Fotos: Arquivo pessoal
De produtor rural a motorista de ônibus “Sou Paulo Queiroz, trabalhei como produtor rural por 10 anos, hoje sou empregado de uma empresa de ônibus, trabalho numa linha escolar, em Paraibuna. As coisas ficaram muito difíceis na roça. O leite, lá quando comecei, custava R$ 1,20. Hoje está a R$ 2,00. Mas a ração que eu comprava a R$60,00, hoje custa R$ 120,00. Cada vaca consome pelo menos 3 quilos de ração por dia, se ela dá 10 litros de leite por dia. E assim foi, hoje o produtor está com tudo defasado, se ele vender ao atacado ou varejo, o produto dele não tem preço. Um pé de tomate hoje para o produtor custa R$ 12,00, se ele tiver mil pés são R$ 12 mil. Vai vender o tomate em qualquer mercado não consegue nem sequer R$ 3,00 o quilo. A dúzia do ovo caipira, há 15 anos, custava R$ 10,00 a dúzia, isto quando o quilo do milho era até R$ 50,00. Hoje, R$18,00 é valor máximo que se consegue vender a dúzia de ovo orgânico caipira, e não fecha a conta, o quilo do milho como ração está R$120,00, energia elétrica para manter as galinhas a noite, o combustível para transporte de tudo, as despesas são muito altas. Então, há produtor vendendo ou loteando sua terra, tem gente vendendo a vaca de leite para o corte porque está falido, mandando embora os funcionários. Está cheio de produtores com trator guardado na garagem, caminhões nos fundos das roças. Você não acha um frango pra comprar porque o povo deixa a criação por causa da saca de milho custar R$ 120,00 e o Brasil exporta a R$ 60,00. Os produtores rurais estão se tornando empregados, como eu e minha esposa - a gente empregava duas a três pessoas. Ainda tenho na minha roça alguma coisinha que chamo de esperança, mas agora vivemos de nosso salário. Não podemos incentivar nosso filho a ser um produtor rural. O futuro é incerto para todos nós, sem o alimento orgânico Paulo Queiroz com o filho e no cultivo que deixou há cerca de três meses para trabalhar como motorista de ônibus
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da roça, ficaremos sem opção.
SINTONIA SOCIAL | NOVEMBRO - 2021