Tempo Livre Setembro 2011

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N.º 229 Setembro 2011 Mensal 2,00 euros

TempoLivre www.inatel.pt

Entrevista Cesário Costa Terra Nossa Flores Diáspora Andorra

Turismo Júnior Umas férias diferentes

Destacável 8 págs. Viagens Nacionais Outono/Inverno


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Sumário

Na capa Foto: José Frade

8 TURISMO JÚNIOR

Férias Divertidas Oriundos de diversas regiões do País, cerca de 300 crianças e jovens integraram o Turismo Júnior, este ano mais abrangente tanto no plano etário como nos circuitos e actividades do programa, que decorreu em Julho e Agosto.

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EDITORIAL

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CARTAS

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NOTÍCIAS

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CONCURSO DE FOTOGRAFIA – GRANDE PRÉMIO

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PATRIMÓNIO

Livraria Esperança: 125 anos de história e livros LUSOFONIA

Machado da Graça escreve sobre o idioma comum em culturas distintas A CASA NA ÁRVORE O TEMPO E AS PALAVRAS Maria Alice Vila Fabião OS CONTOS DO ZAMBUJAL

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CRÓNICA Humberto Lopes

ENTREVISTA

Maestro Cesário Costa e os 20 anos da Metropolitana A comemorar duas décadas de existência, a Orquestra Metropolitana de Lisboa aponta a batuta para o futuro, para a conquista de novos públicos. Em entrevista à "TL", Cesário Costa, presidente e director artístico da OML, assinala os caminhos novos desta instituição sempre a reinventarse através da música e com uma frutuosa e exemplar parceria com a Fundação Inatel.

22 TERRA NOSSA

Flores: uma ilha por descobrir Assinalada como o ponto mais ocidental da Europa, a ilha das Flores continua sendo um território desconhecido para muitos portugueses.

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"Sempre em Férias": Uma alternativa aos lares Dezenas de pioneiros do programa "Sempre em Férias", instalados, desde Julho, na INATEL no Luso comprovam as virtualidades de um feliz alternativa para os anos mais tranquilos.

42 DIÁSPORA

Viagens Nacionais Outono/Inverno DESTACÁVEL DE 8 PÁGINAS

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BOA VIDA CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos, Novos livros e Cartaz

Portugueses em Andorra Andorra é um importante destino da nossa emigração, e apesar das actuais circunstâncias de crise, a comunidade portuguesa - 15% da população mantém-se de pedra e cal.

Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 136.637 exemplares


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Editorial

V í t o r Ra m a l h o

O dom da multiplicidade

A

“Tempo Livre” retoma a publicação regular no início deste mês de Setembro depois do período de suspensão justificado no mês de Agosto pelo período de férias. Ao retomarmos o contacto com a "TL", entendemos por bem entrevistar o maestro Cesário Costa, da Orquestra Metropolitana de Lisboa que este ano celebra o seu 20.º aniversário. A Fundação Inatel tem sido, por diferentes formas e há longos anos a esta parte um parceiro da Metropolitana de Lisboa. A circunstância da nossa Fundação ter uma componente cultural muito expressiva é, por si só, causa suficiente para esta parceria, sabendo-se como se sabe o contributo que a orquestra tem prestado à música clássica e à formação de jovens músicos. Não poderíamos por isso, aqui e agora, deixar de felicitar o maestro Cesário Costa pela efeméride e na sua pessoa, todos os membros da orquestra.

A

multiplicidade dos domínios de intervenção da Fundação estão aliás também patentes neste número da nossa revista, também ela enriquecida pela vertente lusófona, uma mais-valia que neste mundo crescentemente global não podemos deixar de afirmar. Aliás, em concreto, ao falarmos dela somos levados também a falar da riqueza da nossa diáspora, conscientes que hoje mais de metade

da população portuguesa ou dos seus descendentes vive no estrangeiro, e uma parte dela emigrou a partir das nossas ilhas atlânticas dos Açores. Por estas razões o actual Conselho de Administração ao abrir duas novas Unidades nas ilhas das Flores e da Graciosa completou a razão de ser Fundação Inatel, hoje com Unidades Hoteleiras em todo o território nacional. A beleza destas ilhas - Flores e Graciosa enquadra de forma invulgar a excelência daquelas Unidades Hoteleiras que, ao prestigiarem a Fundação Inatel possibilitam que os seus beneficiários usufruam de condições também excepcionais de lazer nelas. Vale bem a pena visitá-las como se depreende da reportagem desta "Tempo Livre!".

O

Programa "Sempre em Férias", tal como o "Turismo Júnior" apostas recentes da nossa Fundação, que se deve ter sempre por inacabada são outro dos temas que naturalmente levamos ao conhecimento dos nossos leitores, respondendo assim a interesses diferentes de diferentes gerações. Incluindo os interesses dos mais jovens uma vez que foram já concluídas as obras de requalificação do espaço que lhes é destinado no Parque de Jogos 1.º de Maio. Para satisfação dos próprios pais que encontram agora nele um vasto conjunto de respostas de confraternização e entretenimento dos seus filhos. Como disse - a Fundação, a nossa Fundação é uma obra sempre inacabada. n

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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt

Profissionalismo Fiz parte, de 25 Maio a 8 de Junho, de um grupo que esteve nas Termas de Caldelas e pretendo, com esta carta, chamar a atenção para algumas situações ocorridas durante os 15 dias de permanência. É triste que nos tempos que correm, ainda exista gente que não sabe viver em comunidade, que não respeite nada nem ninguém e que por causa de alguns...poucos, fiquem todos mal vistos… Ao Inatel os meus parabéns pela organização e por terem ao vosso serviço pessoas que nos tempos que correm cada vez são mais raros. Refiro-me, aqui, à animadora turística que nos acompanhou, Mariana Santos, uma jovem com

alto grau de profissionalismo, com carácter, que sabe colocar-se no seu devido lugar, respeita e sabe dar-se ao respeito (idoso por vezes é abusador..), simpática, sempre alegre e bem disposta, carinhosa. Ela faz aquilo que gosta e isso é muito importante. A.Vieira, associado nº 324428

50 anos na INATEL Completaram, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: Antonio Sampaio Carvalho, de Cascais; Francisco José Silveira, Manuel Higino Costa e Mª Manuela Trincão, de Lisboa.

Coluna do Provedor STÉPHANE HESSEL é o célebre autor do livro

Kalidás Barreto provedor@inatel.pt

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"Indignai-vos", que vendeu, em França, em apenas cinco meses, um milhão e meio de exemplares. Convidado, há pouco, pela Fundação Mário Soares, foi um prazer ouvir este jovem de 93 anos. Como escreve o ex-Presidente da República, na contra-capa da edição portuguesa do livro, Hessel, 93 anos, herói da Resistência francesa, sobrevivente dos campos de concentração nazis e um dos redactores da Declaração Universal dos Direitos Humanos. É com a autoridade moral de um resistente inconformado e de um lutador visionário que nos alerta, neste breve manifesto, para o facto de existirem hoje tantos e tão sérios motivos para indignação como no tempo em que era ameaçado o mundo livre. Se procurarmos, encontraremos razões para a indignação: o fosso crescente entre muitos pobres e muitos ricos, o estado do planeta, o desrespeito pelos imigrantes e pelos direitos humanos, a ditadura intolerável dos mercados financeiros, a injustiça social, entre tantos outros. Aceitemos o desafio, procurando neste livro e no mundo que nos rodeia os motivos para a insurreição pacífica, pois "cabenos a todos em conjunto zelar para que a nossa sociedade se mantenha uma sociedade da qual nos orgulhemos". Eis um pouco do texto que entusiasma quem o lê:"Actualmente, está a ser posta em

causa toda a base das conquistas sociais da Resistência. Mas como é possível que actualmente não haja verbas para manter e prolongar estas conquistas, quando a produção de riquezas aumentou consideravelmente desde a Libertação, quando a Europa estava arruinada? Apenas porque o poder do capital, nunca foi tão grande, insolente, egoísta, com servidores próprios até nas mais altas esferas do Estado. O fosso entre os mais pobres e os mais ricos nunca foi tão grande; e a corrida ao capital e a competição nunca foram tão incentivadas: Dizemos-lhe: revezai-vos e indignai-vos! Os responsáveis políticos, económicos, intelectuais e a sociedade em geral não podem desistir, nem deixar-se impressionar pela actual ditadura internacional dos mercados financeiros, que ameaça a paz e democracia. Desejo a todos, cada um de vós, que tenham o vosso motivo de indignação. "Sem apelos à violência, Hessel convida os jovens a que não se deixem abater porque o futuro é deles. É esta mesma mensagem que no número de Julho/Agosto, da revista "Tempo Livre", o Presidente da Fundação Inatel, Dr. Vítor Ramalho, transmite: "A Inatel, os beneficiários e os contributo que entendemos deve prestar para a superação dos momentos difíceis que o país vive exigem que não desfaleçamos nos esforços a desenvolver, recriando a esperança." n


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Notícias

Turismo Júnior Férias d Oriundos de diversas regiões do País, cerca de 300 crianças e jovens integraram o Turismo Júnior, este ano mais abrangente tanto no plano etário como nos circuitos e actividades do programa, que decorreu em Julho e Agosto. Os participantes dos 8 aos 12 anos, alojados em campos de férias em regime aberto na unidade de l

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Oeiras, desfrutaram de múltiplas actividades de carácter lúdicopedagógico, cultural e desportivo. Visitas a Azenhas do Mar (arborismo), ao Planetário Gulbenkian, piscina em Oeiras e orientação e desporto no Parque 1º de Maio, dominaram a estadia dos mais pequenos, recheada de estimulantes

experiências e adrenalina. No final do divertido circuito de campo em Azenhas do Mar, Tomás Pires, 12 anos, mostrava vontade de repetir, em 2012, estas animadas férias em grupo. "Isto é giro. A piscina de Oeiras é muito boa. Espero que haja mais férias no próximo ano." Para os 13 aos 17 - campos de


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s divertidas férias em regime fechado - o ponto alto dos seis dias de férias foi a visita à capital andaluza. Alojados no hotel Jardin de la Reina e no Parque de Campismo Zmar (cinco estrelas), em Sevilha, os participantes viveram dois divertidos e animados dias com visitas turísticas e actividades lúdicas e desportivas, incluindo uma inesquecível jornada no parque temático Isla Mágica. Os restantes dias do programa deste grupo etário foram intensamente vividos ou na Inatel Oeiras ou na Zambujeira do Mar.


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Notícias

Piscina de Manteigas atrai aquistas A funcionar em pleno desde Maio passado, a moderna e bem equipada piscina coberta da Inatel Serra da Estrela, em Manteigas, tem suscitado uma entusiástica adesão dos hóspedes alojados naquela unidade hoteleira. Inseridas na Região l

Hidrotermal de Montanha, as Termas de Manteigas, geridas pela Fundação, usufruem - recorde-se - de água mineral natural captada a 60 metros de profundidade, o que lhe garante pureza bacteriológica e estabilidade físico-química. Com a reabertura

Livro INATEL 75 anos com vouchers l

A mais recente edição da Fundação Inatel, intitulada "Inatel 75 Anos: Das Colónias

de Férias da FNAT à Rede Hoteleira Do Séc.XX" oferece três vouchers de alojamento, cada um com uma noite gratuita. A obra que pode ser adquirida nos serviços da INATEL a preço de associado de 15 euros, assinala a actividade da Fundação ao longo do anos, enquanto percorre, com referências históricas e magníficas imagens, a oferta hoteleira da INATEL composta por 18 unidades hoteleiras, três parques de campismo e dois balneários. 10

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desta inovadora piscina termal equipada com diversas valências e de acesso fácil para os aquistas -, prevêse um aumento substancial da procura nesta unidade. Em 2010, as Termas Inatel tiveram uma ocupação superior a um milhar de aquistas.


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Notícias

Inatel na Segurança Social l

Em função da Lei Orgânica do

novo Governo, publicada no passado dia 12 de Julho no Diário da República, a Fundação Inatel é tutelada pelo Ministério da Segurança Social. O MSSS - registe-se - é o departamento governamental que tem por missão a definição, promoção e execução de políticas de solidariedade e segurança social, combate à pobreza e à exclusão social, apoio à família e à natalidade, a crianças e jovens em risco, a idosos, à inclusão de pessoas com deficiência, de promoção do voluntariado e de cooperação activa e partilha de responsabilidades com as instituições do sector social.

Orquestra Metropolitana l A Fundação Inatel e a Orquestra Metropolitana de Lisboa renovaram, em Julho passado, o protocolo de cooperação que prevê a concessão de bolsas de estudo aos jovens da OML. O novo acordo, rubricado por Vítor Ramalho e Cristina Baptista, em representação

da Inatel, e por Cesário Costa e Fátima Angélico, em nome da OML, prevê, ainda, a realização de 12 concertos de câmara, várias actividades no Dia Mundial de Música e um concerto no CCB, em Novembro, cuja receita reverte para a Fundação.

Parque de Campismo de S. Pedro de Moel l

Proprietária do Parque de

Campismo de S. Pedro de Moel, desde a sua criação, em 1976, a Fundação Inatel deliberou, face aos prejuízos sistemáticos de exploração, concessioná-lo, por dez anos, a terceiros, com salvaguarda dos direitos dos trabalhadores e dos beneficiários que a ele

“A Ópera dos Vadios”

continuarão a ter acesso como "Parque Inatel". Tal opção, ao não afectar rigorosamente em nada o património da Fundação,

No Bar do Teatro da Trindade teve lugar a apresentação pública do novo romance do escritor e autarca de Santarém, Francisco Moita Flores. Intitulado "A Ópera dos Vadios" (Casa das Letras), o novo título de Moita l

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Flores é- como assinala José Jorge Letria nesta edição da TL (Livro Aberto) - "uma sátira intensa da vida política portuguesa, na linha das assinadas no século XIX por Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós."

permite inclusive melhorá-lo face às obrigações assumidas pelo concessionário, favorecendo a eliminação dos prejuízos, com reforço do equilíbrio de gestão.


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"ARTELAB - Futuro" no Museu da Tapeçaria l O Museu da Tapeçaria de Portalegre Guy Fino assinalou o 10º Aniversário com a inauguração da Exposição Colectiva de Tapeçaria Contemporânea "ArteLab -Futuro", realizada em parceria com a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. "ArteLab - Futuro", patente até Outubro próximo, apresenta-se em dois núcleos distintos: primeiro intitulase "Memória" e integra um conjunto de obras de ex-alunos de Tapeçaria. O segundo núcleo, "Futuro", é constituído por obras de Tapeçaria Contemporânea bi e tridimensionais, criadas na disciplina de Tapeçaria da Licenciatura de Pintura, da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Inaugurado a 14 de Julho de 2001 pelo Presidente da República Jorge Sampaio, o Museu da Tapeçaria de Portalegre presta homenagem à personalidade que integrou Portugal na lista dos grandes produtores internacionais de tapeçaria artística: o industrial Guy Fino.


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Notícias

PortoCartoon evoca 'passarola'

Tertúlias na Grande Lisboa l

A "passarola" de Gusmão (1709) é o mote da exposição do PortoCartoon, patente no Espaço Chatô, na capital brasileira, até meados de Setembro. São cerca de 40 desenhos de grandes artistas do humor mundial, alguns deles do Brasil. Intitulada "PortoCartoonAviões e máquinas voadoras", a mostra evoca a data da primeira experiência precursora da navegação aérea, desenvolvida em Lisboa, no reinado de D. João V, pelo famoso padre brasileiro Bartholomeu Lourenço de Gusmão. O tema tem presente o impacto da aviação na actualidade e foi bandeira do PortoCartoonWorld Festival organizado em 2009/2010 pelo Museu Nacional da Imprensa, com sede no Porto. Natural de Santos (Brasil) l

A Sociedade Musical e

Desportiva de Caneças será palco, no dia 30 do corrente, pelas 21h30, de um debate sob o tema "Teatro- Amadorismo ou Profissionalização". A iniciativa insere-se na nova dinâmica da Inatel junto dos CCD'S na área da Grande Lisboa, filiados na Fundação. Conhecer as realidades dos CCD's com iniciativas que possibilitem uma maior interacção, trocas de ideias e experiências criativas, é objetivo deste projecto da Fundação, coordenado pelo arquitecto, compositor e intérprete Carlos Mendes, através da organização

Bartholomeu de Gusmão protagonizou a primeira experiência com um aeróstato de ar quente no mundo.

de tertúlias, onde o objectivo é a criação e promoção de espaços de informação e debate, alargando-se o seu âmbito de actuação à opinião e às ideias que serão apresentadas por parte dos convidados e com a participação dos presentes.

"Artistas de Cá" Vai realizar-se de 17 de Setembro a 19 de Outubro, na Galeria de Arte do Casino Estoril uma exposição colectiva de Pintura, Desenho, Escultura e Cerâmica de artistas dos concelhos de Cascais, Oeiras e Sintra, por isso designada Artistas de Cá. Participam nesta exposição, que é de tema livre, artistas que habitualmente expõem na Galeria do Casino e outros especialmente convidados pela sua qualidade e por residirem em um dos concelhos referidos. Estão confirmados, entre outros, os seguintes artistas: Aida Sousa Dias, Branislav Majhaelovic, Carlos Ramos, Cohen Fusé, Diogo Navarro, Edgardo Xavier, Guilherme Parente (na foto), José Man, Lívio l

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No final de cada tertúlia, haverá lugar a uma pequena

Morais, Luís de Guimarães, Luzia Lage, Maria Almira Medina, Mário Vinte e Um, Marta Lowndes, Moisés, Mónica Capucho, Nadir Afonso, Nélio Saltão, Noronha da Costa, Rogério Timóteo, Rui Matos, Sílvio Machado e Vitor Belém.

intervenção que poderá ser musical, poética e literária, com a participação de alguns convidados e dos próprios CCD's. Tertúlias programadas para Outubro: dia 2, pelas 17h30, na Pró-Memória - Associação Cultural Etnológica de A-dosCunhados, o tema é "Como se faz uma Canção"; dia 8, às 21h30, na Associação Musical Artística Lourinhanense debatese "Despertar para a Música"; e no dia 23, a partir das 15h00, falar-se-á de "Portugal e a Cultura Popular" no Grupo Musical Recreativo da Bemposta.


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Fotografia

Grande prémio do XV Concurso “Tempo Livre” de Fotografia Vencedor:

Paulo Correia Lisboa sócio n.º 323465

Regulamento do XVI Concurso “Tempo Livre” de Fotografia

1. Concurso Nacional de Fotografia da

5. Não são aceites diapositivos e as fotos

leccionadas terá como prémio duas noi-

revista Tempo Livre. Periodicidade

concorrentes não serão devolvidas.

tes para duas pessoas numa das

mensal. Podem participar todos os

unidades hoteleiras da Inatel, durante a

associados da Fundação Inatel, excluindo

6. O concurso é limitado aos associados

época baixa, em regime APA (alojamento

os seus funcionários e colaboradores da

da Inatel. Todas as fotos devem ser

e pequeno almoço). O prémio tem a

revista Tempo Livre.

assinaladas no verso com o nome do

validade de um ano. O premiado(a) deve

autor, morada, telefone e número de

contactar a redacção da «TL».

2. Enviar as fotos para: Revista Tempo

associado da Inatel.

Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

10. Grande Prémio Anual: uma viagem a 7. A «TL» publicará, em cada mês, as seis

escolher na Brochura Inatel Turismo

melhores fotos (três premiadas e três

Social até ao montante de 1750 Euros.

3. A data limite para a recepção dos

menções honrosas), seleccionadas entre

A este prémio, a publicar na «TL» de

trabalhos é o dia 10 de cada mês.

as enviadas no prazo previsto.

Setembro de 2012, concorrem todas as

4. O tema é livre e cada concorrente

8. Não serão seleccionadas, no mesmo

pode enviar, mensalmente, um máximo

ano, as fotos de um concorrente

de 3 fotografias de formato mínimo de

premiado nesse ano

fotos premiadas e publicadas nos meses

10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco.

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em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um

9. Prémios: cada uma das três fotos se-

fotógrafo de reconhecido prestígio.


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Entrevista

Maestro Cesário Costa e os 20 anos da Metropolitana

“A música faz bem…” Do alto dos 20 anos de vida que agora celebra, a Orquestra Metropolitana de Lisboa aponta a batuta para o futuro, para a conquista de novos públicos. Pela mão de Cesário Costa, presidente e director artístico da Metropolitana, conhecemos como se abrem os caminhos novos desta instituição sempre a reinventar-se através da música e com uma frutuosa e exemplar parceria com a Fundação Inatel. Aos 20 anos a Metropolitana propõe-se conquistar novos públicos. De que modo? A Metropolitana é uma orquestra itinerante, não tem uma sala própria. Este ano, pela primeira vez, vamos ter concertos organizados em parceria com o CCB, com uma temporada de assinaturas, permitindo condições para que os preços dos bilhetes possam ser mais reduzidos. Outro ponto importante na cidade é o cinema S.Jorge: iremos organizar um conjunto de concertos que passam desde música da América Latina, de parceria com a Casa da América Latina e com a Embaixada da Argentina. Depois teremos programas de música e cinema, em que o compositor de música para filmes Nuno Maló, premiado nos EUA, vai compor uma suite expressamente para este concerto. Teremos ainda música de câmara à hora de almoço, no espaço S.Jorge e também nos Paços de Concelho, mais um modelo que iremos experimentar para que as pessoas durante 45 minutos, gratuitamente, possam assistir a música de câmara. …Para levar música a um público mais alargado. Nós não temos preconceitos daquilo que é a música clássica. Temos de levar as pessoas a acharem que um concerto de música clássica é uma coisa que todos podemos ouvir. Organizamos esta temporada um concerto a que chamámos 'O meu primeiro concerto'. E não foi apenas destinado a crianças. Através da Câmara de Lisboa, contactámos associações e, de repente, no final do concerto uma senhora que devia ter 18

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uns 70, 80 anos dizia: "Agora já posso morrer, porque já vi um concerto de música clássica." E, às vezes, são nestes pequenos gestos em que acho que a música pode fazer a diferença. E é o público que dá sentido ao trabalho da orquestra. Temos que repensar aquilo que é uma orquestra no século XXI, não podemos estar presos a modelos do passado, temos de ter capacidade de arriscar, de quebrar barreiras e ir um pouco mais além, esse é o meu grande objectivo. O ensino da música é a outra vertente da Metropolitana. Temos uma parte pedagógica muito forte com quatro escolas a funcionar: um conservatório com os que iniciam aqui os seus estudos aos três anos até a alunos com 70 anos, que frequentam os cursos livres; uma Escola Profissional, com alunos do 10º, 11º e 12ºanos, que têm aqui todas as disciplinas; a Academia Superior de Orquestra, que forma instrumentistas de orquestra e directores de orquestra, maestros, é a única escola do país que tem esta particularidade; e desenvolvemos em conjunto com a Casa Pia um projecto de ensino integrado de música, com alunos do 5º, 6º e agora iniciamos com alunos do 7º ano. Além da música este projecto tem outra componente muito importante na forma como ajuda esses alunos a crescerem: os que frequentam estas aulas de música de ensino integrado conseguem ser óptimos alunos também nas outras disciplinas. O que é estimulante.


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É muito estimulante e significa que a música pode ter um papel muito mais importante do que aquele que às vezes achamos e lhe atribuímos. E para nós é muito importante nestes 20 anos termos a capacidade de desenvolver todos estes projectos e através de uma política que para mim é muito importante: trabalharmos em parceria com muitas instituições, nomeadamente com a Inatel. E que balanço faz desta parceria? Muito positivo. Quando desenhamos a programação e o tipo de apoio que a Inatel pode conceder aos projectos da Metropolitana procuramos algo que possa fazer a diferença. Com o ciclo Música nos Museus, levamos diferentes grupos de música de câmara a espaços de referência a nível de património histórico e cultural. Este ano, iremos para a Serra da Estrela: Linhares da Beira, Piódão. E como vê a atribuição de bolsas para alunos poderem frequentar a escola da Metropolitana? Temos muitos alunos que se candidatam à Metropolitana, são de todo o país. E a Inatel atribui bolsas de acordo com a média; têm de ser alunos carenciados e que frequentem bandas filarmónicas ou outras associações financiadas pela Inatel. É uma forma muito interessante de premiar pelo mérito os alunos e ao mesmo tempo permitir que possam frequentar a Metropolitana. No seu tempo de aluno, fez a formação inicial no Porto mas ainda jovem partiu para o estrangeiro sobretudo gostava de trabalhar para completar a sua forTemos de levar as com pessoas. A actividade de mação… pessoas a acharem pianista é uma actividade por Fiz a formação inicial na que um concerto de vezes bastante solitária. E Academia Vilar de Paraíso e música clássica é regressando a Portugal estive depois no Conservatório de uma coisa que todos dois anos a conduzir todo o Música do Porto. Tomei uma podemos ouvir. opção desde muito cedo: quemeu percurso para depois ria estudar fora de Portugal, e poder estudar na Alemanha. com 17 anos fui para Paris Estive a dirigir coros, estive estudar piano. Não numa perspectiva de achar como pianista acompanhador na Escola Superior que em Portugal não se poderia estudar piano, foi de Música do Porto, para contactar e conhecer as antes uma questão de querer conhecer uma outra características de outros instrumentos. realidade, outra cultura, outra forma de estar. E Depois fui para a Alemanha, onde estive seis Paris tem uma dimensão diferente, não apenas ao anos e tirei licenciatura e mestrado em direcção nível da música mas de tudo a que pude ter aces- de orquestra. Achei que era lá que iria encontrar so ao nível das outras artes, o que me marcou aquilo de que precisava para a minha formação. profundamente. E foi muito importante porque além de tudo o Mas depois cheguei à conclusão de que gosta- que consegui adquirir de conhecimentos musiria de fazer outro tipo de trabalho na música e cais, também há uma forma de estar e de pensar

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Entrevista

Jovens Violoncelos da Metropolitana num Concerto de Natal e, em baixo, com os fadistas CamanĂŠ, Cristina Branco e Carlos do Carmo


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que foi muito importante para mim, a nível de organização. Não pretendo aqui criar uma cultura alemã, não é isso, mas neste momento sou um pouco a influência do que recebi. Em Portugal começou logo a trabalhar em direcção de orquestra? Sim. Mesmo quando estava na Alemanha criei uma orquestra de câmara. Como maestro não tinha possibilidade de levar uma orquestra para casa para poder ensaiar ou para poder estudar e foi um instrumento muito importante para poder dar a conhecer o trabalho que estava a fazer e, sobretudo, ganhar experiência como chefe de orquestra. Mais tarde fui convidado para maestro titular e director artístico da Orquestra do Algarve. Depois recebi o convite para vir para a Orquestra Metropolitana. E foi um desafio muito interessante pelo tipo de actividade que se pode desenvolver. E junta o que eu já fazia separadamente: dirigia orquestras, fui professor durante muitos anos na Universidade Católica do Porto, e aqui tenho a possibilidade de desenvolver este projecto que liga as duas vertentes às quais eu já estava ligado, a lectiva e a artística. Pela Orquestra Metropolitana passa todos os anos um número considerável de alunos. Está atento ao trilho profissional deles? Relativamente à direcção de orquestra, muitos alunos formados aqui neste momento estão a desenvolver um trabalho muito importante em Portugal. Por exemplo a Joana Carneiro, o Pedro Neves e o Alberto Roque. Falando da Academia Superior de Orquestra, no ano que passou tivemos 10 alunos que concluíram a licenciatura e foram admitidos em diferentes escolas de Inglaterra, Alemanha e Suíça, para prosseguirem estudos de mestrado ou doutoramento. Isso para mim é que é fundamental: conseguir que os nossos alunos possam conquistar os seus lugares pela qualidade do trabalho que desenvolvem, poderem estar ao nível de todos os outros candidatos que se apresentam. E em todos os concursos nacionais que existem temos sempre alunos premiados, não estou com falsas modéstias, é isto que se passa. E como olha para o panorama orquestral português? Temos uma escola em Portugal que são as bandas filarmónicas, têm um papel fundamental na ini-

ciação que permite aos jovens músicos. E a Inatel tem um papel fundamental pela forma como ajuda a desenvolver essas instituições. Relativamente às orquestras, têm uma programação regular que vai desde norte de Portugal ao Algarve. O fundamental relativamente à música é que é preciso tempo para solidificar projectos, para consolidar aquilo que é o trabalho realizado. A Inatel tem um E criar condições para que se pospapel fundamental sam desenvolver a médio e longo pela forma como prazo. ajuda a desenvolver O público tem respondido ao traas bandas balho da Metropolitana? filarmónicas Em 2010, organizámos 496 iniciativas de todas as actividades, de orquestra, de escolas e tivemos um aumento de público: 78 mil pessoas frequentaram as diferentes iniciativas desde workshops, a masterclasses ou audições, todo o tipo de formatos onde alguém possa ouvir música. Tento é que possa haver muitas vezes projectos para grande público. Recordo-me do concerto a 30 de Junho, no encerramento das Festas de Lisboa com a Cristina Branco, o Camané e o Carlos do Carmo; ligamos o fado à orquestra, com os arranjos do Mário Laginha. Foi na Alameda e estavam 12 mil pessoas a assistir ao concerto. Tem de haver sempre esta preocupação de apresentarmos propostas que as pessoas possam aderir e ir aos concertos, e irmos ao encontro das pessoas. Porque a música faz bem… A música faz bem e repare, para mim, algo que me dá muito gozo é quando se sente que as pessoas estão felizes no final do concerto. n Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos)

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FLORES Uma ilha po 22

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Assinalada como o ponto mais ocidental da Europa, a ilha das Flores continua sendo um território desconhecido para muitos portugueses, atÊ mesmo para os açorianos. Este esquecimento feito de algum abandono parece ter os dias contados.

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Terra Nossa

Páginas anteriores, de cima para baixo, vistas panorâmicas da Fajã Grande, Caldeiras Funda e Comprida e a vista que se tem do hotel das Flores Em baixo, Reserva Florestal de Recreio Luis Paulo Camacho

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A

abertura de alguns equipamentos culturais e turísticos e a recente integração na Rede Mundial das Reservas de Biosfera da Unesco premeiam o equilíbrio entre o desenvolvimento da ilha e a preservação do património natural. A presença humana teve início há cinco séculos mas o elevado nível de conservação da natureza faz da ilha das Flores um dos paraísos naturais mais secretos da Europa. Está, tal como a vizinha ilha do Corvo, assente na placa norteamericana, o que faz deste grupo insular o mais estável e nunca sujeito a terramotos. Ilha maior do grupo Ocidental do arquipélago dos Açores, Flores é um trapézio com 17km de comprimento e 12,5Km de largura, povoado por cerca de quatro mil habitantes. De terreno montanhoso e altas escarpas frente ao Atlântico, a ilha é governada por um clima ameno com temperaturas a oscilar entre os 16 e os 26ºC, nos meses que separam o Inverno e o Verão. Ali, num só dia o visitante pode experimentar as quatro estações, ao nevoeiro cerrado e à chuva miudinha pode suceder o sol, e aí desvenda-se uma inesquecível paleta de diferentes tons de verde que cobrem todo o território. É tempo de aproveitar e partir à descoberta por terra e por mar. À máquina fotográfica deve juntar-se os binóculos, muito úteis para a observação de aves, o cantil, o impermeável e o uso de calçado apropriado para tais andanças.

Por toda a ilha, a costa é escarpada e quando menos se espera no sopé, surgem as fajãs com um punhado de casas térreas pintadas a branco. Exemplos disso são a Fajã Grande e a Fajãzinha, locais de paragem obrigatória. E é precisamente junto a esta última que podemos ver as Cascatas da Ribeira Grande, um espectáculo exuberante de cerca de vinte quedas de água com várias dezenas de metros de altura, algumas escorrem directamente no mar, outras dão origem a lagoas, como a Lagoa das Patas - a que apenas se tem acesso percorrendo um trilho pedonal. A emoldurar a ilha, pontuam pequenos ilhéus que servem de abrigo às aves migratórias que cruzam o Atlântico. Indo para o interior, é hora de partir à descoberta do que as duas reservas florestais da ilha têm para oferecer. Partindo das Lajes das Flores em direcção a poente, já na freguesia de Mosteiros, irrompe a Rocha dos Bordões, um morro de basalto com longas estrias verticais a dominar a paisagem luxuriante. É obrigatório o circuito das sete lagoas também chamadas de caldeiras, por ocuparem crateras de vulcões extintos. Em plena cadeia montanhosa central, com o Morro Alto no horizonte - ou não fosse aqui o tecto da ilha - singular é a vista das duas lagoas Funda e Comprida, tão próximas, tão distintas e igualmente belas. Largando terra e partindo para o mar, há um naipe de actividades que empresas da região disponibilizam. Dos desportos náuticos à pesca, da observação dos monumentos naturais da costa ao mergulho, a oferta tem vindo a aumentar. E os praticantes de mergulho têm ao largo da ilha das Flores geo-paisagens submarinas de grande diversidade, com diferentes tipos de erupções ou não tivesse o arquipélago dos Açores um fundo marinho com milhares de vulcões submarinos entre as nove ilhas. Consciente do valor e relevância dos muitos geos-sítios de valor internacional ali localizados, não só nas Flores mas em todo o conjunto das ilhas açorianas, no final deste ano vai ser apresentada a candidatura do Geoparque dos Açores, para integração na rede europeia de geoparques. O propósito dos promotores do novo geoparque é gerir este rico património natural de forma integrada com os elementos culturais, etnográficos, arquitectónicos e históricos e, de caminho, envolvendo as populações locais.


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Para quem queira visitar a ilha, o preço das passagens aéreas e o facto de ter de se fazer sempre pelo menos uma escala em S. Miguel ou na Terceira podem ser motivos dissuasores. Oxalá os programas de férias organizados pela Inatel possam contrariar tal tendência. Uma vez visitada, há sempre motivos novos para voltar à serena e inspiradora ilha das Flores.

Uma janela sobre o Atlântico À frente dos destinos do Hotel das Flores desde o início do ano, Conceição Nunes aposta também na vertente cultural daquela unidade Inatel situada na zona do Boqueirão. Com 26 quartos e uma suite, o único quatro estrelas da ilha tem apenas

Guia Roteiro: Ilha das Flores, Açores, Roteiro

Histórico e Pedestre, Pierluigi Bragaglia; Restaurante:

O Forno Transmontano, Fazenda das Lajes, Lajes das Flores; Alojamento: Hotel das Flores(Inatel), Zona do Boqueirão, Santa Cruz das Flores.

sete quartos com vista de terra. Aos restantes está reservada uma vista única sobre o Atlântico e a vizinha ilha do Corvo - quando o chapéu de nuvens a deixa ver. A mesma vista panorâmica para quem usufrui dos equipamentos do piso térreo: o restaurante, o bar-lounge, o salão de jogos e o ginásio. Com "uma vista soberba sobre o Atlântico" esta unidade gerida pela Inatel "é - sublinha-nos a dinâmica directora - o único hotel de quatro estrelas da ilha, com todos os privilégios inerentes a esta classificação e que veio trazer para a ilha das Flores um outro tipo de turismo que de outro modo não poderia ou não queria cá vir." Conceição Nunes assinala a presença regular de executivos que se deslocam à ilha em trabalho e que "sistematicamente nos têm vindo a preferir. Por outro lado, somos procurados por um tipo de turismo que privilegia o contacto com a natureza, as caminhadas, os passeios de barco e o mergulho. E são sobretudo dinamarqueses, alemães, brasileiros, italianos, suecos e holandeses. Embo-

Conceição Nunes. Em cima, Monte das Cruzes

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Terra Nossa Hotel das Flores com antiga fábrica da Baleia à direita

ra a ilha seja pequena, tem tanta beleza natural que nunca descobrimos tudo - nem eu." Junto ao Hotel das Flores abriu, quase em simultâneo, o Centro de Interpretação Ambiental do Boqueirão. "O centro - refere a responsável da unidade - oferece uma janela sobre as surpresas aquáticas e a riqueza do fundo do mar. Tem também exposições de fotografia, mostras e venda de artesanato local, um moderno espaço multimédia, e também ali se realizam conferências e debates. Tem uma direcção muito dinâmica. E pode dizer-se que a vizinhança é realmente muito benéfica e tudo valoriza."

Programa Inatel: Descubra os Açores A Fundação Inatel tem à disposição de associados e beneficiários um programa de estadias nos Açores: INATEL Graciosa - Ilha branca - desde: 363 euros; e INATEL Flores - Ilha das cascatas desde: 359 euros. Todos os pedidos de reservas deverão ser enviados para turismo@inatel.pt ou directamente para a Agência INATEL mais perto de si. Os preços informados são por pessoa em quarto duplo, válidos até Novembro de 2011 e incluem: Voo em classe turística (na classe mais económica); Taxas de aeroporto (sujeitas a alteração no momento da emissão); 3 noites de alojamento com pequeno almoço, nas unidades INATEL Graciosa ou INATEL Flores, de 4*; Transferes ida/volta do aeroporto ao hotel.

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Conceição Nunes destaca, ainda, como espaço valorizador do património das Flores, a abertura, em 2012, junto ao hotel, do Museu da Baleia. "A pesca à baleia - salienta - foi um modo de subsistência de muita gente nesta ilha. O óleo da baleia era o combustível utilizado para acender as lamparinas à noite e as mulheres faziam muitos trabalhos em palha e em linho à luz da lamparina. Depois do esquecimento, de todas as fábricas terem fechado, esta aqui, que era uma das maiores, será um pólo museológico muito importante e uma homenagem a quem trabalhou na pesca à baleia - e houve muitas vidas que se perderam no mar." Além do turismo, " sempre bem-vindo", a responsável da Fundação quer "virar o hotel um bocadinho para a população das Flores, para os florentinos com mais de 30 anos. O espaço de bar-lounge pode ser aproveitado para saraus, para teatro ou mesmo para sessões de poesia." Conceição Nunes quer este projecto no Outono. "Julgo ser bom para os florentinos e mesmo para os turistas, que ficam a ganhar em conhecer a cultura local e em integrarem-se na comunidade, através do convívio e de um espaço de diálogo. Porque há muita gente interessada em conhecer a cultura e as vivências de uma ilha pequena, que está um pouco isolada e no ponto mais ocidental da Europa." n Manuela Garcia (texto e fotos)


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Património

Livraria Esperança O labirinto dos 100 mil livros No Funchal esconde-se um tesouro chamado Fundação Livraria Esperança. Tem 125 anos de histórias para contar, algumas nos livros, outras pelo proprietário, Jorge Figueira de Sousa.

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s corredores labirínticos por entre centenas de estantes abrem-se para um mundo mágico de histórias perdidas no tempo. Livros que fogem à memória e outros que ainda cheiram a novo, por entre o odor de papel envelhecido, transportam-nos para a inigualável biblioteca do livro O Nome da Rosa, de Umberto Eco, ou o mágico "Cemitério dos Livros Esquecidos", criado por Carlos Ruiz Zafón em A Sombra do Vento. Na rua dos Ferreiros, no Funchal, em dois palacetes centenários, mora a maior livraria de Portugal e uma das maiores do Mundo (com 1200m2), a Livraria Esperança, com 125 anos de vida e mais de 106 mil títulos que nos

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olham nos olhos. Aqui, todos os exemplares estão com a capa exposta para o leitor. "Diz-se que temos os livros pendurados como os bacalhaus nas antigas mercearias do Funchal", conta Jorge Figueira de Sousa, que aos 79 anos é o último guardião deste tesouro.

Três Gerações Este invulgar empreendedor, sócio da Inatel há cerca de 50 anos, mantém vivo o sonho do seu avô Jacintho, que fundou a casa em 1886 como livraria e tipografia e cujo legado foi continuado pelo pai, José. A Esperança, que se tornou uma fundação em 1991, conheceu várias residências ao longo dos anos, até se estabelecer no local actual, em 1973, com 12 mil livros.


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É então que nasce o conceito de livraria de fundos, a única em Portugal. "Fui falar com os editores a Lisboa e pedi para me mandarem um livro de tudo o que tivessem", recorda. Uma vez vendido um título, este é reposto de imediato até que o editor o considere esgotado. E nem o facto de ser um título antigo o inquieta: "Um livro é sempre novidade para quem o vê pela primeira vez, mesmo que tenha sido publicado há 15 ou 20 anos". Contudo, o proprietário lamenta que os livros tenham um papel cada vez mais secundário entre os jovens. "Os meus clientes estão a morrer. Tenho clientes de todas as idades, mas depois dos 40 é que compram mais. Os jovens ainda estão muito agarrados ao computador", confessa. A caminhada do veterano livreiro começou aos 13 anos. Surgiu uma lei que obrigava as lojas a fecharem às sete da tarde, o que implicava a perda de clientes nos "dias de mala", como era designada a chegada do barco de Lisboa ao Funchal com jornais e revistas. "Conseguimos uma licença especial até às nove, desde que o trabalho fosse feito pelos proprietários ou familiares. Eu ficava a ajudar nestes dias e o meu pai ofe-

recia-me uma comissão de 10%", relembra. O curso comercial e industrial ficava assim para trás. Jorge Figueira não lamenta, pois conseguiu livrar-se da Guerra Colonial. "Os meus estudos só davam para ser soldado raso, mas como tinham muitos mandaram-me para casa". Empenhado nos negócios, aventurou-se noutros ramos, como a venda de electrodomésticos e relógios a prestações. Todavia, decidiu recuperar a tradição livreira, que tinha abandonado devido a alguns desentendimentos familiares após a morte do seu pai em 1960, seguindo os ensinamentos do seu avô. "Descobri cartas que o meu pai e o meu avô trocaram pelas quais ainda me orientei na gestão do negócio". Uma relíquia de grande valor sentimental que se junta a outros tesouros da livraria. Fazem parte do espólio a colecção do jornal gratuito "O Réclame", cujo primeiro número nasceu a 21 de Novembro de 1889, criado pelo seu avô Jacintho. "Foi o primeiro do género em Portugal. Vivia unicamente da publicidade". Uma outra preciosidade é o livro "Um Herói de Quinze Anos", de Júlio Verne, uma edição dos finais de 1800, que Jorge Figueira de Sousa guarda com

Jorge Figueira de Sousa, vendo-se atrás a fachada do edifício da Fundação Livraria Esperança

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Património

Jorge Figueira de Sousa consultando um exemplar de jornal que faz parte do espólio da livraria 30

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especial carinho. As histórias de ficção científica sempre o apaixonaram, ou não guardasse na memória os livros da sua infância. "Li a colecção de Emílio Salgari, um oficial da marinha de guerra italiana que escreveu histórias de aventuras para as crianças. Aprendi imensas curiosidades". Sem descendentes a quem possa deixar uma obra de três gerações, Jorge Figueira de Sousa encontrou uma solução jurídica para a sucessão. "As fundações têm a vantagem de não poderem ser desfeitas. O sucessor tem de pertencer à fundação e será escolhido por voto secreto", revela, sublinhando o cariz social do organismo, no qual metade dos lucros é para comprar livros para as crianças da Madeira. As editoras continuam a ter ordem para enviar um exemplar de todas as novidades e, mesmo contando com 106 mil títulos, a Livraria Esperança tem espaço para crescer. "O prédio tem duas áreas ocupadas por um stand e uma loja de móveis. Se eles forem embora tenho muito espaço para a expansão. Se a crise acabar e voltarmos a ter o movimento que tínhamos, podemos expandir para um terreno de 400 m2 atrás do prédio, que já tem um projecto aprovado", refere. Relíquias Num edifício que é património classificado escondem-se ainda alguns segredos bem guardados. Para lá das portas de um antigo quartel do exército, descobre-se um palacete construído por volta de 1650. Aqui surgem dados curiosos e contraditórios. Uma das janelas do edifício é do século XVII, enquanto a fachada é do século seguinte. "Segundo uma arqueóloga, ardeu a frontaria da casa 100 anos depois da sua construção, tendo sido reconstruída". Neste antigo palacete, cujo chão é feito com calhaus da Madeira, escondem-se ainda duas relíquias: uma cisterna com mais de 500 anos e 16 metros de profundidade, que servia uma albergaria de clérigos, e vestígios de azulejos iguais aos do Convento de Santa Clara, no Funchal. Nas encruzilhadas do piso térreo sente-se ainda um misterioso aroma proveniente de uma adega, que é descoberta após se ouvir o ranger da porta nos gonzos. "Esta é a única porta de gonzos existente no Funchal, é de 1650", afirma Jorge Figueira de Sousa. Com sorte, o seu proprietário poderá dar-lhe a provar a sua aguardente de receita inglesa. n HMC (texto e fotos)


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Turismo Social

Programa Sempre em Férias

Uma alternativa aos lares A tranquilidade e a alegria reina no grupo de cerca de meia centena de pioneiros do programa "Sempre em Férias" que, desde Julho último, gozam os prazeres da vida na INATEL no Luso.

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ieram de diferentes locais com o gosto comum de viajar e partilhar uma vida calma e repousante numa unidade hoteleira da Inatel. São pessoas autónomas com um estilo de vida saudável que assumem que a idade não os inibe para ir à descoberta de outros destinos e, com o intuito de fugir à rotina ou simplesmente distanciar-se de memórias do passado escolhem fazer férias prolongadas através da iniciativa "Sempre em Férias", recentemente lançada pela Fundação. O primeiro grupo, cerca de meia centena de participantes, assentou arrais na Inatel Luso, em Julho passado e, entre eles, há quem confidencie à TL que, semanas após a sua chegada, já nem pareciam os mesmos e os rostos contraídos

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depressa deram lugar a semblantes alegres e despreocupados, sinais evidentes do salutar ambiente que os rodeia. "Vim para o programa para não estar sozinha em casa", confidência Maria Júlia que está encantada com o convívio que ali encontrou. Preparada para seguir viagem até Albufeira, local onde passará mais três meses, a amável sénior nem quer ouvir falar em regressar à Marinha Grande. "Já somos como uma família e tivemos sorte em encontrar um grupo harmonioso", acrescenta Celeste Mafra Repolho, igualmente viúva, que apostou nestas férias pela confiança nos serviços e pelas múltiplas viagens bem sucedidas que realizou com a Inatel ao longo dos anos. Mas é Helena Mendes que assume ter sido a filha, com quem vive, a incentivá-la para o pro-


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grama "foi ela que viu na revista e tratou de tudo" e - adianta - "já veio cá com os meus netinhos passar um fim-de-semana" conta a afável avó de Sta Iria da Azóia que adora os convites para um "pezinho" de dança.

Ambiente acolhedor e troca de experiencias… O convívio e a partilha de experiencias é uma constante entre o grupo, sendo mesmo frequente encontrar seniores divertidos, a jogar matraqui-

lhos, bilhar, cartas ou a evocar histórias de outros tempos ou conhecimentos e habilidades, como acontece com Maria Carolina Flores que já contagiou as novas amigas com o crochet, arte que domina com destreza e cuja criatividade atraiu adeptas que não hesitaram em calcorrear o comércio local para adquirir agulhas e linhas em vários tons para as suas criações. Até Emília Azevedo, uma elegante e culta "ex-sôtora" do Algarve rendida ao talento da nova amiga, aventurou-se na concepção de um bonito saco mul-

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Turismo Social

chegar" sublinha Ilda. E adianta: "o programa tem estado a corresponder às minhas expectativas, por isso irei continuar enquanto puder". Também o seu companheiro regista com agrado o bom ambiente e os bons momentos de confraternização vividos no Luso.

"Um programa pioneiro…"

tiusos, em renda, que sob orientações da mestra executa e vê crescer a cada dia que passa. Mas o talento do casal Flores espraia-se, também, noutros domínios, graças à voz de Armando que em meados do século passado integrou como tenor o coro da FNAT e participou em inúmeros Serões para Trabalhadores. Actualmente é vê-lo a cantarolar fado e muitas outras cantigas que marcaram a sua geração. E, enquanto o animador, Azize Júnior, incentiva a criar fatos, chapéus e outros adereços para passagens de modelos ou festas temáticas, cultivando o espírito de grupo, há, entre eles, quem opte por manter um estilo de vida mais autónomo. Fernando Matos, 62 anos, é o exemplo de quem gere o seu dia-a-dia conforme lhe apetece, gosta de ler e de dar uma volta no seu carro, mas junta-se ao grupo para fazer Tai-Chi e sempre que as actividades o atraem. O "Sempre em Férias dáme oportunidade para viver num hotel e conhecer melhor o país" sublinha o beirão de Tondela que brevemente irá à descoberta do Algarve. Feliz por não ter de cuidar das lides domésticas continua Ilda Silva, a companheira de Fernando Esteves, pioneiros de inscrição pela zona de Setúbal que a TL divulgou na edição de Julho passado. "Viver num hotel em regime de pensão completa, com roupa lavada, cama feita e boa comida é um luxo a que nem todos podem 34

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Vocacionado para pessoas autónomas com idade superior a 60 anos, o "Sempre em Férias" proporciona estadas por períodos de três meses num hotel da Fundação, rodando, sucessivamente, entre as unidades mais adequadas à faixa etária. A partir de Setembro é a Inatel de Albufeira que acolhe a iniciativa. Para exercitar o físico e a mente, o programa integra actividades físicas e muitas sugestões de animação compostas por viagens turístico-culturais pela região, ateliers de expressão plástica, teatro, cinema e jantares temáticos, serviço de lavandaria e assistência médica em caso de necessidade. "É um programa inovador e pioneiro e uma alternativa ao lares", acentua Rui Paulo Calarrão (na foto), director da área Social da INATEL, com uma longa e vasta experiência na organização e gestão dos programas seniores. "Foi através dos questionários preenchidos pelos utentes dos programas termalismo e turismo seniores que percebemos que havia espaço para este projecto", refere o mesmo responsável. "Os seniores - acrescenta - manifestavam vontade em permanecer nos hotéis por períodos superiores aos estipulados por aqueles programas" . A iniciativa conta com a comparticipação do Instituto da Segurança Social, IP e com o apoio das autarquias locais que disponibilizam transportes e visitas pelo concelho. Os interessados deverão contactar as Agências da Fundação situadas nas capitais de distrito ou as agências aderentes ao programa. O montante a pagar depende do rendimento mensal de cada sénior e varia entre os 450 e os 1400 euros mensais. n Glória Lambelho (texto e fotos)


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Inatel Porto

Cultura e Desporto sem limite de idade A tradição da Fundação Inatel para o aproveitamento dos tempos livres mantém-se e revitaliza-se, através de actividades culturais e desportivas, junto de várias gerações de associados.

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o Porto, entre as diversas propostas para todas as idades, na agência "Casa Jorge de Sena" abrem-se janelas para desenvolver a criatividade nos cursos de Pintura e Desenho e, no Parque de Jogos de Ramalde, as artes marciais estão em destaque.

Por amor às artes Jaime Hipário, licenciado em Artes Plásticas Pintura, pela faculdade de Belas Artes da UP, tem 36

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cerca de quarenta alunos na Academia Jorge de Sena, onde qualquer pessoa pode surpreender-se com as capacidades que desenvolve. Trata-se de um grupo muito heterogéneo, com idades compreendidas entre os quarenta e os setenta anos, são pessoas motivadas que frequentam os cursos de Pintura e Desenho, sobretudo por não existirem barreiras etárias para iniciar esta actividade. Formador desde 2006, defende que "o facto de não saber desenhar ou pintar não é impeditivo para estar aqui", provavelmente, "a pintura está


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inscrita no nosso código genético", sublinha. Não existem limites para expressar a criatividade, "no início podem sentir alguma resistência, mas gradualmente vão desbloqueando". Jaime Hilário refere, ainda, alguns casos, de pessoas que, "inicialmente, não sabiam pegar num pincel, tiveram uma grande evolução", desenvolveram mais autoconfiança, soltando amarras e explorando novos mundos, conseguindo fazer "trabalhos mais expressivos". Durante o período de aprendizagem, todos os formandos podem desfrutar do convívio, cultivar um espírito de grupo, criar laços e afinidades, porque mais importante do que a questão da idade, são as mentalidades. O formador incentiva, frequentemente, a organização de visitas a exposições. "Fizemos uma viagem a Madrid, para visitar o Centro de Arte Moderna. Era necessário estar no aeroporto às cinco horas da manhã, mas isso não foi desmotivante para as pessoas", recorda com satisfação. Todos os participantes são pessoas muito interessadas, "uma delas, recentemente aposentada, e apesar de ter diversas ocupações, vem de Ovar

especificamente para o curso", conta Jaime Hilário. "É um sinal de motivação e uma grande recompensa para um formador". No final do ano lectivo, realiza-se uma exposição colectiva, com alguns dos trabalhos mais representativos de cada um. "Considero – sublinha – que é muito importante mostrar o trabalho que fizeram e sentirem satisfação, sobretudo quando compreendem que tiraram partido da aprendizagem." Jaime Hilário acredita que, nalguns casos, "dedicar-se à pintura pode ser terapêutico", algumas pessoas quando estão em sala afirmam que "esquecem todos os problemas das suas vidas, como se estivessem num mundo à parte, numa dimensão mágica", acrescenta. Como dizia Picasso, "pintar é libertar-se, e isso é o essencial".

Por amor ao 'caminho' O Dojo INATEL - Federação Portuguesa de Karate Shotokan (FPKS), inaugurado em Janeiro deste ano, com inscrições abertas a todos, praticantes ou iniciados, recebe turmas infantis, juvenis e adultos. Ao contrário do que acontece com a maioria SET 2011 |

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Inatel Porto

dos desportos, o Karate pode ser praticado desde a tenra idade e sem limite para abandonar. O instrutor responsável, Filipe Silva, que teve a iniciativa de propor um protocolo entre a Fundação Inatel e a FPKS, tem a graduação de 3.º Dan, foi diversas vezes campeão regional e nacional, e participou em vários campeonatos europeus e mundiais (Grécia, Itália e Japão), tendo alcançado as meias-finais no Campeonato do Mundo de Tókio, em 2006. Filipe Silva iniciou a actividade com sete anos, "seguindo os passos do irmão mais velho", recorda, fazendo a primeira competição aos doze anos, considera que teve "a sorte de estar rodeado de pessoas que cultivam o Karate-Do - que significa 'o caminho', em busca do equilíbrio, através do esforço", salienta. O Karate pode orientar os mais jovens, ajudando-os a evoluir com base em valores e modelos de aprendizagem sólidos. A prática do Karate implica adoptar um conjunto de valores - respeito, disciplina, humildade -, "o respeito no interior e exterior do Dojo, pelos instrutores, pelos cole-

AGÊNCIA DO PORTO "CASA JORGE DE SENA" Cursos: Danças Latinas, Desenho; História da Cidade do Porto; Informática; Línguas; Música; Pintura; Restauro; Teatro; Yoga; Tai Chi Chuan, etc. Mais informações: Agência do Porto. Rua do Bonjardim, 501 - tel. 220007950 / ag.porto@inatel.pt

FUNDAÇÃO INATEL - PARQUE DE JOGOS DE RAMALDE Escolas: Futebol Americano Inatel - Porto Renegades; Karate Inatel - FPKS; Rugby Inatel. Horário: segunda a sexta: 9h às 23h; sábado, domingo e feriados: 08h às 21h.

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gas, e por todos aqueles com quem se convive ao longo da vida, é primordial", defende. Durante a juventude, Filipe Silva teve de "abdicar de muitas saídas com os amigos", porém o Karate, associado a uma prática de filosofia de vida, trouxe - lhe muitos resultados positivos nas várias competições nacionais e internacionais. "Mais do que ser campeão, era mais importante superar-me a mim mesmo", acrescenta, frisando a importância do esforço e disciplina e os seus efeitos na evolução pessoal. Apesar de alguns obstáculos sociais, Filipe Silva aos dezanove anos decidiu ser instrutor e dedicar-se por inteiro à prática desta arte marcial, tendo como referência o líder mundial de Karate, Hirokazu Kanazawa, o homem mais graduado do mundo (10.º Dan), que recentemente completou oitenta anos, durante um estágio promovido pela FPKS, com quem teve o "privilégio de conviver várias vezes, observando de perto a humildade que caracteriza o grande Mestre". Actualmente com setenta alunos de diversas idades, na sede da FPKS e no Dojo Inatel de Ramalde, o experiente formador admite ter uma grande exigência com os seus Karatecas, por considerar que "os alunos são o espelho do instrutor", e por acreditar que, quando os valores são transmitidos e cultivados, "as medalhas e as taças aparecem facilmente". Recordando as palavras de um mestre: "treinar um campeão não é difícil, mas treinar um grupo de campeões é complicado, esse é o grande desafio de um instrutor". Por amor ao caminho escolhido, Filipe Silva pratica e ensina Karate, orientando os seus alunos com uma atitude mental de respeito e humildade. n Teresa Joel (texto) Lucília Monteiro (fotos)


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Lusofonia Machado da Graça

PALOPs Comentando com um amigo português, de passagem por Maputo, o uso da palavra Bué num anúncio publicitário muito em voga na Rádio, manifestei a minha estranheza pelo uso de uma palavra que não é de uso local.

O

meu amigo mostrou-se muito surpreendido dizendo que achava que Bué era muito usada nos PALOPs. Respondi-lhe que nos PALOPs não sabia, porque nunca lá tinha estado, mas que em Moçambique não, não era usada. Aí começou uma conversa mais complicada. Isto porque a expressão PALOPs parece estar já arreigada na linguagem vulgar sem que as pessoas se apercebam do seu significado reducionista e amalgamador de realidades diversas. Para muitos portugueses, talvez a maioria, Moçambique, Angola, Guiné, Cabo Verde e S.Tomé são uma realidade única, com características comuns, apenas separados pela geografia em partes distintas de África. São culturalmente homogénios, partindo do laço comum que é a língua portuguesa e o facto de, historicamente, todos terem sido colónias portuguesas. O que é, claramente, um erro enorme. Logo a seguir às independências os portugueses chamavam a estes países as ex-colónias. Depois a designação foi variando com passagem por países lusófonos ou países de língua portuguesa até se estabilizar no actual PALOPs. E isso pegou, igualmente, ao nivel de alguns cantores que celebram, nas suas músicas, a nação Palop. Ora eu penso que é preciso, ainda hoje, uma boa dose de optimismo para se falar de uma nação moçambicana ou nação angolana (dos outros não falo, porque não conheço as suas realidades). Para falar de nação Palop o optimismo necessário seria muitíssimo mais. Não sei mesmo se haverá reservas suficientes por esse mundo fora. Porque achar que o facto de terem tido o mesmo colonizador moldou os vários países até ao ponto de se tornarem culturalmente homogénios é desconhecer tudo sobre esses países e, até, sobre o que foi a colonização portuguesa. 40

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Embalados pela canção dos 500 anos de ocupação colonial, muitos portugueses ignoram que a ocupação efectiva do conjunto do território, por exemplo em Moçambique, pouco mais tem que cem anos. De resto havia presença portuguesa em alguns pontos ao longo da costa e de alguns rios mais importantes. A ocupação efectiva do interior é um fenómeno recente e, na maioria do território, muito superficial. A cultura prevalecente é, portanto, a cultura tradicional dos diversos povos que ficaram incluidos nas fronteiras coloniais, traçadas de forma artificial, completamente à margem de povos, tribos e culturas. A língua portuguesa, sendo da maior importância para a comunicação em todo o país, continua a ser uma língua minoritária em Moçambique. Como, de resto, todas as outras que se falam no país. A principal diferença é que cada uma das outras é falada em apenas uma zona geograficamente demarcada e o português, sendo a língua do colonizador, é falada por gente espalhada por todo o território. Para isso contribuiu, de resto, a decisão, tomada na altura da independência, de fazer dela a língua de unidade nacional. De fazer dela a língua utilizada nas escolas de todo o país. Costuma-se dizer que língua e cultura andam intimamente ligadas. É verdade na maioria dos casos, menos verdade noutros. Num caso como o de Moçambique, a língua portuguesa pouco está ligada à cultura portuguesa. Pelo contrário tornou-se uma forma de expressar a cultura moçambicana. Será ínfima a minoria de moçambicanos falantes do português que saibam quem foi Afonso Henriques, Fernando Pessoa, a Raínha Santa Isabel, Aquilino Ribeiro ou a Padeira de Aljubarrota. Conhecem sim os textos de Mia Couto ou Ungulani Khossa, as proesas de Maguiguana ou do régulo Mutaca. Em português


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mas um português associado a uma cultura moçambicana. O mesmo se passará, imagino eu, em Angola, Guiné, Cabo Verde e S.Tomé e Principe. Cada um usando a língua comum como base para culturas diferenciadas. Mais para valorizar o que é nacional do que para importar o que é estrangeiro. Daí o erro de considerar que o uso da mesma língua produziu uma cultura comum nos vários países que adoptaram o português. Daí o absurdo de designações como esta, de PALOPs, essencialmente baseadas na convicção da existência dessa cultura comum. Na convicção de que "nos PALOPs é assim…", "nos PALOPs faz-se assim…".

Gostaria imenso que os nossos amigos no PELOP (país europeu de língua oficial portuguesa) se apercebessem desta realidade e procurassem compreender cada um dos países tal como ele é, sem generalizações erradas e, muitas vezes, de gosto discutivel. Assim como Portugal não é o Brasil, Moçambique não é S.Tomé e Cabo Verde não é Timor. Amigos, amigos, culturas nacionais à parte. Se possivel conhecidas e respeitadas por todos, mas como aspectos identificativos de cada um. Uns com samba, outros com semba, uns com vira, outros makwaela. Embora, muito possivelmente, com letras todas em português. n

José Mário Branco e Manuela de Freitas no Maputo, junto do autor, 2.º a contar da esquerda

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Diáspora

Mudar de vida em Andorra Andorra é, ainda, um importante destino da nossa emigração, e apesar das actuais circunstâncias de crise, a comunidade portuguesa - 15% da população - mantém-se de pedra e cal. Com um prestígio sustentado, também, em triunfos desportivos.

H

istoricamente dependente de mão-de-obra exterior, Andorra reúne um conjunto de características geográficas, climáticas e socioculturais que determinam o tipo de actividades em que se envolve a população imigrante. O turismo e o comércio, dimensões que surgem fortemente articuladas na economia do país, são as actividades dominantes, que tiveram, aliás, as suas primícias em meados do século passado. Já por essa altura, o número de visitas anuais se cifrava à volta aos trezentos mil turistas. O turismo de natureza, os desportos de inverno, o comércio dirigido aos visitantes implicou, e continua a implicar, obviamente, investimentos centrados em infra-estruturas hoteleiras e de comunicação. A relação entre o número de andorranos (cerca de 33 000) e o volume de turistas que o país recebe por ano (perto de dez milhões) permite apreender o grau

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de necessidade de mão-de-obra estrangeira da sua economia.. Nos últimos dois ou três anos, em virtude da crise económica que tem vindo a afectar a Europa, o mercado de trabalho andorrano tem oferecido menos oportunidades, pelo que um certo número de imigrantes tem optado por regressar a Portugal ou por arriscar a sorte noutros países. Mas muitos mais são os que permanecem em Andorra, com aquela mesma vontade que um dia os fez sair de Portugal para procurar vida melhor.

Tempos difíceis A motivação para a escolha de Andorra, como de outros destinos de emigração, surge quase sempre relacionada com situações de desemprego, como evidencia um punhado de experiências. No caso de Filomena Brandão, 33 anos, uma educadora de infância originária de Avintes, que está em Andorra desde Novembro de 2005, a perspectiva era a de inactividade profissional após a frequência de um curso/estágio de Técnica de Acção Educativa em Portugal. A hipótese de Andorra decorreu quer da expectativa de trabalho num país onde já residiam familiares - o que evidencia o papel das redes sociais e familiares nestes processos -, quer da curiosidade e empenho numa experiência profissional fora de Portugal. Trabalha actualmente como educadora num jardim de infância de Andorra la Vella. Há meia-dúzia de anos era bastante mais fácil encontrar trabalho nestas terras pirenaicas. Foi também em 2005 que Carlos Santiago, 28 anos, de Aveiro, chegou a Andorra - e três dias depois já tinha encontrado ocupação. Em seis anos


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Diáspora

mudou dezenas de vezes de emprego, por insatisfação com as condições de trabalho - serão essas, assegura, as razões para a volatilidade dos empregos no sector da hotelaria em Andorra. Mais estável, no seu caso particular, é a actividade paralela como DJ, cuja experiência Carlos levou de Portugal, com várias passagens por festas na capital da Catalunha, e repete, com alguma regularidade, em bares e clubes de Andorra la Vella e de outras localidades andorranas. A percepção de que se passa por tempos mais difíceis é partilhada por Dina Vieira, que deixou Vila Pouca de Aguiar em 1998 e rumou a Andorra em busca de trabalho. Trabalhou durante sete anos no ramo da restauração e ao cabo de uma dezena de anos, gere uma empresa familiar com dois restaurantes, um na capital e outro em Canillo, um povoado de montanha. Mas as histórias de sucesso, lembra esta empresária de 48 anos, nem sempre se cumprem. Muita gente tem regressado nestes últimos dois anos, face a uma crise que se estende da hotelaria à construção. "Dá muito trabalho e por vezes até às duas ou três da manhã, mas há que lutar", diz, com um sotaque que lembra a musicalidade da língua catalã, uma das línguas oficiais de Andorra.

Uma comunidade prestigiada Desde 2006 que as iniciativas e os interesses dos empresários lusitanos no país contam com o apoio de uma instituição criada justamente com esse fim, o Clube de Empresários Portugueses de Andorra (CEPA). A sua finalidade principal é, como descreve Patrícia Bragança, presidente do Clube, "a defesa dos interesses dos empresários portugueses que residem em Andorra, assim como a promoção da aproximação empresarial entre Andorra e Portugal". No âmbito das actividades do CEPA inclui-se "a assistência jurídica, tanto em Andorra como em Portugal, assistência fiscal, presença em networkings, formações e colóquios no âmbito empresarial e profissional". O CEPA tem actualmente cerca de oitenta associados, representando vários ramos de actividade - construção, restauração, carpintaria, informática e transportes, entre outros. A presença dos portugueses na sociedade andorrana não pode ser medida, todavia, apenas pela sua integração nas dinâmicas económicas, como se pode ver pela participação e protagonis44

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A segunda maior comunidade estrangeira A imigração em Andorra é um fenómeno antigo - por volta dos anos 30 do século passado registou-se uma afluência de trabalhadores estrangeiros para a construção da rede rodoviária e da central hidroeléctrica. Na sequência da guerra civil espanhola, verificou-se também um aumento de estrangeiros - refugiados em passagem para França que acabavam por decidir ficar no território e que contribuíram para aumentar substancialmente a população do Principado. Nos anos 60, os estrangeiros já constituíam a maioria da população. Os portugueses começaram a chegar em número significativo a partir dos anos 70, em virtude da crise económica vivida então em Portugal, mas também em consequência do regresso de população das ex-colónias e do elevado nível de desemprego. Muitos dos que passaram por Andorra seguiram para França e outros destinos, mas uma boa parte fixou aí residência, contribuindo para o aumento da população e para a forte diversidade cultural que caracteriza o tecido social do país. Dos cerca de oitenta e cinco mil habitantes de Andorra, 60% são estrangeiros. A maior comunidade é a espanhola (26 688), seguida da portuguesa (13 100), com significativa percentagem de imigrantes oriundos do norte do País. Segundo dados de 2010 do Governo de Andorra, os portugueses representam 15% da população e cerca de 25% dos estrangeiros residentes. Apenas no Luxemburgo a percentagem de portugueses atinge essa dimensão. No ano 2000 estavam contabilizados cerca de 6700 imigrantes portugueses (1304 em 1981), o que permite identificar um forte aumento do fluxo migratório lusitano durante a última década. A grande maioria dos imigrantes portugueses concentra-se na capital, Andorra la Vella, e nas freguesias vizinhas de Encamp e de Escaldes. La Massana e San Juliá de Lòria são outras duas freguesias que acolhem percentagens significativas de portugueses.

Página da esquerda: FC Lusitanos, José Luís Carvalho e Dina Vieira. Nesta página: Filomena Brandão e Carlos Santiago.

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mo na vida cultural, social ou desportiva do país - mesmo que, em certas situações de cargos públicos, isso implique a renúncia à nacionalidade portuguesa, por exigência das leis andorranas. Mas tais condicionalismos têm vindo a ser atenuados - pelo menos parcial ou pontualmente, como salienta José Luís Carvalho, 44 anos, bancário, que deixou Vila Praia de Âncora há mais de vinte anos. Membro do Conselho das Comunidades Portuguesas entre 2003 e 2007, foi durante o tempo em que foi Conselheiro que a Secretaria de Estado das Comunidades conseguiu negociar com o governo andorrano um acordo bilateral que equiparou o estatuto dos imigrantes portugueses aos de Espanha e França, já estabelecido, entretanto, alguns anos antes. O convénio aborda vários aspectos, entre os quais os relacionados com actividades empresariais e profissionais e o acesso de nacionais portugueses à função pública em Andorra. Autor do livro "Portugueses em Andorra Uma visão global", José Luís Carvalho tem um percurso muito ligado ao associativismo português no país. As actividades de associativismo das comunidades estrangeiras estavam interditas 46

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até à redacção da actual Constituição, em 1993. A Casa de Portugal, fundada em Maio de 1995, surge na sequência dessas alterações. Integrando um Grupo de Folclore e um Clube Desportivo, e a par da Associação Cultural de Residentes do Alto Minho, a Casa de Portugal é, dentro do associativismo português em Andorra, uma das colectividades mais dinâmicas. Há outras, igualmente importantes, repartidas pela capital e por outras localidades, como a Confraria de Nossa Senhora de Fátima, a Associação Futebol Clube Casa do Benfica e a Associação de Portugueses de Pas de la Casa. Uma glória inequívoca do associativismo luso, que contribui também para o prestígio da comunidade portuguesa, é o clube de futebol "FC Lusitanos", que conta com quase centena e meia de atletas nas suas várias equipas. A equipa B foi campeã da segunda divisão em 2010/2011, mas é a equipa principal que melhor projecta a comunidade portuguesa para a ribalta desportiva: vencedora na primeira divisão, a equipa representou recentemente Andorra em competições da UEFA, na Macedónia e na Croácia. n Humberto Lopes (texto e fotos)


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Cabeça A Casa na árvore Susana Neves

Amoreira: a grande veloz Delírios da árvore dos "povos da seda" em terras de Portugal.

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omo a febre de enriquecer através do comércio da seda obscureceu, ao longo de séculos, a identidade da amoreira branca (Morus Alba L.) poucos saberão que ela é a mais veloz das espécies vegetais a expelir pólen. Funcionando como autênticas catapultas, os estames (orgãos genitais masculinos da flor) projectam pólen a 560 km/hora, ou seja, a uma velocidade superior à do convencional TGV.

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Tendo esta velocidade fenomenal, a amoreira também se aplica na lentidão adiando, por vezes, o lançamento das primeiras folhas na Primavera, daí o seu nome morus, do latim mora = atrasar/retardar. Ao estudar a meteorologia, ao aguardar a passagem das geadas que poderiam lesionar a polinização e o vigor das suas belas folhas verdes cordiformes (em forma de coração) ou lobuladas, a árvore do bicho-da-seda (Bombyx Mori L.) revela um grande profissionalismo e uma astuta competência em prosperar. Embora os lucros proporcionados pela sericultura a tenham aparentemente secundarizado em relação à criação da larva da borboleta, insaciável comedora das suas folhas, podemos ver nesta pequena e misteriosa artesã da seda uma embaixatriz da amoreira branca. Dito de outra forma, as amoreiras brancas (espécie originária da China) na sua propensão para colonizarem o mundo terão usado a seda como anzol de sedução da soberba humana. Por isso, durante três milénios, os chineses (também chamados "Seres" = "povos da seda") mantiveram secreta a misteriosa aliança desta "dupla de ouro" (árvore e lagarta), enriquecendo-se através da comercialização de um produto, cuja beleza enigmática permitiria dar o nome à "Rota da Seda", que durante séculos ligou a remota Chang'an ao Mar Mediterrâneo. No século VI, Justiniano, o ambicioso imperador de Bizâncio, poria fim ao monopólio do Império "China". A seu mando, dois monges nestorianos conseguiriam trazer, escondidas em canas de bambu, a semente da árvore e a "semente" da borboleta. A partir desse momento, a "árvore da imortalidade", onde os "pássaros do Sol faziam o ninho", potenciava ainda mais a sua carreira no Ocidente. Em Portugal, onde as condições geográficas e climatéricas satisfizeram a rústica Moreaceae, a sua introdução parece ter ocorrido logo no início da monarquia. Escreve José Acúrsio das Neves, em "Noções Históricas, Económicas, e Administrativas - sobre a produção, e manufactura das sedas em Portugal, e particularmente sobre a Real Fábrica do subúrbio do Rato e suas Annexas", 1827: "Datam, pelo menos, desde os


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Fotos: Susana Neves

princípios da Monarquia: ha quem lhes vai buscar a origem ao tempo dos antigos Reis Godos; porem julgo mais provavel ser este hum daqueles generos de industria oriental, que devemos ao estabelecimento dos Arabes nas Hespanhas". Ao longo dos séculos, mas sobretudo durante o reinado de D. José (1714 - 1777), por decisão do seu Secretário de Estado, Marquês de Pombal, são mandadas plantar, de Norte a Sul do país, milhares de "pez de amoreiras" brancas (muitas vindas de França, via Marselha) a coberto de inúmeros "privilégios e isenções", na esperança de incentivar a indústria nacional da seda. Também entre nós, o estímulo para a plantação das amoreiras era o lucro, nunca o interesse pela espécie. "Maravilhosa Indústria para cada um dos Portugueses facilmente se fazer rico em pouco tempo", alicia Rafael Bluteau em "Instrução sobre a cultura das Amoreiras", 1679. Se a amoreira branca era a "árvore do ouro", símbolo da riqueza fácil, ocupação divertida para o nobre, meditativa para o religioso e suplemento da economia dos pobres, dando "ocupação a mulheres e crianças", a verdade é que em Portugal a ambição colonizadora da árvore

não vingou apesar de um certo desenvolvimento da indústria da seda em Trás-os-Montes no século 19, e mais recentemente a aplicação de várias leis protectoras, entre elas, o Decreto Lei 18 604, 12-7-1930, que multava quem tocasse numa amoreira sem prévio consentimento e impunha pena de prisão de 5 a 15 dias (confirmar: http://capeiaarraina.wordpress.com) ou ainda de uma ancestral afinidade com as mulheres do Norte que até hoje mantêm uma ligação à sericultura, exemplo de um núcleo de indústria da seda em Freixo de Espada à Cinta; raras são as árvores que sobreviveram - excepção para as multi-seculares de Castelo de Mendo - aos novos tecidos, à concorrência estrangeira e ao medo colectivo de sujar a roupa com a cor dos seus frutos medicinais. No entanto, segundo as "Metamorfoses", de Ovídio, a cor da amora lembra o sangue trágico de um casal de apaixonados, Píramo e Tisbe, antepassados de Romeu e Julieta, cuja morte sobre uma mesma espada manchou para sempre a amoreira branca. n SET 2011 |

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60 CONSUMO Setembro alberga o "Dia sem Carros" e a "Semana da Mobilidade". Aqui se dá conta de outros factores para melhorar a qualidade de vida urbana. Pág. 52 l LIVRO ABERTO Duas sugestões em destaque: "Contos Escolhidos", do clássico francês Guy de Maupassant, e o romance "Sartoris", obra-prima de William Faulkner. Pág. 54 l ARTES Fernando Lemos (1926), um dos nomes marcantes do surrealismo português, com exposições - homenagem em Lisboa, Tomar e Brasil. Pág. 56 l MÚSICAS Dos EUA chegam-nos novidades discográficas de Ben Harper e de Britney Spears. O primeiro desinquieto e a segunda "fatal". Pág. 58 l NO PALCO "Amadeus", peça que narra a vida e obra de Mozart, abre a nova temporada do Teatro Nacional D. Maria II. Pág. 60 l CINEMA EM CASA "José e Pilar", "Homens de Negócios", "A Última Noite e "London Boulevard - Crime e Redenção", quatro oportunas apostas em tempos de crise. Pág. 62 l AO VOLANTE O novíssimo Micra - a quarta geração a envergar o nome - representa um capítulo completamente novo na história do compacto citadino da Nissan. Pág. 63 l SAÚDE Para controlar a tensão arterial não se podem abandonar duas batalhas - medicação e alteração do estilo de vida. Pág. 64 l PALAVRAS DA LEI As situações de divórcio são, provavelmente, as mais complexas de opinar, defender e apreciar. Em causa a pensão de alimentos. Pág. 65 l

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Boavida|Consumo

Melhorar a qualidade de vida nas cidades No mês em que por toda a Europa se vai falar uma vez mais de "Dia sem Carros" e "Semana da Mobilidade", vale a pena lembrar outros factores que contribuem, igualmente, para melhorar a qualidade de vida urbana. Consumir menos, mas melhor, é um desafio que vale a pena colocar aos consumidores.

Carlos Barbosa de Oliveira

m 1994, dois anos depois da aprovação da Agenda 21, na Cimeira do Rio de Janeiro, foi lançada a "Campanha Europeia das Cidades e Vilas Sustentáveis". A ideia surgiu durante uma conferência realizada na cidade dinamarquesa de Aalborg, onde se discutia a melhor forma de incentivar a reflexão sobre a sustentabilidade do ambiente urbano, o intercâmbio de experiências, a difusão das melhores práticas ao nível local e a capacidade de influenciar as políticas ao nível da União Europeia e ao nível local, tendo por base os princípios da Agenda 21. O resultado mais visível dessa conferência foi a assinatura da Carta de Aalborg, uma espécie de "Constituição" assumida pelas cidades aderentes, visando garantir a sustentabilidade. No século XXI, um dos maiores desafios é tornar as cidades mais humanas e seguras, elevando os padrões de qualidade de vida dos seus habitantes. Refrear o crescimento rápido e desordenado, diminuir a conflitualidade social, a pobreza e a exclusão; agilizar a funcionalidade das estruturas e serviços urbanos; melhorar a qualidade dos transportes e a sua eficiência energética; cuidar a estética urbanística e arquitectónica; assegurar o conforto e a salubridade ambiental. São estes os vectores fundamentais no cenário da melhoria das condições de vida e humanização das cidades. Se tivermos em consideração que as cidades ocupam apenas 2% da superfície da Terra, até não parece complicado. O problema é que nesses dois por cento vive, actualmente, 50 por cento da população mundial, que consome

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75 por cento dos recursos naturais do planeta, dois terços da energia e gera mais de 75 por cento dos resíduos. Acresce que 10 por cento da população mundial vive em cidades com mais de 10 milhões de habitantes e que, em 2050, se estima que aumente para 75 por cento, o número de habitantes do planeta a viver nas cidades. Curiosa contradição (ou talvez não) numa sociedade cada vez mais digital, onde o contacto entre as pessoas se faz frequentemente no mundo virtual, deixando a resolução de problemas à distância de um clique. Apesar de existirem inúmeros estudos dedicados à sustentabilidade urbana, poucos arriscam definir a cidade do futuro. Estão identificados, porém, os principais factores responsáveis pela degradação da qualidade de vida nas cidades. MENOS CONSUMO, MAIS QUALIDADE…

O conceito ainda não foi devidamente assimilado pela esmagadora maioria dos consumidores portugueses, mas o consumo responsável ganhou já expressão como indicador do desenvolvimento sustentável. Consumir menos e melhor, tendo em atenção o impacto ambiental dos produtos e serviços é uma tarefa que está ao alcance de cada um. Levado à prática, o consumo responsável contribui para uma melhor qualidade de vida urbana. Há, por exemplo, inúmeros aparelhos e produtos que ANDRÉ LETRIA


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podemos substituir, ou usar de forma parcimoniosa, em benefício da nossa saúde. É o caso dos ares condicionados nos escritórios. Mas também - como explicam especialistas - de numerosos produtos que temos em casa e são verdadeiros inimigos escondidos sob o manto do conforto. Estão neste caso, entre outros, as alcatifas, as tintas, o papel de parede ou mesmo móveis feitos de aglomerados. No caso das alcatifas, servem de hospedaria ideal aos ácaros, uns seres (quase) invisíveis responsáveis por noites mal dormidas e algumas doenças alérgicas que não se conseguiam até há pouco explicar. Os efeitos destes poluentes escondidos no remanso das nossas casas, são ainda difíceis de descortinar em toda a sua extensão, razão que levou vários países europeus a acordar a criação de um banco de dados que permita detectar, a partir das queixas de doentes, os produtos utilizados na construção civil que podem afectar a saúde. Entre eles o amianto, que tem estado no centro de acaloradas polémicas no que concerne à sua nocividade em termos de saúde pública. Também os produtos de limpeza doméstica, anunciados como possuidores de crescente eficácia, estão sob mira, uma vez que contêm solventes que se evaporam na atmosfera. Os mais perigosos são os decapantes para fogões e fornos eléctricos, mas os dissolventes para vernizes, os desinfectantes com cloro e os perfumadores para sanitas são irritantes, não apenas para a pele, mas também para os brônquios. A sua perigosidade aumenta com a humidade, já que esta favorece a sua inalação, pelo que é aconselhável não utilizar depois do chuveiro, no quarto de banho saturado de vapor de água, perfumes, lacas ou desodorizantes em aerossol, para evitar que atinjam os brônquios. Dores de cabeça, náuseas, fraqueza muscular, são muitas vezes provocadas por outro actor do conforto dos nossos lares: os aquecedores. Aconselha-se uma escolha criteriosa deste tipo de aparelhos, a fim de evitar problemas. Finalmente, falemos de humidades. Os vidros duplos, o isolamento das paredes, a supressão das condutas das chaminés, contribuem para que dentro de casa vivamos em ambientes estanques. No entanto, a nossa actividade dentro de casa produz vapor de água, como é o caso dos cozinhados ou dos duches, da própria respiração, ou das plantas. Acresce, ainda, que apesar de estanques as casas deixam penetrar humidade por razões diversas (fugas nas

canalizações, por exemplo...). No contacto com as paredes, a humidade condensa-se e gera acumulação de impurezas nos cantos, sob as janelas, ou atrás dos móveis, levando a que a atmosfera se carregue de que penetram nas vias respiratórias, provocando rinites, alergias, crises de asma, fibroses pulmonares...Torna-se por isso necessário, renovar o ar e secá-lo. A utilização de desumidificadores é apenas um paliativo. Aconselha-se também a abolição dos secadores de roupa não ligados ao exterior. Vai crescendo o número de cidades, no mundo inteiro, onde medidas coercivas obrigam os cidadãos a um comportamento cívico que crie melhores condições de vida nas grandes urbes. Espectáculos como a lavagem de carros na via pública, abandono de animais mortos, descargas de lixo fora dos recipientes apropriados ou cuspidelas para o chão, são ainda possíveis de ver na maioria das cidades portuguesas. Em algumas delas existem medidas sancionatórias para quem pratique estes actos de violência urbana, mas a verdade é que as coimas previstas raramente são aplicadas. n


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Boavida|Livro Aberto

Ficção de luxo, Newton genial, sátira política e um pai herói É sempre gratificante, em final de férias ou em qualquer outra época do ano, ter bons livros para ler, daqueles que deixam marca, que traçam rasto na nossa memória e nos levam a dizer aos amigos: "Lê, porque vale mesmo a pena".

José Jorge Letria

assim mesmo a intemporalidade das grandes obras, das que resistem à erosão do tempo e aos ciclos, quase sempre enganadores, do gosto e da moda. Dois exemplos, que são também duas sugestões: uma excelente edição de "Contos Escolhidos" (D. Quixote), do clássico francês Guy de Maupassant, com uma tradução brilhante do poeta Pedro Tamen, e, com a mesma chancela editorial e tradução de Ana Maria Chaves, o romance "Sartoris", obra-prima do norte-americano William Faulkner, com a sua escrita poderosa e o trágico que povoa a sua visão sulista e angustiada da vida e do homem. Enriquece esta edição um inspirado e motivador prefácio de Lídia Jorge, no qual uma grande escritora portuguesa contemporânea nos explica as razões por que não devemos deixar de ler ou reler "Sartoris", obra cimeira da genial produção do autor de "Palmeiras Bravas". Em matéria de ficção portuguesa, destaque para "A Ópera dos Vadios" (Casa das Letras), o mais recente título do romancista, autor de ficções televisivas e presidente da Câmara de Santarém, Francisco Moita Flore. Estamos perante um sátira intensa da vida política portuguesa, na linha das assinadas no século XIX por Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós, mas com a particularidade de esta ter sido escrita por quem vai já a meio do terceiro mandato como presidente de uma das câmaras importantes do país. Ou de como a experiência vivida e a realidade criticamente observada podem dar origem a uma ficção que não poupa o que o Portugal de hoje tem de mais deplorável e insustentável. Com forte sublinhado de qualidade surge neste balanço mensal de livros recém-publicados "Isaac Newton"( Casa das Letras), do conhecido autor de obras sobre ciência e cientistas James Gleick. Ao longo de pouco mais de 260 páginas, o autor familiariza-nos com este génio do pensamento científico e filosófico que mudou a história da ciência e ainda hoje continua a fascinar todos quantos se debruçam sobre a sua vida e obra, onde se misturam o

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mais absoluto rigor científico e capacidade de antecipação com o pensamento esotérico e a interpretação astrológica. De órfão de pai e filho indesejado pela mãe a grande académico e cientista de renome mundial que teve funeral de Estado na hora da partida, Newton continua a fascinar-nos e a desconcertar-nos, perspectiva que esta biografia científica vem acentuar ainda mais, com o invulgar brilho que lhe valeu ser obra finalista do Prémio Pulitzer. "José Águas, o Meu Pai Herói" (Oficina do Livro) é uma tocante biografia do grande jogador do Benfica e da Selecção Nacional que foi José Águas, escrita com rigor, ternura e admiração pela sua filha Helena Águas, ou seja, a cantora Lena d'Água, usando aqui o seu nome civil e não artístico. Bem escrito e bem ilustrado, este é um tributo de amor prestado por uma filha ao pai que escrevia cartas bonitas aos filhos e que lhes deu as alegrias maiores que um pai herói pode dar àqueles que mais ama. Um livro sobre o mundo do futebol escrito com a tinta do coração. Destaque ainda para "Ana Kelly - uma Saga de Amor e Coragem" (Oficina do Livro), de Ângela Leite, que nos narra, em registo ficcional e não meramente biográfico, a vida aventurosa e empolgante de Ana Ludovina Aguilar, uma jovem da nobreza nortenha que se apaixona por um oficial irlandês que integra o contingente britânico que vem apoiar Portugal na resistência aos invasores franceses no início do século XIX. Ana Aguilar tudo troca por esse amor, passando a usar o apelido Kelly e perdendo a fortuna familiar e o apoio e reconhecimento daqueles que a puseram no mundo e educaram. Um livro sobre a força inabalável dos grandes amores. Para quem gosta de cozinha criativa e de qualidade, recomenda-se "Natural by Chakall", mais um livro de receitas do famoso cozinheiro argentino Chakall, grande viajante, animador cultural e homem que sabe cuidar da sua imagem com a mesma exigência com que cuida do grafismo dos seus livros. Último destaque para um clássico cuja leitura e releitu-


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ra é útil em qualquer época, já que a natureza humana, no essencial, não se alterou ao longo dos milénios. Aqui as receitas são bem diversas das assinadas por Chakall, mas ajudam a enfrentar os piores adversários e inimigos, seja nos campos de batalha, seja nos confrontos de todos os dias que bem podem ter o espaço empresarial ou a vida política como panos de fundo. O título é, como não podia deixar de ser, "A Arte da Guerra", do clássico chinês Sun Tzu, numa edição da Teorema, em novo ciclo no interior da Leya. Valoriza esta edição de poucas páginas mas muita sabedoria um prefácio do general Loureiro dos Santos. DUAS OBRAS de excepcional fôlego biográfico e grandeza literária marcaram a produção editorial portuguesa do período que precede o Verão: "As Luzes de Leonor -A Marquesa de Alorna, uma Sedutora de Anjos, Poetas e Heróis", de Maria Teresa Horta, e "Tiago Veiga - uma Biografia", de Mário Cláudio, ambas com a chancela da D. Quixote. O primeiro tem mais mil páginas e o segundo anda perto das 800. São livros de uma vida, embora falem de duas vidas, uma real e comprovada factual e historica-

mente, a da Marquesa de Alorna, e a segunda de um suposto bisneto de Camilo Castelo Branco, que viveu entre 1900 e 1988 e que conviveu com figuras como Fernando Pessoa, José Régio, Jean Cocteau ou W.B. Yeats e que, para alguns, será uma prodigiosa invenção literária do autor de "A Trilogia das Mãos". Jornalista há muitos anos ligado a Portugal como correspondente da imprensa estrangeira, Barry Hatton, nascido em Inglaterra em 1963, escreveu "Os Portugueses" (Clube do Autor), um retrato invulgarmente conseguido de um país e de um povo que só poderia ter sido construído por um estrangeiro que conhecesse profundamente, como é o caso, a nossa História, os nossos hábitos, tradições, tiques, vícios e virtudes. Com a chancela da Casa das Letras acaba de ser publicado "Caravelas", de Oliver Ikor, verdadeira epopeia que envolve a imaginação, a coragem, a visão estratégica e a fé dos marinheiros que, descobrindo nos rumos nas andanças do mar, deram a Portugal a possibilidade de se expandir muito para além do horizonte, contrariando assim a sina de ser conquistado e absorvido por Espanha. n


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Boavida|Artes

Consagração de Fernando Lemos

Pesquisa e experimentação Pesquisa e experimentação continuam a marcar a obra de Fernando Lemos (1926), um dos nomes mais significativos do movimento surrealista português que está a ser homenageado com duas exposições na Fundação Arpad Szenes-Vieira Silva, Lisboa, e na Galeria dos Paços do Concelho de Tomar, a que se seguirá, a partir do próximo dia 10, a apresentação de uma retrospectiva da sua obra na Pinacoteca de São Paulo, Brasil. Rodrigues Vaz

e vários modos estas mostras são a consagração final de um dos artistas portugueses mais reconhecidos pela sua obra fotográfica e que desde sempre tem explorado em paralelo com a pintura, o desenho a e as artes gráficas. A exposição em Lisboa (Até 23 de Janeiro) constrói-se em torno de dois conjuntos de trabalhos que cruzam diferentes aspectos da linguagem visual de Fernando Lemos: uma colecção de desenhos, intitulada ISTO É ISTO e uma série de fotografia intitulada EX-FOTOS. ISTO É ISTO é um conjunto de 154 desenhos realizados num caderno de apontamentos de capa dura, de pequeno formato. Por sua vez, a de Tomar (Até 25 de Setembro) integra a série ExFotos: As Rejeitadas, que o autor quer seja "uma homenagem ao fotógrafo amador que considero, hoje, o grande avanço da fotografia". A propósito, vale a pena lembrar que o acervo do Núcleo de Arte Contemporânea do Museu Municipal João de Castilho, de Tomar, integra vinte obras de Fernando Lemos, sete das quais vão ser cedidas temporariamente à Pinacoteca de São Paulo, para figurarem na exposição dirigida pela curadora Vera d'Horta.

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Pintura de Fernando Lemos e, em baixo, de José Escada

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JOSÉ ESCADA NO PALÁCIO ANJOS

Por seu lado, o Centro de Arte Manuel de Brito, no Palácio Anjos, Algés, apresenta um conjunto de obras de José Escada datadas do período entre 1951 e 1979, percorrendo as várias fases do artista, desde a época do Movimento de Renovação da Arte Religiosa, em que se inspirou sobretudo nos vitrais das catedrais góticas, à época dos simbolismos e das colagens. Desde as suas primeiras realizações pictóricas, José Escada, que faleceu aos 46 anos, em 1980, em Lisboa, desenvolveu uma estética pessoal que caracterizou a sua obra futura: a utilização da linha como contorno, com ritmo definido, combinada com a acentuação de con-


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Controlo de Pragas trastes provocados por diferentes níveis de luminosidade. Nos anos 50, aplicará os mesmos valores a uma pintura não figurativa, evoluindo, dez anos mais tarde, para o total informalismo que se aproxima de uma expressão caligráfica, o que é bem visível nesta mostra. FERNANDO D'F. PEREIRA NA MAC

Entretanto, durante todo o corrente mês de Setembro, a Galeria MAC - Movimento Arte Contemporânea, Lisboa, mostra por sua vez as últimas obras de Fernando d'F. Pereira, um artista português que esteve radicado durante três décadas na Alemanha, onde continua a ser prestigiado. Articulando toda a sua criação plástica repetindo de forma constante vários personagens que se vão ensimesmando numa espécie de indivíduo global, que sofre na sua carne a injustiça da opressão, parece querer convocar a memória e ao mesmo tempo mostrar, por vezes, de forma irónica, mas sempre lírica, a poética dolorosa do ser humano, categoria que nos engloba a todos. Como diz Álvaro Lobato Faria no catálogo, na obra de Fernando d'F. Pereira há "um jogo de pequenas e grandes áreas que se vão tornando conotáveis ao olhar e capacidade de captação e relação formal, criando uma rede de encenação como que divindades saindo de um plasma inicial. Isto provém da alta técnica de Fernando d' F. Pereira no uso dos materiais e no tratamento das cores." n

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Boavida|Músicas

Harper desinquieto e Britney “fatal” Dos EUA chegam-nos novidades discográficas de Ben Harper e de Britney Spears. O primeiro desinquieto e a segunda "fatal". Como o destino...

Vítor Ribeiro

ive Till It`s Gone" é o título genérico do mais recente álbum do compositor e intérprete Ben Harper, autor com méritos reconhecidíssimos em Portugal, onde já actuou por diversas vezes e sempre com assinalável sucesso. Nascido na Califórnia há 41 anos, Harper surge na ribalta musical no início da década de 90 do século passado, com um estilo muito peculiar, em que se cruzam sonoridades provenientes de géneros como a soul music, o blues e a folk song. Traço distintivo da obra de Ben Harper tem sido também o conteúdo dos textos criados pelo cantor, que nos questiona sobre as nossas atitudes, a nossa relação com os outros e com o meio que nos rodeia. Definitivamente, Harper não pratica a "arte pela arte". E isso acontece, de resto e mais uma vez, de maneira despretensiosa, simples e directa nos 11 temas integrantes do novo álbum de Harper que, de forma mais ou menos subliminar, nos desperta e desinquieta. "Give Till It`s Gone" merece a nossa melhor atenção. Curiosidade final: Ringo Starr, ex-Beatle, 71 anos, é o baterista que acompanha Harper nos temas "Spilling Faith" e "Get There From Here".

G

Pela nossa parte salientamos ainda que a música de Britney, além de "falar por si", tem uma singular componente visual e coreográfica, levando ao rubro os muitos milhares (talvez milhões!) de frequentadores de espectáculos da cantora em todo o Mundo. Assim postas as coisas, de jeito tão singularmente icónico, aqui se aconselha aos praticantes a audição dos 16 temas 16 (!) que constituem o CD agora disponível no mercado. "Fatal" como o destino.

BRITNEY FATAL

Britney Spears aí está de regresso com um sétimo álbum de originais intitulado "Femme Fatale". Diz-se no respectivo texto de apresentação e promoção que "o título do álbum da icónica super-estrela global é um tributo aos homens e mulheres arrojados, poderosos, confiantes, divertidos e 'flirty'. Não é fácil, nos tempos que correm… E mais se explica: "Não é um álbum conceptual e Britney Spears só quer que a música fale por si". Por fim garante-se que " 'Femme Fatale' é um disco Pop, dançável e cheio de maturidade, que não vai deixar ninguém indiferente". 58

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ADAM YOUNG EM LISBOA

O multi-instrumentista norte-americano Adam Young apresenta pela primeira vez em Portugal o seu projecto a solo, Owl City, num concerto no Campo Pequeno, dia 20 de Setembro, pelas 21h30. Após lançar dois álbuns de forma independente, Of June (2007) e Maybe I'm Dreaming (2008) e de se tornar num artista de culto através do Myspace, assinou contrato com a multinacional discográfica e ganhou fama internacional com o disco Ocean Eyes (2009), onde se inclui o single Fireflies. n


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Boavida|No Palco

Mozart/Salieri no TN "Amadeus", peça que narra a vida e obra de Mozart, abre, até Novembro, a nova temporada do Teatro Nacional D. Maria II.

Maria Mesquita

Silva; Figurantes: Bernardo Chatillon, Isabel Costa, Joana

Sala Garrett recebe Amadeus, com encenação de Tim Carroll, baseado na obra de Peter Shaffer. História que evoca Mozart, o pequeno génio da música, compondo áreas aos 4 anos, iniciado na Maçonaria, recebido pela família imperial juntamente com a irmã desde tenra idade, morrendo aos 27, quando tinha uma vida inteira por viver, num ambiente de degradação, doença, pobreza e abandono. Mas este texto não é só sobre Mozart. Quem viu o filme com o mesmo nome, sob a batuta do realizador Milos Forman, sabe que existia uma rivalidade latente entre dois homens, músicos, eruditos, um mais velho, mais clássico e tradicional, e o outro, o jovem irreverente, libertino para muitos, louco para tantos outros. Antonio Salieri e Amadeus Mozart são então as personagens principais desta história, onde a música e o ciúme se cruzam com o que é real e o que é fictício.

Escola Superior de Teatro e Cinema); Produção: TNDMII

Cotrim, João Pedro Mamede, Luís Geraldo e Maria Jorge (da

A

FICHA TÉCNICA: Tradução: Maria João da Rocha Afonso;

Encenação: Tim Carroll Cenografia: F. Ribeiro; Figurinos: Storytailors; Desenho de luz: Daniel Worm d´Assumpção; Consultor musical: James Oxley; Interpretação: Miguel Moreira, Diogo Infante, Carla Chambel, João Lagarto, Rogério Vieira, Manuel Coelho, Luís Lucas, José Neves e Martinho 60

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S. LUIZ ENCENA LOBO ANTUNES

De 15 a 18 de Setembro, no Teatro Municipal de S. Luiz, todos os caminhos vão dar ao escritor António Lobo Antunes, numa homenagem à sua obra literária, transpondo para o palco e tela de cinema alguns dos seus textos mais conhecidos. Primeiro com "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?" numa encenação e criação de Maria de Medeiros, e posteriormente com o filme "A Morte de Carlos Gardel", realizado por Solveig Nordlund, tenta-se entrar no mundo da escrita de Lobo Antunes, onde, mais do que a prosa, temos um conjunto de personagens-chave, algumas mais frágeis e mais humanas, outras fortes e secas. É a partir desse conjunto de características que o registo se torna mais leve e é possível compreender as acções que se vão desenrolando. A juntar a estes títulos, temos a leitura (em off) de "Cartas de Guerra", resultado de uma compilação de textos reais, redigidos em dois anos de ausência, durante a época colonial. Para completar este ciclo, o São Luiz recebe ainda o Centro de Cultura de Estudos Portugueses da Universidade do Massachusetts, que acaba de lançar uma

A A

rea


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publicação dedicada ao autor. Uma viagem a um mundo teatral, cinematográfico que afinal se encontra escondido em cada frase de Lobo Antunes, é o que se pretende com este início de nova temporada no S. Luiz. "NÃO SE BRINCA COM O AMOR"

"Não se Brinca com o Amor" é o título que o Teatro Municipal de Almada irá apresentar até 2 de Outubro, pelas mãos dos Artistas Unidos. Um texto de Alfred de Musset, sobre as relações humanas, o certo e errado. "O que os olhos não vêem, o coração não sente" e a alma, assim, não sofre. Mas nesta história, escrita por Alfred de Musset, após mais uma discussão e ruptura com a escritora George Sand, mesmo que a distância separasse as personagens, não seria isso que acabaria por arruinar um amor que poderia ser perfeito. Nesta história, são as consciências humanas e o nosso racional que simplesmente desfazem tudo o que temos de melhor, ou seja, tudo aquilo que nos deixa mais sensíveis, que nos torna mais humanos na realidade. Perdican é apaixonada por Camille,

com quem conviveu durante a infância. Separados posteriormente, ela para um convento onde a educação moral rígida e as regras impostas pela tutora em nada a faziam querer ceder aos seus impulsos amorosos, ele para seguir os estudos em outra cidade, acabam por se reencontrar na idade certa das suas vidas. Mas Camille repudia-o, considerando-o tudo o que todos os homens são: impuros e indignos, de acordo com o que lhe foi ensinado… FICHA TÉCNICA: Tradução: Ana Campos; Com: Catarina

Wallenstein, Elmano Sancho, Vânia Rodrigues, Américo Silva, António Simão, João Meireles, Pedro Carraca, Alexandra Viveiros, Joana Barros, Diogo Cão e Tiago Nogueira; Cenário e figurinos: Rita Lopes Alves Luz: Pedro Domingos; Assistência: Andreia Bento e Joana Barros; Encenação: Jorge Silva Melo

Uma cidade. Um rio. Um fadista [Salvador Taborda]

A cor do tejo. A cor do fado.

realização[Afonso Alves]

produção[Isabel Salema]

Teatro da Trindade Estreia E streia Nacional Nacional

30 de Setembro 2011 21h00

Bilhetes à venda na bilheteira do Teatro da Trindade. Descontos para associados da Fundação INATEL.

apoio


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Boavida|Cinema em Casa

Saramago e outras vidas Acabam as férias mas não desaparecem os filmes que podem proporcionar um agradável serão caseiro. É o caso do aguardado documentário sobre o Nobel da Literatura português na companhia de Pilar, o grande amor da sua vida. A selecção completa-se com três bons filmes sobre temas quentes e actuais: o desemprego em "Homens de Negócios"; os amores complicados em "A Última Noite"; e uma sugestiva história policial em "London Boulevard - Crime e Redenção". Sérgio Alves JOSÉ E PILAR

cionado na garagem.

A ÚLTIMA NOITE

Cadeia de Pentonville com

Enquanto escrevia "A Viagem

Subitamente, a empresa entra

Joanna e Michael vivem, em

intenções de se regenerar.

do Elefante", um dos seus der-

em dificuldades e começam

Nova York uma relação está-

Mas quando encontra o seu

radeiros livros, José Saramago

os despedimentos em série.

vel e saudável… até ao

velho amigo Billy, um

abriu as portas da sua vida ao

Ele e os colegas Phil e Gene

momento em que um e outro

pequeno criminoso à procura

jovem realizador

ficam sem emprego e são

são atraídos para o desco-

de ajuda para um golpe,

português

obrigados a reconstruir as

nhecido e numa mesma noite

Mitchel decide ajudá-lo, em

Miguel

suas vidas. Bobby inicia um

vão pôr à prova o seu amor.

troca de um tecto para se

Gonçalves

trabalho que pouco ou nada

Michael está em viagem de

abrigar. Entretanto, Mitchel

Mendes. O dia-a-

tem a ver com o que fazia

negócios com Laura, uma

conhece Charlotte, uma

dia do casal

mas entusiasma-se a construir

jovem atraente e misteriosa;

estrela de cinema fechada na

Saramago/Pilar

casas para o seu cunhado e

Joanna reencontra Alex, o

sua mansão, cercada por

del Rio em Lanzarote, em

também descobre que há

primeiro grande amor. E agora

repórteres e rapidamente se

Lisboa e em viagens sucessi-

mais coisas na vida para além

vão ser obrigados a tomar

vê no papel de protector, afas-

vas por todo o mundo, é um

de conseguir a melhor oportu-

decisões que

tando paparazzis, bem como

retrato realista e terno do

nidade de negócio.

podem transfor-

o plano de Billy de livrar a

mar as suas

casa das suas obras de arte e

vidas.

carros de luxo…Excelente

VENCEDOR PRÉMIO DO PÚBLICO

34ª Mostra Internacional de São Paulo VENCEDOR PRÉMIO DO PÚBLICO

2ª Mostra de Cinema Visões do Sul FILME DE ABERTURA DOCLISBOA 2010

PRÉMIO AUTORES SPA 2011

Os Dias De Jose Saramago e Pilar Del Rio

NOMEADO PARA

Melhor Filme ACADEMIA BRASILEIRA DE CINEMA NOMEADO PARA

Melhor Documentário Melhor Montagem Melhor Banda Sonora Original

www.joseepilar.com

grande escritor em processo de

Escrito e realizado por

criação e da relação afectiva

John Wells, o filme é mais um

que lhe dá força e o sustenta

retrato da América em plena

com a jornalista Pilar del Rio.

crise finan-

Estreia na

policial assinado

realização da

por William

"José e Pilar" é um olhar

ceira com as

jovem argumentista Massy

Monahan (argu-

sobre a vida de um dos nossos

histórias de

Tadjedin, autora do guião, o

mentista de Entre

grandes criadores do século

homens mar-

filme - uma co-produção

Inimigos de

XX. Com uma intensidade

cados pelo

americana e francesa - aborda

Martin Scorsese)

única, o filme desfaz ideias

desemprego á

as relações entre casais na

numa feliz adaptação do

preconcebidas acerca do

procura de um

sociedade contemporânea e

romance de Ken Bruen. Numa

escritor, da sua maneira de ser

novo rumo e de uma saída

fá-lo duma forma clara e ho-

Londres cinzenta, o protago-

e da sua atitude perante a vida.

para as dificuldades. E temos

nesta, sem artificialismos.

nista, superiormente interpre-

Ben Affleck, Kevin Costner,

Uma agradável surpresa.

tado pelo carismático Colin

TÍTULO ORIGINAL:

José e Pilar;

Farrel, tenta redimir-se de

Tommy Lee Jones e Chris

TÍTULO ORIGINAL:

Gonçalves Mendes; COM:

Cooper juntos, num registo

REALIZAÇÃO:

José Saramago, Pilar del Rio,

realista, actual e com sinais

COM:

Keira Knightley, Sam

com diálogos excelentes e

Gael Garcia Bernal;

de esperança em tempos difí-

Worthington, Eva Mendes,

uma realização cuidada e

Portugal,125 m, Cor, 2010;

ceis.

Guillaume Canet;

atenta.

EUA/França, 90m, cor, 2010;

TÍTULO ORIGINAL:

REALIZAÇÃO:

EDIÇÃO:

Miguel

Jumpcut

TÍTULO ORIGINAL:

Company

Men; REALIZADOR: John Wells;

EDIÇÃO:

Last Night;

Massy Tadjedin;

Zon Lusomundo

Ben Affleck, Chris

erros do passado num filme

London

Boulevard; REALIZAÇÃO: William Monahan; COM: Colin

HOMENS DE NEGÓCIOS

COM:

Bobby vive o sonho ameri-

Cooper, Tommy Lee Jones,

LONDON BOULEVARD -

Farrel, Keira Knightley, Ben

cano: um excelente emprego,

Kevin Costner, Maria Bello;

CRIME E REDENÇÃO

Chaplin, Ray Winstone;

uma bonita família e um

EUA/GB, 104m, Cor, 2010;

Mitchel cumpre a sua pena e

EUA/GB, 103m, cor, 2010;

carro de alta cilindrada esta-

EDIÇÃO:

sai, ao fim de três anos, da

EDIÇÃO:

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Pris

Pris


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Boavida|Ao Volante

Nissan Micra: quatro gerações de sucesso Após quase 30 anos e quatro gerações, o Micra continua a ser um marco no segmento dos citadinos. No entanto, a Nissan recriou o Micra mais recente a partir do zero, com a intenção clara de definir uma nova referência no mercado dos automóveis citadinos europeus e com o objectivo específico de simplificar a condução dentro das cidades. Carlos Blanco

novíssimo Micra - a quarta geração a envergar o nome - representa um capítulo completamente novo na história do compacto citadino da Nissan, vencedor de múltiplos prémios. É o primeiro modelo a utilizar a nova Plataforma V. É o primeiro a utilizar a nova gama de motores avançados de três cilindros, com emissões reduzidas. E é o primeiro a ser construído não no Japão e na Europa, mas sim em quatro outras unidades de produção da Nissan: na China, Tailândia, Índia e México. Os exemplares destinados à Europa serão produzidos na nova fábrica da Nissan em Chennai, na Índia. O Micra é um automóvel verdadeiramente global. Será vendido em 160 países em todo o mundo, muitos dos quais mercados emergentes, sendo alguns destes territórios novos para a Nissan, ou mercados onde a empresa actualmente tem uma presença mais discreta. "O novo Micra incorpora inúmeras novas tecnologias, novos e mais avançados motores e uma plataforma totalmente nova, que será utilizada por vários outros modelos da Nissan e da parceira na Aliança, a Renault". Substituindo o Micra K12, apresentado em 2002 e construído no Japão e na Europa, o novo Micra (K13) foi desenvolvido no Japão, no Centro de Engenharia de Produção Global da Nissan (GPEC). Mas este processo foi mais do que um projecto para um novo automóvel. Os engenheiros das unidades internacionais deslocaram-se ao GPEC para saberem mais sobre o

O

novo automóvel e, mais importante ainda, sobre o método de produção de última geração da Nissan, o Nissan Production Way (MPW). O regresso aos respectivos países foi feito com equipas de apoio japonesas para auxiliar nos procedimentos de arranque e de implementação das linhas de montagem. Desta forma, a Nissan manteve os seus níveis elevados de qualidade, enquanto optimizava os métodos de produção local com taxas de localização de mais de 85%, um factor essencial na construção de um automóvel de classe mundial competitivo. A nova plataforma - V significa versatilidade - é um dos elementos chave na configuração do novo Micra. Concebida para ser estruturalmente rígida, embora o mais leve possível, a Plataforma V permite obter uma excelente manobrabilidade, aliada a elevados níveis de eficiência de combustível e emissões reduzidas. O novo Micra é equipado com dois novíssimos motores de três cilindros a gasolina de 1.2 litros. A versão de entrada de gama é a unidade aspirada de 59kW (80CV) que emite o valor impressionantemente baixo de 115 g/km de CO2. Mas até esta unidade é suplantada pela segunda versão. Este é um motor a gasolina de injecção directa, com um turbocompressor para aumentar a potência até 72kW (98CV) e cujas emissões de CO2 descem para apenas 95 g/km. A eficiência destes novos motores a gasolina é tão elevada que o novo Micra não será disponibilizado com qualquer opção diesel. A gama do modelo é simples, com apenas um tipo de carroçaria de cinco portas, duas opções de motor e duas opções de transmissão - caixa de cinco velocidades manual ou Transmissão Contínua Variável (CVT) compacta e altamente avançada. O sistema PSM mede automaticamente potenciais lugares de estacionamento e informa os condutores sobre se o Micra cabe ou não. É a característica perfeita para um automóvel citadino. n SET 2011 |

TempoLivre 63


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Boavida|Saúde

Quando a tensão arterial sobe Há dias fui chamada para ir ver a casa um doente que "se sentia mal". O filho, quando pediu o domicílio, informou que o pai, com 60 anos, sofria de hipertensão arterial (HTA), mas estava medicado.

M. Augusta Drago

medicofamília@clix.pt

o domicílio, verifiquei que o Sr. T. era um homem obeso, ansioso, a quem tinha sido diagnosticada HTA há cerca de um ano. Desde essa altura, tomava de forma irregular os dois medicamentos que lhe tinham sido prescritos. Decidi falar sobre este caso, porque se trata de uma situação muito frequente. O Sr. T., desde que enviuvou, vive só, negligencia a sua alimentação e esquece-se de tomar a medicação. Come quase sempre fora de casa, está habituado a uma alimentação hiper-calórica, com excesso de gorduras e de sal. Os filhos, quando o visitam, tentam sem sucesso aconselhá-lo a comer de forma mais saudável, mas até à data tal não aconteceu. Quando cheguei e lhe medi a tensão arterial (TA), esta excedia muito os valores recomendados. Ao informá-lo, desvalorizou a situação, alegando que se tinha enervado com o filho e que fora essa a razão de se ter sentido mal… Da conversa que se seguiu, percebi que não se queixava de dor no peito nem de falta de ar. Fiquei com a suspeita de que sofria de apneia do sono (paragem momentânea da respiração enquanto se dorme), por ser obeso e porque me disse sofrer de "um mau dormir". Quanto à medicação reconheceu que nem sempre a tomava todos os dias, nem no horário prescrito. Manifestou o mesmo desinteresse em relação à forma errada como se alimentava. Os doentes como o Sr. T. têm, em regra, dificuldade em alterar os hábitos de vida, nomeadamente alimentares. Quando lhes é diagnosticada HTA começam por cumprir a medicação prescrita, mas com o passar do tempo e porque se sentem melhor vão deixando de a cumprir. Para controlar a TA não se podem abandonar estas duas batalhas medicação e alteração do estilo de vida.

N

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TempoLivre

| SET 2011

Para conquistar os doentes para esta "guerra", é preciso explicar-lhes que a TA é a pressão que o sangue tem quando circula nas artérias e que tem dois valores: a tensão sistólica, resultante do impulso dado pelo coração e a tensão diastólica quando o coração relaxa. Quando estes valores ultrapassam respectivamente 140 e 90 mmHg, diz-se que o doente sofre de HTA. O doente tem de perceber que a HTA é um factor de risco, tanto para as doenças cardíacas como para os acidentes vasculares cerebrais, os quais podem diminuir-lhe drasticamente a qualidade de vida. A HTA pode não produzir qualquer sintoma, mas os doentes também podem queixar-se de dores de cabeça, tonturas, visão nublada, falta de ar ou náuseas. As pessoas que têm um risco mais elevado de sofrer de HTA são as mais idosas, as obesas, as que consomem excesso de bebidas alcoólicas e tabaco, aquelas que estão sujeitas a stress constante e as que têm hipertensos na família. Quando a TA ultrapassa os valores normais, o mais importante é convencer o doente a adoptar de um estilo de vida mais saudável: deixar de fumar, evitar o consumo de alimentos ricos em gordura e sal, moderar o consumo de álcool (ideal 1 copo de vinho ou equivalente às refeições), moderar o consumo de café ou de chá (ideal 2-3 chávenas por dia), perder peso (se tiver excesso de peso ou obesidade) e aprender a relaxar. Se a HTA não for grave estas medidas podem ser suficientes para a controlar. Caso contrário, a medicina tem hoje um arsenal terapêutico muito eficaz e seguro para o tratamento destes doentes. Quanto ao Sr. T., no final da consulta, apresentava-se mais calmo e a TA, embora continuasse alta, tinha descido. Chegámos a um compromisso: o Sr. T. iria cumprir a medicação e, com a ajuda da família, prometeu começar a fazer diariamente um passeio a pé e a ter mais cuidado com a alimentação. Por fim, combinámos uma ida ao seu médico de família para controlar a TA e o peso e investigar uma eventual apneia do sono. Só o futuro nos dirá se vai cumprir... n ANDRÉ LETRIA


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Boavida|Palavras da Lei

Pensão de alimentos a ex-cônjuge ?

No seguimento da sua anterior crónica, gostaria de lhe colocar as

seguintes dúvidas: Numa situação de divórcio, um cônjuge que tenha abdicado de trabalhar para cuidar da casa e dos filhos tem direito a pensão de alimentos? Se tiver direito a essa pensão, a lei determina alguma regra para se calcular o valor da pensão? Sócia devidamente identificada - Lisboa.

Pedro Baptista-Bastos

ntes de responder a estas interessantes questões da nossa sócia, devo alertar os meus caros leitores que as situações de divórcio são, provavelmente, as mais complexas de opinar, defender e apreciar. As vicissitudes que as caracterizam - pessoais, emocionais, jurídicas, sociais, etc. - tornam cada situação destas, por si, casos únicos. Tentarei responder dentro da bitola geral das perguntas que esta leitora nos colocou. O artigo 2003º do Código Civil diz-nos que são alimentos " tudo o que é indispensável ao sustento, habitação e vestuário."; e o artigo 2009º do C. C. diz-nos que o cônjuge ou ex-cônjuge está na primeira linha obrigacional da prestação de alimentos. Logo, a lei entende que um cônjuge, ou ex-cônjuge, tem uma preferência legal para receber uma pensão de alimentos, se houver lugar ao fim do matrimónio. Em que medida se determina o montante dessa prestação de alimentos? A Lei nº 61/2008, de 31 de Outubro, alterou o regime do divórcio, passando comummente a chamar-se de Novo Regime do Divórcio (NRD), como anteriormente expliquei. Neste ponto, para sabermos a medida dessa prestação, tomemos os artigos 2004º e 2016º-A, ambos do Código Civil: "os alimentos serão proporcionados aos meios daquele que houver de prestá-los e à necessidade daquele que houver de recebê-los", e "na fixação dos alimentos, o

A

tribunal deverá tomar em conta a duração do casamento, a colaboração prestada à economia do casal, a idade e estado de saúde de cada cônjuge, as qualificações profissionais e a possibilidades de emprego, o tempo que terão de dedicar, eventualmente, à criação de filhos comuns, os seus rendimentos e proventos, um novo casamento ou união de facto e, de modo geral, todas as circunstâncias que influam sobre as necessidades do cônjuge que recebe os alimentos e as possibilidades do que os presta". Este último artigo foi aditado pelo NRD. Contendo uma série de situações que determinam o montante, mas também a eventual extinção da obrigação de alimentos a cônjuge, vemos que a nossa leitora terá direito a que lhe seja paga uma pensão de alimentos, em sede de divórcio por aquilo que nos expôs. No entanto, o valor dessa pensão variará não só pelas capacidades financeiras do seu marido, mas também pelos anos e sacrifícios que fez pela economia familiar, e educação, cuidado e protecção aos filhos desse matrimónio. A boa defesa e invocação em tribunal destes últimos aspectos serão fundamentais para o êxito da sua pretensão. n SET 2011 |

TempoLivre 65


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ClubeTempoLivre > Passatempos 1

Palavras Cruzadas | por José Lattas

Cálcio (s.q.); Índio (s.q.); Tecido fino, espécie de escumilha; Antes de Cristo. 4-Acocha; Bagatela; Agarrada. 5-Consorte; Aludir. 6Advérbio; Revolucionário francês, assassinado no banho (174393); Chiste. 7-Apagais; Baças. 8-Segurara-se com gavinhas; Plano Director Municipal (sigla); Peta. 9-Sua Alteza (abrev.); Ambiente; Antiga cidade da Caldeia; Marca correspondente a um ponto, nos jogos de cartas. 10-Prefixo de negação; Ainda; Rim; Acaso. 11Fingidos; Abatam. 12-Revelação; Papiloma. 13-Bolo de farinha de arroz e azeite de coco; Sufixo que traduz a ideia de estado ou qualidade; Arsénio (s.q.); Aprecie. VERTICAIS: 1-Claudicam; Esculápio. 2-Abandonado; Estreito;

Concelho do distrito de Évora. 3-Momices; Estilo de música, nascida em Nova Iorque, Em finais da década de 70. 4Acariciara; Fedor. 5-Deus do Sol, na mitologia egípcia; Prefixo indicativo de movimento; Ocorria; Adonde. 6-Assistência Médica Internacional (sigla); Organização Mundial de Saúde (sigla); Atasco. 7-Esposa; Nome dado, no começo da nacionalidade, aos que tomavam certa porção de território aos Mouros e o integravam no reino de Portugal. 8-Suceder. 9Garganta; Cercava. 10-Cone vulcânico, no centro da Ilha de Kyushu, no Sul do Japão; Seguro; Concordes. 11-Moenda; Áustrio (s.q.); Rapaz; Penates. 12-Admoestara; Impaciência. 13-Capital da Venezuela; Contracção da preposição em e do numeral cardinal um. 14-Cevado; Inquietar; Antiga carruagem de duas rodas e um só assento. 15-Habitar; Choupa.

3

4

5

6

7

8

9 10 11 12 13 14 15

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES (horizontais): 1-ESPORADICAMENTE. 2-RO; AMOROSO; OS. 3-R; CA; IN; LO; AC; T. 4-ACAMA; AVO; AVARA. 5-MARIDO; ATIRAR. 6NEM; MARAT; SAL. 7-MATAIS; OPACAS. 8-ELARA; PDM; ARARA. 9D; SA; AR; UR; AS; L. 10-IM; ATÉ; RIL; SE. 11-CORADOS; AMAINEM. 12-ORÁCULO; VERRUGA. 13-APA; OR AS; AME.

HORIZONTAIS: 1-Casualmente. 2-Letra grega; Afectuoso; Eles. 3-

2

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 29 Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado

N.º 29

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TempoLivre

| SET 2011

SOLUÇÕES


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ClubeTempoLivre > Novos livros

ARCÁDIA

BERTRAND EDITORA

ALICE NO PAÍS DOS

experiência e estudo na área.

NEGÓCIOS

QUANDOS OS LOBOS

Como Tornar-se Uma Líder

UIVAM

Permanecendo Mulher

Aquilino Ribeiro Um clássico da

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conhecimento, fruto da vasta

EDITORIAL PRESENÇA

literatura

A CASA DA SABEDORIA

mulheres que

portuguesa que

Como os Árabes

querem

aborda a saga

transformaram a civilização

aventurar-se

dos beirões na

ocidental

pelo mundo

defesa dos

Jonathan Lyons

dos negócios,

terrenos

Conheça os princípios que A obra recria

revelam ter numa inspiradora obra.

sem perder a identidade, a

baldios durante a ditadura do

com

obra aponta caminhos que

Estado Novo.

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ajudam a conciliar os

a época em

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negócios com a vida pessoal

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Todos precisamos de um

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A China contra os Estados

Europa

pouco de esperança

Unidos da América

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François Lenglet Uma reflexão sobre o

fonte do conhecimento

Patricia Wood Com um QI de 76, Perry,

muçulmano, alargando os

criado por uma avó

equilíbrio entre duas

seus horizontes e lançando

extraordinária desenvolve

autora

superpotências, os EUA e a

os alicerces do

uma

desfilam

China, e a sua relação na

Renascimento.

capacidade

VIAGENS BRANCAS Ana Cristina Pereira Pela mão da

equilibrada

vidas de

política,

mulheres

economia e

A REDENÇÃO

que irá

marcadas

sociedade

revelar-se

pela cocaína. São histórias

mundial.

Rafael Loureiro Num mundo onde a Luz e as

intensas que percorrem a

O autor revela

Trevas se digladiam, Daimon

colheita da coca na Bolívia,

as etapas de

uma mais valia,

regressa para

especialmente quando

os bairros de má fama e

uma rivalidade e identifica a

a amada. Na

ganha uma avultada quantia

festas onde o pó branco

as áreas onde os gigantes se

demanda final

na lotaria. Um romance

circula em bandejas.

debatem.

não estará

sobre amor e confiança.

sozinho, mas

EDIÇÃO DE AUTOR

irá conseguir

LUSTRUM

libertar-se da

Cego pela Ambição,

PLANIFICAÇÃO DE PEÇAS

dualidade que o destroçou?

Seduzido pelo Poder,

METÁLICAS

O livro da trilogia Nocturnus

Destruído por Roma

Por métodos Oficinais e

põe fim à saga de ambiente

Matemáticos

gótico.

Robert Harris A obra evoca com uma

Pequena filosofia do dinheiro

António H.O. Castanheta Uma obra fundamental para

100 REGRAS PARA A VIDA

irrepreensível e um

de Platão a Wall Street

a área da metalomecânica

Para ser uma pessoa mais

virtuosismo literário

Pietro di Lorenzo Pensamentos e frases

que inclui

feliz, mais tranquila e mais

exuberante a Roma de

noções de

realizada

Cícero, político e orador

proferidas por diversos

trigonometria,

brilhante que

pensadores e filósofos sobre

raiz quadradas

Richard Templar Há pessoas naturalmente

o dinheiro, em que a

e planificação

dotadas para a arte de bem

períodos mais

definição e o seu real valor

de peças. De

viver, mas que segredos

conturbados

O PERFUME DO DINHEIRO

fundamentação histórica

viveu um dos

pode ser encontrada na

forma acessível, o autor

guardam e o que os

da história de

divergência de opiniões.

revela um sólido

distingue das restantes?

Roma.

68

TempoLivre

| JUL/AGO 2011


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natural do Quénia,

marcadas pelo desejo de

O HOMEM DE PLASTICINA

assassinada em 2006, que

destruição, conflito e morte.

Manuel Manzano Um invulgar

procura alertar para os interesses económicos que

NOITE DE PRIMAVERA

incidente no

põem em risco a beleza

Tarjei Vesaas Duas crianças ficam

zoo de

sozinhas uma noite na

que um

natural daquele país.

ULISSEIA

Barcelona, em

quinta e são surpreendidas

chimpanzé

por uma

fere acidentalmente

CONTOS SOMBRIOS

estranha

Nicodemo com uma arma,

Mónica Baldaque Após morte da avó, Marta vai

família

desperta o detective

perdida e

Fuensanta para as estranhas

DEI O MEU CORAÇÃO A

desocupar a casa que lhe

com o

experiências de um

ÁFRICA

ficou de herança no Douro.

carro

veterinário, numa divertida

avariado.

aventura.

A vida extraordinária de Joan

Aí, recolhida

Root

entre

Mark Seal Uma narrativa biográfica

memórias

muita agitação regista-se um

ouve contar

nascimento e uma morte e a

sobre Joan Root, uma

histórias

adolescência terá partido

defensora da diversidade

sombrias,

para sempre!

Entre

Glória Lambelho


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ClubeTempoLivre > Cartaz

BEJA

2011 na Casa do Povo de

Escola Música

dia 5 de Out. às 16h00 -

Fermentões, em Guimarães.

Inscrições abertas

bandas filarmónicas da

informações na n/Agência

Escola de Música

Workshop De 8 de Set. a 24 de Nov. -

COIMBRA

Sambrazense, Artistas de

FARO

Introdução às Artes Plásticas

Minerva e Lacobrigense 1º

no Palácio do Barrocal em

Música

Évora; dias 21,22, 29 e 30 de

Dia 8 às 21h30 - Tonalidades

Workshop

dia 9 de Out. às 16h00 -

Out. - Encenação e Formação

no Outono, festa da música

Dia 24 - Manutenção,

bandas filarmónicas da

de Actores em Serpa,

instrumental e popular em

Preservação e Recuperação

Escola de Música

inscrições na n/Agência

Cantanhede; dia 10 às 21h30 -

de Trajes Tradicionais, no

Sambrazense, Moncarapacho

Maio, em S. Brás de Alportel;

Festival de Folclore em Granja

Museu do Traje e das

e Lacobrigense 1º Maio, em

Curso

do Ulmeiro; dia 18 às 12h00 -

Tradições em São Bartolomeu

Lagos;

De Set. a Jan. 2012 -

Encontro de Bandas em

de Messines

Instrumentos Tradicionais:

Santana e Encontro de Tunas

Saxofone: dias 10 e 11 -

Gaita-De-Beiços no Palácio

em Côja; dia 24 às 15h -

Master Class em Saxofone

Barrocal em Évora, inscrições

Bandas Filarmónicas em

em S. Brás de Alportel,

Cursos

na n/Agência

Paião e, pelas 21h30, Recital

inscrições na n/Agência.

Bordados Tradicionais, inscrições na n/ Agência (a

Instrumental e Vocal em

BRAGA

PORTALEGRE

Cantanhede; dia 25

Evento

partir de 20 euros euros).

às 16h00 - Aniv. da

Dia da Música - dia 1 de Out.

Trombone /Trompete: dia 17 e

Festa do Agricultor

Filarmónica Ressurreição, em

às 16h00 concerto no Cine-

18 - Master Class Trombone e

Até ao dia 4 – Fermentões

Mira.

Teatro Louletano, em Loulé;

Trompete em Gavião.


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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o

Em tarde de Verão, pequena história de uma Palavra, infelizmente, já morta Há algo de mágico nas palavras / que me parecem redondas e suaves / equivalentes ao voo dos sonhos / cadências voluptuosas / como as ondas do mar […] Mayamérica Cortez1, De las palabras, Washington D C, Verão de 1993 Trad. MAVF

gosto alto. Apartamento à beira-Atlântico. Sentada na

til e esquecida, no Elucidário das Palavras, Termos e Frases que em

varanda frente ao mar, ergo os olhos do livro para um

Portugal Antigamente se Usaram e que Hoje Regularmente se

céu tornado pura incandescência rajada de prata, ouro

Ignoram, de Fr. Joaquim de Santa Rosa Viterbo (1798). Não regista

e tons de rosa leve e cinza papo de rola mansa. O livro,

o Elucidário a data do nascimento, nem da morte, do termo. Regista,

confesso, é mero pretexto para o ritual diário da minha presença

sim, a sua pequena história e o seu significado na data e local em

na varanda, justificação para a imobilidade que me impõe a reli-

que a sua existência aparece documentada pela primeira vez: em

giosidade do momento sagrado em que o Sol se imola com toda a

1436, num documento da Câmara de Coimbra, que reza:

pompa e glória, mergulhando no azul profundo do oceano.

“Mandamos que taees pessoas pousem nos Estaaos, que há pelo

A

Não sei durante quanto tempo mantenho suspensa a respiração. Juraria que durante uma eternidade.

caminho, ou na dita cidade, e nam nas Aldêas e Casaaes, que estão fóra da estrada”. Com o sentido de estalagens – ou palácios – a

Em redor, tudo é quietação, o silêncio apenas violado pelo

serem construídos junto dos mesmos, derivaria o seu nome do

marulhar ronronante das ondas. Na praia, a policromia diurna,

verbo ESTAR, pelo facto de, tal como os nossos, estarem sempre

quase agressiva, das barracas na areia há muito foi substituída pela

prontos a receber os seus hóspedes.

paisagem surrealista dos seus esqueletos de madeira, que se desenham a negro contra a luz evanescente. Gosto dos longos dias de Agosto aqui (não tanto como dos de Setembro em qualquer parte do Hemisfério Norte, evidentemente): caprichosos, imprevisíveis, de humor variável, segundo as horas. Há neles drama e há suspense.

Em 1449, determinou D. Afonso V que, nos bairros dos senhores que tivessem paços em Lisboa, se construíssem estãos, em que os seus [familiares] pudessem pousar por seus dinheiros – como nas estalagens. As Cortes de Lisboa de 10 de Dezembro de 1439 já tinham concedido que na cidade se construíssem estaãos, e casas em que el-

Gosto quando, na esteira do Sol, vindas de outras paragens,

rei e sua corte se pudessem alojar, coisa que D. Pedro logo manda-

populações estranhas avançam e recuam, no mesmo movimento

ra fazer, além de mandar construir outros destinados a “agasalhar”

de fluxo e refluxo das águas do mar, invadindo as ruas em tsuna-

embaixadores, pelo que, provavelmente, se não tratava apenas de

mi, as nossas casas, quando amigos, mesmo se, sebasticamente,

estalagens, mas de verdadeiros palácios. A verdade é que, como

desaparecem com as primeiras névoas.

prova de gratidão, o povo de Lisboa tinha pretendido colocar por

Expectantes, as portas estão sempre abertas, o que nos obriga a

cima da porta desses estãaos uma estátua do infante, oferta que,

ter de reserva uma estratégia doméstica para enfrentarmos as gran-

“triste e carregado”, ele declinara, dizendo que “se ali estivesse a

des vagas de visitantes – mais de três pessoas, no meu caso, e de sete, no caso de uma amiga vizinha. Assim, para o caso de sobre

sua imagem viria tempo em que os mesmos lisbonenses a derribariam e com pedras lhe quebrariam os olhos”2.

ocupação dos respectivos apartamentos e, como é habitual, dos

Além dos estaãos de Lisboa, foram também construídos

hotéis e pensões decentes da terra, criámos cada uma o seu ESTÃO

estaãos no Porto (na Praça da Ribeira) e em Tomar.

(grafia também ESTÁO, e ESTAÁO), com que a outra pode contar

Os nossos? Já estavam construídos. A sua função? “Agasalhar”

para “agasalho” de visitas em número superior ao comportável

amigos e recordar a pequena história de uma palavra, infelizmen-

pela sua habitação.

te, já morta. n

Ainda que seja motivo de riso, a verdade é que se tratava de uma palavra já morta, que um dia fez parte do léxico nacional, e que, até

1 Poetisa salvadorenha (1947)

lhe termos insuflado um pouco de sentido de utilidade, jazia, inú-

2 Crónica de D. Afonso V, in: Elucidário SET 2011 |

TempoLivre 71


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Os contos do

Um homem tranquilo

A

cerimónia juntou duzentos convidados, era a igreja à cunha de pessoal nos trinques, eles de casaca ou de fato escuro e gravata nova, elas caprichando em vestimentas de modas plurais, as jovens e as já não tão tanto. Mas o lote predominante eram as amigas de Joana, como tal no apogeu dos trinta, magníficos ombros desnudados que nem deviam deixar indiferentes os santos estáticos do templo. Dignos de registo os chapéus, uns graciosos, outros horrendos, mas o importante era a animação colectiva e a figura central da noiva, deslumbrante no vestido longo e branco, à maneira. Circunspecto e de trajo simples, todavia sem destoar, apresentouse o noivo, Ricardo, perante a emoção espantada de quem o conhecia desde os bancos da escola. Nunca o previram noivo em salto para marido, ainda por cima com padre e tudo. Disse um: - Imaginas o Ricardo casado, e logo com mulher exuberante e genicosa? Responde o outro: - O pior é que imagino. Não tardou o solene momento em que o sacerdote encarou Joana e dirigiu a pergunta sacramental, essa de aceitar ou não para marido o sujeito ali presente, e se pronta a acompanhá-lo, na saúde e na doença, até que a morte os separasse. Um sorriso iluminou o belo rosto de Joana quando retrucou, lépida: - Sim. Então, o padre, notoriamente alegre por patrocinar aquele encosto de almas e corpos, virou-se para Ricardo e indagou se era de sua livre vontade que aceitava o matrimónio com Joana Brito Valentim, ali presente, disposto a acompanhá-la, na saúde e na doença, até que a morte os separasse. Foi então que estoirou o silêncio, pausa desmedida, de respirações suspensas, olhos ansiosos cravados na mudez do noivo. Por fim ele disse: - Pode ser. Aos suspiros de alívio seguiram-se beijos e abraços, pétalas de flores e incitamentos para a felicidade, depois o beberete e a partida para a lua-demel decidida por Joana quanto a itinerários e lugares para as primeiras dormidas abençoadas.

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Informado a respeito, Ricardo disse: - Pode ser. Depois desse ano vieram mais anos, Joana triunfando na carreira profissional, mulher enérgica, loquaz e de ambição, ao contrário do plácido cônjuge, jamais disposto a alargar o pequeno comércio de antiquário, a seu ver o único negócio em que o tempo corre a favor da mercadoria. Em vez de sujeitas a prazo de validade, as antiguidades progridem para mais antigas com o fluir dos dias. Sobretudo, do agrado de Ricardo era tratar-se de loja sem ajuntamento de fregueses, só de longe em longe aparecia um coleccionador a quebrar o sossego do proprietário. Chegou a época em que Joana começou a agastar-se por se resumirem as conversas domésticas aos seus próprios monólogos, nunca Ricardo mostrava entusiasmo, nem mesmo quando, no quente dos lençóis, ela sugeria a boa ideia de fazerem amor. E havia sempre um inquietante silêncio até ele se manifestar: - Pode ser. Era de prever, numa tarde de maior saturação e menos paciência, Joana perdeu a cabeça e apelidou de paspalho aquele marido incapaz de dizer sim ou não, impossível suportar tal desencontro de personalidades -"incompatibilidade de génios", definiu ela - preferível seria separarem-se sem esperar que a morte os separasse. Embalada, imparável, violenta no tom e no desígnio, atirou a pedra definitiva: - Não dá, não dá, não dá! Aceitas o divórcio, Ricardo? Ele pareceu meditar um pouco antes da resposta: -Pode ser. Nessa mesma noite, Ricardo voltou ao apartamento do primeiro piso, sobreposto à loja de antiguidades, e Joana correu ao encontro de uma selecção de amigas, propositadamente avisadas para a reunião num bar. Relatou, excitada, as novidades frescas, beberam e riram-se muito -"o que falta para aí são homens", filosofou a mais desesperada por encontrar macho - opinião geral foi que alguém mais adequado não tardaria a ocupar o lugar do bisonho Ricardo. ANDRÉ LETRIA


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Bem visto. Veio a noite em que Joana reuniu de novo as amigas para comunicar, alvoraçada, que acabava de pousar passarinho novo. Quem é? Como é, todas num desassossego e ela gastando adjectivos para retratar o admitido. Passada a breve fase dos jantarinhos, avançou o novo parceiro para coabitação com Joana e o mundo mudou. Contrastando com a calma pachorrenta de Ricardo, e a sua embirrante dificuldade em pronunciar sim ou não, o recém-chegado, de nome Otílio, logo se revelou palrador incansável. Todavia, o que aparentava ser companhia perfeita para Joana exercitar o seu gosto de conversa animada, revelou-se um problema. Problema que aliás, não é raridade. Otílio não apreciava ouvir ninguém, excepto ele próprio. E quando Joana se atrevia a quebrar os longos discursos, Otílio afinava e mandava-a calar. Ela calava-se, assustada pelo tom irritado do novo homem da casa, mas crescialhe a incomodidade e a incomodidade transformou-se em ira. Explodiu, era fatal. E então gritou a plenos pulmões que estava farta, fartíssima, de o ouvir, e não menos farta de calar a boca. Chamou-lhe estúpido, presunçoso, fala-barato e camelo. Foi nesse arrebatado lance que sucedeu o impensável. O novo amor de Joana deu balanço ao braço e assentou no rosto da vociferante uma vil bofetada. Incrédula, mais magoada na alma que na cara, ela só reagiu pela fuga. Nem esperou pelo elevador, desceu aos pulos pela escada, sem reter gemidos ou lágrimas. Na rua, desorientada, sentiu necessidade urgente de alguém para desabafar. Pensou na roda de amigas mas considerou que seria humilhante a confissão do fracasso. Em desespero, lembrou-se de Ricardo. Minutos depois, o "ex" sentava-se na frente dela, á mesa da pastelaria próxima da casa que os tinha juntado num capítulo das suas vidas. E Joana contou do inferno dos seus exigidos silêncios e da afronta da bofetada. Sem palavras, Ricardo segurou-a por um braço e quase a arrastou no caminho de regresso. - Não vou, Ricardo, ele está lá - protestou ainda, sem obter resposta. Foi tudo tão estranhamente rápido como o movimento de Ricardo desfechando no queixo do sucessor um murro cinematográfico, antes de o

filar pelo pescocinho e o lançar porta fora. Arrastou-se um tempo sem palavras, vazio coerente com a natureza de Ricardo mas só explicável pelo pasmo em que Joana mergulhara. Ela recompôs-se e disse: - Obrigada, foste o meu anjo salvador. - Breve pausa e elevou o tom da voz para dizer mais: -Receio que ele volte. E não só por esse medo, também pelo gosto que me dá a tua companhia, atrevo-me a perguntar, Ricardo, se aceitas ficar cá esta noite. A resposta veio, desta vez, rápida: - Sim. Sim? Joana não resistiu a um abraço, finalmente ouvia a palavra sempre ausente da boca de Ricardo, e invadiu-a uma imensa ternura, como um renascer dos tempos idos em que se apaixonara por ele. Apertou mais o abraço antes de lhe propor ao ouvido: E se nos casássemos outra vez, Ricardo? Bamboleou-se um pouco, afagou com uma das mãos a nuca dela, enquanto com a outra mão coçava a sua própria nuca, e anuiu: -Pode ser. n SET 2011 |

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Crónica

Da cotação do voluntariado Humberto Lopes

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E

l Alto é um subúrbio de La Paz. A capital boliviana fica num vale, mil metros mais abaixo. À noite, em redor da cidade, as luzinhas das favelas acendem um cenário feérico. De dia reconhece-se bem o arrabalde miserável empinado nas encostas, o casario deslavado na carne viva das paredes por pintar. É aí que vive Lazaro Fuentes, numa casita com telhado de zinco. Solitário, ou quase: faz-lhe companhia uma imagem da Virgem de Urkupiña, com velas acesas e flores, para que a santa não se esqueça de lhe providenciar vida melhor no outro mundo. Quase não há móveis na casa de Lazaro: uma mesa tosca de madeira, três ou quatro cadeiras, um cadeirão de lona esburacada onde fica sentado à espera de duas meninas voluntárias que por ali fazem as suas semanais rondas de assistência. Estas meninas são o inverso das protagonistas de uma crónica de Urbano Tavares Rodrigues. O livro, do início dos anos 70, chamava-se As grades e o rio e era uma colectânea de textos jornalísticos. Numa das histórias, cachopas de Lisboa afadigavam-se em peditórios para uns certos pobrezinhos que viviam em lugares remotíssimos, com nomes exóticos como Bangladesh ou Biafra. Sobre as misérias lusitanas declaravam as benfazejas almas nada saberem, afiançava a prosa do cronista. A simbologia do rio era, naquele punhado de crónicas publicadas pela Editorial Inova, a da vida e do curso da História barrados pelas grades que a mesquinhez do tempo político impunha. Agora, sentado na soleira da porta de Lazaro Fuentes, mineiro de vida gasta e pulmões aniquilados nos túneis de Potosí, com a vista dos arranha-céus de La Paz lá em baixo, lembro-me de outra metáfora: a do rio que beneficia, na foz, destes sazonais e voluntariosos carinhos, mas que a montante recebe tratos de polé de um sistema que produz incessantemente aglomerados como o de El Alto e milhões e milhões de Lazaros Fuentes. Exactamente o mesmo sistema que providencia vida folgada às bondosas voluntárias, que talvez pouco se interroguem sobre o que torna o rio tão carente das ternu-

ras do voluntariado. O diabo é que parece que isso são histórias da política, e o voluntariado aprumase com trajes oficiais de "imparcialidade", equidistante dos discursos políticos que andam por aí, prosaicamente, a guerrear-se. Lazaro está sentado no seu velho cadeirão de lona à espera das meninas, que devem chegar à hora da sesta, graciosas como as dos velhos rimances (na pena de Urbano), que fazem a sua aparição nas ruelas abruptas de El Alto "dos veces por semana, gracias a Dios". Com a imperturbável inocência de títeres, Carmen e Monica fazem-se arautas do mérito da assistência imediata, munidas da generosidade juvenil que o sistema tão bem aproveita e que gente como Lazaro Fuentes, arredada das graças do PIB, toma como imerecido favor: "Pués, yo no sé qué haría sin estas chicas, así solito." Numa dessas noites andinas, com a capital boliviana trespassada pelo surazo, o vento glacial da Antárctida, escuto num bar selecto e aconchegado as lucubrações assistencialistas dos académicos locais, destros em ambíguas cumplicidades teóricas com o poder, como a maioria dos seus pares urbi et orbi. As "estratégias de combate à pobreza" - no refrão mecânico das instâncias internacionais e das ONGs profissionais da ajuda - entretecem-se em artifícios de diversão na embocadura do rio empestado.A montante, a engrenagem do sistema continua a poluir - crescimento económico oblige. Esse alinhamento dá sempre um belo jeito aos intelectuais. Não lembrou George Steiner a conclusão de Gadamer de que "bastava comportar-se manierlich (de maneira conveniente, respeitando as convenções) relativamente ao regime nazi para se poder seguir uma carreira universitária brilhante"? Na metáfora do rio tolhido na engrenagem que gera subúrbios como El Alto e milhões e milhões de Lazaros Fuentes, faz parte das convenções não tocar nesse assunto do sistema que infecta o rio a montante. Tal silêncio é condição sine qua non da boa cotação do voluntariado no grande mercado de valores liberal. n


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