EDIÇÃO 18 FOTO EDSON ACIOLI ACERVO FMA
PROJETO O PEIXE-BOI-MARINHO
A BORDO REVISTA Fundação Mamíferos AquáticosParceria:
VIVA
Peixe-boi-marinho “Astro” é atropelado mais uma vez entre o litoral sul de Sergipe e norte da Bahia Crianças e adolescentes se engajam na luta pela conservação do peixe-boimarinho no Nordeste Medidas ecoeficientes adotadas no dia a dia podem reduzir impactos ambientais
Pesquisadores questionam status de conservação do Peixe-boi-marinho no brasil e Pedem revisão da sua classificação na lista de esPécies ameaçadas
Investindo esforços em prol da conservação do peixe-boi-marinho no Brasil. FOTO CANDISANILUCIANO FMAACERVO
EDIÇÃO 18 SET/2022 Esta revista é uma produção integrada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba.
REVISTA A BORDO Jornalista responsável Karlilian Magalhães Design gráfico Giovanna Monteiro Revisão técnica João Carlos Gomes Borges TAMBÉM COLABORARAM PARA ESTA EDIÇÃO: Coluna Científica Iran Campello Normande Diário de Bordo Isis Chagas Pesquisa João Carlos Gomes Borges CAPA Pesquisadores questionam status de conservação do peixe-boi-marinho no Brasil e pedem revisão de classificação na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas166 36EDUCAÇÃO AMBIENTAL Crianças e adolescentes se engajam na conservação do peixe-boi-marinho no Nordeste GPS 4 www.vivaopeixeboimarinho.org 38 ILUSTRAÇÃO Por Jacqueline Costa 10 ESPECIAL Peixe-boi-marinho “Astro” é atropelado mais uma vez entre o litoral sul de Sergipe e norte da Bahia 3228 PESQUISA Utilização da técnica de FLOTAC como um novo método de diagnóstico coproparasitológi co em mamíferos aquáticos e a sua comparação com os métodos tradicionais por João Carlos Gomes Borges FMA Comunidades tradicionais litorâneas do Nordeste recebem doações de cestas básicas e gás de cozinha 14 CONSERVAÇÃO MARINHA Medidas ecoeficientes adotadas no dia a dia podem reduzir impactos ambientais 22 DIÁRIO DE BORDO Por Isis Chagas 24 COLUNA CIENTÍFICA Ecologia do movimento e conservação de peixes-bois-marinhos (Trichechus manatus) na ecorregião marinha do Nordeste do Brasil por Iran Campello Normande 35 FOTO REFLEXÃO
Na Coluna Científica, o biólogo e analista ambiental Iran Campello Normande, mestre em Diversidade Bio lógica e Conservação nos Trópicos e dutorando, fala sobre o estudo “Ecologia do movimento e conservação de peixes-bois-marinhos (Trichechus manatus) na ecorregião marinha do Nordeste do Brasil”. Já a seção Pes quisa traz o artigo “Utilização da técnica de FLOTAC como um novo método de diagnóstico coproparasi tológico em mamíferos aquáticos e a sua comparação com os métodos tradicionais”, do médico veterinário e pesquisador Dr. João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, diretor de Pesquisa e Manejo da Fundação Mamíferos Aquáticos e professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da UFPB.
A Revista A Bordo é o periódico de comunicação e informação científica do Projeto Viva o Peixe-Boi Mari nho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a PETROBRAS por meio do Progra ma Petrobras Socioambiental. O objetivo desta publicação quadrimestral é levar informação e sensibilizar os leitores sobre a importância de se conservar os mamíferos aquáticos, seus habitats e o meio ambiente.
Quem assina a coluna Diário de Bordo desta edição é Isis Chagas, bióloga e pesquisadora associada do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho. A Revista também traz o último card da série ilustrativa sobre a maternidade do peixe-boi-marinho com a arte de Jacqueline Costa. Tem também as indicações de filmes e a agenda de even tos científicos previstos para 2022 nas áreas de Biologia, Medicina Veterinária, Ecologia, Meio Ambiente e afins. Karlilian Magalhães, assessora de comunicação do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho. LUCIANO CANDISANI ACERVO
Na sua 18ª edição, a Revista traz como matéria de capa a polêmica em torno do status de conservação do peixe-boi-marinho no Brasil. Atualmente a espécie está classificada no país como “Em perigo”, mas pesqui sadores pedem revisão da classificação para “Criticamente ameaçado”. A Revista traz ainda um alerta para o vigésimo atropelamento por embarcação motorizada sofrido pelo peixe-boi-marinho “Astro”, entre o litoral sul de Sergipe e norte da Bahia. Nesta edição você também vai conhecer as crianças e adolescentes que estão colaborando para a conservação do peixe-boi-marinho no Nordeste do Brasil: são os atletas e os agentes ambientais mirins do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho. Inspire-se: saiba como medidas ecoeficientes adotadas no dia a dia podem reduzir impactos ambientais. E mais: em tempos de emergência pandêmica, comunidades tradicionais litorâneas do Nordeste recebem doações de cestas básicas e gás de cozinha, numa parceria entre a Petrobras e a Fundação Mamíferos Aquá ticos nas áreas onde atuam com projetos socioambientais.
www.mamiferosaquaticos.org.br 5 EDITORIAL FOTO
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www.mamiferosaquaticos.org.br 7 PESQUISADORES QUESTIONAM status DE CONSERVAÇÃO DO PEIXE-BOI-MARINHO NO BRASIL E PEDEM REVISÃO DA SUA CLASSIFICAÇÃO NA LISTA NACIONAL DE ESPéCIES AMEAÇADAS FOTO EDSON ACIOLI ACERVO FMA
adianta o professor Dr. João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho.
Após um criterioso trabalho de pesquisa conduzido pela Dra. Ana Carolina Meirelles e colaboradores, o conteúdo foi sistematizado em formato de arti go científico intitulado “Don’t let me down: West Indian manatee, Trichechus manatus, is still critically endangered in Brazil”, publicado no periódico Jour nal for Nature Conservation (https://doi.org/10.1016/j. jnc.2022.126169).
O estudo identificou ponto por ponto os critérios de avaliação que caracterizam a espécie como criticamente ameaçada. “Trata-se de uma pesquisa extremamente importante que pode colaborar com estratégias nacionais mais eficientes para a conservação do peixe-boi-marinho no Brasil”,
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O estudo enfatiza que o peixe-boi marinho é um dos mamíferos aquáticos mais ameaçados de ex tinção no Brasil, que a caça foi a maior causadora do declínio da espécie, principalmente de Sergipe ao Espírito Santo, e que baixas densidades são en contradas hoje no resto no país. O artigo também chama a atenção para o fato de que, apesar da caça praticamente não ser mais registrada no Nordeste, ainda é praticada na região Norte. Além disso, várias ações humanas vêm impactando a espécie de forma sinérgica, cumulativa e crescente, como perda e de gradação de habitat, capturas incidentais em apare lhos de pesca e poluição.
Os pesquisadores brasileiros defendem que, apesar dos importantes esforços de conservação no Brasil, a espécie ainda se encontra em elevado risco de ex tinção e que este risco precisa ser avaliado constan temente, pois existem novas informações científicas disponíveis sobre a espécie. Os pesquisadores ates tam que a metodologia proposta pela IUCN para a avaliação de risco de extinção é a mais amplamente aceita e empregada no mundo, inclusive no Brasil. O artigo em questão seguiu as orientações da IUCN para gerar informações que possibilitaram uma ava liação criteriosa e robusta do risco de extinção da espécie no território brasileiro. No estudo, foi verificado, por exemplo, que, com a mortalidade atualmente registrada no país, em 69 anos, a população de peixe-boi-marinho do Brasil provavelmente sofrerá um declínio maior do que O peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) é um mamífero aquático que ocorre de forma descontí nua no litoral do Brasil, do Amapá até Alagoas, com espécimes reintroduzidos frequentando o litoral de Sergipe e norte da Bahia. A espécie encontra-se na Lista Nacional da Fauna Ameaçada de Extinção há pelo menos 25 anos. Em decorrência da baixa abundância populacional e perda significativa de seu habitat, seu status de conservação era considera do como “Criticamente ameaçado”, porém, desde 2014, o governo brasileiro alterou esse status de conservação para “Em perigo”, reduzindo o alerta crítico de ameaça à espécie no Brasil. Recentemen te, utilizando metodologia da International Union for the Conservation of Nature (IUCN), mundialmente reconhecida, um grupo de pesquisadores brasileiros verificou que a espécie ainda encontra-se “Critica mente ameaçada” de extinção e solicita revisão ur gente do status nacional publicado este ano ( Porta ria MMA N° 148 de 7 de junho de 2022).
Programarinhotuiçãowww.youtube.com/watch?v=vGlcPDyMoQ8),(https://instirealizadoradoProjetoVivaoPeixe-Boi-MaemparceriacomaPetrobraspormeiodoPetrobrasSocioambiental.
já solicitaram ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM Bio) a revisão da classificação. Além disso, estabele ceram contato com a IUCN para levar essa discus são para âmbito internacional. O tema também foi discutido no 3º Webinar do Projeto Viva o PeixeBoi-Marinho – Conservação Marinha & Década do Oceano, que aconteceu no dia 19 de abril de 2022.
O evento foi gravado e está disponível no canal do YouTube da Fundação Mamíferos Aquáticos
www.mamiferosaquaticos.org.br 9 80%, estimativa que por si só já classifica a espécie como ‘Criticamente ameaçada’ no país. “Estes re sultados indicam que, mesmo com o esforço mas sivo de conservação nos últimos 30 anos, as ações humanas em regiões costeiras e estuarinas - que impactam diversas espécies mundialmente, e são reconhecidamente problemas desafiadores - e as estratégias de conservação da espécie precisam ser revistas urgentemente. É necessário avaliar a efici ência dos planos nacionais que visam a conservação da espécie, tanto os passados quanto os que estão em andamento, visando direcionar esforços futuros que possam resultar em projeções mais animado ras para o futuro da espécie”, ressalta Ana Carolina OsMeirelles.pesquisadores
10 www.vivaopeixeboimarinho.org ESPECIALPEIXE-BOI-MARINHO“ASTRO”éATROPELADOMAISUMAVEzENTREOLITORALSULDESERGIPEENORTEDABAHIA FOTOS ACERVO FMA
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O peixe-boi-marinho reintroduzido “Astro” foi atro pelado mais uma vez por embarcação motorizada entre o litoral sul de Sergipe e norte da Bahia. A equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho obser vou alguns ferimentos, um deles com 3 cm de pro fundidade, na região dorsal e caudal do animal. “As tro” está sendo atendido e monitorado pela equipe do Projeto, que está tratando dos seus ferimentos e da sua saúde.
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Esse foi o vigésimo atropelamento sofrido por “As tro”. O Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho pede a colaboração de toda a sociedade para proteger o animal e orienta sobretudo os condutores de em barcações motorizadas (barcos, lanchas, jet skis e afins): Antes de acionar o motor, olhe ao redor, ve rifique se tem peixe-boi próximo. Só ligue o motor se tiver certeza que o animal não está por perto. A hélice em movimento pode ferir e matar o animal; Se estiver navegando e avistar o peixe-boi nas pro ximidades, reduza a velocidade e desligue o motor para evitar colisões e atropelamentos. Quem é turista e passageiro na embarcação tam bém pode ajudar ficando atento e alertando o con dutor sobre as orientações. Se todos colaborarem, esta situação pode ser revertida. Caso encontre um peixe-boi-marinho, mantenha distância do animal e apenas admire de longe. Não toque, não alimente, não forneça bebida. Se ele estiver em perigo, ma chucado ou encalhado, entre em contato com o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho / Fundação Ma míferos Aquáticos: (83) 99961-1338 / (83) 999611352 (WhatsApp) / (79) 99130-0016 “Astro” e “Lua” foram os primeiros animais da espé cie a serem reintroduzidos no Brasil, sendo precur sores na prática de uma estratégia nacional voltada para conservação de peixe-boi-marinho criada em 1980 por pesquisadores brasileiros para tentar re verter a extinção da espécie no país. É um verda deiro símbolo dessa luta e um grande guerreiro que infelizmente já passou por diversos incidentes desse tipo.
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O Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho - realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental - é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tec nologia de monitoramento via satélite, manejo, edu cação ambiental, desenvolvimento comunitário, fo mento ao turismo ecopedagógico e políticas públicas.
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MEDIDAS AMBIENTAISPODEMADOTADASECOEFICIENTESNODIAADIAREDUzIRIMPACTOS
Pesquisas revelam que 25 milhões de toneladas de lixo vão para o mar todo ano e que 80% deste mon tante vêm do continente. É preciso fazer algo ur gente para transformar esta realidade, seja por meio de políticas públicas ambientais governamentais, em presariais ou de pequenas atitudes que partam mes mo da sociedade.
O Projeto Peixe-Boi-Marinho, da ONG Fundação Mamíferos Aquáticos, atua no Nor deste do Brasil como uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção da espécie no país e tem mergulhado cada vez mais no compromisso com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e com a Década do Oceano, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas. Para tanto, além das atividades que executa em prol da conser vação do peixe-boi-marinho e de seu habitat, tem buscado soluções ecoeficientes para o dia a dia que gerem o menor impacto possível no meio ambiente. E isso inclui desde a transformação de suas bases em centros de convivências socioambientais e eco pon tos até a produção de seus uniformes e a busca pelo desenvolvimento de uma pelúcia mais sustentável. Para fazer os uniformes de modo que impactasse menos o meio ambiente, entendendo que a in dústria da moda é uma das que mais polui o meio ambiente, o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho en controu no Recife (PE) uma iniciativa chamada A Roda que propiciou que os uniformes do Projeto fossem produzidos com tecidos de refugos de fábri ca e com reaproveitamento de materiais que iriam para o lixo. As mochilas da equipe, por exemplo, são feitas com material de airbag (de uma fábrica de veículos) que ia ser descartado. E tudo isso com No Nordeste, o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho optou por usar uniformes produzidos com reaprovei tamento de materiais que iriam para o lixo e está desenvolvendo agora uma pelúcia sustentável
CONSERVAÇÃO MARINHA FOTOS ACERVO FMA
www.mamiferosaquaticos.org.br a garantia de qualidade do produto. A Roda traba lha com moda sustentável, upcycling, design circular e autoral, respeitando as questões da humanização no ambiente de trabalho e da valorização da mulher.
As peças também vieram sem saquinhos de emba lagem, dispensando o uso do plástico. Um passo im portante para tornar o trabalho do projeto cada vez mais ecoeficiente, conectado com os ODS e com a conservação do Meio Ambiente.
O Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho - realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental - é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas pú blicas. Conta com o apoio do Programa de Pós-Gra duação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba.
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Outra busca pela ecoeficiência do projeto foi desen volver uma pelúcia alusiva ao peixe-boi-marinho fei ta com um algodão orgânico produzido na Paraíba e com fibras naturais, sem adicional de tinta. Para tan to, o PVPBM contou com a colaboração da equipe da EMBRAPA para identificar e intermediar a com pra dos insumos de algodão 100% natural e a partir daí desenvolveu o produto junto com as mulheres da comunidade da Barra de Mamanguape que fazem parte da Oficina Peixe-Boi & Cia.. A ideia é que a pe lúcia progrida para que todos os seus elementos se jam totalmente sustentáveis e assim colaborar para reduzir o impacto no meio ambiente. As bases do projeto na Barra de Mamanguape (Pa raíba) e em Coqueiro (Bahia) se transformaram em centros de convivência que recebem as comunidades litorâneas com as quais trabalha, principalmente as crianças e adolescentes que participam das oficinas de Agentes Ambientais Mirins e dos Atletas da Liga Esportista do Peixe-Boi-Marinho, estratégias de edu cação ambiental para ajudar na formação de cidadãos mais conscientes sobre a importância de se conser var o peixe-boi-marinho e o meio ambiente. Estes espaços estão funcionando também como exemplos de boas práticas socioambientais, com hortas comu nitárias feitas pelas crianças reaproveitando garrafas pet, caixinhas de suco e pallets, com composteira doméstica que reaproveita os resíduos orgânicos e retroalimenta a horta com humus e biofertilizante líquido e com ponto de coleta de óleo de cozinha que é encaminhado para mulheres da comunidade transformarem em sabão artesanal. Nas bases, evi tam-se embalagens plásticas e desperdício de água e energia. E os resíduos sólidos gerados nas bases são separados e vendidos para cooperativas de catado res, a renda obtida é revertida para ações de sensi bilização sobre a problemática do descarte incorreto de resíduos no ambiente e atividades de limpeza de praias nas comunidades. São pequenas atitudes diá rias que, se todos fizerem em seus trabalhos e suas casas, podem contribuir para a mudança de uma re alidade nada animadora que estima que até 2050 ha verá mais plástico do que peixe nos oceanos.
16 www.vivaopeixeboimarinho.org EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO NORDESTE, CRIANÇAS E ADOLESCENTES SE ENGAJAM NA LUTA PELA CONSERVAÇÃO DO EPEIXE-BOI-MARINHODOMEIOAMBIENTE Os atletas e agentes ambientais mirins da Barra de Mamanguape, na Paraíba, e do povoado de Co queiro, na Bahia, participam toda semana de atividades eco educativas em prol da espécie, do seu habitat e da responsabilidade socioambiental FOTOS ACERVO FMA
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Educar de forma complementar para o exercício da cidadania e respeito ao meio ambiente. Este foi o objetivo da Atividade de Formação de Agentes Ambientais Mirins do Projeto Viva o Peixe-Boi-Ma rinho na comunidade da Barra de Mamanguape, li toral norte da Paraíba, e no Povoado de Coqueiro, litoral norte da Bahia, regiões onde o Projeto mo nitora peixes-bois-marinhos reintroduzidos. Imagina só uma geração de crianças de 04 a 13 anos atuan do em prol da conservação do meio ambiente no Nordeste do Brasil. Uma pequena grande revolução plantada com muita naturalidade no coração daque les que são os maiores agentes sensibilizadores e fis calizadores do planeta, as crianças. De novembro de 2021 a julho de 2022, 16 crianças da Barra e 15 de Coqueiro participaram de encontros semanais com aulas teóricas e práticas que incentivavam de forma lúdica o pensar e o despertar para a importância da conservação do peixe-boi-marinho e do meio am biente.
As oficinas práticas estimulavam a formação crítica sobre a importância do descarte correto de resídu os; a reciclagem; o uso consciente da água; aprovei tamento de resíduo orgânico para geração de com posto; adoção e plantio de mudas nativas; princípios de cidadania; conduta consciente e importância das Áreas de Proteção Ambiental, incluindo a Territoria lidade das populações tradicionais e da terra indíge na (TI-Potiguara de Monte Mor); e a conservação do peixe-boi-marinho. Resultado perceptível em todos os sentidos: duas hortas comunitárias lindas foram criadas e cultivadas pelas crianças das comunidades com reaproveitamento de garrafas pet, caixinhas de suco e pallets e composteiras domésticas. Mu das de coentro, cebolinha, tomate, alface... plantadas por pequenas mãozinhas entoadas pelos saberes ancestrais repetidos em coro alto infantil quando o educador ambiental do Projeto perguntava sobre o que uma plantinha precisava para viver: “água e sol”. Artes com reaproveitamento de madeira, pinturas
As crianças são realmente um orgulho para a toda a equipe do Projeto, sobretudo para a professora Katia Geraldo, que em 2013 participou como aluna da Oficina de Jovens Agentes Ambientais do Proje
temáticas, teatros de fantoches... Quantas atividades legais que certamente ficarão na memória e nas ati tudes desses pequenos grandes cidadãos!!! Na Barra de Mamanguape, muitas dessas crianças desde muito pequenas já participavam das atividades de educação ambiental do Projeto Viva o Peixe-BoiMarinho, de ações de limpeza de praia a palestras e apresentações lúdicas nas escolas. Nycolas Michel, hoje com 9 anos, foi uma dessas crianças. Neto do Sr. Geraldo de Brito (Seu Biruca), figura emblemá tica que trabalha há mais de 30 anos pela conser vação do peixe-boi-marinho no Nordeste, Nycolas mal sabia falar direito, mas já atuava na limpeza de praia da Barra de Mamanguape com apenas 2 anos de idade, ajudando a coletar pedaços de isopor na areia. Quando abriu inscrição para a turma na co munidade, ele foi um dos primeiros a se matricular e se destacou bastante da construção e produção da horta comunitária. “Eu acho muito bom ser um agente mirim. Foi onde aprendi a plantar, cultivar e colher na hora certa. Eu estou gostando muito de fazer parte dessa equipe. Só tenho que agradecer por essa oportunidade”, disse Nycolas. Quando ele fala “equipe” é isso mesmo, eles formam um time e tanto, uma legião, uma geração.
“Ser um agente ambiental é buscar conhecimento para preservação e educação. Eu achei muito bom e aprendi muitas coisas sobre a natureza”, comple menta Isabelly Marques, de 13 anos. E se perguntar o que uma pessoa deve fazer ao encontrar um pei xe-boi-marinho, José Natanael dos Santos Freire, de 8 anos, do litoral norte da Paraíba, já sabe orientar: “Não pode tocar, nem alimentar, não pode jogar lixo, nem matar os animais”. Natan conta que nas aulas de agentes ambientais mirins também apren deu sobre manguezal, caranguejos, banho de lama, plantio e que é importante conservar o mangue.
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to Viva o Peixe-Boi-Marinho e hoje é educadora do Projeto. “Toda vez que eu chego no projeto e vejo as crianças eu fico pensando: eu comecei aqui, eu fiz isso. E é muito gratificante. É uma sensação muito boa ensinar agora algo que eu aprendi há tanto tem po e agora estar passando isso para eles. Passa um filme na minha cabeça. Em 2013 fui eu aprendendo ali cada coisa, a como deveria plantar uma árvore, o que eu deveria fazer para que o meio ambiente pudesse ser melhor, e agora eu ensino isso. Eu me sinto muito feliz. E tenho um orgulho inexplicável das crianças, elas gostam de participar, de plantar, de estar na horta e isso para nós que estamos ensinan do é uma sensação maravilhosa”.
Construíram uma horta vertical com pallets, garra fas pet e até um sistema de gotejamento automático, aprenderam a fazer teatro de papelão, jogos lúdicos, massa de modelar caseira e tantas outras artes utili tárias. Yoranna da Conceição, de 12 anos, conta que os fins de semana se tornaram muito especiais com o projeto: “Dia de sábado não tinha nada para fa zer em casa e aí veio a oficina com atividades muito legais. Eu adorei, achei muito bom, apendi sobre o mangue, o cuidado com o peixe-boi, de não tocar, não alimentar, não dar água, aprendi sobre a horta. Estou até fazendo horta em casa, reciclagem, rea proveitando resíduo. Eu me sinto muito especial, fe liz em ser uma agente ambiental mirim. Vou ajudar a orientar as pessoas para conservar o meio am Yorannabiente”.
é filha da pescadora profissional Ana Paula, que vive do marisco, aratu, sururu, camarão. “Achei o projeto muito legal, educativo, incentivando as crianças. Yoranna se desenvolveu muito. E ela está fazendo algo que ela gosta, com a natureza, o man guezal. Este projeto está de parabéns e a conserva ção do meio ambiente é fundamental também para a atividade da pesca”.
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No litoral norte da Bahia, onde vive “Astro”, o pri meiro peixe-boi-marinho reintroduzido no Brasil, os agentes ambientais mirins dão show de criatividade.
“A atividade não se resume apenas em ensinar, pois eu também aprendo muita coisa. O coração de uma criança é um lugar gigante. As crianças estão tendo a oportunidade de entender a missão de proteger a natureza, respeitar o próximo, ter empatia e ter compromisso com suas atividades. A cada encontro, é visível a felicidade no olhar delas de estarem pre sentes aprendendo o que está sendo ensinado. Os pais sempre comentam sobre o desempenho dos filhos em relação ao curso, pois as crianças chegam em casa reproduzindo o que aprenderam. Então, dessa forma, percebo que nossos esforços sempre têm um retorno e essas crianças sempre vão lem brar das coisas que aprenderam, pois uma semen tinha foi plantada no coração de cada uma delas e essa semente vai brotar e dar bons frutos”, analisa Luana Dias, auxiliar ambiental do Projeto Viva o Pei xe-Boi-Marinho.
Liga Esportista infanto-juvenil do Peixe-Boi-Marinho
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Na base de Coqueiro, os agentes mirins também contam com a Biblioteca Manatus, que vem fazendo toda a diferença na vida das crianças. Tamires Santos, mãe do agente mirim William Santos percebeu que a biblioteca despertou um interesse maior do filho pela leitura. “Antes, William só lia quando estava na escola. Eu tinha dificuldade de fazer com que ele se interessasse mais pela leitura, e com a biblioteca vi que ele ficou muito encantado e querendo conhecer mais sobre os livros, tanto que me pediu para passar lá e pegar um emprestado para ele ler. É uma opção de entretenimento para as crianças do povoado”.
O peixe-boi-marinho também conta agora com a dedicação dos atletas socioambientais da Liga Es portista infanto-juvenil do Peixe-Boi-Marinho, uma iniciativa criada para atender a pauta de vulnerabi lidade e mitigação de riscos para o público infanto juvenil (com idade entre 10 e 16 anos) na comunida de da Barra de Mamanguape, baseadas no princípio do esporte como aliado nas estratégias de educação ambiental. Os atletas participam de uma oficina de futebol, vestem a camisa do peixe-boi e treinam para competir em campeonatos comunitários locais e regionais. Também têm aulas de educação com plementar para reforço escolar nas disciplinas de português e matemática. Além disso, atuam como voluntários nas atividades de mobilização e conser vação promovidas pelo PVPBM, tais como: campa nha de limpeza de praias e rios, adoção e plantio de mudas nativas, sessões do cine peixe-boi e também estão participando das atividades de monitoramen to de peixes-bois-marinhos reintroduzidos junto com a equipe técnica do Projeto. Ruan de Brito Costa, de 15 anos, foi o primeiro atle ta a acompanhar a equipe no trabalho de monitora mento em campo e dividiu um pouco da sua vivência: “Foi uma experiência muito boa saber como cada coisa funciona. Pude me aprofundar mais, descobrir mais coisas sobre o peixe-boi que eu não sabia. Sé (Sebastião Silva, ecólogo do PVPBM) mostrou os equipamentos e saímos em busca do peixe-boi. Foi
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Os atletas têm aula de reforço pela manhã e treinam futebol à tarde. É bola do pé e peixe-boi no cora ção. “O peixe-boi é um mamífero importante para a nossa região. Eu quero que o peixe-boi deixe de ser ameaçado para conviver com a gente, não do mesticando, mas sim deixando ele ser livre no nosso litoral”, enfatiza Samuel Elias, de 11 anos, que sonha em ser jogador de futebol e ajudar a sua família. Um atleta com consciência socioambiental. Jovens que certamente lembrarão dos ensinamentos e levarão para a vida.
E parece que na Barra o amor pelo peixe-boi-ma rinho se renova sempre. Sebastião Silva, citado por Ruan, por exemplo, é uma referência local. Ele tam bém foi uma criança da comunidade que se interes sou desde muito pequeno pela causa do peixe-boi -marinho, acompanhava os pesquisadores de perto, queria sempre participar das atividades e se empol gou tanto que se dedicou aos estudos se formando em Ecologia e fazendo mestrado na UFPB e hoje é ecólogo do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho. E quem sabe dessa geração de Ruan, Samuel, Nycolas, Yoranna, Isabelly, Natan surgirão mais “Sebastiões” e “Katias” para compartilhar conhecimento e sensibi lizar a sociedade para a importância da conservação do peixe-boi-marinho e do meio ambiente, por ge rações e gerações.
O Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho - realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental - é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil. Conta com o apoio do Progra ma de Pós-graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba.
bem legal saber como funciona o monitoramento, são informações muito interessantes. Assim pode mos ajudar a salvar o peixe-boi quando ele estiver em perigo”, relata Ruan, que faz parte da terceira geração da família Brito há mais de 30 anos dedicada à conservação da espécie na Paraíba. Ruan conta que a Liga Esportista do Peixe-Boi-Mari nho foi muito positiva para os jovens da comunidade: “Foi uma das melhores coisas que aconteceu aqui na Barra. Sobre o futebol, a gente nunca teve uma oportunidade de estar jogando, de ter um treinador específico para estar nos orientando em campo e também estar ali todo sábado, com compromisso, saber das coisas. É bom estar ali, melhor do que estar em outro canto fazendo coisa errada. Então é uma oportunidade muito boa pra gente aqui da Barra, gostamos muito”.
A primeira vez que vi um peixe-boi marinho foi em Alagoas, em 2014, quando estava de férias e fiz um passeio de visitação aos animais em vida livre. E foi aí meu primeiro contato com o peixe-boi marinho. Desde então sou encantada por esta espécie. Meu primeiro contato com o Projeto Viva o Peixe-BoiMarinho foi em 2018, quando vim de São Paulo para realizar o programa de voluntariado na base da Bar ra de Mamanguape, onde fiquei por quatro meses e meio. Antes da minha primeira passagem pelo proje to, havia tido contato com o peixe-boi-marinho em um centro de reabilitação no Ceará. Ao finalizar o período de estágio no ano seguinte (2019), iniciei o mestrado na UFPB, mas sempre contribuindo com as atividades do projeto. E em 2021 fui contratada e hoje componho o quadro profissional do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. Atualmente, além de auxiliar nas pesquisas com os peixes-bois-marinhos e seus habitats, realizo o mo nitoramento da população de botos-cinza presentes na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Ma manguape. As demais pesquisas as quais auxílio es tão diretamente relacionadas à proteção dos peixesbois-marinhos, entre elas estão o reflorestamento de mata ciliar, reflorestamento de manguezais, o mapeamento das áreas utilizadas pelos animais rein troduzidos. Estas atividades são de extrema impor
POR ISIS CHAGAS DE ALMEIDA Bióloga marinha, mestre em Ecologia e Monitoramento Ambiental pela UFPB e pesquisadora associada do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho
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tância para a conservação da espécie e participar delas é poder contribuir, sabendo que de alguma forma estou ajudando na conservação da espécie, uma sensação de “dever cumprido”. Dentre as ativi dades, a mais marcante que já participei no PVPBM, foi a soltura de dois animais que estavam no recinto de readaptação para a vida livre. Acredito que um dos maiores desafios no trabalho da conservação do peixe-boi-marinho e do meio ambiente ainda seja a falta de conhecimento de par te da população sobre espécie, e que ainda são pou cas as pessoas preocupadas com os efeitos das suas ações ao meio ambiente e como estas podem afetar outras espécies.
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PEIXES-BOIS-MARINHOS
Neste estudo, objetivamos “compreender a influ ência de fatores intrínsecos e extrínsecos sobre os padrões de movimentação e uso do habitat por peixes-bois-marinhos”. Para tanto, foram formula dos os seguintes objetivos específicos: a) Analisar os efeitos da massa corporal, sexo e manejo so bre o tamanho da área de vida (home range) de peixes-bois-marinhos; b) Identificar a capacidade de deslocamento e dispersão em relação à linha de costa e batimetria de indivíduos de peixe-boi-ma rinho e entender a influência de fatores intrínse cos (idade, sexo e história de vida) e extrínsecos (precipitação e luz solar) sobre esta capacidade; c) Analisar a frequência de utilização de bancos de fanerógamas, corpos d’água, e recifes pelos animais monitorados; d) Mapear, em escala adequada, os impactos humanos que ameaçam a conservação dos peixes-bois na área de estudo; e) Analisar a incidência de impactos à conservação dos peixesbois-marinhos dentro e fora de Áreas Marinhas Protegidas; f) Avaliar a adequabilidade ambiental
ECOLOGIA DO MOVIMENTO E CONSERVAÇÃO DE (trichechus manatus) NA ECORREGIÃO MARINHA DO NORDESTE DO BRASIL CIENTÍFICA
COLUNA
FOTOS ACERVO FMA
POR IRAN CAMPELLO NORMANDE Biólogo, Analista Ambiental, Mestre em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos, Doutorando As espécies reagem de forma diferente a distintos impactos no ambiente, devido a caraterísticas que se expressam na escala de indivíduos, populações ou comunidades. Identificar que características podem fornecer a melhor informação disponível para apoiar um objetivo de conservação possibilita a priorização de medidas de conservação que ten dem a produzir resultados mais efetivos. Neste sentido, a ecologia do movimento fornece informações sobre estados internos, característi cas, restrições e interações entre si e com o meio, na escala de indivíduos e populações, que podem ser usadas em avaliações do estado de conservação de espécies ou para aumentar a proteção de habi tats sensíveis no interior da distribuição através da criação de áreas protegidas.
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Os peixes-bois-marinhos (Trichechus manatus ma natus) são mamíferos aquáticos herbívoros atual mente classificados como “Em Perigo” de extinção devido à redução populacional decorrente da caça no passado e à perda e degradação de habitat ge rada por impactos antrópicos. Tais impactos devem ser corretamente mensurados e espacializados de forma a entender que regiões estão sob maior pressão e assim possibilitar que medidas de con servação efetivas sejam adotadas.
Os animais pertencem a três grupos de manejo: (i) foram capturados em vida livre, com a utilização de uma rede de cerco lançada por uma embarcação e soltos na mesma localidade; (ii) encalharam en quanto filhotes recém-nascidos, foram reabilitados em cativeiro e liberados na natureza ou (iii) foram recapturados e marcados novamente vários anos após passar pelos estágios descritos no item ii e são caracterizados como adaptados à natureza.
Os dados de telemetria satelital serão utilizados para realizar análises de ecologia do movimento utilizando scripts nos softwares R e QGis. Será realizada ainda uma Avaliação Cumulativa de Im
www.mamiferosaquaticos.org.br 25 da área de estudo a partir de uma modelagem de nicho ecológico de Trichechus manatus; g) Priorizar áreas para a conservação da espécie a partir da so breposição de camadas de adequabilidade ambien tal e impactos acumulados, identificando lacunas de proteção do habitat Nesta pesquisa serão utilizadas informações prove nientes de 46 peixes-bois-marinhos marcados com dispositivos de monitoramento satelital entre os anos de 2008 e 2021 no litoral nordeste do Brasil.
natus do nordeste, e é fruto de atividades pionei ras de captura de peixes-bois-marinhos nativos no Brasil, viabilizadas através da adaptação de tecno logias utilizadas em outros países e decorrente de uma parceria Brasil/EUA. Os resultados ainda irão auxiliar a avaliação do programa de reintrodução desenvolvidos ao longo das últimas três décadas e considerada a principal estratégia de conservação da espécie no país.
A pesquisa conta com diversas parcerias como o ICMBio, UFAL, FMA, Aquasis, UERN, Instituto Bio ta, USGS/Sirenia Project e King’s College London. pactos, de forma a avaliar a efetividade ecológica de Áreas Marinhas Protegidas para a conservação dos peixes- bois. Por fim, será utilizado o algorit mo PrioritizeR para definir áreas prioritárias para a conservação da espécie na ecorregião marinha do nordeste do Brazil.
O presente projeto de pesquisa de doutorado con ta com o mais extenso banco de dados de teleme tria satelital de peixes-bois da América do Sul. Este banco de dados foi estruturado durante mais de 12 anos de coletas de dados, sendo o único disponível para a Unidade Evolutiva (UE) de Trichechus ma
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Com ela esperamos contribuir para o avanço do conhecimento científico sobre uso do habitat e pa drões de movimentação e subsidiar políticas públi cas para a priorização de áreas e ações para reduzir os riscos de extinção dos peixes-bois no Brasil.
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1. Fundação Mamíferos Aquáticos – FMA;
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2. Universidade Federal Rural de Pernambuco; 3. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental. Universidade Federal da Paraíba. Mangueira; 4. Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá; 5. Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos; 6. Dipartimento di Medicina Veterinaria e Produzioni Animali, Università degli Studi di Napoli Federico II Naples.
1. INTRODUÇÃO
Foram coletadas 129 amostras fecais provenientes de 12 espécies de mamíferos aquáticos, sendo estes de vida livre e mantidos em cativeiro. As coletas do material biológico ocorreram em oito estados do Brasil, contemplando as regiões Norte (Amapá e
PESQUISA
O efeito do parasitismo em mamíferos aquáticos apresenta limitações para o seu real conhecimento, considerando muitas vezes as dificuldades em obter amostras destes animais, a compreensão limitada das relações existentes entre os hospedeiros e a biologia dos parasitos, bem como as limitações encontradas para o desenvolvimento de estudos experimentais. A escolha inadequada de um método de diagnósti co ou ainda, a opção por técnicas que apresentem baixa sensibilidade e especificidade pode limitar o diagnóstico dos agentes parasitários que acometem os mamíferos aquáticos.
Utilização da técnica de FLOTAC como um novo método de diagnóstico coproparasitológico em mamíferos aquáticos e a sua comparação com os métodos tradicionais 28 www.vivaopeixeboimarinho.org A cada edição, a Revista A Bordo traz artigos e resumos científicos relacionados à conservação dos ma míferos aquáticos e seus habitats. Confira agora um artigo científico colaborativo elaborado pelo pes quisador e médico veterinário Dr. João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi -Marinho, diretor de pesquisa e manejo da Fundação Mamíferos Aquáticos e professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba.
Mediante a isto foi desenvolvido este estudo, o qual teve como objetivo avaliar o desempenho da técni ca de FLOTAC e a comparação com três métodos tradicionais (Willis, sedimentação e centrifugo-flutu ação) utilizados no diagnóstico de parasitos gastroin testinais de mamíferos aquáticos.
Autores: João Carlos Gomes Borges , Victor Fernando Santana Lima² , Edson Moura da Silva² , Danielle dos Santos Lima , Miriam Marmontel , Vitor Luz Carvalho , Maria Aparecida da Glória Faustino², Giuseppe Cringolli , Laura Rinaldi , Leucio Câmara Alves²
www.mamiferosaquaticos.org.br 29 Rondônia) e Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Ma ranhão, Paraíba e Sergipe), entre 2013 e 2014. Cada amostra foi submetida ao processamento la boratorial utilizando as técnicas de Willis, sedimen tação espontânea - Hoffman, método de Faust uti lizando o sulfato de zinco e FLOTAC (Cringoli et al., 2010) (Figuras 1 e 2). Os ovos e cistos encontrados foram identificados a nível de família.
Figura 1. Etapas para o processamento de amostras fecais usando a técnica de FLOTAC. A) Pesagem da amostra; B) Homogeneização em água; C) Filtragem; D) Deposição de conteúdo em tubos Falcon; E) Centrifugação; F) Aspecto do material após centrifugação; Para comparar os diferentes métodos de diagnós ticos utilizados, foi avaliada a sensibilidade, especifi cidade, prevalência real, prevalência estimada, valor preditivo, positivo, valor preditivo negative e classifi cação correta (acurácia) (Thrusfield, 2004), sendo a técnica de Willis definida como padrão ouro nestas análises (Lima et al., 2015).
DA EB CF
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A maior frequência das amostras positivas ocorreu por meio da utilização do FLOTAC (46,51%), em detrimento as técnicas de Hoffman (23,25%), Faust (10,07%) e Willis (6,97%). Nas amostras analisadas observou-se com maior frequência a ocorrência de ovos de Strongylidae e oocistos de Eimeriidae. Considerando os achados deste trabalho, a técnica do FLOTAC apresentou-se mais apropriada do que as demais técnicas utilizadas. Dado a sua eficiência, a mesma apresenta-se fortemente recomendada para as avaliações coproparasitológica em mamífe ros aquáticos, sem necessidade de processamento das amostras por outros métodos de sedimentação e flutuação.
3. RESULTADOS
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Figura 2. G) Sedimento, após descarte do sobrenadante; H) Recipientes contendo as soluções saturadas; I) Câmaras FLOTAC cheias; J) Centrífuga utilizada para processamento de amostras; K) Retirar a chave da placa; L) Leitura da placa em microscópio óptico com objetiva de 10X.
www.mamiferosaquaticos.org.br 31 Cringoli, G., L. Rinaldi, M. P. Maurelli, et al. 2010. Flotac: new multivalente techniques for qualitative and quanti tative copromicroscopic diagnosis of parasites in animals and humans. Nature Protocols 5: 503-515, 2010. Lima, V. F. S., G. Cringoli, L. Rinaldi, et al. 2015. A compa rison of mini-FLOTAC and FLOTAC with classic methods to diagnosing intestinal parasites of dogs from Brazil. Pa rasitology Research DOI 10.1007/s00436-015-4605-x. Thrusfield, M. V. 2004. Epidemiologia Veterinária. Editora Roca, São Paulo. 556 p. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
32 www.vivaopeixeboimarinho.org COBÁSICASDOAÇNLITORTRADICIONAISCOMUNIDADESâNEASDOORDESTERECEBEMõESDECESTASEGÁSDEzINHA FMA FOTOS ACERVO FMA
As entregas contam com a colaboração e apoio de organizações comunitárias, lideranças locais e insti tuições reconhecidas pela população de cada loca lidade.
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A Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras está realizando entrega de cestas bási cas e gás de cozinha para aproximadamente 3 mil famílias de 29 comunidades localizadas em sete mu nicípios do litoral de Sergipe, Bahia, Pernambuco e Paraíba. São comunidades indígenas, quilombolas, pescadores, marisqueiras e artesãos. As doações começaram a ser distribuídas em maio e cada fa mília receberá quatro doações ao longo deste ano.
Essa ação faz parte da iniciativa social da Petrobras com foco no acesso ao gás de cozinha. Para esta etapa da iniciativa, a Petrobras fechou parceria com 56 instituições sem fins lucrativos, que atuam na execução de projetos socioambientais e de condi cionantes ambientais da companhia, para realizar a doação para as famílias selecionadas, que são iden tificadas com o apoio das instituições parceiras res ponsáveis por operacionalizar as doações.
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A FMA é conhecida pela sociedade por sua importante contribuição ao meio ambien te, por meio de projetos como o Viva o Peixe-BoiMarinho, que tem o convênio de parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socio ambiental; atividades de educação ambiental com o envolvimento direto e continuado de crianças e adolescentes; aulas de reforço escolar; leitura; e te oria e práticas de educação ambiental. A Fundação foi destaque no Relatório de Sustentabilidade 2021, divulgado pela Petrobras, pelos resultados positivos alcançados no trabalho desenvolvido de conserva ção dos peixes-bois-marinhos e seus habitats no Nordeste do Brasil. Nessas mais de três décadas de atuação, a Fundação Mamíferos Aquáticos sempre esteve focada não somente na conservação am biental, mas também no desenvolvimento local sus tentável das comunidades, nas regiões onde atua.
Sobre a Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) - é uma organização da sociedade civil sem fins lucra tivos que há 33 anos atua na conservação de im portantes espécies marinhas e seus habitats e na promoção da sustentabilidade socioambiental junto às comunidades.
O beija-flor-tesoura mede entre 15 e 18 centíme tros de comprimento e pesa em torno de 6 -11 gra mas. Possui a cabeça, o pescoço e parte superior do tórax de um profundo azul violeta e o restante da plumagem verde-escuro iridescente. Tem também uma pequena mancha branca atrás dos olhos. Os beija-flores têm o mais acelerado metabolismo en tre as aves. Quando em voo, podem bater as asas dezenas de vezes por segundo. Alimentam-se basi camente de néctar de flores, mas também caçam pequenos insetos. Tem um papel importante na po linização de plantas. Ocorrem das Guianas à Bolívia, Paraguai e em todo o Brasil, exceto certas regiões da SeuAmazônia.nomecientífico é Eupetomena macroura: do (grego) eu = divindade, deus; e petonemos = sem pre sustentado pelas asas, voando; makros = longo, comprido; e ouros, oura = cauda. Ou seja: divinda de sustentada pelas asas e que tem a cauda longa ou ave divina com a cauda longa que está sempre voando. A natureza sempre perfeita e em sintonia. Olhe ao redor, aguce os sentidos e perceba a vida acontecendo.
FOTO REFLEXÃO
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E esse beija-flor-tesoura que sempre vem visitar o nosso jardim da base de Coqueiro, litoral norte da Bahia? Quem fez esse registro lindo foi a médica veterinária Aline Ramos, quando chegava na nossa base depois de uma manhã de monitoramento do peixe-boi-marinho “Astro”.
INDICAÇÕES 36 www.vivaopeixeboimarinho.org
Este documentário retrata a campanha da oceanó grafa e bióloga marinha americana Sylvia Earle para salvar os oceanos do mundo de várias ameaças, como a pesca abusiva e os resíduos tóxicos. Sylvia por si só já uma personagem incrível: a primeira mulher nomeada cientista-chefe da Administração Oceâni ca e Atmosférica Nacional (NOAA); eleita Heroína do Planeta, pela Time Magazine, em 1998; além de pioneira em quebrar estereótipos no universo do mergulho e colaboradora ativa no desenvolvimen to de equipamentos que possibilitam a exploração de regiões marinhas nunca antes visitadas. Há mais de quatro décadas, Sylvia Earle se dedica à pesqui sa, estudo e proteção dos mares. No Mission Blue, ela defende a criação de uma rede global de áre as marinhas protegidas, as chamadas “Hope Spots” (pontos de esperança). O documentário, disponível na Netflix, foi vencedor de um Emmy (em 2015) e a campanha soma 132 zonas protegidas espalhadas pelo planeta, incluindo o Arquipélago de Abrolhos, na Bahia, e as Ilhas Cagarras, no Rio de Janeiro, Brasil. Direção: Robert Nixon, Fisher Stevens
GPS
Em “Ideias para adiar o fim do mundo”, o líder in dígena Ailton Krenak critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma “humanida de que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô”. Essa premissa esta ria na origem do desastre socioambiental de nossa era, o chamado Antropoceno. Daí que a resistência indígena se dê pela não aceitação da ideia de que somos todos iguais. Somente o reconhecimento da diversidade e a recusa da ideia do humano como superior aos demais seres podem ressignificar nos sas existências e refrear nossa marcha insensata em direção ao abismo. Esta edição é resultado de duas conferências e uma entrevista realizadas em Por tugal entre 2017 e 2019, e conta com posfácio de Eduardo Viveiros de Castro. Desde seu inesquecível discurso na Assembleia Constituinte, em 1987, Kre nak se destaca como um dos mais originais e impor tantes pensadores brasileiros.
MISSION BLUEIDEIAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO
19ª REUNIÃO DE TRABALHO DE ESPECIALISTAS EM MAMÍFEROS AQUÁTICOS DA AMÉRICA DO SUL + XIII CONGRESSO DA SOCIEDADE LATINO-AMERICANA DE ESPECIALISTAS EM MAMÍFEROS AQUÁTICOS + IV SIMPÓSIO LATINOAMERICANO DE MANATÍES Data: 10 a 15 de setembro de 2022 Local: Praia do Forte – BA www.rtbrasil2020.com XXIV ENCONTRO BRASILEIRO DE ICTIOLOGIA Data: 16 a 21 de outubro de 2022 Local: Gramadohttps://www.ebi2021.com.br/RS XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA VETERINÁRIA Data: 19 a 21 de outubro de 2022 Local: Ilhéus –https://congressocbpv.com.br/BA Programe-se para os eventos técnico-científicos previstos para 2022 nas áreas de Medicina Veteriná ria, Biologia, Ciências Biológicas, Ecologia e campos afins. E v ENTOS www.mamiferosaquaticos.org.br 37
38 www.vivaopeixeboimarinho.org ILUSTRAÇÃO
Em todas as edições, a Revista A Bordo traz ilustrações que abordam o universo dos animais aquáticos e de seus habitats, como forma de reflexão sobre a importância da conservação do meio ambiente. Nesta edição, estamos trazendo o terceiro card de uma série ilustrativa sobre a maternidade do peixeboi-marinho com a arte de Jacqueline Costa.
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Para saber mais sobre o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, acesse: FUNDAÇÃOwww.vivaopeixeboimarinho.org@vivaopeixeboimarinhoMAMÍFEROSAQUÁTICOS Sítio Barra do Mamanguape, s/n Zona Rural - Rio Tinto – PB (83) 99961.1338 | (83) 99961-1352 | (79) www.mamiferosaquaticos.org.br99130-0016@mamiferosaquaticos