Tempo Livre Junho 2010

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N.º 216 Junho 2010 Mensal 2,00 €

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Terra Nossa

Praias Fluviais Banhos de água doce

Viagens Kos Portfólio Tibete Solidariedade Cinema de Bairro Memória Laura Alves


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Sumário

Na capa Foto: José Luis Jorge

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CONCURSO DE FOTOGRAFIA

TERRA NOSSA

Praias Fluviais – Banhos de água doce Para quem não conhece a região da Aldeias de Xisto, é uma surpresa a profusão de rios e ribeiras, de açudes e albufeiras. Quando veio o turismo, os açudes, principalmente, mudaram de nome e de função: tornaram-se praias fluviais. Os espaços são os mesmos mas agora há solários e pranchas de mergulho, há bons acessos e painéis informativos e, nalguns casos, há parque de campismo, restaurante, nadador salvador e até biblioteca…

20 EDITORIAL

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CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR

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NOTÍCIAS PAIXÕES

Paulo Alexandre

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PORTFÓLIO

Tibete

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VIAGENS

Ilha de Kos (Grécia) O antigo centro médico de Asklepieíon, na ilha grega de Kos, em pleno mar Egeu, deve ter sido um pequeno “paraíso” para o descanso na Antiguidade. O local conserva ainda a preciosa tranquilidade e frescura de outrora, proporcionando aos modernos visitantes o sossego do isolamento, os banhos relaxantes nas águas tépidas das termas e uma vista deslumbrante sobre o Mediterrâneo e a vizinha costa turca.

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MEMÓRIA

TURISMO SÉNIOR

Laura Alves

“Super Sénior” Cândido de Barros: Aos 100 anos vive-se bem sem biografia

OLHO VIVO LUSOFONIAS A CASA NA ÁRVORE O TEMPO E AS PALAVRAS Maria Alice Vila Fabião

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OS CONTOS DO ZAMBUJAL

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CINEMA DE BAIRRO CRÓNICA Alice Vieira

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BOA VIDA CLUBE TEMPO LIVRE

Novos Livros e Cartaz

O projecto Cinema de Bairro levou ao Teatro da Trindade 25 jovens de bairros sociais de todo o país que, sem se conhecerem, partilharam uma experiência comum: filmar e a aprender a contar a história das suas vidas

34 COMUNIDADES

Portugal no Coração

Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Guiomar Belo Marques, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, Joaquim Durão, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lourdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, José Lattas, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, João Aguiar, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Patrícia Strecht, Telef. 210027156; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 139.027 exemplares


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Editorial

V í t o r Ra m a l h o

Lusofonia e Solidariedade

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eve lugar recentemente entre nós, como pode ser avaliado nas páginas interiores desta nossa Tempo Livre, o XII Encontro Luso-Brasileiro de Turismo Sénior/Melhor Idade. Trata-se de um evento da maior importância para o aprofundamento das relações entre as sociedades civis dos dois povos irmãos e das entidades que o promoveram, no caso a ABCMI - Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade e da Inatel. Participaram no evento quase quatrocentos cidadãos brasileiros da melhor idade, a que se associaram inúmeros beneficiários da nossa Fundação, vindos de quase todos os distritos. As relações internacionais da Inatel, sobretudo com entidades congéneres do mundo da nossa fala comum são da maior relevância e assumirão de forma crescente, no futuro, uma forte prioridade nos objectivos que traçámos. Esta prioridade de afirmação internacional não nos pode fazer esquecer a solidariedade devida aos nossos emigrantes, sabendo-se, como se sabe, que cerca de metade da população portuguesa reside e trabalha no estrangeiro, para onde emigrou pelas mais diversas razões. Ao termos presente a vasta comunidade da nossa diáspora, espalhada pelos quatro cantos do mundo, é da identidade e da nossa alma que falamos. Esta constatação é particularmente clara quando temos a oportunidade de conhecer e dialogar com compatriotas nossos, a quem a

fortuna não sorriu além das fronteiras e que ao fim de várias décadas nos visitam. O programa "Portugal no Coração", que nos meses de Maio e Outubro traz a Portugal emigrantes portugueses que se candidatam e são seleccionados pela Secretaria de Estado das Comunidades, por intermédio dos nossos consulados, é a todos os títulos uma marca do relacionamento da Inatel com esses nossos compatriotas, que em circunstância alguma pode ser perdida.

S

e dúvidas houvesse quanto à enorme importância da nossa Fundação e ao papel que tem no reforço da nossa identidade, no acolhimento e acompanhamento que, há longos anos, dá a estes nossos compatriotas, o programa desvanece-as de todo. Finalmente, e relacionado ainda com outro importante programa solidário da Fundação, a "TL" conta-nos a história de Cândido de Barros, o primeiro vencedor do "Prémio Super Sénior" e que, aos 100 anos, é um testemunho exemplar do significado que o Turismo Sénior tem para um vasto sector da sociedade portuguesa. Neste mundo incerto e em crise é, por isso, um enorme orgulho ser beneficiário/associado da Inatel. Concorrer para o reforço da nossa Fundação, alargando ainda mais o universo dos nossos beneficiários associados, torna-se, assim, uma obrigação cívica. Não duvido do empenhamento de todos neste domínio. I

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Fotografia

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XIV Concurso “Tempo Livre”

Fotos premiadas

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[ 1 ] José Pinto, Coimbra Sócio n.º 494110 [ 2 ] José Reis, Celorico da Beira Sócio n.º 66292 [ 3 ] Fernando Ledo, Viana do Castelo Sócio n.º 349141 [2]

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Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os membros associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês.

Menções honrosas [ a ]Augusto Santiago, Vila Nova de Gaia Sócio n.º 460443 [ b ] Óscar Saraiva, S. Mamede da Infesta Sócio n.º 31309 [ c ] Maria Barbosa, Porto Sócio n.º 133695 [a]

4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos beneficiários associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, direcção, telefone e número de associado da Inatel. 7. A Tempo Livre publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano

[b]

9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites ou um fim de semana para duas pessoas num dos Centros de Férias do Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL». 10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, com a validade de um ano, a publicar na revista Tempo Livre de Setembro de 2010, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso.

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11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.

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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt

Termalismo Sénior Desloquei-me à Agência da Inatel em Coimbra para saber da lista das Termas e respectivas saídas do programa Saúde e Termalismo Sénior e fiquei muito desiludido ao verificar que, de Coimbra, apenas havia uma saída em Junho para as termas do Carvalhal. Aceito que para Lisboa e Porto que são cidades maiores haja mais saídas, mas se Lisboa tem 9 viagens, Porto 5, Leiria 5, Santarém 3, Setúbal 5, Viseu 2, como é que Coimbra tem apenas uma viagem contemplada? Eduarda Teixeira, Coimbra N. R. - A distribuição das viagens pelos diversos distritos tem em consideração o número de lugares disponíveis para o Programa e o número de vendas realizadas no distrito nos anteriores Programas “Saúde e Termalismo Sénior”. Coimbra, a nível de Termalismo e no que respeita à procura encontra-se na cauda do programa, razão pela qual apenas lhe foi atribuída uma viagem. Como é hábito sempre que se esgotam os lugares, são atribuídas mais viagens, foi o que aconteceu, tendo sido atribuída uma segunda viagem, na qual apenas se inscreveram cinco pessoas oriundas do distrito de Coimbra.

50 anos na INATEL Completaram, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: José Jesus Vences Cordeiro, de Ponte de Sor; David Pires Moreno, de Setúbal; António Costa Fernandes Júnior e João Manuel Martins Rodrigues, de Lisboa; Henrique Marcelo Leiria Machado, de Sintra.

Coluna do Provedor NESTE TEMPO carregado de nuvens negras,

Kalidás Barreto provedor@inatel.pt

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facto que não é só figura de retórica, como o demonstra justificadamente a suspensão de circuitos aéreos, é natural que as pessoas vivam intranquilas. A crise que atravessa a Europa e cujas causas são agora transparentemente percebidas pelo comum dos cidadãos que sentem na pele os catastróficos efeitos para os quais não contribuíram. Vivemos um tempo de descrença e apatia que se não forem firmemente contrariadas sem esperar “iluminados” mas com a nossa firmeza de cidadãos, podem ser irremediáveis: é que a apatia esconde uma revolta que poderá rebentar.

É preciso acreditar que seremos capazes de dar a volta; é preciso dar as mãos, é necessário enfrentarmos a crise com a consciência das dificuldades, sem violências mas com firmeza, a despeito de sabermos, por experiência própria que os mais pobres são quem mais sofrem; mas é preciso que sejam menos a sofrerem! É por isso que tem todo o sentido, o desabafo de um associado, afirmando que é preciso contrariar a tristeza e a apatia e participar, como ele fez, num programa de Termalismo Sénior, apesar de todas as dificuldades e de todas as dores reumáticas. E acrescentava: Volto com forças para ajudar a regressarmos ao espírito do 25 de Abril! I


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XII Encontro Luso-Brasileiro de Turismo Sénior/Melhor Idade

Cerca de 400 seniores brasileiros, oriundos dos diversos Estados do País irmão, participaram no XII Encontro Luso-Brasileiro de Turismo Sénior/Melhor Idade que teve lugar na Inatel Caparica, de 18 a 20 de Maio último. Iniciativa conjunta da Fundação INATEL e da Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade (ABCMI), o encontro, de realização anual, pretende estimular quer o convívio entre Portugal e o Brasil quer fomentar o debate das questões relacionadas com o mundo sénior. Na sessão de abertura, em Santarém, na imponente nave central da Igreja da Graça, um dos mais representativos monumentos da arte gótica local, gerido pela autarquia, Moita Flores emocionou os seniores brasileiros ao recordar a opção de Pedro Álvares Cabral de viver e morrer naquela cidade. O autarca lembrou ainda ter sido em Santarém que D. João II preparou o Tratado de

Tordesilhas, documento decisivo para a legitimação do domínio luso do Brasil após a descoberta de Cabral, e sublinhou o papel de Salgueiro Maia e da sua coluna militar que de Santarém partiu para a reconquista de liberdade em Portugal. Com palavras de agradecimento e louvor a Vítor Ramalho (“referência cívica e moral de um país que não desiste de ter esperança”, disse) pela escolha de Santarém para a sessão inaugural do Encontro, Moita Flores acentuou a importância da sabedoria, experiência e valores éticos da população sénior na construção de um futuro de liberdade e fraternidade. “Estamos em casa (…) Portugal também é o nosso País…”, vincou a presidente da ABCMI, Genilda Baroni, ao agradecer quer a hospitalidades escalabitana quer o “abençoado convénio” firmado com a Inatel e que tanto contribui para atenuar o sentimento de exclusão e ausência de

calor humano que afectam boa parte dos cidadãos seniores. “O idoso quando faz amizade é para valer, é para sempre”, disse ainda a responsável da ABCMI ao manifestar a vontade de manter e ampliar o protocolo entre as duas entidades. Genilda Baroni teve ainda palavras de reconhecimento para com o SecretárioGeral da Inatel, Carlos Luiz, presente no XI Encontro, realizado no Brasil. Na conferência que proferiu numa das sessões do Encontro, Vítor Ramalho enalteceu as virtualidade do mundo que fala português – 6ª língua do Mundo e 3ª do Ocidente -, designadamente a sua afectividade e a importância estratégica comum em tempos de globalização. Nascido em Angola, o presidente da Inatel lembrou, ainda, como a libertação dos povos brasileiro e africano do domínio colonial estão ligadas à própria libertação de Portugal (Revolução Liberal e 25 de Abril de 1974).

“Vozes em Festa” Mais

de 200 alunos dos Coros do Conservatório Regional de Évora – Eborae Mvsica apresentaram-se em Concerto na Iniciativa “Vozes em Festa”, no Teatro Garcia de Resende, no passado dia 12 de Maio. Os diferentes grupos eborenses (infantil e 1º grau, Coro I e Coro II)

interpretaram canções do folclore nacional e de outros países, nomeadamente da África do Sul, Brasil, França e Israel, além espirituais negros e peças de Mozart e Britten. O Concerto terminou com uma Peça em Conjunto – Rock My soul – Cânone, sob a direcção de Sandra Medeiros.

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Relatório e Contas 2009 Aprovado, sucessivamente, conforme os estatutos, pelos Conselhos Consultivo, Fiscal e Geral, o Relatório e Contas 2009 da Inatel, foi entregue, no passado dia 15 de Maio, no Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social para homologação. Como é sublinhado pelo Conselho de Administração no respectivo preâmbulo, para o resultado negativo de 2009 pesaram, para além do desvio orçamental de 2008 – cujo défice totalizou 2.834.2911,56 euros –, o valor da amortização anual dos imóveis, a integração de elevado número de trabalhadores precários, a actualização salarial, os encargos decorrentes da instalação da unidade de Linhares da Beira e a abertura das unidades nas ilhas da Graciosa e Flores, bem como a regularização de dívidas derivadas de contratos e processos anteriores à posse desta Direcção (Setembro de 2008). A requalificação de equipamentos (Trindade, Parque 1º de Maio, Oeiras) e outros melhoramentos em várias unidades hoteleiras são igualmente referidos pelo CA da Fundação que salienta, a par de outras iniciativas de 2009, a realização do ciclo de colóquios “Novas Respostas a Novos Desafios” e as primeiras candidaturas da Inatel ao QREN.

Convívio na Foz do Arelho

A unidade hoteleira da Inatel da Foz do Arelho foi o espaço escolhido para o almoço cerca de meia centena de antigos condiscípulos do Curso de 1965/1970/ da Faculdade de Direito de Lisboa. Juízes do STJ, Procuradores-adjuntos, professores universitários, advogados e empresários integravam o conjunto de convivas, incluindo figuras mediáticas, como Vítor Melícias, o ex-MNE Martins da Cruz, José Dias Ferreira, Carlos Paisana e Teresa Coutinho (ex-dirigente benfiquista). Ausentes pela distância, enviaram saudações o Cardeal de Luanda, Alexandre Nascimento, os embaixadores Fernando Neves, Rui Quartin Santos, Madeira Bárbara, Ana Martinho e Aristides Branco. O anfitrião, Vítor Ramalho, integrante

do mesmo Curso, aproveitou a ocasião para enaltecer as virtualidades da Inatel na cultura, desporto e lazer. O agradável almoço, com o preço adequado à crise e à capacidade financeira dos ilustres convivas, finalizou com um apreciado momento musical protagonizado por Cristina Almeida (filha da Procuradora/Adjunta Cândida Almeida) que interpretou diversas árias de ópera.

Histórias de Resistência no 26.º Festroia A 26.ª edição do Festroia - que volta a homenagear o cinema português, atribuindo um Golfinho de Carreira ao actor Rogério Samora, no ano em que este comemora 30 anos de vida artística - contará com 190 filmes, oriundos de cerca de 40 países, números representativos da diversidade que caracteriza o único festival português incluído no prestigiado calendário anual da FIAPF (Federação Internacional de Associações de Produtores de Filmes). O programa inclui o ciclo de Histórias de Resistência, com 11 películas reveladoras de diferentes histórias de luta pela liberdade e contra a opressão nas suas mais diversas formas, algumas das quais verídicas, tendo sempre por palco o continente europeu.

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“A origem do Fado”

José Alberto Sardinha ‘descobre’ raízes nacionais do fado Vinte e dois anos levou o etnomusicólogo José Alberto Sardinha numa laboriosa e profunda investigação sobre as raízes do mais representativo género musical português. As 550 páginas da sua bem documentada obra, “A origem do Fado”, apresentada em Maio último no Teatro da Trindade, representam – na opinião do consagrado antropólogo Benjamim Enes Pereira – “um marco categórico e da maior importância no panorama da bibliografia etnomusical portuguesa”. Dedicado pelo autor aos “cegos músicos, anónimos e desprezados entre as gentes, que, ao longo do séculos, a chorar e rir, cantaram a vida misteriosa de todos, fonte e inspiração do nosso Fado” e, também, ao “extraordinário Moisés Augusto, de Sobreiró de Baixo, Vinhais, jogral dos nossos dias, músico ambulante de vivências muitas, fabuloso cantador de histórias, que o mesmo é dizer cantador de fados…”, a obra – editada pela Tradisom e patrocinada pela Inatel no âmbito das comemorações dos 75 anos da Fundação – tem como fio condutor a defesa da origem nacional do fado, nascido – defende JAS - a partir de um substrato comum a todo o território nacional que é o romanceiro tradicional. É este canto narrativo que dá origem ao fado. Antes de ser um género musical, o fado é um texto poético, um poema narrativo”. “Ainda hoje – lembrou o autor no Trindade - os fadistas afirmam que o fado tem de contar uma história, e essa é a origem nacional do fado: contar uma história que emocionasse primeiro o fadista e, através deste, a

audiência (…) Na verdade, a origem do fado está naquilo que nós chamamos pejorativamente o ‘fado da desgraçadinha’ ou o ‘fado de faca e alguidar’. Esse é que é o fado primitivo, a origem do fado”. Ao contrário da tese vigente de que o fado tem origem no lundum angolano e numa dança brasileira, a umbigada, JAS situa as origens do fado no século XVI, quando se dá a “passagem do romanceiro histórico para o romanceiro novalesco, como já Carolina Michaëlis o tinha referenciado sem, todavia, o fundamentar (…) Eu comparo o fado

que é uma tradição oral com a restante tradição oral portuguesa e não vou buscar origens a outras partes”. Além de uma invulgar documentação fotográfica e iconográfica, o livro contém quatro CD com recolhas musicais do autor e que ilustram a sua tese da origem portuguesa do fado. Na apresentação no Trindade, alguns desses temas musicais foram exemplificados pela fadista Ana Guerra, com acompanhamento à viola e guitarra. Presente no acto de lançamento da obra, o presidente da Inatel salientou que o “invulgar trabalho de pesquisa de JAS, um dos maiores cultores e conhecedores da nossa musica tradicional, e há longos anos colaborador da Fundação, abre perspectivas inovadoras para a as origens do fado”. “Seria difícil – adiantou Vítor Ramalho - seleccionar um outro trabalho pioneiro no âmbito da nossa musica tradicional que envolve também uma homenagem devida ao povo português, a Portugal e à acção desenvolvida pela Inatel há 75 anos”. JUN 2010 |

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Taça Fundação Inatel O Teatro da Trindade foi palco, em Maio, do sorteio da fase final da Taça Fundação INATEL, competição de futebol amador que envolve mais de 300 equipas e 7500 atletas por todo o país. As 16 equipas apuradas para a fase final disputarão entre si o acesso à finalíssima a realizar no próximo dia 13 de Junho, no Parque de Jogos 1º de Maio, em Lisboa, e integrada nas comemorações dos 75 anos da fundação. O sorteio registou a presença de várias figuras do mundo do desporto, entre outros, o treinador Octávio Machado, os jogadores do Sporting Carlos Saleiro e André Marques, o ex-benfiquista José Luís, e o jornalista Rui Tovar.

Raid Inatel Iniciação TT O tempo chuvoso do terceiro fim de semana de Maio proporcionou aos cerca de cem participantes do Raid Inatel Iniciação TT uma experiência inesquecível por estradões e trilhos de terra, montes verdejantes e centros culturais da serra da Estrela. O raid, fruto da parceria Inatel/Clube Escape Livre, incluiu as necessárias aulas teóricas que permitiram o sucesso dos numerosos iniciados, instalados em três dezenas de viaturas Hyundai, na

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prova de passagem pelos corta-fogos da serra da Estrela e a passagem a vau do rio Mondego. A partir da Unidade Hoteleira de Linhares da Beira, o Clube Escape Livre traçou um percurso onde os candidatos, provenientes de todo o país, incluindo uma equipa feminina, foram, a pouco e pouco, colocando em prática os diversos ensinamentos recebidos na área das viaturas, dos pneus e do próprio respeito pela

natureza, matérias a cargo da Hyundai, da Bridgestone e da ValorPneu, importantes parceiros nesta iniciativa inédita exclusivamente para quem nunca praticou todo terreno. O passeio foi ainda assinalado pela antestreia exclusiva do Hyundai ix35 o novo SUV do segmento C da marca – e pela assinatura de um protocolo de colaboração entre a Hyundai e a Inatel. O acordo, assinado pelo director geral da Hyundai Portugal, Veiga de Macedo, pelo administrador da Fundação Inatel, Moreira Marques, permitirá aos Beneficiários e Associados da Fundação usufruir de condições especiais na aquisição de viaturas Hyundai, que poderão atingir os nove por cento na aquisição de viaturas, consoante os modelos, em qualquer concessionário da rede oficial da marca.


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Reunião INATEL/CCD´s Chegaram ao fim as diversas reuniões que a Direcção Desportiva promoveu por todo o País com os CCD’s. Com o objectivo de debater os actuais quadros competitivos, eventos em parceria com os CCD’s, normas específicas, associativismo e formação, a Direcção Desportiva conjuntamente com as Delegações Regionais e Agências, partilharam ideias e propostas para serem analisadas para as próximas épocas desportivas. As últimas reuniões ocorreram em finais do mês de Abril e meados de Maio, com os CCD’s dos Açores (Ponta Delgada e Angra do Heroísmo), Porto (na Agência), Lisboa/Setúbal (Unidade Hoteleira de Oeiras) e Santarém/Leiria (Golegã). Tratou-se da primeira ronda de reuniões com os CCD’s, sendo que o balanço é extremamente positivo, com excelentes participações por parte dos CCD’s com inúmeros contributos. Ao fim de 10 reuniões em todo o País, estiveram presentes mais de 300 CCD’s e dirigentes, onde a permuta e o compromisso de melhorar cada vez mais a vertente desportiva da Fundação INATEL esteve sempre presente.”

Errata > Na edição de Maio da “TL”, na notícia Protocolos Inatel, a foto (3) relativa ao acordo entre a Fundação e o SQAC (Sindicato dos Quadros da Aviação Comercial) foi, por lapso, atribuída ao protocolo firmado com a Associação dos Bombeiros.

UP and DOWN BTT 2010 > Cumpridas, em Maio, as duas primeiras etapas da prova Up and Down Btt 2010, as centenas de participantes competirão, em Junho, nas etapas de Vila Nova de Paiva e Castro Daire, seguindo-se S. Pedro do Sul e Viseu (Julho), Seia e Vouzela (Setembro) e Santa Comba Dão (Outubro). Na 1ª Etapa, em Mangualde, com 650 inscritos, os concorrentes competiram em dois percursos: uma Maratona (73km) e Meia Maratona (25km). Mais informações em: www.upanddownbtt.com

Erasmus na UBI

Decorreu no passado dia 8 de Maio a primeira viagem organizada pela Agência INATEL Covilhã para os alunos do programa Erasmus a estudar na Universidade da Beira Interior (UBI). Durante a manhã, os participantes apreciaram a beleza do Parque Natural da Serra da Estrela, através de um circuito pedestre realizada na zona do Covão da Ponte

- Manteigas. O almoço aconteceu na unidade INATEL Manteigas onde os participantes foram convidados a conhecer um pouco melhor a gastronomia local. De tarde, realizouse a visita ao Museu dos Descobrimentos – Belmonte – oportunidade para conhecer um pouco melhor a história dos descobrimentos portugueses. JUN 2010 |

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Praias Fluviais

Para quem não conhece a região é uma surpresa a profusão de rios e ribeiras, de açudes e albufeiras. Quando veio o turismo, os açudes, principalmente, mudaram de nome e de função: tornaram-se praias fluviais.

O

gua doce

s espaços são os mesmos mas agora há solários e pranchas de mergulho, há bons acessos e painéis informativos. Nalguns casos foi-se mais longe e há parque de campismo, restaurante, nadador salvador e até biblioteca. Tudo isto foi progresso dos últimos anos, resultado do impulso de diferentes agentes locais, do desejo das populações e de uma nova forma de encarar uma riqueza, a abundância de água. Isso conduziu à criação da Rede de Praias Fluviais das Aldeias do Xisto, com vista ao melhor aproveitamento e divulgação de um património comum. Não há nenhum motivo para estabelecer uma hierarquia neste conjunto de praias fluviais, disseminadas por um território maioritariamente montanhoso, sulcado por pequenos e grandes vales, congregado maioritariamente nas margens do Zêzere e dos seus afluentes, região a que de forma pouco imaginativa chamam Pinhal Interior. Em função da localização e do tipo de curso de água cada uma apresenta características próprias. Dito assim, podia começar este itinerário por qualquer uma das 21 praias fluviais (a que se somam algumas mais que não fazem parte da Rede). Porém vou tomar o Zêzere como eixo. Isto porque o rio é sem dúvida um elemento fulcral deste espaço, descendo das alturas da serra da Estrela, desenhando uma linha diagonal até, cerca de 200 quilómetros depois, se lançar no Tejo, em Constância. Começo pelo Parque Fluvial de Janeiro de Cima, concelho do Fundão. Não sei nada de Janeiro de Cima mas logo me dou conta da singularidade da povoação, que com engenho combinou nas construções materiais como o xisto e o JUN 2010 |

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seixo rolado do rio, criando um padrão festivo nas casas. Aqui o Zêzere está retido por um açude, dilatando-se num grande espelho de água. Uma ponte pedonal esticada sobre a água e algumas barcas (embarcações tradicionais do Zêzere), amarradas à margem fazem parte do encanto do local. Continuando rio abaixo, num ziguezague constante, as águas do Zêzere, ora calmas ora aceleradas, acolhem as praias de Janeiro de Baixo, Cambas e Álvaro, aqui já sob a influência da Barragem do Cabril. Deixando o grande rio, esta continua a ser uma terra de águas. Um grande número de pequenos rios e ribeiras, que alimentam o Zêzere,

Praia das Rocas. À direita, de cima para baixo, Praias de Açude Pinto, da Peneda e de Álvaro. Nas páginas anteriores, Praia do Poço Corga

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o Mondego e o Tejo, acolhem mais algumas praias. Aldeia Ruiva e Malhadal, na base da serra de Alvéolos, ambas na ribeira de Isna, são vizinhas e enquanto Aldeia Ruiva se aconchega no leito da ribeira, Malhadal espraia-se por uma grande área, emoldurada por copiosa vegetação. Ainda no concelho de Proença-a-Nova, num pequeno vale que acolhia um moinho comunitário, agora recuperado, fica a praia fluvial da Fróia, alimentada pela ribeira com o mesmo. A praia da Ribeira Grande localiza-se na vila da Sertã, quer isto dizer que também serve de elemento embelezador do espaço urbano, integrando-se num conjunto mais vasto, como a robusta e

elegante ponte de seis arcos construída na época filipina. Mais acima, no concelho de Oleiros, fica a praia do Açude Pinto, logo à beira da vila. Houve aqui um trabalho cuidadoso que deu óptimos resultados. Um sistema de comportas permite criar dois níveis de profundidade da água e assim satisfazer quem dá as primeiras braçadas e os bons nadadores.

Boas Ondas Não é a primeira vez que venho à praia de Mosteiro, uma das três praias fluviais que a ribeira de Pêra acolhe e a que está mais próxima da foz deste afluente do Zêzere. Gosto da piscina desenhando uma suave curva, gosto do jogo de luz e sombra proporcionado pela vegetação, gosto dos arranjos do espaço em volta. Mais a cima, a praia das Rocas tem outras ambições. A praia distingue-se pela dimensão e pelos propósitos. Um vasto espelho de água foi fatiado com vista a agradar a diferentes gostos e a acolher grande número de banhistas. A maior novidade é uma piscina de ondas e é aí que reside o sucesso da Praia das Rocas. É que furar ondas a tão grande distância do mar tem o seu quê de empolgante. Ainda que estas sejam artificiais. Limitado pelas comportas que retêm a ribeira de Pêra fica um lago onde atracam alguns veleiros, cuja função é servirem de alojamento mas que também são um elemento de grande valor cénico. Elemento cénico são também as palmeiras, uma clara sugestão tropical a piscar o olho aos banhistas. Continuando em direcção à nascente encontra-se a praia do Poço Corga. Estamos próximos da serra da Lousã e isso reflecte-se na temperatura da água. Um carvalhal com árvores de grande porte dá-nos uma ideia das florestas primordiais da região, do mesmo modo que um antigo lagar de azeite, agora musealizado, nos lembra antigas tecnologias que se serviam da força da ribeira, há


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um restaurante domiciliado num antigo edifício de xisto, que nos recorda o tradicional material de construção usado na região. Outro afluente do Zêzere, a caudalosa ribeira de Alge, domicilia a praia das Fragas de São Simão. Aqui a força da água, durante milhões de anos, rompeu a rocha criando um desfiladeiro. No sítio onde as paredes de rocha se estreitam a água foi represada e surgiu a praia. Os nomes também contam e Ana de Aviz evoca algo de aconchegante e sedutor. Apesar de vizinha das Fragas de São Simão é de natureza completamente diferente. Aqui, às portas da povoação de Ana de Aviz, encontramos uma pequena praia, quase miniatura, mas cheia de encanto.

Verão nas margens de um rio Seguimos um pouco para Norte e entramos na bacia hidrográfica do Mondego. Nem sempre o tamanho conta e, aproveitando o caudal da pequena ribeira da Azenha, temos as Represas Naturais da Louçainha, que gozam de merecida fama na região e onde a Biblioteca Municipal de Penela expandiu os seus serviços pondo a funcionar durante o Verão a Fluviteca. Ali perto, já no concelho da Lousã, no fundo de um vale abrupto e com um castelo à vista, o que não deixa de ser inesperado dado os castelos procurarem o cimo dos montes, está a praia fluvial da Senhora da Piedade, instalada no leito da ribeira de São João. O rio Ceira, que nasce na serra do Açor a mais de mil metros de altitude, quando alcança terras mais baixas apresenta o curso mais disciplinado e um caudal apreciável e talvez por isso seja campeão no que diz respeito a praias fluviais. Um bom rio para banhos de Verão. De jusante para montante temos as praias fluviais de Bogueira, Senhora da Graça, Canaveias e Peneda. Apesar de o nome sugerir algo de bravio, a praia da Peneda é a mais urbana das praias do Ceira, por se localizar dentro da vila de Góis, um espaço que congrega elementos contemporâneos e a histórica ponte Quinhentista, que salta o rio e conduz para o interior da vila. No côncavo do vale do rio Alva e de dois afluentes, a ribeira de Pomares e ribeira do Piodão temos as praias de Secarias, Pomares e Piodão, de momento em obras. Este é por excelência um espaço de montanhas, domina o xisto e a água é uma constante. JUN 2010 |

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Terra Nossa

GUIA

DORMIR

seguintes unidades: Albergaria

Barroca, concelho do Fundão.

A INATEL possui um Centro de

Lagar do Lago, Casa Ribeira de

Férias em Piodão, (INATEL

Pêra (TR), Quinta dos

A Rede de Praias Fluviais das

INFORMAÇÕES

Piodão, Tel: 235 730 100 /101)

Esconhais, Casa de Hóspedes

Aldeias do Xisto é composta

Existe abundante sinalética por

concelho de Arganil, onde se

D. Delfina e o complexo Villa

por 21 praias espalhadas pelos

toda a região indicando a

localizam as praias de Secarias,

Praia (bungalows e veleiros).

municípios de Arganil, Lousã,

localização das diversas praias.

Pomares e Piodão. Algumas

Góis, Castanheira de Pêra,

A ADXTUR possui um endereço

praias têm parque de

COMER

Figueiró dos Vinhos, Pedrogão

na internet (www.praiasfluviais.

Campismo, como Açude Pinto,

Algumas das praias referidas

Grande, Penela, Proença-a-

com) que disponibiliza

Ortiga e Poço Corga. Todos os

possuem restaurante, como

Nova, Sertã, Oleiros e Mação.

informação detalhada, nomea-

concelhos que integram a Rede

sejam as de Poço Corga,

A promoção e divulgação

damente os acessos, alojamen-

possuem instalações hoteleiras,

Rocas, Louçainha, Mosteiro e

deste conjunto de zonas

to, restauração, património e

embora, provavelmente,

Sra. da Piedade. Todas elas

balneares é da

actividades de lazer em cada

Castanheira de Pêra seja o mais

possuem parque de merendas

responsabilidade da ADXTUR,

um dos concelhos da Rede.

bem equipado com as

/zona de piquenique.

Praia de Mosteiro

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instituição sediada em

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Como aves migratórias vamos rumar ao Sul e terminar este périplo na mais meridional praia da Rede, a Ortiga. O cenário é o da Barragem de Belver, no Tejo, e na vastidão da albufeira a opção foi o uso de uma piscina flutuante, onde se chega por um pontão. A paisagem caracteriza-se por montes arredondados e neste ponto de convergência da Beira Baixa do Ribatejo e do Alto Alentejo, há uma sugestão de Sul, de espaços

abertos, de temperaturas altas e sol a brilhar. As praias fluviais são cada vez mais uma alternativa, ou complemento, às praias de mar. E por mérito próprio. Este texto pretendeu realçar essa riqueza e, para aqueles que não conhecem, ser um incentivo à descoberta deste conjunto diversificado de praias, que certamente proporcionaram a todos bons banhos. I José Luís Jorge (texto e fotos)


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Viagens

Ilha de Kos (Grécia)

A capital da Medicina na Antiguidade O antigo centro médico de Asklepieíon, na ilha grega de Kos, em pleno mar Egeu, deve ter sido um pequeno "paraíso" para o descanso na Antiguidade. MESMO REDUZIDO a ruínas, o local conser-

O Plátano de Hipócrates. À direita em cima, as ruínas de Asklepieíon

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va ainda a preciosa tranquilidade e frescura que estiveram na base da sua escolha para a instalação, no século IV a. C., de uma escola de medicina que funcionasse também como retiro de férias. Os clientes desfrutavam o sossego do isolamento, os banhos relaxantes nas águas tépidas das termas, a vista deslumbrante sobre o Mediterrâneo e a vizinha costa turca. Com os seus quatro terraços de mármore branco escondidos entre os pinheiros que cobrem um monte quatro quilómetros a noroeste da cidade de Kos, a capital da ilha, Asklepieíon era o mais famoso centro médico da Antiguidade. Erguido após a morte de Hipócrates, o pai da Medicina, que nasceu em Kos em 460 a. C., funcionava como templo, escola e centro médico, e retiro de férias. Os médicos eram sacerdotes da Asklepíade e tornavam-se praticantes dos métodos de diagnóstico e tratamento de Hipócrates. A serpente, o símbolo de culto da Asklepíade, é ainda hoje o símbolo da medicina moderna ocidental. O Juramento de Hipócrates, de curar a doença em vez de agravar, é, aliás, jurado ainda hoje por médicos em todo o mundo. Infelizmente, o centro médico mais famoso da Antiguidade está hoje reduzido a algumas colunas de mármore e a um grande monte de pedras não identificadas. Existem apenas vestígios de um Altar a Apólo, do século IV a. C., de um

Templo a Apólo, do século III a. C., do Templo Dórico de Asklepios, do século II a. C., dos banhos romanos, do século I a. C., e pouco mais. Mesmo assim, a vasta área arqueológica, a disposição dos terraços e a sua ligação através de uma enorme escadaria dá uma ideia da importância que este lugar terá tido na Grécia Antiga. Muitos dos inúmeros turistas que visitam as ruínas de Asklepieíon são médicos que procuram assim satisfazer a sua curiosidade sobre o mais famoso centro médico da Antiguidade e a origem do Juramento de Hipócrates. A pequena ilha de Kos, a uma escassa hora de barco da costa da Turquia, é conhecida como o "jardim flutuante". Com uma geografia plana e um solo fértil, Kos é completamente diferente da maioria das montanhosas e áridas ilhas gregas do mar Egeu. A bicicleta, meio de transporte raramente utilizado nas ilhas gregas, é aqui um veículo precioso. É nela que muitos turistas se deslocam diariamente para as praias vizinhas à cidade de Kos. Kos mantém ainda intactos muitos traços do seu rico passado histórico. A secular mesquita otomana de Defterdar, em pleno centro da cidade, é um símbolo emblemático da máxima tolerância religiosa que pode existir entre diferentes comunidades: o piso superior é utilizado como local de reza pela pequena comunidade islâmica da ilha, mas o piso térreo acolhe lojas de artesanato e cafés. Para que as instalações deste edifício religioso pudessem ser aproveitadas para o comércio, os muçulmanos pediram apenas que não fossem vendidas bebidas alcoólicas nos cafés.


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Viagens

Destruída por um violento sismo em 1933, a cidade de Kos é hoje uma combinação perfeita entre antigo e moderno: a rua dos bares corre ao lado da antiga ágora romana, iluminada à noite pelos lasers e os néons, o castelo dos Cavaleiros de S. João, que governaram a ilha entre 1315 e 1522, domina o porto cheio de iates, navios de excursões e barcos de pesca. Kos é uma cidade plena de movida, com centenas de jovens percorrendo a marginal, enchendo os inúmeros cafés, esplanadas e discotecas concentrados junto ao porto. Com uma extensão de cerca 45 Km, Kos vê-se

Viagens INATEL No programa de Primavera - Verão 2010 da Inatel, estão previstas, no circuito praias, viagens à Ilha de Kos, entre 27 e 5 de Setembro, com partidas de Lisboa. Preços por pessoa em quarto duplo 748 euros, em regime de meia pensão. Mas informações nas agências Inatel.

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em escassos dois dias. Várias praias pontuam a costa Norte, mas é na costa sudoeste que se encontram as melhores praias. Íngremes trilhos conduzem às praias de areias brancas e águas calmas e tépidas de Kamári e Paradise. Pequenas povoações, com as suas casas edificadas em encostas bastante inclinadas anunciando o aluguer de quartos e a presença de cafés e restaurantes, salpicam este extremo ocidental da ilha. O desenvolvimento do turismo modificou a essência destes povoados. As típicas cores gregas, o azul e o branco, já não são utilizadas nas fachadas das habitações. Mas a imagem da imagem tradicional da aldeia grega não desapareceu completamente de Kos: nas aldeias Asfendiou, três minúsculos aglomerados populacionais agrupados nas encostas arborizadas do monte Dikaíos, próximo da cidade da capital da ilha, o azul e o branco predominam ainda nas fachadas das pequeninas casas de piso térreo e nos edifícios de dois andares que escondidos entre o arvoredo. Zia, a aldeia mais bonita, tem a vista mais deslumbrante da ilha sobre o Mediterrâneo. I António Sérgio Azenha (texto e fotos)


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século XV pelos Cavaleiros da

Evangelístria e Agios

Petrino Sq. Ioannou

Ordem de Malta, e a antiga

Dimítrios, concentradas nas

Theologou, Kos,

Ágora, que concentra ruínas

encostas arborizadas do

Tel. 0030 2242 027 251.

Kos, apesar de ter um

de várias épocas, marcam a

monte Dikaios, são exemplos

Taverna Mavromatis Psalidi,

comprimento inferior 45 Km e

cidade. O 'plátano de

perfeitos da clássica aldeia

Tel. 0030 2242 022 433.

uma largura entre 2 Km e 11

Hipocrates', assim chamado

grega de casas brancas e

Taverna Katerina Agios

Km, é a segunda maior ilha do

porque terá sido plantado pelo

azuis e pequenas igrejas

Stefanos (entrada à esquerda

Dodecaneso. Rica em

pai da Medicina há 2400 anos,

bizantinas com cúpulas

do Club Med)

vestígios arqueológicos e

é também um marco da

bordeaux.

Tel. 0030 2242 071 513

banhada pelas águas mornas

capital da ilha.

GUIA

e translúcidas do Egeu, Kos é

Taverna Oromedon Zia, Agios Stéfanos

Tel. 0030 2242 069 983.

um mimo para os adeptos da

Asklepieíon

É uma das praias mais

boa gastronomia, em especial

As ruínas do centro médico

aprazíveis de Kos. Frente à

DORMIR

no que diz respeito à mistura

mais famoso da Antiguidade

praia, ergue-se a ilhota de

Kos Aktis Art Hotel Vasileos

dos estilos grego e italiano,

distam apenas 3,5 Km da

Kastri com a pequenina

Gevrgiou 7, Kos

com o peixe e o marisco a

cidade de Kos. É o sítio

igreja de S. Nicolau,

Tel. 0030 2242 047 200,

predominarem.

arqueológico mais importante

branca e azul, a marcar o

www.kosaktis.gr

da ilha e um dos mais

horizonte.

Kos Imperial Thalasso Psalidi, Tel. 0030 2242 058 000,

VER

relevantes da própria Grécia.

Cidade de Kos

Das suas escadarias avista-se

COMER

www.grecotel.com

Na capital de Kos, o moderno

a acidentada costa da Turquia.

H20? Kos Aktis Art Hotel,

Carda Beach Hotel

Vasileos Gevrgiou 7, Kos

Kardamena,

e o antigo convivem lado a lado em harmonia. O Castelo

Aldeias Asfendíou

Tel. 0030 2242 047 200

Tel. 0030 2242 091 221,

de Neratzia, construído no

Zia, Asómatos, Lagoúdi,

www.kosaktis.gr

www.cardabeachhotel.gr JUN 2010 |

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Turismo Sénior

Cândido de Barros, “super sén Aos 100 anos vive-se bem sem b No Hotel Santa Maria, em Alcobaça, celebrou-se os 100 anos de Cândido de Barros, no dia 16 de Maio. Distinguido com o “Prémio Super Sénior” (primeira edição do INATEL), o protagonista deste artigo é um homem sem vaidade que gosta de ajudar quando é possível. Foi um prazer conhecê-lo tão jovem.

DURANTE O JANTAR no Salão Nobre do Casino da Figueira da Foz (integrado no programa Turismo Sénior 2009/2010 – 3ª Fase), uma associada da INATEL, natural de Faro, descobre que Cândido Ribeiro de Barros, sentado na mesma mesa, tem nem mais nem menos do que 100 anos. “Ai! credo, 100 anos! Ai, credo!”, diz ela parando por momentos de comer o bacalhau à lagareiro servido antes de começar “Show Time”, o espectáculo de dança internacional previsto para esta noite. Maria Felismina, há mais de uma década empregada e acompanhante de Cândido de Barros, sorri ao ver a perplexidade que provocou e conta-nos como ao inscreverem-se neste programa temático designado por “Rota da Dança”, com uma semana de estadia no Hotel Santa Maria em Alcobaça, não conseguira indicar a verdadeira idade do “senhor Barros”, porque o “computador não aceitava uma idade com três dígitos!” Na agência em Paços de Ferreira, (distrito do Porto), onde vivem, tiveram de telefonar para a INATEL a perguntar como se fazia, porque o “senhor Barros” tinha 100 anos e o computador não deixava. “E qual foi a resposta?”, perguntamos: “Disseram-nos para pôr 99 anos, penso que foi assim que descobriram a nossa vinda; quando chegámos havia uma festa à nossa espera com centenas de pessoas e o Presidente da INATEL, Vítor Ramalho, veio pessoalmente entregar o ‘Prémio Super Sénior’ [Primeira Edição] e ofereceram-nos um bolo com mais de dois metros”. “Não sabíamos, não estava à espera de nada” – adianta Cândido de Barros e sempre muito edu26

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cado pede – “gostava que soubessem, estou muito agradecido pela forma como tenho sido tratado no INATEL”. O nosso centenário interlocutor faz ainda outro pedido: “(Sobre mim) escreva o mínimo que puder”. Não lhe interessa o protagonismo, não é vaidoso, nem o passado o desconcentra do presente, na realidade uma pessoa que viveu 100 anos não precisa de “biografia” e menos ainda de a tornar pública. “Gostávamos de lhe tirar uma fotografia. Talvez na varanda do Hotel, sobre o Mosteiro de Alcobaça. Seria possível?”, perguntamos, no final da tarde, umas horas antes do autocarro sair em direcção à Figueira da Foz. O nosso interlocutor aceita com prontidão, mas a luz não é favorável, seria melhor atravessar a estrada, procurar um lugar mais soalheiro. Hesitamos, temendo cansálo. E é ele a sugerir com jovialidade: “Mas então atravessamos a estrada, podemos ir mais à frente, onde houver Sol”. A bengala ajuda a equilibrar este homem alto, de porte elegante e maneiras delicadas, mas nunca sentimos que os seus 100 anos sejam um peso, uma limitação, bem pelo contrário. E enquanto, um associado septuagenário precisa levantar-se a meio do espectáculo de dança, porque lhe “dói a coluna”, Cândido de Barros, operado várias vezes, nunca teve dores, nunca lhe doeu nada. Embora ao recordar Emília de Sousa Gonçalves, a esposa falecida há uns anos, “uma mulher bonita de quem gostava muito”, se compreenda que a dor da perda passou inevitavelmente pela sua vida. Casaram, tinha ele 27 anos, já trabalhava, porque


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énior” m biografia

Grande apreciador de viagens dentro do País, Cândido de Barros continua a conduzir e nunca teve um acidente

embora os seus pais fossem professores, os dois filhos mais velhos tiveram ir trabalhar para que os restantes quatro pudessem estudar. Nenhum ressentimento. “Nunca tivemos nenhum problema por causa disso, estamos todos bem na vida». “E como foi a sua vida profissional?” queremos saber. Cândido de Barros responde com a habitual solicitude: “Agora todos os dias se diz

que isto é mau mas no meu tempo era pior, trabalhava-se muito e ganhava-se muito pouco”. E depois resume a sua vida profissional em poucas frases: “Fui primeiro aprender relojoaria mas vi que não dava resultado porque se ganhava pouco. Depois apareceu uma loja para trespassar, eu tomei conta dela, tinha mercearia, vendia ferragens e material de construção. Era em JUN 2010 |

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Turismo Sénior Carlos Barroso/CM

Vítor Ramalho, Presidente da INATEL, entregou em Alcobaça o ‘Prémio Super Sénior’ a Cândido de Barros

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Lordelo (Paredes) não havia correios, eu disponibilizei um canto da loja para o correio e passei a ser o responsável; mais tarde vim para Arreigada (Paços de Ferreira), a minha freguesia, onde nasci, e construi lá um prédio para habitação e negócios; fui Presidente do Grémio do Comércio, estive lá uns anos e passado um tempo fui presidente da Câmara Municipal de Arreigada, fiz a construção dos fontanários para todos terem água…” Apesar de ter sido presidente camarário e testemunha de tantas alterações políticas não se considera um político: “assisti a muita coisa mas nunca fui um político, e não sendo monárquico penso que no tempo dos reis o povo era mais estimado”. Grande apreciador de viagens dentro do País, continua a conduzir e nunca teve um acidente, é um homem crente sem deixar de ser crítico até porque “há coisas que fazem com que uma pessoa possa deixar de o ser” e pergunta-nos: “Alguma vez viu uma freira ou um padre a andar de joelhos em Fátima?” Não, não nos lembramos de nenhum caso semelhante e fazemos nova pergunta: “E ao senhor Cândido afinal o que o mobiliza? O que aprendeu de mais importante em 100 anos de vida?” Sem perder muito tempo a pensar diz: “Aprendi que quem quiser ser respeitado tem de respeitar e colaborar quando é preciso, eu tenho

colaborado com a Santa Casa da Misericórdia. Sempre me senti bem a ajudar os outros mas sem pretender ir buscar alguma coisa, nunca quis dar para receber, o meu trabalho chegava, não precisava de explorar ninguém. Ajudo quando é possível e quando não é também não faz mal”. Pelo companheirismo de Maria Felismina e a total ausência de sobranceria da parte de Cândido de Barros percebe-se que tratar bem os outros é um dos traços de personalidade que, porventura, poderá ter-lhe prolongado a vida. Não menos importante será continuar a conviver, a frequentar a associação “Os Bravos” da qual faz parte, em conjunto com mais de 20 amigos, ou usar sempre gravata simplesmente porque gosta de «andar limpo e bem posto», ou beber todos os dias o seu café a meio da manhã, ou ainda gostar de orquídeas e camélias, apreciar-lhes as cores, em suma, cultivar tudo o que lhe faz bem. Durante o espectáculo de dança - exuberante em alegria e ritmo, com um extraordinário corpo de baile interpretando entre outros, os célebres musicais “Cabaret”, “Grease” e “Can Can” - quando já sentíamos o cansaço chegar devido ao adiantado da hora, era quase meia-noite, Cândido de Barros continuava bem desperto. “Este espectáculo até tira o sono”, comentou sorridente. Uma resistência compreensível para quem vive há 100 anos.I Susana Neves (texto e foto)


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Solidariedade

Cinema de Bairro Outras vidas, novas histórias Na última terça-feira de Abril, Cinema de Bairro trouxe ao Teatro da Trindade 25 jovens de bairros sociais de todo o país que, sem se conhecerem, partilharam uma experiência comum: todos eles tinham sido desafiados a pegar numa câmara de filmar e a aprender a contar a história das suas vidas.

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FILMAR HISTÓRIAS reais, captar quotidianos, romper a rotina dos bairros sociais. Tratou-se de um projecto sócio cultural produzido, entre Março e Abril, pela Fundação INATEL, com o apoio do Instituto da Segurança Social, integrado nas acções do Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Sócia (AECPES 2010). Como referiu Edmundo Martinho, o Coordenador Nacional do AECPES 2010, “o resultado do filme é, no mínimo, surpreendente”. E tudo isto talvez aconteça porque a realidade que acabam por retratar também é, na sua crueza, contrastante. É que se há um tema comum, a integração em novas urbanizações com novas condições de vida mas também com uma sensação de desenraizamento, por vezes o filme quase que é apanhado desprevenido pela realidade que, com grande naturalidade, nos traz. Como quando aquele rapaz e rapariga do antigo Bairro LDF (bairro do Largo da Feira) são confrontados com o facto de irem ser pais. O rapaz, ainda a estudar, a viver em casa dos pais, num quarto com o seu irmão, fala do seu futuro, do ir procurar trabalho, enquanto a namorada, uma adolescente ainda, grávida, explica que no bairro aquilo acontece muito e que a mãe reagiu normalmente, porque ela é contra o aborto. E, mais à frente, no Bairro da Rosa, em Coimbra, esta crueza suspende-se para ouvirmos a história de uma viola que anda de mão em mão e que já ensinou meio bairro a cantar. É assim que vamos caminhando entre os diferentes registos, desde o rap do Bairro do LDF em Olhão, ou o drama familiar daquele pai desempregado no Bairro de Matadouços, passando pela relação tensa entre os jovens do Bairro do Casal da Mira e a polícia.

Idália Moniz, Edmundo Martinho, Vítor Ramalho e Rui Simões na cerimónia de apresentação dos filmes no Teatro da Trindade.

Edmundo Martinho e Cristina Baptista na apresentação do projecto na Inatel em Oeiras. Em baixo, Orquestra Geração Dolce Vita

Cinco bairros, cinco vozes A ideia de Cinema de Bairro nasceu quando, no final de 2009, Susana Marques, coordenadora do sector de cinema e audiovisual da Inatel, viu Nascidos em Bordéis (vencedor do Óscar 2005 de melhor filme documentário), passado no Bairro Vermelho de Calcutá e dirigido por Zana Briski, uma fotógrafa de Nova Iorque, que distribuiu câmaras por várias crianças e as levou a captar a realidade dura em que viviam. Era o começo de um projecto, Crianças com Câmaras, com grande projecção internacional. Pedro Sena Nunes, Rui Simões, Marta Pessoa, JUN 2010 |

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Solidariedade Da esquerda para a direita: coordenadores Rui Simões e Leonor Areal e os protagonistas dos filmes Henrique Barbosa (Coimbra), Fábio dos Santos (Olhão) e Nilton Semedo (Amadora)

João Pinto Nogueira e Leonor Areal foram os escolhidos para coordenar a realização dos cinco filmes, um em cada bairro. Dada a sua dispersão geográfica, o projecto teve como parceiros Associações locais que mediaram o contacto com os jovens. Começou tudo por uma dinâmica de formação básica, aplicada ao manuseio do equipamento, depois foram recolhidas imagens e estas serviram para Francisco Costa lhes ensinar os rudimentos da montagem e edição de vídeo. A partir daí surgiram vários filmes. Na apresentação no Trindade, o que vimos foi o resultado da montagem do realizador José Nascimento, com música de Adriano Filipe, segundo a orientação de cada coordenador.

Que futuro? Rui Simões quer oferecer as suas obras para a criação de uma pequena videoteca para os jovens, e não tem dúvidas de que o projecto deve continuar. “Senão – diz – é um fait-divers. Apostar nos mesmos grupos e no fazer algo que se possa comparar com o que foi feito para se per-

ceber a evolução.” Leonor Areal sugere “um segundo capitulo. Eles agora deviam fazer um filme e nós iríamos lá vê-lo”. A INATEL, que mantém a ligação aos vários grupos de jovens pretende, mesmo que em diferentes moldes, reforçar os laços criados com Cinema de Bairro. Alguns dos jovens com quem falámos, salientaram, emocionados, a importância da sua experiência. Para Nilton Semedo, 18 anos, da Amadora, “foi algo que eu e os meus amigos nunca tínhamos passado na nossa vida”. Nilton quer ser futebolista e quando lhe pergunto por histórias boas do bairro, fala do futebol:”– É o desporto que se fala e que se pratica mais. Há muitas pessoas com capacidade de improviso e de capacidades de jogar à bola.” Henrique Barbosa, de Coimbra, quer ser animador cultural para “pegar nas pessoas do bairro e levá-las para fora”. Este trabalho – sublinha – pode ajudar-nos a ter esperança no fim dos preconceitos.” Fábio, de Olhão, 16 anos, ambiciona ser modelo e deseja que “novas pessoas visitem o bairro para lhe darem um novo ânimo”. I Joaquim Paulo Nogueira (texto) José Frade (fotos)

Ficha Técnica Todos somos uma história - Bairro de

Sousa, Henrique Barbosa, Hugo Cortez

Coordenado por Rui Simões. Um filme

Mataduços, Guimarães. Parceiro: Casa

e Nivaldo Costa.

de César Flores, Eduardo Barão, Jéssica

do Povo de Fermentões. Coordenado por

Martins, Pedro Neves, Rafaela de Jesus

João Pinto Nogueira. Um filme de

A Doce Vida - Bairro do Casal da Mira,

Anabela Marques, João Fernandes,

Amadora. Parceiro: Associação Unidos

Nolasco Napoleão, Pedro Fernandes,

de Cabo Verde. Coordenado por Pedro

Um dia de cada vez - Bairro da Ilha da

Rui Carvalho.

Sena Nunes. Um filme de António

Armona| Bairro das Panteras –Cor-de-

Alexandre Lopes, Eliseu Varela, Fábio

Rosa, Olhão. Parceiro: Moju – Movimento

Vicente e Nilton Semedo.

Juvenil de Olhão. Coordenado por Marta

Coimbra é uma canção - Bairro da Rosa, Coimbra. Parceiro: Cáritas

e Sara Rodrigues.

Pessoa. Um filme de David Santos, Fábio

Diocesana de Coimbra. Coordenado por

Utopia - Bairro I e II de Beja. Parceiro:

dos Santos, Fábio Ribeiro, Hélio Simplício,

Leonor Areal. Um filme de Débora de

Associação Juvenil Arruaça.

Joaquim Ribeiro e Tatiana Sousa.

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Comunidades

Vindos de longe... com “Portugal no Coração” Partiram para o estrangeiro à procura de novas oportunidades, meio século mais tarde, revisitam as origens, graças ao programa “Portugal no Coração”. SÃO EMIGRANTES na Argentina, Venezuela, Austrália, África do Sul e Moçambique os 17 participantes da 1ª fase do Programa “Portugal no Coração”, uma iniciativa da Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas, TAP e Fundação INATEL que, desde 1996, traz, todos os anos em Maio e Outubro, várias dezenas de emigrantes seniores ausentes do país por longos períodos de tempo e com fracos recursos económicos. É entre lágrimas e sorrisos de gratidão para com o Estado Português e todas as instituições

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que acolhem a iniciativa que estes participantes que não pisavam solo luso, há largas dezenas de anos, deixam transparecer vidas pautadas de maior ou menor sucesso mas, contudo, dignificantes de uma comunidade que teve a coragem de ir além fronteiras procurar uma melhoria para as suas vidas. “Fui atrás de um sonho e à procura de novas oportunidades”, sublinha Agostinho Barros Júnior que, aos 24 anos, decidiu seguir os passos do seu pai e trocar o seu pacato bairro no Porto por Caracas. “Na Venezuela era mais fácil ganhar dinheiro” adianta, ainda, este electromecânico que conseguiu com muito esforço equilibrar a sua vida e educar cinco filhos, mas viu sucessivamente adiados os projectos de visitar a terra natal. Os anos foram passando e hoje, cinquenta e cinco anos mais tarde e viúvo, tem a oportunidade de matar saudades de uma vida, da irmã que não vê há mais de meio século, do irmão que


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encontrou pela última vez na Venezuela há trinta anos e das cores, cheiros e sabores que guarda na alma. Agostinho não se cansa de agradecer a oportunidade que teve e que não poderia custear com a sua magra reforma e confidência que “se pudesse vinha morar para cá!”, mas são os seus três filhos ainda vivos e os nove netos que o prendem à Venezuela. Também Maria Belo vai rever, após cinquenta anos, a sua mãe quase centenária, residente no Caniço, Ilha da Madeira, e conhecer duas irmãs fruto de um segundo matrimónio. E as histórias de longas ausências sucedem-se, a distância dos países onde residem e os fortes encargos com as viagens pesam demasiado nos seus magros orçamentos e são apontadas como o grande impedimento para revisitar as origens, caso de Arlindo Mendes, de 67 anos, residente há 40, em Sidney (Austrália). “Não vinha a Portugal há 22 anos, porque não é fácil viajar da Austrália para aqui e eu nunca tive muita sorte na vida…”, conta Arlindo sobre esta viagem que foi o melhor que lhe podia acontecer. “Foi António Ferreira

das Comunidades que me tratou da visita”, refere o madeirense, de Santo António, que casou por procuração e tem dois filhos. Também Maria Elvira foi ao encontro do pai, em Buenos Aires, ainda mal articulava palavras e por lá ficou, contam-se já sessenta e dois anos, uma vida sem memória do seu país, marcada pelo desejo de um dia poder conhecer Canas de Senhorim. Elvira está encantada com tudo o que vê. Adorou Albufeira, Sintra e Cascais mas as maiores expectativas guarda-as para o reencontro com o norte e centro do país, para onde viajará numa das muitas saídas programadas e com a preciosa ajuda de Ana Paula, a guia turística que os acolhe e acompanha durante toda a estada. O programa, registe-se, inclui viagem de avião, estadia em regime de pensão completa durante duas semanas e um conjunto de actividades turísticas e culturais que irão possibilitar um conhecimento do país de norte a sul e um contacto com a gastronomia e cultura de cada região. I Glória Lambelho (texto) José Frade (fotos) JUN 2010 |

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Paixões

Paulo Alexandre Vidas paralelas Publicou um livro onde fala das suas duas vidas paralelas que durante anos a fio se foram tecendo sem incompatibilidades. ASSINA com o nome de Paulo Alexandre, o cantor da voz romântica que sensibilizou plateias e vendeu pilhas de discos. “Conciliei a actividade dos cifrões com a das canções”, sublinha. Mas não se pense que usurpou a identidade de alguém. Na verdade, o seu nome de pia não é este. O padrinho, vá lá saber-se porque bizarras razões, chamou-lhe Modesto.

Raízes Assim ficou registado quando nasceu em 1931 em Vouzela. Dias depois de ter dado à luz, a mãe embarcou com ele no comboio rumo a Lisboa onde se refastelou no primeiro berço. “Sinto-me um alfacinha de gema”, confessa. Aos três anos, olha o passarinho do fotógrafo no aprumo dos calções pretos, meias brancas, lustrosos sapatos de polimento e um penteado em crista. Já nessa altura, o petiz pespegava-se junto da telefonia que transmitia as canções em voga. Dotado de ouvido para a música, ajeitavase a cantar modinhas brasileiras perante o deleite dos adultos que adoram assistir às habilidades das criancinhas. “Era um miúdo alegre e irrequieto”, afirma. Os tempos, com os apertos da Segunda Guerra Mundial, não corriam de feição. Havia racionamento de certos produtos, os empregos escasseavam e os tostões eram contados. Foi neste caldo de privações e sobressaltos que decorreu a infância de Modesto Pereira da Silva Santos. Torneando as dificuldades, o pai comprou-lhe um banjo em segunda-mão no rematar da década de quarenta. Aprendeu a tocar. Ainda tentou uma aproximação ao violino mas depressa se aperce36

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beu de que não era o instrumento mais adequado ao seu temperamento impaciente. Apesar do ranço provinciano, Lisboa dava-se ares de cosmopolitismo. Fervilhava de espiões de todos os quadrantes que frequentavam os cafés da Baixa e os hotéis. O amarelo dos carros eléctricos imprimia algum colorido à cidade que se mostrava apagada e bisonha. Estado de “alma” em que o puto nem sequer reparava. Deslocavase nos eléctricos à cunha, tendo por vezes que andar na pendura, pois não podia perder o transporte. Até que um dia aconteceu um episódio típico do regime anterior. “Um polícia zeloso deitou-me a luva e lá fui parar à esquadra. Dali levaram-me para a Tutoria de Infância e cortaram-me o cabelo à escovinha”, relata. Os pais resgataramno mas ainda se apresentou perante um juiz. Tinha 14 anos.

Triunfos Frequentava o terceiro ano da Escola Veiga Beirão, que ocupava o Palácio Valadares no Largo do Carmo, quando entrou como groom para o Banco Burnay com um salário mensal de 150 escudos e ainda o bónus do almoço na cantina. Nada mau. Na farda de cotim ou de fazenda azulescura, conforme os ditames das estações, brilhavam filas de botões dourados. Talvez limpos com a Solarina, um produto de utilidade doméstica que na época não faltava nas casas portuguesa. Impecável, só perdia a compostura nos momentos de ócio em que dava uns toques de bola com os colegas no Terreiro do Paço. Entretanto, Modesto Santos ia ganhando tónus cultural. Devorava livros de aventuras medievais como o Ivanhoe, de Walter Scott, Noiva de Lagardére ou os Três Mosqueteiros. Quadros superiores do banco incutiram-lhe o gosto por outras leituras. Ávido de aprender, aceitou as recomendações. “Aprendi imenso. Empenhei-me com prazer na leitura das obras de Alexandre Herculano, de Camilo Castelo Branco,


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Paixões

de Eça de Queiroz e de outros escritores portugueses”. Aos 18 anos foi integrado no “pessoal maior”, o que significa subir de categoria. Com o passar do tempo, as promoções sucederam-se até atingir cargos directivos de alta responsabilidade no sector da banca. Na “vida dos cifrões” cumpriu a trajectória do self made man. Também conheceu o doce sabor do triunfo na “vida das canções”. Já na pele de Paulo Alexandre, em 1954, estreia-se como cançonetista no programa Ouvindo as Estrelas da Emissora Nacional. A partir daí, construiu uma carreira. Participou em inúmeros Serões para Trabalhadores da FNAT, gravou discos, escutou aplausos e fundou com Nuno d`Almeida, Fernando La Rua e Américo Lima o conjunto vocal 4 de Espadas. “Na linha dos grupos americanos Platters e Four Aces, destacámo-nos no mundo da rádio, da televisão e do teatro. A convite de Vasco Morgado, integrámos o elenco de várias comédias musicais protagonizadas por Laura Alves”. Os 4 de Espadas, formado por dois bancários e dois funcionários de empresas petrolíferas, tinham vidas duplas. “Conseguimos aguentar as duas actividades com alguma engenharia. Era cansativo fazer noitadas pelo país fora e termos de estar no emprego às dez da manhã. Normalmente procurávamos acordar as datas dos concertos no Casino do Estoril de maneira a coincidirem com as nossas férias”, salienta. Inesquecível, a actuação na sala do Monumental, antes do concerto de Louis Armstrong and His All Stars. No enquadramento da foto38

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grafia surgem os quatro risonhos rapazes, ao lado da estrela do jazz.

A vida continua… Paulo Alexandre e Nuno d`Almeida, aproveitando a explosão da cultura juvenil nos anos 60, abriram uma discoteca nas redondezas da Avenida de Roma onde moravam. O mítico Calhambeque, que tinha como atracção o melhor som da música anglo-saxónica e uma pista de minicar, conquistou as boas-graças dos meios boémios lisboetas. “A inauguração da boîte foi um sucesso, até passou no telejornal da RTP. Mais tarde, em 1969, ressurgiu modernizada e ampliada. Manteve-se em funcionamento durante 20 anos”, garante. Contra a corrente dominante, Paulo Alexandre lançou em 1977 o disco Verde Vinho que logo galgou para o primeiro lugar dos tops nacionais. Até a revista inglesa Billboard assinalou a popularidade do single. “Um êxito total e absoluto, vendeu milhões”, afirma o criador. Nostalgia? “Sim, da juventude e daquela época”. Terminou a carreira artística em 2005. Da outra, reformou-se aos 50 anos. Depois há ainda uma vida intermédia no campo da produção de documentários biográficos e programas de música erudita para a RTP2. Foram perto de seiscentos programas culturais, o que é bastante significativo. Tanta memória, tanta gente com quem se cruzou no mundo do espectáculo. Tantas alegrias, tantas viagens por tantos continentes. E tudo parecia fácil, bastava querer. No livro Duas Vidas Numa Só, conta a sua história de vida. Uma vida cheia de tanto. Mas ainda não desistiu do fazer. Agora, com o amigo Nuno d`Almeida, trabalha na área da publicidade e do design. As paredes do escritório, que partilham, estão forradas de cartazes ilustrativos da biografia de um corredor de fundo que ganhou em todas as pistas. I Lourdes Féria (texto) José Frade (fotos)


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Portfólio

Tibete

Uma nação no Tecto do Mundo PAÍS DAS NEVES ETERNAS, Tecto do Mundo ou Shangri-la, são algumas das expressões mais comuns quando queremos referir-nos ao misterioso e esotérico Tibete. Porém, a verdade é que tais palavras se revelam insuficientes para definir a grandiosidade e amplitude desta extensão de terra nos confins dos Himalaias. Fonte de fascínio para o mundo exterior, o Tibete esteve «apartado» do Ocidente pelo menos até ao início do século XVII, altura em que jesuítas portugueses instalados em Goa, incitados pelos rumores de que ali existiriam comunidades

cristãs, abriram o caminho a uma série de exploradores e aventureiros que apenas quase três séculos mais tarde depois ousariam partir em busca das riquezas materiais e espirituais dessa nação. Lhasa, a capital, era conhecida como a «Cidade Proibida», tal era a dificuldade em obter autorização para a visitar, mas, quando em meados dos anos 80 do século passado, as suas portas se abriram ao turismo, o Tibete deixou de ser o reino escondido que alimentava os sonhos dos mais curiosos. I Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)


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Memória

Laura Alves: o sorriso inesquecível Ela não gostava de ser actriz, como disse um dia ao jornalista Alexandre Manuel. E, 400 peças depois, o que seria se ela gostasse de ser actriz! ELA É LAURA ALVES, lisboeta, nascida a 8 de Setembro de 1921, uma das maiores actrizes portuguesas de sempre, uma verdadeira máquina de fazer dinheiro (peça em que entrasse era êxito popular) e uma figura carismática com «uma espantosa personalidade, uma alegria, estilo, raça, força superior que raramente aparecem nas gentes de teatro, nos quase-eleitos». Isto disse dela um dos maiores autores de textos para o teatro de revista chamado César Oliveira. “Foi Deus…” «Estou no teatro porque Deus assim o determinou. Foi ele que me disse: Vais lá abaixo e, por castigo, serás actriz em Portugal.

Sim, porque só por castigo se é actriz vedeta nesta terra.» E confessaria depois que nunca lhe interessou ser actriz e que se houvesse outro meio de comunicação, onde pudesse ganhar para comer, já há muito teria largado o teatro. Esta confissão foi feita em 1971, já Laura Alves era vedeta incontestada do nosso teatro, fosse ele revista, comédia ou drama popular. Como disse Vitor Pavão dos Santos, na hora da sua morte, ela foi, na revista, a actriz mais completa. Fazia rábulas, cantava, dançava, chefiava apoteoses com um talento desmesurado. E se Deus determinou, de facto, que Laura fosse actriz o melhor era começar bem cedo. Aos três anos já ela era o «miudo» da peça policial «Os Vinte mil dólares» representada numa sociedade de recreio que funcionava na rua de S. Bento. Aos seis anos representava no Grupo Dramático Lisbonense e aos nove, por interferência do prof. Armando Lucena, ingressou na Companhia de Alves da Cunha para interpretar uma garotinha na peça «As Duas Garotas de Paris», no Teatro Politeama. Laura nunca mais parou de representar, ora na Companhia de Adelina Abranches ora no Teatro Nacional onde foram seus mestres Palmira Bastos, Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro.

Primeira figura aos 17 anos Com carteira profissional desde os 14 anos, Laura viu-se de repente primeira figura de uma companhia no Trindade, ao lado do veterano Álvaro Pereira. A partir daqui, Laura entregou-se por completo ao teatro e ao seu público, que a admirava e não lhe regateava os aplausos. «O público para mim começou a ser uma paixão e uma necessidade. Gostava de ver as pessoas na plateia e dava-me inteiramente a elas.». O teatro deu a Laura fama, popularidade, dinheiro. Deu-lhe um marido, o empresário Vasco Morgado, um filho, Vasco que, embora ela não gostasse, acabou por seguir as pisadas do pai, e 44

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Ensaios de “A Promessa”, com Rui de Carvalho, Maria Cristina e Emílio Correia. Em baixo, no filme “O Costa de África” ao lado de Vasco Santana

deu-lhe também muitas preocupações e frustrações. Divorciada quando o filho atingiu a maioridade, casou ainda uma vez mais com o maestro Frederico Valério mas nessa altura já Laura Alves era uma sombra do que fora. César Oliveira, autor, conhecia bem a actriz com quem trabalhou várias vezes e, na hora da sua morte, foi dele o melhor retrato da vedeta: «Era uma pequena – grande mulher, cheia de uma energia comunicativa que o público, que a adorava, nunca esquecerá. O seu multifacetado talento é surpreendente em todos os géneros: passa do burlesco, da vedeta do cinema mudo e da saloia de Fanhões para a dança em pontas de «As Três Valsas». Domina a comédia, interpreta corajosamente a alta comédia e o drama. Shakespeare, Tennessee Williams, Casona, Santareno. Laura é sempre sinónimo de êxito, embora seja o teatro alegre o que mais se aproxima do seu tipo e personalidade de actriz.»

Com 25 anos – a número um Ao lado de Villaret, Laura brilha em «Margarida vai à fonte». Tem 21 anos e ninguém lhe leva a palma. Com Estêvão Amarante é vedeta em «O Zé do Telhado» e em «Tá bem ou não tá? E em filmes que fizeram história: «O Pai Tirano», «O Pátio das Cantigas», «O Leão da Estrela», «Sonhar é fácil» para só referir alguns. Quando é inaugurado o Teatro Monumental,

Laura Alves é primeira figura na opereta «As Três Valsas», a que se seguem outros êxitos: «Lisboa Nova», «Viva o Luxo», «Mulheres há muitas», etc. «Pai Precisa-se» (1982) foi a sua derradeira peça. Atacada pela arteriosclerose, ainda assistiu à destruição do Monumental e morreu quatro anos depois, a 6 de Maio de 1986. Tinha 64 anos. «O seu sorriso fica inesquecível. Não acredito que haja alguém que alguma vez a tenha visto e não a recorde com saudade.» Palavras de Vitor Pavão dos Santos. E que belas palavras. I Maria João Duarte JUN 2010 |

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Olho Vivo

Genes com 70 mil anos

Bom sono

O homem moderno tem entre 1 e 4 por cento de genes do homem de Neandertal, segundo os cientistas que analisaram, em Maio, o ADN deste nosso primo desaparecido há 30 mil anos, comparando-o com o nosso. Um estudo da revista Science prova que sempre houve, como se pensava, cruzamentos entre os neandertais e os cro-magnon. Depois de quatro anos de trabalho em volta de três fragmentos de osso, a equipa de Svante Paabo, do Instituto Max Planck, de Leipzig, sequenciou mais de 400 mil genes e comparou-os com cinco homens, africanos, europeus, chineses e australianos. Os africanos são a população com menos genes neandertais, prova de que o cruzamento se deu depois do género humano sair do continente-berço para o Médio Oriente, há uns 70 mil anos.

Cientistas italianos e ingleses garantem que quem dorme regularmente menos de seis horas por dia tem mais 12% de possibilidades de morrer, ao fim de 25 anos de noites mal dormidas. Isto, comparado com quem tem uma dose de sono "ideal" de seis a oito horas por dia. Quem dorme habitualmente mais de nove horas, também morre mais cedo, segundo o estudo, embora esse dado inclua muitas pessoas com outras doenças (por isso é que dormem tanto). A relação entre o sono e a mortalidade foi estudada em 1,5 milhões de indivíduos, abrangidos por 16 estudos específicos. Segundo o professor Francesco Cappuccio, da Universidade de Warwick (Reino Unido), cada vez se dorme menos, na sociedade ocidental, e, só na Grã Bretanha, a falta de sono pode ter matado 6,3 milhões de pessoas com mais de 16 anos, nos últimos dez anos.

Sexo na Terceira Idade O Jornal de Gerontologia do estado (norte-americano) de Oregon dava no mês passado duas notícias sobre o sexo na Terceira Idade - uma boa e uma má. Começando pela má, os idosos e as idosas que consultam o médico ou o psicoterapeuta para resolverem problemas do foro sexual, não ganham muito com isso e não ficam mais aliviados do sofrimento psicológico que o distúrbio lhes possa causar. E agora a boa: os homens idosos que falam desses problemas com a companheira, ou com amigos, dão conta de um maior bem-estar emocional e têm menos depressões. Foram estudados 861 homens e mulheres, com idades entre os 57 e os 85, sofrendo de pelo menos um problema do foro sexual, falta de desejo, incapacidade de atingir o orgasmo, dor durante o coito, ou outro. "Não estamos certos do que fazer com esta descoberta", disse o Dr. Hirayama, que conduziu o estudo.

Queda de Mozart Os pulgões não comem cenouras Os pulgões, ou piolhos-das-plantas, insectos afídeos, não precisam de ingerir alimentos ricos em caroteno, molécula fundamental para a visão, saúde da pele, crescimento ósseo e outras funções fisiológicas que nos obrigam a comer cenouras desde pequenos. A descoberta foi feita por cientistas da Universidade do Arizona (EUA) e estes pulgões são os primeiros animais conhecidos a produzir o poderoso anti-oxidante. Até agora, pensava-se que todos os animais tinham de obter a substância através dos seus alimentos, como faz o homem. Pensa-se que os insectos terão recebido o gene produtor de carotenoides de um fungo. Foi copiado e faz hoje parte do ADN do pulgão. O estudo foi publicado em Maio, na revista Nature. 46

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Investigadores da faculdade de psicologia de Viena concluíram que ouvir música de Mozart não torna as crianças mais inteligentes, ao contrário da crença muito espalhada a partir de 1993, na sequência de um pequeno estudo da Universidade da Califórnia, com 36 miúdos, publicado pela revista Nature, que ia nesse sentido. O estado norteamericano da Geórgia, que oferece desde então um CD de Mozart a cada recém-nascido, vai rever esta política.


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A n t ó n i o C o s t a S a n t o s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s )

Pílula fez 50 anos

Mapa de Caracol

A pílula anticoncepcional, autorizada a 9 de Maio de 1960, pelas autoridades farmacêuticas norte-americanas, cumpriu 50 anos de existência, meio século de revolução na vida sexual, sobretudo das mulheres, ao separar o sexo da gravidez, sem grandes custos. Duzentos milhões de mulheres tê-la-ão usado, desde então, e é talvez o medicamento mais estudado da história da farmácia. O último estudo, publicado em Inglaterra por alturas do aniversário, dá um resultado irónico: a pílula, que liberta a mulher das preocupações de uma gravidez indesejada, reduzir-lhe-ia, ao mesmo tempo, a libido. Aguarda-se confirmação.

Foi com um misto de alegria e frustração que um casal de arqueólogos da Florida concluiu o mapa da cidade maia de Caracol, uma das maiores urbes desta civilização desaparecida, oculta pela selva tropical do Belize, na América Central, desde o ano 900. Alegria, porque terminaram um trabalho de 25 anos. Frustração, porque, graças às novas tecnologias, fizeram em cinco dias, mais do que tinham feito ao longo de um quarto de século. Depois de andarem anos no meio da selva, a desenterrar com martelinhos as ruínas de Caracol, Arlen e Diane Chase usaram sinais de radar enviados de um avião que esquadrinhou a selva, e reuniram, em menos de uma semana, imagens a três dimensões de uma área urbana com 16 quilómetros quadrados, revelando templos e altares de sacrifícios, pequenas casas, ruas, mercados e subúrbios agrícolas. "Bem podíamos ter esperado todos estes anos, sem mais trabalhos, até termos tecnologia para avançar; mas valeu a pena", disse Arlen Chase, professor da Universidade da Flórida Central.

Super-Melga As melgas e mosquitos, transmissores de algumas doenças, estão a desenvolver resistências aos repelentes habitualmente utilizados pelo homem. Isto foi provado pela primeira vez em testes de laboratório realizados pela Universidade de Ciências Agrónomas da Suécia, com conclusões divulgadas em Maio nas Actas da Academia Nacional (sueca) de Ciências. O mosquito da febre amarela desenvolveu resistência ao repelente Deet, o mais utilizado em em todo o mundo, e é insensível ao cheiro do produto. Esta característica é passada às novas gerações de melgas, que já recebem nas antenas a mutação da proteina que detectava o Deet.

Caçadora de troféus Uma minúscula cadela de raça dachshund ficou sem o osso que escavou e encontrou numa praia inglesa, em Dunwich, em meados de Maio. Daisy apanhou um troféu junto à linha da maré baixa e levou-o para roer aos pés do dono, um comerciante reformado que achou o osso, com uns 30 cm de comprimento, estranho. O sr. Dennis Smith mostrou o fóssil a um amigo geólogo e ficou a saber que pertencia à perna de um mamute, falecido há uns dois milhões de anos. A descoberta foi entregue aos museus do Reino Unido. Não se sabe se Daisy foi recompensada pelo esforço (o osso de mamute pesava mais de três quilos).

Uvas para a tensão alta A Universidade de Michigan divulgou em finais de Abril os resultados de estudos que provam que comer uvas reduz o risco de hipertensão arterial e diminui a resistência à insulina que provoca a diabetes de tipo II. Os anti-oxidantes naturais contidos na pele das uvas, tanto verdes como pretas, contribuíram para reduzir as doenças cardiovasculares em ratos que ingeriam os bagos reduzidos a pó, ao mesmo tempo que eram engordados à força, com uma dieta ao estilo americano, rica em gorduras e açúcares. O grupo alimentado com pele de uva também ganhava menos peso do que os animais que não ingeriam o pó.

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Lusofonia

I Encontro dos Escritores de Língua Portuguesa em Natal (Brasil)

"É preciso evitar a colonização da Língua" - avisa Ubaldo Ribeiro Dentro do espaço onde se fala a Língua Portuguesa há várias línguas e não é tão verdade que todos nos entendemos. O que interessa é que, tal como na Alemanha são reconhecidos vários dialectos, mas só o Alto Alemão é compreendido por todos, nós também temos o Alto Português que é entendido pelo menos por todos os alfabetizados.

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uem isto afirmou foi o conhecido escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, ao sublinhar ser "uma ilusão acreditarmos que nós falamos a mesma língua. Nós falamos uma espécie de Hoch-deutsch (alemão oficial), por isso é que nos entendemos. No dia-a-dia, os nossos povos já não falam a mesma língua, nem na sintaxe, nem na pronunciação". Daí apelar para a valorização da língua portuguesa como forma de evitar a colonização da língua que se infiltra no Brasil através do americanismo. Neste sentido o escritor questionou: "Quando é que salvar (save) significa em português, salvar?". João Ubaldo Ribeiro fez estas declarações por ocasião do I Encontro dos Escritores de Língua Portuguesa de Natal, que se realizou no mês passado na capital do Estado de Rio Grande do Norte, com o objectivo de promover o intercâmbio entre os escritores de língua portuguesa dos cinco continentes. Promovido pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa - UCCLA e a Prefeitura Municipal do Natal, a responsabilidade pela produção do I Encontro dos Escritores de Língua Portuguesa de Natal esteve a cargo da Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), e contou com apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Potiguar, TAP Linha Aéreas e Associação Cultural e de Amizade Lisboa-Natal. Reunindo cerca de três dezenas de escritores de todos os países onde se fala português, à excepção da Guiné-Bissau, o Encontro transformou a cidade de Natal na capital da literatura e da 48

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língua portuguesa, debatendo essencialmente questões ligadas a temáticas como o acordo ortográfico, o cosmopolitismo e os desafios das novas tecnologias na literatura. O ciclo das conferências foi aberto pelo catedrático português Carlos Reis que dissertou sobre o tema "Literatura Lusófona: elo entre continentes e cultura". Carlos Reis mostrou na sua comunicação a importância das literaturas lusófonas como elo de unificação da língua portuguesa, embora acentuando que no campo da lusofonia se diversificam culturas, visões do mundo, literaturas e mesmo modos de trabalhar a língua portuguesa. "Portanto, é preciso usar esse termo com cautela", frisou, para acrescentar que com essas devidas cautelas, a lusofonia será um termo mais abrangente e até mais expressivo para designar um universo diversificado de falantes e de culturas." Muitos outros escritores participaram do encontro como convidados especiais, como por exemplo os angolanos Ndalu Almeida (Ondjaki) e José Eduardo Agualusa, a sãotomense Inocência Mata, o timorense Luís Cardoso, o moçambicano Suleiman Cassamo, os cabo-verdianos Daniel Spínola, José Luís Tavares e Américo Silva, os brasileiros Edivaldo Boaventura, Diógenes da Cunha Lima, Tarcísio Gurgel, Pablo Capistrano e Lísio Oliveira; e o português António Carlos Cortês. O Encontro foi um autêntico sucesso. O Teatro Alberto Maranhão mostrou-se pequeno para conter os cerca dos cerca de mil inscritos que durante os três dias ali acorreram, especialmente jovens, para quem o acontecimento foi uma lufada de ar fresco


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e uma oportunidade para contactar a realidade dos escritores do espaço da Lusofonia.

"Diálogo lusófono" Como frisou o secretário-geral da UCCLA, Anacoreta Correia, no final do encontro, o balanço serviu apenas para recordar pormenores, porque todos os seus objectivos foram totalmente alcançados. "A lusofonia é hoje uma realidade muito maior do que poderíamos imaginar há vinte anos. Estamos a avançar porque a língua portuguesa é o principal elemento unificador dos países e das cidades lusófonas. Além disso, a UCCLA empenha-se em dar mais e melhor qualidade ao diálogo com os lusófonos de todo o mundo, disponibilizando, em tempo real, uma informação sobre a actualidade dos nossos oito países." A língua portuguesa, falada por 4% dos seis bilhões de habitantes da população mundial, portanto hoje uma das cinco mais faladas no mundo e a terceira no mundo ocidental, vem ganhando cada vez mais espaço. Com o fortalecimento e a padronização da língua, buscados com o novo acordo ortográfico aceite pela maioria dos países lusófonos, a língua portuguesa, muito em breve, poderá alcançar o patamar de língua comercial, pelo que o recente acordo ortográfico acatado pela maioria dos países de língua portuguesa pode servir para promover a padronização e o fortalecimento da língua, foi lembrado no Encontro. Segundo o Professor Carlos Reis, "a mudança visa uma reestruturação da língua portuguesa, uma vez que esta era a única que possuía duas normas gramaticais mesmo com a sua recente expansão, na qual se tornou idioma oficial em oito países. A língua muda de acordo com a época e o contexto social; a ortografia, também. As pessoas tornam-se mais sensíveis a mudança devido à ortografia ser a parte mais visível." Por sua vez, o ex-reitor da Universidade Federal de Rio Grande do Norte, Dr. Diógenes da Cunha Lima, "a nossa língua é como um "poliedro luminoso", plástico e adaptável à realidade social de um povo, embora essa característica não a fragmente em outros idiomas ou dialectos." A festa de encerramento do EELP contou com a presença do cantor, compositor, escritor e jornalista brasileiro Chico César, que é o actual presidente da Fundação Cultura de João PessoaPB. Diante do sucesso deste I Encontro, já tem data a próxima edição do Encontro de Escritores da Língua Portuguesa. Nos dias 25, 26 e 27 de abril de 2011, mais uma vez, a parceria entre a Prefeitura do Natal e a União das Cidades Capitais da Língua Portuguesa (UCCLA) vai levar à Capital do Rio Grande do Norte grandes nomes da literatura lusófona, buscando inte-

Aspecto da mesa no segundo dia. Na página da esquerda,Teatro Alberto Maranhão onde decorreram os trabalhos. Em baixo, Anacoreta Correia fez o balanço do Encontro

gração entre os países falantes de lusófonos e a propagação da cada vez mais forte, língua portuguesa. A prefeita do Natal, Micarla de Sousa, ressaltou a importância da integração entre os povos de língua portuguesa. "Esta é apenas mais uma das diversas acções que desenvolveremos para tornar cada vez mais irmãos os países participantes do I EELP", destacou a prefeita Micarla de Sousa, que entregou uma placa em homenagem a Luís da Câmara Cascudo, recebida pela filha do folclorista, Ana Maria Cascudo. No segundo dia do encontro foi homenageado a título póstumo o recentemente falecido escritor cabo-verdiano, Luís Romano, que viveu as últimas décadas exactamente em Natal. O escritor, natural da ilha de Santo Antão, foi distinguido numa cerimónia que homenageou também outros dois ilustres filhos da capital do estado do Rio Grande do Norte já desaparecidos: Nísia Floresta, a pioneira na defesa das minorias, e Luís Câmara Cascudo, autor de uma vasta e importante obra reconhecida internacionalmente. I Rodrigues Vaz JUN 2010 |

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A Casa na árvore Susana Neves

A árvore que foi à guerra As flores da cerejeira-do-Japão foram as noivas dos “kamikaze”.

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urante uma visita ao Jardim Botânico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, encontrámos, inesperadamente, na parte inferior do relvado, perto do Edifício de Geociências, uma árvore que parece uma nuvem ou a porta de entrada para o Paraíso. Nos cerca de 80 hectares do jardim, onde foram plantadas mais de mil espécies, entre autóctones e exóticas de vários continentes, nenhuma outra árvore nesta Primavera chama mais a atenção do que a lindíssima, e ainda pouco conhecida em Portugal, cerejeira-do-Japão (“Prunus Serrulata Lindl.”). Ao observar a delicadeza das suas muitas flores, semelhantes a rosas, ou não pertencesse à família das “Rosaceae” (na qual também se inscre-

vem as macieiras) parece contraditório que durante a II Guerra Mundial esta árvore tenha motivado o suicídio de um ramo especial das forças aéreas japonesas: os kamikaze que se despenhavam com o seu avião sobre os vasos de guerra da marinha americana. Alguns deles usavam ramos floridos no uniforme, como é possível confirmar num artigo sobre o livro “Kamikaze, Cherry Blossoms, and Nationalisms: The Militarization of Aesthetics in Japanese History”, de Emiko Ohnuki-Tierney (University of Chicago Press, 2002), publicado online pelo International Institute for Asian Studies (www.iias.nl/iiasn/31/IIASN31_35.pdf -). Segundo a investigação de Emiko OhnukiTierney, além da morte dos pilotos ter sido identificada com a queda das pétalas de cerejeira, certas unidades de ataque tomaram o nome desta árvore e as bombas conhecidas por “ohka” foram pintadas com o desenho das suas flores. Como foi possível ocorrer esta subversão estética e simbólica se a mitologia nipónica sempre identificou a cerejeira, semeada originalmente no Fotos: Susana Neves

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Monte Fuji pela Princesa Konohanasakuya, como lugar de repouso dos deuses? Como é que uma espécie plantada junto dos templos budistas e santuários shintoístas pôde estimular o desejo de morte e destruição dos “kamikaze”? Face a estas perplexidades a jovem árvore da UTAD - com «cerca de 10 anos de idade», conforme nos informou o «Professor Emérito» Luís Torres de Castro, «um dos fundadores do curso de arquitectura paisagista nesta universidade e «um dos principais obreiros do seu Jardim Botânico» - permanece silenciosa e enigmática. Para Emiko Ohnuki-Tierney, autora do livro acima referido e professora no Departamento de Antropologia da Universidade de Wisconsin, EUA, os jovens pilotos teriam sido manipulados pela propaganda de guerra, que se socorreu de um símbolo nacional – a flor da cerejeira – ao qual os japoneses prestam culto desde há séculos, para a ele associarem uma ideologia contrária às lendas e mitos mais remotos; mas o sucesso desta operação militar não teria sido alcançado senão tivesse ocorrido a fatal combinação de “méconnaissance”, termo lacaniano que poderíamos traduzir por ignorância, má interpretação, dos pilotos, e a repressão de toda e qualquer desobediência ao poder dominante. Claro que outros factores poderão ser associados a esta distorção simbólica, entre eles, o apelo ancestral ao «código do samurai», segundo o qual o guerreiro japonês conta à partida com uma vida breve por ser seu dever defender o mestre e a pátria. «Um samurai deve sempre, acima de tudo, manter presente no seu espírito a inevitabilidade da morte, dia e noite, desde a manhã do Ano Novo, quando toma a primeira refeição, até à noite do último dia do ano, quando paga as contas», lê-se no livro “O Código do Samurai”, de Daidoji Yuzan (Coisas de Ler, 2003). Nesse sentido, existirá uma íntima afinidade entre o guerreiro japonês e as flores de cerejeira, cuja beleza representa a efemeridade da existência. «À nossa volta, o mundo não é mais do que flores de cerejeira», concluía Taigu Ryokan (17581831), sábio monge budista zen, eremita e calí-

grafo num dos seus conhecidos poemas (“Les 99 Haiku de Ryokan”, Verdier, 1986). Se as flores da cerejeira simbolizam a fugacidade da vida também é verdade que lembram o seu permanente recomeço por isso até hoje esta árvore que foi “obrigada” a ir à guerra é sobretudo conhecida como um objecto de beleza que não precisa sequer de dar fruto comestível para que os japoneses lhe prestem culto, fazendo férias quando floresce, entregando-se anualmente ao “Hanami”, ou seja a contemplação da flor, uma festa nacional que envolve o Japão inteiro ao longo de meses, desde Janeiro a meados de Maio, até todas as árvores florirem. I JUN 2010 |

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62 CONSUMO A embalagem é, também, um instrumento de marketing concebido para atrair os consumidores. Pág. 54 À MESA As favas primaveris - populares e nutritivas desde a pré-História - também ajudam no combate ao cholesterol. Pág. 56 LIVRO ABERTO Em “Alegrias e Tristezas do Trabalho”, Alain de Botton discorre sobre o mundo do trabalho, sobre os seus perigos e mistérios, zonas de luz e de sombra. Pág. 58 ARTES Hilário Teixeira Lopes apresenta, até Setembro, uma retrospectiva da sua longa e prolífera arte no Forte do Bom Sucesso, em Lisboa. Pág. 60 MÚSICAS Com surpreendente pujança, o fado continua a renovar-se. Ouçamos, com a devida atenção o CD “Porta do Coração”, de Ricardo Ribeiro. Pág. 62 NO PALCO Em destaque, o regresso ao Trindade de “Havia um menino que era Pessoa” e as estreias na Comuna e no Teatro Aberto. Pág. 64 CINEMA EM CASA Um ano depois da sua trágica morteo, relembram-se os últimos dias da vida de Michael Jackson com o documentário “This is It”. Pág. 66 GRANDE ECRÃ “Um Funeral à Chuva” vem dar um novo fôlego ao cinema português e reafirmar o talento de um jovem cineasta, Telmo Martins. Pág. 67 INFORMÁTICA Já não bastam os simples backups dos ficheiros do computador que, ainda há alguns anos, eram suficientes… Pág. 68 SAÚDE Nunca é de mais reiterar a importância, para a saúde, de um estilo de vida condizente com necessidades individuais de cada pessoa. Pág. 70 PALAVRAS DA LEI Ao aceitar guardar os bens de pessoa amiga, será útil a existência de um documento que os especifique e defina os termos de restituição. Pág. 71

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Boavida|Consumo

Deixa-me seduzir-te! Nas embalagens está inscrito o rótulo, verdadeiro Bilhete de Identidade do produto que fornece informação preciosa aos consumidores. Mas a embalagem é, também, um instrumento de marketing concebido para atrair os consumidores. Nada acrescenta ao valor dos produtos, muitas vezes é supérflua e contribui para o desnecessário desperdício de recursos naturais.

Carlos Barbosa de Oliveira

eixa-me seduzir-te!" parecem dizer as embalagens nos escaparates, quando percorremos as complicadas artérias de um hipermercado ou de um centro comercial. Latas de bolachas, pacotes de leite, frascos de perfume, garrafas de refrigerantes, caixas de bombons e uma parafernália de produtos tentam seduzir-nos através das suas roupagens enganadoras, utilizadas como estratégia de marketing para atrair a atenção dos consumidores. Quando optamos pela compra de um produto, nem sempre nos apercebemos do poder que a embalagem tem sobre a nossa escolha. No entanto, o seu efeito persuasivo não é inócuo, como o testemunha o facto de existirem revistas especializadas sobre embalagens, feiras, exposições e outros certames para a promover e ter sido criado, nos anos 90, um curso de pós-graduação em embalagens com a duração de três anos. Para os mais cépticos sobre o poder da embalagem nas nossas escolhas, lembro uma experiência realizada nos anos 30 do século passado (a primeira do género que conheço).

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MANIPULAÇÃO

Uma garrafa com uma bebida, em duas embalagens diferentes, foi apresentada a um grupo de consumidores, omitindo-se que o conteúdo era exactamente o mesmo. Uma das embalagens tinha círculos e a outra triângulos e pedia-se aos consumidores para escolher uma, justificando a opção. A maioria dos consumidores escolheu a embalagem com círculos, alegando que "parecia conter um produto com mais qualidade". Quando provaram o conteúdo de ambas as embalagens, só 2% dos inquiridos acharam que, afinal, a bebida da garrafa embalada numa embalagem com círculos, era pior! Os restantes mantiveram a sua opinião inicial. A embalagem é um vendedor incansável e omnipresente aos nossos olhos, um manipulador silencioso que nos "ajuda" a optar por determinado dentífrico, sabonete, ou marca de vinho, quando a nossa escolha não 54

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está previamente feita em função da publicidade ou de um qualquer desígnio afectivo ou consuetudinário. Algumas embalagens tornaram-se famosas e destacam-se facilmente do conjunto de mais de 10 mil que observamos em pouco mais de uma hora que demoramos a percorrer os corredores de um hipermercado. É o caso, por exemplo, das sopas Campbell's, das velhas garrafas de Coca Cola e Pepsi, do atum Bom Petisco, do ketchup Heinz, ou dos cigarros Marlboro. Entre estas, há mesmo o caso do frasco de ketchup da Heinz, cujas dimensões obrigaram, em tempos, a "normalizar" as dimensões das prateleiras dos frigoríficos em metade do mundo. No entanto, apesar deste efeito de sedução, as embalagens são, geralmente, um dos maiores inimigos do ambiente POLUIR, DESPERDIÇAR…

Haveria muito a dizer sobre os "truques" utilizados na embalagem para seduzir os consumidores mas, por agora, interessa responder à pergunta: porque razão é a embalagem inimiga do ambiente? A resposta é simples. Cada português produz, anualmente, mais de 400 quilos de lixo, sendo que mais de metade é constituído por embalagens. São sacos de plástico, o papel que embrulha o fiambre, as embalagens de esferovite da carne ou peixe pré-embalados, os pacotes de leite e sumos, a lata do refrigerante ou da conserva, a pizza, o hambúrguer, a refeição pré-cozinhada e préembalada, os papéis de embrulho com que alindamos os presentes. Muitas destas embalagens são supérfluas. Basta pensar no Natal. Reparem em vossas casas, quando termina a distribuição dos presentes, no amontoado de caixas, papéis, plásticos ou esferovite que se acumulam na sala e aproveitem para reflectir sobre tamanho desperdício. É certo que embalagem rima com imagem e um presente bem encadernado parece logo mais bonito, mas é importante que, neste mundo onde mais vale "parecê-lo" do que "sê-lo", demos o nosso contributo para mudar essa mentalidade e poupemos nas embalagens, eliminando as que são supérfluas. A embalagem não é, porém, apenas poluente como pro-


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duto final, isto é, no momento em que nos desfazemos dela. Antes de aparecer nos escaparates e a recolhermos, para durante algum tempo a albergarmos em nossas casas e depois nos despedirmos dela junto ao caixote do lixo, já a embalagem provocou danos apreciáveis. O seu impacte ambiental começa na exploração de matérias-primas como o petróleo ou o ferro, as florestas que se abatem ou as jazidas a céu aberto e a energia que se consome na sua produção. Depois de utilizada e se tornar imprestável, a embalagem atirada para o lixo vai libertar substâncias tóxicas que vão infiltrar-se nos lençóis freáticos e poluir as reservas de água potável. CONSUMIDOR RESPONSÁVEL!

Cada um de nós pode contribuir para a redução do impacte ambiental provocado pelas embalagens. Como? É fácil…Reduzindo o consumo de muitas destas embalagens e optando por embalagens reutilizáveis. Comprando líquidos em recipientes de vidro (material reciclável) em detrimento de embalagens de plástico; eliminando os sacos de plástico quando vamos ao supermercado, à farmácia, à livraria, etc., tendo atenção às características da embalagem. Quer quanto ao material de que é feito, quer quanto às suas dimensões. Quando compramos determinados produtos (especialmente detergentes, bebidas, perfumes e cosméticos) vale a pena prestar atenção ao facto de muitas das embalagens serem de tamanho desproporcionado para o conteúdo, sendo o seu único objectivo iludir os consumidores. Com isso se desperdiçam matérias-primas e encarece o produto. Uma recusa de compra desses produtos, ainda que por um curto espaço de tempo, é uma forma eficaz de obrigar as empresas a repensarem o embalamento dos seus produtos. Felizmente, há cada vez mais empresas preocupadas em acondicionar os seus produtos em embalagens sustentáveis (com menor impacte ambiental), porque uma empresa que proclama a Responsabilidade Social e se promove como "amiga do ambiente", não pode praticar o desperdício. Mas nem todas agem assim. Devemos denunciar as empresas que, embora proclamem a RS, continuam a utilizar a embalagem como imagem de venda do produto, sem cuidar da sustentabilidade, e convencer os nossos amigos a recusar os produtos de uma empresa que nos mente. Ser consumidor responsável passa por estes pequenos gestos, que nos ajudam a ser exigentes com nós próprios. ANDRÉ LETRIA

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Boavida|À mesa

Fava, legume primaveril A fava, legume primaveril e mediterrânico, muito nutritiva, é popular desde a pré-história. Quer dizer, muito popular entre as camadas mais carenciadas da população, pois entre os ricos as favas não tinham grande fama.

David Lopes Ramos

andar alguém “à fava enquanto a ervilha cresce”, dependendo do contexto, tanto pode ser um acto pouco amistoso, embora salpicado de ironia, como uma sugestão de saborosos contornos culinários. Ambas leguminosas que amadurecem na Primavera, as favas ficam prontas em primeiro lugar, seguindo-se as verdinhas e doces ervilhas. Em preparações culinárias mais simples ou mais sofisticadas, elas trazem-nos à memória gustativa saladas, sopas, purés, guisados, uma mão cheia de pratos deliciosos e saudáveis. E, no caso das favas, energéticos. Em “Cozinhar com vegetais” (Editorial Verbo, 2005), Maria de Lourdes Modesto informa que “a fava é o fruto da faveira, uma fava que aparece no mercado, de tamanho variável, revestida interiormente de pêlo branco e macio e encerrando as sementes – as favas”. Acrescenta que “nós Portugueses e, de um modo geral, os países menos ricos ou mesmo pobres nunca deixámos de a apreciar. Comemo-la principalmente fresca e também seca, como aperitivo depois de frita. Da fava fazia-se uma farinha com que se

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confeccionavam caldos reconfortantes para crianças e adolescentes. Curiosamente a fava ocupa hoje um lugar privilegiado na cozinha de autor, onde aparece despojada do tegumento ou em miniatura”. A nossa mais destacada especialista em cozinha tradicional portuguesa recomenda que, na compra de favas, se escolham “as pequenas cuja casca se apresente verdeclara e sem manchas. As melhores são as do princípio da Primavera. Têm uma estação curta, mas hoje podem encontrar-se congeladas, de boa qualidade, durante todo o ano. Contar com cerca de 200g por pessoa (1 kg com casca)”. A vagem só pode ser comida caso seja muito nova e fresca, caso contrário é fibrosa e desagradável. Assim, de uma maneira geral, o grão da fava tem que ser esburgado e, quando um pouco mais maduro, precisa de ser descascado, pois a película que o envolve engrossa e prejudicalhe o sabor. Ou seja, se forem muito frescas e pequenas, as favas podem comer-se com a casca. Nós comemo-las em caldos e guisados, geralmente com enchidos. José Cid deu música a esta forma particular de as comer, ao pedir numa canção: “Faz-me favas com chouriço/O meu prato favorito”. Mas, se forem “muito ANDRÉ LETRIA


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pequenas”, sugere Maria de Lourdes Modesto, descasquem-se, tirem-se-lhes o tegumento e comam-se cruas temperadas com flor de sal. “São deliciosas”, garante. Mas, apenas cozidas, temperadas com um nadinhas de alho picadinho, coentros frescos, azeite e vinagre, as favas são um belo petisco. E Lisboa tem entre as suas especialidades culinárias a fava-rica, entretanto caída em desuso. É um caldo grosso, feito com favas secas, que era vendido nas ruas ao fim da manhã, sob o pregão: “Quem quer fava-rica? Quem quer almoçar?” No Algarve, a fava cozida é, na comida popular, um apreciado acompanhamento de peixe frito. A fava também é apreciada por outros povos do Sul. Por exemplo, os italianos do Lazio costuma celebrar a Primavera e o 1º de Maio em piqueniques, nos quais as favas, o queijo de ovelha Pecorino e o vinho tinto são os protagonistas. Há quem, crente nestas coisas, garanta que sonhar com favas é um bom augúrio, caso se seja pobre, se esteja doente ou preso. O sonho prenunciará a mudança da sua situação para melhor: ganhará dinheiro, recuperará a

saúde, será posto em liberdade. Mas, em contrapartida, para os que estejam bem na vida, sonhar com favas é o anúncio de desgraças: aborrecimentos, pobreza, dívidas, doenças e dificuldades inesperadas. Se no sonho estiver a cozinhar favas, tal significará que morrerá de velhice. Mas se, cozinhadas as favas, as comer, espere discussões com amigos íntimos, as quais poderá terminar com o fim de amizades antigas. Fie-se na fava, fie-se... Falando de coisas sérias, as favas têm uma boa quantidade de fibras solúveis, que ajudam no combate ao colesterol, carboidratos complexos, vitaminas e minerais. São ricas em proteínas, pobres em gorduras e as que têm são na sua maioria insaturadas. As favas são também uma fonte importante de vitaminas de tipo B. As frescas possuem uma grande quantidade de vitamina C, a qual tende a diminuir depois da colheita. A fava é a mais alimentícia das leguminosas (64 Kcal por cada 100 g quando fresca). As favas secas, disponíveis todo o ano, são mais calóricas (343 Kcal por cada 100 g). Antes de serem cozinhadas devem ser reidratadas em água durante 12 horas, pelo menos.


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Boavida|Livro Aberto

Da paixão pela filosofia à ficção para férias Há livros que abordam a temática filosófica de uma forma original, sedutora e por vezes até divertida. Costumam ser escritos com rigor conceptual, mas permitem ao leitor entrar no universo complexo das questões que abordam.

José Jorge Letria

qui se destacam dois: “Alegrias e Tristezas do Trabalho” (Dom Quixote), de Alain de Botton, que depois de ter dedicado obras de grande êxito internacional aos temas da viagem, do amor e da própria atracção pela filosofia, decidiu, em boa hora, discorrer sobre o mundo do trabalho, sobre os seus perigos e mistérios, sobre as suas zonas de luz e de sombra. Profusamente ilustrado, é um livro a não perder. O autor nasceu em 1969 e vive em Londres; dos mesmos autores de “Platão e um Ornitorrinco entram num Bar” acaba de surgir no mercado o fascinante “Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso” (Dom Quixote), de Thomas Sathcart e Daniel Klein, que, no estilo da obra anterior, nos propõem a partilha de uma verdadeira aventura filosófica ao mesmo tempo divertida e profunda. Em tempo de crise e incerteza, a filosofia adquire uma dimensão e uma utilidade, de que noutras alturas não nos damos conta. Para quem gosta de literatura de memórias, onde cabe, com destaque, o registo diarístico, recomenda-se a leitura de “Os dias e os Anos - Diário 1970-1993” (Dom Quixote),

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do diplomata e escritor Marcello Duarte e Mathias, que nos habituou à excelência deste registo de memória que nos faz viajar pelo tempo e pelo mundo. Para quem gosta da obra, de Eça de Queirós, mas também de pensamentos e citações organizados e assumidos como tal, destaca-se o livro “Citações e pensamentos de Eça de Queiroz” (Casa das Letras), organizado por Paulo Neves da Silva, que assim dá sequência a idênticas obras dedicadas a figuras como Fernando Pessoa, Agostinho da Silva e o filosofo alemão Nietzsche. Do genial autor de “Os Maias”, retenha-se, a título de exemplo esta citação: “ O melhor espectáculo para o Homem será sempre o próprio Homem”. O escritor e psicoterapeuta norte-americano Thomas Moore, que tem o mesmo nome do grande estadista, filosofo e teólogo inglês vítima da intolerância religiosa, é autor de “Escrever na Areia – Jesus e a Alma dos Evangelhos” (Estrela Polar). Nesta obra, o autor, sem trair o rigor da sua formação científica como psicoterapeuta influenciado pelo pensamento Jung, analisa, a partir dos testemunhos contidos nos evangelhos, o pensamento, o percurso e a acção do fundador do cristianismo. Em matéria de ficção de inquestionável qualidade, que


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convém ir já pondo de parte e programando para as férias, destacam-se “Berlim Alexander-Platz” (Dom Quixote), de Alfred Dolblin, uma obra-prima absoluta da literatura do século XX e por muitos apontado como um dos melhores romances de sempre, “Zona” (Dom Quixote) de Mathias Enard, que se assume como uma original e desafiadora história da Europa, construída a partir de uma viagem nocturna de comboio com destino a Roma, dando origem a um registo invulgar conseguido; “Uma Gata, um Homem e Duas Mulheres” (Teorema), do japonês Junichiro Tanizaki, nascido em 1896 e considerado um dos mais importantes nomes da literatura japonesa de sempre, que neste livro reúne três histórias absolutamente irresistíveis; do jornalista Vítor Serpa, o romance “Tanta Gente em Mim” (Dom Quixote), cuja acção percorre cerca de três décadas da vida portuguesa pós 25 de Abril, através de uma viagem que leva as personagens e as emoções desde Lisboa até ao Norte de África. OUTRAS PROPOSTAS de qualidade no domínio da ficção narrativa, já com o tempo de descanso e reflexão a abeirar-se: “Os Íntimos” (D. Quixote), de Inês Pedrosa, “A Arte de Morrer Longe” (Caminho), de Mário de Carvalho, “O Olho de Herzog” (Leya), do moçambicano João Paulo Borges Coelho, “Basta-me Viver” (Casa das Letras), de Carlos Vale Ferraz, “Juliet Nua” (Teorema), de Nick Hornby, “Royal Dream” (Chiado Editora), de Anne Elizabeth, “A Falha” (Publicações Europa-América), de Luís Carmelo, “As Aventuras de Huckleberry Finn” (PEA), no centenário da morte de Mark Twain, e ainda “Quando a Vida se Ilumina” (PEA), de Serdar Ozkan. Opções de leitura não faltam para quem gosta de fazer do livro e da leitura referência obrigatórias no quadro da sua vida quotidiana. Boa leitura! I


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Tempo de Homenagens

A Cor e o Movimento na Pintura de Hilário Teixeira Lopes Sob o título Da Coloratura Multi-Direccionalmente Expansiva, vai o artista plástico Hilário Teixeira Lopes apresentar de 8 do corrente mês até 8 de Setembro, uma retrospectiva comemorativa dos 66 anos da sua prolífera actividade artística no Forte do Bom Sucesso, em Lisboa.

Rodrigues Vaz

rganizada pela Galeria MAC - Movimento Arte Contemporânea com o apoio da Liga dos Combatentes, trata-se de uma exposição que homenageia um dos nossos pintores abstractos mais conceituados, que, não por acaso, é também nessa qualidade um dos mais premiados - Prémio Amadeo de Souza-Cardoso de 1965, 1º Prémio de Pintura na II Bienal Internacional de Desporto em Belas Artes (Madrid), em 1969, entre muitos outros.. Hilário Teixeira Lopes, nascido em Mirandela em 1932, é um pintor inquieto, tendo passado por períodos estéticos diversos, desde a abstracção à figuração, do expressionismo à nova-figuração, apresentando sempre um forte sentido geométrico nas suas composições, onde a exaltação da cor é dada por matizes diversos da sua paleta que fazem explodir as cores quentes do sol e da terra, do sangue dos homens e do azul sideral dos astros. Conforme acentua no catálogo Álvaro Lobato Faria, "Cada uma das suas obras torna-se um teatro de memória, uma ocasião para imaginarmos acontecimentos que não têm outra existência para além dos vestígios que deles subsistem. As suas telas tornam-se um depósito, um tesouro de instantes e de formas, revelando-se como espaços diversificados, capazes de preservar a memória de acontecimentos múltiplos, a memória dos tempos."

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ARTISTAS PORTUGUESES EM FRANÇA

Exposição a todos os títulos digna de ser visitada é igualmente a que a Galeria Municipal Artur Bual, Amadora, apresenta até ao próximo dia 13 sob o título Artistas Portugueses em França - Pintura e Escultura. Homenageando alguns dos maiores nomes das artes 60

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Pintura de Hilário Teixeira Lopes. Em baixo, República de Barahona Possolo


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plásticas portuguesas que, por diversos motivos, se radicaram em França - Alfredo Margarido, Alvess, António Branquinho Pequeno, António Dacosta, Augusto Barros, Baptista Antunes, Benjamin Marques, Bertino, Cargaleiro, Costa Camelo, D'Assumpção, Darocha, Dimas Macedo, Eduardo Luiz, Gonçalo Duarte, Jacinto Luís, João Moniz, João Vieira, José David, Júlio Pomar, Isabel Meyrelles, Luís Rodrigues, Manuel Amorim, Paula Liberato, Pedro Avelar, Rodrigo Ferreira, Sónia Prieto e Vieira da Silva - não sendo uma iniciativa inédita, trata-se contudo da maior realização que se fez sobre este tema em Portugal, testemunhando a atracção que a capital francesa sempre exerceu em gerações sucessivas de artistas portugueses. Tendo como linhas de força predominantes a abstracção e o neo-figurativismo, este conjunto agora apresentado serve não só para avaliar o que a arte portuguesa foi buscar à que foi durante muitas décadas a cidade-luz, mas também, em que medida de algum modo também contribuiu para o seu enriquecimento. OS 100 ANOS DA REPÚBLICA

Entretanto, sob o título O olhar do pintor sob a República Portuguesa, acaba de ser inaugurada em Lisboa mais um espaço dedicado à arte, a Galeria Paula Cabral, homenageando de vários modos os 100 anos da implantação da República. Integram a mostra os artistas Barahona Possolo, Carlos Marreiros, David Lima, Fernando Direito, Guilherme Parente, Helena Justino, Ismael Sequeira, João de Azevedo, Manuel Jardim, Margarida Alfacinha, Margarida Areias, Cruzeiro Seixas, Nadir Afonso, Onik, Raul Perez, Rodrigo Costa, Roberto Chichorro, Rui Manuel Jordão e Teresa Gonçalves Lobo, que interpretam das mais variadas maneiras a efeméride que comemoramos este ano, uns com circunspecção outros com alguma ironia e sarcasmo, mas todos conscientes do seu significado histórico de mudança. GUSTAVO FERNANDES NA GALERIA GALVEIAS

Mesmo ao lado da Galeria Paula Cabral, na Rua da Escola Politécnica, Lisboa, a Galeria Cidi Arte apresenta, por sua vez, as últimas produções artísticas de Gustavo Fernandes, desta vez escultura e pintura subordinadas ao título A Preto e Branco. Continuando a misturar o seu habitual hiperrealismo com uma escrita pictórica de cariz surrealizante, este conjunto de trabalhos é enriquecido com um lirismo poético que tem tanto de encantatório como de mistério servido por uma técnica a raiar a perfeição formal, com a qual deve ter mais cuidado pois pode emprestar-lhe uma certa frieza, que não é muito conveniente para o resultado final. I


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Boavida|Músicas

Da “Porta do Coração” de Ricardo Ribeiro ao inaudito Charles Aznavour Com surpreendente pujança, o fado continua a renovar-se. Ouçamos com toda a atenção o CD “Porta do Coração”, de Ricardo Ribeiro. De França chega-nos o não menos estimulante álbum Charles Aznavour – The Clayton Hamilton Jazz Orchestra.

fadista, coisa de que nem todos os “fadistas” se podem gabar… Em “Porta do Coração”, Ricardo canta 15 fados que, no seu conjunto, acabam por se transformar numa espécie de tese de licenciatura. Tudo indica que o fadista vai, agora, a caminho do mestrado. O ETERNO CHARLES AZNAVOUR

Vítor Ribeiro

a senda da autêntica revolução ocorrida na última década, no fado de Lisboa, eis que Ricardo Ribeiro surge com um segundo trabalho discográfico, que consagra definitivamente o fadista enquanto intérprete de invulgar talento. Nascido em Lisboa, Ricardo estreou-se aos 12 anos na Académica da Ajuda e, com pouco mais de 15 anos, começou a actuar ao lado de mestres como Fernando Maurício e Adelino dos Santos, percorrendo o circuito de casas de fado míticas, designadamente “Faia” e “Luso”, no Bairro Alto e, mais recentemente, “Marquês da Sé” e “Mesa de Frades”, em Alfama. Para lá de um primeiro disco publicado em 2004 – “Ricardo Ribeiro” -, o fadista participou entretanto em diversos projectos, trabalhando com, entre outros, João Gil, Rão Kyao, Pedro Jóia, Rabih Abou-Khalil, Celeste Rodrigues, Argentina Santos, Alcindo de Carvalho... Ricardo Ribeiro possui uma voz potente, de timbre peculiar, estila com sentimento e transmite com veemência o que lhe vai na alma, ou seja: Ricardo é um

N

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Aos 86 anos de idade, Charles Aznavour surpreende o Mundo com o álbum Charles Aznavour – The Clayton Hamilton Jazz Orchestra, no qual se integram 14 temas e onde não faltam “clássicos” como “La Bohème”. Com acentuado pendor jazzístico, conforme a orquestra de Clayton Hamilton, Aznavour interpreta com inesperada jovialidade onze canções a solo e três duetos: dois com Rachelle Ferrell e um com Dianne Reeves. Compositor e intérprete histórico da música ligeira francesa do século XX, Aznavour é hoje o lídimo representante e guardião de uma geração de músicos e cantores que contou com artistas como Maurice Chevalier, Charles Trenet, Sacha Distel, Gilbert Bécaud, Yves Montand… O novo álbum de Aznavour é, acima de tudo, um notável documento, que melómanos ou simples admiradores não devem perder. I KUSTURICA EM LISBOA

Emir Kusturica and the No Smoking Orchestra efectuam um espectáculo no dia 9 de Junho, no Coliseu de Lisboa, pelas 21h30. A primeira parte do concerto será preenchida com actuação dos Melech Mechaya. SLASH NO PORTO E EM LISBOA

Slash, ex-guitarrista dos Guns N’Roses, actua a solo nos dias 22 e 23 de Junho, nos coliseus do Porto e de Lisboa, respectivamente. No passado mês de Março, o cantor lançou um primeiro CD – “Slash” – no qual participaram, entre outros, Iggy Pop e Ozzy Osbourne.


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Boavida|No Palco

O “regresso” do menino Pessoa Até dia 13 de Junho, regressa ao palco do Teatro da Trindade a peça infanto-juvenil “Havia um menino que era Pessoa”, baseada nos contos e textos que o autor português escreveu e dedicou aos sobrinhos.

Maria Mesquita

epois do êxito das representações na capital, a peça viajou pelo Continente e Regiões Autónomas e, curiosamente, estará em cena pela última vez, em Lisboa, no dia de aniversário do nascimento de Fernando Pessoa…Dedicado inteiramente a jovens e crianças, os textos foram escolhidos, a dedo, de entre os poemas que Fernando Pessoa escreveu para os sobrinhos e, de outros tantos escritos pelos heterónimos, aos quais se adiciona uma biografia do próprio, contada na “1ª pessoa”. O trabalho do único intérprete (que se transforma assim no autor) será chamar a atenção do público mais juvenil e ir apresentando (ou representando) a vida e obra de um dos maiores escritores portugueses, de forma divertida e interactiva. Nesta peça os espectadores são convidados a representarem também as histórias contadas, e irão também conhecer o mundo em que Pessoa vivia, quais os acontecimentos políticos, artísticos e técnicos que marcaram uma época na sociedade portuguesa, nas primeiras décadas do séc. XX.

D

Checoslováquia mas naturalizado inglês, ouviu e leu críticas que punham em causa a sua capacidade de escrever peças de teatro que expressassem sentimentos. Talvez por uma questão de estética pessoal ou talvez por ser demasiado tímido para desenvolver assuntos mais íntimos, Stoppard sentia que a sua “casa” seria num território mais intelectual e argumentativo, sem ultrapassar a fronteira da razão e lógica. É exactamente com “Agora a sério!”, (“The real thing”, na versão original datada de 1982) que Stoppard ganha o devido mediatismo e sucesso tanto na Europa como Estados Unidos, ao descrever um enredo onde os fios condutores têm por base a complexidade das relações humanas. FICHA TÉCNICA: Título: “Agora a sério!”; Autor: Tom Stoppard;

Tradução e encenação: Pedro Mexia; Cenário: João Mendes Ribeiro; Figurinos: Dino Alves; Luz: Melim Teixeira; Interpretação: Afonso Lagarto, Ana Brandão, Diana Costa e Silva, João Reis, Nuno Casanovas, Pedro Lima, São José Correia

“O Rei está a morrer” FICHA TÉCNICA:Título: Havia um menino que era Pessoa;

Autor: Fernando Pessoa (escolha de textos do autor); Dramaturgia: Cucha Carvalheiro e José Figueiredo Martins; Encenação: Lucinda Loureiro; Com: José Figueiredo Martins; Vídeo e Multimédia: Adriano Filipe e Cristina Novo; Sonoplastia: Adriano Filipe

“Agora a sério!” e forma a contradizer os críticos que afirmavam que o autor não sabia escrever peças sobre sentimentos, Tom Stoppard respondeu-lhes com “Agora a sério!”, um texto autobiográfico onde se revelam amores e infidelidades, em cena, também até 13 de Junho, no Teatro Aberto. Durante anos, o autor Tom Stoppard, nascido na

D

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tragicomédia “O Rei está a morrer” de Eugène Ionesco, é agora representada pelo Teatro da Comuna, com encenação de João Mota e a brilhante interpretação de Carlos Paulo. Para Mota, a facilidade com que Carlos Paulo se entrega a uma personagem que se debate com a sua fragilidade humana deve-se somente ao facto do actor possuir “uma vida interior muito grande” claramente referindo-se, ainda que indirectamente, aos muitos actores e actrizes das gerações mais recentes que podem possuir a técnica, mas não a alma necessária... Para ver até 27 Junho.

A

FICHA TÉCNICA: Versão Cénica e Encenação: João Mota;

Tradução: Fernanda de Castro Interpretação: Carlos Paulo, Tânia Alves, Ana Lúcia Palminha, Rui Neto, Mia Farr e Alexandre Lopes.


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Boavida|Cinema em casa

Michael Jackson, um ano depois… Um ano depois do seu trágico desaparecimento, relembramos os últimos dias da vida de Michael Jackson com o documentário "This is It", dedicado aos fãs e não só. A completar o leque de sugestões para o início do Verão, apostamos em dois regressos: o da Disney à animação tradicional com "A Princesa e o Sapo"; e o do realizador independente americano Jim Jarmusch com "Os Limites do Controlo". A fechar um filme surpreendente " A nova vida do Sr. O' Horten" proveniente da Noruega. Sérgio Alves THIS IS IT - MICHAEL

A PRINCESA E O SAPO

OS LIMITES DO CONTROLO

A NOVA VIDA

JACKSON

Dos criadores de "A Pequena

Em terras de Espanha, a

DO SENHOR O'HORTEN

Nascido em 1958, MJ, como

Sereia" e "Aladino"surge a

história de um forasteiro,

Maquinista solitário e afável,

carinhosamente era conhecido

bonita história, passada em

homem solitário e misterioso,

mr. O'Horten chega ao dia da

no meio musical, começou a

meados dos anos 1920, em

com actividades á margem da

reforma e sente que os dias

sua carreira aos seis anos com

Nova Orleães, da bela Tiana e

lei. Prestes a finalizar um tra-

futuros não serão animadores.

os irmãos na banda Jackson 5.

de um Príncipe em forma de

balho, ele não confia em

Está tudo preparado para a

Cedo se percebeu

sapo que procura desespe-

ninguém, o seu alvo não é

última viagem aos comandos

que estávamos pe-

radamente voltar a ser

divulgado e o destino é incer-

da locomotiva que conduziu

rante um talento a

humano. Bastará, para tanto,

to. É a viagem, por de terras

quatro décadas…e como é

cantar, a dançar e a

um beijo, facto central de

de Quixote, de um homem

que este engenheiro de 67

actuar. Em 1971,

uma divertida aventura pelos

com uma missão precisa a

anos, bem-disposto, colec-

inicia uma brilhante" carreira

místicos pântanos do

cumprir.

cionador de armas primitivas,

a solo que o viria a consagrar

Louisiana.

Jim Jarmusch, 56 anos, um

como "Rei da Pop", venerado

É o regresso da Disney á ani-

dos cineastas

vai encontrar vida para lá da

por legiões de fãs, vendendo

mação tradicional (manual)

mais estimu-

reforma?

milhões de discos - casos,

pela arte de John Musker e

lantes e cria-

Pese a tradicional discrição e

entre outros, de Thriller", "Off

Ron Clemens com música do

tivos do cine-

frieza nórdicas, esta inspirada

The Wall e "Bad - e actuando

consagrado Randy Newman e

ma indepen-

tragicomédia norueguesa re-

perante milhões de especta-

nomeação para os Óscares

dente norte-

vela-se em momentos diver-

dono de uma cadela rafeira,

dores em todo o Mundo. Os

deste ano nas

americano, dirige com rigor e

tidos como os

derradeiros anos foram assi-

categorias de

talento esta fita de rituais,

do aeroporto de

nalados por sucessivos escân-

melhor filme

códigos de honra e gestos pre-

Oslo, da loja de

dalos que abalaram a triun-

de animação e

cisos.. É um regresso feliz do

tabaco e de um

fante carreira. Morreu, há um

canção do ano.

autor de filmes como "Noite

restaurante de

ano, durante a preparação da

Um musical

na Terra" (1991), "Café e

bairro. "A Nova

tournée " This is it", destinada

marcado, ainda, pelo apareci-

Cigarros" (2003) e "Flores

Vida do Senhor O'Horten",

a contrariar a curva descen-

mento da primeira princesa

Partidas" (2005).

considerada uma das grandes

dente da sua carreira. Este

negra da história da Disney.

TÍTULO ORIGINAL:

documentário é o único regis-

Efeito Obama, certamente…

to dos últimos dias de vida de

TÍTULO ORIGINAL:

MJ, feito a partir de mais de

The Limits of

surpresas de 2009, é uma

Control; REALIZAÇÃO: Jim

história simples, mas

Jarmusch; COM: Isaach de

inteligente, filmada com mes-

and The Frog; REALIZAÇÃO:

Bankolé, Tilda Swinton, Gael

tria, que nos transporta para

100 horas de ensaios onde

Ron Clements e John

Garcia Bernal, Bill Murray,

uma sociedade bem distinta

desfilam temas como Thriller,

Musker; VOZES: Anika Noni

John Hurt; EUA, 116m, cor,

da nossa.

Beat it, Smooth Criminal e

Rose, Bruno Campos, Oprah

2009; EDIÇÃO: Castello Lopes

TÍTULO ORIGINAL:

Man in the Mirror…

Winfrey, Terrence Howard,

Multimédia

REALIZAÇÃO:

TÍTULO ORIGINAL: REALIZADOR:

This is it;

Kenny Ortega;

Documentário; EUA, 110m,

The Princess

O'Horten;

Bent Hamer;

Baard Owe, Espen

John Goodman; EUA, 97m,

COM:

cor, 2009; EDIÇÃO: Zon

Skjonberg, Ghita Norby,

Lusomundo

Henry Moan, Byorn Floberg;

Cor, 2009; EDIÇÃO: Sony

Noruega, 90m, cor, 2007;

Pictures

EDIÇÃO:

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Alambique


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Boavida|Grande Ecrã

Os Amigos de João “Um Funeral à Chuva” vem dar um novo fôlego ao cinema português e reafirmar qualidades estimáveis de um jovem cineasta, Telmo Martins, já com provas dadas na realização de curtas-metragens, premiadas em diversos festivais.

Joaquim Diabinho

rovavelmente, ninguém em 1995 na Covilhã suspeitaria que o estudante da universidade da Beira Interior, inicialmente de engenharia electomecânica e depois no curso de design e multimédia, haveria de se prender de amores pelo cinema a tal ponto que, anos mais tarde, tomaria a iniciativa de fundar com amigos uma empresa de produção na área do cinema, do audiovisual e do multimédia - a Lobby Productions. O despoletar dessa paixão dá-se em 2002 com “Karma” (prémio jovem realizador no Festival de Ovarvídeo), primeira animação em 3D realizada em Portugal com argumento adaptado de um conto de Rui Zink. A partir de, “Rupofobia” (2004) - curta de ficção

P

premiada internacionalmente – e, sobretudo, em “Crosswalk”(2007),que recolhe o grande prémio do Festival Istock Vídeo Contest no Canadá e o prémio Festróia-Sapo Vídeos, Telmo Martins pende não apenas para a novidade dos temas tratados mas também para uma outra forma eficaz de os narrar, aliada a uma forte vontade de inovação não isenta de perfeccionismo técnico. Não surpreenderá, pois, que “Um Funeral à Chuva” evidencie um cuidado visual e uma capacidade narrativa bem razoáveis que são, como é sabido, “passos” fundamentais para fazer uma história bem contada, direccionada aos interesses e gostos de um público mais jovem, culturalmente exigente, como parece ser o caso. Exaltação da amizade, tributo à geração portuguesa dos anos 80, “Um Funeral...”faz um retrato de grupo (os amigos que se reencontram dez anos depois no funeral de um companheiro dos tempos idos da universidade), oscilando entre a comédia e o drama, nostalgia e consciência do presente, que faz lembrar – pelas semelhanças – o célebre,The Big Chill (“Os Amigos de Alex”) que Lawrence Kasdan rodou em 83 sobre a morte das esperanças norte-americanas nascidas na década de 70. Rodado sem recursos financeiros nem subsídios (apenas apoios em serviços de cerca de uma trintena de empresas e autarquias), “Um Funeral à Chuva” é um exemplo de ousadia e coragem que merece ser, obviamente, apoiado. I

UM FUNERAL À CHUVA

De Telmo Martins (Portugal, 2010) c/ Alexandre da Silva, Sandra Santos, Hugo Tavares, Pedro Gorgia, etc. (estreia prevista: 3 Junho

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Boavida|Tempo informático

Questões de Segurança Se considerarmos que grande parte da nossa actividade está hoje em dia intimamente relacionada com os registos gravados em múltiplos sistemas informáticos, que com eles trabalhamos, deles dependemos e neles estão impressas as diversas etapas pelas quais vamos passando, não restam dúvidas de que a nossa Vida é Digital. Gil Montalverne

ajuda@gil.com.pt

endo assim, não só nos diversos organismos sociais como nos registos que pessoalmente guardamos nos nossos computadores, a segurança é cada vez mais necessária. Já não bastam os simples backups dos ficheiros do computador que ainda há alguns anos eram suficientes. Hoje em dia eles têm de ser mais sofisticados e se possível em vários suportes porque um deles pode avariar e tudo se perderá. Para tal existem CDs, DVDs e discos externos. Temos ainda que contar com os ataques maliciosos que nos chegam pela Internet, os cuidados a ter com dados pessoais, passwords, sites que não devem ser consultados por menores. Foi para resolver esta situação que aparece o Kaspersky PURE, uma nova aplicação de segurança, de facto pura, pois foi pensada para abranger a quase totalidade destes problemas com que nos deparamos nos nossos computadores, hoje em dia numa rede familiar ou mesmo num escritório. Portanto numa única aplicação válida para 3 PCs reside a protecção da nossa Vida Digital: Antivírus, Firewall, protecção de identidades, controlo parental, encriptação de dados, cópias de segurança e restauro, enfim uma segurança de todos os nossos activos digitais. (PVP: 89.95 E)

S

É DE TAL MODO importante o que hoje temos nos nossos computadores domésticos que se intensificou ultimamente o uso para redes pessoais de sistemas de backup semelhantes aos de há muito utilizados pelas empresas. São os chamados NAS ou servidores para armazenamento de dados que nessas empresas possuem vários discos rígidos de grande capacidade, chegando nalguns casos a várias dezenas, com a particularidade de os dados importantes serem gravados portanto em mais de um disco para a eventualidade de algum se avariar, o que é de imediato assinalado. Pois estão já no mercado várias marcas que possuem dois discos de idêntica capacidade ou caixas 68

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preparadas para serem instaladas as unidades à nossa escolha. A configuração é muito fácil de fazer, utilizando para este efeito o chamado RAID 1 que corresponde a um disco possuir um backup e outro uma cópia exactamente igual, sendo que no nosso computador nos aparece apenas uma letra de um disco e é para esse que fazemos o backup. Dos vários modelos achámos interessante um da Iomega (Iomega StorCenter ix2) de 1 Terabyte, constituído por dois discos de 500 Gigas mas com a vantagem de poderem ser facilmente substituídos por outros 2 de maior capacidade que são introduzidos pela parte traseira da unidade. Funciona ligado ao PC ou a um router de uma rede caseira. (PVP: 119 E) AS CAIXAS que existem no mercado são mais económicas mas existe o valor acrescido dos dois discos rígidos que é necessário instalar para que depois se faça a devida configuração de backup em Raid 1. A Verbatim também apresenta este mês uma unidade DataBank Storage, de que não se conhece o preço, mas que igualmente vai permitir a encriptação dos dados para lhes conferir uma maior segurança. I


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Boavida|Saúde

O que pode fazer pela sua Saúde As doenças que hoje atormentam as populações dos países desenvolvidos, e que são também as principais causas de morte, como o AVC (acidente vascular-cerebral) e o cancro, têm muito mais a ver com as escolhas individuais de cada um do alguma vez tiveram.

M. Augusta Drago

medicofamília@clix.pt

medicina faz o seu papel, previne e trata a maior parte das infecções. Trata as doenças quando elas se manifestam e as que já estão instaladas, umas com mais sucesso do que outras, faz a prevenção secundária das doenças do coração e dos outros órgão vitais, mas a saúde é mais do que a ausência de doença, é definitivamente uma opção. Existem centros de investigação médica, nomeadamente nos EUA e no Canadá, de idoneidade e reputação inquestionável, que nos orientam sobre as medidas a tomar para evitar ou adiar alguma dessas doenças. As medidas preconizadas são conhecidas do grande público. Parecem até simples de pôr em prática e não se percebe, até certo ponto, porque não são levadas a sério. Nunca é de mais reiterar a importância, para a saúde, de ter um estilo de vida condizente com necessidades individuais de cada pessoa. Assim, parece que todas essas instituições internacionais estão de acordo em recomendar estas seis medidas básicas para as pessoas adultas e saudáveis: - Não consumir produtos com tabaco. - Manter o peso corporal equilibrado com a altura, a idade e as actividades que desempenha. É consensual recomendar a ingestão diária de cinco refeições com frutas e vegetais, cerca de 25 gr de fibra e menos de 30% das calorias com origem em gorduras. - Exercício físico pelo menos três vezes por semana - Evitar a exposição ao sol - Evitar o consumo excessivo de álcool - Praticar sexo seguro, usar preservativos

A

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Em relação a doenças específicas, e se na história familiar existir alguma doença grave, é aconselhável falar com o seu médico para saber se deve ter alguns cuidados especiais. Em relação à vigilância a ter com alguns cancros mais frequentes na população em geral, sem queixas nem factores de risco, nomeadamente o cancro da próstata, é conveniente a vigilância a partir dos 50 anos. Para o cancro do cólon, as recomendações vão no sentido de iniciar a vigilância também por volta dos 50 anos, fazendo a pesquisa de sangue oculto nas fezes e, se houver justificação, com sigmoidoscopia de 5 em 5 anos ou colonoscopia de 10 em 10 anos. Em relação ao cancro do colo do útero, a vigilância deve começar dois anos após o início da vida sexual activa, ou aos 21 anos, repetir a observação anualmente e o Papanicolau também anualmente ou de 2 em 2 anos. Já para o cancro da mama verificou-se que o autoexame não é recomendável e a vigilância deve iniciar-se aos 40 anos, com mamografia anual ou de 2 em 2 anos até aos 75 anos. Chamo ainda a atenção para os sinais de alarme para eventual cancro e que devem levar a procurar o médico o mais rapidamente possível: - Alteração dos hábitos intestinais ou urinários - Uma ferida que não cicatriza - Hemorragia ou perda de sangue sem justificação - Um nódulo que se palpa na mama ou noutro local - Indigestão crónica ou dificuldade em engolir - Alterações visíveis num sinal - Tosse persistente ou rouquidão Estas são algumas recomendações em que gostaria que pensasse um pouco.I ANDRÉ LETRIA


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Boavida|Palavras da Lei

Depósito de Jóias ?

Uma amiga minha vai fazer uma longa viagem e tem muitas jóias e

objectos preciosos em casa. Não tem filhos, tem família próxima, mas não confia neles. Alguns familiares ofereceram-se para guardarem as jóias e os bens preciosos. Ela pediu-me para lhe guardar estes bens. Gostava de saber quais as minhas responsabilidades e como me poderei proteger, se aceitar guardar-lhe os bens, e no caso de haver algum familiar que me intime a entregar algum bem. Sócia devidamente identificada – Vila do Conde

Pedro Baptista-Bastos

bom termos a confiança de pessoas amigas nestas situações, mas ainda é melhor se soubermos honrar a confiança que nos é dada; o nosso Código Civil dispõe, nos seus artigos 1185º a 1206º, as normas que regulam o chamado Contrato de Depósito. Este contrato define-se como sendo aquele “pelo qual uma das partes entrega à outra uma coisa, móvel ou imóvel, para que a guarde, e a restitua quando for exigida” – art. 1185º do Código Civil. Chama-se de depositante quem entrega a coisa e depositário quem a guarda. Se aceitar guardar os bens, será útil fazerem um documento onde se discriminem que bens se guardam, e a obrigatoriedade de restituição, aquando da volta da sua amiga. Este documento pode ser reconhecido notarialmente, e serve como um primeiro meio de defesa da depositária; neste sentido, atente-se ao artigo 1187º, al. b) do C. Civil, que nos diz que a depositária “deve avisar imediatamente a depositante, quando saiba que algum

É

perigo ameaça a coisa ou que terceiro se arroga direitos em relação a ela, desde que o facto seja desconhecido do depositante.” Logo, se algum familiar pretender ficar com os bens que aceitou guardar, avise imediatamente a sua amiga. Por outro lado, pode depositar os bens numa instituição bancária até ao regresso da sua amiga, sendo as despesas desse depósito pagas pela sua amiga, de acordo com o artigo 1196º. Se algum familiar continuar a incomodá-la e pedir a devolução das jóias, pode guardar as jóias de um modo diverso do convencionado, quando haja razões para supor que a depositante aprovaria a alteração e soubesse as insistências dos seus familiares para que lhes entregassem as jóias, de acordo com o art. 1190º do C. Civil, devendo, porém, avisá-la da mudança que teve que fazer. Se algum familiar tiver a infeliz ideia de recorrer à força, pode defender-se da tentativa de esbulho do que guardar, ou chamando a Polícia, ou recorrendo, em último caso, à força, se possível – arts. 1188º, n.º 2 e 1277º do C. Civil. Elabore o documento, guarde os bens num Banco, e a sua amiga que faça a sua viagem descansada.I JUN 2010 |

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ClubeTempoLivre > Cartaz

BRAGANÇA

PORTO

Cult. Desportiva e Recreativa do Rancho Folclórico da

Feira Medieval Btt

Dia 12 às 9h - 19ª

Pintura: Até ao dia 30 das 9

Ribeira em Lugar da Igreja,

Dia 15 - XCO – Vila Flor, em

Reconstituição da Feira

às 18h - Exposição de Pintura

São João da Ribeira, com os

Vila Flor, org. Associação de

Medieval de Coimbra, Sé

dos Alunos da Academia

grupos da Portela – Correlhã,

Ciclismo.

Velha em Coimbra.

Jorge de Sena, no Auditório

Musical “Entardecer” e

A mais emblemática feira

da Agência Inatel

Tocata Regional da Assoc. Social Cult. e Desp. da Casa

Passeio Equestre

medieval do pais, abre

Dia 20 - Passeio Equestre em

portas com Missa com

Pesca

Babe, org. Associação

canto gregoriano, seguida

Dia 19 – prova de pesca

Cultural e Recreativa de

de Bênção, leitura da

desportiva de Rio/Águas

Babe

Carta de Feira e vasta

Interiores em Cavez.

animação com teatro,

do Povo de Mazarefes.

VILA REAL Musica: Dia 20 às 15h30 -

dança, acrobatas,

Atletismo

espectáculo musical em São

malabaristas, ilusionistas

Dia 27 - 5ª edição do Ultra

Martinho de Anta, pela

Filarmónicas

e as tradicionais tendas

Trail da Serra da Freita, pelo

Associação “Mar de Pedra”

Dia 19 às 22h - Encontro

com venda de produtos

Grupo Desportivo 4

de Vila Real.

Inter-Concelhio de

regionais.

Caminhos e Confraria

COIMBRA

Trotamontes, mais

Filarmónicas comemorativo dos 75º Aniversário da

Cursos: Iniciação à Pintura -

informações em

INATEL 75 anos

INATEL, na Praça do

sábados das 15h às 19h,

http://www.confraria-

Dia 20 às 11horas – Bandas

Comércio, em Coimbra, com

informações na Agências

trotamontes.com/utsf/

filarmónicas interpretam o

filarmónicas União

Inatel; Música - aulas

Taveirense, Phylarmonica

diurnas (segundas, quartas e

Colóquio

em uníssono em Portalegre,

Ançanense e Sociedade

sextas-feiras) e nocturnas

Dia 18 - colóquio sobre

Évora, Beja e Faro. Integram a

Musical Recreativa

(terças e quintas-feiras),

Marchas integrado no

iniciativa as bandas:

Instrutiva Beneficente

informações na Agência

Programa Nacional AGITA

Portalegre - Soc. Musical

Santanense.

Inatel.

em Macieira da Lixa, org.

Euterpe, Filarmónica do

Rancho Folclórico de

Crato, Associação Cult.

Macieira da Lixa.

Recreio Musical 1º de

Hino Nacional “A Portuguesa”

Folclore

Pedestrianismo

Dia 10 às 22h – Serenata

Dia 10 – Caminhada a Volta

Futrica pelo Grupo Folclórico

do Mondego, apoio CCD do

Xadrez

Musical Alegretense; Évora -

da Casa do Pessoal da Univ.

Casal da Misarela.

Dia 26 - Encerramento do XIV

Casa do Povo N.Sr.ª Mache-

Torneio Aberto de Xadrez

de, Soc. Antiga Filarmónica

AXA/EDP no Aproveitamento

Montemorense “Carlista”,

Hidroeléctrico de Caniçada,

Soc. União Alcaçovense e

Serra do Gerês.

Associação Filarmónica 24 de

de Coimbra, na Praça 8 de Maio, em Coimbra; dias 19 e

GUARDA

26 às 21h30 – fogueiras de S. João pelo Grupo Folclórico

Passeios Culturais

de Coimbra no Lgo Marquês

Dia 12 - Passeio a Mérida;

de Pombal, em Coimbra.

dia 19 - Passeio às Judiarias

Dezembro e Soc. Recr.

Junho; Beja - Soc.

VIANA DO CASTELO

do distrito da Guarda; dia 26

Filarmónica Capricho Bejense, Soc. Musical de

Teatro

- Passeio a Leiria, Batalha e

Teatro

Instrução e Recreio Aljustre-

Dia 4 às 21h30 - comédia

Aljubarrota, mais

Dia 11 às 21h30 - Serão de

lense, Soc. Filarmónica de

“Henrique V” pelo grupo

informações na Agência

Teatro – “O Rosquedo” na

Serpa e Soc. Filarmónica Re-

Loucomotiva na sede da

Inatel.

Associação Cultural e

creativa de Ferreira do Alen-

Recreativa de Arcozelo, em

tejo; Faro - Associação Filar-

Ribeira – Ponte de Lima

mónica de Faro, Soc. Filar-

Troupe Recreativa Brenhense em Brenha; dia 19 às 17h –

Concertinas

peça “A face do caos” (teatro

Dia 20 às 14h - Encontros de

de rua) pelo Grupo “Curral da

Tocadores de Concertinas no

Folclore

Loulé, Filarmónica 1º de

Mula” no Mercado da Rua do

Lgo do Município, em

Dia 12 às 21h30 - XXIV

Dezembro de Moncarapacho.

Quebra Costa, em Coimbra.

Almeida.

Ribeiríadas na Associação

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mónica Artistas de Minerva –


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ClubeTempoLivre > Novos livros

BOOKSMILE

campeões e 204 nações

Apesar de estar noivo da

que ocupa lugar de honra no

tentarem qualificar-se no

filha de uma das famílias da

Panteão Nacional de França.

mundial. Conheça a história

elite istambulense, Kemal

do Mundial e dos seus

não esquece

OS FILÓSOFOS NO DIVÃ

protagonistas e saiba tudo

a sua paixão

Quando Freud se Encontra

sobre as selecções que vão

e colecciona

com Platão, Kant e Sartre

pisar os relvados em África

objectos

do Sul.

pessoais da

Charles Pépin 264 pg. | 21,50 (PVP)

amada que

Quando Platão, Kant e Sartre

são,

EDITORIAL PRESENÇA

simultaneamente, um fetiche e a memória dos locais onde

MUNDIAL FIFA ÁFRICA DO

AS VIRGENS DE VIVALDI

estiveram juntos. Com o

Barbara Quick 272 pg. |16,50 (PVP)

tempo a compulsão do coleccionador dá origem a

SUL 2010: GUIA OFICIAL

A obra leva-

um verdadeiro museu que

JÚNIOR

nos à Veneza

permite explorar a história e

Gavin Newsham 64 pg. | 11,99 (PVP)

barroca de

cultura de Istambul e a sua

setecentos,

emergente modernidade.

Um Guia Oficial Júnior com

la

selo da FIFA, ilustrado com

Sereníssima,

mais de 100 fotos, que faz a

num fresco

EUROPA-AMÉRICA

antevisão do Mundial de

luminoso e negro de uma

RENOIR

(imortais) se deitam no divã

futebol e traça o perfil das

sociedade marcada pela

de Freud o resultado é

equipas que participam no

festividade exuberante e pelo

Pascal Bonafoux 272 pg | 22 (PVP)

evento. Dá, ainda, a

peso castrador de uma

Renoir, filho de alfaiates,

O autor veste a pele destes

conhecer a mascote oficial

mentalidade arreigadamente

cresceu a dois passos do

filósofos e guia-nos numa

(Zakumi), os 10 estádio e

puritana. Através do olhar de

Museu do Louvre (Paris). Aos

viagem apaixonante, lúdica e

dezenas de outras

Anna Maria - uma jovem

13 anos,

romanesca, ao coração da

curiosidades. Inclui

acolhida pelo Ospedale della

como

História do Pensamento

calendário oficial dos jogos

Pietà, virtuosa do violino e

ceramista, já

Ocidental. As opiniões dos

para preencher ao longo da

aluna predilecta de Vivaldi -

pintava reis

filósofos são abordadas de

competição.

podemos observar esse

e rainhas

acordo com as convicções

impressionante!

fresco e conhecer a sua

inspirado em

de cada um - o idealismo de

OS GRANDES DO MUNDIAL

fascinante história de vida, o

cenários de

Platão, a lei do dever de Kant

DE FUTEBOL

quotidiano de Ospedale, as

Lancret, de Boucher e de

e a forma como Sartre

John Stroud 168 pg. | 29,99 (PVP)

intrigas da Veneza do século

outros pintores que

olhava os outros.

XVIII e parte do legado

conheceu no Louvre.

Não há competição

musical e vida de Vivaldi.

Influenciado pelos

2012 – EXTINÇÃO OU

impressionistas (Monet,

UTOPIA

desportiva no mundo que desperte tantas emoções

O MUSEU DA INOCÊNCIA

Cézanne e outros) e contra

As Profecias do Juízo Final

como o Mundial de Futebol.

Orhan Pamuk 652 pg. | 23,50 (PVP)

todas as expectativas muda

Allan J. Danelk 234 pg. |18,50 (PVP)

A história decorre em

mudança que lhe custou a

O autor

Istambul, em finais do século

incompreensão das pessoas,

escrutina

foram

passado, e relata a paixão

mas não o impediu de

2012, a data

anfitriãs do

obsessiva de Kemal, herdeiro

continuar, resistindo até à

que marca

evento, sete

de uma família rica, por uma

doença reumática que lhe

o fim do

parente de um meio social

deformava o corpo.

Calendário

menos favorecido.

Uma biografia de um pintor

Maia, e

Em oitenta anos de existência, quinze nações

países reinarem como 76

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de estilo em 1880. Uma


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tenta descobrir qual o seu

chapéu de chuva e tantas

significado.

outras pequenas coisas que

Através da análise das

fazem parte do nosso

inúmeras profecias sobre o

quotidiano e que sempre nos

fim do mundo, entre elas as

disseram que não têm

de Nostradamus e Edgar

arranjo.

Cayce, Allan explora as ameaças apocalípticas que

COMO TRATAR

prendem a nossa atenção e

DA SUA HORTA

revelam o seu conhecimento

Louis Giordano e Daniel

sobre que futuro - medonho

Puiboube 152 pg. | 16,50 (PVP)

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Prático e essencial para

pragas.

seu dia-a-dia, este guia

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conhecer os legumes de A a

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ClubeTempoLivre > Cupões NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2010

DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora

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Remeter para Fundação INATEL – Clube Tempo Livre (Livros), Calçada de Sant’Ana nº 180 – 1169-062 Lisboa, o seguinte: G Pedido, referenciando a editora e o título da obra pretendida; G Cheque ou Vale dos Correios, correspondente ao valor (PVP) do livro, deduzindo 2,74 euros de desconto do cupão. G Portes dos Correios referente ao envio da encomenda, com excepção do estrangeiro, serão suportados pelo Clube Tempo Livre. Em caso de devolução da encomenda, os custos de reenvio deverão ser suportados pelo associado.


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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o

De Pivô a Cardeal Que alfabeto /tem em conta / as nossas claridades como as nossas sombras / Que linguagem / polida pelos nossos nadas / aumenta o sopro / Que desejo / se torna cadências /imagens metamorfoses / Que grito / se ramifica / para regressar algures / Que poema / frutifica / para se dizer de outro modo? Andrée Chedid, “Quel alphabet…”, in: Rythmes, Ed. Gallimard, Paris, 2002 Trad. do francês: MAVF

V

este batina de um negro de luto, apenas aliviado pelo branco do tradicional colarinho romano e tem o rosto de traços grosseiros de um daqueles anõezinhos tiroleses que, com sapinhos, burrinhos e outras figuras de gesso, povoam os relvados de certos jardins privados dos subúrbios da cidade. Alquebrado, os cabelos brancos em desalinho, mantém, perante o entrevistador de uma TV alemã, a atitude do acusado perante o juiz que sabe que irá condená-lo. Exprime-se em alemão: frases curtas, separadas por longos silêncios que preenche com um sorriso surpreendentemente tímido, quase infantil, de menino que pede desculpa sem saber bem de quê. - “Ele” dizia que queria ser cardeal! Fala baixinho. Sorri. “Ele” é o irmão com quem não se parece, é o Papa que, há longos meses no centro do furacão das desencontradas opiniões mundiais, está agora, em peregrino, nesta “nobre e dilecta Nação”, a que a sua presença traz uma súbita opulência perdulária e que, à guisa de desagravo, se cobre de ouro, se lava em água perfumada e esquece os seus problemas, para o receber condignamente. É claro que somos um povo de fidalgos, particularmente caprichoso na arte da representação. Afinal, como diz o historiador francês Roger Chartier, “as lutas de representação são tão importantes como as lutas económicas”. Sabiam disso os nossos reis D. Manuel I e D. João V, para citar apenas dois, cujas embaixadas enviadas, respectivamente, aos Papas Leão X e Clemente XI, deixaram a Europa mergulhada no mais profundo assombro e os cofres públicos depauperados. Não obstante, nem sempre as relações dos nossos reis com a Santa Sé foram as melhores. Se o jovem Ratzinger quer ser cardeal, dois séculos mais cedo D. João V quer que a Santa Sé conceda o barrete cardinalício ao seu Núncio em Lisboa. Perante a recusa de Roma, o rei decreta, em 1728, a expulsão do país dos representantes papais. As relações económicas, altamente vantajosas para Bento XIV, só são reatadas em 1748, quando o Papa

concede ao rei o título de “Fidelíssimo”, para acrescentar aos seus cognomes de Magnânimo, Magnífico, Rei-Sol Português e … Freirático. Do ponto de vista linguístico, CARDEAL tem origem modesta: o termo latino CARDO, com a sua raiz CARDIN-, significando eixo, pivô e, por extensão, “eixo sobre o qual o Universo gira em volta da Terra” (sic!); cada um dos quatro pontos cardeais e cada uma das viragens das estações do ano: os solstícios e equinócios. Como adjectivo, o derivado CARDINALIS passa a significar “que serve como eixo, como pivô”. No latim medieval, CARDINALIS adquire o sentido de chefe, principal, e é usado pela Igreja como título de sacerdotes importantes (PRESBITERI CARDINALES) e diáconos (DIACONI CARDINALES) de igrejas de prestígio. Tendo o Papa conferido esse título a sete bispos (EPISCOPI CARDINALES) de dioceses das imediações de Roma, estes associam-se e constituem o Sacro Colégio de Cardeais, collegium a que, em 1179, é concedido o privilégio exclusivo de eleger os pontífices. No Séc. IV, Santo Ambrósio chama também virtudes cardinais (VIRTUTES CARDINALES) às quatro virtudes morais - justiça, temperança, fortaleza e prudência -, em torno das quais giram todas as outras. Nos finais do Séc. IV, surgem os CARDINALES VENTI, ventos cardeais, e no Séc. VI, os CARDINALES NUMERI, números cardinais. No princípio do Séc. XII, o comodismo do falante, factor importante nas mutações linguísticas, simplifica as formas diáconos, padres e bispos cardeais, que passam a ter a designação de Cardeais. Por último, não podia deixar de fazer referência ao “Cardeal Diabo”, uma espécie de advogado de acusação, cuja função, no Vaticano, é dificultar a canonização de qualquer candidato que não seja verdadeiramente santo, e na sociedade laica - porque também aí são necessários -, ajudar, através da dialéctica e sem recurso à forquilha, o interlocutor a encontrar o bom caminho. Uma tarefa, dizem, feita por medida para qualquer mulher de bem. I JUN 2010 |

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Os contos do

Jantar de Cerimónia

D

ora assoma à porta da cozinha e lembra ao marido: – E o vinho, Alberto? Não vamos pôr na mesa aquele ordinário que bebes cá em casa. – Ordinário? – discorda Alberto. – Digamos que é um vinho razoável, mas descansa: já comprei quatro garrafas de um tinto de luxo. Talvez ajude o Comendador Policarpo a financiar o teu negócio. – Ainda bem que compreendes – diz Dora, mas acrescenta: – Pena é que os outros vão beber também desse vinho caro. Que percebe de vinhos o casal Sousa de Sousa? Zero. E a horrorosa dona Dionísia de Savel, que raramente nos convida para os jantares em casa dela? – Jantares que nunca são às sextas – lembra Alberto. – Por isso escolhemos nós esta sexta-feira. E, afinal, para trazermos o Comendador, convidámos a própria bruxa Dionísia e os habituais convidados dela. Incluindo o frenético Almiro e o Bruno Penavelho. Mas, a Telma? Não convidaste a tua sobrinha? – Desta vez, não. Era capaz de me aparecer com o namorado a reboque. Recostado no sofá, Alberto deita contas à vida. Agradalhe organizar em casa um jantar ao nível dos que a ricaça Dionísia Savel promove na mansão dela mas talvez Dora tenha exagerado. Ele são mariscos sortidos, tábua de queijos finos, paio e presunto pata negra, tostinhas barradas de caviar, perdizes estufadas – o senhor Comendador adora caça –, frutas, pastelaria requintada. Ao fim e ao cabo com o único objectivo de agradar ao Comendador Policarpo de Rosário e, depois, convencê-lo a financiar o projecto do Salão de Chá. – Já são sete horas e ainda não tratei de me arranjar – alarma-se Dora. – Querido, encarrega-te tu de pôr a mesa. A toalha de linho está na arca e sabes onde guardo as louças e os copos para as grandes ocasiões. – Não me lembro de nenhuma outra grande ocasião. Mas hoje, caramba, é mais que um jantar, temos aqui um banquete. Vai, vai lá. – Sim, quero aparecer linda, o Comendador há-de lançar-me piropos. – Não apenas piropos, já reparei que esse caramelo te devora com os olhos.

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– E tem mal, querido? O que é importante é ele entrar com o papel para o Salão de Chá. Mas tenho de ir, nem me reconheces quando eu voltar. Um toque na campainha sobressalta o casal. – Já? Ainda não são oito e meia. – Queres ver que é aquela bruxa Dionísia, com a intenção de nos apanhar ainda incapazes de receber? Alberto vai abrir. Afinal é uma lourita a propagandear as vantagens de um novo serviço de comunicações. – Temos tudo, estamos servidos - despacha-a o dono da casa, apressando-se a fechar a porta. Aceleram os preparativos. Às oito e meia em ponto estão aptos a receber os convivas mais exigentes. Dora elegantíssima no vestido de seda cor de creme, os cabelos louros numa rebeldia controlada, a maquilhagem perfeita. Alberto escanhoado e exalando odor a água de colónia, estreia o pulôver que a mãe lhe ofereceu pelo Natal; a mesa decorada com pétalas de flores entre os pratinhos dos aperitivos. Agora esperavam no sofá, um pouco ansiosos mas felizes. – Que horas são? – Quase nove. Mas também não seria de esperar que chegassem à hora. Gente fina faz-se esperar. Fixam a atenção na televisão. É um programa musical e Dora lembra-se: – É verdade, música! Música ambiente, menino, é indispensável. Põe lá. – O marido encarrega-se do assunto e ela repara que são nove e um quarto. Não devem tardar. E talvez tenham combinado vir todos juntos. O tempo parece correr demasiado rápido, dez da noite e ninguém. Dora mastiga um rissol para disfarçar a fome mas não disfarça a estranheza. A mesa posta espera, espera. – Nem um telefonema a justificar o atraso? – irrita-se Alberto. O melhor será ligarmos nós a saber o que se passa. – Nunca! – reage Dora. – Haviam de pensar que estamos impacientes pela chegada deles. – Pois estamos. Imagina que resolveram ir a outro lado. – Seria o cúmulo da incorrecção e pelo menos o meu adorado Comendador é um cavalheiro. Todos confirmaram a presença e se escolhemos o dia de hoje foi já consideran-


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do que a estuporada Dionísia nunca recebe às sextas-feiras em casa dela. Alberto passeia-se de uma ponta á outra da sala. A maquilhagem de Dora não impede que se vá formando uma ruga. Outra vez a campainha da porta. Alvoroço. – Finalmente! - Exclamam em coro. Ainda não. É a jovem Telma que olha a tia com estupefacção: – Uau! Estás o máximo! Vão sair? Dora encaminha-a para a saleta. Não quer que a sobrinha veja o estendal de iguarias desprezadas. Mas diz: – Esperamos uns amigos. Esqueci-me de te convidar, desculpa, passou-me. – E eu estive ocupada -diz Telma. - Fui jantar a casa da dona Dionísia mas saí antes da sobremesa. Estão lá os do costume: o Comendador Policarpo, os Sousa de Sousa, o Almiro, o Bruno Pinhalvelho, os Cachaço e Costa, enfim, o grupo. Dora e Alberto entreolharam-se, fulminados. – Fica aí um momento, Telma – diz Alberto arrastando a mulher para a sala. – Ouviste o que eu ouvi? Aquela jibóia, que aceitou o nosso convite e nunca recebe à sexta, decidiu roubar a nossa festa? – Incrível, incrível – choraminga Dora. – Que humilhação, Alberto. – E a despesa, Dora? É melhor nem fazermos contas. Bem, mas isto não fica assim. – Não fica como? Que podes tu fazer? – Vou tramar a festa deles. Onde está o meu telemóvel? Aqui. Deixa ver. Número incógnito, é isto mesmo. Um lenço. Pode ser um guardanapo, para enrolar o aparelho e alterar a voz. – Mas estás a ligar a quem? À bruxa? – Não. A primeira vai para o Comendador. Silêncio, Dora. - Está lá? É o senhor Comendador Policarpo do Rosário? Ainda bem que o apanho. Falo dos bombeiros, o seu escritório na Rua das Acácias está a arder. Venha imediatamente. Já está a caminho? Óptimo! – Tu és doido, querido - diz Dora sufocando o riso. – Mias do que julgas. Agora vamos aos Sousa de Sousa. Cala-te, estou a ligar. – É a senhora Sousa de Sousa? Fala a Polícia. Tocámos à sua porta e ninguém atende. Supomos que um assaltante se refugiou lá dentro. Vem já? Esperamos antes de arrombar a porta. – Vês Dora? Outros que largam o jantarinho.

– Que loucura Alberto! A quem estás a ligar agora? – Ao Almiro Rotílio. Pchiu! Senhor Almiro? Está em casa? Ah, não está em casa. Se estivesse já teria a água pelos artelhos. Pois, inundação, rebentaram os canos. Exacto, deve vir sem demora. – Outro, Dora. Estou a gostar disto. – Chega, chega, já não posso rir mais. – Só mais uma, a bruxa que jurava não receber em casa às sextas, ficou sem os convidados. Mas há mais. Pchiu! Dona Dionísia Savel. Fala o Comandante da Brigada de Trânsito. O seu motorista enfiou com o carro pela montra de uma boutique, há roupa íntima de senhora a voar na rua. Venha depressa. Ele não está ferido mas tem vergonha de falar. Avenida da República. Dez minutos? Pode ser. Da saleta vem, apressada, a jovem Telma: – Tia, tio, o que se passa? As vossas gargalhadas devem ouvir-se no prédio todo. – O que sucede – diz Dora – é que rebentámos com a festa da víbora. Traidora, tem um jantar à sexta, sabendo que hoje era a nossa noite. Telma estende um silêncio pensativo e, por fim, exclama: – Mas hoje é quinta! É quinta, tia! O silêncio torna-se mais longo até Alberto e Dora saírem do pasmo: – É quinta? – Pois, é quinta-feira. –Dora e Alberto têm as mãos nas cabeças e não conseguem articular palavra. Animam-se, quando Telma observa: – Calma. Tudo para o frigorífico, a comida não vai estragar-se por esperar um dia. De súbito, como uma intromissão, soa a campainha do telefone. Alberto levanta o auscultador e, acto contínuo, empertiga-se: – Senhor Comendador? Que surpresa! Como está vocelência? Em tom de sussurro, Dora pede: – Põe em alta voz, quero ouvir. Alberto obedece e o vozeirão do Comendador enche a sala: – Como estou? Irritado. Calcule que um estupor engraçadinho me fez correr para o escritório com a peta de que havia fogo. Mas o meu telefonema é para pedir desculpa por faltar amanhã ao vosso jantar. Amanhã é sexta-feira, sabe? E às sextas eu vou para a caça. Adoro caça.I JUN 2010 |

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Crónica

O sumo das tias A l i c e Vi e i r a

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A

s minhas tias nunca tocaram em álcool. A Tia Vitória, porque não lhe saía da cabeça a imagem do pai a entrar em casa aos trambolhões todas as noites, e a voz da mãe gritando “o vício do álcool há-de dar cabo de ti, homem!”- como deu. A Tia Florência, porque sempre ouvira dizer que bastava um copinho de vinho à refeição para uma pessoa poder morrer de cirrose. E a Tia Clara, porque não e acabou-se. Morreram as três muito virtuosas, muito abstémias, muito saudáveis e muito velhas. Deixaram de respirar, foi tudo. Dava gosto olhar para as três, sentadas todas as noites muito direitas, nas cadeiras de espaldar alto da sala de jantar, e ouvi-las murmurar: - Que Deus nos conserve sempre afastadas do terrível vício do álcool! - enquanto lentamente, gostosamente, se deixavam levar pelo prazer único dos pequenos goles de Licor Beirão, depois do jantar. Se, por acaso, alguém deixava acabar a garrafa sem haver logo outra pronta a entrar ao serviço, uma ginjinha também servia. Porque - como muito bem explicava a Tia Florência, “ginjinha é fruta, e fruta é das coisas mais saudáveis para o nosso organismo.” (Nunca sequer lhe deve ter passado pela cabeça que ”uva” também era fruta…) Tanto a ginjinha como o Licor Beirão eram regularmente fornecidos por um amigo do meu tio Ernesto, com armazém de venda ali ao Largo das Portas do Sol, junto ao Miradouro de Santa Luzia. No lote vinham também garrafas de capilé e salsaparrilha, para as quais elas olhavam desdenhosamente, colocando-as depois na prateleira mais alta da despensa, onde lentamente apodreciam. Faziam muito mal ao estômago, garantiam as três. Por isso, quando eu era criança, sempre me lembro de ouvir chamar ao licor “o sumo das tias”. Para mim, era de laranja.

Para elas era de outra coisa qualquer esquisita, que não me despertava qualquer tipo de curiosidade. Até àquela noite de Natal em que, de repente, se ouviu a voz ciciada da tia Clara: - Acho que preciso de alguém que me ajude a levantar da cadeira… Na altura não percebi por que é que ela, habitualmente tão ligeira, precisava de ajuda. Assim como também não percebi por que é que toda a gente fugia para o corredor a rir à gargalhada, enquanto o tio Ernesto disfarçava o riso, tentando fazer cara séria e ralhar com o primo Augusto: - Mas por que é que a encheste de medronhos? E o primo Augusto, entre mais gargalhadas: - Então, medronho não é fruta?

S

ó muito mais tarde percebi o cocktail explosivo que resultava de um, dois, três, etc…calicezinhos de licor, com muitos medronhos em cima… Além disso, a minha tia Clara sempre fora, como ela dizia, “um pisco a comer”, o que também ajudara à desgraça… Depois desse Natal, a tia Clara nunca mais quis ouvir falar de medronhos. - Um perigo! – dizia. - Um verdadeiro veneno! —acrescentavam as outras. Como o capilé. Ou a salsaparrilha. E depois do jantar lá vinha, como sempre, o Licor Beirão. Na sua inocentíssima garrafa. Sempre. Porque era fruta. Até ao dia em que, passados os noventa, cada uma foi largando a vida. Felizes e reconfortadas. E, evidentemente, com a consciência completamente tranquila de nunca terem tocado numa gota de álcool.I


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