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N.º 241 Outubro 2012 Mensal 2,00 €

TempoLivre www.inatel.pt

Turismo Sénior Inatel 2012

Entrevista Vítor Melícias Viagens Inatel Fim-de-Ano Ponta Delgada e Praga Paixões Joana Amendoeira


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Sumário

Na capa Foto: Direitos reservados

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CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR

TURISMO SÉNIOR INATEL 2012

As inscrições para o Turismo Sénior 2012, desta feita da responsabilidade exclusiva da Fundação Inatel, têm início a 24 de Outubro.

16 EDITORIAL

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NOTÍCIAS CONCURSO DE FOTOGRAFIA

46 48

CENTENÁRIO TURISMO PAIXÕES

Joana Amendoeira regressa aos discos com 'Amor Mais Perfeito', uma homenagem ao mestre Fontes Rocha

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80

24 TERRA NOSSA

A CASA NA ÁRVORE O TEMPO E AS PALAVRAS

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Maria Alice Vila Fabião

VIAGENS INATEL

MEMÓRIA

OLHO VIVO

OS CONTOS DO ZAMBUJAL

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Vítor Melícias Figura destacada da vida portuguesa, o antigo Provedor da Misericórdia de Lisboa, está hoje mais virado para funções na ordem franciscana, mas continua atento à realidade e à necessidade da existência de novos 'profetas" que "com coragem, com isenção e com sentido, mobilizem e chamem a atenção para a gravíssima situação que está a ocorrer no Mundo e em Portugal".

S. Miguel: paraíso atlântico O património arquitectónico, cultural e, sobretudo, a beleza paisagística são valores inquestionáveis da ilha e da sua capital, Ponta Delgada, razão bastante para a proposta Inatel de um fim de ano diferente e retemperador para os seus associados e beneficiários.

Novelas

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ENTREVISTA

CRÓNICA Álvaro Belo Marques

Praga: a eterna magia Poucas cidades no mundo possuem o romantismo da capital da República Checa e raras são as que se podem orgulhar de oferecer ao viajante tão amplo museu ao ar livre.

34 59 76

UNIVERSIDADE SÉNIOR BOA VIDA CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos e Cartaz

aprender nunca acaba São já mais de oito mil, em Portugal, os estudantes a frequentar as universidades sénior.

Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Teresa Joel Colaboradores: António Costa Santos, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Sousa Ribeiro, Susana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 135.345 exemplares


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Editorial

V í t o r Ra m a l h o

Ter orgulho na Inatel

N

o último número desta revista fiz notar que as verbas que há mais de vinte anos - era então Primeiroministro o Prof. Cavaco Silva - são transferidas pelo Estado para que a Inatel programe e execute programas governamentais sociais, não são receitas da fundação. O Estado sempre precisou os objectivos dos programas acompanhando-os e fiscalizando-os. Um deles, o Turismo Sénior abrangeu em cada ano, muitos milhares de beneficiários. Os seus efeitos, na coesão social, na dinamização económica das regiões e no encaixe financeiro para o Estado são evidenciados por estudos universitários insuspeitos. A contribuição do Estado representou no máximo 1/3 dos encargos uma vez que os beneficiários pagavam o remanescente. Até à data, não chegou à Inatel confirmação da contribuição pública para a execução do programa deste ano, apesar das diligências da tutela. A Administração da Inatel deliberou por isso avançar com um programa alternativo, contando em exclusivo com os seus meios, tal como havíamos feito também com o Turismo Solidário, iniciado em 12 de Agosto. Este programa alternativo "Turismo Sénior Inatel" terá os preços naturalmente mais elevados e o universo dos candidatos será menor, mas não poderíamos hesitar na sua execução contando cada vez mais com as nossas próprias forças. Se as transferências públicas ainda vierem, melhor. Não duvidamos da total compreensão e apoio dos beneficiários e da dedicação dos trabalhadores para o êxito desta iniciativa. A propósito da senioridade permitimo-nos invocar a reportagem sobre a Universidade Sénior neste Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade Intergeracional para o qual a Inatel tanto tem contribuído, com dezenas de iniciativas. E porque o tempo do nosso tempo corre quase

à velocidade da luz é útil termos presente que a realidade nos indica estarmos já quase no final do ano. Daí as reportagens sobre a cidade de Praga e também sobre São Miguel, nos Açores, opções que, com os eventos que ocorrerão em muitas das nossas Unidades Hoteleiras se abrem para a entrada com o pé direito no novo ano, renovando a esperança num mundo melhor.

É

dessa esperança que nos fala, na entrevista, o Dr. Vítor Melícias Lopes, meu querido amigo e colega dos bancos da Faculdade de Direito nos idos de sessenta e personalidade que é referência de princípios e valores, hoje tão necessário realçar. Neste mundo aberto e global, impulsionador da livre circulação das pessoas era indispensável invocar, também, o centenário do turismo em Portugal para cuja organização a Inatel contribuiu. A nossa Fundação, como os seus 77 anos de idade foi aliás determinante para a dinamização do turismo. Também neste domínio devemos ter orgulho nela. Ter orgulho é tudo fazer para a reforçar, ainda mais, contra ventos e marés. n

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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt

Turismo Sénior

Após várias presenças, quer a nível de Programas para Seniores, e de Turismo para Todos, só me resta agradecer a acção da Inatel neste campo, e fazer votos de que a Fundação continue a ter presentes os seniores deste país. Bem hajam! Todos, desde o presidente, aos responsáveis pela programação, às funcionárias acompanhantes e, a todos os que trabalham em Santarém. Bem hajam pelo vosso trabalho e pela dedicação. José Caetano Pereira, sócio nº 270955

Inatel Caparica

Apreciámos a nova colocação do bebedouro junto do parque infantil, com agrado de familiares e das próprias crianças. Acontece que nem sempre os familiares estão por perto para auxiliarem os mais baixinhos a chegarem ao manípulo para beberem água. Não será possível a colocação de um degrau no sopé do bebedouro? Aqui deixamos esta nossa sugestão. Lígia Teixeira e Fernando Teixeira, sócios nº 280290 e nº 280291

“Não deixem morrer o Parque”

Venho, por este meio, apresentar o meu descontentamento, pela falta de empenho por parte da Inatel no acompanhamento das carências do Parque de Campismo do Cabedelo que, ano após ano, se vai degradando. Já o conheci com outra vida e condições, desde a piscina que é fundamental para cativar novas pessoas pois noto que quem mais frequenta são os tradicionais. Para tanto, é preciso investir em todos os meios, limpeza, infra-estruturas, pessoal e organização. Só assim, este parque, situado numa zona geográfica estratégica, bonita e com tanto potencial para a pratica de desportos náuticos, campismo e lazer, poderá ter futuro. Por favor não deixem morrer o parque. José Eduardo Cunha da Costa, sócio nº462477

50 anos na Inatel

Completam, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: António Alberto Pessoa Martins, de Lisboa; Afonso Henrique Gonçalves Cruz, de Amadora; António Almeida, de Lisboa; Jorge Aniceto Carneiro, de Amadora; Maria Emília Dores Santos Azevedo, de Coimbra.

Coluna do Provedor DESABAFAVA-ME, há tempos, um associado

Kalidás Barreto provedor@inatel.pt

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que nunca se sentira derrotado nem pessimista a respeito de difíceis experiências por que passou. Pelo contrário, acreditou sempre que após a tempestade viria a bonança, sem, todavia, ter optimismos inconscientes nem ficar de braços cruzados. É um bom exemplo para os maus tempos que se vivem! Compreendo porém que as dificuldades por que passamos não sejam fáceis e que provoquem um certo desalento: É que há portugueses que não tiveram férias porque não tiveram salário; é que há portugueses que entraram em Setembro sem terem já um emprego à sua espera, mas aguardando-os as exigências do crédito bancário a que recorreram e a angústia de não poderem pagar as dívidas. É que nenhum país é livre se não tiver segurança e justiça social para todos os seus residentes. Por isso compreendo também o eco de alguns desabafos de associados quando se fala de férias e da reentrada nas ocupações profissionais. Tenho, porém, a convicção que a Europa social

e solidária dará o seu passo decisivo e criar-seão, em toda a comunidade, as condições necessárias que, também em Portugal se estabeleçam os equilíbrios correctores de erros acumulados ao longo dos anos, agora mais visíveis num mundo global cada vez mais transparente em que os malefícios de uma informação abundante que é, basta vezes, deprimente, traz soluções dignas e certezas de que a esperança não é demagogia. A Fundação é responsável e respeitada, com formas humanas de tratamento é realçada em testemunhos interessantes, que recebemos, como a de um associado recordando que desde há anos tem feito férias nas nossas Unidades Hoteleiras com total agrado. Foram férias diferentes que gostariam de voltar a ter em 2013. Reconhecem que a Inatel tem um tratamento humano num ambiente familiar que se estende na totalidade das actividades da Fundação. É por estas e por outras que acreditamos sermos capazes de ultrapassar a crise! É que somos diferentes! n


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Notícias

Trindade conquista prémio internacional l O projecto português "Ecos de Ibsen", de Cristina Carvalhal e da produtora "Causas Comuns", foi um dos 57 candidatos (provenientes de 32 países) ao financiamento norueguês, para a produção de um espectáculo, e foi um dos quatro vencedores do prémio "IBSEN Awards", juntamente com projectos oriundos de Inglaterra, Cuba e Hungria. A "Bolsa de Estudo Internacional Ibsen" (International Ibsen Scholarships) foi criada pelo Governo norueguês em 2007 e conta este ano com a quinta edição. As bolsas são entregues a projectos originais e inovadores nas áreas do drama e artes performativas, bem como projectos que incentivem pensamentos e discursos críticos relativos a questões existenciais, morais ou à sociedade

Cristina Carvalhal e Cucha Carvalheiro, directora do Teatro da Trindade

contemporânea, de acordo com as técnicas dramatúrgicas de Ibsen (considerado o maior dramaturgo norueguês do séc. XIX). O projecto português "Ecos de Ibsen", vencedor do prémio norueguês, subirá ao palco do Teatro da Trindade em Junho de 2013, com encenação de Cristina Carvalhal, produção da "Causas Comuns" e co-produção da Fundação INATEL. Trata-se de um texto original português que será levado à cena com actores como João Lagarto, Manuela Couto e Sandra Faleiro e, entre outros, 15 actores amadores, associados da Inatel. A escolha dos actores amadores resultará de um workshop para os associados (individuais ou dos CCD) da Fundação, facto que foi valorizado pelo júri norueguês que analisou as 57 candidaturas.

I Triatlo Alamal lA

Inatel Alamal estreou-se no triatlo, modalidade desportiva de crescente adesão popular, ao receber o "I Triatlo Alamal", uma iniciativa da autarquia do Gavião e da Federação de Triatlo de Portugal (FTP), com a participação de centena e meia de atletas. Inserida na taça de Portugal PorTerra da FTP, e integrando a componente de trail, a prova decorreu num magnífico enquadramento paisagístico da região, banhada pelo Tejo, através dos trilhos de BTT e Pedestre da Inatel/Câmara de Gavião e que tornaram esta competição mais atractiva e dinâmica; Recorde-se que a Taça de Portugal PorTerra é uma competição disputada por etapas, integrando provas de duatlo e triatlo em formato todo-o-

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terreno e destina-se a todos os atletas, quer sejam filiados ou não filiados na FTP. Filipe Azevedo, atleta do Garmin Olímpico de Oeiras, foi o grande vencedor da Taça PorTerra, seguido de João Ferreira (Águias de Alpiarça) e Rafael Gomes (Sporting). No sector feminino, a prova foi dominada pelas atletas do Amiciclo, classificadas nos três primeiros lugares. Venceu Rita Lopes, seguida de Sofia Brites e Andreia Lopes. A prova aberta foi ganha, nos sectores masculino e feminino, por atletas do núcleo sportinguista da Golegã.


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“Envelhecer Saudável e Activo” l Da

autoria de António Lacerda

e Nuno Cordeiro, o livro "Envelhecer Saudável e Activo" (Ed. Lidel, 2012), proporciona uma útil e oportuna informação sobre as patologias mais frequentes na idade sénior, como a osteoporose, a artrose, a fibromialgia, a reabilitação em cirurgia de anca e do joelho, problemas da coluna e outras lesões ou distúrbios físicos. No final de cada capítulo, os autores respondem a perguntas

"O Meu Brinquedo"

que os seus doentes diariamente lhes fazem,

l Integrado

nas acções Inatel comemorativas do Ano Europeu do Desenvolvimento Activo e Solidariedade Intergeracional, a Agência da Horta, nos Açores, propõe-se realizar uma exposição de brinquedos antigos (até à década de 70 do séc. XX). Para tal, conta com e apela à colaboração de todos os interessados em emprestar algum brinquedo da sua infância que ainda guardem. O objectivo deste evento é mostrar às gerações mais jovens com o que se brincava noutros tempos, como a evolução, também nesta área,

foi rápida e exponencial e como eram diferentes as noções de divertimento e de lazer. Os brinquedos devem ser enviados até ao fim o mês de Outubro, para a Agência da Horta (Edif. Amor da Pátria - Rua D. Pedro IV, nº 26 R/C norte - 9900-111 Horta Faial), devidamente acondicionados e identificados com: Nome, morada e telf/mail do proprietário; Ano do brinquedo. A Fundação compromete-se a tratar com cuidado os brinquedos recebidos e a devolvê-los logo após o fim da Exposição.

aumentando a informação sobre a doença e sobre o tratamento mais adequado. O livro inclui um guia prático que permite ao leitor sénior escolher um programa de exercícios diários de resistência, de flexibilidade ou de equilíbrio, conforme as respectivas patologias. Os direitos de autor da obra – integrada nas iniciativas do Ano Europeu dedicada ao envelhecimento activo – revertem para a Laço, associação sem fins lucrativos dedicada à prevenção, diagnóstico e tratamento do cancro da mama em Portugal.

Curso de Arte Floral l Na prossecução do seu projecto lúdico - formativo para o corrente ano, a Agência Inatel da Horta leva a

cabo um curso de Arte Floral que decorrerá, de 26 a 30 de Novembro, nas instalações da Agência. As inscrições estão abertas de 22 de Outubro a 17 de Novembro. A 2 de Outubro teve início o Curso de Corte e Costura, integrado neste conjunto de acções destinadas a proporcionar tempos de lazer formativos e activos a sócios e não sócios Inatel da ilha do Faial. OUT 2012 |

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Notícias

Lixo marinho e arte no Oceanário de Lisboa l Mais de 20 esculturas, feitas a partir de lixo encontrado em praias e retirado do mar, poderão ser visitadas gratuitamente no Oceanário até 26 de novembro. A exposição, "Keep the oceans clean", da autoria da "Skeleton Sea", foi já visitada por mais de quatro milhões de pessoas, tendo passado por aquários como o Oceanografic de Valência, o Aquário de San Sebastian e o Museu Marítimo de Bilbao. Os visitantes poderão contemplar o "Flip Flop Fish", peça feita com chinelos de plástico e a "Roxy Mermaid" construída com detritos de embarcações, entre outras impressionantes esculturas. Os

"Festival da Terra"

artistas do "Skeleton Sea", surfistas e amantes da natureza, pretendem mostrar que, com algum lixo e muita criatividade, é possível criar obras de arte que inspiram o público a proteger os ecossistemas marinhos. Desde 1995 que o grupo composto pelo português João Parrinha, o fotógrafo alemão Xandri Kreuzader e Luís de Dios Mellada, está na estrada. Antes de chegar a Lisboa, este trio de artistas passou por cidades como Fuerteventura e Biarritz. Roxy Mermaid - Criada por Xandi Kreuzeder nas praias de Biarritz durante um campeonato de surf, esta sereia, feita a partir de resíduos de barcos recolhidos em zonas costeiras do Quénia e da Indonésia.

"O Deus da Ausência" l "Uma

saga em que a terra se

encontra naturalmente com a gente, simbolizando o Douro a Pátria confrontada com a exigência de contrariar a adversidade e a decadência (…) é a vida em estado puro que aqui encontramos como na grande literatura", eis como Guilherme de Oliveira Martins define o "O Deus da Ausência" (Ed. Minerva Coimbra), o mais recente romance de Joaquim Sarmento. lO

Parque de Jogos 1º de Maio da Inatel foi palco, de 14 a 16 de Setembro, da

Com extensa obra publicada

"Feira Alternativa - Festival da Terra", iniciativa centrada na redução, reutilização e

(crónicas, teatro e ficção), o antigo

reciclagem na área de consumo. Milhares de visitantes puderam contactar com

deputado e autarca em Lamego

novidades do mercado, nas áreas da Alimentação Natural, Permacultura, Ecologia e

"tornou-se - considera Fernando

Sustentabilidade, Turismo Natureza, e Medicinas não convencionais, patentes nas

Dacosta - um caso singularíssimo

dezenas de pavilhões e stands da Feira.

no nosso panorama literário".

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Envelhecimento Activo lO

Portugal Maior - Encontro Internacional para o

Museu do Oriente lO

Museu do Oriente organiza, ainda, nos dias 11 de

Envelhecimento Activo, a decorrer de 5 a 9 de Dezembro

Outubro, 8 de Novembro e 6 de Dezembro, das 19h00 às

próximos, numa iniciativa da AIP - Feiras, Congressos e

20h00, uma visita orientada para adultos à exposição O

Eventos em Parceria com a Escola Superior de Educação

Chá: de Oriente para Ocidente, patente ao público até dia

João de Deus, licenciatura de Gerontologia, assume-se

13 de Janeiro de 2013. Denominada "Oriente e Ocidente em

como elo de ligação entre os 50+ e as ofertas disponíveis

torno de uma chávena de chá", a

no mercado, promovendo o negócio e a discussão

iniciativa convida os

científica entre empresas e entidades e utilizadores,

participantes a conhecer a

reunindo, num só espaço, a maior diversidade de recursos

história por detrás do chá, a

e pessoas com um interesse comum com o objectivo de

bebida mais emblemática do

proporcionar aos 50+ todos os cuidados, integrando-os

Oriente, que conquistou povos,

numa Sociedade Multigeracional e dignificando-os,

mercados e o mundo, traçando

segundo as suas necessidades específicas e

rotas entre o Oriente e o

potencialidades individuais.

Ocidente.Os visitantes são ainda desafiados a integrar o

O número de pessoas idosas tem crescido

workshop "A arte de viajar", o curso "Arte e Natureza dos

consideravelmente na sociedade em que vivemos. Espera-

Jardins Japoneses" e os ateliês de pomadas, compressas e

se que daqui por 30 anos 50% da população tenha mais de

unguentos, de fabrico de papel artesanal e de fabrico de

50 anos. Portugal terá, em 2050, 37,73% de pessoas com 65

prendas a partir de plantas e especiarias do Oriente e do

anos ou mais.

Ocidente, entre outros cursos e conferências.


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Notícias

Lisboa homenageou Paulo de Carvalho

Al-Andalus Rediscovered lO

l Paulo de Carvalho recebeu, no passado dia 17 de Setembro, a Medalha de Mérito da Câmara Municipal de Lisboa pelos seus 50

anos de carreira, na presença de amigos mais próximos, dos filhos Paulo Nuno, Mafalda Sachetti, Bernardo, (aka Agir), e, entre outros, dos cantores Rita Guerra, Camané e António Manuel Ribeiro. No discurso de agradecimento, Paulo de Carvalho falou da sua infância e vivência na cidade de Lisboa, primeiro na freguesia de São Cristóvão, e depois em Alvalade, onde ainda vai frequentemente. E congratulou-se por uma cidade cada vez mais multicultural, marcada por diferentes raças, religiões e culturas. António Costa encerrou a cerimónia, manifestando o seu profundo contentamento por ter tido a oportunidade de entregar a medalha a Paulo de Carvalho que "terá sido das pessoas que mais contribuiu para a canção e música portuguesa".

Auditório da Fundação Mário

Soares foi palco do lançamento do livro de Marvine Howe, "AlAndalus Rediscovered - Ibéria os New Muslims", com a participação, além da autora, de vários correspondentes da Imprensa estrangeira em Portugal, como Alison Roberts (BBC), Barry Hatton (Associated Press), Belen Rodrigo (ABC), Kati Mujaray (HVG, Hungria), Mario Dujisin (ANSA) e Peter Wise (Financial Times). Marvine Howe, que cobriu acontecimentos no Sul da Europa, no Norte da África e no Médio Oriente para o "New York Times" e para outros jornais norte-

"Crónicas do País Relativo"

americanos durante quase meio século, apresenta, na sua obra, uma perspectiva diferente sobre

l "Crónicas

do País Relativo Portugal minha questão", Volume I, antologia seleccionada e organizada por Ricardo Neves, editado em Junho último, recolhe dezenas de crónicas de Fernando Paulouro (Fundão,1947), publicadas no "Jornal do Fundão", cuja redacção chefiou e de que é director desde 2002. Nestes textos - curtos, mas substantivos e lúcidos - reveladores da qualidade, cultura e empenhamento cívico e profissional do autor, Fernando Paulouro ("um dos grandes jornalistas portugueses", sublinha Baptista-Bastos no prefácio) escreve sobre os mais variados temas e figuras da política, sociedade, cultura e lugares. 12

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os muçulmanos na Europa. O pano de fundo para o livro é Al Andalus, o nome árabe para a Península Ibérica, região que tem um relacionamento secular e ambivalente com os muçulmanos e enfrenta agora um intenso afluxo migratório, em frágeis botes, do Magreb e da África Subsaariana para a costa sul de Espanha. A autora e os jornalistas estrangeiros presentes no lançamento debateram o impacto da devastadora crise económica sobre a imigração e o futuro da sua política de convivência com os imigrantes em geral e as comunidades muçulmanas em particular.


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Galeria lisboeta expõe fotos de Bernardo Sassetti

l Na

Galeria 3+1, na Rua António Maria Cardoso, está patente

uma exposição de fotografia de Bernardo Sassetti, comissariada por Daniel Blaufuks. Inaugurada por ocasião da evocação/homenagem que o Teatro Municipal São Luiz dedicou ao pianista e compositor, falecido em Maio último. A iniciativa incluiu - a par de concertos e exibição de filmes com bandas sonoras de Bernardo Sassetti - a outorga, a título póstumo da Medalha de Ouro da cidade, entregue à família pelo presidente da autarquia, e o descerramento de uma placa de homenagem no Jardim de Inverno do teatro.

Marco Rodrigues leva o fado à Índia lO

fadista Marco Rodrigues vai concretizar em Fevereiro, na

Índia, um projecto que visa dar a conhecer "as características do fado, quer do ponto de vista instrumental, quer da estrutura poética". Trata-se do projecto "Tantos Fados - O Outro Lado de Tantas Lisboas", que o fadista apresentou no início do ano e que, por proposta da Fundação INATEL, em parceria com a Fundação do Oriente, vai apresentar no Festival do Monte, que decorre no início de Fevereiro de 2013, em Goa. "Este projecto - explicou Marco Rodrigues à Lusa - vai ao encontro daquilo que nós, pessoas do fado, devemos fazer, que é arranjar formas de salvaguardar o património que só pode ser preservado se for conhecido e entendido, daí haver uma vertente didáctica, de "workshop", que prevê, também, levar o projecto às escolas e bibliotecas do país. "O plano de salvaguarda inscrito na candidatura aprovada pela UNESCO prevê um programa educativo", acrescentou o fadista, que citou explicitamente o texto oficial, lembrando que se deve verificar a "integração transversal de conteúdos relacionados com o universo e cultura do Fado, nos programas escolares dos vários níveis de ensino – do básico ao superior –, articulando as perspectivas académicas e científicas com o saber e a participação efectiva da comunidade do fado: intérpretes, músicos, autores, compositores, construtores de instrumentos".


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Fotografia

XVII Concurso “Tempo Livre” [1]

[2]

[ 1 ] Paulo Amado, S. João da Madeira Sócio n.º 393614 [ 2 ] Maria Pereira, Montemor-o-Novo Sócio n.º 486828 [ 3 ] Maria Morais, Lisboa Sócio n.º 526389

[3] 14

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Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm, em papel, cor ou preto e branco.

Menções honrosas [ a ] Ana Cardoso, Portela Sócio n.º 153528 [ b ] Jorge Tavares, Ponta Delgada Sócio n.º 525634 [ c ] José Barreiro, Albufeira Sócio n.º 36010

[a]

5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, morada, telefone e número de associado da Inatel.

[b]

7. A «TL» publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano. 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites para duas pessoas numa das unidades hoteleiras da Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL». 10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na «TL» de Setembro de 2013, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso.

[c]

11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.

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Entrevista

Vítor Melícias “Tudo o que existe é de todos e para todos…” Figura destacada da vida portuguesa, Vítor Melícias (Ramalhal, Torres Vedras, 1938), festejou, em Julho, 50 anos de sacerdócio franciscano. Licenciado em direito canónico e em direito, exerceu múltiplos cargos na área da solidariedade e foi Comissário da transição de Timor para a independência. Hoje, as suas responsabilidades respeitam sobretudo à ordem franciscana de que é provincial, além de responsável da União Europeia dos Frades menores. Mas tal não significa que Vítor Melícias ande distraído ou alheio a outras realidades. "Muito pelo contrário - sublinha - sinto que há coisas que é preciso dizer e fazer (…) aliás, estou a sentir que neste momento é bom que apareçam os profetas, as pessoas que com coragem, com isenção e com sentido mobilizem e chamem a atenção para a gravíssima situação que está a ocorrer no Mundo e em Portugal". 16

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Foi um dos fundadores da DECO, esteve no Montepio Geral, na Misericórdia, no Serviço Nacional de Bombeiros, no Conselho Económico e Social… Estive…e estou, ainda, no Conselho Económico Europeu … Foi Comissário para a Transição em Timor, fez parte de órgãos dirigentes de diversas fundações… Sim, sim. Até estive no Inatel. Presidi ao Conselho Geral quando era Provedor da Misericórdia. Pode dizer-se, adaptando a expressão, que é um frade dos sete ofícios … Sete ou mais … De todas estas actividades e funções, qual foi a que mais o entusiasmou, que mais lhe agradou? É difícil discriminar. Tive o privilégio e a felicidade de ter feito tudo com gosto, com alegria. E, normalmente, essas actividades situam-se todas na área da solidariedade, do relacionamento entre pessoas, de projectar coisas em conjunto em favor das pessoas. E, portanto, posso dizer, tanto nos bombeiros, como nas misericórdias, como nas mutualidades, nas IPSS, nessa actividade de cooperação internacional como Timor e outras, porque não foi só Timor, tenho-me sentido profundamente realizado. Mesmo a outro nível, no Conselho Económico e Social português, onde durante 14 anos fui vice-presidente, e no Comité Económico e Social em Bruxelas, onde ainda sou membro activo e presente com bastante frequência, sinto-me bem porque são actividades onde sentimos que a nossa experiência de vida e os nossos ideais podem ter aplicação concreta. E, portanto respondendo directamente à pergunta, sou um bocadinho como aquela criança a quem perguntam: gosta mais do Pai ou gosta mais da Mãe? Eu gosto de tudo! E esteve em Timor, tem acompanhado a situação em Timor … Tenho acompanhado, porque mantenho muito boas relações com as pessoas, os dirigentes: Xanana e o próprio presidente eleito Matan Ruak, com os bispos, nomeadamente o bispo Basílio Nascimento, de Baucau, e com instituições timorenses. E sou, há vários anos, delegado geral da ordem franciscana para Timor Leste. Tenho, aliás, neste momento, 14 jovens timorenses a fazerem os seus estudos na ordem

franciscana em Portugal. Há, ainda, uma escola em Torres Vedras - agrupamento de escolas Padre Vítor Melícias - geminada com uma escola em Soibada, onde muito perto se encontra o templo de nossa senhora de Aitara. Essa Soibada que o próprio presidente, hoje primeiro-ministro Xanana, apelidou de universidade ou Coimbra timorense. Nestas duas escolas, desenvolvo muita actividade de cooperação: enviando professores e livros, recebendo professores e alunos. Timor para mim, como, felizmente para a maior parte dos portugueses, é um fenómeno também de coração. Faz parte da nossa vida. Quando se fala de Timor não se fala de qualquer coisa de distante, nem no tempo, nem na geografia. É qualquer coisa que nos está dentro da vida, do nosso coração. Portanto, sou nesse aspecto um diakalai, um timorense! Completou em Julho 50 anos como padre franciscano … Exactamente, mas sou franciscaHá uma visão no desde antes, porque nos franfranciscana da ciscanos há os que são padres e os economia, que parte que não são - os chamados irmãos da ideia de que tudo leigos. Eu tornei-me franciscano o que existe é de muito jovem: aos 16 anos entrei todos e para para o seminário da Ordem e todos… depois acabei por exercer a profissão definitiva com 21. Contudo, como padre fui ordenado em Julho de 1962, e este ano, como se costuma dizer, são as bodas de Ouro. Tive aliás uma celebração, juntamente com os colegas que foram ordenados no mesmo ano, na casa onde vivo - Convento dos Franciscanos da Luz - e outra celebração na minha aldeia, onde no mesmo dia, no mesmo mês - 12 de Agosto - desse ano, há 50 anos, celebrámos a festa popular de Santo António, o patrono da aldeia, Ramalhão, no concelho de Torres Vedras. Natural de Torres Vedras é também o bispo do Porto … O D. Manuel Clemente, somos amigos desde sempre. É um grande bispo e ilustre Torriense. O Prof. Adriano Moreira citou-o, recentemente, ao salientar a necessidade, no actual contexto português, de uma maior intervenção dos franciscanos… Ah, sim, a propósito dos 90 anos do prof. Adriano Moreira, na homenagem que se lhe fez,

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ele referiu-se à minha presença invocando a circunstância de ser franciscano e que são cada vez mais necessários os critérios de São Francisco e do Franciscanismo. É curioso que este sentimento, tão espontaneamente manifestado pelo professor, e de maneira tão simpática, foi o mesmo que a 5 de Maio deste ano, o insuspeito viceministro das Finanças da Alemanha, em Assis, defendeu, declarando que o que precisamos é de uma Europa mais Franciscana, em referência ao que hoje é reconhecido como um dos valores da cultura: a economia franciscana. Economia franciscana? De facto, há uma visão franciscana da economia, que parte da ideia de que tudo o que existe é de todos e para todos. E, portanto, sem impedir que haja formas de propriedade privada, formas de administração mais restrita, tudo deve ser gerido no sentido de preservar, por um lado a natureza: porque São Francisco cantava, nós somos A globalização irmãos de todos os seres, do Sol e precisa de ser da Lua… e o homem ao encontrar dominada, recursos para si mesmo, não pode domesticada por prejudicar, violentar a Natureza. critérios de Uma ecologia, não do interesse, solidariedade mas de fraternidade. O homem deve tratar bem todos os seres, porque são seus irmãos e não apenas com medo que eles venham a faltar, como às vezes acontece na ecologia moderna, dita de interesses. Ora bem, nesta ideia básica, o franciscano propõe que todos os bens devam ser geridos com disponibilidade. O ser humano ao apropriar-se tem a noção que não está numa propriedade absoluta, numa propriedade individual, mas que tudo tem um valor que deve ser propiciado às pessoas. Há um grande filósofo e economista também franciscano, que é Santo António de Lisboa … De Pádua, para os italianos… Santo António de Lisboa, e de Pádua também, é um santo universal, aliás houve um Papa, no séc. XIX, que o definiu como o Santo de todo o mundo. E ainda, em 1985, num grande congresso internacional em França, ele foi reconhecido como o primeiro santo de perfil verdadeiramente europeu. Santo António quando morreu era já, naquela época, há cerca de oito séculos, um homem com um perfil à portuguesa, aberto, uni-

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versalista, muito culto - daí ser um Doutor da igreja. Não só falava línguas, tinha um profundo conhecimento das escrituras, e sobretudo uma visão que levou a que grandes economistas, nomeadamente Schumpeter (um historiador da economia) que caracteriza São Bernardino de Sena como o maior economista da Idade Média e Santo António de Lisboa, que tinha exactamente o mesmo pensamento, é considerado um bom filósofo da Economia. Mas, infelizmente, algumas pessoas pensam que Santo António é uma espécie de Zé do Povo, zé-povinho do Altar, como um dia lhe chamou aqui alguém. Ele não é um zé-povinho que faz milagres, que faz o povo saltar. Ainda bem que o povo o sente na sua dimensão humana e que faz festa popular, porém Santo António tem um valor muito mais profundo. Ora bem, esta ideia de que é preciso hoje uma economia que não se baseie tanto no interesse das pessoas pelos lucros e dos países, mas uma economia aberta, numa economia global ou globalizada que se atenda mais ao interesse universal das pessoas, portanto que se globalize a solidariedade, a protecção às pessoas e não o interesse individual de pessoas, grupos ou mesmo de países. Quando o prof. Adriano Moreira falava de uma necessidade de critérios franciscanos, de certeza absoluta que tinha isso em mente. Como homem cultíssimo e profundamente actualizado, está de certeza nesta sintonia. Aliás, as perspectivas económicas, a nível global, não são nada animadoras … Muito pelo contrário, todos temos consciência que a globalização começou por ser comercial e financeira e acabou por não ir além disso. Quer dizer, não há ainda uma globalização dos critérios económicos em que se produzam os bens em função das necessidades da população mundial e não apenas em função dos interesses de resultado de alguns grupos, de alguns países ou de grandes empresas multinacionais ou outras. A globalização precisa de ser dominada, domesticada por critérios de solidariedade, respeitando a subsidiariedade, ou seja, a iniciativa das pessoas, dos grupos e dos países. Haver uma visão global que permita conduzir e dominar a globalização nesse sentido, senão provoca o desastre que agora estamos a ver … E com as alterações climáticas a agravarem a situação…


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Completamente. Quer dizer, há neste momento até um desvario, porque em vez de serem os critérios ou os políticos a decidir, quem decide é a pressão do mercado. E o mercado não tem rosto, conduz-se apenas por interesses imediatos. Há que inverter isto, retirar a capacidade de decisão e de intervenção da mão dos mercados e passá-la para a mão de gente responsável. Ou na forma política actual dos partidos ou noutra correspondente…A existência de uma Democracia assente na dinâmica dos partidos realmente não é grande coisa como se vê, mas por enquanto ainda não encontrámos melhor. Se conseguirmos encontrar formas de cidadania activa, que seja diferente e que defenda este interesse global, seguramente é um passo que vamos dar na humanidade. Enfrentamos uma crise de falta de valores que permite que interesses de grupos, e os financeiros em primeiro lugar, se sobreponham ao interesse geral, ao bem-comum das pessoas. No fundo, o que falta aqui é uma solidariedade que é sinónimo de responsabilização pelo bem de todos. O Cardeal Carlo Maria Martini, antigo arcebispo de Milão, dizia não entender porque é que Deus deixou morrer o seu filho na cruz. Era, confessava, uma questão que o atormentava… Aliás toda a humanidade, desde os gregos. A tragédia grega, todo o pensamento filosófico, mesmo o do cristianismo, tem sido exactamente este: o problema do Mal e o problema do sofrimento. Situações como Auschwitz e outros grandes dramas de exploração de povos, por outros povos, correspondem um pouco a esta interrogação que nos aflige, do chamado silêncio de Deus. Dá impressão que Deus não intervém. É claro que é uma dinâmica de história, de liberdade do ser humano, de limitação do próprio ser humano. E, portanto, a preocupação existe mas não podemos ser nós, com os nossos critérios racionais, limitados, a definir se é Deus que está a fazer, ou Deus que não está a fazer. Contudo, o sofrimento humano deve ser uma preocupação primeira da humanidade, sem dúvida. Todos nós devemos conjugar capacidades e talentos para que entre o homem e a natureza, de que ele é irmão, haja mais harmonia. O cardeal Carlo Martini dizia, também, na sua derradeira entrevista, o seguinte: "A Igreja está cansada, a nossa cultura envelheceu, as nossas igrejas são grandes e estão vazias. E o aparelho

burocrático alarga-se. Os nossos ritos religiosos e as vestes que usamos são pomposos" … E tem toda a razão. Aliás, foi uma das frases mais apreciadas dele porque é um homem do Vaticano II (de que estamos agora a celebrar 50 anos). Um homem que viveu essa mesma dinâmica, outra maneira de viver o mundo que ele sentia em retrocesso. Muitas coisas dentro da própria igreja voltaram, pura e simplesmente, atrás. Aquela esperança e abertura do Vaticano II foi de novo dominada pelo ritualismo, pelo curialismo, pelo formalismo, que ele denuncia e muito bem! A preocupação da genuflexão, do vestido, da pompa, do poder, da capacidade de intervenção em vez de ser, exactamente, a capacidade de estabelecer comunhão entre todos os seres humanos, entre todas as religiões ou não religiões, entre os crentes e não crentes. Porque tanto é direito ter uma crença como não ter uma crença. Ser ateu ou ser agnóstico é um direito fundamental das A esperança de pessoas. E, portanto, criar este abertura do Vaticano clima de respeito mútuo, de inteII foi de, novo, racção, para que se encontrem dominada pelo caminhos comuns onde todos ritualismo, pelo possam participar, deve ser uma curialismo, pelo preocupação da igreja. formalismo… Os fundamentalistas ainda têm muita força… Infelizmente, ainda há dentro da Igreja - e não é só na igreja católica - movimentos fundamentalistas que apenas procuram defender uma certa visão da dimensão religiosa. Ultrapassar o fundamentalismo, quer da parte dos cristãos quer da parte dos islâmicos, ou da parte dos judeus é um passo positivo para a humanidade. E o cardeal era um homem ecuménico, do diálogo, tal como o Papa João XXIII que esteve na base do concílio Vaticano Segundo. De certo modo, também o Papa João Paulo II. São homens de abertura ao universalismo. E também nós portugueses, enquanto povo duma cultura universalista, um povo de encontro. Que andamos a singrar os mares ao encontro de culturas completamente distintas, de outras etnias, de um mundo desconhecido. Somos sempre marcados por aquilo que, curiosamente um grande historiador português, Jaime Cortesão, no seu tratado clássico sobre os Descobrimentos, chamava "a mística dos descobrimentos" e identificava como

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a mística franciscana, isto é, quando os nossos navegadores iam por esses mares fora, com medo do desconhecido - se o mar acabava a pique dum momento para o outro, o que estaria atrás dos Adamastores - os frades diziam: seja o que for que a gente encontre, é nosso irmão! Vamos tratar como irmão. Esta mística de fraternidade e de abertura ao outro, de um povo que, além dos descobrimentos, faz encontro de povos e de culturas, é uma mística que estamos a precisar, designadamente, entre religiões. O cenário traçado pelo Cardeal Martini em relação à igreja católica não será o mesmo da igreja portuguesa? Seguramente, até porque a igreja portuguesa é uma igreja normalmente conservadora. Não é uma igreja progressista, de vanguarda, digamos assim. É uma igreja popular … É bom que Mas tem, agora, bons teólogos e apareçam os profetas, bispos novos … as pessoas que com Tem bons teólogos, tem. Mas, o coragem, com isenção problema não é só um problema e com sentido de episcopado, embora, obviamobilizem e chamem mente, isso marque. É um problea atenção para a ma de cultura geral. E a nossa culgravíssima situação tura, quer do clero, mesmo do que está a ocorrer no clero mais jovem, quer do povo, Mundo e em normalmente é uma cultura de Portugal. um povo crente, religioso que dá um jeito à sua própria religião. Portanto, vive a sua fé, ajeitandose e ao ajeitar-se, às vezes, faz com que haja muita rotina, muito peso da tradição. Provavelmente, às vezes, dando como tema principal da religião, coisas que se estudavam ser as primeiras: a devoção de Fátima, a devoção de não sei quê, quando outros temas religiosos e da religião são, talvez, mais importantes: a bem aventurança pelos pobres, a religião como motivador da solidariedade, a religião como motivador de uma ética, de valores. Às vezes cede um pouco ao pietismo, à prática da piedade. É importante que uma religião tenha as suas práticas, mas é muito mais importante que tenha os seus valores, as suas causas de Fé. O que explica a posição conservadora da Igreja portuguesa relativamente a certas questões como o divórcio, a contracepção, a homossexualidade…

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Sim, sim, a Igreja portuguesa é nesse aspecto uma igreja lenta. Não vou dizer retrógrada, mas vou dizer lenta. Apesar de tudo ainda tem tido, mesmo em temas como a legislação do aborto, um comportamento bastante respeitável no sentido de saber distinguir: uma coisa é a Fé, a religião e a Igreja, outra coisa é a sociedade. A sociedade tem as suas próprias leis, que são leis para todos, quer para os cristãos quer para os não cristãos. As leis de uma sociedade devem pautarse pelos critérios da ética comum. A ética religiosa deve ser defendida pelas próprias religiões. Se uma religião diz aos seus crentes: isto não se pode fazer de maneira nenhuma ainda que a lei do Estado diga o contrário, ele não faz. Ou então opta pela obediência civil e não pela religiosa. Há, na Igreja católica, quem defenda a ordenação de homens casados e até a ordenação de mulheres … Eu mesmo tenho defendido isso em público. E o próprio Cardeal Martini mostrou-se favorável a essa abertura. Em Portugal, figuras como o antigo Bispo de Braga, D. Eurico, e outras pessoas, já o defenderam. A questão do celibato católico acabará, mais década menos década, por ser ultrapassada. Seria uma forma de compensar a crescente falta de vocação religiosa, o défice de padres, os seminários vazios… Não é só por esse motivo. É pela própria opção pessoal. Uma pessoa pode ter opção matrimonial e opção ministerial, isto é, de serviço religioso. Não é nada incompatível. Teologicamente nunca foi assim. É apenas um problema meramente disciplinar. A disciplina pode mudar e ainda por cima a Igreja católica é praticamente uma das últimas a ter esta exigência. As outras igrejas cristãs já não têm este tipo de exigência. O mais razoável é o critério da opcionalidade. Aqueles que têm vocação de celibato, devem ser respeitados, dando-lhes, inclusivamente, mais responsabilidades. Há igrejas cristãs, não ocidentais, não católicas, onde os não casados têm acesso, por exemplo, ao episcopado. Ou seja, podem ser bispos, com funções que exigem mais disponibilidade, mais entrega. Isso podia ser uma solução. E um bom cura da aldeia porque é que não há-de ser um bom cidadão, casado com os seus filhos e a sua mulher exercendo o seu ministério, a sua função?


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“Museu de Frades”. São, maioritariamente, ofertas de amigos, incluindo as de um artesão que produz, e lhe envia regularmente, peças exclusivas e originais. Trata-se de uma notável e invulgar colecção de esculturas de frades que Vítor Melícias expõe numa ampla sala do convento da Ordem Franciscana. No conjunto das mais de 900 peças expostas (a colecção ultrapassa as 1600 esculturas), oriundas de diferentes países, muitas delas bem divertidas e irónicas, sobressai um valioso 'frade", com mais de cem anos, obra do grande Mestre Rafael Bordalo Pinheiro.

O que faria, ou o que seria Jesus Cristo neste nosso tempo é uma das muitas interrogações de crentes e não crentes... Essa interrogação, temos que fazê-la, todos nós, sobre as várias coisas da vida. O que é que faria hoje o filósofo Sócrates? O que é que fariam Platão ou Aristóteles? O que faria Maomé hoje? O que faria São Francisco de Assis? O que é que faria Jesus Cristo? Olhe, isto, no fundo, significa tentar confrontar os ideais que esses homens, esses grandes mestres defenderam no seu tempo com aquilo que é a realidade de hoje, De facto, o Jesus Cristo o que pregava era: vós sois todos irmãos, respeitai a diferença, porque não há grego, não há judeu, não há cita, sois todos irmãos. E o que a Humanidade deve hoje valorizar, é exactamente isto: o pluralismo, a diversidade. Assim como nós defendemos, e muito bem, a biodiversidade de todos os seres, também entre os seres humanos temos que ter um critério de ecologia humana alargada, isto é de diversidade, de respeitar as diferenças culturais, religiosas, anímicas, sejam quais forem, dentro desta ideia: mas somos todos irmãos. Cristo não acabaria igualmente crucificado hoje pelas suas ideias?

É muito natural. Tantos cristos há, hoje, por aí, que são marginalizados, 'crucificados' em função das suas próprias ideias. Porque defendem a liberdade política, ou porque defendem a liberdade A minha pensão religiosa. Todos os dias há gente é de 1753 euros (…) a ser crucificada em função de e não vem para mim, valores que defendem e pelos vai para uma conta quais lutam. São os mártires da da Ordem história aos quais a História Franciscana. Nós não muito deve. temos bens… Há quem considere que o Padre Melícias tem estado mais discreto, menos interventivo… Eu sou um homem, essencialmente, da sociedade civil e do sector da economia social, das misericórdias, dos bombeiros. Quando estava em funções de mais visibilidade, tinha, naturalmente, mais obrigação de me pronunciar. Hoje, as minhas responsabilidades são sobretudo em relação a uma ordem religiosa. Como provincial dos franciscanos e como responsável da União Europeia dos Frades menores, as minhas actividades são mais viradas para dentro do convento, do que propriamente para fora. Mas, não significa que esteja alheio às coisas, muito pelo contrá-

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rio se sinto que há coisas que é preciso dizer e fazer nos momentos em que seja possível fazer, fá-lo-ei com muito gosto. Aliás, estou a sentir que neste momento é bom que apareçam os profetas, as pessoas que com coragem, com isenção e com sentido mobilizem e chamem a atenção para a gravíssima situação que está a ocorrer no Mundo e em Portugal. Têm circulado críticas nas redes sociais relativamente ao valor da sua pensão… A Fundação É falta de informação. As pessoas Inatel é uma das veicularam que eu tinha uma instituições mais pensão muito elevada, exorbitanválidas e mais te… Ora, eu tenho uma pensão estruturadas em normal, respeitante a uma pessoa defesa da dignidade e que trabalhou muito. A minha qualidade de vida dos pensão é de 1753 euros e posso trabalhadores mostrar-lhe, se quiser, o comprovativo. E há outra coisa que as pessoas não sabem. É que a própria pensão não vem para mim, vai para uma conta da Ordem Franciscana. Nós não temos bens. Aquilo que um padre franciscano receba, porque lhe foi atribuído ou porque herdou dos pais, ou porque lhe dão em remuneração de trabalho, vai para a Ordem. Aliás, as pensões são um direito e não um

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roubo. O meu desconto nunca foi muito grande, obviamente que tive funções de director-geral, fui presidente de um Banco (Montepio) e de outras entidades. Algumas pensões estão acima da média, mas representam o valor dos descontos feitos. A pensão que recebo não vem para mim, é aplicada aos pobres. Não tenho propriedades, não tenho automóvel, nem bicicleta, nem barco, nem casa, nem conta bancária. Não sou dono de nada, nem quero ser, fiz voto de não ter nada. As próprias coisas que tenho são aquelas que uso e não são valiosas. Não me preocupam, portanto, essas mentiras que circulam por aí. Preocupa-se mais com o seu Sporting… Mesmo aí tenho que pedir ajuda a alguém para me pagar as quotas (risos). Neste momento, o Sporting está com alguma dificuldade, está complicado. Já não é o Sporting das grandes glórias… tem equipa para formar, tem finanças para gerir, tem património para defender e não deve ser fácil. Foi presidente do Conselho Geral da Inatel. Que opinião tem do seu papel da na sociedade portuguesa? É uma das instituições mais válidas e mais estruturadas em defesa da dignidade e qualidade de vida dos trabalhadores. Infelizmente, às vezes, há pessoas que pensam que aquilo é um feudo do Estado, que o estado é que deve gerir aquilo à sua maneira. Não é. A Inatel é economia social, é terceiro sector, são os trabalhadores ou as entidades aos quais eles pertencem, aos quais se agregam, que tiveram aquela ideia. Nasceu, há quase 80 anos, como uma fundação, depois foi instituto público, hoje felizmente não é instituto público, mas uma fundação privada que o Estado não pode extinguir. Se tiver utilidade pública, ou se deu para lá subsídios, o Estado tem apenas capacidade de intervenção, em relação ao que lá meteu. É muito importante que os trabalhadores tenham consciência que aquilo não é favor nenhum que o Estado está a fazer aos trabalhadores, é um direito e um património que os trabalhadores constituíram através dos tempos - património físico, material, económico e sobretudo institucional, cultural. Aquilo faz parte da alma dos trabalhadores portugueses. Defender a Inatel, é defender a dignidade do trabalhador enquanto tal e a sua liberdade de exercer uma vida digna, uma vida com qualidade. n Eugénio Alves (texto) José Frade (fotos)


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Ponta Delgada Um

É a maior (746,82 km²), mais povoada (131 mil habitantes) e mais fértil ilha açoriana. Daí, naturalmente, o estatuto da sua capital, Ponta Delgada, como sede do poder político e administrativo da Região Autónoma dos Açores. Mas São Miguel não se esgota em números económicos e habitacionais. 24

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m paraíso atlântico


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património arquitectónico, cultural e, sobretudo, a beleza paisagística são valores inquestionáveis da ilha descoberta por volta de 1426/1439, e povoada inicialmente por portugueses, judeus, mouros e franceses, atraídos pela fertilidade do solo, potenciador, ainda hoje, da sua principal actividade económica, centrada na área agrícola e pecuária. A capital, Ponta Delgada, capital desde o século XVI - sucedeu a Vila Franca do Campo, arrasada por um terramoto em 1522 -, é uma cidade atraente e cosmopolita, debruçada sobre o mar, dotada de modernos equipamentos e um comércio activo, mas orgulhosa das suas tradições e monumentos - igrejas e palácios - dos séculos XV e XIX, como a sua bela Igreja Matriz, o edifício da Sede da Alfândega, os Conventos da Conceição (actual sede do governo regional dos Açores), de Santo André, do Carmo e de Nossa Senhora da Esperança do século XVIII), o antigo Colégio dos Jesuítas, o Forte de São Brás (também conhecido por Castelo de São Brás), a Igreja de São Mateus ou as emblemáticas Portas da Cidade. Aos seus visitantes (Viagens Inatel propõe um fim de ano 2012 de quatro dias em Ponta Delgada) a cidade apresenta hoje uma crescente oferta de serviços, animação e actividades com espaços comerciais, teatros, cinemas, locais de diversão nocturna, e a renovada Marina com as suas piscinas e os espaços de lazer, e outros locais antigos e sempre aprazíveis como o romântico Jardim António Borges, ou o excelente Museu Carlos Machado, instalado no antigo mosteiro de Santo André e que retrata a história natural, a pesca e a agricultura de toda a Ilha de São Miguel. No plano cultural, destacam-se, ainda, diversas galerias de arte como o Centro Cultural de Ponta Delgada, o Teatro Micaelense, o Coliseu Micaelense, a Galeria Fonseca Machado, a Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada localizada no antigo Colégio dos

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Jesuítas, além da Biblioteca Municipal Calouste Gulbenkian, no centro da cidade. De construção recente, "Portas do Mar" é uma infraestrutura dotada de vários espaços comerciais, restaurantes e esplanadas, um porto para cruzeiros, uma gare marítima, um pavilhão multiusos, uma marina, um anfiteatro ao ar livre, piscinas naturais e uma grande passeio junto ao

mar. Passeio também obrigatório para os visitantes será o da renovada avenida com vários cafés e restaurantes com vista directa para o mar, localizados no centro comercial Solmar Avenida Center. As festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a maior festa religiosa dos Açores, trazem, anualmente, no quinto domingo depois da Páscoa, a Ponta Delgada, muitos milhares de pessoas, quer do arquipélago quer do estrangeiro, sobretudo dos Estados Unidos e Canadá, países que albergam as maiores comunidades


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Aldeia das Sete Cidades

Fábrica de Chá

Furnas

Plantação de Chá. Em baixo, pormenor da ilha

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Terra Nossa

da diáspora açorianas. Outra importante manifestação religiosa de São Miguel respeita aos Romeiros: em plena Semana Santa, grupos de dezenas de homens percorrem a ilha a pé, durante oito dias, rezando e cantando em todas as Igrejas e Ermidas que encontram pelo caminho. Romeiros que, no seu longo e sereno trajecto, desfrutam, ainda, da beleza deslumbrante da paisagem verde e florida, onde avultam esplendorosas lagoas e o horizonte magnífico de um Atlântico vasto, altivo e persistente. A célebre Lagoa das Sete Cidades, o ilhéu de Vila Franca (reserva natural), o Vale das Furnas,

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Partidas de Lisboa ou Porto, de 29 Dez. a 2 Jan. Preço por pessoa: Quarto duplo - 689 euros; individual - 825 euros O preço inclui: alojamento em hotel 4*; regime de meia-pensão; noite de réveillon; passagem aérea; taxas de aviação; assistência de embarque; passeio à ilha; seguro de viagem. Mais informações: Loja do Rossio, tel. 211146820/7 - lojarossio@inatel.pt; Agência do Porto, tel. 220007950 - ag.porto@inatel.pt

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com as suas caldeiras naturais de águas e lamas quentes e medicinais, a Lagoa do Fogo, na Serra de Água de Pau, e a Lagoa do Congro, próxima de Vila Franca do Campo, são exemplos marcantes dos numerosos e atractivos locais que o viajante pode descobrir e desfrutar na ilha de Antero de Quental, Teófilo Braga, Roberto Ivens e Natália Correia, figuras tutelares do património histórico e cultural de São Miguel. Saborear o Cozido nas Caldeiras, um dos mais conhecidos pratos típicos da região, preparado nas Furnas, no forno geotermal, é outra das experiências obrigatórias em S. Miguel. Em poços cavados no chão, alguns cimentados, enterra-se uma panela contendo os ingredientes (carne e legumes). Várias horas depois, estará pronto e disponível um raro, insólito mas inesquecível pitéu. Outra visita possível e interessante respeita à Costa do Nordeste, o ponto mais oriental da ilha, onde se encontra o Pico da Vara o ponto mais alto de S. Miguel. É a parte da ilha menos conhecida, mas talvez seja por isso que é a mais preservada, mais florida e em cujas terras se produzem cereais, chá, fruta e vinho e se alimenta o vasto gado bovino, responsável pela florescente produção de carne e leite do arquipélago.n


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Viagens

Praga A eterna magia de

Poucas cidades no mundo possuem o romantismo da capital da República Checa e raras são as que se podem orgulhar de oferecer ao viajante tão amplo museu ao ar livre, onde diferentes estilos convivem na mais perfeita harmonia

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som de um violino flutua no ar e não se ouve mais do que um murmúrio de vozes que, de tão indistintas, se confundem com o marulho das águas submissas do rio. A manhã desperta bonita, o céu está de um azul imutável e a ponte, uma vez dispersa a bruma, deixa-se envolver com gratidão por aquele halo de luz ainda tremelicante. Praga, a cidade mágica, misteriosa, das luzes e das sombras, das lendas e do misticismo, acorda para um novo dia sob o manto de uma tranquilidade ordeira que não tardará a esfumar-se, a meio da manhã, quando a turba se começar a precipitar para os seus lugares mais emblemáticos escondida atrás de câmaras fotográficas, olhando sem ver estes espaços mágicos, respirando sem sentir os enigmas de um imenso postal capaz de provocar no mais experiente dos viajantes uma espécie de êxtase romântico. O meu olhar desvia-se do homem que segura ternamente o violino e, sofrendo de uma estranha atracção, pousa-se numa das estátuas da Ponte de Carlos IV, banhada pelos raios ainda tépidos do sol matinal. Segundo reza a tradição, foi construída, num tempo remoto em que alquimistas e astrólogos exacerbavam o seu poder, com argamassa de vinho e ovos para se tornar mais sólida. Como Praga não tinha quantidade suficiente, os ovos eram transportados desde as aldeias próximas e, inevitavelmente, pelo caminho partiam30

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se, o que levou as gentes de Velvary, nas cercanias da capital, a recorrer a uma ideia digna de génios: passaram a enviar ovos cozidos, ignorando que estes se inutilizavam para a argamassa. Outros defendem, para justificar a sua resistência tão reclamada pelo soberano, que se deve ao facto da primeira pedra ter sido colocada a 9 de Julho, dia da conjunção de Saturno com o Sol, uma data favorável de acordo com os astrólogos. No lugar onde hoje existe a ponte mais comprida da Europa construída em pedra, com 520 metros de longitude e dez de largura, havia uma outra, em madeira, destruída por uma inundação. Uma vez reconstruída, foi de novo demolida, em 1342, pela força da corrente do Moldava, ganhando a solidez que a caracteriza no reinado de Carlos IV, numa época em que a história fala da presença de um busto num dos seus pilares, vulgarmente conhecido como O Barbudo, que media o nível das águas do rio - quando lhe chegava às barbas, o Moldava transbordava e procedia-se à evacuação; quando a cabeça ficava submersa, todos acorriam à colina do castelo. As três dezenas de estátuas que decoram a ponte, na sua maioria reproduções, parecem olhar-me com uma intensidade desconcertante quando os primeiros turistas começam a pisar o empedrado que o tempo se encarregou de alisar. A vida já não fervilha em voz baixa, o disco sobe no céu eternamente azul, o silêncio é agora substituído pelo constante matraquear das câmaras


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DR


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Viagens

que garantem recordações de um tempo tantas vezes vivido atrás delas e raras vezes ocupado na preguiçosa contemplação que Praga justifica. As águas do Moldava brilham como mil espelhos e eu, entregando-me à minha quietude, deixo que se pinte no meu imaginário o modo de vida na capital quando, no lugar das estátuas, se encontrava uma única cruz de madeira, erguida pelos vizinhos da Cidade Velha precisamente no local onde foi atirado ao rio o capelão da Catedral de São Vito e à frente da qual rezavam os condenados à morte e se lançavam à água, dentro de

cestos de vime, os mercadores e os artesãos desonestos. Para o Moldava foi também empurrado São João Nepomuceno, confessor da Rainha Sofia, fiel ao seu voto de silêncio mesmo depois de sofrer as torturas da parte do rei. E no lugar onde caiu surgiram cinco estrelas douradas que hoje se podem ver em redor da sua escultura na ponte, aqui e acolá enfeitada com relevos do martírio do santo - e muitos deles desgastados porque a tradição manda que, quem desejar regressar a Praga, tem de apoiar a mão num deles.

Harmonia de estilos

Viagens Inatel FIM DE ANO EM PRAGA Partidas de Lisboa ou Porto, de 28 Dez. a 1 Jan. Preço por pessoa: quarto duplo: 733 euros; supl. individual: 265 euros; supl. saída do Porto: 25 euros; crianças dos 2 aos 9 anos (quarto partilhado com 2 adultos): 550 euros.

O preço inclui: 4 noites de alojamento em hotel 4*; passagem aérea; assistência no aeroporto e transporte para hotel; jantar de fim de ano; uma visita a Praga com guia acompanhante; seguro de viagem; taxas hoteleiras e de aviação. Mais informações: Loja do Rossio, tel. 211146820/7 - lojarossio@inatel.pt; Agência do Porto, tel. 220007950 - ag.porto@inatel.

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Situada no centro da Europa, a capital da República Checa tem na ponte um dos seus maiores atractivos mas a sua oferta é de tal forma variada que, aqui mais do que em qualquer outro lugar, em Praga é necessário dar tempo ao tempo. Depois de passar a sua infância em França, Carlos IV regressou à Boémia em 1333 e encontrou Praga num estado tão deplorável que, comovido, decidiu ele próprio supervisionar os trabalhos de reconstrução para, anos mais tarde, num período em que Moscovo, Paris ou Londres eram cidades menores, a apelidar de "jardim do meu prazer." E, na verdade, Praga surpreende a cada esquina pela sua beleza inquietante, pela imponência


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O relógio de sol, a ponte Carlos (nas páginas anteriores), a casa de Kafka e a Igreja de S. Nicolau, marcam a riqueza arquitectónica e cultural de Praga DR

do seu castelo, com quatro pátios com edifícios de diferentes épocas, entre eles a Catedral de São Vito e o Mosteiro de São Jorge, lugares de culto no Bairro de Hradcany, onde também fica situada a Praça do Castelo. É neste cenário que nos faz sentir pequenos que todos os olhares se cravam no Palácio Schwarzemberg, obra-prima do Renascimento checo, no Palácio Toskana (Barroco), no Palácio Arcebispal (Rococó), no Palácio Martinic, no Palácio Sterberg, palco da Galeria Nacional, um eterno e permanente encontro com a cultura e a arte arquitectónica na cidade onde, como já se percebeu, todos os estilos vivem em perfeita harmonia. Pequenas nuvens, como fiapos de algodão, são tocadas pela brisa suave quando deixo para trás o Mosteiro de Strahov e o Palácio Belvedere e logo os meus passos me levam à Rua Nerudova, com os seus belos exemplos de arquitectura aos quais ninguém fica indiferente. Sem destino definido, acerco-me da Praça da Mala Strana, erro pela Igreja de São Nicolau, rumo à Praça dos Cavaleiros de Malta e por aqui me demoro, dividindo o tempo entre o Palácio Nostic e o Turba, até me deter, a meio da tarde, em Smichov, mais a sul, para sentir a fragância da Villa Bertramka, frequentada por Mozart e actualmente um museu dedicado ao compositor.

Uns dias depois, ainda sob um sol radioso, deambulo por Josefov, o bairro judeu, detendome na sinagoga mais antiga da Europa, no Antigo Cemitério e observo, pausadamente, o edifício da Câmara Municipal, nesta cidade dentro da cidade, com o seu curioso relógio cujos ponteiros se movem em sentido contrário, na mesma direcção da escritura hebraica. Uma visita a Praga não fica completa sem uma paragem demorada na Praça Velha. Milhares de turistas erguem os olhares ao encontro do relógio astronómico (1410) que marca um tempo que hoje se converte em espectáculo, assistindo, extasiados, ao desfile da morte e dos apóstolos enquanto toca as horas. Admirando tudo o que os meus olhos perscrutam, caminho ao longo da Rua Celetná, atravesso a Praça da República e, depois de vagabundear pela tortuosa Rua Karlova, chego à Torre da Pólvora, onde me chega o som familiar do violino. O sol banha as estátuas da Ponte Carlos IV e doura o Moldava. O formigueiro humano, como que enlouquecido, enche o empedrado. Por ali permaneço, despojado de pressa, escutando o violino que recorta um céu que vai adquirindo uma tonalidade alaranjada. É Praga, a cidade de Kafka, a cidade mágica. n Sousa Ribeiro (texto e fotos) OUT 2012 |

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Ano europeu do envelhecimento activo e da solidariedade

Universidades Sénior Aprender nunca acaba Há cada vez mais "universidades sénior", instituições vocacionadas para acolher uma população estudantil muito especial. São já mais de oito mil, em Portugal, os estudantes a frequentar estas universidades, cuja actividade ganha particular acuidade quando se celebra o Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações. 34

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Comissão Europeia criou o Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações com o fim de encorajar a reflexão sobre "a forma como os Europeus estão a viver cada vez mais e as oportunidades que daí decorrem". Para os promotores da iniciativa, "o envelhecimento activo pode significar para as pessoas mais velhas a oportunidade de continuarem a trabalhar e partilhar as suas experiências, de continuarem a desempenhar um papel activo na sociedade e de viverem as suas vidas de maneira saudável, independente e preenchida". Um desígnio fundamental é a melhoria da qualidade de vida e do bem-estar da população mais idosa. O movimento das "universidades sénior" constitui uma "resposta socioeducativa, que visa criar e dinamizar regularmente actividades sociais, culturais, educacionais e de convívio", tal como se lê nas declarações de princípio de várias instituições portuguesas do género. As primeiras universidades sénior remontam ao início dos anos 70, em França, e às experiências de universidades populares dos países nórdicos. As Universidades da Terceira Idade (UTI) portuguesas seguem o modelo inglês, que não contempla nenhuma certificação, mas as formas como cada instituição materializa os seus programas gera alguma diversidade. Como denominador comum prevalecem a valorização e integração da pessoa idosa e a ocupação dos tempos livres com aprendizagens.

Em cima, aula na Universidade Sénior Contemporânea e, em baixo, fachada da Universidade Sénior da Foz. Na página anterior, entrada da Agitar - Universidade Sénior do Porto.

Aprender o que a vida profissional ou familiar não permitiu O modelo jurídico, o tipo de apoios e o carácter profissional ou de voluntariado da docência são aspectos que distinguem entre si estas instituições. No Porto, onde se recolheram os dados para este retrato das UTI, o corpo discente varia entre uma dezena e as quase três centenas de estudantes. São variadas as motivações de quem procura estas instituições, mas há regularidades, como refere Artur Santos, Director Académico e docente da Universidade Sénior Contemporânea (USC): "Muitos trazem histórias de depressão, de solidão e de lutos. E outros querem aprender o que antes a vida profissional ou familiar não lhes permitiu".

A questão dos modelos jurídicos é uma questão sensível. Algumas das UTI são críticas quanto à dependência de subsídios ou apoios públicos e preferem reger-se por práticas empresariais ou lutar pela auto-sustentabilidade. A Universidade Sénior da Foz (USF), fundada em 1997 e frequentada por 80 alunos, está integrada no Orfeão da Foz e "não conta com nenhum apoio oficial ou outro", de acordo com Rui Cupertino de Miranda, um dos directores. A Agitar - Universidade Sénior, que optou por um modelo de associação com fins não lucrativos, procura também equilibrar as conOUT 2012 |

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Ano europeu do envelhecimento activo e da solidariedade

importante para eles, o e-mail, o chat, o skype…".

Áreas disciplinares dinâmicas

Pormenor das instalações da Universidade Sénior Contemporânea

tas com as quotizações dos alunos. Tem 60 alunos e está inserida numa das freguesias mais envelhecidas da cidade do Porto, Paranhos. As preferências disciplinares dos estudantes pautam-se por um padrão identificável noutras instituições: "Os seniores procuram essencialmente actividades que não tiveram oportunidade de desenvolver, mas procuram também actividades que os façam manter activos fisicamente, como as danças e as aulas de relaxamento", revela Ana Pinheiro, da direcção da Agitar. O grande interesse pelas novas tecnologias é inequívoco; "tudo o que envolve a comunicação é

A variedade da oferta curricular é um aspecto importante, como sublinha Artur Santos, da USC. Daí a grande diversidade temática das 23 disciplinas frequentadas por 17 turmas. São ao todo 280 alunos, com idades entre os 50 e os 92 anos, numa universidade que publica também (online) uma "Revista Transdisciplinar de Gerontologia". A componente solidária, através de parcerias, é central para a USC, "que não deve pensar apenas na sua orgânica e nas aulas, tem de desenvolver também a sua responsabilidade social". Preocupação semelhante anima a Universidade Sénior Florbela Espanca (USFE), ligada à Câmara Municipal de Matosinhos, que promove "aulas abertas à comunidade, com apresentação de trabalhos de investigação feitos pelos alunos, e desenvolve colaboração directa com escolas profissionais e secundárias com a finalidade de proporcionar a transmissão dos conhecimentos e experiências dos seus alunos nas áreas de História e Património de Matosinhos", de acordo com João Gomes. Há uma preocupação em auscultar as expectativas dos alunos quanto às áreas disciplinares dos programas.

“Os seniores serão mais interventivos” As UTI portuguesas integram uma

têm mais actividades e são melhores

recolherem apoios".

associação que tem a função de as

organizadas". Para este dirigente, "as

Luís Jacob acredita que, com o

representar junto de entidades públicas

principais dificuldades são as

contributo das UTI, "os seniores,

e privadas e de ajudar a criar novas

instalações, a dificuldade em arranjar

individualmente ou em grupo, serão

unidades. Chama-se RUTIS, nasceu

transporte para as actividades, a falta de

mais interventivos socialmente". E cita o

durante o III Encontro Nacional de UTI

professores voluntários e a escassez de

que pode ser lido como a concretização

realizado em Almeirim e Santarém, em

receitas". Não se registando apoios

de um dos principais desideratos das

2004, e agrega 185 universidades

significativos para além dos autárquicos

universidades sénior: "Os vários estudos

sénior.

em alguns casos, "a RUTIS tem feito

a que a RUTIS tem acesso indicam

Na perspectiva de Luís Jacob,

vários pedidos ao Ministro da

claramente que os seniores que

presidente da RUTIS, "em relação às

Solidariedade e Segurança Social para

frequentam as UTI são mais felizes e

primeiras que foram criadas, as actuais

criar uma legislação de enquadramento

saudáveis dos aqueles que não realizam

universidades são mais interventivas,

destas organizações, para ser mais fácil

actividades úteis".

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A Universidade Sénior Eugénio de Andrade (USEA), que nasceu no seio do Centro Cultural e Desportivo dos Trabalhadores da Câmara Municipal do Porto, em 2006, e tem actualmente 260 alunos, vai introduzir novas disciplinas no próximo ano lectivo. Manterá o Inglês e a Informática, muito populares, e acrescentará, entre outras, a disciplina de Mandarim. "A meio e no final do ano passamos questionários de avaliação da satisfação e procuramos saber se as disciplinas estão a corresponder às expectativas e que disciplinas novas querem", diz Joana Brás, psicóloga, com funções de coordenação pedagógica na USEA. Surgiram, assim, as sugestões do Mandarim e do Acordo Ortográfico, acrescenta Joana Brás, que destaca, também, as características socioculturais dos alunos. Há uma forte percentagem de licenciados de classe média alta, e "muitos ainda estão no activo e procuram por vezes uma disciplina como complemento da formação". Outra característica dominante entre os alunos das UTI é a frequência maioritariamente feminina. Para Ana Trindade, da Agitar, "as mulheres têm mais apetência para se relacionarem ou para se aventurarem em coisas novas". A explicação na USEA não é muito diferente: "Pelo que as nossas alunas dizem, os homens são mais receosos de entrarem num mundo novo, de se porem à prova. Mas pode ser também porque já têm outras realidades sociais a que estejam fidelizados", alvitra Joana Brás. Na USEA as mulheres são mais de dois terços, mas o desequilíbrio tem tendência a atenuar-se, "talvez porque muitas das senhoras conseguem convencer os maridos a vir".

Edifício da Universidade Sénior Eugénio de Andrade e, em baixo, Universidade Sénior Florbela Espanca

Educar para ser Muito valorizada por algumas UTI é a condição jovem dos docentes e a interacção geracional. "Aqui, a idade dos formadores varia entre os 30 e os 45 anos. Temos de ter formadores mais novos do que os seniores para os manter activos", diz Ana Pinheiro, da Associação Agitar. Leccionar nas UTI é uma tarefa singular. Para Vítor Fragoso, docente de Inteligência Emocional na USC, trata-se de uma experiência diferente porque tudo se foca mais "nas necessidades dos seniores, mais do que para o desempenho ou aquisição de conhecimento", procurando-se criar OUT 2012 |

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Ano europeu do envelhecimento activo e da solidariedade

"um espaço para o auto-conhecimento numa fase de transição da vida activa para a aposentação". Resumindo a dinâmica das UTI, Vítor Fragoso destaca que "o objectivo, mais do que o ensino, é a aprendizagem, educar para as questões essenciais da vida, educar para ser, para conviver, educar para a condição humana". No plano pedagógico, visa-se "promover uma pedagogia dialógica, em que o aluno é um agente activo da própria acção pedagógica. O objectivo é crescer em conjunto, não é transferir ou acumular informação". Um aspecto não consensual refere-se à docência em regime de voluntariado. Um corpo docente remunerado é visto como factor de responsabilização, mas podem coexistir as duas fórmulas,

como sucede na Agitar. No entanto, "a maioria é remunerada, por uma questão de responsabilidade profissional", diz Ana Pinheiro. "A partir do momento em que pagamos, podemos exigir…", sublinha Daniela Gomes, docente e coordenadora na USEA. Posição semelhante tem a USFE, a fim de "garantir a qualidade dos conteúdos, aliada a uma comunicação eficaz e adaptada às especificidades do público sénior". Na USF há uma prática singular: professores e alunos podem trocar de papéis consoante as matérias. Afinal, salienta Rui Cupertino de Miranda, que começou justamente por ser aluno, "as pessoas vêm para não esquecer o que sabem, para aprender e ensinar". n Humberto Lopes (texto e fotos)

“Este tipo de experiências eu não tinha” Alguns dos alunos das UTI são exprofessores, como é o caso de Leonor Castro, 75 anos, professora do ensino básico, que se aposentou aos 59 anos e frequenta a USC. "Quando me reformei senti-me muito triste… 'agora acabei', foi o que pensei. E de repente houve qualquer coisa de novo na minha vida. Não é que eu tenha aprendido aqui muito mais do que sabia, mas aprendi a lidar melhor com a passagem dos anos e a saber conviver melhor". O desenvolvimento de novas relações sociais é o que mais valoriza e destaca o que ganhou com a entrada numa UTI: "Ocupação, bem-estar, e melhor preparação para ter uma vida mais

hesita nas preferências disciplinares:

manutenção de locomotivas eléctricas".

activa".

"Do que gosto mais é do coro e da

Um livro publicado recentemente, já

António Gomes, 74 anos, foi industrial

internet, recebo uns 50 ou 60 e-mails por

como aluno da USC, conta algumas

têxtil e sempre teve uma vida muito

dia. E cheguei à conclusão de que gosto

histórias vividas em Angola. Diz que não

activa, até mesmo para além da

de escrever. Gosto de estar na

se aposentou: "Aposentaram-me!". Fala

actividade profissional, em associações

universidade e aconselho a qualquer

das amizades que conquistou e do

desportivas: foi dirigente do Clube

pessoa que se aposente".

companheirismo que descobriu na USC.

Fenianos do Porto e colaborador do

Porfírio Mendes da Silva, 89 anos,

Reformou-se em 1993 e entrou para a

jornal O Comércio do Porto. Aposentou-

chegou à universidade a conselho dos

USC em 2006. "Ainda estive uns anos

se com 71 anos e chegou à universidade

netos. Percorreu, na sua actividade

entregue a mim mesmo, mas depois

sénior pela mão dos filhos. "Ter vindo

profissional, meio mundo - África do Sul,

aqui aprendi a conviver e sobretudo a

para a universidade foi muito bom, já

Brasil, Inglaterra, Macau, Estados

ouvir os meus colegas… Este tipo de

trouxe para cá pessoas amigas". Não

Unidos - a "adquirir especialização na

experiências eu não tinha…".

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Centenários

O turismo para a gentileza Quando Portugal atingir a excelência, o turista será um viajante com geografia interior.

N

a Grécia antiga, a excelência ("areté") significava desenvolver o seu próprio potencial. Não era um conceito que envolvesse a competição com outrém, relacionava-se antes com a árdua tarefa de ser genuíno. E ser genuíno, autêntico, aquilo que se é no seu melhor, é a estratégia que parece convir a Portugal para que possa tornar-se num destino turístico de eleição. Jorge Mangorrinha, Presidente da Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal 1911-2011 - no qual a Fundação Inatel participou muito activamente até ao seu encerramento a 26 de Maio deste ano - foi muito claro quanto ao que pode ser o "turismo de excelência" a oferecer a um "turista esclarecido": "Cada investimento deve preservar o mais possível o que é genuíno e autêntico e singular numa região. O turista que interessa captar procura isso. É por ai que devemos ser concorrenciais".

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Nada de nos reduzirmos a um papel seguidista, obliterando o que nos distingue, bem pelo contrário: "Não devemos apenas copiar e adaptar as boas práticas lá de fora, devemos tê-las como parâmetro mas ainda fazer melhor e diferente", conclui Mangorrinha.

Inatel pioneiro É justamente pela diferença que a Fundação Inatel, instituição que se encontra na génese do "turismo social" em Portugal (direccionado para o "apoio ao trabalhador no activo" e mais recentemente incluindo também o utente sénior), procura ser competitiva. Longe do tempo em que nascera associada à ideologia política do Estado Novo - a FNAT, criada em 1935, inspirava-se directamente no Movimento Internacional Alegria no Trabalho, desenvolvido na Itália de Mussolini e na Alemanhã nazi - a sua actuação tem privilegiado a sustentabilidade de programas


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onde à qualidade da vasta rede hoteleira se associa uma programação cultural, desportiva e pioneira a nível ambiental. Ao falar da programação ligada ao "turismo de natureza", Carlos Mamede, vice-presidente da Fundação Inatel e vogal da Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal, dá um bom exemplo de como a criatividade e a organização podem gerar iniciativas aliciantes: "Temos um programa de caminhadas, com trilhos estabelecidos, guiados por aparelhos GPS. Destinam-se aos grupos de clientes que estejam alojados nas unidades hoteleiras de Castelo de Vide, Foz do Arelho, Luso, Piódão, Vila Ruiva e Linhares da Beira. Desenvolvemos também o programa "Bike Friendly Inatel", pelo qual se dispobilizam percursos BTT, também com GPS, e ainda um "menu" apropriado aos ciclistas, serviço de manutenção de bicicletas, e claro, “seguro", descreve Carlos Mamede, identificando as unidades hoteleiras, onde numa parceria com a empresa "A2Z-Adventures", é possível usufruir este programa: Manteigas, Alamal, Vila Ruiva, Piódão e Castelo de Vide.

"Geografia pessoal" A aposta num "turismo ambiental" focado na "redescoberta" ou encontro com a Portugalidade implicará, no entanto, um longo trabalho de recuperação e valorização do nosso território. Tarefa que o arquitecto Jorge Mangorrinha prevê ocupar várias gerações até ser possível reestabelecer alguns equilíbrios perdidos. "Num período de crise é muito difícil regenerar as paisagens (urbanas e rurais) em tempo útil para que esta geração possa ver o território diferente, para melhor, mas acho que se houver um sinal de que todos estão a trabalhar para o mesmo, desde o governo central às autarquias e às empresas, é possível que possamos dentro de uma ou duas gerações corrigir todos os problemas que existem num território e têm influência no turismo." O turismo de qualidade deverá ter assim quase uma componente formativa, na medida, em que mostrando a beleza e o "espírito dos lugares" ("genius loci") é suposto satisfazer quem já tem espírito contemplativo mas também cativar quem o tem

ainda incipiente. De outra forma, seria contraditório apelar à viagem, fomentar o excursionismo, do qual o "Inatel é o grande pioneiro em Portugal" inclusive pela programação de viagens ao estrangeiro. A partir do momento em que o país desenvolve para si mesmo "um novo projecto de descoberta", conforme enunciou Jorge Mangorrinha, sem menosprezar o conhecimento do seu antigo e vasto património paisagístico, cultural, gastronómico, erudito e popular, é suposto proteger os seus Paraísos, acautelando assim o destrutivo turismo de massa. Se Portugal se reencontrar como "país de sonho", pela beleza e diversidade da sua paisagem, a qualidade da gastronomia regional e a hospitalidade das gentes, então a oferta da excelência destina-se não ao "viajante idiota", de que fala o sociólogo francês JeanDidier Urbain, no livro "Le idiot du voyage - histoires de turistes" (Plon, Paris, 1991) mas ao turista com "geografia pessoal". Depois do vastíssimo programa das celebrações do Centenário do Turismo em Portugal (consultar site: www.centenariodoturismo.org/) ter contribuído para fomentar o conhecimento "da história do turismo e das potencialidades do nosso país", destacando o papel histórico da Fundação Inatel na democratização do lazer, o grande desafio que parece importante é tornar perceptível que o Paraíso existe em Portugal, é preciso é desenvolver a excelência para se conseguir usufrui-lo. n Susana Neves OUT 2012 |

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Paixões

Joana Amendoeira Um “Amor Mais Perfeito” Joana Amendoeira regressa aos discos com 'Amor Mais Perfeito', uma homenagem ao mestre José Fontes Rocha que reúne um conjunto de fados do guitarrista, falecido no Verão passado. Em entrevista junto ao CCB, em Lisboa - e numa pausa da tournée de apresentação ao vivo deste seu novo disco -, a fadista faz uma retrospectiva do percurso rico e já longo, que a levou a ser recebida no estrangeiro como uma diva do fado, e revela um lado humilde de total entrega à música e à poesia que canta.

A

os seis anos foi-lhe detectado um talento precoce pelos avós quando cantou 'Cavalo Russo' pela primeira vez. Já lá estava "aquele requebrozinho fadista" de cepa scalabitana, resultado de ouvir os fadistas mais velhos desde que se lembra. "Em casa ouvíamos muito fado e música portuguesa", recorda a jovem Joana Amendoeira, lembrando que a mãe tinha talento para cantar e atribuindo aos pais a responsabilidade de se ter iniciado tão cedo no fado; o mesmo valendo para o irmão Pedro, mais velho 11 anos, que a acompanha à guitarra portuguesa. Entre os muitos vinis de fado, perdia-se a escutar ininterruptamente uma colectânea de Amália Rodrigues. Aos oito anos fez a primeira aparição em público numa festa de Natal para doentes organizada pela mãe, enfermeira. Ainda temia a exposição do palco e não queria cantar em público. "O meu pai tinha de me subornar com a promessa de que me comprava uma Barbie… Ficava nervosa, mas a partir dos 11 anos perdi o receio", assegura, reportando-se a quando, inscrita pelo irmão, participa na Grande Noite do Fado de Lisboa, em 1994. "O ambiente do Coliseu na Grande Noite do Fado fez um clique. O fado tornou-se um objectivo. Desde então quis vir a Lisboa conhecer as casas de fado e os fadistas. Era eu que puxava pelos meus pais", conta Joana, que entretanto dançava no Grupo Folclórico de Santarém e cantava ali ao lado, no extinto restaurante O Castiço, onde conheceu outros artistas e autores fundamentais. Estava nos sítios certos às horas certas. "Tive oportunidade de estar com Manuel de Almeida, Cidália Moreira ou Teresa Tarouca, que eram as minhas grandes referências. Diziam mesmo que eu tinha uma voz parecida com a da Teresa Tarouca", refere com sau48

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dade. Um ano depois, em 1995, vence a Grande Noite do Fado no Porto, em juvenis.

Lisboa e o mestre Fontes Rocha Entre os 15 e os 17 anos grava os seus dois primeiros álbuns, 'Olhos Garotos' e 'Aquela Rua', e estreia-se no estrangeiro. Considera-os "discos um tanto adolescentes", nos quais se ouve "uma voz de menina" e muitos fados já cantados por algumas das suas referências. Tornando-se uma das mais jovens intérpretes de fado com discos gravados, Joana vê o seu terceiro disco, homónimo, de 2003, como o da "maturidade". Na maioridade dos 18 anos muda-se de Santarém para Lisboa. Termina o liceu e investe na Academia de Amadores de Música. Ao mesmo tempo, integra o elenco do Clube de Fado, onde canta diariamente durante nove anos. "Vim de armas e bagagens, instalei-me e senti-me preenchida por viver o sonho de cantar e aprender na casa de fados, que é uma grande escola."Ali conhece o mestre José Fontes Rocha, que se torna seu "professor, mentor, amigo e, sobretudo, cúmplice musical". Para Joana, esse foi um momento-chave e "um grande privilégio", tal como cantar com Alcino de Carvalho ou Maria da Nazaré. "Ensinaram-me a moldar e gerir melhor a voz, ter mais intenção, interpretar e dizer melhor as palavras", recorda a fadista. De Fontes Rocha recebe então duas composições originais - 'Amor Mais Perfeito', em 2000, que dá nome a este álbum, e 'Fado Joana', em 2006. É em homenagem ao guitarrista, falecido em 2011, aos 85 anos, que promove o seu novo disco, onde interpreta doze das mais importantes composições do músico. 'Anda o Sol na Minha Rua', 'Lavava no Rio, Lavava' ou 'Amália' são alguns dos temas, com poesia de autores de renome.


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Paixões

"Recordo as horas passadas a conversar no bar do Clube de Fado. Tocou com Amália e era um apaixonado pela personagem e pela sua forma de cantar. Contava-me histórias do fado e ensinava-me a dar 'voltinhas'. Algumas interpretações de Amália eram inspiradas na forma como ele cantava", revela Joana acerca do seu mestre, portuense e electricista, migrado para Lisboa aos 30 anos, quando já guitarrista profissional. "Era o senhor engenhocas e um homem muito à frente do seu tempo. Tinha uma oficina onde construía guitarras e cavaquinhos. Nunca vi músico como ele, sempre a improvisar. Cada dia tocava um fado com voltinhas diferentes. Às vezes ficava delirante quando metia frases de clássicos da música mundial nos fados. As memórias dele eram muito importantes", sublinha a fadista, que já tinha planos de fazer um disco com Fontes, em vida. "A saúde dele começou a deteriorar-se rapidamente e não foi possível", explica, emocionada mas satisfeita por concluir e celebrar agora a obra.

Guitarra é essencial… Joana é uma renovadora que não aprecia o conceito de 'novo fado'. "O fado é o mesmo mas está em evolução. Quando muito existem novas personalidades, vozes, músicos e poetas. Houve um renascimento depois dos anos '80, altura em que se viveu um marasmo, e é extraordinário observar os novos patamares e públicos que o fado tem abrangido", considera, crendo que "o fado pode evoluir, enriquecido pela inclusão de outros instrumentos, sem ser desvirtuado; sem se afastar da sua essência". Mas o que é essencial para que o fado o seja? "É difícil explicar, mas sente-se. Não alterando as linhas mestras da escrita e da harmonia, podemos acrescentar novos instrumentos, dar harmonicamente outras cores aos fados. O próprio poema pode dar uma roupagem nova a um fado, que tem sempre vida nova porque ninguém canta igual, e esse é um dos objectivos. Jovens fadistas tradicionalistas como Carminho, Ricardo Ribeiro ou Raquel Tavares são capazes de cantar o mesmo fado sem que o pareça." Mas, ainda assim, essencial é a guitarra portuguesa: "Amália cantava o 'Summertime' com sabor a fado, mas o fado puro empobrece sem guitarra portuguesa. Seria como tirar o bandoneon ao tango." Joana recolhe para o reportório poemas de autores portugueses consagrados do passado e do presente. O disco 'À Flor da Pele', de 2006, marca uma viragem artística pela 50

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qual o grupo da fadista, então composto por Pedro Pinhal, Paulo Paz e Pedro Amendoeira, cria reportório completamente original. "Foi aí que comecei a fazer maior recolha em livros. Temos poesia tão rica e variada, e há tantos poemas por cantar", observa a artista, que também canta poetas contemporâneos e, assim, o momento actual, novos conceitos e ideias, com a intemporalidade do amor ou de Lisboa. "A poesia é o género, por excelência, da palavra", afirma Joana, que tem em Sophia de Mello Breyner, Pedro Homem de Mello e José Luís Peixoto três referências.

Prémios e momentos-chave Quando, em 2004, recebe o Prémio Revelação da Casa da Imprensa, captura a atenção do público e da crítica em definitivo. Depois, o Prémio Amália Rodrigues viria a preencher ainda mais as suas medidas. É justo dizer que as distinções têm marcado pontos de viragem num percurso de clara evolução musical e artística. O concerto na Arena de Portimão, em 2007, somando o pianista virtuoso Filipe Raposo, a Orquestra do Algarve e arranjos de João Godinho, reuniu o grupo em torno de uma reflexão sobre o reportório da fadista e é exemplo de um espectáculo transformador para Joana e acompanhantes. Já o disco 'Joana Amendoeira & Mar Ensemble', gravado ao vivo no Castelo de S. Jorge, recebe a distinção de 'Melhor Disco de Fado de 2008' pela Fundação Amália Rodrigues. Daí se seguiram muitos concertos em salas prestigiadas do circuito da world music, em quatro continentes. Falta tocar na Oceânia. Com sete álbuns, Joana não hesita em ter no último o mais querido. "É sempre assim, é o que diz de nós neste momento. Luto por estar sempre no meu máximo e sinto que estou a cantar e a interpretar cada vez melhor as palavras."

Concertos "Amor Mais Perfeito" Apresentado ao vivo, em concertos programados para vários pontos do país, 'Amor Mais Perfeito', gravado nos Estúdios Pé de Vento, em Foros de Salvaterra, por Fernando Nunes, revela o fado na sua essência, tocado com guitarras, viola e contrabaixo. A tour iniciou-se a 28 de Setembro, no Museu do Vinho do Porto, seguindo-se, em Outubro, Loulé (dia 4), Santarém (13), Lisboa/CCB (14), Moita (19) e Sesimbra (20). n Hugo Simões (texto) e José Frade (fotos)


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Memória

Novelas de reprise Há uns anos, havia em Lisboa, umas salas de cinema que exibiam os filmes que já tinham terminado as suas carreiras nas principais salas da cidade.

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filme passava, por exemplo, no Tivoli, e acabada a exibição passava para o chamado "cinema de reprise". Era assim, por exemplo, uma sala no bairro do Restelo onde podíamos ver ou rever certos filmes, com bilhetes mais baratos. Vi muito "cinema de reprise" no Restelo. Lembrei-me disto quando as estações de Televisão decidiram repor novelas antigas ("O Astro", "Dancin’ Days" ou a "Gabriela"). São as chamadas novelas de reprise com novos actores, reformuladas, mas com base nos argumentos escritos por brasileiros como Janete Clair ou Gilberto Braga. A SIC lidera este tipo de reposição. E foi pensando no novo público telespectador mas também no antigo que preparámos este trabalho, relembrando actores que, mais de trinta anos depois, vêem os seus personagens entregues a um conjunto de novos actores que, apesar de tudo, não se saem mal no confronto com os mais antigos.

Quem matou Salomão? Comecemos por "O Astro" (estreado na RTP-1 em 16 de Outubro de 1978) que, à época, se tornou um êxito não só pela interpretação do actor Francisco Cuoco em "Herculano Quintanilha mas principalmente pela morte do patriarca da família Hayalla (Dionísio Azeredo) que levou muitos telespectadores, e durante largas semanas, a perguntarem-se "quem matou Salomão?" .Tal como agora, os suspeitos eram vários e quando se descobriu que o assassino era um tal Felipe Cerqueira (Edwin Luisi) foi grande a estupefacção. A autora, Janete Clair, urdiu a intriga de modo a que tanto se podia desconfiar de Clô, como de Márcio, dos irmãos ou de outros personagens. Durante meses, o povo não se cansou de perguntar "quem matou Salomão?"

Actores fabulosos Daquele período áureo da Globo que nos deu a conhecer intérpretes fantásticos como Dina Sfat (a Amanda apaixonada pelo "Astro"), Tony Ramos (Márcio), Teresa Rachel (Clô) ou Rubens de Falco (Samir) só para citar alguns, fizeram parte, entre outras, a telenovela "Dancin’ Days", em que Sónia Braga fez uma espantosa Júlia e, primeiríssima de todas, a história escrita por Jorge Amado e interpretada tam52

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bém por Sónia Braga, a "Gabriela" do nosso contentamento. Em "Dancin’ Days" descobrimos um grande actor chamado António Fagundes, o célebre Cacá, que fez par com Sónia Braga, e anda por aí de novo, mais velho, pai de Pedro e Leo, em "Insensato Coração". Isto nas telenovelas é, como diz o povo, baralhar e tornar a dar.

O país parado Quando os portugueses descobriram as telenovelas, pequenas ou grandes histórias dadas em doses certas, as audiências foram espectaculares e de tal forma que, na primeira vez que Dina Sfat veio a Portugal, ficou admirada por ser interpelada nas ruas de Lisboa. "As pessoas são muito simpáticas, param para conversar comigo, querem saber mais coisas a meu respeito… Tem sido muito legal…". E foi tudo tão legal que, anos mais tarde, a actriz veio mesmo residir em Lisboa. Hoje, este tipo de programas já não faz parar o trânsito mas ainda é, a par do futebol, um bom indicador de audiências televisivas. Enquanto a SIC nos vai dando, em reprise, as histórias de Júlia, de Márcio e Lili, de Clô e Samir, de Alexandre Quintanilha e Amanda, e se prepara para nos trazer uma vez mais a dengosa Gabriela que se enamora de Nacib e não gosta de sapato, o povo até se esquece que a gasolina aumenta todas as semanas e que o desemprego é cada vez maior.

Há mais de trinta anos As fotografias que escolhemos para ilustrar este artigo são de intérpretes que, à época, eram de tal forma populares que, mês após mês, ano após ano, aterravam em Portugal para fazerem teatro, para animarem festas, para participarem em Carnavais. Hoje, mais de trinta anos depois, e com a reposição de telenovelas que foram êxito e, pelos vistos, voltam a sê-lo, alguns deles reaparecem, mais velhos, mas sempre talentosos como provam, pelo menos, António Fagundes e Glória Pires ("Insensato Coração") ou Reginaldo Farias e Regina Duarte ("O Astro"). Resta dizer que os portugueses que dão agora vida a "Dancin’ Days" não deixam ficar mal os brasileiros. Ora então vamos lá ver as "novelas de reprise". n Maria João Duarte


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3 1 - António Fagundes foi o excelente “Cacá” em “Dancin’Days” (o intérprete português é o Albano Jerónimo). 2 - Sónia Braga foi a Júlia na mesma novela. 3 - Glória Pires, a Marisa (agora Mariana) da mesma novela. 4 - Sónia Braga, a Gabriela antes e depois. 5 Francisco Cuoco, o “Astro”. 6 - Tony Ramos, o Márcio de o “Astro”. 7 -Dina Sfat, a Amanda de o “Astro”.

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Olho Vivo

A forma do copo

Pai mutante

Psicólogos de Bristol descobriram que a forma do copo é fundamental para a velocidade com que se bebe uma bebida alcoólica. Cento e sessenta voluntários, dos 18 aos 40 anos, beberam cerveja, metade deles num copo alto cilíndrico e a outra metade num copo bojudo tipo-imperial. Os cientistas verificaram que a bebida do copo de linhas direitas foi tomada a metade da velocidade da cerveja em copo arredondado. A mesma experiência feita com uma bebida não-alcoólica determinou que, não sendo cerveja, não há diferença entre os dois tipos de copo na velocidade com que é engolido o líquido.

O maior estudo genético feito até hoje, abrangendo 85 mil pessoas na Islândia, revelou que herdamos três vezes mais mutações genéticas do pai que da mãe e que a taxa de genes mutantes aumenta com a idade do pai, mantendo-se estável independentemente da idade da mãe. Um pai de 58 anos transmite duas vezes mais mutações que aos 20. As conclusões estão publicadas na revista Nature.

Vespa caboverdiana Cabo Verde tem cinco espécies de vespas únicas no mundo, ou não fossem os arquipélagos óptimos laboratórios para a evolução. Uma equipa de cientistas checo-americana identificou cinco vespas-cuco, de diferentes tamanhos, que aproveitam a ausência do ninho de vespas normais para aí depositarem os seus ovos. Estes eclodem mais cedo que os da locatária, comem os ovos "legítimos" e as novas vespascuco são, em seguida, alimentadas até à maturidade pela dona do ninho. As novas espécies descobertas têm listas pretas e brancas, como a zebra, e medem entre 3 e 5 milímetros.

Viciados em rede Um estudo identificou 132 homens e mulheres viciados em Internet, num total de 843 pessoas entrevistadas. Os viciados passam o dia a pensar na Net e o seu bem-estar é afectado se têm de ficar offline. A análise genética destes indivíduos mostrou que são mais frequentemente portadores de uma mutação de um gene que também tem um papel importante na adição ao tabaco. A mutação do gene CHRNA4 é mais frequente nas mulheres que nos homens, frisam os cientistas da universidade de Bona.

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Menopausa para quê? A menopausa no ser humano evoluiu em parte para evitar a competição entre mães e filhas e noras, segundo uma investigação finlandesa publicada em Ecology Letters. A análise ajuda a resolver um mistério natural: por que razão a mulher, ao contrário dos outros mamíferos deixa de ser fértil tão cedo na vida. Analisando dados de fertilidade ao longo de 200 anos, os cientistas concluíram que a coexistência de bebés de duas gerações na mesma família, sem que a avó pudesse participar na criação do neto por ter sido mãe, é fatal para metade dessas crianças, que não sobrevive ao ano de idade.


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A n t ó n i o C o s t a S a n t o s ( t ex t o s )

Fair-play de série

Fungos com bom ouvido Um biólogo suíço conseguiu "criar" uma madeira, que, aplicada na construção de violinos, lhes dá o mesmo som de um Stradivarius. A madeira é submetida à acção de dois fungos (Physisporinus vitreus e Xylaria longipes) que transformam as suas propriedades de transmissão do som, imitando as árvores de crescimento lento que António Stradivari usou, criadas nos invernos gelados e verões frios de 1645-1715. Um violino construído com esta madeira chegou mesmo a vencer um Stradivarius numa prova cega para especialistas.

A banana respira Um químico chinês da universidade de Tanjin, Xihong Li, anunciou num congresso em Filadélfia, que o problema do amadurecimento das bananas em menos de um fósforo, pode estar prestes a ser resolvido, graças a um spray de hidrogel que o seu laboratório desenvolveu. A substância, feita à base de cascas de caranguejo, aplicada sobre bananas verdes, impediu o seu amadurecimento durante doze dias, matando as bactérias que facilitam a decomposição do fruto. Li explicou que as bananas, como outros frutos e legumes, continuam vivas, depois de colhidas, absorvendo oxigénio e expelindo dióxido de carbono através da pele. Quanto mais a banana respira, mais amadurece.

Uma experiência realizada nos Estados Unidos sugere que o sentido de justiça é inato no ser humano e que o fairplay é uma necessidade. Um grupo de voluntários, a quem foi dada a beber água salgada para provocar sede intensa, preferiu não ingerir nenhum líquido durante duas horas a aceitar uma divisão manifestamente desigual de uma garrafa de água mineral.

Crânio super-distraído As pessoas mais capazes de raciocinar são as que mais facilmente se distraem a executar tarefas rotineiras, segundo um estudo suíço-americano, publicado em Setembro na revista Psychological Science. Os autores da experiência provaram o que é óbvio: quando a memória operacional está ocupada com pensamentos e cruzamento de informações, "desliga-se" do que é feito "automaticamente". A investigação mostrou que quanto mais "pensador" se é, mais "cabeça no ar" se fica.

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A Casa na árvore Susana Neves

O salto do patriarca Quando o castanheiro dava pão para poder escrever.

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o tempo em que as populações serranas portuguesas dependiam da "árvore do pão" (Castanea sativa Mill.) o ouriço não era apenas a "armadura de picos" que protegia a castanha - posteriormente convertida em farinha - mas o eventual portador da "chocha", uma castanha sem polpa capaz de revelar o sexo das crianças antes de nascerem. O procedimento era simples e económico: bastava atirar a "chocha" (também chamada "folecha" ou "foneco") para o lume: se rebentasse a criança seria um rapaz. A fiabilidade deste "diagnóstico pré-natal" seria bastante contestável mas o que realmente importava na "Civilização do castanheiro" era a posse ou o usufruto de uma ou mais árvores que garantissem bom lenho para construir casa e suficiente castanha para fazer pão - do escuro, porque o pão branco fabricava-se com trigo. "Mais vale castanheiro do que saco de dinheiro", aconselha um dos muitos provérbios portugueses, dedicado a esta Fagaceae. Enquanto outros ditos populares chamam "manhosa" à cas-

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tanha porque "vai com quem a apanha". A facilidade de "pilhar" castanhas, principal fonte de amido na alimentação beirã e transmontana, pelo menos até ao incremento da produção da batata no século XVIII (o tubérculo andino foi introduzido na Europa durante as Descobertas), gerou a necessidade de "regular" a prática da respiga, também chamada ""rebusco" ou "rabisco", em que o proprietário permitia às pessoas da camada social economicamente mais débil, procurar as castanhas que restavam nos soutos após a colheita, rebuscando por entre as folhas secas caídas no solo. Nos anos em que as colheitas se atrasavam, a Junta de Freguesia respectiva podia anunciar o adiamento do rebusco, que, por isso, muitas vezes acontecia pelo Ano Novo, evitando assim, prejuízos para o proprietário", explica Jorge Paiva, botânico e um dos nossos principais estudiosos do castanheiro ("Do Castanheiro ao Teixo - As outras espécies florestais", Público, FLAD, 2007.) Os soutos ou pomares de castanheiros (os castinçais visam a produção de madeira) permitiam encher a despensa com "o fruto dos frutos" (nas palavras de Miguel Torga) e ao mesmo tempo fomentavam a caça. Cada árvore, e muitas seriam verdadeiros gigantes multisseculares - Aquilino Ribeiro lembra os "colossos" ou "patriarcas" do Codessal -, à maneira do carvalho-cerquinho e da faia, atraía amigavelmente uma vastíssima comunidade de animais. Entre eles, javalis, mochos, águias, anfíbios e até alguns insectos nefastos como a audaciosa portésia (Euproctis chrysorrhoea), a borboleta branca que faz cair a bonita folha serrada dos cas-


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Fotos: Susana Neves

tanheiros. Grande atrevimento para tão pequena borboleta: destruir a copa de uma das mais belas árvores do bosque lusitano, espécie eventualmente autóctone, porque segundo estudos polínicos fósseis, realizados na Serra da Estrela, comprovou-se a existência de castanheiros há 8 mil anos, ou seja, ao contrário do que se pensava, a Castanea sativa não foi introduzida em Portugal pelos fenícios nem pelos romanos. Sobre esta belíssima folha, caduca, que adquire belas tonalidades de amarelo e castanho durante o Outono, embelezando parques, jardins e, na Inglaterra, também alguns arruamentos, reservaram os aforismos lusitanos sugestiva frase que ilustra bem a sua resistência e potencial para constituir um substracto fértil: "As folhas de castanheiro andam sete anos na terra e depois ainda voam". A memória linguística da presença central dos castanheiros na vida dos nossos antepassados expressa em aforismos, adivinhas, na toponímia, patronímia, na gastronomia, em contos e em muitos vocábulos regionais (Paulo Freixinho fez uma

lista de palavras de "assadeira", mulher que assa as castanhas até "tanado", cor de castanha, descrita no seu blogue: "http://palavrascruzadas-paulofreixinho.blogspot.pt/2010/11/castanhasvocabulario.html") revela também a vocação literária da Castanea sativa. Atenta às necessidades humanas, dando-nos tudo o que precisávamos, esta árvore conseguiu sobretudo tornar-se palavra. Mais do que fornecer o "castanho" para o "cesto vindimo" no Douro, ou o tanino usado no curtimento das peles, mais do que ser útil na fitoterapia popular (através das folhas, cascas, flores e fruto) tratando inflamações respiratórias, o castanheiro inspirou a escrita, tornou-se imagem "Quando o sol aperta, o ouriço arreganha". Curiosamente, não encontramos em português a expressão francesa: "Recevoir un coup dans les castagnettes" (do grego "kastanon"=testículo) que traduzido à letra seria "Levar um pontapé nas castanholas". À palavra "castanholas" preferimos "tomates". Uma opção a reconsiderar uma vez que o castanheiro e a castanha simbolizam força e virilidade. n OUT 2012 |

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71 CONSUMO A ASAE alerta, em estudo, para os riscos dos suplementos alimentares, produtos muito populares em Portugal. Pág. 60 l LIVRO ABERTO O sector editorial e livreiro não está imune à crise, mas o leitor l

continua a dispor de muitas e boas opções… Pág. 62 l ARTES O destaque vai para a mostra 'Arte Déco em Portugal' (Museu do Chiado, Lisboa), com obras dos grandes artistas nacionais deste estilo. Pág. 64 l MÚSICAS Novidades: o regresso dos "Pet Shop Boys", com o duplo-CD "Elysium", e de Lionel Loueke, com "Heritage". Pág. 66 l NO PALCO A "Dança da Morte", de Strindberg, em cena a partir de 25 de Outubro no Teatro Municipal de S. Luiz, em Lisboa. Pág. 68 l CINEMA EM CASA Ficção e realidade, em cenários bem distintos USA, Índia, Itália e Iémen - , completam esta selecção outonal. Pág. 70 l GRANDE ECRÃ "Linhas de

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Wellington", de Valeria Sarmiento, com nota razoável, e o talento comprovado de Tim Burton com "Frankenwennie", nas estreias de Outubro. Pág. 71 l INFORMÁTICO Tudo sobre um novo e seguro disco externo, My Passport for Mac, ideal para os consumidores que levam os seus conteúdos digitais para todo o lado. Pág. 72 l AO VOLANTE Dinâmica, tecnologia e design, uma combinação singular e surpreendente no BMW Série 3 Berlina. Pág. 73 l SAÚDE Estamos de novo no Outono e, com os primeiros dias cinzentos, vêm também as primeiras constipações. Pág. 74 l PALAVRAS DA LEI Em análise um caso respeitante ao direito à herança dos chamados "herdeiros colaterais". Pág. 75

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Boavida|Consumo

Suplementos Alimentares Os suplementos alimentares são produtos muito populares em Portugal. No entanto, o seu consumo pode acarretar alguns riscos para os consumidores, como revela um estudo da ASAE.

Carlos Barbosa de Oliveira

roliferam em farmácias, parafarmácias e lojas de produtos naturais, os chamados "suplementos alimentares" (caso de vitaminas, minerais, ácidos gordos essenciais, fibras, várias plantas e extractos de ervas). Estes produtos prometem colmatar lacunas de alegadas carências alimentares, muitas vezes atribuíveis a estilos de vida do consumidor moderno, cuja dieta alimentar é muitas vezes pobre em frutas e vegetais. Um inquérito/estudo da ASAE revela que 72% dos portugueses consomem suplementos alimentares, o que atesta a popularidade destes produtos entre os consumi-

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dores portugueses. A justificação apresentada é o cansaço e/ou concentração (26% das respostas ao inquérito) necessidade de fortalecimento e/ou prevenção (29%) e motivos de saúde (22%). A estética é apontada por 10% dos consumidores como razão para o consumo destes produtos, enquanto 17% dos inquiridos apresentam razões diversas, entre as quais a melhoria do desempenho físico e intelectual. Tendo em consideração os elevados riscos para os consumidores de um uso indevido dos suplementos alimentares, a ASAE lança alguns avisos, que vale a pena referenciar. Nem tudo o que é natural é bom! Os consumidores tendem a escolher suplementos de JOSÉ ALVES


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origem "natural" por acreditarem que não contêm substâncias com efeitos nocivos, nem são susceptíveis de provocar efeitos secundários quando ingeridos com medicamentos. Infelizmente, o estudo revela uma realidade diversa. "Natural" não é sinónimo de "inócuo" e as adulterações e reacções adversas são uma realidade iniludível. Na verdade, alguns SA podem originar riscos para a saúde por estarem adulterados com substâncias farmacologicamente activas - muitas vezes até já retiradas pelas autoridades que regulam os medicamentos - porque os riscos da sua utilização superam os possíveis benefícios que possam originar, mesmo quando utilizadas sob vigilância de um médico. Por outro lado, a ingestão excessiva de vitaminas e minerais pode trazer complicações de saúde, havendo que fixar limites máximos de segurança para estas substâncias presentes nos suplementos alimentares. O problema agrava-se, porque os consumidores confiam nos produtos que compram, acreditam que a sua ingestão tem impacto positivo nas suas capacidades ou na sua saúde e tomam substâncias que desconhecem, por não estarem inscritas nos rótulos. A legislação comunitária - transposta para o direito português - garante mais e melhor segurança e protecção aos consumidores, já que disponibiliza mais informação, nomeadamente na rotulagem dos produtos. Com efeito, obriga os operadores económicos a mencionar na rotulagem para que serve o suplemento alimentar, qual a toma diária recomendada e uma advertência de que esta não deve ser excedida. Em caso algum a rotulagem poderá atribuir propriedades de tratamento ou curativas para doenças humanas nem fazer referência a tais propriedades. A ASAE alerta, no entanto, para a existência de produtos adulterados, o que torna mais difícil um tratamento

rápido e dirigido quando ocorrem reacções adversas. O controlo e vigilância deste mercado é extremamente importante e imprescindível, dada a distribuição e aquisição destes produtos por venda livre e através da Internet. Apesar de alguns destes produtos, contendo um grande número de compostos naturais susceptíveis de degradação e efeitos colaterais, já serem conhecidos na UE, as preocupações em relação à sua qualidade e segurança incluem o risco de contaminações químicas e microbiológicas, bem como reacções adversas e toxicológicas. Há, por isso, necessidade de assegurar que as concentrações de agentes bioactivos se situam entre limites seguros. São, portanto, fundamentais as indicações de fabricante e distribuidor, para garantia de uma cadeia de responsabilidades. Para além de uma leitura atenta do rótulo, o consumidor deve ter em atenção a necessidade de respeitar a Dose Diária Recomendada (DDR). Muitas vezes, o consumidor comete erros na toma diária dos SA por não ter conhecimento da importância da adequação à DDR conforme as necessidades diagnosticadas. Ao exceder a dosagem adequada, normalmente por desconhecimento das consequências, o consumidor pode sofrer efeitos adversos inerentes a uma determinada planta, sem perceber a sua origem, o que também irá dificultar o diagnóstico médico no caso de surgirem problemas. A facilidade de acesso a estes produtos e a minimização dos riscos associados ao consumo desregulado dos SA justificaria campanhas de informação que habilitassem os consumidores a perceberem melhor que, longe de serem inócuos, estes produtos podem mesmo ser bastante perigosos e colocar em risco a sua saúde, se consumidos sem as devidas precauções. n Poderá aceder ao estudo completo em www.asae.pt/estudos.


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Boavida|Livro Aberto

Boa ficção, erros históricos e a “neutralidade” de Salazar Apesar da crise que também afecta seriamente o sector editorial e livreiro, o leitor continua a dispor de muitas e boas opções, caso o seu interesse e disponibilidade de tempo se orientem para a leitura, o que é sempre recomendável e desejável.

José Jorge Letria

anto na área da ficção narrativa como na do ensaio ou das curiosidades históricas, destacamse títulos merecedores de realce neste início de Outono. Comecemos pela ficção narrativa com o novo romance do historiador e ensaísta Miguel Real, com o título "O Feitiço da Índia" (D. Quixote), que faz de forma inspirada, documentada e intensa a ponte entre épocas diferentes de um imaginário comum e intemporal. Destaque igualmente, nesta área da edição, para "Pena Capital" (D. Quixote), de Robert Wilson, para o clássico e obrigatório "O Som e a Fúria"(D. Quixote), de William Faulkner, prefaciado por António Lobo Antunes, "Conquista do Sertão" (Casa das Letras), de Guilherme de Ayala Monteiro, "O Cavalo Amarelo" (Asa), de Agatha Christie, e "O Dia Claro" (Oficina do Livro), de Júlio Moreira. "Os 100 Grandes Erros da História" (Clube do Autor), de Bill Fawcett, é mais uma aposta na edição de obras que vão ao encontro do crescente interesse do leitor por factos históricos mais ou menos desconhecidos e pela sua interpretação à luz de recentes investigações e

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descobertas. Um livro em que se fala, de forma detalhada e documentada, da morte de Alexandre, o Grande, do assassinato de Júlio César, das descobertas de Cabral e Colombo ou do ataque japonês a Pearl Harbor. Um livro que junta o rigor à capacidade de entreter e informar o leitor. Com a mesma chancela, destaque-se a publicação de "O Artista, o Filósofo e o Guerreiro", de Paul Strathern, considerado pelo "Washington Post" "livro histórico do ano" e que, transportando-nos até à Itália de 1502, junta os destinos, os sonhos e os feitos de Leonardo da Vinci, Maquiavel e César Bórgia. Uma abordagem brilhante de uma época apaixonante em que o génio conviveu com a máxima crueldade e em que a humanidade inventou novos caminhos políticos, artísticos e literários para construir um olhar adaptado a uma diferente e mais ampla visão do mundo. Um livro a não perder. "Mandela – A Construção de um Homem" (Oficina do Livro), do jornalista António Mateus, é um retrato exemplar de uma das maiores figuras do século XX e do princípio do século XXI, não só pelo seu estoicismo, coragem e génio político, mas também e cada vez pelo sempre estimulante exemplo de tolerância, diálogo e capacidade de integrar a diferença num projecto


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nacional que o mundo continua a olhar com admiração e respeito. Advogado e investigador histórico, José António Barreiros tem dedicado muitos anos do seu percurso como intelectual e cidadão ao estudo, em arquivos portugueses e estrangeiros do período da Segunda Guerra Mundial, colocando a tónica na espionagem, que teve na neutralidade portuguesa um excepcional espaço de manobra e intervenção. "A Traição a Salazar" (Oficina do Livro), cuja acção decorre em Lisboa em 1941, constitui um documento importante sobre um aspecto pouco conhecido da História Contemporânea: o plano de sabotagem montado pelos ingleses em Portugal, para o caso de se consumar a invasão alemã, e que provocou a cólera do ditador Salazar e o fez desencadear uma forte acção repressiva visando numerosos resistentes portugueses dessa época, muitos dos quais tiveram o campo de concentração do Tarrafal como destino. Destaque ainda para a publicação, pela Casa das Letras, do segundo volume de "A História do Século XX em 50 Frases", de Helge Hesse. n


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Boavida|Artes

Arte Déco em Portugal no Museu do Chiado Até ao próximo dia 28 do corrente é ainda possível apreciar no Museu do Chiado, em Lisboa, a exposição Arte Déco em Portugal, que integra um conjunto de obras de Almada Negreiros, Eduardo Viana, Jorge Barradas, Diogo de Macedo ou Canto da Maia, entre muitos outros artistas marcantes deste estilo.

Rodrigues Vaz

Desenho de Almada Negreiros, painel de azulejo português e um trabalho de Maria Beatriz

Arte Déco deve o seu nome à Exposição Internacional de Artes Decorativas e Indústrias Modernas realizada em Paris, em 1925, tendo este estilo permeado todas as expressões artísticas e também todos os aspectos da vida quotidiana, através da arquitectura, grafismo e artes cénicas, entre outras. Moderno e cosmopolita, este estilo foi a materialização de uma nova maneira de estar e de celebrar a alegria de viver, em contraponto aos horrores da Primeira Guerra Mundial. Em Portugal, foi decisivo para a sobrevivência e expansão de um Modernismo que procurava impor-se ao ainda dominante Naturalismo.

A

O USO DO AZULEJO NO SÉCULO XVII

Igualmente até dia 28 pode também ser vista, no Museu Nacional do Azulejo, a exposição O Uso do Azulejo no Século XVII, que apresenta uma mostra da produção nacional neste período, incluindo painéis nunca antes 64

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apresentados que, graças a programação de inventariação, restauro e investigação, são agora oferecidos ao público. Repartida por cinco núcleos, a exposição apresenta uma selecção de padrões, azulejos ornamentais e painéis figurativos seiscentistas, em confronto com peças de joalharia, têxteis, mobiliário e faiança, nos quais se identificam temas e motivos decorativos. FILIPE MATOS NA GALERIA ARTE PERIFÉRICA…

Reflectindo sobre a casa, como lugar de passagem, o espaço, que é efémero, e as suas diferentes tipologias, que são múltiplas e variáveis até ao infinito, a exposição Entre, que o jovem artista Filipe Matos apresenta até dia um de Novembro na Galeria Arte Periférica, Lisboa, joga essencialmente com a pintura no espaço e o espaço na pintura, eventualmente um "work-in-progress", em que a pintura parece estar a aparecer ou a desaparecer, a ser construída ou destruída, pretexto para pensar o gradual, a construção, a desconstrução e a destruição, obras sobre obras, enfim, a acumulação de construções com e sem destino.


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Filipe Matos nasceu em Vilar Formoso, em 1987. Finalista do curso de Artes Visuais - Multimédia (pintura) na Universidade de Évora, acabou o curso tecnológico de Artes e Design na Escola Secundária Afonso de Albuquerque em 2006. As suas obras "Edificações (monoblocos) #4" e "Edificações - in - out #1", foram distinguidas, respectivamente, com o primeiro e terceiro lugar do Prémio Abel Manta de Pintura 2011, instituído pela Câmara Municipal de Gouveia. Dois anos antes, tinha participado no concurso Aveiro Jovem Criador, onde

foi igualmente premiado com uma menção honrosa na área de pintura. … E MARIA BEATRIZ NO MUSEU DA ELETRICIDADE

Um registo completamente diferente é o de Maria Beatriz, que apresenta, até 25 de Novembro próximo, no Museu da Electricidade, em Lisboa, a exposição Os Comedores de Batatas, inspirada na pintura homónima de Vincent van Gogh, uma das suas obras mais celebradas do período inicial da sua carreira, anterior à sua instalação em França, onde as preocupações sociais e humanas da obra de maturidade estão já intensamente presentes. Figuras isoladas em vez de um grupo familiar, uma maioria de jovens de diferentes níveis, embora revelando todos sinais de algum desenraizamento social. Na mão ou nos bolsos as personagens mostram grandes e grossos palitos de batatas fritas (tal como se servem nos pacotes comprados nas ruas da Holanda de hoje), sinal recente de comida dos pobres urbanos - como se os sinais de miséria dos mineiros oitocentistas persistissem hoje nesta dimensão da fast food universal. n


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Boavida|Músicas

O regresso dos “Pet Shop Boys” e a “herança” de Loueke Os "Pet Shop Boys" acabam de regressar ao mercado discográfico com o duplo-CD "Elysium". Os amantes de jazz, por sua vez, não devem perder o CD "Heritage", de Lionel Loueke.

Vítor Ribeiro

oze novas canções integram o mais recente trabalho dos britânicos Pet Shop Boys, interpretadas no CD 1, enquanto o CD 2 é exclusivamente dedicado à parte instrumental da obra. As orquestrações são assinadas por Joachim Horsley, Andrew Dawson e Ben Leathers e nos coros são audíveis as vozes de, entre outros, Oren, Maxine e Julie Waters. Surgidos no início da década de 80 do século XX, Neil Tennant e Chris Lowe concretizaram ao longo do tempo um projecto cujo sucesso se tornou num caso paradigmático da música pop electrónica. Desde então e até aos nossos dias, os Pet Shop Boys já terão vendido mais de 100 milhões de discos em todo o mundo. Passados cerca de 30 anos e uma vez chegados a "Elysium", 11º álbum do grupo, Tennant e Lowe continuam a revelar-se exímios criadores de um género musical leve, gentil e comercialmente eficaz. Os apreciadores dos "Pet Shop Boys" não perderão tempo se ouvirem este "Elysium".

D

mente no exigente mundo do jazz. Nascido em 1973, Loueke, ainda jovem, começou por estudar jazz em Paris, posteriormente mudou-se para os EUA, para o Berklee College of Music, em Boston e, por fim, no início do século XXI, foi admitido, por mérito próprio, no Thelonious Monk Institute of Jazz da Universidade do Sul da Califórnia, onde pontificam mestres como Herbie Hancock ou Wayne Shorter, entre outros grandes criadores. A originalidade da música de Loueke deve-se, em boa parte, ao modo como transporta para o jazz os sons e os ritmos tradicionais da África profunda, sendo que o resultado final se traduz em temas de delicadeza e elegância invulgares. Loueke obriga-nos a reflectir. Lionel Loueke (guitarra e voz) faz-se acompanhar por Robert Glasper (teclados), Derrick Hodge baixo) e Mark Guiliana (percussões). Este "Heritage" integra 10 temas e é um pequeno tesouro do jazz contemporâneo agora editado pela Blue Note. n CONCERTOS CARRERAS EM GUIMARÃES. O tenor José Carreras efectua

um espectáculo dia 6 de Outubro, em Guimarães, no Pavilhão Multiusos, no âmbito da programação da Capital Europeia da Cultura. Pelas 21h00. COHEN EM LISBOA. O cantor e compositor canadiano

Leonard Cohen efectua um concerto dia 7 de Outubro, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, pelas 21h00. No âmbito de uma digressão mundial para apresentação do álbum "Old Ideas".

UM TESOURO DE LIONEL LOUEKE

FAUSTO EM LISBOA E PORTO. O cantor e compositor Fausto

"Heritage" é o título genérico do mais recente trabalho discográfico de Lionel Loueke, músico de origem africana, do Benin, que após muito estudo e perseverança, acabou por conquistar reconhecimento nos EUA, mais concreta-

Bordalo Dias actuará nos Coliseus de Lisboa e do Porto, dias

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20 e 25 de Outubro, respectivamente e em ambos os casos pelas 22h00. Para apresentação do seu mais recente trabalho discográfico "Em Busca das Montanhas Azuis".


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Boavida|No Palco

Da Suécia com amor…e ódio A "Dança da Morte", peça emblemática do autor sueco August Strindberg, estará em cena a partir de 25 de Outubro na Sala Principal do Teatro Municipal de S. Luiz, em Lisboa.

Maria Mesquita

aramente encenada em Portugal, a “Dança da Morte” é sobretudo um retrato macabro, segundo a opinião do autor, sobre o convencionalismo do casamento. A história centra-se num casal que vive, aparentemente, isolado do resto do mundo, o que o leva a uma convivência intensa, destrutiva e ambígua. O claustrofobismo evidente revela-se em pequenos detalhes, como nas discussões conjugais. Cada palavra argumentada funciona como murros poderosos num combate de igual para igual, sem qualquer vislumbre de vencedor, onde cada uma das partes pretende deitar o outro abaixo, culpando-o pelos falhanços pessoais e profissionais e pelos erros nas suas próprias escolhas. Mais uma vez se reúnem em palco dois actores que, embora de diferentes gerações, se complementam de forma brilhante. Miguel Guilherme e Isabel Abreu têm a particularidade de se juntarem em dramas psicológicos fortes, cujas personagens interpretadas apresentam uma riqueza fora do comum. Por isso, uma vez mais se irão defrontar no teatro, de forma surpreendente.

R

FICHA TÉCNICA: Texto: August Strindberg; Tradução: João

Paulo Esteves da Silva Encenação: Marco Martins; Cenografia: Artur Pinheiro; Desenho de luz: Nuno Meira; Interpretação: Miguel Guilherme, Isabel Abreu, Sérgio Praia; Co-produção: Arena Ensemble | SLTM; Apoio: Embaixada da Suécia em Miguel Guilherme e Isabel Abreu complementam-se de forma brilhante nesta “Dança da Morte”. Na página seguinte, Adriano Luz e Margarida Marinho são os protagonistas de "Cenas da Vida Conjugal"

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Lisboa BERGMAN NO TNDMII

"Cenas da Vida Conjugal", êxito de bilheteira no teatro e cinema, também exibido como série na televisão, é um dos textos mais conhecidos de Ingmar Bergman. Agora, até 28 de Outubro, na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II, com encenação de Solveig Nordlund, podemos ver a versão portuguesa das relações humanas. João e Mariana são, à partida, um casal unido, feliz, cúmplice. No entanto é atrás das cortinas e quando estão sós que as coisas mudam. Nem tudo parece o que é e descobre-se que cada um tem, à sua maneira, problemas por resolver e conflitos internos.


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(1973) um texto quase autobiográfico que Ingmar Bergman escreveu em forma de roteiro para uma série de televisão. Explicou ter demorado dois meses a redigir uma história que, na verdade, esteve a viver numa vida inteira. E o resultado foi brilhante. Em sucessivos episódios, vemos o desenrolar da relação de um casal com percurso e ritmo distintos mas que não se consegue separar. A posterior versão teatral foi igualmente bem acolhida pelo público e pela crítica e encenada em vários países. Solveig Nordlund esteve um mês na casa do autor, de forma a preparar esta nova versão. Adriano Luz e Margarida Marinho, uma dupla com enorme química televisiva, serão os intérpretes do casal desavindo. FICHA TÉCNICA: Autor: Ingmar Bergman; Tradução e

encenação: Solveig Nordlund; Interpretação: Adriano Luz, Margarida Marinho e Paula Mora; Cenografia e figurinos: Ana Paula Rocha; Desenho de luz: Carlos Gonçalves; Música original e pesquisa de sons: Pedro Marques; Desenho de som: Sérgio Henriques; Coreografia de luta: David Chan; Assistente de encenação: Joana Bárcia; Produção: TNDM II


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Boavida|Cinema em Casa

Realidade e ficção Ficção e realidade, em cenários bem distintos - USA, Índia, Itália e Iémen - , pautam esta selecção outonal. Reais a história da família Mee em "Comprámos um Zoo", e a odisseia da imigrante africana Timnit ("Terraferma"). Divertidas, originais e surpreendentes são as criações de John Madden, "O Exótico Hotel Marigold", e Lasse Hallstrom, "A Pesca de Salmão no Iémen". Sérgio Alves COMPRÁMOS UM ZOO!

O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD

mais antigas e tradicionais da

A PESCA DE SALMÃO

Benjamin Mee é um jornalista

Um grupo de reformados

ilha de Linosa, no Sul da

NO IÉMEN

e escritor que vive em Los

britânicos decide mudar-se de

Sicília. Mas os tempos estão a

No Iémen, um sheik

Angeles e enfrenta um duro

armas e bagagens para um

mudar, e apesar de Ernesto, o

visionário acredita que a sua

desafio depois de enviuvar e

recém-inaugurado hotel em

patriarca, e do seu neto

paixão pela pesca do salmão

ficar só com

Jaipur, na Índia, encantado

Filippo procurarem manter a

pode enriquecer as vidas das

duas filhas para

pelas maravilhosas condições

pesca como a principal activi-

pessoas. Não olhando a cus-

criar. Deixa o

que este parece oferecer. Mas,

dade, o seu filho Nino desiste

tos, procura contratar o maior

emprego e com-

ao chegarem, descobrem que o

da pesca para investir no tur-

especialista de pesca britâni-

pra uma casa

local está longe de ser o espaço

ismo. Giuletta, mãe de

co, que encara este desafio

fora da cidade

maravilhoso com que so-

Filippo, também quer que

como absurdo e inalcançável

que precisa de

nhavam e que a comida é

eles aluguem quartos e pas-

em face das condições desér-

demasiado picante para o seu

seios de barco. Tudo parece

ticas do país. No

obras e alberga um jardim zoológico. Apesar de falta de

conservador

correr bem até que Ernesto

entanto, quando

experiência e do escasso di-

paladar. Com o

decide abrigar imigrantes

a história chega

nheiro, ele vai, em conjunto

tempo e o entu-

africanos que procuram

à assessora de

com Kelly e a equipa de trata-

siasmo de

alcançar o velho continente.

imprensa do

dores, fazer tudo para reabrir

Sonny, o jovem

Prémio especial do júri no

o zoo. Drama familiar baseado

proprietário

Festival de Veneza 2011,

nistro britânico, vai ser dado

na história real de Benjamin

local, eles vão

"Terraferma" é o mais recente

um grande destaque a esta

Mee, ex- jornalista do inglês

deixar-se encantar e embarcar

filme de Emmanuel Crialese,

história como uma demons-

The Guardian, "Comprámos

na maior aventura das suas

autor de "Respiro" (2002) e

tração da força da natureza

um Zoo" é uma belíssima e

vidas e descobrir que a vida

"Novo Mundo"

humana...

surpreendente história de

pode começar de novo. Com

(2010). O filme

Baseado na obra homónima

vida, assinada pelo talentoso

realização do experiente

assenta na

de Paul Torday, "A Pesca de

Cameron Crowe, com Matt

cineasta inglês John Madden

história ver-

Salmão no Iémen" é um insó-

Damon na figura do chefe da

("A Paixão de Shakespeare",

dadeira de uma

lito e divertido filme com

família Mee, que tem uma

1998), o filme é baseado no

imigrante

final surpreendente. Rodado

pequena aparição no filme.

best-seller da escritora e argu-

africana de nome Timnit.T e da

em Inglaterra, Escócia e

Emocionante e com uma

mentista Deborah Moggach que

sua chegada a esta ilha e é um

Marrocos, teve uma passagem

banda sonora lindíssima assi-

reflecte sobre a solidão e a

belíssimo filme sobre a dura

discreta nas salas nacionais.

nada por Jonsi, da banda

capacidade de recomeçar.

realidade da imigração clandes-

O elenco, britânico e de quali-

islandesa Sigur Ros, é um dos

TÍTULO ORIGINAL: The Best Exotic

tina na Europa. Banda sonora

dade, inclui Ewan Mcgregor,

bons filmes estreados este ano

Marigold Hotel; REALIZAÇÃO:

marcante, da qual se destaca o

Emily Blunt e Kristin-Scott-

em Portugal.

John Madden; COM: Judi Dench,

tema "Le vent nous portera".

Thomas.

TÍTULO ORIGINAL: We Bought a

Tom Wilkinson, Bill Nighy,

TÍTULO ORIGINAL: Terraferma;

TÍTULO ORIGINAL: Salmon

Zoo; REALIZADOR: Cameron

Maggie Smith, Dev Patel;

REALIZAÇÃO: Emanuele

Fishing in the Yemen;

Primeiro-mi-

Crowe; COM: Matt Damon,

GB/EUA 124m, Cor, 2011;

Crialese; COM: Filipo Pucillo,

REALIZAÇÃO: Lasse Hallstrom;

Scarlett Johansson, Thomas

EDIÇÃO: Pris Audiovisuais

Mimmo Cuticchio, Donatella

COM: Ewan Mcgregor, Emily

Haden Church, Elle Fanning;

Finocchiaro, Timnit T.;

Blunt, Kristin-Scott-Thomas,

EUA, 124m, Cor, 2011; EDIÇÃO:

TERRAFERMA

Itália/França, 88m, Cor, 2011;

Amr Waked; GB, 107m, cor,

Pris Audiovisuais

A família Pucillo é uma das

EDIÇÃO: Alambique

2011; EDIÇÃO: Pris Audiovisuais

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Boavida|Grande Ecrã

O épico histórico e o fantástico gótico Em "Linhas de Wellington", - a produção de grande fôlego de Paulo Branco aplaudida na Mostra de Veneza deste ano - a realizadora Valeria Sarmiento não chega aos calcanhares do falecido marido, Raoul Ruiz, mas dá razoável conta do recado. Já em "Frankenwennie" (outra importante estreia do mês) fica comprovado que Tim Burton tem talento para dar e vender.

Joaquim Diabinho

unca saberemos o que seria "Linhas de Wellington" se realizado por Raoul Ruiz, que antes de morrer trabalhava na fase de preparação juntamente com o argumentista Carlos Saboga. Mas é bastante provável que certas soluções fossem menos convencionais – porventura, até mais criativas – e o filme atingisse o perfeccionismo formal e a densidade psicológica revelado no surpreendente, "Mistérios de Lisboa". Não obstante, o guião é bastante hábil, a narrativa é eficaz, a fotografia de André Szankowski faz com que o filme ecoe algum do esplendor do género dito épicohistórico e a música de Jorge Arriagada força à fácil adesão. E, pesem algumas debilidades (na criação de algumas atmosferas) esta ousada recriação, em tom de aventura, da terceira invasão napoleónica, rechaçada pela aliança anglo-portuguesa liderada pelo general Wellesley, futuro duque de Wellington, é de molde a também permitir uma reflexão política sobre o Portugal do séc. XIX, o contexto de alianças e as razões da econo-

N

mia, sem esquecer o papel (de enorme peso) da diplomacia inglesa, por exemplo. Para além dos contributos dos veteranos, John Malkovich, Catherine Deneuve, Michel Piccoli, Isabelle Huppert, Marisa Paredes, Chiara Mastroianni, "Linhas de Wellington" conta também com as prestações de Nuno Lopes, Soraia Chaves, Carloto Cotta, Afonso Pimentel, Miguel Borges, Paulo Pires, Gonçalo Waddington, Maria João Bastos, Manuel Wiborg, Joana de Verona, Adriano Luz,Vitória Guerra, entre muitos outros. Tim Burton regressa em força ao filme de animação stop motion (técnica que consiste na filmagem fotograma a fotograma) e à sua velha matriz do conto gótico (de que "A Noiva Cadáver" é exemplo maior), ao seu humor negro, e ao seu brilhantismo visual para uma obra que constitui uma espécie de manifesto moral, "Frankenwennie": um menino decide recorrer ao poder da ciência para trazer à vida o seu cão sem imaginar as terríveis consequências. Para além do tema, da proeza narrativa e das inventivas soluções visuais, "Frankenwennie" é um fabuloso acto sarcástico a que ninguém permanecerá indiferente. n OUT 2012 |

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Boavida|Tempo Informático

Escolhemos para si Entre os acessórios ou dispositivos que todos os meses chegam ao mercado tentamos normalmente trazer aqui os que achamos mais úteis e com a necessária garantia de que são produtos cuja origem e fiabilidade conhecemos. Assim acontece mais uma vez e esperamos que vos agradem.

Gil Montalverne

ajuda@gil.com.pt

ara quem utiliza um Tablet iPad e deseja tirar dele o máximo de rendimento e comodidade, encontrámos um acessório que é para além de uma capa de proteção um verdadeiro companheiro para melhorar a sua produtividade. O Kensington Keyfolio Expert funciona como um suporte para usar o tablet em vários ângulos e possui um inovador sistema de micro-sucção que o torna compatível com todas as versões do iPad. Inclui um teclado táctil de elevada performance que funciona sem fios por bluetooth, com uma autonomia de 68 horas. E custa apenas 99 Euros. Os discos externos da série MY BOOK são bem conhecidos e bastante apreciados. A sua segurança é inquestionável. Pois a Western Digital acaba de lançar um novo My Passport for Mac que oferece de facto segurança para os dados e para os consumidores que levam os seus conteúdos digitais para todo o lado. Com capacidade até 2 TB e uma interface USB 3.0 permite tirar partido de transferências mais rápidas. Para além do seu design fino e elegante que cabe na palma da mão os discos My Passport incluem funcionalidades de proteção de palavra-chave e encriptação por hardware para proteger os conteúdos de acessos não autorizados, o

P

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que os torna ainda mais apetecíveis. Importante é também a protecção robusta WD Nomad contra poeiras, terra, humidade e até impactos inesperados. Não resistimos à tentação de trazer aqui uma câmara fotográfica tão inovadora que permite tirar fotos, impossíveis com qualquer outra câmara. A nova Exilim TRYX da Casio tem uma moldura rotativa com uma funcionalidade equivalente à de um tripé. O seu desenho original, um sensor de movimento, disparador automático e temporizador integrados, oferecem utilizações verdadeiramente originais: a moldura pode ser rodada e servir de suporte de parede ou de mesa e o sensor de movimento aciona o disparador apenas quando alguém se aproxima. Auto-retratos ou fotos de grupo são agora possíveis com este verdadeiro "tripé" integrado, sem que ninguém tenha de ficar de fora para segurar na câmara quando não é possível encontrar um suporte estável adequado. E a moldura pode ser até usada como suporte de cinto, permitindo usar a câmara para capturar momentos únicos e originais como por exemplo para gravar vídeos enquanto se pratica desporto ou se brinca com crianças pequenas. A rotação do ecrã facilita fotografar em eventos culturais e desportivos, elevando a câmara acima das cabeças à nossa frente; o mesmo acontece ao nível do chão, conjugando essas funções para fotografia aproximada (macro) e oferecendo um ponto de vista diferente face aos animais de estimação. Entre outras funcionalidades, permite ainda o modo Panorama de fotografia de 360 graus. n


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Boavida|Ao volante

BMW Série 3: o prazer de conduzir Na BMW tudo é feito para potenciar e manter a melhor condução. São utilizadas matérias inovadoras de baixo peso para combater os efeitos da força de gravidade e, simultaneamente, trabalhar constantemente de modo a melhorar os seus motores para que estes obtenham os máximos resultados com o mínimo consumo de combustível.

Carlos Blanco

ontudo, os técnicos da marca bávara não se contentaram só com a utilização de menos energia e, por isso, prosseguiram de forma a gerarem a própria energia para os seus motores. Com os conceitos de condução alternativos que incluem os veículos híbridos, totalmente eléctricos e propulsionados a hidrogénio, aproximam-se cada vez mais da mobilidade 100% isenta de emissões. Todos os seus modelos integram inovações criativas do BMW EfficientDynamics, como é o caso do BMW 320d EfficientDynamics Edition que inclui o extraordinário potencial de eficiência e dinamismo do premiado conjunto de tecnologias. Graças a este conjunto de tecnologias, a BMW ganhou agora, além de um conjunto de outros prémios, o primeiro galardão do "Green Steering Wheel" relativo à excelência ambiental na indústria automóvel. O BMW Série 3 Berlina é um vencedor em todas as vertentes. A dinâmica surpreendente e a tecnologia impressionante foram combinadas num design inconfundível cuja singularidade é potenciada pelas três linhas de design BMW: Modern, Sport e Luxury. Os elementos de design interior e exterior exclusivos, da marcante grelha BMW em forma de rim e das entradas de ar às jantes de liga leve, conferem ao automóvel uma aparência absolutamente distinta. O resultado traduz-se em três personalidades diferentes com um factor em comum - estilo. A potência e a presença do BMW Série 3 tornam-no sinónimo do prazer de conduzir. Este automóvel representa os conceitos inerentes a todos os BMW: carácter desportivo, elegância, estética pura e tecnologia pioneira. Não é por mero acaso que o carácter desportivo seja a primeira qualidade mencionada. Na sexta geração deste

C

modelo, que agora ensaiámos, volta a ser a principal característica do BMW Série 3 Berlina, reflectindo-se em cada detalhe: um design robusto e uma nova dianteira distinta. O modelo assume-se como o líder evidente do segmento com conceitos de transmissão que estabelecem os mais elevados padrões de referência em termos de performance dinâmica e economia de combustível, graças ao BMW EfficientDyamics, e com inovações excepcionais, como o BMW Head-Up Display Full-Colour, integrado no BMW ConnectedDrive. As linhas de design BMW Modern, Sport e Luxury são outra inovação fascinante e representam três formas de design distintas para o interior e para o exterior. Cada linha de design permite seleccionar livremente uma série de versões de equipamento exclusivo à medida das preferências do comprador. O resultado é uma aparência sempre perfeita e harmoniosa. Desta forma, o BMW Série 3 Berlina demonstra uma versatilidade que o torna num automóvel único. A pura dinâmica de condução é uma qualidade inerente a todos os BMW. A base técnica para esta experiência de condução entusiasmante é o chassis. Garante um contacto ideal com a estrada e um comportamento perfeito. Este é o resultado de uma série de componentes inovadores perfeitamente combinados e da distribuição de peso à frente/atrás de 50:50. E a cereja no topo do bolo: entrada no automóvel sem chave (porta do condutor, porta do passageiro da frente e tampa da bagageira), incluindo iluminação da área circundante integrada nos puxadores exteriores das portas dianteiras e traseiras. Inclui ainda a abertura da tampa da bagageira sem mãos - basta um movimento rápido do pé sob o pára-choques traseiro para um sensor accionar a abertura da tampa da bagageira.n OUT 2012 |

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Boavida|Saúde

Volta o Outono, já se ouve tossir… Estamos de novo no Outono e, com os primeiros dias cinzentos, vêm também as primeiras constipações. As temperaturas mais baixas e o regresso às escolas são condições que, por si só, facilitam o aparecimento das infecções respiratórias. Os mais susceptíveis são sempre os mais indefesos - os doentes crónicos, independentemente da idade, as crianças e os idosos.

M. Augusta Drago

medicofamília@clix.pt

risco de contrair uma infecção respiratória aumenta quando as pessoas mais vulneráveis habitam ou permanecem por largos períodos de tempo em espaços partilhados com muitas pessoas. É o que acontece nos infantários, nas creches e nas escolas. Da mesma forma, os idosos residentes em lares ficam mais vulneráveis às infecções respiratórias, porque a aglomeração de pessoas favorece a propagação dos agentes causadores desta doença. Hoje, como as aulas já começaram e as crianças fazem ouvir os primeiros espirros, vamos falar das infecções respiratórias nas crianças e noutra ocasião trataremos dos cuidados a ter com os mais idosos. Nas crianças, mais de 80% das infecções respiratórias são causadas por vírus e só cerca de 10 a 20% têm a sua origem em bactérias. No entanto, muitas infecções são mistas. Acontece frequentemente uma criança começar por ter uma infecção viral e, dentro desse quadro viral, vir a ser posteriormente infectada por uma bactéria. É muito importante fazer o diagnóstico correcto para se proceder ao tratamento adequado pois, como todos devemos saber, a administração de antibiótico só deve ser feita quando se suspeita de uma infecção bacteriana. Felizmente que a maior parte das infecções respiratórias nas crianças são auto-limitadas, isto quer dizer que se curam por si, e podem ser perfeitamente tratadas em casa. As infecções respiratórias virais são as mais frequentes e apresentam-se como uma simples constipação e como gripes, que quase sempre se resolvem em casa, mas que também podem desenvolver situações mais complexas e requerer internamento hospitalar. Quando o agente causador é um vírus, contamos sobre-

O

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tudo com as defesas do próprio organismo que, em circunstâncias normais, é quanto basta. Nestes casos o tratamento que se faz é aos sintomas, apenas para melhorar o estado geral do doente e contribuir para reforçar as suas defesas imunitárias. Em qualquer situação, perante uma infecção respiratória, há medidas muito simples que podem ser de grande ajuda, tais como desobstruir e humidificar as vias aéreas, quer aplicando soro fisiológico no nariz quer com vapores; hidratar a criança, fazendo-a ingerir mais líquidos, e quando estiver deitada, colocar uma almofada para lhe elevar a cabeça e facilitar a respiração. Em geral, os pais sabem quando uma vulgar constipação se complica e é preciso que a criança seja observada rapidamente por um médico. Enquanto essa consulta não se efectua, manda a prudência que se mantenha a criança hidratada e com a febre controlada. São considerados sinais de alarme, requerendo uma ida urgente ao médico: - quando a criança tem dificuldade em respirar e a respiração é ruidosa; quando faz um som agudo ao inspirar; quando tem febre alta e calafrios; quando tem tosse intensa, que pode ser seca; quando está agitada ou irritada; se tem as unhas e os lábios arroxeados. Mas o melhor de todos os tratamentos é a prevenção. A vacina é um bom meio de evitar a maior parte das gripes, mas nem todas as crianças têm indicação para a fazer, pelo que se recomenda consultar o médico assistente. Para além da sobrelotação, já referida, existem outros factores que aumentam o risco de infecções respiratórias nas crianças e que devem ser evitados. Estou a falar do tabagismo passivo, da exposição a humidades, a bolores e a poluentes. A ausência de aleitamento materno prolongado na primeira infância também pode contribuir para diminuir as defesas da criança. n


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Boavida|Palavras da Lei

Herdeiros universais e sucessão de colateral ?

Minha esposa tem uma prima em 2º grau, solteira, com 83 anos, sendo neste momento o seu

principal apoio, dado não ter familiares por perto. Resolveu recentemente, fazer um testamento, na ausência de ascendentes e descendentes, a favor de minha esposa e na falta desta a minha filha. Instituindo-as herdeiras universais. Sabe-se da existência de pelo menos uma sobrinha que viveu até há pouco tempo na Argentina. Pergunta-se: A sobrinha tem algum direito a herança, mesmo existindo o citado testamento, devidamente efectuado num Cartório Notarial? Sócio devidamente identificado

Pedro Baptista-Bastos

ste caso diz respeito ao chamamento à herança dos chamados "herdeiros colaterais", isto é, de todos aqueles que sejam irmãos, sobrinhos ou primos do autor da herança, caso não haja nem ascendentes nem descendentes vivos dessa mesma pessoa, como nos descreve esta situação. Tomemos em conta não só as regras próprias para este tipo de sucessão, bem como a regra do artigo 2135º, que determina que, dentro de uma classe de sucessíveis, como os herdeiros colaterais, "dentro de cada classe os parentes de grau mais próximo preferem aos de grau mais afastado". Como parece haver uma sobrinha, filha de irmão ou irmã da prima da esposa do nosso sócio, esta sucede directamente na herança, de acordo com o artigo 2145º do Código Civil: "Na falta de cônjuge, descendentes e ascendentes, são chamados à sucessão os irmãos e, representativamente, os descendentes destes." Mas atenção: após o falecimento da autora do testamento, esta sobrinha tem que ser descoberta, sabendo-se, se possível, do seu paradeiro. Para tal, e em último caso, fazse a chamada citação edital da sobrinha, para que se possam esgotar todos os meios legais ao dispor dos interessados na herança. Ninguém é obrigado por lei a deslocar-se à

E

JOSÉ ALVES

Argentina, ou ao estrangeiro, para encontrar alguém cujo rasto se desconhece, mas deve lançar-se mão deste meio legal, para que se esgotem as possibilidades legais desta sobrinha ser chamada à herança. Como o testamento foi lavrado em notário, o mesmo vos indicará quais os passos a seguir para se efectuar a citação edital. Se ela for descoberta e quiser aceitar a herança, a mesma será dividida na parte que couber a essa sobrinha, como representante do irmão da autora do testamento, e a parte que couber à sua esposa, enquanto colateral da autora do testamento. A determinação de cada parte da herança depende do conjunto de bens que figurem no testamento e seu respectivo valor. No entanto, se ela não for encontrada, após a abertura do testamento, e após o prazo dos éditos terem corrido, a sua esposa torna-se herdeira universal da totalidade dos bens. n OUT 2012 |

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ClubeTempoLivre > Passatempos Palavras Cruzadas | por José Lattas

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HORIZONTAIS: 1-Canal subterrâneo; Amargo; Lutar. 2-Gorjeta;

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Abonaram; Colega. 3-Flanco; Preposição; Numerosos; Bebida espirituosa proveniente da destilação do melaço. 4-Rádio (s.q.); Malhadouro; Acolá; Forma antiga do pronome pessoal complemento da 3ª pessoa, que ainda subsis-te em alguns casos. 5Empunhara; Freira; Poemas. 6-Descrédito; Cava. 7-Cinza; Débil; Cobalto (s.q.). 8-Compartimento subterrâneo onde se guardam misseis, prontos para o lançamento; Banda. 9Desenho impresso a cores; Organização Mundial de Saúde (sigla); Massa. 10-A pessoa que fala; Chochos; Aniversário; Forma arcaica do artigo o. 11-Cerce; Gemidos; Afecto; Pronome pessoal feminino. 12-Agrupa; Petas; Apreciar. 13-Estranhos; Essência; Ansiedade.

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columbiformes, da família das Co-lumbrídeas (pl.); Rua estreita. 3-Joeira; Colérico; Gozas (invertido). 4-Gálio (s.q.); Tempo; Intrínse-co; Adjunção de preposição e artigo. 5-Lavabos; Furna. 6-Aflição; Bagatela; Palavra de uma língua ou dialecto falado na Gália, que significava sim. 7-Monstros; Dificuldades. 8Érbio (s.q.); Concelho de distrito de Santarém; Néon (s.q.). 9Cobrir de laca; Arrancar. 10-Doçura; Alternativa; Pronome pessoal complemento, 1ª pessoa do plural. 11-Líquido medicamentoso que provém da destilação do zimbro; Confrontar. 12Preposição; Milheiro; Contracção da preposição em e do artigo feminino (pl.); Aparência. 13-Abundância; Padiolas; Avestruz. 14-Abole; Pinturas. 15-Densa; Ocultara.

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3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES HORIZONTAIS: 1-ARUGA; FEL; REMAR. 2-MOTA; DERAM; MANA. 3-ALA; POR; CEM; RUM. 4-RA; EIRA; ALÉM; LO. 5-ASIRA; SOR; RIMAS. 6-M; RASA; U; VALA; A. 7-PÓ; VERDE; CO. 8-A; SILO; E; ZONA; C. 9-CROMO; OMS; PASTA. 10-EU; OCOS; ANOS; EL. 11RÉS; AIS; COR; ELA. 12-ALIA; LONAS; AMAR. 13-RAROS; SER; BRASA.

VERTICAIS: 1-Preferiram; Amolar. 2-Nome vulgar das aves

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Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

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Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado

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SOLUÇÕES


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Cartaz > ClubeTempoLivre Beja Curso: Viola Campaniça, de 13 Out. a 17

15h/17h. Informações - tel. 253 613 320 | ag.braga@inatel.pt

Nov. | Sáb. 15h/19h Inscrições: até 5 Out. (inscrições limitadas)

Porto Futebol: Início do campeonato - Taça Fundação Inatel 2012/13, em Vila Nova

Évora

Gaia, Porto, Maia, Matosinhos, Paredes,

Workshop: Iniciação à Caracterização

Exposição: "Era Uma Vez, Teatro de

Gondomar, Valongo.

de Actores, dias 20 e 21; 27 e 28 Out.

Marionetas", de 3ª a Dom., 10h/13h e

Conferência: Ilse Losa e o Porto no

Inscrições: até 12 Out. (inscrições

14h/18h, até 21 Dez.

Tempo da Guerra - 1939/1945, dia 26, às

limitadas)

Curso: Iniciação à Gaita de Fole, de 15

21h30, Auditório, Rua do Bonjardim, 501.

Masterclass: Clarinete, dias 3 e 4 de

Out. a 17 Dez. - 2ª | 19h/20h30.

Cursos: Informática; Música; Artes;

Nov. |10h/18h30, Cine Teatro Pax Júlia

Idade mínima: 8 anos | Os alunos

Línguas; Danças; Yoga; Tai Chi.

Inscrições: até 26 Out. (inscrições

deverão possuir instrumento próprio.

Informações - tel. 220 007 950 |

limitadas).Informações - tel. 284 318 070

Informações - tel. 266 730 520 |

ag.porto@inatel.pt

| ag.beja@inatel.pt

ag.evora@inatel.pt

Braga

Portalegre

Cursos: Informática | 3ª e 5ª 18h/19h;

Curso: "Formação de Actores -

CCD Casa do Povo de Freixo, de 6 a 30,

Bordados Regionais | 2ª e 4ª 10h/12h;

Expressão Corporal e Dicção", dias 13 e

Freixo, Ponte de Lima.

Educação Musical e Piano | 2ª, 3ª, 4ª e

14; 20 e 21, 14h/19h; 27 e 28, 14h/18h,

Curso: Acção de Formação Musical, de

5ª 17h/20h; Cavaquinho | 2ª e 4ª

Centro Cultural de Campo Maior.

19 de Out. a 30 de Nov., Encontro de

19h/20h; Violino | 2ª e 4ª 17h40/20h;

Preços: 30 euros associados | 40 euros

Tocatas do Vale do Lima. Preços: 5 euros

Viola | 3ª e 5ª 19h/20h e 20h/21h; Ballet

N/ associados

associados | 7,50 euros N/ associados.

| 2ª e 4ª 18h/19h; Danças de Salão | 3ª

Informações - tel. 245 337 016 |

Informações - tel. 258 823 357 |

18h/20h; Pintura | 3ª e 5ª 10h/12h e

ag.portalegre@inatel.pt

ag.vcastelo@inatel.pt

Viana do Castelo Teatro: Festival de Outono


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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o

Filisteu? com muita honra! Oferecia o seu silêncio / como um copo de água. /E ao bebê-lo /refrescavam-se as palavras. Eduardo Mitre, Presença, in: Líneas de Otoño, Bolívia, 1993. Trad.: MAVF

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iscutem como sempre discutiram desde que se conheceram na Faculdade: civilizadamente, prudência nas palavras, léxico escolhido, gestos elegantes, que à força de prática há muito deixaram de ser estudados, o sorriso sempre pronto a alisar qualquer aresta inoportuna. Não obstante, além desta aparente semelhança e da amizade que os une, tudo o resto os separa na vida: o clube de futebol, a marca dos carros e dos fatos, a permilagem dos apartamentos, as ideologias políticas e, evidentemente, até o volume das respectivas contas bancárias. De súbito, a palavra cai no meio do diálogo, inesperada e importuna. Surpreendentemente, na transparência da tarde, a gaivota não se deteve no seu voo, nem o seu grito deixou de rasgar o azul do espaço ou as ondas deixaram de vir morrer-lhes aos pés. Já é a segunda vez, porém. Já um dia lhe chamara “reaccionário”. Calara-se, mas sentira-se ofendido. Como agora. O sorriso que envolvera a palavra impedira-o então de reagir. “Filisteu! És um filisteu!” Não fora ter lido por acaso aquele conto do Lawrence, nem sequer sabia que, ainda que risonhamente, estava a ser insultado, que, mesmo gracejando, o intelectualíssimo Nuno estava a chamar-lhe “aburguesado, materialista, convencional” e a criticar-lhe, implicitamente, os poucos interesses artísticos e intelectuais. Tudo isso, porque ele, João, aprecia o conforto, é realista, vota e investe “certinho”. Quando compra um quadro – que também compra! Gosta de olhar para ele e saber o que vê. Vez por outra, até vai à Gulbenkian ou ao CCB, que sempre encontra lá pessoas que lhe interessam. Hoje, no entanto, não quer ir a concerto nenhum. Está de férias, quer ir ao Casino! Interiormente irritado, desvia abruptamente do filho para o amigo o olhar, que, inevitavelmente, colide com a barreira de um sorriso. Durante um segundo, hesita. Depois, sorri e diz: - Deixa lá ser… Deixa lá ser… Na verdade, os Filisteus, há muito desaparecidos nas

convulsões da História, ficam a dever a má fama que os tem acompanhado ao longo de séculos aos Hebreus, seus inimigos, que no Antigo Testamento imortalizam os Plishim como povo bárbaro, belicoso, cruel, e de pequena estatura intelectual, que, vindo por mar (talvez de Creta), ocupa o território vizinho, que, em hebraico, designam por Peleshet, “país de imigrantes ou invasores” (Palastu e Pilishta, em antigas inscrições assírias), “Filisteia” – a actual “Palestina”. Em 1687, uma confrontação entre universitários e cidadãos comuns na cidade alemã de Jena, em que se registam várias mortes, leva um clérigo local a fazer um sermão sobre o valor da educação, para o que escolhe como tema o texto bíblico do Livro dos Juízes, em que Dalila diz: “Os Filisteus vêm sobre ti, Sansão”. Irreverentes, os estudantes, logo decidem que os Filisteus (Philister, em alemão), cujas qualidades negativas como povo conhecem da Bíblia, só podem ser os não universitários, logo, os incultos, os destituídos de capacidades intelectuais, os que só tem interesses vulgares e materialistas. A esse episódio se atribui o desvio do termo “filisteu” do campo semântico histórico geral, para o mais restrito da gíria das classes cultas, em que adquire um carácter profundamente pejorativo. Modernas investigações no domínio da arqueologia têm demonstrado, contudo, que os Filisteus eram, de facto, senhores de uma cultura florescente, reconhecida pela amplidão das suas cidades, pela grandiosidade e requinte das suas construções; pelas inovações introduzidas na construção naval e até pela qualidade dos seus vinhos e do seu azeite. Não tardará, por isso, o dia em que chamar filisteu a alguém seja, logicamente, um elogio, e não só das qualidades físicas, como era em português, quando, no séc. XVIII, o Padre Bluteau escreve: “Quando querem encarecer a extraordinária estatura de hua pessoa, dizemos que he hum Philisteo, porque a maior parte dos Philisteos erão homens de estatura Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. OUT 2012 |

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Os contos do

Sol e sombra

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inda não eram as dez da manhã, o sol abrasava e Otílio André manteve-se abrigado no toldo. Tostado já ele estava, depois de uma semana em que se expusera com excesso à inclemência solar. Por uma questão estética, reconhecia. O ter ultrapassado os 56 de idade não o impedia de zelar pela aparência - no vestir, quando vestido, no bronzeado do corpo, caso viesse a desnudar-se. Para já, sentia-se atraente no seu moreno de praia. Teria ainda mais uns dias para reforçar o bom aspecto, auxiliado pelas sucessivas doses de creme com que se ia besuntando. O toldo ao lado, tão próximo que as sombras se confundiam, parecia agora deserto. Ainda bem. Aí se acoitara família ruidosa, tão faladora e aos gritos que não lhe concedia descanso. Decerto outros vizinhos chegariam, tomara que fossem simpáticos ou, pelo menos, discretos. Entretinha-se a folhear os jornais da manhã três, um de informação geral, outro de economia e o indispensável desportivo - quando se apercebeu que alguém se instalava no toldo vizinho. Por enquanto, uma pessoa só. Mulher. E linda, percebia-se, apesar dos avantajados óculos escuros que são moda taparem meio rosto. Olhou-a, disfarçadamente, e não conteve uma exaltação dos sentidos: nesse preciso momento, ela evadia-se da túnica branca com que chegara, revelando um corpo sem nada a mais nem a menos. Tentou regressar à leitura dos jornais mas fugiam-lhe os olhos para a figura surpreendente que o acaso colocara tão perto dele. Sozinha. Por pouco tempo, calculou, o mais provável seria aparecer um namorado, marido, amante, sabe-se lá, e para ali ficariam fazendo-se meiguices. Preferia não ver. Mas enquanto não ocorresse tão presumível encontro, não era fácil alhear-se da sedutora visão. Ainda bem que o Luís Paulo, o 80

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filho de 24 anos, ficara retido na Holanda por obrigações profissionais. Mais uns dias, avisara por e-mail, e lá se encontrariam, na praia de sempre, menos alegre agora pela falta da mãe. Otílio André adorava o filho, rapaz de múltiplas qualidades, a que se juntava, porém, uma aversão incompreensível: não suportava ver o pai a interessar-se por mulheres. Nem que fosse um simples olhar. Birra tanto mais estranha por não ter partido dele a ruptura do casal. Dia absurdo, esse em que a mulher lhe comunicara que não lhe apetecia viver mais com ele. E, sem mais explicações, fechou a porta. Para o severo moço, no entanto, era como se a mãe continuasse dona da casa e do marido, devendo o pai comportar-se como se nada tivesse mudado. Cena tormentosa foi a da tarde em que Otílio André, já a medo, declarou o propósito de juntar os trapinhos com Helena Júlia, nova colega na empresa, uns vinte anos mais nova, carinhosa e bonita, que num intervalo de almoço confessara ao colega andar perdidinha por ele. A reacção de Luís Paulo traduziu-se numa crueldade extrema: "Se isso acontecer, nunca mais te quero ver!" Morto à nascença o romance, de novo seguiu sozinho para a praia de todos os anos, lá chegaria o filho um ou dois dias depois. Atrasara-se, porém, e só não era aborrecido pela liberdade que lhe deixava para deitar o olho à graciosa do


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toldo ao lado. Mais o impressionava ir progressivamente notando que em muito se parecia ela com Helena Júlia, de quem se afastara sem poder explicar porquê. Assim iam passando os dias, Otílio alegravase por não ter surgido ainda o inevitável valete daquela dama e observava-a estendida na toalha, com frequência retirava os óculos de sol para se entregar à leitura de um livro. Nessas ocasiões, melhor expunha a beleza do rosto e Otílio notou mais semelhanças com Helena Júlia, abruptamente retirada do seu caminho por um filho teimoso num bizarro culto da mãe. Viu a vizinha de praia fechar o livro e correr a refrescar-se nas ondas. De imediato sentiu que também lhe apetecia ir ao banho. Quando ela retomou o caminho do toldo, também lhe pareceu que a água estava a ficar fria e seguiu-a, uns três metros atrás. Três metros é uma boa distância para se avaliar das perfeições de um corpo em biquini e o observador concluiu que tão esbelta assim só talvez Helena Júlia. No dia seguinte ainda pensou meter conversa. Imaginou que não seria atrevimento oferecer-lhe os jornais da manhã, gesto de simples cortesia. Não deveria a deusa interpretá-lo mal. Deteve-se, porém. Iria, assim, iniciar uma relação de mútuo conhecimento, teria de repetir todos os dias a cedência dos jornais, era inevitável tagarelarem um pouco e quando Luís Paulo chegasse logo se aperceberia e estavam as férias estragadas. Decidiu ficar quieto.Veio o domingo em que ele se assustou, o toldo ao lado permanecia demoradamente vazio. Talvez ela tivesse partido e nem uma palavra lhe ouvira, já agora gostaria de saber se também era boa de voz, quem sabe se doce e suave como a de Helena Júlia. Aproximava-se o fim da tarde quando a viu de volta, e outra vez aquela cena excitante de despir a túnica e mostrar muito do que ela cobrira. Apressada se encaminhou para o mar, nadou em braçadas elegantes, o silencioso admirador JOSÉ ALVES

ficou sentado no toldo com vontade de a ver, agora de frente, quando voltasse do banho. E tão atento se encontrava que nem se apercebeu que nova personagem entrava em cena. Até ouvir: – Olá, pai ! Levantou-se de um pulo para o festivo abraço. Já nem viu o aproximar da moça, em corrida para o toldo, mas, desta vez, o toldo para que corria era o dele próprio. Surpreso, desconcertado, viua a enganchar o pescoço do filho e não tardaram as apresentações: – Esta é a Ana, pai. Vai comigo para a Holanda, casamos lá. Ela fez uma careta e disse: – Oh, que pena! Tantos dias aqui perto do senhor, sem imaginar que era o meu sogro. Poderíamos ter conversado tanto, não é verdade? O sogro forçou um sorriso e disse – E você estava aí, nesse toldo? Desculpe, nem tinha dado por si. Enfio-me na leitura dos jornais e quase não vejo ninguém. O filho tinha alguma coisa a dizer. Segurou Otílio por um braço, afastando-se um pouco da radiante Ana e segredou: – A mãe telefonou-me para participar que tem um novo companheiro. Agora tu, pai, tens o meu acordo para te casares com essa Helena Júlia. Ficarei contente. – Obrigado – sorriu o pai, enquanto ia enrolando a toalha. – Infelizmente, ela já se casou com o director do pessoal. n

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Crónica

Álvaro Belo Marques

“Traduttore traditore”

P

ela madrugada encontrei a solução para o problema de querermos ir de férias e de não termos dinheiro suficiente. Um casal nosso amigo, com os seus dois filhos, ia para Canas de Senhorim passar férias, numa pensão modesta mas impecável, que tinha como cozinheiro um reformado da marinha que cozinhava com mais estrelas do que as do Guia Michelin. E nós também queríamos ir, claro: eu, a Maria José e a filha Alexandra. Esta situação de não termos dinheiro suficiente, estavanos na massa do sangue; fazia parte do nosso ADN e já vinha de família, pelo que ninguém estranhou ou fez comentários à penúria reinante. E então, a solução que de madrugada se me apresentou mais fiável era levar um livro para traduzir e pagar o ripanço com o trabalho. Equação perfeita, direi mesmo sem falsa modéstia, brilhante. Como à tarde não estava de serviço, fui à Agência Portuguesa de Revistas falar com um dos sócios, Mário de Aguiar, que editava, na altura, cerca de 25 colecções de livros cor-de-rosa e quatro revistas. E ele disse que sim senhor, por quem é, vou pedir ao meu sócio, o Dias, para que lhe mande um livrito em espanhol. E assim foi, mal ele adivinhando em que se metia. Recebi o livro de 150 páginas da colecção "Pérola", escrito por uma senhora chamada Maria Morgan (pseudónimo?), já com o título em português de "Um Homem Enigmático" (no original, "El imposible Juan"), que já fora dado pela APR, avanço devido à programação com antecedência e à publicidade. Pois o enredo do livro é bem simples: dois casais da classe A, um com uma linda filha e o outro idem e mais um rapaz, têm as respectivas herdeiras num colégio interno de classe A, com uma directora inteligentíssima da mesma classe social e um professor de formas apolíneas alcunhado 82

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pelas pequenas de "João sério". Apresentados os actores, há que enquadrar o enredo. Maria Morgan decidiu: que a linda filha do segundo casal se apaixonasse pelo rapaz do primeiro casal (um estroina com carros descapotáveis), mas sem o saberem, nem um nem o outro! Decidiu também que a menina (lindíssima e alta e loura e perfumada e bem vestida) se apaixonasse pelo professor, o tal "João sério", daqui resultando situações cómicas ou apenas ridículas. Falta só apresentar uma professora, lindíssima, alta, elegante, loura e competente, amiga do "João sério", por quem as meninas pensam que este se teria apaixonado e que ela já estava grávida na abertura das aulas do tal "curso especial". Vão então as duas amigas frequentar um "curso especial" de um ano, que me pareceu de Literatura, enquanto comecei, ao mesmo tempo, a gostar dos petiscos do cozinheiro ex-embarcadiço, na pensão de Canas. Éramos, portanto, quatro casais felizes, dois no livro e dois em férias. Mas o certo é que a minha filha não queria comer e o livro não se queria traduzido. Arranjei um recanto na pensão para executar a minha tradução, convencido, como nove milhões de portugueses, que sabia suficiente castelhano para aquela tradução sem grandes responsabilidades; uma brincadeira de crianças. Pois é! Na primeira manhã ainda não foi mal mas na segunda começou o calvário. Com um dicionário pequenino de cinco mil palavras, liliputiano, de um amarelo doentio, meu desauxiliar e desesperante companhia, fui autenticamente esculpindo, em arrepiante aventura e esforço neuronal, aquela estorinha para adolescentes, muitas vezes escrevendo o que me parecia ser a lógica da sequência, outras ficando a olhar para o parágrafo esperando, muito quieto, ou que um raio me iluminasse ou que, num flash de fada madrinha, me surgisse tudo claro e com as palavras certas. Regressados a Lisboa, entreguei, ao cuidado do senhor Mário de Aguiar o livrinho e a tradução. Cerca de oito dias depois pede-me ele que vá lá falar-lhe. O que fiz a correr. Recebeu-me com uma cara pouco alegre e foi dizendo: "O meu amigo não traduziu passagens no livro. Noutros sítios, como no final, aumentou em cerca de dezasseis o número de páginas…" Expliquei-me: "Achei um final muito chocho para uma paixão de 150 páginas. Meti-lhe muito luar, estrelas cadentes, o som de uma valsa vinda do salão de festas…". E ele insensível: "Pedi a um revisor da casa que fizesse a revisão e isto encareceu o livro, como calcula." "O melhor - disse eu -, é pôr um pseudónimo como tradutor, por exemplo Cardo Marques…". "Logo se vê". E eu, envergonhado: "Continuamos amigos?". "Claro". Lá do fundo, na sua secretária, o Dias sorria para mim, com amizade.n


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