Carnaval Cultural
Ó abre alas, que eu quero passar!
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o entardecer do Sábado (9) uma agitação começava a tomar conta da Rua Frei Mariano, no centro de Corumbá. Os acessos pelas ruas laterais encontravam-se bloqueados. O silencio reinou por alguns minutos, antes de uma tímida concentração de pessoas começar a se formar e dar início a um murmurinho de conversas que ecoavam pela rua ladrilhada. Estando todos a postos, a banda começou a tocar e o ambiente ganhou uma trilha sonora composta de clarinetas, flautas, saxofones e tambores que anunciavam oficialmente a abertura do carnaval 2013. E para concretizar o ato desce pela rua a Corte de Momo, realeza do carnaval corumbaense. Trajando uma roupa temática à la Pierrô e Colombina, o Rei Momo Douglas de Oliveira carrega orgulhosamente a chave da cidade em sua mão direita, 3 acompanhado por sua Rainha
Darlene de Figueiredo e as duas princesas Raiane de Paula e Natália Magalhães. O público os escolheu e agora lhes cabe a função de animar, entreter, além de recepcionar os blocos e agremiações de samba em todas as noites de folia. Após toda essa cerimônia, pode-se dar
início às festividades. Dessa vez o desfile de corsos, muito comum em Corumbá nos carnavais nas décadas passadas, abriu a programação. A cada carro antigo enfeitado que passava, uma viagem na história era feita e a cultura corumbaense era revivida.
O desfile de corsos revive uma antiga tradição onde os foliões enfeitavam seus carros, saiam buzinando e jogavam confete e serpentina pelas ruas.
Carnaval Cultural
De Pastorinhas a Marinheiros: a identidade corumbaense refletida na passarela
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evivendo o passado, assim começou o Carnaval Cultural de Corumbá. Após a abertura oficial viu-se entrar na Avenida General Rondon, cheias de classe, elas, as Pastorinhas. Em carnavais passados as damas da sociedade corumbaense iam festejar na avenida com roupas luxuosas acompanhadas de seus chapéus e leques marcantes. Depois de um longo hiato, a Fundação de Cultura de Corumbá decidiu recomeçar a investir no bloco e a partir daí o número de Pastoras cresceu. A cada ano as novas integrantes vestem um traje de cor diferente dando toda uma estética cronológica ao desfile. Logo atrás das Pastorinhas vinha o bloco que representa as origens de toda mistura cultural que influenciou o povo corumbaense. Lá vinham homens e mulheres vestidos Marinheiros ilustrando a vinda dos costumes cariocas e das festas carnavalescas para a cidade. Muitos militares são transferidos anualmente do Rio de Janeiro para a cidade vizinha Ladário. E foram eles os primeiros a formar as primeiras agremiações de samba, juntamente com os primeiros cordões e também, estranhamente, devese a introdução do frevo aos marujos cariocas que o tocavam junto com marchinhas tradicionais nas suas reuniões festivas das décadas de 50 e 60. 4
Carnaval Cultural
Dos carnavais passados a uma dança típica do nordeste brasileiro, Corumbá também tem frevo. “O bloco foi resgatado no ano de 2006, quando resolvemos implantar novamente na nossa cultura que já existiu em outros carnavais” explicou Kleber Kosta, bailarino da Oficina de Dança de Corumbá há 14 anos e funcionário da Fundação de Cultura da cidade. O bloco do frevo sempre foi aberto ao
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público, o folião podia se inscrever na oficina e começar os ensaios algumas semanas antes de entrar na avenida. Para quem desejava participar não era necessária experiência com a dança apenas frequentar os ensaios e ter muita vontade de “frevar. “Chamamos quem melhor entende do assunto: os p e r n a m b u c a n o s . Tr o u x e m o s a coreógrafa Mabel Carvalho do Ballet Popular de Recife, onde ministrou aulas
desse ritmo tipicamente deles. Daí surgiu a responsabilidade de, atualmente, eu estar a frente conduzindo o bloco do Frevo em Corumbá ”, completou Kleber a respeito da organização dos ensaios. As roupas e acessórios para a dança são emprestadas aos participantes, pela Fundação de Cultura sem custo algum.
O bailarino Kleber Kosta conduz o Frevo após algumas semanas de ensaio com a coreógrafa Mabel Carvalho do Balett Popular de Recife.
Carnaval de Corumbá 2013
O show vai começar! Os fogos de artifício anunciam a chegada da escola de samba A Pesada. Todos os olhos se voltam para o começo da Avenida General Rondon. O sambódromo corumbaense se prepara e aguarda ansiosamente, para receber mais um espetáculo repleto de cores e animação ao som de muito samba.
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Alice leva A Pesada para uma viagem encantada ao Mundo das Maravilhas, foi o enredo da campeã que levou o público ao delírio com toda a magia desse conto infantil.
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Carnaval Cultural
Vai começar a palhaçada!
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bloco que começou com apenas um, isso mesmo UM integrante, hoje toma conta das ruas corumbaenses com uma média de mais de 500 foliões. A Guilherme Mourão deve-se tudo isso. No final da década de 80, ele traz consigo diretamente de Diamantina sua inspiração e fantasia de palhaço. Chegando em Corumbá reuniu um grupo de amigos, que nos anos seguintes adotaram a ideia e puseram-se a sair dançando e brincando, atrás dos blocos e escolas de samba. Após alguns anos Mourão casase com Bianca Machado da Cia. de Teatro Maria Mole, a união faz com que bloco cresça e acabe desenvolvendo um estilo circense e teatral. A organização do evento evoluiu ainda mais com o apoio de terceiros que abraçavam a causa da palhaçada. Em 2006 a então presidente da Fundação de Cultura Heloísa Urt convidou oficialmente o bloco para compor as atrações do Carnaval Cultural. Com o devido investimento e crescente fama
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Momentos antes dos palhaços sairem às ruas, a tenda dos preparativos ainda encontrava-se cheia de pessoas que esperavam para serem maquiadas.
Carnaval Cultural
O bloco dos Palhaços encerrou as atividades do Carnaval Cultural 2013, na Terça (12) deixando uma nostalgia de toda a magia levada à Avenida.
o bloco conquistou o coração do folião corumbaense. “É lindo, bem mágico ” declarou o dançarino e estudante de Biologia, Alécio de Souza (25) que mora em Corumbá desde 1999, mas só saiu no carnaval pela primeira vez esse ano. A estudante de Jornalismo Julianne Lopes (22) vem sempre de São Borja (RS) visitar a família em Corumbá. Esta foi a quarta vez que passou o carnaval na cidade e sobre o Bloco dos Palhaços, ela declara o seguinte: “Eu acho bacana o fato de atrair pessoas de todas as i d a d e s . Vo c ê v ê c r i a n ç a s e g e n t e aparentemente com mais de 50 anos. É um bloco pra família. E acompanhar desde a escolha da roupa até a hora da maquiagem pra mim é a coisa mais linda. O carinho e a dedicação que as pessoas responsáveis tem com a montagem de cada figurino do bloco , é visível. Não sei , não dá pra explicar. eu só consigo descrever como mágico, apenas isso.”
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