Um oรกsis verde em Campo Grande
Fotorreportagem de Gabriel Ibrahim
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Localizado a 10 km do centro da capital o Parque Estadual do Prosa compõem a maior área verde da cidade. O espaço é reservado para, além da preservação, o turismo e a educação ambiental.
as onze Unidades de Conservação consideradas patrimônios naturais e culturais de Mato Grosso do Sul, a que se encontra mais acessível ao cidadão campo-grandense é a do Parque Estadual do Prosa. O lugar tem uma localização privilegiada, bem próximo do centro da cidade. Criado pelo Decreto Estadual nº 10.783 de 21 de maio de 2002, o Parque é um espaço que serve para a preservação e conservação da fauna e flora sul-mato-grossense, contribuindo para a conscientização ambiental e também com pesquisas universitárias. Com 135 hectares, o Parque Estadual do Prosa é constituído de uma vasta região de cerradão, um dos tipos de vegetação que compõem o Cerrado. Formado exclusivamente de mata fechada, o cerradão é mais raro de se encontrar do que os tradicionais campos abertos, presentes na maior parte do território do estado. O local abriga também a nascente do Córrego Prosa, originária da confluência do Córrego Desbarrancado com
o Córrego Joaquim Português. O Córrego Prosa é importante elemento hidrográfico e histórico de Campo Grande. Passa por mais de 20 bairros da capital incluindo outras áreas ambientais e de preservação como o Parque das Nações Indígenas e o Parque do Sóter. A preservação do Parque do Prosa tem início em meados da década de 30, quando começou a captação de águas da nascente dos córregos existentes na mata. A Sanemat (Companhia de Saneamento do Estado de Mato Grosso) era responsável pelo manejo dos recursos hídricos da região e pela preservação da área verde. Até a década de 80 muitas famílias ainda viviam em chácaras estabelecidas na região desde a ocupação da cidade. Com a divisão do estado, o então governador Pedro Pedrossian transferiu a posse do Parque para o patrimônio do governo estadual. O ato tinha como principal objetivo a criação do Parque dos Poderes, integrado ao que se chamava na época de Reserva Ecológica do Prosa. A meta era manter essa vasta
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No córrego Desbarrancado há uma pequena represa para captação de água que contribuiu, até 2008, para o abastecimento de Campo Grande. 5
Longe da poluição causada pelo ser humano as águas dos córregos Prosa, Desbarrancado e Joaquim Português possuem uma cristalinidade díficil de se encontrar.
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área de preservação ambiental em meio ao território urbano. Conforme conta a Guarda-Parque Katiuscia Balbuena a área foi contemplada com o título de Parque, devido aos atributos naturais relevantes, apenas em 2002, quando houve uma regulamentação nacional das Unidades de Conservação. Com a regularização, o Parque Estadual do Prosa pode finalmente ser apreciado de perto. Katiuscia alerta que mesmo assim a visitação sofre algumas restrições, no máximo 6 grupos de 15 pessoas são atendidos por dia. A trilha pode ser feita por agendamento e percor-
re a área interna do Parque, onde um Guarda-Parque fica responsável por guiar e mostrar aos visitantes os diferentes tipos de vegetação encontradas durante o passeio. Para a estudante do quinto semestre de Biologia, Aline Cristina Vieira Nascimento, o principal motivo que a atraiu para visitar o Parque foi poder conhecer a grande diversidade dos recursos naturais existentes na área. Segundo Aline, o passeio é bem interessante, apesar de não ser bem divulgado, e desperta nas pessoas a conscientização do porquê é importante preservar.
A Trilha do Prosa ĂŠ um passeio para contemplar as belezas naturais do Cerrado que permanecem protegidas no Parque.
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Os fungos e musgos de tom esverdeado se proliferam facilmente num ambiente úmido e escuro devido a intensa arborização do Parque. As manchas brancas são línquens que indicam a qualidade do ar: quanto mais claro mais ar puro se respira.
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Pé de Jatobá, árvore típica do cerrado sul-matogrossense. O líquido escuro que sai do caule do Jatobá pode ser usado como verniz, impermeabilizador de canoas e para fins medicinais. Sua como sua casca que serve de base para chás fortificantes contra a gripe.
Croton lechleri, mais conhecida como “Sangue de Dragão”. Sua seiva é espessa e de cor muito semelhante a sangue e tem propriedades cicatrizantes.
Durante a trilha um guarda-parque orienta os visitantes a respeito das espécies de fungos e plantas que existem na área.
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O auditório presente ao lado da represa do Desbarrancado expõe diversas espécies do cerrado, apreendidas pela Polícia Militar Ambiental, que não sobreviveram a violência humana.
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Macaco Prego
Araçari Castanho
Refúgio para os animais
A
s espécies animais que o Parque abriga vão desde capivaras a veados, macacos bugio e sagui, tamanduá bandeira, quati, cotia e os mais variados tipos de aves. Esses animais vivem livres e protegidos na Unidade de Conservação. Encontrá-los durante a trilha que o Parque oferece é difícil, pois muitos
possuem hábitos noturnos. Apesar de alguns animais naturais do Cerrado viverem protegidos no Parque Estadual do Prosa, outros oriundos de áreas desprotegidas do estado podem eventualmente se envolver em acidentes nas estradas, ou acabam se tornando vítimas de tráfico e dos demais tipos de intervenções humanas. Os sobreviventes, quando resgatados vão parar no Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) onde são avaliados e posteriormente tratados até que tenham condições
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Tamanduá - bandeira
Amazona aestiva ,mais conhecido como Papagaio verdadeiro, é o tipo mais comum domesticado pela população por sua habilidade de aprender mais rápido a falar.
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Arara Canindé
de voltar à natureza. Conforme dados da IMASUL (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) o convênio feito com a Polícia Florestal em 1989, proporcionou medidas efetivas para a proteção da área. A estrutura física do que hoje é o Cras foi construída em julho de 1987 por um grupo de biólogos e veterinários, com o intuito de oferecer abrigo aos animais que eram apreendidos na época. O grupo conseguiu investimento estadual para transformar a reserva particular no atual Centro de Reabilitação de Animais Silvestres. Com a criação do Parque do Prosa, o lugar passou a integrar o roteiro da trilha, a fim de mostrar à população a situação da fauna do Cerrado. Diferente de um zoológico onde os animais tem uma estada permanente, no Cras, eles ficam apenas o tempo da reabilitação. O local dispõe de 38 recintos e um centro cirúrgico, e funciona como um hospital. O coordenador, Elson Borges dos Santos comenta que o objetivo do centro de reabilitação é preservar os animais para que eles perpetuem suas respectivas espécies. Santos conta que há várias parcerias do Cras que visam a educação ambiental. Nas regiões rurais há um projeto onde ocorre o cadastramento de fazendas para funcionarem como área de soltura para os animais silvestres recuperados. São atendidos uma média de três mil animais por ano, sendo a maioria aves. “Depende da época, quando
Suçuarana Quando apreendidas ainda filhotes, as onças pardas criadas no Cras acabam se acostumando com o contato humano. Assim tendem a se aproximar das pessoas nas áreas rurais o que põe risco a espécie que está em extinção.
Arara Azul Após ser apreendida por tráfico em Recife, a Araraúna Pantaneira aguarda recuperação para voltar a seu habitat natural.
Gavião Marrom
Anta
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À espreita: Onça parda criada em cativeiro numa fazenda do estado ronda sua comida. O animal não tem chances de voltar a natureza pois está domesticado e aguarda adoção.
Arara Vermelha
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Anta Albina
eles estão em reprodução a apreensão por tráfico é maior. O resgate ocorre bastante na época de seca e das queimadas, quando os animais estão migrando. Em outras épocas do ano a entrega voluntária é maior”, explica o coordenador à respeito da origem dos bichos. Aqueles casos irrecuperáveis, sem possibilidade de retorno para a natureza, são encaminhados para algum zoológico ou criadouro. Qualquer pessoa pode ser um mantenedor, basta dispor da estrutura para abrigar o animal selvagem e fazer um cadastro no IMASUL.
Trilha do Parque e Visita ao Cras A trilha do Parque Estadual do Prosa pode ser feita mediante agendamento pelo telefone: (67) 3326 - 1370. São permitidos grupos de até 15 pessoas. É obrigatório o uso de calça e tênis. A visita ao Cras ocorre somente nas terças, quintas e sábados.
Denuncie! Se você souber de algum animal silvestre mantido em cativeiro, ou de algum caso de tráfico de animais silvestres denuncie! Ligue para 190 ou se estiver em Mato Grosso do Sul, entre em contato com o Cras pelo número: (67) 3326 - 6003.