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Dezembro 2008 Revista Mensal 3 Euros



Associação Mutualista Benéfica e Previdente

Uma transição Benéfica

A Associação Mutualista Benéfica e Previdente acaba de alargar o seu já vasto leque de intervenção social no Norte do País. Desta feita, foi a Câmara Municipal do Porto que, através da Fundação Porto Social, transferiu a gestão da Casa das Glicínias para a Benéfica, que passa assim a assumirse como entidade responsável pela prestação de um largo conjunto de valências que servem as populações de um dos mais carenciados territórios da cidade do Porto. A Casa das Glicínias situase no Bairro de Contumil e, entre os diversos serviços que assegura àquelas populações, destacase o apoio domiciliário, centro de convívio e outros serviços destinados, quer a crianças, jovens, familiares, quer a toda comunidade em geral: biblioteca comunitária, OTL, acompanhamento individual e à família, mediação familiar, formação, educação e orientação profissional. A Vereadora do Pelouro da Acção Social esteve presente na cerimónia que assinalou o 12º aniversário da casa e simbolicamente, oficializou a passagem de testemunho e felicitou Carlos Salgueiral, presidente da Benéfica. Que parcerias celebrou a Benéfica para tornar possível esta gestão? CS – A principal parceria existe com a Segurança Social, como é óbvio, devido às comparticipações por utente e que vem já da gestão anterior. Depois, existem parcerias celebradas com inúmeras entidades e instituições da zona envolvente, precisamente no sentido de que falava, de colocar o equipamento à disposição das mesmas. Esta cedência das instalações por parte da autarquia portuense terá algo a ver com o encerramento ordenado pela Câmara Municipal do Porto do apartamento da Benéfica que albergava indivíduos seropositivos, que frequentavam programas de reinserção na instituição? CS – Penso que não… Tratam-se de processos diferentes e creio que não existem aqui quaisquer tipos de compensações, nem tão pouco as aceitaríamos se fosse o caso. Pelo que sabemos, a primeira entidade a ser convidada pela autarquia para gerir este equipamento foi a Obra Diocesana, que não entendeu poder assumir esta responsabilidade. Só depois falaram connosco… Que projecto tem a Benéfica para a Casa das Glicínias? Carlos Salgueiral (CS) – Este é um grande projecto e um desafio que foi colocado à Benéfica e Previdente pela Fundação Porto Social, no sentido de gerir este equipamento social. Até Junho, estava a ser gerido pela Fundação, que é um departamento da Acção Social da Câmara Municipal do Porto, que considerou não possuir condições para continuar com a gestão e, nesse sentido, convidou-nos. Naturalmente, avaliámos os prós e os contras, encontrámos viabilidade no projecto e achámos que poderíamos prestar mais um contributo, com o cunho da Benéfica, a quem beneficia da existência desta casa, que apresenta um potencial enorme. Que valências estão integradas na Casa das Glicínias? CS – Existe o apoio domiciliário – foi integrado o serviço que prestávamos anteriormente na Benéfica -, neste momento apoiamos 70 idosos graças a esta valência; temos um centro de convívio para 25 utentes e um centro comunitário, onde em tempos chegou a apoiar cerca de 200 utentes, um objectivo que pretendemos igualar. Neste momento e apenas em 2 meses operacionais, já apoiamos cerca de 90 utentes mês. Este equipamento insere-se numa zona crítica da cidade. Em que medida poderão as populações aqui residentes beneficiar do mesmo? CS – Este equipamento destina-se precisamente às populações da zona envolvente. Entendemos que esta casa tem que estar aberta essencialmente à comunidade local e pretendemos voltá-la para o exterior.

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Instituto Português do Sangue

Dar sangue, uma missão... possível O Instituto Português do Sangue, IP tem por missão regular, a nível nacional, a actividade da medicina transfusional e garantir a disponibilidade e acessibilidade de sangue e componentes sanguíneos de qualidade, seguros e eficazes. O IPS, IP é um organismo público, dotado de personalidade jurídica e autonomia técnica, administrativa e financeira, que integra a rede de serviços personalizados do Ministério da Saúde. É constituído por 3 Centros Regionais de Sangue, localizados em Lisboa, Porto e Coimbra e pelos Serviços Centrais. No ano de comemoração dos 50 anos do Instituto Português do Sangue, Gabriel Olim, presidente do Instituto, ajudou-nos a percepcionar algumas vertentes da realidade actual da medicina transfusional em Portugal. O sexo feminino e a dádiva de sangue

Embora o número de doações não corresponda ao número de inscrições para doação, notamos que cada vez mais mulheres estão a dar sangue. Até à idade dos 41 anos, a maioria dos dadores é do sexo feminino. Este facto é mais significativo se tivermos em consideração que as mulheres só podem dar sangue três vezes por ano, enquanto os homens podem dar quatro, e que são as mulheres que mais apresentam razões para adiamento da doação, nomeadamente, anemia e gravidez. Esta tendência deverá manter-se pois dois terços das pessoas com idade compreendida entre os 18 e os 21 anos que se inscreveram para dar sangue, em 2007, eram mulheres.

O envelhecimento da população e o aumento do consumo de sangue

Gabriel de Olim

O envelhecimento da população leva ao aumento das necessidades de sangue. Foi verificado através de um estudo realizado em Espanha, e que tentaremos realizar também em Portugal, que a principal causa para o aumento do consumo de sangue é o envelhecimento da população. A média das idades dos consumidores/utilizadores era de 72 anos. O aparecimento de doenças para cujo tratamento é necessário recorrer às transfusões de sangue, e dou como exemplo a colocação de próteses ósseas, as doenças ligadas a artérias (aneurismas) e as doenças oncológicas, é mais frequente numa população envelhecida.

Licenciatura em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa, 1973 Especialista em hematologia, Ordem dos Médicos, 1982; Chemical Warfare Defense Training, School of Aerospace Medicine, Brooks AFB, Texas, USA, 1982; Aerospace Physiology Course for Allied Medical Officers, School of Aerospace Medicine, Texas, USA, 1982; Médico aeronáutico pela School of Aerospace Medicine, Brooks, Texas, EUA, 1982; Especialista em medicina aeronáutica, School of Aerospace Medicine, EUA, 1988; Competência em gestão de serviços de saúde, Ordem dos Médicos, Lisboa, 2003; Exercício de actividade docente nas áreas das suas especialidades; Representante da Força Aérea Portuguesa em comissões e grupos de trabalho especializados; Representante de Portugal em grupos de trabalho da OTAN; Hematologista clínico do Hospital da Força Aérea; Major-general médico aeronáutico; Presidente do Conselho Directivo do Instituto Português de Sangue.

Conferencista convidado para reuniões científicas sobre hemoglobinopatias ou transfusões, em Itália (Instituto superior di Sanita di Itália—Roma e Hospital Magiori di Milano—Milão); na China (Chinese Red Cross—Pequim e Chinese Medical Association Zhuhai--Guandong); na Índia (Indian Society of Blood Transfusion and lmunohemoterapy, em Nova Deli, Madurai e Madras); em Macau e Portugal;

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A auto-suficiência e as reservas de sangue

Ao longo do ano 2007 foram efectuadas quase 375 mil doações, ou seja, mais de mil doações por dia, em média. Em Portugal, tem havido um aumento da necessidade de sangue devido, sobretudo, ao referido envelhecimento populacional, ao aumento do número de transplantes de órgãos e ao programa de recuperação das listas de espera para cirurgia. Mas tem havido também um aumento das doações. Estas têm vindo a crescer de ano para ano e, se o crescimento continuar ao ritmo actual, atingiremos este ano as 380.000 doações a nível nacional. Em termos gerais, para nos equipararmos à média europeia, precisamos de quatro doações por 100 habitantes. Neste momento, temos 3,5 por 100 habitantes, apesar disso temos sido auto-suficientes. Não temos grandes reservas de sangue mas também não desperdiçamos sangue. Temos procurado manter reservas suficientes para 7 dias de consumo normal mas esta é uma meta muito difícil de atingir devido, em primeiro lugar, à escassez de pessoal treinado.

Recolha de sangue: disponibilidade sazonal


etc. A selecção é muito rigorosa e as pessoas compreendem que tem que ser assim. Temos o dever de garantir aos doentes que o sangue é seguro. Faz parte da nossa missão! Actualmente são adiados ou não aceites como dadores cerca de 28 por cento dos candidatos que se apresentam para dar sangue. Esta situação, difícil de alterar apesar das medidas que têm vindo a ser tomadas, cria grandes dificuldades a quem organiza as equipas para as brigadas móveis. O módulo das nossas brigadas móveis são constituídas por um médico, duas enfermeiras, um auxiliar, um administrativo e um condutor, para cada 50 inscrições. Se houver mais de 50 dadores inscritos já é necessária a deslocação ao local de duas equipas. Por vezes é necessário deslocar oito médicos, mais de 20 enfermeiros, administrativos e auxiliares. Se um terço dos dadores atendidos não estiver em condições de doar sangue, isso significa, em termos de recursos, que estiveram equipas ocupadas mas com pouco aproveitamento. A maior parte do pessoal afecto às colheitas de sangue não faz parte dos quadros do Instituto. Recorremos, frequentemente, a contratos de trabalho temporário para conseguir o pessoal suficiente para o desempenho de tarefas tão importantes e delicadas.

A problemática do VIH/Sida

Actualmente, estamos relativamente estáveis quanto a recolhas de sangue. A capacidade de colheita nos três Centros Regionais está prestes a atingir o limite máximo possível, tendo em conta os meios de que dispomos. As doações têm um carácter sazonal. Baixam em Agosto, em Janeiro e Fevereiro. Em Agosto porque é mês de férias, as escolas e Universidades estão encerradas, diminui o número de profissionais disponíveis, etc. Janeiro e Fevereiro, porque são meses em que se regista mais frio e chuva e os dias são mais curtos. As pessoas sentem-se menos disponíveis para se deslocarem até aos locais de colheita. Melhora em Março, Abril, Maio e Junho. Estamos a apostar forte nesta problemática e nesse sentido, através de várias acções, foi possível reduzir a quebra nas doações durante o Verão. A quebra de colheitas no Verão acontece em todo o mundo. Esta sazonalidade é compensada com a menor produtividade cirúrgica hospitalar durante o Verão. Calculase que cerca de 80% do sangue é utilizado em cirurgia programada e durante o Verão também o pessoal dos Hospitais está de férias. Todavia deve-se assinalar que este ano o consumo de sangue durante o mês de Agosto não foi muito inferior ao verificado nos outros meses, o que pode significar alteração no habitual padrão de actividade hospitalar.

A doação responsável e o controlo dos recursos

Nós sabemos que o dador é, de um modo geral, generoso, educado e altruísta. Também acreditamos que o dador de sangue é uma pessoa saudável e responsável. Podemos até afirmar que a generosidade do País se pode medir pelo número de dadores voluntários. Só no Instituto Português do Sangue estão registados mais de 700.000 dadores. As pessoas quando vão dar sangue deverão ter condições para serem aceites como dadores. De facto, não vale a pena apresentarem-se para a dádiva se tiveram comportamentos de risco, se fizeram tatuagens recentemente, se estão com sinais ou sintomas de doença,

Apesar de ser número muito baixo, estamos a notar que o número de unidades de sangue inutilizado devido a testes positivos para o vírus HIV este ano é superior ao do ano passado. Parece que algumas pessoas perderam a consciência do perigo que representa uma infecção por HIV. Temos que alertar o cidadão para o facto da infecção por VIH continuar a ser tão perigosa como antes. Não deixou de ser uma doença infecciosa muito problemática. É importante consciencializar as pessoas nesse sentido. No entanto, não podemos dizer que as doações com testes positivos para o VIH são provenientes de dadores que tiveram comportamentos de risco, porque esta questão não é tão linear quanto isso. É conhecida a existência de factores que podem contribuir para que alguns dadores, mesmo não tendo comportamentos de risco, corram o risco de infecção. Os dadores cujos testes foram positivos são contactados e enviados às consultas de especialidade a fim de serem devidamente acompanhados e tratados.

Inovação informática: Novo sistema de rede de comunicação

• As reservas de sangue Nós estamos a apostar no desenvolvimento da nossa capacidade informática. Estamos a ser inovativos no relacionamento com os dadores, com a população em geral e no modelo de gestão do sangue. Ganhámos, já este ano, o prémio do Hospital do Futuro na categoria e-Saúde com um programa que permite aceder às reservas de sangue, através da Internet, no sítio do IPS (www.ipsangue.org.pt.) É um projecto com alguma complexidade mas de grande importância, não só pela divulgação de informação ao dador e aos profissionais, mas, e sobretudo, pela transparência que demonstramos no relacionamento com a comunidade. A informação é actualizada a cada três horas e portanto, a cada momento, qualquer pessoa interessada, esteja onde estiver, pode ficar a conhecer qual a reserva de sangue no Instituto Português do Sangue. Inicialmente houve algum receio de que os dadores, ao verificarem que havia boas reservas de sangue, desmobilizassem. No entanto, sou da opinião contrária, se houver sangue, as pessoas sabem que existe muita gente a dar sangue e tendem a querer participar também neste grande movimento solidário que é o da doação de sangue. As pessoas sabem que se não houver reposição as reservas rapidamente se esgotam. Desenvolvemos também no próprio Instituto um Programa de Monitorização das Reservas de Sangue Nacionais que permite verificar, em cada momento, qual a situação nacional das reservas. Permite conhecer as reservas por hospital, os padrões de

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consumo, o número de colheitas efectuadas, os fornecimentos disponibilizados pelo Instituto ao longo do ano. Trata-se também de um programa inovador e ferramenta fundamental para a gestão do sangue a nível nacional. Este projecto só foi possível através de uma forte cooperação com os Hospitais, e nesse aspecto, honra lhes seja feita porque todos aderiram. A nossa tabela corresponde a 7 dias de reserva (representada a cor verde); quando a reserva se encontra abaixo dos sete dias a tabela passa a amarelo e se for inferior a 4 dias é representada pelo vermelho. • A rede de comunicação com os hospitais Colocámos todos os Hospitais públicos do país em rede com o Instituto Português do Sangue, ou seja, neste momento por termos acesso as existências de sangue de cada hospital, com informação actualizada hora-a-hora, foi possível ao Instituto receber unidades de sangue dos hospitais e redistribuí-las pelos mais deficitários. Aos hospitais que não colhem sangue, a esmagadora maioria, aconselhamos a manutenção de uma reserva de sangue suficiente para quatro/cinco dias de consumo médio diário. É uma boa margem de segurança. Assim, mesmo que as reservas do IPS estejam a vermelho, o que tentamos evitar a todo o custo, isso não significa que haja falta de sangue no País. No entanto, quando a nossa reserva começa a baixar, convocamos os nossos dadores por SMS ou telefone para que a reposição seja feita e para que a falta de sangue não se reflicta nos hospitais.O facto de termos três Centros Regionais de Sangue (no Norte , Centro e Sul do País) permite-nos, rapidamente, enviar as unidades de sangue necessárias para os hospitais da respectiva

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área ou de um Centro para o outro. Pensando neste cenário, melhorámos o sistema de modo a que os hospitais debitem a informação para a nossa rede. Nós sabemos exactamente quem tem e quem não tem e que grupos sanguíneos é que têm. Esta informação é de importância crítica e fundamental para uma boa gestão do sangue! Pretendemos criar confiança nos hospitais, de modo a que só requisitem as unidades que realmente precisam. Estamos a criar ligações que tirem a pressão relativa à falta/falha de sangue e a organizar as entidades envolvidas. Neste novo sistema o mais importante foi conseguir congregar todos os hospitais do País numa única rede. • Disponibilidade de informação para os dadores Criámos ainda um serviço de consulta para o dador. O dador através do nosso sítio na Internet e através de um PIN, do qual é portador, pode ter acesso à sua ficha de dador. Cada dador pode consultar directamente o seu histórico de doações, pode ver em que datas efectuou as suas doações. Através destas informações, o dador pode programar e marcar quando vai fazer a sua doação procurando no calendário o mapa de brigadas para os próximos três meses, em cada um dos Distritos. Depois, dois ou três dias antes, enviamos uma mensagem SMS a relembrar ao dador a marcação da dádiva. Este serviço de SMS foi criado em parceria com a Fundação Vodafone. Acabámos também de disponibilizar um outro serviço ao dador que consiste no envio, também por SMS, da informação do resultado da doação, isto é, se as análises estão normais ou anormais e portanto se a doação foi aceite ou recusada. É através desta interacção com hospitais e dadores de sangue que esperamos continuar no caminho da auto-suficiência de sangue.


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Secção Regional Norte da Ordem dos Enfermeiros

Ordem para melhorar

A Ordem dos Enfermeiros, entidade criada pelo Estado português com o intuito de delegar no seio da própria classe profissional a sua regulação, no que concerne ao seu exercício e disciplina, mas igualmente à dignificação da mesma, está a comemorar a sua primeira década de existência. Um dos seus núcleos fundamentais em matéria de dinamismo e defesa de uma linha de orientação profissional cada vez mais enquadrada com os exigíveis critérios de qualidade nos cuidados a prestar tem vindo a revelar-se a Norte do País. A Secção Regional do Norte (SRN) da Ordem dos Enfermeiros, cujo Conselho Directivo foi eleito no passado mês de Dezembro para um quadriénio, presidido por Germano Couto, define objectivos fundamentais e muito pragmáticos para o exercício, como o próprio afirma, em prol do cidadão que recorre à prestação de cuidados de enfermagem. Em entrevista á Medicina&Farmácia, Germano Couto revela que “somos o que fazemos porque o decidimos através de uma profunda reflexão apoiada em princípios científicos, humanos e éticos”. Por permanecerem ainda muitas dúvidas relativamente ao assunto, começaria por lhe perguntar que diferença existe entre a Ordem dos Enfermeiros e um qualquer Sindicato dos Enfermeiros. Germano Couto (GC) – À primeira vista pode parecer confuso… No entanto, as ordens profissionais e os sindicatos têm objectivos diferentes. As ordens profissionais foram criadas por devolução de poderes do Estado, no sentido de regularem a profissão. Ou seja, o Estado devolveu aos profissionais de determinada profissão o poder de regularem o acesso ao exercício da mesma e o poder disciplinar sobre os membros dessa mesma profissão. Já os sindicatos são diferentes. Correspondem a uma associação de enfermeiros, que livremente aderiram a esse sindicato, assumindo um carácter mais laboral, de defesa de direitos do trabalhador. Já nas ordens, como é o caso da Ordem dos Enfermeiros, a inscrição é obrigatória. No caso da profissão de enfermeiro, a Ordem estabelece que apenas podem exercer os diplomados em Enfermagem. Regulamos para que não haja usurpação de funções por outros profissionais que não sejam enfermeiros e disciplinamos, no sentido de aqueles enfermeiros que não cumprem o dever deontológico perante a profissão e o cidadão sejam punidos através de diversas sanções que poderão ir desde a escrita até ao próprio afastamento da profissão. Claro que não é esse o grande desiderato da Ordem, nem queremos, de forma alguma, assustar os colegas, mas temos que pensar que também é uma das suas funções. O sindicalismo defende, como disse, os direitos do trabalhador, como por exemplo na vertente salarial, que é uma das áreas em que a Ordem não pode entrar, a das negociações salariais, muito embora muitos colegas nossos tenham - Licenciatura em Enfermagem essa noção errada de que a Ordem não luta pelos direitos dos enfermeiros do ponto de vista salarial. - Especialização em Enfermagem de Saúde Materna Claro que a Ordem dos Enfermeiros assume duas aspirações muito significativas, que são a defesa da e Obstétrica dignidade da profissão, o qual se cruza muitas vezes com salários indignos e sem qualquer lógica Funções actuais: dentro do paradigma social actual português, e a qualidade dos cuidados. E esta envolve pra- Presidente do Conselho Directivo Regional da Secção ticamente tudo. E se um enfermeiro tem um salário pouco digno ou trabalha em condições Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros deploráveis, a Ordem tem que intervir para que a qualidade dos cuidados não seja colocada - Categoria Profissional: Enfermeiro-Chefe no CS de Vila do em questão. Assim sendo, a Ordem tem uma área de actuação muito vasta e, muitas vezes, Conde e Modivas / Unidade de Modivas pouco definida. Eu próprio, quando integrei os corpos sociais da Ordem dos EnfermeiArtigos publicados: ros, ainda tinha muitas dúvidas, tal como acontece ainda hoje com uma grande parte O luto por morte perinatal e/ou malformação do bebé. “Rev. dos nossos colegas. Daí ser importante elucidá-los e nós, SRN e a própria Ordem em Reencontro”. 3:1 (Jan. / Ago. 2000), p. 10-6. geral, temos tentado, através de várias acções, esclarecer os enfermeiros. Portanto, Violência Infantil / Desagregação Familiar: papel do enfermeiro. “Rev. Ecos da Enfermagem”. 32:215 (Mai. / Jun. 2000), p. 3-4. Suplemento. A Chefia / Liderança em Enfermagem: um caminho…. “Rev. Ecos da Enfermagem”. 34:230 (Mar. / Jun. 2002), p. 22-4. (Suplemento). Mergulho para a vida. “Rev. Ecos da Enfermagem”. 34:233 (Nov. / Dez. 2002), p. 3-5. (Suplemento). A importância da uniformidade dos cuidados no tratamento de úlceras venosas e o uso de novos tratamentos. “Rev. Nursing”. 15:176 (Abr. 2003), p. 31-4. Preparação para o Parto: representações mentais de um grupo de grávidas de uma área urbana e de uma área rural. “Rev. Nursing”. 15:187 (Abr. 2004), p. 10-9. O enfermeiro, a enfermagem e a comunidade: uma história incompleta…. “Jornal Terras do Ave”. 15:391 (Jul. 2005). Uma experiência nórdica…. “Rev. Nursing”. 16:204 (Nov. 2005), p. 42-7. Conceitualização pelas enfermeiras de Preparação para o Parto. “Rev. LatinoAmericana de Enfermagem”. 14:2 (Mar. / Abr. 2006), p. 190-8. Preparação para o Parto: percepções pelos enfermeiros especialistas. “Rev. de Ciências da Saúde de Macau”. 6:4 (Dez. 2006), p. 264-74. Preparação para o Parto: percepções pelos enfermeiros especialistas. “Rev. de Ciências da Saúde de Macau”. 6:4 (Dez. 2006), p. 264-74. Livros: Preparação para o Parto: representações mentais de um grupo de grávidas de uma área urbana e de uma área rural. Loures: Lusociência, 2003. ISBN 972-838363-0. 185 p. Horizonte Sagrado. Vila Nova de Famalicão: Amores-Perfeitos, 2004. ISBN 9728621-97-3. 66 p. Notas sobre Enfermagem. Loures: Lusociência, 2005. ISBN 972-8383-92-4. 201 p. (Tradução e Prefácio).

Germano Rodrigues Couto

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Quem faz vacinação é o enfermeiro… ou talvez não

“Ainda recentemente tivemos a questão da vacinação nas farmácias, um caso que preocupa a Ordem dos Enfermeiros porque todos nós sabemos que, por muito bem preparado que esteja um farmacêutico, ele não foi talhado para prestar cuidados como tratamentos e vacinações a um ser humano. Para isso, apenas o enfermeiro se encontra habilitado e estaríamos a subverter as coisas. Agora imaginemos um cenário, que tem sido focalizado imensas vezes pela nossa Bastonária: durante a licenciatura é-nos ministrada a unidade curricular de Farmacologia, que nos confere competências para avaliar o tipo de medicamento, a sua acção e possíveis efeitos adversos, previamente á sua administração. Seria legítimo que, após 20 horas de farmacologia administradas após o curso, eu pudesse abrir uma farmácia e começasse a vender medicamentos? Sentir-me-ia seguro? Obviamente que não era o profissional habilitado para o efeito nem com a legitimidade necessária visto a finalidade do meu curso não ser essa. Mas o contrário está estamos perante dois tipos de associações diferentes. Uma é uma associação profisa acontecer. E neste momento, com o desconhecimento da população, estamos a sional de direito público, a Ordem dos Enfermeiros, e a outra corresponde a uma entrar num grande problema de saúde pública. E quero saber quem irá arcar com as associação de trabalhadores com prol laboral. responsabilidades quando acontecer um problema grave… Nem as farmácias têm condições para tal nem os farmacêuticos possuem habilitações e legitimidade para O que terá então mudado na vida dos enfermeiros, fruto do surgimento da Oro efeito. Trata-se de mais um exemplo em relação ao qual a Ordem dos Enferdem? meiros tem tentado alertar o poder político. Aliás, se Portugal, a título de exemGC – A meu ver, existem vários aspectos que são fundamentais. Existem actualmente plo, é o país com a melhor cobertura mundial em vacinação, aos enfermeiros se 13 ordens profissionais no país, que são representativas de profissões que adquiriram deve, como é reconhecido publicamente. Ora, com medidas avulsas e irreflecuma autonomia perante a sociedade e o poder político, que as reconheceu como postidas como esta, iremos, mais uma vez, colocar em causa o que conquistamos suidoras de uma estrutura que lhes permite regularem-se a si próprias. Desde logo, isso com muito esforço. Os farmacêuticos são peritos na sua área de actuação e confere algum estatuto à profissão. Depois, os próprios enfermeiros têm um dever amninguém coloca isso em causa. Agora a prestação de cuidados directos (ou pliado no que concerne à sua prestação de cuidados, assumindo uma maior importância mesmo indirectos) á pessoa não é uma competência sua. Para isso baspela qualidade. É fundamental constatar que uma ordem existe subordinada ao objectivo ta verificar o conteúdo programático dos diversos cursos de Farmácia de lutar pela defesa dos direitos do cidadão e da dignidade da Enfermagem e não dos seus em Portugal para concluir o que digo. Também a própria Directiva membros…. Agora, tem também muitas vezes que lutar para que os seus próprios membros Europeia 2005/36/CE aponta muitas funções do farmacêutico… tenham condições de trabalho. O aparecimento da Ordem, que é ainda jovem, trouxe garantias excepto essa”. de que está atenta às condições de trabalho em que os enfermeiros exercem, com melhor qualidade e dignidade possível, deu maior visibilidade à própria profissão, que acabou por ser mais reconhecida e, em termos políticos, temos maior audição. Disso não haja a menor dúvida, até porque congregamos os 54 mil enfermeiros existentes no país. Ao contrário dos sindicatos, que congregam nos seus associados apenas uma amostra do universo dos enfermeiros.

Palavra de presidente

“Os órgãos sociais da SRN da OE farão todos os esforços para não desiludir os colegas que em Além desses princípios orientadores, quais são os grandes objectivos da Ordem dos Enfermeiros? nós depositaram a sua confiança, assim como todos GC – Neste mandato, o que a Ordem dos Enfermeiros pretende acima de tudo é que os enfermeiros os restantes que não se reviram na nossa proposta ou simsejam reconhecidos como um parceiro fundamental na prestação de cuidados. E penso que aos pouplesmente não intervieram no acto eleitoral. Acima de tudo, cos se está a conseguir isso. Neste momento, estamos em conversações com o Ministério da Saúde, seremos o garante da unidade profissional no Norte do país, com por exemplo, para regular o acesso à profissão. No passado dia 18 de Setembro, o Ministério da vista a contribuir para a sempre necessária melhoria da prestação de Saúde acedeu a que o acesso à profissão passe, a seu tempo, a ser feito através de um exercício cuidados de enfermagem, em qualidade e com os recursos humanos tutelado de aproximadamente um ano. É nisso que estamos a trabalhar, no designado Monecessários, para uma profissão social e politicamente visível e, também, delo de Desenvolvimento Profissional (MDP), no sentido de que, a médio prazo, possamos para que os enfermeiros tenham cada vez mais orgulho pela sua profissão. ter o acesso à profissão directamente através deste novo Modelo. Ou seja, a Ordem vai reNão poderia deixar de aqui de exprimir a minha actual preocupação pela gular se aquele licenciado em enfermagem tem as competências profissionais necessárias situação em que a enfermagem nacional se encontra, nomeadamente no que para iniciar o exercício da profissão. Até porque ninguém nos garante que uma pessoa confere ao desemprego e inúmeras situações profissionais menos positivas. A que está afastada da profissão 10 ou 15 anos tenha neste momento condições para Enfermagem é um dos principais parceiros sanitários e deve ser vista como uma solicitar a inscrição na Ordem e respectivo titulo profissional, apresentando apenas o profissão basilar no Sistema Nacional de Saúde. Afinal somos a maior Ordem seu diploma, o único elemento necessário actualmente, e tenha competências para profissional em número de membros inscritos e, lamento a audácia, uma Ordem o exercício. Aliás, tenho muitas dúvidas que um enfermeiro que não exerça durante que deve ser ouvida em qualquer assunto de natureza técnica, política e científica, algum tempo possua o quadro de competências necessário para voltar a trabalhar sob pena da Saúde em Portugal se encaminhar para um túnel sem uma luz ao seu sem realizar um período de integração. Com o Ministério da Ciência, Tecnologia e fundo. Ensino Superior estamos a trabalhar a questão de Bolonha. Neste momento, o acesso Por outro lado, os enfermeiros têm, cada vez mais, de aprender a assumir as suas à profissão faz-se através do primeiro ciclo, a licenciatura, sendo que a Ordem dos responsabilidades no que concerne aos seus actos. Somos o que fazemos porque Enfermeiros pretende que o acesso se faça através do segundo ciclo, o mestrado, e o decidimos através de uma profunda reflexão apoiada em princípios científicos, que com isso, todos os enfermeiros venham a sair com a especialidade já integrada humanos e éticos. Trabalhamos inseridos numa grande equipa onde nos situamos no mestrado. O objectivo é que todos os enfermeiros venham a ser especialistas, o que num patamar decisional único. Saibamo-lo desenvolver e promover. dará á sociedade uma maior garantia de qualidade nos cuidados prestados. Ainda nos Agradeço aos órgãos sociais que terminaram as suas funções, pelo trabalho depróximos quatro anos, a Ordem dos Enfermeiros continuará a tentar incrementar a quasenvolvido dentro das suas competências, o qual foi certamente uma mais-valia lidade dos cuidados prestados, realizar parcerias e comunicar melhor com as outras ordens para a profissão durante os momentos que assumiram o seu compromisso. profissionais – a título de exemplo, a SRN aderiu no passado dia 16 de Setembro ao Fórum Esperamos através da sua participação como membros uma envolvência Regional das Ordens Profissionais da Zona Norte (FORNOP), o que nos dará uma voz mais construtiva nas decisões a tomar para o futuro da Enfermagem. estruturada para falarmos dos assuntos regionais da zona Norte. Portanto, neste mandato, a Gostaria também, e não em menor grau, de agradecer a todos os enOrdem dos Enfermeiros pretende acima de tudo fortificar o que já começou a fazer nos primeifermeiros que no seu quotidiano de trabalho, prestam e gerem os ros dez anos. Temos consciência de que ainda somos uma Ordem jovem e que temos que seguir cuidados de enfermagem à população, se dedicam à formação e gradualmente, passo a passo, tentando chamar a atenção junto do poder político e decisório de que investigação, para que cada PESSOA possa usufruir de um ideal aquilo que a Ordem dos Enfermeiros pretende não é para os seus membros mas para a população, para pessoal e único de Saúde. Bem-haja pelo esforço contínuo a sociedade, para o cidadão que recebe os cuidados de enfermagem. em que acreditam embora com as diversidades constantes com que se deparam”.

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Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental

A importância do enfermeiro (especialista) na promoção da saúde mental Com pouco mais de um ano de existência, a Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (SPESM) vai demonstrando o dinamismo e a irreverência características da juventude. Depois de organizar duas reuniões científicas e de projectar a edição de uma revista científica, área de Enfermagem de Saúde Mental, na agenda encontra-se a realização do I Congresso da SPESM, subordinado ao tema A Saúde Mental e o Equilíbrio Social. Na primeira pessoa, Carlos Sequeira, Presidente da SPESM, apresenta-nos esta nova sociedade científica, criada com o objectivo de aglutinar todos os enfermeiros que se interessam pela saúde mental, para promover por esta via, a partilha de boas práticas na área, conferir uma maior visibilidade às mais-valias resultantes de uma aposta na colocação de enfermeiros especialistas em equipas dedicadas à promoção da saúde mental e de contribuir, com uma maior representatividade por parte dos enfermeiros, peça chave, na prestação de cuidados de saúde, na tomada de decisão politica sobre a saúde mental. È inconcebível que o maior número profissional nesta área tenha tão poucas responsabilidades politicas na mesma. Na nossa opinião, na génese das políticas devem estar os actores que as irão concretizar, por uma questão de responsabilidade e de integridade. A SPESM

“A SPESM é uma associação científica sem fins lucrativos, criada em Julho de 2007 com o intuito de colmatar uma lacuna existente na área da enfermagem: o facto de não existir, até então, nenhuma sociedade que representasse os enfermeiros de forma global na área da saúde mental. Sendo os enfermeiros o maior grupo profissional que trabalha no âmbito da saúde, o que verificamos contudo é que na concepção dos planos a sua participação é residual. Questionamos o porquê desta situação? Será apenas uma questão de poder? Acreditamos que quem perde somos todos, com maiores repercussões para as pessoas que sofrem de doença mental. Os enfermeiros poderiam dar um contributo valioso nesse sentido, porque na actualidade possuem, as habilitações académicas em situação de paridade com os outros profissionais, e são aqueles que melhor conhecem a realidade, os internamentos, a comunidade, as famílias, etc. Existem já um número significativo de enfermeiros de norte a sul do País com o grau de Doutor, que devem ser potenciados. Nesse sentido, com a constituição da SPESM pretendemos também marcar a nossa posição, demonstrando que temos ideias e que pretendemos ter uma participação activa para, não só, acartarmos depois com as consequências das leis mas também auxiliarmos na criação das mesmas. Como surgiu?: a ideia nasceu num grupo de amigos, em 1998, que frequentavam a Especialidade em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, na Escola Superior de S. João/Porto. Entretanto, passamos do dizer ao fazer e em Junho de 2007, efectuar o seu parto, com a escritura pública e a legalização da SPESM, que logo integrou pessoas interessadas nesta área de todos os locais do país. Um dos principais objectivos da Sociedade prende-se com a divulgação científica, a formação e a investigação, ao nível dos trabalhos e boas práticas que efectivamente existem de Norte a Sul do País. O problema é que esses exemplos são muito localizados e não se fomenta a partilha porque não existia nenhuma estrutura que seja capaz de realizar a compilação dessas boas práticas e as coloque à disposição de outros para que as pudessem replicar”.

Produção científica

concepção de cuidados e os sistemas de informação. Em Abril realizámos outra reunião científica em Viseu, onde versámos essencialmente as competências dos enfermeiros especialistas em saúde mental. Esta é uma área onde impera ainda algum cinzentismo, ou seja, ainda não estão definidas as competências especificas/acrescidas de um enfermeiro especialista. E agora estamos envolvidos na organização do nosso primeiro Congresso Internacional, que visa dar continuidade a isso: divulgar o que se faz bem nas diferentes valências; tivemos a preocupação de “fugir” um pouco do internamento, dando algum cumprimento àquilo que o Plano Nacional já determina e voltamo-nos para a comunidade, a área que entendemos estar mais mal tratada em termos de saúde mental, numa realidade que constatamos como muito negra”, uma vez que as práticas e os profissionais que se inscrevem nesta área são muito diminutas.

Legislação sem prática

“A lei de saúde mental de 98 já apontava que o principal objectivo em termos de saúde mental consistia em fazer a promoção da mesma. Mas nós questionamo-nos e podemos mesmo interrogar-nos sobre o que se faz, por exemplo, nos centros de saúde em termos de promoção da saúde mental… Criou-se a lei mas depois ninguém se preocupou com a sua eficácia, não se lhe deu intervenções práticas e, portanto, a lei só existe no papel. Poderemos até dizer que o plano actual pouco acrescenta. O que é preciso é passar do processo intencional para o fazer. Pois, existem de facto alguns programas mas são pontuais, ou seja, não existe um conjunto de intervenções generalizadas ao nível dos centros de saúde em termos reais de promoção da saúde mental das pessoas, o que acarreta muitas consequências…” e promove aquilo a que se designa de “porta giratória”. A partir da criação da Lei de saúde mental/98 quantos enfermeiros especialistas em SMP

Carlos Alberto da Cruz Sequeira

“Neste primeiro ano realizamos já duas reuniões científicas, uma Doutor em Ciências de Enfermagem pelo Instituto de Ciências dedicada essencialmente aos aspectos relacionados com a conBiomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto; Mestre em cepção de cuidados, onde incluímos a classificação internaSaúde Pública pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; cional para a prática da enfermagem e os sistemas de inforEspecialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, pela Escola mação. De salientar que existem já alguns hospitais, como Superior de Enfermagem de S. João – Porto; o Magalhães Lemos, que desde 2003 possui um registo Funções actuais: Professor na Escola Superior de Enfermagem do Porto; electrónico dos cuidados de enfermagem através de um Investigador na Unidade da Escola Superior de Enfermagem do aplicativo, (Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem), Porto; Presidente da Sociedade Portuguesa de Enfermagem em que todos os cuidados são informatizados, o que de Saúde Mental (SPESM); Coordenador da Colecção de constitui uma mais-valia substancial porque nos permite Enfermagem da Quarteto Editora documentar todo o trabalho desenvolvido pelos enferPublicações: Sequeira C. (2007). Cuidar de Idosos meiros, quer em termos de diagnóstico, quer em termos Dependentes. Coimbra: Quarteto Editora. (310 p.) ISBN: de intervenções, e permite-nos depois avaliar se essas in978-989-558-092-7.; Sequeira C. (2006). Introdução à tervenções são eficazes ou não. A nossa primeira reunião Prática Clínica. Coimbra: Quarteto Editora. (234 p.) científica, realizada em Novembro de 2007 no Hospital MaISBN: 989-558-083-5. galhães Lemos, foi essencialmente dedicada a esse tema: a

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foram colocados na comunidade a exercerem prática clínica? È possível centrar o debate na saúde mental na comunidade e depois não colocar, neste caso, Enfermeiros com competências nesta área. Isto é o mesmo que criar um jornal e depois não recrutar jornalistas para as reportagens. Será Possível?

O Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016

“No essencial, concordamos com o conteúdo do Plano mas existem alguns aspectos que temos que contestar: as necessidades das pessoas, hoje em dia, em termos de saúde mental, não estão centradas apenas na patologia. Ou seja, o plano nasce de um relatório, que é omisso em muitas questões essenciais; como as necessidades em cuidados de enfermagem das pessoas; como as respostas de qualidade proporcionadas pelas Ordens Religiosas, etc. Os problemas de saúde mental que as pessoas apresentam na actualidade não são só as depressões, as esquizofrenias, as demências, o alcoolismo, etc.. Os problemas de saúde mental das pessoas são muito mais complexos e mais abrangentes. As pessoas precisam de ser preparadas para saber lidar com a frustração, com a tristeza, a vontade de viver, a volição, a felicidade, o prazer, o bem-estar, o auto-conceito, o stresse, etc. É necessário dotar as pessoas com melhores “ferramentas” (empowerment) para lidarem com as vicissitudes do quotidiano. Neste registo podemos dizer que existem muitos diagnósticos de enfermagem, em que os enfermeiros especialistas são capazes de dar uma boa resposta. Isso seria promover a saúde mental positiva. Posso dar exemplos concretos: Quando aparece um utente no centro de saúde com ideação suicida, se o mesmo tivesse uma intervenção diferenciada do enfermeiro especialista, podia nunca chegar ao acto. No fundo, era fazer saúde preventiva. O que acontece é que, como não existe este know-how em termos de recursos, as pessoas queixam-se a profissionais que estão menos sensibilizados e preparados para isto e as intervenções vão ser necessariamente menos adequadas e eficazes. Por exemplo quem monitoriza as dificuldades e a sobrecarga dos cuidadores? No País, são escassos, ou mesmo excepções, os centros de saúde que dispõem de um enfermeiro especialista em saúde mental…”, a exercer na prática clínica.

A prática internacional

“São frequentes, por essa Europa fora, os exemplos de integração de enfermeiros especialistas nos programas de promoção da saúde mental. Em Inglaterra, por exemplo, verifica-se a promoção da saúde mental ao nível da comunidade, existindo até um conjunto de enfermeiros prescritores que, em determinadas situações, contempladas na lei, têm a capacidade de prescrever um conjunto de fármacos. Por exemplo, ao nível da manutenção da terapêutica e ao nível da vigilância dos seus efeitos. Em outros países existe outra figura extremamente interessante que é o gestor de casos, que é um enfermeiro. Imaginando um caso relacionado com as dependências: temos um conjunto de doentes com problemas relacionados com o álcool, que passaram por um período de internamento, após o qual vão para a comunidade e ficam completamente entregues a si mesmo. Aí, têm um enfermeiro especialista que, em determinadas zonas geográficas, faz follow-up no seu contexto: no local de trabalho, nas famílias… Isto permite fazer um diagnóstico muitas vezes precoce e intervir numa fase anterior aos consumos ou precavendo recidivas”.

anos atrás e a actualidade. Penso que com a sua utilização podem resultar grandes ganhos para a saúde das pessoas e para a necessária mudança em termos da concepção de cuidados de enfermagem, algo fundamental para o exercício da multidisciplinaridade. A classificação internacional para a prática de enfermagem (CIPE/ICNP), possibilita ao enfermeiro a concepção de dois tipos de intervenções: intervenções interdependentes, ou seja, que envolvem enfermeiro, médico e outros profissionais e intervenções autónomas, da responsabilidade exclusiva dos enfermeiros. A CIPE/ICNP permite ao enfermeiro descrever os diagnósticos de enfermagem, as intervenções de enfermagem e os resultados de Enfermagem. O enfermeiro ao avaliar uma determinada pessoa/grupo/ contexto, observa um conjunto de dados, que lhe permitem ajuizar e atribuir um diagnóstico, prescreve intervenções em função desse diagnóstico e depois avalia-as. Já existem em Portugal casos concretos de aplicação da mesma e da utilização da aplicação informática que permite introduzir os dados relativos a estes três procedimentos. Depois, esta prática permite-nos ainda proceder a comparações de práticas, quer dentro de Portugal, quer com outros países”.

O I Congresso da SPESM

“O nosso slogan é A Saúde Mental e o Equilíbrio Social. Do nosso ponto de vista, não há equilíbrio social sem saúde mental. E podemos atentar o caso dos EUA: em 1970 iniciou-se a política desinstitucionalização do doente mental, algo também preconizado em Portugal. Mas se isto não for acompanhado de outras medidas, os doentes mentais vão para a rua e, seguramente, acrescerá a violência, os fenómenos de marginalidade, todo um conjunto de factores que provocará insegurança, maior ansiedade, a própria marginalização do doente… Ou há um bom investimento na promoção da saúde mental e no acompanhamento do doente mental ao nível da comunidade, ou vamos pagar a factura. Não temos muitas dúvidas sobre isso. Creio que a grande mais-valia deste Congresso reside na divulgação das boas práticas. Partimos para este Congresso com uma auscultação aos sócios questionando sobre o que se faz em cada contexto e que considerariam importante replicar noutros. Por isso, elegemos dar destaque à consulta de enfermagem em diferentes contextos, nos quais se inserem obviamente os cuidadores. Neste evento, realizamos ainda cursos pré-congresso, essencialmente focalizados em áreas que consideramos prioritárias, onde a formação dos seus actores, (enfermeiros), ainda é um pouco deficitária. Elegemos como temáticas: relaxamento/hipnose, a intervenção breve na cessação tabágica, a intervenção no luto e os sistemas de informação CIPE/SAPE. Dois debates sobre a concepção de cuidados e Investigação; conferências e mesas redondas sobre vários temas. Em suma neste congresso, no qual estão inscritos mais de 350 profissionais, contamos com uma ementa de prelectores (peritos) de renome nacional internacional, para na medida das nossas possibilidades contribuirmos para a prestação de melhores cuidados a todos aqueles que por circunstâncias várias de encontram em sofrimento. Um agradecimento especial à Câmara Municipal de Gondomar, e aos laboratórios, Lilly, Janssen-Cilag e Pfizer, que nos apoiaram neste evento permitindo proporcionar condições de excelência aos que nos honraram com a sua presença

A subalternização do enfermeiro pelo médico

Aquilo que é o nosso entendimento é que os enfermeiros e os médicos devem estar no mesmo patamar de responsabilidades nas respostas às pessoas com problemas mentais e na promoção da saúde mental. Actualmente os enfermeiros dispõem de uma formação científica em situação de paridade. Existem muitos mestrados e doutoramentos que integram, enfermeiros, psiquiatras, psicólogos, etc. Se a formação é idêntica, as faculdades são as mesmas, logo as competências e responsabilidades devem ser equiparadas. A não ser que existam “seres” mais iluminados por outras forças,… Será de origem genético? As equipas devem funcionar de forma multidisciplinar em prol das pessoas. Esta multidisciplinaridade deve ser exercida na horizontal, ou seja, de forma complementar no respeito por cada disciplina do conhecimento, e não de forma vertical, onde apenas uma disciplina detêm o saber.

A classificação internacional para a prática de enfermagem

“Creio que foi o ponto de viragem entre aquilo que era tradicionalmente feito há alguns

A SPESM deseja aos seus associados, colaboradores, e a todas as pessoas com interesse ou alvo de uma problemática mental, um feliz natal e um próspero ano de 2009, se possível com mais saúde mental. No 1º semestre de 2009, iremos editar a Revista nº 01, da SPESM e organizar um evento científico (fórum em Saúde Mental, no final de Maio, em Lisboa), pelo que, brevemente serão colocadas mais informações no site. www.spesm.org. Contactos para correspondência: Prof. Carlos Sequeira / José Carlos Carvalho Escola Superior de Enfermagem do Porto - Rua Dr. António Bernardino de Almeida, S/n - 4200-072 Porto URL: www.spesm.org ; E-mail: dir.spesm@gmail.com ; Tel. 922097145 / 966851153)

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Associação Portuguesa de Portadores de Pacemaker e CDI’s

Juntos vamos conseguir

A Associação Portuguesa de Portadores de Pacemaker e CDI’s (APPPCDI), nascida em 2001, tem por objectivos promover e divulgar informação sobre a utilização de Pacemaker e CDI’s, fomentar o convívio entre os utilizadores e portadores e impulsionar e desenvolver acções de formação, esclarecimento e bem-estar social em prol dos portadores de Pacemaker e CDI’s. António Gomes, presidente da APPPCDI referiu que a acção levada a cabo pela Associação se baseia no apoio aos portadores de Pacemaker e CDI’s e seus familiares mas também diligencia informar todos quantos possam ser potenciais portadores, bem como transmitir à população em geral, através de exemplos, a mensagem da importância de prevenir o avançar de doenças cardíacas. O que é e porque existe a Associação Portuguesa de Portadores de Pacemaker e CDI’s (APPPC)? António Gomes (AG) – Esta é uma Associação dedicada e direccionada para a ajuda e colaboração para com o portador de Pacemaker e do CDI, assim como aos seus familiares. Foi precisamente criada no sentido de ajudar naquilo que fosse preciso os doentes e os seus familiares. Naquilo que eles por vezes não conseguem ter nos hospitais, como algumas informações importantes que vão para além das básicas. Muitas vezes por uma questão de profissão, os médicos não têm o tempo necessário para explicar ao doente como este deve passar a regular a sua própria vida. Obviamente, queremos também contribuir para que exista uma união e uma partilha de experiências entre os portadores de Pacemaker e CDI.

os portadores destes aparelhos, associados ou não, é basicamente isso. Estamos no entanto a tentar assinar protocolos com algumas empresas, assim como já o fizemos com a MultiÓpticas, no qual existem alguns benefícios para os associados. Estamos também a trabalhar situações similares relativamente a seguros e médicos. Noutro campo, estamos a tentar traçar um caminho, através da colaboração com outras entidades, que nos levará a alargar o nosso âmbito de ajuda. Para além do apoio psicológico, o qual temos dado até agora, queremos também ajudar noutras áreas onde é igualmente necessário ultrapassar obstáculos. Nesse sentido, estamos a projectar a criação de uma casa própria, com fins de ajuda aos portadores, como por exemplo aos mais idosos ou aos que vivem sozinhos, basicamente para quem precisar.

Relativamente a apoios da Associação aos seus associados, ficam-se pela promoção do convívio e discussão de problemas? AG – Actualmente, a única coisa que a Associação pode oferecer a todos

Quem pode ser membro da Associação? AG – Qualquer pessoa que queira ser membro da Associação, independentemente do facto de ser portador de Pacemaker ou CDI. Todas as pessoas são bem-vindas, porque mesmo as pessoas que não são portadores de qualquer tipo de aparelho, podem contribuir para o bem-estar dos outros. Que percentagem de portadores destes aparelhos são vossos associados? AG – Há em Portugal mais de 70 mil portadores de Pacemaker’s e mais de mil portadores de CDI’s e prevemos que a tendência seja para aumentar. No entanto, temos apenas 840 associados. A que se deve essa diferença? AG – Pode dever-se a vários factores. Por um lado, à própria pessoa em si que não vê a sua saúde como um ponto fundamental. Por outro lado, o facto de ser preciso perceber e fazer entender que a Saúde é realmente uma das coisas mais importantes para todos nós, quer a nível individual, quer a nível de Estado. Também a Comunicação Social tem a sua culpa, uma vez que não colabora na divulgação das problemáticas desta e de outras doenças. Temos sentido um aumento de abertura por parte da Comunicação Social mas, e face à noção plena de que o trabalho desta é também fundamental na alteração das mentalidades, pensamos que podemos querer mais e melhor. Temos de trabalhar em união, todos, no sentido de incutir nas pessoas a noção de que olhar pela sua própria saúde é muito mais importante do que usar o seu tempo em variadas actividades, que são também muitas vezes válidas, mas que com certeza não assumem a importância da nossa saúde. Sente-se frustrado por em 70 mil possíveis membros da Associação só ter cerca de 800? AG – Eu sinto-me muito frustrado. Muito mesmo. É impressionante a falta de união existente, a falta de interesse em se associarem para ajudar os outros. Aqueles que pertencem à Associação trabalham em prol de todos os portadores e em prol de todos os que correm o risco de virem a sê-lo. Se fôssemos mais poderíamos trabalhar melhor e chegar mais longe.

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penso que a nível de Saúde o nosso País fica um pouco aquém do necessário e do possível. Deveria existir mais interacção com entidades próximas das problemáticas e deveria existir mais unidade entre as entidades actuantes. Parece que estamos todos a remar para lados opostos e dessa forma não chegamos, obviamente, a lado nenhum. Quando assim é tudo fica mais difícil. Todas as entidades que pretendem colaborar com a área da Saúde devem unir-se, e ao Ministério cabe o papel de se aproximar das mesmas para que, em conjunto, se possa definir uma estratégia. Só assim é possível melhorar.

Isto é a crise do associativismo ou é por terem as quotas muito altas? AG – Não são as quotas de certeza. O que representam 10 euros por ano? Em prol da nossa saúde. Em prol de ajudar os outros. O que são 10 euros por ano? Obviamente, o dinheiro das quotas não paga sequer os custos totais da nossa actividade. Para nós o mais importante é que as pessoas se unam e que tenham força de vontade para trabalhar por esta causa. Quem leva um tipo de vida menos saudável, acaba por estar um pouco mais sujeito à possibilidade de vir a ser portador deste tipo de aparelhos. Seria benéfico o contacto dessas pessoas com a Associação, como forma de alerta? AG – Sem dúvida. Nós falamos para o público geral. Temos um boletim informativo que é lançado de quatro em quatro meses e no mesmo dirigimo-nos a portadores e não portadores. Na minha opinião temos contribuído para o esclarecimento da situação, da doença e da colocação dos Pacemaker’s e dos Cardio-Desfibrilhadores Implantáveis (CDI), bem como temos esclarecido as pessoas relativamente ao que devem fazer para evitar que o mesmo lhes aconteça. Seria importante a intervenção dessas entidades, nomeadamente da Associação, nas Escolas, no sentido de prevenir e educar sobre estilos de vida saudáveis? AG – Sem dúvida alguma que sim. Já tivemos um encontro de esclarecimento numa escola em Pombal e gostaríamos muito de colaborar com mais escolas. É preciso começar pelo princípio, pelas crianças, para que estas desde cedo ganhem uma forte consciência relativamente à Saúde e aos estilos de vida saudável. Podemos concluir que a Associação podia ser importante, se todos se unissem, no sentido de discutir com o Governo uma nova forma de olhar este tipo de doença e até mesmo garantir outro tipo de apoios para os portadores de Pacemaker’s e CDI’s? AG – Exactamente. Poderíamos procurar outro tipo de apoios. Eu

Sentem portanto que deveria existir uma maior atenção por parte do Governo? AG – Sim. A título de exemplo, temos um protocolo com a Arrhythmia Alliance, com quem temos uma óptima relação e com quem desenvolvemos um intercâmbio. Quando fomos pela primeira vez a Inglaterra fomos extremamente bem recebidos na Câmara dos Comuns, pelo Ministério da Saúde. É importante referir isto para que os nossos políticos e governantes portugueses se possam aperceber da importância que deveriam dar aos mais variados assuntos relacionados com a Saúde e que são muitas vezes esquecidos. O que mudou na sua vida depois de ter recebido o aparelho? AG – Há já 18 anos que coloquei o aparelho. Entretanto, já fiz duas substituições. Tenho agora o terceiro aparelho há pouco tempo. Obviamente, mudou bastante. Actualmente, já tenho uma vida bastante activa e fortalecida em todos aspectos. Foi uma mudança muito importante que me trouxe qualidade de vida e que me possibilitou ter vida, uma vez que sem o aparelho o mais provável era já não estar vivo. As pessoas com Pacemaker fazem a sua vida normal? AG – Sim, fazem uma vida bastante normal, embora sejam, naturalmente, necessários alguns cuidados. Mas devido a isso não são considerados doentes, correcto? AG – A verdade é que a questão não reside na doença, mas temos um aparelho que nos sustenta a vida e em consequência disso, temos que realizar regularmente consultas médicas de rotina e de supervisão do aparelho. Efectivamente, não somos considerados doentes crónicos e eu considero isso lamentável. Continuaremos, no entanto, a lutar por essa alteração. Continua a ser um homem esperançado? AG – Sim. E gostaria que no dia em que partisse, aqui ficasse uma obra muito grande, não só para o portador de Pacemaker e CDI mas também para todas as pessoas, no sentido de minimizar ao máximo a necessidade de utilização destes aparelhos. A Genetest, sob o lema “NÃO PARE, TESTE O SEU CORAÇÃO”, estabeleceu um protocolo de colaboração com a APPPC de forma a apoiar as suas actividades e difundir informação relevante sobre a importância do exame genético para diagnóstico de patologias cardiovasculares aos seus associados. A Genetest, em parceria com o IPATIMUP, desenvolveu um método inovador para diagnóstico  genético de doenças cardiovasculares através da saliva. A amostra é obtida  através de raspagem de células epiteliais bucais através das quais é extraído o ADN para análise. Como exemplos da importância da colaboração entre as duas entidades, refere-se o facto de um exame genético positivo ser critério para realizar a implantação de CDI’s em algumas patologias como a miocardiopatia hipertrófica ou síndrome Qt-Longo ou Brugada. Além disso, é de ter também em conta que o estudo genético poderá ser estendido aos familiares de portadores de CDI’s, sempre com base na orientação do respectivo médico.

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Especial Cardiologia

Um serviço público de excelência

Podemos fazer um balanço de 30 anos de intervenção da Fundação Portuguesa de Cardiologia ? João Lopes Gomes (JLG) - Penso que poderíamos falar de um objectivo fundamental que era e continua a ser, levar ao conhecimento da população determinados conhecimentos, de que esta não estava munida e procedimentos que não existiam, nomeadamente estilos de vida saudáveis, a prevenção das doenças e a orientação no apoio as doenças. Colaborar por todas as formas, na promoção da saúde cardiovascular, no tratamento adequado e na reabilitação dos doentes cardíacos, promover acções na comunidade, estimulando e apoiando iniciativas que directa ou indirectamente se enquadrem nos objectivos da SPC. A colaboração na formação e na Investigação cientifica, o apoio social e reabilitação é outra das áreas que promovemos e estimulamos na SPC.

João José Lopes Gomes

Apesar de tanta intervenção e informação continuamos a ignorar os factores de risco? JLG - As doenças cardiovasculares estão associadas a um conjunto de factores que se designam factores de risco. Alguns não podem ser modificados, como a hereditariedade, o sexo e a idade. Outros, pelo contrário, po-

Licenciatura em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

dem ser modificados com medidas de estilo de vida e medicamentos. Os principais factores de risco cardiovascular, sobre os quais pode agir a prevenção, são entre outros o Sedentarismo, Hipertensão, Tabagismo, Stress, Obesidade, Diabetes, Dislipidemia. O rastreio e o diagnóstico médico são fundamentais para avaliar o risco que se corre de vir a ter uma doença cardiovascular. Quanto mais precoce é o diagnóstico, maiores são as possibilidades de impedir o aparecimento ou o agravamento de doença cardiovascular. Uma particularidade dos factores de risco é que, pior do que se adicionarem, eles potenciam-se, ou seja, agravam-se mutuamente. É neste sentido, que temos vindo a desenvolver com a sociedade civil, um conjunto de acções com o objectivo de mobilizar a população portuguesa para a participação em actividades físicas e desportivas, e de um estilo de vida activo não só para termos um melhor coração mas também uma vida mais saudável.

Fazer desporto ou exercício físico? JLG - De facto são confundíveis as duas situações. Não se pode confundir o exercício físico com a competitividade, pequenos exercícios físicos são possíveis e fundamentais, e não é “ fazer 20 km em duas horas – para bater o record” que aconselhamos. Não…A actividade física pode salvar a vida, literalmente. Os benefícios de exercitar o corpo durante 30 a 60 minutos por dia, vários dias por semana são muitos e reduz o risco de doenças cardiovasculares; ajuda a controlar e a prevenir factores de risco como a pressão arterial alta, o colesterol elevado e a obesidade; ajuda a baixar os níveis de stress; aumenta a energia; melhora o sono e a digestão; melhora o bem-estar geral e estimula a procura de estilos de vida mais saudáveis; Os benefícios podem começar a fazer-se sentir na primeira semana de actividade física regular. Por exemplo, a pressão arterial pode começar a baixar e talvez se sinta mais energético e relaxado. Passados três meses, poderá sentir-se com mais saúde, com uma postura mais correcta, músculos e ossos mais fortes, mais confiante e com uma perspectiva mais positiva em relação à vida. Se é assim tão positivo e fácil, porque é que temos tantos casos de “ Morte súbita”? JLG - Porque, apesar de todas as campanhas de prevenção e sensibilização, ainda não fomos de todo convincentes de fazer sentir as pessoas de que muito se pode evitar se actuarmos a tempo. Para isso é importante que as pessoas e quando digo pessoas estou a referir-me ao doente mas também aos familiares e amigos na detecção dos sinais de alarme.

Regressou a Angola em 1970 para efectuar o Internato Geral no Hospital Universitário de Luanda, tendo concluído com a classificação de “Bom com Distinção” Membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, da Sociedade Europeia de Cardiologia, da Federação Internacional de Cardiologia, Da Fundação Portuguesa de Cardiologia, da Associação Portuguesa de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia e da Academia de Ciências de Nova Iorque. Cargos actuais Director do Serviço de Cardiologia do Hospital Geral de Santo António Director do Departamento de Medicina do Hospital Geral de Santo António Professor Catedrático Convidado da Universidade do Porto – ICBAS/HGSA Regente da Disciplina de Clínica Médica da Licenciatura – ICBAS/HGSA Membro da Comissão Coordenadora da Licenciatura em Medicina – ICBAS/HGSA Presidente da Delegação Norte da Fundação Portuguesa de Cardiologia Vice-presidente do Conselho Científico da Fundação Portuguesa de Cardiologia Representante da ARS Norte na Comissão Nacional Plano de Prevenção Cardiovascular Actividades Científicas Participou em numerosos Júris de Concursos Públicos da Especialidade de Cardiologia, em imensos congressos Nacionais e Internacionais, tem dezenas de trabalhos publicados em revistas Nacionais e Internacionais. Participou em vários estudos Multicêntricos Nacionais e Internacionais, de que destaca: “ISIS 14 – 4” ; “KATUA”; “CAPRIE”; LISA”; “IN TIME II”; “GUSTO IV”; POLITICS”.

Muitas vezes ficamos com a ideia que o SNS – Serviço público de saúde, não funciona, não é capaz, nem tem os recursos e equipamentos necessários para uma resposta com qualidade e eficiência. Gostaria que nos falasse do serviço do qual é director. JLG - Sabe, é incrível o que lemos, vimos e ouvimos nos órgãos de comunicação social sobre o Serviço Público de Saúde. Falam muito do que não sabem e dizem muito pouco do que deveriam saber… Aqui nos nossos serviços do Hospital de Santo António temos uma prestação de cuidados de saúde diferenciados, que perspectiva a sua evolução no sentido da excelência. Temos excelentes profissionais de saúde e dos mais avançados equipamentos, inclusivamente para a recuperação e manutenção dos doentes. Desenvolvemos uma política de qualidade na prestação de cuidados de saúde. Apesar de tudo, queremos continuar a desenvolver projectos de melhoria contínua para que a prestação de cuidados, constituindo um instrumento preferencial, cujo objectivo é o de consolidar a actuação clínica e garantir a satisfação de todos os intervenientes, ou seja dos utentes, familiares e profissionais de saúde. É isto o Serviço Público de Saúde, aquele onde eu gostaria de ser tratado no caso de estar doente.


Especial Cardiologia

Tratar com... coração

Como é olhar para estes casos de sucesso? Hipólito Reis (HR) – Estamos numa área que é muito gratificante do ponto de vista médico e pessoal, exactamente por assentar, não só na sobrevivência mas também na qualidade de vida das pessoas. Esta é uma doença que evolui no sentido da morte, mas hoje dispomos de técnicas que vieram alterar o tratamento da insuficiência cardíaca. A medicação continua a ser muito importante. É um pilar do tratamento destes doentes. No entanto, em muitos casos a medicação não é suficiente. Quando assim acontece, a doença, continua a evoluir e os doentes continuam a ter falta de ar, a ter grande limitação da qualidade de vida e ficam expostos a arritmias graves. Numa fase final, ficam gravemente expostos a uma exaustão do músculo.

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É nessas alturas que se pensa num transplante? HR – Dentro da cardiologia, o transplante é uma situação limite. A opção que sobra quando não há outras alternativas. Tentamos sempre actuar mais cedo, não deixando os doentes evoluírem para essa situação limite. Em grande parte dos casos, conseguimos controlar a doença sem chegar a esse limite, devolvendo ao coração uma capacidade de trabalho que, por natureza, se vai perdendo ao longo da evolução da doença. Quando conseguimos que o tratamento seja bem sucedido, alteramos de forma dramática a evolução da doença. Muitas vezes, não só paramos a evolução da doença como conseguimos fazer regredir as alterações que se vão estabelecendo. É, digamos, uma dupla função: não deixar a doença evoluir e trazer a pessoa de volta a níveis em que se consegue fazer uma vida muito próximo do normal. Que papel assume o médico de família no diagnóstico precoce da doença? HR – É fundamental. É aquele que está mais próximo do doente no dia-a-dia. O papel do médico de família não é só curar a doença mas também prevenir o aparecimento da mesma. Isso é fundamental. No sentido de ajudar nessa função, temos apostado bastante na divulgação de novas técnicas junto dos profissionais de saúde. O stress é também uma forte causa de risco em problemas cardíacos. Como evitá-lo? HR – Vivemos num mundo moderno em que o tempo não existe. Todos os dias temos metas para alcançar e como tal o stress é comum a quase todas as profissões. O stress já faz parte da vida. Devemos é modela-lo e aprender a geri-lo. Dentro daquilo que considero ser um estilo de vida saudável, o exercício é um óptimo escape para combater o stress. Hoje temos um conhecimento que nos ajuda a decidir melhor qual é o estilo de vida que devemos adoptar em prol de uma vida mais saudável. Não é uma questão de sacrifício, é uma questão de alteração de práticas com vista a uma maior qualidade de vida. Assim que as pessoas ultrapassam a ideia de que esta mudança é um sacrifício e entram num programa de estilo de vida saudável, sentem-se efectivamente melhor, tanto física como emocionalmente.

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O papel do médico de família é fundamental

António Hipólito Reis Licenciado em Medicina / Faculdade de Medicina do Porto, em 1998. Especialidade: Cardiologia. Função actual: Responsável pela Unidade de Arritmologia Pacing e Electrofisiologia do Hospital de Santo António / Centro Hospitalar do Porto. Trabalho desenvolvido na área do Pacing Cardíaco, da Terapêutica de Ressincronização Cardíaca e da Polineuropatia Amiloidótica Familiar

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António Carlos Pimentel - médico Os problemas de coração podem surgir a qualquer pessoa. Tive um colega de curso, Álvaro Pimenta, que foi director de serviço deste Hospital e que morreu de enfarte. Esse meu colega estava em minha casa à minha espera quando me deu o 1º enfarte em 1984. Eu trabalhava muito, das 8 da manhã há meianoite. Apesar de ser médico e de sempre ter tido cuidado com a minha alimentação, esta profissão envolve muito stress e muito desgaste físico e emocional. Foi esse desgaste que me levou a um limite. Aquando o meu 1º enfarte estava a passar férias nas Canárias. Ao fim do dia, quando me começaram a dar os sintomas, nem queria acreditar que aquilo me estava a acontecer a mim. Comecei a transpirar, a vomitar, a sentir a dor precordial e pedi logo para chamarem ajuda. Quando veio a ajuda, um espanhol, e soube que eu era médico ficou um pouco desiludido, porque disse que não era enfarte nenhum. Deu-me dois sedativos endovenosos e mandou-me ficar sossegado. Mal ele virou as costas, pedi para me chamarem uma ambulância. Quando entrei na Unidade de Coronários em Las Palmas, só pedi uma injecção de morfina por causa das dores. A partir daí, não me lembro de mais nada. Estive lá quatro meses. Depois de ter recuperado do incidente, voltei a trabalhar. Passado algum tempo, voltei a ter No ano passado, em 2007, ia a entrar para a sala de operações um enfarte. Posteriormente, estive mais de três vezes internado no Hospital por no IPO para uma cirurgia plástica de reconstrução e senti algo que questões relacionadas com o coração. Entretanto, tive uma crise maior que não sou capaz de explicar. O que foi não sei, eu acho que foi “um resultou num coma mais de um mês. Mesmo depois desta crise, acabei treco”. Fui encaminhada para o OBS do IPO e estive entre a vida e a por voltar a trabalhar e só mais tarde coloquei o aparelho auxiliar morte durante 48 horas. Depois, estive internada quatro meses e fiz três no coração. operações. Segundo me foi dito, a quimioterapia (que eu tinha feito) fez Independentemente do meu caso específico, sou da opinião com que o meu coração começasse a trabalhar de uma forma diferente e eu de que a prevenção é importantíssima e a melhor forma tive uma sepse. Em Maio, vim-me embora do Hospital e embora me sentisse de prevenir os problemas cardíacos é razoavelmente bem, achei estranho não me terem indicado nada no âmbito da fazer uma alimentação Cardiologia. Mais tarde comecei a sentir-me mal, fui vista por um cardiologista saudável. O no IPO e encaminhada para o Dr. Hipólito Reis. Quando, em Junho, entrei no iço ser v e saúde o Hospital Santo António, vinha de cadeira de rodas e agora sou capaz de andar o d u com c i pelo meu próprio pé. Depois de, em Dezembro, ter colocado um pacemaker, vim l púb ão ma zem, para a reabilitação e hoje sinto-me mesmo muito bem. t i é d As pessoas da equipa do Hospital de Santo António são muito humanas e não essoas l neste p a i s muito afectivas. A forma como nos tratam durante a reabilitação dá-nos mais A c a espe pital. p r coragem para enfrentar esta batalha. Essa força fez com que agora consiga e v m en e muito i ção é Hos andar sozinha. Os médicos até ficaram espantados com a minha recuperação. mp Fui muito bem recebida e muito bem tratada, por todos, no Hospital Santo e a melh ortante, or form António. O serviço público de saúde não é tão mau como as pessoas de prev a e dizem, em especial neste Hospital. Eu que tenho contactado bastante n i r é fazer Entrei no uma ali com estas equipas, acho que são todos maravilhosos. Ganhei aqui m enta Hospital em muitos amigos. Tenho hoje uma vida normal e depois de ter saudáve ção l. cadeira de rodas estado duas vezes perto da morte, sinto-me uma mulher feliz simplesmente por estar aqui. Agora tento ter uma vida e agora sou capaz mais regrada, com menos stress, e atenta a algumas de andar pelo meu precauções.

Maria Manuela Soares Pinto

próprio pé.

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Liga Portuguesa Contra o Cancro

O principal problema de saúde pública do século XXI

A Liga Portuguesa Contra o Cancro é uma Associação Cultural e de Serviço Social, privada, declarada de utilidade pública, que promove a prevenção primária e secundária do cancro, o apoio social e a humanização da assistência ao doente oncológico e a formação e investigação em oncologia. Elegendo como finalidades a divulgação de informação sobre o Cancro e a promoção da Educação para a Saúde, nomeadamente quanto à sua prevenção, a LPCC tem contribuído de forma decisiva para a resolução da situação dos doentes oncológicos em todas as fases da história natural da doença. Cooperar com as Instituições envolvidas na área da oncologia, nomeadamente com os Centros do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil, estimular e apoiar a formação e a investigação em oncologia, estabelecer e manter relações com Instituições congéneres, nacionais e estrangeiras, contribuir para o apoio social e a humanização da assistência ao doente oncológico. Desenvolver, isoladamente ou em colaboração com outras entidades, estruturas para a prevenção primária, diagnóstico, tratamento e reabilitação em Cancro são os restantes princípios orientadores da missão desta Instituição presidida por Vítor Veloso que, em entrevista a Medicina&Farmácia traça uma panorâmica daquele que considera tratar-se o grande problema de saúde pública do século XXI: o cancro. Quando falamos de cancro, estamos a falar de que doença? Vítor Veloso – Estamos a falar de uma doença que constituirá provavelmente o principal problema de saúde pública do século XXI, na medida em que a incidência do cancro vai aumentar exponencialmente, sobretudo nos países que não investem na prevenção. Nos países em que o Rastreio (prevenção secundária) e a prevenção primária estão perfeitamente implementados, as curas totais vão ser em muito maior número e, por outro lado, a sobrevivência dos doentes será igualmente muito maior. Tudo isto aponta para um incremento de números de doentes curados ou em regime de vigilância, pelo que não é difícil de adivinhar que se vai tornar o principal problema de Saúde Pública deste século.

que temos. Refiro-me nomeadamente à alimentação, ao tabaco, ao álcool, ao sedentarismo, à falta de exercício físico, à obesidade, ao stress, à poluição, entre outros. A alimentação é muito calórica, muito rica em gorduras, sem vegetais, legumes ou frutos frescos que acompanhada de sedentarismo, de excesso de peso contribuem para 20 a 30 por cento da génese de todos os cancros. De igual modo, o tabaco com todos os seus malefícios promove a iniciação de 20 a 30 por cento de todos os cancros nos diversos órgãos. Tal como disse anteriormente, temos uma série de factores adicionais, como seja a falta de exercício físico, a poluição ambiental, o stress e muitos outros aspectos que também são factores de risco.

Como se desenvolve o cancro? VV – Explicando de uma forma muito simples, podemos dizer que o cancro se desenvolve pelo aparecimento de células que deixam de desempenhar o seu papel habitual, tornando-se atípicas e reagindo contra as outras células normais. Em situações habituais, enquanto o indivíduo tem imunidade, as nossas defesas (imunitárias) conseguem atacar essas centenas de milhares de células atípicas que circulam no nosso corpo, destruindo-as diariamente. Em situações em que haja uma deficiência imunitária causada por múltiplos factores, essas células podem colonizar qualquer um dos nossos órgãos e, a partir daí, começar a desenvolver uma estrutura cancerígena.

A obesidade é um factor de risco? VV – É um factor de risco muito elevado e que, juntamente com o sedentarismo e com a má alimentação, proporciona condições para a iniciação de um processo cancerígeno.

A nossa população vive entretanto descuidada e na incerteza se poderá ter ou não um cancro… VV – Com certeza que sim. É uma realidade! Temos que encarar o cancro de maneira muito diferente daquela que estávamos habituados a fazer, ou seja, como estigma social. Não é, de maneira nenhuma, um estigma social! O cancro, neste momento, se for detectado numa fase inicial – daí a importância da prevenção primária e da prevenção seLicenciado em Medicina e Cirurgia pela cundária – é uma doença, Universidade do Porto na esmagadora maioria Especialista em Cirurgia Geral dos casos, curável ou que dá uma sobre• Presidente Nacional da Liga Portuguesa Contra o vivência muito Cancro maior que outras • Presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga doenças cróniPortuguesa Contra o Cancro cas. Acima de • Proferiu 457 Palestras e Intervenções a nível nacional e tudo, devemos pensar que internacional o cancro, em • Apresentou e publicou 152 comunicações, algumas em cerca de 60 a revistas indexadas 70 por cento, • Foi presidente de vários congressos nacionais e aparece deinternacionais vido aos hábitos de vida

Vítor Veloso

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Qual é o peso do Cancro hereditário e genético? VV – Existe uma percentagem muito pequena de cancros genéticos, aqueles em que o indivíduo já está marcado a nível dos genes. Sabendo-se que até aos 50 anos irá


presas públicas, pelo que existem timings, e não podem estar meia hora com um doente porque têm mais 30 ou 40 lá fora. O médico tem que ter um cuidado e respeito especial relativamente ao temperamento do doente. Todos nós como latinos que somos, ainda não gostamos nem estamos preparados para sermos informados cruamente, ao contrário do que sucede nos países nórdicos ou anglo-saxónicos, em que o indivíduo é informado friamente. Devemos ter e transmitir uma atitude de esperança em relação a esses doentes e aí o Voluntariado assume É realmente possível prevenir o cancro? uma valia extremamente importante. São esses que complementam a acção dos proVV – Claro que sim… através da prevenção primária (estilos de vida saudáveis e ausênfissionais de saúde. O mesmo em relação ao psicólogo e ao psiquiatra, cujas funções cia de comportamentos de risco) e da prevenção secundária – rastreios de Cancro da são importantíssimas mas, de qualquer modo, a acção do Voluntariado, sobretudo Mama, Cólon e Recto e Colo do útero. do Voluntariado oncológico, dos Centros do IPO, é imprescindível. É um Voluntariado de altíssima qualidade, que exerce uma acção de E qual será o papel do médico nessa mesma prevenção? Terá um papel a desemapoio psico-emocional ao doente e seus familiares e a penhar para além do tratamento ou será a prevenção uma missão para os outros? O todas as situações que decorrem de um doente VV – O médico terá responsabilidades mais propriamente ao nível do diagnóstico precancro da mama que tem cancro. coce. Em relação à prevenção primária, o médico não tem um peso muito grande, Apesar de não ser dos até porque se trata de um tipo de actividade que demora muito tempo, que envolmais letais, o cancro da mama ve inúmeras acções, muitos recursos humanos e que normalmente se encontra na dependência das associações não governamentais. Neste aspecto a Liga Portuguesa é um problema de saúde pública, Contra o Cancro tem um Departamento unicamente dedicado à prevenção que, diaapresentando uma alta incidência e riamente, realiza inúmeras acções, ao nível das escolas, junto dos professores, em mortalidade, sobretudo na mulher (apediversas comunidades alvo, informando e sensibilizando para atitudes saudánas 1 a 2 em cada 100 cancros se desenvolveis, comportamentos reprováveis e práticas de risco. vem no homem). Actualmente, em Portugal, com uma populaEm que medida seremos hoje uma população bem informada acerca do cancro? ção feminina de 5 milhões, aparecem 4800 noVV – Creio que somos uma população muito melhor informada do que vos casos de cancro da mama por ano, ou seja, éramos anteriormente. Mas este tipo de informação tem que ser veicu11/12 novos casos por dia, morrendo 4/5 mulheres lada quase diariamente. Não podemos desenvolver uma acção durante por dia com esta doença. um mês e depois deixar de o fazer. Temos que fazer passar a mensagem Para obviar a este estado calamitoso, o auto-exae ensinamentos de modo consecutivo, sempre contando com a ajuda imprescindível e extremamente importante dos media e de figuras púme, o exame clínico e a mamografia são meios blicas, cujas mensagens são muito mais facilmente captadas e apreendipara um diagnóstico precoce. das pelo público-alvo. Na Liga Portuguesa Contra o Cancro, posso dizer, Não deve ser esquecido ainda que existem já essas acções, por todo o País, são diárias. técnicas cirúrgicas de reconstrução mamária, indispensáveis para uma melhor qualidade de Qual é o papel do médico de família no seio desta problemática? VV – O papel do médico de família é muito importante, não só ao nível do vida através da melhoria da auto-imagem e diagnóstico precoce mas sobretudo na prevenção secundária. O médico de do auto-conceito da mulher, que se reperfamília é fundamental no que respeita aos rastreios, nomeadamente do cutirá no relacionamento com os seus cancro da mama, do colo do útero e do colo rectal. Sem médico de familiares, os quais desempenham família, obviamente, não poderia haver prevenção secundária. um papel extremamente imporO tante no apoio aos doentes Como descreve a tarefa de informar pela primeira vez inestimável voluntariado um doente a quem tenha sido diagnosticado um com esta patologia. A actividade de voluntariado reveste-se de extraordinária imcancro? portância na prossecução dos fins estatutários pelos quais se  norteia a  Liga VV – É muito difícil… O médico tem que ter Portuguesa Contra o Cancro.  Neste sentido, mais de 2.500 pessoas desenvolvem diao cuidado de conhecer minimamente o doente e o seu tipo de reacção. Inriamente actividades e dão um pouco do seu tempo e carinho no auxílio ao doente oncológico e no felizmente, no nosso sistema de desenvolvimento de actividades de educação para a saúde e de angariação de fundos para esta causa. saúde cada vez há menos a O que é o Voluntariado? possibilidade de se ter uma Actividade inerente ao exercício de cidadania, de reconhecido interesse social e comunitário, assente no projecto duma equipa, deviconversa prolongada damente regulamentado, estruturado, comprometido, e assegurado por uma Instituição vinculadora. com os doentes, na O que é ser Voluntário? medida em que os hospitais são emO voluntário e o cidadão que de forma isenta, desinteressada e responsável, se compromete livremente (face a si, à comunidade e à Instituição na qual está inserido), a servir o próximo. Em que consiste o Voluntariado em Oncologia? Este voluntariado particularmente vinculativo e exigente, sustentado em equipas solidárias, determinadas e organizadas, tem por objectivo apoiar, por todos os meios ao seu alcance, o doente oncológico (e família) em todas as fases da doença, esforçando-se por minorar o sofrimento e a solidão. Movimentos de voluntariado no âmbito da Liga Portuguesa Contra o Cancro Voluntariado Hospitalar, Movimento “Vencer e Viver”, Movimento de apoio a Ostomizados, Movimento de apoio a Laringectomizados, Grupos de apoio distribuídos por todo o país. Na sua acção de acompanhamento e apoio hospitalar, os voluntários da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) preocupam-se exaustivamente em humanizar a passagem e a estadia do doente/família nas Instituições Hospitalares, disponibilizando in loco variados e abrangentes serviços dirigidos ao Doente quer em percurso ambulatório, ou em percurso de internamento. Assim o Voluntariado Hospitalar caracteriza-se pela forma criteriosa, atenta e exigente como selecciona, forma e prepara, durante um estágio de meses, os seus voluntários; Pela forte organização com que dinamiza os Serviços que disponibiliza ao Doente/Família; Pelo seu vastíssimo campo de intervenção, que na área hospitalar, que na área extra-hospitalar. Entre os diversos serviços em prol do doente, destacamos o Acolhimento – Acolhimento e visita os doentes internados ou a internar; o Apoio a Refeições – Companhia e ajuda nas refeições; o Apoio a Visitas – Acolhimento e ajuda a família na hora da visita; a Biblioteca – Disponibilização ao doente jornais e revistas; o Cabeleireiro – Cuidados da imagem e a autoestima das doentes; Café com leite – Conforto dos doentes e família, oferecendo bebidas quentes e bolachas; Cantinho – Espaço de convívio para os doentes do Lar, à volta dum pequeno lanche; Costura – Confecção de próteses mamárias provisórias e presentes para o Natal; Flores - Colocação de uma flor à cabeceira dos doentes, com uma mensagem de esperança; Guias – Recebimento, apoio (guia/acompanhamento) os doentes através de todo o espaço hospitalar; Pediatria – Companhia às crianças nas refeições, jogos e tratamentos, e apoia os pais em todas as situações. O aspecto lúdico é alvo de constante atenção; Visita – Companhia aos doentes, em especial quando não têm visitas. O Voluntariado Hospitalar da LPCC traduz-se assim numa importante forma de humanização dos serviços hospitalares, servindo o doente e trabalhando para minorar o seu sofrimento. É uma actividade regulada, que implica disponibilidade e um grande espírito de dedicação e compreensão para com o próximo. desenvolver um cancro, mas esses só correspondem a 3 a 4 por cento de toda a população e de todos os cancros. Há neste momento possibilidade de através de exames genéticos descobrir anomalias. No futuro, ainda não próximo, estas anomalias poderão ser corrigidas pela engenharia genética. Há também um grupo que corresponde a um máximo de 20% de todos os cancros, que poderão ter uma génese hereditária mas para os quais, neste momento, os profissionais de saúde estão perfeitamente alertados.

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Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares

Formação para valorizar a A Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares (APFH) surge da necessidade de valorizar uma profissão, que por ser tão específica, é muitas vezes esquecida. O trabalho do farmacêutico hospitalar porém é difícil de ser ignorado, uma vez que é peça fundamental das equipas hospitalares. Apesar das adversidades que advêm da constante evolução das envolventes profissionais, a APFH tem-se dedicado à formação contínua dos farmacêuticos hospitalares, bem como se tem debatido pelo reconhecimento efectivo da profissão. Aida Baptista, recentemente eleita presidente da APFH para o triénio 2008/2010, aclarou o peso da experiência em meio hospitalar na formação profissional do Farmacêutico Hospitalar e avaliou o recente estabelecimento de farmácias em Hospitais. A Farmácia Hospitalar “Na década de 60 do século passado, alguns farmacêuticos começaram a trabalhar em Hospitais. Um grupo desses farmacêuticos, achando que a sua actividade era muito importante e diferente da farmácia de oficina, moveu algumas acções no sentido de valorizar a profissão. Foi então criado o regulamento da Farmácia Hospitalar, um documento muito evoluído em relação ao que existia noutros países. Este documento equiparava os farmacêuticos a médicos no sentido em que, embora com profissões diferentes, ambos tinham um internato e uma formação específica. A necessidade de uma formação específica surge pelo facto de os hospitais serem organizações muito complexas, onde se utiliza tecnologia de ponta. Os próprios medicamentos utilizados são tecnologia de ponta. Os tratamentos mais agressivos e urgentes são realizados nos hospitais e, posto isto, é facilmente perceptível a importância e necessidade de um conhecimento profundo sobre os medicamentos hospitalares. Esse conhecimento não se adquire na faculdade. Adquire-se no contacto com os doentes e com as terapêuticas. Por isso, existe uma ligação medicamento/doente, maior em patologias específicas, que é característica da Farmácia Hospitalar.”

Maria Aida Magalhães Ferreira Batista Pós-Graduação em Gestão e Direcção de Serviços de Saúde, pela Faculdade de Economia do Porto, 2006 Licenciatura em Ciências Farmacêuticas, opção A, ramo Farmácia de Oficina e Hospitalar pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, 1987. Curso Geral de Pilotagem da escola Náutica Infante D. Henrique, Paço d´Arcos, 1979. Especialista em Farmácia Hospitalar pela Ordem dos Farmacêuticos desde 1994. Assessora nos Serviços Farmacêuticos do Centro Hospitalar de V.N. de Gaia/Espinho, EPE

O Farmacêutico Hospitalar “A actividade do farmacêutico hospitalar está dirigida para diversas áreas. Tem de seleccionar medicamentos, fazer a gestão dos medicamentos, aprovisioná-los, manipulá-los e prepará-los para a administração e distribui-los, bem como tem de dar informações sobre os mesmos e participar em ensaios clínicos. Essas são apenas algumas das actividades que exigem dos farmacêuticos hospitalares um vasto e profundo conhecimento dos medicamentos, das terapêuticas e da sua própria actividade no meio hospitalar. A experiência necessária a este conhecimento não se adquire num ano ou dois. A título de exemplo, nas carreiras da função pública, para o cargo de farmacêutico hospitalar - intitulado de técnico superior de saúde de farmácia -, é necessário um estágio de três anos. Este estágio funciona, de certa forma, como o internato médico.”

“Distribuição de Medicamentos aos serviços de Urgência e Bloco Operatório – Utilização de carros com stock fixo“ – poster, 2001 “Fornecimento de Medicamentos em Ambulatório – Análise de Movimentos e Consumos” – poster, 2000 “O ENSAIO das Endotoxinas Bacterianas na Farmacopeia Portuguesa V” – poster em co-autoria, 1991 “NITROGLICERINA, solução injectável” – poster em co-autoria, 1990 “O USO de Fármacos em Geriatria”, 1989 Presidente da Associação Portuguesa da Farmacêuticos Hospitalares, desde 2008 Vice-Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares, de 2005 a 2008 Vogal da Direcção da Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares, de 2002 a 2005 Membro da Direcção do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, de 1990 a 1992.

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A importância da experiência “Por tudo o que engloba a profissão e pela necessidade de consolidarmos o papel de farmacêutico hospitalar na equipa de saúde é necessário que os farmacêuticos hospitalares tenham a formação adequada. Neste momento, existem em Portugal cerca de 500 farmacêuticos hospitalares. Em 2000 fez-se uma avaliação das necessidades e chegou-se à conclusão de que seriam necessários cerca de 800 farmacêuticos hospitalares para cumprir com todos os critérios técnicos e científicos que a profissão exige. Como já referi, quando um farmacêutico sai da universidade não está preparado para exercer a profissão de farmacêutico hospitalar sem supervisão; são precisos, pelo menos, três anos de experiência para ser especialista. No entanto, não me parece que, com a política de recursos humanos que o Governo está a


adoptar, se consiga ter uma carteira de profissionais preparados para assumir o seu lugar daqui a 10/15 anos. O que acontece é que, com a restrição de contratações que existe a nível geral e com a abertura da possibilidade de contratar através de contratos individuais de trabalho a termo, as pessoas vão ser contratadas sem experiência. Este tipo de medida não dignifica em nada os Conselhos de Administração dos Hospitais que procedem a estas contratações, nem o próprio Governo e com isto, os Farmacêuticos Hospitalares ficam impossibilitados de valorizar uma profissão que tem imensa responsabilidade. Para nós, é imperativo que se perceba que a carreira de Farmacêutico Hospitalar precisa, tal como uma carreira médica, do contacto experimental no terreno, seja esta experiência intitulada de estágio, internato, o que for… Mas este período de treino, de experiência no campo de acção da profissão é crucial para o desenvolvimento de um bom profissional.”

A criação da Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares “É um meio de concentrar esforços no sentido de atrair atenções para o farmacêutico hospitalar. Não deixamos de ser farmacêuticos e não temos pretensão de substituir nenhuma das entidades existentes. Todos temos funções diferentes. Complementares mas diferentes. A Ordem tem funções reguladoras da profissão. O Sindicato tem funções de negociação das condições de trabalho dos Farmacêuticos. As funções da Associação Portuguesa dos Farmacêuticos Hospitalares são melhorar as condições de exercício da profissão, dar formação, representar aos farmacêuticos nas instituições e elaborar documentação para promover debate e discussão nos fóruns próprios sobre as condições do exercício da Farmácia Hospitalar.”

também como profissionais com exigências técnicas. É neste sentido que continuaremos a trabalhar.”

Farmácia Hospitalar e Farmácia privada em meio Hospitalar “O estabelecimento de farmácias nos hospitais – às quais acabam por chamar farmácias hospitalares – veio criar um acréscimo de confusão no que se refere às Farmácias Hospitalares. Estas novas farmácias são farmácias privadas instaladas numa instituição pública chamada Hospital mas os seus serviços são semelhantes aos das farmácias de oficina. Na nossa opinião, esta foi uma decisão política, à qual colocamos sérias dúvidas de funcionalidade. A confusão criada advém do facto de, nessas farmácias intituladas hospitalares, não trabalharem farmacêuticos hospitalares e de não existir, repito, a mesma prestação de serviços. O que acontece é que os doentes saem das consultas com uma receita e, dentro do Hospital, podem dirigir-se às referidas farmácias para levantar a receita. Pode também acontecer os doentes terem duas receitas: uma para levantar nessa farmácia e outra para levantar nesta farmácia, na farmácia 1ª Semana A.P.F.H. / efectivamente 12º Simpósio Nacional h o s p i t a l a r. Parece“Farmácia Hospitalar: n o s Mudança de Paradigma?”

Este ano foi introduzido um conceito diferente intitulado Semana APFH. Nesta semana existe disponível formação específica no primeiro e “Também nos preocupamos com a promoção do reconhecimento da profissão. É último dia (workshops) e o simpósio decorre durante os três dias intermépreciso que as pessoas saibam que existem farmacêuticos hospitalares. Gostadios. O Simpósio deste ano tem como principal objectivo fazer uma análise ríamos que em Portugal toda a gente soubesse responder o que é um farmasobre o que surgiu de novo nestes últimos anos no que diz respeito à actividade cêutico hospitalar. Existe a noção de que nos hospitais só existem médicos do Farmacêutico Hospitalar, fazendo um ponto de situação sobre o que é preciso e enfermeiros. No entanto, o reconhecimento pretendido é um reconhealterar e/ou reforçar nas variadas vertentes que envolvem a profissão. cimento no contexto social, científico e académico. Isto é, pessoas na Sessões plenárias: sociedade vão reconhecer I – Informação e Conhecimento o farmacêutico hospitalar, Linhas principais de debate: novos doentes, novos medicamentos e novas doencientificamente vão ser ças; acesso a fontes de informação; saber trabalhar a informação reconhecidos como II – Globalização e Contrafacção de Medicamentos profissionais com comLinhas principais de debate: contrafacção e tráfico de medicamentos na Internet e petências científicas e nas Farmácias Hospitalares; globalização da produção de medicamentos academicamente, nas III – Novas abordagens Terapêuticas faculdades, vão ter de Linhas principais de debate: avanço tecnológico na terapêutica; impacto das novas ser reconhetecnologias na Farmácia Hospitalar; antecipação às necessidades futuras – conhecicidos mento das inovações IV – Medicamentos em fim de ciclo: quem os produz? Linhas principais de debate: globalização e industrialização da produção de medicamentos; rentabilidade comercial dos medicamentos; soluções de produção em Portugal V – Tecnologias de Informação e Automação Linhas principais de debate: surgimento de equipamentos automáticos; avaliação da utilidade dos equipamentos VI – Investigação em Farmácia Hospitalar Linhas principais: apresentação dos trabalhos de investigação realizados por farmacêuticos hospitalares; contributo para evolução científica

Reconhecimento da profissão

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Casa de Saúde de Guimarães promove seminário no Dia Nacional do Não Fumador

Viver mais e melhor... sem tabaco Os reflexos da legislação de prevenção do tabagismo em meio escolar, laboral e ambiental, a nova lei de prevenção e controlo do tabagismo, a contribuição da cessação tabágica na nova lei e o contraponto com a legislação espanhola foram temas em destaque num debate promovido pela Casa de Saúde de Guimarães por ocasião das comemorações do Dia Nacional do Não Fumador. A iniciativa, que contou com a colaboração do Instituto Português de Tabacologia, que uma vez mais distinguiu personalidades portuguesas não fumadoras, decorreu na Pousada Santa Marinha, em Guimarães, sob o lema Viver Mais e Melhor – Impacto da Nova Lei do Tabagismo, e serviu para um heterogéneo conjunto de especialistas nacionais e internacionais proceder a uma avaliação dos efeitos transversais da norma na sociedade portuguesa, desde a saúde até à economia. Passados 10 meses desde a entrada em vigor da Lei de Prevenção do Tabagismo, que genericamente proíbe o fumo em todos os espaços destinados a utilização colectiva, a Casa de Saúde de Guimarães prestou assim mais um contributo à sociedade civil, que demonstra bem a assunção de uma missão que vai muito além de uma mera lógica capitalista ao nível da prestação de cuidados de saúde no sector privado. DGS, ARS Norte, DREN, ASAE, Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo, European Medical Association, Associação Portuguesa do Direito do Consumo e Universidade de Santiago de Compostela foram algumas das entidades que se fizeram representar entre os palestrantes.. Na sessão comemorativa do Dia Nacional do Não Fumador, presidida por Manuel Pais Clemente, foram distinguidas pelo recém-criado Instituto Português de Tabacologia personalidades como o médico legista Pinto da Costa, o médico espanhol Elisardo Decoña, o Director-Geral de Saúde Francisco George, o treinador Manuel Cajuda, a atleta Rosa Mota, entre outras. Como salienta Manuel Rito, director clínico da Casa de Saúde de Guimarães, “O tabagismo representa actualmente um grave problema de saúde pública, que compromete não só a saúde da população, como também a economia a ela relacionada”. De acordo com este profissional de saúde, que dinamiza a I&D de novas técnicas e procedimentos de elevado valor terapêutico para os doentes, os médicos e os serviços de saúde em geral, “A Casa de Saúde de Guimarães, que tem um programa de tratamento de tabagismo desenvolvido por uma equipa multidisciplinar, actua desde sempre no domínio da prevenção e este seminário é mais um contributo de sensibilização para esta problemática”. Já Sérgio Vinagre salientaria que “qualquer atraso na iniciação do consumo corresponde a ganhos incalculáveis de saúde pública”, denunciando ainda que “existem estudos que demonstram que temos empresas em que 50 por cento dos profissionais fumam e que algumas administrações não cumprem, nomeadamente aquelas que não estão sujeitas a um contacto directo com o público”. Sérgio Vinagre colocaria ainda uma tónica na publicidade ao tabaco que, na sua opinião, “tem sido feita no nosso País de forma provocatória e

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directa, como acontece em cafés, restaurantes ou nos “armários com tabaco” adoptados pelas estações de serviço”. De acordo com Mário Frota, “a tónica na educação a todos os níveis, com destaque para os 1000 formandos da ARS Norte promoveu mais educação para a saúde, mormente no terceiro ciclo, com acções de divulgação, sensibilização, promoção da saúde e respeito pelas normas”. Num discurso inflamado, Mário Frota salientou que “há uma clara assintonia entre o que a lei estabelece e o que se verifica no dia-a-dia”, algo que o especialista define como “ um desvio manifesto e uma clamorosa divergência entre o discurso oficial e o que se observa no quotidiano”, referindo-se concretamente ao “patrocínio, promoção e publicidade, que continuam a enxamear o mercado com uma cegueira absoluta por parte das autoridades”. Francisco George, por seu turno, admitiu poderem existir ainda “algumas lacunas numa lei que é recente mas que também já evidencia melhorias significativas desde a sua entrada em vigor, nomeadamente quando se verifica uma diminuição considerável de produtos de tabaco no mercado e um registo de vendas decrescente por parte da tabaqueira”. Medicina & Farmácia esteve presente no seminário e registou ainda o discurso do Presidente do CA da Casa de Saúde de Guimarães, Teófilo Ribeiro Leite. “A missão da Casa de Saúde de Guimarães, que vamos em breve estender ao Hospital Privado de Guimarães, sempre foi não apenas praticar medicina reactiva mas privilegiar a educação para a saúde, a prevenção, o diagnóstico precoce, a sensibilização e o esclarecimento em relação aos múltiplos factores indutores da degradação da saúde pessoal e colectiva. É por isso que aprecio o tema escolhido, Viver Mais e Melhor, para este seminário comemorativo do Dia Nacional do Não Fumador 2008, que a Casa de Saúde de Guimarães co-organiza com o recém-criado Instituto Português de Tabacologia. É sempre bom lembrar que um organismo livre do tabaco tem sempre mais saúde. Mas, por mais que a sociedade e a própria legislação suportem esta verdade, o certo é que ainda há muitos fumadores e, talvez pior, muitas pessoas que fumam passivamente, o que as coloca em grupos de risco em relação a várias doenças. Num ano, morrem em Portugal mais de 12 mil pessoas por causas associadas ao tabagismo. E estudos da Sociedade Espanhola de Epidemiologia revelam que um em cada cinco mortos


devido ao tabaco é fumador passivo. Pouco mais de dez meses após a entrada em vigor da Lei de Prevenção do Tabagismo (Lei 37/2007 de 14 de Agosto de 2007), que genericamente proíbe o fumo em todos os espaços destinados a utilização colectiva, qual o seu impacto em Portugal? É para responder a esta questão e assinalar o Dia Nacional do Não Fumador que a Casa de Saúde de Guimarães realizou rastreios anti-tabágicos gratuitos este fim-de-semana e dinamiza este seminário que, espero, possa contribuir para uma avaliação cuidada dos efeitos transversais da nova norma de prevenção do tabagismo na sociedade portuguesa. Da saúde à economia. Os “Reflexos da Legislação de Prevenção do Tabagismo em Meio Escolar, Laboral e Ambiental”; a “Nova Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo (Lei nº 37/2007, 14 de Agosto)”; a “Contribuição da Cessação Tabágica na Nova Lei do Tabagismo” e a “Legislação da Prevenção e Controlo do Tabagismo em Espanha” serão os temas de um debate protagonizado por um heterogéneo conjunto de conferencistas, nacionais e internacionais. A todos os palestrantes, o nosso obrigado pela receptividade e empenho demonstrados. Na sessão comemorativa do Dia Nacional do Não Fumador serão ainda distinguidas várias personalidades nacionais, da medicina ao desporto, quer pelo seu exemplo de vida saudável e sem fumo, quer pelo seu contributo em acções de sensibilização antitabágica. Para eles, também uma palavra de especial apreço pelo exemplo de vida saudável e um agradecimento pela disponibilidade para aqui, hoje, receberem uma singela distinção e com isso reforçarem a sua acção de sensibilização para a causa anti-tabágica.

O tabagismo é a única causa de morte passível de ser prevenida em todo o Mundo. No entanto, mata uma pessoa a cada seis segundos. A Organização Mundial de Saúde refere que o tabagismo é responsável pela morte de mais de cinco milhões de pessoas por ano, muito mais do que a tuberculose, o VIH/Sida e a malária em conjunto. Em 2030, a mortalidade por tabagismo excederá os oito milhões por ano. Se não forem implementadas medidas urgentes, o tabagismo poderá ser responsável por cerca de um bilião de mortes durante o século XXI. A causa mais relevante desta situação é a época que vivemos, de socialização de massas. Adoptam-se comportamentos e posturas consoante os ídolos do momento. Os pré adolescentes e os adolescentes, muitas vezes influenciados por determinados grupos nos quais gostariam de se integrar, pensam que fumar lhes confere o estatuto de maturidade e de independência. A verdadeira prevenção começa aqui e faz-se, em primeiro lugar, em casa com educação para a saúde. É necessário desmistificar uma série de mitos associados ao tabaco junto dos mais jovens e, sem pruridos de qualquer espécie, explicar-lhes que quem é realmente maduro procura ter um estilo de vida saudável e opta por aquilo que é verdadeiramente melhor, sem se importar com o que parece nem com o que os outros pensam. A Lei de Prevenção do Tabagismo terá, de facto, um forte impacto, como perceberemos ao longo do dia, mas tem de ser complementada por uma maior sensibilização da sociedade em geral e das famílias em particular. Obrigada por apoiarem esta causa com a vossa presença.

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Hospital Privado de Guimarães:

Um case study em prestação de cuidados de saúde

Fundada em 1984, a Casa de Saúde de Guimarães tem vindo a evoluir no nível de serviços que oferece, nomeadamente nas áreas de Internamento, Consultas, Cirurgia, Meios Complementares de Diagnóstico e, mais recentemente, Urgência 24 Horas e Cuidados Intermédios, de forma a criar alternativas aos grandes centros. O passo que acaba de dar, através da edificação do Hospital Privado de Guimarães, permitirá uma maior qualidade nos serviços prestados, uma vez que as novas instalações representam uma evolução muito significativa, na medida em que a área do Hospital será cerca de cinco vezes superior à da actual Casa de Saúde de Guimarães, além dos espaços terem sido concebidos à luz da moderna arquitectura hospitalar. O Ambulatório inclui os Serviços de Consulta Externa, Diagnóstico e a Urgência, que, funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano, constituindo-se como uma valiosa oferta à população da sua área de influência, que pode assim aceder a um médico em breves minutos. O trânsito de funcionários e doentes entre o Ambulatório, Internamento e os dois Blocos Operatórios está assegurado por meio de um túnel subterrâneo de ligação entre os dois edifícios. Geriatria, Pediatria e um Centro de Neurociências são apostas fortes e diferenciadoras por parte de um grupo que começa a adquirir contornos de excelência e a assumirse como referência de vanguarda no sector privado da saúde. Medicina e Farmácia foi conhecer melhor as raízes, o presente e o futuro de um projecto que, apesar de já mui-

Nelson Brito

Licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (1997). MBA em Finanças pelo Instituto Superior de estudos Financeiros e Fiscais (2003). Funções actuais: Director-geral da Casa de Saúde de Guimarães, SA Conferências: “Influence of health insurances development on hospitals changes in Portugal, na Conferência Internacional “Health insurance in the Health Care System under Reform”, representando a Casa de Saúde de Guimarães, SA – Varsóvia, Polónia (Dezembro 2008). “The Portuguese healthcare industry: an overview and future trends”, na Conferência International “Hospital Privatization in Middle-Eastern Europe”, representando a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada – Wroclaw, Polónia (Outubro 2005. Apresentação “O modelo de criação de valor da Clipóvoa” a estudantes do Mestrado em Economia da Saúde das Universidades do Minho e do Porto – Clipóvoa, Póvoa de Varzim (2000).

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to ter cumprido, ainda muito promete. Em entrevista, Nelson Brito, director geral, e Manuel Rito, director clínico apresentam o projecto.

A génese do projecto (director geral)

“A Casa de Saúde de Guimarães está no mercado há mais de 20 anos. Foi constituída inicialmente por um grupo de médicos oriundos de uma geração em que era habitual o agrupamento de profissionais daquela classe para encontrarem um local onde fosse possível realizar as consultas de uma forma economicamente mais eficiente e, simultaneamente, fazerem cirurgias e internamentos. Mais tarde, já na década de 90, numa fase menos favorável, foi convidado o Eng.º Teófilo Ribeiro Leite a assumir a maioria do capital e a gestão da empresa. Assim acontece há mais de uma década e, no início dos anos 2000, face às mudanças e à aceleração do investimento privado na área da saúde, com a entrada de investidores ligados a instituições financeiras, o sector começou a evoluir de forma muito acelerada. E foi necessário cada uma destas unidades de pequena e média dimensão tomarem decisões, sendo certo que nada fazer nestas circunstâncias iria significar perda de competitividade. Hoje, os nossos doentes são clientes, comportam-se como tal e não lhes basta terem um médico competente e qualificado. Também gostam de ter um edifício agradável, de todas as amenidades associadas a um serviço equivalente ao de um hotel, conjugadas com uma prática de medicina de excelência. Nesse sentido, a decisão da Administração da Casa de Saúde de Guimarães foi no sentido de investir, crescer e desenvolver. Daí o Hospital Privado de Guimarães, o primeiro dos resultados desta estratégia de desenvolvimento e crescimento, cuja construção está prestes a terminar”.

Especialidades (dir. clín.)

As especialidades que o Hospital Privado de Guimarães terá são basicamente aquelas que se encontram num hospital distrital. Não teremos obviamente todas, algumas são até novas mas pretendemos sobretudo orientar para áreas inovadoras e oferecer algum valor acrescentado à população. Nomeadamente na área da Geriatria, que é lacunar, prestando serviços nas áreas das neurociências, potenciando uma melhoria da qualidade de vida dos nossos cidadãos mais velhos; na área da Pediatria, onde devemos ter um papel importante na medida em que estamos perante um público-alvo que será o futuro do nosso País; na área da mulher, como ser que coordena toda a família em termos de saúde, levando muitas vezes o homem à consulta; vamos ter a consulta do homem, na vertente urológica e demais especialidades médico-cirúrgicas. Vamos implementar Programas Integrados, isto é, programas orientados para o tratamento de doenças complexas em que o utente entra e é tratado de princípio ao fim por diferentes profissionais, beneficiando da experiência das equipas multidisciplinares. Refiro-me concretamente a doenças como Alzheimer. Naturalmente o doente precisa de ser tratado, mas a sua família deve ser também ajudada e, nesse sentido, há que promover formação aos próprios cuidadores. Trataremos a doença de Parkinson, que, aqui no Norte, começa a ter desenvolvimentos significativos e em relação à qual nos dedicaremos também ao tratamento cirúrgico, promovendo a melhoria dos sintomas da doença. O Centro de Neurociências será um dos factores de diferenciação desta unidade. Temos muito bons neurologistas, muito bons psiquiatras e neurocirurgiões no Norte, é apenas necessário aumentar o espírito de equipa. Eu, que sempre fui médico hospitalar, constato que existe alguma estanquicidade entre os colegas, e o partilhar de opiniões é muito enriquecedor. Aprendi, desde


há muito tempo, que o trabalho em equipa multidisciplinar permite a implementação de programas terapêuticos complexos como por exemplo a radiocirurgia, a cirurgia da epilepsia, a cirurgia nas doenças do movimento, e os resultados começaram a aparecer, com grandes benefícios para os doentes.

Prevenção

Nesta fase moderna, a prevenção em saúde afigura-se como “o melhor tratamento”. Existem áreas em que nos dedicaremos à prevenção sem, naturalmente, deixarmos de assegurar antes o tratamento. Nomeadamente na área da pneumologia, das doenças do sono, nas consultas antitabágicas, na alimentação, na promoção de encontros e seminários de cariz técnico ou científico e diversas acções de sensibilização e promoção da saúde, mas também na integração de terapias complementares na área da medicina comportamental, recorrendo por vezes à medicina oriental, interagindo e procurando soluções novas quando na medicina ocidental não se encontram respostas para algumas carências, nomeadamente do âmbito emocional ou de outras variáveis ordens que não físicas ou corporais, mas englobando estas de forma racional e moderna, numa perspectiva integradora.

Medicina de excelência

Como há pouco dizia, o hospital tem que ser bonito, confortável e funcional, quase um elemento de moda e de associação de prestígio, o layout é absolutamente essencial e também por isso acreditamos que este projecto do novo hospital está cheio de detalhes diferenciadores. Mas serão as equipas que lá trabalharão que irão ser as responsáveis por que façamos ou não a diferença. O hospital, sendo atractivo e gerando a curiosidade das pessoas para o experimentar, – o primeiro contacto é decisivo, quer para fidelizar, quer para perder – se não tiver um serviço à altura de toda a infra-estrutura, tudo se perde. Portanto, estamos a fazer um esforço no sentido de aumentar a nossa equipa de médicos “diferenciadores”, já temos um conjunto de profissionais todos eles altamente competentes e estamos presentemente a promover a diferenciação em algumas áreas da medicina porque entendemos que não existe nenhum hospital que trate de forma excelente em todas as especialidades. E as áreas que escolhemos foram, precisamente, as neurociências, a mulher, a criança e o idoso. Isto quer do ponto de vista do hospital, quer porque correspondem a necessidades evidenciadas pelo mercado.

mática do financiamento. Quando o Estado contrata com prestadores privados determinados serviços, quer dizer que os cidadãos podem aceder aos mesmos numa unidade privada nas mesmas condições em que acederiam a um hospital público ou a um centro de saúde. Para nós, a saúde confunde-se um pouco com o Serviço Nacional de Saúde porque em democracia foi criado, desenvolveu-se, produziu óptimos resultados ao nível de ganhos em saúde comparativamente com o que tínhamos – a nossa posição relativa, a esse nível, face aos países mais desenvolvidos evoluiu estrondosamente – mas neste momento estamos a atravessar uma fase em que se coloca o problema da sustentabilidade. E sustentabilidade tem a ver com eficiência, que se traduz em saber como prestar mais cuidados gastando menos. E é algo em que as pessoas normalmente não acreditam mas que com outras metodologias de organização, uma maior flexibilidade de gestão e com o facto de os prestadores privados terem um risco se torna possível. Quando dizemos que o doente é para nós um cliente e que está no centro da nossa vida, esse é um facto traduzido na prática. Todos os que vêm escolhem, mesmo aqueles que têm um vale de cirurgia e vêm ao abrigo do Programa SIGIC, podem escolher qualquer outra clínica ou hospital. E se vêm cá têm que ter alguma razão, têm que querer cá vir. Tudo o que fazemos tem que ser em função da satisfação total do doente, em primeiro lugar como tal, mas também olhando-o como um cliente do ponto de vista da exigência que temos que colocar a nós próprios. E não é só a questão do acto médico que está em causa. Há a questão da acessibilidade aos serviços, os tempos de espera, o conseguir marcar uma consulta com rapidez, a atenção dispensada com toda a carga e expectativas inerentes a uma pessoa que vem a um hospital. E isto tem tudo a ver com sensibilidade e bom senso, duas qualidades que temos que reunir às restantes que enumerámos quando nos propusemos construir uma unidade e um serviço de excelência.

Público-alvo

,5É evidente que, sendo esta uma unidade privada de saúde, existe um preço associado aos diferentes serviços, algo que hoje em dia também se verifica nos próprios hospitais públicos e nos centros de saúde. Mas todas as convenções que o hospital tiver colocarão os seus beneficiários ao mesmo nível que qualquer outra unidade de saúde. A própria Casa de Saúde de Guimarães já tem, nesta altura, convenção com todos os subsistemas de saúde mais relevantes do ponto de vista do número de beneficiários – os mais recentes são a ADSE e as Forças Armadas, mas já temos com os outros todos - o que significa que as pessoas podem vir cá nas mesmas condições em que podem aceder a qualquer outra unidade de saúde privada que tenha um acordo com aqueles subsistemas. Também temos alguns acordos com o próprio Sistema Nacional de Saúde para a prestação de alguns exames, como acontece na área da cardiologia, em que os utentes que cá venham pagam uma taxa moderadora, como acontece quando se deslocam a qualquer hospital local que tenha um acordo semelhante. Outro exemplo marcante é o programa de combate às listas de espera, ao qual aderimos e ao abrigo do qual já ultrapassámos as duas mil cirurgias. E são doentes que vêm cá nas mesmas condições em que iriam a um hospital público…

Privatização vs democratização do acesso a cuidados de excelência de saúde Há alguma mistificação quando se fala entre privatização da prestação de cuidados de saúde e acesso à saúde. Isto tem a ver com a proble-

Manuel Ritto Licenciatura em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (1984). Mestre em Ciências Neurológicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Grau de Assistente Graduado de Neurocirurgia. Tem “Competência em Dor” atribuída pela Ordem dos Médicos Funções: Director clínico da Casa de Saúde de Guimarães. Publicações: Autor e co-autor de várias comunicações e publicações, tendo sido convidado e responsável pelo capítulo de Cirurgia da Epilepsia, integrado no Livro Básico de Epilepsia editado pela EPI e Liga Portuguesa Contra a Epilepsia. Apresentou e foi moderador no II congresso da Sociedade Internacional de Inventores de Instrumentos em Neurocirurgia - ISNII (Berlim, Julho de 1997), divulgando o equipamento que por ele foi idealizado para radiocirurgia.

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João Breda, Nutricionista, Direcção Geral da Saúde

“As famílias portuguesas perderam muitas das competências na cozinha...”

Nutricionista de referência no panorama português, João Breda fala de forma apaixonada sobre a problemática questão da perda dos valores tradicionais na alimentação dos portugueses. Alertando para o insuficiente consumo de hortofrutícolas, peixe e cereais completos e para a crescente ingestão de gorduras, calorias e açúcares associada a um défice de actividade física, este profissional de saúde, responsável da Associação Portuguesa de nutricionistas e da Direcção Geral de Saúde e um dos promotores da Plataforma Contra a Obesidade, entrega à família a principal responsabilidade na urgente inversão de hábitos. Em entrevista a Medicina&Farmácia João Breda revela alguns conselhos. Como vai a alimentação dos portugueses? João Breda (JB) – O que constatamos é que existe uma perda dos valores da alimentação tradicional, com algumas características que eram as tipicamente mediterrânicas como o consumo de sopas, dos hortofrutícolas, das leguminosas, de alguns cereais, pão escuro… Sobretudo grupos da população que estão a consumir menos. Portanto, diria que, para além de o comportamento ao nível da actividade física dos portugueses não ser o melhor, há alguns grupos

da população que comem quantidades insuficientes de alimentos muito importantes, como é o caso dos frutos e vegetais, do peixe, da sopa, dos cereais completos… Além disso, não deixa de ser também relevante o facto de Portugal ser um dos países da Europa com maior prevalência de excesso de peso entre as crianças. Aproximadamente um terço das crianças portuguesas do ensino básico entre os seis e os dez anos têm peso a mais e uma percentagem igualmente elevada já é obesa. Além disso, mais de metade dos adultos portugueses também têm excesso de peso, o que, de certa maneira, traduz um consumo excessivo de calorias e menos gasto. Significa que os nossos hábitos alimentares estão desadequados daquilo que desgastamos porque nos exercitamos pouco no dia-a-dia. Não é obrigatório irmos ao ginásio, é necessário que sejamos mais activos, que se • Mestrado em Saúde Comunitária, pela Faculdade de caminhe mais. É necessário dar 7.500 passos por dia para se ter um Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (1996) nível mínimo de actividade física e não é fácil. É necessário caminhar • Licenciatura em Ciências da Nutrição, pela Faculdade de Ciências da bastante, subir escadas, mexermo-nos mais nas situações vulgaNutrição e Alimentação da Universidade do Porto (1991); res do dia-a-dia. E não temos dúvidas de que a alimentação de • MBA – Master of Business Administration pela European University (Parte alguns portugueses piorou. Em termos genéricos, podemos Curricular). também dizer que existem grupos que estão a comer melhor. Mas são os socialmente mais favorecidos, as pessoas Funções actuais: com maior capacidade económica, com mais informação • Técnico Superior de Saúde Assessor – Ramo de Nutrição, Coordenador da Plataforma sobre alimentação, que exercem mais actividade físiContra a Obesidade da Direcção-Geral da Saúde e Chefe de Divisão para a Plataforma Contra ca e que optam por melhores alimentos que também a Obesidade (DPCO) (2007-2008); são mais caros. Nós também sabemos que o acesso a frutos e vegetais é mais dispendioso que o acesso a Obras publicadas: alimentos mais ricos em calorias, os quais tem mui• “Fundamentos de Higiene Alimentar e Nutrição”, edição Instituto Nacional de Formação to açúcar e gordura, os snacks, cereais, fast-food, Turística. etc. Na verdade, a comida de massas, em grande • IIª edição do livro Psiquiatria Clínica da Fundação Calouste Gulbenkian em co-autoria. quantidade, é mais barata hoje em dia e é pior • Publicou em co-autoria, uma edição da DGS, com o título “Manual para uma Alimentação Saudável para a saúde, portanto, essa comida também tem em Jardins de Infância”. que melhorar. E estamos a trabalhar para que o • Publicou em co-autoria, uma edição da DGS, com o título “Álcool e Problemas Ligados ao Álcool perfil nutricional dos alimentos possa melhorar em Portugal”. significativamente, algo que é fundamental não • Colaborou na adaptação para português de uma edição da DGS, com o título “Guias de Educação só em Portugal mas em toda a Europa e que deve e Promoção da Saúde”. ser feito pelas grandes cadeias da restauração e • Álcool e Problemas Ligados ao Álcool em Portugal, edição da DGS, (co-autor). pela indústria alimentar. Sobretudo naqueles • Gula sem pecado – um guia para emagrecer com prazer, edição da DIFEL (co-autor). que fazem pior: nas batatas fritas, nas gorduras, • 1, 2, 3…. Uma colher de cada vez. DIFEL (co-autor). nas calorias. • SEM PEDRA DE SAL…. – um guia sobre alimentação na hipertensão. ObrasemCurso (co-autor). • Manual de antropometria para Vigilância Nutricional Infantil. (em publicação) – DirecçãoÉ possível chegar ao diálogo com esse tipo de indústria? Geral da Saúde (co-autor). JB – Estamos a fazê-lo, logo, acredito que seja possível. Até porque a indústria alimentar depende da inovação e • Publicou artigos em revistas científicas e apresentou em congressos, nacionais e o mercado da saúde e dos alimentos saudáveis apresenta internacionais, várias dezenas de trabalhos. um crescimento potencial brutal, portanto, interessa-se por • Enquanto investigador na área da saúde pública obteve 16 bolsas e prémios de melhorar os seus alimentos. Mesmo que não seja pela saúinvestigação, dos quais se destacam o Prémio Nacional de Alcoologia e Menção de dos portugueses mas sobretudo pelo negócio, que terá meHonrosa do Prémio Ricardo Jorge de Saúde Pública e Bolsa de Investigação da

João Breda

Fundação GlaxoSmithKline, entre outros.

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lhores perspectivas se os alimentos tiverem um perfil nutricional mais adequado. E a verdade é que houve décadas em que os açúcares e as gorduras aumentaram exponencialmente nos alimentos e actualmente estamos a verificar o inverso, o que é bom. Como se poderá inverter essa tendência da perda de valores tradicionais ao nível da alimentação? JB – A família é central e tem que transmitir os valores que aprendeu, que os pais e as mães trouxeram dos avós. É necessário envolver as crianças na cozinha e cozinhar. As famílias portuguesas já não sabem cozinhar, sobretudo os mais pobres. Cozinhar está outra vez na moda e é importante que as mães ensinem os seus filhos. As crianças devem conhecer os alimentos, saber escolhê-los, saber que há alimentos que são para ocasiões especiais, que só se devem comer em determinado dia, o lugar à mesa, a organização da mesa nas famílias, não ser perturbada pela televisão e outras coisas. Digamos que o momento da refeição deve corresponder a um espaço onde os valores e a educação devem estar presentes. No Reino Unido, uma das estratégias do Plano de Nutrição consiste em, por um lado, dar fruta às crianças na escola, algo que nós também vamos fazer no âmbito da Plataforma Contra a Obesidade e, por outro, em conseguir que as famílias tenham mesas em casa… É necessário criar condições para que os alimentos tenham valor, um valor simbólico. Há alimentos vulgares que devem ser consumidos no dia-a-dia porque são os mais importantes, como os cereais e os hortofrutícolas e depois há os alimentos ocasionais. O alimento da gula e do exagero também faz parte da alimentação e não tem mal nenhum… De vez em quando comer e beber “até cair para o lado” até pode não ser grave para os adultos….

O combate à obesidade é realmente uma preocupação do Estado português? JB – Nós estamos envolvidos nisso, portanto não posso dizer outra coisa. Pela primeira vez, Portugal criou uma estrutura na área da Nutrição e da actividade física que chama Plataforma Contra a Obesidade, que tem uma atitude compreensiva em relação à promoção da nutrição saudável por um lado e da actividade física por outro. Temos, inclusivamente, uma parceria público privada única, com um patrocinador, a Galp Energia que, connosco, desenvolve um plano de comunicação. Visitámos todos os distritos com um road show pelas escolas, com uma peça de teatro sobre alimentação e actividades físicas, distribuímos fruta, estivemos nas praias no Verão, temos um programa diário de televisão, temos um site. Na área da comunicação, temos um programa compreensivo. Depois, temos os desenvolvimentos de fundo, desde o treino dos profissionais de saúde com produção de materiais, o trabalho com a indústria alimentar e o sector da restauração e com o sector dos frutos e vegetais, uma vez que consideramos muito importante ajudar os agricultores portugueses a promover os seus produtos. Como foi constituída a Plataforma Contra a Obesidade? JB – A Plataforma foi lançada em Maio de 2007 na base desta parceria público privada entre a Galp Energia e o Ministério da Saúde, fruto também da iniciativa do então Ministro da Saúde, Correia de Campos. O seu grande mentor continua a ser o Dr. Francisco George, Director Geral da Saúde.

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Sociedade Portuguesa de Pneumologia

O estado de uma arte chamada Pneumologia

A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) é uma associação científica, agrupando pessoas singulares e colectivas que se interessem pelos problemas relacionados com o aparelho respiratório e/ou contribuam para o seu estudo e resolução, regendo-se por estatutos próprios e demais legislação aplicável, nomeadamente a aplicável às Instituições de Solidariedade Social. A Sociedade foi constituída em 1974, tendo como primeiro presidente o Professor Doutor Thomé George Villar. A sua primeira designação foi Sociedade Portuguesa de Patologia Respiratória (SPPR), passando, em Novembro de 1994, a ter a presente. A Sociedade Portuguesa de Pneumologia tem actualmente cerca de 800 sócios efectivos e publica uma revista científica de periodicidade bimestral, a Revista Portuguesa de Pneumologia. O objecto social da SPP consiste na promoção e protecção da saúde respiratória dos portugueses, da educação e da formação profissional através de estímulo do estudo e da divulgação de todos os assuntos relacionados com a patologia respiratória sob qualquer aspecto ou modalidade. Para melhor conhecermos a instituição e a especialidade que sustenta a sua existência, Medicina&Farmácia entrevistou Renato Sotto-Mayor, Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e editor do seu órgão oficial, a Revista Portuguesa de Pneumologia. Renato Sotto-Mayor Como avalia o “estado da arte” em Pneumologia em Portugal? • Licenciatura em Medicina (1974) pela Universidade Clássica Renato Sotto-Mayor (RSM): A Pneumologia é uma especialidade médica de Lisboa. muito pujante e com uma área de actuação bastante lata. Das dez principais • Especialista de Pneumologia pelo HSM (1983) e pela Ordem dos Médoenças causadoras de morte em todo o Mundo contam-se patologias dicos (1984). como a DPOC, o cancro do pulmão e as pneumonias, que são do foro • Chefe de Serviço de Pneumologia do HSM (2004). essencialmente pneumológico. Por outro lado, é uma ciência que tem • Assistente Livre da Faculdade de Medicina de Lisboa (1992- 1996). evoluído quer do ponto de vista técnico quer • Assistente Convidado da Faculdade de Medicina de Lisboa (1996). do ponto de vista das abordagens • Investigador do Centro de Estudos de Doenças Pulmonares da FML-CnL3. terapêuticas, tendo-se verifi• Membro da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e da Associação dos Médicos Cacado avanços marcados nos tólicos Portugueses. últimos dez anos, nomeada• Representa a Ordem dos Médicos na “Comissão de Coordenação do Programa Nacional mente, na broncologia de de Prevenção e Controlo da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica” e na elaboração do “Prointervenção, na patologia grama Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Oncológicas”, na secção dos tumores do sono, na fisiopatologia pulmonares. respiratória, nas doenças • Editor da “Revista Portuguesa de Pneumologia” (referenciada na Medline e na Thomson do interstício respiratóReuters) integrando o Conselho Científico de duas revistas internacionais de Pneumologia. rio, na oncologia torácica • Autor ou co-autor de 260 trabalhos comunicados e de 280 trabalhos publicados, a nível e na área da ventilação não nacional e internacional. invasiva. • Editor de diversos livros e publicações periódicas vocacionados para o ensino médico pré e pós-graduado. • Responsável pela edição de várias monografias temáticas e de casos clínicos respeitantes aos Cursos de Pneumologia para Pós-Graduados da Clínica de Pneumologia da FML/HSM, de que foi Secretário Geral. • Coordenador das três edições da obra “Pneumologia na Prática Clínica” (editor: M. Freitas e Costa), livro aconselhado, até há cerca de quatro anos, para o estudo da Pneumologia na FML. • Coordenador da edição dos dois primeiros volumes da obra “Pneumologia Clínica” (editor: A. Bugalho de Almeida). • Sociedade Portuguesa de Pneumologia - Co-editor (com Mª. João Marques Gomes) do “Tratado de Pneumologia”, obra em dois volumes. • Actualmente em preparação o “Atlas de Pneumologia”, edição da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (editores: A. Segorbe Luís e Renato Sotto-Mayor) • Autor de múltiplos trabalhos publicados, e de alguns livros, de carácter essencialmente didáctico e de actualização pós-graduada, no âmbito da Pneumologia.

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As doenças do pulmão estão, como disse, no topo das que provocam mortalidade em Portugal. Em que medida se poderá constatar que algo tem falhado ao nível da prevenção e da educação? RSM: Parte dessas situações, como a bronquite crónica e o enfisema – que fazem parte da chamada DPOC - e o cancro do pulmão, têm uma ligação etiopatogénica muito forte com o tabaco. E no caso da própria pneumonia, indirectamente, isso também se verifica, uma vez que o tabaco pode facilitar a emergência da infecção respiratória. Se alguma falha existe, e isto não se aplica apenas a Portugal, tem sido na luta anti-tabágica, mas com as medidas entretanto implementadas, nomeadamente legislativas e de uma maior consciencialização da população para os riscos desse hábito nefasto, penso que o panorama se poderá alterar a médio prazo. Neste campo há que investir com todos os meios ao nosso alcance para que os jovens não venham a fumar e que os fumadores abandonem o tabagismo. É uma missão para toda a sociedade, com relevo para o ambiente familiar, a escola, os profissionais de saúde, os meios de comunicação, as figuras de referência como políticos, actores, jornalistas, desportistas, professores e tantos outros. As terapêuticas têm evoluído como seria desejável? RSM: Felizmente têm emergido fármacos com muito valor quer ao nível de terapêuticas específicas para a área da Pneumologia, como broncodilatadores, quer da antibioterapia e também na área das doenças oncológicas. Noutras doenças como na hipertensão pulmonar, fibrose quística, asma brônquica de difícil tratamento ou doenças do interstício e deficiência de alfa1 antitripsina, só para citar algumas, têm sido desenvolvidas novas abordagens terapêuticas com reflexos evidentes no prognóstico dos doentes e na melhoria da sua qualidade de vida. Em Portugal, os números já foram assustadores ao nível da incidência da tuberculose… RSM: Sim, é verdade mas, felizmente, têm vindo a decrescer. Também na luta antituberculosa há que realçar o empenhamento dos médicos pneumologistas, muito especialmente daqueles que trabalham nos chamados Centros de Diagnóstico Pneumológico (CDP). Actualmente verifica-se a emergência de um fenómeno mundial que são as resistências e as multirresistências aos medicamentos específicos para a tuberculose que, por vezes, têm a ver com a irregularidade da toma dos fármacos prescritos pelo médico, em determinadas populações de doentes, como os toxicodependentes, cuja aderência ao plano terapêutico é frequentemente muito precária. Qual é o papel da Sociedade Portuguesa de Pneumologia em toda esta panorâmica? RSM – A Sociedade Portuguesa de Pneumologia é uma sociedade científica que tem um papel importante quer como motivadora da actualização dos profissionais nesta área, nomeadamente nos seus congressos, nas suas publicações – tem uma revista que é reconhecida mundialmente e que está indexada na Medline e desde o princípio deste ano na Thompson Scientific, duas referenciações importantíssimas na área científica – e no próprio site da Sociedade, onde, inclusive, a população pode ter acesso a recomendações e publicações; tem um papel importante na prevenção, através da realização de campanhas por exemplo de luta anti-tabágica; em palestras que dá ao público, em rastreios que faz… Portanto, existe toda uma área importantíssima em que a Pneumologia investe e colabora com a Direcção Geral de Saúde, com o Ministério da Saúde, com outras sociedades afins…

Há toda uma gama importante de investimentos da Sociedade, quer na prevenção, quer no combate à própria doença. Há dois anos atrás, o Professor Segorbe Luís, Presidente da SPP, evidenciava uma enorme preocupação face ao crescimento de casos de DPOC e à sub-notificação dos mesmos. Como estamos actualmente a esse nível? RSM: Por enquanto, ainda nos encontramos numa fase ascendente da incidência desses casos. Geralmente, a DPOC e o cancro do pulmão estão essencialmente relacionados com o tabaco e, como tal, ainda têm uma tendência para subir. Por um lado, o sexo feminino está a fumar mais do que fumava há uns anos; por outro, existe um intervalo entre os efeitos do tabaco e estas afecções, que é cerca de vinte anos. Provavelmente, só daqui a duas décadas começaremos a ter os resultados das campanhas antitabágicas em termos de saúde pública. Para o doente em si vale sempre a pena parar de fumar hoje pois os efeitos na saúde dessa decisão podem manifestar-se a curto prazo. Até lá a DPOC vai subir, as causas de morte por bronquite crónica e por cancro continuarão a subir. Nalguns países começa já a existir alguma tendência de estabilização ou mesmo de queda, por exemplo, no sexo masculino, mas como no feminino está ainda na fase ascendente, esse facto está a compensar a discreta descida naquele sexo. Quanto à notificação dos casos de DPOC, sou de opinião que ainda existem muitos casos não diagnosticados, mas estou convencido que, com a implementação do «Programa Nacional de Prevenção e Controlo da DPOC», com o qual a SPP tem colaborado activamente, toda a problemática ligada a esta importante doença será substancialmente melhorada. É já possível prolongar a esperança de vida num doente com cancro ou DPOC? RSM: É… no cancro do pulmão os ganhos não têm sido marcados mas podemos dizer que a sobrevida média de um doente com essa neoplasia, nos vários estádios da doença, aos cinco anos, anda à volta dos 15 por cento. Um pouco melhor na mulher do que no homem. Mas esta é uma área em que se está a investigar muito e estou convencido que, em face dos resultados já apresentados e do que se espera de positivo dos protocolos de investigação em curso, que a médio prazo vamos ter a compensação dos esforços de todos os que estão a trabalhar nesta área. Também já começamos a ter doentes curados com cancro pulmão em estádios avançados ou com histologias muito agressivas, uma coisa impensável há alguns anos, em doentes não cirúrgicos. Em relação à DPOC, com a suspensão do hábito tabágico e com medidas terapêuticas próprias para a respectiva fase de evolução da doença, conseguimos alterar a sua história natural, melhorar a qualidade de vida dos doentes e proporcionar-lhes um aumento da esperança de vida Enquanto técnico tem esperança no surgimento de alguma combinação farmacológica que permita a cura do cancro do pulmão? RSM: A grande arma terapêutica para a eventual cura do cancro do pulmão é a cirurgia, mas existem alguns casos que, com a radioterapia e/ou a quimioterapia, já alcançamos longas sobrevivências ou, mesmo, curas… De qualquer modo o grande objectivo é a sua prevenção pela luta antita-

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bágica e o seu diagnóstico precoce. O cancro do pulmão deve ser encarado como uma doença que se trata do ponto de vista multidisciplinar. Cada vez mais, institui-se quimioterapia em fases mais precoces da doença, como complemento da cirurgia, quando antigamente aquela só tinha indicação em fases avançadas, e começamos a ter muito bons resultados. Estão a emergir fármacos que vão atacar a célula a nível da sua biologia molecular e, isoladamente ou associado a outras terapêuticas, estará provavelmente aqui parte da solução para o problema. Também começamos a ter a possibilidade de, com base nas características genéticas e moleculares do cancro do pulmão, podermos individualizar a respectiva terapêutica e, deste modo, reduzirmos a iatrogenia e aumentarmos as taxas de resposta e de sobrevivência dos doentes, reduzindo também os custos relacionados com o tratamento, De qualquer modo, enquanto isso não acontecer, o nosso alvo poderá ser transformar o cancro do pulmão numa doença crónica, que se vai tratando, que pára a sua evolução durante uns meses ou anos mas que não está curada, mantendo o doente com uma boa qualidade de vida por muito tempo. E como tem sido a resposta da indústria farmacêutica? Tem evoluído de acordo com as necessidades? RSM: Sim, tem evoluído imenso. Existem várias áreas da medicina em que a indústria farmacêutica está a apostar bastante e uma delas é a oncológica. E no portfólio de muitas casas farmacêuticas encontram-se bastantes produtos, alguns ainda em fases 1 2 de investigação, que, estou em crer, irão abrir outras janelas para vermos o problema do cancro do pulmão de certo modo controlado. Que importância assumem a investigação e a partilha de conhecimentos e experiências nesta área? RSM: É fundamental. É certo que, hoje em dia, conseguimos já partilhar conhecimentos pela Internet e há ensino até por via da mesma, o e-learning. Mas creio que a aprendizagem in loco, a ida a congressos, a cursos ou a outras reuniões científicas, a partilha de conhecimentos com os nossos colegas não serão ultrapassados a médio prazo por essa via de aquisição de conhecimentos. Por outro lado, o médico não deve restringir a sua actividade às funções assistenciais, sendo importante que, dentro do possível, participe em projectos de investigação clínica ou outros, e que dê também atenção à vertente de ensino. Neste ponto, gostaria de realçar ainda o papel que a Revista Portuguesa de Pneumologia tem como veículo de transmissão de conhecimentos e de apresentação dos resultados de investigação daqueles que nela publicam os seus trabalhos. A SPP tem actualmente outras duas publicações regulares, o Boletim da SPP e a newsletter Pneumologia Hoje, a primeira mais virada para notícias das actividades da Sociedade, nomeadamente, das suas Comissões de Trabalho e segunda para a troca de conhecimentos com os nossos colegas da Medicina Geral e Familiar. Nesse sentido, será realizado um congresso pela SPP… Será possível adiantar já algo relativamente ao evento? RSM: O Congresso vai abarcar as problemáticas mais importantes ligadas às doenças pulmonares, sendo antecedido por um curso do American College of Chest Diseases, que contará com a presença de quatro especialistas americanos, que focarão outros tantos temas importantes na área da Pneumologia, entre as quais a oncológica e a das infecções respiratórias. O congresso anual da SPP é um fórum muito importante de partilha de conhecimentos e de ensino na área da patologia pulmonar. O congresso, que irá realizar-se no Porto, será constituído, como é habitual, por palestras, conferências, mesas redondas, simpósio e sessões de apresentação e discussão de comunicações orais e de posters. Este ano, foram admitidos mais de 190 posters e comunicações orais, o que muito enriquecerá esta reunião anual dos pneumologistas portugueses, constituindo, deste modo, uma importantíssima oportunidade de partilha de conhecimentos e de apresentação de trabalho científico das diferentes instituições que lidam com esta área do saber médico. Partindo para a temática do ensino relacionado com esta área,

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pergunto-lhe se é comum assistir-se à presença de jovens nestes eventos. RSM: Os jovens estão muito dinâmicos, muito sedentos de ensino, de partilharem conhecimentos, de participarem activamente nestas reuniões, sendo frequentemente os motivadores da realização e da apresentação de trabalhos científicos. De tal maneira isso é importante e do interesse dos médicos mais jovens, que a SPP tem investido, desde 2005, na área dos cursos de pós-graduação, criando, para esse efeito, a Escola de Pneumologia. Tem também organizado anualmente o Fórum do Interno, que contempla temáticas com real interesse na actualização profissional e na aquisição de consciência crítica dos médicos internos de Pneumologia. Tem igualmente implementado a concessão de prémios e de bolsas de investigação, e de aquisição e treino de novas técnicas ligadas à patologia respiratória em Portugal e no estrangeiro. Que outros eventos estão projectados pela SPP? RSM: Para além destes cursos de pós-graduação da Escola de Pneumologia – já vamos no nono – estão previstos mais três para o próximo ano: um sobre doenças da pleura, outro sobre cancro do pulmão e um terceiro sobre doenças obstrutivas das vias aéreas. Por seu lado, as comissões de trabalho costumam realizar, em média, duas reuniões anuais, onde os pneumologistas se encontram e discutem temas da respectiva área de trabalho e se elaboram protocolos de actuação. De dois em dois anos, temos um congresso comum com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, que este ano decorrerá em Brasília e daqui a dois anos será novamente em Portugal. Estamos a abrir as nossas portas para a European Respiratory Society, com a SEPAR também temos relações importantes, de dois em dois anos fazemos uma reunião com a PneumoSur, uma sociedade regional espanhola. Além disso, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, colaborou com a European Respiratory Society (ERS) na formação do currículum Europeu de Pneumologia, em que se determinaram as áreas mínimas de conhecimento que um especialista europeu deve ter para ser considerado pneumologista. O primeiro exame europeu realizou-se este ano, em Outubro, e o futuro passa por este adquirir peso nacional, de modo que um médico que seja aprovado no exame possa ter facilitado o se reconhecimento como especialista em qualquer país da União Europeia. Por outro lado, temos colaborado com o ERS nos seus congressos, através da apresentação de trabalhos por especialistas portugueses, pela moderação de sessões científicas, quer através da participação institucional da SPP num espaço dedicado às sociedades nos eventos que aquela sociedade promove.




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