Revista A Bordo - 15ª Edição - Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho

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Fundação Mamíferos Aquáticos

EDIÇÃO 15

Patrocínio:

R E V I S TA

A BORDO PROJETO VIVA O PEIXE-BOI MARINHO

Turismo de observação de peixe-boi: condutores da Paraíba participam de intercâmbio de conhecimento em Alagoas

No litoral nordestino, crianças colaboram para a conservação do peixe-boi marinho

FOTO SILVANO LIMA ACERVO FMA

JOVENS PARAIBANOS PRODUZEM DOCUMENTÁRIO SOBRE HISTÓRIA DO PEIXE-BOI MARINHO “VITÓRIA” Fundação Mamíferos Aquáticos resgata e reabilita animais marinhos impactados pelas manchas de óleo no Nordeste


Investindo esforços em prol da conservação do peixe-boi marinho no Brasil.


EDIÇÃO 15 DEZ/2019


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CAPA Jovens paraibanos produzem documentário sobre a história do peixe-boi marinho “Vitória”

ESPECIAL

10 No litoral nordestino, crianças colaboram para a conservação dos peixes-bois marinhos

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

12 Aracaju e Barra de Mamanguape têm ação

EMERGÊNCIA AMBIENTAL

24 Manchas de óleo no Nordeste

COLUNA CIENTÍFICA

26 “Estimativa populacional, uso do habitat e fatores de ameaças do boto-cinza (Sotalia guianensis), no estuário da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba” por Isis Chagas

PESQUISA

29 Práticas educativas como ferramenta de sensibilização para a conservação do peixe-boi marinho (Trichechus manatus) no litoral da Paraíba

especial do dia mundial de limpeza de rios e praias

TURISMO

16 Condutores que atuam com turismo de

FMA

34 FMA abre loja física com produtos que angariam recursos para ações de conservação marinha no Nordeste

observação de peixe-boi marinho na Paraíba participam de intercâmbio em Alagoas

DIÁRIO DE BORDO

18 por Geraldo de Brito, “Seu Biruca”

CONSERVAÇÃO MARINHA

22 Fundação Mamíferos Aquáticos resgata e

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GPS

PLANTÃO NOTÍCIA

reabilita animais marinhos impactados pelas manchas de óleo no Nordeste

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REVISTA A BORDO

Jornalista responsável Karlilian Magalhães Design gráfico Giovanna Monteiro Revisão técnica João Carlos Gomes Borges TAMBÉM COLABORARAM PARA ESTA EDIÇÃO:

Coluna Científica Isis Chagas Diário de Bordo Geraldo de Brito Pesquisa Iara Medeiros

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ILUSTRAÇÃO


EDITORIAL A Revista A Bordo é o periódico de comunicação e informação científica do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela PETROBRAS, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. O objetivo desta publicação quadrimestral é levar informação e sensibilizar os leitores sobre a importância de se conservar os mamíferos aquáticos, seus habitats e o meio ambiente. Na sua 15ª edição, a Revista traz como matéria de capa o lançamento do documentário “Vitória”, produzido por jovens de comunidades da APA da Barra do Rio Mamanguape (PB) que participaram, durante o mês de abril, da Oficina “Documentário na prática” promovida pelo Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. O filme conta a história de um peixe-boi marinho fêmea que encalhou ainda filhote na Praia do Oiteiro, litoral norte da Paraíba, e que, graças a ajuda de pescadores e de instituições ambientais, teve uma chance de vida. A Revista traz ainda uma matéria dedicada às crianças do litoral nordestino, que têm colaborado para a conservação dos peixes-bois marinhos. E veja como a participação das crianças na ação especial do Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias em Aracaju (SE) e na Barra de Mamanguape (PB). Com objetivo de aprimorar e melhorar a atividade do turismo de base comunitária voltado para a observação do peixe-boi marinho de forma colaborativa com a estratégia de conservação da espécie, condutores de passeios que atuam no estuário da Barra do Rio Mamanguape foram até a cidade de Porto de Pedras, em Alagoas, para trocarem experiências e adquirem conhecimento com os guias locais que realizam esta atividade no rio Tatuamunha. Manchas de óleo no Nordeste: nesta edição você acompanha como está sendo o trabalho da Fundação Mamíferos Aquáticos no atendimento e reabilitação dos animais impactados no litoral de Sergipe, Alagoas e norte da Bahia. Na Coluna Científica, a bióloga marinha Isis Chagas, mestranda do Programa de Ecologia e Monitoramento Ambiental da UFPB e pesquisadora associada da FMA, compartilha informações relativas a um estudo que está sendo realizado sobre a estimativa populacional, uso do habitat e fatores de ameaças do boto-cinza (Sotalia guianensis), no estuário da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba. Na seção Pesquisa, a ecóloga do PVPBM Iara Medeiros apresenta um resumo científico expandido intitulado “Práticas educativas como ferramenta de sensibilização para a conservação do peixe-boi marinho (Trichechus manatus) no litoral da Paraíba”. Quem assina a coluna Diário de Bordo desta edição é Geraldo de Brito (“Seu Biruca”), funcionário da APA da Barra do Rio Mamanguape e um grande colaborador do PVPBM, que conta um pouco da sua história na Barra de Mamanguape e da sua experiência na luta pela conservação do peixe-boi marinho no Nordeste. Na seção FMA, conheça a loja física e os produtos que a Fundação está vendendo para angariar recursos para ações de conservação da vida marinha. A Revista também traz uma arte especial do livro “Scamonis – O outro lado de mim”, feita pelas irmãs pernambucanas Renata Franca e Paula Franca. Tem também as indicações de livros e a agenda de eventos científicos previstos para 2019 e 2020 nas áreas de Biologia, Medicina Veterinária, Ecologia e Meio Ambiente. Boa leitura! Karlilian Magalhães, assessora de comunicação do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho.

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CAPA

Jovens paraibanos produzem documentário sobre a história do peixe-boi marinho “Vitória” FOTOS ACERVO FMA

Jovens de comunidades da APA da Barra do Rio Mamanguape (PB) participaram, durante o mês de abril, da Oficina “Documentário na prática” promovida pelo Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho (PVPBM) – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. As aulas foram ministradas pelo filmmaker pernambucano Fábio Guerra, da 1K Filmes. Como projeto de conclusão da oficina, os alunos produziram um documentário de 15 minutos, cujo tema foi a história de “Vitória”, um peixe-boi marinho que foi encontrado encalhado ainda filhote na praia do Oiteiro, litoral norte da Paraíba, pelos pescadores “Passinho” e “Canário”, que acionaram o resgate e acabaram ajudando a salvar a vida do animal. O lançamento oficial do documentário “Vitória” aconteceu no dia 30 de agosto, às 19h, na comunidade da Barra de Mamanguape, em Rio Tinto (PB), numa sessão especial do Cine Peixe-Boi. Com orientação e supervisão técnica do filmmaker, os jovens (Silvano Lima, Cristina Santos, Érica Santos, Nildo de Oiteiro, Nilton Cézar, Adriano Felipe e Taynara Maia) percorreram a trajetória de “Vitória”, que, após o resgate, foi encaminhada para reabilitação na Ilha de Itamaracá (PE) e que, em abril de 2019, após quatro anos de reabilitação, retornou à APA da Barra do Rio Mamanguape para se preparar para a reintrodução no estuário local. Os alunos gravaram depoimentos dos pescadores e de todas as equipes que participaram do resgate do animal, na Paraíba e em Pernambuco, e acompanharam o

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retorno de “Vitória” à Barra de Mamanguape, enfatizando o reencontro do peixe-boi com os pescadores que ajudaram a salvá-la. O documentário foi rodado em alta definição com equipamentos profissionais, que proporcionaram imagens de qualidade e emocionantes. O objetivo da oficina de documentário foi incentivar a produção audiovisual do Cine Peixe-Boi, uma iniciativa criada há seis anos por jovens da região e, desde então, incentivada e incorporada às ações de Educação Ambiental do PVPBM. A ideia foi que os participantes pudessem adquirir conhecimento para realizar documentários e vídeos ficcionais sobre temas sociais e eco educativos voltados para a conservação do meio ambiente. No conteúdo programático, com aulas práticas e teóricas, os alunos tiveram acesso a informações sobre roteiro, direção, produção, captação de vídeo/áudio, depoimentos, movimentação de câmera e iluminação, fundamentos da montagem e edição de vídeo, decupagem das imagens, edição, formatos de arquivos, transições, efeitos e caracteres, correção de cor e finalização do material para festivais de cinema e web. O documentário autoral, fruto da oficina, está sendo exibido nas sessões itinerantes do Cine Peixe-Boi e já está disponível nas mídias sociais do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho e da Fundação Mamíferos Aquáticos.


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FOTOS KARLILIAN MAGALHÃES/ ACERVO FMA


Cine Peixe-Boi - Foi criado, em 2013, durante a Oficina de Agentes Ambientais do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, com o objetivo de promover exibições itinerantes de filmes com temas ecológicos, culturais e socioambientais nas comunidades localizadas na APA Barra de Mamanguape e entorno. A ideia é sensibilizar o público sobre a importância da conservação do peixe-boi marinho e do meio ambiente, levando a cultura do audiovisual a comunidades, distantes dos grandes centros urbanos, que não possuem acesso a cinema. O Cine Peixe-Boi já realizou diversas exibições, circulando por comunidades litorâneas da Paraíba, Sergipe e Bahia.

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O documentário “Vitória” está em cartaz no canal da Fundação Mamíferos Aquáticos no Youtube e nas mídias sociais do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho: @vivaopeixeboimarinho (Instagram e Fanpage)

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ESPECIAL

NO LITORAL NORDESTINO, CRIANÇAS COLABORAM PARA A CONSERVAÇÃO DOS PEIXES-BOIS MARINHOS FOTOS KARLILIAN MAGALHÃES ACERVO FMA

Helen e Sofia, 8 anos, moradoras de Costinha, litoral norte da Paraíba. Nycolas, 4 anos, Maria, 10 anos, Aninha, 5 anos, moradores da Barra de Mamanguape (PB). Nalu, 7 anos, moradora de Aracaju (SE). Guilherme e João Victor, 8 anos, veranistas da Ilha da Sogra, litoral sul de Sergipe. Carol, 12 anos, Lorenzo, 9 anos, Amanda, 11 anos, moradores do povoado de Coqueiro, litoral norte da Bahia. Estas são algumas das mais de mil crianças que após participarem do Cine Peixe-Boi, das ações de limpeza de praia, do Forró do Peixe-Boi e das atividades de Educação Ambiental do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, sentiram-se sensibilizadas com os animais e passaram a transmitir para seus pais, amigos, suas comunidades, informações importantes para a conservação desta espécie que está ameaçada de extinção do Brasil.

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Não tocar, não alimentar, não oferecer bebida, não jogar lixo na praia, ter cuidado quando for acionar o motor da embarcação, são algumas das mensagens que elas ajudam a propagar. Filha de pescador, ao assistir um vídeo de um peixe-boi com cortes decorrentes de acidentes com embarcações motorizadas, Helen ficou bastante comovida: “A mim, tocou muito. Os animais estavam bastante cortados. Nós não queremos estar naquela situação que eles estão. Então nós devemos sentir em nós e neles também. Nós devemos cuidar muito do peixe-boi, que está em extinção”. Talvez Helen ainda não tenha consciência da grandeza da sua filosofia de vida quando disse “devemos sentir em nós mesmos e neles também”. Mas este é o exercício diário que tantos adultos deveriam praticar: o de se colocar no lugar do outro.


Estas crianças, mais do que especiais, vivem nas localidades onde há ocorrência de peixe-boi marinho, onde o animal faz parte de suas rotinas. Muitas delas são como Helen, filhas de pescadores, ou filhas de guias, barqueiros, donos de bares e restaurantes, surfistas. Crianças que se sentem responsáveis em cuidar do meio ambiente, do lugar onde vivem, e em ajudar a proteger os peixes-bois marinhos. Em suas comunidades, alguns peixes-bois têm nomes e possuem equipamentos flutuantes de monitoramento satelital: “Puã”, “Mel”, “Zelinha”, “Iara”, “Astro”. Nos encontros e atividades do Projeto, as crianças contam as experiências que viveram com os animais, onde estavam, o que faziam, como as pessoas interagiam com eles. E a partir destes momentos, passaram a entender um pouco mais sobre a biologia dos animais, que são mamíferos aquáticos, que precisam respirar, que comem capim-agulha, que vivem no estuário e no mar, que estão ameaçados de extinção.

Paraíba, está cursando mestrado e hoje é técnico de monitoramento do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho.

Sebastião Silva foi uma dessas crianças. Cresceu acompanhando os trabalhos desenvolvidos pelos técnicos e pesquisadores que trabalhavam pela conservação do peixe-boi na Barra de Mamanguape. “Eu ficava vendo... Poxa, os profissionais estão vindo de outros estados, estão querendo ajudar, contribuir com o peixe-boi, e eu moro aqui... Então por que é que eu não posso contribuir também, né?”. Com essa intenção, sensibilizado com a causa do peixe-boi marinho e seguindo o exemplo dos pesquisadores, Sebastião tomou para si essa missão, que começou ainda criança e que o acompanha até a vida adulta. Estudou, fez Ecologia da Universidade Federal da

O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental - é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas. A iniciativa conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape e Cepene/ICMBio.

São pequenos brasileiros formando as suas cidadanias, carregando as sementes de sabedoria para o futuro do país. E se depender da boa intenção e pureza destas crianças - que sonham em ser professoras, policiais, médicas, pescadoras, veterinárias, modelos, motoristas de ônibus, técnicas do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – a natureza, os animais e o meio ambiente estarão conservados por muitas outras gerações. O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho acredita que a informação, a troca de ideias, as atitudes positivas de exemplos diários e a Educação são fundamentais neste processo de construção da cidadania, são capazes de provocar mudanças e transformações socioambientais significativas, e que as crianças são realmente agentes sensibilizadores especiais para que esta transformação aconteça.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

ARACAJU E BARRA DE MAMANGUAPE TÊM AÇÃO ESPECIAL DO DIA MUNDIAL DE LIMPEZA DE RIOS E PRAIAS FOTOS KARLILIAN MAGALHÃES ACERVO FMA

Estimativas apontam que até 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos. Um dado preocupante que precisa ser discutido todos os dias. Só para se ter uma ideia: muitos dos animais atendidos pela Fundação Mamíferos Aquáticos apresentam problemas por terem interagido com o lixo. Alguns se machucam, outros confundem com comida e acabam ficando doentes e até morrendo. Em setembro, as equipes do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – estiveram reunidas em Aracaju (SE) e na Barra de Mamanguape (PB) para

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refletir e discutir o tema com as comunidades locais e promover o International Coastal Cleanup Day, o Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias, evento que acontece em diversas praias do mundo, coordenado pela ONG Ocean Conservancy. Na capital sergipana, o evento aconteceu no dia 21 de setembro, com concentração às 8h, na praia de Aruana, em frente ao Solarium Bar e Restaurante e contou com a participação de 181 voluntários, sendo 107 adultos e 74 crianças. Os participantes percorreram 1 km de praia. O material coletado durante o percurso foi pesado e passou por gravi-


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metria. Foram recolhidos 123,250 kg, com destaque para os seguintes resíduos: 1.582 tampinhas de metal (utilizadas em garrafas de vidro), 1.268 embalagens de alimentos, 748 bitucas de cigarro, 812 canudos plásticos, 2.674 pedaços pequenos de plástico, 538 tampinhas plásticas de garrafa, 113 materiais de construção, entre outros. Em Aracaju, o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho contou com a parceria da Unimed, Solarium, Vivere Seguros, Sobral Fitness Academia, Energisa e com o apoio do Aracaju Lixo Zero, Colégio Arquidiocesano, Colégio Amadeus, Centro Educacional Pedacinho do Céu e Clube dos Desbravadores. Na Barra de Mamanguape, a ação, realizada no dia 28 de setembro, teve como destaque a participação das crianças locais que deram um show de cidadania. A cada resíduo que encontravam, questionavam por que aquele material foi parar ali na praia, ficavam indignadas, imaginando de onde vinha aquele lixo (levantando hipóteses). Deu para perceber claramente o sentimento de proteção e pertencimento dos pe-

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quenos com a praia. Nesta ação, em um percurso de 1 km, foram recolhidos 222,59 kg de resíduos, com destaque para o plástico (135 kg), o vidro (15,69 kg) e o isopor (13,63 kg). Na Barra, o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho contou com a parceria da APA da Barra do Rio Mamanguape/ ICMBio, do Curso de Ecologia e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da UFPB, da AGEAPA, da Prefeitura de Rio Tinto e de moradores e estudantes das comunidades da região. Todas as informações foram anotadas e encaminhadas para a Ocean Conservance, que compilará o resultado de todos os voluntários do planeta e enviará para o banco de dados mundial da ONU. O Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias é uma ação simbólica e voluntária que tem como principal objetivo sensibilizar e alertar a população para a importância do descarte correto do lixo. Esta ação também visa provocar mudanças de atitude e gerar a reflexão sobre as consequências negativas que esse lixo ocasiona no meio ambiente e como podemos


minimizar ou anular tais impactos. Em Aracaju, o evento está sendo promovido pelo Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas. Em Sergipe e na Bahia, monitora diariamente, sensibiliza a população e cuida da conservação do peixe-boi marinho “Astro”, o primeiro da espécie a ser reintroduzido no Brasil. Para acompanhar as ações e atividades do Projeto, acesse: www.vivaopeixeboimarinho.org e @vivaopeixeboimarinho (fanpage e instagram).

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TURISMO

Condutores que atuam com turismo de observação de peixe-boi marinho na Paraíba participam de intercâmbio em Alagoas FOTOS KARLILIAN MAGALHÃES ACERVO FMA

O litoral norte da Paraíba, mais precisamente a Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape, e o litoral norte de Alagoas, sobretudo a APA Costa dos Corais, são umas das poucas áreas no Brasil onde é possível avistar peixes-bois marinhos, mamífero aquático “Em perigo” de extinção no país. Estas regiões possuem atributos ecológicos que propiciam a existência da espécie, sendo a mesma um dos grandes atrativos dos turistas nestas localidades. Estas são as únicas regiões do Brasil onde existem recintos de readaptação de peixes-bois marinhos em ambiente natural, peixes-bois reintroduzidos e peixes-bois nativos. Para aprimorar e melhorar a atividade do turismo de base comunitária

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voltado para a observação do peixe-boi marinho de forma colaborativa com a estratégia de conservação da espécie, condutores de passeios que atuam no estuário da Barra do Rio Mamanguape foram até a cidade de Porto de Pedras, em Alagoas, para trocarem experiências e adquirem conhecimento com os guias locais que realizam esta atividade no rio Tatuamunha. O intercâmbio, que aconteceu entre os dias 15 e 17 de julho, foi promovido pelo Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho (PVPBM) – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambien-


tal – em parceria com a APA da Barra do Rio Mamanguape/ICMBio e CEPENE e com apoio da APA Costa dos Corais. Os condutores envolvidos no intercâmbio fazem parte da Associação de Artesãos e Guias de Ecoturismo da Região da APA da Barra do Rio Mamanguape (AGEAPA) e da Associação Peixe-Boi de Alagoas. Assim que chegaram em Porto de Pedras, os condutores paraibanos foram recebidos pela equipe da APA Costa dos Corais, que fez uma palestra de boas-vindas e apresentou a estrutura e o trabalho de conservação desenvolvido no rio Tatuamunha. No segundo dia, os paraibanos participaram de uma imersão e vivência do turismo de observação de peixes-bois praticado em Alagoas com a Associação Peixe-Boi. Também visitaram a Associação de Jangadeiros que realiza passeios para piscinas naturais em São Miguel dos Milagres e escutaram um pouco de como é conduzida a atividade. Os paraibanos também visitaram casas de artesanato locais e tiveram uma conversa com consultores do Instituto Yandê, que realizam oficinas e cursos direcionados ao turismo sustentável na região.

PVPBM está apostando no estímulo ao desenvolvimento comunitário e na capacitação dos condutores paraibanos para que o turismo de observação de peixes-bois marinhos seja realizado de forma funcional e colaborativa com a conservação da espécie e que possibilite uma geração de renda alternativa para a comunidade. “Acreditamos que esta vivência em ambiente similar ao da Barra do Rio Mamanguape possibilitou aos condutores paraibanos um aprendizado diferenciado sobre a atividade do turismo de base comunitária aliado à conservação do peixe-boi marinho e à geração de renda. A região de Alagoas já possui uma demanda estabelecida de turistas e uma dinâmica bastante sustentável, que tem proporcionado a geração de renda para a comunidade local. E os condutores da AGEAPA puderam conhecer de perto essa dinâmica”, ressalta Daniela Araújo, coordenadora de Desenvolvimento Comunitário e Educação Ambiental do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho.

O incentivo a ações de base comunitária voltadas para o desenvolvimento do turismo de observação dos peixes-bois marinhos faz parte da estratégia de conservação da espécie promovida pelo Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. O Projeto percebe que, a partir do envolvimento com esta atividade, pescadores e moradores locais tornam-se mais engajados com a estratégia de conservação da espécie e a visita de turistas interessados pelo tema na região possibilita ampliar a sensibilização sobre a importância de se conservar os peixes-bois marinhos. Para tanto, o

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Diário de bordo POR GERALDO DE BRITO Funcionário da APA da Barra do Rio Mamanguape/ ICMBio e colaborador do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho Eu morava em Marcação e depois vim morar na Barra de Mamanguape. Quando eu sai de Marcação para a Barra, eu estava com 16 anos e agora eu estou com 70 anos. Esse tempo todo foi aqui na Barra de Mamanguape, pescando de rede de arrasto, de tainheira e de sauneiro e pegava caranguejo e aratu no mangue, e o marisco, ostra e o sururu do mangue e trabalhava na roça. Fazia de tudo um pouco. E naquele tempo dava muito peixe, só que não tinha energia. Aí ficava ruim porque quando a gente pegava o peixe, não tinha onde a gente botar, não tinha energia pra gente botar os peixes no freezer. Era muito difícil para gente naquele tempo. Naquele tempo tinha muito peixe e, quando a gente pegava o peixe, botava no sol. Botava no sol para ficar seco para a gente vender o peixe seco porque não tinha energia. Era muito sofrimento da gente naquele tempo. Eu morei em casa de taipa e coberta de palha e não tinha piso, porque não tinha barro para fazer o piso e a gente bebia água de poço, porque não tinha água boa pra gente beber. Naquele tempo tudo era difícil, só que naquele tempo tinha muita fartura de tudo, de peixe, de camarão, aratu, ostra, sururu, guaiamum e muita espécie de peixe que não existe mais. O boto eu avistava lá de frente da minha casa aonde eu morava lá na praia, eu avistava os botos atrás das tainhas. Quando eu ia pescar, eu avistava os peixes-bois bem perto da gente, eu avistava filhote e adulto lá na boca do rio de Camurupim. E na beira da pedra eu avistei muito peixe-boi e boto. Naquele tempo não tinha canoa a motor, a gente só andava no remo, o motor não existia. O motor da gente era a força do braço. Naquele tempo se pescava mais porque tinha pouca gente pescando. Naquele tempo não tinha banco de areia e era fundo em todo canto, não era cheio de banco de areia, os peixes-bois tinham canto para ficar, mas agora está tudo seco, cheio de banco de areia e mais a zoada do motor e muita gente tomando banho em todo canto. Naquele tempo não existia isso não. Olhe, eu estou falando de 30 anos atrás. Agora tem de tudo, tem motor, tem muita gente tomando banho e o peixe-boi não tem mais tranquilidade. Olhe naquele tempo, o pescador matava o peixe-boi para comer porque não tinha gente para falar com o pescador que ele não podia matar o peixe-boi.

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FOTO KARLILIAN MAGALHÃES ACERVO FMA

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FOTO LUCIANO CANDISANI ACERVO FMA

Naquele tempo tinha peixe, de toda qualidade de peixe tinha no rio Mamanguape e no mangue. Tinha muito caranguejo de mangue e tinha muita fartura de tudo e tinha a mata, não tinha a cana plantada. Só era mata virgem e tinha muito bicho do mato. Não tinha estrada para andar carro, porque naquele tempo era mata e só tinha areia, só se andava a cavalo ou a pé, porque não tinha estrada. Quando a gente ia para Rio Tinto, a gente ia de canoa a remo ou de cavalo. O carro que tinha na Barra era um carro de boi. Não tinha energia, quando era de noite a gente usava um candeeiro a gás para iluminar a gente de noite. Tinha muita fartura de tudo, mas não tinha energia. O peixe que a gente pegava, a gente passava sal para botar no sol para secar para a gente vender seco em Rio Tinto. Quando era tempo de festa, tinha coco de roda, tinha lapinha, tinha ciranda e o forró de sanfona, pandeiro e zabumba e o triângulo. A gente botava um candeeiro e uma fogueira a lenha pra gente brincar e a noite toda era milho verde e dançando. A gente passava a noite toda brincando, aí era bom. A casa da gente era de taipa e coberta de palha, mas a gente era feliz com todo sofrimento que a gente tinha sem ter energia e sem ter carro pra gente ir para Rio Tinto, sem ter doutor para examinar as pessoas, mas a gente era feliz, com todo o sofrimento, a gente era feliz. Mas agora a gente tem tudo, tem carro, tem doutor, tem escola, energia. Naquele tempo, nem escola tinha. A escola da gente

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naquele tempo era uma inchada para a gente ir para o roçado trabalhar. Mas a gente era feliz porque a gente tinha a beleza da mata virgem e o manguezal que tinha fartura de tudo. Agora a gente tem energia, carro, escola, tem de tudo. Essas famílias novas têm de tudo, mas não viram a beleza que a gente viu 50 anos atrás: a mata virgem, o mangue. Mas agora a gente está feliz porque a gente tem tudo, tem carro, tem casa de tijolo, estamos ricos de tudo. A vida mudou muito, mas a beleza ficou para trás, que era a mata, o manguezal e a fartura que tinha naquele tempo, mas a vida continua. Eu trabalho com peixe-boi nativo através do ponto fixo. Quando está no verão, que o vento está brando, a água está limpa, fica mais fácil avistar os peixesbois nativos. No verão, o vento é brando e a água é limpa e tem muita comida para os peixes-bois se alimentar e aí fica melhor para avistar o peixe-boi se alimentando. Com o vento brando fica melhor para ver o peixe-boi nativo. Quando é no tempo de chuva, fica difícil avistar o peixe-boi, porque a água fica escura e o vento é muito. E a comida dos peixes-bois diminuem no tempo de chuva e muda a água, as algas marinhas ficam poucas, aí os peixes-bois se deslocam para outro canto, para onde tem mais comida para se alimentar. Quando a maré está cheia, é mais fácil avistar os peixes-bois nativos. Quando a maré está seca, fica mais difícil avistar os peixes-bois nativos. Mas quando a gente faz a saída atrás do peixeboi que foi solto (reintroduzido), aí a gente sempre avista os nativos juntos dos outros que foram soltos. Estes peixes-bois que foram soltos (reintroduzidos) no rio Mamanguape, foram achados na praia. Eles eram filhotes, aí se separaram da mãe porque o mar é forte ou por causa das embarcações a motor. Aí o filhote vai parar na praia e aí o pescador acha o filhote e procura a Fundação Mamíferos Aquáticos ou o Projeto Peixe-Boi para avisar que tem um filhote na praia. Aí a equipe da Fundação e do Peixe-Boi vai junto para fazer o resgate, aí pega o filhote e leva para Itamaracá. Lá, o filhote vai ser bem tratado com muito carinho, tomando leite e umas vitaminas para ficar forte para quando for soltar o peixe-boi estar bem. Quando o peixe-boi se prepara para ser solto,

ele vem de caminhão muque e vem a equipe toda junta para não acontecer nada com o peixe-boi, aí bota o peixe-boi dentro do cativeiro para o peixeboi se acostumar com a carreira da maré na enchente e na vazante e sentir o cheiro do mangue. Depois se solta na natureza que é o lugar dele para ele viver mais feliz. Trabalho com peixe-boi nativo através do ponto fixo na Barra de Mamanguape. Os peixes-bois nativos sempre ficam no rio Mamanguape, se alimentando de folha de mangue e de bredo que tem no mangue, e se alimentando de algas marinhas que tem no estuário do rio Mamanguape. Os peixes-bois tomam água doce, porque tem vertente de água doce nas camboas e os peixes-bois sabem onde existe água doce para beber. Os peixes-bois são de água parada, ele não são de viver no mar aberto. Quando ele se desloca para lá, ou para outro canto, ela sai atrás de alimento, porque o peixe-boi come muito e os peixes-bois pesam até 600 kg ou mais e vivem até 60 anos. O peixe-boi tem olho pequeno e o focinho parece com o do boi. Tem duas nadadeiras (peitorais), tem a pele fina e tem a caudal, tem uns cabelinhos (pelos táteis) na pele no peixe-boi. E o ouvido dele é bem pequeno, mas ele ouve muito bem. O peixeboi se alimenta de folha de mangue quando a maré está cheia, porque dá para entrar nas camboas com a maré cheia para se alimentar de folha de mangue e de bredo. Para mim o peixe-boi é muito importante, tanto para mim quanto para o pessoal da comunidade. O pessoal da comunidade ajuda a gente. O amor é muito grande. Eu mesmo tenho o peixe-boi que nem um filho meu. Eu e os meus filhos somos muito apegados com o peixe-boi, aí quando acontece qualquer coisa a gente fica muito preocupado. A gente faz saída (de campo) atrás dos bichos para reparar eles, para ver como ele está, se aconteceu alguma coisa, se não aconteceu...

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CONSERVAÇÃO MARINHA

Fundação Mamíferos Aquáticos resgata e reabilita animais marinhos impactados pelas manchas de óleo no Nordeste Por Lais Beuthner

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Desde o início de setembro, manchas de óleo estão cada vez mais frequentes em diversas praias do Nordeste do Brasil. De acordo com a nota divulgada pelo site do IBAMA, a substância encontrada no litoral nordestino trata-se de petróleo cru. O óleo já foi detectado em 720 localidades no litoral brasileiro, sobretudo na região Nordeste. E, nessas áreas, foi reportado o acometimento de aves e tartarugas marinhas, com registro de óbitos. A Fundação Mamíferos Aquáticos vem registrando a ocorrência de óleo ao longo de trechos das praias de Sergipe, fazendo o trabalho de resgate e despetrolização de animais. A situação no estado é preocupante, várias espécies de fauna, entre elas as tartarugas marinhas, estão sendo ameaçadas. Além do risco relacionado à fauna marinha, a presença das manchas de óleo nas praias desperta forte preocupação relacionada à exposição da população e comunidades pesqueiras. Neste contexto, a FMA, desde o início, está colocando-se em condições de pronta resposta, atendendo e tratando os animais oleados vindos dos estados de Sergipe, Alagoas e litoral norte da Bahia em seu Centro de Reabilitação e Despetrolização de Fauna. A FMA entende tratar-se de uma situação ainda crítica

e que requer muitos cuidados, portanto continuará colocando-se à disposição para órgãos ambientais competentes, somando esforços em prol do restabelecimento das espécies atingidas. Quem quiser colaborar com este trabalho, a instituição está com uma campanha online arrecadando recursos: https:// www.kickante.com.br/campanhas/fma-pelo-nordeste-voce-doa-voce-salva.

ATENÇÃO PARA AS ORIENTAÇÕES: • Se encontrar mancha de óleo na praia, não toque. Caso tenha entrado em contato com a substância, limpe com gelo e óleo de cozinha. Se ao tocar, teve reação alérgica ou se chegou a ingerir o óleo, procure a unidade básica de saúde mais próxima; • Ao encontrar algum animal com óleo na praia, não toque e nem devolva o animal contaminado à água. Se quiser ajudar, proteja-o do sol e entre em contato com a Polícia Ambiental da região.

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EMERGÊNCIA AMBIENTAL

Manchas de óleo no Nordeste: Confira como está sendo o monitoramento dos peixes-bois marinhos nos estados de SE, BA e PB FOTOS ACERVO FMA

Desde o início de setembro, vários estados do Nordeste vêm sendo atingidos por manchas de óleo, totalizando 112 municípios, do Maranhão até a Bahia. No mês de outubro, o cenário ficou ainda mais crítico e foi registrada a presença de aves, tartarugas marinhas e cágados contaminados por óleo. Neste contexto, a equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho intensificou o monitoramento diário de “Astro”, o primeiro peixe-boi reintroduzido no Brasil, que vive entre o litoral sul de Sergipe e norte da Bahia, áreas atingidas pelas manchas de óleo. A equipe do Projeto está acompanhando in loco a movimentação da mancha de óleo e avaliando os riscos relacionados ao acometimento de “Astro” bem como das áreas de alimentação (capim-agulha). No mês de outubro, tendo em vista que o óleo era uma ameaça real, a equipe trabalhou com a possibilidade de conduzir “Astro” para um local seguro, caso fosse necessário. Esta alternativa seria um antigo “viveiro” ou piscinas situadas em Coqueiro, município de Jandaíra (BA). O Projeto estava com uma equipe de plantão na região, e na dependência do grau de ameaça, estava preparado para realizar o deslocamento de “Astro” para este espaço protegido, até que a situação da mancha de óleo fosse resolvida. No mês de novembro, a situação ficou mais controlada e a

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transferência de “Astro” não foi necessária. O animal e seu habitat continuam sendo monitorados. Na Paraíba, o Projeto monitora diariamente os peixes-bois marinhos reintroduzidos (“Mel”, “Puã”, “Zelinha” e “Iara”), que se encontram no estuário da Barra do Rio Mamanguape e na região de Cabedelo, e também com a atenção voltada aos peixesbois marinhos “Vitória” e “Parajuru” , que estavam no Recinto de Readaptação em Ambiente Natural, na Barra do Rio Mamanguape, e foram reintroduzidos recentemente no estuário local. A equipe está monitorando os animais e as praias na região para checar se há ou não a presença de óleo, também está em contato frequente com o ICMBio, IBAMA e Marinha para acompanhar as atualizações das localizações das manchas de óleo. Por enquanto, o impacto na área de vida dos peixes-bois marinhos na Paraíba é reduzido quando comparado aos demais estados. A orientação para caso alguém encontre um peixeboi marinho em situação de perigo, machucado ou encalhado, é para entrar em contato com o Projeto pelos telefones: (83) 99961-1338/ (83) 99961-1352 (whatsapp) / (79) 99130-0016. O Projeto Viva o


Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas.

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ESTIMATIVA POPULACIONAL, USO DO HABITAT E FATORES DE AMEAÇAS DO BOTO-CINZA (Sotalia guianensis), NO ESTUÁRIO DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE, PARAÍBA POR ISIS CHAGAS DE ALMEIDA Bióloga marinha pela Universidade Santa Cecília, mestranda do Programa de Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba e pesquisadora associada da Fundação Mamíferos Aquáticos O boto-cinza (Sotalia guianensis) pertence à ordem Cetartiodactyla e faz parte da família dos Delphinideos (Secchi et al., 2018). A espécie se distribui desde Santa Catarina (na região sul do Brasil) até Honduras (na América Central), onde são comumente encontrados em águas rasas próximas à costa, estuários e baías (Secchi et al., 2018). Com base nas características anatômicas da espécie, os botos-cinzas possuem a coloração cinza escuro no dorso e na região ventral apresentam uma tonalidade mais clara, cinza-pálido ou branca, frequentemente com tonalidades rosadas, mais acentuadas nos filhotes (Lodi e Borobia, 2013). A nadadeira dorsal encontra-se posicionada ao centro do dorso, sendo pequena e triangular, levemente curvada para trás, com base larga com relação a sua altura, podendo apresentar uma ligeira protuberância na sua porção anterior próxima a base. A borda posterior frequentemente apresenta marcas e cicatrizes, tornando possível a identificação de distintos indivíduos (Lodi e Borobia, 2013).

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As características da nadadeira dorsal possibilitam a identificação individual por meio da técnica de fotoidentificação, servindo como ferramenta para estudos sobre a composição de grupo, fidelidade de um animal a um grupo e a uma determinada área (Meirelles, 2005). Este método possui vantagens, pois se torna desnecessária a captura e o manejo do animal (Meirelles, 2005). Além disto, torna-se possível obter estimativas populacionais (Fruet, 2008). Ainda que bem estabelecido este método de estudo, os dados disponíveis inerentes aos habitats utilizados e as estimativas populacionais dos botoscinza, concentram-se principalmente nas regiões sul e sudeste do Brasil (Lodi, 2003; Cremer, 2007). No Nordeste, as pesquisas realizadas nesta temática, apenas reportaram informações provenientes do Ceará (Meirelles, 2005), Bahia (Rossi-Santos, 2006) e Rio Grande do Norte (Paro, 2010), com ausência de estudos sistemáticos no estado da Paraíba.

FOTO DIVULGAÇÃO

COLUNA CIENTÍFICA


A estrutura populacional da espécie em toda extensão, ainda é insuficientemente conhecida, porém os dados disponíveis permitiram classificá-la internacionalmente como “Quase Ameaçada” (IUCN, 2018). Nacionalmente, a espécie encontra-se classificada como “Vulnerável” (MMA, 2014). Considerando o status de conservação da espécie e as ações prioritárias, os estudos de parâmetros populacionais apresentam-se importantes para o sucesso de programas de conservação, assim como a caracterização dos habitats preferidos e dos padrões de movimentos diários e sazonais (ICMBio, 2011). Adicionalmente, o aporte de informações sobre estimativas de abundância e informações mais atualizadas e quantitativas sobre a mortalidade causada pelo homem (Secchi et al., 2018), além de suprir a escassez de dados, permitirá uma avaliação mais rigorosa dessa espécie, em âmbito regional. Está em curso uma pesquisa de mestrado na Universidade Federal da Paraíba cujo objetivo principal é identificar as áreas utilizadas pelo boto-cinza (Sotalia guianensis) no estuário do rio Mamanguape. Os objetivos específicos desta pesquisa são: identificar o tamanho dos grupos avistados e a fidelidade das áreas dos animais fotoidentificados no local de estudo; Estimar a abundância populacional do boto-cinza no estuário do rio Mamanguape; Determinar a frequência relativa e a sazonalidade de ocorrência dos botos-cinza no estuário do rio Mamanguape; Mapear

as áreas de uso do boto cinza no estuário da Barra do rio Mamanguape; Avaliar os possíveis fatores de ameaças dos botos-cinza na APA da Barra do Rio Mamanguape. O estudo está sendo realizado no estuário da Barra do Rio Mamanguape (6.78ºS, 34.94ºW), que fica localizado na APA da Barra do Rio Mamanguape, situado na região norte do litoral da Paraíba. O estuário possui o regime de ondas diferenciado, devido à presença de uma linha de arrecifes que se estende ao longo da costa e assim ameniza a ação direta das ondulações (ICMBio, 2014). O clima predominante da região é quente e úmido, marcado por uma estação chuvosa entre março a agosto, e uma estação seca com duração aproximadamente de seis meses. As saídas de campo estão sendo realizadas com uma embarcação de pequeno porte com motor de 25 Hp, sendo os esforços realizados semanalmente, ao longo das estações seca e chuvosa. As rotas de navegação são previamente definidas ao longo do estuário do rio Mamanguape (Paro, 2010). A tripulação está sendo composta por três pessoas, sendo uma responsável por pilotar a embarcação, outra responsável por realizar as fotografias e outra para anotar os dados na ficha de campo, sendo a mesma pessoa responsável pelas fotografias em todas as saídas para coleta de dados (Paro, 2010).

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A ficha de campo conta com as seguintes informações: a) Coordenada geográfica do local de avistagem; b) data da saída de campo; c) horário em que a atividade foi realizada e do momento das avistagens; d) amplitude de maré no início e término dos esforços de campo; e) condição climática; f) tamanho do grupo avistado; g) atividades antrópicas existentes (Paro, 2010). Para a fotoidentificação está sendo utilizada uma câmera digital SLR com uma lente de zoom. O procedimento de fotoidentificação é executado da seguinte forma: assim que um grupo for avistado o barco se aproxima lentamente para que sejam realizadas as fotografias da nadadeira dorsal. O máximo de fotos possíveis são tiradas para que posteriormente possam ser triadas com vistas a qualidade obtida e possibilitar a identificação dos indivíduos (Fruet, 2008). Cada encontro tem duração máxima de trinta minutos, contando a partir da primeira avistagem dos animais (sendo realizada desta forma para evitar o molestamento dos animais). Posteriormente as imagens são separadas e recebem uma etiqueta com um código com as características que identifica os indivíduos e a data de avistagem do animal. O código é iniciado com letras que vão do A ao D: A) nadadeira dorsal com uma marca; B) nadadeira dorsal com duas marcas; C) nadadeira dorsal com três marcas; D) nadadeira dorsal com quatro ou mais marcas (Meirelles, 2005). Também está sendo utilizado o código SM para os animais sem marcas naturais. As imagens são classificadas de acordo com a qualidade (boa, média e ruim), sendo considerada como “boa”, as que estão nítidas e a posição do animal permitir o foco para a identificação; “média”, as que estão com pouco foco, mas ainda permitem a identificação do animal; “ruins”, as totalmente fora de foco e que não permitem a identificação dos animais. Para efeitos deste estudo, apenas as imagens com classificação “boa” são utilizadas para a identificação (Paro, 2010). A fidelidade da área está sendo definida como a frequência que os indivíduos identificados são vistos em determinada localidade. A taxa de fidelidade dos indivíduos está sendo calculada por meio da formula: FAi= “NAi” /(∑NAx) . Na qual FAi é a fidelidade à área x do indivíduo i; NAi é o número de avistagens

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do indivíduo na área x, e ∑NAx é o somatório de todas as visitas para área x (Paro, 2010). Para estimar a abundância está sendo utilizado o método de marcação e recaptura. Por meio da técnica de fotoidentificação cada novo animal é considerado como uma captura e as subsequentes reavistagens de animais previamente identificados são considerados como recapturados (Paro, 2010). O modelo estimador clássico de Jolly-Seber (Jolly, 1965; Seber, 1965) está sendo utilizado para populações abertas, tendo em vista que poderá haver nascimentos, mortes e/ou deslocamentos para outras áreas (Paro, 2010). A frequência de ocorrência dos animais (FO) na área de observação está sendo calculada dividindo o número de dias de avistagens (DA), pelo total de dias de observação (DO): FO = DA / DO x indicador de uso da área. Esta frequência é calculada para cada mês e para todo período de observação (Meirelles, 2005). Para verificar a sazonalidade, está sendo usado o teste de Mann-Whitney (U), utilizado para identificar se houver diferença significativa, no número de animais avistados por dia em cada estação, no tempo médio de permanência dos animais na área nas estações, e no tamanho dos grupos observados em cada estação (Meirelles, 2005). O teste estatístico Qui-Quadrado (x²) está sendo utilizado para verificar se há diferença significativa: a) no esforço efetivo de observação dos botos em cada mês e estação; b) na frequência de ocorrência de botos por mês e estação; c) no número total de botos avistados na área ao longo dos meses de observação e nos dois períodos (seco e chuvoso); d) no número de avistagens em cada maré (Meirelles, 2005). As coordenadas geográficas anotadas no momento da avistagem, são espacializadas posteriormente no programa QGIS para o mapeamento da área de uso, identificando a abrangência dos locais utilizados, como também os locais com maior densidade. Por meio das observações das áreas que os animais utilizam, também são identificados possíveis fatores de ameaças, como tráfego de embarcações, atividades de pesca, degradação de habitat.


PESQUISA A cada edição, a Revista A Bordo traz artigos e resumos científicos relacionados à conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats. Confira agora um resumo científico elaborado por Sebastião Silva dos Santos, ecólogo, analista de pesquisa e coordenador de monitoramento do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba.

Práticas educativas como ferramenta de sensibilização para a conservação do peixe-boi marinho (Trichechus manatus) no litoral da Paraíba Autores: Iara dos Santos Medeiros¹, Isis Chagas de Almeida², Daniela Araújo de Oliveira³, Thalma Maria Grisi Velôso , Vanessa Araújo Rebelo , João Carlos Gomes Borges 1. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental, Universidade Federal da Paraíba, Rio Tinto-PB, *E-mail do autor de correspondência: iara@mamiferosaquaticos.org.br 2. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental, Universidade Federal da Paraíba, Rio Tinto-PB, Fundação Mamíferos Aquáticos, Recife – PE, Brasil. 3. Núcleo de Educação Ambiental e Desenvolvimento Comunitário, Fundação Mamíferos Aquáticos, Recife – PE, Brasil. 4. Núcleo de Gestão Integrada Mamanguape, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Brasília-DF, Brasil. 5. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental, Universidade Federal da Paraíba, Rio Tinto-PB, Fundação Mamíferos Aquáticos, Recife – PE, Brasil. 6. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental, Universidade Federal da Paraíba, Rio Tinto-PB, Fundação Mamíferos Aquáticos, Recife – PE, Brasil.

RESUMO Devido às ameaças que o peixe-boi-marinho vem sofrendo e a rápida degradação de seu habitat, se vê a necessidade de sensibilização dos estudantes por meio da Educação Ambiental, como estratégia de conservação da espécie. Este trabalho teve como área de estudo os municípios litorâneos do estado da Paraíba. As atividades foram realizadas com uma abordagem de sensibilização e informação sobre o peixe-boi marinho direcionada aos estudantes, por meio de práticas educativas. No estado da Paraíba, as atividades realizadas contemplaram os municípios de Marcação, Pedro Regis, Rio Tinto, Lucena, Cabedelo, Santa Rita, João Pessoa e Conde. Nestes municípios as ações de educação ambiental abrangeram estudantes do ensino infantil, fundamental, médio e superior. No total foram 24 escolas visitadas e aproximadamente 900 estudantes sensibilizados sobre a importância da conservação do peixe-boi e seus habitats. Observou-se ainda a importância de se realizar atividades relacionadas a educação ambiental nas

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Brasil; Brasil;

escolas como forma de colaborar na construção da consciência ambiental dos alunos, complementando às estruturas educacionais públicas e privadas atuais. As atividades de educação e sensibilização ambiental por meio de práticas educativas se mostraram muito eficientes no processo de formação acadêmica dos alunos e na disseminação das informações sobre o peixe-boi marinho, consequentemente colaborando na conservação desta espécie. Palavras-chave: Educação Ambiental; Escolas; Estudantes 1. INTRODUÇÃO O peixe-boi-marinho (Trichechus manatus Linnaeus, 1758) pertence à Ordem Sirênia, uma das duas espécies da Ordem viventes no Brasil (LUNA et. Al., 2008). Ocorrendo apenas em águas costeiras e alguns estuários. O peixe-boi marinho distribui-se desde a Flórida, nos Estados Unidos, até Alagoas,

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no nordeste do Brasil. No Brasil, o peixe-boi-marinho historicamente já ocorreu do Espírito Santo até o Amapá, porém foi considerada extinto nos estados do Espírito Santos, Bahia e Sergipe (ALBUQUERQUE; MARCOVALDI, 1982), e ocorrendo com descontinuidade nos estados de Pernambuco, Ceará e Maranhão (AQUASIS, 2016). Atualmente a espécie está classificada como “Vulnerável” segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN 2012), e “Em Perigo” de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO, 2011). Devido às ameaças que o peixe-boi-marinho vem sofrendo e a rápida degradação de seu habitat, vê-se a necessidade de sensibilização da comunidade por meio da Educação Ambiental, como estratégia de conservação da espécie. Pois, a perda do peixe-boi marinho no Brasil iria significar o empobrecimento de diversos tipos de habitats costeiros e estuarinos, e a redução da fertilidade do solo (AQUASIS, 2016). Através da educação ambiental é possível desenvolver nas pessoas a consciência afim de colaborarem para a manutenção da biodiversidade (ROOS, 2012). Dentre os diversos públicos que podem ser abordados nas ações de educação ambiental destacam-se os estudantes. A prática da educação ambiental nas escolas se mostra eficiente por ser um local de formação de cidadãos, pois pode atuar de forma efetiva na sensibilização dos estudantes, de modo a promover mudanças em ações direcionadas à conservação da biodiversidade, e dentre estas, na conservação do peixe-boi marinho (NECO et al., 2012). Diante do exposto, fica evidente a importância da conservação do peixe-boi marinho e o papel que a educação ambiental possui no processo de conservação dessa espécie.. 2. OBJETIVO Sensibilizar e informar estudantes de municípios litorâneos do Estado da Paraíba sobre a importância da conservação do peixe-boi marinho por meio da educação ambiental. 3. MATERIAIS E MÉTODOS Área de Estudo Este trabalho teve como área de estudo os municípios litorâneos do estado da Paraíba. Este estado localiza-se na região Nordeste do Brasil, limitando-se ao norte com o Estado do Rio Grande do Norte; a sul,

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com o Estado de Pernambuco, a leste com o Oceano Atlântico e a oeste com o Estado do Ceará. O litoral paraibano possui aproximadamente 138 km de costa, localizado na zona da mata paraibana e pertencente ao bioma Mata Atlântica (FRANCISCO, 2010).


Procedimentos Metodológicos As atividades foram realizadas entre o período de janeiro de 2018 a julho de 2019 com uma abordagem de sensibilização e informação sobre o peixe-boi marinho direcionada aos estudantes, na qual consistiram na realização de palestras, oficinas de pintura e desenho, exibição de vídeos e desenhos educativos com temática ambiental. Todos estes recursos utilizados tiveram seu conteúdo elaborado de acordo com as etapas de ensino: infantil; fundamental; médio e universitário. De forma geral, as palestras tratavam de aspectos como área de ocorrência, habitat, reprodução, alimentação, respiração e ameaças ao peixe-boi marinho, destacando as ações que têm sido realizadas para sua conservação e divulgação de telefones para contato em caso de ocorrências com a espécie. Para as oficinas de pintura e desenho foram utilizadas telas de pintura, tintas, papéis e canetas para pintar o peixe-boi marinho e seu habitat. Os vídeos eram exibidos por meio de apresentações audiovisuais (datashow) com temática ambiental (peixe-boi marinho, manguezal, rios, mar etc). 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO As atividades contemplaram oito municípios, sendo estes: Marcação, Pedro Regis, Rio Tinto, Lucena, Cabedelo, Santa Rita, João Pessoa e Conde, onde foram visitadas 24 escolas, e uma média de 900 estudantes (Figuras 1 - 4).

Figura 1: Oficina de pintura para aluno do ensino infantil.

Figura 2: Palestra para alunos do ensino fundamental.

Figura 3: Palestra para alunos do ensino médio.

Figura 4: Palestra/vídeo para alunos do ensino superior.

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Segundo Neco et al (2012) “Após serem sensibilizados nas escolas, os educandos passam a sensibilizar seus familiares, promovendo a mudança de atitudes ambientalmente corretas, incentivada pela Educação Ambiental (E.A.)”. Durante o período de realização destas atividades, algumas escolas e universidades foram revisitadas, e percebeu-se o quanto os alunos e professores assimilaram os conteúdos abordados por meio das intervenções realizadas. Neste sentido, a E.A. pretende sensibilizar alunos e professores para uma participação mais consciente no contexto da sociedade, questionando comportamentos, atitudes e valores, além de propor novas práticas, onde os educadores e professores tenham um papel essencial para impulsionar as transformações de uma educação que assume um compromisso com a formação de uma visão crítica, de valores e de uma ética para a construção de uma sociedade ambientalmente sustentável (JACOBI, 2005). De acordo com os professores das escolas visitadas, a participação dos alunos nas palestras foi de suma importância no processo de ensino aprendizagem e formação dos estudantes. Deste modo, segundo os resultados obtidos e conforme afirmado por Jacobi (2003), a educação ambiental foi vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e formar cidadãos com consciência local. Observou-se ainda a importância de se realizar atividades relacionadas à educação ambiental nas escolas como forma de colaborar na construção da consciência ambiental dos alunos. Assim, a escola pode transformar-se no espaço em que o aluno terá condições de analisar a natureza em um contexto entrelaçado de práticas sociais (JACOBI, 2003).

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5.CONCLUSÃO As atividades de educação e sensibilização ambiental por meio de práticas educativas se mostraram muito eficientes no processo de formação acadêmica dos alunos e na disseminação das informações sobre o peixe-boi marinho, consequentemente colaborando na conservação desta espécie. A grande maioria dos estudantes alcançados mostraram-se sensibilizados. Foi possível alcançar um bom número de escolas e estudantes ao longo da realização deste trabalho. Porém ainda se faz necessário dar continuidade às atividades aqui descritas, afim de abranger um maior público e disseminar ainda mais a importância de se conservar o peixe-boi marinho e seu habitat. 6. AGRADECIMENTOS Ao Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, ao Programa Nacional para a Conservação do Peixe-boi marinho realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e com a correalização da Fundação Grupo Boticário e a Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape.


5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUASIS. Peixe-boi-marinho/ Biologia e Conservação no Brasil. Bambu Editora e Artes Gráficas, 2016. ALBUQUERQUE, C.; MARCOVALDI, G. M. Ocorrência e distribuição do Peixe-boi-marinho no Litoral Brasileiro (Sireinia, Trichechidae, Trichechus manatus, Linneaus 1758). In: Simpósio Internacional sobre a Utilização de Ecossistemas Costeiros: Planejamento, Poluição e Produtividade, Rio Grande. 1982. FRANCISCO, P. R. M. (2010) Classificação e Mapeamento de mecanização das terras do estado da Paraíba utilizando sistema de informações geográficas. Dissertação (Mestrado em Manejo de Solos e Água) - Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal da Paraíba, Areia. ICMBIO. Plano de ação nacional para a conservação dos sirênios: peixe-boi-da-amazônia Trichechus inunguis e peixe-boi-marinho Trichechus manantus. Luna, F.O.; Andrade, M.C.M.de; Reis, M.L. (Orgs.). Brasília: Editora ICMbio. Série espécies ameaçadas, no. 12, 2011. JACOBI, P. (2005) Educação Ambiental: O Desafio da Construção de um Pensamento Crítico, Complexo e Reflexivo. Caderno de Pesquisa, v. 31, n. 2, p. 233-250.

NECO, E.C.; PESSOA, T.S.A.; FILHO P.R.S.; FIGUEIREDO, M. T.M.; TERCEIRO, R.G.D.; FEIJÓ, J.A. Conhecendo o peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus linnaeus, 1758): percepção ambiental de educandos do ensino fundamental de uma escola pública de João Pessoa, Paraíba, Brasil. Revista de biologia e farmácia. Volume 08 – Número 01 – 2012. OLIVEIRA, E. M. A.; Langguth, A.; Silva, K. G.; Soavinski, R. J.; Lima, R. P. (1990). Mortalidade do peixe-boi marinho (Trichechus manatus) na costa nordeste do Brasil. 4a. Reunión de Trabajo de Especialistas en Mamíferos Acuáticos de América del Sur. Chile. p. 191-196. PARENTE, C. L.; VERGARA-PARENTE, J. E. & LIMA, R. P. (2004). Strandings of Antillean manatee (Trichechus manatus manatus) in Northeastern Brazil. The Latin American Journal of Aquatic Mammals. 3(1): 69-76. ROOS, A. (2012). A Biodiversidade e a Extinção das Espécies. Rev. Elet. em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental. V (7), nº 7, p. 1494-1499.

JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Caderno de Pesquisa, n. 18, p. 189205, 2003. LUNA, F.O.; LIMA, R.P.; ARAÚJO, J.P.; PASSAVANTE, J.Z.O. Status de conservação do peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus. Linnaeus, 1758) no Brasil – Revista Brasileira de Zoociências, 10(2):145-153, agosto 2008. LIMA, RP.; PALUDO, D.; SOAVINSKI, R. J.; OLIVEIRA, E. M. A.; SILVA, K. G. Esforços conservacionistas e campanhas de conscientização para a preservação do Peixe-Boi Marinho (Trichechus manatus) ao longo do litoral nordeste do Brasil. Natural Resources, Aquidabã, v.1, n.2, p.36-40,2011.

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FMA

FMA abre loja física com produtos que angariam recursos para ações de conservação marinha no Nordeste Camisas e canecas temáticas, canudos reutilizáveis de aço inox, chaveiros, estojos e pelúcias alusivas ao peixe-boi marinho, peixe-boi amazônico e baleiafranca, são alguns dos produtos que estão à venda na FMA Store, localizada no Shopping Rio Mar, em Aracaju (SE). A loja da Fundação Mamíferos Aquáticos foi inaugurada em setembro deste ano a partir de uma parceria institucional com o centro comercial sergipano. Toda a renda obtida com a venda dos produtos será revertida para ações voltadas para a conservação da vida marinha no Nordeste do Brasil. “Nós temos investido esforços no estímulo à mudança de comportamento da sociedade com relação à problemática do descarte incorreto do lixo nos oceanos. Os nossos produtos são uma alternativa de uma linha sustentável para um público que tem cada vez mais abraçado essa ideia. Na nossa loja, além de levar os produtos, a gente quer que o cliente conheça a nossa missão, a nossa causa, o nosso trabalho. Todos os nossos vendedores estão aptos a dar informações à população sobre as espécies com as quais trabalhamos e o que fazer para ajudá-las. Quem for à loja também poderá assistir a documentários temáticos que auxiliam na disseminação das informações voltadas para a conservação dos animais e do meio ambiente”, ressalta Malena Muller, diretora administrativa-financeira da Fundação Mamíferos Aquáticos.

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O contato da FMA Store do Shopping Rio Mar é (79) 99172-5116. A FMA também envia os produtos para todo o Brasil, atendendo pedidos pelas mídias sociais instagram e facebook (@mamiferosaquaticos) ou pelo e-mail loja@mamiferosaquaticos.org. br. A Fundação Mamíferos Aquáticos é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que tem como missão promover a conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats, visando a sustentabilidade socioambiental. Atua nacionalmente com atividades que envolvem manejo e pesquisa científica, estudando os efeitos antropogênicos nos recursos marinhos, e com parcerias e ações colaborativas que promovem mudanças socioambientais. Neste contexto, também está inserida no apoio à construção e execução de políticas públicas e marcos regulatórios. Saiba mais: www.mamiferosaquaticos.org.br


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GPS

INDICAÇÕES

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“SCAMONIS – O OUTRO LADO DE MIM”

“THE SMOG OF THE SEA”

O livro “Scamonis – O outro lado de mim” conta a história de Ana Maia, uma jovem bailarina apaixonada pela vida marinha e que vive em um paraíso chamado Ilha Azul. Dividindo seu tempo entre a dança e o cuidar das espécies das tartarugas nativas da ilha, ela viverá uma aventura que mudará completamente a sua vida e a dos habitantes do pacífico lugar. Romance, suspense, descobertas e reviravoltas compõem o enredo dessa história mágica e vibrante. Este é o primeiro livro da escritora pernambucana Marcela Franca. A Fundação Mamíferos Aquáticos é apoiadora institucional da obra. Parte do valor da venda do livro está sendo revertido para a FMA, que tem como missão promover a conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats, visando a sustentabilidade socioambiental. O livro, indicado para o público infanto-juvenil, tem o selo editorial NOVACASA da Casa Projetos Literários. Para saber como adquirir o livro, acesse a página da escritora no Instagram: @escritoramarcelafranca. Autora: Marcela Franca

“The Smog of the Sea” narra uma viagem de uma semana pelas remotas águas do Mar dos Sargaços, no meio do Atlântico Norte. O cientista marinho Marcus Eriksen convidou uma equipe inusitada para ajudá-lo a estudar o mar: os surfistas Keith & Dan Malloy, o músico Jack Johnson, a pescadora submarina Kimi Werner e o bodysurker Mark Cunningham. A bordo de um veleiro, eles se tornam cientistas cidadãos em uma missão para avaliar o destino dos plásticos nos oceanos do mundo. Depois de anos ouvindo sobre as famosas “ilhas de lixo” nas correntes oceânicas, a tripulação fica surpresa ao aprender que as ilhas são um mito: as águas que se estendem até o horizonte são de um azul claro, sem ilhas de lixo à vista. Mas, à medida que a equipe penera a água e separa seus objetos, surge uma realidade mais perturbadora: uma névoa de microplásticos permeia os oceanos do mundo, trilhões de fragmentos de plástico quase invisíveis percorrendo a cadeia alimentar marinha. O Doc mostra uma nova perspectiva sobre os oceanos e cria um plano de ação artístico para repensar o flagelo do mar - plástico descartável. Direção: Ian Cheney

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eventos

Programe-se para os eventos técnico-científicos previstos para 2019 e 2020 nas áreas de Medicina Veterinária, Biologia, Ciências Biológicas, Ecologia e campos afins.

WORLD MARINE MAMMAL SCIENCE CONFERENCE Data: 09 a 12 de dezembro de 2019 Local: Barcelona – Espanha www.wmmconference.org XXXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA Data: 02 a 06 de março de 2020 Local: Águas de Lindóia - SP www.cbzoo.com.br 41º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA Data: 20 a 22 de maio de 2020 Local: Maceió - AL www.cbamaceio.com.br XXVII CONGRESSO BRASILEIRO DE ORNITOLOGIA Data: 02 a 06 de agosto de 2020 Local: Gramado - RS xxviicbo2020.com.br XIII CONGRESSO SOCIEDADE LATINO AMERICANA DE ESPECIALISTAS DE MAMÍFEROS AQUÁTICOS/ RT 19 Data: 14 a 17 de setembro de 2020 Local: Praia do Forte – BA http://solamac.org/

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FOTO IARA MEDEIROS ACERVO FMA

PLANTÃO NOTÍCIA No dia 24 de novembro, o peixe-boi marinho “Vitória”, tema do documentário que foi matéria de capa desta edição da revista, foi reintroduzido no estuário da Barra do Rio Mamanguape, Rio Tinto (PB). Um momento emocionante e inesquecível. Ela havia passado sete meses em um recinto de readaptação em ambiente natural, numa espécie de treinamento para a vida livre, vivenciando a variação das marés, o manguezal, alimentando-se de algas da região, convivendo com outros organismos vivos. Após a soltura, “Vitória” ficou sendo monitorada pelas equipes do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho e da APA da Barra do Rio Mamanguape com o auxílio do uso de tecnologia de monitoramento satelital. Durante os primeiros dias de soltura, “Vitória” apresentou um comportamento satisfatório, no qual estava se alimentando bem, interagindo com outros peixes-bois da região e ganhando cada vez mais independência. Entre os dias 01 a 03 de dezembro, os sinais do seu radiotransmissor ficaram sem emitir as suas coordenadas de localização. Neste período, as equipes estavam em campo na busca pelo animal e também acionando pescadores e colaboradores para levantar informações. Na noite do dia 04 de dezembro, as coordenadas voltaram a ser emitidas e apontavam um direcionamento para o litoral norte da Paraíba. As informações permitiram constatar que o sinal se encontrava a 13 km da costa e, a cada nova coordenada recebida, ocorria uma aproximação da praia. Este deslocamento chamou a atenção dos técnicos de monitoramento e, por meio de um colaborador de uma comunidade litorânea local, foi constatado que infelizmente “Vitória” havia encalhado morta, na praia de Pavuna, já em estado avançado de decomposição. A equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho se deslocou para o local, procedeu o resgate e realizou a necropsia para a avaliação da causa da morte. Os estudos estão sendo realizados e estamos aguardando os resultados. Uma notícia realmente triste. Lamentamos muito. “Vitória” faria 5 anos agora em dezembro. O que fica é a sua história de resistência, de luta por uma vida livre, da união de comunidades, pescadores e instituições ambientais que lutaram tanto para que ela sobrevivesse neste mundo. “Vitória” sempre viverá em cada peixe-boi marinho deste Brasil, em cada pessoa que se dedicar à natureza e lutar pela conservação de espécies ameaçadas de extinção, e viverá em liberdade. “Vitória”, gratidão por nos ensinar tanto sobre o amor, a natureza, a vida. A você, todos os nossos dias.

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ILUSTRAÇÃO

Em todas as edições, a Revista A Bordo traz ilustrações que abordam o universo dos animais aquáticos e de seus habitats, como forma de reflexão sobre a importância da conservação do meio ambiente. Nesta edição, estamos trazendo uma arte mais do que especial das irmãs pernambucanas Paula Franca e Renata Franca. A ilustração, um quadro cujo nome é “Mar Perolado”, faz parte do livro “Scamonis – O outro lado de mim”, de Marcela Franca.

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Para saber mais sobre o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, acesse: www.vivaopeixeboimarinho.org @vivaopeixeboimarinho

FUNDAÇÃO MAMÍFEROS AQUÁTICOS Rua Guimarães Peixoto, 75 - Sala 1108 Casa Amarela - Recife - PE +55 (81) 3304 -1443 | fma@mamiferosaquaticos.org.br www.mamiferosaquaticos.org.br


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