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N.º 242 Novembro 2012 Mensal 2,00 €
TempoLivre www.inatel.pt
Património Safi e Aguz, um Portugal em Marrocos Entrevista Maria de Lurdes Rodrigues Terra Nossa Óbidos Diáspora Moçambique Memória Mirita Casimiro
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Sumário
Na capa Foto: Humberto Lopes
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CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR
PATRIMÓNIO
Safi e Aguz: um Portugal em Marrocos A Fundação Gulbenkian inaugurou, recentemente, um portal dedicado ao património histórico português espalhado pelo mundo. Um bom motivo para a sugestão de uma visita a lugares exemplares da presença lusitana em Marrocos. Em Safi, o Castelo do Mar e a catedral manuelina, e em Aguz, uma fortaleza que a gente local associou a uma lenda fantástica.
18 EDITORIAL
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NOTÍCIAS CONCURSO DE FOTOGRAFIA
28 46 50
ESPANHA AO ACASO
OFÍCIOS
TERRA NOSSA
Óscar Cardoso, o 'Midas' das guitarras
Óbidos, museu a céu aberto Fundada pelos celtas, ocupada pelos romanos, a vila fortificada é um exemplo de distinção arquitectónica numa atmosfera onde se respira a nostalgia de um tempo que se perde na memória.
MEMÓRIA
JUSTIÇA E SOCIEDADE OLHO VIVO A CASA NA ÁRVORE O TEMPO E AS PALAVRAS Maria Alice Vila Fabião
80
OS CONTOS DO ZAMBUJAL
82
Maria de Lurdes Rodrigues Com convicções, estratégias concretas e profissionais qualificados é possível aproveitar os recursos naturais, nomeadamente o mar, e valorizar a língua portuguesa no mundo, defende Maria de Lurdes Rodrigues, antiga ministra da educação (2005-9) e actual presidente da Fundação LusoAmericana para o Desenvolvimento.
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Mirita Casimiro
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ENTREVISTA
CRÓNICA Fernando Dacosta
30 DIÁSPORA
Portugueses em Moçambique Moçambique assiste actualmente ao aumento do fluxo de portugueses que procuram o país para investir e trabalhar. A comunidade de expatriados lusitanos na capital já é significativa e está presente em várias actividades económicas e profissionais.
40 59 76
PATRIMÓNIO BOA VIDA CLUBE TEMPO LIVRE
Passatempos e Cartaz
Escola do Fado em Odivelas Criada há 13 anos, a Escola de Fado da Junta de Odivelas mostra a universalidade e a força do estilo musical imortalizado por Amália.
Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Teresa Joel Colaboradores: António Costa Santos, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Sousa Ribeiro, Susana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 137.675 exemplares
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Editorial
V í t o r Ra m a l h o
Na despedida
U
m Conselho de Administração exerce funções temporalmente precárias. Tive sempre essa consciência. Este é, por isso, o meu último editorial na Tempo Livre. Chegou o tempo de partir. Coube ao Conselho de Administração que cessa funções a tarefa de fazer a transição da Inatel, de instituto público para fundação. Os objectivos não foram fáceis de prosseguir. A grande maioria dos trabalhadores, absorvidos pelo trabalho do dia-a-dia e até os próprios beneficiários podem não ter disso total consciência. As obrigações de adaptar "os equipamentos e as actividades à legislação privada em vigor", convertendo os centros de férias, sem necessidade de serem licenciados, em hotéis, envolveram e envolvem registos prediais que em muitos casos não existiam, bem como dezenas de intervenções junto de entidades privadas e públicas, reformulação de projectos, concursos para requalificações, adjudicações e tudo o mais que não cabe aqui invocar. O que é válido para os ex-centros de férias aplica-se aos parques de campismo, aos parques desportivos, às agências, no vastíssimo património da Fundação. A Inatel de hoje não é já a mesma de há quatro anos, quando tomámos posse. Os Açores passaram a ter, pela primeira vez na história da nossa instituição, duas novas unidades hoteleiras de excelência; foi aberta outra em Linhares da Beira e totalmente reclassificada, ou em curso, entre outras, Cerveira, Porto Santo, Albufeira, o Parque de Jogos 1º de Maio, o Teatro da Trindade e várias agências, além da criação do arquivo histórico no Palácio do Barrocal em Évora. Estes objectivos foram alcançados apesar do Estado ter diminuído em 25% no quadriénio 2008/2012 as transferências de verbas de investimento e capital, o que não invalidou que no mandato tivessem sido feitos os maiores investimentos de sempre na Inatel, sem oneração do património, fazendo descer em cerca de dois milhões de euros os encargos com recursos humanos e honorários, reduzindo-se o número de trabalhadores, prestadores de serviços e contratados a termo em cerca de 300, sem se ter despedido quem quer que seja. E os resultados líquidos do exercício em 2011 foram os melhores de sempre dos últimos trinta e cinco anos.
Após a recente publicação da lei do censo sobre as fundações a Inatel reclamou da pontuação que injustificada e infundamentadamente lhe foi atribuída, facto de que não se obteve resposta. Apesar disso, o Governo propôs recentemente a redução de mais 30% naquelas transferências o que significa 55% de redução, com um valor equivalente a 6,5 milhões de euros de diminuição no triénio 2009/2012. Acresce que, pela primeira vez em 17 anos, não foram deferidos os Programas Governamentais (Turismo Sénior, Saúde e Termalismo, Abrir Portas à Diferença e Turismo Solidário). A Inatel deixou, assim, de ter sete milhões de euros de comparticipações públicas para estes programas que, apesar de não serem receitas da Inatel são recursos financeiros poderosos que obviamente se repercutirão negativamente na gestão. A esta verba há que acrescentar uma outra, e superior, que resulta da própria comparticipação dos beneficiários que se candidatam a estes programas. Só neste domínio a redução de recursos é superior a 15 milhões de euros. Daí que os resultados de 2012 não deixarão de ser já fortemente afectados. Em tempo oportuno o Conselho deu conta das preocupações ao Governo, de forma clara, como foi público e para defesa da Fundação. Quando se reclama das reduções não se põe em causa a necessidade, resultante dos efeitos da crise, dela ocorrer. No caso, o que está em causa é que o elevadíssimo montante dessas reduções podem colocar em risco a Inatel, encorajando soluções de alienação parcial de património, de todo inaceitável. Espera-se muito sinceramente que o próximo Conselho de Administração faça mais e melhor. Desejamos-lhe por isso muito sucesso, agradecendo a todos os trabalhadores o contributo prestado, sem o qual não seria possível prosseguir o prestígio de uma instituição tão credível como é a Inatel. Acreditamos no futuro, apesar dos riscos existentes inclusive, noutro plano, dos criados pela entrada em vigor da Lei-Quadro das Fundações, cuja revogação se impõe. Procurámos, num tempo complexo e incerto, servir, o melhor que soubemos e pudemos, de cara levantada e com frontalidade, os associados e demais beneficiários, destinatários da existência da Fundação. n NOV 2012 |
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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt
Inatel Oeiras Sou frequentador assíduo do precioso espaço que a Inatel possui em Oeiras. Além de ser crítico para a falta de cuidado de alguns utentes, verifica-se actualmente a um contínuo degradar das condições higiénicas do espaço exterior, mais concretamente a zona da esplanada. Presumo que resulta da circunstância de por vezes o único funcionário do Bar não poder assegurar a limpeza das mesas ou do espaço circundante. Peço por isso que seja alertada a gerência de modo a que a situação melhore a curto prazo. João Barata, Sócio nº 56051
Inatel Albufeira Em Agosto/ 2012 tive o prazer de desfrutar de uns dias belíssimos na vossa unidade hoteleira em Albufeira. Quero aqui deixar o meu Bem-Haja a todo o pessoal daquela unidade, pela simpatia, amabilidade e profissionalismo que esperamos encontrar quando queremos relaxar e aproveitar o período de descanso. Tive o prazer de ter gozado a minha lua-demel (também na vossa unidade hoteleira em
Albufeira) em Agosto/ 2011 e logo nessa altura fiquei muito agradado com o ambiente acolhedor e prazeroso que encontrámos! Neste momento, eu e a minha esposa estamos a fazer planos para aumentar a família para que, todos juntos (quem sabe!), possamos vir a desfrutar em 2013 do ambiente familiar que V. Exas. tão bem sabem proporcionar! Votos de continuação de bom trabalho e bem-haja a todos! Vítor José Laranjeira Godinho (sócio n.º 201863)
50 anos na INATEL Completam, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados:António Silva Almeida, de Queijas; Patrício Santos Lopes, de Torres Novas.
Coluna do Provedor SEMPRE ADMIREI a frontalidade das quei-
Kalidás Barreto provedor@inatel.pt
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xas cujos autores, associados ou não, não temem consequências. Infelizmente surgem reclamações, ainda que justas, mas escondidas no anonimato. É vulgar, mas lamentável surgirem em todo o lado as queixas anónimas que fazem o seu escondido percurso sem dar a cara. Valha a verdade que estamos num País que se rotula de democrático em que os queixosos têm medo das consequências porque os chefes e patrões digerem mal as críticas e lá se vai o emprego. Penso que a pedagogia familiar ou escolar devia ter uma disciplina desde a infância em que a verdade e a frontalidade fossem naturais. O País não se desenvolve na mentira e no medo.
Isto vem a propósito de criticas a alguns serviços, da Fundação INATEL, em mensagens anónimas, ainda que algumas delas possam ser justas. Em contrapartida tenho o gosto de transcrever um excerto duma carta de um associado: "Foi com apreensão que eu e milhares de seniores, tivemos conhecimento da intenção do governo de reduzir as ajudas "à Fundação que, a concretizar-se afecta algumas das suas realidades, nomeadamente o turismo." Tal como dizia o Dr. Vítor Ramalho, cujas palavras apoio inteiramente "…neste domínio devemos ter orgulho na acção da INATEL". Orgulho na realidade, de dar a conhecer aos seniores, a nossa terra e as nossas gentes quando já estamos na recta final das nossas vidas." n
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Notícias
Dia Mundial da Alimentação l A Fundação INATEL comemorou, a 16 de Outubro, o Dia Mundial da Alimentação com um conjunto de iniciativas, na sua Sede, em Lisboa, para sensibilizar os trabalhadores para a importância de conjugar hábitos alimentares saudáveis, com a prática regular de exercício físico. Promovida pelo sector de compras da Fundação, a iniciativa contou com a colaboração de profissionais de vários serviços (Recursos Humanos, Marketing, Expediente e Serviços, entre outros) e com o apoio de algumas empresas fornecedoras (Gertal, Lactogal, Nestlé, Progelcone e Recheio). A grande novidade deste ano foi a criação de um espaço de saúde, que contou com a colaboração de uma equipa de Dietistas da Escola Superior de Tecnologias da Saúde de
Lisboa, onde cada trabalhador podia medir o seu índice de massa corporal e de massa gorda, bem como obter aconselhamento alimentar e nutricional.
Vitor Ramalho, participou activamente no Dia da Alimentação
Portugal no Coração l Oriundos
da Argentina, Brasil,
África do Sul e Venezuela, os 16 portugueses que na última semana de Outubro visitaram o país natal no âmbito do programa "Portugal no Coração" receberam as boas vindas do presidente da Fundação, Vítor Ramalho, num almoço de convívio na Inatel Caparica. O programa – uma iniciativa da Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas, com apoio do Ministério do Ministério da Solidariedade e Segurança Social, TAP e INATEL – incluiu a 'descoberta' da Lisboa antiga e visitas ao Algarve, zona Oeste (Foz do Arelho, Óbidos, S. Martinho do Porto, Nazaré), Fátima, Aveiro, Porto e Guimarães. 8
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Novo romance de Mário Zambujal l A centenária fábrica dos "Pastéis de Belém" foi palco do lançamento de “Cafuné”, o novo romance de Mário Zambujal. A jornalista Ana Sousa Dias apresentou o novo livro do escritor numa incursão histórica pelos primeiros anos do século XIX, altura
crítica das invasões francesas e da partida da família real para o Brasil. É aqui que acompanhamos a história de Frei Urbino, um frade que se cansou do mosteiro, e de Rodrigo, moço empolgado por encantos femininos, que no Brasil aprenderia a designação da carícia preferida. Por estes e outros mimos o leitor conhece também Dália e Lucrécia, damas participantes nas tropelias de Rodrigo. Com o seu estilo inconfundível, o autor da "Crónica dos Bons Malandros" entrelaça neste romance momentos da História de Portugal com episódios de ficção em que as marcas de originalidade e de humor conduzem o leitor ao sorriso, à gargalhada e à reflexão.
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Notícias
“Padre António Fontes - Vida e Obra” l Da autoria de João Gomes Sanches, com prefácio de João Barroso da Fonte, o livro "Padre António Fontes Vida e Obra" (Âncora Ed., 2012), dános uma visão da vida e obra do Padre António Lourenço Fontes, "figura incontornável" da sociedade portuguesa contemporânea, "aflorando ângulos que podem ter escapado aos muitos estudiosos". O autor – recorde-se – publicou "Medicina Popular – ensaio de Antropologia Médica" (1966), numa parceria com António Fontes, com quem também colaborou
na iniciação do Congresso de Medicina Popular, de Vilar de Perdizes. Da mesma editora, foi publicado "Toques de Sinos na Terra de Miranda" – com um CD-ROM –, e "Histórias de Vida dos Gaiteiros do Planalto Mirandês", de Mário Correia. O autor, musicólogo, fundador do Centro de Música Tradicional Sons da Terra, investigador da universidade nova de Lisboa, integra o grupo de divulgadores da música tradicional e popular portuguesa.
Concurso INATEL/Teatro Novos Textos 2012 lO
Grande Prémio do Concurso INATEL/
Teatro Novos Textos 2012 foi atribuído ao original: "Prometo, Não Volta A Acontecer" de John C. Guilpard (pseudónimo), do autor Jorge Daniel Chambel Geraldo. O Júri, composto por: Ângela Pinto, Joaquim Paulo Nogueira e Maria João Rocha deliberou, ainda, atribuir o Prémio Miguel Rovisco ao original "O que eu vi quando voltei da lua" de Nicolau Faria (pseudónimo), do autor Mário Abel Lopes da Costa. Foram também atribuídas duas menções honrosas aos originais: "Ascensor" de Ricardo Saintpaulia (pseudónimo), a que corresponde o nome de Rui Miguel Sanches Linhares Andrade e "A Casa" de André Barros (pseudónimo). O concurso teve a participação de 28 textos originais.
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Ode Marítima no Auditório Camões l "Ode Marítima", um espectáculo de poesia e multimédia do encenador João Rosa, baseado no poema homónimo de Fernando Pessoa (heterónimo Álvaro de Campos) vai estar em cena no Auditório Camões, em Lisboa, nos dias 15, 16, 21, 22, 23, 28, 29 e 30 de Novembro e 1 e 2 de Dezembro de 2012 às 21:00. O espectáculo tem como intérpretes os actores Artur Assunção, Delfina Costa, Helena Duarte, João Pires Silva e Lurdes Vinagre. Na sinopse de apresentação, João Rosa lembra que a Ode Marítima é "um dos poemas mais marcantes do heterónimo Álvaro de Campos expressa as suas ideias de força e agressividade, tão marcantes no
"Todos os Afectos " lA
antologia "Todos os Afectos"
(Ed. Estuário, 2012), de JoséAntónio Chocolate, agora editado, integra uma selecção de poemas significativos de cada um dos seus livros, publicados ao longo de 30 anos, "Ninfite, mal de poeta" (1981), "Gente sem resposta" (1983),
período futurista e sensacionista" e, ainda, a "prova máxima do poder da imaginação do homem mas também prova máxima de quão efémero é esse poder…".
"Mel de amoras" (1986), "Metamorfoses do silêncio" (1990), "Caminhos do silêncio" (2000), "Íntimos afectos" (2006) e "Escrito(s) no ar" (2009).
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Notícias
Inatel Porto Santo distinguida em higiene e segurança alimentar
"O Budismo na China"
lA
de 17 de Novembro a 8 de
lO
Inatel Porto Santo recebeu, no passado dia 23 de
Museu do Oriente organiza,
Outubro, o certificado ForeSee Food Safety Prata pelos
Dezembro, o curso "O Budismo
bons níveis de controlo em Higiene e Segurança Alimentar
na China", orientado por
obtidos e mantidos através da aplicação de um programa
António Barrento, doutorando
de HACCP nas áreas de alimentos e
em História da China na Escola de Estudos Orientais e
bebidas.
Africanos (SOAS), da Universidade de Londres.
A certificação – atribuída pela
O curso propõe uma análise da temática desde a dinastia
LusoCristal Consulting, consultoria
Han até à actualidade.
especializada em Sistemas de Gestão
Os participantes têm a oportunidade de conhecer a
de Segurança Alimentar – é baseada
difusão, crítica, apologia e os processos de interpretação,
nos resultados obtidos num Sistema
selecção e adaptação dos ensinamentos budistas. As
de Gestão de Segurança Alimentar não somente pela
diferentes escolas budistas e em particular a escola Chan
aplicação dos princípios de HACCP mas também dos
bem como a questão do declínio do budismo após 845 d.C.
quatro conceitos (4C) de Higiene Alimentar e Boas Práticas
serão também objecto de análise.
criados pelo Food Standards Agency da Inglaterra, e
O curso dedica particular atenção à interacção do budismo
aprovados pela ASAE, de Cross Contamination
com outras tradições, e ao seu impacto na cultura material
(Contaminação Cruzada), Cooking (Confecção), Chilling
e nas atitudes do Estado face à doutrina, práticas e
(Conservação) e Cleaning (Correcta Limpeza).
comunidades budistas.
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Notícias
"Música no Coração" na Galeria do Casino
l Até
21 de Novembro, está patente, na Galeria do Casino do Estoril, uma exposição de pintura e escultura de Gustavo Fernandes. Intitulada "Música no Coração", a mostra – escreve Nuno Lima de Carvalho, director da galeria – "dá vida artística a diversos instrumentos musicais, em uma viagem, que estimulando a imaginação, transcende linguagens, num singular e perfeito encontro do som e da cor, em composições de
construção neofigurativa, por vezes com sabor surrealista e muitas vezes dentro dos parâmetros do hiperrealismo, em que é um verdadeiro mestre." Gustavo Fernandes (Lisboa, 1964), estudou Artes Plásticas e Gráficas no Dawson College, Canadá, especializando-se nas técnicas e métodos de Betty Edwards e "Drawing from the Artist Within" e "The Natural Way to Draw" de Nicolides. Na sua carreira artística conta com a participação em 280 exposições, 50 das quais mostras individuais em Portugal, 35 conjuntas e 180 colectivas, tendo exposto já em mais de 20 países. É, ainda, autor de importantes obras públicas em Lisboa, Oeiras e Cascais e titular de alguns prémios significativos.
"Sétima-Feira" lO
livro, recentemente editado,
"Sétima-Feira" (Corpos Ed. 2012), de Davi Reis, pseudónimo do jornalista e músico amador Hugo Simões, apresenta 65 poemas dispersos por cinco capítulos e "o tempo como fio-de-prumo", e inclui uma nota introdutória manuscrita do músico Jorge Palma. O autor publicou o primeiro livro de poesia, "Pôr a escrita em Noite", em 2008, mais tarde incluído na antologia poética "Divina Música", pelo Conservatório Regional de Música de Viseu, em 2009.
Exposição de cerâmica na Inatel Manteigas l Na
Inatel Manteigas está patente, de
forma permanente, uma colecção de trabalhos de cerâmica de Álvaro Lopes de Carvalho, 74 anos, sócio nº 24179 da Fundação, professor aposentado de Educação Visual e Tecnológica. Natural da freguesia de Pêra do Moço (Guarda), e com raízes familiares em Manteigas, Álvaro de Carvalho achou por bem oferecer a sua colecção de trabalhos à Fundação INATEL, enquanto Instituição a quem deve bons momentos vividos em várias Unidades Hoteleiras e atenções de atendimento na Agência da Guarda. Esta colecção em trabalhos de
focam, na sua maioria, os usos e
sempre realçou já que fizeram parte
cerâmica, os últimos que executou e
costumes da Beira e da Serra, pois
das suas vivências de infância e
fez questão de guardar para si até hoje,
foram temas que ele, como artista,
juventude.
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Fotografia
XVII Concurso “Tempo Livre”
[ 1 ] José Almeida, Lisboa Sócio n.º 371124
[1]
[ 2 ] A. Miguel Oliveira, Porto Sócio n.º 256624 [ 3 ] Jovino Batista, Faro Sócio n.º 522088
[3]
[2]
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Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e colaboradores da revista Tempo Livre.
Menções honrosas
2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.
[ b ] António Andrade, Cova da Piedade Sócio n.º 8046
3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm, em papel, cor ou preto e branco.
[ a ] Favito Lima, Oeiras Sócio n.º 198088
[ c ] Josué Costa, Ovar Sócio n.º 492113
[a]
5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, morada, telefone e número de associado da Inatel.
[b]
7. A «TL» publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano. 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites para duas pessoas numa das unidades hoteleiras da Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL». Nota: De acordo com a tabela em vigor, a época alta inclui fins de semana.
[c]
10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na «TL» de Setembro de 2013, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.
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Entrevista
Maria de Lurdes Rodrigues O valor do mar e da língua Com convicções, estratégias concretas e profissionais qualificados é possível aproveitar os recursos naturais e valorizar a língua portuguesa no mundo, defende Maria de Lurdes Rodrigues, antiga ministra da educação (2005-9) e actual presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. 18
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Entrevista
Quais as prioridades da FLAD para o próximo triénio? A questão da promoção da imagem de Portugal e dos portugueses nos Estados Unidos parece-nos absolutamente decisiva, passando por projectos concretos de promoção de qualidade do ensino do português nos liceus norte-americanos. Sendo hoje a situação bastante diferente do que era há alguns anos, sobretudo pelo crescimento da emigração brasileira e cabo-verdiana nos Estados Unidos – estima-se que haja cerca de um milhão de falantes de português – isto confere ao português e a Portugal uma grande oportunidade porque podemos apresentar o país com grande capacidade de articulação com os diferentes países e regiões do mundo onde se fala o português. O português é um activo do qual retiramos pouco retorno e era muito importante fazer um investimento mais forte que nos permitisse obter esse retorno com aquilo que é o valor, O português é um não apenas simbólico, mas tamactivo do qual bém o valor económico da língua. retiramos pouco Que iniciativas concretas poderá retorno e era muito a FLAD criar no sentido de proimportante fazer um mover a língua portuguesa nos investimento mais Estados Unidos? forte Além da continuidade de projectos que a FLAD há muito tempo vem desenvolvendo, como seja o apoio aos departamentos de ensino de português em várias universidades norte-americanas, agora estamos a fazer um investimento ao nível dos liceus, existem cerca de 11 mil alunos a aprender português mas há um potencial enorme de crescimento e de expansão. Promovemos cursos de aperfeiçoamento do ensino do português para estrangeiros com a Universidade de Lisboa, e também com a Universidade dos Açores. Este ano estiveram em Portugal, cerca de 15 dias, grupos de professores que frequentaram cursos de aperfeiçoamento da língua para estrangeiros; no próximo ano, tencionamos dar continuidade a esses cursos de verão, que são muito importantes porque reforçam os vínculos e a ligação destes professores a Portugal. Há ainda outros programas em que procuramos apoiar o desenvolvimento de trabalho conjunto entre professores e alunos nas escolas norte-americanas e professores e alunos em Portugal.
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E relativamente à divulgação da literatura portuguesa nos Estados Unidos? Temos uma linha de apoio à tradução de livros portugueses para inglês e o inverso também, mas é um trabalho que envolve sobretudo os departamentos de ensino de português nas universidades norte-americanas. Depois estamos a trabalhar num projecto com o Instituto Camões e com o AICEP [Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal] para a criação de um centro de ensino da língua, semelhante ao Cervantes, à Alliance Française ou ao British Council. Estamos a trabalhar neste projecto tendo em vista abrir o primeiro centro Camões para o ensino da língua portuguesa. E onde ficaria sediado? Em Manhattan [Nova Iorque] há umas instalações que estão à responsabilidade do AICEP; não está tomada a decisão sobre a localização definitiva mas pode acontecer que seja na Quinta Avenida. A questão é que o ensino do português nos Estados Unidos vai-se desenvolver por força do tal milhão de falantes mas há aqui uma responsabilidade de instituições como a FLAD, o Instituto Camões e as universidades em garantir que Portugal tenha um papel neste desenvolvimento do ensino da língua. Podemos ser o país de referência para a qualidade deste ensino, trabalhando com o Brasil, com os países africanos de língua oficial portuguesa, no fundo, trabalhando no espaço da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]. Temos felizmente uma política para a língua no estrangeiro que hoje está à responsabilidade do Ministério dos Negócios Estrangeiros e que procura associar a promoção da língua à promoção dos negócios mas também ao desenvolvimento da cooperação e essa é uma estratégia muito interessante que é, digamos assim, potenciar todos os recursos. O outro eixo de trabalho prioritário, inscrito na tradição das actividades da FLAD, é o apoio às universidades portuguesas para se internacionalizarem, promovendo as suas actividades no espaço norte-americano. Hoje a internacionalização das instituições universitárias mede-se pela sua capacidade de captar alunos estrangeiros. As melhores universidades do mundo chegam a atingir valores na ordem dos 50%, mesmo nos Estados Unidos as
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universidades mais prestigiadas podem ter 50 ou 40 % de alunos estrangeiros e isso é um indicador da qualidade, da capacidade de atracção. Na Europa esse movimento também começou e hoje algumas universidades, a London School por exemplo, têm uma percentagem muito elevada de alunos estrangeiros. Qual a percentagem de alunos estrangeiros nas universidades portuguesas? No nosso sistema de ensino a percentagem de alunos estrangeiros cresceu muito com os programas Erasmus. Temos cerca de 5% de alunos estrangeiros mas temos capacidade de crescer e de aumentar por força da nossa ligação às várias diásporas e aos países do espaço de língua oficial portuguesa. Este ano, pela primeira vez as universidades portuguesas estiveram presentes na grande feira anual do ensino superior nos Estados Unidos [NAFSA 2012 - Association of International Educators, 29 de Maio a 1 de Junho, Houston Texas] e iniciámos em Julho o processo de preparação para garantir de novo a presença das universidades portuguesas nesta feira que é um espaço onde se podem encontrar as universidades de quase todos os países do mundo, conta com a presença de mais de 120 países. No próximo ano, gostávamos de poder assegurar que esta participação de Portugal fosse acompanhada da presença de algumas universidades do espaço da CPLP, e também da universidade de Macau. Promover o ensino do português é voltar ao humanismo? Sim, é também promover o país. O valor de uma
língua, independentemente do valor simbólico ou da beleza que possamos encontrar nela, é medido hoje em dia pelo número de falantes mas também pelo nível de riqueza dos países em que a língua é oficial. No caso do português, na dimensão relativa ao número de falantes é uma língua com enorme valor, somos a terceira língua do espaço europeu, todavia o português é língua oficial em países (alguns emergentes, como o Brasil) que não se incluem no espaço dos mais desenvolvidos. Isto significa que a língua pode perder o valor que actualmente tem se nada se fizer para a preservar, desenvolver, ampliar a sua influência. É necessário ter uma política para a língua, associada à política de negócios estrangeiros para assegurar a sua presença nos organismos internacionais, promover a sua qualidade, promover o ensino em pontos geográficos estratégicos. No fundo, o que a FLAD faz, em colaboração com outros organismos designadamente o No nosso sistema AICEP e o Instituto Camões, é ajude ensino a dar a executar alguns programas percentagem de que ajudem a aumentar o número alunos estrangeiros de falantes e a aumentar a qualicresceu muito com os dade do ensino. programas Este ano, o Fórum Açoriano Erasmus Franklin D. Roosevelt (Cidade da Horta, 27 a 29 de Abril de 2012) centrou-se na temática do mar: "O Mar na Perspectiva da História, da Estratégia e da Ciência". Maria de Lurdes Rodrigues defendeu que se devia investir na qualidade dos recursos humanos e na investigação científica. Quais são os principais programas das FLAD para esta revalorização do mar enquanto recurso a preservar? O que é que a FLAD pretende fazer em relação aos Açores e às universidades açorianas? Quase desde o início, a FLAD tem tido o mar como tema de trabalho, promovendo o encontro de diferentes instituições, a reflexão e o debate sobre o tema. Este ano abordámos o tema no Fórum Roosevelt, cujo principal objectivo é o aprofundamento do conhecimento das relações transatlânticas, entre Portugal e os Estados Unidos, seja na perspectiva histórica seja na perspectiva da política actual. Portugal tem feito inúmeros esforços para manter a questão dos oceanos e do mar na agen-
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Entrevista
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da sem que apesar de tudo tenhamos os resultados adequados àquilo que tem sido a expectativa. Penso que não chega a retórica e nem o discurso sobre o mar. O que fazer, então? O mar e os oceanos só são um recurso com valor se associarmos recursos humanos, tecnológicos, investigação, ensino, actividades económicas, transporte marítimo, exploração do fundo dos mares, se associarmos conhecimento que nos permita tirar partido do mar como recurso, senão ficamos sempre num nível de retórica e da intenção. E isto é muito difícil de fazer, passar da intenção, da ideia, de que o mar é um recurso para o tornar efectivamente num recurso, exige um grande investimento, sobretudo em conhecimento e em informação. Nós temos, de facto, uma situação excepcional, temos não só o mar, como também os Açores – ilhas numa situação geográfica única, não existe mais nenhum ponto no meio do oceano Atlântico como os Açores, e que podiam ser um laboratório mas para isso é preciso muita acção e investimento, o que foi feito, no caso da Universidade dos Açores. Temos talvez um dos melhores centros oceanográficos, que está localizado justamente na ilha do Faial. Precisamos de continuar a apoiar esse centro, a apostar na sua internacionalização, abri-lo à cooperação com universidades norte-americanas. Será preciso apostar num conhecimento que não aliene nenhuma área do saber, de outra forma podemos entrar numa exploração desequilibrada dos recursos naturais... Sim, nenhuma área disciplinar pode ser excluída, são campos de aplicação pluridisciplinar que requerem todos os conhecimentos que vão desde a economia às ciências sociais, às engenharias, às ciências fundamentais... Numa entrevista ao Diário Económico, 27 Abril 2011, disse que se devia lutar para que todos os percursos escolares tivessem êxito. Como consegui-lo? Esse problema que levanta é para mim o mais importante e o que constitui o principal desafio das políticas educativas em todos os países do mundo. Quando se institui o mecanismo da escolaridade obrigatória enfrenta-se o desafio de transformar a obrigatoriedade da escolaridade em obrigatoriedade da escolarização, ou seja, garantir não apenas que as crianças estão na
escola mas que adquirem os conhecimentos, as competências, fazem as aprendizagens mínimas necessárias para terem percursos de êxito. Isto é um problema enorme, de enorme complexidade. Que não parece ter solução à vista… Não há um país, dos mais desenvolvidos aos menos desenvolvidos, que não tenha problemas de insucesso escolar, todos o enfrentam, em alguns casos a expressão é de 20% noutros casos é de 5%, mas nas sociedades contemporâneas podemos dizer que desenvolvemos um sentimento de intolerância à ignorância e por isso se instituiu a escolaridade obrigatória, que todas as pessoas aprendam, que todas as pessoas conheçam. Na Idade Media era um sonho irrealizável, era uma utopia, imaginar que um dia, todas as crianças iam estar na escola. E o sonho que todos pudessem saber ler e escrever era ainda mais irrealizável, hoje esse sonho está a concretizar-se, já não é um absurdo. Os países do norte da Passar da intenção, Europa têm níveis de sucesso da da ideia, de que o mar ordem dos 98, 99%, praticamente é um recurso para o garantem que todas as crianças e tornar efectivamente jovens aprendem, isso é que é a num recurso, inspiração. A convicção de que exige um grande todos podem aprender e de que a investimento escolaridade obrigatória se pode cumprir não é uma questão de fé mas de convicção que vem da realidade de outros países. Se há países que conseguem que todas as crianças aprendem a ler, nós também podemos conseguir, as nossas crianças não são menos inteligentes. Quando me pergunta e como é que isso se faz, essa é a pergunta. E na minha opinião faz-se trabalhando em muitas frentes, não há uma solução mágica, há sempre muito investimento, muito trabalho, muitos recursos humanos. Não consegue resolver um problema senão tiver pessoas qualificadas para ajudar a resolver, senão tiver o conhecimento sobre como se faz. É como se tivesse que trabalhar em diferentes planos, há o plano muito importante e de que se fala pouco que é o das convicções, é muito fácil instituir a escolaridade obrigatória mas é muito difícil conseguir que todas as pessoas acreditem, fiquem convencidas de que a escolaridade se pode efectivar. n Susana Neves (texto) José Frade (fotos)
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Óbidos Como um museu a céu aberto Fundada pelos celtas, ocupada pelos romanos, a vila fortificada é um exemplo de distinção arquitectónica numa atmosfera onde se respira a nostalgia de um tempo que se perde na memória
N
as ruas empedradas, bordejadas de ambos os lados por casas de fachadas brancas e, aqui e acolá, engalanadas de buganvílias, reina o silêncio. Sob a pálida luz matinal, Óbidos oferece-se a uma quietude sonhadora que parece impregnar tudo em redor, como que lançando um desafio para percorrer as alamedas da sua memória. Passear por estas ruas silenciosas semelha-se a uma visita a um museu; a atmosfera provoca uma imediata expressão de êxtase que nos obriga a examiná-la em todos os seus detalhes com uma atenção afectuosa. Uma sensação que não se desmorona e que é exacerbada à medida que o olhar vai vagueando por becos e pátios que, à primeira vista, parecem espectros de um passado distante, de um tempo que não é deste tempo. A esta hora, mais do que a qualquer outra do dia, a vila contempla o viajante com uma nostalgia melancólica capaz de contagiar, exercendo um fascínio tal que não surpreende o facto de Josefa de Ayala, mais conhecida como Josefa de Óbidos, se ter inspirado nesta beleza harmoniosa para se destacar como a pintora e artista mais proeminente de Portugal no século XVII. A fundação de Óbidos remonta ao ano 308 a. C. mas aos celtas sucederam, pouco tempo depois, os romanos, que a transformaram num oppidum da Lusitania, termo que designava a principal povoação em qualquer área administrativa do Império Romano. Dominada, mais tarde, pelos visigodos, não resistiu ao avanço dos muçulmanos, sob o jugo dos quais permaneceu durante quatro séculos. Em termos oficiais, Óbi24
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dos entrou para a história de Portugal em plena Idade Média, a 10 de Janeiro de 1148, dia em que Gonçalo Mendes da Maia, sob as ordens de D. Afonso Henriques, se apoderou da cidade após um forte assédio que colocou um ponto final na hegemonia árabe. A escassos mil metros da "mui nobre e sempre leal" vila, em Eburobrittium, ainda se podem ver vestígios da presença dos povos invasores, como um fórum, balneários e um ou outro edifício construído entre os séculos I e V. O declínio do Império Romano e a incapacidade da cidade para se defender, por estar situada numa zona aberta, terão motivado o abandono e a consequente reinstalação na área hoje ocupada por Óbidos. E é do alto das muralhas que cercam a vila, um polígono irregular de 1565 metros de origem celta, reedificado por romanos e árabes, que perscruto o movimento que se vai intensificando no parque de estacionamento, um preço que Óbidos começa a pagar desde que apostou em força no turismo. O sol teima em esconder-se no céu pintado com nuvens prateadas mas, de quando em vez, lança os seus raios tépidos sobre os telhados das casas enegrecidos pelo tempo, algumas imaculadamente brancas, e o murmúrio de vozes indistintas, não mais audível do que um sussurro, confirma o lento despertar para um novo dia.
Cenário de reis e rainhas Um dos principais centros administrativos durante a ocupação árabe, a vila medieval mais bem preservada de Portugal não perdeu importância após a reconquista cristã. Em 1282, Óbidos foi o cenário escolhido pelo Rei D. Dinis e a
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Terra Nossa
Rainha Isabel para celebração do matrimónio e, desde então e até meados do século XIX, fazia parte do dote de todas as rainhas que se sucederam no trono real. É em redor da praça da igreja paroquial de Santa Maria que se concentra o núcleo central da vila e foi precisamente neste edifício renascentista, cujo interior está de revestido de delicados azulejos, que se casaram, em 1444, o Rei Afonso V e a sua prima Isabel. Anos mais tarde, já no século XVI, o Rei D. Manuel concedeu à cidade novos privilégios que lhe permitiram ganhar importância como centro cultural e artístico; mas foi já no reinado do filho, D. João III, que Óbidos ganhou um novo impulso decorrente da criação de uma cadeira de matemática e outra de teologia, decisão que contribuiu para animar ainda mais, do ponto de vista cultural, a vida da cidade, situação que se manteve na primeira metade do século XVIII. O sol vai perdendo a sua timidez quando, pela segunda vez, já órfão da minha solidão, contemplo os frescos e os azulejos da Porta da Vila, a entrada principal da cidade amuralhada, antes de me embrenhar na Rua Direita, observando os turistas que, de sorriso nos lábios, fazem um brinde com copos de ginja nas mãos. Na Praça de Santa Maria reencontro, por instantes, o silêncio e a paz para admirar, em frente da igreja, uma bonita coluna de granito, um pelourinho e que é conhecido em Óbidos como o camaroeiro, monumento que honra a memória de um pescador que tentou salvar, sem sucesso, um filho da Rainha D. Leonor das águas do Tejo. A caminho do castelo, pousando os olhos em todos os pormenores, deixo-os cair mais demoradamente no Palácio de Óbidos, de estilo manuelino, optando depois por trepar de novo até às muralhas que abraçam este lugar com tanta dis-
Inatel Foz Bem próxima de Óbidos, a unidade hoteleira da Foz do Arelho dispõe de 95 quartos totalmente equipados, ginásio, bar, restaurante, sala de reuniões, sala de jogos, Wi-Fi, e parque de estacionamento privativo. Morada: Rua Francisco de Almeida Grandela, 17 - 2500-487 Foz do Arelho Tel: 262 975 100 - Email: inatel.foz@inatel.pt Coordenadas GPS: 39º 25´ 46" N | 9º 13´ 23" O
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tinção arquitectónica, muralhas vulgarmente designadas por fernandinas – embora sofrendo restaurações até ao século XVII, foi na época de D. Fernando que adquiriram a sua estrutura definitiva. A partir do lugar onde me encontro, fito à distância, para lá dos muros, o Santuário de Nosso Senhor da Pedra, um templo hexagonal com estranhas formas arquitectónicas e uma fachada curva, um exemplo do estilo barroco, e a paisagem, com os seus campos cultivados, que se perde no horizonte, enquanto procuro imaginar um tempo em que as ondas do mar lambiam as colinas sobre as quais está edificada a vila fortificada – a Lagoa de Óbidos, a 15 quilómetros, é a recordação viva dessa época que já se perdeu na memória. Envolta nos ecos do passado, Óbidos entregase ao presente com determinação, apostando forte não apenas da beleza que se esconde no interior das muralhas mas também na divulgação dos seus produtos regionais e na realização de eventos com temáticas tão distintas como o chocolate e a quadra natalícia, uma dinâmica que lhe tem permitido conquistar todos os anos novos visitantes. Desde o castelo mandado erguer por D. Dinis sigo, quase sempre caminhando sobre as muralhas, até à outra extremidade e por aqui me quedo um bom par de minutos, percorrendo com o olhar a imponência do aqueduto de pedra construído em 1573 sobre as ruínas de uma antiga edificação romana e que abasteceu de água corrente a cidade até 1946. Por instantes, sinto uma enorme vontade de ver o mar, o mesmo que aqui chegava, e decido rumar à Foz de Arelho para materializar um desejo impossível olhando do alto destas pedras com tantas histórias para contar. Sei que tenho à minha espera uma praia que, como Óbidos, também respira nostalgia, uma certa saudade de uma época em que os lisboetas aqui tinham uma segunda residência para fugir aos ruídos da capital. A Foz do Arelho, como Óbidos, mantém intacta a sua beleza. Por isso, antes de partir, acho que é uma ingratidão estar agora de costas voltadas para a vila muralhada. Por uma última vez, os meus olhos absorvem toda esta harmonia que se expõe aos raios oblíquos do sol, este museu a céu aberto que, de tão ancestral, teima em pedir muito à memória da memória. n Sousa Ribeiro (texto e fotos)
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Espanha ao acaso
Um Homem, um Sonho, uma Catedral Mejorada del Campo é uma pequena cidade dormitório situada a 20 quilómetros de Madrid. Dificilmente atrai a atenção de um visitante ocasional mais interessado em outros pontos da constelação madrilena tais como, Toledo, Escorial ou Alcalá de Henares.
M
as surpreenda-se! Vale mesmo a pena ir a Mejorada del Campo. Há mais de cinquenta anos que um homem sozinho constrói ali uma catedral. Está a pagar uma promessa e a catedral, embora inacabada, é já um monumento à fé, ao sacrifício, ao trabalho abnegado. A catedral ergue-se num terreno de 4.740 metros quadrados, tem duas torres com 25 metros de altura e 60 de largura cada, inspira-se nos modelos renascentistas italianos, dispõe de um baptistério exterior, claustro, três naves no interior, uma cúpula. Justo Galego Martinez é o herói desta saga. Deitou mãos à obra no início dos anos sessenta, num terreno da família. Em Outubro de 1961, foi expulso do convento de Santa María de Huerta, de Soria, por ter contraído tuberculose. Conseguiu curar-se e a ideia de construir a catedral surge de uma promessa feita em acção de graças pela cura. Desde então trabalhou seis dias por semana na realização do sonho. Vendeu todos os bens da família e, quando já não tinha mais dinheiro para comprar pedras, tijolos, areia e cimento, abriu uma subscrição pública e pediu a ajuda de 28
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voluntários. Poucos aderiram porque o consideravam um louco. Em 2002 encontrei-o ainda nesse impasse. Empoleirado no alto de uma torre com um balde de massa a assentar tijolos, ajudado por um homem que fazia subir e descer o balde com uma corda. Em 2005, a câmara municipal reconheceu que a 'Catedral do Justo' era a única atracção turística de Mejorada del Campo, apesar de a obra não dispor de plano arquitectónico nem de autorização de construção, menos ainda da bênção do bispo da diocese. Em 2007, num anúncio de uma conhecida marca de água mineral espanhola, realizado na catedral, Justo Galego, de solidéu de cardeal na cabeça, aparecia nas televisões a contar a história da catedral e, desde então, grupos de jovens voluntários apresentam-se aos fim-de-semana e nas férias para o ajudarem nas obras. Justo Galego é hoje um homem pobre e envelhecido, como se pode ver nas imagens emitidas no Youtube, quando saúda os seus jovens colaboradores. Sempre sorridente, Justo irradia felicidade porque, afinal, todos os dias se encontra com a obra da sua vida. n Cesário Borga
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Moçambique Novas quimeras em África
Moçambique assiste actualmente ao aumento do fluxo de portugueses que procuram o país para investir e trabalhar. A comunidade de expatriados lusitanos na capital já é significativa e está presente em várias actividades económicas e profissionais. 30
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de crise vivida em Portugal. A estagnação da economia e a falta de perspectivas no mercado de trabalho estão, pois, na origem da actual "vaga" de migração para alguns dos países africanos de língua oficial portuguesa, como é o caso de Moçambique, onde a comunidade portuguesa tem vindo a crescer. O leque de actividades em que se envolvem os portugueses é amplo, do comércio à restauração e hotelaria, da docência à construção civil e à gestão empresarial.
Da ONUMOZ à Associação Portuguesa de Moçambique
A
s circunstâncias políticas e económicas que contextualizaram os movimentos migratórios de portugueses para África durante o século XX foram marcadas pela especificidade do colonialismo. Os migrantes assumiam o papel de colonos e uma parte da motivação para esse movimento migratório estava na procura de melhores condições de vida e de trabalho, condições que o Portugal do Estado Novo não oferecia aos seus cidadãos. Não obstante as diferenças de contexto, há motivações semelhantes nos actuais movimentos migratórios para as ex-colónias, face à situação
Entre a comunidade portuguesa há gente com muitos anos de trabalho em Moçambique, como é o caso de Horácio Feliciano, que chegou ao país pouco tempo depois dos Acordos de Paz que puseram fim à guerra civil, em 1992. Fez parte da ONUMOZ, a força de manutenção de paz, e acabou por ficar a residir em Maputo. Tem actualmente investimentos diversificados na capital, mas ainda consegue tempo para assumir a direcção da Associação Portuguesa de Moçambique, num momento em que se torna mais expressiva a presença de expatriados portugueses no país. A equipa que dirige propõe-se dar nova vida à Associação, criada em finais da década de 1980. Actividades culturais e desportivas são prioritárias no programa da nova direcção, que inclui também a reabilitação do edifício sede e preocupações de ordem social. "Queremos – explica – ter uma secção de apoio social, para dar apoio a pessoas que estão cá e a quem a vida não tem corrido muito bem e a outras que ficaram cá desde o antigamente e que já têm uma certa idade". A nova equipa dirigente apresenta-se preparada para a pluralidade de dimensões do programa, integrando "gente com formação e experiência profissional variada". Disponibilizar informação adequada aos portugueses residentes é outro objectivo da equipa de Horácio Feliciano: "Queremos criar também um gabinete de apoio jurídico, uma área de aconselhamento para apoio às pessoas que vêm – é bom que conheçam as regras da terra".
Uma agência austral Outro exemplo de longa experiência de trabalho no país é o de José Bacelar, agente de viagens com casa aberta numa das principais avenidas da capital. Quando chegou a Maputo, em 1993, logo NOV 2012 |
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Diáspora
Restaurante português
Horácio Feliciano
Pedro Almeida
José Bacelar
após o fim da guerra civil, encontrou um país com a economia paralisada. "Quase não havia lojas abertas, praticamente não havia movimento comercial no centro". Mesmo assim, apostou numa agência de viagens que estava para trespasse. Era o tempo do contingente de militares portugueses da ONUMOZ e muitos tornaram-se seus clientes. Mas foi, sobretudo, o desenvolvimento das potencialidades turísticas do país a contribuir para a expansão da actividade, no final dos anos 90 e na década seguinte. Com presença regular na Feira de Turismo de Lisboa, onde este ano, pela primeira vez, teve um espaço independente, a agência de José Bacelar apostou em Maio passado na primeira edição de um “Trans-Moçambique”. Não é um pioneirismo solitário: "Fomos os primeiros a introduzir no mercado português um programa para a Ilha de Moçambique e fomos também pioneiros nos programas para a Suazilândia e para o Lesoto". Com 32
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a oferta turística abarcando boa parte do país, perfila-se um alargamento dos horizontes operacionais para outros territórios da África Austral: "Moçambique, com a actual paz social, com a afabilidade das suas gentes, já era uma boa porta de entrada para o Kruger Park. E pode sê-lo também para explorar os países limítrofes".
Toda a realidade tem mais do que uma face A vaga recente de expatriados conta com muita gente nova, constrangida a buscar alternativas ao mercado de trabalho português. Os meios de aproximação à realidade moçambicana variam e um deles é a experiência de um voluntariado. Foi o que aconteceu com Pedro Almeida, 37 anos, professor na Escola Portuguesa de Maputo, que antes havia tido uma experiência de trabalho na área da educação na Guiné-Bissau. Tinha da emigração uma ideia remota, do tempo em que os pólos de atracção eram os países europeus mais
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A língua ajuda, mas não é tudo Haverá uns vinte mil portugueses a viver
a surgir mais nas províncias".
privadas e públicas que estão a formar
em Moçambique, a maioria na capital. E
Quanto à caracterização
licenciados que precisam de ter a sua
há, como confirma Graça Gonçalves
socioprofissional dos expatriados
saída profissional".
Pereira, Cônsul de Portugal em Maputo,
portugueses, regista-se uma evolução.
Consequência da entrada crescente de
"uma tendência recente, nos dois
"Quando eu cheguei, a maioria eram
empresas estrangeiras, há um dado
últimos anos, de um aumento
quadros, pessoas com formação
novo, a "explosão" do custo de vida. O
significativo no número de inscrições
superior, que davam um carácter
aluguer de uma casa em Maputo pode
consulares", a maioria correspondente a
particular à presença portuguesa. Agora
chegar facilmente aos 2000 dólares. Aos
expatriados recém-chegados. "Há muita
está a chegar gente de todas as
portugueses entusiasmados com a ideia
gente que vem explorar hipóteses de se
categorias e formações, para além dos
de trabalhar em Moçambique, a Cônsul
instalar aqui. Muito recentemente, nos
quadros".
sugere que "se informem antes sobre
últimos seis meses, e isso tem a ver
A Cônsul recorda o perigo da
quais são as condições, quais são os
com a situação em Portugal".
sobrestimação das oportunidades. "Da
passos legais". E há aspectos que nem
Se Maputo continua a ser a principal
parte de Moçambique vai haver cada vez
todos os candidatos a emigrantes têm
área de fixação, "a muito curto prazo vai
mais exigência de que as pessoas
presente: " Tendo sido Portugal a antiga
haver mais gente a fixar-se nas
venham com qualificações que não
potência colonial, as pessoas têm que
províncias, primeiro porque Maputo
colidam com as dos quadros
vir com a postura certa. Moçambique é
pode estar a atingir a sua capacidade
moçambicanos. Creio que a tendência é
um país independente e tem legislação
limite, porque a contratação de
privilegiar mais quem vem investir do
que tem de ser cumprida. A questão da
estrangeiros é limitada para as
que quem vem trabalhar por contra de
língua ajuda imenso e os laços
empresas e isso é muito limitativo para
outrem". O país está a fazer um esforço
históricos também, mas isso não é tudo.
trabalhar por contra de outrem, e, por
enorme em formar os seus próprios
As coisas aqui não são fáceis e tem de
outro lado, as oportunidades começam
quadros: "Há muitas universidades
se combater essa imagem".
desenvolvidos: "Alemanha, França, Suíça, Luxemburgo, entre outros, eram os destinos que mais ouvia falar como países de acolhimento em troca de um salário muito mais apetecível do que os auferidos no nosso país". Agora, chegou a vez de Pedro Almeida decidir "deixar o que muitas vezes consideramos a nossa zona de conforto ou porto de abrigo. Parti com vontade lutar, de conhecer e aprender, mas mais importante do que tudo isto, trouxe na bagagem vontade de me redescobrir e crescer ainda mais como pessoa". Apesar dos "relatos idílicos dos portugueses que por cá viveram durante décadas", a realidade moçambicana tem mais do que uma face. "Se é certo que este país pode ser um nicho de oportunidades, também é certo que é um país onde não é fácil trabalhar, a burocracia pode ser interminável, Moçambique não é a "árvore das patacas" ou o "eldorado" para todos os expatriados que vêm à
procura de melhores condições de vida". O outro lado da realidade, para além da quimera, exige uma disponibilidade especial e capacidade para enfrentar um mundo governado frequentemente pelo imprevisto: "Tenho trabalhado no ensino, tarefa hercúlea por todas as fragilidades e complexidade que o sistema de ensino apresenta. Quanto ao futuro, adapto-me à imprevisibilidade do contexto".
"Portugal não oferecia perspectivas" Outro testemunho de uma geração que não encontra em Portugal resposta para as suas expectativas é o de Cláudia Cardoso, 27 anos, licenciada em engenharia do ambiente. O primeiro contacto com Moçambique aconteceu no âmbito de um estágio numa empresa lusitana. De regresso a casa, constatou que "Portugal não oferecia perspectivas nenhumas de trabalho, nem por conta própria, nem a trabalhar para outros". NOV 2012 |
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Diáspora
Pavilhão de Portugal na FACIM 2012
Cláudia Cardoso
Face à degradação da situação económica portuguesa, começou a esboçar-se a ideia de criar uma empresa, na área da higiene e segurança no trabalho, em Moçambique. "Na altura era mais acessível abrir uma empresa aqui, os custos eram mais baixos e não havia empresas do género". Criada em Junho de 2009, a empresa que dirige tem hoje implantação nacional, desenvolvendo trabalho em Nacala, Tete, Pemba, Beira e Maputo. No início, a grande dificuldade foi a escassez de mão-de-obra especializada no país, problema que ainda se mantém mas que é atenuado através da formação interna. Quanto à relação pessoal que mantém com Moçambique, a passagem pelo Brasil nos últimos meses da licenciatura fornece uma chave para a decifrar: "Ao regressar do Brasil, senti muitas saudades e cheguei a pensar em desenvolver uma carreira profissional lá. Depois de já estar em Moçambique, senti-me muito bem, colmatei as saudades que sentia do Brasil. E adaptei-me bem". Um caso de sucesso, em pouco tempo, sublinhado por uma clara satisfação pessoal:" Todos os dias há trabalhos novos e todos os dias conhecemos pessoas diferentes. Sentimos que aqui acrescentamos valor e que somos úteis. Aquilo que em Portugal nem sequer tive oportunidade de experimentar".
Do voluntariado ao sentimento de pertença Pela via do voluntariado passou também Carla Ladeira, 33 anos, psicóloga terapeuta, que conheceu Moçambique em 2006 como voluntária na província de Inhambane. "No regresso a Portugal levei uma intensidade de emoções que me fizeram querer voltar, querer viver aqui". Carla arris34
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caria depois uma viagem de procura de trabalho em Maputo, sem "ilusões nem grandes ambições, sem nada definido, apenas uma intensa certeza de pertença a esta terra". A inserção no contexto social e laboral moçambicano consumou-se sem grandes sobressaltos. "Para mim correu bem porque fiz esse percurso de busca interior e também porque tenho uma área profissional que ainda não existe no país e que é muito necessitada". Carla Ladeira é gestora de projectos de desenvolvimento comunitário e apoio medicopsicosocial numa ONG Francesa, a "Douleurs Sans Frontières". "Tenho a sorte de permear várias realidades, a cidade e o mato, o devir cosmopolita, turístico e a infinita pacatez do campo com a doçura do olhar das gentes da terra". Os contratempos perdem significado face à descoberta "de que o bem maior que devemos exportar connosco é o nosso próprio ser livre de preconceitos, estereótipos e certezas". Mas nem todos os recém-chegados parecem ter esta abertura de espírito: "Tenho algum receio quando vejo chegar portugueses altivos, cheios de certezas e grandezas. Podemos mostrar diferentes formas de ser ou fazer, mas não devemos impor". Diz estar satisfeita com a decisão de ir para Moçambique, apesar de "sentir a falta da família, que fica a doze horas de distância e a um preço dificilmente inferior a mil euros". Mas Carla Ladeira não se imagina a partir. "Quando me perguntam até quando fico cá nem sei o que dizer. Fico enquanto esta terra me quiser, enquanto esta cumplicidade existir, enquanto tiver algo para contribuir". n Humberto Lopes (texto e fotos)
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Património
Marrocos A promessa da catedral A Fundação Calouste Gulbenkian inaugurou, recentemente, um portal dedicado ao património histórico português espalhado pelo mundo. Um bom motivo para a sugestão de uma visita a lugares exemplares da presença lusitana em Marrocos. Em Safi, o Castelo do Mar e a catedral manuelina, e em Aguz, uma fortaleza que a gente local associou a uma lenda fantástica.
A
presença portuguesa no norte de África prolongou-se por cerca de três séculos e meio, desde a conquista de Ceuta, em 1415, até ao abandono da praça de Mazagão, em 1769. Durante todo esse tempo a soberania lusitana limitou-se ao reduto das fortalezas erguidas no litoral. A resistência local não impediu, no
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entanto, o estabelecimento ocasional de alianças e de acordos de carácter comercial, como aconteceu na região da Duquela, onde os portugueses ergueram a segunda mais importante fortaleza do norte de África, a de Safim. Mas, de uma forma geral, a ocupação das praças fortificadas foi sol de pouca dura. Se Ceuta se aguentou mais de dois séculos, tal como Mazagão, caindo depois, no
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século XVII em mãos castelhanas, Alcácer Ceguer não durou cem anos, Tânger e Arzila menos de dois séculos e Safim apenas pouco mais de três décadas. De algumas das fortalezas não restam vestígios, como é o caso de Santa Cruz do Cabo de Guer, na região de Agadir, ou da Graciosa, nas imediações de Larache, de cuja exacta localização se perdeu o rasto. Mas ainda assim permanece no Magreb um expressivo conjunto de edificações de carácter militar ou religioso que constituem testemunhos – em certos casos em excelente estado de conservação – da presença portuguesa na região. Se no litoral norte-africano a estrutura de muralhas de Ceuta é razoavelmente conhecida, menos nomeadas são as ruínas de Alcácer Ceguer, a meio caminho na direcção de Tânger, cidade onde restam, também, alguns fragmentos de muralha e um ou outro portal na antiga medina. Já Arzila conserva um impressionante recinto muralhado, assim como El Jadida (a antiga Mazagão), cuja "cité portugaise" e as respectivas muralhas estão classificadas pela UNESCO desde 2005. A pouco mais de uma dezena de quilómetros, fica Azamor e as suas muralhas quinhentistas. E mais a sul, está Safi (a antiga Safim), com o Castelo do Mar e os seus baluartes redondos, a extensa muralha e a catedral manuelina. Bem perto, a trinta quilómetros, ficam Souira Kedima e a fortaleza de Aguz. Plantado sobre o areal, o fortim, de planta quadrangular e dois baluartes redondos, teve também uma existência efémera, tendo sido recentemente restaurado por iniciativa marroquina. A sua história ficou mesclada com uma lenda fantástica de invenção local que rezava que a fortaleza foi erguida numa única noite. As raízes da lenda podem estar num facto bem documentado: os invasores teriam conseguido edificar a feitoria em muito pouco tempo, utilizando madeira levada de Portugal. Com uma qualidade de construção muito inferior à de outras fortalezas portuguesas, é um prodígio ter sobrevivido até aos nossos dias.
A catedral manuelina Quando os portugueses chegaram à Duquela, região rica em cereais e atractiva para o comércio, fixaram o objectivo de conquistar ali uma posição estratégica. Com relações estabelecidas com a já então próspera Safim, fundaram uma feitoria e ergueram um
dos mais eloquentes exemplos da arquitectura militar portuguesa desses tempos. D. Manuel contratou para o efeito os técnicos mais qualificados de que dispunha o reino, gente como Diogo de Arruda, com notável obra na nave da igreja principal e na janela da Sala do Capítulo do Convento de Cristo, em Tomar, e o arquitecto Francisco de Arruda, ligado à construção do Mosteiro dos Jerónimos. As muralhas estendem-se por três quilómetros, atingindo em algumas secções os sete metros de altura, e apresentando uma novidade, os baluartes redondos acasamatados. O chamado Castelo do Mar foi construído mais tarde e constitui também um magnífico exemplo do património de origem portuguesa no norte de África. Uma parte da sua estrutura está agora ameaçada, já que no início de 2010 o mar fez ruir um dos torreões. No interior da medina, perto da Grande Mesquita, Safi conserva um autêntico tesouro, um templo manuelino em terra africana. É a velha Catedral de Safim, edificada em 1519, imersa, hoje, numa malha urbana árabe. Durante séculos o espaço foi utilizado como banho público feminino, mas há agora planos para a consignar a funções mais "nobres". As duas capelas e elementos decorativos, como o Escudo Real de D. Manuel, a Cruz da Ordem de Cristo, a Esfera Armilar e um brasão episcopal, lavrados em pedra, aguardam um processo de restauro – que deverá acontecer no âmbito de um programa de requalificação do centro histórico –, para o qual foi solicitada a cooperação da Fundação Calouste Gulbenkian. A Fundação averba um importante historial de apoios à preservação de património de origem portuguesa no mundo, concretizados através de diferentes modalidades, que têm incluído, em alguns casos, a elaboração do programa de intervenção, a execução e, mesmo, o seu financiamento, e noutros apenas a oferta do projecto. A Gulbenkian tem apoiado, também, a preservação de objectos de arte e de património documental.
Um centro cultual no horizonte O compromisso da Fundação Calouste Gulbenkian ocorre na sequência da cimeira lusomarroquina de 2007, embora já houvesse um envolvimento anterior da Gulbenkian através do levantamento da situação. A Fundação ofereceu o projecto de intervenção, que foi entregue formalmente, em Outubro de 2010, ao Ministro da NOV 2012 |
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Património
Cultura de Marrocos, e aguarda, agora, uma reacção das autoridades marroquinas e sugestões de eventuais alterações. "É um dos aspectos que temos sempre em atenção. É o respeito pelas próprias ideias e sugestões, porque o património tem uma origem portuguesa, mas não é nosso", sublinha Maria Fernanda Matias, a responsável da Gulbenkian que tem acompanhado o processo. "O projecto marroquino será o de instalar um centro cultual, tirando partido da proximidade da mesquita, do minarete almóada e da catedral", explica a técnica da Fundação. "Cultual na medida em que propõe fazer a ligação histórica com aquilo que tinha sido a permanência curta e efémera de uma religião que deixou visíveis as marcas arquitectónicas do passado. Confirma-se que aquele era ancestralmente um espaço sacralizado que, no fundo, congregou várias crenças ao longo dos tempos". No projecto, da autoria do arquitecto João Campos, é privilegiada "a ideia de recuperar as duas salas e criar também uma área exterior de convívio, de forma a dar ao conjunto uma nova dimensão sociocultural. Para o interior, não foi 38
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previsto por enquanto nada de concreto uma vez que dependerá dos achados que certamente serão revelados no decurso de uma campanha arqueológica, que obrigatoriamente terá de estar associada ao projecto". Um dos objectivos da iniciativa é "tornar o sítio atractivo, visitável como espaço de memória histórica. Daí a proposta de reabilitação da zona envolvente, um local de convívio, mas também com possibilidades de aproveitamento para espectáculos. Ou seja, valorizar a Catedral Portuguesa como polo central do processo mais alargado de recuperação da Medina de Safim, no quadro do desenvolvimento local". Quanto aos custos, prevê-se que os encargos do projecto sejam financiados pela Gulbenkian. Actualmente, as actividades da Fundação no domínio da recuperação e preservação de património são marcadas por novas orientações: "A actividade da Fundação Gulbenkian a esse nível incide no apoio técnico especializado, seja em engenharia, história, museologia, museografia, arquitectura, etc. Não é nosso objectivo realizar intervenções de campo. Safim será a nossa últi-
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Um livro e um portal A publicação recente de um trabalho
uma estrutura de gestão partilhada e
rectificações pontuais; as sugestões
dedicado à identificação e
rotativa, para cujo funcionamento "foi
serão avaliadas pelos respectivos
inventariação do "Património de origem
celebrado um acordo entre a Fundação
órgãos de gestão - um conselho
portuguesa no mundo", com direcção
Gulbenkian, a Universidade de Coimbra,
executivo e um conselho editorial - e
de José Mattoso e colaboração de
a Universidade de Évora, a
avaliada, assim, a
vários historiadores e arquitectos, surge
Universidade Nova e
idoneidade científica da
articulada com o que é o historial da
Universidade Técnica de
proposta".
Gulbenkian: "Esta obra, que não é um
Lisboa". O portal vai ficar
A informação será
inventário definitivo, é um ponto de
associado, numa primeira
disponibilizada em
partida, é a pedra de fecho da abóbada
fase, durante quatro anos,
português e em inglês. O
de toda a actividade que tivemos ao
à Universidade de
lançamento do portal
longo de cinquenta anos". São cerca de
Coimbra, transitando
coincide, aliás, com a
duas mil páginas que descrevem um
depois para outra
publicação da versão
imenso património espalhado pelo
instituição. "A Fundação
mundo, organizadas em três volumes
financiará o portal durante os primeiros
Mar Vermelho e Golfo Pérsico (os outros
correspondentes a diferentes áreas
anos".
dois, América do Sul e Ásia e Oceânia,
geográficas: África, Mar Vermelho e
Será uma ampla base de dados
bem como um volume de Índices, foram
Golfo Pérsico, América do Sul, e Ásia e
permanentemente aberta a outras
lançados em 2010), concluindo assim o
Oceânia.
contribuições. "O portal estará aberto a
trabalho de sistematização do
Será, justamente, toda essa informação,
sugestões de novas entradas, a
património histórico de origem
já disponibilizada no portal, que terá
actualizações ou até mesmo
portuguesa no mundo.
inglesa do volume África,
ma acção nesta área". A abertura mantém-se, no entanto, ao nível dos estudos especializados e foi nesse sentido que a Gulbenkian manifestou também a sua disponibilidade para cooperar com as autoridades marroquinas na preparação de estudos técnicos inerentes a uma intervenção no Castelo do Mar. Quanto a projectos no horizonte, Maria Fernanda Matias prefere não destacar nenhum. Tem havido, naturalmente, muitas solicitações: "Uma percepção que tenho é de que há um imenso legado que precisa de ser estudado e preservado. Há muito trabalho a fazer. Mas têm que ser os próprios países. Uma fundação portuguesa pode apenas actuar pontualmente aqui e ali, se possível em parceria... Daí a nossa mudança de paradigma em relação ao património. Porque qualquer intervenção directa é sempre muito morosa. A primeira responsabilidade tem que ser dos próprios governos, das entidades que tutelam os monumentos, os seus proprietários. E o património requer uma política de longo prazo…" n Humberto Lopes (texto e fotos) NOV 2012 |
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Patrim贸nio
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Chiiiu, que se vai aprender o Fado! Velhos e novos. Pessoas abonadas e de menores recursos económicos. Gente com habilitações académicas superiores e o ensino básico. Portugueses e estrangeiros. Criada há 13 anos, a Escola de Fado da Junta de Odivelas mostra a universalidade e a força do estilo musical imortalizado por Amália.
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Património
Tiago Fins (à direita na foto), aprende Viola há pouco mais de um ano
L
onge vão os tempos em que a Igreja Católica condenava as raízes boémias do Fado. Ou em que a ditadura de Salazar censurava as letras que apelavam à crítica política e social. Quase esquecido está também o período do pós-25 de Abril de 74 em que este estilo – nessa altura já internacionalizado pela diva Amália Rodrigues – foi marginalizado em benefício da canção de intervenção. Hoje, já com o título de Património Imaterial da Humanidade conferido pela UNESCO e com vários embaixadores de peso que o difundem além-fronteiras, o Fado recuperou a dignidade perdida e está definitivamente associado à identidade nacional. A sua força é bem visível na Escola de Fado da Junta de Freguesia de Odivelas, constituída pelo executivo autárquico de há 13 anos, com a ajuda preciosa de Vítor Conde, António Jorge e João Ramos. Actualmente reúne cerca de 50 alunos das mais diversas faixas etárias, habilitações académicas, níveis socioeconómicos e até países de origem.
As noites de quarta Juntam-se no Pavilhão Polivalente de Odivelas, todas as quartas-feiras, entre as 21 e as 23 horas. 42
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A "matriarca" Cidália Aleixo (que ingressou no projecto desde o início), é uma das primeiras a comparecer. Afinal, não só canta como também assumiu a tarefa de anotar as horas de chegada dos alunos. Ordem essa que estipula quem são os primeiros e os últimos a treinar os seus dotes vocais no salão principal, sob a direcção do filho, Nelson Aleixo (viola), que paralelamente ensina alguns instrumentistas. Numa sala mais exígua, logo ao lado, cabe a António Jorge (guitarra) – igualmente consagrado no meio – conduzir a aula. O presidente da Junta, Vítor Machado, e um dos seus braços direitos na gestão da escola, Jaime Ferreira de Carvalho, explicam que o crescimento desta, em número de alunos, obrigou à criação deste segundo espaço de ensaios: só assim todos poderiam ter a oportunidade de cantar dois ou três temas por noite. Cidália avança que gerir um grupo tão heterogéneo nem sempre é fácil: exige-se "calma" e "saber falar com as pessoas". A fórmula tem funcionado. De facto, os convites para actuar em restaurantes, associações, ou eventos pontuais (incluindo bastantes festas de solidariedade) são
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frequentes, e a escola tem projectado alguns dos seus discípulos como a fadista Rute Soares e os violas Nelson Aleixo e Pedro Soares. Vítor Machado sublinha que este não é um projecto meramente lúdico: "Não se vem aqui para mandar um fadinho abaixo, vem-se aqui para aprender". E isto a custo zero: as aulas são gratuitas desde o arranque, o que até agora não lhes roubou qualquer credibilidade. Há um silêncio respeitador do grupo durante os desempenhos dos colegas. Há quem traga blocos de notas com as letras, escritas à mão, dos temas favoritos. Há um certo brio no guarda-roupa escolhido para as noites de quarta. Há um ouvido sempre desperto para os ensinamentos dos Mestres.
O Fado como libertação Rui Santos – que ainda recentemente participou no "Grande Prémio do Fado" a decorrer no programa televisivo Portugal no Coração – é um destes ávidos aprendizes, que luta por se aperfeiçoar nas artes do Fado. Entrou na escola há três anos e meio. Hoje, aos 42, este odivelense substituiu a paixão pelo ci-
clismo pelo amor ao fado. Não costuma falhar um ensaio, e mesmo nos intervalos do trabalho aproveita para cantarolar. De voz aveludada, rouca e arrastada, jeito recatado, e espírito voluntarioso, Rui já conquistou adeptos e actua regularmente nalguns estabelecimentos. Rui identifica-se sobretudo com a melancolia do fado tradicional (nomeadamente o de Fernando Maurício e Artur Batalha) e diz que a música o ajudou a libertar-se de alguns demónios, como a perda da custódia dos filhos. Percebe-se que a escola já faz parte do seu ADN e é um dos elementos que ajuda a integrar os estreantes.
Os Ensaios decorrem paralelamente em duas salas. Cidália Aleixo, umas das alunas (ao todo são cerca de 50) a cantar
Galega com alma fadista Uma destas novas "aquisições" é Tcharo Barreal, 76 anos, natural da Galiza (Espanha), que mora em Lisboa há mais de cinco décadas, frequentando os ensaios de quarta há cerca de quatro meses. Canta vários géneros musicais desde pequena e afirma que a "culpa" de não o fazer profissionalmente "é da Matemática e do Latim": os estudos tinham de vir primeiro. Já a "culpa" de estar na escola é da amiga NOV 2012 |
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Património
Salão principal do Pavilhão Multiusos de Odivelas
Belita Martins, a que alguns tratam por "Princesinha de Benfica". Uma senhora bem arranjada, de sorriso pronto, aficionada por fados e touradas. "É verdade que não canto… mas encanto!", refere, descomplexada. Foi ela que trouxe Tcharo, sabendo-a apaixonada pelo "poema e a melodia". Começou por tentar adaptar-se ao estilo luso, mas atualmente deixa fluir, com naturalidade, o sotaque galego. "Porque é que só os portugueses hão-de ter direito a cantar o Fado? O sentimento é universal", comenta, acrescentando que o importante é ser interpretado com alma, "pronunciando bem as letras". Edgar Antunes, 72 anos, também nutre um carinho especial por este género. Quando chegou à escola o bichinho estava instalado. "Já cantava à capela, inclusive durante a comissão em Angola, na Guerra do Ultramar": um hábito que o ajudou "a superar aqueles 30 meses". Prefere o Fado de Coimbra, cuja afinação dos instrumentos lhe confere uma sonoridade mais sombria que o de Lisboa.
Talento rebelde Contudo, o mais interpretado na escola é mesmo o de Lisboa. Quem o confirma é Tiago Fins, a aprender viola há pouco mais de um ano sob a direção de António Jorge. À primeira vista, ninguém diria que este jovem de cabelo comprido, brinco na orelha e piercing na língua, fosse um aficionado por este género. Mas Tiago já convence os mais cépticos. Explica que iniciou as aulas depois de ter ouvido a irmã, Marta, cantar (aos 14 anos é a mais nova 44
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entre todos os alunos) e de o Mestre João Ramos (que por motivos de saúde teve entretanto de abandonar a escola) o ter desafiado. Praticamente trocou a guitarra elétrica pela viola: "a princípio foi pela graça, depois apanhei-lhe o jeito". Hoje, com 24 anos e o curso de Técnico de Informática, afirma que se lhe dessem uma oportunidade não hesitava em abraçar profissionalmente o Fado. De acordo com as palavras da mãe, Maria José, tanto ele como Marta levam a escola muito a sério. Quanto ao Tiago, refere que toca todos os dias, "por vezes até de madrugada". O que, para o jovem, é apenas uma questão de "disciplina".
"Fazia sentido" Outra das alunas, Mónica Caroça, também gostaria de fazer carreira no Fado. Da mesma forma que há sete anos descobriu uma forma de estar muito própria – veste-se sempre de negro mas não se considera gótica – também quando experimentou este género musical sentiu que estava no seu meio natural. "No meu íntimo, apercebime que fazia sentido". Até porque ouve Amália "desde pequenina" e a entrega da diva sempre a fascinou. Atualmente tanto se identifica com os fadistas mais tradicionais como com a nova vaga (Ana Moura ou Carminho), menos agarrada a um certo fatalismo. O que canta reflecte muito o seu estado de espírito. "Em actuações frente a um público posso interpretar um Fado corrido e alegre, ou temas tristes e melancólicos". O que depende igualmente dos "gostos da audiência", acrescenta a jovem de 22 anos que estuda Canto na Escola de Música do Conservatório de Lisboa. O presidente da Junta de Odivelas diz que, "considerando apenas o 1º semestre deste ano", a Escola de Fado já recebeu entre 20 a 30 convites para atuar. Vítor Machado recorda que, todas as últimas quartas-feiras do mês, alguns alunos são mesmo presença assídua num restaurante local e acrescenta que até Dezembro será lançado um CD. "Tem-nos dado grandes alegrias. É um orgulho para a cidade, a freguesia e o concelho". n Lina Manso (Texto) Fernando Zarcos (Fotos)
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Ofícios
Óscar Cardoso O Midas das guitarras Sincero, frontal, filosófico, rebelde e entusiástico são adjectivos que servem ao reconhecido guitarreiro português Óscar Cardoso. A rebeldia é um traço marcante da sua personalidade carismática, mas também dos seus instrumentos.
D
as guitarras portuguesas sem fundo às siamesas de dois braços; das violas em dois blocos de madeira, passando pela utilização de fibra de carbono na estrutura dos instrumentos, Óscar está sempre atento ao novo e "contra o que está estabelecido". Uma mistura explosiva que lhe tem permitido realizar vários modelos experimentais e híbridos para músicos como Arménio de Melo, Carlos Gonçalves, João Alvarez, Ricardo Dias, Mário Pacheco, Custódio Castelo, Edgar Nogueira, Ângelo Freire, José Manuel Neto, Pedro Jóia, Pedro da Silva Martins, Luís Varatojo, Carlos Manuel Proença, Diogo Clemente ou Pedro Soares, entre outros. Há guitarras dele, crê-se, pelos quatro cantos do mundo, uma das quais com Pat Metheny. Para muitos o melhor guitarreiro português, Óscar Manuel Barbedo Cardoso abre-nos as por-
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tas da oficina que já pertencera ao pai e mestre, Manuel Cardoso, por entre serradura, resíduos, peças de madeiras várias, ferramentas e, claro, guitarras. No seu jeito sincero e frontal, vai logo avisando que tem "coisas incríveis" para mostrar, como "guitarras siamesas de dois braços que se desmancham". Houve quem nem tempo tenha tido para lhe fazer uma entrevista. "Foi logo mandado embora. A primeira pergunta que fez foi quantas violas eu fazia por dia. Mandei-o logo à vida, daqui para fora; que fosse estudar primeiro a arte!" Não sabe quantas guitarras fez – afirma serem mais de cem –, nem as numera. "Nem precisam de ter rótulo, que por acaso ponho, mas quem olha sabe que são minhas. Assim, a confusão é maior, e o caos é uma coisa fabulosa, que as coisas certinhas são um tédio", dispara o luthier, prenunciando uma conversa ritmada, por vezes filosófica, a deambular pelas esquinas da vida, onde "nada acontece por acaso". Acredita que, "quando somos livres, a vida é feita de coincidências incríveis" e que "o ser humano não está no mundo para trabalhar mas para desfrutar e criar". Talvez seja por isso que chega a passar meses sem fazer novas guitarras, apesar das encomendas. Há músicos de proa que esperam anos… A próxima irá para as mãos de Luís Martins, dos Deolinda, mas em espera estão José Manuel Neto, Rui Veloso, Diogo Clemente, Pedro Jóia, César Silva, Paulo Soares ou Luís Guerreiro. Ao que parece, a viola que pertencerá a Rui Veloso, encomendada há quatro ou cinco anos, "vai ser uma coisa
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especial, com design futurista". "Ele vai ficar maluco!", diz Óscar com os olhos arregalados de entusiasmo. A rebeldia marca a sua personalidade, mas também distingue as suas guitarras. Da fusão de morfologias; das guitarras portuguesas sem fundo às siamesas de dois braços; das violas em dois blocos de madeira, passando ainda pela utilização de fibra de carbono na estrutura dos instrumentos, Óscar já experimentou tudo e pretende levar os modelos tradicionais ao seu limite evolutivo. "Faço-o para ver a reacção das pessoas quando olham para aquilo que faço, mas a minha grande loucura é o som. Tenho um som do outro mundo dentro da cabeça que nunca vou encontrar…" A ideia das guitarras sem fundo começou a ser deslindada quando, ao colocar um tampo e fazendo vibrar um diapasão na madeira, Óscar se apercebeu de que este vibrava menos e produzia menos som com fundo do que sem ele. Rapidamente descobriu "uma característica
interessante" nas guitarras sem fundo: "Aproveitam o espaço e fazem dele a acústica do instrumento. Quando temos uma caixa acústica fechada, o som é produzido naquela pequena caixa e sai algum pela boca, mas a maior parte fica presa no interior. Sem caixa acústica o som sai rapidamente e propaga-se pela atmosfera, ou vai bater nas paredes, no tecto e no chão, sendo reflectido e gerando-se um aumento de volume. Já foram feitas medições que o provam. A 100 metros, na rua, ouve-se o mesmo que se estivéssemos ao pé da guitarra." Entretanto, mais ninguém pode fazer guitarras sem fundo, uma vez que Óscar registou a patente do que já é uma revolução na história do instrumento. Recebeu a medalha de mérito do Município de Odivelas em 2000, gosta de fado e de tocar guitarra portuguesa, mas domina melhor a clássica. Segundo ele, "é muito importante que os construtores saibam tocar para terem a noção do que fazem; para entenderem a linguagem do NOV 2012 |
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Ofícios
“Criei o meu caminho...” Nascido em 1960, Montão, Cinfães do
Começou pelas clássicas e, aos 18 anos,
Douro, prosseguiu a tradição do pai,
teve autorização para fazer guitarras
Manuel Cardoso, que o iniciou na arte
portuguesas.
da construção de guitarras. Com um
Frequentou o curso de Guitarra Clássica
ano foi para Lisboa com o pai, que se
da Escola Victorino Matono de 1980 a
empregara no Salão Musical de Lisboa,
1986, tendo depois recebido uma bolsa
onde se tornou mestre guitarreiro.
da Secretaria de Estado da Cultura para
Posteriormente, Manuel foi aprendiz de
estudar técnicas de construção na
Álvaro Marciano da Silveira, um dos
Scuola Internationale de Liuteria de
maiores construtores da época, que por
Cremona, em Itália, sob direcção do
sua vez se tornou uma espécie de 'avô
mestre Scarpini. Ali juntaram-se as
de ofício' de Óscar. "Foi o maior
peças de um velho puzzle: "Fiquei
revolucionário de instrumentos no País.
surpreendido porque a minha técnica
Inventou as guitarras grandes
era igual à dos italianos. Descobri que,
portuguesas. Todos os construtores
afinal, o mestre do meu pai era da
beberam desse homem", dispara o
escola italiana porque também fora ali
luthier, que aos oito anos se ocupava a
e fazer guitarras." Manuel exasperava
bolseiro. Tudo era igual ao que eu fazia,
fazer réplicas de mobílias, armas,
com as "loucuras" do filho, mas este,
e esse conhecimento já me tinha sido
trotinetas e carros.
pelo respeito que lhe tinha, raramente
passado pelo meu pai."
Aprendeu tudo com o pai. "Juntos
as punha em prática. "Por vezes, em
Por morte do pai, em 1991, herda a
éramos um", diz, lembrando que o
frente dos clientes, ele dizia que eu era
oficina no Casal do Privilégio, em
ajudava em tudo, até porque Manuel
louco porque fazia experiências como
Odivelas, e a clientela. "Andei dois anos
sofria de uma doença incapacitante. "Ia
meter cordas dentro das guitarras a
em alto sofrimento, mas, quando fiquei
com ele para todo o lado. Daí que eu
vibrarem por simpatia com as cordas
sozinho, tudo o que tinha dentro de mim
não saiba dizer quando comecei a fazer
externas", lembra. Passou anos a lixar,
saiu cá para fora. Tive de criar o meu
instrumentos, porque sempre estive com
serrar e aplainar até o pai lhe dizer que
caminho, o meu cunho, a minha
ele na oficina. Lembro-me de ter 13 anos
estava apto a fazer uma guitarra.
personalidade na construção", conclui.
músico": "Se o músico me diz que não gosta do som da guitarra porque tem pouco vibrato, extensão ou harmónicos; porque é grave ou aguda, ou está surda, trata-se de uma linguagem que, se eu não entender, não poderei identificar nem corrigir problemas." De noite não sonha; pensa. "A maior parte das coisas novas que faço surgem enquanto durmo, e de manhã acordo cansado." Sonha literalmente as estruturas acústicas e não faz esboços. Quando mete mãos à obra "já tudo está projectado dentro da cabeça". E segredos? "Os meus instrumentos não têm segredos. Nem sequer têm fundo; vê-se tudo lá para dentro", diz o luthier, garantindo que "a diferença está na capacidade de analisar a madeira e saber tirar partido dela". 48
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Ainda assim, pretende mostrar que "os materiais não têm grande influência no som": "É essa a minha rebeldia agora. As maiores invenções e descobertas foram quase sempre contra o que estava estabelecido, e todas as madeiras dão som!" A prová-lo, mostra-nos o protótipo de uma guitarra abaulada de dois blocos de madeira encaixados, apenas com os veios do tampo na radial, coisa para custar cerca de três mil euros – "uma revolução para a malta!" Descobriu o surf e o paddle surf há alguns anos através de um amigo guitarrista, sendo a praia de S. Lourenço, perto da Ericeira, uma espécie de segunda casa onde tem informadores que telefonam a avisar sempre que há ondas, e lá vai ele. n Hugo Simões (texto) José Frade (fotos)
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Memória
O sortilégio de Mirita "O sortilégio de Mirita está nos seu olhos. Tudo está nesses olhos que entram até muito fundo. E no rosto duro." Foi deste modo que o jornalista Fernando D. da Costa (hoje Fernando Dacosta) definiu em 1965 a actriz Mirita Casimiro.
A
cabada de regressar do Brasil, onde viveu nove anos, Mirita preparavase então para representar "A Casa de Bernarda Alba" no Teatro Experimental de Cascais, sob a direcção de Carlos Avilez.
Filha de toureiro Maria Zulmira Casimiro de Almeida ( a nossa Mirita Casimiro) nasceu em Viseu (10 de Outubro de 1914) de família ligada à tauromaquia. Seu pai, José Casimiro, foi um famoso cavaleiro e os irmãos eram também toureiros amadores. Embora pareça inacreditável a verdade é que Três fases da vida da actriz Mirita ainda frequentava um colégio de freiras quando se estreou no teatro como bailarina. "Saía do colégio das Doroteias e ia a correr para o teatro onde era bailarina. A Madre Superiora era uma mulher muito evoluída e compreendia a minha situação. Foi assim que saí do colégio e estreei no teatro a cantar fados e canções da Beira Baixa. Tinha apenas 14 anos…" Aos vinte estreava no Maria Vitória na revista "Viva a Folia". Os êxitos sucedem-se e é vedeta absoluta na revista "Olaré, quem brinca" e no filme de Leitão de Barros, "Maria Papoila".
Casamento com Vasco Santana Muito magra, pequena, com aqueles olhos "que entram até ao fundo", Mirita perde-se de amores por Vasco Santana e, durante meia dúzia de anos, ela e ele formam uma dupla imparável que enche os teatros com um público exigente e completamente rendido ao talento dos dois actores. Em 1945 Mirita e Vasco atingem o auge da popularidade com uma opereta, "A Invasão" e com uma revista "Alto lá com o charuto". Segundo a crítica esta revista foi o maior sucesso dos anos 40. Do elenco, além de Mirita e 50
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Vasco, faziam parte, entre outros, Barroso Lopes, Georgina Cordeiro, Álvaro Pereira, a lindíssima Maria Luísa e Helena Félix, que haveria, anos depois de ser uma das maiores actrizes do teatro declamado. A música era do grande Raul Ferrão e de Fernando Carvalho. Numa rábula delirante Mirita aparecia vestida de cetim negro, com uma racha que deixava a descoberto uma perna vestida de rede e cantando "Mon Homme" . Mirita ainda foi primeira figura em revistas dos anos quarenta ("Ó Ai Ó Linda", "Tico-Tico", "O Pirata da Perna de Pau", todas no Maria Vitória). Na revista "Tico-Tico" ficou famosa a rábula "A Menina da Apa", uma paródia aos concorrentes dos concursos radiofónicos que à época eram a coqueluche.
Brasil, ida e volta Desfeito o casamento com Vasco Santana, Mirita ruma ao Brasil onde procura trabalho. São cerca de oito anos sem grande êxito e, quando, em 1964 regressa a Portugal, o encenador Carlos Avilez convida-a para ser a protagonista da peça de Lorca, "A Casa de Bernarda Alba". Era um sonho, um sonho cumprido. Mirita gostou do ambiente do Teatro Experimental de Cascais tendo confessado que não esperava encontrar gente nova tão profissional. "O Carlos Avilez é um rapaz de muito valor." Por essa altura, Mirita confessa ao repórter que está entregue de alma e coração à gente do TEC. "O teatro aconteceu-me. Espero que nunca me abandone. Se não fosse actriz gostaria de ser escultora. Como mulher sinto-me inteiramente realizada e não tenho problemas de solidão. Hoje o que mais me interessa na vida é a minha mãe e a minha filha. E o teatro, naturalmente." Na verdade, Mirita volta a Portugal para estar perto da mãe bastante doente e já muito idosa e quando, em 1970, sofreu um grave acidente de viação no Porto que a impossibilitou de voltar ao palco, a actriz não resistiu e, na altura, houve quem dissesse que Mirita se tinha suicidado. Na verdade morreu na sua casa de Cascais no dia 25 de Março de 1970. Tinha 55 anos. Em Viseu, cidade onde nasceu, foi dado o seu nome a um Auditório. Os do TEC, de Carlos Avilez, deram também o seu nome ao teatro onde trabalham. n Maria João Duarte
O famoso fotógrafo Silva Nogueira “apanhou assim Mirita Casimiro. Ao lado: “Maria Papoila” foi folhetim do jornal “O Século” e filme de Leitão de Barros. Em baixo: Mirita com Vasco Santana na revista “Cantiga da Rua” em 1943 no Maria Vitória. Ilustração de Amarelhe
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Justiça e Sociedade António Bernardo Colaço
Testamento vital e eutanásia A Lei nº 25/2012 de 16.06. estabeleceu as directivas antecipadas de vontade, sob a forma de testamento vital (T.V.), a nomeação do procurador de cuidados de saúde e a criação do seu Registo Nacional.
O
T.V. enquanto instituto do nosso ordenamento jurídico, configura um avanço cultural, atendendo a constrangimentos educacionais, religiosos e culturais da nossa sociedade, onde o culto dos mortos e a indefinição quanto ao significado da vida deram origem a interpretações diversificadas sobre a forma como a existência do homem deve e merece ser entendida. O T.V. é um acto de vontade e de consciência. Pode ser feito por pessoas saudáveis, em qualquer altura da sua vida. Juridicamente o T.V. constitui o exercício de um direito na medida em que toda a pessoa tem "jus" à dignidade em todo o ciclo da sua vivência, nomeadamente sobre as condições em que deseja morrer quando em estado terminal. Estado terminal significa, uma situação patológica idónea, clinicamente comprovada, para conduzir à morte. Neste quadro o testador dita para que o seu falecimento seja digno, evitando que lhe sejam ministradas terapias de nulo efeito a fim de prolongar artificialmente uma vida não consciente, em suma, por uma boa qualidade de morte. Neste aspecto o T.V. assemelha-se à ortonásia, que envolve uma relação médico/paciente ou/família, por via da qual se procede à limitação de tratamento que prolonga a vida em caso de doença incurável e em fase terminal. Do acima exposto se distingue a distanásia, que visa manter vivo através de meios artificiais, um doente incurável, prolongando a vida, mesmo à custa de dor. É um processo de morte lenta. É bem de se ver que neste caso jogam valorações não pautadas por cânones médico-científicos. 52
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Distinto é porém o caso da eutanásia. Esta envolve um acto consciente, controlado e assistido para provocar ou acelerar a morte de alguém, mesmo quando num estado de consciência mitigada, peça para que o processo da sua morte seja abreviado, para não sofrer ou evitar um estado doloroso. Tanto a T.V. como a eutanásia tem como destinatário o paciente em estado terminal. O que as distingue é que na 1ª evita-se prolongar a vida e na 2ª há uma acção para abreviar a vida. Eutanásia constitui presentemente um crime, a T.V. não. Neste quadrante, uma questão basilar se coloca: "não prolongar a vida" será sinónimo de "abreviar a vida"? Parece que sim. Na verdade prolonga-se ou abrevia-se o que ainda existe. O efeito real tanto num como noutro caso é o mesmo – a morte. No estado actual da evolução científica é estulto pensar que um médico não sabe identificar um estado irreversível num doente terminal. Haja um T.V. ou uma súplica para abreviar a vida, a deontologia imporá que o médico, aja por si, consciente e cientificamente, o que em termos do "timing" pode ou não coincidir com qualquer das manifestações do paciente. Mingua assim razão para atribuir natureza criminal ao acto de eutanásia. Na actualidade o móbil incriminatório parece assentar apenas no conceito da expressão "abreviar a vida". Como se sabe, os códigos penais consagram a "vida" como o 1º bem a merecer tutela penal, e bem. Para muitos porém, estar-se-ia perante um acto que invade a essência da vida, que "só a Deus é lícito tirar". Todavia, nesta apreciação estamos em domínios distintos: num, a singularidade da vida, numa conceituação naturalística ou metafísica; noutro, a da sua degeneração num corpo humano moribundo. Cedo ou tarde esta distinção fará vencimento em nome da dignidade da pessoa humana. De qualquer forma, enquanto o reconhecimento do T.V. constitui um marco civilizacional, a consagração legal da eutanásia terá que aguardar a sua vez. n
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Olho Vivo
Veneno anti-dor O veneno da cobra mambanegra contém uma substância tão eficaz para tirar as dores como a morfina. Cientistas da universidade de Nice estudaram o réptil, cujo veneno, se não for combatido, mata um ser humano em menos de 20 minutos, e isolaram a "mambalgina", que inibe a dor sem provocar os efeitos secundários da morfina, como o risco de insuficiência respiratória.
Restos de Y Estudiosos do cancro norte-americanos revelaram que a presença de ADN masculino no cérebro de mulheres que foram mães de rapazes pode contribuir para a redução do risco de contrair a doença de Alzheimer, mais tarde na vida. Foram estudadas 59 mulheres, falecidas entre os 32 e os 101 anos.
Namoros pré-históricos Os homens de Neandertal e os humanos modernos trocaram genes pela última vez entre há 37 e 86 mil anos, muito depois de o homem moderno ter saído de África. Cientistas de Harvard estudaram este cruzamento, explicando por que o ADN Neandertal é muito mais encontrado fora de África do que no continente onde teve origem a humanidade. O genoma dos neandertais foi sequenciado em 2010.
Herbívoro, mas não muito O fóssil de um novo dinossáurio-anão, com 200 milhões de anos, foi descoberto na África do Sul, no meio de uma colecção constituída nos anos 60. Da família dos heterodontossáurios, o Pegomastax africanus era do tamanho de um gato, era aparentemente herbívoro, mas possuía caninos muito desenvolvidos, como os de um vampiro. Os paleontólogos julgam, porém, que as presas poderiam servir para o animal se defender, ou lutar pela supremacia sobre outros da mesma espécie. 54
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Cara de assassino Sabe-se que ninguém é tão feio como na foto do BI, nem tão bonito como na do Facebook, mas agora foi estudado o efeito da proximidade entre o fotografado e a máquina fotográfica. Cientistas da Califórnia concluíram que fotos tiradas perto de mais prejudicam a avaliação do indivíduo. A inteligência e honestidade do modelo são os índices que mais sofrem. Sujeitos fotografados de perto são considerados por quem vê a imagem menos competentes, menos atraentes e menos dignos de confiança. A ter em conta nos currículos profissionais.
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A n t ó n i o C o s t a S a n t o s ( t ex t o s )
Bactéria filosofal A batéria Cupriavidus metallidurans, que sobrevive e se reproduz em fortes concentrações de cloreto de ouro, ou ouro líquido, existente na natureza, é capaz de transformar esta solução de cloro em ouro sólido de 24 quilates. Cientistas da universidade estadual do Michigan obtiveram pepitas ao fim de uma semana de trabalho das bactérias. É a alquimia da microbiologia.
Nariz de psicopata
Reciclar a pedra Arqueólogos catalães descobriram que no Paleolítico Superior os homens de Molí del Salt, em Tarragona, já praticavam a reciclagem de materiais, retalhando pedras para criar artefactos novos. Foi há treze mil anos.
Um novo estudo australiano sugere que um olfacto fraco pode indiciar traços psicopáticos. Os cheiros são processados na parte frontal do cérebro, responsável em grande parte por funções como o planeamento, o controlo dos impulsos e o comportamento segundo as normas sociais.
Vamos embora, elefantes Zoólogos identificaram o processo e a série de sons emitida pela elefanta líder de uma manada que põe fim a um ajuntamento da família para beber água num lago. A ordem de "vamos embora" é dada pela matriarca, que para de beber, afasta-se um pouco do grupo, olha para trás, abre as orelhas e produz um som grave e modulado. Os elefantes adultos do grupo trocam sons com a "mãe" e entre eles, após o que toda a manada sai da margem do ponto de água e segue a líder. As vocalizações são sempre iguais em situações semelhantes, segundo um artigo publicado na revista Bioacoustics. O estudo prova que os elefantes usam sons para coordenar acções. NOV 2012 |
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A Casa na árvore Susana Neves
A presa impossível O Tulipeiro-da-Virgínia não usa turbante e singra para lá de todos os seus nomes.
A Flor e folha do Tulipeiro
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o longo do rio Hudson, entre as montanhas azuladas, desliza uma comprida canoa da tribo Onondaga. Leva vinte homens e foi esculpida com machados de pedra a partir de um só tronco de árvore: a koyentakaahtas, "árvore branca" em língua onondaga, ou stiyu (canoa) em cherokee. Nunca esta árvore caducifólia, natural dos Montes Apalaches, do alto dos seus mais de 40 metros, poderia imaginar que os colonizadores, caçadores de plantas e botânicos do Velho Mundo
iriam disputar o seu nome, desentendendo-se, corrigindo-se, e recorrigindo-se em vãs e contínuas tentativas de apagarem o seu nome indígena e assim a colonizarem pela linguagem dando-lhe um novo nome europeu. Em 1585, o viajante e astrónomo inglês Thomas Hariot chama-lhe rakiock, um termo com sonoridade índia que não inspira nenhum dos seus futuros admiradores, como John Tradescant Jr. que em 1656, a introduz em Londres, enriquecendo a famosa colecção de plantas e objectos naturais, pertencente ao seu pai. Em 1687, no rescaldo da tulipomania (a febre de coleccionar tulipas que se apossou sobretudo dos holandeses de 1630 a 40), o botânico alemão Paul Hermann, director do Jardim Botânico de Leiden, na Holanda, encontrando semelhanças entre as flores da árvore índia com as tulipas (Liliaceae) baptiza-a de Tulipifera arbor virginiana. Lineu discorda, as grandes flores amarelas com tons verdes e laranja da "árvore branca" parecem-lhe mais próximas dos lírios, e em 1737, classifica-a de Liriodendron tulipifera.
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Em Portugal, durante o século XIX, ela é referida na imprensa especializada em temas hortícolas, como "Tulipeira da Virgínia" ou mais prosaicamente, em Coimbra, como "Árvore do Ponto" [período de exames]. Escreve N. P. Mendonça de Falcão, no Jornal de Horticultura Prática, 1871, que pela "florescência" desta árvore, a "15 de maio", "esperam impacientes os estudantes da Universidade, por coincidir quasi sempre com o ponto das suas aulas". E partilhando a mesma admiração da imprensa norte-americana da época, apaixonada pela "Árvore Celestial", cujas folhas "artísticas" são "recortadas como os arabescos de um palácio mouro", Mendonça de Falcão defende: "é talvez a mais bella arvore que nos mandou a America do Norte, não só pela sua folhagem original, do mais bello verde, mas pela regularidade do seu feitio, affectando quasi o formato de um balão areostatico, e por suas elegantes e engraçadas flores, lindas tulipas rajadas de verde e amarello. Mas como não ha formosa sem senão, lamentam alguns escriptores horticolas, que uma tão bella planta só dê flor aos 25 e 30 anos". Apesar de em toda a Europa, a bela árvore koyentakaahtas, vocacionada à solidão dos vales húmidos e à altitude das montanhas, se ter tornado uma presença notável nos jardins da burguesia e da aristocracia (em Portugal, destacamos o espécime de "cerca de 270 anos", nos Jardins do Palácio dos Biscainhos), e ser chamada "Tulipeira" ou "Tulipeiro", nos EUA, pelo contrário, ela continuou a ser conhecida como "choupo branco" ou "choupo amarelo", herança linguística directa do nome atribuído pelos primeiros colonizadores. Embora o "Tulipeiro-da-Virgínia" seja uma Magnoliaceae, uma das primeiras espécies arbóreas com flor surgidas no período Cretácico, há mais de 150 milhões de anos, e não como os choupos (Populus) uma espécie da família Salicaceae, os europeus julgaram ver nas suas folhas balouçantes uma afinidade com uma árvore que já conheciam e cujas copas também dançam com o vento. Apesar da versatilidade da madeira da "árvore branca" (na Segunda Exposição Agrícola, realizada no Porto, a 20 de Novembro de 1860, mostra-se "um grande pranchão de Tulipeiro da Virgínia pertencente ao Sr. Visconde de Samodães") ter granjeado o interesse dos que a comercializavam, a desmesura do seu tronco e uma certa má consciência pela destruição da cultura nativa norte-americana fizeram dela uma personagem temível de "A Lenda
Fotos: Susana Neves
do Cavaleiro sem Cabeça", publicada em 1819. Parecendo esquecer as suas virtudes medicinais (era usado nas inflamações cutâneas, problemas digestivos, febres reumáticas e "intermitentes"; os índios mastigavam a casca como afrodisíaco), o seu autor, Washington Irving, inventor da short story, descreve nessa lenda uma "enorme tulipeira", "árvore terrífica", que assusta o oportunista mestre-escola Ichabod Crane, personagem através do qual se caricaturizam os colonos holandeses da Nova Inglaterra. Talvez tenha chegado o momento de dizer nya weh! (obrigada, em língua onondaga) à "árvore branca", por a história do seu nome revelar de forma tão clara como cada um enfia o barrete que lhe serve. Por que afinal, por uma estranha ironia, a palavra tulipa deriva do termo persa dulband, que significa turbante. n NOV 2012 |
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66 CONSUMO A partir de Janeiro próximo, os consumidores de electricidade e de gás natural vão enfrentar um novo desafio com extinção das tarifas reguladas. Pág. 60 l LIVRO ABERTO Duas obras memorialísticas l
marcaram o início da temporada editorial de Outono: "Diário de Inverno", de Paul Auster, e "Joseph e Anton", de Salman Rushdie. Pág. 62 l ARTES "Uma Degustação" é o título da exposição antológica de João Cutileiro, em Barcelos, e que inclui escultura, fotografia, relevos e desenhos. Pág. 64 l MÚSICAS Notícia de trabalhos discográficos do irlandês Van Morrison, da banda "Macaco" e de uma caixa com cinco CDs dedicados à ópera alemã. Pág. 66 l NO PALCO "Desastres do Amor, ou Fortuna Palace", peça baseada em vários textos de Marivaux, está em cena no Teatro da Cornucópia até 2 de Dezembro. Pág. 68 l CINEMA EM CASA "Le Havre", do finlandês Aki Kaurismaki, e o "O Deus da Carnificina", o mais recente filme de Roman Polanski, são duas das novidades a considerar. Pág. 70 l GRANDE ECRÃ Aristides Sousa Mendes e Humberto Delgado, duas das personalidades míticas mais marcantes que ousaram desafiar a ditadura de Salazar, chegam finalmente à tela. Pág. 71 l INFORMÁTICO Não foi muito bem aceite o telemóvel que pode ser carregado a energia solar... Em regra, são necessários 10 minutos de exposição ao sol por cada minuto de conversação. Pág. 72 l AO VOLANTE Ultrapassada a barreira de 440 mil unidades vendidas na Europa, a gama do modelo Opel Ensignia renova-se com a introdução de novos motores Pág. 73 l SAÚDE É no Outono e na Primavera, quando o tempo está mais instável, que aparecem mais pessoas a dizer que "sofrem de enxaquecas"… Pág. 74 l PALAVRAS DA LEI A convocatória de uma assembleia de condóminos deve informar imperativamente quais os assuntos da ordem de trabalhos. Pág. 75
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Boavida|Consumo
Novas regras na electricidade e gás natural A partir de 1 de Janeiro de 2013, os consumidores de electricidade e os consumidores de gás natural vão enfrentar um novo desafio, resultante da extinção das tarifas reguladas. Saiba o que vai mudar
Carlos Barbosa de Oliveira
processo de liberalização do mercado de energia ficará completo até ao final de 2012, com a extinção gradual das tarifas reguladas de venda de electricidade e gás. Culmina assim o processo de liberalização dos mercados de electricidade e gás natural em Portugal, iniciado em 2000. A medida aplica-se apenas a Portugal Continental, já que nos Açores e Madeira mantêm-se as tarifas reguladas de venda a clientes finais por não existirem comercializadores concorrentes. No mercado regulado, os preços de venda da energia são fixados anualmente pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), sendo essa a tarifa praticada pela EDP Serviço Universal e EDP Gás Serviço Universal. De forma resumida e explícita, a extinção das tarifas reguladas significa que a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) deixa de fixar os preços de venda de energia, passando os preços a ser estabelecidos por cada comercializador, respeitando as regras da concorrência e permitindo aos consumidores uma mais variada escolha tendo em atenção os melhores preços e a qualidade do serviço prestado. Os consumidores devem, por isso, começar a informarse sobre os comercializadores em mercado liberalizado e a
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procurar as ofertas que melhor se adeqúem ao seu perfil de consumo, porque a partir de 1 de Janeiro de 2013 deixará de ser possível realizar novos contratos com a EDP Serviço Universal e EDP Gás Serviço Universal. O período que têm para fazer essa mudança varia entre os dois anos e meio e os três anos mas, no final desse período, terão de optar por um comercializador de mercado porque a ERSE deixa de fixar tarifas reguladas. Os actuais clientes continuarão a ser abastecidos de energia pela EDP Serviço Universal e EDP Gás Serviço Universal, até escolherem um novo comercializador mas, durante este período, será aplicada uma tarifa transitória com preços agravados, fixada pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE). A tarifa transitória é uma tarifa fixada trimestralmente pela ERSE durante o período transitório, aplicável aos consumidores que continuem a ser abastecidos pelo comercializador de último recurso.
JOSÉ ALVES
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TOME NOTA lA
partir de 1 de Janeiro de 2013, todos
lO
consumidor mantém o direito aos
lA
mudança de fornecedor não altera a
os novos contratos de fornecimento de
descontos legalmente previstos e con-
qualidade do fornecimento de energia
electricidade e gás natural serão obrigato-
sagrados nas tarifas sociais de electrici-
nem dos serviços técnicos associados,
riamente celebrados em regime de mer-
dade e gás natural e no ASECE - Apoio
assegurados pela EDP Distribuição e, no
cado, com excepção dos clientes eco-
Social Extraordinário ao Consumidor de
caso do gás natural, pelo respectivo oper-
nomicamente vulneráveis que poderão
Energia.
ador de rede.
sempre optar por ser abastecidos por um
lA
l Se
comercializador de último recurso.
continuidade do fornecimento da energia
em mercado livre, continuará a ser
lO
nem dos serviços técnicos associados,
fornecido pelo seu comercializador regu-
lizador não tem custos.
que continuarão a ser assegurados pela
lado mas será aplicada uma tarifa tran-
l Com
EDP Distribuição ou, no caso do gás na-
sitória, a definir pela Entidade Reguladora
processo de mudança de comerciaa extinção das tarifas reguladas,
mudança de fornecedor não altera a
não optar por um comercializador
serão introduzidos mecanismos de salva-
tural, pelo respectivo operador de rede.
dos Serviços Energéticos.
guarda dos consumidores economica-
lO
lA
mente vulneráveis. Estes consumidores
definidas pela Entidade Reguladora dos
horárias continuará a ser assegurada,
mantêm o direito de serem fornecidos
Serviços Energéticos (ERSE), que garante
devendo estar atento a essas e outras
pelo comercializador de último recurso,
a protecção dos interesses e direitos dos
opções que os comercializadores inclu-
com uma tarifa regulada pela ERSE.
consumidores de energia.
am nas suas propostas.
mercado livre está sujeito às regras
COMO MUDAR DE COMERCIALIZADOR?
Um consumidor que pretenda mudar de comercializador de energia eléctrica ou de gás natural, quer seja no âmbito da extinção de tarifas reguladas, quer seja pela procura de melhores condições de fornecimento, deverá seguir os seguintes passos fundamentais: l Saber quem são os comercializadores e as respectivas condições de oferta. (Para avaliar a sua situação, o comercializador pode necessitar de aceder ao seu contador e à sua factura actual). lAvaliar as diversas propostas dos comercializadores e comparar os aspectos comuns, atendendo também à sua situação actual, nomeadamente através do seu histórico de consumo. lEscolher o comercializador que lhe apresente a melhor proposta, depois de analisar as condições contratuais propostas pelos diversos comercializadores. O novo comercializador tratará de todos os procedimentos necessários, incluindo a cessação do seu contrato anterior. O processo de mudança é gratuito e não implica a mudança do contador, ficando concluído quando receber a última factura do anterior comercializador com os valores do consumo até esse momento. Não se esqueça de anotar a data em que o seu novo contrato de fornecimento entra em vigor, a qual lhe será comunicada pelo novo comercializador. Caso isso não aconteça, questione-o sobre a data, para que possa verificar a factura de fecho do antigo comercializador e o início da nova facturação. n
continuidade das tarifas bi ou tri-
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Boavida|Livro Aberto
Das memórias de Auster e Rushdie à traumática guerra colonial Dois grandes textos memorialísticos marcaram o início da temporada editorial de Outono: "Diário de Inverno" (Asa), de Paul Auster, e "Joseph e Anton" (D. Quixote), de Salman Rushdie. José Jorge Letria
primeiro, escrito na segunda pessoa do singular, é um intenso olhar retrospectivo sobre a vida passada lançado por um homem que passou a barreira dos 60 anos e dispõe já de distanciamento e serenidade para fazer o inventário fundamental da sua existência afectiva, social e criadora. O segundo, que homenageia no título Joseph Conrad e Anton Tchekhov, escritores de culto para Rushdie, tem como tempo de referência aquele em que o autor de "Versículos Satânicos" viveu clandestinamente para sair com vida da sentença de execução lavrada pelo fundamentalismo islâmico após a publicação daquela obra. Dois livros que nos abrem as portas do estilo, da personalidade e da visão do mundo de dois grandes escritores contemporâneos. Leituras para qualquer estação.
O
MESMO QUE COLOMBO tenha imaginado ter descoberto a Índia ao desembarcar no continente que, graças a Américo Vespúcio, viria a ser baptizado com o nome de América, a verdade é que esta viagem de descoberta viria a mudar a história do mundo e a confrontar a humanidade com novos e infinitos desafios de natureza científica, geográfica, política e até filosófica. É esse o tema central de "1493 – A Descoberta do Novo Mundo que Cristóvão Colombo Criou" (Casa das Letras), do escritor, jornalista e divulgador Charles C. Mann, que leva o leitor a descobrir o impacto prodigioso que teve para os europeus a descoberta do "Novo Mundo". Um livro de não-ficção que se lê com o 62
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entusiasmo e o prazer que só as grandes ficções conseguem verdadeiramente desencadear. Da mesma editora é "Terroristas Apaixonados – As Vidas Reais dos Radicais Islâmicos", de Ken Ballen, um olhar surpreendente sobre o universo mental e as motivações religiosas e políticas que levam jovens com a vida toda pela frente a optarem por uma morte violenta que provoca muitas outras mortes, com a convicção de que, desse modo, servem um deus e o seu profeta e conseguem alcançar o paraíso. Uma realidade que nos escapa e perturba, não só pelas suas consequências trágicas e imprevisíveis, mas sobretudo por escapar à lógica da nossa visão do mundo e da vida. Um livro que suscita mais perguntas do que dá respostas. Um retrato de um mundo perturbado e perturbador que, quase diariamente, ameaça a paz no mundo. Com a chancela da Texto, acaba de ser publicado "Eu Tenho um Sonho - Os Discursos que Mudaram a História", de Ferdie Addis, que nos recorda ou revela algumas das intervenções mais determinantes efectuadas por grandes estadistas de diversas épocas e países sobre assuntos que, estando no fulcro do devir histórico, acabaram por mudar o próprio rumo da História. Um livro para quem gosta de História, para quem acredita no papel do indivíduo na História e para quem acredita também que os políticos devem ter mais poder que os mercados financeiros, desde que não sejam meros serventuários deles. "Golden Gate - Um Quase Diário de Guerra" (D. Quixote), de José Niza, é um tocante testemunho sobre o que foi o drama da Guerra Colonial, escrito por um jovem oficial miliciano médico que, deixando para trás a terra e
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as pessoas que amava, foi forçado a intervir num conflito em que não acreditava, como centenas de milhares de contemporâneos seus. Para além de médico, José Niza foi um dos mais inspirados compositores portugueses da segunda metade do século XX e também, após o 25 de Abril, deputado à Assembleia da República, director de programas e administrador da RTP, para além de ter sido, até à data da sua morte, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores. Um livro muito bem escrito, emotivo e comovente que José Niza deixou inédito quando a morte o surpreendeu, em Janeiro deste ano. Também sobre a tragédia humana que foi a Guerra Colonial, durante 13 anos em três frentes, é o livro "Heróis do Ultramar – Histórias de Bravura nos Campos de Batalha da Guerra Colonial" (Oficina do Livro), de Nuno Castro, que reúne depoimentos de combatentes que narram o que viveram e sofreram de forma intensa, realista e tantas vezes ainda muito magoada. COM O NATAL a aproximar-se, num cenário de crise que pouca margem deixa para aquisições pouco criteriosas, destacam-se títulos de ficção narrativa portugueses e
estrangeiros, para todos os gostos, num tempo em que a leitura, não nos desligando da realidade e das suas tensões, nos ajuda a conquistar a serenidade interior que os momentos sombrios exigem. A saber e a reter: "Ironias do Destino" (Clube do Autor), de Karen Blixen, irresistível colectânea de histórias da autora de "África Minha", O Livro 3 de "1Q84" (Casa das Letras), do japonês Haruki Murakami, com mais uma excelente tradução da jornalista e editora Maria João Lourenço, "O Varandim Seguido de Ocaso em Caravangel" (Porto Editora), excelente novo livro de Mário de Carvalho, "Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch" (Sextante), do Nobel Aleksandr Soljenitsin, uma aposta de João Rodrigues e da sua chancela na reedição da obra do autor de "O Arquipélago de Gulag", "Já Então a Raposa Era o Caçador" (D. Quixote), da também nobelizada Herta Muller, escritora densa e intensa que nos traz sempre a memória traumática de outros "gulags", "O Rei do Monte Brasil" (Oficina do Livro), de Ana Cristina Silva, sobre Gungunhana, Mouzinho de Albuquerque e esse confronto que marcou a história colonial portuguesa, e ainda "O Ritual da Sombra" (Publicações Dom Quixote), de Giacometti Ravenne, e "O Cavalo Amarelo" (Asa), da clássica Agatha Christie. n
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Boavida|Artes
“Uma Degustação” de Cutileiro em Barcelos "Uma Degustação" é o título da exposição que o escultor João Cutileiro está a apresentar na Galeria Municipal de Arte de Barcelos, até 24 de Novembro, uma espécie de antologia da sua obra reunindo peças representativas de várias expressões artísticas, da escultura à fotografia, passando pelos relevos e pelo desenho.
Esculturas e desenho de Cutileiro e composição de Helena Justino
Rodrigues Vaz
arcada predominantemente pelo peso natural da escultura em pedra – 20 peças –, mas também pelo desenho, além de cinco exemplares em diorito negro inspirados numa viagem à Índia, pela fotografia, de pessoas, que é aquilo que o artista gosta de fazer, e pelo relevo, com esquissos de pássaros, produzidos por volta de 2000, esta exposição é uma oportunidade única para apreciar as várias expressões artísticas da obra ímpar de um grande criador português, que é o responsável pela grande viragem da escultura portuguesa nos anos 80 e pela ruptura com a estatuária oficial, fazendo-a evoluir do classicismo estilizado para uma nova era completamente liberta da iconografia vigente.
M
MATTA NA CASA DA AMÉRICA LATINA
A exposição do artista chileno Matta, que vai estar na 64
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Casa da América Latina em Lisboa até 31 de Dezembro próximo, é incontestavelmente um dos acontecimentos artístico deste começo da temporada cultural na capital portuguesa. Assinalando o centenário do nascimento deste artista, que é justamente considerado um dos mais importantes artistas latino-americanos, esta exposição enquadrou-se na realização da XV Assembleia Plenária da UCCI, que teve lugar em Lisboa em meados de Outubro. Nascido em Santiago do Chile em 1911, Matta depois de se graduar em arquitectura na Universidade Católica do Chile, partiu para Paris, onde iniciou uma série de viagens pela Europa, incluindo Portugal. Aderiu ao surrealismo após conhecer e tornar-se próximo de Federico Garcia Llorca, Salvador Dali, René Magritte e André Breton. Após o início da Segunda Guerra Mundial exilou-se em Nova Iorque e rompeu com o Movimento Surrealista. O seu 'expres-
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sionismo abstracto' influenciou artistas emergentes norte-americanos, entre os quais Jackson Pollock e Marc Rothko. GABRIELA OLIVEIRA E HELENA JUSTINO
Por seu lado, a artista plástica Gabriela Oliveira apresenta os seus últimos trabalhos, de 13 a 26 do corrente, no Centro de Documentação do Edifício Central do Município de Lisboa, Campo Grande, mostrando iniludivelmente que neste momento atravessa uma etapa de grande maturidade e introspecção, arraigada numa poética a caminho duma abstracção cujas raízes se detectam facilmente na actual pintura europeia. Jogando eficazmente com um peculiar código de texturas, enriquecido sobremaneira com valores tácteis, e marcado, com frequência, por módulos de pequenas dimensões, Gabriela Oliveira apresenta composições líricas que jogam essencialmente com a transparência da cor
por meio da luz e da possibilidade unitária que a fragmentação dos elementos pode conter pela sua contemplação conjunta. Dentro do mesmo parâmetro de pesquisa intensa, se bem que divergindo nos caminhos estéticos, pode considerar-se a mostra que a pintora Helena Justino está a apresentar, por sua vez, na Galeria da CNAP, em Telheiras, sob o título "Figurações". Sendo, de vários modos, o corolário de toda a sua obra anterior, que os críticos classificaram como neofigurativista, e convergindo, a vários níveis, para a série "Deambulações", que apresentou em 2006 na Galeria Artela, Lisboa, neste conjunto, inspirado predominantemente em aves e figuras femininas, no trabalho e em poses voluptuosas, sedutoras, sensuais e, ao mesmo tempo, maternais, é notória a representação através de um véu de irrealidade, de deformação expressionista, como forma de busca de prazer e beleza. n
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Boavida|Músicas
De Van Morrison à ópera alemã Aqui se dá notícia de trabalhos discográficos do irlandês Van Morrison e da banda "Macaco", de Espanha. E ainda de uma caixa com cinco CDs dedicados à ópera alemã.
Vítor Ribeiro
os 67 anos de idade, Morrison surpreende-nos com o álbum "Born To Sing: No Plan B" no qual se integram 10 temas compostos, escritos e produzidos pelo próprio cantor e músico (piano, saxofone e viola)… Fidelíssimo ao seu estilo inconfundível, em que se entrecruzam géneros musicais como o blues, jazz e soul, entre outros, Van Morrison está mais do que nunca atento ao que se vai passando na Irlanda (lá como cá…) e no Mundo, assumindo que aborda deliberadamente "questões políticas" no novo álbum. Na documentação de promoção disponível, o cantor explica: "Não estou a protestar, mas apenas a observar o que se passa. Desde há dois anos que só se fala de dinheiro, dinheiro, dinheiro (…)". De resto, Morrison, no tema "Educating Archie", que encerra o álbum, canta alto e bom som: "És um escravo do sistema capitalista/Que é controlado pela elite global". Não se deve perder este "Born To Sing: No Plan B", trabalho em que, segundo a documentação da respectiva editora, Van Morrison aborda "pela primeira vez questões políticas". Sinal dos tempos.
A
enquanto autor, assina Dani Macaco. Mais do que um grupo, "Macaco" é sobretudo um projecto musical alternativo, no qual têm participado músicos de diversas proveniências e "escolas", designadamente da América Latina, dando forma a um estilo peculiar em que se misturam o reggae, hip hop, flamenco, rumba… "El Murmullo Del Fuego" integra 14 temas, no primeiro dos quais - "Intro" -, sobre um fundo musical criado por Roger Rodés e Jules Bikôkô, surge a voz de José Saramago extraída do filme "José e Pilar". Diz o escritor: "O certo é que o Sol, como uma imensa vassoura luminosa, rompeu de repente o nevoeiro e empurrou-o para longe. Fez plof e sumiu-se". Um misto de alegria e de esperança (de que muito necessitados estamos!) marca este excelente trabalho discográfico. ÓPERA ALEMÃ
"Voices of German Opera" é o título genérico da caixa com cinco CDs editada no âmbito da série de colectâneas EMI Classics. Cerca de 70 intérpretes dão-nos conta dos momentos mais relevantes da ópera produzida e executada na Alemanha, nos últimos 200 anos. De entre os intérpretes seleccionados, alemães ou de outras nacionalidades, destacamos Fritz Wunderlich, Plácido Domingo, Nina Stemme, Frida Leider, José van Dam, Lucia Popp e Brigitte Fassbaender. n CONCERTOS Pablo Alborán em Lisboa e Porto
SARAMAGO EM CD DOS "MACACO"
O cantor e compositor espanhol Pablo Alborán efectua
"El Murmullo Del Fuego é o título genérico do mais recente trabalho discográfico dos "Macaco", banda liderada pelo cantor e compositor espanhol Daniel Carbonell que,
concertos nos dias 10 de Novembro, no Coliseu do Porto, e 12
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de Novembro no Coliseu de Lisboa. Em ambos os casos, a partir das 21h30.
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Boavida|No Palco
Desastres do Amor "Desastres do Amor, ou Fortuna Palace", peça baseada em vários textos de Pierre de Marivaux, seleccionados por Luís Miguel Cintra e Luís Lima está em cena no Teatro da Cornucópia até 2 de Dezembro.
Maria Mesquita
elícia, viúva (alegre), procura um novo marido, de preferência com dinheiro, para a estabilidade económica que lhe parece faltar. Passa férias no Fortuna Palace, hotel de que a sua madrinha "fada", é dona e gerente. Felícia tenta, por esta via, de entradas e saídas constantes, encontrar e conhecer possíveis pretendentes, todos de famílias bem posicionadas e abastadas, se bem que sonhe igualmente com uma vida tranquila, feliz e honesta, sem problemas. Contudo a sua "madrinha" tem outros planos. Felícia é uma sonhadora, não conhece nem o mundo nem as dificuldades que nele existem e, é assim mesmo, por essa razão, que vai descobrir que o que procura poderá não ser exactamente o que queria. Modéstia e o seu acompanhante, perdão, "escort", Apolo, são assassinados e Felícia reconhece que aquele mundo de luxo, de parasitários que apenas buscam um posto na hierarquia social, não passa de uma ilusão de opulência da qual não quer fazer parte e aprende também que a vida pode ser feita de desilusão.
F
FICHA TÉCNICA: Tradução dos textos originais: Luis Lima
Barreto e Luis Miguel Cintra Adaptação e Encenação: Luis Miguel Cintra; Cenário e figurinos: Cristina Reis; Desenho de luz: Daniel Worm d'Assumpção; Elenco: José Manuel Mendes,
perante uma multidão de 8 mil pessoas e tendo sido filmado em directo para os espectadores brasileiros, a Missa dos Quilombos tornou-se assim, para muitos, o esplendor do melhor que o Brasil tem: a sua multiculturalidade e a forma como todas as religiões de um país com muitos outros países dentro de si se podem interligar sem que haja, como nos chamados "países desenvolvidos", conflitos ou confrontos de identidade e ideologias. Desde o tempo da tentativa inglória e sangrenta de cristianizar índios, até à escravatura africana, essa ainda bem presente na cor das peles pardas e olhos azuis da maioria da população brasileira, os vários tipos de religião mesclaram-se com o conceito da religião cristã e católica, por consequência, havendo quem, principalmente no Nordeste, pratique mais do que uma forma de fé. Condomblé com catolicismo, orixás com cristianismo. A Missa dos Quilombos, não é mais do aquilo que o nome designa, uma missa, mas uma missa completa, onde todas as crenças são bem-vindas e aceites. Em 1981 a sua estreia resultou não só num espectáculo musical, mas acima de tudo num manifesto que serviu para chamar a atenção à ainda então muito sentida descriminação racial e social.
Luís Lima Barreto, Luis Miguel Cintra, Nuno Nunes, Rita
FICHA TÉCNICA: Músicas: Milton Nascimento; Textos: Pedro
Blanco, Rita Durão, Sergio Adillo, Sofia Marques, Teresa
Casaldáliga & Pedro Tierra; Direcção geral: Luiz Fernando
Madruga e Vítor d'Andrade.
Lobo; Direcção musical e arranjos musicais: Túlio Mourão; Danças afro-brasileiras: Valéria Monã, Forró Alabe;
MISSA DOS QUILOMBOS
Coreografias (Mariama e Ofertório): Paula Águas;
Integrando as cerimónias e parcerias incluídas no Ano do Brasil em Portugal, o Teatro Nacional São João no Porto, apresenta, de 8 a 11 de Novembro, a peça musical "Missa dos Quilombos". O espectáculo, com composições de Milton Nascimento, poderá ser visto em Lisboa, no Teatro Nacional D. Maria II, de 15 a 18, também de Novembro. Estreada pela primeira vez em 1981 no Recife (Brasil)
Programação visual: Daniel de Souza; Realização: Companhia
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Ensaio Aberto "GIL VICENTE NA HORTA"
Com a peça "Gil Vicente na Horta", João Mota leva ao palco do TNDMII alguns dos textos mais conhecidos do nosso maior dramaturgo, numa coincidente proximidade
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com os dias de hoje, onde as histórias ganham tanto sentido como na época do Renascimento. De 20 de Novembro a 2 de Dezembro, na Sala Estúdio, podem-se redescobrir vários textos da obra de Gil Vicente, para muitos, considerado como o Shakespeare português. Baseando-se no conto "O Velho da Horta", apresentado ao trono de D. Manuel em 1512, no qual a juventude fazia escárnio e ganhava a sua batalha contra a velhice, João Mota encena também vários outros episódios que só a escrita vicentina poderia criar. Enredos e personagens típicas, representando a sociedade de costumes e popular, nunca deixando para trás a crítica tão assertiva com que sempre pautou as suas obras. Contudo a graça reside em verificar que agora, tal como então, existe muito material que pode ser utilizado para caracterizar a actual sociedade que o país possui, com as suas manias de superioridade e outras tantas que nos tornam pequenos aos olhos de fora. Existem coisas que simplesmente não mudam, por muito que os brilhantes escritores e autores nacionais, a maioria deles visionários, assim o desejassem.
FICHA TÉCNICA: A partir de "O Velho da Horta" e outros textos
de Gil Vicente; Versão cénica e encenação: João Mota; Com: João Grosso, José Neves, Lúcia Maria, Manuel Coelho, Maria Amélia Matta, Alexandre Lopes, Marco Paiva, Simon Frankel e Bernardo Chatillon, Joana Cotrim, Jorge Albuquerque, Lita Pedreira, Luis Geraldo e Maria Jorge (ano 2011/2012); Figurinos: Carlos Paulo; Desenho de luz: José Carlos Nascimento; Direcção musical e sonoplastia: Hugo Franco; Produção: TNDM II
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Boavida|Cinema em Casa
Da Finlândia à Jamaica… Para o mês de Novembro, escolhemos filmes de inegável qualidade de diferentes latitudes e assinados por quatro cineastas com pontos de vista distintos: Da Finlândia, chega-nos mais um filme de Aki Kaurismaki, "Le Havre"; de França, o olhar feminino de Catherine Corsini, com "Partir"; da Suiça, lugar de exílio, o mais recente e excelente trabalho de Roman Polanski, "O Deus da Carnificina".E a fechar, numa edição especial de dois discos, o notável documentário de Kevin Macdonald sobre a vida e obra de Bob Marley. Sérgio Alves LE HAVRE
PARTIR
O DEUS DA CARNIFICINA
MARLEY
Marcel, escritor e boémio,
Suzanne tem tudo para ser
Esta é a história de um encon-
No dia 6 de Fevereiro de
vive num exílio voluntário em
feliz: uma vida tranquila, no
tro entre dois casais, bem
1945, nasce na Jamaica o
Le Havre. Para melhor co-
sul de França, casada, dois fi-
diferentes, que vão tentar
pequeno Robert Nesta Marley,
nhecer e sentir-
lhos. À procura de uma
resolver, num apartamento em
filho de um militar branco e
se mais próximo
mudança, ela decide dedicar-
Manhattan, um problema
de uma adolescente negra. A
das gentes da
se à sua antiga profissão
nascido de uma briga entre os
sua condição de mulato irá
pequena cidade
como fisioterapeuta. Com o
filhos de ambos. Os Longstreet
marcar todo seu percurso e
piscatória, torna-
apoio do marido, empenha-se
e os Cowan vão dirimir argu-
obra musical: rejeitado pelos
se engraxador de
na construção de uma nova
mentos e procurar soluções
brancos e pelos negros, aban-
sapatos. Durante
clínica. Durante este período
para resolver o incidente pro-
donado pelo pai, e a viver
deixa-se encantar por Ivan,
tagonizado por Zachary e
com a mãe
o interregno na escrita, vive entre o seu bar favorito, o tra-
ex-presidiário,
Ethan. De início, tudo parece
num bairro
balho e Arletty, a sua compa-
que a vai aju-
correr bem, e a solução parece
pobre e pro-
nheira. Todavia, ao conhecer
dar a encontrar
ter chegado, mas com o passar
blemático, o
um jovem refugiado africano,
um novo rumo
das horas, a tensão vai crescer
pequeno Bob
menor de idade, a sua vida
para a sua
e o conflito agudizar-se…É um
começa a mudar. Assinado
vida. Na boa
dos grandes filmes de 2011, e
experiência de vida nesse
tradição rea-
terá, na
resulta da adaptação da acla-
meio difícil, a fonte de inspi-
Kaurismaki, cineasta finlandês
lista do cinema francês,
mada peça "God of Carnage"
ração para algumas das mais
que iniciou a carreira nos
"Partir" mostra-nos com invul-
de Yasmina Reza ao cinema
celebradas composições.
anos 1980, Le Havre é uma
gar qualidade e dramatismo o
pelo inspirado
Trinta anos depois da morte
comédia dramática, profunda-
fim dum casamento e a
Roman
de Marley, o realizador Kevin
mente irónica, sobre as vicis-
mudança na vida de uma
Polanski.
Macdonald assina – em con-
situdes da vida. Estreado no
mulher. Brilhante interpre-
Passado num
junto com a família Marley, o
festival de Cannes de 2011,
tação da experiente Kristin
só cenário – tal
conhecido produtor musical
onde recebeu o prémio da
Scott-Thomas, actriz britânica
como se fosse
britânico Chris Blackwell e
crítica, é o segundo filme do
nomeada para o César de
uma encenação teatral – o
Steve Bing – o mais completo
cineasta falado em francês,
Melhor actriz de 2010.
filme, com elenco de luxo,
testemunho da vida e obra do
depois de La Bohéme (1992).
TÍTULO ORIGINAL:
convoca-nos para a complexi-
mais célebre músico
Um cineasta original e profun-
REALIZAÇÃO:
dade do relacionamento
jamaicano. Em suma, um
damente humanista que vale
Corsini; COM: Kristin Scott
humano e a as suas dificul-
legado importante para as ge-
a pena descobrir.
Thomas, Sergi López, Yvan
dades.
rações vindouras sobre a
Attal; França, 85m, Cor, 2008;
TÍTULO ORIGINAL:
pelo talentoso e original Aki
TÍTULO ORIGINAL: REALIZADOR: COM:
Le Havre;
Aki Kaurismaki;
André Wilms, Jean
EDIÇÃO:
Partir;
Catherine
Leopardo Filmes
REALIZAÇÃO: COM:
Carnage;
importância musical, social e
Roman Polanski;
política do principal ícone do
Jodie Foster, Kate
Reggae. Marley;
Pierre Darroussin, Blondin
Winslet, Christoph Waltz,
TÍTULO ORIGINAL:
Miguel, Kati Outinen;
John C.Reilly;
REALIZAÇÃO:
Alemanha/França/Finlândia,
Alemanha/Polónia/França,
Macdonald; Documentário;
93m, Cor, 2011; EDIÇÃO:
79m, Cor, 2011; EDIÇÃO: Zon
EUA/GB, 144m, cor, 2012;
Midas Filmes
Lusomundo
EDIÇÃO:
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Kevin
Zon Lusomundo
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Boavida|Grande Ecrã
Espelho da história Finalmente, Aristides Sousa Mendes e Humberto Delgado chegam à tela. Porquê? Porque o cinema é também espelho da História e porque a memória é demasiado curta. O que, tudo somado, acarreta desde já uma virtude: "desocultar" às novas gerações duas das personalidades míticas mais marcantes que ousaram desafiar a ditadura de Salazar.
Joaquim Diabinho
ntes do mais, trata-se de projectos ambiciosos – de riscos elevadíssimos – realizados em condições de produção pouco usuais e com resultados bastante satisfatórios. Inspirado em factos verídicos e na obra biográfica da autoria de Frederico Delgado Rosa, "Operação Outono" é um thriller político sobre o plano da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) que conduziu, em Fevereiro de 1965, ao assassinato de Humberto Delgado – o general sem medo que em 1958 afrontou o ditador com o célebre, "óbviamente, demito-o!" – e da sua secretária, Arajaryr Campos, na localidade espanhola de Villanueva del Fresno e o processo judicial, em 1981. Cineasta de talento comprovado, Bruno de Almeida revela-se particularmente hábil na narrativa – bem ritmada – e eficaz na criação de atmosferas. No cast, e para além de John Ventimiglia, (na pele de Humberto Delgado), Marcello Urgeghe, João d’Ávila, Carlos Santos, Carlos Paulo, José Nascimento, Julio Cardoso, Diogo Dória, Ana Padrão e Camané asseguram boas composições. Em "Aristides de Sousa Mendes - O Cônsul de Bordéus" duas coisas saltam de imediato à vista: que o acto de heroísmo e coragem do diplomata português que se sacrificou para salvar mais de trinta mil vidas (das quais cerca de dez mil eram judeus) da barbárie nazi é merecedor de respeito e que as causas nobres não perdem
A
nunca a sua validade. E, entre outras tantas coisas – boa capacidade na reconstituição de época e domínio narrativo, controlado e eficiente – que atestam a qualidade da realização de Francisco Manso e João Correia, destaquese as interpretações envolventes e memoráveis de Vitor Norte e Laura Soveral. n
Imagens dos filmes "Aristides de Sousa Mendes - O Cônsul de Bordéus" e "Operação Outono"
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Boavida|Tempo Informático
Mobilidade e autonomia Estas duas características estão muito ligadas entre si em muitos e variados aspectos do nosso dia a dia e em Informática, desde o aparecimento dos primeiros computadores e telefones portáteis, o utilizador ficou muito dependente do tempo na sua utilização móvel. Mesmo com outros dispositivos electrónicos, as pilhas ou baterias extra eram e são a única solução.
ão foi muito bem aceite o telemóvel que pode ser carregado a energia solar. Os vários modelos não foram apetecíveis. Em regra, são necessários 10 minutos de exposição ao sol por cada minuto de conversação. Os fabricantes têm-se esforçado por aumentar a autonomia dos seus dispositivos e verificamos essa tendência regularmente. No entanto, chamamos a atenção dos leitores para o facto da autonomia indicada se referir a uma utilização simples que não exija muita potência. Jogos ou filmes nos dispositivos consomem muita energia. Deve evitar-se o brilho excessivo dos ecrãs, o volume de som, teclado sonoro e tudo o que implique gastos dispensáveis. Portanto, aqui deixamos o conselho de considerar o valor da autonomia como característica importante numa eventual escolha de tablet. São poucos os que permitem a abertura para a troca de bateria sobresselente. No intuito de resolver esta importante questão, a Verbatim acaba de lançar um conjunto de powerpaks portáteis com várias capacidades e estilos. De utilização simples, alguns transformam mesmo qualquer conjunto de 4 pilhas alcalinas ou recarregáveis em energia extra para ligar ao dispositivo móvel sempre que seja necessária mais energia. Outros são previamente carregados, possuindo pequenas baterias de lithium. Estão disponíveis modelos para iPads, iPhones,
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smartphones, tablets, eReaders, auriculares Bluetooth e são tão poderosos e práticos que para certos casos alcançam a potência de 10,000 mAh. NUMA VERTENTE DIFERENTE que destacamos sempre com muito interesse, acaba de ser desenvolvido pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) um dispositivo que muito facilita a mobilidade e autonomia de pessoas com necessidades especiais. O EyeRing é um Anel com mini-câmara, voz integrada e de fácil transporte que pode reconhecer distâncias, cores e preços. Colocado no dedo e apontado para o objecto que pode até ser uma moeda ou nota ou algo numa montra, a câmara tira a fotografia e, em segundos, redige uma mensagem áudio, que pode ser enviada para um telemóvel, com pormenores como a distância a que fica o objecto ou as indicações pretendidas e marcadas por meio de pequeno toques num botão específico. Vai ser trabalhada a sua miniaturização e estará em breve no mercado. DESTINADO TAMBÉM a dar uma certa autonomia aos deficientes visuais, aqui deixamos um link de onde podem ser feitos downloads gratuitos de audio-books de muitas obras literárias que assim podem ser depois comodamente ouvidas graças à Internet e à informática: http://livrosnarrados.blogspot.pt/ n
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Boavida|Ao volante
Novo Opel Insignia Ultrapassada a barreira de 440.000 unidades vendidas na Europa, a gama do modelo Opel Ensignia renova-se com a introdução de novos motores.
Carlos Blanco
o mercado português chegou agora o Insignia 1.4 Turbo, equipado com novas tecnologias que enquadram o modelo na mais recente filosofia da Opel: garantir baixos consumos e emissões, sem prejudicar as performances. O sistema Start/Stop, a nova direcção assistida eléctrica, os painéis aerodinâmicos sob a carroçaria, bem como o apuramento do funcionamento do motor em todos os sentidos, são apenas alguns dos aspectos que tornam este automóvel a gasolina num dos mais eficientes do segmento dos familiares. O novo Insignia 1.4 Turbo regista um consumo médio de apenas 5,5 l/100 km e emissões de CO2 de 129 g/km. Pode atingir a velocidade máxima de 205 km/h e acelera de 0 a 100 km/h em 10,9 segundos. O balanço face à anterior versão 1,8 litros "atmosférica" – que não era comercializada em Portugal - indica uma redução das emissões e dos consumos superior a 25%. Para o mesmo nível de potência, o Insignia 1.4 Turbo consome menos dois litros/100 km e as emissões de CO2 são inferiores em 45 gramas. A variante Sports Tourer é também líder em economia no segmento médio das stations wagon a gasolina, com 5,7 l/100 km e 134 g/km de emissões de CO2. O novo Opel Insignia 1.4 Turbo está disponível no mercado português nas versões Edition e Executive. Tal como nas restantes propostas da gama, sobressai por oferecer um equipamento de série completo, onde se inclui ar condicionado de comando electrónico, vidros eléctricos, programador de velocidade. Faróis com sensor de luz, rádio-leitor de CD e ficheiros MP3 com entrada AUX para dispositivos portáteis, entre muitos outros. O novo Insignia 1.4 Turbo Edition é proposto ao preço de 27.290 euros na versão de quatro portas e de 28.590
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euros na variante Sports Tourer. O reforço da economia do motor 1.4 Turbo é também claro pela inclusão de tecnologia Start/Stop, que se estreia na gama Insignia e surge com evidentes benefícios, especialmente no trânsito citadino. Assentando sob o princípio de quando o motor não está a funcionar não consome combustível, o sistema desliga de forma automática o motor quando a alavanca da caixa de velocidades é colocada em ponto morto e quando o condutor deixa de pressionar o pedal da embraiagem. Esta fase é indicada no conta-rotações como "Autostop". As vantagens desta tecnologia vão além da economia de combustível e passam também pela redução dos níveis de emissões e de ruído, factores vantajosos para o meioambiente. O motor é colocado de novo em funcionamento automaticamente quando o condutor pressiona o pedal da embraiagem. Por razões de segurança, e para maior conforto dos passageiros, o sistema mantém activos os comandos de climatização e do vácuo do servo-freio durante a fase de paragem automática do motor. Sempre que se considere necessário, o condutor pode desactivar manualmente o sistema premindo a tecla "eco". n NOV 2012 |
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Boavida|Saúde
O Outono e as enxaquecas Todas as pessoas, em qualquer altura das suas vidas, já tiveram uma dor de cabeça, o que em linguagem médica se designa por cefaleia. Esta, vem geralmente associada a outros sintomas e raramente aparece isolada. Porém, algumas pessoas têm um padrão de cefaleias que as autoriza a dizer que "sofrem de enxaquecas".
M. Augusta Drago
medicofamília@clix.pt
no Outono e na Primavera, quando o tempo está mais instável, que aparecem mais pessoas a dizer que "sofrem de enxaquecas". Garanto-vos, por experiência própria, que a palavra sofrer está aplicada no verdadeiro sentido do termo. A enxaqueca é uma dor de cabeça que não dá tréguas e deixa o doente incapacitado de fazer o que quer que seja. O seu único desejo é estar deitado, de preferência no escuro, e longe de qualquer ruído. A enxaqueca é uma cefaleia primária, o que quer dizer que constitui só por si uma doença. Não é sintoma de qualquer outra patologia. Nos países ocidentais, a enxaqueca afecta cerca de 15% da população. As mulheres, a partir da puberdade, são mais susceptíveis do que os homens, numa proporção de 5 para 1. Surge, em regra, pela primeira vez entre os 15 e os 40 anos, mas as crianças também podem sofrer de enxaquecas. Quando a enxaqueca aparece pela primeira vez depois dos 40 anos, é necessário investigar para despistar outras doenças neurológicas. Por enquanto, enxaqueca não tem cura, mas pode ser tratada. Como afecta as pessoas na idade em que são mais activas, é frequentemente causa de absentismo e tem custos sociais elevados. Esta cefaleia tem um conjunto de sintomas que a diferencia: a dor não é permanente, surge por episódios com intervalos variáveis, livres de dor. O doente com enxaqueca refere a sensação de batimentos dentro da cabeça. É o que se chama uma dor pulsátil. A dor agrava-se com o movimento e com o esforço físico. Muitas vezes afecta só uma parte da cabeça ou só um dos lados. Estas "marteladas" na cabeça não vêm sozinhas, podem ser acompanhadas de uma longa fila de sintomas tais como náuseas, vómitos e intolerância à luz, ao ruído e a cheiros. Determinados doentes sentem que vão ter um episódio de enxaqueca. Esta pode ser precedida de uma determinada sensação como formigueiro na face ou num dos lados da cabeça ou alterações visuais, como visão de pontos luminosos em ziguezague ou turvação das imagens. Nestes casos, diz-se que se trata de uma enxaqueca com aura. Nos intervalos entre os episódios, o doente não tem sin-
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tomas. Os episódios dolorosos podem durar algumas horas, mas também podem durar até três dias e a periodicidade das crises é muito variável: há doentes que podem ter dois episódios por semana e outros que referem algumas crises ao longo da vida. Nas mulheres, os episódios estão muitas vezes relacionados com o período menstrual. A origem das enxaquecas não está ainda totalmente esclarecida. No entanto, sabe-se que se devem a processos complexos, a nível do cérebro, onde se libertam determinadas substâncias químicas as quais levam à dilatação de vasos sanguíneos. Também se sabe que há uma certa susceptibilidade genética para a ocorrência destes fenómenos. O café e a pílula anticoncepcional estão no grupo de substâncias que tanto pode melhorar como agravar a enxaqueca, varia de pessoa para pessoa. Não há um único tratamento para esta doença. Para ajudar o médico a responder com eficácia, recomenda-se que o doente faça um registo dos episódios, o mais detalhado possível, descrevendo os factores que julga como desencadeantes da crise, a localização da dor, a duração, a frequência, os medicamentos que tomou e como aliviou os sintomas. Estes dados ajudam a estabelecer uma estratégia profilática. Não há medicamentos específicos para fazer a prevenção da enxaqueca, mas existem medicamentos para outras doenças, por exemplo anti-hipertensivos e anti-epilépticos que têm tido bons resultados na prevenção da enxaqueca. De qualquer modo, desaconselha-se a automedicação. Só o médico, depois de saber a história detalhada da doença, é que está habilitado a fazer o diagnóstico de enxaqueca e a estabelecer um plano terapêutico para cada doente. n
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Boavida|Palavras da Lei
Obras em condomínio: informação, deliberações e vinculação ?
Desde Fevereiro de 2012 que habito num prédio com sete condóminos, sendo que estes habitam no imóvel
desde o início. Nunca fui, até agora, informado acerca de nenhumas obras no prédio. Está marcada uma assembleia de condóminos, para discussão e aprovação de obras e respectivo orçamento. Se as obras forem aprovadas, gostaria de saber qual o seu quórum de aprovação, e de que maneira ficarei obrigado a participar no pagamento dessas obras ou não. Sócio devidamente identificado Pedro Baptista-Bastos
e acordo com o artigo 1432º, nº 2 do Código Civil, a convocatória de uma assembleia de condóminos deve informar imperativamente quais os assuntos da ordem de trabalhos, bem como os assuntos cujas deliberações só podem ser aprovados por unanimidade de votos. Sendo a carta deste nosso sócio omissa quanto à natureza das obras, deverá guiar-se não só pelos termos da convocatória, bem como, se for caso disso, perguntar em assembleia de condóminos qual a natureza da obra e seu quórum de deliberação. Regra geral, as deliberações são tomadas por maioria simples de votos, excepto nos casos em que seja necessário unanimidade de votos; ou os casos das deliberações que exijam maioria de dois terços do valor total do
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JOSÉ ALVES
prédio, como sejam os casos de obras que inovem partes comuns do prédio - artigo 1425º, nº 1 do Código Civil - ou as obras que os condóminos queiram fazer nas suas fracções que modifiquem a linha arquitectónica ou a estética do prédio - artigo 1422º, nº 3 do Código Civil. Por fim, pode haver despesas relativas ao pagamento de serviços de interesse comum, como segurança ou limpeza do imóvel, que têm que ser aprovadas por maioria de dois terços do valor total do prédio, sem oposição de voto - isto é, se houver um único voto em contrário, mesmo com maioria qualificada de dois terços do valor total do prédio, não é aprovada - nos termos do artigo 1424º, nº 2 do Código Civil. Talvez as obras em causa digam respeito à situação de inovação em partes comuns, ou a serviços de interesse comum, por serem de maior probabilidade de ocorrência, mas o nosso sócio deverá averiguar este caso com prudência. Assim, deve o sócio pedir informações ao administrador do condómino em sede de assembleia; aliás, mesmo antes desta, já o administrador tem que facultar toda a informação necessária sobre a ordem de trabalhos, de modo a prestar contas convenientemente - artigo 1436º, alínea j) do Código Civil. Deste modo, saberá que tipo de obras está em causa, e como deve agir, de acordo com a sua vontade. Por fim, uma deliberação válida é vinculativa para todos os condóminos. n
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ClubeTempoLivre > Passatempos Palavras Cruzadas | por José Lattas
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HORIZONTAIS: 1-Abrigo; União. 2-Rádio (s.q.); Queiram; Ribomba;
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Plutónio (s.q.). 3-Margem; Concelho do distrito de Castelo Branco;
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Bebida alcoólica destilada do melaço de cana-de-açúcar. 4-Pronome
3
pessoal feminino (invertido); Sistema montanhoso, que atravessa
4
toda a América do Sul; Sinal ortográfico, que em Português, serve
5
para nasalar o som da vogal. 5-Construo; Rio da Rússia, com 1967
6
Km, que nasce no Lago Ivanski; Viver. 6-Concelho do distrito de Viseu; Escondera. 7-Soberano; Exército Republicano Irlandês (sigla).
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8-Desfiguras; Fechado com lacre. 9-Afluente do Douro, que banha
8
Paços de Ferreira; Bolo de farinha de arroz e azeite de coco, usado na
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Ásia; Porção de terreno revestido de vegetação, no meio de um deser-
10
to. 10-Gabinete de Apoio Técnico (sigla de departamento camarário);
11
Citei; Pessoa. 11-Administração Regional de Saúde (sigla); Roubaras;
12
Apertar: Nota musical. 13-Agitação; Infernem. VERTICAIS: 1-Pedra de altar; Abandonadas; Nome feminino. 2Assuste; Ardil. 3-Espécie de assento que se coloca no dorso do cavalo (invertido); Pronome possessivo feminino (pl.). 4-Gálio (s.q.); Pico montanhoso, no maciço do Himalaia; Cobre (s.q.). 5-Âmago; Agrava; Penates. 6-Contracção de preposição e pronome (feminino); Data;
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13 SOLUÇÕES HORIZONTAIS:1-A; ÉGIDE; SOLDA; P. 2-RA; AMEM; ECOA; PU. 3ABA: OLEIROS; RUM. 4-ALE; ANDES; TIL. 5-ELEVO; DON; MORAR. 6-RESENDE; ALAPARA. 7-L; REI; IRA; T. 8-ALTERAS; LACRADO. 9SOUSA; APA; OÁSIS. 10-GAT; ALUDI; SER. 11-ARS; LEVARAS; SAD. 12-NO; CADA; ATAR; SI. 13-A; FUROR; RALEM; Z.
Sociedade anónima desportiva (sigla). 12-Nobélio (s.q.); Adjectivo;
2
Cantor ou poeta religiosos, entre os antigos Gregos. 7-Melhore; Conservar. 8-Corrido; Bico da verruma. 9-Bonançosa; Latir. 10Escavados; Via; Associação Internacional de Transportes Aéreos (sigla). 11-Calor (invertido); Baliza; Chiste. 12-Apresenta; Acharas; Rémio (s.q.). 13-Escarnecera; Marca correspondente a um ponto, nos jogos de cartas, dominó ou dados (pl.). 14-Crescer; Afirmarás. 15-Voz que serve para exprimir o ruído de uma queda; Ladrões; Narra. Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos
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Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado
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SOLUÇÕES
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Cartaz > ClubeTempoLivre Coimbra Música: Dixie Gringos - Jazz Band, Praça 8 de Maio, Coimbra, dia 2, 21h30; Dixie Gringos, Sede da Sociedade Filarmónica Paionense, Paião, dia 3, 21h30; Coro de Câmara "Canticus Camerae", Igreja Paroquial da Pocariça, Cantanhede, dia 3, 21h30; Sax Ensemble - Quarteto de Saxofones de Coimbra, Sede da Sociedade Filarmónica Santanense, Santana, dia 3, 21h30; Combo Jazz - Grupo de alunos do Curso Profissional de Jazz do Conservatório de Música de Coimbra, Igreja da Misericórdia de Tentúgal, Montemor-oVelho, dia 8, 21h30; Coro de Câmara "Canticus Camerae", Salão Paroquial de Seixo de Mira, dia 10, 21h30; Grupo de alunos do Curso Profissional de Jazz do Conservatório de Música de Coimbra, Auditório da Sociedade Filarmónica dos Covões, dia 15, 21h30; Sax Ensemble Quarteto de Saxofones de Coimbra, Auditório da Cerâmica Arganilense, dia 17, 21h30. Encontro de Música Sacra -
Porto Coro de Câmara "Canticus Camerae", Choral Poliphonico de Coimbra, Vozes Brancas da Academia Martiniana, Igreja da Sé Velha, Coimbra, dia 17, 21h. Teatro: Encontros de Outono / Grupo de Teatro Loucomotiva: Retalhos, Grupo Marionetas da Feira, dia 10, 21h30; O Contador de Histórias, Jorge Serafim, dia 17, 21h30; Nocturna Supressio Vaudeville, Loucomotiva, dia 24, 21h30. Informações - tel. 239 853 380 | ag.coimbra@inatel.pt
Évora Exposição: "Era Uma Vez, Teatro de Marionetas", de 3ª a Dom., 10h/13h e 14h/18h, até 21 Dez. Informações - tel. 266 730 520 | ag.evora@inatel.pt
Horta Curso: Arte Floral, de 26 a 30 de Nov., instalações da Agência, inscrições até dia 17. Informações - tel. 292 292 812 | ag.horta@inatel.pt
Desporto: Início dos campeonatos de Andebol, Basquetebol, Futsal e Voleibol. Conferência: "O Porto - Ontem e Hoje", Rua do Bonjardim, nº 501, dia 30, às 21h30. Informações - tel. 220 007 950 | ag.porto@inatel.pt
Viana do Castelo Teatro: "Perre, Paris e Londres", Comédias Tradicionais de Perre, CCD Associação Desportiva e Cultural de Perre, de 30 de Nov. a 9 de Dez., no Salão Paroquial de Perre. Etnografia e Folclore: Folclore de São Martinho: Rancho Folclórico da Ribeira, Grupo Folclórico das Bordadeiras da Casa do Povo de Cardielos; Grupo Folclórico da Gemieira, Ribeira, dia 18, 15h. Informações - tel. 258 823 357 | ag.vcastelo@inatel.pt
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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o
Da austeridade letal e do humor terapêutico No seu conhecimento do tempo as flores / Dos campos de Outono / Têm todas o perfume dos raios da lua. Jien (1155-1225). Trad. do francês: MAVF
A
rdem as vozes, as palavras queimam os lábios. Mais profundo do que o temor das demasiado sombrias evidências é o temor da inevitabilidade do agora apenas pressentido. Não fora necessária a tristeza de Outono para as palavras lhe matarem na garganta de cidadão comum de um país que já foi rico o antigo riso-apesar-de-tudo. Elas tinham chegado em catadupa, ameaçadoras e temíveis no seu mistério, repetindo-se, repetindo-se, até lhe transformarem a bem-aventurada ignorância num saber condenatório. E fora então que o riso lhe morrera, amortalhado num léxico que lhe era estranho. Mãe de todas essas palavras e do seu insanável desespero, a omniparente e omnipresente AUSTERIDADE, que, no séc. XIV, do longínquo grego, viera, por via culta, através do latim AUSTERITAS, também com o desagradável significado de “qualidade do que é seco, rude, áspero”, inclusive no sentido moral. Alargado com o tempo o seu significado ao campo semântico da economia, austeridade significa maior rigor – há quem lhe chame disciplina, napalm…! – nos gastos públicos, o que, em geral, se traduz, para aqueles a quem, como o nosso comum cidadão português, esse rigor é selectivamente aplicado, numa existência mais difícil, numa vida de stress, nem mesmo suavizada pela certeza de que o seu futebolista predilecto está ao abrigo dessas medidas letais. E como é do conhecimento de alguns privilegiados, entre outros males, o stress provoca danos cerebrais, dores nas articulações, aumenta a ansiedade… Como antídoto garantido existe, felizmente, o HUMOR, como é possível inferir-se do texto bíblico 17:22 dos Provérbios, que garante: “O coração alegre serve de bom remédio, mas o espírito abatido poderá secar os ossos”. S. Tomás de Aquino considera o humor um bem necessário para a vida humana, e, como tal, um “bem útil”. Na sua obra A Comédia, o filósofo francês Henri Bergson considera a comédia e o riso, como manifestações de humor, cura para “a doença da mesmisse, da monotonia, a nossa doença moderna”.
Na realidade, o riso, o humor, tem uma função social, é uma força aglutinante. Segundo Victor Borge, “ele é a distância mais curta entre duas pessoas”. Tal como são necessárias duas pessoas para dançar o tango, também os jogos de humor implicam a existência de mais do que uma: interlocutores, escritor-leitor, actor-espectador, etc. Na sua obra A piada e a sua relação com o inconsciente, o ainda então não tão polémico doutor Freud faz um estudo aprofundado do humor, distinguindo os mais diversos tipos de piadas, segundo a técnica da respectiva construção, dos meios utilizados, dos objectivos a alcançar com elas, etc. Uma das técnicas apresentadas é a da “condensação”, ou seja, a constituição de uma palavra composta por duas outras, em que no significado final é reconhecível o objectivo da construção da piada. Como exemplo, refere um episódio, em que uma das personagens de uma das obras do poeta Heine e, como ele judeu, pobre e primo muito afastado do milionário Barão de Rothshild, conta a um amigo que num jantar oferecido pelo seu aristocrata patrão, tinha ficado sentado junto do Salomon Rothshild. –- E?...– perguntou-lhe, ansioso, o amigo. – Ora! Tratou-me de igual para igual – muito familionariamente! Ainda que E. B. White opine que “tal como uma rã, o humor pode ser dissecado, mas, como ela, morre no processo”, não resisto a chamar a atenção para a profunda amargura tão subtilmente oculta nesta (aparente) manifestação de humor. Acabado de ler: “O que interessa Portugal não entrar em falência, se no fim vamos estar todos mortos?” (Ferreira Leite) (“Pode dar a volta a situações dolorosas através do riso. Se consegue encontrar humor em qualquer coisa, mesmo na pobreza, também consegue sobreviver-lhe.” Bill Crosby) “O Instituto Superior Técnico pode fechar portas por algum tempo devido aos cortes nas verbas destinadas ao Ensino Superior no OE para 2013.” (“Se pensa que a educação é dispendiosa, tente a ignorância.” Derek Bok). Pensava que realmente lhe tinham morto o riso na garganta… As minhas desculpas. n NOV 2012 |
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Os contos do
Chegará o dia
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m sol de primavera alegrava o parque e Pedro voltou a surpreender-se com o número de pessoas - jovens e já não tanto - entregues ao mais elementar dos exercícios físicos: correr. Era domingo e aos domingos multiplicavam-se os frequentadores acelerando no parque. Corriam pelo serpentear de atalhos que dividiam em parcelas o imenso relvado ponteado por árvores de copas vastas. Era a segunda vez que Pedro se misturava nesse desfilar de gente conquistada pelas corridas como promessa de rija saúde e muitos anos de vida. Por ele passaram, velozes, duas moças em trajes de atletismo, sem prescindirem de ouvir música enquanto as longas pernas galgavam terreno. E desgostou-se um pouco no momento em que um sujeito avançado na idade o ultrapassou em passadas felinas. "Vou deixar de fumar" – pensou. E ia pensando em como lhe apetecia contar a alguém esse seu novo costume de dar às pernas. "A Dulce. Tenho tanto para contar à Dulce!" Havia mais de um ano que não trocavam palavras, arrastados pelas preocupações, esforços e vontade de orientar a vida. Tinham-se conhecido à saída de uma grande empresa, na tarde nervosa em que ali se apresentaram para entrevistas de candidaturas a empregos. Umas dezenas de candidatos, malta nova chamada para esse exame talvez final depois das solicitações com cartas e currículos. Pedro e Dulce não visavam o mesmo alvo, ele a informática, ela a gestão, cada um com seu curso mas ainda sem percurso. No seu íntimo, porém, avultava uma idêntica aspiração: viesse o que viesse, importante, para já, era conseguir um emprego. Correu mal. A ambos. Pedro leu no rosto da morenita um desencanto que seria semelhante ao dele próprio. Nunca antes se tinham encontrado mas teve ânimo para não se reduzir à sua mágoa pessoal e disse: – Ainda não foi desta. Mas um dia será. – Já não acredito – murmurou ela, forçando um sorriso. Saíram juntos e juntos caminharam para a paragem dos autocarros. – Para onde vai agora? – perguntou Pedro, sem outra 80
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intenção que a de evitar silêncios pensativos e amargos. – Para casa. E o costume: procurar anúncios, enviar currículos, tentar, tentar. Não é o que acontece contigo? – Uma pausa e outra curiosidade: – Desculpa, nem sei o teu nome. – Pedro. – E eu, Dulce. Bárbara Dulce, não parece uma contradição? Optei por Dulce. Também distribuis currículos, Pedro? – Às dezenas – riu-se ele. – Mas esta foi a primeira vez que me chamaram à conversa. Sempre foi um avanço, não? – Sentados num banco de jardim, consultaram páginas de jornais na pequena esperança de encontrarem, em forma de anúncio, uma voz que os chamasse. Tomaram notas, lamentaram-se, gracejaram. Era fim de tarde e deram por finda a pesquisa. – E se fossemos comer? Bem gostaria de te convidar para um jantar requintado mas esse fica adiado para não sei quando. Por agora, uma refeição económica, aceitas? Ela segurou-lhe as mãos e, inesperadamente, beijou-o na face. – Vamos. Mas cada um paga a sua parte. – Hoje sou eu. Ainda chega. – Assim não quero. – Pronto, vamos lá. Do restaurante modesto saíram tão íntimos como se nessa curta hora recuperassem o tempo em que não se tinham conhecido. Com naturalidade, Pedro colocou um braço sobre os ombros dela e assim seguiram, como namorados passeando-se, numa esquina detiveram-se, fitando-se nos olhos, e uniram as bocas num beijo longo, espontâneo, como se fosse a forma exacta de pouparem as palavras que lhes bailavam nos lábios. Trocaram contactos de telefones e endereços informáticos, reencontraram-se três, quatro vezes, com o alvoroço das horas felizes. Não completamente: – Então? – Nada. E tu? – Igual. Mas vamos em frente. Combinemos isto: agora só voltamos a contactar quando houver boas notícias.
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Ela preocupou-se: – Pode demorar, Pedro. – Quem sabe? Sei, isso sei, que não sairás dos meus pensamentos. Anichando-se nos braços dele, Dulce suspirou e disse, baixinho: – Nem tu dos meus. Não se despediram. Apenas se afastaram em busca de um destino. Agora Pedro está sentado em frente do seu amigo computador e decide que chegou a hora de informar Dulce acerca das voltas que deu. Vai teclando: "Minha inesquecível Dulce. Só agora dou notícias porque só agora, depois de quinze dias de testes, dou por garantido um emprego e – aleluia! – de harmonia com as minhas aptidões. Se dou pulos de contente? Bom, estou a gostar de Oslo, sempre desejei visitar a Noruega, não imaginava era vir para me fixar. E tu? Finalmente encontraste em Portugal quem reconhecesse os teus muitos méritos? Espero que sim. Diz-me. Até um e-mail me fará sentir abraçado a ti. Beijos." Recostou-se, puxou por um cigarro, censurando-se: "Tenho mesmo de me livrar do tabaco. No domingo que vem, quando for correr, já devia ter um bocadinho mais de fôlego. E a Dulce? Não tardará a espreitar as mensagens no computador, talvez me dê notícias ainda hoje. Pressinto que JOSÉ ALVES
desolada por me saber em Oslo. Por outro lado, satisfeita por saber que encontrei um caminho. Receio que o mesmo não aconteça ainda com ela. A vida em Portugal está muito cruel para os jovens. E não só, não só." Apagou o cigarro a meio, zangado consigo próprio. Levantou-se e foi introduzir a camiseta transpirada na máquina de lavar. Arrumou os ténis e os calções, escolheu o vestuário para o dia seguinte. Dia de trabalho. Espreitou pela janela o movimento que prosseguia no parque. "Estes noruegueses correm que se fartam". Voltou a sentar-se diante do computador e notou que uma mensagem acabava de aterrar. "Quem teremos?" Num ápice obteve a resposta: "Dulce! Que bom, devia andar à cata de hipóteses de colocação e chegou-lhe o meu e-mail!" Excitado, leu: "Que bela surpresa, Pedro, julguei que já nem te lembravas de mim. E que bom teres alcançado a realização profissional. Grande notícia e olha que a recebi quando já me preparava para dormir. Aqui na Austrália são umas dez horas mais tarde que na Noruega, sabias? O emprego que tenho corresponde ao que desejava e gosto de viver em Melbourne. Só sinto a falta da família, dos amigos, de uns petiscos portugueses – e de ti. Voltaremos a ver-nos? " De um salto, Pedro atacou o teclado e dedilhou: "Chegará o dia". n NOV 2012 |
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Crónica
Fe r n a n d o Dacosta
Cabelos brancos
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ma das maiores perversidades que a cultura ultra-liberal soprou sobre nós, foi a de dividir-nos por gerações. Antes do seu borbulhar, vivíamos misturados (com gosto) uns nos outros, maneira apetecível de nos acrescentarmos em vivências, conhecimentos, solidariedades, diversidades, afectuosidades. Exemplares nisso eram as tertúlias de café, saborosíssimas no convívio e na subversão, e na intriga – como as da inesquecível Brasileira do Chiado, em Lisboa (e tantas outras) onde se sentavam à mesma mesa, discutindo à mesma altura, Aquilino (ou Almada, ou Barradas, ou Zé Gomes Ferreira, ou Jorge de Sena) e adolescentes avulsos na avulsa (a)ventura de comungar os seus maiores. Ao retirarem-nos as tertúlias separaram-nos, inimizando-nos num deplorável apartheid de idades e conceitos. Insinuado a princípio, o conflito intergeracional depressa passou a declarado, atirando para o lixo um terço dos portugueses por velhos e inúteis. Intelectuais de serviço prestes ajudaram à festa, havendo quem apelasse à rebelião dos novos contra a tirania dos seniores. A acusação mais usual era (é) a de que os rendimentos dos segundos estão a ser pagos pelos impostos dos primeiros, não se cuidando de dizer que o dinheiro das suas reformas provém de descontos (obrigatórios) feitos durante décadas, a que se juntaram elevadas contribuições (também obrigatórias) das respectivas entidades patronais; não se cuidando de dizer que os seus impostos comparticiparam a educação e a formação, a saúde e o conforto dos que agora os descriminam; não se cuidando ainda de dizer que só por opção do Estado as despesas do edifício social continuam a ser,
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maioritariamente, suportadas pelos rendimentos do trabalho, e não do capital, e não das especulações financeiras, bolsistas e outras. É surpreendente ver, por exemplo, sociólogos, economistas, opinadores (e afins) carpirem-se por não haver mais jovens para sustentarem os idosos, sem lembrarem que metade dos jovens não tem emprego, nem virá a ter, vivendo das ajudas dos referidos idosos, pais, avós e protectores. Numa fase que devia ser de alguma tranquilidade (a da reforma), eis que tudo se desmorona à volta dos idosos lançandoos em angustiadas e sucessivas inquietações: quem acudirá aos filhos e netos quando desaparecerem? de que (e como) irão eles viver? Economias, patrimónios pessoais estão, entretanto, em perda acelerada levados pela pandemia da austeridade, dos impostos, taxas, colectas, contribuições, uff! A isso junta-se a terrífica (chantagiadora) ameaça de falência da Segurança Social bramida (periodicamente) por interesses esquivos e penúmbreos: daqui por vinte anos, daqui por sete anos não haverá, insinua-se, capacidade para a sua sustentabilidade. Sustentabilidade que tem sido, nas últimas décadas, sabotada pelos que utilizam milhões das suas contas.
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urioso, agora, o reconhecimento de que tem sido um erro a marginalização dos seniores da nossa vida pública. Curioso, igualmente, ouvir dizer-se que fazem falta "cabelos brancos" nos cargos governativos; que a experiência de vida, o conhecimento do ser humano representam patrimónios decisivos. De há muito, porém, que os surrealistas dizem: apenas podemos avançar para o futuro guiados pelos que conhecem o passado. Só o não sabe quem não quer. n
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