#01 @ 2016
Yo Mag é uma revista que aborda a cultura do hip hop através da fotografia e do design gráfico. Seu projeto editorial e gráfico, bem como sua produção e pós-produção fotográfica, foi desenvolvida com foco na abordagem das quatro principais manifestações artísticas do Hip Hop: o canto do rap (sigla para rythm-and-poetry), a instrumentação dos DJ’s, a dança do break dance e a pintura do grafite. A YoMag é dividida em 6 sessões: Na primeira sessão dessa edição de estreia, traremos uma reportagem com a bgirl natania venancio que foi até La Paz, Bolívia não para dançar mas para ser jurada do Tribus Festival de break dance. A segunda sessão da YoMag fala sobre grafite e nessa edição você vai conhecer a emocionante história de vida do grafiteiro dequete. Já a terceira sessão é dedicada ao rap. As lentes da YoMag registraram o trabalho de dois rappers locais, tejota gang e nandin aladin, e confira ainda trechos de suas irreverentes canções. O dj e produtor musical joão gilberto, mais conhecido como Giba e um dos idealizadores da festa Dope em Uberlândia, ocupa a sessão dedicada a música para falar de seu trabalho. As duas últimas sessões da revista serão abertas a temáticas variadas. Para esta edição de estreia a YoMag foi até a Praça Sérgio Pacheco em Uberlândia para contar a difusão do Hip Hop na cidade. Confira as fotos dessa cultura que está cada vez mais ocupando as ruas da cidade.
laryssa suaid @ 2016
A Y oMag terá distribuição gratuita com circulação bimestral e poderá ser encontrada em lojas, feiras, movimentos culturais, shows e eventos ligados à arte, design, música e aos elementos do Hip Hop _
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rua
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¶ Carolina Monteiro @ jornal correio de uberlândia
uberlandense Nathana Venâncio tem rodado o mundo para apresentar sua arte, nem tanto comum: a dança Hip Hop. O estilo de dança de rua é caracterizado por movimentos segmentados em incontáveis modalidades que ganham crescente projeção internacional, as principais: breakdance, locking e popping. A repercussão do trabalho da b-girl a levou à Bolívia, não como concorrente, mas jurada do Tribus Festival 2016. O evento acontece desde o dia 10, em La Paz.
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vim para la paz dia 18 para esse festival, onde serei jurada neste sábado (23). também dei um workshop de break ontem e estou fazendo várias apresentações em canais de televisão bolivianos, diz Natha-
na Venâncio, em entrevista ao CORREIO de Uberlândia direto da Bolívia.
Esta não é a primeira vez que a b-girl atua como jurada e ministra oficinas. Ela vem participando de campeonatos referenciais no Brasil, como o Tricks Vs Tricks, Motriz, Conexão Hip Hop Manaus, Movimento Urbano, Consciência Hip Hop Cuiabá e Hip Hop Batalhando Pela Paz.
Cidade, Eurobattle Brasil, Lets Battle Portugal
Vs Cidade Frente, de Batendo Brasil, robattle
Hop, Batalha no Topo, Eurobattle Portugal, Eu�
Hip Baambata Bolivia, Break Battle da Campea
Seu trabalho também é reconhecido fora do país. Convidada como dançarina profissional do El Pastel – 7ª edição internacional, que acontece no México entre 22 e 23 de julho, Nathana Venâncio é definida pela criatividade, improvisação, flow, movimento de limpeza e técnicas de FootWork. No ano passado, a b-girl participou do Outbreak Europa, na Eslováquia, e do The Notorious IBE, na Holanda.
Nathana Venâncio participou do Concurso de Dança de Rua do Programa da Xuxa e do Programa Vai Dançar, na Multishow, ambos em 2013. Além da atuação na dança, a b-girl produz o evento Battle Skill e é uma das fundadoras do grupo We Can do It – Bgirls _
DESDE 2007
grafite
a p ó s l e va r s e i s t i r o s, a r t i s ta m i n e i r o encontra sua segunda chance ¶ Lorena Carrijo @ jornal correio de uberlândia
uem passa pelas ruas de Uberlândia e repara nos grafites feitos em alguns muros, pode ter certeza que já viu um assinado por Dequete. O grafiteiro nascido em Belo Horizonte espalha suas obras pela cidade do Triângulo Mineiro desde 2012. Além de artista, Dequete carrega uma história de vida que serve de lição para crianças e adolescentes, em escolas públicas, particulares e ONGs, onde ele dá aulas como educador social.
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O apelido Dequete surgiu em 2001 quando o artista ainda morava em Belo Horizonte, depois de sofrer uma tentativa de homicídio. meus amigos me apelidaram de the cat (o gato) depois que levei seis tiros
a queima roupa, ainda tenho uma bala alojada na minha cabeça. então, como não morri, eles colocaram esse nome por falarem que os felinos possuem sete vidas, e como foram seis tiros, foi como se eu tivesse gastado seis vidas. então faz 13 anos que eu ganhei essa chance, e estou aproveitando e trabalhando com o grafite desde então, contou. O amor pelos desenhos vem antes mesmo de nascer. Quando criança, tudo servia de inspiração. desde pequeno eu gosto de desenhos, brinco que sai desenhando da barriga da minha mãe. quando era criança tudo que eu via na tv, na rua, histórias em quadrinho, eu desenhava tudo, disse
artista tambem atua como educador social em bairros da cidade.
dequete e grafiteiro em uberlandia e espalha as obras pelas ruas.
Porém o desenho não era só um lazer, nem um passa tempo, ele servia como refugio, já que a infância do artista não foi nada fácil. “O desenho sempre foi um companheiro para mim, já que eu tive uma infância e adolescência complexa, pois não tive uma figura paterna, eu cresci sem pai. E minha mãe tinha um companheiro e eu cresci vendo ele a agredindo, então passei a infância na delegacia, pois eram inúmeras as vezes que ele a agredia ou tentava mata-la e todo esse drama, esse inferno que vivi em casa, me deixou uma pessoa mais introspectiva. Por isso eu entrava cada vez mais nesse meu mundo, o desenho, que era uma fuga da realidade que eu vivia”, relatou. Dequete relata ainda que a adolescência também não foi uma mar de rosas mas foi nela que ele foi apresentado a pichação. quando cheguei na adolescência, eu era atraído por pichações nos muros mas eu não entendia muito bem o que era, até quando eu conheci um grupo na escola que pichava e me convidaram para aprender as letras e me apaixonei pela pichação e fui pras ruas, falou. Assim como a pichação, outras coisas foram apresentadas ao artista, o que se resultou em uma grande complicação. justamente pela desestruturação que tive dentro de casa acabei me envolvendo com outras coisas, como as drogas, pratiquei alguns furtos, e era vinculado com a torcida organizada do cruzeiro em belo horizonte, onde eu ia para brigar, e assaltar. porém, mesmo assim eu era uma pessoa de boa índole, eu fazia aquilo para extravasar, e foi por isso que eu sofri aquele atentado, onde levei seis tiros, porque eu andava com uma gangue, e uma gangue rival me pegou para servir de recado para os outros jovens com quem eu andava, contou.
Depois de passar por toda a experiência, de ficar entre a vida e a morte, o artista se propôs a passar para frente a história de vida e assim tentar mudar o futuro de crianças e jovens. Desde 2003 Dequete, que é graduado como professor de artes, começou a trabalhar como educador social em escolas dos bairros Dom Almir e Morumbi. venho pregando essa história minha, essa mensagem, especificamente para uma juventude que vivenciou ou ainda vivencia a mesma coisa que eu passei, esse conflito social, e desestruturação familiar, pois eles estão mais sujeitos a entrar na criminalidade. virei educador social, onde eu compartilho minhas técnicas e as minhas vivências, com jovens de projetos sociais de escolas públicas e particulares e em ongs também, disse. Dequete conta que escolheu os dois bairros para trabalhar, por ser lugares onde os jovens não têm um momento de lazer. são bairros onde os índices de homicídios são altos e muitas vezes eles só vão aos bailes funk. então levamos o grafite através da política pública do programa ‘fica vivo’ que atende os jovens que estão ligados diretamente com a criminalidade. procuro saber dos jovens quais são seus anseios e seus desejos e por toda minha história, de ter feito parte da criminalidade e ter quase morrido, eu consigo ter uma liberdade maior com esse publico, disse. Com o trabalho social com as crianças e adolescentes, Dequete tornou-se uma referencia positiva. queremos mostrar que eles podem mais. para aqueles se interessam, o grafite pode ser uma forma de ganho, além de ser uma forma de lazer e relaxamento, ele serve como trabalho. eu mais uma vez sou um exemplo disso para eles, que vivo do grafite, e a intenção é passar isso para a garotada, concluiu _
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oão gilberto giba oliveira é um dos DJs residentes e idealizadores da festa dope e produtor musical e cultural em Uberlândia. Filho de pais separados e ambos com grande bagagem cultural foi criado nessa rotina de passar temporadas na casa do pai nas férias e durante o ano letivo morava com a mãe e o padrasto. Apaixonado por música começou a discotecar em 2013 girando os vinis herdados da família em projetos com amigos, sem pretensão. Foi um período de pouco mais de um ano tocando em discos de vinil, sets recheados de Black music, samba, reggae, dub, afrobeat, etc. Após esse período tocando quase que exclusivamente com discos de vinil, rolou a migração do meio analógico para as plataformas digitais, abrindo um grande leque de possibilidades e de novos estilos de música a serem explorados. E foi quando aconteceu um contato maior com a música eletrônica e quase que amor à primeira vista com a Bass Music. Hoje em dia seus sets e produções são quase que totalmente voltadas para as vertentes da Bass Music, porém sempre tentando conciliar com esse pezinho na música brasileira e nas manifestações culturais típicas do Brasil. Dessa mistura saem beats futuristas com samples de funk carioca e MPB, como por exemplo o Neo Baile Funk, Baile Jersey, o Favela Trap, a Rasteirinha e etc. _
Neo Baile Funk, Baile Jersey, F a v e l a
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œ Carolina Monteiro @ jornal correio de uberlândia
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partadas do modo de vida dominante, comunidades jamaicanas, latinas e afro-americanas de Nova York elaboraram, no fim dos anos 1960, um universo simbólico autônomo, por meio do qual reconstruíram a identidade e o destino. Por sua universalidade, a linguagem do hip hop foi apropriada por comunidades periféricas dos grandes centros brasileiros, no fim da década de 1970. Em Uberlândia, o movimento começou a dar sinais nos anos 1980, com grupos de dança de rua.
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Depois de mais de três décadas, a cena vive um momento de renovação, com uma nova geração de MCs, DJs, B-boys, B-girls e grafiteiros – os quatro elementos do hip hop. Segundo o historiador Roberto Camargos, autor do livro rap e política: percepções da vida social brasileira, o movimento também volta ao centro, que já ocupou no passado, e circula por toda a cidade. acompanho o movimento de perto há 10 anos e observo que sempre houve eventos ligados ao hip hop na cidade. há o esforço de manter essa prática cultural viva, diz Camargos. Ele é um dos criados do projeto Dão Crew, dedicado a reunir MCs e DJs para a criação coletiva de músicas – que reúne ainda Avner de Andrade como DJ, Raíssa Dantas como produtora e jornalista responsável
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e Tiago Garcia como produtor e engenheiro de som. sempre descobrimos pessoas fazendo coisas que desconhecíamos. o movimento está em constante transformação, diz o historiador. Segundo Camargos, a diferença é que os grupos estão conquistando velhos e novos territórios: as linguagens do hip hop estão mais presentes no cotidiano da cidade. o pessoal se vale muito da internet para gerar e difundir os próprios conteúdos.
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O crescimento do número de batalhas atesta a difusão do hip hop em Uberlândia. A “praça do redondo”, na Sérgio Pacheco, que recebe eventos de hip hop desde os anos 1990, voltou a ser palco da Batalha Rima na Praça. Há também a Batalha da Z.O., promovida pela Zero13 produções e Família Rolê Gringo no bairro Planalto. E ainda a Batalha da Esquina, realizada sempre na esquina de grandes eventos de rap, como o show do rapper paulistano Ogi, em janeiro, no Groove Pub, quando a batalha foi realizada na rua Goiás, no Centro.
PORTAS ABERTAS
AUTOGESTÃO
Além dos eventos promovidos pelos produtores imersos na cena hip hop, de forma independente, baladas de Uberlândia abrem crescente espaço para o gênero. Entre os projetos está o “Noite Lab Fantasma”, promovido no Groove Pub. com mediação do laboratório fantasma, selo que lança emicida e rael, consigo negociar a vinda de rappers da nova geração, uma demanda da cena local, diz Avner de Andrade, que integra grupo de rap Udi School. O projeto já recebeu Rael, Hashid, Karol Conká e Ogi.
Os grupos envolvidos com o movimento hip hop promovem as próprias condições de existência, sobretudo, porque a estética ainda é marginalizada. Junto aos diferentes atores que tornam vivas as linguagens urbanas, produzindo de forma caseira e colaborativa, estão os coletivos, que fomentam a cena. Entre eles, está o Zero13 Clã, que realiza a Batalha da Z.O. e a Zona Oeste Session.
O London Pub também retomou, em 2013, o projeto “In da club”, criado em 2004. Consiste em uma noite dedicada ao hip hop realizada a cada dois meses. Segundo David Moreira, proprietário da casa e idealizador do projeto, a maioria dos convidados para conduzir a festa é DJ do Rio de Janeiro e São Paulo, mas também há bandas e DJs de Uberlândia no line-up. A adesão do empresário ao gênero se justifica pela crescente demanda do público por festas temáticas. o hip hop é o movimento da música em maior ascensão na atualidade, diz David Moreira.
Segundo Bruno Simpatia, de 23 anos, a organização independente surgiu, há um ano, no bairro Planalto. O grupo tem três integrantes fixos e começou promovendo o “Encontro de Mcs” em espaços públicos, como o estacionamento do Teatro Municipal. Em junho, iniciou a Batalha da Z.O., que já teve sete edições. Parceiro do Zero13 Clã, a Família Rolê Gringo atua fortalecendo os eventos do movimento e produzindo seis MCs, no Rolê Gringo Records, estúdio caseiro que mantêm na casa de Bruno Simpatia, sede de ambos os coletivos. Entre os integrantes, está Ewller Doidêra, de 20 anos. Ele diz que o grupo tem tanto beatmakers quanto produtores de vídeo e foto.
CENA ATUAL É DESARTICULADA, DIZ DJ Envolvido com a cena hip hop desde os anos 1980, Cleiton Rocha Santos, o Kakko, disse que o atual panorama é promissor. temos muita coisa acontecendo em todos os elementos, diz o coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) de Uberlândia. Ele fomenta o movimento por meio dos projetos “A rua ensina” e “Encontros Periféricos”. Dos manos do grafitti, nomes como Madruga, Karen Kueia, Tiago Dequete, Wesley Undef, Diego DWS, Daniel Gema, Lucas Castro Paulista são populares. Entre os MCs e DJs da nova geração, estão grupos, como Família Elementos, Organismo Rap, Udi School, Família SDR, Inconfidente Criminal e Coletivo 034. Do bairro Lagoinha, o Complexo do Gó, criado em 2008
para “narrar a realidade”, como definiu o fundador, Lukas CDG, de 22 anos. O grupo já circulou por toda a região e prepara o primeiro disco, gravado em estúdio próprio. Segundo Mamed Aref, a cena do break é a origem de tudo. Foi com os grupos de dança da década de 1980, entre eles, o pioneiro Jazz de Rua, do DJ e produtor, que surgiu o hip hop em Uberlândia. atualmente, vejo a cena desarticulada, as pessoas parecem contribuir, não para o coletivo, mas para o próprio trabalho, diz Aref. Entre os destaques do break atual, ele cita RockLee, da Crew Killa Rockers, e Nathana Venâncio. Há ainda grupos, como Udi Crew, Breakaholic, Revolution Kings e Gangsta Squed _
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