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N.º 211 Janeiro 2010 Mensal 2,00 €
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Entrevista
Luísa Schmidt Há só uma Terra
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Sumário
Na capa Fotografia: José Frade
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CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR
ENTREVISTA
Há só uma Terra Militante destacada da causa ambiental, Luísa Schmidt confessa, em entrevista à TL, a sua frustração pelos resultados da cimeira de Copenhaga, “sobretudo pelo que revelou de distância entre governantes e governados nas democracias e entre países ricos e países pobres, com estes últimos a pagar a factura das alterações climáticas” e alerta para os riscos do planeta” que “não aguenta a vida humana que nele habita…”
16 EDITORIAL
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CONCURSO DE FOTOGRAFIA
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NOTÍCIAS
o 31 de Janeiro de 1891 No âmbito de uma rubrica mensal dedicada aos 100 anos da implantação da República, a TL evoca o 31 de Janeiro de 1891, a primeira grande tentativa de derrube da monarquia.
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PATRIMÓNIO
CULTURA
Museu do Pão
Concursos Inatel de Teatro, Música e Etnografia Memória
PAIXÕES
José Oliveira Barata fala do seu livro “Máscaras da Utopia”
44
CENTENÁRIO DA REPÚBLICA
37 PORTFÓLIO
Quénia: uma África indiana MEMÓRIA
Tony de Matos, cantor romântico
46 48 73
OLHO VIVO A CASA NA ÁRVORE O TEMPO E AS PALAVRAS Maria Alice Vila Fabião
74
OS CONTOS DO ZAMBUJAL
76
CRÓNICA Álvaro Belo Marques
Parques de Campismo e Termas Tabelas de preços 2010 ESPECIAL DE 6 PÁGINAS
51 66
41 BOA VIDA CLUBE TEMPO LIVRE
Passatempos, Novos Livros e Cartaz
CARNAVAL
Ovar e as suas folias Cidade de patrimónios mais ou menos austeros, mas também de festivas e luminosas expressões, o seu carnaval atira para as ruas milhares de foliões.
Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Guiomar Belo Marques, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, Joaquim Durão, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lourdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, José Lattas, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, João Aguiar, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Patrícia Strecht, Telef. 210027156; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 153.973 exemplares
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Editorial
V í t o r Ra m a l h o
“É pelo sonho que vamos...”
O
Planeta terra é o único que é conhecido para nele vivermos. Todos nós, humanos, sabemos disso mas comportamo-nos, sobretudo nas últimas décadas, como predadores desta realidade única – repito – que é a terra. Quando projectámos as Conferências “ Novas Respostas aos Novos Desafios” tivemos em atenção a necessidade de fazer pulsar as preocupações individuais dos nossos beneficiários com
as colectivas, com batimento ao ritmo do nosso tempo. De entre essas preocupações, priorizámos também as respeitantes ao desenvolvimento sustentável que têm a ver com a harmonização do progresso económico com a defesa do nosso meio ambiente. Como é sabido, as duas últimas palestras das Conferências Inatel, sempre seguidas de debate, e que ocorreram em Évora e Setúbal, foram proferidas por Luísa Schmidt e Mário Ruivo, perso-
nalidades que, pelo justo prestígio que têm, dispensam apresentações. Dessas Conferências – e da entrevista com Luísa Schmidt, nesta edição da Tempo Livre resultam quadros muito claros, mas graves, sobre as consequências das sistemáticas violações do meio ambiente em geral e do equilíbrio dos oceanos em particular. O facto de terem decorrido na mesma altura da Cimeira Mundial de Copenhaga sobre o ambiente, que tanto mobilizou a opinião pública mundial, reflecte o acerto do programa das nossas Conferências, cuja excelência tem sido amplamente sublinhada. Infelizmente, os resultados a que a Cimeira chegou defraudaram as expectativas nela colocadas. No que a Portugal respeita, é útil termos presente que somos o país com maior zona marítima exclusiva de toda a Europa e o segundo do mundo. Esta situação impõe-nos especiais responsabilidades na defesa do mar, tão nosso conhecido e que nos reforçou identidade, mas abre-nos também, e de novo, neste mundo complexo e em crise, perspectivas muito encorajadoras para o futuro. Saibamos, assim, estar à altura dos desafios que se nos impõem.
É
por isso que neste início do ano de 2010 não poderíamos deixar de chamar à colação o tema do meio ambiente e, com ele, o do mar. Num mundo tão marcado pela economia, que não é senão um instrumento de objectivos mais vastos, estamos com Sebastião da Gama quando nos ensinou que é “pelo sonho que vamos”. I
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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt
Piscinas Hoje, dia 17 de Novembro, verifico que a água da piscina onde pratico a aula de Correcção Postural encontra-se demasiado fria, o que prejudica a saúde dos utentes que procuram este género de tratamento. É favor ter em atenção que as pessoas que praticam esta modalidade necessitam de água sempre à mesma temperatura. Sugiro que se coloque um termómetro em sítio bem visível onde se possa controlar a temperatura. Alerto, ainda para o facto de os WC’s e duches carecerem de limpeza com maior frequência. Maria Júlia Duarte, Lisboa ND – A Fundação Inatel procura manter a temperatura da água das piscina próximo das temperaturas recomendáveis para a prática das diferentes modalidades ali praticadas, ou seja, mantendo a piscina pequena entre os
28ºC e os 30ºC, e a piscina grande entre os 26ªC e os 28ºC. As temperaturas são controladas por termómetro digital, existente em cada uma das piscinas e registadas, três vezes por dia, estando indicadas na parece central as temperaturas de cada uma. Quanto à limpeza, verificámos que a existente não era suficiente para manter o nível de qualidade que pretendemos, pelo que foi contratado um serviço mais adequado às necessidades específicas da piscina. Esperamos que essa mudança já seja visível para os beneficiários. No entanto, iremos estar particularmente atentos a esta situação nos próximos meses.
50 anos na INATEL José Almeida Mineiro, de Covilhã, e Constância M.ª Franco Silva Alfaro, de Linda-a-Velha, completaram, em Dezembro último, 50 anos de ligação à Fundação Inatel.
Coluna do Provedor O ANO QUE AGORA desponta exige, mais de
Kalidás Barreto provedor@inatel.pt
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nunca, uma análise consciente e responsável da sociedade em que vivemos, observa-me, em jeito de desabafo um “velho”, melhor dizendo, antigo associado da FNAT, do INATEL e da Fundação INATEL. Vejam a evolução dos tempos - dizia-me aquele associado! Ou reflectimos sobre a rapidez dos acontecimentos e estudamos propostas ou somos ultrapassados sem retorno. As respostas têm de ser rápidas, conscientes e responsáveis! Com efeito, desde a aplicação célere da justiça social que a Revolução Industrial demonstrou estar fora das suas preocupações, que pouco se avançou no mundo. Bem clamaram vários autores, crentes ou não, desde então, mas ainda se continua a semear a injustiça, estranhando-se as consequências. O mundo está muito preocupado com o aquecimento do planeta, mas parece que os “grandes chefes” não conseguem chegar a acor-
do para evitarem a catástrofe ecológica anunciada. Infelizmente também o mundo ainda não quer perceber o que já em 1836 se observava:” Há por aí muitos homens que têm demais e querem ter ainda mais; ainda há mais homens que não têm o bastante, não têm nada, e querem apropriar-se do que não lhes querem dar. Entre essas duas classes prepara-se uma luta, uma luta que ameaça ser terrível: por uma parte o poder do dinheiro; por outra, a força do desespero.” Sem justiça social, não haverá paz social; aqui ou em qualquer lado. Talvez seja esta a chave. Falar em crise não chega; é preciso reflectir-se sobre as causas e consensualmente encontrarem-se soluções... já! Não choremos pela crise mas intervenhamos civicamente com menos conversa e mais acção; para evitar as consequências iminentes É essa a mensagem que vos deixo neste Novo Ano!I
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Fotografia
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XIV Concurso “Tempo Livre”
Fotos premiadas
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Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os membros associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês.
Menções honrosas [ a ] Carlos Santos, A. Domingos de Rana Sócio n.º 368565 [ b ] Raquel Fernandes, Lisboa Sócio n.º 56624 [ c ] Fernando Pereira, Ermesinde Sócio n.º 426645
[a]
4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos beneficiários associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, direcção, telefone e número de associado da Inatel.
[ 1 ] Severino Moreira, Alfornelos Sócio n.º 147096
7. A Tempo Livre publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto.
[ 2 ] Ana das Neves, Lisboa Sócio n.º 445515
8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano
[ 3 ] Elisabete Teixeira, Amarante Sócio n.º 343708
9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites ou um fim de semana para duas pessoas num dos Centros de Férias do Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL».
[b]
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10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, com a validade de um ano, a publicar na revista Tempo Livre de Setembro de 2010, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.
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Plano de Actividades e Orçamento 2010 G O Plano de Actividades e Orçamento 2010 da Inatel foi aprovado pelos Conselho Fiscal, Conselho Consultivo e Conselho Geral em sucessivas reuniões realizadas, em Dezembro último, com o Conselho de Administração da Fundação. Depois da reunião e apreciação destes três órgãos, o Presidente da Fundação, Vítor Ramalho, acompanhado pelos
restantes membros do Conselho de Administração, foi recebido em audiência pela Ministra do Trabalho e da Solidariedade, a quem apresentou o mesmo documento para homologação, seguido de uma exposição detalhada das principais linhas de orientação da INATEL no contexto do novo modelo estatutário e da crise económico-financeira que afecta o país.
Agências de Braga e Viana do Castelo G Haendel de Oliveira, trabalhador e responsável durante mais de quatro décadas da Agência de Braga da Fundação Inatel, cessou funções, a partir de 1 de Janeiro corrente. Foi um dos quatro ex-delegados externos reconduzidos após a tomada de posse do actual Conselho de Administração, facto que o seu Presidente, Vítor Ramalho - conforme indicou à TL - não deixará de, em tempo oportuno, realçar. O Conselho de Administração irá, em breve, nomear os novos directores das agências de Braga e Viana do
Castelo. A mudança na capital do Alto Minho prende-se com o falecimento do seu até agora director, António José Martins Pereira, figura destacada da vida cultural e desportiva do distrito vianense, que orientou a delegação e agência Inatel desde 1994. O Director Regional do Norte da Inatel, Eng. Armindo Oliveira, tem tido a responsabilidade de acompanhar, com rigor, a actividade destas duas agências, apoiado nos trabalhos da auditoria interna da Fundação.
Guia de Itália 2010 GA
ENIT - Agência Nacional Italiana do Turismo, em Lisboa, lançou em Dezembro último o seu 1º Guia de Itália 2010, com informações pormenorizadas sobre as potencialidades do país berço do Império Romano e do Renascimento. Uma ferramenta indispensável para os operadores turísticos aprofundarem conhecimentos sobre o 'Bel Paese', como explicou, na apresentação aos jornalistas e agências, Almerinda Pereira, responsável pela ENIT.
Natal Sénior 2009
Centenas de seniores e participantes dos programas de Turismo Sénior estiveram presentes na festa de Natal Sénior 2009, que teve lugar no Casino do Estoril. 10
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Inatel Turismo/Preçário 2010 Quota Inatel G Na
edição de Dezembro último divulgámos nas páginas centrais da revista TL a tabela de preços (Preçário 2010) a praticar na rede hoteleira da Fundação INATEL durante o corrente ano. As novas tabelas actualizam os preços relativos ao alojamento e à restauração, acompanhando a realidade da restante hotelaria e adequando-se à abertura dos serviços a beneficiários não associados. Para o Vice-Presidente do
Conselho de Administração da Fundação INATEL, Carlos Mamede, "além de manterem valores socialmente justos e economicamente competitivos", as novas tabelas "permitirão uma melhor gestão da rede de Unidades Hoteleiras da Fundação, ampliando os direitos dos beneficiários associados que passam a usufruir de um desconto de 20% sobre os preços de balcão disponíveis para os beneficiários não associados".
G Encontra-se
a pagamento a quota de associado da Fundação INATEL para 2010, no valor de 20 euros. O pagamento pode ser efectuado na sede, nas Agências e Unidades Hoteleiras da INATEL, ou, após recepção do aviso de cobrança por Multibanco ou nos CTT Correios. Por outro lado, e de modo a facilitar o acesso de novos membros à Fundação, nomeadamente de jovens praticantes de diversas modalidades desportivas, a taxa de inscrição para novos associados foi, este ano, reduzida para os 25 euros (menos 10 euros que o valor anterior).
Agência de Leiria comemorou 65 anos
GA
G De
Agência de Leiria da Fundação INATEL comemorou no passado dia 5 de Dezembro o seu 65º Aniversário no Auditório da Biblioteca Municipal de Pombal, com a presença de dirigentes da Fundação, com convidados oficiais e com representantes de várias Instituições associadas à Agência que assistiram a um extenso e diversificado programa cultural de música, teatro e dança. Como forma de reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo dos anos nas diversas áreas, em estreita
colaboração com a Agência de Leiria, foram premiadas duas personalidades, uma na área da Cultura, Fernando Barqueiro do Grupo Etnográfico de Danças e Cantares da Nazaré e outra no Desporto, prof. Arlindo Araújo, da Escola de Judo de Pombal. Foram ainda distinguidos dois CCD`s, a Sociedade Musical Recreativa Obidense e o Grupo Desportivo e Recreativo de Parceiros e entregues Certificados a sete novos CCD's que se associaram à Inatel em 2009
forma a acompanhar a linha orientadora para as novas tecnologias, a Fundação INATEL integrou-se nas redes sociais no ciberespaço. Com a recente adesão ao Facebook, a mais conhecida e participada rede social, os associados e beneficiários da Fundação podem, a partir de agora, comentar e participar nas inúmeras acções propostas por uma veterana e prestigiada instituição de solidariedade social. JAN 2010 |
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Estudo propõe alargamento dos programas de Turismo e Saúde e Termalismo Sénior GA
"importância estratégica do Programa de Turismo Sénior na dinamização do turismo sénior em Portugal, tanto pelo elevado número de participantes que tem registado anualmente, desde a sua criação em 1995 até à actualidade, como pelo facto de envolver várias entidades responsáveis pela oferta turística dos destinos, criando sinergias, e
desenvolvendo um produto com elevadas características singulares" é assinalada nos estudos de impacto socioeconómico do programa levados a cabo pelo Departamento de Economia, Gestão e Engenharia industrial da Universidade de Aveiro. No extenso documento, apresentado em sessão pública no Centro Cultural de Belém perante dezenas de participantes no Turismo Sénior, é, ainda, sublinhado o "papel crucial que a Inatel desempenha como entidade coordenadora e responsável pela monitorização" de uma "iniciativa única em Portugal", contribuindo para o "bem-estar da população sénior" e a "dinamização económica dos destinos" ao permitir o "acesso de pessoas financeiramente mais carenciadas à actividade turística", com uma "boa relação qualidade/preço das viagens". A "elevada fidelização dos seniores" ao 12
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Programa e a sua "imagem positiva global junto dos utentes e das empresas participantes", bem como a "boa imagem em termos de segurança", constam ainda das conclusões do extenso relatório que abrangeu, igualmente, o programa de Saúde e Termalismo Sénior. Ao assinalar a perspectiva, em termos de oportunidade, do "aumento de procura potencial" do programa, o documento dá conta, entretanto, de alguns pontos fracos, designadamente o "baixo grau de penetração no mercado" e refere a necessidade de melhoria em termos de divulgação, de maior diversidade de actividades de animação e de correcção da excessiva "concentração em determinadas áreas/regiões". Relativamente ainda ao programa Saúde e Termalismo Sénior, os autores dos estudos, coordenados pelos Profs. Drs Celete de Aguiar Eusébio e Carlos Martins da Costa, propõem o aumento do número de viagens, sobretudo para as estâncias mais procuradas, e sugerem alternativas para que os seniores mais carenciados economicamente tenham preços mais reduzidos e avançam mesmo com a possibilidade de pagamento das viagens em prestações. Para tanto, propõe-se o aumento dos subsídios estatais, permitindo o aumento do período de duração do programa e assegurando a continuidade dos tratamentos termais aos utentes, sem esquecer a atribuição correcta aos seniores das termas mais adequadas para as suas patologias.
Associados distinguem Inatel Madeira GA
Agência Inatel Madeira foi a grande vencedora do "Troféu de Qualidade" atribuído pelos participantes dos programas de Turismo Sénior e entregue na "Gala Sénior 2008", realizada na Figueira da Foz. O galardão conquistado é o resultado de um inquérito realizado no decorrer dos referidos programas e que envolve as 23 agências existentes em todo o país Para João Carlos Gomes, responsável da agência madeirense, "a atribuição deste prémio só foi possível porque existe competência, lealdade, companheirismo e dedicação à defesa da Instituição INATEL, bem como todo o respeito e consideração para com os nossos associados e beneficiários".
"Mensagem" faz 75 anos Os 75 anos da publicação da 1ª edição da "Mensagem" de Fernando Pessoa - único livro de poemas em português que o poeta publicou em vida, escolhendo intencionalmente o 1º de Dezembro, dia da Restauração - foram assinalados pela Guimarães Editores que, com o apoio da Biblioteca Nacional, lançou uma edição da obra, clonada do original dactilografado pelo autor, com anotações manuscritas.
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Conferências Inatel
Mário Ruivo destaca importância do mar para o desenvolvimento de Portugal G A defesa de um desenvolvimento sustentável, “integrado em todos os sectores, com respeito pelos equilíbrios da natureza”, tendo em conta que a ciência e a tecnologia são “elementos fundamentais” na gestão do oceano, foi uma das tónicas da conferência que Mário Ruivo, cientista, atento às questões do ambiente e dos oceanos, proferiu em Setúbal. Na conferência, “Novas respostas para os oceanos”, promovida pela Inatel e pela Fundação Mário Soares, com uma ampla participação de cidadãos sadinos, o prestigiado cientista salientou a importância da “integração mundial do oceano” sob a “tutela de todos os povos”, manifestando, ainda, a sua preocupação pelos efeitos da sobrepesca e da poluição intensa dos oceanos - devido ao transporte de substâncias perigosas - no descontrolo ambiental que ameaça o planeta. Mário Ruivo aludiu, na circunstância, à previsível “subida do nível do mar”,
com efeitos profundos em Portugal e que afectará “zonas costeiras importantes”, defendendo a urgência de uma efectiva coordenação internacional que supere “ interesses sectoriais e corporativistas dos vários domínios”. A maior sensibilização e consciencialização criada entre nós,
na sequência da Expo 98, que teve os oceanos como tema central, foi também destacada por Mário Ruivo ao recordar a estratégia nacional para o mar, aprovada pelo Governo em 2007. Tal estratégia – sublinhou –, num país com um espaço costeiro privilegiado, “pode ser um importante factor de desenvolvimento”.
Natal....
Dezenas de filhos de trabalhadores da Fundação Inatel participaram na Festa de Natal, realizada no Circo Cardinali, no Parque das Nações
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24ª Maratona Seaside de Lisboa G A 24ª Maratona Seaside de Lisboa bateu o recorde de participantes, 1152 atletas, desta feita com partida e chegada do Parque Desportivo 1º de Maio da Inatel. Vasco Azevedo, do Boavista, vencedor da edição de 2007, foi o primeiro classificado, com o tempo de 2 h, 20 m e 42 s, seguido de Oleksiy Rybalchenko (Ucrânia - 2:22:16) e Mark Dalkins (Inglaterra - 2:30:25) Em femininos, triunfou a russa Yulia Mochalova (2:40:45), seguida da holandesa Catharina Kosse (3:26:40). Na Meia-Maratona o primeiro lugar coube a Sylvain Durand (França 1:13:43), seguido de Jean Greneche (França - 1:14:47) e do português Pedro Gomes (C. Olimpico Oeiras - 1:16.) Na sequência do acordo firmado com a Inatel (partida e chegada ao Parque 1º de Maio) o trajecto da prova foi alterado, no sentido de maior inovação, espectacularidade e presença de público, percorrendo-se outras artérias da capital. Mantendo a grelha de prémios para os atletas de elite, a prova teve ainda prémios de presença bem sugestivos para os maratonistas, como as famosas "t-shirts" técnicas, com o habitual saco do corredor a ter ainda uma capa impermeável. A Maratona de Lisboa - organização da Xistarca e da Associação de Atletismo de Lisboa, com o apoio da SEASIDE, Fundação INATEL e a Câmara de Lisboa - foi reconhecida, em 2008, pelo Secretário de Estado da Juventude e Desporto como prova de Interesse Público viu a sua base de sustentação alargada, com o apoio ainda do Metropolitano de Lisboa, que permitiu o transporte gratuito dos concorrentes, no dia da prova, dos diversos pontos do percurso para o local das chegadas e vice-versa.
A guienense Maria Buinen – que faz três viagens por dia e demora cinco horas para percorrer 40 quilómetros em busca de água – na partida da maratona, ao lado de Rosa Mota
Vítor Ramalho cumprimenta o vencedor masculino Vasco Azevedo, do Boavista
Moreira Marques entrega o troféu à vencedora feminina Yulia Mochalova 14
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Concursos Inatel de Teatro e Conto G João Santos Lopes, autor da obra "Ordem" foi o vencedor do Concurso Inatel/Teatro -Novos Textos. Mestre em Sociologia Urbana e do Território no ISCTE, João Santos Lopes, 49 anos, iniciou em 1983 a sua relação com o Teatro, entrando para o Grupo de Teatro Esteiros, de Alhandra. Autor multifacetado, com diversas peças de teatro publicadas, realizou actividades de investigação social no Centro de Estudos Territoriais do ISCTE, incluindo trabalho de docência em Sociologia e Sociologia Urbana - Curso de Urbanismo, na Universidade Lusófona - Lisboa. Actualmente encontra-se afastado da vida académica, dedicando-se à encenação, representação, escrita para teatro e outros trabalhos que lhe permitam continuar a alimentar a paixão pelo teatro. Vários dos seus textos foram editados e levados à cena ou alvo de leituras cénicas em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente Espanha, França, Alemanha, Polónia e Luxemburgo. Relativamente ao "Prémio Miguel Rovisco", em homenagem ao
dramaturgo português e que se destina aos autores de idade inferior a 25 anos, o mesmo Júri, constituído por António Torrado, Fernando Dacosta e Isabel Medina, decidiu, por unanimidade, não atribui-lo. No "Concurso do Conto", destinado a promover a escrita em língua portuguesa e a divulgação de novos valores literários, foi vencedor Carlos Cabral, com o original "Mote e Glosas / Apelo ao Leitor". O Júri do concurso, constituído por Ana Maria Magalhães, Alice Vieira e José Jorge Letria, decidiu, ainda, atribuir o 2º Prémio a "Os Inconvenientes do Cheque ao Portador", de Manuel José Maia Pereira. O vencedor, Carlos Cabral, estreou-se como actor no Teatro profissional em 1957, em "A promessa", de Bernardo Santareno, no Teatro Experimental do Porto e, durante 28 anos foi professor do Departamento de Teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema. É, também autor de várias peças e escreveu três manuais publicados na Colecção Teatro da Fundação INATEL.
Inatel apoia desporto amador G No âmbito do Regulamento de Subsídios aos CCD's aprovado pela Administração da Fundação INATEL, e após o período de candidaturas de acções e projectos dos CCD's, a Direcção do Departamento Desportivo aprovou, para o 1.º semestre de 2010, apoios financeiros a sete dezenas de CCD's dos distritos de Guarda, Coimbra, Aveiro, Leiria, Beja, Évora, Portalegre, Bragança, Porto, Braga, Vila Real, Viana do Castelo, Santarém, Lisboa e Funchal. Jogos Tradicionais e Populares, Atletismo, Voleibol, Pedestrianismo,
BTT, Ciclismo, Orientação, Natação, Hipismo, Canoagem e Ténis de Mesa, são a maioria das modalidades praticadas nos CCD´s que se candidataram e a quem foram atribuídos os referidos apoios. A lista poderá ser consultada em www.inatel.pt.
"Viva a Malta do Liceu" G O auditório Agência INATEL no Porto foi palco do lançamento do livro "Viva a Malta do Liceu!", que a Associação dos Antigos Alunos do Liceu Salvador Correia - Portugal (AAALSC-P) acaba de editar, assinalando os 90 anos da fundação, em Luanda, de uma escola por onde passaram mais de 20 mil estudantes. Organizado por um colectivo que contou com a coordenação de Miguel Anacoreta Correia, que fez a apresentação, este livro, que percorre todos os 56 anos de existência do liceu (1919-1975), alfobre de uma grande parte dos actuais quadros angolanos e também de uma vasta lista de personalidades de relevo na política, artes e ciências, em Portugal e no mundo Além de numeroso antigos alunos, a apresentação da obra, presidida pelo responsável da agência Inatel Porto, Emanuel Mota, contou com a presença de um antigo Reitor, Prof. Hortênsio Pina. Na ocasião, e no âmbito deste evento, foi inaugurada uma exposição de desenhos da artista portuense Helena Justino tendo como inspiração penteados femininos tradicionais angolanos.
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Centenário da República 1910 >2010
31 de Janeiro de 1891
A semente da vitória “O mais luminoso e viril movimento de emancipação que ainda sacudiu Portugal no último século”, assim definiu João Chagas o levantamento revolucionário 31 de Janeiro de 1891, no Porto, a primeira grande tentativa republicana de derrube da monarquia. AS DEZENAS de soldados de cavalaria, infantaria, caçadores e guarda-fiscal da capital nortenha que, a partir das duas horas dessa madrugada de há 119 anos, e ao som de A Portuguesa avançaram para o centro da cidade, acompanhados por numerosos populares, viram frustrados, no cimo da Rua de Santo António (dirigiam-se à Praça da Batalha, com o objectivo de tomar a estação de Correios e Telégrafos) o sonho da vitória. O tiroteio implacável da guarda municipal, instalada nas escadarias da igreja de Santo Ildefonso, travou a marcha revolucionária, causando 12 mortos e 40 feridos entre civis e militares. Os revoltosos seriam rápida e friamente julgados e condenados a bordo de navios de guerra, ao largo de Leixões. Para além de civis, foram julgados 505 militares. Seriam condenados a penas entre 18 meses e 15 anos de prisão mais de duzentas pessoas. Em memória do levantamento, a rua onde tombaram os mártires seria rebaptizada, duas 16
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décadas depois, para Rua de 31 de Janeiro. Horas antes do morticínio, Alves da Veiga, um dos líderes da revolta, tinha feito, da varanda da Câmara, a primeira e histórica proclamação da República. O fracasso aconteceu porque - lembrou, quase um século depois, José Augusto Seabra - “apesar da coragem dos oficiais, dos sargentos e dos soldados, ladeados pelo povo anónimo e conduzidos por chefes como o alferes Malheiro, o capitão Leitão ou o tenente Coelho”, os revoltosos em armas tinham a orientá-los dirigentes civis, activos e generosos, mas desconhecedores da boa estratégia militar. Numa revolução gorada, encontra-se sempre um sem número de explicações para a derrota. E – como conta Gaspar Martins Pereira em “Da Liga Patriótica do Norte ao 31 de Janeiro” - os próprios mentores da revolução o reconheceram. Sampaio Bruno admitia, meses depois, no “Manifesto dos Emigrados do 31 de Janeiro”, a imprevisibilidade de aspectos fortuitos, de cobardias e de traições. Não se apontava, mas provavelmente pensava-se, na indiscrição e falta de tacto político de Santos Cardoso, director do jornal A Justiça Portuguesa, encarregado da ligação aos militares. Não se apontava, mas certamente pensava-se, nas posições do Directório Republicano e na falta de solidariedade activa da Maçonaria. Não se apontava, mas provavelmente reconhecia-se com amargura, os erros tácticos da operação militar. A precipitação resultou essencialmente, como se apurou mais tarde, do anúncio das transferências de muitos dos militares implicados. Alves da Veiga e
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Basílio Teles eram, aliás, contrários à antecipação da revolta e tentaram, sem êxito, adiá-la para. Mais determinados e impacientes, os sargentos tinham, no entanto, decidido avançar de imediato. Por outro lado, as divergências no seio do Partido Republicano, aliadas as questões pessoais, como as existentes entre Homem Cristo a Santos Cardoso, diminuíram a base de apoio e probabilidades de êxito do levantamento militar. E, todavia, muitas e prestigiadas figuras do movimento republicano de todo o país confiavam na vitória portuense. Cerca de dois meses antes do 31 de Janeiro, Teófilo Braga escrevia a Santos Cardoso e, invocando a façanha dos dirigentes portuenses na Revolução Liberal de 1820, mostrava-se convicto de que a revolução iria triunfar no Porto. “Se estivermos à espera do levantamento de Lisboa – dizia o futuro primeiro chefe de um governo republicano - nunca ele virá, porque esta gente aqui é timorata e cheia de conveniências, tem medo da polícia, da guarda municipal (…) além disso, os dirigentes são elementos velhos que tudo empatam. A revolução do Porto é que pode acordar esta gente…”.
quarenta anos de paz profunda que uma sorte raríssima nos concedeu e que só soubemos malbaratar na intriga, na vaidade, no gozo material, em vez de os aproveitar no trabalho, na reforma das instituições e no progresso das ideias.” Para o grande poeta – que após o fracasso do 31 de Janeiro regressa aos Açores, suicidando-se em Setembro de 1891 – o maior inimigo não era o inglês: “Somos nós mesmos, e só um falso patriotismo, falso e criminosamente vaidoso, pode afirmar o contrário. Declamar contra a Inglaterra é fácil: emendar os defeitos da nossa vida nacional
Uma República “onde caibam todos…” Semente e batalha inicial de um longo combate até à vitória de Outubro de 1910, o movimento cívico e político nortenho, liderado por destacados republicanos como Sampaio Bruno, Basílio Teles e João Chagas, cresceu rapidamente por força da grave crise económica e financeira e do profundo descontentamento popular perante as cedências do Governo e do Rei ao ultimato de 1890 do governo britânico, que reclamava todo o território africano entre Angola e Moçambique. O ambiente de exaltação revolucionária e patriótica no Porto foi exemplarmente traduzido pela Liga Patriótica do Norte, fundada a 26 de Janeiro de 1890, logo a seguir ao ultimato. Presidida – a convite do monárquico Luís de Magalhães – pelo prestigiado poeta e socialista Antero de Quental, então radicado em Vila do Conde, a LPN reunia monárquicos e republicanos, irmanados no repúdio ao ultraje inglês e na ambição de recuperação de um país mergulhado em grave crise política, económica e social. «Portugal – proclama Antero – expia com a amargura deste momento de humilhação e ansiedade de quarenta anos de egoísmo, de imprevidência e de relaxamento dos costumes políticos,
será mais difícil (…) Portugal, ou se reformará, politica, intelectual e moralmente, ou deixará de existir. Mas a reforma, para ser efectiva e fecunda, deve partir de dentro, do mais fundo do nosso ser colectivo: deve ser antes de tudo uma reforma dos sentimentos e dos costumes. Enganam-se os que julgam garantir o futuro e assegurar a nacionalidade com meios exteriores e materiais, com armamentos e alarde de forra militar.” Mais directo, Guerra Junqueiro, outro grande poeta e militante da causa revolucionária, lança o desafio: “A revolução impõe-se. Hoje, quem diz pátria, diz república. Não uma república doutrinaria, estupidamente jacobina, mas uma república larga, franca, nacional, onde caibam todos.” Dezanove anos depois, a República fez-se. Cem anos passaram. Será já uma República “larga”, “franca” e de todos os portugueses? I EA
Combatentes civis do 31 de Janeiro, condenados ou absolvidos. João Chagas é o terceiro da fila da frente a contar da esquerda. Homem Cristo está na última fila, de chapéu (Foto retirada do catálogo Manual do Cidadão Aurélio da Paz dos Reis, Centro Português de Fotografia, 1998)
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Luísa Schmidt “O planeta não aguenta a vida humana que nele habita…” outorada em Sociologia, professora e investigadora no ICS (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa), Luísa Schmidt é uma figura central da causa ambiental. Em 2003 foi-lhe atribuído o "Prémio Internacional de Comunicação Ambiental" pela sua dedicação exemplar à defesa do ambiente, combate que iniciou há duas décadas em artigos semanais no jornal "Expresso". Autora de livros sobre o mesmo tema - "País (In)sustentável - ambiente e qualidade de vida em Portugal" (2007), "Autarquias e Desenvolvimento Sustentável" (2005) e "Ambiente no Ecrã" (2004), que inspirou a série "Portugal - Um Retrato Ambiental" exibida pela RTP em 2005 - Luísa Schmidt confessa à "TL" a sua frustração pelos resultados da cimeira de Copenhaga, sobretudo pelo que revelou de distância entre governantes e governados nas democracias e entre países ricos e países pobres com estes últimos a pagar a factura das alterações climáticas.
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Nada de novo, afinal, na cimeira do reino da Dinamarca… Sinceramente, nada de novo…, usando a expressão do grande poeta O'Neill. O desenrolar da cimeira mostrou, é certo, uma maior consciência pública dos riscos que afectam o planeta e aumentou as expectativas da opinião pública, mas redundou numa frustração por não traçar um caminho claro e produtivo em relação a um acordo alternativo a Quioto. Diminuir a dependência da energia fóssil e, portanto, a emissão de gases de efeito de estufa é uma necessidade vital para a sobrevivência de um planeta que alberga quase sete mil milhões de pessoas. Os países do sul, nomeadamente os africanos não se mostraram muito disponíveis… Os países em desenvolvimento não queriam que o Protocolo de Quioto acabasse por não estarem abrangidos e, por isso, não terem qualquer obrigação. Mas de facto nesses países as emissões são A cimeira muito baixas. Já os países emergenmostrou maior tes, como a China e a Índia, que são consciência dos grandes emissores não podem perigos que afectam o manter o estatuto de impunidade. planeta, mas a Há, também, o caso do Brasil… fraqueza dos É verdade, e durante a Cimeira, resultados aumentou Lula da Silva teve um papel proa frustração… activo, mas no final absteve-se… Os países em vias de desenvolvimento lá fizeram a sua pressão, sem grandes consequências. A União Europeia manteve a liderança no processo mas também conseguiu pouco. Mas a questãochave é que os Estados Unidos da América e a China entrem no acordo. O Presidente Obama pareceu muito empenhado, ou foram apenas palavras? Obama esperava-se que estivesse mais empenhado, mas anda demasiado espartilhado dentro do seu próprio país - parecia que estava a discursar para os conservadores do Congresso… Claro que anda com outras preocupações prioritárias, como é o caso do pacote saúde. Relembre-se que Clinton, que perdeu a batalha da saúde, nunca mais conseguiu fazer aprovar nada a sério; nem sequer assinar Quioto, mesmo com Al Gore como vice-presidente. Obama parece estar a vencer na questão da saúde; mas tem ainda a crise bancária e financeira - onde procura pôr na ordem os
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"gatos gordos" da banca - logo, as opções climáticas ficaram secundarizadas na sua agenda. Já o pacote das energias renováveis e toda a modificação da rede eléctrica está a resultar e a criar emprego. As forças hostis à mudança são poderosas e conseguem aliciar cientistas para defenderem as suas posições… É um facto. Há um relatório da Royal Society of London sobre isso que Al Gore cita no seu último livro ("A nossa escolha"). Durante anos, a petrolífera ExxonMobil financiou vários grupos de investigação para desinformarem o público acerca das alterações climáticas e suas causas antrópicas. A Exxon foi entretanto pressionada e terá descontinuado essas contribuições… Mas não deixa de ser curioso que justamente nas vésperas da cimeira de Copenhaga tenha ocorrido o chamado climategate. Há, evidentemente, cientistas sérios que atribuem aos ciclos solares a componente mais forte relacionada com as alterações climáticas, o que é verdade. Trata-se de um fenómeno natural, mas que também tem causas humanas. Seja como for, as suas consequências, essas sim, serão drásticas sobretudo para os seres humanos. Al Gore, considera que as alterações na Terra têm uma escala bíblica…Em vez do dilúvio corremos o risco de uma seca universal? Há aqui uma polémica entre os que dramatizam muito. Veja-se o cientista James Lovelock, que no seu livro mais recente, "A Vingança de Gaia", afirma que a situação é tão grave que tudo o que se fizer é pouco. É a posição extrema das pessoas que defendem medidas drásticas imediatas com a ciência a marcar o caminho da política e da sociedade. Al Gore corporiza um pouco isso. Está há muitos anos neste combate, e é um político muito eficaz em termos comunicacionais. Há, por outro lado, uma linha mais moderada que defende que mesmo sem um acordo vinculativo entre os países, o caminho que se começou a trilhar - das energias renováveis, da eficiência energética, da menor dependência das energias fósseis - é sempre indispensável. Tudo o que se fizer nesse sentido é útil. Como poderá resistir o planeta com tantos problemas ambientais e um crescimento demográfico brutal? A questão prende-se com os modelos de desenvolvimento. A maioria dos sete mil milhões de pesso-
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as que hoje vivem na Terra sonham legitimamente com o nosso confortável e consumista modelo de vida ocidental; todavia é impossível estender esse modelo a todos: seriam precisos três planetas! Não existem recursos suficientes para que todos ascendam ao nosso modo de vida, independentemente das alterações climáticas. Já vivemos actualmente uma crise dos recursos - de água, dos solos, da produção alimentar, etc. - porque os chineses e os indianos estão, de facto, nesta corrida, e têm direito a isso. Mas como o planeta não vai aguentar sete mil milhões de "ocidentalizados", teremos todos que mudar o nosso modelo de consumo. Há uma frase de Ghandi, "Live simply, so others may simply live" ("Vive com simplicidade para que outros simplesmente possam viver") que ilustra bem a necessidade de nos empenharmos em salvar este imenso condomínio terrestre que está em risco. É que as questões ambientais criam também uma dependência do norte em relação ao sul; o tempo em que o norte dominou e explorou o sul para o seu conforto e desenvolvimento está a chegar ao fim. A interdependência é enorme - todos precisamos, por exemplo, das florestas amazónicas, por serem o 'pulmão' do mundo mas também pelo potencial biológico e científico que encerram. Lula, considerado a figura do ano para o EL Pais, teve um papel interessante na cimeira… Lula tem tido um protagonismo muito interessante, eu diria mesmo que ao nível mundial é o segundo líder mais carismático, a seguir a Obama. Ele tentou, em Copenhaga, fazer consensos. Lidera o Grupo dos 77 países emergentes e em desenvolvimento e evitou, aliás, o abandono antecipado dos países africanos. Lula tem defendido uma coisa muito interessante que é a implantação à escala mundial de um sistema de monitorização sobre os gases com efeito de estufa idêntico ao que existe na Europa para haver comparabilidade nos dados das emissões entre todos os países. E o Brasil tem um papel importantíssimo porque é dos tais países que alberga a Amazónia. Trata-se de um bem comum que todos temos de pagar. Embora o Brasil seja um país emergente, com uma economia forte, que até se ressentiu menos nesta crise, a comunidade mundial tem que contribuir monetariamente para se preservar essa região que é vital para o planeta. É uma questão óbvia que já deveria estar incorporada. A outro nível, deveria passar-se o mesmo em
Portugal: deveria haver apoios e contributos específicos para as populações que vivem em áreas protegidas. Portugal está, segundo parece, bem posicionado nas energias renováveis. O país está, de facto, bem posicionado na produção de energias renováveis. Somos o segundo país onde a percentagem nessa área é maior. Isso é importante, mas falta um maior investimento na investigação científica, por exemplo na energia das marés. Temos condições excepcionais para isso. Também na energia solar, que é uma área dinâmica onde todos os dias aparecem novidades. Em contrapartida, no que respeita às emissões não estamos muito bem: se as temos diminuído nos últimos tempos, infelizmente tal deve-se sobretudo à crise económica, e não a uma maior consciência e aposta, por exemplo, nos transportes eficientes. Haverá que investir mais nas infra-estruturas ferroviáA existência no rias, pois, nas duas grandes áreas Ministério Público de metropolitanas do país, as pessoas um corpo de têm uma vida infernal nas desloespecialistas em cações casa-trabalho. ambiente, idêntico ao Recordo uma frase sua: "do existente em ponto de vista ambiental, o desEspanha, é ordenamento é o pai de todos os essencial. nossos males…" Sim, deixámos alastrar duas áreas metropolitanas em mancha de óleo, sem qualquer planeamento, criaram-se situações extremas na zona da Grande de Lisboa, onde nem sequer os autocarros de transporte chegam. Não houve uma articulação bem pensada na rede de transportes. Veja-se, também, a linha férrea do Norte: partindo de Lisboa chegamos ao Porto em pouco mais de duas horas, mas levamos outro tanto para chegar a Viana. Isto não faz sentido. O metro do Porto foi uma obra importante; esse é o tipo de infra-estruturas de que necessitamos. Nas suas intervenções tem assinalado, também, os bons exemplos de intervenções a nível local. Nas autarquias encontramos o melhor e o pior da governação em Portugal. Temos modelos bem interessantes e inovadores, mas encontramos igualmente o pior ao nível do desordenamento do território, da irracionalidade na aplicação dos recursos e até da corrupção. Existe actualmente uma maior preocupação dos autarcas com a sua
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imagem e a abertura aos munícipes, e ainda bem que isso acontece porque o poder local é crucial para o desenvolvimento do país. Sei que dá muita importância ao papel das Juntas de Freguesia… Estão mais próximas das pessoas e têm um papel social importantíssimo no nosso país. E se não tomam mais iniciativas ao nível do desenvolvimento sustentado e do ambiente é porque não têm as competências e os meios para o fazer. Mas apesar de algum menosprezo em termos de opinião pública quanto à função e cargo, os presidentes de junta têm uma acção extremamente importante em termos da revitalização local na construção da identidade e nos processos de coesão social. Mas que devia ser valorizada… Claro, mas também era importante que renovassem a sua imagem, mobilizando para o seu trabalho as pessoas mais dinâmicas das comunidades, incluindo os mais jovens, na perspectiva do desenPrefiro ser uma volvimento e das questões ambiencidadã a tempo tais, não se confinando apenas ao inteiro (…) é modelo assistencial a que muitas importante que haver vezes estão reduzidos e apontando pessoas que se para a necessidade de um crescimantenham mento económico sustentável, sem independentes dos franjas sociais esquecidas. poderes, económicos .Sei que pretende voltar aos lugaou políticos. res que visitou no seu programa televisivo para avaliar o estado actual dessas realidades… Eu gostaria. "Portugal - um retrato ambiental" vai ser editado em dvd, o que é bom. Apesar de datados, esses programas, realizados em 2005, têm um valor documental e histórico que não perde actualidade. Neles se faz a história e o diagnóstico dos problemas ambientais de 1950 até agora: das cheias aos incêndios; da biodiversidade à destruição paisagística; da poluição do ar à das águas... Quando liquidamos um rio estamos a liquidar a economia. Sobretudo nos anos 80, com o afluxo dos fundos europeus, investimos em áreas importantes, como as estradas ou as ETAR (Estações de Tratamento de Águas Residuais), onde se gastou imenso dinheiro e muitas não funcionam. O exemplo do Ave é emblemático. As indústrias em geral não se ligaram às estações de tratamento e, quando lá fui, em 2004, o rio estava perdido. Aquelas espumas, o rio a mudar de
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cor…E ao perdermos um rio hipotecamos as suas imensas potencialidades para a alimentação, para o lazer e turismo, para as actividades desportivas, para a agricultura, para o simples bemestar das populações locais... Espanha criou um serviço especial, interdisciplinar, ao nível do Ministério Público, para combater os crimes ambientais e a viciação dos processos urbanísticos… Não seria útil, também, entre nós? A existência no Ministério Público de um corpo de especialistas, idêntico ao existente em Espanha, é essencial. Não se trata apenas de juristas e isso é que é inovador. Em Portugal recorre-se a peritos de outras áreas disciplinares e especialidades, mas o nosso MP só tem juristas. Espanha criou esse corpo especial para os crimes ambientais e urbanísticos estes últimos nem sequer estão ainda tipificados entre nós. Aliás, uma das prioridades do pacote de combate à corrupção proposto em 2006 por João Cravinho no Parlamento, era o crime urbanístico. Trata-se de uma figura jurídica fácil de aprovar, mas o mais importante seria a criação de um corpo de juristas, arquitectos, engenheiros e especialistas em planeamento para esta área. Há muitos magistrados no MP que defendem esta ideia. Com reflexos também na reserva agrícola nacional… Os países precisam cada vez mais de manter os seus bons solos agrícolas porque há que garantir recursos alimentares. A maneira como se ocupou a reserva agrícola nacional é um sintoma gravíssimo do desordenamento do território e da perda de sentido estratégico. O uso do solo para a agricultura, que faz parte do mínimo vital dos países e das grandes áreas metropolitanas é, hoje, um tema fundamental à escala das Nações Unidas e da própria União Europeia. Como avalia o papel dos media relativamente às questões ambientais A partir da década de noventa, e sobretudo a partir dos anos 2000, os telejornais inscreveram nas respectivas agendas as notícias de ambiente e isso foi um passo importante, mas o tratamento ainda é muito superficial. Utiliza-se mais a vox populi do que os especialistas para explicarem a complexidade dos problemas e das soluções. Era preciso muito mais, tanto no serviço público, como nos canais privados que utilizam o nosso espaço hertziano e, por isso, deviam ter mais pre-
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ocupação com os problemas que afectam o interesse público. É certo que a SIC Notícias, a própria SIC (com o programa "Nós Por Cá") e o novo canal da tvi 24, já fazem algum trabalho nesta matéria, mas não chega e devia haver mais especialização jornalística na área. Os próprios jornalistas não estarão, em geral, menos sensibilizados para a causa ambiental? Curiosamente, as novas gerações de jornalistas têm maior cultura ambiental do que as gerações mais velhas, até porque já tiveram essa matéria nos programas escolares. Hoje, cada vez mais, as crianças dão lições aos pais na área ambiental; vemos isso nos inquéritos que aplicamos. Os mais jovens sabem mais de ambiente do que os mais velhos. E isso verifica-se também entre jornalistas. O problema está na lógica das redacções onde, entre S. Bento e Belém e algumas catástrofes, sobra pouco espaço para o resto, incluindo as matérias ambientais... Nos estudos e inquéritos que fazemos, verifica-se que nesta aspecto a opinião pública vai à frente dos media: as pessoas estão muito preocupadas e essa preocupação está longe de se reflectir nos media. As audiências comandam… É claro que programas transmitidos às duas da manhã têm sempre menor audiência. Se os programas sobre temas ambientais e científicos passassem em horário nobre, teriam, naturalmente, maior audiência. Consideram-na uma maratonista da causa ambiental…O que a fez "correr" nesta área? Inicialmente, tratava das questões da defesa do consumidor, quando em Portugal, nos anos 80, ocorria o boom consumista e as pessoas não estavam preparadas para tal. Havia a DECO e começara o então Instituto do Consumidor, mas com reduzida influência, face a uma publicidade e a um mercado de consumo que estavam a crescer de forma exponencial. A defesa do consumidor era uma formiga ao lado do elefante do marketing. Na viragem para os anos 90 comecei a escrever, alternadamente, na minha coluna ("Qualidade Devida", no Expresso) sobre consumo e ambiente. No fundo, as questões ambientais emergiram em Portugal como reverso da sociedade de consumo e da economia de mercado onde entrámos aceleradamente. Veja-se, por exemplo, o caso dos resíduos sólidos urbanos que aumentaram expo-
nencialmente nos anos 80 porque as pessoas começaram a consumir mais. Foi a explosão dos centros comerciais, do crescimento da indústria e do tráfego rodoviário…em 1974 havia 700 mil automóveis, hoje são sete milhões! Mudámos em 10 anos o que outros países ocidentais mudaram em 30… As consequências foram dramáticas para o ambiente, porque tudo se fez sem regras nem cuidados e foi por isso que me interessei pelo assunto. Aquelas lixeiras dantescas infiltrando-se na terra e deslizando para os rios, afectando a saúde pública… Foi uma época particularmente grave em matéria ambiental. Com o protagonismo que justamente obteve pelo seu longo e intenso envolvimento na causa ambiental nunca sentiu vontade de intervir politicamente? Nunca a desafiaram para esse campo? Já fui desafiada algumas vezes, mas sempre resisti. Prefiro ser uma cidadã a tempo inteiro. Todos somos necessários - empresários, políticos, jornalistas, associativos… - mas é importante haver pessoas que se mantenham mais independentes dos poderes, económicos ou políticos. I Eugénio Alves (texto) José Frade (fotos) JAN 2010 |
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Museu do Pão Lusitano e universal Presente em quase todas as culturas, há séculos que o pão faz parte da dieta de inúmeras comunidades humanas. O Museu do Pão, em Seia, conta a versão portuguesa dessa história maravilhosa de transformação dos cereais no mais quotidiano dos alimentos. 24
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RARAS VEZES se recorda os diferentes ciclos por que passa o processo de fabrico do pão, desde a fase de produção dos cereais. Esses ciclos, assim como as dimensões da vida social, económica e cultural que podem ser evocadas em torno da temática do pão, constituem a substância central do Museu do Pão, uma instituição de iniciativa privada (sem apoios oficiais) cujo objectivo principal é a preservação e exibição de património relacionado com a temática do pão português, “nas suas várias vertentes: etnográficas, políticas, religiosas”,
procurando-se valorizar as “suas tradições, história e simbólica artística”. Entre o lançamento do projecto e a inauguração do museu decorreu um longo trabalho de pesquisa e reunião do acervo, que durou sete anos. A maioria dos objectos foi identificada e adquirida em alfarrabistas, antiquários e leilões. Para a instalação do museu procedeu-se à reconstrução e ampliação de um antigo edifício localizado na Quinta Fonte do Marrão, na saída de Seia para o Sabugueiro. O complexo museológico, com várias salas e valências, ocupa um espaço de JAN 2010 |
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mais de 3.500 m2 de área coberta. Só uma parcela do acervo está acessível ao público nas quatro salas expositivas. De acordo com Sérgio Carvalho, Director do Museu do Pão, ”parte substancial do espólio está nas reservas”. O alargamento do espólio continua, seguindo, genericamente, “a lógica expositiva do museu: aquisição de peças portuguesas; aquisição de peças que se relacionem com as vertentes expositivas (ciclo do pão, documentária, peças de arte inspiradas nos motivos do pão”. A história que se pretende contar é eminentemente portuguesa, mas tem reflexos universais, dada a presença deste alimento em tantas culturas e comunidades humanas. O museu abriu as portas em Setembro de 2002 e é um exemplo de sucesso – local e nacional -, contando hoje com uma média de 300 visitantes por dia. Pouco mais de sete anos após a inauguração, entre visitantes individuais e de colectividades escolares, o museu vai a caminho de registar 800 mil visitas.
O Pão e a História: um olhar retrospectivo Os espaços complementares criados permitem uma agradável organização da visita, podendo intervalar-se os percursos com tempos de descanso e de imobilidade – como, por exemplo, no 26
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Café/Biblioteca, de onde se desfruta uma soberba vista para as faldas da Serra da Estrela. Nesse espaço está disponível uma biblioteca centrada na temática do museu e outras mais ou menos
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aparentadas. Há, ainda, uma mercearia antiga, um Restaurante e... uma padaria, obviamente. As quatro salas do museu estão organizadas por sub-temáticas. A primeira – designada por “Ciclo do Pão” – mostra através de dezena e meia de painéis ilustrados (e um conjunto de alfaias) uma reconstituição do ciclo tradicional do pão português. Aí podemos rever os diferentes momentos do processo e as tarefas necessárias para fazer chegar o pão à mesa: a labuta da terra, a faina na eira e na moagem, o trabalho com a farinha, a lida do forno e, finalmente, a distribuição. Num dos cantos da sala foi reconstituída uma padaria antiga e nela são conservados três moinhos em permanente funcionamento. A sala seguinte, sob o mote “O Pão Político, Social e Religioso”, evoca a história do pão em Portugal, desde a Restauração da Independência (1640) até 1974. É um resumo da história do pão português ao longo de quatro regimes políticos: o Antigo Regime/Absolutismo (1640 a 1834), o Liberalismo (1834 a 1910), a Primeira República (1910 a 1926) e o Estado Novo (1926 a 1974). O acervo deste espaço é preenchido maioritariamente com recortes e exemplares de jornais e revistas, e alguns cartazes, relatórios, postais e livros, material impresso em que podemos seguir
a discussão púbica de questões relacionadas com a produção de farinha e de pão. Um dos documentos mais antigos é um registo de uma padaria de 1776. É também nesta sala que se aborda a identidade sagrada do pão para o Cristianismo e o Judaísmo, através da exibição de objectos associados ao fabrico do pão nessas duas religiões. Na terceira sala - “A Arte do Pão” - podemos observar um conjunto de objectos em que a imagética e a temática do pão estão presentes: azulejaria, vidros, arte sacra, madeiras, postais antigos, filatelia, diplomas, calendários, iconografia, cerâmica, etc. A última sala está reservada ao público infanto-juvenil, nela se reconstituindo o ciclo do pão através de uma encenação que utiliza bonecos mecânicos. No final da visita, o público infantil é convidado para uma experiência de amassar pão, podendo cada criança levar para casa os “objectos” panificados - depois de passarem, devidamente, pelo forno.
Um museu itinerante Nem só de pão se vive – o velho aforismo pretende chamar a atenção para outras dimensões da vida humana, mas nesse enunciado se afirma, obviamente, a centralidade desse elemento tão JAN 2010 |
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antigo e tão universal. Da mesma forma, também não só da sua dimensão expositiva vive este museu. São muitas e variadas as actividades paralelas, algumas delas fora de portas. Como confirma Sérgio Carvalho, esta vertente das actividades pedagógicas e culturais é uma dimensão em que o museu pretende continuar a apostar fortemente, a par de uma já projectada renovação do espaço expositivo do museu, nomeadamente das salas”. Dentro do espaço da Quinta Fonte do Marrão, por exemplo, e para além das exposições temporárias (entre as já realizadas: pintura, fotografia, escultuCONTACTOS ra em massa de pão, postais antigos, caricatura, sacas Museu do Pão, Quinta Fonte do tradicionais de pão), a aniMarrão, Seia. mação tem passado pela Telefone: 238310760. organização de tertúlias Iternet: www.museudopao.com com regularidade mensal Email: info@museudopao.pt (no último sábado de cada mês). Nessas datas, é desafiada uma personalidade do meio cultural português para uma conversa aberta ao público do museu. Entre os nomes mais conhecidos que já passaram pelo Bar/biblioteca do Museu do Pão, pode citar-se os dos realizadores de cinema Fonseca e Costa e Lauro António, os escritores 28
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Baptista-Bastos, Fernando Dacosta, Mário Zambujal, Alice Vieira, João Aguiar e Inês Pedrosa, gente do teatro como Simone de Oliveira, Carmen Dolores, Ruy de Carvalho, Raul Solnado e Francisco Nicholson, e músicos como Carlos Alberto Moniz, Sérgio Godinho, Jorge Palma, Paulo de Carvalho e Rão Kyao. Também o maestro António Vitorino de Almeida e o crítico de jazz José Duarte foram convidados a cavaquear no simpático espaço do Bar/Biblioteca. No domínio pedagógico há uma forte preocupação do museu em responder ao interesse e curiosidade do público infanto-juvenil; algumas das actividades têm um carácter regular, como as que se desenrolam na Sala Pedagógica, enquanto outras são programadas para datas especiais, como o Dia da Criança ou o Dia dos Museus. No campo das publicações assinala-se o apoio à edição de “As Palavras do Pão”, uma antologia contendo cerca de seis centenas de provérbios portugueses relacionados com o pão. Ainda nesta perspectiva de expandir a acção do museu para fora dos limites da sua sede, foi criado um serviço de exposições itinerantes, de forma a facilitar a outras populações e geografias o acesso ao seu acervo. I Humberto Lopes (texto e fotos)
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José Oliveira Barata “O que o berço não dá, Salamanca não ensina...” Com um sentido de humor corrosivo, elegeu a gargalhada como uma saudável forma de resistência e de combate ao cinzentismo. Catedrático reformado da Universidade de Coimbra, apaixonou-se pelo teatro ao descobrir Gil Vicente quando frequentava o Liceu de Castelo Branco, sua cidade de origem. Fiel a si mesmo, continua a perseguir o ideal que lhe conduziu a vida e a manter a honradez orgulhosamente herdada do pai, um homem que recorda como justo e lhe ensinou a jamais se vergar à mentira ou a pactuar com a traição.
ENTRE A TORRE DO TOMBO e o Museu do Teatro vão passando alguns dos mais saborosos dias deste albicastrense – “e não albicastrado”, como faz questão de salientar –, adoptante convicto da ‘Cidade dos Doutores’ desde que, aos 16 anos, a ela rumou para fazer-se à vida do Saber, e também, a páginas tantas, adiar a partida para a guerra. O teatro, sua paixão multifacetada e particular forma de viver, encaminhou-lhe os passos para um modo colectivo de fantasiar e resistir. A máscara possibilitou-lhe a faculdade de dizer coisas, oferecendo-lhe esse modo peculiar e ancestral de reinventar estilizada e satiricamente a vida, de transmutar a realidade verbalizando-a na estética, uma espécie de megafone pantominado da sugestão subversiva. A ele se tem dedicado este Professor Doutor, que sem hipócrita falsa modéstia, mas antes recorrendo a uma sinceridade convicta, recusa o provincianismo desse modo de ser tratado. Porque o Saber lhe é uma pertença mais profunda do que a nomeação de um título académico. E o teatro se lhe constituiu, na sua experiência iniciática de intervir, o modo mais actuante possível, para posteriormente consubstanciar um camarim de estudo e, 30
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por fim, um plateau de análise tão metafórica quanto objectiva da História.
“Meio em Espanha, meio no Alentejo…” Nascido em Castelo Branco, uma cidade “meio em Espanha e meio no Alentejo”, José cresce numa família que lhe proporciona “uma infância feliz, dentro da limitação de recursos”. Concluído o liceu, parte para Coimbra, predestinando-se a si mesmo seguir Letras, “o que era pouco comum, por ser coisa de raparigas”. Apesar do esforço económico que tal representa para a sua família, começa por instalar-se num quarto alugado, passa por diversas Repúblicas e acaba numa casa partilhada com Barros Moura, entre outros, iniciando uma intensa actividade associativa. “A gente passava pelas Repúblicas, que eram uma espécie de poisos, por terem esse aspecto convivial. Comia numa casa de Coimbra, a Adélia, a famosa Adélia, onde, para não estarmos sozinhos, comíamos uns 49. Aí conhecemos muitas pessoas…”. E no meio deste novo modo de vida, havia o teatro e a consciência da realidade portuguesa. Coisas que, apesar da febril vida coimbrã as ir cimentando, tiveram os seus alicerces,
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mesmo que então mais ou menos inconscientes, nas origens albicastrenses: o pai e, entre importantes outros que tão-pouco esquece, um professor particularmente excepcional que acabaria por lhe traçar o futuro. “Em geral, no Liceu de Castelo Branco, os professores tinham estado em liceus de Lisboa, Setúbal, etc., e, na sequência de alguma intervenção política, eram, digamos, relegados para um degredo que consistia em serem colocados em liceus do interior. Portanto, em Castelo Branco os professores falavam de uma forma não tradicional. O meu professor de Filosofia, Moniz Rebelo, ajudou-me a abrir os olhos para uma consciência cívica. Já tinha sido meu professor de História nos 3º, 4º e 5º Anos (7º, 8º e 9º actuais) e emprestava-nos livros de autores como Bertrand Russell… Não havia distância, embora sem perda de respeito, íamos a casa dele, enfim… Às vezes as aulas eram dadas no intervalo de um jogo de futebol e chegávamos afogueados, pelo que levei várias vezes com o ponteiro”, recorda, com saborosa ironia. Antes ainda do início da guerra em África, em 1961, José Barata vive duas situações inesquecí-
veis e que debaterá mais tarde nas aulas do Prof. Moniz Ribeiro: a partida para a Índia de vários contingentes de tropas, nos seus fatos de caqui “com calções algo exóticos”, e a campanha de Humberto Delgado. Quando o General Sem Medo foi a Castelo Branco, o pai Barata, que como todos os professores do Ensino Primário do Estado era funcionário público, deu instruções à família para que não se misturasse na manifestação, pois poderia haver pancadaria. “Eu nunca tinha visto tanta gente junta e só sabia que era contra o Salazar. Foi muito curioso reparar nas pessoas da cidade que estavam ali, como o senhor dos correios, o explicador de Matemática, o homem do café e, lá ao fundo, muito discreto, o meu pai, que estava mas não podia ser muito mais do que isso. Era um homem de grande integridade e tenho muitas saudades dele. No dia das eleições, o meu pai foi votar logo às sete da manhã para que ninguém o visse e chegou a casa sem dizer em quem tinha votado”.
Coimbra, Gulbenkian, Itália… Quando, em 1965, chega a Coimbra, leva consigo um conselho que Moniz Ribeiro lhe dá antes de JAN 2010 |
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partir: “Quando chegares, inscreve-te no TEUC” – Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra. Assim fez. Mas como depois das inscrições havia que fazer uns testes e estes apenas se realizariam em Janeiro, foi-se entretendo com uma outra paixão, o futebol. No entanto, em Março do ano seguinte, estreava-se com O Avarento, de Molière. “Tenho a ideia de ter feito toda a minha vida no TEUC, que era o teatro, a vida associativa, a conspiração, às vezes com alguma inconsciência. Por outro lado, havia as leituras, o Orlando Carvalho, o Joaquim Namorado, etc. Sentávamo-nos com eles à mesa e era tudo muito intenso, além de haver, também, uma grande solidariedade. Diziam: ‘Rapaz, não tens dinheiro para as propinas? Toma lá!’ Também frequentávamos os cineclubes, cujas sessões nos provocavam sempre grandes discussões que giravam inevitavelmente em torno da grande questão da forma e do conteúdo e que posteriormente nos conduziam à leitura dos Cahiers du Cinéma, de livros, revistas, da Jeune Afrique, etc. Depois, fazíamos críticas na Vértice e não se escrevia uma crítica sem se ir saber exactamente quem era o autor, falava-se muito de mensagem e acabávamos por ter um forte sentido crítico. Lembro-me de uma pateada enorme ao Avilez… hoje já não se fazem pateadas… Mas, no final, o Avilez veio agradecer, sozinho. Até que, com a Crise Académica de 69, “foi tudo proibido. Eu era do Conselho Fiscal da direcção da Associação Académica de Coimbra e vice-presidente do TEUC, de forma que fui castigado: mandaram-me para a tropa”. E com a tropa vinha o espectro da mobilização para África, um destino que o sucesso escolar universitário ia evitando, mas a que a intervenção política parecia condenar o jovem José Barata. Perante essa possibilidade, durante uma ida à sua cidade, decide ter uma conversa que ainda hoje recorda com gratidão. “Estávamos no jardim de Castelo Branco e disse ao meu pai que se fosse mobilizado me ia embora do País. Muito calmamente o meu pai disse: ‘A vida é tua. Se achas que é isso que deves fazer, faz! E não te preocupes. Temos 12 contos (cerca de 60€) que a tua avó deixou e com os quais podes con32
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tar’.” Não foram necessários. Esteve em Mafra, Vendas Novas, mas nunca chegou a necessitar de fugir antes de chegar ao Cais da Rocha de Conde d’Óbidos porque a guia de marcha para embarcar rumo à guerra não chegou. Tornou-se bolseiro da Gulbenkian, acabou o curso e partiu legalmente para Itália, com uma outra bolsa do governo italiano. Entre Roma e Veneza conheceu Tito Morais, Agostinho Neto e muitos outros intelectuais e resistentes, acabando por ser o primeiro Leitor português na Universidade de Veneza, onde permaneceu dois anos. Por lá fez a sua tese de licenciatura que mais tarde veio defender a Portugal. Em Agosto de 1973, regressa, depois de ter recebido um convite da Universidade. “Quando cheguei a Vilar Formoso mandaram-me ir apresentar-me no quartel de Vendas Novas.” Algo de inesperado, principalmente porque se mantinha em vigor a lei que determinava que, até aos 30 anos de idade, os rapazes que possuíssem vida universitária não teriam de ir para a tropa. Mas lá foi, guedelhudo e com calças de ganga à boca-de-sino, tal como partira de Itália. E por lá permaneceu até Dezembro, aguardando que a Universidade cumprisse, o que realmente aconteceu, iniciando a sua actividade lectiva na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra até há um ano, quando, apesar de ali poder permanecer até aos 70 anos, como Catedrático, decidiu reformar-se. Para trás deixou um doutoramento sobre António José da Silva, o Judeu, que lhe demorou 12 anos a elaborar e concluiu em 1981, a criação de uma licenciatura em História do Teatro que ajudou a concretizar, um trabalho intenso e absorvente de académico polivalente e inovador. “Agora, há muita malta que fica a bater no mesmo durante anos a fio”, comenta. Pela sua parte, entendeu o percurso académico como uma dialéctica permanente, conjugando a Universidade com o Teatro, ao qual se dedicou toda a vida. “Procurei sempre conciliar a minha actividade académica com a Companhia Bonifrates, que durou e que fui acompanhando ao longo de vinte anos. Nunca rabisquei nada, nem uma linha, que não tivesse a ver com o teatro”. Até durante os dois anos, entre 1995 e
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1997, em que esteve em Macau, onde foi director do Instituto de Estudos Portugueses da Universidade local, se afastou um milímetro. Um tempo de que não guarda grandes saudades, apesar da oportunidade que lhe proporcionou visitar Pequim, “uma cidade invisível, para mim perturbadora. Quem já foi à Praça Tiananmen não pode esquecer”.
“Máscaras da Utopia…” José Oliveira Barata não tem tempos mortos. Em Maio deste ano aumentou a sua já extensa bibliografia ao publicar o livro “Máscaras da Utopia, História do Teatro Universitário em Portugal 1938/74”, uma obra de fôlego, onde concilia a análise social e histórica desta vertente do teatro nacional, com o pragmatismo de um levantamento exaustivo sobre o assunto. Com a chancela da Fundação Calouste Gulbenkian, ao longo das suas quase 400 páginas fala-nos de muito mais do que de teatro. Ou talvez não. Através dela é-nos mais fácil entender o que foi o País ao longo de quatro décadas, o papel desempenhado pelo teatro universitário desde o seu início, na renovação e vanguardismo estético, na actividade associativa, na recriação da própria alma lusa. Entretanto, lá continua na sua caminhada regular entre Coimbra e as bibliotecas lisboetas, enfronhando-se no seu labor de prosseguir com a História do Teatro e do Espectáculo em Portugal, que terá de concluir em cinco anos, segundo um novo contrato que tem com a Gulbenkian. Não se suponha que é a nostalgia dos seus tempos de estudante e da empolgante actividade associativa em pleno salazarismo que o estimula. Barata move-se pela paixão da História, do registo da memória útil, do não esquecimento. Mas também pela compreensão despretensiosa do quanto a máscara, a persona, é uma fantasia que levamos à cena todos os dias de modo próprio, em livre arbítrio. “Não sinto nostalgia, mas também não me penitencio, porque tenho feito tudo com uma enorme generosidade. Nunca planeei a minha vida a régua e esquadro, nunca fui calculista, prejudicando, até, a minha imagem, como agora se diz. Tive sempre, também, uma coisa que é absolutamente clara até ao fim da minha vida: acredito até onde posso acreditar. Quando alguma
situação me causa sofrimento, como não gosto do conflito, prefiro afastar-me. Como tive condições para o poder fazer, não sou capaz de pactuar. Comecei por não me rever no modelo universitário, na Universidade que eu pensei. Vi o abandono da luta de muitos de nós em defesa da gestão democrática. Talvez tivesse sido melhor evitar o regresso a fórmulas de direcção única e, sobretudo, àquilo que determinou e que foi a apressada adesão a Bolonha, que tem as suas vantagens, mas deveria ter havido uma moratória que permitisse uma transição pensada e não um simples aderir e entrar nesse comboio, sobretudo depois de se saber as vicissitudes por que passa a Europa, nomeadamente a Itália. Há uma frase medieval de que gosto muito: "o que o berço não dá, Salamanca não ensina." I Guiomar Belo Marques (texto) José Frade (fotos) JAN 2010 |
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Concursos Inatel de Teatro, Música e Etnografia
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Novembro foi o mês escolhido para as diversas finais dos concursos nacionais do Teatro, Música e Etnografia, actividades culturais amadoras tradicionalmente apoiadas pela Fundação INATEL.
maior visibilidade ao seu trabalho e apoiando os cruzamentos com a actividade profissional, quer a nível das experiências, como da formação.” O Teatro da Trindade, recorde-se, é uma peça importante dessa estratégia de valorização das actividades amadoras e por isso todos os vencedores dos concursos terão a oportunidade de se apresentarem na prestigiada e secular sala de espectáculos da Fundação.
CONCURSOS que – sublinha Cristina Baptista,
Dedicação amadora
administradora da Fundação com o pelouro da Cultura – “ são o fim da linha dos nossos apoios, porque há todo um trabalho prévio, nos planos de apoio, na formação e nas visitas técnicas.” “Este ano – assinala a mesma responsável – os concursos são também o princípio de uma nova forma de trabalhar com os grupos, dando uma
Beja, Figueira da Foz e Guimarães, foram palcos das finais dos Concursos de Teatro, de Música e Etnografia, respectivamente, com grupos oriundos de todo o país e portadores de ricas e diversificadas experiências nessas milenárias e populares formas de arte. Todos os que se dedicam às actividades culturais amadoras têm em comum - regis-
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te-se – um duro trabalho em condições precárias, serões adentro, com horas roubadas à família e ao descanso, em espaços de ensaio exíguos e muitas vezes partilhados com outros grupos. À conversa com vários membros dos grupos participantes, as respostas apontam, invariavelmente, para o prazer, a alegria do trabalho, a aprendizagem em grupo e a forma como a dedicação à cultura e à arte os tornou melhores pessoas. Vieram com uma grande vontade de aprender e de conhecer os trabalhos dos outros grupos e viveram com grande humildade e sentido de camaradagem os momentos sempre mais dramáticos que antecedem o anúncio dos vencedores. Tudo começou com o envio pelos CCDs concorrentes, de uma candidatura para as Agências Distritais da Fundação INATEL, que escolheram os projectos que iriam representar a Região nas diversas eliminatórias regionais, cujo finalista foi depois apurado para a final nacional. Os prémios aliciantes e um verdadeiro estímulo para o trabalho dos grupos não se limitam à componente financeira (1.500 euros cada pré-
a as pessoas
mio). A Fundação INATEL apoiará também uma digressão dos vários vencedores, até cinco apresentações, por salas de outros CCDs. No teatro o grupo vencedor irá também montar o texto vencedor do concurso “Novos Textos 09” da Fundação INATEL, sendo dirigido por um encenador profissional. Os diferentes vencedores do Concurso de Música irão poder realizar a gravação de um DVD e apresentar o seu espectáculo no Teatro da Trindade, com o apoio de um maestro (música) ou encenador/coreógrafo (etnografia).
Na página da esquerda, a actuação do Grupo de Bandolins de Esmoriz. Nesta página, em baixo, Maria Salete, das Cantadeiras do Vale do Neiva
A coragem de mudar No Teatro, a vitória coube ao Grupo de Teatro O Celeiro, de Pereira (Montemor-o-Velho), com a peça “A Viagem”, texto, encenação e interpretação de Helena Freitas, Marta Filipe e Natália João Cardoso. A peça surgiu de uma ideia da Helena Freitas, que pensou em “três mulheres idosas que queriam desesperadamente ir para algum sitio.”. Depois através das experiências, improvisações e brincadeiras entre as três, descobriram que queriam que a ideia da velhice fosse apenas um ponto de partida para abordarem a forma como cada um de nós, independentemente da idade, começa a perder a coragem para mudar a sua vida. Foram também finalistas o Grupo de Teatro Casca de Nós (Ermesinde), Grupo de Teatro de Amadores de Vila Viçosa, Pedra Mó – Grupo de Teatro integrado na Casa do Povo dos Altares (Terceira, Açores), TAL| Associação de Teatro Amador do Livramento, Madeira e Grupo de Animação e Teatro Espelho Mágico de Setúbal.
O exemplo amador Para Virgílio Castelo, membro do Júri (integrado ainda por Cucha Carvalheiro e a encenadora Maria João Miguel), o facto de a grande maioria dos espectáculos ter autoria portuguesa prendese “provavelmente, com a proximidade e a atitude, que é mais genuína no seu amor à arte, o que faz com que não haja preconceitos intelectuais na escolha dos textos”. “Estes textos – acrescenta - revelam, na sua maioria, uma tentativa de aproximação aos públicos a quem são dirigidos. E nisso acho que o universo dos autores portugueses, sejam eles contemporâneos, já desaparecidos ou clássicos, têm mais eco no imaginário colectivo. E isso é uma JAN 2010 |
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Banda Filarmónica de Gouviães e, à direita, Grupo Coral “Os Rurais” de Beja
lição que todos os profissionais deveriam aprender libertando-se dos preconceitos que têm contra a dramaturgia portuguesa.”
Coros, Bandas e Orquestras Os vencedores da final do Concurso Nacional de Música, realizada no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, foram o Grupo Coral “Os Rurais” de Beja (Vertente Coros), Banda Filarmónica de Gouviães, Viseu (Vertente Bandas) e o Grupo de Bandolins de Esmoriz, Aveiro (Vertente Orquestras). Também presentes na final, o Orfeão da Madalena, Porto, Grupo de Cordofones do Clube PT, Grupo da Casa do Povo de S. Roque do Faial “Tunacedros” da Madeira, OLVS Big Band, Porto e Sociedade Filarmónica Unânime Praiense, Açores. Nos júris o barítono Mário Redondo e as maestrinas Teresita Marques e Clara Coelho (vertente Coros), e os músicos Jorge Salgueiro, Daniel Schvetz e Vasco Pierce Azevedo(vertente Orquestra) .
Vale do Neiva e o retrato da “tristeza do povo…” Os muitos espectadores que acorreram ao Centro Cultural Vila Flor em Guimarães para a final do Concurso Nacional de Etnografia tiveram o privilégio pouco habitual de ver em palco a recriação da matança do porco na Beira Alta, a procissão das Saloias do Espírito Santo na Madeira, a vida das vielas e terreiros lisboetas, as andanças das Janeiras em Arraiolos e as diversas tradições musicais e religiosas das terras do Vale do Neiva. O júri, composto por José Pedro Caiado, Madalena Braz Teixeira e Maria Cardeira da Silva, não deixou de assinalar a importância desta iniciativa para o esforço de preservação das tradições e costumes populares que aqueles grupos, com o apoio da Fundação INATEL, vêm realizando. 36
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Finalistas o Rancho Folclórico de Santo Amaro de Azurara, Grupo de Folclore de Monteverde, Grupo Etnográfico do Clube Millenium BCP “Mil Raízes”, Rancho Etnográfico “Os Camponeses” de Arraiolos e a Associação de Cantadeiras do Vale do Neiva, que pelo segundo ano consecutivo ficou em primeiro lugar. No final falámos com Maria Salete Gonçalves, desde 2002 uma das principais dinamizadoras das Cantadeiras do Vale do Neiva. Pegou no grupo após a morte do marido, Manuel Delfim, que por sua vez o tinha criado vinte anos antes, dando sequência ao trabalho de recolha que realizara desde os tempos de solteiro, calcorreando toda a zona do Neiva, desde a nascente até à foz. Tinha mais de 200 canções gravadas em cassetes. Ensaiam na sua cozinha, é também nela que fazem o pão e os enchidos que levam quando actuam nos feirões, na Praça da República em Viana do Castelo. Hoje são doze mulheres e seis homens, de idades cada vez mais avançadas e por isso Salete espera que o prémio lhes dê alguma formação em canto, “para ver se não estragamos as vozes.”. Até porque só sabem cantar de ouvido. E nas canções mais complexas, com “voz de fora, requinta e falsete, é a Fernanda, que tem uma boa voz e ouvido, que leva a cassete para casa e grava as várias vozes, separadamente, para que nós as possamos cantar”. Ao cingirem-se às tradições religiosas - e foi o Júri que o referiu – trouxeram para palco um ar pesado e soturno. Salete reconhece esta limitação do movimento e justifica-a com a grande influência que a Igreja tinha nas festas “ Os padres proibiam as danças. É que ao dançar as pessoas tocavam-se, agarravam-se umas às outras e isso era pecado. Nós retratamos a tristeza do povo, o seu carpir. Vale do Neiva era uma terra triste, fruto do vale onde estamos metidos, encostados à montanha.” I Joaquim Paulo Nogueira
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Quénia Uma África indiana Esqueçam os safaris e as neves eternas do Kilimanjaro e deixem-se inebriar pelo cheiro intenso a caril e a incenso. Atentem aos riquexós e às diferentes raças e credos que partilham uma península que já foi ilha. Mombaça, antigo entreposto comercial disputado por árabes, indianos e europeus, é hoje importante centro cosmopolita. Aqui é como se não fosse África, antes uma espécie de Índia habitada por muitos negros. O Fort Jesus, jóia do património local, eterniza a passagem e permanência dos portugueses que fizeram sua a cidade de Gavana, antepassada da Mombaça actual. Se rumarmos ao interior do país, através das extensas savanas, o intenso tráfego registado na principal estrada do país lembra-nos que o Quénia é porta de acesso ao mundo para pequenos estados como o Burundi ou o Ruanda. Rostos visíveis de uma realidade bem africana, que a presença dos babuínos e dos esguios masaai (dentro dos seus panos avermelhados e das inseparáveis sandálias) vem acentuar. Longe do mar, a África retoma o seu legítimo lugar. I Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)
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Ovar e suas folias É uma cidade de patrimónios mais ou menos austeros, mas também de festivas e luminosas expressões. Como a azulejaria, conservada em templos e casas civis, e as tradições de Carnaval, que atiram para as ruas milhares de foliões.
DIZIA RAUL BRANDÃO que o homem da Ria de Aveiro era quase anfíbio, na sua labuta dividida entre o mar e a terra. De Ovar, que está ali à beira de onde o braço norte da ria começa, quase se pode dizer o mesmo. O mar do Furadouro já morou à beira da cidade dos azulejos. Foi há muitos séculos, quase no tempo em que os animais falavam, mas a memória marítima não se perdeu, como não se perdeu a proximidade do campo. Durante muito tempo a faina do moliço e a pesca na ria ocuparam os habitantes de Ovar, tal como a agricultura e a pecuária são actividades que vão sobrevivendo em algumas das freguesias da região. Ovar terá nascido por volta do século XV – ainda que o topónimo seja conhecido desde 1026 -, por fusão de várias freguesias que se juntaram a Cabanões, paróquia e julgado medieval com comprovada existência já na Idade Média. A cidade cresceu, entretanto, procurando outros futuros, e JAN 2010 |
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novas dimensões se vieram integrar na sua identidade. Urbe de serviços, Ovar navega com bandeira de pertenças múltiplas, anfíbias. O rico património de arte sacra barroca e de azulejaria, que as igrejas e as ruas exibem, continua a ser um dos principais ex-libris da cidade – e arredores, como atesta a Igreja Matriz de Válega, cuja fachada está integralmente revestida de azulejaria inspirada em temas bíblicos. O outro ex-libris, que é uma espécie de contraponto a essas dimensões mais solenes e materiais, é a festa do Carnaval, animada funçanata entrudesca cuja memória recua, pelo menos, meio século, e que tem vindo a redobrar a popularidade e o renome.
Um mar de azulejos
Em cima, exemplo do antigo “Carnaval Sujo”. Em baixo exemplo de azulejaria numa fachada e na Igreja Matriz
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A azulejaria é, evidentemente, um dos motes essenciais de uma visita a Ovar e à região. Mesmo que a cidade não mantenha, em termos arquitectónicos, qualquer notável harmonia, dela se pode dizer, sem grande exagero, que conserva um museu vivo de azulejaria. A arte está patente em inúmeros espaços, desde edifícios particulares a igrejas e capelas, passando pela estação ferroviária e por alguns fontenários. Não é difícil traçar um itinerário pela cidade, à descoberta de painéis ou revestimentos de belos azulejos. Comecemos, por exemplo, na Igreja Matriz, cuja fachada está guarnecida de azulejos com motivos pincelados em duas cores, azul e branco. No interior do templo podemos admirar um conjunto de painéis com cenas da Paixão, o impressivo altar barroco em talha dourada e, ainda, um presépio assinado por Teixeira Lopes. Entre as Capelas dos Passos, relicários de arte ecultórica barroca que se repartem pelo centro urbano, merecem especial atenção as do Calvário e a da Misericórdia. Esta última acolhe uma austera imagem em pedra da Senhora do Leite. Os temas religiosos rivalizam, na arte da azulejaria, com os quadros que reconstituem cenas da vida popular de antanho, as actividades piscatórias na ria ou as varinas na sua labuta. Um roteiro de descoberta de outras expressões desta arte pode prosseguir ao longo dos quarteirões mais centrais da cidade, numa área que inclui as ruas Alexandre Herculano, Cândido dos Reis e José Falcão. Um particular interesse pela azulejaria encontrará ampla recompensa numa visita ao
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Museu de Ovar: aí se conserva uma série de preciosos painéis salvos da predação do progresso e de um certo desenvolvimento urbano que fecha os olhos às coisas do património. Ainda no museu, vale a pena apreciar uma vasta colecção de bonecas oriundas de todo o mundo, assim como testemunhos de uma antiga e singular tradição local. Era costume na terra, em tempos que já lá vão, as raparigas casadoiras oferecerem aos respectivos namorados lenços bordados com fios do seu próprio cabelo.
Carnaval: dois mil e tantos foliões nas ruas Houve uma época em que os Entrudos não eram festividades organizadas, nomeadas como acontecimento turístico, com direito a cartaz, inscrições, programa oficial, etc. E também assim foi em Ovar, antes das festas terem sido “domesticadas”. Por outras palavras, a história das festas carnavalescas ovarenses regista um momento em que foram instituídas escrupulosas regras, um momento em que se abriu caminho à sua institucionalização no plano da atracção turística. Foi em 1952 que o chamado “Carnaval Sujo” enfrentou um processo de decidida disciplinação. Mandava a praxe, nesses idos, que a cidade fosse alvo de severas investidas “bélicas” tramadas pelos borguistas da época, que atacavam munidos do clássico armamento neste tipo de contenda: ovos, farinha, carvão, serradura e outras substâncias com igual capacidade ofensiva. Estas espontâneas “barbaridades” – que ainda têm, curiosamente, lugar de honra em muitas localidades do país vizinho - acabaram substituídas por ordeiros desfiles e oficiais competições entre grupos, ou bairros, que procuram exibir nas ruas os carros alegóricos e as máscaras mais deslumbrantes e originais. Foi logo na primeira fase de institucionalização, em que a nova “tradição” ovarense começou a conquistar prestígio fora dos limites da, então, vila, que uma “delegação” de foliões se deslocou ao Porto para participar no grande “Corso dos Fenianos”, em desfile - que terá sido triunfal - pela Avenida dos Aliados.
O Carnaval de Ovar está hoje integrado no conjunto de inicativas de carácter turístico da cidade, e os “excessos” estão devidamente regulamentados. É uma festa que conta com grande participação, quer de forasteiros, que acodem aos milhares, quer da gente ovarense, que ao longo do ano se envolve na preparação dos trajes, das máscaras e dos carros alegóricos. O empenho na folia é tão forte que em Janeiro, logo a seguir ao Dia de Reis, já surgem mascarados e folgazões em brincadeiras na praça pública. Quando chega a quadra, entram em palco – ou saem à rua – mais de dois mil farristas e umas tantas escolas de samba, que a influência brasileira também dita a sua lei – nos (abreviados) trajes e nas (enérgicas) danças e coreografias. Numa das praças da cidade, o Carnaval é lembrado todo o ano através de duas esculturas galhofeiras plantadas num jardim. Ovar tem até uma instituição peculiar, cujo principal desígnio é cuidar das coisas do Entrudo: a Fundação do Carnaval de Ovar. Ainda antes de findar o ano, já a instituição já lavrou e tornou público o programa (ver caixa). Mal 2010 esteja à porta, andarão por aí os primeiros sinais da galhofa. I Humberto Lopes (texto e fotos)
Programa do Carnaval 2010 A Abertura do Carnaval está marcada oficialmente para o dia 9 de Janeiro. Até às datas grandes da celebração ainda haverá várias manifestações: o Desfile da Chegada do Rei (31 de Janeiro), o Carnaval Sénior (4 de Fevereiro) e o Carnaval das Crianças (7 de Fevereiro). Seguir-se-á a Grande Noite de Reis (12) e, no dia seguinte, o Desfile das Escolas de Samba. No domingo, 14 de Fevereiro, terá lugar o Desfile do Corso Carnavalesco, que voltará às ruas na terça-feira, já com as classificações decididas. Pelo meio, na segunda-feira, Ovar assistirá a uma Noite Mágica. GA
Inatel Turismo tem prevista na sua programação uma viagem,
de 13 a 16 de Fevereiro, ao Carnaval de Ovar e Cabanas de Viriato. Mais informações nas agências distritais, na “Tempo Livre” de Outubro de 2009 e no site www.inatel.pt.
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Memória
Tony de Matos, cantor romântico Foi Natália Correia quem crismou Tony de Matos de «cantor romântico». A escritora frequentava o Luso e uma noite, ao ouvi-lo, resolveu chamar-lhe «cantor romântico» e assim ficou para o resto da vida. ROMÂNTICO na vida e nas cantigas, costumava dizer o cantor que amou muitas mulheres e cantou-as como só ele sabia. Tony de Matos ou Toni sem y, morreu em Lisboa no mês dos Santos Populares (8-6-1989). Tinha 64 anos e, como ele cantou, deixou um «lugar vazio» entre o público que o admirava e sabia de cor as suas canções.
Viveu intensamente as suas paixões Homem de muitas paixões confessava tê-las vivido intensamente e não estar arrependido. Casou três vezes mas amou muitas mais. Tinha um filho com o seu nome, de uma bailarina francesa, e quando morreu vivia com Lídia Ribeiro, também cançonetista. Tony de Matos, ou melhor António Maria Matos, nasceu no Porto, no popular Bairro das Fontainhas, a 28 de Outubro de 1924. Filho único, os pais eram actores na Companhia Rafael de Oliveira, grupo de teatro itinerante que andava de terra em terra, e nunca quiseram que o filho seguisse a sua carreira. Reservavam para o pequeno Tony uma vida melhor. Mas , se os pais punham, o filho dispunha e, avesso aos estudos, o rapaz cedo percebeu que o seu destino era o palco. Aos 20 anos decidiu prestar provas na exEmissora Nacional e ficou aprovado. Tony queria muito ser outro Luís Piçarra ou, melhor, outro Frank Sinatra. Os anos cinquenta foram para o cantor anos de muito trabalho. Emissora Nacional, café Luso, Parque Mayer, viagem ao Brasil, a Angola e de novo ao Brasil onde se fixou e abriu o restaurante típico «O Fado». Ali permaneceu seis anos gravando, entre outros êxitos, «Lado a Lado», «Só nós dois» e «Vendaval». Conheceu muitos dos grandes artistas brasileiros dessa 44
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época e abriu portas a muitos portugueses que aportavam ao Rio de Janeiro. É por essa altura que o cantor, ressentido com o que se dizia dele, afirmou: «pelo meu restaurante passou muita gente interessante, políticos, artistas, intelectuais, pessoas que não me achavam piroso e, pelo contrário, gostavam muito de me ouvir.».
Cinema e teatro de revista Quando Tony de Matos regressa a Lisboa, já passado o restaurante no Rio, segue-se uma época de grande trabalho para o cantor. Canta por todo o País, faz televisão e cinema, é atracção do teatro de revista. Ganha muito dinheiro e gasta-o com a mesma rapidez. Era o tempo de programas que arregimentavam multidões: «Comboio das seis e meia», «Apa», «Companheiros da Alegria». Em todos eles, Tony de Matos foi primeira figura. No cinema, o cantor não teve os favores da crítica mas teve casas cheias pelo seu povo. «Rapazes de Táxis», «O Destino marca a hora» ou «Derrapagem» não eram de facto obras - primas mas constam do tempo que Tony de Matos considerou como o apogeu da sua carreira.
Travessia no deserto Com o 25 de Abril veio a grande travessia no deserto do cantor. Os tempos não estavam para cantores românticos e Tony, como disse um seu amigo, passou algum tempo no banco dos suplentes. E a propósito de banco dos suplentes diga-se que Tony de Matos era adepto furioso do Belenenses, clube que, segundo ele, teria conquistado um campeonato que nem o Benfica nem o Porto ou o Sporting alguma vez tinham vencido, o da segunda Divisão... Em 1985, Vitorino convida-o para um concerto no Coliseu. O público de um não era, com certeza o mesmo do outro, mas o Coliseu vibrou tanto com os cantares do alentejano como com as canções românticas de Tony de Matos. Lado a Lado. Seguiu-se um disco em que onze compositores escreveram propositadamente canções para Tony. Paulo de Carvalho, Rui Veloso, Luís Represas, Fernando Tordo, Carlos Mendes ou
Vitorino entre outros, compuseram para o cantor romântico. Tony de Matos tinha razões para sorrir. Sorriria ainda por mais um ano.
Com a cantora brasileira Maysa Matarazo. Na página da esquerda, numa das suas últimas actuações
Quando o coração parou Tinha 64 anos e 50 de carreira quando o coração parou. Algum tempo antes, Tony tinha dito a um jornalista: «faço o que quero, vivo como gosto e serei sempre assim. Quanto ao dinheiro é algo que não me encanta, acho que só serve para gastar.» E gastou-o bem. Romântico, apaixonado, deixou viúvos muitos corações, como disse e escreveu um grande amigo do cantor. Ficou um «lugar vazio».I Maria João Duarte JAN 2010 |
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Olho Vivo
Café não resolve a bebedeira Aquela velha teoria de que o melhor é enfiar umas belas chávenas de café bem forte pela boca abaixo do amigo embriagado para ele se ter nas pernas, como se de um antídoto se tratasse, afinal é um contra-senso. Um estudo realizado por investigadores da Universidade de Temple, em Filadélfia, revela que o efeito do café apenas ludibria o álcool, já que apesar de proporcionar uma maior lucidez, não anula a toxicidade. Além disso, afirma Thomas Gould, um dos investigadores que publicaram o seu estudo na Behavioral Neuroscience, “o uso combinado da cafeína e do álcool só pode, de facto, conduzir a decisões lamentáveis com consequências desastrosas”, por impedir o reconhecimento por parte do alcoolizado do seu estado, levando-a a considerar-se apto para actividades que deve evitar, como conduzir, por exemplo.
Cães e gatos Trata-se de uma muito antiga discussão desenvolvida entre aqueles que defendem as virtudes, habilidades e lealdades dos animais domésticos favoritos. É quase semelhante à clubite futebolística. Uns preferem gatos, outros gostam de cães. As razões aventadas são diversas e prendem-se com a docilidade de uns e/ou a independência de outros, companheirismos, etc., sendo certo que a grande dúvida reside se as personalidades revelam, ou não, superiores inteligências. Pois bem, um estudo publicado pela revista New Scientist esclarece, à laia de tira-teimas, que são os canitos que ganham esta competição…mas por um singelo ponto de diferença. Avaliadas onze categorias, entre as quais o cérebro, a domesticação, resolução de problemas, vocalização, utilidade, cumplicidade, os cães ganharam por seis a cinco. Mas alegrem-se os adeptos dos felinos: estes possuem 300 milhões de neurónios contra uns singelos 160 milhões dos cães, apesar de tudo mais domesticáveis. 46
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Solidão também se pega Apesar de ser naturalmente gregário e por isso privilegiar os laços sociais, sentindose desconfortável e triste quando só, o Homem também consegue experimentar a solidão com prazer… e contagiar outros. Segundo John Cacioppo, psicólogo da Universidade de Chicago, a solidão espalha-se como um vírus entre as pessoas. Razão pela qual quando um indivíduo se torna solitário há sérias possibilidades de que alguns daqueles que o rodeiam lhe sigam o caminho, mas não só, já que esta contingência influência não só os amigos mas também os amigos dos amigos. Cacioppo chegou a esta conclusão depois de realizar um estudo ao longo do qual acompanhou cinco mil indivíduos que tiveram de responder a questionários, de dois em dois anos, destinados a medir os níveis de solidão e depressão, embora também tenha constatado que o grupo tenta evitar o afastamento do solitário criticando-o e procurando integrá-lo. Instinto de sobrevivência? Assim parece.
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G u i o m a r B e l o M a r q u e s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s )
Em busca do segredo de Stradivarius O som inigualável dos violinos criados por Antonio Stradivarius tem desafiado a arte de diversos construtores de instrumentos, mas não são. Um grupo de pesquisadores franceses e alemães decidiram estudar cinco instrumentos construídos pelo lendário italiano e que se encontram no Museu da Música de Paris, tendo submetido os vernizes por ele usados a diversas análises analíticas complementares, segundo noticiou recentemente o diário francês Liberation. Ínfimas partículas de verniz foram analisadas em diferentes laboratórios franceses e alemães, tendo os investigadores concluído que Stradivarius aplicava duas finas camadas de materiais comuns na época: uma primeira à base de óleos semelhantes aos usados pelos pintores de então e que penetrava ligeiramente na madeira do instrumento; e uma segunda resultado de uma mistura de óleo e resina de pinheiro, incorporando diversos pigmentos pictóricos, tudo indica que por razões estéticas. Ou seja, haverá ainda que prosseguir na procura da razão essencial por que, para além da beleza que possuem enquanto objectos, os famosos Stradivarius possuem um tão particular som.
Flexível e impermeável O novo teclado multimédia Stey, da marca S.C.I, especializada no fabrico de artigos ergonómicos e tecnológicos, apresenta duas inovadoras características: é maleável e pode lavar-se. Fácil de manusear, foi concebido a pensar nas pessoas que têm de viajar durante muitas horas, já que graças à sua flexibilidade pode guardar-se onde melhor convenha, além de possibilitar uma fixação que permite usá-lo sobre qualquer superfície. Totalmente blindado, é impermeável e impenetrável ao pó, além de suave e silencioso. Com um preço acessível (cerca de vinte euros) está à venda em azul, vermelho e transparente.
Dinossauros eram americanos? Tudo se passou há 230 milhões de anos, naquele tempo em que a distância entre os continentes não estava separada por tanto mar e os seres vivos migravam a seu bel-prazer. Não será, portanto, tão inconcebível quanto se poderia supor que o continente original destes ancestrais seres tenha sido a América. A descoberta, nos Estados Unidos, de uma nova espécie de dinossauro em tudo semelhante à encontrada na América do Sul veio recolocar a questão sobre o local da sua origem. O Tawa hallae, um carnívoro cujo esqueleto foi encontrado em 2006, no Novo México, e que terá vivido há 213 milhões de anos, é em tudo semelhante às descobertas anteriores de esqueletos de dinossauros na América do Sul, segundo divulgaram cientistas em estudo recentemente publicado na revista Science. Segundo a BBC revela, Nathan Smith, um dos investigadores da Universidade de Chicago que participou no estudo, “várias análises indicam-nos que a parte da Pangea que agora é a América do Sul foi determinante na evolução dos dinossauros. Podem ter tido a sua origem ali e posteriormente dispersado por outros lados”. A dúvida que persiste é a razão por que outras espécies vegetarianas permaneceram na América do Sul sem jamais terem migrado para o norte do continente. JAN 2010 |
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A Casa na árvore Susana Neves
Sua Majestade a Bolota No próximo dia 10 de Janeiro, está prevista nova sementeira de cerquinhos em Montejunto, organizada pelo FAPAS – Núcleo de Lisboa. O carvalho português regressa à Serra mais alta da Estremadura.
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À esquerda, Cerquinho com 15 metros e talvez 200 anos, perto de Casais da Pedreira, Montejunto. À direita, Cerquinho na Serra de Montejunto. Uma árvore de notável resistência ao fogo.
m Cabanas de Torres (Alenquer), um presépio foi montado junto a uma magnífica árvore secular. Situada no Largo da Faia, essa árvore, contrariamente ao que se afirma, não é uma faia mas um choupo e um dos maiores da sua espécie no País. A discordância entre o nome da árvore multissecular e a placa toponímica é inspiradora, mas não foi ela que nos levou a Alenquer no domingo, 13 de Dezembro de 2009. Acompanhando uma iniciativa do Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS – Núcleo de Lisboa, http://fapas-lisboa.blogspot. com), subimos a pé a Serra de Montejunto, o miradouro mais alto da Estremadura, com 666 metros
de altitude, até à antiga casa da Guarda Florestal de Cabanas de Torres, para participar na sementeira de milhares de bolotas e na plantação de 40 jovens carvalhos-cerquinhos (Quercus faginea subsp, Broteroi) . Ameaçado pela agricultura, a introdução de espécies arbóreas de crescimento rápido, como o eucalipto e o pinheiro-de-Alepo, as pedreiras e os incêndios (no Verão de 2003, arderam 5000 hectares em Montejunto), o carvalhal de cerquinho, desde a pré-história, dominante nesta serra de formação calcária — ilha de “Melusinas” e mouras encantadas, cujas grutas e profundos algares a tradição apelida de “olhos” e “ouvidos” do mar — tem vindo progressiva e perigosamente a desaparecer. «Se não houvesse intervenção humana, a serra de Montejunto seria na sua maior parte coberta por um denso carvalhal de cerquinho», sublinha João Morais, activista do FAPAS e explica: «O carvalhal é o estado final de evolução da vegetação nesta zona geográfica. Representa uma situação de equilíbrio em que a produtividade biológica é mais elevada. O carvalhal representa igualmente o máximo de biodiversidade». Significa isto que o cerquinho, espécie préFotografias: Susana Neves
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histórica, constitui na actualidade uma solução para travar o desaparecimento de outras espécies animais e vegetais. «Nos últimos anos semeamos mais de cem mil bolotas; esperamos contribuir assim para a reconstituição do Bosque Ibérico, o qual é a nossa floresta natural e o habitat das nossas espécies. Em Montejunto existe ainda uma colónia assinalável de aves de rapina e de mamíferos. Recentemente reapareceu também o javali», conta Francisco Henriques, um dos participantes desta iniciativa. Embora não atinja o porte majestoso de outros tipos de carvalho, no máximo alcançará 20 metros de altura, tal como os seus parentes, o Quercus Faginea coopera com a vespa que depositando um ovo no interior de um dos seus ramos contribui para a formação de uma excrescência (bugalho), espécie de “ninho” onde as larvas podem desenvolver-se, ou cúmplice de numerosos pássaros estabelece com eles uma joint venture que a todos beneficia. «O gaio é o maior semeador de carvalhos que existe, não só porque as suas asas lhe permitem um raio de acção considerável, mas também porque é um verdadeiro obcecado pelo “aforro” na época das bolotas», esclarece João Morais, para quem a caça ilimitada ao gaio põe em causa a natural expansão do cerquinho. Sobre esta árvore de «notável resistência ao fogo», Susana Noronha, também em Montejunto diz: «Os cerquinhos são árvores exclusivamente portuguesas, o Quercus Faginea broteroi é um endemismo nosso! Pertence à família das Fagaceae, como todas as árvores do género Quercus, e está entre os carvalhos de folha caduca do Norte e interior do País, como o carvalho negral e o roble, e o sobreiro e a azinheira do sul, de folha perene. Assim, o cerquinho tem folha marcescente, uma folha que não cai até nascerem novas folhas. Desta forma conseguimos distingui-lo pela sua cor amarelada e acastanhada no Outono e Inverno e verde clara na Primavera». De facto, em Dezembro, os ramos tortuosos dos cerquinhos apresentavam ainda folhas e alguns bugalhos (ou nozes de galhas), indispensáveis ao scriptorium medieval que a eles recorria para o fabrico de tinta negra. «Quem já leu “O Homem que Plantava Árvores”, de Jean Gionno?», pergunta Ana Pereirinha. E ainda com as mãos sujas de terra, aconselha: «Devia ser de
Fotografias: Susana Neves
leitura obrigatória esse conto sobre um homem que andava sempre com bolotas no bolso...» Curiosamente, nos dias de hoje, como ela bem observa, plantar uma árvore, sabendo que só os netos, na melhor das hipóteses, a poderão vir a usufruir, tornou-se um gesto de irreverência.I
Bolota na árvore entre as folhas e, em baixo, pormenor de uma bolota a germinar
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52 CONSUMO Porque será que, quando vamos a um hipermercado, acabamos por comprar sempre mais alguma coisa do que tínhamos em mente? Pág. 52 LIVRO ABERTO Quem gosta das canções de Chico Buarque tem em “Chico Buarque”, de Wagner Homem, um livro de leitura e consulta obrigatórias. Pág. 54 ARTES A exposição da temporada é indiscutivelmente um conjunto de esculturas que Virgílio Domingues expõe na Galeria Artur Bual, na Amadora. Pág. 56 MÚSICAS O concerto que José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto bisaram em Lisboa e no Porto tem registo num duplo CD. Pág. 58 PALCO Atenção à peça “A Cidade”, baseada em textos de Aristófanes, em cena, até 14 de Fevereiro, pela Cornucópia, no Teatro de São Luiz. Pág. 59 CINEMA EM CASA “Inimigos Públicos”, de Michael Mann, e “Abraços Desfeitos”, de Pedro Almodôvar, duas boas sugestões para início do novo ano. Pág. 60 GRANDE ECRÃ Mesmo na expectativa de outros importantes títulos, atenção, neste mês, aos recentes filmes de Michael Haneke e Clint Eastwood. Pág. 61 TEMPO INFORMÁTICO Chegaram os novos pacotes de Segurança para 2010. Destacam-se, entre os testados, os da Panda Security e da Symantec. Pág. 62 VOLANTE O Nissan Pixo foi concebido para responder à necessidade de um automóvel simples e ambientalmente consciente. Pág. 63 SAÚDE A informação sobre a osteoporose no homem é escassa mas causa maior mortalidade que nas mulheres. Pág. 64 PALAVRAS DA LEI A partilha de Herança em caso de pessoa ausente é a questão posta por um associado e aqui explicada por Pedro Baptista Bastos. Pág. 65
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Boavida|Consumo
Hipermercados: Convidamos o leitor a percorrer connosco os caminhos de um hipermercado e a perceber os truques das grandes superfícies para nos aliciar a fazer mais compras do que tínhamos planeado. É um espaço de verdadeira sedução non stop.
Carlos Barbosa de Oliveira
orque será que quando vamos a um hipermercado acabamos por comprar sempre mais alguma coisa do que tínhamos em mente? Seremos incorrigíveis consumistas, que nem uma lista de compras previamente elaborada conseguimos respeitar? Serão os hipermercados locais “armadilhados” com ratoeiras de sedução, a que só os mais experientes conseguem escapar? Digamos que há uma conjugação destes dois factores: uma apetência para o consumo, por parte dos consumidores e uma estratégia montada pelos hipermercados para induzir os consumidores a fazer compras. Obrigar o consumidor a percorrer um longo caminho até chegar junto dos produtos alimentares, é uma das técnicas de marketing mais vulgarizadas nas grandes superfícies. O jogo da sedução começa logo na porta de entrada, onde estão os electrodomésticos, o vestuário, ou os computadores. Se querem convencê-lo a comprar uma gama de produtos que não estava na sua intenção adquirir, têm de o fazer logo à entrada, quando ainda não gastou um cêntimo e não depois de ter ultrapassado a verba prevista para os bens alimentares. Os circuitos que as pessoas têm de percorrer estão, por isso, criteriosamente estudados para induzir os consumidores a compras não planeadas e a conquistar-lhes a maior fatia possível do orçamento. Mas suponhamos que o leitor passou com distinção o teste da entrada e se dirige agora, decidido, para a zona dos bens alimentares e dos produtos de higiene. Não pense que está a salvo de qualquer investida do marketing…. Dirige-se ao expositor onde estão os produtos de higiene para adquirir uma pasta dentífrica cujo preço é de 2 euros, mas constata que a marca que usa lhe “oferece” uma embalagem de duas pastas dentífricas por apenas
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ANDRÉ LETRIA
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o poder da sedução
3,75 euros e ainda uma escova de dentes “grátis”. Embora não esteja a precisar, aproveita a promoção, gastando assim mais 75 cêntimos e dizendo para os seus botões “fiz um bom investimento”, porque não levar também aquele elixir “novo” que está ali mesmo ao lado? E aqueles copos para lavar os dentes que têm um “design” maravilhoso? Com isto acabou por gastar mais 5 ou 6 euros que não contabilizara previamente, nem constavam da sua lista de compras... Quem já tinha feito bem essas contas era o gerente do hipermercado, que aprendeu no “ABC das Novas Técnicas de Marketing” que os consumidores caem com facilidade na dupla armadilha da contiguidade e da promoção. Talvez por isso, o leitor ainda vá adquirindo ao longo do trajecto que o conduzirá à caixa registadora, mais algumas coisitas de que não precisava no momento, mas que guardará lá em casa para quando forem necessárias ou, quem sabe, para oferecer no próximo Natal! Claro que do outro lado alguém está delirante com a sua actuação e é fácil perceber porquê! O leitor poupou 25 cêntimos na compra de duas pastas dentífricas, mas gastou mais 15 ou 20 euros na compra de outros produtos que não estava a precisar e estavam ali mesmo à mão. Assim, num abrir e fechar de olhos, o leitor acaba de transferir para as mãos de terceiros aquilo que planeara poupar naquela ida ao hipermercado. Bem, mas ei-lo agora com o carrinho a abarrotar. Numa breve análise “por alto” repara que já ultrapassou largamente o orçamento planeado e quanto à lista de compras que cuidadosamente elaborara em casa... já nem sabe onde está. Procura nos bolsos e na carteira para ver se a encontra e se esqueceu alguma coisa, mas nada feito. “Ainda bem” – volta a confidenciar aos seus botões. “ Se me tivesse esquecido de alguma coisa, ainda ia gastar mais dinheiro. Quando chegar a casa logo vejo”. E, decidido,
dirige-se para a caixa registadora. Escolhe a fila que lhe parece estar menos demorada e perfila-se ordeiramente. A fila não avança, por isso decide comprar uma revista que está no escaparate junto à caixa registadora para se ir entretendo enquanto espera. Pouco depois enquanto o cliente que o precede vai esvaziando o carrinho, o leitor ainda deita a mão a uns chocolates, umas pastilhas para a rouquidão (afinal estamos no Inverno e as constipações podem vir a qualquer hora, por isso o melhor é estar prevenido) e, numa lembrança de última hora, estica o braço para uma embalagem de pilhas para o rádio que tem lá no escritório. O seu rádio só usa duas pilhas de cada vez e a embalagem tem cinco, mas que importa? hega a sua vez e começa a despejar o seu carrinho. Enquanto vai metendo as compras nos sacos, dá um último olhar para as prateleiras e depara com uma pequena bola de borracha por que se sente atraído. Na verdade não precisa dela, mas a cor e o letreiro anunciando “Novidade” exercem sobre si uma atracção irresistível. É então que se lembra do seu cão e decide que ele merece um presente de vez em quando. Chuta para o saco... Gooolllloooo! Na altura de pagar repara que gastou quase o dobro do que tinha planeado, mas tranquiliza-se pensando que adquiriu algumas promoções e portanto fez poupanças. Do que certamente não se apercebeu é que algumas das promoções “não valem um caracol”, mas, se isso o reconforta, fique a saber que muitas das promoções não são mais do que uma necessidade de o hipermercado renovar “stocks”, pois enquanto você as adquire, já na linha de montagem aguardam vaga nos expositores, umas quantas “últimas novidades” que farão as delícias dos clientes do dia seguinte. Disso se aperceberá (talvez...) na próxima visita que faça a uma grande superfície, esses locais miríficos onde se pode poupar mas que, para consumidores menos precavidos, tornam os meses mais compridos.
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Boavida|Livro Aberto
Das canções de Chico Buarque à i Quem gosta das canções do brasileiro Chico Buarque, e muitos são os que gostam, tem em “Chico Buarque” (D. Quixote), de Wagner Homem, um livro de leitura e consulta obrigatórias.
José Jorge Letria
om este título inaugura a editora a colecção “Histórias de Canções”, que, pela certa, vai ter muito para contar. O autor, de forma inspirada e original, conta etapas fundamentais da vida do cantor-autor, mas também dramaturgo e romancista, a partir de uma parte das canções que já o imortalizaram e transformaram num dos grandes nomes da cultura de língua portuguesa. Ao longo das páginas deste livros encontramos e reencontramos o autor de “A Banda”, de “Pedro Pedreiro”, de “A Ópera do Malandro” e de muitos outros temas que nos deixam sempre na presença de um compositor excepcional e de um grande poeta, sendo que esses dois estatutos se fundem quase sempre na magia breve e eterna de canções inesquecíveis. Lendo a contracapa do livro, ficamos a saber, através de um email enviado por Chico e Wagner, que o poeta - cantor gostou mesmo do que leu.
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NUMA ÉPOCA em que, em Portugal, cada vez se edita menos poesia, apesar de teimarmos em considerar-nos “um país de poetas”, merece destaque e aplauso a aposta de uma editora na edição de um cuidado volume de mais de 600 páginas que reúne toda a obra de uma das mais importantes vozes poéticas portuguesas do século XX e deste início de século XXI. Refiro-me ao volume “A Luz Fraterna”, de António Osório, dado à estampa pela Assírio & Alvim, com prefácio do ensaísta Eugénio Lisboa, que, por seu turno, acaba de reunir uma década de intervenções críticas nos dois volumes de “Indícios de Oiro”, da Imprensa Nacional - Casa da Moeda. Em “A Luz Fraterna” estamos perante uma das escritas mais pujantes, originais e luminosas da nossa poesia contemporânea. Um livro essencial para se conhecer, na sua totalidade, o grande poeta que é António Osório. Um destaque especial para “As Paixões de Proust”(Vega), de William C. Carter, uma viagem reveladora e apaixonante pelo complexo mundo afectivo do autor de “Em Busca do Tempo Perdido”. A não perder. 54
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EM MATÉRIA de grandes obras de ficção, de leitura
recomendável em qualquer época, o destaque vai para a reedição pela D. Quixote do clássico “O Homem Sem Qualidades”, de Robert Musil, com organização, tradução, prefácio e notas de João Barrento, “Se Numa Noite de Inverno um Viajante” (Teorema), do sempre indispensável Ítalo Calvino, com tradução de José Colaço Barreiros, “Money” (Teorema), do inglês Martin Amis, sempre inesperado e brilhante, e ainda para “O Sindicato dos Polícias Idiches” (Casa das Letras), de Michael Chabon, justamente distinguido com o Prémio Pulitzer por este romance. Quatro recomendações que não irão decepcionar o leitor, nem deixar mal quem as fez. A não perder. Destaque ainda para “Olhar/Look at Niemeyer”, da Teorema, com coordenação de Carlos Oliveira Santos. Um magnífico álbum de homenagem e celebração de um dos maiores arquitectos de todos os tempos, brasileiro e universal. Um consolo para o olhar. QUEM GOSTA de literatura de viagens, tem em Gonçalo Cadilhe um autor de referência, estatuto que se vê confirmado com a publicação de “1 Km de Cada Vez”
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à intemporalidade dos clássicos
(Oficina do Livro), onde se misturam de forma exemplar recordações de viagens, de leituras e de pessoas, de acordo com a regra pessoal do escritor, segundo a qual devemos sempre voltar aos lugares onde fomos felizes. Um livro que nos abre janelas para mais mundo, sobretudo para o que existe e pulsa dentro de nós. Da mesma editora é o livro “Faça-se Justiça!”, do advogado Francisco Teixeira da Mota, autor de “Alves Reis - Uma História Portuguesa”, que nos conta histórias que nos familiarizam com a complexidade e o carácter tantas vezes desnorteante e paradoxal do mundo da justiça em Portugal. Oportuno e certeiro. A não perder, com a mesma chancela (Oficina do Livro) e um excelente prefácio de Mário Cláudio, uma bela edição de “Só”, de António Nobre, com ilustrações de Pedro Sousa Pereira. Um livro de sempre que é também um objecto de memórias e afectos que dá gosto ter e guardar. Dele se diz sempre que é “o mais triste que alguma vez se escreveu em Portugal”. E é bem capaz de continuar a ser verdade, mais de um século depois. UM REALCE merecido e especial para os cerca de trinta
títulos de teatro greco-latino clássico até agora publica-
dos pelo Instituto de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra – Festea (Festival de Teatro de Tema Clássico), que tornam acessíveis ao leitor interessado na matéria os grandes textos teatrais da Antiguidade Clássica, com magníficas traduções, introduções e notas da responsabilidades dos mais reputados especialistas portugueses. Ali encontramos as obras de referência de autores intemporais e imortais como Aristófanes, Plauto ou Sófocles, misturando os registos de tragédia e de comédia e mostrando que muito do que há milénios foi escrito conserva intacta a sua actualidade e oportunidade. Uma forma de a Universidade mostrar que, em edições acessíveis no preço e no formato, é possível viajarmos até à origem do nosso modo de sentir, pensar e viver o teatro que entretanto se tornou eterno. Aplauso merecido para uma colecção única e demasiado discreta. Pelos mesmo motivos, destaque merecido para o ensaio académico “Máscaras dos Césares: teatro e moralidade nas Vidas suetonianas”, de José Luís Lopes Brandão, com a chancela do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, numa edição graficamente muito cuidada. JAN 2010 |
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Boavida|Artes
Na Galeria Artur Bual
“Antimonumentos” de Virgílio Domingues Decididamente, a exposição da temporada é um conjunto de esculturas que Virgílio Domingues expõe na Galeria Municipal Artur Bual, Amadora, sob o título “Antimonumentos”.
Rodrigues Vaz
omo acentua o crítico Rui Mário Gonçalves no catálogo, «a estruturação compositiva foge à pura visualidade da geometria euclidiana para instintivamente despertar as intuições topológicas baseadas no tacto». Com um percurso artístico marcadamente inovador e, muitas vezes, contra-corrente, o escultor, reconhecido como um dos maiores nomes da escultura nacional, apresenta ali um vasto leque de obras dignas de serem demoradamente apreciadas. «De forma maciça, simulam a monumentalidade, mas as superfícies são lisamente tratadas para melhor evidenciar pequenos sinais caricaturas, só visíveis de perto. A temática faz um levantamento dos aspectos ridículos das cerimónias e da vida diária dos poderosos e dos ricos», salienta ainda Rui Mário Gonçalves. Para além destas especificidades, esta exposição é, de vários modos, a prova de que a matéria, por si só, - neste caso, o poliester – pode ser um infinito campo de batalha na escultura, pois só a sua capacidade expressiva permitiu levar estas ideias até limites insuspeitáveis. Refira-se ainda as múltiplas possibilidades expressas nestas obras da relação interior e exterior, a dialéctica entre a superfície e a massa, que se converterão em binómios característicos da obra de Virgílio Domingues.
C
FALA MARIAM E LUZ HENRIQUES
Com “O Abismo e outras imagens” volta Fala Mariam ao nosso convívio na Galeria S. Mamede, Lisboa, provando mais uma vez a sua ousadia cromática, caracterizada por cores invulgares e insondáveis simbologias. Como escreveu também o mesmo crítico citado anteriormente, Rui Mário Gonçalves, «Uma das características em que primeiro se repara na pintura de Fala Mariam é a nitidez 56
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Escultura de Virgílio Domingues
Pinturas de Fala Miriam e, à direita, Luz Henriques
com que os elementos pictóricos se apresentam, sejam eles as linhas e as cores, a mancha livre e a contornada, o início de representação de algum objecto e a figura abstracta geométrica, o contorno aberto e o fechado, a coloração lisa e a manchada, o valor luminoso e o abafado.» Como a própria artista assinala: «A continuidade é o que importa: é preciso habitar o que fazemos. O facto é que estou sempre a trabalhar, mesmo entre duas telas e estudos convencionais podem surgir daí. É uma faceta
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antiga, uma feição literária das minhas coisas.» Por outro lado, a artista plástica madeirense Luz Henriques, depois de ter mostrado na Casa da Cultura da Sertã onze trabalhos, de grande formato, executados a acrílico sobre tela, sob o título “Sinergias do Corpo e da Alma”, estes pela podem agora ser apreciados, até 20 de Janeiro, na Galeria do Restaurante Madeirense, em Lisboa. Sendo, antes de tudo, uma pintura de referências múltiplas, que transmite um certo enfeitiçamento de um espaço em que os rumores rimam com fontes e memórias, resultado de um conjunto de palpitações escutadas desde qualquer distância, a desta artista tem a ver essencialmente com a idealização de uma arquitectura de luz e cor que cobiça metáforas de paisagens íntimas, como se apreendesse a essência da natureza, considerada através dos sentimentos que a acompanham desde a raiz A mostra foi inaugurada no dia 10 de Dezembro passado, altura em que foi, igualmente, apresentado o livro da autoria de José-Luís Ferreira, intitulado “Luz Henriques Sinergias do Corpo e da Alma”. ANOS 70: ATRAVESSAR FRONTEIRAS
Vale ainda chamar a atenção para esta exposição que ocupa actualmente quase todo o Centro de Arte Moderna, Lisboa, em que a comissária Raquel Henriques da Silva escolheu uma centena e meia de obras de mais de cem artistas. Os anos 70 têm, em Portugal, uma fortíssima marca política, influenciada pela Revolução do 25 de Abril de 1974 e pelos primeiros anos de democracia. Para as artes, esta foi uma época única, que permitiu ampliar e soltar as energias que se foram afirmando ao longo da década de 60. O trabalho desenvolvido pela comissária e pelas investigadoras Ana Ruivo e Ana Filipa Candeias fez reviver esses anos em que os subsídios da Fundação Gulbenkian foram uma condição irrepetível de experimentação e criação. I
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Boavida|Músicas
O momento único de “Três Cantos” A reunião de José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto Bordalo Dias para a realização de quatro concertos (dois em Lisboa e dois no Porto) constituiu um dos momentos altos da cultura nacional em 2009
Vítor Ribeiro
uem não assistiu ao acontecimento tem agora à disposição o duplo CD “Três Cantos ao Vivo” que, em edição especial limitada, pode ser adquirido com mais dois DVD, com o filme do concerto e um documentário. Com lotações esgotadas, quer no Campo Pequeno, em Lisboa, quer no Coliseu do Porto, o espectáculo “Três Cantos” transformou-se num acontecimento de monta, por reunir três cantautores fundamentais da história da música portuguesa da segunda metade do século XX, até aos nossos dias. José Mário, Sérgio e Fausto, cada um de diferentes modos, levaram a limites originalmente improváveis o novo espaço musical aberto por José Afonso, no início da década de 60, que a partir da matriz fundadora do Fado de Coimbra criou a chamada balada, a qual teve, relativamente pouco tempo depois, um dos seus mais destacados intérpretes em Adriano Correia de Oliveira. Comum aos autores até agora citados é o empenhamento político assumido com corajosa frontalidade por todos eles, crentes de que a arte não existe desligada do meio, devendo, como tal, reflectir em cada momento as preocupações, os anseios e as transformações de que somos, simultaneamente, protagonistas e espectadores. A propósito da realização do concerto conjunto, os três autores subscreveram um texto de promoção, no qual explicam em dado passo: “Este encontro é, desde já, uma triangulação. Os números ímpares aceitam sempre desequilíbrios, reconfigurações de desejos – a vontade antiga de cantarmos juntos – e os gestos diários que fizeram unir os pontos – o trabalho que, desde Maio, nos fez transpor ter-
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ritórios, que descobrimos afinal também comuns, portanto, o vasto país do nosso reportório, do nosso mealheiro”. Resta-nos, então, desfrutar do momento único que nos é proporcionado por José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto Bordalo Dias através das 22 canções agora disponíveis em “Três Cantos”. Recordemos cantigas eternas, como, por exemplo, Mariazinha, Rosalinda, Quatro Quadras Soltas, O Charlatão, Ser Solidário, Olha o Fado, Foi Por Ela, Que Força é essa Amigo… E já agora: obrigado pelo momento único que nos proporcionaram. I
MARIZA – TERRA EM CONCERTO
Mariza - “Terra em Concerto” é o título genérico do DVD com realização de Hélder Mendes acabado de chegar ao mercado, no qual se regista o espectáculo efectuado pela fadista, em Junho de 2008, em Santarém e que assinalou o início de uma longa digressão mundial. Nova Iorque, Sidney, Tóquio, Londres e Barcelona encontramse entre as cidades que “ouviram” Mariza, de entre os mais de 50 Espectáculos da digressão da cantora. Recordamos que “Terra” é o título genérico do mais recente trabalho discográfico de Mariza, rapidamente distinguido com três discos de platina. O DVD agora editado integra o documentário “Mariza and the Story of Fado”, produzido pela BBC, canal de televisão britânico.
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Boavida|No Palco
Da antiga à nova Cidade “A Cidade”, peça baseada em textos de Aristófanes, está em cena, até 14 de Fevereiro, no Teatro Municipal de São Luiz, numa encenação de Luis Miguel Cintra.
Maria Mesquita
riação ancestral da Grécia clássica - berço da civilização ocidental – a cidade dos inspiradores ideais de democracia e justiça é a matriz do trabalho que a Cornucópia interpreta na renovada sala lisboeta. O objectivo do encenador, que dirige um numeroso grupo de actores convidados, é recontar as principais peripécias que existem dentro dessa sociedade cosmopolita, e de que forma a sua criação veio afectar o pensamento de pessoas que antes habitavam pequenos povoados e tinham horizontes de vida bem mais limitados. Em cena, e num tom jocoso, o espectador é confrontado com as confusões e as dificuldades de uma sociedade que se quer democrática, a corrupção da sua política, o seu desejo de paz, as suas saudades do campo, a maneira como convive com os seus “poetas”, as peripécias sexuais e conjugais que se geram na coexistência do público e do privado, em suma, com a vida da polis, e através das mais que inevitáveis semelhanças com os tempos actuais.
C
extensa obra. Neste peça, o grande dramaturgo português não foge à matriz e, contornando com mestria o Velho e Novo Testamento, desde Abel até à ressurreição de Cristo, leva-nos a reflectir nas nossas próprias atitudes. Será certamente o texto menos popular ou trabalhado do autor, talvez devido ao seu forte conteúdo religioso, não acessível a todas as sensibilidades. É contudo Nuno Carinhas, encenador já conhecido do público nortenho, e de novo na direcção do TNSJ, que nos traz aquela que será provavelmente a melhor peça nacional sobre a condição humana, sua rendição e esperança no divino. FICHA TÉCNICA: Autor: Gil Vicente; Encenação e cenografia: Nuno Carinhas; Figurinos: Bernardo Monteiro; Interpretação: Alberto Magassela, Alexandra Gabriel, António Durães, Daniel Pinto, Joana Carvalho, João Cardoso, João Castro, João Pedro Vaz, Jorge Mota, José Eduardo Silva, Lígia Roque, Mário Santos, Miguel Loureiro, Paulo Freixinho, Paulo Calatré, Pedro Almendra, Pedro Frias. Produção: TNSJ; Classificação etária: Maiores de 12 anos “HANNA E MARTIN”
FICHA TÉCNICA: Autor:Aristófanes - Excertos de Os Acarnenses, Lisístrata, Paz, Pluto, As mulheres que celebram as Tesmosfórias, As Nuvens, Os Cavaleiros, As Mulheres no Parlamento e As Aves; Tradução: Maria de Fátima Sousa e Silva e Custódio Magueijo; Adaptação e colagem: Luis Miguel Cintra; Encenação: Luis Miguel Cintra; Cenário e Figurinos: Cristina Reis; Desenho de luz: Daniel Worm d’Assumpção; Música: Eurico Carrapatoso; Colaboração musical: João Paulo Santos; Acompanhamento vocal: Luís Madureira; Elenco: Bruno Nogueira, Carolina Villaverde Rosado, Dinarte Branco, Dinis Gomes, Duarte Guimarães, Gonçalo Waddington, José Manuel Mendes, Luísa Cruz, Luis Lima Barreto, Luis Miguel Cintra, Márcia Breia, Maria Rueff, Marina Albuquerque, Nuno Lopes, Ricardo Aibéo, Rita Durão, Rita Loureiro, Sofia Marques e Teresa Madruga. Co-produção: Teatro Municipal de S. Luiz “BREVE SUMÁRIO DA HISTÓRIA DE DEUS”
O Teatro Nacional D. Maria II mantém, em cena, até final de Janeiro, a peça de Gil Vicente “Breve Sumário da História de Deus”, com encenação de Nuno Carinhas, novo Director Artístico do Teatro Nacional São João, do Porto. Gil Vicente, mais do que um homem do teatro português era um sátiro, como o demonstra o conjunto da sua
“Hannah e Martin”, de Kate Fodor, em cena no Teatro Aberto, fala-nos de política, de filosofia, e das vidas e encontros de Hannah Arendt e de Martin Heidegger. Na faculdade, ele, professor, e ela, aluna, e, mais tarde, durante os julgamentos de Nuremberga, ele, antigo reitor da Universidade de Freiburg (pilar da educação Nazi) e ela, filósofa judia reconhecida internacionalmente. Este encontro, durante os julgamentos de Nuremberga, entre o antigo professor convertido ao nazismo e a sua ex-amante, levaos a reviver o passado e a colocar ao espectador de hoje questões pertinentes, onde o universo mais íntimo se mistura com a política, a história e a ética. FICHA TÉCNICA: Versão de João Lourenço e Vera San Payo de Lemos; Dramaturgia: Vera San Payo de Lemos; Encenação e Realização Vídeo: João Lourenço; Intérpretes: Ana Padrão, Cátia Ribeiro, Cristovão Campos, Diogo Mesquita, Francisco Pestana, Irene Cruz, Luís Alberto, Maria Ana Bernauer e Rui Mendes JAN 2010 |
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Boavida|Cinema em casa
Antigos e novos Mestres Para início de um novo ano a qualidade é o denominador comum com o regresso dos “Mestres” Michael Mann - “Inimigos Públicos” - e Pedro Almodôvar - “Abraços Desfeitos” – mais as premiadas obras de dois jovens e já consagrados realizadores: Ursula Meier com “Home – Lar doce Lar” e Jeff Nichols, “Histórias de Caçadeira”. Sérgio Alves INIMIGOS PÚBLICOS
Christian Bale, Stephen Dorff,
Almodôvar; COM: Penélope
HISTÓRIAS DE CAÇADEIRA
Rodado integralmente em for-
James Russo; EUA, 140m,
Cruz, Lluís Homar, José Luíz
Numa pequena cidade do
mato digital, a fita narra a
cor, 2009; EDIÇÃO: Universal
Gomez, , Blanca Portillo e
Arkansas vivem Son e os
Rubén Ochandiano; Espanha,
seus dois irmãos, Boy e Kid,
ascensão e queda de John Dilinger que nos anos 20 foi
ABRAÇOS DESFEITOS
127m, cor, 2009; EDIÇÃO:
abandonados pelo Pai, numa
considerado “inimigo públi-
O regresso de Pedro
Prísvideo
velha casa longe dos
co” nº1 pelo FBI após assaltar
Almodóvar é um dos grandes
os maiores bancos ameri-
momentos do cinema em
HOME – LAR DOCE LAR
dia do funeral do Pai vai
canos. Perseguido
2009: o realizador espanhol
Próximo de uma auto-estrada
nascer uma sede de vingança
pelo agente de
assina uma história que evoca
abandonada, num sítio desér-
entre os meios-irmãos
topo do FBI,
o melodrama e o policial clás-
tico e tranquilo, vive uma
desavindos que se desen-
Melvin Purvis,
sicos numa Espanha moderna.
família feliz na única casa da
volve lenta e gradualmente
numa espécie de
Harry Caine é um escritor que
região. Com a chegada do
numa aparente calma que
jogo do gato e do
vive na escuridão depois de
Verão, a cons-
poderá terminar em tragédia.
rato, e apaixonado pela sedu-
um acidente de viação – 14
trução da via é
“Histórias de Caçadeira”,
tora Billie Frechette, Dilinger
anos antes - lhe ter provocado
retomada,
estreia na realização de Jeff
vai resistir até ao desfecho
a cegueira e ter interrompido
anuncia-se a
Nichols, é uma obra singular
trágico.
a sua carreira de realizador de
abertura da
de cinema rodado na América
Michael Mann, destacado
cinema. Mas por detrás da sua
auto-estrada a
rural e profunda que impres-
realizador de filmes como
trágica história, esconde-se
um trânsito infernal. O equi-
siona pela beleza dos planos e
Heat – Cidade sob pressão, O
uma outra perda irreparável:
líbrio familiar vai terminar.
dureza da narrativa. O
Informador, Ali ou Miami
um grande amor. Baseado
Que fazer? Protagonizado por
desempenho de Michael
restantes meios-irmãos. No
Vice, dirige um emocionante
num argumen-
Isabelle Hupert, “Home – Lar
Shannon e a
filme de acção com sequên-
to complexo e
Doce Lar” é um retrato insólito
prestação do
cias magistrais e uma intensa
rico, do
dos nossos tempos, de uma
restante elen-
história de amor. Inimigos
próprio rea-
família e da vida urbana e
co, a banda
públicos é, seguramente, um
lizador,
resulta numa reflexão
sonora e a
dos melhores filmes estreados
Abraços
inteligente sobre o progresso e
fotografia do
em Portugal nos últimos anos
Desfeitos narra uma história
suas consequências num lar.
filme são os pontos altos
- mais de 200 mil especta-
empolgante de Amor, Ciúme,
Escrito e realizado por Ursula
deste drama americano que
dores e excelentes críticas –
Traição e Dor á boa maneira
Meier, o filme foi premiado em
justificam os prémios rece-
com uma elevada intensidade
de Almodôvar. Os diálogos, a
diversos festivais mas teve
bidos em festivais interna-
e realismo e que, em tempo
beleza dos planos de
uma passagem muito discreta
cionais e excelente aceitação
de grave crise financeira,
Lanzarote e as notáveis inter-
pelas salas portuguesas.
da crítica.
devia fazer reflectir os ban-
pretações de um grande elen-
TÍTULO ORIGINAL:
queiros de todo o mundo,
co onde sobressai, uma vez
REALIZAÇÃO:
alvos preferenciais de
mais, Penélope Cruz, fazem
COM:
Dilinger.
deste filme um momento
Gourmet, Adélaide Leroux,
Shannon, Douglas Ligon,
inesquecível do cinema
Madeleine Bud e Kacey
Barlow Jacobs, Natalie
Klein; Suiça/França/Bélgica,
Canerday, Glenda Pannel;
TÍTULO ORIGINAL:
Public
Enemies: REALIZAÇÃO:
europeu contemporâneo.
Michael Mann; COM: Johnny
TÍTULO ORIGINAL:
Depp, Marion Cotillard,
Rotos; REALIZAÇÃO: Pedro
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Los Abrazos
Home;
Ursula Meier;
Isabelle Hupert, Olivier
TÍTULO ORIGINAL:
Shotgun
Stories; REALIZAÇÃO: Jeff Nichols; COM: Michael
98m, cor, 2008; EDIÇÃO:
EUA, 92m, cor, 2007; EDIÇÃO:
Atalanta Filmes
Atalanta Filmes
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Boavida|Grande Ecrã
Entre o bem e o mal Mesmo na expectativa de outros importantes títulos que já se anunciam, é já de admitir, neste mês de Janeiro, virem a ser os recentes filmes de Michael Haneke e Clint Eastwood dois dos mais entusiasmantes acontecimentos cinéfilos de 2010.
Joaquim Diabinho
e alguma coisa de novo há a esperar de Clint Eastwood não é concerteza que ultrapasse uma vez mais os limites (como em Mystic River...) de uma certa concepção do cinema contemporâneo norte-americano que ajudou a erguer com assinalável brilhantismo. Na realidade, “Invictus” com estreia anunciada para breve - corresponde ao mesmo estilo narrativo simples e tradicional a que já nos vem habituando nas suas últimas obras e às suas preocupações temáticas sobre as relações humanas na sociedade moderna. Mal avisado andaria quem pensasse que a história contada em “Invictus” - de como Nelson Mandela, Presidente da África do Sul, se juntou a François Piennaar, capitão da equipe de rugby sul-africana, no esforço de unirem um país económica e racialmente ainda bastante dividido - se limitaria a representar uma certa realidade política (o pós-“apartheid”) segundo os esquemas ideológicos prévios, adoçados com as virtualidades unitárias universais do desporto. Antes pelo contrário: o autor de “Bird” e “Gran Torino” recolhe do romance de John Carly, que está na base do filme, a carga humana que, poderosamente, tudo parece transpôr e que faz até acontecer o impossível. E o impossível é o traçar de um retrato comovido de humanidade. Valendo-se de actores (Morgan Freeman, Matt Damon) sobejamente conhecidos e talentosos, Eastwood conduz hábilmente o espectador a uma identificação emocional que não deixa ninguém indiferente. Ademais, o simbolismo de “Invictus” é um estímulo para todos aqueles que acreditam na vontade indómita em vencer as barreiras que se interpõem à vida em harmonia. Nota alta também para a excelência da banda-sonora, assinada por Kyle Eastwood, filho de Clint.
S
tem-se afirmado como especialista do universo humano e testemunha implacável da crise existencial que alastra nas sociedades do “velho” continente. Pessimista, perturbante e, por vezes, provocantemente malicioso, Haneke comprova, uma vez mais, em “Das Weibe Band – Eine deutsche Kindergeschichte” (O Laço Branco – um conto infantil alemão) as suas surpreendentes capacidades de representação do mal e de denúncia da crueldade dos seres humanos. “O Laço Branco” (fita colocada no braço das crianças, simbolizando a pureza) narra os estranhos acontecimentos que ocorreram numa pequena comunidade rural alemã nas vésperas da primeira grande guerra. Libelo acusatório contra as mentalidades retrógradas, o autoritarismo moral e o obscurantismo religioso, “O Laço Branco” é, mais do que um mero entrecruzar do “vivido” e o “presente”, uma tomada de consciência e um alerta generalizadas da enorme desumanização de certos sistemas sociais. Fabulosa a sequência da criança e da rapariga a falarem sobre a morte. De certo modo, O Laço Branco” diz-nos mais sobre a condição humana em pouco mais duas horas do que muitos manuais da especialidade. Belíssima é a fotografia, num preto e branco que serve também para sublimar o carácter “puro” do cinema. I
CINEASTA BASTANTE AUSTERO, de opções estéticas, narrati-
vas e temáticas bem firmes, o austríaco Michael Haneke JAN 2010 |
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Boavida|Tempo informático
Começar bem 2010 Estamos todos um pouco fartos dos arautos da desgraça. Não é aqui o local para falar das razões mas a crise e as dificuldades apanharam muita gente desprevenida. Como todas as tecnologias, a informática não foge à regra e serve para o bem e para o mal.
Gil Montalverne
ajuda@gil.com.pt
aconselhável que passemos a usá-la no muito de bom que pode trazer a todos, mesmo individualmente. Não podemos perder tais oportunidades. Mas evitemos os perigos por demais conhecidos e por vezes esquecidos. Assim, evitemos, tal como o devemos fazer com o vírus da gripe, os vírus e os ataques aos nossos computadores. Chegaram os novos pacotes de Segurança para 2010. Destacamos, entre os que testámos, os da Panda Security e da Symantec. E estão cada vez mais aptos a detectar os perigos existentes na Internet ou enviados por email. As acções de protecção são executadas sem perturbar o nosso trabalho e utilizando o mínimo de recursos do sistema, o que se torna bastante cómodo. Também a instalação é muito mais rápida e fácil. A Panda Security foi a primeira a chegar ao mercado muito antes do final do ano e de facto as novas soluções Panda 2010 foram especificamente desenvolvidas para oferecer a máxima protecção com o mínimo consumo de recursos. E graças à Inteligência Colectiva que reúne os dados fornecidos pela comunidade de milhões de utilizadores Panda em todo o mundo a nova gama 2010 obteve melhorias de 80% no desempenho relativamente às versões anteriores. É assim com a suite mais completa, a sua Internet Security, que inclui todas as aplicações possíveis até à mais simples - o Panda Antivírus 2010 - e este ano numa aplicação especial para NetBooks que é uma nova solução de consumo ultraleve, desenvolvida especificamente para NetBooks, incluindo anti-spyware, antiphishing, anti-rootkits, firewall e protecção de identidade.
É
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Para facilitar a instalação nestes pequenos computadores sem unidade CD/DVD a Panda inovou colocando esta aplicação numa Pen USB. A Symantec disponibiliza os pacotes para 2010 com o seu Internet Security, Norton Antivírus e o Norton 360, sendo esta a solução mais completa de antivírus e antispyware, automatizada e configurada segundo o que pretendermos. A Symantec garante com o 360 a protecção total, combinando 13 tecnologias de segurança e desempenho para criar a amplitude de protecção que desejamos mas utilizando menos memória e sem prejudicar o desempenho do computador. Garante ainda um backup programado on-line para o qual o utilizador dispõe de 2 ou 245 Gigas conforme o pacote adquirido e a capacidade de restaurar ficheiros danificados. A Symantec concluiu, em estudos recentes, que um antivírus já não é suficiente e que os atacantes estão atrás do utilizador final e tentam enganá-lo para descarregar malware. Também a popularidade dos sites sociais leva a que sejam um alvo para fraudes contra os seus utilizadores. Por isso o nosso conselho no começo de 2010 é o de se proteger o melhor que puder e souber. I
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Boavida|Ao volante
Novo Nissan Pixo: o importante é a simplicidade O Nissan Pixo foi concebido para responder à necessidade de um automóvel simples e ambientalmente consciente, que proporciona uma elevada eficiência em termos de combustível com emissões reduzidas, numa posição do mercado que o torna muito acessível.
Carlos Blanco
Pixo chegou ao mercado mesmo na hora certa. A crise que a economia global está a atravessar colocou uma nova ênfase no transporte a preços acessíveis, enquanto as crescentes preocupações ambientais têm provocado uma maior procura de automóveis altamente eficientes em termos de combustível e com baixas emissões de CO2. A Nissan é, há já muito tempo, reconhecida no mercado dos automóveis citadinos e o Pixo vem complementar automóveis urbanos como o Micra e o Note, concedendo à marca japonesa uma selecção variada de automóveis compactos, espaçosos e eficientes, todos bem equipados para reduzir o stress do utilizador nos ambientes urbanos modernos e superlotados. O PIXO satisfaz a necessidade actual de um automóvel simples e acessível com emissões muitíssimo baixas e uma excelente economia de combustível. Com um consumo de combustível combinado de 4,4l/100km, uns notáveis 103 g/km de CO2, e uma gama de versões sem complicações, o PIXO está claramente em sintonia com os tempos de hoje. Além das suas credenciais ecológicas serem irrepreensíveis, o PIXO também marca pontos com a sua dimensão e aspecto, com uma aparência inspirada nos europeus e elevados níveis de equipamento de série. O seu motor de 1.0 litros e três cilindros, proporciona um desempenho enérgico e exibe também um amplo espaço no interior para quatro adultos e respectivas bagagens. A disposição arrojada dos faróis é uma marca de estilo retirada tanto do Note, como do Qashqai. Seguindo a direcção imposta pelo Micra e pelo Note, a parte superior dos grandes faróis de forma triangular encontra-se ligeiramente erguida, de modo a ser vista facilmente a partir do lugar do condutor, para ajudar a “posicionar” o automóvel durante o estacionamento. Conferindo ao PIXO um visual dinâmico de vanguarda, a linha de cintura eleva-se delicadamente em direcção à
O
traseira do automóvel, onde envolve a janela lateral traseira voltada para cima. Isto é acentuado pela linha inferior bem delineada, que liga as cavas das rodas e sublinha a base larga do automóvel e a grande distância entre eixos. O seu interior é amplo e simples, espaçoso, prático e confortável. O painel de instrumentos é comparativamente simples na sua disposição e o tratamento de dois tons de cinzento/preto e o estilo moderno são compatíveis com o ar de sofisticação do modelo. À frente do condutor, encontra-se um único mostrador, que incorpora um velocímetro circular convencional com leituras digitais do nível de combustível e dos quilómetros percorridos totais e parciais. Foi dedicada a máxima atenção ao conforto dos passageiros. Os bancos revestidos a tecido são mais largos do que o normal neste segmento e beneficiam de almofadas mais espessas. Os bancos dianteiros dispõem de suportes de deslizamento mais longos, tornando mais fácil o ajuste do banco, e a sua secção central encontra-se revestida com um subtil padrão contrastante de riscas. Em síntese: Design leve e moderno; estilo europeu; portas de grandes dimensões que facilitam a entrada e a saída; interior espaçoso; colaboração com a Suzuki; e preços desde 8.800 euros.I JAN 2010 |
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Boavida|Saúde
A osteoporose no homem Já aqui abordei, em tempos, o tema da osteoporose, mas centrado na problemática da mulher depois da menopausa.
M. Augusta Drago
medicofamília@clix.pt
oje, proponho-me chamar a atenção de um outro aspecto desta patologia – a osteoporose no homem, sobre a qual a informação divulgada junto do grande público é escassa. Sabe-se hoje que embora a osteoporose afecte mais as mulheres, é entre os homens que ela causa maior mortalidade. A osteoporose é definida, no momento actual, como uma predisposição para sofrer de fracturas causadas por traumatismos ligeiros. Esta fragilidade deve-se a alterações generalizadas da estrutura do esqueleto, quer por perdas importantes de cálcio por parte do tecido ósseo quer por regeneração óssea desordenada. A perda de tecido ósseo pode ser uma consequência natural do envelhecimento, mas pode também dever-se a doenças concomitantes, a tratamentos, sobretudo com corticóides, e naturalmente por falta de ingestão de alimentos com cálcio, tais como os produtos lácteos e os derivados de soja. As razões mais frequentes que levam o doente com osteoporose a procurar o seu médico são a ocorrência de dores persistentes nas costas (lombalgia crónica) ou quando ocorre uma fractura, causada aparentemente por um traumatismo menor, a qual se faz acompanhar pelo corolário habitual – dor, deformação local e impotência funcional. As fracturas mais frequentemente associadas à osteoporose são as fracturas do punho (fractura de Colles), das vértebras e do colo do fémur. As fracturas vertebrais são muitas vezes assintomáticas e levam ao aparecimento de curvaturas com consequente diminuição de estatura. Esta ocorre naturalmente com a idade, com ou sem fracturas osteoporóticas, e pode chegar à perda de 10 cm de altura. As curvaturas da coluna, quando ocorrem na região toráxica, têm como consequência a diminuição da capacidade respiratória e, ao nível do abdómen, contribuem para a compressão das vísceras e podem provocar o surgimento de eventrações ou de hérnias do hiato, na região do estômago. Um doente com mais de 45 anos que venha ao médico com queixas de dores persistentes nos ossos irá com toda a certeza fazer uma série alargada de exames tais como
H
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radiografia e densitometria para avaliar a saúde do seu esqueleto e análises laboratoriais ao sangue para despistar um enorme número de doenças que podem causar dor nos ossos e osteoporose. É muito importante saber se o doente sofre de osteoporose, mas é igualmente importante descobrir qual a sua causa. O diagnóstico de osteoporose nos homens é feito, tal como nas mulheres, mediante um exame muito simples e não doloroso que se chama densitometria. O tratamento da osteoporose nos homens, tal como nas mulheres, depende da sua causa principal. Assim, será feita com base em suplementos de cálcio, com tratamentos hormonais, com bifosfonatos, com calcitonina ou com alendronato, consoante a natureza da sua origem. Será o seu médico quem, na posse do resultado das investigações realizadas, lhe poderá dar uma indicação mais precisa. Antes de terminar gostaria de chamar a atenção para a prevenção da osteoporose, a qual tem a ver, em primeiro lugar, com a formação de um esqueleto ósseo forte e saudável. Para além das características genéticas individuais, que variam a predisposição para a doença, a prevenção é igual para todos e começa na infância com uma alimentação rica em cálcio e com exercício físico que se deve manter ao longo da vida. Também é consensual que factores como o consumo em excesso de tabaco, álcool e a imobilidade são factores que em nada contribuem para uma vida saudável e agravam a osteoporose.I
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Boavida|As Palavras da lei
Partilha de Herança em caso de pessoa ausente ?
Por falecimento de uma familiar, contactámos uma série de pessoas que são herdeiras. A familiar falecida era viúva de um avô meu;
aquando do falecimento deste, fez-se a partilha dos bens, em processo de inventário, já com sentença judicial dada. Felizmente estamos de acordo em relação ao destino dos bens, mas sucede que uma das herdeiras está totalmente incontactável, e não sabemos dela, ao que parece, terá falecido. Teremos que abrir um novo processo de inventário? Sócio devidamente identificado – Lisboa
Pedro Baptista-Bastos
Governo alterou o regime jurídico do Inventário, por intermédio da Lei n.º 29/2009, de 29 de Junho, entrando em vigor a partir do dia 18 de Janeiro de 2010, não sendo aplicável aos processos de inventário que estejam pendentes. Esta nova lei passou para a competência dos serviços notariais a prática deste género de actos e processos; isto é, podemos ir a qualquer conservatória ou notário, e requerer que seja instaurado inventário. Esta lei não sonegou aos tribunais a possibilidade e a obrigatoriedade de intervirem, nos casos previstos desta lei. No fundo, vai permitir acelerar e resolver mais depressa as partilhas por acordo, aliviando os tribunais desta tarefa. O nosso sócio tem a sua situação já definida, por deter sentença judicial prévia, onde se determinaram os quinhões hereditários a cada uma das pessoas interessadas na partilha dos bens. De modo que terá que se fazer, obrigatoriamente, a nova partilha numa conservatória notarial à vossa escolha, por estarem de acordo em relação ao destino dos bens. Tal nos é dito, quer pelo artigo 1º desta lei acima citada, quer pelo artigo 2102º, nº 2, alínea c) do Código Civil, em que se tem que se proceder à partilha por inventário, quando haja um caso em que um dos co-herdeiros esteja ausente em parte incerta, e não possa intervir na partilha. A nova lei determina os passos a dar, nestas situações: os artigos 69º e 70º dizem-nos que, se houver um ausente em parte incerta, apresenta-se o requerimento de inventário na conservatória, instruído dos respectivos documentos e fazendo prova de ninguém sabe do paradeiro de um dos co-herdeiros, e que não consegue ser contactado. Ora, aqui vai haver a intervenção do Ministério
O
ANDRÉ LETRIA
Público, que é obrigatória, nos casos de ausência ou impossibilidade de contacto de um dos herdeiros. O notário ou o conservador comunica esta impossibilidade ao Ministério Público e, por sua vez, o Ministério Público vai nomear um curador provisório para gerir o quinhão ou os bens do ausente, curador esse que é escolhido nos termos do artigo 92º, n.º 1 do Código Civil: o cônjuge do ausente, algum dos herdeiros, ou um interessado na conservação dos bens. O mais provável é que seja escolhido como curador algum dos herdeiros. Esse curador irá administrar e gerir os bens do ausente, até que seja definitivamente decretada a sua ausência ou a sua morte. Quanto mais depressa se fizer a prova da morte, por exemplo, mais depressa se estabelecerá que a ausência é definitiva, e os bens do ausente serão repartidos pelos restantes herdeiros. Note-se que o curador tem que prestar contas dos bens do ausente que ficam a seu cargo aos outros herdeiros, de forma a evitarem-se quaisquer sonegações, abusos, ou burlas. I
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ClubeTempoLivre > Cupões e Passatempo
NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2010
DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
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VALIDADE 31de Dezembro/2010
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VALIDADE 31de Dezembro/2010
Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos
N.º 12 Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado
N.º 12
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SOLUÇÕES
Remeter para Fundação INATEL – Clube Tempo Livre (Livros), Calçada de Sant’Ana nº 180 – 1169-062 Lisboa, o seguinte: G Pedido, referenciando a editora e o título da obra pretendida; G Cheque ou Vale dos Correios, correspondente ao valor (PVP) do livro, deduzindo 2,74 euros de desconto do cupão. G Portes dos Correios referente ao envio da encomenda, com excepção do estrangeiro, serão suportados pelo Clube Tempo Livre. Em caso de devolução da encomenda, os custos de reenvio deverão ser suportados pelo associado.
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ClubeTempoLivre > Novos livros
BOOKSMILE
150 fotografias, algumas
faz parte do espólio literário
sistemática e apaixonante
inéditas, tiradas nas
recolhido sob a direcção de
sobre a história da medição
filmagens do videoclip
Giacometti ao longo da
do tempo nas suas várias
“Thriller”.
execução do Plano Trabalho
formas, desde a invenção do
Desde o seu nascimento, no
e Cultura.
relógio mecânico.
seio de uma família de
De forma abrangente, a obra
artistas, até aos ensaios para
NAVEGAR É PRECISO
explora, este capítulo
os concertos de Londres que,
DO ESPÍRITO SOBRE AS
extraordinário da civilização
infelizmente, não se
ÁGUAS
ocidental e cruza, para além
concretizaram, o livro presta
António Eloy 96 pg. | 8 (PVP)
da história, áreas como a
homenagem ao génio que deu ao mundo êxitos
Numa
musicais, como “Thriller”,
linguagem
“Bad” e muitos outros.
acessível, este
filosofia, a teologia e a literatura.
livro, aborda a importância
COLIBRI
da água na PLANETA ROCK
ROMANCEIRO DA
vida e na história do país,
29,99 (PVP) O livro descreve a história do
TRADIÇÃO ORAL
apelando à gestão
Recolhido no âmbito do
equilibrada e transparente
género musical mais popular
dos recursos hídricos.
de sempre, o Rock’n’Roll,
Plano Trabalho e Cultura Volume I - 172 pg. | 10 (PVP)
através do retrato de cerca
Volume II - 201 pág. | 10 (PVP)
problemas provocados pela
O autor não esquece os
de 270 artistas internacionais
poluição e os crimes
e nacionais, incluindo Rui
ambientais que põem em
Veloso, Xutos e Pontapés,
risco a sobrevivência de
Heróis do Mar, GNR, Pedro
muitas espécies existentes
Abrunhosa, Gift e muitos
nos rios e oceanos.
IMPORTÂNCIA DE SER ELECTRÃO
outros. Um álbum original em formato circular, com
GRADIVA
O átomo e as suas ligações: um olhar sobre a evolução
capas tácteis e prefácio de Zé Pedro (Xutos e Pontapés).
A REVOLUÇÃO NO TEMPO
da química
OS RELÓGIOS E O
José Lopes da Silva e
NASCIMENTO DO MUNDO
Palmira Ferreira da Silva 248 pg. |17,50 (PVP)
MODERNO O Etnomusicólogo Michel
David S. Landes 584 pg. | 29,50 (PVP)
O livro aborda a constituição
Giacometti, nascido na Córsega em 1929, veio para o
Uma investigação
enfatizando o papel
dos átomos e das moléculas,
nosso país em 1959 e por cá
determinante do electrão no
ficou até ao fim da vida.
avanço do conhecimento
Juntamente com Fernando
sobre esse processo e a
Lopes-Graça tornou-se
correlação deste com as
incontornável no estudo da
propriedades macroscópicas
cultura tradicional
das substâncias e dos
MICHAEL JACKSON: O REI
portuguesa, utilizando novas
materiais.
DA POP 1958-2009
técnicas de investigação,
Uma abordagem simples e
Chris Roberts 144 pg. | 19,99 (PVP)
ainda hoje, consideradas um
acessível que acompanhou a
exemplo nesta área.
afirmação da Química como
Uma história completa do
Estes dois volumes,
ciência básica do
“Rei da Pop” ilustrada com
apresentam um trabalho que
conhecimento.
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mãos de Sigarr, o Mestre da
constar
Arte Obscura, que espera
na lista
O BEIJO DO LADRÃO
treiná-lo para ser o Guardião
de
Alan Parker 248 pg. |16 (PVP)
do Conhecimento Absoluto e
homens
usar o imenso poder deste
lendários.
Thomas Moran descobre a
em seu proveito. Kelda, luta
Se assim
sua vocação de uma forma,
por cumprir os desígnios da
o decidir,
PRESENÇA
no mínimo,
Pedra do Tempo e salvar a
turbulenta.
sua própria alma, resgatar
Quando
Halvard e levar a cabo a
em 1906
missão que herdou da sua
A FALHA
São
avó Catelyn.
Luís Carmelo 160 pg. | 15,90 (PVP)
EUROPA AMÉRICA
Elvas, vinte e cinco anos
incidindo o seu olhar na
após a conclusão do liceu.
infância e no contexto no
Francisco é abalada por um
um outro nome terá de ser retirado…
violento terramoto, Thomas,
MICHAEL JACKSON – A
Um
qual o reformador se
então com sete anos, comete
LENDA 1958-2009
grupo de
inscreve — o fascinante
o seu primeiro acto de
antigos
século XVI, circunscrito entre
delinquência e a partir daí a
Chas Newkey-Burden 164 pg. | 17,50 (PVP)
alunos
a Idade Média e o
sua vida toma um rumo que
Uma biografia do “Rei da
decide
Renascimento.
em muito reflectirá a própria
Pop” que surpreendeu todos
reunir-se
história dos Estados Unidos.
com um fim trágico de uma
num
OSCAR WILDE E O
Gangsters de todas as
vida extraordinária mas,
almoço
SORRISO DO HOMEM
nacionalidades, vigaristas,
sempre
de confraternização, na
MORTO
autoridades corruptas e as
envolta
esperança de reavivar
provações de viver à margem
em
memórias do passado. Mas,
Gyles Brandreth 288 pg. | 19,90 (PVP)
da sociedade constituirão o
grande
eis que durante um passeio
Paris, 1883. Oscar Wilde
seu dia-a-dia, mas a força de
polémica.
à pedreira de mármore, em
visita a cidade decadente
um grande amor poderá
A obra
Vila Viçosa, uma inusitada
para
estar prestes a mudar o seu
passa em
falha fará com que os
descobrir os
destino!
revista os
antigos colegas fiquem
seus
mitos e as contradições de
presos numa gruta obscura,
encantos,
A SACERDOTISA DOS
Michael Jackson, um génio
testando os seus limites e
reatar a
PENHASCOS
da música e uma referência
lutando pela sobrevivência.
amizade
A Saga das Pedras Mágicas
no panorama musical das
Sandra Carvalho 416 pg. | 17,50 (PVP)
últimas décadas.
Os Guardiães das Lágrimas
CAMINHOS DE GLÓRIA
do Sol e da Lua vivem finalmente em plena união.
Jeffrey Archer 352 pg. | 19,90 (PVP)
Dos seus amores nasceram Halvard e Kelda, os gémeos
com a divina CALVINO – O ARAUTO DE
Sarah Bernhardt e colaborar
DEUS
com Edmond la Grange, o
Eric Dénimal 288 pg. | 22 (PVP)
mais famoso homem do
Jean Cauvin, mais conhecido
Oscar descobre os negros
Ele amou duas mulheres... e
por Calvino, nasceu há
segredos que envolvem a
uma delas matou-o.
quinhentos anos na Picardia.
companhia teatral de La
sobre
Um extraordinário romance
Senhor de um forte
Grange e é confrontado com
quem
sobre a história de um
temperamento, esta
crimes bizarros. Para
pairam
homem que, numa primeira
personagem histórica
deslindar o mistério e
profecias
análise, surge como uma
permaneceu, contudo,
descobrir o assassino,
grandiosas
pessoa comum, mas que só
envolta em grande discrição.
arrisca a sua vida e
e temíveis.
o leitor poderá ajuizar, no
O autor faz o relato do
reputação, embarcando
Halvard
final, se de facto o nome
percurso espiritual e
numa perigosa aventura.
está nas
George Mallory deverá
intelectual de Calvino,
Glória Lambelho
mundo do espectáculo.
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ClubeTempoLivre > Cartaz Inatel
Assembleia Figueirense,
BRAGA
Comp. Bombeiros Sapadores Escolas de Lazer
de Coimbra, Clube Portugal
Cursos de Arraiolos e Artes
Telecom de Coimbra e de
Decorativas, Pintura,
Viseu, Casa do Benfica do
Bordados regionais e
Concelho de Condeixa-A-Nova
Confecção, Viola, Violino e
e Lousa Volley Clube). Mais
Educação Musical e Piano,
informações na Agência
informações na Agência
INATEL em Coimbra.
INATEL de Braga.
ÉVORA COIMBRA Reis Escola de Música
Dia 6, às 14h30, Cante de Reis
aulas diurnas: às Segundas,
com a colaboração da ARPIE
Quartas e Sextas-feiras e
(Associação de Reformados,
nocturnas: às Terças e
Pensionistas e Idosos de
Quintas-feiras, informações na
Évora) no Centro da Cidade de
Agência INATEL em Coimbra.
Évora e Salão Nobre da
Atletismo: dia 10 – 1º Corta
Agência INATEL. Actuação:
Mato BTTRAIN, prova aberta,
Alunos da Pré-Primaria da
em Alfarelos; dia 17, Estafeta
Escola EB 1 da Malagueira.
S.Frutuoso, prova aberta, em S. Frutuoso. Futebol Taça Inatel 2009/10, participam 19 equipas distribuídas pelas seguintes séries: Grupo A: CCD’s C.P. Lavos,
PORTO
Clube Desp. da Costa de Lavos, Chã, Samuel,
Ateliers
Alqueidão, Paradela,
Dinâmica do Envelhecer,
Juventude de Vilela, S. M.
Escrita Criativa,
Cortiça, Podentes, Brasfemes;
Experiências Sensoriais,
Grupo B: CCD’s Alvôco de
Expressão Dramática,
Várzeas, S. Gião, Vila do Mato,
Fantoches com História,
Santo António Alva,
Hábitos Saudáveis, Jardim e
Vilacovense, Aldeia das Dez,
Horta Biológica, Pintar as
Vasco da Gama (Seixo),
Emoções, Primeiros
Bobadela, Lourosa. Mais
Socorros, Plantas
informações, contacte a
Medicinais e Aromáticas,
Agência INATEL em Coimbra.
Reciclagem & Compostagem,
Voleibol
Terapia do Som e Terapia
Liga de Voleibol com
Ocupacional.
participação de 7 equipas
Inscrições e informações
(Centro Norton de Matos,
na Agência INATEL do Porto.
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Workshop
Atletismo
Dia 27, “Tai-Chi Chuan” pelo
Dias 10 e 17, às 10h00, provas
Mestre José Manuel
de Corta Mato, no Parque
Fernandes (entrada livre), na
Desportivo de Ramalde.
Agência INATEL. Voleibol Pintura
dias 7 a 29, Torneio Amizade
Dia 15, das 09h00 às 18h00,
(Voleibol Feminino) no Porto e
exp. de Pintura “Caretos”, de
Viana do Castelo.
Maria Virgínia Pereira, na Galeria da Agência INATEL
Andebol dias 6 a 30, várias provas no
Cinema
distrito do Porto, informações
Dia 20, às 21h30, filme “Mr.
na Agência INATEL.
Brooks” – M/16 (EUA, 2007), de Bruce A. Evans, com
Basquetebol
Kevin Costner, Demi Moore,
dias 5 e 30, jornadas no
Dane Cook e William Hurt, no
distrito do Porto,
Auditório da Agência INATEL
informações na Agência
no Porto.
INATEL.
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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o
Uma vez mais, a propósito do frio escrevo barco e uma quilha fende o vastíssimo mar / e as árvores crescem dos espaços enevoados […] // penso outono ou inverno / e o lume resinoso dos pinhais escorre sobre o rosto / sobre o corpo com tímidos gestos […] // Al Berto, “ 0 pequeno demiurgo”, in Alguns poemas da Rua do Forte, in: O Medo, Assírio e Alvim, 3ª ed. 2005
E
les disseram – primeiro ela, depois ele, como um eco: “Só a imaginação pode salvar o mundo e nos pode salvar da actual realidade”. – A imaginação ou o alheamento, ou antes: o esquecimento! – acrescentara ele, dando à frase uma inflexão ligeiramente irónica. (Admirador da hermética filosofia do sisudo Doutor Hegel, evita intencionalmente o termo “alienação”, indignado com a apropriação que dele fez Karl Marx). Tentando compreender a possibilidade paradoxal de utilização de dois elementos contraditórios para alcançar um mesmo fim, concentro, por momentos, o olhar no crepúsculo que, lá fora, pende das ramagens vergadas pelo gélido “Nordestão”. A imaginação é, de facto, uma força demiúrgica, um princípio positivo gerador de tudo quanto existe, pelo simples processo de o pensar, de, com um nome, lhe dar também forma. O esquecimento, pelo contrário, é um princípio negativo, uma força destrutiva do existente pelo mero acto de lhe ignorar a existência. Na verdade, porém, concluo, seguindo um modelo doméstico da lógica aristotélica, complicado por um modelo igualmente doméstico da dialéctica hegeliana, a capacidade criadora da imaginação, com que contavam para salvar o mundo e nos salvar da actual realidade, é um verdadeiro princípio destruidor, porquanto geradora de conceitos como corrupção, crise, gases com efeito de estufa, etc., que não existiriam se, em vez de usarmos a imaginação, praticássemos mais o esquecimento. “Pensote, logo existes; não te penso, logo não existes”. Logo, teriam sido inúteis conferências, convenções, protocolos e despesas com a luta contra as alterações climáticas, contra o aquecimento global, contra... Suficiente seria procurarmos a salvação no estilo de vida dos nossos antepassados, ignorantes que eram de conceitos que hoje ensombram o nosso futuro como Humanidade. Subitamente, faço notar a ironia de tiritar de frio para participar na luta contra o aquecimento. – Os nossos antepassados também não tinham aquecimentos e não morreram por isso! – confortou ela.
Como resolviam eles o problema? Os Romanos e os Gregos usavam um processo de aquecimento por ar quente, um complexo sistema de aquecimento central, o hypocaustes, que consistia em aquecer o ar na parte inferior de um edifício, queimando madeira devidamente tratada, e fazê-lo circular pelos edifícios através de uma rede de tubos inseridos nas paredes. Nos palácios franceses, só no séc. XVII começaram a usar-se fogões de sala nos quartos. Até então, até o próprio Rei Sol enregelava como qualquer plebeu em aposentos “construídos à espanhola”, isto é, sem lareira. Em Espanha, nasceram ao braseros, as chofetas, ou braserillos – a ainda actual “braseira”. O termo “escalfeta” designava em português diversos utensílios portáteis, que em francês tinham designações específicas: a chaufferette à main, em forma de livro de missa de porcelana que se enchia de água quente, ou pequena esfera perfurada, de prata ou de um metal comum, que se enchia de brasas para aquecer as mãos na igreja, e que, quando em forma de maçã, tinha o nome de escaufail; o chauffe-pieds, para os pés, etc. Nas aldeias, havia, como cá, o reconfortante “borralho”, em torno do qual se aquecia a família e, por vezes, como ainda verificámos em viagem nas montanhas espanholas em dia de temporal, o burro, algumas ovelhas, cabras, galinhas e o indispensável cão, que retribuíam o abrigo com um pouco do seu calor animal. Segundo estrangeiros que viveram em Portugal no séc. XVI, o conforto não era característica do país, nem mesmo nos palácios do rei ou nas habitações de filhos de algo. A atestá-lo, o facto de até ao século XVIII o termo apenas figurar no nosso léxico na acepção de “conforto nas aflições”. Se a imaginação não pode salvar o mundo da actual realidade, pode, pelo menos, ajudar-nos a resistir a este frio polar. Uma visita a uma loja chinesa e lá encontrarão, dizem-me, a preços de crise, aquecimentos para as mãos, para os pés, e até para os telemóveis (!), em forma de urso, de gato ou de ovo! Que mais podemos desejar? Feliz 2010, Senhores Leitores! I JAN 2010 |
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Os contos do
Destinos trocados
D
epois de uma pensativa hesitação, Gabriela segurou o telemóvel e dactilografou um SMS. Não assinou. O próprio aparelho ocultava o número mas nem por um momento ela admitiu que o destinatário, Gustavo, duvidasse da origem da mensagem. Poucas palavras: “Precisamos de conversar. Espero-te à porta do Cinema São Jorge ás 19 horas”. Entendeu que não seria preciso mais e que o lugar do encontro era adequado. O que não imaginou foi que uma leve distracção ao dedilhar as teclas, errando um algarismo, pudesse alterar o destino daquelas palavras. Sentado à sua secretária pejada de papéis, o jovem advogado Hugo Pinheiro escutou o alerta telefónico de uma comunicação que chegava. Não se apressou. Concluiu a leitura de um documento antes de espreitar o visor do telemóvel. Mensagem de um anónimo. Leu com surpresa: “Precisamos de conversar. Espero-te à porta do Cinema São Jorge às 19 horas”. Sem assinatura. Decidiu que só poderia ser um impulso da Sandra e fazia algum sentido. Na verdade, Sandra e ele necessitavam de uma boa conversa acerca da relação que vinham mantendo havia dois anos. Mas que esfriava a galope. Do encantamento inicial passara a uma habituação carinhosa e não mentiam nem Hugo nem Sandra, quando afirmavam de olhos nos olhos: “Gosto de ti”. Nos últimos meses, porém, ele viaa diferente, como que alheada, talvez mesmo enjoada da sua companhia. O aviso – “Precisamos de conversar” – seria talvez o sinal de uma alteração importante na relação romântica. O fim? Hugo admitiu essa possibilidade mas, ao contrário do que sucederia semanas antes, manteve a serenidade. Não era a mesma Sandra por quem se tinha enamorado, com quem vivera dias felizes em viagem à descoberta do Portugal profundo, recordava o pasmo com que visitaram as ruínas da antiga exploração das Minas de São Domingos, os percursos por cidade e vilas do
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Minho e Trás - os -Montes, também a aventura espanhola, na Serra Nevada, onde Hugo no seu primeiro ensaio de esquiador, deu um trambolhão tremendo e fracturou uma costela. O resto desse período de curtas férias passou-o a admirar Sandra deslizando com sabedoria e elegância pelo tapete de neve. Mas à noite, quando recolhiam ao quarto, Hugo quase esquecia as dores, dominado pelo desejo que a nudez de Sandra sempre lhe despertava. E amavam-se com loucura, ela soltando gemidos de prazer, ele gemendo, apesar do prazer, pelo incómodo da costela partida. Pior que esse passageiro dano físico viria a ser o fosso que se cavou entre eles. Hugo reconhecia que não era só Sandra que se distanciava dele, era também ele que se afastava dela. Começou a arrumar os papéis na secretária. Às 19 horas no Cinema São Jorge? Por quê no Cinema São Jorge, que se situa distante do escritório dele? A Sandra tivera sempre ideias surpreendentes. Cinco minutos antes das sete da tarde, Gabriela subia a escadaria do São Jorge. Olhou em redor. Gustavo não chegara ainda. Nem estranharia que a fizesse esperar, longe iam os tempos em que a rodeava de todas as atenções. Só a ela? Bem a tinham prevenido de que Gustavo era um doidivanas, perdido por mulheres em entusiasmo súbito e de pouca duração. Transigiu perante alguns indícios mas sofreu pelo abandono em que a deixou numa festa de passagem de ano. Nessa noite, Gustavo mostrouse fascinado por todas as mulheres do grupo, menos por ela. “Precisamos de conversar” – desafiava-o agora, na urgência de esclarecer se era ela ainda a namorada dele e devia continuar a vê-lo, nos encontros cada vez mais espaçados, como seu namorado. Passaram quinze minutos depois das dezanove e Gustavo não dava sinais de vida. Nem um telefonema a justificar – desculpa, atrasei-me um
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pouco. À porta do cinema permanecia um homem estático que alongava o olhar para os dois lados da avenida, como se também aguardasse alguém. Gabriela observou-lhe o desagrado da espera e sentiu que aquele desconhecido e ela própria viviam uma situação semelhante. Quando se entreolharam foi com mútua compreensão, um pouco de cumplicidade. Nesse momento, ela deixou cair a revista que trazia consigo e Hugo Pinheiro dobrou-se, repentino, a apanha-la do chão. – Muito obrigada - disse ela. – De nada – respondeu Hugo e pareceu-lhe natural explicar: – Estou à espera de uma pessoa que não há meio de aparecer. E nem trouxe o telemóvel, não posso contacta-la. A franqueza do homem incentivou Gabriela para corresponder em confidência: – Então não sou eu, só, quem espera por alguém que não respeita horas. Mas não vou telefonar a perguntar porquê. Daqui a pouco voume embora. – Hugo atreveu-se: – Não sem antes de me dizer o seu nome.
Afinal somos companheiros de um certo infortúnio. – Gabriela – Hugo. Hugo Pinheiro, sou advogado. – E eu, psicóloga. Devia perceber melhor as atitudes de quem conheço bem. Ou julguei conhecer. Falaram ainda de evidências, como da chuva que começava a cair. Dez minutos de diálogo e já não eram dois desconhecidos. – Enfim - disse Gabriela - o melhor será desistirmos dos nossos encontros. – Eu já desisti de esperar - replicou Hugo, sorrindo - Fiquei mais um tempo pelo prazer de conversar consigo. Permite-me uma sugestão? – E o que sugere? – Vejo que são horas de jantar, não faltam restaurantes próximos e dar-me-ia imenso prazer que aceitasse o meu convite. Indecisa, Gabriela passou repetidamente as mãos pelos cabelos, até perguntar: – Não será absurdo? – Que tem de absurdo? Ao contrário, estamos aborrecidos e sós, poderíamos conviver mais um pouco. – Seja, vamos – decidiu-se Gabriela. Entraram no restaurante e Hugo procurou uma mesa de canto. Preferia sempre as mesas aos cantos. Voltou-se quando ouviu Gabriela numa exclamação sufocada: – O Gustavo! Está ali o Gustavo, com quem fiquei de me encontrar! E parece feliz com aquela menina loira. – Hugo dirigiu o olhar no sentido do espanto de Gabriela e foi com igual espanto que disse: – A menina loura é a Sandra que me fez esperar à porta do São Jorge. – Segurou a mão de Gabriela até se entrelaçarem os dedos e encaminhou-a: – Ali. A mesa do canto. E disse ainda com o que poderia ser uma mensagem: – Precisamos de conversar. I JAN 2010 |
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Crónica
“Cá estemos” Álvaro Belo Marques
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omo tínhamos de ficar mais seis meses naquele quartel chamado Convento de Mafra, uma alta patente resolveu que os milicianos ensinassem aos mancebos mais tacanhos, mas com mais afoiteza e vontade, as regras para ler e escrever mais as regras para as quatro operações. Num Convento com mais de duas mil e novecentas janelas, a escuridão reinava em todo o lado. Vivíamos na penumbra. Por isso consegui uma sala iluminada a honestas lâmpadas dependuradas do tecto, uma sala-refeitório onde à noite dávamos aulas. (Só quem ali viveu conhece o cheiro entranhado nas paredes, no chão e nas mesas de pedra, a grão-de-bico e massa, servidos alternadamente. Cheiro que dificulta qualquer espécie de ensino.) Foram cerca de vinte mancebos para cada miliciano. E houve o quadro preto assente num cavalete, e houve cadernos, lápis, borrachas, livros de leitura e tabuadas. Além do giz e do apagador, claro. Logo no primeiro dia, quando cheguei com a chave na mão, vi a juventude que me coubera, com o primeiro mancebo encostado à porta do refeitório, para que ninguém lhe passasse à frente. Era o Francisco, que eu já conhecia do pelotão - um moço alto e magro nascido em qualquer aldeia de Trás-os-Montes. E foi o Francisco o primeiro a saudar-me, sorrindo: - Cá estemos, nosso cabo! Vi que o Francisco tinha ficado satisfeito por pertencer à minha turma; eu era quase um parente, pois sendo eu que lhe lia as cartas da mãe, conhecia os principais problemas daquela família - eu e mailo padre da aldeia que as escrevia ao ditado da mãe. Problemas
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das pessoas e dos animais, a ambos tratando do mesmo modo e com igual pena ou alegria, consoante os casos. A Malhada da Tia Jacinta que tinha tido um bezerro ou a prenhez sem casamento da prima do Francisco, a Otília, “aquela levantada”. No Verão, vinham sempre as notícias dos emigrantes e dos seus progressos económicos (“até a torrada é feita em torradeira eléctrica!”). Pois a primeira aula foi precisamente a explicação do verbo estar, nas diversas conjugações e tempos, tendo ficado bem claro que o Francisco me tinha de dizer, à entrada da aula, “Cá estamos”. Mas no dia seguinte, com um sorriso cúmplice, diz-me “Cá estemos” e foi dizendo todos os dias como uma senha de livre-trânsito, sendo a contra-senha “cá estamos, Francisco”, também com um sorriso.
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o curso chegou ao fim, com o comandante a preparar uma pequena festa para entrega de diplomas, a uma sexta-feira pouco antes do almoço. Não querendo ficar atrás do comandante, fui à tabacaria de Mafra e comprei uma caneta de tinta permanente bem bonita, dentro de um estojinho forrado e respectivo acompanhante, um frasco pequeno de tinta azul. Antes da formatura, dei a minha prenda ao Francisco dizendo: “Agora escreves tu directamente as cartas para a tua mãe.” Francisco ficou a modos que mudo. Radiante com a caneta mas sem saber se o RDM (*) o autorizava a dar-me um abraço. Eu também não o sabia. Optámos por um emotivo aperto de mão. Que não esqueço, como se prova. I (*) Regulamento de Disciplina Militar
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