Vargem Grande – Rio de Janeiro. |Espaço Velox de Arte contemporânea, Barra Shopping Rio de Janeiro. 2002 |Casa da Matriz, Rio de Janeiro

“Crianças”, 200cm x 165cm

FD - Dizem que todo artista é sonhador. Quais são os sonhos da Elenice Nogueira? EN - Ser reconhecida pelo meu trabalho, e poder trabalhar até meu último suspiro.

Individuais 1998 |Individual Internacional (entre outras) - The Human Development Department of The World Bank Latin America & The Caribbean Regional Office, The Brasil Country Department, and The World Bank Art Program As 19 telas expostas fazem parte do acervo permanente do Banco Mundial, em Washington, DC. 2003 |Individual Internacional - Rathaus Königswinter - Alemanha. 2009 |Galeria Schön, Bonn - Bad Godesberg - Alemanha

Nome completo: Elenice Lino Nogueira Idade: 31 anos, mas...dizem que o artista não tem idade!!! Local de Nascimento: Marechal Hermes, Rio de Janeiro - RJ Formação: Último semestre de Educação Artística Profissão: Artista Plástica Empregos/Atividades: Diversos... ilustradora, tatuadora, costureira, pintora, etc.

“Brincadeira de criança”, 150cm x 200cm

Julho/Agosto 10

f o r u mDEMOCRATICO

37


cultura

r e f l e x ã o

Luis Maffei luis.maffei@terra.com.br

Cadelas Céleres da Raiva O

dia do rock ser comemorado por agora, mais precisamente a 13 de julho, fez-me pensar que, se eu fosse uma jovenzinha na época atual, gostando de rock como eu gosto e inconformado/a com o estado das coisas, constrangedor de qualquer ideia de revolução, montaria um conjunto de nome Cadelas Céleres da Raiva. Mário da Gama Kury, com essa expressão, traduz um verso d’As Bacantes1 , e não sei se é boa ou má tradução porque não sei grego, tampouco conheço o texto da tragédia no original. Mas me soa bem o verso, pródigo de aliterações em “c” e “r”, como se a celeridade e a raiva estivessem na própria constituição da palavra báquica. Dizendo respeito às mênades a questão, a jovem que ora me projeto teria severos problemas com que lidar. Neste tempo, qualquer discurso pode ser apropriado pela espetacularidade que domina nossas expressões e mentes. Portanto, correria eu/ ela o risco de “cadelas” ser encarado como provocação barata, e isso, o que é pior, poderia agradar. Ainda pior: se se sexualizasse, ao modo de hoje, essa expressão (no texto grego, a sexualidade é celebrada em seu Ilustração: Ana Maria Moura aspecto divino, não em qualquer outro), o tiro meu/dela sairia pela culatra – e não imagino que o apelo fizesse alguém ir correndo ler Eurípides. A culatra esburacada se mostra: haver um dia para o rock é contra o rock, assim como haver incontáveis ruas Luís de Camões em Portugal é contra Camões, assim como haver um aeroporto Antônio Carlos Jobim no Rio de Janeiro é contra Jobim. A raiva da moça-eu certamente se multiplicaria quando a genuína revolta dela/minha fosse enfiada no mais banal dos balaios, onde haveria outros gatos, sobretudo pardos, se debatendo comigo/com ela. O fato de o dia do rock ter sido celebrado recentemente despertou-me essas reflexões, inclusive sobre não haver mais peculiaridade no gesto roqueiro; de modo semelhante, não tem existido muita densidade em

838

f o r u mDEMOCRATICO

gestos de fundo identitário. Acaba de se concluir uma Copa do Mundo, e notei, sem surpresa nem gosto, que ainda se torce pela Seleção Brasileira, e que, na aparência, se torce mais do que nunca. No entanto, parece-me que se substituiu a identidade por um tipo adesivo de identificação, e é possível torcer pelo Brasil assim como é possível torcer por qualquer outra seleção, por qualquer outro time, por qualquer outra coisa. Quando falo em identidade, não me refiro a identidade nacional, mas a identidade de torcedor. Como poucos ainda sabem, torcedor é aquele que tem pouco a ganhar e muito a perder; quando a equação se inverte, tem lugar algo distinto da paixão. E o rock com isso? Ainda se veem adolescentes vestidos de negro, ou com camisetas remissivas a algum grande conjunto do passado – sim, do passado, pois mesmo os do presente são os do passado. Mas os pobres meninos e meninas agarramse a fantasmas, e fantasmas não têm espessura suficiente para serem agarrados: hoje em dia, o rock é celebrado educadamente (educativamente?) em qualquer programa de tevê e em qualquer ambiente familiar. Em nossa época, até o satanismo pode ser rentável. Se alguém menos jovem e idealista que a jovem que eu seria me dissesse essas coisas, ou eu/ela ficaria ainda mais animado/a com as Cadelas Céleres da Raiva, ou aconteceria o chamado choque de realidade. Se isso me moveria a repensar as possibilidades das revoluções, não sei. Só sei que, na condição que realisticamente experimento, penso nisso todos os dias.

1 EURÍPIDES. Ifigênia em Áulis/ As Fenícias/ As Bacantes. Tradução do grego e apresentação de Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

Julho/Agosto 10


Maio/Junho 10

f o r u mDEMOCRATICO

39


REMETENTE: Associação Anita e Giuseppe Garibaldi Av. Rio Branco, 257 sala 1414 Cep. 20040-009 Rio de Janeiro forum@forumdemocratico.org.br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.