Com o passar do tempo estes produtores foram ganhando importância politica. As dificuldades de comunicação com a capital, Cuiabá, geraram os movimentos separatistas, promovidos principalmente pelas elites agropecuárias. Em 1977, ocorre a divisão do estado de Mato Grosso, com a criação de Mato Grosso do Sul, instalando sua capital em Campo Grande.
“Mato Grosso do Sul deve tudo ao boi”, afirmou o especialista em gado nelore, Paulo Coelho Machado. Para a historiadora Marisa Bittar, esta frase explica que a constituição do território por meio das correntes migratórias e a introdução desse gado, seu melhoramento genético e a superioridade econômica que a região sul conseguiu alcançar em relação a região norte se deve a esse elemento da economia.
O boi social e econômico Com mais de 350 mil km², Mato Grosso do Sul possui 58% do seu território composto por áreas de pastagens. Até 1985, a pecuária representava a maior fonte de riqueza local e era uma das principais atividades econômicas, com 65% da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). No entanto, já em 2011, a atividade arrecadou apenas 5,7% do total de ICMS, ficando atrás da indústria, que arrecadou 7,6%. Atualmente o Comércio é o maior arrecadador, com quase 60% do total. “Se você tem o ICMS mais alto na circulação de comércio e não do boi, significa que ela é que esta gerando mais riquezas para o estado e não especificamente o boi ou a lavoura”, explica Bittar. Mato Grosso do Sul tem hoje mais de 2,4 milhões habitantes e a taxa de urbanização é de 87,27%. “MS é um estado urbano nas concepções que estão colocadas hoje. Entretanto, é um estado ainda com fortes ruralidades”, comenta Tito Machado, professor da UFMS. Segundo o IBGE, existem no MS cerca de 42 mil propriedades rurais que trabalham com o rebanho bovino. O Censo Agropecuário de 2006 mostrou que quase metades destas propriedades possuem de 10 a 50 hectares, concentrando, juntas, pouco mais de 630 mil cabeças. Por outro lado, nas 6 mil propriedades com mais de mil hectares são criados 8,6 milhões de cabeças. Ao todo o estado possui 21,5 milhões de cabeças. É possível obser var que os pequenos produtores tem sua base de subsistência na produção do gado leiteiro. Eles mantém um número regular de vacas e vivem do leite que elas produzem. Já nas maiores propriedades, encontramos os grandes criadores de gado de corte: cria, recria e engorda.
Uma questão de identidade Para Tito, a ruralidade pecuária é tão forte que está no imaginário popular. No estado de São Paulo, por exemplo, a perspectiva da população ser um dia industrial, enquanto que em Mato Grosso do Sul, a perspectiva de riqueza é ser pecuarista. “A politica de uma maneira geral, ela é muito voltada para o setor rural. Os grandes nomes da politica, embora ligados ao setor urbano, quando eles chegam ao poder, a medida que os políticos crescem imediatamente eles vão para o setor rural. A ideia de todo politico é ser fazendeiro. É ser pecuarista.”, conclui. “As manifestações culturais e artísticas, elas tem como pano de fundo sempre a pecuária. A classe média, ela quando fala em riqueza, ela fala em fazenda, nas grandes caminhonetes, no gado branco. A riqueza, ser rico, ser respeitado tem que passar pela pecuária. Mesmo que seja só no imaginário”, comenta Esselin.
Vida de Produtor #1 Luiz Carlos Buralli, paulista, está em Mato Grosso do Sul há 27 anos no estado. Para o produtor, a pecuária é, somente, a razão de sua sobrevivência, mas de conhecimentos adquiridos ao longo dos anos na profissão. Em sua fazenda de quase mil hectares, localizada no município de Sidrolândia, Luiz tem como principal atividade a cria e engorda de gado. “Eu não só vivo, eu vivo bem da pecuária. A pecuária pra mim, ela é tudo. Eu já criei uma família e criei bem. A pecuária me deu a sobrevivência, me deu conhecimento. Ela me deu uma vida muito boa”, afirma. O pecuarista explica normalmente a relação de produção é uma cabeça de gado bovino por hectare, mas com a ajuda da EMBRAPA e as pesquisas sobre pastagens de maior rendimento, é possível colocar até 3 cabeças por hectares.
Vida de Produtor #2 Valdi Nogueira, mais conhecido como Seu Didi, já foi professor em Campo Grande, mas há 23 anos preferiu ser produtor rural em Rochedo, a 60 km da capital . “A vida do produtor rural é difícil. Então a pessoa produz muito pouco, o lucro é pouco. Não tem condições de viver só do gado não, porque a produção é em pequena escala. Então o que aproveita é uma criação que mata pra comer, o leite e o que produz do leite: doce, requeijão, queijo...”, conta o produtor, que tem uma cháraca de 30 hectares. Ele afirma que a riqueza que vem da pecuária é mal distribuída. Para o produtor, que tem apenas 38 cabeças de gado, “o grande produtor tem condições de pagar alguém. E o pequeno produtor fica a mercê do tempo. Não tem um incentivo, não tem alguém que possa dar uma orientação segura”, explica. Quem o ajuda na lida diária é seu filho Sylvio, policial militar, que, quando não está em sereviço, cuida do rebanho.
Vida de Produtor #3 Assentado rural, Samuel Nogueira vive com sua família em regime de agricultura familiar no lote de 21 hectares obtido em 1999 por meio da reforma agrária. A chácara faz parte do assentamento São Pedro, em Sidrolância. Produtor de gado, tem sua subsistência a partir do leite produzido por suas vacas. Ao todo tem 40 cabeças. “Foi bem difícil aqui pra gente começar. Até acessar os créditos, começar a acessar os créditos. Aí a gente pegou o primeiro crédito, começou a montar a infraestrutura, fazer a cerca, aquisição das primeiras vacas. Foi dessa forma que a gente começou aqui. Hoje dá pra ter uma renda. Dá pra ter uma renda pra viver do lote.”, afirma.