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Estreias Novidades no palco e na tela
calma alma É preciso ter É preciso ter
Depois de Golpada e Doença da Juventude, o Teatro Aberto apresenta a peça Alma, de Tiago Correia. Dando continuidade ao ciclo temático dedicado às dores da adolescência, este é o texto vencedor da edição de 2018 do Grande Prémio de Teatro Português.
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Por Vera Valadas Ferreira
“Eles não sabem nada sobre nós, não sabem nada, não percebem mesmo nada”, diz o rapaz, imobilizado numa cama, referindo-se aos adultos. Dois amigos visitam-no e tentam perceber o que se passou. Mas as palavras perdem sentido. As imagens nas redes sociais falam mais alto e mais depressa. Os três guardam segredos que os afastarão de forma violenta. Até aparecer uma desconhecida, tão isolada quanto eles, que parece deter a palavra mágica para abrir a “caver na”. Eis a sinopse de Alma, “a história de quatro adolescentes em busca de um futuro que apazigue o vazio dos dias”, em cena na Sala Vermelha do Teatro Aberto, em Lisboa, até 29 de março. Tiago Correia assina este texto ven cedor da edição de 2018 do Grande

Prémio de Teatro Português SPA/Teatro Aberto. A dramaturgia é de Pedro Filipe Marques e Cristina Carvalhal, também encenadora. Alma é um espetáculo para maiores de 16 anos, com cenário e figurinos de Ana Vaz, desenho de luz de Cárin Geada, sono plastia de Sérgio Delgado e trabalho de vídeo de Pedro Filipe Marques.

Sair da caverna É a encenadora Cristina Carvalharl que define à FORUM esta história teatral como “quatro adolescentes em conflito, antes de mais consigo próprios”. “Fra ses curtas. Silêncios breves. Sob um aparente diálogo há toda uma conversa a que não temos acesso. O excesso de energia, desejos, vulnerabilidades, ideais e hormonas que associamos a este “começar da estrada” revela-se num texto de uma extrema lisura no

que diz respeito a palavras e ações”, avisa-nos. Bernardo Lobo Faria, Bruna Quintas, Guilherme Moura e Sofia Fialho compõem o elenco da peça que gira em torno de um rapaz imobilizado numa cama que é visitado por dois amigos. “O que é que pode acontecer quando ninguém verbaliza como ele foi ali parar? E quando subitamente a violência estala dizemo-nos sur preendidos! Tal como ele, ou como os prisioneiros daquela famosa caverna, que conhecemos da antiguidade, acedemos apenas a sombras, a ecos da “verdade”. “Há quem diga que lá dentro é tudo um simulacro e que é preciso sair para passar a olhar à nossa volta. Ter um espírito livre, capaz de devolver a um jovem corpo, uma alma até agora desconhecida”, conclui.
Cão que não ladra mas morde
A música PJ Harvey visitou o Afeganistão, o Kosovo e a cidade de Washington em busca de inspiração para o seu 9º álbum de estúdio. E o que encontrou foram dramas de pobreza extrema, como se comprova em A Dog Called Money, o documentário de Seamus Murphy que agora chega às salas de cinema nacionais.
Vera Valadas Ferreira
Enquanto aguardamos um regresso de PJ Harvey aos palcos nacionais, há tempo para penetrarmos no seu mundo sonoro e imagético através do documentário A Dog Called Money, que relata a viagem realizada pela artista britânica quando andava em busca de inspiração para The Hope Six Demolition Project, o seu 9.º álbum de estúdio lançado em 2016. Sob realização de Seamus Murphy, um fotojornalista amigo da cantora, este filme passeia-se por paisagens do Afeganistão e do Kosovo, e também pelos subúrbios humildes da cidade de Washington, a capital dos EUA. O objetivo foi o de conversar com pessoas locais e deixar que as suas histórias inspirassem as letras das suas canções. Em Washington, Harvey conhece Paunie, uma adolescente que impõe respeito nas ruas. E no Kosovo, conversa com uma idosa que guarda as chaves das casas das pessoas que fugiram da cidade durante a guerra no final dos anos 90. Estas são apenas algumas das figuras/encontros/ dramas marcantes neste documentário que agora chega às salas de cinema nacionais, mas que já estreou em Portugal em novembro, no âmbito da mais recente edição do LEFFEST – Lisbon & Sintra Film Festival.
No Mundo de PJ Harvey A pobreza serve de cenário a esta viagem na qual, que se desiludam os fãs mais curiosos, não há qualquer intromissão na vida íntima de PJ Harvey, qual reality show. No entanto, dá-nos a oportunidade de


vasculhar o processo de criação e os bastidores da gravação do disco na Somerset House, em Londres. Neste ponto, trata-se de uma experiência de 5 se
manas sem precedentes, que decorreu numa sala observada por um vidro, ao jeito de uma sala de interrogatórios numa série policial. “Murphy filma com compaixão e curiosidade jornalística”, elogia o The Guardian sobre este trabalho no qual Polly Jean (é esse o nome que as iniciais PJ
escondem) anda muitas vezes
acompanhada por um bloco de notas. Não foi, portanto, à toa que a fita se sagrou vencedora da Secção Panorama, no Festival de Berlim deste ano.