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N.º 233 Janeiro 2012 Mensal 2,00 euros
TempoLivre
Diáspora Marrocos Perfil Adriana Porfólio Tibete
www.inatel.pt
Fado
Orgulho nacional Entrevista com José Alberto Sardinha, etnomusicólogo
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Sumário
Na capa Foto: José Frade
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CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR
ENTREVISTA
Fado: um orgulho português Dias depois da consagração pela UNESCO do Fado como património da humanidade, fomos ouvir o etnomusicólogo José Alberto Sardinha, autor de "A Origem do Fado" - um livro baseado numa preciosa e bem documentada pesquisa que contraria a tese da origem afro-brasileira do mais célebre género musical do nosso País.
24 EDITORIAL
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NOTÍCIAS CONCURSO DE FOTOGRAFIA
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PERFIL
MEMÓRIA
Maria Clara
50 52 54 79
30 AVENTURA
Adriana
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Portugueses em Marrocos Marrocos nunca foi um destino convencional da emigração portuguesa. Mas há, actualmente, muitos quadros portugueses a trabalhar na região, ainda que com "um pé cá e outro lá", a par de gente que investiu a longo prazo e está no país vizinho de pedra e cal.
PORTFÓLIO
Himalaias – na rota dos Jesuítas portugueses
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DIÁSPORA
Geocaching A caça ao tesouro, que parecia em desuso, continua a existir e agora numa versão hi-tech para miúdos e graúdos.
JUSTIÇA E SOCIEDADE OLHO VIVO A CASA NA ÁRVORE O TEMPO E AS PALAVRAS Maria Alice Vila Fabião
80
OS CONTOS DO ZAMBUJAL
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PRAZERES CRÓNICA António Costa Santos
57 76
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BOA VIDA CLUBE TEMPO LIVRE
Bruges a capital da cerveja "Terra de cerveja e chocolate, de canais e charretes, Bruges é o sítio ideal para fazer um périplo pela história da cerveja. Se tiver tempo e vontade há mais de quatro centenas para provar."
Passatempos e Novos livros
Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 149.456 exemplares
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Editorial
V í t o r Ra m a l h o
Servir mais e melhor
E
ste é o primeiro número da 2012. Por esse facto, não poderia deixar de referir a aprovação pelo Conselho de Administração do Plano de Actividades e do Orçamento. Os instrumentos aprovados estão na linha do Plano Estratégico e da Carta de Missão para o triénio 2011-2013. Com vista ao reforço do futuro da Inatel, persistir-se-á, assim, na requalificação dos equipamentos afectando-se em investimentos mais de nove milhões de euros. Este esforço é desenvolvido apesar da forte diminuição da subsidiação pública e das consequências da crise, que afectarão o produto interno bruto, o consumo e o emprego. Não desfalecemos, porém, no reforço da autosustentabilidade, com orgulho na modernização e na qualidade dos bens e serviços que a Inatel presta. No primeiro trimestre, impulsionaremos a TV corporativa, continuaremos a dar corpo à imagem uniforme das Agências, daremos um maior impulso à internacionalização e jamais perderemos de vista a defesa da empregabilidade, acompanhando esta preocupação com uma estratégia adequada de formação profissional. Prevemos, por isso, que o valor global do orçamento se fixará em 68,5 milhões de euros e o de exploração de 59,5 milhões, com um resultado final positivo de 26 mil euros. Este orgulho está também presente no facto da Inatel ter participado na candidatura do Fado a património imaterial da humanidade, enquanto membro da comissão respectiva da UNESCO. É útil, a propósito, recordarmos que à data da passagem do 75º aniversário da Inatel patrocinámos, entre outras, a obra " A origem do Fado", de José Alberto Sardinha, um dos maiores investigadores da música tradicional portuguesa, obra essa que ficará como testemunho para o conhecimento e
para a divulgação do que o povo português tem de mais singular. Daí a oportunidade da entrevista com o seu autor que, de forma exaustiva e documentada, defende a origem nacional deste género musical popular, agora consagrado internacionalmente. Falar da música, aqui e agora é também recordar o Dr. Serra Formigal, que teve responsabilidades na direcção da FNAT e no Teatro da Trindade, tendo dado um contributo inestimável à ópera, através da Companhia Portuguesa de Ópera de que foi director. É mais uma das muitas personalidades que com invulgar mérito serviram a Inatel e a quem é devida uma homenagem. Recordá-lo aqui e agora é honrar com justiça a sua memória. Memória que está também presente no Museu do Relógio, recentemente inaugurado no Palácio Barrocal em Évora, onde funciona a nossa agência, dando assim também uma valorização à cidade de Évora, ao distrito e ao país, estimando-se que, neste ano de 2012, o museu atinja os 100 mil visitantes. O passado não pode, porém, fazer esquecer em nenhum momento o futuro. Essa é a razão para a modernização que está em curso na Inatel, nela incluindo requalificação e a qualidade da decoração das unidades hoteleiras, também agora reforçada com as excepcionais fotografias que passarão a enquadrar a unidade da Foz do Arelho a que se seguirão todas as outras. Por fim, este número, não poderia deixar de prosseguir com a referência da presença exaltante de Portugal e dos portugueses no mundo, agora através de uma reportagem bem ilustrativa do que somos através do retrato da nossa diáspora em Marrocos, país a que nos ligam importantes laços históricos. Todas estas razões justificam a continuação da preferência da leitura da 'Tempo Livre' pelos beneficiários a quem desejamos e às respectivas famílias um bom ano de 2012, sendo nossa obrigação procurar continuar servi-los mais e melhor. n JAN 2012 |
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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt
“Sempre em Férias” Pertencemos ao grupo que iniciou o Programa Sempre em Férias, e gostaríamos de vos felicitar pela excelente iniciativa e organização. Tratando-se de uma nova experiência, foi com alguma relutância que aderimos ao projecto. No entanto, estamos agora a terminar os primeiros seis meses, e é com enorme prazer e satisfação que vos comunicamos que o Programa se revelou muito interessante e que estamos a adorar a experiência. Seja a nível de alojamento, alimentação, actividades e animações diversas, fomos
em todos os aspectos surpreendidos pela positiva. Gostaríamos ainda de vos felicitar pelas alterações previstas para o próximo ano que, estamos certos, virão tornar o programa ainda mais interessante e, assim o esperamos, aumentar o número de aderentes. Expressamos os nossos sinceros agradecimentos ao INATEL e a todos os técnicos envolvidos, felicitamos-vos pela excelente iniciativa. Ilda Santos Silva e Fernando Ferreira Esteves (por e-mail)
Coluna do Provedor
Kalidás Barreto provedor@inatel.pt
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VÁRIOS ASSOCIADOS vêm manifestando as suas preocupações sobre as eventuais consequências para a Inatel da crise que o país atravessa, nomeadamente as alterações de preçário, ainda que, admitam justificadas. A Fundação é evidente que corresponde a uma realidade sociológica, totalmente diferente da de qualquer entidade congénere existente em Portugal e possui, cada vez mais, um grande prestígio internacional como testemunhou ainda em Dezembro último, o Seminário sobre o Turismo Social co-organizado com a Comissão Europeia sobre o Programa "Calipso" e a presença de responsáveis do turismo de 18 países europeus. Para os que usam linguagem do mercado e da concorrência, "Inatel" é, acima de tudo, uma marca de grande impacto comercial; porém para os utilizadores mais antigos (e não só os mais velhos) é, sobretudo, uma parte importante das suas memórias que trazem a recordação das suas primeiras férias com verdadeiro descanso (sem tarefas domésticas), onde os filhos tiveram praia pela primeira vez. Para os filhos são as lembranças das primeiras brincadeiras na praia, dos primeiros ralhetes por se molharem em sítios mais distantes da vigilância paterna; e outras lembranças mais
vivas quando chegou a juventude, com os namoricos de férias. Acresce ainda as recentes memórias dos "jovens" do turismo sénior cujas experiências de convívio os fazem sentir, novamente, gente, como testemunhava uma utente que afirmava que " até as rugas se lhe haviam desaparecido do rosto". E os programas jovens? Inolvidáveis! A Inatel é diferente, é família! O Trindade, onde pela primeira vez assistiram a um espectáculo de ópera ou o Estádio 1º de Maio, palco da primeira grande manifestação do 25 de Abril de 1974. Daí todo o interesse e carinho, como algo de seu estivesse a transformar-se, embora, acreditem, que para melhor. É como se de um filho se tratasse quando atinge a maioridade; tal e qual! Os tecnocratas não entenderão esta linguagem usada por utópicos humanistas. Porém, a utopia é, afinal, uma visão de um futuro que é preciso começar a construir no presente, com lição e aprendizagem do passado. Ou, como dizia, Óscar Wilde, "O progresso é a realização da utopia". Acreditamos nisso! Com todo o respeito pelos números que não podem esquecer a autosuficiência e de equilíbrio das contas, que os seus beneficiários/associados não serão esquecidos. n
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Notícias
José Manuel Serra Formigal
l Advogado
de profissão, José Manuel Serra Formigal, falecido em Lisboa, sua cidade natal, no passado dia 11 de Dezembro, aos 86 anos, teve um papel destacado na vida cultural portuguesa, designadamente nas áreas do teatro e da ópera. Responsável pela criação da Companhia Portuguesa de Ópera do Teatro da Trindade, que dirigiu de 1962 até final de 1974, sob a égide da FNAT, teve um papel decisivo no desenvolvimento nacional do setor da ópera, principalmente quanto a cantores, maestros e encenadores e, por outro lado, na divulgação do espetáculo lírico, sobretudo junto dos associados da FNAT e dos Sindicatos.
Foi também presidente do Conselho de Administração do Teatro São Carlos (1981-1988), num mandato que incluiu a criação da Orquestra Sinfónica do TNSC e a escolha de João de Freitas Branco como Director Artístico e de Produção. Incentivado pela mãe, Etelvina Serra, actriz e cantora de mérito, que o levou, em pequeno, ao teatro, aos concertos, à ópera e proporcionandolhe o ensino da música, Serra Formigal teve, então, o privilégio de admirar grandes atores do passado (Amélia Rey Colaço, Palmira Bastos, Laura Alves, Alves da Cunha, João Villaret, Vasco Santana, António
Gala Sénior l Cerca de sete centenas de seniores marcaram presença na Gala de Natal do passado dia 13 de dezembro na Salão Preto e Prata do Casino Estoril, uma iniciativa que assinala o encerramento dos programas Sociais da Fundação Inatel. No uso da palavra, o Presidente da Fundação Inatel evocou, após o almoço, o importante contributo daqueles que com o seu trabalho lutaram por uma vida melhor e que, agora, podem usufruir de justos e reconfortantes dias de lazer. Vítor Ramalho assinalou, na oportunidade, a importância das iniciativas governamentais que o Inatel gere para segmentos específicos da população portuguesa - sénior, jovens ou outros afirmando que "através da vossa participação reforçam-se as economias locais e gera-se riqueza para o Estado que recupera parte do seu investimento através das receitas de IVA".
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Aurelina Madeira, 98 anos, distinguida com o galardão "Super Sénior". À direita, Tiago Pessoa entrega prémio a Domingos Silva do Casino da Figueira da Foz
A anteceder o espetáculo "O melhor de La Féria", foram distinguidos os melhores prestadores de serviço dos programas Conversa Amiga, Turismo Júnior, Sempre em Férias, Abrir Portas à Diferença, Turismo Solidário, Turismo Sénior e Saúde e Termalismo Sénior casos de: Hotel Onix, Hotel Caravela, Inatel Piodão, Inatel Albufeira, Inatel Vila Ruiva, na categoria de melhor unidade hoteleira e nas restantes categorias as Termas de S. Vicente, a Agência
Avic, o Casino da Figueira, o espetáculo "Isto só Visto" de Luis Aleluia, "Fado, História de um Povo" de Filipe Lá Féria e os animadores Filipa Cardoso e Diogo Alves. No Programa Turismo Júnior 2011 a melhor colaboração foi para a Direção de Negócios pessoais/Gestão de segmentos Jovens da TMN. Foram, ainda, entregues os prémios do concurso de fotografia e texto dos programas seniores a Isilda Raposo e António Santos Martins na categoria de fotografia, Manuel Redondo Pato e
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Silva, entre outros) e assistir a espetáculos de ópera, nos anos 30 e 40 do século passado, com figuras como Schipa, Volpi, Gigli, Alcaide, Stracciari, Galeffi, Bechi, Tajo, Caniglia. "O espectáculo lírico escreveu Serra Formigal na TL exerceu em mim o fascínio de um teatro total pela simbiose da música com a acção dramática em que aquela penetra e ilumina esta, dando-lhe insubstituível força expressiva." Conjugando a prática do Direito com a sua paixão pela ópera, Serra Formigal marcou a história do Trindade (1962-74), com uma programação anual assente em duas temporadas: a primeira, de teatro
Celeste Cortez Silvestre na categoria texto e no vídeo a António Cortez Silvestre. Os premiados receberam estadias gratuitas em unidades hoteleiras da Inatel. No final da sessão Vítor Ramalho homenageou Aurelina da Conceição Madeira, de Tomar, com a distinção de "Super Sénior" pelos seus 98 natais e pela preferência e participação nas iniciativas da Inatel. O evento contou com a presença de Tiago Pessoa, Chefe do Gabinete do Ministro da Solidariedade e Segurança Social; João Nunes Abreu, Assessor do Ministro da Saúde; José Madeira Serôdio, do Instituto Nacional de Reabilitação, I.P., Alexandre Oliveira do IEFP Instituto de Emprego e Formação Profissional, Sérgio Azougado da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, João Barbosa da Associação das Termas de Portugal e muitas outras individualidades que direta ou indiretamente estiveram ligadas aos programas geridos pela Inatel.
declamado, com duração de cerca de seis meses, e a segunda numa sucessiva temporada de ópera, de maio a julho. Atuaram, no teatro, três companhias dirigidas por António Manuel Couto Viana (até 1967), Francisco Ribeiro, (até 1969) e Amélia Rey Colaço (de 1970 a 1974). A grande novidade foi, porém, a constituição da Companhia Portuguesa de Ópera do Teatro da Trindade e do Centro de Preparação e Aperfeiçoamento de Artistas Líricos, dirigido, entre outros, por Tomás Alcaide e Gino Bechi. A ação do Centro foi vital quer para o bom desempenho da Companhia de Ópera
quer para o aperfeiçoamento e revelação de novos valores do nosso teatro lírico, casos, entre outros, de Helena Cláudio, Zuleika Saque, Elsa Saque, Elisette Bayan, Fernando Serafim, José Lopes, João Pessanha, Vasco Gil e João Veloso. Nas treze temporadas (1963 a 1975) a CPOTT apresentou cerca de 650 récitas para 570 mil espetadores (Lisboa, Província, Ilhas Adjacentes, Angola e Espanha) num reportório que incluiu os grandes compositores de ópera, incluindo as óperas portuguesas e autores dos séculos XIX e XX: A Serrana de A. Keil, Rosas de Todo o Ano e Crisfal de Rui Coelho.
Convívio Inatel A sala principal do Trindade foi palco, em dezembro, de um animado de divertido convívio natalício dos trabalhadores da Sede da Fundação Inatel. Sob o tema a "rabanada", grupos de trabalhadores de cada um dos departamentos da Fundação subiram ao palco com o respectivo número musical alusivo à quadra festiva, com destaque para os dotes vocais de Elsa Ramos. A festa incluiu o visionamento do filme "Sinfonia Imaterial" de Tiago Pereira e uma intervenção do presidente da Inatel, encerrando com um lanche onde, obviamente, sobressaiu a saborosa rabanada.
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Notícias
Natal na Caparica l Para celebrar a quadra natalícia, cerca de quatro centenas de associados de vários distritos do país participaram na Grande Festa de Natal, uma iniciativa da direção de Turismo da Fundação que decorreu nas instalações da Inatel na Costa de Caparica. O evento incluiu um jantar tipicamente natalício e diversos espetáculos, com dança ao som do grupo "Pão com Manteiga", canções por Carlos Mendes e a participação de vários fadistas em homenagem à decisão da Unesco de considerar o Fado património imaterial da humanidade. Comungando do espírito solidário da quadra, a Fundação Inatel
atribuiu dois euros por cada inscrição à Raríssimas - Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras, receita que, em conjunto com a resultante da venda de brindes pela mesma associação no decorrer da Festa, irá ajudar a construir a Casa dos Moinhos, um centro de reabilitação em regime de internato
e semi-internato, indispensável para apoiar os doentes e famílias desta doença que, infelizmente, afecta crianças e adultos. Durante o evento, a Inatel sorteou doze atrativas viagens entre os participantes, para destinos nacionais e internacionais, tendo sido contemplados os seguintes associados: Fernando Gonçalves, Maria S. Ferreira, Luís Vitorino e Adriano Antunes, de Coimbra; António M. Nogueira e Raúl S. Teixeira, de Aveiro; Adriano L. Silva, de Viana do Castelo; António S. Guerreiro, de Setúbal; José P. Calha, de Portalegre; Mª Cândida Serra, da Covilhã; Mª Valentina Ferreira, de Faro; Luis Manuel Pessanha, de Lisboa.
Plano de Actividades e Orçamento 2012 lO
Conselho de Administração da Inatel apresentou, em dezembro, ao Ministro da Solidariedade e da Segurança Social, para homologação, o Plano de Atividades e Orçamento para 2012. Estes documentos, já aprovados pela Administração e Conselho Fiscal, prevêem, no essencial, a continuação das requalificações dos equipamentos com uma dotação de mais 9 milhões de euros, na linha do que ocorreu em 2011 (o investimento previsto foi neste ano de 10,55 milhões de euros) e um resultado positivo de 26 mil euros. Este esforço - como sublinha a 10
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Ordem de Serviço do Conselho de Administração da Inatel - foi e vai ser alcançado apesar da muito forte diminuição da subsidiação pública e das consequências da crise, procurando-se reforçar a autosustentabilidade da Fundação e a defesa do emprego, adequando-se os recursos humanos aos desafios do futuro. Nenhuma casa se constrói pelo teto. Não era possível encarar-se o futuro da Inatel com confiança se não se privilegiasse nesta fase a requalificação dos equipamentos para uma oferta de qualidade dos bens e serviços e com um esforço de modernização. Não havendo
qualidade não há pura e simplesmente competitividade. Chegou a hora de se reforçarem outros objetivos, incluindo neles a componente internacional e sê-loão seguramente. Não há - conclui o documento que recear o futuro da Inatel apesar dos sérios constrangimentos da crise. E não há porque o essencial da estratégia definida foi salvaguardada, com o contributo de todos os trabalhadores, defendendo-se a empregabilidade, com aumento de qualidade da oferta e com acrescidas preocupações em servir mais e melhor os nossos beneficiários.
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Inaugurado Museu Relógio em Évora l Inaugurado no passado dia 15 de dezembro, nas instalações da Inatel em Évora, o pólo do Museu do Relógio de Serpa que poderá atingir, ainda este ano, os 50 mil visitantes admitiu o seu diretor Eugénio Tavares d'Almeida, filho de António Tavares d'Almeida, fundador e grande impulsionador do invulgar e valioso espólio, sedeado, desde 1972, na cidade de Serpa. O novo responsável do Museu agradeceu o importante apoio da Fundação Inatel à concretização do projeto, salientando a qualidade e amplitude do espaço, integrado no histórico Palácio do Barrocal, alvo de profundas obras de requalificação e que alberga, a par da Agência de Évora, o arquivo central da FNAT/INATEL. Eugénio Tavares d'Almeida adiantou, também, que é objetivo da família melhorar, aumentar e projetar o novo museu eborense e citou, a propósito, a própria placa de identificação, escrita em Português, espanhol, inglês e japonês, como aposta forte no "mercado internacional". Acompanhado por outros membros do Conselho de Administração e quadros dirigentes
Fado Património da Humanidade lA
Fundação Inatel,
representada pela vogal da Administração, Cristina Baptista, esteve presente, em novembro, na 6ª Sessão do Comité-Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, em Bali, na
da Inatel, Vítor Ramalho manifestou a "grata satisfação" da Fundação pela importância de uma iniciativa "muito positiva" para as duas entidades e para a própria cidade em termos de aumento do número de turistas e visitantes que poderão desfrutar de "um grande e rico espólio cultural". O presidente da Inatel revelou ainda que ao ser contatado pelos proprietários do Museu não teve dúvidas quanto à oportunidade e interesse do projeto, coincidente com as obras de recuperação do palácio. Com uma equipa de guias, mestres-relojoeiros e um gestorconservador, o Museu- recorde-se repara, produz e comercializa relógios de qualidade a preços acessíveis. O bilhete normal custa dois euros. Para seniores ou grupos de 20 pessoas o valor é de 1,5 euros. As crianças até 10 anos não pagam.
Indonésia, que aprovou a candidatura do Fado como património da humanidade. A Fundação INATEL, recordese, tem o estatuto de organização não governamental acreditada para prestar serviços de assistência técnica à UNESCO. Composto, por 24 países, o ComitéIntergovernamental, tem, entre outras, competências para apreciar e decidir sobre as candidaturas apresentadas pelos Estados Partes (Estados que ratificaram a Convenção) à inscrição do património cultural imaterial na lista representativa do património cultural imaterial da humanidade; e na lista do património cultural imaterial a necessitar de medidas urgentes de salvaguarda e protecção. Cristina Baptista manifestou à "TL" o alto significado que teve para a Inatel a decisão da Unesco, lembrando o apoio que a Fundação deu, desde o primeiro momento, à candidatura do Fado.
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Novos Árbitros Inatel
l Doze
dos participantes no curso intensivo de formação de novos agentes de arbitragem para os torneios de Futebol de 11 da Inatel receberam, no passado dia 20 de
VI Concurso Vídeo Inatel lA
dezembro, os respetivos diplomas, entregues pelo administrador da Fundação, Moreira Marques, por Carlos Móia (Fundação SL Benfica) e por Rosário Farmhouse, do Alto Comissariado para a Integração e Diálogo Intercultural. Para Moreira Marques, que destacou a qualidade e importância da formação, orientada pelo exárbitro e quadro da Inatel, António Rola, é objetivo da Fundação prosseguir nesta área, incluindo a possibilidade de formação de árbitros de outras modalidades, como o basquetebol.
Fundação INATEL deu a conhecer ao
grande público, em dezembro, os melhores filmes de curta-metragem candidatos ao seu 6º Concurso de Vídeo. Constituído fundamentalmente por jovens realizadores oriundos de escolas ou em início de carreira, o programa englobou filmes de ficção (Prémio INATEL) e documentários (Prémio Património Imaterial) e um terceiro Prémio Jovem Realizador, até aos 25 anos. Apostada no apoio e fomento das várias vertentes da sua atividade cultural, caso do sector do cinema e do audiovisual, a Fundação, recorde-se, apoiou, em 2011, a produção do filme de Tiago Pereira "Sinfonia Imaterial", estreado no dia 17 de maio no Teatro da Trindade. Na apresentação dos filmes do 6º concurso - realizada no Cinema City
26ª Maratona de Lisboa
Classic de Alvalade - foram exibidas 16 curtas metragens e anunciados os filmes
l Vasco
Lourenço, do Sporting de Lamego, foi o grande vencedor da 26ª Maratona de Lisboa, com o tempo de 2h22m e 02 segundos, seguido de
Daniel Peixoto (Adercus, 2.28.29) e Carlos Santos (SL. Benfica, 2.28.57). A vencedora feminina foi Anabela Tavares (CRD Arrudense - 2.50.15), seguida de Lídia Pereira (CP Mangualde - 2.58.39). Na maratona por estafetas, classificaram-se, respectivamente, nos três primeiros lugares o GDR Reboleira/G Fisio Desporto, o NúcleoOeiras/SportZone e a Odimarq Alumínios-A. A competição, recorde-se, teve início e final no Parque Desportivo 1º de Maio da Inatel.
vencedores. A saber. Prémio Fundação INATEL - "Corpos", de Frederico Ramos Lopes; Prémio Património Imaterial - "Lugar do Tempo", de Manuel Guerra; Prémio Jovem Realizador - "Adeus Amor", de Henrique Prudêncio.
Protocolo Inatel/SCIF-SEFlA
Fundação Inatel celebrou, em dezembro, um protocolo de
cooperação com o Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, representado pelo seu presidente Acácio Patrício Pereira. Acompanhado pelo vogal da Administração, José Moreira Marques, o presidente da Fundação, Vítor Ramalho, lembrou a importante função do SEF num tempo de globalização e acentuado fluxo migratório. O responsável sindical agradeceu, por sua vez, o significado do acordo que permitirá aos associados do SCIF- SEF ter acesso aos serviços e espaços de cultura, lazer e desporto da Inatel. 12
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Fotografia
XVI Concurso “Tempo Livre” [1]
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Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco.
Menções honrosas [ a ] Maria Silva, Cacém Sócio n.º 493267 [ b ] Sérgio Guerra, S. João do Estoril Sócio n.º 204212 [ c ] Fernando Ledo, Viana do Castelo Sócio n.º 343708
[a]
5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, morada, telefone e número de associado da Inatel.
[b]
7. A «TL» publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. [ 1 ] Luis Gaspar, Lisboa Sócio n.º 265869
8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano
[ 2 ] Camillo Lopes, Rio Maior Sócio n.º 504366
9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites para duas pessoas numa das unidades hoteleiras da Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL».
[ 3 ] Mafalda Pereira, Quinta do Anjo Sócio n.º 236339
10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na «TL» de Setembro de 2012, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso.
[c]
11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.
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Entrevista
José Alberto Sardinha etnomusicólogo
Fado, o orgulho português Autor do livro "A origem do Fado", considerado pelo eminente etnólogo Benjamim Pereira "um marco categórico e da maior importância no panorama da bibliografia etnomusical portuguesa", José Alberto Sardinha, advogado de profissão e etnomusicólogo por paixão, falou à "TL" da longa e aturada investigação que lhe permitiu concluir que o fado, ao contrário da tese corrente nos meios académicos, não tem origem afrobrasileira, mas é, antes, um género popular bem português que a UNESCO agora consagrou como Património da Humanidade.
O seu livro "A origem do Fado" contraria, em absoluto, uma tese, até agora dominante, da origem afro-brasileira do Fado… As obras que estudam a origem do Fado são a de José Ramos Tinhorão, que apresenta uma tese afro-brasileira, com origem numa dança - o lundum - dos escravos e trazida para Portugal com o regresso da Corte do Brasil. É uma tese que parte, desde logo, de um preconceito ideológico muito marcado que é o da luta de classes. Ou seja, o Fado era uma dança do povo oprimido, recuperada mais tarde pela burguesia. É o que defende o autor, num livro de cerca de oitenta páginas, "Fado, Dança do Brasil, Cantar de Lisboa - O Fim de um Mito". E há Rui Vieira Nery com o livro "Para uma História do Fado" Vieira Nery dedica ao assunto julgo que duas dezenas de páginas e que diz mais ou menos isto: o Fado terá nascido no Brasil, a partir de uma síntese cultural do lundum. Não diz que nasceu do lundum, porque é um ritmo tão contrário ao pró16
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prio ritmo do Fado. Daí a afirmar que é uma síntese cultural, uma expressão bonita…Daí nasceu o Fado bailado, uma dança dos mestiços brasileiros que veio com a Corte para Portugal. Não sei onde descobriu isso. É verdade que as primeiras notícias do Fado como género musical são brasileiras, mas isso não significa que o Fado tenha nascido no Brasil. Apenas comprova que, naquela data, existia no Brasil. Mas com origem em Portugal? Para mim, ao contrário destes dois autores, viajou', sim, mas de Portugal para o Brasil. Para Vieira Nery, portanto, veio com a Corte, não sei como, talvez no porão…e, depois, em Lisboa, sofreu uma nova síntese cultural que transformou a dança numa canção. Facto que ele não explica como porque a dança era de ritmos eróticos, sensuais, e transformou-se nesta canção dolente e melancólica, não se percebe como, mas a síntese cultural parece que explica isso tudo. Diz isto em vinte páginas, não aprofunda o assunto. Afirma que é preciso basear as coisas em
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documentos mas toda a teoria dele não se baseia em qualquer documento. Como refere no seu livro, a 'descoberta' da origem portuguesa aconteceu, de certo modo, por acaso… É verdade. O Fado não fazia parte da minha pesquisa nem sequer das minhas preocupações. Sou um investigador da música rural e nas minhas pesquisas fui gravando alguns fados bailados e romances tradicionais, canções narrativas que o povo em certas ocasiões intitula de fados. Em relação aos fados bailados tinha a ideia de serem fados vindos de Lisboa, mas integrados na tradição rural. Gravava, entrevistava. Sucedeu, então o seguinte: desde sempre as canções narrativas, que são sucedâneos dos romances, tinham para mim um certo sabor a fado, uma toada que me lembrava o fado e que me incomodava. E interrogava-me: mas que raio, venho eu para aqui, para uma aldeia desconhecida de Miranda do Douro ou da Beira O Fado, no seu Alta, ou do Douro Litoral ou do estado primitivo era Alentejo e ouço umas velhotas uma canção que cantar à maneira do fado. E pensacontava uma história, va que era uma forma de cantar era um poema influenciada já pelos artistas na narrativo. rádio, que cantavam daquela maneira e elas davam-lhe aquela toada. Até que um dia, há sempre um dia, estando na Beira Alta, onde gravei, durante uma tarde inteira, uma velhota que cantou uns sete ou oito romances, todos diferentes, com melodias também diferentes, todas com balanço e sabor a fado, e garantindo que já a avó e a bisavó cantavam exactamente assim. Teve aí a primeira sensação de ter feito uma descoberta? Ao sair dali, ao fim do dia, tudo aquilo ressoava na minha cabeça. E lembrava-me de um concerto de jazz de Miles Davis e Dizzy Gillespie em Cascais, e de no dia seguinte aquela música continuar a ressoar na minha cabeça. Aconteceu o mesmo com os romances que escutei daquela velhota, aquele sabor a fado... e, de repente, pensei, se ela me garantisse - como outras que gravei me garantiam - que tinha aprendido daquela maneira, da tradição oral… porque é que isto tem de ser de Lisboa? E porque não, antes, um prolongamento dos romances? Foi uma revolução completa no meu espírito.
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A investigação assumiu, a partir daí, outro rumo? Decidi direccioná-la, e fi-lo durante mais de vinte anos, para a pista dos ceguinhos e para os romances tradicionais de todo o país. E entrevistei grupos de cegos que tinham uma vida absolutamente extraordinária. Por exemplo, um grupo de Vinhais, que é paradigmático, de dois cegos com dois ou três não cegos, vinha numa carroça, puxada por mulas, a partir de Março, para as feiras. Estacionavam também em Lisboa na Feira da Luz, andavam também na Baixa, nas ruas, iam até ao Alentejo e, em Outubro, regressavam. E cantavam o quê? Eram os fados de faca e alguidar, as histórias de dramas e tragédias que conheciam ou que os seus acompanhantes liam no jornal. O cego fazia a letra, encaixavam nalguma música que já sabiam ou noutras músicas da tradição oral. E a conclusão a que cheguei foi a de que o Fado, no seu estado primitivo era uma canção que contava uma história, era um poema narrativo. Aliás, a primeira definição histórica de Fado dicionarizada é de 1878, no Dicionário de Moraes, que diz "Fado - poema do vulgo de carácter narrativo em que se narra uma história real ou imaginária de desenlace triste, ou se descrevem males, a vida penosa de uma certa classe, como no fado do marujo, da freira, etc. Música popular com um ritmo e movimento particular, que se toca ordinariamente na guitarra e que tem por letra os poemas chamados fados ". Ou seja, de início, o fado era a história só depois é que se tornou uma música. A evolução para os diferentes tipos de fado vai acontecer, entretanto, em Lisboa… Em Lisboa, claro, havia mais casas de esmoler e mais público e foi, na verdade, em Lisboa que os fidalgos descobriram os fados já na fase da taberna, porque os cegos e os músicos de rua cantavam também nas tabernas. Os taberneiros davam-lhes a sopa e a dormida na carvoaria e eles cantavam à noite para a clientela. Mas durante o dia davam as suas voltas, cantavam as suas histórias e também coisas para bailar e, às vezes, duelos cantados ou ao desafio. Essa evolução, da fase popular e espontânea do Fado para a artística e literária, começa ainda no século XIX? Foi quando o Conde Vimioso e outros fidalgos
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descobriram o lado pitoresco do Fado e levaramno para os Salões, onde a Severa também cantou, levada pelo Vimioso. Aquilo caía mal…Diz Tinhorão que a burguesia se apropriou de uma coisa popular, coisa horrível…Eu digo: ainda bem que a nobreza gostou, porque senão acontecia ao Fado o mesmo que ocorreu com outros géneros populares. Teria morrido, teria ido para o caixote do lixo da História. Em suma, a nobreza reabilitou o Fado e, depois, a classe média, como a nobreza estava acima e gostava, começou a imitá-la. Na verdade, se não fosse a nobreza ter achado graça a classe média nunca teria adoptado algo que vinha do povo. Aí o Fado começou a abrilhantar os serões familiares e seguiu, mais tarde, para a revista, assumindo a forma artística. Isto ainda na segunda metade do século XIX. A Severa morre em 1846. Ele começou a cantar nos salões no começo da década de 40 e será a partir daí que entra em moda. A sua tese parte, então, do princípio de que a origem está na província? Não, eu não digo que nasceu na província e veio para Lisboa. Nasceu, sim, de um substrato comum a toda a comunidade nacional, a todo o país e que, mais tarde, cristalizou de formas diferentes em Lisboa e em Coimbra. A tese de uma certa influência árabe também não é aceite por si…mas os árabes estiveram durante vários séculos entre nós e as suas raízes permanecem quer na língua quer noutros aspectos da sociedade portuguesa. E o canto tradicional árabe é igualmente dolente, melancólico e conta histórias… Não podemos dizer que a dolência de uma canção seja necessariamente árabe. Não é uma característica exclusiva dos árabes. Foram expulsos de Portugal em meados do século XIII e do resto da península em finais do século XV. Mas a música que hoje conhecemos do Fado e, eventualmente do século XIX, através de recolhas da tradição oral não tem nada sequer a haver com a música dos séculos XIII, XIV ou XV. A evolução das formas musicais vai-se adaptando ao gosto musical de cada época. A forma musical do século XVI é completamente diferente da do século XIX., quer a nível erudito quer a nível popular. A nível erudito também há uma tradição que os compositores herdam de uma geração anterior. Mas essa tradição não radica também na
adopção e prática pelos povos de uma determinada expressão musical? A nível popular, dentro da oralidade, o povo, como entidade colectiva não cria nada. A criação colectiva é um mito. A criação é necessariamente individual. O criador popular cria em função de uma herança, de um paradigma musical que herda e com base no qual compõe. Faz, assim, evoluir a música popular que vai evoluindo também ao longo dos tempos conforme os gostos e as modas. Tal como acontece na música erudita. Beethoven compôs da forma que compôs por que antes dele houve Mozart e Hayden e, antes destes, houve Bach e Monteverdi. A tradição erudita também proporciona aos compositores individuais uma herança colectiva dentro da qual eles compõem e avançam. Da tradição popular conhecemos o que veio da Idade Média, eventualmente com influências árabes, mas depois temos a Renascença, Há A nobreza peças eruditas da Renascença que reabilitou o Fado e, necessariamente ditam o gosto depois, a classe para a música popular. Veja-se o média, como a século XIX: temos as valsas de nobreza estava acima Strauss e de outros compositores e gostava, começou a eruditos anteriores que mais tarde imitá-la. se popularizaram e que maestros de bandas filarmónicas também compuseram. Ou seja, a estrutura da valsa, da polcas, da contradança, da mazurka, existe a nível erudito, mas, depois, e pelo fenómeno da imitação, os músicos semi-eruditos vão adoptá-la ao nível popular. O povo capta e vai transformando com harmónicas, com violas, etc. Portanto, toda esta mistura, toda esta evolução é que gera a música popular. Como explica a diversidade no Fado - corrido, mouraria, menor, tango, rigoroso, viana, vitória, coimbra, canção… O Fado recebeu, ao longo do tempo, os contributos mais variados. Como disse, há pouco, ele virou moda e passou à Revista e, neste contexto, a vaga do Fado é total, toda a gente gostava de Fado. Passou-se o mesmo com a polca na Europa central. Foi a polcamania, os chapéus e coletes à polca. Era moda e vendia, como hoje se diria. Os compositores semi-eruditos do final do século XIX receberam o fado mas tinham toda a escola das tunas, das bandas e compunham marchas,
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valsas, polcas, mazurkas e por aí fora, de tal modo que nos primeiros discos punha-se o título da canção que dizia fado-marcha, fado-valsa, fado-polca…e a partir daí o fado recebe inúmeros contributos. Depois de escrever o livro sobre as Tunas do Marão, encontrei o Benjamim Pereira, último representante da grande escola da Etnologia portuguesa - os outros, Ernesto Veiga de Oliveira, Jorge Dias e Fernando Galhano, já morreram num restaurante de Vila Verde. Perguntou-me o que estava agora a fazer e respondi-lhe que andava às voltas com a origem do Fado. "O Fado? 20
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interrogou-se - Então tu, um investigador da música rural estás agora a perder tempo com o Fado". Ele tinha, como Lopes Graça uma visão negativa do Fado. Confessei-lhe que nunca andara à procura das raízes do Fado, mas que elas é que vieram ter comigo. Benjamim Pereira declarou-se "fascinado" com a leitura do seu livro e sublinha no prefácio que ele "demonstra a fragilidade da base de sustentação" da tese afro-brasileira". A minha tese é a primeira que diz: não há mistério no assunto. O Fado provém directamente de um género poético - musical popular que é o
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romanceiro tradicional. Depois, nem a tese de Ruy Vieira Nery nem qualquer outra consegue explicar e que considero importantíssimo, que é a origem da palavra. Porque é que se chamou Fado a uma dança brasileira? Na minha investigação ouvia pessoas que diziam: fulano canta fados de feira, fulano canta fados da Bíblia histórias da Bíblia. Colhi no Dicionário de Bluteau (1827) um provérbio popular que diz o seguinte: "Põe a mão no teu seio/ não dirás do fado alheio". Trata-se de um conceito - ao contrário do fado/destino em Camões - mais prosaico, de episódios de vida, desfechos, casos de vida. Um ceguinho de feiras anunciava o seu produto deste modo: "Escutai agora o triste fado da Isaurinha que se deixou enganar …", etc. Depois o povo pedia, Ti Chico cante aí o fado da Isaurinha. Os primeiros fados tinham o nome da principal personagem, porque eram histórias de vida, eram narrativos. Esta é a origem da palavra. Gostava já nessa altura do Fado? Não, não gostava particularmente do Fado. Bebia também essa influência do Lopes Graça. Na realidade, a minha geração desprezava o Fado. Era para nós, do ponto de vista estritamente musical, uma coisa menor. Lopes Graça desprezava a pobreza musical do Fado. Ficou, naturalmente, feliz pela decisão da Unesco de considerar o Fado património da humanidade… Claro, é muito importante, sobretudo porque reconhece internacionalmente um fenómeno popular. Os fenómenos populares são pouco reconhecidos quer a nível nacional quer a nível internacional. Qual foi a reacção à sua obra, nomeadamente dos que defendem teses diferentes? Sabe, em Portugal vive-se das capelinhas. A tese afro-brasileira tem um grande defensor, o Ruy Vieira Nery, que tem os seus pergaminhos académicos e, como tal, não gosta de ver as suas ideias postas em causa. E, naturalmente, reagiu mal. Para ele, o meu livro é péssimo. O Fado tem recebido, diz ele, os contributos mais variados e notáveis, de historiadores e investigadores, excepto num caso, o meu. Escreveu isso no "Jornal de Letras". Claro que o meu era o mau porque punha em causa a sua tese. A maioria não se pronuncia sobre a questão das origens, pois não há estudio-
sos que tenham aprofundado a matéria. Não questionam, e como tal são recebidos pelos académicos com toda a reverência. E a reacção por parte do meio, dos fadistas? Da parte dos fadistas e do meio fadista tenho recebido os melhores elogios, até entusiásticos. É curioso analisar isto. Os fadistas não são particularmente estudiosos. A Amália, por exemplo, teve um grande desgosto quando lhe disseram que o Fado não vinha do tempo de Afonso Henriques. Para ela tratava-se de uma canção nacional. Os fadistas não são estudiosos nem teóricos, mas têm a intuição de quem conhece a música e o Fado por dentro. E nunca engoliram essa Os fadistas não história afro-brasileira porque são teóricos, mas têm sentem que não é possível. Aliás, a intuição de quem a tese brasileira nunca explica conhece a música e o como é que uma dança se transFado por dentro. E forma num canto dolente, não nunca engoliram essa explica nem pode explicar. É história afroinexplicável. Os fadistas têm aqui brasileira… também uma certa dose de nacionalismo por verem que afinal o Fado é português, é nosso. Eu digo-lhes que não é por isso, não Tive a felicidade é uma questão de nacionalismo, de ser colaborador da mas para eles o importante o saber-se que é português. Inatel no tempo de Costuma ir aos Fados? Tomás Ribas, um Houve um período nos anos 90 homem do folclore. em que fui frequentemente, ao Fizemos colóquios Bairro Alto, à Bica, a colectividapor todo o país… des populares. Agora tenho ido menos, mas espero voltar. Algum(a) fadista que aprecie particularmente? Dos novos, gosto da Ana Moura, da Teresa Tapadas. Dos veteranos, ainda vivo, aprecio muito o João Braga, o João Ferreira Rosa…o Carlos do Carmo tem uma belíssima voz mas acho que é sobretudo um belíssimo cantor. A maioria das suas peças não são fados. Há tempos, pediram-me, do "Expresso" que escolhesse dez fados. Estive uma tarde inteira às voltas com a tarefa e escolhi quatro narrativos do Frutuoso França, do Linhares Barbosa, do Britinho, outro da Lucília do Carmo, um corrido menor do Marceneiro, o fado corrido da Maria Teresa Noronha, um mouraria também do
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Marceneiro e, claro, o "Povo que Lavas no Rio" da Amália. Terminou com este livro a sua investigação sobre a origem do Fado? Tenho outros projectos em curso. Sairá em breve um livro sobre as danças populares do Corpus Christi de Penafiel e continuo a investigar. Tenho um grande arquivo e tenciono editar outros trabalhos. Gostava, claro, de investigar mais o Fado, Pesquisei, até para sustentar melhor algumas durante 35 anos, por fragilidades que este livro necestodo o país, a nossa sariamente tem. Irei fazê-lo aos tradição poucos, consoante a minha vida musical… profissional também o permita. Tem vasta obra publicada no âmbito da etnologia, não será fácil conciliar a vida profissional de jurista com a investigação… Os meus clientes fazem-me, muitas vezes, essa pergunta. Publiquei um livro sobre as tradições musicais da Estremadura que tem mais de 700 páginas. "Como é que o sr. tem tempo para isto tudo?". A minha advocacia, não sendo centrada em Lisboa, não deixa de ser mais absorvente que a de Lisboa. Mas o tempo organiza-se. Tive necessi-
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dade de comprar, durante décadas, muitos livros em alfarrabistas. Não podia dar-me ao luxo de consultas na Biblioteca Nacional. Constitui uma biblioteca muito grande e exaustiva de etnografia portuguesa que tenho em casa. Se não fosse isso, a alternativa era a Biblioteca Nacional. Depois estabeleci, durante as férias e, em alguns fins-de-semana, expedições musicais a determinadas regiões do país. Fiz isso ao longo de 35 anos. E a família? Cheguei a levar os meus filhos, um de cada vez. Depois eles cresceram. Pude, assim, conhecer a tradição musical de todo o país. Tive ainda a felicidade de ser colaborador da Inatel no tempo de Tomás Ribas, um homem do folclore. Fizemos colóquios por todo o país com o Pedro Ferré, a Madalena Farrajota e também o Mesquitela Lima. Isso deu-me um conjunto de conhecimentos de terreno, teóricos e de ranchos folclóricos muito interessantes. E escrevo geralmente à noite, depois de jantar. Gosta de Fado, mas não de Futebol… Gosto, gosto, mas não tenho a Sport TV. Vejo alguns jogos mais importantes em canal aberto, mas não tenho o vício…nem posso ter, porque não teria tempo para outras coisas. Conheceu Amália? Não, e tenho pena. Fiz algumas tentativas mas não foi possível. Mas cito no livro uma entrevista muito interessante que ela deu ao "Independente", feita por Paulo Portas e ao Miguel Esteves Cardoso. Á pergunta sobre quando começou a cantar o Fado, ela fala de uma viagem, aos 12 anos, num cacilheiro e diz: "lembro-me do barco. Cantei um fado que os ceguinhos cantavam (eu aprendi o fado pelos ceguinhos), cantei aquilo tudo. No barco toda a gente chorava…". Amália a corroborar a sua tese É um testemunho importante…Mesmo Vieira Nery admite que os ceguinhos cantavam fados, mas, no seu entender, aprendiam em Lisboa e levavam-no para a província…Veja bem! Sabe que a Amália e Zeca Afonso encontraramse uma única vez, em 1984, num convívio do Clube de Jornalistas, e Zeca teve palavras de muita admiração pela arte de Amália… É natural. E, repare, ele começou a cantar o Fado quando estava na universidade e cantava belissimamente fado de Coimbra. n Eugénio Alves (texto) José Frade (fotos)
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Marrocos nunca foi um destino convencional da emigração portuguesa. Mas há, actualmente, muitos quadros portugueses a trabalhar na região, ainda que com "um pé cá e outro lá", a par de gente que investiu a longo prazo e está no país vizinho de pedra e cal.
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Vista do novo aeroporto de Marraquexe. Na página da direita, de cima para baixo, embaixador João Rosa Lã, Carlos Silva e Fernando Monteiro
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liveira Martins referiu-se, a propósito das aventuras lusitanas no norte de África, nos séculos XV e XVI, ao carácter instável da presença portuguesa naquelas terras: "Ficávamos nas praças de Marrocos como a bordo das nossas naus; porém, as naus iam, vinham livremente pelos mares (...), ao passo que as praças de África eram pontões imóveis, ancorados, constantemente batidos pelas vagas da mourama tempestuosa...". Os tempos e os contextos que enquadram o regresso dos portugueses a esta África próxima, cinco séculos depois, são diferentes e descrevem-se com as mesmas pinceladas com que são descritas as mudanças globais nas últimas décadas. Globalização económica, deslocalização de empresas multinacionais, maior circulação de capitais de investimento, maior mobilidade de pessoas e tecnologias, eis as condições contemporâneas que contextualizam a presença de empresas e quadros portugueses em Marrocos. O contexto é, também, o de uma crise que estimula os portugueses a partir. Marrocos mantémse, por ora, a salvo das actuais turbulências,
graças em certa medida aos investimentos públicos em curso, que têm contribuído para dinamizar a economia. Muitos são os projectos desse tipo em que se envolvem empresas lusitanas ou multinacionais deslocalizadas de Portugal para Marrocos, o que levou à constituição de uma pequena comunidade de portugueses. Ao contrário do que acontecia nos tempos evocados pelo historiador, é uma comunidade razoavelmente enraizada, capaz de construir laços e pontes interculturais. Mesmo se a proximidade e as actuais vias de comunicação permitem deslocações frequentes a Portugal.
Um pé cá e outro lá Marrocos nunca foi um destino habitual da emigração portuguesa. A actual presença lusitana é protagonizada fundamentalmente por quadros superiores, ao serviço de empresas portuguesas ou de multinacionais deslocalizadas para o país vizinho, onde os salários e custos de produção são mais baixos. Há, também, alguns empresários, estabelecidos sobretudo em Rabat e Casablanca.
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O embaixador de Portugal em Marrocos, João Rosa Lã, sintetizando os factores de atracção dos investimentos portugueses, salienta que "com a abertura económica e a modernização começada no reinado de Moahamed VI surgiram mais oportunidades de negócios e o país constituiu-se num grande estaleiro de obras". Foi nestas circunstâncias que avançaram para Marrocos muitas empresas lusitanas (cerca de centena e meia), "que intervieram em vários sectores, da construção civil aos têxteis, da indústria de componentes para automóveis às telecomunicações, fundando a segunda rede de comunicações móveis, e realizando muitas obras públicas". Exemplos da presença portuguesa nesse domínio: a construção de um grande túnel e de um sector da auto-estrada Casablanca-Agadir, de barragens, de um troço de linha de caminho de ferro no norte, a electrificação de vias-férreas, trechos da auto-estrada Fez-Oujda. "Em toda a parte há grandes obras feitas por portugueses", nota o embaixador, que crê que o ritmo deve abrandar. "A euforia da construção está a acabar e há empresas portuguesas estão a descobrir outros sectores", acrescenta. Mas há, ainda, grandes obras em curso ou a iniciar-se em breve. É o caso da construção da linha de TGV, para a qual empresas portuguesas ganharam alguns concursos. A criação da zona franca de Tânger atraiu empresas lusitanas, além de multinacionais. Foi neste quadro que "na última década, a presença portuguesa começou a caracterizar-se por homens de negócios, quadros de empresas e trabalhadores", contrastando com o panorama nos anos 60 do século passado, quando a comunidade portuguesa era constituída sobretudo por exilados políticos e pescadores. "Os primeiros regressaram a Portugal, mas da comunidade de pescadores restam ainda algumas pessoas, gente modesta na maior parte". Actualmente, a comunidade portuguesa "é muito volátil" e, frequentemente, a perspectiva destes quadros, num contexto de maior mobilidade, é a de não se verem como emigrantes. "Não se inscrevem no Consulado e não se consideram emigrantes". Serão à volta de 1500, segundo o embaixador, e uma parte desloca-se frequentemente a Portugal, para manterem contacto com a família. Se há casos de portugueses estabelecidos em Marrocos há muitos anos, as actuais experiências de expatriados portugueses no país vizinho são mais JAN 2012 |
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Diáspora
Metro de Rabat e, à direita, estação ferroviária de El-Jadida
caracterizadas por uma situação do género "um pé lá e outro cá".
Portugal mora ao lado Um caso típico da presença portuguesa em Marrocos é a de Fernando Monteiro, engenheiro dos quadros de uma multinacional que deslocalizou uma fábrica para Marrocos e lá foi abrindo, entretanto, outras. Está a trabalhar no país há cerca de oito anos, entre Kenitra e Tânger, onde estão localizadas as unidades fabris Dá apoio na formação técnica para novos projectos de produção, entre outras actividades. A experiência de trabalho no Maghreb cedo mudou a perspectiva que tinha do país: "A primeira vez que vim a Marrocos disse que não regressaria. Um ano depois convidaram-me para vir trabalhar cá e não estou arrependido". O ambiente social e cultural causou alguma estranheza inicial, mas foram nuvens de pouca dura. "Sinto-me bem, tenho muito bons relacionamentos com as pessoas daqui". A desempenhar funções semelhantes, Fernando Monteiro já passou pela Ucrânia, Roménia, Eslováquia e Tunísia. Mas não hesita na comparação com essas experiências europeias: "Eu dou-me melhor aqui". Trabalha actualmente com uma equipa plurinacional que integra trabalhadores marroquinos, lituanos e romenos. Fernando Monteiro tem residência em Marrocos, mas desloca-se, em média, uma vez por mês a Portugal. Sempre de automóvel, graças à mobilidade facultada pelas auto-estradas, que permitem uma ligação "rápida" entre Algeciras e o
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norte de Portugal, a sua região de origem. "Em todos estes anos só fiz uma viagem de avião". O desenvolvimento das comunicações atenua claramente o "exílio" e não é a distância que o impede de se sentir próximo da família: "Todos os dias ligo para casa e contacto com colegas de Portugal".
Portugal: mais dificuldades do que compensações Um dos casos mais exemplares de longa permanência em Marrocos é o do empresário Carlos Silva, que reside há cerca de dezassete anos em Rabat. Está à frente de uma empresa de captação de água que utiliza tecnologias de ponta e tem como principal cliente o Estado marroquino. É uma empresa líder de mercado, que emprega cerca de 70 trabalhadores. "Marrocos é um país onde há ainda muito por fazer", diz, recordando ao mesmo tempo que em Portugal há "excesso de oferta e pouca procura". O volume de obras públicas em Marrocos representa um factor de atracção de empresas estrangeiras e as condições são actualmente melhores do que eram antes para o investimento estrangeiro. "Antigamente, havia barreiras que impediam as empresas estrangeiras de investirem livremente. Hoje há redução de impostos, há menos barreiras, mas não quer dizer que seja fácil. O mercado parece estar aberto, mas existem barreiras invisíveis". Se, por um lado, a nível burocrático, as condições são as mesmas das empresas marroquinas, há outros contratempos, que decorrem de "choques culturais".
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“Vim por dois ou três anos e acabei por ficar…” O envolvimento de empresas e quadros
anos em Marrocos, em Casablanca.
portugueses em Marrocos teve um
"Vim por dois ou três anos e acabei por
incremento significativo nos últimos
ficar". Quanto à forma como os
anos. Daí a necessidade de fundar a
portugueses vivem a experiência de
Associação de Negócios Portugal-
trabalho no país, fala de uma prática de
Marrocos, em finais de 2007. O objectivo
ligação ininterrupta com Portugal. "Há
genérico da associação é, nas palavras
muitos portugueses que encaram isto
do seu presidente, José Maria Teixeira,
como se fossem do Porto e
"apoiar as empresas portuguesas que
trabalhassem em Lisboa". Di-lo a
estão a apostar no país, as empresas
propósito da integração social e cultural
marroquinas que estão interessadas em
no país de acolhimento e de trabalho, e
investir em Portugal e, também, os
do efeito desse modo de estar: "O tempo
quadros portugueses que estão em
livre que teriam para desenvolver
funções na direcção de multinacionais
relacionamentos fora do trabalho vai
instaladas em Marrocos". Entre as
para a família e para as viagens". A sua
acções levadas a cabo pela associação
atitude foi sempre outra, contrariando
contam-se conferências, uma semana
que o mercado aqui é mais complexo, é
um fechamento cultural e social. "A
gastronómica e a apresentação do filme
preciso perceber como funciona". O país
minha experiência de vida de expatriado
"Fados", de Carlos Saura. "Tentamos dar
exige uma outra abordagem dos
mostra que o expatriado clássico tende
a conhecer Portugal e proporcionar
investidores: "Percebeu-se que é preciso
a ligar-se apenas ao meio dos
contactos profissionais".
ter uma visão de futuro. Houve apostas
expatriados. Mas eu procurei sempre
As informações disponibilizadas pela
mal feitas, para ganhar posições de
ligar-me às pessoas do local, e isto
associação podem ser de grande valor
mercado a curto prazo".
facilita o sentimento de se estar bem no
para os investidores lusitanos: "Durante
José Maria Teixeira esteve até algum
país". Para além das relações de
algum tempo, a internacionalização das
tempo atrás na situação de expatriado
trabalho, esse é um domínio
empresas portuguesas foi mais para os
temporário, como responsável por uma
fundamental de integração: "Todos os
PALOP e para Espanha. Quando se
multinacional na zona do Maghreb. Nas
países são bons a partir do momento
pensou em Marrocos, pensou-se na
mesmas funções passou por
em que temos uma rede de amigos e de
facilidade. Mas começou-se a descobrir
Moçambique e pelo Egipto. Está há treze
contactos sociais". n
Carlos Santos acrescenta que só com determinação é possível ultrapassar esse tipo de obstáculos, o que nem sempre acontece com algumas empresas portuguesas, que desistem ao fim de algum tempo. "A minha empresa tem sucesso porque não nos acomodamos à maneira mais fácil de fazer as coisas. Por vezes não é o caminho mais curto, mas é o que leva mais longe". A prudência e a descrença em vitórias fáceis acompanham o percurso deste empresário português em terras onde outrora Portugal teve a sua maior derrota militar: "No meu caso, a estratégia foi crescer devagar e ir aprendendo; agora, a estratégia é não crescer mais, para não
acontecer o mesmo que vi acontecer com outras empresas". Não obstante as dificuldades, Carlos Silva afirma-se satisfeito com a vida que tem em Rabat, "muito mais tranquila do que em Portugal", que visita ocasionalmente, em negócios ou para rever a família. É em Marrocos que tem a sua residência, e é aí - e em França - que os filhos fazem os seus percursos escolares. "Sinto-me bem aqui, sou feliz em Marrocos, faço o que gosto de fazer. Há dificuldades aqui, mas tenho compensações. Em Portugal há outras dificuldades, mas neste momento não há compensações". n Humberto Lopes (texto e fotos) JAN 2012 |
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Aventura
Caça ao tesouro do Geocaching Um Indiana Jones dos tempos modernos à procura de pequenos tesouros escondidos pelo mundo fora.
É
mais ou menos isto que é um geocacher, ou seja, alguém que pratica a atividade de lazer conhecida por geocaching, um jogo criado em Maio de 2000 pelo norte-americano Dave Ulmer e que tem conquistado milhares de fãs em todo o mundo. Portugal não é exceção. O geocaching não é nada mais do que um upgra-
de dos jogos de caça ao tesouro da nossa infância, em que com uma bússola e um mapa partíamos com os amigos à descoberta de um tesouro que os nossos pais tinham escondido, normalmente uma caixa com brinquedos ou doces. A caça ao tesouro, que parecia em desuso, continua a existir e agora numa versão hi-tech para miúdos e graúdos.
Descobertas É com a ajuda de um GPS que se joga ao geocaching. No site da Groundspeak - www.geocaching.com - onde qualquer pessoa se pode registar, estão registadas mais de um milhão e quinhentas mil caches e em Portugal existem mais de oito mil. No mundo inteiro existem cinco milhões de geocachers, doze mil só no nosso país. O site fornece uma lista de caches, que basicamente são caixinhas ou tupperwares, com as respetivas coordenadas para introduzir no GPS e tentar a sua sorte à procura desse pequeno tesouro. O que encontra lá dentro? Um logbook para efetuar o registo e, se a cache tiver uma boa dimensão, alguns brindes ou souvenirs para troca. Ao mesmo tempo que procura esses tesouros, descobrem-se novos monumentos, locais e um pouco da história. "Nasci e cresci em Lisboa, mas quando comecei a fazer geocaching, há quatro anos, descobri algumas esplanadas, praças e pormenores da cidade que nunca tinha visto", recorda António Valente, de 58 anos, conhecido no mundo do geocaching por Wolfraider. Hermínio Veiga, de 51 anos, tem uma opinião semelhante. Este oficial da Marinha, conhecido por SawCastro, sempre foi um apaixonado pela Serra da Arrábida, mas após o geocaching redescobriu os encantos escondidos deste património natural. "Desde pequeno convivi de perto com 30
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Aventura
esta Serra, mas nunca como desde que iniciei a prática do Geocaching a conheci tanto e tão intimamente. Vistas maravilhosas, grutas esquecidas, caminhos quase impenetráveis, rochedos majestosos, escarpas desafiadoras, praias fantásticas e muito mais", conta à Tempo Livre. Há tesouros escondidos que põem a resistência física do geocacher à prova, fazendo-os sentir estarem a viver as aventuras do filme "Os Salteadores da Arca Perdida", como a cache "SaltaDouro", no Gerês, que exige descidas de rappel, canyoning e escalada perto de cascatas, num percurso que pode durar mais de cinco horas. António Valente passou pela experiência e considera-a a cache "mais difícil" que já fez.
Arte e engenho Porém, nem todas as caches obrigam a este esforço. As citadinas, por exemplo, exigem arte, engenho e, sobretudo, discrição ao estilo do "Inspetor Gadget". O importante é evitar chamar 32
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a atenção dos muggles, as pessoas não praticantes desta atividade. Na zona da Grande Lisboa existem centenas de caches escondidas, algumas em locais onde todos os dias passam milhares de pessoas que nem desconfiam que ali se esconde um pequeno tesouro, como no Miradouro de São Pedro de Alcântara, na Praça Luís de Camões ou no Panteão Nacional. Matthias e Simone Lange, que usam o nickname Rote Teufel, estiveram recentemente em Lisboa de férias e durante quatro dias aproveitaram para descobrir 30 caches. Este casal alemão pensa que foi uma boa forma de conhecer a capital portuguesa. "Essa é a razão pela qual fazemos geocaching. Conhecermos locais novos, mas não da maneira como faria um turista. Vemos com os mesmos olhos de um nativo e, graças a isso, conseguimos ver muito mais do que um simples turista". O casal elege "Passeio à beira Tejo", no Parque das Nações, a sua cache preferida. Matthias e Simone revelam à Tempo Livre que já visitaram
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"27 países por causa do geocaching" e que têm feito imensas amizades. Também António Valente, que esteve de férias este verão na Dinamarca, não resistiu a alimentar o "vício" com um grupo de amigos. "Fizemos 24 horas de geocaching sem parar e descobrimos 255 caches, um recorde nacional", conta este professor de educação física, que soma 5908 caches, algumas delas feitas com os seus alunos, valendo-lhe o quarto lugar do ranking. "É um passatempo, mas às tantas começamos a trabalhar para os números e dá gosto ser o primeiro a abrir o logbook e escrever FTF (First to Find)". O geocacher Prodrive é o líder nacional, com cerca de 7000 caches encontradas. Por outro lado, quem detém mais caches escondidas, conhecidos como Owners (proprietários), é o Eterlusitano, com 268. Hermínio Veiga está na oitava posição do ranking e diz que não sofre da "febre" de ser o primeiro a fazer FTF, mas que já cometeu algumas loucuras nesse sentido, como "sair às duas da
manhã de casa porque foram publicadas duas caches na Mata da Machada e ir para o meio do mato de lanterna à procura delas ou acordar às cinco da manhã para ser o primeiro a chegar a uma cache publicada na Arrábida na noite anterior". A corrida para ser o primeiro é incentivada pelo próprio filho, mas o resto da família partilha o gosto pelo geocaching. SawCastro é muitas vezes acompanhado pela mulher quando vai à "caça", mas não é o único que gosta de fazer em família. Nuno_Ka,
Todas as idades… Tigre_das_Arábias e Lufi69 são outros exemplos e partilham a visão que esta é uma atividade para qualquer idade. Dependendo do grau de exigência, Luís Semião (Lufi69) gosta de contar com o filho de 10 anos, considerando-o "um excelente compincha para encontrar tupperwares". O geocaching também serve de desculpa para ir passar alguns dias fora. "Já aproveitei as instalações da Inatel do JAN 2012 |
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Aventura
Glossário l
Cache - Caixa ou tupperware escondido
l
DNF - Did Not Find. Acrónimo usado quando um geocacher não encon-
tra a cache escondida l
FTF - First to Find. Acrónimo utilizado pelo geocacher no logbook físico e
virtual de uma cache, para assinalar o facto de ser o primeiro a descobrir l
Geocoins / Travel Bugs (Trackables) - Items colecionáveis adquiridos no
site www.geocaching.com que se deixam nas caches para troca; o seu percurso pode ser registado e acompanhado online l
Ground Zero (GZ) - O ponto onde o nosso GPS indica que chegámos às
coordenadas da cache l
Logbook - Bloco de papel obrigatório na cache para o geocacher regis-
tar fisicamente a sua visita l
Muggle - Não geocacher. Baseado na expressão "Muggle" dos filmes de
Harry Potter que designa um não mágico l
Spoiler - Informação em texto ou fotografia que pode revelar a localiza-
ção exacta de uma cache, "estragando" assim o prazer de a descobrir l
TFTC - Thanks For The Cache. Acrónimo usado pelos geocachers no log-
book físico e online para agradecerem mais uma cache descoberta com sucesso 34
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Luso e de Cerveira para passar miniférias, incluindo no roteiro o geocaching", acrescenta. Já Ricardo Manuelito (Tigre_das_Arábias) parte à aventura com a mulher, os três filhos e até "um batedor de quatro patas" que chama amigavelmente de Geocão. "O geocaching tem o cuidado de identificar as caches aconselhadas a crianças e as que não são, logo podemos planear sempre as nossas viagens a pensar em todos". Este vigilante, de 32 anos, sente que as relações familiares se fortalecem com esta atividade, por aliviar o stress dos adultos e retirar os mais pequenos do mundo "virtual" das consolas. Nem um bebé recém-nascido está impedido de fazer geocaching. Nuno Almeida, conhecido por Nuno Ka, foi pai de Lourenço há cerca de ano e meio e com apenas três dias de vida o pequeno KAzito, como "batizou" o pai, já estava a registar a primeira cache à porta do Hospital São Francisco Xavier. Na verdade, o geocaching começou ainda na barriga da mãe, que na véspera do parto andava com o marido à procura de caches. "Estava em Belas quando senti contrações. No dia seguinte entrei no hospital e o bebé nasceu", recorda Ana Almeida, de 32 anos, que até já teve a ideia de criar o evento GeoBaby para juntar "os muitos geocachers que levam os filhos". Desde então KAzito já acompanhou os pais em mais de duas mil caches. "Há quem faça isto pelos números, eu faço pelo convívio da família. Antes de conhecermos o geocaching ficávamos em casa a ver filmes, a partir do momento em que começámos a fazer nunca mais ficámos em casa", diz Nuno Almeida, de 34 anos, que mesmo assim ocupa o 16º lugar na hierarquia nacional com cerca de 4200 caches. Como resume Hermínio Veiga, há "geocachers desde o colo da mãe até ao avô com o neto às cavalitas e todos se divertem". n HMC (texto) HMC e D.R. (fotos)
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Prazeres
A “Veneza do Norte” Bruges é considerada uma das cidades mais bonitas da Europa e desde 2000 que o seu centro histórico é Património Mundial da Unesco.
C
om inúmeros canais, é alcunhada de "Veneza do Norte" e atrai todos os anos milhares de visitantes. Jóia da coroa da Flandres, é perfeita para descobrir a pé ou de barco. Tem como uma das principais atracções turísticas a bonita praça central onde fica o campanário, Belfry, símbolo da cidade. Foi construído no século XIII, tem 88 metros de altura e no seu topo tem um carrilhão com 47 sinos. Vale a pena subir os 366 degraus e desfrutar de uma vista completa sobre a cidade É nesta praça que desde o ano 958 se realiza todos os Domingos uma grande feira. Ao redor da praça, bonitas casinhas alinhadas, de fachadas coloridas, albergam restaurantes e cafés. Muito perto, na Praça Burg, a Câmara Municipal e a Igreja do Santo Sangue, são outros dos ex-libris da cidade. A câmara foi construída entre 1376 e 1420 e o prédio mais antigo de Bruges. Vale a pena visitar também a Catedral de São Salvador. A sua torre mantém-se intacta desde a Idade Média. Se gosta de pintura, não perca o Groeningemuseum, onde pode apreciar uma magnifica colecção de arte flamenga. Para os apreciadores de chocolate, Bruges é também o destino perfeito. Para além de ter um Museu do Chocolate, onde pode ficar a saber a história desta guloseima e provar algumas das
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suas variedades, tem ainda diversas lojas com chocolates de todas as cores e feitios A Chocolate Line é considerada das melhores.
Capital da Cerveja "Terra de cerveja e chocolate, de canais e charretes, Bruges é o sítio ideal para fazer um périplo pela história da cerveja. Se tiver tempo e vontade há mais de quatro centenas para provar." País da cerveja, por excelência, na Bélgica existem mais de 450 variedades desta bebida. Só em Bruges, pequena cidade medieval alcunhada de "Veneza do Norte", há mais de 80 cervejarias. Umas intimistas, outras mais barulhentas, umas modernaças, outras do mais tradicional possível. Mas (quase) todas com uma mística especial. Algumas apresentam listas com 400 rótulos disponíveis. Das pretas à loiras, às assim-assim, atenção à graduação, várias cervejas belgas chegam aos 11 graus. Nada que atrapalhe os belgas que dizem ter como lema: " beber uma cerveja quando a equipa ganha e também quando a equipa perde". Seja lá o lema ou a equipa que for, o que não se deve perder é uma visita às cervejarias de Bruges. Entre 80, seguem-se as cinco melhores.
2Be É uma três em um: esplanada, bar e loja. Fica mesmo à beira do canal e tem uma vista fabulosa, cenário ideal para meia dúzia de fotos. Logo à entrada, um grande painel expõe centenas de garrafas e copos de várias marcas de cerveja. À direita fica a entrada da loja, onde é possível comprar não só bebidas como também produtos belga gourmet, de bolachas a compotas, pickles ou chocolates. Ao fundo o bar dá acesso directo à esplanada. Há cerveja de garrafa, mas também de
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Prazeres
Vlissinghe
GUIA
histórico da cidade, à beira do canal e tem apenas 16 quartos, cada um
Datada de 1515, reza a história que esta é a cervejaria mais antiga de Bruges. Ideal para os dias quentes, tem um agradável jardim nas traseiras, onde é possível relaxar ao sabor de uma Poeperings Hommelbier, considerada uma das melhores entre as novas cervejas que surgiram nos últimos anos. Se a visita for de Inverno, na sala interior vale a pena admirar outro dos exlibris locais: a maior e também mais antiga lareira de Bruges. Se tiver fome, não deixe de provar as panquecas com gelado.
decorado à sua maneira. É considerado um dos hotéis mais
Encerra às Segundas e Terças. Ao Domingo está
românticos da Europa. Nas zonas comuns bem como em alguns dos
aberto das 10h00 às 19h00 e nos restantes dias das
quartos estão expostas valiosas obras de arte.
11h00 até sair o último cliente. Blekersstraat, nº 2
COMO IR A TAP voa três vezes por dia de Lisboa para Bruxelas. Tarifas à volta dos 100 euros por pessoa, já com taxas incluídas. No próprio aeroporto de Bruxelas pode apanhar o comboio para Bruges. A viagem dura cerca de uma hora e o bilhete custa 15 euros por pessoa. DORMIR No Boutique Hotel Relais Bourgondisch Cruyce. Fica mesmo no centro
Quarto duplo a partir de 210 euros. COMER Breydel De Coninck, considerado o melhor restaurante da cidade para comer a especialidade local, as Moules frites - mexilhões acompanhados de batatas fritas. Peça as à Provençal, em molho de vinho branco com pimento e cebola. Para sobremesa o gelado caseiro de caramelo é a cereja no topo do bolo. Preço médio por pessoa: 35 euros.
pressão, esta última servida em copos originais, em formato de cone. Para pousá-los é preciso recorrer a uma tábua de madeira com uns buracos. Aberto todos os dias das 11h00 às 19h00. Wollestraat, nº 53
Halve Maan Mais do que uma cervejaria, a Halve Maan é hoje em dia a única fábrica de cerveja que se mantém na cidade de Bruges. Em 1918 havia mais de 30 em actividade, mas aos poucos todas foram mudando para os subúrbios. Hoje, a Halve Maan é o sítio ideal para ficar a saber mais sobre a história desta bebida. Todos os dias, entre as 11h00 e as 15h00, há visitas guiadas de 45 minutos de duração, com direito a prova. Brugse Zot Blond é a cerveja mais recente da casa e para acompanhá-la há um menu composto de vários pratos cozinhados, também eles, à base de cerveja. O jardim é outro dos bons "spots" para aproveitar uma tarde de sol. Aberto todos os dias das 10h00 às 18h00. Walplein, nº 26 38
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Brugs Beertje Com uma lista de 250 cervejas e um ambiente muito especial, esta pequena cervejaria, de mesas de madeira e paredes forradas a anúncios antigos, é já um ícone da cidade. Mistura gente local com turistas e tanto avós como pais ou filhos. A média luz e a música em volume baixo compõem o ambiente, mais intimista do que boémio. Na Bruges Beertje aproveite para experimentar uma das cervejas da cervejeira Regenboog, uma jóia local muito difícil de encontrar. A maioria da produção é exportada, principalmente para os Estados Unidos. Acompanhe com um prato de queijos e enchidos da região. É servido com pão e salada. Encerra à Quarta-feira. Nos restantes está aberto das 16h00 à 1h00. Kemelstraat, nº 5
Cambrinus Entre todas as cervejarias existentes em Bruges, esta é a que tem a maior variedade de cervejas, cerca de 400 no total. Entre muitas especiais, destaca-se a La Rulles Estivale, considerada uma das melhores cervejas da província do Luxemburgo. Para acompanhar peça a entrada especial da casa - saladinha de camarão, melão com presunto, bacon com pinhões e arenque de marinada. Está aberto todos os dias a partir das 11h00. Não tem hora de fecho. Philipstockstraat, nº 19
Catarina Serra Lopes (texto e fotos)
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Himalaias
Na rota dos jesuítas portugueses
TERRA DE MOSTEIROS, alta montanha, lagos e rotas de peregrinação lendárias, o Tibete continua a ser uma das mais belas regiões do planeta. O Tibete era desconhecido no Ocidente até ao início do século XVII, quando jesuítas portugueses instalados em Goa, entusiasmados pelos rumores de que ali existiriam comunidades cristãs, abrem caminho a uma série de aventureiros, que apenas três séculos depois ousam partir em busca das riquezas dessa nação. Em 1624, após uma dura travessia dos "desertos de neve" que separam a Índia do Tibete, o padre António de Andrade, acompanhado pelo leigo Manuel Marques, chega a Tsaparang, a capital do reino tibetano de Guge, na actual região de Ngari. Eles são os primeiros ocidentais a visitar o Tecto do
Portfólio Mundo, na altura associado ao mítico reino do Cataio. Em 1626, os padres Estêvão Cacela e João Cabral partem de Bengala, rumo ao planalto tibetano. Também eles esperam encontrar o Cataio, identificado desta vez com o Shambala dos relatos dos lamas. Eles são os primeiros europeus a chegar ao Butão, ao Sikkim, ao Nepal e ao Tibete Central. Em 1631, o padre Francisco de Azevedo visita Tsaparang, utilizando no regresso um trajecto diferente que o conduz a Leh, capital do reino tibetano do Ladakh. Azevedo é o primeiro europeu a percorrer essas paragens, actual território da União Indiana. Outros jesuítas se seguiriam. Gonçalo de Sousa, Francisco Godinho, João de Oliveira, Alano dos Anjos, António Pereira, Manuel Dias, António da Fonseca, Nuno Quaresma e Ambrósio Correia. Se para o viajante atento, uma visita ao Tibete é uma experiência única, para um português pode ser mais especial ainda. O Tibete é um dos últimos destinos dos Descobrimentos, apesar de obras como 'Os Lusíadas' valorizarem uma nação de marinheiros ligada ao mar e ignorar os que se aventuravam pelo interior dos continentes, como foi o caso destes jesuítas que desafiaram os Himalaias. n Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)
Portf贸lio
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Em 1624, após uma dura travessia dos "desertos de neve" que separam a Índia do Tibete, o padre António de Andrade, chega a Tsaparang
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Paixões
O que é que Adriana tem Em 2009 pôs muita gente a trautear "Cara ou coroa", tema que passou muito bem nas rádios e acabou por ser o empurrão que necessitava para começar a trilhar uma carreira a solo. Depois dos festivais de Verão, de pisar palcos de norte a sul, aí está Adriana a apresentar "O que tinha de ser", o mais recente trabalho.
H
á dez anos trocou Lisboa por Boston com o sonho de se tornar musicoterapeuta. Uma aventura que começou com uma audição internacional em Paris e através da qual ganhou uma bolsa de estudo para a Berklee College of Music, aquela que é considerada a maior faculdade independente de música do mundo. Ainda completou o primeiro ano de estudos em Musicoterapia, mas o ambiente hospitalar, o ver crianças e adultos doentes, "foi muito duro " e fê-la mudar de um curso mais medicinal para outro mais musical onde, revela, "aprendi um pouco de tudo: produção, escrita de canções, harmonia e tantas outras áreas da música; mas também teve outras áreas, como a história da arte, o que foi muito bom e muito completo para mim". Mas o curso de Berklee havia de lhe proporcionar vantagens que dificilmente encontraria na Europa: "Boston tem a maior concentração de universidades, desde Harvard ao MIT, passando pela Universidade de Berklee; é um ambiente único a nível de vivência e de convivência com pessoas de outras nacionalidades". E a música começou a fazer mais sentido. E a Adriana que aos 18 anos deixou Lisboa com o curso superior de flauta transversal debaixo do braço começava agora, suavemente, a construir a carreira musical. Terminados os estudos, fez uma panóplia de trabalhos na área da música: em bares, em concertos, em estúdios, em orquestras, todo o tipo de situações, como instrumentista e a cantar e isso, afirma, "Deu-me muita bagagem para o que sou hoje como artista e como músico". E o primeiro álbum intitulado "Adriana" (2009) surge de músicas que foi escrevendo nos intervalos dessas diferentes experiências. É gravado ainda nos Estados Unidos, pela Universal, mas Adriana, por essa altura, volta a preferir viver deste lado do Atlântico, onde actualmente se encontra - mas viaja com alguma regularidade ao país que a acolheu durante sete anos. O tema "Cara ou coroa" passa nas rádios e fica no ouvi46
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do. Daí vai um passo até ao fim do anonimato. Começa a subir aos palcos. A cantar e a tocar flauta transversal - o instrumento que já um dia disse ser a sua segunda voz. Mas também sabe tocar piano e viola. Música talismã, "Cara ou coroa" havia ainda de ser nomeada nesse ano para os Globos de Ouro como melhor canção. Do primeiro trabalho saem temas para a banda sonora da novela "Meu Amor", vencedora de um Emmy, o que lhe permite alargar a audiência. Sobe a parada e para o agora editado "O que tinha de ser" a cantora e compositora trabalhou afincadamente. "Foquei-me e todos os dias de manhã acordava e ficava ali horas na escrita, como se fosse um emprego, foi tudo muito pensado". Os críticos têm dificuldade em catalogar a música de Adriana. Há ali uma mistura feliz de jazz, bossa nova, uns laivos de música pop. Com ela cai por terra o argumento de muitos músicos de que é difícil cantar na língua lusa. Dos onze temas que compõem este segundo trabalho, apenas num deles cedeu a escrevê-lo em inglês: "Vivi muitos anos nos EUA mas pensava sempre em português e é muito mais confortável falar na língua portuguesa; é mais fácil escrever em inglês mas quando se consegue uma boa canção em português - o que um dia irei conseguir (risos) - acho que sabe bem". Nos seus temas, não em todos, perpassa uma subtil crítica social - basta ir além do refrão de "Cara ou coroa". "Estou muito grata pelo que tenho, mas não deixo de observar e querer saber o que se passa à minha volta; como músico é importante o entretenimento, mas também o relacionar a arte à vida, e representar a nossa geração".
"Agora queres…?" Em modo de balanço do que já foi feito, Adriana está grata ao sucesso obtido mas confessa que "foi tudo feito com muita calma; porque tenho a noção de que o meu público não é o das grandes massas, é uma coisa que tem de ser construída, o que também de certa forma é o caminho das pedras, mais sólido, mais seguro". E o caminho deste sucesso "é uma construção, é raro ser de um dia para o outro". E continua: "Implica persistência, impaciência e trabalho, muito trabalho; a pessoa pode ter talento, mas se não fizer nada é pouco provável que as coisas andem para a frente" Tem como objectivo último cada vez fazer melhor música e fazê-la chegar o mais longe possível. E a internacionalização é o próximo passo. Sem querer especificar, afirma que gostaria de começar pela Europa. "Há interesse de algumas pessoas lá fora mas ainda não estão marcadas datas de concertos, tudo tem o seu timming e é algo que tem de ser
bem feito". Ou não fosse ela uma assumida perfeccionista. "Intensa e um pouco impaciente, simpática apesar de tudo", afirma por entre risos. Na juventude estudou música clássica, ouvia música pop-rock pela rádio. Mas, apesar de ser filha de um dos maiores divulgadores e críticos de jazz, José Duarte, este género musical só o veio a aprofundar quando chegou a Berklee. Depois de terminado o curso, nos espectáculos cantava covers e era sempre jazz e bossa nova, o que lhe deu um grande conhecimento nessas áreas. "Agora nestes últimos anos é que estou a aprofundar mais o estudo do jazz e quando peço discos ao meu pai ele diz: Agora queres?" (risos). n Manuela Garcia (texto), José Frade (fotos) JAN 2012 |
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Memória
Maria Clara A “linda costureirinha” Não era costureirinha mas cantou as costureirinhas com a sua voz doce e bem timbrada.
E
ra o tempo da opereta "A Costureirinha da Sé" (8 de Janeiro de 1943) que foi um êxito enorme e tinha no elenco, além de Maria Clara, o António Silva, Costinha, Josefina Silva e António Vilar, que também se estreou na mesma opereta. Atentos os produtores da Valentim de Carvalho convidaram Maria Clara para gravar a cantiga. E, claro, o disco foi um êxito.
Rainha da Rádio Em 1960, Maria Clara foi eleita Rainha da Rádio pelos leitores da revista Flama mas já antes, em 1946, tinha ganho o primeiro prémio do Concurso de Cantadeiras da Emissora Nacional. Nascida em Lisboa no dia 5 de Outubro de 1923, foi no Grupo Dramático da Escola dos Combatentes que Maria Clara começou a interessar-se pela vida artística. Aos vinte anos, um empresário de visão decidiu lançá-la como primeira figura na opereta "A Costureirinha da Sé". Estreia no Porto com grande êxito e igual alvoroço em Lisboa, no Parque Mayer. Nessa altura, a crítica do Diário de Notícias, Manuela de Azevedo escreveu: "A Costureirinha da Sé" é uma opereta muito bairrista dos portuenses e tem linda música. E muito especialmente tem a protagonizá-la Maria Clara, que o público, sempre fiel à juventude e a uns olhos bonitos, aplaudiu de pé." Uma pose da artista no auge da sua popularidade
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E o Porto aqui tão perto… Lisboeta assumida, nascida na Travessa das Almas a Campo de Ourique, como é que Maria Clara troca Lisboa pelo Porto? Ora por amor, naturalmente… Cantava ela na "Costureirinha da Sé" quando um jovem universitário se apaixonou por
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aqueles olhos bonitos e nunca mais arredou pé da "linda costureirinha". Demorou tempo até que Maria Clara aceitasse o namoro daquele que viria a ser o seu marido, Júlio Machado de Sousa Vaz, neto do ex-presidente da República, Bernardino Machado. A cantora e actriz casou, nesse ano de 1943, e passou a viver no Porto vindo de vez em quando a Lisboa para participar em espectáculos, no teatro de revista, em programas de Rádio. Maria Clara, que na realidade se chamava Maria da Conceição Ferreira, juntou ao seu nome os apelidos Machado Vaz.
Menino sensível e terno Seis anos depois do casamento, Maria Clara foi mãe de, como alguém disse, "um menino sensível e terno" que herdou o nome do pai, Júlio. Esse menino, nascido a 16 de Outubro de 1949, é o nosso conhecido psiquiatra e sexólogo Júlio Machado Vaz, que, em entrevistas várias, confessou que, em pequeno, ia muitas vezes com a mãe para os espectáculos e a escutava deliciado. Considerada a força motriz da família, Maria Clara tinha apenas a quarta classe mas decidiu inscrever-se num instituto para aprender línguas, e o filho Júlio habituou-se a vê-la a coser e a ouvir a "Emissora Dois" tardes inteiras. O marido, professor catedrático, gostava muito de a ouvir cantar e ficava orgulhoso quando o público a aplaudia delirantemente. Pelo que contou o filho, a mãe cultivava fortemente a sua privacidade mas não se encolhia quando era a hora de cantar e os aplausos choviam de todos os lados. Ainda é o filho que fala de Maria Clara quando, depois dos programas de TV, ela o avisava: "Cuidado, eu sei como são as coisas…" ou quando lhe telefonava para criticar uma frase menos correcta.
A cantora benfiquista Já vimos que Maria Clara era alfacinha de gema, nada e criada na zona de Campo de Ourique, com passagem por uma das Sociedades Dramáticas mais emblemáticas de Lisboa, (Os Combatentes). E era também benfiquista assumida, benfiquismo que contagiou o pequeno Júlio e
o tornou fanático do chamado Glorioso. Na vida de Maria Clara há um episódio que merece ser contado: quando decidiu concorrer à Emissora Nacional de nada lhe serviram os elogios de toda a Imprensa (voz clara, cristalina, bem timbrada) porque a estação nem sequer a admitiu. O marido, homem de esquerda, que pertencia à oposição, teria sido, diziam, o obstáculo… Mas Maria Clara não se importou muito com o facto porque, dizia, o que lhe interessava era ter ouvido da boca de Alfredo Marceneiro o maior elogio: "a menina canta muito bem, canta mesmo muito bem." E o que o Ti Alfredo dizia era sagrado. Falei atrás da cantiga que mais a celebrizou, "A Costureirinha da Sé", mas também não havia outra que cantasse tão bem "Figueira da Foz", "Marcha do Centenário" ou "Zé aperta o laço". Maria Clara morreu há dois anos (1 de Setembro de 2009). Tinha 85 anos e deixou saudades. n Maria João Duarte
Capa de um dos discos que a artista gravou para a “Alvorada”. Ao lado, Maria Clara fotografada pelo fotógrafo dos artistas, Silva Nogueira
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Justiça e Sociedade António Bernardo Colaço
Por uma segurança sustentável Segurança que se pede; insegurança que se sente; segurança que se promete; insegurança que vitima. Até onde irá isto parar numa altura de crise e instabilidade social?
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otícias do tipo, "agrediu o avô"; "explode caixa ATM e rouba"; " negoceia ouro roubado"; "casal burla idosos no monte"; "incendiário em flagrante"; "fez justiça por suas mãos"; "esfaqueada em rixa no café", "pai viola filha", "político condenado por corrupção", "furtada por esticão e arrastada"; "a maior apreensão de droga", cobrem os jornais e a TV. E aí está o quadro - modelo de factos geradores de insegurança. Apesar de promessas, as autoridades responsáveis não alcançam melhorar os modelos de segurança do cidadão. Esta ineficácia tem no entanto servido ao vulgo para advogar soluções como, a justiça privada ou confiar a segurança interna aos militares ou ainda a reposição de pena de morte, sem se medirem as consequências nefastas que daqui podem decorrer. Não se acredita nem na justiça nem na polícia. A segurança não tem nem pode ter um alcance absoluto. Tê-lo-ia sim, se o homem tivesse um completo domínio sobre as forças da natureza e sobre as acções do homem malfeitor. Daí, a gestação do sentimento de insegurança com níveis variáveis consoante a fonte donde dimanam. São os vulcões; o arsenal de armas nucleares dos diversos países; o ódio religioso e fundamentalismo; a guerra; a fome e a pobreza; o despedimento descontrolado e trabalhadores com salário em atraso. É a crise com o ror das medidas restritivas do OE/2012, que ninguém sabe até quando ou até onde. Há finalmente, a criminalidade, violadora directa dos valores sociais, valores do Estado e
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que o Código Penal prevê. E é esta última a mais preocupante por afectar no imediato o nosso quotidiano, a tranquilidade na casa e na rua e uma vivência social calma. É o caso da insegurança objectiva quando a pessoa é vítima directa do facto e nada há a fazer. O problema fulcral é todavia o lado subjectivo que o sentimento de insegurança comporta, o "estado de espírito" constante, relativo à criminalidade, que nos vai corroendo intimamente, algo potenciado pelos órgãos noticiosos e a forma como o fazem; daí surgindo a expectativa - quando serei a próxima vítima? Esta indagação ocorre, não quanto aos factos criminosos em si, mas fundamentalmente quando se sente o alheamento, a ineficácia e a improdutividade das instituições responsáveis - o Estado, o legislador, a justiça e a polícia - em assegurar o mínimo sustentável de segurança para gerar a medida de confiança necessária em como a tranquilidade está salvaguardada. Ficam aqui alguns correctores para que o cidadão entenda melhor a sua protecção em sociedade: - se "o polícia prende e o juiz solta" é porque o juiz de instrução não dispõe de uma lei que permita a prisão preventiva ou internamento em estabelecimento educacional adequado (tratando-se de menor). Ora, cabe ao Governo ou Parlamento alterar a lei processual penal que permitam a não - soltura; - imediata implementação do modelo correcto de policiamento de proximidade, como medida institucional de defesa social preventiva, por Lei da Assembleia da República, prevendo a efectiva participação dos organismos representativos da sociedade civil com a participação da estrutura policial. - executoriedade às resoluções dos Conselhos Municipais de Segurança. - implementação de policiamento de giro ou presencial também nocturno e abertura de postos de atendimento permanentes. Voltaremos ao assunto.n
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Olho Vivo
O homem não pensa só em sexo
A velha Soja
Os homens pensam mais em sexo do que as mulheres, mas um novo estudo sugere que também pensam mais que a mulher noutras necessidades biológicas, como a comida e o sono. O estudo da Universidade do Ohio também desmente o mito de que o homem pensa em sexo de 7 em 7 segundos: tais pensamentos ocorrem em média 19 vezes por dia, contra 10 da mulher. O homem também pensa 18 vezes em comer e 11 vezes em dormir, contra 15 vezes e 9, respectivamente, por parte delas.
O homem domesticou definitivamente a soja há 3 mil anos, na China, mas uma equipa de arqueólogos da Universidade de Oregon descobriu provas de que o alimento foi adoptado muito antes por outras culturas. Uma versão da soja com 9500 anos, já diferente da espécie selvagem, foi desenterrada numa ilha japonesa. Não é tão grande como a que comemos actualmente, mas denota alguma selecção das sementes.
Mar Ressuscitado O Mar Morto, além de estar 425 metros abaixo do nível... do mar, tem uma taxa de sal da ordem dos 34 por cento. A extrema salinidade fez os cientistas pensar que seria impossível a completa evaporação das suas águas. Ainda assim, escavações no leito, realizadas nos últimos dez anos por uma equipa israelita, provam que há 120 mil anos o Mar Morto se esvaziou completamente. Depois, com o tempo, terá ressuscitado.
Para onde fugir Chama-se Kepler 22B o novo planeta descoberto pelo observatório espacial Kepler, a 600 anos-luz do sistema solar da Terra. É maior que o nosso, gira em torno de uma estrela um pouco menor que o Sol, mas está numa zona de conforto em órbita que leva os astrónomos a calcular que tem condições para albergar vida. Este não é o primeiro planeta considerado habitável há pelo menos mais dois - mas é o primeiro a ser apontado pela NASA como reunindo condições para a existência de vida. A viagem é um pouco demorada, mas se ficarmos sem sítio onde viver, dá jeito ter sítio para onde fugir. 52
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Desculpas criativas As pessoas mais criativas têm tendência a esticar os limites éticos, inventando justificações mais plausíveis para os seus maus comportamentos. Uma maior criatividade ajuda os indivíduos a resolver tarefas difíceis em vários domínios, mas também contribui para encontrar desculpas para os actos indevidos. Esta conclusão foi publicada na revista da Associação de Psicólogos Americanos e é fruto de um estudo de cientistas sociais da Universidade de Harvard.
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A n t ó n i o C o s t a S a n t o s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s )
Olhos invernosos
Primeiro cão viveu na Ásia Cientistas suecos estudaram o ADN dos cães de todo o mundo e concluíram que os primeiros lobos domesticados viveram a sul do rio Iang-tsé, no sul da China ou no sudeste asiático, e não no Médio Oriente, como até agora se acreditava. Os estudos anteriores que apontavam para a origem do melhor amigo do homem nas terras da Palestina não incluíam dados do sul da Ásia. Bastou estudar os genes dos actuais cães chineses para corrigir a história.
Foi você que pediu um mamute? Cientistas russos e japoneses preparam-se para clonar um mamute lanudo, espécie extinta há 10 mil anos, a partir das células de um pedaço de animal encontrado em bom estado de conservação no permafrost (solo congelado) da Sibéria. O aquecimento global está a fazer derreter algumas camadas do solo siberiano e estão a aparecer ossos de mamute ainda com medula, de onde são extraídas células que os cientistas vão implantar em óvulos de elefantesfêmeas. Dentro de cinco anos, teremos mamutes, dizem os especialistas. Para quê, não se sabe.
Spinops sternbergorum Chama-se Spinops sternbergorum o novo dinossauro portador de três pares de cornos no crânio, além de um, à rinoceronte, no nariz, descoberto por estudiosos londrinos. Os fósseis de uma espécie desconhecida até hoje, aparentada com o triceratops, foram desenterrados há 90 anos, em Alberta, Canadá, mas os ossos foram parar aos armazéns do Museu Nacional de História Natural britânico e aí ficaram esquecidos quase cem anos. O animal, apesar da sua feia aparência de grande predador, era herbívoro, coitado.
Uma equipa de especialistas em beleza observou os olhos de cinco mil mulheres nas diferentes estações do ano e concluiu que as olheiras são mais frequentes no Inverno. A mudança é uma ilusão de óptica. A falta de luz solar torna a pele mais pálida e enfatiza os papos sob os olhos. A falta de vitamina D, gerada pelo sol, e consequente diminuição da serotonina, que dá um ar "saudável" aos rostos, aumenta a fadiga e faz descair a pele.
A culpa é do marido As "bocas" dos homens relativamente à capacidade das mulheres para conduzirem um automóvel como deve ser são as culpadas dos defeitos de condução de quem as ouve. Um estudo das autoridades de trânsito britânicas revela que o aumento da autoconfiança feminina ao volante faz crescer a habilidade das mulheres para guiar, estacionar e orientar-se na condução de um carro. Tudo o que diminua esse convencimento de que são capazes contribui para que façam disparates.
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A Casa na árvore Susana Neves
A serpente ao colo "Ser cabeça de avelã" significa não ter juízo, estranha afirmação associada à árvore da sabedoria.
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e as flores masculinas e femininas da aveleira ("Corylus Avellana L.") abrissem todas ao mesmo tempo haveria uma tal produção de avelãs que seria preciso exportá-las para outros planetas. É que uma só inflorescência masculina (amentilho) pode libertar 4 milhões de grãos de pólen! O desencontro com a discreta floração feminina (glomérulos) que se lhe pode antecipar no tempo (espécie protogínica) ou atrasar (protândrica) é pois mais uma astúcia da natureza para moderar as ambições expansionistas desta "Betulaceae",
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ou quem sabe, resolver os seus problemas "conjugais". Existente no planeta desde o Terciário, integrada na alimentação dos povos do Mesolítico (na Escócia foram encontrados vestígios de avelãs torradas que datam de cerca de 7720 a.c.), a aveleira, avelaneira ou avelanzeira ensinou a quem a quer "produzir" a arte de combinar diferentes espécies acasaláveis. Além disso, conforme nos explicou António Costa, 72 anos, residente no concelho de Santa Comba Dão, em Viseu (distrito onde se produz a maior quantidade de avelãs do país), no aveleiral, avelal ou avelanal é preciso conhecer as direcções do vento que há de sacudir os amentilhos pendentes em "cachos", transportando na rota certa as nuvens de pólen fertilizante. Apreciadora de solos húmidos, susceptível ao ataque de ácaros e "tortulhos" (cogumelos), a aveleira de pomar - podemos observá-la na Casa da Fonte, em Santa Comba Dão - reclama, em todos os momentos do seu ciclo de crescimento e produção, o saber e a paciência de quem a trata. Até na apanha do fruto, a avelaneira despista o apressado e o curioso. "Um curioso não sabe apanhar avelãs, porque não distingue as duvidosas das de boa qualidade. E o comprador quer qualidade", explica António Costa, atribuindo ao processo moroso da apanha, feita a partir do chão ("a árvore não pode ser varejada") e ao baixo preço do quilo de avelãs os motivos para que em Portugal este fruto seco, de sabor agradável e altamente calórico ("é o mais rico dos frutos oleaginosos", defende Michel Roussillat, "Le Noisetier", Actes Sud)) não supere a produção da castanha. Quanto ao não aproveitamento da acção adstringente e venotónica do óleo das folhas de aveleira os motivos parecem resultar da ignorância dos seus efeitos terapêuticos. Debaixo dos nossos pés, as folhas caídas da aveleira, "estrume biológico", fazem um tapete de diferentes tons de castanho onde ainda é possível localizar um amentilho, uma avelã, solta ou ainda no invólucro foliáceo recortado, onde se desenvolveu. Em Dezembro, altura da nossa visita a Viseu, as árvores despidas já apresentavam
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Fotos: Susana Neves
os primeiros amentilhos mas a grande eclosão do pólen só acontece em Março e a apanha faz-se "a partir da segunda semana de Agosto". "É preciso lavá-las, porque o rato camponês também lhes toca, e junto ao tronco é possível muitas vezes encontrar apenas um monte de cascas", explica António Costa, cujo ar saudável é uma boa garantia de conhecimento: "Um punhado de avelãs em jejum ajuda a descarregar os rins, mas não se pode ultrapassar essa quantidade". E a senhora Idalécia que nos acompanhou ao Avelal da Casa da Fonte, recorda a utilização da avelã "no doce de abóbora e no bolo rei"; mais tarde ficaremos a saber que a avelã congelada, com casca, dura mais do que um ano, sem azedar. Mas nenhum dos nossos simpáticos interlocutores nos fala do ritual de deitar avelãs sobre a cabeça do noivo durante a boda (Ucrânia) ou de as espalhar junto à cama de núpcias promovendo a fertilidade do casal, um costume frequente em vários países europeus. E no entanto, entre nós, cantou-se e dançou-se a "Bailia" ou "Bailada das Avelaneiras", da autoria do clérigo e trovador espanhol medieval Aires
Nunes, maravilhosamente interpretada por Zeca Afonso, onde se associa a floração da árvore à consumação do desejo amoroso. Diz a pícara cantiga: "Por Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos,/so aqueste ramo frolido bailemos;/e quen ben parecer, como nós parecemos,/se amigo amar,/so aqueste ramo sol que nós bailemos, verrá bailar". Símbolo do fecundo e erótico entendimento entre homem e mulher, algumas lendas sobre a aveleira, associam-na à reconciliação de forças desavindas ou ameaçadoras, como as serpentes pacificadas por Mercúrio (o mensageiro dos deuses), ou no caso da cultura celta identificam-na à sabedoria interior e à inspiração artística. Entre nós, da aveleira não se tira a pequena vara bifurcada que em França permitia descobrir linhas de água subterrâneas, minas, objectos perdidos ou vítimas de assassínio. Com ela não se faz nem magia branca nem feitiçaria e, talvez por preconceito contra a fertilidade descuidada, dizse que "ser cabeça de avelã" é sinónimo de não ter juízo. n JAN 2012 |
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66 CONSUMO Que fazer quando nos for proposto um serviço sem emissão de factura, acenado com um preço mais baixo? Pág. 58 l LIVRO ABERTO Em destaque "As Grandes Batalhas da História" (Clube do Autor), que percorre um largo tempo histórico que vai de Kadesh e Maratona aos nossos dias. Pág. 60 l ARTES O Museu de Arte Antiga apresenta os séculos áureos da escultura espanhola com a exposição "Cuerpos de Dolor". Pág. 62l MÚSICAS Luís Represas e João Gil celebram 35 anos de carreira com um album comum. Registo ainda dos novos álbuns dos "Lady Antebellum" e "The Kooks". Pág. 64 l NO PALCO Atenção às peças em cena, em Lisboa, no TNDMII e na Barraca e no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra. Pág. 66 l CINEMA EM CASA "Super 8" e "Planeta dos Macacos: a Origem", duas sugestões de ficção para abertura de um ano de real e rigorosa austeridade. Pág. 68 l GRANDE ECRÃ Em Janeiro, há um punhado de importantes estreias com um denominador comum: os comportamentos e motivações do espírito humano. Pág. 69 l TEMPO INFORMÁTICO Cuidado: muitas das boxes descodificadoras da TV digital que invadiram o mercado são de linha branca ou marca desconhecida. Pág. 70 l AO VOLANTE Quase meio século depois, a Renault faz reviver o mítico Gordini, lançando três modelos da brilhante série: o Clio, o Twingo e o Wind. Pág. 71 l SAÚDE A flatulência, em si, não constitui uma doença, mas diminui a qualidade de vida. Regras a ter em conta. Pág. 72 l PALAVRAS DA LEI As árvores do nosso quintal podem incomodar os vizinhos… Uma situação prevista no Código Civil português. Pág. 73 l
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Boavida|Consumo
Com ou sem factura? Quando lhe propuserem a prestação de um serviço sem emissão de factura, acenando-lhe com um preço mais baixo, recuse. Se aceitar, não só está a pactuar com uma fraude, como a correr riscos que lhe podem provocar, mais tarde, alguns dissabores. Como no caso que aqui se relata.
Carlos Barbosa de Oliveira
ão sobejamente conhecidos casos de prestadores de serviços que propõem aos seus clientes dois preços para prestar determinado serviço. A diferença reside na emissão da factura. Muitos consumidores, pensando apenas na possibilidade de poupar os 21% do IVA, aceitam de imediato a proposta e dispensam a factura. Acontece, porém, que ao fazê-lo não só estão a contribuir para ludibriar o Estado (não pagam a sua quota parte do IVA e permitem ao prestador de serviços fugir ao pagamento do imposto correspondente ao serviço prestado) como também estão a ludibriar-se a eles próprios, pois se alguma coisa correr mal, ficam impossibilitados de accionar a garantia. O caso que a seguir se descreve (verídico...) é um bom exemplo. A consumidora foi na "canção de embalar" e agora vê-se fortemente penalizada. Em Setembro de 2010, Vera (nome fictício) vendeu a sua casa e contratou uma empresa de mudanças para embalar e guardar nos seus armazéns um conjunto de móveis e utensílios, até ter pronta a casa que entretanto adquirira. Pelo transporte pagou 800€ e pelo armazenamento acordou pagar uma verba mensal de 200€. Em Abril de 2011, pronta a nova casa, Vera telefonou para a empresa, solicitando que lhe entregassem os seus haveres na nova morada. A empresa fez a entrega na data aprazada, mas nesse mesmo dia começaram as surpresas: ao montar os móveis, Vera repara no seu mau estado de conservação (pretos de humidade, madeiras inchadas de água, o que por exemplo a impediu de montar a cama, pois as peças não encaixavam). Na manhã do dia seguinte telefona para a empresa a reclamar, tendo obtido uma resposta que considerou surrealista: " Lamentamos o sucedido, mas não fizemos de propósito!". Vera insistiu que tinham de resolver o problema e indemnizá-la, mas do lado de lá do fio apenas recebeu a vaga promessa de que iriam tentar solucionar o problema no prazo de três dias. Entretanto, começa a abrir alguns caixotes e constata que os prejuízos são ainda maiores. Livros, fotografias, documentos pessoais, etc.,
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estavam irreconhecíveis, por força da água que entrara para os caixotes. No quarto, formara-se uma poça de água entretanto derramada do interior do colchão. Aos prejuízos materiais - avaliados em mais de cinco mil euros - juntavam-se agora danos morais irreparáveis, fruto dos danos causados em alguns bens cujo valor afectivo não tem preço. Havia ainda algumas peças em falta, cujo paradeiro a empresa desconhece. ANDRÉ LETRIA
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Ao fim de três dias, a funcionária da empresa (o gerente recusou-se sempre a falar com a consumidora) apresenta uma solução. Como prova de boa vontade, a empresa manifestava-se disponível para fazer a participação dos danos à seguradora (embora a lei não exija que estas empresas tenham seguro!), desde que Vera procedesse ao pagamento do IVA, retribuindo a empresa com o seu dever de emitir as facturas. A consumidora não gostou da
proposta e decidiu recorrer aos serviços de um advogado. Independentemente do desfecho que esta situação venha a conhecer, vale a pena reter o seguinte: - A consumidora, lesada pelo mau serviço prestado pela empresa, foi parcialmente culpada por esta situação pois, ao aceitar não pagar o IVA, sabia que punha em risco os seus direitos, em caso de reclamação. Por outro lado lesou o Estado, ao eximir-se da sua obrigação de pagar IVA e exigir factura dos serviços prestados, passando assim de vítima a ré; - O dinheiro que poupou no IVA vai certamente gastá-lo com o advogado que contratou e, mesmo assim, sem a certeza de ser ressarcida integralmente dos seus prejuízos; - A empresa também subtraiu ao Estado o pagamento do IRC que era obrigada a efectuar. Mas como as coisas correram mal, deve ter concluído que mais lhe valia exigir à consumidora o pagamento do IVA, e pagar o IRC, remetendo a obrigação de indemnizar para a seguradora; - No meio de todo este imbróglio, pergunta-se: o incumprimento das obrigações fiscais de ambas as partes (no caso de tudo ter corrido bem...) beneficia quem? Parece-me inequívoco que as empresas são as principais beneficiadas e os prejudicados serão sempre os consumidores que, fruto da fuga ao fisco daquelas entidades, vão ver os impostos agravados pelo Estado, que precisa de obter receitas. Para o consumidor pode parecer benéfica a solução de não pagar IVA mas, se antes de aceitar estas propostas pensasse que haverá sempre outros consumidores a fazer o mesmo e que as empresas, com esta atitude, estão a auferir lucros vultosos e indevidos, chegaria rapidamente à conclusão de que irá pagar, por via do agravamento de impostos sobre os rendimentos do trabalho (ou outros...), quantias ainda mais avultadas do que aquelas que ufanamente se eximiu a pagar em determinado momento. Exigir factura é não só um dever cívico, mas também uma questão de bom senso. Por isso, quando lhe propuserem situações destas, saiba sempre dizer não. E se num estabelecimento comercial (nos restaurantes a prática é vulgar) lhe perguntarem "deseja factura?", aproveite para lhes dar uma reprimenda, dizendo que a entrega da factura não é algo que dependa da vontade do consumidor, mas sim uma obrigação de quem presta um serviço. Logo, não é preciso perguntar! n JAN 2012 |
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Boavida|Livro Aberto
Da história das batalhas e dos homens à perenidade dos temas clássicos Não é possível compreender a história dos povos sem se compreender o modo como foram afectados, condicionados ou favorecidos pelas guerras em que estiveram envolvidos.
José Jorge Letria
oje, um país como a Alemanha nem sequer precisa do horror destrutivo de uma guerra para impor a sua vontade e os seus interesses ao resto da Europa, coisa que Hitler e o nazismo quiseram fazer e temporariamente conseguiram através de invasões, destruições massivas e genocídios. Hoje, quem comanda as verdadeiras guerras não são os generais ou o medo do nuclear, mas sim o quartel-general dos mercados e das sinistras agências de "rating", que já conseguiram transformar o projecto da União Europeia numa caricatura débil do sonho que esteve na sua origem. Até por isso, é importante conhecer a história das grandes batalhas que moldaram a história da humanidade. Daí que o destaque de abertura vá para "As Grandes Batalhas da História" (Clube do Autor), que percorre um largo tempo histórico que vai de Kadesh e Maratona até à Tempestade no Deserto. Um livro oportuno e muito bem documentado que nos faz encarar esta evidência: as duas guerras mundiais do século XX tiveram origem na Europa e nada nem ninguém nos garante que, com distintas configurações militares e sociais, o pesadelo não possa renascer um dia destes.
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TENDO A II GUERRA MUNDIAL como pano de fundo, "Vida e Destino" (D. Quixote), de Vassili Grossman é uma das grandes narrativas mundiais do século, por alguns comparada, no fôlego, na intensidade dramática e na pujança narrativa, ao mais do que clássico "Guerra e Paz", de Leon Toltoi. Estamos em presença de uma obra fundamental em que se misturam o conhecimento da natureza e da condição humana com a vivência do horror que sempre caracteriza tempos de excepção e ruptura. Um livro que, falando dos homens e da guerra,
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marca para sempre quem se aventura a lê-lo. E essa é uma aventura do espírito e do conhecimento humanos ao seu nível mais profundo. SOBRE UM OUTRO TEMPO também marcado por guerras e outros conflitos que moldaram a história do Ocidente, é o excelente ensaio histórico "1494 – o Papa, os Reis e o Mercenário"(Casa das Letras), de Stephen R. Brown, que explica em que condições e com que objectivos foi assinado o Tratado de Tordesilhas, numa época em que Portugal e Espanha, com os oceanos por diante, repartiam entre si o controlo do mundo conhecido e do prestes a descobrir, com todos os interesses de ordem política, material e geoestratégica que se encontravam em jogo no final do século XV. Um livro fascinante sobre um tempo há muito ultrapassado na História da Europa e do mundo. EM MATÉRIA DE FICÇÃO narrativa recente e de qualidade, os destaques são vários, começando pelo excelente "1Q84" (Casa das Letras), do consagrado escritor japonês Haruki Murakami, autor de culto para muitos leitores portugueses. Destaque, como sempre, para o novo romance de Mário de Carvalho "Quando o Diabo Reza"-, agora com a chancela da Tinta da China, e invariavelmente com o brilho de uma escrita única no panorama da literatura portuguesa contemporânea, para "Anatomia dos Mártires"(D. Quixote), o novo romance de João Tordo, que tem como tema o assassinato de Catarina Eufémia, figura icónica da resistência à ditadura e sobretudo da história do PCP, e para as reedições de "Voo Nocturno e Correio do Sul" (Casa das Letras), textos poderosos de Antoine de Saint-Exupéry, juntos num só volume, enquanto se aguarda a reedição da obraprima "Cidadela", do mesmo autor, de "Os Três Mosqueteiros" (Publicações Europa-América), de
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Alexandre Dumas, para o romance "Ave de Mau Agoiro" (D. Quixote), de Camilla Lackberg, e ainda, com a mesma chancela, para a reedição do clássico de Michel Tounier "Gaspar, Belchior & Baltasar". DESTAQUE AINDA para "Os Últimos Dias de Pôncio
Pilatos" (Casa das Letras), narrativa histórica de Paula
de Sousa Lima, e para o lançamento, com a chancela da Ática, do inédito do sempre surpreendente e inesgotável Fernando Pessoa, com o título "A Demonstração do Indemonstrável". Muitas e diversificadas leituras, mesmo com a crise em fundo e a incerteza do futuro teimosamente presente. n
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Boavida|Artes
Da Arte Sacra às últimas vanguardas Abarcando os séculos áureos da escultura espanhola, a exposição "Cuerpos de Dolor. A imagem do sagrado na escultura espanhola (1500-1750)" constitui uma importante amostra, a vários títulos, das importantes colecções do Museu Nacional de Escultura (Valhadolid, Espanha), conhecido como o "Prado da Escultura".
Rodrigues Vaz
ela primeira vez, Portugal tem o privilégio de acolher mais de três dezenas de esculturas de grandes mestres espanhóis - desde o declinar da Idade Média ao ocaso do Período Barroco -, como Berruguete, Juan de Juni, Pompeo Leoni, Gregorio Fernández, Alonso Cano, Pedro de Mena, Pedro de Sierra ou Salzillo. Sem dúvida que se trata de uma exposição inquietante ascetas, mártires, virgens, Cristos crucificados - capaz de provocar no visitante uma impressão que ultrapassa as fronteiras da estética, todavia inquestionável, numa importante chamada de atenção para a relevância do acervo deste museu espanhol.
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A MULHER AFRICANA DE LÍVIO DE MORAIS
De certo modo dentro do sagrado, se bem que dedicada 62
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especificamente à mulher africana como mãe e como lutadora, pode ser considerada igualmente a exposição que o artista plástico moçambicano Lívio de Morais apresenta até fins de Janeiro na novel Galeria Apolo 70, em Lisboa. Na linha de Malangatana, que soube aliar com grande eficácia e expressividade o vigor dos muralistas mexicanos às principais linhas de força da iconografia africana, Lívio de Morais realça com invulgar criatividade a imagem da mulher africana como protagonista da nova África que está a despontar para um futuro cheio ainda de nuvens mas com muitas esperanças. A VANGUARDA VEM DE ESPANHA
Neste começo de ano em tempo inevitável de crise, é, talvez por isto mesmo, a altura de olhar (e encarar) o futuro. Tal como a exposição "Cuerpos de Dolor" é igualmente de Espanha que vêm os sinais das vanguardas actuais. A instalação artística que a artista espanhola Mercedes Lara
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Javier León apresenta na Paços Galeria Municipal, em Torres Vedras, a exposição "Urdidura e Silêncio" Em baixo, desenho de Lívio de Morais em exposição até fins de Janeiro na novel Galeria Apolo 70, em Lisboa Na página da esquerda, “Virgem das Dores”. Mais de três dezenas de esculturas de grandes mestres espanhóis – desde o declinar da Idade Média ao ocaso do Período Barroco – expostas pela primeira vez em Portugal
apresenta, até 5 de Fevereiro próximo, no Centro Cultural de Cascais, a primeira exposição desta artista espanhola em Portugal, vale bem uma deslocação pelo que significa como detecção dos últimos sinais da modernidade artística a nível mundial. Partindo de uma afirmação de Einstein, de que "O espaço está a ser retorcido e curvado continuamente pela matéria e pela energia que se movem dentro dele, e o tempo flui a diferentes velocidades para diferentes observadores", Mercedes Lara confronta-nos com uma mostra que intervém sobre a sala de exposição não só provocando alterações de luz, tornando assim diferente tanto o tempo como o espaço, mas também o conceito de abordagem à obra, onde cada uma das peças está dentro de uma caixa, como se de uma caverna se tratasse, na qual foi feito um orifício através do qual se vê o que lá se passa. O outro artista espanhol que agora nos visita é Javier León, que apresenta na Paços Galeria Municipal, em Torres Vedras, a exposição "Urdidura e Silêncio", dando especialmente corpo a processos de concentração físico-mental, que resultam em representações de grande valor decorativo e de acutilante intervenção. Recorrendo especialmente a exercícios de concentração próximos da meditação, o artista utiliza com eficácia a repetição de elementos plásticos básicos, numa tentativa de fugir de si mesmo, uma maneira de transcender o seu "eu", n JAN 2012 |
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Boavida|Músicas
“Luís Represas e João Gil”: 35 anos de carreira e cumplicidade "Luís Represas e João Gil" é o título genérico do trabalho discográfico com o qual os dois músicos e intérpretes estão a celebrar 35 anos de carreira. Novidade são também os novos álbuns dos "Lady Antebellum" e dos "The Kooks". Standard", com 13 temas; "Edição Especial Limitada" (digipack) na qual, ao alinhamento da edição standard, junta-se um DVD-extra com um documentário homónimo, realizado por Aurélio Vasques, que inclui um "making-of" da gravação do disco, entrevista e cinco videoclips; e "Edição Digital". “LADY ANTEBELLUM”
Vítor Ribeiro
embros fundadores dos "Trovante", nos idos de 1976, Represas e Gil juntaram-se agora, pela primeira vez em duo desde a extinção do grupo no início da década de 90, para nos apresentarem treze temas originais, com a marca indelével de uma cumplicidade construída no passado, ao longo de muitos anos de trabalho conjunto. Papel de relevo no álbum em questão tem ainda o letrista e compositor João Monge (ex-"Ala dos Namorados"), que com João Gil subscreve cinco dos treze temas. O bom gosto e a simplicidade caracterizam este trabalho discográfico de dois autores incontornáveis da música portuguesa produzida nas últimas décadas e em fase de grande maturidade criativa. Represas e Gil fazem parte do que resta do núcleo duro de compositores e intérpretes portugueses que melhor cantam o nosso quotidiano. "Luís Represas e João Gil" merecem a nossa melhor atenção. E, já agora, parabéns pelos 35 anos de carreira. O album está disponível nas seguintes edições: "Edição
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Os "Lady Antebellum" lançaram um novo álbum, com o título genérico "Own The Night", na sequência da recente atribuição de mais um Gramy Award. Este trabalho discográfico integra 13 canções, a última das quais na modalidade de um "bonus track", com uma versão acústica do mais celebrado tema do grupo, "Need You Now". Os "Lady Antebellum" constiuiram-se em 2006, em Nashville, EUA, e integram Charles Kelley, Dave Haywood e Hillary Scott. Influenciados, no início, pela música country, os "Lady Antebellum" acabaram por criar um estilo próprio, bem personalizado, no concorrido mundo da pop. “THE KOOKS”
A banda britânica "The Kooks" lançou o seu terceiro álbum, com o título "Junk of The Heart". No novo CD são-nos apresentados 12 temas deste grupo surgido em Brighton, em 2004, no âmbito do chamado "indie rock", rock independente, cujos autores tentam evitar os circuitos dominantes de edição e distribuição discográfica. n
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Boavida|No Palco
Do amor e da morte Cristina Carvalhal pegou num dos textos mais emblemáticos de Alexandre Herculano, "Eurico, O presbítero", e transformou-o, com nova abordagem e encenação própria. Até 29 de Janeiro, na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, está em cena a "Paixão segundo Eurico".
sacrílego, optou pela exaltação patriótica que, resultará no futuro Reino de Portugal. Uma história, narrada, porém, só por mulheres. FICHA TÉCNICA: A partir do romance de: Alexandre
Herculano; Dramaturgia e versão cénica: Ana Vaz, Cristina Carvalhal, Graça P. Corrêa, Inês Rosado, Pedro Filipe Marques e Sara Carinhas. Desenho de luz: José Álvaro Correia; Coordenação de projecto: Cristina Carvalhal.Com: Cristina Carvalhal, Inês Rosado, Sara Carinhas; Co-produção: TNDM II e Causas Comuns RUMOR
Maria Mesquita
screveu Jorge Luis Borges: "Uma lenda não é uma invenção arbitrária mas sim uma deformação ou uma ampliação da realidade". Para Alexandre Herculano, este seu texto, agora transformado para os palcos do Teatro Dona Maria II, poderia ser considerado "uma crónica-poema, lenda, ou que quer que seja" e, na realidade, tudo tem de místico para se deixar enrolar nas lendas que povoam o imaginário Lusitano. Ano de 749 D.C., na Península Ibérica. Os Visigodos, após um período de adaptação aos costumes romanos, tornam-se "bárbaros" refinados. Detêm o Poder político e (a)Moral da Península. Mas tudo tem um fim. A Sul, forças do Norte de África começam a sua conquista, no que vai culminar no califado do Al-Andaluz. Mais a norte da península, as gentes da Galiza e Astúrias não se deixam intimidar. Eurico torna-se monge por obrigação, mas a sua devoção é para Hermengarda, amor impossível. Contudo, após a queda do reinado Godo, Eurico retorna às armas, a sua sede de matança é mais poderosa que ele e, à sua volta, apenas encontra destruição. Uma nova ordem impôs-se. Julga, então, poder voltar a ser feliz com a amada. Surge novo entrave e, ao desistir de Hermengarda, abraça a Morte em mais batalhas travadas contra o povo dito invasor. Hermengarda enlouquece. A personagem de Eurico pode ser apelidada de pessimista, mas também de um profundo sentido patriótico. Não se tendo deixado abalar por um Amor que seria
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"Rumor", peça escrita por Mário de Carvalho, está já em cena no palco d'A Barraca até fins de Fevereiro. Para rir, mas acima de tudo, para reflectir sobre a nossa própria condição enquanto membros de uma sociedade. Embora situada durante a queda do Império Romano, "Rumor" tem muito a ver com o nosso próprio quotidiano, com as nossas atitudes, com a nossa forma de ser. É a segunda vez que Mário de Carvalho trabalha com a companhia de Hélder Costa e Maria do Céu Guerra e, uma vez mais, com um texto irónico e incomodativo. Toda a trama gira em torno de um grupo de personagens que vão mudando de atitude e pensamento à medida que vão ouvindo rumores sobre o que se passa politicamente em seu redor. Não há melhor arma do que o Medo que se possa soltar sobre uma comunidade, seja grande ou pequena e é assim que a política muitas vezes funciona ou vai ganhando terreno pelo declínio da moralidade. A corrupção é então explorada até à exaustão, pois neste caso, não se baseia só em favores financeiros ou de cargos políticos. A corrupção é a humana, em que pessoas adultas, supostamente confiantes no que são e sabem, acabam por sucumbir a outros ideais que não os seus… Muito actual! FICHA TÉCNICA: Texto: Mário de Carvalho; Encenação: Maria
do Céu Guerra; Direcção Plástica: José Costa Reis; Elenco: João D'Avila, Jorge Gomes Ribeiro, Paula Guedes, Rita Fernandes, Ruben Garcia, Sérgio Moras e Vânia Naia; Assistência de Encenação: Sérgio Moras; Fotografias: MEF Movimento de Expressão Fotográfica
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“ANIMAIS NOCTURNOS”
Até 29 do corrente, a Escola da Noite tem em cena "Animais Nocturnos", de Juan Mayorga, uma peça que se desenvolve a partir da chantagem exercida sobre um imigrante sem-papéis numa cidade dos nossos dias. O autoritarismo, a discriminação, a solidão e uma "incomunicação generalizada" são alguns dos temas fortes do texto, sem maniqueísmos nem respostas fáceis. Mayorga é um dos mais importantes dramaturgos espanhóis contemporâneos. Na sua recente vinda a Coimbra, no âmbito das Jornadas organizadas pel'A Escola da Noite, relembrou o contexto em que nasceu esta peça. Em 2002, o Royal Court Theatre, de Londres, pediu a vários dramaturgos europeus que escrevessem peças curtas sobre políticas dos seus países. Juan Mayorga escolheu a lei de imigração, pela forma como ela "divide a sociedade em duas: há homens com documentos e homens sem documentos". Explorando a forma como estas leis estabelecem uma diferença "entre uns e outros" e como "tornam tentadora, para cada homem com papéis, a possibilidade de dominar o outro", escreveu a peça "O bom vi-
zinho". Posteriormente, desenvolveu o texto e compôs "Animais Nocturnos" - acrescentando à intolerância e ao abuso sobre os fracos por parte dos que se sentem superiores os temas da solidão, da incomunicação e da procura de liberdade nas sociedades contemporâneas. Com encenação de António Augusto Barros, o novo espectáculo d'A Escola da Noite mantém a ambiguidade e os pontos "em aberto" do próprio texto, numa cadeia de liberdade e imaginação que se completa apenas na leitura e na reflexão que for capaz de suscitar no espectador. FICHA TÉCNICA: Animais Nocturnos: texto Juan Mayorga;
tradução António Gonçalves; encenação António Augusto Barros; interpretação Maria João Robalo, Miguel Lança, Miguel Magalhães, Sofia Lobo; cenografia António Augusto Barros, João Mendes Ribeiro; figurinos Ana Rosa Assunção; desenho de luz Danilo Pinto sonoplastia Eduardo Gama Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo: 5 a 29 de Janeiro de 2012; quinta a sábado, 21h30; domingos, 16h00. Os preços variam entre os 6 e os 10 Euros e é aconselhável a reserva prévia de lugares.
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Boavida|Cinema em Casa
Realidade e ficção A desafiar este o novo ano, que se antevê dolorosamente real e 'austero', seleccionamos dois recentes filmes de ficção científica: "Super 8", homenagem, com traços realistas, à geração de 1980, e "Planeta dos Macacos: a Origem" que questiona o papel da ciência e a relação dos homens com os primatas. Completam a escolha duas sugestões bem mais "realistas": "Larry Crowne", e "Pequenas Mentiras entre amigos". Sérgio Alves SUPER 8
LARRY CROWNE
98m, Cor, 2011; EDIÇÃO: Zon
PEQUENAS MENTIRAS
Verão de 1979: numa cidade
Larry Crowne, veterano da
Lusomundo
ENTRE AMIGOS
industrial do Ohio, um grupo
Marinha, trabalha num
de seis adolescentes procura
armazém e leva uma vida
PLANETA DOS MACACOS:
sucedido empresário da
ocupar o tempo de férias
tranquila até ao dia em que é
A ORIGEM
restauração, e Véro, a esposa
preparando as filmagens de
despedido. Falta-lhe, apesar da
Will Rodman é um jovem
ecologista, convidam um
um filme de ter-
experiência, um grau académi-
cientista que procura desco-
grupo de amigos para a sua
ror caseiro. Uma
co superior para progredir na
brir a cura para a doença de
bela casa de praia a fim de fes-
noite, enquanto
carreira. Tem dificuldade em
Alzheimer e cria uma subs-
tejar o aniversário de Antoine
filmavam na
encontrar trabalho e quase
tância chamada ALZ-112 para
e o início ao Verão. Um dos
estação fer-
perde a casa, até que, um dia,
tentar combatê-la. Todavia,
amigos, Ludo, é vítima, porém,
roviária da
que um vizinho aconselha-o a
esta possui um efeito curto, e
de um grave acidente, antes da
cidade assistem
inscrever-se numa universi-
passado algum tempo, o
sua partida de casa, em Paris.
a uma colisão assustadora de
dade local…A sua vida
corpo consegue produzir anti-
Apesar disso, o grupo mantém
uma carrinha com um vagão
começa a mudar: faz novos
corpos que acabam com o
a viagem e todos eles carregam
de carga. Fica tudo registado
amigos, compra uma pequena
efeito da substância. Os
os seus próprios problemas e a
na pequena câmara de Super
lambreta, estuda economia,
macacos, que são usados
forma de os enfrentar nas
8, o grupo começa a desconfi-
começa a trabalhar num
como cobaias de
férias anuais. Sucesso maior
ar que a colisão não foi ape-
restaurante… e apaixona-se
laboratório,
em terras gaulesas, o filme
Todos os anos, Max, um bem
nas um acidente e que o
pela sua pro-
reagem de forma
aborda com
exército esconde algo impor-
fessora
diferente à subs-
inteligência e sen-
tante e terrível…Com um
Mercedes! "O
tância pois esta
sibilidade as
elenco jovem e um argumento
regresso de
aumenta a sua
relações de
original, J. J.Abrams conta-nos
Tom Hanks à
inteligência e a sua relação
amizade e amor,
uma história com traços de
realização é
com os homens começa a
com situações
uma aposta
mudar …Baseado no livro "La
quer de dor quer de alegria,
que, aliada à qualidade dos
feliz. Na melhor tradição do
Planète des Singes", de Pierre
marcadas pela ausência de um
efeitos especiais, agradou à
cinema norte-americano de
Boulle, o filme é uma metáfo-
deles. Escrito e realizado pelo
crítica e ao público. Produzido
narrar histórias de vida inspi-
ra poderosa sobre os perigos
actor Guillame Canet, o filme
por Spielberg, "Super 8" é
radoras, o filme tem dois pesos
que a Ciência e a investigação
é uma oportunidade única de
uma viagem aos melhores
pesados do cinema actual - o
científica enfrentam quando
ver alguns dos melhores talen-
tempos de juventude de um
próprio Tom Hanks e Julia
procuram lidar com algumas
tos do cinema francês actual e
grupo de adolescentes e lem-
Roberts - combina drama e
das doenças e problemas
recorda um clássico norte-
bra os filmes de aventuras dos
boa-disposição com uma
mais delicados da
americano do género: "Os
anos 80 como E.T. (1982) ou
estrutura simples, narrativa
humanidade.
Amigos de Alex" (1983).
Os Goonies (1985).
fluída e um final feliz. Coisa
TÍTULO ORIGINAL: Rise of the
TÍTULO ORIGINAL: Les Petits
TÍTULO ORIGINAL: Super 8;
rara no cinema actual.
Planet of the Apes;
Mouchoirs; REALIZAÇÃO:
REALIZAÇÃO: J.J. Abrams; COM:
TÍTULO ORIGINAL: Larry Crowne;
REALIZAÇÃO: Rupert Wyatt;
Guillame Canet; COM: François
Elle Fanning, Joel Courtney,
REALIZADOR: Tom Hanks; COM:
COM: James Franco, Freida
Cluzet, Marion Cotillard, Benoit
Kyle Chandler, Bruce
Tom Hanks, Julia Roberts,
Pinto, Andy Serkis, John
Magimel, Jean Dujardin;
Greenwood; EUA, 112m, Cor,
Bryan Cranston, Cedric The
Lithgow, Brian Cox; EUA, 105m,
França, 154m, cor, 2010;
2011; EDIÇÃO: Zon Lusomundo
Entertainer, Pam Grier; EUA,
cor, 2011; EDIÇÃO: Pris
EDIÇÃO: Zon Lusomundo
ficção científica e mistério
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Boavida|Grande Ecrã
Em torno da humanidade A última semana do ano (mais exactamente no antepenúltimo dia, chegou às salas "O Deus da Carnificina", o último Polansky sobre o "bullying") já terá dado o tom: em Janeiro há um punhado de importantes estreias cujo denominador comum é testemunharem sobre os comportamentos e motivações do espírito humano ou, - como no portentoso documentário de Herzog -, "decifrar" os mistérios da origem da Humanidade.
um pai e suas duas filhas adolescentes na sequência de um acidente de barco que coloca a sua mulher em estado crítico. Payne, que não brinca em serviço, não deixa de impregnar o filme de um tom humorístico por vezes irónico nem se retrai a convocar (pelo gozo, certamente) dois grandes mestres do cinema clássico como Billy Wilder e Jean Renoir. Talvez que por essa e "outras" ousadias habituais a Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles se tenham convencido da justeza em nomeá-lo "the best film of the year".À frente do "cast", o brilhante George Clooney.
Joaquim Diabinho
a luta política da activista pró-democracia e prémio Nobel da paz., Aung San Suu Kyi contra o governo militar autoritário birmanês fala "Um Coração Dividido" ("The Lady", no original, em cartaz dia 12). O que visívelmente interessa a Luc Besson é, no entanto, focalizar-se na história de amor passional e infinito - que nada fará vacilar: nem a separação forçada, nem o isolamento, nem a morte entre a militante pacifista e o seu marido, Michael Aris. Apesar de Besson ter sido criticado por excesso de simplismo (p.e., como retrata a luta de Aung San Suu Kyi contra o poder militar), o filme resulta numa interessante reflexão sobre a coragem feminina (tal como a Jeanne D'Arc...de Besson) de um dos símbolos maiores da luta determinada de uma mulher que sacrificou a sua felicidade em nome de um nobre ideário.
D
DO NORTE-AMERICANO ALEXANDER PAYNE
(autor do fabuloso"Sideways") chega a 19 às salas "The Descendants", uma comédia dramática centrada na vida familiar e, em especial, na relação que se restabelece entre
EM "PAIXÃO", MARGARIDA GIL propõe-nos (a partir de 19) uma viagem "aos abismos do desejo e da relação humana". Apreciada pelo rigor e economia do seu "cinema testemunho" de questões existenciais e sociais, a cineasta de "Relação Fiel e Verdadeira" prossegue segura na observação dos comportamentos. João Lucas, Ana Brandão, Sandra Faleiro e Gonçalo Amorim, entre outros, entranham-se bem nos personagens. O argumento (co-assinado por Gil) e os diálogos são da autoria da escritora Maria Velho da Costa. A ver vamos. QUANTO A "THE CAVE OF FORGOTTEN DREAMS" ("Sonhos Esquecidos", título em português. Será?) o maior do elogios que se poderá fazer a Werner Herzog é a de que o seu estatuto de visionário está de boa saúde e recomenda-se. Senão vejamos: realizar um documentário com cameras 3D na célebre gruta de Chauvet (sul de França) que conserva centenas de pinturas rupestres espectaculares criadas à mais de 30.000 anos, à época do homem de Neandertal só pode significar, primeiro que tudo o resto, uma viagem visual, fabulosa, fantástica e memorável. Para mais, Herzog traduziu em imagens documentais inesquecíveis uma autêntica aventura pedagógica e cultural. De visão obrigatória também para crianças e jovens. n JAN 2012 |
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Boavida|Tempo Informático
Ano novo e novidades O ano que agora principia tem sido apresentado como algo de muito difícil onde imperam a austeridade e os sacrifícios. Portanto cumprirá a cada um conhecer exactamente até onde podem ir as prioridades nesta tecnologia. Mas ela não pára e há coisas que são de facto necessárias e outras que podem trazernos algum proveito ou prazer de que necessitamos para que também a vida não pare.
tância com controlo remoto para gravação. Ao contrário de muitas boxes disponíveis no mercado, cujo argumento de venda é o preço, a Triax TR-41 é actualmente a melhor aposta na relação preço-qualidade. PVP 59,90 €. Claro que encontra mais baratas mas o barato às vezes - e é o caso sai caro.
Gil Montalverne
ajuda@gil.com.pt
inguém dispensa hoje em dia a Televisão. A passagem para a Televisão Digital Terrestre ou TDT torna impossível a ligação directa ao sinal por satélite. Os anúncios e avisos multiplicaram-se chamando a atenção para a compra de uma box ou caixa descodificadora que transforma esse sinal num sinal digital, com muito melhor qualidade. Mas talvez não saibam que entre as múltiplas boxes que invadiram o mercado e anunciadas como baratíssimas, grande parte delas são de linha branca ou marca desconhecida, sem garantia assegurada por fabricante idóneo. Sugerimos portanto a TRIAX TR-41, uma box para a TDT, de grande fiabilidade, rapidez e funcionalidades avançadas com gravação de vídeo HD, apresentada pela SatCab numa excelente relação qualidade-preço. A longa experiência da Triax na criação de soluções para a TDT na Europa é já uma garantia. Esta box não só confere novas funções a televisores mais antigos e prolonga a sua utilidade, como apresenta características fundamentais: grande sensibilidade na captação de canais mesmo em zonas onde a potência do sinal não seja a mais correcta; rapidez no zapping; gravação e sua memorização graças à memória interna (4 MB flash e 64 DDR); porta USB para gravação em disco externo ou numa pen, com funções de avanço, recuo, pausa e retoma de TV em directo; leitura de ficheiros Mpeg2, Mpeg4 e DivX; baixo consumo com temporizador e stand-by automáticos; suporte para televisores com entradas analógicas (SCART ou A/V); comando à dis-
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JÁ OUVIRAM FALAR DOS EBOOKS. Uma espécie de tablet onde pode arquivar vários livros num só lugar. É útil para levar para férias, viagens, etc. Evita o peso dos vários volumes de papel que teria de transportar. E vai escolhendo a seu gosto. A TREKSTOR apresenta o mais completo leitor de livros digitais na sua categoria de preços, o eBook Reader 3.0 com PVP aconselhado de 69,90 €. Com ecrã a cores de 7'' (17,8 cm) na diagonal, pode ser usado ao alto ou na horizontal, possui gestão de marcadores, ampliação (zoom) e ajuste do tipo e tamanho da letra. Além disso, pode ser também usado como leitor de MP3 e visualizador de fotografias. O armazenamento de 2 GB admitindo ainda cartões microSD até 32 GB significa uma capacidade para milhares de livros eBook em 275 gr de peso. A bateria de polímeros de lítio dá uma autonomia de leitura de 8 horas ou até 30 horas na reprodução de música. Os eBooks serão, ou já são, o futuro. n
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Boavida|Ao volante
Os novos Gordini de “avant-garde” Nas décadas de 60 e 70 a Renault dominava os vários campeonatos de Ralis com o seu modelo Gordini, tendo, em Portugal, o saudoso José Carpinteiro Albino, vencido, em 1967, o primeiro Rali de Portugal.
Carlos Blanco
gora, volvido quase meio século, a marca francesa faz reviver o mítico Gordini, lançando três modelos da brilhante série: o Clio, o Twingo e o Wind. Deste trio, somente o desportivo Wind não é vendido em Portugal. As suas marcantes listas brancas sobre uma carroçaria azul, regressam a Portugal associadas aos pequenos modelos Twingo e Clio RS, que vestem, nesta versão ainda mais desportiva, motores a condizer: 1.6 a gasolina com 133 cavalos (21.500 euros) e 2.0, também a gasolina, com 203 cavalos (29.950 euros). No interior merece destaque o volante em couro, preto e azul com duas bandas brancas e a alavanca da caixa de velocidades com punho azul e assinatura Gordini. Dos dois modelos ensaiados, destaque para o desportivo e elegante Clio Gordini RS, com o pormenor da letra "G" associada à lâmina aerodinâmica do tipo F1 em branco no pára-choques dianteiro e os retrovisores brancos. No habitáculo, uma harmonia preta, azul e branca veste o espaço, dos estofos ao volante. Cada detalhe foi objecto de uma atenção extrema. Os bancos desportivos do tipo bacquet ostentam a marcação Gordini e recebem uma confecção inédita em couro, homenagem aos míticos Gordini do passado. A excluvisidade Gordini é garantida pelas chapas numeradas de série limitada, que identificam o número de produção de cada carro. No que toca ao Twingo, mostrase um carro que integra o estilo único da marca Gordini e o desempenho RS. Cada detalhe foi objecto de uma atenção extrema a pensar nos adeptos de emoções fortes que se revêem na expressão "o direito à diferença".
A
Mas, a cereja no topo do bolo dos novos Gordini é sem dúvida o roadster Wind que, infelizmente, não será comercializado em Portugal, mas que tivemos a oportunidade de apreciar em Paris. Trata-se de um conversível que vem com um acabamento diferenciado. O modelo ganha também um tecto retráctil em preto brilhante aerófilo (que abre em escassos 12 segundos) e rodas com jantes de liga leve de 17 polegadas, que o tornam ainda mais desportivo. O Wind é comercializado com duas motorizações a gasolina: 1.2 com 100 cavalos de potência (17.769 euros) e uma versão mais potente, com propulsor 1.6 com 133 cavalos (18.816 euros). Deste novo modelo da marca do losango foi feita uma edição limitada de 200 veículos. Em nota de rodapé final, e embora saibamos a crise com que nos debatemos, não deixamos de aqui deixar um desafio à Renault Portugal: porque não que organizar um troféu Gordini? n JAN 2012 |
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Boavida|Saúde
Alguns conselhos para combater a flatulência A flatulência é uma queixa que, só por si, não leva o doente a procurar o médico, mas quando inquirido, revela em geral um grande alívio por poder partilhar uma situação que lhe provoca constantemente desconforto e embaraço.
M. Augusta Drago
medicofamília@clix.pt
flatulência, em si, não constitui uma doença, mas diminui a qualidade de vida. As pessoas referem incómodo com o seu próprio corpo distensão do abdómen pela excessiva produção de gases, dores abdominais do tipo cólica, que podem ser fortes, com ruídos hidro-aéreos e que ocorrem nas alturas mais inoportunas. Junta-se a isto a sensação desagradável de se sentirem apertadas dentro das suas roupas. Acontece muitas vezes recusarem convites para sair e fugirem a eventos sociais, porque receiam não conseguir controlar a saída intempestiva dos gases que habitam nos seus intestinos e perguntam desanimados - o que é que eu posso fazer? Os gases que habitam o nosso tubo digestivo têm duas origens: uns, em menor quantidade, são resultado da deglutição do ar. Esta situação, a que chamamos aerofagia, agrava-se com a ansiedade; outros, em maior volume, são produzidos nos intestinos. São o resultado das reacções químicas que acompanham a digestão de alimentos que contêm fibras, como os cereais, as leguminosas e as frutas. As bactérias intestinais também contribuem para a produção de gases, quando da fermentação de fibras mais resistentes, como o grão, as sementes, a batata mal cozida, etc. Quanto mais tempo os alimentos demorarem nos intestinos, mais probabilidades existem de se produzirem gases. É esta a razão porque as pessoas que sofrem de obstipação também se queixam de flatulência. O odor destes gases torna-se mais intenso e desagradável quando se consomem alimentos proteicos, tais como
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carne, ovos, peixe, leite ou queijo. Existem mais alimentos que originam gases fétidos. São, entre outros, os brócolos, a cebola, o alho e a cerveja Não há regras alimentares que se apliquem uniformemente a todas as pessoas, pois existem alimentos que causam flatulência a umas pessoas e não causam a outras. Em geral, os alimentos que provocam mais gases são o leite nas pessoas que têm deficiência em lactase (enzima que decompõe a lactose), o pão saloio, as leguminosas, tais como ervilhas, favas, grão-de-bico, etc. Tanto o leite como as leguminosas e os cereais contêm nutrientes muito importantes para a nossa saúde, pelo que não podemos eliminá-los totalmente. O mais sensato é tentar investigar, por grupos de alimentos, aqueles que causam mais perturbação. É frequente aconselhar as pessoas a fazerem um registo dos alimentos consumidos e dos sintomas durante algum tempo, até encontrar um padrão de comportamento intestinal. No caso de suspeitar de alguns alimentos, elimine-os da sua dieta, um de cada vez, até identificar o/os causador/es das suas queixas. Em regra, é sempre benéfico comer devagar, num ambiente tranquilo, mastigando bem e em pequenas porções. Beba pausadamente e evite bebidas gaseificadas. Confeccione os pratos com pouca gordura, use ervas aromáticas e condimentos como o gengibre. Coza bem as massas e torre o pão para reduzir as fermentações. Demolhe o feijão e o grão e, se possível, retire-lhes a pele. Consuma o iogurte o mais próximo da data de fabrico e, depois das refeições, experimente tomar um chá de hortelã. n ANDRÉ LETRIA
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Boavida|Palavras da Lei
Árvores que se prolongam. Tapagens ?
Possuo uma casa numa aldeia do Alentejo (prédio urbano com terreno 900m2).
O vizinho de um dos lados tem algumas árvores, nomeadamente pinheiros e sobreiros no seu terreno; o sobreiro mais próximo encontra-se a 2,60 metros da extrema, prolongando-se a copa para cima da minha propriedade, com a consequente sombra e queda de folhagem para cima dos meus citrinos. Gostaria de falar cordialmente com o proprietário mas sabendo, previamente, o que a Lei prevê para estes casos. Sócio devidamente identificado - Évora
Pedro Baptista-Bastos
stas questões, por mais simples que possam parecer, foram previstas no nosso Código Civil. Um Código Civil é um livro muito interessante dado que, sob as normas jurídicas, terminologia e conceitos legais, estão contidas quase todas as situações da vida de todos nós, desde o momento da concepção até à morte, passando por sociedades, casamentos consumados ou não, enfim, uma fascinante combinação da vida humana. Assim, estamos diante de uma situação de "Plantação de árvores e arbustos", prevista nos artigos 1366º a 1369º do Código Civil, uma desses casos da vida que podem ocorrer a qualquer um de nós. E a nossa lei civil, no nº 1 do seu artigo 1366º, afirma que é lícito ao "dono do prédio vizinho…arrancar e cortar as raízes que se introduzirem no seu terreno e o tronco ou ramos que sobre ele propenderem, se o dono da árvore, sendo rogado judicial ou extrajudicialmente, o não fizer dentro de três dias". O nosso leitor e sócio vai ter uma amável conversa com o seu vizinho, e pede-lhe para cortar os ramos, o que ele certamente fará.
E
E, para evitar este género de pequenos inconvenientes, pode ainda, nos termos do artigo 1356º do Código Civil, murar, valar, ou tapar a sua propriedade de qualquer modo, de maneira a que os ramos não o incomodem mais. Com boa vontade tudo se resolve. Aproveito para desejar a todos os sócios, colaboradores e leitores da "Tempo Livre" um Feliz Natal e um excelente Ano Novo de 2012. Tudo se resolverá pelo melhor! n
ERRO: Errei na apresentação da solução jurídica da minha crónica na revista de Dezembro 2011. Com efeito, quer eu, quer outros advogados, receberam, nos conjuntos de normas publicados na nossa ordem jurídica e que lhes são enviados via mail, um diploma, sob a forma de norma nacional. Essa norma é brasileira. Recebi o aviso dias após do envio da crónica, e quando já não era possível substituir o que escrevi. Pelo meu erro, e pela indução em erro que possa ter causado aos leitores da revista "Tempo Livre", apresento as minhas desculpas. Aos leitores, os meus votos de Feliz Natal e Próspero Ano Novo. PBB JAN 2012 |
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ClubeTempoLivre > Passatempos Palavras Cruzadas | por José Lattas HORIZONTAIS: 1-Multidão; Irra; Prezar; Grito de dor. 2-
Indivíduo atacado de reumatismo. 3-Bebida alcoólica destilada do melaço de cana-de-açúcar; Serviços secretos americanos (sigla). 4-Amofinar; Alcácer. 5-Chaminé; Acalmar; Aconselha. 6-Aplicar; Amasse. 7-Estudo. 8-Compreende; Abonado. 9Renque; Dera as cores do arco-íris a; Mealheiro. 10-Mamífero carnívoro, que vive na África e na Ásia; Andamento. 11-Rio de Portugal, afluente da margem esquerda do Douro; Abundância. 12-Patriarca antediluviano, que viveu muitos anos. 13-Ródio (s.q.); Pronome demonstrativo (fem.); Planalto; Símbolo da razão da circunferência pelo diâmetro (mat.).
1
2
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Larvas que se criam nas feridas dos animais; Planta da família das Liliáceas, muito usada como condimento. 3-Maritimo que não tem amor à profissão (Bras.). 4-Atitude; Pronome pessoal. 5-Descascam; Povos que habitavam a região do actual Peru. 6Ruténio (s.q.); Riacho; Todo o terreno (sigla). 7-Ave de grande porte, que habita nas planícies da Austrália; Rio que nasce em Espanha e banha Mirandela. 8-Que tem mirto. 9-Junto; Tio da América. 10-Nota musical; Adejara; Disparata. 11-Topar; Sistema montanhoso, que atravessa longitudinalmente, toda a América do Sul. 12-Letra grega; Nome por que também se designa o cânhamo-de-manila. 13-Coligir. 14-Divindade egípcia, esposa de Osíris e mãe de Horus; Tinjo. 15-Imposto sobre o valor acrescentado; Signos sem valor próprio (arit.); Nome de homem.
12 13 SOLUÇÕES (horizontais): 1-MO; APRE; AMAR; AI. 2-A; REUMATICO; V. 3-RUM; L; A; O; H; CIA. 4-RALAR; M; PAÇOS. 5-LAR; MITIGAR; DIZ. 6-USAR; B; R; I; PISE. 7-I; M; LEITURA; F; R. 8-SABE; I; O; A; RICO. 9-ALA; IRISARA; COS. 10-HIENA; O; ANDAR. 11-COA; C; T; S; D; ROR. 12O; MATUSALEM; U. 13-RH; ESTA; MESA; PI.
VERTICAIS: Verticais:1-Abismo; Nome feminino; Aparência. 2-
Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos
N.º 33 Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado
N.º 33
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SOLUÇÕES
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ClubeTempoLivre > Novos livros
narrativas
EUROPA FEDERAL E A
históricas e
QUARTA REPÚBLICA
IMPÉRIO
curiosidades
O FUTURO DAS RELAÇÕES
Steven Saylor Continuando a saga épica
de vários
ENTRE PORTUGAL E A
países
UNIÃO EUROPEIA
africanos e
António Covas
BERTRAND EDITORA
programar o seu dia a dia.
sobre Roma e o seu povo, a obra traça o destino da
de vários povos que
Portugal
aristocrática família Pinário
representam as culturas
precisa de
durante
deste imenso e misterioso
uma Europa
gerações: das
continente. Inclui mapas e
Federal e de
maquinações
informações sobre usos,
uma 4ª
de Tibério à
costumes e natureza, sem
loucura de
esquecer uma referência ao
que não se esgote na mera
O GATO DAS BOTAS
Vale de Rift, berço da
revisão Constitucional do país. A obra analisa as
de Ouro de Trajano e
Stella Gurney O Gato das Botas é um
humanidade. A obra revela a extraordinária
relações com a europa e as
Adriano, são muitos os
simpático bichano com
riqueza cultural africana.
influências nos Estados
momentos dramáticos que
imensos truques na manga.
definiram toda uma era.
Tem um plano para
Calígula, da decadência de Nero à Idade
República
Membros.
EDIÇÕES COLIBRI
transformar o seu amo
D. DINIS - ACTAS DOS
ANDAM FAUNOS PELOS
mandrião num abastado
AS BIBLIOTECAS DE
ENCONTROS SOBRE D.
BOSQUES
nobre. Uma história divertida
CASTELO DE VIDE E A
DINIS EM ODIVELAS
Aquilino Ribeiro Este romance lançado em
com janelas pop-ups.
EDUCAÇÃO POPULAR
A notável tradição histórica
1926 reaviva lendas e crenças beirãs, através da
EDITORIAL CAMINHO
(1863-1899)
de Odivelas,
Filomena Sousa Bruno Em finais do séc. XIX surge
deve-se, em parte, ao
imagem do
legado de El-
fauno que
DICIONÁRIO DE LUÍS DE
Rei D. Dinis.
vagueia
CAMÕES
Reconhecido
pelos
Vítor Aguiar e Silva Elaborado por especialistas
pelo desenvolvimento da
bosques em busca
nacionais e estrangeiros,
impulso que deu à educação
atividade agrícola e pelo
este é o
e ensino, acreditando serem
donzelas desprevenidas.
primeiro
alicerces da nação, o Rei-
Fala-nos do belo e divino, da
dicionário
Agricultor ou O Lavrador, foi,
relação com o desconhecido
dedicado à
ainda, poeta/trovador e autor
e retrata um conjunto de
vida e obra de
de Cantigas de Amigo e de
sacerdotes, analisando-lhes
Camões.
Amor.
de
Constitui um vasto e rico
em Castelo de Vide, por
"Thesaurus da camonística
iniciativa associativa, a
AGENDA 2012 - PRAÇA
contemporânea" com
primeira biblioteca do
DA ALEGRIA
informações sobre toda a
distrito de Portalegre.
sua obra.
Oferecia um acervo
A MULHER DO TIGRE
documental diversificado
a fé e a vida.
Com dicas e conselhos
EDITORIAL PRESENÇA
sobre saúde,
HISTÓRIAS E LENDAS DE
que disponibilizava
Téa Obreht Destacada em missão de
culinária,
ÁFRICA
gratuitamente à
solidariedade, Natalia, uma
Ana Maria Magalhães e
comunidade local. Uma obra
jovem médica recebe a notícia da morte do avô,
decoração, esta agenda irá
Isabel Alçada Um livro de contos
que pretende preservar a memória e origem da atual
ocorrida em circunstâncias
ajudá-lo a organizar e
tradicionais, lendas,
Biblioteca Laranjo Coelho.
pouco claras. Ao recorda-se
jardinagem, beleza e
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dele e das
montanha encantada para
SUBMUNDO
suas
conquistar um castelo
histórias,
abandonado. Enquanto se
Robert Finn Quando se é ladrão é difícil
convence-se
divertiam, um grupo rival e
conhecer a rapariga certa. E,
que ele
temível lançou-lhes um
quando
de vários pontos do país,
passou os
desafio...
isso
incluindo a Inatel na ilha das
acontece,
Flores e Linhares da Beira.
últimos dias em busca de uma das suas personagens.
MIL E UMA IDEIAS PARA
há sempre
Sem descuidar a sua missão
LIDARES COM O TEU
alguma
e para desvendar o mistério
MUNDO
coisa a
segue uma pista que a
Theresa Cheung Para ajudar as
conduz à mulher do tigre.
integra em 20 Unidades Hoteleiras de luxo e charme
atrapalhar. Ficar preso no metro, ser
Uma evocação sublime dos
adolescentes
apanhado um tiroteio…
Balcãs.
a integrar-se
enfim…se conseguir
de forma
sobreviver tem de convencê-
O PRIMEIRO ANO DE UMA
equilibrada
la a dar o seu número de
ESCOLA FANTÁSTICA
num grupo de
telefone.
Margarida Fonseca Santos O Colégio das Artes vai
Gabriela Botelho Uma magnífica edição que
amigas é fundamental
Um policial que se desenrola
manter e reforçar a
ao ritmo de um comboio em
confiança em si própria. Um
alta velocidade.
livro com segredos que
PAULUS EDITORA
orienta as jovens a trilhar um
CURA
caminho equilibrado e de
Robin Cook Laurie Montgomery aproveita
AS MINHAS PRIMEIRAS
a remissão do
Thereza Ameal
sucesso.
ORAÇÕES Para
neuroblastoma do seu filho para
ensinar e
regressar ao
incentivar
OS APÓSTOLOS DA FÉNIX
Gabinete de
as crianças
Lynn Sholes e Joe Moore Durante a
Medicina
a rezar, este
EUROPA-AMERICA
livro
Legal de
receber, pela primeira vez,
abertura do
Nova Iorque.
apresenta um conjunto de
alunos cheios de
túmulo de
E, pela
orações para diversas
expectativas em relação ao
Montezuma
frente, tem de resolver a
novo projeto de ensino. E, foi
na Cidade
estranha morte de um ex-
ali que Tiago descobriu que
do México a
investigador detentor de uma
OS PIRATAS QUE
gostava de Teatro, enquanto
equipa de
patente extremamente
ROUBAVAM VERDADES
situações e ocasiões.
Teresa percebeu que o jazz
escavação descobre que os
valiosa sobre células
Rita Vilela e Ana Sofia
era mais divertido que a
restos mortais do
estaminais e, um puzzle
Caetano
música clássica.
imperador desapareceram.
altamente perigoso, que
De forma
Nesse momento, com
pode pôr em causa a vida do
divertida o
OS CAVALEIROS DA
exceção da jornalista
seu filho. Conseguirá a
livro ajuda a
MONTANHA
Seneca que escapa por um
médica legista ter êxito e
criança a
Maria Teresa Maia Gonzalez Um grupo de
triz, todos os presentes são
resolver o caso?
refletir sobre
assassinados.
os problemas do universo e a
amigos
Empenhada em desmistificar
sua relação com os outros.
montados nos
os motivos da tragédia,
seus cavalos
Seneca persegue um trilho
subiram a
letal que a leva ao tempo de
LUXO E CHARME NA
uma
Cristo.
HOTELARIA EM PORTUGAL
GB COLLECTION
Inclui ficha com questões para promover a comunicação. Glória Lambelho JAN 2012 |
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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o
Era uma vez... na ilha dos monges pardos Hoje são as mãos a memória. / A alma não se lembra, está dorida / de tanto recordar. Nas mãos, porém, / resta a lembrança do que tiveram.[…] Pedro Salinas, "La memoria en las manos", in : Largo Lamento (1975) Trad. MAVF
H
á muito que vivemos juntos, partilhando, de forma mais ou menos equitativa, mais ou menos pacífica, um T3 junto ao mar: eu, que tenho de manter as finanças do nosso estranho agregado quase familiar sem intervenções do FMI e sem, mesmo assim, faltar com o necessário ao sustento comum, e tendo ainda em conta a minha humana configuração vertical, ocupo, por direito próprio, todo o espaço acima do pavimento de todos os compartimentos; eles, brevilíneos, milimétricos, em quem pressinto um carácter dissimulado, matreiro, com uma inequívoca tendência para a clandestinidade, habitam, por interesse próprio, o espaço sob o tão injustamente celebrado "soalho flutuante" do meu quarto e da biblioteca, onde podem dar largas ao seu indiscutível interesse pelas "belles lettres". A Leitora, ou o Leitor, que tenha lido a crónica de Dezembro de 2009 já terá compreendido que me refiro aos Lepismas (traça-dos-livros), cuja sobrevivência sob o meu tecto se deve apenas à minha mais profunda rejeição da pena de morte. A sua presença nesta crónica explica-se, porém, pelo facto de um dos elementos da sociedade, esquecendo a habitual manha, me ter conduzido ao livrinho que para mim é um pequeno diário de viagens há muito esquecido num mundo de papel e palavras, e para ele uma grande dispensa bem fornida. Com ele nas mãos, tudo é, subitamente, silêncio e ausência à minha volta. Como Unamuno, "desterro-me na memória", uma memória metodicamente devorada pelo lepisma na superfície de uma dezena de fotografias. Maio de 1959. Na Ilha dos Monges Pardos = Schiermonnikoog - uma ilha de 18x4 km, nascida das tempestades no Mar do Norte, no extremo setentrional da costa frísia dos Países Baixos, que ficou a dever o seu nome, e o da sua actual liliputiana capital, aos seus primeiros habitantes, Monges de Cister, que vestiam hábito cinzento e, até 1580, ali possuíam uma pequena exploração agrícola, des-
truída por uma das grandes tempestades que periodicamente varrem a ilha. De olhos fechados, refaço de memória o percurso de então - visita breve, precedida pela travessia em barco a vapor, demasiado frágil, evidentemente, quanto a mim, que vivo fascinada pelo mar, mas visto de terra firme. Cerca de uma hora de paf, paf, paf, por entre névoas espessas, sacudidos pelas tradicionalmente agitadas águas do Mar do Norte, o acolhimento recebido faz-nos sentir reis da ilha. Deslocamo-nos a pé ou de bicicleta, que não são permitidos carros, através de uma curta estrada primitiva e de extensos areais, povoados por centenas de espécies de aves, que ali nidificam, e por uma que outra foca, aparentemente demasiado cansadas para prestarem atenção a forasteiros. A nossa nacionalidade portuguesa vale-nos os serviços voluntários de guia de um dos habitantes, pescador de profissão. Trineto de um polaco naufragado, aproveita para, numa algaraviada, que o nosso colega neerlandês nos traduz para espanhol, nos revelar alguns segredos da ilha. Nos velhos tempos da pirataria, por exemplo, o grande negócio dos habitantes, que viviam preponderantemente da pesca, tinha sido a recolha de salvados de naufrágios, frequentes na zona, sobretudo graças à ajuda que os ilhéus davam às ondas e aos ventos, acendendo ardilosamente fogueiras nos pontos mais propícios ao desastre. Não obstante - diz pesaroso - só conseguiram um navio inglês carregado de pipas de vinho do Porto, de que - segredo de polichinelo - ainda alguns privilegiados bebiam, vez por outra, um copinho muito pequenino. Ainda na memória, abro os olhos no presente. Nos lábios ainda o sorriso com que acabo de ouvir a história; no coração o temor da viagem de regresso. Para Octávio Paz, "a memória é um presente que nunca acaba de passar"; para o Petit Robert, é, desde 1050, "a faculdade de conservar estados de consciência passados, e tudo quanto a eles se encontra associado"; para mim, é algo de terrível quando o temos e de igualmente terrível quando o perdemos. Feliz 2012, Senhoras e Senhores Leitores! n JAN 2012 |
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Os contos do
Jogo perigoso
E
ram quarto à conversa na mesa de canto do Café Violeta. Falou-se da crise com críticas repartidas por governantes de cá e de fora; discutiram futebol com queixas desencontradas de erros dos árbitros; por fim, e como em regra acontecia, o debate centrou-se nas mulheres, mais em concreto na fina arte do engate. Foi aí que Jota Lourenço afirmou: - Nesse aspecto, não há ninguém que supere o Lídio Barbosa. Nenhuma mulher lhe resiste. Nem uma. Reclinado e trocista, Jaime Dinis disse: - Não vamos exagerar. Provavelmente, o tipo só avança para as que se mostram interessadas. Todavia, as palavras do amigo deixaram-no a cismar: e se um tipo assim, considerado irresistível, tentasse seduzir sua frágil mulher, Vera Helena? Nada a recear, conclui. Não poucos o teriam tentado nos tempos em que era considerada a beleza suprema da faculdade. Mas só a ele, Jaime Dinis, concedera todos os sins. Nessa tarde, chegado a casa, observou com mais atenção os modos e expressões da mulher. Continuava linda, talvez mais que nunca, na maturidade dos seus trinta e oito. Decerto despertaria cobiças, bem vira já olhares gulosos, alguns de visitantes de sua casa. Ela, no entanto, nem dava sinais de se aperceber. Indiferente, superior, vogava como uma deusa sobre os desacertos às regras. Zangou-se com ele próprio por lhe ter ocorrido tal disparate mas não conseguiu evadir-se da questão. "Nenhuma mulher lhe resiste. Nem uma" - afirmou o arguto Jota Lourenço, apontando a um tal Lídio, Barbosa de apelido. Quem era? Que poder de sedução teria o macaco para ganhar fama de infalível conquistador? Os pensamentos rodopiavam-lhe na mente e crescia a atracão para um jogo perigoso. Por instantes, envergonhavase do impulso de sujeitar a mulher a um teste mas já não conseguia evitar que o contra-senso passasse a propósito. Procurou então saber onde poderia encontrar o afamado marmanjo que embeiçava as mulheres. E soube: Lídio 80
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Barbosa era proprietário de um pequeno bar - justamente o Bar Bosa - e pouco tempo decorreu até Jaime Dinis se sentar num banco ao balcão. Ali estava, então, alto, seco, cabeleira farta, o famoso Lídio. A primeira observação levou-o a considerar que, com efeito, ele bem podia ser modelo ou galã de telenovelas. Mas daí a sacar as mulheres todas - em particular a dele - existia invencível distância. Lídio aproximou-se com um sorriso profissional e o novo cliente julgou ver um teclado de piano só com teclas brancas. - Vodka com água tónica - pediu. Reforçando o sorriso, Lídio disse: - Gostamos do mesmo. - Mas não das mesmas - gracejou Jaime a puxar a conversa para o que lhe interessava. - Quem sabe? - retrucou o outro. - Espero que não, dizem que você é perito a seduzir mulheres. - Não me queixo. O diálogo atingira o ponto exacto para Jaime Dinis descarregar o seu estranho plano. Mas confiante. Previa a derrota daquele presunçoso na tentativa de encantar Vera Helena. - Quer mesmo? - acautelou Lídio. - Olhe que já uma vez me fizeram um repto semelhante e foi tiro e queda. Bem se arrependeu o tonto de me ter desafiado. A gargalhada de Jaime Dinis foi um pouco forçada. Mas disse: - Com a pessoa em causa, você não tem o mínimo de hipóteses. - Veremos.
N
o sábado à tarde, Vera Helena retocava-se para sair e o temerário ligou para Lídio: - Venha ter aqui. Seguimo-la no meu carro, depois você faz o seu número. Prepare-se para
o fracasso. Reconheceu que um incómodo nervosismo o assaltava quando o homem do bar disse: - Prepare-se o meu caro amigo. Vai ter uma surpresa. Vera Helena instalou-se na esplanada fronteira ao rio e o imprudente parou o carro em lugar adequado para a observar sem ser observado. - Vá lá, então. Viu Lídio palmilhar a distância como se caminhasse numa passarela. "Que estou eu a fazer?" - interrogou-se e, pela primeira vez, temeu as consequências da sua obtusa decisão. Por uns minutos, Lídio Barbosa acomodou-se a mesa ANDRÉ LETRIA
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próxima da mulher, sem desviar os olhos dela. Depois aproximou-se e dirigiu-lhe algumas palavras. O coração do vigilante bateu mais forte. Em pé, o sedutor consagrado continuava a falar, lançando a rede. O passo seguinte e óbvio seria arrancar convite para se sentar ao lado dela. Assustado, o requisitante da diligência chupava o fumo de mais um cigarro. E, de súbito, aquilo. A mulher desenha com um braço o gesto irritado de afastar o atrevido. Assim pareceu. Assim foi. Vencido, o campeão dos engates afastase em passadas céleres pelo lado oposto da esplanada. - "Yess!" - grita o jubiloso consorte no interior do carro. Debate-se ainda na dúvida se deve culpar-se pela canalhice ou regozijar-se pela experiência. Sacode os ombros, nada interessa agora a não ser saborear o resultado. Prepara a retirada. Cuidado, a mulher não pode avistar o carro que, na manobra, passará rente à esplanada. Admiraa, tranquila como sempre, agora folheando uma revista. Apetece-lhe ficar mais um pouco nessa contemplação embevecida. "Que se passa?" - Agita-se quando, inesperadamente, a vê sorrir para alguém que chega. Um homem. "Quem é este gajo?" Não o conhece mas, pelo que nota, ela conhece-o bem. Beijam-se e o observador atinge o nível mais alto da perturbação. Deixa tombar a cabeça sobre o volante quando o olhar alcança que as mãos dele tomam posse das mãos da mulher. Arranca e acelera, exasperado.
C
aminha de um ao outro lado da sala em passos sem destino. Pensa na atitude a tomar quando ela reentrar em casa. Não, não lhe dirá que a viu com o amante ao sol da esplanada. Vai apenas esperar a mentira que há-de trazer quanto ao modo como passou a tarde. E com quem.
O ruído da chave na fechadura informa que ela está de volta. - Olá! - saúda, com o sorriso largo que, aparentemente, não difere do que é costume. - Olá sussurra ele, impaciente pelas palavras reveladoras da falsidade. Observa-a a despir o casaco e escuta-lhe as palavras que solta no mais alegre dos tons: - Nem imaginas o que aconteceu! - Onde? - interroga ele, certo de que vai apanha-la no primeiro engano. Mas ouve: - Na esplanada do rio. Fui para ali sossegar com um café e uma revista, chato foi saltar-me um parvo que queria conversa. Lá o mandei à vida dele. E depois, que surpresa, querido, que surpresa! - Surpresa? - Sim, apareceu-me o Augusto, meu antigo colega da faculdade e grande amigo. Não o via haverá uns quinze anos, andou por esse mundo. Recordámos os velhos tempos, foi bom, mesmo bom! Ela ri como uma criança contente. Jaime Dinis sente o dever de confessar que espiou toda esta cena e pedir perdão por tão vil atitude. Não o fará pelo receio de que a inocente lhe dê por castigo o desprezo. Irá, sim, abraça-la com redobrada ternura. Logo que ela finde a conversa pelo telemóvel que iniciou, passando-se para o terraço. No terraço, a voz de Vera Helena é pouco mais que um murmúrio. - Ricardo? Olha, agora chamas-te Augusto. O maroto espreitou-me, viu tudo. Percebi quando deu a volta no carro. Não há problema. Um beijo. Reentra na sala. - E se fossemos ao teatro, querido? n JAN 2012 |
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Crónica
António Costa Santos
Ano Velho, Palavras Novas
J
ornais, rádios, blogues e televisões publicaram no mês passado os habituais "balanços do ano", económicos, políticos e sociais. Houve balanços de tudo, como é costume; só não vimos feito o balanço da língua que falamos e é, cada vez mais, o último reduto da nossa soberania (a menos que as profecias da desgraça se confirmem e o euro acabe e o escudo volte, mas adiante). Quando 2011 foi um ano especialmente importante para o Português, este silêncio quanto às palavras é muito estranho. Para já, o ano que acabou foi o ano de todos os acordos. Lembremos apenas dois: o Acordo Ortográfico e o Acordo com a Troika. O primeiro cortou nas consoantes mudas e o segundo nos ordenados e subsídios de quem tem menos voz. O Ortográfico tem como objectivo o crescimento da importância da nossa língua a nível mundial; o da Troika, o decréscimo das despesas do Estado e o recuo da economia nacional, com aumentos apenas na taxa de desemprego e no horário de trabalho. Em 2011, as conversas de rua, de rádio, de café e autocarro ganharam um novo vocabulário. Se no princípio do ano aprendemos a falar em charters e se durante o Verão passámos a utilizar a expressão "isso é coisa que a mim não me assiste", já o último semestre foi dominado pela gíria económico-financeira. Em vez de bola, como era costume, falamos de bolsa. De súbito, a Dona Maria e o Senhor Manel começaram a discutir o rating do bacalhau, ao balcão da mercearia, e a ponderar a hipótese de
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recorrer a ajuda externa para pagar as batatas e a couve. Desemprego, infelizmente, já usávamos, mas tivemos de desenrolar a língua para dizer Competitividade e desenterrar das brumas dos anos 80 o substantivo Austeridade. O termo imigrante, que andou na moda nos anos de crescimento económico, quando moldavos e ucranianos cá chegavam para ganhar a vida, foi quase apagado da linguagem da rua e substituído por emigrante, que é o que a geração à rasca, a que descobriu o sushi em 2011, se prepara para ser, desta vez com malas de cartão-multibanco, claro. Os Censos 2011 mostraram que a população estava em défice e só se mantinha um saldo positivo graças à entrada no país de trabalhadores estrangeiros. Se estes deixam de vir e ainda por cima começamos a sair... Talvez seja o nosso Fado, o nosso património imaterial, mas é triste se assim definharmos.
P
ara não se falar só em tristezas, outros dois termos entraram também para a linguagem do dia-a-dia em 2011: solidariedade e voluntariado, valha-nos isso. Como dizia Vaclav Havel, o símbolo da Revolução de Veludo checoslovaca, que morreu nos últimos dias de 2011, "a esperança não é a convicção de que algo vai necessariamente correr bem, mas a certeza de que algo faz mesmo sentido, independentemente do resultado que venha a ter". Por isso, talvez seja de incluir Esperança na lista das palavras mais usadas no ano da grande crise e esperar que todos os sacrifícios façam sentido. n