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SUMÁRIO 03 Carta aos leitores Eduardo Saron
28 Conhecer para atuar
A importância de estudos e pesquisas na formulação de políticas públicas para a cultura. Ana LetíciaFialho e Ilana Seltzer Goldstein
30 O direito ao teatro 05 Andre Arruda
O fotógrafo carioca Andre Arruda já trabalhou em jornais importantes, como o Jornal do Brasil e O Globo. (Cid Costa Neto)
Teatro de direito e direito ao teatro. Doislados de uma mesma moeda? (Sérgio de Carvalho)
33 Arte, cultura e seus demônios 10 OsGemeos
A vida e os segredos dos filhos coloridos da cidade cinza
16 Lucian Freud
Considere done of Europe’s greatest modern artists. He painted unsettling portraits with peculiar focus on the texture of their flesh.
20 Cinema para quem precisa O cinema como via de inclusãosocial nascomunidades do Rio de Janeiro pós UPPs (Francisco Alambert)
24 Cinema para quem precisa O cinema como via de inclusãosocial nascomunidades do Rio de Janeiro pós UPPs (Francisco Alambert)
Considere done of Europe’s greatest modern artists. He painted unsettling portraits with peculiar focus on the texture of their flesh.
37 Quando o todo era mais do que a soma das partes Considere done of Europe’s greatest modern artists. He painted unsettling portraits with peculiar focus on the texture of their flesh.
40 Música, dança e artes visuais
Considere done of Europe’s greatest modern artists. He painted unsettling portraits with peculiar focus on the texture of their flesh.
48 George Kornis do que a soma das partes
As especificações do mercado de artes visuais no Brasil do século XXI.
Entrevista | Andre Arruda
ANDRE ARRUDA
Carioca, formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo Audiovisual, o fotógrafo Andre Arruda já trabalhou em jornais importantes, como o Jornal do Brasil e O Globo. Atualmente trabalha na área publicitária e editorial, mas sem deixar de lado o trabalho autoral, onde tem liberdade de expressar sua criatividade em ensaios como o Fortia Femina e no livro 100 coisas que cem pessoas não vivem sem . Suas fontes de inspiração são as mais váriadas.
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Entrevista | Andre Arruda
PERGUNTAS&
respostas. Andre Arruda | quarta-feira, 5 de outubro de 2011 por Cid Costa Neto
Como foi o seu primeiro contato com a fotografia e como foi a decisão de se profissionalizar? Meu pai tinha uma TLR BeautyFlex, imitação japonesa da Rolley, e fiz algumas fotos com ela quando criança. Cheguei inclusive a tentar fazer uma estória em quadrinhos com avioes da II guerra, modelos de montar Revell, que é claro, não ficaram técnicamente boas. Me lembro até hoje da imensa sensação de dificuldade daquela tarefa. Um dia a câmera pifou e não tinha conserto. Como a família não tinha recursos, ficou-se sem equipamento mesmo. Depois, somente na faculdade tive contato com fotografia, numa aula de fotojornalismo. Nos foi mostrada uma série de fotos de HCB e aquela imagética foi como se eu tivesse aprendido uma língua nova instantaneamente. No curso de jornalismo comecei a me interar da fotografia e pouco tempo depois resolvi ser fotógrafo. Mal sabia da fria em que estava me metendo.
Como surgiu a oportunidade no meio editorial? Antes tive um experiência amarguíssima. Fui em um determinado jornal levando meu humilde portifolio, basicamente um ensaio sobre Copacabana. Depois de dias tentando, consigo uma hora para conversar com o editor. Chego lá, quem me atende é um coordenador, que abre a pasta, folheia as fotos com o desdém de um delegado de polícia, e ainda vira pro lado, falando com outra pessoa: “O teu vascão ontem, hein?” Joga a pasta na mesa e diz secamente: “Serve não”. Volto pra casa com a pasta “pesando uns 100 kg” e com uma decepção knock down. Uns dois anos depois, já na lida do jornalismo, encontrei o sujeito do “serve não” numa cobertura qualquer e o pessoal foi almoçar e ele não tinha grana: acabei pagando o almoço dele. O ensaio que não serviu ganhou um prêmio na Funarte, outro da UFF e foi publicado em quatro páginas na Revista de Domingo,
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do JB, o principal encarte do Rio naquele tempo. Mas voltando: Um amigo trabalhava no extinto Jornal do Brasil e disse que tinha vaga lá. Marquei uma hora com o editor, o caladíssimo Rogério Reis, que viu o portfolio “inútil” e me admitiu. Depois de um ano tentando entrar lá, consegui. Ainda tive a sorte de estar no fim da era de ouro do fotojornalismo, que no JB era capitaneado pelos editores Rogério Reis e Flavio Rodrigues, um período intenso e de muita cobrança, de salários baixos mas de muita criatividade, onde a editoria de fotografia era composta por um time de feras. Impossível não ter saudade daquela época, onde nem se sonhava com a internet. Fiquei lá de 92 a 98 e em outro jornal de 98 a 2000, mas nunca me senti o repórter per se, sempre gostei de features, de fotografia mais “pensada”. >
Entrevista | Andre Arruda
Qual a importância de um trabalho autoral para quem trabalha apenas comercialmente?
É fundamental, absolutamente. Eu creio – na maioria dos casos - o trabalho comercial deve financiar o trabalho autoral, pois este irá nortear a carreira do fotógrafo. O fotógrafo deve estar atento para não se tornar mais uma peça dentro do mercado.
Como é a concepção do trabalho autoral e como funciona o seu processo de criação?
No momento tenho dois trabalhos de minha inteira concepção, “Fortia Femina” e um livro chamado “100 Coisas que cem pessoas não vivem sem”. O “Fortia” é um ensaio sobre mulheres adeptas da musculação, em preto e branco, de viés livre de publicação ou lucro. São imagens que não residem num limbo preferencial: ou se ama ou se odeia. Até agora não vendi uma única cópia para coleção. O “100” nasceu da idéia de fazer um livro de retratos, mas não queria um tomo que fosse um compilação de fotos de gente, isso o medium visual está repleto e sinceramente acho repetitivo e um tanto tedioso. Como toquei baixo muitos anos, tive bandas e escrevi muitas letras, creio que títulos/temas são tão importantes quanto a obra. Nome é destino. Comecei a brincar com a idéia de número, de rima, de ritmo, de pessoas e que o conceito de uma pergunta instigaria o leitor. Depois de muita elocubração, veio o título, cujo paradoxal conceito é “arqueologia instantânea”, conhecer um pouco as pessoas pelos seus objetos. E desde agosto de 2005 venho
Você busca inspiração em outras mídias, como quadrinhos, música e cinema. Porque considera isso tão importante? fazendo o “100”, um desafio logístico muito pesado. E bancado integralmente por mim. “Fortia Femina” nasceu antes, em 2003, 2004. Zapeando, paro em uma transmissão de um campeonato Mr. Olimpia, creio, e vi mulheres na competição. Até então não sabia que uma mulher poderia ter um corpo com aquelas proporções e me encantou como o relevo e o volume dos corpos “respondiam” à luz, e como a feminilidade poderia chegar a um extremo tão intenso. Então comecei a pensar numa série de fotos de nu, sem grandes compromissos, mas que fosse distinta do que havia visto até então. Um ensaio, um trabalho, deve ser adequado às condições de quem o elabora. Adotei o fundo branco para o “Fortia” pela facilidade do suporte (papel branco, pano branco, parede branca existe em qualquer lugar) e pela leveza que o branco fornece ao conteúdo, que talvez seja uma herança do meu tempo de garoto, quando pensava em ser desenhista, cartunista. Sou fanático pelas ilustrações a bico de pena e gravuras de Da Vinci, Vesalius e Henry Gray sobre a anatomia do corpo humano; descobri que me influenciaram bom tempo depois de estar fazendo o Fortia Femina. O “100” também é em fundo branco, retrato e objeto, mas em conjunto com outra inspiração agregada, que são os catálogos de produtos, tão comuns em jornais. Como vivemos em uma época “catalogal”, onde somos reduzidos perfis e frases definidoras, o “100 Coisas que cem pessoas não vivem sem” é um comentário – pretenso – sobre este nosso tempo. Zeitgeist.
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Não apenas nas citadas, mas pintura e escultura me são vitais. Todo o tipo de manifestação me atrai. Na literatura ‘O Estrangeiro’, de Camus, teve um profundo impacto quando li. Outro fantástico observador é William Gibson, autor do termo cyberspace em “Neuromancer” e de “Reconhecimento de padrões” um livro importante para qualquer pessoa que trabalhe com imagens; que aliás tem uma tradução eficiente em português brasileiro. Toquei baixo por uns oito anos e até hoje tenho o instrumento, embora quase não toque. A música desempenha um papel fundamental na minha vida, tanto ou mais quanto o cinema; meus mais antigos amigos vêm da música. Não vejo, por exemplo, chance de ter uma namorada que tenha um gosto musical muito diferente do meu. Música é alma. Ouço de Slayer à Cole Porter, passando por bossa nova, industrial, alguns eletrônicos, rock, heavy metal e muita black music dos 50, 60 e 70. Refuto qualquer discurso que relativise a cultura e a educação e que enalteça o mero empirismo de processos na formação. Aproveito da máxima socrática: “quanto mais sei, mais sei que nada sei.” Quando vou editar um trabalho meu, sempre procuro se há algo bom. Inicialmente, acho tudo medíocre, apressado e raso. Sempre pode ser melhor...
Além das questões gráficas, o ensaio Fortia Femina lida com um tabu da estética feminina. Como foi a recepção desse trabalho?
Amor ou Repulsa. Já me disseram que Fortia Femina está à frente do tempo
Entrevista | Andre Arruda
dele. Não sei e não procuro me preocupar com isto. Hoje a estética da mulher muscular é um fator presente na sociedade, uma tendência desde os anos 80, quando explodiram as academias de ginástica e as “aulas de jazz”, que misturavam dança com exercício físico pesado. Fausto Fawcett, um excelente pensador pop, até cita na letra de “Facada Leite Moça” a frase “coxas de quem faz jazz”, no fim dos 80. Cabe ao autor suscitar e abrir questões. E isso não vem de graça, sempre se paga um preço.
Existe um projeto para publicar o Fortia Femina?
O livro em tese está pronto, como fotos já tratadas e prontas para edição, mas falta uma editora com coragem para abraçar o projeto.
Durante o Nu Photo Conference você realizou um ensaio ao vivo para uma platéia de 300 pessoas. Como foi essa experiência? Já tinha feito algo parecido?
Com uma platéia tão grande foi a primeira vez. Gostei muito da experiência, embora tenha achado, com o benefício da distância, que a apresentação foi um tanto exagerada em alguns aspectos. Foi um desafio redobrado porque aconteceu diferente do planejado. A minha proposta inicial seria verdadeira sessão do Fortia Femina mas a modelo, uma atleta, desistiu. Então propus que fossem duas modelos e parti do zero. Gostei muito de uma imagem resultante daquela sessão.
Durante a sua palestra você citou a importância de usar o fotômetro de mão. Com o digital, muitos fotógrafos da nova geração dispensam o seu uso. Porque você acha que isso acontece?
O fotômetro é um símbolo. Quis ressaltar a importância da técnica, da pesquisa e do estudo constante. Não existe fotografia “fácil” e quem está começando não deve crer em soluções simplórias, cogmo se a fotografia fosse uma série de “macetes” que resolvem qualquer situação. Todos os fotógrafos de cinema, cuja fotografia é exponencialmente mais complexa que a still, usam fotômetro, mesmo os fotógrafos com 30, 40 anos de experiência. É saber interpretar, usar a luz e não ser refém dela. Não creio que o fotografo deva se ater a fórmulas e resoluções fixas; quanto mais conhecimento, melhor; é quase pueril falar isso, mas há quem acredite que a fotografia é simples, quase intuitiva e o Photoshop resolverá tudo depois. O que interessa mesmo é a luz (saber iluminar) e a direção. A câmera, desde que seja manual, minimamente boa e gere arquivos RAW, resolve a maioria dos casos. A grande diferença entre uma câmera Pro e a amadora é que a Pro tem resistência e robustez. Tenho uma objetiva 70-200 2.8 que deve ter uns 10 anos e funciona muito bem, apesar de algumas “cicatrizes”, arranhões na lente e marcas de uso.
Quais fotógrafos cujo trabalho você admira e qual a relevância deles na sua produção?
Vários me influenciaram e influenciam. Seria injusto nomear alguns, então fico com o meu trio sagrado, Cartier-Bres-
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son, Avedon e Helmut Newton. E Sebastião Salgado, claro, por ser o maior fotógrafo vivo e por sua visão e sobretudo planejamento. Até o momento acredito que nenhum fotógrafo tem ou terá uma obra como a dele.
É mais complicado ou mais fácil fotografar celebridades?
Eu fotografo famosos como se fossem anônimos e anônimos como celebridades. Em geral a fotografia, para a maioria das “celebridades”, é uma atividade aborrecida e que elas querem se livrar o mais rápido possível. Mulheres respondem muito bem a locação, com homens creio que uma certa tensão desenvolve melhor. A mulher tem que ser seduzida o tempo inteiro.
Quem você gostaria de fotografar e ainda não teve oportunidade?
Scarlett Johansson, atriz; Yelena Isinbayeva, atleta e Angela Gossow, cantora da banda de heavy metal Arch Enemy. Aqui, Roberto Carlos, o cantor.
O que você diz para quem quer seguir a carreira de fotógrafo ou está começando?
Persista. Mais do que nunca fotografia está difícil como negócio rentável. Somente quem tiver talento, senso de oportunidade e principalmente um manifesto sincero de idéias perante o mundo poderá ter sucesso. E procure fazer vídeo também. O futuro caminha inexorável para a imagem em movimento.
Capa | OsGemeos
Capa | OsGemeos
A arte dos
GEMEOS A vida e os segredos dos filhos coloridos da cidade cinza: ‘Desde os cinco anos a gente sabia que nossa missão na Terra era desenhar’
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O grafite de uma cidade diz muito sobre ela
sGemeos, Otávio e Gustavo Pandolfo, escutaram essa frase anos atrás do amigo e grafiteiro John Howard. Seguindo o raciocínio, São Paulo seria uma cidade repleta de seres amarelos com roupas estampadas, às vezes com balaclavas escondendo o rosto e bolsas a tiracolo. Haveria também muita cor, detalhes e texturas na paisagem. A maior metrópole do Brasil seria lúdica como os sonhos mais loucos de uma criança, como um grande painel d’OSGEMEOS. Seria, caso a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano da prefeitura não tivesse o hábito de, sistematicamente, passar uma tinta cinza por cima de tudo isso. O último grafite que a dupla fez, à luz das manifestações populares recentes que tomaram o país, não durou nem dois dias. “Na gestão anterior, fomos na prefeitura conversar. Mas não adiantou. O nosso recado tá dado. Vamos continuar falando o que temos para falar”, diz Gustavo. Falar, aliás, no caso dos dois, é sinônimo de desenhar. >
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Capa | OsGemeos > É com o traço, e não com as palavras, que os dois se comunicam com os familiares, com o mundo e um com o outro. Apesar de os governantes da cidade, ao que parece, não serem exatamente fãs de seu trabalho, a dupla continua passando boa parte do tempo em São Paulo. Mais exatamente no Cambuci, bairro coalhado de velhos galpões e sobrados onde Otávio e Gustavo são mais conhecidos como Tico e Teco. Lá fica o ateliê da dupla, a poucos metros da casa onde nasceram 39 anos atrás e em que foram criados pela dona de casa Margarida Kanciukaitis e pelo químico Walter Pandolfo . E também de onde viram, pela primeira vez na vida, uma turma dançar break, escutar hip-hop e fazer grafite.
OsGemeos deram uma palestra e pintaram uma parede em uma ONG de São Paulo. dezembro/2008
Antes de ganhar a vida – e o mundo – com esta última atividade, os irmãos mergulharam de cabeça nas outras duas. Trocaram os passos de Michael Jackson, que sabiam de cor, pela “dança do robôzinho” e rimavam nos bailes, dando uma de Beastie Boys dos trópicos. Não tardou, descobriram a estação São Bento, onde a tríade break-hip-hop-grafite primeiro se manifestou no Brasil. Foi quando Tico e Teco viraram OSGEMEOS, batizados por DJ Hum nos agradecimentos do primeiro álbum de rap nacional, Hip-hop – Cultura de rua (1988). Nem ele nem ninguém imaginava que décadas mais tarde aqueles “alemãozinhos” pintariam a fachada da Tate Modern, em Londres, a mansão de Johnny Depp, em Los Angeles, e o porco inflável dos shows de Roger Waters. Ou que montariam exposições disputadíssimas por todo o globo, assinariam linhas de lenços para a Louis Vuitton e tênis para a Nike (os lucros foram todos doados, eles dizem), e que valeriam altas cifras no mercado de arte, com quadros cotados em até US$ 200 mil. Mas nada disso parece interessar muito aos dois gêmeos idênticos, irmãos de Adriana e Geraldo. São consequências, e eles sempre estiveram mais ligados na causa. Quando estavam em seus 20 e poucos, Otávio e Gustavo se enfurnaram no quarto e só saíram de lá quando descobriram por que e o que queriam desenhar. A resposta estava em Tritrez, um universo criado (ou acessado?) pelos dois, onde tudo que pintam no nosso mundo existe de fato. À prova de qualquer tinta cinza
Capa | OsGemeos
ENTREVISTA
Como o grafite entrou na vida de vocês?
Gustavo: Quando conhecemos a cultura hip-hop, por volta de 85. Pouca gente sabe disso, mas ela era bem forte no Cambuci. Tinha a turma do Fantastic Break, os primeiros caras que vimos fazendo grafite e dançando break. O que pegava antes era dançar igual ao Michael Jackson. Aí, depois, a onda era a dança do robozinho, o break. Começamos a treinar sem parar. Ficamos bons, fazíamos até apresentação nas festinhas de aniversário. E começamos a fazer uns raps também.
O traço de vocês sempre foi parecido? Otávio: É o mesmo desenho.
Vocês lembram qual foi o primeiro desenho que fizeram na rua?
Otávio: Acho que escrevemos “crime” e fizemos um personagem. Isso foi só uns dois, três anos depois que ganhamos nossa primeira lata. Lá por 86, 87.
Obra sem título OsGemeos | Pintura a óleo - 2011
A polícia não ligava?
Gustavo: Ligava muito! Era repressão total, estávamos na ditadura ainda. Todo mundo morria de medo da polícia. Você tinha que sempre ter RG no bolso, se não, ia pra delegacia. Hoje é diferente. O cara te aborda e, se bobear, vai pedir para você pintar a viatura dele.
Vocês viviam então de rap, break e grafite, basicamente?
Otávio: Não só. A gente trabalhava desde os 14 anos. Primeiro numa funilaria, onde era ótimo para conseguir tinta. Depois numa fábrica, lavando picles, numa locadora... Chegamos a ser boys em um banco. Mas não tínhamos futuro nenhum ali, era claro. Isso de trabalhar com outras coisas só nos deu mais certeza de que o que queríamos mesmo era desenhar. Chegou uma hora que não dava mais para fazer outra coisa que não fosse isso. Pedimos demissão e resolvemos que íamos tentar viver da nossa arte. >
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Capa | OsGemeos > Aí começou, talvez, o período mais especial da nossa vida. Ficamos praticamente trancados na casa da mãe, pintando sem parar por uns três anos. Aprendemos a usar aerografia, aquarela, tinta a óleo... Fomos atrás
do nosso estilo. Encontrá-lo era o que mais queríamos na vida. Varávamos a noite ouvindo Afrika Bambaata, Led Zepellin e Pink Floyd, tomando vinho e pintando à luz de velas.
Por que à luz de velas?
Otávio: Porque tudo que pudesse desviar nossa atenção, nós descartávamos. Vinha visita lá em casa e a gente nem dava oi. Descia só pra comer, às vezes nem isso. A gente queria saber por que a gente preferia desenhar a qualquer outra coisa. A gente escrevia muito nessa época, tipo um diário. Escrevia sobre o nosso desenho, para poder encontrar ele. Até que se abriu uma janela. E nós vimos tudo.
Por que seus personagens são amarelos?
Otávio: São Paulo é muito cinza, mas a gente não queria, não conseguia ver a cidade desse jeito. O amarelo veio dessa época em que a gente estudava na casa da mãe. A gente gostava de desenhar principalmente no fim da tarde, quando o céu ficava laranja. O amarelo é uma tentativa de reproduzir essa luz que entrava pela janela.
Quando o trabalho autoral começou a dar grana?
Gustavo: Nosso trabalho autoral mesmo começou a ser mais reconhecido quando um grafiteiro americano que a gente amava, o Barry Mcgee, veio para São Paulo fazer uma residência artística. Ele viu um grafite nosso na rua, gostou e ligou pra gente. Na época a gente botava o telefone nos desenhos [risos]! Foi nosso primeiro contato com um grafiteiro de fora. Piramos. Otávio: Daí o Barry falou do grafite brasileiro para um amigo que tinha uma revista gringa superimportante sobre arte de rua. A revista veio até São Paulo fazer uma matéria, passou um tempo na nossa casa. Depois,
Exposição Vertigem CCBB-RJ | 2009
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outro artista alemão, o Loomit, veio também. Curtiu nosso trampo e nos chamou para expor em Munique, na Alemanha. Isso era 1999, mais ou menos.
A porta das galerias se abriu antes lá fora, então?
Otávio: Pois é. Em 2000, engatamos outra exposição em San Francisco, na Califórnia, numa galeria que lançou um monte de nomes foda da artes. Depois rolou outra em Nova York, na Deitch Gallery. Entre 2000 e 2005, fizemos muitas exposições e projetos fora do Brasil. Gustavo: Engraçado que, no começo dessas viagens, a gente se preocupava muito em fazer nosso trabalho exatamente do jeito que fazíamos no Brasil. A gente levava lata de Colorgin no avião [risos]! Chegamos lá e nos deparamos com lojas só de tinta, spray de tudo quanto é cor, escola de grafite... um outro mundo. Ninguém entendia como a gente podia usar nossos sprays, diziam que a tinta era muito aguada. E não entendiam também como a gente usava tinta látex em grafite. Pra gente, fazia todo o sentido: era mais barata e secava mais rápido.
Batia um desapontamento por ter bombado primeiro fora do Brasil?
Otávio: Não. A gente pensava: “Se neguinho não viu a gente, não viu. Paciência”. Nos preocupávamos mais em trabalhar com o mercado que se abriu pra gente. Até que a Márcia Fortes, sócia-diretora da galeria Fortes Vilaça, ficou sabendo da gente e nos chamou pra fazer a primeira exposição no Brasil.
Vocês acham que a arte contemporânea abraça os artistas que vêm da rua?
Gustavo: Não sei se existe preconceito na arte contemporânea. Mas vejo cada vez mais artistas que vieram das ruas indo para as galerias.
Suas exposições costumam agradar a pessoas com idades e backgrounds completamente distintos. Por quê?
Otávio: Nossa arte é muito simples. Não tem explicação, conceito. Na real, tem muito. Se quiser, a gen-
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te escreve um livro para cada tela que a gente pinta, mas não precisa. Queremos mexer com o imaginário das crianças, dos senhores de idade, de todo mundo. A gente quer que a pessoa sinta antes de entender. Gustavo: Essa coisa de exposição é muito louca pra gente. Ainda é. Abrimos portas que pareciam que sempre estariam fechadas. Ver o número de pessoas que vai ver o que a gente faz é muito forte. É uma quantidade de público que não existe muito na arte contemporânea.
Quais são os planos para o futuro?
Gustavo: Queremos experimentar muitas coisas ainda. Quem sabe fazer roupas. Já desenhamos tantas... Se você reparar, cada boneco nosso tem uma roupa diferente. Nunca repetimos nenhuma. Já somos estilistas, de certa forma. Otávio: Esse universo nosso é tão real que pode virar filme, musical, peça de teatro, performance, música. Nossa única preocupação é fazer bem-feito e não passar por cima de ninguém. Somos muito caprichosos. Queremos fazer o melhor que podemos.
eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud F Artigo | Lucian Freud eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freu eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Fr eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud Freud eud Freud Freud Freud eud Freud Freud eud Freud Freud Lucian Freud is considered one of Europe’s eud Freud greatest modern artists. He painted unsettling eud Freud portraits and nudes in drab rooms, with peculiar eud Freud focus on the texture of their flesh. Freud was r e u d the grandson of Sigmund Freud. He moved to eud Britain from Germany with his family in 1933 to
LUCIAN FREUD. F
reud’s early works, like Girl With A White Dog, were very controlled and formal. Over time his style changed and his later painting were mainly nudes, using coarse, layered dabs of paint to create skin texture. The figures in Freud’s paintings often look distant and depressed. However he had a close relationship with his subjects and claimed his pictures are “to do with hope and memory and sensuality”. One of his best known paintings, Benefits Supervisor Sleeping, was reportedly bought by Russian billionaire Roman Abramovich for $33m at auction. This was a record at the time for a living British artist. Freud provoked public outcry with a portrait of Her Majesty Queen Elizabeth II. Many people said the painting made her look old and unhappy. The Queen refused to comment.
escape persecution as a Jew. He spent most of his working life in London’s Paddington, saying that its sleaziness appealed to him.
Who is Lucian Freud was born in Berlin in December 1922, and came to England with his family in 1933. He studied briefly at the Central School of Art in London and, to more effect, at Cedric Morris’s East Anglian School of Painting and Drawing in Dedham. Following this, he served as a merchant seaman in an Atlantic convoy in 1941. His first solo exhibition, in 1944 at the Lefevre Gallery, featured the now celebrated The Painter’s Room 1944. In the summer of 1946, he went to Paris before going on to Greece for several months. Since then he has lived and worked in London. Freud’s subjects are often the people in his life; friends, family, fellow painters, lovers, children. As he has said ‘The subject matter is autobiographical, it’s all to do with hope and memory and sensuality and involvement really’. Paintings in the exhibition will range from Girl with Roses 1948 to Garden, >
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d Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud Freud ud Freud Freud Freud Freud Freud reud
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01 Girl with a White Dog Lucian Freud | Oil on canvas - 1950
> Notting Hill Gate 1997, and highlights include the marvellous series of portraits of his mother, portraits of fellow painters John Minton, Michael Andrews and Frank Auerbach, and other major works including Large Interior W11 (after Watteau) 1981-3. Sharp pictures of his youth will contrast with the works of his maturity, paintings filled with life and liveliness, each in its way a celebration. ‘I paint people’, Freud has said, ‘not because of what they are like, not exactly in spite of what they are like, but how they happen to be’. >
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02 Three Studies of Lucian Freud Francis Bacon | Oil on canvas - 1969
Artigo | Lucian Freud
biography > British painter and draughtsman. Freud spent most of his career in Paddington, London, an inner-city area whose seediness is reflected in Freud’s often sombre and moody interiors and cityscapes. In the 1940s he was principally interested in drawing, especially the face. He experimented with Surrealism. He was also loosely associated with Neo-Romanticism. He established his own artistic identity, however, in meticulously executed realist works, imbued with a pervasive mood of alienation. Two important paintings of 1951 established the themes and preoccupations that dominated the rest of Freud’s career: Interior in Paddington (Liverpool, Walker A.G.) and Girl with a White Dog (London, Tate). Both paintings demonstrate an eagerness to establish a highly charged situation, in which the artist is free to explore formal and optical problems rather than expressive or interpretative ones. By the late 1950s brushmarks became spatial as he began to describe the face and body in terms of shape and structure, and often in female nudes the brushstrokes help to suggest shape. Throughout his career Freud’s palette remained distinctly muted. A close relationship with sitters was often important for Freud. His mother sat for an extensive series in the early 1970s after she was widowed, and his daughters Bella and Esther modelled nude, together and individually. Although the human form dominated his output, Freud also executed cityscapes, viewed from his studio window, and obsessively detailed nature studies. The 1980s and early 1990s were marked by increasingly ambitious compositions in terms of both scale and complexity.
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