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N.º 238 Junho 2012 Mensal 2,00 €
TempoLivre www.inatel.pt
Lendas e passeios à beira-rio
Vila Nova de Cerveira
Entrevista Mia Couto Viagens Irão Memória Alice Cruz
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Sumário
Na capa Foto: Humberto Lopes
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CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR
TERRA NOSSA
Cerveira, Lendas e passeios à beira rio Vila Nova de Cerveira pode constituir uma estânciaponto-de-partida para uma infinidade de deslumbrantes e enriquecedores passeios pela região, de ambos os lados da fronteira. E, agora, mais facilitados pela requalificação da unidade hoteleira local da Inatel, reaberta no início do mês, de quatro estrelas, e que passou a contar com uma centena de quartos, incluindo quatro suites, além de biblioteca, auditório para 120 pessoas, piscina, espaço infantil, sala de jogos e uma área verde envolvente.
23 EDITORIAL
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NOTÍCIAS CONCURSO DE FOTOGRAFIA
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PAIXÕES
A Arca de Johan
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ENTREVISTA
Mia Couto Mia Couto esteve em Portugal por ocasião do lançamento do seu último livro, "A confissão da leoa". Em entrevista à TL, o consagrado autor moçambicano falou da sua escrita, da diversidade da língua portuguesa e de outros temas, como o Acordo Ortográfico e a CPLP, que realiza em Julho uma cimeira na cidade de Maputo.
MEMÓRIA
Alice Cruz
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SOCIEDADE
Da terceira prá quarta idade
52 54 79 80
OLHO VIVO A CASA NA ÁRVORE O TEMPO E AS PALAVRAS
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Maria Alice Vila Fabião
VIAGENS
OS CONTOS DO ZAMBUJAL
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CRÓNICA Fernando Dacosta
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Irão, as mais belas jóias da Pérsia Shiraz, coração da cultura, cidade das rosas, do amor e dos jardins, Persépolis, a antiga capital de um vasto império, e Isfahan, a metade do mundo com a sua praça, são destinos obrigatórios numa visita ao país das 'mil e uma noites'.
41 BOA VIDA CLUBE TEMPO LIVRE
Passatempos e Cartaz
PORTFOLIO
Tanzânia A Tanzânia guarda, junto à costa, algumas memórias da passagem, há séculos, dos europeus e dos árabes.
Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 121.938 exemplares
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Editorial
V í t o r Ra m a l h o
É pelo sonho que vamos …
A
importância da reabertura do Inatel Cerveira Hotel **** que teve lugar no dia 1 do corrente mês de Junho, justifica inteiramente que a capa deste número da Tempo Livre lhe seja dedicada bem como a reportagem que a seu propósito é feita. A reabertura foi precedida, cerca de quinze dias antes, de um ensaio, com a presença de setenta colaboradores da Fundação Inatel, justamente convidados para o efeito, para se avaliar se tudo se encontrava em condições, garantindo-se assim e atempadamente as correcções que se tivessem de realizar. O Hotel, integrado no paradisíaco distrito de Viana do Castelo, a um pequeno passo da Galiza, que agora se transpõe por uma moderna ponte, passará a ser num equipamento essencial para a dinamização do turismo e da economia da região. A sua envolvência, nas proximidades do rio, com amplos espaços verdes é seguramente o local mais aprazível para as deslocações ao distrito e à Galiza, possibilitando ainda a realização, no Hotel, de grandes eventos, dadas as condições que tem para o efeito. As significativas marcações que já ocorreram antes da reabertura são testemunho do reconhecimento da excelência, a testemunhar, como outras unidades da Fundação Inatel, uma marca distintiva de forte qualidade. Invocar ainda o Inatel Cerveira Hotel **** é ter presente o turismo e neste em particular também o Turismo Júnior, uma aposta que no Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações, a Inatel não poderia esquecer. Daí a referência ao programa do Turismo Júnior neste número, sem esquecer outra iniciativa de grande êxito, integrada no Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações, que teve lugar no passado dia 29 de Maio na unidade hoteleira da Costa de Caparica, com a participação de centenas de beneficiários.
É de alguma maneira nesta mesma lógica que decorreu também entre nós, na unidade hoteleira de Albufeira, o XIVº Encontro Luso-brasileiro de Turismo Sénior / Melhor Idade, que trouxe até nós cerca de 250 cidadãos brasileiros de todos os Estados do Brasil, filiados na ABCMI e no qual participaram também mais uma centena e meia de beneficiários da Inatel. Honrou-nos com a sua presença o Secretário de Estado do Idoso da República Federal do Brasil, Dr. Ricardo Quirino dos Santos. O êxito do Encontro representa mais um marco no relacionamento entre os dois povos e países na dinamização do turismo e na entreajuda. Como sempre, não poderíamos também, neste número, deixar de invocar a memória colectiva do que somos. Fazemo-lo através de uma personalidade singular, Alice Cruz, prematuramente falecida e de quem fui grande amigo pessoal, bem como do seu companheiro, Rui Romano, como eu naturais de Angola e figuras ímpares do jornalismo e do espectáculo. Eram pessoas adoráveis que relembro com enorme saudade. A realidade lusófona foi para ambos sempre uma mais valia incontornável, com Angola sempre presente, razão que justifica que a Tempo Livre tenha neste número a entrevista de fundo com um dos maiores escritores da nossa fala comum, o moçambicano Mia Couto. Sendo uma homenagem à própria fala comum é-o também à Alice Cruz que tanto amava África. Neste período tão complexo e incerto, inclusive para a humanidade, é sempre muito útil e proveitoso não perdermos o sentido de sonho. Foi com esse propósito que seguramente o cidadão holandês que construiu uma arca gigantesca e para a qual a Tempo Livre também apropriadamente nos convoca. É que, como dizia Sebastião da Gama, é de facto pelo sonho que vamos … Neste período, de crise, nunca é demais relembrá-lo. n JUN 2012 |
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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt
Hidro Sénior "Somos um grupo de alunos das classes de Hidro sénior que por este meio vem reconhecer a competência, simpatia e profissionalismo da nadadora salvadora Mónica Ferreira, pela atenção que dispensa às alunas e alunos sem idade mas com experiência da vida suficiente para estarmos sinceramente reconhecidos." Correio electrónico de Victor Neves, sócio nº 316264
"Cinema em Casa" Na crónica ''Cinema em Casa'', que tenho o hábito de ler com muito agrado, gostaria de levar ao V. Conhecimento a seguinte informação. Quero-me referir à crónica publicada no mês de Fevereiro 2012, sobre Pina, (Pina Baush). Esste filme de arquivo realizado por Wim Wenders, fez apelo a uma gravação minha,
realizada em Paris na firma Discos Barclay e que termina com a Pina Baush , dançando ao som da minha voz. O fado de Coimbra que canto, chama-se ''Os Teus Olhos'', acompanhado por José Niza, Eduardo Melo, Durval Moreirinha, Jorge Godinho e eu mesmo (Germano Rocha). Considero-me muito honrado por ter sido escolhido por Pina Baush para ilustrar uma das suas danças e também por ter sido seleccionado pelo realizador do filme. Germano Rocha, sócio nº 0246318.
50 anos na INATEL Completaram, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: Adriano sabino Mendes, de Casais Novos; José Gomes, de Caldas da Rainha; José Conceição Madeira, de Chafariz del Rei; Ilda Gonçalves, de Lisboa; Fernando Pinheiro, de Portela LRS; Adriano Mendes Sousa, de Leiria.
Coluna do Provedor MUITOS SÃO os testemunhos de quem par-
Kalidás Barreto provedor@inatel.pt
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ticipou nos Programas de Termalismo Sénior, há 14 anos promovido por diversos ministérios e organizado e gerido pela Fundação INATEL. Como se pode ler, na informação distribuída, "este programa foi criado com o objectivo de melhorar e aumentar a qualidade de vida da população com 60 ou mais anos de idade, aliando o lazer dos beneficiários dos tratamentos termais. Uma aposta que tem vindo a ter cada vez mais sucesso entre os milhares de seniores que todos os anos viajam na nossa companhia". Tenho acompanhado de perto o desenvolvimento de alguns desses programas que, para os que dele têm participado, resultam, na sua esmagadora maioria, rasgados elogios à organização da INATEL. Com efeito, é bom que se recorde que os
programas duram duas semanas de tratamento, acompanhados por médicos e técnicos de acordo com a tabela das Termas de valor acessível. Executando esse pagamento, a estadia, com tudo incluído, na base de 4 escalões, de acordo com o rendimento bruto mensal por pessoa. O período é acompanhado por guias/orientadores da INATEL, que transmitem uma afabilidade necessária à boa disposição dos utentes. Há ainda o pormenor não menos importante de viagens de recreio de autocarros, para conhecer os locais turísticos da zona, oportunidade para melhorar a nossa cultura. Resta lembrar que a verba dispendida com o programa é recuperada economicamente com a ocupação da época baixa da hotelaria nacional. É por estas e por outras que a Inatel é estimada! n
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Notícias
Inscrições abertas para o Turismo Júnior 2012 l Estão
abertas, desde o 25 de Maio, as inscrições para o Turismo Júnior Férias de Verão 2012, uma iniciativa da Inatel Social, a decorrer de 30 de Julho a 18 de Agosto, para as faixas etárias dos 8 aos 12 anos e dos 13 aos 17 anos. Aulas de surf, bowling, actividade aventura, construção de carrinhos solares, tardes desportivas e visitas ao Castelo de S. Jorge integram o programa de regime aberto, de cinco dias, de 2ª a 6ª feira, para a faixa dos 8-12 anos. Para os de 13-17 anos está previsto um programa de seis dias, regime fechado, de 2ª a sábado, e que, a par de um dia no Parque Warner, em Madrid, inclui jogos de praia, provas de orientação, noites VIP, entre outras actividades. Informações mais detalhadas nas páginas 75, 76 e 77 desta edição da TL.
Inatel na Feira do Livro
Centenário da 1ª exposição de humoristas lO
Museu Nacional da Imprensa
assinala o centenário do 1º Salão de Humoristas, com uma exposição documental patente na Galeria de Exposições Temporárias até 15 de Outubro, diariamente, das 15 ás 20 horas. Aquele Salão abriu, no Grémio Literário, em Lisboa, em Maio de 1912, com cerca de 400 trabalhos de alguns dos nossos melhores artistas do humor gráfico de sempre. De Rafael Bordalo Pinheiro, Celso Hermínio, A presença de um stand da Fundação na Feira do Livro de Lisboa foi a oportunidade
Almada Negreiros, Jorge Barradas,
para a divulgação e venda de numerosos exemplares das edições Inatel e, também,
Stuart Carvalhais, Francisco Valença
para a angariação de três centenas de novos associados.
e Emmérico Nunes, entre outros.
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XIVº Encontro Luso-Brasileiro de Turismo Sénior l Decorreu no Algarve, entre os dias 16 e 20 de Maio o XIVº. Encontro LusoBrasileiro de Turismo Sénior / Melhor Idade, uma iniciativa conjunta da Fundação Inatel e da ABCMI (Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade), representativa de associações de todos os Estados do Brasil. Com um ciclo de conferências, no Casino de Vilamoura, e outros eventos de convívio e e visitas na região algarvia, o Encontro teve a
participação de 240 filiados na ABCMI e 102 beneficiários da Fundação Inatel, instalados na
Unidade Hoteleira da Inatel, em Albufeira. No dia 18 teve lugar a Conferência do Engº. António Guimarães subordinada ao tema "Despertar a excelência pessoal". No dia 19 o Secretário de Estado do Idoso do Brasil, Ricardo Quirino abordou, na sua conferência, a importância social e económica do turismo sénior. Esteve ainda presente nas conferências o Secretário de Estado do Desporto do Brasil, Célio Reneé Vieira.
Agência do Desporto e do Mar
Escola de Verão na FCSH
l Identificar
lA
e criar - no âmbito da Rede Portuguesa para o Desenvolvimento do Território - oportunidades de desenvolvimento da prática desportiva na orla costeira e no mar, assim como das economias associadas a estas áreas é o objectivo da Agência Independente do Desporto e do Mar(AIDEM), criada no passado dia 8 de Maio, na Casa da Balança (Ministério da Marinha), em Lisboa. Presidida pelo Instituto do Território, a AIDEM terá ainda representantes e Instituto Português do Desporto e Juventude, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o e do Turismo de Portugal, que subscreveram o protocolo então assinado. Para além disso, a nova agência - cujo protocolo foi também subscrito pela Fundação Inatel, representada na cerimónia pelos administradores Carlos Mamede e Moreira Marques, tem ainda como tarefa propor soluções de
Universidade Nova de Lisboa
organiza, entre os meses de Julho a Setembro, nas suas instalações da FCSH, no centro da cidade, a Escola de Verão, um projecto de qualidade, onde os participantes podem ampliar os seus conhecimentos nas áreas de Antropologia, Comunicação, Culturas da Europa e do Mundo, Educação, Estudos Políticos, Filosofia, Geografia, História, História da Arte, Informática,
simplificação administrativa da legislação relacionada com o desporto na orla costeira. Para Alexandre Mestre, Secretário de Estado do Desporto e Juventude, que se referiu à parte desportiva no âmbito dos desportos náuticos, "este projecto vai criar novas oportunidades de negócios na economia nacional, criando emprego no mar - onde existem cerca de 120 mil portugueses". Além dos referidos institutos, presentes na direcção, e da Inatel, a AIDEM é integrada por várias escolas superiores e federações desportivas.
Línguas Clássicas, Linguística, Literatura e Cultura Portuguesas, Música e Sociologia. Adicionalmente, todas estas aprendizagens permitem a soma de ECTS (créditos de Bolonha), e a maioria confere ainda créditos aos professores do Ensino Básico e Secundário. Os cursos têm uma duração de 18 a 25 horas lectivas e dão direito à obtenção de um diploma de frequência. O preço é de 120 euros para o público em geral, mas os associados da INATEL beneficiam de um desconto de 20%. Informações em http://verao.fcsh.unl.pt/ e divulgação em www.facebook.com/escolaveraofcsh JUN 2012 |
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Notícias
Ano Europeu do Envelhecimento Activo l A Unidade Inatel Costa da Caparica foi palco, no último domingo de Abril, do Dia da Solidariedade entre Gerações, uma das múltiplas iniciativas que a Fundação está a levar a cabo em todo o país, no âmbito do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade (AEEASG). Tertúlias, teatro, cinema, concertos musicais, exposições, torneios desportivos, festivais de folclore, viagens temáticas, oficinas dos tempos livres, colóquios, worshops de cozinha e agricultura biológica, espectáculos de rua, bolsas de voluntariado, mercados tradicionais, caminhadas, ateliês de pintura e informática, são, entre outras, algumas das iniciativas que a Fundação está a levar a cabo em todo o país, até final do ano, através das suas agências distritais e de numerosos associados colectivos da Inatel, CCD's (Centros de Cultura e Desporto). A maior duração de vida dos cidadãos europeus e a necessidade de
permanecerem mais tempo mo mercado de trabalho e de partilharem a sua experiência são as razões invocadas para a celebração deste Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade, ao qual a Inatel justamente se associa pela sua longa história de ligação aos trabalhadores e suas famílias e, particularmente, à ocupação activa dos mais velhos nas diversas áreas do lazer.
“Fado na Cidade” Declarado em Novembro passado Património Cultural Imaterial da Humanidade, o Fado é tema em foco nas Festas de Lisboa, com um conjunto diversificado de iniciativas culturais. É o caso da mostra Fado na Cidade de José Maria Frade, editor fotográfico da "TL". Nesta exposição, JMF apresenta uma selecção dos seus últimos 12 anos de trabalho no que toca ao universo da Canção de Lisboa, com representações dos intérpretes e os momentos capturados nos ambientes que envolvem o Fado, como expressão musical e como experiência. 10
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Gonçalo Cadilhe vence Prémio Jornalismo de Viagens l Gonçalo Cadilhe, repórter da Visão Vidas & Viagens, foi o vencedor do Prémio Jornalismo de Viagens 2011, uma iniciativa conjunta da Halcon Viagens e do Clube de Jornalistas destinada a valorizar aos trabalhos jornalísticos que retratam, através da viagem, o papel que o turismo pode representar no desenvolvimento cultural e social das pessoas. O trabalho premiado, "Navegar o Mekong", é uma surpreendente viagem por um dos maiores rios do mundo: o Mekong, onde não há um serviço regular de turistas, nem mesmo de passageiros. Do Planalto do Tibete até ao Vietname, no Sudeste Asiático,
percorre-se a província chinesa de Yunnan, a Tailândia, o Laos e o Camboja. Foi ainda atribuída uma Menção Honrosa a João Lopes Marques, da Rotas & Destinos, pelo seu trabalho sobre Tallin (Estónia), Capital Europeia da Cultura 2011. O valor do 1º Prémio é de 3.500 euros e o valor da Menção Honrosa é de 1.500 euros, ambos a utilizar na Halcon Viagens, de uma só vez, numa viagem à escolha. Integraram o Júri: Fernanda Bizarro (CJ), Ribeiro Cardoso (CJ), Salvador Alves Dias (Associação Portuguesa de Jornalistas de Turismo) e José Luis Cavalheiro (Halcon Viagens).
Volvo Race l Lisboa
acolhe, até 10 de Junho, a
Volvo Ocean Race, a maior regata do mundo e o mais desafiante evento desportivo à escala global, que combina a competição desportiva com aventura a bordo. Com 36 anos de história e origem nas travessias entre portos, a Volvo Ocean Race é hoje uma combinação única de regatas onshore e offshore de nível mundial, aliando a espectacularidade da alta competição nos locais de paragem com a resistência e drama das travessias oceânicas. A passagem por Lisboa, numa área de dois hectares, incluiu um espaço de exposições para os stands das entidades, como a Inatel, que apoiam o evento.
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Notícias
Lisboa 11.º melhor destino europeu
lA
lista Traveler's Choice 2012, do TripAdvisor, posiciona Lisboa em 11.º lugar, à frente de destinos como Veneza (12.º), Edimburgo (13.º) e Madrid (14.º). O top 10 é encabeçado por Londres, seguida de Roma, Paris, Istambul, Barcelona, Berlim, Florença, Praga, Dublin e Amesterdão. Os utilizadores daquele portal de turismo recomendam Lisboa como
um dos 25 melhores destinos europeus para 2012, caracterizando a capital portuguesa pela sua diversidade. De catedrais do século XII a modernas pontes que atravessam o rio Tejo, de aquedutos do século XVIII à futurista Gare do Oriente, Lisboa "atravessa os tempos", justifica o TripAdvisor. Destaque, ainda, para os bairros típicos da Mouraria, Alfama e Bairro Alto, bem como para os inúmeros museus, mercados ao ar livre, elevadores, o Castelo e, claro, o Fado. Em Junho, a oferta turística da cidade será reforçada, com a inauguração da Ala Nascente do Terreiro do Paço, que permitirá recuperar o ponto de encontro da capital portuguesa, palco dos maiores acontecimentos da História de Portugal.
"Comeres com Poemas" l Um
livro para "degustar,
lentamente", de "estórias e afectos" e com "o prazer de usufruir de tudo aquilo que nos é oferecido pela sabedoria da nossa terra", são algumas das notas com que historiadores e sociólogos assinalam, na contracapa, este "Comeres com Poemas - Para viver um Grande Amor", de António Murteira (S. Manços, Alentejo, 1947), escritor, político e engenheiro técnico agrário. São 80 as "receitas de paixão" do belo e singular livro de um alentejano universal,
Team Building
acompanhadas pelas estórias de viagens, lugares, amigos…e da sábia doutrina de Saramago: "Se nos detivermos a pensar nas pequenas coisas chegaremos a compreender as grandes".
"Aproximações" de Jorge Barros na SPA l Na
Sala Carlos Paredes da SPA
(Sociedade Portuguesa de Autores), está patente a exposição de fotografia "Aproximações" de Jorge Barros. A mostra - inaugurada por ocasião do lançamento do A importância da interacção e cooperação mútuas entre pessoas que trabalham na
livro/álbum "As Ilhas
mesma empresa, quando colocadas perante desafios que requerem equipas coesas
Desconhecidas", do mesmo autor -
e a optimização do relacionamento com o cliente, foi o mote para a acção de Team
realça a proximidade cultural,
Building organizada pela Direcção de Turismo e Hotelaria para os seus
paisagística e edificada, existentes
colaboradores, realizada no passado dia 27 de Abril na unidade INATEL da Costa da
entre o território insular e
Caparica. A iniciativa, sob o lema "Todos Juntos para Servir Melhor", constou de
continental, que justificam e
várias acções de formação que decorreram com a animada e empenhada
fundamentam a nossa identidade
participação de toda a equipa da DTH.
nacional.
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Ginástica aeróbica nos Açores l Cerca de sessenta pessoas de várias idades aderiram à Mega Aula de Movimento Rítmico, uma iniciativa da Agência Inatel de Ponta Delgada que decorreu, em finais de abril último, no Espaço Açor Arena em Vila Franca do Campo, na ilha de S. Miguel. O evento composto por ginástica aeróbica de média intensidade, integrou muita diversão para exercitar o corpo de forma saudável e contou com os apoios da Topfitness, da Açor Arena, do Núcleo de Aprendizagem ao Longo da Vida da Universidade dos Açores, da Escola Básica e Secundária de Vila Franca do Campo e da autarquia de Vila Franca do Campo.
Corrida em S. Miguel Ponta Delgada acolheu, em Abril, a "Corrida das Portas-Inatel", com a participação de dezenas de atletas de vários escalões e idades, nas provas de 1.400m e de 7000m. A par de jornada de salutar convívio e animação, a competição - que teve os apoios da Associação Portas do Mar, Associação de Atletismo de S. Miguel e Jornal Açoriano Oriental - foi seguida com entusiasmo por boa parte da população local.
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Fotografia
XVI Concurso “Tempo Livre” [1]
[2] [ 1 ] Óscar Saraiva, S. Mamede de Infesta Sócio n.º 31309 [ 2 ] Rosa Ribeiro, Maia Sócio n.º 103587 [ 3 ] Jovino Batista, Faro Sócio n.º 522088
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Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco.
Menções honrosas [ a ] Reinaldo Viegas, Lagos Sócio n.º 370482 [ b ] Ana Saldanha, Guarda Sócio n.º 294766 [ c ] Paulo Amado, S. João da Madeira Sócio n.º 393614
[a]
5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, morada, telefone e número de associado da Inatel.
[b]
7. A «TL» publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites para duas pessoas numa das unidades hoteleiras da Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL».
[c]
10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na «TL» de Setembro de 2012, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.
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Vila Nova de Cerveira
Lendas e passeios
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à beira-rio
e o presente de Cerveira faz ou não justiça aos pergaminhos herdados, dirá o visitante. O encanto do lugar tem raízes de antanho e há que retroceder à época da romanização, ou até mesmo antes, que já por ali havia, em tempos ainda mais recuados, gente de imaginação e cultura. Os vestígios arqueológicos dão conta da importância do lugar, que acolheu uma comunidade piscícola ainda antes da romanização, quando o porto fluvial começou a mostrar-se movimentado e a receber mercadoria de sortidas latitudes: ânforas, cerâmicas gregas, vidros fenícios e moedas romanas provam a vitalidade do comércio com outras regiões do Império Romano. Quanto à imaginação, recurso com que sempre os povos complementam, ou ataviam, factos e feitos, ora em busca de identidades, ora de nacionalidades, foi coisa que não faltou nos idos medievais: a lenda do Rei Cervo vem à liça e à justa para sustentar o argumento. A narrativa fala de abundância da espécie naquelas bandas e de um certo fidalgo que desafiou o cervídeo soberano para um duelo. O triunfo tocou ao Rei Cervo que, enquanto durou, foi governando a grei. O bicho ficou como símbolo e ainda hoje consta das armas do burgo. E para que não haja dúvida de que os viajantes arribam às velhas Terras de Cervaria, lá está, no topo de uma penedia que é também bom miradouro do povoado e da paisagem ribeirinha envolvente, a representação escultórica de um cervo, obra do escultor José Rodrigues. Uma volta pela povoação, que se acomoda em estreitas ruelas que descem até à beira do rio permite perceber a origem medieval do traçado urbano e a sua intimidade com a margem. Dessa época há um acervo significativo de testemunhos monumentais, como o castelo, mandado edificar por D. Dinis, o pelourinho, do século XVI, e a quinhentista Igreja Matriz, consagrada a S. Cipriano - santo que parece ser, há muito, alvo de fervorosa devoção por aquelas terras. Vale a pena dedicar-lhe algum tempo, por mor de um belo altar de talha renascentista.
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Terra Nossa
Em matéria de património religioso, complemente-se a digressão com visitas à Capela de Nossa Senhora da Ajuda, que conserva painéis de azulejos datados de finais do século XVII, e ao restaurado Convento de S. Paio, hoje reconvertido em espaço museológico. Finalmente, a dois passos do Inatel Cerveira, ao alcance de uma breve caminhada e mesmo à entrada da chamada Ponte da Amizade, que liga as duas margens do Rio Minho, uma pequena fortaleza lembra-nos o valor estratégico de Cerveira. Foi construída no século XVII com a intenção de ajudar à resistência contra as intenções espanholas de unificação ibérica e revelou grande utilidade durante a reacção lusa às Invasões Francesas.
De Santa Tecla ao dragão Coca Cerveira pode constituir uma estância-ponto-departida para uma infinidade de passeios pela região, de ambos os lados da fronteira. Do lado de lá, o Monte de Santa Tecla, miradouro de excelência sobre Caminha, o espantoso cenário da foz do Minho e o recorte litoral do noroeste português, avistando-se dali a bonita praia de Moledo, fica a pouco mais de meia hora. Logo a seguir vem Baiona, prazenteira estância balnear da Galiza, e, ao largo, a uma hora de barco, está o pequeno arquipélago das Cíes, uma reserva ornitológica com alguns trilhos de fácil realização por qualquer caminhante. Não muito longe de Baiona, para norte, chega-se rapidamente a Vigo e, no regresso, o gracioso centro histórico de Pontevedra é sempre uma etapa obrigatória para qualquer périplo galego. Do lado de cá, pelo menos uma meia dúzia de urbanos emblemáticos do Minho estão à mão de visitar: Caminha, Viana do Castelo, Valença, Monção, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Ponte de Lima. Para quem prefira natureza, a Serra d'Arga fica a poente, mas uns quilómetros mais em direcção a oriente, pouco mais de duas dezenas, chega-se a Melgaço e logo a seguir a Lamas de Mouro, para se dar com a entrada norte do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Aí, penetrando no parque por uma estrada que desliza entre montanhas, vai-se facilmente até ao Santuário de Nossa Senhora da Peneda, palco de uma grande romaria anual, a meio do verão. Quanto a festas populares no Minho, o verão é, aliás, pródigo, e em Junho, por ocasião da festividade do Corpo de Deus, a vizinha Monção acolhe 18
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uma das mais curiosas e originais festas portuguesas, a do dragão Coca. As origens da festa são bastante antigas, provavelmente remontam à Idade Média e a antigas lendas. Seguro é, atesta-o Pinho Leal no seu "Portugal Antigo e Moderno", que o combate entre S. Jorge e o dragão nas ruas de Monção gozava já de grande popularidade no século XIX e início do século XX. Escrevia o autor que "a luta de S. Jorge com a Santa Coca é o que mais attrahe e embasbaca o povo" e é verdade que ainda hoje a funçanata atrai multidões a Monção.
O rio casamenteiro Mas Monção tem outros pergaminhos, que competem bem com os de Cerveira, quando de matérias históricas ou coisas lendárias se trate. A situação de fronteira fez germinar heroísmos e figuras de lenda, como a célebre Deuladeu Martins, mas Monção parece ter sido, por razões de localização estratégica, alvo de cobiça justificado da parte de nuestros hermanos. Para efeitos de passeatas, valemo-nos primeiro da excepcional valência de miradouro: o burgo, alcandorado numa elevação, beneficia de uma bela perspectiva sobre o Rio Minho, que ali corre mais estreito, mas sempre com margens alegres e viçosas. O rio é, recorde-se, fonte de uma das delícias gastronómicas locais, a lampreia. Se a motivação do viajante for de ordem gastronómica, Monção tem outros trunfos, como o cabrito, que é das cozinhas da região um dos mais reputados exlibris, servindo-se naquelas bandas assado em forno de lenha e com arroz por principal e bem prestigiado acompanhamento. E quanto aos néctares da vinha, que por ali beneficia de clima e terreno de características muito especiais, não partirá o viajante defraudado ou insatisfeito depois de provar o precioso alvarinho, néctar produzido igualmente do outro lado da fronteira. O rio Minho separa e une, afinal. É factor de tempero do clima que se reparte generosamente por ambas as margens e ainda cuida de ajudar ao lazer e aos amores: põe suas águas a brincar diante da vila com umas quantas ilhotas em que o verde da vegetação rasteira alterna com manchas de areia que se douram à hora do crepúsculo. Arrumadas as desavenças raianas, o rio canta finalmente em sossego uma toada lenta e doce que seduz bucolismos namorisqueiros buscando discreto refúgio numa e noutra margem. n Humberto Lopes (texto e fotos)
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Terra Nossa
A excelência é o limite
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pós uma intervenção de fundo, em que foram
quem trabalha ou já trabalhou, que deve ter espaços dignos e
investidos seis milhões de euros, acaba de
modernos". O Inatel Cerveira está inserido numa região que
reabrir a unidade hoteleira da Inatel em
regista uma procura significativa e prevê-se que "a procura
Cerveira. Após a remodelação, a unidade,
venha ser muito maior, o que fará aumentar o número de
classificada com quatro estrelas, passou a contar com uma
beneficiários, numa região que tem cerca de seiscentas mil
centena de quartos, incluindo quatro suites, e é uma das
pessoas". A procura por parte de visitantes da Galiza está
mais modernas da região. O projecto de remodelação teve
também contemplada nestas expectativas. Para o presidente
um financiamento do QREN (um empréstimo de 55% do
da Fundação Inatel, "um outro factor relevante é o da
valor da empreitada inicial), um tipo de comparticipação
empregabilidade, há essa preocupação e temos aqui cerca
que já aconteceu nas unidades de Porto Santo e de
de trinta pessoas a trabalhar, mais seis do que antes da
Manteigas.
requalificação"
Para Vítor Ramalho, presidente da Fundação Inatel, a
A remodelação, em curso, das unidades hoteleiras da Inatel
reabertura desta "unidade de excelência" começa por
corresponde "a obrigações estatutárias, que determinam a
"corresponder a uma preocupação central que é a do lazer de
necessidade de requalificar os equipamentos". Em breve
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A remodelação, em curso, das unidades hoteleiras da Inatel corresponde "a obrigações estatutárias, que determinam a necessidade de requalificar os equipamentos" (Vítor Ramalho)
serão iniciadas também obras semelhantes no edifício de
espaço infantil, sala de jogos e uma área verde envolvente. É
Albufeira. Intervenções do género foram realizadas
um edifício que cumpre as normas mais exigentes em
igualmente nas unidades de Oeiras e da Foz do Arelho e
termos de segurança e a sua remodelação teve
estão a decorrer requalificações na Costa da Caparica,
preocupações de carácter ecológico, estando prevista a sua
Alamal e Castelo de Vide. "A Inatel passará no futuro a ser
conversão num futuro próximo numa unidade autossuficiente
dotada de equipamentos hoteleiros de grande qualidade".
em termos energéticos, através da produção de energia de painéis solares próprios.
“Gestão voltada para o futuro…”
A requalificação da oferta hoteleira da Inatel responde
As requalificações têm abrangido também as agências e os
também ao consagrado na sua missão: "Nós temos um papel
parques desportivos e "a presente requalificação não é,
relevante na economia social, e num momento de grande
portanto, um caso isolado no conjunto vastíssimo de
crise no país, nós não podemos andar a perguntar o que é
património imobiliário da Inatel". A unidade de Cerveira fica a
que devemos fazer. Nós fazemos. Arriscando, obviamente,
contar com biblioteca, auditório com capacidade para 120
porque é uma característica que deve ter uma gestão
pessoas e bem equipado em termos tecnológicos, piscina,
responsável e voltada para o futuro". HL
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Entrevista
Mia Couto
“Moçambique tem que construir a sua própria lusofonia” Mia Couto esteve em Portugal por ocasião do lançamento do seu último livro, "A confissão da leoa". Em entrevista à Tempo Livre, o autor moçambicano, vencedor do Prémio Eduardo Lourenço em 2011, falou da sua escrita, da diversidade da língua portuguesa e de outros temas, como o Acordo Ortográfico e a CPLP, que realiza no próximo mês uma cimeira na cidade de Maputo. Sobre o seu último romance, lançado na Feira do Livro de Lisboa, Mia Couto sublinha a intenção de construir uma narrativa, inspirada em acontecimentos ocorridos no norte de Moçambique, em torno da condição feminina em Moçambique. JUN 2012 |
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Entrevista
“Sinto que a CPLP é pouco visível, pouco participativa e apela muito pouco para que nós participemos nela (…). Devemos levantar as nossas vozes para mostrar como gostaríamos que fosse esta organização que pretendemos seja mesmo uma comunidade de países”. Para si os actuais modelos de organização e de funcionamento da CPLP não fazem dela, ainda, uma verdadeira comunidade de países? 24
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Eu acho que é uma questão de funcionalidade, de ela estar ligada a assuntos que são prementes, que são vitais, e de se afirmar existente, viva, interventiva. É evidente que esta é uma crítica fácil de fazer para quem está de fora, mas qualquer organização que junta países que estão tão distantes tem que enfrentar esse processo. É um processo e eu acho que esse processo tem que ser olhado com verdade. O que me faz aflição é que
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Isso significa ser mais interventiva em diferentes planos e oportunidades? Sim. Imaginemos a questão do Acordo Ortográfico, coisas que realmente nos ligam de uma forma mais vital. A CPLP poderia ter aí um papel enquanto organização supranacional, de forma a criar vínculos. A CPLP pode jogar um papel no contexto dos diálogos interculturais entre as sociedades dos países que a formam? Uma das questões centrais é desde logo a CPLP assumir-se em função da questão da língua, que é o elemento unificador. Mas aí tem que se ter um olhar crítico, para que os outros, que são desta comunidade, se sintam igualmente membros. Eu estou a falar daqueles que não têm o português …(a CPLP) tem como língua materna, ou que de se afirmar, ser nem sequer falam o português. É viva, interventiva (…) importante que a CPLP trabalhe O que me faz aflição de maneira a que essa gente possa é que há quem pense também ser parte… que ela já está E pode ter um papel relevante no criada… E ainda não âmbito da promoção da diversiestá, tem que dade da língua portuguesa? Ou nascer… poder-se-á dizer que há uma concepção de língua portuguesa que não contempla suficientemente essa diversidade e que precisa de ser questionada? E que só a literatura pode aprofundar ou estimular essa diversidade, a par do uso e recriação popular? Eu acho que a segunda sub-pergunta abraça tudo o resto. É preciso que se questione ao nível da política, não só ao nível da literatura, ao nível da vontade, de modo que se perceba que esses países têm uma expressão diversa, são países que, sendo de língua portuguesa, têm outras línguas, têm outras maneiras de respirar e de pensar que têm de ser consideradas de forma inclusiva, que não se podem marginalizar. E isso significa pensar de todas as maneiras possíveis, económica, etc…. Como fazer dicionários, como fazer trocas em que estas línguas falem realmente com o português, dialoguem com o português para que qualquer cidadão destes países possa saltitar entre as duas línguas, a materna e a língua portuguesa. Ou seja, o plano da política não esgota o que está por fazer…
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há quem pense que ela já está criada… E ainda não está, tem que nascer… Então o que falta não é pouco… Falta nascer no sentido em que essas organizações têm que nascer várias vezes… E têm que estar no lugar certo. Por exemplo, acontece qualquer coisa na Guiné ou em qualquer um desses países da comunidade, e tem que se perceber como é que ela é útil e que conquistou um lugar.
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Entrevista
É preciso política, mas depois é preciso programas de trabalho que se manifestem ao nível da educação, da literatura, etc. Numa ou outra posição pública sobre o Acordo Ortográfico, o Mia Couto, que tem uma preocupação constante com a reinvenção linguística, manteve sempre uma certa distância ou ambiguidade… O Acordo Ortográfico mexe com uma coisa tão pequenina, mexe com a ortografia, e a minha reinvenção não se opera exactamente aí… E de facto é um acordo que unifica tão pouco que não me parece que seja motivo para eu me preocupar… Acho que foi pena, sim, não se ter discutido coisas que eram bem mais importantes, como aquilo que são os nossos laços culturais e as distâncias das políticas culturais. A dimensão das alterações previstas não justifica, portanto, as polémicas entretanto desencadeadas… Acho que a polémica nasceu de As explicações um certo sector em Portugal que que eu dou sobre as viu uma certa perda, que teve um razões por que é que sentimento de que alguma coisa eu escrevo são estava a ser mexida no que era um sempre inventadas. E território sagrado, bem portueu estou sempre a guês… Provavelmente essa pensar em coisas reacção nervosa existiu sempre novas porque não há que houve um acordo deste tipo, só uma explicação, sempre que houve uma revisão há várias explicações ortográfica… Agora é uma coisa disso que é a mais complicada porque é uma apetência de eu revisão feita por vários países. O escrever, de criar e de que mais importa para Moçamfazer poesia. bique é saber quais as implicações financeiras que este novo acordo acarreta. Moçambique é precisamente um dos países que ainda não aprovaram o texto do Acordo. É importante a sua implementação? E em que aspectos é que o país poderá beneficiar? E o que é que é necessário discutir ainda para que Moçambique possa aprovar o texto? Moçambique tem que se posicionar de uma maneira clara sobre se concorda ou não, se se trata de uma questão prática de implementação, e dizer o que é preciso para que se faça essa implementação. No nosso caso, em Moçambique, há uma certa ambiguidade… Às vezes língua portuguesa é nossa, outras vezes não é. Outras
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vezes é um assunto que os outros é que têm que resolver por nós… A língua portuguesa é uma língua moçambicana, é a língua de unificação do país, e sendo oficial é cada vez mais uma língua de cultura. E mesmo que Moçambique seja um país lusófono, tem que construir a sua própria lusofonia, mesmo que ela tenha outro nome… um sentimento de comunidade, de pertença linguística ao nível nacional. E essa tarefa é uma tarefa de soberania, não podemos esperar que sejam os outros a fazer. O acordo não significa, portanto, nenhum constrangimento para a produção de diversidade em cada um dos universos linguísticos, sociais e culturais da CPLP? Absolutamente nada. A polémica é superficial, o acordo não implica grandes alterações. Mas mais de vinte anos depois da declaração de intenções de firmar um Acordo Ortográfico subsiste um impasse. Isso significa a sua pouca relevância ou, pelo contrário, é sinal da importância das alterações que implica? Aquilo que eu objectei em relação ao acordo foi a sua pertinência, aquilo que foi invocado para a necessidade de introduzir alterações. Mas agora que está aí, acho que é improdutivo brigar contra o acordo. Podemos acusá-lo de várias coisas, de não ser envolvente, de não contar com a auscultação das pessoas que são realmente as donas, as fazedoras da língua. Eu não sou militante dessa causa, de questionar e negar o Acordo. É verdade que esse acordo pode resolver algumas coisas que não pareciam ser grande problema e agora que ele está aí as questões são mais de ordem prática. Sinceramente, eu já estou a escrever, já o estou a aplicar e não é um parto tão doloroso assim. "Para mim, escreve-se sempre em estado de criança. Pelo menos no meu caso, necessito do território da infância para olhar o mundo como um brinquedo, uma massa de barro que é possível remoldar". Escreveu estas linhas no prefácio de um livro infantil, assinado por uma autora brasileira. É nesse olhar que está a raiz da componente onírica da sua escrita? Sim, possivelmente. As explicações que eu dou sobre as razões por que é que eu escrevo são sempre inventadas. E eu estou sempre a pensar em coisas novas porque não há só uma explicação, há várias explicações disso que é a apetência de
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Entrevista
eu escrever, de criar e de fazer poesia. Mas eu acho que eu sou um escritor do território da poesia, essa é a minha casa. A prosa é uma viagem que eu faço para voltar, para sair de casa e voltar a casa. E, de facto, o que me agrada é fazer um exercício que não seja só estético, decorativo, mas que seja um posicionamento de ingenuidade, como se a língua não estivesse feita e eu fosse, realmente, o construtor. Como se a escrita devesse integrar ou partir de um olhar semAquilo que eu pre perplexo sobre o mundo, objectei em relação para que a linguagem e a literao acordo atura possam reinventar o (ortográfico) foi a sua mundo, o real? pertinência, aquilo Não é uma coisa apenas literária. que foi invocado para Eu digo aos meus filhos que pratia necessidade de quem isso como alguma coisa introduzir fundamental. A linguagem não alterações… serve só para descrever o mundo. A linguagem deve ter também uma função de o criar, uma vez que o mundo é sempre o resultado de um olhar, e de um olhar que é muito pessoal, que é sempre uma obra de reinvenção. Eu faço isto como um exercício que não é só literário. Em escritas anteriores, a relação entre o homem e o meio ambiente, entre a sociedade e a natureza não estão de todos ausentes. Este últi-
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mo livro, "A confissão da leoa", parte de acontecimentos muito concretos que o Mia foi testemunhou e a referência àquelas relações surge de uma forma muito mais directa do que noutros textos. Há alguma razão especial para tal acontecer neste momento? Não, tem a ver simplesmente com esta história. É o livro que eu fiz que está mais próximo daquilo que é a minha profissão. Aconteceu impregnado dessa circunstância, não tive a intenção particular de fazer alguma coisa diferente. E será que poderemos ver nesta narrativa, ou em algumas das suas passagens, uma espécie de parábola sobre as circunstâncias actuais de Moçambique? Não tive essa intenção. É um livro sobre a mulher, sobre as mulheres no mundo. Moçambique é simplesmente o cenário que faz despoletar a história. Moçambique continua a viver tempos de crescimento económico… A literatura moçambicana actual acompanha e reflecte esse tom optimista? Eu acho que sim, houve um período morto, mas estão a aparecer novas vozes. Há gente nova a fazer coisas boas em poesia e em prosa. Nesse sentido, sim. E há uma prosa que questiona aquilo que são os caminhos e essa é uma das funções da literatura. n Humberto Lopes (texto) José Frade (fotos)
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Paixões
A Arca de Johan Johan Huibers teve um sonho, uma inundação que varria a Holanda do mapa, e durante quatro anos empenhou-se em construir uma réplica em tamanho natural da Arca de Noé, a mesma que agora altera substancialmente a paisagem de Dordrecht, a mais antiga cidade holandesa
contra aquele céu que teima em manter oculto o sol.
Um homem sonha…
s nuvens cinzentas enchem o céu, as ruas empedradas de Dordrecht estão silenciosas e todos os sons que se ouvem, ao início da manhã, provêm das águas calmas do Rio Oude Maas, cortadas por embarcações de dimensões respeitáveis. Eu dirijo-me a um homem de cabelos brancos, um dos raros a circular àquela hora na cidade do sul da Holanda, por sinal a mais antiga do país. - Ainda tem de caminhar um bom bocado até encontrar a Arca de Noé. Com o rio sempre à minha esquerda, lanço olhares fugazes às casas antigas e às suas ricas fachadas antes de desaguar numa zona moderna, cruzo um parque de estacionamento e uma ponte e, finalmente, observo, ainda à distância, o barco, com a sua cobertura em tons de amarelo a contrastar com o cinzento do céu, destacando-se na proa a girafa de proporções bíblicas (cinco metros e meio) que se recorta
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Uma chuva miudinha, como se a abobada do mundo vertesse uma lágrima, acompanha-me quando, minutos depois, assomo à grossa porta de madeira que empurro com alguma dificuldade antes de penetrar naquele mundo de um tempo distante, a materialização de um sonho de um homem. - Uma noite sonhei com uma grande inundação que varria a Holanda do mapa. Foi nesse momento que me surgiu a ideia de construir a Arca de Noé. Johan Huibers, com o cabelo já grisalho, homem de sorriso fácil, é um cristão confesso que um belo dia renunciou à vida errante que tinha para se dedicar a construir, com a ajuda de quatro carpinteiros - ele próprio é carpinteiro - a Arca de Noé. Este holandês percebeu rapidamente que se tratava de um projecto megalómano, demasiado grande para um homem só e o seu martelo. Segundo a tradição bíblica, Noé construiu a arca sob as ordens de Deus, sem qualquer noção de marcenaria, apenas recebendo instruções precisas para pôr de pé a obra. Johan Huibers recolheu informações em livros e na Internet mas quando se deparou com os números referidos nas escrituras decidiu que se limitaria a erguer a arca com metade do tamanho real. Durante anos, a arca foi construída no porto fluvial de Schagen, a norte de Amesterdão, utilizando cerca de 1200 árvores de cedro americano e pinheiro norueguês. - Só para cortar as placas foram necessárias 20 semanas. Mas consegui. E em 2007 abri as portas da arca aos visitantes, uns meses antes de embarcar, empurrado por rebocadores, através dos canais até chegar aos portos de Roterdão e de Arnhem, recorda Johan Huibers.
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No total, foram visitadas 25 localidades holandesas e, gradualmente, a fama da arca foi crescendo, até ser do domínio público, incluindo do presidente da Câmara de Dordrecht, que se disponibilizou para receber Johan Huibers e, mais tarde, ceder-lhe um cais nos pântanos de Langedijk. Naquele lugar, podia, finalmente, cumprir o verdadeiro sonho e partir para a construção da réplica da Arca de Noé em escala real - a outra foi vendida e pode hoje ser vista em Colónia, na Alemanha. E, assim, em Agosto de 2008, depois de se desfazer de quase todos os seus bens materiais, incluindo alguns moinhos que havia elevado nos céus, Johan Huibers começou a tornar real a legendária arca que serviu para salvar o profeta Noé, a sua família e preservar algumas espécies de animais do dilúvio universal e logo repovoar a terra com os seus descendentes. - Eu era hospedeira de bordo e um dia, durante um voo, vi um passageiro com uma edição do jornal USA Today nas mãos. Olhando mais atentamente para uma das páginas, vi uma fotografia do meu pai ao lado da Arca e perguntei a mim
própria o que estava a fazer ali, que ideal de vida era aquele. E decidi largar tudo e acompanhar o meu pai, por quem sinto um grande orgulho, a levar a cabo este projecto, ou melhor esta missão, porque é de uma missão que se trata, revela Deborah Venema, enquanto me acompanha numa visita guiada à Arca de Noé, ainda órfã dos últimos detalhes e na expectativa de uma burocracia mais teimosa do que a chuva que caiu ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites. - Esta é uma construção sólida, como pode ver, tudo feito com madeira, mas as autoridades locais têm de emitir uma licença que garanta segurança a todos os visitantes. A abertura está prevista para Junho, conta a simpática Deborah Venema. Os números são desde logo impressionantes, especialmente se pensarmos que Johan Huibers apenas teve a ajuda dos filhos e de alguns amigos: um peso de 2970 toneladas, tudo em pinheiro sueco, uma capacidade para 1500 passageiros de cada vez, um comprimento de 135 metros, de 22, 5 de largura, 13, 5 de profundidade e um JUN 2012 |
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Paixões
Deborah Venema deixou de ser hospedeira de bordo para acompanhar o pai na sua “missão”. Ao lado, pormenor do interior da Arca. Em baixo, rua de Dordrecht
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custo total de 1, 2 milhões de euros. - Tinha em mente levá-la a Londres, por ocasião dos Jogos Olímpicos, mas a falta de licença inviabilizou a possibilidade, assume Johan Huibers.
Convite português De acordo com alguns engenheiros navais, o barco, sem motor para o empurrar, poderia sucumbir às ondas do Mar do Norte antes de chegar a Londres. Mas Johan Huibers recusa essa tese, talvez baseado na fé que sempre o acompanha (assiste à missa todos os domingos na companhia da família). Para este holandês, a Arca de Noé não tem comparação com o Titanic, foi desenhada por Deus, virtualmente é impossível que se afunde, garante pouco antes da filha tomar a palavra, avançando com a hipótese de a levarem aos Estados Unidos e até a Portugal, de onde já terá recebido um convite. - Há um interesse e uma curiosidade muito grandes em volta da arca. Em Agosto iremos realizar um casamento aqui para um total de 400 convidados, uma cerimónia que contará inclusive com a presença do padre. Qualquer pessoa poderá visitar a Arca de Noé, os adultos pagam 12, 50 euros e as crianças 7,50. Mas temos preços mais em conta para grupos e para escolas. Como
lhe disse, a nossa ideia não é ganhar dinheiro, esta é uma missão, queremos mostrar às pessoas que Deus tem as suas portas abertas para todos aqueles que O amam. Passo os olhos pelo restaurante, pelo bar, pela livraria, pela sala de conferências, pelo corredor onde chilreiam centenas de pássaros, por um outro que retrata cenas bíblicas, por todo aquele mundo de madeira por onde espreitam os animais. Contrariando a ordem de Deus, para salvar algumas espécies, Johan Huibers teve de se confrontar com os activistas dos direitos humanos e não lhe restou outra alternativa - teve de optar por modelos sintéticos. Próximo da recepção, enquanto caminho ao lado de Deborah Venema, um casal permanece estático, deixando divagar o olhar. A jovem holandesa, de sorriso eterno, dirige-se-lhes, indagando sobre a presença deles num lugar ainda fechado ao público. Fred e Annette de-Leest estão de visita à Holanda (onde um deles tem as suas origens) e, depois de terem ficado a par da construção da Arca de Noé, através da imprensa local, não quiseram perder a oportunidade de a visitar. - Após percorrer algumas cidades holandesas percebo melhor a ideia do seu pai. Noto que a sociedade está completamente desligada de alguns valores. Raramente vejo uma igreja aberta. Deborah Venema, habitual frequentadora de espaços de oração (também não falha a missa de domingo, dia em que a arca estará encerrada ao público), revela-se sensível à visita do casal americano e disponibiliza-se de imediato para percorrer os múltiplos espaços da imponente obra que cada vez atrai mais visitantes a Dordrecht, ainda cinzenta mas já sem chuva miudinha quando dela me despeço. n Sousa Ribeiro (texto e fotos)
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Viagens
Irão As mais belas jóias da Pérsia Shiraz, coração da cultura, cidade das rosas, do amor e dos jardins, Persépolis, a antiga capital de um vasto império, e Isfahan, a metade do mundo com a sua praça e as suas pontes
E
u sentia-me inquieto, como que envolto nas brumas da desconfiança, pesando sobre mim o facto de ser jornalista e de me preparar para visitar um dos países mais fechados do mundo. O sorriso da hospedeira, acompanhado de palavras elogiosas sobre Shiraz, de onde era natural, ajudou a atenuar, em parte, este sentimento que teimava em ofuscar o prazer de materializar uma viagem que há alguns anos se pintava na minha imaginação. Instalo-me num hotel e logo sou convidado pelo gerente a beber um chá e a dar a minha opinião sobre Barack Obama. Volto a ficar desapiedado da minha quietude sonhadora antes de sair para a rua que fervilha de vida. Famosa pelas suas universidades, pelo vinho e pela poesia, Shiraz é o coração da cultura persa há mais de 2000 anos, a Dar-ol-Elm (A Casa do Conhecimento), a Cidade das Rosas, a Cidade do Amor e a Cidade dos Jardins. Fito a Praça Shohada e não tardo a apaixonarme pelas fragrâncias e pela beleza harmoniosa daquela que foi capital do Irão entre 1747 e 1789. Entro na Arg-e-Karim-Khan, a Cidadela, e aquiesço com a cabeça perante a inscrição. "A exaltada estatura da cidadela de Karim Khan diverte por um longo período todos os novos viajantes que chegam a Shiraz." Enquanto vou desenhando na mente como seria a cidade no tempo do primeiro governador da dinastia Zand, admiro o pátio e o lago que se espraia de um lado ao outro rodeado por laranjeiras onde casais
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jovens tentam ocultar-se dos olhares curiosos. Uma atmosfera serena, despretensiosa e íntima testemunhada desde tempos imemoriais por aqueles imponentes muros decorados com uma torre circular em cada um dos cantos - uma delas tem uma forte inclinação. Sob os raios tépidos do sol que começa a descer no céu, entro na imponente Masjed-e Vakil, a mesquita mandada erguer por Karim Khan, para admirar o magnificente pátio central, os coloridos azulejos com motivos florais e arabescos do início do período Qajar e a sala de oração abobadada assente em 48 colunas esculpidas. Passo fugazmente pelo Hamam-e Vakil, antiga sala de banhos e hoje transformada em loja de tapetes, e embrenho-me nos bazares, começando pelo Vakil, um dos mais vibrantes do país. Concedendo todo o tempo ao destino, erro por estas amplas a abobadadas avenidas em tijolo, uma verdadeira obraprima da arquitectura Zand projectada para manter o interior fresco no Verão e quente no Inverno. De volta ao hotel e o gerente pergunta-me: - Pode escrever o que pensa sobre Obama?
Persepólis - Capital de um império Durante mais de dois séculos, desde o momento (560 a. C.) em que Ciro, o Grande começa a estender o seu território da velha Elam em todas as direcções e até que surge um jovem general macedónio chamado Alexandre, as planícies e estepes da Pérsia são o palco do império mais fascinante que a Ásia haveria de conhecer. E quando, menos de 40 anos depois, Dario I, Rei dos Reis, sobe ao
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Viagens
trono, os Aquemênidas abarcam uma extensão tão grande que legitimamente ainda hoje é visto como o maior império que a humanidade conheceu até então. Aqui, neste estreito vale rodeado de montanhas azuis, Dario I mandou erguer a capital do seu império, o espelho da sua grandeza, à qual chama Parsa ou Cidade dos Persas, mais tarde baptizada pelos gregos como Persépolis. Sob um sol que ameaça esfarelar a terra, caminho por entre estas pedras que falam do passado e de quando em quando detenho-me para, como um espectador num cortejo, admirar esta grandiosidade, ainda que seja apenas uma mera sombra de um tempo glorioso. Os fabulosos relevos da Procissão dos Tributários, as colunas e os seus capitéis em forma de leão ou de touro, os arcos e os palácios, o museu, os túmulos no cimo da colina, com uma panorâmica soberba sobre a cidade onde se destaca o Palácio das 100 Colunas, e finalmente, numa despedida já carregada de uma nostálgica melancolia, de novo aquelas admiráveis escadas que conduziam a uma cidade que haveria de ser tomada facilmente por Alexandre, enquanto Dario III, pouco inteligente e cobarde, ao contrário dos seus antecessores, fugia como um coelho. À boleia, monto uma motorizada que me conduz, por entre campos verdes, a Naghsh-e Rostam, a seis quilómetros de distância, para ver os túmulos nas rochas escavadas, um deles per36
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tencente a Dario I, relevos e inscrições da posterior dinastia Sassânida e um templo dedicado ao fogo da era aquemênida. De regresso a Shiraz, contemplo a Mesquita dos Mártires, o Aramgah-e Shah-e Cheragh (Mausoléu do Rei da Luz), onde repousam os restos mortais de Sayyed Mir Ahmad, um dos 17 irmãos do Imã Reza morto neste mesmo lugar, as cúpulas azuis e o topo dourado dos minaretes e, discretamente, o fervor dos fiéis num dos lugares mais sagrados dos xiitas. Exposto aos raios oblíquos e ardentes, caminhei até à elegante Mesquita Nasir-Ol-Molk para observar, com uma atenção afectuosa, os coloridos vidros das janelas, os pilares esculpidos, e a majestosa fachada de azulejos azuis que se recorta contra o céu. O dia perdia o seu calor quando, finalmente, me sentei, tranquilamente, num dos bancos do Aramgah-e Hafez, contemplando as centenas de pessoas que ali chegavam para prestar homenagem junto ao túmulo de Hafez, o poeta herói do povo iraniano.
Isfahan - A metade do mundo A Praça do Imã estava ali, à minha frente, com toda a magnificência, um cenário mágico das mil e uma noites que parece reunir num único local toda a cultura persa, com os seus monumentos, a sua história prodigiosa e os seus costumes. Esfahan nest-é jahan significa Isfahan é metade
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Viagens
GUIA
Shiraz) e Isfahan.
Borzog, é uma possibilidade,
Khaneh Sonnati, com as
oferecendo um ambiente
janelas coloridas e as suas
DORMIR
sereno e duplos por cerca de
camas-mesas, num ambiente
COMO IR
Em Shiraz, o Hotel Sasan é
75 euros. Mas é o Abbasi
que recria o período Qajar, é
A Lufthansa, a British Airways
uma boa opção, bem
Hotel, num edifício que
um lugar que perdurará na
e a Air France voam para
localizado e muito em conta
abrigou, no século XVII, um
sua memória - e a comida é
Teerão com tarifas à volta dos
(cerca de 15 euros) mas se
caravanserai, o mais reputado
deliciosa. Em Shiraz, próximo
800 euros. De Teerão, há
pretender um pouco mais de
de todos na cidade (cerca de
do Bazar Vakil, numa
ligações aéreas a Shiraz e, a
luxo o Pars International Hotel
130 euros).
atmosfera muito semelhante e
partir daí, pode fazer todo o
apresenta-se como a melhor
percurso de autocarro de
alternativa (à volta de 100
COMER
iranianas, não deixe de provar
regresso à capital, passando
euros). Em Isfahan, o Dibai
Em Isfahan, a dois passos da
a extraordinária gastronomia e
por Persépolis (70 km de
House, próximo do Bazar-e
Praça do Imã, o Sofreh
de ouvir música tradicional.
sempre cheio de famílias
do mundo e, olhando aquela praça, uma das maiores do mundo, com 500 metros de comprimento e 160 de largura, melhor percebo o alcance dos versos do poeta francês Renier no século XVI. Assomado por uma aguda vaga de sentimentos, deixei os olhos resvalar para a Mesquita do Imã, com a sua sumptuosa decoração e a sua elegante arquitectura mandada levantar, como muitas outras jóias de Isfahan, pelo Xá Abbas I, o monarca mais importante da dinastia safávida que, depois de expulsar mongóis e turcos otomanos, pretendeu transformar a cidade na maior e mais bela capital do mundo. Neste espaço rectangular fechado onde agora me encontro, em tempos cenário para os desfiles e para as festas do Xá ou, até há bem pouco tempo, de execuções públicas, deixo-me envolver por uma deliciosa indolência. Entro na Mesquita do Xeque Lotfollah, nome do sogro de Abbas, admiro a sua singularidade face ao mode38
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lo tradicional de arquitectura - desprovida de minaretes, de pátio central e de iwanes, as salaspórticos que se abrem para o pátio - e todo um ambiente que provoca espanto entre iranianos e estrangeiros. Não deixo de entrar no Palácio Ali Qapu, antiga residência do Xá, também localizado na praça, e depois caminho na direcção do rio Zayandé. Percorro quilómetros e quilómetros, para cá e para lá, vendo as famílias com as suas mantas estendidas na relva com os seus piqueniques, um ambiente relaxante que ganha maior dimensão próximo das pontes Si-o Seh e Khaju. Páro para beber água ao lado de uma mulher que lava os legumes num repuxo e que logo me estende, com um sorriso, um pepino. Ao início da tarde, visito Jolfa, o bairro arménio onde os cristãos encontraram refúgio e respeito pela religião, e termino o dia na Shahrestan, a mais antiga das pontes de Isfahan, consciente de que a cidade ainda me oferece tanto para ver. Opto pelo autocarro para regressar ao centro da cidade e, junto à paragem, entregue à minha solidão, vejo um carro deter-se a poucos metros. No interior, um homem pega no telemóvel. Um outro, bem vestido, espera agora também ao meu lado. Desconfio e mais inquieto fico quando, já no autocarro, ele me faz perguntas insistentemente. No ponto onde me apeei, ele apeou-se também, seguindo numa outra direcção, enquanto eu necessitava de esperar por uma ligação até à Praça Enqelab-e Eslami. - Fica com isto. É um passe de autocarro que podes utilizar as vezes que desejares em toda a cidade. Eu depois compro outro. n Sousa Ribeiro (texto e fotos)
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Portfólio
Tanzania
De barco à vela em Quiloa CONHECIDA sobretudo pelos seus parques na turais, pelos massai - esses "homens da cor do barro" – e por uma das faces do Kilimanjaro, montanha partilhada com o vizinho Quénia, a Tanzania guarda junto à costa algumas memórias da passagem dos europeus e dos árabes. A ilha de Quiloa, apesar do título Património da Humanidade que ostenta, não é propriamente considerada uma atração turística, e não será escândalo nenhum inserir no domínio dos desportos radicais a emocionante travessia feita num dhow, embarcação com vela latina e de apenas quatro metros de comprimento, onde os
nautas lusos se inspiraram para construir a caravela. De toda a fortaleza, só o torreão - conhecido como Gereza - é de origem portuguesa, tendo a restante estrutura sofrido transformações após o abandono da ilha, em 1512. Uma placa bem visível refere um projeto de conservação urgente, implementado pelo departamento de antiguidades tanzaniana e a Unesco, com o financiamento de um fundo norueguês. O que não impede que, desde 2004, este local integre a nada prestigiante lista do Património Mundial em Perigo.n Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)
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A Tanzania guarda junto à costa algumas memórias da passagem dos europeus e dos árabes
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A ilha de Quiloa, apesar do título Património da Humanidade que ostenta, não é propriamente considerada uma atração turística
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Memória
Alice Cruz
Competente, amável, generosa, “a locutora da simpatia” Foi num dia quente de Verão, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. Numa casa inacabada dos arredores de Lisboa, em Lajes de Freiria, uma família feliz prepara-se para um fim-de-semana que se adivinhava glorioso. oucos minutos antes da meia-noite daquele dia 10 de Junho de 1994, uma avó babada sai para comprar uma guloseima para o neto. Vai ao café do costume, troca dois dedos de conversa com a dona da casa, faz um telefonema para Lisboa a saber dos pais e das irmãs, e sai de regresso a casa, à casa inacabada que era também um sonho antigo. Atravessa a estrada no sítio do costume mas não chega ao outro lado. Um automóvel conduzido por um homem visivelmente alcoolizado (1,75 gramas por litro segundo os guardas do posto da GNR em Arruda dos Vinhos) não consegue evitar o atropelamento de Alice Cruz, a avó que saíra para comprar uma guloseima ao neto. Uma ambulância ainda levou a locutora ao Hospital de Torres Vedras mas a morte esperou apenas algumas horas e Alice morreu, já em Santa Maria, na sexta-feira seguinte.
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De Angola ao Lumiar Não, não foi em Angola que Maria Alice Amorim Cruz nasceu (como consta da pequena biografia da Wikipédia), mas sim na Póvoa de Varzim, no dia 30 de Janeiro de 1940. É certo que partiu muito cedo para Angola, com os pais. Tinha apenas 9 anos quando participou num programa infantil da Rádio Clube de Angola a dizer um poema de Fernando Pessoa. A seguir vieram a Rádio Ecclesia e logo depois a Emissora Oficial de Angola. O destino de Alice Cruz estava marcado e quando, em 1963, recebeu o convite da RTP para fazer Televisão Alice nem olhou para trás. Alice foi uma das caras que estreou, em 1970, a Televisão à hora almoço, juntamente com Ana
Apresentadora do Festival da Canção de 1982
Zanatti e Linda Bringel. "A Hora de Almoço" era um programa de informação com rubricas recreativas e de divulgação. Dois anos depois, apresentava "Domingo à Noite", gravado no Teatro Maria Matos, com números musicais, bailado e sketches de humor. Ao seu lado estiveram nomes já firmados como Henrique Mendes, Eládio Clímaco e Maria Margarida. Ainda em 1972, JUN 2012 |
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Memória
apresentou o Festival RTP da Canção com Carlos Cruz. Em 1973, foi a vez de um programa de entrevistas chamado "No tempo em que você nasceu", ao lado de Artur Agostinho. Outros programas a que o nome de Alice ficou ligado foram, por exemplo, "Sete Folhas", apresentação da programação semanal ao fim da tarde dos sábados, "Directíssimo", "Pontos de Vista", "Jogos sem Fronteiras", concursos vários. Em 1990 foi directora da revista feminina "Guia".
Olhava as câmaras e pensava na avó Houve um tempo em que Alice Cruz odiava fazer trabalho de continuidade. Chegou mesmo a dizer ao presidente da RTP que a locução de continuidade era a morte do artista. E quando Carlos Cruz foi nomeado director de programas esse trabalho passou a ser fascinante. Tinham finalmente um projecto, uma equipa, técnicos e a continuidade tornara-se um desafio permanente. Alice Cruz fez de tudo na RTP e gostava especialmente de fazer locução de filmes. "Nunca fiz questão de aparecer na televisão. Não acho que seja fundamental. Mas faço o que me mandam.", confessou a Alice Vieira (Diário de Notícias, Abril de 1984) E disse ainda: "quando olho para as câmaras penso na minha avó que era uma pessoa de quem eu gostava muito e que estaria a olhar para mim porque se encontrava imobilizada e via a emissão do princípio ao fim."
Intuitiva e apaixonada "Não sei fazer as coisas pela metade. Apaixono-me por tudo o que faço e acho que não tenho grande imagem televisiva. Tenho um certo poder de comunicação e sou intuitiva." Assim era de facto sem contar com o sorriso e o charme que Alice espalhava em seu redor. Uma amiga, Maria Antónia Palla, com quem Alice Cruz trabalhou na produção do programa "Pontos de Vista", numa bela crónica publicada na revista Máxima, traçou-lhe o melhor retrato que uma amiga pode fazer. A certa altura, Maria Antónia escreve: "E, milagre do saber, tudo saía como espontâneo, com aquela simplicidade que imprimia a tudo, soberbamente modesta, inimitável." "Era calorosa e respeitadora da intimi48
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Capa do número 3 da revista Tele-Semana em 1973
dade dos outros e, como ela dizia, entrava em casa das pessoas mas não se sentava ao colo delas." Enfim, Alice Cruz morreu num dia de Verão. Tinha 54 anos e deixou um marido, Rui Romano, um filho, José Luís, arquitecto de interiores, um neto, que não chegou a receber da avó a guloseima prometida. Nas várias entrevistas que deu para revistas e jornais, disse a propósito da morte: "Não me aflige nada, estou perfeitamente preparada para morrer em qualquer altura. Só gostava de deixar as gavetas arrumadas." Como escreveu o jornalista Afonso Praça na revista "Visão", Alice deixou as gavetas desarrumadas e uma saudade enorme nos amigos. n Maria João Duarte
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Sociedade
Da terceira prá quarta idade O Artigo 72º da 6ª Revisão Constitucional (2005) da Constituição da República Portuguesa, que trata da Terceira idade, reza assim: 1. As pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social. 2. A política de terceira idade engloba medidas de carácter económico, social e cultural tendentes a proporcionar às pessoas idosas oportunidades de realização pessoal, através de uma participação activa na vida da comunidade.
E
stou a escrever com a música do Zeca Afonso como fundo. E, a propósito, talvez a despropósito, quero dizer-vos que, apesar de ele não ter tido a ventura de ter saúde que lhe permitisse chegar a velho e pudesse, até tarde, divulgar-se, tivemos nós a sorte de ele ter podido, por via da escrita, do som e da imagem, perpetuar a sua produção intelectual. E também a sorte de ter tido quem lhe reconhecesse o mérito e a tivesse divulgado. Felizmente para nós. Mas não é isso que acontece à maioria dos comuns mortais que chegam à dita 3ª idade com algum legado intelectual para deixar. Se não o fizerem antes de se reformar, prescreveram; "morre o bicho, acaba-se a peçonha". A idade da retirada do activo é (costuma ser) uma fronteira de sentido único, inexoravelmente. Uma fronteira que, acho que o posso afirmar, muito frequentemente se passa com a angústia do inevitável na boca, com a tristeza do que ficou por fazer e o amargo de ter que desistir. O envelhecimento dos tecidos e dos órgãos, e as ineficácias do seu funcionamento, não são as
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únicas características da velhice. Salvo se as anomalias funcionais forem impeditivas, idade avançada corresponde também a um estádio de acumulação de experiências e de conhecimentos que é muito pouco inteligente desperdiçar. Ora, se é verdade que o Artigo 72º da Constituição Portuguesa de 1976 se refere aos direitos dos idosos no respeitante à sua segurança e condições de habitação e convívio familiar e comunitário, no quadro do respeito à sua autonomia pessoal e de molde a evitar ou superar o seu isolamento e marginalização social, e também se refere ao tipo de medidas de políticas que devem ser tomadas (económicas, sociais e culturais) que proporcionem oportunidades de realização pessoal pela sua intervenção comunitária activa, não é menos verdade que muitos destes preceitos, frequentemente, não passam de palavras vãs. São muito mais do que seria para desejar os casos com que tropeçamos dia a dia, e aqueles de que temos conhecimento directo ou pelos media, da insegurança, falta de habitação, isolamento e marginalização dos mais velhos, das escassas oportunidades de realização pessoal e das raríssimas que respeitam à sua actividade comunitária. Neste aspecto particular tenho por certa a sobra de incidência do pensamento social da sua inviabilização efectiva.
Défice de atitude… É conhecido que escapam a esta situação pintores, escultores, arquitectos, atores, escritores, bailarinos, cantores e outros artistas, geralmente por razões que se prendem com a volatilidade da sua situação financeira. Também ao professor universitário, ofício a que é outorgado o estatuto de "sabedor", a sociedade se sente na obrigação de respeitar e dela beneficiar o mais e melhor possível. Porém, até estes, cujo estatuto os impeçam de fazer sombra às carreiras profissionais dos mais novos, não passam muitas vezes de "tolerados". Trata-se duma questão de défice de atitude social que leva a que, mesmo isto, aconteça em poucos mais casos. Causa inquietação, esta "moral" social.
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Há profissões e profissões; há ambientes de organizar ou preservar, na profissão à margem trabalho e ambientes de trabalho! Por isso nem dela, são fórmulas plenas para fazer voar as de todos os reformados se pode falar da mesma memórias, espalhar o saber, exibir a experiência. Envelhecer em actividade é um direito do ser apetência pessoal e aceitação dos seus colegas, para passarem ao estatuto de colaborador de humano ao envelhecer. Mas também é a sua forma de doar o seu tributo à quem está no activo. Nem sociedade a que pertence e todos terão qualquer coisa de com quem assumiu, ao nascer, muitíssimo interessante para Um aposentado a obrigação de ajudar a deixar transmitir e se revelarão peda- recebe uma pensão. mais evoluída e mais humanigogos de qualidade. Mas ela não é um zada do que a encontrou, em Cada caso é um caso, natu- pagamento, é a matéria e entendimento. ralmente. Portanto, do que devolução que se lhe Assim essa sociedade lhe peraqui estou a falar é do princí- faz dum montante que mita aumentar o prazo de valipio em si, e é ele que tem que ele deixou de receber e dade na 4ª idade. se consagrar e accionar, gastar ou poupar, Mas, ainda quero lembrar dando-lhe força de regra, pro- durante a sua vida de mais uma, que é esta: Um apomovendo a aceitação dos mais trabalho na base dum sentado recebe uma pensão. novos, motivando os poten- contrato que celebrou Mas ela não é um pagamento, ciais candidatos. Neles poderá com o Estado. é a devolução que se lhe faz encontrar-se uma vivência dum montante que ele deixou interessante, uma experiência curiosa, uma propensão particular, um segredo de receber e gastar ou poupar, durante a sua vida bem guardado, um encanto motivante ou uma de trabalho na base dum contrato que celebrou característica única que convenha aos demais com o Estado. Portanto, não esquecer, mais trabalho carece de mais remuneração.n absorver e perpetuar. Ler, escrever, ensinar, divulgar, vulgarizar, Mário da Fonseca
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Olho Vivo
Aqui há cacto Um arqueólogo amador de cincinatti, nos estados unidos, descobriu um enorme fóssil de um animal até agora desconhecido, que viveu há uns 400 milhões de anos, nesta zona, então coberta pelo mar. Trata-se de um organismo com cerca de três metros de comprimento, de forma oval, constituído por lóbulos, como um dos cactos que foram filmados em centenas de películas de cowboys. O fóssil foi apresentado no fim de abril, na sociedade de geologia de dayton, no ohio. Os paleontólogos afirmam não ter a menor pista sobre a identidade do monstro.
Sorria, está a ser filmado Os últimos 35 rinocerontes de java (rhinoceros sondaicus) do mundo estão a ser acompanhados desde o princípio de maio por 160 câmaras de vigilância instaladas na ilha da indonésia, que é o seu único habitat. Não há animais destes em cativeiro e uma subespécie antes encontrada no vietname foi declarada extinta em outubro de 2011. O valor do corno no mercado da medicina tradicional pôs a espécie à beira da extinção e o parque natural de ujung kulon pretende monitorizar os espécimes sobreviventes. Cinco dos rinocerontes de java são crias, como se vê no primeiro vídeo divulgado.
Telemóvel indiscreto Daqui por uns anos, os telemóveis com um determinado chip poderão ver através de paredes, madeira, plástico, papel e outras matérias e objectos (roupa?), quando chegarem a bom porto e se forem comercializadas as invenções de um grupo de cientistas da universidade de dallas. Os investigadores estão a explorar as capacidades de uma gama não utilizada do espectro electromagnético e, do fim da privacidade, poderemos caminhar para o fim da intimidade. As imagens serão criadas a partir de sinais no âmbito dos terahertz (thz), sem recurso a lentes nem superpoderes. 52
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Tortilha de elefante Os humanos que habitavam há 84 mil anos as margens do manzanares, perto do que hoje é madrid, comiam carne e medula óssea de elefante, segundo um estudo de cientistas espanhóis que analisaram ossos encontrados em preresa, com marcas de cortes e pancadas. O estudo foi divulgado pelo journal of archaeological science no mesmo mês em que o rei de espanha foi alvo das maiores críticas por participar em caçadas ao elefante em áfrica.
O rato morde melhor O êxito dos ratos e ratazanas no mundo dos roedores deve-se ao facto de não se terem especializado numa só forma de roer, cortando os alimentos com os dentes da frente e mastigando-os com os de trás, concluíram cientistas de liverpool. Se a cobaia não se tivesse especializado em mastigar e o esquilo em trincar, por exemplo, poderiam ser hoje espécies de sucesso mundial como os ratos, a praga mais difundida no planeta.
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A n t ó n i o C o s t a S a n t o s ( t ex t o s )
O ciúme tem sexo
Coala em risco Doenças, atropelamentos e o crescimento das cidades são os factores que estão a diminuir a população de coalas na austrália. O animal (phascolarctos cinereus) entrou no 1º de maio para a lista das espécies vulneráveis (um degrau abaixo da categoria "em perigo"). Nos últimos 20 anos, o número de coalas diminuiu 40% nas províncias de nova gales do sul e queensland e já não existem em estado selvagem em redor da capital, camberra. Dos milhões que viviam em 1788, restam uns 40 mil.
Tempo de mais Nascer prematuro tem os seus problemas, mas ver a luz depois de 42 semanas de gestação também não é bom. Um estudo de médicos de roterdão, holanda, no international journal of epidemiology, assinala que os bebés "pós-termo" têm mais probabilidades de revelar problemas de comportamento na infância. Os cientistas acompanharam cerca de 400 miúdos que nasceram com mais de 42 semanas e detectaram, por exemplo, défices de atenção e hiperactividade, em taxas duas vezes superiores às dos bebés de gravidezes "normais".
Penso, logo não creio A revista science publicou um estudo da universidade da colômbia britânica, segundo o qual o pensamento analítico pode fazer diminuir a crença religiosa, mesmo nos crentes mais devotos. A diminuição é igual entre crentes e cépticos. Os cientistas fizeram experiências com 650 pessoas, nos estados unidos e canadá. Números recentes indicam que a maioria da população mundial acredita na existência de um deus, embora o número de agnósticos e ateus tenha vindo a crescer nas últimas décadas.
A competição sexual no emprego afecta mais as mulheres que os homens. A competição social e profissional afecta mais os homens que as mulheres. A conclusão é de um estudo de espanhóis, argentinos e holandeses, publicado na revista de psicologia social da universidade de valência. Os investigadores questionaram 600 pessoas, das três nacionalidades, e chegaram à conclusão que o ciúme e a inveja têm sexo, reagindo cada género com intensidades diferentes a um rival amoroso ou profissional.
Sem stress Experiências realizadas por cientistas da califórnia e publicadas na revista science provam que o relaxamento faz bem à memória. A aprendizagem de novas tarefas e a recuperação de memórias de experiências anteriores que ajudam à tomada de decisões é mais fácil quando se está acordado, mas sem dar muita atenção a estímulos externos.
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A Casa na árvore Susana Neves
A pioneira voadora A "noiva da floresta" sabia punir o mau estudante.
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Folhas e frutos e pormenor do tronco
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idoeiro, abedul, abedoira, bido, vidoeiro são cinco das 31 maneiras de em Portugal se dizer bétula (Betula Celtiberica Rothm.). No entanto, se perguntarmos onde é possível encontrar esta espécie autóctone, muitos dirão que não cresce no nosso país. Ou seja, apesar da riqueza vocabular que gerou, também presente na toponímia - por exemplo, Vidual, Bidoeira, Viduinho - a bétula continua a ser uma desconhecida. De facto, em Portugal não há florestas de bétulas com a dimensão das existentes em toda a Escandinávia ou na Taiga Siberiana, onde crescem outras espécies, nem temos conhecimento de em períodos de fome se produzir farinha a partir da madeira de bétula ou ser corrente usar a seiva e a casca como panacéia contra os problemas de rins, doenças de pele e hemorragias, prática ancestral dos índios norte-americanos. Nos nossos dias, à semelhança do que acontecia no final do século XIX, a bétula portuguesa aparece apenas nas terras montanhosas (Serra da Estrela,
Gerês, Marão, etc) com boa exposição solar, junto a linhas de água e muitas vezes misturada com pinheiros e carvalhos. "Na serra do Gerês, as bétulas crescem nas cotas mais elevadas, a partir dos 800 até 1200 metros de altitude", confirma Marcos Liberal, engenheiro florestal, no Parque Nacional Peneda-Gerês (extremo nordeste do Minho). Mas estas árvores não são todas espontâneas, "algumas foram plantadas durante o Estado Novo". Quanto aos bidoeiros de S. Pedro do Sul, "foram introduzidos nos anos 60 e 70 do século XX", informou-nos Mónica Almeida, técnica do Gabinete Florestal da câmara viseense. Apesar da plantação de bétulas, iniciativa com antecedentes no século XIX, lhes reservar um protagonismo florestal e ornamental - a elegância do seu porte, sobretudo a beleza da casca branca, muitíssimo macia, transportou-as das serras e dos vales para o relvado dos jardins urbanos (no Porto, Fundação de Serralves, em Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e Arco Cego) - a verdade é que esta Betulaceae, parente das aveleiras e amieiros não serviu à economia e à cultura nacionais como o carvalho, o castanheiro ou o sobreiro. E na graça de ser "a noiva da floresta", bonita para contemplar pela casca alva e os ramos pendentes, só a iniciados deu a conhecer o mistério do seu matrimónio com o cogumelo Amanita Muscaria, responsável pela "embriaguez alegre" e a percepção de outras dimensões, indispensável nos rituais xamanísticos dos povos nórdicos.
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Fotos: Susana Neves
"Árvore da inspiração", na cultura celta, símbolo da pureza virginal, celebrada numa das mais extraordinárias danças do mundo, "Beriozka", coreografia tradicional russa, onde as bailarinas subtilmente deslizam no palco, a bétula também fez parte da história da sedução masculina: no século XIX, era o ingrediente secreto de um perfume chamado "Couro Russo", que originalmente se usava para afastar os insectos das botas de couro. Quem observa de perto a sua casca branca, suavemente tracejada à maneira de uma escrita natural, não imagina que na Antiguidade, fosse usada como papel. Na realidade, um dos textos mais antigos, escrito por uma mulher romana, tem como suporte a casca de bétula. Descoberto no Norte da Inglaterra, este texto em latim, datado do século I a.c., era uma espécie de postal de Claudia Severa dirigido à irmã Lepidina, convidando-a visitá-la para celebrarem em conjunto o seu aniversário. No livro "Le Bouleau" (Actes Sud), dedicado às várias espécies de bétula, Michel Roussillat recorda ainda uma faceta menos simpática da "árvore da sabedoria". Nas escolas dos séculos XVIII e XIX, ver-
gastavam-se as crianças desordeiras ou pouco aplicadas com os ramos flexíveis de bétula inscrevendo nas tenras nalgas infantis o aforismo: "as letras com sangue entram". O rasto de sangue, deixado por esta árvore benigna verificou-se ainda na II Guerra Mundial, quando os aviões britânicos "Mosquito", incorporando madeira de bétula na sua estrutura, se transformaram no principal avião de combate nocturno das forças Aliadas contra a Alemanha Nazi. A carreira bélica da bétula parece uma heresia se pensarmos que a partir dela se produzia uma "aspirina" natural outrora usada no tratamento dos tuberculosos. Contudo, como explica Roussillat, no seu habitat natural, a bétula "pioneira" arriscase a crescer onde nenhuma outra espécie se aventura e trava a mesma luta há milhões de anos: uma luta fratricida. Dos milhões de sementes minúsculas, produzidas nos amentos (orgãos sexuais) femininos, e dispersas pelo vento, somente algumas se enraízam no solo e destas apenas uma minoria, crescendo velozmente, consegue atingir os 20 ou 30 metros que lhes permitem chegar ao Sol e sobreviver. n
Bosque de bétulas, Parque Biológico da Serra das Meadas, Lamego
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69 CONSUMO Comprar por necessidade não é o mesmo que ter necessidade de comprar. É essa a diferença entre um cidadão consumidor e um cidadão consumista. Pág. 58 l LIVRO ABERTO O destaque vai para o surpreendente "O Teu Rosto Será o Último", livro de estreia de João Ricardo Pedro, vencedor do Prémio Leya 2011. Pág. 60 l ARTES Fala-se do mérito das exposições, em Cascais, de duas jovens artistas, Ema M e Joana Lucas, ambas com registos a desafiarem os tabus habituais. Pág. 62 l MÚSICAS Os novos álbuns de Norah Jones e Damon Albarn, respectivamente "Little Broken Hearts" e "Dr Dee", a merecem a nossa melhor atenção. Pág. 64 l NO PALCO A comédia (negra) de Molière, "O Doente Imaginário", está em cena, durante todo o mês de Junho, no Teatro Nacional de São João, no Porto. Pág. 66 l CINEMA EM CASA Os alta e justamente premiados em 2011, "O Miúdo da Bicicleta" e a "A Separação", podem ser já desfrutados no espaço familiar. Pág. 68 l GRANDE ECRÃ A generalidade do público não se poderá queixar: num mês muito apelativo, chegam às salas os últimos filmes de Ridley Scott e Abel Ferrara Pág. 69 l TEMPO INFORMÁTICO Embora alguns modelos de tablets incluam já uma aplicação antivírus, a regra não é geral. Aqui se apresentam alternativas mais completas. Pág.70 l AO VOLANTE O grupo Volkswagen acaba de lançar no mercado três novos modelos de vocação essencialmente citadina: o VW Up, o Seat Mii e o Skoda Citigo. Pág. 71 l SAÚDE Onde se explica a diferença entre doenças hereditárias e doenças genéticas e se acentua a pertinência dos rastreios de doenças genéticas a toda a população. Pág. 72 l PALAVRAS DA LEI As questões relacionadas com a divisão de bens quando acontece a ruptura numa união de facto… Pág. 73 l
BOAVIDA
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Boavida|Consumo
Loucos por Compras Comprar por necessidade, não é o mesmo que ter necessidade de comprar. É essa a diferença entre um cidadão consumidor e um cidadão consumista.
Carlos Barbosa de Oliveira
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o primeiro sábado do mês, Catarina saiu de casa pela manhã para ir ao supermercado fazer compras. Levou consigo uma lista de produtos de que necessitava, tendo por base um orçamento de 100 euros. Antes de entrar no supermercado deu uma volta pelo centro comercial para ver as montras. Uma saia em promoção acenou-lhe de uma montra. Catarina fez contas de cabeça. O orçamento mensal aguentava uma extravagância e decidiu entrar na loja para a comprar. Viu também uma blusa que "ia bem com a saia", mas esse gasto suplementar já o orçamento não lhe permitia. Ainda pegou no cartão de crédito, tentada a diferir para o mês seguinte o preço da tentação mas conteve-se e pensou com os seus botões: "Talvez ainda cá esteja daqui a um mês..." No supermercado adquiriu os produtos constantes da 58
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lista, a que acrescentou apenas umas bebidas não previstas. Conseguiu não ultrapassar a despesa prevista porque além de ter encontrado alguns produtos em promoção, tinha ainda um Vale de Desconto. Dirigiu-se à caixa registadora para pagar. À mesma hora, Beatriz saiu de casa com os mesmos propósitos de Catarina. Deu uma volta pelo centro comercial para ver as montras. Um par de calças igualzinho ao que invejara a Leonor na noite da véspera, parecia dizerlhe "Vá lá, não sejas tonta, leva-me contigo! Se a tua amiga as pode comprar, tu também podes!" Beatriz entrou resoluta. Pediu o seu número e dirigiuse ao gabinete de provas. Mirou-se ao espelho. Assentavam-lhe na perfeição. Olhou para a etiqueta com o preço. "Um bocado caras"- pensou. " Mas uma vez não são vezes e são tão bonitas!". Saiu do gabinete decidida mas, antes de se dirigir à JOSÉ ALVES
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caixa para pagar, passou por uma blusa que ficava mesmo a matar com as calças. Decidiu experimentar. "Uau! Vou arrasar!"- murmurou para o espelho que, impávido, não lhe respondeu. Dirigiu-se à caixa registadora e pagou com cartão de crédito. Saiu eufórica com as sua compras mas, ao passar por outra loja, viu uma carteira que andava a namorar há tempos e parecia ter sido feita de propósito para combinar com a sua nova "toilette". Ainda por cima, com um desconto de 10%, quem é capaz de resistir? É verdade que representa um rombo no orçamento, mas para que serve o cartão de crédito, senão para aproveitar uma oportunidade e pagar no mês seguinte aquilo que não se pode comprar com o orçamento do mês? Apontou a carteira à empregada e pediu para a embrulhar. Nesse momento entrou Carlota que, dois beijos repenicados depois, lhe disse: " Bela compra Beatriz! Olha, já viste uns sapatos que estão lá ao fundo? Não há outros que combinem tão bem com essas carteiras!" Foi ver, levada pela mão da amiga. Eram realmente lindíssimos e combinavam na perfeição com a carteira. E não é que lhe assentavam como uma luva? Um pouco caros, é certo, mas isso pouco importava. Não ia reclamar do preço e fazer figura de pelintra diante da Carlota. Afinal, a função do cartão de crédito não é também manter as aparências? Resoluta dirigiu-se à empregada: " Olhe, a minha amiga convenceu-me e também levo estes sapatos" Para celebrar, convidou a amiga para um café. Deixouse seduzir por um bolo que a olhava de soslaio, pronto a amenizar um eventual amargo de boca… Quando entrou no supermercado, Beatriz já não sabia onde tinha enfiado a lista de compras. Foi desfilando pelos corredores, tentando reconstituir de memória a lista de produtos de que necessitava e, se alguma dúvida a assaltava diante de uma promoção, agia em conformidade: "na dúvida…compro!" Surpreendeu-se quando a caixa registadora sentenciou um montante em dobro daquilo que planeara gastar mas, paga a conta, penitenciou-se na loja contígua, onde entrou para comprar um jogo para a Playstation, que o filho mais novo há muito reclamava. De regresso a casa, lamentou o aumento do custo de vida. Quem nunca comprou aquilo que não precisava, que atire a primeira pedra. Os mecanismos que a sociedade de consumo tem ao seu dispor (publicidade, marketing, crédito, etc) "agarraram" os consumidores e criaram casos de verdadeira dependência, que se traduziram em endividamento excessivo.
Os comportamentos de Catarina e Beatriz distinguem o consumidor do consumista. O consumidor gasta aquilo que tem, compra de acordo com as suas necessidades, não corre atrás da última novidade como se não houvesse amanhã e, uma vez por outra, faz uma extravagância. O consumista age muitas vezes por impulso, chega a ser irracional e encontra sempre uma justificação ou desculpa para compras supérfluas. Umas vezes culpa a publicidade, outras justifica-se com uma depressão ou a necessidade de aliviar um desgosto, outras ainda porque tem de mostrar aos amigos ou aos vizinhos que não é nenhum pelintra. O consumista não resiste às palavras "grátis", "saldos", "novidade" e "promoções". Compra muitas coisas inúteis só porque não que ficar atrás do vizinho, ou porque acordou com uma sensação de vazio que decidiu preencher com uma ida às compras. Sobre os efeitos deste comportamento no orçamento familiar e os seus reflexos no sobreendividamento, escreverei no próximo mês.n
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Boavida|Livro Aberto
A memória do “paraíso triste” Com grande ficção, poesia e ensaio Numa época em que recorrentemente se escreve sobre a ii guerra mundial, sobre os seus mistérios ainda por revelar e sobre a tragédia humana que ela representou à escala global, apesar de neutralidades como a portuguesa, surge também o interesse pela descoberta do que era o quotidiano dos países em guerra ou livres dela, tanto quanto era possível sentir e fruir essa liberdade. É normal que assim aconteça havendo em fundo um cenário de profunda incerteza quanto ao nosso futuro colectivo.
José jorge letria
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ortugal foi, nesses anos, o "paraíso triste" de que Antoine de Saint-Exupéry falou na sua "carta a um refém", mas foi também o destino provisório para muitas dezenas de milhares de pessoas que tentavam escapar à barbárie nazi, antes de buscarem porto seguro noutras paragens. Poucos foram os que optaram por ficar, até porque não podiam ignorar que se vivia numa ditadura nada aberta a qualquer forma de mudança ou de ideal progressista. Com o passar dos anos, o "paraíso triste" que portugal foi adquire um novo "charme" e um interesse redobrado para os investigadores. É assim que nasce o livro "passagem para Lisboa-a vida boémia e clandestina dos refugiados da Europa nazi"(Clube do Autor), de Ronald Weber, professor de 60
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estudos americanos na Universidade de Notre Dame, que realizou, durante anos, um exaustivo trabalho de pesquisa, proporcionando-nos agora uma leitura fascinante, que flui como a de um grande romance e nos revela os dramas individuais, os jogos secretos da espionagem e da especulação económica. Um livro também útil para quem, em portugal, quiser escrever sobre o tema, ficcionando factos e eventos. Ao longo de mais de 400 páginas, fica o leitor preso a esta narrativa consistente e sedutora. Como é sempre tempo de recomendar ficção de qualidade, o destaque vai para o surpreendente "o teu rosto será o último"(leya), livro de estreia de João Ricardo Pedro, justo vencedor do Prémio Leya 2011, que nos revela uma maturidade e um domínio do processo narrativo invulgares. Destaque, igualmente, para "as três vidas" (d. Quixote), de João Tordo, distinguido com o prémio
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José Saramago (2009) e livro finalista do prémio Portugal Telecom (2011), e para a obra-prima de John le Carré "um espião perfeito" (d. Quixote) e ainda para a colectânea de narrativas breves "o tempo envelhece depressa" (d. Quixote), do italiano António Tabucchi, recentemente falecido em portugal, país ao que se encontrava ligado por fortes laços afectivos. Realce ainda para "1q84" (casa das letras), do japonês Haruki Murakami, autor de culto para um número cada vez maior de autores em todo o mundo, excelentemente traduzido por Maria João Lourenço, que tem dedicado os últimos anos a verter para português a já extensa obra deste escritor de referência. "Paisagem/figuras" (esfera do caos) é o mais recente livro da professora universitária, ensaísta e crítica literária
Anabela Rita, que nos propõe um texto brilhante em que misturam e completam o registo ensaístico, o ficcional e uma intensa memória pessoal na qual também a música está intensamente presente. Um livro de difícil catalogação que nos envolve e cativa, revelando a qualidade de uma escrita superior. "Nada está escrito" (d. Quixote) é a mais recente colectânea poética de Manuel Alegre um livro de uma grande intensidade lírica, por vezes dramática, que nos traz a voz poderosa de um dos maiores poetas portugueses contemporâneos, num tempo em que a poesia tanta falta nos faz. Num registo bem diferente surge "101 cromos da bola" (lua de papel), do jornalista Rui MiguelTovar que, com ilustrações de Carlos Monteiro, nos apresenta uma informativa e divertida galeria dos nomes de referência do nosso universo futebolístico. Indispensável para quem gosta de futebol. n
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Boavida|Artes
A hora dos Jovens Artistas Decididamente, a hora é dos jovens artistas, que cada vez mais se impõem num panorama que, apesar da crise, vai pulsando em iniciativas de vário teor e com um dinamismo a ultrapassar com facilidade a costumada inércia.
Rodrigues Vaz
N
este momento, vale a pena falar das exposições de duas jovens artistas, Ema M, pseudónimo de Margarida Prieto, e Joana Lucas, ambas com registos a desafiarem os tabus habituais. A primeira com uma exposição no Centro Cultural de Cascais (até 8 de Julho), intitulada Fabulária, a denunciar o seu labor habitual de ilustradora, o que faz com uma técnica brilhante. Esta exposição está estruturada em dois núcleos de produção pictórica, sendo o primeiro informado pela transparência transitiva da letra na leitura e o segundo pela opacidade reflexiva do signo visual, sendo nela evocado o célebre ensaio de Foucault sobre a pintura "Ceci n'est pas un pipe", de Rene Magritte. O trabalho de Ema M tem como horizonte imagético a memória do "lugar primordial", antiquíssimo, onde se verificava a coincidência entre esse "lugar primordial" como lugar da origem - e o lugar perfeito, sendo o resultado de uma forte consciência dos movimentos da História da Arte, com particular predilecção pela Idade Média tardia ou pré Renascimento e o período de transição para o Romantismo. A segunda jovem artista, Joana Lucas, apresenta, por sua vez, na Galeria Arte Periférica, Lisboa, (até 28 do corrente) a exposição Encenar o Acaso, inspirando-se nos pintores clássicos e em objectos do quotidiano, encenando depois os encontros através de um processo que nasce de estímulos - um objecto, uma acção, uma mancha - a que se segue o depurar de uma situação no sentido de apresentar o estímulo no seu máximo potencial. SANTOS CARVALHO E RICARDO PASSOS EM MAFRA
Por outro lado, outros dois jovens artistas, o escultor Santos Carvalho e o pintor Ricardo Passos, assinalaram o Dia Mundial dos Museus, 18 de Maio, com a 62
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Acrílico sobre tela de Joana Lucas, Escultura de Santos Carvalho e pintura de Ricardo Passos.
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exposição conjunta Mil Vozes a dois tempos em Espaço Conventual, (até 30 de Junho), exactamente no Convento de Mafra, lugar ideal para representar a natureza do (ir)real simbólico da forma e o surreal transacto na figura pictural. Como salienta no catálogo, José-Luís Ferreira, "Tratase de linguagens - intercomplementares, nas suas leituras - provenientes do imaginário (circunstancialmente) síncrono, de dois artistas plásticos credenciados, com um percurso internacional paralelo, entrecruzado, mais uma vez, nesta efeméride. Cada um dos autores - a seu modo e maneira - explora a homeomorfogeneidade da Figuração Humana, dela extraindo expressões situacionais ou sentidos nocionais impressivos, congeminados em acepções de intensa 'ambiguidade gramatical' que, (soit disant) conformes (ou disformes) desafiam a fantasia do observador, pelo seu (des)ajustamento…ou inusitada configuração contextual, seja na sua singularidade, no conjunto …ou, na transitoriedade (ou provisoriedade) ambiental, deste invulgarmente magnífico espaço expositivo."
DOMINGOS REGO NA GALERIA ALECRIM 50
E vale ainda a pena chamar a atenção para a exposição de Domingos Rego na Galeria Alecrim 50, Lisboa, (até dia 23) que aqui retoma as questões do peso e da gravidade como princípios unificadores, num conjunto de obras que adoptam várias linguagens, nomeadamente pintura, fotografia e instalação. O cruzamento de regimes visuais constitui, aqui, de resto, um modo de estabelecer tempos e distâncias diferentes de fruição das obras, provocando formas diferentes de relação com a força gravitacional. O preto e branco atravessa toda a exposição, exacerbando o confronto das massas, definindo os volumes e acentuando as formas, cumprindo o seu desígnio de máximo contraste e, dando lugar à eclosão de cores intensas que irrompem como clamores num silêncio grave. n
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Boavida|Músicas
A simpática Norah Jones e o estranho Damon Albarn A norte-americana Norah Jones acaba de lançar um novo álbum, com o título genérico "Little Broken Hearts". O britânico Damon Albarn apresenta-nos o CD "Dr Dee". Dois trabalhos distintos, que merecem a nossa melhor atenção.
Vítor Ribeiro
N
orah Jones e Brian Burton assinam os 12 temas originais seleccionados para o novo trabalho discográfico, produzido por Danger Mouse. Gravado na sequência dos CDs "The Fall" (2009) e "Featuring" (2010), "Little Broken Hearts" dá continuidade ao primeiro daqueles álbuns, em que a cantora e compositora abandona, de alguma forma, as suas raízes jazzísticas (com laivos country/soul) e envereda pelos caminhos mais ligeiros da pop. O amor (sempre ele…) ocupa praticamente em exclusivo a temática do novo álbum, com interpretações irrepreensíveis de uma Norah Jones amadurecida por uma carreira alucinante, se se tiver em conta os pouco mais de 33 anos da cantora. "Little Broken Hearts" é, globalmente, um trabalho sereno e simpático. Da Grã-Bretanha chegou-nos o álbum "Dr Dee", de Damon Albarn, inspirado na vida de John Dee (1527-1608), matemático e conse64
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lheiro da Rainha Isabel I de Inglaterra. Nascido em Londres, em 1968, Albarn foi vocalista dos Blur, participou no projecto Gorillaz e colaborou com muitos outros músicos e compositores. No que se refere ao álbum agora lançado, Damon Albarn conduz-nos numa viagem fantástica, combinando sonoridades renascentistas com sons contemporâneos, com música sacra e música coral. Ao longo de 18 temas, o autor, que contou também com a colaboração da Orquestra Filarmónica da BBC, transporta-nos para universos plenos de espiritualidade, que tornam a audição num acto de complexa concentração. Não estamos, portanto, perante um trabalho discográfico de fácil apreensão, nem terá sido, de resto, essa a intenção do autor, que classificou o seu álbum como uma "estranha pastoral folk". Os melómanos apreciadores de trabalhos de vanguarda não deverão perder este estranho "Dr Dee". n CONCERTOS RUFUS EM LISBOA E NO PORTO O cantor e compositor norte-
americano Rufus Waiwrigth efectua um concerto dia 7 de Junho, no Coliseu de Lisboa, pelas 21h30. No dia seguinte, desloca-se ao Porto para atuar no festival Optimus Primavera Sound. KUSTURICA EM GAIA O músico, compositor e cineasta sérvio
Emir Kusturica e a The No Smoking Orchestra actuarão em Gaia, na Praia Fluvial do Areinho de Oliveira do Douro, no dia 16 de Junho. Este concerto integra-se no Festival Gaia Positive Vibes, que decorre dias 15 e 16 de Junho. No primeiro destes dias sobem ao palco, entre outros, Patrice, músico afroalemão com raízes na Serra Leoa, e Richie Campbell, um "apaixonado pela música jamaicana". JOSÉ CARRERAS EM LISBOA José Carreras efectua um concerto
no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, dia 16 de Junho, pelas 21h30, no âmbito das comemorações do 75º aniversário da Rádio Renascença. O cantor será acompanhado pela Orquestra Sinfonietta de Lisboa, dirigida pelo Maestro David Jimenez.
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Boavida|No Palco
Humor versus morte Os avanços da Medicina, aliados ao humor e à descrença do poder do Homem para além do da Natureza e de Deus, são as bases para comédia (negra) de Molière, "O Doente Imaginário", em cena durante todo o mês de Junho, o Teatro Nacional de São João, no Porto.
FICHA TÉCNICA:De: Molière; Tradução: Alexandra Moreira da
Silva; Encenação: Rogério de Carvalho; Cenografia: Pedro Tudela; Figurinos: Bernardo Monteiro; Desenho de luz: Jorge Ribeiro; Música: Ricardo Pinto; Assistência de encenação: Emília Silvestre; Interpretação: Jorge Pinto, Emília Silvestre, António Durães, Clara Nogueira, Fernando Moreira, João Castro, Vânia Mendes, Miguel Eloy, António Parra, Ivo Luz, Marta Dias; Co-produção: Ensemble - Sociedade de Actores/ TNSJ. "MEU TIO, O JAGUAR"
Jorge Listopad, encenador, escritor e professor checo, radicado há vários anos em Portugal, adaptou a obra do grande escritor brasileiro João Guimarães Rosa, "Meu tio, o Jaguar", que estará em cena a partir de 14 de Junho na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II. Um homem, aos poucos, vai-se transformando, talvez por um acto de amor, talvez por desespero e por solidão, no seu objecto de estudo, no seu objecto de caça - uma onça -jaguar. Um texto bastante distinto daqueles que são conhecidos do autor brasileiro, é aqui interpretado segundo um novo padrão de escrita, caminhando numa mescla entre a língua portuguesa e a língua nativa tupi, entre sons e gritos guturais, animalescos, à medida que o actor
Maria Mesquita
A
parafernália terapêutica, as patologias, os tratamentos muito ou pouco ortodoxos, os hipocondríacos e as suas mil doenças e dores de cabeça, acabam por girar em torno apenas de um tema que é recorrente: a morte e a forma de a ir evitando. Mas os médicos não são deuses e por vezes temos de rir perante o que não tem remédio (solucionado está). Molière encontrava-se, por acaso, bastante doente quando concluiu esta sua obra… É Argão, a personagem principal, que nos dá repulsa devido ao seu medo constante, ao seu egocentrismo, enquanto a sua doença, em vez de física, acabará por ser mental. 66
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sofre a metamorfose frente aos espectadores. Um monólogo que não é monólogo, onde outras vozes são escutadas, com ausentes e presentes em cada momento, expressando o que a mente do protagonista vai pensando, no meio de tantos pensamentos. FICHA TÉCNICA: De: João Guimarães Rosa; Encenação: Jorge
Listopad; Desenho de luz: José Carlos Nascimento; Sonoplastia: Rui Dâmaso; Interpretação: José Artur Pestana
São abordados conceitos ideológicos, morais e culturais, o papel da guerra, do Estado Social e Político (e das implicações hipócritas e cínicas que deles advêm), da Igreja e dos seus valores cristãos e católicos, sem esquecer a libertinagem da época. Tudo isto narrado em boas doses de humor, classe e bom senso. Em todos os textos, independentemente do tema, notase uma aproximação à crescente insatisfação que cada autor parecia sentir, ao que viria dar forma e lugar à revolução social e política, pelo que as palavras parecem agora quase premonitórias. A mudança estava à porta.
"O SONHO DA RAZÃO"
Baseado em vários excertos de autores franceses da época da Revolução, Luís Miguel Cintra encena "O Sonho da Razão", no Teatro da Cornucópia, para ver a partir de 14 de Junho. Diderot, Voltaire, Marquês de Sade são alguns dos autores que Cintra pesquisou para criar um único texto onde três actores, em palco, desdobrando-se em várias personagens, num autêntico jogo cénico, irão dar vida aos diálogos filosóficos e humorísticos do séc. XVIII francês.
FICHA TÉCNICA:Tradução: Luís Lima Barreto; Adaptação e
Encenação: Luis Miguel Cintra; Cenário e Figurinos: Cristina Reis; Interpretação: Dinarte Branco, Luis Miguel Cintra com uma actriz a designar; Assist. enc.: Manuel Romano; Assist. cenário/figurinos: Linda Gomes Teixeira e Luís Miguel Santos; Director técnico: Jorge Esteves; Construção e montagem de cenário: João Paulo Araújo e Abel Fernando; Montagem e operação de luz e som: Rui Seabra; Guarda-roupa: Maria do Sameiro Vilela
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Boavida|Cinema em Casa
Viver e pensar em tempo de crise Premiados em Cannes e Berlim, respectivamente, "O Miúdo da Bicicleta" e a "A Separação" são dois grandiosos filmes de 2011 que o leitor poderá, agora, visionar, e desfrutar, calmamente, no espaço familiar. A selecção completa-se com "Filme Socialismo", que assinala o regresso de Jean-Luc Godard, e um documentário "Os Dois da (nova) Vaga", sobre a relação de Godard com Truffaut, dois gigantes do cinema europeu que começaram por ser bons amigos… Sérgio Alves O MIÚDO DA BICICLETA
A SEPARAÇÃO
OS DOIS DA (NOVA) VAGA
Esta é a história de Cyril,
Irão, 2011. Consumada a sep-
Nos anos do pós-guerra, Jean
rapaz de 12 anos deixado
aração da sua esposa Simin,
Luc Godard e François
num orfanato, cujo único
Nader tem de contratar uma
objectivo é encontrar o seu
pessoa para tomar conta do
FILME SOCIALISMO
ma nos Cahiers du Cinema e
Pai. Para isso, vai
seu Pai que sofre de
Opus em três partes: a
na Arts onde questionavam o
ter a preciosa
Alzheimer profundo. Razieh,
primeira, a bordo de um
cinema francês de então e
ajuda de
a jovem contratada, está
navio de cruzeiro em férias
lançavam as bases da nova
Samantha, uma
grávida, não consegue dar
no Mediterrâneo; a segunda, o
vaga que viriam a encabeçar e
jovem
conta do recado e trabalha
retrato de uma família con-
que marcaria o cinema
cabeleireira que
sem o consentimento do
temporânea, proprietária de
francês e mundial
o ajuda e acolhe
marido. E, certo dia, um acaso
uma bomba de gasolina, no
nas décadas
infeliz vai provocar um grave
seio da qual as crianças
seguintes. Em
em sua casa aos fins - de -
Truffaut era críticos de cine-
semana. Mas, a primeira visi-
acidente a ser
procuram compreender os
1968, acontece a
ta ao local onde trabalha o
decidido pelas
seus direitos; e, finalmente, a
ruptura. Godard
seu Pai não corre como o
instâncias
síntese de todo este retrato
esperado e a sua fúria cresce
judiciais irani-
poderoso da sociedade
ma militante, Truffaut segue
…Grande Prémio do Júri do
anas. Retrato
europeia. Neste seu regresso,
outro caminho…Assinado por
Festival de Cannes, O Miúdo
impression-
Godard faz uma reflexão
Emmanuel Laurent, este do-
da Bicicleta, assinado pelos
ante da
sobre a Europa, as grandes
cumentário descreve a difícil
opta por um cine-
irmãos Jean Pierre e Luc
sociedade iraniana, dos seus
cidades e civilizações
relação entre os dois rea-
Dardenne é um digno sucedâ-
conflitos de género e, em
mediterrânicas, enfim, sobre
lizadores, outrora amigos,
neo do belíssimo "A Criança",
especial, dos seus conflitos de
o estado actual da
mais tarde distantes. E inclui
Palma de Ouro de 2005. Com
classe, "A Separação" foi o
humanidade. Na linha experi-
depoimentos de actores que
uma realização brilhante,
grande triunfador do Festival
mental de trabalhos anteri-
trabalharam com os dois
quase sem música (na linha
de Berlim de 2011: Melhor
ores, o filme é uma colagem
cineastas, clips de filmes,
da filmografia anterior), uma
actriz, Melhor actor e Melhor
de imagens actuais, outras de
fotos de época, troca de corre-
narrativa exemplar e actores
Realização para Asghar
arquivo e de frases inscritas
spondência. Um trabalho
bem dirigidos (entre os quais
Farhadi. Além disso, recebeu,
nas imagens que compõem
indispensável para compreen-
se inclui, de novo, Jérémie
justamente, o Óscar para me-
um quadro impressivo legado
der a relação entre dois
Renier) é um dos melhores
lhor filme estrangeiro.
às gerações vindouras. Para
grandes mestres do cinema
filmes estreados entre nós.
TÍTULO ORIGINAL:
ajudar a questionar os camin-
contemporâneo.
TÍTULO ORIGINAL:
Nader az Simin; REALIZADOR:
hos que trilhamos …
TÍTULO ORIGINAL:
Velo; REALIZAÇÃO: Jean Pierre
Asghar Farhadi; COM: Peyman
TÍTULO ORIGINAL:
Vague; REALIZAÇÃO:
Dardenne e Luc Dardenne;
Moadi, Leila Hatami, Sareh
Socialisme; REALIZAÇÃO: Jean
Emmanuel Laurent; COM:
COM:
Bayat, Sahahab Hosseini;
Luc- Godard; COM: Jean-Marc
Anouk Aimé, Charles
de France, Jérémie Renier;
Irão, 123m, Cor, 2011; EDIÇÃO:
Sthelé, Agatha Couture,
Aznavour, Jean-Paul
Bélgica/França/Itália, 87m,
Alambique
Mathias Domahidy, Quentin
Belomndo, Jacqueline Bisset;
Cor, 2011; EDIÇÃO: Leopardo
Grosset; Suiça/França, 102m,
França, 91m, cor, 2010;
Filmes
cor, 2010; EDIÇÃO: Midas
EDIÇÃO:
Le Gamin au
Thomas Doret, Cécile
Jodaeiye
Filmes 68
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Film
Deux de la
Midas Filmes
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Boavida|Grande Ecrã
Eternos retornos A generalidade do público não se poderá queixar: para além do mês ser muito apelativo - chegam às salas os últimos filmes de Ridley Scott e Abel Ferrara -, o segmento juvenil será brindado com o regresso da animação de culto, "A Idade do Gelo" e, ainda, de dois documentários ("One Life" e "Ocean World") bastante estimulantes sobre a natureza, o mundo animal e marinho.
Joaquim Diabinho
M
uitos dos melhores filmes de Scott ("O Duelo", "Alien - O 8º Passageiro" e, sobretudo, "Blade Runner", a sua coroa de glória) vieram nos seus primeiros de anos de carreira. De resto, se atentarmos à sua extensa filmografia perceber-se-á qual o género (a science-fiction, pois claro) que abordou com maior eficácia criativa, designadamente na criação de atmosferas carregadas de alto poder de intranquilidade e extrema claustrofobia. Independentemente do grau de expectativas que "Prometheus" (nos ecrãs, dia7), nos reserve, o mais certo é esperarmos de Ridley Scott mais uma aventura "trepidante" que vem, antes de mais, reatar, com um dos mais interessantes momentos da sua obra inicial, o notável "Alien". Se não repare-se: uma equipa de cientistas e investigadores viaja numa nave (cujo nome dá o título ao filme) em busca de formas de vida alienígena … Nada de mais inquietante, portanto. Ou, se quiserem, nada de mais fascinante. INQUIETANTE é, de resto, a palavra chave que recobre as
obsessões do cineasta norte-americano, Abel Ferrara. Em "4:44 Last Day on Earth" um casal prepara-se para o fim do mundo, "anunciado" com dia e hora marcados, mas sem
motivo explícito ou uma razão concreta. Fiel ao seu estilo o autor de "R Xmas - Nosso Natal" lança um olhar angustiado pela crise do sistema e pela premonição do fim de um mundo. Curiosamente, ou talvez não, o filme ecoa algumas semelhanças com recente (ainda em cartaz?) "Procurem Abrigo", de Jeff Nichols. Excelentes são as prestações da dupla Willem Dafoe e Shanyn Leigh. SEM DÚVIDA que na produção da animação digital da última década de Hollywood, "Ice Age"revelou-se um dos mais consistentes e bem sucedidos exemplos do "entertainement". Essa capacidade de sedução e de criação de fluxos emotivos constantes elevou a simpática saga préhistórica a um patamar cimeiro onde reinam as grandes produções do género do filme de "desenhos animados". O grande triunfo popular da série "Ice Age" talvez resida no cuidado, puro e duro, do doseamento, não apenas nas situações hilariantes ou na criatividade mas na inteligência (e poder) do humor e no sentido apurado de espectáculo. Que outro filmezinho nos deu uma figura tão portentosa como a do esquilo Scrat, eternamente enlouquecido e não menos azarento com a bolota? Em "Idade do Gelo 4: Deriva Continental" (estreia, dia 28) o grupo de amigos inseparáveis mais divertido do mundo vai enfrentar um temível bando de piratas. Promete! n
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Boavida|Tempo Informático
Protecção para tablets Na edição anterior da nossa Revista falámos das novas estrelas da Informática, mais propriamente dos novos dispositivos móveis que estão a prender a atenção dos utilizadores. Referimos então alguns dos tablets mais procurados. Mas, como é natural, também eles necessitam de protecção.
Gil Montalverne
D
ajuda@gil.com.pt
urante algum tempo os vírus e os ataques dos hackers nos dispositivos móveis, não só tablets como smartphones não tinham grande expressão ou quase não existiam. Pois a evolução acelerada neste sector, onde as ligações à Internet são uma constante natural e necessária, levou a que a situação se tenha modificado. Esses dispositivos móveis substituem hoje grande parte do trabalho efectuado nos computadores. São utilizados para aceder a redes sociais e incluem dados privados e ficheiros pessoais. O cibercrime não quis perder a oportunidade mas as empresas de software de segurança também não ficaram inactivas. Anteviase a necessidade de uma protecção eficaz. Embora alguns modelos de tablets incluam já uma aplicação antivírus, a regra não é geral. E portanto aqui vos apresentamos alternativas mais completas. Temos o caso do Norton Tablet Security para sistemas Android que foi o primeiro a aparecer e o Kaspersky One Universal Security que tem a particularidade de poder ser adquirido com opções de 3 ou 5 licenças para utilização em vários dispositivos à nossa escolha: PC, Mac, Tablet Android ou Smartphone. Em qualquer dos casos a protecção é total contra phishing, compras on-line e email, assim como uma nova capacidade de localização remota do dispositivo em caso de roubo e destruição dos conteúdos pelo utilizador. Também o conhecido antivírus gratuito da Avast tem
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desde Dezembro em download a versão Free Mobile Security para smartphones que também inclui a importante capacidade de protecção dos nossos dados pessoais, em caso de perda ou roubo do dispositivo. Como certamente notaram todo este software é destinado a dispositivos com sistema Android. Aparentemente sem protecção estão os iPad e iPhone porque a Apple os considera verdadeiras fortalezas e não permite licenças. Esta situação tenderá a modificar-se pois a Kaspersky e outros já incluem soluções de protecção para computadores Mac e o momento chegará para os seus dispositivos móveis. No entanto, já existem várias empresas que desenvolveram software de antivírus e sistemas de proteção para esta gama de mercado. Descobrimos, por exemplo, o VirusBarrier que faz um scaning eficaz de iPad ou iPhone conectados a um PC. Pode fazer-se o download gratuito da Net. Também para proteger os iPad em consulta na Internet, aconselhamos a instalação do Smart Surfing de Trend Micro que bloqueia o acesso a endereços considerados perigosos. Existem ainda para Android o conhecido AVG na versão Mobilation e o F Secure Mobile Security, ambos gratuitos para smartphones. Aconselhamos vivamente todos os possuidores de tablets ou smartphones a escolherem a protecção mais conveniente para os vossos dispositivos. As possíveis ameaças que circulam na Net não atingem apenas os "outros". Espreitam a primeira oportunidade para atacar. E prevenir … é o melhor remédio.n
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Boavida|Ao volante
Grupo Volkswagen lança novos citadinos A exemplo do que já havia acontecido com o Grupo PSA (Citroen/Peugeot), o Grupo Volkswagen acaba de lançar no mercado automóvel três novos modelos de vocação essencialmente citadina: o VW Up, o Seat Mii e o Skoda Citigo.
Carlos Blanco
N
o fundo os três modelos pouco diferem uns dos outros, até nos preços-base. Enquanto o VW Up custa 10.550 euros, o Skoda Citigo 9.881 e o Seat Mii 9.015. Contudo a opção será sempre sua. O Up é a nova aposta da Volkswagen nos carros mais pequenos. Numa área mínima (3,54x1,64m) oferece o máximo de conforto em três versões à escolha, consoante o orçamento e a necessidade: take Up é a versão base, Move Up, a versão mais virada para o conforto, High Up, a versão topo de gama. Existem ainda, para além da versão base, dois outros modelos sofisticados e independentes: o Black Up e o White Up. Com o VW Up assistimos a uma nova geração de motores a gasolina de três cilindros. Debitam 60 e 75 cavalos. Consumo médio de combustível bastante económico (4,2 l/100 km). Os dois motores de 1,0 litros não atingem o limite de emissões de 100 g/km CO2. Uma das mais compridas distâncias entre eixos do segmento permite um excelente aproveitamento de espaço. Condutor, passageiro dianteiro e dois passageiros atrás viajam num automóvel compacto mas, de modo algum, apertado. A bagageira suporta 251 litros de carga e, se o banco traseiro for totalmente rebatido, a sua capacidade aumenta para 951 litros. Muitas cores no habitáculo. O interior do Up foi estruturalmente concebido de forma muito clara e simples. Além disso o pequeno Volkswagen oferece
inúmeras soluções pormenorizadas, um design divertido e uma qualidade cujo nível enriquece o segmento. O modelo Citigo da Skoda representa a entrada da marca checa no segmento dos compactos citadinos, categoria que tem conhecido um rápido crescimento. A Skoda prevê aumentar as suas vendas em todo o mundo a um mínimo de 1,5 milhões de unidades por ano até 2018. O Citigo está entre os modelos mais compactos da sua categoria e, ao mesmo tempo, entre os mais espaçosos. Em sintonia com o tema - Simply Clever - o novo modelo impressiona com uma série de engenhosas funcionalidades para a utilização diária. Os designers do Citigo colocaram também grande ênfase na segurança, facto já comprovado pela pontuação máxima de cinco estrelas conquistada no teste de colisão realizado pela entidade competente: a Euro NCAP. No que respeita a motorizações os engenheiros da marca seguiram as novidades introduzidas no Up. Na Republica Checa, o novo membro da família Skoda foi distinguido como o "Best CityCar" no concurso "Car of the year 2012". Finalmente, o novo Seat Mii. Trata-se de um veículo com a mais recente tecnologia, com baixo consumo de combustível e que, além disso, lhe permite levar tudo o que quiser e poder escolher entre as versões de 3 e 5 portas. Em conclusão, são três modelos, pertencentes ao mesmo Grupo, que "quase" parecem irmãos gémeos. A opção entre eles será sempre sua! n JUN 2012 |
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Boavida|Saúde
Doenças genéticas Proponho-me hoje desfazer a confusão que existe entre doenças hereditárias e doenças genéticas e trazer para o debate aquilo que é mais actual nesta matéria - a pertinência dos rastreios das doenças genéticas alargados a toda a população. M. Augusta Drago
A
medicofamília@clix.pt
s doenças genéticas são aquelas que são causadas por alterações da constituição genética das células de um paciente, podendo estas ser mutações, aberrações, etc. Por seu lado, as doenças hereditárias são aquelas que se transmitem de pais para filhos, segundo regras fixas, que se chamam leis de Mendell. Por exemplo, o cancro é uma doença genética que resulta de múltiplas alterações acumuladas nos genes ao longo do tempo, mas não é uma doença hereditária, pois apenas 10 a 20% das doenças cancerosas apresentam alguma predisposição hereditária, isto é, transmitem-se de uma geração para outra. Com o actual desenvolvimento das ciências e das tecnologias, é possível identificar doenças genéticas progressivamente mais complexas e muitas que se manifestam tardiamente, e que não são consequência apenas da predisposição genética, mas também desta, quando se conjuga com múltiplos factores comportamentais, ambientais e outros. São exemplo destas doenças, o cancro nas suas formas não familiares, a diabetes mellitus tipo 2, algumas doenças cardíacas e muitas doenças do foro psiquiátrico. Como consequência deste desenvolvimento, a classe
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médica tem à sua disposição testes de rastreio de algumas doenças genéticas, que podem ser identificadas muito antes de se manifestarem. Os rastreios genéticos são programas abrangentes e sistemáticos que são aplicados indiscriminadamente numa população assintomática para identificar o risco de desenvolverem determinada doença. Não têm só vantagens. No entanto, o debate sobre os benefícios e os inconvenientes da sua utilização não tem sido feito de forma alargada como seria desejável. Há, no entanto, que ressalvar os rastreios genético préconcepção, pré-natal e do recém-nascido, os quais já são feitos há muitos anos e com benefícios inquestionáveis. O primeiro é quando há a suspeita de um casal ser portador de uma doença e poder transmiti-la aos filhos. Estes casais devem seguir uma consulta de aconselhamento genético. O segundo é feito precocemente durante a gravidez e quando se suspeita que o feto é portador de anomalias cromossómicas. O terceiro, também conhecido por teste do pezinho, é feito ao recém-nascido nos primeiros dias de vida. É obrigatório e identifica se a criança tem risco de desenvolver algumas doenças graves na infância, as quais são tratadas de imediato. À medida que a ciência progride cresce a acessibilidade a rastreios genéticos para múltiplas situações. É desejável que a comunidade em geral se informe junto dos seus médicos sobre as vantagens e desvantagens destes procedimentos para, em conjunto, tomarem as decisões adequadas. Poucos são os que defendem rastreios de base populacional, sem serem solicitados. Os benefícios advêm da possibilidade de prevenir ou tratar uma doença atempadamente, mas a decisão nem sempre é simples: se uma doença genética de alto risco e com uma relevância importante numa população for identificada e prevenida atempadamente, é estimável que melhore a vida dessas pessoas. No entanto, aconteceu que algumas populações foram sujeitas a rastreios que não solicitaram e posteriormente foram discriminadas e estigmatizadas por uma informação que em nada contribuiu para o seu bem-estar, ou porque os testes não eram fiáveis ou porque a medicina nada tinha para lhes oferecer. n
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Boavida|Palavras da Lei
Ruptura de união de facto e divisão de bens ?
Vivi em união de facto durante quatro anos. Ao longo deste tempo, fomos adquirindo vários bens. Pretendo acabar com a
minha relação, mas como se deve fazer a divisão dos bens entre nós? Por outro lado, deverei pagar alguma indemnização? Sócio devidamente identificado
Pedro Baptista-Bastos
A
união de Facto não está regulamentada no que diz respeito às relações patrimoniais que ocorram durante a sua vigência. Apesar da Lei nº 7/01, de 11 de Maio, com as alterações da Lei nº 23/10, de 30 de Agosto, ter previsto a União de Facto, não acautelou este importante aspecto da vida das pessoas, que deve ser objecto de previsão jurídica. Como se dividem os bens e, mais importante ainda, que protecção legal tem quem haja adquirido bens para a relação que se estabeleceu, e que se veja lesado quando o outro membro não queira, dolosamente, devolver os bens que estão na sua posse? Neste sentido, entendeu a Jurisprudência, diante do crescente número de dissoluções de uniões de facto, que os bens que um dos membros se aposse indevidamente constituem enriquecimento sem causa; quando, usando a terminologia da Lei, um dos membros de uma união de facto se "locuplete indevidamente" de bens que lhe não pertençam, sem que haja uma causa legal de aquisição dos mesmos, aquando da divisão dos bens a ter lugar e os não queira devolver ao legítimo adquirente, mesmo que alegue que os bens foram adquiridos numa união de facto, não há equiparação, por exemplo, à comunhão patrimonial decorrente de um matrimónio, tal como se encontra prevista na nossa Lei. As nossas previsões legais da União de Facto são omissas neste ponto, pelo que deve haver lugar à respectiva acção declarativa que alegue o enriquecimento sem causa de um dos membros da relação, e a consequente devolução dos bens. Não há lugar à indemnização a um dos membros pela simples ruptura de uma união de facto, dado que o artigo 1792º do Código Civil tem por base o casamento, não sendo extensível às uniões de facto; quando muito, se houvesse lugar a alguma indemnização, seria por eventuais danos causados, mas, para tal, existem as queixas-crime correspondentes a estes casos. Estas matérias são muito recentes, e cada situação deve ser avaliada de acordo com as suas particularidades próprias e muita cautela, como sejam as uniões de facto. n JOSÉ ALVES
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ClubeTempoLivre > Passatempos Palavras Cruzadas | por José Lattas
1
Horizontais: 1-Discursar; Indígena da Nova Zelândia; Fiasco. 2-
1
Bismuto (s.q.); Reis; Arranje; Prefixo latino, designativo de oposição ou inversão. 3-Quitações. 4-Fora!; Fins; Confusão. 5Sufixo que designa as doenças inflamatórias; Espécie de sapo das regiões amazónicas. 6-Escrava egípcia de Sara e mãe de Ismael; Inflamar; Adejar. 7-Abelhudo; Defesa. 8-Ósmio (s.q.); Género de mamíferos, da ordem dos cetáceos (pl.); Antes do meio-dia. 9-Protesta (invertido); Frutos da pereira. 10-Cravo pequeno; Espreitaras. 11-Pesam para abater a tara; Antigo. 12Fama; Particípio passado do verbo aderir (fem.); Preposição, que indica uma situação de exclusão. 13-Letra grega; Nome feminino (invertido); Escasso; Molibdénio (s.q.).
2
cana Cherilyn Sarkisian (1946-). 2-Zomba; Criatura; Cobalto (s.q.). 3-Melodias; Bichano. 4-Rádio (s.q.); Abalroava. 5-Duas letras que entram na sigla do Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado; Terrenos, lisos e duros, mais ou menos circulares, onde se secam os cereais. 6-Cansam; Alindada. 7Elevador; Voga (invertido). 8-Italiano (abrev.); Cálcio (s.q.). 9Rajada; Baquear. 10-Enguias; Abone. 11-Manuscrito (abrev.); Repercutir. 12-Nota musical; Furnas. 13-Talo; Cinchos. 14Cevado; Pegadeira; Preposição. 15-Aborreceram; Excelso.
3
4
5
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9 10 11 12 13 14 15
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES (horizontais): 1-ORAR; MAORI; RATA. 2-BI; AMOS; ARME; OB. 3-R; A; RECIBOS; C; U. 4-IRRA; METAS; CAOS. 5-G; ITE; N; N; ARU; A. 6AGAR; ASSAR; ALAR. 7-D; SAIDO; DENTE; A. 8-OS; C; ORCAS; E; AM. 9-EGAER; A; PERAS. 10-CRAVINA; COCARAS. 11-H; TARAM; ANOSO; U. 12-ECO; ADERIDA; SEM. 13-RO; OSAR; RARO; MO.
Verticais: 1-Grato; Nome artístico da cantora pop norte-ameri-
2
Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos
N.º 38
Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado
N.º 38
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SOLUÇÕES
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ClubeTempoLivre > Cartaz
Feira Medieval
Retaxo; dia 8 - concerto
Dia 9 às 9h30 - 21ª
musical pela Sociedade
Música
reconstituição da Feira
Filarmónica de Tinalhas, no
Música
Dia 13 às 21h30 - Concerto
Medieval de Coimbra no
Centro Social de Alcains; dia
Dia 16 às 21h30 - Sound's Out
no Largo dos Olivais em
Largo da Sé Velha em
15 - Festival de Folclore, pelo
- 2º Concurso de Bandas de
Coimbra, pelo Grupo de
Coimbra.
Rancho Folclórico da
Garagem no salão paroquial
Borralheira, em Borralheira
de Perre; dia 24 às 21h30 -
(Teixoso); dia 28 - 5º encontro
Marchas Populares em Monte
de grupos de musica
de São João, Subportela; dia
COIMBRA
Alunos do Curso Profissional de Jazz do Conservatório de
COVILHÃ
Música de Coimbra e dia 16
VIANA DO CASTELO
às 21h30 espetáculo de
Estágio
tradicional, pela Grande
30 - festival de folclore e
encerramento da escola de
Dias 27 a 29 - Estágio Juvenil
Roda, no adro da igreja
encontro de tocadores de
música no auditório da
da Banda Sinfónica da
(escadas de Stº António) de
concertina em Serreleis.
Agência Inatel em Coimbra,
Covilhã, na sede da Banda na
Teixoso; dia 22 - concerto
Cursos
no âmbito do Ano Europeu do
Covilhã
pela Sociedade Filarmónica
Até ao dia 13 - curso de
de Tinalhas no cine-teatro de
Informática na Ag. de Viana
Solidariedade Intergeracional;
Eventos em julho
Castelo Branco; dia 28 e 30 -
do Castelo, formador: Sérgio
dia 30 às 21h30 Orquestra de
dia 7 - Encontro Nacional no
festividade e atelier
Rego; até ao dia 20 - Ação de
Sopros de Coimbra na
largo da Sr. da Guia em
filarmónico pela Associação
Formação Musical de Apoio a
Esplanada do Bairro Norton
Retaxo, uma iniciativa da
Cultural e Desportiva
Tocatas no Centro de Cultura
de Matos em Coimbra.
Associação Cultural e Soc.
Paulense no largo da Praça
Campos e CERVMUSIC,
do Rancho Folclore de
em Paul.
formador: José Paulo Ribeira.
Envelhecimento Ativo e
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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o
Entre a indignação e a inutilidade das palavras Finalmente, um crítico sagaz revelou / (e eu já sabia que iam descobri-lo) / que nos meus contos sou parcial […] creio que tem razão / sou parcial […] mais ainda eu diria que um parcial irrecuperável / caso perdido enfim[…] / como parece que não tenho remédio / e estou definitivamente perdido / para a frutuosa neutralidade / o mais provável é que continue a escrever /contos não neutrais / e poemas e ensaios e canções e romances / não neutrais / aviso porém que será assim / mesmo que não tratem de torturas nem de prisões / ou de certos temas que ao que parece / são insuportáveis para os neutros // será assim mesmo que tratem de borboletas e de nuvens / e de duendes e peixinhos // Mário Benedetti, in: Soy un caso perdido, in: Cotidianas, (1978-1979), Buenos Ayres Trad.: MAVF
É
ainda Maio, quando escrevo, um Maio em que, entre as ardências de Agosto e o húmido arrepio de Novembro, o tempo, na sua versão de musa de meteorologistas, tem dançado connosco, até à exaustão, a antiga dança do giroflé da minha infância. Envolta na espessa névoa que torna indecifrável o mundo que me rodeia, ligo a TV. Antes mesmo de conseguir teclar a primeira letra de indignação, nesse momento fugidio em que as palavras não são senão pensamento, uma interrogação angustiosa invade o espaço do meu discurso mental: “Terão alguma utilidade as palavras que sobre isto possa escrever?” Mais do que uma vez, escrevi, neste mesmo espaço, sobre o Touro Bravo, vítima da crueldade de homens do meu país. E as minhas palavras foram de profunda indignação. E de todos os quadrantes me chegaram ecos das minhas palavras, bem mais sonoros e poderosos do que elas próprias. Não obstante, o Touro Bravo continua a ser vergonhosamente sacrificado na ara de uma tradição que nunca foi nossa. Mais do que uma vez, escrevi, neste mesmo espaço, sobre a mutilação genital feminina. E as minhas palavras foram de profunda indignação. E de todos os quadrantes me chegaram ecos das minhas palavras, bem mais sonoros e poderosos do que elas. Não obstante, há no meu país crianças do sexo feminino vergonhosamente sacrificadas na ara de uma tradição que nunca poderá ser nossa. Neste mesmo espaço, escrevi, entre outras coisas, sobre o racismo, a xenofobia, a homofobia, a pedofilia, a exploração de crianças e de animais, e até mesmo sobre a nossa sacrificada língua portuguesa. E as minhas palavras foram sempre de profunda indignação. E, aparentemente, inúteis. Se como vocábulo, INDIGNAÇÃO, de raiz latina, é uma
daquelas palavras a que Ramos Rosa atribui a “força de um vento verde”, como sentimento, é tão forte como a mais forte das paixões; “uma virtude necessária”, segundo Hubbard, que levou o próprio Cristo a lançar mão do azorrague para expulsar os vendilhões do Templo. Para o Petit Robert, é “o sentimento de cólera despertado por uma acção que fere a consciência moral”, como foi o caso deste “concurso de beleza infantil”, o Toddlers and Tiaras, (“Criancinhas e Tiaras”) transmitido pela TV e a que hoje assisti, pela primeira (e última!) vez, presa do mais profundo horror e sobre o qual não posso deixar de escrever, porque afinal também eu sou um caso perdido. Tem três anos e pouco maior é do que o último boneco que me deu o Menino Jesus. As primeiras imagens mostramna em casa, vestida de gueixa, em plena aprendizagem da coreografia que terá de executar. Sente-se-lhe o cansaço, a impaciência. A mãe insiste. A maquilhagem. O penteado. Pestanas postiças. Cabelos postiços. Horas mais tarde, ei-la finalmente, perdida no palco: uma mini-prostituta, de bota lacada, coreografia a condizer que, para desespero da mãe, felizmente, não consegue executar. A seguinte tem seis anos, é viciada em estimulantes, que ingere para entrar ébria em palco, e tem um nome artístico: Honey Boo Boo. Funciona a dinheiro. Roupa, pintura e discurso de profissional precoce. E o desfile prossegue. Um dia de concurso pode ir das 7 da manhã às 10 da noite. A OIT proíbe o trabalho infantil. A Lei, porém, não considera isto trabalho. Difícil de suportar tal excesso de indignação. Sobre borboletas e sobre nuvens já escrevi. Creio que até sobre peixinhos já escrevi um dia. Sobre duendes, não, nunca escrevi. Terei de o fazer um dia. Isto é: se inadvertidamente o não fiz já hoje. n JUN 2012 |
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Os contos do
No fio da navalha
L
ongos e baços meses tinham passado desde a última vez que adormeceram sem outras palavras que não fossem "até amanhã". Lado a lado mas sem vontade que os corpos se tocassem, como dois estranhos compelidos a deitarem-se na mesma cama por não existir outra disponível. Por vezes, pareciam guardar-se na instintiva defesa de desencontrar as horas de recolher, atrasando-se, ela ou ele, a ver televisão. Nessas noites, eram na sala as despedidas: - Até amanhã. - Até amanhã. Acontecera assim, quase de súbito e sem explicação. Ambos na vigorosa casa dos trinta, só dois anos de vida em comum, e comportaram-se como casais gastos pelo passar do tempo. Tinham-se unido com todos os preceitos do que vai hoje chamando a moda antiga, papéis, igreja, padrinhos, viagem de núpcias e uma paixão mútua que definharia sem compreenderem porquê. Interrogavam-se, na calada das suas meditações, se o afastamento começara por desencantos de sensualidade ou ia mais longe. Também o tédio, suprimindo conversas e atenções, poderia ter esgotado o desejo e o prazer. Escasseavam as palavras mas uma tarde, de surpresa, ele disse: - Precisávamos de alguma coisa que abanasse a nossa relação. Ela fitou-o, numa concordância muda sem saber em quê. Por fim, disse: - Penso que tens razão. - Tenho. Mas não vais concordar com uma ideia louca. - Louca, até que ponto? - A um ponto que nunca imaginámos. Mas, confesso, baila agora na minha cabeça. Sempre era uma conversa frontal, como há muito não acontecia, e sentou-se com a atenção fixa nos lábios dele: - De que se trata, então? Baixando o olhar, como se tivesse mais interessado em observar os desenhos do tapete, ele quase segredou: - Swing. Sabes o que é? - Sei - respondeu depois de breve estranheza. - Uma dança antiga, para aí dos anos cinquenta do século passado. Mas penso que também chamam swing a uma pancada nas bolas de golfe. 80
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Ele sorriu e acrescentou, sem a fitar: - Há outras coisas a que se chama swing. - Outras coisas? - Vá lá, não te faças tão ingénua. Sabes, por vezes, até para refrescarem as relações, há casais que se encontram e trocam de pares. - Ui! Isso é uma proposta? - Uma sugestão. - Uma sugestão indecente se inclui a minha presença. Mas explica-te, por favor. - Deixa. Quem me deu a ideia foi o Gualdino, ele e a mulher vão, de tempos a tempos, a casa de um amigo. Seis casais, comprovadamente casados e de confiança. Fazem lá uns sorteios para decidir quem se deita com quem. Uma ruga de incompreensão riscava-lhe a testa mas riu-se: - O Gualdino, eu compreendo. É feio como um rinoceronte e a mulher até assusta pela casa e pelo mau feitio. Não estranho que procurem outros parceiros. Mas tu? Nós? - Pronto, querida, pronto. - Querida? Há quanto tempo não te ouvia essa palavra. - Tens razão quanto ao Gualdino, tem uma dentadura avançada e amarela, e olhos de rato, concordo que a mulher dele é insuportável aos olhos e aos ouvidos. Mas este assunto não se resume a perfeições físicas. É uma transgressão, bem sei, uma loucurazinha em que se pretende sacudir o ramerrão dos dias iguais. - Sê claro: o que propões é levar-me para os braços de um desconhecido? - Dois. O convite é para dois dias e procede-se a dois sorteios. - Bravo! Para ser sincera, ando um bocadinho carecida mas não esperava tanto. E para ti? É à escolha? - Sujeito-me aos sorteios. - Duas, portanto. - Só por azar me sairia a mesma duas vezes. - E esperas que eu concorde com essa pouca vergonha? - Não. Por absurdo que te pareça, penso que nos faria bem a cumplicidade dum delito, se assim lhe quiseres chamar, mas já calculava que te faltaria a coragem - Coragem, chamas-lhe tu? - Seria preciso alguma coragem, mesmo da minha parte. E muito me admiraria que uma pessoa tão convencional como tu tivesse tal ousadia. - Convencional, eu? Por ter alguma noção da moralidade? - Moralidade também é uma convenção. Mas não insistirei, descansa. Afinal, nem eu próprio tenho certezas. - De quê? Se dizes que fortaleceria a nossa decadente união… - Agora não te percebo. - Nem eu a ti. Desejas ou não que eu entre nessa sujeira? - Não é sujeira. Uma fantasia, sim, uma infracção às regras, certamente, mas com possíveis efeitos positivos.
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- Achas? - Como sempre achei que irias recusar. Não me surpreendeste. Ela acendeu um cigarro, expeliu uma fumaça e atirou: - Surpreendo-te agora. Vamos. - Vamos? - Pois vamos. Quando será esse festim? - Sexta e sábado. - Bolas, estamos quase. Amanhã irei ao ginásio, ao cabeleireiro e à massagista. Devo apresentar-me de modo a que te invejem por te deitares comigo todas as noites. E eles, coitados, só uma noite cada um. Vou ter dois, não foi o que me prometeste' - É o regulamento. - Vou optimista, costumo ser feliz nos sorteios, já me saíram uma torradeira e um peru. Podes dizer a esse malcheiroso Gualdino que contem connosco. - Falas a sério? - O mais possível. Que não faria eu para vitaminar o nosso anémico matrimónio? O portão tem os requisitos modernos, inclusive sistema de vídeo a mostrar quem prime a campainha. Abriu-se dando entrada ao carro e o casal viu-se diante de moradia centenária mas aprumada em obras frequentes. Ao cimo da escada aguardava-os Gualdino, sorridente. Curvou-se em vénia e beijo na mão da recémchegada, encaminhou-a para o interior e deu o braço ao marido dela: - Isto aqui é quase familiar, entendes? Um bocado ao estilo antigo. Há outros locais - se quiserem, um dia levo-os lá - em que se pratica sexo em grupo, toda a gente à vista de toda a gente. - Isso, ela não ia aceitar. - Foi o que pensei, tratando-se de uma estreia. Nesta casa é tudo muito resguardado, agora os cavalheiros vão para uma sala, as senhoras recolhem aos quartos, em todos há bebidas e acepipes. Fazemos o sorteio, sai-te o número de um quarto, pegas na chave e encontras lá companhia. Nada mais simples. Conversa idêntica teve a dona da casa para as visitantes, embora só a novata carecesse de instruções. Saiu-lhe o quarto número 5 e para lá se dirigiu, nervosa, tal como ele quando foi contemplado com a chave do quarto número 2. Regulamentos são regulamentos e estipulava o da casa que os cônjuges só se encontrariam pela manhã. Era expressamente proibido, no entanto, revelar com quem tinham estado e se as coisas tinham decorrido satisfatoriamente. Só depois da segunda jornada, de regresso a suas casas, poderiam fazer revelações. Entretanto, as senhoras trocaram de quartos. Era a última das duas noites e a nova convidada debatia-se entre a refeição e o JOSÉ ALVES
capricho em mostrar que não lhe faltava coragem. Desta vez trocou a camisola e os jines pela langerie vermelha que o marido tivera a gentileza de lhe oferecer para a ocasião. Cravou os olhos na porta ao ouvir a chave: - Tu? - gritou -Tu? - ecoou ele. Tombou sobre a cama, perdida de riso: - Ficaste decepcionado, confessa! - Fala por ti. Vejo-te preparada para uma boa surpresa. - E tive-a. Parece que continuo a ter a sorte nos sorteios. Riram-se como crianças, abraçaram-se como há muito não acontecia e actuaram de harmonia com o programa. Ele tinha ainda uma pergunta a pular na garganta: - E ontem? Foi bom para ti?
Ela afivelou uma máscara de tragédia: - Desculpa, não consegui! - Não conseguiste? E porquê? Outra vez o riso a sacudir-lhe as palavras, contando: - Saiu-me o Gualdino, calcula! - Logo esse! - Encolhi-me a um canto e ele foi delicado, sorriu-me e deu corda aos sapatos - Encostou a cabeça no pescoço do marido pesquisando odores e não resistiu a perguntar: - E tu, meu tarado, tiveste uma noite em cheio, não? Ele coçou a cabeça despenteada, tardou uns segundos e disse: - Não. Saiu-me a mulher do Gualdino. Ficámos a ver televisão até ao romper da manhã. De novo se abraçaram, redescobrindo-se. - Nunca mais desafias a minha coragem, ouviste? - Nunca mais. Aliás, tenho sempre a chave do teu quarto. n JUN 2012 |
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Crónica
Portugal às fatias Fe r n a n d o Dacosta
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A
s pessoas que, entre nós, já dobraram a meia-idade estão a ficar perturbadas com o que ouvem sobre a sua condição. Se a evolução científica lhes tem, com os seus extraordinários avanços, suavizado a existência (esperança média de vida a roçar os 80 anos, transplantes de órgãos a vencerem rejeições, doenças mortais a tornarem-se crónicas), a textura social torna-se-lhes, pelo contrário, cada vez mais adversa, hostil mesmo. Serviço Nacional de Saúde, direitos, assistências, benefícios, protecções, confortos, entraram, com efeito, de recuar; ao mesmo tempo, individualidades públicas (políticos, intelectuais, opinadores, gestores) abriram campanhas de insinuações culpabilizadoras dos seniores pelas crises advindas. O peso das suas reformas, da sua saúde, dos seus tratamentos, das suas retribuições estariam, assim, na origem dos desequilíbrios surgidos, como o do desemprego, subemprego dos jovens, o da crescente precariedade das profissões, o do excesso da carga fiscal para acorrer à sustentabilidade da Segurança Social, o ..., etc. Não se cuida, no entanto, de dizer que o dinheiro das reformas não provem dos impostos dos activos, sim dos fundos de descontos (durante quarenta anos) dos trabalhadores e das empresas. Verbas que têm sido abusivamente desviadas pelos governos para outros fins, afectando todo o equilíbrio do sector. Se tivessem, aliás, existido alternativas não se sofreriam hoje tantas incertezas, tantas especulações, chantagens e ameaças como as observadas. Entregues aos próprios, os descontos feitos permitirlhes-iam aplicações de outras rendibilidades e seguranças do que as (mal) asseguradas pelo Estado. Investido mais apropriadamente, o dinheiro (das vidas contributivas) podia proporcionar, na verdade, resultados melhores dos que os permitidos pelo Estado. Se alguém ficou a perder neste jogo (neste jugo) foram, como se vê, os aposentados, vítimas fáceis (porque indefesas) dos despudorados esbulhos oficiais. Não se cuida, igualmente, de dizer que os refor-
mados contribuíram (continuam a contribuir) para o ensino, educação, formação dos mais novos, pois as ajudas são, como devia saber-se, inter-geracionais. Fatiar as sociedades por crianças e adolescentes, adultos e idosos, homens e mulheres, citadinos e rurais, escolarizados e iletrados é tolice e empobrecedor pois o ideal está no seu convívio, fomentador de conhecimentos, de inovações indispensáveis à dinâmica das comunidades. As divisões que se observam estão já a ter consequências retrocedoras. Não se cuida, ainda, de dizer que os seniores se tornaram, nos tempos de desemprego que correm, o amparo, com as suas (depreciadas) rendas, das gerações posteriores, de filhos, de netos, de famílias desesperadas pela frígida inoperância de um Estado que cada vez mais tira e menos dá. Os que hoje são seniores sofreram, por outro lado, ao longo da vida, diversos, inamovíveis bloqueios etários. Em jovens foram restringidos na sua afirmação profissional, social, pelos mais idosos, o que era, então, natural. O valor da experiência, da vivência impunha-se como um património preciosamente cultivado - e quase sempre retribuído. Alcançá-lo tornava-se, como consequência, comprovativo de realização pessoal. Antes dos actuais seniores atingirem o reconhecimento desse arco, tudo mudou, porém, atirando-os para as margens da inutilidade social. O ser-se experiente, competente passou, com efeito, de posição enobrecida para posição deprimida. O valor da juventude ultrapassou o do conhecimento, o do espontaneísmo, o da reflexão. Em vez de complementarem-se (para defenderem-se), as gerações conflituaram-se (devastando-se). Agora encontram-se todas, por igual - errado o sonho de seus anos - entre ruínas, sem segurança, sem esperança, imersas em inlocalizável dissolução. Os seniores olham com melancolia os que propagam não serem para toda a vida os empregos de hoje. E, baixinho, perguntam: o estômago das pessoas não é para toda a vida? n
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