Revista A Bordo - Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - 14ª Edição

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Fundação Mamíferos Aquáticos

EDIÇÃO 14

Patrocínio:

R E V I S TA

A BORDO “VITÓRIA” E “PARAJURU” CHEGAM AO ESTUÁRIO DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE E ENTRAM EM PROCESSO DE READAPTAÇÃO Exposição fotográfica convida o público a mergulhar no universo do peixe-boi marinho

“Arraiá do Cine Peixe-Boi” anima a criançada no litoral norte da Bahia

Peixe-boi marinho “Astro” é pauta de discussão na Assembleia Legislativa de Sergipe

FOTO KARLILIAN MAGALHÃES ACERVO FMA

PROJETO VIVA O PEIXE-BOI MARINHO


Investindo esforços em prol da conservação do peixe-boi marinho no Brasil.


EDIÇÃO 14 AGO/2019


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CAPA “Vitória” e “Parajuru” chegam ao estuário da Barra do Rio Mamanguape e entram em processo de readaptação

ESPECIAL

12 Exposição fotográfica convida o público a

COLUNA CIENTÍFICA

20 Desvendando a comunicação do peixe-boi

PESQUISA

22 Área de vida dos peixes-boi marinhos

mergulhar no universo do peixe-boi marinho

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

14 “Arraiá do Cine Peixe-Boi” anima a criançada

(Trichechus manatus) reintroduzidos

FMA

26 Fundação Mamíferos Aquáticos dá início à celebração dos seus 30 anos

no litoral norte da Bahia

CONSERVAÇÃO MARINHA

16 Peixe-boi “Astro” é pauta de discussão na

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GPS

Assembleia Legislativa de Sergipe

DIÁRIO DE BORDO

18 Por Miriam Marmontel

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REVISTA A BORDO

Jornalista responsável Karlilian Magalhães Design gráfico Giovanna Monteiro Revisão técnica João Carlos Gomes Borges TAMBÉM COLABORARAM PARA ESTA EDIÇÃO:

Coluna Científica Bruna Martins Bezerra Diário de Bordo Miriam Marmontel Pesquisa Sebastião Silva

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FOTO REFLEXÃO

ILUSTRAÇÃO


EDITORIAL

FOTO LUCIANO CANDISANI/ ACERVO FMA

A Revista A Bordo é o periódico de comunicação e informação científica do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela PETROBRAS, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. O objetivo desta publicação quadrimestral é levar informação e sensibilizar os leitores sobre a importância de se conservar os mamíferos aquáticos, seus habitats e o meio ambiente. Na sua 14ª edição, a Revista traz informações atualizadas sobre os peixes-bois marinhos “Vitória” e “Parajuru” que foram transferidos de oceanários da Ilha de Itamaracá (PE) para um espaço de readaptação em ambiente natural na Barra do Rio Mamanguape, litoral norte da Paraíba. Saiba como foi a chegada dos animais no espaço novo e como está sendo o processo de readaptação dos dois no estuário da região. E uma dica para quem for visitar o litoral paraibano nos próximos dias: conferir a exposição fotográfica “Viva o Peixe-Boi Marinho”, que está em cartaz, em caráter permanente, na base da APA da Barra do Rio Mamanguape. O acesso é gratuito. A exposição faz parte das atividades de Educação Ambiental do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho e tem como objetivo sensibilizar o público sobre a importância da conservação da espécie e do meio ambiente. Confira também a ação especial de São João que o Cine Peixe-Boi promoveu para as crianças do litoral norte da Bahia, local onde vive “Astro”, o primeiro peixe-boi marinho reintroduzido no Brasil. “Astro” também foi tema de pauta de discussão na Assembleia Legislativa de Sergipe. Os detalhes desta novidade estão na seção Conservação Marinha. Na Coluna Científica, a bióloga Bruna Bezerra, professora do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco, fala sobre estudos relativos à comunicação do peixe-boi marinho. Na seção Pesquisa, o ecólogo e mestrando da UFPB, Sebastião Silva, apresenta um resumo científico intitulado “Área de vida dos peixes-boi marinhos (Trichechus manatus) reintroduzidos”. E quem assina o Diário de Bordo desta edição é Miriam Marmontel, que conta um pouco da sua experiência como pesquisadora nos trabalhos de conservação dos peixes-bois no Brasil e como colaboradora do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. Na seção FMA, a Fundação Mamíferos Aquáticos dá início à celebração dos seus 30 anos de história. A Revista também traz uma arte especial do livro que a ilustradora pernambucana Rosinha fez em homenagem a “Xica”, um peixe-boi fêmea que morou durante anos na Praça do Derby, no Recife, e fez parte da história de várias gerações de pernambucanos. Tem também a seção Foto Reflexão, as indicações de livros e a agenda de eventos científicos previstos para 2019 nas áreas de Biologia, Medicina Veterinária, Ecologia e Meio Ambiente. Boa leitura! Karlilian Magalhães, assessora de comunicação do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho.

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“VITÓRIA” E “PARAJURU” CHEGAM AO ESTUÁRIO DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE E ENTRAM EM PROCESSO DE READAPTAÇÃO Após meses de preparação, exames clínicos e muito planejamento, os peixes-bois marinhos “Vitória” (de 4 anos) e “Parajuru” (de 6 anos) foram transferidos dos oceanários da Ilha de Itamaracá (PE), onde passavam por processo de reabilitação desde filhotes, para um amplo espaço de readaptação em ambiente natural localizado na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape (PB). Os animais viajaram mais de 150 km em um caminhão adaptado com piscinas e colchões de proteção e depois mais 20 minutos de barco para chegar até o Recinto de Readaptação Jocélio de Brito, construído em uma camboa do estuário local. Foi uma operação grande, realizada durante a madrugada do dia 17 de abril, e que reuniu profissionais de diversas áreas e instituições: equipes do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, da Fundação Mamíferos Aquáticos; da Arie e APA da Barra do Rio Mamanguape/ ICMBio; do CEPENE; da Aquasis; e comunidades da região. A translocação foi realizada com sucesso, os peixes-bois estão bem e já se encontram em processo de readaptação se preparando para a reintrodução. “O processo de readaptação dos animais ao ambiente natural é de extrema importância para a conservação da espécie, que atualmente se encontra “Em perigo” de extinção no Brasil. No recinto de readaptação, os animais vão se preparar para a reintrodução e reintegração aos ambientes naturais. E a APA

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da Barra do Rio Mamanguape é uma região propícia para essa reintegração da espécie, sendo uma das principais áreas de ocorrência de peixes-bois marinhos no Brasil, um local que ainda dispõe dos principais atributos ecológicos que propiciam à existência da espécie, contando com um importante estuário, ambiente marinho, fontes de alimentação, qualidade hídrica, águas calmas e protegidas, e, além disso, trata-se de uma área de proteção ambiental”, explica o pesquisador e médico veterinário, João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. “Vitória” e “Parajuru”, que antes se encontravam em um ambiente artificial, aos poucos estão se acostumando à vida na natureza, aprendendo sobre a variação das marés, correntes marítimas, salinidade e mudanças de temperatura da água, explorando o espaço novo ( de 4.131 m², em águas estuarinas, no manguezal), interagindo com outros organismos aquáticos e experimentando novos itens alimentares, como algas encontradas na região. De acordo com Vanessa Rebelo, médica veterinária do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, os animais estão evoluindo positivamente de forma progressiva: “Nos primeiros dias, o consumo de itens alimentares, que eles já estavam acostumados no oceanário (cenoura, alface, beterraba), foi inicialmente baixo, provavelmente devido ao processo de adaptação ao ambiente novo.

FOTOS KARLILIAN MAGALHÃES/ ACERVO FMA

CAPA


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A rotina no recinto de readaptação consiste em um intenso acompanhamento dos animais por meio de monitoramentos realizados pelas equipes do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho e ARIE e APA da Barra do Rio Mamanguape/ ICMBio, com o apoio do CEPENE. Nos primeiros cinco dias, as equipes trabalharam em um esquema de vigília, 24 horas por dia, ininterruptos. Atualmente, o monitoramento dos animais é realizado nos períodos da manhã e da tarde. Todos os dias, as equipes registram o comportamento dos animais em um etograma previamente estabelecido com informações comportamentais relacionadas a fatores bióticos e abióticos, com o objetivo de avaliar a adaptação dos peixes-bois marinhos ao ambiente. Também é realizado o monitoramento da dieta de

“Vitória” e “Parajuru”. A oferta de alimentos é feita no período da manhã. Os alimentos fornecidos (e as sobras) são pesados e registrados, e todas as informações são anotadas em planilhas padronizadas para acompanhamento do consumo diário. Além destes, ocorre com periodicidade o monitoramento da qualidade hídrica do recinto, no qual a equipe coleta uma amostra da água e, por meio de uma sonda multiparâmetros, são levantadas informações físico-químicas para avaliar o ambiente. Em breve, “Vitória” e “Parajuru” passarão pela primeira avaliação clínica no espaço de readaptação, onde será possível obter informações mais detalhadas sobre a saúde e a adaptação dos mesmos no novo espaço. De forma responsável, dentro das normativas estabelecidas, e em horários determinados, o espaço em ambiente natural está aberto para visitação da comunidade e de turistas, com o objetivo de contribuir na sensibilização e conscientização da sociedade sobre a importância da conservação da espécie. Estas visitas são organizadas pela Associação de Artesãos e Guias de Ecoturismo da Região da APA da Barra do Rio Mamanguape (AGEAPA), cujos guias e condutores passaram por capacitações especiais.

FOTO KARLILIAN MAGALHÃES/ ACERVO FMA

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FOTO ACERVO FMA

Hoje, com mais de dois meses vivendo no recinto, a alimentação dos animais encontra-se estável, e já estão sendo oferecidos diariamente itens naturais como algas marinhas. ‘Vitória’ e ‘Parajuru’ vêm apresentando padrões de comportamento normais, sendo possível observar interações entre eles e também deles com os animais reintroduzidos – a exemplo de Mel, Puã, Zelinha – que estão em vida livre, mas, que com a chegada dos novos habitantes, têm visitado a área do recinto com certa frequência”.


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FOTOS JOÃO CARLOS GOMES BORGES E VICTÓRIA ALEY/ ACERVO FMA

RELEMBRE A HISTÓRIA DE “VITÓRIA” E “PARAJURU” Era madrugada do dia 1º de janeiro de 2015, quando a equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho (PVPBM), da Fundação Mamíferos Aquáticos, foi acionada para fazer um resgate de um filhote de peixe-boi marinho que havia encalhado vivo na Praia do Oiteiro, localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape, litoral norte da Paraíba. Quem o encontrou foram dois pescadores da região, “Seu Canário” e “Seu Passinho” – foi “Seu Passinho” inclusive que batizou o filhote com o nome de “Vitória”. A equipe do PVPBM, junto com a APA, prestou os primeiros atendimentos ao animal, que ainda apresentava resquícios de cordão umbilical. “Vitória” estava bem fisicamente, pesava 39 kg e media 131 cm. Na ocasião, a equipe verificou se a mãe estava próxima ao local do encalhe para tentar reintroduzir o filhote, porém não foi encontrada. Sendo assim, “Vitória” foi encaminhada para a sede do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste – Cepene/ICMBio - na Ilha de Itamaracá (PE), onde recebeu o tratamento adequado. Agora “Vitória”, uma fêmea saudável - com 4 anos de idade, 404 kg e 2,70 m de comprimento – voltou para a APA da Barra do Rio Mamanguape, onde está passando pela etapa de readaptação ao ambiente natural. Junto com “Vitória” também veio “Parajuru”, um peixe-boi marinho macho, com 6 anos de idade, 335 kg e 251 cm de comprimento. “Parajuru” foi encontrado ainda filhote encalhado numa na praia de Parajuru, Beberibe (CE), no dia 17 de janeiro de 2013. Foi resgatado pela equipe da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (AQUASIS), pesando 32,5 kg e medindo 126 cm. Na sede da Aquasis, ele recebeu os primeiros atendimentos, e, no dia 25 de janeiro de 2013, Parajuru foi transferido para o Cepene/ICMBio, na Ilha de Itamaracá (PE). No litoral norte da Paraíba, na APA da Barra do Rio Mamanguape, “Parajuru” e “Vitória” estão um amplo espaço (de 4.131 m²), construído em ambiente natural (em água estuarinas, no manguezal) pelas equipes do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, da APA da Barra do Rio Mamanguape, da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Manguezais da Foz do Rio Mamanguape, CEPENE/ICMBio e voluntários da comunidade local. Eles estão senso os primeiros a inaugurar este espaço direcionado a peixes-bois marinhos em fase de readaptação e aos que precisem de cuidados clínicos especiais. A ideia é que, assim que aptos, os animais sejam reintroduzidos no estuário da região. “Quando soltos, findado o processo de readaptação, ‘Vitória’ e ‘Parajuru’ vão estar de alguma maneira convivendo nestes ambientes de estuário, indo para praias que eles ainda vão estar desbravando, e esse processo todo traz para o trabalho de conservação uma das ações mais desejadas, que é a soltura desses animais e, sobretudo, ter esses animais adaptados às condições de vida livre, interagindo com outros peixes-bois, ter os peixes-bois dentro destes ambientes e a sociedade convivendo de maneira harmônica nesses ambientes com os peixesbois, podendo assim assegurar a continuidade, a perpetuidade da conservação da espécie”, enfatiza João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental - é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil e conta com a parceria da APA da Barra do Rio Mamanguape e o CEPENE/ICMBio. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas.

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ESPECIAL

Exposição fotográfica convida o público a mergulhar no universo do peixe-boi marinho FOTO FERNANDO CLARK ACERVO FMA

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Quem visitar a Barra de Mamanguape, no litoral norte da Paraíba, poderá conferir a exposição fotográfica “Viva o Peixe-Boi Marinho”, que está em cartaz, em caráter permanente, na base da Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape, localizada próxima ao estuário da região. O acesso é gratuito. A exposição faz parte das atividades de Educação Ambiental do Projeto Viva o PeixeBoi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. A ideia é, por meio de fotos e textos, sensibilizar o público sobre a importância da conservação da espécie e do meio ambiente. A mostra reúne imagens do animal em ambiente natural captadas pelas lentes dos fotógrafos Enrico Marcovaldi, Luciano Candisani, Fernando Clark, Lucio Borges e Edson Acioli. Cada foto contém uma legenda com informações sobre aspectos ecológicos, biológicos, fatores de ameaça e status de conservação do peixe-boi marinho. A exposição também traz informações sobre as ações que o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho desenvolve, em parceria com a

APA da Barra do Rio Mamanguape e Cepene/ ICMBio, para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil. “A exposição é ao ar livre, combina com o ambiente da Barra, é autoexplicativa, traz informações importantes sobre a espécie. Então assim que o visitante chega ao local já vai entrando no contexto do peixe-boi marinho, já vai tirando dúvidas antes mesmo de fazer os passeios de barco pelo estuário para avistar os animais em ambiente natural. E isso contribui bastante no trabalho de sensibilização para a conservação da espécie”, ressalta Iara Medeiros, ecóloga e educadora ambiental do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas. A iniciativa conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape e Cepene/ICMBio. FOTO ALLAN OLIVEIRA ACERVO FMA

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

‘Arraiá do Cine Peixe-Boi’ anima a criançada no litoral norte da Bahia As crianças do Povoado de Coqueiro, município de Jandaíra, litoral norte da Bahia, local onde vive “Astro”, o primeiro peixe-boi reintroduzido no Brasil, tiveram um dia pra lá de animado com o “Arraiá do Cine Peixe-Boi”. Fantasiados para festa de São João, os pequenos se divertiram bastante com a programação do evento que contou com exibição de filmes eco educativos, palestra informativa sobre “Astro”, brincadeiras juninas, lanche, barraca do abraço e quadrilha improvisada. Foi um 22 de junho de muito arrastapé, alegria, amor e conscientização ambiental para as mais de 50 crianças da comunida-

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de, que também fizeram os voluntários e técnicos do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho reviverem a infância e se emocionarem a cada brincadeira. “O evento superou nossas expectativas. As crianças colaboraram de forma espetacular. Elas são nosso orgulho na comunidade, ficamos felizes em ver que buscam conhecimento a cada evento que proporcionamos a elas. A interação foi perfeita, as crianças queriam repetir as brincadeiras, todas participaram. Foi um presente enorme ver a felicidade transbordando no rostinho delas. No momento que soube-


ram que era meu aniversário, começaram a cantar parabéns espontaneamente e vieram me abraçar. Foi emocionante. Momento mágico que ficará guardado no meu coração. Gratidão a todas as pessoas da comunidade que nos ajudaram a realizar o Arraiá do Cine Peixe-Boi”, ressalta Luana Dias, voluntária do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. O Cine Peixe-Boi faz parte das atividades de Educação Ambiental do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho (PVPBM) – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos, com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Trata-se de um projeto itinerante, criado por jovens de comunidades da APA da Barra do Rio Mamanguape em 2013, que tem como objetivo promover exibições de filmes com temas ecológicos, culturais e socioambientais para sensibilizar o público sobre a importância da conservação do peixe-boi marinho (ameaçado de extinção no Brasil) e do meio ambiente, levando a cultura do audiovisual a comunidades, distantes dos grandes centros urbanos, que não possuem acesso a cinema. O Cine Peixe-Boi tem atuado nos estados de Sergipe e Bahia, desde 2018, promovendo sessões especiais de cinema e palestras temáticas com foco

na sensibilização de proteção ao peixe-boi marinho “Astro”, que já foi vítima de atropelamentos causados por embarcações motorizadas na região. O animal costuma circular por uma área compreendida entre o rio Vaza-Barris, em Sergipe, e Mangue Seco, no litoral da Bahia. A orientação para caso alguém encontre “Astro” é não tocar, não alimentar e nem oferecer bebida a ele. O melhor a se fazer, para o bem dele, é manter distância e apenas admirá-lo de longe. Se “Astro” estiver em perigo, machucado ou encalhado, entre em contato com o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho/ Fundação Mamíferos Aquáticos pelos telefones: (83) 99961-1338/ (83) 999611352 (whatsapp) / (79) 99130-0016. Aos condutores de embarcações motorizadas, o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho pede mais atenção para não atropelar o animal: antes de acionar o motor, olhe ao redor e verifique se tem peixe-boi marinho próximo. A hélice em movimento pode machucar e matar o animal. Só ligue o motor se tiver certeza que o animal não está por perto; Se estiver navegando e avistar o animal nas proximidades, reduza a velocidade ou desligue o motor para evitar colisões e atropelamentos.

FOTOS ALLAN OLIVEIRA ACERVO FMA

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CONSERVAÇÃO MARINHA

Peixe-boi marinho “Astro” é pauta de discussão na Assembleia Legislativa de Sergipe No mês de junho, o peixe-boi marinho “Astro” foi pauta de discussão na Assembleia Legislativa de Sergipe, durante a audiência pública em alusão ao Dia Mundial do Meio Ambiente. Na ocasião, o professor Dr. João Carlos Gomes Borges, médico veterinário e coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, debateu sobre temas relacionados à necessidade de proteção ao animal, que já foi vítima de pelo menos 13 atropelamentos provocados por embarcações motorizadas entre o litoral sul de Sergipe e norte da Bahia. Na oportunidade, foi sugerida uma perspectiva de ordenamento náutico a fim de evitar novos acidentes. “Astro” foi o primeiro

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peixe-boi marinho a ser reintroduzido no Brasil e vive há mais de 20 anos nessa região. A audiência pública foi uma solicitação da deputada federal Kitty Lima, cuja linha de atuação é voltada para a defesa animal. Além do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA), outras instituições e movimentos ambientais atuantes no estado também estavam presentes. O objetivo da sessão solene foi fazer um mapeamento das atividades ambientais desenvolvidas em Sergipe para saber as problemáticas enfrentadas a fim de buscar possíveis soluções.


FOTOS ACERVO FMA

Além das questões relacionadas a “Astro”, João Carlos Gomes Borges, que também é diretor de pesquisa da Fundação Mamíferos Aquáticos, falou sobre o impacto que o descarte incorreto do lixo provoca nos oceanos e animais marinhos. A FMA também atua nos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia por meio do Programa de Monitoramento de Praias, no qual resgata tartarugas, mamíferos e aves encontrados encalhados nas praias, reabilitando-os e devolvendo-os à natureza. E grande parte destes animais apresentam problemas por terem interagido com o lixo, alguns até morrem em decorrência disso. O coordenador falou sobre a importância da destinação e do tratamento adequado dos resíduos no estado para evitar que mais animais marinhos se prejudiquem e morram por causa desse impacto. A proposição de políticas públicas faz parte das atividades do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Petrobras por meio do programa Petrobras Socioambiental. O projeto é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico, além das atividades relacionadas a políticas públicas. A iniciativa conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape e Cepene/ICMBio.

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FOTO ACERVO MAMIRAUÁ

Diário de bordo POR MIRIAM MARMONTEL Oceanógrafa, com doutorado em Conservação de Vida Silvestre, colaboradora do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho Os peixes-boi são os animais com os quais atualmente dedico provavelmente a maior parte de meu tempo e esforço. Seu “canto de sereia” me conquistou ainda na faculdade, e persistiu por toda minha trajetória profissional. Comecei a trabalhar com peixe-boi (amazônico) ainda como estagiária na época de faculdade e mais tarde conduzi estudos de mestrado e doutorado com peixe-boi (marinho) fora do país (Flórida EUA). Retornei ao Brasil diretamente para o interior da Amazônia, onde criei um grupo de pesquisas dedi-

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cado aos mamíferos aquáticos amazônicos. Ao longo dessa trajetória, conheci João Carlos Gomes Borges e Jociery Vergara-Parente, da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA), em congressos, e passamos a colaborar em estágios e projetos de pesquisa com ambas espécies de “sereias” brasileiras. Sou colaboradora “de longe” (desde os confins da Amazônia), apoiadora e incentivadora do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, da Fundação Mamíferos Aquáticos, e grande torcedora por seu sucesso. Vibro com cada conquista, participo de eventos, e contribuo nas pesquisas diretamente quando possível. A pesquisa tem importância capital para a conservação das espécies, é o alicerce primordial para qualquer tomada de ação. Apenas baseado em conhecimento científico sólido poderemos desenhar soluções adequadas de conservação e atuar incisivamente em problemas que afetem as espécies. Tenho conduzido pesquisa científica com peixes-boi há mais de 30 anos, diretamente com os amazônicos e em parceria com a FMA e outras instituições. Nosso grupo de pesquisa foi agraciado, em 2015, na primeira edição do Prêmio Nacional de Biodiversidade. Sou membro de redes de encalhes de mamíferos aquáticos e atuo em políticas públicas por meio da participação em fóruns de discussão, grupos assessores aos planos de ação das espécies e grupo especialista da IUCN. Em conjunto, essas ações são desafiadoras por requererem dedicação, conhecimento e estudo; por outro lado são gratificantes ao me constituir parte protagonista na conservação dos peixes-boi no Brasil e na América Latina. João e eu somos os atuais co-chairs do Grupo Especialista em Sirênios da IUCN – Seção América do Sul. A cada dois anos, durante as reuniões da Sociedade Latinoamericana de Mamíferos Aquáticos, compartilhamos novos conhecimentos durante um simpósio, e, em reunião com os membros da seção, debatemos com os colegas da América do Sul soluções para os problemas de conservação dos peixes-boi.

mais importante essa articulação para permitir a continuidade dos trabalhos e encaminhamento das decisões necessárias. Entretanto, o campo ainda é o que alimenta a mente, e, ao estar no campo, surgem as ideias, confrontam-se os problemas práticos diretamente e frequentemente soluções se configuram na mente; o campo é um oxigenador. Já houve tempo, bem nos primórdios, em que a aceitação de nossa presença e nosso trabalho junto às comunidades locais foi um desafio grande a superar. Atualmente, contamos com o apoio e colaboração quase-integral das comunidades. Neste momento, não tenho dúvida que nosso maior desafio é perseverar com o trabalho perante a crítica situação político-econômica do país e total desestímulo e apoio à pesquisa e conservação. Esse desapoio pode causar um retrocesso nos avanços alcançados ao longo das últimas décadas no campo ambiental e científico. Fazer parte de projetos socioambientais em prol da conservação dos peixes-boi é estimulante. Se por um lado nos impõe desafios difíceis de contornar, por outro nos incentiva a encontrar soluções criativas para os problemas, e ao final nos proporciona uma satisfação/gratificação que compensa todos os percalços.

Meu dia a dia hoje é mais focado em trabalho de escritório, articulação, captação de recursos e planejamento. Já houve um tempo em que residia grandes períodos nas reservas de desenvolvimento sustentável Mamirauá e Amanã, mas atualmente é

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COLUNA CIENTÍFICA

POR BRUNA MARTINS BEZERRA Bióloga, mestre em Biologia Animal, doutora em Ciências Biológicas e professora do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco

A comunicação animal é um processo pelo qual um indivíduo sinaliza informações que podem alterar o comportamento de um outro indivíduo, podendo ou não conferir vantagens para eles. Os animais apresentam quatro modalidades principais de sinais de comunicação (tátil, química, visual e acústica) e o uso destas modalidades vai depender das pressões impostas pelo ambiente em que o animal se encontra. As águas turvas e rasas dos estuários habitados pelos peixes-boi marinhos no Brasil sugerem que a comunicação acústica subaquática seja uma peça chave para sobrevivência e manutenção da sociedade desses animais. Além dos sinais acústicos, a presença pelos inervados esparsos com elevada capacidade sensorial ao longo do corpo dos peixes-boi marinhos sugere que sinais táteis também sejam peça fundamental para comunicação desses animais. A comunicação vocal em peixes-boi marinhos é bastante complexa, com seis sinais acústicos cientificamente descritos para esses animais até o momento. Um estudo realizado pela doutoranda Rebecca Umeed, do Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da Universidade Federal de Pernambuco (PPGBA-UFPE), revelou que as vocalizações dos peixes-boi marinhos possuem baixas frequências, com animais de sexo e idade diferentes apresentando algumas vocalizações exclusivas. Rebecca Umeed atualmente foca seus estudos em como mudanças climáticas afetarão a propagação dos sinais de comunicação vocal do peixe-boi marinho. Espera-se que as variações de acidez, salinidade e temperatura da

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água do mar possam impactar na propagação das vocalizações dos peixes-boi marinhos, visto que são variáveis que usualmente afetam a propagação de ondas sonoras. O monitoramento do comportamento vocal dos animais é uma ferramenta poderosa para entender sua comunicação e adaptação ao meio. Resultados preliminares de um estudo realizado pela bacharelanda em Ciências Biológicas Luana Guimarães, do Laboratório de Ecologia Comportamento e Conservação da UFPE, revelou que dois peixes-boi marinhos translocados do cativeiro para o semi-cativeiro reduziram a produção de vocalizações após três meses de translocação. Tal redução pode estar indicando um melhor reconhecimento do ambiente de semi-cativeiro pelos animais, visto que a produção de vocalizações pode ser usada para evitar isolamento. As translocações nesse nível permitem a readaptação gradual do animal que será reintroduzido na natureza, sendo o monitoramento de sinais de comunicação e do comportamento geral dos animais essencial para o sucesso do processo. Um estudo focado na comunicação tátil do peixe-boi marinho em cativeiro, sendo realizado pela mestranda Karen Lucchini, do PPGBA-UFPE, está mostrando que os peixes-boi possuem pelo menos 19 comportamentos de natureza tátil, sendo estes ligados à exploração do ambiente, interação social e manutenção corporal. Esses comportamentos táteis são executados de maneira diferente por machos e

FOTO DIVULGAÇÃO

Desvendando a comunicação do peixe-boi


FOTO LUCIANO CANDISANI ACERVO FMA

fêmeas, evidenciando assim a complexidade na sociedade dos peixes-boi. Embora sejam considerados animais semi-sociais, já existem registros de manadas de peixes-boi durante períodos de acasalamento ou compartilhamento de alimentos, e também existe uma duradora relação mãe-filhote que pode chegar a mais de 2 anos. Apesar da evidente importância da comunicação tátil para os peixes-boi marinhos, ainda são escassos os estudos que tratem desse tema. Os peixes-boi marinhos são animais fascinantes e carismáticos, e observá-los na natureza pode levar a um melhor entendimento da importância da preservação desta espécie e do ambiente em que vivem. O turismo baseado na observação da megafauna marinha vem crescendo substancialmente ao longo dos últimos anos e quando aplicado de ma-

neira sustentável pode ainda trazer benefícios econômicos para as comunidades locais. As atividades humanas, incluindo o turismo de observação, geram diversos ruídos que tem mudado consideravelmente a acústica ambiental. Os ruídos já são considerados como poluentes de interesse internacional. Dessa forma, estudos que foquem neste poluente e na sua influência sobre a comunicação dos animais se fazem necessários para fomentar ações de conservação e auxiliar na avaliação da sustentabilidade de atividades antrópicas no ambiente costeiro.Pensando nisto, estudos a serem desenvolvidos pela doutoranda Paula Coutinho do PPGBA-UFPE focarão em entender o potencial do turismo de observação de peixe-boi marinho no Nordeste do Brasil para evidenciar os reais impactos desta atividade sobre o comportamento e a comunicação da espécie. FOTOS DIVULGAÇÃO

Equipe peixe-boi marinho do Laboratório de Ecologia, Comportamento e Conservação do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco. www.mamiferosaquaticos.org.br

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PESQUISA A cada edição, a Revista A Bordo traz artigos e resumos científicos relacionados à conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats. Confira agora um resumo científico elaborado por Sebastião Silva dos Santos, ecólogo, analista de pesquisa e coordenador de monitoramento do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba.

Área de vida dos peixes-boi marinhos (Trichechus manatus) reintroduzidos Autores: Sebastião Silva dos Santos¹ ² ; João Carlos Gomes Borges¹ ².

1. Fundação Mamíferos Aquáticos – FMA 2. Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental

1. INTRODUÇÃO Os peixes-boi marinhos (Trichechus manatus) constam como “Em perigo” no Brasil (ICMBio, 2016) e, internacionalmente, a espécie está classifica como “Vulnerável” (IUCN, 2018). Como estratégia de conservação para a espécie, em 1994 teve início ao Programa de Reintrodução, com a intenção de restabelecer a distribuição geográfica original dos peixes-bois marinhos no Brasil (LIMA et al., 2007), reconectar as populações isoladas e reforçar populações depauperadas (NORMANDE, 2014). Considerando estes esforços, a extensão da área utilizada pelos peixes-bois marinhos a partir de seu respectivo local de reintrodução é definida como área de vida, sendo o limite territorial, as posições geográficas extremas alcançadas pelos deslocamentos feitos por cada animal (LIMA, 2008). Estudos de utilização do habitat e padrões de movimentação por meio de programas de soltura e reintrodução se mostram efetivos, pois podem trazer informações precisas de uma série de fenômenos incluindo migrações, aspectos ecológicos e a identificação dos impactos antropogênicos, gerando subsídios para a conservação da espécie e o seu habitat (NORMANDE, 2014). Identificar os padrões de utilização do habitat, mapear as áreas e os recursos utilizados com maior frequência bem como as rotas e os corredores uti-

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lizados entre estas áreas, geram subsídios para conservação dos peixes-bois marinhos, seja por meio de indicação de áreas prioritárias para proteção do habitat ou proposição de estratégias mitigatórias para a redução dos impactos antrópicos identificados. Por tanto, esse trabalho tem como objetivo identificar a área de vida dos peixes-bois marinhos (Trichechus manatus) reintroduzidos no Brasil. 2. material e métodos Os animais estão sendo monitorados por meio dos sistemas VHF e satelital (GlobalStar). As informações acerca das localizações dos animais provenientes do sistema satelital são recebidas diariamente, conforme a programação previamente estabelecida. Adicionalmente, estes indivíduos estão sendo monitorados “in loco”, sendo obtidas informações sobre a localização, padrões comportamentais, uso das áreas e a presença de atividades humanas. As coordenadas obtidas são especializadas por meio de um sistema de informação geográfica (SIG), possibilitando a identificação das principais áreas de uso de cada animal monitorado, tanto no período seco como no chuvoso. A partir do método de Kernel, utilizando uma planilha contendo todas as coordenadas referentes a cada indivíduo, será calculada a área de vida. As áreas que apresentarem maiores concentrações de


coordenadas serão classificadas como sítios de fidelidade, sendo a somatória de todos esses sítios, igual a 50% do total de coordenadas para cada peixe-boi (Normande et al., 2015).

Nos locais onde há a presença dos animais, estão sendo coletados, por meio de uma sonda multiparâmetros, dados físico-químico da água, tais como, pH, salinidade, temperatura, condutividade e oxigênio dissolvido. Estas informações são obtidas tanto no período seco como no chuvoso. De forma complementar, também estão sendo utilizadas informações disponíveis no banco de dados da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) referentes aos animais monitorados no período de 2016 a 2018. A identificação da presença de itens alimentares está sendo realizada por meio de mergulho (livre ou autônomo), onde, partindo de um ponto central, é traçada uma linha reta para quatro direções (norte, sul, leste e oeste), com raio de 10 metros. Havendo a presença de algum tipo de vegetação aquática, este é fotografado para posterior identificação.

Figura 1: mapa de kernel ( áreas em azul - área total de uso/ áreas em vermelho - sítios de fidelidade) As áreas estão sendo caracterizadas considerando: ambiente protegido ou aberto; ocupações nas proximidades; presença de embarcação; tipo de solo, sendo estes classificados como arenoso, argiloso ou argilo-arenoso; profundidade do local; e presença de itens alimentares.

A avaliação da adaptação dos animais reintroduzidos às condições de vida livre serão realizadas de acordo com os critérios que determinam o sucesso de reintrodução encontrados no protocolo de reintrodução de peixes-bois marinhos no Brasil (Lima et al., 2007), sendo estes: Capacidade de encontrar recursos alimentares e permanência em habitat adequadas para sua sobrevivência, medidas corporais condizentes com sua idade, interações com outros peixes-bois, pouca ou gradativa perda de afinidade com humanos e gestação a médio e longo prazo. FOTOS VANESSA REBELO E GENILSON GERALDO ACERVO FMA

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3. RESULTADOS ESPERADOS Espera-se realizar o monitoramento dos peixes-boi marinhos por meio do sistema satelital e VHF utilizando tecnologia nacional, e, por meio destes, pretende-se identificar o padrão de uso espacial e temporal ao longo das suas áreas utilizadas pelos peixes-bois marinhos, bem como seus sítios de fidelidade e assim realizar a caracterização ambiental desses locais para que possam ser identificados os atributos ecológicos de cada local. 4. AGRADECIMENTOS Agradecemos à Fundação Mamíferos Aquáticos, Universidade Federal da Paraíba, Fundação Grupo Boticario, APA Costa do Corais, Nortronic, APA Barra do Rio Mamanguape e ao CEPENE. Os autores agradecem ainda ao Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

FOTOS KARLILIAN MAGALHÃES ACERVO FMA

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DEUTSCH, C. J.; SELF-SULLIVAN, C.; MIGNUCCIGIANNONI, A. Trichechus manatus. The IUCN Red List of Threatened Species 2008: e.T22103A9356917. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2008.RLTS. T22103A9356917.en>. Acesso em 07 de novembro de 2018. LIMA, R. P.; ALVITE, C. M. C.; PARENTE, J. E. V. Protocolo de reintrodução de peixes-bois marinhos no Brasil, 2007.62 p.Ibama-MA, Instituto Chico Mendes, São Luis. 2007. LIMA, R. P. Distribuição espacial e temporal de peixes-bois (Trichechus mamatus) reintroduzidos no litoral nordestino e avaliação da primeira década (19942004) do programa de reintrodução. 2008. 161 p.Tese de Doutorado, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. 2008. NORMANDE, I. C. Manejo para conservação de peixes-bois marinhos (Trichechus manatus LINNAEUS,1758) no Brasil: Programa de soltura e monitoramento. 2014. 106 p. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Alagoas, Brasil. 2014.

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FMA

FOTO LAIS BEUTHNER ACERVO FMA

FUNDAÇÃO MAMÍFEROS AQUÁTICOS DÁ INÍCIO À CELEBRAÇÃO DOS SEUS 30 ANOS

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Em comemoração aos seus 30 anos de história, a Fundação Mamíferos Aquáticos deu início a uma série de ações especiais que têm como objetivo sensibilizar o público sobre a importância da mudança de hábitos para a conservação da vida marinha. A instituição – cuja missão é promover a conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats, visando a sustentabilidade socioambiental – está investindo esforços no trabalho de conscientização a respeito da problemática do lixo, sobretudo o plástico, considerado um dos grandes vilões da vida marinha por estar sendo descartado incorretamente nos oceanos. Pensar, repensar, agir de uma nova maneira com relação ao consumo, fazendo-o de forma consciente, evitando plásticos no dia a dia, buscando conhecer um pouco mais sobre o processo de descarte, de reutilização, de reciclagem. A FMA acredita que estes são os primeiros passos e que todos podem contribuir para que uma mudança socioambiental aconteça. Para tanto, tem realizado posts informativos e de incentivo a mudanças de comportamento nas mídias sociais e tem apostado em parcerias e eventos estratégicos. Em Aracaju, a Fundação lançou o selo Zero Canudo Plástico (foto). Já foram entregues 15 selos para 15 estabelecimentos. A meta é contemplar 30 estabelecimentos até novembro, mês do aniversário de 30 anos da FMA.

Ações de limpeza de praia continuarão a ser promovidas e serão organizadas com maior frequência, de maneira que os dados sejam coletados de forma sistemática e utilizados para produção científica. A Fundação também está buscando parcerias com artistas plásticos para a exposição montada “Menos Lixo, Mais Arte”, na qual serão apresentadas obras feitas com os resíduos coletados nas praias, uma forma de chamar a atenção e conscientizar a sociedade, por meio da arte. Outra ação que já está ajudando a aumentar a visibilidade para a causa dos animais marinhos são as parcerias com personalidades e influenciadores digitais como Ingrid Moraes, a Miss Sergipe, que recebeu o título de embaixadora da FMA, e Luiza Allan, autora do blog “Não Como Só Alface”. Exposições temáticas e palestras para escolas públicas e privadas, visando despertar nas crianças a importância da conservação dos oceanos também estão na programação dos 30 anos da FMA, que será alimentada até novembro de 2020. Criada em 1989, a Fundação Mamíferos Aquáticos é uma organização da sociedade civil que atua nacionalmente com atividades que envolvem manejo e pesquisa científica, estudando os efeitos antropogênicos nos recursos marinhos, e com parcerias e ações colaborativas que promovem mudanças socioambientais. Neste contexto, também está inserida no apoio à construção e execução de políticas públicas e marcos regulatórios.

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GPS

INDICAÇÕES

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ABC DO OCEANO

A PLASTIC OCEAN

“ABC do Oceano” é o mais novo livro do artista plástico e educador ambiental Alexandre Huber. A publicação apresenta ilustrações de animais marinhos, da letra “A” à letra “Z”, sendo mais do que indicada para as crianças que estão aprendendo a ler. O objetivo do autor é fazer com que, de forma lúdica e divertida, os pequenos já se interessem desde cedo pelo mundo marinho e ao mesmo tempo aprendam o alfabeto. Alexandre Huber dedica todo o seu trabalho artístico à sensibilização para a conservação marinha. Para adquirir o livro, envie um e-mail ao seguinte endereço eletrônico: huber_artemarinha@yahoo.com.br Autor: Alexandre Huber

O documentário A PLASTIC OCEAN tem início quando o jornalista Craig Leeson sai em busca das baleias azuis e acaba descobrindo resíduos plásticos no que deveria ser um oceano intocado. Neste documentário de aventura, Craig se junta à mergulhadora Tanya Streeter e a uma equipe internacional de cientistas e pesquisadores, e eles viajam para vinte locais ao redor do mundo durante quatro anos para explorar o estado frágil dos oceanos. O filme mostra verdades alarmantes sobre a poluição plástica e o seu impacto na fauna e flora marinha e também soluções de trabalho que podem ser colocadas em prática imediatamente. Direção: Craig Leeson, Jo Ruxton

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eventos

Programe-se para os eventos técnico-científicos previstos para 2019 nas áreas de Medicina Veterinária, Biologia, Ciências Biológicas, Ecologia e campos afins.

CONGRESSO BRASILEIRO DE VIDA SILVESTRE Data: 02 a 04 de setembro de 2019 Local: Brasília (DF) congresso.vidasilvestre.org.br 16º CONGRESSO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE Data: 24 a 27 de setembro de 2019 Local: Poços de Caldas (MG) www.meioambientepocos.com.br XXVIII ENCONTRO E XXII CONGRESSO DA ABRAVAS Data: 08 a 11 de outubro de 2019 Local: Florianópolis (SC) congressoabravas.com.br SIMPÓSIO DE ECOLOGIA E MONITORAMENTO AMBIENTAL Data: 29 de outubro a 01 de novembro de 2019 Local: Universidade Federal da Paraíba – Campus IV – Rio Tinto (PB) semaufpb.com WORLD MARINE MAMMAL CONFERENCE Data: 9 a 12 de dezembro de 2019 Local: Barcelona, Espanha www.wmmconference.org V SIMPÓSIO BRASILEIRO DE BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO Data: 17 a 21 de novembro de 2019 Local: Barbacena – MG vsbbc.com.br

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FOTO GENILSON GERALDO ACERVO FMA

FOTO REFLEXÃO Estimativas apontam que cerca de 25% dos manguezais brasileiros já tenham sido destruídos ao longo dos anos, tendo como principal causa os impactos ambientais provocados pelo homem. Considerada área de preservação permanente, o manguezal é um verdadeiro berço e centro de biodiversidade. Tem fundamental importância na geração e manutenção de vida de milhares de espécies de flora e fauna, incluindo o peixe-boi marinho, mamífero aquático ameaçado de extinção no Brasil. No Nordeste, os manguezais fazem parte do habitat do peixe-boi marinho, que sempre os procura como área de alimentação, de fonte de água limpa para beber e viver, como área de reprodução, abrigo e proteção. Desta forma, a degradação destas áreas costeiras (em decorrência dos assoreamentos, poluição, construções indevidas, carcinicultura, entre outros fatores) representa uma grande ameaça à saúde e à vida do peixe-boi marinho. A conservação dos manguezais está diretamente ligada à conservação do peixe-boi marinho e de diversas outras espécies. Vamos ajudar a protegê-los! Na imagem, “Mel”, uma fêmea reintroduzida descansa tranquilamente no manguezal do estuário da Barra do Rio Mamanguape, no litoral norte da Paraíba.

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ILUSTRAÇÃO

Em todas as edições, a Revista A Bordo traz ilustrações que abordam o universo dos animais aquáticos e de seus habitats, como forma de reflexão sobre a importância da conservação do meio ambiente. Nesta edição, estamos trazendo uma arte mais do que especial da ilustradora pernambucana Rosinha. Esta ilustração está no livro que Rosinha fez em homenagem a “Xica”, um peixe-boi fêmea que morou durante anos na Praça do Derby, no Recife, e fez parte da história de várias gerações de pernambucanos.

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Para saber mais sobre o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, acesse: www.vivaopeixeboimarinho.org @vivaopeixeboimarinho

FUNDAÇÃO MAMÍFEROS AQUÁTICOS Rua Guimarães Peixoto, 75 - Sala 1108 Casa Amarela - Recife - PE +55 (81) 3304 -1443 | fma@mamiferosaquaticos.org.br www.mamiferosaquaticos.org.br


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