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Matéria Especial: Um doloroso mas necessário impulso para a solidariedade
MATÉRIA ESPECIAL
Um doloroso mas necessário impulso para a solidariedade
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A pandemia jogou luz sobre a empatia, fazendo nascer uma outra perspectiva de valorização: do individual para o coletivo.
Inegável a constatação de que a pandemia do coronavírus, desde o seu início, nos trouxe a visão clara do mundo individualista, materialista e consumista em que vivemos. E nos freou. Fomos colocados diante de um fato novo para a imensa maioria das gerações, que está nos oportunizando a re exão sobre comportamentos, mudanças de paradigma e revisão de posturas em que o “eu individual” é sempre o protagonista. Ao termos tido nosso uir da vida rompido, inevitavelmente questionamos a estrutura já consolidada das coisas e fomos chamados, como coletividade, a dar uma resposta mais criativa no sentido de reconstruirmos nossas formas de nos relacionar com tudo e todos. Uma forma mais solidária.
Somos seres que precisam de cuidados Diante de um grande obstáculo ou enfrentamento como a pandemia que vivenciamos, uma das tendências que podem surgir em nós como seres humanos é o orescimento da empatia pelo sofrimento do outro e uma necessidade de união. Esta é uma dimensão de querer o bem do outro, uma chama para criarmos formas de ajudar, um combustível para a solidariedade e que nos traz novo sentido à vida. Mais do que qualquer espécie, o homem precisa dos cuidados de outro ser humano para sobreviver desde o início de sua vida. Este é um fato, mas que não costumava andar presente conscientemente no cotidiano das pessoas. Aí veio a dolorosa pandemia... E agora? O sentimento de muitas pessoas no Brasil foi de dor pelos que mais estavam sofrendo e o impulso incontido de ajudar. Nascia uma onda gigante de solidariedade que se espalhou por todos os cantos do país. Soluções criativas para antigos e para o novo problema, e uma energia de coragem e desprendimento emergiram em prol dos que mais necessitavam de suporte: ou porque viviam em áreas vulneráveis, ou porque perderam seus empregos, ou porque caram doentes. Pura impulsão de empatia. A empatia é uma qualidade não apenas de conseguir se colocar no lugar do outro, mas um sentimento de conexão e unidade com o outro. Ela permite nos descolarmos de nós mesmos e sermos capazes de criar responsabilidade com todos aqueles da comunidade humana à qual pertencemos. Mas e agora? Continuaremos a ser mais solidários? Esta é uma pergunta sobre a qual devemos mergulhar em profundidade e com seriedade. A solidariedade exige consistência e é um valor a ser construído e alimentado. Passado o auge do con ito com a pandemia, é preciso, em nome da coletividade, que o aprendizado seja xado e ampliado. Conforme re ete a psicóloga e educadora da Rede Marista, Luciana Winck, pensando na força e nas ideias que deverão fazer girar e concretizar a renovação transformada em ações, se vê a chance de ampliar a solidariedade. “Mais do que nunca, o pensamento precisa ser coletivo, ainda que não unânime, se quisermos um 2021 que traga diferença e esperança. O que se mostra real em nossos esforços para que
este novo ano tenha crédito como oportunidade de virada, pode estar em uma solidariedade no pensar, quer seja de soluções, caminhos ou experiências, mas pelo olhar coletivo. Esforços individuais podem estar fadados à negatividade e à limitação, pois sabemos que quando se constrói uma ponte, por exemplo, ela necessitará de muitas mãos e pensamentos até que seja possível que por ela passem, com segurança, veículos e pessoas, ligando lugares e histórias”, diz Luciana. Assim, parece claro que para manter de forma mais consciente e consistente a prática da empatia e da solidariedade no mundo póspandemia em processo de transformação, é essencial também mudar a nossa mentalidade. “Precisamos que o nosso pensamento considere ainda mais o cuidado com o outro e que exercitemos um modelo mental e uma atitude que realmente direcionem esforços para agir em conjunto. Se nossa mente não busca o outro para criar novos caminhos, talvez sigamos na ilha de nós mesmos”, conclui Luciana. Este pode ser o aspecto positivo e esperançoso se tivermos aprendido com a pandemia.