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As utopias urbanas e a apologia da técnica
As utopias urbanas e a apologia da técnica
Imagens de aparatos tecnológicos são transpostos para a sociedade, seria um pensamento futurista do uso da tecnologia. Soluções tecnológicas para a arquitetura e o urbanismo. São produções que existem na cultura pop da época, principalmente nos EUA e Europa, com a revista “popular mechanics”. Formando imaginários que existem na sociedade.
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Dois escritórios de arquitetura se unem e criam a revista archigram (Architecture + Telegram), que fala sobre arquitetura e tecnologia. Criam a ideia de walking city, que são grandes mecanismos tecnológicos que andam pelo mundo e se comunicam por tubos para se conectar. É a possibilidade de um mecanismo que supere uma situação de fixação do homem em um determinado local. A tecnologia nesse caso permite que se supere a ideia do sedentarismo de uma cidade. As walking cities podem ter rodinhas ou sapatas para se fixar ocasionalmente, além da possibilidade de flutuar.
Outra ideia que surgiu nessa época foram grandes meios de locomoção com base de estruturas pneumáticas que levam cápsulas engastadas em torres, nas quais essas cápsulas são micro apartamentos. Todo esquematizado como isso acontece.
Nesse ponto, a arte pop e a arte tecnológica começam a se juntar. O archigram passa a fazer várias propostas, desde a walking city até a instant city. O final dos anos 50 e início dos anos 60 é um caldo de culturas, juntando a tecnologia, cultura pop, contracultura, o que traz muitas críticas principalmente por meio de festivais como woodstock. Eles colocam uma grande estrutura no meio do nada e ficam por dias instalados, criando uma cidade instantânea.
Não fica explícito o que acontece com o lixo, com a vida natural fora da walking city e o impacto ambiental que elas causam. Existe uma apropriação genérica da tecnologia para criar as walking cities, mas sem definição clara do funcionamento desses equipamentos. A questão da monumentalidade não é considerada nessa tecnologia, a própria ideia de tecnologia seria o foco da monumentalidade.
Nas colagens que o archigram faz não existem velhos, as noções de propriedade e criar família são desmontadas, a organização social é desfeita, a ideia de família é repensada, sem necessidade de fixação. É uma crítica radical à cultura burguesa de posse, propriedade e domínio. Os anseios que a sociedade do consumo estava criando gera críticas que visam quebrar os padrões burgueses.
Nos anos 20 há uma grande homogeneização entre as pessoas, a partir dos anos 50/60 com o consumo, a individualidade do sujeito foi permitida, a ideia de descarte era nova e foi muito elogiada, a pessoa usa, joga fora e a tecnologia faz outra. A relação com os objetos é profundamente alterada pelo consumismo. A noção de horizonte sobre a tecnologia era muito ingênua, era muito novo, não se pensava em reciclagem ou em lixo tecnológico. O foco era repensar a sociedade sem nenhuma crítica ao sistema. Sem nem perceber que o ponto principal era esse. Como se cada vez mais, as decisões fossem determinadas por uma perspectiva Tecno burocrático/científico, desenvolvido pela cibernética, o sujeito não tinha mais suas “picuinhas” era tudo produto da máquina. Tem todo um horizonte de ideias e esperanças ingênuas. Mudando as perspectivas de como mudaria a vida social, familiar e a relação com o território.
A ideia do burguês é de um sujeito que se molda a partir dos objetos e coisas que possui. Dessa forma, na cultura do descartável tudo isso desaparece, o prato é descartável, a roupa é para um dia só, a comida do astronauta é uma pasta química, não precisa mais da agricultura, não se falava da produção flexível, pensavam que tudo seria resolvido de forma tecnológica, as relações pessoas não acontecem mais como antes. Tudo o que depende de contato ou presença é minimizado ou subtraído. O sujeito e sua mente é o que basta, é a geração do LSD e tudo o que o ser necessita está nele mesmo, ele não necessita do outro. É um caldo cultural que não tem uma crítica ao sistema político e econômico. Mas as propostas permeiam de forma irregular, o descartável vai ser consumido sem ter fim. Não era pensado como um sistema cíclico ou um consumo cíclico, onde há possibilidade de trocas e transformações, a ideia de sustentabilidade não existia.
A ideia de nação também passa a ser questionada, a tecnologia por si só leva a um grau de consciência que torna obsoleta a ideia que outros campos apresentam. Mesmo sendo um momento de muitos conflitos entre fronteiras. A relação com a natureza é totalmente deixada de lado, a luta do homem é a luta contra a natureza, as walking city estão lá para passar por cima de tudo, a necessidade humana de ver uma paisagem naturalmente bela se faz por uma tela, existe a ideia de que um mecanismo tecnológico possa substituir toda e qualquer necessidade de relação do sujeito com o meio, com o outro ou com qualquer outra coisa, ou seja, as necessidades do homem seriam resolvidas com a tecnologia.
Os Shivering Sands Army Fort é uma linha de baterias antiaéreas no canal da mancha que a Inglaterra construiu para a segunda guerra mundial. A tipologia remete as walking city.
Uma megaestrutura pode ser algo que tem história, como a ponte Vecchio e a ponte de Londres. São estruturas que podem ser modificadas ao longo do tempo sem que interfiram na estrutura principal, ela vai acoplando estruturas que podem ou não ser provisórias.
A estrutura de Paolo Soleri é entendida como uma megaestrutura. Os anos 60/70 foram de grande expansão econômica. Em 1964 o mundo encontra-se no meio da corrida espacial, milhões de dólares foram gastos para mandar o homem para a lua, evidenciando o desenvolvimento tecnológico.
Buckminster Fuller propõem um domo sobre Manhattan, era também a proposta para a lua, o domo serviria para criar um ambiente artificial em qualquer lugar do universo.
Espaços feitos a partir do que se é dado pelo movimento tecnológico. O archigram, assim como os Smithsons, era muito interessado pela sociedade de consumo norte americana, existe um grande fascínio por esse modo de vida, o “American way of life”. O automóvel nessa época é o grande símbolo da ascensão social e recuperação econômica pós guerra, existiam várias cores de carros que estavam relacionado à personalização do automóvel. A relação do sujeito com as coisas nessa época era de mero suporte, a casa e o carro eram apenas suporte, é um módulo de sobrevivência para o sujeito, uma mudança de hábitos.
A “instant city” é uma proposta de recursos mais leves para se montar uma cidade, com balões ou tendas. Que podem ser montadas rapidamente em qualquer lugar. A lógica da vida, nesse momento, se dá como arranjos urbanos que podem se desfazer rapidamente e facilmente. Mostra outra forma de existência que não se
simplifica no habitar. A condição do homem moderno para os arquitetos dos anos 50/60 é de um homem sem habitação, pois não existe mais e nunca existirá novamente a ideia real de habitação.
Muitas variações dessa tipologia de estrutura. O conceito de megaestruturas consiste em várias estruturas que podem ser compreendidas como megaestruturas. Associam a ideia de metabolismo com a estrutura, além da ideia de desgaste e descarte, era um ciclo – produção, consumo e descarte – pensando como a vida biológica, como pode ser observado com os metabolistas. A vida como um ciclo biológico, como um elemento de estrutura circular, não pensado na ideia de consumo como do archigram, mas de uma relação entre tecnologia, a dimensão biológica dos organismos e a concepção da sociedade. Há um diálogo que não se vê no archigram entre tradição e tecnologia, que é o que diferencia bastante os metabolistas com relação aos hi-techs.
Cidades marinhas e universos subaquáticos que moldam o imaginário, principalmente para ocupações sobre a água e sob a água que revelam um desejo de que a tecnologia pode romper qualquer limite ambiental existente, seja a lua ou o fundo do mar, como se para o ser humano tecnologicamente desenvolvido não houvesse mais limites.
Um dos principais metabolistas é o Kisho Kurokawa, ele propôs a Nakagin Capsule Tower, que foi construída, mas desmontada. Criando fragmentos reais de coisas utópicas. A ideia da cápsula é para passar a noite, mas com o tempo vira moradia e acaba por ter características pessoais.