Revista Fazer Bem - Edição 10

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MATÉRIA ESPECIAL

Um doloroso mas necessário impulso para a solidariedade A pandemia jogou luz sobre a empatia, fazendo nascer uma outra perspectiva de valorização: do individual para o coletivo.

I

negável a constatação de que a pandemia do coronavírus, desde o seu início, nos trouxe a visão clara do mundo individualista, materialista e consumista em que vivemos. E nos freou. Fomos colocados diante de um fato novo para a imensa maioria das gerações, que está nos oportunizando a reflexão sobre comportamentos, mudanças de paradigma e revisão de posturas em que o “eu individual” é sempre o protagonista. Ao termos tido nosso fluir da vida rompido, inevitavelmente questionamos a estrutura já consolidada das coisas e fomos chamados, como coletividade, a dar uma resposta mais criativa no sentido de reconstruirmos nossas formas de nos relacionar com tudo e todos. Uma forma mais solidária.

Somos seres que precisam de cuidados Diante de um grande obstáculo ou enfrentamento como a pandemia que vivenciamos, uma das tendências que podem surgir em nós como seres humanos é o florescimento da empatia pelo sofrimento do outro e uma necessidade de união. Esta é uma dimensão de querer o bem do outro, uma chama para criarmos formas de ajudar, um combustível para a solidariedade e que nos traz novo sentido à vida. 34 • REVISTA FAZER BEM

Mais do que qualquer espécie, o homem precisa dos cuidados de outro ser humano para sobreviver desde o início de sua vida. Este é um fato, mas que não costumava andar presente conscientemente no cotidiano das pessoas. Aí veio a dolorosa pandemia... E agora? O sentimento de muitas pessoas no Brasil foi de dor pelos que mais estavam sofrendo e o impulso incontido de ajudar. Nascia uma onda gigante de solidariedade que se espalhou por todos os cantos do país. Soluções criativas para antigos e para o novo problema, e uma energia de coragem e desprendimento emergiram em prol dos que mais necessitavam de suporte: ou porque viviam em áreas vulneráveis, ou porque perderam seus empregos, ou porque ficaram doentes. Pura impulsão de empatia. A empatia é uma qualidade não apenas de conseguir se colocar no lugar do outro, mas um sentimento de conexão e unidade com o outro. Ela permite nos descolarmos de nós mesmos e sermos capazes de criar responsabilidade com todos aqueles da comunidade humana à qual pertencemos.

Mas e agora? Continuaremos a ser mais solidários? Esta é uma pergunta sobre a qual devemos mergulhar em profundidade e com seriedade. A solidariedade exige consistência e é um valor a ser construído e alimentado. Passado o auge do conflito com a pandemia, é preciso, em nome da coletividade, que o aprendizado seja fixado e ampliado. Conforme reflete a psicóloga e educadora da Rede Marista, Luciana Winck, pensando na força e nas ideias que deverão fazer girar e concretizar a renovação transformada em ações, se vê a chance de ampliar a solidariedade. “Mais do que nunca, o pensamento precisa ser coletivo, ainda que não unânime, se quisermos um 2021 que traga diferença e esperança. O que se mostra real em nossos esforços para que


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